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Todos nós fomos enganados pela morte pelo menos uma vez

em nossas vidas. A história foi contada por milhares de anos em


todo o mundo sobre o homem que estava morto. Exceto... ele não
estava.

Olhei para ele agora enquanto sua estátua se elevava sobre a


congregação, sangue escorrendo de suas feridas e seus olhos
escuros observando, sempre observando. Ele via tudo, até as
profundezas de nossas almas que escondemos sob sorrisos
forçados e belas mentiras. Não admira que seus olhos vidrados
sempre parecessem cheios de lágrimas. Jesus. Esse era o nome
dele – o homem que morreu... mas não morreu. Sempre foi a
história mais fascinante que eu já tinha ouvido.

Reflexos coloridos dos vitrais salpicavam o piso de ladrilhos da


catedral. As joelheiras de veludo vermelho já estavam a postos,
esperando nossas bênçãos.

Toda vez que eu entrava em uma igreja, ficava surpreso que


ela não pegasse fogo. Um cara como eu não tinha nada a ver com
os santos. Eu era um pecador em minha essência. Eu sabia. Minha
família sabia disso.
Jesus de olhos vidrados e manchado de sangue sabia disso.

Papai insistiu que fôssemos a St. Mathias todos os domingos


em família para manter uma imagem saudável. Todo mundo sabia
que a saúde e a política andavam juntas, assim como o petróleo e
a água. Mas Malcolm Huntington havia garantido seu lugar no
Senado de Nova York com segredos envoltos e mentiras
cuidadosas, e todos nós tínhamos que fazer nossa parte. Por
dentro, nossas almas estavam condenadas – todas menos a de
minha irmã – mas para o mundo, parecíamos servos bons e fiéis.

Eu estava cansado de fingir.

Felizmente, hoje não se tratava de manter uma imagem ou


adorar um Deus que virou as costas para mim quando eu tinha
apenas treze anos. Hoje, estávamos aqui como apoio moral para
Lyric – a melhor amiga da minha irmãzinha. Hoje, vi a vida de uma
menina de quinze anos virar de cabeça para baixo quando ela disse
seu último adeus à mãe. A morte a havia reclamado, ela não
voltaria. Não haveria nenhuma história fantástica de uma
ressurreição. Desta vez, foi para ficar.

A mídia chamou de overdose de drogas. Era quase como se


eles se gabassem disso. O pai de Lyric fez uma fortuna escrevendo
e gravando músicas que colocaram sua ex-esposa em êxtase, e o
público comeu essa merda. Ninguém dava a mínima para como
isso poderia afetar sua filha adolescente.

Durante o culto, houve leituras e rosários, e orações ditas, mas


eu só prestei atenção a Lyric. Ela tinha sido uma presença
constante em nossas vidas desde que ela era uma criança –
passeios em família, férias, quase todos os fins de semana e
feriados. Ela era como uma família. E embora ela fosse três anos
mais nova que eu, eu estava atraído por ela.

Quebrado vê quebrado. Não era esse o ditado?

Depois da missa, ela sentou-se nos degraus da catedral,


arrancando as pétalas de uma rosa vermelha e soltando-as ao
vento. O sol estava brilhando acima de nós, mas tudo o que eu
sentia era escuridão. Acho que era isso que as pessoas queriam
dizer quando diziam a sombra da morte.

Ela viu uma pétala voar antes de pegar a próxima e deixá-la


flutuar no ar. Seu cabelo loiro caía sobre seus ombros em longos
cachos, e sua pele impecável estava manchada de preto sob seus
olhos de onde seu rímel tinha escorrido.

Meu olhar percorreu o vestido rosa quente que ela usava, e eu


sorri. Ela se recusou a usar preto no funeral de sua própria mãe.
Lyric Matthews odiava regras. Vivíamos em um mundo de etiqueta
apropriada e comportamento social refinado, e ela desafiava as
expectativas. Eu gostava disso nela.

Seu pai usava seu melhor terno, como qualquer outro homem
aqui. Usei jeans e polo porque também desafiei as expectativas.
Nós éramos parecidos nesse sentido, Lyric e eu.

Ela me pegou olhando para ela e se levantou.

Olhei ao redor e por cima do ombro para minha irmã, mas ela
não estava em lugar algum. Estávamos cercados por pequenos
grupos de pessoas perdidas em suas próprias conversas. Eles não
importavam. Ninguém importava, mas a menina triste e bonita na
minha frente sim.
Lyric se aproximou com passos lentos e deliberados até que
estávamos de igual para igual. Ela olhou para mim com os olhos
cheios de lágrimas. E então ela pegou minha mão, entrelaçando
seus dedos nos meus.

Puta merda. Seu toque suave era uma descarga de adrenalina


como nenhuma outra. E aquele olhar... Foda-me. Eu não poderia
lidar com aquele olhar.

— Sinto que preciso correr. Eu não sei onde. Apenas longe. —


Ela olhou para nossas mãos unidas, em seguida, de volta para
mim. — Se eu corresse, você correria comigo? — ela perguntou em
uma voz menor do que eu estava acostumada a ouvir sair de seus
lábios.

— Sim. — Engoli. — Eu correria com você.


TENTAÇÃO:

n. O desejo de fazer algo, especialmente algo errado ou


imprudente.

As drogas eram uma tentação. Comecei a fumar maconha aos


dezesseis anos. Hoje em dia, se Percocet fosse útil, eu tomava uma
ou duas pílulas. Qualquer coisa para escapar da escuridão da
minha própria mente. Qualquer coisa para abafar as vozes me
dizendo que eu nunca valeria nada.

Minha primeira tatuagem foi uma tentação. Começou como


um ato de rebelião contra meu pai limpo, uma maneira infalível de
fazê-lo parar de enfiar o cartão de seguir seus passos políticos na
minha cara. Senadores e congressistas não pintavam a arte na
pele. Eu não parei até estar coberto de tinta dos meus ombros até
a ponta dos dedos.

Lyric Matthews era uma tentação. Desde o dia em que ela


colocou a mão na minha e me pediu para correr. Isso foi há quase
um ano e, toda vez que eu olhava para ela, eu ainda sentia o puxão
de sua mão, a sensação de sua pele contra a minha, a necessidade
de tomá-la e correr.

Agora ela estava em nossa cozinha no meio da noite. O resto


da casa estava quieta e escura, exceto pelo luar que entrava pelas
janelas.

Por que ela estava acordada?

Eu geralmente era o único que perambulava à noite.

Seu minúsculo short de pijama mal cobria aquele pequeno


vinco delicioso onde sua bunda encontrava suas coxas. Porra. Era
o tipo de coisa que fazia um cara querer curvar uma garota e traçar
a cabeça de seu pau ao longo dessa maldita dobra. Logo antes de
ele deslizar entre as bochechas de sua bunda.

Ela abriu a geladeira, completamente alheia a mim encostado


na ilha da cozinha atrás dela.

Jesus. Por que eu estava olhando para ela desse jeito? Que
porra havia de errado comigo?

Tentação. Era por isso.

Eu. Não. Conseguia. Porra. Parar. De olhar para ela.

Mesmo sabendo que estava errado. Ela era a melhor amiga da


minha irmã mais nova – a garota de dezesseis anos de idade que
passava mais tempo em nossa casa do que na dela. A garota
franca, de espírito livre e quebrada cuja mãe estava morta e o pai
nunca estava em casa. A única coisa que eu não deveria querer,
mas não conseguia parar de pensar.

Talvez fosse por isso. A rebelião corria em minhas veias. Eu


não deveria desejá-la, e isso só me fez querê-la mais.
Joguei um punhado de M&Ms na palma da minha mão, sem
dar a mínima para que, se ela se virasse, ela veria meu pau duro
como pedra contra o meu moletom. Eu nem me incomodei em
ajustá-lo. Eu queria que ela visse. Eu queria vê-la ofegar, ver seus
olhos brilhantes se dilatarem e escurecerem, ver aquele ponto de
pulsação em sua garganta pulsar e sua pele de porcelana corar.

Ela se virou ao som da embalagem de doces amassando,


levando a mão à garganta. — Jesus, Linc, você me assustou pra
caralho.

Enfiei um M&M na boca. Azul. Assim como os olhos dela. —


Desculpe. — Eu não lamentava. Nem um pouco. — Por que você
não está dormindo?

Sua minúscula camiseta branca, que era dois tamanhos


menor, esticada em seus seios empinados, revelando mamilos
ainda mais empertigados. — Apenas inquieta, eu acho.

Eu conhecia o sentimento.

Embora inquieto nem sequer começava a cobri-lo agora. Foda-


se a água que eu vim aqui pegar. Eu estava praticamente salivando
neste momento.

E então seu olhar baixou direto para o meu pau. A luz da porta
da geladeira tornou impossível para ela esconder sua reação nas
sombras.

Um suspiro. Uma onda de rosa em suas bochechas. Seu olhar


encapuzado. Estava tudo lá em exposição.

Meus lábios se contraíram. Isso mesmo, querida. Você fez isso


comigo.
— Você se importa de me dar uma garrafa de água?

Ela limpou a garganta, então voltou para a geladeira. — Aqui


— ela disse, empurrando uma garrafa na minha direção sem se
virar.

Em todo o tempo que eu a conhecia, esta era a primeira vez


que ela não tinha algo sarcástico para atirar em mim.

Eu ri. — Obrigado.

Então joguei o saco de M&Ms no balcão – amendoim, o favorito


dela – e voltei para o meu quarto. Eu não precisava mais do doce.
Se as coisas fossem do meu jeito, eu estava prestes a ter algo muito
mais doce.
Lincoln Huntington era letal.

Eu estava curiosa.

Juntos éramos um desastre, uma catástrofe em formação. A


prova estava na forma como meu pulso chutava em minhas veias
enquanto eu estava na porta de seu quarto observando-o acariciar
seu pau.

Em todos os anos que eu conhecia Lincoln, a única vez que ele


falava comigo era para me provocar. Meu cabelo, minhas roupas,
minha escolha de música – tudo era um jogo justo para seu
comentário. Eu aprendi a provocá-lo de volta. Nossa briga verbal
faria um caminhoneiro corar. Algo mudou no dia do funeral da
minha mãe. A brincadeira ficou mais séria. Ele olhou para mim de
forma diferente, falou comigo de forma diferente. E eu comecei a
olhar para ele da mesma maneira.

Menos de cinco minutos atrás, estávamos juntos na cozinha.


Eu pensei que tinha imaginado como suas calças tinham
delineado seu pau muito duro e intimidantemente grande. Eu me
virei e esperei ter imaginado porque... Meu Deus. Agora, ele estava
nu em sua cama, e eu não consegui desviar o olhar desta vez. Meu
coração batia rapidamente, e uma energia nervosa fervia dentro de
mim, como um trovão rolando ao longe antes de uma tempestade
chegar.

Ele sabia que eu passaria por seu quarto para voltar ao de


Tatum. Ele sabia que eu veria sua porta aberta, ouviria sua
respiração ofegante, veria seu corpo empurrado contra sua mão.

Ele sabia exatamente o que estava fazendo.

Porque agora? Depois de todo esse tempo, por que agora?

Rastros de tinta escura cobriam sua parte superior do corpo.


Imagens e linhas, palavras e números, todas beijavam sua pele da
garganta até a ponta dos dedos. Sua cabeça inclinou para trás,
afundando no travesseiro enquanto sua mão tatuada se movia
facilmente para cima e para baixo em seu comprimento. Ele
levantou a bunda da cama e acariciou mais rápido. Com a outra
mão, ele segurou suas bolas e assobiou com os dentes cerrados.
Seus grunhidos e gemidos suaves flutuaram pela sala e direto para
o fundo da minha barriga. — Aah. Porra. Jesus. — Seguido pelo
atrito liso da pele esfregando contra a pele. Eu ouviria esses sons
em minha mente pelo resto da minha vida.

E então eu peguei o brilho de prata na ponta de seu pau.


Quatro pequenas bolas circulavam a cabeça. Norte. Sul. Leste.
Oeste. Como uma cruz me implorando para me ajoelhar diante
dela.

Ele era perfurado. Eu deveria saber. Nada sobre Lincoln era


mediano, nem mesmo seu pau.

Eu apertei minhas coxas juntas enquanto uma necessidade


queimava no fundo do meu estômago, uma dor desesperada
desejando ser preenchida. Eu me tocava. Eu me fazia gozar até
meus dedos dos pés enrolarem. (Obrigada, pornografia no Twitter.)
Mas eu nunca, nunca estive tão carente, tão faminta, tão
fodidamente excitada. Respire, Lyric. Não se esqueça de respirar.

Então ele parou.

Seu corpo ficou relaxado quando seu olhar mudou para a


porta – para mim. Tudo naquele olhar gritava perigo. — Você só vai
ficar aí e assistir, ou você planeja entrar e ajudar? — ele perguntou
com um sorriso lento. Ele tinha o melhor sorriso. Era acolhedor,
fácil, dentes perfeitos e lábios carnudos com um toque de
covinhas. Mas o chute estava em seus olhos castanhos. Era aí que
estava o mal.

Abri a boca para responder, parando quando ele se sentou e


me cortou.

— Venha aqui.

Eu não fui. Fiquei em silêncio, imóvel, observando-o com meu


sangue correndo em minhas veias.

Lincoln era sexy e ele sabia disso. Eu estaria mentindo se


dissesse que nunca notei. Mas ele era o irmão mais velho da minha
melhor amiga. Isso não era apenas colorir fora das linhas. Isso
estava saindo de toda a porra da página. Eu gostaria de ter
continuado andando.

Dei um passo para dentro do quarto, mal conseguindo


respirar, mal conseguindo pensar.

Sua mandíbula se esticou enquanto ele procurava meus olhos.


— Feche a porta.
Certo. A porta. Porque o céu proíba alguém entrar e escorregar
na minha baba.

Ele juntou os dedos indicador e médio e fez um gesto para


mim. Venha aqui.

E como a adolescente com tesão que eu era, coloquei um pé


na frente do outro e não parei de me mover até estar na frente dele.

Suas mãos grandes e ásperas agarraram meus quadris, então


deslizaram para minha bunda, apertando minhas bochechas
quase ao ponto de doer.

— Lincoln. — eu sussurrei. Tudo sobre isso estava errado.


Quase sete anos de lealdade e amizade foram perdidos em um
emaranhado de necessidade e desejo. — Doeu? — Perguntei a ele
porque meu cérebro estava uma bagunça e as palavras estavam
perdidas em algum lugar na confusão.

— O que doeu? — Ele trouxe uma mão para seu pau, girando
o polegar ao redor da ponta e espalhando pré-sêmen por toda a
cabeça. — Isto? — Ele se moveu para cima e para baixo em seu
comprimento novamente, parando para passar a ponta do polegar
sobre as bolas de prata. — Nada dói quando você está insensível a
tudo isso.

Tive a sensação de que ele não estava apenas falando sobre


sua carne, e algo sobre isso partiu meu coração. Ele deve ter visto
a mudança na minha expressão, porque seus olhos se estreitaram.

— Parece que você nunca viu um pau antes.


Eu era uma virgem de dezesseis anos, o que dizia muito,
considerando o mundo em que vivíamos e as pessoas que me
cercavam. Isso não significava que eu não sabia o que era um pau.

— Já vi muitos paus. — Engoli. — Apenas não pessoalmente.


— E nenhum deles se parecia com isso ou estava ligado ao irmão
mais velho da minha melhor amiga.

Ele soltou a outra mão da minha bunda, e eu imediatamente


a quis de volta. — Puta merda. — Seus olhos se arregalaram. —
Você está falando sério?

— Parece que estou brincando?

— Porra. — Ele passou os dedos pelos cachos escuros,


tornando a bagunça caótica em cima de sua cabeça ainda mais
sexy do que antes. — Você sabe o que? Volte para a cama. Eu
tenho isso, — ele disse enquanto se jogava de volta na cama e
olhava para o teto.

Foda-se ele. E seu pau perfeito que eu não conseguia parar de


olhar. As veias. A cabeça grossa parecia estar latejando. A maneira
como ele saltou contra seu abdômen quando ele se moveu – uma
haste de seda e aço que sem dúvida me rasgaria se alguma vez
entrasse em mim. Eu nunca tinha visto nada tão simultaneamente
aterrorizante e bonito.

— Eu disse que tenho isso. — Ele nem sequer olhou para mim
quando sua mão se abaixou para segurar suas bolas novamente.

Idiota.
Eu torci a tampa da garrafa de água que eu trouxe da cozinha
e observei enquanto ela se derramava sobre seu abdômen apertado
e seu pau ainda duro.

— Que porra é essa? — Em um instante, ele estava de pé,


pegando a garrafa da minha mão e me prendendo na cama com
seu corpo pairando sobre o meu e a garrafa de água inclinada no
ar. Suas coxas travaram minhas pernas no lugar enquanto ele
segurava os dois braços acima da minha cabeça com uma de suas
mãos.

Merda.

— Lincoln, não.

— O que minha irmã pensaria se você voltasse para o quarto


dela encharcada? — Sua boca se curvou em um sorriso quando
ele olhou para minha boceta. — Suas roupas, quero dizer. Tenho
a sensação de que é tarde demais para o resto de você.

— Foda-se. E ela está dormindo, então ela provavelmente não


notaria. — Comecei a me levantar, mas ele me empurrou de volta
para baixo. A respiração deixou meus pulmões em uma lufada
quando um fluxo de água fria escorria sobre meu estômago e entre
minhas pernas. Mesmo através do tecido, isso me fez suspirar.

Ele sorriu. — Opa.

Eu chutei minhas pernas debaixo dele, tentando fazê-lo se


mover. — Você é um idiota.

Ele jogou a garrafa agora vazia no chão, o tapete macio


acalmando sua queda. — Falando em paus. Por que você estava
me observando agora? — O olhar em seus olhos me disse que ele
já sabia a resposta.

— Por que você abriu a porta?

Ele segurou meus braços com as duas mãos agora. — Para


mostrar às meninas o que acontece quando elas andam pela
minha casa no meio da noite em camisetas apertadas e shorts
curtos. — Ele sorriu com a forma como suas palavras fizeram
minha respiração engatar. — O quê? Não me diga que você pensou
que eu não notaria seus mamilos cutucando aquela porra de
camiseta minúscula.

Ele notou meus mamilos. Os mesmos mamilos que agora


estavam tão duros que doíam.

— Como se eu soubesse que você estava acordado.

Seus olhos se moveram para o meu peito. — Você quer me


provocar com seus peitos? Tire sua camisa e mostre para mim.

Eu me endureci. — Você quer vê-los? Você tira.

A próxima coisa que eu sabia, suas mãos estavam na gola da


minha camisa, rasgando-a até o meio até que não restasse nada
além de uma bagunça de tecido rasgado e meu peito arfante. Meus
seios nus estavam agora em plena exibição. Seu olhar era como
fogo percorrendo minha pele. Querido Deus.

— Esta é a minha camisa favorita, idiota.

Ele baixou a voz, trazendo sua boca bem acima da minha.


Seus olhos castanho-esverdeados me perfuraram como se
pudessem ver no fundo da minha alma. — Então você deveria ter
sido uma boa menina e feito o que lhe foi dito. — Sua mão deslizou
pelo meu estômago e segurou um dos meus seios. — Droga, eles
são perfeitos. — Ele girou a ponta do dedo ao redor do meu mamilo,
então se inclinou e repetiu o padrão com a língua.

Mordi o lábio para não deixar escapar um gemido embaraçoso.


Sua boca estava quente e molhada contra minha pele escaldante,
o que só me deixou mais quente... e mais molhada.

Dimitri Miller me apalpou uma vez enquanto me empurrava a


seco contra a parede do lado de fora de sua casa, mas eu nunca...
Ninguém nunca... Isso foi...

Errado. Isso era tão errado. Se eu não me levantasse e fosse


embora agora, eu me odiaria pela manhã. Eu me odiaria no minuto
em que voltasse para o quarto de Tatum e visse seu rosto. Mas eu
não conseguia me mexer.

A mão de Lincoln desceu pelo meu corpo, sob o cós do meu


short e sobre o meu centro. — Foda-se. — disse ele com os dentes
cerrados. Ele deslizou os dedos pelo elástico da minha calcinha,
em seguida, ao longo da minha fenda. — Tão molhada.

Ah, merda. Ele estava lá. Ele estava lá.

Tudo apertou: meu estômago, meu peito, minhas entranhas.


Tudo.

Antes que eu pudesse detê-lo, ele enfiou um dedo comprido


dentro de mim. Oh, Deus. Seu toque era muito mais áspero do que
o meu. Eu só tinha esfregado meu clitóris. Eu nunca me aventurei
dentro. Isso machuca. Doeu tanto que pensei que fosse chorar,
mas não queria que ele parasse.
— Os dedos de mais alguém já estiveram aqui? — Sua voz
estava estrangulada, como se estivesse perdendo uma batalha
contra o autocontrole.

Eu balancei minha cabeça, sem fôlego. — Só os meus.

— Jesus. — Ele inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos,


trabalhando seu dedo fundo, fundo, mais fundo dentro da minha
boceta. Ele acrescentou um segundo, e eu sabia que ia abrir. E
ainda assim, eu não conseguia parar.

Eu agarrei seus ombros e arqueei para ele. Meu corpo se


moveu por puro instinto e necessidade de liberação.

— É isso. Monte minha maldita mão. — Ele continuou me


tocando, e eu continuei me movendo contra ele; mãos em seus
ombros, pernas abertas, boceta apertando, implorando por mais.
— Cristo, você é tão fodidamente apertada. — Ele puxou os dedos,
inspecionando-os antes de trazê-los logo abaixo do nariz e inalar
meu cheiro com os olhos fechados. Quando eles abriram
novamente, eles se estreitaram nas pontas dos dedos.

Oh, não. Oh, Deus. Eu queria rolar para fora desta cama e
rastejar para fora do quarto.

Sangue.

Ele tinha sangue na ponta dos dedos. Meu sangue.

Eu estava prestes a me desculpar quando ele pegou os dedos


e os esfregou nos lábios. Um zumbido baixo retumbou em seu
peito, algo como um rosnado, como um monstro despertando de
um sono profundo. E então, Lincoln lambeu os lábios. Ele deu ao
monstro um gosto. Foi um gesto tão depravado e completamente
insano, mas fiquei intoxicada por isso. Algo mudou naquele
momento. Nada entre nós jamais seria o mesmo. Eu nunca seria a
mesma.

Sua língua correu sobre o lábio inferior. — Um gosto e já estou


viciado. — Ele puxou meu short e calcinha. — Tire isso.

Pânico subiu pela minha garganta. Ah, merda.


Ahmerdaahmerdaahmerda. — O quê? Por quê?

Ele ergueu uma sobrancelha. — Você está assustada?

Eu o conhecia há anos. Lincoln não era o cara que segurava


sua mão e perguntava se você estava bem. Ele era o cara que partia
seu coração e fazia você chorar em primeiro lugar.

Eu estava com medo?

Claro que sim. Mas não de seu pau, mesmo que fosse enorme.

Ele pegou minha mão e a envolveu em torno de seu pênis. —


Aqui. Apenas faça o que eu digo.

Eu não tinha respondido a ele. Achei que não precisava. Ele


conhecia meu medo. Ele viu na minha cara.

Eu flexionei minha mão em torno dele, bombeando para baixo,


então todo o caminho de volta. Sua carne ainda estava molhada
de quando eu derramei a água sobre ele.

— Um pouco mais duro. — disse ele.

Eu aumentei meu aperto.

— Foda-se, sim. Bem desse jeito. — Sua voz estava grossa de


fome.
Eu trabalhei seu pau enquanto ele empurrava seus quadris,
como se fosse eu que ele estava fodendo e não minha mão. Oh,
Deus. Estávamos fazendo isso. Eu estava fazendo isso. A vergonha
inundou cada célula do meu corpo. Errado. Ainda assim, eu não
conseguia parar. Ele era como um ímã, a gravidade, uma força que
meu corpo não tinha escolha a não ser obedecer.

— Merda. Pare. — disse ele.

Então eu fiz, me perguntando se eu tinha feito algo errado, se


eu o machuquei ou se minha inexperiência o desligou.

E então ele estava rastejando pelo meu corpo, posicionando


seu pau entre meus seios, onde minha carne brilhava de suor.

Oh.

Ele moveu seus quadris, deslizando sua ereção para frente e


para trás contra minha pele lisa. — Aperte seus seios em volta de
mim. — Eu fiz como ele pediu. — Bem desse jeito. Porra.

Meus seios estariam machucados amanhã. Eu sabia. Isso


tudo era tão vulgar, tão inesperado... tão proibido. Mas toda vez
que ele se movia, trazendo seu pau grosso quase perto o suficiente
da minha boca para eu provar, eu lambia meus lábios. Eu queria
isso. Eu o queria.

Eu estava tão molhada. Então. Porra. Carente.

E então Lincoln puxou para trás e tomou seu pênis em sua


própria mão, bombeando rápido logo abaixo da cabeça grossa. —
Feche os olhos, querida.

Antes que eu tomasse minha próxima respiração, um gemido


feroz irrompeu de seus lábios e um líquido quente e cremoso
revestiu meu peito em cordas grossas, um pouco derramando no
meu queixo. Eu quase podia sentir o gosto. Eu queria saboreá-lo.
Por que cheirava a alvejante?

Abri meus olhos assim que Lincoln rolou de cima de mim,


caindo de costas com o pau ainda na mão. — Venha aqui. — disse
ele, sua voz baixa e grave.

Deslizei em seu corpo, manchando seu esperma entre nós. Ele


não parecia se importar. Eu também não.

Ele colocou uma mecha de cabelo loiro comprido que tinha


caído do meu rabo de cavalo atrás da minha orelha. — Agora,
termine.

— O quê?

Suas mãos guiaram meus quadris, me posicionando sobre o


comprimento de seu pau. — Monte-me enquanto ainda estou duro.
Faça-se vir. Deixe-me vê-la.

Minha boca se abriu, meus olhos arregalados.

Ele riu, então estendeu a mão entre nossos corpos, me abrindo


para que ele ficasse apenas entre minhas dobras. — Não precisa
entrar, Songbird.

Pássaro canoro1. Ele sempre me chamou assim. Só porque


meu nome era Lyric não significava que eu realmente pudesse
cantar. Meu nome era apenas outra parte da obsessão do meu pai
pela música.

1
Espécies de pássaros com canto harmonioso.
Ele balançou os quadris, deslizando ao longo da minha fenda.
Um gemido escapou dos meus lábios. Eu não poderia pará-lo desta
vez. Foi tão bom, muito bom. — Viu?

Eu me movi contra ele, agradável e lento. Então mais duro.


Mais rápido. Urgente. A sensação não era nada que eu já tivesse
conhecido. Como se eu estivesse voando, subindo. Toda vez que os
piercings de prata rolavam contra meu clitóris, outra onda de
prazer irrompia em meu núcleo. E quando ele estendeu a mão para
torcer meus mamilos entre os dedos, eu bati. Em uma colisão de
nervos embrulhados e formigamento explosivo, com minhas costas
arqueadas e cabeça inclinada para o teto, com meus dedos
agarrando seu peito e minhas coxas apertando-o como um torno,
sem fôlego e ofegante, eu gozei.

Quando olhei de volta para Lincoln, ele estava sorrindo. — Eu


sabia que havia algo sobre você. — disse ele. — Porra, isso foi... —
ele engoliu em seco. — Apenas, foda-se.

Eu peguei minha respiração. — Você não pode dizer uma


palavra sobre isso para ninguém. Se Tatum descobrir... — Isso a
mataria. Ela sempre se orgulhou do fato de que eu era a única
garota que não bajulava seu irmão mais velho. Ela disse que eu
era diferente dessa maneira. Ela disse que eu não era como o resto.

Acontece que ela estava errada. Fui atraída para Lincoln como
uma mariposa para uma chama. Senti a atração no dia em que
enterramos minha mãe e todos os dias desde então.

— Prometa-me. Ninguém pode saber o que aconteceu esta


noite. — eu disse. Eu precisava ir. Tatum poderia acordar. Ela
poderia passar por esta sala que fica a apenas três portas da dela.
Como eu explicaria que isso foi um erro, uma coisa única que
nunca aconteceu antes e nunca poderia acontecer novamente?

— Eu prometo que ninguém vai saber. — Ele roçou a ponta do


polegar no meu lábio inferior. — Mas se você acha que eu terminei
com você, que isso foi uma coisa única, você está completamente
errada. — Seus olhos brilharam travessos. — Minha doce
Songbird. Há tantas outras maneiras de fazer seu corpo cantar.
Papai acabou de voltar de uma de suas viagens de “negócios”
para a Irmandade Obsidian, também conhecida como As Cadelas
do Diabo. Eles chamavam de reunião, mas qualquer um com
metade do cérebro sabia que era apenas uma sociedade secreta de
homens ricos e poderosos reunidos em torno de um tabuleiro Ouija
comparando tamanhos de pênis e discutindo maneiras fodidas de
adicionar mais dinheiro e poder aos seus currículos. Eu tinha
certeza que todos os homens da Irmandade tinham vendido suas
almas antes mesmo de respirarem pela primeira vez. Nem um
único fodido deles tinha um pingo de moral – não que eu fosse
melhor. A diferença foi que troquei minha consciência por
adrenalina e prazer. Eles trocaram as suas por prata e ouro.
Kipton Donahue era o líder e o pior de todos. Aquele filho da puta
sangraria uma freira até secar e depois foderia seu cadáver se isso
adicionasse um dólar ao bolso. Os Donahues e os Huntingtons
foram inimigos durante toda a minha vida... e mais um pouco. O
filho de Kipton, Caspian, era o próximo na linha de sucessão ao
trono Obsidian, tanto quanto um idiota e sempre à espreita em
torno de minha irmãzinha. Porra de merda.
Jantares em família eram outro daqueles itens da lista de
coisas que fazíamos para as aparências. Ninguém realmente se
importava com o dia de qualquer outra pessoa ou como o clima
estava bonito. Eu temia o jantar mais do que ninguém, porque era
a única vez em que meu pai me trancava no lugar para que ele
pudesse me destruir por minhas escolhas de vida.

Tatum sempre se sentava na mesma cadeira, assim como


mamãe e papai. Eu gostava de mudá-lo e mantê-los adivinhando.
Era a minha própria maneira de trazer o caos à sua estrutura. Eu
não sabia por que diabos tínhamos uma mesa grande o suficiente
para doze pessoas quando apenas quatro de nós sentávamos aqui
– cinco quando Lyric se juntava a nós, o que era raro, porque ela
odiava a conversa estranha tanto quanto eu.

Hoje à noite, felizmente, eu estava sentado na ponta ao lado


da minha mãe e o mais longe possível do meu pai. Ele tinha
acabado de nos contar sobre alguma coisa de negócios
internacionais que ele começou a fazer com o rei Winston Radcliffe
de Ayelswick, o que levou à típica linha de conversa. Sempre
começava com ele me perseguindo por não ir para a faculdade de
direito – o caminho de tijolos amarelos para a política de
Huntington – e eu dizendo a ele que tinha outros planos. Eu não
sabia exatamente quais eram os planos, mas sabia que nenhum
deles incluía a faculdade.

Eu adorava estar no lago. Quando eu estava no barco, eu me


sentia livre. Eu adorava estar na academia. Lutar era minha
libertação. E eu adorava estar com Lyric. Uma noite de tentação se
transformou em meses hardcore não fodendo – uma primeira vez
para mim. Ela não estava pronta, e eu não empurrei. Ainda.
Mesmo que a merda que fazíamos quase me matasse. O toque e a
fricção. A sucção e o beijo. A tortura de estar tão perto, mas nunca
totalmente dentro dela. Mas eu ainda amava cada porra de minuto
que estávamos juntos.

Não era esse o objetivo da vida – ir atrás das coisas que você
amava?

Papai pegou uma fatia de limão da tigela pequena à sua frente


e espremeu o suco em sua água. — Você deveria vir comigo da
próxima vez. Você precisa ter uma ideia de como as coisas
funcionam se você vai estar na política um dia.

Eu estava errado sobre as tatuagens. Elas não o detiveram.


Ele disse que você pode esconder qualquer coisa debaixo de um
terno de três peças e maquiagem suficiente.

Quando eu tinha treze anos, eu tinha uma noção boa o


suficiente de como as coisas funcionavam em seu mundo para
saber que não queria nada com isso.

— E se eu não quiser estar na política?

Era uma blasfêmia e eu sabia disso. Os Huntingtons eram


políticos e sempre foram. Do meu pai ao pai dele e ao pai dele antes
dele, até onde você podia ir.

Ele girou sua colher, misturando suco de limão com água


gelada, uma combinação metálica de metal e gelo batendo contra
o vidro. Suas ações eram casuais, embora seu tom fosse áspero.
— Você tem dezenove anos, Lincoln. Você precisa descobrir o que
está fazendo com sua vida. — ele disse, colocando a colher de volta
na mesa.

— Você quer dizer que eu preciso deixar você descobrir isso


para mim. Você parece ser bom nisso. — Ele me jogou em seu
mundo distorcido quando eu era muito jovem para ter escolha.

A sala estava em silêncio. Tatum olhou para nossa mãe do


mesmo jeito que ela sempre fazia quando papai começava sua
merda, como se estivesse implorando silenciosamente para ela
dizer alguma coisa, qualquer coisa. Mamãe nunca fez.

Foda-se isso. Eu tinha sentado em meu quinhão de jantares


de família e ouvido esse discurso muitas vezes. Isso nunca iria
mudar. Ele nunca iria mudar. Eu nunca seria bom o suficiente
para ele porque me recusei a ser como ele.

Larguei meu garfo no prato com um tinido e empurrei minha


cadeira para longe da mesa. — Obrigado pelo jantar, mãe. — E
então eu saí da sala de jantar sem outra palavra.

Vinte minutos depois, ele estava parado na porta do meu


quarto com as mãos enfiadas nos bolsos da calça do terno.

Ele soltou um suspiro pesado. — Não sei onde errei com você.

Fiz uma pausa no documentário que estava assistindo. — Isso


foi retórico ou você quer uma lista?

Ele entrou no quarto, parando na frente da cama onde eu


estava deitada com a cabeça apoiada na cabeceira da cama. — Eu
te dei tudo. — Ele tirou as mãos dos bolsos e esticou os braços,
como se quisesse demonstrar. — Você é um Huntington pelo amor
de Deus. Você tem o mundo inteiro na ponta dos dedos e continua
mijando nele.

Olhei para ele, entediado com sua teatralidade. — Ótima


conversa, pai. Você realmente tem jeito com as palavras. Não é à
toa que você é bom na política.

As veias em seu pescoço pulsavam e suas narinas se dilatavam


a cada respiração fervilhante. — Você não tem ideia do que eu faço
por esta família – os sacrifícios que faço.

Se por sacrifício, ele quis dizer dobrar a governanta sobre sua


mesa enquanto mamãe estava almoçando com suas amigas,
fazendo acordos de milhões de dólares com empresas de tecnologia
de farmácia para manter doentes e aceitando subornos para deixar
crimes de colarinho branco impunes, então sim, eu o vi sacrificar
um monte de merda.

— Eu sei exatamente o que você faz.

— Eu te dei tempo suficiente para resolver sua merda. Você é


um Huntington. É hora de você começar a agir como um. Cresça.
Vá para a faculdade. Fique longe das drogas. — Ele enfiou a mão
de volta no bolso e começou a sair, virando-se para mim quando
chegou à porta. — E se livre da garota Matthews.

Minha respiração parou e meu corpo enrijeceu. Ele sabia sobre


Lyric.

Ele sorriu quando notou minha reação. — Sim. Eu sei disso.


— Seu olhar endureceu. — Isso precisa acabar. Seu pai é tagarela,
sua mãe era uma viciada e ela não parece estar melhor.

Porra, ele sabia sobre Lyric?


Esse era meu pai, julgando qualquer um que não se
encaixasse em sua caixa. Não é à toa que minha irmã sempre se
esforçava tanto. Mas a coisa sobre ser colocado em caixas era que,
uma vez que a tampa estava colocada, você estava destinado a
sufocar.

— O pai dela defende tudo contra o que estou lutando, e ele


reúne seus fãs minions, deixando-os irritados com coisas que eles
não entendem. Ela não tem classe ou restrição. Eles não são como
nós. Eles não pertencem ao nosso mundo, Lincoln. É uma
vergonha até mesmo tê-la por perto de Tatum. Não vou deixar você
piorar com algum relacionamento inadequado ou gravidez
indesejada.

Lá estava novamente, a necessidade de pegar sua mão e


correr. Era mais forte agora, como um punho batendo dentro do
meu peito.

— Então eu acho que esta será outra maneira de eu


decepcioná-lo. — Eu cliquei no controle remoto e o documentário
voltou bem a tempo do narrador explicar que a maioria dos serial
killers são movidos por um medo mórbido de rejeição dos pais
inspirado por algo traumático de sua infância. Minha boca se
curvou em um sorriso lento enquanto eu olhava para meu pai. —
Você deveria estar orgulhoso de mim, pai. Eu poderia ter sido
muito pior.

Ele engoliu em seco, então saiu do quarto.


— Já se passaram sete anos. Certamente, você não esqueceu
a tradição. — Tatum disse no segundo em que atendi meu telefone.

Amanhã era meu aniversário e aniversários eram um grande


negócio para Tatum.

— Eu não esqueci. Eu estava esperando meu pai sair. —


Peguei minha mochila e coloquei na cama.

— Onde ele está indo desta vez?

— Londres.

Ele chegou em casa tempo suficiente para jantar comigo e me


dar presentes que eu realmente não precisava. Sua agenda era
exigente, e eu entendia isso. Às vezes eu me perguntava se os
presentes eram uma compensação. Eu não me importava com as
coisas. Eu só queria ele. Ele sempre conseguia arranjar tempo para
as coisas que importavam, e isso significava mais para mim do que
qualquer coisa que viesse em uma caixa. Ele me disse que esta era
sua última turnê. Depois disso, éramos ele e eu, enfrentando o
mundo juntos.

— Diga-me que você não vai demorar, porque o jantar foi um


show de merda e eu preciso da minha melhor amiga.
— Ele acabou de sair, então não vou demorar. Seu pai e
Lincoln de novo? — Joguei algumas roupas dentro da minha bolsa,
em seguida, fechei-a.

— Sim. O que há de novo, certo?

Malcolm Huntington sempre deu merda a Lincoln sobre não ir


para a faculdade, não querer entrar na política, não ser a ideia da
sociedade do filho perfeito. Eu odiava Malcolm Huntington.

Assim como meu pai.

— Não. — Peguei minhas chaves e apaguei as luzes da nossa


cobertura. — Estarei aí em vinte.

Por mais que eu quisesse correr até ele e abraçá-lo e fazê-lo


esquecer o babaca do pai, eu só podia colocar minha cabeça na
porta de Lincoln e dizer olá quando chegasse à casa de Tatum.

Ele estava olhando para a TV, mas não realmente assistindo.


Quando ele olhou para mim e sorriu, tudo que eu queria fazer era
subir na cama e me enroscar ao lado dele. Às vezes eu odiava os
segredos. Eu desejei que não tivéssemos que nos esconder. Mas
como você contava à sua melhor amiga que tinha se apaixonado
pelo irmão mais velho dela? E se ela me fizesse escolher? Eu não
poderia fazer isso. Eu não podia perder nenhum deles.

Eu não sabia o que era pior, a dor de manter um segredo ou a


dor de dizer a verdade.
Tatum e eu ficamos acordadas até depois da meia-noite
falando sobre o convite para festa que ela encontrou no banco da
frente do carro.

Noite das Travessuras – a única noite do ano em que as


inibições corriam livremente sem a preocupação das
consequências. Ninguém falava sobre a Noite das Travessuras ou
as coisas que aconteciam lá. A única coisa que alguém já disse
sobre a Noite das Travessuras era que ninguém tinha permissão
para falar sobre a Noite das Travessuras. Era como o Clube da
Luta para os ricos e famosos.

E Tatum acabara de ser convidada.

Não recebi convite e, honestamente, nunca esperei um.


Embora meu pai fosse um músico mundialmente famoso e tivesse
mais dinheiro do que jamais poderia contar, eu não fazia parte do
mundo da elite. Eu era uma pária.

Lincoln também era, de certa forma. Ele se destacava com


suas tatuagens e não dava a mínima para a atitude. Os caras não
gostavam dele porque todas as garotas gostavam, e as garotas o
amavam, mas só em segredo. Ele não era exatamente o cara que
você trazia para casa para conhecer seus pais. Acho que foi por
isso que me senti atraída por ele. Olhei para sua escuridão e me vi
lá.

A conversa finalmente acalmou, e eu fiquei olhando para o teto


por uma hora, esperando Tatum cair em um sono profundo. A casa
estava escura e silenciosa quando eu finalmente deslizei para fora
da cama e me arrastei pelo corredor. Eu não precisava de uma luz.
Eu sabia de cor o caminho para o quarto de Lincoln.
Abri a porta e espiei para dentro. Ele estava deitado em sua
cama em cima das cobertas, vestindo nada além de uma calça de
moletom preta. Uma mão estava atrás de sua cabeça enquanto ele
olhava para o teto. A outra mão levou um baseado aos lábios. Eu
sabia porque senti o cheiro no segundo em que caminhei até o
quarto dele.

Ele puxou o baseado e soltou uma nuvem de fumaça. — Eu


estava começando a pensar que você não viria.

Entrei no quarto e silenciosamente fechei a porta atrás de


mim. — Ficamos acordadas até tarde. — Dei de ombros. —
Conversa de garota.

— Vem aqui. — Sua voz era sombria. Perigoso. Do jeito que


ficava quando ele desaparecia dentro de sua cabeça. Ele colocou o
baseado em um cinzeiro de cristal ao lado de sua cama, apagando-
o e deitando-se novamente.

Eu assisti as drogas destruírem minha mãe e não queria nada


com elas. Eu odiava que Lincoln confiasse nelas para uma fuga.
Eu entendia isso. Eu aceitava. Eu esperava que um dia eu pudesse
mudar isso. Mas eu odiava tudo do mesmo jeito.

Subi na cama e me deitei ao lado dele.

Ele rolou para o lado e descansou a cabeça no meu estômago.

Por mais que eu adorasse o Lincoln agressivo e o Lincoln


impulsivo, eu também era viciada nesse lado dele, o lado que ele
parecia mostrar apenas para mim.
Corri meus dedos por seu cabelo, e ele distraidamente traçou
padrões em minhas coxas enquanto deitamos no silêncio. O
silêncio nos envolveu como um cobertor confortável.

No dia em que peguei a mão de Lincoln na igreja, me senti


abandonada e sem esperança. Minha mãe não era uma boa mãe,
mas ela era minha mãe. Ele agarrou minha mão e a tirou de mim.
Ele me fez sentir segura. Eu queria fazer o mesmo por ele agora.
Eu gostaria de poder acalmar os pensamentos em sua cabeça. Eu
quis então com meus dedos em seu cabelo.

Finalmente, ele soltou um suspiro.

— Você quer falar sobre isso? — Eu perguntei a ele.

— Por que eu iria querer fazer isso quando nós dois sabemos
que há coisas melhores que eu posso fazer com a minha boca? —
Sua voz vibrou contra minha pele, seu hálito quente ali mesmo.
Tão fodidamente perto. Ele deslizou meu short do pijama pelas
minhas pernas e o jogou no chão. Então ele passou a ponta dos
dedos ao longo da bainha da minha calcinha. — Foda-se. — ele
gemeu enquanto inalava o meu cheiro.

Ele empurrou minha calcinha para o lado e me provou com


uma longa lambida no meu centro. Calor espiralou pela parte
inferior da minha barriga até as pontas dos meus dedos dos pés.
Minhas pernas se abriram, se espalhando mais, dando-lhe mais
espaço.

— Essa é a porra da minha garota. — ele rosnou contra meu


clitóris, sua voz vibrando contra minha carne.
Ele mergulhou dois dedos dentro de mim e rodou sua língua
sobre meu clitóris, sugando-me entre seus lábios, em seguida,
provocando-me com a ponta de sua língua. Um ciclo lento e
torturante que teve minhas mãos em punhos em seu cabelo e
meus quadris moendo seu rosto. Mais. Eu precisava de mais.

Ele bateu seus dedos em mim todo o caminho, duro, rápido e


brutal, mas sua língua trabalhou minha boceta gentil e
lentamente. Era uma deliciosa contradição de suave e feroz, e fez
minha cabeça girar e minhas paredes se apertarem ao redor dele.

— É isso, baby. Goze na porra da minha cara.

E eu fiz, meu corpo inteiro tremendo com a minha liberação.

Ele puxou os dedos para fora de mim, em seguida, moveu


minha calcinha de volta no lugar, colocando a mão sobre minha
boceta ainda sensível, e descansou a cabeça no meu estômago.

— Eu adoro quando você se desfaz para mim. — disse ele, sua


voz quebrada e seus olhos escuros.

Ele estendeu a mão em cima de mim e pegou seu telefone da


mesa de cabeceira, tocando na tela e depois colocando-o de volta.
— Fique comigo esta noite. — Ele beijou minha barriga. — Eu
coloquei um alarme. Você pode voltar antes que ela acorde.

Suas palavras me rasgaram. Lincoln nunca me pediu para


ficar. Nós sempre roubamos momentos, nunca uma noite inteira.
O que quer que o tenha quebrado agora, deve ter cortado bem
fundo.

Eu teria dado qualquer coisa para ele falar comigo, mas


Lincoln não expôs suas feridas a céu aberto. Então, eu deitei ali e
corri meus dedos pelo cabelo dele enquanto ele descansava a
cabeça no meu estômago, deixando-o sangrar da única maneira
que ele sabia – um sangramento interno silencioso. O tipo que te
matava suavemente.

Na manhã seguinte, voltei ao quarto de Tatum quando o


alarme de Lincoln tocou às 5h. Quatro horas depois, ela me
acordou com uma bandeja cheia de panquecas de aniversário –
que eram basicamente panquecas normais, mas com chantilly e
uma vela em cima – e uma tiara em cima da minha cabeça. Se você
não se sentia especial perto de Tatum, você não era humano. E era
por isso que me matava manter segredos dela e também a razão
pela qual eu tinha que mantê-los. Eu estava com medo de que se
eu contasse a ela sobre Lincoln e eu, eu a perderia. Mas se eu não
dissesse a ela, eventualmente teria que deixá-lo ir.

Estar com Lincoln era como ver em cores pela primeira vez
depois de viver em um mundo de preto e branco. Era como ver a
cidade à noite – luzes brilhantes e energia elétrica – em vez da selva
de concreto que era durante o dia. Foi emocionante e talvez até um
pouco perigoso. Mas eu o desejava. Toda vez que eu fechava meus
olhos, eu via seu sorriso. Tarde da noite, quando o mundo estava
quieto, ouvia sua voz dizendo todas as coisas sujas no meu ouvido.

Ele era magnético e eu era impotente contra sua atração.


Então eu me deitei aqui, do lado de fora em uma
espreguiçadeira de pelúcia, com Tatum ao meu lado enquanto
tomávamos banho de sol à beira da piscina, temendo o dia em que
eu teria que escolher entre partir o coração dela ou partir o meu.
Se eu achasse que Lincoln tinha coração, me preocuparia com o
dele. Mas Lincoln Huntington só estava interessado em uma
palavra de quatro letras – e não era amor. Ele me pedindo para
ficar e dormir com ele na noite passada foi um momento raro que
eu não esperava que ele repetisse. Mas esperar algo e torcer por
isso eram duas coisas completamente diferentes.

Faziam seis meses desde que ele me tocou pela primeira vez,
e eu estava honestamente orgulhosa de mim mesma por aguentar
meu V-card2 por tanto tempo.

Hoje era meu aniversário de dezessete anos, que era tipo trinta
em anos virgens, e eu tinha decidido ontem à noite que queria que
isso mudasse.

Falando em sexo... Ajeitei-me na espreguiçadeira e olhei para


Tatum. — Kyle Blankenship quer foder você.

Ela virou a cabeça para mim e ficou boquiaberta, então


deslizou os óculos de sol dos olhos. — Ele não quer.

Eu sorri. — Ah, mas ele quer. — Ele queria. O cara levantava


as calças toda vez que ela passava, e eu tinha noventa por cento
de certeza que o convite para a Noite das Travessuras veio dele.

Ela deslizou os óculos de volta e olhou para o céu. — Eu não


quero foder Kyle Blankenship.

2
Virgindade.
Eu sabia. Havia apenas uma pessoa que já havia prendido a
atenção de Tatum por mais de cinco minutos.

— E Caspian Donahue? — Eu assisti com o canto do meu olho


enquanto ela se contorcia na espreguiçadeira. Ela estava tão
fodidamente presa. Eu sabia.

— Caspian Donahue é um idiota.

Ele também foi uma presença constante na vida de Tatum.

Eu arqueei uma sobrancelha. — Não é uma negação…

Ela soltou um suspiro pesado. — Também não é uma


confissão.

Um flash de algo amarelo brilhante chamou minha atenção,


seguido por um respingo alto, então o choque arrepiante da água
fria por todo o meu corpo. Eu gritei ao mesmo tempo que Tatum.

Um segundo depois, Lincoln irrompeu na superfície da água


azul-clara, afastando o cabelo castanho-escuro do rosto.
Minúsculos rios de água escorriam por seu rosto e desciam por
seu peito enquanto ele se levantava. Seus olhos castanhos
brilhavam como pedras preciosas à luz do sol. E quando ele se
segurou na borda e empurrou-se para fora da piscina, seu calção
de banho encharcado grudou em seu corpo – todo o seu corpo,
cada cume e curva dele. Se eu já não estivesse molhada, isso
definitivamente teria feito isto.

Eu não deveria estar pensando nas coisas que estava


pensando naquele momento. Eu não deveria estar lembrando do
jeito que ele cheirava quando estava em cima de mim, se
esfregando contra mim até que eu gozei. Ou o jeito que ele gostava
de deslizar a mão entre as minhas coxas por trás quando eu estava
deitada de bruços tentando terminar a lição de casa tarde da noite.
Ou como sua garganta fez esse barulho baixo e seu pomo de Adão
balançava quando ele jogava a cabeça para trás toda vez que se
masturbava no meu estômago.

Eu deveria estar focada no fato de que ele tinha acabado de


pegar Tatum e a jogar na piscina e agora estava indo direto para
minha cadeira.

Mas eu não conseguia parar de olhar para a forma como a


água pressionava o tecido e detalhava cada contorno de seu pau.

Suas mãos estavam na minha cintura agora, me levantando


no ar na frente dele.

Merda. Merda, merda, merda.

— Continue olhando para o meu pau assim e você vai


descobrir como é dentro de você. — ele disse atrás de mim, logo
antes de morder minha bunda.

Eu queria isso. Deus, eu queria isso. Eu estive pensando


muito sobre como seria – ele me preenchendo, me esticando, me
empurrando além dos limites que eu não sabia que tinha.

Quase me perdi nele, quase esqueci que estávamos do lado de


fora com minha melhor amiga a alguns metros de distância.

Então ele me jogou na piscina.

A água fria picou minha pele como mil agulhas, e mal tive
tempo de prender a respiração. Finalmente, meus pés
encontraram apoio no fundo de concreto e empurraram meu corpo
de volta para cima.
Eu imediatamente procurei por Tatum, esperando que ela não
tivesse testemunhado a coisa toda de morder a bunda. Felizmente,
ela estava inconscientemente caminhando em direção aos degraus
e alisando o cabelo.

— Você é um idiota, Lincoln. — ela gritou enquanto saía e


pegava uma toalha para enxugar o rosto.

Ouvi sua risada atrás de mim logo antes de sentir seu corpo
tonificado pressionar contra minhas costas. Foi bom ouvi-lo rir
depois de ver como ele estava ontem à noite.

— Ela vai ver você. — Tentei me afastar, mas ele me impediu


enganchando o dedo no elástico da parte de baixo do meu biquíni.
Oh, Deus.

Ele lambeu ao longo da concha da minha orelha, então


beliscou o lóbulo. — Então deixe ela me ver.

Lincoln deu a mínima para as consequências. Ele viveu o


momento.

— O que vocês duas estavam falando ali? — Sua mão avançou


para a frente da minha bunda e lentamente correu ao longo das
bordas da bainha.

Eu vivia para o ciúme de Lincoln. Assim como ele viveu para o


meu. Era esse jogo tóxico de empurrar e puxar que estávamos
jogando um com o outro desde o momento em que começamos a
brincar.

— Kyle Blankenship. — eu disse, completamente indiferente.


Não uma mentira.
Ele ficou tenso contra minhas costas. — O que tem ele? — Sua
voz estava tensa. Eu conhecia aquele tom. Era o que ele usava
quando mantinha seus demônios afastados.

Dei de ombros.

Ele pressionou seu pau contra minhas costas e mordeu meu


ombro. — Continue fodendo comigo, baby. Vamos ver como isso
funciona para você.

Minha respiração ficou presa quando olhei para Tatum, que


estava de costas para nós, secando o cabelo com uma toalha. —
Lincoln. — Engoli em seco porque... Deus.

— O que você faria se eu empurrasse isso para o lado? — Sua


respiração quente varreu minha orelha.

— Você não pode. — Minhas palavras eram fracas, assim como


minha força de vontade.

— Observe. — Lincoln deslizou o dedo para dentro, ao longo


da minha fenda, e meu corpo queimou com seu toque, apesar da
água fria ao nosso redor. Ele pressionou o dedo no meu clitóris e
esfregou círculos lentos e agonizantes. Então ele empurrou outro
dentro do meu buraco. — Chega de fugir disso, Songbird. — Ele se
inclinou e mordeu meu pescoço. — Esta noite será o meu pau.

E então ele moveu a mão e se afastou do meu corpo bem a


tempo de Tatum se virar e derrubá-lo. Ele riu, então saiu da
piscina como se não tivesse tocado meu corpo como um
instrumento. Esta era a minha vida, e eu adorava, por mais fodida
e disfuncional que fosse.
Dobrei os joelhos e deixei a água esfriar o calor fervendo lá
dentro. Lincoln estava lentamente se infiltrando dentro de mim de
todas as maneiras que importavam – de todas as maneiras, menos
uma. E eu sabia, sem dúvida, que esta noite, eu o deixaria entrar
lá também.
Lyric começou como um golpe – um toque de uma mão fora de
uma igreja. Então ela penetrou na minha corrente sanguínea e
agora eu estava viciado.

Ela ainda estava em minha casa terminando um filme de


garotas com minha irmã, e eu estava entrando em seu prédio com
uma caixa de chocolate, algumas pétalas de rosas vermelhas e
uma garrafa de uísque que eu ia derramar por todo o corpo dela,
então ficar bêbado com o sabor.

— Ei, Charlie. — eu disse enquanto passava pelo porteiro.

Ele deu um único e educado aceno de cabeça. — Sr.


Huntington.

Charlie me lembrava meu pai – se meu pai fosse um homem


amigável com um sorriso gentil e senso de humor. Ele tinha
quarenta e poucos anos, se eu tivesse que adivinhar, alto com
cabelos escuros, barbeado e sempre vestido com perfeição. A
primeira vez que visitei a cobertura de Lyric, ele me deu o tipo de
interrogatório que você esperaria de um pai em um primeiro
encontro. Lyric subiu no meio dela, enganchou seu braço no meu
e sorriu. — Não se preocupe com esse cara. Ele é um dos bons, —
ela disse. Um dos bons. Ou ela estava mentindo para tirar Charlie
das minhas costas, ou eu com certeza a tinha enganado. Eu fui
com a mentira. Lyric não era facilmente enganada.

As perguntas terminaram e Charlie e eu continuamos amigos


desde então.

Olhei para o prato de doces na frente dele, então levantei a


caixa de chocolates. — Eu trouxe o meu hoje.

Ele sorriu. — Eu vejo isso.

Passei pelo conjunto de elevadores que se alinhavam na


parede dos fundos do saguão e me dirigi para o corredor à
esquerda – uma alcova escondida com um único elevador. Além de
subir vinte e sete lances de escada, este era o único caminho para
a cobertura. Sempre havia um segurança acampado em uma
cadeira com um jornal e uma xícara de café. De segunda a quinta-
feira, era Ralph, um viúvo de meia-idade que gostava de falar sobre
futebol. Jack pegava o turno de sexta a domingo. Ele sempre me
cumprimentava levantando os olhos de seu jornal com um
grunhido. Jack era um idiota.

A cobertura foi montada de modo que o elevador se abrisse


diretamente para o grande piso plano aberto. Uma parede de
janelas dava para a cidade. Estava escuro lá fora, tornando as
luzes da cidade o cenário perfeito para o que eu havia planejado.
Eu não era romântico, mas essa visão com certeza era.

Atravessei a cozinha, coloquei os chocolates no balcão ao lado


do uísque, coloquei as pétalas de rosa no banheiro, depois voltei e
me joguei no sofá. Eu estive aqui o suficiente quando o pai dela
estava fora da cidade para saber como me sentir confortável. Olhei
para as luzes, deixando-as acalmar meus nervos. Deixei a erva e
os Percs em casa. Ela odiava essa merda de qualquer maneira, e
hoje era o dia dela. Minha mente estava a um milhão de milhas
por minuto. Eu não era virgem de forma alguma, mas desta vez
era diferente. Isso foi mais do que apenas uma foda.

Lyric era minha, e esta noite ela descobriria exatamente o que


isso significava.

Antes que eu ficasse muito perdido em meus pensamentos, as


portas do elevador se abriram e ela entrou.

Ela lambeu os lábios quando me viu com as pernas esticadas


e o braço estendido no encosto do sofá. Aquela carga elétrica forte
pra caralho que sempre estava lá sempre que eu a via vibrava até
a ponta do meu pau.

Eu sorri. — Feliz aniversário, baby. — Pulei do sofá e caminhei


até ela. — Finalmente tenho você só para mim.

Ela soltou um suspiro. — Eu odeio mentir para ela.

Ela estava falando da minha irmã. Eu também não gostava de


mentir para Tatum. Eu também não gostava de como meu pai
falava sobre Lyric como um segredinho sujo. Eu não a estava
escondendo porque tinha medo do que as outras pessoas
pensavam, incluindo meu pai. Eu mantive nosso segredo porque
Lyric me pediu.

Eu segurei seu rosto em minhas mãos. — Então não minta.

— Ela não entenderia. No dia em que conheci Tatum, ela disse


que eu era diferente de todo mundo. Era por isso que ela gostava
tanto de mim. Desde que éramos crianças, ela sempre foi apenas
Tatum para mim – nunca a irmã mais nova de Lincoln. Ela está tão
acostumada com garotas se aproximando dela para estar com
você. Você sempre foi a única coisa que ela disse que nunca ficaria
entre nós. — Ela olhou para mim, seus olhos avermelhados como
se ela estivesse segurando as lágrimas, e isso fez meu estômago
apertar. — E se ela me pedir para escolher?

Porra.

Isso não era algo que eu queria pensar. Não agora. Eu a


perderia com certeza. Lyric e Tatum eram amigas desde os dez
anos de idade. Nenhuma quantidade de molhar sua bunda em um
colchão poderia competir com isso.

Baixei meu rosto para a curva de seu pescoço e inalei seu


perfume. — Não precisamos falar sobre isso. — Eu beijei sua pele.
— Hoje não. — Ela inclinou a cabeça para o lado, e eu corri minha
língua ao longo da coluna de sua garganta. — Não precisamos falar
nada.

Ela soltou um gemido, me fazendo sorrir contra sua pele. Aqui


vamos nós.

Eu enganchei meus dedos no topo de sua legging e puxei para


baixo junto com sua calcinha. — Hora de desembrulhar o
presente.

Lyric sorriu e olhou para mim com aquele maldito olhar sexy
e inocente em seus olhos. — Não deveria ser eu quem
desembrulharia?

— É o seu dia. — Dei um passo para trás e cruzei os braços


sobre o peito. — Vá em frente. Termine o que comecei.
Ela arqueou uma sobrancelha e por um segundo eu pensei
que teria que rasgar a porra da camisa dela, mas então ela se
abaixou e puxou-a sobre a cabeça. Ela chutou para fora de suas
leggings enquanto jogava a camisa no chão, deixando-a ali em
nada além de um sutiã preto rendado. E foda-me se a visão disso
não me fez querer arrancar direto da minha pele. Eu planejava
tornar esta noite especial, tomar meu tempo com ela, fazer isso
direito. Mas o diabo no meu ombro estava lutando pelo controle.
Ele queria devastá-la, possuí-la de dentro para fora.

— O sutiã. — eu disse, tentando controlar minha respiração.

Ela alcançou atrás de suas costas e desabotoou seu sutiã.

Eu assisti enquanto ele caía no chão ao lado de suas outras


roupas. Maldita perfeição. Isso é o que ela era. E eu não estava
esperando mais um maldito segundo para provar.

Peguei a garrafa de uísque do balcão atrás dela, então girei a


tampa da garrafa.

Ela plantou uma mão em seu quadril. — Então, é isso que


estamos fazendo?

— Isso é o que estamos fazendo, — eu disse enquanto virava a


garrafa e observava o rastro de líquido âmbar de sua clavícula,
sobre a porra perfeição de seus seios, e abaixo de seu estômago.

Seu peito subia e descia com sua respiração, mas ela nunca
se moveu para me parar. Lyric gostava do imprevisível. Ela ansiava
tanto quanto eu.

Outra ponta da garrafa. Outro rio de uísque fluiu sobre seu


corpo.
Meu pau estava tão duro que doía.

Levei a ponta da garrafa aos lábios dela, e ela abriu a boca e


me deixou despejar. Um pouco transbordou e derramou em seu
queixo. Ela engoliu em seco e olhou para mim com fome em seus
olhos, nem mesmo se preocupando em limpar o uísque. Sua língua
varreu seu lábio inferior, então eu me inclinei e puxei aquele fodido
lábio entre meus dentes.

Ela choramingou contra a minha boca enquanto enroscava os


dedos no meu cabelo.

— Ninguém mais pode provar você. — Movi minha boca para


seu pescoço e arrastei a ponta da garrafa sobre sua pele. —
Ninguém pode tocar em você. — Passei a garrafa entre seus seios,
abaixando a cabeça para lamber o uísque de seus mamilos. —
Ninguém pode foder você além de mim. — Seu corpo tremia
enquanto eu enfiava a garrafa em seu estômago e entre suas coxas.
— Só eu. — Eu empurrei a ponta da garrafa entre suas dobras,
apenas o suficiente para cobrir a borda com sua boceta lisa. —
Sempre eu.

