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ROCK & PIE

AMOR, SEXO E ROCK AND ROLL

LILIAN GALDO
ROCK & PIE

AMOR, SEXO E ROCK AND ROLL

LILIAN GALDO

EDITORA PL

1ª EDIÇÃO

2014
Copyright © 2014 EDITORA PL
Copyright © 2014 Lilian Galdo

Todos os direitos reservados.

Proibida a reprodução total ou parcial da obra.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família e amigos pelo suporte


emocional, paciência e preocupação em relação a este
meu trabalho. Como nossa família é gigante, se eu for citar
cada um, o livro terá 800 páginas. Então, resumindo:
Obrigada por tudo! Amo vocês!
1 – BEM VINDO À SELVA

“Bem Vindo À Selva! Nós temos diversões e jogos. Nós


temos tudo o que você quiser. Querido, nós sabemos os
nomes. Nós somos as pessoas que podem encontrar tudo
o que você precisar. ”
(Welcome to The Jungle, Guns N’ Roses)

O avião estava pousando e meu estômago doía mais


que nunca. Só por garantia, segurei o saquinho que o avião
disponibiliza para emergências nojentas. Melhor prevenir
do que remediar, certo? Fechei os olhos e desejei que
minha mãe estivesse ao meu lado. Ela é a única que
consegue me acalmar nas horas de pânico. O problema é
que agora eu estou pousando em outro país, e aqui eu
passarei meses longe da minha família, da minha melhor
amiga, da minha querida cidade que tanto amo: São
Paulo. Olhei ao redor e avistei os únicos rostos que
seriam capazes de trazer alguma sensação familiar à
minha vida durante os próximos meses. O Cadú estava
tirando um cochilo com a boca aberta, seu cabelo
castanho todo emaranhado e suas longas pernas dobradas
de forma que seus pés estão em cima do banco. O Tim
estava batucando sua bateria imaginária com seus braços
fortes reforçados pela camiseta azul royal justa que
abraçava seus músculos e deixava parte da tatuagem tribal
à mostra. Ele também fazia seus estranhos e famosos
barulhos com a boca. Por um milagre de Deus ele devia
estar de bom humor, pois só fazia esses movimentos
esquisitos quando se sentia de bem com a vida. Já o Ric,
eu nem precisava olhar para saber que devia estar
xavecando alguma aeromoça. Por falta do que fazer,
resolvi olhar só para ver se ele era tão óbvio quanto eu
achava. Yep! Acertei! Não sei por que ainda perco meu
tempo...
A verdade é que desde que entrei na Rock & Pie
(nossa banda de rock) há 10 meses atrás, tenho tido muito
tempo para observar a personalidade destes “meninos”,
como os chamo (o que pode ser ridículo aos olhos de
terceiros, pois com exceção do Cadú, que possui apenas
vinte aninhos, os outros já são homens barbados e estão
próximos do final da casa dos “vinte”). Cada um possui
jeitos e trejeitos totalmente diferentes do outro, mas todos
eles possuem em comum a capacidade de me fazer rir por
horas a fio. Sei que você deve estar se perguntando se não
é estranho para mim o fato de eu ser a única garota da
banda. Sendo bem sincera, eu hesitei bastante antes de
aceitar a proposta do Ric, pois sei que toda pessoa de
mente poluída pensaria que eu seria uma espécie de garota
fácil, e que a imprensa viveria inventando histórias de
supostos romances entre eu e os outros integrantes. Mas
no final eu acabei seguindo minha intuição e mergulhei de
cabeça. Se eu tive alguma experiência ruim por ser uma
espécie de Eva no Paraíso? Apenas os comentários
grotescos que eles fazem sobre as bundas femininas
alheias e a inalação constante de gases malcheirosos nos
ônibus das turnês. Fora isso, posso dizer que o convívio é
bem harmonioso. Eles me tratam como se eu eu fosse uma
espécie de irmã mais nova, sendo superprotetores e
ciumentos (barram todos os fãs boa pinta que aparecem no
camarim). Claro que eu sinto falta de uma companhia
feminina para partilhar comentários banais do tipo:
“Nossa, você viu a calça legging vermelha de onçinha
daquela garota? É super transparente e fora de moda. Fuja
das calças que marquem toda celulite, mulher!”. Não que
eu não faça esses tipos de comentários com os garotos. O
problema é que eu gostaria de uma resposta espontânea,
engraçada e totalmente maldosa, do tipo: “Né? Faltou
senso! Só não é pior que o batom roxo que ela usou para
combinar, e nem se deu ao trabalho de limpá-lo dos
dentes.” Claro que ao invés disso, tudo que ouço é
“Éééé”, ou “Pódecrê. Também achei ela super gostosa”.
Mas, enfim... nem tenho muito do que reclamar.
O avião pousou e o Tim deu um tapa na cabeça do
Cadú, que acordou num pulo e olhou ao seu redor, com
olhos super arregalados, tentando se situar. Quando viu a
cara de culpado do Tim, o palavrão que soltou foi dos
feios. Eu estava tão distraída que me assustei quando senti
uma mão em meu ombro.
- Viv’s, quer ajuda com sua mala de mão? –
perguntou Ric.
- Não, pode deixar que eu levo. Está super leve.
- Ah, não custa nada. – ele respondeu. Na verdade,
eu já sabia que isso aconteceria. Há meses que eu não
precisava segurar nenhuma mala, pois os meninos não
deixavam. Não que eu realmente me importasse, muito
pelo contrário, mas eu não queria que eles se sentissem na
obrigação.
- Obrigada, Ric!
Ao sair do avião, olhei para o céu. Estava um tempo
bem bonito, por ser um dia de março. Nem quente, nem
frio, com várias nuvens brancas que pareciam
travesseiros.
- Meu Deus! Que fome! Vamos parar para comer, né?
- Não, Cadú! Só vamos comer quando voltarmos
para São Paulo. Ninguém te falou que viveríamos de
líquidos por alguns meses, para mantermos a forma? –
debochou Tim, enquanto colocava seu óculos de sol e
passava mão pelos seus cabelos cheios e escuros. Pelo
visto o bom humor do dia teve um curto prazo de
validade, como sempre. Bem, outra coisa a explicar para
vocês: eu amo os meninos como se fossem minha própria
família, mas o Tim não facilita muito as coisas. Sério,
sempre que ele está perto de mim ele fica com esse mau
humor insuportável. Ele vive me dando patadas, me
ignorando, tentando me ridicularizar, mas eu
propositalmente o trato cada dia melhor, com mais
carinho, para ele ver que não vou me entregar facilmente
ao seu jogo. Ele definitivamente não vai com a minha
cara, e tenho certeza que me trata dessa forma na
esperança de que eu me renda e desista da banda. Sem
dúvida é o que ele mais quer. Mal sabe ele que eu sou
uma garota dura na queda. E é por causa dessa antipatia
que ele sente por mim que quando estamos próximos ele
acaba maltratando os outros, também. Sem querer ouvi o
Ric e o Cadú falando sobre ele, e comentando sobre a
atitude bad boy que o Tim vinha adotando. Eles até
mencionaram que iriam sugerir a ele um tratamento de
bipolaridade, mas isso seria uma perda de tempo. O Tim
não é bipolar, não. Ele é um idiota arrogante e cretino,
mesmo. Simples assim!
- Cara, você já provou seu ponto. Todo mundo já
sabe que você é a versão alta do anão “Zangado”, agora
dá um tempo, vai? Ninguém mais tem saco para você,
Tim! – eu disse enquanto dava um cutucão em seu braço.
Eu mal o toquei e ele deu um pulo para longe, como se eu
tivesse uma doença contagiosa. Eu revirei meus olhos,
olhei para o Cadú e disse: - É óbvio que nós vamos
comer, mas primeiro vamos para o hotel, pois a Mansini
disse que teria um carro nos esperando na entrada do
aeroporto. - Após pegarmos nossas malas, fomos em
busca da nossa carona e então... voilá! Uma super, mega
Limusine estava esperando por nós. “Muito obrigada, Rita
Mansini”, eu pensei.
A Rita é a nossa empresária, e tudo que tenho vivido
hoje em dia, na minha vida profissional, devo a ela. A
banda Rock & Pie já existe há três anos, era composta
apenas por homens e eles até faziam um sucesso relativo.
Tudo mudou quando Bruno, o baixista, saiu da banda.
Quando eles começaram a procurar um substituto, a Rita
sugeriu que eles mudassem a cara da banda, contratando
uma vocalista para dividir o vocal com o Ric. Claro que
ele não gostou muito da idéia, mas como a Rita insistiu,
ele cedeu. E certo dia a Júlia, uma amiga nossa em
comum, deu uma festa e nos apresentou. Quando ele
resolveu pegar seu violão e tocar umas músicas pra
animar, eu o ajudei no vocal e então ele se calou, me
deixando cantar sozinha. A verdade é que normalmente eu
morro de vergonha de cantar em público, principalmente
sozinha, mas naquele dia todos estavam tão descontraídos
que eu nem me importei. Quando a música acabou, o Ric
olhou para mim, pensativo, e do nada começou a rir. No
dia seguinte a Rita me ligou. Sim, o Ric pegou o número
do meu telefone com a Júlia e me indicou à banda como
nova integrante. Demorei uns dias para aceitar, mas de
quando topei, a Rita se empenhou ao máximo para que eu
começasse em grande estilo: fomos abrir o show dos
Hackerboys, uma das nossas bandas favoritas de rock e
que está bombando nas paradas há algum tempo. No dia
do show, quando a nossa banda começou a tocar e deu a
deixa para eu cantar, eu cometi o erro de olhar para
aquela multidão que estava presente e perdi o rumo. A
platéia fez um silêncio mortal e eu olhei para os meninos.
Eles estavam suando, me olhando com cara de choque.
Aquele era o maior show que eles fariam, e eu não
poderia decepcioná-los. Juntei toda coragem possível e
entrei na música, pulando a primeira frase que eu havia
perdido. Não sei como, mas no refrão da música eu já
estava tão à vontade que consegui liberar minha voz ao
máximo, dançar, interagir com os meninos e no final da
música ainda alcançei a nota aguda que tanto me dava
medo. E então esperei mais silêncio por parte da platéia,
mas nem deu tempo de respirar antes dos gritos histéricos
de “Uhuuuulll”, ou de “Mais um”, ou até mesmo os de
“Gostosaaaa”. Olhei novamente para os meninos e o Ric
passou a mão na testa, sinalizando um “foi por pouco”,
enquanto o Tim apontava as baquetas na minha direção e
soltava um “Você é demais”. Quanto a mim, me senti no
Guitar Hero ou no Rock Band, sabe, na hora que a música
acaba e aparece na tela: “YOU ROCK”. Na semana
seguinte, já tínhamos mais cinco shows agendados, e na
outra, mais nove. No mês seguinte gravamos nosso novo
cd, e três meses depois, estávamos estourando na Europa.
Os ingressos dos shows se esgotavam em questão de
horas. A Rita disse que nunca viu uma banda se dar bem
em tão pouco tempo, e os meninos começaram a me
chamar de amuleto da sorte. A verdade é que penso que
não teve nada de sorte, mas sim que tudo foi fruto do bom
trabalho da Rita e do empenho dos meninos. Sei que fui a
que menos contribuí com esse sucesso, e por isso sou tão
grata a eles. E aqui estamos, na badalada cidade de Las
Vegas, apenas 10 meses depois que entrei na banda, com
um contrato de comercial para a marca de chocolates
“ChocoRocker” e seis shows pelos EUA, além de duas
participações em programas televisivos. Aproveitaremos
a estadia, ainda, para filmar nosso novo videoclipe, e,
principalmente, concorremos a um dos maiores prêmios
da música: o VMA, na categoria de Melhor banda
revelação. Tem como reclamar de tudo isso?
- Viiii, to falando com você! – reclamou Ric.
- Oi?
- Você está bem? – ele perguntou, preocupado.
- Isso que dá não se alimentar direito. Na próxima
vez, vamos trazer uns sanduíches na mala. – insistiu Cadú.
- Você tá de sacanagem comigo! Cara, vai pensar em
sexo ao invés de ser fixado em comida!
- Tim, faz um favor? Vai pra p... – tentou responder
Cadú, mas prontamente cortei.
- Ah, pelo amor de Deus! Que criancisse! Não pedi
para vocês dois pararem com isso? Carlos Eduardo,
ignore o Timóteo Azevedo e pronto! Que saco! –
esbravejei, enquanto observava Tim revirar os olhos e
acender um cigarro. – Ah, pronto! Agora você fuma!
- Isso não é da sua conta! A não ser que você tenha
comprado meus pulmões e eu não esteja sabendo. – ele
soltou a fumaça na direção do meu rosto e deu um sorriso
torto, satisfeito por ter me irritado. Aquele sorriso sempre
queimava alguma coisa dentro de mim, me incomodando
profundamente. Claro que não era pelo fato de ele ter
covinhas, e de seus lábios serem fartos e rosados. Não,
isso não tinha nada a ver. Todos eram como se fossem
meus irmãos. Claro que o Tim era o irmão pentelho, mas
não deixava de ser uma espécie de irmão. Eu contei até
cem, respirando fundo, e me mantive quieta. Se eu
dissesse mais alguma coisa, o cara entraria em êxtase. Ele
adora me provocar.
- Estava perguntando se você está cansada, porque eu
e os rapazes estávamos pensando em ir ao Cassino. E nem
me olhe assim! Nossa agenda está super apertada e
teremos pouco tempo para nos divertir. - o Ric falou
enquanto segurava minha mão direita e a massageava.
- Eu não estava olhando de jeito nenhum, seu bobo!
Concordo com vocês! Vocês têm mesmo que sair, ir a
Cassinos e outros lugares. Estamos trabalhando demais!
Merecemos uma folga, de vez em quando. – eu respondi
prontamente, com segundas intenções.
- Pois é! Isso quer dizer que você vai fazer uma
sauna, massagens, e coisas desse tipo? Não se importa de
sairmos só os garotos?
- Coisas desse tipo. – menti. – E é claro que não me
importo! Certas coisas devem ser feitas longe de mim,
obviamente. – eu disse, rindo mentalmente e agradecendo
por eles não terem percebido a pequena ruga que fica na
minha testa, quando minto.
- Uhuul! Night of Boys, rapazes! – Cadú gritou.
- “Who Let de Dogs Out, puts, puts, puts, puts, puts”
– Tim entoou, e logo os três estavam cantando, dançando e
fazendo gestos machistas.
- Era só o que me faltava! Vocês ficam aí
comemorando esse programa de companheirismo
masculino enquanto eu vou passar o resto do dia sozinha!
Esqueceram que eu não tenho uma amiga para farrear
comigo? Isso que eu ainda tenho que trabalhar, ou vocês
também esqueceram que alguém tem que explicar para
nossa nova assistente como as coisas funcionam? – eu
disse fazendo biquinho no estilo “magoou”, na maior cara
de pau, utilizando todo meu talento de artista.
- Ah, foi mal! Bem, Vivi, valeu mesmo por estar
sendo tão compreensiva. – o Ric disse enquanto me dava
dois tapinhas no ombro. Durante todo restante do trajeto
até o hotel, eles ficaram em silêncio. Mas então achei que
tinha visto uma coisa que não poderia ser. Ou poderia?
- O quê? Alguém disse que nos hospedaríamos no
Four Seasons? É isso mesmo que estou vendo ou minha
lente está estragada? – perguntei, embasbacada.
- Uau! É mesmo o Four Seasons! Meu Deus, isso não
vai prestar, garotos! – se empolgou Ric.
- Nossa! Não é um luxo desnecessário para nossas
despesas, gente? – questionou o sempre mão de vaca Tim.
- Você esqueceu que a hospedagem está por conta da
ChocoRocker, seu trouxa? – cutucou Cadú.
- Nem preciso falar nada, preciso? – eu disse,
olhando para os dois, em tom de reprovação
2 – BOMBA DE CEREJA

“...Seus sonhos sem futuro não te fazem sorrir. Vou


te dar algo pelo que viver. Possuir você, agarrar você,
até machucar. Olá papai, olá mamãe! Eu sou sua ch ch
ch ch ch Cherry Bomb. Olá mundo, sou sua garota
selvagem. Eu sou sua ch ch ch ch ch Cherry Bomb. ” –
Cherry Bomb, The Runaways.

Nós fizemos check in naquele hotel paradisíaco e a


recepcionista nos avisou que tinha uma garota nos
aguardando na recepção. Eu já sabia que se tratava da
Bia, nossa nova assistente. Fiquei feliz da vida por ela já
ter chegado. Ela ainda não sabia, mas seria responsável
por me levar a um tour pela cidade, e eu alegarei que isso
é para nos conhecermos melhor. Hááá! Essa foi uma idéia
genial! Eu realmente estava precisando de uma garota no
nosso meio. Mas então me preocupei. E se ela fosse
daquelas garotas super certinhas, nerds, que nunca saem
de casa? Ou então daquelas garotas chatas que só sabem
falar de moda e de rapazes, anoréxicas, que se acham a
última bolacha do pacote? Bom, aí minha noite iria por
água abaixo. Antes só do que mal acompanhada, esse
definitivamente era o meu lema. Enquanto os rapazes me
deram um “Hasta la vista”, me dirigi até a recepção e
procurei pela Bia. Avistei uma garota de cabelos
castanhos compridos, mais ou menos do tamanho do meu,
com calça jeans e uma blusinha preta muito bonita, de
alças finas. Ela estava lendo uma revista. Decidi que ela
parecia legal, mas minha opinião sobre sua personalidade
seria decidida pela revista que ela estava lendo. “Que não
seja a Vogue, que não seja a Vogue, que não seja a Vogue”
– eu desejava em pensamentos.
- Beatriz Saraiva? – perguntei. A garota olhou para
mim, fechou a revista e deu um pulo para fora do sofá.
Merda! Era a Vogue. Não que seja uma revista ruim, mas
não era o tipo de revista que eu queria que minha
assistente lesse. Precisava de uma garota meio punk rock,
meio porra louca, que me fizesse rir, e não uma seguidora
de moda que quisesse interferir no meu guarda roupa. Mas
fazer o quê, né? Não seria por isso que eu demitiria a
garota. Mas seria por isso que eu passaria a noite
enfurnada no quarto comendo porcaria.
- Minha nossa, Vivianne Santinni! Você é ainda mais
linda pessoalmente. Nem tenho palavras para... quer dizer,
não quero parecer puxa saco, nem nada, mas sou sua
grande fã.
- Obrigada! Faz tempo que está aqui nos esperando?
- Não muito. Não é nenhum problema esperar por
alguém em um hotel como esse, cá entre nós. Até achei
uma revista aqui no sofá! Não que seja uma Rolling Stone,
mas para passar o tempo foi de grande ajuda.
- Graças ao bom Deus! Nossa, eu já estava nervosa,
achando que você seria uma daquelas esnobes que só
querem saber de roupa, sapatos e maquiagens! Não que eu
não ame essas coisas, mas sabe... tem muitas coisas mais
interessantes para se apaixonar. E aí, pelo sotaque notei
que você é mineira. Há quanto tempo está aqui em Vegas?
- Eu moro aqui há dez anos. O meu pai mora aqui há
vinte e dois anos, desde que ele e minha mãe se
separaram. Ele é produtor musical e resolveu vir para cá
tentar ganhar a vida. Hoje ele trabalha com figurões do
cowntry. Quando minha mãe faleceu, vim para cá morar
com ele.
- Nossa! Você passou por uns bocados! Bem, que tal
subirmos e continuar nossa conversa no meu quarto? Meu
reino por um copo d’água e um sofá confortável.
- Sem problemas! Mas... o resto da banda não veio
com você?
- Você tem quantos anos, Bia? Com certeza já passou
dos vinte, e já tem certa experiência sobre a natureza
masculina. Achou mesmo que eles iam chegar em Las
Vegas e passar mais de cinco segundos no hotel antes de
se mandarem para o primeiro Cassino que encontrarem?
- Hahaha! Homens! – ela disse. Mas posso jurar que
passou por seus olhos uma sombra de decepção. Bem,
talvez ela realmente seja fã da banda e estivesse
totalmente ansiosa para conhecer todos os meninos – eu
pensei. Mas qualquer outro pensamento desapareceu
quando abri a porta do meu quarto e encontrei aquela casa
em formato de suíte. Colossal! Fiquei de boca aberta.
- Nossa! Simplesmente maravilhoso! – ela disse,
abismada.
Coloquei minhas malas nos armários e me joguei em
cima da cama, dando pulinhos para ver se a cama era
macia. Me senti uma garota de cinco anos. Fui até o
frigobar e tomei dois copinhos de água. Decidi resolver
as coisas com a Bia o mais rápido possível, para que eu
pudesse aproveitar bem minha primeira noite em... deixe
eu me lembrar onde estou mesmo...Hááá! Como se eu
pudesse realmente esquecer! Vegas, baby! Vegas!
- Agora é o momento “falando sério”. – eu disse,
assim que endireitei minha coluna, levantei o queixo e me
senti uma pessoa mais séria. Hora de ser profissional. –
Bem, para começar, saiba que vou te chamar de Bia, e
você me chame de Vivi! Não estou aberta a negociações
quanto a isso. Vou resumir em poucas palavras o que cada
um de nós espera de você, além do suporte direto que
você dará à Rita, intermediando nosso contato com ela
para não precisarmos nos falar toda hora. Vamos começar
pelo Ric. Ele é extremamente mulherengo e sempre dá seu
número de celular para as garotas com quem dorme. A
pegadinha é: ele tem dois celulares. Um que ele usa para
falar com a família, com o pessoal da banda e com os
amigos e outro que ele tem apenas para dar o número para
as garotas com quem ele dorme, mas não quer ver nunca
mais. Resumindo: todas. Ou seja, esse celular ficará com
você, e sempre que tocar, você atenderá e dirá que o Ric
está ocupado, fingirá anotar o recado, e pronto. Só isso!
Não se esqueça de jamais repassar o recado pra ele. O
Cadú, por sua vez, pedirá frequentemente para você para
comprar algumas coisas que ele considera como básico
para sua sobrevivência: guloseimas e revistas. Por
guloseimas, digo qualquer coisa que se coma e não seja
saudável. Nem me pergunte como é possível que ele seja
magro, porque esse é um dos mistérios do universo.
Quanto às revistas, eu as dividirei em duas categorias:
quadrinhos e pornôs.
- Ecaa! – ela resmungou.
- Pois é! Mas esse é o Cadú, o nosso menino de vinte
aninhos! Continuando, vamos falar sobre o Tim.
- Sim! – ela disse em um tom nervoso. Suspeitei
profundamente de que ela mantém um interesse peculiar
sobre ele.
- Bem, o Tim é mais exigente. Ele pedirá para você
procurar todas as coisas que ele perdeu durante o dia, e
acredite, são muitas. Ele é tão desligado... além disso, ele
é viciado em shakes, café e energético. O que é
compreensível, já que ele não para nem por um segundo
sequer. Ah! Não sei se você sabe, mas ele vive fazendo
uns sons estranhos com a boca, e fica fingindo que está
batucando em qualquer objeto que esteja ao seu alcance. E
não se espante: ele pode ser um pouco grosseiro, às vezes.
De todos, ele é o mais genioso. Na verdade, estou
tentando maquiar a verdadeira personalidade dele, mas
como você conviverá conosco diariamente, isso pode ser
um erro. Então lá vai: ele é um cretino! Agora vamos falar
sobre mim. Eu sou mais exigente, pedirei mais coisas,
sendo uma delas em especial.
- E o que seria?
- Bem, sempre tenha uma agenda em mãos. Anote
todos os recados e classifique com a prioridade de
retorno. Não dá pra ligarmos de volta para todo mundo,
senão passaríamos a vida inteira no telefone, então a
triagem tem que ser perfeita. Nossa família é prioridade
máxima, assim como as ligações da Rita e dos
patrocinadores. As ligações dos repórteres e da mídia em
geral você deverá classificar conforme a importância do
veículo. Os canais televisivos de maior ibope merecem
atenção, assim como as revistas mais importantes. Eu
tenho algumas regras, também. Por enquanto, vamos de
regra número um: sempre venha para cá com uma mala
contendo roupas, sapatos, pijamas e maquiagens. Você
será minha acompanhante em todas as noites de tédio,
como hoje. Hoje, porém, te emprestarei algumas coisas
minhas. Vamos nos trocar e você me levará a algum
restaurante divino e depois a alguma balada das boas.
Tudo por minha conta, é claro. Quanto às outras regras,
elas são formas de manter uma distância segura em nosso
relacionamento. Espero não ter que mencioná-las a você.
Se isso acontecer é porque você está falhando comigo ou
com a banda em geral. Bem, vamos lá! Não vejo a hora de
sair!
- Espere, Vivi! Você disse acompanhante? Do tipo,
uma colega? – ela perguntou, um tanto entusiasmada.
- Ah, não vamos rotular, certo?
- Mas você não se importa que eu use algo seu?
Quero dizer, não é qualquer pessoa que gosta de
emprestar coisas pessoais. Além do mais, nem sei que
número de sapato você usa.
- Eu uso 37, e pelo que reparei você usa 36. Não vai
ficar tão gigante, assim. E se eu me importasse, não tinha
oferecido. Só não se acostume. Como eu disse antes, é só
hoje! Agora, você prefere calça e blusinha ou vestido?
Uma hora e meia mais tarde, eu e Bia estávamos
jantando no próprio restaurante do hotel, porque como ela
insistiu em dizer, lá é super badalado pelos artistas, e eu
não deveria ser uma exceção. Claro que eu não comentei
que o que eu queria mesmo era ir a um dos restaurantes
comandados por algum dos ex-participantes do programa
Top Chef. Mal sabia ela quantas horas eu já tinha passado
em frente à tevê assistindo a preparação de vários menus
que até hoje visitam meus sonhos, em especial os do chef
Harold Dieterle, vencedor da primeira temporada. Claro
que a maioria das garotas que conheço e que são fãs do
programa sonham com pratos preparados pelo chef Sam
Talbot, o galã da segunda temporada. Mas apesar dele ser
um excelente chef, elas pensam estritamente em sua
beleza, e não em suas obras primas, diferentemente de
mim. Afinal, o Harold nem é tão bonito assim, e tem
aquele jeito tímido e todo esquisito de ser, além de falar
muito pouco, como se as pessoas não merecessem que ele
desperdiçasse sua saliva falando com elas. Ele parece
guardar seus pensamentos como se fossem segredos
valiosíssimos. Nada disso é considerado sexy, não é
mesmo? Claro! Não pela maioria das pessoas. Mas eu
realmente não faço parte dessa maioria.
- Vivi, sabe a diferença entre um paparazzi e
qualquer outra pessoa presente nesse restaurante?
- Não – respondi totalmente confusa, tentando
entender o raciocínio da Bia.
- A diferença é apenas uma: a discrição. As pessoas
daqui sabem muito bem como tirar uma foto sem fazer
algazarra. Já devem estar correndo pela internet um zilhão
de fotos suas enquanto está comendo, bebendo e falando,
através das redes sociais.
- Sinceramente, Bia! Você até que é bem engraçada,
além de criativa! Até parece que qualquer uma dessas
pessoas chiques sabe que eu existo.
- Ahãn! Você que é engraçada, Vivi, além de ingênua!
Dificilmente existe, hoje em dia, alguém que não conheça
a Rock & Pie, algum garoto que não copie o estilo de
roupa do Cadú, ou os gestos inocentes e sensuais do Tim,
ou as famosas cantadas do Ric. E não deve existir uma
garota sequer que não tenha comprado um sapato no estilo
dos que você usa, ou tenha comprado alguns dos perfumes
que você disse ter preferência, ou copiado seu corte de
cabelo. – ela completou a frase apontando para seu
próprio cabelo, que era bem semelhante ao meu. Olhando
bem, notei que estava errada. Não estava semelhante, mas
sim idêntico ao meu, com exceção da cor. Os meus são
loiros. E mais brilhantes, também.
- Uau! Não sabia que você era tão fã, assim. – eu
disse, enquanto sentia minhas bochechas corando.
- E quem hoje em dia não é? – ela respondeu como
se fosse a coisa mais óbvia do mundo a se falar. Seria
verdade, tudo isso? Olhei ao meu redor e notei certos
olhares furtivos em direção à nossa mesa. E então eu o vi.
Ele, o cantor mais sexy, lindo e estiloso do mundo. Aquele
que faz todas as garotas suspirarem a cada novo clipe
lançado, a cada programa em que ele aparece, a cada vez
que é clicado sem camiseta... e então ele olhou para mim.
A princípio ele não pareceu ter me reconhecido, e voltou
sua atenção às duas modelos que lhe faziam companhia
(como sempre. O cara é vi-ci-a-do em magrelas altas e
ossudas que desfilam pelas passarelas do mundo com suas
pernas de garça). É óbvio, não é, Vivianne Santinni?
Quem é você, comparada ao deus da beleza e da
sensualidade, Brian Levicce? Mas então ele chacoalhou a
cabeça e voltou a me olhar. Seus olhos me queimaram e eu
imediatamente olhei para o meu prato e me apressei a rir
de um comentário qualquer que a Bia fez, mas que eu não
tinha prestado atenção. Eu jamais daria a ele o gostinho de
me pegar secando-o. Never! Nunquinha!
- Você ri porque não foi com você. Aposto que nunca
passou por isso, não é mesmo? – Bia perguntou, mas eu
não fazia idéia do que ela estava falando.
- Hãn?
- Ah, deixa para lá. Já vi que você não prestou
atenção em uma palavra sequer do que eu disse. Mas para
quem você está olhando? – ela perguntou e fez menção de
se virar para olhar em direção ao Brian, mas eu
imediatamente segurei seu braço e implorei.
- Ah, não olha pra lá, por favor! – eu praticamente
sussurrei.
- Mas o que... - ela começou a perguntar, antes de eu
interrompê-la.
- É o Brian Levicce! Ele está logo atrás de você, em
uma mesa à sua esquerda. Meu Deus, ele é lindo demais!
Mas não quero que ele me veja olhando.
Mas ao terminar de pronunciar aquela frase, não
resisti ao impulso de olhá-lo e esqueci o que eu havia dito
sobre o “Never, nunquinha”. Ele ainda estava olhando
para mim, e suas “acompanhantes” viraram em minha
direção para saber o que estava prendendo sua atenção.
Ele deu um sorrisinho torto, daqueles que quando ele faz,
qualquer garota do mundo perde os sentidos da perna. Ah,
sua babaca! Pare de olhar para ele como uma gordinha
olha para um Milk Shake! Mas quem disse que eu
consegui parar de olhar? Engraçado que eu estava tão
emocionada por estar tão perto dele que até comecei a
ouvir uma trilha sonora, na minha cabeça. “Can’t stay at
home, can’t stay at school...” Notei uma veia
protuberante em seu pescoço musculoso, aquela mesma
veia que me fazia pausar os seus videoclipes para admirar
melhor, de tão perfeita que é. “...old folks say ya poor
little fool...”. Nossa, a música está tão real. Ele molhou
os lábios com a língua e pendeu a cabeça pro meu lado.
“I’m the Fox you’ve been waiting for...”. Pelos poderes
de Greyscow, esse aí tem a força. Jamais imaginei que
pessoalmente ele seria ainda mais forte do que na
televisão. Pena que não dá para ver suas coxas, que estão
tampadas pela mesa à minha frente e pela posição
desfavorecida em que eu estava sentada. Imaginei-me
sendo uma das moçinhas dos seus videoclipes, numa cena
do tipo... hmmm... já sei! Um banho sensual! “Hello
daddy! Hello mom! I’m your ch-ch-ch-ch-ch cherry
bomb.” E então eu despejaria um pote inteiro de sabonete
líquido por toda sua barriga musculosa e... nossa, que
calor absurdo! Não tem ar condicionado nesse
restaurante, não? “Hello world, i’m your wild girl, i’m a
...”.
- Ai! O que é isso? Por quê você me chutou? – gritei
para a Bia!
- Shiuuu! Você está dando muita pinta. Parece que ele
te hipnotizou, nem o celular você ouviu tocar. - ela disse
em tom de advertência. Nossa, será que ela percebeu que
eu estava tarando ele? Ai! Eu nunca consigo disfarçar
quando estou a fim de alguém. Minha cara não nega. Eu
faço aquele olhar Tribalista, do tipo “to te querendo como
ninguém, to te querendo, como Deus quiser, to te
querendo, como te quero...”. E então caiu a minha ficha!
- Celular? Cherry Bomb! Aiiii, é verdade! Pensei
que... bem, deixa pra lá. – enquanto abria minha bolsa
para procurar meu celular, ele voltou a tocar.
- Fala, Cadú! O quê? Eu vou matar o Ric! Mas que
ca... tá, tá! Vou dar um jeito, não se preocupe. Fique perto
do Tim! Quando estivermos chegando, te ligo.
- O que houve, Vivi?
- Bia, você veio de carro?
- Não, meu irmão me trouxe. Por quê?
- Irmão? Nem sabia que você tinha um irmão. Será
que ele estaria disponível para fazer a gentileza de chegar
aqui em... sei lá... dez minutos?
Cinco minutos depois, já tínhamos pedido para
mandar a conta para meu quarto e já estávamos na
recepção do hotel aguardando o Gabriel, irmão da Bia.
Ele estava em um barzinho nas redondezas, e faria o
imenso favor de me ajudar a resgatar os
INCAPACITADOS dos meninos. Tudo porque durante
uma partida de Black Jack no Cassino Excalibur o
INTELIGENTE (para não dizer outra coisa) do Ricardo
Gusmão de Oliveira resolveu tirar uma foto e postar no
twitter com a seguinte legenda (em inglês, mas que
traduzirei, assim como tudo que for falado nessa língua):
“Invicto no Black Jack do Cassino Excalibur. Alguém se
habilita a me desafiar? Garanto que o prêmio será
muuuuito bom! Hahaha!”. Que lindo, né? Um componente
de uma famosa banda de rock chamando os(as) fãs para
um desafio, garantindo que o prêmio será muuuito bom. E
a risadinha inocente no final... que amável! Mas que
grandessíssimo burro! Burro, burro, burro! Preciso dizer
que nesse exato momento estava tendo um arrastão dentro
e fora do Cassino e que eles estavam há mais de uma hora
se escondendo, após terem sido molestados, arranhados,
beijados e lambidos pelas dezenas de fãs enlouquecidas e
sedentas pelo prêmio que o Ric garantiu que seria
muuuuito bom? Ah, vá! Ele nem imaginou que isso
aconteceria! E sobra pra quem resolver o pepino? Pra
fofinha, aqui, que nem estava nas nuvens por estar olhando
para um dos vocalistas mais deliciosos do mundo,
mesmo...
- Ele chegou, Vivi! Vamos! – disse Bia. Notei que o
carro do irmão da Bia era um Jaguar XFR, modelo de
2010, preto. Babei!
- Com licença! – eu disse ao entrar no carro que
cheirava a eucalipto e terra.
- É um prazer! – ele respondeu, virando para mim e
dando um sorriso com seus dentes que são tão brancos e
perfeitos que aposto que valeriam um milhão de dólares
em qualquer leilão. Poxa, nada mal esse irmão da Bia!
Notei que ele era alto. Se eu tivesse que adivinhar,
chutaria que ele tem cerca de 1,85 m. Seus cabelos são
cheios e volumosos, a cor de chocolate dos fios reluzia, e
pequenos cachos nas pontas davam um toque de charme a
mais. Notei que ele estava me examinando pelo retrovisor.
– E então, qual o nosso destino?
Assim que entrei no Cassino, dois seguranças
estavam à minha espera. Eu estava disfarçada, com um
chapéu que cobria até a altura dos meus olhos e um
sobretudo que infelizmente não combinava com o clima
ameno, então não fui reconhecida na multidão.
Aparentemente os dois seguranças tinham acomodado os
três imbecís em uma sala privada, enquanto aguardavam
que a princesa aqui viesse com a armadura brilhante
derrotar os dragões (fêmeas).
- Graça a Deus você chegou! – soltou Cadú em um
tom meio choroso.
- Eu-Vou-Matar-Vocês! Vocês arruinaram minha
noite! Eu deveria estar lá, dando banho no Brian Levicce,
esfregando sabonete líquido naquela barriga nhaminhami,
e não estar aqui amparando um bando de marmanjos com
medo de mulher.
- Você o quê? – os três gritaram em uníssono.
- Ah, qual é! Vocês não possuem direito algum de me
criticarem em nada. Olha a situação em que vocês se
encontram! E uma garota pode muito bem sonhar com o
que quiser.
- Corta essa! Tudo que menos precisamos é de nossa
vocalista principal se enroscando com um astro narcisista
que implique com seus companheiros de banda, com medo
de tomar uns chifres.
- Como é que é, Tim? Está insinuando que minha
felicidade pouco importa, em detrimento da banda?
- Tanto quanto você está insinuando que o bem estar
da nossa banda não importa em detrimento da sua
felicidade.
- Isso é tão típico de você... Você é um completo
egoísta! Sabe o que é que EU menos preciso nesse
momento? É perder todos os poucos momentos de folga
que tenho resolvendo problemas de vocês. Quer saber?
Fui! Vocês que se virem!
- Ah, não! Você não vai me deixar aqui nesse
hospício, Vivi! Poxa, tenha piedade de nós. Ou pelo
menos de mim. – implorou Cadú, com o rosto branco de
preocupação. - Tim, seu imbecil, se ela me deixar aqui
vou quebrar seu nariz!
- Sabe de uma coisa? O Ricardo e o Timóteo
merecem resolver essa situação por conta própria, mas
você não teve culpa nenhuma, Cadú! Venha! Você vai
comigo!
- E por acaso você se esqueceu de que é nossa
companheira? Não se abandona os parceiros assim do
nada! – implorou Ric. Olhei para os três e refleti. Eu tinha
duas saídas: levá-los embora, resolvendo mais uma vez
um problema criado por esses irresponsáveis, e deixá-los
achando que sou a mulher maravilha e que sempre estarei
ali para limpar a sujeira que eles deixam por aí, ou virar
as costas e criar um desconforto que poderia prejudicar a
harmonia da banda. Eu confesso que estava inclinada a
seguir a segunda opção, mas então me lembrei da
imensidão de compromissos que tínhamos agendado e que
começariam na tarde seguinte, e por medo de estragar essa
fase boa pela qual estávamos passando, eu disse:
- Ouçam bem os três, para não dizerem depois que
não avisei. Essa é a última vez que abandono minhas
coisas pessoais para resolver as cagadas de vocês, ainda
que vocês me liguem dizendo que estão passando mal
porque resolveram tomar chá de cogumelos da Malásia,
ou que acordaram de ressaca e descobriram que estão na
cama de um traveco (ok, chutei o pau da barraca, mesmo),
ou qualquer outra coisa semelhante. Não vou querer
saber! Ouviram bem? Eu não sou a mãe de nenhum de
vocês. Nem sua, Cadú, e não adianta me olhar com essa
cara de cachorrinho abandonado! Vocês estão entendendo?
– aguardei qualquer sinal de compreensão do que eu havia
acabado de dizer, mas naquela sala nem um mosquito
resolveu se pronunciar. Eles estavam fazendo curso para
me irritar.
- E então? Ouviram ou não? – gritei – Porque se não
ouviram ou não entenderam, serei obrigada a repetir até
que vocês confirmem, e só então sairemos desse circo que
vocês aprontaram.
- Ouvimos – responderam Ric e Cadú.
- Por mim, que se dane! Não tenho culpa alguma do
que aconteceu e não estou com a mínima vontade de ouvir
discurso nenhum. Não sou criança! - resmungou Tim.
- Não, não é! É só um filho da puta, mesmo! –
alfinetei, e quando ele me olhou com a intenção de
responder, me lançou um olhar que parecia um misto de
desaprovação e de tristeza e decidiu fechar a boca. Não
entendi isso...
- Bom, agora que estamos resolvidos, vamos
embora! Os seguranças nos levarão até a saída de
funcionários, e nossa carona estará lá.
- Só uma pergunta: quem é ela? – Ric apontava para
Bia.
- Ela? Minha testemunha dessa nossa conversa!
Saiam dos trilhos para ver se não deixo vocês na mão!
3 – EU TIVE UM SONHO, VOU TE
CONTAR...

