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THORN

ROMANCE BULLY DE ENSINO MÉDIO

GAROTOS DE ROSEWOOD
BOOK 1
TRACY LORRAINE
CONTENTS

Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Chapter 39
Chapter 40
Chapter 41
Chapter 42
Chapter 43
Epilogue

About the Author


Acknowledgments
Copyright © 2019 by Tracy Lorraine
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer maneira ou por qualquer
meio, eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenagem e recuperação, sem
permissão escrita da autora, exceto para uso de citações breves em resenhas.
Editado por My Brother's Editor.
Traduzido por Erika Robles
Revisado por Byanca Ismael
Foto de capa por Michelle Lancaster
Modelo Andy Murray
CHAPTER UM

Amalie

— A cho que você vai gostar bastante do tempo que passará


aqui — Diretor Hartmann diz. Ele tenta parecer alegre com
isso, mas tem simpatia transbordando dos olhos cansados e
enrugados.
Isso não deveria ser parte da minha vida. Deveria estar em
Londres, começando a universidade, no entanto aqui estou, no
começo do que parece ser meu penúltimo ano em uma escola de
ensino médio americana da qual não sei nada além do nome e o
fato que minha mãe a frequentou há muitos anos atrás. Um nó sobe
pela minha garganta quando pensamentos dos meus pais voltam
sem aviso.
— Sei que as coisas vão ser diferentes e você pode sentir que
está voltando atrás, mas posso garantir que é a coisa certa a fazer.
Vai te dar o tempo que precisa para… se ajustar e pensar sério no
que você quer fazer depois de se formar.
Tempo para me ajustar. Não tenho certeza que qualquer
quantidade de tempo vai ser suficiente para aprender a viver sem
meus pais e ser enviada para o outro lado do Atlântico para
começar uma nova vida na América.
— Tenho certeza que vai ser ótimo. — Colocando um sorriso
falso no rosto, pego a grade de horários da mão do diretor e olho
para ela. O friozinho que já estava na minha barriga aumenta ao
ponto que poderia vomitar sobre a mesa de fórmica
lascada.
Matemática, literatura, biologia, educação física, minhas mãos
tremem até que vejo algo que me relaxa na hora, arte e estudos
cinematográficos. Pelo menos alguma coisa saiu do meu jeito.
— Organizei para que alguém mostre a escola para você.
Chelsea é a capitã do esquadrão de torcida, o que ela não sabe da
escola, não vale a pena saber. Se você precisar de qualquer coisa,
Amalie, minha porta está sempre aberta.
Assentindo para ele, me levanto da cadeira assim que uma
batida suave soa e uma morena alegre saltita para dentro da sala.
Meu conhecimento de escolas de ensino médio americanas é todo
cortesia das horas de filmes que costumava passar as tardes
assistindo, e ela se encaixa no estereótipo de capitã ao pé da letra.
— Queria alguma coisa, Sr. Hartmann? — cantarola tão doce
que faz até meus dentes estremecerem.
— Chelsea, essa é Amalie. É o primeiro dia dela no segundo
ano. Confio que será capaz de apresentar a escola a ela. Aqui está
uma cópia dos horários.
— Considere feito, senhor.
— Garanti a Amalie que ela está em boas mãos.
Quero dizer que é minha imaginação, mas quando ela vira os
grandes olhos marrom chocolate para mim, a luz deles diminui um
pouquinho.
— Mostre o caminho. — Minha voz não tem nenhum tipo de
entusiasmo e pelo semicerrar dos olhos dela, não acho que deixa
passar.
Eu a sigo para fora da sala com um pouco menos de animação
nos passos. Uma vez que estamos no corredor, ela vira os olhos
para mim. Ela é realmente bem bonita com cabelo marrom denso,
olhos grandes e lábios carnudos. Ela é mais baixa do que eu, mas
até aí, com um metro e setenta e dois, vai ser difícil encontrar
muitas outras adolescentes que podem ficar olho a olho comigo.
Ela inclina a cabeça para que possa me olhar, luto contra um
sorriso.
— Vamos fazer isso rápido. É meu primeiro dia do último ano e
tenho um monte de coisa para fazer.
Virando nos calcanhares, ela começa a andar e me apresso para
alcançá-la.
— Refeitório, biblioteca. — Ela aponta e depois olha para a cópia
da minha grade. — Parece que seu armário é por ali. — Ela acena
com a mão para um corredor cheio de estudantes que estão todos
olhando para nós, antes de acenar na direção geral das minhas
diferentes aulas.
— Okay, isso deve bastar. Tenha um ótimo dia. — O sorriso dela
é mais falso do que o meu foi a manhã inteira, o que realmente quer
dizer alguma coisa. Ela vai se afastar, mas no último minuto vira
para mim. — Ah, esqueci. Aquele ali. — Sigo seu dedo que aponta
para um grande grupo de pessoas do lado de fora das portas duplas
abertas, sentados em volta de um monte de mesas. — Aquele é
meu grupo. Melhor te avisar agora que você não vai se encaixar ali.
Escuto seu aviso alto e claro, mas não precisava mesmo ser
dito. Não tenho nenhuma intenção de fazer amizade com as líderes
de torcida, aquele tipo de coisa não é muito meu estilo. Estou muito
mais feliz de esconder atrás da minha câmera e me esgueirar no
pano de fundo.
Chelsea sai rebolando e não posso evitar que os olhos a sigam
na direção do grupo dela. Posso ver daqui que consiste em seu
esquadrão e o time de futebol. Também posso ver o anseio nos
olhos dos outros estudantes que passam por eles. Eles ou querem
ser eles ou querem ser parte da ganguezinha estúpida.
Jesus, esse lugar é ainda mais estereotípico do que estava
esperando.
Infelizmente, minha primeira aula do dia era na direção em que
Chelsea havia acabado de ir. Puxo minha mochila mais alta no
ombro e seguro alguns livros que tenho mais apertados no meu
peito ao sair pelas portas.
Não dei dois passos para fora do prédio quando minha pele
formiga com percepção. Eu me digo para manter a cabeça baixa.
Não tenho interesse em ser a diversão deles, mas meus olhos me
desafiam, e me pego olhando para cima enquanto Chelsea aponta
para mim e ri. Sabia que minha chegada súbita na cidade não era
um segredo. O legado da minha mãe ainda é forte, então quando
ouviram a novidade, tenho certeza que foi uma fofoca quente.
Calor se espalha das minhas bochechas para meu pescoço. Vou
desviar o olhar quando um par de olhos azuis chama minha
atenção. Enquanto todo mundo parece intrigado, como se tivessem
um novo filhotinho para brincar, os dele estão assombrados e
raivosos. Nosso olhar prende, seus olhos semicerram como se
estivesse tentando me avisar de algo antes de balançar a cabeça
ameaçadoramente.
Confusa com suas ações, eu consigo desviar os olhos e virar
para onde penso que deveria estar indo.
Só consigo dar no máximo três passos antes de colidir em
alguma coisa – ou alguém.
— Merda, sinto muito. Você está bem? — uma voz grossa
pergunta. Quando encaro os olhos verdes gentis do cara na minha
frente, quase suspiro em alívio. Estava começando a me perguntar
se encontraria alguém que não iria apenas olhar feio para mim. Sei
que sou a nova garota, mas merda. Eles devem ter alunos novos
toda semana, não posso ser tão incomum assim.
— Estou bem, obrigada.
— Você é a nova garota britânica. Emily, certo?
— É Amalie, e sim… sou eu.
— Sinto muito pelos seus pais. Minha mãe disse que era amiga
da sua. — Lágrimas ardem meus olhos. O dia de hoje é difícil o
bastante sem a constante lembrança de tudo o que perdi. — Merda,
sinto muito. Eu não deveria…
— Não tem problema — minto.
— Qual sua primeira aula?
Entregando meu horário, ele o lê rápido.
— Literatura, estou indo para lá. Posso ir com você?
— Sim. — O sorriso dele cresce com minha avidez, e pela
primeira vez hoje, minha retribuição é quase sincera.
— Sou Shane, a propósito. — Olho para ele e sorrio, grata que o
corredor é barulhento demais para que continuemos qualquer tipo
de conversa.
Ele parece um cara legal, mas minha cabeça está rodando e só
o pensamento de manter uma conversa séria neste momento é
exaustivo.
Olhares de estudantes seguem todos os meus passos. Minha
pele formiga conforme mais e mais pessoas me veem andar ao lado
de Shane. Alguns me dão sorrisos, mas a maioria apenas acena na
minha direção, falando de mim para seus amigos. Alguns são
apenas rudes e apontam com o dedo para mim, como se fosse
algum maldito animal de zoológico que acordou do sono.
Na realidade, sou apenas uma garota de dezoito anos que está
começando em um lugar novo, e desesperada para se misturar com
a multidão. Sei que com quem eu sou – mais para quem meus pais
eram – isso não vai ser tão fácil assim, mas pelo menos gostaria de
uma chance de tentar ser normal. Apesar que temo que posso ter
perdido isso no dia que perdi meus pais.
— Aqui, esta é a sua sala. — A voz de Shane interrompe meus
pensamentos e quando ergo minha cabeça depois de evitar todo
mundo ao meu redor, vejo que ele está segurando a porta aberta.
Ainda bem que a sala só está pela metade, mas ainda assim,
todos os olhos se viram para mim.
Ignorando a atenção deles, mantenho a cabeça baixa e encontro
uma mesa vazia perto do fundo da sala.
Depois que me acomodo, arrisco olhar para cima. Minha
respiração corta quando encontro Shane ainda parado na porta,
forçando os estudantes a se espremerem para passarem por ele.
Ele acena com a cabeça. Sei que é seu jeito de me perguntar se
estou bem. Forçando um sorriso nos lábios, retorno com um aceno
e depois de alguns segundos, ele se vira para sair.
CHAPTER DOIS

Jake

— N ão vejo qual a novidade — Chelsea choraminga para as


amigas. — Ela nem é tão bonita. Olhem. — Não posso
evitar seguir seu dedo quando aponta para o outro lado da quadra.
Meus olhos encontram a garota loira e alta na hora. Meus lábios
pressionam em uma linha fina e meu sangue ferve. Sentimentos que
lutei para manter escondidos durante anos ameaçam ressurgir.
Afastando os olhos, encaro o banco sob mim. Meu coração
dispara e minha visão embaça. De repente, sou um garoto de seis
anos novamente, vendo meu mundo ruir.
As garotas continuam a reclamar, mas as ignoro, perdido demais
na minha própria confusão para ligar para suas opiniões patéticas
sobre a aparência da nova garota. Ela não vai se encaixar aqui. Vou
garantir que isso não aconteça.
— Não tenho a mínima ideia do que estão falando. Ela é gostosa
com G maiúsculo — Mason, meu melhor amigo, diz, seu olhar ainda
focado na loira que todo mundo parece estar fascinado.
— Ela não é tudo isso.
— Que porra está errada com você? É o primeiro dia do último
ano, não fica melhor que isso.
— Se você diz. Tô fora.
— Jake, espera.
Eu o ignoro e pulo do banco. Devo andar apenas dois passos
quando um suspiro me faz olhar para cima. Quando o faço, vejo a
Garota Nova colidir com Shane, um de nossos jogadores. As mãos
dele seguram seus braços para equilibrá-la. A visão dele tocando-a,
protegendo-a faz fogo inflamar dentro de mim. Só olhar para ela me
faz sentir vulnerável, e isso não é algo que quero sentir outra vez.
— O que está acontecendo? — Mason e Ethan aparecem dos
meus lados e olham para o mesmo acidente que eu.
— Você a está marcando? — Ethan pergunta, seguindo meu
olhar.
Não dar a mínima para nada no mundo resultou em ao menos
uma coisa. Minha reputação. Faço qualquer merda que quiser,
quando quiser e todo mundo por aqui sabe que é melhor me deixar
fazer. Isso significa não aparecer na aula, ficar bebaço, e mais
importante de tudo, tenho primeira escolha das garotas. Os outros a
podem ter depois que terminar, se quiserem, eu não ligo sobre
dividir depois que terminar. Mas nunca fico com as sobras. Nunca.
— Ela está fora dos limites.
— Sabia que você a queria, caralho — Ethan zomba antes que
eu vire e empunhe sua camiseta. O sangue drena de seu rosto ao
se preparar para o soco que está esperando.
— Não quero ela, porra. Estou dizendo que ela está fora dos
malditos limites. Entendeu?
— É, é. Fora de limites, entendi.
— E garanta que todo mundo saiba, caralho. Aquela vaca não
pertence a esse lugar e estamos prestes a mostrar.
— Terminamos aqui? — Mason pergunta. Ele sempre foi
ligeiramente o mais cabeça fria de nós três. Ele puxa meu braço
para longe de Ethan e dá um passo entre nós, mas não antes de um
olhar de confusão passar entre os dois.
Reivindicar uma garota não é incomum, mas o que acabei de
fazer. Essa merda não é normal e sem querer, acabei de mostrar a
eles um lado meu que não quero que ninguém veja. Fraqueza.
— Tem certeza que está tudo bem? — Mason pergunta outra vez
quando começamos a andar na direção da nossa primeira aula.
— Sim. Estou apenas sentindo a pressão, acho.
— Esse ano será ótimo.
Erguendo uma sobrancelha para ele, espero que explique como
isso vai acontecer. O time de futebol de Rosewood High nunca foi
tudo isso. Todos temos a paixão e dedicação de que precisamos,
mas historicamente, não ajuda tanto. Todo ano o treinador discursa
que esse ano vai ser o ano, mas até agora, nunca passamos dos
primeiros jogos das playoffs estaduais. Posso admitir que nosso
time está melhor do que nunca, mas não quero apostar em nada
épico.
Para mim, futebol é um escape. Uma maneira de me livrar da
tensão e esquecer minha merda de vida. Posso dar tudo de mim,
mas não tenho nenhuma ilusão que é minha vida. Alguns rapazes
têm grandes esperanças de serem escolhidos por olheiros de
faculdade, e tenho certeza que vai acontecer por agora, mas duvido
que vamos chegar a ver os nomes deles nas listas da NFL.
— Não me dê esse olhar, Thorn. Você sabe tão bem quanto eu
que esse é nosso ano. Com você no comando, não tem nenhum
jeito que não vamos chegar à final.
Não posso criticar seu entusiasmo, isso é verdade. Só é uma
pena que não sinto isso. E a chegada dela com certeza não vai
ajudar as coisas.
CHAPTER TRÊS

Amalie

T irando os olhares constantes dos outros estudantes e colidir


com Shane, minha manhã é bem tranquila. As aulas são…
normais, e muito para meu alívio, recebo tarefa de casa em
todas elas. Isso deve manter minha mente ativa quando chegar em
casa. A última coisa que quero é pensar no que minha vida se
tornou, então quanto mais tiver o que fazer, melhor.
Estava desesperada para começar aqui como uma veterana e
fazer apenas um ano, mas Diretor Hartmann se recusou firmemente
e explicou para minha avó que teria perdido muita coisa e faria me
aclimar na faculdade mais difícil do que deveria ser, então no final
não tive muita escolha. Estou presa aqui por dois anos.
Além de me formar, meu objetivo principal é apenas abaixar a
cabeça, tirar notas boas e focar no futuro. Um futuro no qual poderei
tomar as decisões, não o serviço social, policiais investigativos ou
conselheiros financeiros.
Sigo o fluxo principal de alunos ao sair no corredor antes do
almoço na esperança que me leve na direção do refeitório. É uma
boa escolha e em apenas alguns momentos estou parada na fila
esperando para ver quais delícias posso escolher.
Quando é minha vez, a moça servindo me olha com as
sobrancelhas erguidas.
Olhando para comida, nada parece apetitoso. Nada o fez desde
o momento que encontrei a polícia parada do outro lado da nossa
porta da frente, mas prometi a minha vó que comeria, então aqui
estou.
— O que quer que deveria ser melhor — murmuro, minha voz
oca de um jeito que estou ficando acostumada.
— Claro, querida. Meu hambúrguer e batatas fritas vão melhorar
seu dia na hora. — O sorriso dela ilumina seu rosto e faço meu
melhor para reciprocar, mas não dá certo. Fico com a impressão
que ela quer dizer mais, mas quando olha para cima para entregar
minha comida e percebe a fila de estudantes esperando atrás de
mim, ela apenas sorri e chama: — Próximo.
Pegando minha bandeja, eu me viro e um arrepio passa por
mim. Erguendo os olhos, descubro que novamente estou sob
escrutínio do grupo de rapazes de mais cedo, que estou presumindo
ser o time de futebol e bem na frente está o cara com os olhos azuis
afiados e raivosos.
Minha barriga embrulha conforme ele semicerra os olhos mais
uma vez para mim.
— Dá pra sair do caminho — alguém ralha atrás de mim antes
do meu ombro ser empurrado e um grupo de garotas passarem
tempestuosas por mim. Mal seguro minha bandeja antes que
escorregue das minhas mãos e dou um passo para o lado.
Quando olho de volta para a entrada onde estavam parados,
descubro que está vazia. Mas o formigamento da minha pele me diz
que ainda sou o foco total do seu olhar cheio de ódio.
Olhando pelo refeitório, encontro todos os grupos que espero
encontrar. Os artistas estão usando camisetas cobertas de tinta, os
nerds, as garotas tímidas sentadas quietas em um canto, e depois o
grupo que acho que tenho que me manter o mais longe possível. Os
populares. Os jogadores de futebol e líderes de torcida que estão
abarrotados em alguns bancos como se fossem donos do lugar.
Bom, vamos ser honestos, basicamente são. Posso não conseguir
ver as coroas pousadas no topo de suas cabeças, mas são a
realeza em Rosewood.
Vendo uma mesa vazia entre os nerds e as garotas tímidas, me
dirijo para lá, repouso minha bandeja e caio no banco.
Não sei bem o que esperava que acontecesse hoje. Mas isso
com certeza não era. Mal falei com alguém além de Shane o dia
todo e já tenho um monte de inimigos, um em particular, parece.
Compreendo que não devem querer uma garota nova chegando.
Inferno, eu não quero mesmo estar aqui tanto quando eles não
querem que esteja, mas tenho pouca escolha. Minha vida foi
arrancada de mim e foi aqui que parei.
— Aí você está. Sinto muuuuuuuito por não te encontrar essa
manhã, meu carro não ligava e meus pais já tinham saído.
Pesadelo. De qualquer forma… como foi? — Camila diz, sentando
ao meu lado e tirando um sanduíche da bolsa. Camila é a única
pessoa além de Shane que falou comigo desde que cheguei. Ela é
uma das netas das amigas da minha avó a quem fui apresentada.
Ela é ótima, um verdadeiro doce e me sinto péssima por meio que
ter sido forçada nela. Ela deve ter amigas com as quais preferiria
passar tempo neste momento.
— Tem sido… legal. — Cutuco uma batata em um pouco de
molho no prato, mas não me esforço para comer nada. Já me sinto
um pouco enjoada, não sei se acrescentar comida vai ajudar muito.
— Uau. Isso é bom.
— Cam. O que você está... ah oi, Amalie — Shane diz, parando
ao lado da nossa mesa.
— Vocês dois já se conheceram? — Camila pergunta, olhando
entre nós.
— Sim, trombamos um com o outro mais cedo.
— Sinto muito mesmo sobre isso. — Vergonha colore minhas
bochechas.
— Não precisa. Posso pensar em pessoas piores para trombar.
Foi um prazer. — O jeito que os olhos dele me avaliam ao dizer isso
faz meu coração desanimar. Não achei mesmo que tivesse dado
algum tipo de ideia que poderia estar interessada, mas posso ver
esperança e animação em seus olhos. Sei que conversamos
apenas um pouco mais cedo, mas eu meio que pensei que
pudéssemos ser amigos. Não estou interessada em nada mais.
— Você vai se juntar aos outros? — ele pergunta depois que
volto a olhar para meu prato.
— Talvez um pouco em breve. Acho que hoje já foi um pouco
intenso, né?
— Algo assim — murmuro. — Você pode ir. Não quero te manter
longe dos amigos.
— Não tem problema. Prometi a você que te mostraria tudo e já
falhei. Apesar que soa como se estivesse em boas mãos.
— Com certeza — Shane diz, caindo no assento na minha
frente. Seu olhar queima em mim, mas mantenho os olhos baixos,
sem querer dar esperanças a ele.
— Então, quais aulas você tem esta tarde?
CHAPTER QUATRO

Jake

A manhã inteira, tudo o que posso ver é ela. Não importa


quantas vezes eu diga para mim mesmo que ela é uma
pessoa totalmente diferente, não importa. A devastação e
traição que lembro muito bem ainda queima em mim. Estou
impotente para fazer qualquer coisa a não ser deixar destruir.
Quando a hora do almoço chega, estou prestes a amassar a cara de
alguém.
— Que merda está te incomodando? — Ethan pergunta no
momento que chega ao meu lado.
— Vai se foder.
— Prefiro que não.
Meus punhos se apertam ao tentar me convencer a não o
empurrar contra a parede e soltar um pouco da minha frustração.
Sabia que ir ao refeitório era uma má ideia. Eu deveria ter
andado para fora da escola e dado no pé. Mas não o fiz. No lugar,
continuo a andar ao lado de Ethan, a maioria do resto do time se
juntando a nós em algum momento até o cheiro de comida ruim nos
alcançar e o grande recinto se abrir à nossa frente.
Meus passos vacilam no momento que a vejo prestes a se
afastar do balcão. Posso ver apenas suas costas, mas eu sei que é
ela pelo cabelo loiro denso solto nas costas. É como um maldito
farol vermelho piscando para mim.
— Merda, desculpa — alguém murmura atrás de mim, não está
olhando para onde vai e trombam com minhas costas.
Meus pés se recusam a se mover. Só olhar para ela é tortura,
mas é como se meu corpo estivesse bem feliz de me mandar ir para
o Inferno e voltar e insistir que eu espere que ela se vire para que
consiga dar uma outra boa olhada em seu rosto. Não é como se eu
precisasse, elas parecem tão familiares e provavelmente nunca vou
esquecer o rosto da mulher que me abandonou sem nem mesmo
um olhar para trás.
— Thorn? — alguém pergunta atrás de mim, com certeza se
perguntando por que parei no meio do caminho.
No segundo que ela olha para cima, seus olhos encontram os
meus. Ela parece como um peixe fora d'água, o pensamento tem o
menor dos sorrisos contraindo meus lábios. Ela deveria ficar
assustada. Tenho toda intenção de expulsá-la desse lugar antes que
ela se acomode muito.
Essa é minha escola. Minha vida. Maldito seja se vou passar o
que deveria ser o melhor ano do meu tempo aqui sendo
atormentado por ela.
Não é até que alguém tromba com ela que é forçada a arrastar
os olhos assustados dos meus e eu posso me mover. Dando um
passo, ando até nossa área de costume como se nada tivesse
acontecido. Quando eu me sento e espero os outros se juntarem a
mim, vejo que a maioria não percebeu nada do que aconteceu, mas
os olhares de Mason e Ethan queimam em mim. Eles dois me
conhecem melhor do que ninguém, melhor do que a minha família
patética, então eles sabem que tem algo seriamente errado. Eu não
esperava que eles entendessem. Caralho, eu mesmo não entendia,
mas eles não estão escondendo uma grande parte de si na última
gaveta como se ela nunca tivesse existido. Eles não têm razão real
para apreciar o quanto a Garota Nova parece com o fantasma que
tento esconder.
Treino é o tipo exato de distração que preciso, além do meu desejo
de enfiar a mão na carinha presunçosa de Shane. Resisto à
vontade, por enquanto. Como o quarterback e capitão do nosso
time, todos eles olham para mim pela minha habilidade de tomar
decisões rápidas e os levar para o que pode, com sorte, ser um ano
de sucesso. Claro que também quero isso. Quero mais do que
qualquer coisa ter algum motivo para comemorar, o inferno sabe
que não tive muitos ao longo da vida. Mas uma coisa que aprendi é
que a vida é, em geral, melhor se você for realista, e eu sou realista
o bastante para saber que nós provavelmente não vamos ganhar o
campeonato estadual este ano. Isso não significa que não vou lutar
para caramba para fazer isso acontecer.
Parado ao lado do técnico, sinto como se pertencesse, como se
estivesse fazendo diferença e não posso evitar que meu peito se
encha com orgulho. Isso é o que preciso agora.
Técnico já havia nos avisado que iria pegar duro com a gente
neste ano, e esse treino não é exceção. Nosso primeiro jogo podia
não ser até sexta a noite, mas ele vai garantir que estamos prontos
para ele.
Parado sob o chuveiro depois de deixarmos o campo, deixo a
água bater nos meus ombros, na esperança de aliviar um pouco da
tensão.
— O que diabos está acontecendo entre você e a garota nova,
Thorn?
Entrando em pânico com a menção dela, olho para cima, mas os
chuveiros estão vazios tirando Mason, cujos olhos estão me
fuzilando como se fosse ler a resposta dentro deles.
— Eu só não gosto dela. — Dou de ombros, desligando o
chuveiro e esticando o braço para uma toalha.
— Isso é uma balela e você sabe.
Os sons dos seus passos leves bem atrás de mim revelam que
isso não acabou. Sei que se alguém fosse entender, seria Mason,
mas isso não significa que estou disposto a falar disso.
— Que seja. Não tenho que me explicar para você.
— Não, você não precisa. Mas como seu melhor amigo, meio
que esperei que o fizesse.
Culpa revira meu estômago. Ele teve muita merda acontecendo
na vida recentemente e eu o fiz conversar quando menos queria,
deveria saber que isto iria acontecer.
— Eu só... Eu não gosto da aparência dela. Ela não se encaixa
aqui.
— Bonita e sexy não se encaixa aqui? Ah, conta outra.
Normalmente você estaria dominando isso. Vai precisar tentar mais
se quiser me enganar.
Ignorando ele, eu viro e começo a colocar a roupa. Eu não tenho
tempo para isso. Eu quase consegui esquecer os olhos azuis e
cabelo loiro dela enquanto treinávamos jogadas, mas agora
estavam na porra da minha cabeça outra vez.
— Vamos, vou te comprar um hambúrguer. Pode te relaxar um
pouco.
Mostrando o dedo para ele, eu o sigo na direção do seu carro
para que possamos ir para nosso local de costume, uma lanchonete
na praia.
CHAPTER CINCO

Amalie

— Q ueria ir pra casa e adiantar a tarefa — falo para Camila


quando ela tenta a me convencer a ir com ela, Shane e
alguns amigos deles para uma lanchonete.
— Sinto muito, mas isso não vai acontecer. Prometi para minha
avó que te ajudaria a se entrosar.
— Sério, não tem problema. Vou garantir que ela saiba que você
fez o que ela pediu. Não quero que você sinta que precisa ser minha
babá.
— Chega — ralha, mas os olhos brilham com diversão.
Passando um braço pelo meu, ela me puxa para frente na direção
do estacionamento. — Não vou aceitar não como resposta. E mais,
um dos milkshakes do Bill vai fazer todas suas preocupações
desaparecerem.
Não acho que isso poderia ser verdade, mas estava disposta a
testar. Eu não queria mesmo passar os próximos dois anos sendo a
pária que me senti hoje. Mas estou igualmente incerta se estou
mesmo a fim de socializar e fingir que tudo está bom na minha vida.
— Uau, isso me faz lembrar de casa — falo, minha voz marcada
por tristeza quando entro no Mini da Camilla.
— Ela é incrível, né? Bom, quando ela dá partida. Cruze os
dedos. — Ela pisca antes de fazer drama para colocar a chave na
ignição e dar partida. Suspirando de alívio quando liga com um
ronco, olha para mim e ri.
— Aces no primeiro dia do último ano é tradição. Qualquer um
que é alguém vai estar lá.
Eu dou um gemido de reclamação, não só estou no penúltimo
ano, mas tinha um grupo inteiro de alunos que não me queria
mesmo lá.
— Não tenho certeza se devo ir.
— Aconteceu alguma coisa hoje? Alguém disse alguma coisa
dos seus pais ou… — Olhando rápido para mim, os olhos dela
semicerram ao tentar me entender.
— Não, ninguém disse nada. Eu mal falei com alguém além de
você e Shane. — Não conto para ela dos olhares odiosos que
recebi, que acho que podem ter sido piores do que se alguém
tivesse dito algo para me machucar. Pelo menos se ele tivesse dito
alguma coisa poderia me dar uma indicação de qual é o problema
dele.
O estacionamento está cheio quando saímos da rua principal.
Tem adolescentes espalhados na orla e na praia. Camila não estava
mesmo brincando quando disse que todo mundo estaria aqui.
— Os caras já pegaram uma mesa pra gente. Noah matou a
última aula para isso.
— Sério?
— Sim. Estar aqui nesta tarde é importante. Pronta? — Ela me
dá um sorriso que tento retribuir depois de reaplicar o gloss no
retrovisor e afofar um pouco o cabelo. Ela sai do carro e me apresso
para segui-la.
Alguns dos outros adolescentes que estão por perto se viram
para nós, mas graças a saia obscena de curta da Camila, eu por
sorte não sou o foco da atenção deles. Eu causo alguns sussurros
depois que os transeuntes olharam bastante para as pernas dela.
— Ah, ali estão.
Eu sigo atrás dela ao ir na direção de uma mesa cheia de
estudantes que não reconheço. Fica claro na hora porque esse
lugar é chamado Aces. É todo preto, branco e vermelho, com
decorações de carta de baralho por todo o lugar. Shane nos vê indo
na direção deles e sorri para mim como se fôssemos amigos de
longa data.
— Amalie, bom te ver. — O entusiasmo na voz dele é um pouco
demais conforme desliza da cabine que está sentado para permitir
que eu me junte ao seu grupo de amigos. Camila senta na minha
frente e se aconchega no lado de Noah. Não posso tirar os olhos
dele quando ele olha para ela e dá um beijo em sua têmpora. Ela
olha para ele com tanta adoração e amor que faz meu coração doer
e um nó se formar na minha garganta.
Logo me distraio quando uma multidão escandalosa entra
tropeçando pela porta. Meu ânimo desaparece quando meus olhos
encontram ele. Seu ódio claro pela minha mera existência irradia de
todos os seus poros.
Outra vez, seus passos desaceleram ao olhar para mim. Seus
lábios estão em uma linha fina, os olhos escuros e assombrados. Ao
continuar encarando, não posso evitar sentir como se ele não
estivesse olhando bem para mim, mas por mim, como se eu fosse
um fantasma que ele não podia acreditar estar vendo. Não sei ele,
mas tenho certeza absoluta que não o vi antes. Tenho quase
certeza que lembraria se tivesse, porque apesar da sua presença
fazer um tremor de medo passar por mim, não posso negar que ele
é gostoso.
O cabelo dele é curto dos lados e mais comprido no meio, os
olhos assombrosos que me estudaram de longe hoje, agora posso
ver que são azuis royal, e seu corpo. Bom… vamos apenas dizer
que é óbvio que ele faz parte do time de futebol porque ele é
sarado. A camiseta branca está esticada nos seus ombros largos,
mostrando seu peito malhado e abdômen reto. Apostaria dinheiro
que tem um tanquinho impressionante ali.
Pensar no corpo de um homem faz outros pensamentos
pipocarem na minha cabeça que prefiro não ponderar neste
momento. Já me sinto vulnerável perto de todos esses estranhos
que já sabem demais da minha vida e como vim parar aqui, não
preciso do passado e das emoções que vem com ele me fazendo
ainda mais fraca. Ainda mais enquanto minha pele ainda está
formigando por causa do olhar dele.
— O que diabos? — Shane pergunta, olhando entre mim e o
cara. — Você conhece ele?
— Não. Nunca o vi antes dessa manhã. Mas ele parece ter
algum tipo de problema comigo.
Desviando a atenção de volta para as pessoas ao meu redor,
vejo que todo mundo está olhando entre nós dois com expectativa.
— Tem certeza que não conhece ele? — Camila pergunta. — Ele
parece bem interessado em você.
— Tenho muita certeza. Quem é ele?
— Quem é ele? — Alyssa, outra amiga da Camila, repete bem
como eu imaginaria que ela faria se eu perguntasse quem era
Donald Trump. — Aquele é o Jacob Thorn. Capitão do time de
futebol. Rei de Rosewood High e o sonho molhado de toda garota.
— Nem toda garota — Camila acrescenta, rápido, olhando para
Noah como se ele tivesse pendurado a lua no céu.
Por fim, os amigos dele devem ficar de saco cheio com a demora
e o arrastam para a mesa vazia do outro lado da lanchonete. Isso
não quer dizer que deixo de ser seu foco de atenção. Posso me
recusar a olhar naquela direção, mas sinto seus olhos em mim.
Minha pele esquenta e sinto um friozinho na barriga por saber que
ele prefere olhar para mim do que se divertir com os amigos. Sei
que é porque ele claramente me odeia, mas meu corpo traidor não
liga neste momento.
— Se posso te ensinar qualquer coisa de Rosewood High,
Amalie, é que fique o mais longe que puder daquele povo. Não são
nada além de problema.
— Você soa como sua avó.
Ela dá de ombros, nem um pouco ofendida.
— Estou falando sério. Não tenho ideia do que está acontecendo
com vocês, mas seria melhor que você desencanasse assim que
puder e esquecesse dele e de que qualquer outro jogador de futebol
que existe.
— Ei — Shane reclama. — Não somos todos ruins. — Ele cutuca
meu ombro para garantir que escutei suas palavras.
— Bom saber. — Apesar que devo admitir que estou mais
chocada do que aliviada. Acho que ele tem o corpo para combinar
com a imagem, mas isso não explica por que ele está sentado aqui
com os “ninguéns” quando ele poderia estar lá com o time, curtindo
a vida.
— Não sei como você pode aguentar jogar para aqueles
babacas.
— Não jogo para eles.
— Que seja — Camila diz, o dispensando com um aceno como
se tivesse ouvido o mesmo argumento um milhão de vezes.
A conversa deles logo se volta para o ano à frente, quais festas
serão realizadas e o pré-jogo na sexta antes do primeiro jogo da
temporada. Todos olham para mim como se eu tivesse três cabeças
quando peço para explicarem o que exatamente é um pré-jogo. Eles
parecem se esquecer que venho de um mundo totalmente diferente.
Camila pulula no banco ao contar o que posso esperar, seguido
por exigir que eu esteja lá, porque não ir é um jeito garantido de me
colocar na “lista de bullies”
Evito explicar como eu não poderia mesmo dar a mínima para
tudo isso, mas imagino que se vou precisar passar dois anos aqui,
então era melhor não pintar um alvo nas costas.
— De qualquer maneira, você precisa estar lá para poder ver o
que acontece depois.
— O que acontece depois? — pergunto com trepidação. A
animação dançando nos olhos dela me deixa nervosa.
— Você vai precisar esperar para descobrir, mas é épico. A festa
das festas. E mais, você vai poder ir duas vezes. Poucas pessoas
têm essa chance.
CHAPTER SEIS

Jake

A s palavras de Mason não me deixaram durante o caminho


inteiro até Aces. Ele está certo, claro. Ela é linda e sexy,
ninguém com um maldito par de olhos poderia negar isso. Ela
é bonita demais. Essa é a porra do problema. Qualquer um com
uma aparência daquelas só pode ter maldade por dentro. Eu provei
isso e não é algo que tenho qualquer desejo de repetir, e é o motivo
que ela precisa ir embora. Não precisamos desse tipo de veneno
por esses lados. Já temos babacas o suficiente andando pelos
corredores de Rosewood High.
O lugar está lotado, mas não estou preocupado que não vamos
encontrar lugares. As cabines nos fundos são praticamente
reservadas para nós. Somos donos do lugar, e Bill sabe disso. Se
não fosse por nós e nossa reputação, a lanchonete dele não ficaria
cheia de adolescentes todos os dias.
Segurando a cabeça erguida, entro na lanchonete com Mason e
Ethan logo em seguida. A porra da lanchonete inteira vira para olhar
assim que entramos e por um breve momento, a adrenalina que
normalmente sinto sabendo que sou dono desse maldito lugar
começa a correr por minhas veias. Depois meu olhar encontra um
par de olhos azuis arregalados, os exatos olhos que me
assombraram o dia inteiro, e aquela euforia anterior afunda. Aquela
vaca a suga todinha de mim.
— Continue se movendo — Mason instrui, mas estou impotente.
Ao olhar para ela, um evento do meu passado, que mudou tudo do
meu futuro, se repete na minha cabeça como a porra de um filme.
Meu peito contrai e meus pulmões queimam conforme tento inalar o
ar que preciso. Não importa o quanto eu deseje que desapareça, a
imagem do rosto dela ao se afastar de mim está bem na frente da
minha mente. Minha vida de merda é culpa dela, mas infelizmente,
ela não está aqui para provar as consequências de suas ações. Mas
ela está.
Conforme minha visão começa a clarear e a Garota Nova volta
ao foco, percebo algumas diferenças sutis da mulher que arruinou
minha vida. Mas posso ignorá-las. O mais importante é me livrar da
raiva e desespero que carrego comigo desde aquele dia.
Estou tão perdido que meu corpo inteiro sobressalta quando uma
mão pousa no meu ombro.
— Você está começando a fazer uma cena.
— Deixe-os olhar, caralho. — Não dou a mínima para o que todo
mundo pensa neste momento. Tudo o que sei é o que preciso, e
preciso vê-la partida.
Até chegar nas nossas cabines, consegui colocar a máscara que
uso todos os dias e garante que ninguém vai me questionar. Tem
apenas algumas pessoas nesse planeta que viram meu eu
verdadeiro, a dor e hediondez que apodrece minhas entranhas e
vou alegremente manter dessa maneira.
Mason me dá um sorriso preocupado antes de virar para a
garçonete e fazer nosso pedido de sempre para ela. Posso apenas
esperar que ele esteja certo e que um dos hambúrgueres do Bill vai
me colocar no lugar.
Ela só está aqui há um dia e já estou uma maldita bagunça. Essa
situação precisa ser resolvida, e rápido.
Os caras ao meu redor conversam animados sobre o nosso
primeiro jogo enquanto as garotas discutem suas coreografias para
o pré-jogo. Não estou nem aí para nenhum dos dois, tenho coisas
mais importantes para resolver.
— Qual o problema, Jake? O estresse de finalmente ser um
veterano está te afetando? — Chelsea ronrona, sua mão com uma
crosta de bronzeado falso pousando entre meu peitoral e descendo
pelo meu abdômen.
Porque eu algum dia me permiti ficar com ela me elude. Mas
parece que Chelsea pensa que só porque a comi que ela tem algum
tipo de direito sobre mim.
— Estou bem, obrigado — declaro, segurando o pulso dela com
um pouco de força demais e a removendo do meu corpo.
— Ai — ela reclama, virando os olhos gigantes para mim como
se ver as lágrimas neles de repente vai fazer com que me importe.
— Não me toque, caralho.
— Ah, vamos. Você não estava dizendo que…
— Chega — vocifero. Levantando-me da cabine, todos os olhos
seguem meus movimentos. — Acabei por aqui.
Escorregando para fora, os olhos de todos me seguem, mas
presto pouca atenção a eles. Podem pensar que estou indo embora
para me livrar da Chelsea ou o que seja, mas na realidade, estou
indo embora por causa de certa loira. Ela foi levada para fora pela
Camila, mas ela acabou de voltar para dentro para alguma coisa,
então agora é minha chance de me apresentar.
Empurro a porta lateral com mais força do que é necessário, ela
bate na parede. O impacto reverbera por mim e me empurra para
frente. Minha pele ainda está pinicando do toque de Chelsea e meus
músculos ainda estão tensos da memória que ela trouxe à tona mais
cedo.
Eu a encontro na hora, apoiada na parede da lanchonete com o
pé apoiado no tijolo.
Animação e antecipação borbulham no meu estômago enquanto
a observo por um momento. Está claro que ela tem muito em mente
ao olhar para o horizonte, mas não poderia pensar duas vezes nas
preocupações dela neste momento. As minhas são a única coisa em
que me importo.
Meus punhos apertam, e uma linha profunda se forma entre
minhas sobrancelhas ao dar um passo na direção dela. Ela pode
não ser a mulher que arruinou minha vida, mas neste momento, ela
é o mais próximo que tenho.
CHAPTER SETE

Amalie

O milkshake é quase tão bom quanto Camila prometeu, apesar


de não esquecer minhas preocupações por nem mesmo um
segundo, não que tivesse esperado por isso. Minha vida está
uma confusão neste momento e nenhuma quantidade de morango,
leite, sorvete ou granulado vai retificar isso.
— Bom, certo? — Camila pergunta quando vê meus olhos
revirarem no momento que o doce atinge minha língua.
— Tão bom.
— Eu pedi o extra especial para você, já que hoje é meio
importante.
Meu estômago afunda e meus olhos vão para os dela, pensando
que ela vai soltar o segredo que estive guardando o dia inteiro. Não
é como se tivesse sido um trabalho árduo ou algo assim e também
não é como se eu tivesse qualquer inclinação para celebrar.
Ela pisca antes de virar de volta para os amigos. Eles estão
tentando me incluir o melhor possível, mas nossos mundos são tão
diferentes que penso que vai precisar de mais do que uma ida a
lanchonete para que eu comece a me encaixar.
Tirando o telefone do bolso quando começa a vibrar, encontro o
nome da minha avó me encarando de volta.
— Merda.

Pensei que estaria de volta a essa hora. Está tudo bem? Você
precisa que eu vá te buscar?

Ela pode ter insistido que me levasse para escola nesta manhã, mas
eu insisti ainda mais para que voltasse de ônibus. Estou muito
ciente do quanto eu já mudei a vida dela em questão de algumas
semanas, e algo tão simples quanto pegar o ônibus escolar é um
jeito fácil de permitir que ela continue a viver sua vida.

Estou bem. Logo estarei em casa x

Pensando que é a desculpa perfeita para sair deste lugar e do par


de olhos que ainda me provocam do outro lado da lanchonete.
— Desculpa, mas preciso me mexer. Minha avó está me
esperando. Tem um ônibus que posso pegar daqui ou devo chamar
um táxi?
— Não seja boba. Vou te levar.
— Não, você mesma disse como é importante estar aqui. Vou
ficar bem.
— Posso voltar. Só me deixe te levar, vai me fazer sentir melhor.
— Ela olha para mim, os olhos gentis me dizendo que não tenho
escolha até ceder, me levanto e deslizo da cabine.
Escuto ela dizer para os outros que estamos indo antes de
começar a me seguir para fora da lanchonete. Mantenho os olhos
focados na porta, lutando contra a necessidade de virar e confirmar
que os formigamentos passando pelo meu corpo são cortesia de
estar sob seu olhar intenso mais uma vez.
— Merda, já volto. Noah está com meu maldito telefone. Espere
aqui.
Ela corre de volta para dentro, me deixando a sós por alguns
minutos para tentar fazer sentido de tudo que está passando na
minha cabeça.
A sensação de que estou sendo observada me toma, e meu
coração começa a acelerar. Olhando em volta, todo mundo parece
estar ocupado com suas próprias coisas. Estou prestes a soltar a
respiração que estava segurando, me sentindo ridícula por me sentir
vulnerável, quando uma sombra me cobre. Começo a soltar um
grito, mas dedos quentes seguram meu queixo e sou forçada a
encontrar o olhar sombrio dos olhos que me assombraram o dia
inteiro.
Minha temperatura corporal sobe e minhas mãos começam a
tremer. Medo lampeja no meu âmago enquanto ele olha para mim
com impenetráveis olhos sombrios, o azul quase preto.
Espero que ele diga alguma coisa, mas o silêncio parece se
arrastar por um longo tempo. Ao invés disso, o olhar dele passa por
todos os centímetros do meu rosto, quase como se estivesse me
memorizando.
Quando os olhos dele encontram os meus, outra vez perco o
fôlego. Eu me digo que nada está prestes a acontecer. Estamos em
um local público movimentado e Camila vai voltar a qualquer
segundo.
Meu peito arfa conforme seu calor corporal pinica minha pele.
Abaixando a cabeça, a respiração dele faz cócegas na minha orelha
e pelo meu pescoço. Meu corpo traidor reage e cobre minha pele
em arrepios. Algo que não acho que ele deixa passar se sua risada
grave e nada divertida é algo para se considerar.
— Você não pertence a esse lugar, Garota Nova. Eu levaria esse
aviso muito a sério se fosse você, porque posso fazer sua vida
muito, muito difícil.
Tento engolir, mas minha garganta está seca demais. Bem
quando penso que ele vai acrescentar algo ou fazer outra coisa, ele
solta meu queixo e dá um passo para trás. Meu corpo oscila com
alívio, mas é apenas um segundo depois que percebo que o
aconteceu.
— Amalie, você está bem? — Camila pergunta, contornando a
lanchonete com o telefone na mão.
— Hm… — Hesito, minha respiração ainda errática e minha
cabeça rodando.
— Estava apenas dando as boas-vindas a ela em Rosewood.
Ela olha entre nós dois por um momento antes de fixar o olhar
em Jacob. Sigo os olhos dela e o observo. O corpo dele está
relaxado na maior parte, mas a firmeza do seu rosto me diz que a
ameaça que ele acabou de fazer não foi piada.
— Como queira, Jake.
— Fique fora disso. Sei que Mason não vai gostar muito de você
se metendo nas nossas coisas.
Balançando a cabeça, ela estica o braço para mim e eu permito
que envolva meu antebraço com sua mão quente e me puxe para
longe dele.
O olhar dele queima nas minhas costas conforme nos
afastamos. Eu me digo para não olhar para trás, mas minha cabeça
se move sem o comando do meu cérebro e me pego presa no seu
olhar mais uma vez. O lábio dele se curva em um sorriso malévolo e
meu estômago afunda.
Sabia que começar de novo aqui não seria fácil, mas nunca
esperei isso... ele.
— Tem certeza que está tudo bem? — Camila pergunta uma vez
que estamos na segurança de seu carro. Minha respiração quase
voltou ao normal, mas os olhos raivosos dele ainda são a única
coisa que posso ver e a pele no meu queixo ainda está queimando
onde ele me segurou firme.
— S-sim. Está tudo bem. — Olhando para mim, posso ver que
ela não acredita em nenhuma palavra, mas ela não me pressiona
por mais e sou grata.
— Apenas me prometa que você vai ficar longe de Jake. Ele não
é uma boa pessoa.
Quero desesperadamente perguntar mais, mas temo parecer um
pouco interessada demais, então murmuro minha concordância e
mantenho os lábios fechados.
O caminho é curto e logo estamos parando na frente do bangalô
da minha mãe em uma parte calma da cidade. No começo pensei
que pudesse ficar solitária cercada pela minha avó e todas suas
amigas do bairro, mas quanto mais tempo passo aqui, mais gosto
de poder me esconder. Acho que só vou apreciar isso mais agora
que a escola começou.
— Obrigada.
— Disponha. Por favor, me ligue se precisar de qualquer coisa,
tudo bem? Sei como é difícil começar a vida de novo, se precisar de
um ouvido, ou um ombro, estou aqui. Tá bom?
— Sim, obrigada, Camila. Aprecio mesmo isso.
— Disponha. Tenha uma boa noite. Ah, e… Sei que você não
quer comemorar, mas feliz aniversário.
Um nó se forma na minha garganta. Na maior parte, consegui
esquecer o que o dia de hoje representa. Não tenho intenção de
comemorar sem meus pais, então fiz minha avó prometer não
contar para ninguém e não fazer nenhum alarde. Mas parece que
ela pode ter quebrado a promessa, se Camila sabe.
Aceno para ela, sem conseguir responder por medo de me
acabar em lágrimas.
Parada no acesso da garagem, fico vendo ela dar ré e acenar
antes de sair de vista. Acho que nós duas podemos ser boas
amigas. Parecemos ter muito em comum, temos personalidades
similares, só não tenho certeza se tenho a energia para deixar
alguém entrar. Ainda mais quando não sei bem o que meu futuro
reserva depois de dois anos aqui. No momento, meu coração ainda
está decidido a voltar para Londres, mas devo admitir que depois de
estar algumas semanas aqui, eu gosto bastante do sol e do mar.
Faz tudo parecer um pouco mais possível sem a sujeira e fuligem da
cidade que estou acostumada.
Respirando fundo, viro e dou um passo na direção da porta da
frente da minha avó. Logo percebo que meu aviso para esquecer
sobre o dia de hoje foi completamente ignorado porque a cozinha
está cheia de balões e faixas.
— Eu sei, eu sei, você não quer alarde. Mas é seu aniversário de
dezoito anos, querida. Vai se arrepender de deixar passar. — Os
olhos dela estão cheios de amor e esperança e não tenho forças
para discutir, então permito que meus olhos analisem a cena na
minha frente e o bolo de número dezoito gigante no meio da mesa e
forço meus lábios a sorrirem. Vou até ela e passo os braços pelos
seus ombros magros. Ela pode estar ficando mais velha, mas ela
não é menos bonita. É óbvio de onde minha mãe e eu herdamos
nossa altura e beleza.
— Obrigada, Vó. — Espero mesmo que soe sincero, porque não
quero que ela pense que não aprecio todo o esforço que ela teve
desde o dia que me mudei para cá. Não tenho certeza que ter a
guarda da neta adolescente é o que ela planejava para sua
aposentadoria, mas aqui estou.
— Fiz seu favorito. Peixe com fritas. Vá se refrescar e vou
finalizar. Fiz até as ervilhas como você fala.
Pensamentos de casa fazem lágrimas queimarem minha
garganta. Eu as engulo, dou outro sorriso a ela e viro na direção do
quarto.
Odeio ficar chateada na sua frente. Sei que é sua
responsabilidade cuidar de mim agora, mas odeio as sombras que
enchem seus olhos e o leve tremor dos seus lábios quando ela
pensa na filha. As últimas palavras que disseram uma para outra
não foram ideais, mas agora é algo que minha vó vai precisar viver
com elas.
Deixando minha mochila e livros na mesinha que minha avó
colocou no meu quarto, caio na cama e aperto os olhos fechados ao
tentar bloquear tudo. Pode dar certo com algumas merdas na minha
cabeça, mas infelizmente não dá certo com ele, Jake Thorn. Qual
diabos era o problema dele? Sou nova, entendo isso. Mas a reação
dele hoje, seu aviso foi um pouco exagerado. A pele cobrindo meu
queixo queima conforme me lembro da sua mão firme e da raiva
saindo de seus olhos ao encararem os meus. Ódio puro e inalterado
escapava deles.
CHAPTER OITO

Jake

B atendo a porta da caminhonete do Mason, saio tempestuoso


na direção da casa, apesar de não ter possibilidade nenhuma
de entrar ali dentro. Eu moro nos fundos. Escondido nas
sombras para que minha tia e tio possam fingir que eu não existo. E
estou bem com isso. Prefiro estar aqui sabendo que eles não vão
ligar do que dentro da casa vendo como eles tratam os próprios
filhos como realeza. Por que diabos ela pensou que esse seria o
melhor lugar para mim quando deu o fora, só Deus sabe.
Colocando a chave na fechadura do meu trailer, entro e tranco a
porta. Não preciso me preocupar com ninguém vindo me incomodar.
Todas as pessoas naquela casa ignoram minha existência. Bom,
todo mundo menos Poppy, minha prima mais velha. Ela tentou fazer
um esforço várias vezes, mas eu rejeitei todas as suas tentativas.
Minha tia e tio não querem que eu tenha nada a ver com seus filhos,
está nos olhos deles todas as vezes que me veem sequer olhar para
um deles. Não tenho nada contra Poppy, ela é uma segundo anista
em Rosewood e é uma ótima criança, mas para o seu próprio bem,
fico longe dela. Não quero causar problemas para ela com os pais e
como eles me disseram várias vezes, isso é tudo o que sou,
problema.
Tiro os cigarros e isqueiro da minha primeira gaveta, caio no sofá
e acendo um. Dou uma tragada e deixo queimar meus pulmões
enquanto olho a fumaça preencher o espaço a minha volta.
Tento limpar a mente, focar nos meus movimentos e respirações,
mas não adianta merda nenhuma. Tudo o que vejo é ela, tudo o que
sinto é seu cheiro doce. No momento que fiquei cara a cara com ela,
suas claras diferenças com a mulher de quem me lembra ficaram
óbvias. O cabelo dela era totalmente natural, não o platinado que
me lembro, os olhos era um azul levemente mais escuro, e de perto
tem flocos de verde neles que apenas se iluminaram com o medo.
Ela tem um punhado de sardas cobrindo seu narizinho redondo e as
maçãs do rosto altas, e tinha uma pinta bonitinha bem acima do lado
esquerdo do lábio superior. O ódio que estivera crescendo dentro de
mim desde que meus olhos pousaram nela pela primeira vez nesta
manhã de repente se transformou em outra coisa, algo que eu me
recusava a reconhecer porque precisava da raiva. Esperei anos
para extravasá-la e a similaridade entre elas eram o bastante para
mim. São o suficiente para me permitir acreditar que estou
machucando a mulher que me machucou mais do que seria
possível.
Solto a bituca do cigarro em uma garrafa de cerveja vazia,
acendo outro na hora, mas já sei que não vai ser o suficiente para
limpar minha cabeça, para me fazer esquecer.
Quando Mason me encontrou tentando recuperar o fôlego e
apoiado na parede dos fundos do Aces depois que ela foi embora,
apenas confirmou a ele que algo estava seriamente errado comigo.
Ele estivera bisbilhotando o dia inteiro, mas deveria me conhecer
melhor do que esperar que confessasse todos os meus problemas.
Somos amigos por quase tanto tempo quanto consigo lembrar, e
nenhuma vez contei a ele todos os meus segredos. Tenho toda a
intenção de levar os filhos da puta pro túmulo. Ninguém precisa
saber a verdade de como sou impossível de amar e quem minha
mãe verdadeira é. Um tremor passa por mim só com o pensamento
dos meus amigos descobrirem. Seria a única coisa que poderia
fazer minha vida pior neste momento. A chegada da Nova Garota é
uma coisa, mas a verdade vir à tona… Não, isso não pode
acontecer, e vou fazer tudo em meu poder para impedir.
Enfiando outra bituca na garrafa, relaxo no sofá desejando que
tivesse algo mais forte aqui.
Meu telefone vibra no bolso e quando o pego, me pergunto se
Ethan pode ler minha mente.

Pais viajaram. Traga seu traseiro para cá.

Solto o telefone na almofada, me levanto e começo a tirar a roupa e


vou para o banheiro. Ligo o chuveiro o mais quente possível e entro
sob o jato de água. Fecho os olhos e deixo cair em cima de mim,
esperando que vá lavar tudo, mas no momento que fecho os olhos,
tudo o que vejo são os dela. O medo neles faz meu coração
acelerar e pau endurecer.
Eu o envolvo com a mão, e apoio nos azulejos gelados para
liberar um pouco da tensão que cresceu dentro de mim. Mal alivia
minha inquietude, mas até colocar as mãos no que sei que Ethan
vai ter na casa dele, é o melhor que posso fazer.
Ao passar pela casa principal, vejo a família sentada junta na
mesa, dando risada e sorrindo ao comerem sua refeição noturna. A
visão costumava me machucar, costumava parecer como um golpe
no peito com um taco de beisebol, mas conforme o tempo passou e
aprendi a trancar tudo bem fundo, tudo o que sinto é pena. Pena
que eles podem me jogar para o lado como se não existisse. Eles
são tão ruins quanto ela. Tão egoístas quanto ela.
Assim que estou prestes a desviar o olhar, Poppy olha por cima
do ombro. Os olhos dela encontram os meus e um sorriso pequeno
e triste contrai seu lábio.
Desvio o olhar de forma brusca, continuo até a calçada e vou na
direção da casa de Ethan.