Seus dedos no meu cabelo congelaram quando ela ficou tensa.


— Linc…

— Diz. — Corri minha língua ao redor de seu mamilo. — Eu


sou sua, Lincoln. — Eu a belisquei com meus dentes. — Diga. —
Pressionei o vidro liso contra seu clitóris.

Seu aperto aumentou meu cabelo enquanto seu corpo


balançava contra a garrafa.
Não havia nenhuma fodida maneira que eu estava
empurrando para dentro. Havia essa garota na décima série –
Gargalo Becca – que enfiou uma garrafa de cerveja em sua boceta,
e a sucção tornou impossível puxá-la de volta. Foda-se isso. Se
alguma coisa estava ficando presa nessa boceta, era meu pau. Mas
isso não significava que não era sexy pra caralho vê-la moer contra
o vidro.

— Eu sou sua, Lincoln. — Suas palavras estavam em algum


lugar entre um gemido e um grunhido.

Eu puxei o uísque para longe de sua boceta e me levantei,


olhando para ela. Meus lábios envolveram a borda da garrafa,
saboreando cada pedacinho de seu sabor enquanto eu tomava
outro gole.

— Toda minha? — Eu perguntei, colocando o uísque de volta


no balcão.

Lyric moveu a mão entre nós e segurou meu pau sobre minha
calça de moletom cinza. Ela sabia exatamente o que eu estava
perguntando. — Toda sua.

Agarrei sua bunda e a levantei do chão. Ela enganchou as


pernas em volta da minha cintura e encontrou meu olhar. Aquele
maldito olhar. Toda sua. Jesus.

Nós nem chegamos a entrar no quarto antes que eu tivesse


suas costas contra a parede e minha boca na dela – um beijo suave
que rapidamente se tornou selvagem. O tipo de beijo que deixava
as línguas fodendo e os dentes se chocando, os lábios inchados e
os corpos rangendo. O tipo de beijo que eu senti em meus ossos.
Porra, todo o caminho para a minha alma.
Agarrei suas mãos e as segurei acima de sua cabeça contra a
parede enquanto me afastava do beijo. — Você tem certeza sobre
isso?

Seus lábios estavam vermelhos e carnudos, do jeito que os


lábios deveriam estar depois de um beijo como aquele. Isso me fez
querer lambê-los, chupá-los e mordê-los. Ela os puxou entre os
dentes como se estivesse avaliando o dano.

Soltei uma de suas mãos e passei a ponta do meu polegar


sobre seus lábios. — Eu destruí sua boquinha bonita com um
beijo. O que você acha que vou fazer com sua boceta?

Ela mordeu meu polegar. — Por que você não para de falar e
me mostra?

Bem. Jogado. Porra.

Eu a girei e a levei até a cama, observando seus seios saltarem


quando eu a deixei cair no colchão.

Ela separou os joelhos, deixando as pernas abertas enquanto


sua mão se movia entre as coxas. Ela escovou um único dedo ao
longo de seu centro, em seguida, trouxe-o para sua boca,
fodidamente me provocando enquanto eu arrancava minha
camiseta e suor. Eu não poderia estar dentro dessa garota rápido
o suficiente.

Subi entre suas pernas, segurando meu pau em sua entrada.


— Isso... — Eu esfreguei a cabeça perfurada sobre seu clitóris, da
mesma forma que fiz uma dúzia de vezes antes, mas desta vez
sabendo que estava indo até o fim.. —.. vai fazer você se sentir tão
fodidamente bem, baby.
Ela respirou fundo, então eu abaixei minha cabeça,
espanando meus lábios sobre sua mandíbula e em sua orelha.

— Vou devagar.

Poderia me matar. Tudo o que eu conseguia pensar era estar


até as bolas dentro dela e nocautear até que ela chorasse. Mas eu
estava disposto a tentar, porque preferia me matar do que
machucá-la.

Ela era virgem no controle de natalidade, e eu não tinha estado


com ninguém em quase um ano. Camisinhas eram a última coisa
em minha mente. Eu precisava senti-la nua.

Eu balancei meus quadris, da mesma forma que fazia quando


tocávamos, deslizando-o entre suas dobras, encharcando-o em
sua umidade. E foda-se, ela estava molhada.

— Diga-me se dói. — E então eu agarrei suas mãos,


entrelaçando seus dedos nos meus, enquanto eu entrava em sua
boceta apertada.

Ela apertou minhas mãos enquanto seus olhos se fechavam.

— Você quer que eu pare?

Ela balançou a cabeça, então abriu os olhos e me deu esse


olhar que perfurou a porra da minha alma.

— Essa é minha garota. Continue olhando para mim.

Suas pernas se abriram mais enquanto eu empurrei mais


fundo. Eu soube no segundo em que a Magic Cross a atingiu em
todos os lugares certos. Sua boca se abriu, e suas paredes se
apertaram ao meu redor. Porra. Sim.
— Lincoln. — Sua respiração era curta e pesada. — Porra.
Jesus. Porra.

Meu coração batia no meu peito e suor escorria pela minha


espinha. Ela apertou minhas mãos, e eu apertei as dela de volta.
Levou cada grama de força de vontade para não bater nela do jeito
que eu queria, do jeito que eu precisava.

E então ela fez isso. Ela empurrou seus quadris para fora da
cama e começou a me foder de volta por baixo. Cristo.

O interruptor virou.

Eu quebrei.

Soltei suas mãos e agarrei um punhado de seu cabelo,


inclinando sua cabeça para trás e deixando meus dentes roçarem
sua garganta. E eu transei com ela. Duro. Empurrando nela com
uma vingança até o suor arder em meus olhos e meus pulmões
queimarem.

Suas mãos agarraram o edredom, e suas costas arquearam


para fora da cama. — Ah, merda. Oh, meu Deus.

Alcancei entre nossos corpos e esfreguei seu clitóris. — Deixe


ir, Songbird. Cante para mim.

E ela fez. Ela se desfez em todo o meu fodido pau. Era a coisa
mais linda que eu já tinha visto na minha vida.
Puta merda, eu estava dolorida.

Mas eu queria mais. Eu queria Lincoln novamente. E de novo.


Parecia que eu nunca teria o suficiente dele, mesmo que ele me
esticasse e me enchesse até eu querer chorar.

Foi como se ele me dividisse e toda essa nova parte de mim


surgisse – como se a garota que eu costumava ser fosse agora uma
mulher.

Eu me senti invencível. Insaciável. Era como se cada célula do


meu corpo estivesse constantemente vibrando com a necessidade.
Ele pensou que precisava ser gentil, para conter a besta que eu
sabia que estava por baixo. Mostrei a ele que não era delicada. Eu
queria tudo o que ele tinha para dar. Se seus demônios estivessem
com fome, eu queria ser a única a alimentá-los.

Depois que ele me fodeu, ele me deu um banho cheio de água


quente e pétalas de rosas vermelhas e tomou seu tempo lavando
seu esperma do meu estômago e o uísque do meu corpo. Então ele
me carregou para a cama e me fodeu novamente.

Ele saiu logo depois que o sol nasceu esta manhã porque eu
tinha prometido a Tatum que iria ajudá-la com alguma ajuda de
emergência para a qual ela estava se voluntariando no Centro
Comunitário Nossa Senhora da Perpétua Esperança.
Todos os voluntários estavam reunidos em uma grande sala
aberta que me lembrava um refeitório escolar. Havia filas de mesas
alinhadas e pessoas enchendo caixas com roupas, suprimentos
médicos e comida. Tudo estava indo para um país do terceiro
mundo que acabara de sofrer um grande terremoto. Kipton
Donahue, de todas as pessoas, havia organizado a coisa toda. Ele
era o pai de Caspian Donahue e um dos homens mais ricos do
mundo. Toda vez que eu o via, um arrepio percorria minha
espinha. Caspian tinha uma confiança calma sobre ele. Em
qualquer lugar que Tatum estivesse, ele estava lá cuidando dela.
Ele era intimidador, mas não da mesma forma sinistra que seu
pai.

Meu pai costumava dizer que as pessoas ricas não tinham


moral.

Sempre me perguntei o que ele queria dizer.

Tatum era rica e uma das pessoas mais puras que eu


conhecia.

Meu pai e eu morávamos em uma cobertura de três milhões


de dólares em Manhattan. Ele era um músico que vendia discos
de platina que viajava pelo mundo em um jato particular, e eu era
sua filha loira de olhos azuis que documentou sua vida nos stories
do Instagram. Não éramos santos. Mas tínhamos moral.

Enfiei um kit de primeiros socorros em uma das caixas e tirei


uma foto.

Tatum parou de dobrar camisetas e olhou para mim. — Você


está seriamente tirando fotos agora?
Eu zombei de surpresa. — É como se você nem me conhecesse.

A primeira vez que encontrei Tatum foi em Crestview Lake, no


estado de Nova York, para a regata anual. Ela estava usando um
vestido azul bebê e seu longo cabelo escuro estava preso em um
rabo de cavalo, assim como o meu. Ela estava olhando para a água.
Ela parecia solitária. Apenas como eu.

Eu era uma garotinha extrovertida toda empolgada com o


açúcar da bola de neve que estava comendo.

Eu segurei o copo de isopor, oferecendo a ela uma mordida da


minha bola de neve. — Maçã ácida. Quer um pouco?

Ela girou a bainha de seu vestido de verão. — Estou bem.


Obrigada.

Apontei para mim mesma e disse a ela meu nome. — Lyric.


Como as palavras de uma música.

Ela sorriu. — Eu sou Tatum.

— O que você está fazendo aqui, Tatum? — Olhei para o lago.


Havia barcos alinhados ao longo do cais de madeira. Não são
barcos grandes. Estes eram pequenos, como canoas. Todos os
outros estavam na margem comendo comida chique e bebendo
champanhe debaixo de uma grande tenda branca. Eu não estava
aqui para isso. Eu só estava aqui porque minha mãe desapareceu...
de novo... e algumas pessoas ricas contrataram meu pai para se
apresentar no aniversário de seus filhos. Ele estava apenas
começando e este era um grande show para ele. Era recusar ou me
trazer junto, então aqui estava eu.
Tatum deu de ombros. — Apenas procurando um lugar
tranquilo. Você?

Coloquei um pedaço de gelo colorido em minha boca, então


imediatamente me arrependi quando uma dor aguda atravessou
meu cérebro. Levei um minuto para respondê-la. — Meu pai está
fazendo um show para o aniversário de um garoto rico, e minha mãe
sumiu, então eu tive que vir. — Apontei para os barcos alinhados na
lancha. — O que é isso?

— São barcos de corrida.

— Corrida de barcos? Tipo, com remos? — Deve ser coisa de


gente rica. — Isso não parece divertido.

— Meu irmão rema. — Ela pausou uma batida, então sorriu. —


E é o aniversário dele, então eu tive que vir.

— Oh, Deus. Seu irmão é o garoto rico, não é? Eu sinto muito.


Eu não quis dizer...

Ela riu e acenou com a mão. — Não se preocupe com isso. Ele
já foi chamado de pior.

— Meu pai diz que as pessoas ricas não têm moral. — Eu dei
outra mordida no meu gelo raspado. — Você é legal, no entanto.
Você não é como o resto deles. — Ela não era. Eu já tinha estado
naquela barraca e aquelas outras garotas nem falavam comigo.

Peguei meu celular e tirei uma foto dela.

— O que você está fazendo?

— Tirando uma foto da minha nova melhor amiga.


Desde o momento em que a conheci, soube que Tatum seria
um elemento permanente na minha vida. Eu só não sabia que o
garoto rico que fez meu pai se apresentar no aniversário dele
também estaria.

Olhei para Tatum, que tinha voltado a dobrar camisetas. —


Volto logo. Pausa no banheiro. — Na verdade, eu ia mandar uma
mensagem para Lincoln, mas ela não precisava saber disso.

— Você pode me trazer de volta uma água?

Eu bati nela com meu ombro. — Qualquer coisa pela minha


garota. — Então eu pisquei e fui embora, deixando sua risada atrás
de mim.

Depois de enviar uma mensagem de texto para Lincoln com


uma selfie sexy no banheiro, fui procurar a cozinha,
documentando minha jornada em vídeo. Eu editaria tudo depois e
postaria no meu story. Talvez isso motivaria outras pessoas a
embarcar e ajudar também.

Eu estava prestes a virar a esquina quando o som de vozes me


parou.

— Você está falando sobre controle populacional.

Eu reconheci aquela voz. Minha mente correu para colocá-lo.

Encostei as costas na parede do lado de fora da porta da


cozinha e prendi a respiração.

Outra voz chegou ao corredor. — Se não podemos fazê-lo pela


força, então o faremos pelo consumo.

A primeira voz respondeu: — Você quer dizer misturar


remédios e alimentos com medicamentos para infertilidade.
— Você tem outro plano?

Silêncio.

Oh, meu Deus.

Cada músculo ficou rígido. O instinto me disse para correr,


mas meu corpo era como pedra petrificada. O pânico cresceu
dentro de mim.

As caixas.

Eles estavam enviando pacotes de “cuidado” cheios de drogas


para impedir que uma nação inteira se reproduzisse.

Se você tirasse uma vida antes que ela tivesse a chance de


viver, ainda seria assassinato?

Se não, por que de repente senti que precisava vomitar?

— Essas pessoas estão se reproduzindo mais rápido do que


nossa capacidade de alimentá-las e fornecer cuidados de saúde
adequados. Sacrifícios foram feitos desde o início dos tempos. Isso
é melhor do que deixá-los morrer de fome.

As vozes. Eu os conhecia agora. Eles pertenciam a Kipton


Donahue e Pierce Carmichael, dois dos homens mais ricos e
poderosos do país. A família Donahue era rica – dinheiro do
petróleo – e os Carmichaels possuíam metade dos imóveis de Nova
York. Eu estive perto deles muitas vezes ao longo dos anos graças
à família de Tatum.

Forcei meus pés a se moverem. Eu precisava sair daqui, desse


corredor, desse prédio. Eu não tinha certeza de como processar
isso agora.
Minha respiração explodiu dos meus pulmões enquanto eu
corria de volta pelo corredor para a área principal para pegar
Tatum e ir embora. Eu estava quase lá quando colidi com um peito
duro. Foi quando percebi que estava segurando meu telefone na
mão... e ainda estava gravando. A coisa toda, toda a conversa,
estava bem aqui no meu telefone.

— Tudo certo? — A voz de Malcolm Huntington me fez pular.

Eu não disse nada, apenas olhei fixamente enquanto


mastigava o interior da minha boca. Por favor, Deus, não o deixe
entrar nisso. Como eu diria a Tatum que seu pai era um monstro?

— Lyric?

O medo pinicava meu couro cabeludo enquanto eu lutava para


encontrar minha voz. — Sim. — Limpei a garganta, então enfiei
meu telefone no bolso da minha calça jeans. — Está tudo bem. —
Não estava bem.

Então eu corri de volta para Tatum, fingindo uma dor de


estômago para que pudéssemos dar o fora daqui.
Eu sabia coisas que não deveria saber.

Eu tinha visto coisas que não deveria ter visto.

Semanas se passaram, e eu fiquei doente assistindo e re-


assistindo o vídeo que gravei acidentalmente no centro
comunitário.

Eu não podia ficar calada sobre o que eu sabia. Alguém tinha


que dizer alguma coisa.

Quantas vezes eles fizeram isso? Esta foi a primeira? Eles


fariam isso de novo?

Não era seu trabalho decidir se outras pessoas deveriam ter


filhos ou não. Não importava quanto dinheiro ou poder eles
tivessem. Essa não foi uma escolha que eles tiveram que fazer.

— O convite diz que não há telefones celulares. — disse Tatum,


me tirando dos meus pensamentos para me lembrar que eu não
postaria os eventos de amanhã à noite no meu Insta.

Ela estava de pé em seu armário vasculhando prateleiras de


roupas, tentando decidir o que vestir amanhã para a Noite das
Travessuras. Eu estava sentada no chão com os joelhos dobrados
e as costas contra a parede.
Eu já tinha escolhido minha roupa – calça de couro preta e
uma camiseta curta. Eu nem tinha certeza se poderia entrar.
Tatum era a única com o convite, e não era como se houvesse
regras postadas em qualquer lugar sobre trazer um
acompanhante.

Revirei os olhos e mergulhei o pincel no frasco de esmalte.


Revesti meu dedão do pé em vermelho brilhante, então olhei para
ela. — O convite também diz Tatum Huntington, mas aqui estou
eu, aparecendo de qualquer maneira. — Eu nunca fui a lugar
nenhum sem meu telefone, especialmente depois do que
testemunhei no centro comunitário.

Fiquei esperando que alguém aparecesse e me dissesse que


sabia o que eu tinha ouvido.

Eles nunca apareceram.

Tudo parecia errado – sentada aqui planejando uma noitada


enquanto pessoas em todo o mundo estavam sendo alimentadas
com drogas sem o seu conhecimento.

Tatum tirou um top de espartilho preto e segurou-o contra a


frente.

— Claro que sim. Isso é quente pra caralho. — Pintei outra


unha do pé, depois examinei meu trabalho. — Kyle vai gozar em
suas calças. — Olhei para cima bem a tempo de vê-la corar, então
empurrei o espartilho de volta na prateleira de roupas.

— Você está nervosa? — ela perguntou enquanto deslizava


pela parede e se sentava ao meu lado.
— Não. — Pintei a última unha. — E você também não deveria
estar. — Eu inclinei minha cabeça em seu ombro. — Porque
estamos fazendo isso juntas. — Eu beijei sua bochecha. — Eu
tenho você, boo. — Minhas palavras pareciam roteirizadas,
ensaiadas. Provavelmente porque minha mente estava a um
milhão de quilômetros de distância.

— Eu não iria sem você.

— Eu sei.

Tatum era popular em seu mundo por causa de seu nome de


família... e Lincoln. Mas ela não mergulhou nele. Ela fazia o papel
de agradar seus pais, mas comparar marcas de grife com lattes
não era exatamente sua coisa.

Levantei-me e caminhei até seu armário, puxei o espartilho de


volta e o coloquei em sua cama. — Use a porra do espartilho. —
Eu pisquei, então me abaixei para pegar meus chinelos. — Tenho
algumas coisas para fazer, mas estarei pronta amanhã às oito
horas se você quiser me pegar.

— É um encontro.

— O encontro mais quente da cidade. — Eu soprei um beijo


para ela, então saí para fazer o que eu deveria ter feito desde o
início.

Eu ia confrontar Kipton Donahue.


Tudo sobre este lugar era imaculado. Dos portões de ferro
preto no final da entrada para as portas da frente em arco duplo
que pareciam algo que pertencia a um castelo em algum lugar. A
casa de Donahue era tão intimidante quanto o homem que a
possuía.

Um homem de meia-idade vestindo um terno preto atendeu a


porta. Seu olhar escaneou minha aparência casual. A carranca me
disse que eu não encontrei sua aprovação.

Antes que eu pudesse perguntar por Kipton, uma mulher com


cabelos escuros, maçãs do rosto salientes e lábios carnudos veio
atrás dele. Seus saltos vermelhos brilhantes estalavam a cada
passo que ela dava. O vestido vermelho combinava com sua figura
alta e magra. Ela segurava uma taça de champanhe meio cheia de
líquido laranja – uma mimosa, eu teria adivinhado. Ela era uma
mulher bonita. Tudo nela gritava sofisticação clássica.

Ela sorriu e parecia genuíno. Tinha que ser o álcool. Ninguém


no mundo da elite sorria para mim daquele jeito, exceto Tatum e
Lincoln. — Caspian não está aqui, querida.

Ela pensou que eu estava aqui para Caspian. Claro que ela
pensou. Por que uma garota de dezessete anos estaria batendo na
porta procurando por Kipton Donahue? Foi nesse momento que
percebi que realmente não tinha pensado nisso. Eu não pensava
em muitas coisas. Era a maneira como eu vivia minha vida.

Um plano melhor seria confrontá-lo em seu escritório, em


algum lugar mais público. Não era assim que faziam na ficção? Eu
nunca deveria ter vindo sozinha. Eu deveria ter trazido alguém
comigo. Eu gritei com as pessoas que fizeram esse tipo de escolha
nos filmes.

— Você deve ser a Sra. Donahue. — Eu estendi minha mão. —


Eu sou Lyric.

O homem de terno se colocou entre nós quando ela estendeu


a mão para apertar minha mão. Porra de merda.

— Como ela disse, Caspian não está em casa.

Olhei em volta para a Sra. Donahue. — Tudo bem se eu deixar


um bilhete para ele ou algo assim? É meio importante. — Meu
coração disparou enquanto eu esperava por sua resposta. O que
diabos eu estava pensando?

O Exterminador de Traje olhou para mim. Se ela dissesse não,


eu meio que esperava que ele disparasse lasers em mim enquanto
eu corria pelo caminho circular de volta ao meu carro.

— Claro. Evan vai te mostrar o quarto dele. — Ela trocou um


olhar com o idiota na minha frente, então me deu um pequeno
sorriso antes de voltar para uma parte da casa onde risos e sons
de vozes femininas ecoavam pelas paredes.

Evan deu um suspiro. — Por aqui.

Eu sorri vitoriosa.

Lyric- Um.

Evan-Zero.

Ele fechou a porta da frente atrás de mim, então me conduziu


por um enorme espaço aberto com pisos de mármore e tetos altos
que se abriam até o segundo andar. As paredes eram de marfim e
decoradas com obras de arte caras. No meio do piso havia uma
letra D com um monograma intrincado pintada de preto. Uma
escada larga de um lado da sala levava a um mezanino com vista
para o espaço aberto abaixo. Eu achava que as pessoas só viviam
assim nos filmes.

Eu o segui escada acima, olhando cada centímetro de espaço


ao longo do caminho. Uma dessas portas tinha que ser o escritório
de Kipton. Ele poderia ter saído a qualquer momento. O que então?
Eu acabei de confrontá-lo na frente de seu mordomo? Na frente de
sua esposa enquanto ela bebia sua mimosa e ria com seus amigos?
Eu mantive a mentira sobre estar aqui para Caspian? E se Caspian
aparecesse enquanto eu ainda estivesse aqui? Um milhão de
cenários diferentes passaram pela minha cabeça. Nenhum deles
terminou bem para mim. Eu estava tão longe da minha zona. Eu
deveria ter ido para casa, tentado esquecer o que eu sabia e focado
em ser uma adolescente típica.

Mas minha consciência não me deixou.

Evan abriu uma das portas do mezanino. — Aqui está.

Merda. Esse cara ia realmente ficar aqui e esperar que eu


vivesse minha mentira. E agora?

Livre-se dele.

Parei do lado de fora da porta. — Você acha que poderia me


pegar um pedaço de papel e uma caneta? — Bati nos bolsos e na
bunda como se esperasse que um caderno aparecesse
milagrosamente.
Ele revirou os olhos e soltou outro suspiro. — Você sempre
pode enviar uma mensagem para ele como uma pessoa normal. —
ele murmurou baixinho enquanto se afastava para
presumivelmente encontrar o que eu pedi.

Nada nesta situação é normal, amigo.

Fiquei ali, meu olhar saltando de uma porta para outra,


imaginando o que havia do outro lado de todas elas. E este era
apenas o segundo andar. Havia todo um outro domínio para
explorar lá embaixo. Mesmo se eu fizesse uma pausa para isso,
não havia como eu vasculhar cada quarto antes de Evan – ou
alguém – me encontrar e me levar para fora da propriedade
algemada – e não do tipo divertido.

Quando ele voltou com o papel e a caneta, eu criei coragem


suficiente para fazer o que vim fazer aqui, mesmo que não fosse
pessoalmente como eu esperava. Pensando bem, provavelmente
era melhor que não fosse pessoalmente. Eu tinha mais bolas
quando não estava encarando o mal diretamente nos olhos.

Fui até uma cômoda de madeira escura, coloquei o papel sobre


o tampo liso e comecei a escrever:

Sr. Donahue,

Eu sei o que você fez. Eu sei sobre os pacotes de ajuda


humanitária e o que você fez para sabotá-los. Ouvi sua conversa
sobre controle populacional e gravei. Verifique seu e-mail se você
não acredita em mim. Estou lhe enviando o arquivo de áudio agora.
Neste ponto, tenho certeza de que os pacotes de cuidados foram
enviados, mas também sei que pode haver tempo para impedir que
todos sejam distribuídos.

Posso não ser tão poderoso quanto você, mas farei tudo o que
puder para garantir que algo assim nunca aconteça novamente.
Você ficaria surpreso com o que a mídia pode fazer com uma
denúncia anônima, especialmente quando há prova de áudio.

Eu não assinei meu nome. Eu distraidamente dei para sua


esposa – na frente de seu mordomo. Ele saberia exatamente de
quem era.

Minhas mãos tremiam quando coloquei a caneta na mesa e


dobrei o papel em três. Soltei um suspiro profundo e entreguei ao
mordomo. — Isso não é para Caspian. — Meus olhos encontraram
os dele. — É para Kipton.

Seu olhar se estreitou quando ele inclinou a cabeça para o lado


para me estudar.

Engoli. — Obrigada por ser discreto. — Ele poderia pensar o


que quisesse sobre por que eu estava aqui, desde que a carta fosse
colocada nas mãos certas.

Meu pulso batia em meus ouvidos e meus pés não conseguiam


se mover rápido o suficiente enquanto eu passava por ele, depois
desci as escadas e voltei para a porta da frente.

Eu não tinha ideia de quem contatar na mídia ou como fazê-


los ouvir as divagações de uma garota de dezessete anos. Mas eu
conhecia alguém que sabia – meu pai. Ele era um defensor da
injustiça e não tinha medo de gritar sobre isso. E assim que ele
chegou em casa, eu estava dizendo a ele o que eu sabia. Com
alguma sorte, Kipton nunca mais seria responsável por outro
programa de ajuda a desastres.
Eu me inclinei contra a moldura de madeira da porta do
banheiro, observando-a se olhar no espelho enquanto ela passava
batom vermelho brilhante em seus lábios carnudos. Jesus, ela era
fodidamente perfeita. Tudo nela era tudo que eu precisava. Se eu
precisasse desabafar, ela estava lá para receber o golpe, então me
acalmava com seu toque suave depois. Se eu precisasse
simplesmente ficar quieto, ela me deixava deitar minha cabeça em
seu colo enquanto ela corria os dedos pelo meu cabelo, então abria
suas coxas e me deixava enterrar meu rosto em sua fodida boceta
perfeita.

Lyric nunca empurrou. Ela nunca piscou. Ela pegou tudo o


que eu tinha para dar e nunca pediu mais, mesmo que eu quisesse
dar a ela todas as coisas do caralho.

Ela se inclinou um pouco na cintura, colocando sua bunda


firme para fora e me tentando a mordê-la através da calcinha de
algodão rosa que ela estava usando por baixo de uma camiseta
branca lisa. Essa merda era para fazer as garotas parecerem
inocentes, mas isso era mentira. Não havia nada inocente sobre as
coisas que eu queria fazer com Lyric quando a via assim.
Ela estava distraída ultimamente. Tranquila. Isso não era
como ela. Eu queria passar a noite fodendo todos os segredos que
ela guardava dentro de sua cabecinha.

— Diga a Tatum que você não pode ir.

Esta noite era a Noite das Travessuras, Malum Noctis, a única


noite do ano em que os filhos da elite faziam o que quisessem sem
ninguém por perto para lhes dizer que não podiam. Deboche no
seu melhor. Foi tudo inspirado por um cara rico morto que
costumava ficar chapado e dar festas de foda combinados com um
ritual anual que nossos pais tinham em algum lugar do interior. E
minha irmã convenceu Lyric a ir.

Eu não queria nenhuma delas em qualquer lugar perto dessa


merda.

— Seu pai ainda está fora da cidade. Tatum estará ocupada.


— Seu pai estava sempre fora da cidade, e Lyric odiava ficar
sozinha. Quando ela não estava na minha casa com Tatum, eu
ficava aqui na cobertura com ela.

Eu empurrei o batente da porta e entrei no banheiro. —


Poderíamos pedir comida tailandesa e assistir The Vampire Diaries.
— Essa era a merda dela, não minha, exceto pela comida
tailandesa. Porra, eu amava tailandês.

Eu aliviei meu braço ao redor de sua cintura por trás e enterrei


meu rosto na curva de seu pescoço. — Eu poderia foder com a
língua sua doce boceta até você gozar em todo o meu rosto. —
Minha mão se moveu sobre seu estômago para o elástico de sua
calcinha, apenas a ponta dos meus dedos avançando para dentro.
Ela respirou fundo, em seguida, colocou a mão em cima da
minha. — Ou você pode simplesmente vir com a gente…

Porra de resposta errada.

— Não é para mim. — Eu não era um cara festeiro. Ou um


cara do tipo multidão. Ou um tipo de cara que divide minha garota
com um quarto cheio de babacas com tesão.

— Qual é a sua coisa?

— Você realmente vai agir como se não soubesse?

Ela encolheu um ombro e curvou um canto de sua boca.


Safada pra caralho e isso fez meu pau duro.

— Esta é a minha coisa... — Eu mordi seu pescoço. — E isto….


— Cheguei sob sua camisa para apalpar seu seio. — Essa é
definitivamente a porra da minha coisa. — Enfiei minha outra mão
dentro de sua calcinha e dois dedos em sua boceta – nunca um,
sempre dois. Eu gostava da sensação dela esticada ao meu redor.

Ela jogou a cabeça para trás contra o meu peito e engasgou.

Eu assisti no espelho enquanto ela mordia o lábio para não


gritar. Ela era sexy pra caralho assim. Eu queria que aqueles
gemidos se libertassem.

— Abra seus olhos e me veja te observando, baby.

Quando ela o fez, sua expressão era tão sombria quanto a


minha.

Com a outra mão, puxei sua calcinha para baixo apenas o


suficiente para me dar espaço para brincar, então liberei meu pau.
Minha palma apertou minha carne. Mais áspero. Mais difícil. Isso
me deixou absolutamente insano o quão fodidamente molhada ela
estava enrolada em meus dedos.

Minha língua percorreu o lado de sua garganta enquanto meus


dedos trabalhavam em sua boceta.

Eu me acariciei ao som de seus gemidos e a sensação de sua


boceta apertada em meus dedos. Ela agarrou o balcão do banheiro
com as duas mãos e saiu da minha mão.

Eu apertei meu aperto, acariciei mais forte, me movi mais


rápido.

Porra.

— E só para você não esquecer de quem são as coisas... — Eu


afundei meus dentes em seu ombro e gozei com um gemido por
toda a porra da calcinha rosa. Então eu os deslizei de volta sobre
seus quadris e bunda, pressionando meus dedos e o tecido
encharcado de esperma em sua boceta. — Não se atreva a tirar
isso.
Imagine que a indescritível Noite das Travessuras seria
realizada no meio de um cemitério gótico nos arredores da cidade.
Este lugar era assustador durante o dia. À noite, era
absolutamente aterrorizante. O luar refletiu no lago, iluminando
nosso caminho.

Uma sensação estranha cobriu minha pele de arrepios quando


um cara com um manto com capuz levou Tatum e eu passando
por mausoléus de pedra e debaixo de árvores altas e imponentes.
Estátuas de concreto de anjos e santos olhavam para nós,
rachadas e quebradas. Os sons de seus gritos fantasmagóricos
ecoaram com o vento nos galhos das árvores.

Acabamos diante de uma tumba construída para parecer uma


catedral, toda branca com teto abobadado e campanário. Duas
estátuas de leões guardavam a entrada, que se abria para uma
escada que levava ao subsolo. Tochas flamejantes iluminavam as
paredes de pedra, como algo saído dos tempos medievais.

Paramos em uma pesada porta de madeira coberta de


esculturas intrincadas, todas góticas e celestiais. Outro cara com
um manto com capuz e máscara semelhante apontou para uma
grande tigela de aço cheia de vidro vermelho e fogo. As chamas
lamberam o vidro, refletindo no teto e nas paredes ao nosso redor.
Tatum jogou o convite na tigela e, como esperado, eles me deram
uma merda sobre entrar.

— Ela não tem um convite. — disse o cara encapuzado que


estava na frente da porta.

Tatum agarrou minha mão. — Ela está comigo.

Eu estufei meu peito e encarei o cara no rosto. — Você sabe


quem diabos eu sou? — Eu tinha acabado de ameaçar expor
Kipton fodido Donahue. Eu não tinha medo de algum idiota com
problemas com o papai. Eu ainda estava esperando o momento em
que a ameaça explodiria na minha cara. Em mais dois dias, meu
pai estaria em casa, e lidaríamos com isso juntos. Dois dias era em
um piscar de olhos. Eu ficaria bem. Espero.

— Ninguém entra sem ser convidado. — A voz do cara era


firme. Sem inflexão. Nenhuma emoção. Nenhuma concessão.

— Tudo bem. — disse Tatum. — Nós iremos.

Isso chamou a atenção deles.

— Eu sei que você é nova em tudo isso, então vou te dar um


passe, — o cara disse a Tatum. — Um passe, Huntington. Isso é
tudo que você ganha.

Alguém queria muito Tatum nesta festa, e eu tinha a sensação


de que era o mesmo cara encapuzado que nos trouxe aqui – aquele
que parecia muito com Kyle Blankenship.

Ele segurou seu olhar por mais um segundo, então ele abriu a
porta e nos deixou entrar.

O interior da tumba subterrânea era mais como uma gruta.


Grandes arcos de pedra separavam a área principal dos lugares
mais escuros e obscuros, escondidos nas sombras. Uma enorme
piscina cheia de água azul safira estava no centro de tudo. O azul
da água refletia nas paredes e no teto. Um DJ continuou
misturando sua batida de clube com antigos cânticos latinos de
uma plataforma suspensa no ar.

Da pacerne domine…

tum tum tum

Em diebus nostris…

tum tum tum

O baixo timbre do baixo deu ao quarto subterrâneo uma batida


de coração. Foi esse batimento cardíaco que me incitou. Peguei
duas bebidas, uma para mim e outra para Tatum. Ela estava
olhando para baixo, preocupada com seus peitos depois de ver um
cara inalar cocaína no peito de outra garota. Ela estava julgando a
si mesma. Eu poderia dizer.

Eu segurei seu seio em uma mão, orgulhosa por ela ter


decidido usar o espartilho. — Você é perfeita. Seus seios são
perfeitos. Você não precisa de um cara com um mau hábito e
narinas gananciosas para lhe dizer isso. — Então, para enfatizar,
peguei um limão de uma tigela no bar e enfiei em seu decote.
Inclinei-me para frente e chupei entre meus lábios, então olhei
para ela como se estivesse vendo? Porra perfeito.

Ela balançou a cabeça como se estivesse envergonhada, mas


seu rosto se iluminou com um sorriso.

Então Kyle apareceu, desta vez sem máscara.

Eu sabia disso. O cara passou mal.


Eu bebi minha bebida em um longo gole, então joguei meu
copo vazio em um barril de plástico redondo. — Vou dançar. — Eu
joguei uma piscadela por cima do meu ombro enquanto me movia
para a multidão. — Vocês, crianças, comportem-se.

Luzes azuis criavam sombras de neon nos rostos de todos. Sob


as sombras havia flashes de sorrisos e brilhos de olhos cheios de
malícia. Dois caras se aproximaram de mim quando comecei a
dançar. Mãos fortes e grossas acariciaram meu corpo, me puxando
para mais perto de todos os lados.

Desejei que fosse Lincoln.

Eu queria que fosse Lincoln.

Mas ele me recusou.

Não era como se ele fosse capaz de me tocar assim em público


de qualquer maneira. Tudo que eu tinha era o lembrete pegajoso
de sua visita esfregando da minha calcinha na minha boceta toda
vez que eu me movia. De uma forma estranha, me excitava saber
que parte dele estava aqui comigo, sabendo que se eu enfiasse
minhas mãos dentro da minha calcinha, eu o sentiria em meus
dedos. Que se eu inalasse fundo o suficiente, talvez eu ainda
sentisse o cheiro dele, que eu ainda cheirasse como ele.

O baixo me chamou.

Eu dancei com os dois caras, deixando-os me apertar no meio,


sem me importar que suas mãos estivessem vagando pelo meu
corpo. Se eu tivesse sorte, alguém diria a Lincoln.

Eu gostava de testá-lo, empurrando-o além de seus limites. Eu


adorava quando ele perdia o controle. Às vezes, quando estávamos
no mesmo lugar ao mesmo tempo, eu flertava com outros caras só
para fazer Lincoln me empurrar contra a parede do banheiro e me
mostrar que eu era dele. Era uma linha perigosa de andar – como
cutucar um urso – mas eu andava com confiança.

Mas isso não aconteceria esta noite, porque ele não estava
aqui.

Talvez ele realmente aparecesse da próxima vez em vez de me


deixar sair sozinha.

Havia uma vibração sinistra no ar, como se as paredes desta


tumba estivessem emitindo um aviso. Ao meu redor, as pessoas
renunciaram ao espírito da moralidade e dançaram à beira da
depravação. Pele bronzeada revestida de pó branco. Mãos enfiadas
dentro de saias curtas. Cabeças balançavam entre as coxas
separadas.

Harry Potter entendeu errado.

Esta era a verdadeira Câmara Secreta.

Através da multidão, eu assisti Caspian Donahue agarrar


Tatum longe de Kyle e carregá-la para fora deste lugar profano. Eu
estava grata por Caspian naquele momento. Tatum não pertencia
aqui. Eu provavelmente também não.

Alguém me agarrou pelo cotovelo e me puxou para longe dos


corpos quentes pressionados contra mim. — Hora de ir.

Olhei para os olhos verdes brilhantes.

Chandler Carmichael.
Que porra? Meu primeiro pensamento foi que seu pai o enviou.
Afinal, eram as vozes de Pierce Carmichael e Kipton Donahue no
áudio que gravei.

— Foda-se. Eu estava apenas começando.

Não havia nenhuma fodida maneira de eu sair com ele.

— Guarde sua atitude para alguém que se importa. — Ele


agarrou meu braço e me puxou no meio da multidão.

Tentei puxar meu braço, mas ele era muito forte. Minha carne
doía onde seus dedos estavam, sem dúvida, deixando hematomas.

Dois caras encapuzados na entrada – ou saída neste caso –


abriram a porta para ele como se ele fosse a porra da realeza.

Ele colocou a mão na depressão nas minhas costas e


empurrou até que eu chegasse ao topo da escada de pedra.

Pensei em correr, mas estávamos no meio de um cemitério.


Onde eu iria? — Onde está Tatum? — Eu parei e olhei para ele. Eu
sabia onde ela estava. Eu estava apenas parando.

Chandler era seriamente quente. Se você gostasse de idiotas


sem emoção com bocas inteligentes.

Eu também era uma idiota sem emoção com uma boca


esperta, então nós dois éramos como óleo e água.

— Ela está com Caspian. — Ele sorriu para mim. — Mas você
já sabia disso.

Ok, idiotas inteligentes e sem emoção com uma boca esperta.

— Para onde você está me levando?

Por favor, não diga ao seu pai.


— Casa.

Graças a Deus. Com alguma sorte, Lincoln já estaria lá me


esperando.

Ele não disse mais uma palavra pelo resto do caminho até o
meu prédio, e eu não me incomodei em discutir com ele. Ele era
Chandler fodido Carmichael. Não era como se eu pudesse ganhar,
de qualquer maneira.
A luz do sol da manhã era ofuscante, brilhante demais para
esta hora do dia. Quem diabos deixou minhas cortinas abertas? Eu
voltei para a Lyric tarde da noite passada, mas ela me mandou
para casa muito antes do sol nascer. O tempo era um borrão, um
pontinho. Parecia que eu tinha acabado de dormir. Isso acontecia
muito quando eu estava fodido.

Esfreguei os olhos e peguei meu telefone – 10h15min. Minha


cabeça estava latejando e meu corpo parecia que minhas veias
estavam cheias de chumbo.

Havia quatro mensagens de texto e duas chamadas perdidas


de Ethan.

Porra?

8:00

Ethan: Acorde caralho.

8:30

Ethan: Eu tenho uma merda para te dizer.

9:00

Ethan: Liga para mim.


9:30

Ethan: Diga-me por que diabos eu vi sua garota saindo da


casa de Caspian Donahue no outro dia.

Ethan era a única pessoa que sabia sobre Lyric e eu. Ele era
meu melhor amigo. Ele sabia tudo.

Eu cerrei os dentes e apertei o nome de Ethan na tela, nem


mesmo dando tempo para ele dizer olá quando ele atendeu. — Que
porra você está falando? Lyric sabe como me sinto sobre Caspian
Donahue. Ela não seria pega nem morta na casa dele.

— Anteontem, minha mãe estava bebendo mimosas com a mãe


de Caspian. Ela tinha tomado muitas para dirigir e me ligou para
ir buscá-la. — Ethan fez uma pausa. — Estou lhe dizendo, mano.
Quando parei, Lyric estava saindo.

A raiva queimava em meu peito enquanto meu sangue corria


pelas minhas veias, pulsando na minha cabeça já latejante. Eu a
vi ontem à noite e ela não disse uma palavra sobre ir ao Caspian.
Que porra ela achava que estava fazendo?

— Venha me pegar. Os Donahues foderam com o Huntington


errado desta vez. — Eu não era meu pai. Eu não jogava jogos
mentais ou fazia ameaças passivo-agressivas.

Eu cuidava da minha merda.


Ethan dirigiu, porque minha raiva estava cegando quando se
tratava de quão ciumento eu era sobre Lyric – especialmente
quando se tratava de Caspian filho da puta Donahue.

Caspian estava encostado na alta porta de madeira de sua


mansão detestável quando paramos em sua garagem. O sorriso em
seu rosto só fez a raiva dentro de mim borbulhar para a superfície.
Não importava quem fosse seu pai ou quantas pessoas se
encolhessem ao ouvir seu sobrenome. Era hora de lhe ensinar uma
lição sobre colocar as mãos em coisas que não lhe pertenciam.

Seu Audi estava estacionado na entrada circular, impecável e


imaculado.

Fodidamente perfeito.

Assim que o carro parou, eu pulei para fora, pegando um taco


de beisebol de alumínio do banco de trás ao sair.

O alumínio parecia leve quando eu o joguei no ar, mas


poderoso pra caralho quando o derrubei e esmaguei o para-brisa
do carro dele. Sem perguntas. Nenhuma foda dada. Nenhuma.

Bati de novo antes de jogar o taco na calçada. O som de metal


batendo no concreto interrompeu o silêncio. Continuou ecoando
enquanto rolava para o lado. Foda-se. Ele poderia mantê-lo como
um lembrete.

Meu peito arfava, pulmões queimando com cada respiração


que eu dava. Limpei o suor da minha testa com as costas da minha
mão. Eu vi Caspian no meu periférico, espreitando no topo da
escada. — Considere esse seu aviso, Donahue. Fique longe de
Lyric. — Eu nem mencionei o fato de que eu tinha ouvido que ele
estava fodendo minha irmã, não até que ele desceu os degraus e
ficou na minha cara. — Uma adolescente não foi suficiente para
você? Você teve que fazer da minha irmã sua prostituta também?
— As palavras tinham um gosto amargo na minha língua. Eu sabia
que minha irmã não era uma prostituta. Eu só queria irritá-lo.

Seus olhos se estreitaram. — Você tem cinco segundos para


dar o fora da minha garagem e pedir desculpas à sua irmã.

Ele acabou de defender Tatum? Isso era novo. Caspian não


dava a mínima para ninguém o suficiente para defendê-los. Ainda
não explicou porque minha garota estava na casa dele.

— Sim? Ou o que? — Ele queria o que me pertencia? Eu o


desafiei a tentar pegá-lo.

A última coisa que vi antes de pontos brancos de luz encherem


minha visão foi Caspian mostrando os dentes com um rosnado
enquanto se lançava em mim. Uma dor cegante picou o lado da
minha cabeça, seguida rapidamente por outro solavanco violento.
O ácido queimou minha garganta enquanto meu estômago se
revirava, mas me recusei a me permitir vomitar.

Porra. Isso dói.

Ar. Eu precisava de ar. Eu não conseguia respirar. O gosto


metálico de sangue cobriu minha língua, quase me fazendo
engasgar antes que eu pudesse engolir. Os pontos brancos
borraram todos juntos. Meu pulso trovejou em meus ouvidos. A
voz abafada de Caspian soava como se estivéssemos ambos
debaixo d'água. Porra. Parecia que estávamos debaixo d'água. Era
como se o tempo tivesse acelerado e desacelerado. Onde diabos
estavam meus pulmões e por que eles não estavam funcionando?
Uma dor aguda e pungente queimou meu rosto da têmpora até
a mandíbula.

Porra?

O ar estava de repente escaldante, como chamas lambendo o


lado do meu rosto, e pequenas gotículas escorriam sobre minha
pele. A trilha molhada deslizou sobre minha testa antes de pingar
na frente do meu olho. Sangue. Ele pegou um pedaço de vidro e
me cortou. Cortou a porra do meu rosto aberto. Meu pulso estava
batendo. A raiva chiou como um relâmpago em minhas veias.

E então acabou.

Lutei contra o trovejar do meu pulso para voltar a ficar de pé.


Meus pulmões se expandiram com uma inspiração profunda
enquanto meus olhos procuravam os dele.

Ele olhou para mim com um brilho nos olhos e um sorriso


satisfeito. Seu olhar seguiu o sangue do meu rosto enquanto
pingava na minha camisa. Ele pensou que ganhou só porque tirou
sangue? Graças ao meu pai e sua versão fodida de paternidade, eu
tinha cicatrizes por dentro que cortavam mais fundo do que
qualquer coisa na superfície jamais poderia.

Eu não era malicioso. Eu não era o cara que vivia por


vingança. Eu não tive tempo para isso. Eu era o caos. Destruição.
A maldita tempestade que eliminou qualquer coisa em seu
caminho. Feroz e imprevisível. E se eu descobrisse que Caspian
Donahue colocou um dedo em Lyric, eu voltaria, e essa merda no
meu rosto pareceria um corte de papel comparado ao que eu faria
com ele.
Dei-lhe um sorriso. — Isto está longe de terminar. — E então
entrei no carro de Ethan sem olhar por cima do ombro. — Leve-me
a Lyric.

Vinte minutos depois, paramos na frente de seu prédio.

— Tem certeza de que não quer se limpar primeiro? — Ethan


perguntou quando eu abri a porta para sair.

Eu pisquei, então abaixei minha cabeça enquanto saía do


carro. Mesmo antes de começarmos a brincar, Lyric estava em
nossa casa quando eu voltei para casa depois de uma sessão de
sparring, ensanguentado e machucado. Talvez nunca tão mal, mas
eu conhecia minha garota. Ela poderia lidar com isso. Ela
provavelmente me limparia e me xingaria. — Não é nada que ela
não tenha visto antes.

Ele riu, então foi embora balançando a cabeça.

Ok, minha pequena Songbird. Hora de você me dizer o que


diabos você pensa que está fazendo.
Normalmente eu teria cumprimentado o porteiro, encostado o
quadril na mesa e pegado alguns chocolates da tigela de vidro. Hoje
não. A luta com Caspian fez minha adrenalina disparar e meu
coração disparar – um furacão em movimento. Tudo ao meu redor
era um borrão. O piso de mármore branco se misturava às paredes
cor de cinza. O candelabro que parecia rastros de gotas de chuva
de vidro penduradas em fileiras do teto estava nublado pelo fio de
sangue que ainda escorria do corte no meu olho.

— Sr. Huntington, — o porteiro chamou enquanto eu passava


correndo por ele.

Acenei uma mão no ar, sem me preocupar em olhar por cima


do ombro. — Eu vou te pegar no meu caminho, Charlie.

Hoje havia dois seguranças na entrada do elevador. Nenhum


deles era Ralph ou Jack.

Ambos olharam para mim, olhos estreitados e sobrancelhas


franzidas. Fodam-se eles. Apertei o botão para chamar o elevador.

As portas de aço se abriram e um deles, o corpulento de cabelo


escuro e barba, estendeu o braço como uma daquelas barras em
um cruzamento de ferrovia ou garagem. — Ninguém é permitido
na cobertura.
Que porra ele acabou de dizer?

Eu sorri. — E suponho que você vai me impedir? — Olhei para


o braço dele. — Com isso?

Ele abriu a boca para dizer palavras que eu não dava a mínima
para ouvir, e eu o interrompi pegando o bastão do coldre em seu
quadril e batendo-o entre as pernas. Seu rosto empalideceu
quando sua mão caiu em seu saco e ele caiu de joelhos, ofegante.
Sim. Foda-se. O outro cara me atacou, mas consegui entrar no
elevador antes que ele pudesse contornar o primeiro cara e me
alcançar. Eu lhe dei um sorriso. Foda-se você também.

Imaginei que tinha cerca de cinco minutos antes que o


elevador fizesse sua ronda e aqueles dois estivessem invadindo a
cobertura prontos para chutar minha bunda – ou chamar a polícia
de verdade. A essa altura, Lyric diria a eles exatamente como eu
era bem-vindo em seu apartamento.

As luzes nos pequenos botões circulares se acenderam quando


passei por cada andar. Eu levantei minha camisa sobre minha
cabeça e a segurei contra o lado do meu rosto, tentando absorver
o máximo de sangue possível. Para uma garota de dezessete anos,
Lyric era exigente pra caralho em manter sua casa limpa. E eu
estava prestes a entrar com sangue pingando por todo o chão dela.

As portas do elevador se abriam diretamente para a sala de


estar, revelando a vista deslumbrante da cidade através das
janelas do chão ao teto. As luzes estavam apagadas. Ela não estava
enrolada sob um cobertor no canto da grande seção de couro como
de costume. O cheiro de biscoitos recém-assados não flutuou pela
sala da cozinha. Não havia música tocando no som surround.
Não havia nada além de silêncio, muito silêncio. Onde diabos
ela está?

Talvez ela estivesse dormindo. Eu tinha acabado de deixá-la


algumas horas atrás, depois de uma foda intensa que colocou sua
bunda em coma sexual.

Lyric começou a tentar me deixar com ciúmes. Ela gostava do


jeito que eu transava com ela quando estava bravo. Não vou
mentir. Eu também gostava. Éramos fodidos assim. Se essa merda
com Caspian fosse outro de seus jogos, eu me certificaria de que
ela se lembrasse de quem era aquela boceta toda vez que ela se
sentasse.

Ontem à noite no The Chamber ela deixou dois caras apalpá-


la como se fossem cegos e seu corpo estava coberto de Braille. Ela
pensou que só porque eu não estava lá, eu não iria descobrir sobre
isso. Foda-se isso. Eu sempre tive olhos nela, e esse era um
segredo que a Câmara não guardava. Ela não estava tão arrogante
quando eu apareci em sua cobertura à meia-noite pronto para
mostrar a ela exatamente o que acontece quando ela esquece a
quem pertencia. Ela estava deitada na cama, completamente
alheia que eu tinha entrado. Eu arranquei as cobertas,
fodidamente morrendo quando a vi em nada além da mesma
calcinha que eu encharquei em meu esperma.

— O que você está fazendo, Lin? — ela perguntou quando eu


me inclinei e segurei sua boceta através do tecido fino.

— Você caiu e bateu a porra da cabeça?


Ela esfregou a mão sobre os olhos antes de abri-los
completamente. — Não.

Eu deslizei meu dedo sobre sua fenda. — Teve um derrame?

— O quê? Não. — Sua voz estava áspera do sono, e era sexy


pra caralho.

— Então, não há razão para você ter amnésia de repente. —


Meus dedos deslizaram sob o elástico de sua calcinha, roçando sua
boceta nua.

Ela respirou fundo. — O que você está falando?

Eu sorri, embora ela provavelmente não pudesse me ver. Ela


sabia exatamente do que diabos eu estava falando. — Isso... — Eu
esfreguei um círculo lento sobre seu clitóris. — …é meu. — Seus
quadris levantaram, apenas o menor movimento, mas eu sabia
quando seu corpo estava implorando por mim. Meu dedo trabalhou
em sua fenda para seu pequeno buraco ganancioso, então deslizou
para dentro. Tão fodidamente molhada. — Isso é meu. — Minha mão
livre apertou um de seus seios. — Minha. — Inclinei-me para baixo,
arrastando minha língua ao longo do lado de seu rosto, em seguida,
parando para beliscar o lóbulo de sua orelha. — Minha. — Eu
sussurrei contra seu ouvido. — É tudo meu, porra. — Ela respirou
fundo. — Não de alguns idiotas que você deixa tocar em você na
Câmara. — Enfiei outro dedo dentro dela. — Minha.

Caminhei pelo corredor e entrei no quarto dela, olhei ao redor,


então fiz meu caminho em direção à porta do banheiro privativo.
Estava aberto e as luzes estavam apagadas. Ok, ela não está no
chuveiro. Tirei minha camiseta do meu rosto e olhei ao redor do
quarto. As cobertas foram puxadas para trás, como se ela tivesse
acabado de sair da cama.

— Lyric. Onde diabos você está?

E então eu os vi – pequenos marcadores de plástico dobrados


para parecerem tendas, amarelo brilhante com números pretos em
negrito. Dois na mesa de cabeceira, ao lado de alguns sacos de
coca, e outro no chão ao lado de sua cama, cercado por mais coca.

— Essa é a minha garota.

Seus lábios estavam em volta do meu pau. Meu punho estava


em seu cabelo. Meus quadris balançaram para frente e para trás
enquanto eu fodia sua boca perfeita. Alguém me disse que a coca
deixa seu pau dormente. Os paus dormentes fodem por mais tempo,
e eu estava aqui para ensinar uma lição. Uma foda longa e dura era
exatamente o que eu precisava.

Eu afrouxei meu aperto em seu cabelo, aliviando meu pau para


fora de sua boca, amando o jeito que ele brilhava com sua saliva.
Seus lábios estavam inchados. Seu peito arfava com cada
respiração que ela dava enquanto ela enchia seus pulmões de ar
depois de engasgar com meu pau. Ela olhou para mim com olhos
azuis escuros, e uma raiva possessiva surgiu em mim. Eu nunca
quis aqueles olhos olhando para qualquer outro homem assim,
nunca quis aquela boquinha bonita em outro pau. Do jeito que eu me
sentia agora, eu cortaria um filho da puta do umbigo ao queixo só
por olhar para ela.
Abaixei-me, enfiei a mão no bolso e tirei duas sacolas, jogando
uma na mesa de cabeceira e abrindo a outra. Então revesti a palma
da minha mão com pó branco. Os olhos de Lyric se arregalaram
quando um pouco dele derramou em seus seios e por todo o chão.
Eu lamberia isso em um minuto – seus seios, não o chão.

— Lincoln…

Eu sabia que ela não queria fazer parte disso. Ela nunca quis.
As drogas eram um hábito que ela jurou ficar longe, muito longe. Eu
deveria ter respeitado isso.

Eu não respeitei.

Então, novamente, eu nunca reivindiquei ser um cavalheiro.

Até agora, eu tinha limitado a Percs e maconha ao redor dela.


Mas eu estava chateado com um ponto a provar. Eu estava farto dos
jogos ciumentos.

— Sshh, — eu corri a ponta do meu polegar sobre seus lábios,


então levei minha mão ao meu pau. O pó na minha palma se
misturou com a saliva dela enquanto eu acariciava para frente e
para trás. Foda-se. Meus olhos encontraram os dela. — Te peguei.
— Eu lambi meus lábios. — Confie em mim.

— Eu não estou chupando coca do seu pau.

Essa era minha garota. Sempre brava. Sempre lutando comigo.

Que pena, eu sempre ganhava.

Inclinei meu queixo em direção à cama. — Deite-se.


Ela subiu na cama, ajeitando a cabeça no travesseiro. Seu
cabelo loiro se espalhava ao redor dela como uma auréola, mas nós
dois sabíamos que ela não era um anjo.

Eu me acomodei entre suas pernas. — Mais largo.

Seus joelhos caíram para o lado, dando-me uma visão da


primeira fila de exatamente como eu a deixei molhada. Jesus.

A coca estava funcionando. Eu me senti duro como uma rocha


e invencível.

Lyric disparou, empurrando suas mãos em meus ombros


quando eu segurei a bolsa sobre sua boceta nua. Eu era maior, mais
forte, mais duro. Seu pequeno empurrão nem me fez ceder.

— Eu disse que tenho você, Songbird. — Eu cobri sua boceta de


frente para trás com cocaína, usando meus dedos para alinhá-la ao
longo de sua costura. Então deixei cair a bolsa quase vazia ao lado
da outra na mesa de cabeceira.

Lambi meus lábios e voltei entre suas pernas. Ela caiu de volta
no travesseiro, relaxando no segundo em que minha boca encontrou
seu clitóris. O pó amargo cobriu minha língua, mas tudo que eu
queria era mais. Mais dessa doçura por baixo. Mais dela. Foi uma
alta como nenhuma outra, vendo seus peitos e boceta cobertos de
coca, sabendo que ela me deixaria fazer qualquer merda que eu
quisesse com seu corpinho perfeito, provando para nós dois que ela
era minha. Eu nunca estive tão fodidamente excitado na minha
vida.
Gritos estrondosos encheram a cobertura vazia, me trazendo
de volta ao presente. Os dois guardas do andar de baixo invadiram
o quarto de Lyric, braços na frente deles, armas apontadas para
mim.

Havia momentos na vida em que você praticamente podia


ouvir os segundos passando. Carraça. Carraça. Carraça. Tudo
parecia parado, e você sabia que naquele momento, assim que o
próximo segundo passasse, nada seria o mesmo. Eu estava preso
naquele momento, congelado entre os carrapatos.

— Onde ela está? — Eu gritei de volta.

— Deite-se no chão e coloque as mãos atrás da cabeça!

— Onde diabos ela está? — Desta vez eu rugi.

— Sua namoradinha teve uma overdose, e você está fodendo


as provas. — disse o guarda que eu trouxe de joelhos. — Agora vá
para o chão maldito.

Meu peito cedeu, esmagando o pouco de coração que me


restava. O resto aconteceu em câmera lenta. Algo sólido bateu na
lateral da minha cabeça, talvez a coronha de uma arma. Talvez
tenha sido o mesmo bastão com que esmaguei suas bolas. Eu não
tinha certeza. O corte no meu rosto explodiu em uma confusão de
sangue. Dor, paralisante e cortante atravessou meus ossos, me
fazendo vomitar por todo o tapete de lã que se estendia debaixo de
sua cama. E então eu estava de bruços, o rosto esmagado contra
o chão com o cheiro do meu vômito queimando minhas narinas.
Uma bota pesada pisou nas minhas costas, me prendendo no
lugar. Meu crânio estava latejando, minha visão turva e meu
estômago revirando. A pressão nas minhas costas parecia que iria
quebrar minha espinha em duas.

Mas nada disso importava.

Ela se foi.

E eu estava muito fodido para lembrar claramente as últimas


palavras que eu disse a ela.

O guarda enterrou o cano de aço de sua arma na curva do meu


pescoço, exatamente onde meu crânio encontrava minha coluna.

Eu levantei minha cabeça para trás, pressionando a arma com


mais força contra minha pele. — Faça isso. — Cuspe voou da
minha boca quando o primeiro rastro de lágrimas mancharam
minhas bochechas. — Você acha que eu tenho medo de morrer?
— Eu não tinha mais nada para viver. — Eu disse, faça isso, seu
covarde. — Seria fácil acabar com tudo isso, bem-vindo, até.

Lyric estava morta por minha causa, e tudo que eu queria fazer
era rolar, pegar a arma do filho da puta corpulento que estava
apontada para a parte de trás da minha cabeça e ter certeza de
que eu morreria junto com ela.
Ouvi suas vozes.

Eu vi seus rostos.

Senti as lágrimas do meu pai caindo no meu rosto.

Tentei alcançá-lo, mas minhas mãos não se moviam, como se


meus ossos fossem feitos de concreto.

Tentei gritar, mas o som ficou preso na minha garganta.

Meus olhos estavam abertos.

Meu corpo estava vivo.

Mas eu estava congelada, deitada na minha cama enquanto


meu pai sentava ao meu lado.

Meu pai disse adeus. Ele me perguntou porquê. Como se eu


não estivesse bem aqui, olhando para ele, desejando que ele me
visse.

Não havia dor, embora parecesse que deveria haver. Como se


eu estivesse em uma sala consumida pelas chamas, mas nenhuma
delas me tocou.

O que está acontecendo comigo?

Minha mente gritou. Gritou e gritou.

Meu corpo tremeu. Eu torci e toquei.


Nada.

Nem uma única coisa.

Havia outra pessoa, um homem baixo e corpulento,


conversando com meu pai. Ouvi as palavras overdose de drogas e
quis chorar, mas as lágrimas nunca vieram.

Não.

Não, não, não.

A última coisa que eu lembrava era mandar Lincoln para casa


depois que ele apareceu com uma linha de cocaína em seu pau,
me dizendo para experimentar.

Eu deixei ele me foder, mas de jeito nenhum eu colocaria essa


merda no meu nariz – ou na minha boca. Ele acabou deixando
rastros de pó em cima de mim, tudo dentro de mim. Ele me fodeu,
me lambeu e me beijou até que meu corpo estava coberto de coca
e esperma, e eu estava exausta demais para me importar.

Ele sabia melhor. Assim que eu fosse capaz de falar de novo,


eu iria amaldiçoá-lo pra caralho.

Mas as pessoas não tiveram overdose por ter um pouco de coca


na vagina.

Elas tinham?

Papai se inclinou e pressionou seus lábios contra minha testa.


Parecia que lhe doía até mesmo me tocar, como se as memórias da
última vez que ele viu alguém que ele amava se afastar dele fossem
demais.
Por que eu não conseguia me mexer? Eu precisava deixá-lo
saber que eu estava bem.

— Te amo, anjo. Papai sente muito por ter decepcionado você.

Não! Pai! Você não me decepcionou. Isso não está certo. Algo
está errado.

Por favor, Deus, se você está acordado e ouvindo, diga a ele que
estou bem.