“Eu tive um sonho, vou te contar: eu me atirava do


oitavo andar. E era preciso
fechar os olhos pra não morrer e não me machucar. É o
que devemos fazer, não temos que ter medo. É o que
devemos fazer.” - Eu Tive um Sonho, Kid Abelha

Já no carro, a salvos graças a uma intervenção da


polícia, a Bia não se aguentou e disse:
- Puxa, jamais imaginei que conheceria meus ídolos
dessa forma, tendo que segurar outras fãs como eu pelo
colarinho, enquanto vocês corriam para o carro.
- Sem contar a hora que elas começaram a
chacoalhar o carro e ele quase virou em cima de várias
delas. Não iam sair muitas pessoas inteiras, se isso
ocorresse. – complementou Gabriel.
- Nossa, essa história toda me esgotou. Vou fechar
meus olhos um pouco e brincar de fingir que estou
cochilando. – disse Cadú, que não convenceu ninguém
com esse papo de fingir de cochilar.
- Ei, vocês já se deram ao trabalho de se
apresentarem à Bia e agradecerem ao irmão dela por tirá-
los dessa enrascada?
- Oi, Bia! Obrigada, irmão da Bia! – isso foi a única
coisa que cada um deles se deu ao trabalho de dizer, com
exceção do Cadú, cujo fingimento de cochilo se
transformou em realidade. Coitada da Bia. Parecia tão
empolgada com a nossa chegada e nem um “seja bem
vinda” recebeu deles. Olhei para ela e disse:
- Belos ídolos você tem, hãn?!
O dia em si foi tão cansativo, entre a viagem e a
confusão no Cassino, que assim que deitei naquela cama
macia da minha suíte, apaguei. Só acordei no fim da
madrugada, sentindo a presença de mais uma pessoa na
cama. Eu ainda estava tão cansada que parecia que meus
cílios estavam colados com Super Bonder, e como
provavelmente seria um dos meninos que me chacoalharia
pedindo ajuda para alguma coisa que ele pode fazer por si
próprio - mas não quer – ou a Bia me trazendo um Café
Duplo com Leite, resolvi ficar do jeito que eu estava. Do
nada, meu pé direito virou alvo de uma massagem
deliciosa.
– Que delícia – eu sussurrei. A massagem estava tão
boa que deveria até ser um crime parar de fazer em menos
de cinco minutos. Mas esse crime não foi cometido, com
certeza. Após outros incontáveis minutos, as mãos se
dirigiram para meu outro pé. – Nossa, seja quem for, você
está me fazendo uma pessoa muito feliz, nesse momento –
eu disse preguiçosamente, mas acabei me arrependendo
de ter dito, pois ao ouvir aquilo, o dono (eu realmente
queria que fosse o dono, e não a dona) do mágico par de
mãos largou meu pé esquerdo e se desvencilhou. Quase
chorei de frustração, mas seria uma cena totalmente
patética. Eu realmente deveria fazer as contas na minha
tabela periódica para checar se estava de TPM, pois tudo
estava tão... intenso. E então senti as mãos mágicas nas
minhas costas. Eu estava usando uma camisola bem curta,
que tem um decote gigantesco nas costas, de forma que
elas ficavam inteiramente expostas. O carinho estava
sendo feito exatamente do jeito que eu gosto, com as
pontas dos dedos, amaciando o contato e me arrepiando
toda. Nossa, eu estava no céu e não sabia. Os dedos
começaram a percorrer a minha nuca, e então, do nada,
desapareceram novamente.
– Ah, não! – eu reclamei chorosamente, mas as mãos
mágicas ganharam vida novamente. Na minha panturrilha.
E um pouco mais pra cima. E um pouco mais. E mais. E
então eu gelei. E se fosse um bandido, ou algum
funcionário tarado do hotel, ou, o pior de tudo: uma
mulher? Não que eu seja preconceituosa ou algo do tipo,
pelo contrário, no mundo do rock isso até que é comum,
mas como já devo ter deixado claro antes, eu não sou uma
garota comum. Em trê segundos eu saí da posição de
bruços e fiquei de barriga pra cima, puxando meu
edredom até o queixo. Mas por mais que eu me
esforçasse, meus olhos não se descolavam. Eu
simplesmente não conseguia enxergar. Tentei abri-los com
minhas mãos, mas então ele me disse:
- Calma! Pode ficar com os olhos fechados. Ainda
não é hora de abri-los. Nós temos todo o tempo do mundo.
Eu só podia estar louca, essa seria a única
explicação possível! Qualquer pessoa que estivesse no
meu lugar já teria saído correndo de camisolinha pelo
corredor afora, gritando descontroladamente em busca de
socorro, batendo nos quartos vizinhos, implorando por
ajuda e alertando histericamente a todos sobre o tarado do
Super Bonder que estava à solta. Mas não eu! Não tinha
como eu ter qualquer resquício de medo após ouvir aquela
voz tão quente, tão sexy, tão irreconhecível e ao mesmo
tempo tão familiar. Eu simplesmente deitei novamente, me
rendendo às carícias, deixando o desconhecido deslizar
vagarosamente o edredom até o chão, até sentir o
friozinho do ar condicionado me arrepiar toda. Ok, admito
que não foi só o ar condicionado que me arrepiou, mas
sim a situação toda, que estranhamente estava me
deixando enlouquecida. E então as mãos mágicas foram
substituídas pelos lábios mágicos. Os beijos foram
direcionados à minha barriga, começando delicadamente,
subindo em direção aos meus seios. Ele beijou cada um
deles, inalou fortemente meu perfume natural, como se
quisesse guardar meu cheiro para sempre em sua
memória, e voltou a me beijar até alcançar meu pescoço.
E então outra inalada. E mais beijos, só que desta vez
mais agressivos. Agarrei seus cabelos e o puxei para cima
de mim, pra que eu pudesse retribuir as carícias. Ele
apenas se permitiu a chegar mais perto, mas não me
deixou puxá-lo até onde eu queria. Quando eu gemi em
protesto, ele riu deliciosamente e sussurrou em meu
ouvido:
- Você é muito apressada! – e então passou a língua
por todo contorno da minha orelha, me deixando
totalmente sem ar. Eu já estava angustiada, querendo mais,
mas não tinha força nem para pedir. E então ele lambeu
meus lábios, gemeu de aprovação e beijou vorazmente a
minha boca. Sua língua se entrelaçou à minha em uma
cadência eufórica, e quando eu tinha certeza que ele
estava perdendo todo seu auto controle, ele começou a
vibrar. Me afastei, completamente assustada. Como assim
ele começou a vibrar? Mas como toda desgraça é pouca,
ele começou a cantar, também. “Hello Daddy, Hello Mom,
I’m your ch-ch-ch-ch-ch cherry bomb”. Abri os olhos. Foi
quando percebi que, infelizmente, eu estava acordada.
- Celular do inferno – resmunguei, enquanto tateava
tentando alcançá-lo. E alcancei. – Alô!
- Vivi, minha querida! Como estão as coisas aí em
Las Vegas? – a Rita Mansini perguntou com uma
empolgação que me irritou ao extremo. Como estão as
coisas? Vejamos: ontem à noite eu estava jantando a
poucos metros de distância do gostosão do Blue4Us, e
quando ele finalmente me olhou eu tive que ir embora
para bancar a Menina Super Poderosa (a Lindinha, que
é a minha favorita. Não que eu assista esse tipo de
coisa), tendo que ir resgatar “Os Três Patetas”, porque
a anta do Ric fez com que uma multidão de fãs (que nem
sabíamos que tínhamos aqui nesse país) aparecesse de
uma vez, colocando a vida deles em perigo. E não estou
exagerando, pois se você visse o empurra-empurra que
elas fizeram com o carro do Gabriel, morreria de medo.
Mas então eu ganho um presente do Universo, que foi o
único que se deu conta que mereço ter o mínimo de
prazer nessa vida: o sonho mais quente do mundo. Foi
sensual, pervertido, e de certa forma engraçado. Pena
que foi em estilo curta metragem, porque bem no ápice,
alguém transformou o namorado dos meus sonhos em um
celular que canta e vibra (isso estranhamente me
lembrou do hino do Palmeiras). E esse alguém foi você!
- Normais – foi a única reposta que considerei ser
prudente. – E aí, como estão as coisas? Quando você vem,
e a que horas?
- Vou na semana que vem, um dia antes da premiação.
Aqui as coisas estão normais, com exceção de um puxa
saquismo acentuado por parte de uns e outros, só porque
vocês estão em turnê nos EUA. Foi só vocês fazerem uma
apariçãozinha em público, causando um furor na porta de
um certo Cassino, que as manhãs brasileiras foram
regadas de muita fofoca. Vocês já viram as fotos?
- Não! E nem sei se quero! Eu quero?
- Acho que não. Na maioria você está com uma cara
de maluca, tentando desesperadamente resgatar os três das
garras das fãs. Confesso que há muito tempo não vejo
fotos tão engraçadas. Só de olhar novamente para elas
eu... háháhá... er... desculpe, mas... háhá... eu estou
tentando não rir, mas.... pfffffff... kakakakaka. Vocês
acabam comigo... rárárárá...
- Ah, não! Quando você começa com essa crise de
riso, é melhor desligar. Não estou com vontade de ficar
por horas ouvindo você gargalhar descontroladamente.
Tchau! – e encerrei a ligação. Definitivamente ninguém
merece! Olhei as horas e dei um pulo, assustada.
Tínhamos apenas uma hora e meia para nos arrumarmos e
tomarmos café, antes de começarmos a gravar o comercial
da ChocoRocker. Liguei no quarto do Larry, do Moe e no
do Curly (Os Três Patetas) e disse para eles tomarem um
banho, se trocarem e descerem para tomar café. E foi isso
que todos fizeram, inclusive eu.
Quando chegamos aos estúdios de gravação, nos
sentimos praticamente em casa. O set de filmagens foi
decorado em forma de réplica da garagem da casa do Ric,
no Brasil, que é onde realizamos a maioria dos nossos
ensaios. Até a poltrona preta de couro, que ele deixa em
um canto à frente de onde tocamos, para que nossos
convidados possam assistir aos nossos ensaios
confortavelmente, foi replicada fielmente. O diretor de
filmagens, Brian Kazinski, nos posicionou sobre as idéias
que ele tinha e nos disse qual seria a parte que caberia a
cada um. A propaganda seria simples, sem necessidade de
atuarmos dramaticamente, o que voltaria todas as atenções
à nossa performance e à mensagem da música. Nós
ensaiamos um pouco e então fomos olhar o figurino.
Quando vi a roupa que eu teria que usar, já respirei fundo
e contei 1, 2, 3 antes de mandar todo mundo para o
inferno. Impressionante como todo mundo sempre pensa
que uma vocalista de banda deve se vestir como uma
prostituta. Nunca me davam uma roupa para vestir que
estivesse mais de três dedos abaixo das nádegas, de
comprimento. Por mais que eu goste de shortinhos de
couro, jamais os combinaria com apenas um top da mesma
cor e botas de cano alto e salto agulha. Eu me sentiria
praticamente pelada, enquanto aos garotos foram dadas
roupas no estilo que eles usavam no dia a dia. O Cadú
usaria uma calça jeans lavada, com pequenos rasgos nos
joelhos e camiseta da Levis em um tom de verde escuro.
O Tim usaria uma calça jeans escura, com uma regata
vermelha, que combina com seus olhos que possuem a cor
da jabuticaba. O Ric, por sua vez, usaria uma calça de
couro agarrada e regata branca, o que o deixou em um
ótimo humor, alegando que a mulherada não pararia de
olhar para suas coxas (que realmente são bem definidaz,
já que ele malha cerca de 4 horas por dia). Eu reclamei da
minha roupa com a assistente de figurino, mas decidir
aceitar usar aquela mesmo, depois que vi as outras três
opções que eles tinham separado para mim. Socorro, o
bom gosto daquela ali parou bem longe do senso.
Quando acabei de me trocar, me juntei aos garotos e notei
que eles ficaram espantados ao notarem que eu estava
quase nua. Eles ficaram alguns segundos em silêncio, até
que o Ric resolveu dizer:
- Bom, não dá pra dizer que é estranho te ver assim.
Quer dizer, já te vimos de roupa curta, e tal, até de
biquíni, mas essa roupa, vou te contar! Você ficou super
gost... er... gata.
- Está lindona, Vivi! Só que se algum espertinho
quiser chegar perto, será um homem morto. – anunciou
Cadú.
- Vamos parar de lero, lero! Temos muito trabalho a
fazer! – reclamou Tim, se esforçando para não olhar para
mim. Sério, o que eu poderia ter feito a ele para causar
tanta repulsa?
- Ric, Cadú, obrigada pelos elogios. Vamos
trabalhar, mesmo, porque não estou no humor de ficar
muito tempo sob o mesmo teto que o Tim, senão ele corre
o risco de ser estrangulado.
Uma hora e meia depois, já tínhamos gravado a
música do comercial. A letra era a seguinte:

“ESTAVA ENTENDIADO ATÉ QUE O PORTEIRO


LIGOU
DIZENDO: VENHA ATÉ AQUI! SUA
ENCOMENDA CHEGOU.
ENTÃO EU DISSE: TUDO BEM!
E ELE DESLIGOU
ACHEI MELHOR ME APRESSAR, ME ENROLEI
NUM COBERTOR
COLOQUEI O SAPATO, E PELA ESCADA EU
DESCI
CHEGUEI LÁ EMBAIXO SUADO, E COMEÇEI A
SORRIR
E ELE ME DISSE: “OLHA, MEU FILHO – E
ALGUMA COISA ENGOLIU
- EU DEI MANCADA, EU SEI. MAS É QUE EU
NÃO AGUENTEI
OLHEI A CAIXA JÁ ABERTA, E UM MEDO ME
PEGOU
O QUE SERÁ QUE HOUVE? E VI QUE DOIS ELE
ROUBOU
CHOCO, CHOCO, CHOCO, CHOCOROCKER
O CHOCOLATE QUE É MANIA! TEM COM
MORANGO, UVA E BAUNILHA
CHOCO, CHOCO, CHOCO, CHOCOROCKER
UM SÓ NÃO DÁ, UM SÓ NÃO VIRA! QUERO DE
NOITE E DE DIA
É CHOCOROCKER!”

E então chegou a hora de tirarmos as fotos da


campanha. Nós trocamos o figurino e os meninos
colocaram roupas parecidas com a primeira, enquanto
recebi um vestido branco que, apesar de ser curtíssimo,
não era tão justo e tinha um certo ar angelical. Claro que
os sapatos e os acessórios eram pretos, senão meus fãs
estranhariam, pois não talento para ser nenhum tipo de
anjo. As primeiras fotos foram tiradas de forma
espontânea, enquanto conversávamos ou tocávamos.
Depois, as fotos foram individuais, cada um com seu
instrumento. Eu realmente amei tirar fotos com a Lua (meu
baixo. Eu o chamo assim porque aprendi a tocá-lo em
minhas noites de tédio). E então o Johnny (fotógrafo)
resolveu tirar algumas fotos que mostrassem a
sensualidade da banda. O Cadú arregaçou as mangas e
mostrou seus músculos definidos, o Ric se insinuou com a
guitarra e amarrou o microfone na sua coxa enquanto fazia
movimentos sensuais, o Tim fez caras e bocas com seu
estilo próprio de ser e recebeu inúmeros elogios do
fotógrafo, e finalmente chegou minha vez. O fotógrafo
deve ter ido ao set achando que eu faria fotos sensuais
facilmente, afinal, todos dizem que exalo sensualidade
mesmo sem querer. Entretanto, quando ele começou a me
fotografar, ele viu que estava totalmente enganado.
Acontece que quando eu tento parecer sexy, acabo
parecendo estrela de filmes pornográficos (palavras ditas
pelo próprio fotógrafo). Foram fotos e fotos que eu dei o
máximo de mim tentando não ser sexy em demasia, mas
aparentemente quando eu tentava não ser sexy, eu aparecia
na foto como se estivesse de cara amarrada ou até mesmo
entediada. O coitado fez tantas tentativas que até começou
a suar. De repente ele teve uma “grande idéia”: pediu para
o Tim me ajudar com as fotos (era só o que me faltava!
Como se ele fosse a pessoa mais entendida em ser sexy...).
Então o Tim veio para perto de mim e pediu para que eu
relaxasse e considerasse a câmera uma amiga, e não uma
inimiga. Eu não sabia se naquele momento eu estava mais
brava com o Johnny por ter tido a idéia maluca de que o
Tim pudesse me ajudar ou se estava com mais raiva do
Tim por estar se achando “a inspiração” pro Tom Jones
cantar Sex Bomb. Meu sangue já tinha subido até o couro
cabeludo, e então lancei ao Tim meu olhar mortal,
daqueles que só solto quando não consigo mais segurá-lo
por um segundo sequer. O Johnny imediatamente soltou um
grito de felicidade e disse:
- Perfeito! Seja qual for o conselho que tenha dado a
ela, foi perfeito. – ele disse. Na verdade, ele disse em
inglês, mas minha mente já traduz autimaticamente para o
português. Será que eu estava tendo um pesadelo? Só
podia ser isso! Olhei para o Tim e vi que ele estava
segurando o riso. Então ele chegou mais perto (perto até
demais. Quase o empurrei para o outro lado da sala, pelo
atrevimento) e sussurrou no meu ouvido: - Está vendo?
Você não é tão perfeita quanto pensa que é! – e se afastou
com o mais cínico dos sorrisos. Nesse momento o Johnny
pirou, ele disse que eu o estava matando de amor, com
aquele olhar. Em menos de cinco minutos ele já tinha
fotografado o suficiente e nos informou que a sessão
estava encerrada. Quase pulei de alegria por poder sair
daquela situação. Fui correndo para o camarim, com a
cabeça explodindo de tanta raiva. Arranquei meu vestido
com dois movimentos e me enfiei em outro, que era verde
escuro, calçei minhas Uncle Boots e saí pisoteando o mais
duro possível. Desde quando o Tim estava sendo um
canalha comigo? Logo que entrei na banda ele me tratava
muito bem, mas depois do show que abrimos para os
Hackerboys, ele parou de brincar comigo. Na verdade, ele
passou uns vários meses falando comigo somente o
necessário, literalmente me ignorando em noventa por
cento do tempo. E de uns dois meses para cá ele voltou a
falar mais, só que cada palavra dita é praticamente um
soco na minha cara. O que será que fiz pra ele? Eu já
pensei sobre isso por dezenas de vezes e nunca achei uma
resposta pertinente. Mas decidi não deixar barato. Chega
de dar moleza! Se ele não gosta de mim, o problema é
dele. Eu não vou largar a banda por nada nesse mundo.
Ele que se acostume a ter de me ver todos os dias ou
então que peça para sair!
Quando saí do set, liguei meu celular e vi 12
ligações perdidas, todas da Bia. Imediatamente eu
retornei, e ela atendeu dizendo que Bruce Hudgens
(empresário da banda Empty Bottle) tinha pedido para
agendarmos um jantar naquela noite, para discutirmos
assuntos profissionais. Ele gostaria de conversar com a
banda toda, então eu disse a ela que falaria com os
meninos e já daria uma posição. Fui até o camarim deles e
bati duas vezes.
- Entre! – disse o Cadú.
- Ei, meninos! A Bia ligou e... aiiii, pelo amor de
Deus! Coloquem uma roupa agora mesmo! – gritei
horrorizada, ao notar que todos eles estavam só de cueca.
Tapei meus olhos com as minhas mãos e continuei. –
Depois dizem que são as mulheres que demoram para se
arrumar!
- Vivi, qual o problema de você nos ver de cueca?
Mesmo se estivéssemos pelados não teria problema
nenhum! Você é da família! Como se fosse um de nós! –
desatou o despudorado Ric.
- Ah, mas isso não é certo! Eu não gostaria que vocês
me vissem só de calçinha e sutiã.
- Por quê? Você já nos viu diversas vezes de sunga e
nós já te vimos diversas vezes de biquíni. E podemos
dizer de boca cheia que você não precisa ter vergonha
nenhuma em exibir sua nudez. Seu corpo é simplesmente...
uau! Sem malícia nenhuma, foi apenas uma constatação. –
ele se apressou em dizer.
- É exatamente por isso que não quero que me vejam
de roupa íntima, Ric. Vai saber se vocês não começam a
ter idéias esquisitas sobre isso...
- Falou a garota por quem todo homem no mundo
olha e suspira! – debochou Tim. - Você não sabe que já
vimos centenas de mulheres nuas? Por que, então, iríamos
querer justo você? – Autch! Ele realmente sabia como
acabar com a vaidade de uma garota.
- Não foi isso que eu quis dizer. Eu não me acho a
melhor do mundo, e você sabe muito bem disso! Só que
atrações acontecem! Pode ser comigo ou com qualquer um
de vocês. Vocês não são tão ruins para se olhar. – eu dei
uma checada instintiva em cada um deles, só para
confirmar o que eu já sabia: corpos rígidos, musculosos e
tonificados. O Cadú com seu quadril que possui o “V” da
alegria, salientando os ossos laterais, o Ric que encarna
literalmente o bordão “Poxa, que coxa”, e o Tim com sua
estrutura corporal de deus grego. Ele já nasceu com o
corpo perfeito, nem precisava se matar muito na academia
para manter seu peitoral musculoso naquele estilo não
exagerado. Sua barriga me chamou a atenção e quase
babei ao notar os poucos pelos escuros e salientes que
iam do umbigo até algum lugar sobre o qual eu não
deveria pensar muito para não perder o juízo e tornar as
coisas estranhas. Fechei meus olhos e só os abri
novamente quando voltei a me concentrar no assunto no
qual estávamos falando. - Por isso não quero ver vocês
seminus e espero que nem vice-versa.
- Vi, respeito sua opinião. No fundo você está certa.
Você só tem que fazer o que te deixa à vontade. – disse
Cadú, enquanto terminava de se vestir. – Vamos, meninos!
Roupa! Agora!
- Mas fale, Vivi! O que você queria dizer? –
questionou Ric enquanto seguia as ordens de Cadú.
- Acabei de falar com a Bia e ela me disse que o
Bruce Hudgens quer marcar uma reunião hoje à noite.
Vocês estão disponíveis para jantar?
- Nossa! Claro que sim. Se alguém tiver
compromisso, remarcará para outro dia ou então perderá
os dentes. – se empolgou Cadú, que sempre ameaçava
quebrar a cara, o nariz ou os dentes de alguém, mas no
fundo não é capaz de machucar nem uma mosca. Os outros
concordaram em seguida, então liguei para a Bia e pedi
para ela confirmar a reunião. Quando chegamos ao hotel,
ela estava esperando por nós no hall com um saco cheio
de tranqueiras comestíveis, uma garrafa de energéticos,
um bilhete com um número de telefone anotado e uma
revista Vogue. O Cadú e o Tim pegaram seus pertences e
agradeceram, enquanto eu e o Ric ficamos parados,
olhando para ela com uma interrogação gigante na testa.
- Não precisam me olhar assim! O bilhete foi
deixado para você por uma das hóspedes. – ela disse para
o Ric - Achei que faria você se animar um pouco. E a
Vogue é para você, Vivi! Mas antes que você me mate,
olhe a matéria principal: Tudo sobre o estilo de Mr.
Levicce!
- Aaaahhh! Agora eu entendi! – eu disse. - Você está
se saindo muito bem!
- Fui contratada para isso, não fui? Bem, eu falei com
o Sr. Hudgens, e ele marcou às 21:00 horas no Cili
Restaurante e Bar, que fica no Clube Bali Hai, aqui
pertinho. A Rita também me ligou e disse para vocês não
esquecerem que a Limusine os pegará amanhã às 07:00
horas, pois as gravações do Midnight Talk Show serão
feitas em Burbank, e vocês irão de carro para
aproveitarem mais a viagem.
- Ah! São quantas horas daqui até Burbank? –
perguntei à Bia.
- Em torno de seis horas!
- Nossa! Mil vezes mais ir de avião! – exclamou
Tim, olhando para Bia, que o fitava sem piscar. Posso
jurar que ela corou.
- Galera, já são sete e quinze da noite! Vamos indo
nos arrumar porque não podemos nos atrasar.
- Você está certo, Ric! Bia, pode ir pra casa, mas
amanhã você irá conosco para Burbank. Não vou agüentar
uma viagem de seis horas trancada em uma Limusine com
três caras, sendo que um deles vive querendo me
nocautear.
- Está com medo de mim, Vivi?
- Morrendo, Tim! Tanto que nem vou dormir essa
noite! Ou comer qualquer coisa no jantar! Ou até mesmo
comparecer à reunião de hoje à noite. É isso que você
quer, não é? Mas pode sentar esse bumbunzinho
redondinho numa cadeirinha e esperar pelo dia de São
Nunca! – então me virei e fui em direção ao elevador, e
assim que ele chegou eu entrei, mas antes dele fechar eu
ouvi uma voz distante:
- Seu bumbum pode ser redondinho, Tim, mas o meu
é bem mais definido! Pergunte pra qualquer garota! – e eu
acabei rindo sozinha. Esse Ric tem sérias tendências
narcisistas.
4 – ESTOU TÃO DOENTE...

“Eu invadirei seus pensamentos com o que está escrito


em meu coração. Eu invadirei, invadirei. Eu estou tão
doente, infectada.” – I’m So Sick - Flyleaf

O HaliBai é um clube maravilhoso e gigantesco de


golfe, onde também são realizadas festas de casamentos e
eventos em geral. Assim que entramos no Cili, já me
animei. O restaurante além de ser bonito, transmite uma
sensação acolhedora. As únicas luzes acesas eram as de
velas, e tinha um piano no canto direito com um garoto
tocando Your Song, do Elton John. Só então notei que
deveríamos estar em um evento privado, pois muitas
pessoas estavam em pé, conversando e rindo em alto e
bom som. O Cadú me cutucou e quando olhei ele apontou
um dos grupos. Lá estavam Jason Mcginty e Euller
Mctravis, o baterista e o vocalista da banda Empty Bottle.
A recepcionista apareceu e quando notou quem eramos,
não conseguiu conter sua felicidade.
- Nossa, que emoção estar perto de vocês! Eu já
estava esperando-os, mas confesso estar surpresa com a
felicidade que estou sentindo. Sou uma das maiores fãs
que vocês têm! – ela exclamou, enquanto piscava para
Ric. Em seguida, ela nos acomodou em uma mesa que
estava reservada para nós, e disse que buscaria o Sr.
Hudgens. Enquanto aguardávamos, o pianista começou a
tocar November Rain, da banda Gun’s and Roses. Essa
música sempre mexe comigo, então meus olhos ficaram
marejados, e imediatamente tentei disfarçar.
- Eu estou falando com você, Vivianne! Vai continuar
me ignorando por infantilidade, mesmo?
- Do que você está falando, Timóteo? Não estou
ignorando você! Deus sabe como eu queria que isso fosse
possível, mas sei bem que isso só iria nos atrapalhar
ainda mais.
- Sei! Er... eu só estava perguntando se está bem.
Está quase chorando.
- Ah, você viu! – Que legal – Estou bem, sim. Só
que... eu... bem, tem alguma coisa no meu olho.
- Tem? Deixe-me ver! – e então ele se inclinou para
olhar melhor. – Tem alguma coisa em cada um deles?
Porque os dois estão cheios d’água. – ele disse em um tom
desconfiado, beirando à irônia.
- É, isso, isso! – Senhor Jesus, arranque de mim
essa vontade de bater a cabeça dele na parede.
- Acho que estou vendo algo! – ele disse enquanto se
inclinava para ainda mais perto de mim. Se ele se
movesse mais um centímetro, acabaríamos nos beijando.
Tentei me afastar, mas ele segurou minha cabeça.
- Ei, quer que eu ajude ou não?
“Não!” – pensei - Sim! – eu disse. Então seu dedo
indicador se moveu em direção ao meu olho direito, mas
quando tocou meus cílios, ele fez uma espécie de cócega e
baixou o dedo. Nesse mesmo instante a música acabou.
- Tirou o que estava me incomodando?
- Na verdade, não precisei. O que estava te
EMOCIONANDO acabou nesse instante. – e seus lábios
se curvaram em um sorriso largo e debochado.
- É impressionante como te odeio cada dia mais – eu
disse ao mesmo tempo em que o Sr. Hudgens e todos os
integrantes da banda se juntaram a nós.
- Por enquanto! – ele sussurrou, antes de voltar sua
atenção aos recém-chegados.
- Boa noite a todos! – o Sr. Hudgens disse, enquanto
se sentava. E quando me olhou, sorriu. – E boa noite a
você, Viviane Santinni! Pelo jeito, a revista Everyone
sabia do que estava falando quando te elegeu como uma
das 10 mulheres mais lindas do mundo.
- Sabiam até certo ponto, porque erraram feio em
uma coisa: ela não merecia a sexta posição. Deveria estar,
no mínimo, disputando pau a pau o topo da lista. É um
prazer conhecê-la! Meu nome é Euller, e esses são Jason,
Chad, Carl e Teddy.
- É um prazer conhecê-los! – eu disse, me sentindo
febril de tanta vergonha. Sabe aquele momento em que
você inveja a ema por poder esconder a cabeça em um
buraco?
- Ela é maravilhosa, mesmo, mas tem três fortes
seguranças que sempre quebram a cara de quem tenta
encostar nela um dedo que seja. – disse Cadú em tom de
ameaça. No começo, um silêncio constrangedor pairou
sobre nós, mas logo em seguida todos começamos a rir.
Quando o clima amenixou, eram apenas elogios pra lá e
elogios pra cá, até que o Sr. Hudgens finalmente resolveu
dizer o propósito da reunião.
- Bom, vamos diretamente ao ponto. Os rapazes estão
em uma turnê, e ficamos sabendo que semana que vem
vocês estarão em Nova York. Pois justamente na próxima
sexta-feira eles farão um show no Madison Square
Garden, e fariam muito gosto se vocês fizessem uma
participação especial nesse show. O que vocês me dizem?
Topariam fazer essa participação especial?
- Claro! – respondemos os quatro em uníssono.