— Quantas precisamos te dar antes que você comece a falar? —


Mason pergunta, me entregando outra garrafa.
Solto a fumaça que estava segurando e olho para ele. A brisa do
baseado que Ethan me deu está se misturando com o álcool e me
dando o escape que estava desejando.
— Quando isso aconteceu antes? — Eles me conhecem melhor
do que isso. Nenhuma quantidade de maconha ou álcool vão me
fazer soltar o monstro que guardo dentro de mim.
— Vai acontecer um dia, Thorn. — Ele se reclina e inclina a
garrafa nos lábios, engolindo o resto da cerveja.
Uma batida soa pela casa e Ethan levanta, animado. Ele é de
longe o mais rico de nós três. Não que seja muito difícil ter mais do
que eu, o cara que vive em um trailer escondido e na maior parte
vive de doações dos amigos ou miojo. Não é algo que me orgulho,
mas é minha vida mesmo assim.
Ele corre da caverna, deixando Mason e eu relaxados nos sofás
gigantes. O som de conversa feminina animada ecoa da porta da
frente e meu estômago afunda.
— Ele não disse que tinha convidado elas. — Mason olha para
mim como se tivesse acabado de criar outra cabeça. — O quê?
— Nada. Só não é do seu jeito rejeitar uma boceta.
— É, bom. Talvez hoje seja diferente.
— Caralho, cara. Aquela garota te deixou todo incomodado,
hein?
— Garota? — pergunto, tentando fingir que estou de boa, mas
quando a resposta dele é só um revirar de olhos, sei que não tive
sucesso.
— Talvez Chelsea possa te distrair, te ajudar a dar uma relaxada.
Assim que ele diz isso, ela se acomoda no meu colo e se serve
da minha cerveja.
— Quem precisa de distração? — A voz dela é aguda e
esganiçada, e faz minha pele se eriçar.
Sem gentileza nenhuma, eu a empurro do meu colo e ela cai no
chão encerado com um baque e um gritinho. Bato minha garrafa de
cerveja na mesa de centro, ela vira para mim, estufa o peito e
coloca as mãos nos quadris.
— Que porra foi essa, Jake?
— Você está bem, Chelsea? Parece que você teve um pequeno
acidente — Mason pergunta, acenando para a mancha molhada na
sua microssaia.
As bochechas dela queimam vermelhas e os olhos escurecem
antes de bufar e se afastar tempestuosa.
— Vou precisar mais dessas se ela está planejando ficar por
aqui.
Mason fixa o olhar em mim, mas uma olhada nos meus olhos
semicerrados e ombros tensos e ele sela a boca fechada.
Olhando para o jardim do Ethan, vejo quando algumas garotas
ficam de biquíni e pulam na piscina. Ethan logo as segue e em
minutos tem duas presas em um canto. Observo, sem vergonha, ele
enfiar a língua na boca de uma delas e logo seguir para a outra.
Normalmente, estaria fazendo o mesmo, ou melhor, arrastando uma
delas para um dos quartos de hóspedes. Mas não estou
interessado. Esta noite, quero sentar em um canto escuro cercado
por garrafas de cerveja e um punhado de baseados.
CHAPTER NOVE

Amalie

P or algum milagre, chego no final da minha primeira semana


em Rosewood High sem muito drama. Jake manteve
distância. Eu encontrei seus olhos azuis afiados pelo corredor
mais de uma vez, mas ele não chegou perto. Não tenho certeza
como me sinto com isso. Uma grande parte de mim quer pensar que
o aviso dele na segunda-feira foi apenas uma piada, seu jeito
doentio de receber a garota nova. Mas eu estava lá, era meu queixo
formigando sob seu toque firme, não tinha nada de brincadeira ou
leve no ato. Ele falou sério com todas as palavras que disse para
mim do lado de fora da lanchonete, e apesar de ter tentado ignorar a
preocupação, sei que ele estava esperando nos bastidores,
planejando seu próximo ato. Se eu pudesse descobrir qual é o
problema dele, então poderia ter um pouco de chance de antecipá-
lo.
— Para essa tarefa, vocês vão se juntar em duplas. Quero uma
pesquisa detalhada e depois algum tipo de apresentação, não me
importo de que forma, use sua criatividade. Vamos começar na
próxima sexta. — Tem um burburinho entre meus colegas de sala
conforme começam a planejar o novo trabalho de história. — Vou
escolher as duplas — o professor vocifera, fazendo todos ao meu
redor gemerem.
Ele começa a falar nomes, não tenho ideia a quem pertencem,
mas me reclino na cadeira e observo expressões alegres ou bravas
aparecerem nos rostos deles ao aceitarem quem é o parceiro.
— Amalie — fala, encontrando meus olhos. — Você está com
Poppy.
Uma garota com cabelo escuro, e olhos ainda mais escuros, se
vira e me oferece um sorriso suave. Relaxo um pouco quando, à
primeira vista, ela não parece ser uma aprendiz de líder de torcida
ou groupie de jogador de futebol.
O professor recita o resto dos nomes na lista antes de nos
instruir a sentar em pares e começar a planejar.
— Oi, sou Poppy — diz, soltando a mochila no chão e sentando
no assento vago ao meu lado. — Você está na minha aula de
estudos de cinema, certo?
— Talvez. Desculpe, essa semana foi um pouco cheia.
— Sem problema. Para sua sorte, você acabou de conseguir
uma parceira excelente para este projeto.
— Ah é? — falo com uma risada, percebendo que já gosto dela.
Começamos, mas o sinal toca antes de fazermos muito
progresso.
— Então, te encontro depois da aula na segunda e você pode
voltar para minha casa?
— Parece bom para mim.
— Você vai no pré-jogo hoje à noite?
— Parece que sim.
— Você parece bem animada com isso. — Ela ri e coloca a
mochila no ombro antes de começarmos a andar na direção da
porta.
— Não é muito minha praia.
— Nem a minha, mas meu primo está no time, então vou para
torcer por ele. — Sorrio, mas a menção de família faz meu coração
afundar até o estômago. — Então te vejo na segunda?
— Claro. — Aceno para ela conforme vai para sua próxima aula
e viro para fazer o mesmo.
— Hoje está se arraaaaastando — Camila reclama quando me
encontra me escondendo em um canto nos fundos da biblioteca
durante o almoço. — Sabe — diz, olhando para as prateleiras
empoeiradas —, sempre pensei que coisas questionáveis
aconteciam nos fundos de bibliotecas. Você meio que está
arruinando isso para mim.
— Desculpe desapontá-la. Com certeza não estou aprontando
nada questionável. — Na verdade, estou cercada por livros de arte
tentando ter uma ideia para nosso projeto de história.
— É uma pena. Você precisa de algo excitante. Aposto que
Shane toparia.
— Você também percebeu isso, é? — Arrasto os olhos do livro
que estava folheando e encontro o olhar compreensivo de Camila.
— É difícil não perceber. Ele praticamente te seguiu por todos os
lugares como um cachorrinho perdido desde que você chegou. É
meio fofo.
— Seria, se eu estivesse interessada.
— Ele é gostoso, qual o problema?
— Só não estou interessada em um relacionamento. Minha vida
está uma confusão no momento, não preciso de um garoto para
piorar.
— Tenho certeza que o garoto certo poderia melhorar. Aliviar um
pouco dessa tensão que você carrega por aí. — Dou uma bufada
para ela, fecho o livro e o acrescento a pilha ao meu lado. —
Espera… você está solteira, né? Ou você está fazendo todo o
negócio de sexo pelo telefone com algum britânico gostoso?
— Não, nada de sexo quente pelo telefone.
Ela percebe a tristeza no meu tom que tentei esconder.
— Mas tinha um garoto, né?
— Sim, não… Não sei bem. Estávamos apenas nos pegando,
acho. Não era nada sério.
— Mas poderia ter sido?
— Quem sabe — falo, dando de ombros. — Acho que nunca vou
descobrir.
— Sinto muito — Camila diz, os olhos escurecendo conforme
minha tristeza a contagia. — Alguma novidade dos detetives?
— Não que eu saiba. Eles prometeram ligar se encontrassem
alguma coisa.
Estive tentando afastar a ideia da minha cabeça que a morte dos
meus pais pode não ter sido um acidente, pensar que alguém neste
planeta não os queria vivos faz tudo ser pior. Solto o ar, lutando para
que as lágrimas pinicando minha garganta não encham meus olhos.
— Caralho, desculpa. Vamos, me deixe comprar um pedaço de
bolo para compensar.
— Estou bem aqui.
— Amalie, você precisa parar de se esconder. Ou se você se
recusa a parar, então precisa pelo menos me contar o que está te
incomodando.
A imagem dos olhos duros dele ao fazer sua ameaça que está
me assombrando a semana inteira surge na minha cabeça outra
vez, mas me recuso a admitir que ele fez eu me esconder. Suportei
a pior coisa que a vida poderia jogar na minha cara durante os
últimos meses, me recuso a admitir que estou assustada e o bad
boy da escola me acovardou como uma fracote na biblioteca.
— Nada está me incomodando. Essa semana só foi um pouco
intensa, isso é tudo.
— Não posso nem imaginar como você está se sentindo, e não
vou fingir que posso. Se eu pressionar muito, você precisa me dizer,
mas só se vive uma vez, Amalie. Posso nunca ter conhecido seus
pais, mas tenho quase certeza que eles não iriam querer que você
se escondesse aqui quando você poderia estar vivendo lá fora.
Meu estômago embrulha e luto para arrastar ar para dentro dos
meus pulmões. A onda repentina de luto que me atinge ameaça me
partir. Mas sou mais forte do que isso. Passei o primeiro mês do
meu tempo aqui trancada no meu quarto na casa da minha vó, me
escondendo do mundo e afogando em luto. Minha vida era boa,
estava resolvida, e aí o que deveria ser apenas mais uma viagem
para Milão para meus pais acabou em tragédia quando o helicóptero
deles teve problema e caiu inesperadamente em algum lugar
campestre francês.
Apertando os olhos fechados, foco na minha respiração e desejo
que o ataque de pânico que estou beirando suma. Ninguém precisa
ver esse lado meu.
— Você está certa — anuncio, uma vez que estou me sentindo
forte o bastante e fico de pé. — Vamos encontrar aquele bolo.
— Deveria te avisar que o bolo do refeitório provavelmente será
seco e duro como pedra.
— Quão ruim pode ser de verdade? Bolo é bolo, né?
— Vou deixar você responder isso. — Camila passa o braço pelo
meu e de alguma forma consigo sair da biblioteca com a cabeça
erguida, com alguém que está rapidamente se tornando uma boa
amiga ao meu lado.
Conforme esperamos na fila, ela me atualiza sobre sua semana
até o momento, e as coisas idiotas que Noah está fazendo.
Com nosso bolo em mãos, estou começando a sentir que tudo
vai ficar bem, e que pode ser mesmo possível aproveitar meu tempo
aqui. Isto é, até olhar para cima e meu olhar encontrar o dele. Meu
passo vacila e Camila quase tromba nas minhas costas.
— Amelie, o que… ah! — Sinto o olhar dela passar entre nós
dois, e quando consigo me afastar dos seus olhos atormentados e
olho de volta para ela, suas sobrancelhas estão franzidas e os
lábios apertados com raiva. — Que diabos é o problema dele?
Segure isso. — Ela enfia o prato em mim e sai pisando firme na
direção de Jake. Cada um dos amigos dele vira para observar a
jornada dela, alguns estão divertidos pela morena raivosa
marchando na direção dele, outros olhos cheios de luxúria passam
pelo seu corpo, mas é um olhar em particular que chama minha
atenção. Mason, o cara que parece ser o braço direito de Jake está
fuzilando ela.
Estou preocupada me perguntando qual é a história entre eles
quando ela para, coloca as mãos nos quadris e dá um sermão em
Jake. Jogo limpo para ela porque não posso imaginar muitos
estudantes nesta escola iriam desafiá-lo por vontade própria.
Por fim, os lábios do Jake se curvam em um sorriso sem graça e
ele a dispensa com um aceno. Ela dá dois passos para trás, os
olhos não deixando os dele antes de dar uma olhada rápida para
Mason, virar e voltar na minha direção.
— É bom esse bolo ser ótimo.
— O que ele disse? — pergunto, correndo atrás dela quando
avança para uma mesa vazia do outro lado da cantina.
— Só um monte de merda. Não acreditei em uma palavra.
— Merda tipo o quê?
Ela me encara e mordisca o lábio inferior.
— Ele não gosta mesmo de você. Mas sério, não liga, ele vai
superar.
Não tenho certeza se as palavras dela eram para ser
reconfortantes ou não, mas não me fazem sentir nem um pouquinho
melhor.
— É, vamos ver. E você?
— O que tem? — Ela mantém a expressão neutra, mas o
escurecer de seus olhos me dizem que sabe exatamente o que
estou falando.
— Ah, deixa disso. Mason olhou para você como se não fosse
mijar em você nem se estivesse pegando fogo. Posso não te
conhecer há muito tempo, mas é o suficiente para saber que você
não machucaria uma mosca. Qual é a dele?
— Nossas mães são melhores amigas. Nós costumávamos ser,
agora não somos. E é isso. — Erguendo uma sobrancelha, espero
que ela elabore, mas apenas me lança um olhar antes de mudar
totalmente o assunto. — Você está ansiosa pelo seu primeiro jogo?
— Hm…
— Vai ser incrível, você vai ver. — Ela me dá seu maior sorriso,
mas faz pouco para provocar qualquer animação.
CHAPTER DEZ

Amalie

N o fim, o carro da Camila já está carregado com todas as


coisas que ela vai precisar esta noite, então quando paramos
na casa da minha avó depois da aula, ela sai e tira a bolsa
enorme de trás.
— Vai entrar, é?
— Não vou perder você de vista. Você sabe tão bem quanto eu
que se tiver a chance vai arrumar uma desculpa para não ir hoje, e
não vou permitir que isso aconteça.
— Talvez. — A testa dela ergue. — Tudo bem, provavelmente.
— Você precisa relaxar, e esta noite é para isso. Por apenas
algumas horas você pode descansar e ser você, a estudante do
ensino médio de dezoito anos. Ficar bêbada, se divertir, talvez dar
um beijo… ou dois — ela fala com uma piscadela atrevida.
Não posso negar que só o pensamento do que ela está
propondo não faz soar um pouco atraente. A parte de diversão e
bebida ao menos, não tenho intenção de beijar ninguém. Aquele tipo
de coisa só vai levar a minha vida confusa ficar ainda mais
complicada.
— Então vamos lá. Não tenho ideia do que deveria usar para
esse negócio.
— Sexy, Amalie. Sempre sexy.
Minha avó está ao telefone quando passamos pela cozinha para
pegar alguma coisa para beber. Ela sorri para mim e é tão genuíno
que faz lágrimas queimarem o fundo da minha garganta. Ela está
desesperada para que eu me integre com a vida aqui e finalmente
aceite que essa é minha casa agora. Ela nunca falou em voz alta,
mas acho que estava preocupada que eu fosse pular direto em um
avião no segundo que fizesse dezoito anos e pudesse cuidar de
mim mesma legalmente. Claro, pensei nisso várias vezes. Seria tão
fácil voltar para Londres, me hospedar na casa de uma amiga. Até
poderia me matricular na universidade, tenho dinheiro suficiente na
minha conta bancária para fazer isso acontecer. Mas quero voltar e
ficar sozinha? Posso estar aqui há apenas algumas semanas, mas
mesmo isso é o bastante para saber que preciso estar aqui. Digo a
mim mesma que é pela vovó, minha presença alivia as sombras que
a morte da filha deixou em seus olhos, mas também sei que estar
longe de Londres e todos os lugares que me lembrariam deles
também está me ajudando. Não tenho ideia como seria possível
voltar para minha antiga vida quando eles não estão lá. Na
realidade, eles não eram muito presentes, a empresa tomava a
maior parte do seu tempo, mas eles sempre estavam a apenas uma
ligação de distância, mesmo que estivessem em outro país.
— Tem cookies fresquinhos na lata — minha vó diz, depois de
desligar o telefone.
Camila vira na hora na direção da lata que minha vó acenou,
abre a tampa e enfia um na boca.
— Você é uma lenda, Peg.
Minha vó e eu rimos enquanto ela se empanturra de cookies.
— Então, noite de jogo?
— Parece que sim.
— Você vai amar. Quando eu era adolescente, eu vivia por dias
de jogo. A animação, a adrenalina da vitória, a esperança de
chamar a atenção de um dos jogadores. — Ela fica com esse olhar
longínquo e não posso evitar me perguntar como ela era como uma
jovem mulher. Ela sempre esteve presente na minha vida, e
visitamos algumas vezes, mas é só agora, vivendo sob seu teto, que
a estou conhecendo de verdade.
— Não quero chegar nem perto de um jogador de futebol.
— Ah é? — As sobrancelhas da minha avó se erguem com
interesse, e infelizmente, Camila não consegue se controlar.
— Ela já tem dois enfeitiçados, Peg. — Dou um gemido de
reclamação, pego alguns cookies e saio da cozinha.
— Claro que tem, ela é a cara da mãe. Ela vai fazer todos eles
tropeçarem nos próprios pés.
Os músculos do meu estômago contraem com o pensamento da
minha mãe, e corro mais rápido pro quarto, com medo de ouvir
mais. Sei que Camila só está me provocando, mas não preciso de
um lembrete de todas as coisas que estou tentando ignorar na
escola. O interesse de Shane e, mais importante, a raiva de Jake.
Não preciso de nenhum deles na minha vida neste momento, e
preferiria que vovó não se envolvesse, porque se aprendi alguma
coisa a seu respeito, é que ela é uma romântica inveterada que vai
adorar ter a oportunidade de brincar de cupido.
— Sinto muito, não tive intenção de… — Camila diz alguns
minutos depois, tendo me seguido até meu quarto.
— Não tem problema. Você não precisa se desculpar.
— Sua avó fez chocolate quente pra nós. Não é bem o começo
de tarde que tinha em mente, mas não sou do tipo que recusa
chocolate. — Nós duas ficamos em silêncio ao bebericar de nossas
canecas fumegantes. — Acho que ele gosta mesmo de você, sabe.
Ela me pega desprevenida, e me viro com as sobrancelhas
unidas.
— Quem?
— Shane — ela diz, com um revirar de olhos, como se não
pudesse ser outra pessoa.
— Ah, sim. Ele não está entendendo que não estou interessada.
— Por que não? Ele é gostoso. E tenho conhecimento sólido que
ele é bem talentoso… se você me entende. — Ela balança os dedos
no ar e eu dou um gemido.
— Dedos mágicos ou não, não estou interessada.
Ela olha para mim com decepção.
— É bom que não seja porque outro membro do time – o capitão
– capturou seu interesse.
Lutando para engolir o chocolate na boca, meus olhos se
arregalam ao ponto que acho que possam se esbugalhar.
— Por favor diga que você está brincando. Ele me odeia, e devo
dizer, o sentimento é tipo que mútuo.
— Então alguma coisa aconteceu?
Merda. Todas as vezes que a vi depois do incidente no Aces, ela
me questionou. Era óbvio que alguma coisa aconteceu nos minutos
que ela esteve longe, mas ainda me recuso a recontar os eventos
daqueles poucos momentos horríveis.
— Não. Podemos não falar dele? Ele não merece nosso tempo,
ou atenção.
— Não poderia concordar mais. — Ela coloca a caneca na mesa
de cabeceira e pula da cama. — Vamos encontrar alguma coisa
para você usar. Estou morrendo para bisbilhotar seu guarda-roupa.
— Eu observo enquanto ela abre as portas, e um sorriso se abre em
seu rosto. — Ai. Meu. Deus. É melhor do que imaginei.
— Você pode emprestar qualquer coisa. Se servir — acrescento
porque nossos corpos são bem diferentes. Embora eu tenha o corpo
de supermodelo da minha mãe, Camila tem um corpo super sexy de
ampulheta e é uma cabeça mais baixa do que eu.
— Você está falando sério? — Ela vira para mim, um sorriso
quase partindo seu rosto em dois.
— Claro. — Não sou burra, sei que o custo do que ela está
olhando está além da imaginação da maioria das pessoas, mas para
mim, são apenas roupas. Nunca fui muito fascinada pelas etiquetas
de grife que costumavam dar roupas grátis para minha mãe só para
que ela fosse fotografada usando-as. Eu sempre soube que
tínhamos dinheiro, mais do que a maioria, mas não foi até me mudar
para cá que as diferenças ficaram mais notáveis.
Tinha muito dinheiro nessa cidade, a maioria do lado leste, mas
nada comparado com as pessoas que meus pais costumavam se
relacionar. Dinheiro não significa nada para mim, preferia muito mais
ter minha família do que qualquer coisa no banco, mas essa decisão
foi tomada de mim. É um dos motivos por que raiva enche minhas
veias todas as vezes que vejo alguém olhar para o que estou
usando com inveja exalando dos olhos. Roupas e etiquetas de luxo
não são nada para se invejar, eles vêm e vão e não significam nada,
mas família, pais… você só tem um deles e daria qualquer coisa
para ter os meus de volta.
Movimento do outro lado do meu quarto me tira dos meus
pensamentos melancólicos e me sento e observo enquanto Camila
tira roupa atrás de roupa da minha coleção conforme faz oohs e
aahs. Isso é, até ela parar, tirar algo e virar para mim.
— Você precisa usar isso esta noite.
— Vamos para um jogo de futebol, Cam, não uma balada.
Ela dá de ombros.
— E? Você quer parecer gostosa, não quer?
Não muito.
— Só quero me misturar na multidão. Jeans e uma camiseta
servirão muito bem.
Ela revira os olhos, mas ao invés de discutir, como eu esperava,
seus ombros relaxam com decepção.
— Acho que não importa mesmo o que você vista, vai ficar
estonteante. — Ela solta o vestido de lantejoulas prateadas que
estava segurando. É o que minha mãe comprou para mim
comemorar terminar a escola na Inglaterra, mas nunca pude usá-lo.
E agora era provável que nunca usaria, mas não tinha jeito nenhum
que me livraria dele. Foi a última coisa que ela escolheu para mim,
no último dia que passei com ela.
— Do que você está falando? Você é maravilhosa, adoraria ter
suas curvas. — Abafo as emoções que o vestido inspira e vou até o
guarda-roupas. — Que tal algo assim? — pergunto, tirando um
macacão que realçaria seu amplo decote e pernas torneadas. —
Garanto que vai fazer os olhos de Noah se esbugalharem.
— Você acha?
— Acho. Experimente.
— Tudo bem. E você está livre para usar o que quiser, mas… —
solto um gemido —, vou fazer sua maquiagem.
— Combinado.
Uma hora mais tarde e Camila está parecendo falar no meu
macacão enquanto eu estou usando jeans preto, tênis e minha
camiseta favorita. É branca com “com prazer” escrito em uma fonte
arredondada na frente. Camila fez um trabalho excelente com minha
maquiagem simples e acrescentando cachos soltos ao meu cabelo
loiro.
— Shane vai gozar na calça quando olhar pra você.
— Cam, por favor, não.
— O quê? Só estou dizendo que você está arrasando com essa
roupa. Você vai chamar atenção hoje.
— Não quero chamar atenção. Só quero me misturar.
— Sei que quer, mas confie em mim quando digo que você
nunca vai se misturar em uma multidão. — Um suspiro passa pelos
meus lábios, mas não falo mais nada. — Você arrumou sua mochila
para hoje a noite?
— Mochila?
— Sim, para a festa da corrida da meia noite.
— Se é só uma festa, por que preciso de uma mochila?
— Ah, Amalie. — Ela pega uma mochila Louis Vuitton de cima do
meu guarda-roupa. — Não é só uma festa. A Corrida da Meia Noite
é uma tradição antiga, tipo um rito de passagem. É uma festa que
dura a noite toda no final da praia. É uma noite que você pode
relaxar, aliviar a tensão e fazer loucuras antes que a seriedade do
último ano comece de verdade. E mais, o que acontece na Corrida
da Meia Noite, fica na Corrida da Meia Noite. — As sobrancelhas
dela balançam com animação e meu estômago embrulha.
— Não sou veterana.
— Talvez não, mas vai comparecer como minha convidada
especial. Vamos ficar bêbadas, dançar e aproveitar. Agora se
apresse porque o pré-jogo vai começar logo e não queremos nos
atrasar.
Ela faz pose com as mãos nos quadris e uma expressão
impaciente no rosto enquanto eu me levanto da cama.
— O que preciso levar? — pergunto com um suspiro.
— Merda normal de acampar.
— E no que isso consiste?
— Você nunca acampou? — Ela olha para mim, mas não dá
tempo para que responda. — Não sei por que estou perguntando
isso, claro que você nunca acampou!
— O quê? Não sou uma riquinha metida. Posso acampar.
— Vamos descobrir isso esta noite. Uma troca de roupas,
biquíni, e um travesseiro devem ser suficientes. — Me virando para
longe do seu rosto divertido, começo a enfiar coisas na mochila. —
Ah, não se esqueça dos lenços umedecidos, são essenciais. E
camisinhas, se tiver.
— O quê? Não preciso…
— Ah, shh… é a Corrida da Meia Noite, qualquer coisa pode
acontecer… e é provável que aconteça.
Pavor embrulha meu estômago com a animação em seus olhos.
— Se esta noite vai ser basicamente uma grande orgia, me diga
para que possa ficar em casa.
— Agora você está sendo boba. Vamos. — Ela fecha a mochila
para mim, enlaça os dedos nos meus e me tira do quarto.
— Você duas estão lindas. Prontas para a grande noite?
— Eu estou — Camila responde com orgulho antes de virar para
mim. — Esta daqui está um pouco mais incerta.
— Vai ficar bem quando chegar lá. Aqui, comprei isso para você
— minha avó diz, abrindo um armário e revelando uma garrafa de
vodca. — Agora, confio em você duas para terem juízo com ela, não
quero um telefonema de alguém para ir resgatar seus traseiros
bêbados da praia. Mas quero que se divirtam, você — seus olhos
encontram os meus — merece.
Eu a agradeço e dou um beijo em sua bochecha e nós duas
vamos para o carro. Camila está pulando de animação enquanto eu
estou tentando desesperadamente incitar algum entusiasmo para
alguma coisa além de abrir a vodca na minha mão.
CHAPTER ONZE

Jake

O rugido da multidão enquanto celebrava nossa vitória com a


gente vibra por mim. É isso. É por esse momento que eu vivo.
Ser parte de algo tão grande que minha vida de merda não
importa mais. Ninguém liga de onde eu vim, como eu vivo ou para a
raiva que ecoa por dentro. Tudo o que qualquer um liga neste
momento é que sou o rei deles. Sou o motivo de ter algo para
celebrar. Cada um dos fãs de futebol quer ser eu neste momento, e
cada uma das mulheres que olham para mim querem um pedaço.
Eu amo isso pra caralho.
— Você estava pegando fogo esta noite, porra — Mason diz,
batendo no meu ombro com a mão. Ele não está errado. Tudo nesta
noite apenas se encaixou. Todas as nossas jogadas ensaiadas
foram executadas com a precisão exata que o técnico esperava, e
nós demos de lavada nos nossos adversários. Pela primeira vez em
nunca, as palavras do homem sobre este ano ser nosso, começam
a soar um pouco mais possíveis. Esse pode ser apenas o primeiro
jogo da temporada, mas é um começo bom para caralho.
— Preciso de uma maldita bebida, e uma boceta gostosa. Quem
está comigo? — Ethan grita no vestiário e afirmações e gritos de
animação respondem. Todos estamos ansiosos por esta noite desde
que tínhamos idade o bastante para entender o que era uma festa.
A corrida dos veteranos basicamente resume como seu último ano
de ensino médio será. Não vá, ou pior, não seja permitido ir, e você
será um pária. Apareça e meio que participe e será aceito, mas
apareça e faça exatamente o que é esperado de você e estará com
o ano feito. Esta noite é sobre provar a si mesmo, provar que tem o
que precisa para ser um veterano em Rosewood High. É tradição, e
finalmente, é nossa maldita vez.
— Limpem bem esses pacotes, garotos. As garotas vão estar
formando fila para nós quando chegarmos. Mas escolham com
sabedoria, meus amigos, escolham com muita sabedoria. — Vou
para o chuveiro rindo da palhaçada do Ethan e faço exatamente
como ele acabou de sugerir, porque não planejo passar a noite sem
ter meu pau chupado pelo menos uma vez.
Como planejado, somos os últimos a chegar na praia. A fumaça
da fogueira está subindo, nos mostrando a direção certa, não que
não soubéssemos para onde estávamos indo. No segundo que abro
a porta do passageiro de Mason, a música da festa enche meus
ouvidos e meu coração acelera. Estou pronto pra caralho para isso.
Minha primeira semana do último ano foi… fodida, para dizer o
mínimo. A chegada da nova garota instigou uma raiva dentro de
mim que pensei que tivesse conseguido me livrar dela, mas voltou
como uma vingança, me provocando, me forçando a agir. Fiquei fora
do caminho dela nos últimos dias, mas isso não significa que não a
estou observando. Eu a vejo se aproximar de Shane, e o jeito que
ele olha para ela como se fosse alguma porra especial. Eu a vejo
andar pela escola como se tivesse todos os malditos problemas do
mundo sobre os ombros. Bom, advinha, princesa? O resto de nós
tem nossa própria merda para lidar e para soltar um pouco do que
estou segurando, estou prestes a fazer da sua vida ainda pior.
— Vamos nessa. — Tiro os coolers do porta-malas e sigo Mason
e Ethan até a praia.
Uma ovação começa no segundo que aparecemos, e meu peito
se enche com orgulho. A maior parte do esquadrão de torcida pula
na hora e nossos colegas de time que chegaram primeiro correm
até nós. Chelsea faz uma linha reta até mim, mas diferente do que
fiz no resto da semana, aceito sua animação.
A mão dela vai direto para meu pau, esfregando pelo tecido
jeans como a putinha desesperada que é.
— Você vai se dar bem esta noite. — O gemido agudo dela não
me ajuda muito, mas não posso negar que o atrito da sua mão não
está maravilhoso no momento.
Ela sobe a outra mão pelo meu peito, envolve meu pescoço e
fica na ponta dos pés, é como se pensasse que eu vou beijá-la.
Deveria saber melhor do que isso a esse ponto. Eu não beijo.
Nunca.
Assim que seus lábios se movem na direção dos meus e estou
prestes a empurrá-la, um flash de cabelos loiros chama minha
atenção. Ela não iria. Iria?
Ao vê-la, meu corpo congela, fúria surge no meu estômago
conforme minhas veias se enchem de fogo. Aperto os pulsos do
meu lado, pronto para marchar até lá e exigir que ela vá embora.
Não vejo o movimento até ser tarde demais, e os lábios carnudos de
Chelsea pressionam nos meus.
Ela deve sentir meu olhar, porque seus olhos se erguem e
encontram os meus na hora. Eles se arregalam com surpresa, antes
de escurecerem quando veem a biscate que está pressionada
contra meu corpo. Chelsea geme conforme meu pau fica mais duro
sob seu toque, só que não é para ela. Estou duro por causa da
animação percorrendo meu corpo, a animação pela vingança e dor
que estou prestes a causar.
Ethan, o cuzão, grita para mim por ter me dado bem, e
infelizmente causa uma cena que faz todos os olhos se virarem na
nossa direção. Arrastando o olhar para longe dela, pego os braços
de Chelsea e a forço para longe de mim. Ela faz beicinho,
empurrando o lábio inferior como se eu devesse chupar ele de volta
para a boca. Olha para mim, e seu rosto empalidece. Sei por quê, a
tensão que está vendo percorre meu corpo inteiro. Minha
necessidade de ir tempestuoso na direção da Garota Nova e
arrastar o traseiro infeliz dela da praia consome tudo.
Mason deve pressentir onde minha cabeça está porque a mão
dele pousa no meu ombro, me virando para longe dos olhos de
todos os veteranos na praia.
— Por que caralho ela está aqui? Ela nem mesmo é uma
veterana — esbravejo quando o que quero de verdade é esmurrar
algo ou alguém.
— Nem ideia. Acho que ela foi convidada.
— Maldita Camila. Preciso dar um jeito naquela vadia. — Os
olhos dele semicerram para mim, mas é esperto e mantém a maldita
boca fechada. Ele pode ser meu melhor amigo, mas não vejo
problemas em transformá-lo no meu saco de pancadas neste
momento.
— Vamos montar o acampamento e tomar uma cerveja… ou
cinco.
Ele me dá a barraca e algumas sacolas que deve ter pegado do
carro junto com Ethan enquanto estava com os lábios colados nos
da Chelsea, eu as ergo no ombro e marcho até nosso local. O
melhor lugar na porra da praia.
Chelsea vai embora saltitando como se não tivesse acabado de
jogá-la na sarjeta. A sua bunda empinada e peitos grandes demais
pulam no seu biquini quase desnecessário ao se mover, quase
todos os olhos masculinos seguem seus movimentos. Tirando os
olhos dela, eu observo o resto das garotas. A maioria está
mostrando a maior quantidade de pele possível na esperança de
conquistar o cara da sua escolha esta noite. A Corrida da Meia Noite
era liberada geral. Nada era proibido para tentar atrair quem você
queria. Não só muitos relacionamentos começavam esta noite, mas
muitos terminavam também. A maioria dos caras estão sentados
agora, observando a presa, esperando pelo momento certo de
atacar. Animação começa a surgir na minha barriga ao considerar
minhas opções para esta noite. O que acontece é que os caras
podem pensar que tem liberdade de escolha, mas a verdade é que
as únicas pessoas que tem esse privilégio são o time, todo o resto
fica com as sobras. Conforme meus olhos encontram as garotas, e
elas começam a perceber, seios vão para frente, bundas passam a
ficar mais empinadas, nada disso me atrai. Todas sabem que são
gostosas e usam para conseguir exatamente o que querem.
Nenhuma é diferente de Chelsea.
— Puta que o pariu. Estão todas preparadas — Ethan resmunga
atrás de mim. — Como devemos escolher?
Enquanto ele e Mason começam a debater suas opções, meus
olhos voltam a pousar em uma pessoa. Diferente de todas as
garotas aqui, ela está usando jeans e uma maldita camiseta. Como
se já não fosse uma pária suficiente, parece que quem quer que a
convidou não a informou a respeito da vestimenta. Um sorriso
contrai meus lábios. Ela pode não ser a pessoa com a qual vou
passar a noite, mas ela tem um alvo na cabeça, com certeza. Ela
não vai aguentar até meia noite. Vou garantir isso, caralho.
Não demoramos muito para montar as barracas e começarmos a
beber cerveja.
— Quem vocês vão pegar? — Mason pergunta. É tradição em
todas as festas que anunciemos nossos alvos da noite. Não tem
motivo a não ser direito de se gabar no dia seguinte depois de
pegarmos nossos alvos.
— Proponho regras diferentes esta noite, já que é a Corrida da
Meia Noite e tal.
— Continue — falo, inclinando minha garrafa nos lábios e
bebendo, esperando Ethan explicar seu plano.
— Proponho que cada um dê um nome ao outro. Depois você
tem até o amanhecer para conseguir pegar.
Os olhos dos caras se iluminam com a sugestão com ares de
desafio.
— Sim, porra — alguém fala arrastado, já tendo tomado cervejas
demais.
— Claro. Pode falar.
Ethan reclina nos cotovelos e olha para a festa acontecendo um
pouco mais ao longe na praia. A fogueira gigante ruge, banhando
todo mundo num tom laranja e a música explode dos alto-falantes
que alguém ligou.
Ele começa a soltar nomes, os caras ou abrem largos sorrisos
de prazer ou gemem com o desafio épico que tem a frente. Eu? Não
tenho nenhuma preocupação. A maior parte das garotas lá faria
qualquer coisa para poder dizer que passaram a noite comigo.
— Mason, você pode ficar com Chelsea. — Uma risada soa
quando percebo o olhar de nojo no seu rosto.
— Vai se foder. Não quero as sobras usadas dele — Mason
reclama, apontando para mim com os olhos.
— Você não vai reclamar quando ela estiver com os lábios em
volta do seu pau mais tarde. — Chelsea pode ser muitas coisas,
mas não posso negar que ela chupa bem, e se ela pensa que a
mantenho por perto por outro motivo, está muito enganada.
— Você está falando sério, não está?
— Tudo bem, vou te dar uma escolha. — Os outros gemem
porque não tiveram escolha. Mason ergue a testa, esperando para
ouvir o que Ethan tem para dizer, mas pelo olhar travesso nos lábios
de Ethan, acho que ele não vai gostar do que vai sair. — Chelsea
ou… — Juro que todo mundo prende a respiração, nenhum mais
que o Mason enquanto todos esperamos. — Camila.
— Vai se foder, babaca — Mason fervilha. — Vou ficar com a
Chelsea.
— Pensei que ficaria. — Ethan ri e Mason fica mal-humorado e
dá um murro no ombro dele.
— É tudo por diversão, mano.
— Não venha com mano pra cima de mim. — Mason se levanta
tempestuoso e vai pegar outra cerveja no cooler.
— Ele virou um maricas ou o quê? — Algumas pessoas dão
risada, mas no geral o comentário de Ethan é ignorado. — Então,
sobra você, cap. — Mantenho os olhos na multidão, os observando
rir e dançar, isso é, até meus olhos focarem em um casal dançando
e minha raiva começar a ferver. Bem no maldito meio está Shane, e
ele está dançando com ela. Era óbvio que ele estava interessado
quando a viu pela primeira vez, mas o jeito que suas mãos estavam
neste momento nos quadris dela e o olhar nos olhos dele me irrita.
Deveria ser conhecimento comum a este ponto que ela está fora
dos malditos limites. Se alguém vai colocar as mãos nela, vai ser eu.
Meu rosnado de frustração sai mais alto do que antecipei, e
Ethan vira para mim antes de olhar de volta para a multidão.
— Thorn — ele cantarola de tão animado que está e se não
estivesse tão distraído pela visão na minha frente, então poderia ter
antecipado suas próximas palavras. — Porque você é aplicado,
ganha duas. Shelly — fala, acenando para onde ela está tomando
shots com Chelsea. Eu viro para ele, os olhos escuros e travessos.
— Amalie.
Estou prestes a perguntar quem diabos é ela quando me toco.
Meus olhos a encontram na multidão, mas dessa vez ela não está
apenas dançando com o Shane porque enquanto seus quadris se
movem contra os dele, ela está olhando direto para mim.
— Vamos nessa, babaca. Vamos. Nessa.
CHAPTER DOZE

Amalie

C onforme o álcool começa a fazer efeito, percebo que esta


provavelmente não era a pior ideia que já tive. Faz muito
tempo desde que tive uma noite que pude esquecer mesmo
de tudo e apenas ser eu. Camila estava certa de me arrastar aqui.
Eu sorrio para Shane enquanto dançamos juntos, ainda não
muito feliz com o desejo que encontro nos seus olhos. Não tenho
intenção de deixá-lo pensar que alguma coisa vai acontecer entre
nós, mas meu corpo não pode evitar se mover com o dele no ritmo
da música.
O pânico que me consumiu no momento que coloquei os olhos
pela primeira vez no Jake quando ele chegou quase foi substituído
com diversão, o que é uma sensação estranha depois de todo esse
tempo.
A música muda e Shane me vira de forma que minhas costas
fiquem coladas na sua frente. No momento que olho para cima, o
encontro outra vez. O grupo deles acampou um pouco mais longe
na praia, para que possam olhar para nós como se fôssemos
inferiores e eles fossem donos do lugar.
Seus olhos semicerram e vão para onde Shane está segurando
meus quadris e puxando meu corpo para ficar rente ao dele. Fogo
queima em seus olhos e meu coração acelera. Não sou bem-vinda
nessa festa, isso ficou óbvio quando logo que ele chegou. Estou
surpresa que durei tanto, mas olhando para o desdém no seu rosto
neste momento, temo que meu tempo possa ter acabado.
— Preciso de uma bebida — falo, apoiando a cabeça no ombro
do Shane. Decepção está estampada no seu rosto, o que apenas
prova que preciso colocar um pouco de espaço entre nós. Relaxar e
me divertir é uma coisa, mas ele é um cara legal e não quero fazê-lo
pensar que isso é algo mais do que jamais será.
— Preciso fazer xixi.
— Você quer que segure sua mão ou algo assim? — Camila
pergunta com uma risada de onde está se esfregando no Noah, os
olhos dela iluminados com o álcool que bebeu.
— Não, mas onde estão os banheiros?
— Isso é uma praia. Não tem nenhum.
— Então onde nós…
— É só ir às árvores e fazer o que precisa.
— As árvores? — Olho para onde a praia termina e a área verde
começa.
— Isso é um mundo bem diferente para você, não é?
Não tenho chance de dizer nada porque Noah chama a atenção
dela e enfia a língua em sua boca.
Balançando a cabeça, passo pelos outros adolescentes que
estão ocupados demais se divertindo para olharem para mim.
No segundo que entro no meio das árvores, a escuridão me
cobre. Tiro o telefone do bolso de trás, acendo a lanterna e uso para
me guiar mais para dentro da vegetação. Pode ser um pouco
extremo, mas a última coisa que preciso é alguém me encontrar no
meio do meu xixi.
Uma vez que estou confiante de ter deixado todos os festeiros
para trás, encontro um lugar atrás de uma árvore e faço o que
preciso.
Não é até estar lutando para encontrar o caminho de volta para a
praia que um barulho, mais como um gemido, me faz parar.
Sabendo que preciso dar o fora daqui antes de parecer como
uma bisbilhoteira tarada, sigo em frente, mas antes de encontrar a
praia, tropeço no dono do gemido.
Um estalido alto ecoa quando piso em um graveto e seus olhos
encontram os meus. A raiva que estou acostumada a ver está ali,
mas foi suprimida por desejo. Seus lábios carnudos estão
semiabertos e seu peito nu está arfando. Quando abaixo mais os
olhos, encontro uma loira de joelhos com a cabeça se movendo
para frente e para trás enquanto ele está com o telefone na mão
como se estivesse filmando o que está acontecendo.
Meu estômago embrulha com pânico. Não preciso mesmo estar
parada aqui neste momento.
— Sinto muito — sussurro, dando um passo para continuar em
frente, mas ele claramente não está pensando a mesma coisa,
porque quando eu me movo, ele late.
— Pare.
Sem instrução do meu cérebro, minhas pernas congelam, mas
mantenho os olhos virados para baixo, sem querer me intrometer no
que deveria ser um momento privado.
O movimento que vejo pelo canto do meu olho me diz que a
garota não parou. Ela deve estar gostando mais do que ele neste
momento, penso, e tenho uma luta interna sobre o que fazer.
Deveria fugir, isso seria a coisa mais fácil a se fazer, mas tem
alguma coisa na voz de comando dele que me força a ficar imóvel e
esperar para descobrir o que ele quer.
— Olhe para mim.
Hesitante, meus olhos se erguem até encontrar seu olhar
atormentado. Ele me gruda no lugar com seus olhos cheios de ódio,
e apesar do meu cérebro gritar para me mover, para correr, para
fazer alguma coisa. Meu corpo permanece exatamente onde está,
fascinado, enquanto prazer cobre seu rosto. Os olhos dele
semicerram e escurecem mais, se é que isso é possível, seu queixo
cai e o som mais erótico que jamais ouvi saí de seus lábios.
Meus dentes afundam no meu lábio inferior ao assistir o show.
Estou mais interessada em observar do que deveria. O calor
correndo pelas minhas veias me enraivece porque o cara que estou
observando neste momento como se fosse a coisa mais fascinante
no planeta me odeia. Mas não posso não ver agora que cheguei tão
longe.
Com a mão no cabelo da garota, ele a empurra até que ela cai
no chão. Eu faço uma careta, mas ela não parece muito
incomodada. Até virar para mim, ele já se colocou de volta nas
calças e qualquer prazer que estava no seu rosto, desapareceu.
Está tenso outra vez, com o músculo da sua mandíbula pulsando de
raiva.
— Gostou disso, foi? Assistir alguém chupar meu pau. Com sorte
vai te dar algumas dicas porque você é a próxima. Apesar que
duvido que você precise de aulas, garotas bonitas como você
sempre se sentem em casa quando estão de joelhos.
— Vai se foder — cuspo, dando um passo para trás conforme ele
entra no meu espaço pessoal.
— Você seria sortuda pra caralho. Não fodo putas.
Minha respiração entrecorta ao mesmo tempo que minhas
costas batem uma árvore.
— Não fale comigo como se soubesse alguma coisa de mim.
Você não sabe.
— Sei muito bem como mulheres como você funcionam, o que
vocês fazem para conseguirem o que querem. Me enoja e pretendo
provar. — O corpo dele se aproxima ainda mais, e pressiono as
costas na árvore. Meu coração está batendo forte no peito, medo
fazendo minhas mãos tremerem, mas me recuso a recuar para esse
babaca. Ele não tem ideia da merda que está falando. — Pretendo
mostrar para a porra da escola toda a biscate falsa que você
realmente é.
— Qual diabos é seu problema? Não fiz nada.
— Não fez, ainda não. Mas vai. Garotas como você sempre
mostram suas verdadeiras caras, um dia.
— Eu não…
Se inclinando para frente, seu peito roça nos meus seios e minha
respiração falha com a sensação.
— Viu, está fazendo neste momento. — Ele move o peito outra
vez, e meus mamilos enrijecem com a fricção. — Você faria
qualquer coisa agora para conseguir o que quer. Seu corpo deseja.
— Vai se foder. — Minha mão se move para dar um tapa, mas
ele a pega, seus dedos quentes envolvendo meu pulso com tanta
força que juro que vai deixar marca.
Seus dedos apertam meu queixo, fazendo meus lábios se
destacarem. Os olhos cheios de ódio fitam os meus antes de irem
para meus lábios. A língua passa pelo seu lábio inferior como se
estivesse considerando o próximo passo. Meu coração continua a
bater tão forte no meu peito que minha cabeça começa a ficar meio
tonta.
Movendo-se para o lado, ele se aproxima, sua respiração quente
espalhando em volta da minha orelha.
— Não, mas vou te quebrar. Te mostrar exatamente o que você
é.
No segundo que a última palavra deixa sua boca, ele me solta e
dá um passo para trás, adentrando as sombras. Não perco tempo
nenhum em correr na direção da praia. Meus pulmões estão
queimando, desesperados por ar e minhas pernas estão tremendo
até que piso na areia, mas ao invés da fuga que estava esperando,
corro direto em uma parede sólida.
Um par de mãos grandes pousam na minha cintura para me
equilibrar, mas luto para me soltar, pensando que ele foi mais rápido
que eu ao sair das árvores.
— Amalie, está tudo bem. — A voz é desconhecida e ainda
assim, gentil. Tem o efeito desejado, porque paro de lutar. Isso é,
até olhar para cima e encontrar o braço direito de Jake, Mason. Aí
eu me solto de suas mãos e dou um passo gigante para trás. —
Você está bem? — Parece como preocupação genuína em seu
rosto, mas tendo em vista que ele é amigo do babaca que acabei de
deixar para trás, duvido muito que se importe de verdade.
— Estou bem. Obrigada. — Minha voz está dura e fria e seus
olhos semicerram.
— Aconteceu alguma coisa ali?
— Não, nada. Só fui fazer xixi.
Um sorriso contrai seus lábios.
— Por que você não usou os banheiros?
— Os banheiros? — sussurro. — Mas Camila disse… — Deixo
sem terminar quando o rosto inteiro se contorce como se ele
estivesse com dor.
— Foi uma piada — a voz levemente arrastada soa atrás dele.
— Ah.
— Amalie, por favor me diga que você não… — As palavras
falham quando ela vê Mason parado ao meu lado. — O que você
disse para ela? — Ela esbraveja.
— Eu? Não fiz nada. Não fui eu que a mandei usar o banheiro
nas árvores.
— Pensei que soubesse que estava brincando. Paramos do lado
dos banheiros.
— Bom, ela não sabia. — Mason dá um passo na direção de
Camila, poderia cortar a tensão entre eles com uma faca enquanto
se encaram, ambos se recusando a recuar.
Isso é, até alguém aparecer por entre as árvores. Todos olhamos
conforme Jake saí da escuridão com seu gingado de costume e
aura de ódio o cercando. Camila e Mason olham entre nós. Posso,
praticamente, ouvir os pensamentos à mil em suas cabeças.
Jake ignora os dois e anda na minha direção. Os olhos
percorrem meu corpo antes da sua mão deslizar pelo meu cabelo e
sua bochecha áspera esfregar contra a minha.
— Se cuida, Brit. — Para nossos espectadores, isso pode
parecer um movimento íntimo, mas a realidade da situação é muito
diferente.
Ele se afasta quase que imediatamente, pisca para mim, e
começa a andar para trás, sem tirar os olhos do meu corpo até ser
forçado a olhar por onde anda. Sei o momento exato que seus olhos
não estão mais em mim porque os arrepios que seguem seu olhar
desaparecem na hora. Digo a mim mesma que é o ódio ardente
saindo dele que causa isso, mas depois de ter seu corpo quente e
firme pressionado contra o meu, sei que pode não ser o caso. Jake
Thorn pode ser um babaca, mas ele é um babaca bonito, e tudo o
que meu corpo vê é o seu corpo gostoso.
— O que diabos foi isso? — Camila pergunta, Mason está
ocupado demais estudando minha reação para dizer qualquer coisa.
— Isso… não foi nada.
— Nada? O que diabos aconteceu ali?
— Nada aconteceu ali. Só fui fazer xixi, isso é tudo. Se você
tivesse me dito onde era o banheiro pra começo de conversa, nem
estaria ali.
— Sinto muito. Pensei que soubesse que estava brincando. —
Camila parece horrorizada que dei ouvidos a ela e entrei no meio
das árvores, mas por que não acreditaria? Ela não me deu motivos
para pensar que seria uma piada.
— Preciso de uma bebida. — Passando tempestuosa no meio
deles, marcho de volta para a festa e pego duas garrafas de cerveja
do cooler.
Quase terminei a primeira quando sinto sua presença atrás de
mim.
— Amalie, sinto muito. Não pensei que você… Pensei que
tivesse visto os banheiros.
— Não tem problema, de verdade. Nada disso foi culpa sua.
— O que aconteceu?
— Cinco minutos! — alguém grita do outro lado do grupo e
ovações irrompem da multidão, mas em nenhum momento Camila
tira os olhos de mim.
— Vocês duas estão prontas? — Noah pergunta. Quando olho
para cima encontro Shane ao seu lado, os olhos brilhando com
animação e talvez um pouquinho de álcool demais.
— Pronta para o quê?
— Você vai amar. — Camila quase pulula no lugar. Espero
mesmo que seja mais agradável do que sua última “surpresa”.
CHAPTER TREZE

Jake

N o segundo que vi o medo nos olhos dela quando nos


encontrou, quase gozei na garganta da Shelly. Não poderia ter
sido mais perfeito ela ter aparecido naquele momento, nem se
tivesse planejado.
Meu pau contrai na calça quando penso no jeito que os olhos
dela foram para meu peito e passaram pelo meu abdômen. Ela pode
me odiar depois do que fiz para ela, mas caralho se ela não quis ser
a Shelly aquela hora. E caralho se eu também não queria isso. O
pensamento de ser a garganta dela que eu estava punindo faz meu
pau chorar de animação. Posso querer acabar com ela, mas merda
se eu não quero aproveitar a viagem, e a viagem com certeza vai
levá-la a ficar de joelhos, posso garantir isso, porra.
O cheiro doce do seu perfume misturado com o medo nos olhos
era exatamente o que eu precisava para alimentar a fúria que enche
minhas veias todas as vezes que olho para ela e lembro o que
representa. Mulheres bonitas e fracas que usam o que Deus as deu
para chegar aonde querem, sem se importarem com quem
atropelam ou abandonam no processo.
Meus punhos se apertam com minha necessidade de ter seu
corpo esguio e pecaminoso pressionado contra o meu outra vez
para que possa mostrá-la que seu charme não a levará longe por
aqui. Você está caindo na armadilha dela, uma vozinha dentro de
mim grita, mas a afogo com outro gole de cerveja. Não estou caindo
em nada, estou dando uma lição na biscate. Estou me vingando do
que outra versão dela fez para mim anos atrás.
— O que diabos? — Mason pergunta, sentando ao meu lado.
— O quê?
— Não se faça de bobo comigo. O que diabos aconteceu com
Amalie nas árvores?
— O que você acha que aconteceu? E a propósito, ela chupa
como um maldito aspirador.
Os olhos dele semicerram e os dentes rangem.
— Você está falando merda, ela não é uma delas. — Ele acena
com as mãos na direção da maior parte do esquadrão de torcida,
que tiram as calcinhas só com um olhar. — Não tem jeito nenhum
que ela fez isso porque quis.
— Quem disse alguma coisa sobre querer?
— Que porra está errada com você? Esse não é você, mano.
— Esse sou eu fazendo o que precisa ser feito.
— Somos amigos desde que usávamos fralda, Jake. Se você
acha por um minuto que não posso ver o que está acontecendo
aqui, que não posso ver exatamente o que você vê quando olha
para ela, então você é um maldito idiota. Seus problemas não têm
nada a ver com ela, não é ela que você precisa punir pela direção
que sua vida tomou. Ela está passando por merda suficiente
sozinha, a última coisa que precisa é você fazendo a vida dela um
inferno. Agora pare com isso.
Levanto, precisando fazer alguma coisa para soltar a tensão
tomando conta do meu corpo, olho para ele de cima.
— Que porra é essa, Mase? — Meus músculos contraem
enquanto luto contra a vontade de apagar o aviso que está me
dando da sua maldita cara. Melhor amigo ou não, ele não tem direito
de dizer esse tipo de merda para mim. Levantando-se da areia, ele
me olha direto no olho, me provocando.
— Vá em frente, me bata. Desconte sua raiva em mim, melhor
do que nela.
— Por que diabos você a está defendendo?
— Porque ela não fez nada além de ter a própria vida arrancada
de baixo de seus pés. Não finja que não sabe exatamente o que
aconteceu com os pais dela. Você acha mesmo que ela precisa de
você fazendo da vida dela um inferno só porque ela, pra falta de
sorte, parece um pouquinho como…
— Não diga. Não ouse dizer, porra. — Estou bem na cara dele,
nossos narizes apenas um fiozinho de distância. Um soco meu e o
franguinho cairia como pedra, e ele sabe, mas ainda assim, ele me
encara para defendê-la.
Meu peito arfa, minhas mãos se apertam, mas de alguma forma
consigo mantê-las dos meus lados.
— Como foi com a Camila? — pergunto entredentes, lembrando
deles parados juntos.
— Vai se foder.
— Não, fica frio. Mas posso ir atrás dela, aposto que ela precisa
de uma boa foda, porque aquele fodido com quem ela namora
claramente não é capaz.
Não vejo o soco dele, mas com certeza o sinto quando colide
com minha mandíbula. Sabia que mencionar Camila o deixaria tão
irritado quanto eu estava.
— Não ouse chegar perto dela, caralho.
— Ou o quê?
O punho dele me atinge outra vez, mas não revido em nenhum
momento. Eu preciso disso. Eu preciso da dor.
— Que merda? — Ethan grita, tirando Mason de cima de mim.
— Não é nada — murmuro, cuspindo o sangue que está
enchendo minha boca do corte que arde em meus lábios.
— Não parecia nada. — O olhar dele passa entre nós dois,
garantindo que não vamos voltar a brigar no segundo que ele se
afastar.
Mason dá de ombros antes de analisar os dedos e sair em
procura de mais cerveja. Sabia que mencionar Camila era uma
atitude babaca. Mas o que posso dizer? Sou um babaca.
— Como está a evolução com suas garotas? — Ethan pergunta,
depois que vemos Mason se afastar.
— Feito.
— As duas?
— As duas — confirmo.
— Uau, pensei que Amalie fosse ser um desafio grande demais,
até para você, gostosão.
— O que posso dizer? As garotas não conseguem resistir.
— Você está iludido.
— Não dou a mínima. Me dei bem. E você?
— Ainda estou trabalhando nisso. — Depois que ele disse todos
os nomes para nós, Rich, outro cara no time deu Ethan um desafio
quase impossível com sua garota. Não tinha jeito nenhum que ele
se daria bem com ela esta noite.
— Você está pronto? Está quase na hora.
— Estou sempre pronto.
Ethan ri e nós afundamos as cervejas na areia, nos preparando
para nos movermos.
Alguém grita o sinal e todos os corpos na praia começam a se
mover. Roupas são jogadas em todas as direções, algumas mais do
que outras, dependendo da coragem da pessoa e todos vão na
direção do mar.
Tirando o jeans, mantenho uma mão cobrindo meu pacote
enquanto continuo a observar os estudantes mais ao longe na praia.
Meus olhos encontram ela quase instantaneamente, não que seja
difícil, com o cabelo platinado. Não posso desviar o olhar enquanto
ela observa o que todo mundo ao redor está fazendo antes de
segurar a barra da camiseta e a tirar do seu corpo magro. Mesmo
daqui, posso perceber que sua pele pálida é tão impecável quanto
esperava que fosse. Seus seios pequenos e empinados estão
cobertos por dois pequenos triângulos de tecido preto que amarram
no seu pescoço e costas. Meus dedos contraem com a facilidade
que seria removê-los do seu corpo. Abrindo o botão da calça, ela
empurra pelas pernas, se inclinando um pouco para soltar os pés, a
visão da sua bunda que mal está coberta faz meu pau ameaçar uma
ereção completa. Precisando de uma distração antes do meu desejo
se tornar óbvio para as pessoas ao meu redor, sigo a deixa e
começo a correr.
A Corrida da Meia Noite é um teste de bravura e coragem.
Aqueles que querem provar alguma coisa ficam pelados e correm a
toda velocidade para o mar. Como esperado, a maior parte dos
rapazes tiram tudo, no entanto, apenas Chelsea e suas amigas
fáceis expõe e exibem tudo que tem como biscates sem vergonha.
Infelizmente, a água não está fria o suficiente para esfriar a
imagem da bunda dela que ainda está marcada na minha cabeça.
— Puta que o pariu — alguém grita atrás de mim enquanto
espirram água e pessoas dão risada e brincam.
Fico parado com a água até a cintura e observo suas peripécias,
de repente me sentindo desanimado por completo sobre esta noite e
o ano pela frente.
— Isso é estúpido pra caralho — murmuro pra Mason quando
ele se aproxima.
— Né? Quer tomar uma cerveja?
— Tenho uma ideia melhor.
Ele me olha, nervoso, mas sendo o melhor amigo leal que é,
concorda e me segue para fora da água, deixando o resto da nossa
sala para trás para que se divirtam.
CHAPTER CATORZE