Ele se moveu para colocar uma mecha de cabelo atrás da


minha orelha, mas o homem robusto colocou a mão em seu ombro,
parando-o antes que pudesse. Papai me encarou por mais um
segundo, e uma única lágrima escorreu pelo seu rosto.

Eu nunca tinha visto meu pai chorar. Nunca.

Ele fechou os olhos por um longo piscar, então se endireitou.

Ele e o homem trocaram mais algumas palavras que eram


muito baixas para eu ouvir. E então ele se foi.

A porta se fechou com um clique retumbante na sala


silenciosa, e o homem caminhou até onde eu estava paralisada.

Ele se inclinou para perto, como se alguém pudesse ouvir, e


sussurrou. — Sinto muito que você teve que ver isso. Isso tudo vai
acabar em breve.

Ele sabia.

Ele sabia que eu estava acordada.

Por que ele não disse ao meu pai que eu estava acordada?

Senti uma pontada repentina e aguda de dor. E então não


havia nada além de escuridão.
Acordei com alguém me arrastando para fora do banco de trás
de um SUV preto. Seus dedos dolorosamente beliscaram o topo
dos meus braços, já doloridos de onde Chandler tinha me
agarrado. Minha cabeça latejava e minha visão estava embaçada.
Levou um momento para tudo entrar em foco. Estava escuro lá
fora. Noite. E frio. Eu estava com tanto frio. Meus lábios tremeram
e meus dedos ficaram dormentes. Eu não tinha ideia de quanto
tempo eu estava fora porque o tempo me escapou.

Tive um vislumbre do que parecia ser uma catedral gótica


pouco antes de ser puxada para dentro. Pisquei até que meus
arredores começaram a entrar em foco. E então paramos. Eu
estava em uma sala circular, quase como um tribunal, mas mais
sinistra.

Em uma plataforma na frente da sala, havia uma fileira de


cadeiras atrás de uma mesa de madeira, ou escrivaninha, ou algo
assim. Em letras brilhantes e douradas na frente da mesa estava
a palavra Tribunal. Dez homens estavam sentados na plataforma,
todos jovens, muito bonitos.

Eles pareciam juízes em um painel, só que eu não tinha ideia


do que eles estavam julgando.

O chão era de mármore dourado com um “O” vermelho-sangue


formado por uma serpente no centro. As paredes eram da mesma
cor dourada com altas colunas brancas colocadas perto de
aberturas em arco que levavam a longos corredores. Acima de nós,
havia um balcão circular, como os dos teatros ou casas de ópera.

Eu estava alinhada com outras nove garotas perto de uma das


aberturas em arco. Dez de nós, todas vestindo roupões de seda
branca e nada mais. No corredor atrás de nós, e nas paredes da
sala circular havia tigelas de pedra com o mesmo vidro vermelho
flamejante que eu tinha visto na cripta do Cemitério Green-Wood.

Que diabos era esse lugar? O que estávamos fazendo aqui?

Imagens de panfletos de pessoas desaparecidas e


documentários de mistério não resolvidos passaram pela minha
mente, quase me paralisando. Eu queria correr. Eu sabia que
deveria correr. Mas minhas pernas não se moviam.

Um arrepio gelado subiu pela minha espinha, e uma voz


profunda falou contra o meu pescoço por trás.

— Bem-vinda ao Dia do Julgamento, querida. Você tem


alguma ideia de por que está aqui?

Dia do julgamento. Então eu estava certa.

Aquela voz.

Kipton Donahue.

Ele ficou com o peito pressionado contra as minhas costas.

Eu não poderia responder a sua pergunta, mas eu tinha uma


boa ideia.

Eu tentei tocar o intocável. Eu havia desafiado o incontestável.

Eu o ameacei e agora ele estava revidando.


A garota na minha frente entrou na sala, sorrindo e posando
como se estivesse em uma passarela, como se estivesse feliz por
estar aqui. Como se ela tivesse escolhido estar aqui.

O que diabos estava acontecendo? Eu era a única aqui contra


a minha vontade?

Se eu fosse trazida aqui para ser punida por um crime, eu


gostaria que eles acabassem com isso.

— Meu pai vai me encontrar. Meus amigos vão me encontrar.


— eu disse a Kipton com os dentes cerrados.

Ele apertou um punho no meu cabelo e puxou minha cabeça


para trás. — Ninguém está vindo. Todos pensam que você está
morta.

As paredes começaram a se fechar sobre mim, e um arrepio


gelou meus ossos. O chão parecia areia movediça, ameaçando me
engolir inteira. Meu coração disparou, e lágrimas ardiam em meus
olhos. Eu queria cair de joelhos, mas me recusei a deixá-lo vencer.

Todos pensam que você está morta.

Tudo faz sentido agora.

Overdose de drogas.

O adeus choroso do meu pai.

Estar presa dentro do meu próprio corpo.

Eu estava aqui para provar um ponto, para acertar as contas.

Eu tinha sido capturada.


Kipton acenou com a cabeça em direção à sala circular. —
Acho que é a sua vez. — Então ele me empurrou para o centro da
sala.

Eu tropecei, mas rapidamente recuperei o equilíbrio.

Um homem de cabelos escuros que parecia um pouco mais


velho que Lincoln ergueu os olhos de seu lugar à mesa. — Nome.
—, ele disse simplesmente. Sua voz era áspera enquanto seu olhar
me percorria da cabeça aos pés.

Eu lancei um dedo do meio para ele.

Kipton caminhou até o centro da sala, parando bem atrás de


mim. Ele trouxe o braço para a frente do meu corpo, colocando
uma lâmina logo abaixo da minha clavícula. — Eu odiaria fazer
isso confuso. Dê-lhes o seu nome.

— Pegue um esfregão, idiota, porque eu não estou dando


merda nenhuma a eles.

Ele pressionou a lâmina, abrindo minha pele e cortando uma


trilha pelo meu peito, sobre o meu peito, parando logo acima do
meu mamilo. Um rio de sangue escorreu pela minha carne e
manchou a seda pura. Meus olhos lacrimejaram com a agonia
incandescente que faiscou por todo o meu corpo.

— Devo continuar?

— Não! Pare. Jesus. É Lyric. Meu nome é Lyric Matthews.

O homem no final se levantou. Ele parecia pertencer a uma


revista, com seu cabelo escuro comprido o suficiente para cair na
frente de seus penetrantes olhos azuis e feições perfeitamente
simétricas. James Dean parecido com o estilo Cary Grant. Sua
boca de pelúcia torceu em um sorriso. — Esta é minha.

Kipton limpou a lâmina ensanguentada na perna de sua calça


e sorriu. — Lyric Matthews, conheça Gray Van Doren. Ele é seu
dono agora.
Eu queria gritar, gritar: — Você não pode possuir pessoas, —
mas teria sido inútil. Eles já haviam se mudado para a próxima
garota. Minha única esperança era encontrar uma maneira de dar
o fora daqui... viva. Quem diabos eram essas pessoas? Quantos
deles estavam lá? O que aconteceu depois?

Uma figura encapuzada emergiu de um dos muitos corredores


e me agarrou pelo roupão. O sangue do meu corte imediatamente
sujou a seda branca. Uma máscara prateada com entalhes
intrincados cobria o rosto do homem, escondendo sua identidade.
Poderia ter sido Lincoln por tudo que eu sabia. Não era. Meu corpo
teria reconhecido sua presença. Mas poderia ter sido.

Eu desejei que fosse, desejei que ele de alguma forma tivesse


inventado um plano para se infiltrar e me salvar dessa loucura.
Aparentemente, eu tinha muita fé em filmes de garotas e
romances. No mundo real, o herói não apareceu e salvou a donzela
em perigo. No mundo real, a donzela tinha que pegar uma espada
e se salvar.

O cara encapuzado me puxou para fora do quarto. Meus pés


descalços se arrastavam pelo chão, apesar de eu tentar lutar para
me livrar de seu aperto. Meus dedos agarraram seus antebraços,
fazendo-o agarrar meu roupão com mais força, abrindo-o na
frente. Incrível. Agora eu estava piscando para qualquer um que
decidisse passar – não que alguém se importasse. Este era o tipo
de lugar onde ninguém podia ouvir você gritar. E quem fez,
provavelmente gostou. Parei de lutar com ele tempo suficiente para
fechar meu roupão.

Ele me arrastou por um longo corredor iluminado apenas por


arandelas em chamas vermelhas nas paredes de pedra – assim
como as da Câmara – então para fora através de uma porta de
madeira em arco. O corte que Kipton me deu doeu como o inferno
quando o ar da noite o atingiu. Puxei meu roupão mais apertado
contra meu peito como se isso fosse ajudar.

Não.

Procurei algo, qualquer coisa, que pudesse me dizer onde


estávamos. Tudo o que eu vi foi a parte de trás do prédio parecido
com uma igreja, uma estrada de cascalho e árvores.

Um carro preto elegante parou, e o cara encapuzado abriu a


porta traseira, então me empurrou para dentro. Ele nem se
incomodou em ter certeza que eu abaixei minha cabeça. Ainda bem
que eu estava prestando atenção. Um segundo depois, o homem
que se levantou na grande sala circular e me reivindicou – Gray,
eles o chamavam – subiu e deslizou pelo assento de couro, parando
quando sua coxa roçou a minha. Eu vacilei quando a porta do
carro se fechou.

Ele colocou a mão no meu joelho. — Relaxe, pequena. — Seu


sotaque me disse que ele não era americano. Eu não tinha certeza
de que isso era uma coisa boa.
Pequena. Ele expressou isso como um carinho, mas eu odiei.
Meu coração ansiava por ser chamada de Songbird, embora eu
tivesse a sensação de que nunca mais ouviria esse apelido. A raiva
ferveu em meu intestino. Este homem não podia usar apelidos no
lugar do meu nome. Ele não tinha merecido esse direito.

— Meu nome é Lyric. — Não que ele se importasse. Ele pensou


que me possuía agora. Em sua mente, meu nome era o que ele
queria que fosse.

— Eu não vou te machucar.

E eu deveria acreditar nisso? Ele conhecia Kipton, o homem


que acreditava que não havia problema em forçar o controle de
natalidade em uma nação inteira e depois fazer desaparecer
qualquer uma que ameaçasse denunciá-lo. Este homem era um
deles. Sem mencionar o fato de que se ele me “possuía”, ele deve
ter acabado de me comprar. Como um prêmio em um leilão. Eu me
perguntei por quanto eu fui. Ele se encolheu quando preencheu o
cheque? Eu pelo menos fiz um estrago em sua conta bancária?
Minha mente gritou: — Quanto valeu a minha vida?

Cruzei uma perna sobre a outra, puxando meu joelho de


debaixo de sua mão, e encostei minha testa contra a janela. Eu
não tinha ideia de onde estávamos, mas era óbvio que eu não
estava mais em Nova York. Não havia carros além do nosso na
estrada de mão dupla e, mesmo na escuridão, vi a silhueta das
encostas ao luar. Não havia prédios altos no horizonte, apenas o
brilho âmbar ocasional de uma luz em uma janela distante.
Meu peito doía, e não apenas por causa do corte. Doeu
fisicamente, como se um peso enorme estivesse em cima de mim,
dificultando a respiração.

Sentia falta de Lincoln.

Sentia falta de Tatum.

Eu senti falta do meu pai.

A dor gravada em seu rosto era algo que eu nunca esqueceria


enquanto vivesse. Como ele não me viu? Por que ele não sabia que
eu ainda estava lá em algum lugar? Eu queria lutar. Eu queria
gritar. Eu precisava que eles soubessem que eu estava bem.
Quanto tempo eu tinha ido? O que todos eles estavam fazendo
agora? Eu tive um funeral? Como você fazia um funeral com um
caixão vazio?

A estrada fazia uma curva, trazendo um grande corpo de água


à vista. As ondas estavam calmas, calmas demais para ser o
oceano. Tinha que ser um rio, talvez, ou um lago. As ondulações
dançavam no reflexo do luar. Isso me lembrou de Crestview Lake,
onde conheci Tatum pela primeira vez. Talvez tivéssemos ido para
o interior. Talvez não estivéssemos muito longe de casa.

Pensei em esperar a próxima curva na estrada, o motorista


diminuir a velocidade apenas o suficiente para eu abrir a porta e
pular. Quão longe eu poderia fazê-lo? Uma onda de adrenalina
explodiu em mim com a ideia de que eu poderia realmente
conseguir.

— Onde estamos? — Eu perguntei sem olhar para o homem


sentado ao meu lado.
— Edimburgo. — Sua voz era suave, indiferente à minha
presença.

Eu levantei minha cabeça do vidro. — Edimburgo? — Eu só


conhecia um Edimburgo. Eu aprendi sobre isso na geografia do
nono ano.

— Escócia. — acrescentou.

Meus olhos dispararam para os dele, esperando, esperando,


rezando para encontrar alguma pitada de humor ali. Não havia
nenhuma. Em vez disso, fui recebida com uma profunda
intensidade azul. Como ele estava tão calmo?

O peso no meu peito me atravessou, roubando minha


respiração e enviando meu sangue correndo para minha cabeça.
Uau, baque. Uau, baque. Meu pulso estava firme em meus ouvidos.
O medo gelou minhas veias – ou talvez fosse a derrota. Não. Isso
não podia ser real.

Olhei para trás pela janela e tudo entrou em foco – as encostas,


a água, as casas espalhadas por toda parte.

Escócia. Não havia como escapar. Não havia como pular do


carro e esperar encontrar o caminho de volta para casa.

Lincoln não viria. Ninguém viria. Eles nunca pensariam em me


procurar aqui. Eu nunca tinha estado na Escócia na minha vida.
Eu nunca tinha saído de Nova York. Meu pai viajou pelo mundo,
mas se recusou a me deixar ir com ele. Ele disse que era o melhor,
disse que havia monstros por aí.
Acho que ele estava certo. Eu estava sentada ao lado de um
deles. Mas este homem não parecia um monstro. Ele parecia um
deus.

O resto do passeio continuou em silêncio. Meu pai me chamou


de Lyric porque ele disse que desde o momento em que nasci, todas
as suas palavras eram para mim. Talvez fosse por isso que as
palavras sempre vinham tão livremente para mim. Eu sempre
disse o que sentia. Eu era muito parecida com meu pai nesse
aspecto. Havia algo de agridoce no fato de uma garota que recebeu
o nome de palavras não ter mais nada a dizer.

Dirigimos por mais uma hora, talvez duas. Perdi a noção do


tempo. Não importava mais, de qualquer maneira. O tempo era um
castigo agora. Eu costumava desejar mais disso. Agora eu desejava
realmente ter tido uma overdose da cocaína de Lincoln.

O carro virou em uma estrada longa e estreita, ou talvez uma


entrada de automóveis. Eu não tinha certeza. Árvores se
alinhavam em ambos os lados, e a cada poucos metros havia altos
postes de metal com lampiões a gás pendurados neles. A janela do
lado do motorista deslizou quando chegamos a um grande portão
de ferro forjado. O motorista digitou algo no que parecia ser um
tablet aninhado na lateral de um pilar de paralelepípedos, e o
portão começou a se abrir. Alguns momentos depois, chegamos ao
que só poderia ser descrito como um palácio. Chamar este lugar
de casa era um insulto. Mesmo chamá-lo de mansão era um
eufemismo. Tanto para colocar um amassado em seu talão de
cheques.

Estava escuro lá fora, mas a iluminação externa e o brilho


âmbar das janelas destacavam os contornos de torres redondas e
torres escalonadas. Parecia o tipo de lugar que guardava uma vida
inteira de segredos obscuros. Eu não pude deixar de me perguntar
se eu me tornaria um deles.

Minha mente evocou imagens de masmorras úmidas,


correntes presas a paredes de pedra e refeições de pão e água.

Parte de mim se perguntou como seria esse lugar quando o sol


aparecesse. Outra parte de mim queria queimá-lo até o chão.

Gray estendeu a mão para me ajudar a sair do carro.

Eu o ignorei. Só havia uma mão que eu queria, e estava


coberta de tatuagens e presa a um homem que preferia fazer um
corte de papel em suas bolas do que usar um terno sob medida.

No segundo em que saí do carro, ele agarrou meu pulso e me


levou pela esquina e por uma porta lateral. Entramos em uma sala
com paredes forradas de armários e prateleiras do chão ao teto.
Tinha que ser uma despensa porque dava para a cozinha. Esta
sala era o sonho de um chef, com eletrodomésticos industriais e
armários brancos altos com ferragens douradas. As bancadas
eram de granito preto sólido, e os pisos eram de ladrilhos brancos
com redemoinhos cinza. Gray foi até o único conjunto de armários
com portas de vidro e pegou dois copos de cristal.
Ele colocou os copos no balcão. — Com sede? — ele perguntou
enquanto pegava uma garrafa preta sólida e torcia a tampa.

Eu estreitei meus olhos para ele. Você me compra, me trás para


sua casa seminau e coberta de sangue, e você está preocupado se
eu estou com sede?

Ele colocou um dos copos de volta no armário. — Ok. Não está


com sede. — ele disse, então virou as costas para mim e encheu
seu copo até a metade do que quer que estivesse na garrafa preta.

Cada célula do meu corpo estava gritando, arranhando minha


pele. Eu queria correr, bater em alguma coisa, arrancar meu
maldito cabelo. Como diabos ele estava tão calmo? Eles
simplesmente compravam e vendiam pessoas todos os dias em seu
mundo?

Eu estava me lembrando de inspirar profundamente e expirar


lentamente quando uma mulher de cabelo loiro prateado entrou
na cozinha. Seus olhos castanhos não continham nada além de
bondade e seu sorriso era acolhedor. O vestido azul marinho que
ela usava abraçava sua pequena figura redonda, mas não de uma
forma que não fazia jus. Ela tinha um nariz de botão e covinhas –
a maldita Sra. Potts em carne e osso. Eu meio que esperava que
uma criança chamada Chip viesse pulando no quarto atrás dela.

Gray se virou para nós, inclinando um quadril contra o balcão.


— Sra. McTavish, você poderia mostrar à Srta. Matthews o quarto
dela? — Sua voz era calma e serena, profunda e aveludada com
um toque de sotaque. Ele segurou meu olhar com a confiança de
um homem que não temia nada. Então ele levou o copo aos lábios
e bebeu de volta o líquido cor de mel.
O sorriso da mulher se alargou com suas palavras. — Claro,
senhor. — Ela olhou para mim. — Por aqui, querida. — O sotaque
dela não combinava com o dele. O dela era inconfundivelmente
escocês enquanto o dele era... outra coisa. Inglês de crosta
superior. Ou alguma coisa.

Eu a segui através de sala após sala de elegância e opulência,


depois subi uma escada larga, ao longo do patamar, e até uma
grande porta de madeira.

Ela girou a maçaneta e a abriu. — Espero que seja do seu


agrado. — ela disse com um sorriso que fez seus olhos brilharem.
Ela estava animada. Não havia como ela saber quem eu era ou
como cheguei aqui. Ela teria ficado mortificada se o fizesse. Certo?

As paredes eram de um amarelo dourado suave e os pisos um


tapete bege macio. A cama na parede oposta estava coberta de
roupa de cama branca e azul royal com um dossel de cortinas de
seda emoldurando a cabeceira da cama. Do outro lado da sala,
havia uma área de estar com duas cadeiras de cor creme e uma
namoradeira em frente a uma lareira. Um lustre de cristal estava
pendurado no centro, e uma grande janela dava para o que com
certeza seria uma vista deslumbrante. Embora, eu não saberia
com certeza até de manhã.

Em outro momento, eu estaria sem fôlego. Em outra vida, eu


teria me sentido uma princesa e nunca quereria ir embora. Mas
agora, poderia muito bem ter sido paredes de blocos de concreto e
grades de prisão.

A Sra. McTavish olhou para mim, esperançosa.


Eu agarrei seu bíceps, pronto para destruir sua esperança,
para mandá-lo bater no chão bem ao lado do meu. — Você sabe
quem eu sou? — Minha voz estava trêmula. — Você sabe por que
estou aqui? — Seu sorriso caiu quando eu apertei seu braço. Ela
tinha que saber. Certamente, ela tinha que saber.

Ela limpou a garganta, puxou o braço com um puxão suave,


então passou por mim para o quarto.

Corri atrás dela enquanto ela passava por um conjunto de


portas duplas e entrava em um banheiro. — Por favor. Eu não
deveria estar aqui. Tem alguém com quem preciso falar. Eu preciso
que ele saiba que estou bem. — Eu não estava bem. Meu mundo
inteiro foi virado de cabeça para baixo.

Ela se inclinou para abrir a torneira da banheira, me


ignorando completamente. Ela tampou o ralo e derramou algo que
imediatamente encheu o banheiro com o cheiro de lavanda na
água. Quando ela se virou, seu olhar voou por cima do meu ombro.

Meu coração despencou quando ouvi a voz de Gray atrás de


mim.

— Eu assumo a partir daqui, Sra. McTavish. Obrigado. —


Poder e controle escorriam de cada palavra sua. Não é de admirar
que a mulher simplesmente assentiu com a cabeça e saiu correndo
da sala.

Ele fechou a distância entre nós, forçando-me a recuar até


ficar presa entre ele e o balcão do banheiro. Ele estava tão perto
que toda vez que eu respirava, o licor de aroma doce que ele estava
bebendo enchia meus pulmões. — Ela não vai te ajudar. — Ele se
inclinou, deixando seus lábios roçarem a concha da minha orelha.
— O único que pode te salvar sou eu.

Isso era engraçado, considerando que ele era o único de quem


eu precisava ser salva.

Sua mão se moveu para o meu peito, então sob a borda do


roupão de seda, avançando o tecido para o lado. Havia palavras –
muitas delas – na ponta da minha língua. Mas minha boca secou
e meus lábios se separaram em silêncio. Seu toque enviou um
arrepio na minha espinha e queimou minha pele ao mesmo tempo,
como algo proibido, mas misterioso.

— Precisamos limpar isso. — disse ele, arrastando a ponta do


dedo ao longo do corte, começando na minha clavícula, mas
parando logo acima do meu peito. Seu olhar permaneceu ali por
um segundo. Como se ele pensasse em ir mais longe, mas
decidisse não fazê-lo.

Engoli. — Não precisamos fazer nada. — Soltei um suspiro


pesado. — Eu posso fazer isso sozinha.

Um canto de sua boca se inclinou em um sorriso. — Tudo bem.


Limpe-se e me encontre lá embaixo na biblioteca. — Ele baixou a
mão. — Não deve ser difícil de encontrar. É a sala com todos os
livros.

Ele saiu do quarto, fechando a porta atrás dele. Finalmente,


eu estava sozinha. Sozinha, com medo e desesperada por uma
fuga. Eu tinha visto muito em meus dezessete anos de vida, e
superei tudo. Mas não isso. Eu tinha um mau pressentimento de
que nunca sobreviveria a isso.
Tirei o roupão do meu corpo, desejando poder rasgá-lo em
pedaços e nunca mais vê-lo. Então entrei na banheira, um pé
depois o outro, antes de afundar e deixar a água quente me
envolver.

O corte doeu, mas apenas por um segundo. Meu corpo estava


rapidamente ficando dormente, e eu desejei que minha mente logo
fizesse o mesmo. Fluxos de sangue se espalharam pela água até
que eu estava cercada por uma poça de vermelho-rosado. Isso me
lembrou do último Dia dos Namorados, quando Lincoln encheu
uma banheira com água e pétalas de rosa, depois nos cercou com
a luz de velas. Foi uma das raras ocasiões em que ele deixou a
suavidade ultrapassar suas arestas. Deus, eu teria dado qualquer
coisa para voltar àquele momento.

Afundei ainda mais na água até que apenas meu rosto e meus
joelhos ficaram ao ar livre. Meus tímpanos pulsavam por estarem
submersos. Apenas os sons dos meus pensamentos estavam na
minha cabeça – vozes me lembrando que não havia escapatória,
que eu de alguma forma tropecei, caí e aterrissei no meio do
inferno. Parecia o paraíso, mas tudo isso fazia parte do jogo do
diabo, não era?
— Você está do outro lado do mundo. Não há como voltar para
casa, — as vozes me disseram. — Não há escapatória.

Aí está. Nenhuma escapatória.

Meu batimento cardíaco ficou mais alto nos ecos da água.

Estava sem esperança. A luta que rugiu dentro de mim


naquele dia na casa de Kipton havia diminuído agora.

Quem eu pensava que era, enfrentando alguém poderoso o


suficiente para silenciar uma nação?

Eu não fazia falta. Ninguém estava me procurando. Aos olhos


de todos com quem me importava, eu tinha morrido.

A velhinha de olhos gentis nem me ajudaria agora. Eu estava


presa e o pensamento disso era sufocante.

Os pensamentos sombrios tomaram conta, me afogando tão


certamente quanto esta água poderia.

Espere.

Outra voz sussurrou: — Há uma fuga.

Se eu afundasse um pouco mais. Se eu fosse um pouco mais


baixo. Se eu prendesse a respiração e deixasse a água me levar.

Ninguém sentiria minha falta. Eles já pensavam que eu estava


morta. Esta era a minha vida agora. Quão fodido era isso? Eu
poderia realmente morrer, e seria totalmente sem sentido porque
eles já tinham roubado isso de mim.

A primeira lágrima caiu. Depois a segunda.

Logo, eu não sabia onde minhas lágrimas paravam e a água


do banho começava. Meu corpo tremia com cada soluço de cortar
o coração. Meu peito doía e meu corpo doía como se eu tivesse sido
atropelada por um trem de carga. Tudo estava dolorido. Eu levei
minha mão para cobrir minha boca, com medo de que alguém
pudesse ouvir a tristeza deixar meu corpo em suspiros feios.
Recusei-me a deixá-los ver que tinham me quebrado.

Eu gritei contra a minha mão, porque era como um veneno


apodrecendo dentro de mim – a raiva, a frustração, o desespero, e
eu precisava deixar tudo sair.

Fui entregue a um estranho que parecia incapaz de sentir


qualquer coisa, especialmente amor. Não haveria faculdade. Eu
não perseguiria o meu sonho de ser uma advogada explosiva. Eu
não olharia nos olhos do amor da minha vida no dia do meu
casamento. Eu provavelmente nem teria filhos.

Olhei para o meu futuro e não vi... nada.

Eu não tinha nada.

Os soluços vieram mais fortes agora. A dor estilhaçou meu


peito. A mão cobrindo minha boca estava coberta de ranho e
lágrimas. A água espirrou quando meus ombros tremeram,
lavando tudo.

Eu só queria que isso parasse.

Tentei me lembrar de respirar, sabendo que realmente não


queria.

Por quê? Qual era o ponto?

Isso doía. Deus, doía pra caralho.

Isso era pior do que a morte da minha mãe. Era pior do que
entrar em um apartamento escuro e vazio todas as noites porque
meu pai nunca estava em casa. Era pior do que saber que eu
nunca poderia estar realmente com o homem que eu queria porque
isso significaria partir o coração da minha melhor amiga.

Essa dor era paralisante.

Eu pressionei minha mão firmemente contra minha boca,


deixando-a bloquear o ar entrando no meu nariz também. Meus
pulmões gritaram em protesto. Meu coração rachou, em seguida,
quebrou. Mas minha mente... minha mente permaneceu forte.

Era isso.

Esta era a minha fuga.

Fechei os olhos e afundei na água. O choro parou. O tempo


parou. Eu estava sem peso. Senti cada célula, nervo e músculo.
Cada cabelo do meu corpo formigava na raiz, e cada gota de sangue
corria pelas minhas veias com uma vingança. Foi tudo tão intenso.
Eu estava hiperconsciente de tudo. Era assim que Lincoln se sentia
quando ficava chapado? Meu batimento cardíaco acelerou e
acelerou até que eu pensei que iria estourar pelas minhas costelas.

Então tudo desacelerou. Minha mente derivou em paz. Todos


os pensamentos que estavam rugindo na minha cabeça
começaram a se aquietar. Nevoeiro preto como tinta se instalou ao
meu redor, se aproximando e sussurrando ameaças de destruir a
pouca luz que restava.

Eu estava calma.

E então braços fortes estavam sob mim, me levantando, me


puxando para perto de um peito duro.

Meus olhos se abriram enquanto eu ofegava por ar.


Não.

Eu chutei e tentei gritar, mas nada saiu.

Gray me tinha. Ele carregou meu corpo nu do banheiro para


o quarto, então gentilmente me deitou na cama. O ar frio na minha
pele nua me fez estremecer, então ele puxou o edredom em cima
de mim. Sua camisa branca estava encharcada. Seu rosto estava
pálido e seus olhos azuis eram escuros como a noite.

Ele passou a mão pelo cabelo, transformando as mechas loiras


em uma bagunça caótica. — Que porra você estava pensando?

Que não importaria se eu morresse. De verdade desta vez. Que


eu só queria escapar.

Ele se endireitou ao pé da cama. — Jesus fodido Cristo. — Ele


esfregou a mão sobre o rosto.

Olhei para ele, realmente olhei para ele, pela primeira vez
desde que estávamos naquela sala circular. Sua camisa branca
esticada e puxada sobre seu peito largo. As mangas estavam
enroladas em seus antebraços até um pouco abaixo dos cotovelos.
Seu peito subia e descia com respirações pesadas. Um músculo
em sua mandíbula esculpida se contraiu quando o pomo de Adão
balançava em sua garganta. Seu cabelo estava uma bagunça
desgrenhada, fora do lugar com suas roupas de grife e pele lisa,
mas parecia bom assim. Sua língua saiu para molhar seus lábios
carnudos enquanto ele me olhava observá-lo. Ele olhou para mim
do jeito que alguém olhava para você depois de esquecer seu
aniversário ou descobrir que seu cachorro morreu. Sinto muito,
diziam seus olhos.
Seria realmente tão ruim me permitir aceitar esse destino?
Para passear por este lugar com suas cozinhas e bibliotecas
chiques? Pertencer a um homem cuja aparência rivalizava com os
deuses? Para mergulhar em banhos de lavanda e devolver o sorriso
caloroso da Sra. McTavish?

Sim. Seria o pior. Porque aceitar esse destino significava


rejeitar outro que eu ainda não estava pronta para deixar ir.

O fato de eu ter considerado isso fez meu coração apertar. Mais


lágrimas vieram livremente, escorrendo pelo meu rosto. Doeu
respirar. Doeu estar viva. Por que ele não podia simplesmente ter
me deixado ir?

Como se eu tivesse falado meus pensamentos em voz alta,


Gray se inclinou e tirou o cabelo da minha testa. — Nunca mais
faça isso comigo, doce menina. — Seus olhos penetraram em
minha alma, junto com suas palavras. — Você me entende? — Seu
tom era definitivo e aterrorizante.

Eu balancei a cabeça.

Ele afastou a mão do meu rosto e deu um passo para trás. —


Bom. — disse ele, deslizando uma mão no bolso de sua calça azul
escura. — Há um kit de primeiros socorros embaixo da pia do
banheiro. Faça um curativo em sua ferida e vista-se. — Ele acenou
para uma pilha de roupas do outro lado da cama. — Então venha
para a biblioteca. Há algo que você precisa saber.
Sempre acreditei que a vida era um caminho reto do começo
ao fim – ordenado, medido, governado. Como partituras ou papel
de caderno. Não havia como desviar do caminho, e as segundas
chances eram apenas mitos sobre os quais os velhos falavam nos
cafés.

Mas aqui estava eu, morta, mas viva, e desafiei o universo a


explicar o que isso significava. O pouco poder que eu ainda tinha
em minhas mãos foi arrancado no minuto em que Gray me
arrancou da banheira e forçou o ar de volta aos meus pulmões.
Não importava como ele sabia o que eu estava fazendo. Só
importava que ele me parasse.

Joguei o edredom para trás, saí da cama e caminhei até o


banheiro. Gray estava certo. Debaixo da pia havia uma caixinha
branca cheia de tudo que eu precisava para cuidar do meu corte.

Depois de espalhar um pouco de pomada na ferida e cobri-la


com gaze e fita adesiva, peguei a camiseta e o jeans da cama e me
vesti.

O lugar era enorme. Refiz os passos que dei quando a Sra.


McTavish me levou da cozinha para o meu quarto. Fora do meu
quarto, descendo as escadas e à direita havia um corredor com
portas altas de madeira em ambos os lados. Algumas delas
estavam abertas. Alguns não foram. Cada quarto era o epítome da
riqueza. Quem diabos era esse cara?

Eu procurei por câmeras, dando um suspiro de alívio quando


não encontrei nenhuma. Então o pânico tomou conta do meu peito
quando me ocorreu que havia apenas uma razão para uma casa
como esta não ter câmeras de segurança. Ele não queria que
ninguém visse o que acontecia lá dentro.

Se eu voltasse pelo caminho que vim e corresse para a cozinha,


talvez conseguisse sair pela porta antes que alguém me pegasse.

Então o que? Então para onde eu iria?

Qualquer lugar seria melhor do que aqui. Certo?

Quase me virei e corri quando ouvi vozes atravessando o


corredor. Alguém estava aqui.

Parei do lado de fora da porta para ouvir antes de entrar. Eu


conhecia aquela voz.

— Sinta-se à vontade para se juntar a nós. — disse Gray,


fazendo minha respiração engatar.

Eu estava muito envolvida em descobrir a segunda voz que eu


nem tinha notado que me movi na frente da porta para ouvi-lo
melhor.

O quarto era escuro e rico. Estantes cobriam as paredes, indo


do chão ao teto, com uma daquelas escadas deslizantes que eu só
tinha visto em filmes. Dois sofás de couro marrom estavam de
frente um para o outro no centro da sala. Um tapete vermelho-
sangue com desenhos em tons de joias se espalhava por baixo dos
móveis. A única luz vinha de lamparinas douradas com cúpulas
de vidro verde-esmeralda, e cheirava a livros velhos e couro.

Gray estava com um quadril apoiado no encosto de um sofá.


Ele mudou para uma camisa seca. Esta era azul escuro, como suas
calças. Como seus olhos. Ele segurava um copo de vidro, girando o
líquido âmbar ao redor do fundo antes de tomar um gole lento.

Meu olhar vagou para o outro homem na sala, a voz que eu


sabia que reconhecia, e meu coração saltou para minha garganta.
Um calafrio percorreu minha espinha enquanto o pânico tomava
conta da minha voz.

Não.

Como?

Por quê?

Gray estendeu o copo, gesticulando através da sala para o


homem de quem eu não conseguia desviar o olhar. — Lyric, eu
acredito que você conhece Caspian.

Sim. Eu conhecia Caspian. Todos o conheciam, incluindo


Gray, aparentemente.

Ele se inclinou contra uma das estantes com os braços


cruzados sobre o peito. Ele estava casual em jeans e uma camiseta
preta sólida, mas tudo nele gritava intimidação. Sempre o fazia.

A última vez que vi Caspian Donahue, ele estava saindo da


Câmara com minha melhor amiga jogada por cima do ombro.

Caspian era filho de Kipton. Se Kipton me levasse, e Caspian


levasse Tatum...
Não.

Não havia jeito. Ele não iria…

Gray tomou outro gole lento, em seguida, acenou para Caspian


quando o pânico tomou conta de mim. — Vou deixá-lo explicar, já
que é o show dele.

Caspian empurrou a estante, me prendendo com seu olhar.


Como se eu tivesse para onde correr. — Há apenas uma razão pela
qual você está aqui agora, em vez de ser passada de um lado para
o outro como uma boneca de pano no meio de uma festa de sexo
na Califórnia ou trancada em um porão em algum lugar da Rússia.
— Sua mandíbula tiquetaqueou. — Você é muito importante para
alguém que é muito importante para mim.

Eu respirei fundo. — Tatum. — Foi apenas um sussurro. Eu


apertei meus olhos fechados para piscar para conter as lágrimas.
Apenas dizer o nome dela partiu meu coração novamente.

— Sim. Tatum.

Ele disse que se importava com ela. O que significava que ela
estava bem. Ela tinha que estar. Caspian não era como seu pai.
Eu me recusava a acreditar.

Eu vi a maneira como ele observava Tatum, como ele sempre


foi possessivo desde o primeiro dia em que conheci os dois. Eu
costumava provocá-la sobre isso, e ela ficava tão brava, mas eu
podia dizer que ela gostava. Ela precisava de sua proteção tanto
quanto ele precisava protegê-la.
— Então, você me drogou, depois vendeu e levou para um país
estrangeiro porque você se importa? — Eu bufei. — Isso é rico pra
caralho.

Gray riu.

Eu atirei-lhe um olhar. — Algo engraçado?

— Não. É só que é bom ver você de novo. — Ele terminou sua


bebida, então se inclinou para colocar o copo em uma mesa de
canto. — Eu sabia que a garota que estava na minha frente no
Santuário ainda estava lá em algum lugar. — O Santuário. Então,
era assim que se chamava a grande sala do círculo. — A garota
que encontrei no banheiro não é você.

Entrei mais na biblioteca. Meu pulso estava acelerado. Como


ele ousa me julgar? — Você não sabe nada sobre mim ou que tipo
de garota eu sou. — Ou o que eu passei.

— Tente de novo, querida. Eu sei tudo sobre você. Saber das


coisas é o meu trabalho. É como eu me mantenho vivo. É por isso
que aqueles homens que se chamam Obsidian ficam do lado de
fora da minha porta com as palmas para cima, esperando que eu
solte meu pau em suas mãos. Porque eu sei das coisas, e
conhecimento é poder. Nunca se esqueça disso. — Ele olhou para
Caspian, me dispensando. — Continue. — Sua voz era quase régia,
mas sua fala era fria, como se falar sobre eles de alguma forma o
tivesse tornado distante.

Caspian encolheu um ombro. — Ele tem razão. Você pertence


ao homem mais brutal da Irmandade. Gray é o único cara com
quem ninguém se atreve a foder. Nem meu pai vai tocá-lo. Foi
assim que soubemos que você estaria segura aqui.
Eu não pertencia a ninguém.

Quem era nós? Caspian estava nisso?

Ele acenou para os sofás de couro. — Você deveria se sentar.

Olhei para os dois sofás, pesando minhas opções. Eu sentava


no de Gray? Ou o mais distante dele? Ele ficaria ofendido? Ou
sentar perto dele lhe daria a ideia de que eu tinha me rendido?
Finalmente, sentei-me ao lado de Gray, apenas na extremidade
oposta de onde ele estava.

Caspian sorriu, então continuou. — Todos os anos, dez


homens são escolhidos para se encontrarem no Santuário para o
que eles chamam de Dia do Julgamento. É quando os homens da
Irmandade escolhem suas esposas. Não podemos nos casar por
amor, então essa é a maneira deles de nos fazer acreditar que
realmente temos uma escolha. — Ele zombou. — Como se a
Irmandade realmente desse a alguém uma escolha.

Ele continuou chamando-o de A Irmandade. Era isso que


aqueles homens eram? O pai de Caspian e Gray faziam parte de
algum tipo de fraternidade de caras ricos?

— A verdade é que as mulheres também são selecionadas a


dedo. Ninguém está lá por acaso. Ninguém. — Caspian estava
sentado no outro sofá, passando um braço pelas costas e apoiando
o tornozelo em um joelho. — Todo mundo lá beneficia todo mundo
de uma forma ou de outra, não importa quem os homens
escolham. Não há perdedores. Os pais se certificam disso.

Quantos casamentos eles arranjaram? Quantas pessoas


estavam lá fora vivendo uma mentira para o mundo ver?
— Então sua mãe... — Pensei na mulher que me
cumprimentou na porta naquele dia.

Sua mandíbula ficou tensa. — Uma escolhida.

Meu coração se partiu por sua mãe – uma mulher que eu nem
conhecia – por todas as mulheres que foram forçadas a se casar
que talvez não quisessem. Ele quebrou pelas garotas que eu tinha
visto no Santuário que agiam como se isso fosse algum tipo de
bênção concedida a elas. Ele quebrou por mim, porque eu era
diferente. Eu não era um deles. Eu nunca fui.

— Sou uma garota de dezessete anos que não tem nada a


oferecer além de um sobrenome famoso. Como posso beneficiar
alguém?

— Essa é a única parte que eu não descobri. Mas eu vou. —


Ele puxou a barra da calça jeans enquanto olhava para o sapato.
Sua testa franziu como se estivesse perdido em pensamentos ou
tentando descobrir agora. Então ele olhou para mim. — No minuto
em que a notícia sobre sua morte apareceu no meu telefone, eu
sabia que algo não estava certo. Você não usa drogas, Lyric. Você
nunca usou. Não era preciso ser um gênio para saber disso. E
graças àquele idiota do Lincoln Huntington, eu sabia que você
esteve na minha casa.

Engoli um nó na garganta com a menção do nome de Lincoln.


Culpa e vergonha me inundaram com o pensamento de Lincoln
sabendo que eu estive no Caspian, mas sem saber por quê. Eu
nunca tive a chance de dizer a ele, e agora eu nunca o faria.

Caspian estreitou os olhos para mim. — Eu só não sabia


porquê você estava na minha casa. — Uma pausa. Eu estava lá
para confrontar seu pai. — Não até então, de qualquer maneira. —
O olhar em seus olhos me disse que ele conseguiu descobrir. Ele
descansou a mão na perna. — Eu também estou aqui há tempo
suficiente para saber o que acontece quando a Irmandade quer que
uma mulher desapareça. Meu pai precisava que você fosse
embora. Foi um funeral de caixão fechado. O Dia do Julgamento
estava ao virar da esquina. Junte três e três. Faça algumas contas
simples, e foi fácil para mim descobrir o que ele tinha feito. Tudo
o que eu precisava era descobrir como desfazê-lo. — Ele olhou
para Gray. — Foi aí que Chandler entrou.

— Chandler? Carmichael? — Lembrei-me dele pegando meu


braço e me arrastando para fora da Câmara. Ele me deixou no meu
apartamento um pouco antes de Lincoln aparecer.

— Sim. Como você pode imaginar, Gray não faz favores. Ele
não gosta de dever nada a ninguém. Mas ele devia a Chandler.

Eu nem queria saber que tipo de controle Chandler


Carmichael poderia ter sobre um homem como Gray, que agora
tinha ido até um armário e se servido de outra bebida.

— Espere, Chandler me levou?

Caspian engoliu em seco, então voltou sua atenção para mim.


— Não. Chandler garantiu que você acabasse aqui. De alguma
forma, Gray conseguiu evitar o Dia do Julgamento nos últimos
dois anos. — Ele olhou para Gray como se desejasse que ele
compartilhasse seu segredo. Então ele olhou de volta para mim. —
Chandler o convenceu a finalmente colocar seu nome no chapéu.
Como Gray é o único membro de linhagem pura da Irmandade que
ainda não é casado, isso o torna o solteiro mais cobiçado da
sociedade. E porque ele não foi escolhido por dois anos, os
fundadores morderam a isca como um bando de leões famintos
brigando por um bife. Tudo o que tínhamos que fazer era garantir
que ele escolhesse você antes de qualquer outra pessoa.

Toda essa conversa sobre linhagens e ser escolhida fez minha


cabeça girar.

— Então você fez algumas pesquisas e descobriu que eu


estava... o quê? Selecionada para ser escolhida? — Que porra era
essa afinal? — Por que Gray? O que faz ele tão especial?

— Porque eu não vou te machucar. — A voz de Gray me


assustou. Ele se moveu bem atrás de mim agora.

Tentei ignorar sua proximidade e me concentrar em Caspian.


— Você acabou de dizer que ele era o homem mais brutal da
Irmandade.

— Apenas para aqueles que merecem. — respondeu Gray. —


Não me irrite, e você não vai merecer.

Olhei por cima do ombro para ele. A pura ferocidade em seus


olhos foi suficiente para despertar cada instinto de sobrevivência
que eu tinha dentro de mim.

— Então é isso? Eu apenas... pertenço a você para sempre?


Nós realmente temos que nos casar? E se eu quiser sair?

— Então você morre.

Então eu morro. Puta merda.

Ele disse isso como se estivesse pedindo um café de um


barista. Ele olhou para mim, através de mim, dentro de mim,
certificando-se de que suas palavras atingiram sua marca, então
se moveu ao redor do sofá e sentou-se ao meu lado, bem ao meu
lado.

Eu me fiz relaxar, mesmo que eu realmente quisesse sair


direto da minha pele.

Seu olhar deslizou sobre mim. — E não do jeito que você quer
morrer. — Ele deve ter pensado no que testemunhou no banheiro
mais cedo. — O caminho deles será doloroso. Não será rápido. E
você desejará ter acordado no inferno em vez de trair esses
homens. — Ele tomou um gole. — E sim, nos casaremos aos olhos
da Irmandade.

Aos olhos da Irmandade. Não aos olhos de Deus. Não aos olhos
da lei.

Porque os mortos não tinham certidões de casamento, e Deus


não queria nada com esses homens.

— Haverá uma cerimônia em duas semanas, seguida pela


Consumação.

— A Consumação?

Ele respirou fundo, exalando-o quando uma sombra passou


por suas belas feições. — Eu vou foder você, doce menina. E quatro
outros homens vão assistir.

Perdi a consciência de tudo ao meu redor. Havia apenas eu,


ele e aquelas palavras. De repente, parecia que eu estava debaixo
d'água novamente, lutando para respirar. — Eu não posso... Isso
não pode... Nós não podemos... — Você não é Lincoln.

— Ou eu fodo você ou eles fazem. Faça sua escolha. Mas eu


lhe asseguro, você quer que seja eu.
Eles. Os quatro. Os pais. Eu sabia que Kipton era um deles
com certeza, e eu não o queria perto de mim.

Eu cortei meu olhar do dele. Era demais, enervante demais. —


Posso ver Tatum? — Eu perguntei a Caspion.

Posso ver Lincoln?

Sua mandíbula cerrou e os olhos se estreitaram. — Não.

— Ela sabe que eu não estou... — Eu não conseguia nem


terminar minhas palavras. Morta.

— Não.

— Você vai dizer a ela?

— Não. — Ele me deu um olhar que dizia eu sei que você é


mais inteligente do que isso. — Você conhece minha pequena
encrenqueira tão bem quanto eu. Se ela descobrisse que você está
viva, ela dobraria céus e terra para trazê-la de volta para casa. —
Ele gesticulou ao redor da sala. — Esta é sua casa agora, Lyric.
Não vou deixar Tatum arriscar a vida dela para salvar a sua.

— Você a ama. — Eu sorri. Este foi o primeiro sinal de alegria


que senti desde que rolei e encontrei Lincoln parado ao lado da
minha cama naquela noite. Eu nem sabia há quanto tempo isso
tinha sido. Horas. Dias. Eu não tinha ideia de quanto tempo eu
tinha ido.

Ele desviou o olhar de mim. — Eu a quero segura.

Pego.

Ele a amava. Eu sabia. Eu não aceitaria nada menos como


verdade. Eu a queria segura também. Tatum vivia neste mundo,
mas não fazia parte dele. Lincoln também não, mas foi por escolha
e não por ignorância. Ele odiava tudo o que seu pai representava.
Tatum não sabia nada sobre isso e, pela primeira vez, concordei
com Caspian. Deve ficar assim.

Ele se levantou e espanou as mãos ao longo da frente de seu


jeans. — Eu preciso voltar para Ayelswick. Liam está me
esperando.

Ayelswick? A ilha entre a Escócia e a Irlanda? Eu tinha ouvido


histórias sobre aquele lugar e seu príncipe. Nem todos foram bons.
— Por que o príncipe de Ayelswick está esperando por você? E o
que você está fazendo na Escócia?

— É a única maneira de proteger Tatum.

Protegê-la de quê? Havia muito mais que eu queria saber. Ele


deixou muitas coisas sem resposta. Mas eu senti o olhar de Gray
sem nunca olhar para ele e sabia que isso era tudo que eu
conseguiria hoje.

Gray se levantou e encontrou Caspian na porta. Ele olhou para


mim antes de saírem para o corredor. — Eu sei que você tem
perguntas, mas você deveria descansar primeiro. Vamos pegar isso
pela manhã.

Ver Caspian me deu algo para me segurar. Isso me lembrou


que minha antiga vida não estava tão longe, afinal. Ele era meu elo
com Tatum. Vê-lo me fez sentir mais perto dela.

Gray estava certo. Eu tinha perguntas. Eu também estava


exausta. Mentalmente. Fisicamente. Emocionalmente. Então,
voltei para o meu quarto, tirei meu jeans e me arrastei para a
cama. Quando fechei os olhos, o rosto de Lincoln brilhou em
minha mente, mas foi a voz de Gray que ouvi logo antes de
adormecer.

Eu vou foder você, doce menina. E quatro outros homens vão


assistir.
Sonhos de ser passada de um lado para o outro como uma
boneca de pano do jeito que Caspian disse me arrancou do sono.
Acordei sem fôlego e coberta de suor. Minha mente estava inquieta.
Meu corpo parecia estar pegando fogo, como se houvesse uma
mulher dentro de mim tentando sair da minha pele. Uma voz
quase inexistente sussurrou para mim, Corra. Não importa
quantas vezes eu disse a mim mesma que não havia escapatória,
parte de mim tinha que tentar.

Eu vou foder você, doce menina. E quatro outros homens vão


assistir.

Não havia nenhuma maneira que eu poderia lidar com isso.


Mesmo se eu confiasse em Gray, isso era pedir demais. Mesmo
depois que ele me puxou da banheira e deixou Caspian me dizer a
verdade sobre como e porquê eu estava aqui. Em algum lugar lá
no fundo, eu acreditei em Gray quando ele disse que não iria me
machucar. Mas e se isso fosse apenas o começo? E se ele não
tivesse escolha? Ou eu te fodo ou eles fazem. Faça sua escolha. E
se eles – quem quer que fossem – pedissem mais? E se não
bastasse para eles simplesmente assistir?

O piso de madeira estava frio sob meus pés descalços, e a


camiseta com a qual adormeci não ajudou em nada contra o ar
fresco da noite. Ou talvez fosse de manhã cedo. Aparentemente,
Gray não acreditava em manter relógios no criado-mudo.

Coloquei meu jeans de volta e encontrei um par de sapatos no


armário.

Respire, Lyric. Você consegue fazer isso.

Eu tinha me esgueirado pela casa de Tatum vezes suficientes


para manobrar pelos corredores escuros. Eu tinha uma relação
íntima com a escuridão. Eu ficava confortável lá.

Lutei contra a vontade de correr, de descer as escadas e


atravessar esses corredores o mais rápido que pude. Andei na
ponta dos pés para evitar que meus passos ecoassem no teto alto.
Meu coração martelava a cada segundo que passava, a cada passo
que dava em direção à porta que levava para fora – para a minha
liberdade.

Eu esperava que as escadas rangessem sob meu peso. Mas


não. O único sinal de vida era a sombra ocasional dançando nas
paredes do andar de baixo ao luar. O único som a ser ouvido era
minha própria respiração deixando meus pulmões. Havia algo
muito quieto.

Toda vez que passava por uma porta, prendia a respiração e


esperava que ela se abrisse. Quanto mais me aproximava da
cozinha, mais esperava braços fortes me envolvendo por trás e me
carregando de volta para o meu quarto. A sensação de estar sendo
observada fez os pelos dos meus braços se arrepiarem.

Pare de ser dramática, Lyric. Não há câmeras, lembre-se. Gray


não tinha como saber que eu estava acordada.
Atravessei o saguão, observando os reflexos do grande lustre
de cristal ricochetear no chão de mármore. A cozinha estava ao
virar da esquina. Apenas mais alguns passos. Meu quadril bateu
no canto de uma mesa de console, fazendo um vaso de porcelana
balançar na superfície. Corri para firmá-lo com as mãos, fazendo
uma oração silenciosa para que eu tivesse parado o barulho rápido
o suficiente.

A cozinha escura me fez pensar na primeira noite em que


estive com Lincoln. Minha pele aqueceu com o flashback dele
encostado no balcão, colocando M&Ms em sua boca enquanto ele
olhava para mim com aquele olhar faminto em seus olhos.

— Eu estarei com você novamente em breve. — eu sussurrei


para sua memória.

Eu estava na despensa agora. Mais seis metros e eu estaria na


porta lateral. Era uma coisa pesada de madeira com nada além de
uma trava no caminho da minha fuga.

Eu segurei minha mão no aço e estabilizei minha respiração.


Uma volta. Um clique. Isso era tudo o que seria necessário.

E depois?

Eu não tinha um plano. Correria por instinto e adrenalina. Eu


sempre fiz. Tudo o que eu sabia era que eu tinha uma chance
melhor de descobrir algo lá fora do que aqui. Eu encontraria uma
maneira de chegar ao meu pai. Nós tínhamos dinheiro. Se alguém
me deixasse esconder o suficiente para que meu pai viesse me
buscar, nós pagaríamos.

Sim. Era isso. Esconder. Subornar. Pagar. Esse era o plano.


Você consegue fazer isso.

Respirei fundo e girei a fechadura. Parecia feito de ouro maciço


e pesava 40 quilos. O som do clique poderia muito bem ser o som
de mil tiros ressoando em meus ouvidos. Como o início de uma
corrida. Meu batimento cardíaco acelerou e meus pés me
empurraram para frente, nem mesmo me incomodando em fechar
a porta atrás de mim. Eu só precisava correr.

Minha pele se arrepiou no momento em que foi tocada pelo ar


externo. Uma onda de energia disparou através de mim até os
dedos dos pés. Uma nova respiração encheu meus pulmões
quando um vento suave me empurrou para frente, jogando meu
cabelo no meu rosto.

Eu fiz isso.

O cascalho estalou sob meus pés. A onda brilhante da lua


parecia um holofote me seguindo enquanto eu corria pela calçada
até os portões de ferro.

Os portões.

Merda.

O instinto gritou para que eu me virasse e voltasse. De jeito


nenhum eu conseguiria passar por aquele portão. Talvez se eu
apenas voltasse para a cama, Gray nunca saberia o que eu tinha
feito.

E se ele soubesse? Ele me puniria?

— Não me irrite, e você não vai merecer.

Fugir definitivamente estava na lista de: Maneiras de irritar


Gray. Eu tinha que ver isso.
Eu precisava correr.

A adrenalina correu através de mim em ondas selvagens e


violentas. Usei cada grama de força para me puxar para o topo dos
portões de ferro, do jeito que os caras costumavam escalar as
cordas na aula de ginástica. Uma mão sobre a outra, puxando,
esticando, usando meus pés como alavanca, até que finalmente
cheguei ao topo. Estava a uns bons três metros do chão, e eu
nunca tinha saltado tão longe antes, mas não tive escolha. Eu não
podia voltar. Apoiei um pé entre os remates de ferro afiados que
decoravam o topo do portão. Agarrei um dos florões, usando-o para
me puxar para cima e apoiei o outro pé. Aqui, agachada como um
sapo pronto para pular, com minhas mãos agarrando os florões de
cada lado de mim, meus pés apoiados no trilho superior estreito
da cerca e mais alguns centímetros de distância da minha virilha,
eu apertei meus olhos fechados e canalizei minha foda interior.
Você. Pode. Fazer. Isto.

Só havia uma saída agora – uma fração de segundo de coragem


me separando do mundo exterior.

Então, eu respirei fundo e pulei.

Uma dor aguda e lancinante disparou do meu tornozelo direito


até o meu quadril, e eu senti como se fosse vomitar por todo o chão
na minha frente.

Porra.

Pedaços de cascalho cavaram em minhas palmas, onde eu os


usei para preparar minha queda. Eu estremeci enquanto as
limpava juntas, as pequenas pedras embutidas na minha pele e
não querendo se soltar. As lágrimas eram inevitáveis.
Algo farfalhava nas árvores ao meu lado. Minha consciência
sussurrou.

Levante-se.

Corra.

Agora.

E eu fiz.

Eu me levantei e corri o mais rápido que meus pés me


permitiam. O luar cortava os galhos das árvores altas que
ladeavam a beira da estrada. De vez em quando, um suave brilho
laranja vinha dos lampiões a gás nos postes ao longo do caminho.
Sombras brilharam no meu periférico. Talvez animais. Talvez outra
coisa. Talvez Gray.

Meu pulso disparou e meus pulmões queimaram. Corri às


cegas, pisando em buracos e tropeçando nas pedras. A dor no meu
tornozelo ardia a cada passo que eu dava, mas eu não conseguia
parar. A necessidade de sobrevivência me empurrou para a frente.

Finalmente, depois de uma curva na estrada, uma casa


apareceu. Era pitoresca. Apenas uma pequena casa feita de tijolo
e pedra, mas uma luz fraca brilhava através da janela.

Alguém estava em casa... e eles estavam acordados.

Caminhei pelo caminho de paralelepípedos até a porta da


frente. Apreensão congelou minha mão no ar quando eu a trouxe
para bater na superfície de madeira pesada. E se eles conhecessem
Gray? E se eles me trouxessem de volta para ele?

O vento ao meu redor aumentou, folhas rodopiando no ar.


Quase parecia um sussurro – um aviso. Meu tornozelo estava
latejando e minha respiração raspava no meu peito. Não havia
como dizer o quão longe a próxima casa estava daqui ou se eu
conseguiria.

Engoli em seco e me preparei. Arrepios se espalharam pela


minha carne. Então eu soltei um longo suspiro e bati. Só uma vez.
Um tapinha educado, caso eles não estivessem realmente
acordados.

A porta se abriu e um homem de meia-idade vestindo uma


camiseta preta de manga comprida com jeans e um gorro estava
do outro lado. Ele não era muito mais alto do que eu, deixando
seus olhos escuros e redondos quase no mesmo nível dos meus.
Ele passou a língua ao longo da parte de trás de seus dentes com
um silvo quando ele respirou fundo.

Cruzei meus braços na minha frente, de repente sentindo o


desejo de me proteger. — Oi. Eu sinto muito. Eu sei que é tarde.

Seus olhos se estreitaram. — Você é americana. — ele disse


com um forte sotaque escocês.

— Sim. E eu preciso da sua ajuda.

O estranho ergueu as sobrancelhas. — Eles não me disseram


que você viria. — O brilho em seus olhos me deixou nervosa. —
Eles disseram que tudo que eu tinha que fazer era esperar. — Seu
olhar me percorreu da cabeça aos pés.

Dei um passo para trás, estremecendo com a dor no meu


tornozelo. Uma sensação desconfortável formigou minha pele. O
tipo de sentimento que tomava conta de você quando entrava em
uma casa mal-assombrada ou em um cemitério à meia-noite. O
tipo de sentimento que sussurrava algo maligno vem disso.

Um sorriso curvou seus lábios. — Eu não imaginei que você


apareceria tão cedo.

Um medo indescritível agarrou minha garganta, tornando


quase impossível respirar. — Acho que você está com a pessoa
errada.

Ele agarrou meu braço e me puxou para dentro. Lutei para me


libertar, puxando meu braço e agarrando-o com minha mão livre.
Sua palma áspera bateu no meu rosto, enviando uma onda de
calor sobre minha bochecha e uma dor aguda na minha têmpora.
Um peso grande me atingiu com força na parte inferior das costas,
como a sola de uma bota, me lançando para frente até que meu
rosto e meu peito bateram contra a parede. Ele pressionou seu
peito nas minhas costas, seu peso me prendendo na parede
enquanto ele se inclinava para frente e raspava contra minha
orelha.

— Oh, eu tenho a pessoa certa... — Ele lambeu o lado do meu


rosto. — …Lyric. — Ele segurou meu queixo entre os dedos e virou
minha cabeça para o lado, nos deixando cara a cara. Seu hálito
cheirava a álcool barato e fumaça de cigarro. — Eu posso fazer o
que eu quiser com você até que eles cheguem aqui.

O pânico cresceu e se debateu dentro de mim quando sua


outra mão deslizou pela lateral do meu corpo e começou a levantar
minha camisa.

O som de madeira pesada batendo contra a parede ecoou


quando a porta da frente se abriu. O peso foi tirado das minhas
costas, quase me deixando de joelhos. Eu me virei bem a tempo de
testemunhar Gray levar uma mão à garganta do outro homem. Foi
apenas um lampejo de movimento, mas o homem imediatamente
começou a tossir e se curvou, ofegante. Gray apertou o topo de sua
garganta, logo abaixo do queixo, com dois dedos até que ele parou
de ofegar por ar e o sangue jorrou de ambos os lados de sua boca.
Então ele o deixou cair, vendo o homem cair de joelhos com um
baque.

Gray me levantou por cima de um ombro e, em seguida, me


carregou para fora para o mesmo carro preto que eu tinha sido
jogada antes. Só que desta vez eu estava no banco da frente e Gray
estava dirigindo. A viagem de volta para sua casa foi curta e
silenciosa. Eu roubei um olhar para ele quando ele parou no
portão. Sua mandíbula estava apertada e sua expressão escura
como a noite. Os portões se abriram e a mansão surgiu à frente,
um fio de luar iluminando suas sombras. Meu coração bateu na
minha garganta e um nó se formou no meu estômago.

Quão estúpida eu poderia ser por ter irritado de bom grado


este homem?

Ele abriu a porta do carro, me observando com expressão zero


em seu rosto enquanto eu mancava até a porta lateral. No
momento em que entramos, fui levantada do chão. Gray me
carregou escada acima, até meu quarto, do jeito que um homem
carregaria sua noiva na noite de núpcias. Eu enganchei meus
braços ao redor de seu pescoço e deixei-o porque mesmo que o que
eu tinha acabado de ver me sacudisse até o meu núcleo, isso me
fez sentir segura ao mesmo tempo.
Ele me salvou.

Eu fugi e ele me salvou de qualquer maneira.

Gray pegou uma camiseta e uma calcinha limpa e as


empurrou contra meu peito. — Limpe-se, então vamos cuidar
dessas feridas. — Seu olhar caiu para minhas mãos. Eu nem tinha
notado até agora que elas estavam cobertas de cortes e sangue de
quando eu caí no cascalho.

Eu fiz o que ele disse, fechando a porta do banheiro atrás de


mim e ligando o chuveiro. Tirei as roupas do meu corpo. Meu
tornozelo estava inchado e já estava ficando roxo com hematomas.
Ainda havia pequenos pedaços de cascalho e pedra em minhas
mãos. Meu cabelo estava uma bagunça emaranhada. Eu até tinha
rasgado um buraco em um joelho do meu jeans.

Entrei no chuveiro e deixei a água morna tomar conta de mim.