Quando cheguei ao meu quarto, eu estava dividida


em dois sentimentos: o cansaço e a felicidade. Sempre
sonhei em cantar uma música ao lado do Euller McTravis,
e só de pensar que estava tudo acertado para que isso
acontecesse na próxima semana, meu estômago dava
voltas. Claro que a Rita ainda tinha que aprovar. Nós os
deixamos cientes disso, mas a possibilidade de ela vetar
essa parceria eu avaliava em 0,001%. E eu estava certa.
Quando liguei para a Rita contando a novidade, ela deu
um grito que fez com que eu perdesse temporariamente
cerca de 80% da minha audição. Ela disse que fazia
questão de ligar para o Sr. Hudgens e acertar tudo. Por
fim, decidi encerrar a noite com um mergulho na hidro
enquanto bebericava uma taça de vinho, para relaxar.
Liguei o som e, enquanto ouvia uma seleção de músicas
do Queen, me enchi de espuma, joguei a cabeça para trás
e fechei os olhos. E então ele voltou. Eu não precisava
abrir os olhos para saber que ele estava lá. Na verdade,
eu não poderia abrir os olhos nem se eu tentasse. Ele
nunca me deixa dar uma espiadinha que fosse. Como sou
mais teimosa que uma mula, forçei meus olhos com toda
força que foi possível, mas obviamente que minhas
pestanas nem se moveram. Ele começou a rir, e era uma
risada gostosa, daquelas que você quer rir junto, sabe?
- Você é, sem dúvida alguma, a pessoa mais teimosa
da face da terra.
- E você o sonho mais irritante que qualquer pessoa
possa ter.
-Você tem certeza disso? – ele passou a ponta dos
dedos no meu joelho esquerdo, que bandeou para o lado
dele. Aquele joelho traidor! – Além do mais, quem disse
que eu sou fruto de um sonho? Pois te garanto que sou
mais real do que você pensa.
- Ah, é? Então me explique o motivo de você só
aparecer quando eu estou dormindo, e o fato de você
sumir quando acordo.
- Eu não preciso te explicar nada. No fundo você
sabe todas as respostas.
- Ah, e você possui o dom de enxergar o que nem eu
mesma enxergo?
- Adoro quando você fica brava, sabia? Você fica
extremamente sexy.
- Então você me acha sexy...
- Eu tenho olhos, ouvidos e nariz. São esses três
órgãos que vivem me confirmando que você é, sem dúvida
alguma, extremamente sexy. – E é por essas e outras que
tenho certeza de que ele é um sonho. Qual outro homem
na face da terra que tem o dom de falar todas as coisas
que podem me deixar de quatro?
- Ok, então você me acha extremamente sexy. E o que
você fará sobre isso?
- Mais coisas do que você pode imaginar! Você ainda
não sabe, mas eu vou realizar todos os seus desejos, todas
as suas fantasias... é só você me aceitar – ele disse
enquanto acariciava meu pescoço.
- Você vai realizar todos meus sonhos? Eu já estou
realizando todos meus sonhos por mim mesma. Estou mais
interessada em saber como é que você vai realizar todas
as minhas fantasias. Pode me dar uma demonstração? –
provoquei.
- Você quer me deixar louco, não é? – e então ele
entrou na hidro, ficando em cima de mim. Seu quadril se
juntou ao meu, e pude perceber que seu desejo era bem
real. Real até demais.
- Você existe!
- Claro que existo! Como alguém que não existe é
capaz de te fazer isso? – ele disse, enquanto apertava
minhas nádegas de encontro ao seu quadril.
- Por que não posso te ver? Eu quero ver você! Eu
preciso ver você!
- Ainda não, gatinha! Mas prometo que não vai
demorar muito para você conseguir abrir os seus lindos
olhinhos.
- Isso não explica nada. Por que você tem que ser tão
misterioso? Fale de uma vez o que preciso fazer para te
ver!
- Ts, ts, ts! Não vou falar, você tem que perceber
sozinha! Além do mais, se eu deixar de ser misterioso,
você vai deixar de me querer. E definitivamente eu não
quero que isso aconteça.
- Eu não vou deixar de te querer! Prometo! Só queria
saber como que você faz pra colar meus olhos desse jeito.
Não consigo abrir de forma alguma. Nunca vi nenhuma
cola desse tipo, antes.
- Psiu, gatinha! Deixa essas dúvidas pra lá! Vem cá,
vem! - ele me puxou pra perto e traçou meu pescoço todo
com beijos suaves, enquanto acariciava minhas costas.
Quando beijou meu queixo, eu fiquei com medo. No
último sonho, quando ele quis me beijar na boca, eu
acabei acordando. E se acontecesse isso de novo? Me
afastei bruscamente.
- O que foi? Te machuquei?
- Não, é que cófff, cóff... gáspp – o que eu estava
falando? Agora eu era fluente na língua do cacarejo,
também?
- Gatinha, o que foi? Você está ficando roxa!
– Cóóóf, cóóófeee... – não, não, não era um cacarejo,
era uma espécie de tosse, mas não era tosse... era como se
eu estivesse.... estivesse... ENGASGADA!
Abri os olhos e tossi ininterruptamente, até que
acabei vomitando. Eu tinha engolido muita espuma!
Às seis horas da manhã eu levantei, tomei banho,
sequei meus cabelos, coloquei um shorts jeans branco e
uma blusinha preta de um ombro só. Fiz uma pequena
mala e desci para tomar café. Os meninos ainda não
tinham chegado, então coloquei minhas coisas em uma
mesa e fui me servir. Como sempre, peguei uma fatia de
mamão, um mini pão francês, duas fatias de queijo branco,
um copo de café com leite e um copo de suco de laranja
sem açúcar e com três pedras de gelo. Sentei e comecei a
devorar as fatias de queijo quando uma mochila é
arremessada ao meu lado, quase levando minha cabeça
junto.
- Tenha mais cuidado, Cadú! Quase me machucou,
poxa!
- Ah, desculpe, Vivi! Estou meio dormindo, ainda.
Detesto acordar cedo, você sabe! E para piorar, não
consegui dormir direito, porque o Ric chegou super
bêbado e não calava a boca, e o Tim teve um pesadelo e
ficava se mexendo e choramingando sem parar. Ele deve
ter sonhado com os finados pais dele, só pode.
- E cadê eles? A Limusine chega em 15 minutos.
- O Ric está chegando aí, olhe – ele disse, apontando
para a porta. O Ric estava com uma bermuda jeans escura,
uma regata branca e uma camisa xadrez por cima. Estava
usando chinelos Havaianas e óculos escuros tão grandes
que faziam seu rosto parecer pequeno. Seu cabelo estava
todo desgrenhado, e não pude deixar de rir daquela cena.
- Bom dia! – ele disse, com voz rouca de quem tinha
acabado de acordar.
- Bom dia! Você ao menos tomou banho? – perguntei.
- Pode me chamar de tudo, menos de porco! – ele
disse, irritado. – Cadú, o Tim pediu para você pedir um
café e um lanche de queijo para viagem.
- Por que ele pediria para mim e não para você, já
que você que pegou o recado?
- Sei lá, pode ser que eu tenha entendido mal... ou
apenas te disse que ele pediu para você porque estou
incapacitado de fazer qualquer outra coisa além de
dormir.
- Sabia! Te conheço, malandrão! Mudando de
assunto, ele ainda está no telefone com ela?
- Yep! E parece que a conversa vai longe. E aí,
vamos pegar uma gororoba, ou você está de regime?
- Tá me tirando? Só farei regime no dia que você
parar de sair com uma garota por dia. - e então os dois
foram se servir. Nisso, a Bia chegou e avisou que a
Limusine já estava na porta do hotel. Avisei os meninos,
eles logo sentaram e começaram a comer. Liguei no quarto
do Tim. Ele demorou uma eternidade para atender, mas
enfim disse:
- Fala, porra!
- Ei, olha a boca suja! A Limu chegou. Não me faça
ir até aí e te pegar na marra. – e então ele desligou na
minha cara. Que doce de pessoa que ele é. Cinco minutos
mais tarde eu já tinha perdido a paciência, então resolvi ir
buscar o Tim e arrastá-lo até a Limusine pelo colarinho,
mas quando o elevador abriu, ele saiu com sua cara de
sínico que só ele sabe fazer. Para ajudar ainda mais, ele
ainda estava no celular.
- Entra logo antes que eu quebre essa merda de
celular! – esbravejou Ric, que estava com um humor do
cão.
Dez, quinze, vinte minutos mais tarde e o Tim ainda
estava no celular. Eu estava com a minha cabeça
explodindo, então tomei dois analgésicos e deitei no colo
do Cadú, que ficou fazendo cafuné. A Bia estava lendo um
livro de romance sobrenatural e o Ric estava tentando
cochilar. Mais dez minutos se passaram e um urro
masculino me pegou tão de surpresa que dei um pulo.
- Aaaaiii, que caralho, Tim! Ou você desliga agora
essa porra de celular ou vou fazer você engoli-lo.
- Dá pra ter um pouco mais de respeito pelas
conversas dos outros, Ric? Eu estou resolvendo uma coisa
importante. – replicou Tim.
- Sei bem a importância desse assunto! – ironizou, já
que estávamos cansados do rolo em que o Tim e a Letícia
tinham. Ela era uma ridícula ciumenta que nem ao menos
olhava na cara de alguém da banda, com exceção do Tim.
Quando ele se encheu do comportamento dela e terminou
tudo, ela foi para Nova York fazer intercâmbio, mas vivia
ligando para ele e implorando para voltar. - Você está
pendurado no celular desde as seis e quinze da manhã. Já
deu tempo suficiente até para recitar a Bíblia toda. A
Letícia já entendeu que você terminou com ela porque ela
te sufocava, e você sabe muito bem que ela ainda é louca
por você. Então marquem logo a próxima sessão de
amassos e desligue essa merda.
- Le, eu tenho que desligar. Fica combinado um jantar
na segunda, então? Fechado! Então até lá! Um beijo! - e
então ele finalmente desligou o celular e calou a boca.
Fechei os olhos e senti que finalmente conseguiria me
entregar ao sono. O remédio havia me deixado muito
sonolenta. Mas então a Limusine fez uma curva mais
fechada e senti meu estômago ir até a boca.
- Sai, sai, sai! – gritei para o Cadú, que estava na
janela. Como não daria tempo para ele trocar de lugar
comigo, sentei no colo dele e abri o vidro. Esvaziei meu
estômago inteiro. Alguém estava segurando meu cabelo
para que eu não o sujasse, e eu seria eternamente grata por
isso.
- Vi, o que você está sentindo? – perguntou Bia.
- Quer que eu peça para o motorista parar o carro? –
perguntou Tim. Nisso, eu já conseguia falar. A Bia me deu
um lenço e limpei minha boca e meu queixo.
- Eu estou muito enjoada e com dor de cabeça. Se
pedir para parar o carro, não vamos conseguir chegar à
WKG (emissora responsável pelo Midnight Talk Show) a
tempo.
- Nossa prioridade é sua saúde, Vivi!
- Ah, Cadú! Você é o melhor, meninão. – ao dizer
isso, meu estômago voltou a revirar e enfiei a cabeça para
fora da janela para vomitar novamente.
- Toma, Vivi! Eu trouxe por precaução. Você não é
alérgica ao Dramin, é?
- Não! Obrigada, Bia! Era disso mesmo que eu
estava precisando – eu disse com toda sinceridade do
mundo. Eu não estava me sentindo nada bem. Cerca de
meia hora depois, o Dramin começou a fazer efeito, mas
não o que eu queria. Se você já tomou Dramin, sabe que
ele realmente melhora a ânsia, mas também dá um sono
danado. O problema era que especificamente naquele dia
a ânsia não melhorou, mas o sono bateu pesado, e eu não
sabia a que eu atendia: se ao sono ou se à ânsia.
Definitivamente estes dois sintomas não combinam nem
um tiquinho sequer.
- Eu não estou me sentindo nada bem. Por favor,
vocês podem abrir os vidros?
- Claro, Vi. – disse Bia, que para abrir o vidro da
porta que estava ao seu lado teve que passar os braços
por cima do Ric, que dormia encostado na porta.
Em um determinado momento, eu consegui dormir.
Daquela vez eu não sonhei com o Sr. Superbonder, nem
com qualquer outra pessoa. Eu simplesmente apaguei.
Acordei já em Burbank, e resolvi me sentar para ver a
cidade, mas o movimento foi brusco demais para o meu
estado, e comecei a me sentir mais mole do que eu já
estava.
- Cadú, eu acho que vou d.... - e então eu desmaiei.
O resto das minhas lembranças desse dia são apenas
curtos flashbacks. Eu acordei em um determinado
momento com o Ric, o Cadú, o Tim e a Bia em pé à minha
frente discutindo sobre “compromissos agendados”. Então
apaguei. Depois acordei e senti uma mão na minha, mas eu
estava tão cansada que fiquei com preguiça de abrir os
olhos. Nem tentei. Apaguei de novo. Abri os olhos e vi o
Brian Levicce com o rosto a centímetros do meu. E então
eu sorri, mas foi o suficiente para queimar qualquer
energia que eu tivesse no meu corpo, porque de repente
“Bammm”, apaguei de novo. E então meus olhos estavam
grudados, e o Sr. Superbonder dizia que tudo ia ficar bem,
que ele estaria sempre ao meu lado, que ele tinha me
achado e nunca mais me deixaria ir. Bammm! O Tim
estava deitado na cama ao lado da minha, olhando para
mim com um olhar preocupado. Eu queria dizer alguma
coisa para provocá-lo, mas apaguei novamente. E então
acordei de vez.
- Ric, ela abriu novamente os olhos. Vamos ver se
desta vez ela consegue ficar consciente por mais de três
segundos.
- Pode ter certeza de que eu vou tentar. – eu disse,
num fio de voz.
- Ei, amuletinho! Que bom ouvir sua voz. Como você
se sente?
- Um pouco melhor, Ric! Eu queria pedir desculpa
para vocês por ter estragado nossa primeira participação
em um programa americano.
- Calma, você não estragou nada. Depois que te
trouxemos pra cá, o médico disse que te sedaria e que
você dormiria por várias horas. Nós conversamos um
pouco e decidimos que não faríamos falta se nos
ausentássemos um pouco daqui e fôssemos dar a
entrevista. Claro que deixamos a Bia aqui, olhando você.
– explicou Cadú.
- Então vocês foram? Que bom! É um alívio saber
que não estraguei tudo.
- Pode parar! Você não está em condições de se
preocupar com nada. É melhor descansar mais um pouco.
- Não,, Ric! Já dormi muito. Aliás, por quanto tempo
fiquei inconsciente?
- Vejamos... cerca de 26 horas.
- O quê? Nossa, isso é tempo demais! Quero ir
embora! Vocês podem me ajudar a me levantar?
- Você só sai daqui quando o médico te der alta, Vi!
- Vocês ainda não me disseram o que aconteceu
comigo.
- Você está com uma séria anemia.
- Nossa! Mas eu não como tão mal, assim... Ei, cadê
a Bia?
- No hotel, dormindo. Nós pedimos para ela ir
porque o hospital só permite dois acompanhantes por vez,
e já estão fazendo uma exceção pra nós deixando um a
mais.
- Um a mais?
- Sim, o Tim só foi tomar um café e comer alguma
coisa, porque ele passou a noite toda acordado vendo se
você ficaria bem. A verdade é que nós sugerimos revezar,
mas eu tinha passado a noite anterior em claro e com
certeza iria dormir, mesmo que eu me esforçasse para
ficar acordado, e o Cadu estava visivelmente esgotado,
então ele decidiu que poderíamos cochilar, enquanto ele
ficava de plantão. Agora ele está destruído, coitado. E por
falar nele, olhe quem está vindo. - ele estava chegando
com três cafés da Starbucks. Quando me olhou, respirou
aliviado.
- Ei! – ele disse.
- Ei! – respondi. – Você está com uma cara péssima.
Precisa urgentemente tirar um cochilo.
- Não, eu estou bem. Pelo visto, você está bem
melhor. O médico já soube que você está acordada?
- Acho que não.
- Não, nós ainda não avisamos. – complementou Ric.
- Vivi, depois que te sedaram houve alguns momentos
em que você abriu os olhos. Você estava consciente, por
acaso? – perguntou Cadú.
- Em alguns momentos sim, mas tive alguns delírios,
também. Minha imaginação estava muito fértil. – eu disse,
pensando nas visitas do Brian e do Sr. Superbonder. –
Mas com certeza eu vi vocês quatro discutindo e depois vi
o Tim deitado na maca ao lado, me olhando. Valeu por
isso, Tim!
Enquanto Tim enrubescia e olhava para os próprios
pés, o Ric e o Cadú se entreolharam. Senti que estava
rolando algo que eles ainda não tinham me dito, e então
Ric resolveu falar:
- Sem querer ser intrometido, mas você poderia nos
dizer quais foram seus delírios, Viv’s?
- Claro que não! - gritei. – Delírios são coisas
pessoais – disse em um tom mais baixo, desta vez.
- E envolvem, por acaso, o vocalista do Blue4us?
- Meu Deus! Eu não estava delirando só em
pensamento, mas sim em voz alta, né? – eu disse quase
desabando em lágrimas de vergonha. E então os dois
caíram na gargalhada.
- Ah, muito legal vocês dois! Quando estiverem de
saída, não me esquecerei de cobrar o ingresso. E olha que
o cachê da palhaça aqui está em alta, viu?
- Desculpe, Vi! Acontece que ele realmente veio te
visitar.
- Ele quem?
- Oras, de quem estamos falando? Brian Levicce,
claro.
5 – SE VOCÊ GOSTA DE PIÑA
COLADAS

“Se você gosta de Piña Colada e de tomar banho de


chuva. Se você não curte yoga e tem apenas meio
cérebro. Se você gosta de fazer amor à meia noite nas
dunas de Cabo. Então eu sou quem você procura,
escreva para mim e fuja.” – Escape (The Pina Colada
Song) – Holmes Rupert

Naquela mesma noite tudo já estava voltando ao


normal. O Cadú estava reclamando de fome, o Ric queria
ir para alguma danceteria da cidade, o Tim já nem olhava
na minha cara e o médico tinha acabado de me dar alta. Eu
tomei um banho e coloquei uma calça legging preta com
uma camiseta da mesma cor e jaqueta e botas da cor
marrom. Peguei minhas coisas e agradeci ao médico e às
enfermeiras e fomos em direção à Limusine, quando um
batalhão de flashes caiu sobre nós, quase nos cegando.
- Xi, esquecemos de te avisar, Vivi! Eles estão aqui
desde que anunciamos no Midnight Talk Show que você
estava no hospital com problemas de saúde. Eles
passaram a madrugada toda acampados aqui. – explicou
Ric. E foi só então que notei quantas pessoas estavam de
pé, na rua, segurando faixas com mensagens de apoio e
desejos de melhora. Aquilo era inacreditável. Todas
aquelas pessoas estavam lá por mim, se preocupavam
comigo, sofreram por mim. E então os repórteres se
aproximaram.
- Vivianne, como você está se sentindo? Você vai
conseguir cantar durante a turnê? – essa era uma repórter
baixinha, usando um casaco vermelho e botas pretas.
- Vivi, você acha que terá condições para participar
do show dos Empty Botlles, na próxima semana? – desta
vez era um repórter bonitão, que deveria ser poucos anos
mais velho do que eu. Supergato! Mas como eu ainda
estava chocada com todo aquele alvoroço, a repórter de
casaco vermelho voltou a falar:
- Vivi, o que você tem a dizer para tranquilizar aos
seus inúmeros fãs? – Hum! Essa daí é esperta. Apelou
para o lado sentimental. Peguei o microfone do repórter
bonitão só para não dar moral para a baixinha e disse,
olhando para todas as câmeras:
- Em primeiro lugar eu queria agradecer a todos
vocês que se preocuparam comigo, que torceram pela
minha melhora. Eu estou melhor, só vou gravar um
comercial amanhã e depois descansarei por uns dois dias.
Com certeza estarei bem para o show dos “E.B.” na Time
Square, e prometo arrebentar na nossa turnê. Quando eu
estava internada, não tinha a menor idéia da multidão que
estava aqui fora, esperando por notícias, e agora que saí e
vi todos vocês aqui, estou super emocionada. É nesses
momentos que percebemos o quanto vocês são
importantes para nós. Espero poder retribuir esse carinho
através do meu trabalho. Obrigada mesmo, de coração! –
e então entrei na Limusine.
- Belo discurso! – elogiou Ric, com o Cadú
concordando em seguida.
- Sim, sim! Quase chorei! – debochou Tim.
- Ah, cala a boca!

Nós fomos em direção ao Tangerine Hotel, onde


tivemos que nos hospedar graças à minha anemia
surpresa. O hotel era muito bem localizado: ficava perto
da Universal Studios, de Hollywood e da praia. Uma pena
que teríamos que voltar para Las Vegas na manhã seguinte.
Ainda tínhamos que gravar mais um dos comerciais da
ChocoRocker, e desta vez seria filmado em um dos
Cassinos. Assim que chegamos, fui fazer o Check In
quando alguém parou ao meu lado. Nem precisei olhar
para saber que essa pessoa queria falar comigo. Olhei
para ver quem era e travei.
- Pelo visto você está bem melhor! Que bom te ver
assim, já que você realmente me preocupou.
- Como posso ter te preocupado se nem ao menos nos
conhecemos? – eu disse com meu sorriso Mona Lisa, que
faz a pessoa ter dúvida se estou falando sério ou se estou
brincando.
- Bem, essa é nova! Nem lembro a última vez que
alguém disse que não me conhecia. Mas eu conheço você.
Acompanho sua carreira há um bom tempo. Sou até do
tipo fã maníaco, te curti no facebook, te segui no twitter, te
adicionei no myspace, etc. Mas tudo bem, para que seja
recíproco, deixe eu me apresentar: meu nome é Brian
Levicce e sou vocalista da banda de pop rock Blue4all.
Nasci aqui na Califórnia, mais especificamente em uma
cidadezinha que não sei se você conhece... se chama
Burbank. Ouvi até dizer que tem uma banda de rock
famosa hospedada por lá. Talvez eu até dê sorte e acabe
cruzando com um deles por aí.
- Seu bobo! Eu quis dizer que não nos conhecíamos
pessoalmente, e não que nunca tínhamos ouvido falar um
do outro.
- Mas é como eu disse. Eu sinto como se nos
conhecêssemos há anos. Como se fossemos... íntimos! –
Será que ele não sabe que ainda estou fraca e não
aguento fortes emoções? Ele quer o quê, que eu tenha
um piripaque aqui mesmo?
- Sei! Sabe, Brian, eu também sou uma grande fã, e
tudo mais, mas definitivamente não sou do tipo de garota
com quem você flerta.
- Do que você está falando?
- Ah, você entendeu! Mudando de assunto, queria
agradecer por ter ido me visitar no hospital. Foi muito
gentil da sua parte. Bom, eu estou muito cansada. Vou
indo, outro dia nos falamos. Foi um prazer te conhecer!
- Ah, você não vai a lugar nenhum. O que você quis
dizer com “não sou do tipo de garota com quem você
flerta”?
- Para você realmente meia palavra não basta, não é
mesmo? Mas tudo bem, eu explico o que eu quis dizer. O
mundo todo sabe que você só namora topmodels. Eu não
sou desse tipo de garota, super feminina, viciada em
eventos onde eu possa promover a minha beleza. Eu não
faço parte desse mundo. Eu como tudo que tenho vontade,
adoro videogame, ensaio todos os dias e não faço minha
agenda baseada na de nenhum namoradinho. Trabalho
todos os dias com três super gatos... - às vezes
insuportáveis, mas inegavelmente gatos, eu pensei - ...
toco guitarra, baixo, canto, e pago minhas contas. Ou seja,
não sou nenhuma super princesa que vive de concursos de
beleza ou desfilando lingeries por aí, brincando de anjo. –
destilei. Ele me olhava como se eu tivesse jogando um
copo de suco na cara dele.
- Você não acha que está sendo preconceituosa com o
trabalho de modelos, não?
- Um pouco, sim. Realmente conheço algumas
modelos que são muito mais que corpos bonitos, algumas
até brilhantes, mas não as estou julgando, não se engane.
Estou julgando você. Sua quedinha pelo estereótipo.
Agora que estamos esclarecidos, vou indo. Tenha uma boa
noite! - e fui em direção ao meu quarto. Assim que entrei
no elevador, percebi que eu tinha sido a maior das idiotas.
Como que eu, Vivianne, tinha esnobado o Brian? Eu devia
estar fora de mim. Devem ter me feito um transplante de
cérebro no hospital. Ou sugaram meus neurônios. Ou eu os
vomitei para fora da Limusine, na estrada.
- Sua besta! Sua anta! Sua burra! Sua imbecil! Sua
incompetente! Depois de tantos anos babando por ele,
sonhando com ele, depois de tantas música compradas no
Itunes, de tantas revistas...- a porta do elevador abriu e o
Cadú e o Tim entraram.
- Vi, você está bem?
- Não Cadú! Quer saber por quê? Porque sou uma
besta, uma anta, uma burra, uma imbecil, uma
incompetente.... Ah, quer saber? Deixa pra lá! Repetir o
dicionário de xingamentos não vai mudar o fato de eu ser
uma...
- Tá, ta! Já entendemos! Mas o que houve?
- Nada! – resmunguei. – Só meu atestado de
solteirice eterna. E posso saber para onde vocês estão
indo? O quarto de vocês não é no quarto andar? – quando
acabei de perguntar, o elevador parou no meu andar.
- Nós? Pra lugar nenhum! – respondeu Cadú rápido
demais.
- Tim? – insisti com meu olhar “CONTE AGORA
OU EU TE MATO”.
- Desde quando você me coage a fazer o que você
quer? E solte a porta do elevador. Devem ter outras
pessoas esperando.
- Ok! O problema é de vocês! Não preciso saber,
desde que não me incomodem com nada. Bye!