Amalie

— O nde diabos está nossa barraca? — Camila reclama depois


que voltamos para nos secar.
O espaço ao lado da barraca dos garotos onde erguemos a
nossa está completamente vazio.
— Ele não faria isso, faria? — Não tenho intenção de falar em
voz alta, mas percebo que o fiz quando Camila, Noah e Shane viram
para mim.
— Quem? — Camila pergunta, mas pelo semicerrar de seus
olhos na direção do time de futebol, sei que ela não precisa que
responda à pergunta. — Vou matar ele. — Ela começa a andar na
direção de onde todos estão sentados e bebendo, a maioria com o
esquadrão de torcida nos colos.
— Babe, espere — Noah diz, apressado, pegando o braço dela e
a puxando de volta. — Você ir até lá e fazer um espetáculo é
exatamente o que querem. Não alimente os animais.
— Mas eles estão com todas as nossas coisas, nossas roupas,
nossa lingerie.
Noah range os dentes, mas não solta a namorada. Inclinando-se
para ela, sussurra baixo em seu ouvido, tão baixo que não posso
ouvir as palavras. Quando ele se afasta, ela o encara por alguns
segundos, uma discussão silenciosa passando entre os dois, mas
por fim, os ombros dela relaxam e diz:
— Tudo bem. Mas vou fazer eles pagarem por isso.
— Aqui — Shane fala, me dando sua toalha para que possa me
secar. Hesito em pegá-la, ciente de que não quero que ele pense
que signifique muito, mas na verdade, não tenho muitas opções
neste momento. — Vocês podem dividir com a gente. É para quatro
pessoas, vai ter bastante espaço. — A animação que brilha nos
olhos de Shane faz meu estômago embrulhar com temor. Não quero
mesmo machucá-lo, ele parece um dos caras legais, apesar do seu
envolvimento com o time de futebol.
— Acho que talvez eu deveria ir para casa.
— O quê? Não. Noah está certo, isso significaria que eles
venceram, e não vou perder para aqueles babacas.
— Entendo, Camila, mesmo. Mas você não precisa lutar essa
batalha comigo. Posso ir embora, e você pode continuar como se eu
nunca tivesse vindo, e trazido esse tipo de drama para suas vidas.
— Terminou? — Ela para com os dedos colados nos meus, as
mãos nos quadris e a cabeça inclinada para trás para conseguir me
olhar nos olhos. — Você não vai a lugar algum. Eu te convidei
porque te quero aqui, nós queremos você aqui. Que se fodam eles e
seus jogos infantis. Vamos mostrar a eles que você é mais forte do
que isso. Sei que você tem isso dentro de si, porque não estaria
aqui, agora, se não tivesse.
Ela está certa, sei que está, mas isso não impede meu desejo de
correr para casa e me esconder debaixo das cobertas do babaca
que está tentando arruinar minha vida mais do que já está.
— Vem, vamos beber alguma coisa e tentar aproveitar o resto da
noite. — Noah encoraja, dando uma das camisetas para Camila.
Quando viro para olhar para Shane, ele também está segurando
uma camiseta para eu vestir. Eu a pego dele, grata por não ter que
passar a noite de biquini, mas questiono minha decisão de colocá-la
quando percebo que é seu uniforme de futebol com o número nas
costas. Posso não saber muito do ensino médio americano, mas
uma coisa que sei é que dar seu número para uma garota é algo
importante.
— Você não tem outra?
— É a única que está limpa.
Depois de alguns segundos olhando para ele e um pouco de
encorajamento de Camila, coloco a camiseta, me sentindo melhor
quase na mesma hora que cubro um pouco de pele. Meu biquíni de
redinha pode ser enorme em comparação com o que algumas das
outras garotas estão, ou não, usando, mas não significa que fico
confortável mostrando tanta pele assim. Posso ter crescido no
mundo da moda e perto de modelos que eram mais do que felizes
posando em quase nada, mas não sou eu. Preferia muito mais me
esconder atrás da câmera com meu pai, do que ficar no centro das
atenções com minha mãe.
Com o número noventa e nove enorme de Shane nas minhas
costas, sento na areia com os outros e aceito uma garrafa de
cerveja quando me dão.
Não tinha nenhum expectativa de como seria esta noite. Inferno,
eu não tinha ideia do que iria acontecer, já que Camila manteve os
detalhes em segredo na sua tentativa de aumentar minha animação,
mas posso honestamente dizer que não esperava nada disso.
Ao olhar para os estudantes ainda brincando no mar, os que
formaram casais e estão rolando na areia, e depois a festa separada
que o time de futebol parece estar curtindo mais para cima na praia,
me pergunto como isso se tornou minha vida.
Apesar de ter acontecido comigo, ainda é difícil acreditar que sua
vida pode mudar num piscar de olhos. Os amigos que pensei que
tinha em Londres que seriam meus amigos para a vida, em sua
maioria, sumiram. Até Laurence, o cara que pensei que pudesse ter
um futuro com ele, não entra em contato há semanas. Enquanto
estou aqui, começando uma nova vida, eles estão todos
embarcando na deles nas suas universidades de escolha e
seguindo em frente… sem mim. Dói que já perdemos contato, mas
na verdade, não esperava que fosse diferente. Só posso esperar
que o pessoal que me cerca agora possam ser um pouquinho mais
leais, ou pelo menos ficarem por perto tempo o suficiente para me
ajudarem durante os próximos meses enquanto me acostumo e com
sorte encontro meu lugar. Se não o fizerem, e o que seja esse
negócio com Jake se torne demais, então não tenho certeza o que
pode ser meu futuro.
Sempre fui o tipo de pessoa que olha para frente e vê as coisas
positivas, mas ao sentar aqui divagando, não posso evitar pensar
que pela primeira vez na vida que voltar para trás é uma verdadeira
possibilidade.
— Ei — Camila diz, dando uma cotovelada leve no meu braço
para me arrastar do meu devaneio. — Está tudo bem?
— Claro.
— Sinto muito mesmo sobre mais cedo. A piada meio que saiu
pela culatra.
— Não tem problema. — Já parece ter acontecido em outra vida.
— Aqui, beba um pouco e venha dançar comigo, é pra isso ser
uma festa.
Pego o copo de plástico da sua mão, bebo em um gole e a
permito me puxar para fora da areia. Vamos para a pista de dança
improvisada, Noah e Shane nos seguem rapidinho.
Um arrepio passa por mim quando viro para começar a dançar e
quando dou uma olhada por cima do ombro, encontro exatamente o
que estou esperando. Os olhos dele em mim.
Eu o ignoro, viro para meus novos amigos, estampo um sorriso
no rosto e tento fazer com exatidão o que deveria, me divertir.
CHAPTER QUINZE

Jake

P areceu uma boa ideia na minha cabeça, mas agora que estou
sentado aqui vendo-a usar o maldito número dele, percebo
que me ferrei.
Algo possessivo que não quero identificar faz um peso
desconfortável no meu estômago e faz meus músculos contraírem.
O desejo de ir e arrancar a porra daquele pedaço de pano do corpo
esbelto dela me consome. Meus dedos envolvem a garrafa na
minha mão com tanta força que doem.
— O que diabos está erra… — Mason segue a direção do meu
olhar. — Ah.
— É, ah, caralho.
— Eu te falei que era uma má ideia.
— Esperava que elas ficassem putas e não continuassem como
se não ligassem.
— Você nunca pode prever as garotas, mano. Você deveria ter
aprendido isso a essa altura. — Meus dentes rangem, normalmente
posso prever garotas como Chelsea e Shelly com acurácia, elas
quase sempre fazem o que espero. Mas a garota nova, ela é
diferente. Sim, tem medo nos olhos dela todas as vezes que chego
perto demais, mas ela não recua. Ela não tem medo de me encarar
e lutar pelo o que acredita que é certo.
Talvez ela esteja certa, uma vozinha na minha cabeça diz. E daí
que ela é a cara da vadia que me abandonou, isso não significa que
são parecidas.
Virando a cerveja nas minhas mãos, pegou outra, precisando
afogar pensamentos estúpidos como esse. O ódio e raiva estão
fervilhando dentro de mim há anos, agora não é a hora de começar
a questionar minhas intenções. A frustração que estou sentindo
precisa me propelir, não me transformar em um maldito covarde.
— Você estava certo sobre Chelsea — ele diz, sentando ao meu
lado.
— Ah é?
— Como um maldito aspirador.
Jogo minha cabeça para trás e dou risada do olhar de choque no
seu rosto.
— Te falei que era bom.
— Acho que ela pode ter arruinado boquetes para mim. Ninguém
mais nunca vai se comparar a isso.
— Então o que você quer dizer? Vai namorar sério com ela?
— O que, depois dela ter colocado metade dos paus da escola
na boca? Não, estou bem, obrigado. Preciso descobrir um jeito de
conseguir uma boa garota que chupe desse jeito.
Balançando minha cabeça com sua intenção nobre de encontrar
uma namoradinha boazinha, contenho a vontade de apontar que ele
provavelmente precisará parar de agir como um galinha antes disso
acontecer. Todas as boas garotas vão empinar o nariz para ele
assim como está fazendo com Chelsea.
— Você não conseguiu que ela ficasse de joelhos nas árvores
mais cedo, conseguiu? — Ele acena para onde ela ainda está
dançando com Shane e meu coração aperta dolorosamente no
peito.
— Não sou daqueles que beija e sai contando, Mase.
— Só porque você não as beija, mas sempre é chupado e conta.
Dando de ombros, passo os olhos pelos outros, procurando
algumas garotas para observar que não me façam querer matar
ninguém.
— Nada para contar. Ela chupou, eu gozei. Desafio cumprido.
— Mentira. Ela não te tocaria com um cabo de vassoura depois
do jeito que a tratou. E para ser honesto, não a culpo.
— Não preciso da sua opinião nisso. Com certeza você tem
problemas suficientes para se preocupar com o que eu estou
fazendo. Afinal, sua garota está chupando o pau dele esta noite, no
lugar do seu.
— Ela não é minha maldita garota.
— Exatamente, e esse é todo o problema, não é? — Ele respira
fundo e solta, para se acalmar. Deveria ser o bastante para me fazer
parar de provocá-lo, mas estou no modo babaca hoje. — Nem sei o
que você vê nela. Não é nada especial.
Ele foca seu olhos assassinos em mim. Estão quase pretos com
sua raiva. Por um segundo, acho que ele pode me atacar outra vez.
Mas no último minuto, ele joga a garrafa de cerveja longe na praia e
levanta.
— Vai se foder, Jake. Vai. Se. Foder. Quando tudo isso explodir
na sua cara, não venha se arrastar para mim.
Ele sai, tempestuoso, indo se juntar a alguns dos outros caras do
time. Meus olhos semicerram no uniforme Rosewood Bears mais
para baixo, e fúria enche minhas veias. Tudo isso é culpa dela.
Minha vida era… boa antes de ela dar as caras. Agora não posso
escapar da raiva do meu passado como um dia pude e meu melhor
amigo desde a infância acabou de dar as costas para mim.
Tudo. Culpa. Dela.
E vou garantir que ela saiba, caralho.
CHAPTER DEZESSEIS

Amalie

O sol brilhante do amanhecer passa pelo tecido fino da barraca


e quando acordo, percebo que estou com calor e muito
desconfortável. Tentando me mexer, logo entendo o porquê.
Shane está enrolado em mim como uma maldita cobra, o braço
sobre meus quadris, o peso deixando meu peito dolorido. O chão
em que estamos, depois de dar o colchão de ar para Camila e Noah
é sólido, e tem um monte de areia pressionando meu quadril.
Tentando o máximo para escapar do seu enlace, meu bumbum
esfrega contra sua virilha. Um gemido baixo ressoa em sua
garganta, seu membro cresce contra mim e seu braço aperta. Entro
em pânico. Não tem jeito nenhum que quero que ele acorde e
descubra que estamos nesta posição. Todas as vezes que olho para
ele, seus olhos escurecem com um desejo que faz meu estômago
embrulhar pelos motivos errados. A última coisa que preciso é que
ele pense que eu quis isso.
Quando acho que ele voltou a dormir, tento me mover outra vez.
Ele bebeu muito mais do que eu ontem a noite, quase todo mundo
bebeu. Estava mais preocupada em ficar alerta caso Jake decidisse
me fazer outra visita para tentar terminar de arruinar de verdade
minha noite. Por sorte, seu olhar quente do outro lado da praia foi
tudo a que fui sujeitada. Ele precisa ter cuidado, se eu fosse
qualquer outra garota, poderia começar a pensar que sua atenção
constante significava mais do que ódio. Quero dizer, quem em sã
consciência passa a noite toda encarando uma garota que
supostamente odeia tanto quando poderia estar se divertindo com
os amigos? Jake Thorn, é esse quem.
Um arrepio desce pela minha coluna só com o pensamento.
Sentindo-me confiante, vou erguer os braços de Shane de cima
de mim, mas paro no momento que escuto sua voz baixa.
— O que você está fazendo? Volte a dormir. — Solto o braço
dele outra vez, ele me puxa mais firme contra ele. Todos os
músculos no meu corpo ficam tensos quando sua ereção matinal
pressiona mais do que antes na minha bunda.
Nada disso é certo, e só prova que nunca vai acontecer nada
entre nós, não importa o quanto ele pareça querer. Shane e eu
somos destinados a sermos apenas amigos.
— Desculpa, preciso mesmo fazer xixi.
— Sério? Agora?
— Sério. — Ele me deixa erguer seu braço outra vez, e me
afasto rapidinho do seu corpo.
— Seja rápida.
Não respondo porque qualquer coisa que possa dizer para
garantir que ele fique onde está seria mentira.
Não estava mentindo quando disse que precisava usar o
banheiro, mas não tenho intenção de voltar para dentro daquela
barraca.
Fechando o zíper, passo os olhos pela praia e perco o fôlego. A
fogueira ainda está flamejando, e está cercada por corpos
desacordados em variados estados de vestimenta e garrafas de
cerveja vazias.
Terão algumas ressacas bravas quando todos começarem a
acordar.
Puxando a barra da camiseta de Shane, atravesso a areia, para
minha falta de sorte, na direção do time de futebol para pode usar o
banheiro. Não tem jeito nenhum que vou voltar naquelas árvores,
ainda mais quando o sol está começando a raiar.
Meus passos desaceleram quando me aproximo de um corpo
familiar dormindo. Quase dou risada quando percebo que ele ainda
está virado para onde eu estava. Babaca depravado.
Arriscando-me, fico parada ali por alguns segundos o
observando. Ele parece muito menos perverso ao dormir. A
carranca quase constante desapareceu, e sua testa não está
enrugada com raiva. Ele parece normal, não… lindo.
Balanço a cabeça para me livrar desse pensamento maluco,
passo o olhar pelo seu corpo, observando seu peito e abdômen
definidos antes do V desaparecer no jeans.
O braço tatuado se move e quase pulo um quilômetro. Meu
coração acelera e me afasto na hora. A última coisa que preciso
enquanto minha cabeça está latejando um pouco por causa da
cerveja de ontem a noite e ainda um pouco sonolenta é lidar com
um Jake de ressaca.
Minhas pernas se movem sozinhas e me pego quase correndo
na direção dos banheiros e para longe do perigo.
Como esperava, os banheiros estão desertos, apesar de ter
evidências da festa em todos os cantos. Garrafas e copos de shot
estão espalhados nas bancadas assim como maquiagens e lenços
umedecidos sujos mesmo tendo uma lata de lixo sob elas. Não tem
nada sugerindo que foram elas, mas minha mente responsabiliza
Chelsea e sua trupe na hora.
Sentando no vaso, apoio a cabeça nas mãos. Não tenho
intenção nenhuma de voltar para a praia. Preciso encontrar um jeito
de ir para casa e para longe do desastre que esse lugar vai ser
quando todos começarem a acordar. Duvido que a maioria das
pessoas aqui percebam que fui embora.
Lavo as mãos sem olhar para cima, temo o que verei quando o
fizer. Nos últimos meses, tive que encarar meu reflexo partido e
estou farta do olhar triste e patético nos meus olhos que sei que
voltou. Voltou? Não tenho certeza se algum dia desapareceu. Mais
como se transformou em um tipo diferente de sofrimento. Um que
pela maior parte aceitei, apesar de não ter lidado, a perda dos meus
pais, mas o ódio da vida na qual fui jogada. Rezei para que pudesse
começar na Rosewood High, me misturar com a paisagem, me
formar e seguir em frente. Mas parece que era um pouco demais
para pedir. Apesar de parecer ter encontrado alguns amigos, fiz um
inimigo muito pior, e não posso vê-lo desistir tão cedo. Ele está
decidido a arruinar minha vida aqui, e alguma coisa me diz que não
vai parar até conseguir o que quer. A única coisa que posso tentar
fazer agora é não mostrar que suas ações e palavras vis me afetam.
Sou melhor do que a pessoa amarga em quem ele poderia me
transformar. Minha avó merece que eu seja forte e não traga mais
drama para seus ombros. Meus pais não esperariam menos de mim
a não ser rir na cara do babaca. Eu mereço muito mais do que isso.
Com meus ombros um pouco mais largos, saio do banheiro
público com um novo apreço pela vida. Faço uma careta por causa
do sol e me permito alguns segundos para curtir o calor no rosto.
Não estou acostumada a esse tipo de clima e espero que não seja
algo que comece a não dar valor tão logo.
Olhando para meus pés descalços, respiro fundo e me preparo
para a caminhada dolorida até em casa. Sei que deveria voltar e
acordar os outros na esperança de uma carona, mas o pensamento
de Shane me puxar de volta para nossa pequena cama e me
envolver em seus braços é o bastante para que eu me mova. Não
quero mesmo incentivá-lo, mas parece que ele está determinado a
ver uma coisa que não existe.
Não tenho cem por cento de certeza do caminho de casa, mas
acho que ao me afastar mais da praia, vou começar a reconhecer as
coisas e descobrir. Se não fosse tão cedo, ou se alguns babacas
não tivessem roubado todas nossas coisas, poderia ter ligado para
minha vó para me ajudar, mas essa opção também não existe.
Por sorte é cedo o bastante que quase nenhum carro passa por
mim, e apenas um buzinou até agora. Entendo o porquê, está claro
que estou fazendo alguma caminhada da vergonha usando apenas
um uniforme do Rosewood Bears que mostra a maior parte das
minhas pernas.
Um arrepio desconcertante desce pela minha espinha sabendo
como essa foi uma decisão estúpida. A cidade é bem calma, mas
isso não significa que não tem um maluco rondando as ruas
esperando pela próxima presa quase cair no seu colo. Sou o alvo
perfeito no momento.
O roncar de um motor desacelerando atrás de mim vibra pelo
meu corpo, e meu coração bate um pouco mais rápido.
Poderia ser qualquer um, um estuprador, um assassino. Imagens
do que poderia estar prestes a acontecer comigo passam na minha
mente como todos os filmes que vi ao longo dos anos. Minhas mãos
suam e meus músculos se preparam para correr conforme o carro
desacelera ainda mais atrás de mim.
Por fim, meu medo se torna demais e tenho que olhar por cima
do ombro. No momento que o passageiro do carro entra em foco,
uma risada escapa dos meus lábios.
— Está de sacanagem comigo? — pergunto enquanto continuo a
andar.
— Entre, Brit — Jake vocifera pela janela aberta.
— Vai se foder.
— Entre. No. Maldito. Carro. Agora. Porra.
— Vai. Se. Foder.
As narinas dele dilatam com meu desafio e seus lábios
pressionam em uma linha fina. Ele sobressalta quando o carro
acelera e suspiro em alívio. Isso é, até o carro parar abruptamente
um pouco à frente e a porta do passageiro abrir.
Virando em pés doloridos, me preparo para correr, mas braços
fortes e tatuados envolvem minha cintura. Fico imóvel com o contato
e arfo em surpresa quando todo seu corpo pressiona nas minhas
costas.
— Falei pra entrar na porra do carro — ele rosna, sua voz é
aterrorizante. Meu corpo treme, não tem jeito nenhum que ele não
vê e eu me xingo por permitir que ele sinta meu medo neste
momento.
Antes de discutir, meus pés deixam o chão e sou carregada na
direção do carro onde Ethan segura a porta de trás aberta para
permitir que Jake me jogue dentro.
Eu grito quando voo na direção do banco de couro, me movendo
rapidamente para que possa escapar antes do carro se mover, mas
quando sento, descubro Jake me encarando. Seus olhos estão
escuros e raivosos, mas tem um sorriso presunçoso nos seus
lábios.
— Me deixe sair, porra.
— Atrevida esta manhã, não? — A cabeça dele se inclina para o
lado como se estivesse tentando me compreender, e caralho se isso
não faz ele ainda mais bonito. Calor surge na minha barriga quando
vou forçá-lo para fora do caminho. Ele percebe o que estou
planejando, e antes que tenha chance de fazer qualquer coisa, ele
se inclina dentro no carro, com as mãos no banco atrás de mim, me
enjaulando.
Ele não fala nada por um bom tempo. Ao invés disso, seus olhos
fitam os meus antes de descerem para meus lábios. Mordo o
inferior, minhas unhas afundando no couro atrás de mim.
— Qual diabos é seu problema? — Fervilho, esperando que ele
pare de me encarar e olhar para mim como está agora.
Uma risada fria escapa dele.
— Meu problema? Tenho um milhão deles, querida. Mas neste
momento é que você está andando do lado da estrada como uma
puta que foi expulsa depois de uma noite boa.
— Desculpa, estou rebaixando o nível da área alguns pontos? —
pergunto, e pelo escurecer de seus olhos e ranger de dentes, diria
que apenas alimentou sua raiva. Ele quer que eu discuta, ele não
sabe como responder quando eu simplesmente concordo com ele.
— Sua noite com Dunn e o pau pequeno dele foi tão
decepcionante que você teve que fugir? — Todo o ar deixa meus
pulmões quando ele se aproxima ainda mais, seus lábios apenas
milímetros de distância dos meus. Seu cheiro enche meu nariz e
não posso evitar me perguntar como é tão bom depois de uma noite
na praia. Meus olhos focam no hematoma escurecendo sua
bochecha e o corte no lábio. Eu me pergunto quem estava do outro
lado daquele punho. Deveriam ter feito um trabalho melhor. — Você
passou o tempo inteiro pensando em mim? Pensando em como eu
preencheria sua boceta ao máximo e te daria mais prazer do que
jamais conheceu?
Meu estômago embrulha e tento me convencer que é nojo, mas
não sou estúpida e me odeio pela minha reação a ele.
— Me deixe em paz. — Tento manter minha voz firme, mas
nenhum de nós deixa escapar o vacilo no final.
— Você não está falando sério. Vejo o jeito que seus olhos
dilatam quando me aproximo. Você quer isso. Pode me odiar como
te odeio, mas não pode negar que quer que eu te foda.
— Se afaste de mim, porra. — Tento outra vez, mas sei que não
adianta. Minhas palavras não significam nada para ele.
— Eu te foder não lhe daria o que quer. Você quer prazer, mas
tudo que tenho para você é dor, baby.
— Chega, Thorn — Ethan vocifera do banco da frente, e Jake se
afasta um pouco, me permitindo respirar um pouco do ar muito
necessário.
— Dor, Brit — ele sussurra ameaçadoramente. — Dor é tudo o
que tenho para você.
Estico a mão para a maçaneta no segundo que ele bate a porta,
mas é inútil, eles me prenderam.
— Onde vocês estão me levando?
— Para casa — Jake late.
Quero perguntar por quê. Se ele me odeia tanto como continua a
dizer, então por que não me deixar para destroçar o pé no asfalto?
Mas mantenho os lábios fechados e os braços cruzados sobre o
peito. Eu me reclino e observo a paisagem passar conforme vamos
para casa.
— Como você sabe onde eu moro? — Não pensei em dizer meu
endereço para ele quando Ethan se afastou do meio fio, mas não
muito tempo depois ele está parando na frente da casa da minha
avó.
— Sabemos de tudo que acontece por aqui.
— Ceeerto. Bom, obrigada pela carona, acho. Gostaria de dizer
que foi um prazer, mas… não foi.
— Deveria ter deixado você ser sequestrada, porra. — Escuto do
banco do passageiro.
— Ignore ele — Ethan diz. — Deve estar de TPM ou alguma
merda dessa.
Um sorriso quase move meus lábios ao abrir a porta. Contenho a
vontade de agradecê-los adequadamente porque eles me salvaram
de verdade quando poderiam ter me deixado para encontrar meu
próprio caminho, mas ao invés disso bato a porta e saio pisando
firme na direção do bangalô da minha avó.
Não quero mesmo tocar a campainha e acordá-la, mas não sei
de outra maneira de entrar sem minhas chaves. Eu não preciso
mesmo de todas as perguntas que virão por estar parada na porta
da frente dela como estou.
Com uma careta, pressiono o dedo na campainha e ela soa pela
casa. Estou começando a pensar que não a acordou quando vejo
movimento na janela a minha esquerda segundos antes da porta
abrir.
— Amalie, o que… — Suas palavras são interrompidas pelo
roncar alto de um motor atrás de nós. Seus olhos se afastam do
meu e ela sorri enquanto o carro se afasta e desaparece pela rua.
— Desculpa por te acordar. Pode voltar para a cama.
— Já estava acordada. O que aconteceu? Onde está Camila?
Por que você está usando uma camiseta dos Bears?
— Preciso de café primeiro — falo, fechando a porta atrás de
mim e indo para a cozinha.
CHAPTER DEZESSETE

Jake

M eu corpo soube o momento exato que seus olhos estavam


em mim. Fogo queimava na minha barriga e meu sangue se
transformou em lava sob sua intensa observação. Por mais
que quisesse abrir os olhos e assustá-la, minha necessidade de
saber o que diabos ela estava prestes a fazer era maior. Esperava
que ela me machucasse depois de tudo o que fiz ontem. Não tenho
dúvida que ela sabe que fomos nós que roubamos a barraca e todas
as suas coisas.
Para minha surpresa, ela apenas ficou parada encarando.
Frio me cobriu quando ela por fim se afastou e sabia que não
podia mais evitar, precisava vê-la.
Eu me arrependi imediatamente quando meus olhos percorreram
suas pernas até encontrarem a barra do maldito uniforme dele que
ela ainda usava. O fogo rugiu dentro de mim, sabendo que ele
passou a noite com ela. O filho da puta deveria ter sido avisado que
ela era proibida, ainda assim, ele faz o que diabos quer. Assim como
passa o tempo com seus amigos idiotas no lugar do time como o
resto de nós. Todos sabemos a quem devemos nossa lealdade, mas
Shane Dunn? Ele precisa ser ensinado uma porra de uma lição, e
tenho a munição perfeita. Ele tem uma fraqueza pela nova garota, e
estou prestes a usá-la contra ele.
— E agora, pra onde? — Ethan pergunta depois de a vermos
entrar na casa da avó. Acordar ele e exigir que a seguíssemos
provavelmente foi uma atitude besta, mas não podia ignorar o fato
que a vi sair do banheiro e ir na direção de casa usando apenas
aquela porra de uniforme e nenhum sapato. Posso querer machucá-
la, mas meu cu se vou deixar qualquer outra coisa acontecer com
ela.
— Aces.
— Você quer passar de volta na praia pra pegar o Mason? — Me
lembro da nossa discussão ontem a noite e sei que ele não viria. Ele
deixou sua posição bem clara e por mais que possa doer, não vou
abaixar a cabeça para ele agora. Ele pode pensar que sabe como é
minha vida, o que se passa na minha cabeça, mas não sabe a
metade. E daí que ele sabe qual é meu problema com ela? Isso não
significa nada.
— Não, ele tem compromisso.
— Quer falar disso?
Olhando para ele, ergo uma sobrancelha.
— Tudo bem. Tudo bem. Só estava oferecendo.
— Só me pague um café e tá resolvido.
Sentando na nossa cabine de costume, silêncio paira sobre nós
ao esperarmos a garçonete nos atender.
— O jogo ontem foi épico.
Jesus, foi ontem? Estar no campo já parece ter acontecido há
um milhão de anos.
— Foi um bom começo de temporada.
— Que porra é essa, Thorn? Você é nosso capitão. Nosso
quarterback. Deveria estar ainda mais animado com nossa primeira
vitória do que qualquer um de nós.
— Eu estou animado. Só não quero me antecipar. Essa não é a
primeira vez que os Bears ganharam o primeiro jogo e desabaram
logo depois. Só vou levar um jogo de cada vez.
— Entendo, mas merda, um pouco de comemoração não faria
falta.
— Não faça birra, Ethan. Não combina com você. — Ele mostra
o dedo para mim enquanto a garçonete volta com o café. — Como
você se deu com a garota ontem a noite? Ela cedeu no final?
— Não. — Sua afirmação é final. — Você? — Ou ele estava
bêbado demais para se lembrar que me perguntou isso ontem a
noite, ou não acreditou cegamente em mim.
— Sim, cara. Você sabe que sempre consigo a garota.
— Você deixou a garota nova de joelhos? — O choque em sua
voz deveria ser o bastante para que me questionasse, mas ele não
o faz.
— Algo assim — murmuro, sem querer mentir na cara dele.
— Caraaamba. Isso com certeza merece café da manhã. — Dois
pratos cheios de panquecas doces e bacon salgado são colocados
na nossa frente bem na hora e minha boca enche de água.

— Você não voltou para casa ontem a noite — minha tia grita pelo
quintal enquanto ando até a minha porta de entrada.
— E? — vocifero de volta, não é costume ela dar a mínima sobre
o que estou fazendo, logo o motivo que fui banido para um trailer no
quintal dos fundos.
— Só estou preocupada. — Aham, tá bom que está. Ela deve
estar mais preocupada que o dinheiro que ela ganha por me aturar
vai parar de vir se eu der o fora. Por mais que adoraria fazer
exatamente isso, não tenho dinheiro suficiente e ela sabe muito
bem.
— Estou inteiro, como pode ver. — Fúria com sua tentativa
patética de parecer que se importa começa a fervilhar dentro de
mim. — Você precisa de mais alguma coisa? — pergunto
entredentes.
Um movimento atrás dela chama minha atenção e Poppy para
no portal e olha entre nós dois, as sobrancelhas franzidas.
— Certo, bom… — Minha tia não termina antes de desaparecer
dentro da casa, balançando a cabeça.
Dou no máximo um sorriso fraco para Poppy, me viro e entro no
trailer. Nada disso é culpa dela, não é como se ela tivesse pedido
para que eu fosse enfiado no meio da sua família feliz todos aqueles
anos atrás.
Jogando a bolsa pequena que arrastei da caminhonete do Ethan
há alguns minutos na minha cama, tiro a camiseta, o jeans e vou
para o banheiro. Preciso me livrar da areia que está cobrindo meu
corpo e me lembrando de tudo o que aconteceu nas últimas horas.
A água pingando do chuveiro faz pouco para aliviar a tensão
travando meus ombros.
Parado com as mãos na parede à minha frente, deixo a pouca
água que tenho escorrer pelas minhas costas. Aperto os olhos bem
fechados e me arrependo na hora. A imagem dos olhos
aterrorizados enquanto estava sobre ela no carro está bem ali, me
provocando. Desde o dia que ela apareceu, tudo o que ela fez é me
provocar, caralho. Todos os lugares que olho, toda vez que fecho os
olhos, ali está ela, trazendo à tona tudo o que tento esquecer, me
provocando com seu corpo e me lembrando que ela é a razão de
Mason ter me mandado me foder ontem a noite. Nunca nos
desentendemos. Sim, trocamos muitos socos ao longo dos anos,
mas nunca chegou ao ponto de ontem a noite.
O rosto dela enche minha mente, o escurecer de seus olhos
quando me aproximei, o jeito que foram para meus lábios como se
existisse a mínima maldita chance que eu a beijasse. Seu cheiro
floral, mesmo depois de um mergulho no mar e uma noite na praia
enche meu nariz e caralho se não faz minha boca salivar, me faz me
perguntar quão ruim aquele beijo poderia ser.
Meu pau endurece e pulsa, chamando minha atenção. Soltando
um braço, eu o seguro com uma força quase dolorosa. Apoiando o
peso na parede com um braço, acaricio meu pau, me deleitando na
fuga conforme minha mente se esvazia e meu corpo busca o prazer
atordoante.
Minhas bolas contraem e quando gozo no chuveiro apenas um
rosto enche minha mente. Arruína imediatamente qualquer êxtase
que possa ter encontrado.
Dou um murro na parede a minha frente, o que deixa uma marca
decente, e rosno para extravasar minha frustração. Como aquela
vaca está conseguindo penetrar tão fundo na minha pele quando
tudo o que quero é me livrar dela?
— O que diabos você está fazendo? — vocifero no segundo que
encontro Poppy sentada no meu sofá. Não estou surpreso,
praticamente esperei isso depois que ela ouviu a conversa entre sua
mãe e eu mais cedo.
— Só vendo como você está, e trouxe algumas coisa. — Ela
acena para as duas sacolas cheias de coisa no balcão. Não preciso
que ela traga coisas da casa para mim, na verdade, prefiro comprar
minha própria comida, mas ela insiste que é o que os pais deveriam
estar fazendo por mim, então ela garante que aconteça.
O canto dos meus lábios contrai quando encontro uma garrafa
de vodca no fundo da sacola.
— Como você conseguiu afanar isso?
Ela dá de ombros, o rosto entristecendo.
— Só peguei depois que voltaram das compras. Estão tão
ocupados discutindo que provavelmente até esqueceram que
compraram.
Meu coração aperta de compaixão por ela e sua situação. Posso
odiar viver aqui, mas acho que levei a melhor estando aqui fora e
longe de tudo isso.
— Você poderia ficar com ela. Sair e se divertir um pouco.
Fazendo uma careta de nojo, ela diz:
— Não, não tem problema. Pode ficar. Vou ficar na cerveja,
obrigada.
Não posso evitar rir dela ao abrir a garrafa e dar um gole, isso
faz sua careta aumentar.
— Você deveria diluir com alguma coisa.
— Sim, deveria.
Eu guardo tudo o que ela trouxe antes de sentar ao seu lado.
Costumava devolver na surdina tudo o que ela me dava, mas desde
que fui pego e eles pensaram que estava roubando as coisas, decidi
parar. Não quero que Poppy tenha problemas por fazer algo legal
para mim.
— Então, como foi a Corrida? — Ela senta sobre as pernas e
olha para mim, animada.
— Foi… — Deixo sem terminar enquanto tento decidir o que foi a
noite passada. Frustrante, dolorosa, uma decepção total… — Foi
divertida, você vai amar quando for sua vez.
— Mal posso esperar. Um passo mais perto de dar o fora dessa
merda.
— Você e eu, garota. — Ela franze o cenho e os lábios abrem,
pronta para brigar comigo por usar o apelido que ela odeia, mas
claramente decide contra isso.
— Tem dever de casa para fazer?
— Provavelmente — admito.
— Vou buscar o meu, e fazemos juntos. Precisamos das notas
se algum dia vamos dar o fora daqui.
Quero dizer não. Mandá-la de volta para a casa para me deixar
chafurdando na minha lamentação sozinho, mas o brilho no olho
dela com a ideia de passar a tarde aqui comigo é forte demais para
recusar e me pego procurando alguma tarefa enquanto ela corre até
a casa. Bom, isso vai ser uma maldita novidade.
CHAPTER DEZOITO

Amalie

— A malie,
baixo.
você tem visita — minha avó grita do andar de

Fechando a tampa do notebook, coloco na cama ao meu lado e


me levanto para ver quem diabos veio me procurar. Presumo que
seja Camila já que fugi de todos eles esta manhã, no entanto por
que minha vó não a mandou subir é um pouco estranho.
Entendo o porquê quando viro e meu visitante aparece.
— Mason? — pergunto, pensando que devo estar alucinando.
Por que diabos ele está na nossa porta? Depois um pensamento
surge e fogo se alastra por mim. — Se você está aqui para fazer o
trabalhinho sujo dele, então pode pensar duas vezes. Só porque
você o segue como se ele fosse um Deus, não significa que vou
ceder aos seus comandos.
Minha avó empalidece ao meu lado, mas começa a recuar
lentamente e estou grata que ela vai me deixar lutar minhas próprias
batalhas.
— O quê? Não, não. Ele não faz ideia que estou aqui.
— Tudo bem. Então, por que você está aqui?
— Estou com suas coisas no carro. Pensei que pudesse
precisar.
— Por quê? — Semicerro os olhos para ele, sem confiar nem um
pouco que ele só está sendo legal. Jake e sua trupe não são legais.
Erguendo as mãos em derrota, ele encontra meu olhar.
— Só sendo legal, eu juro. Jake está agindo como um babaca
assustado. Você não merece isso, então pensei que fosse hora de
fazer a coisa certa.
— Certo — falo, ainda sem querer confiar muito nele.
— Vem me ajudar?
— Claro. — Coloco um par de chinelos que deixei ao lado da
porta e o sigo até o carro.
— Também estou com as coisas da Camila, se importaria de
pegá-las?
— Por que você não leva para ela? Sabe onde ela mora, né? —
Não tenho ideia se é o caso ou não, mas estou desesperada para
saber qual é a história entre eles.
— Acho que ela não vai gostar muito que eu apareça sem avisar.
É melhor você pegar. — O ombro dele abaixa um pouco ao dizer
isso, o que só faz aumentar minhas suspeitas sobre qual é o
problema entre eles.
Nós dois enchemos os braços de sacolas e vamos na direção da
casa da minha avó.
— Vocês dois aceitam uma bebida? Fiz cookies.
— Eu deveria ir…
— Você pode ficar por alguns minutos, não? — As palavras
saem da minha boca antes que tenha tempo de decidir se as queria
dizer ou não, mas tê-lo aqui e aparentemente disposto a me ajudar,
quero aproveitar ao máximo. Quem sabe o tipo de informação que
posso tirar do melhor amigo do meu inimigo?
— Vou deixar vocês dois a sós — minha avó diz, pegando um
dos cookies e indo para sala de estar.
A tensão é pesada entre nós enquanto faço dois cafés e levo
Mason até o pátio.
— Por que você está fazendo isso?
— Por que você não merece nada daquela merda?
— Ainda assim, até agora, você foi parte disso. Então qual é?
— Para deixar claro, nunca concordei com nada que ele fez.
— Então por que seguir? Só porque ele é seu capitão não
significa que você precisa seguir ele por aí como uma ovelha.
— Confie em mim, eu sei. É só que ele é meu melhor amigo da
vida, e sempre fomos nós dois. As vezes é fácil esquecer que
aqueles que estão mais perto de você não tem as melhores
intenções com os outros.
Bebericando meu café, permito que as palavras que ele acabou
de dizer, registrem.
— Então, o que é isso? Oferta de paz?
— Acho que sim.
Silêncio nos cobre outra vez e nós dois observamos o jardim da
minha vó.
— Qual o problema entre você e Camila?
O corpo dele fica visivelmente tenso ao meu lado enquanto ele
solta uma respiração trêmula. Só isso me diz que estou certa e com
certeza tem uma história ali.
— Não tem problema. Éramos amigos, agora não somos.
— Hmm…
Mantenho os olhos nas flores à minha frente, mas isso não
significa que não sei o segundo que seu olhar se volta para mim.
— O que isso quer dizer?
— Nada. Só que ela disse exatamente a mesma coisa.
— É porque é verdade.
— Por que vocês não são mais amigos?
— Não vim aqui falar da minha vida. — A voz dele, de repente,
está mais fria, me dizendo que ele não quer mesmo conversar sobre
isso.
— Tudo bem, então me conte por que seu melhor amigo me
odeia tanto, então.
— Não é minha história para contar. Se quiser que você saiba,
então ele mesmo vai ter que te contar.
— Bom… isso ajuda.
— Foi mal. Posso não concordar com ele, mas isso não significa
que vou fazer as coisas escondido.
— Tipo estar aqui agora? Estou presumindo que ele não faz
ideia que você está aqui ou que está devolvendo nossas coisas.
— Hm… não exatamente.
— Então, já que você o conhece tão bem, qual seu conselho?
Como eu faço pra tirar ele do meu pé para que possa seguir com a
vida?
A mão dele esfrega sua mandíbula ao pensar.
— Você está sob a pele dele mais do que jamais vai admitir e
não acho que ele percebe que não é pelo motivo que pensa.
— Uau, isso ajuda — falo com uma risada.
— Só não o deixe passar por cima de você. Se defenda. Ele vai
respeitar isso.
— Não preciso de respeito — ralho.
— Não, mas ele precisa saber que você é forte. Que você pode
se defender e resolver as coisas quando precisa.
Semicerrando os olhos, tento ler nas entrelinhas, mas na
verdade, não faço ideia do que ele está tentando me dizer.
— Essa mensagem enigmática é tudo que você vai me dizer,
não é?
— Como eu disse…
— É a história dele para contar. Entendi.
O telefone começa a tocar no seu bolso, e ele usa como
desculpa para escapar das minhas perguntas.
— Alguma coisa que eu deveria saber? — minha avó diz,
balançando as sobrancelhas sugestivamente depois que levei
Mason para fora.
— Não, não mesmo.
— Ah, é uma pena. Ele é um garoto bonito. Se eu ainda fosse
quarenta anos mais nova. — Estremeço por dentro, mas fica claro
que não consigo esconder o nojo do meu rosto porque ela começa a
rir de mim. — Estou brincando, estou brincando. Acho… — grita
enquanto viro minhas costas para ela e vou na direção do meu
quarto com todas as coisas minhas e da Camila. — Você tem toda
permissão para namorar, a propósito. — Escuto, segundos antes de
fechar a porta.
Gemendo, solto tudo no canto e me jogo na cama.
Pegando o telefone, faço a ligação que estava temendo. Ela vai
querer respostas, e não tenho certeza se estou pronta para explicar.
— Estou com suas coisas — digo, interrompendo Camila quando
ela começa a exigir saber onde fui esta manhã no segundo que
atende o telefone de casa. Sinto-me mal por fazê-la se preocupar,
mas mesmo depois do meu encontro com Jake, sei que tomei a
decisão certa em ir embora. Ontem a noite pode ter sido suportável
quando tinha álcool saturando meu corpo, mas acordar quase sóbria
com Shane em volta de mim foi um sinal grande o suficiente para
mostrar que ali não era meu lugar.
— O quê? Como?
— Mason deixou aqui. Então acho que nossas suspeitas
estavam certas sobre ter sido eles que levaram tudo.
— Por que ele devolveu? Isso foi legal da parte dele. — Ela diz
as palavras como se ele não fosse capaz de fazer algo do tipo e
isso só faz minha curiosidade aumentar.
— Só preciso tomar banho e depois vou buscar. A fim de um
milkshake?
— Não posso, tenho um trabalho de literatura para escrever.
— Ah, vamos, você já me deixou uma vez hoje.
A tristeza em sua voz me força a concordar.
— Tá bom, tudo bem, mas só por uma hora porque tenho que
terminar isso.
— Tudo bem. Te vejo daqui um pouco.
Camila estaciona na porta da casa da minha avó depois de um
pouco mais de meia hora. Depois de encher o porta-malas com
suas coisas, vamos na direção do Aces. Tento convencê-la de ir
para outro lugar, pensando em como metade da escola parece
passar o tempo lá, mas ela não cede.
Por sorte, ele não está lá. Tem alguns rostos que reconheço dos
corredores da escola, e Camila cumprimenta alguns, mas
encontramos uma cabine em paz.
— Shane acha que você foi embora por causa dele. Foi? —
Camila fala depois de beber metade do milkshake.
— Sim e não.
— Por quê? Vocês dois pareciam estar se dando bem ontem a
noite.
— Sim, estávamos… como amigos. E aí eu acordei esta manhã
com ele enrolado em mim e seu…
— Pau? — Camila me ajuda a completar.
— Sim, isso, pressionando na minha bunda.
— Amo o jeito que você diz bunda — fala, imitando meu
sotaque. — Desculpa, desculpa. Não é importante no momento. E
daí que ele estava duro? O que você espera de um garoto
adolescente quando a garota está ao alcance?
— Não é isso. Eu só não estou interessada e não quero que ele
comece a pensar que possa significar mais. Não vai.
— Você parece muito certa.
— É porque estou.
— Você mal o conhece.
— Conheço o suficiente para saber que ele não me afeta.
— Que pena. Estava esperando que pudéssemos sair em um
encontro duplo. Então, quem te afeta? Não me diga que você
precisa de alguém um pouco mais… babaca.
Meus olhos quase esbugalham da minha cabeça com o que ela
está sugerindo.
CHAPTER DEZENOVE

Amalie

— E iestou
— Poppy chama ao vir na direção do banco em que
sentada esperando por ela. — Teve um bom dia?
Penso nas minhas últimas horas. Começou muito bom quando
Camila apareceu em casa com donuts fresquinhos, ela disse que
eram uma oferta de paz depois da “piada” de sexta à noite. Não era
necessário, mas não iria recusar um lanchinho adocicado na manhã
de segunda-feira. Meu dia logo começou a descer ladeira abaixo no
segundo que vi Jake do outro lado do estacionamento no momento
em que ela estacionou. Um olhar em seus olhos e podia estar de
volta no carro de Ethan sábado de manhã. Meu estômago
embrulhou, meus punhos se apertaram e meu sangue ferveu.
Camila percebeu onde minha atenção estava e imediatamente me
arrastou na outra direção enquanto me avisava para ignorá-lo.
Como se fosse fácil assim.
— É, foi bom. — Colocando os pensamentos dele de lado. — E
o seu?
— Tive um teste surpresa em matemática. Pensei que surpresas
eram para ser coisas boas. E mais um relatório de aula prática
enorme para escrever em biologia. Nada como começar o ano
devagar. Vem, meu carro está pra cá.
Sigo atrás de Poppy enquanto ela continua a tagarelar sobre seu
dia, e rapidinho estamos saindo da escola e indo na direção de onde
ela mora.
A casa dela fica no limite entre as partes leste e oeste da cidade.
A casa parece que deveria pertencer ao lado mais abastado, o leste,
com seu tamanho colossal, mas a área com certeza parece o lado
oeste.
— Uau, sua casa é linda.
— Temos muita sorte de ter todo esse espaço. Tenho certeza
que não é nada comparado com onde você morava na Inglaterra. —
A lembrança de casa é como um soco no peito. Ela está certa, a
casa dos meus pais em Chelsea era luxuosa e enorme, mas era só
uma casa.
— Acho que sim — murmuro, triste. — Mas aqui é diferente.
Nunca poderíamos usar o espaço externo como vocês usam.
No segundo que ela abre a porta da frente, somos recebidas
com um grito alto e as vibrações de uma porta batendo em algum
lugar no andar de cima.
— Merda.
Passos pesados descem as escadas antes de uma mulher muito
grávida e muito estressada aparecer.
— Está tudo bem, mãe?
— Claro, querida. Oi, sou Tammi, mãe da Poppy — ela diz, se
voltando para mim com um sorriso largo e falso no rosto.
— Oi, prazer em te conhecer.
— Amelie veio para fazer um projeto comigo.
— Isso é fantástico. Por que você duas não vão estudar lá fora?
Vou levar uns lanchinhos em alguns minutos.
— Obrigada, mãe. — Poppy se vira para mim. — Você pode ir e
encontrar um lugar para se sentar. Só preciso correr no meu quarto
e pegar minhas coisas rapidinho.
— Claro.
— É por aqui, querida — a mãe dela diz ao sair andando, então
eu sigo. Ao atravessar a casa, fica claro que apesar de ser enorme,
eles não têm o dinheiro que precisam para mantê-la. — Refrigerante
está bom?
— Perfeito, obrigada.
— Sente-se em qualquer lugar, tenho certeza que Poppy não vai
demorar.
Ao sair no jardim dos fundos deles, o sol do final de verão me faz
semicerrar os olhos e puxo o óculos de sol do alto da cabeça.
Olhando em volta, encontro as poucas flores que estão espalhadas,
mas o que mais chama atenção é a piscina. A água azul brilha no
sol e meu corpo praticamente me implora para tirar a roupa e dar
um mergulho.
Sem conseguir resistir a tentação, tiro os sapatos e vou sentar
na borda. A água está tão quente depois do sol do verão e suspiro
em deleite quando cobrem minhas panturrilhas.
Reclinando-me nas mãos, inclino a cabeça para trás e fecho os
olhos. O som de pássaros e o farfalhar das árvores à distância é tão
relaxante que me faz desejar que minha avó tivesse isso. Poderia
perder muito tempo fazendo só isso.
Bem quando acho que estou tão relaxada quanto poderia ficar
sem deitar em uma boia no meio da piscina, uma voz ecoa a minha
volta.
— Que porra é essa?
Minha coluna fica rígida. Não preciso me virar para saber
exatamente quem é, mas o que diabos ele está fazendo aqui? A
obsessão dele com arruinar minha vida agora se estendeu a me
perseguir?
Não posso fazer nada, só rezar para que ele vá embora tão
rápido quanto chegou, mas não tenho tanta sorte porque em
segundos seu cheiro amadeirado enche meu nariz e seu corpo
queima minha pele super alerta.
Seus olhos passam pelo meu corpo e pelas minhas pernas para
onde estão balançando na água.
— Por quê?
Sua pergunta vaga é o suficiente para me fazer virar e olhar para
ele. Eu observo sua testa enrugada ao olhar para mim como se não
fosse possível que estivesse aqui, seus lábios franzidos e olhos
cansados.
Quando não respondo, ele continua.
— Por quê? Por que você sempre está aqui, caralho? — Ele
bate do lado da cabeça, me fazendo pensar que não é minha
presença física que o irrita tanto. — Todo maldito lugar para que
viro, lá está você, me lembrando de tudo, me fodendo como se
nenhum ano tivesse passado.
Meus olhos semicerram enquanto tento entender o que ele está
dizendo, mas ele pode muito bem-estar falando baboseiras.
Seu peito arfa ao me encarar, os olhos passando pelo meu rosto
quase como se estivesse memorizando minhas feições, mas isso
não pode ser o caso vendo que está de saco cheio de mim.
Ele estica a mão e arfo em choque quando sua mão pousa na
minha lombar e ele empurra apenas o bastante para fazer meu
bumbum escorregar no azulejo no qual estou sentada e na direção
da água.
— Jake — eu grito, meus dedos apertando a borda em uma
tentativa de me manter fora da piscina.
— Me dê uma boa razão para não fazer isso.
— Porque — grito, me atrapalhando para encontrar um motivo.
— Sua prima está prestes a voltar. — Meu cérebro finalmente liga
os pontos depois do que a Poppy disse a respeito de torcer para o
primo no jogo de futebol sexta-feira.
A pressão nas minhas costas diminui, e a longa respiração que
ele solta faz cócegas no meu pescoço, fazendo meus mamilos
endurecerem sob a camiseta.
— Você precisa ficar fora da porra do meu caminho.
— Confie em mim, não estou tentando ficar nele.
Seus dedos seguram meu queixo e sou forçada a virar para
olhar para ele outra vez. Ele se inclina de forma que nossos narizes
quase se tocam.
— Então por que você sempre está aqui, caralho?
Abro a boca para responder, mas outra voz enche meus ouvidos.
— O que diabos, Jake?
Com o som da voz de Poppy, ele aperta meu queixo uma última
vez e se levanta, me deixando para inalar o ar muito necessário.
— Apenas dizendo oi para sua nova amiga. Tome cuidado com
quem você passa seu tempo, Pop. As pessoas nem sempre são o
que parecem.
— O que diabos isso deveria significar?
— Apenas tome cuidado, tá?
Nenhuma palavra mais é dita e depois de um segundo ele se
vira e sai tempestuoso pelo jardim.
O ar fica pesado até ele desaparecer de vista e um baque soar.
— Você está bem? — Poppy pergunta, colocando os livros na
mesa e se aproximando.
— Sim, estou bem.
— Tem alguma coisa que eu deva saber?
Olho para seu rosto gentil e me pergunto o quanto deveria contar
a ela. Jake é parte da família dela, não tenho ideia de quão
próximos eles são a não ser pelo fato que ela torce por ele nos dias
de jogo.
— Acho que ele não gosta muito de mim.
— Sim, peguei isso. Por quê?
— Esperava que você pudesse me dizer.
CHAPTER VINTE

Jake

B atendo a porta do trailer, solto um rugido de frustração na sala


vazia. Consegui evitá-la durante a porra do dia inteiro. Toda
vez que via o lampejo do seu cabelo platinado do outro lado
do corredor, meus punhos se fechavam com a vontade de ir até ela.
Não tenho muita certeza do que faria se fosse, não tinha intenção
nenhuma de descobrir. Mas caralho se ela não me atrai de um jeito
que ninguém atraiu antes.
E aí, aqui está ela, no meu maldito jardim.
Meu coração bate forte no peito com meu desejo de voltar lá e
terminar o que comecei. O pensamento dela com as roupas
encharcadas, a blusa branca transparente o suficiente para me dar
uma palhinha do que está escondendo faz meu corpo esquentar.
— Caralho — grito, a palavra ecoando a minha volta.
Troco de roupa rapidinho e pego meus fones de ouvido antes de
sair e me dirigir a minha academia improvisada. O trailer está bem
no final do jardim, e escondido no meio do monte de árvores que
separam essa propriedade dos bangalôs atrás dela. É onde fica
minha academia improvisada. Também é meu refúgio quando
preciso escapar, nos dias que as coisas ficam intensas.
Atravessando a vegetação rasteira, piso em alguns gravetos que
cresceram desde que estive aqui a última vez, até uma pequena
clareira se abrir.
Esse lugar pode não parecer em nada com a academia que
temos na escola, e está longe da que vou de vez em quando com
Ethan, mas faz o mesmo efeito. Agora tenho até mesmo uma
bicicleta ergométrica que peguei de um lixo da rua durante o verão.
Pulando, minhas mãos pegam um galho áspero e me esforço
para erguer o queixo. Meus músculos ardem, me lembrando que
não me aqueci, mas não dou a mínima neste momento. Preciso
sentir o ardor, a dor que só eu posso causar. Ninguém pode me
dizer o que fazer aqui. Eu faço as regras, e forço meus extremos e
limites.
Continuo até meus braços estarem tremendo e implorando por
alívio. Solto as mãos e permito que meus pés toquem o chão outra
vez, pouso em gravetos e folhas velhas e elas estalam.
Passando uma perna pela bicicleta velha, aumento a tensão.
Suor escorre da minha pele ao me forçar mais e mais. Minha
cabeça está cheia de imagens do passado. Forço minhas pernas a
irem o mais rápido possível enquanto tento escapar. Imagino o rosto
dela no dia que se despediu e se afastou de mim. O jeito que os
lábios dela formavam um sorriso quase permanente por causa do
preenchimento que colocou neles, os cílios ridículos que eram
presos nas suas pálpebras e seu cabelo loiro oxigenado quase
amarelo. Ela era tão falsa quanto poderia ficar e tenho certeza que
só piorou conforme os anos passaram.
Fiz o melhor que pude para evitar ver seu rosto outra vez, mas
com seu emprego, algumas vezes isso é impossível. Sempre evitei
abrir qualquer tipo de revista e me afastei quando alguma das
garotas da escola abriam uma. Se algum dia precisar ver seu rosto
outra vez, então precisa ser quando não tiver companhia. Por sorte,
no dia que descobri sua escolha mais recente de carreira, estava
sozinho na segurança do meu trailer. Ninguém estava por perto para
testemunhar o resultado daquela merda.
A música ecoa nos meus ouvidos, mas não escuto uma única
palavra. Estou focado demais em escapar das memórias, da dor, do
desespero que ainda me lembro muito bem.
Quase todos os meus músculos tremem com exaustão quando
termino. Tirando minha camiseta encharcada de suor do corpo, seco
o rosto e a jogo por cima do ombro ao sair em busca de água.
Vozes femininas suaves flutuam até mim ao andar na direção do
trailer, e no último minuto, mudo de ideia e vou na direção da casa
principal. Não tenho nenhum desejo de entrar, mas a tentação de
atormentá-la é grande demais.
Quando as avisto, as duas estão com as cabeças baixas, uma
pilha de livros, canetas e blocos de notas na sua frente ao fazerem o
dever de casa como boas garotinhas. Uma vozinha no fundo da
minha cabeça grita que provavelmente é algo que também deveria
estar fazendo ao invés de suprir meu desejo de vingança usando a
garota nova inocente, mas é tudo o que pareço poder pensar esses
dias.
— Espero que você perceba que nerds não se divertem —
comento quando estou perto o bastante para que me ouçam.
— E os que matam aula acabam fritando hambúrgueres. Algum
problema? — Poppy diz, seus olhos se erguendo para encontrar os
meus, cheios de diversão. Pode não ser a primeira vez que ela
mencionou que meu destino será um restaurante de fast-food.
Um gemido baixo ao lado dela arrasta minha atenção, e estou
muito feliz que o faço, porque a Garota Nova está caindo como um
patinho. Ela está de queixo caído enquanto os olhos percorrem
minha pele nua. Se é possível, meu corpo esquenta ainda mais sob
seu olhar, mas não permito que veja qualquer reação.
— Terminou? — vocifero, fazendo Poppy empalidecer com
minha explosão.
As bochechas dela ficam vermelhas e não deixo escapar que o
rubor desce pelo seu peito e até o volume dos seus seios ao olhar,
envergonhada, de volta para o livro à sua frente, como se nada
tivesse acontecido.
Sentando na cadeira a sua frente, mantenho a atenção na
Poppy.
— Alguma chance de você pegar uma garrafa de água para
mim, Pops.
— Eu… hmm… — ela gagueja, olhando entre nós dois.
Compreendo sua hesitação, provavelmente também não a deixaria
comigo.
— Por favor. — Dou um sorriso doce e me inclino, colocando os
cotovelos nos joelhos.
Desviando os olhos de Poppy conforme ela se levanta, hesitante,
e nos deixa a sós, encaro a cabeça abaixada na minha frente.
— O quê? De repente você está tímida? Não achei que putas
ficavam envergonhadas.
— Vai se foder — ela cospe, se levantando tão rápido que a
cadeira de plástico em que estava sentada tomba para trás.
Levanto-me, seus seios roçando meu peito devido a nossa
proximidade. A respiração dela falha ao mesmo tempo que uma
faísca estranha corre em minhas veias.
— Nós conversamos sobre isso. Não fodo putas.
— É, e fica repetindo, mas aqui você está. De novo.
Fúria borbulha em mim com ela referindo a si desta maneira. É
irracional porque eu comecei, mas ainda assim, eu odeio.
Parada apenas poucos centímetros mais baixa do que eu, ela
fica imóvel, os olhos azuis encarando os meus. O ódio que venho
desovando nela de repente parece insignificante conforme outros
desejos começam a tomar conta. É fácil imaginar que é outra
pessoa ao longe. É fácil imaginar outro rosto e cabelo loiro falso,
mas de perto, ela é só uma garota que está tão perdida quanto eu.
Meus olhos desviam dos dela em favor de seus lábios, e começo
a imaginar como ela pode ser doce, como seus lábios suaves
podem sentir pressionados contra os meus.
— Se afaste, Jake. — O som afiado da voz da Poppy é o
suficiente para desviar meu foco.
Olho para cima e a encontro na porta com a garrafa que pedi,
em posição como se estivesse prestes a jogá-la para mim.
O olhar mortificado em seu rosto é o bastante para me distrair,
tanto que não vejo os movimentos dos braços na minha frente e
quando suas mãos batem no meu peito, é tarde demais.
Dou um passo para trás para me equilibrar, mas não tem nada
ali. Meu estômago sobe para a garganta quando começo a cair.
Escuto o som da sua risada malvada antes de atingir a água e
afundar.
Maldita vaca.
Quando irrompo a superfície, ela está ajoelhada na borda,
esperando por mim com um sorriso presunçoso no rosto. Orgulho
surge no meu peito. Acho que posso ter subestimado essa aqui. Ela
não é tão fraca quanto pensei no começo, e só vai fazer esse
negócio entre nós ficar mais divertido.
— Ah, Brit. Você acabou de cometer um grande erro.
— Ah é? Porque de onde estou, você é o único perdendo no…
ah!
O som do seu grito antes do espirro da água pode ser o mais
satisfatório que já ouvi.
Ela se atrapalha, braços e pernas se movendo em pânico. Por
fim, tenho dó dela e estico os braços.
Sua cintura é tão pequena que meus dedos quase se tocam na
coluna. Eu a puxo para cima, e ela respira fundo enquanto tenta
lutar para se afastar ao mesmo tempo. Isso é, até que eu a puxo
colada a mim. A tentação de sentir suas curvas contra meu corpo
duro é grande demais.
As mãos dela se erguem para afastar o cabelo molhado que está
grudado no seu rosto e no segundo que nossos olhos se encontram,
ela para de lutar.
Meus dedos se apertam em volta dela na minha necessidade de
mostrar o quanto arruinou minha vida. Perto assim, ela não se
parece em nada com a mulher que me causou a dor verdadeira,
então foco no presente. Essa garota é o motivo da minha vida ter
virado uma merda na última semana. Ela é o motivo que Mason
ainda está me evitando, e porquê minhas noites são preenchidas
com sonhos de épocas da minha infância que preferia esquecer.
Inclinando-me, minha bochecha áspera roça contra a dela, e
todo seu corpo estremece contra o meu.
— Você quer jogar sujo, Brit? Posso garantir que você vai perder.
Você tem fraquezas demais que posso explorar, no entanto nada
pode me afetar. — Minha língua passa pela borda da concha da sua
orelha e ela arfa em choque, todos os músculos do meu corpo
ficando tensos.
Para quem está de fora, tipo minha prima cujo olhar posso sentir
queimando minha pele, pode parecer íntimo, como se estivesse
sussurrando coisas sedutoras no ouvido dela. Bom… Acho que
estou sussurrando promessas do tipo.
O peito dela sobe ao sugar um pouco de força para responder.
— Não sou a garota fraca e patética que você pensa. Não vou
me inclinar e aceitar.
— Talvez devesse, tudo vai acabar mais rápido.
— Achei que não comesse putas.
As palavras dela fazem minha respiração falhar.
Envolvendo o comprimento de seu cabelo molhado no punho,
puxo sua cabeça para trás de forma que posso garantir que seus
olhos permaneçam nos meus e a ergo e pressiono contra a parede
da piscina. Estou confiante que ela não faz ideia que suas pernas
sobem automaticamente para contornar minha cintura, mas no
momento que seu calor se alinha com meu pau semiereto, não vou
avisá-la.
Pressiono mais forte contra ela, ignorando o fato que vai saber
que está me deixando duro. Permito-me alguns segundos para
observá-la. A escuridão de seus olhos azuis revelando sua raiva e
desejo, as gotas de água cobrem seu rosto e se misturam com as
sardas, o cabelo molhado empurrado para longe do seu rosto
impecável. Ela está encharcada, e ainda assim não tem maquiagem
escorrendo pelo seu rosto, o que só prova que sua beleza
impecável é natural.
— Não — aviso, minha voz grave e assombrosa, minha boca
falando sozinha. — Nunca se chame assim.
— Mas você pode? — A voz dela não é nada além de um
suspiro sem fôlego. Meu coração bate forte, e meu pau ameaça
atingir ereção completa ao saber que a afeto tanto quanto ela a
mim.
— Faço o que quero, Brit. Pensei que soubesse disso a esse
ponto.
Meus olhos vão para seus lábios porque se essa afirmação fosse
mesmo verdade, eles estariam pressionados nos meus agora.
Essa compreensão é o suficiente para me fazer soltá-la e dar um
passo para trás. Eu não beijo garotas. Eu as uso para o que quero e
as descarto. Isso aqui, me confunde para caralho e isso só leva a
mais frustração.
— Amalie, você está bem? — Poppy pergunta. Eu a vejo
correndo na direção do canto da piscina onde eu estava assim que
o som de água espirrando enche meus ouvidos.
Saindo da piscina, permaneço de costas para elas e começo a
me afastar com o barulho de suas vozes em pânico.
— Hey, Brit — grito por cima do ombro pouco antes de sair de
vista. Não espero por uma resposta, o silêncio é o bastante para me
dizer que estão ouvindo. — Lembre-se, eu nunca perco. — E com
aquelas palavras finais, dou o fora dali e me afasto da garota que
está bagunçando minha cabeça.
CHAPTER VINTE E UM