Meus olhos se fecharam enquanto corria do topo da minha cabeça,
sobre o meu rosto e descendo pelo meu corpo. Eu me perdi em
meus pensamentos.

Quem era este homem?

Ele não me trouxe de volta e me jogou em uma masmorra.

Ele quase arrancou a garganta do corpo de um homem com as


próprias mãos.

E mesmo depois que eu tentei escapar, ele me carregou para


o meu quarto e ficou preocupado com meus ferimentos.

Quem era o homem da casa e como ele sabia quem eu era?


Quem eram aqueles de quem ele falava?
O que iria acontecer a seguir? Quando saísse do banheiro,
Gray estaria esperando por mim?

O que teria acontecido se ele não tivesse aparecido?

Esfreguei minhas mãos sobre meu rosto, limpando a água dos


meus olhos e os pensamentos da minha mente. Então desliguei o
chuveiro e peguei uma toalha para enrolar no meu corpo.

Eu passei minha mão sobre o espelho, limpando o vapor e


dando uma longa olhada na garota olhando para mim. Em algum
lugar naquele rosto estava o sorriso de uma garota que eu nunca
mais veria.

Não há escapatória.

Não havia caminho de volta.

Olhei para o meu futuro e só vi o vazio. A dor do nada era


indescritível. Abriu-se e estendeu-se para sempre. Sem fim.

A dura realidade finalmente começou a se estabelecer. Minha


única liberdade veio com a rendição.

Minha única saída... estava dentro.

A porta se abriu. Uma rajada de ar frio beijou minha pele ainda


molhada quando Gray entrou no banheiro.

Puxei a toalha apertada em volta do meu corpo, segurando-a


fechada com a mão. — Aquele homem... você... ele é... — Eu não
conseguia dizer as palavras.

— Ele está engasgando com seu próprio sangue agora.

Eu me virei para olhar para ele. Não havia nada em seus olhos,
nenhum remorso, nenhuma culpa. — Então você o matou?
— Você não me deu escolha. — Seus olhos brilharam quando
ele cerrou os dentes, o único sinal físico de que ele foi afetado por
tudo isso. — Se eles descobrirem que você tentou fugir, eles vão
usar isso contra mim – contra você. Isso me faz parecer fraco. Quão
segura você acha que estará então?

Eu nunca pensei sobre isso. Eu nunca imaginei como minhas


ações afetariam Gray.

— O que acontece quando eles o encontrarem morto?

— Enviei uma mensagem para Kipton Donahue informando


que se ele planejava enviar mais homens para me espionar, é
melhor que ele se certifique de que eles sejam capazes de se
defenderem quando forem pegos. Ele não precisa saber nada sobre
você estar lá.

— Você acha que Kipton o enviou?

Ele abriu o armário embaixo da pia e pegou o kit de primeiros


socorros. — Eu sei que ele fez.

— Você acha que há mais como ele? — Minhas palavras eram


lentas e quebradas, aterrorizadas.

Gray agarrou minhas mãos e as virou, palmas para cima. Ele


lavou as mãos enquanto eu estava no chuveiro. Elas não estavam
mais manchados com o sangue do outro homem. Ele torceu a
tampa de um tubo de pomada e me olhou nos olhos. — Você está
muito mais segura aqui do que lá fora. — Ele espalhou a pomada
na ponta do dedo, depois passou sobre os cortes nas minhas mãos.
— Talvez agora você entenda isso. — Sua voz estava calma, mas
ainda exalava tanto poder bruto. — Eu não estou aqui para te
machucar. — Sua mandíbula apertou. — Vista-se e vá para a
cama. Conversaremos mais quando você acordar.

Eu não tinha certeza de quanto tempo dormi, mas quando


acordei, meu quarto já estava aquecido pela luz do sol. Eu não
conseguia explicar, mas não estava mais sobrecarregada com a
necessidade de correr. Talvez fosse o medo do que mais estava lá
fora. Talvez fosse a segurança de saber o que havia aqui. Gray não
ia me machucar. Se fosse, ele teria feito isso na noite passada. Eu
dei a ele todos os motivos. Em vez disso, ele me tratou como uma
lembrança frágil. As mesmas mãos que foram capazes de tirar uma
vida, me encontraram quebrada, me carregaram para casa e me
recompuseram.

Gray era aterrorizante. Eu não tinha dúvidas de que ele era


perigoso.

Mas ele não era perigoso para mim.

Eu me vesti e desci as escadas para encontrar Gray na


biblioteca. Como prometido, ele explicou o que era a Irmandade
Obsidian e qual papel ele desempenhava. Aparentemente, havia
uma sociedade secreta iniciada há muito tempo por cinco caras
velhos e ricos que se consideravam mestres das marionetes – e nós
éramos as marionetes. Tudo o que era alguma coisa tinha que
passar pelo que eles chamavam de Tribunal. Leis. Cobertura da
mídia. Desenvolvimentos financeiros. Até guerra. Tudo isso era
meticulosamente controlado pelos líderes desta sociedade. Havia
outros jogadores no jogo, mas apenas aqueles que vieram das
cinco linhagens originais – conhecidas como Tribunal – detinham
poder suficiente para fazer a diferença. Gray era um desses cinco.
Seu pai estava morto, tornando Gray – aos vinte e sete anos – o
membro mais jovem do Tribunal. E pelo que eu tinha visto na noite
passada, tão brutal quanto Caspian disse que ele era.

Caspian também pertencia a uma das cinco linhagens. Seu


bisavô fundou a Irmandade, e um dia, ele reinaria sobre seu reino
de corrupção e ganância. O pensamento de Tatum estar em
qualquer lugar perto disso fez meu estômago revirar. Mesmo que
seu sobrenome não lhe desse outra escolha. Eu me perguntei se
ela sabia em que tipo de mundo seu pai a havia jogado. Eu
esperava que Caspian continuasse a protegê-la disso. Rezei para
que ele não fosse como seu pai.

Quase vomitei quando soube que Lincoln também era um dos


cinco. Eventualmente, ele tomaria o lugar de seu pai no Tribunal.
Ele seria como um daqueles homens, um dos homens que me
levaram.

O que isso significava para mim? Eu o veria novamente? Ele


descobriria a verdade?

Em cinco anos, ele estaria com vinte e cinco anos, o que,


segundo Gray, era quando os homens deveriam comparecer ao Dia
do Julgamento. Lincoln iria? Ele teria que sentar naquela sala e
escolher uma esposa? Ou ele recusaria da mesma forma que Gray
fez?
Ele teria que fazer isso. A Irmandade Obsidian chamava todos
os tiros.

— Por enquanto. — disse Gray. — Mas não para sempre.

— O que isso significa?

Ele sorriu, então se aproximou e se encostou no batente da


porta. — Acho que é informação suficiente para um dia.

E então ele me deixou sozinha com meus pensamentos e um


copo de uísque que eu não tinha intenção de beber.

Ter esperança. Às vezes era uma pequena semente plantada


para florescer em algo brilhante e bonito. Às vezes era uma coisa
frágil que se estilhaçava e estilhaçava aos seus pés quando não
passava.

Não para sempre.

Três palavras simples que floresceriam dentro de mim ou me


despedaçariam.
Não senti coisas como mágoa ou empatia. Minhas emoções
tendiam a ficar à beira da raiva ou do prazer. Foi aí que encontrei
meu conforto. Isso... esse maldito nó se contorcendo no meu
estômago, a angústia fervendo sob a superfície, pronta para
arranhar minha pele – isso era novo.

Os dois seguranças acabaram me liberando – depois que


chamaram minha mãe para me buscar. Nós alimentamos todos
com uma história de merda sobre um acidente de carro para
impedi-los de questionar o que diabos aconteceu com o meu rosto.

Desejei que tivesse acontecido um acidente. Talvez eu não


tivesse sobrevivido.

Desejei que o guarda gordinho tivesse bolas maiores. Talvez


ele tivesse puxado o gatilho.

Agora, eu estava deitado na minha cama, completamente


vestido com os pés cruzados nos tornozelos, olhando para os meus
sapatos de couro italiano. Olhei para o saco de pílulas na minha
cômoda e suspirei. Nada tiraria essa dor.

Nenhuma maldita coisa.

Eu tinha esse terno sob medida para este exato momento. Eu


estava cercado por paredes cinza claro e arte colorida
estrategicamente exibida em porta-retratos. O sol brilhava pela
janela aberta. Mas tudo que eu sentia era escuridão. Era frio e
grave e cheirava a memórias e promessas quebradas.

— Você está pronto? — Mamãe perguntou, sua voz suave


flutuando da porta para o meu quarto. Ela parecia arrependida.

Eu sabia que ela não estava.

Todos julgavam Lyric quando ela estava viva, e só piorou


depois de sua morte.

Overdose.

Seu nome estaria para sempre manchado com essa maldita


palavra.

Hoje era o funeral dela e por mais que eu quisesse ir, por mais
que eu soubesse que deveria ir, meu corpo não se movia.

Então, eu deitei aqui, olhando para esses malditos sapatos


enquanto um milhão de perguntas corriam pela minha mente.

Por que a matou e não fez merda alguma comigo?

Por que eu não poderia simplesmente tê-la fodido como uma


pessoa normal?

Por que eu não podia ser apenas normal?

Por quê? Por quê? Por quê?

— Lincoln?

— Eu não vou. — eu disse, nunca desviando o olhar dos meus


sapatos.
Ela exalou um suspiro alto, mas não discutiu. Nós não iríamos
ao funeral para meu benefício, de qualquer maneira. Estávamos
indo por Tatum.

Eu fodi Lyric em segredo. Eu me apaixonei por ela em segredo.


Agora eu a lamentaria em segredo.

Minha mãe foi embora, fechando a porta atrás dela, e eu


estendi a mão para pegar meu telefone.

Oi, aqui é Lyric e você recebeu meu correio de voz, o que significa
que você provavelmente deveria desligar e me mandar uma
mensagem de texto.

As paredes começaram a se fechar ao meu redor. Eu queria


me mover. Eu queria tanto pular desta cama e destruir tudo neste
quarto. Isso... seja lá qual for a porra desse sentimento... estava
consumindo tudo. Era violento e emocionante, e me segurou e não
me soltou. Por dentro, eu estava rugindo. Por fora, eu estava
entorpecido.

Desligava e ligava de volta.

Oi, aqui é Lyric e você recebeu meu correio de voz, o que significa
que você provavelmente deveria desligar e me mandar uma
mensagem de texto.

Sua voz era tão doce, tão calma, tão. Porra. Ela. Eu queria
gravá-la e colocá-la em uma lista de reprodução para que ela
pudesse me fazer a dormir todas as noites.

As segundas lágrimas que eu já derramei em toda a minha


vida caíram pelo meu rosto e no travesseiro, e o colchão parecia
que poderia me engolir inteiro.
Coloquei o telefone no meu peito e fechei os olhos, segurando
meu dedo sobre o círculo verde.

Oi, aqui é Lyric e você recebeu meu correio de voz, o que significa
que você provavelmente deveria desligar e me mandar uma
mensagem de texto.

Meu peito doía. Doía tanto que eu mal conseguia respirar.


Meus lençóis ainda cheiravam a ela.

Eu engasguei com um soluço. — Sinto muito, baby. — eu disse


para sua caixa postal. — Eu sinto muito.
Às vezes, os pensamentos podem ser destrutivos. Às vezes eles
se tornavam uma névoa escura que rodopiava e apertava cada vez
mais até que era impossível respirar. Como uma píton.

Com cada respiração que eu dava, eu lutava contra meus


pensamentos. A cada dia que passava, a esperança se recusava a
florescer.

Um dia se misturou ao outro e, antes que eu percebesse, eu


estava usando um vestido de noiva sem alças, cor champanhe,
olhando para o meu reflexo em um espelho de corpo inteiro. O
corpo do vestido era de tule macio com um desenho de renda no
corpete, subindo pela minha cintura e cobrindo meus seios. Minha
perna espiava pela fenda que ia até o meu quadril.

Eu estava bonita o suficiente. Meu tornozelo havia cicatrizado


e os cortes na minha mão haviam sumido.

Eu deveria ter me sentido como uma princesa a caminho de


se tornar uma rainha.

Em vez disso, me senti como uma daquelas casas velhas e em


ruínas que as pessoas colocam uma nova camada de tinta para
enganar alguém a comprá-la.

Propriedade.
A Sra. McTavish estava atrás de mim, fechando os botões ao
longo das costas do meu vestido. Nas últimas duas semanas, ela
começou a gostar de mim. Todos os dias, no café da manhã e no
jantar, ela se sentava comigo à mesa feita para vinte enquanto eu
comia... sozinha. Gray nunca comeu comigo. Depois daquele dia
na biblioteca, a única vez que realmente o vi foi durante meu
banho, quando ele se sentou no chão e leu para mim. Ele tinha
uma queda pelos clássicos, e eu também. Acho que realmente o
assustei na minha primeira noite aqui. Isso estava dizendo muito,
considerando que ele não parecia do tipo que se assustava
facilmente.

Ele nunca falou sobre o homem no chalé, e nem eu. Tudo


sobre aquela noite era algo que eu preferia esquecer.

A Sra. McTavish disse para não levar sua ausência durante o


dia para o lado pessoal. Ela disse que Gray trabalhava muito e que
eu aprenderia a me ajustar.

Antes de ser levada, meu mundo era acelerado e excitante.


Agora eu passava meus dias andando sem pensar em uma casa
vazia do tamanho de um pequeno castelo, imaginando o que havia
por trás de portas trancadas, lendo do lado de fora em um cobertor
na grama e ouvindo uma lista de reprodução que me lembrava
uma vida diferente.

Eu não queria me ajustar a isso.

Caspian e Gray me salvaram do Inferno apenas para me


prender no Purgatório.
— Você está linda, querida. — As palavras da Sra. McTavish
me arrancaram dos meus pensamentos antes de chegarem àquele
lugar onde a névoa escura me sufocava.

Eu suguei meu estômago enquanto ela puxava o tecido nas


minhas costas. — Você diz que assim é o meu verdadeiro dia de
casamento.

— Este é o único que você vai ter. — A voz de Gray flutuou


atrás de mim, me fazendo congelar. — Não fica muito mais real do
que isso.

Eu assisti no espelho enquanto a Sra. McTavish se afastava,


deixando Gray tomar seu lugar. Meus olhos encontraram os dele
no reflexo. — Alguém já te disse que dá azar ver a noiva antes do
casamento?

— Não acredito em sorte. — Os olhos de Gray se demoraram


no meu rosto, então desceram para seus dedos na parte inferior
das minhas costas. Ele puxou o vestido apertado enquanto prendia
botão após botão.

Prendi a respiração e me observei no espelho. Eu quase não


reconheci a garota olhando para mim. Minha pele pálida tinha se
tornado um bronze suave e dourado de todas as minhas horas
passadas lendo ao sol. Meu antigo cabelo loiro comprido agora era
preto e na altura dos ombros. Gray disse que quanto menos eu me
parecesse comigo, melhor seria. Podemos estar a um oceano de
distância da minha antiga vida, mas nosso casamento não seria
um segredo. Nós íamos a lugares, víamos pessoas. Ele era um
homem importante com amigos importantes, e pessoas
importantes não escondiam.
A Sra. McTavish passou a última semana me ensinando sobre
o meu “passado”. Eu não era mais Lyric Matthews. Ela não era
nada mais do que outra estatística. Eu era agora Lauren Radcliffe,
sobrinha da rainha de Ayelswick. Aos doze anos, fui enviada para
um internato na Pensilvânia para “aprender a cultura americana”
e conheci Gray em um evento formal na primavera passada,
quando voltei para casa. Isso explicava meu sotaque, porque
ninguém na Escócia nunca tinha me visto e porque alguém dos
Estados Unidos poderia achar que eu parecia familiar. Essa foi a
história que contamos porque a verdade era feia. As pessoas não
conseguiam digerir a verdade. Então nós os alimentamos com
belas mentiras.

Eu agora era oficialmente uma sósia de Zooey Deschanel ou


Katy Perry. Em algum lugar lá fora, alguém comparava imagens
do novo eu com o antigo eu e se perguntava por que éramos tão
parecidas.

Eu tinha que passar horas pesquisando imagens e assistindo


vídeos do YouTube todos os dias porque eu nunca tinha estado na
Pensilvânia – ou em um internato.

Gray terminou com meus botões, então endireitou os ombros.


Tudo nele era impecável, desde a forma como seu cabelo
emoldurava as linhas nítidas de seu rosto até a forma como seu
smoking se estendia sobre seus ombros largos e corpo esguio.

Gray era de tirar o fôlego. Ele era o tipo de beleza que fazia
meu peito doer de olhar para ele, porque eu sabia que deveria ter
pensado que ele era horrível. Se ele fosse feio, odiá-lo teria sido
fácil.
Eu não o odiava.

Eu não podia odiá-lo.

— Vire-se. — ele disse como se eu tivesse escolha, mas no


momento em que as palavras saíram de sua boca, ele agarrou
minha cintura e me virou para encará-lo.

Seus dedos macios roçaram o lado do meu rosto, fazendo meu


coração gaguejar. Ele deu um passo à frente, fechando os
centímetros entre nós.

Meu corpo ficou rígido. — O que você está fazendo, Gray? —


As palavras saíram entre respirações irregulares.

— Eu não quero que a primeira vez que eu te beijar seja na


frente de uma plateia. Eles vão saber, e toda essa farsa vai dar
merda. — Mais um passo à frente. Outro engasgo da minha
respiração. Farsa. Outro lembrete que esta não era realmente a
minha vida. — Qualquer outro homem teria fodido você crua na
primeira semana.

Oh.

De repente, percebi exatamente por que ele estava se


afastando. Ele não era como o resto deles. Assim como eu não era
como aquelas outras garotas naquela sala. Elas queriam estar lá.
Elas queriam ser escolhidas. Gray não queria isso mais do que eu.
Ele evitou o Dia do Julgamento porque não queria fazer parte
disso. Até eu. Até que a garota que ele salvou o salvasse de volta.
Eu não esperava nada dele e, em troca, ele me deu minha
liberdade. Bem, o máximo que ele podia dar.

— Não olhe para mim assim. — disse ele.


— Como o quê?

— Como se eu fosse um herói. — Seu olhar se moveu sobre


meu rosto, me estudando, procurando por algo, mas eu não tinha
certeza do quê. — Você viu o que eu posso fazer. Isso não é um
conto de fadas. Não há felizes para sempre aqui. Eu não vou me
apaixonar por você. — Sua mandíbula ficou tensa. — Eu não sou
capaz disso. — Seus olhos tinham uma escuridão que eu não
conseguia entender. Eles carregavam segredos para sua alma que
eu não conseguia descobrir. Havia muito mais neste homem do
que eu tinha visto até agora, muito mais do que ele me disse. Ele
estava tão quebrado quanto eu. Ele apenas manteve suas peças
juntas de forma diferente. — Eu nem vou foder você fora das
cerimônias de consumação.

Ele disse cerimônias. Plural.

Meu vestido parecia muito apertado. O quarto parecia


pequeno demais. O ar atraiu ao meu redor.

Respire, Lyric.

Engoli em seco e me concentrei no agora. Havia tempo para se


preocupar com o resto mais tarde. — Você disse que eles saberiam
que você não me beijou. Eles não vão saber que você não me tocou?
Se eles vão estar assistindo?

— Eles não vão saber. Seu corpo se curvará à minha vontade.


Vou me certificar disso. — Sua mão percorreu meu rosto, meu
queixo, depois minha garganta, parando na base oca logo acima
da minha clavícula. Com a outra mão, ele passou o polegar pelo
meu lábio inferior.
Meu estômago se apertou quando o calor percorreu meu
corpo, aquecendo minhas bochechas.

Seus lábios se curvaram em um sorriso diabólico. — Viu?

Idiota.

Eu odiava que ele estivesse certo. Ele conseguiu me levar do


pânico sobre o futuro para uma bagunça ofegante em dois
segundos.

A escuridão brilhou em seus olhos azuis quando ele se


inclinou para frente e me inspirou.

E depois ele me beijou.

Não era territorial e agressivo do jeito que Lincoln sempre me


beijava. Isso era lento. Era cuidadoso. Provisório. Isso eram lábios
se abrindo e línguas dançando. Eram dedos acariciando a pele e
batimentos cardíacos colidindo. Quase me deixei perder nele.

Então acabou.

Ele deixou cair a mão enquanto dava um passo para trás, e a


máscara fria caiu sobre seu rosto. — Arrume seu batom antes de
aparecer no jardim.
A Sra. McTavish me encontrou no pé da escada – depois que
retoquei meu batom e meu cabelo. O sorriso que geralmente me
fazia sentir como se eu finalmente tivesse encontrado conforto só
me fez querer chorar. Ela parecia orgulhosa. Feliz. Ela não tinha
ideia de que este era o começo de um fim, a destruição da
esperança.

Não haveria mais borboletas quando eu acordasse para ver


uma mensagem de bom dia de Lincoln, não mais beijos roubados
contra as paredes do quarto, não mais maratonas de sexo de três
horas porque eu o deixei com ciúmes. Não haveria mais Lincoln,
ponto final. E não haveria mais noites com minha melhor amiga.

Esta era a minha vida agora – refeições em salas de jantar


vazias e leitura na grama até a hora de fechar os olhos e sonhar
com tudo.

Quando Gray disse as palavras não para sempre, em algum


lugar da minha mente eu esperava que ele estivesse dizendo que
tudo terminaria antes de hoje. Eu estava errada. Não havia como
dizer o que ele queria dizer.

Caminhamos pelo amplo corredor, passamos pela biblioteca


onde eu aprendi a verdade pela primeira vez e para uma parede de
portas com painéis de vidro que levavam para fora.
O jardim era lindo em um dia normal, mas hoje era o epítome
do Éden. As pessoas enchiam fileiras de cadeiras dobráveis
brancas alinhadas em cada lado de um amplo corredor central –
nossos convidados, eu suponho. Ao longo do corredor, no final de
cada fileira, havia altas lanternas de ferro e arranjos florais
coloridos. Pétalas de rosas brancas cobriam o chão, destacando o
caminho para um gazebo branco do tipo cúpula com colunas de
pedra cobertas de trepadeiras.

Mágico.

Ou pelo menos deveria ter sido.

Não havia madrinhas ou padrinhos. Havia apenas o ministro


e Gray, que pareciam completamente à vontade em pé no centro
do gazebo. Meu coração parecia que iria criar asas e voar para fora
do meu peito a cada passo que eu dava pelo corredor.

A cerimônia foi linda, mas metódica. Trocamos votos de livros


didáticos, e eu me sentia uma mentirosa com cada palavra que
falava. Repetimos depois do ministro e, em poucos minutos, eu era
a Sra. Gray Van Doren. Ele me beijou de novo, da mesma forma
que ele me beijou no meu quarto antes da cerimônia. E todos
aplaudiram enquanto caminhávamos de mãos dadas.

Todos os olhos estavam em nós na recepção – uma tenda


enorme no meio do jardim com mesas cobertas de linho e luzes de
cordas embaixo. Gray me abraçou na pista de dança enquanto
todas as mulheres aqui observavam e se perguntavam quem eu
era.

Pessoas que eu nunca tinha visto, e algumas que eu só tinha


visto em revistas, me parabenizaram e me disseram como eu
estava bonita. Minha tia, a rainha, mal falava comigo. Em vez
disso, ela passou a maior parte da noite pegando champanhe da
bandeja do garçom e evitando qualquer tipo de conversa como a
praga. Se era assim que a realeza se comportava, então que me
passem uma coroa, eu me encaixava perfeitamente.

Avistei Kipton Donahue, Malcolm Huntington e Pierce


Carmichael parados ao lado do rei, observando o resto da multidão
como se fossem algum tipo de deuses esperando para julgar.

As palavras de Gray voltaram para mim enquanto eu estudava


a maneira como eles me observavam.

Quatro outros homens vão assistir.

Eles eram os quatro homens? O pensamento deles me vendo


tão vulnerável e exposta fez meu estômago revirar.

Foi um evento privado com apenas cerca de cinquenta


convidados e absolutamente nenhuma imprensa. Não havia
sequer um fotógrafo. No que diz respeito aos casamentos, o meu
era o sonho da maioria das meninas.

Passei a noite inteira tentando não vomitar.

E então os convidados foram saindo, pouco a pouco, e quando


nos despedimos do último casal, o pavor se instalou na boca do
meu estômago como lodo tóxico.

Gray passou o braço em volta da minha cintura, me puxando


para perto dele quando um olhar sombrio passou por seu rosto. —
Hora de entrar agora, doce noiva.
Meu peito estava apertado e pesado enquanto caminhávamos
pelo jardim e voltamos para casa. Gray segurou sua mão na parte
inferior das minhas costas e me guiou para uma das altas portas
de madeira que eu sempre passava no meu caminho para a
biblioteca.

Ele deu um passo ao meu redor, abrindo a porta, em seguida,


acenando para eu entrar.

Isso não era o que eu esperava. Então, novamente, meio que


era.

O quarto de Gray lhe convinha. O luar penetrava pelas altas


janelas de estilo palladiano e ricocheteava nas paredes pintadas de
preto. O piso era de madeira cinza escura com um tapete felpudo
cinza mais claro saindo de debaixo da cama king-size. Um lustre
de cristal pendia do teto de caixotões, acrescentando uma luz
âmbar suave ao azul da lua. Deveria parecer enigmático. Mas isso
não aconteceu. Ele me chamou. De todos os cômodos da casa, as
paredes deste tinham mais segredos. Senti isso no momento em
que entrei.

Kipton, Malcolm, Pierce e um homem que eu tinha sido


apresentada antes como Winston Radcliffe, rei de Ayelswick,
estavam todos sentados em cadeiras de couro alinhadas em frente
a uma lareira de aparência moderna. Todos eles tiraram os paletós
de smoking e arregaçaram as mangas das camisas. Quatro relógios
caros brilhavam à luz. Quatro pares de olhos escureceram ao me
ver. Quatro bocas se curvaram em sorrisos sinistros. O rei até
passou a língua pelos dentes. Ai, credo.

Gray não estava brincando. Eles realmente iriam vê-lo me


foder. Isso estava acontecendo. Minha vida agora era uma bagunça
retorcida de sacanagem – estilo Handmaid's Tale.

Ele era o quinto membro do Tribunal. Isso significa que ele fez
isso quando outros membros se casaram? Gray sentou-se em uma
cadeira ao lado desses quatro homens e viu as mulheres serem
fodidas na noite de núpcias? Lincoln faria o mesmo quando
tomasse o lugar de seu pai? Ácido queimou minha garganta com o
pensamento de qualquer um deles ter algo a ver com algo assim.

Kipton estreitou o olhar. — Olá, Lyric. Bom te ver de novo.

— Ilegitimi non carborundum. — Não eram exatamente as


palavras de Margaret Atwood, mas o significado ainda era o
mesmo. Não deixe que os bastardos o esmaguem. Eu queria
adicionar filho da puta, mas mordi minha língua antes que a
palavra saísse. Eu tive alguma contenção.

Ele rosnou: — Eu vejo que você não mudou. — Acho que ele
entendia latim. Provavelmente era um requisito de trabalho para
todos os capangas de Satanás.

Seus olhos varreram meu corpo da cabeça aos pés. — Pelo


menos sua boca não. — Ele olhou por cima do meu ombro para
Gray. — Ela é tão mal-humorada na cama? — Antes que Gray
pudesse responder, a mão de Kipton escorregou sobre sua virilha.
— Eu gosto quando elas brigam.

Engoli a bile que subiu pela minha garganta.


Em um instante, o corpo duro de Gray estava pressionado
firmemente contra minhas costas com sua mão emaranhada em
meu cabelo. Seus lábios roçaram a concha da minha orelha. —
Você está provocando-o. — Ele puxou meu cabelo, inclinando
minha cabeça para trás. — Sou capaz de fazer coisas com você que
farão seus pesadelos parecerem devaneios. — Seu aperto
aumentou, como se quisesse provar seu ponto. — Não. Me. Teste.
Porra.

Lá estava, a besta que eu só tinha visto uma vez antes. Mais


uma vez, ele tinha um ponto a fazer e aquela fera estava pronta
para rugir. Eu posso ter sido uma espertinha, mas eu era uma
espertinha que sabia que não devia testá-lo.

Observei Gray enquanto ele sorria para os homens sentados


do outro lado da sala. — Vocês não vieram aqui para conversar,
então vamos logo com isso, ok? — E então suas mãos estavam no
botão de cima na parte de trás do meu vestido, rasgando o tecido,
rasgando o vestido do meu corpo.

O plink, plink, plink dos botões de pérola batendo no chão


ecoou na grande sala. Meu batimento cardíaco trovejou em meus
ouvidos quando o vestido caiu, expondo minha pele ao ar livre.
Fiquei aqui, peito arfando, em uma piscina de tule e renda com
nada mais do que um fino pedaço de tecido cobrindo minha boceta.

Oh, Deus.

Gray me viu nua quando me puxou da banheira. Eu não tinha


vergonha do meu corpo. Qualquer um que tivesse visto minhas
postagens no Instagram sabia disso. Mas estar aqui, exposta, na
frente deles, fez minha pele arrepiar. Como mil aranhas
minúsculas soltas na minha carne.

Gray me acompanhou e me inclinou sobre sua cama, como


uma boneca de pano, um brinquedo, um buraco sem rosto. Então,
novamente, não era como se eu esperasse que fosse romântico.
Este era um nível diferente de fodido. Esses homens exerciam seu
poder sobre nós como armas, fazendo-nos jogar junto com seu
joguinho doentio. Nenhum de nós queria estar aqui. Nenhum de
nós queria fazer isso. No entanto, aqui estávamos nós, fingindo
porque a alternativa significava... Eu nem queria pensar sobre o
que a alternativa significava. Ou eu te fodo ou eles fazem.

Eles. Eles. Todos eles.

Seu corpo se inclinou sobre o meu, seus lábios mal tocando


minha orelha. — Não olhe para eles. Somos apenas eu e você nesta
sala.

Eu respirei fundo. Só eu e Gray. Foi por isso que ele me


curvou. Não era para que ele não tivesse que olhar para mim. Era
assim que eu não teria que olhar para eles. Este homem estava
cheio de surpresas. Eu queria olhar para ele, agradecê-lo por
aquele pequeno ato de bondade. Mas eu não fiz. Em vez disso,
fechei os olhos.

Ele espanou a ponta do dedo ao longo do lado do meu rosto.


— Boa menina.

O punho em volta do meu coração apertou até quebrar,


espalhando pedaços por todo o chão junto com os botões do meu
vestido. — Então você deveria ter sido uma boa menina e feito o que
lhe foi dito. — Lincoln disse essas palavras para mim na noite em
que o peguei se masturbando em seu quarto, a noite em que eu
sabia que queria ser dele.

Dele.

A primeira lágrima se soltou e deslizou pelo meu rosto. Deus,


eu sentia a falta dele. Sentia tanto a falta dele que doeu. Eu teria
dado qualquer coisa neste momento para ser ele se inclinando
sobre mim. Em vez disso, seu pai assustador estava sentado em
uma cadeira em algum lugar atrás de mim, observando enquanto
outro homem deslizava minha calcinha pelas minhas pernas.

Então eu ouvi o deslizar metálico de um zíper seguido pelo


farfalhar de tecido. Não. Não apenas um zíper. Quatro deles.
Quatro gemidos ao ver minha boceta nua. Quatro pares de calças
sendo empurradas abaixo de seus quadris.

Fechei os olhos com mais força e tentei me levar de volta para


aquele lugar, de volta para a cama de Lincoln, de volta para seus
braços. Tentei ver seu rosto, mas tudo o que vi foi Gray. Tudo o
que senti foi Gray, quando ele deslizou seu pau entre as bochechas
da minha bunda, deslizando para frente e para trás.

Eu só queria que fosse Lincoln.

Sua voz quebrou o silêncio, calma, mas áspera contra o meu


pescoço. — Se você não relaxar, isso vai ser doloroso para nós dois.

Eu inalei uma respiração profunda e assenti. Eu precisava


fazer isso por Gray. Ele matou um homem por mim, porque eu
colocaria todo esse plano em risco. Isso me faz parecer fraco. Quão
segura você acha que estará então?

Eu não faria ele parecer fraco. Eu devia isso a ele.


E então ele estava lá. Ele caiu de joelhos, abriu minhas
bochechas com as mãos e enterrou o rosto entre minhas coxas.
Ele me abriu com os polegares, então correu o nariz ao longo da
minha costura, me inalando. Meu corpo empurrou para trás
contra a minha vontade. Maldito traidor.

— Eu vou cuidar de você, doce menina. — Sua voz ficou


sombria, como se ele tivesse se transportado para outro lugar. —
Hora de fazer você esquecer.

Ele achatou a língua no meu clitóris, em seguida, puxou-o


entre os lábios, me beijando lá do jeito que ele beijou minha boca
hoje cedo. Carícias lentas e suaves seguidas por uma única e longa
por todo o caminho da minha fenda até o meu buraco de espera.
Então ele me fodeu com a língua até que eu estava uma bagunça
ofegante com meus punhos cerrados nos lençóis, moendo minha
boceta contra seu rosto. O que diabos havia de errado comigo? Eu
não deveria ter gostado disso. Eu deveria ter odiado isso.

A dor da traição do meu corpo era quase incapacitante. Mas


eu não conseguia parar de sentir. Eu queria desligar.

Tentei desligá-lo.

Por que não consegui desligá-lo?

Seu polegar circulou meu clitóris, me trazendo para aquele


lugar que meu corpo desejava, me levando direto para a borda.
Prazer disparou em minhas veias enquanto eu estava no
precipício, pronto para a queda.

Preparado. Tão pronto. Ali...

Então ele se foi.


Sua língua substituída por seu pau grosso, batendo sem
piedade. Dirigindo em mim mais e mais. Sua respiração áspera
encheu o ar enquanto seus dedos machucavam meus quadris.
Este não era o gigante gentil de antes. Esta era uma fera,
apostando sua reivindicação.

— Eu disse que faria você se curvar. Veja como você está


molhada para mim?

O fogo formigou na minha barriga, e minhas mãos apertaram


ainda mais os lençóis. Abri minha boca e um soluço saiu, porque
Gray estava certo. Eu quebrei. E por mais que eu quisesse que isso
fosse Lincoln, eu sabia que nunca seria. Por mais desesperado que
meu corpo estivesse por isso, eu sabia que este momento era tudo
que Gray tinha para dar. Em questão de segundos, eu seria
deixada aqui, sozinha, para limpar nossa bagunça e secar minhas
próprias lágrimas enquanto ele fechava as calças e levava os outros
homens para a biblioteca, onde eles beberiam uísque e discutiriam
a dominação do mundo... ou o que diabos eles faziam.

Eu apertei meus olhos fechados e forcei meus pensamentos


para fora da minha cabeça. Tentei me transportar para o mesmo
lugar que Gray tinha levado sua mente. Eu estava quase lá, no
abismo feliz da dormência...

E então ele estava em cima de mim, seu corpo pesado cobrindo


o meu pequeno. Ele acalmou os quadris e gemeu, mas... nada. Eu
tinha estado com Lincoln o suficiente para saber quando um
homem estava vindo, e Gray não estava gozando dentro de mim.

— Estou tomando anticoncepcional. Acabei de tomar minha


injeção no mês passado. — Pouco antes de me levarem. — Está
tudo bem, — eu sussurrei para ele. Lincoln odiava preservativos,
e eu adorava sentí-lo nu.

— Eu não estou preocupado com o seu controle de natalidade,


querida. — Sua voz estava tensa, como se precisasse de toda a sua
energia para se conter. — Isso não era para mim. — ele sussurrou
em meu ouvido. — Também não era para você. — Ele agarrou
minha bunda e empurrou mais fundo em mim, para mostrar, eu
assumi. Mas ainda enviava pequenos choques de prazer até meus
dedos dos pés. — Isso foi para eles.

Para eles. Era tudo para eles. Esses homens pegaram algo
bonito, como sexo em sua noite de núpcias, e transformaram em
algo sinistro. Eles eram os monstros. Nós fomos as vítimas.

Isso não é um conto de fadas. Não há felizes para sempre aqui.


Eu não vou me apaixonar por você. Eu não sou capaz disso.

Ignorei o ruído de fundo de mãos apertando carne, grunhidos


baixos e respirações pesadas e me concentrei em Gray. — Quem
diabos é você? — Como ele tinha tanto controle quando tudo que eu
queria era quebrar?

Sua mandíbula ficou tensa quando ele se afastou de mim. —


Alguém que você desejará nunca ter conhecido.
Eu tinha razão. Após a cerimônia, fiquei sozinha. Levantei-me
quando Gray se acomodou e notei que ele nem tinha tirado o
smoking. Eu estava nua e vulnerável, e ele simplesmente abriu o
zíper das calças. Algo sobre isso me fez sentir humilhada e
quebrada. Meu único consolo foi o olhar em seus olhos quando ele
me envolveu em um lençol e saiu do quarto. Dor. Arrependimento.
Desculpe-me.

Subi as escadas, tomei um longo banho quente e depois subi


na cama. As vozes no fundo da minha mente tentaram sussurrar
palavras de conforto.

Você está bem alimentada. Você tem um teto sobre sua cabeça.
Você não é tratada como uma serva ou espancada. Ele não passou
por você como um brinquedo.

— Mas eu não sou livre. — eu sussurrei de volta. A Irmandade


estaria sempre no controle. Esta noite foi a prova. Esta noite, a
esperança se despedaçou.

Uma lasca de luz do corredor penetrou no meu quarto quando


a porta do meu quarto se abriu.

Puxei o edredom até o queixo e prendi a respiração até ouvir a


voz de Gray. — Isso nunca mais vai acontecer.
Ele caminhou até o lado da minha cama, parando quando seus
joelhos bateram no colchão. Ele havia tirado o paletó. Sua camisa
estava desabotoada e sua gravata-borboleta pendurada
desabotoada em torno de seu colarinho. Ele parecia uma bagunça.
Seus profundos olhos azuis suavizaram quando ele olhou para
mim. — Eu espero que você possa me perdoar.

— Você não é o monstro nesta história. — Eles eram. Ou talvez


eu fosse porque mesmo que tenha acontecido nas mãos da
malevolência, eu não odiei. Eu não o odiava. De certa forma, senti
pena de Gray. De certa forma, eu queria salvá-lo também. O que
isso dizia sobre mim?

— Você não me conhece.

E então ele se virou e saiu do meu quarto.

Os dias foram passando. Então semanas. Meses. Gray estava


certo. Com o tempo, ele se tornou alguém que eu gostaria de nunca
ter conhecido. Só não pelas razões que ele acreditava. Eu poderia
viver mil vidas e ainda assim nunca entender como um homem
pode ser tão gentil e totalmente brutal ao mesmo tempo. Gray era
gentil, mas em sua bondade, era crueldade. Eu poderia ter lidado
com ele sendo mau – teria preferido, na verdade. Pelo menos então
eu poderia ter me fechado, fechado a porta e trancado minhas
emoções com força. Sua bondade me deu esperança de que talvez
em algum momento de tudo isso, eu pelo menos tivesse
encontrado um amigo. Sua distância provou que eu estava errada.

Eu nunca tinha visto ninguém como este homem. Eu sabia


que ele se importava comigo. Eu vi isso na forma como seus olhos
se suavizavam quando ele falava comigo algumas vezes. Eu sentia
isso todas as noites quando ele se sentava ao lado da banheira e
lia para mim. Mas ele nunca me tocou, não fora do pequeno ritual
fodido em nossa noite de núpcias. Eu pensei que o que tínhamos
experimentado naquela noite nas mãos da Irmandade nos
aproximaria, mas só acabou afastando-o ainda mais.

Ele não queria meu coração – o que estava bem porque já


estava tomado. Ele não tinha nenhum uso para o meu corpo.
Eventualmente – uma vez que ele percebeu que eu não estava mais
tendo impulsos sombrios – ele até me deixou para tomar banho
sozinha. Na verdade, eu nem me lembrava da última vez que falei
com ele. Às vezes eu me sentava tarde da noite na biblioteca,
esperando que ele andasse pelo corredor e abrisse a porta de seu
quarto. Eu sempre parecia adormecer no sofá antes que isso
acontecesse. Eu acordava de manhã com um cobertor cobrindo
meu corpo e sem me lembrar de como ele chegou lá.

A solidão era tão dolorosa quanto qualquer lesão física. Você é


educada. Você acena e sorri. Você ouve e responde, com cuidado
para não deixar ninguém saber que você não está realmente lá. E
o tempo todo, você finge que não está acabando com você por
dentro.
Se não fosse pela Sra. McTavish e o chef, eu teria que
encontrar uma bola de vôlei chamada Wilson para me fazer
companhia.

A biblioteca era o meu lugar favorito na casa. Foi onde Caspian


e eu nos sentamos no sofá enquanto ele me contava tudo o que
Tatum estava fazendo. Suas visitas mensais eram a única coisa
que eu tinha para esperar. Eu nunca perguntei sobre Lincoln. Esse
era um segredo que prometi levar para o túmulo. Eu me perguntei
sobre ele, no entanto. Tarde da noite, quando o resto da casa
estava dormindo, e era só eu e meus pensamentos, eu enfiava a
mão dentro da calcinha e evocava seu rosto, sua voz. — Minha.

Meu segundo lugar favorito era a cozinha. Todos os dias


cheirava a algo diferente. Hoje o aroma amanteigado de salmão
grelhado e legumes fritos encheu o ar.

Inclinei-me sobre a grande ilha no centro da sala e peguei uma


cenoura fatiada da tigela.

A Sra. McTavish deu um tapa brincalhão na minha mão. —


Você será servida em um momento, amor.

— Eu não preciso ser servida. — Revirei os olhos com a


palavra. — Eu posso comer aqui com vocês dois. — Eu deslizei até
o topo da ilha, deixando minhas pernas balançarem. — A sala de
jantar é solitária, e aquela mesa é grande demais para uma pessoa.
— Especialmente hoje. Eu não queria ficar sozinha hoje.

Outro tapa na lateral da minha coxa. — Uma senhora Radcliffe


não usaria essa linguagem.
Peguei outra fatia de cenoura. — Bem, eu não sou uma dama
Radcliffe, então...

O chef riu atrás de mim enquanto mexia o resto dos vegetais


ao redor da panela.

A Sra. McTavish suspirou. — Você tem razão. Você é uma Van


Doren agora. — Ela limpou a garganta e olhou para minha roupa,
provavelmente pensando a mesma coisa que eu. Eu não parecia
uma Van Doren.

Gray encheu meu guarda-roupa com peças delicadas e


femininas, mas eu insisti em jeans e camiseta.

Tatum teria dado um pulo na minha roupa hoje. Ela teria me


feito usar uma tiara e algo com renda – provavelmente rosa – antes
mesmo de eu ter tempo de escovar os dentes.

— Pode ir. — a Sra. McTavish disse. — Vou trazer o seu prato.


— Ela era um osso duro de roer, mas isso não significava que eu
ia parar de tentar.

— Tudo bem. — Eu deslizei para fora do balcão, e minhas


sandálias bateram no chão de ladrilhos com um tapa alto. — Mas
só se você colocar cenouras extras. — Eu pisquei enquanto
caminhava em direção à porta. — E sem brócolis. — eu gritei por
cima do ombro.

Tomei meu lugar de sempre em uma ponta da longa mesa de


jantar, olhando para minhas unhas enquanto esperava. Tatum e
eu costumávamos fazer manicure e pedicure juntas. Passávamos
o dia inteiro em um spa dentro do The Carlyle recebendo
esfoliantes e tratamentos faciais com pérolas. Agora, minha única
terapia de spa era mergulhar em um banho de lavanda e pintar
minhas próprias unhas. Não que eu me importasse com isso.
Acabei por sentir falta nossos dias de spa.

Eu perdi todos os nossos dias.

Eu me perguntei se a Sra. McTavish viria para um banho de


pés e uma festa de máscaras de carvão mais tarde. Eu poderia
comer M&Ms de amendoim e beber Dr Pepper enquanto ela tomava
biscoitos e chá.

Senti falta do Dr. Pepper.

Antes que eu me perdesse em lembrar de todas as coisas que


perdi, a Sra. McTavish entrou na sala de jantar com um prato em
cada mão. Ela sentou um prato na minha frente, e eu sorri para
ela.

— Ou você me trouxe uma tonelada de cenouras ou você


finalmente vai se sentar e comer comigo.

Ela abriu a boca para responder, mas foi interrompida por


uma profunda voz masculina.

— Obrigado, Sra. McTavish. Isso é tudo por agora.

Gray.

Gray estava em casa. E ele estava jantando comigo.

Ela colocou o prato em um lugar na extremidade da mesa.


Então ela acenou para Gray. — Sim, senhor. — Quando ela passou
por mim, ela parou por um momento, embalou uma mão na lateral
do meu rosto e sorriu.

Desejei ter um pingo de sua esperança.


E então ela se foi.

Gray e eu estávamos sozinhos.

Ele se vestia todo de preto e seu cabelo estava penteado com


perfeição. Uma leve sombra de barba por fazer cobria sua
mandíbula esculpida. De repente, me senti mal vestida. Eu
gostaria de ter usado algo rosa com renda, afinal.

Ele pegou seu prato e o moveu para o local bem ao meu lado.
Então ele puxou sua cadeira e colocou uma pequena caixa
retangular sobre a mesa. Estava embrulhado em papel branco com
um laço prateado bem amarrado em volta.

Meu coração batia forte com sua presença, com sua


proximidade, com sua consideração. — Você lembrou.

Hoje era meu aniversário de dezoito anos. Bem, hoje foi o


aniversário de Lyric Matthews. Eu não tinha ideia de quando era
o aniversário de Lauren Van Doren. Nós realmente não discutimos
isso.

Eu estava aqui há quase um ano.

Parecia uma vida inteira.

— Claro, eu me lembrei. — ele disse como se tivesse passado


os últimos dez meses sendo o marido perfeito.

Ainda assim, o fato de ele se lembrar do meu aniversário


acendeu as pequenas brasas de esperança em meu peito. Havia
calor lá quando tudo que eu sentia por tanto tempo era o frio. Eu
queria explodi-los. Eu não queria ter esperança. Porque eu sabia
que a única razão pela qual ele estava aqui agora era para me dar
esta caixa. Amanhã ele partiria novamente, e eu estaria sozinha.
Eu sabia que ele tinha boas intenções, mas isso fez meu peito doer.
Lágrimas ardiam nos cantos dos meus olhos. Lágrimas felizes,
lágrimas tristes. Eu não tinha certeza.

Parecia crueldade.

— Devemos comer primeiro? — Eu não queria comer. Eu


queria abrir essa caixa. Desde que eu tinha dez anos, meu pai me
encheu de presentes no meu aniversário e no meu Natal. Achei que
ele estava tentando me dar a infância que ele nunca teve. Eu
sempre ansiava por rasgar a embalagem e ver o que havia dentro.
Mas por alguma razão, eu estava mais animada com este presente,
esta pequena caixa, do que qualquer presente que eu já tinha
recebido em toda a minha vida.

Ele sorriu, e a visão disso acendeu uma faísca completa


naquelas pequenas brasas. — Não. — Ele se recostou na cadeira,
cruzando os braços sobre o peito, depois acenou com a cabeça em
direção à caixa. — Abra.

Duas pequenas palavras que deixaram mil borboletas soltas


na minha barriga. Não, abra.

Meu coração disparou quando puxei a fita prateada, então


rasguei o embrulho. Minha garganta se apertou em torno de um
nó quando removi um telefone celular da caixa. Não chore.

Meu dedo tocou a tela, trazendo-a à vida. Ali, na tela inicial,


havia uma imagem minha e de Tatum. Era da festa de dezesseis
anos dela. Estávamos encostadas na amurada do iate do pai dela.
Algum idiota assustador – provavelmente um dos homens da
Irmandade – tinha acabado de tentar dar em cima dela. Fiquei
irritada, porque Lincoln continuou flertando com uma pequena
vadia só para me irritar. Mas nós duas pintamos sorrisos perfeitos
para a câmera. Tatum sempre me fez sorrir.

Como ele conseguiu essa foto?

— Seu único contato sou eu. Você só vai me ligar. Se você


tentar ligar para alguém ou enviar uma mensagem de texto para
alguém além de mim, eu saberei. Você tem acesso às mídias
sociais, mas sugiro que não as use para alcançar ninguém. Se você
fizer isso, eu vou saber. — Suas palavras eram coloquiais, frias,
como se ele não tivesse me dado um pedaço da minha vida de volta.

Meu coração batia descontroladamente no meu peito. — Você


me deu um telefone. — Meu dedo permaneceu sobre o ícone Fotos.
Se ele encontrasse uma foto, talvez houvesse mais. Devo mesmo
ter minhas esperanças? Bati na tela, inalando uma respiração
afiada com o que encontrei. Cento e sessenta e duas fotos foram
adicionadas; fotos minhas, de Tatum, do meu pai, da minha vida.
Havia até algumas de Lincoln.

Ver seu rosto me quebrou. Emoções que eu estava lutando


tanto para esconder me atropelaram como uma manada de
rinocerontes, e eu não sabia como evitar que Gray visse. Fui
esmagada, rasgada e esfolada. Lágrimas escorriam pelo meu rosto,
e eu lutava para controlar minha respiração.

Desliguei o telefone e olhei para Gray. Minhas lágrimas


borraram seu rosto. — Obrigada. — eu consegui sussurrar.

Ele colocou um guardanapo de linho no colo e pegou o garfo.


Eu peguei um leve tique em sua mandíbula quando seus olhos
azuis escuros encontraram os meus. — Estou confiando em você.
— Então ele olhou para baixo para onde seu garfo cortava o
salmão. — Não me faça me arrepender.

— Como você conseguiu as fotos? — Como você sabia que eu


precisava disso?

Ele segurou o garfo no ar, parando para me lançar um olhar


antes de dar uma mordida.

Limpei minha garganta. — Certo. Você sabe das coisas.

Ele continuou a mastigar.

— Você sabe por que eles me escolheram? Por que eu estava


lá naquela noite? — Eu fiz. Eu sabia exatamente por quê.

Ele não respondeu. Eu não esperava que ele fizesse isso.

— É porque eu também sei das coisas. — Eu empurrei os


legumes ao redor do meu prato com meu garfo. Meu apetite havia
desaparecido há muito tempo. Meu estômago estava apertado
demais para comer. — Na noite anterior a mim... Na noite anterior
a eles me levarem... eu confrontei Kipton Donahue sobre algo que
ele tinha feito, algo horrível.

Gray colocou o garfo no prato e se concentrou em mim. —


Confrontar Kipton Donahue deveria ter desembarcado você gelada
em um necrotério com uma etiqueta no dedo do pé. Kipton não
despacha pessoas. Ele as mata. Você não foi escolhida para o Dia
do Julgamento porque sabia demais. Você foi escolhida, porque
alguém tinha um plano para você. Eu só preciso descobrir quem.

Os pelos da minha nuca se arrepiaram e gelo correu pelas


minhas veias. Todo esse tempo eu acreditei que estava aqui porque
irritei o líder do Inferno. Agora Gray estava dizendo que era mais
do que isso, que havia mais alguém envolvido. Dor e traição
rasgaram através de mim enquanto minha mente lutava para
lembrar de alguém que me usaria como um peão, alguém que
gostaria que eu sofresse esse destino.

Eu empurrei meu prato para longe, então puxei minha cadeira


para trás. — Obrigada pelo presente. — Eu me levantei e peguei o
telefone. — Já não estou com muita fome.

Afundei na água e percorri as fotos no meu telefone, deixando


a água quente e as memórias me cercarem. Quando olhei para a
garota naquelas fotos, quase não a reconheci.

Eu não era mais Lyric Matthews.

Eu também não era Lauren Radcliffe ou Sra. Gray Van Doren.

Na maioria dos dias eu não tinha ideia de quem eu era.

Alguns dias eu me sentia como uma prisioneira.

Meu olhar vagou ao redor do banheiro luxuoso. No que diz


respeito às prisões, a minha não era nada para reclamar.

Gray me deu o único presente que eu nunca esperei, o


presente que ele sabia que significaria mais, mas ele ainda lutou
tanto para permanecer fechado.

Eu nem tinha pensado em perguntar quando era o aniversário


dele para que eu pudesse retribuir o favor. Andei por esta casa o
dia todo, todos os dias, inspecionando cada canto de cada quarto
e havia tanta coisa que eu ainda não sabia sobre esse homem. Não
deveria ter me surpreendido. Homens como Gray dependiam da
distância para esconder a escuridão.

A porta do banheiro se abriu e ele entrou, segurando um livro


na mão.

— Está tudo bem? — ele perguntou enquanto caminhava


lentamente em direção ao mesmo lugar onde ele se sentou tantas
noites antes.

Ele me viu nua mais vezes do que eu poderia contar. Ele esteve
dentro de mim. Claro que estava tudo bem.

Eu entreguei a ele meu telefone para colocar no balcão do


banheiro, então sorri porque eu estava sem lágrimas. — Depende
do livro que você trouxe.

Ele segurou a capa dura no ar. — Conde de Monte Cristo.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — O livro da vingança.

Ele deslizou pela parede e se sentou no chão. — É o meu


favorito.

Qual deles? Vingança? Ou o livro? Eu queria perguntar, mas


não o fiz.

Eu negligentemente girei minha mão pela água. — Eu sinto


falta disso. Eu sinto sua falta. — Aí, eu falei.

Eu sinto falta de sua bondade. Sinto falta de sentir algo além


da solidão. Eu sinto falta do jeito que você olha para mim, às vezes,
quando você acha que eu não noto.
Ele engoliu em seco. — Eu não sou seu para sentir falta. E
você também não é minha.

Ele sabia sobre Lincoln. Mesmo se eu não tivesse deixado isso


inapropriadamente óbvio na mesa de jantar, Gray sabia das
coisas. Mas isso não era apenas sobre Lincoln. A realização me
atingiu, e tudo se encaixou.

Eu não vou me apaixonar por você. Eu não sou capaz disso.

Ele não quis dizer que não era capaz de amar. Ele quis dizer
que não era capaz de me amar.

— Você está apaixonado por outra pessoa. É por isso que você
não gozou dentro de mim naquela noite. Você sentiu como se
estivesse traindo-a. — Eu sabia, porque sentia que estava traindo
Lincoln.

Silêncio.

Sentei-me, espirrando água ao meu redor, uma antecipação


nervosa envolvendo meu coração. — É para lá que você vai quando
sai daqui?

Nenhuma resposta.

— Por que você simplesmente não fala comigo? Não é como se


eu tivesse alguém para quem contar seus segredos. — Eu afundei
de volta, derrotada.

Gray fechou o livro e limpou a garganta. — Há alguém... —


Seu tom ficou sombrio. — …e ela vale cada crime que já cometi,
cada cicatriz que marca minha carne e cada pecado que escurece
minha alma.
Uau. Nenhuma mulher no mundo poderia competir com isso.
Eu nem tinha certeza se queria.

Meu olhar disparou para ele, meu coração disparado enquanto


eu esperava pelo resto.

— Ela foi tirada de mim da mesma forma que você foi tirada
de Lincoln.

Oh, meu Deus. Era por isso que ele odiava tanto a Irmandade.

— Quem a levou? Por que você não conseguiu detê-los? — Ele


era um homem poderoso – uma das cinco linhagens. Certamente
ele poderia ter parado.

— Eu tinha apenas dezenove anos quando aconteceu. Meu pai


ainda estava vivo, então eu não tinha poder.

Se Gray tinha dezenove anos, isso significava que isso


aconteceu oito anos atrás. Ele estava vivendo sem ela por oito
anos. Eu só estava sem Lincoln por um tempo e isso estava me
matando.

— A esposa do rei havia falecido alguns anos antes, e...

Eu interrompi. — O rei? — Puta merda. Minha cabeça estava


girando e eu senti que ia ficar doente. — O rei a escolheu?

Gray simplesmente assentiu. — E dois meses depois, ele me


jogou na prisão por um crime que não cometi para ter certeza de
não tentar recuperá-la.

A rainha uma vez pertenceu a Gray. Era por isso que ela nunca
falou comigo. Era por isso que ela passou toda a nossa festa de
casamento bebendo champanhe.
— Ela é tão jovem. — Como eu.

— Ela tinha vinte anos quando a escolheram para o Dia do


Julgamento. O rei tinha trinta e sete anos.

Eu enrolei meu lábio. — Sim, isso não é nada estranho.

Ele bufou uma risada. — Ninguém se importa com quem


escolhemos, Lyric. Olhe para mim e para você. O poder compra um
olho cego para a moralidade.

Era verdade. Aconteceu todos os dias, mulheres mais jovens


com homens mais velhos e poderosos.

— Quanto tempo você ficou na prisão?

— O suficiente para a dor da traição matar meus pais e deixar


a necessidade de vingança me consumir. — Ele abriu o livro
novamente, sinalizando que a conversa estava no fim. Ele olhou
para as palavras, em seguida, para mim uma última vez. — Caso
você já tenha se perguntado porque não toco em você... porque não
faço algumas das coisas que se esperam de mim... É porque
Lincoln e eu, embora muito diferentes, somos muito parecidos.
Prometi mantê-la segura, e o farei. Mas não vou fazer com ele o
que fizeram comigo. Eu não vou quebrar você do jeito que o rei a
quebrou.

Os pequenos pedaços que restaram do meu coração se


despedaçaram – por mim. Por Lincoln. Por Gray. Fomos todos
vítimas de um jogo perverso. Estávamos todos presos em um
mundo sem amor.
Eu afundei na água quando Gray começou a ler e deixei suas
palavras e voz me levarem para um lugar longe da realidade. A
realidade era o último lugar que eu queria estar.
De todas as emoções, a raiva era a mais fácil. Era melhor do
que tristeza. Melhor que culpa. Melhor que mágoa.

Foda-se a dor.

Dê-me raiva.

Sentei-me em cima do balcão do banheiro, pintando os últimos


traços de preto ao redor dos olhos. A cada pincelada, mais e mais
de Lincoln desaparecia enquanto a Morte aparecia lentamente.
Minha boca se curvou em um sorriso, esticando as linhas pintadas
ao redor dos meus lábios em um sorriso.

Deuce sempre me dizia: — Você não pode pintar o rosto,


Lincoln. Os médicos não podem ver se você está ferido.

Fodam-se as regras e fodam-se os médicos. Eu não planejava


sangrar.

O ritmo constante do baixo profundo ecoou pelas escadas e no


meu loft do auditório abaixo, dando às minhas paredes uma
pulsação que combinava com a minha.

Papai finalmente aceitou que eu não estava seguindo ele – e


gerações de homens Huntington – no jogo corrupto da política. Era
apenas mais um item na longa lista de maneiras que eu o
desapontei. E ele fez questão de me lembrar disso quase
diariamente. Mas ele acabou comprando um velho teatro como
uma “saída” para mim e uma maneira de salvar a cara com seus
amigos. Era muito mais fácil explicar por que seu filho não foi para
a faculdade quando estava administrando um negócio de sucesso.

Tínhamos convertido todo o segundo andar em um loft para


eu morar. Tatum usava o teatro para realizar apresentações de
balé para seu estúdio de dança, e eu o usava para shows e uma
ocasional luta amadora de MMA.

Se dependesse de mim, eu teria me livrado do palco e mantido


a gaiola em tempo integral. Não há mais balé neste filho da puta –
apenas fúria e derramamento de sangue. Eu praticava artes
marciais mistas desde os treze anos, logo depois daquela noite em
Crestview Lake. A noite em que meu pai me entregou um machado
e me disse que era hora de ganhar meu lugar neste mundo – o
mundo dele. Havia nove de nós na beira do lago naquela noite: três
adolescentes, três vidas humanas que deveriam representar o pior
de nós e três monstros disfarçados de pais.

O ar da noite estava fresco graças a uma brisa que vinha da


água. As árvores altas que cercavam o lago nos observavam como
um painel de juízes. Ou um júri. Ou a estátua de Jesus com seus
olhos escuros e vidrados.

Havia um fogo ao nosso lado, mas não me trazia calor. Eu


estava gelado até os ossos.

Três pessoas se ajoelharam na nossa frente – uma mulher e


dois homens. Um saco de estopa tinha acabado de ser arrancado
de suas cabeças, e suas mãos estavam amarradas atrás das
costas. Papai, Pierce Carmichael e Kipton Donahue estavam atrás
deles.

Chandler, Caspian e eu ouvimos atentamente nossas


instruções enquanto nossos pais falavam sobre fardos, cuidados e
efígies – sobre sacrifício. As pessoas ajoelhadas eram sacrifícios,
símbolos do que havia de “errado” no mundo. Pobreza. Ambição.
Fome. E na mente de nossos pais, matá-los purgaria o mundo das
coisas que eles representavam. Eu sabia que meu pai era fodido. Eu
o ouvi fazendo ameaças pelo telefone, acidentalmente entrei em
algumas reuniões acaloradas, e o peguei transando com a
empregada uma vez, mas isso era uma loucura de outro nível.

Cada um de nós tem uma arma. Chandler tinha uma arma.


Caspian pegou uma faca. E eu, um machado. Então o pai de
Caspian disse: — Está na hora. Livrem-nos desses fardos.

O cabo de madeira parecia pesar uma tonelada quando eu o


apertei em meu punho. Meu peito ardia e meu coração disparava.
Eu não queria fazer isso. Estávamos aqui para a regata e para todos
os adultos se beijarem e fingirem gostar um do outro enquanto
secretamente planejavam assumir empresas ou trepar com os
maridos e esposas uns dos outros. O que matar essas pessoas tem
a ver com isso?

Caspian deu um passo à frente e cortou a garganta do seu.


Chandler segurou o dedo no gatilho e pressionou, mirando direto no
peito da mulher. Nenhum deles sequer vacilou.

Engoli.

Minha vez.
Se eu não balançasse, todos pensariam que eu não tinha o que
era preciso para ser um deles.

Dane-se isso. Eles não eram melhores do que eu. Eu pertencia


aqui tanto quanto qualquer outra pessoa.

Eu levantei o machado sobre minha cabeça e girei.

E eu errei, acertando o cara no ombro com o machado. Ele gritou


contra a mordaça em sua boca, lágrimas brotaram de seus olhos e
rolaram por suas bochechas, e eu lutei contra a vontade de vomitar.