Eu acordei e senti meus olhos colados, mas não tinha


qualquer outro vestígio de que o Sr. Superbonder
estivesse ao meu lado. Ele não apareceu, então voltei a ter
um sonho comum. Sonhei com um palco montado em cima
de um mar, e as pessoas assistiam em uma passarela que
foi construída para ser intermediária entre o palco e a
terra. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Eu
passava pela multidão com um vestido verde água de um
ombro só, com meus cabelos soltos, lisos e ao mesmo
tempo ondulados. Quando pisei no palco, percebi que
estava descalça, então eu comecei a rir. Todo mundo ria
comigo e aplaudia e eu procurei os meninos. Eles estavam
em suas posições, logo atrás de mim, mas estavam
amarrados em algas marinhas que tentavam puxá-los para
dentro da água. Eu comecei a me desesperar, mas então o
Ric disse: “Vivi, só você pode nos ajudar. Só confiamos
em você, sempre foi você”. Mas eu não conseguia libertá-
lo das algas, e o Cadú e o Tim começaram a gritar. E
então ela chegou. Ela estava com uma faca simples de
serra, mas conseguiu facilmente libertar o Cadú, depois o
Ric, e finalmente o Tim. Em forma de agradecimento, ele
a beijou. Foi um beijo que durou uma eternidade, e eu
estava enojada só de olhar. Quando o beijo acabou, o Ric
e o Cadú foram até essa mulher e levantaram suas mãos,
como se ela tivesse acabado de ganhar um campeonato.
Então o Tim veio para perto de mim, arrancou meu baixo
da minha mão e o deu à mulher que os salvou.
- Não! – eu pedi em tom de súplica.
- Você não é digna da Rock & Pie! Nunca foi! – ele
disse.
- Vivianne Santinni,l Você é uma besta! Uma anta! –
disse Cadú.
- Uma burra! - xingouRic.
- Uma imbecil! – completou Tim. E então eu acordei
Olhei no relógio e eram quatro da manhã. Eu estava
com uma sensação ruim, e fiquei preocupada com os
meninos. Resolvi ligar no quarto deles. Que se dane se
eles acharem ruim!
- Alô!
- Ric, é a Vivi! Vocês estão bem?
- Que saco! A Bia jurou que não ia nos dedurar!
- A Bia o quê? Mecontetudoagora! – gritei tão alto e
tão rápido que ouvi um Tuiiiimmmm vindo da minha
cabeça.
- Ei! Grita no ouvido da sua mãe! Se você não sabe o
que aconteceu, por que ligou, porra?
- Tic, tac, tic, tac! – eu disse!
- Tá bom! Você sabe ser bem chata quando quer.
Bem, logo que chegamos do hospital eu conheci uma
garota chamada Lisa que está hospedada na cobertura. Ela
disse que é super fã da banda e...
- Dá pra resumir, cáspita?
- Resumindo, eu avisei os meninos e fui para a festa,
e os dois foram em seguida. Eu logo me atraquei com a
Lisa e fomos para o quarto dela. Do nada, ouço o Tim
gritar por mim. Como eu estava no bembom, confesso que
no começo decidi ignorar, mas como ele continuou me
chamando, imaginei que fosse alguma coisa séria e fui
correndo até eles. Foi então que eu vi o Cadú passando
mal. Ele estava totalmente fora do ar, com os olhos
vidrados, e vomitando por tudo quanto era canto. Nós não
sabíamos o que era, e decidimos pedir ajuda, mas como
sabíamos que você não iria, como você deixou bem claro
da última vez, nós acabamos ligando para a Bia. Quando
ela chegou lá, interrogou todas meninas e descobriu que o
Cadú tinha bebido uma Piña Colada batizada com “Boa
Noite Cinderella”. Ela enfiou o dedo na garganta dele e o
fez vomitar tudo, e então viemos para o quarto.
- Vocês... como é que... ah, que se dane! Prometi para
mim mesma que não iria mais tratar vocês como crianças.
Mas me diz uma coisa: como está o Cadú?
- Sei lá, parece que bem!
-Sei lá, parece que bem! Uau, que responsáveis
vocês são. E diga se eu adivinho: agora vocês estão
tirando a roupa e vão dormir até amanhã, né?
- Claro! Olha a hora!
- Claro, eu olho a hora! Olho a hora que vocês
deviam estar no quinto sono ao invés de estar deixando
nosso parceiro mais novo tomar Piña Colada batizada.
Quer saber? Pula pra cama do Tim ou vá dormir no sofá,
sei lá, mas deixe sua cama livre pra mim que estou indo
para aí em dois minutos.
- Ah, você não vai dormir aqui nem em um milhão de
an...- mas ele se calou quando ouviu o tu, tu, tu do
telefone. Eu coloquei um robe por cima da minha
camisola, porque ela era curta demais pra ficar me
exibindo pelo hotel, e fui correndo pro quarto deles. Bati
na porta, mas ninguém abriu. Bati de novo e já disse em
alto e bom som:
- Enquanto vocês estavam na farra, eu estava
dormindo. Então eu estou descansada o suficiente para ter
energia de ficar batendo a manhã inteira nessa porta. E
vocês, estão com energia para desperdiçar essa noite de
sono ouvindo eu ficar reclamando aqui no corredor?
- Ok, eu me rendo. – disse Ric ao abrir a porta. -
Dormirei no sofá. – eu entrei e fui direto pra cama do
Cadú. Eu o cutuquei e perguntei se ele estava bem. Ele
disse que sim, mas me chamou de mãe. O Ric riu da cena
e então o Tim saiu do banheiro. Só de cueca. Quando me
viu, seus olhos arregalaram, e em seguida ele perguntou:
- Que diabos você está fazendo aqui esta hora da
madrugada?
- O Ric me disse que vocês estavam indo pra cama
dormir, e como eu já dormi o suficiente, resolvi fazer pelo
Cadú o que você fez por mim. Vou passar anoite acordada,
vendo se ele precisa de alguma coisa. Como você já está
há um tempo sem ter uma boa noite de sono graças a mim,
resolvi deixar vocês dormirem sossegados.
- Não seria mais fácil você levá-lo para o seu
quarto?
- Você está disposto a carregá-lo até lá? Além do
mais, aqui eu sei que se acontecer alguma coisa eu posso
contar com a ajuda de vocês. Ou será que minha presença
aqui te incomoda tanto a ponto de você preferir fazer as
coisas de outra forma?
- Não, você está certa. Mas não se esqueça de que
você também não está nada bem. Se o Cadú passar mal me
chame, ok? Não faça nenhum tipo de esforço.
- Ok! Combinado! – e sem querer acabei olhando
para seu peito nú. Era bem definido, mas sem excesso de
gominhos, de forma que parece mais natural do que
aqueles malhados exageradamente. Ele tinha o peito liso,
com exceção de uns poucos pelos que somados não
dariam uma dúzia. Desci os olhos e olhei para sua
barriga. Até prendi o ar. Nossa, o corpo dele era incrível!
Não era malhado ao extremo, mas ele tinha aquela
marquinha dos ossos do quadril que sempre adorei,
parecidas com a do Cadú. Olhando bem, percebi pela
primeira vez o quanto ele era lindo, no conjunto total. A
pele dele parecia firme, mas ao mesmo tempo eu tinha a
certeza de que se eu a tocasse, seria macia como seda.
Quando desci os olhos mais um pouco, até esqueci onde
eu estava, quem ele era, quem eu era, e em que mundo
vivíamos, porque as coxas dele beiravam a perfeição.
Eram largas, roliças e firmes, como as de um jogador de
futebol. Não tão definidas nem tão grossas quanto as do
Ric, mas o suficiente para me fazer babar um pouco. Ah,
Vivi! Pare de olhar! Olhe para o chão, ou para a parede,
para qualquer lugar, menos para o corpo dele. E então
meus olhos responderam ao meu pedido, mas não olhei
para o chão, nem para a parede, mas sim para os olhos
dele. Aquele foi o momento mais constrangedor pelo qual
já passei, porque percebi que ele tinha notado meus olhos
passeando por seu corpo e mesmo assim ele continuava
lá, parado na minha frente, com o Cadú dormindo e o Ric
tentando copiá-lo. Ele estava com uma expressão
estranha, e nossos olhos ficaram presos por pouco mais de
um minuto, quando ele deu um passo na minha direção.
Meus joelhos tremeram e eu senti um frio imenso na
barriga. Ele ia dar o segundo passo quando Ric
resmungou:
- Dá para apagar a luz ou está difícil?
O Tim pareceu frustrado, e acabou dando as costas
para mim. Eu me encantei com a tatuagem que ele tem nas
costas, logo embaixo do ombro. Era um dragão chinês
imponente, e não pude deixar de compará-lo ao dono. O
Tim era uma espécie de dragão: vive soltando fogo,
tentando me queimar. O pior é que eu estava mesmo me
sentindo queimada, mas de tão quente que ele havia me
deixado. Se eu estivesse no meu quarto, sem dúvida
alguma de que eu játeria tomaria um banho gelado.
Eu passei as horas seguintes tentando seriamente me
concentrar no Cadú, mesmo estando com aquela vontade
esquisita de olhar o Tim dormir. Eu devia estar alucinando
um pouco, ainda. Afinal, tinha tomado vários remédios
nos últimos dias. O Ric foi o primeiro deles a acordar, e
já eram nove horas da manhã. Eu o deixei de olho no
Cadú e fui ao meu quarto me trocar, e quinze minutos
depois voltei para acordarmos o Tim e o Cadú, porque
ainda tínhamos que tomar café, arrumar as malas e pegar o
vôo do meio dia e vinte para Vegas. O Cadú acordou um
pouco mal, mas conseguiu levantar e se vestir para tomar
o café, mesmo insistindo que não estava com um pingo de
fome. Eu o convenci de que comer o faria se sentir
melhor. Nós pegamos o elevador e paramos no térreo.
Mal o elevador abriu e uma das funcionárias do hotel já
veio até mim para me entregar um ramalhete de flores
gigantesco. Eram rosas de várias cores, e algumas ainda
estavam fechadas. As flores eram lindas, mesmo não
sendo as minhas favoritas. Fiquei parada, tentando
entender a procedência daquele ramalhete, quando
localizei um cartão no meio de alguns botões. O bilhete
foi escrito à mão e a letra era muito bonita. Estava escrito
em inglês e dizia o seguinte:
“Você estava certa sobre meu padrão anterior.
Mas o mundo é feito de mudanças, e o que eu
quero HOJE é totalmente diferente do que eu
já quis em qualquer outro dia. Você não tem a
mínima idéia do quanto é especial. B L.”
Eu mal tive tempo para pensar sobre isso quando o
Ric puxou o bilhete da minha mão e os três leram cada
linha escrita. Nenhum deles falou uma palavra sequer, mas
pude ver no rosto deles que eles não gostaram nadinha.
Quando chegamos ao salão onde estava sendo servido o
café da manhã, avistamos a Bia sentada em uma das
mesas. Fomos até lá e ela me abraçou, dizendo que estava
feliz por eu estar melhor, e então falou no meu ouvido:
- Eu estou aqui há mais de uma hora e ele já estava
aqui. E ele não comeu nada, nem para disfarçar. Tenho
certeza que estava esperando você descer.
- Ele quem? – eu perguntei, mas logo em seguida o
avistei.
- Não olhe agora, mas ele está vindo pra cá! – e meu
coração disparou. Fingi que não sabia de nada e sentei à
mesa, ao lado do Cadú, que estava sem apetite. Meu
coração se apertou de pena. Ele devia estar muito mal
para não ter a mínima fome. O Ric e o Tim estavam em pé
ao lado do Cadú, como se estivessem indo buscar o que
iriam comer, mas algo os tivesse parado no caminho.
Lógico que percebi que eles tinham notado que o Brian
Levicce estava vindo até a nossa mesa e que ficariam
parados lá, com pose de macho, apenas para espantá-lo
como eles sempre faziam com qualquer bonitão que se
aproximasse de mim. Na verdade, eu não beijava ninguém
desde que entrei na banda.
- Bom dia, pessoal! Bom dia, Vivi! Posso falar com
você? – Meu Deus, ele estava mais lindo do que nunca.
Estava usando uma calça jeans skinny preta com uma
camiseta branca de gola v que marcava deu abdômen
sarado e seus braços musculosos.
- Bom dia pra você também! Claro que podemos
conversar!
- Sem querer me intrometer, mas será que não seria
melhor conversarem em uma outra hora? Porque ainda
temos várias coisas pra fazer antes de pegar o vôo. –
interrompeu Ric, ignorando o olhar feio que lancei pra
ele.
- Ela tem que se alimentar bem, acabou de sair do
hospital. Concordo que vocês deveriam conversar em uma
outra hora. – disse Tim em um tom nada agradável. O que
há de errado com esses dois?
- Eu concordo plenamente, ela tem que se alimentar.
Por isso vim até aqui, para ver se ela me faria companhia.
Eu ainda não comi nada e a fome está começando a bater.
Você me daria essa honra? – ele disse no jeito mais
cavalheiresco do mundo.
-Bia, por favor, faça com que o Cadú tome pelo
menos um suco e coma uma fruta. Eu vou tomar café com
o Brian! – finalizei a frase lançando um olhar de triunfo
para os dois patetas que queriam me atrapalhar.
Quando sentei à mesa com o Brian, eu estava sem
fala. Eu quase me belisquei para ver se aquilo não era um
sonho. Ele estava meio inseguro, pelo que pude perceber,
e só ficava me olhando, com aqueles olhos castanhos
esverdeados.
- Acho melhor nos servirmos antes que eu acabe me
atrasando. Eu ainda tenho que arrumar minhas coisas antes
de pegar o vôo.
- A que horas é o seu vôo?
- Meio dia e vinte.
- Então vamos!
Eu me servi com as mesmas coisas de sempre: o
suco de laranja com três pedras de gelo, o copo de café
com leite, o mini pão francês, duas fatias de queijo branco
e uma fatia de mamão. Ele pegou duas fatias de pão de
forma integral, um pouco de ovos mexidos, duas fatias de
queijo branco e uma xícara de café preto.
- Vou ficar de olho para ver se você vai comer tudo,
senão seus rapazes virão até aqui me socar. – ele brincou.
- Não se preocupe. Eu como bem, nunca tive
problemas quanto a isso. Só acho que não estava
balanceando bem as vitaminas necessárias. Vou procurar
uma nutricionista assim que voltar para o Brasil.
- Ah, não estrague esse momento! Vamos fingir que
você mora por aqui, ok?
- Ok! – eu disse rindo. – A propósito, obrigada pelas
flores. São lindas.
- Obrigado! Que bom que gostou! Toda mulher é
louca por rosas. – Todas menos eu! Mas eu não disse nada
para não estragar o clima. - Fiquei sabendo que vocês vão
para Nova York, amanhã.
- Sim! Nós alugamos uma casa em Manhattan, vamos
descansar por dois dias e então terá o VMA. Faremos a
apresentação da nossa nova música de trabalho.
- Eu confesso que já ouvi! É excelente. Todas são, na
verdade.
- Como você ouviu? Gravamos na semana passada!
- Tenho meus contatos! Já disse que sou um grande
fã, e como qualquer outro grande fã, faço o que posso para
saber tudo sobre meus ídolos.
- Nós somos seus ídolos?
- Um dos principais. Você, em especial.
- Por que eu? Por que você está me dando toda essa
atenção? Existem várias atrizes famosas e outras dezenas
de cantoras que afirmaram publicamente terem uma queda
por você.
- E eu conheço uma dezena de atores, outra dezena de
cantores, e outras centenas de caras que são fissurados
por você.
- Ah, por favor! É totalmente diferente.
- Eu nunca imaginei que você fosse tão cega em
relação à sua beleza. Você é maravilhosa, Vivianne! Seu
sorriso, seus olhos, seu cabelo e até mesmo seu perfume,
formam uma arma de destruição em massa de corações. –
Nossa, isso soou um pouco brega ou foi impressão
minha?
- Também não vamos exagerar.
- Digamos que eu esteja exagerando! Seus fãs
também estão? Nunca viu os vídeos com declaração de
amor que seus eles gravam e postam no Youtube? E o que
me diz dos críticos da revista Everyone, que te elegeram
como a sexta mais sexy do mundo?
- Ah, Brian! Mas...
- Mas nada – ele me interrompeu. – Olhe para mim! –
e eu olhei. Os olhos dele brilhavam. Eu senti em arrepio
na espinha. – Eu sou louco por você desde que vi seu
vídeo pela primeira vez, em uma língua que eu nem
conhecia. Pedi para um colega meu que é brasileiro
traduzir o cd inteiro. Fiquei horas e mais horas lendo as
legendas e tentando decorá-las. Até aprendi algumas
palavras em português, com isso.
- Você está falando sério? Fez tudo isso para
entender a letra das músicas?
- Sim, fiz. E faria tudo de novo, e muito mais. – então
ele se aproximou um pouco para pegar na minha mão. Eu
permiti. - Será que eu poderia te pedir uma coisa?
- Diga!
- Você jantaria comigo na terça à noite?
- Combinado!
- Você prefere qual tipo de comida?
- Apenas me surpreenda! – eu preferi responder.
Uma hora depois eu já tinha tomado banho e vestido
um shorts jeans claro, decorado com pequenos rasgos no
bolso e strass preto no bolso de trás escrito Rock & Pie
(que eu mesmo mandei bordar), uma camiseta preta
justinha com um decote generoso, e uma sandália de salto
alto preta, que comprei na loja Santa Lolla. Peguei minhas
malas e fui encontrar os meninos e a Bia na recepção. O
Ric fez nosso check out e fomos até a Limusine. Todo
mundo estava estranhamente calado, com exceção do
Cadú, que perguntou se podia deitar no meu colo até o
aeroporto. Foi a Bia que resolveu quebrar o gelo:
- E então, Vivi? Estamos todos morrendo de
curiosidade. Como foi o café da manhã com o Sr.
Gostosão?
- Nossa, estamos todos realmente morreeeeeendo de
curiosidade! Estou quase borrando as calças de tanta
curiosidade. – alfinetou Tim.
- Sabe, Tim, algumas pessoas realmente se
interessam pela minha vida e torcem pela minha
felicidade. Dói tanto assim ficar pelo menos um pouco
feliz por mim? – desabafei a mágoa que eu nem sabia que
tinha. Os olhos dele se apertaram e ele ficou em silêncio
por alguns segundos, e então disse em uma voz fraca e
distante:
- Eu não sabia que ele era tão importante para você a
ponto de ser razão para sua felicidade. Eu preferi encerrar
o assunto.
Quando chegamos ao aeroporto, os flashes caíram
sobre nós. Eram paparazzis aos montes, e uma repórter
perguntou:
- Vivi, há quanto tempo você e o Brian estão
namorando?
- Nós o quê?
- Estão circulando pela internet várias fotos que
indicam um romance entre vocês dois. Tem fotos de vocês
jantando no Four Seasons, tem vocês tomando café juntos
nessa manhã, tem fotos dele entrando e saindo do hospital
no qual você estava internada, tem fotos de vocês
conversando no saguão do hotel. Então conte para seus
fãs: vocês estão apenas ficando ou estão iniciando um
namoro sério?
- Não, nossos encontros foram ocasionais. Não rolou
nada.
- Mas Vivianne...
- Não tenho mais nada a declarar!
6 – DE UM JEITO OU DE OUTRO

“De um jeito ou de outro, eu vou te achar, eu vou te


pegar, te pegar, te pegar, te pegar. De um jeito ou de
outro, vou te vencer, irei te pegar, irei te pegar. De um
jeito ou de outro, eu vou te vencer. Vou te pegar, te
pegar.” – One Way or Another - Blondie

Naquele mesmo dia, mal chegamos ao Four Seasons


e já tivemos que voltar ao Cassino Excalibur para mais
uma sessão de fotos. Eles haviam contratado figurantes
que interpretariam fãs nos perseguindo, nas fotos, como
uma espécie de encenação do incidente do começo da
semana. A idéia dessa encenação para o ensaio
fotográfico foi de um dos diretores da ChocoRocker, e nós
não os decepcionaríamos. Afinal, foi o primeiro contrato
milionário da nossa carreira. Por ter sido uma sessão mais
ensaiada, nosso trabalho acabou antes do que
pensávamos, então saímos para jantar e depois voltamos
para o hotel.
Aquela noite estava mais fria do que o comum, então
me cobri com um edredom e me entreguei ao sono.
- Você tem passado por maus bocados, hein!? – ele
falou com aquela voz acetinada. Eu sabia que era o Sr.
Superbonder, mas desta vez ele não iria me dobrar.
- Como se você se importasse.
- Você sabe que me importo!
- Eu sei? Quer saber a única coisa que sei? Sei que
sempre que mais preciso de você, como num passe de
mágica você desaparece!
- Eu não desapareci em momento algum. Eu estive
aqui o tempo todo, mas às vezes você não consegue me
ver.
- Isso não é verdade. Eu consegui chegar até aqui,
mas você não estava. Quero dizer, eu senti meus olhos
colados, mas você não estava.
- Ei, escute o que tenho para te dizer: tudo que faço é
por você. Aonde quer que eu vá, vou pensando em você.
Há um bom tempo você vem sendo a minha razão de
existir.
- É tão bonito quando você fala, mas é tão difícil de
acreditar!
- Vivi, o que você quer que eu faça para provar?
- Várias coisas! Para começar, me beije!
- Um beijo? Esse é o imenso sacrifício que devo
fazer? – ele disse rindo.
- Quero muito um beijo seu. Quero sua boca na
minha. – mal terminei de falar e ele já tinha me puxado,
me colocando sentada no colo dele. Eu achei que ele
nunca fosse me beijar, como se o beijo fosse uma espécie
de maldição, para que toda vez que ele me beijasse, eu
acabasse acordando. Mas nada disso era verdade. Ele não
começou de forma carinhosa, como a maioria dos homens
fazem. Ele sugou minha boca de uma vez, deixando meus
lábios inchados de tanta pressão. E então invadiu minha
boca com sua língua, enrolando-a na minha como em uma
brincadeira sem fim. Ele se afastou um pouco e senti seus
olhos sobre mim, antes de ele dizer:
- Te quero tanto!
- Então me tenha! – e ele juntou seus lábios nos meus,
novamente. Sua língua passeou vagarosamente por cada
canto dos meus lábios, e ele começou a me dar beijinhos
leves intercalados com lambidinhas. E então ele passou
para um beijo avassalador. Eu nem sabia há quanto tempo
estávamos nos beijando, eu só conseguia sentir, me
entregar ao toque dele, ao gosto dele.
- Eu quero você agora! – eu disse.
- Ainda não, Vivi! – ele disse, praticamente sem
fôlego.
- Se eu não posso te ter, então por que você está me
beijando desse jeito? Me deixando desse jeito? Quer
saber, estou cansada dos seus joguinhos! Vá embora, não
apareça mais aqui, não quero sentir você! E eu não estou
brincando. – e então acordei. Tomei banho, depois
encontrei os meninos e tomamos café. Em seguida, fomos
para o aeroporto com destino a Nova York, mas minha
mente ainda estava em um certo sonho que tive com um
homem cola.
As ruas do Upper East Side são exatamente do jeito
que eu sempre imaginei. É tudo tão arrumadinho, tão
limpo! O clima de Nova York me lembra muito de São
Paulo, e por um instante pude jurar que estava em casa. Eu
estava louca para fazer compras na quinta avenida, mas
naquele dia eu só queria chegar à nossa casa (não
necessariamente nossa, mas como se fosse, já que
havíamos alugado), tomar um banho e dormir a noite toda.
Meu celular começou a tocar Cherry Bomb, e eu atendi.
Minha mãe estava gritando tanto e tão alto que tive que
afastar o celular do ouvido.
- Você quer me matar do coração? Não sabe retornar
as ligações, não? Esqueceu que eu existo? Eu não tenho
notícias suas desde que falei com o Ricardo quando você
estava no hospital. Já consegui falar com o Cadú, com a
sua assistente, que não me lembro do nome, mas com
você... ah, mais fácil eu falar com o presidente dos
Estados Unidos! Agora eu tenho que ter notícias suas
através das fofocas da internet? É isso? Eu ainda sou a sua
mãe! – ela berrava.
Dez minutos de xingamento se passaram, e após
minha mãe se certificar de que eu estava bem, ela se
acalmou e perguntou:
- E então, as fofocas sobre você e o Brian são
verdadeiras? Sei mais do que ninguém o quanto você é
louca por ele.
- A maioria das coisas foram baseadas em fofocas,
mas eu confesso que terei um encontro com ele, na terça
feira.
- Só me faltava essa! – disse Ric, enquanto Cadú
revirava os olhos e Tim olhava para o outro lado. A Bia
foi a única que soltou um “Boa, garota!”. Aparentemente
eles não tinham nada melhor pra fazer a não ser prestar
atenção na conversa dos outros.
- Filha, sei que você está super empolgada, mas
prometa que tomará cuidado. Não quero que você se
magoe, e o Brian é super assediado. Concorrer com uma
mulher já é ruim, com milhões, então... e você sabe que a
maioria dos homens são uns safados. Bem, você entendeu
o que eu quis dizer. Mas olha, filha: aproveita! Beije
muito e curta sua juventude! Te amo! – e então ela
desligou. Eu tenho a melhor mãe do mundo!
A casa que a Rita tinha alugado para nós ficava na
Columbus Avenue e parecia uma espécie de mansão. Deu
certinho um quarto para cada um, sendo três deles suítes.
Os meninos concordaram em ceder uma suíte para mim e
uma para a Bia e sortearam a que restou, de forma que o
Tim ganhou a terceira. O Ric e o Cadú teriam que dividir
um banheiro que ficava perto do quarto deles. A cozinha
era imensa, e tinha duas geladeiras com freezers
generosos. Tinha uma sala de jantar, a sala de tv e duas
salas de música, sendo uma delas acústica. A casa não
tinha jardim. Na verdade, quem olhasse de fora não
imaginaria de forma alguma o tamanho que ela tinha.
Ficamos todos deliciados com o conforto que teríamos
naquela casa. Eu conversei com o Ric e decidimos fazer
compras para lotar aquelas geladeiras de gostosuras.
Pegamos vários pacotes de macarrões do qual eu nunca
tinha nem ouvido falar, molhos, xarope de bordo para
comer com panquecas, cereais, carnes, chocolates,
biscoitos, balas, chicletes, o sorvete preferido de cada um
e outras coisas mais. Eu teria que voltar a assistir meus
vídeos de ginástica e malhar dia e noite para queimar
todas as calorias que eu planejava ingerir. Quando
chegamos em casa, o Cadú já tinha acordado e estava
louco de fome. Ele começou a devorar um pacote de
biscoito Oreo, mas como eu tinha decidido que faria uma
janta especial para nós, confisquei o pacote parcialmente
vazio e pedi que ele esperasse mais um pouco. Eu
precisava de alguém para me ajudar na cozinha, mas
hesitei em pedir para a Bia, porque quando eu e o Ric
voltamos do mercado, encontramos ela e o Tim sentados
no sofá, e os dois estavam conversando no maior clima
(pelo menos era o que parecia). Por fim, nem precisei
pedir a ajuda dela, pois o Ric e o Cadú se ofereceram
para me ajudar (apesar de eu ter certeza que só fizeram
isso para beliscarem tudo que vissem pela frente).
Eram oito e meia da noite quando a comida ficou
pronta. Demos as graças e comecei a servir. Eu havia
preparado um risoto de mussarela de búfala com
cebolinha e tomate cereja, além de um lombo suíno assado
ao molho de ervas finas. Tomamos o mesmo vinho que
sempre tomávamos quando nos reuníamos, o Periquita. O
jantar foi muito agradável, e assim como todas as outras
noites em que eu cozinhava, os meninos me cobriam de
elogios, até mesmo o implicante do Tim. A Bia ficou
maravilhada e disse que invejava esse meu talento, pois
ela não sabia nem fritar um ovo. Quando todos acabaram
de comer, recolhi os pratos e os juntei na pilha para que a
diarista que a Rita contratou os limpasse na manhã
seguinte. Eu fui até o freezer e peguei um pote de sorvete
de morango, que era o favorito do Ric, um de doce de
leite, que era o favorito do Cadú e um de Chocochips, que
é o favorito da Bia. Eu, como sou a pessoa mais indecisa
do mundo, tenho dois favoritos: o de pistache e o de
Cookies n’cream da HaggenDazs. O preferido do Tim
também é pistache, então comprei apenas um pote e pedi
para ele me dar um pouco do dele. Passamos horas
conversando e jogando conversa fora, e então decidimos
passar a madrugada assistindo filmes de terror. Todos nos
aconchegamos no sofá e compramos pela tv a cabo o filme
“O Grito”. Eu já tinha assistido esse filme um zilhão de
vezes, então, como eu estava com frio, fui buscar um
cobertor. Quando voltei a me aconchegar no sofá, o Tim
se espremeu entre eu e o Cadú e perguntou se eu poderia
dividir o cobertor com ele. Eu estava quase mandando ele
ir buscar um cobertor só pra ele, quando percebi que ele
jogaria na minha cara a divisão do sorvete de pistache,
então não me importei. Como estávamos todos no sofá,
não havia espaço sobrando, de forma que estávamos todos
praticamente grudados um no outro. Senti a coxa
musculosa do Tim encostar na minha e enrijeci, assustada
com a malícia do pensamento que me tomou. Não era
possível que eu começaria com aquelas idéias ridículas
novamente! Tentei me concentrar no filme, e fiz tanta força
para isso que apaguei. Quando voltei a abrir os olhos,
percebi que havia tirado um pequeno cochilo, e minha
cabeça estava encostada no ombro do Tim. Ele estava
com a mão ao meu redor, praticamente me abraçando.
Olhei para ele e ele sorriu.
- O que foi, acha que vou te morder?
- Não! É que ... é estranho!
- Por quê é estranho? Você não vive dizendo que nos
vê como irmãos? Aposto que se você tivesse cochilado
nos ombros do Ric ou do Cadú, você nem ligaria. Aliás,
pelo que te conheço, até pediria um cafuné para qualquer
um deles.
- Não é verdade! Não faço diferença entre vocês. –
menti. A verdade é que eu nunca tinha prestado atenção na
diferença de tratamento que eu fazia entre eles. Eu
realmente me sentia muito mais à vontade com o Ric e
com o Cadú.
- Não? Então você aceita um cafuné, Vivi? – ele quer
que eu dê o braço a torcer, mas isso não vai acontecer!
- N... er.... Sim, claro! Mas deixe eu mudar de
posição, meu pescoço está doendo.
- Fica mais fácil se você encostar a cabeça no meu
peito.
- Você não se importa? – Diga que sim, diga que
sim!
- Não! - Droga!
Eu apoiei minha cabeça em seu peito e ele começou
a passar a mão pelos meus cabelos. Seus dedos
passeavam lentamente entre meus fios, e ele começava a
acariciá-los desde a raíz até as pontas, e então partia para
outra mecha. Eu estava me sentindo no paraíso. Os dedos
dele eram perfeitos. Tive uma estranha sensação familiar,
mas não fazia idéia do por quê. E então um dos dedos
encostou na minha orelha. Senti meu corpo ferver, mas era
uma sensação tão gostosa... Eu não sabia se queria que ele
continuasse a fazer cafuné ou se queria que ele acariciasse
minhas orelhas do jeito que ele tinha feito. E então tive a
impressão de que ele havia lido meus pensamentos. Ele
continuou a fazer cafuné com uma das mãos e usou a outra
para acariciar minhas orelhas... e meu rosto... e meu
pescoço. Nossa, isso é tão bom! Eu estava até com medo
de me mexer e ele resolver parar. Ele passou os dedos
pelas minhas bochechas, pela minha testa, desceu pelo
nariz e encostou os dedos nos meus lábios. Ele me
acariciava de um jeito tão suave, tão gentil que eu nem
conseguia pensar em mais nada a não ser naquele toque.
E então os dedos dele desceram da minha boca para meu
queixo, e do meu queixo para meu pescoço, indo para
cima e para baixo. Eu fiquei toda arrepiada, e fiquei com
medo de que ele percebesse. Ele não disse uma palavra
sequer, mas como eu estava com a cabeça encostada no
seu peito, ouvi seu coração disparar. Até sua respiração
ficou mais pesada. Ele se mexeu, um pouco incomodado, e
eu virei a cabeça para cima, para olhar para ele, com a
intenção de perguntar se eu o estava incomodando, mas
quando olhei para ele aconteceu a mesma coisa que na
noite anterior: as palavras morreram e nossos olhos se
prenderam, mas ele ainda estava com uma das mãos no
meu cabelo e a outra no meu pescoço, e então ele me
puxou para perto dele eu vi nossos rostos se aproximarem.
Ele vai me beijar! Confesso que a princípio eu estava
ansiosa, mas então a realidade chegou como em um raio.
Eu estava prestes a beijar o Tim. Justo o Tim! E ainda por
cima na frente de todo mundo. O Cadú estava ao lado dele
e eles estavam praticamente grudados, então ele devia
estar vendo tudo que estava acontecendo. Não estou
acreditando nisso! Soltei as mãos dele do meu corpo e
me endireitei. Me levantei e olhei para o Cadú, mas tanto
ele quanto o Ric e a Bia estavam cochilando.
- Tim, eu... é... bem, boa noite! – Foi tudo que
consegui dizer antes de sair correndo em direção ao meu
quarto.
Eu acordei com um delicioso cheiro de café e alguma
coisa frita. Pulei da cama, lavei o rosto, escovei os
dentes, coloquei um vestido estampado de alcinhas e
chinelos e saí correndo em direção à cozinha. Quando
parei na porta, o Ric estava cozinhando, todo mundo já
estava acordado e babando em cima dos ovos mexidos
que o Ric preparava. Eu dei um bom dia geral e todos
responderam, mas o Tim não estava olhando para mim.
Parecia que ele começaria novamente a me evitar. Antes
ele me evitar do que ficar me olhando daquele jeito que
me deixava com uma sensação esquisita, certo? Só que
não era o que eu realmente estava pensando. “She’s my
cherry pie, cool drink of water such a sweet surprise.
Tastes so good, make a grow man cry, sweet cherry pie”.
- Mudou o toque do seu celular, Vi?
- Não, Bia! Esse é o toque de recebimento de sms. –
e então eu vi o destinatário. Brian Levicce. Meu sorriso
foi de orelha a orelha.
- Pelo sorriso, só pode ser do Brian. – ela disse.
- É dele, sim. Ele disse que não para de pensar em
mim e pediu para eu não me esquecer do nosso jantar.
- Então vocês vão mesmo sair, hoje à noite? Só
espero que a gente não se cruze por aí. Não estou a fim de
ver você no maior amasso com o Brian. – disse Ric.
- Nos cruzar por ai, como? Vocês estão pensando em
badalar, hoje à noite?
- Claro! Eu e os meninos vamos pra um lugar bem
especial, hoje à noite.
- Você e os meninos, não. Você e “o” menino, porque
só o Cadú vai. Esqueceu que vou jantar com a Lelinha,
hoje? – o Tim dizia e eu tentava entender o que ele via
naquela garota nojenta.
- Mas o jantar não era ontem à noite? Pensei que
você tivesse furado com ela. – disse Cadú.
- Eu... eu não furei, eu... – ele dizia, pensativo – eu
só remarquei.
Após o café, os meninos saíram para conhecer
melhor NY e eu a Bia resolvemos fazer compras na Quinta
Avenida. Compramos perfumes, vestidos, calças,
blusinhas, casacos e lingeries. Chegamos em casa no final
da tarde, e enquanto eu estava guardando minhas compras,
ouvi os rapazes chegando. Fui para o chuveiro e tomei um
banho caprichado, depois vesti uma lingerie azul royal
com rendas, que eu nunca tinha usado, e coloquei um
vestido na mesma cor. Calcei um par de sandálias pretas,
conferi se meu esmalte vermelho sangue ainda estava
intacto, me borrifei quatro vezes com Touch of Spring, que
é meu perfume favorito, passei sombra da cor grafite em
meus olhos e preenchi meus lábios com batom vermelho.
Quando conferi meu look no espelho, fiquei insegura. O
Brian estava acostumado a sair com garotas maravilhosas,
e isso era realmente intimidante. O vestido que eu estava
usando era de um ombro só, mas sustentava meu busto
cheio, além de realçar a finura da minha cintura. Ele era
um pouco colado, então marcava tanto meu quadril quanto
meu bumbum. Por não ser cumprido, exibia minhas pernas
bem torneadas, mas ao mesmo tempo não era vulgar. A
campainha tocou, e senti o nervosismo tomando conta de
mim. Eu estava prestes a sair com o homem dos meus
sonhos!Não literalmente dos meus sonhos, afinal, este
título era do Sr. Superbonder. Nossa, como minha vida
estava esquisita! Peguei minha bolsa e comecei a descer
as escadas, mas logo vi que não havia sido o Brian quem
tinha tocado a campainha. O Ric havia aberto a porta para
a Letícia, mas ela permaneceu parada na entrada, como se
a nossa casa tivesse alguma espécie de vírus
contaminador. E então o Tim saiu da cozinha. De onde eu
estava eu conseguia sentir o perfume que ele usava:
Chanel Egoiste Platinum,que eu havia dado de presente
para ele em seu aniversário. Eu amo esse perfume! Ele
cumprimentou a Letícia com um selinho e se virou para
dar tchau quando ele me notou. Ele piscou algumas vezes
e me olhou dos pés à cabeça. Meu coração fez um “Tum,
Tum” mais rápido que o normal.
- E então? Vamos indo? – interrompeu Letícia.
- Oi pra você também, Letícia! – eu provoquei.
- Ah, oi, Vivianne! - ela disse secamente. Mas então
a atenção dela se voltou à pessoa recém chegada que
estava encostada na porta. – Nossa, você não é o...
- Ei, Brian! Pode entrar! – eu disse, interrompendo
Letícia antes que ela começasse a babar em cima dele.
- Uau! Você está tão... uau! – ele disse de queixo
caído, enquanto me examinava.
- Vamos, Letícia? – perguntou Tim, parecendo
irritado com a fascinação da sua acompanhante. Então os
dois saíram, mas não antes de a Letícia secar o Brian por
mais alguns segundos. Aquela garota era muito cara de
pau. Desde que a conheci, nem por um segundo sequer eu
consegui simpatizar com ela.
O Brian me levou a um restaurante italiano
chiquérrimo, chamado Remi. Ele é decorado com um
mural veneziano fantástico. Nós mal nos acomodamos e os
flashes dos paparazzis (que não tenho idéia de como
descobriram sobre o nosso encontro tão rapidamente)
começaram. O maître nos indicou uma mesa, e o Brian
pediu duas saladas Barbabietole e Dois Spaghettis alle
Vongole Veraci. Ele pulou o Antipasti, pois não estávamos
com muita fome. Ao sommelier, ele pediu que nos
servisse um vinho robusto com um aroma delicioso de
frutas, porém caríssimo: Masseto di Tenute dell’Ornellaia.
- Espero que goste daqui. É meu restaurante favorito!
- Tenho certeza de que vou gostar. Brian, por acaso
você já se acostumou a ter sua privacidade invadida pelos
paparazzis?
- Esse é um assunto bem complexo. Eu estaria
mentindo se dissesse que já me acostumei, mas confesso
que já me irritei muito mais, com isso.
- Eu acho que nunca vou me acostumar. Sei que eles
só estão fazendo o trabalho deles, por isso que não os
destrato, mas há tempos que não saio em público e me
sinto confortável. É muito desgastante o fato de estar
sendo sempre vigiada.
- Com o tempo isso melhora. Você verá!- ele deu uma
pausa e olhou para mim como se quisesse me perguntar
algo.
- Pode perguntar! – eu disse, como se estivesse lendo
os pensamentos dele. – Só que não prometo responder!
- O pessoal da sua banda não vai muito com a minha
cara ou eles são assim com todo cara que se aproxima de
você?
- Não é nada pessoal, eles apenas têm medo de que
eu conheça algum babaca machista que me impeça de
continuar na banda.
- Se eles pensam assim, acho que não conhecem você
bem o suficiente.
- O que você quis dizer?
- Que você tem personalidade forte. Não é do tipo de
garota que é facilmente influenciada. Você tem opinião
própria! – e então ele deu um sorriso largo, exibindo seus
lindos dentes branquíssimos. Como alguém pode ser tão
lindo?
- É a segunda conversa séria que já tivemos e parece
que você me conhece há tempos.
- Eu já disse que te conheço! Eu sei mais coisas
sobre você do que você imagina.
- Jura? Cite alguns exemplos.
- Bom, eu sei que você é super profissional, pois fez
um show no mês passado mesmo ardendo em febre. Sei
que você e sua mãe são muito próximas e tenho certeza de
que você está morrendo de saudades dela. Sei que você
adora ler, pois curte no facebook a página de vários
autores. Sei que seus olhos castanhos são tão hipnotizantes
que às vezes, quando as pessoas falam com você, até
perdem o rumo da conversa. E... sobre o que estávamos
falando, mesmo? – ele deu um meio sorriso, e meu rosto
avermelhou no mesmo instante.
- Aqui está! – disse o garçom, trazendo nossa salada
Barbabietole.
O jantar foi perfeito! Tanto a salada quanto a massa
foram feitos com primor, e o vinho era coisa de outro
mundo. Simplesmente divino! Após o jantar, nós fomos
tomar café em uma cafeteria fofíssima chamada Java Girl,
e ele disse que tinha me levado lá porque toda garota
deveria conhecer aquela cafeteria. Nós conversamos
sobre assuntos diversos, como cinema, música e costumes
brasileiros. A cada olhar que ele me dava eu me sentia a
pessoa mais sortuda do mundo. Ele realmente era muito
agradável. Além de lindo, claro! Quando chegamos à
porta de casa, olhei para ele e percebi que não sabia
como me despedir. Eu queria beijá-lo, mas não queria que
ele me considerasse fácil demais. Ao mesmo tempo, se eu
simplesmente agradecesse e fosse embora, ele poderia
pensar que eu não estava interessada o suficiente, e esse
realmente não era o caso.
- É a primeira vez que isso acontece comigo. – ele
disse.
- Isso o que?
- O fato de não ter a mínima idéia de como agir. É
que você é tão...
- Tão?
- Tão diferente de todas as outras garotas que já
conheci.
- E isso é uma coisa boa ou uma coisa ruim?
- Definitivamente boa! – ele disse rapidamente. –
Tão boa que eu me sinto pequeno, perto de você. – ele
confessou.
- Isso parece uma cantada antiga. – eu menti. Se fosse
qualquer outro homem que estivesse me dizendo aquilo,
eu suspeitaria, mas ele estava totalmente diferente de
como ele era normalmente. Não havia nenhum traço de
auto confiança. E isso, vindo dele, dizia muita coisa.
- Quisera eu que fosse. Você me deixa
desconcertado. – ele me olhou por alguns instantes, e eu
percebi que eu não respirava há alguns minutos. Ele se
aproximou vagarosamente e parou no meio do caminho,
como se estivesse esperando minha aprovação. E em
questão de segundos eu estava com o rosto quase colado
ao dele, mas eu deixei uma pequena distância para que ele
pudesse tomar a atitude. E ele me beijou! O beijo dele era
bom, mas notei que estava um pouco controlado. Parecia
que ele estava planejando cada movimento, e isso
transformou o beijo em algo quase mecânico. Isso fez com
que eu acabasse me lembrando de um certo beijo que eu
tinha dado poucos dias atrás: o beijo do Sr.Superbonder.
O único problema era que eu não poderia nunca comparar
aquele beijo a qualquer outro, já que havia sido dado por
um personagem que meu subconsciente havia criado.
Quando os lábios dele se afastaram do meu, eu olhei para
baixo para não demonstrar meu desapontamento. Ele
pegou minha mão e disse:
- Me desculpe! Você me deixa extremamente
nervoso, e parece que eu saio de mim quando estou perto
de você.
- Não se preocupe! Você não fez nada que eu não
tivesse consentido.
- Eu não estava falando do fato de te beijar, mas sim
disso aqui... - e então ele me puxou com força para perto
dele e me beijou avassaladoramente. Um fogo inflamou
dentro de mim, e nesse momento eu percebi que de ruim o
beijo dele não tinha nada. Muito pelo contrário!
Quando eu entrei em casa, o Ric, o Cadú e a Bia
estavam na sala assistindo um documentário sobre a vida
do Axl Rose, mas imediatamente olharam para mim:
- E aí, como foi seu grande encontro com seu ídolo
pop metrossexual? – perguntou Ric.
- Ele não é meu ídolo pop. A banda dele é de rock,
se você não sabe.
- Rock? Hahaha! Você está de brincadeira comigo!
- Ei, a base da banda é o rock, mas eles misturam
alguns elementos pop.
- E é exatamente isso que faz com que a banda dele
seja de pop, e não de rock.
- Pop Rock, no máximo! – eu disse, já quase sem
paciência.
- Se é o que você quer acreditar...
- Ei, dá para vocês paparem de pegar no pé do
Brian? Ele já percebeu que vocês estão tratando ele de
forma hostil.
- Ótimo! Significa que ele tem mais de um neurônio.
- O que eu faço com vocês dois, hein!? Vocês só me
ferram!
- Vocês três, nada! Eu estou bem quietinho, aqui. –
disse Cadú
- Está, mas também não me defende quando preciso!
- Mas conte como foi, Vivi! Ele te beijou? –
perguntou Bia.
- Bem, não vou entrar em detalhes. Só posso dizer
que foi muito bom.
- Ei, Bia! Eu estou indo pra uma danceteria aqui
perto. Você não está a fim de curtir uma balada?
- Não, Ric! Prefiro ficar aqui, esperando o... er...
esperando para ver se alguém precisa de mim.
- Ah, que é isso, Bia! Já está tarde para precisarmos
de qualquer coisa de você. Você está mais do que liberada
para curtir uma noitada. – eu disse.
- Ah, não! Hoje eu não estou no clima. Mas agradeço
o convite, Ric! Aproveite por mim! – ela disse
determinada. O Ric pareceu um pouco desapontado, mas
não pensou duas vezes antes de sair.
- Por acaso o Tim ainda não chegou? – perguntei aos
dois.
- Não, Vivi! Acho que ele nem vem passar a noite em
casa. – respondeu Cadú. A Bia pareceu decepcionada, e
eu me senti um pouco ressentida com ele. Afinal, eu não
gostava de ver a Bia decepcionada desse jeito. E esse era
motivo suficiente para eu ter vontade de dar um soco na
cara dele.
7 – ME ACERTE COM O SEU
MELHOR TIRO

“Você começa, você não luta justo. Está tudo bem, veja
se eu me importo! Nocautea-me, é tudo em vão. Eu volto
a ficar em pé novamente!” – Hit Me
With Your Best Shot – Pat Benatar

Naquela noite eu dormi ininterruptamente. O Sr.