Amalie

— V em, vamos encontrar roupas secas para você e depois


acho melhor sairmos daqui.
Não podia concordar mais ao seguir Poppy para a casa e até
seu quarto.
Minha cabeça roda com tudo que aconteceu nos últimos
minutos. Pensei que estava sendo esperta ao empurrá-lo quando
estava distraído, mas deveria saber que sairia pela culatra e
acabaria pagando, e se seu aviso ao se afastar era sério, então
acho que posso ter aumentado a aposta quando se tratava dele.
Um longo suspiro sai dos meus lábios ao entrarmos no quarto de
Poppy.
— O banheiro é ali se você quiser se secar. Vou encontrar
alguma coisa para você usar.
— Obrigada — murmuro, indo na direção que ela apontou. Ela
ainda não me fez nenhuma pergunta, mas um olhar nos seus olhos
e sei que estão na ponta da língua.
Tiro minhas roupas encharcadas rapidinho e as deixo na pia
para torcer. Arrepios cobrem minha pele fria, mas fazem pouco para
diminuir o calor dentro do meu corpo. Deveria ter odiado a sensação
das mãos dele queimando minha pele, a pressão do seu corpo
pressionado firme contra o meu. Minha cabeça estava gritando
comigo, mas meu corpo tinha outras ideias. Tem alguma coisa no
babaca que atrai meu corpo enquanto na minha cabeça estou
imaginando um milhão de jeitos diferentes de acabar com ele. Era
confuso antes de pressionar seu corpo todo contra o meu e me
manipular para envolver seu corpo.
— Babaca — murmuro para mim mesma, apoiando as mãos na
pia e olho para meus olhos mais escuros que de costume. Eu o
odeio. Eu odeio ele para caralho. No entanto, por que tenho essa
necessidade constante de cutucar um pouco sob a superfície e
descobrir o que está acontecendo de verdade na sua cabeça, o que
realmente o fez entrar na ofensiva comigo no primeiro dia que ele
não pode deixar de lado?
— Aqui. — A mão de Poppy passa pela porta e pego as roupas
que ela oferece. — Espero que sirvam.
— Elas são perfeitas, obrigada.
Por sorte, Poppy e eu não temos corpos muito diferentes, apesar
de ela ser alguns centímetros mais baixa do que eu. Se isso tivesse
acontecido com a Camila, então poderia ter problemas.
Eu abro uma camiseta larga e uma saia jeans antes de colocá-
las e torcer minhas próprias roupas. Encontro uma escova de cabelo
na prateleira acima da pia e rapidamente penteio o cabelo molhado
e embaraçado antes de prendê-lo no topo da cabeça e longe do
caminho.
Com minhas roupas molhadas em mãos, abro a porta, achando
que vou encontrar Poppy me esperando, mas o quarto está vazio.
Sem querer bisbilhotar em sua casa, hesito na porta, mas escuto
barulho no andar de baixo, então desço.
Encontro Poppy recolhendo nossos livros da mesa.
— Sinto muito por arruinar tudo.
Virando para mim, seus olhos semicerram em confusão.
— Você não arruinou nada. É ele que tem problemas. Sempre foi
um pouco perturbado, mas aquilo foi… merda, nem eu sei. Quer dar
o fora daqui?
— Sim. — O alívio na minha voz a faz rir e depois de pegarmos
nossas bolsas, vamos na direção do carro dela.
— Você quer ir para casa ou… — Ela deixa sem terminar.
— Ainda temos muito trabalho para fazer e ainda não tenho
certeza se estou pronta para todas as perguntas — falo, sabendo
que vovó vai dar uma olhada em mim usando roupas de outra
pessoa e não vai descansar até conseguir todas as respostas.
— E você acha que não tenho nenhuma? — Ela ri, me fazendo
gemer. — Onde você quer ir?
— Qualquer lugar menos no Aces.
— Pode deixar.
Olho pela janela conforme o carro vai na direção da orla, mas
por sorte, Poppy estaciona do lado oposto do Aces, e depois de
pegarmos nossas coisas, ela me guia para um pequeno café que
está um pouco afastado do mar.
— Esse lugar é fofo. — Meus olhos passam pelo local, pensando
que poderia facilmente sair daqui e estar de volta em Londres.
Um longo suspiro escapa dos meus lábios. Poppy se vira para
mim, seu rosto cheio de simpatia como se ela soubesse exatamente
o que estou pensando.
— Pensei que pudesse gostar.
Encontramos uma mesa e pegamos os cardápios, meu
estômago roncando bem na hora.
Depois de fazermos o pedido, Poppy quase na hora tira todos os
livros que enfiou em sua mochila antes de deixarmos sua casa para
que possamos continuar de onde paramos. Ou pelo menos é o que
espero que faça, então meu estômago embrulha quando ela coloca
os cotovelos em cima de tudo e seus olhos encontram os meus.
— Então, desembucha. — Ela instiga.
— O quê?
— Não me venha com essa — ela ri. — Você está sentada aí
usando minhas roupas porque meu primo idiota te arrastou na
piscina depois que você o empurrou. Você não pode me dizer que
não tem nada acontecendo. Foi tipo, a maior paquera escolar que já
vi.
Faço um barulho zombeteiro.
— Posso te garantir que não era paquera. — Minha mente volta
para o momento em que ele encarou meus lábios como se fosse me
beijar, meu sangue esquenta com a memória, mas contenho a
reação. Eu entendi tudo errado, com certeza.
— Tenho quase certeza que a tensão entre vocês
definitivamente era sexual.
Alguém na mesa ao lado olha para nós, minhas bochechas
esquentam com vergonha.
— Shiu. Não era isso. Ele me odeia. Não sei por quê. Podemos
esquecer isso tudo e continuar o trabalho? — pergunto,
esperançosa.
Ela fica em silêncio por um minuto e começo a pensar que talvez
vá permitir que o assunto acabe. Infelizmente, não tenho tanta sorte.
— Meu primo é um pouco…
— Perturbado — sugiro quando ela pausa.
— Ia dizer isolado ou distante, mas isso serve. Ele não teve a
melhor infância. Sei que não é desculpa — ela acrescenta, rápido,
quando abro a boca para discordar. — Acho que a percepção dele
de como agir normal as vezes é um pouco distorcida. Ele se rebela
para não ter que lidar com as emoções ou sentimentos, bom, acho
que é isso que ele faz. Nunca consegui fazê-lo conversar sobre isso.
— O que aconteceu com ele? — As palavras escapam dos meus
lábios antes de ter uma chance de impedi-las.
— A mãe dele é uma problemática de mão cheia. Não sei a
história completa, era jovem demais para compreender, e ninguém
nunca fala dela. Chega dele, ainda temos um monte de trabalho
pela frente.
Aliviada que ela leva a conversa para longe de Jake, pego um
dos livros nos quais estava se apoiando e começamos a trabalhar.
Por sorte, na hora que Poppy me deixa em casa, minha avó já
saiu. Segunda-feira é noite de bingo com as amigas e não poderia
estar mais grata por ter algumas horas para mim ao tentar dissecar
todos os momentos da minha tarde. Minha cabeça está uma
confusão depois dos poucos minutos com Jake na piscina de Poppy.
Ele foi idiota como de costume, mas tinha outra coisa. A seriedade
por trás do seu aviso sobre eu me chamar de puta, o jeito que ele
encarou meus lábios como se quisesse os chupar para dentro de
sua boca.
Tirando as roupas de Poppy, entro no chuveiro e permito que a
água morta lave o cheiro de cloro que ainda cobre minha pele
devido ao mergulho inesperado e rezo que seja o bastante para
lavá-lo da minha cabeça, apesar de pensar que isso possa ser
otimismo demais.
As palavras finais dele ao se afastar repetem na minha cabeça
várias e várias vezes enquanto eu deito na cama tentando dormir
um pouco. Lembre-se, eu nunca perco. Não duvido nem por um
segundo que aquelas palavras eram verdadeiras. Ele não estaria na
posição que está na escola se fizesse ameaças vazias. Todos os
outros alunos parecem colocá-lo em algum tipo de pedestal
intocável. Estava bem claro que as garotas queriam dar para ele e
os caras queriam ser ele. Deus sabe por quê, ele é um babaca. Um
arrepio sobe pela minha coluna, me lembrando que apesar disso
poder ser verdade, ele é bonito. A visão dele quente, suado e
pingando água está marcada na parte de dentro das minhas
pálpebras, e quando por fim o sono me leva, ainda está bem ali,
inspirando meus sonhos.

Quando acordo na manhã seguinte, é com temor pesando na minha


barriga. Não tenho ideia do porquê, é como uma premonição ou
algo assim. Mas algo nas palavras finais dele ainda me assombra, e
sei que vai manter a promessa.
Camila chega bem na hora, e outra vez tem donuts fresquinhos
no banco do passageiro.
— Aceitei suas desculpas, você sabe disso, certo?
— Sim, mas eles estavam tão bons ontem que não pude evitar.
E mais, Noah reclamou que não comprei um para ele então…
Pego a caixa, sento no banco e os apoio no colo.
— Não estou reclamando — falo, pegando um e mordendo. O
açúcar faz minha boca salivar na hora, é exatamente o que preciso.
— Como foi ontem com a Poppy?
— Tudo bem.
— Bom assim? — ela fala com uma risada.
Soltando um suspiro, me lembro outra vez dos eventos da noite
anterior.
— Você sabia que Jake é primo dela?
— Sim.
— E não pensou em me avisar?
— Não pensei que precisava. Por quê, o que aconteceu?
Para a diversão da Camila, reconto os acontecimentos da noite
anterior.
— Você acabou na piscina? — ela ri.
— Sim, deveria ter imaginado, na verdade. Empurrá-lo foi uma
coisa estúpida a se fazer.
— E aí, como terminou?
— Com ele me avisando que nunca perde. Acho que consegui
aumentar as apostas. Só Deus sabe o que tenho pela frente.
— Tenho certeza que vai ficar tudo bem. O que ele pode mesmo
fazer? — Pelo leve tremor em sua voz, é óbvio que nem ela acredita
nas palavras que acabaram de sair de sua boca. Ela desacelera no
semáforo e vira para olhar para mim. — Não pareça tão
preocupada. Não é como se ele soubesse alguma fofoca sobre
você. Vai ser apenas fofoca de colégio, o que quer que seja.
Murmuro minha concordância, mas suas palavras fazem pouco
para aliviar o pavor embrulhando meu estômago quanto mais nos
aproximamos da escola.
Tudo está bem até uns dez minutos antes do almoço. Estou na
aula de literatura, me escondendo no fundo e adiantando a tarefa
que recebemos quando o telefone de alguém soa. O professor grita
para quem quer que seja, mas os ignoro e volto ao que estava
fazendo. Isso é, até sentir olhos queimando em mim.
Olhando para cima, encontro três pares de olhos me encarando,
sorrisos divertidos nos lábios. Semicerrando os olhos, tento
descobrir o que diabos está acontecendo, mas antes de ter uma
chance de fazer qualquer coisa, mais olhos se voltam para mim.
Minhas bochechas ardem com a atenção de todos em mim.
— Alunos — o professor ralha. — Prestem atenção. Vou recolher
os trabalhos e dar nota quando o sinal tocar.
A maioria dos alunos se vira e continua a escrever, mas alguns
dos rapazes me acham muito mais interessante, e seus olhos
permanecem em mim. Minha pele formiga desconfortável conforme
seus olhos passam por mim, me secando.
No segundo que o sinal toca, pego minha redação, coloco na
mesa do professor e tento dar o fora dali. Por azar, alguém chama
meu nome um pouco antes de conseguir escapar. Virando para
olhar sobre o ombro, encontro o olhar divertido de um dos rapazes
que estava me encarando.
— Está livre no almoço? Preciso relaxar um pouco.
Os alunos que o cercam dão risada e alguns dos seus amigos
dão tapas em seu ombro, o empurrando para frente.
Minhas sobrancelhas se juntam, mas no momento que seus
olhos se movem para secar meu corpo outra vez, fujo da sala. Era
exatamente esse tipo de atenção que queria evitar.
Já que prometi a Camila semana passada que não passaria meu
tempo livre me escondendo na biblioteca, vou na direção do
refeitório para encontrá-la.
No segundo que piso lá dentro, silêncio se espalha quando
quase todas as cabeças do recinto viram para olhar para mim.
O que diabos está acontecendo?
— Aí está ela. — Escuto uma voz familiar dizer atrás de mim e
quando me viro, encontro Camila correndo na minha direção. —
Você está bem? — Seus olhos estão arregalados e ela parece
maníaca.
— Sim… por quê? O que está acontecendo?
— Você viu seu telefone nos últimos dez minutos?
— Não, por quê?
— Hey, Brit. Quanto você cobra por trinta minutos? — uma voz
masculina grita.
— Caralho. Precisamos sair daqui.
— O que diabos está acontecendo? — pergunto outra vez.
Camila olha para mim, o rosto tenso de raiva.
— Não aqui. Vem.
Os dedos dela enlaçam pelos meus e ela me puxa até começar
a acompanhá-la. Olhares seguem todos os nossos movimentos e
cantadas e perguntas aleatórias sobre meus preços enchem o
corredor.
Quando ela me puxa pela entrada da biblioteca, sei que as
coisas devem estar ruins. Ela se recusou a me permitir que
continuasse me escondendo aqui, ainda assim, aqui ela está, me
arrastando na direção do fundo da biblioteca para fazer exatamente
isso.
— Você precisa começar a falar.
— Tudo bem, então… — ela hesita, pululando entre um pé e
outro e contorcendo as mãos à sua frente.
— Camila, desembucha. — Quero dizer que é provável que já
tenha sobrevivido a coisas piores este ano, mas afasto os
pensamentos dos meus pais da minha cabeça.
— Tem essa foto que basicamente foi enviada para todos os
estudantes na escola.
— Certo? — Desejando que ela fosse direto ao ponto, aceno
para que continue.
— Parece que é você. — Ela tira o telefone do bolso e segura
para que eu veja.
— O que… — Minhas palavras se perdem ao pegar o telefone
da mão dela e olhar para a cabeça da garota na foto.
Sei exatamente onde foi tirada, acho que poderia dizer que
estava lá na hora, mas o alto da cabeça que posso ver com certeza
não é o meu.
— É da Corrida — sussurro.
— Você está me dizendo que é você? — Os olhos da Camila se
arregalam ao ponto de poderem pular de sua cabeça.
— Não, não sou eu com o pau do Jake na boca.
— Não achei que fosse. Espera, como você sabe que é o Jake
na foto?
Deixo a cabeça bater na parede e escorrego até minha bunda
tocar o chão. Camila imita meu movimento e logo está me
encarando, esperando respostas.
— Fui fazer xixi nas árvores.
Ela faz uma careta, percebendo que isso tudo é o resultado de
sua “piada”.
— Fiz o que precisava e no caminho de volta tropecei no Jake
com uma biscatinha da torcida de joelhos. É ela na foto.
— O cabelo dela é mais escuro.
— Não é difícil editar isso no Photoshop, Cam.
— Merda.
— Me mostre outra vez. — Relutante, ela entrega o telefone e
olho para ele. — Você se lembra do que eu estava vestindo aquela
noite?
— Claro, jeans e uma camiseta.
— Você pode ver a pele do ombro dela sob o cabelo. Eu estava
usando uma camiseta branca.
— Não significa que você não poderia ter tirado em um momento
de paixão.
— Espera, agora você está me acusando?
— O quê? Não. Só estou dizendo o que todo mundo vai dizer.
Sabia que não era você no momento em que vi. Não sabia que era
Jake, mas ainda assim, não pensei que você tivesse chegado perto
assim de alguém desde que chegou.
— Com certeza não cheguei, e pretendo que permaneça assim,
e com certeza não estou vendendo como isso sugere. — Leio o
texto outra vez. Brit chupa suas joias da coroa por um preço de
barganha, seguido por meu maldito telefone.
Não ousei tirá-lo da minha mochila e descobrir quantos caras
tarados pensam que vão se dar bem.
— Isso é um maldito pesadelo. Por que ele faria isso? — Camila
pergunta, pegando o telefone de volta para que não precise ficar
olhando para ele.
— Porque ele nunca perde.
Abaixando a cabeça nas mãos, foco na minha respiração. Como
diabos devo sair daqui e erguer a cabeça? Todos os estudantes do
prédio pensam que sou uma vadia que fica de joelhos por dinheiro e
não importa o quanto eu negue, não vai adiantar. É minha palavra
contra a dele, o rei. Não tenho a mínima chance.
— Quais aulas você tem esta tarde?
Minha cabeça roda só de pensar no que vai acontecer quando
sair da segurança da biblioteca.
— Não tenho ideia, mas tenho quase certeza que quaisquer que
sejam, não estarei nelas.
— Vai matar?
— O que você sugere que eu faça?
Ela dá de ombros.
— Vai parecer culpada se fugir disso.
— Vamos ser honestas, todos vão pensar que sou culpada, não
importa o que aconteça. Poderia subir no telhado da escola e jurar
minha inocência e ninguém escutaria uma palavra. Jake Thorn
manda nessa escola, e se ele diz que sou uma puta, então é o que
serei.
— Você vai deixar ele vencer, desse jeito?
— Por enquanto, sim. Não sei bem o que mais posso fazer.
— Isso é ridículo.
— Não me diga. — Uma risada escapa dos meus lábios, mas
não é divertida.
CHAPTER VINTE E DOIS

Jake

O desejo de vingança ao me afastar da piscina quase me


consumiu. Consegui ignorar o fato que meu pau estava duro
como pedra depois de estar pressionado contra seu corpo
suave, porém tonificado sob a água e foquei no meu desejo de
arruiná-la. Ela não dita as coisas por aqui, esse é o meu papel e se
ela acha que pode me humilhar, mesmo que apenas na frente de
Poppy, então precisa pensar duas vezes.
Abri a porta do meu trailer e entrei tempestuoso, meus músculos
ainda gritando depois do meu treino e vou direto para o chuveiro,
com a cabeça rodando tentando encontrar uma maneira de acabar
com ela.
No final, desisti de pensar e peguei o que restava da garrafa de
vodca que Poppy me deu no outro dia, e um baseado novo que
roubei de Ethan e o acendi.
O álcool e a maconha passando pelo meu corpo ajudaram a me
relaxar, mas as imagens do seu corpo molhado ainda estavam em
evidência na minha mente.
Precisando de alguém para ser o motivo da minha ereção
constante, peguei o telefone e passei por algumas das fotos que tirei
nos meses anteriores. Algumas totalmente inocentes, outras nem
tanto e eram dessas que eu precisava. Garotas sem rosto, curvas
suaves e boquinhas gostosas. É isso que preciso agora.
Se eu apertar ligar no número certo, não tenho dúvidas que
poderia encontrar uma em apenas alguns minutos e ter exatamente
o que ela deixou meu corpo desejando.
Estou passando pelas fotos quando uma delas chama minha
atenção. Demora um pouco para lembrar de quando é. A cabeça
cheia de cabelo loiro enquanto ela claramente me chupa é tudo o
que posso ver dela. Minha respiração falha quando a garota loira
errada entra na minha cabeça. Minhas veias se enchem de lava só
de pensar nela e no efeito que tem em mim.
Abrindo as mensagens, as encaminho para alguém que sei que
pode ajudar.
Você pode usar Photoshop para clarear o cabelo dessa mina
para ficar um loiro bem mais claro.
Três pontinhos aparecem quase na hora.
Cinco minutos.
Dando outro gole direto da garrafa, coloco o telefone na coxa e
espero. Acende a metade do tempo que ele disse e o resultado me
encarando é perfeito. Quase gozo com o pensamento de ser a Brit
de joelhos se engasgando no meu pau.
Salvo a foto e espero pelo momento certo. Quero estar por perto
para testemunhar o resultado e isso não será possível enquanto
estou me escondendo nessa merda que chamo de casa.
Saber que a imagem está esperando no telefone é uma maldita
tortura. Quase apertei enviar um milhão de vezes antes da aula na
manhã seguinte, mas sei que vai ser inútil. Quero ver seu rosto
quando todos pensarem que é ela. O pensamento de ver sua dor e
vergonha faz minha boca salivar e meus músculos contraírem. É
exatamente o que preciso para acalmar a fera raivosa que está
crescendo dentro de mim.

— Sr. Thorn, onde você pensa que está indo?


— Tenho coisas para fazer — grito por cima do ombro ao ir na
direção da porta da sala, deixando o resto dos alunos para
terminarem a tarefa como crianças boazinhas.
— Você não pode simplesmente sair…
A porta bate atrás de mim, cortando o que seja que ela estava
prestes a dizer.
Entrando no refeitório deserto, algumas das mulheres
preparando o almoço olham para mim, mas ninguém fala nada.
Sento em cima da nossa mesa de costume, pego o telefone do
bolso, junto com o novo chip que comprei no caminho da escola
esta manhã. Passei a maior parte da primeira aula o carregando
com todos os números que precisaria, graças a Ethan me passar o
próprio telefone quando exigi. Ele tem o número de todo mundo que
merece ser conhecido, então sei que isso vai atingir como esperado.
E mais, fofoca corre nesse lugar como um fogo descontrolado no
melhor dos dias, então não tenho dúvidas que os números que não
temos serão encaminhados a mensagem. Ninguém gosta de ficar
de fora do drama Rosewood mais recente.
Tiro rápido meu chip costumeiro e troco pelo novo. Tenho quase
certeza que todo mundo vai saber que isso veio de mim, mas pensei
que seria melhor não dar muito na cara.
Abrindo minhas mensagens, encontro a foto e seleciono enviar
para todos. Meu polegar paira sobre o botão de enviar. Um segundo
de dúvida me atinge, me fazendo reconsiderar o que estou prestes a
fazer a ela, mas me lembro do motivo por trás de tudo isso. A
mulher que me arruinou, Brit pode não ser ela, nem de perto, mas
representa a mesma coisa. Ela é do mesmo mundo, e isso é o
suficiente para mim.
Com raiva começando a encher minhas veias outra vez ao
pensar no pobre garotinho abandonado, toco no botão. Um arrepio
desce pela minha coluna quando compreendo o que acabei de
fazer. Se ela já não me odiava, então agora vai. Com sorte assim
ela vai ficar o mais longe possível de mim e posso tentar continuar
com minha vida de merda.
Apesar de todo mundo ainda estar em aula, começo a receber
respostas quase que na hora, e é quando tenho a primeira
impressão de que isso possa ter sido um erro enorme.
Ela pode me chupar sempre que quiser.
Porra, estou duro só de olhar, cara.
Venha para o papai.
Meu estômago embrulha só com o pensamento de ela tocar
outra pessoa. Ou os dedos de alguém segurando seu cabelo com
força enquanto fode sua boca. Sei que não é ela na foto, mas ela
também vai saber a verdade, mas meu cara fez um trabalho tão
bom que todo mundo vai acreditar que é ela. Tenho conhecimento
de causa que os caras não vão olhar com tanta atenção para foto
para notarem qualquer problema.
Jesus. Estou tão fodido.
Minhas mãos tremem um pouco ao tirar o novo chip do telefone
e enfiar no fundo do bolso, esperando que assim consiga enfiar as
memórias das respostas junto com ele. Apenas alguns minutos mais
tarde que o barulho de estudantes saindo das salas e vindo nessa
direção chega até o refeitório quase silencioso.
Ninguém presta atenção em mim ao entrarem, estão ocupados
demais conversando com os amigos, ou mais importante, encarado
o celular e mostrando para as pessoas com quem estão.
Meus punhos se apertam e meus músculos ardem sabendo
exatamente o que estão olhando e o que os caras estão sentindo.
Eles estão imaginando ela com seus lábios vermelhos carnudos em
volta dos seus paus.
Meu coração bate forte no peito e meus dentes rangem com o
desejo de ir até todos os caras que pensam que estão encarando
minha Brit.
Minha Brit.
— Foda-se essa merda. — Pulando da mesa na qual estou
sentado, saio pisando firme antes que o resto do time ou líderes de
torcida apareçam. A última coisa que preciso é deles tentando
descobrir qual é o meu problema. Como se eu tivesse uma maldita
ideia. Gostaria de saber por que sou tão perturbado tanto quanto
eles.
CHAPTER VINTE E TRÊS

Amalie

M al consigo manter a máscara no rosto até passar pela porta.


Por sorte, minha avó saiu, então não está aqui para
testemunhar meu surto no segundo que bato a porta atrás de
mim.
— Filho da puta — grito, minha voz trêmula com emoção que
está fervilhando devido ao estresse da última hora.
Como ele pôde manipular aquela foto para fazer todos pensarem
que sou eu? Ele é a maldita puta entre nós dois, não que alguém
algum dia vai olhar feio para ele por suas atitudes.
Meu peito arfa enquanto respiro fundo e tento
desesperadamente me acalmar. Ele não merece minhas lágrimas.
Pego um copo de água antes de ir para o quarto. Uma olhada na
foto dos meus pais na minha mesa de cabeceira e as lágrimas que
bani na hora enchem meus olhos outra vez.
Apoiando a bunda na beirada da cama, estico a mão para a
moldura e passo o dedo pelo rosto impecável da minha mãe.
— Ah, mãe — soluço. Tenho quase certeza que não importa
quanto tempo passe, sempre existirão momentos assim, quando
tudo o que preciso é um abraço dela. Preciso das palavras
tranquilizadoras que apenas uma mãe pode falar para me dizer que
tudo vai ficar bem. Que não estou prestes a me tornar uma pária
social ainda maior do que já era ao ser publicamente humilhada pelo
bad boy da escola.
O que ela me diria para fazer? Eu me pergunto enquanto
continuo a encarar a foto. Meu pai provavelmente estaria
ameaçando ir até a casa dele e esmurrar ele por tratar seu bebê tão
mal, enquanto minha mão ao mesmo tempo o acalmaria e me
apoiaria. A reação dela seria muito menos dramática, me dizendo
para não permitir que um garoto me faça pensar menos de mim
quando é ele que deveria estar envergonhado com suas ações. Ela
me diria que sou melhor, mais forte do que isso, e para sair com a
cabeça erguida e permitir que as pessoas pensem o que quiserem
porque eu sei a verdade.
Tudo soa muito bom na minha cabeça, mas na realidade, quero
me esconder e nunca mostrar o rosto na escola outra vez. Sei que
aquela foto que está circulando não é minha, mas todo mundo
pensa que é.
Tentando afastar a imagem do que deixei para trás no refeitório
da minha cabeça, pego a parte de cima de um biquíni e um short e
vou para o banheiro. Se vou passar o resto do dia me escondendo,
então posso dar uma bronzeada ao mesmo tempo.
Pego meu livro e água, deixo o telefone no fundo da mochila,
sem querer ao menos ver o tipo de mensagem que é provável que
tenha recebido.
A única parte do jardim que ainda está no sol é bem no final,
então depois de arrastar uma das espreguiçadeiras confortáveis de
vovó, me acomodo sob os raios quentes e tento bloquear o mundo.
Estou perdida no livro e bem na hora que as coisas vão ficar
interessantes, um barulho estranho chega aos meus ouvidos. É
quase como se alguém estivesse encenando o que está
acontecendo no livro com a respiração pesada e gemidos que
parecem sair das árvores atrás de mim.
Tentando ignorar, volto para o livro, mas não posso bloquear o
som e acabo relendo a mesma frase três vezes.
Fico sentada ali mais alguns minutos, mas quando o barulho
continua, minha curiosidade leva a melhor. Deixo o livro de lado e
vou na direção das árvores. Esse lugar é o paraíso de uma criança,
posso imaginar todos os refúgios que foram construídos aqui ao
longo dos anos, é quase uma vergonha que a maior parte das casas
que delimitam a área nativa são casas de idosos.
Meu coração acelera enquanto adentro mais nas sombras e
começo a pensar que essa é provavelmente a coisa mais estúpida
que fiz há um bom tempo. Estou prestes a encontrar um casal se
pegando, ou algum assassino vai acabar comigo. Isso seria um final
dramático para Jake e sua foto estúpida.
A respiração arfante continua, e bem quando estou convencida
que vou encontrar um casal de adolescentes em um momento de
paixão, tropeço no verdadeiro motivo que explica o barulho.
Meus olhos se arregalam e meu corpo fica tenso ao observar um
Jake suado e seminu puxar o queixo para cima de um galho de
árvore acima da sua cabeça.
— Ugh — geme ao conseguir, antes de voltar para baixo e
repetir.
Pode estar escuro aqui com apenas um pouco de sol passando
pelas folhas acima, mas o suor escorrendo nas costas dele brilha
antes de encharcar o cós que está baixo em seus quadris.
Sinto um frio na barriga e um formigamento por todo meu corpo.
Quero dizer que é raiva, esse garoto está decidido em arruinar
minha vida, mas temo que o que estou sentindo neste momento é
mais do que isso.
Deveria me virar para ir embora, ele nem saberia que estive
aqui, mas meu corpo se recusa a se mover.
Meus olhos ficam presos nele enquanto ele puxa o queixo até
que atinja o galho mais algumas vezes antes de soltar com um
rosnado e cair no chão. Gravetos quebram e folhas farfalham onde
seus pés pousam.
Seguro a respiração, com medo do que vai acontecer quando ele
se virar e me encontrar porque é inevitável.
Ele coloca as mãos nos joelhos e respira fundo algumas vezes,
mas ainda assim, minhas pernas ficam paradas, se recusando a dar
ouvidos a minha cabeça e dar o fora daqui.
Não é até ele se endireitar e virar que seus olhos me encontram
parada ao lado de uma árvore como uma perseguidora.
— Que porra é essa? — vocifera, os olhos se arregalando de
medo e sua mão erguendo para cobrir o coração.
É só agora que meus pés concordam em se mover e dou um
passo para trás assim que seus olhos semicerram de raiva.
— Que porra você está fazendo aqui? Não deveria estar na
escola?
Minha sobrancelha arqueia.
— Você não devia estar na escola, sorvendo todos os elogios da
sua trupe depois de me revelar como realmente sou?
— Que é como mesmo?
— Uma puta que chupa qualquer um pelo preço certo?
O peito dele infla ao respirar fundo antes de soltar com um
rosnado. E aí ele está vindo na minha direção. Provavelmente
deveria estar assustada, mas por algum motivo, sei que ele não vai
me machucar. Não de forma física, ao menos.
— O que eu disse sobre se chamar assim?
— É um pouco tarde para estar preocupado com o que as
pessoas pensam de mim, não acha? A escola inteira deve estar
falando de como sou fácil enquanto querem te parabenizar por ter
conseguido me deixar de joelhos meros segundos após te conhecer.
Espero que tenha conseguido o que seja que era seu objetivo com
essa façanha.
— Nem de longe. — A voz dele é tão baixa que não tenho
certeza que ouvi certo.
— Qual é seu exato problema comigo, Jake? Não fiz nada para
você. Tudo o que fiz foi aparecer depois de ter minha vida virada de
cabeça para baixo. Não mereço nada dessa merda e você sabe.
— Meu problema. Ah, Brit, tenho tantos que não sei onde um
termina e outro começa.
Colocando uma mão no quadril, eu o inclino, esperando, porque
o que ele acabou de dizer não chega nem perto do suficiente para
me fazer recuar.
— Você não fez nada, tá bom? É o que você representa, de
onde você veio, que tenho problemas.
— Londres? — pergunto, rugas se formando na minha testa
devido à confusão.
— Não, não Londres — fala, imitando meu sotaque. — Seu
mundo cheio de babacas privilegiados e falsos que pensam que o
mundo deve alguma coisa a eles só porque são bonitos.
— Como isso é minha culpa? Nasci nele.
— Só é. — A voz dele é tão baixa e ameaçadora que faz minha
boca secar.
Ele dá mais um passo na minha direção e não tenho escolha a
não ser recuar se não quiser que colidamos, só que quando o faço,
bato em uma árvore.
Os olhos dele desviam dos meus e observam meu peito que mal
está coberto. Meus seios crescem sob sua análise intensa e meus
mamilos aparecem contra o tecido fino, para seu deleite.
— Então, o que você fazer sobre isso, Brit? — Ele diminui o
espaço entre nós e luto para arrastar um pouco de ar para dentro
dos meus pulmões.
— Tenho um nome, sabe. — Minha voz é um sussurro sem
fôlego e me dou bronca por cair pelo seu charme. Ele sabe que é
gostoso e maldito seja por usar isso como vantagem.
— Eu sei. Você também tem muitas outras coisas.
— O que… — Minhas palavras são cortadas quando ele passa o
nariz pela minha mandíbula. Respiro, trêmula, e ele ri.
— Você ama o tanto que me odeia. — Não é uma pergunta,
então não perco tempo respondendo, não que ache que seria capaz
neste momento.
Ele continua na direção da minha orelha, e quando seu hálito
quente passa pela minha pele sensível, meu corpo inteiro
estremece.
— Aposto que você está molhada pra caralho para mim. Assim
como estava na piscina. Devo descobrir se estou certo?
Suas palavras são o bastante para que a névoa desapareça por
alguns segundos. Ele deve sentir a mudança em mim porque se
afasta e seus olhos escuros e perigosos encontram os meus.
— Você não toca em putas, lem…
Não termino minha fala antes de seus lábios colidirem com os
meus e as palavras se perdem. A língua dele entra na minha boca
aberta em choque e encontra a minha. Minha cabeça grita para me
afastar, para que dê um tapa nele por ser tão presunçoso, mas meu
corpo relaxa contra a árvore, meus joelhos quase cedendo. Ainda
bem que ele empurra um joelho entre minhas pernas e pressiona o
corpo firme contra o meu, me mantendo no lugar.
Suas mãos sobem deslizando pelos meus lados. A gentileza do
seu toque faz arrepios surgirem por todo meu corpo.
Um gemido baixo vibra na sua garganta e juro que sinto até a
ponta dos meus pés. Ergo os braços e os coloco sobre seus
ombros, meus dedos enrolando o cabelo curto da sua nuca e caio
mais e mais sob seu encanto.
Meus pulmões estão queimando por ar quando por fim se afasta
dos meus lábios, mas ele não para. Beijando meu pescoço, seus
dedos seguem a borda do biquini, se esgueirando para dentro para
beliscar meu mamilo rígido.
Um suspiro alto enche o ar à nossa volta, mas não percebo que
sai dos meus lábios.
— Ah, caralho — gemo quando seus dedos são substituídos por
sua boca quente e meu mamilo é chupado, sua língua fazendo um
círculo e mandando um raio de eletricidade entre minhas pernas.
Sabendo exatamente o que preciso, seus dedos roçam a pele da
minha barriga e escorregam para dentro dos meus shorts quando
encontram o cós. Não tem hesitação em seu movimento, ele sabe
bem o que quer e o que está fazendo.
— Ah caralho, ah caralho — repito como um mantra, focando no
que está para acontecer e esquecendo todo o peso da realidade na
qual deveria estar focando no momento.
Somos apenas dois jovens adultos, escondidos sob a escuridão
das árvores em um momento autêntico de paixão. Apenas dois
corpos tomando exatamente o que precisam e se esquecendo das
consequências da vida real e o que pode acontecer quando tudo
isso acabar. Arrependimentos não significam nada enquanto meu
corpo corre na direção do prazer pelo qual não sabia que estava
desesperada até suas mãos me tocarem.
Os dedos dele entram nas minhas calcinhas e quase na mesma
hora encontram meu clitóris.
— Jesus, Brit — geme, me encontrando totalmente pronta para
ele. Ele beija meu peito, afastando o outro lado do meu biquini e
dando ao outro seio o mesmo tratamento do anterior enquanto seu
dedo vai mais fundo e encontra minha entrada.
Abaixando as mãos, eu as passo pelos músculos da sua barriga,
me deleitando no fato que eles contraem sob meus dedos. Quando
encontro o cós do seu shorts, deslizo os dedos para dentro, mas
passo a mão para sua bunda, apertando com força e pressionando
sua ereção mais forte contra meu quadril. Ele geme, movendo os
quadris contra mim em busca de fricção.
— Caralho, você é apertada — ele geme, colocando outro dedo
dentro de mim e trazendo meu orgasmo mais perto. — Porra, sim,
goze nos meus dedos, Brit.
Seus lábios encontram os meus outra vez, sua língua passando
dos meus lábios para explorar tudo o que pode, seu polegar
pressiona no meu clitóris e meus músculos se contraem em volta
dele. Ele geme. O som, junto com as vibrações, é suficiente para me
fazer gozar. Ele engole meus gritos enquanto prazer percorre meu
corpo. A mão dele segura meu quadril, e seu corpo pressiona o meu
com mais força na árvore, para me manter de pé, o prazer
ameaçando me derrubar.
Mal me recuperei quando ele se afasta um pouco. Seus olhos
normalmente azul escuros estão pretos com desejo, seu rosto tenso
e é o bastante para fazer tremores residuais passarem pelo meu
corpo.
Jake olha para a mão que acabou de tirar do meu shorts, não sei
se está considerando amputá-la depois de me tocar ou o que, mas o
que não estou esperando é para ele levá-la aos lábios e chupar os
dedos.
Não posso evitar. Estico o braço para ele, não estou pronta para
que esta trégua entre nós termine. Passo as mãos em seu peito e
seguro sua nuca com uma. Abaixado a mão, ele olha para mim.
Seus olhos percorrem todos os centímetros do meu rosto, é quase
como se ele estivesse me vendo pela primeira vez, o que é loucura.
— Jake, preciso…
Minhas palavras são interrompidas por um grito alto do outro
lado das árvores.
— Thorn, você está aí, cara?
— Merda. — Soltando-me, ele se afasta. Odeio a decepção que
passa por mim, mas perder seu toque faz um frio me atingir que não
estava esperando.
— Jake? — Seu nome é apenas uma súplica em meus lábios, e
odeio como soo desesperada por um garoto que odeio.
— Não — ele ralha, olhando para a direção do grito.
— Thorn?
— É, tô indo. Espera no trailer, tá?
— Com certeza, cara.
Trailer? O quê?
Virando os olhos duros para mim, engulo quando um pouco de
medo sobe pela minha garganta.
— Isso nunca aconteceu.
— O quê?
— Apenas esqueça — vocifera, sem permitir discussão. —
Encare como uma desculpa pela maldita foto. — Esticando o braço,
ele pega meu queixo na mão, seu toque arde, mas sou impotente
para me afastar. Seus lábios colidem nos meus para mais um beijo
de bambear o joelhos antes de se afastar com tanta força que
tropeço em alguma coisa e caio no chão.
Seus olhos lampejam com preocupação quando solto um gemido
de dor, mas ele não faz nada. Sem outra palavra, ele pega a
camiseta que foi descartada na terra e desaparece de vista.
— Caralho — resmungo, caindo de volta no chão. Que merda
acabei de fazer?
CHAPTER VINTE E QUATRO

Jake

M eu peito arfa e minha cabeça roda conforme saio das árvores


e me afasto dela. Confusão corre por minhas veias. Não
deveria ter tocado nela, deveria ter ido embora no momento
que a encontrei me observando, mas não pude resistir. O volume
tentador dos seus seios pequenos, mas perfeitos se escondendo
atrás daqueles pequenos pedaços de tecido, a pele suave e
tonificada da sua barriga que fazia minha boca salivar e aquela
desculpa minúscula de shorts. Não tive chance de olhar por trás,
mas tenho quase certeza que não faziam um bom trabalho de cobrir
sua bunda.
Quando saio no sol da tarde, posso me dizer o quanto quiser que
não deveria ter feito isso, mas a realidade é que meu corpo está
exigindo que dê meia volta e termine o que comecei. Não, se for
honesto, então quero voltar para garantir que ela está bem depois
que a empurrei para longe. O gritinho de dor que ela soltou quando
atingiu o chão ainda ecoa no meu ouvido. Sei que se machucou e
sou um babaca completo por deixá-la. Mas não é isso que você
quer que ela pense?
Balanço a cabeça para afastar o pensamento e foco no que
estou prestes a encontrar. Segurando minha camiseta na frente da
ereção enorme que ela causou e ainda está marcando meu
moletom.
As vozes de Ethan e Mason ressoam pelas paredes finas do
meu trailer. Não falei com Mason desde a Corrida, então posso
apenas presumir que ele está aqui para me dar outro murro pelas
minhas atitudes mais recentes.
Abrindo a porta, garanto que estou escondendo minha excitação
remanescente, apesar de ter quase certeza que vai desaparecer no
segundo que meus olhos pousarem nos dois.
A conversa deles para no momento que piso dentro do trailer e
dois olhos semicerrados se viram para mim.
— O que diabos aconteceu com você?
— Só fui treinar.
— Sério? Quer tentar nos dizer isso quando não tiver “garota”
lambuzada no rosto? — Em pânico, ergo a camiseta para limpar os
lábios. — Puta que pariu, Thorn, sério?
— Que seja. Vou tomar banho.
— Não quero ouvir você resolvendo esse probleminha, cara.
Mostrando o dedo para eles, vou na direção do banheiro, ligo o
chuveiro e tiro o moletom. Meu pau pula entre minhas pernas, me
provocando com memórias de como acabei nesse estado para
começar. Ainda posso sentir seu gosto doce na minha língua, a
suavidade da sua pele, os barulhos e gemidos suaves que saíram
de seus lábios quando a fiz gozar.
Meu pau está duro como aço outra vez, mas nada além do seu
toque vai aliviá-lo e isso me irrita mais do que qualquer coisa. Não
só eu não consigo tirar ela da cabeça, como agora eu preciso dela,
e nunca quis precisar de ninguém na minha vida, nunca. Precisar de
alguém significa entregar uma parte de si, uma parte que pode ser
estilhaçada sem um segundo pensamento. Não vou permitir que
ninguém tenha qualquer parte minha, não importa quão pequena.
Virando a água para fria, fico parado ali pensando em qualquer
coisa, menos seu corpo, que possa permitir que meu pau volte ao
normal para que possa sair e encarar o que seja que esses dois
vieram falar.
— Quem era? — Mason ralha no segundo que reapareço.
— Ah… hm… Chelsea? — Não tive intenção que saísse como
uma pergunta, mas é o único nome que consigo pensar sem revelar
a verdade.
— Vai se foder, você acha mesmo que vamos acreditar nisso?
Dou de ombros, pego algumas cervejas e as jogo para meus
amigos irritados.
— Primeiro… — Mason começa. — Chelsea estava na minha
última aula, então sei que não estava aqui. E segundo, você não
beija, e você com certeza não beija vadias como a Chelsea. Então
vai, desembucha antes que comecemos a tirar conclusões
precipitadas.
— Não era ninguém.
— Era ela, não era? — Ethan pergunta.
— Chega — vocifero. — Vocês dois vieram aqui só para me
encher o saco a respeito de quem eu beijo ou tinha algum objetivo
na sua visita?
— Viemos para colocar um pouco de senso em você.
Colocando a garrafa no balcão, olho entre meus dois melhores
amigos. Dou um passo a frente, com as mãos ao meu lado.
— Então, vá em frente.
— Não é literalmente, Jake.
— Não? Provavelmente mereço.
— Com certeza merece, porra. O que você fez hoje foi
imperdoável.
Ela não parecia ter um problema com isso há alguns minutos. As
palavras estão na ponta da minha língua, mas de alguma forma
consigo segurá-las. Ninguém além de nós dois precisa saber o que
aconteceu nas árvores esta tarde.
Dou de ombros outra vez, pego a cerveja e caio no sofá, agora
que sei que não vão me bater.
— Essa porra é ridícula, Thorn. Você está arruinando a vida dela,
caralho. Como você pode não se importar? Sei que é um babaca,
mas isso é loucura.
— Eu me importo. Eu me importo com ela trazendo à tona coisas
que preferia que ficassem no passado.
O rosto de Ethan se contorce com confusão, mas Mason sabe
mais que a maioria.
— Nada daquilo é culpa dela — ele fervilha. — Apenas deixe
que ela siga com sua vida.
— Você a quer? — Minha voz sai mais calma do que estou me
sentindo quando compreendo o porquê de ele estar sempre a
defendendo.
— O quê? Não, não quero ela, porra.
— Tem certeza? Parece estar do lado dela a maior parte do
tempo.
— Sim, porque você está agindo como um babaca e tenho
vergonha de ser seu amigo no momento.
— Ninguém está te forçando. — Dou um gole na cerveja e
desvio o olhar dele para que não possa ver como me sinto de
verdade com aquela sugestão.
— Vai se foder, Jake. Você não vai ouvir meu conselho, então
siga em frente, caralho. Arruíne a vida daquela garota só porque
você acha que merece. Tudo o que está fazendo é encobrindo o
quanto a quer, todos podemos ver. Não tenho problemas em permitir
que você ferre com tudo isso tão intensamente que ela nunca vai
olhar para você outra vez, que dirá tocá-lo.
— Eu não a quero, porra — fervilho, me levantando como Mason
para que possa encará-lo nos olhos.
O cuzão tem a audácia de rir. Ele ri na minha cara. Faz meu
sangue ferver.
— Então não era o batom dela lambuzado na sua cara quando
você entrou? Não esqueça, também sabemos onde ela mora.
Minhas mãos se apertam com o desejo de arrancar o olhar
presunçoso do seu maldito rosto enquanto ele se prepara para
continuar.
— E se disser que eu a quero? E se te disser que já a convidei
para a festa de Shane sábado a noite e ela disse sim? E se te disser
que pretendo comê-la até…
— Ah — urro, voando nele e acertando o punho em sua
bochecha.
— Chega — Ethan exige atrás de mim, as mãos segurando
meus braços para me afastar do meu melhor amigo.
Virando para mim, suas mãos batem no meu peito, me forçando
a recuar e me afastar de Mason.
— Você precisa tirar a cabeça da bunda, Jake. Você a quer,
então pare de fazer merda antes que ferre tanto com as coisas a
ponto de se arrepender.
Eu empurro contra Ethan, mas ele segura firme.
— Posso não a querer, mas tem caras o bastante na escola que
querem. Você a colocou no foco dos pensamentos deles hoje e
todos querem um pedaço dela, nenhum mais do que Shane. Você
precisa fazê-la sua antes que alguém o faça.
— Eu não a quero, porra — minto, as palavras saindo fáceis dos
meus lábios.
— Desisto — Mason diz, as mãos erguidas em derrota antes de
sumir de vista, a porta bater e o trailer balançar com sua saída.
Ethan me solta, volta para o sofá e tira um baseado do bolso.
Acendendo o isqueiro, ele dá uma tragada antes de passar para
mim.
Eu pego dele e dou um tapa, meus músculos começando a
relaxar na hora.
— Então, o que você tem a dizer sobre tudo isso? — pergunto,
percebendo pela primeira vez que ele ficou sentado em silêncio a
maior parte do tempo enquanto Mason ralhava comigo.
— Sinto que não sei de boa parte do que está acontecendo, mas
também concordo com Mase. Você só precisa comer ela para
superar isso.
— Ela vai mesmo na festa do Shane sábado a noite?
— Só deus sabe, cara. Mas se ele tiver alguma coisa a dizer,
então ela vai estar lá, ele a está seguindo como um cachorrinho
perdido desde que ela chegou. E se me perguntar…
— Não perguntei.
— Se você me perguntar, do jeito que você está indo, ela ficaria
melhor com ele.
— Você provavelmente está certo.
— Sério? — pergunta, as sobrancelhas quase chegando no
cabelo.
— É, mas não vou permitir.
Um pequeno sorriso contrai o canto de sua boca e sinto que
estou em queda livre. Podia é ter acabado de admitir o quanto eu a
quero.
CHAPTER VINTE E CINCO