Papai se inclinou e rosnou contra meu ouvido. — Não se atreva


a me envergonhar, porra.

Eu acabei o envergonhando, e ele nunca me deixou esquecer


isso. Levei três golpes para matar aquele homem. A raiva não
estava dentro de mim então. Eu era apenas mais um adolescente
tentando viver uma vida normal em um mundo extraordinário. O
veneno da Irmandade não tinha penetrado em minhas veias...
ainda.

Mas algo sobre matar um homem antes de terminar a


puberdade muda a merda dentro de você. Enquanto o sangue saía
do corpo do homem conhecido como Greed, uma escuridão
rastejou dentro do meu. Se sentir o esmagamento dos ossos de um
homem sob a lâmina de um machado e ouvir seus gritos atrás de
um trapo de pano enquanto suas lágrimas e sangue encharcavam
a terra não era suficiente para foder uma criança por toda a vida,
eu não sabia o que era.
Eu vi a mudança em Chandler e Caspian também. Despertou
uma fera dentro de todos nós. Nós apenas decidimos alimentar de
maneiras diferentes. Alimentei meu ódio e raiva com um caçador
de drogas e álcool. Eu era uma vergonha para meu pai, mesmo
tendo vendido minha alma para provar que era digno de nosso
sobrenome. Ele me odiava. Eu o odiava mais. Até o dia em que
Lyric pegou minha mão depois do funeral de sua mãe, eu não me
importava com nada. Como eu poderia? Matei um homem para
ganhar o respeito de outro homem que se recusou a me amar.
Como uma pessoa que pensava tão pouco na vida de outra poderia
fingir que se importava com a sua própria – ou com a de qualquer
outra pessoa?

Mas então Lyric agarrou minha mão e me pediu para levá-la


embora, para escapar, para deixar a dor para trás. E foi o que eu
fiz. Eu me tornei sua fuga. Nós nos tornamos a fuga um do outro.
Até a noite em que agarrei a mão dela e a levei longe demais.

Ela estava morta por minha causa. Eu sabia que ela não usava
drogas. Era a única parte de mim com a qual ela não queria nada.
Ainda assim, eu apareci em seu apartamento com um saco de coca
pedindo-lhe para cheirar meu pau, não me importando se ela disse
sim ou não. Eu transei com ela de qualquer maneira. Eu a fodi
com uma linha de coca cobrindo meu pau e seu coração parou de
bater por causa disso.

Agora não havia mais escapatória. Havia apenas o ódio e a


raiva.

Esta noite foi noite de luta. Noite Sagrada. Mais conhecida


como Véspera Sagrada. Foi a única noite em que meus demônios
foram autorizados a vagar livremente. Eu só lutava três vezes por
ano porque treinava duro e lutava mais. Havia um limite que eu
poderia colocar meu corpo. O resto do tempo eu apenas
hospedava.

Havia sempre uma multidão esgotada.

Sempre havia algum novo punk com mais malucos do que


talento.

Sempre havia sangue.

E ninguém entrava sem convite.

Meu pai, que estava se preparando para lançar seu nome na


votação presidencial, me lembrava diariamente que as aparências
eram tudo. Talvez tenha sido por isso que eu escolhi me parecer
com a Morte – porque era quem eu era. Intocável. Impune.
Inquebrável. Irresgatável.

Eu tinha uma coisa boa e perfeita na minha vida, e eu a matei.


Ela nunca iria sorrir novamente, nunca riria novamente, nunca
desmoronaria no meu pau novamente. Uma olhada no espelho
para a caveira pintada no meu rosto, e me lembrei do que fiz
naquela noite, de quem eu realmente era. Morte.

E Deus salve qualquer filho da puta que entrasse na gaiola


comigo.

As orelhas de Lúcifer se animaram, e sua cabeça levantou de


onde ele estava deitado no chão do banheiro. Um grunhido baixo
retumbou em seu peito. Ele nunca latiu. Não precisava. Seu
rosnado foi o suficiente para fazer um homem adulto mijar nas
calças.
Joguei a escova na pia e pulei do balcão do banheiro. Um
segundo depois, alguém bateu na minha porta. Quem precisava de
um sistema de segurança quando você tinha um rottweiler de
cento e vinte quilos?

Lúcifer trotou ao meu lado até a porta. Suas patas pesadas


batem, batem, batem no chão de madeira. Nós éramos iguais,
Lúcifer e eu. Assustadores pra caralho do lado de fora, leal a uma
falha, e nós dois rasgaríamos a porra da garganta de qualquer um
que nos sujasse. Eu nunca fui a lugar nenhum sem ele.

Deuce, meu treinador, estava do outro lado.

— As lutas não começam por uma hora. — eu disse a ele, não


me oferecendo para abrir a porta e deixá-lo entrar.

Ele estendeu um buquê de rosas. — Seu costume. Pensei em


deixá-los e verificar você.

O que ele quis dizer foi: — Eu queria ter certeza de que você
não está chapado. — O filho da puta já deveria saber. Eu não fodia
com meu corpo quando estava treinando. A luta substituiu as
drogas como minha fuga. Eu não precisava delas quando estava
focado em outra coisa.

Peguei as rosas. — Obrigado. — Então eu fechei a porta sem


outra palavra. Eu descia e me enrolava quando chegasse a hora.
Eu não estava com disposição para palestras. Eu tinha o suficiente
delas do meu pai.

A embalagem de plástico estalou quando joguei o buquê na


mesa perto da porta. As rosas vermelhas se destacaram contra a
embalagem de celofane transparente. As pétalas me lembraram de
Lyric, do jeito que ela as arrancou e as jogou ao vento no funeral
de sua mãe.

“E o fogo e a rosa são um.” TS Eliot.

Segundo Eliot, a rosa era um símbolo divino do amor e o fogo


representava o Purgatório. Meu coração era consumido pelo
inferno em que eu estava preso. Nada resumia melhor minha vida.

E era por isso que depois de cada luta, eu mergulhava um em


fluido de isqueiro e ateava fogo antes de entregá-lo a alguém,
qualquer pessoa, geralmente a garota com os melhores peitos da
multidão. Não importava para mim. Eram todos rostos sem nome.

Tirei uma flor do buquê, dei um pedaço de carne vermelha a


Lúcifer e afoguei as vozes dentro da minha cabeça com algum
Cordeiro de Deus. Uma hora depois, eu estava no andar de baixo
montado em uma cadeira enquanto Deuce envolvia minhas mãos.

Do outro lado das portas duplas, no auditório onde foi


montada a gaiola, a multidão cantava e aplaudia quando Big Tim
anunciava a próxima luta. A música soou no sistema de som,
canalizando uma energia elétrica por todo o prédio enquanto o
lutador se dirigia para a jaula. Eu sabia que as luzes lá fora haviam
diminuído, deixando nada além do brilho vermelho de alguns
holofotes e a luz brilhante acima da gaiola. A contagem regressiva
começou. Mais duas lutas, então era a minha vez. Este era o
momento em que meu coração deveria acelerar. Gotas de suor
devem traçar minha testa. Mas eu estava tão calmo quanto quando
cortei o bife do jantar de Lúcifer com um cutelo.
— Você tem que desacelerar ou você vai se autodestruir. —
Deuce disse enquanto apertava a fita. — A luta. A bebida. — Ele
olhou para mim. — As drogas.

Eu girei o palito entre meus dentes. — Devo chamá-lo de pai


agora? Você vai começar a foder minha mãe e gritar ordens?

Ele apertou a fita mais do que o necessário. — Ela tem uma


bela bunda...

— Você sabe que não precisa usar toda a tática de irritá-lo-


para que ele fique com raiva em mim, certo? — Havia raiva
suficiente dentro de mim para alimentar uma dúzia de brigas.
Talvez mais.

Ele piscou. — Quem disse que é uma tática?

Idiota.

Revirei os olhos e me levantei, a cadeira deslizando pelo chão


enquanto eu me levantava.

Deuce segurou algumas almofadas e me ajudou a aquecer.


Meu sangue estava bombeando enquanto a adrenalina corria pelas
minhas veias. Esta era como nenhuma outra. Era aqui que meus
demônios se desenrolavam a cada golpe. Eles encontraram sua paz
aqui. Eles ficaram quietos enquanto eu estava lutando. E quando
tudo acabou – quando eu estava coberto de suor e sangue e vendo
meu coração metafórico pegar fogo – eles sorriram seus sorrisos
perversos e rastejaram de volta para as profundezas da minha
alma.
Big Tim chamou meu nome e então minha música começou a
tocar “Psycho” de Breaking Benjamin. Esse era o meu hino. Essa
era a minha hora.

Eu dei um aceno para Ethan enquanto caminhava em direção


à jaula. Ele sempre esteve aqui. Cada maldita vez. Eu implorei para
ele treinar comigo, mas ele era mais um pacificador. Talvez fosse
por isso que funcionávamos como amigos. Yin e Yang ou alguma
besteira.

O árbitro esfregou vaselina nas minhas sobrancelhas e


bochechas, então Deuce me deu um tapinha no ombro.

— Você está pronto para fodê-lo? — ele perguntou, acenando


para o cara de short preto e dourado do outro lado da jaula.

Eu balancei a cabeça enquanto o árbitro deslizava meu


protetor bucal.

Meus demônios sorriram.

Sim. Estamos prontos.


Gray finalmente concordou em dar um jantar oficial. Em todas
as minhas andanças por este lugar, nunca percebi que havia um
salão de baile de verdade. Provavelmente porque ficava na ala da
casa que ele mantinha fechada.

O espaço era grande e aberto, com janelas do chão ao teto com


vista para o jardim dos fundos. Pequenos pontos de luz dançavam
pelo chão de onde o sol refletia nos candelabros de cristal. O piso
de mármore tinha sido polido recentemente e os entregadores
carregavam vasos e mais vasos de flores frescas. Houve um
zumbido animado no ar enquanto todos trabalhavam em torno uns
dos outros. Senti a energia até os meus ossos. Eu até me encontrei
andando por aí cantarolando em um ponto.

A Sra. McTavish estava de um lado da sala entregando toalhas


de mesa de linho branco para jovens vestindo polo verde escuro e
jeans. Peguei uma das toalhas de mesa e ela a pegou de volta. —
A dona da casa não decora. — Ela apertou os lábios. — Ela delega.

— Não me importo de ajudar. — Ajudar era melhor do que ler


na biblioteca ou ficar sozinha no meu quarto. E eu odiava ser
chamada de dona da casa. Parecia uma mentira, especialmente
agora que eu sabia que o título era para outra pessoa.

Ela me deu um olhar severo. — Você pode ajudar delegando.


Suspirei e revirei os olhos.

— Ela está lhe causando problemas, Sra. McT? — Gray


perguntou com um sorriso enquanto caminhava ao meu lado.

— Eu? — Meus olhos se arregalaram. — Problema? — Eu


suspirei.

Um brilho acendeu em seus olhos azuis. Desde a nossa


conversa na banheira, onde ele finalmente se abriu sobre seu
passado, as coisas estavam fáceis entre nós. Um peso foi levantado
para nós dois. Não havia expectativas, apenas amizade.

— Você se importa se eu roubá-la por um momento? — ele


perguntou à Sra. McTavish. — Há algo que eu quero mostrar a ela.

Ela sorriu quando sorriu. — Claro que não, senhor.

O que ela quis dizer foi: — É mais fácil com ela fora do caminho.

Assim que estávamos fora do alcance do ouvido, eu olhei para


ele com os olhos apertados. — Não pense que eu não sei o que era
aquilo lá atrás.

Seus lábios se contraíram enquanto ele lutava contra um


sorriso. — Eu não tenho ideia do que você está falando.

— Hum hum. — Eu o segui escada acima. — Você nunca me


contou como a conheceu. — Eu fiz uma pausa. — Sra. McTavish.
— eu esclareci.

Ele olhou por cima do ombro para mim, mas continuou


andando. — Ela é uma amiga da família. — Ele riu quando eu
suspirei com a resposta vaga. — Ela era minha babá quando eu
era jovem.
Corri para me mover ao lado dele. — Então, ela conhece toda
a sua história?

Ele assentiu.

— Como em... tudo?

Chegamos ao topo da escada e ele se virou para mim. — Ela


sabe tudo.

— É por isso que ela não surtou na noite em que você me


trouxe para casa.

— Ela sabia que eu nunca iria machucá-la. — Sua mandíbula


flexionou. — Ela sabe que eu nunca vou te machucar.

Ele se aproximou e abriu a porta do meu quarto, então


observou enquanto eu entrava. Deitado em cima da cama estava
um dos vestidos mais bonitos que eu já vi. Era rosa suave – meu
favorito – com cristais Swarovski no corpete e um longo fundo de
chiffon.

Fui até a cama e peguei o vestido, segurando-o contra a minha


frente. — Gray, é lindo.

— Você vai ficar linda.

Amigos.

Isso era tudo o que seríamos.

Ainda assim, às vezes, como agora, borboletas explodiam no


fundo da minha barriga quando ele estava por perto. Quando ele
me dava elogios como aquele, elas enxamearam.

— Eles estarão aqui para a festa. — disse ele.


Ele se referia aos homens da Irmandade, especificamente
Kipton, Malcolm, Pierce e Rei Winston. Gray não falava sobre eles
com frequência, e toda vez que o fazia, o ar ao nosso redor
engrossava com a tensão.

Coloquei o vestido de volta na cama. — Achei que estariam.

Ele deu um passo em minha direção e segurou meu olhar. —


Eles não vão tocar em você. — Seus olhos escureceram. — Eu vou
me certificar disso.

Dei a ele meu sorriso mais confiante, embora meu coração


estivesse acelerado com o pensamento de estar na mesma sala com
os quatro novamente. — Eu sei.

Convidados do jantar perfeitamente vestidos se reuniram em


pequenos grupos ao redor da sala. Alguns estavam sentados em
mesas cobertas de linho decoradas com arranjos florais coloridos
e porcelanas finas. Os garçons moviam-se de grupo em grupo com
bandejas de prata com comida chique e outros com bandejas de
champanhe.

Eu fiz meu caminho ao redor da sala, cumprimentando todos


os convidados com um sorriso.

— Você fez um belo trabalho, Lauren. Está tudo impecável. —


elogiou uma mulher.

Lauren. Eu nunca iria me acostumar com esse nome.


E eu não fiz nada. A Sra. McTavish fez. Suponho que ela era a
verdadeira dona da casa.

Prestei muita atenção à rainha e a Gray agora que conhecia


seu segredo. Ninguém mais pode ter notado seus olhares
roubados, mas eu notei. Eu me perguntei se ela sabia como ele
ainda se sentia, se ele já falou com ela, se ele a tocou. Se ele ficava
com ciúmes toda vez que o rei colocasse as mãos nela. Se ele a
levavq no banheiro, a empurrava contra uma parede e enfiava os
dedos em sua boceta para provar que pertencia a ele e somente a
ele.

Então pisquei para conter as lágrimas quando percebi que não


estava realmente me perguntando sobre Gray. Eu estava
simplesmente sentindo falta de Lincoln.

Os segredos me lembraram do que tínhamos.

— Você parece confortável em sua nova vida. — disse uma voz


familiar na parte de trás da minha cabeça.

Meu estômago caiu e o medo subiu pela minha garganta.

Kipton.

Concentrei-me em olhar para a frente. — Acho que a prisão


combina comigo.

Ele riu, um som único, alto e arrogante. — É assim que você


chama tudo isso?

De certa forma, sim. Mas ao longo dos anos, eu me senti


confortável aqui. Suponho que era isso que as pessoas faziam
quando não tinham outra escolha.
Eu tinha me ajustado. Assim como a Sra. McTavish disse que
eu faria.

— Eu tinha certeza de que Gray já teria quebrado você agora.


— a voz de Malcolm Huntington explodiu do outro lado de mim,
me fazendo estremecer. Ele arrastou a ponta do dedo até o lado do
meu pescoço, enviando bile direto para minha garganta.

Engoli de volta antes de vomitar em cima de seus sapatos


caros. Conhecendo esses dois homens, eles me fariam lamber.

— Desculpe, cavalheiros, minha mãe nunca me ensinou a


compartilhar meus brinquedos. — Gray se aproximou e passou o
braço em volta da minha cintura.

Malcolm deixou cair a mão. — Você está sendo mole com a


gente, Van Doren.

O rei se aproximou, e Gray mudou seu olhar entre ele e


Malcolm. — Bem, nem todos nós compartilhamos os mesmos
gostos fodidos que vocês dois.

O que isso deveria significar?

Kipton agarrou um punhado do meu cabelo e puxou minha


cabeça para trás. — O que aconteceria se eu dissesse a ela para
ficar de joelhos e chupar meu pau?

Gray ficou tenso ao meu lado, mas sua expressão permaneceu


calma. — Se eu concordasse em compartilhar, ela ficaria de joelhos
e chuparia seu pau. — Ele passou a ponta do dedo ao longo do
lado do meu rosto. — Ela me ouve. — Seus dedos se moveram para
agarrar meu queixo como se quisesse fazer um ponto, mesmo com
a mão de Kipton ainda no meu cabelo. — Só eu.
Este era o Gray brutal, a fera interior, o homem que me
aterrorizava e me fazia sentir segura, tudo ao mesmo tempo.

Continuei olhando para frente, rezando para que eles não


tivessem notado a mudança na minha respiração ou a forma como
meu pulso batia nas minhas veias.

Kipton se inclinou ao lado da minha orelha, nem mesmo se


importando que Gray ainda estivesse aqui segurando meu queixo
na ponta dos dedos. Seu aperto no meu cabelo apertou com tanta
força que meu couro cabeludo doeu. — Ele não estará sempre por
perto para protegê-la. — Ele soltou minha cabeça com um puxão.
— Ele vai ter que virar as costas em algum momento. — Ele se
moveu na minha frente, um sorriso sinistro se espalhou por seu
rosto enquanto ele movia seu foco para a rainha. Ele sabia sobre
ela e Gray? Parecia muito uma ameaça. — E quando ele fizer, você
é toda minha. — Ele olhou de Malcolm para Winston. — Talvez eu
deixe todo mundo ter uma vez. — Seu olhar treinou em Gray. —
Minha mãe não dá a mínima se eu compartilho meus brinquedos.

Gray abaixou meu queixo e olhou para Kipton. — Parece que


você esqueceu com quem está lidando. — Ele moveu seu olhar
para o Rei Winston. — Talvez seja hora de lembrá-lo.

Quando eu era criança, sempre pensei em monstros como


coisas assustadoras com rostos feios. Acontece que a maioria deles
eram apenas humanos.
Depois do jantar infernal, Gray cancelou todos os eventos
sociais envolvendo a Irmandade com a maior frequência possível.
Se antes eu achava que estava confinada à casa, não era nada
comparado a agora. Ele alegou que não estava se arriscando, e eu
não estava me sentindo corajosa o suficiente para discutir com ele.

Nossas únicas aparições públicas eram ocasionais


arrecadações de fundos e um balé que me lembrava Tatum. Chorei
durante todo o caminho para casa. Nunca mais fizemos isso.

A Sra. McTavish conseguiu me tirar de casa uma vez no ano


seguinte para me ajudar a fazer compras para o aniversário de
Gray. Comprei-lhe um relógio de ouro com uma citação gravada
no verso.

Herói: uma pessoa comum que encontra força em circunstâncias


extraordinárias.

Gray uma vez me disse que não era um herói.

Eu precisava lembrá-lo de que os heróis vinham em todas as


formas e tamanhos.
Hoje foi um sábado típico passado na biblioteca com um dos
clássicos. Esta semana foi Jane Eyre. Eu já tinha lido três vezes
desde que cheguei aqui.

Eu tinha Wuthering Heights quase memorizado palavra por


palavra agora. Meu coração tinha um fraquinho por Heathcliff.
Meu quebrantamento foi atraído para o quebrantamento dele.

— Vou voltar para Nova York na próxima semana. Eu apenas


pensei que você deveria saber. — Caspian estava na porta da
biblioteca. Sua voz me assustou. A Sra. McTavish nem me disse
que ele estava aqui.

Levantei-me do sofá e caminhei até ele. — Você vai vê-la?

Ele simplesmente assentiu.

Parecia que eu estava me despedindo de Tatum e isso me fez


em pedaços. Eu nem me incomodei em piscar as minhas lágrimas.
— Cuide bem dela por mim, ok?

Eu queria implorar para ele me levar com ele, mas eu sabia


que não adiantaria nada. Ele já tinha me dito que esta era a minha
vida. Eu até comecei a dizer isso para mim mesma.

Caspian engoliu, mas não sorriu. Ele raramente sorria. Então


ele assentiu com a cabeça. — Até o dia em que eu morrer.

Envolvi meus braços ao redor dele e apertei com todas as


minhas forças, quer ele quisesse ou não. Eu não estava pronta
para deixar ir, ainda não. Tê-lo aqui era a única coisa que me
mantinha sã. Vê-lo me fez sentir como Lyric em uma vida que só
conhecia Lauren. Sem Caspian, eu não era nada. Eu não era
ninguém.
Gray deu um passo atrás de mim e arrancou meus braços do
corpo de Caspian. Achei que o ouvi dizer: — Vou entrar em contato.
Você sabe o que tem que fazer. — Mas eu estava muito perdida em
uma tempestade de emoções para ter certeza.

Ele tentou me segurar, mas eu caí de joelhos enquanto


observava o último vestígio da minha antiga vida sair pela porta.
Eu não sou louco.

Eu não estou quebrado.

Estou cansado de tentar tanto.

Crescer com um rótulo ligado ao seu sobrenome significava


que havia certas expectativas. A perfeição era uma delas. Eu
estava longe de ser perfeito. Meu pai acreditava que sim. Minha
mãe fingiu ser. Minha irmã tentou.

Tatum manteve sua vida simples. Meus pais a protegeram de


como o mundo funcionava – como nosso mundo funcionava –
durante a maior parte de sua vida. Ela conheceu a dor. Eles não a
protegeram disso. Mas ela não tinha visto o mal, não do jeito que
eu tinha. Ela teve um vislumbre disso na mesma noite que eu, mas
mesmo assim, papai estava lá para garantir que ela olhasse para
o outro lado.

Ele me deu o teatro como um lugar para esconder meus


fracassos. Tatum usou isso para tornar seus sonhos realidade.
Minha irmã dançou porque sempre dançou. Ela adorava balé
porque essa era sua paixão. Lutei porque sem lutar, a loucura que
se formava dentro de mim explodiria. Havia uma diferença entre
perseguir sonhos e fugir de pesadelos, entre viver nas sombras e
caminhar na escuridão.

Esta noite, a gaiola foi substituída por assentos de auditório,


e o palco estava montado, emoldurado por pesadas cortinas de
veludo. Era a vez de Tatum brilhar. A atmosfera estava carregada
com um tipo diferente de energia. A multidão estava cheia de
ternos e vestidos em vez de jeans e tatuagens. Todo mundo estava
esperando ansiosamente pela apresentação de balé Romeu e
Julieta que minha irmã havia coreografado com perfeição. Eu tinha
visto os ensaios. Era perfeição.

Encontrei minha irmã nos bastidores arrumando tudo para a


apresentação. — Estas são para você. — eu disse enquanto puxava
um buquê de rosas vermelhas das minhas costas e as estendia.
Ela já tinha uma flor branca e roxa enfiada atrás da orelha,
provavelmente de Caspian. Ele estava andando muito por aqui
desde que voltou. — Eu queria ser o primeiro, mas parece que
alguém me venceu.

Ela suspirou, mas eu sabia que ela não estava nem um pouco
frustrada. — Você não ouve nada do que eu digo?

Eu sorri. — Eu sei. Não até o final da apresentação, blá, blá,


blá. Mas com papai fazendo sua festa e toda a emoção, eu não
queria esquecer.

Mamãe organizou uma festa apenas para convidados em que


papai estava anunciando seus planos para a presidência e todos
nós estávamos celebrando a única criança que não o decepcionou
continuamente.
— Obrigada. — disse ela com uma pequena reverência
bonitinha. Essa era minha irmã. Senhorita Boas Maneiras.

— Senhorita Huntington. — o cara na caixa de controle


interrompeu nossa conversa. — Está quase na hora.

— Você deveria ir se sentar. — disse ela com um pequeno


sorriso.

Inclinei-me e beijei sua testa. — Bata-os mortos.

— É quebre a... — Ela balançou a cabeça. — Não importa. Vai.


— Ela me dispensou.

Eu me afastei rindo enquanto me dirigia para a varanda para


sentar com meus pais.

Ao meu redor havia CEOs e diplomatas.

Sua filha é tão talentosa.

Você deve estar muito orgulhoso.

Mamãe e papai ficaram radiantes de orgulho e aceitaram


parabéns e elogios como se fossem eles que tivessem feito todo o
trabalho. Nenhum deles jamais tinha vindo assistir a uma única
das minhas lutas. Papai gostava de fingir que eu era simplesmente
o dono do teatro. Pelo menos, era o que ele dizia a seus amigos,
porque ter um filho que pintava o rosto como a morte e encontrava
satisfação no derramamento de sangue era apenas mais uma das
muitas maneiras que eu o decepcionei.

Os homens apertaram minha mão e me saudaram com


sorrisos de lábios finos.

Bastardos julgadores.
Suas esposas assistiram enquanto eu enrolava um palito na
minha língua, então olhava as tatuagens que desciam pelos meus
braços e pelas minhas mãos. Eu tinha visto aquele olhar sombrio
centenas de vezes, aquele que dizia: — Qualquer homem que se
parece com isso deve ser uma aberração. — logo antes de seus
olhos caírem na minha virilha.

Eu puxei o palito da minha boca, então lambi meus lábios,


nunca tirando meu olhar delas, silenciosamente respondendo a
seus pensamentos não ditos.

Isso mesmo, querida. Eu sou o cara que vai te dobrar e comer


essa bunda por trás. Vou enfiar dois dedos na sua boceta
gananciosa e depois foder até você chorar. E aquela coisa que você
gosta? Aquilo que você tem vergonha de contar a alguém? Sim, farei
isso também.

Eu enfiei o palito de volta na minha boca com uma risada,


então me sentei ao lado de Ethan. Fiz com que ele me
acompanhasse, porque não gostava de ser torturado sozinho.

Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido. — Lembre-me


porque estamos aqui novamente.

— Porque ela é minha irmã, seu idiota. E isso é importante


para ela.

— Sebastian vai dar uma festa mais tarde. Você vai aparecer?

Minha mãe nos lançou um olhar enquanto se sentava do outro


lado de mim.

— Não. — Acenei com a cabeça na direção de mamãe. — Merda


de família.
Eu não fazia festas de qualquer maneira – não do tipo que
minha mãe estava dando ou do tipo que Ethan estava falando.
Ethan sabia disso. Mas ele estava sempre tentando encontrar
maneiras de me tirar da minha cabeça.

As luzes diminuíram e as pesadas cortinas de veludo se


abriram no palco. Mamãe me cutucou com o cotovelo.

Eu ri e me recostei na cadeira, então assisti o balé em silêncio.

Mamãe organizou uma festa elaborada em um salão de baile


próximo depois do balé. A sala estava cheia de pessoas celebrando
o sonho da minha irmã e esperando meu pai anunciar que queria
mudar o mundo. Otários. Falsos filhos da puta. Pessoas que te
queimariam na fogueira por um centavo se você tweetasse algo
politicamente incorreto. Se eu não tivesse uma luta no mês
seguinte, teria fumado uma gorda no banheiro.

Papai vasculhava a sala, sorrindo e apertando as mãos.


Mamãe passou de grupo em grupo, jogando a cabeça para trás e
rindo em todos os momentos apropriados. Seu diamante de quatro
quilates brilhava à luz toda vez que ela levava a mão ao peito para
recuperar o fôlego. Garçons bem vestidos distribuíam aperitivos e
taças de champanhe para banqueiros, juízes e magnatas do setor
imobiliário. Foi uma performance lindamente orquestrada, assim
como o balé que todos acabamos de assistir. A única pessoa
genuína nesta sala – além de mim – era minha irmã.
Observei meu pai apresentar Tatum a um homem que
esbanjava riqueza e más intenções, sinalizando que seus dias de
protegê-la deste mundo haviam acabado. O homem passou o braço
pela cintura de Tatum e sorriu. Isso me lembrou da serpente
deslizando sobre Eva no Jardim do Éden.

Eu não tinha certeza de quanto mais eu poderia aguentar.

Papai se desculpou graças a uma interrupção no corredor,


então aproveitei o momento para me esgueirar por trás de Tatum
e sussurrar em seu ouvido. — Acho que vi uma saída perto do bar.
Se estivermos realmente quietos, talvez ninguém perceba que
estamos saindo.

Ela riu e balançou a cabeça. — Obrigada pela dica, mas eu


tenho isso.

A parte triste era que ela provavelmente tinha tudo sob


controle. Os amigos assustadores de papai estavam à espreita em
torno de Tatum desde que ela tinha dezesseis anos. Enquanto suas
esposas bebiam champanhe e falavam sobre todas as maneiras
diferentes de gastar o dinheiro de seus maridos, os homens
estavam fodendo as empregadas ou cobiçando as adolescentes.
Era um maldito mundo doente.

E eles se perguntavam por que eu não queria fazer parte disso.

Dei de ombros como se não me importasse. — Se você diz.

Na frente da sala, havia uma longa mesa retangular para


nossa família se sentar enquanto papai se deleitava em ser o centro
das atenções. Sentei-me na ponta da mesa ao lado da minha mãe.
Eu não queria nenhuma atenção.
Alguns momentos depois, papai voltou e foi até nossa mesa. A
serpente tinha se sentado ao lado de Tatum como se ele
pertencesse aqui. Esta mesa era para a família. Desde quando esse
filho da puta era considerado família?

Peguei minha bebida, preocupado que não houvesse álcool


suficiente nesta sala para passar esta noite quando papai começou
seu discurso. Então Caspian fodido Donahue invadiu e anunciou
ao mundo que ia se casar com minha irmã. A sala cheia de
caçadores de poder e socialites explodiu em elogios, e papai tocou
junto, agindo como se a notícia não fosse o choque de uma vida.
Não era segredo entre famílias que as nossas não se davam bem.
Eu estava esperando o dia em que um Donahue entregaria uma
grande e saudável dose de foda-se para um Huntington – ou vice-
versa. Eu nunca imaginei que seria Caspian entregando para meu
pai.

Ambos jogaram bem, trocando apertos de mão e sorrisos


largos, mostrando os dentes como dois animais prontos para
rasgar a garganta um do outro. Papai anunciou que estava
concorrendo à presidência, então Tatum correu para a porta – com
Caspian não muito atrás.

E eu pensei que a noite ia ser chata.

Esperei até que papai estivesse sozinho antes de caminhar até


ele e colocar a mão em seu ombro. — Acho que os parabéns estão
em ordem.

Sua mandíbula apertou. — Agora não é a hora, Lincoln.

Ele nunca teve tempo. Ainda bem que eu não dava a mínima.
— Parece que você poderia usar isso. — Entreguei-lhe um copo
de Macallan que peguei no bar aberto. Eu sempre fui o homem
maior, mesmo que ele nunca visse isso.

Ele bebeu do jeito que um garoto de fraternidade faria com


uma cerveja, sibilando após o último gole como se o álcool
queimasse sua garganta.

A serpente de antes subiu. Suas narinas estavam dilatadas e


sua respiração era curta e pesada. — Que porra foi essa,
Huntington? Nós tínhamos um acordo.

Um acordo? Que porra de acordo?

Papai cortou o olhar na minha direção, depois voltou para a


cobra escondida debaixo de um terno Armani. — Já fiz uma
ligação. Está sendo cuidado enquanto falamos.

Mas. Que. Porra?

Algo me dizia que aquele negócio tinha algo a ver com minha
irmã, e meu pai estava falando sobre ela como alguém falaria sobre
uma infestação de baratas.

Desejei ter cuspido naquela bebida. Ou melhor ainda, zoado


com isso.

Eu não gostava de Caspian Donahue, mas agora eu tinha a


sensação de que Tatum estava melhor com ele perseguindo-a do
que estando neste quarto com seu próprio maldito pai.
Doze horas depois, descobrimos que o telefonema que meu pai
falou sobre fazer ontem à noite tinha sido para Kipton Donahue. E
a maneira deles de cuidar das coisas era sequestrar minha irmã e
trazê-la para uma área arborizada de cem acres no norte do estado
de Nova York chamada The Grove. Nas profundezas da floresta,
não havia testemunhas de seu comportamento ritualístico fodido.
Que tipo de filho da puta doente ajudava a sequestrar sua própria
filha? O tipo que forçava seu filho de treze anos a matar um
estranho.

Ainda bem que encontrei o telefone de Tatum na mesa do salão


e liguei para Caspian esta manhã para ver como ela estava. Entre
mim, ele e Chandler, descobrimos onde eles a trouxeram e
manipulamos nosso caminho para dentro. Por manipulado, eu
quis dizer que Chandler pediu um favor a alguns militares de
operações especiais que nos fizeram passar pela entrada da frente.
Eu nem queria saber como ele conhecia essas pessoas.

De lá, lutamos para chegar à beira do lago. Cinco barcos.


Cinco meninas. Todas elas vestindo roupões de seda branca e
drogadas até a inconsciência.

Cinco caras vestindo capas escuras com capuz e máscaras


pretas sólidas estavam na praia, prontos para subir nas conchas.

As próximas horas aconteceram em etapas. Primeiro, os cinco


capitães de barco foram reduzidos a dois garotos ricos e
assustados com o medo da morte gravado em seus olhos. Caspian,
Chandler e eu pegamos os outros três barcos e vagarosamente
cruzamos o lago, dando às meninas tempo suficiente para voltar à
consciência. Ao nosso redor, as árvores ainda estavam cheias,
esperando que suas folhas virassem com a chegada do outono. O
ar estava começando a esfriar, especialmente agora que o sol havia
se posto. O céu estava escuro e claro. Em algum lugar sob esse
mesmo céu, havia um casal olhando para as estrelas e prometendo
um futuro cheio de eternidades. Não haveria mais promessas
minhas, porque nada durava para sempre no meu mundo. A lua
refletia na superfície vidrada do lago. Eu já estive aqui antes – não
neste lago, mas em um igual a ele – pilotando um barco sobre a
água com um corpo a reboque. Naquela época, o corpo era de um
homem chamado Ganância, e eu tinha acabado de cortar sua
medula espinhal com um machado. Esta noite, era minha irmã, e
ela não tinha ideia de que eu era um dos homens mascarados
envoltos em um manto escuro que se elevava sobre ela.

Deixamos as meninas na outra margem, onde um grupo de


homens – cerca de cinquenta deles, todos vestindo capas – se
reuniu em volta de fogueiras e um enorme santuário de leão e
esperou. Um desses homens era meu pai. Ele ficou lá com um
olhar presunçoso em seu rosto enquanto o homem serpente do
salão de baile se aproximou por trás dele e sorriu para Tatum.
Levou cada grama da minha força de vontade para não rasgá-los
do cu até o cotovelo. Tatum deu um tapa em um dos outros caras
enquanto ele tentava ajudá-la a sair do barco, e por uma fração de
segundo minha fachada sombria escorregou. Deixei escapar uma
risada, mas rapidamente reiniciei. Boa garota do caralho.

Então nos movemos para a parte de trás da floresta onde outro


barco nos esperava, este muito maior e mais rápido. Chandler e eu
esperamos no barco enquanto Caspian navegava pela floresta,
além da escuridão e dos sons de gritos femininos que eu ouviria
em meus pesadelos pelo resto da minha vida, e conseguimos
encontrar minha irmã e trazê-la de volta para nosso barco.

A fase seguinte foi a mais gratificante. Depois que deixamos


Caspian e Tatum no aeroporto, certificando-nos de que minha
irmã estava fora de perigo, Chandler e eu voltamos para The Grove.

— Tem certeza que você pode lidar com isso? — ele me


perguntou quando atracamos o barco na parte de trás da floresta.
— Você pode ficar aqui e manter o barco aquecido.

Sim, eu poderia lidar com isso.

Não que eu culpasse Chandler por pensar do jeito que ele


pensava. Desde aquela noite no lago, eu tinha sido rotulado como
o canhão solto, o cara cujas emoções dominavam seu cérebro. E
talvez às vezes elas o fizessem. Mas não desta vez. Desta vez eu
estava pensando claramente. Eu sabia exatamente o que precisava
ser feito. Havia mais quatro garotas lá fora que precisavam ser
salvas e pelo menos cinquenta homens adultos empenhados em
destruí-las.

Eu ri e pulei pela lateral do barco para o cais. — É hora do


show, filho da puta.

Chandler prendeu o barco no cais com um sorriso malicioso


espalhado em seu rosto. — Que os jogos comecem.

Empurramos galhos dispersos para fora do caminho,


enquanto outros que haviam caído trituravam sob nossos passos
pesados. Ao longe, uma coruja avisou aos outros animais que
espreitavam na escuridão que havíamos chegado. Carma estava
aqui para dar as surras que esses homens mereciam.
O espesso bosque de árvores se abria para uma clareira
voltada para o outro lado do lago. As fogueiras de antes ainda
brilhavam alto. Os homens tinham tirado suas capas. A maioria
deles estava em nada além de suas roupas íntimas. Alguns deles
estavam nus até bunda. A última coisa que meus olhos queriam
ver esta noite era um monte de bolas velhas e enrugadas
balançando entre as pernas peludas.

Na minha vida, eu tinha visto alguma merda fodida. Eu tinha


feito alguma merda fodida. Mas isso... a merda que esses homens
estavam fazendo com essas garotas... Foda-se.

E os gritos.

Aqueles gritos eram do que os pesadelos eram feitos.

Uma garota estava pendurada em uma árvore – uma corda


amarrada em seus pulsos, depois enrolada no galho grosso
enquanto suas pernas balançavam no ar. Rastros encharcados de
sangue marcaram caminhos por seu corpo nu onde eles a
marcaram com letras ou palavras que eu não conseguia
compreender. Latim ou alguma merda. Outra garota estava
ajoelhada perto do fogo com as mãos e os pés amarrados atrás das
costas. Um dos homens segurou sua cabeça firme enquanto ele
fodia sua boca enquanto outro estava atrás dela e mijava em sua
bunda.

Eles estavam rindo. Fodidamente rindo da merda vil


acontecendo ao redor deles.

Isso poderia ter sido Tatum. Teria sido Tatum se não


tivéssemos aparecido.
Meu peito arfava com cada respiração que eu dava. A raiva
ferveu dentro de mim, quente em minhas veias. Dei um passo à
frente, pronto para atacar, mas Chandler levou a mão ao meu
peito.

— Ainda não.

Eu puxei sua mão e olhei para ele. — Então, nós apenas


ficamos aqui e assistimos eles fazerem essa merda? Que diabo está
errado com você?

Sua expressão permaneceu dura. — Eu disse, ainda não. —


Então ele cruzou os braços sobre o peito e encostou as costas em
uma árvore.

Isso continuou por mais meia hora. A porra. A degradação. A


depravação. Eu finalmente me sentei, encostado em uma árvore, e
encarei a floresta escura porque eu não aguentava mais.

O que aconteceu com essas meninas? Como elas chegaram


aqui? Eram todas filhas de homens poderosos como meu pai? Não
reconheci nenhuma delas, mas isso não significava que não
fossem irmã de alguém, filha de alguém, primeiro amor de
alguém...

Minha mente girou em círculos e meu pulso disparou em alta


velocidade.

Se eu não tivesse encontrado o telefone de Tatum e ligado para


Caspian, eu saberia que ela estava desaparecida? Não era como se
eu estivesse na lista de pessoas que ele chamaria para pedir ajuda.
Minha irmã teria desaparecido, e eu nunca saberia o que
aconteceu com ela. Assim como eu não sabia o que realmente
aconteceu com Lyric.

Chandler me deu um tapinha no ombro, me puxando de volta


para o momento. — Está na hora.

Levantei-me e olhei para a clareira. Os incêndios começaram


a se extinguir. Corpos estavam espalhados por toda parte,
desmaiados onde quer que pousassem. E os gritos silenciaram.

Finalmente.

— Eu pego essa. — eu disse, apontando para a garota


pendurada na árvore.

Chandler assentiu e foi em direção ao próximo ao fogo.

Encontramos as outras duas garotas dentro de uma cabana,


sangue entre as coxas e as nádegas. Querido Deus. Essas garotas
estavam quebradas e eu não tinha certeza se havia terapia
suficiente no mundo para juntá-las novamente. Essa coisa toda foi
uma foda total para mim. Eu não queria imaginar o que era para
elas.

Chandler trouxe a Garota do Fogo para dentro da cabana


enquanto eu carregava a Garota Três.

Eu a deitei na cama ao lado de uma das outras garotas,


mantendo meu toque hesitante e meu tom gentil. — Acabou agora.
— eu disse a ela. Eu quase disse: Você vai ficar bem. Mas eu sabia
que ela não ficaria. Nenhum de nós o faria.

Cobri seus corpos nus e ensanguentados com uma colcha que


havia sido jogada no chão.
— Fiquem aqui. — Chandler instruiu a todas. Uma das garotas
começou a soluçar incontrolavelmente, e ele se ajoelhou na frente
dela, tomando seu rosto entre as mãos. — Eu preciso que você
confie em mim. — Ele tirou o cabelo do rosto dela. — E fique quieta.
— Foi a única vez que eu vi Chandler Carmichael ser outra coisa
além de frio.

Ele acenou para o homem desmaiado na cama. — Agarre as


pernas dele. — Então ele puxou uma faca do bolso de trás. — Se
ele acordar, vou cortar sua garganta.

Eu espalmei a faca no meu bolso. Se eu não chegar até ele


primeiro.

Pegamos o Homem da Cama e os dois homens que tínhamos


visto perto do fogo e os penduramos na mesma árvore da qual eu
tinha acabado de cortar a garota — nus com um saco de estopa
cheio de sanguessugas que tiramos do lago amarrados.
confortavelmente em torno de seus paus. No momento em que eles
acordassem, estaríamos muito longe e também a capacidade deles
de usar seus paus novamente.
Se eles achavam que eu estava desequilibrado antes, isso não
era nada comparado à loucura dentro de mim depois daquela noite
no The Grove. Se eu preocupava as pessoas antes, eu as
aterrorizava agora.

— Como você chegou aqui? — Eu perguntei à Garota da Árvore


uma vez que tínhamos todos eles no barco.

— Eles me levaram.

Sequestrada. Assim como Tatum, que – junto com Caspian –


agora era dada como morta. Eu sabia melhor e Chandler também,
mas para todos os outros, suas vidas foram perdidas em um
trágico acidente de avião. Uma coisa que toda essa experiência me
ensinou foi que, se a Irmandade quisesse que o mundo acreditasse
que você estava morto, eles garantiriam que o mundo acreditasse
que você estava morto. Houve até um memorial para ela e Caspian,
onde as pessoas acenderam velas e trouxeram flores para o “local
do acidente”. Papai e Kipton compareceram, usando as máscaras
perfeitamente esculpidas de pais em luto. Fiquei no fundo lutando
contra a vontade de enterrar os dois vivos.

Todos os dias, outra peça do quebra-cabeça se encaixava.


Como as engrenagens de uma máquina ou tijolos em uma parede.

Clique, clique, clique.


Tudo começou a se encaixar.

Todas as noites, eu examinava a pista de dança de uma boate


lotada, procurando cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso que me
fazia querer cair de joelhos. Era a mesma rotina todas as vezes.
Sempre procurei, mas nunca encontrei o que procurava.

A música zumbia ao meu redor. Multidões de pessoas moviam-


se no meio da multidão, batendo nos ombros, derramando
bebidas, gritando por cima do barulho. Eu me inclinei contra o
bar, esperando, observando. Até que meu olhar pousou em uma
pequena loira cujos lábios se separaram no momento em que
nossos olhos se encontraram. Não é exatamente a loira que eu
estava procurando, mas ainda é um pêssego para mim. Ela poderia
ser uma morena alta e isso não teria importância. Eu ainda
desejaria que fosse Lyric, não importa como ela se parecesse. Eu
comprei uma bebida para ela, então a levei para o meu loft e
transei com ela com meu pau coberto de cocaína. Eu cobri seu
corpo com pó branco apenas para testar seus limites.

Eu fodi uma garota da mesma forma que fodi Lyric só para ver
se isso a matava também.

Talvez isso tenha me tornado sádico. Talvez isso tenha me


tornado um maldito psicopata.

Eu não tinha foda para dar.

Não mais.

Algo dentro de mim precisava saber. Era a minha maneira


distorcida de encontrar a absolvição.
A melhor parte? Ela não acabou morta no dia seguinte. A pior
parte? Um pedacinho de mim desejou que ela tivesse.

Porque a alternativa significava que havia outra verdade lá


fora, uma verdade diferente daquela com a qual eu vivia nos
últimos quatro anos.

E se eu não tivesse matado Lyric? Eu nunca vi um corpo e ela


teve um funeral de caixão fechado.

Nunca houve um maldito corpo.

E se ela fosse como aquelas garotas do The Grove? Como


Tatum? E se aqueles bastardos a tivessem levado também?
Na tarde seguinte, apareci na casa de Kipton Donahue com
uma tonelada de perguntas, apenas para ser recebido com fita
amarela da polícia e uma série de homens de terno preto me
dizendo que a Sra. Donahue havia pedido privacidade e que eu
poderia prestar minhas condolências no memorial.

Fazia quase duas semanas desde que Caspian “morreu” e eu


já tinha ido àquele memorial, o que só poderia significar…

Bem, eu serei amaldiçoado. Alguém chegou a Kipton antes que


eu pudesse.

Vinte minutos depois, eu estava entrando no caminho circular


da casa dos meus pais, muito perdido em meus pensamentos para
lembrar se os semáforos pelos quais passei eram verdes ou
vermelhos. Não era como se eu desse duas fodas de qualquer
maneira. Não mais. A enorme mansão feita de tijolos cinza com
acabamento branco não parecia tão convidativa quanto quando eu
estava crescendo aqui.

Estacionei o carro e caminhei até a entrada lateral da cozinha,


esperando que a porta estivesse destrancada, mas sabendo que
provavelmente não estava. Papai estava tão paranoico quanto eles
vieram, e se ele tivesse recebido as notícias sobre Donahue, eu
meio que esperava que guardas armados estivessem de guarda.
Felizmente, Myra, uma das governantas, estava saindo assim
que virei a esquina.

Agarrei a porta, mantendo-a aberta para ela porque, apesar do


que as tatuagens diziam, eu era um cavalheiro. — Boa tarde, Myra.
— eu disse com um sorriso.

Suas bochechas coraram com o calor quando seu olhar caiu


no chão. — Boa tarde, Sr. Huntington.

— Sr. Huntington é meu pai. — eu disse quando ela olhou para


mim. — Sou apenas Lincoln.

Ela puxou o lábio entre os dentes. Ah, foda-se. Aqui vamos nós.
— Bom te ver de novo... — uma pausa, então um pequeno sorriso.
— …Lincoln.

— Mesmo aqui. — Eu entrei na casa antes que ela tivesse


alguma ideia ruim. — Tenha um ótimo dia. — eu disse com um
aceno enquanto fechava a porta.

A casa estava quieta. Eu me inclinei contra a grande ilha na


cozinha, olhando além da mesa de café da manhã através da
parede de janelas que davam para a piscina. Respirei o aroma
fresco de limão de qualquer limpador que Myra acabara de usar.

Peguei uma maçã vermelha brilhante da fruteira e a joguei no


ar. Então outra. E uma terceira. Até que eu estava na cozinha
fazendo malabarismos com maçãs como um maldito palhaço de
circo sem nada melhor para fazer, como se eu não tivesse um
milhão de perguntas passando pela minha cabeça.

Eu nem sabia que papai tinha entrado até ouvir sua voz. — O
que você está fazendo aqui, Lincoln? — Ele parecia abalado. — E
como você entrou? — Papai olhou em volta como se esperasse
encontrar vidro quebrado, uma porta quebrada ou alguma merda.

Joguei uma das maçãs do outro lado da sala, rindo para mim
mesmo quando ele se esforçou para pegá-la. Larguei outra maçã
de volta na fruteira, depois levei a restante à boca, cravando os
dentes com um estalo alto. Um pouco do suco escorreu sobre meu
lábio e no meu queixo.

— Bom ver você também, Pops. — Limpei o queixo com as


costas da mão enquanto terminava de mastigar. — Você está
pronto para eu sacar meu pau e foder seu mundo? Ou você quer
um pouco de preliminares primeiro?

— Você está chapado? — Ele colocou a maçã na fruteira, então


olhou para mim. — Você sabe melhor do que entrar na minha casa
com essa merda.

— O pau, é. — Limpei minha garganta. — Kipton Donahue


está morto.

Ele engoliu em seco. — Estou ciente.

Eu levantei uma sobrancelha. — Sim? Você também sabe que


eu sei que tipo de homem ele era... o que ele fez... o que você faz...
— Dei a volta na ilha e fiquei bem na frente dele. — …para aquelas
garotas. As que 'fugiram' ou 'desapareceram'... — Dei outro passo
em direção a ele, mas ele se recusou a olhar para mim. — …ou
tiveram 'overdose acidental'. — Seus olhos dispararam. Isso
chamou a atenção dele. Meu coração estava batendo para fora do
meu peito, mas eu mantive uma voz calma e uma respiração
constante.
Negue. Apenas negue, porra, para que eu possa seguir em
frente.

— Você não tem ideia do que está falando.

Não uma negação.

Porra.

— Ah, mas eu tenho. — Eu estava lá. Eu vi as coisas que eles


fizeram. Eu o vi. Um homem que ajudaria a sequestrar sua própria
filha não hesitaria em levar sua melhor amiga. Tatum sabia que
algo não estava certo sobre a morte de Lyric. Ela fez perguntas por
semanas sem ter ideia do que estava procurando, o que esses
homens estavam fazendo nas profundezas da floresta. Eu também
não sabia. Não sobre isso, sobre as meninas. Mas agora eu fiz.
Agora eu tinha minhas próprias perguntas, e alguém ia me dar
algumas fodidas respostas.

Inclinei-me para frente e dei um tapinha no ombro de papai,


trazendo minha boca bem perto de sua orelha. — Eu vou descobrir
o que realmente aconteceu com Lyric, e quando eu descobrir, é
melhor você rezar a Deus que você não tenha nada a ver com isso.

Ele zombou.

Eu não era mais o garoto de treze anos que era desajeitado


com um machado. Eu tinha ido ao Inferno e voltado, mas não era
o cara que atravessou o fogo e saiu um homem mais forte. Eu não
renasci das cinzas ou qualquer dessas besteiras metafóricas. Não,
não fui eu. Eu não sobrevivi ao fogo. Eu me tornei.

A raiva brilhou em seus olhos. — Se você teve alguma coisa a


ver com a morte de Donahue...
Eu pressionei um dedo em seus lábios e estalei minha língua.
— Tsk, tsk, tsk. — Afastei meu dedo e estreitei meu olhar no dele.
— Eu vou parar você aí mesmo. Há apenas um assassino nesta
sala, e não sou eu. Ainda não, de qualquer maneira.

Ele cerrou os dentes. — Saia.

Dei outra mordida na maçã e lhe dei uma piscadela. — Boa


conversa, pai. Vejo você em breve. — E então me virei e caminhei
em direção à porta.

Ele iria quebrar. Eu ia ter certeza disso.


Meu pai não quebrou.

Em vez disso, ele reforçou sua segurança e me evitou como


uma praga. Mamãe nem atendeu minhas ligações.

Pais da porra do ano.

Eu estava procurando por respostas por meses. Voltei para


The Grove. De volta à Câmara. Apareci no escritório de Pierce
Carmichael – sem aviso prévio – e fui arrastado pela segurança sob
a mira de uma arma. Eu até me desculpei com o pedaço de merda
policial de aluguel que eu bati na cobertura de Lyric naquele dia
para tentar fazê-lo falar. Ninguém tinha respostas.

Felizmente, esta noite era a noite da luta, e eu estava mais


pronto do que nunca. Os demônios dentro de mim estavam
implorando para serem libertados.

Meu primeiro jab3 foi no rim dele. O segundo atingiu-o com


força no meio da mandíbula. A adrenalina correu pela minha
corrente sanguínea. Isso era matar ou ser morto. Éramos duas
pessoas treinadas para lutar. Cada um de nós se concentrou em
garantir que o outro não saísse daqui sem nossa marca em sua
carne. Outro jab, este na cabeça. E então ele caiu.

3
Golpe de luta; gancho.
Eu estava em cima dele, enganchando meu braço ao redor de
sua garganta.

As luzes se apagaram. O rugido da multidão se acalmou. Tudo


o que ouvi foi o thwump, thwump, thwumping do meu pulso em
meus ouvidos. Tudo o que eu queria fazer era apertar. Mais duros.
Mais apertado.

Twump, twump, twump.

Fechei os olhos e tentei imaginar o rosto de Lyric, focar em sua


doce voz me dizendo que tinha acabado, que eu tinha vencido, que
meus demônios podiam descansar agora.

Mas algo continuou batendo na minha coxa, interrompendo


meus pensamentos. Os gritos ao fundo ficaram cada vez mais
altos. Cada vez mais perto.

— Ele está batendo! — As mãos de alguém estavam em meus


ombros, me puxando para longe do meu oponente. — Ele está
batendo, Lincoln! Jesus Cristo.

Meus olhos se abriram, a luz brilhante me cegando. O suor


encharcava meu cabelo e escorria da minha testa, queimando
meus olhos. Respirei fundo e me afastei do cara embaixo de mim.
Seus olhos estavam vidrados e seus lábios estavam ficando azuis.

Merda.

Eu tinha me perdido. Uma torção do meu ombro e eu teria


dobrado seu pescoço.

Eu nunca me perdi assim em uma luta.

Eu era agressivo, claro. Mas nunca perigoso.


Eu sentei lá com as costas contra a gaiola, não querendo me
levantar e reivindicar a vitória, não assim.

Deuce se agachou na minha frente e me olhou nos olhos. —


Você está bem? Que porra foi essa?

Eu me forcei a inspirar e expirar. Meu olhar estava fixo no cara


ainda deitado no tapete na minha frente. Seu olhar estava
seguindo as pontas dos dedos do treinador, e a cor voltou ao seu
rosto.

Deuce se levantou, estendendo a mão para me puxar para


cima. — Ei. — Seus olhos suavizaram. — Dê um tempo.

Passei meus dedos pelo meu cabelo enquanto examinava a


multidão silenciosa. Então estendi minha mão e puxei meu
oponente do chão para um abraço. — Eu sinto muito por isso.

Ele me deu um tapinha nas costas. — Tudo bem, cara. Eu vou


te pegar na próxima vez. — Ouvi o sorriso em sua voz.

Eu me afastei dele e sorri. — Sim... — Eu balancei minha


cabeça. — Provavelmente não. — Então eu atirei-lhe uma
piscadela e saí da gaiola.

No chuveiro, deixei a água quente acalmar meu corpo dolorido.


Esfreguei a mão no rosto, manchando a pintura do crânio e
observando os rastros de água manchada de preto escorrerem pelo
meu corpo e girarem aos meus pés antes de desaparecerem pelo
ralo.

Eu poderia tê-lo matado.

Eu o teria matado.

Um baseado soava muito bem agora. Eu tinha que sair um


pouco da minha própria cabeça.

Fiquei ali, entorpecido, por mais alguns minutos antes de


ensaboar e lavar o resto da tinta do meu rosto. O ar frio pinicava
minha pele quando saí do chuveiro para a sala cheia de vapor.

Lúcifer, que estava deitado no chão em seu lugar de sempre,


levantou a cabeça enquanto eu envolvia uma toalha na cintura.

Um segundo depois, houve uma batida na porta,


provavelmente Deuce.

Eu pisquei para Lúcifer. Bom menino.

Eu caminhei pela madeira, deixando um rastro de pegadas


molhadas atrás de mim porque eu não tinha me dado ao trabalho
de secar ainda. Eu apertei a toalha em volta da minha cintura,
então abri a porta e fiquei cara a cara com Chandler maldito
Carmichael.

Que porra?

Eu inclinei minha cabeça para fora da porta, estendendo


minha mão para sentir a temperatura no ar. — Não. Não parece
que o inferno está congelando.
Ele passou por mim, roçando meu ombro enquanto entrava.
— Foda-se, espertinho. Estou aqui para lhe dar isso. — Ele me
entregou um envelope branco sólido.

Lúcifer rosnou. Eu esfreguei o topo de sua cabeça, deixando-


o saber que estava tudo bem.

Chandler riu, fodidamente riu de um maldito cão do diabo.


Toda vez que eu o via, ficava mais certo de que o cara era mais
fodido do que eu.

Eu não o tinha visto desde a noite em que ele me fez um sólido


e ajudou a salvar minha irmã – junto com as outras quatro
garotas. Eu sempre serei grato a ele por isso. Não significava que
éramos amigos.

— O que é isto? — Eu perguntei.

Meu primeiro palpite? Uma ordem de restrição me dizendo


para ficar longe de seu pai.

Ele se inclinou contra a parede, os pés cruzados no tornozelo,


e deu de ombros.

— Você não sabe? — Eu me sentei no meu sofá de couro.

Outro encolher de ombros.

Estiquei minhas pernas, apoiando meus pés na mesa de café.


— Certo. E meu pau não faz as garotas chorarem.

Chandler empurrou a parede. — Se seu pau é tão feio, isso é


problema seu. Apenas abra a porra do envelope para que eu possa
ir embora. Eu tenho merda para fazer.

— Eu nunca disse que era feio, filho da puta.


Ele acenou com a cabeça em direção à minha mão. — O
envelope, Lincoln.

— Foda-se. — Eu deveria ter me levantado e servido uma


bebida, fumado um cigarro e feito aquele idiota esperar até que eu
estivesse pronta. Em vez disso, deslizei meu dedo ao longo da
costura e abri o envelope.

Tatum Elaine Huntington

Caspian Rhys Donahue

Solicitam o prazer de sua companhia em seu casamento.

Sábado, dia vinte e seis de março de dois mil e vinte e dois, às


duas horas.

Um convite de casamento. Minha irmãzinha estava se


casando, com um cara que nasci para odiar. Mas eu não o odiava.
Como eu poderia? Ele a salvou.

Caspian salvou Tatum do jeito que eu deveria ter salvado


Lyric. Mas eu era sem noção. Egoísta. Envolto demais em minha
própria merda para me preocupar com a de qualquer outra pessoa,
muito perdido em uma nuvem de sopro e fumaça para me salvar,
muito menos qualquer outra pessoa. E a única pessoa nesta Terra
pela qual eu teria desistido de tudo acabou morta – ou sequestrada
– porque eu era fraco demais para tentar. Agora era tarde demais.
Eu estava começando a pensar que nunca saberia a verdade.
Eu não tinha uma noite de sono tranquila em quatro anos.
Quatro anos. Ela se foi há quatro malditos anos. Parecia uma vida
inteira; uma vida inteira vagando como uma causa perdida.

— Você vai estar lá, ou o quê? — perguntou Chandler.

Merda, eu esqueci que ele estava aqui.

Joguei o envelope na mesa de centro e me sentei ereto. — Sim.


Eu estarei lá.
Com a morte de Caspian, e tendo feito qualquer conexão física
com minha antiga vida com ele, eu estava perdida novamente.
Fazia meses desde que ele partiu, e eu ainda não tinha parado de
chorar até dormir à noite. Ele era a ponte entre minha antiga vida
e minha nova. No fundo da minha mente, sempre pensei que talvez
houvesse uma chance de usar aquela ponte para escapar. Talvez
eu pudesse voltar. Agora ele se foi e aquela ponte caiu.

Gray passou mais tempo em casa. Jantamos juntos. Ele até


me encontrou na biblioteca para uma bebida de vez em quando.

Nós éramos amigos.

Mas eu ainda estava sozinha. Senti falta de ser desejada. Senti


falta de ser tocada. Meus próprios dedos e o rosto de Lincoln em
uma tela de seis polegadas não foram suficientes.

Talvez se eu deixasse Gray bêbado o suficiente...

Talvez se eu usasse aquele vestido preto com alças finas e


rasgasse o lado…

Talvez eu pudesse fazê-lo esquecer...

Talvez nós dois pudéssemos.


Eu não era mais a adolescente que ele trouxe para casa tantos
anos atrás. Eu era uma mulher de vinte e dois anos agora, mas a
vida me fez sentir muito mais velha do que isso.

O sol estava brilhando hoje, mas havia um frio no ar, então eu


estava lendo dentro em vez de no jardim. Gray me deu acesso à
internet no meu telefone e uma conta para baixar toda a
obscenidade digital que eu queria. Eu estava na metade de um
livro sobre um padre fazendo algumas coisas profanas com água
benta, sem fôlego e pronta para enfiar minha mão dentro da minha
calcinha quando Gray entrou no meu quarto.

Larguei meu telefone e me sentei ereta, certa de que minha


pele estava corada. — Pelo amor de Deus, você não bate?

Seu olhar se moveu do meu rosto aquecido para o telefone na


minha cama, em seguida, de volta para encontrar meus olhos. —
Você está assistindo pornô? Se é assim que você passa suas
tardes, precisamos encontrar um hobby para você. Andar a cavalo,
talvez.

Certo, porque a cura para uma vagina faminta é escarranchá-


la em cima de uma fera trotando de 300 quilos.

Limpei minha garganta. — Eu não estava assistindo


pornografia. — Eu estava lendo.

Ele se moveu mais para dentro do meu quarto, parando ao pé


da cama. O canto de sua boca se curvou em um sorriso quando
ele estendeu um envelope branco. — Isto é para você.
Eu fugi para o final da cama e peguei o envelope. Estava em
branco, exceto pelo meu nome – meu nome verdadeiro – escrito na
frente. Srta. Lyric Matthews.

Minha garganta se apertou em torno de um nó. — O que é


isto?

Ele sorriu. — Abra.

Deslizei meu dedo ao longo da aba e puxei o único pedaço de


cartolina pesada de dentro.

Tatum Elaine Huntington

Caspian Rhys Donahue

Solicitam o prazer de sua companhia em seu casamento.

Sábado, dia vinte e seis de março de dois mil e vinte e dois às


duas horas.

Eu li novamente.

E de novo.