Superbonder respeitou meu pedido e não apareceu. Eu
sinceramente não sabia se estava feliz, pois eu não queria
me apaixonar por um personagem surreal, ou se estava
triste, pois ele era uma das partes mais felizes do meu dia
(no caso, da minha noite). Na manhã seguinte eu acordei
as oito e dez, tomei um banho rápido, vesti um shorts
branco e uma regata rosa (acredite ou não, havia dias em
que eu me sentia uma menininha e precisava
desesperadamente usar cor de rosa. Eu sou mulher, afinal
de contas). Eu desci e reparei que ninguém havia
acordado. Resolvi buscar no meu quarto meu rádio
portátil e liguei nele o meu Ipod. Eu comecei a ouvir a
bateria no começo da música Slow Ride e comecei a
preparar o café da manhã. Fiz a massa de panqueca, fiz
também uma omelete com pedaços de queijo branco e
cebolinha e comecei a passar um café bem forte, pois
passaríamos o dia inteiro ensaiando e precisaríamos estar
bem acordados. A campainha tocou. Um rapaz gordinho
que estava usando um boné vermelho me entregou um
ramalhete de rosas e uma caixinha preta. Eu dei gorjeta a
ele, peguei meus presentes e entrei. Eu sabia que eram
presentes enviados pelo Brian. Li o bilhete:
“Só para deixar claro que a noite de ontem foi
perfeita! Você é tão sincera, engraçada e natural que faz
com que eu me sinta um adolescente tímido e inexperiente.
Eu não me sinto assim há anos. Espero que esteja se
sentindo assim, também. Obs: O presente é uma espécie
de egoísmo meu, para que sempre que você olhar para ele
se lembre do quanto eu te admiro. Seu, BL.”
Eu abri a caixinha preta e encontrei uma pulseira de
ouro branco com três pingentes: um baixo, um microfone e
um coração. Era perfeito, uma vez que o coração
simbolizava meu amor pela música e pelos instrumentos
que uso. Fiquei parada com um sorriso no rosto por vários
minutos, até que ouvi uma chave girar na porta de entrada.
O Tim entrou com a mesma roupa que estava usando no
dia anterior, mas ela estava bem mais amassada naquele
momento. Olhei disfarçadamente no relógio e notei que
eram nove horas e quinze minutos. A noite deve ter sido
muito boa!
- O cheiro está maravilhoso! Meu estômago está
roncando.
- E por que não tomou café com a Lelinha? –
perguntei, usando o apelido pelo qual ele chamava a ex,
futura, atual (?) namorada.
- Lelinha? Não sabia que vocês eram íntimas. – ele
disse. Ao fundo eu ouvia a música I’m so sick, da banda
Flyleaf.
- Nunca! Aquela garota é um nojo. Não dá para
entender o que você viu nela.
- Isso é fácil de explicar. Ela é gostosa e tem um bom
papo. – ele disse, enquanto roubava uma das panquecas
que eu havia acabado de fritar.
- E?
- E o que? Precisa de mais alguma coisa?
- Sinceramente, Tim, você merece muito mais. Está
certo que você sabe como ser um pé no saco, mas você é
inteligente, é um excelente baterista, é leal, honesto e...-
interrompi o que eu estava dizendo para dar um tapa na
mão dele, que estava tentando roubar mais uma panqueca.
– ei, que tal se você esperar o pessoal para tomarmos café
juntos?
- Termine o que estava dizendo. – disse ele
ignorando o que eu disse sobre esperar os outros, ao
roubar um pedacinho da omelete.
- O que eu estava dizendo antes? Nem me lembro
mais.
- Que eu sou isso, aquilo, honesto e... e o que?- nisso
ele passou vagarosamente a língua no lábio inferior. Que
lábios são esses?
- E que também é bem bonito.
- Bem bonito?
- Tá, tá bom! Você é meio que... lindo. Mas não vá
ficar por aí se achando. – e então ele sorriu,
aparentemente surpreso.
- Então quer dizer que você me acha lindo...
- Quer saber, Tim? Esquece o que eu disse. Eu só
queria te dar um conselho. – mas então ele deu um passo
na minha direção. Ele estava começando a ficar próximo
demais.
- Me tire uma dúvida, Vivi. Se você não fosse
famosa e não nos conhecêssemos, eu seria lindo o
suficiente para fazer você me considerar um símbolo
sexual? – ele disse a palavra “sexual” em um tom mais
rouco.
- Por que a pergunta? – ele estava me deixando
nervosa. Agora estava tocando Do You Wanna Touch Me,
da Joan Jett. Aquela música não era apropriada para
aquele momento! Não mesmo!
- Para saber como as garotas se sentem em relação a
mim. Se eu sou digno de ser o sonho de consumo de
algumas delas. Quero saber como estou sendo cotado no
mercado feminino.
- Você nem precisa me perguntar isso. Está cansado
de saber que existem centenas de garotas por aí
louquinhas por você. Quer saber um segredo? – eu disse,
sinalizando com o dedo para ele se aproximar mais,
porque eu contaria em um tom bem baixinho, para ninguém
mais ouvir. Ele fez que sim, com a cabeça, e se
aproximou. Então eu disse em seu ouvido:
- Eu tenho quase certeza de que a Bia é uma dessas
louquinhas por você. Mas por favor, não vá contar a ela
que eu disse isso. – comecei a me afastar, uma vez que já
havia contado o segredo da Bia. Nossa, eu estava sendo
uma fofoqueira de mão cheia! Mas então ele segurou
meus braços e não deixou que eu me movesse.
- Você enrolou e não respondeu minha pergunta.
- Qual era a pergunta, mesmo?
- Você sabe, não se faça de idiota!
- Ok! Eu penso que é bem provável. Acho que sim!
-Acha que sim ou sim?
- Sim, Timóteo! Cara, você fez cursinho pra saber
como me deixar louca!
- Ah, eu ainda não te mostrei como posso te deixar
louca. – ele disse tão baixinho que parecia que estava
falando com ele mesmo.
- Hãn? – eu ouvi mesmo o que ele disse ou eu tinha
imaginado ele passar uma cantada barata em mim?
- Tá, então existiria a possibilidade de você me
considerar um símbolo sexual. Mas qual tipo de símbolo?
Daqueles que você olha e fala “Uau, que delícia”, ou
daquele tipo que você sente uma atração tão grande que
passa anos sonhando em encontrar? Assim como você
sonhou com o Brian Levicce. – Mentira que ele queria
mesmo que eu respondesse aquilo. Para ajudar, ele ainda
não tinha soltado meu braço.
- Tim, você está muito esquisito, ultimamente. –
desabafei.
- Esquisito como?
- Sei lá! Me trata mal em um minuto e no outro quer
fazer cafuné em mim, depois vem com esse papo estranho.
- Então posso dizer o mesmo de você.
- Como assim?
- De uns dias pra cá, você também está agindo de
forma estranha. Você começou a me afastar de você,
tratando os outros como melhores amigos e eu como seu
inimigo. Além do mais, você está me olhando diferente.
Acha que não vi você percorrendo os olhos pelo meu
corpo, quando me viu de cueca? – então ele soltou meus
braços. Mas eu não me afastei, eu estava brava o
suficiente para querer estapeá-lo. Como ele ousava dizer
tudo aquilo para mim?
- Ah, é? Pois saiba que eu só te olhei porque fiquei
surpresa de te ver de cueca. E quer saber? Pelo que me
lembro, ontem você quase tentou me beijar.
- Pelo que eu me lembro, você estava lá, deitada no
meu colo com os lábios abertos, praticamente implorando
para eu te beijar.
- Você está louco! Você que sugeriu que eu deitasse
no seu colo, pra provar que eu não estava te tratando
diferente dos outros. E eu não fiquei com os lábios
abertos, pedindo para você me beijar, não! Eu nem quero
que você me beije! Eu nunca quis!
- Ah, claro! Porque o único que é digno de provar
seus lábios de ouro é o Brian, né?
- Eu nunca disse isso!
- Então você deixaria outro homem te beijar?
- Claro que sim!
- Um homem que você considere atraente o
suficiente, logicamente.
- Sim! – e então ele me puxou para perto dele e
encostou seus lábios no meu com força, como se quisesse
extravasar todo ódio que sentia por mim. Ele abriu a boca
para aprofundar o beijo e eu o empurrei para trás.
- Seu... seu... Seu nojento! Você beijou uma garota
agora pouco e agora vem querer passar a saliva dela pra
mim? Achou o que, que eu ia ficar tão enfeitiçada pelos
seus encantos que eu nem me importaria com o fato de
você ser um porco? Nunca mais encoste em mim, ouviu? –
e saí pisando duro em direção ao meu quarto.
Quando entrei no meu quarto, eu me encostei na porta
e passei os dedos pelos meus lábios. Eu estava muito
irritada, e por vários motivos. Como que ele ousou me
beijar sem a minha autorização? E ele ainda tinha dado
a entender que eu ficava me oferecendo pra ele. Fala
sério! E por que meus joelhos perderam a força, mesmo
eu sentindo tanta repulsa? O Tim realmente havia virado
um grande problema na minha vida. Cerca de meia hora
depois, alguém bateu na minha porta. Era a Bia, me
avisando que o pessoal estava acordado e que o Ric
estava terminando de fritar a massa de panqueca que eu
havia deixado em cima. Eu desci e encontrei todo mundo
sentado à mesa. O Tim tinha tomado banho e colocado
uma bermuda de sarja preta e uma camiseta azul marinho.
- Bom dia, meninos! Bom dia, Bia! – eu disse. Todos
responderam, com exceção do Tim, que sabia que eu não
tinha incluído ele nos cumprimentos.
- Vi, pelo jeito você deixou o Brian de quatro, não é
mesmo?
- Por que você está dizendo isso, Bia? – perguntou
Cadú.
- Não me digam que só eu que notei o ramalhete de
flores em cima da mesa da sala, e uma caixinha preta ao
lado dele? – ela respondeu.
- Caixinha preta? – perguntou Ric.
- É, eu estava fazendo café quando o entregador
chegou e me trouxe as flores e a pulseira. – e então fui
buscar para mostrar para eles.
- Nossa, Vi! É linda! Ele conseguiu te presentear com
um acessório que resume toda paixão que você sente pela
música. – disse Bia, toda romântica.
- É, o presente não é nada mau, mesmo. – Ric disse,
dando o braço a torcer.
- Você recebeu esse presente minutos antes de eu
chegar? – perguntou Tim, esperando que eu dirigisse a ele
uma palavra sequer, para responder. Coitado!Como eu
não respondi, ele me lançou um olhar furioso, e todos
perceberam que o clima estava tenso.
- A Bia estava certa, Vivi. Você deve ter deixado ele
de quatro, para que ele te presenteasse tão cedo na manhã
seguinte ao encontro de vocês. – disse Ric.
- Ih, gente! Nem adianta insistir no assunto porque
ela já deixou claro que não vai contar uma palavra sequer.
– avisou Bia. Então notei que o rádio ainda estava ligado,
e meu Ipod estava tocando Tempo Perdido, do Legião
Urbana.
- Então agora você resolveu ter segredos, é? –
insistiu Ric.
- Querem saber mesmo? Nós fomos a um restaurante
delicioso, tomamos uma garrafa de um dos vinhos mais
caros que existe, depois fomos a uma cafeteria. E então,
quando ele me trouxe pra casa, ele me beijou
- E o beijo foi bom? Do jeito que você sempre
sonhou? – perguntou Bia. Todos me olharam com
curiosidade, principalmente o Tim.
- Foi muito bom! É tudo que tenho a dizer.
Já fazia mais de uma semana que não ensaiávamos,
então quando pegamos nossos instrumentos e começamos
a tocar as primeiras notas da música “O tempo não
parou”, foi uma bagunça geral. Essa música era do nosso
cd novo e tínhamos pensado em lançá-la como primeiro
single. O problema é que teríamos que fazer a
apresentação de uma de nossas músicas durante a
cerimônia do VMA, e eu achava que deveria ser uma
música mais alegre, que grudasse na cabeça das pessoas.
- Ei, parem, por favor! Eu tive uma idéia! – eu gritei.
Como por um milagre, todos eles pararam e prestaram
atenção. A coisa devia estar muito feia para eles quererem
me ouvir. – Bom, eu estava pensando e acho que “O
tempo não parou” não é a música ideal para
apresentarmos amanhã. Ela é linda, e tal, mas por ser em
português, acho melhor cantarmos uma música mais curta
e mais pegajosa, no estilo chiclete. Pensei que
poderíamos cantar “Ei, menina”. O que vocês acham?
- Eu concordo plenamente. E dá até para eu cantar
em seguida um trecho de You Shook me all night long, do
ACDC. Vai combinar demais! – disse Ric.
- Yeahhh! Demais! – exclamou Cadú.
Foram quatro horas e meia de ensaio, e então
finalizamos, pois como eu cantaria no dia seguinte “Ei,
menina” e o Ric “You shook me all night long”, não
poderíamos correr o risco de perder a voz. Nós fomos
descansar um pouco, pois a Rita chegaria naquela noite e
tínhamos combinado de jantarmos juntos. Aproveitei o
sossego para ligar para o Brian. Disquei seu número e
após duas chamadas ele atendeu.
- Oi, Vivi!
- Oi, Brian! Me desculpe por ter demorado tanto para
ligar, mas é que passamos o dia todo ensaiando.
- Ah, relaxa. Eu também estou com a galera da
banda. Estávamos ensaiando até vinte minutos atrás.
- Nós também encerramos o ensaio agora pouco.
Bem, eu queria te agradecer pelas flores e pela pulseira.
Nossa, ela é maravilhosa! É simplesmente a minha cara!
- Eu sei! Eu passei algumas horas procurando um
presente para você, e confesso que não estava sendo uma
missão nada fácil, até que eu vi a pulseira e os pingentes,
então não hesitei por um segundo sequer antes de comprá-
la.
- Você é demais, sabia?
- Sou?
- É, sim! Nem sei como te agradecer!
- Bem, nesse exato momento estou pensando em
inúmeras maneiras de agradecimento que eu gostaria que
fizesse por mim.
- Hum... aposto que são bem sugestivas.
- A maioria! – e caímos na risada. Alguns segundos
depois, ele parou de rir e sua voz ficou séria. – Eu não
consigo parar de pensar em você. Eu fico lembrando do
gosto da sua boca, da textura dos seus lábios, do jeito que
sua língua dança ao redor da minha...
- Ah, Brian! – suspirei.
- Vivi, diga que também pensa em mim o dia inteiro.
Diga que sente falta da minha boca na sua. Diga que me
quer tanto quanto eu te quero!
- Eu te quero, Brian! Te quero há muito tempo!
- Estou indo te buscar agora mesmo!
- Não posso sair hoje. Lembra que eu te disse que a
Rita, minha empresária, está chegando hoje de São Paulo?
Prometemos levá-la para jantar.
- Ah! Eu tinha me esquecido! – ele disse em um tom
de voz que demonstrava que estava completamente
frustrado.
- E o pior é que amanhã só vamos nos ver na
cerimônia de premiação. Por falar nisso, nós mudamos a
música da nossa apresentação. Tenho certeza de que você
vai aprovar!
- Você que vai cantar?
- Apresentaremos duas músicas, já que a primeira é
curtinha, então eu cantarei a primeira e o Ric a segunda,
fazendo um cover de uma das nossas músicas favoritas.
- Que seria qual?
- Surpresa!
- Ah, Vivi! Hoje você tirou o dia para me frustrar!
- Hahaha! Prometo te compensar direitinho, depois.
- Ah, então espera que vou anotar o que você disse
para eu te cobrar depois!
- Seu bobo! Ei, tenho que desligar. Se der, mais tarde
te ligo.
- Ok, senhorita ocupada. Vou ficar aguardando. Um
beijo... daqueles!
- Outro... daqueles! – e desliguei.
Eu resolvi deixar a preguiça de lado e coloquei um
shortinho branco com listras laterais roxas e um top da
mesma cor, ambos de lycra. Baixei um vídeo na internet
onde uma personaltrainer ensinava exercícios para a coxa
que podiam ser feitos em casa, sem equipamentos. Estava
malhando há cerca de uma hora e meia quando a Bia bateu
na porta e entrou.
- Vivi, acabei de fazer um suco de melancia. Quer
descer e tomar comigo?
- Boa idéia. Vamos! – descemos até a cozinha e ela
encheu um copo com suco para cada uma de nós.
- E então, será que agora pode me contar mais um
pouco sobre seu romance com o Sr. Bonitão?
- Bia, você é bastante curiosa, sabia? Mas a verdade
é que não tenho muitas coisas para contar. Nós saímos, ele
foi super cavalheiro, gentil... ele é mais romântico do que
eu imaginava. Mas não rolou nenhum fato
importantíssimo, para te contar.
- Nem uma mão boba?
- Não! Ei, eu só saí com ele uma vez! – eu disse em
tom indignado.
- E daí? Qualquer outra garota faria um tour pelo
corpo dele com as mãos e com a língua. Te garanto! – e
então a campainha tocou. A Bia abriu a porta e então uma
cabeleira ruiva apareceu. Rita!
- Que bom que você chegou! Acredita que eu estava
com saudades de você? Difícil de imaginar, hãn? – eu
disse, enquanto corria para dar um abraço apertado nela.
- E não é que eu também estava com saudades? Na
verdade, de todos vocês. E não é que essa casa não é nada
mal? Você é a Bia, certo? – a Rita era assim. Falava sobre
trinta coisas ao mesmo tempo.
- Sim. É um prazer conhecê-la.
- Não precisa de formalidades, comigo! E os
meninos? Onde estão?
- Acho que estão tirando um cochilo.
- Ah, não se preocupe que acordo eles em um grito
só. RIC, CADÚ E TIM! LEVANTEM DESSA CAMA E
VENHAM ME DAR UM ABRAÇO! AGORA! – ela disse
em um grito estrondoso. É um fato que a Rita nunca teve o
comportamento de uma lady. Não demorou nem dois
minutos até eles descerem para cumprimentá-la. – Nossa,
Cadú! É impressão minha ou você cresceu ainda mais? E
você está um pouco mais forte, Tim. Ah, você não mudou
nada, Ric! Nem você, Vivi. Com exceção, talvez, dessa
roupa brega de ginástica. Todos riram, e a Bia partiu para
minha defesa.
- Ela realmente estava malhando, mas eu fiz um suco
e a chamei para tomar um pouco comigo.
- Mas branca? – Rita disse em tom jocoso.
- Sim, branca. Eu gosto dessa cor. Por quê? Não
combina comigo?
- Ah, Vi! Você é tão linda que qualquer coisa fica
bem em você.
- Ah, Cadú! Eu já disse que te amo, seu lindo? – eu
disse enquanto o abraçava.
Como a Rita só ficaria em nova York por quatro dias,
o Tim cedeu a ela a sua suíte e se instalou no quarto do
Ric. Decidimos nos arrumar para irmos jantar, e quarenta
minutos depois estávamos todos prontos. Decidimos ir a
um restaurante bom, mas um pouco mais casual, e optamos
pelo Bar Boulud. Quando estávamos para sair, o Tim
disse:
- Ei, pessoal! Esperem só mais cinco minutos, por
favor, que a Letícia já está chegando. – ele está de
gozação, só pode ser! Nem ferrando que vou passar a
noite toda vendo esses dois no maior grude!
- Eu pensei que só nós iríamos. – eu disse.
- Pelo que eu saiba, ninguém disse isso. – ele
replicou em tom de desafio. Ah, essa ele não iria ganhar.
- Ah, então melhor ainda, porque o Brian queria vir
me ver e eu cancelei porque pensei que fossemos somente
nós. Vou ligar para ele e convidá-lo para se juntar a nós.
– a cara dele fez a noite valer a pena.
- Isso, Vivi! Não vejo a hora de conhecer
pessoalmente aquele gostosão. – disse Rita. A cor do
rosto do Tim estava semelhante à de uma berinjela. Yes!
Toma, seu babaca!
- Então calma aí que ligo para ele é agora! – então
peguei meu celular e disquei o número do Brian.- Eiii!
Tudo bem?
- Tudo! Que bom que você me ligou. Eu estava
pensando que você já tinha me esquecido. – Brian dizia,
do outro lado da linha.
- Muito difícil de isso acontecer, né? Brian, nós
estamos indo para o Bar Boulud. Você não quer se
encontrar com a gente lá?
- Querer eu quero demais, mas tem certeza de que
ninguém vai se importar?
- Não, imagine! – Ah, eles vão se importar! Mas não
tô nem aí. – A Rita está louca pra te conhecer! Já estamos
indo. Te encontro lá, então, ok?
- Perfeito! Até daqui a pouco!
- Até! – e desliguei. – Vamos indo?
Já no restaurante, enquanto o Ric e o Cadú discutiam
sobre qual a melhor banda de rock de todos os tempos, a
Bia falava ao telefone com seu irmão Gabriel, o Tim e a
Letícia discutiam (grande novidade!) porque ela estava
irritada com as fãs que tinham nos interceptado na porta
do restaurante e eu e a Rita falávamos do meu encontro
anterior com o Brian.
- Nossa, garota! Além de ele te tratar como uma
princesa, ele está nos colocando na página dos jornais.
Todo dia sai uma foto sua com ele, e até os famosos estão
comentando no twitter que vocês formam um casal
quentís... Minha nossa! O que é isso, Viviane Santorinni?
– ela disse de boca aberta. O burburinho que tinha se
instalado no restaurante quando chegamos tinha acabado
de recomeçar. Eu sabia que ele tinha chegado, mas quando
olhei em sua direção, a pressão até subiu. Ele estava com
uma calça jeans escura da Diesel, uma camiseta preta em
gola V e jaqueta de couro preta. Seus cabelos estavam
arrepiados com gel, mas não em exagero.
- Vivi, definitivamente ele parece um deus grego! –
sussurrou Rita.
- Eu sei! Também acho! – eu disse, antes de levantar
para dar um abraço bem apertado nele. Eu o cheirei tão
fortemente que o perfume deve ter se alojado
permanentemente na minha pele. Eu sou um tipo de expert
em perfumes masculinos, então nem precisei perguntar
qual era o perfume que ele estava usando. L’eau D’issey,
da marca IsseyMiyaki.. Ele realmente tinha estilo próprio.
Assim que desfizemos nosso abraço, ele me beijou (no
rosto) e agradeci a ele mentalmente pela barba por fazer,
porque ela o tinha deixado ainda mais sexy. É incrível o
tanto que a barba de alguns homens cresce de um dia para
o outro!
- Eu não via a hora de te ver! Você está linda, como
sempre. – ele disse, me olhando com aparente aprovação.
Eu estava vestindo uma calça jeans preta e uma camisa
branca que ia até o umbigo, deixando o resto da minha
barriga à mostra. Eu usava um sapato branco e preto de
salto alto e ainda assim eu estava cerca de oito
centímetros mais baixa que ele.
- Eu também não via a hora de te ver! Deixa eu te
apresentar a Rita. – eu disse, enquanto a Rita levantava de
sua cadeira sem nem ao menos piscar.
- Deus do céu, você é um gato, mesmo! – ela
exclamou, e eu e a Bia, que já tinha encerrado a ligação
com o irmão, rimos alto. Achei que ele ficaria sem graça,
mas não foi o que aconteceu.
- E você á mais danadinha do que eu pensava. – e
então ele se sentou ao meu lado.
Depois de fazermos os pedidos, a Rita já estava
engajada em uma conversa séria com o Brian e eu olhei
para os meninos. O Ric estava paquerando as garotas de
uma mesa que estava próxima à entrada do restaurante, o
Cadú estava reclamando que a comida estava demorando
e o Tim estava encarando o Brian. Quando ele viu que eu
olhei para ele, ele puxou a Letícia para perto e lhe deu um
beijo no pescoço, mas ela não tirava os olhos do Brian.
Aquela garota era mesmo patética! Ela estava namorando
um dos rockstars mais gatos do mundo e ainda assim
ficava paquerando o acompanhante de outra garota.
Simplesmente não dava para entender.
- Então, Ric! Antes eu não tive oportunidade de
dizer, mas gosto muito do seu trabalho, cara! Na verdade,
há tempos que curto o som da banda toda! – disse Brian, e
eu simplesmente adorei essa tentativa dele de tentar se
aproximar dos meninos. Mas então, antes que o Ric
pudesse responder, o Tim disse:
- Fã da banda inteira ou ficava babando pela
Viviane? Até porque só começamos a fazer sucesso aqui
nos EUA há poucas semanas. Então como você curte
nosso som há tempos? – e eu quase esmurrei a cara dele.
O pior era que eu sabia que o Brian estava querendo fazer
a mesma coisa. Mas ele apenas disse:
- Babar pela Viviane é um hobby à parte, e por esse
crime eu com certeza me declaro culpado, assim como
qualquer outro cara desse planeta! Mas não era disso que
eu estava falando, não. Eu comecei a curtir o som de
vocês quando um amigo me mostrou o clipe da música
“Compulsões”. Inclusive, se não me engano, você tem um
belo solo na metade da música, não é? Mas foi com a
música “De frente com o passado” que eu realmente me
liguei no som de vocês. – disse Brian, enciclopediando
nossas músicas e deixando a cara do Tim no chão. Ele até
disse o nome das nossas músicas em português. Quase caí
pra trás. Ele tem um sotaque tão bonitinho! Mas o Tim não
desistiu facilmente.
- Ah, eu curto o som de vocês também, Brian! De vez
em quando eu ouço um pouco de pop para treinar uns
movimentos de dança. Aliás, você podia me indicar seu
professor, né? O cara deve ser muito bom, porque você
requebra pra caramba, em cima do palco. – ele disse,
fazendo o Ric e o Cadú engasgarem, tentando segurar o
riso. Notei que o Brian prendeu o maxilar, tentando conter
a raiva.
- Poxa, Brian! É verdade, você podia emprestar
mesmo pro Tim! Eu não queria falar nada, mas já que ele
tocou no assunto, eu acho muito estranho quando ele tenta
dançar. Parece que está tendo um ataque epilético, ou
coisa do tipo. Sei lá, ele fica meio descontrolado. Ele
precisa treinar urgentemente, porque você sabe bem o que
as garotas dizem sobre homens que não sabem dançar. –
eu disse, defendendo o meu namorado. Ou ficante. Ou
rolo. Ah, não rotule!
- Eu não sei o que as garotas dizem, Vi! Estou por
fora! O que seria? – cutucou Ric, que sabia muito bem
qual seria minha resposta.
- Que homens que não possuem coordenação para
dançar são ruins de cama, ué! Todo mundo sabe disso! –
eu disse, realizada.
- Nossa! Então você deve ser muito bom de cama,
Brian, porque você dança pra caramba! – disse
inesperadamente Letícia, tentando flertar com o Brian e
deixando o Tim fazer papel de trouxa.
O jantar foi delicioso! Nós comemos, rimos das
tiradas da Rita e das histórias engraçadas da Blue4us, a
banda do Brian. O Tim permaneceu o resto da noite em
silêncio, como se estivesse de mal até da comida. Então,
após a sobremesa, (eu dividi com o Brian um delicioso
mousse de iogurte com compota de morango e biscoito de
baunilha, chamado Fraisier au Yaourt), pedimos a conta,
pagamos e saímos do restaurante. Acontece que a calçada
do restaurante estava completamente tomada por fãs,
repórteres e paparazzis. Os fãs estavam enlouquecidos, e
começaram a gritar aleatoriamente o nome de cada um de
nós. Então um rapaz que deveria ter cerca de vinte anos
me puxou e tentou passar a mão no meu bumbum.
Imediatamente todos os meninos, inclusive o Brian, foram
para cima do cara, que tremeu na base e se afastou. O
mais engraçado foi que, na hora do nervoso, o Brian
berrou para o cara algo semelhante a “Tira a mão da
minha garota ou eu arrebento sua cara!”. Claro que isso
era tudo que os repórteres, os fãs e os paparazzis queriam
ouvir, pois imediatamente começaram a nos cercar,
perguntando desde quando estávamos namorando, e outras
perguntas desse tipo. Eu e o Brian nos esquivamos dos
repórteres e nos separamos do resto do pessoal, pois ele
me daria carona pra casa. Antes de sairmos, porém,
esperamos todos os outros entrarem no carro, para nos
certificarmos de que estavam a salvo.
Durante todo o percurso, o Brian não abriu a boca
para dizer nem uma palavra, nem quando eu o agradeci
por ter, junto dos outros meninos, me livrado daquele fã
maluco. Foi só quando o carro parou que resolvi dizer:
- Eu fiz alguma coisa que não tenha te agradado?
- Não, princesa! Eu só fiquei nervoso com a situação.
Lembra quando você me perguntou se eu ainda me
incomodava com o assédio dos paparazzis e eu disse que
estava me acostumando? Retiro tudo que eu disse! – ele
estava visivelmente irritado, então eu resolvi ajudá-lo a
relaxar. Eu colei ao lado dele e comecei a fazer uma
massagem em seu ombro.
- Nossa, que delícia! Vi, você definitivamente não
existe!
- Não gosto de te ver irritado, principalmente com
coisas que, infelizmente, não podemos evitar.
- Vi, você e o Tim já ficaram, alguma vez? –
Aimeodeos!
- Claro que não! – A palavra “claro” definitivamente
era inadequada, já que naquele mesmo dia, pela manhã, o
Tim tentou me beijar. – De onde você tirou essa idéia?
- Vivianne, de burro não tenho nada! Ele é louco por
você!
- Que nada, ele só está acostumado a ser o centro das
atenções, e quando elas se voltam à outra pessoa, ele faz
birra. É uma criança!
- Não, você está enganada! Mas não se preocupe que
não vou tocar mais no assunto, a não ser que seja
necessário. Agora vem cá! – ele colocou a mão na minha
nuca e me puxou até que meus lábios fossem sugados pelo
dele. O beijo dele era lento e sexy, e quando os dedos
dele começaram a passear pelo meu corpo, eu estava em
êxtase. Nosso beijo começou a ser cada vez mais sensual,
e estávamos tão grudados, tão apertados um no outro, que
eu sentia cada movimento dos seus músculos. Então,
quando estávamos no auge da paixão, ele me puxou para
cima dele. Ele estava sentado no banco do motorista e eu
estava em seu colo, de frente para ele. Ele passava as
mãos largadamente pelas minhas costas, e então ele
interrompeu o beijo, olhou em meus olhos e começou a
passar lentamente a mão na minha barriga. Eu suspirei e
joguei a cabeça para o lado, mas sem deixar de olhar em
seus olhos. Então ele subiu suas mãos e tocou meus seios.
Estava muito bom, mas eu não queria fazer aquilo dentro
de um carro, na porta de casa, com um batalhão de
paparazzis nos seguindo.
- Brian, eu...
- Não precisa falar, Vi! Sei que aqui não é o lugar
certo pra isso. Pelo menos não hoje, com esses paparazzis
nos seguindo para cima e para baixo. Mas é que nessas
horas eu perco um pouco do controle, e você é tão linda...
- Será que dá para você dizer alguma coisa errada?
Por que você é tão perfeito que dá medo.
Quando entrei em casa, ouvi a televisão da sala
ligada e fui até lá para ver se alguém estava acordado,
mas encontrei o Tim dormindo no sofá, deitado de um
jeito totalmente torto que faria com que ele acordasse no
dia seguinte com uma baita de uma dor. Então eu fui até
meu quarto e peguei um dos meus travesseiros, um
cobertor e os levei até a sala. Eu estiquei suas pernas, o
empurrei um pouco mais para dentro do sofá porque ele
estava quase caindo, joguei o cobertor por cima dele e
levantei delicadamente sua cabeça para ajeitar o
travesseiro, mas então ele acordou. Ele olhou para mim,
depois para o cobertor e para o travesseiro, e para mim
novamente. E tudo que ele disse, antes de voltar a dormir,
foi:
- Sinto muito por hoje. – e então voltou a dormir.
Eu estava dormindo, quando acordei. Sim, poderia
ser um pleonasmo, mas no meu caso é diferente. Ou pelo
menos assim eu achava, até tentar abrir meus olhos e
perceber que eles estavam colados. Eu senti uma alegria
inexplicável em saber que ele não tinha ido embora,
mesmo sabendo que não deveria me sentir daquele jeito.
Ele estava ali, bem ao meu lado. Eu podia sentir. Mas ele
estava estranhamente quieto. Ficou assim por minutos e
minutos até que não aguentou e disse:
- Você acha que está feliz?
- Como?
- Você acha que está feliz?
- Isso eu ouvi, mas não entendi o sentido da pergunta.
- Com tudo que anda fazendo! Você sabe muito bem
sobre o que estou falando.
- Sim, estou feliz.
- Então por que eu ainda estou aqui?
- E como que eu vou saber disso?
- Vi, você já deveria saber que estou aqui por ser
capaz de te proporcionar felicidade. Se você estivesse
totalmente feliz, eu não estaria mais aqui.
- Ah, me desculpe por estar te prendendo aqui, Sr.
Felicidade!
- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Eu
disse que se você estivesse feliz eu não estaria mais aqui,
mas não disse que eu não queria estar. Mas ao mesmo
tempo, eu também não quero te ver infeliz. Mas que droga,
Vivi! Você é mais tapada que uma mula!
- Refresque a minha memória, por favor! Eu já não
disse que não quero mais te ver, que não preciso de você?
- Mulheres vivem dizendo uma coisa enquanto
querem dizer outra.
- Não é o caso! – menti.
- Não? Então por que as suas ações dizem o
contrário? Você pede para eu ir embora, mas vive me
procurando.
- Te procurando? Eu não ando tendo tempo nem para
procurar a calcinha que vou vestir, quanto mais pra
procurar por aí o personagem mais mala que minha
imaginação foi capaz de criar.
- Ei, eu sei que não sou perfeito, mas você não me
deixa muita escolha, sabia?
- Hoje você não está falando coisa com coisa. Por
acaso você está chapado?
- Quanto mais tempo você demorar pra enxergar,
mais tempo você continuará infeliz.
- Nossa, quanta ladainha! Por que será que eu só
consigo acordar quando não quero? Acorda, Vivi, acorda,
Vivi! – eu dizia em voz alta, tentando acordar daquele
sonho estranho.
- Não faça isso, gatinha! Fique mais um pouco
comigo. Precisamos conversar direito.
- Ficar mais? Com você por perto? Eu não quero
ficar perto de você, você não percebe? Você me faz mal!
- Mal? Não, Vivi! Eu jamais te faria mal. Eu te quero
tão bem... se você soubesse...
- Mas você faz. Você me tortura, e eu não posso me
prender a você, porque a vida é curta demais e eu preciso
viver! Viver a realidade, não esse sonho que, por mais
que seja lindo, não existe. Acorda, Vivi! Acorda,Viv...
- Não faça isso comigo, Vivi. Você ainda não
entendeu nada! Você não entendeu quem eu s...
- Acorda, Vivi! – continuei, e então deu certo. Eu não
acordei, mas meus olhos não estavam mais colados e eu
estava sozinha. Mergulhei em um sono profundo.
8 – APRENDENDO A VOAR

“Acho que estou farto de ter paciência. Eu posso


esperar uma noite.
Eu jogaria tudo isso fora se você me desse uma ultima
chance. Nós
viveremos felizes e pra sempre presos, se você apenas
salvar minha vida.
Corra e diga aos anjos que tudo está bem.” – Learn To
Fly – Foo Fighters

- Vivi? Acorda, Vivi!