Amalie

— M erda, o que aconteceu? — Camila pergunta no segundo


que entro no carro na manhã seguinte. Não estou
surpresa, o curativo enorme no meu braço é meio impossível de não
se ver.
Quando minha avó chegou em casa e me encontrou tentando
estancar com gaze, ela insistiu que me levasse para o PS e tivesse
os cuidados adequados. Tentei argumentar, mas tinha pouca chance
contra ela, ainda mais quando começou a falar como seria o que
meus pais iriam querer.
No fim, ela estava certa, porque acabei levando alguns pontos
na parte mais profunda do corte. Não tenho ideia como cair em
alguns galhos caídos fez uma bagunça tão grande. Acho que foi
carma por beijar o Diabo ou algo assim, tudo o que sei é que dói
para caramba e me deixou acordada a maior parte da noite. Acho
que deveria estar grata por não ter quebrado.
— Caí.
— Caiu? — pergunta, incrédula. — Onde?
— Fui vagar pelas árvores no final do jardim e tropecei em
alguns galhos. Foi besta. — Meu rosto fica vermelho e estou grata
que Camila está focada demais onde está indo, então não vê.
— Não brinca. — Por sorte, ela aceita a mentira e segue em
frente, apesar de ser para outro tópico que estou tentando meu
melhor para evitar. — Tem certeza que está pronta pra isso? As
coisas não diminuíram nem um pouco depois que você foi embora
ontem.
Gemendo, afundo no banco do passageiro do seu Mini,
esperando que me engula.
— Mal posso esperar.
Em alguma hora tardia ontem a noite, quando meu braço estava
latejando, cometi o erro de tirar o telefone do fundo da mochila.
Tirando mensagens preocupadas da Camila e do Shane, todas as
outras eram caras perguntando quando eu estava disponível e para
meu choque total, também tinham algumas fotos de paus nada
impressionantes esperando por mim. Nada disso indicava que as
coisas já se acalmaram. Sei de viver cercada por celebridades que a
fofoca só é fofoca até outra coisa acontecer, eu só esperava que
alguma coisa louca tivesse acontecido depois que fui embora ontem
e que eu já seria notícia velha. Acho que foi pensamento positivo.
Até outra coisa acontecer, vou ser vista exatamente como Jake quis,
uma puta. Apesar que, depois do que aconteceu ontem nas árvores,
não posso evitar sentir como se pudesse ter um pouco de verdade
nisso.
Estou envergonhada que ele me afetou tanto que o permiti
colocar as mãos em mim. Também estou confusa para caralho
porque o que ele fez comigo, como ele me fez sentir naqueles
momentos, vai contra tudo o que ele tem tentado me fazer passar.
Ele me disse que nunca tocaria uma puta, e ainda assim ele nem
piscou para me fez gozar na primeira oportunidade que teve.
Penso na noite anterior na piscina de Poppy e não posso evitar
pensar que ele teria feito exatamente o mesmo se tivesse a menor
chance.
Meu corpo esquenta quando repasso os eventos de ontem na
cabeça. Ainda posso sentir a pele áspera de suas mãos arranhando
meu estômago enquanto seus dedos mergulhavam no meu shorts.
Ainda posso sentir seu gosto na minha língua e lembrar sua voz
grave ao sussurrar no meu ouvido.
Caralho.
— Você está bem? Está murmurando para si mesma.
— Sim, estou bem. Só me lembrei que esqueci um dever de
casa.
— Tenho certeza que o professor vai deixar passar. Sem dúvida
todos também sabem o que aconteceu ontem.
— Fantástico.
— Merda, não quis dizer desse jeito.
Sinto os olhos deles queimarem na minha pele no segundo que
saio do carro da Camila, mas mantenho a cabeça erguida e foco
onde estou indo.
— Amalie. — Meu nome sendo chamado por uma voz familiar
tira minha atenção do prédio à minha frente e quando olho para
cima, fico aliviada em ver que é apenas Shane, e não um cara
querendo agendar um “encontro”. — Ei, como você está? — Os
olhos dele vão para o curativo no meu braço, mas não faz perguntas
quando balanço a cabeça e reviro os olhos como se não fosse nada
para se preocupar.
— Ótima, adoro ser a bicicleta da escola.
— Não — ele rosna, se aproximando um pouco mais para me
proteger de olhos bisbilhoteiros.
— Tem certeza que quer ser visto comigo? Você sabe que todo
mundo vai pensar que está pagando pelo meu tempo. — Não tenho
intenção que soe tão amargo, mas vislumbrar o grupo de Jake rindo
e brincando por cima do ombro de Shane me irrita.
— Não dou a mínima para o que eles pensam. Sabemos a
verdade, é tudo o que importa.
— Você sabe que não era eu?
— Claro.
— Como? — pergunto, meus olhos semicerrando em suspeita.
— Não é o tipo de coisa que você faria.
— Mas você mal me conhece. — A confiança dele na minha
ética me faz sentir um pouco melhor, me faz querer que todos
pudessem ver o mesmo.
— Conheço o suficiente. Posso te acompanhar até a aula?
— Seu funeral — sussurro, mas não é baixo o bastante.
— Amalie — ele avisa outra vez. — Posso te entregar aos lobos
se quiser, mas acho que você prefere ficar nas sombras.
Só a menção de sombras é o bastante para trazer Jake de volta
aos meus pensamentos. Por que não me sinto com Shane como me
senti ontem com ele? Ele é um cara legal, me trata bem. Ele me
mostraria exatamente como se sente e nunca faria o tipo de coisa
que Jake faz.
Tem algo muito errado comigo que não posso sentir nada além
de o apoio de um amigo ao andar ao lado de Shane.
As cantadas do grupo de amigos de Jake chegam até nós.
Olhando para eles, vejo Chelsea e algumas de suas seguidoras,
mas ele não está por perto.
— Apenas ignore — Shane diz, me encorajando a continuar em
frente com uma mão leve nas minhas costas. — Vamos.
Colocando um sorriso no rosto para meu amigo, dou uma olhada
para ele. Está sorrindo para mim com um brilho nos olhos que me
faz engolir em seco de preocupação. Não importa o quanto tente
deixar as coisas entre nós platônicas, parece que a imaginação dele
continua a levar a melhor. Os dedos dele contraem nas minhas
costas e me afasto um pouco. Seus lábios formam uma careta, mas
ele não diz nada.
— Se você vai sair do seu caminho, posso ir sozinha.
— Um pouco, mas preciso saber que você vai chegar lá sem ser
assediada por esses idiotas.
— Aprecio mesmo a ajuda.
— E eu odeio mesmo o jeito que todos esses malditos caras
tarados estão olhando para você no momento. É como se
pensassem que você é um pedaço de carne para brincarem. Jake
vai pagar pelo que fez ontem.
— Por favor, não faça nada estúpido — falo com uma careta,
sabendo que enfrentar o capitão nunca acabará bem.
— Não posso prometer nada.
— Ei, feliz aniversário, cara — um garoto que não conheço diz,
andando até Shane e dando um soquinho divertido no braço.
— Obrigado, cara.
— Mal posso esperar pela sua festa sexta a noite, vai ser épica.
— Sim, vai ser uma noite legal. — A resposta de Shane não tem
animação nenhuma.
— Bom — ele diz, desconfortável, olhando entre nós,
provavelmente se perguntando o que o amigo está fazendo com a
bicicleta da escola. — Com sorte também estaremos comemorando
uma vitória.
— Podemos apenas esperar. Te vejo mais tarde, tá?
— Claro. — Acenando para nós dois, ele se afasta e desaparece
na multidão.
— É seu aniversário? — pergunto, meus passos hesitando um
pouco com a compreensão.
— Sim, sou legal e tal agora. — Olho para ele bem a tempo de
ver suas sobrancelhas balançarem e um sorriso maroto curvar seus
lábios.
— Bom, feliz aniversário. Não fazia ideia então eu… hm… não…
Minha desculpa atrapalhada do porquê não comprei um presente
para ele é interrompida quando ele segura meu braço e me vira para
encará-lo.
— Jante comigo.
— Ah… hm… — Meu coração acelera com o pensamento,
apesar de estar tentando muito não passar nenhuma ideia para ele
que possa ter, ele as teve mesmo assim. Mordendo meu lábio
inferior, olho para seus olhos esperançosos e sinto que estou em
queda livre. Não quero mesmo machucá-lo.
— Não é como um encontro ou algo do tipo. — Apesar que pelo
jeito que seu rosto desanima quando diz isso, fica óbvio que é
exatamente o oposto do que ele quer. — Apenas como amigos.
Você pode pagar, como presente de aniversário.
— Como amigos? — pergunto, me sentindo como a pior pessoa
no planeta por rejeitar um cara tão legal. Ele vai ser um namorado
incrível para alguém algum um dia, só não será o meu. Por mais
que eu possa desejar que ele seja a pessoa que faça meu sangue
ferver e cause um redemoinho na minha barriga, ele não o faz.
Também duvido que isso mude. Shane e eu estamos destinados a
sermos amigos e quanto antes ele aceite isso, melhor.
Consciência aquece meu lado esquerdo, olhando para lá, vejo
que os estudantes que estavam na nossa frente se separaram e no
final do corredor, fervilhando de raiva, está Jake. Seus olhos estão
escuros e assassinos ao olhar entre mim e Shane. Tentando engolir
minha apreensão, me viro para Shane enquanto ele fala.
— Sim, apenas amigos. Sem pressão, Am…
Dor arde pelo meu ombro quando minhas costas e cabeça
batem contra a parede.
— Qual diabos é seu problema, cara? — Shane vocifera quando
cambaleia alguns passos para trás.
— Quanto ela cobrou pelo jantar? Duvido que valha.
Quando meus olhos focam, encontro os dois cara a cara. Jake é
um centímetro ou dois mais alto, normalmente não daria para notar,
mas agora ele parece gigante comparado ao Shane. O peito está
estufado com raiva, os ombros largos ao tentar intimidá-lo, mas fair
play para Shane porque ele mantém a cabeça erguida e devolve na
mesma moeda.
— Você precisaria se importar em conhecer uma garota para
entender.
— Eu me importo — Jake rosna tão baixo que quase não escuto.
— É, com entrar no meio das pernas e dar o fora o mais rápido
possível.
— Cuidado. — As mãos de Jake batem no peito de Shane que
dá mais um passo para trás. — Você precisa se lembrar de onde
está sua lealdade. — Com um último olhar duro e um movimento
dos olhos na minha direção, Jake sai tempestuoso pelo corredor.
Demora alguns segundos, mas os espectadores que
testemunharam tudo logo continuam com suas conversas anteriores
e desviam a atenção de nós.
— Caralho, você está bem? — Shane pergunta, correndo até
onde ainda estou parada, empurrada contra a parede. Pisco pelo o
que parece a primeira vez desde que o vi parado a metros de
distância e é o bastante para fazer algumas lágrimas escaparem
dos meus olhos. — Caralho, ele te machucou?
É só quando compreendo suas palavras que me lembro da
minha cabeça batendo na parede atrás de mim quando Jake colidiu
comigo. Mas não é a dor disso que está causando as lágrimas, é a
memória de como ele foi cuidadoso comigo ontem a noite. Sim,
seus toques foram exigentes e confiantes, mas em nenhum
momento ele foi rude ou descuidado.
Piscando um pouco mais rápido para forçar as lágrimas a
secarem, me afasto da parede.
— Estou bem. Sério — acrescento quando ele olha para mim
com uma sobrancelha erguida.
— Aquele cara é um babaca. Se nunca tiver que vê-lo outra vez,
vai ser perto demais.
Murmuro uma concordância, apesar de mesmo ao dizer, algo se
contorcer dolorosamente dentro de mim. Deveria estar super a favor
depois de tudo que ele fez para mim, mas tem uma parte minha que
mesmo depois do que acabou de acontecer, ainda quer segui-lo.
Para tentar descobrir qual é o seu problema e... ajudar, talvez? Dou
uma bronca em mim mesma pelo pensamento, está claro que Jake
Thorn já está longe de um possível resgate e se alguém for capaz,
então não seria eu tentando.
— Sim, também. — Minha concordância é no mínimo fraca, e faz
os olhos de Shane semicerrarem em suspeita. — E aí, quando
vamos jantar? — pergunto, para desviar o foco de mim.
— Quinta a noite? Não podemos na sexta por causa do jogo e
da festa.
— Festa?
— É, na minha casa depois do jogo. É meio que tradição,
ninguém te falou dela?
Dou de ombros, tem uma boa chance que alguém possa ter
mencionado, mas festas de futebol não estão muito altas na minha
lista de prioridades do momento.
— Mas você vai, né? No jogo e na festa? — A esperança em
seus olhos é o suficiente para me dizer que a resposta certa seria
não. Deveria dizer não bem agora, mas quando seu rosto desanima
e uma expressão de cachorrinho sem dono aparece, tenho muita
dificuldade em recusar.
— Vem, vamos te levar pra aula. — O resto do caminho é em
silêncio, e temo que possa tê-lo machucado quando a única coisa
que quero fazer é o oposto.
CHAPTER VINTE E SEIS

Amalie

O resto do dia, e o próximo, é exatamente como esperei. Cheio


de olhares, pessoas apontando, sussurros contidos e
propostas. Até a hora que encontro Camila no carro na
quinta-feira a tarde, já cansei dessa merda.
— Como você está? — pergunta, olhando para mim enquanto
entro no carro dela.
Soltando um suspiro de frustração gigante, uma risada baixa
escapa dos seus lábios.
— Bom assim?
— Pior.
— Logo vai passar. Com o jogo e a festa do Shane neste final de
semana alguém vai fazer algo estúpido e tirar os holofotes de você.
— Estou torcendo — murmuro enquanto ela se afasta da escola.
— Pronta para seu grande encontro hoje?
— Não é um encontro.
— Ceeerto.
— Estou falando sério, Camila. Tire a ideia de sair em casais
com você o Noah da cabeça. Não estou interessada em Shane
dessa maneira.
— E você continua a dizer, mas ele gosta mesmo de você.
Apenas dê uma chance.
— Não é um bom motivo para enrolar ele. Vamos sair hoje como
amigos e isso é tudo que seremos. — Mesmo que pensar sobre
esta noite faça meu estômago embrulhar com incerteza. Por mais
que eu possa alegar que não é um encontro, vai parecer isso para
todo mundo. Por mais que eu não queira que tenham a impressão
errada, também não quero que a reputação de Shane seja marcada
por passar tempo comigo, a garota que todos pensam que cobra por
hora.
— Você sabe o que vai usar? — Camila pergunta, me tirando do
devaneio.
— Hm, jeans e uma camiseta.
— Jesus, Amalie. Sei que não é um encontro, mas você poderia
se esforçar um pouquinho pelo menos.
— Tudo bem — solto uma bufada. — Quer entrar e ajudar?
— Pensei que nunca fosse perguntar.
— Como foi a escola? — minha avó pergunta conforme
entramos na cozinha para pegar uma bebida.
— É, foi boa — minto, sentindo o olhar da Camila fuzilando
minha nuca. — O quê? — Movo a boca, virando para olhar para ela,
não é como se tivesse vindo direto para casa e contado todos os
detalhes da foto que faz parecer que sou eu fazendo boquete em
alguém. Tem algumas coisas que uma avó e sua neta nunca
precisam conversar, e essa é uma delas.
— Você ficou sabendo do encontro da Amalie?
— Não é um encontro — fervilho, para a diversão da Camila.
— Ah, é tão empolgante. Lembro do meu primeiro encontro. Ele
era tão fofo. Comprou flores, me levou para jantar e demos a
caminhada mais romântica na praia. — Os olhos da minha avó
desfocam ao se lembrar. — E quando ele me beijou no final da
noite, pensei que a vida nunca mais seria a mesma.
— Não vai ter nada de beijos esta noite. Vamos apenas como
amigos.
— É, é. Agora vamos encontrar algo para você usar que seu
amigo vai gostar.
— Certifique-se que ela use um vestido — minha vó grita
conforme desaparecemos pelo corredor.
— Não vou usar um maldito vestido — resmungo, empurrando a
porta aberta.
Camila vai direto para meu guarda-roupa e começa a tirar
sugestões, recuso todas. Não vou me embelezar, me recuso a
deixar Shane pensar que me esforcei para impressioná-lo. Nós.
Somos. Amigos.
No final, me comprometo com um vestido de verão casual com
alças finas e estampado com flores. Tento justificar que se é casual
o bastante para usar para ir à escola, é casual o bastante para usar
em um não-encontro.
Camila outra vez insiste em arrumar meu cabelo e me maquiar e
quando por fim saio do quarto, meus olhos estão com um esfumado
leve e cachos leves descem pelo meu ombro. O curativo que está
em volta do meu braço não ajuda em nada, mas não tem muito que
possa fazer sobre ele ou o lembrete constante da pessoa que o
colocou ali.
— Uau, você está linda. Ele não vai saber o que o atingiu.
Gemendo com as palavras da minha avó, viro na hora para
trocar de roupa, mas para minha infelicidade, Camila para no meu
caminho.
— Nem pensar… de jeito nenhum. — Assim que tento dar um
passo na direção dela, a campainha toca. — De qualquer maneira, é
tarde demais, ele chegou. — O deleite que ilumina seu rosto me faz
querer pisar em seu pé com meu salto.
— Você vai pagar por isso — aviso com um sussurro, mas tudo o
que recebo como resposta é uma risada alegre.
— Apenas tente se divertir, tá?
— Vó, não — falo quando a vejo indo na direção da porta da
frente. A última coisa que preciso é que ela se junte ao grupo do
“Shane não seria um ótimo namorado?” — Vocês duas…
desapareçam.
— Ele sabe que estou aqui, deve ter estacionado perto do meu
carro.
— Ugh, tudo bem. Vó, vai se esconder. — Ela faz beicinho, mas
faz o que peço e vai para a sala de estar.
Soltando uma respiração profunda, me preparo para abrir a
porta. Não sou rápida o suficiente porque a campainha ecoa pela
casa outra vez.
— Ei, desculpa — falo, abrindo a porta e colocando um sorriso
no rosto.
— Sem problemas. Estava começando a pensar que você me
deu o cano na soleira da porta. — A risada que vem em seguida é
nervosa, e não me faz sentir melhor.
— Uau, você fica bem arrumado. — No lugar do jeans e
camiseta que parece usar sempre na escola, Shane está usando
calça cáqui e uma camisa social. Está claro que ele gastou um
pouco mais tempo que o de costume com o cabelo bagunçado e
seu cheiro é muito bom. Seu cheiro me dá água na boca, mas ainda
não é o suficiente para me fazer querê-lo.
— Você também, está estonteante. — Minhas bochechas
esquentam com o elogio e me sinto desconfortável pela primeira vez
em sua presença desde o dia que trombei com ele.
— Certo, divirtam-se, crianças. Certifiquem-se de voltarem antes
do toque de recolher — Camila cantarola com deleite, passando por
nós dois e indo na direção do carro. Com um pequeno aceno, ela
sai, deixando nós dois sozinhos pela primeira vez.
— Pronta? — Ele oferece o braço para mim e me sinto como
uma trouxa quando recuso, mas já sinto que a noite está saindo do
controle.
— Para onde estamos indo? — pergunto conforme o carro
acelera na direção da orla.
— Para o melhor hambúrguer da cidade, é claro.
— Aces? — pergunto, hesitante.
— Claro. Onde mais? Você disse que queria casual, e não tem
melhor que Aces.
Merda.
Não preciso dizer nada, ele deve sentir minha tensão.
— Vai ficar tudo bem. E mais, me recuso a te esconder. Não dou
a mínima para o que todo mundo pensa. Sei que não era você
naquela foto, e você também. Também sabemos que não estou
pagando para você sair comigo, então foda-se os outros e suas
cabecinhas pequenas.
Meus dedos se retorcem no colo enquanto tento acreditar no que
Shane está dizendo, mas não posso evitar pressentir que essa noite
só vai piorar.
Por sorte, Aces parece bem tranquilo quando vamos até a
entrada.
— Ali. — Shane estica o braço e pega minha mão, me puxando
na direção de uma cabine vazia. Mantenho a cabeça baixa, mas não
deixo de perceber o silêncio que paira sobre a lanchonete.
Sussurros baixos logo começam, mas o zumbido nos meus ouvidos
significa que não escuto nada. Eu sinto, no entanto, a mão de
Shane apertar a minha com mais força, então posso apenas
imaginar a fofoca que está correndo no momento.
Ele me leva até uma cabine e quase na mesma hora uma
garçonete vem tirar nosso pedido de bebidas. Fico aliviada que isso
me dá algo em que focar além do muitos olhares que sinto fazerem
minha pele formigar. Nunca me senti mais indesejada na vida.
— Desculpa, talvez você estivesse certa em se preocupar.
— Não tem problema. Uma hora eles vão ficar entediados. —
Por sorte, minha voz parece muito mais firme do que me sinto com a
situação.
Arriscando um olhar para cima, encontro Chelsea e sua gangue
de vadias na mesa que estavam na primeira vez que vim aqui. A
maior parte delas está me encarando, mas Chelsea está com a
cabeça no telefone. Consigo conter meu gemido, sabendo que ela
deve estar chamando o resto da tropa, incluindo o que não tenho
nenhuma intenção de ver esta noite.
As coisas se aquietam por um tempo, e conseguimos comer
nossos hambúrgueres sem sermos interrompidos, apesar de eu não
deixar de ser interessante para o resto dos clientes em nenhum
momento. Mesmo os que tenho quase certeza que não frequentam
Rosewood parecem interessados em mim. Acho que aquela foto
não ficou apenas entre os alunos das escola.
Estou pedindo um sundae de sobremesa quando um arrepio
percorre minha coluna. Não preciso ver a expressão no rosto de
Shane quando ele olha para a porta atrás de mim para saber quem
está prestes a entrar.
Eu me digo para manter os olhos no cardápio e não dar
nenhuma atenção a ele que só vai incentivá-lo, mas meu corpo
traidor tem outras ideias porque apenas segundos depois me pego
olhando por cima do ombro.
Seu olhar afiado está apontado direto para mim. No momento
que descobre que estou encarando de volta, seus olhos se
arregalam em surpresa antes de passarem pelo meu corpo. Ele não
pode ver tudo, já que estou sentada em uma cabine, mas isso não
os impede de escurecer.
— Ora, ora, ora, isso não é fofo.
— Nos deixe em paz, Thorn.
— Ou o quê? — provoca, fazendo Shane deslizar para a beirada
da cabine na direção dele. — Vai me obrigar?
— Shane, apenas o ignore — imploro, mas é tarde demais. Ele
já está parado cara a cara com Jake. Eu me levanto e paro ao lado
deles, coloco a mão no braço de Shane, para o horror de Jake, se o
arregalar de seus olhos e ranger de dentes forem algum indicativo.
— Sente-se, por favor. Ele não vale a pena. — Não estou acima de
implorar neste momento para que não façamos uma cena maior do
que já fizemos.
Dando um passo para trás, Jake desvia o olhar na minha
direção. Eles passam pelo meu corpo que agora está exposto e
lentamente analisa cada centímetro das minhas pernas nuas. Sem
olhar para ele, sinto os músculos de Shane ficarem tensos ao se
preparar para remover fisicamente os olhos de Jake do meu corpo,
mas ele não tem a chance.
— Desperdiçada com ele, Brit. Desperdiçada. — Ele dá um
passo para trás, devagar, gastando o tempo percorrendo os olhos
por mim mais uma vez antes de virar e ir se juntar a sua gangue de
babacas, que como é comum esses dias, parece faltar Mason.
CHAPTER VINTE E SETE

Jake

P or que diabos estou aqui? Estava me fazendo essa pergunta


antes mesmo de passar pela porta, mas no segundo que
recebi a mensagem de Chelsea me dizendo que ela estava
aqui com ele, eu não tive escolha a não ser ver com meus próprios
olhos.
Pensei que seria divertido vir e provocá-la, mas uma olhada para
ela sentada ali, toda arrumada para ele e soube que cometi um erro
enorme para caralho. Uma dor aguda perfura meu peito conforme a
imagem dela pressionada contra aquela árvore enche minha
cabeça. Salivo quando a memória de como ela é doce me atinge.
Meus músculos ficam tensos com o desejo de sentir seu corpo
contra o meu e sua língua tocando a minha outra vez. O vestidinho
de verão que ela está usando está implorando para ser arrancado
do seu corpo esbelto e sensual e isso não vai ser feito pelas mãos
de outra pessoa que não eu. Colega de time ou não, Shane precisa
entender a quem ela pertence.
Meus olhos se arregalam quando ela estica a mão para impedi-lo
de me encarar, a visão de um curativo novo envolvendo seu bíceps
faz meu estômago embrulhar. Por favor, me diga que não causei
isso?
Quero perguntar para ela desesperadamente, as palavras bem
na ponta da língua, mas por sorte suas palavras sobre eu não valer
a pena são o balde de água fria que preciso para me lembrar que
porra estou fazendo, e admitir que qualquer coisa que aconteceu
entre nós não pode acontecer outra vez. Foi um erro, um erro que
posso estar pensando repetidamente desde então, mas ainda assim
um erro.
Eu me sento com meus amigos, luto para manter os olhos na
mesa à minha frente e não no casal em um encontro alguns metros
de distância. Por que caralhos ele está saindo com ela, pensei que
tivesse deixado claro que ela estava fora do alcance.
— Quem diabos ela pensa que é? Ela pensa que é especial
porque tem um sotaque chique e pais ricos e famosos — Chelsea
reclama.
— Pais mortos — Victoria acrescenta.
— Isso não a dá o direito de chegar aqui com tudo e roubar os
caras da gente.
— Por quê, queria Shane para você?
— Não, porra. Ele é bonzinho demais. Aposto que é virgem
também.
— Então, qual o problema?
— Quem ela vai atrás em seguida é meu problema. Logo vai
perceber que ele é careta e partir para o próximo.
Minha pele formiga quando Chelsea volta o olhar para mim.
— O quê?
— Tem planos esta noite? — Os olhos dela passam entre meus
olhos e lábios.
— Sim, e não envolvem você. — Eu a empurro do meu colo.
— Ai.
— Vai se foder.
Chelsea fervilha, virando as costas para dar atenção a outro dos
meus colegas de time.
O movimento de Shane levantando e indo na direção do
banheiro chama minha atenção. Por mais tentado que esteja a
segui-lo e garantir que seja incapaz de voltar para a mesa, eu o
ignoro e foco o olhar na Brit. que está mexendo os restos do sorvete
pelo prato como se fosse a coisa mais fascinante no mundo.
Sem conseguir evitar, eu me levanto da cadeira que estou
sentado e vou para o banco na frente dela.
— Acho que deveríamos… que porra você está fazendo? —
pergunta em pânico quando ergue a cabeça e me descobre
encarando-a de volta. — Shane só foi ao banheiro.
— Que pena. O que você fez? — Aceno para o curativo no seu
braço e ela tenta se virar para que eu não veja. — Não adianta
esconder. — Desvio o olhar para onde a junção das suas coxas está
sob a mesa e me deleito ao ver suas bochechas ruborizarem.
— Não é nada demais. Você precisa ir embora.
— Foi minha culpa?
— Por que você se importa? Você quer me machucar, lembra?
— Não fisicamente. Caralho. — Esfregando uma mão sobre o
rosto e queixo ásperos, encaro seus olhos azuis suaves. Olhos que
há pouco tempo atrás nunca quis ver outra vez, mas estou
começando a perceber que não são nada parecidos com os da
minha memória e tudo como os que quero ficar olhando para
sempre. — Desculpa.
Fico surpreso quando sua única resposta é rir do meu pedido de
desculpas.
— Qual a graça?
— Você se desculpando. É uma piada, né?
Minha boca abre para responder, apesar de não fazer a mínima
ideia do que dizer, quando uma sombra paira sobre nós.
— Você se importa? Está sentado no meu lugar.
— Tenho quase certeza que você está no meu lugar agora.
— Como exatamente? Corrija-me se estiver errado, mas não foi
você que mandou uma foto bem questionável pela escola inteira só
para fazê-la passar vergonha? Então por que mesmo você iria
querer estar sentado aqui se a odeia tanto?
Essa não é a pergunta de um milhão de dólares?
— Você está certo. Ela é toda sua. — Bile sobe pela minha
garganta só de dizer as palavras, mas nem fodendo que vou deixar
alguém saber como estou me sentindo de verdade com esse
encontrozinho que estou testemunhando.
— Quer dar o fora daqui? — Shane pergunta para Brit,
ignorando totalmente o fato que ainda estou sentado aqui.
— Sim. A companhia indesejada meio que está arruinando o
clima.
Não tenho ideia se ela fala isso para mim ou porque algo está
mesmo acontecendo entre eles. De qualquer maneira, não estou
feliz com isso.
Ele estica a mão, e quase me inclino para dar um tapa nela, mas
para meu horror, Brit estica o braço e o permite puxá-la da cabine e
de mãos dadas eles saem da lanchonete. Meu estômago embrulha
como se eu pudesse vomitar bem no chão quadriculado do Bill, isso
é, até ela virar e olhar por cima do ombro para mim no último
minuto. Aquele único olhar me dizia tudo que precisava saber. Ela
não está com ele, nem um pouco, porque assim como eu, sua
cabeça ainda está naquelas árvores e o corpo que ela quer ao seu
lado, é o meu.
— Você quer dar o fora daqui e ficar bêbado? — A voz de Ethan
passa pela névoa que me tomou e quando olho para cima, eu o
encontro olhando para mim com preocupação estampada no rosto.
— Sim.
Entrando em seu carro, partimos e sinto que posso respirar outra
vez agora que não estou nem perto dela. Mas ao mesmo tempo,
imagens do que ela poderia estar fazendo agora… com ele…
flutuam pela minha cabeça. Ela o está deixando tocá-la? Vai deixá-
lo beijá-la?
Meus dentes rangem quando as imagens continuam. Deveria ser
eu beijando-a, porra. Ela é minha. A compreensão repentina de
quanta verdade está por trás daquelas palavras me acerta como um
caminhão. Erguendo a cabeça para tentar aliviar a dor irradiando do
meu peito, respiro fundo.
— Você está bem? — Ethan pergunta, olhando para onde estou
lutando para respirar.
— Sim, apenas continue a dirigir. É bom você ter uma maconha
boa para caralho.
— Que porra essa garota está fazendo com você, cara?
— Não faço a mínima ideia.
— Quer que eu os siga para você reivindicar o que é seu?
— Ela não é minha, caralho — resmungo.
— Ceeerto, Thorn. Como queira. — Ele ri, me dando vontade de
arrancar o sorriso do seu rosto. — Estou começando a entender
qual o problema do Mason, você é mesmo cego, cara.
— Acabou?
— Não vou me envolver, cara. O que você precisar, estou do seu
lado.
Aprecio isso mais do que gostaria de admitir já que Mason se
afastou. Ele é meu melhor amigo desde que posso me lembrar, a
influência tranquilizadora para minha cabeça quente. Ele me segue
como um cachorrinho desde sempre, não pensei que algum dia
fosse irritá-lo. Parece que errei. Eu sinto falta dele, mas não o
suficiente para ir implorar. Vou ter que arrumar outra coisa para
trazê-lo de volta para meu lado.
— Não vamos para sua casa? — Fico decepcionado quando
Ethan vira na direção da minha casa e não a dele.
— Não, meus pais estão de volta por alguns dias. Vai ter que ser
na sua se quiser acender um baseado.
— Ótimo.
Digo a mim mesmo que estar tão perto da Brit não vai ser
problema. Que em nenhum momento nesta noite vou querer
atravessar as árvores para descobrir se ele a levou para casa em
segurança.
Caralho, preciso de uma bebida.

Relaxo e permito que a maconha percorra meu corpo, me fazendo


esfriar enquanto a cerveja esquenta minha barriga.
— Você acha que já voltaram?
— Quem? — Ethan pergunta, preguiçoso do seu lado do sofá.
— Shane e Brit. — Reviro os olhos como se devesse ser óbvio.
— Como deveria saber? Se as coisas foram bem, então é
provável que ele a tenha levado a Head Point para se pegarem no
banco de trás do carro.
Meu corpo todo fica tenso com a sugestão.
— Ele não… faria isso, né?
— Se não fizer, então deve ser um maricas porque ela é…
— Não termine essa frase.
— Puta que pariu, Thorn, você está caidinho, não está?
— Não estou nada, só prefiro não pensar em nada que eles
possam, ou não, estar fazendo. — É uma mentira descarada e nós
dois sabíamos. Por sorte, Ethan deixa passar, ele dá de ombros e
volta ao baseado e quem quer que seja que está mandando
mensagem.
Estou tão perdido nos devaneios que não percebo quanto tempo
passou ou que Ethan desmaiou ao meu lado, roncando como um
filho da puta.
Olhando para ele, observo seu rosto tranquilo ao dormir e babar
no meu sofá. Minha mente volta para Brit outra vez e me pego me
levantando sem pensar muito no que estou fazendo. Olho outra vez
para meu companheiro dorminhoco quando chego até a porta para
garantir que ele ainda está apagado, então a abro e saio na noite.
A maconha e cerveja deixam minhas pernas um pouco instáveis
ao ir na direção das árvores, mas agora que comecei, não vou voltar
atrás até encontrar o que preciso para desligar minha imaginação.
Vou até a academia improvisada sem pensar muito, fiz esse
caminho um milhão de vezes. Mas preciso pegar o telefone do bolso
para usar a lanterna quando tropeço em um graveto ao tentar
atravessar para o outro lado.
Meu telefone ilumina o espaço apenas o suficiente para que não
acabe de bunda no chão e antes de muito tempo estou andando por
um jardim desconhecido na direção de um bangalô que parece
gasto.
Vou até a janela mais próxima e encontro exatamente o que
esperava, Brit dormindo na cama. Olhando para esquerda, vejo uma
porta que presumo levar direto para o quarto dela.
Envolvendo a maçaneta com os dedos, a empurro devagar, meu
coração bate forte enquanto espero para descobrir se vai abrir. Um
clique suave enche o ar ao meu redor e meu estômago embrulha
com ansiedade.
Entrando no quarto escuro, sou tão silencioso quanto possível ao
ir até sua cama, o quarto só está iluminado pela luz da lua passando
por suas cortinas abertas.
Agachando ao lado dela, sorvo seu lindo rosto adormecido, seus
cílios longos e claros descansam sobre as maçãs de seu rosto, as
bochechas são um rosa claro, quase como se ela soubesse que
estou aqui, e seus lábios carnudos estão entreabertos ao exalarem
sua respiração.
Meus olhos passam por todas as feições, meu pau endurecendo
cada vez mais com cada segundo que passa. Sem conseguir parar,
estico minha mão e coloco uma mecha de cabelo que caiu na sua
bochecha atrás da orelha.
O gemido que ela solta quando nossa pele se toca faz minhas
bolas doerem e minhas veias se encherem de fogo. Seria tão fácil
tomar o que preciso com ela assim. Podia ser um babaca, mas esse
não é mesmo meu estilo, por mais que eu queria sentir seu corpo
pressionado contra o meu no momento.
Roçando o dedo por sua bochecha e lábios, ela se move e
geme, e entro em pânico, isso é, até ouvir algo que faz meu corpo
congelar no lugar.
— Jake. — Sua voz é um sussurro sem fôlego, igual quando
tinha meus dedos dentro dela, e quase gozo no lugar. Caralho, ela
está sonhando comigo?
Mas por quê? Não fui nada além de um babaca com ela desde o
primeiro dia que coloquei os olhos nela. É ruim o bastante que
ocupo seus pensamentos durante o dia, mas a noite também? Isso
é fodido. Assim como ela nunca deveria ter permitido que eu a
provasse a outra noite. Apenas uma prova transformou minha
obsessão leve em algo que agora estou tendo problemas para
controlar, logo o motivo de estar parado dentro do seu quarto como
um pervertido enquanto ela dorme.
Ela se mexe outra vez e estica a mão. A ponta dos seus dedos
leves desce pelo meu peito coberto pela camiseta e meu corpo
inteiro estremece com o contato. Fico imóvel, esperando que ela
acorde e surte a qualquer momento, mas isso não acontece. Ao
invés disso, ela solta o braço e retorna a um sono profundo.
Sabendo que preciso dar o fora antes que seja descoberto,
levanto e vou na direção da porta. Vejo um bloco de papel e caneta
na sua mesa, paro no último minuto e deixo um bilhete.
CHAPTER VINTE E OITO

Amalie

A cordando na manhã seguinte, meu corpo todo está queimando


e coberto por uma fina camada de suor. Meus mamilos roçam
contra o tecido da minha regata e meu núcleo dói. As imagens
remanescentes do meu sonho voltam para mim e meu rosto se
esquenta com vergonha quando a imagem de Jake invadindo meu
quarto, e tomando exatamente o que deseja, me assola. É tão
vívido, tanto que se não soubesse que acabei de acordar, estaria
me perguntando se aconteceu de verdade.
Preciso fazer alguma coisa para tirar ele da minha cabeça. Eu
me diverti muito com Shane ontem a noite, por que não pode ser ele
estrelando nos meus sonhos safados? Por que tem que ser o
babaca da escola que está decidido em arruinar minha vida?
Depois de deixarmos a lanchonete e os olhos raivosos de Jake
para trás, Shane nos levou para passear pela cidade antes de
acabarmos de volta na casa da minha avó. Sabendo que ela havia
saído, eu o convidei para entrar e nos sentamos no jardim com um
pouco da sua limonada caseira e conversamos sobre a escola,
nossos amigos e outros assuntos sem importância. Em nenhum
momento ele tentou falar da minha vida anterior ou meus pais, ou
até mesmo Jake, e eu fiquei mais do que agradecida por não
precisar pensar em assuntos tão tristes ou dolorosos por algumas
horas.
Se ele pensou que convidá-lo para entrar era código para algo
mais acontecer entre nós, então não deixou transparecer e também
não ficou decepcionado quando a noite terminou com apenas um
abraço entre amigos. Mesmo assim, fui para cama com o coração
pesado sabendo que ele sentia mais por mim do que eu por ele,
mas não podia evitar, não posso me forçar a me apaixonar por ele.
Peguei no sono como fiz todas as noites dessa semana, com
memórias do meu tempo nas árvores com Jake rodando pela minha
cabeça. Aquelas memórias são as culpadas pelas ações realistas
da minha mente poluída durante meu sono e apenas outro motivo
pelo qual preciso bloquear tudo isso da minha memória. Nada bom
pode resultar de obcecar sobre isso. Não é como se eu fosse
permitir que isso acontecesse outra vez, mesmo que a oportunidade
surgisse.
Colocando os pés no chão, me levanto e vou na direção da porta
que leva até o jardim para abri-la e deixar o ar frio da manhã encher
o quarto. Amo o cheiro do final do verão se misturando com a leve
brisa do mar.
Uma lufada de ar me cerca, fazendo arrepios eriçarem minha
pele quando algo flutuando para o chão atrás de mim chama minha
atenção.
Eu me abaixo, estico braço para pegar o papel que flutuou para
o chão, mas no segundo que coloco os olhos nele, meu corpo inteiro
congela.

Tranque a porra da sua porta.

Olhando em volta, procuro por pistas que alguém esteve aqui, mas
nada parece fora do lugar. Então sou lembrada outra vez do meu
sonho. Do seu toque gentil, do calor da sua pele.
— Porra. — Colocando a mão na minha bochecha onde me
lembro dos seus dedos passando, cambaleio para trás até cair na
cama. Foi tudo um sonho?

Camila me interroga sobre meu “encontro” o caminho inteiro até a


escola, ainda bem que ela me distrai do meu visitante noturno em
potencial, mas no segundo que chegamos e saio do seu carro, ele é
tudo o que posso pensar. Olho em volta e pela primeira vez desde
que comecei a estudar aqui, procuro ativamente por ele, esperando
encontrar qualquer tipo de evidência a respeito da verdade sobre a
noite anterior. Mas infelizmente, além do seu bando de amigos
idiotas, não vejo sinal dele.
Afastando pensamentos dele me evitar para o fundo da minha
cabeça, vou para minha primeira aula. Ele é Jacob Thorn, rei da
Rosewood High, por que ele sentiria a necessidade de me evitar?
Até onde eu sei, ele entrou no meu quarto ontem a noite e tem mais
evidências condenatórias minhas gravadas que está no processo de
usar para me envergonhar.
Meu coração acelera com o pensamento. Se for esse o caso, ele
poderia ter feito qualquer coisa. Meu estômago embrulha e meu
café da manhã ameaça reaparecer.
Sou a primeira na minha aula de arte, cambaleio até minha mesa
e me atrapalho para puxar a cadeira ao tentar me convencer que
estou permitindo minha imaginação levar a melhor de mim. Sei que
ele é um babaca, mas ele não levaria as coisas longe assim,
levaria? Tento não focar em qual poderia ser a resposta dessa
pergunta.
— Ei, como você está?
— O quê? Por quê? O que aconteceu? — Quase grito com
Poppy quando ela senta ao meu lado.
— Hm… — A hesitação dela faz meu coração acelerar e a
cabeça rodar. Seus olhos semicerram e sua cabeça inclina para o
lado em confusão. — Nada, eu acho. Só quis dizer que depois do
começo da semana, e mais, ouvi um rumor que você teve um
encontro ontem a noite.
Soltando um enorme suspiro de alívio que nada mais aconteceu,
ainda, abaixo a cabeça nas mãos.
— Não era um encontro. Só dois amigos jantando juntos.
— Ele sabe disso? Até eu vi o jeito que ele olha para você.
— Sim, ele estava bem ciente e nada inconveniente aconteceu.
Não que seu maldito primo teria permitido.
— Jake estava lá?
— Sim, sempre em todos os lugares para onde me viro, me
deixando maluca. — Minhas bochechas esquentam conforme as
memórias da noite anterior me atingem outra vez, mas por sorte
Poppy ou não percebe ou só ignora.
— Ele precisa se controlar. Está agindo como um cara maluco.
— Você está me dizendo. Terminou sua parte da apresentação?
— pergunto, mudando de assunto.
— Sim, terminado. Ainda vamos nos encontrar no almoço para
repassar?
— Sim. Biblioteca?
— Se quiser.
Por algum milagre, consigo manter a cabeça baixa e evitar
quase todo mundo o dia inteiro. Passo meu horário vago na
biblioteca, e todo o intervalo de almoço, com Poppy repassando
nossa apresentação do final da tarde.
Não escuto nenhuma fofoca que alguma outra coisa aconteceu e
não tem evidência de nenhuma gravação nova minha, então até a
hora de sair da escola depois da última aula para encontrar Camila,
estou começando a relaxar um pouco.
— Ah, ela vive — ela ri. — Pensei que fosse ter que entrar e te
arrastar da maldita biblioteca.
— Tinha muito trabalho para fazer.
— Então você não estava evitando Shane depois de ontem a
noite?
— Não. Por que evitaria?
Ela dá de ombros, mas não é o bastante para esquecer seu
comentário.
— O que aconteceu, Cam?
— Nada, nada. Ele só parecia ainda mais interessado essa
manhã. Não conseguia parar de falar de você.
— Não tem motivos para isso, tivemos uma noite legal, como te
contei esta manhã. Não aconteceu nada, e não dei ideia que
poderia acontecer.
— Bom, até onde pude dizer, ele com certeza ficou com essa
ideia.
— Puta que pariu. Talvez não devesse ir esta noite.
— Sem chance. É o aniversário dele, você tem que ir.
— Não, realmente não preciso. Não preciso mesmo passar a
noite com o time de futebol e as líderes de torcida, e sobretudo não
preciso passar a noite tomando cuidado com tudo o que digo ou
faço para não o incentivar.
— Vai ficar tudo bem. Parece que Jake não vai, então é uma
coisa a menos que você precisa se preocupar.
Fodeu. Minha. Vida. Como as coisas ficaram tão complicadas?
— Vem, vamos dar o fora daqui. Temos um jogo e uma festa
para nos prepararmos.

— Então você está me dizendo que precisamos usar as cores da


escola hoje a noite? — pergunto para Camila quando ela pega
vários itens de roupa que são todos vermelhos e brancos.
— Sim, tradição.
— Fantástico — murmuro, abrindo o guarda-roupa e analisando
minhas opções.
Sou empurrada para o lado quando Camila assume minhas
escolhas de roupas.
— Hmm… que tal… isso — diz, pegando uma saia branca curta
de um cabide. — E… hm… isso. — Um top minúsculo balança do
seu dedo. Os dois itens são peças que não pensaria duas vezes em
usar quando estava em Londres, mas aqui as coisas são diferentes.
Sei que estarei sob escrutínio da maioria dos estudantes da
Rosewood High hoje a noite e é algo que prefiro evitar o máximo
possível.
— Ou isso? — Pego uma calça jeans skinny branca e uma
camiseta vermelha.
— Não, muito chato. Permiti que você vestisse o que quisesse
para a Corrida, e você se destacou como se tivesse colocado uma
melancia no pescoço. Confie em mim, vai ficar gostosa.
Evito explicar que quero parecer o oposto de gostosa para não
chamar atenção, mas sei que não tem sentido, Camila não entende.
Pegando as roupas que ela ainda está segurando para mim, eu
me viro e vou para o banheiro me trocar.
Minhas pernas parecem enormes nessa saia, até para meus
próprios olhos, com certeza não vai me ajudar a me misturar e o top,
apesar de sensual, é ainda menor do que me lembro.
Com uma bufada, abro a porta do banheiro e vou pisando firme
na direção da Camila.
— Podemos encontrar um meio termo? A saia e uma camiseta
ou o top e jeans? — pergunto, exasperada.
— Uau, você não está falando sério? — Os olhos dela quase
saem da cabeça quando se vira e os percorre pelo meu corpo. —
Não gosto de garotas, mas totalmente te pegaria.
— É esse o problema, Cam. Não quero que ninguém olhe para
mim e queira “me pegar”. Só quero me esconder. — Minha
frustração sobre isso está começando a levar a melhor.
— Até mesmo Jake? — Seus olhos sérios encontram os meus e
meu estômago se revira. Ela pode ler minha mente?
— Não, sobretudo ele.
— Sério? Não pense que não vi a mudança com vocês dois. O
ar entre vocês estala mesmo do outro lado da escola.
— Não sei do que você está falando. De qualquer forma, você
disse que ele não vai esta noite.
— Foi o que ouvi.
Semicerrando os olhos para ela, tenho a sensação repentina que
ela pode estar esticando um pouco a verdade.
— É o que ouvi — repete, erguendo as mãos em derrota. — Não
mate a mensageira.

Quando entramos no estádio preparado para o jogo algumas horas


mais tarde, é com tinta vermelha e branca pintada pelas nossas
bochechas e bandeiras de Rosewood nas mãos. Eu me senti
ridícula no carro da Camila, mas ao nos juntarmos ao resto da
escola, percebo que não somos só nós duas com essa aparência e
me sinto um pouco melhor.
Ela acabou cedendo e consegui me safar com usar a saia
branca e uma camiseta vermelha simples. Eu me sinto um pouco
mais confortável, mas também não deixei de notar alguns olhares
na nossa direção enquanto vínhamos do carro.
O jogo é muito parecido com a semana passada. A animação é
enorme, a torcida tão alta que faz as arquibancadas sob meus pés
vibrarem e a euforia quando marcamos primeiro é inacreditável.
Ainda não entendo nada do jogo, então enquanto todo mundo
faz oohs e ahh ao meu redor, faço meu melhor para me juntar a eles
e aprender o que os deixou tão animados ou decepcionados.
Conforme nos aproximamos do final dos sessenta minutos,
estamos vencendo, por pouco. É aí que as coisas começam a sair
do controle. A multidão fica em silêncio quando a bola voa no ar na
direção do final do campo do outro time. O som do nome do Shane
sendo gritado enche meus ouvidos quando ele começa a correr na
direção dela para defender a posição vencedora, mas assim que ele
a pega, se atrapalha. A bola cai no chão um pouco antes de um dos
jogadores do outro time a pegar e marcar um ponto.
Os ombros de Shane desanimam com derrota e alguns dos seus
companheiros de time batem em suas costas em apoio enquanto o
outro time comemora. Tudo parece bem até o quarterback de
Rosewood atravessar, tempestuoso, o campo na direção de Shane.
O estádio fica em silêncio, a intenção do Jake é óbvia pela sua
linguagem corporal. No segundo que ele para na frente de Shane,
suas mãos aparecem e ele o empurra com força no peito. O resto
do time de Rosewood se vira para encontrar o capitão descontando
as frustrações em Shane. Demora alguns segundos para eles
reagirem e quando o fazem, precisam de dois caras para afastar
Jake.
Acontece muito rápido, mas num segundo ele está brigando com
Shane, no outro está sendo expulso e está desaparecendo de vista,
presumo que na direção do vestiário.
— Bom, isso foi dramático — Camila comenta ao meu lado
enquanto os times se preparam para continuar os minutos finais.
Rosewood agora está perdendo e a tensão está muito alta para que
virem. — Não pareça tão preocupada, vão conseguir — ela diz
quando olha para mim.
— Ah, não estou preocupada.
— Pode querer se dizer isso. Você parece tensa como uma
virgem em uma orgia.
— O quê?! — reclamo, arrastando os olhos de onde Jake
desapareceu para olhar para ela.
— Ahhh — cantarola como se tivesse acabado de descobrir
alguma coisa. — Você quer ir atrás dele, não é?
— Ahn? — Tento parecer confusa, mas sei bem o que ela quer
dizer e estou tendo dificuldades para evitar fazer exatamente o que
ela acabou de sugerir. É loucura, eu sei, mas alguma coisa está me
dizendo para segui-lo. Para descobrir qual é seu problema e se ele
está bem.
— Não se finja de inocente. Você sabe tão bem quanto eu que o
problema dele com Shane é você. Você mesma disse que ele foi um
babaca no Aces ontem a noite durante seu encontro…
— Não foi um encontro.
— Ugh, que seja. Ele te quer, e Shane está no caminho.
— Não tem nada acontecendo com Shane. — Minha voz está
exasperada. Quantas vezes preciso repetir isso?
— Eu sei disso. Você sabe disso. Mas Jake sabe?
— Por que ele se importaria? Ele me odeia.
— Será?
De repente um rugido surge à nossa volta, a cabeça de Camila
se vira na direção do campo e a imito para encontrar o time
comemorando um touchdown no último minuto o que dá a vitória a
Rosewood segundos antes do apito final.
Meu peito se enche de orgulho ao observar os caras no campo
comemorando, mas algo incomoda meu peito quando vejo Mason
tirar o capacete e procurar seu melhor amigo ausente. Ele logo é
distraído quando Ethan o puxa para um abraço de comemoração.
Não tenho ideia se Camila está certa e tudo aquilo era basicamente
minha culpa, mas me sinto péssima mesmo assim. Não quero ficar
entre ninguém, ainda mais se for afetar tantas pessoas como uma
derrota aqui esta noite faria.
— Vamos dar o fora daqui. Hora de festejar! — Camila cantarola,
pega minha mão e me puxa das arquibancadas junto com todas as
pessoas que estão se apressando para saírem daqui e começarem
a comemorar de verdade.
Ao sairmos do estádio, não posso evitar olhar de volta para onde
estão os vestiários. Me pergunto se ele ainda está lá dentro.
CHAPTER VINTE E NOVE

Jake

M eu corpo inteiro está tenso com frustração. Passei a maior


parte do dia com aquele cuzão em todas as minhas aulas e
depois no campo esta noite. Todas as vezes que olho para
ele, tudo o que posso ver em seus olhos é tenho uma coisa que
você quer. A imagem dele rindo com Brit a noite passada no Aces
está marcada no fundo da minha mente. Pelo menos sei que ela
não passou a noite com ele.
Meu pau lateja outra vez apesar da tensão tomando conta do
meu corpo conforme a imagem dela dormindo tranquilamente vem à
tona. Eu me arrependi de me afastar desde o segundo que fechei
sua porta em silêncio atrás de mim. Se eu a tivesse acordado, o que
teria feito? Ela teria me feito ir embora ou a teria provado mais uma
vez? O jeito que ela gemeu meu nome com certeza indicava o fato
que poderia ter me permitido tomar o que precisava.
Conforme saio tempestuoso da escola ao som do corpo
estudantil inteiro gritando e berrando com o que espero ser nossa
vitória, meus músculos doem. Estou ferrando tudo, e por mais que
queria culpá-la por tudo, sei que é tudo culpa minha.
Se tivesse ignorado minha sede avassaladora de vingança por
outra mulher na primeira vez que a vi, então nada disso teria
acontecido. Se eu não fosse tão perturbado por causa daquela
previamente mencionada mulher, então poderia ser capaz de lidar
com toda a merda da minha vida. Mas não, uma olhada para um
garota que representa a mesma coisa que ela, e perco todo o
maldito sentido do que estou fazendo. Uma coisa é certa, não
deveria querê-la. Queria machucá-la, não queria fazê-la minha.
— Argh — grito minha frustração para a noite.
Deveria ter ficado para o retorno do time ao vestiário e para
minha bronca do técnico por perder a cabeça contra um dos nossos,
mas não podia ficar para olhar nos olhos dele de novo. O cuzão tem
algo que pertence a mim e não vou ficar parado e ver isso
acontecer.
Quando as luzes de uma loja aparecem na distância, decido
tentar a sorte.
Aceno para o caixa ao entrar e solto um suspiro de alívio que é
um cara jovem que parece que poderia entender minha necessidade
de escapar esta noite.
Pego uma garrafa de vodca, alguns sacos de batatinhas e
alguns pratos pré-prontos de macarrão para enfiar na geladeira
quando chegar em casa hoje a noite e levo tudo para o caixa,
rezando para que ele só passe e me deixe ir embora.
O cara passa a comida, claramente deixando a garrafa para o
final e meu estômago embrulha. Agora que estou a um toque de
distância, preciso mais do que nunca. O alívio da minha realidade
fodida está bem ali, e ele dá as cartas. Se ele pedir minha
identidade, estou fodido. Tenho uma falsa em casa para essas
situações, mas não pensei que fosse precisar esta noite.
— Noite ruim? — o cara pergunta, os dedos envolvendo o
pescoço da garrafa.
— Como você não acreditaria.
— Tenho problemas com uma garota, sei como pode ser, cara.
— Sua suposição que meu problema pode ser por causa de uma
garota me irrita, mas infelizmente ele acertou na mosca.
— É uma merda, né?
Meu humor melhora só um pouco quando o pequeno bipe do
caixa ecoa nos meus ouvidos e vejo o cara colocar a garrafa na
sacola com o resto das minhas compras.
— Boa sorte com sua garota — ele diz depois que paguei e
comecei a andar na direção da porta.
— Pra você também, cara.
As coisas melhoram um pouco quando vou na direção da praia
com as compras sob o braço. Estou prestes a esquecer de tudo e
não poderia ser mais bem-vindo.
Garanto que estou escondido dos transeuntes e sento entre
algumas dunas. Tiro a garrafa da sacola e abro.
Faço uma careta quando o primeiro gole queima minha
garganta, mas tirando alguém me dar um murro no rosto por ser um
maldito desperdício de espaço, é o tipo exato de dor que preciso.
Dou mais goles até os eventos da noite ficarem um pouco turvos.
Estou envergonhado das minhas ações. Deveria ser o capitão do
time, caralho. Deveria defender todos os nossos caras e estar
plenamente focado no jogo, mas vacilei e tudo porque minha cabeça
está cheia dela. Pensei que machucá-la a tiraria da minha cabeça,
bloquearia as memórias que ela trouxe à tona, mas estava errado
para caralho. Ela podia ter abafado as memórias, mas com certeza
ainda estava na minha maldita cabeça.
Não faço ideia de quanto tempo sento nas dunas, dando gole
atrás de gole na vodca enquanto como o primeiro saco de batatas
que peguei, mas por fim o toque do meu celular se torna impossível
de ignorar.
Tirando do meu bolso, olho para cima pela primeira vez e vejo
que o sol se pôs há muito tempo e a lua está refletindo no mar negro
ao horizonte.
Tem uma corrente de chamadas perdidas e mensagens de uma
variedade de pessoas, não estou surpreso depois de desaparecer,
mas é o nome do Ethan que ilumina a tela outra vez.
— O quê? — vocifero, o fato que sequer me incomodei de
atender me irrita.
— Vai vir comemorar nossa vitória?
— Não. Ninguém vai me querer lá, quase ferrei tudo.
— Chega de mimimi, Thorn, ninguém da mínima. No final,
ganhamos, é tudo o que importa.
— Estou bem, obrigado — falo, olhando para minha festa para
um me cercando.
— Ah, vamos, tem bebida e boceta pra caramba. Você sabe que
as festas do Shane são a melhor parte de manter ele por perto. E
mais, Amalie está aqui e está gostosa demais.
A última afirmação me deixa um pouco mais interessado e
acende um fogo na minha barriga.
— Deveria me importar? — Espero que as palavras saiam
desinteressadas, mas não tenho ideia se consigo. A vodca está
começando a fazer minha cabeça rodar a ponto de perder o foco.
— Deveria sim, ela está dançando com Shane, e o jeito que ele
está olhando para ela, cara. É como se ele quisesse…
— Chega. Isso basta. — Desligo com o som dele rindo pela
linha. O filho da puta sabia como me fazer ir lá. Se estivesse sóbrio,
poderia me importar com ter sido manipulado, mas neste momento
tudo o que me importo é garantir que o corpo dela não está se
esfregando no de Shane.
Eu me levanto, pego minhas coisas e começo a andar pela praia.
As festas de Shane são bem lendárias, apesar de não ser por
sua causa. Ele tem irmãos mais velhos gêmeos que foram para
faculdade há dois anos e são festeiros e dois pais que sempre
parecem estar em outro estado. Ah, e mais ricos do que eu posso
sonhar. A casa deles é enorme, e termina na praia. O pai é uma das
maiores estrelas da NFL que esse país já viu, e os garotos Dunn
mais velhos vivem pelo status de celebridade que ganharam de
bandeja. Os dois foram para uma universidade Ivy League com
bolsas totais de esporte, não que precisassem. Existem rumores
que todos os times das melhores faculdades estavam implorando
por eles, também queriam uma fatia da fama, compreensível. Isso
me irritava mais do que algum dia admitiria, o fato que eles
ganhavam um diploma de graça só por causa do pai enquanto estou
aqui sem nada e sem chance de uma educação universitária. É,
todo mundo sabe o nome da minha mãe, mas a reputação dela não
vai me levar a lugar nenhum neste mundo.
Andando pela rua cheia de casas enormes e pretensiosas, meu
estômago embrulha com o caminho que minha vida poderia ter
tomado. Outro gole da garrafa que estou carregando logo ajuda a
afogar os pensamentos. Carros enchem a rua na frente da casa dos
Dunn e quanto mais perto chego, mais alta fica a música. Os
vizinhos devem odiar para caralho essas festas.
Ao contornar a casa, tem adolescentes por todos os lados,
muitos reconheço da escola, alguns devem ser universitários, e isso
se confirma quando vejo os gêmeos Dunn jogando pingue-pongue
de cerveja do outro lado do jardim com garotas penduradas neles.
Luca acena para mim quando me vê, mas logo é distraído pela
garota que coloca a mão na sua bochecha e o vira para beijá-la.
Revirando os olhos para eles, vou para dentro para tentar
encontrar Ethan. Quando encontro, ele está com uma morena que
nunca vi antes pressionada contra a bancada da cozinha com a
língua em sua garganta.
— Ei — grito, mas ele está claramente distraído demais pela
garota. Ergo a mão e dou um pescotapa nele. — Oi, Savage.
Afastando-se da garota, ele vira para olhar para mim ao mesmo
tempo em que passa a mão no lugar que acabei de bater.
— Ei, babaca. Bom te ver.
— Vai se foder. Não é como se tivesse me dado muita escolha.
Onde ela está?
— Nem ideia. Espero que não tenha chegado tarde, ela estava
ficando bem louca.
Fogo queima nas minhas veias. Se Shane ou algum outro filho
da puta colocar as mãos nela enquanto ela está bêbada, vou matar
os fodidos.
Vou responder alguma coisa, mas quando viro para Ethan, vejo
que está distraído outra vez. — Arrumem um quarto.
Ele mostra o dedo para mim por cima do ombro antes de
pressionar ainda mais na garota.
Pegando uma cerveja do lado, vou tentar encontrar minha Brit.
Minha Brit.
Puta que pariu, a vodca está me afetando mais do que pensei.
Por que continuo a falar que ela é minha?
Alguns dos rapazes dão tapas nas minhas costas em
cumprimento ao passar, outros tentam me arrastar para uma
conversa sobre o jogo de hoje, mas não estou interessado, não até
encontrá-la.
Vejo Camila com seu namorado maricas primeiro. Seguro ela
pelo braço e a afasto dos lábios dele, para seu desprazer.
— Onde ela está?
— Que porra é essa? — Ela olha entre mim e onde ainda a
estou tocando com nojo enchendo seus olhos. Não tem nenhum
amor perdido entre nós desde que toda a merda aconteceu entre ela
e Mason há alguns anos. Sei a quem devo minha lealdade, e ela
também, ao que parece.
— Onde. Está. Ela?
— Vai se foder, Jake. Você deve estar louco para caralho se
pensa que vou entregar ela de bandeja para você. Já fez estragos o
bastante. — Noah, o namorado cachorrinho dela, passa o braço por
sua cintura, a puxando contra ele, claramente não é homem o
suficiente para entrar na frente dela e lidar comigo.
— Apenas me diga para que eu não precise perder tempo
procurando por este lugar — peço, já de saco cheio dessa conversa.
— Sem chance. — Para minha sorte, ao dizer isso seus olhos
passam por cima do meu ombro. Seguindo seu olhar, encontro
exatamente quem eu queria, ou não, já que as mão de Shane estão
no corpo dela. — Merda.
Voltando para Camila, ela engole em seco, nervosa.
— Se você a machucar eu…
— O quê? Que porra você vai fazer?
Ela empalidece visivelmente, mesmo assim, o namorado não faz
merda nenhuma.
— Não tenho tempo pra essa merda.
Até me virar, Brit e Shane desapareceram.
— Porra.
Olhando em volta, encontro uma porta para a cozinha, mas tem
tantos corpos no caminho que duvido que passaram rápido assim
ou na minha frente tem escadas. Meu coração bate forte quando
imagens que não preciso enchem minha cabeça.
CHAPTER TRINTA

Jake

S em perder tempo, subo correndo, minhas pernas meio bambas


pulam dois degraus de uma vez com facilidade até meus pés
chegarem no primeiro andar. Atravessando o longo corredor,
abro porta atrás de porta, revelando uma mistura de quartos vazios
e ocupados com casais em vários estados de vestimenta. Não perco
tempo de dizer nada até chegar no último quarto neste andar e abrir
a porta.
— Tire suas malditas mãos dela.
Shane para, as mãos segurando Brit pela cintura como se
estivesse prestes a passá-las pela sua barriga na direção dos…
Merda.
Meus punhos se fecham dos meus lado enquanto espero que ela
diga alguma coisa sobre minha interrupção, mas em nenhum
momento ela ergue a cabeça do ombro de Shane.
Semicerrando os olhos para expressão em pânico dele, dou um
passo a frente, tentando descobrir o que está acontecendo.
— O que diabos você está fazendo?
— N-nada. Ela está chapada, só ia deitá-la para dormir até
passar.
— Para seu bem, espero mesmo que isso seja verdade. —
Minha voz está baixa e ameaçadora. Os músculos no pescoço dele
pulsam quando ele engole o nervosismo.
Não é até um gemido suave sair do corpo mole nos seus braços
que me lembro que porra estou fazendo no momento.
Passando o braço entre eles, tiro ela rapidinho dele.
— O que diabos. Só a coloque na minha cama. Ela precisa
dormir.
— Não vou deixar ela ficar nem um quilômetro perto de você.
O rosto de Shane fica vermelho de raiva, uma veia pulsando na
sua testa.
— Não é decisão sua para tomar. Ela odeia você para caralho.
— Ela vai odiar você se eu a deixar aqui para você fazer o que
seja que estava prestes a fazer.
— Não estava… — As mãos dele voam, exasperado. — Só
estava tirando ela da festa. Eu não a machucaria.
— Não acredito em você — vocifero, erguendo o corpo dela nos
meus braços. Na hora ela passa os braços pelos meus ombros e
aconchega o rosto no meu pescoço. Meu peito infla, mas sei que
não é a hora de focar nisso. Preciso tirar ela daqui.
— Você não pode simplesmente sair com ela. Como sei que
você não vai machucá-la?
— Porque não machucaria um maldito cabelo na sua cabeça.
— Diz o cara que mandou uma foto pela escola a fazendo
parecer uma puta.
— Você terminou de colocar o nariz onde não é chamado?
— Nem de longe, porra, ainda mais quando você está com a
garota que eu quero nos braços.
— Ela não é sua, Dunn. Nunca foi, e nunca será.
— E você acha mesmo que ela é sua? — ele grita, mas é tarde
demais, já estou indo embora com minha garota nos braços.
— Sim, sim, acho — sussurro para ninguém.
Cabeças se viram no segundo que meus pés tocam o chão,
alguns queixos caem, e olhos se arregalam ao verem nós dois.
— Ele tem que estar de sacanagem comigo. — Escuto Camila
bufar, mas não fico por perto tempo o bastante para ouvir o que
mais ela tem para dizer.
O mar de gente se abre e vou na direção da cozinha e por sorte,
no final dela encontro Mason com um copo de água.
— Preciso de uma carona.
— O que diabos você está fazendo, Thorn?
— Tirando ela do alcance das mãos bobas dele. — As
sobrancelhas dele se juntam, mas ele não discute. No lugar, ele
solta o copo e abre o caminho na saída da casa de Shane.
— Espera, espera — Camila grita depois de lutar para atravessar
a multidão que claramente não se moveu para ela. — O que diabos
está acontecendo? O que há de errado com ela?
— Bêbada? Drogada? Só Deus sabe. Tudo o que sei foi que a
encontrei no quarto dele com suas mãos nela. Não. Vai. Acontecer.
Porra. Nenhuma.
Camila fica branca, presumo que seja pela minha superproteção,
mas, de verdade, não dou a mínima.
— Merda, ela está bem?
— Vai ficar.
Camila olha entre nós três, confusão estampada em seu rosto.
Posso ver que ela quer cuidar da amiga, mas também compreende
que não tem a mínima chance no momento.
— Posso confiar em você com ela? — Compreendo sua
preocupação, inferno, se os papéis fossem invertidos, faria de tudo
para impedir que isso acontecesse no momento, mas Camila não é
eu, e não costumo recuar.
— Pode. Não vou machucá-la.
— Não tenho certeza se isso é verdade — ela sussurra.
— Não vou tocar nela, tem minha palavra.
— Não era com o corpo dela que estava preocupada.
Minha boca se abre para responder, mas nenhuma palavra
passa pelos meus lábios.
— Nós vamos ou não. Não era minha intenção passar a noite
aqui fora com ela. — Os olhos de Mason vão para Camila, e como
sempre, posso ver seus sentimentos por ela em conflito. Ele quer
odiá-la, compreendo isso mais do que a maioria, mas não pode se
forçar a isso.
— Sim, abra a porta de trás.
Preciso de um pouco de jeito, mas no fim consigo entrar com a
Brit no banco de trás do carro do Mason. E a deito com a cabeça no
meu colo.
Olhando seu rosto adormecido, passo os dedos pelo seu cabelo,
observando os vários tons de loiro sob meus dedos.
— Espero que saiba o que está fazendo — Mason diz do banco
da frente.
— Nem ideia, mano. A única coisa que sei com certeza é que
não a podia deixar lá. O jeito que ele a estava tocando. — Meus
músculos ficam tensos quando me lembro.
— Tem certeza que não está vendo o que queria ver? Shane não
é assim. Ele não machucaria uma mosca.
— Mesmo que estivesse, ainda não estou feliz com ela estar no
quarto dele.
— Caralho, Jake. Você está mesmo caidinho, hein?
— O quê?
Tudo o que ele faz é rir, me dizendo que sabe tão bem quanto eu
como me sinto por essa garota. Ele sabia antes que eu soubesse,
logo por isso que estava enfrentando minha babaquice.
— Você sabe que ela tem todo o direito de nunca te perdoar pelo
que fez, certo?
— Sim, estou ciente.