Até que meus olhos se encheram de lágrimas e eu não


consegui mais ver as palavras. O tempo desacelerou até quase
parar.

Tick.

Tiick.

Tiiiiick.
Toda a força deixou meu corpo em um assobio rápido, fazendo-
me afundar ainda mais na cama. Gray estava dizendo palavras.
Eu ouvi sua voz aveludada flutuando no ar, mas tudo que eu
conseguia focar era o convite na minha frente.

— Ela vai se casar. — Minha voz falhou com as palavras. Meus


ombros tremeram enquanto lágrimas, felizes e tristes, manchavam
meu rosto. — Eu sabia que ele a amava. — eu disse através de um
sorriso fraco.

Minha melhor amiga vai se casar.

Meu coração estava na minha garganta. Esta foi outra das


crueldades gentis de Gray, outro momento em minhas mãos, em
seguida, arrancado.

Eu segurei o convite no meu peito. — Obrigada por


compartilhar isso comigo. — Talvez, se eu tivesse sorte, ele
encontrasse uma foto da cerimônia e a compartilhasse também.

Ele colocou um dedo sob meu queixo e levantou minha cabeça.


— Você deveria ir.

A respiração deixou meus pulmões. Não havia nenhuma


maneira que eu o ouvi direito.

Seu polegar varreu minha bochecha, manchando minhas


lágrimas na minha pele. — Vou levá-la e ficar em um lugar
próximo.

— Para o casamento? — Eu solucei em um soluço.

Ele sorriu, e meu Deus, era lindo. — Sim. Para o casamento.

— Como? As pessoas não vão me ver? — Meu coração estava


acelerado.
— Não. É uma cerimônia privada. Ninguém vai te ver.

— Mas Tatum vai…

— Sim. Tatum vai.

— Ela sabe? — Eu passei meus dedos sob meus olhos. — Que


estou viva.

— Não. — Ele levou a outra mão ao meu rosto. — Mas está na


hora.

O que isso significava mesmo? Hora do quê?

Isso não era real. De jeito nenhum isso era real. Em menos de
um mês, eu envolveria meus braços em volta da minha melhor
amiga novamente. Eu ia estar lá para o dia mais importante de sua
vida.

Olhei para Gray. Nos quatro anos em que estive aqui, meu
coração nunca esteve tão cheio de esperança quanto agora. Nem
mesmo quando ele me deu o celular.

— Obrigada. — eu disse quando outra lágrima caiu. Esta rolou


pela minha bochecha bem ao lado da minha boca.

Gray pegou com a ponta do polegar, então traçou meu lábio


inferior.

Talvez fossem as emoções provocadas pelo convite. Talvez


fosse minha necessidade de deixá-lo saber o quanto eu estava
grata. Talvez fosse o fogo formigando na minha barriga de ler todas
aquelas palavras sensuais.

Mas meus lábios se separaram ao seu toque, então minha


língua serpenteou para fora, molhando a ponta de seu dedo.
Seu pomo de Adão balançava em sua garganta, e era a coisa
mais sexy de todas. O azul brilhante em seus olhos escureceu para
rivalizar com o céu da meia-noite. Era isso. Ele finalmente ia ceder.

Meu peito subia e descia a cada respiração. Seu olhar caiu


para a crista dos meus seios espreitando da regata que eu estava
vestindo, então ele lambeu os lábios. Fechei os olhos e esperei que
ele me beijasse.

Mesmo que fosse aí que terminasse. Se não fosse além disso.

Meu coração martelava no meu peito.

E então... nada.

Meus olhos se abriram para encontrá-lo apertando a


mandíbula. Era como se um balão tivesse esvaziado. O som do
meu coração não inchando quase podia ser ouvido enchendo a
sala.

— Por que você faz isso comigo? — Olhei para a ereção contra
o zíper de sua calça azul escura. — Para você mesmo? — Eu olhei
de volta para ele. — Para nós?

— Ele vai estar lá. — A voz de Gray estava tensa.

Meu pulso batia em meus ouvidos. — Quem?

— Você sabe quem.

Eu sabia quem.

— Ele é irmão dela, — Gray continuou.

Certo. Claro, Lincoln estaria no casamento de sua irmã.

O ar parecia apertado em meus pulmões. — Ele vai sozinho?


Por favor, diga que ele vai sozinho. Eu não tinha o direito de
desejar isso quando trinta segundos atrás, eu queria a boca de
outro homem na minha, um homem que, para todos os efeitos, era
meu marido.

— Não sei.

— Achei que você soubesse de tudo.

Gray riu. — Eu não sei disso. — Ele tirou as mãos do meu


rosto e se sentou ao meu lado na cama. — Mas se você precisar de
mim... se achar que é demais para você... não estarei longe.

O silêncio se estendeu através do tempo e do espaço. Uma


tempestade de emoções me envolveu, ameaçando me engolir
inteira. Temor. Antecipação. Ter esperança.

Ele ia estar lá.

Eu ia ver Lincoln.
Quando Gray disse que não estaria longe, aparentemente ele
quis dizer que estaria bem ao lado. Voamos da Escócia para
Barbados, depois pegamos um barco particular para uma ilha
diferente. Apenas no caso de alguém estar assistindo. Parecia que
alguém estava sempre observando. Gray até trouxe a Sra.
McTavish junto. Ele disse que era para as aparências. Eu disse
que era a maneira dele de dar a ela umas férias muito necessárias,
mesmo que fossem apenas alguns dias.

Agora mesmo, meu coração estava enlouquecendo no meu


peito enquanto eu estava na porta da nova casa de Tatum,
observando-a olhar por cima do vestido de noiva. Eu sofria por este
momento. Eu já tinha perdido tanto.

Caspian me deixou entrar e me deixou em paz. Ele disse que


esta era a nossa hora.

Eu imaginei essa cena um milhão de vezes nos últimos quatro


anos e meio, e agora que estava aqui, eu não tinha certeza se meu
coração aguentaria. Respirei fundo para acalmar meus nervos
frenéticos.

Seu longo cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo, e


sua pele parecia ter sido suavemente beijada pelo sol,
provavelmente por viver aqui nesta ilha. Suas curvas tinham se
preenchido um pouco mais, mas ela ainda tinha o corpo esguio de
uma dançarina. Ela parecia exatamente a mesma... mas diferente.
Ela parecia esmagadoramente feliz.

E isso me deixou imensamente feliz.

Eu acidentalmente me inclinei na porta, abrindo-a com um


rangido.

— Você realmente não podia esperar mais um dia? — Tatum


disse enquanto se virava.

Pisquei para conter as lágrimas e sorri. — Você não achou que


eu ia deixar minha melhor amiga se casar sem mim?

A reação dela foi imediata. Ela caiu de joelhos, as lágrimas


caindo livremente pelo rosto, como se ela tivesse perdido a vontade
ou a capacidade de se manter de pé. Como se ela tivesse se
mantido forte por cinco anos e agora estava acabada. Agora, ela
poderia deixar o ato forte ir e apenas... ser.

Eu conhecia esse sentimento porque eu senti isso também


quando caí ao lado dela e a puxei para um abraço.

— Como? — Sua voz falhou em meio às lágrimas.

Eu bufei uma risada. — Caspian.

Ela olhou para mim. — Caspian? — ela perguntou. E então ela


se desfez. Seu corpo tremeu com seus soluços enquanto ela lutava
para controlá-lo.

Eu não a culpava. Eu queria desmoronar também. Este era


um dia que eu nunca pensei que veria novamente, eu na mesma
sala com a única pessoa que sempre me entendeu. Bem, uma das
duas pessoas que me entenderam. Minhas emoções estavam em
todo lugar, e eu ainda não tinha visto Lincoln.

Segurei Tatum perto e esfreguei minha mão em seu cabelo. Eu


não poderia desmoronar. Uma de nós tinha que ser forte. Eu
precisava dela, mas ela estava vivendo com dor nos últimos quatro
anos e agora ela precisava mais de mim.

Eu vi o olhar em seus olhos quando eu disse o nome de


Caspian. — Eu sei o que você está pensando, e ele não é o cara
mau aqui. — Passei meus dedos sob seus olhos, enxugando suas
lágrimas. — Mas temos a noite toda para falar sobre isso. Agora,
eu quero ver aquele corpo lindo de merda. — Eu coloquei minha
mão sobre um de seus seios. — Seriamente. Que porra é essa, T?

Ela riu e fungou e assim, eu tinha minha melhor amiga de


volta.
Eu só estava na casa de Tatum na ilha há algumas horas.
Minha irmã estava lá em cima fazendo o que diabos as garotas
fizeram na noite anterior ao casamento. Chandler estava fazendo
o que diabos ele fazia. Caspian estava em algum lugar planejando
os próximos passos para derrubar a Irmandade Obsidian. E eu
estava na sala de estar, tomando uma cerveja e vendo o luar refletir
nas ondas através das janelas do chão ao teto quando o movimento
no pé da escada chamou a atenção pelo canto do meu olho.

Eu tinha sido esfaqueado, tinha meu nariz quebrado,


mandíbula quebrada, costelas quebradas e meu rosto marcado por
um caco de vidro quebrado. Mas eu nunca senti o tipo de dor que
senti no momento em que virei minha cabeça e a vi parada ali.

Não havia dúvidas de que era Lyric. Durante anos, eu via o


rosto dela toda vez que fechava os olhos. Mas ela estava diferente.
Esta não era a minha Lyric. Seu olhar caiu no chão no segundo em
que ela me encontrou olhando. A luta em seus olhos diminuiu, a
luz escureceu, assim como seu novo cabelo preto e pele bronzeada.
O vestido branco que ela usava estava abotoado todo como uma
camisa masculina, mas ela tinha deixado os botões de cima
desabotoados apenas o suficiente para o tecido cair frouxamente
em um de seus ombros esbeltos.
Minha mão descansava no braço do sofá, a garrafa de cerveja
verde escura pendurada entre meus dedos. Meu cérebro lutou
para registrar o fato de que uma garota morta acabou de entrar na
sala. Eu nem estava chapado, não desta vez.

Respire. Entra pelo nariz. Sai pela boca.

Meu batimento cardíaco pulsava em meus ouvidos. Minhas


mãos tremeram. Meu joelho saltou para cima e para baixo em um
ritmo rápido enquanto eu trabalhava para acalmar minha
respiração.

Eu estudei a mulher no pé da escada, a garota com quem eu


tinha passado horas deitado na cama, nossos corpos pressionados
um contra o outro enquanto meus dedos traçavam cada
centímetro dela, a curva de seus quadris, a curva em sua cintura.,
a curva do seio. Até que eu gravei cada parte dela na memória.
Agora ela não era nada mais do que uma estranha.

Mas ela estava aqui.

Ela estava viva.

Aquela voz irritante no fundo da minha mente me dizendo que


ela não morreu naquela noite estava certa.

Cada fodido pesadelo que eu tive desde a noite em que


deixamos The Grove veio à vida bem diante dos meus olhos. A
única diferença era que ela não parecia ferida, ou espancada, ou
quebrada. Ela não se parecia em nada com aquelas garotas do The
Grove. Ela não parecia com alguém que tinha sido levada. Ela
apenas parecia... triste.

Como diabos isso era possível?


Eu tinha visto, não era impossível.

— Devemos abrir o vinho e bolachas? Talvez um rosário?


Encontrar uma estátua chorando? Porra, eu não sei. Qual é o
protocolo quando você testemunha a porra de um milagre? — Meu
peito arfava com cada palavra. — Isso é o que é isso, certo? Um
milagre? — Eu cerrei os dentes. — Ou eu estou apenas perdendo
minha maldita mente?

— Linc... — A voz terna de Lyric chamou meu nome, o nome


que só ela já havia me chamado. — Eu posso explicar.

— Ela fala. — Eu bebi o resto da minha cerveja porque


enquanto minha mente sabia que era uma possibilidade, ver isso...
foda-se. Eu não poderia nem processar isso agora.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas ela não fez nada para
detê-las.

— Você esteve aqui esse tempo todo, porra? — Minha voz


estava mais alta do que eu pretendia, mas quem se importava.

Caspian e Chandler sabiam sobre The Hunt. Eles sabiam que


tipo de merda nossos pais faziam para se divertir. Eles descobriram
que Lyric foi levada e a resgataram também? Eles a estavam
escondendo aqui?

Olhei ao redor da sala para um deles, desafiando-os a entrar


para que eu pudesse arrancar a vida de seus corpos. — Eu era o
único que não estava jogando esse jogo doentio? — Minha voz
falhou. Minha visão turvou. Eu estava me perdendo. De jeito
nenhum eu ia me deixar me perder.
Ela fechou o espaço entre nós. Quando sua mão alcançou a
minha, meu sangue gelou.

Eu puxei minha mão de volta. — Nós dois sabemos como você


é boa em guardar segredos.

— Lincoln. — Ela engasgou com um soluço quando caiu de


joelhos entre minhas pernas. — Por favor.

— Eu pensei que você estava morta. — Minhas palavras


estavam atadas em veneno, frias e distantes. — Achei que era
minha culpa. — Eu apertei minha mandíbula. — Por quase cinco
malditos anos, Lyric. Convivo com isso há quase cinco anos. Você
tem alguma ideia de como é isso? — Pensando que ela estava
morta, mas nunca realmente sabendo. Imaginando se fui eu quem
a matou. Imaginando-a sendo estuprada e torturada e depois
morta. E o tempo todo ela estava bem. Nem um maldito arranhão
nela. Ela nem parecia assustada.

— Eu sinto muito. — Ela colocou as mãos nos meus joelhos.


— Eu não sabia que você pensava... Eu não sabia que você se
culpava. Eu sinto muito.

Eu estava certo antes. Não havia mais luta nela. A garota mal-
humorada por quem me apaixonei todos esses anos atrás era
apenas uma casca de mulher agora.

Meu corpo inteiro tremeu ao seu toque. — Onde você esteve?


Todo esse tempo? — Meu coração batia contra minha caixa
torácica. — Onde diabos você esteve? — Por favor, não diga aqui.

— Eles me levaram. — Seus olhos começaram a lacrimejar


novamente. — Eles me penhoraram. Venderam-me. Como
propriedade. — As lágrimas derramaram sobre suas bochechas.
Ela balançou a cabeça como se estivesse tentando afastar a
memória. — Eu não podia... eu não tinha como... — Sua cabeça
caiu no meu colo, suas palavras perdidas em soluços sem fôlego.

Jesus Cristo.

Suas palavras se repetiam em minha mente, girando, girando,


fora de controle, até que uma raiva incandescente disparou em
minhas veias. Eles me levaram.

— Quem? — Eu não iria dormir até que eu os rasgasse,


membro por membro. — Quem são eles? — Eu perguntei, mesmo
sabendo exatamente quem eles eram. Eu precisava ouvi-la dizer
isso.

— Não importa.

Porra, isso não aconteceu.

Eu queria perguntar a ela como. Como ela chegou aqui? Mas


eu precisava tocá-la primeiro. Eu precisava senti-la.

A garrafa de cerveja caiu no chão, rolando sobre o tapete de lã


e parando quando atingiu a mesa de centro. Peguei seu rosto em
minhas mãos, pedindo-lhe para olhar para mim. — Venha aqui. —
Esfreguei a parte superior da minha coxa, em seguida, acariciei
duas vezes. — Bem aqui.

Ela subiu no meu colo e foda-me se não me senti em casa.

Eu enterrei meu rosto em seu cabelo e a respirei. — Ssssh. Eu


tenho você agora, baby. E eu juro pela minha vida que farei cada
um deles pagar.
Tudo o que Lincoln sentia, sentia com ferocidade. Raiva. Dor.
Paixão. Ele sempre foi assim. Era uma das coisas que eu mais
amava nele.

Enquanto eu me sentava aqui em seu colo, o ar ao nosso redor


estava carregado com tudo isso. Suas emoções eram uma
presença. O vestido que eu estava usando subia pelas minhas
coxas, expondo a pele quente ao ar frio da noite. O tecido de sua
calça jeans era áspero contra minha carne lisa.

Sua mão deslizou pela minha coxa e eu arrastei meus dedos


sobre a tinta em seus antebraços, em suas mãos, parando para
esfregar a faixa preta em seu dedo médio. Dei-lhe aquele anel pelo
seu décimo nono aniversário. Desde então, ele adicionou mais três
anéis à sua coleção. Deus, suas mãos eram sexy, e eu as queria
por todo o meu corpo. Precisava mais do que tudo.

Ele aninhou o rosto na curva do meu pescoço e respirou contra


a minha pele. — Porra, eu senti sua falta.

Não tanto quanto eu senti sua falta.

Lincoln enfiou as pontas dos dedos em minhas coxas, duras e


contundentes, como se ele precisasse ter certeza de que eu era
real. Sua outra mão deslizou pela minha clavícula e pela minha
garganta.
Deus.

Isto.

Cada célula do meu corpo estava acordada e formigando,


queimando com a necessidade. Sim. Porra. Sim.

Então ele inclinou minha cabeça para trás e afundou os dentes


na cavidade do meu pescoço.

Eu empurrei seu peito. — Para que diabos foi isso?

Ele riu e então passou a língua pelo lábio inferior. Seus olhos
escureceram quando ele olhou para mim e levou a mão ao meu
cabelo, deslizando os fios entre os dedos. Ele inclinou a cabeça
para um lado, me estudando. — Você não se parece com a minha
Songbird. — Ele se inclinou, parando com a boca logo acima da
minha. Sua respiração emaranhada com a minha respiração. —
Você tem gosto dela? — Ele lambeu os lábios novamente. Desta
vez a ponta de sua língua roçou minha boca.

Separei meus lábios e respirei fundo, implorando por mais.


Deus, eu precisava de mais. Meu corpo estava desesperado por
isso. Um toque. Um beijo. Algo. Qualquer coisa.

— Tenho? — eu respirei.

— Você tem gosto de querer que eu faça isso de novo. — Ele


roçou a ponta do nariz ao longo do meu. — Você quer que eu te
prove de novo? — Ele soltou meu cabelo e moveu sua mão pelo
meu corpo, avançando para dentro da parte desabotoada do meu
vestido. Suas palavras e seu toque eram casuais, como se eu não
estivesse prestes a explodir bem aqui em seu colo.

Eu não conseguia pensar. Eu só podia sentir.


— Sim.

Seus lábios se curvaram em um sorriso. — Boa menina. —


Então ele empurrou meu vestido para o lado e trouxe sua boca
para o meu mamilo, me mordendo através da renda branca do meu
sutiã.

Meus nervos, feixes deles, por todo o meu corpo, eram como
mil pequenas faíscas disparando de uma só vez. Eu pressionei
minha bunda em seu colo e estremeci com a ereção sólida
pressionando contra mim. Anos de tensão acumulada se
resumiram a este momento agora.

— Eu sempre amei fazer você se contorcer. — E então ele


congelou, seu olhar fixo na cicatriz no meu peito – a que Kipton
Donahue me deu. — Quem fez isto? — A raiva em seus olhos era
uma coisa tangível.

A memória daquela noite era como um chicote na minha alma.


Eu queria puxar meu vestido fechado e cobrir minha pele. Eu não
queria nenhuma parte disso perto de qualquer parte de nós.

— Por favor, Lincoln.

Ele segurou meu rosto em uma mão e forçou meus olhos aos
dele. — Quem. Fez. Isso?

Eu conhecia Lincoln. Ele não deixaria isso ir.

— Kipton Donahue.

— Kipton Donahue está morto. — ele disse, sem piscar,


enervando e cheio de malícia, completamente diferente da maneira
gentil com que seus dedos correram sobre a pele levantada no meu
peito. — Foi ele que tirou você de mim?
Kipton Donahue está morto.

— O que você acabou de dizer?

Como eu não sabia que Kipton estava morto? Por que Gray
não me contou? Eu tinha acabado de vê-lo um ano atrás no jantar.

O que aconteceu com ele? O medo picou minha pele. E se o


mataram? E se Gray o matou?

— Parece que você esqueceu com quem está lidando. Talvez


seja hora de lembrá-lo.

— Você pertence ao homem mais brutal da Irmandade.

Eu pisquei os pensamentos de sua mão na garganta do


homem naquela noite no chalé, do sangue que escorria de sua
boca.

— Eu disse que Donahue está morto. E é uma coisa boa


porque se ele ainda estivesse vivo, eu mesmo o mataria. Ele tocou
em você em outro lugar? — Uma nova escuridão encheu seus olhos
castanho-esverdeados. — Ele machucou você em qualquer outro
lugar?

Ouvi as palavras que ele estava com muito medo de dizer. Ele
te estuprou?

Meu pulso acelerou e eu engoli a bola alojada na minha


garganta. Lágrimas brotaram em meus olhos, mas eu as forcei com
um piscar de olhos. Muitas memórias horríveis colidindo de uma
só vez. — Não. Aconteceu há muito tempo e não quero falar sobre
isso agora. — Eu descansei minha testa contra a dele, levando
minha boca a centímetros de seus lábios. — Lincoln, por favor. —
Eu implorei para ele limpar as memórias da minha mente.
Ele trouxe sua mão de volta para embalar meu rosto. — Por
favor, o que?

Por favor, me beije.

Por favor, toque-me.

Por favor, foda-me.

Por favor, pelo amor de Deus, apenas me faça esquecer.

— Por favor.

Antes que a palavra saísse da minha boca, seus lábios estavam


nos meus. Sua língua os separou. Sua mão deslizou para a parte
de trás do meu pescoço, me segurando enquanto sua boca
machucava a minha. Ele tinha gosto de fumaça e álcool e eu estava
perdida nele. Bêbada nele. Alta em seu beijo. Ele chupou minha
língua, cruel e áspero como se estivesse tentando me puxar para
ele. Então ele rosnou contra meus lábios. Era profundo e
possessivo e consumia tudo.

Era demais. E não o suficiente. Minha bunda pressionou para


baixo, cavando cada vez mais fundo em seu colo, caçando,
procurando, implorando pela espessura do outro lado de seu zíper.
Eu mexi tanto que minha calcinha deslocou para o lado e minha
boceta nua estava esfregando contra seu pau duro. O tecido áspero
era brutal contra a minha pele delicada, mas eu não me importei.
Seu aperto flexionou na minha nuca, me puxando ainda mais
fundo no beijo. Eu me movi novamente. Lincoln ergueu os quadris.
Ali. Bem contra meu clitóris. Apenas um pouco mais duro. Sim.
Foda-se sim. Deus sim. Isso. Eu precisava disso. Meu corpo inteiro
começou a cantarolar até que eu estava gemendo em sua boca e
gozando em torno de um orgasmo tão cru, tão poderoso, tão
fodidamente intenso, que fez meu corpo inteiro tremer.

Lincoln aliviou sua boca da minha, beliscando meu lábio


inferior enquanto se afastava. — Cristo, Songbird. Você acabou de
gozar no meu colo, e eu nem toquei em você ainda. — Sua voz
estava sem fôlego e grave.

Eu fiz.

E fiquei mortificada.

Eu deveria ser uma mulher sexy e sedutora agora. Em vez


disso, eu era a mesma adolescente gananciosa e ansiosa que o
encontrou se masturbando uma vez.

Que bagunça.

Eu descansei minha cabeça em seu ombro.

Ele agarrou minha nuca, deixando seus dedos agarrarem meu


cabelo e puxar minha cabeça para trás. — Ei. Não faça isso.

— Fazer o que?

— Esconder-se de mim. Nunca se esconda de mim, porra. —


Ele me puxou para mais perto de seu peito. — Eu tenho você agora.
E eu não estou nem perto de terminar com você ainda.

— Não aqui. Alguém poderia entrar e nos ver. — Tatum poderia


entrar e nos ver.

— Ainda estamos fazendo isso?

Amanhã era o dia do casamento de Tatum, e eu não iria


arruiná-lo fazendo com que ela descobrisse que eu estava
transando com seu irmão. Eu diria a ela antes que eu tivesse que
sair, o que era muito mais cedo do que eu queria. Gray me deu
vinte e quatro horas. Ele disse que muito tempo fora pareceria
suspeito. Eu odiava esses homens e o controle que eles pareciam
ter sobre tudo. Caspian e Tatum encontraram uma saída. Eu daria
tudo para fazer o mesmo.

— Por enquanto. — eu respondi, então tentei fugir de seu colo.

Ele enfiou os dedos na minha carne. — Como você sabe que


eu já não contei a ela?

Senti toda a cor sumir do meu rosto enquanto meus pulmões


ficavam apertados.

Então Lincoln riu. Deus, era bom ouvir sua risada. Mesmo que
fosse às minhas custas.

Ele não contou a ela.

Eu bati em seu peito. — Seu idiota.

— Eu sou seu idiota.

De repente, fui levantada no ar. Meus braços enganchados em


volta do pescoço de Lincoln enquanto meu corpo pressionava
contra o dele. Ele sempre esteve em forma, mas agora ele era uma
parede sólida de músculos. Provavelmente quatro por cento de
gordura corporal. Dick. Ele sorriu para mim enquanto me
carregava pelo corredor e para um dos quartos – o dele, eu assumi.

Ele me derrubou tempo suficiente para arrancar minha


calcinha, em seguida, desabotoar suas calças. — Você trapaceou,
Songbird. — Seus olhos escureceram a cada respiração que ele
dava enquanto nos levava para trás até a janela, puxando meu
vestido até a cintura. As cortinas estavam abertas, deixando o
brilho suave do luar encher o quarto. — Você se fez gozar em todas
as minhas calças. — Uma mão deslizou pela minha garganta até
meus lábios, onde ele forçou minha boca a abrir e enfiou o polegar
dentro. A outra mão puxou sua calcinha e jeans sobre seus
quadris.

Eu rodei minha língua em torno de seu dedo, sugando-o,


saboreando seu polegar do jeito que eu queria provar seu pau.
Meus olhos estavam focados na maneira como sua outra mão se
abaixou para acariciar seu pau. Meu Deus. Se você procurasse
energia do pau grande no Urban Dictionary4, a foto de Lincoln
Huntington seria a primeira coisa que você veria. Não havia um
homem vivo que gostasse mais de seu próprio corpo do que
Lincoln. Sua mão se moveu para cima e para baixo em seu
comprimento com o fervor de alguém que sabia o que era puro
prazer e não pararia por nada para alcançar esse pico. Minha
boceta pulsava com a visão disso. Eu sofria por isso. Eu precisava.
Por mais que eu adorasse vê-lo, eu queria mais.

— O que você acha que eu deveria fazer sobre isso? —


Derrame. Ele tirou a mão da minha boca e a apoiou no vidro ao
lado da minha cabeça, então trouxe seu rosto na frente do meu.
Saboreei o teor de sua voz, deixei seu estrondo familiar me engolir
inteira. — Você acha que eu deveria me fazer gozar também? —
Derrame. — Em todo o seu lindo vestido?

Sim.

4
Site de gírias e expressões americanas.
E não. Eu queria fazer isso. Eu queria ser a razão pela qual ele
veio. Eu queria senti-lo dentro de mim, latejante e grosso.

Separei meus lábios para responder, mas minha boca estava


seca.

Ele fechou os olhos e moveu a mão mais rápido. Mais duro.


Com cada golpe, sua respiração beijava meu rosto.

Pressionei meu corpo contra o dele, forçando-o a parar. — Não.


— Minha voz tremeu com a necessidade crua.

Seus olhos se abriram. — Não?

Eu balancei minha cabeça, e antes que a palavra não deixasse


meus lábios, minhas costas estavam pressionadas contra o vidro.
Ele levantou minha perna e a enganchou em sua cintura. Ele
estava duro, grosso, e fodendo bem ali. A fome, carnal e crua,
rasgou através de mim. Soltei um suspiro trêmulo, prestes a gozar
de novo agora, porra, enquanto seus lábios percorriam a curva da
minha mandíbula até a cavidade da minha garganta.

— Você sentiu falta disso? — ele perguntou, arrastando seu


piercing sobre meu clitóris.

Meu corpo estremeceu com a sensação – um pulsante e


latejante grito por mais.

Pensamentos sombrios ameaçavam entrar na minha cabeça.


Quantas outras mulheres o sentiram contra elas desse jeito desde
que eu desapareci? Ele não estava escondido em uma mansão do
jeito que eu estava todo esse tempo. Havia alguém lá fora
esperando que ele voltasse para casa?
Ele enfiou os dedos no meu cabelo, inclinando minha cabeça
para trás. — Ei. — Ele trouxe seu rosto a centímetros do meu, me
olhando nos olhos. — Onde quer que você esteja agora, você
precisa dar o fora de lá e voltar para mim.

— Eu só estava imaginando...

Ele pressionou seus lábios contra os meus. — Sem dúvidas.


Há apenas eu e você. — Ele arrastou sua ponta sobre meu clitóris
novamente, tirando um gemido dos meus lábios. Por favor. —
Ainda não, baby. A próxima vez que você gozar, estará em todo o
meu pau. — E então, em um impulso brutal, ele estava dentro de
mim, certificando-se de que os pensamentos sombrios fossem
esquecidos.

Minha cabeça caiu para trás contra o vidro. Lincoln se esticou


e me encheu com cada centímetro grosso dele – todo o caminho
até a base – com cada impulso profundo de seus quadris. Minhas
mãos estavam por toda parte. Em cima dele. Seus ombros. Os
braços dele. Sua bunda, empurrando-o mais fundo dentro de mim.
Ele entrou em mim, pele batendo contra pele, animalesco e feroz,
como se ele não pudesse ir com força suficiente, não pudesse ir
fundo o suficiente. Cada impulso punitivo me empurrava contra a
janela até que eu temi que fosse quebrar. Seus dentes rasparam
minha pele, me marcando, me reivindicando – um lembrete físico
de que isso era real. Eu queria essas marcas em todos os lugares.
Eu queria acordar todos os dias pela próxima semana e lembrar
desse momento, desse sentimento.

Ele deslizou a mão dentro do meu vestido, abrindo os botões


enquanto ia, e beliscou meu mamilo entre os dedos. A pressão
construída em meu núcleo, apertando, em seguida, fervendo e
derramando.

— Porra. Lincoln. — Outra onda de prazer rolou sobre mim. —


Foda-se, sim.

O suor cobria sua pele. Ele lambeu os lábios, então chupou


minha língua em sua boca. Mais um empurrão de seus quadris
finos, mais um impulso violento, e ele estava gozando dentro de
mim.

Meu corpo ficou frouxo em seus braços, desejando que eu


pudesse ficar aqui assim, completamente saciada e cheia dele.
Deus, eu tinha perdido isso. Ele. A sensação dele. O cheiro dele.
Estendi a mão e corri meus dedos por seu cabelo.

Ele levantou a cabeça, parando para olhar algo por cima do


meu ombro. Suas narinas se dilataram, e a mão que ele tinha
apoiado contra a janela se ergueu e então bateu contra o vidro
novamente.

Que porra?

— Lincoln? — Eu disse, virando a cabeça para ver o que fazia


seu peito arfar de repente.

Seus olhos se estreitaram, e eu segui seu olhar. Bem em Gray.


Ele estava parado na praia do lado de fora da janela do quarto.
Suas mãos estavam nos bolsos de sua calça de linho bege, e sua
camisa branca de botão estava enrolada nas mangas.

E Lincoln estava com a mão pressionada contra o vidro, o dedo


médio no ar. — Que porra ele está fazendo aqui?
Minha perna caiu ao redor da cintura de Lincoln e meu
coração deu uma guinada na minha garganta. Não foi vergonha
que tomou conta de mim, foi culpa. Ter Gray sabendo sobre
Lincoln e saber que ele nos viu eram duas coisas completamente
diferentes. Parecia uma traição, embora no meu coração eu
soubesse que não era.

Lincoln rangeu os dentes. — E por que diabos ele está


assistindo?
Esta não era exatamente a reunião que eu passava todas as
noites imaginando – especialmente não a parte em que Gray estava
lá assistindo nossas almas colidirem mais uma vez.

Lincoln enganchou os dedos em duas presilhas e puxou a


calça jeans sobre os quadris. Ele enfiou seu pau dentro, nem
mesmo se incomodando com o zíper ou botões, então saiu pela
porta do quarto.

Merda.

Merda dupla.

Nada de bom viria disso.

Passei por cima da minha calcinha no chão e gritei atrás dele.


— Lincoln, espere.

Os músculos de suas costas e braços flexionaram quando ele


cerrou os punhos e continuou andando. Ele olhou por cima do
ombro, puro fogo em seus olhos. — Você acha que eu vou apenas
deixar esse pervertido olhar para você desse jeito?

Aquele fodido pervertido tinha me visto em posições piores.

— Ele não estava me olhando assim. — Gray observava as


pessoas foderem o tempo todo como parte de seu ritual de
consumação distorcido. Era quase clínico para ele – ou assim eu
imaginava. E eu sabia de fato que ele não estava atraído por mim
dessa maneira. Ele provou isso muitas vezes. Corri com os botões
do meu vestido, certificando-me de que tudo estava de volta no
lugar.

Lincoln abriu a porta da frente e se virou. — Você não o


conhece. Você não sabe do que homens como ele são capazes.

Foi aí que ele errou. Eu sabia exatamente do que Gray era


capaz.

— E você sabe?

— Eu sei que ele está intimamente ligado ao meu pai. Eu os vi


juntos e isso é o suficiente para saber que não o quero perto de
você.

Ele correu pelo corredor da casa e pela areia. Meus passos


curtos mal conseguiam acompanhar seus passos longos e rápidos.
Meu coração batia como um louco enquanto o pânico se
aproximava de mim, sussurrando em meu ouvido: — Corra.

Eu cavei meus pés descalços na areia e empurrei para frente.

Tarde demais. Eles estavam cara a cara.

Lincoln agarrou a frente da camisa de Gray em seu punho e o


puxou para frente. — Tire seus malditos olhos dela! Nem olhe para
ela, porra!

As ondas quebravam na praia logo acima da duna. O ar fresco


da noite mordeu minha pele. Era como se até mesmo a atmosfera
estivesse tumultuada. O pânico era uma força agora, apertando e
apertando minhas costelas.

— Linc, pare!
Ele não parou.

O peito de Lincoln arfou quando ele trouxe seu rosto a apenas


alguns centímetros do de Gray. — Eu vou acabar com você.

Eu tinha que deixá-lo saber que ele estava errado. Gray não
era como o pai de Lincoln ou os homens com quem ele se associava
– homens sobre os quais Lincoln obviamente sabia mais do que eu
esperava. O pensamento dele sendo exposto à Irmandade de
alguma forma fez meu estômago revirar. Eu queria protegê-lo do
mundo em que fui empurrada, mesmo que seu sobrenome fosse
como uma videira espinhosa o prendendo à escuridão.

— Lincoln, — eu gritei. — Não é o que você pensa. Ele não é o


que você pensa.

Isso chamou a atenção dele.

Ele soltou a camisa de Gray e se virou para me encarar. —


Como você sabe disso? — Seus olhos descontroladamente
procuraram os meus por respostas, finalmente se abrindo quando
seus lábios se separaram. Ele inclinou a cabeça para o lado e
soltou um suspiro longo e gaguejante. — Diga-me que você não o
conhece.

A dor da minha traição abriu meu peito. — Linc…

— Você disse que era Kipton. — Sua voz estava tão quebrada,
tão gutural. — Você disse que Kipton levou você. — Ele deu um
passo em minha direção. — Agora ele está morto, e eu pensei que
era assim que você estava de volta. Eu pensei que você estivesse
livre... — Ele apontou para Gray. — Diga-me como você o conhece.

— Linc…
— Puta merda. É onde você esteve. — Sua voz estava calma.
— Todo esse tempo. — Seu olhar passou por mim, me queimando
da cabeça aos pés. Eu nunca me senti tão rasgada e nua. — Com
ele. Kipton deu você a ele. — A tristeza que emanava dele era uma
coisa tangível que alcançou meu peito aberto e apertou meu
coração em seu punho. Suas pernas fraquejaram, fazendo-o cair
de joelhos.

Caí ao lado dele, querendo abraçá-lo, precisando confortá-lo.


Envolvi meus braços ao redor dele, desejando que nós dois
pudéssemos desaparecer na areia sob nossos joelhos.

Ele se encolheu ao meu toque. Suas mãos caíram ao seu lado,


então ele levantou a cabeça e olhou para mim. — Você transou
com ele? Você gostou? Ele te machucou? — Havia tanta dor em
sua voz quando as palavras saíram correndo. Eu só queria tirar
tudo.

Oh, Deus. Isso não. Qualquer coisa menos isso. — Não.

— Não? Fiz três perguntas, Songbird. Qual delas é não?

Senti que ia ficar doente. Por que Gray não podia ficar em sua
própria casa, em seu próprio quarto, cuidando de seus próprios
negócios? Eu não precisava dele para cuidar de mim. Eu precisava
de tempo para lidar com as coisas do meu jeito. Assim não.

Eu odiava Gray neste momento. Eu me odiava por sempre


querer ele. Principalmente, eu odiava a maldita Irmandade por
fazer isso com todos nós.

Meu coração estilhaçou no meu peito aberto. Olhei para


Lincoln, observando a forma como o luar aguçava suas feições. O
primeiro garoto que eu amei. O último homem que eu gostaria. O
coração que eu estava destinado a quebrar. — Ele não me
machucou.

Ele afundou as duas mãos em seu cabelo, puxando as pontas


enquanto olhava para o céu. As veias em seu pescoço pareciam
tensas e raivosas. Seus lábios se moveram em silêncio enquanto
ele fechava os olhos. Uma oração, talvez. Um mantra. Um pedido
de força.

O vento aumentou, empurrando as ondas para a praia com


mais raiva do que antes.

E então ele moveu seu olhar para o meu. Seus olhos se


encheram de lágrimas não derramadas. Seu rosto estava torcido
em tormento. Mas meu Deus, ele era lindo. E meu coração estava
batendo no meu peito porque tudo que eu queria fazer era
consertá-lo, consertar isso. Parecia que éramos dois fios do mesmo
tecido e alguém estava nos puxando, puxando e rasgando.

Por um momento, ficamos parados, e pensei que talvez,


apenas talvez, não estivéssemos tão quebrados quanto
parecíamos.

Então Lincoln baixou as mãos e olhou para Gray. Sua


respiração ficou difícil e pesada, e sua voz estava calma, muito
mais calma do que sua aparência. — Vou cortar seus dedos por
tocá-la, arrancar sua língua por saboreá-la e cortar seu pau fora,
depois enfiá-lo em sua bunda por pensar que você tinha o direito
de fodê-la. — Ele saltou para seus pés e fechou a distância entre
ele e Gray em segundos. — Eu. Vou. Acabar. Com. Você. — Então
ele o empurrou para o chão.
Lincoln conseguiu um golpe sólido antes que Gray o virasse,
depois enfiasse o rosto na areia. Seus dedos agarraram o cabelo de
Lincoln enquanto ele montava suas costas e empurrava com mais
força, tornando impossível para ele respirar.

Corri pela areia e puxei a parte de trás da camisa de Gray. —


Você vai matá-lo!

Ele não se mexeu.

Lincoln recuou o cotovelo e atingiu Gray no nariz, cobrindo


imediatamente a boca e o queixo com um rastro de sangue. Então
ele repetiu a ação, atingindo Gray na bochecha desta vez. Gray
nem sequer vacilou quando o golpe rasgou sua pele.

Eu estava gritando. Meu coração estava acelerado. Eu nunca


quis que isso acontecesse. Não era para ser assim.

Caspian veio atrás de mim com Tatum ao seu lado. Ele


enganchou o braço em volta do pescoço de Gray, arrancando seu
corpo do de Lincoln. Os dois caíram no chão, depois de costas.
Tatum correu para o lado de Caspian e eu corri para Lincoln.

Ele rolou, tossindo enquanto eu limpava a areia de seu rosto.

A voz gentil de Tatum quebrou o silêncio. — Lincoln? O que


está acontecendo aqui? — Seu olhar cortou de seu rosto para o
meu. — Lyric?

Todos nós lentamente nos levantamos, olhando de uma


pessoa para outra, ninguém falando.

O peito de Lincoln arfava a cada respiração quando seus olhos


encontraram os meus. Seu cabelo e peito estavam cobertos de
areia que ele não se incomodou em limpar. Então ele passou direto
por mim e o olhar que ele me deu rasgou meu coração em pedaços.
— Você quer saber? Pergunte a ela.

— Você está melhor comigo. — Gray disse enquanto limpava o


nariz sangrento com a frente da mão. Um rastro de carmesim
pintou sua pele. — Ele não é bom para você.

— E você é? — Fui até ele, parando quando estávamos de igual


para igual. — Você me deixa sozinha por dias a fio. Eu como
sozinha. Passo meus dias sozinha. Eu durmo sozinha. — Minha
voz se elevou a cada palavra. Era tudo demais. Eu estava à beira
de quebrar. Eu estava à beira da loucura e do desespero. Verdade
seja dita, eu estava andando nessa linha desde o momento em que
fui empurrada para o banco de trás do carro dele. — Você acha
que está me fazendo um favor? Você acha que está sendo nobre?
— Uma única lágrima caiu sobre meu rosto, e eu enxuguei com
raiva. — É cruel pra caralho, Gray. — Olhei para ele, piscando para
conter mais lágrimas porque me recusei a me permitir chorar.
Engoli o nó na minha garganta. — Lincoln pode ser impulsivo, mas
a única coisa que ele nunca seria é cruel.

— Lyric?

Tatum.

Fechei os olhos e inalei, então me virei para encará-la. Caspian


circulou o braço em volta da cintura dela e a puxou para perto.

— Calma. Eu sou a melhor amiga dela, lembra? Eu posso lidar


com isso.

— Como você lidou com isso. — disse ele, apontando para o


chão onde Lincoln e Gray estavam apenas um segundo atrás.
— Podemos conversar? — Perguntei a Tatum. — Sozinhas. —
acrescentei com um olhar para Caspian.

Ela segurou uma mão contra o peito dele e olhou para ele com
um aceno de cabeça. — Estou bem.

Ele beijou sua testa, então caminhou lado a lado com Gray em
direção à casa.

Tatum o observou se afastar por um momento, então voltou


seu foco para mim. Sua voz era áspera, e havia um lampejo de dor
em seus olhos normalmente brilhantes. — Nós provavelmente
podemos pular para a parte em que você me diz que fodeu meu
irmão.
Em algum momento de suas vidas, todos se encontram em seu
próprio inferno pessoal. Onde o fogo arde ao seu redor e parece
que a única saída é caminhar por ele, que se danem as cicatrizes.
Eu estava olhando para o fogo. Todas as verdades feias que eu
estava escondendo em meu coração dançavam ao meu redor como
demônios inquietos implorando para serem libertados. Essa luta
entre Lincoln e Gray era apenas o começo.

— Eu não queria que isso acontecesse dessa maneira. A luta.


Ver Lincoln. Essa conversa... — Eu balancei minha cabeça. — Não
era assim que tudo deveria acontecer.

— Então, você transou com ele?

Eu não respondi. Não havia necessidade. A resposta era óbvia.

Ela se sentou, levando os joelhos ao peito e enterrando os


dedos dos pés na areia.

Sentei-me ao lado dela da mesma maneira.

Ela olhou para o oceano.

Eu a encarei. — Desculpe, Tatum. Eu sinto muito.

— Você mentiu para mim sobre a única coisa que você sabia
que significava mais. — Ela fez uma pausa. — Quando?

— O que?
Ela olhou para mim. — Quando isso aconteceu?

— A primeira vez?

Sua boca se abriu. — Oh meu Deus, foi mais de uma vez? —


Ela olhou de volta para o oceano.

Fechei os olhos, odiando o fato de que ela não conseguia nem


olhar para mim. Justo quando eu pensei que isso não seria tão
ruim. A cada segundo que passava, o arrependimento se
intensificava até se tornar um tumor ardente e purulento na boca
do meu estômago.

Abri os olhos e me concentrei nas ondas. O cheiro do ar


salgado flutuava em cada crista espumosa. — A primeira vez foi no
meu aniversário de dezessete anos. Queria dizer a você. Eu ia te
contar. Então... — Minha garganta estava seca, então eu engoli,
então respirei fundo e soltei lentamente. — Então eles me levaram.

Ela bufou uma risada. — Bem, você fez isso sete anos depois
de cair sob seu feitiço. Isso é um recorde, suponho.

Um longo momento de silêncio se estendeu entre nós – aquele


espaço constrangedor entre as coisas que você gostaria de não
dizer e as coisas que ainda precisavam ser ditas. Tatum sempre foi
a compreensiva. Fui eu que perdi o controle. Sempre contei com a
paciência dela para me manter com os pés no chão. Desta vez seu
silêncio foi uma tortura.

— Ele não foi ao seu funeral, você sabe. Ele se vestiu todo e,
quando estávamos saindo pela porta, ele se recusou a ir. — disse
ela finalmente. Meu peito apertou com o pensamento de Lincoln
finalmente vestindo um terno, mas estava muito quebrado para
sair de casa com ele. — Tudo faz sentido agora. A bebida. A
maneira como ele desapareceu dentro de si mesmo depois que você
morreu... — Ela parou como se sua mente estivesse puxando
memórias indesejadas enquanto a minha puxava visões
indesejadas. Eu não tinha certeza de quanto mais disso eu poderia
ouvir. Então ela se virou para mim. — De todas as mentiras que já
me disseram. De todas as pessoas que guardaram segredos de
mim, esta é a que mais dói.

Foi um soco no estômago, mas eu merecia.

Inclinei meu corpo inteiro em direção a ela, trazendo minhas


pernas para a areia. — Nossa amizade nunca teve nada a ver com
meu amor por Lincoln. Eu espero que você saiba disso. Espero que
você acredite nisso.

Sua expressão suavizou com a menção de amor.

A dor no meu peito tornou-se sufocante. Eu sabia que a


verdade não ficaria escondida para sempre. Eu sabia que um dia
Tatum descobriria. Só não esperava que fosse doer tanto. — Você
sempre foi a única coisa boa na minha vida fodida. Fazer de você
minha amiga naquele dia no cais foi a melhor coisa que já fiz. Eu
sou a rebelde sarcástica e você é o raio de sol. Sem você eu não
consigo respirar. — Engoli a angústia que se formou na minha
garganta. Eu não poderia perdê-la, não de novo, não duas vezes
em uma vida. Isso me mataria. — Você é minha melhor amiga. —
eu sussurrei, muito emocionada para dizer as palavras mais alto.

— Você disse que o ama. Você quis dizer isso?

— Sim.
— Então você deve ir até ele. Ele precisa de você.

— Você precisa de mim. — Eu me aproximei e agarrei sua mão.


Ela não se afastou. Isso era um bom sinal, certo?

Sua boca se curvou em um pequeno sorriso. Definitivamente


um bom sinal. — Eu preciso dormir. Vou me casar em poucas horas
com uma catástrofe minha.

— Eu não vou embora até saber que estamos bem.

— Estamos bem. — Seu sorriso se alargou. — Você é rebelde.


Ele é perigoso. Era para acontecer. E se a vida me ensinou alguma
coisa, é que é muito curta para guardar rancor.

Eu segurei minha outra mão no ar, mindinho para fora. —


Promessa de mindinho que estamos bem.

Ela enganchou seu dedo mindinho em volta do meu. — Agora


vá encontrar meu irmão antes que ele destrua minha casa. — disse
ela, sem deixar espaço para discussão.

O ar ao nosso redor parecia mais leve. Eu me senti mais leve.

Eu apertei a mão dela. — Eu te amo.

— Eu também te amo.

Caspian e Gray estavam parados mais adiante na praia, em


frente à casa ao lado, a casa que Gray alugou e deveria ter ficado
lá dentro. Senti seus olhos em mim enquanto caminhava até a
porta da frente de Tatum. Caspian não gostava de Lincoln. Ambos
foram programados para odiar o outro desde o nascimento. Eu
sabia de que lado ele estava. Eu sabia o que ele pensava sobre eu
estar com Linc, e eu não me importei.

Dentro da casa, Chandler estava sentado no sofá com as


pernas esticadas e apoiado em um pufe na frente dele. Ele enfiou
uma colher de metal em um pote de sorvete, em seguida, levou-a
aos lábios.

— Você não achou que eu ia dormir durante aquele show de


merda, achou? — ele disse depois de puxar lentamente a colher da
boca.

— Você poderia ter ajudado.

Ele encolheu um ombro. — Não era a minha luta.

— Você é um idiota.

— Diga-me algo que eu não saiba. — Ele pegou outra colher


de sorvete e estendeu como se estivesse me oferecendo uma
mordida.

Esse era Chandler. Nunca se incomodava com nada. Nunca


tanto quanto um lampejo de emoção em seus olhos. Eu daria tudo
para ver o dia em que algo, ou alguém, rompesse a parede que ele
construiu em torno de si.

— Onde está Lincoln? — Olhei ao redor da sala e para a


cozinha. Nada estava fora do lugar, então ele não entrou correndo
como um tornado emocional. Graças a Deus.

Ou não.

Às vezes, em silêncio, vinha a loucura. Eu sabia disso muito


bem.
Chandler acenou com a cabeça em direção ao corredor. —
Então, sem sorvete?

Revirei os olhos e fui para o corredor.

Ouvi a água correndo no chuveiro assim que entrei em seu


quarto. Meu corpo zumbiu quando olhei para a janela em que ele
me prendia mais cedo. Tinha sido apenas alguns minutos, mas
parecia uma vida atrás.

Seus jeans estavam empilhados no chão do banheiro, o vapor


do chuveiro embaçando o espelho, e além do som da água quente
espirrando, tudo estava silencioso.

E do outro lado daquela porta de vidro, com rios de água


escorrendo sobre suas tatuagens estava minha loucura.

Eu desabotoei meu vestido, então o deslizei pelos meus


ombros, deixando-o cair no chão ao lado de seu jeans. Depois de
desabotoar meu sutiã – minha calcinha estava no chão em algum
lugar do outro quarto – abri a porta do chuveiro e entrei.

Nenhum de nós disse uma palavra enquanto eu estava na


frente dele, avançando minha mão até seu peito e em seu rosto.
Meu dedo traçou a cicatriz que ia da têmpora até o queixo. Era
apenas uma linha prateada na lateral de seu rosto. Se alguém
olhasse para ele, não perceberia. Mas ninguém nunca olhou para
Lincoln. Ele era o tipo de cara que você bebia até ficar bêbado.

Ele respirou fundo e olhou para mim com os olhos injetados


de sangue ainda capazes de fazer meu estômago vibrar.

Meu dedo percorreu sua mandíbula e seus lábios carnudos.


Ele estava respirando rápido, mas permaneceu em silêncio. A água
caiu sobre nós como chuva, encharcando nossos cabelos e corpos
como se estivéssemos no meio de uma tempestade. Era assim com
Lincoln – uma tempestade. Bonito de se ver. Liberando ira e raiva.
Perigoso. Mas estranhamente calmante, desde que você soubesse
que estava protegido.

Eu me movi atrás dele, enganchando meus braços embaixo


dos dele e colocando minhas mãos em seus ombros. Eu descansei
minha cabeça em seu ombro e pressionei meu corpo contra o dele.

Pessoas normais podem ter se sentado e falado sobre o que


acabou de acontecer. Eles encheriam o ar com explicações e
desculpas. O que Lincoln e eu tínhamos estava longe de ser
normal. Não era doce e terno como um conto de fadas deveria ser.
Era escuro e retorcido. Era além do físico e entrou no território
sagrado. Nosso silêncio era reverente, nossos corpos templos e,
cada vez que ele dizia meu nome, era como uma invocação. Toda
vez que estávamos juntos, eu queria adorá-lo. Fazia mais de quatro
anos, e nada disso havia mudado.

Minhas mãos se moveram sobre suas costas enquanto eu


deslizava pelo seu corpo e descansava em meus joelhos. Restos da
areia que lavou seu corpo e de seu cabelo rasparam contra a minha
pele. Sua bunda estava bem na minha frente, redonda e firme e
me implorando para mordê-la. Então eu fiz.

Então eu abaixei minha cabeça entre suas coxas e abri minha


boca em torno de suas bolas por trás. A ponta do meu nariz roçou
seu cu enquanto eu o puxava mais fundo. Um gemido baixo
ricocheteou nas paredes de azulejos do chuveiro, mais animal do
que humano, e eu o senti pulsar até o meu núcleo. Ele gostou
disso.

Sua mão bateu no azulejo, apoiando seu peso contra a parede


enquanto a outra acariciava seu pênis. Eu sabia porque senti a
pressão dele inchar na minha boca. Eu me afastei e passei minha
língua sobre aquele pedaço sensível de pele entre suas bolas e seu
cu, aquela barreira fina de papel entre o desejado e o proibido.

Suas coxas se apertaram quando ele soltou um silvo alto. E


então ele se virou para mim. Ele segurou uma mão na parede e
enrolou a outra no meu cabelo, inclinando minha cabeça para trás.
Sua ereção, quente e pesada, roçou o lado do meu rosto. Ele era a
pura perfeição masculina, grosso, cheio de veias e suave como
seda.

Finalmente, ele falou. — Você quer que eu foda essa boca


bonita?

Eu balancei a cabeça e lambi meus lábios.

Sim.

Ele moveu sua mão da parede e agarrou seu pau, então


esfregou a coroa em meus lábios, pintando-os em seu pré-sêmen.
O piercing de metal estava quente por causa da água. Eu abri
minha boca para recebê-lo dentro, e um sorriso malicioso se
espalhou por seu rosto.

— Vê como você se abre para mim, Songbird? — Ele empurrou


a ponta dentro da minha boca, deixando-me incapaz de responder
com palavras. Eu só podia convidá-lo para entrar, e suponho que
isso fosse uma resposta em si. — Ele pode pensar que é seu dono.
— Outra polegada. As pequenas bolas de prata que perfuraram
sua cabeça inchada rasparam pelos meus dentes. — Mas nós dois
sabemos a quem você realmente pertence. — Eu achatei minha
língua ao longo de seu comprimento, e ele empurrou todo o
caminho para dentro. — A quem você sempre pertenceu. — E
então eu o senti lá, no fundo da minha garganta, pronto para usar,
tomar, possuir.

Ele segurou minha cabeça ainda com a mão no meu cabelo e


começou a mover seus quadris, lentamente no início. Então mais
urgente quando eu relaxei e o levei até o fim. Outro rosnado
profundo retumbou em seu peito enquanto ele bombeava seus
quadris. Suas coxas flexionaram sob minhas mãos.

Meus olhos lacrimejaram e minha mandíbula doeu. Eu até


engasguei com ele algumas vezes. Mas nada disso importava
porque eu queria isso, estar de joelhos por ele, deixá-lo me possuir
dessa maneira. eu precisei disto. Ele precisava.

Estendi a mão e separei as bochechas de sua bunda, em


seguida, passei a ponta do dedo ao longo de sua fenda. Ele
levantou uma sobrancelha, mas não se moveu para me parar. A
água do chuveiro revestiu sua pele e meu dedo enquanto eu
traçava seu buraco apertado, criando o lubrificante perfeito. Seus
movimentos diminuíram enquanto eu explorava o território
desconhecido. Lincoln tinha brincado com minha bunda muitas
vezes, mas eu nunca pensei sobre como seria provocar a dele, não
até que ele soltou aquele gemido quando meu nariz roçou seu
buraco. Eu queria levar o corpo dele para os lugares que ele levou
o meu.
Ele diminuiu seus movimentos para um constante vai e vem,
facilitando seu pau todo o caminho até a minha garganta, em
seguida, de volta. Alimentando-me centímetro após centímetro,
depois tirando-o até que eu estivesse pronta para implorar por ele.
Ele afrouxou o aperto no meu cabelo e olhou para mim com uma
nova escuridão em seus olhos, uma que eu nunca tinha visto
antes. Essa escuridão me deu coragem para colocar a ponta do
meu dedo em seu lugar proibido.

Ele jogou a cabeça para trás e cerrou os dentes enquanto


apertava meu dedo. — Foda-se, sim. Bem desse jeito.

Eu chupei mais forte, trabalhando minha boca em seu pau.

Ele se moveu mais rápido.

Eu avancei mais para dentro, apenas até o primeiro nó, e ele


relaxou ao meu redor. Então eu enrolei meu dedo e pressionei
contra a carne macia de sua parede.

— Porra. Essa é minha garota. Tão fodidamente bom. — Ele


abriu os olhos e olhou para mim. — Puta merda. — Seus olhos
vidrados com fome e luxúria, e seus quadris trabalharam mais.
Seu aperto no meu cabelo aumentou. Ele fodeu minha boca como
se foder minha boca fosse a razão de sua existência, cheio de fúria
e propósito.

Eu fiz isso. Eu o fiz assim.

Ele passou o polegar pela minha bochecha, enxugando as


lágrimas que colidiram com os rastros de água do chuveiro – uma
contradição suave com a maneira como ele estava empurrando os
quadris com selvageria.
Então ele desacelerou novamente. — Engula-me. — Ele
acalmou. — Cada porra de gota.

E eu fiz. Com prazer.

Ele saiu da minha boca, então trouxe um único dedo ao meu


queixo e inclinou minha cabeça para cima. — Eu vou matá-lo por
tocar em você. — Sua voz era calma e firme, sem uma pitada de
hesitação ou diversão. Um pouco de seu esperma escapou e
escorreu para o lado da minha boca. Lincoln separou meus lábios
com o dedo e o empurrou de volta na minha língua. Então ele se
ajoelhou no chão na minha frente e se inclinou para trás. A água
caiu sobre nós quando ele me puxou para seu colo.

A dor apertou meu coração. Eu tinha que dizer a ele que não
era apenas Gray que estávamos enfrentando. Era muito maior do
que isso.

Lincoln embalou meu rosto com as duas mãos e me manteve


cativa com seu olhar. — Você é minha. — Ele engoliu em seco. —
Não importa o que os outros digam. No minuto em que eu disse
para você entrar no meu quarto e você entrou. Desde a primeira
vez que você gozou no meu pau antes mesmo de eu entrar em você.
Quando você me deixa marcar sua pele delicada com meus dentes
e meu esperma, eu te possuo. — Ele soltou um suspiro contra
meus lábios. — E você me possuiu. O vínculo que temos é algo que
nada... — ele cerrou os dentes. — …e ninguém nunca vai quebrar.
— Ele encostou a testa na minha. — Diga-me que você entende.

Eu lambi meus lábios. — Eu entendo.

E eu quis dizer isso porque ele estava certo. Mesmo agora, com
nossos lábios mal se tocando, enquanto eu o respirava, eu estava
enlouquecendo. Com minhas pernas escarranchadas em seu colo
e seu pau semi-duro provocando minha boceta, meu corpo inteiro
estremeceu. Ele nem precisava me tocar ou estar dentro de mim.
Eu só o queria perto, perto o suficiente para sentir seu batimento
cardíaco contra o meu, perto o suficiente para nossas almas
alcançarem uma à outra. Nada comparado a isso.

Achei que doeu na primeira vez que ele foi arrancado da minha
vida. Isso não era nada comparado à dor que eu sabia que sentiria
quando tivesse que deixá-lo novamente.
Eu puni Lyric da mesma forma que sempre fiz quando ela
pensou que poderia dar o que era meu por direito. Eu fodi sua boca
sem piedade, então eu a enchi com tanto esperma que ela ficaria
me provando por dias. E então passei o resto da noite abraçando-
a e acariciando seu cabelo enquanto ela me contava tudo. Tudo.
Ela abriu sua alma e a colocou lá, quebrada e nua. A maneira como
eles a levaram. Porra. Quando ela falou sobre a maneira como eles
a levaram, isso me destruiu. Eu tive que provar seus lábios para
tirar a dor das palavras.

Eu deveria ter tentado mais. Eu deveria ter sabido antes que


algo não estava certo. Eu viveria com essa culpa pelo resto da
minha vida. Mas ela estava aqui agora, e eu passaria todos os dias
a partir de agora até a eternidade fazendo as pazes com ela.

Ela me contou sobre o casamento que não era realmente um


casamento, obrigado porra, porque eu teria queimado o mundo
inteiro se tivesse sido. Eu provavelmente faria isso de qualquer
maneira, porque o pensamento dela compartilhando algo assim,
real ou não, com alguém além de mim me rasgou por dentro.

Ela me contou sobre o homem que tentou atacá-la, mas


acabou morto. Se havia uma coisa que me impedia de arrancar o
pau de Gray Van Doren, era o fato de que ele a salvou naquela
noite.

Ela me contou sobre as visitas de Caspian e como isso – e uma


mulher gentil chamada Sra. McTavish – era a única coisa que a
mantinha sã.

Mas não foi até que ela me contou sobre a merda que eles
fizeram ela fazer na noite de núpcias que eu quebrei. Não
importava o que Lyric dissesse, o quanto ela o defendesse. Não
importava que ele a tivesse protegido daquele monstro de merda.
Gray pegou algo que ela não estava pronta para dar. Ela disse que
ele não tinha escolha, que a estava salvando de um destino pior do
que ele. Eu não poderia dar a mínima para as circunstâncias. Ele
pegou o que não lhe pertencia.

Ela era minha. Sua boceta era minha. A adrenalina que correu
por mim na noite da luta não era nada comparada ao que eu sentia
sabendo que outra pessoa esteve dentro dela. Levou tudo que eu
tinha para não ir até lá e cortar aquele filho da puta em seu sono.

E a porra do meu próprio pai estava lá. Jurei por Deus no


minuto em que chegasse em casa que faria aquele filho da puta
desejar que minha mãe tivesse me engolido.

Kipton Donahue estava morto. Mas quanto ao resto deles, é


melhor eles esperarem que Deus tenha mostrado misericórdia,
porque eu com certeza não estava.

Lyric tentou me dar desculpas e explicações sobre por que


Gray era do jeito que era, mas tudo que eu ouvia era meu pulso
latejando em meus tímpanos. Tudo o que senti foi a raiva com a
qual me tornei tão íntimo ao longo dos anos.
Sentei-me e quase pulei da cama, mas ela levou a mão ao meu
peito.

— Onde você está indo?

— Para terminar o que comecei na praia. — Talvez até matá-lo


desta vez.

Ela subiu em cima de mim, montando meu corpo e guiando


meu pau dentro de sua boceta doce. — Por que não terminamos
isso em vez disso?