- Eu já não mandei você ir embora, saco? – eu
murmurei.
- Vivi! Acorda! Eu tô com fome!
- Que merda, Sr. Superbonder! E o que eu tenho a ver
com isso? – mas ele me chacoalhou e eu abri os olhos,
encontrando o Cadú sentado na beirada da minha cama. –
Cadú, o que você está fazendo aqui? E se eu estivesse
dormindo pelada?
- Ah, aí eu tampava os olhos, mas continuaria
pedindo para você acordar. É que estamos todos com
fome, mas a Rita disse que só vamos comer quando você
se juntar a nós. Você estava sonhando com cola, sabia?
Me chamou de Superbonder e tudo. – e então ele começou
a rir, como se só agora tivesse achado graça.
- Cadú, eu desço em menos de cinco minutos se você
não contar isso pra ninguém.
- Ei, não precisa me chantagear. É só pedir que eu
não conto. Mas eu agradeceria se você descesse em
menos de cinco minutos. Minha barriga está roncando! –
ele disse, antes de voltar para a cozinha.
Eu estava escovando os dentes quando me dei conta
de que era o dia da premiação. O frio na barriga apareceu
imediatamente, e eu comecei a me arrumar ainda mais
rápido que antes para dividir essa ansiedade com os
meninos. Quando eu desci, todos respiraram aliviados.
Eles deviam estar me esperando há muito tempo, a
julgar pela cara de felicidade que fizeram quando me
viram.
- Bom dia, pessoal! E aí, preparados para nosso
grande dia?
- Sim, mas estamos mais preparados ainda para essa
panqueca e para os ovos mexidos com bacon. Você queria
dormir até a hora do show, é? – perguntou Ric.
- Que horas são, afinal?
- Meio dia e quinze! – quase todos eles disseram ao
mesmo tempo.
- Nossa, eu nunca durmo até essa hora! Não sei o que
me deu. Por que não me acordaram antes?
- Exatamente porque você nunca dorme até essa hora.
– respondeu a Bia.
- Bom, vamos comer! – disse Rita, deixando todo
mundo com cara de quem havia acabado de ganhar na
mega sena.
- Tim, ela parou de ligar? – o Cadú perguntou.
- Ela não vai mais ligar. Dessa vez não tem volta!
- Nossa! O que aconteceu, Tim? – a Bia se apressou
a perguntar.
- Nada! Só cansei do jeito dela. Ela é muito infantil.
- Não me diga que só agora percebeu! – ironizei, mas
ele me deu um olhar que me fez calar imediatamente. Ele
parecia triste, e isso acabou me entristecendo, também. Eu
não suportava ver nenhum dos meus meninos triste. – Ei,
não se preocupe que hoje à noite você vai se dar bem.
Nós vamos arrebentar naquele palco! Certo, meninos?
- Ahãm! – disse Cadú com a boca cheia.
- Yép! – respondeu Ric. Mas o Tim deu de ombros e
voltou a comer. A Rita, vendo a reação do Tim, disse:
- Eu já disse que vocês ganharam mais 19 fã-clubes,
sendo 6 deles brasileiros. 9 norte americanos, 3 europeus
e 1 japonês?
- Jura? – eu perguntei em um tom super animado,
tentando empolgar o pessoal.
- Rita, esses ovos mexidos estão deliciosos! – disse
Ric, demonstrando que não estava prestando nem um
pingo de atenção na nossa conversa. Fracassamos ao
tentar animar o Tim.
Uma hora depois, nós fomos até o local onde
ocorreria a o VMA e passamos o som. Até que ficou bom,
mas sabe quando a banda não transmite aquela energia
contagiante, que faz a pessoa se jogar de cabeça? Pois é!
Era isso que estava acontecendo.
- Meninos, eu estou me esforçando, mas não acho que
esteja dando certo.
- Claro que está! Nosso som está ótimo! – disse
Cadú.
- Sim, eu sei. Mas não está com o astral certo. Sei lá,
está menos animada que nos ensaios.
- Ah, Vivi! Não seja implicante! Estamos todos
dando o nosso melhor, aqui. Será que não é você que está
um pouco pra baixo, não? – perguntou Ric.
- Não sei. – eu disse, ao perceber que poderia ser
exatamente esse o problema.
Logo que voltamos para casa, para descansarmos um
pouco e nos arrumarmos, meu celular começou a tocar
“i’m a ch-ch-ch-ch-ch cherry bomb”.
- Alô!
- Oi, princesa! Estamos passando o som para a
premiação e nos informaram que vocês acabaram de sair
daqui. Que desencontro infeliz!
- Nossa, que chato! Pensei que vocês já tivessem
passado, antes de nós.
- Não! Sempre ficamos pro final. É uma coisa nossa.
E então, o que você vai vestir, hoje à noite?
- Depende! Para a premiação ou para a
apresentação?
- Vejamos... para a apresentação.
- Surpresa!
- E para a premiação?
- Surpresa, também!
- Ah, você quer me deixar curioso, né? Vou até o
camarim para te agarrar!
Depois de falar com o Brian, eu passei as próximas
horas trancada no meu quarto com o som no último
volume. Eu precisava estar bem animada, melhorar meu
estado de espírito. Dancei, pulei, fiz algumas abdominais
e, para melhorar minha “maratona da alegria”, comi um
donut recheado de doce de leite. Pronto! Não dava mais
tempo para continuar minha maratona, pois o cabeleireiro
que eu tinha contratado para ir até em casa me arrumar já
deveria estar chegando, e eu ainda tinha que tomar banho.
Eu tomei um banho demorado, coloquei um vestido
simples e então o Julian (o cabelereiro) começou a ajeitar
minhas madeixas. Ele me fez um rabo de cavalo bem
puxado, daqueles que deixam qualquer garota se sentindo
uma linda japonesa. Ele me deu um casquete vermelho de
renda para que eu pudesse colocar em cima do rabo de
cavalo, quando nós fossemos nos apresentar. Depois que
ele se foi, eu coloquei a roupa com a qual eu assistiria a
premiação: um vestido que, na parte de cima era feito de
couro preto com o decote em formato de coração, mas na
parte de baixo a saia é feita de tule preto e em estilo godê.
O vestido é bem curto, mas extremamente sexy. Calçei
minhas sandálias de salto alto feitas de couro com
detalhes em tule, me maquiei, passei meu perfume
favorito, Omnia, da Bulgari e desci. Fui até a cozinha para
fazer um lanchinho e encontrei os meninos lá, de costas
para mim. O Ric e o Cadú estavam montando sanduíches e
o Tim estava colocando água no microondas para ferver,
distraído, fazendo os estranhos barulhos com a boca. Eu já
estava com saudades desse seu jeito molecão.
- Já estão prontos para arrasarmos, hoje? – perguntei.
E então eles se viraram para mim e eu fiquei de boca
aberta. Cada um deles parecia um grande rockstar e eu
comecei a me sentir feia e desajeitada. O Ric estava
usando calça skinny preta com rasgos, camiseta listrada
preta e branca e uma jaqueta jeans preta por cima e um
chapéu preto que era a cara dele. O Cadú estava usando
uma calça jeans escura com uma camisa social roxa que
tinha o desenho de uma caveira no lado direito. Seu
cabelo estava todo bagunçado pelo gel, e ele parecia
adorável. O Tim, por sua vez, estava usando calça skinny
preta, camisa social branca de manga curta, gravata preta
e um colete preto por cima. Seu cabelo também estava
ajeitado para cima com gel com seu pequeno topete
jogado para o lado direito. E eu devia estar quase roxa,
porque parei de respirar assim que olhei para ele. Foi
nesse momento que percebi que todos eles estavam tão
nervosos quanto eu, porque com exceção dos barulhos que
o Tim havia emitido com a boca, o silêncio predominava.
Ficamos os quatro olhando um para o outro, e esse olhar
demonstrava o que o espírito de cada um de nós estava
sentindo. Aquele momento íntimo só acabou quando a Rita
e a Bia desceram e disseram que estávamos maravilhosos.
- Vamos dominar Nova York, galera! Chegou a nossa
hora! – gritou a Rita, e todos gritamos em concordância.
A premiação ocorreu no Teatro Beacon, do Hotel
Plaza. A Limusine nos levou até a entrada do teatro, nós
respiramos fundo e então descemos para atravessar o
tapete vermelho. Os flashes eram tantos que quase nos
cegaram. Demos a paradinha básica para facilitar as fotos
e então o Bryce Seacrestag, um dos maiores
apresentadores de televisão do mundo veio nos
entrevistar. Gato, gato, gato!
- Boa noite, galera do Rock & Pie! É um prazer
conhecê-los pessoalmente e tenho certeza que o pessoal
de casa que está nos assistindo pelo canal C Television
está em êxtase por vê-los. Eu queria fazer algumas
perguntas para vocês. Pode ser? – e então todos nós
concordamos.
- Ric, eu gostaria de começar com você. Você mesmo
já declarou em outras entrevistas que é o mais mulherengo
da banda. Você leva essa vida errante por escolha ou
porque ainda não conheceu a garota certa?
- Sem dúvida eu não conheci a garota certa. Ou – e
então ele fez uma pausa dramática – talvez eu já a tenha
conhecido, mas ainda não tivemos a oportunidade de nos
entrosarmos. – e então as fãs começaram a gritar
histericamente coisas como “Ric, eu to aqui. Vem me
conhecer!”, ou “Ric, eu te amo! Casa comigo que eu finjo
que nem sei das outras”, e coisas desse tipo.
- Cadú, você é o mais novo da banda e o favorito das
adolescentes. Quais qualidades uma garota deve ter para
chamar sua atenção?
- Ah, Bryce! Não vou mentir que o corpo não me
chama atenção. Afinal, sou homem, né? Mas confesso que
uma garota me chama atenção quando está sendo natural.
Gosto de garotas mais simples, sem frescuras, que sejam
companheiras, que usem tanto um vestido de festa quanto
um moletom, e apreciem um bom e velho tênis tanto
quanto um salto alto. – e as fãs gritavam “Cadú, deixa eu
ser o seu teclado por um dia”, e coisas desse tipo.
- Tim, frequentemente você tem sido visto em
companhia de uma ex namorada. Nós recebemos milhares
de cartas de suas fãs perguntando se sabíamos se vocês
tinham voltado a namorar sério. Você pode nos ajudar a
responder isso? – notei que o Tim não curtiu muito a
pergunta.
- Não, não voltamos a namorar e nem vamos. Ela é
um assunto encerrado na minha vida. – e as fãs gritavam
“Tim, vem usar sua baqueta na minha casa”, e coisas
desse tipo. E eu quase quis gritar junto! Quase!
- E você já deve ter uma noção do que vou te
perguntar, né, Vivi? E então, você vai oficializar o
romance com o Brian ou não?
- Bryce, a verdade é que saímos algumas vezes, mas
ainda não estamos namorando. Nós ainda temos que
conversar sobre isso, mas por enquanto estamos bem,
assim. – ele não ficou satisfeito com a resposta, mas sabia
que desse limão não sairia mais suco. Então ele voltou sua
atenção aos meninos.
- Bem, confesso que o fato de vocês três estarem
solteiros não é uma surpresa muito grande para ninguém.
Afinal de contas, deve ser muito difícil para uma garota
aceitar o fato de que vocês trabalham e convivem quase
24 horas por dia com a Vivianne Santinni, a sexta mulher
mais linda do mundo. – Ah, lá vem ele me lembrando
desse título. Que vergonha! - Vocês acham que isso já
prejudicou vocês com alguma garota ou que pode vir a
prejudicar, em algum momento? – perguntou Bryce, e os
três se olharam por alguns segundos antes de o Ric
responder.
- É totalmente compreensível que qualquer garota
fique insegura perto da Vivi, mas a partir do momento em
que ela veja o tipo de relacionamento que temos, essa
insegurança passará. A Vivi é como se fosse uma irmã, e
qualquer mulher que esteja disposta a se relacionar com
qualquer um de nós terá que aceitar esse relacionamento
que temos com ela. E isso é indiscutível e inegociável! – e
eu fiquei com os olhos cheios d’água. O Ric e o Cadú me
abraçaram, e o Tim ficou de lado, olhando, se sentindo um
pouco desconfortável. E o Bryce deve ter percebido,
porque em seguida ele disparou:
- Tim, você concorda com o comentário feito pelo
Ric? – e pude ver que esta pergunta o pegou de surpresa.
Realmente o Bryce estava partindo com tudo pra cima
do coitado. E o Tim pensou, pensou, e pensou...
- Tim? – perguntou Cadú.
- Não! – ele por fim respondeu.
- Não? – perguntou Bryce, confuso.
- Quero dizer, concordo que o relacionamento que a
Vivi tem com o Ric e com o Cadú seja de irmão e irmã,
mas comigo não é assim. - O Ric e o Cadú enrugaram a
testa, confusos, o Bryce estava com cara de quem havia
acabado de ganhar um presente de aniversário e eu estava
quase vomitando de nervoso.
- Você pode nos explicar melhor o que isso quer
dizer?
- Não há o que explicar. Eu não a vejo com olhos de
irmão. Só isso. Não há mais a dizer. – e então ele saiu. Eu
olhei para o Bryce, agradeci pela entrevista e saí, antes
que ele achasse que eu sabia explicar o que o Tim quis
dizer. E se ele pensasse assim estaria certo, mas eu
definitivamente não queria pensar nem falar sobre isso.
Nem admitir a mim mesma o que já estava na cara.
O teatro estava lotado, e eu fui em direção ao assento
que estava reservado a banda. Pelo caminho, me senti no
céu, porque vários integrantes das minhas bandas
favoritas passavam por mim. Houve momentos em que a
emoção foi tanta que eu tive vontade de gritar e pular
como uma louca, como quando encontrei a Joan Jett, o Axl
Rose e o Mick Jagger. Nem acreditei quando encontrei
meus ídolos do American Idol: Adam Lambert, Allison
Iraheta, o lindo do Phillip Phillips e o David Cook, que
tanto me fez suspirar com suas versões mais que
maravilhosas de músicas que eu nem curtia. Eu nem
acredito que estou aqui no meio de tanta gente que eu
admiro! Eu estava ainda na metade do teatro quando a
Rita me alcançou.
- Vivi, pode ir parando aí. Me explique o que está
acontecendo entre você e o Tim!
- Eu... nada!
- Como nada? Todo mundo ouviu muito bem o que
ele disse. Por acaso vocês andam brigando? É isso? – Yes!
Ela está achando que o que ele disse sobre não me ver
com olhos de irmão é porque não nos damos bem. Ufa!
- Não mais do que brigávamos no Brasil. Ele que
anda meio surtado, achando errado tudo que faço. Mas
vamos resolver isso, prometo!
- Acho bom! Mas de qualquer jeito, vou falar com
ele. – E se ele disser alguma coisa pra ela?
- Não, por favor. Deixa eu me resolver sozinha com
ele, senão ele vai achar que falei mal dele pra você. Fique
tranquila que vai dar certo!
- Por enquanto eu vou ficar quieta, mas se
demorarem muito para resolver essa birrinha boba, terei
que me intrometer. E espero que isso não comprometa a
apresentação de vocês. – e encerramos o assunto. Quando
entrei na fileira onde nossos assentos estavam reservados,
tive uma grande surpresa: a banda Blue4us estava sentada
bem ao lado dos assentos que nos eram destinados.
Lógico que o Brian estava bem na cadeira que delimitava
território, esperando que eu sentasse ao lado dele. Quando
eu o vi, sorri, satisfeita. Ele se levantou, me olhou e
sacudiu a cabeça.
- Você está tão linda que parece o personagem de um
sonho. - Não dava pra ele falar algo mais apropriado?
Era a mesma coisa que dizer: o Sr. Superbonder passou
e te deixou um oi! Quando espantei aquele pensamento
infeliz, notei que ele estava lindo de viver, como sempre.
Ele usava calça jeans skinny (essa moda pegou, né?)
preta, uma camisa pink e uma jaqueta de couro preta com
toca de moletom. Fiu, fiu!
- Obrigada! É tão bom quando podemos elogiar de
volta... você está lindo! Muito lindo! – ele sorriu e me
abraçou. Quando me soltou, se aproximou para me beijar.
Ele ia me beijar na boca na frente de todo mundo! Eu
confesso que tive vontade de desviar e deixar ele beijar
minha bochecha, mas tive medo de magoá-lo. E os lábios
dele tocaram os meus. E os flashes começaram. E algum
engraçadinho gritou de uma fileira lá de trás: “Não
encosta na minha garota!”. O comentário foi feito em
alusão ao dia que o Brian tentou me defender de um fã e
disse para ele não encostar em mim que eu era sua garota.
E aparentemente era isso que todos pensavam. Era isso
que eu pensava? O Brian riu do comentário, e então
passou as mãos ao redor da minha cintura, como um gesto
de posse. Como se eu fosse um troféu. Olhei ao redor,
para ver se todo mundo da minha banda já estava na
fileira e encontrei todos eles sentados. O Tim estava
sentado no extremo oposto, possivelmente para ficar bem
longe de mim. Mas ele me olhou, e seus olhos pousaram
nos braços do Brian ao redor da minha cintura. E depois
os olhos dele encontraram os meus. O seus olhos eram da
cor dos seus cabelos, bem escuros. Naquele momeno
estavam ainda mais que o normal.
- Vivi, melhor nos sentarmos porque a apresentação
já vai começar. – disse o Ric.
Foi o comediante Gary Tridckson que apresentou a
premiação. E então ele anunciou a primeira categoria:
melhor videoclipe do ano. Quatro categorias e um show
se passaram e era nossa deixa para irmos até o camarim
nos arrumarmos, pois tinha apenas duas categorias antes
da nossa apresentação. A Bia já estava lá, com a roupa
que eu usaria. Ela estava mais quieta que o normal, e
passou pela minha cabeça que talvez ela tenha ouvido o
que o Tim havia dito ao Bryce. Resolvi deixar aquele
pensamento para depois e me concentrei na minha roupa.
Eu coloquei um vestido vermelho que era tão minúsculo
que nem parecia que era meu, mas ele era apropriado para
a música que eu cantaria. A parte de trás do vestido
deixava minhas costas de fora até perto do bumbum.
Calçei um par de sapatos estilo Pip Toes vermelho
sangue, que era da cor do vestido, da cor da minha unha e
da cor do meu batom. E coloquei o casquete vermelho em
cima do elástico transparente que prendia meu rabo. Eu
estava uma mulher fatal! Tão fatal que nem me reconheci
no espelho. Eu estava linda, mas não me sentia como eu
mesma. Mas isso fazia parte do show business, então
retoquei meu batom e fui em direção da entrada do palco.
Pelo caminho, todos os homens ficavam me secando,
inclusive os famosos. Vestir essa roupa sexy estava
definitivamente valendo a pena! Ou era isso que eu
pensava, até eu encontrar os meninos. Eles me mediram
dos pés à cabeça e perguntaram:
- Quem é você e o que fez com a Vivianne?
- Eu só quis entrar no clima da música.
- Eu não sei quanto a eles, mas eu definitivamente
entrei no clima. E que clima! – disse Tim com um olhar
malicioso que me deixou morrendo de vergonha e com as
pernas moles. Vestir essa roupa sexy definitivamente não
valeu a pena!
Então o Gary anunciou:
- O show a seguir é de uma banda que está em todas
as paradas musicais. Minha esposa até me obrigou a pedir
autógrafo aos integrantes masculinos e eu disse que tudo
bem, contanto que eu pudesse pedir à vocalista para
autografar meu peito e assinar com um beijo. Lógico que
ela desistiu dos autógrafos, né? – ele brincou. – Com
vocês, Rock & Pie. – e eu senti como se estivesse caindo
de uma torre de 20 andares.
- Vai, Vivi! Anda! – disse Ric.
Eu subi ao palco, olhei toda aquela multidão e pensei
que fosse desmaiar. Olhei pra trás e os meninos estavam
tocando os primeiros acordes da música. Olhei para o
Tim e ele percebeu meu nervosismo. Então ele gesticulou
com a boca: “Vai dar tudo certo” e assentiu com a cabeça.
E um pingo de coragem surgiu dentro de mim. Minha
deixa chegou e comecei a cantar:
“JÁ PASSA DA MEIA NOITE E EU ESTOU
PARADO AQUI.
DESDE QUE NOTEI VOCÊ EU NÃO PARO DE
SORRIR.
GAROTA, CHEGA MAIS! É O QUE EU QUERIA
DIZER.
MAS EU SÓ FICO TE OLHANDO, AINDA VOU
ENLOUQUECER.
VOCÊ TEM ESSE JEITO SEXY, TODO ESPECIAL.
POR ESSE SORRISO DANADO É QUE EU ANDO
PASSANDO MAL.
E QUANDO VOCÊ ANDA, REBOLA E JOGA OS
CABELOS.
VOCÊ DANÇA, REMEXE E REQUEBRA O
QUADRIL INTEIRO.
HEY, GAROTA! QUAL É O SEU NOME?
POR FAVOR, ME DIGA E TAMBÉM DÊ SEU
TELEFONE.
HEY, MENINA! QUERO PROVAR DO SEU BEIJO.
ESSE SEU CORPO É UM VENENO, EU TE TERIA
O DIA INTEIRO.”
Quando minha parte acabou, o Ric não esperou um
segundo e já entrou com “You shook me all night long”. Eu
olhei para a multidão e eles estavam dançando, dando
gritinhos incentivadores, e eu me empolguei. Enquanto eu
tocava a Lua (meu baixo), eu comecei a dançar. Aquela
música era muito contagiante, sexy, vibrante. E meus
movimentos corporais foram assim, sexy e vibrantes.
Aquela era a minha noite, e eu era uma rockstar. E eu me
sentia assim pela primeira vez na vida: uma diva do rock!
E então o Ric cantou:
“Yeah, you shook me, yeah, you shook me all night
looooooong”- e eu dei sete batidas no baixo e acabou.
Então o teatro veio abaixo, gritando, berrando,
aplaudindo, assoviando. Eu olhei para o Ric e ele estava
sorrindo de orelha a orelha. Olhei para o Cadú e ele
levantou os braços, como se tivesse ganhado um
campeonato de MMA. Olhei para o Tim e meu coração se
apertou: ele apontou as baquetas para mim e disse “Você é
demais”, assim como ele fez no nosso primeiro show.
Meu coração se apertou. O Gary agradeceu e nos
retiramos do palco. Os meninos entraram no camarim
deles e eu entrei no meu. Assim que entrei, ouvi duas
batidas na porta. Corri para abrir, mas mal vi quem
entrava e já fui prensada na parede por um peito
musculoso cheirando a Chanel. Ele me prendia à parede
com as duas mãos e me olhava nos olhos.
-Eu só queria pedir desculpa pela forma que te
beijei, ontem.
- J-j-j-já está desc-c-culpado, Tim. – eu disse
gaguejando e em um fio de voz, rezando para que ele me
soltasse o quanto antes. – Foi um erro e te perdoo. Nem
toco mais no assunto.
- Acho que você não entendeu. Eu estou pedindo
desculpa pela forma que te beijei, porque você não
merecia que fosse daquele jeito. Eu já tinha beijado a
Letícia, e tal. Mas eu vou compensar você por isso.
- Ótimo! É só falar pra Rita que nos acertamos em...-
e então ele encostou vagarosamente seu rosto no meu e
sussurrou:
- Não é assim que eu vou compensar, mas sim desse
jeito... - e seus lábios colaram nos meus. Quando eu era
criança eu sonhava em ser astronauta. Eu vivia sonhando
que eu entrava em um foguete e me perguntava como era a
sensação de estar no espaço sem nenhuma gravidade. Eu
acho que a sensação deve ser exatamente como eu me
senti com a união dos nossos lábios. E os lábios dele se
moveram de forma lenta e sensual, e um calor me atingiu
em certas áreas do meu corpo. Eu juro que pensei em
empurrá-lo, em chutá-lo, tapeá-lo ou socá-lo, mas fui
fraca. Tão fraca que passei a mão pelos cabelos dele
(coisa há tempos eu vinha tendo vontade de fazer),
sentindo a viscosidade dos fios, e abaixei as mãos para
suas costas largas e firmes. Seus lábios se abriram e ele
invadiu minha boca com a sua língua. Ele tinha um sabor
único e indescritível, e era tão bom que eu nem protestei
quando ele me prensou ainda mais contra a parede. O
corpo dele estava tão colado no meu e nosso beijo estava
tão íntimo que senti como se fossemos um. Mas então os
lábios dele soltaram os meus e ele deu um passo pra trás.
Eu queria puxá-lo de volta para mim, mas não o fiz.
- Esse era o beijo que você merecia. – e então ele
saiu porta a fora.
Minha cabeça estava a mil. Não era certo eu sentir o
que eu sentia quando eu estava perto dele, e pior ainda era
saber como era estar nos braços dele. Eu não tinha a
menor idéia do que fazer, de como agir. E então bateram
novamente na porta, mas antes que eu pudesse me
empolgar, o Cadú disse:
-Vivi, se troca logo que daqui a pouco é a nossa
categoria. Temos que estar lá embaixo pelo menos duas
categorias antes.
Eu coloquei a mesma roupa que eu estava antes da
premiação e vi os meninos me esperando no corredor do
camarim. Olhei para o Tim, tentando decifrar algo do
rosto dele e notei que ele estava com um sorriso bobo no
rosto. Quando saímos do backstage passamos por algumas
fileiras para chegar aos nossos assentos, e várias pessoas
nos elogiaram. Quando eu avistei meu assento, fiquei
imediatamente com uma leve dor de cabeça. Eu tinha me
esquecido do Brian! O que faço com o Brian agora, meu
Deus? Aliás, o que faço com o Tim? Ou melhor, o que
faço com os dois?
- Vivi, preciso te dizer que nunca fiquei tão excitado
como você me deixou, enquanto cantava, dançava e
rebolava em cima do palco. – ele disse de um jeito tão
empolgado e tão apaixonado que senti um remorso imenso
por ter correspondido ao beijo do Tim.
- Então você gostou da apresentação? – perguntei.
- Você está brincando? Aposto que amanhã só se
falará sobre o show de vocês e sobre o quanto você
estava divina em sua performance.
Alguns minutos depois, chegou o momento tão
esperado: a premiação da categoria de Melhor Banda
Revelação. Então o Gary anunciou os candidatos:
-E os candidatos à Melhor Banda Revelação são:
Lolli& Pops, Greyskye, Rock & Pie e Dinner42. E a
banda vencedora é... – olhei para os meninos e eles me
olharam de volta. Nosso nervosismo era nítido. Ah, fala
logo, saco! - ... Dinner42! - Não acredito! Acho que estou
tendo um ataque de depressão! Alguém aí tem um Valium
pra me emprestar? Mas sorria, Vivi, porque eles sempre
filmam a cara dos perdedores. O Brian pegou minha mão
e sussurrou em meu ouvido:
- Foi marmelada, princesa! Todo mundo sabe que
vocês mereciam o prêmio. Mas não fique triste, vocês
ainda vão encher um armário, de tantos prêmios. Você é
ótima, Vivi! – ele era tão fofo que fazia meu coração
derreter. – Me desculpe por sair justo agora, mas minha
banda vai tocar daqui a pouco. Já volto! – e então ele se
foi.
A Rita ficou inconsolável. O bico que ela fez não
podia ser medido nem por uma trena, pois era bem maior.
O Cadú estava sacudindo a cabeça até agora e o Ric
estava de braços cruzados e com um bico semelhante ao
da Rita. Eles devem estar disputando! O Tim estava
olhando para o relógio e bufando, possivelmente
desejando ir pra casa. Pensei na Bia, e me toquei que se
ela soubesse sobre o beijo que ele me deu era possível até
que se demitisse. Não que ela tenha dito alguma vez sobre
sua atração por ele, mas era tão visível que qualquer um
poderia ver.
- Ainda não acredito que perdemos. – disse o Ric em
um volume tão alto que mesmo com todo barulho da
cerimônia eu ouvi (ainda que ele estivesse três cadeiras
ao lado da minha).
- Calma, Ric! Não se preocupe que isso não nos
desprestigia. Nós começamos a fazer sucesso aqui há
apenas alguns meses, enquanto a maioria dos outros
candidatos batalham por aqui há anos para tentar ser
reconhecido. – disse Tim em um tom tão tranquilo, tão
calmo que era um tanto quanto contagiante.
Cerca de dois minutos depois, o Gary anunciou a
banda Blue4us, e eles entraram no palco. Quando eles
começaram a tocar, eu me lembrei da razão pela qual fui
apaixonada pelo Brian desde que conheci sua banda: ele
era um cantor incrível, além de dançar muito e ser
extremamente sexy... e agora era meu. Meu! Lembrei de
um comercial que eu assistia quando eu era criança, onde
uma menina passava a propaganda toda dizendo “Eu
tenho, você não te-em”. E olhando para ele, eu me sentia
assim. A voz dele era sexy, a roupa dele era sexy, e então
a falta de roupa dele se tornou mais sexy ainda, porque ele
arrancou a camiseta e ficou com o peito nu, andando pelo
palco todo com suas tatuagens nos ombros e na barriga à
mostra. E que barriga! A mulherada estava enlouquecida,
e todas deviam estar sentindo a temperatura subir pelo
menos uns dez graus, assim como eu estava sentindo. A
Rita até desfez o bico e estava pulando e cantando
comigo. E então, o Brian pulou do palco e encerrou a
música olhando para mim. Quando todos começaram a
aplaudir, ele me agarrou e me lascou um beijo.
Chegamos em casa em menos de uma hora após o
encerramento da cerimônia e fomos à cozinha para
fazermos um sanduíche, e todos nós nos fartamos até
nossas barrigas começarem a doer. Quando eu acabei, me
despedi e comecei a subir as escadas em direção ao meu
quarto, quando meu braço é puxado e sou obrigada a olhar
pra trás. Era o Tim, me olhando com uma certa
curiosidade.
- O que foi agora, Tim?
- Nada demais! Só queria perguntar o quão nojenta
você se sentiu quando beijou o Brian após termos acabado
de nos beijar. Mas quer saber? A curiosidade já passou.
Boa noite! – e então ele desceu, me deixando com cara de
trouxa. Julgue mesmo os outros, Vivi!É tão bom pagar a
língua, depois, né?
Eu passei quase a noite toda acordada, pensando no
beijo do Tim, e depois no beijo do Brian, e tentando
descobrir como me coloquei naquela situação. E ainda
por cima eu estava com medo de dormir e sonhar com “a
cola que não deve ser nomeada”. O meu maior problema
era a impossibilidade de evitar o Tim, uma vez que, além
de trabalharmos juntos, ainda morávamos na mesma casa.
Pensei na minha casa em São Paulo e a saudade apertou.
Pela manhã, a moça que fazia faxina, a Dulce, havia
acabado de limpar acozinha quando entrei. Ela havia feito
uma torta caseira e nos levado, então eu a agradeci e
cortei um pedaço para mim, porque eu imaginei que todos
fossem acordar bem mais tarde. Mas então o Ric entra na
cozinha e senta ao meu lado.
-Também não conseguiu dormir? – ele perguntou.
- Não! Devo ter cochilado por no máximo uma hora.
- É, eu também. Não engoli o fato de termos perdido
para o Dinner42.
- Não sabia que isso era tão importante para você.
- Ah, é importante, sim. Mas também não vou parar
minha vida por causa disso.
- Então tem mais alguma coisa te preocupando?
- Várias coisas! E com você também, não é?
- Sim! – e então eu o servi de uma fatia de torta. –
Nossa vida está muito diferente, né?
- Sim! Mudou completamente. Aonde quer que a
gente vá, sempre haverá alguma pessoa que nos
reconheça, e logo uma multidão se forma. Nossa família
está longe, e eu meio que estou me sentindo solitário.
- Eu sinto isso, também! Se não fosse por vocês, com
certeza eu estaria na maior deprê.
- E então, como vão as coisas entre você e o Tim? –
e quase engasguei com a torta.
- Ah, você sabe. As mesmas briguinhas de sempre. –
e me senti mal por estar mentindo para ele.
- Vivi, nós passamos quase as vinte e quatro horas do
dia juntos, todos os dias. Acha que não sei o que está
acontecendo? – ele sabe? Não, por favor, não
saiba!Então ele me olhou e perguntou: - Você sabe, não
sabe?
- Sei o que? – Por favor, que você esteja falando de
outra coisa!Olhei para ele e tentei fazer minha cara de
desentendida, mas ele sacou que eu sabia.
- Você não me engana, Vivi! Quando foi que você
descobriu que ele é completamente apaixonado por você?
- Ah, não! Ele não é apaixonado por mim. Ele só tem
uma pequena atração.
- Hahaha! Você está brincando, né? Mas me conte,
quando foi que você descobriu sobre essa pequena
atração!
- Bem, acho que foi no dia que ...não, foi no outro,
quando ele... sabe que não sei? Eu meio que desconfiava,
mas só tive certeza no dia em que ele me beijou.
- Ele o quê? Como assim ele te beijou? Você deixou?
- Não! Eu o empurrei. Ele tinha acabado de voltar da
casa da Letícia e veio me beijar. Eu senti o maior nojo!
- Nossa não acredito que ele fez isso! Cara, como ele
é burro! E que falta de respeito com você. Eu vou fal...
- Ei, calma aí. Ele não fez por mal. Eu entendo a
situação.
- Como assim você entende?
- Porque ontem eu fiz a mesma coisa com o Brian.
- Você beijou alguém e depois deu um beijo forçado
no Brian?
- Não, eu não dei nenhum beijo forçado, mas... mas
eu beijei alguém antes dele. – pude ver pela expressão em
seu rosto que ele ficou surpreso, e então parecia que ele
tinha entendido a situação.
- Não me diga que antes de beijar o Brian você
beijou o..
- Sim – eu o interrompi. - Depois do show ele foi até
o meu camarim e me beijou.
- Bem que eu e o Cadú estávamos nos perguntando
para onde ele tinha ido. Mas me responde uma coisa:
quando ele te beijou dessa vez, você consentiu? – E
agora, o que eu respondo?
- Ele me pegou de surpresa, e eu fiquei tão confusa...
e então eu não sabia mais o que eu estava fazendo, e então
ele me soltou e...
- Tá bom, já entendi. Você consentiu, Vivi! Já parou
para pensar que talvez você esteja nutrindo sentimentos
amorosos por ele?
- Não – eu quase gritei. – Não, eu não estou. Eu não
posso, isso seria...errado.
- Errado por que?
- Porque somos uma família.
- Meu pai e minha mãe fazem parte da minha família
e eles amam um ao outro. – ele disse em um tom
brincalhão, meio que zombando da minha cara.
- Engraçadinho! Não foi isso que eu quis dizer.
- Foi, sim. Só não se esqueça de uma coisa: essa
história de irmãos entre você e ele não rola. Irmãos não se
beijam na boca. Por que você não tenta dar uma chance
pra ele?
- Ric, eu estou meio que namorando o Brian. E eu
gosto dele. Além do mais, o Tim não é apaixonado por
mim. E tenho certeza de que ele não quer nada sério
comigo.
- Posso fazer uma pergunta?
- Claro!
- O que você sentiu quando o Tim te beijou ontem? –
lembrei da sensação do foguete, mas nem morta que eu
diria aquilo.
- Medo! E adrenalina, como se eu estivesse numa
montanha russa, sabe? Ah! E frio no estômago. E...
- Tá! – ele disse, me interrompendo. – E o que você
sente quando o Brian te beija? - Conforto. E calor!
- Ric, esse assunto está começando a me incomodar.
Não estou no clima de ficar pensando nessas coisas. Ei,
temos que ensaiar antes do show do EmptyBottles, hoje a
noite. Que tal se você fosse acordar os meninos pra
tomarem café enquanto eu vou tomar um banho e me
trocar, hãn?
- Ok! Você que manda. – e ele foi levar o prato até a
pia enquanto eu saía da cozinha e cruzava com o Tim na
escada. Nós demos bom dia um ao outro e seguimos nosso
caminho.
A tarde passou como num piscar de olhos, e então
decidimos encerrar o ensaio. O Euller McTravis havia
nos informado que a música que tocaríamos juntos seria
um cover do “WholeLotta Love”, do Led Zepellin, e
depois cantaríamos “Hey, menina”. Quando o ensaio
acabou, almoçamos um macarrão com queijo que a Rita
fez, tiramos um cochilo, nos arrumamos e fomos ao Time
Square Garden. A estrutura do show era gigantesca, e
ficamos impressionados com a iluminação que eles tinham
contratado. Fomos até o camarim deles e os
cumprimentamos, e então eles nos indicaram um camarim
onde poderíamos nos trocar. Só que tinha um pequeno
detalhe: era apenas um camarim para nós quatro, de forma
que eu teria que me trocar na frente deles.
-Não é possível que não tenha um banheiro
disponível para eu me trocar sossegada. – eu reclamei.
- Deve ter um banheiro disponível, mas duvido que
você vá ficar sossegada. Com certeza você encontrará
algum funcionário que seja seu fã e resolva te assediar, no
meio do caminho. – disse Ric. Mas vamos fazer o
seguinte, quando você for se trocar, nós viramos de costa.
Não é, parceiros? – o Cadú soltou um lógico e o Tim
disse “Ahãn”. No nosso camarim tinha algumas torradas e
pedaços de queijo, além de frutas, sucos, água,
refrigerantes e whisky e energéticos.
- Ei, galera! Faz um tempo que não bebemos um
pouco pra aquecer, né? Que tal uma dose de whisky? –
sugeriu Cadú.
- Eu topo! – eu disse. Afinal, eu bem que precisava
de uma bebida relaxante. E todos eles também toparam.
Cada um de nós se serviu de uma dose, cada um a seu
modo. O meu é sempre dois dedos de whisky e o resto
com energético.
- Ao nosso sucesso! – Tim propôs, ao erguer o copo.
E todos levantamos em seguida, brindando. E então a
dose acabou e tomamos outra. Depois da segunda, nós
paramos, mas o Ric quis uma terceira. Eu o avisei de que
não seria uma boa idéia, mas ele nem me deu ouvidos. O
show do Empty Bottles estava muito empolgante, mas já
estava na hora de nos arrumarmos. Eu deixei que eles se
trocassem primeiro, e quando estavam prontos eu pedi que
virassem de costas para que eu pudesse colocar minha
roupa. Eu fiquei de calçinha e sutiã e peguei minha calça
preta de couro. Eu entrei com meu pé direito na calça e a
levantei um pouco, pronta para colocar o segundo pé, mas
eu estava com a coordenação motora um pouco afetada
por causa da bebida, então acabei tropeçando.
- Aaaaii! – eu gritei antes de atingir o chão. Então os
três correram na minha direção para se certificarem de
que eu estava bem. Meu tornozelo doía demais.
- Você está bem? – os três perguntaram.
- Eu acho que estraguei meu tornozelo. Está doendo
muito! – eu disse, ao tentar levantar e sentir uma dor
agonizante no tornozelo. Então eu cambaleei e quase caí
novamente, mas eles me seguraram.
- Ai, Vivi! E agora? – se desesperou Cadú.
- Calma, deixa eu tentar novamente. – eu disse.
- Deixa eu te ajudar. – disse Tim, passando a mão
pelas minhas costas e deixando que eu jogasse meu peso
sobre ele. Então eu me ergui, coloquei a outra perna na
calça, já que eu ainda estava praticamente pelada, puxei a
calça pra cima e fechei o zíper. Quando eu acreditei que
não precisava mais do amparo do Tim, tentei dar um
passo. Meu tornozelo doía tanto que lágrimas caíam dos
meus olhos.
- Calma, Vi! Vai dar tudo certo!
- Será, Tim? Ric, me ajude aqui. – eu pedi. Quando
ele ofereceu o braço e eu me apoiei, ele tropeçou e caiu,
quase me levando junto. E então ele começou a rir
descontroladamente.
- E agora mais essa. – bufou Tim, ao perceber que
Ric estava embriagado.
Cinco minutos depois, saímos do Camarim e ficamos
atrás do palco assistindo o show e esperando nossa deixa.
O Ric fazia umas piadas que aparentemente só ele e as
garotas que estavam por perto achavam graça. Notei que
ele estava muito perto de uma garota que deveria ter uns
vinte e quatro anos, mais ou menos. Ela era morena, tinha
cabelos compridos e era muito bonita. Do nada ele
avançou pra cima dela e eles se engalfinharam em um
beijo que estava pra lá de cômico, tendo em vista que ele
não conseguia ficar parado no mesmo lugar por mais de
dez segundos, já que estava com a coordenação motora
afetada. A garota o empurrou (depois de ter aproveitado o
amasso por mais de um minuto), e então eu a vi indo na
direção de um homem alto e forte, que tinha acabado de
aparecer por lá, mas não pude ver mais nada porque o
Euller estava anunciando nossa entrada. E lá vamos nós!
A parceria foi perfeita. O duelo de solos de cada
instrumento foi a parte mais divertida, e quando tocamos
sozinhos nossa música e o pessoal pediu bis foi uma
surpresa muito satisfatória. Estávamos saindo do palco
quando o cara fortão apareceu, empunhando uma arma.
Então ele disse para o Ric:
-Isso é para você aprender a respeitar a garota dos
outros. – e ouvimos o “buuum” do disparo. E meu coração
se partiu, naquele momento.
9 – CHAMA DA GLÓRIA