Silêncio enche o carro, os únicos sons que podem ser ouvidos são
nossas respiração enquanto Mason dirige para longe da orla e na
direção do centro.
— Onde diabos você está indo? — vocifero quando ele pega
uma rua errada.
— Levando ela para casa.
— De jeito nenhum. Vamos para minha casa.
— Espera que eu a deixe com você depois de tudo?
— Hm, sim. Você acabou de fazer uma observação a respeito de
como me sinto por ela. Não vou tocá-la. — Os olhos dele ficam
firmes nos meus pelo espelho, mas depois de alguns segundos ele
é forçado a olhar para a rua. — Não podemos levá-la para casa, a
vó vai estar dormindo, e vai querer saber o que tem de errado com
ela.
Soltando uma respiração profunda, Mason segura o volante com
tanta força que os dedos ficam brancos.
— Não estou nada feliz com isso.
— Não preciso que fique. Só preciso que nos leve para minha
casa, e que confie em mim.
— Tudo bem. Mas se você estragar tudo, vou arrancar seus
dentes.
— Quero ver você tentar.
Mason dá risada, mas a tensão nos seus ombros permanece ao
virar o carro e ir na direção do meu trailer. Na verdade, é o último
lugar que quero levar Brit, ela é melhor do que meu maldito trailer
úmido, mas não tenho muito mais para oferecer.
Ele para o carro na frente da casa dos meus tios, mas não
desliga o motor ao sair e me ajudar a tirar uma Brit desmaiada do
banco de trás.
— Você dá conta daqui? — Hesitação sobre permitir que isso
aconteça enche sua voz. Parte de mim odeia que ele está
questionando meus motivos, mas uma parte maior está feliz que se
importa com ela e sente a necessidade de ficar preocupado.
— Sim, estamos bem.
— Não faça eu me arrepender disso.
— Obrigado pela carona, cara. Aprecio muito, depois de tudo.
Com um aceno rápido da cabeça, ele volta para o carro e vai
embora. Não tenho nenhuma ilusão de que as coisas entre nós não
vão voltar ao que eram antes da garota nos meus braços aparecer e
fazer uma confusão na minha vida, mas pelo menos fizemos um
progresso.
Dou cada passo na direção do meu trailer com cuidado, apesar
da maioria dos efeitos da vodca terem desaparecido no momento
em que a vi nos braços dele, não estou nem um pouco sóbrio.
Até tirar a chave do bolso e entrar com ela, meu peito arfa com
exaustão. Talvez devesse ter pedido ajuda para Mason, pondero
quando a respiração passa rápida pelos meus lábios.
Indo direto para o quarto, a abaixo com cuidado. Minha
respiração entrecorta com a visão do seu cabelo loiro espalhado no
meu travesseiro escuro e seu corpo longo e esbelto deitado pela
minha cama. Nenhuma garota esteve na minha cama antes.
Caralho, além de Poppy, nenhuma garota entrou no meu trailer. Não
iria querer que nenhuma das garotas da escola vissem essa merda.
De alguma forma, já sei que Brit não vai julgar. Inferno, é provável
que esteja com muita ressaca, muita raiva, para sequer notar.
Ficando de joelhos, tiro seu tênis com cuidado e o coloco no
chão. Meus olhos passam pelas linhas suaves e tonificadas de suas
pernas e minhas bolas doem para sentir a suavidade de sua pele.
Mas não vou. Não vou tocá-la sem permissão.
Pego uma cueca boxer limpa e saio para tomar um banho. Não
fiquei por tempo o suficiente para tomar um depois de ser expulso
do jogo e estou fedendo. Na verdade, estou surpreso que o cheiro
não a acordou do seu sono embriagado.
Tomo o banho mais rápido possível, ignorando totalmente meu
pau que está pulando felizinho entre minhas pernas, esperando que
ela acorde e dê um pouco de atenção a ele, estou impaciente
demais para estar com ela. Sabendo o quanto preciso estar deitado
ao lado dela na minha cama me perturba para caramba, mas tento
não pensar nisso. Digo a mim mesmo que só estou preocupado que
ela vai acordar sem saber onde está ou que vai vomitar e se
engasgar no próprio vômito. O pensamento disso acontecer na
minha cama me faz estremecer, mas lidaria com isso por ela se
precisasse.
CHAPTER TRINTA E UM

Amalie

M inha cabeça está girando antes mesmo de abrir os olhos.


Preciso de alguns segundos para perceber que a última coisa
que me lembro da festa é estar dançando com Shane e
depois sentir meus olhos ficarem pesados.
Sentando com tudo, abro os olhos e dou uma olhada nos meus
arredores desconhecidos.
Onde diabos estou?
Com certeza não é a casa gigantesca do Shane. Não achava
que ele era um riquinho, ou alguém com um jogador de futebol
famoso como pai, só prova que não pode julgar um livro pela capa.
Ainda estou tentando entender o que aconteceu quando um
movimento na cama me sobressalta.
— Como você está se sentindo? — A voz grave, sonolenta, mas
ainda familiar interrompe meu pânico. Olhando para baixo, meus
olhos quase esbugalham da minha cabeça.
Por que caralhos estou na cama dele?
— Não, não, não, não — cantarolo ao jogar as cobertas para
longe e me levantar da cama. — Isso não pode estar acontecendo.
Na minha pressa em me afastar, meu pé fica enrolado nos
lençóis e caio de cabeça no chão. Fica claro que ele está com a
cabeça bem mais limpa, porque logo antes do meu nariz fazer
contato com seu carpete gasto, duas mãos grandes seguram minha
cintura e sou puxada de volta para cima.
— Me solte — ralho, começando a lutar para escapar outra vez.
Quando ele o faz, não apenas me salvou, mas também me colocou
no seu colo.
Quando olho para a esquerda, centímetros e mais centímetros
da sua pele bronzeada me encontra e sinto um lampejo de algo
entre as pernas.
Não, não, isso não está acontecendo.
— Por que diabos estou na sua cama?
— Sabe — fala, colocando os dedos na minha bochecha e me
forçando a olhar em seus olhos azuis brilhantes. — Você
provavelmente deveria estar me agradecendo, e não gritando para
mim?
Seus dedos deslizam para minha nuca, permitindo que seu
polegar acaricie a borda da minha mandíbula.
— A-ah é? — Odeio que seu toque faz minha habilidade de
pensar e falar falhar. — E por quê?
— Fui seu cavaleiro de armadura brilhante, baby. — Um friozinho
rodopia na minha barriga, mas quase faz a sensação de enjoou que
estou tentando ignorar mais aparente. Deve estar estampado no
meu rosto, porque seus olhos suavizam um pouco antes de
implorar: — Por favor, não vomite em mim.
— Seria menos do que você merece. — Quando vou levantar,
ele deixa. Não sei se é porque ele não me queria ali para começar,
ou se está com medo que estou prestes a cobri-lo com o jantar da
noite passada. Cambaleio de volta para a parede e permito que me
ajude a ficar de pé enquanto minha cabeça roda e meu estômago
revira.
— Justo — murmura, sua atitude calma fazendo minhas
sobrancelhas se juntarem em confusão.
— Desculpa, mas estou sonhando ou estou mesmo no seu trailer
com você sendo legal comigo?
— Não se preocupe, estou tão chocado quanto você.
— Você diz isso, mas não foi você que acordou aqui sem
lembrar da viagem.
— Provavelmente é melhor assim.
— Sério? Por quê? O que você fez?
— Eu? — pergunta, sentando-se apoiado na cabeceira e
deixando as cobertas caírem em volta do seu colo.
Olhos para cima, Amalie. Olhos para cima.
— Sim, você. Conseguiu me colocar em algumas posições
comprometedoras para tirar novas fotos para espalhar? Posso estar
vestida agora, mas não duvidaria que você…
— Não tirei sua maldita roupa, Brit. Não fiz nada a não ser trazer
você para cá para garantir sua segurança. — A voz dele fica mais
grave e sei que atingi um ponto fraco.
— Bom, isso foi grandioso da sua parte, mas do quê,
exatamente, você estava me resgatando?
— Shane.
— O quê? Isso é loucura. Por que diabos você precisaria me
resgatar dele?
— Quanto você bebeu ontem a noite?
A mudança repentina de assunto me surpreende.
— Hm… duas cervejas e dois ou três shots.
— Então não o suficiente para perder o controle?
— Diria que não. Por quê?
— Porque quando te encontrei, você não conseguia nem abrir os
olhos e Shane estava prestes a… — Ele se impede de dizer mais,
mas não deixo escapar seus punhos apertando aos seus lados ou o
pulsar do músculo no seu pescoço.
— Ele estava o quê?
— Te tocando.
— Shane? Sério?
— Só posso dizer o que eu vi.
— Você é maluco, sabia disso?
— Talvez, mas não podia arriscar.
Eu preciso mesmo dar o fora daqui e ir para longe dele, mas não
posso evitar.
— Arriscar o quê?
— Saber que outra pessoa está com as mãos no que é meu.
— Seu? — Uma risada sem diversão escapa dos meus lábios.
Não tem nenhum toque de diversão no rosto de Jake quando ele
coloca as pernas para fora da cama, se levanta e vem na minha
direção. O jeito que seu olhar fica firme no meu me lembra de como
um leão pode perseguir sua presa.
Ele não para até estar cara a cara comigo. Luto para manter os
lábios fechados conforme minha respiração fica mais rápida,
sabendo que se meu hálito cheirar tão mal quanto o gosto, então
provavelmente vou fazê-lo brochar em um instante, não que isso
seria necessariamente uma coisa ruim.
As mãos dele pausam aos lados da minha cabeça, e seu hálito,
muito mais fresco, passa pelo meu rosto enquanto ele continua a
olhar.
Quando fala, é tão grave e baixo que começo a pensar que
imaginei.
— Sim. Minha.
A cabeça dele se abaixa, os lábios se aproximando dos meus e
entro em pânico.
— Você é maluco, sabia disso? — pergunto depois de escapulir
sob seus braços e ir na direção da porta.
Os ombros dele relaxam quando percebe que nosso tempo
juntos acabou. Isso é, até ele colocar a máscara com a qual estou
acostumada. Suas feições endurecem e respiro fundo para me
preparar para o que virá em seguida.
— Você está certa. Não tenho a menor ideia do que estou
pensando. Deveria ter te deixado lá. Deixado que te passassem
entre eles como a putinha que é.
Na hora, lágrimas ardem no fundo da minha garganta e sobem
até os olhos.
— Eu te odeio — grito, minha voz quebrando com emoção antes
de correr pelo seu trailer para encontrar a porta.
O som do seu rugido de raiva e um barulho alto atrás de mim faz
meus passos desacelerarem um pouco, mas não são o suficiente
para me fazerem voltar atrás. Nem o fato que percebo no segundo
que piso na grama sob seu trailer que não estou usando nenhum
maldito sapato.
Corro até chegar nas árvores, depois preciso começar a ter um
pouco mais de cuidado ao percorrer os gravetos e pedras no chão.
Mal chego na clareira quando um graveto quebrando atrás de
mim chama minha atenção. Eu me preparo para correr apesar do
quanto vai doer para caralho, mas não tenho a chance. Um braço
forte envolve minha cintura e sou puxada contra um corpo duro.
Sua respiração acelerada faz cócegas nas minhas orelhas e um
arrepio passa pela minha coluna.
— Me desculpe, tá bom?
Respirando fundo, me preparo para virar e encará-lo.
— Não. Não tá…
Minhas palavras são interrompidas quando seus lábios colidem
nos meus. Esqueço tudo a respeito do estado da minha boca
quando sua língua provoca a junção dos meus lábios e eu o permito
entrar, ansiosa demais para experimentar tudo o que ele tem para
dar.
Assim como antes, ele está tenso e com raiva. Um braço fica ao
redor da minha cintura enquanto o outro se enfia no meu cabelo,
inclinando minha cabeça de forma que fico na posição perfeita para
ele. O comprimento do seu corpo pressiona contra o meu, sua
ereção pressionando na minha barriga.
Demora pelo menos um minuto ou dois antes da realidade
retornar. Erguendo as mãos, empurro contra seu peito.
— Jake, pare — murmuro contra seus lábios. Ele dá um passo
para trás, erguendo as mãos em derrota.
Meus olhos desviam dos dele e percebo que veio correndo atrás
de mim usando apenas suas cuecas boxer apertadas, que bem
claramente mostram exatamente o que tem por baixo, e um par de
tênis. Enquanto olho para o tecido erguido, minha língua sai para
molhar meu lábio inferior, meu núcleo se enchendo de calor.
Olho para cima bem na hora de ver seu queixo cair. Espero que
algum comentário presunçoso sobre estar impressionada com seu
tamanho saia dos seus lábios, então fico chocada com o que
escuto.
— Toma café da manhã comigo?
— O quê? Sua mudança total de atitude de quando fugi do seu
trailer me surpreende.
— Toma café da manhã comigo. Ainda está cedo, sua avó não
vai estar acordada, vai?
— Não, mas... Preciso tomar banho e…
— Tenho um chuveiro. E mais, sei o melhor lugar para se livrar
da sua ressaca.
Encaro seus olhos, esperando para que me diga que isso é uma
piada, mas ele não o faz. Ele só espera pacientemente pela minha
resposta.
Quero dizer não. Sei que seria a coisa certa a se fazer, mas a
tentação de comida acaba por levar a melhor.
— Tudo bem. Mas no segundo que você voltar a ser o babaca
de sempre, vou embora.
O lábio dele se curva em um sorriso que me atinge direto no
peito. Por que tenho a sensação que esse café da manhã é mais
para ele do que para mim? Mas isso é loucura, depois de tudo, por
que ele iria querer passar um tempo comigo em público?
Esticando o braço, ele pega minha mão na sua. O pequeno
contato me aquece até a ponta dos dedos.
— Não vamos no Aces — aviso conforme saímos das árvores.
— Nem iria sugerir isso.
Tudo é errado nisso, ainda assim quando entro no seu trailer
antigo, escondido no fundo do jardim, tudo parece tão certo.
— Fique confortável. Não é muito e tenho certeza que não é
nada como o que você está acostumada, mas é tudo o que tenho.
— Pela primeira vez desde que o vi do outro lado da escola no
primeiro dia, vejo um pouco da sua insegurança aparecer. Por
algum milagre, consegui abrir uma frestinha na máscara
impenetrável que ele sempre usa. Não sei por quê, ou o que eu fiz
para merecer isso, mas neste momento, o cara que estou vendo na
minha frente não é Thorn, rei de Rosewood High, mas Jacob, um
garoto de dezoito anos que está tão incerto com a vida quanto eu.
Talvez não sejamos tão diferentes quanto ele pensa.
— É perfeito, obrigada.
— Vou encontrar uma toalha limpa para você tomar banho, já
volto. — Ele se move, mas para antes de sair da área da cozinha. —
Aqui. Acho que você vai precisar disso. — Não poderia ficar mais
grata pelo pacotinho de analgésicos que cai no meu colo.
Espero ele desaparecer e escuto seus barulhos por alguns
minutos antes de levantar, abrir a geladeira e pegar uma garrafa de
água morna. Bebendo metade dela, jogo alguns comprimidos na
boca e espero que funcionem rápido no latejar das minhas
têmporas.
Caindo de volta no sofá embutido, coloco uma das almofadas
sob a cabeça e fecho os olhos, tentando o máximo me lembrar de
alguma coisa da noite passada.
Devo cochilar, porque a próxima coisa que sei, uma gota de
água atinge minha bochecha e escorre para meu cabelo.
— O que… ah. — Abro os olhos para uma imagem muito boa.
Jake está parado sobre mim, o cabelo escorrendo do banho e só
uma toalha enrolada baixa na sua cintura.
Mordendo meu lábio inferior, tento lutar contra a tentação de
esticar a mão e a tirar do seu corpo para descobrir devidamente o
que está escondido sob ela.
— Vá em frente, faça isso — ele provoca.
— Fazer o quê? — pergunto, inocente, olhando para ele por
entre os cílios.
Agachando na minha frente para que sua cabeça fique quase na
mesma altura que a minha.
— Se você acha que não posso ler seus pensamentos, tente
novamente. Como você está se sentindo?
Demoro um segundo para focar no latejar da minha cabeça e
perceber que na verdade está começando a diminuir.
— Melhor, obrigada.
Ele me encara por mais alguns segundos. Começo a pensar que
vai me beijar outra vez, mas quando estou prestes a mover a
cabeça em sua direção, ele se levanta e vai até a cozinha.
— O banheiro é todo seu. Deveria te avisar que o chuveiro não é
muito mais do que umas gotas e nunca fica muito quente, mas serve
ao seu propósito. Deixei uma escova nova para você.
Faço uma careta sabendo que ele sabe em primeira mão o
quanto minha boca está nojenta neste momento.
— Não vou demorar.
— Não se preocupe. Vou fazer café… você gosta de café, certo?
— Gosto.
— Talvez você não seja tão estranha, afinal — fala enquanto vou
até o banheiro.
Não prestei muita atenção no quarto quando sai correndo mais
cedo, mas vi o suficiente para saber que ele o organizou e arrumou
a cama.
Olhando por cima do ombro, encontro suas costas nuas
conforme ele estica o braço para um armário e não posso evitar
tentar entendê-lo. Está claro que ele se esforça para esconder essa
parte da sua vida, mas por quê? Por que ele mora aqui sozinho?
Onde estão seus pais?
O milhão e uma perguntas que tenho sobre ele rodopiam na
minha cabeça enquanto corro atrás do jato de água patético pelo
cubículo em uma tentativa de lavar os resquícios da noite anterior.
CHAPTER TRINTA E DOIS

Jake

M eu corpo está quase vibrando com energia nervosa enquanto


a água caindo no banheiro ecoa pelo trailer.
Não tenho ideia de que porra estou fazendo. Tudo o que
sei é que neste momento ela está nua com água escorrendo pelas
suas curvas esguias a poucos metros de distância, e não posso
esquecer a dor que revirou meu estômago quando a vi fugir de mim
mais cedo. Não estava pronto para nosso tempo juntos terminar,
mesmo que ela não tivesse ideia do que estava acontecendo ou por
que ela estava aqui. Tento ignorar o fato que basicamente a
sequestrei, ela tinha todo o direito de querer fugir para o mais longe
possível.
Estou sentado no sofá com os cotovelos nos joelhos e a cabeça
pendurada quando ela entra na cozinha. Olhando para cima, a
encontro com o cabelo preso no alto da cabeça, uma das minhas
camisetas cobrindo seu corpo esguio e amarrada na cintura. Suas
pernas longas para caramba ainda estão a mostra na minissaia
jeans branca. Meus olhos quase esbugalham.
— Espero que não se importe, meu top cheirava a noite
passada.
— N-não, claro que não. Ela… hm… fica melhor em você do que
em mim.
Ela sorri, tímida, antes de olhar para a bancada.
— Isso é meu?
— Sim. Está bom assim?
— Tem um pouco de leite? — Acho que ela percebe o erro no
momento que as palavras escapam dos lábios. — Na verdade, está
perfeito.
Erguendo a caneca, fico fascinado enquanto ela assopra o
líquido com delicadeza e depois coloca os lábios na borda. Ela
beberica o café preto e faz o melhor para parecer que gostou, mas
não consegue muito bem.
— Você não precisa fingir para me fazer sentir melhor — digo,
me levantando do sofá. — Vem, eu pago um que você vai beber
com vontade.
— Obrigada.
Ainda está cedo, e os únicos barulhos que podem ser ouvidos
quando saímos do trailer são os pássaros nas árvores.
Por sorte, não tem movimento dentro da casa quando nos
esgueiramos por ela e vamos para a rua. Posso sentir o olhar da Brit
conforme vamos até o ponto de ônibus no final da rua. Se marquei o
tempo certo, então o ônibus deve chegar a qualquer momento para
nos tirar deste lugar.
— Uau, Jake Thorn anda de ônibus. — A voz dela é leve, está
claro que está apenas brincando, mas ainda assim meu estômago
embrulha e meus músculos ficam tensos com sua brincadeira.
— As coisas nem sempre são o que parecem, Brit.
Ela abre a boca, mas logo muda de ideia. Quando por fim ela
fala, muda de assunto, mas posso ver seu desespero para me
compreender no fundo dos seus olhos azuis.
— Tenho um nome, sabe.
— Estou ciente.
Não dou um motivo, e por sorte ela não insiste em um, porque o
ônibus aprece pela esquina.
Toco o telefone no terminal ao lado do motorista, pago nossa
passagem e vamos na direção do fundo do ônibus.
— Não consigo me lembrar da última vez que andei de ônibus —
pondera, observando as casas passando pela janela.
— Não me diga, você tinha uma Range Rover ou duas e não
poderia usar transporte público.
Seus olhos estão arregalados e o queixo caído com o amargor
do meu tom.
— Na verdade, não tinha uma Range Rover… ou duas. Tinha um
Mini, mas ia de metrô para faculdade todos os dias. Dirigir em
Londres era… na verdade, não vou me defender para você. Parece
que sabe tudo sobre mim, então vou deixar assim.
Jesus, mesmo quando estou tentando ser legal, acabo
colocando os pés na boca.
— Sinto muito, não quis dizer desse jeito.
Ela dá de ombros e volta a olhar pela janela. Eu me sinto como
um babaca por ter sido sarcástico com ela, mas não é uma
sensação incomum esses dias.
O resto do caminho passa em silêncio. Tensão emana dela em
ondas e só posso imaginar que já está se arrependendo de
concordar com isso. Ela poderia estar em casa, dormindo para
passar a ressaca ao invés de sentar ao meu lado. Ela só se move
quando me escuta pressionar o sino, avisando que vamos descer.
— Só estou te seguindo porque estou com fome. É bom que
esse lugar seja ótimo — ela fala emburrada ao me seguir até parar
na frente de uma lanchonete escondida que encontrei há uns anos.
— É bom. Melhores panquecas do estado.
Ela resmunga alguma coisa, mas não digo nada. Ela tem todo o
direito de estar irritada comigo.
Encontro uma mesa nos fundos e uma garçonete com umas
vinte latas de laquê cobrindo o cabelo horroroso e um pequeno
avental vermelho vem correndo.
— Bom dia — ela cantarola com excesso de felicidade. — O que
posso trazer para vocês?
— Dois cafés, um preto, um com leite, e dois cafés da manhã
especiais do chef.
Os olhos de Brit me fuzilam, eu os ignoro e continuo a olhar para
a garçonete que termina de anotar nosso pedido antes de olhar
entre nós dois. Adoraria saber o que ela está pensando agora.
— Certo, já vai sair.
Ela rodopia e corre na direção da cozinha.
— Posso pedir minha maldita comida, Jake — Brit bufa, os
ombros tensos e os lábios contraindo de raiva.
— Eu sei, mas confie em mim. É o melhor.
Ela relaxa na cadeira e foca a atenção nas unhas.
Não sei bem como fomos de beijos nas árvores para ignorar
minha existência, mas sei que é minha culpa.
CHAPTER TRINTA E TRÊS

Amalie

T ento ignorar, mas seu olhar queima o topo da minha cabeça


enquanto olho para minhas mãos.
Por que diabos estou aqui?
Só posso culpar minha estupidez no que fosse que ainda estava
no meu organismo da noite passada. Sei que não bebi o suficiente
para ficar tão fora de controle que Jake conseguiu me levar de volta
para sua casa sem que eu percebesse. Acho que está bem na cara
que alguém deve ter batizado minha bebida.
Mas quem?
O suspeito mais óbvio seria o cara sentado na minha frente, mas
algo me diz que não foi coisa dele. Algo bem no fundo de mim quer
mesmo acreditar que ele estava fazendo exatamente o que disse,
cuidando de mim, me protegendo. Mas de novo, por quê? Ele
deixou claro repetidas vezes que me odeia. Então por que fazer
isso, e por que correr atrás de mim esta manhã e me trazer aqui?
A garçonete volta com nossos cafés, e por mais que queira ficar
frustrada com ele pedindo para mim, não posso porque estou grata
por ter algo bebível. O que ele tentou me dar de volta no trailer era
como Amo café, mas precisa ter leite.
Erguendo a caneca para os lábios, meus olhos encontram seu
olhar sombrio e um tremor passa por mim. Qualquer sinal do cara
doce e preocupado que cuidou de mim ontem a noite e esta manhã,
desapareceu. O Jake Thorn que conheço e… odeio, está olhando
de volta para mim.
Tomando um gole de café para criar coragem, faço a pergunta
que estou morrendo de curiosidade para saber a resposta desde a
primeira vez que ele olhou para mim.
— Qual é seu problema exato comigo?
Ele fica em silêncio por alguns segundos e começo a pensar que
vai ignorar o fato que fiz uma pergunta quando coloca os cotovelos
na mesa e os olhos percorrem meu rosto.
— Não é bem você. É só que você me lembra de alguém em
quem não mijaria se estivesse pegando fogo.
Uau, tá bom.
Ódio puro enche seus olhos e percebo que na verdade, ele pode
ter pegado leve com a merda que armou pra mim. Tem algo sombrio
vivendo dentro dele e está só esperando para explodir.
— Quem?
Ele balança a cabeça e fica claro que não está disposto a dar
mais detalhes. Não que isso vá me impedir de perguntar.
— Tudo bem, então como te lembro dessa pessoa?
— No começo, ao longe, pensei que você parecia com ela.
Mas… mas agora é apenas o que você representa.
— Que é como mesmo?
— Uma vida rica, pretensiosa, privilegiada que é cheia de
babacas falsos, plastificados e egoístas que pensam que tudo que é
importante é apenas superficial. — Não é a primeira vez que ele diz
isso, mas é a primeira vez que realmente penso nisso.
— Uau. E esse é o tipo de pessoa que você acha que sou?
— É o mundo do qual você saiu.
— Talvez, mas nasci nesse mundo. Não foi uma escolha. Mas
sempre tive minhas opiniões próprias a respeito do ramo de trabalho
dos meus pais.
— Não tente me dizer que não amava. Toda a atenção, roupas
de grife gratuitas, estar na frente da câmera.
Parte de mim não quer se defender quando ele parece ter
decidido que já me conhece. Mas ao mesmo tempo, odeio o olhar
crítico que está me dando, como se me conhecesse, quando na
realidade ele não faz a mínima ideia. — Não poderia dar a mínima
para as roupas de grife. São apenas roupas. Fazem a mesma coisa
quer custem vinte libras ou duas mil. E não que seja da sua conta,
mas nunca estive na frente das câmeras.
Ele bufa, e eu recuo.
— O que isso quer dizer?
— Deixa disso, Brit. Você tem supermodelo estampada por todo
o corpo, assim como sua mãe. Você vale dinheiro demais para não
ser forçada àquele mundo.
Empurrando a cadeira para trás com um barulho alto, me levanto
e coloco as mãos na mesa. Minha respiração escapa acelerada
pelos meus lábios enquanto tento controlar minha raiva.
— Para sua informação, meus pais eram boas pessoas. Sim, o
ramo de trabalho deles pode ser questionado de um milhão de
maneiras e confie em mim quando digo que fiz isso, muitas vezes. E
sim, posso ter a aparência certa, mas meus pais nunca, nunca me
forçariam a fazer algo que não queria. Sempre me recusei a fazer
parte daquele mundo. Nenhuma quantidade de dinheiro poderia me
colocar daquele lado da câmera fazendo algumas das coisas que
aquelas modelos fazem.
Jake empalidece visivelmente, mas não quero ficar por perto
para descobrir por quê. Ao invés disso, me afasto da mesa e vou na
direção da porta, só que ele é mais rápido. Os dedos quentes
seguram meu pulso e sou forçada a parar.
O calor do seu corpo queima minhas costas ao se aproximar e
sua respiração faz cócegas na minha orelha. Estremeço quando
seus dedos roçam o feixe de pele revelada na minha cintura pela
sua camiseta amarrada.
— Sinto muito. Estava sendo babaca.
— Estou me acostumando com isso — ralho.
— Por favor, venha e sente outra vez. Apenas para comer e
depois você pode ir embora sem olhar para trás.
Algo dói dentro do meu peito com a ideia de me afastar dele para
sempre. É o que deveria estar fazendo, porque ele está certo, é um
babaca. Mas por algum motivo, sou um pouco viciada nele. Uma
masoquista ou algo assim porque apesar de saber melhor, continuo
a voltar por mais.
— Tudo bem, mas só porque estou com fome.
Ele me solta. Eu me odeio por isso, mas sinto falta do seu toque
na hora.
Quando volto para nossa mesa, a garçonete está servindo dois
pratos gigantes. Ver a comida faz meu estômago roncar. O cheiro de
bacon, ovos e panquecas chega no meu nariz quando volto a me
sentar e minha boca saliva. Ele pode estar certo sobre uma coisa,
isso parece incrível.
Comemos em silêncio, mas isso não significa que não sinto seu
olhar todas as vezes que olha para mim. Eu me recuso a olhar em
seus olhos por medo que ele tenha conseguido deixar de estar
irritado e olhe para mim com olhos vulneráveis. Sabia que estava
tomando algum tipo de conclusão precipitada ao meu respeito. Se
estiver sendo honesta, pensei que tivesse a ver com o dinheiro. Não
é segredo que meus pais eram muito bem-sucedidos e ricos, ao
ponto que está ficando cada vez mais claro que ele não tem muita
coisa.
— Por que você vive nos fundos do quintal do seus tios? — As
palavras escapam dos meus lábios antes que tenha chance de
impedi-las.
— É o meu lugar — responde, triste.
— Jake, isso não é…
— É assim mesmo. Você não é a única que pensa que sou um
desperdício de bom oxigênio. — A honestidade nas suas palavras é
o suficiente para matar qualquer resposta que estava na ponta da
minha língua. — Não sou o que todo mundo na escola pensa que
sou. Mas fingir é melhor que a realidade. Só preciso me formar e aí
vou dar o fora daqui.
— Para onde?
— Qualquer lugar. Não ligo, só preciso de um novo começo em
algum lugar que ninguém me conhece.
— E a faculdade?
Junto as sobrancelhas quando ele ri.
— Você acha que posso bancar faculdade? Você viu onde eu
moro.
— Eu sei, mas…
— Nada de “mas”. É o que é. No segundo que terminar o ensino
médio, vou começar de novo. Não dou a mínima para onde ou qual
trabalho preciso fazer para bancar isso.
— Com certeza você poderia conseguir uma bolsa ou algo do
tipo — pondero, ainda sem entender bem como tudo isso funciona.
Ele dá de ombros.
— Duvido.
— Você ao menos pesquisou?
— Pode deixar isso pra lá, por favor?
O desespero em seus olhos significa que faço o que pede, por
enquanto. Não o conheço tão bem, mas sei que ele é melhor do que
abandonar a ideia de faculdade com tanta facilidade.
O resto do nosso tempo na lanchonete passa em silêncio. Mas
não é desconfortável como poderia ser. Jake voltou para seu lado
suave, o que sei que não mostra para muitas pessoas. Isso faz eu
me perguntar se está abaixando a guarda comigo.
— Deveria te levar para casa antes que sua avó se preocupe.
— Não tem problema, ela sabe que fui em uma festa ontem. Não
imagino que esteja me esperando.
Jake engole, nervoso.
— Sobre a noite passada.
— O que tem?
— Alguém batizou sua bebida.
— É o que parece. Mas tenho quase certeza que não foi Shane.
Por favor, não faça nada estúpido. — Sinto que eu sou a estúpida
no segundo que as palavras deixam minha boca. Por que ele faria
alguma coisa tola para proteger alguém que odeia?
— Vou descobrir quem foi e eles vão pagar.
Esticando a mão pela mesa, coloco a mão na dele, o calor
subindo pelo meu braço.
— Não, Jake. Apenas deixe quieto, por favor. Não preciso que
lute minhas guerras.
— E se quiser?
A garçonete volta com a conta e Jake pega a carteira.
— Caralho — murmura, a encontrando mais vazia do que
esperava.
— Não tem problema, eu pago.
Dou um pouco de dinheiro e ele fica tenso do outro lado da
mesa. Os lábios pressionados em uma linha fina e o músculo no
pescoço pulsando.
Quero perguntar sobre seu último comentário, mas não tenho a
chance porque uma sombra paira sobre nós.
— Ora, ora, ora, isso não é fofo.
Conheço a voz, não preciso olhar para cima para confirmar
quem é. Ao invés disso, mantenho os olhos em Jake. Eles
endurecem na hora, as cortinas se fechando e colocando um ponto
final em qualquer tipo de momento que estávamos compartilhando.
— Brit está indo embora.
Meu queixo cai em choque.
— O que vocês estão fazendo? Tomando café juntos? —
Chelsea pergunta. Descrédito total com o que está vendo pingando
da sua voz. — Sua aparência pode conseguir o que quiser em
Londres, mas não vai funcionar aqui.
Chelsea empina o quadril para o lado, esperando impaciente que
me mova, mas a ignoro e foco no Jake.
— O que diabos você está fazendo? — sussurro, mas não é
baixo o bastante.
— Jesus, você é mesmo uma puta, implorando para que ele te
queira.
Os olhos de Jake ficam fixos nos meus, mas não posso ler nada
neles. O garoto que estava aqui expressando sua necessidade de
me proteger desapareceu. Respiro fundo três vezes, me afasto da
mesa e preparo para encarar a vaca da escola.
— Você está no meu lugar.
Eu me levanto, e como na primeira vez que nos conhecemos no
escritório do diretor, ela tem que olhar para cima e não posso evitar
o sorriso que contrai meus lábios. Ela deve odiar para caralho.
— Pensei que era boa demais para passar seu tempo nessa
parte da cidade.
Ela fica visivelmente pálida. Posso não ter a mínima ideia de
onde estamos neste momento, mas ficou óbvio no caminho que não
é uma região muito boa. Não pensei muito depois que Jake disse
que queria escapar, mas ao encarar os olhos verde esmeralda de
Chelsea, de repente me toco. Ele está envergonhado. Veio aqui
comigo para que pudéssemos nos esconder.
— Cansei dessa merda. Pode ficar com ele.
— Como se ele algum dia fosse chegar perto de alguém como
você. Sempre foi meu.
Meu corpo fica imóvel, meu desejo de discutir com ela
ameaçando levar a melhor. Meus ombros ficam tensos e minhas
emoções queimando o fundo da minha garganta começam a subir
até os olhos. Quando um cara começa a vir na minha direção, sou
forçada a me mover, e ainda bem que é na direção da porta. Não
preciso do tipo de drama que Chelsea pode trazer para minha vida.
Olho de relance por cima do ombro, vejo o cara que entrou com
o braço em volta de Chelsea. Ele é vagamente familiar, me pergunto
por um momento quem é, já que está claro que é mais velho do que
ela, mas o olhar que sinto da cabine que acabei de vagar é forte
demais para ignorar.
Nossos olhos se encontram, algo lampeja nos dele, mas
desaparece rápido demais para compreender o que é.
As lágrimas que ardiam meus olhos ameaçam cair e fujo.
Correndo pela rua, encontro um beco e entro para me dar um pouco
de privacidade para desmoronar.
Minhas costas encontram a parede e escorrego até a bunda
sentar no chão sujo. Um soluço escapa da minha garganta e abaixo
a cabeça nas mãos. Como poderia ter sido tão estúpida a ponto de
acreditar que ele queria mesmo passar um tempo comigo. Ele só
queria me usar como um segredinho sujo.
Lembro de como ele foi doce, e só me faz chorar mais forte. Não
deveria gostar dele. Não deveria me importar. Mas tem muito mais a
respeito de Jake Thorn do que ele permite que o mundo veja. Por
algum motivo, ele me deu um vislumbre do garoto quebrado
escondido sob a superfície e não posso evitar querer mais.
Garota estúpida, estúpida.
Depois que minhas lágrimas param, compreensão me atinge.
Não tenho ideia de onde estou e não sei como voltar para casa.
Puxo a bolsa para o colo e a vasculho até encontrar meu
telefone no fundo junto com um monte de notas e moedas. Por
sorte, a bateria não acabou, apesar de estar com quinze por cento
graças a corrente de mensagens, chamadas perdidas e mensagens
de voz que não vi de Camila e Shane.
Culpa pesa na minha barriga que eles não têm ideia de onde
estou ou se estou bem. Eles ao menos sabem que fui embora com
Jake a noite passada?
Apertando chamar no número de Camila, coloco o telefone na
orelha e escuto chamar.
Quando ela por fim atende fica claro que a acordei. Sua voz está
rouca e sonolenta, mas logo acorda quando a lembrança da noite
anterior retorna.
— Amalie? Onde diabos você está? Você está bem?
— Sim, estou bem. Tem alguma chance de você fazer um favor
pra mim?
— Claro.
Dou um resumo de onde estou, citando alguns lugares que
posso ver de onde estou escondida. Ainda bem que Camila
reconhece o local e promete estar aqui em não mais do que trinta
minutos. Já posso perceber pelo seu tom que vou passar por uma
inquisição espanhola.
Quero ir pegar café, mas o pensamento de trombar com Jake
outra vez é o suficiente para me deixar no lugar. Vê-lo na escola vai
ser ruim o suficiente depois de tudo o que aconteceu entre nós.
CHAPTER TRINTA E QUATRO

Amalie

P assaram apenas vinte minutos quando vejo o carro de Camila


parar no meio fio. Arrastando meu corpo exausto do chão,
limpo a sujeira da bunda e vou até ela. Como instruído, ela fica
no carro e em segundos estou abrindo a porta do passageiro e
entrando.
— O que diabos está acontecendo, Amalie? Você é carregada
da festa inconsciente pelo seu pior inimigo e agora estou aqui te
buscando. Você tem sérias explicações para dar.
— Me leve em algum lugar calmo para tomar café e vou te
explicar. No Aces não — acrescento, rápido, antes que ela sequer
sugira.
Então, pela segunda vez nesta manhã, me encontro em outra
lanchonete escondida com outra garçonete me servindo café.
— Então ele chegou todo alfa e exigiu saber onde eu estava? —
pergunto, as sobrancelhas juntas com confusão. — Por quê?
— Quem sabe? Mas de acordo com Shane, ele pirou, te arrastou
para longe dele e para fora da casa.
— Ele acha que Shane batizou minha bebida e iria… — Deixo
sem terminar, não preciso dizer as palavras em voz alta.
— Shane? Shane Dunn?
— Eu sei. Disse a ele que era loucura e que Shane nunca faria
nada do tipo. Mas ele disse que me encontrou no quarto dele com
as mãos em mim.
— Shane só iria colocar você na cama para dormir até passar.
— É o que eu disse, mas Jake não aceita.
— Tudo bem, então o que aconteceu com Jake?
Fico em silêncio por alguns momentos ao tentar encontrar um
jeito de responder aquela pergunta.
— Ah, meu Deus, algo aconteceu com ele, não é? Ai Meu Deus,
você deu pra ele?
— O quê? Não, eu não dei pra ele. — Minhas bochechas
esquentam porque sei que apesar de ser verdade, não sou
totalmente inocente. Eu o beijei essa manhã e o que Camila não
sabe, não foi nosso primeiro beijo.
— Mas… — ela encoraja, se arrastando para a beirada da
cadeira, esperando a fofoca.
— Nos beijamos.
— Ah meu Deus — grita, batendo palmas em euforia. — É como
nos filmes. Ele te odeia para encobrir o fato que na verdade gosta
de você.
Reviro os olhos para seu romantismo e suspiro.
— Não, tenho quase certeza que ele apenas me odeia. Devo ter
sido alguma aposta estúpida para ele ou algo para ver se sou
patética o bastante para cair nessa. Bom, novidade, está claro que
sou porque olha o que aconteceu. Ugh… Eu odeio ele para caralho.
— Sério?
— Sim. Não. Eu não sei. Só tem algo dentro dele que me atrai.
Queria não conseguir ver e apenas focar no fato que ele é um
babaca, mas não posso evitar sentir como se ele precisasse de
ajuda. Ele quer que eu veja, mesmo que esteja assustado.
— Então, voltando ao meu comentário anterior…
— Você é um pesadelo. Como Noah está?
— Está bem. Falei para ele quando estava um pouco bêbada
que o aniversário dele é a noite — diz, com uma piscada.
— Espere. Você não…
— Não. Disse a ele que queria esperar e ele respeitou. Mas
agora estou entediada. Todo mundo está fazendo então…
— Você não faz isso só porque todo mundo está fazendo.
— Eu sei, e não é o motivo. Estamos juntos há muito tempo, e
sinto que é o certo. Está na hora de levar ao próximo estágio antes
de começarmos a nos estressar com a faculdade e tal.
Ainda não estou convencida.
— Você o ama, certo?
— Claro. — Semicerrando os olhos, tento descobrir o que ela
está escondendo, mas não tem sentido porque não tenho certeza se
ela mesma sabe. Eu os vi juntos várias vezes a essa altura. Por
fora, parecem o casal perfeito, mas não posso evitar sentir que algo
não está certo.
— Então, qual o próximo passo com Thorn? — pergunta,
trazendo o foco da conversa de volta para mim.
— O próximo passo é que paramos de falar dele. Estou farta
dele.
— Mentirosa. Não posso acreditar que ele te beijou. Têm
rumores que ele não beija ninguém. Nunca.
Ouvir isso me faz mudar de ideia sobre parar de falar dele.
— Ah, deixa disso. Ele é o maior cafajeste, deve ter beijado um
monte de garotas.
— Não, nunca, ao que parece.
Penso na noite da Corrida, o que parece um milhão de anos
atrás, e sua reação a Chelsea colocando os lábios nele. Talvez o
que Camila está dizendo seja verdade. Mas se for, por que ele me
beijou?

Não estou nenhum um pouco menos confusa com toda a situação


do Jake quando Camila me deixa de volta na casa da minha avó
mais tarde. Ela dá uma olhada em mim usando a camiseta de um
garoto e ergue as sobrancelhas.
— Não é nada do que você está pensando — murmuro,
passando por ela e indo direto para o quarto.
— Quando estiver pronta para falar, sabe onde me encontrar.
Meu estômago embrulha quando me apoio na porta do quarto.
Não quero isolar minha avó depois de tudo o que fez por mim, mas
como deveria explicar tudo isso para ela? Até mesmo repassar os
acontecimentos das últimas semanas na memória me faz sentir
como se fosse maluca. Como diabos soaria para ela?
Perco noção do tempo tomando banho e lavando seu cheiro do
meu corpo. Parece que nada do que tento para tal tem eficácia, seu
cheiro único ainda permanece no meu nariz.
Depois de colocar pijamas e um suéter grande por cima, prendo
o cabelo sobre a cabeça e saio, esperando um milhão de perguntas
da minha avó.
— Está com fome?
— Posso fazer alguma coisa para mim. Fique aí. — Ela está
sentada no sofá, lendo uma das suas revistas de fofoca que ama.
Não tenho ideia de como ela consegue continuar lendo-as depois de
algumas das mentiras que publicaram sobre meus pais e seus
colegas de trabalho ao longo dos anos.
— Não seja boba. Sente-se e vou fazer um queijo quente para
você. Parece bom?
— Parece incrível, obrigada.
Silêncio paira ao nosso redor enquanto ela trabalha, e beberico o
copo de água que colocou na minha frente.
— Amalie, sei que sou velha e você deve pensar que eu não
poderia compreender, mas por favor, estou implorando. Converse
comigo. Estou preocupada com você.
As mentiras estão na ponta da minha língua, mas quando falo, o
oposto sai.
— É um garoto.
— Presumi isso. Alguém que possa conhecer?
Ignoro a pergunta, nem um pouco pronta para admitir quem é,
caso ela não aprove. Se ela sabe quem ele é e onde mora, o que
estou confiante que sabe por que minha avó não deixa nada
escapar, então não tenho dúvidas de que não aprovaria. Por que
faria isso? Jake é o famoso bad boy que me tratou mal a maior parte
do tempo desde o primeiro dia que comecei em Rosewood.
— Não deveria gostar dele. Ele não foi exatamente agradável
desde que comecei. — Contorno a realidade da situação. — Mas
tem mais no garoto do que ele permite que o mundo veja. Está
escondendo, mas posso ver sua vulnerabilidade e me pergunto se é
por isso que ele não gosta muito de mim.
Ela sorri para mim, com um brilho misterioso no seu olho antes
de virar para servir meu sanduíche.
— Por que esse olhar?
— Ele está assustado, Amalie. Sabe que você pode ver mais
fundo do que os outros e está assustado de que isso seja usado
contra ele.
Considero sua teoria por alguns minutos e apesar de não poder
discordar porque acho que ela acertou em cheio. Não sei se é todo
o problema.
— Tem mais coisa. Ele disse algo enigmático sobre o estilo de
vida dos meus pais e esse ser o motivo por não gostar de mim.
— Qual o nome dele? — pergunta outra vez.
Rindo da sua segunda tentativa, apenas balanço a cabeça para
ela.
— Boa tentativa.
— O quê? — O olhar inocente em seu rosto pode funcionar com
os outros, mas não está me enganando nem um pouquinho.
— Não vou te contar porque você deve conhecer cada detalhe
da vida dele e não quero fofoca.
Minha avó suspira, colocando a mão no coração como se a
tivesse machucado.
— Vou te dizer, mocinha, que meu conhecimento dessa cidade e
seus ocupantes é apenas baseado em fatos. Nenhuma fofoca passa
por esses lábios.
Rindo, puxo o prato que ela empurrou na minha direção. O
cheiro do queijo derretido faz minha boca salivar.
— Ceeerto — falo, fazendo a vontade dela antes de gemer com
euforia quando dou a primeira mordida.
— Quer meu conselho?
— Claro.
— Se você acha que tem algo a mais nesse garoto, então deve
estar certa. Se acha que vale a pena descobrir, então continue
investigando, mas fique ciente que o que você pode encontrar pode
ser feio. Se ele não valer a dor, então se afaste… se conseguir.
Minha avó sai do recinto, me deixando com essa pérola de
conselho. Aquela pergunta revirou pela minha cabeça o resto do dia.
Poderia apenas me afastar? É cem por cento o que deveria fazer
depois do jeito que ele me tratou. Mas o que deveríamos fazer e o
que fazemos com frequência estão de lados opostos.
Parada na frente do meu espelho, escovo o cabelo antes de
prender outra vez para dormir. A brisa leve da janela aberta faz
arrepios cobrirem minha pele exposta e pulo rapidinho na cama.
Minha avó tem ar-condicionado central, mas não consigo me
acostumar com isso. A Brit em mim prefere muito mais a brisa
morna entrando pela janela durante a noite. Sei que deveria fechar,
ainda mais depois do meu visitante noturno na outra noite, mas não
posso me forçar a fazê-lo.
Ansiedade se mistura com as palavras anteriores da minha avó e
fico virando e rolando por horas na cama, esperando que o sono me
leve. Mas por fim, o barulho que estava aguardando – esperando –
ecoa pelo quarto.
O barulho de pés no chão do lado de fora faz meu coração pular
na garganta.
Ele veio.
Fico deitada o mais imóvel possível, querendo fazer parecer que
estou em um sono profundo. Não vi sua visita da última vez, e estou
desesperada para saber o que ele vai fazer.
O clique da porta abrindo me sobressalta mesmo estando
esperando. Luto para manter a respiração constante quando ele
entra no quarto.
— Filho da puta — sussurra, parecendo frustrado. Só posso
imaginar que seja porque não tranquei a porta como ele pediu.
Seus passos se aproximam devagar antes de ajoelhar ao meu
lado. Seu cheiro me cerca outra vez. Meu coração ameaça bater
para fora do meu peito enquanto espero o que vai fazer em seguida.
— Me desculpe, Brit. Você deveria acordar e me mandar embora
por ser perturbado pra caralho. Não estava envergonhado de estar
com você mais cedo, eu só… Fiz merda.
— A voz dele quebra com desespero e não posso evitar abrir os
olhos.
Ele deixou a corrida da porta aberta o suficiente para que a lua o
ilumine como se estivesse sob um holofote. A cabeça dele está
curvada entre os ombros, parece tão partido quanto soa. E no lugar
de raiva encher minhas veias como deveria, descubro meus dedos
contraindo dos meus lados para tocá-lo.
— Não deveria estar aqui, porra. Só precisava saber que você
estava segura.
Sua cabeça ergue e minha respiração falha enquanto espero
seus olhos encontrarem os meus.
Seus lábios entreabrem quando percebe que não estou
dormindo como pensava.
— Caralho, eu… merda. — Ele se levanta, as mãos vão para o
cabelo e puxam ao ponto de pensar que vai arrancar alguns fios. —
Caralho, eu…
Ele vai na direção da porta e entro em pânico.
— Jake, espere. — Minha voz mal é um sussurro, mas é o
bastante para fazê-lo parar.
Ele fica imóvel, mas não tira o olhar do chão.
— Não deveria estar aqui — admite, triste.
— Mas ainda assim, está.
Afastando as cobertas, me apoio nos cotovelos e olho para ele.
Os ombros estão curvados em derrota, as mãos pendendo soltas ao
lado do quadril.
— Jake — suspiro.
Algo na minha voz faz com que ele se vire, os olhos encontrando
os meus ao passarem pelo meu corpo seminu.
— Porra.
Seus pés cobrem o espaço entre nós e em meros segundos a
mão está deslizando no meu cabelo e seus lábios encontram os
meus.
Sinto a mudança nele assim que nos tocamos. O garoto partido
que estava parado na minha frente desapareceu e no seu lugar o
homem que me beija está perdido em seu desejo.
Sua língua entra na minha boca e a chupo mais para dentro,
faminta. Não deveria permitir isso depois do que ele fez hoje, mas
no segundo que colocou as mãos em mim, é como se tudo além de
nós dois, neste momento, deixasse de existir.
Jake sobe na cama, os joelhos prendendo minhas coxas no
lugar ao continuar a me beijar como se fosse nosso primeiro beijo e
ele não conseguisse se saciar.
Quando estamos desesperados por ar, ele se afasta. Os olhos
estão escuros e sedutores ao olhar para mim. Meu núcleo pulsa por
mais enquanto seus dedos passam pelo meu peito e ao longo da
costura da minha regata, fazendo meus mamilos intumescerem sob
o tecido.
— Me diga para ir embora. Me diga que me odeia e que preciso
ir.
Seus dedos descem mais e roçam meus mamilos, me fazendo
estremecer.
— Você está certo, te odeio, mas…
Não chego a dizer a ele que não quero que vá embora porque
ele abaixa minha blusa e leva o mamilo para dentro da sua boca
quente.
— Ah, porra. — Meus quadris se movem de forma involuntária,
mas não dá em nada porque Jake ainda está me prendendo na
cama. Os lábios dele se contraem, deleitados com minha reação.
Ele se move para o outro lado, também expondo aquele seio
para fazer o que quiser. Ele lambe, mordisca, suga enquanto gemo
e me contorço sob ele.
Quero gritar quando sobe pelo meu pescoço e lambe a concha
da minha orelha.
— Vou fazer você se sentir tão bem, Brit.
Minha resposta é um gemido conforme ele começa a escorregar
pelo meu corpo. Ele lambe meus seios outra vez antes de erguer
minha regata e beijar minha barriga.
Até ele curvar os dedos no cós do short do meu pijama, estão
encharcados, meu desejo pelo que ele tem para me dar é muito
para aguentar.
— Jake, por favor.
— Caralho. Repita isso.
— Jake — suspiro, seus lábios encontrando meu quadril e indo
na direção do meu núcleo. — Por favor, preciso… ahhh…
Antes que saiba o que está acontecendo, meus shorts
desapareceram e seu hálito toca minha parte mais sensível.
— Doce pra caralho — murmura, afastando mais minhas coxas e
me lambendo.
— Ah, merda, merda, merda, Jake — solto um gritinho,
esquecendo de onde estou e que podemos ser ouvidos.
Sua língua pressiona no meu clitóris antes de começar a circular,
me estimulando cada vez mais. Minhas mãos se alternam entre
segurar o lençol sob mim e escorregar pelo seu cabelo para mantê-
lo no lugar.
Eu cavalgo seu rosto sem vergonha, precisando de tudo que ele
tem para dar para lavar a raiva e a rejeição que causou em mim
mais cedo. Não tenho ideia se isso é um tipo de pedido de
desculpas, mas neste momento, não ligo enquanto um prazer como
nunca senti antes formiga em cada uma das minhas terminações
nervosas.
Erguendo os dedos, ele circunda minha entrada enquanto
continua com a tortura eufórica no meu clitóris com sua língua.
— Jake, Jake — repito como um mantra quando seus dedos me
penetram mais fundo. Meus músculos ficam tensos conforme o
começo de um orgasmo avassalador consome meu corpo. — Sim,
sim.
Ele continua por mais alguns segundos antes de algo se romper
dentro de mim e eu ser tomada por uma euforia completa enquanto
ele continua a me lamber, arrancando cada gota de prazer.
Meu peito arfa, minha respiração saindo ofegante dos meus
lábios ao tentar controlar meu coração.
Jake se senta, limpa a boca com o dorso da mão, um sorriso
convencido no rosto com o que acabou de fazer.
— Precisa parecer tão presunçoso?
— Brit, eu…
— Amalie, você está bem?
— Caralho. — Jake se move mais rápido do que pensei ser
possível e voa para se esconder atrás da porta. Sua habilidade de
saber exatamente o que fazer me faz pensar em quantas vezes foi
pego se esgueirando no quarto de uma garota.
Um enjoo surge no meu estômago com o pensamento de ele
fazer com outras o que acabou de fazer comigo, mas não tenho
chance de pensar muito nisso antes de uma batida leve soar e a
porta do meu quarto se abrir.
Mal consegui me cobrir com os lençóis antes da cabeça da
minha avó entrar pela porta.
Estou deitada com um olho semiaberto para ver o que ela faz.
Olha em volta do quarto, mas quando não encontra nada suspeito,
ela fecha a porta em silêncio outra vez e seus passos voltam pelo
corredor.
Soltando um grande suspiro de alívio, observo Jake sair das
sombras e se ajoelhar ao meu lado.
Ele estica o braço e segura minha bochecha com sua mão
quente.
— Eu deveria ir.
Por mais que queira negar, sei que não é a coisa certa a ser
feita. Isso já foi longe demais e chegamos muito perto de sermos
pegos.
Concordo, e seu rosto entristece, sua máscara sumiu e mais
uma vez posso ver o verdadeiro garoto se escondendo sob ela.
Quando se levanta, minha boca abre para discutir, mas não
posso. Ele precisa dar o fora daqui antes que minha avó volte, ou eu
faça algo do qual me arrependerei. Ele já está sob minha pele, e nós
passarmos mais tempo juntos agora só vai me causar mais dor a
longo prazo porque não é como se ele fosse pegar minha mão
amanhã na escola e andar como se estivesse orgulhoso que sou
dele.
Só de pensar fico frustrada. Não quero ser dele, quero?
Em silêncio, ele vai na direção da porta. Meus músculos
contraem para esticar a mão para ele, mas consigo manter as mãos
dos meus lados e o deixo desaparecer na escuridão, deixando
apenas o sabor do seu beijo e o pulso acelerado do meu coração
como evidência que esteve aqui.
CHAPTER TRINTA E CINCO

Amalie

— D ormiu bem? Parece melhor — Camila diz no segundo que


me sento no seu carro para nossa ida diária para a escola.
— Hm… sim — minto. Na verdade, demorei horas para pegar no
sono depois do meu visitante noturno ir embora e quando o
despertador tocou nesta manhã, não estava pronta para isso. —
Você acha que alguém já esqueceu o que aconteceu na festa?
— O quê, que alguém te drogou e você foi resgatada por
ninguém mais, ninguém menos do que Jake Thorn?
Faço uma careta, não preciso mesmo do lembrete de como
acabei na sexta-feira a noite.
— Sim, isso.
— Shane se sente péssimo, mandou mensagem durante todo o
final de semana, já que você o está ignorando. Ele não fez isso.
Dou de ombros, porque apesar de no começo ter certeza que
não era ele, não o conheço de verdade. Apenas olhe para Jake,
pensei que ele fosse um completo babaca, mas ele continua a
provar para mim que tem um pouquinho de gentileza ali em algum
lugar. Talvez Shane seja o oposto.
— Agora só quero esquecer disso e não ir em outra festa por um
bom tempo.
— Isso pode ser um problema porque Homecoming e o
aniversário de Noah são nesse final de semana.
— Ninguém vai sentir minha falta no Homecoming e diga para
Noah que estou ocupada ou algo assim.
— Não. Não vai acontecer. Quer você queira ou não, é parte
desta escola agora, então o Homecoming não é algo negociável.
Você pode usar aquele vestidinho prateado sexy, e quanto a festa
de Noah, tenho certeza que posso te convencer.
Resmungo minha frustração porque, infelizmente ela deve estar
certa.
Conforme andamos na direção da escola, sinto olhos em mim.
Só que não estão apenas em mim porque vão e voltam entre mim e
Jake onde está sentado no lugar de sempre cercado por sua trupe.
Seu olhar me segue e queima um rastro por todo meu corpo.
— Isso é estranho — Camila comenta.
— O quê?
— Jake não está olhando para você como se quisesse te matar,
está olhando para você como se quisesse…
— Chega.
Voltando o olhar curioso para mim, sua mão pega meu braço e
ela para na minha frente.
— Alguma outra coisa aconteceu que você não está me
contando?
Minhas bochechas esquentam e sei que não tenho como
esconder a verdade.
— Talvez, mas não é grande coisa.
— Qualquer coisa que deixe seu rosto dessa cor com certeza é
grande coisa.
— Vou me atrasar para a aula.
Olhando a hora no telefone, ela geme.
— Só vou deixar passar porque você está certa.
— Ótimo, te vejo mais tarde — falo, desviando dela e entrando
no prédio para minha primeira aula do dia.
A manhã passa sem nenhum drama, é quase como a escola
deveria ser, então é óbvio que estou em alerta máximo esperando
que algo aconteça.
Estou indo na direção do armário antes da minha reunião com o
conselheiro de carreiras quando eu o sinto. Jake está parado do
outro lado do corredor com Chelsea praticamente pendurada nele e
Mason e Ethan no seu flanco.
Algo estala entre nós quando nossos olhos se encontram, mas
me recuso a deixar as outras pessoas verem. Desviando o olhar,
abro o armário. Um pequeno quadrado de papel branco chama
minha atenção. Olhando ao meu redor, garanto que não estou
sendo observada e o abro.