Porra. Como eu poderia argumentar com isso? Nenhum


sentimento no mundo comparado a isso – nenhum. Ela aliviou
todo o caminho e me apertou com força. Sentei-me e puxei seu
mamilo entre meus dentes enquanto minhas mãos cavavam em
seus quadris e a jogavam em cima de mim, mais forte, mais rápido,
até que as palavras foram esquecidas e os únicos sons restantes
foram seus gemidos doces e o bater de carne contra carne..

No dia seguinte, eu a observei à distância enquanto ela estava


ao lado de minha irmã no altar. Perfeição do caralho em um vestido
rosa suave com flores no cabelo. Um dia eu a teria no altar do
nosso próprio casamento enquanto eu estava na frente dela e dizia
ao mundo inteiro que ela pertencia a mim. E não seria uma
cerimônia de merda para apaziguar a Irmandade. Não. Seria real.
Nós o selaríamos com sangue como minha irmã e Caspian fizeram,
e ninguém, nem Deus ou o próprio Diabo, seria capaz de quebrá-
lo.

Poucas horas depois, todos nós tínhamos mudado para


roupas normais e estávamos no cais, nenhum de nós pronto para
dizer adeus. Eu estava na água desde criança. Eu sabia pilotar um
barco antes de saber andar. E foi por isso que Caspian me deixou
encarregado de trazer Lyric, Gray e a pequena mulher com olhos
gentis conhecida como Sra. McTavish para a próxima ilha. Não que
ele tivesse escolha. Eu estava indo independentemente.

Vinte e quatro horas. Isso foi o que Gray deu a ela conosco.
Bastardo presunçoso.

— Vocês dois não deveriam estar em lua de mel ou algo assim?


— Eu perguntei a Tatum enquanto ela envolvia Lyric em um
abraço.

— Eu não preciso ir a um resort superfaturado para foder


minha esposa. — Caspian interrompeu.

Eu afastei suas palavras porque a última coisa que eu queria


imaginar era minha irmã curvada na frente dele. Eu já estava
traumatizado com o final da cerimônia de casamento. Desde
quando minha irmã gosta de ser perseguida? Que merda foi essa?

— Eles vão resolver isso. Nós vamos ter você de volta. — Tatum
disse, e Lyric assentiu.

Ela se esforçou tanto para parecer forte. Minha pequena


lutadora. Mas eu sabia que estava rasgando-a por dentro. Eu vi
nos olhos dela.
Fodidamente certo, nós íamos resolver isso. Mas ela estava
contando com Caspian e Chandler. Eu tinha um plano meu.

Uma brisa soprou da água, chicoteando meu cabelo sobre


minha testa. Afastei-o e ajudei a Sra. McTavish a embarcar
enquanto Lyric se despedia de Tatum.

Foda-se Gray. Aquele idiota poderia ajudar a si mesmo. Com


alguma sorte, ele tropeçaria e cairia no oceano. Eu não me
importava com o que Lyric dizia. Eu não confiava nele. Ele era um
deles.

Ele se inclinou e sussurrou algo no ouvido de Caspian,


fazendo-o assentir em resposta. Então ele subiu os degraus e
entrou no barco. Eu ri do hematoma em sua bochecha e nariz que
fodeu seu rosto de menino bonito.

Lyric deu um abraço de despedida em Caspian e Chandler.


Chandler deixou seu toque demorar um pouco demais, olhando
por cima do ombro para mim com um sorriso malicioso. Aquele
idiota teve sorte que eu usei toda a minha energia para foder Lyric
até o sol nascer.

Eu estreitei meus olhos e agarrei um punhado de sua bunda


porque era minha bunda para agarrar. Ela pulou e saiu de seus
braços. Eu atirei-lhe uma piscadela, então enfiei um palito na
minha boca. Xeque-mate, filho da puta.

Lyric me deu um tapa no ombro, mas segurou minha mão


enquanto eu a ajudava a embarcar.

— Cuide do meu barco. — Caspian gritou enquanto nos


afastávamos do cais.
— Você se preocupa com minha irmã e eu me preocupo com
seu barco.

A viagem para a próxima ilha não foi longa – trinta minutos,


no máximo. Gray encostou-se no parapeito com os braços
cruzados sobre o peito, observando cada movimento que Lyric
fazia. A Sra. McTavish estava sentada na proa fingindo ler um livro,
mas eu também sentia seus olhos em mim a maior parte do tempo.

Novidade: Eu não sou o cara que sequestrou outro ser humano.

Lyric ficou atrás de mim no leme com os braços em volta da


minha cintura e a cabeça apoiada nas minhas costas. O barco
balançava na água, quebrando as ondas em cristas na proa.

— Você acha que eles podem fazer isso? — ela me perguntou.


Sua voz doce era música para meus ouvidos. Vibrou contra
minhas costas até minhas bolas.

O que ela estava realmente perguntando era se eu achava que


ela me veria novamente, se ela nos veria novamente.

— Sim. — eu disse. Essa era a única resposta que qualquer


um de nós aceitaria.

Por quase cinco anos eu andei em torno de uma concha de um


homem. Lyric apareceu e deu vida a um vazio. Ela trouxe luz à
minha escuridão. Nenhuma droga no mundo comparada com a
alta que eu tinha quando estava com ela. Ela era tudo e qualquer
coisa. Eu não tinha feito muito bem na minha vida, mas eu
morreria para mantê-la segura. Nada mais importava.

— Fale-me sobre o teatro. — disse ela, e quase parecia uma


daquelas conversas que você tem com alguém quando você sabe
que está morrendo, então você usa sua voz para mantê-lo
segurando.

Sorri e balancei a cabeça, deixando o palito rolar entre meus


dentes. — Não. Prefiro mostrar a você.

Seus braços me apertaram mais forte. — Por que você luta?

Porque a vida me transformou em uma arma.

— Porque sem isso, eu não tinha nada. — Eu puxei o palito da


minha boca, então me virei para beijar o topo de sua cabeça. —
Até agora.

A costa de Barbados apareceu. Barcos de todas as cores e


tamanhos alinhados ao longo do cais com um cenário de edifícios
coloridos, palmeiras altas e colinas verdes. Paraíso para alguns.
Um cemitério para mim, um lugar onde qualquer esperança de um
futuro com ela morreria no minuto em que ela pisasse fora deste
barco. Não havia nada sereno em vê-la partir com ele. Eu não
tiraria fotos de merda e lembraria com carinho.

Gray se endireitou e caminhou até nós enquanto eu me


aproximava do cais. Eu odiava o jeito que ele olhava para Lyric
como se ela fosse dele para proteger. Ela não era.

— Pronta? — Ele perguntou a ela.

Ela baixou os braços e levantou a cabeça. Eu odiava isso


também. Eu já sentia seu calor desaparecendo de dentro de mim.
— Dê-me um minuto?

Ele assentiu, então olhou para mim. Como se ela precisasse


de sua permissão.
Eu olhei de volta para ele. Ela não precisa da sua permissão
para merda nenhuma.

— Claro. — disse ele. — Lincoln. — Ele me dispensou com um


leve de sua cabeça.

A Sra. McTavish fechou seu livro e me deu um sorriso caloroso.


— Foi bom conhecê-lo.

— Sim, você também. — Eu teria sido melhor se a mulher não


tivesse deixado descaradamente óbvio que ela estava torcendo por
Gray nesta situação fodida.

Eu os observei passar por cima do casco para o cais,


esperando até que eles não estivessem mais ao alcance da audição.
Ansiedade nervosa cresceu dentro de mim, me enrolando cada vez
mais. Meu pulso chutou em alta velocidade.

Lyric se aproximou de mim, enganchando os braços ao redor


da minha cintura de lado. — Isso não é para sempre. Eles vão
encontrar uma maneira de...

Eu a cortei. — Segure-se.

Ela olhou para mim com os olhos arregalados. — O que?

— Segure. Se. Porra.

E então eu coloquei o barco em marcha à ré e decolei.


De volta à praia, a Sra. McTavish começou a correr em direção
à beira do cais, mas Gray estendeu a mão para detê-la. Sua calma
sempre foi enervante, mas desta vez causou arrepios de pavor na
minha espinha.

Eu dei um tapa no peito de Lincoln. — O que você está


fazendo?

Ele não se mexeu.

O pânico inundou meus sentidos. Eu tinha sido roubada do


homem que me roubou primeiro. Mas ao contrário da última vez,
este homem sabia exatamente onde me encontrar. Ele sabia tudo.

Eu apertei meus dedos nas raízes do meu cabelo e olhei para


a doca enquanto ela se movia cada vez mais longe até que não era
nada mais do que um borrão. — Responda-me! — Eu o esbofeteei
novamente, desta vez em seu bíceps firme. — Que porra você está
fazendo, Lincoln?

Ele olhou para o oceano à nossa frente, focado e determinado.


Além de flexionar e relaxar sua mandíbula, não havia nenhum
sinal de que isso o afetasse.

— Você acabou de matar nós dois! — As palavras saíram da


minha garganta, arranhadas por toda a gritaria.
Se alguém matasse Kipton tão poderoso quanto ele... se sua
morte não fosse um acidente... não havia como dizer o que eles
fariam conosco. A menos que esse alguém fosse Gray. Gray nunca
me machucaria.

Mas eu não poderia dizer o mesmo de Lincoln. Ele quase


matou Lincoln na praia com as próprias mãos.

Mais silêncio.

Ele deu um murro no volante e olhou para frente até que


estávamos no meio do nada cercados por uma infinidade de azul.
Então ele fez algo com o acelerador e uma marcha, fazendo o barco
desacelerar até parar.

Lincoln se virou e disparou para frente, parando a centímetros


do meu rosto. — Você acha que eu ia deixar você ir? Que eu ia
deixar ele te levar de novo? — Seu peito arfava com cada palavra
que soava desesperada. — Que eu ia deixar ele te machucar de
novo?

Lincoln acreditava que o que aconteceu com Gray tinha sido


estupro.

Eu não concordava.

O que quase aconteceu comigo naquele chalé teria sido


estupro. Minha noite com Gray não chegou nem perto disso.

Eu sabia que sexo com Gray era inevitável. Ele me contou


sobre isso semanas antes de acontecer. Eu planejei isso. Eu
esperei por isso. E quando finalmente chegou, eu estava pronta
para isso. Sabendo que isso machucava Gray também, que se ele
tivesse uma escolha, isso nunca teria acontecido, tirou um pouco
do feio disso. Para mim, foi apenas uma colisão trágica de duas
pessoas lutando pelo mesmo objetivo – manter aqueles homens
longe de mim.

Talvez eu estivesse errada. Talvez eu estivesse mais fodida do


que eu sabia.

— Você não os conhece como eu, baby. Você não sabe do que
eles são capazes. Eu já vi. — disse Lincoln. Algo brilhou em seus
olhos – medo, raiva, pânico – todas as opções acima. Era selvagem
e aterrorizante. Eu sabia do que eles eram capazes. — Eu vi isso,
porra. — Ele baixou a voz e deu um passo para trás. — E eu não
posso des-ver. Mas agora toda vez que as memórias passam pela
minha mente, é o seu rosto que eu vejo. É você pendurada naquela
árvore.

Pendurada em uma árvore? Ah, Lincoln. O que diabos eles


fizeram você passar? O que quer que ele tenha visto foi muito pior
do que eu passei.

Eu empurrei minhas próprias emoções para baixo e me


concentrei nele. Com passos lentos e cuidadosos, fechei a
distância que ele havia criado entre nós. Minha mão embalou a
curva de sua mandíbula. Falei baixinho, trazendo meus lábios aos
dele, como domar uma fera selvagem. — Eu estou bem aqui. E
prometo não chegar perto de nenhuma árvore. — Eu sorri, embora
meu coração parecesse que eu tinha corrido uma maratona.

— Farei o que for preciso para mantê-la segura. — Sua voz


estava calma, firme e honestamente, meio assustadora.

— Eu sei que você vai.


De volta à casa de Tatum, Chandler estava no pátio dos fundos
atrás de uma churrasqueira. Nuvens de fumaça subiam com as
chamas e a carne chiava na grelha de metal quente.

Ele jogou a cabeça para trás e riu quando eu subi segurando


a mão de Lincoln. — Eu fodidamente adivinhei isso.

Lincoln bufou. — Você não adivinhou merda nenhuma.

Chandler apontou para a grelha com um conjunto de pinças


de aço inoxidável. — Não? Por que você acha que eu cozinhei cinco
bifes?

— Porque você é um filho da puta faminto? — Lincoln


respondeu, sem esperar por uma resposta enquanto abria a porta
e me conduzia para dentro.

Caspian estava deitado no sofá com Tatum descansando entre


as pernas. Ele desviou o olhar da televisão para nós, então
balançou a cabeça. — De todas as merdas impulsivas de imbecil
que você fez, acho que essa é a pior.

Pela primeira vez, eu concordei com ele.

Lincoln passou o braço sobre meu ombro e me puxou contra


seu lado. — Eu tenho que mantê-la segura. Eu farei o que for
preciso. Você, de todas as pessoas, deveria entender isso.

Caspian olhou para Tatum antes de encontrar o olhar de


Lincoln novamente. — Sim. Eu entendo. — Ele soltou um longo
suspiro. — Porra. — Ele cutucou Tatum para se sentar para que
ele pudesse sair do sofá. — Venha comigo. — ele disse a Lincoln.
Então ele bateu no vidro para chamar a atenção de Chandler. —
Encontrei algo ontem à noite que pode ajudar.

Então, era isso? Eles iam apenas encorajar Lincoln? Inventar


algum plano diabólico para todos nós desaparecermos e vivermos
nesta ilha?

Essa coisa toda estava me dando dor de cabeça.

Eu me sentei no sofá ao lado de Tatum, cutucando-a com meu


ombro. — Betcha pensou que você se livrou de mim.

Ela me entregou um saco meio comido de M&Ms de


amendoim. — Você nunca foi a lugar nenhum.

Tatum não comia M&Ms de amendoim. Eu fiz. Vê-la sentada


aqui agora, logo depois que eu tive que sair, com meu doce favorito
no colo, fez meu coração inchar. Todo esse tempo, todos esses
anos, ela carregou um pedaço de mim com ela como podia. Eu
nunca fui a lugar nenhum.

Aguente firme, soldado. Não chore, porra.

— Se você me disser que tem um Dr Pepper, eu posso te beijar


nos lábios.

— Bem... — ela pausou o filme que eles estavam assistindo.


John Wick pelo que parece. Ele me lembrava de Gray – quieto,
quebrado e perigoso. Então ela pulou do sofá e foi em direção à
cozinha. — Parece que hoje é o nosso dia de sorte. — Então ela
piscou para mim e abriu a geladeira.

Afundei nas almofadas e coloquei um M&M verde na boca.


Tatum se sentou ao meu lado, me entregando um Dr Pepper.
— Eu pensei que seria estranho... — ela puxou a aba de alumínio,
abrindo a lata com um silvo carbonatado. — …vendo você com
meu irmão.

Abri minha lata e tomei um gole, deixando o gás frio acalmar


minha garganta. Não havia nada como esse sentimento. — E é?

Ela sorriu e se recostou na almofada. — Na verdade, não. —


Seus olhos azuis brilhantes brilharam. Essa era a Tatum que eu
tanto sentia falta. Ela ainda estava lá. A vida tinha acabado de
mudá-la da mesma forma que tinha mudado a mim. — É
realmente bom. Vocês dois ficam bem juntos. Ele é um Lincoln
diferente quando está com você.

— Espero que seja uma coisa boa.

Ela tomou um gole, depois roubou um M&M, colocando-o na


boca. — Isso é uma coisa muito boa.

Passamos o resto do tempo conversando sobre sua vida na ilha


e por que ela e Caspian deixaram Nova York. Contei a ela sobre
suas visitas a mim na Escócia e como elas eram a única coisa que
eu tinha para me segurar na maior parte do tempo.

Eu sabia que Gray me encontraria. Era apenas uma questão


de tempo. E eu sabia que o resto da Irmandade não estaria muito
atrás dele. Mas por enquanto eu ia gostar de me sentir normal
novamente, mesmo que não houvesse como isso durar.
O escritório de Caspian parecia um centro de controle da
NASA. Ele tinha três mesas juntas para formar uma ferradura no
meio da sala com monitores de computador e outros equipamentos
montados na superfície. Não havia janelas, e ele disse que as
paredes eram à prova de som.

— Que porra é essa? — Fui até um dos monitores onde a


atividade da conta bancária de alguém estava em exibição.

— Não toque em nada. — disse Caspian.

Olhei para as outras telas. Algumas delas mostraram vários


artigos de notícias. Algumas delas eram feeds de vídeo ao vivo. —
Que. Porra. É. Essa? — Eu sabia que Caspian estava em uma
missão para derrubar a Irmandade, mas isso era uma merda de
próximo nível.

Ele se sentou na cadeira de couro da escrivaninha. — Esta é a


verdade e estou usando isso como minha arma. — Ele apontou
para um sofá do outro lado das mesas. — Você pode querer se
sentar para o resto.
Ontem à noite eu aprendi mais sobre meu pai e sua fodida
sociedade secreta do que eu queria. Achei que aquela merda no
The Grove era ruim. Era apenas o começo.

Caspian confessou ter matado seu pai. Ele atirou na cabeça


dele e fez parecer um suicídio. Algo sobre isso me deixou orgulhoso
pra caralho que este era o homem que passaria sua vida cuidando
da minha irmã. Eu sabia que ela sempre estaria segura. Eu queria
ser isso para Lyric.

Eu ia ser isso para Lyric.

Kipton Donahue provavelmente estava no Inferno lutando


contra o Diabo por seu trono agora. Eu conhecia outro que não
estaria muito atrás dele. Nesse ritmo, poderíamos acabar com a
Irmandade em questão de meses.

Esta manhã, voamos de volta para Nova York com Chandler


em um jato particular. Aquele filho da puta tinha mais conexões
do que um hub da Delta5.

Lyric não dormiu uma piscadela ontem à noite... e não foi só


porque eu tive minha língua em todos os pequenos buracos dela
durante a maior parte do tempo. Ela se encolheu a cada barulho.
Ela nos fez descer no carro até chegarmos ao aeroporto e insistiu
que todos usássemos um dos moletons de Chandler e
escondêssemos nossos rostos. A viagem de JFK para o loft do meu
teatro não foi melhor. Qualquer um que visse teria pensado que
ela era uma fugitiva. Suponho que de certa forma ela era. Ela era
uma prisioneira, e eu a libertei.

5
Ele faz referências a um aeroporto grande da Delta.
O teatro estava escuro e silencioso enquanto eu a conduzia
pelo corredor central até as escadas.

Seus olhos vagaram dos assentos para as pinturas nas


paredes e até a varanda. — É isso? Tudo isso é seu?

Eu puxei sua mão, pronto para tê-la em casa. Sim. Casa.


Porque agora que eu a tinha de volta, eu queimaria um filho da
puta vivo se ele tentasse tirá-la de mim novamente. — Nosso. Tudo
isso é nosso.

Sua respiração engatou, e eu sorri. Sim, baby. Você está presa


comigo agora.

Paramos do lado de fora da minha porta.

Lyric apertou minha mão. — Ele vai vir para mim. E mesmo
que ele não o faça, eles o farão.

Eles. A Irmandade. Meu pai. Gray.

Fodam-se eles. Fodam-se todos eles.

Depois do que Caspian me mostrou e Chandler ontem à noite,


não havia nenhuma fodida maneira de eu deixar alguém se
aproximar dela. Chandler fez alguns telefonemas antes de sairmos
da ilha. Tudo que eu precisava fazer era manter Lyric segura
enquanto tudo acontecia, e não havia lugar mais seguro do que
com a única pessoa que mataria um homem só por olhar para ela
errado.

— Se eles forem estúpidos o suficiente para aparecer aqui,


estarei pronto para eles. — Eu digitei o código e ouvi o giro imediato
da fechadura. Lúcifer estava esperando do outro lado da porta no
momento em que a abri.
Eu esfreguei o topo de sua cabeça. — Ei, grandão. Olha quem
eu trouxe para casa. — Ele olhou para Lyric, que estava paralisada
ao vê-lo. Eu ri. — Lyric, conheça Lúcifer.

— Você nomeou seu cachorro em homenagem a Satanás? —


Seus olhos se arregalaram. — Ele é mau?

Só quando ele precisa ser. Como eu.

Ele acariciou a perna dela com o nariz, sua maneira de dizer


olá – o que era muito anti-Lucifer. Isso só lhe rendeu um bife extra
para o jantar.

— Calma, amigo. Esta é minha. — Olhei para Lyric e pisquei.


— Acho que ele gosta de você. — Então eu me inclinei e belisquei
seu queixo com meus dentes, observando como arrepios se
formaram em sua pele. — Ele tem bom gosto.

Ela puxou o capuz sobre a cabeça e colocou-o sobre as costas


de uma cadeira, expondo uma lasca de pele entre a parte superior
de sua saia e onde sua camiseta tinha subido.

Porra.

Eu queria correr minha língua sobre aquela pele.

Ela olhou em volta para as paredes de tijolos, pisos de madeira


dura e dutos expostos. As janelas normalmente mantinham o
lugar leve e fresco, mas eu fechei as pesadas cortinas pretas
enquanto estava fora.

Algo na ilha da cozinha chamou minha atenção pouco antes


de Lyric olhar naquela direção.

Porra.
Deuce tinha aparecido para cuidar de Lúcifer enquanto eu
estava fora, e graças ao seu hábito anal-retentivo de manter a
merda onde ela pertencia, pegou qualquer lixo que eu tinha
deixado de fora. Mas eu ameacei a vida dele se ele tocasse no meu
estoque, e com certeza, bem ali no meio da bancada de granito
preto sólido estava um saco de Percs e uma bola oito. A única vez
que o filho da puta realmente me ouviu tinha que ser agora.

— Foda-se, espere. — Corri para a cozinha e peguei a lata de


lixo. Segurei-o na beirada do balcão, depois passei a mão pela
superfície lisa, limpando todo o conteúdo na lixeira.

Lyric agarrou meu antebraço. — Eu conheço você, Linc.


Lembra? — Seus grandes olhos azuis olharam para mim. — Eu
posso não gostar, mas você não precisa se esconder de mim.

— Eu não quero essa merda perto de você. Não vou cometer


esse erro novamente. — Soltei a lata de lixo, deixando-a cair no
chão com um baque metálico.

Ela tirou meu cabelo da minha testa. — O único erro que você
cometeu foi pensar que não havia problema em colocar essa merda
em qualquer lugar perto do meu corpo. É aí que a culpa termina
para você. Não foi você que tirou minha vida.

— Eu sei disso agora, mas por quatro anos e meio... quatro


anos e meio de merda, Songbird... — Por quatro anos e meio a
culpa foi como um tumor, me matando lentamente,
dolorosamente. Alimentei-a com pílulas e cocaína e a reguei com
álcool até que floresceu em uma imprudência que eu desejava que
me matasse.
— Eu sei. — Ela acariciou o lado do meu rosto, e eu me inclinei
em seu toque – um toque que acalmava meus demônios como nada
mais poderia. Assim como ela tinha feito ontem no barco quando
eu pensei sobre o que poderia ter acontecido com ela, o que ainda
poderia acontecer com ela se ela voltasse. — Eu sei.

Abri a torneira da pia da cozinha e esguichei um punhado de


sabão na palma da mão. De jeito nenhum eu iria tocá-la com as
mãos manchadas. E eu estava fodidamente tocando-a. Faziam seis
horas completas desde que eu tinha colocado minhas mãos nela.
Eu sonhei com ela estando aqui assim, ouvindo seus gemidos
ecoando nessas paredes muitas vezes para esperar mais.

Ela pulou na bancada e observou enquanto eu ensaboava


minhas mãos. Sua língua saiu e molhou o lábio inferior. Aquele
fodido lábio brilhava com sua saliva – implorava para ser chupado,
mordido e machucado pela minha boca, então revestido em meu
esperma.

Porra.

Meus olhos escanearam seu corpo, desde suas pernas


bronzeadas e nuas até sua saia curta amarela com babados e a
forma como seus mamilos pontilhavam através de sua fina camisa
branca. Eu queria sujar essa camisa pra caralho. Assim, ela estava
em minhas veias mais espessa do que aquelas drogas jamais
poderiam ter sido.

Um sorriso lento se espalhou pelos meus lábios. Eu segurei


minhas mãos sob a água, então as enchi com outra dose de sabão
espumoso. Lyric olhou para mim, seus lábios entreabertos e olhos
escuros. Eu adorava quando ela me olhava daquele jeito – rosto
inocente com uma mente suja. Eu amei muito pra caralho.

Eu ensaboei minhas mãos até que elas estivessem cobertas de


espuma, então as corri para cima e para baixo em suas coxas
nuas.

Ela engoliu em uma respiração estremecida. — O que você está


fazendo?

— Qualquer merda que eu queira.

Minhas mãos percorreram suas coxas, espalhando suas


pernas e cobrindo sua pele com sabão enquanto eu subia. Inclinei-
me para frente e mordi seu mamilo através de sua camisa de
algodão. Ela inclinou a cabeça para trás e gemeu. Porra, esse som.
Eu estava chapado por ela. Cada som que ela fazia, a partir de
agora até sempre pertencia a mim. Esses eram meus gemidos.
Meus gemidos.

Esfreguei minhas mãos para cima e para baixo em suas coxas


de dentro para fora, mais forte, cavando meus dedos mais fundo.
Eu queria marcá-la, machucá-la. Eu queria lembretes de mim em
toda a sua pele.

Mordi seu outro mamilo e o doce som de outro gemido encheu


a sala. Deus, eu poderia ouvir aquele som para sempre.

— Não há ninguém aqui, baby. Você não precisa mais ficar


quieta. — Eu vou fazer você gritar.

Molhei minhas mãos e as cobri com sabão novamente. Desta


vez eu as arrastei até seus lados, debaixo de sua camisa até seus
seios perfeitos. — Retire isso.
Ela levantou a camisa sobre a cabeça, então desabotoou o
sutiã e o tirou também.

Seus seios eram perfeitos, cheios e implorando para que meu


pau os machucasse novamente. Minhas mãos deslizaram para os
lados e para os seios. Minha boca imediatamente começou a
molhar. Porra. Essa mulher era minha ruína. Eu cobri seu corpo
com espuma, passando meus dedos sob o cós de sua saia até que
seu corpo estava se contorcendo contra a bancada e minhas mãos.
Jesus, era sexy. Voltei entre suas coxas, roçando meus polegares
sobre sua boceta através do tecido de sua calcinha. O fino tecido
branco delineava seus lindos lábios inchados e a umidade entre
eles. Deus, eu amava o jeito que parecia.

— Já está tão fodidamente molhada.

Um gemido ofegante. — Por favor, Lincoln. — Ela rolou os


quadris contra a minha mão.

Lyric tinha esse jeito de me implorar para tocá-la com os olhos.


Um olhar foi o suficiente e eu estava duro pra caralho. Mas quando
ela usava seu corpo e aquela palavra – aquela maldita palavra –
era como ir à igreja. A maneira como os reflexos dos vitrais e os
ecos de um coral encantador fizeram algumas pessoas se sentirem
foi exatamente como eu me senti quando Lyric implorou. Era
santo.

— Eu quero que você goze em meus dedos, Songbird. Na


minha língua. Eu quero provar você toda vez que lamber meus
lábios. — eu disse enquanto empurrei sua saia ao redor de sua
cintura e arranquei sua calcinha. Então eu corri dois dedos por
sua boceta lisa e voltei a costura entre seus lábios.
— Foda-se. — ela engasgou quando seus quadris se ergueram
em direção à minha mão. Pronta. Sempre pronta pra caralho para
mim. — Lincoln. — Ela lambeu o lábio, então eu me abaixei e o
puxei entre os dentes.

Lyric estava ofegante, implorando, e quase mancando com a


necessidade. Eu adorava vê-la assim, com abandono imprudente,
sem inibições, fodendo nada além do ar com sua boceta
gananciosa. Como se eu fosse a droga dela.

Meu olhar encontrou o dela, aquecido e carente. — Você vai


cantar para mim. Com minha boca na sua boceta e meu dedo na
sua bunda... você vai cantar pra caralho. — Eu espalmei sua
boceta, facilitando meu dedo médio dentro.

— Eu quero sentir você se esticar ao meu redor, para ver como


você tomaria meu pau... — Eu corri outro dedo sobre sua bunda,
apenas uma pressão suave sobre o buraco apertado. — …aqui. —
Jesus só de pensar nisso deixou meu pau tão duro que doeu.

Agarrei seus quadris e a deslizei para fora do balcão, sua pele


pegajosa sob meu toque de onde o sabonete secou.

Ela enroscou os dedos no meu cabelo e balançou a cabeça. —


Não sei se estou pronta para isso. — Seus olhos caíram para a
ereção contra a minha calça de moletom preta, e ela ficou tensa.

— Você estará. — Eu a girei ao redor, então caí de joelhos. O


cheiro de sua excitação me levou ao limite. Almiscarado, mas doce.
Um maldito afrodisíaco como nenhum outro. — Abra suas pernas.

Ela abriu.
Eu espalmei a base de suas costas, forçando-a a se curvar
sobre o balcão. Então eu espalhei as bochechas de sua bunda com
as duas mãos. Sua boceta nua brilhava para mim, me implorando
para prová-la. — Deus, você está linda assim.

Corri minha língua sobre sua fenda da frente para trás,


varrendo seu cu e tirando um suspiro de seus lábios. Tão molhado.
Tão fodidamente doce. Ela ficou tensa ao meu redor, então eu
circulei seu buraco apertado com minha língua, então espetei a
ponta e mergulhei dentro dela. Ela relaxou e empurrou para trás
com um gemido, assim como eu sabia que ela faria. — Você gosta
disso, baby?

— Sim. — Sua voz era baixa e rouca.

— Devo tomar do jeito que você pegou o meu?

— Pegue. É seu.

Minha.

Foda-se, sim, era.

Eu me inclinei para trás e vi como a ponta do meu dedo


desapareceu dentro de seu buraco apertado. Este era o fodido céu.
Provocando-a, observando-a, saboreando cada gemido e grunhido.
Até que não aguentei mais. Eu era como um homem no deserto
olhando para uma poça de água. Eu tinha que ter um gosto.

Peguei seu clitóris entre meus lábios. Então meus dentes. Ela
gemeu novamente e um estalo alto encheu o ar quando suas mãos
bateram contra a bancada. Nada importava, exceto isso: ela. Eu
estava perdido em seu gosto, em seus gemidos. Eu adorava sua
boceta com minha boca e fodia sua bunda com meu dedo. Lento
no início. Gentil.

Então mais fundo.

E mais profundo. Todo o caminho até a articulação.

Lambendo. Sugando. Porra. Devorando.

Até que suas pernas começaram a tremer. Até que eu soube


que ela estava prestes a ficar desequilibrada. Até que seus doces
gemidos se tornaram gritos carnais. Então eu me afastei e soprei
uma respiração quente sobre seu clitóris inchado.

Ela olhou para mim, sua boca fazendo aquele 'O' perfeito. Seu
rosto estava corado e sua respiração áspera e pesada. — Deus,
Lincoln.

Sim, essa bunda levaria meu pau muito bem.

Eu trouxe meu rosto para sua boceta novamente, empurrando


minha língua para dentro. Ela soltou um som alto de “Nnnnnnn” e
se desfez.

— Você é a porra de um anjo quando goza. — E eu estava indo


direto para o inferno por contaminar ela.

Ainda bem que estávamos na cozinha e eu tinha um pouco de


óleo de coco ao meu alcance. Bem atrás de mim, na verdade. Tudo
o que eu tinha que fazer era me levantar, abrir o armário e agarrá-
lo.

Ela me observou enquanto eu abaixava minha calça de


moletom e ensaboava meu pau no óleo. Traços lentos e firmes.
Preguiçosos. Como se meu coração não estivesse batendo no meu
peito. Sua respiração ficou presa, mas ela estava totalmente
absorta no que estava prestes a acontecer, assistindo ao
desenrolar.

Eu espalmei sua bunda com minha mão lisa, esfregando óleo


em sua carne, então deslizei meus dedos em sua fenda.

Ela empurrou contra a minha mão e soltou um gemido.

Jesus, essa mulher me deixava louco.

Minha outra mão trabalhou em sua boceta, esfregando


círculos lentos ao redor de seu clitóris. Fechei o espaço entre nós,
colocando meu pau bem entre as bochechas de sua bunda. Seu
corpo ficou tenso contra mim.

Corri minha mão por sua espinha enquanto me inclinava


sobre ela. — Está tudo bem, baby. Eu cuido de você.

Meus quadris balançaram para frente e para trás, um ritmo


fácil ao longo de seu clitóris enquanto eu continuava provocando
seu clitóris. De vez em quando, eu parava e deixava a coroa grossa
e perfurada entrar em sua bunda apertada. Ela engasgou todas as
vezes.

Era um padrão lento e constante de clitóris esfregando e


provocando, e tinha minhas bolas tão apertadas que eu poderia ter
atirado minha carga por toda a porra das costas dela sem nunca
estar dentro dela.

Ela balançou de volta em mim e foi um jogo fodido.

Eu segurei a nuca dela em meu aperto e empurrei dentro dela


– apenas a ponta.

— Linc... — Ela agarrou a borda do balcão. — Porra. Lincoln.


Eu trabalhei seu clitóris mais forte, mais rápido. — Você quer
que eu pare?

Ela balançou a cabeça, sem fôlego, então empurrou sua bunda


para mim novamente.

Muuuuito.

— Essa é a porra da minha garota. — Deslizei mais para


dentro, mais uma polegada, e levou tudo em mim para não gozar.
Tão quente. Tão apertado. Jesus.

Outra polegada.

Ela estava ofegante agora, fazendo esses gemidos que eram


meu mais novo vício.

Eu balancei meus quadris, fodendo sua bunda bem devagar,


tomando cuidado para não ir até a raiz, ainda não. Estável, mas
não áspero. E minha garota me pegou como se seu corpo fosse feito
para isso. Movi minha mão de seu clitóris para sua boceta,
empurrando dois dedos para dentro.

— Você está indo tão bem, baby. — Minhas palavras estavam


quebradas, minha garganta rouca. — Você quer mais?

— Por favor. — Foi tranquilo, suave, um som necessitado


rasgando de sua garganta.

Por favor. Essa maldita palavra me matava todas as vezes. Ela


foi a única pessoa que já olhou meus demônios nos olhos e
implorou por mais.

Eu fodi mais forte, me movi mais rápido. Cada golpe era um


lembrete poderoso de aquem ela pertencia, de cujo pênis ela estava
implorando. Ciúme e possessividade alimentaram meus impulsos.
— Ele te fodeu aqui?

— Não.

Eu queria arrancar cada pedaço dele dela, apagar cada marca


que ele já tinha feito em sua pele.

— Essa bunda é minha. — Eu arqueei minhas costas e afundei


dentro dela. — Esta boceta é minha. — Mergulhei meus dedos
profundamente em sua boceta. — Você é minha.

Ela gritou meu nome enquanto seu corpo tremia embaixo de


mim e foda-me se não fosse a maldita coisa mais linda que eu já
testemunhei.

Para provar meu ponto, eu puxei para fora e gozei com um


rosnado, por toda a porra de sua pele macia, cobrindo sua bunda
e costas comigo – só eu. Sempre eu.

Essa porra aqui era o motivo pelo qual eu a desejava. Isso era
o que eu não poderia fazer sem.

Ela ficou assim por um momento, suas mãos segurando o


balcão, seu rosto e seios pressionados contra o granito frio e seus
olhos vidrados de luxúria.

Estendi a mão e gentilmente afastei o cabelo de seu rosto. —


Vá ligar o chuveiro. Eu vou tirar Lúcifer e estarei lá. — Eu adorava
limpá-la quase tanto quanto adorava deixá-la suja.
Atrás do teatro, eu havia cercado uma pequena área e
plantado um pouco de grama. Não era nada extravagante, apenas
um pedaço verde de vinte por vinte sem flores e uma árvore recém-
plantada que mal tinha três metros de altura. Estava fora de lugar
no meio da cidade e não era grande o suficiente para um rottweiler
correr, mas era nosso. Talvez um dia tivéssemos mais. Eu poderia
vender o teatro e comprar uma casa com uma tonelada de terra
em algum lugar do interior. Eu venderia seguro e Lyric daria aula
na primeira série. Teríamos filhos. Uma porra de uma comédia de
televisão. E tão chato quanto ver a tinta secar.

Porra. Isso.

Era uma grande vida... para outra pessoa. Nem todo mundo
foi feito para a besteira do cortador de biscoitos.

Eu sabia que queria Lyric. Eu sabia que não havia um único


dia pelo resto da minha vida que eu não quisesse acordar com ela
deitada ao meu lado. Eu sabia que mataria qualquer um que
tentasse tirá-la de mim.

O resto teria que se encaixar.

Assim que voltamos para dentro, as orelhas de Lúcifer se


animaram e um rosnado baixo retumbou em sua garganta. Olhei
ao redor na escuridão, mas não encontrei nada fora do lugar. Até
chegarmos às escadas.

Meu pai estava encostado na parede com as mãos nos bolsos


e um olhar presunçoso estampado em seu rosto. Eu deveria saber.
Lúcifer nunca estava errado.
Parei alguns metros na frente dele. — Eu não me lembro de
convidá-lo.

Ele empurrou a parede, então passou as mãos pela frente de


seu terno sob medida. — Quando seu nome está na escritura, você
não precisa de um convite.

Só mais um motivo para vender essa merda.

Lúcifer se alimentou da minha energia – ódio e nojo – e trotou


até onde meu pai estava. Ele mostrou os dentes e rosnou, e eu juro
por Deus, papai quase mijou nas calças. Toda a cor sumiu de seu
rosto. Seus olhos se arregalaram como pires quando ele olhou para
mim pedindo ajuda. Levou tudo em mim para não rir.

Deixei Lúcifer dar-lhe mais um rosnado antes de intervir. —


Calma, garoto. — Então eu estalei minha língua no céu da minha
boca, chamando-o de volta para o meu lado. Por mais que eu
gostasse de ver meu cachorro despedaçá-lo, eu queria ser o único
a fazê-lo.

Papai limpou a garganta e endireitou os ombros. — Eu sei que


ela está lá em cima.

Peguei a dica e estreitei os olhos. — Você vai precisar ser um


pouco mais específico.

Ele cerrou os dentes, as veias em seu pescoço esticando com


suas palavras. — Lyric, seu pequeno idiota. Eu sei que você a tirou
de Gray Van Doren. Não sei como a encontrou, mas sei que ela
está aqui. Eu vi você entrar com ela nas câmeras.
Câmeras? Que porra? Este edifício não tinha câmeras. Graças
aos meus vícios ilegais, eu tinha certeza disso. Não havia como
saber quem entrou ou quem saiu.

— Você está mentindo sobre as câmeras. Tente novamente.

Ele riu. — Você esqueceu que eu possuo o prédio do outro lado


da rua? Vamos, Lincoln. Você não achou que eu deixaria você
completamente sem supervisão, achou?

Mãe de todos os fodidos.

Eu não me mexi. Mantive meu rosto duro como pedra e


controlei minha respiração. Não deixe que ele saiba que ele tem
você.

— Estamos preparados para fazer um acordo... para deixar


você ficar com ela. — ele continuou enquanto dava um passo em
minha direção.

Deixar-me mantê-la. Como se ela fosse uma maldita


vagabunda que encontrei na rua.

Lúcifer rosnou.

Eu segurei uma mão no topo de sua cabeça. Está bem. Eu


tenho isso. Inclinei minha cabeça para um lado, olhando para ele.
— Lyric está morta. Ou você esqueceu?

— Pare de bancar o tímido, seu merdinha. Estou tentando


ajudá-lo. — Ele estava fervendo agora. O suor escorria em sua
testa, e seu rosto estava vermelho. Suas narinas se dilataram a
cada respiração raivosa.
Ajudar-me? Ele nunca me ajudou um dia na minha vida. Ele
era uma doença. Não. Uma praga. Corrompendo tudo o que ele
tocava.

Dei um tapinha no ombro dele, embora o que eu quisesse fazer


fosse rasgar sua maldita garganta. Qualquer um que vivesse sem
demônios nunca entenderia a força necessária para mantê-los
afastados, para comandar um poder que só queria destruir. — Boa
conversa, pai. Talvez da próxima vez, não comece a beber tão cedo.
— Dei-lhe uma piscadela e caminhei em direção às escadas.

— Esta é a única saída para você. — ele gritou atrás de mim.


— …Para ambos. — Eu me virei e ele continuou. — Ela tem que
deixar este prédio em algum momento. Mesmo que ela não faça,
você terá. Você não pode vigiá-la para sempre, Lincoln. No
momento em que ela estiver sozinha e desprotegida, eles a terão.
E o que eles farão com ela não vai ser bonito.

Ele disse como se não fosse um deles. Maldito mentiroso.

As garotas na floresta piscaram em minha mente, enviando


meu coração em fúria no meu peito.

— Todo mundo sabe sobre seus hábitos, filho. Sobre sua


imprudência. Ninguém piscaria um olho se algo acontecesse com
você.

Sim, todos sabiam dos meus hábitos. Eu não os enterrei na


escuridão e os escondi atrás de sorrisos falsos do jeito que ele fazia.
Ele manteve seus segredos bem guardados. Mas não tão apertados
que Caspian não pudesse encontrá-los.

Eu olhei para ele. — Você está me ameaçando?


— Estou tentando te ajudar!

E estou prestes a destruir você.

Lúcifer rosnou novamente, e desta vez eu não o impedi.

— Nós terminamos aqui. — eu disse, então subi as escadas de


dois em dois, incapaz de voltar para Lyric rápido o suficiente.

A voz do meu pai ecoou pelas escadas atrás de mim. — Oh,


estamos longe de terminar.

Esperei até estar de volta ao meu loft e ouvir o chuveiro ainda


ligado antes de tirar meu celular do bolso e ligar para Chandler.
Ele atendeu no primeiro toque.

Eu soltei uma respiração profunda. — Está na hora.


Meu cabelo estava encharcado de suor. Meu short estava
encharcado. Cada respiração fazia meus pulmões queimarem. A
adrenalina disparou em minhas veias como eletricidade. Eu me
movi ao redor da gaiola com Jonah, meu parceiro de treino,
enquanto Lyric se sentava em uma cadeira próxima e observava.
Eu não a tinha perdido de vista em dois dias. As luzes do teatro
estavam apagadas ao fundo. Apenas a gaiola e as fileiras de
assentos próximas estavam iluminadas. Deuce ficou do lado de
fora da gaiola ao lado de onde Lyric estava sentada.

Vinte por cento do treinamento era mental, enquanto oitenta


por cento era físico. Em uma luta real, era o oposto. Na realidade,
era a força mental que vencia as rodadas. Agora, eu lutava contra
ambos. A cada golpe que me acertava, eu via o rosto de meu pai,
ouvia suas palavras soando em meus ouvidos.

Ninguém piscaria um olho se algo acontecesse com você.

Talvez ele estivesse certo. Talvez não.

Mas eu não estava dando a ele a satisfação de descobrir.

Chandler e Caspian ainda estavam trabalhando no plano do


que fazer com as informações que encontramos enquanto
estávamos na ilha. Eu até fiz minha parte, invadindo a casa dos
meus pais e grampeando o computador do meu pai. Depois de
anos entrando e saindo de fininho quando adolescente, eu sabia
exatamente como entrar – e entrar no escritório do meu pai – sem
ser detectado.

Era apenas uma questão de tempo até que Karma conseguisse


sua fatia do bolo. Havia um velho provérbio que dizia: Até que o
leão aprenda a escrever, toda história glorificará o caçador. Éramos
leões e todos tínhamos uma história infernal para contar. Mal
podia esperar para o mundo ler.

Uma dor imediata e aguda na minha coxa, onde o pé de Jonah


se conectou com a minha carne, me fez voltar no momento. Droga.
Isso ia deixar um hematoma.

— Vá para o dobro. — Deuce chamou do meu canto.

Meus golpes eram sólidos, e eles sempre se conectavam, mas


meu jogo de chão era onde eu os pegava todas as vezes. Eu era um
mestre em fazer os homens baterem.

Eu bati Jonah contra a lateral da gaiola e segurei meu


antebraço na cavidade de sua garganta. Seu joelho tentou se
conectar com meu rim, mas falhou. Eu recuei e dei um soco no
estômago dele. Ele fechou os olhos e soltou um suspiro, cobrindo
meu braço com sua saliva.

Lutar era um jogo sujo. Ainda bem que eu não estava enjoado.

Ele saiu da gaiola apenas para eu jogá-lo no chão e travar meu


braço em volta de sua garganta. Cinco segundos depois, ele estava
batendo na minha coxa.
— Porra, Huntington. Espero que você não sufoque sua garota
desse jeito. — Jonah disse entre tosses enquanto se sentava. Ele
olhou por cima do meu ombro para Lyric e sorriu.

Eu o empurrei de volta para baixo e coloquei a mão em sua


garganta. — Não se preocupe com o que eu faço com minha garota
e eu não vou espremer a vida de você agora.

Seus dedos puxaram minha mão. — Jesus, irmão. Foi uma


brincadeira.

— Ei, Lin. Eu te trouxe um pouco de água. — a doce voz de


Lyric chamou atrás de mim.

A tempestade girando ao meu redor se acalmou assim que a


ouvi. As batidas em meus ouvidos diminuíram para um zumbido
baixo. Eu soltei Jonah e voltei para a jaula onde Lyric estava do
outro lado. Ela torceu a tampa e segurou a garrafa em um dos
buracos da gaiola. Eu abri minha boca e deixei o líquido frio
acalmar minha garganta seca enquanto Lyric o derramava dentro.
Parte dela se derramou e escorreu pelo meu queixo. Foda-se. Eu
deixei ir.

Seus olhos caíram para meus lábios, então para a água


pingando do meu queixo no meu peito nu. Sua respiração engatou,
e uma escuridão familiar brilhou em seus olhos verdes. — Isso foi
meio quente. — Ela puxou o lábio inferior entre os dentes. — Cru
e animalesco.

Meu pau latejou contra o copo que fui forçado a usar. — Você
quer que eu te traga aqui, baby? Bater você contra a gaiola e te
foder como um animal? — Eu queria isso; suas coxas travadas em
volta da minha cintura e sua boceta sobre meu pau. Seus gemidos
guturais quando eu a bati contra a cerca.

— Por favor.

— Aquelas palavras. Eu vou fazer você gritar essa porra de


palavras.

Alguém limpou a garganta atrás de mim.

Inclinei minha cabeça. Deuce.

— Desculpe interromper, mas tem um cara aqui para ver você.


Ele está vestindo um terno e diz que é importante.

— Você conseguiu o nome dele?

— Sim. Ele disse que é Gray. Gray Van Alguma Coisa. — Deuce
olhou de mim para Lyric e de volta para mim. — Ele parece
chateado.

Merda. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo até


que ele nos encontrasse também.

Eu esfreguei a mão no meu rosto. — Diga a ele para vir para a


gaiola.

Gray inclinou um quadril contra uma cadeira de teatro


enquanto eu me inclinei contra o lado de fora da gaiola com Lyric
ao meu lado. Ela se recusou a subir as escadas como eu disse a
ela. Eu teria certeza de espancar aquela bunda teimosa mais tarde.
Por enquanto, eu a segurei perto com meu braço ao redor de sua
cintura. Eu enxuguei o suor do meu corpo e passei pelo meu cabelo
úmido. Deuce e Jonah foram embora assim que eu disse que
estava tudo bem. Embora eu soubesse que Deuce ligaria em cerca
de quinze minutos para ter certeza de que tudo estava realmente
bem.

— Deixe-me adivinhar. Você está aqui para ajudar. — Eu


ainda queria fodê-lo por tocá-la.

Gray segurou meu olhar, me encarando com olhos azuis


escuros. — Você é impulsivo, imprudente e instável pra caralho.
Não há nada que eu possa fazer para ajudá-lo. — Os olhos de Gray
se moveram de mim para Lyric. — Estou tentando salvá-la.

Salvá-la? Ele era um deles. Como diabos ele iria salvá-la? Era
como a cobra dizendo que queria salvar o rato. Gray Van Doren
era uma porra de uma cobra.

Eu apertei minha mandíbula. — Ela não vai voltar para você.

— Ela não precisa.

— Então por que você está aqui?

Ele empurrou o assento e endireitou os ombros. — Porque a


Irmandade está lhe oferecendo um acordo.

Ele não era melhor do que meu pai. Porra, eu sabia que ele era
um deles.

Tomei um gole da garrafa de água que Lyric me deu. — Já ouvi


este sermão. Não estou interessado na salvação deles.

— Eu quero que você lute comigo.

Lyric endureceu com suas palavras.


— Com licença?

— Eu e você. — Ele apontou para a gaiola. — Lá. O melhor


vence.

Não havia nenhuma maneira que ele estava falando sério. A


gaiola era meu domínio.

Olhei para seu terno sob medida cinza carvão e pele lisa e ri.
Ele parecia ter vindo direto da sala de reuniões. Ele não duraria
um round na jaula.

Sua mandíbula flexionou e ficou tensa. — Foi minha ideia e


eles foram atrás. Eles queriam sangue. Qualquer coisa bárbara
deixa seus paus duros.

Eu não discordei disso. Eu tinha visto por mim mesmo. Eu


também não era idiota. Esses homens não ficariam satisfeitos com
cinco rodadas de simples suor e sangue. Eles queriam mais. Eles
sempre queriam mais. — Qual é o problema?

— Estou do seu lado, Lincoln. Eu não sou o cara mau.

Você estuprou minha garota. Você é tão ruim quanto eles.

Eu cerrei os dentes. — A pegada.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e inalou pelo nariz. — Nós dois
entramos, mas um de nós não sai.

Lá estava – o negócio real. Morte. Era sempre sobre a morte


com eles.

— Lincoln… — Lyric se afastou de mim para me olhar nos


olhos. — Eu não vou deixar você fazer isso.
Aqueles olhos. Aquele olhar. Porra. Ela quase me quebrou.
Mas talvez Gray estivesse em alguma coisa. Talvez houvesse uma
saída. — Se eu ganhar, Lyric e eu vamos embora?

— Sim.

— E se você ganhar, o que acontece com Lyric?

— Eles não vão deixar o que você fez impune.

A dor cortou meu peito enquanto eu pensava sobre seu


sorriso, sua risada, sobre aquele fodido olhar de olhos arregalados,
e os rostos que ela fez quando gozou. A necessidade de protegê-la
tornou-se um demônio próprio, e eu estava prestes a dar a ele uma
caixa de fósforos e vê-lo queimar seu mundo.

Dei um passo em direção a ele. — Responda a porra da


pergunta, Gray. O que acontece com Lyric?

Ele encontrou meus olhos, sua confiança inabalável. — Nós


dois vamos garantir que você ganhe.

Passei as duas mãos pelo meu cabelo, não acreditando no que


ouvi. Não havia nenhuma maneira que ele disse o que eu pensei
que ele disse. — Você vai entregar a luta?

— Eu disse a você que estava aqui para salvá-la e eu quis dizer


isso.

Suas palavras não deveriam ter torcido meu coração no meu


peito. Eu o odeio. Não tive nenhum problema em matá-lo depois
do que ele fez. Dois minutos atrás, eu queria arrancar seus olhos
por olhar para Lyric. Mas aqui estava ele, sacrificando-se. Por ela.
Por nós.
Quem diabos era esse homem? Por que ele faria isso? O que
estava nele para ele?

O que você está escondendo, Gray?

— Gray, — Lyric balançou a cabeça freneticamente. — Não. —


Ela jogou as mãos no ar e rosnou. Porra rosnou. — Isso é uma
loucura. Eu não vou deixar nenhum de vocês fazer isso.

— Doce Songbird, — eu agarrei sua mão e a puxei contra meu


peito. — Parece que você não tem escolha.

Eu me forcei a respirar. Pela segunda vez na minha vida, eu


iria embora com o sangue de outro homem em minhas mãos.
Se você soubesse que poderia ser seu último dia na Terra com
alguém que você ama, como você o passaria?

Lincoln e eu passamos o nosso nus – principalmente – exceto


quando cozinhamos. Ele fez um pedido inteiro no Instacart e
fizemos um bar de tacos com sua ilha de cozinha, completo com
uma máquina de margarita para mim e um pacote de seis Corona
para ele.

Quando chegou a hora da sobremesa, todas as apostas foram


canceladas. Ele mergulhou o dedo em sorvete com sabor de
banana e arrastou-o por todo o meu corpo – em torno de meus
mamilos duros, até meu umbigo, dentro do meu umbigo e entre as
minhas coxas. E então ele se banqueteou comigo como se eu fosse
sua última refeição.

Eu fiz o mesmo com ele, então levamos nosso tempo lavando


tudo no chuveiro.

Esses momentos com Lincoln eram tudo o que eu sempre


desejei. Eles eram muito mais do que beijos roubados em armários
ou visitas noturnas na minha cobertura depois que Tatum foi para
casa. Nós finalmente conseguimos apenas... ser. E graças ao senso
de humor cruel do destino, esses momentos podem ser tudo o que
temos.
Depois do banho, ele me enxugou e me levou para o quarto
dele. — Feche os olhos e mantenha as mãos acima da cabeça. Há
algo que eu quero dar a você.

— O que? — É melhor que isso não seja algum tipo de merda


de grampo de corpo BDSM. Se havia uma coisa que eu sabia sobre
Lincoln era esperar o inesperado.

— Você me ouviu. — Ele levantou minhas mãos acima da


minha cabeça, então se inclinou para morder meu mamilo exposto.

— Que porra é essa, Linc?

Ele arqueou uma sobrancelha. — Você não ouviu.

Revirei os olhos, depois os fechei com força. O ar frio fez minha


pele se contorcer, então senti o toque macio do tecido em minhas
mãos, depois pelos meus braços e pelo meu corpo.

— Agora você pode olhar.

Olhei para a camiseta branca que agora cobria meu peito, e


meu coração caiu no estômago. — Lincoln…

Ele ficou na minha frente, em silêncio, seus olhos um país das


maravilhas cor de avelã – verdes com toques de marrom, como a
floresta. Fumegante, mas brincalhão. Seu olhar caiu para a minha
boca, então lentamente, preguiçosamente, voltou para os meus
olhos enquanto ele lambia os lábios.

— Eu gosto de você com essa camisa, Songbird. — Sua voz era


áspera e crua como se as palavras tivessem que abrir caminho
através de suas emoções para escapar.

Naquela noite em seu quarto, aquela que começou tudo, ele


rasgou minha camiseta favorita ao meio. Meu pai comprou para
mim porque quando eu era pequena, eu costumava assistir Dirty
Dancing repetidamente porque... Johnny. Aparentemente, eu
sempre fui uma otária para os bad boys. Um dia papai trouxe para
casa esta camisa branca que dizia Ninguém coloca baby no canto.
Eu usava essa camisa em todos os lugares, mesmo quando ficou
muito pequena, o que explicaria por que meus mamilos
apareceram no tecido naquela noite. Eu não fiz isso para provocá-
lo, mas fiquei feliz pra caralho que fez.

E Lincoln tinha acabado de colocar uma exatamente igual na


minha cabeça. Como?

Quando?

Ele não tinha saído do meu lado desde que voltamos da casa
de Tatum. O que significava... Oh meu Deus. Minha respiração
ficou presa no nó na minha garganta. Meu coração batia e doía,
cada gole queimava e lágrimas ardiam em meus olhos. Ele
transformou suas memórias em um lembrete físico de mim, assim
como eu tinha feito com as fotos dele no meu telefone.
Transformamos nossa mágoa em fios de esperança, algo tangível,
algo real. Ele estava me deixando entrar, me dando um pequeno
vislumbre de sua dor, me dizendo que ele nunca deixou ir.

— Você acha que pode passar por esta noite sem rasgar esta
em pedaços? — Perguntei porque não queria perder mais um
segundo em tristeza. Não poderíamos passar por isso de novo –
nenhum de nós sobreviveria. A dor destruiria nós dois.

Ele agarrou minha bunda e me levantou. — A única coisa que


estou rasgando esta noite é sua boceta. Você acha que pode lidar
com isso?
Eu enganchei minhas pernas em volta de sua cintura. — Por
que você não me tenta e descobre? — Então me inclinei e puxei
seu lábio entre os dentes.

Ele enterrou o rosto no meu cabelo e me inspirou enquanto


me levava para a cama, então me deitou.

Lincoln estava no final da cama, elevando-se sobre mim, seu


olhar escuro focado em mim. — Mostre-me o que eu faço com você.
— Ele se inclinou e segurou meus joelhos em suas mãos,
afastando-os dolorosamente devagar. — Mostre-me o que eu faço
com aquela boceta doce.

Pura fome enrolada em torno de suas palavras. O


conhecimento de que eu fiz isso com ele, eu o fiz assim, e das
coisas que ele faria com o meu corpo por causa disso me
incendiou.

Eu queria mais. Mais desse olhar. Mais dessas palavras. Mais


de sua aprovação.

Minha mão deslizou entre minhas coxas, e meus dedos


separaram meus lábios, deixando-me aberta e completamente
exposta a ele.

Suas mãos desceram pelas minhas coxas, me espalhando


ainda mais enquanto ele ia. Algo selvagem ecoou em seu peito,
baixo e profundo. Seus olhos ficaram presos na minha boceta
enquanto ele subia entre as minhas pernas. Ele trouxe suas mãos
ao redor da minha bunda, segurando punhados de carne firme em
seu aperto. Seu pau, duro como aço e grosso provocou minha
entrada.
Inclinei minhas costas e arqueei para ele, descaradamente me
esfregando contra sua ereção da mesma forma que fiz naquela
noite em seu quarto. Por favor. O calor floresceu por toda a minha
pele, se espalhando como fogo em minhas veias. Mais. Eu
precisava de mais.

— Tão sexy, — ele disse enquanto balançava seus quadris para


frente e para trás, deslizando seu pau sobre minha fenda.

Eu já estava lá, oscilando à beira do prazer. Estava


queimando, crescendo e borbulhando até que eu quase não
aguentava mais. — Lincoln, por favor.

Ele me prendeu com os braços. E então ele estava lá. Dentro


de mim. Esticando-me. Enchendo-me. Possuindo-me com cada
impulso vicioso.

Ele se inclinou e arrastou sua língua pelo meu pescoço até


minha orelha. — Você foi feita para mim. — Seus dentes
beliscaram a borda da minha mandíbula. Então meus lábios. E
minha garganta. Com cada batida de seus quadris, ele me marcou.
— Goze em meu pau, baby. Cubra-me com você. — Ele pressionou
seu osso pélvico contra meu clitóris, e eu quebrei.

Eu quebrei. Ondas de prazer, cegantes e intensas, rolaram


sobre mim.

— Grite por mim, Songbird.

E eu fiz.

Então ele pegou minhas mãos, entrelaçando nossos dedos, e


gozou com um rosnado.
Lincoln rolou de costas, descansando uma mão atrás da
cabeça e me puxando para seu peito com a outra. Nós dois
olhamos para o teto pelo que pareceram horas quando finalmente
ele quebrou o silêncio.

— Eu te amo. — Ele permaneceu focado no teto, mas seu


coração batia descontroladamente contra a minha cabeça em seu
peito. — Eu deveria ter dito isso então. — Ele engoliu. — Eu só
precisava que você soubesse agora.

Respirei fundo enquanto as lágrimas turvavam minha visão.

Ele me amava.

Eu sempre senti isso – ou pelo menos pensei que senti – mas


ele nunca disse as palavras em voz alta. Uma onda de emoções me
destruiu. Alegria. Eu estive esperando anos para ouvir essas
palavras de seus lábios. Tristeza. As coisas teriam sido diferentes
se eu soubesse? Desespero. Porque parecia muito um pedido de
desculpas e um pouco como um adeus.

Diga isso de novo. Diga mil vezes.

Mas eu sabia que ele não iria.

Eu deveria estar muito feliz, mas em vez disso meu coração


estava partido.

Eu levantei minha cabeça de seu peito e olhei em seus olhos


ardentes. — Eu também te amo.

Ele engoliu em seco. — Deite de costas. — Ele se inclinou sobre


mim, abriu a gaveta de cima da mesa de cabeceira e tirou uma
caneta preta. Ele tirou a tampa e trouxe a ponta para o meu ombro.
— Você já se perguntou como você ficaria com tatuagens?
Na verdade, não. Mas eu adorava o jeito que elas pareciam
nele.

— Você está desenhando tatuagens no meu corpo?

Ele encolheu um ombro e continuou escovando a ponta em


minha pele.

— Você pode pelo menos me dizer quais são? — Eu assisti


enquanto ele criava redemoinhos e linhas em padrões delicados.
Ele tinha um dom. Isso me fez pensar se ele tinha desenhado suas
próprias tatuagens. Acho que a criatividade era um subproduto
natural para alguém cuja mente nunca dormia.

Ele descansou de lado e se apoiou em um cotovelo. — Ainda


não sei. — Ele continuou um caminho pelo topo do meu braço,
parando no meu cotovelo antes de voltar. — Você confia nele? —
Ele estava falando sobre Gray. Tinha sido o elefante na sala desde
que ele visitou o teatro cinco dias atrás.

— Eu penso que sim. — Foi a resposta mais honesta que eu


poderia dar.

Lincoln escreveu uma linha de algarismos romanos ao longo


da minha clavícula, depois continuou com os redemoinhos e
padrões. Eu tentei o meu melhor para ficar parada enquanto a
ponta macia fazia cócegas na minha pele.

Seu hálito quente passou pela minha carne quando ele soprou
a tinta para secar. Meu corpo rolou por instinto e ele riu. — Com
fome do meu pau tão cedo?

Faminta.
— Temos a noite toda, baby. E o resto de nossas vidas depois
disso. — Ele parecia tão calmo, tão confiante. Eu gostaria de sentir
o mesmo.

O marcador fez seu caminho sobre a crista do meu seio e ao


redor do meu mamilo. — Quase matei um homem. — Ele olhou
para mim e meus pulmões congelaram enquanto eu observava o
brilho em seus olhos quebrar e rachar como gelo em um lago. Sua
mão parou de se mover. — Foi durante uma luta. Eu tinha acabado
de descobrir... — Suas palavras foram sumindo como se ele
estivesse perdido em pensamentos. Ele engoliu em seco, então
olhou de volta para mim, descansando o queixo no meu peito. —
Eu estava... Perdido na escuridão. Eu quase torci o pescoço dele,
e eu nem percebi. — Sua voz era calma, torturada.