“Baleado numa chama de glória, leve-me agora mas


saiba a verdade.
Estou caindo numa chama de glória. Senhor, nunca
saquei primeiro, mas já feri primeiro.” Blaze of Glory –
Jon Bon Jovi

Havia mais de treze horas que estávamos sem


notícias sobre o estado de saúde do Ric, e estávamos
necessitando urgentemente que algum funcionário se
solidarizasse conosco. Nós estávamos no hospital desde
que ele foi baleado no estômago e perdeu a consciência, e
a única vez que o médico se pronunciou foi para nos
informar que a bala havia perfurado seu pulmão e estava
alojada em sua coluna vertebral. Quando perguntamos se
ele ficaria bem, o médico disse que havia apenas uma
pequena chance de que ele se recuperasse. Nós nos
abraçamos e choramos, e até agora estávamos esperando
notícias. Eu estada encostada no ombro do Cadú e o Tim
estava ao meu lado oposto, segurando minha mão. Nenhum
de nós tinha vontade de comer, beber, ir ao banheiro e
nem falar. Meu celular vibrava constantemente, mas eu
não queria ver quem era, porque me sentiria na obrigação
de falar com a pessoa que ligava ou responder cada sms
que recebi, e eu não queria fazer nenhuma dessas coisas.
Eu só queria ficar ali, aguardando notícias do Ric,
esperando ele sair da UTI rindo, dizendo que foi só um
susto e que já estava bem. Então o médico apontou no
começo do corredor onde estávamos esperando. Ele
andava vagarosamente, empurrando um pé pra frente do
outro como se estivesse com preguiça de andar. Ele
colocou a mão na nuca e tirou sua toca, e pelo olhar dele
eu soube. Eu não queria olhar para eles quando eles
ouvissem as notícias. Eu tentei me levantar, mas o Tim me
puxou de volta. E então o médico disse:
- Ele está estável. – Meu Deus, eu ouvi direito? Ele
está estável! Es-tá-vel!– Só que há um porém: ele
precisará ficar uns dias em observação, pois a bala
danificou sua coluna e provavelmente ele não voltará mais
a andar.
- Me desculpe, mas pode repetir? – eu disse, me
recusando a entender.
- Infelizmente a bala atingiu uma parte crítica da
coluna, e existe uma grande probabilidade de ele não
voltar mais a andar. – ele disse, paciente. Mas essa
paciência dele estava me irritando.
- Como assim ele não voltará a andar? Deve ter
algum tratamento que ele possa fazer. Não tem nenhuma
alternativa, nenhum estudo em andamento?
- Infelizmente esse é um dos poucos casos de
paralisia irreversível. – E minhas lágrimas começaram a
rolar. Imagens do dia em que eu conheci o Ric passaram
na minha cabeça, então vi cenas dele cantando, dele
pulando pra cima e pra baixo com sua guitarra, dele
correndo pelo palco, dele andando até uma garota para
paquerá-la, dele correndo atrás de mim segurando algum
inseto para me assustar, dele correndo das fãs que sempre
o perseguiam... e uma tristeza profunda me visitou. Eu
comecei a soluçar desesperadamente, enquanto uma chuva
de lágrimas corria pelo meu rosto. O Cadú me abraçou e
desmoronou em choro, também. O Tim levantou e
começou a esmurrar as paredes, e depois as atingiu com
pontapés. O doutor deu meia volta e começou a se
distanciar, mas eu perguntei:
- Doutor, ele está consciente?
- Não, ele não ficará consciente por um bom tempo.
Pelo menos hoje é garantido que ele não acorde.
- Mas podemos ficar com ele, doutor?
- Quando ele for transferido para o quarto, sim. Mas
isso só será feito amanhã. Eu os aconselho a irem para
casa. Não há nada que possam fazer aqui.
Quando chegamos em casa, eu fui até o quarto do
Ric, sentei em sua cama e recomecei a chorar,
inconformada com aquela situação. Eu estava morrendo
de pena dele, com meu coração doendo por saber o quanto
ele sofreria. Eu olhei a bagunça dele ao redor e decidi
arrumá-la, pois os pais dele estavam vindo para Nova
York e nós fazíamos questão de que eles se hospedassem
conosco. Depois de arrumar tudo, fui até o meu quarto
tomar banho e passei mais uma hora chorando
compulsivamente. Quando eu saí, fui até a cozinha para
comer alguma coisa, pois nem lembrava qual tinha sido
minha última refeição. Encontrei a Bia e o Tim sentados
um ao lado do outro, tomando chá.
- Oi! – ele disse. - A Bia acabou de fazer um bule
inteiro de chá. Você quer? –olhei para ela e notei que ela
estava desconfortável, como se desejando que eu não
tivesse aparecido. Quase que eu a mandei pro inferno,
alegando que aquele não era o momento apropriado para
paqueras banais.
- Não, obrigada! Vou tomar um leite quente.
- Você quer que eu esquente para você, Vivi? – ela
perguntou em um tom que demonstrava que ela havia
perguntado apenas por educação.
- Não, eu esquento! Obrigada! – e então eu esquentei,
peguei uma banana e dei uma mordida. Um nó se formou
na minha garganta e novamente desatei a chorar. Cuspi a
banana e deixei o copo com leite em cima da mesa.
- Você está bem, Vivi? – perguntou a Bia.
- Claro que não, não está vendo? Ela não para de
chorar desde a hora do acidente. Pegue um calmante para
ela! – e ela foi buscar, mas com ódio no olhar, devido ao
jeito que ele a tratou.
- Vivi, tome pelo menos esse copo de leite.
- N-nãoconsig-g-g-o – eu tentava dizer, aos soluços.
- Mas tente, por favor. Você não come nada há quase
um dia. – e então ele segurou o copo na minha boca e o
virou. Eu tomei tudo, então ele colocou o copo na pia e
encheu outro com água e me deu. A Bia trouxe dois
calmantes e disse que seria melhor se o Tim também
tomasse (ela deve ter ficado assustada com o tom de voz
que ele fez pra ela, quando a mandou buscar o calmante).
Nós dois tomamos, e então ele disse:
- Vivi, vá se deitar. Você precisa dormir, porque sei
que quer ir ao hospital amanhã cedo.
- Mas eu não consigo dormir, Tim. – eu disse em tom
choroso. - Eu estou me sentindo muito mal, muito triste.
- Todos nós estamos. Mas vamos fazer o seguinte: eu
posso ir deitar com você, e ficamos conversando até você
se sentir confortável o suficiente para dormir. Prometo
que não tento nenhuma gracinha! – ele propôs. Eu o olhei
desconfiada, por alguns segundos, mas percebi que não
queria dormir sozinha.
- Ok! – eu disse, então subimos. Eu tinha certeza de
que a Bia deveria estar querendo me matar, mas devido as
circunstâncias eu realmente não me importava.
O Tim foi até o quarto do Ric para pegar o shorts que
usava para dormir e logo depois se juntou a mim. Eu já
tinha colocado uma camisola rosa e deitamos. Ele havia
dito que poderíamos conversar até pegarmos no sono, mas
a verdade era que nenhum de nós queria conversar. Única
coisa que eu precisava naquele momento era de um
abraço, e aparentemente ele precisava da mesma coisa,
porque me virou de frente para ele e me aconchegou em
seus braços. Dormi em menos de um minuto, mas então
tentei abrir os olhos e não consegui.
- Vivi, só queria dizer que estou aqui para tudo que
precisar de mim. – disse o Sr. Superbonder.
- Obrigada! – eu disse, mas então ele me abraçou e
eu senti os braços dele me esquentar.
Ele passou as mãos pelo meu cabelo e pela minha
nuca. E então ele beijou meu pescoço, não de forma
sexual, mas sim como uma forma de carinho. Eu me
aconcheguei para ainda mais perto dele e ouvi seu
coração bater. Então abri os olhos e me deparei com o
Tim, ainda deitado na mesma posição, mas dormindo
como um bebê. Eu sorri e voltei a dormir.
Eu acordei e notei que estava com a cabeça em cima
do peito do Tim. Eu o apertei bem forte, mas então notei
que ele estava acordado e que tinha visto esse meu gesto.
Ele sorriu, mas não disse nada, apenas começou a fazer
cafuné. O sono voltou a bater, mas eu não poderia voltar a
dormir antes de ter uma informação:
- Você sabe que horas são?
- Sim, acabei de olhar no relógio. São cinco e meia
da manhã. – Eu suspirei aliviada e feliz por ter mais
algumas horas antes de ter que levantar, e então voltei a
dormir. Algumas horas depois meu celular começou a
tocar a música Cherry Bomb e eu acordei assustada. Eu e
o Tim dormíamos em conchinha.
- Bom dia! – ele disse em uma voz tão rouca e tão
sensual que me fez literalmente tremer. – Você está com
frio?
- Não, só senti um calafrio. Bom dia pra você,
também. - e então soltei seus braços. – Preciso atender o
celular.
- Não, você não precisa. – ele disse, em um
resmungo, mas eu o ignorei e levantei, em busca do meu
celular. Era o Brian quem estava ligando, e eu atendi.
- Oi! Tudo bem? – eu disse.
- Vivi, pelo amor de Deus! Você quer me matar de
preocupação? Como você está? Como o Ric está? –
percebi que ele estava muito preocupado, e me senti
culpada por tê-lo mantido afastado desde a hora do tiro.
- Me desculpe por não ter atendido antes. Eu só não
estava ... legal. Na verdade, ainda não estou. – olhei para
o Tim e ele estava me observando. – Na verdade, acho
que não vamos conseguir nos ver por alguns dias. Vou
passar a maior parte do tempo no hospital. O Ric está sob
observação, e parece que houve algumas complicações
com ele, então não terei tempo para nada. A Rita está até
remarcando o primeiro show da nossa turnê.
- Mas ele está melhor?
- Sim! –disse, mas escondendo o fato de que ele não
voltaria a andar. Admitir aquilo era muito difícil para
mim.
- Ok! – ele disse, resignado. – Então até daqui a uns
dias. Certo? – e eu soube que ele disse essa última
palavra como uma forma de saber se eu continuaria saindo
com ele.
- Claro! – e eu o ouvi respirando, aliviado. – Então
até mais!
- Até, princesa! Só não se esqueça de que se vocês
precisarem de qualquer coisa estarei à disposição. Tchau!
- Ok! Obrigada! Tchau!
- Era o Brian, né? – perguntou Tim.
- Sim, era!
- Você vai continuar saindo com ele? – Ah, não! Ele
não vai querer discutir sobre o Brian, vai?
- Tim, eu realmente não estou pensando sobre isso,
agora. Minha vida está muito confusa e sei que tenho que
resolver algumas coisa, mas não nesse momento. Agora eu
estou focada no problema do Ric, e não preciso de
nenhum outro aborrecimento.
- Vou tomar um banho. – ele me notificou, sem olhar
para mim.
Quando chegamos ao hospital, o médico nos
informou que o Ric tinha acabado de acordar. Estávamos
apenas eu, o Cadú e o Tim, pois a Bia estava ajudando a
Rita a resolver o problema da nossa turnê e também iriam
buscar os pais dele no aeroporto, assim que chegassem.
Entramos no quarto onde ele estava e eu senti as lágrimas
querendo escorrer pelos meus olhos, mas eu as travei. Ele
parecia tão frágil naquela cama, com o rosto pálido.
- Oi, meninão! – eu disse. Ele me olhou com um
olhar de profunda tristeza. Não chore, Vivi! Se controle!
- Fala, Ricardones! – disse Cadú em um tom mais
alegre do que o convinha, mas eu entendi que ele estava
tentando animá-lo.
- E aí, parceirão? Como está se sentindo? Você nos
deu um baita de um susto. – disse Tim. Todos estávamos
sentados em um sofá ao lado da maca dele.
- Como eu estou? Eu estou um lixo. Eu estou... eu
estou com muito medo. – e então os olhos dele se
encheram de lágrima. - Eu não consigo me mexer direito.
Eu estou com muita dor, mas o que me incomoda mais é
que eu não sinto minhas pernas. – então lágrimas
começaram a escorrer pelo seu rosto. – Vivi, eu não sinto
minhas pernas! – ele repetiu enquanto segurava minhas
mãos e olhava nos meus olhos, como um apelo para que
eu dissesse a verdade.- O que está acontecendo comigo?
Por favor, me fale! O que os médicos disseram? – ele
segurava minha mão e chorava como uma criança. Eu
olhei para ele e não consegui mais me segurar. Comecei a
soluçar. Então ele entendeu o que estava acontecendo, e
deu um soluço tão alto, tão assustado, que eu me lembraria
desse momento pelo resto da minha vida. Olhei para o
Tim e para o Cadú, desejando que eles dissessem alguma
coisa que melhorasse a situação, mas ambos estavam com
a cabeça baixa, derramando lágrimas de tristeza. Aquele
era o pior dia da minha vida, e eu me sentia uma inútil por
não conseguir fazer nada para consolar o meu amigo.
- Ric, eu... nós... nós sentimos muito.
- Eu não estou acreditando! – ele disse, aos prantos.
– Minha vida acabou! Por que eu não morri? Eu queria ter
morrido! Eu quero morrer! – ele estava praticamente
berrando. Uma enfermeira entrou no quarto mas nós
dissemos que ele só estava nervoso e que já iria se
acalmar, então ela partiu.
- Não, Ric! Sua vida não acabou! É só uma questão
de se adaptar. – disse Cadú, tentando confortá-lo.
- Adaptar o caramba! Você diz isso porque não é
você que está inválido pelo resto da vida.
- Calma, Ric! – disse Tim. – O Cadú não está errado.
Quantas pessoas já passaram por essa situação e hoje
levam uma vida normal? É realmente uma questão de se
adaptar.
- Justo agora que eu estava no auge da minha
carreira. Agora está tudo acabado!
- Acabado por que, Ric? Não está nada acabado.
Você vai continuar tocando e cantando, como sempre fez.
- Quem vai querer ir a ao show de um aleijado,
Vivianne? Você é tão burra que não vê que minha carreira
acabou?
- Em primeiro lugar, eu não sou burra, Ricardo! – eu
estava nervosa, mas me dei conta de que a situação estava
sendo muito difícil para ele. Então abaixei o tom de voz e
continuei. – Em segundo lugar, as pessoas vão querer te
ver, sim. Você canta muito, é lindo e toca muito. E pare de
se chamar de inválido. – Nisso, o médico entrou e pediu
para falar a sós com ele. Nós fomos para o corredor e
ficamos esperando por vários minutos, até que ouvi
alguém me chamar. Olhei para o corredor e vi o Brian.
Ele se aproximou e disse:
- Eu não consegui esperar, Vivi! Que tipo de homem
eu seria se te deixasse atravessar por essa barra sozinha?
– e então ele me abraçou. E aquele abraço era tão
amoroso, tão cheio de carinho, que ficamos lá, parados,
abraçados por minutos, até que o Tim passou por nós,
dizendo ao Cadú que ia buscar um café.
Não demorou muito até os pais do Ric chegarem, e
eles foram direto para o quarto dele, preocupados com o
filho. Não deu três minutos antes de a Sra. Lídia Azevedo
começar a chorar desconsoladamente. Eu já havia passado
a situação ao Brian, e ele também havia ficado muito
chateado. As horas se passaram e então o pai do Ric foi
até o corredor e disse que ele estava nos chamando. Pedi
licença ao Brian e entrei no quarto com os meninos.
- Eu queria pedir desculpas pela forma que eu tratei
vocês.
- Ah, não, Ric! Não precisa se desculpar.
Entendemos o inferno pelo qual você está passando. – eu
disse, e os meninos concordaram.
- Eu chamei vocês porque quero fazer um
comunicado.
- Pode fazer!
- Eu não quero mais fazer parte da banda. Estou me
desligando da Rock & Pie.
- Mas só passando por cima do meu cadáver! – eu
disse em tom firme.
- Ric, não tem como você sair da banda. A banda é
você. Você é o elo que nos une. Foi você quem nos
apresentou. Foi você que enxergou a banda antes de cada
um de nós. – disse Tim
- Isso não está sob cogitação. A resposta é não! Nem
pensar! – disse Cadú em tom de voz alterado.
- Sinto muito, galera, mas não vou voltar atrás.
- Mas Ric, isso não tem cabimento!
- O que não tem cabimento é eu continuar na banda
do jeito que estou. Eu não sou mais um rockstar. Eu não
vou entrar no palco com cadeira de rodas.
- Ric, te garanto que as pessoas iriam te admirar
ainda mais se você detonasse no palco mesmo nessas
condições.
- A questão é que eu não me aceito nessas condições.
E se eu não me aceito, como os outros vão me aceitar?
Acham que estou feliz de tomar essa decisão? Eu estou é
acabado. Detonado. Minha vida acabou.
- Ric, por favor, não fale assim! – eu implorei aos
prantos. Mas a mãe dele interviu.
- Crianças, o Ric realmente precisa de um tempo
para se recuperar tanto fisicamente quanto mentalmente.
Ele vai voltar para casa conosco, e se daqui a um tempo
ele decidir voltar para a banda e vocês estiverem de
acordo, ficarei muito feliz. Mas agora não é o momento. –
eu, o Tim e o Cadú nos olhamos e assentimos tristemente
com a cabeça. E agora, o que será do meu amigo? E o
que será da Rock & Pie?
Quando o horário de visitas encerrou, me despedi do
Brian e fui para casa com os meninos, mas a verdade é
que eu estava totalmente distante, como se minha alma
tivesse saído para dar uma volta. Afinal, além de toda
confusão na minha vida amorosa, eu ainda tinha que
aceitar o estado do Ric, e estava sem a mínima ideia do
que faríamos com a banda. Porque além de perdermos
nosso guitarrista e um dos vocalistas, perdemos também a
alma da nossa banda, e isso eu não sabia se seria possível
recuperarmos. Quando entramos em casa, a Rita e a Bia
perguntaram como havia sido com o Ric, pois elas não
puderam ficar no hospital devido ao problema da turnê.
Então eu contei sobre as conversas que tivemos com o
Ric, sobre a decisão dele sobre sair da banda, e o que a
mãe dele disse sobre ele precisar de um tempo, ao menos.
A Rita e a Bia estavam com os olhos cheios d’agua, e
ficamos todos em silêncio por vários minutos, até que o
Tim veio até a sala de televisão e nos disse:
- O Cadú acabou de sair. Disse que queria ficar um
pouco sozinho.
- Mas ele nunca faz isso! Ele detesta andar sozinho! –
eu disse.
- É, mas vocês estão passando por um momento
difícil, então é normal fazerem coisas anormais. – disse
Bia.
- É, talvez você tenha razão. Bia, você pode me dar
mais dois daquele calmante de ontem?
- Você acha uma boa ideia, Vivi? Você já tomou
ontem, e sabe que essas coisas viciam. – perguntou Rita,
preocupada.
- Não se preocupem comigo! Pegue pra mim, Bia! –
eu ordenei.
Após tomar os calmantes, fui ao meu quarto,
coloquei um pijama, fui para a cama e fechei os olhos,
desejando dormir. E consegui, até o momento em que
tentei abrir os olhos, mas não consegui.
- Oi! – ele me disse.
- Ah, não! Eu não vou conseguir me livrar de você
nunca mais?
- Ah, claro! Porque eu te maltrato tanto, né?
- Ironias não combinam com você. Não me leve a
mal, mas eu preciso de paz.
- Eu sei, mas esse não é um bom momento para você
se entregar à tristeza. Eu preciso me certificar de que você
esteja bem.
- E se eu não estiver? O que você poderia fazer por
mim? Às vezes acho que você esquece que não é real. –
eu não precisava olhar para ele para saber que isso o
tinha ferido.
- Muitas vezes o que mais precisamos é de uma
palavra amiga, de um pouco de atenção, e isso eu sei que
posso te dar. Mas Vivi, eu não estou brincando quando
digo que este não é o momento certo para você se afastar
dos outros. Todos estão passando pelas mesmas
dificuldades que você, e eles precisam do seu apoio.
- Eu agradeço a preocupação, mas tudo que quero é
ficar sozinha. Por favor, vá embora! – e ele se foi, me
deixando mergulhar em um sono profundo.
Eu não saí do meu quarto no dia seguinte, mesmo
com as frustradas tentativas do Tim, da Bia e da Rita. Na
manhã seguinte, eu fiquei no meu quarto o máximo que
pude. Só levantei da cama porque eu percebi que não
comia nada há mais de dois dias. Assim que saí do meu
quarto, o Tim me pegou no caminho.
- Você não está nada legal! Vou marcar uma consulta
para você com algum psicólogo ainda pra essa semana.
- Que psicólogo o que! Eu só quero ficar sozinha por
um tempo. Eu mereço ter um tempo só para mim.
- Eu concordaria com você se esse tempo ao qual
você citou estivesse sendo usado para você se cuidar, ou
fazer algo que lhe dê prazer, mas não para você se enfiar
em uma cama e dormir por mais de um dia. Quando foi a
última vez que você comeu algo?
- Tim, por que você não cuida da sua vida e me deixa
em paz?
- Vivi, não adianta você se responsabilizar pelo
problema do Ric. Infelizmente não há nada que nenhum de
nós possa fazer.
- Eu entendo! Mas saber disso não alivia essa
tristeza que toma conta de mim. Tim, você ainda não
pensou sobre o que será de nós? O que faremos com a
nossa banda? O que faremos sem o Ric?– eu finalmente
abri meus sentimentos, e ele se aproximou vagarosamente,
até me envolver em seus braços.
- Calma, gatinha!Nós vamos dar um jeito. Não se
entregue facilmente às dificuldades. Cadê a Vivianne
guerreira que eu conheço?
- Acho que ela está de férias, Tim.
- Então é bom ela voltar logo, porque nós temos
várias coisas para discutir.
- Como o que?
- Só falo depois que você comer alguma coisa.
Quando chegamos à cozinha, a Bia estava mexendo a
colher em uma panela, e quando nos viu, disse:
- Oi, Vivi! Que bom que você está melhor! Ah, deixa
eu te contar! Ontem a Rita me ensinou a fazer um pudim de
chocolate que é delicioso! Estou tentando fazer sozinha,
mas como é a primeira vez eu espero que me perdoem se
não ficar muito bom. – e então ela encheu uma colher de
pudim ainda quente e colocou na boca do Tim. Ele engoliu
e deu um sorriso, e eu notei uma cumplicidade entre eles
que eu não sabia que existia. Meu estômago começou a
queimar e minha cabeça latejou. Eu queria sair da
cozinha, mas eu precisava urgentemente comer alguma
coisa. Lavei algumas folhas de alface, cortei algumas
rodelas de tomate, abri uma lata de atum e montei uma
salada em um prato. Peguei um bolinho de chocolate no
armário para a sobremesa e uma caixinha de suco na
geladeira e estava indo em direção ao meu quarto quando
o Tim segurou meu braço.
- Aonde você pensa que está indo?
- Eu ér....lembrei que está passando uma série muito
boa e resolvi assistir, enquanto como.
- Posso assistir com você?
- Não precisa. Parece que a Bia está precisando da
sua companhia, aqui na cozinha. Eu comerei sozinha. – eu
disse enquanto ajeitava o suco, o prato e o bolinho em
meus braços. Ele me olhou com um brilho debochado nos
olhos, mas não disse nada, e eu saí da cozinha.
Quando eu subi a escada, notei que ainda não tinha
encontrado o Cadú, e que ele não tinha tentado me acordar
no dia anterior, o que não era uma atitude típica dele.
Resolvi deixar minha comida no meu quarto e ir atrás
dele. Bati em sua porta e esperei ele responder. Ele não
respondeu. Bati novamente. Nada. Então eu abri a porta
(que para meu azar estava destrancada) e entrei. Assim
que abri senti um cheiro insuportável entrando em minhas
narinas. Ascendi a luz e vi o quarto lavado de vômito. As
roupas estavam todas reviradas, um abajur estava
quebrado no canto de uma das paredes e uma garrafa
vazia de Whisky estava ao lado de sua cama. Meu Deus!
O que aconteceu com o meu menino?Sentei na beirada da
cama e levantei o edredom que estava tampando sua
cabeça. Ele abriu os olhos e pude ver que a luz o
incomodou.
- Vivi, apague essa luz! Minha cabeça está
explodindo!
- Não vou apagar merda nenhuma de luz se você não
me disser o que está acontecendo aqui.
- A única coisa que está acontecendo aqui é você
atrapalhando meu sono. Cai fora!
- Ei, olha como fala comigo. Cadú, você bebeu essa
garrafa inteira de whisky sozinho?
- Garota, entenda uma coisa – ele disse gritando em
um tom tão grosso e com os olhos tão vermelhos que achei
que ele fosse me bater. Me encolhi e continuei ouvindo o
que ele dizia. – Você não é a minha mãe! E se eu bebi ou
não, não é da sua conta! Eu paguei a garrafa com o meu
dinheiro, e não com o seu. Agora cai fora do meu quarto!
Sai! – Eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo. O
Cadú sempre foi, entre os três, o mais gentil comigo. Para
falar a verdade, ele sempre foi o meu queridinho, e eu
sempre o tratei como se fosse o irmão mais novo que eu
nunca tive. E esse cara deitado nessa cama não era
parecido em nada com o Cadú que eu conhecia. Eu me
levantei, trêmula de nervoso, e fui silenciosamente para o
quarto da Bia. Eu sabia que ela estava na cozinha com o
Tim, então fui direto ao armário do seu banheiro, onde era
mais provável que ela guardasse os remédio. E então
encontrei o frasco de calmante. Peguei três e engoli. Fui
para o meu quarto e me enfiei embaixo do cobertor. Entrei
no mundo do sono.
- Vivi! Acorda, Vivi! Rita, ela está suando. Isso é
normal?
- Não sei, Tim. Estou deixando de ficar preocupada e
começando a ficar desesperada. – ela respondeu. Eu os
ouvia, mas como se estivessem a quilômetros de
distância.
- Vivi, por favor, acorda! – dessa vez a voz era do
Brian. Que sonho estranho. Então um terremoto invadiu
meu sonho. Sentia meu corpo sacudir.
- Vivi, não me faça te pegar no colo e te levar para o
hospital. Por favor, acorda! Não faça isso comigo! – e eu
percebi que não era um sonho. Abri os olhos lentamente e
percebi que o suposto terremoto era o Tim me
chacoalhando.
-O que aconteceu? – perguntei, confusa.Porque será
que eles estavam falando em inglês se nessa casa só
moram brasileiros?
- Vivi, você está dormindo desde a hora do almoço!
O Brian veio te visitar e tentei te acordar de várias
maneiras, mas você não acordava de jeito nenhum. Aí eu
fiquei desesperada, e todos eles vieram me ajudar. – a
Rita explicou. Olhei para o Tim e para o Brian e os vi
olhando fixamente para mim, preocupados.Ah, agora está
explicado o porquê de estarem falando em inglês.
- Me desculpem! Acho que exagerei na dose do
calmante. – eu disse, enquanto a Bia me olhava com olhos
desconfiados.
- Mas eu não te dei nenhum calmante, hoje. – ela
disse.
- Você não me deu, mas eu descobri onde você
guarda. – eu confessei.
- Você quer nos matar do coração? Poderia ter
acontecido algo mais grave. Quantos comprimidos você
tomou? – Tim perguntou.
- Por acaso vocês sabiam que ela estava tomando
calmantes? Desde quando isso está acontecendo? –
perguntou Brian de forma furiosa.
- Calma, por favor! – eu pedi em uma voz tão fraca
que fiquei em dúvida se eles tinham ouvido. – Não
precisam se exaltar. Eu não sou viciada, só tomei alguns
nos últimos dias.
- Quantos calmantes você tomou hoje, Vivi? –
insistiu Tim.
- Três! – então ele bufou e pediu para a Bia mostrar
onde ela guardava os remédios. Ele voltou com o frasco,
foi até o meu banheiro e os jogou pela privada.
- Pronto! Acabou essa história de calmante. Se
alguém aqui nessa casa der qualquer tipo de remédio para
ela, ainda que seja para gripe, terá que se ver comigo. –
ele ameaçou.
- Princesa, você está se sentindo bem? – perguntou
Brian, já sem vestígio de raiva e com ternura no olhar.
- Sim, vocês estão fazendo uma tempestade em copo
d’agua. Eu só queria dormir mais um pouco.
- Acho que já você já dormiu o suficiente por uma
semana, não? – disse Rita. E então me lembrei da
confusão com o Cadú.
- Onde está o Cadú? – perguntei.
- Ah, Vi! Ele está muito estranho! Mais cedo eu te
disse que precisava falar com você, e era sobre isso que
eu queria conversar. Você tem que falar com ele, porque já
tentamos e ele nem sequer nos ouve. Você é a única que
ele respeita o suficiente a ponto de ouvir. – disse Tim. E
então meus olhos se encheram d’agua e não consegui
conter as lágrimas.
- Ei, o que houve? – perguntou Brian, sentando ao
meu lado e passando a mão em meus cabelos. Eu olhei
para ele e tentei sorrir, mas depois olhei para o Tim e
disse:
- Ele não me respeita mais, Tim. Ele me expulsou do
quarto dele aos berros, dizendo para eu tomar conta da
minha vida. Ele disse coisas horríveis! Acho que ele me
culpa pelo que aconteceu com o Ric.
- Ele fez isso com você? – e pude ver que ele estava
com raiva, pois seus olhos negros escureceram ainda
mais.
- Não adianta ficar com raiva dele! Ele não está
agindo normalmente. Aconteceu alguma coisa que não
estamos sabendo, tenho certeza disso. – eu disse.
- Ei, não importa qual seja o motivo, eu não admito
que ninguém te destrate, princesa. Vou falar com ele. – se
intrometeu Brian.
- Cara, fica na sua que esse é um assunto nosso. Não
se meta! – esbravejou Tim. Então os dois levantaram e
ficaram se encarando, até que o Brian disse:
- Não é da minha conta até o momento em que
machuquem a Vivi. E tenho certeza de que foi essa briga
que a fez tomar esses malditos comprimidos. Estou
errado, Vivianne? – ele disse sem olhar para mim, ainda
encarando o Tim.
- Pelo amor de Deus, tudo que menos precisamos
nesse momento é de mais confusão. Ninguém vai brigar
com o Cadú, eu não deixarei. Só preciso pensar melhor no
que fazer a respeito desse assunto. – eu disse em tom
firme. Os dois se olharam por mais alguns segundos, antes
de acabarem com aquela cena ridícula.
- Acho que devemos aproveitar que estamos quase
todos reunidos para discutirmos uma coisa. – disse Rita.
- Discutirmos o que? – perguntou Tim.
- Discutirmos sobre a contratação de um guitarrista.
Ainda que seja temporariamente. – eu engoli em seco, e
quando olhei para o Tim, notei que ele perdeu a cor. Mas
ele logo se recompôs e disse:
- O que for melhor para nossa banda. - eu o admirei
por essa atitude, e resolvi aceitar o fato de que apesar das
desgraças, tínhamos que seguir em frente.
- Eu concordo, mas não acho que seja legal contratar
um guitarrista que cante, para que os fãs não se
deslumbrem e acabem esquecendo o Ric. – eu disse.
- Eu também pensei nisso, por isso resgatei uma
lembrança antiga. Esperem um momento que vou buscar
algo em meu quarto. – e então ela foi e logo voltou, com
um CD em sua mão.
- De quem é esse CD, Rita? – perguntou Bia.
- Sejam pacientes, já vou colocar pra tocar. – e ela
ligou meu rádio e colocou o CD. Um rock lento começou a
tocar. A letra não era das melhores, mas o ritmo era muito
gostoso. Quando o vocalista começou a cantar, senti um
frio no estômago e fechei os olhos, sorrindo. Não era
possível que a voz fosse de quem eu achava que fosse.
Ou era?
- Ah, isso não tem nada a ver, Rita! Cantar não é a
minha área. – Disse Tim. Então era possível!
- Preciso urgentemente saber o motivo de ninguém
nunca ter contado para mim que você canta tão bem assim.
– eu disse. Olhei para o Brian e ele estava começando a
ficar um pouco vermelho.
- Ah, não precisa exagerar. – ele disse, modesto.
- Não, Tim, não é exagero. Sua voz é uma delícia! -
eu elogiei. Ele sorriu e olhou para o Brian, que estava
explicitamente incomodado com os elogios feitos ao Tim.
– Por que você nunca quis dividir os vocais com o Ric,
antes de eu entrar na banda?
- Porque minha paixão é a bateria, e não o vocal.
- Mas isso é um desperdício de talento, Tim. Sua voz
é perfeita! – se derreteu Bia, e ele lançou seu sorriso
encabulado para ela. Que cena patética!
- Bem, preferindo a bateria ou não, não temos outra
opção a não ser colocar você no vocal, nas partes do Ric.
Mas você pode cantar enquanto toca. Tudo pelo bem do
Ric, claro! – disse Rita. Todos nós olhamos para ele,
esperando sua reação. Principalmente o Brian, que
parecia estar rezando para que ele recusasse a ideia. Mas
foi exatamente essa reação do Brian que fez com que ele
assentisse com a cabeça.
- Boa, garoto! – disse Rita. – Agora só nos resta
conseguir o guitarrista.
- O problema de fazer testes é o bafafá que vai rolar
na mídia. Aliás, eles já ficaram sabendo sobre a situação
do Ric? – perguntei.
- Sim, a informação vazou nesta manhã. Parece que
todos os canais do mundo só sabem especular sobre o que
acontecerá com a Rock& Pie. – informou Brian.
- E como faremos para contratar um guitarrista sem
alarmar a mídia? – questionou Tim.
- Bem, eu conheço vários guitarristas excelentes. –
sugeriu Brian.
- Mas eles são de confiança? Porque precisamos de
discrição. – disse Rita. Ele ia abrir a boca para
responder, quando a Bia se pronunciou.
- Por acaso vocês já ouviram falar da banda The
Rising? Eles fizeram um considerável sucesso, cerca de
sete anos atrás, antes de a banda se separar.
- Já! – todos respondemos, com exceção da Rita, que
sacudiu a cabeça.
- Bem, o guitarrista é alguém que eu conheço muito
bem.
- Pelo que eu me lembro, o som deles era muito bom.
Vocês são amigos próximos? Quero dizer, a ponto de
confiar nele?
- Claro! Confio demais no meu irmão. – ela
respondeu.
- Seu irmão Gabriel? Que nos ajudou no rolo do
Cassino? – perguntei.
- Sim! Ele mesmo. O único problema seria
convencê-lo a voltar a tocar.
- Não se preocupe quanto a isso. Eu resolvo qualquer
parada. – disse Rita.
10 – TODA ROSA TEM SEU
ESPINHO