Mesmo horário esta noite? J

Minha respiração entrecorta e raiva faísca na minha barriga. Acabei


de me tornar seu segredinho sujo?
Dando um passo para trás, vou virar para onde estavam
parados, mas não preciso procurar muito para encontrá-lo porque os
quatro estão bem atrás de mim.
— Como está se sentindo, fraquinha? — Chelsea rosna, o
sorriso falso firme no lugar.
— Estava melhor antes de ter que ver sua cara.
Mason bufa em diversão enquanto Jake fica parado ali com
ombros tensos e o rosto na sua máscara costumeira. Só que
quando encontro seus olhos, vejo além. Meu garoto partido ainda
está ali dentro.
— Dá um tempo, Chelsea — Jake exige. Meus olhos quase
esbugalham com ele me defendendo em público.
— Não me diga que você gosta da vaca.
— Não. — Aquela palavrinha mata todo pedacinho de esperança
que estava surgindo e que as coisas poderiam estar mudando. —
Só acho que está na hora de deixarmos pra lá.
Jogando o cabelo por cima do ombro, ela murmura um “que
seja”, antes de sair rebolando.
Jake vai dar um passo a frente, mas me recuso a dar tempo para
se desculpar por isso. Batendo a porta do armário, passo
tempestuosa por ele, o ombro batendo no de Ethan no caminho.
— Brit? — Jake chama. Odeio que o som da sua voz faz um
friozinho surgir na minha barriga, mas me recuso a virar e ouvi-lo.
Tenho uma reunião para ir.
Vou na direção da biblioteca, mas paro um pouco antes no
escritório da Srta. French. Estive adiando essa reunião desde que
comecei as aulas porque sei que ela vai querer discutir meu futuro,
mas se tornou óbvio durante essas semanas que não avancei mais
no que diz respeito ao que fazer quando terminar o ensino médio.
Bato de leve, torcendo para que ela não escute e eu possa fingir
que não estava, mas sei que é apenas pensamento positivo quando
ela fala para entrar.
— Amalie, que bom finalmente te conhecer. Tem sido difícil te
encontrar.
— Desculpa.
— Não precisa se desculpar. Entendo que pensar no futuro
depois de tudo que você passou é difícil. Só quero te ajudar a focar
e responder qualquer pergunta que possa ter. Sei que o sistema
educacional aqui é diferente do que você está acostumada.
— Sim, deveria estar na universidade agora — falo com um
suspiro, sentando na cadeira na frente de sua mesa.
— Eu sei, e compreendo sua frustração com parecer ter dado
um passo para trás, mas posso garantir que é a coisa certa a ser
feita.
— Eu entendo, mesmo. Só é… frustrante.
Srta. French abre minha pasta e rapidamente lê a informação
que tem à sua frente.
— Suas notas estão boas. Parece que seus professores estão
impressionados com seu progresso.
— Tenho estudado bastante, a última coisa que preciso é ficar
para trás antes mesmo de começar.
— Se todos os alunos de transferência pensassem assim —
pondera. — Continuando. Diz no seu documento de transferência
que você ia estudar fotografia na faculdade. Ainda é esse o plano?
Fico em silêncio por alguns segundos enquanto penso na
resposta para a pergunta que sabia que viria.
— Não sei.
— E por quê? — Tenho quase certeza que ela sabe a resposta.
Parece que tem todos os detalhes naquela pasta, então deve saber
por que estou aqui.
— Sempre me inspirei no meu pai. Ele era um gênio atrás da
câmera e sempre disse que eu também era. Parece que tirava fotos
antes de aprender a andar, como se estivesse no meu sangue.
— E agora?
— Ainda não peguei a câmera desde que morreram — admito
baixo, lutando contra o nó que está tentando tampar minha
garganta.
— Acha que ele iria querer isso? Que você desistisse de algo
que ama?
— Não. Nunca. É só… difícil.
— Amalie, também perdi meus pais quando era nova, então
confie em mim quando digo que sei como se sente. É a coisa mais
difícil que vai passar, mas não pode perder de vista o que te faz
feliz, não importa o quanto as memórias possam doer. Apesar de
dolorosas, memórias são boas. Elas te levam para tempos mais
alegres e garantem que você nunca os esqueça. Seu pai era um
homem muito talentoso, não vou mentir e dizer que não pesquisei
sobre seus pais. Os dois eram pessoas inspiradoras, conseguiram
fazer tanta coisa. Sei que odiariam que você desistisse por causa
deles.
Limpo os olhos, tentando secar as lágrimas que caíram com ela
falando deles. Uma das coisas que consegui evitar desde mudar
para cá, é as pessoas falarem deles. Além dos poucos dias com os
rumores do porquê estava aqui, é só minha avó que fala deles. Só
mostra que apesar de estar achando que estou sentindo como se
estivesse lidando melhor, temo que possa estar apenas escondendo
ao invés de lidando de verdade. Ainda estamos esperando notícias
do acidente e se foi mesmo um acidente, e acho que devo estar
suprimindo meus sentimentos sobre tudo isso até termos esse
veredito.
Srta. French continua a falar, me arrastando dos meus
pensamentos sombrios.
— Se você decidir que quer continuar no caminho da fotografia,
então tem muitas faculdades com ótimos programas de fotografia no
estado, e fora. Pensou se vai querer se mudar daqui?
Parte de mim quer dizer sim, para começar do zero em algum
lugar que escolhi estar, mas uma parte mais insistente sabe que
minha única família está aqui, então por que iria querer ir embora
para ficar sozinha?
— Não sei — respondi honestamente. — Posso ver lados bons e
ruins para ambos.
— Espero que não se importe, mas tomei a liberdade de imprimir
alguns dos melhores programas só para te dar algo em que pensar.
Esses são os espalhados pelo país, e aqui estão alguns no estado.
Apenas dê uma lida, entre nos sites das faculdades. Veja se alguma
chama sua atenção. Sei que ainda é cedo, e você tem tempo o
bastante para tomar uma decisão, mas não faz mal começar a ter
ideias e ter algo pelo que almejar.
— Obrigada — falo, recolhendo toda a papelada que ela acabou
de espalhar pela mesa. Ver alguns nomes das faculdades em cima
dos impressos faz meu coração acelerar um pouco. Não sou
totalmente ingênua nesse assunto, na verdade, estudar minha
profissão na América é algo que discuti com meus pais mais de uma
vez. Eles pensavam que seria bom para mim, e algumas dessas
instituições tem cursos incríveis que poderiam ajudar de verdade a
começar minha carreira, junto com meu nome, claro. Mas no final,
decidi que não queria ir tão longe. Mas pesquisei algumas das
sugestões do meu pai e não podia negar que o que algumas podiam
oferecer era incrível, e mais, a oportunidade de morar em cidades
maravilhosas como New York era tentador.
Estou andando no corredor quando vozes altas vindo da entrada
dessa parte da escola chegam até mim.
— Sinto muito, mas não posso permitir que entre desse jeito.
— Mas ele é meu filho. Tenho todo direito de vê-lo.
— Sim. Quando as aulas terminarem, você pode fazer o que
quiser, mas não vou aceitar que perturbe minha escola e a
educação dos meus alunos.
— Isso é irritante. Você sabe quem eu sou?
Viro a esquina bem na hora que ela diz essas palavras e meu
queixo cai.
Kate Thorn. Supermodelo. Atriz pornô. Viciada em drogas. Mãe
do Jake.
Caralho.
Como eu não imaginei isso?
Meu movimento chama sua atenção e ela arrasta o olhar do
diretor até mim. Seus olhos semicerram ao me olhar de cima em
baixo.
— Te conheço.
— Sou Amalie Win…
— Windsor-Marsh. Eu sei quem você é. — Seu lábio se curva
em desgosto como se eu não fosse nada além de um pouco de
merda de cachorro na sola do seu sapato.
Virando para longe de mim, ela continua de onde parou.
— Não sei quanto tempo vou ficar na cidade. Preciso ver meu
filho.
Conforme continuam a discutir ali parados, tenho uma chance de
analisá-la. Ela parece muito diferente da última vez que a vi em
pessoa e muito como as fotos estampadas nas revistas de fofoca
pelo último ano. Costumava ser uma das modelos mais
requisitadas. Ela era linda, tinha o rosto impecável e corpo magro
que todo estilista queria. Meu pai a fotografara mais do que qualquer
modelo em sua carreira, era o fotógrafo favorito dela e com
frequência exigia que ele a clicasse ou não trabalharia. Mas como
tantas histórias de sucesso jovem, a fama e o dinheiro se tornaram
um pouco demais. Ela estava exagerando dos dois lados e algo
cederia. Começou a beber, cheirar muita cocaína e perdeu emprego
atrás de emprego. De acordo com a fofoca, ela cheirou e bebeu
todos os centavos que ganhou e depois de uma fita de sexo vazar,
ela claramente percebeu que tinha dinheiro a ser ganhado com sexo
e se voltou para isso. Não vi nada, mas as capturas de tele e
comentários que marcaram as redes sociais não foram agradáveis.
Sua pele que antes parecia porcelana, agora está quase cinza,
as bochechas afundadas e os olhos cansados e vermelhos. Apesar
de sempre ter sido muito magra, agora sua pele parece pendurada
nos ossos. Mas são seus olhos azuis e cabelo loiro que chamam
minha atenção. Apesar do loiro não ser nada natural. É amarelo
oxigenado e mesmo a essa distância, parece frágil como feno.
Tudo o que Jake sempre disse para mim de repente faz muito
sentido. Seu ódio das minhas origens, do trabalho dos meus pais,
em certo ponto, até minha aparência.
A mãe dele é a maldita Kate Thorn. Eu me sinto como uma idiota
por não associar os dois. Mas por que faria isso? Tenho certeza que
tem um milhão de adolescentes de dezoito anos com Thorn como
sobrenome que poderiam ter sido o filho que ela abandonou quando
criança. O garotinho que ela deixou para trás era frequentemente
mencionado quando estavam falando mal dela na imprensa.
Deveria ter sido óbvio a voz na minha cabeça grita. Mas ao ficar
parada ali me dando bronca, ainda bisbilhotando a discussão cada
vez mais acalorada, vejo um movimento perto dos bancos.
Jake vira a esquina, os gritos ao longe chamando sua atenção e
ele olha para cima. Tudo acontece em câmera lenta. Demora um
segundo ou dois para realidade registrar, mas quando o faz, nunca
vi um olhar desses no seu rosto. Pensei que ele olhava para mim
com puro ódio, mas estou percebendo que pegou leve comigo
porque ao encarar a mãe, ele parece um assassino. Todo o seu
corpo fica tenso, seus punhos se fecham dos lados como se ele
pudesse andar até ela e dar um murro em seu rosto. Dou um passo
à frente, precisando chegar até ele, mas Kate vê onde está meu
foco e seus olhos pousam em Jake.
— Jake, meu garoto. Vem cá.
Solto a mochila e os livros e corro na direção de Jake conforme
seu peito infla e todo seu corpo vibra com fúria.
— Vem, bebê.
— Não me chame de bebê, sua puta maldita. — Com isso, ele
rodopia e corre. Tento segui-lo, mas ele corre mais rápido do que
eu, e fico para trás, ofegante, abaixada com as mãos nos joelhos e
tentando recuperar o fôlego.
— Caralho — murmuro entre respirações. Olhando para trás,
Kate e o diretor desapareceram.
Deveria deixá-lo no seu inferno particular, mas agora que
compreendo por que ele é do jeito que é, sei que não vou conseguir.
Volto para a escola, pego tudo o que derrubei e tento descobrir
para onde ele pode ter ido.
Não penso duas vezes nas aulas quando saio da escola. Pego
um ônibus e vou na direção da orla. Meu primeiro pensamento é o
Aces, apesar de ter quase certeza que ele não vai querer ficar perto
de outras pessoas neste momento, mas é perto da minha segunda
opção, a praia. Se meu mundo tivesse acabado de virar de cabeça
para baixo, acho que iria direto para o mar. Tem algo relaxante em
ouvir as ondas quebrando na praia.
Não tenho sorte em nenhum dos dois lugares, então sem mais
nenhum lugar para tentar, vou para seu trailer. Mesmo que ele não
esteja lá agora, com sorte vai reaparecer em algum momento.
Pego o ônibus para sua casa, sem querer ser pega pela minha
avó. Eu me esgueiro pela garagem e até o final do jardim. Passo
reto pelo trailer, pensando que ele possa estar na academia
improvisada, mas está vazia e sem sinais que esteve aqui.
Ainda bem que a porta do trailer está destrancada, então a abro
e entro.
Parece igualzinho ao outro dia. É muito mais organizado do que
esperava, sabendo que um adolescente de dezoito anos mora aqui.
Esperava encontrar latas de cerveja, roupas e todo tipo de coisa
espalhada, mas na realidade tudo o que encontro é um cinzeiro.
Sem querer bisbilhotar muito na sua vida, me sento no sofá e
espero.
Devo pegar no sono porque quando meus olhos se abrem, o sol
está começando a se pôr e tem um par de olhos muito bravos
olhando para mim.
CHAPTER TRINTA E SEIS

Jake

D ispensar a Brit como eu fiz na frente da Chelsea foi


fisicamente doloroso. Por que eu não podia criar colhões e
admitir que as coisas mudaram? A garota que teria ficado feliz
de nunca ver outra vez quando chegou de alguma forma conseguiu
se afundar sob minha pele e não importa o quanto eu tente, não
consigo me livrar dela.
Estou tão acostumado a fingir ser o babaca sem preocupações
na escola que virou natural. Ninguém questiona a máscara que uso,
ninguém, a não ser Mason, sequer sabe que existe. Eles pensam
que esse babaca sou eu de verdade. Eles não fazem ideia que uso
essa persona para disfarçar o que está guardado dentro de mim. A
raiva, a dor, a traição. Anos se passaram, mas não parece ter feito a
menor diferença, aquele garotinho abandonado ainda mora dentro
de mim.
Deveria estar na aula, mas consegui descobrir que Brit tem uma
reunião com Srta. French e com o resto da escola ocupada com
aprendizagem, decidi que a surpreenderia e compensaria por ser
um babaca. O sabor dela gozando nos meus lábios a noite passada
é a única coisa que sinto e, caralho, se não preciso mais dele. Ela
tem todo o direito de mandar eu ir me foder, o que fiz várias vezes
com a mão depois que voltei pro trailer ontem, mas meu desejo por
ela significa que dei uma desculpa esfarrapada para a professora e
sai da sala. Nem esperei para descobrir se ela me deu permissão ou
não. Quem liga. Não é como se alguém em sã consciência fosse me
desafiar.
Quando vejo o diretor no final do corredor, vou me esgueirar
pelas sombras para chegar no escritório da Srta. French por outro
caminho. Mas o corpo parado na frente dele me faz sair no corredor.
Meu coração acelera e um nó desconfortável se forma no meu
estômago.
Não pode ser.
Pensando que estou imaginando as coisas, dou alguns passos
mais perto, meus olhos fixos na mulher que agora percebo está
surtando com o Diretor Hartmann.
Caralho.
Pensei um milhão de vezes em como reagiria se algum dia a
visse outra vez. Um milhão e um jeitos que poderia machucá-la
depois do que fez comigo. Mas naquele momento, antes que ela me
veja, tudo em mim congela.
Ela não é nada como me lembro, ou como a única foto nossa
que tenho. Não é mais a supermodelo maravilhosa que imagino
todas as vezes que penso nela, mas uma mulher velha e acabada.
O fato que a vida não foi fácil para ela me faz sentir um pouquinho
melhor com as coisas, mas não ajuda a diminuir a dor ou a raiva.
Ela me deixou sem olhar para trás, me trocou por uma vida de fama
e esplendor. Nunca vou perdoá-la pela decisão egoísta que tomou
quando eu era criança. Talvez poderia considerar pegar leve com
ela se ela tivesse tomado a decisão com meu bem-estar em mente,
mas logo ficou claro que minha felicidade não foi considerada. Ela
me deixou com duas pessoas que, ficou bem óbvio, não me queriam
e que não tinham tempo para a criança desastrosa em quem me
transformara.
Como era inevitável, ela vira para olhar para mim. Raiva quente
e vermelha percorre minhas veias e meus punhos se apertam para
fazê-la sentir apenas um grama da dor que ela me causou ao longo
dos anos. Mas por mais que queira falar com ela, não darei o prazer.
Quando abre a boca e me chama, meu estômago embrulha,
ameaçando esvaziar no concreto aos meus pés.
Como ela ousa me chamar de seu garoto depois de tudo? O
quê, a vida chique dela não saiu como planejado e ela agora é uma
atriz pornô velha, viciada e acabada? Não estou aqui esperando
para que ela volte quando tudo acabar em merda e não ter para
onde ir.
Meu corpo treme com a adrenalina percorrendo por ele. O
instinto de luta ou fuga é ativado e depois de responder com
palavras que não sei quais, eu corro.
Corro o mais rápido e mais longe que consigo. Assim como ela
fez comigo todos aqueles anos atrás. Infelizmente não tenho o tipo
de dinheiro que preciso para sair do país e ir para longe dela. Ao
invés disso, me encontro no final da praia, entre as dunas assim
como aconteceu algumas noites atrás depois de ser expulso do
jogo.
Apoio os cotovelos nos joelhos e respiro fundo para recuperar o
fôlego. Aperto e solto os punhos, tentando me ver livre da vontade
de esmurrar alguma coisa – ou alguém – até aquela vaca não me
afetar mais. Deveria ter superado isso. Anos se passaram, mas ela
ainda está na minha maldita cabeça.
Apertando o punho contra a têmpora, tento forçá-la para fora.
Não coloquei os olhos nela em mais de dez anos, ainda assim ela
tem poder sobre mim. O motivo exato pelo qual sempre me recusei
a namorar. Não quero que outra mulher tenha esse poder.
Mas tem, babaca. Brit conseguiu entrar apesar de ter sido um
enorme cuzão. Ver a mulher que me pariu outra vez só mostrou as
diferenças alarmantes entre ela e Brit que deveria ter reconhecido
no primeiro dia que a vi, mas estava cego demais pelo seu passado
e pelo estilo de vida de onde saiu. Na realidade a deveria ter visto
por quem é, não por quem pensei que fosse. Ela provou repetidas
vezes que não é nada como a mulher que acabei de deixar para
trás. Não importa quantas vezes a machuquei, ela voltou como se
soubesse que tinha algo dentro de mim que precisava trazer à tona.
Com todos os insultos que proferi a ela, voltou todas as vezes. É por
isso que não posso me afastar. Ela me desafia como ninguém mais
que conheço, e faz tentar parecer indiferente aos meus avanços um
trabalho em tempo integral quando na verdade tudo o que isso faz é
me incentivar mais a quebrá-la.
Pensar na Brit faz a raiva e a tensão começarem a se esvair do
meu corpo. É o suficiente para me dizer que ela é o que preciso
neste momento.
Eu me levanto de supetão e vou buscá-la. É provável que ainda
esteja na escola, e nem fodendo que vou voltar lá agora, ou algum
dia se ela continuar aparecendo. Ao invés disso, vou para casa
tomar banho e matar umas horas antes de ela vir para casa e poder
ir buscá-la.
Foco nela ao percorrer o caminho até o meu trailer. Não ligo de
pegar o ônibus, a longa caminhada é exatamente o que preciso para
tentar tirar aquela mulher da minha cabeça. Não deixo de perceber
que há pouco tempo atrás estaria andando para tirar a Brit da
cabeça e agora estou inquieto porque preciso dela.
Porra. Preciso tanto dela que estou cansado de tentar esconder.
Minhas pernas ardem e suor escorre pelas minhas costas
quando atravesso o jardim na direção do meu trailer.
Esticando o braço por cima da cabeça, tiro a camiseta, pronto
para ir direto para o chuveiro conforme abro a porta e entro.
Dou um passo na direção do quarto, mas uma coisa à minha
esquerda chama minha atenção.
Caralho. Ela está aqui.
Como sabia que eu precisava dela?
Deixo a camiseta na bancada ao passar, me agacho e analiso
seu rosto bonito. Como pude compará-la aquela bruxa velha? Não
tem nada nem remotamente similar entre as duas. A aparência dela
é toda falsa, a beleza de Brit é pura e natural.
Como se ela pudesse me sentir, os olhos dela se abriram. Ela
me vê na hora e perde o fôlego, assustada.
— Jake, merda. Eu…
Não deixo que diga mais nada. Meus dedos enlaçam no seu
cabelo e minha língua entra na sua boca. Tudo o que preciso agora
é ela. Do beijo para me lembrar que nem tudo no meu mundo é
totalmente ferrado.
Ela relaxa nas minhas mãos e me permite tomar o que preciso.
Mal ela sabe, nunca será o bastante.
— Preciso de você — falo entre respirações ofegantes quando
me afasto e descanso a testa na dela. Encaro seus olhos azuis e é a
primeira vez que admito para mim mesmo que nunca quero olhar
em outro.
— Qualquer coisa — suspira. A honestidade na voz dela me
abala um pouco. Meus dedos enrolam mais no cabelo enquanto
tento aceitar o que acabou de dizer.
— Por quê? Depois de tudo, por que você ainda está aqui e
disposta a me dar qualquer coisa?
— Não tenho nem ideia, só sei que é onde preciso estar.
— Caralho — vocifero, a soltando e dando um passo enorme
para trás.
— Jake, o que…
— Vamos para algum lugar.
— Tudo bem, claro. Onde você quer ir?
— Não quero dizer para jantar ou esta noite, quero dizer vamos
sair daqui. Só eu e você. O que acha?
— Acho que… você está maluco?
— Talvez. Eu só... Não posso estar aqui agora. — É a verdade.
Se ela veio me encontrar na escola, tenho certeza que o próximo
lugar que virá será aqui. Caralho, ela pode estar naquela maldita
casa agora. — Eu preciso ir. Agora.
— Hm… sim. Tudo bem. Posso ir e pegar umas coisas primeiro?
— Você tem dez minutos para voltar aqui ou vou sem você. —
Não tenho ideia se é verdade ou não, o jeito que me sinto neste
momento, esperaria para sempre para que ela voltasse para mim.
— Certo. — Pulando do sofá, ela coloca os pés de volta no all
star e dá um passo na direção da porta. No último minuto, ela se
volta para mim, envolve os dedos na minha nuca e pressiona o nariz
de leve contra o meu.
— Não sou nada como ela, prometo — sussurra antes de dar um
beijo doce nos meus lábios e sair correndo do trailer.
Minhas mãos tremem quando percebo uma coisa.
Ela sabe.
CHAPTER TRINTA E SETE

Amalie

E u corro pela vegetação, os espinhos arranhando meus braços


nus, mas não ligo. Preciso de algumas coisas e preciso voltar
para ele antes que parta. Ele não esperava que fosse estar no
seu trailer, mas um olhar naqueles olhos atormentados e soube que
era exatamente o que ele precisava, assim como essa viagem. Sei
que ele quer escapar antes que ela o encontre, o que me faz
suspirar aliviada quando vejo que o bangalô da vovó está vazio, me
permitindo enfiar algumas coisas numa bolsa antes de correr de
volta para Jake.
Quando irrompo pelas árvores, ele acabou de abrir a porta.
— Pronta?
— Sim.
Fico parada por alguns segundos enquanto tranca o trailer,
depois ele pega minha mão e me guia na direção da garagem da
casa.
— O que você está fazendo? — grito-sussurro em choque
quando vai direto para o carro velho do tio.
— Vamos dar o fora desse lugar, o mais rápido que podemos.
Observo horrorizada enquanto ele abre a porta do motorista,
joga a mala no banco traseiro e entra.
— Você vem ou não?
— Merda. Sim. Vou.
Sigo seu exemplo e jogo minha bolsa com a dele e sento no
banco do passageiro assim que ele se inclina para frente para fazer
ligação direta no carro.
— O que é isso? GTA?
— Algo assim. Pronta para uma loucura? — Ele olha para mim e
pisca, me fazendo pensar que não está falando da viagem.
— Mal posso esperar. Me mostre seu melhor.
Jake geme como se estivesse com dor antes de fazer o que
precisa para fazer uma ligação direta. O motor ronca, e ele sai da
garagem em velocidade recorde.
— Presumo que não foi sua primeira vez.
— Presume certo. Algum lugar que queira ir?
— Não. Apenas dirija.
— Feito.
Abaixo a janela e relaxo no banco, deixando a brisa quente
passar pelo meu rosto. Posso estar em um carro roubado com Jake
Thorn, um cara que alegremente teria me jogado embaixo de um
carro quando o conheci pela primeira vez, mas ao dirigirmos pela
estrada costeira com o rádio estourando e as janelas abertas, é o
mais livre que me sinto depois de muito tempo.
— Como você soube?
— Sobre sua mãe?
— Sim, mas, por favor, não a chame assim.
— Eu a vi discutindo com Hartmann quando saí da reunião com
a conselheira de carreiras. Mas não sabia até esse ponto. Me sinto
um pouco estúpida por não perceber.
— Como você teria percebido?
— Só com algumas coisas que você disse. Ao vê-la, tudo fez
muito sentido.
— Desculpa.
— Desculpa, o que foi isso? Você vai ter que repetir, não ouvi
direito.
— Desculpa, por tudo. Estava projetando meu ódio por ela em
você por causa dos seus pais e de onde veio. Não foi justo.
— Eu entendo.
— Não deveria. Fui um babaca.
— Não posso negar isso, Jake, mas teve seus motivos. Estou
feliz por saber a verdade agora. Você devia ter me contado.
— Não falo dela, Brit. Nunca.
— Você vai?
— Vou o quê?
— Falar… dela. Do que aconteceu?
Seus dedos apertam o volante até ficarem brancos.
— Tudo o que sei dela saiu de revistas de fofoca ou trechos que
entreouvi quando ela conversava com meus pais.
— Do que eu vi, a imprensa não errou muito. — Ele fica em
silêncio, o músculo em seu pescoço pulsando constantemente. Dou
a ele o tempo que precisa para organizar os pensamentos. — Não
tenho muitas memórias boas dela, estava sempre me deixando em
qualquer lugar que pudesse para sair. Mas acho, olhando para trás,
que pelo menos estava presente. No dia que me deu as costas,
nunca vou esquecer. Ela me deixou na minha tia, beijou minha testa
e se virou sem nem mesmo olhar para trás, para mim.
“Era jovem, presumi que minha tia só estava cuidando de mim,
mas ela nunca voltou. Até hoje, não faço ideia se minha tia sabia
que estava presa comigo dali em diante ou não. Ela me colocou no
quarto de hóspedes e ela e meu tio continuaram com suas vidas
como se eu não estivesse lá. A única diferença para eles era um
pouco mais de roupa suja e outro prato pra colocar comida. Se ela
esperava que me deixar lá eu teria uma vida melhor, então se
enganou. Ela podia ser negligente, mas pelo menos era minha mãe.
“Costumava entreouvir meus tios conversando sobre as coisas
que viram que ela estava aprontando e costumava me esgueirar no
escritório deles e usar o computador velho e ruim para pesquisá-la.
Mesmo naquela idade, fiquei envergonhado. Algumas das merdas
que costumava encontrar. Parei de procurar no dia que a fita de
sexo vazou.”
Ele estremece com a lembrança.
— Ela é um maldito desperdício de espaço. Só se importa com si
mesma. Ela nunca mandou um centavo do seu dinheiro suado, ou
veio me visitar quando estava no país. Ela simplesmente me deixou
com eles, sem dar a mínima se estava vivo ou morto. Eu a odeio pra
caralho. — A intensidade dos sentimentos pela mãe exala dele em
ondas. Os braços tremem conforme tenta se controlar.
Precisando fazer algo para ajudar, estico o braço e coloco a mão
na sua coxa. Seus músculos contraem antes de relaxar um pouco.
Ele olha para mim, o mais leve sorriso em seus lábios.
— Que porra eu fiz para merecer isso? Você?
Dou de ombros, porque não tenho uma resposta.
— Vi algo em você, acho.
— Ah é? — pergunta, sua persona cafajeste voltando ao lugar.
— Algo nos seus olhos.
— Ah é? Pensei que fosse dizer que foi meu tanquinho.
— Cala a boca, idiota.
Ele ri e depois da conversa tensa que acabamos de ter, soa
incrível.
O sol está se pondo e banhando o mar com um brilho laranja.
— É lindo aqui — falo, perdida na paisagem, a mão ainda firme
na coxa de Jake.
— Tem um motel chegando, quer parar aqui?
— Claro. Seu tio não vai ficar puto que roubou o carro?
— Talvez. Não ligo. Todos pensam que não tenho salvação.
Melhor fazer proveito disso.
— Você não preferiria provar que estavam errados?
— Por quê? Eles me batizaram como a criança problema com a
qual foram fardados no primeiro dia. Nada do que fiz conseguiu
fazê-los mudar de ideia.
— Isso é muito triste.
— Talvez, mas é minha realidade. É por isso que vou embora no
segundo que terminar a escola.
Ele desliga o motor e sai do carro. Fico sentada e observo
enquanto ele alonga os músculos tensos. Não é até olhar o telefone
que percebo por quanto tempo viajamos.
Pego minha bolsa do banco de trás e me junto a ele na frente do
carro.
— Vamos ver se tem um quarto disponível — sugiro. Dou um
passo, mas não vou muito longe. A mão de Jake pega a minha e
sou puxada para trás até estar colada no seu peito.
Ele olha para mim e faz um friozinho rodopiar na minha barriga.
A sua mão segura minha bochecha, o polegar acariciando de leve
minha pele.
— Obrigado — sussurra. É de longe a coisa mais sincera que ele
falou para mim e na hora faz meus olhos lacrimejarem. Seus olhos
fitam os meus. — Merda. Não era para te fazer chorar.
— Vai precisar mais do que isso para me fazer chorar, Thorn. —
Os olhos dele semicerram com o uso do apelido. — Vem, vamos
pegar aquele quarto.
Um sorriso contrai seus lábios e os olhos escurecem. Só posso
imaginar o que está pensando e só posso esperar que seja algo
parecido com o que estou fazendo.

Dez minutos mais tarde, Jake empurra a chave no nosso quarto


esta noite. Ele abre a porta, depois da um passo para o lado para
que eu entre primeiro.
— Muito cavalheiro de sua parte — falo, olhando para ele sobre
o ombro.
— Nem sempre sou um babaca.
— Sério? Vou ficar atenta. Ahhh — grito quando suas mãos
pousam na minha cintura e sou jogada na cama de casal no meio
do quarto.
Caio com um pulo antes de me virar para encontrá-lo pairando
sobre mim. Ele rasteja em cima da cama e afasta minhas pernas
para se acomodar entre elas. As mãos pousam do lado da minha
cabeça e se abaixa um pouco, diminuindo o espaço entre nós.
— Falei sério lá fora.
— Eu sei. — Seus olhos passam por todos os centímetros do
meu rosto, a intensidade no seus olhos me faz querer apertar as
coxas.
— Estou no caminho? — pergunta, os olhos brilhando com
deleite.
— Depende.
— De…
— Do que você pretende fazer.
— Ah, tenho planos. Tem tantas coisas que quero fazer.
Calor inunda meu núcleo quando lembro de como sua boca foi
incrível no meu corpo ontem.
— A primeira coisa que quero fazer. — Ele se abaixa ainda mais,
até nossos lábios se tocarem. — É comer alguma coisa. Tô
morrendo de fome. — Ele pula da cama, dando uma risadinha
divertida enquanto resmungo, frustrada. Ele estica a mão para mim
e me sento. — Vi uma pizzaria descendo a rua. Tá a fim?
— Ah, não se preocupe. Estou a fim.
— Mudei de ideia. Não estou com fome agora.
— É uma pena, porque agora que você mencionou, estou
faminta. Vamos.
Eu me viro quando chego na porta, a tempo de vê-lo se ajeitar
na calça. Porra, talvez devêssemos ficar aqui.
CHAPTER TRINTA E OITO

Jake

T udo o que queria fazer era voltar para entre suas pernas, mas
sabia que ela merecia mais do que isso. Ela não precisava
concordar com essa viagem impulsiva, mas o fez sem pensar
duas vezes. Só Deus sabe o que fiz para merecer seu apoio neste
momento, porque sei muito bem que não mereço.
Por mais que queira passar a noite fazendo todas as coisas
safadas que estão enchendo minha cabeça, estou mais do que
disposto a deixar ela tomar o controle. Não quero pressioná-la a
fazer mais do que está pronta.
Relaxamos nas cadeiras depois de comer uma pizza cada um.
— Assim é melhor — falo, pegando meu refrigerante e bebendo
tudo. Quase cuspo nela quando solta um arroto nada elegante.
— Oops — fala, cobrindo a boca com a mão e as bochechas
ficando levemente vermelhas.
— Você está arruinando todas as minhas primeiras impressões
suas, sabe disso, né?
— Bom, já que você me odiou à primeira vista, não acho que
seja algo ruim.
— Eu... Acabei de vê-la. Sei que é loucura porque vocês não se
parecem em nada, mas… porra. Fui um babaca. — Desviando os
olhos dela, olho pelo restaurante pequeno e arrependimento me
consome.
Brit estica a mão pela mesa e enlaça os dedos com os meus.
Voltando o olhar para ela, minha respiração fica presa na garganta
com o olhar faminto em seus olhos.
— Vamos voltar para o quarto.
Sou impotente para recusar sua sugestão. Depois de jogar
algumas notas na mesa que com certeza pagam a conta,
levantamos e de mãos dadas, saímos do restaurante.
Tem algo tão libertador em estar em algum lugar em que
ninguém conhece nenhum de nós. Em Rosewood, sempre vamos
encontrar alguém que vai nos reconhecer. E não é que estou
envergonhado por ser visto com ela, como pensou na lanchonete.
Estou mais preocupado com ela e o que as pessoas vão pensar
quando a verem comigo. Tenho uma reputação e sei que vão julgá-
la, tratá-la como se fosse tão ruim quanto as vadias de torcida. Já
posso prever o que os fofoqueiros de plantão vão espalhar.
Ficamos em silêncio durante a curta caminhada de volta ao
quarto, mas tensão estala entre nós. Sei que também pode sentir
porque a cada minuto ou dois, ela olha para mim. Preocupação
enruga sua testa e sei que ela quer ajudar, mas não sei o que pode
fazer agora a não ser estar aqui. Sei que vou ter que voltar e lidar
com minha mãe. Se ela veio até aqui para me ver, então não posso
imaginar que vai pular em um avião e desaparecer tão fácil. Ela fez
a parte difícil, se fez presente depois de anos evitando o lugar, me
evitando.
Tiro a chave do bolso, abro nossa porta e deixo Brit entrar antes
de fechar e trancá-la atrás de nós.
Eu me viro e dou um passo à frente, mas paro quando quase
trombo com ela.
Ela olha para mim, os olhos analisando enquanto mordisca o
lábio inferior.
— O que você está fazendo?
— Tentando descobrir a melhor maneira de te distrair. Você
queria escapar, mas passou o tempo todo com o pensamento de
volta em Rosewood, se preocupando com o que deixou para trás.
— Eu sei, sinto muito, mas…
Aproximando-se, seu calor corporal queima meu peito.
— Não queria um pedido de desculpas, Jake. Eu entendo. Essas
merdas de família podem ser… difíceis.
— Merda, Brit. Sinto…
— Não. Chega de conversar. — A voz dela sai com mais firmeza
e começo a entrar em pânico achando que a irritei outra vez e ela
está prestes a sair correndo. Ainda bem que quando se move, é o
oposto.
Suas mãos se erguem e se encontram na minha nuca, nossas
bocas quase se tocando.
— Acha que posso te distrair?
Nossos narizes se tocam, seus lábios roçando nos meus. Meu
pau enrijece nas minhas calças só de pensar em sentir seu gosto
outra vez.
— Eu não sei. Precisa que eu vá embora e depois me esgueire
de volta quando não estiver esperando?
— Não sou muito fã de perder tempo.
— Talvez não, mas não pode negar que ter alguém se
esgueirando no seu quarto no meio da noite e te fazendo gozar não
é excitante para caralho. Você sabe que está me devendo, né?
— Não, você com certeza me devia.
Concordo, não tem jeito nenhum que vou discordar disso depois
de tudo que a fiz passar.
Nossas respirações se misturam enquanto nossos peitos arfam e
continuamos a nos encarar. Seus olhos azuis se escurecem quanto
mais ficamos ali parados. É quase como se estivéssemos ousando
o outro a dar o primeiro passo. É excitante para caralho, mas meu
desejo por ela está no máximo. Todo músculo no meu corpo está
tenso e meus dedos contraem na sua cintura, se coçando para
explorar cada centímetro do seu corpo perfeito.
É quase como se alguém fizesse contagem regressiva, porque
no segundo que cedo, ela também o faz. Nossos lábios colidem, os
dentes batendo quando lutamos para nos aproximarmos mais.
Minhas mãos deslizam por baixo de sua camiseta, minha
necessidade de sentir sua pele contra a minha demais para ser
negada.
Encontro o fecho do seu sutiã, abro e passo as mãos para frente
para chegar no que realmente preciso. Seus seios podem ser
pequenos, mas enchem minhas mãos com perfeição.
Engulo seu gemido enquanto aperto os mamilos entre os dedos.
Suas mãos encontram o caminho para de baixo da minha
camiseta e ela a ergue até ser forçado a interromper nosso beijo
para tirá-la pela cabeça. Solto no chão na hora, puxando seu corpo
de volta para o meu, sem perder tempo.
Com uma mão sob sua camiseta, envolvo sua cintura com a
outra e a guio para trás até suas pernas baterem na cama.
— Amalie, caralho. Preciso de você.
Ela fica imóvel nos meus braços e afasta a cabeça para olhar
para mim.
Meu estômago afunda. Ela acabou de mudar de ideia. Caralho.
— Q-qual é o problema? — Meu pau lateja contra ela, tentando
convencê-la a não acabar com isso agora.
— Você disse meu nome — fala, suave, as bochechas
enrubescendo quando percebe o que disse. — É só… você nunca o
disse antes.
— Dizê-lo significava aceitar o que eu queria de verdade.
Ela quer perguntar, está na ponta da língua, mas não estou
pronto para expressar tudo o que mantive guardado desde que
entrou na minha vida. Já me expus o bastante para ela hoje. Então
no lugar de deixar que diga qualquer coisa, seguro a barra da sua
camiseta e a tiro, rápido, seguida pelo sutiã.
— Porra — resmungo quando vejo seus mamilos róseos e duros.
São tão perfeitos quanto me lembro.
Abaixando a cabeça, chupo um e depois o outro, tomando o
cuidado de passar a língua em volta dos dois. Os quadris dela se
movem na minha direção enquanto geme meu nome e caralho se
não faz meu pau ficar mais duro.
— Preciso de mais — exijo, ficando de joelhos, beijo sua barriga
chapada antes de abrir o botão do seu jeans.
Sentindo seu olhar queimando o topo da minha cabeça, olho
para cima quando começo a puxar o tecido jeans e da sua calcinha
pelas suas pernas.
Ela parece tão inocente ao morder o lábio inferior, minhas bolas
doem por ela enquanto espera para ver o que vou fazer.
Com nossos olhos ainda conectados, me inclino e dou um beijo
no seu quadril. Suas pálpebras se movem, mas não se fecham
totalmente.
Não posso mais evitar e preciso desviar os olhos dela. Sentando
nos calcanhares, analiso seu corpo.
Ela pode ter o corpo de uma supermodelo, mas isso não significa
que não tem curvas. E caralho se essas curvas não me deixam de
joelhos.
— Sente-se na cama.
Ela cumpre minha ordem, mas ao invés de ficar sentada, reclina-
se nos cotovelos, me dando uma visão incrível.
Esticando o braço envolvo suas coxas com as mãos e a puxo de
forma que sua bunda está pendurada pela borda, depois me abaixo
até seu núcleo. Seu cheiro faz minha boca salivar antes de chupar
seu clitóris intumescido na boca.
— Jake — grita, e me sinto como um maldito rei.
Que se foda mandar na escola, a única pessoa para quem quero
ser um rei é ela.
CHAPTER TRINTA E NOVE

Amalie

J ake não se afasta até me fazer aproveitar cada segundo do


orgasmo que me deu.
Ele se levanta de onde está no chão e vai tirar a calça.
Sem querer perder nada, eu me apoio nas mãos e observo atenta
enquanto ele empurra o tecido do jeans e da cueca boxer pelas
coxas.
Seu pau é libertado e meus olhos se arregalam. Não sou virgem,
mas caralho, é maior do que conheci.
Antes de soltar as roupas no chão, enfia a mão no bolso e pega
uma embalagem de preservativos.
— Uau, alguém estava otimista.
— Melhor do que ser pego… — Suas palavras falham quando
olha para cima e me encontra olhando para ele.
— Jesus, Amalie. Você não poderia ser mais bonita.
O som da sua voz grave falando meu nome faz o friozinho se
agitar ainda mais na minha barriga. Nunca soube que ouvir meu
próprio nome poderia me afetar desta maneira.
Ele dá um passo na minha direção e meu coração acelera no
peito.
— Preciso de você… para caralho, mas se você não quiser,
então…
— Pare. — Coloco o dedo nos seus lábios enquanto ele começa
a engatinhar por cima de mim. Se eu não estivesse certa sobre isso,
não teria me colocado nesta posição. Estou deitada nua aqui por
livre e espontânea vontade. Pode ser a coisa mais estúpida que já
fiz na vida porque todas as coisas doces que ele está dizendo para
mim poderiam ser uma grande mentira, mas depois de ver sua mãe
mais cedo e do efeito que teve nele, estou bem convencida que está
falando a verdade. Ele estava vulnerável demais para tentar me
enganar quando me encontrou mais cedo.
Colocando as mãos no seu tanquinho, as deslizo para cima e
sobre seu peito e depois em seu cabelo. Minhas unhas arranham de
leve sua cabeça, arrancando um gemido dele.
— Caralho. Não mereço que isso aconteça. Você deveria jogar
meu traseiro pelado na sarjeta e me fazer andar de volta a
Rosewood.
— Você está certo. É exatamente o que deveria fazer. Mas não
vou.
— Caralho. — Ele se acomoda entre minhas pernas, coloca os
lábios nos meus e me beija como se fosse morrer. Sua língua entra
na minha boca e se enrosca com a minha enquanto seus quadris
estocam em uma tentativa de encontrar a fricção que precisa.
Arrastando minhas unhas pelas suas costas, seguro sua bunda e
o puxo para mais perto de onde deveria estar.
— Camisinha — murmura contra meus lábios.
— Estou protegida, não tem problema.
— Não — fala, duro, sentando-se. — Não vou arriscar minha
vida virar de cabeça para baixo outra vez, ainda não, ao menos.
Não posso discordar, ele só está sendo sensato.
Pegando uma das embalagens de alumínio que tirou do bolso,
ele a abre com os dentes e coloca o preservativo rapidamente.
Observo todos seus movimentos, minha boceta contraindo, ansiosa
para senti-lo pressionando dentro de mim e me preenchendo até o
fundo.
Ele se alinha com minha entrada, caio de volta na cama e
espero.
— Quão devagar preciso ir?
Sei que é seu jeito de perguntar se sou virgem e não posso
evitar um sorriso.
— Na velocidade que precisar. Não é minha primeira vez.
— Porra — vocifera, uma expressão de conflito passando por
seu rosto.
— Ei — falo, esticando a mão e segurando sua bochecha. Seus
olhos encontram os meus e ele parece voltar a si.
Ele pressiona um pouco e faço uma pequena careta. Posso não
ser virgem, mas faz um tempo.
— Puta merda, você é apertada — geme ao continuar a entrar
lentamente até estar o mais fundo possível.
Espero que me foda. Que desconte todas suas frustrações com
tudo o que aconteceu hoje em mim, mas é o completo oposto do
que faz. Na verdade, ele abaixa o rosto no meu pescoço ao se
esfregar lentamente em mim.
Não demora muito para que seus movimentos calculados
comecem a estimular outro orgasmo meu.
— Jake, Jake — repito como um mantra, as unhas arranhando
suas costas conforme meus músculos ficam tensos, prontos para
alcançarem o ápice.
Erguendo a cabeça, ele encontra meus lábios ao segurar o peso
com um cotovelo enquanto a outra mão acaricia meu rosto. É mais
suave e mais emotivo do que jamais imaginaria com ele.
Meus músculos se contraem nele quando minha euforia me
toma. Ele se ergue e olha para mim. Minhas pálpebras estão
pesadas enquanto onda atrás de onda de prazer percorre meu
corpo, mas não posso desviar o olhar dele. Algo está acontecendo
entre nós, e não quero perder nem um segundo disso.
— Porra, Amalie.
Antes que meu orgasmo desapareça, ele desliza a mão sob
minha bunda e me ergue. E aí, como estava esperando, ele estoca
rápido e firme em mim. Sua cabeça cai para trás enquanto seus
músculos contraem e pulsam ante meus olhos.
A imagem dele tomando o que precisa é o suficiente para
desencadear o formigamento de um novo clímax. Um que ele
garante que aconteça ao pressionar o polegar no meu clitóris.
— Porra — urra antes que eu sinta seu pau latejar. — Amalie —
grita ao se esvaziar em mim.
Recuando, ele joga o preservativo usado pelo lado da cama e
depois rola até mim e me puxa firme contra seu corpo.
Nossos peitos arfam com o exercício e meus músculos
continuam a se contrair com prazer. Sei que não sou a única que
quer mais porque posso sentir seu pau semiereto contra minha
bunda.
Deitamos em silêncio por um longo tempo, nenhum de nós
pronto para ceder ao sono.
— Ainda está acordada? — por fim, sussurra.
— Sim. Você?
— Sim — ele ri. — Amalie?
— Sim?
— Nunca disse isso antes porque fui um babaca, mas sinto
muito mesmo sobre seus pais. Isso deve ter sido muito difícil.
A menção aos meus pais faz lágrimas arderem em meus olhos
na hora, e só me lembra da conversa que tive com a Srta. French
hoje.
— Obrigada. É… — Minha voz falha e ele percebe.
— Merda.
Ele me vira e não tenho escolha além de encará-lo. Ele beija as
duas lágrimas que escorrem e me puxa mais apertada contra seu
peito.
— Eu sinto muito mesmo.
Não sei se está se desculpando pela perda dos meus pais, o que
é óbvio que não tem nada a ver com ele, ou pelas merdas que
aprontou nas últimas semanas. Não importa para o que é em
específico porque aceito mesmo assim.
— Eles sabem como aconteceu? — pergunta depois de alguns
minutos de silêncio entre nós.
— Ainda estão investigando se interferiram ou não no helicóptero
deles. Esperava que tivessem as respostas necessárias à essa
altura. Está demorando uma eternidade. Só preciso que resolvam
logo isso para que possa tentar seguir em frente.
— Se ajuda em alguma coisa. Acho que você já está se saindo
muito bem. O que você passou teria partido a maioria das pessoas.
— Você fez um bom trabalho tentando.
— E é provável que me arrependa pelo resto da vida. Estava tão
preso nos meus próprios problemas que nem pensei duas vezes no
que você passou. Fui cabeça dura para caralho.
Eu o rolo de costas, jogo a perna por cima da sua cintura e me
deito em cima dele, com o queixo apoiado em seu peito.
— Está no passado. Não adianta se punir por algo que não pode
mudar.
— Preciso abrir mão do passado. Vê-la hoje me mostrou isso.
Preciso olhar para o futuro, descobrir que merda quero fazer com
isso.
— Você teve uma reunião com a Srta. French?
— Várias. — Odeio puxar o assunto de faculdade outra vez,
porque ele o suprimiu bem rápido da última vez, mas tem que ter
algo que ele possa fazer para chegar lá.
— E o que ela diz sobre faculdade e essas coisas?
— Que deveria pensar nisso e parar de desconsiderar como uma
opção. Não me olhe assim — fala quando ergo uma sobrancelha
para ele de uma maneira “eu te disse”.
— Que tal se pensarmos nisso juntos?
— Ir para faculdade juntos?
— Uau, calma lá, Thorn. Só transamos, não casamos. — Sua
expressão desanima e me faz ponderar se está levando isso entre
nós mais a sério do que demonstra. — Só quis dizer pesquisar um
pouco, tentar desvendar o futuro juntos.
— Acho que poderíamos fazer isso.
— Você tem alguma ideia do que gostaria de estudar?
— Hm… que tal seu corpo? — pergunta, nos rolando e
chupando um dos meus mamilos.
— Não estou certa que é uma opção. — Dou risada enquanto
ele faz cócegas dos meus lados antes de se acomodar entre minhas
pernas outra vez como se fosse sua nova casa.
— Quero estudar fotografia, então definitivamente poderia usar
seu corpo.
— Ah é? — pergunta com uma piscada.
— Aprendi alguns truques com meu pai, seria capaz de tirar
alguns centímetros de você.
Ele suspira em horror fingido.
— Viu, estava certo, sabia que você era uma vaca.
— Isso poderia ser um pouco mais convincente se você dissesse
quando seu pau duro não estivesse me cutucando entre as pernas.
— Pode tirar fotos minhas em qualquer dia. Não sou tímido.
— Estou vendo. — Meu olhar vai para onde seu punho está
acariciando devagar a ereção.