Eu escovei o cabelo de sua testa, em seguida, coloquei a palma


da mão em sua bochecha. — Mas você não o matou.

— Eu teria se Deuce não tivesse me parado.

Meu coração batia forte com o arrependimento em seus olhos


que entorpeciam sua faísca.

— Antes de Gray decidir ficar todo nobre e essa merda, eu já


tinha decidido que iria matá-lo. — Sua voz era crua, cada emoção
exposta. — E se ele mudar de ideia amanhã e tentar me matar
primeiro... — Sua boca percorreu meus lábios. — Não haverá
Deuce para me parar. Caso esteja preocupada. Caso você tenha
medo. Quero que saiba que farei o que for preciso para mantê-la
segura. — Ele esmagou seus lábios nos meus, brutal e feroz. Ele
mordeu e chupou e reivindicou minha boca como se estivesse
exigindo minha alma. E eu cedi a ele. Em seu arrependimento. Em
sua raiva. Em sua dor. Sua mão se moveu para o lado do meu
rosto. Seus dedos cavaram fundo no meu cabelo enquanto ele
segurava firme, levando o beijo mais profundo e fazendo meu corpo
inteiro pulsar com necessidade. Sua outra mão correu pelo meu
lado, machucando minha pele com seu aperto. Meu corpo
balançou contra sua coxa, esfregando a fricção onde eu mais
desejava. Ele rosnou contra minha boca, e eu reconheci o gosto
metálico de sangue quando ele finalmente quebrou o beijo.

Lincoln arrastou o polegar pelo sangue no meu lábio, depois o


trouxe para o seu, manchando-o antes de enfiá-lo na boca. — Você
é um acessório permanente em minha alma.

Olhei para minha carne coberta de tinta para encontrar rosas,


dezenas delas brotando de trepadeiras espinhosas e consumidas
pelas chamas.
— Por que não posso ir? — Eu perguntei, minhas palavras
saltando de volta para mim por uma porta fechada.

A porta do banheiro se abriu lentamente e Lincoln saiu. Seu


rosto estava coberto de branco com tinta preta borrada ao redor
dos olhos. Havia listras pretas nos cantos – como rachaduras. Ou
lágrimas. Seu nariz e bochechas estavam cobertos com a mesma
tinta preta, e ele delineou uma fileira de dentes sorridentes – mas
sinistros – sobre os lábios até as orelhas.

Meus lábios se separaram e um fogo queimou dentro de mim.


Este homem era meu. Tudo meu. A possessividade que ele sentia
por mim, eu sentia tanto por ele. Eu mataria qualquer um por
machucá-lo, por até mesmo tocá-lo.

Seus lábios se curvaram enquanto ele segurava meu queixo


entre o polegar e o indicador. — Acho que minha garota suja gosta
disso. — Sua outra mão alcançou entre minhas coxas e espalmou
minha boceta. — Eu acho que ela gosta muito, porra.

Calor e necessidade se retorciam na boca da minha barriga,


fazendo meu núcleo pulsar. Por um breve momento, a luta foi
esquecida. Havia apenas esse fio visceral sem fim nos unindo,
queimando, queimando, queimando em ambas as extremidades.
Lincoln se inclinou para frente de modo que seus lábios
roçaram a concha da minha orelha. — Você gosta disso, baby? —
Seu dedo médio correu ao longo do meu vinco molhado. — Você
gosta quando eu liberto meus demônios? — Um grunhido baixo
envolveu sua voz.

Sim.

Lúcifer rosnou, chamando a atenção de Lincoln para a porta.


Um segundo depois, houve uma leve batida na madeira.

— Hora de eu ir embora, Songbird. — Ele arrastou um dedo


sobre meus lábios, e meu coração saltou para minha garganta.
Não.

Agarrei sua outra mão na minha, engolindo a dor no meu


peito. — Se eu corresse, você correria comigo? — Fechei os olhos e
implorei em silêncio para que tudo isso fosse um grande pesadelo
que iria embora se eu pudesse apenas acordar.

Por favor. Deus. Destino. Alguém. Faça isso ir embora.

— Eu vou aonde você quiser, baby. — Meus olhos se abriram


ao som de sua voz. Um sorriso triste enfeitou seus lábios. — Assim
que isso acabar.

Então, com um beijo gentil de Lincoln em meus lábios, ele se


foi.

Deuce estava sentado no sofá olhando para o telefone em


silêncio. Seus dedos percorreram a tela como se estivesse
casualmente percorrendo o Instagram. Como se este fosse apenas
mais um dia. Lincoln o fez ficar comigo para ter certeza de que eu
não fugisse e o seguisse escada abaixo. Eu queria pegar a porra do
telefone dele e jogá-lo na parede.

Eu encostei minhas costas contra a porta e deslizei até minha


bunda. O peso no meu peito ficou insuportável – uma videira
torcendo e apertando meu coração.

Volte para mim, Lincoln Huntington.

Por favor. Ele sempre quebrava quando eu dizia por favor.

Lúcifer se deitou na minha frente, aninhando sua cabeça nos


meus pés.

Não havia nada. Apenas as batidas trovejantes do meu


batimento cardíaco.

Olhei para o chão abaixo de mim. As fendas e nós na floresta


escura contavam uma história que só a floresta saberia. Quando
Lincoln e eu contássemos nossa história, seríamos os vilões ou os
heróis? Farei o que for preciso para mantê-la segura.

Caspian disse uma vez que Gray era o homem mais brutal da
Irmandade. Ele realmente desistiria tão facilmente? Ele odiava a
Irmandade e tinha como missão pessoal vê-los cair. Por que ele
deixaria isso passar?

Você confia nele?

Sim. Eu confiava.

Eu precisava.

Caso contrário, eu não enviaria o homem que amo para uma


luta mortal com um homem que todos consideravam perigoso.
O pensamento de algo acontecendo com qualquer um deles me
fez querer vomitar.

O pulso do trovão ficou mais alto, uma vibração física contra


minhas costas.

Deuce olhou para cima de seu telefone, então pulou do sofá e


correu para a porta, apontando para mim com um dedo e
segurando o outro contra os lábios. — Não se mova.

Batendo. Alguém estava batendo.

Lincoln não iria bater, o que significava...

Oh Deus.

Eu deslizei para o lado, então meu corpo inteiro ficou rígido


quando Deuce abriu a porta.

— Traga ela, — uma voz masculina disse.

Deuce agarrou meu braço e me puxou do chão.

Eu me afastei de seu alcance. Eu não precisava dele para me


arrastar. Eu era capaz de andar sozinha.

O homem andou na minha frente, e Deuce atrás, me deixando


presa entre eles. Cada passo duro na escada era como uma
sentença de morte. A escada era iluminada apenas por algumas
arandelas cuidadosamente espaçadas na parede. Isso me lembrou
o Santuário.

— Onde está Lincoln? — Perguntei ao homem que havia batido


na porta. Ele estava andando muito devagar. Eu precisava descer
e descobrir o que havia acontecido, por que aquele homem estava
na porta e quem o havia enviado.
Ele era alto, mais alto que Linc e corpulento. Uma barba cheia
escondia a maior parte de seu rosto, mas seus olhos eram de um
cinza de aço e frios. Ele me ignorou e continuou andando.

— Para onde você está me levando? — Minha voz ficou mais


alta a cada palavra. — O que aconteceu com Lincoln?

Silêncio.

Minha mente cambaleou e meu coração disparou. Nada sobre


isso parecia bom. A música subia as escadas, sombria e
agourenta. Parecia um presságio.

Segui o homem e Deuce virando a esquina e entrando no


auditório. As luzes acima da gaiola estavam fracas com apenas um
brilho fraco da varanda.

Minha respiração deixou meus pulmões em uma lufada no


momento em que vi Lincoln. Ele estava parado no centro da jaula.
Sozinho. E vivo.

Onde estava Gray?

Tudo ao nosso redor brilhava vermelho dos holofotes acima,


fazendo o lugar parecer uma cripta ou uma catacumba
subterrânea. Meu sangue gelou com a visão assustadora de tudo
isso. Os assentos estavam todos vazios, exceto a primeira fila do
lado de fora da jaula, onde Malcolm Huntington, Pierce Carmichael
e Rei Winston estavam sentados. Vê-los alinhados dessa forma, em
seus ternos personalizados, com um tornozelo casualmente
apoiado em um joelho era muito familiar. Meu estômago revirou
quando nos aproximamos.
— Onde diabos ele está? — A raiva de Lincoln era aparente em
sua voz.

Gray não estava aqui?

Gray não estava aqui.

A angústia picou minha pele, deslizando sobre mim como gelo,


em seguida, quebrando meu coração.

Ele mentiu.

Eu confiei nele e ele mentiu. Eu deixei Lincoln confiar nele.

Oh, Deus. O que aconteceu agora?

O homem de preto assentiu e Deuce agarrou meu braço, seu


aperto forte e contundente. — Eu acho que você vai ver seu
namorado de novo depois de tudo. — Deuce disse.

Eu puxei meu braço, mas ele era muito forte. Meus pés
tropeçaram nas escadas.

Os olhos de Lincoln ficaram escuros e selvagens no segundo


em que ele me viu. — Tire ela daqui. — O músculo em sua
mandíbula se apertou quando seu olhar caiu para onde Deuce
segurava meu braço. — Pare de tocá-la. Tire suas malditas mãos
dela. Eu lhe disse para protegê-la e você a trouxe direto para a cova
dos leões?

Deuce sorriu, provocando Lincoln. — Não é para isso que serve


a carne fresca?

Em um piscar de olhos, o aperto no meu braço se foi e Lincoln


tinha Deuce pela frente de sua camisa, empurrado contra a gaiola.
— Oh, isso vai ser bom. — a voz sinistra de Malcom soou atrás
de mim.

O punho nu de Lincoln acertou a mandíbula de Deuce,


empurrando sua cabeça contra a grade. Ele o acertou novamente,
desta vez o sangue jorrou de seu nariz. E de novo. Mais sangue
escorreu de sua testa.

Gritei para ele parar, mas ele estava cego de raiva.

Deuce levantou os braços para revidar, mas os golpes de


Lincoln vieram muito rápidos, muito fortes.

Outro golpe. E outro. Mais sangue. Seu rosto e peito estavam


cobertos de vermelho. Outro soco. Até que o corpo de Deuce ficou
mole e Lincoln soltou sua camisa, vendo-o cair no chão.

O peito de Lincoln arfava. Gotas de suor escorriam de seu


cabelo escuro para o rosto, deixando um rastro na tinta preta e
branca. Seus dedos estavam cobertos com o sangue de outro
homem.

Mas eu corri até ele, e ele me recebeu de braços abertos. Ele


segurou uma mão ensanguentada debaixo do meu queixo, então a
inclinou para que nossos olhos se encontrassem.

Abri minha boca para falar, mas Malcolm interrompeu antes


que as palavras saíssem.

— Chega de teatro. Dê-nos o que viemos fazer aqui.

— Foda-se. — Lincoln fixou seu pai com um olhar. — Você


queria uma luta. Eu te dei uma. — Ele cuspiu no chão ao lado de
onde Deuce jazia sem vida e flácido. — Eu prometo que ele não vai
sair daqui.
Malcolm caminhou até a gaiola, enfiando os dedos nos
buracos. Ele sorriu largo. — Este? — Ele olhou para Deuce, em
seguida, de volta para Lincoln. — Isso foi apenas um bônus. Agora
é hora do show de verdade. — Malcolm riu e o som disso enviou
um arrepio na minha espinha. — Na verdade, é uma bênção que
Gray decidiu não aparecer. — Ele deu um passo para trás e
apontou para mim. — Durante anos eu vi você corromper minha
filha e seduzir meu filho. Você foi um veneno em nossa família. Eu
soube disso no dia em que encontrei você naquele centro
comunitário. Eu sabia que você não manteria sua maldita boca
fechada.

O aperto de Lincoln em mim aumentou.

A bile subiu na minha garganta, mas eu a engoli de volta. Eu


sabia que Malcolm era fodido. Ele tinha que ser para fazer as
coisas que a Irmandade fazia. Gray também era, mas ainda havia
resquícios de decência nele. Sempre esperei o mesmo para
Malcolm. Mas isso... eu nunca esperei isso. Pisquei para conter as
lágrimas de traição e o olhei nos olhos. Nada além do mal olhou
para mim. Meu batimento cardíaco era um eco oco no meu peito.

— Eu mal podia esperar para me livrar de você. — Malcolm


zombou.

A realização me atingiu com a força de mil balas.

Todo esse tempo eu pensei que era Kipton que tinha me levado
e enviado para o Dia do Julgamento.

Confrontar Kipton Donahue deveria tê-lo colocado gelado em um


necrotério com uma etiqueta no dedo do pé. Kipton não despacha
pessoas. Ele os mata.
Gray estava certo, e eu estava errada, muito errada. Não era
Kipton.

Era Malcom.

Lincoln deve ter percebido isso também porque ele me soltou


e avançou. Suas mãos sacudiram a jaula enquanto a raiva deixava
seu corpo em um uivo ensurdecedor. Este era seu demônio,
selvagem e desequilibrado.

Corri para ele, circulando meus braços ao redor de sua cintura


e pressionando meu peso contra suas costas. Ele tremeu sob meu
toque.

— Não vou matar você. — disse Lincoln ao pai. — Não na frente


dela. Mas quando eu terminar com você, eu prometo que você vai
desejar ter feito isso. — Suas palavras estavam cheias de veneno,
e a violência saiu dele em ondas.

Algo cintilou nos olhos de Malcom que parecia muito com


medo. Ele limpou a garganta e rapidamente se recuperou.
Movendo seu olhar de volta para mim. — Fiquei esperando que
Gray te quebrasse. Achei que ele era o pior de todos nós. — Ele
balançou a cabeça como se estivesse desapontado. — Mas você o
envenenou também, eu acho. — Suas palavras eram meticulosas
e calculadas. Ele soltou um suspiro entediado. — Agora, eu vou
ter que fazer isso sozinho.

— Um de vocês não vai sair daqui. — Ele encolheu os ombros.


— Ou talvez nenhum de vocês. — Ele olhou para Lincoln. — Isso
tudo depende de você. — Seu rosto se contorceu em um sorriso
perverso. — Você tem duas escolhas, filho: matá-la ou me ver fazer
isso.
Lincoln se soltou da jaula e correu para a saída. Pierce e o rei
se levantaram, flanqueando Malcolm, e o encararam.

Corri para detê-lo, agarrando-o pelo braço. — Está bem. — Eu


me movi na frente entre ele e o portão. Meus olhos encontraram os
dele. — Você queria me salvar, agora é sua chance.

— Eu não vou tocar em você, Songbird. Não assim. — O olhar


em seus olhos estava morto. Resfriado. Quebrado.

— Lincoln, — dei um passo à frente e segurei seu rosto em


minhas mãos. — Você tem que fazer. — Eu balancei a cabeça em
direção ao seu pai. — Se você não fizer isso, ele vai.

As palavras de Gray do passado bateram em mim. Ou eu te


fodo ou eles fazem. Faça sua escolha. Mas eu lhe asseguro, você
quer que seja eu.

— Eu não vou fazer isso. — Toda a sua dor sangrou em suas


palavras.

— Você tem que fazer.

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Escute-me. — Eu mantive minha voz calma, embora meu


coração estivesse batendo forte. — Posso te ajudar. Nós podemos
fazer isso.

— Não. — Ele me agarrou pelos ombros. — Porra! — Seus


olhos ficaram ferozes. — Você se ouve? Eu não estou machucando
você.

Eu segurei seu olhar e me preparei. — Enrole seu braço em


volta da minha garganta. Você já fez isso uma centena de vezes
com aqueles homens. Eu faço o resto. — Eu implorei com um
olhar. — Eu preciso que você confie em mim.

Eu me virei e me apoiei nele. Seu corpo inteiro tremeu quando


eu enganchei seu braço em volta do meu pescoço.

— Está tudo bem, Linc. — Eu beijei seu antebraço. — Vai ficar


tudo bem. — E então fechei os olhos e prendi a respiração. Ele se
recusou a apertar, então eu fiz isso por ele. Eu empurrei seu braço
para minha garganta com toda a minha força, então tranquei meus
joelhos. — Você só tem que fazê-los acreditar que você fez isso.

— Lyric, — eu o ouvi dizer contra o meu ouvido.

Imaginei seu sorriso, focado em seu cheiro. Prendi a respiração


e esperei que a escuridão me envolvesse, esperando me perder
nela. Talvez eu desmaiasse antes que pudesse sentir o que eles
tinham feito comigo. Com alguma sorte, eles pensariam que eu já
estava morta e nos deixariam em paz.

Eu pesquisei uma vez depois do meu incidente na banheira. O


cérebro podia ficar até cinco minutos sem oxigênio antes que
houvesse algum dano permanente. As crianças faziam isso quando
faziam birras, e isso acontecia com lutadores como Lincoln o
tempo todo.

Certamente ele sabia disso também. Eu rezei para que ele


soubesse disso também.

A voz de Lincoln era como uma música, minha favorita. Eu te


amo. Eu te amo pra caralho.
Era como se eu estivesse na banheira de novo. A dormência.
A paz. Só que desta vez eu queria ser salva. Eu não queria me
afogar na escuridão.

A voz de Malcolm rompeu a escuridão assim que começou a se


infiltrar. — Eu sabia que você era fraco demais para fazer isso.

Senti o braço de Lincoln sendo puxado de minha garganta.


Abri os olhos, tentando colocar tudo em foco. A silhueta de
Malcolm era como uma sombra se aproximando cada vez mais.
Lincoln rugiu atrás de mim quando o calor de seu corpo
pressionado contra o meu desapareceu. Mais duas sombras
passaram correndo por mim, ambas gritando.

— Agora vou ter que fazer isso sozinho. — A voz de Malcolm


rosnou contra meu ouvido. Então houve o frio familiar de aço
afiado contra minha pele, bem na cavidade da minha garganta. Ele
pressionou e a picada da minha carne sendo rasgada fez meus
olhos lacrimejarem.

Onde estava Lincoln? O que eles fizeram com Lincoln?

Os pensamentos sombrios invadiram minha mente, me


provocando, me dizendo que eu estava melhor na Escócia, que
nunca deveria ter ido embora. Teria sido tão fácil desejar nunca
ter ido ao casamento de Tatum, querer a segurança de uma vida
solitária e obediente de volta. Mas eu teria perdido a oportunidade
de ver minha melhor amiga no dia mais importante de sua vida.
Eu teria perdido todos os momentos que tive com Lincoln desde
então. E mesmo que o terror percorresse minhas veias, a paz
também. Quase cinco anos atrás, Lyric Matthews morreu, e parte
de mim morreu com ela. Os últimos dias me fizeram sentir viva
novamente.

E se tudo tivesse que acabar agora, não me arrependi de um


único momento.

A picada da lâmina ficou mais afiada. Mais funda. Senti o calor


do sangue escorrendo pela minha pele.

A próxima coisa que ouvi foi a voz de Gray contra a pulsação


trovejante em meus ouvidos. Ele parecia tão perto, mas tão longe.

— Desculpe o atraso, mas meu motorista pegou o caminho


mais longo. — Uma tensão espessa encheu o ar. Eu senti isso em
meus ossos. — Cavalheiros, acredito que conheçam Caspian
Donahue...
Nossos sobrenomes eram como manchas em nossas almas.
Estávamos contaminados. Maldito seja. Não haviam homens bons
em nosso mundo. Não haviam heróis aqui. Todos nós éramos
vilões.

Você era um veneno em nossa família, e eu mal podia esperar


para me livrar de você.

Eu assisti seu coração quebrar quando meu pai disse essas


palavras. Eu vi a dor em seus olhos. Eu senti isso em minhas veias.

E então o filho da puta me deu um golpe. A dor mais intensa


que eu já senti na minha vida passou por todos os nervos do meu
corpo até que minhas pernas cederam e eu desmaiei. Pareciam
horas, apenas sentado lá, congelado, gritando de dentro para fora,
mas incapaz de se mover, fodidamente incapaz de ajudá-la.

Eu estava pronto para rasgar Gray Van Doren em pedaços até


que ele apareceu com Caspian ao seu lado. Eu gostaria de ter uma
foto do rosto do meu pai quando eles entraram. Pierce Carmichael
quase se cagou quando Chandler os seguiu.

No segundo em que consegui me levantar novamente, peguei


Lyric em meus braços.
Chandler olhou para mim de fora do ringue. Seu olhar caiu
para o rio de sangue que jorrava de seu corte. — Tire ela daqui.

Eu não precisava de suas exigências. Eu a estava levando de


qualquer maneira.

Gray abriu a saída da jaula. Algo como dor – ou talvez


arrependimento – apertou seu rosto quando passei por ele com
Lyric em meus braços. Bom. Ele precisava ver o que sua ausência
havia custado a Lyric.

Caspian e Chandler foram até onde meu pai estava com o rei
Winston e Pierce Carmichael.

— Parece que temos que recuperar o atraso, — disse meu pai.


O mero som de sua voz me fez querer arrancar suas cordas vocais.

O som da porta da gaiola se fechando ecoou sobre a música


que ainda estava tocando.

A voz de Gray flutuou no ar quando cheguei às escadas com


Lyric. — Vocês três podem querer se sentar.

Eu levei Lyric para cima e limpei seu corte, agradecendo porra


que não era profundo o suficiente para causar qualquer dano real.
Então eu a enfaixei e a levei para a cama, onde me deitei ao lado
dela, acariciando seu cabelo até que ela voltasse a dormir. Eu
poderia bater na bunda dela por tentar fazer a merda que ela fez,
por até pensar que era uma boa ideia. Mesmo que no minuto em
que ela me disse para confiar nela e que ela faria o resto, eu sabia
exatamente o que ela havia planejado.

Minha garota era tão fodidamente forte. Tão fodidamente


corajosa.
Lúcifer rosnou com a batida na minha porta.

Esfreguei sua cabeça enquanto deslizava para fora da cama.


— Bom menino.

Chandler estava do lado de fora da minha porta, segurando


uma Glock na mão. — Achei que você gostaria de fazer a honra.

— Agora? — Olhei por cima do ombro para ter certeza de que


Lyric não tinha acordado e me seguiu. — Eu pensei que estávamos
enviando ele...

— Não seu pai, idiota. O outro cara. — Chandler me


interrompeu. — O maldito no chão.

Deuce.

— Eu cuidei dele. Ele não vai foder comigo de novo. — Ele não
tocaria Lyric novamente. Eu quebraria seus dedos, um por um.

— Você pode querer descer.

Do que diabos ele estava falando? O que estava acontecendo?

Olhei por cima do ombro mais uma vez para ter certeza de que
minha garota ainda estava na cama. Então fechei a porta e segui
Chandler de volta para baixo.

Deuce estava acordado. Ele estava sentado com as costas


encostadas na gaiola, gritando palavrões para meu pai.

— Isso não fazia parte do acordo. — disse ele, em seguida,


cuspiu sangue no tapete.

O sangue correu para minha cabeça enquanto a adrenalina


me empurrava para frente. Porra, ele acabou de dizer?

Que acordo?
— Você me disse para vigiá-lo, para que você soubesse se ela
aparecesse, se ele a visse. Você nunca disse nada sobre isso. —
Deuce pressionou um dedo no corte acima do olho e estremeceu.
— Ele nunca deveria descobrir.

Abri a porta da jaula e entrei, parando cerca de um metro e


oitenta na frente dele. — Nunca deveria descobrir o quê? — Minha
mandíbula apertou.

Minha mente lutou contra a verdade das peças que estava


juntando. Este era o meu treinador. Meu amigo. Eu confiei nele.

Ele cuspiu novamente, desta vez na minha direção. — Foda-


se. — Ele o encarou. — Você é um maldito lunático. — Ele jogou a
cabeça para trás contra a gaiola. — Vocês todos são.

Dei outro passo. Atrás de Deuce, vi meu pai se levantar. —


Como você saberia? Você está trabalhando para ele? — Apontei a
arma na direção de papai.

Meu pai sorriu. Como se estivesse orgulhoso deste momento.

Apontei a arma de volta para Deuce. — Responda-me! — Dei


mais dois passos à frente. Estávamos a apenas um metro de
distância agora. Meu pulso trovejou e tudo o que vi foi vermelho.
— Eu confiei em você, filho da puta.

Deuce sorriu, lento e largo. Maldito filho da puta. Seus dentes


brancos estavam cobertos de sangue. — Eu acho que foi apenas
mais um dos seus muitos erros de merda.

— Quanto? — Eu perguntei a ele.

Suas sobrancelhas franziram.


— Quanto ele te pagou para vender sua alma? — Eu esperava
que valesse a pena porque eu estava pronto para mandá-lo direto
para o inferno.

As narinas de Deuce se dilataram enquanto ele lutava por ar.


Sua mão apertou seu lado, como se suas costelas não pudessem
tomar a posição em que ele estava sentado. Eu estava prestes a
fazer um favor a ele.

Eu inalei uma respiração profunda e me preparei. Meu dedo


estava firme no gatilho enquanto a raiva que batia em minhas veias
começou a se acalmar dentro de mim. Os demônios não estavam
mais dançando. Eles estavam assistindo com a respiração
suspensa.

E então soltei minha respiração e apertei o metal.

O sangue escorria de sua testa, misturando-se com o resto do


carmesim em seu rosto. Sua cabeça caiu para frente e seu corpo
caiu quando o último suspiro deixou seus pulmões.

Eu levantei meu olhar e encontrei os olhos do meu pai. Foi


uma sensação engraçada, olhar para o rosto do diabo e ver
vislumbres de mim mesmo ali.

— Que tal agora? — Perguntei a ele, enquanto me lembrava


daquela noite em Crestview Lake, aquela em que ele me entregou
um machado. — Você está orgulhoso agora?

Saí da jaula e entreguei a arma a Chandler. Eu deixei Lyric


sozinha tempo suficiente. Se eles quisessem se despedir, poderiam
fazê-lo sem mim. Eu tinha feito o meu ponto.
— Ela está bem? — Gray perguntou uma vez que estavam
todos de volta ao meu loft.

Ele se sentou no sofá com Caspian enquanto Chandler se


recostava em uma cadeira enorme com os pés apoiados em uma
otomana. Fui até a cozinha para pegar uma cerveja para todos nós.

— Sim. — Abri a geladeira e tirei quatro garrafas. — Ela está


fodidamente drenada, no entanto. Ela já passou por muita coisa.
— Eu não tinha certeza se algum de nós ficaria bem, mas eu teria
certeza de que Lyric estava feliz... e segura.

Eu distribuí cervejas como doces, e todos eles aceitaram de


bom grado, abrindo as tampas e tomando um gole antes que eu
pudesse me sentar.

— Não se esqueça de dar gorjeta ao seu garçom, vadias. — Eu


me sentei na cadeira em frente a Chandler, então tomei um gole
longo e lento. Porra, o líquido frio era bom descendo. Lúcifer se
deitou aos meus pés. Apoiei a garrafa no joelho e olhei para
Caspian, ainda não acreditando que ele tinha mostrado seu rosto.
Ninguém me disse que isso fazia parte do plano – ou que havia um
plano de merda. — Eles saíram?

— Sim. Eles cagaram na cama no minuto em que viram


Caspian. Mas aquela façanha com você e a arma, fodeu com eles.
— Chandler disse com um sorriso. Como um pai orgulhoso ou algo
assim.
Gray esticou um braço nas costas do sofá. — Eles sabem que
estão fodidos. Caspian poderia derrubá-los por tudo que fizeram
com ele... com Tatum... com aquelas outras garotas do The Grove.
— Ele tomou um gole, em seguida, esticou o braço para trás. —
Você é uma porra de um canhão solto e isso os deixa no limite.
Chandler soltou uma pequena bomba. E eles não são estúpidos o
suficiente para foder com Caspian. Ele é um Donahue, afinal.

— É por isso que você o trouxe? Por segurança? — Eu


perguntei.

— A luta nunca iria acontecer. Eu só precisava de um motivo


para colocá-los todos em um só lugar sem convocar uma reunião
formal.

Ele planejou a coisa toda o tempo todo.

— E você não pensou em me informar? — A raiva fervia dentro


de mim. Eu tive que tomar outra bebida para esfriar. — Por sua
causa, Lyric era um maldito alvo humano. — Inclinei-me para
frente, colocando meus cotovelos nos joelhos e olhei para ele. —
Ele rasgou sua alma em pedaços e ela ainda se ofereceu como
sacrifício.

Gray apertou a mandíbula e seus olhos continham uma pitada


de arrependimento. — Eu sei. — Seu olhar caiu no chão. — E eu
sinto muito por isso. — Ele limpou a garganta, então olhou de volta
para mim. — Um cara que trabalhava na pista do aeroporto
começou a tirar fotos com o telefone e jurar que sabia quem era
Caspian. Tínhamos que cuidar disso antes que a merda ficasse
fora de controle. — Ele segurou meu olhar. — Eu nunca quis que
nada acontecesse com ela.
Por alguma razão fodida, eu acreditei nele. Ele convenceu
Caspian a mostrar seu rosto. Era apenas para pessoas que
preferiam morrer do que admitir que ele ainda estava vivo, mas
ainda assim...

Mudei meu foco para Caspian, feito com Gray. Suas intenções
podem ter sido nobres, mas eu ainda não gostava dele. — Isso
significa que você está de volta? Você vai assumir a Irmandade?

— Não. Eu não gosto de estar no topo. — Ele sorriu sobre a


borda de sua garrafa. — A menos que envolva minha esposa.

Eu me inclinei para trás na minha cadeira. — Ainda minha


irmã…

Ele riu. — Eu gosto da minha vida do jeito que ela é. Eu estou


feliz. Tatum está feliz. Eu gosto de ser a força invisível por trás de
tudo. — Ele apontou a garrafa na minha direção. — Agora que
estamos cuidando do seu velho, isso deixa você na cabeceira da
mesa de Obsidian.

Eu zombei. — Foda-se isso. Escolha Chandler.

Chandler balançou a cabeça enquanto engolia sua bebida. —


Não pode fazer. Eu não sou sangue, lembra?

Certo. Chandler foi adotado. A única coisa que o ligava à


Irmandade era seu sobrenome.

Caspian apoiou o tornozelo em um joelho e se acomodou nas


almofadas. — Então isso deixa Gray.

— Vocês todos estão falando como se tivesse acabado. — Gray


puxou o braço do encosto do sofá e se endireitou. — Está longe de
terminar. — Seus olhos percorreram todos nós. — Isto é apenas o
começo.

Um grunhido baixo retumbou no peito de Lúcifer e seus


ouvidos se animaram. Como se fosse uma deixa, alguém bateu na
porta.

Porra?

Tirei a garrafa de cerveja da minha boca e troquei olhares com


Chandler e Caspian. Não havia como meu pai ser louco o suficiente
para vir aqui sabendo que estávamos todos na mesma sala. Não
depois do que ele tinha acabado de testemunhar.

Ou talvez ele fosse.

A sala ficou em silêncio, exceto pelo tum tum tum tum tum tum
das patas de Lúcifer contra a madeira dura enquanto ele me seguia
até a porta.

Quando abri, minha boca caiu.

— Olá, Lincoln. Gray Van Doren me disse que eu poderia


encontrar minha filha aqui.
Acordei na cama de Lincoln.

Havia apenas o brilho suave de uma lâmpada de cabeceira e a


chuva caindo contra a janela... e meu pai sentado em uma cadeira
segurando minha mão.

Talvez tudo tenha sido apenas um pesadelo.

— Você está acordada. — Um sorriso brilhante iluminou seu


rosto. Seus olhos azuis que combinavam com os meus brilharam
contra o brilho âmbar da lâmpada. Seu cabelo estava escuro agora
em vez do loiro que eu estava acostumada, e ele tinha uma barba.
Não uma barba espessa, mas o suficiente para fazê-lo parecer mais
velho do que era.

— Como...

— Estou aqui? Eu sabia? Há quanto tempo você dormiu? —


Ele terminou qualquer pergunta possível para mim.

Eu ri e ele apertou minha mão. — Tudo o que precede. — Eu


sonhava com esse reencontro há anos. Agora que estava aqui, não
parecia real.

Talvez eu tenha morrido naquela jaula. Se isso era o céu, onde


estava Lincoln?

— Você está dormindo há algumas horas. — meu pai disse.


Ok, então... não é o céu. Mas ainda assim, onde estava
Lincoln?

— Um cara chamado Gray me encontrou em Los Angeles e me


contou tudo. — A tristeza sombreou o rosto do meu pai. Presumi
que o choque inicial passou depois de seu encontro com Gray. Isso,
e ele teve as últimas horas sentado aqui para processar tudo.

Foi aí que Gray esteve nos últimos cinco dias; embrulhando


pontas soltas. Ele não estava fugindo de nós. Ele estava tramando
nossa vitória. Ou sua vingança.

— Jesus, anjo, eu sinto muito. Eu deveria saber que algo não


estava certo. — Lágrimas brotaram dos olhos do meu pai. — Eu
deveria ter...

Desta vez eu o cortei. — Eles fingiram minha morte e me


mandaram para um país estrangeiro. Não havia como você saber
disso.

Puta merda, minha garganta estava dolorida. Levei a mão ao


pescoço e passei os dedos por um curativo. A lâmina. Ele me
cortou. Malcolm ia me matar; de verdade dessa vez.

Papai engoliu em seco. Ou por causa do curativo ou por causa


da insanidade de tudo. Eu não o culpo. Se eu não tivesse vivido
isso, eu não teria acreditado.

— Eles machucaram você. — Parecia que ele estava se


culpando por tudo o que aconteceu.

— Eles não fizeram nada que eu não pudesse lidar. — Eu sorri.


— Alguém me ensinou a ser durona.
— Porra, eles fizeram. — Ele se inclinou e descansou sua testa
contra a minha. — Você é a mais durona.

A porta se abriu e meu coração disparou quando Lincoln


enfiou a cabeça para dentro.

— Eu pensei ter ouvido vozes aqui. — Seus lábios se curvaram


em meu sorriso favorito. — Ei, dorminhoca. — Ele se aproximou e
deu um beijo na minha testa.

Sim, isso definitivamente era o paraíso.

Lincoln espanou a parte de trás de seu dedo na lateral do meu


rosto. Ele lavou o sangue de suas mãos, mas seus dedos eram uma
combinação de crostas e hematomas. Seus olhos castanho-
esverdeados escureceram quando sua língua passou pelos lábios.
Seus cachos escuros caíram sobre sua testa. Seu rosto tinha sido
lavado, mas parte de mim perdeu o crânio. Parte de mim ansiava
pelo demônio.

— Você está bem? — ele perguntou, e sua preocupação me


deixou sem fôlego.

— Nunca estive melhor.

— Bom. — A travessura brilhou em seus olhos. — Porque você


está na merda por aquele golpe que você fez. No minuto em que ele
sair, — ele acenou para o meu pai. — Essa bunda é minha.

— Cuidado com sua boca perto da minha filha. — Papai


deslizou sua cadeira para longe da cama e enfiou as mãos nos
bolsos de seu jeans desbotado. — Falaremos mais tarde. Talvez
almoçar amanhã?
Eu sorri para ele. — O almoço parece perfeito. — Eu contaria
a ele sobre a biblioteca do Gray e sobre a Sra. McTavish, o
casamento de Tatum e o sequestro de Lincoln. Eu pintaria o
quadro menos doloroso para ele que pudesse, porque o resto da
minha história não era algo que ele precisava ouvir.

— Cuide bem dela ou eu vou te foder. — ele disse a Lincoln,


me fazendo rir. Esse era meu pai e Lincoln sabia que não devia
discutir. Eram duas ervilhas em uma vagem. Os olhos do papai
suavizaram quando ele olhou para mim. — Vejo você em breve,
anjo. Eu te amo.

Eu pressionei meus dedos em meus lábios e dei-lhe um beijo.


— Eu também te amo, pai.

No segundo em que meu pai saiu e a porta se fechou atrás


dele, um sorriso malicioso surgiu nos lábios de Lincoln.

— Então você quis dizer minha bunda literal ou...

Sua boca bateu contra a minha, me calando. Meus dedos se


enroscaram em seu cabelo, puxando-o mais fundo no beijo. Tudo
estava aqui, despojado e cru, sangrando da minha alma para a
dele. Eu gemi em sua boca. Mais. Ele me adorava com a língua e
me punia com os lábios. Ele se acomodou entre minhas coxas, seu
pau duro e pulsando contra meu núcleo, mesmo através do tecido
de nossas roupas. Ele afastou sua boca da minha, arrastando meu
lábio entre os dentes.

O jeito carinhoso que ele olhou para mim me quebrou. — Você


não pode fazer isso comigo nunca mais, Songbird, — ele
murmurou com respirações irregulares, então ele roçou a ponta de
seu nariz ao longo do meu. — Entendido?
Eu balancei a cabeça.

— Boa menina. — Ele rolou de costas e me embalou contra


seu peito, sua mão roçando meu cabelo.

— O que aconteceu? Onde está seu pai? — E Gray. Onde


estava Gray? A última coisa que me lembrava era dele e Caspian
aparecendo antes de Lincoln me carregar para cima. Logo depois
que Malcolm enfiou uma lâmina na minha pele.

Um arrepio gelado fez meu corpo tremer. Minha respiração


ficou presa em meus pulmões. Ele ainda estava lá fora?

A voz de Lincoln me acalmou. — Sem perguntas. Não essa


noite.

Eu levantei meus quadris da cama, silenciosamente


implorando para ele me tocar.

Ele sorriu. — Por mais que eu queira foder você agora, esta
noite estamos apenas deitados aqui. — Ele beijou o topo da minha
cabeça. — Hoje à noite, nós apenas nos curamos.

E foi o que fizemos. Isso era quem nós éramos; duas almas
danificadas tentando curar uma à outra. Não me apaixonei por
Lincoln porque ele era um bom homem. Eu me apaixonei por ele
porque minha solidão encontrou um lar em sua escuridão. Eu
nunca quis encontrar o herói porque meu pai sempre me ensinou
a me salvar. Eu amava Lincoln porque estar com ele era como estar
na luz do sol depois de passar a vida nas sombras. Eu o amava
porque, embora eu sempre falasse o que pensava, ele entendia
todas as coisas que eu não dizia. Eu era a mariposa hipnotizada
por sua chama e, juntos, queimaríamos o mundo para nos
mantermos aquecidos.
Lyric dormiu enrolada no meu peito a noite toda. Maldito céu.
Eu não dormi nada. Em vez disso, passei a noite inteira apenas
observando-a. Tão pacífica. Finalmente capaz de descansar.

Consegui deslizar para fora da cama sem ser detectado e agora


estava de pé na cozinha preparando ovos mexidos enquanto o
bacon chiava na panela.

Eu não era um cara de café, mas Lyric adorava essa merda,


então eu fiz isso também.

Assim que eu estava prestes a despejar os ovos na panela, meu


telefone apitou com uma nova mensagem de texto.

Chandler: Canal 15.

Porra. Estava acontecendo. Finalmente.

Chandler tinha algumas conexões com a dark web. Aquele


filho da puta estava em tudo. Entre suas conexões, o boot que
instalei no computador de papai e o covil secreto no estilo
Batcaverna de Caspian, eles conseguiram encontrar provas de que
Pops tinha um sério vício em pornografia. Não apenas qualquer
pornografia – do tipo que era ilegal em todos os lugares, exceto em
alguns países muito fodidos do terceiro mundo. O tipo em que os
homens se divertem torturando e matando mulheres e depois
fodendo seus corpos sem vida enquanto sangram. Meu pai não
estava apenas financiando um dos sites que filmavam essa merda,
mas também mandava garotas para eles usarem. Não é uma boa
aparência para um cara concorrendo à presidência. Saber que ele
já esteve em qualquer lugar perto de Lyric – ou de minha irmã –
me fez querer vomitar.

Peguei o controle remoto e liguei a TV. Claro como a merda, lá


estava meu pai sendo levado para fora de nossa casa algemado
com um policial de ambos os lados, segurando seus braços
enquanto o levavam para um SUV preto. A câmera foi para a porta
da frente onde minha mãe estava com a mão sobre a boca como se
ela não pudesse acreditar no que estava acontecendo, como se ela
não soubesse com que tipo de homem ela se casou.

A manchete apareceu na parte inferior da tela:

O candidato presidencial Malcolm Huntington detido pela força-


tarefa do FBI na varredura internacional de tráfico humano.

Ele nunca sairia do interior daquela prisão. Peguei meu


telefone no balcão e mandei uma mensagem de volta. Você sabe o
que fazer agora. Então eu cliquei no botão liga/desliga no controle
remoto e mexi meus malditos ovos.

O sol penetrou por uma fresta nas cortinas, destacando as


curvas delicadas do corpo de Lyric. Ela tinha uma perna chutada
para fora das cobertas e sua cabeça aconchegada no travesseiro
debaixo do braço.
Encostei-me no batente da porta com uma bandeja de café da
manhã na mão e a observei dormir. Pela primeira vez em quase
cinco anos, pude respirar novamente. Meu coração batia em vez
de acelerar. Eu não tinha um hit em mais de uma semana e nada
mais forte do que uma cerveja em mais tempo do que isso. Não
eram as drogas que eu estava viciado de qualquer maneira. Era a
fuga que eu desejava. Eu poderia passar semanas – meses
enquanto treinava – sem eles.

Agora Lyric estava em minhas veias. Eu não precisava de mais


nada.

Ela se mexeu quando me aproximei e coloquei a bandeja na


cama. Corri meu dedo sobre sua bochecha, pedindo-lhe para
acordar. Ela esticou o corpo como um gato preguiçoso, então abriu
os olhos e me deu um sorriso lento.

— O que é tudo isso? — ela perguntou quando viu a bandeja


cheia de comida.

Inclinei-me e beijei sua testa, em seguida, coloquei uma fatia


de bacon em sua boca. — O que? Eu não posso te trazer o café da
manhã na cama?

Ela estreitou os olhos enquanto mastigava.

Eu ri e peguei um pedaço de bacon para mim. — Este sou eu


te dizendo que vou passar o resto da minha vida te fazendo feliz.

— Isso significa…

— Sim, baby. Você está segura agora. — Eu movi a bandeja


para o chão, então me acomodei entre suas pernas. — Chega de
Malcolm. Chega de Escócia. — Passei minha língua sobre seus
lábios. — Chega de Gray. — Eu arranquei as cobertas do caminho
e pressionei meu pau duro contra ela. — Você é toda minha e eu
vou me certificar de que todos saibam disso.
Minha pele estava mais apertada, como se não houvesse
espaço suficiente para mim dentro do meu próprio corpo. Meu
sangue fluiu mais rápido pelas minhas veias. Meu batimento
cardíaco rugiu para a vida.

Respire, Lincoln. Apenas fodidamente respire.

Era tudo meio poético, na verdade – o fato de que sua prisão


parecia uma igreja. Já que fora de uma igreja foi onde me apaixonei
pela primeira vez pela Lyric.

O edifício maciço de tijolos tinha fileiras de janelas em arco ao


longo da frente e torres redondas emoldurando uma entrada em
estilo de catedral. Como a maioria das estruturas antigas de Nova
York, era gótica e assustadora pra caralho.

Dentro havia uma caixa de pedra sombria com gaiolas


empilhadas umas sobre as outras. Ou pelo menos era o que
parecia. Os pisos eram de concreto manchado e as paredes
pintadas de branco com marcas de arranhões estragando a
superfície. Fileiras de celas de dez por dez com barras brancas
cobriam as paredes e tinham três andares de altura. E cheirava a
uma combinação de água sanitária e água estagnada.
Meu coração martelava contra minhas costelas enquanto eu
me inclinava contra os blocos de concreto pintados e esperava.
Chandler subornou um cara dentro com um saco de maconha e
algumas fotos de stripper para levar Malcolm no refeitório da
prisão. Ele também me comprou uma janela de dez minutos na
enfermaria, e a porra do relógio estava correndo rápido.

O som de gritos ecoou no corredor, seguido pelo som agudo de


um código digital sendo digitado e depois uma porta de metal se
fechando.

Era isso.

Hora de pagar o gaiteiro.

Esperei mais um segundo até que ouvi a porta se fechar


novamente, então lentamente saí do banheiro onde estava me
escondendo.

— Está na hora do caralho. Eu poderia sangrar até a morte.


— Meu pai estava deitado em uma maca de hospital com as mãos
algemadas na frente dele. Seu macacão marrom da prisão estava
encharcado de sangue. — E diga a seus superiores que meu
advogado vai garantir que o cara que me esfaqueou nunca veja a
luz do dia.

Isso era Malcolm Huntington para você – dando ordens mesmo


quando ele havia perdido.

O quarto era frio e estéril. As únicas outras coisas aqui eram


uma pia de aço inoxidável e um armário trancado contra a parede.

Puxei a máscara cirúrgica até o queixo e passei a mão pela


frente do meu uniforme azul. Seu rosto ficou branco como um
lençol no segundo em que me viu. Ou pode ter sido a perda de
sangue.

Eu arqueei uma sobrancelha e enfiei um palito na minha boca.


— Você estava esperando outra pessoa?

— Lincoln... — Sua voz era tão fraca quanto sua aparência.


Seu olhar saltou ao redor da sala, em direção à porta, então
finalmente parou em mim.

— Ninguém mais está vindo. Somos só eu e você. — Olhei para


seu abdômen encharcado de sangue e girei o palito entre os dentes.

Seu peito arfava com respirações curtas.

— Aquele olhar. — Apontei um dedo para o rosto dele. —


Aquele ali... Aposto que é assim que Lyric parecia quando acordou
na Escócia no meio de uma fodida cerimônia de noivado.

Ele revirou os olhos. — Por favor. — Seu olhar encontrou o


meu. — Eu estava lá. Ele a tratou como uma rainha. — Seus olhos
se estreitaram. — Ela gostou.

Alimentado por puro ódio e adrenalina, eu me joguei para


frente, pegando um punhado de seu macacão no meu punho e
levantando-o da maca. — Ele a estuprou e você o obrigou a fazer
isso.

— Isso é uma questão de percepção.

Meu punho se conectou com o osso em um estalo alto. Sua


cabeça estalou para trás e o sangue jorrou de seu nariz, escorrendo
por sua boca e queixo. Eu o empurrei de volta para baixo e dei um
passo para trás, lembrando porque eu estava aqui. Eu não tinha
certeza de quantos minutos eu tinha.
— Droga. — Eu pressionei sua barriga e ele estremeceu. —
Você parece uma merda.

— Guarda — ele começou a gritar, mas eu apertei uma mão


coberta de látex sobre sua boca. Duro. Seus dentes rasparam
minha palma, quase rasgando a luva.

Eu balancei minha cabeça enquanto pegava o bisturi no meu


bolso, então o girei entre meus dedos. A lâmina de aço fez trilhas
em seu sangue enquanto eu traçava sua ferida através do tecido.

Eu pressionei, rompendo o algodão e sua pele.

Ele gritou contra a minha mão, cobrindo-a de cuspe, ranho e


sangue.

— Isto é para mim de treze anos. — Eu cavei a lâmina mais


fundo. — Pela infância e qualquer chance de uma vida normal que
você roubou dele. Por fazê-lo sentir que nunca seria bom o
suficiente. — Engoli. — Eu precisava de um pai e você me deu um
machado.

Seu estômago embrulhou como se ele estivesse prestes a


vomitar. Vá em frente. Eu seguraria minha mão bem aqui e o veria
engasgar com ele.

Eu movi a lâmina mais para baixo, mais perto de sua virilha,


então o esfaqueei novamente. — Isto é por Tatum. — Eu torci
minha mão. — Por tentar vender a porra da sua própria filha. —
Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido: — A propósito, ela está viva.
Viva e feliz e casada com a porra do Caspian Donahue.

Retirei a lâmina, limpei-a em seu macacão e a coloquei logo


abaixo do queixo.
Seus olhos eram selvagens. Frenéticos. E sua pele estava
ficando mais pálida a cada segundo.

— E isso é por Lyric.

Eu empurrei a lâmina através de sua pele e observei seu


sangue cobrir minha mão.

Li em algum lugar que ou você morre como herói ou vive o


suficiente para se tornar o vilão. Acabei de matar um monstro para
salvar uma garota. O que diabos isso me fez?

Horas depois, depois que minhas mãos estavam limpas e


minha mente estava quieta, eu deitei na cama com Lyric,
arrastando a ponta de uma caneta Sharpie sobre seu corpo nu.
Seu cheiro doce enrolou em torno de mim, e sua boca se ergueu
em um lindo sorriso fodido que fez meu pau duro.

— Onde você foi hoje? — ela perguntou enquanto eu


desenhava outra rosa em sua clavícula.

A notícia já havia se espalhado sobre Malcolm Huntington


morrendo em uma briga na prisão.

Pena.

Eu escureci minha alma com seu sangue, mas eu não a queria


em nenhum lugar perto daquelas sombras. Então fiz o que fiz de
melhor. Eu a distraí.
— Apenas alguma merda com Chandler. — eu disse enquanto
corria minha língua ao longo da delicada coluna de sua garganta.

Ela levantou os quadris, apenas a menor dica, mas eu peguei.

— Sua boceta está implorando pelo meu pau. — Raspei meus


dentes ao longo de sua mandíbula e desenhei outra linha com a
Sharpie. — É isso que você quer, baby? — Eu mordi seu lábio. —
É isso que você está pedindo?

Outra linha. Outra marca. Outra carta. Tudo em um design


perfeito entre os seios.

Ela estendeu a mão e agarrou minha bunda, empurrando meu


pau contra sua boceta.

Agarrei seus pulsos com uma mão e os segurei acima de sua


cabeça. — Ainda não. — Eu sorri. — Estou quase pronto.

Lyric arqueou as costas, pressionando seus seios perfeitos em


mim. Seu corpo era uma arma perigosa e ela sabia como usá-lo.

Inclinei minha cabeça para baixo e mordi seu mamilo. —


Ainda. — Eu desenhei outra linha abaixo de seu esterno. — Não.
— Outra linha abaixo disso. — Porra. — Mais algumas linhas logo
abaixo de seu umbigo e eu solto seus pulsos.

Segurei o marcador entre os dentes, em seguida, puxei-a para


fora da cama e para o banheiro.

Sua boca caiu quando acendi a luz e a encarei na frente do


espelho.

Ao longo de sua clavícula eu escrevi os mesmos algarismos


romanos de sempre. Todo o topo de seu peito estava coberto de
rosas envoltas em chamas porque esse era o nosso amor – lindo e
caótico – e no centro de seus seios até o umbigo estavam as
palavras Case-se comigo.

Lágrimas brotaram em seus olhos e se derramaram em suas


bochechas. Limpei-os com o polegar, em seguida, espalhei-os em
meus lábios da mesma forma que fiz com o sangue dela na
primeira noite em que a toquei.

— Eu te amo, Lyric Matthews. E não só porque você é


fodidamente perfeita ou porque você faz aquela coisa apertada com
sua boceta quando estou enterrado dentro de você. Eu te amo
porque somos uma bagunça. Mas foda-se, é lindo. Eu te amo na
luz... e na escuridão. Não sei para que tipo de merda estamos indo,
mas sei que quero fazer isso com você. Eu quero ficar para sempre
com você.

Ela ficou na ponta dos pés e pressionou sua boca contra a


minha.

— Isso é um sim? — Eu perguntei com um sorriso.

— Sim. — Ela olhou para mim com olhos azuis brilhantes e eu


fui engolido por toda a esperança que eles tinham.

Peguei a caneta e desenhei uma linha ao redor do dedo dela.


— Amanhã, nós te damos um de verdade.

A “morte” de Tatum me deixou como o único herdeiro


Huntington. Não só herdei o lugar de papai na Irmandade, mas
também ganhei uma tonelada de dinheiro que ele achava que tinha
escondido. Toda a merda ilegal que não ia direto para minha mãe
– que estava livre para viver sua própria vida agora que meu pai
não estava por perto para fazer exigências – era minha. Lyric
poderia ter cinco malditos anéis se ela quisesse. Porra, eu
compraria dez para ela; um para cada dedo.

Eu joguei o marcador no balcão, então segurei sua nuca e


esmaguei minha boca contra a dela. Eu não estava esperando
outro maldito segundo para prová-la. Seu corpo se inclinou no
meu enquanto suas mãos agarravam meu cabelo. Foi uma colisão
desesperada e fervorosa de línguas e lábios machucados. E quando
eu me afastei, nós dois estávamos sem fôlego.

Ela inconscientemente arrastou as pontas dos dedos sobre a


clavícula. — Posso te perguntar uma coisa?

— Só se envolver o meu pau... — Estendi a mão e deslizei a


ponta do meu dedo ao longo de sua boceta. — …e essa boceta.

Ela inclinou a cabeça para trás no meu peito enquanto eu


deslizava meu dedo para dentro. — Para que servem os algarismos
romanos?

— É a data do funeral de sua mãe quando você pegou minha


mão e me pediu para correr com você. — Eu a levantei e coloquei
sua bunda no balcão do banheiro. — Você gravou seu nome em
minha alma naquele dia.

Ela enganchou as pernas em volta da minha cintura e os


braços em volta do meu pescoço. — Você ainda vai correr comigo?

— É isso aí, Songbird. — Eu me aproximei de seu corpo


esperando. — Estou exatamente onde quero estar. — Eu agarrei
sua bunda e a puxei para mim. — Não precisamos mais correr.
Eu costumava ter medo do meu pai. Durante a maior parte da
minha vida, Pierce Carmichael foi uma presença intimidadora e
vingativa.

Até que decidi me tornar intimidante e vingativo também.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — Malcolm Huntington


perguntou enquanto estávamos no teatro de Lincoln, nós três em
fila como uma espécie de montagem de super-herói. Ele estava
abalado. Era evidente em sua voz.

Eu não o culpo. O cara acabou de ver seu plano diabólico para


arruinar a vida de seu filho desmoronar na frente dele. Então ele
testemunhou o mesmo filho colocar uma bala no cérebro de outro
homem.

Lincoln voltou para cima para checar Lyric enquanto


terminávamos as coisas aqui embaixo. Ele tinha feito sua parte...
por enquanto.

— Isso seria conveniente, não seria? — Gray respondeu


quando emergimos das sombras e em plena vista.

Eles ficaram lá – meu pai, Malcolm e o rei de Ayelswick – com


suas mandíbulas firmes e ombros retos como se estivessem
preparados para a batalha.
Nós trouxemos a porra da guerra. Neste mundo, o poder não
era um privilégio ou um direito de nascença. Pertencia àqueles que
foram corajosos o suficiente para tomá-lo.

Malcolm inclinou a cabeça e estreitou os olhos. — Você espera


que sejamos intimidados por meu filho lunático e algum sósia de
Caspian Donahue?

A boca de Caspian se torceu em um sorriso amargo. — É isso


que você pensa que eu sou? — Ele se aproximou, deixando
Malcolm olhá-lo nos olhos.

— Não é possível. — disse Malcolm.

— Oh, é muito fodidamente possível. Basta perguntar ao meu


pai. Ele ficou tão surpreso quanto você. — Caspian sorriu. — Oh
espere. Você não pode.

Os olhos de Malcolm se arregalaram com o reconhecimento.

Eu senti o olhar do meu pai me perfurando.

Eu não me incomodei em olhar para trás.

— E Tatum? — perguntou Malcom.

Caspian disparou pelos cinco pés que nos separavam deles e


colocou a mão ao redor da garganta de Malcolm. — Você não pode
dizer o nome dela.

— Khalid? — meu pai perguntou.

Caspian virou-se para ele tempo suficiente para responder. —


Fazendo companhia ao meu pai no inferno. — Ele olhou de volta
para Malcolm. Seus dedos ficaram brancos quando ele apertou a
garganta de Malcolm. — Enquanto eles esperam que o resto de
vocês se junte a eles.

Gray deu um passo ao lado de Caspian e colocou a mão em


seu ombro. Seu olhar estava focado em Malcolm. — Como você
pode ver, seu plano não funcionou. Agora, você tem que lidar com
a pequena questão irritante de manipular o acidente de avião que
supostamente matou três pessoas e o que aconteceu no The Grove
naquela noite.

Malcolm tossiu e bufou enquanto segurava a mão em sua


garganta. Caspian o encarou por mais alguns segundos, então
finalmente o deixou cair. Ele imediatamente começou a ofegar por
ar.

Isto. Este era o tipo de merda que eu vivia. Isso quase fez meu
pau duro.

Gray puxou a mão do ombro de Caspian.

Meu pai deu um passo à frente. — Nada aconteceu no The


Grove, exceto um grupo de homens se reunindo e se divertindo. As
crianças brincam de esconde-esconde há anos. Não há nada de
criminoso nisso.

Olhei para ele e sorri. — Tenho quatro testemunhas que


podem não concordar.

Seu rosto empalideceu. — As meninas. Era você. — Ele


engoliu. — Você as pegou.

Meus olhos se estreitaram, mentalmente fotografando o


momento exato em que Pierce Carmichael percebeu que estava
fodido. — Eu tive uma pequena ajuda.
Gray limpou a garganta. — Um último pequeno detalhe e
estaremos fora de seu cabelo. — Ele desviou o olhar para o rei. —
Existe um site chamado Crimson Sin. Ouviu falar?

O rei e Malcolm trocaram um olhar. Droga, eu gostaria de estar


tirando fotos dessa merda.

Quando ninguém falou, Gray continuou. — Sim. Eu pensei


que você poderia. — Ele se moveu diretamente na frente do rei, a
centímetros de seu rosto. Gray tinha bolas. Eu gostei dele. — A
primeira coisa que você vai fazer quando sair daqui é fechar esse
maldito site. — Ele deu um passo para trás e enfiou a mão no bolso
como se fosse uma reunião de negócios normal e cotidiana. — E
para garantir que você faça isso, passei por Ayelswick no meu
caminho para cá e peguei uma pequena apólice de seguro.

Rei Winston respirou fundo e olhou para Gray. — Você levou


Sadie.

Gray riu. — Quando eu pegar minha rainha, não será com a


intenção de devolvê-la.

— Então quem?

— Você vai descobrir em breve. — Gray respondeu, então


acenou para a escada atrás da gaiola – aquela que levava ao loft
do segundo andar de Lincoln. — Isso é tudo por hoje. Temos outros
negócios a tratar.

Caspian deu a Malcolm um último olhar. Aquele bastardo teve


sorte que Caspian não o matou. Se Lincoln já não estivesse em
cima disso, ele provavelmente teria. Mas havia todo esse
compartilhamento com as besteiras de classe que tínhamos.
Deixando todos terem sua vez. Blá, blá, blá.

Gray teve seu momento com o rei. Sua vingança viria em breve,
e eu daria minha bola esquerda para estar lá quando isso
acontecesse. Risca isso. Eu daria um dedo. Eu precisava das duas
porcas intactas.

Eu até consegui ver meu pai se contorcer um pouco.

Ao todo, foi um dia muito bom.

John Caldwell era um idiota egoísta e ganancioso que


conseguiu um lugar como promotor público. Ele também tinha um
mau hábito de jogo. Eu sabia porque eu era o apostador que
aceitava suas apostas. E ele me devia cerca de dezessete mil
dólares – mais ou menos.

Abri minha tela do Bluetooth e rolei para baixo até o nome dele
no caminho para casa. A secretária dele me encaminhou. Boa
menina.

— Ei, John. É Chandler Carmichael.

— Chandler... — Uma pausa e uma respiração profunda. —


Ei. Eu estava querendo ligar para você... — Ele estava protelando.
Filhos da puta que deviam dinheiro, mas não podiam pagar,
sempre paravam.
Eu o tirei de sua miséria. — Não estou ligando por causa do
dinheiro.

Ele soltou um suspiro pesado no telefone. Alívio, eu acho.

Algum idiota na minha frente pisou no freio graças a uma


multidão de pedestres. Eu não toquei minha buzina. Isso era NY.
Ninguém dava a mínima para a contagem regressiva da faixa de
pedestres. Atravessavam a rua sempre que tinham vontade. Eles
tiveram sorte de eu não ser o primeiro carro porque eu não era o
cara que pisou no freio.

— Lembra-se daquela coisa sobre a qual lhe enviei um e-mail?

— Sim, com o senador.

— Cuide disso e vamos chamar de pago.

Outra longa rajada de ar. Então silêncio.

Em seguida, — Considere feito.

— Boa conversa, John. Tenha um ótimo dia.

Três quarteirões depois, eu estava entrando na garagem do


meu prédio. Chamei de apartamento. Era realmente a cobertura.
Caspian deixou para mim quando ele e Tatum decidiram fingir
suas mortes e se mudar para uma ilha tropical. Eu não gostava de
esmolas, mas nenhum homem em sã consciência recusaria um
endereço sem compromisso em Hudson Yards.

— Tudo certo? — Perguntei ao segurança que estava ao lado


do elevador que ia diretamente para minha cobertura.

— Sim, senhor. Ninguém entra ou sai o dia todo.


Dei um tapinha no ombro dele quando entrei no elevador
aberto. — Você está indo muito bem, cara. Mantenha o bom
trabalho. — Foi sarcástico e eu era um idiota. O cara foi pago para
ficar na frente de elevadores o dia todo.

Digitei meu código e vi os números piscarem até o vigésimo


primeiro andar. Eu a vi no momento em que as portas de aço se
abriram, me dando uma visão ampla da minha sala de estar.

Seu cabelo escuro caiu pelas costas em ondas longas. A alça


fina de seu vestido azul marinho tinha caído de um ombro. Ela
estava de costas para mim, olhando para a cidade através das
janelas do chão ao teto. Suas pernas longas e bronzeadas saíam
do vestido curto demais, e ela estava descalça.

De todas as pessoas com quem confiar nela, eles me


escolheram.

Ela se virou, devagar, propositalmente – não de uma forma


apressada e preocupada que uma pessoa normal giraria ao ouvir
o som de alguém entrando na sala. Isso era mais como se ela
estivesse me esperando, esperando mesmo.

Cílios longos emolduravam seus olhos castanhos. Seus lábios


cheios formaram um beicinho perfeito.

Encontrei seu olhar e sorri. — Olá, princesa.

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