É seguro dizer que deixamos nossa marca naquele quarto de motel,


e no banheiro, quando decidimos que é provável que seja hora de
tomar banho.
Quando tiro as pernas da cama em algum ponto muito depois do
amanhecer na manhã seguinte, juro que todos os músculos do meu
corpo doem.
— Você está bem? — Jake pergunta, olhando para mim com as
cobertas em volta da cintura. Com certeza é uma bela imagem para
se acordar. O cabelo está espetado em todas as direções e os
lábios ainda estão inchados das horas que passamos nos beijando.
Algo no meu peito cresce ao vê-lo, mas afasto o sentimento para o
fundo da cabeça, com medo que se focar muito nele só vai resultar
em mágoa.
Sorrio para ele, mas não é nada convincente.
Não faço ideia do que vai acontecer quando sairmos desse
quarto de motel, mas sei que as coisas entre nós nunca serão como
são aqui.
Têm obstáculos demais que ficarão entre nós outra vez quando
voltarmos para Rosewood. A mãe de Jake é o problema mais óbvio,
mas não posso esquecer todos os alunos da escola que não
ficariam nada impressionados se alguma coisa acontecesse entre
nós.
— Por que você parece tão preocupada?
— Porque precisamos voltar em breve para realidade.
— E? Eu deveria estar me estressando com isso. É a vagabunda
da minha mãe que está esperando por mim. — Recuo por vários
motivos e acho que percebe seu erro porque se apressa em se
desculpar. — Sinto muito. Queria poder trocar a minha pela sua.
— Não tem problema — falo, esticando o braço e apertando sua
mão. — Mas...
— Mas o quê?
— O que acontece entre nós quando sairmos daqui? Ontem a
noite foi…
— Incrível. Enlouquecedor. De outro mundo — fala, me puxando
de volta para cama com ele e dando um beijo na ponta do meu
nariz.
— Sim, mas...
— Mas nada, Amalie. — Arrepios cobrem minha pele com o som
do meu nome, e isso o faz sorrir. — Podemos sair daqui de mãos
dadas e pode continuar pelo tempo que você quiser, se for o que
você quer.
— Mas não é tão fácil.
— Por que não? Caso não tenha deixado claro o bastante noite
passada, quero você, Brit. Cansei de toda a merda e fingimento.
Sou seu, se você aceitar.
— Mas e os outros?
— Ninguém mais importa.
— Não sei se todos pensarão assim.
— Tipo quem?
— Chelsea, pra começar.
— Foda-se a Chelsea. Ela não tem nada a ver com o que
acontece entre nós.
— Não, mas vai ter uma opinião e vai garantir que os outros
também tenham.
— Foda-se. Todos eles. Se precisar subir no maldito telhado da
escola e gritar para o mundo que você é minha, então o farei, porra.
— Acho que não vai ser necessário — murmuro, ficando
envergonhada só de pensar nele fazendo algo tão ridículo.
— Que tal levarmos um dia de cada vez? Preciso cuidar da Kate
quando voltar, não tenho dúvida que está esperando por mim, e
partimos daí. Talvez você me deixe te levar para sair.
— Tipo um encontro?
— Sim, se você quiser.
Um sorriso faz meus lábios contraírem.
— Você alguma vez teve um encontro?
— Não, nunca. Nunca fui em um encontro e nunca beijei
ninguém.
— Aquele rumor era verdade?
— Até você, baby. — Meus olhos se arregalam em surpresa. —
Estou falando sério. Também estou sério com isso, conosco.
— Eu também — admito, colocando meu coração em risco.
— Então tudo bem. Vamos? É provável que tenham pessoas
procurando por nós em casa, bom, você deve ter pelo menos. — Ele
está certo, é dia de aula e nenhum de nós está lá. Deixei um bilhete
bem curto para minha avó ontem dizendo que dormiria em outro
lugar, mas tenho certeza que ela ainda está esperando que apareça
na escola hoje, Camila também.
— Que tal um banho primeiro? — pergunto, erguendo uma
sobrancelha para ele.
— Com certeza. — Ele se levanta da cama mais rápido do que
posso piscar e depois estou nos seus braços e a caminho do
banheiro.
— Argh, está congelando — dou um gritinho quando ele abre o
chuveiro e somos atingidos pela água congelante.
— Vou te aquecer, baby.
Ele não está errado. Aquelas palavrinhas são o suficiente para
fazerem exatamente isso, mas ele garante que termina o que
começou ao me empurrar até a parede e me cercando, por dentro e
por fora, com seu calor.
CHAPTER QUARENTA

Amalie

T iro o telefone da bolsa, medo pesa nos meus ombros quando


vejo um monte de chamadas perdidas e mensagens da minha
avó e da Camila.
— Merda — murmuro, colocando o telefone na orelha quando
começa a chamar.
— Amalie? Onde diabos você está? A escola me ligou para dizer
que você não apareceu.
— Desculpa. Estou com um amigo que precisava de mim. — O
cotovelo de Jake me cutuca no braço e suas sobrancelhas se
erguem quando diz, sem som, “amigo?” para mim.
— Confio em você, Amalie, e por isso disse a eles que estava
doente, mas aprecio um aviso prévio no futuro.
— Sinto muito mesmo. Nós perdemos a hora. Estamos voltando.
Chegaremos em algumas horas.
— Tudo bem. Te vejo em breve. Você pode querer falar com a
Camila antes que ela te encontre primeiro.
— Farei isso. Te vejo em breve.
— Amigo? — Jake pergunta, parecendo puto com minha
descrição.
— Não era uma conversa para se ter pelo telefone. Vou te
apresentar direito em pessoa quando voltarmos, se você quiser. —
Ele engole em seco, nervoso com o prospecto. — O quê?
— É só que nunca fiz todo esse negócio de conhecer a família
antes, e mais, ela vai saber quem é minha mãe e…
— E nada. Minha avó é bem mente aberta. Vai dar tudo certo.
— Se você diz.
Olho no relógio, sei que Camila vai estar na aula, mas como não
quero deixá-la mais surtada do que é provável que esteja, ligo
mesmo assim.
Cai direto na caixa postal, mas nem cinco minutos depois ela
está ligando de volta.
— Onde diabos você está? E não me diga, você está com Jake?
— Hm… não sei bem onde estamos, mas sim, ele está aqui.
— Puta que pariu, Am. Estava ficando louca.
— Estamos bem. Ficamos em um motel a noite passada.
— Tudo bem, então… Espero ouvir todos os detalhes depois,
mas por enquanto, só estou feliz que ele não te matou e jogou seu
corpo no mar.
— Ouvi isso — Jake grita com uma risada.
— Que bom, era essa a intenção. Se você a machucar, Thorn,
você vai ver.
— Quero ver você tentar.
— Não me tente. Ela já é boa demais para você.
— Não poderia concordar mais.
— Beleza, por mais que isso tenha sido divertido, estou aqui e
ouvindo a conversa. Venha na casa da minha avó depois da aula,
pode ser?
— Dãn, claro. Vamos comprar vestidos, lembra?
— Hm… não.
— Merda, devo ter esquecido de te contar, mas preciso da sua
ajuda para comprar alguma coisa sexy para o homecoming e o
aniversário de Noah, porque, bom… você sabe.
— É, eu sei. Não tem problema. Te vejo mais tarde. Você pode
me pagar o jantar.
— Depois do estresse que você me causou hoje? Acho que não.
— Que seja. Tchau.
— O que diabos foi isso?
— Camila está se guardando.
— Ela e Noah não… — Deixa sem terminar. — Uau. Aposto que
o Mason não sabe disso.
— O que isso tem a ver com ele?
Jake revira os olhos como se fosse tão óbvio que não deveria
nem precisar perguntar.
— Ele está apaixonado por ela há séculos. Só se recusa a
admitir.
— Sabia que tinha alguma coisa entre aqueles dois. Eles se
recusaram a falar disso quando perguntei.
— Um é tão besta quanto o outro. Fingem que não se aguentam,
mas na verdade são exatamente o que o outro precisa.
— Isso é demais — falo com uma risada.
— Ei, pelo menos tirei a cabeça da bunda.
— Sim, garanta que continue assim.
Estico o braço e coloco a mão na sua coxa, mas ele e a pega e
leva aos lábios.
— Sempre. — Sua promessa faz meu coração palpitar, mas luto
para manter minha cabeça no controle do que está surgindo entre
nós. Ele tem poder para me partir e só somos oficialmente o que
seja que somos por alguns minutos.
Conversamos de merdas aleatórias o caminho inteiro para casa,
mas é legal. Não sei quase nada dele, então absorvo coisas
mundanas como sua comida e cor favoritas.
Não é até nos aproximarmos da casa dos seus tios que a
realidade da situação se faz presente. Tem um farfalhar de cortinas
na sala de estar antes do seu tio sair voando da casa, seguido de
perto pela tia andando devagar com sua enorme barriga grávida.
— Que porra você estava pensando?
— Apenas emprestei por algumas horas. Não machucou
ninguém.
— Você não emprestou. Você roubou. Deveria se sentir sortudo
que não ligamos para a polícia te pegar.
— Como se eles fossem dar a mínima. Vocês viram o estado do
carro?
— É meu Pontiac Sunfire 1991. Vou reformar e vai ser um
clássico.
Jake bufa
— Uma merda clássica.
— Só porque permitimos que você fique no nosso terreno não
significa que tem o direito de usar nossas coisas quando sentir
necessidade. E se sua tia tivesse entrado em trabalho de parto?
Jake olha para a tia, e depois para o outro carro na garagem.
— Ela me parece bem grávida. Vem — ele fala para mim,
pegando minha mão e me levando para longe.
— Tudo bem, vá embora, mas não terminamos, garoto.
Jake mostra o dedo por cima do ombro para o tio.
— Você não deveria pelo menos se desculpar? Ele meio que
está certo sobre você ter roubado. Você fez ligação direta.
— Faria isso se me importasse. Eles não são melhores do que a
vaca de quem fugi. Eles não fizeram merda nenhuma para me
ajudar. Por que deveria ajudá-los?
Evito mencionar que é uma via de mão dupla e que se fosse um
pouco mais legal, então talvez eles também sejam. Tenho a
sensação que tempo demais passou para Jake tentar consertar
qualquer relacionamento que poderia ter tido com a família. É triste,
ainda mais considerando que faria qualquer coisa para ter a minha
de volta, mas é o que é. Não posso defender a sua família
irresponsável só porque a minha, que eu amava, morreu.
— Está pronto para conhecer minha avó? — pergunto quando
saímos da vegetação e entramos no jardim dela. Quando não
responde, olho para ele. — Jacob Thorn, você está nervoso?
— O quê? Não. Eu não fico nervoso. A vida é curta demais para
essa merda.
— Como queira.
— Oi — grito quando entramos pela porta dos fundos que está
aberta.
— Por que você está entrando por… ahh — minha avó diz, os
olhos indo para nossas mãos enlaçadas. — Então foi por esse
amigo que você matou aula?
— Vó, esse é o Jake. Jake, essa é minha avó, Peggy.
— É bom te conhecer.
— Você também. — Minha avó conseguir dizer depois de tirar a
expressão de choque do rosto.
— Sinto muito se causei qualquer preocupação com o
desaparecimento da Amalie. A culpa foi toda minha, precisava
clarear as ideias e ela concordou em ir comigo.
Os olhos da minha avó analisam Jake o tempo todo que ele fala,
e não posso evitar me perguntar o que ela está pensando.
— Gostariam de algo para beber? Podem me contar sobre sua
viagenzinha.
Por sorte, minha avó se vira para nos servir limonada, então não
vê o rubor subir pelas minhas bochechas quando penso no que
fizemos durante a maior parte da viagem.
Jake fica por quase uma hora antes de se despedir.
— Me leva na porta? — pergunta, me oferecendo a mão. Coloco
a minha sobre a dele e me puxa de onde estou sentada e pelo
jardim.
Ele para pouco antes de chegarmos às árvores que escondem
seu trailer do bangalô da minha avó. Ele me puxa e envolve minha
cintura com os braços.
— Acho que ela não gosta de mim.
— Ainda não teve chance de decidir. Dê um tempo, meio que a
emboscamos.
— Ela só está vendo minha reputação e meu sobrenome.
Minha avó fofoqueira deve estar bem ciente de quem é a mãe
dele e como é sua vida.
— Só a deixe ver seu verdadeiro eu. A pessoa que me mostrou,
não o babaca que o resto da cidade vê.
— Você acha mesmo que sou um babaca?
— Jake — falo com um suspiro, erguendo os braços por cima
dos seus ombros e enlaçando os dedos atrás do seu pescoço. —
Esse é seu método de sobrevivência. Eu entendo. Entendo por que
você usa a máscara, mas acho que talvez esteja na hora de se
desfazer dela. — Tomo uma decisão precipitada e uma que espero
que não me ferre mais tarde. — É Homecoming na sexta-feira. Vai
comigo?
Terror lampeja em seu rosto e me arrependo da pergunta na
hora. Estou forçando muito nele, rápido demais.
— Não tem problema. Esqueça que disse qualquer coisa. Foi
besta.
— Não, não. Não foi besta. Só me pegou de surpresa. Se quer
que eu vá com você, então é o que vou fazer. — Ele abaixa a
cabeça e roça o nariz no meu. Sinto um friozinho surgir na minha
barriga com o pensamento dele anunciar para o mundo o que está
acontecendo entre nós.
— Você tem certeza? Todo mundo vai estar lá.
— Mais pessoas para terem inveja de você ser minha.
Meu coração acelera no peito antes de ele pressionar os lábios
nos meus em um beijo leve e simples.
— Te vejo mais tarde. Não tranque a porta.
Calor se acumula entre minhas pernas com o prospecto de um
visitante noturno.
— Tudo bem. Te vejo em breve.
Ele dá outro beijo na ponta do meu nariz e desaparece pelas
árvores.

— Você sabe quem é a mãe dele, né? — minha avó diz na hora que
volto para casa. No segundo que me virei da direção em que Jake
foi, eu a vi olhando pela janela.
— Agora eu sei. Ela apareceu na escola ontem, exigindo vê-lo.
— Ela voltou?
— Sim. O pegou de surpresa.
— Amalie, vem sentar um minuto.
Sigo sua ordem, apesar de ser com um nó de pavor.
— Não vou dizer o que você pode ou não fazer, ou com quem
você pode ou não sair. Mas até onde sei, aquele garoto é má
influência.
— Confie em mim, vó. Sei muito bem do que Jake é capaz.
Conheço sua reputação e como ele é forçado a viver. Nosso
relacionamento nem sempre foi flores e corações quando nos
conhecemos, mas por algum motivo, continuamos atraídos um pelo
outro.
— E esse tipo de conexão não deveria ser rejeitado — vovó diz,
a velha romântica em si vindo à tona mais uma vez. — Só preciso
que você esteja ciente de quem ele é. Sua mãe é…
— Um desastre?
— É, algo assim — ela ri. — Confio em você, Amalie. Você é
esperta e se diz que ele vale a pena, então vou recebê-lo de braços
abertos nesta casa.
— Obrigada, fico feliz de ouvir isso.
— Então, vai comprar vestidos para o Homecoming com a
Camila mais tarde?
— Como você sabe disso?
— Ela queria saber se você estaria de volta na hora que ela veio
te buscar para a aula esta manhã. Parecia bem animada.
— Ela está.
— Você vai?
— Parece que sim.
— Você deveria estar um pouco mais animada com isso.
— Eu sei. É só que festas e eu não nos damos muito bem, então
não tenho motivos para pensar que essa será diferente.
— Tenho certeza que vai ficar tudo bem. Você vai ter um jovem
bonito no braço dessa vez.
Meus lábios se curvam em um sorriso com o pensamento.
— É, só espero que ele não me traga mais problemas.
Conto para minha avó um pouco do drama de ensino médio que
agora é minha vida diária antes de ir me arrumar para comprar
vestidos com Camila.
Ela acaba me arrastando para todas as lojas de roupa do
shopping. E como uma boa mulher, compra o primeiro vestido que
viu.
Como prometido, ela me faz comprar um hambúrguer e fritas
para o jantar e me importuna por todos os detalhes do tempo que
passei com Jake.
— Você sabe que todas as garotas da escola vão querer te
matar, né? Jake Thorn não só te beijou como passou a noite toda
com você.
— Sim, estou ciente.
— Vai ficar tudo bem. Se ele está tão na sua como diz, então vai
falar a real rapidinho. Ninguém vai dizer nada para você se
souberem o que é bom para eles.
— Assim espero.

Enquanto fico acordada na cama esperando por meu visitante


noturno aparecer, repasso os eventos que nos levou a deixar a
cidade ontem. Ainda me sinto tola por não ligar os pontos, ainda
mais depois que ele explicou que era de onde eu vim e o trabalho
dos meus pais que ele odiava.
Estou começando a pegar no sono quando o telefone tocando
ecoa pelo bangalô. Escuto minha avó atravessar o corredor para
atender antes de sua voz chegar até mim.
— Amalie, está acordada?
— Indo.
Colocando um moletom, passo pelo corredor escuro até onde ela
está parada ao lado do telefone com apenas uma luminária acesa.
— É o detetive de Londres. Pensei que gostaria de ficar sabendo
primeiro. — Meu estômago chega nos pés.
— Merda. — Solto a respiração devagar, e tento me preparar
para o que seja que tem a me dizer. Pego o telefone dela e ergo até
a orelha. — Alô?
— Srta. Windsor-Marsh, Detetive Griffin. Tenho notícias do
acidente dos seus pais.
— Certo — digo, minha voz entrecortada conforme minha mão
treme na minha orelha.
— A queda do helicóptero foi determinada como um acidente
horrendo. Nossos investigadores não encontraram nenhuma
evidência que o helicóptero foi sabotado.
— Ai meu Deus — suspiro.
— Acabou, Amalie. Sei que não será fácil, mas espero que agora
que tem a resposta que estava esperando você conseguirá seguir
em frente com a vida. Vai precisar falar com o advogado, mas as
posses e contas dos seus pais serão liberadas. Aconselho marcar
uma reunião assim que possível.
— Obrigada.
— Sei que está tarde aí, mas queria que você soubesse assim
que recebi a notícia.
— Aprecio isso. Muito obrigada.
Ele se despede e coloco o telefone de volta no gancho e me
apoio na parede. Meus joelhos cedem e caio no chão.
Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas, mas não soluço
como espero.
— O que ele disse? — vovó pergunta, impaciente.
— Que… que foi um acidente. Nenhuma evidência de nada
estranho. Acabou, vó. Acabou e eles se foram. — São essas
palavras que abrem caminho para o dilúvio. Minha avó senta ao
meu lado e me abraça enquanto nós duas choramos por tudo que
perdemos.
Não tenho ideia de quanto tempo ficamos sentadas chorando no
ombro uma da outra, mas de repente, um pensamento surge, e não
importa o que faça, não consigo ignorar.
— Preciso voltar.
— O quê?
— Preciso voltar pra Londres. — O pensamento de conseguir
pegar algumas das coisas que fui forçada a deixar para trás me faz
levantar rapidinho.
— Vamos tentar dormir um pouco e pesquisar voos de manhã.
— Não. Preciso ir agora.
— Não faça loucuras, Amalie — diz, mas não estou ouvindo, já
estou no meio do caminho para meu quarto para pegar o
computador. Em minutos, estou com o site aberto e procurando
voos.
— Tem um amanhã. — Tirando o cartão da bolsa, compro a
passagem e fecho o notebook.
— Você não pode simplesmente correr para Londres. E a
escola?
— Serão apenas alguns dias — falo ao encher uma mala de mão
com roupas. — Só preciso estar lá. Eu preciso... Preciso dizer um
último adeus agora que sabemos.
— Espera um pouco e vou com você.
— Desculpa, não quero parecer rude, mas preciso fazer isso
sozinha. Preciso descobrir um jeito de deixar minha antiga vida para
trás.
— Tudo bem — vovó fala com um aceno e um sorriso triste. —
Eu entendo. Levo você no aeroporto. Só me prometa uma coisa.
— Qualquer coisa.
— Prometa que vai voltar.
CHAPTER QUARENTA E UM

Jake

D everia estar esperando por isso, mas quando escuto a batida


na porta do trailer, falo para quem seja entrar, presumindo
estupidamente que é Ethan ou Mason. Mas quando olho para
cima, meu sangue gela conforme vejo minha suposta mãe entrar na
minha casa.
— Jake — sussurra como se eu fosse um maldito animal
selvagem que vai fugir a qualquer segundo. Se ela não estivesse
bloqueando a porta, esperando que fizesse isso, talvez pudesse
considerar, mas passei a última década planejando o que poderia
dizer para ela se algum dia reaparecesse e agora é minha chance.
— Não posso acreditar, como você está grande, e tão lindo.
— Porque é só o que importa para você, né? Aparência. Você
não dá a mínima para o que está dentro porque seu coração é
escuro.
— Jacob Thorn — ela me dá bronca e isso só me deixa mais
irritado.
— Não. Você não tem direito de voltar com tudo depois de todos
esses anos e tentar agir como minha mãe. Você abriu mão dessa
responsabilidade no dia que saiu da minha vida, me deixando com
aqueles dois cuzões.
— Como pode dizer isso deles? Te acolheram quando eu não
podia cuidar de você direito. Estava doente, Jake.
— Mentira, mãe. Você não estava doente, só era gananciosa
para caralho. Alguém te disse que tinha uma carinha bonita,
ofereceu um salário decente e você foi embora como se não tivesse
ninguém dependendo de você. E quanto àqueles dois. — Aponto
para a casa principal. — Eram tão bons em cuidar de mim que me
enfiaram aqui sozinho quando mal tinha idade para cuidar de mim
mesmo.
— Tenho certeza que tem mais coisa envolvida do que isso. Pelo
que ouvi, você era um terrorzinho.
— E aí eles me tiraram de casa e me deixaram aqui para fazer o
que quisesse. Você está surpresa?
— Cometi erros, Jake. Sou apenas humana.
Meus músculos ficam tensos e peito ofegante que ela pode ficar
parada ali e fazer essas declarações depois de tudo que aconteceu.
Meus punhos apertam com meu desejo de machucar alguém,
principalmente ela, mas não vou dar o privilégio de ela chamar a
polícia contra mim, porque não tenho dúvidas que faria isso, e em
seguida venderia a história do seu filho abusivo e incontrolável para
a imprensa.
— Não. Você não apenas cometeu erros. Você arruinou minha
maldita vida. Você tinha um dever quando me pariu. Me colocar em
primeiro lugar. Me fazer sua prioridade. Mas falhou. Falhou em cada
passo do maldito caminho. Então me desculpe se esperava que
voltaria a minha vida e te receberia de braços abertos, mas isso
nunca vai acontecer. Se você tivesse voltado algumas semanas, ou
até um mês depois, eu poderia ter considerado te perdoar. Mas
agora, sem chance. Tempo demais e dor demais passaram. — Dou
um passo em sua direção e ela se acovarda como se estivesse
prestes a bater nela.
Dou um golpe, mas não acaba nem perto do seu rosto. No lugar,
passa pela parede da cozinha e entra no quarto vago.
— Por favor, Jake — ela choraminga.
— Suas lágrimas patéticas não vão funcionar comigo.
— Por favor, quero compensar tudo o que aconteceu. Não vou a
lugar algum dessa vez.
— Bom, eu vou. Não tenho nada mais para dizer a você.
Passando por ela, saio do trailer e corro.
Ela não tem direito de se intrometer na minha vida e tentar
compensar pelos erros que cometeu. Nenhum direito.
Corro até minhas pernas arderem de dor e meus pulmões não
conseguirem inalar rápido o bastante. O que preciso é Amalie, mas
não será bom para ela que apareça desse jeito.
Ao invés disso, reduzo a velocidade para um trote enquanto
entro no acesso da garagem de Mason. Além de Amalie, ele e o
Técnico são os únicos que sabem sobre minha mãe. Faço o melhor
que posso para mantê-la em segredo por medo dos rapazes darem
um google em seu nome e encontrarem seus vídeos pornôs. Não
sou estúpido o bastante para pensar que ninguém sabe. Quando ela
estava no auge, essa cidade adorava se gabar do seu sucesso.
Estranho como tudo parou de repente quando foi pega cheirando
cocaína de assentos sanitários sujos em algum bar fuleiro.
Bato na porta enquanto tento controlar minha respiração
ofegante. Por sorte, é Mason que abre, não sei bem o que alguma
outra pessoa pensaria do meu estado.
— Fico feliz que ainda está vivo — fala, abrindo mais a porta
para que eu entre. — Onde diabos você estava?
— Hm… — Eu o sigo até a cozinha, o som da tv no quarto das
crianças ecoa do quarto de brinquedos ao passarmos. — Sua mãe
está em casa?
— Não, ela… saiu.
Mason gosta de falar da sua vida em casa e da situação familiar
tanto quanto eu. Então dou apenas um aceno de compreensão e
continuo a segui-lo.
Ele tira duas cervejas da geladeira e me passa uma.
— Kate voltou.
A garrafa para no meio do caminho para a boca e seu queixo cai.
— Por favor, diga que você está brincando.
— Seria uma piada hilária, né?
Seus lábios se erguem um pouco, mas já que ele viveu tudo
comigo, acha tão engraçado quanto eu.
— Ela apareceu na escola ontem, exigindo me ver.
— Merda, cara. O que você fez?
— Eu corri. Parece que Brit viu tudo e quando voltei para casa,
estava esperando por mim. Roubamos o carro do meu tio e demos o
fora pela noite.
Seus olhos se arregalam em surpresa, mas juro que também
vejo um pouco de orgulho neles.
— E como foi?
— Incrível para caralho, mano. Mas não beijo e saio contando.
— Sabia que estava apaixonado por ela, porra.
— Apai… — As palavras falham enquanto considero sua
afirmação. Estou apaixonado pela garota que pensei odiar? —
Caralho.
— Demorou tempo o bastante para descobrir, mano.
— Jesus. — Esfrego a mão pelo queixo enquanto uma criança
grita.
— Mason, Charlie fica me batendo com o caminhão.
— Puta que pariu. Vou cuidar deles.
Mason volta até o quarto de brinquedos e dá uma bronca nos
dois irmãos mais novos antes de voltar parecendo exasperado.
— Sua mãe algum dia planeja investir em uma babá verdadeira
para que você possa sair e viver sua vida?
— Ela fica prometendo que as coisas vão mudar, mas desisti de
esperar que isso aconteça há um tempo. Só preciso continuar. Um
dia podemos ganhar na loteria ou alguma merda dessas. De
qualquer forma, meus problemas não são os mais urgentes agora.
Que porra você vai fazer a respeito da sua mãe?
— Além de esperar que ela dê no pé tão rápido quanto da última
vez? Ficar fora do caminho dela. Não posso ficar lidando com suas
merdas.
— Não, não agora que você tem uma namorada para se
preocupar.
— Caralho. Tenho uma maldita namorada.
— Mano, as minas da escola vão pirar. Estão competindo por
sua atenção há anos e aí Amalie chega e te conquista.
— Ela não…
As sobrancelhas dele quase chegam no cabelo.
— Tudo bem. Tudo bem, talvez isso aconteceu um pouquinho.
Viro a cerveja conforme Mason ri.
— Mais uma?
— Me dê todas. Preciso beber pra tirar aquela vaca da cabeça.
Odeio que deixo de me esgueirar no quarto de Amalie quando a
disse para deixar a porta destrancada. Mas ficar embriagado com
meu melhor amigo é exatamente o que precisava. Mesmo que ele
tenha passado a noite brincando de papai para os irmãos mais
novos.

Quando acordo na manhã seguinte, é com a cabeça latejando, mas


Mason garante que levante ao puxar os lençóis e me ameaçar com
um balde de água fria.
— Se você não tirar a bunda do meu chão, se vestir e aparecer
para o treino, o técnico vai arrancar suas bolas.
— Eu sei, eu sei — murmuro, tentando fazer meus braços e
pernas funcionarem o suficiente para me tirarem desse chão duro.
Já sei que vou estar na sua lista negra por ter perdido os últimos
dois dias de treino.
Mas o Técnico não é o motivo que arrasto a bunda do chão. É
Amalie que me faz cambalear na direção do banheiro de Mason
para tomar banho e lavar o cheiro do consumo de álcool da noite
passada. No segundo dia do nosso relacionamento e já vou ter que
rastejar por perdão por não dar as caras na noite passada.
Só de pensar nela esperando por mim na cama, usando apenas
uma calcinha pequena e uma camiseta fina o suficiente para ver
seus mamilos por ela faz eu me perguntar que porra estava
pensando ao ficar aqui ontem.
Evito nosso lugar de costume quando chego na escola. A última
coisa que preciso agora é a maldita Chelsea fingindo se importar
onde estava ontem. Ao invés disso, vou direto na direção do armário
da Amalie. Só que… ela não está lá.
Não tenho ideia dos seus horários, passei as últimas semanas
tentando fingir que não ligo, algo que agora estou me arrependendo
mais do que nunca porque me ajudaria a encontrá-la mais rápido.
Sabendo para quem preciso perguntar, vou na direção de Camila
e seu grupinho de amigos. Infelizmente, isso inclui Shane, alguém
que nunca precisaria cruzar meu caminho outra vez. Tudo em mim
implora para que bata nele pelo o que fez com minha garota
naquela festa, mas algo me diz que ela não ficaria feliz se fizesse
isso. Ela parece estar sob a ilusão que é um cara legal e não
poderia ter sido ele que a drogou.
Ignoro seu olhar fuzilante, coloco a mão no ombro da Camila e a
viro para mim.
— Onde ela está?
— O que… — Ela demora alguns segundos para compreender
que sou eu. — Amalie?
— Sim, Amalie. De quem diabos estaria perguntando?
Ela dá de ombros e isso me irrita.
— Onde ela está? — Cuspo.
— Você não sabe? — Está me provocando, sei que está, mas
não posso evitar ficar afetado. Eu preciso dela, porra.
— Parece que eu sei, caralho?
Minha voz alta está começando a causar uma comoção, mas
não dou a mínima.
— Ela foi para Londres.
Minha cabeça roda enquanto tento aceitar o que acabou de
dizer. Passei os dois últimos dias quase inteiros com ela e nenhuma
vez me disse que iria viajar. Meu coração acelera enquanto pânico
começa a tomar conta. Por que ela não me diria que iria embora?
— Quando vai voltar? — Minha voz está embargada conforme
luto para me manter em controle.
— Eu não sei. A vó dela disse que reservou um voo só de ida.
Meu queixo cai em choque.
— Só de ida?
— Sim, provavelmente está tentando se afastar de você —
Shane opina, corajoso, me dando a desculpa perfeita para fazer o
que estava querendo no segundo que coloquei os olhos nele.
— Filho da puta.
Meu punho voa e o atinjo na mandíbula. Ele cambaleia por não
estar esperando o golpe, mas consegue se equilibrar antes de cair
no chão.
A próxima coisa que vejo, um par de mãos grandes envolvem
meus bíceps e sou puxado para trás enquanto Shane geme de dor.
O gosto de cobre enche minha boca, me dizendo que deve ter
conseguido acertar alguns golpes, mas meu corpo está cheio
demais com adrenalina para sentir qualquer coisa neste momento.
Sou empurrado para frente com força enquanto as pessoas
cercam Shane.
Que se foda. Espero que doa para caralho.
— Você não a merece — grita sobre o tumulto.
Um sorriso curva meus lábios. Não é a maldita verdade.
Até ser empurrado pela porta do escritório do Técnico e
empurrado na cadeira na frente da sua mesa, estou começando a
recuperar o controle e meu rosto começando a doer.
— Você precisa começar a falar, garoto. Primeiro, brigando no
jogo, depois faltando no treino durante dois dias seguidos e agora
isso. Estou perto assim de colocar você no banco, Thorn. Perto
assim. — Quando olho para cima, ele está com o polegar e o
indicador separados por um centímetro. — O que está
acontecendo? Por favor não me diga que tudo isso é por uma barra
de saia.
— Ela não é só uma barra de saia — fervilho.
— Então é uma garota. Quem deixou você todo nervoso?
Desvio o olhar para o colo e mantenho a boca fechada.
— Não posso te ajudar se você não falar.
— Não importa quem ela seja, tá bom? Ela foi embora. Deu no
pé e me deixou para trás como o lixo que sou.
— Bom, essa conseguiu mesmo te afetar.
— Não é só ela, Técnico.
Ele se reclina e cruza os braços pelo peito, esperando que eu
desembuche. Estou surpreso que ele não sabe. Fofoca aqui se
espalha pelos professores tão rápido quanto pelos alunos.
— Continue.
— Kate deu as caras.
Ele acena, esperando que conte tudo, o que faço. O Técnico é a
única figura parental que tive pela maior parte da vida, tão diferente
do mundo a minha volta, ele conhece todos meus segredinhos
sujos. Ele também me livrou de problemas mais vezes do que posso
contar.
— Você precisa tirar ela da cabeça, ou vai ser inútil na sexta-
feira. É nosso grande jogo contra Eastwood, caso tenha se
esquecido. Ganhamos esse e estaremos bem a caminho para o
estadual. Mas preciso de você, Thorn. Preciso de você e preciso
que esteja totalmente focado. Nada de mãe vacilona, nada de
problemas com garotas. Tire-as daqui e foque — diz, dando
toquinhos na minha cabeça. — Agora dê o fora daqui e vá arrumar a
cara. Vejo você no campo depois da aula.
— Você não vai me colocar no banco.
— Ainda não. Preciso de você na sexta, vai ter que deixar o nariz
fora de problemas até lá ou serei forçado a agir. Agora dê o fora
antes de sujar o chão do meu escritório com sangue.
Assim que sou liberado do escritório do técnico, sou arrastado
para o do diretor e recebo uma bela bronca pelas minhas ações.
Mas muito parecido com o técnico, ele também sabe que está
dependendo de mim no jogo de sexta, então no final, ele pega leve
comigo.

Até sexta a noite, meus hematomas estão começando a diminuir e


os cortes nas mãos estão se fechando, uma pena que a dor no meu
peito ainda não abrandou. Tentei ligar para ela quando descobri que
havia ido embora, mas nem chegou a chamar. Então depois de
destruir um pouco mais do meu trailer do que já estava depois da
visita da minha mãe, mandei uma mensagem de texto da qual me
arrependi no segundo que apertei enviar. Na verdade, não quis dizer
nenhuma das palavras duras. Seu desaparecimento repentino dói
tanto, suas ações são exatamente do que a acusei logo que chegou.
Ela não é melhor que minha mãe que fugiu ao primeiro sinal de uma
vida melhor. Suas poucas horas comigo foram tão ruins que
precisou deixar o país?
A última coisa que quero é ir para escola e ser celebrado
enquanto, com sorte, ganhamos de Eastwood. São nossos maiores
rivais e quase todos os anos ganham de nós, indo embora com
sorrisos presunçosos para caralho nos rostos.
Todo o corpo estudantil enche as arquibancadas para o jogo
desta noite. Homecoming é importante, as esperanças estão altas
depois das nossas últimas vitórias e todos os olhos estão nos
observando ansiosos quando entramos no campo. O urro de
animação dos fãs me faz retesar, mas ajuda a afastar tudo o que
estou sentindo e me permite focar no que deveria estar fazendo no
momento.
Que se foda, se não acha que esse lugar é bom o suficiente para
ela, então já vai tarde. Esse lugar é meu, e agora minhas pessoas
precisam de mim.
O jogo é difícil para caralho e não ajuda o fato que Shane me
provoca com olhos muito divertidos ou um empurrão no ombro se
pensa que pode se safar. Ele está irritado que a tive, mesmo que
por um curto período de tempo, mas está tão puto quanto por ter
feito ela ir embora. Posso me gabar que tive Amalie, mas pelo
menos não precisei drogá-la para levar para cama.
O Técnico percebe a tensão entre nós e move a boca para mim,
dizendo para me acalmar. Nós dois sabemos que eu não deveria
estar neste campo no momento, depois de ter atacado Shane outro
dia. Estou determinado a terminar este jogo e não deixar que ele o
arruíne, como está tentando fazer.
Ganhamos, mas por um fio, e a animação está sem igual quando
voltamos para o vestiário.
— Aí sim, garotos — Ethan grita. — Agora vamos tomar banho
para limpar essa merda e encontrar algumas bocetas.
Todo mundo celebra, mas eu apenas começo a tirar o uniforme e
não passa despercebido.
Mason e Ethan aparecem aos meus lados.
— Você vai, certo?
— Pareço como se quisesse ir a um maldito baile?
— Ah, vamos, você vai ganhar a coroa e depois vai ter ainda
mais garotas penduradas em você do que de costume.
Nenhum deles sequer pisca quando ergo o braço e bato o punho
no armário na minha frente.
Dor irradia pelo meu braço, mas gosto da distração do meu
coração.
— Não quero outras garotas, porra — sussurro, sem querer que
o resto do time escute que virei um maricas.
— Tudo bem, bom, que tal você vir comemorar com o time. Você
não precisa ficar a noite toda. Podemos ir embora mais cedo e ficar
chapados.
Agora isso soa mais como uma oferta que não posso recusar.
— Tudo bem, mas só porque você está oferecendo algo para
acabar com as memórias depois.
— Esse é meu cara — Ethan bate no meu ombro antes de ir
para os chuveiros.
— Você ainda não teve notícias dela? — Mason pergunta,
parecendo mais preocupado comigo do que só ficar de fora esta
noite.
— Ela foi embora. Espero que esteja morrendo de rir. Ela me
ganhou no meu próprio jogo, me fez querê-la e deu o fora.
— Não, cara. Não é do feitio dela. Você sequer foi falar com a
avó, para descobrir o que está acontecendo?
Meu silêncio conta tudo o que ele precisa saber do fato que não
fiz nada disso. Não vou correr atrás dela e deixar que a cidade
inteira veja que me deixou de joelhos.
Tomo banho e depois coloco uma camisa social branca com
calças pretas e sapatos. A última coisa que quero é me vestir bem,
mas não querer decepcionar meu time mais do que já o fiz.
Posso colocar um sorriso falso no rosto por uma hora antes de
alguém me dar uma garrafa de algo mais forte.
CHAPTER QUARENTA E DOIS

Amalie

E ntrar na casa dos meus pais é a sensação mais estranha. Está


exatamente do jeito que deixei. A faxineira que ainda está
empregada a manteve brilhando.
Meu coração doeu mais do que pensei ser possível enquanto
olhava todos os pertences deles, suas vidas.
Não deveria ter corrido como fiz, mas a necessidade de estar
cercada por eles era demais. Sinto falta deles mais do que palavras
jamais poderiam expressar e ouvir que ninguém os queria mortos
me fez precisar desse último adeus.
Esse lugar poderia parecer familiar de muitas maneiras, mas fica
óbvio no minuto que entro que não é mais minha casa. As duas
pessoas que faziam esse lugar parecer um lar familiar cheio de
amor se foram, deixando algo que não era muito mais que uma
casa.
Passo o primeiro dia lamentando a perda dos meus pais e
selecionando as coisas deles. Por mais que odeio remover pedaços
deles, sei que precisa acontecer para me ajudar a seguir em frente.
Seleciono alguns dos meus itens favoritos do guarda-roupa e da
coleção de joias da minha mãe e abro mão do resto. Está na hora
de seguir em frente.
Depois que a casa está quase vazia, me sinto um pouco melhor
e como se essa viagem tivesse valido a pena, e não apenas um
surto momentâneo do qual vou me arrepender.
Só percebi que esqueci o carregador na pressa de fazer as
malas quando desliguei o celular para decolar.
Disse a mim mesma que teve um motivo de ter esquecido e
quando passei pelas lojas no desembarque do aeroporto de
Heathrow, não parei para comprar um novo.
Srta. French desencadeou pensamentos do meu futuro, preciso
desse tempo para descobrir o que quero fazer. Pode ser egoísta, me
desligar do mundo. Sei que Jake não vai ficar feliz com isso, mas
espero que compreenda minha necessidade por um tempinho
sozinha. Minha vida tem estado uma loucura e só preciso de um
minuto para respirar. Preciso que tudo desacelere, que todas as
mudanças parem para que possa apenas ser eu.
Marco uma reunião com o advogado dos meus pais para discutir
o que vem em seguida, junto com outra no banco para descobrir o
que diabos fazer com o dinheiro que deixaram. Sei que eram bem
de vida, mas ter a realidade dessa condição na tela na minha frente
foi assoberbante. Como sua única filha, tudo, incluindo a empresa,
foi deixado para mim. Por sorte, eles colocaram pessoas muito
capazes administrando tudo, o que significa que não preciso fazer
nada. Foram espertos o bastante para deixar as coisas organizadas
caso o pior acontecesse. Então parece que só tenho que relaxar e
usufruir dos benefícios que meus pais teriam. Se estou sendo
honesta, preferia ter meus pais, mas é um pouco tarde para isso.
No segundo que saio do banco, sei o que preciso fazer. Desde o
momento em que pousei, acho que sabia que esse lugar não era
mais meu lar e passar mais tempo aqui só provou uma coisa. Deixei
meu coração para trás na América. Está firme nas mãos de um cara
sexy, partido e teimoso, que acho que sente o mesmo, apesar de
todas as maneiras que tentou provar o contrário.
Permitir que pensamentos de Jake surjam faz meu coração
ansiar para vê-lo outra vez. Para sentir a segurança dos seus
braços ao meu redor.
Chamo um taxi, falo meu antigo endereço e digo para se
apressar. Tenho um voo para reservar e, com sorte, pegar.
O voo de volta é excruciante. Depois de tomar a decisão, queria
voltar naquele instante. Então ficar sentada por quase uma hora
para esperar a decolagem foi difícil.
Liguei para minha avó no momento que comprei a passagem de
última hora, e ela concordou em me buscar do outro lado.
Comprei um carregador de celular no aeroporto e usei a tomada
no avião para carregá-lo.
Quando ligo do outro lado, fica doido com mensagens de texto e
voz. Quase todos de Jake e Camila.
Ignoro todos. Meu foco é uma coisa, e apenas uma.
Minha avó me encontra no desembarque como se não tivesse
me visto há anos, e não dias.
— Também senti saudade — falo no seu cabelo enquanto me
abraça apertado.
— Estava tão assustada que você não iria voltar — admite,
fazendo meu coração doer.
— Acho que precisava voltar para perceber onde precisava
mesmo estar. Amo Londres, mas esse lugar se tornou meu lar
agora. Nunca existiu a menor chance que não voltasse.
— Ainda bem. — Quando ela se afasta, os olhos estão cheios de
lágrimas. — Amo ter você aqui, Amalie. Não percebi como estava
solitária antes de você aparecer.
Emoção forma um nó na minha garganta e só confirma algo que
praticamente decidi em Londres. Não vou deixá-la para ir para
faculdade. Depois de resolver o que preciso esta noite, vou pegar a
papelada que a Srta. French me deu para as faculdades locais e
pesquisar seus cursos. É aqui que meu coração e minha família
estão, então é aqui que preciso ficar.
— Eu também gosto muito daqui. Não percebi o quanto até ter
ido embora.
— É tão bom ouvir isso. Agora, vamos sair daqui, pelo o que sei,
tem um baile esta noite e tenho quase certeza que vai ter um garoto
esperando por você.
— Não tenho tanta certeza — murmuro, saindo do terminal ao
lado de vovó.
— Não?
— Não falei com ele desde que fui embora — admito com uma
careta. Sei que provavelmente não foi a coisa mais esperta a se
fazer quando se trata de Jake, mas precisava de tempo.
— Bom, ainda mais motivo para se arrumar e surpreendê-lo.
No segundo que passo pela porta da frente da casa da minha
avó, corro para o banheiro.
Tomo o banho mais rápido da minha vida antes de secar o
cabelo e passar uma maquiagem leve. Posso estar com pressa,
mas ainda precisa parecer que me esforcei.
Abro meu guarda-roupa, meus olhos focam em um vestido. O
vestidinho prateado que minha mãe comprou para minha celebração
do final da escola na Inglaterra.
Eu o pego e me permito alguns segundos para admirá-lo. Não
tenho ideia se é o tipo de coisa que as garotas usam para o
Homecoming, mas neste momento, não dou a mínima, é
exatamente o que preciso para me dar confiança para entrar
naquele ginásio e reivindicar meu lugar nesta escola.
Abro mão da entrada chique, já que o baile já começou e deixo
que minha avó me leve até o estacionamento.
Depois de me despedir dela, ando o pequeno caminho na
direção do ginásio. Minhas mãos tremem e sinto um friozinho tão
grande na barriga que parece um furacão que vai me levar embora.
Estou morrendo de medo que ele vai me rejeitar depois de o ter
deixado. É exatamente o tipo de comportamento pelo qual me
culpou logo que cheguei, mas estou determinada a fazê-lo
compreender que foi algo único, que estou de volta e um dos
maiores motivos é ele.
Solto uma respiração profunda, balanço os braços e ergo um
para abrir a porta.
O som de conversas e animação chega até mim, mas para
minha surpresa, não tem música.
Minha curiosidade, junto com minha necessidade por Jake, faz
meus pés se moverem. Ando pelo corredor curto e o motivo por trás
da falta de música se esclarece.
— E sua rainha do Homecoming é… — Tem um breve silêncio
antes de quem está no comando do microfone anunciar o nome de
Chelsea. Mas é claro que é ela.
Reviro os olhos e solto um gemido interno antes de continuar.
O ginásio está cheio de balões e serpentinas para parecer
menos como uma arena esportiva e mais como um lugar para se
festejar, mas meus olhos não focam em nada disso ou nas centenas
de adolescentes encarando o palco, porque apenas um homem
sobre ele chama minha atenção.
Está vestindo uma camisa branca com o colarinho aberto e sem
gravata. Calças pretas que são justas o bastante para marcarem
suas coxas e fazerem minha boca salivar, mas são nos seus olhos
em que me perco enquanto olha para o horizonte. Parecem
assombrados de um jeito que me lembro muito bem. Estão
iguaizinhos ao primeiro dia em que me viu, e depois quando viu sua
mãe há alguns dias.
Chelsea sobe no palco rebolando, fazendo um alarde ao receber
a coroa e ser objetificada por todo mundo.
Jake nem olha para ela ao ficar parado como se quisesse que o
chão o engolisse. Não estou surpresa que ele foi coroado rei porque
é exatamente o que ele é. Ele manda nesse lugar. Sabe o quanto
precisam dele para ter qualquer tipo de sucesso no futebol, e usa
como vantagem.
Estou congelada no lugar assistindo essa pequena cerimônia
acontecendo na minha frente quando todos os músculos do meu
corpo ficam tensos conforme Chelsea se aproxima de Jake. Ela tem
um brilho no olho que não gosto enquanto o fotógrafo dá uns cliques
neles. Assim que ele dá um passo para ir embora, ela bloqueia seu
caminho e colide os lábios nos dele. Seu corpo fica imóvel, seus
olhos arregalam, mas é neste momento que me encontra parada na
porta.
Demora um segundo a mais do que deveria para reagir. Estou
prestes a ir até lá e tirar a biscate dele quando seus braços se
erguem e ele a empurra com força. O corpo estudantil inteiro arfa
em horror enquanto ela perde o equilíbrio e cai do palco.
Não tenho ideia do que acontece com ela porque meu foco está
todo nos olhos raivosos de Jake. Enquanto a comoção continua na
frente do palco, Jake desce com um pulo fácil e desvia da multidão
que se formou.
Meu coração bate forte no ritmo dos passos que dá na minha
direção. Não tenho ideia do que ele vai fazer, mas pela expressão
em seus olhos e as linhas duras no seu rosto me assustam.
Em nenhum momento ele desvia o olhar e acho que isso é ainda
mais enervante. Ele me quer nervosa.
Meu corpo inteiro está tremendo até que chega até mim, e me
preparo para o tipo de abuso que vai escapar dos seus lábios por ter
ido embora, mas nada acontece.
Está a centímetros de mim, os olhos fixos nos meus, o peito
arfando quase tanto quanto o meu. Seu braço se ergue e recuo, não
que pense que ele vai me bater, mais como surpresa com o
movimento.
Depois ele faz algo que não estava mesmo esperando. Sua mão
segura minha bochecha antes dos seus dedos deslizarem para meu
cabelo.
— Ainda bem — murmura, a voz partida e derrotada antes dos
lábios tocarem os meus.
Não tenho ideia se é porque desligo o mundo ao meu redor para
focar no seu beijo ou se o ginásio fica mesmo em silêncio enquanto
me beija na frente da escola inteira.
Sua mão inclina minha cabeça para o lado, para que possa
colocar a língua na minha boca e me consumir por completo.
Os braços em volta da minha cintura se apertam, pressionando
nossos corpos juntos e a sensação inconfundível do seu membro
pressionando na minha barriga incendeia algo em mim que não vou
conseguir ignorar.
Ele se afasta e apoia a testa na minha, nossa respiração
acelerada se misturando, seus olhos mais suaves do que estavam
antes, mas ainda cheios de desejo, só que dessa vez não é pela dor
ou vingança, é só por mim, saber disso só faz o meu desejo por ele
mais forte.
— Precisamos dar o fora daqui.
CHAPTER QUARENTA E TRÊS

Jake

P ensei que estava imaginando as coisas quando olhei para


cima e a via parada como um maldito anjo na porta.
Pisquei, esperando que ela desaparecesse quando
reabrisse os olhos, mas ainda estava lá. Infelizmente, Chelsea se
aproveitou da minha distração e não só Amalie ainda estava ali, mas
a maldita Chelsea se grudou nos meus lábios.
A força que usei para afastá-la foi maior do que necessária, mas
ela me pressionou vezes demais. A única garota que queria que me
tocasse está mordiscando o lábio, parecendo incerta de si no
vestido mais sensual que acho que vi na vida.
Pensei que ficaria bravo por vê-la outra vez, mas tudo o que
sinto é alívio. Ela está de volta, e está aqui por mim. É tudo o que
preciso saber, que é minha.
Vou até ela, a única coisa que consigo pensar é ter seus lábios
nos meus. E no segundo que consigo o que desejo, tudo que estava
errado comigo nesta semana de repente se acerta.
— Precisamos dar o fora daqui. — Com a mão na minha, saímos
do ginásio e deixamos todos para trás, mas não antes de ver uma
Poppy alegre sorrindo para nós. Eu pisco e ela dá uma risada leve
antes de me dar um pequeno aceno.
Já está escuro do lado de fora, mas o céu está cheio de estrelas
brilhantes. Nunca prestei muita atenção antes, mas juro que estão
mais fortes hoje.
— Pode andar nesses sapatos? — Paro e olho para seus pés.
Não quero ter que andar até em casa. Quero ser o tipo de cara que
pode ajudá-la a entrar no meu carro para levá-la para meu quarto o
mais rápido possível, mas infelizmente, não sou esse cara. O
melhor que tenho para oferecer é uma caminhada ao luar pela praia
no caminho de volta para meu trailer de merda.
— Vou andar até onde precisar que eu ande. — Meu coração
acelera ao ouvir as palavras pelas quais não sabia que ansiava.
Dou um puxão em seu braço e ela começa a andar ao meu lado
enquanto vou na direção da praia. Andamos em silêncio por um
bom tempo, apenas curtindo a presença um do outro.
— Sinto muito por ter viajado como fiz.
— Sinto muito pela mensagem que enviei. Não quis dizer nada
daquilo.
Ela fica em silêncio por alguns segundos e entro em pânico. Eu
me arrependi da mensagem no segundo que enviei, mas era tarde
demais. As palavras vis já estavam no mundo.
— Não li nenhuma delas. Acabou a bateria do meu telefone e
quando voltei minha prioridade era chegar até você. Percebi uma
coisa quando estava longe.
— O quê?
Ela para enquanto tira os sapatos e pisamos na areia.
— O detetive ligou para explicar que não tinha nada suspeito no
acidente dos meus pais e meu primeiro instinto foi que precisava ir
para casa. Só que no momento que pisei na Inglaterra, percebi que
não era mais minha casa. O lugar que havia deixado para trás que
era. As pessoas que deixara para trás eram meu lar.
Eu a faço parar no meu lugar escondido entre as dunas e seguro
suas bochechas.
— Eu? — pergunto, odiando a hesitação na minha voz. Mas vê-
la outra vez esta noite apenas solidificou a força dos meus
sentimentos por ela. Mal sobrevivi alguns dias sem ela, está bem
claro que não posso viver o resto da vida sem tê-la ao meu lado.
— Você, Jake. Só preciso de você.
— Caralho. — Um nó de emoção com o qual não estou
acostumado prende na minha garganta e o fundo dos meus olhos
ardem enquanto admiro sua beleza. — Eu te amo, Amalie. Eu te
amo para caralho. — Não dou tempo para que responda, ao invés
disso colido os lábios nos dela, determinado em mostrar o quanto
essas palavras significam.
Quando a deixo respirar, lágrimas estão escorrendo por suas
bochechas, mas ela tem o maior sorriso no rosto.
— O quê?
Ela ri, e não posso evitar me juntar a ela.
— Tenho quase certeza que você é o maior babaca que já
conheci, Jacob Thorn. Mas quer saber?
Balanço a cabeça, esperando que ela vai dizer a mesma coisa
que disse a ela. Meu coração parece que está sangrando sem ouvir
as palavras.
— Eu também te amo.
EPILOGUE

Amalie

D izer para Jake como realmente me sentia foi como tirar um


peso enorme dos ombros. A expressão em seus olhos quando
disse aquelas três palavrinhas é algo do qual nunca me
arrependerei. Queria chorar como um bebê quando percebi que tem
uma boa chance de ele nunca ter dito aquelas palavras antes. Por
sorte, ele viu as novas lágrimas e rapidinho me distraiu.
Com seus lábios nos meus, ele nos deitou na praia e bem ali,
sob as estrelas e na privacidade das dunas, ele me mostrou como
se sentia ao fazer amor comigo até que nenhum de nós pudesse
continuar acordado.
Não tenho ideia de que horas acabamos deixando a praia, os
dois sorrindo como malucos e rindo como se não tivéssemos
nenhuma preocupação no mundo. Era a sensação mais incrível e
uma que não tenho dúvidas que Jake continuará a me fazer sentir
por um longo tempo.
Quando voltamos para seu trailer, tomamos banho juntos para
tirar a areia do corpo, no cubículo minúsculo, era apertado, mas
nenhum de nós tinha intenção de se separar tão cedo, então foi
meio que perfeito, antes de cairmos na sua cama.
— Você está pronto para isso? — pergunto, parada na porta da
casa de Noah onde a festa está chegando no quintal e a música
está tão alta que não existe dúvida nenhuma do que está
acontecendo do lado de dentro.
— Estou muito pronto. Está na hora de mostrar para todo mundo
exatamente a quem você pertence.
Com a mão firme na minha, entramos na casa de Noah.
Os olhos intrigados dos nossos colegas de escola seguem todos
os nossos movimentos. As garotas focam nas nossas mãos antes
dos seus olhares fuzilantes me encontrarem. Todas fofocam entre si,
mas me recuso a me acovardar ao seu ciúme mesquinho.
Não reajo a não ser o sorriso crescente com cada passo que
dou. Isso é, até chegarmos em um grupo de garotas sentadas em
volta do sofá. Quando algumas se separam, fica óbvio o porquê
estão todas sentadas aqui, porque no meio, com seu gesso novinho
apoiado na mesa de centro está Chelsea.
— Você quebrou o tornozelo dela — sussurro para Jake,
tentando manter a diversão longe da minha voz.
— Não a teria empurrado se não tivesse se aproveitado de mim.
Meus lábios são para você, e só para você. Está na hora de todos
esses babacas saberem disso.
Ele envolve minha cintura com o braço e me puxa contra ele.
Não precisa dizer nada para chamar a atenção de todos no recinto.
Ele é Jake Thorn, comanda a atenção de todos só respirando.
Depois de estar confiante que todos estão olhando para nós, ele
gruda os lábios nos meus. Ele me beija como se fosse nossa
primeira vez antes de me inclinar para trás e dar um verdadeiro
espetáculo para nossa audiência.
— Eu te amo, Brit — sussurra quando me puxa para cima.
— E acho que todo mundo na sala, além de você, me odeia —
falo como uma piada, mas seus olhos ficam duros com raiva.
— Se algum cuzão te importunar, só precisa dizer uma palavra.
— Sou grandinha, Jake. Posso cuidar de mim mesma.
— E não sei disso — murmura com uma risada.
Abro a boca para responder, mas uma comoção em outro
ambiente chama a atenção de todo mundo.
— Mason, não — alguém grita, e Jake sai correndo. Sou forçada
a seguir, já que sua mão ainda está segurando a minha.
A multidão se abre para ele e é quando conseguimos ver Mason
pela primeira vez, socando sem parar o rosto de Noah.
— O que caralhos acabou de acontecer?
Jake corre para puxar o amigo, quando olho para cima, encontro
os olhos horrorizados de duas garotas. Uma é minha melhor amiga,
a outra uma garota que mal reconheço como outra veterana e parte
da trupe de Chelsea. O que está acontecendo agora, pressinto que
vai mudar a vida da Camila de um jeito que não estava esperando.

Paine, Garotos de Rosewood #2


ABOUT THE AUTHOR

Tracy Lorraine é uma autora bestseller USA Today e Wall Street Journal. Ela escreve livros
de romance contemporâneo e new adult. Tracy mora em uma vila Cotswold fofa na
Inglaterra com o marido, filha e o amado mas um pouco maluco Springer spaniel. Por ser
uma viciada em livros com a cabeça presa no kindle, Tracy decidiu tentar escrever uma
ideia que sonhou, e não olhou para trás.

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ACKNOWLEDGMENTS

Agradecimentos.

Bom, por onde começo? Acho que pelo meu marido. Ele me fez
uma pergunta simples a caminho das nossas férias de verão, e do
momento que as palavras deixaram sua boca, Jake apareceu.
Tinha um plano para o resto do ano, e posso dizer que sem
dúvida Jake não fazia parte dele. Ele tinha uma opinião diferente.
Tentei ignorá-lo, muito mesmo. Estava desesperada para terminar
minha Série Proibidos sem nenhuma distração não planejada, mas
se você chegou até aqui, então já sabe que Jake nem sempre faz o
que mandam.
Então, algumas semanas, um pouco de encorajamento de Andie
M. Long, e muitas anotações no telefone depois, cedi e Jake e
Amalie surgiram. Pode-se dizer que me consumiram pelos dois
meses e meio que demorei para escrever a história deles.
Tive muitas dúvidas sobre esse livro, é um dos motivos que não
falei que o estava escrevendo até ter terminado. Minha alfa,
Michelle, que lê todos meus livros enquanto os escrevo, odiou Jake,
a ponto de ameaçar desistir. Mas por sorte, sua curiosidade ganhou
e teve que continuar. Valeu a pena, porque ela se apaixonou
perdidamente por Jake.
É diferente dos meus livros costumeiros porque os personagens
são mais novos, e o drama mais intenso e Jake mais babaca do que
costumo escrever, mas depois que entreguei para as betas, elas
ajudaram a me livrar do medo e me encorajaram a seguir em frente.
Devo um grande obrigada a elas por darem uma chance a um livro
que não é necessariamente o que costumam ler e se apaixonarem
por ele mesmo assim. Espero que alguns mais de vocês confiaram
em mim o suficiente para chegarem até aqui, e também se
apaixonaram perdidamente por Jake.
Como sempre, comecei com a intenção de ser um livro único,
mais para tirar Jake da cabeça, mas assim que Jake começou a
desaparecer, mais alguns surgiram, então acho que a maior
pergunta é… qual é o problema da Camila e do Mason. Bom, com
sorte vocês logo descobrirão, porque a história deles é a próxima!
Preciso dizer um enorme obrigada a Michelle Lancaster que me
ajudou quando estava no inferno das capas e encontrou o modelo
mais incrível que “grita” Jake. Os próximos dois são tão gostosos
quanto e mal posso esperar para revelá-los.
Quero dizer um grande obrigada a todos que me apoiaram com
Thorn, se você fez leitura beta, ARC, compartilhou, postou no
Instagram ou mesmo só pegou para ler. Não estaria aqui fazendo
isso sem você.

Até a próxima,

Tracy xo

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