“Agora eu ouvi que você achou uma pessoa nova, e que


eu nunca signifiquei tanto pra você. Ouvir aquilo me
destrói, e te ver me corta como uma faca.” Every Rose
Has It’s Thorn - Poison

Dois dias se passaram e várias coisas aconteceram.


Os pais do Ric recolheram suas coisas na nossa casa e ele
foi transferido para um hospital brasileiro, o Cadú passou
a virar capa de revista de fofoca, mostrando seu lado
rebelde nas noites nova iorquinas, sempre bebendo e
andando com outras celebridades de má fama, a Rita, que
havia remarcado o primeiro show da nossa turnê para a
próxima semana, voltou para o Brasil, e o Gabriel havia
topado em participar da nossa turnê e estaria chegando à
nossa casa naquela mesma noite. A permanência dele na
banda após a turnê não havia sido discutida, pois
precisávamos saber como o Ric se adaptaria à sua nova
vida. Quanto a mim, eu ainda precisava de um tempo
sozinha, então saí todos os dias para fazer compras. Até
fui a uma das lojas das irmãs Kardashians, para matar a
curiosidade sobre o estilo de roupa que elas
confeccionam (já que eu nunca havia entendido o porquê
de tanta exposição na mídia). Eu bati cartão em diversos
cafés da cidade, e decidi que naquela noite eu iria a uma
danceteria, para me divertir. Eu já estava cansada de ficar
na fossa por assuntos que eu não seria capaz de resolver.
Em contrapartida, o Tim parecia cada vez mais próximo
da Bia. Ele a tratava muito bem, de um modo totalmente
diferente do que sempre me tratou. Que bom pra eles.
Eram cinco horas da tarde quando eu me senti
entediada e liguei a televisão. Estava passando um
programa que faz fofocas de celebridades, e resolvi
assistir para ficar antenada quanto ao que eles dizem
sobre nós. Após assistir quinze minutos de fofocas sobre
astros adolescentes, eu estava começando a ficar com
sono, quando a repórter disse:
- Não percam após o intervalo o flagra que demos na
banda Blue4us durante a gravação do novo videoclipe.
Fiquem ligados! – Hum, até que valeu a pena assistir até
agora esse programinha péssimo. Quando o programa
voltou dos comerciais, a repórter começou:
- Nesta tarde, nosso repórter Jaimes Kazintter
capturou algumas cenas do novo videoclipe da banda
Blue4us e ele descobriu um fato intrigante: a garota que
faz par romântico com o vocalista Brian Levicce é
ninguém mais, ninguém menos que a top model Alicia
Hershell, uma de suas ex namoradas, com a qual teve um
relacionamento de um ano e meio. – Eu quase caí pra trás
quando vi uma cena que parecia ser nos bastidores, onde
o Brian e a Alicia comiam um sanduíche um em frente ao
outro, rindo de alguma coisa que estavam conversando.
Então a repórter voltou a dizer: - Agora todos estamos
intrigados. Afinal, o Brian e a Vivianne Santinni estão
tendo um relacionamento sério ou foi tudo fogo de palha?
– Eu também gostaria de saber!
Eu passei o resto da tarde remoendo o que a repórter
havia dito sobre o Brian, e aquilo havia azedado o meu
dia. Então a campainha tocou e a Bia saiu correndo para
atender.
- Oi, Gabbe!
- Fala, Bee! – e então o Gabriel entrou carregando
suas malas. Ele estava tão lindo quanto no dia em que eu o
conheci. – Oi, Vivi! Oi, Tim. – ele nos cumprimentou, uma
vez que fomos até ele para recebê-lo.
- Oi, Gabriel! Seja bem vindo o nosso mundo. – eu
disse.
- Fala, Gabriel! Seja bem vindo, cara! – disse Tim,
que logo se apressou em levá-lo até o quarto que era do
Ric e que passaria a ser dele.
Eu estava entediada em casa, então resolvi ir mesmo
para uma balada, como eu havia planejado naquela manhã.
Tomei um banho e coloquei um vestido violeta, com
detalhes pretos. Calcei um salto preto e me maquiei.
Ainda eram onze horas, e eu não sairia de casa antes da
meia noite, então desci e fui em direção à cozinha, pois
havia me dado vontade de chupar sorvete. Assim que
entrei, encontrei a Bia e o Tim sentados na mesa, e eles
haviam tido a mesma ideia que eu. Cada um deles estava
segurando seu pote de sorvete, mas então a Bia disse:
- Vivi, você realmente estava certa. O sorvete de
pistache é muito bom. O Tim me fez experimentar e eu
quase tomei metade do pote sozinha. – Ah, jura? E quem
perguntou? – Nossa, você está linda. Vai sair com o
Brian?
- Não, vou sair sozinha. Fui convidada para a
inauguração de uma danceteria na Broadway, e decidi ir. –
eu disse enquanto abria meu pote de sorvete Cookies
n’cream. O Tim abriu a boca para falar algo, mas a voz
que eu ouvi não era dele.
- Será que você se importaria de me incluir nesse
convite? Eu não estou muito a fim de ficar em casa, e uma
inauguração de balada seria uma boa pedida. – era o
Gabriel quem falava, enquanto estava parado na entrada
da cozinha. Eu olhei para ele e pensei que talvez fosse
bom sair com ele para conhecê-lo melhor.
- Claro, Gabriel. Consegue se arrumar em quarenta e
cinco minutos?
- Vivi, eu sou homem! Me arrumo em no máximo
vinte, e olhe lá. – então ele foi se arrumar. Eu sentei para
tomar meu sorvete sossegada, quando o Tim disse:
- Será que posso ir, também? – Não percebeu que
não quero olhar para sua cara?
- Sinto muito, mas o convite era mesmo para duas
pessoas. Levar mais alguém seria falta de etiqueta. Além
do mais, vocês dois parecem estar se divertindo bastante,
ultimamente, não é, Bia? – perguntei no meu melhor tom
irônico.
- É verdade, Vivi! O Tim é uma excelente companhia.
Nós nos divertimos muito juntos. – ela disse com um
sorriso de orelha a orelha, enquanto o olhava. Ele parecia
um pouco desconfortável.
- Tudo bem, não tem problema nenhum. Fica para a
próxima, então, Vivi! Mas se precisar de mim, estarei com
o celular ao meu lado pela noite toda.
- Espero não precisar, mas agradeço o gesto.
- Vivi, me dê seu pote para eu colocar um pouco do
meu sorvete. – ele continuou.
- Ah, sabe de uma coisa? Acebei de perceber que
estou totalmente enjoada do sorvete de pistache. Vou
eliminá-lo da minha lista de favoritos. Mas não se
preocupe, vou continuar comprando sempre. Afinal, agora
a Bia também gosta. Super legal! – e então guardei meu
sorvete e fui para a sala.
Eu estava sentada quando o Cadú passou, em direção
à porta. Quando me viu, ele parou, respirou e abriu a boca
como se fosse para falar alguma coisa, mas então ele
desistiu e saiu.
- É difícil ver ele saindo desse jeito e não poder
falar com ele, né? – disse Tim, que chegou tão de
mansinho que me fez pular de susto.
- Não faz isso comigo, Tim! Sabe que me assusto
facilmente. Mas é verdade, é muito difícil, mesmo. Eu
estou dando um tempo para ele, mas se ele não voltar para
nós por conta própria, vai voltar na marra. – eu mal havia
terminado de falar, quando o Gabriel entrou na sala,
vestindo uma calça escura e uma camiseta polo preta
super justa.
- E então? Vamos?
- Vamos! – eu disse, e então ofereci meu braço para
ele e fomos juntos até a porta. – Tchau, Tim!
A danceteria que estava inaugurando se chamava
Fallen Skyes, e assim que entramos levamos uma chuva de
flashes. Como estávamos na lista VIP, fomos para o
camarote, e de lá assistimos ao show do badalado DJ
Armand Renée. O tratamento que tivemos era digno de
VIP, mesmo. Poderíamos beber qualquer bebida da casa
sem pagar nada e eles nos serviam petiscos, se
pedíssemos. A casa noturna estava lotada de celebridades,
e algumas vieram falar comigo, perguntando vez ou outra
sobre o estado de saúde do Ric ou sobre meu
relacionamento com o Brian, e é claro que para essa
última pergunta eu dava uma resposta bem inconclusiva.
Quando um ator que eu sempre achei super fofo, Joshua
Kleinter, veio me cumprimentar e disse que era meu fã, o
Gabriel logo se apresentou pra ele e eles começaram a
bater o maior papo. Nós três dançamos por um bom
tempo, bebemos um drink, depois outro, depois outro e
após várias risadas, fomos embora. Me surpreendi em
como a companhia do Gabriel era agradável. Há dias que
eu não me sentia tão leve, e naquela noite eu nem me
lembrei do problema do Ric, nem do fato de o Brian estar
se esfregando em uma ex namorada supermodel. Fui para
casa me sentindo bem comigo mesma, e isso já era mais
que um avanço em relação aos dias anteriores.
Quando chegamos à nossa casa, eu e o Gabriel
entramos em silêncio, mas como ele acabou tropeçando na
escada, eu não consegui conter o riso. Eu entrei no meu
quarto e tirei os brincos, as pulseiras e os sapatos quando
alguém bateu à minha porta. Eu abri e dei de cara com o
Tim.
- Nossa, vocês estavam acordados até agora? A noite
rendeu, hein!?
- Eu estava dormindo até ouvir as risadinhas que
você e o Gabriel estavam dando.
- E veio até aqui para que? Para cobrar o aluguel,
senhor barriga? – eu brinquei, em alusão ao programa
Chaves.
- Há-há-há! Que graça! Só queria saber se você
estava bem.
- Estou bem, sim.
- E como foi sua noite?
- Bem melhor do que as últimas!
- Então você gostou bastante da companhia do
Gabriel, né? - ele perguntou em um tom sarcástico. Ah,
querido, quem entra na chuva é para se molhar!
- Gostei mesmo! Ah, sabe o que é? Esse gene legal
deve ser de família. Afinal, você também gosta bastante
da companhia da Bia, né? Agora, se você me der licença,
eu estou um tanto quanto cansada. E você não deve
acordar tarde para o café da manhã. Afinal, a Bia está
aprendendo a cozinhar só pra te agradar. Boa noite! – e
então fechei a porta na cara dele.
No dia seguinte eu acordei e percebi que há dias que
o Sr. Superbonder não aparecia. Fiquei me perguntando se
era possível que ele tivesse ido embora de vez. Eu
levantei, tomei banho, coloquei uma saia jeans, uma regata
preta e fui para a cozinha. Como sempre, o Tim e a Bia
estavam lá, tomando café. Só não voltei para o meu quarto
porque o Gabriel estava lá, de samba canção, regata
branca e meias. Inevitavelmente eu ri daquela cena, então
todos viraram para me olhar.
- Bom dia a todos! – eu disse.
- Bom dia, Vi! Acordou de bom humor, hoje... que
bom! – disse Bia.
- Não chega a tanto, mas também não estou pra baixo.
Gabriel, esse modelito te deixa adorável. – eu brinquei,
então ele me olhou e caímos na gargalhada.
- Ah, sempre acordo com preguiça. Demora um
tempo até eu criar coragem pra tomar banho e me trocar.
- Mas poderia ao menos colocar uma calça, né?
Ninguém é obrigado a ficar te vendo de cueca, pra cima e
pra baixo. –reclamou Tim para o Gabriel, que continuou
comendo seu misto quente, ignorando a crítica.
- Ah, Tim! Larga a mão de ser implicante. Samba
canção está mais pra shorts do que pra cueca. – eu disse.
- Eu concordo com você, Vivi! – disse Bia. O Tim
deu de ombros e ficamos todos em silêncio, comendo.
Então o Cadú entra na cozinha. Aleluia, Senhor! Ele
lembrou que tem estômago! Ele permaneceu calado,
como se não enxergasse mais ninguém alí. Notei que ele
estava muito magro, com os ossos sobressalentes. Mas
então ele notou o Gabriel, e seus olhos se apertaram.
- O que ele está fazendo aqui? – ele perguntou.
- Você sabe o que ele está fazendo aqui. Ele vai
trabalhar conosco na turnê. – respondeu Tim.
- Mas eu deixei bem claro que não queria ninguém no
lugar do Ric. – ele falou, elevando o tom de voz.
- E nós deixamos bem claro que se ninguém entrasse
no lugar do Ric, nós teríamos que cancelar a turnê, e isso
seria a morte da nossa banda.
- Você está querendo dizer que minha opinião não
importa?
- Não, eu só estou querendo dizer que essa era a
nossa única saída. – disse Tim, frente a frente com o
Cadú. Mas então o Gabriel se levantou e disse:
- Relaxa, cara! Eu não estou aqui para roubar o lugar
de ninguém. Só vou acompanhar vocês na turnê, e então
vocês ficam livres de mim. – então o Gabriel deu um
passo na direção dele.
- Espero que seja assim mesmo, porque senão,
depois de arrebentar a sua cara, eu também estou fora! –
então ele pegou pães, salgadinhos, biscoitos e
refrigerante, os enfiou em uma sacola e fez menção de
voltar ao seu quarto, mas eu o impedi de passar.
- Cadú, você pode fazer o que quiser com a sua vida
pessoal. Ninguém aqui vai te impedir de continuar
enchendo a cara, de transar com toda piriguete que
aparece, nem nada disso, contanto que você cumpra seus
compromissos com a banda. Depois do almoço nós vamos
ensaiar. Acho bom você estar lá!
Depois do café, voltei para o meu quarto e ouvi
“Sweet My Cherrie Pie” tocando. Peguei meu celular para
ler a mensagem do Brian: “O que está acontecendo para
você não atender mais as minhas ligações? E você parece
estar bem melhor, já que saiu ontem a noite com outro
cara. Me liga!”. Mas que cara de pau! Será que ele não
sabe que todo mundo já descobriu do casinho dele com a
ex?Mas e se eu estiver errada? E se ele apenas
trabalhou com ela, mesmo? Ah, eu vou tirar essa
história a limpo.Eu liguei meu notebook e naveguei pela
internet em busca de fotos, vídeos ou qualquer matéria
relacionada ao Brian e à Alicia. E encontrei. Por falta de
uma prova, achei várias. Ele e ela abraçados, ele e ela
lanchando, ele e ela dançando. Várias fotos! Peguei meu
celular e respondi o sms: “Não atendi nem vou atender. É
quando mais precisamos que descobrimos quem são as
pessoas que estão ao nosso lado. Não perca mais seu
tempo me ligando, nem tente me ver. Não quero mais
saber de você. Só para constar, eu não sou igual a você. O
cara com quem saí ontem é o novo guitarrista, e não um ex
namorado que é top model. Pelo jeito, o que você queria
ontem não é mais que quer hoje.” E voilá! Falei o que eu
queria sem ter que ouvir a voz dele. O sms é uma das
maiores invenções da humanidade!Eu aproveitei a minha
onda de coragem e já bloqueei o número do Brian, de
forma que eu não recebia mais nenhuma ligação, nem sms.
Aproveitei mais ainda e liguei para a Carly Anne Huppert,
uma socialite que tinha me convidado para sua festa de
aniversário, e confirmei minha presença. Ela comemoraria
no dia seguinte, em um clube privado, e sua festa seria à
fantasia. Bati na porta do Gabriel e ele abriu, só de toalha.
- Me desculpe pelos trajes, mas acabei de sair do
banho. – Uau! Ele é muito, muito, muito lindo! Mas por
algum motivo que eu não sabia identificar, ele não me
atraía. Que coisa estranha!
- Por acaso você não estaria interessado em me
acompanhar amanhã na festa à fantasia da Carly Anne, ou
estaria? – eu brinquei. Seus olhos se arregalaram e ele riu.
- Bem, se você está precisando de companhia, acho
que consigo achar um tempo na minha agenda. – e então o
Tim saiu de seu quarto (que recuperou após a partida da
Rita) e nos viu. Quando notou a semi nudez do Gabriel,
ele travou a mandíbula. – Mas vamos hoje atrás das
fantasias, né?
- Poxa, pra que arranjar fantasia? Use seu traje
favorito, o de Adão. É só colocar uma folhinha. – disse
Tim.
- Boa idéia, cara! E ainda economizo uns trocados. –
disse Gabriel, na esportiva.
- Vocês vão a uma festa a fantasia, por acaso?
- Sim! Nós vamos! – eu disse. Ele estava ao meu
lado, e tão perto que senti meu estômago congelar. Ele
olhou em meus olhos e por um instante achei ter visto uma
certa mágoa passar por eles, mas provavelmente era mais
uma peça da minha imaginação.Ele sorriu, mas seus olhos
não.
- Legal! A Carly acabou de me mandar uma
mensagem no facebook via inbox, agradecendo a presença
de todos na banda e perguntando se não podemos dar uma
palinha de “Hey, menina”. Pelo jeito você já tinha
confirmado presença por nós, né, Vivi? Muito gentil da
sua parte. – Carly, sua dedo duro filha da mãe! Estragou
minha história do convite individual. Eu dei um sorriso
amarelo em resposta.
- Ei, vou colocar uma bermuda e uma regata e já vou
pra sala de música, ok? Vocês já estão prontos?
- Sim! – eu e Tim respondemos ao mesmo tempo.
Meia hora se passou até que desistíssemos de
esperar pelo Cadú. O Tim se enfezou e foi bater no quarto
dele. Como ninguém respondeu, ele abriu a porta, mas o
Cadú não estava.
- Filho da mãe! - eu xinguei.
- Eu vou dar uma prensa, nele. Quem ele está
pensando que é? – disse Tim.
Eram cinco e meia da tarde quando encerramos o
ensaio. A Bia não tinha exagerado quando disse que o
Gabriel era um excelente guitarrista. Ele pegou
rapidamente a melodia das músicas, e o ensaio do dia
tinha girado em torno dele. O Tim ensaiaria seus vocais
somente após o Gabriel decorar as músicas. Eu e o
Gabriel resolvemos ir juntos até uma loja de fantasia, já
que o Tim saído assim que o ensaio acabou. Nós fomos a
uma loja de fantasias muito legal, chamada Ricky’s NYC,
e experimentamos dezenas delas só por diversão, antes de
eu optar por ir fantasiada de Cher, usando um macacão
feito de lycra, preto, porém totalmente transparente
erepleto de lantejoulas. Porbaixo eu usaria um tipo de
maiô preto bem cavado, que seria a única coisa que
tamparia as partes mais íntimas do meu corpo. A fantasia
ainda era composta por uma jaqueta preta de couro, uma
bota preta de cano alto e uma peruca de cabelos pretos
cacheados e volumosos. A palavra sexy não era suficiente
para descrever aquela fantasia, e era exatamente desse
jeito que eu gostaria de me sentir naquela festa: sexy. O
Gabriel decidiu usar uma fantasia de Clark
Kent/Superman. A fantasia consiste em uma roupa normal
de Clark, mas que quando a camisa é desabotoada,
aparece a fantasia do Superman. E então nosso passeio
pelo maravilhoso mundo da loja a fantasia acabou.
Aquela noite passou rapidamente, e logo fomos para
cama dormir. No dia seguinte, após o café, voltamos a
ensaiar. O Gabriel já estava ficando craque em nossas
músicas, então decidimos que o próximo ensaio seria
voltado para o Tim e seus vocais. No final da tarde, eu fui
para o chuveiro e tomei um banho bem demorado, com
direito a vários sabonetes líquidos e óleos corporais. Eu
saí me sentindo super macia, então me vesti, me maquiei e
me perfumei. Pronto, eu já estava completamente
irreconhecível. Eu só saí do meu quarto quando o Gabriel
bateu à minha porta querendo saber se eu já estava pronta
para irmos. Quando ele me viu, quase caiu pra trás.
- Garota, hoje você está incorporando a palavra
luxúria! Minha nossa!
- Que bom! Era pensamentos iguais a esse que eu
queria arrancar dos outros, quando decidi me fantasiar
assim.
11 – SEGREDO

“Tenho um segredo, Você pode guardá-lo? Jura que


esse você vai guardar! É melhor trancá-lo em seu bolso
e levá-lo para a sepultura.” Secret – The Pierces

O Tim não estava mais em casa quando saímos, e a


Bia não havia sido convidada, então eu e Gabbe (que era
o apelido do Gabriel) fomos sozinhos à festa. Como
sempre, a saraivada de flashes nos saudou quando
estávamos na entrada da festa, mas percebi que os
paparazzis estavam fotografando todo mundo que entrava
e que estavam demorando mais tempo que o normal para
me reconhecer. Quando por fim me identificaram, me
aplaudiram e me clicaram dez vezes mais do que já tinham
clicado antes. Teve fotógrafo até se jogando no chão,
tentando pegar meu melhor ângulo. Eles fotografaram o
Gabriel, também, e perguntaram se ele era meu novo
namorado, já que o Brian estava com a Alicia Hershel. É
mole? Eu bem que gostaria de dizer que sim, que o
Gabriel é o meu namorado, só para esquecerem minha
imagem de chifruda, mas não consigo mentir facilmente,
então disse que não, que era um amigo. Nós ainda não
tínhamos apresentado o Gabriel para a imprensa porque o
faríamos na próxima semana , quando participaríamos do
programa TalkingwithSheila, mas por enquanto eu
aproveitaria o benefício de ter um acompanhante
misterioso. Assim que entramos, não teve como não
ficarmos de boca aberta. O clube estava todo decorado
em uma mistura de teatro antigo (daqueles com cortinas
gigantescas de veludo vermelho) com circo, porque
haviam vários trapezistas balançando para cima e para
baixo, pirofagistas cuspiam fogo no meio da multidão, e a
recepcionistas estava todas caracterizadas como
“senhoras barbadas”. As luzes eram todas escuras,
misturando azul, roxo, vermelho e verde. Haviam ainda
algumas garotas vestidas de cupido sexy e entregavam
correio elegante. Nós logo encontramos nosso novo
amigo, o Joshua Kleinter, que começamos a chamar de
Josh. Ele estava fantasiado de ObiWan, do Star Wars. Ele
elogiou minha fantasia por minutos a fio, e então ficamos
um tempão apreciando a criatividade alheia. Tinham
vários super heróis, várias dançarinas do ventre e vários
policiais de ambos os gêneros. Eram tantas Lady Gaga e
tantas Katy Perry que se elas se unissem, poderiam fazer
um musical chamado DIVAS.
Após dois drinks e várias risadas, encontramos a
Carly Anne, que estava vestida de Maria Antonieta, a
excêntrica rainha francesa que teve sua cabeça
guilhotinada.Eu resolvi contar que o Cadú não pode vir,
pois se sentia indisposto e que só oficializaríamos o
Gabriel como o novo guitarrista na próxima semana, de
forma que não poderíamos nos apresentar em sua festa.
Ela disse que o Tim já havia conversado com ela há
alguns minutos atrás e que ele já havia explicado tudo. Ela
pediu para não nos preocuparmos, pois ela sabia que
estávamos passando por um momento delicado. Nós
ficamos conversando por um bom tempo, até que ela me
afastou um pouco dos meninos e disse:
- Vivi, espero que não pense que eu tive a intenção
de causar uma saia justa, mas o Brian está aqui. Eu o
encontrei há cerca de meia hora atrás. Eu o convidei
quando vocês ainda estavam saindo, então espero que não
fique chateada.
- Nem precisa se justificar, Carly. A festa é sua e
você tem todo direito de convidar quem você quiser.
Além do mais, eu e ele inevitavelmente acabaremos nos
cruzando em inúmeros eventos. – só espero que não nos
encontremos nesse, senão é capaz que eu acabe enfiando
a mão na cara dele.
Começou a tocar “Born This Way”, e todas as
réplicas da Lady Gaga se juntaram no centro do salão,
dançando convulsionamente. O Gabbe e o Josh ficaram
me atiçando para dançar junto a eles, então resolvi ceder.
Começamos a pular, nos sacudir, e quando a música
acabou e começou a tocar Madonna, nossa energia
pareceu redobrar. Então uma garota cupido me entregou
um correio elegante. Mensagem dizia: “Minha Cher, você
pode se esconder o quanto quiser, mas eu sempre te
encontrarei. Estarei sempre aqui por você. Assinado, seu
admirador secreto.”
- Nossa, Vivi! Já está com um admirador secreto?
Essa Cher é uma arma de sedução em massa, mesmo. –
brincou Gabbe fazendo todos nós cairmos na risada.
As horas foram se passando e eu já estava surpresa
por ainda não ter cruzado nem com o Brian nem com o
Tim. O Gabbe e o Josh foram até o banheiro e me
deixaram conversando com uma atriz chamada Julie
Alconverg. De repente, começou a tocar Secret, da banda
The Pierces, e eu senti uma imensa vontade de curtir a
música. Eu encerrei a conversa com a Julie e fui atrás do
garçom que havia acabado de passar ao meu lado com
uma garrafa de champagne. Quando eu o alcancei, ele me
serviu uma taça, a encheu, e eu fiquei dançando sozinha,
segurando a taça de champagne, até que o vi. Se existe um
personagem que me deixe completamente louca é ele:
Ciclope, dos X-Man. Ele além de ser lindo, é forte e só de
te olhar consegue te enxergar por dentro e por fora. Sem
contar que aquele óculos tamanho tiranossauro rex é um
charme. Eu estava tão compenetrada, olhando para ele,
que nem percebi que ele estava se aproximando. E então
tudo aconteceu como num piscar de olhos: ele me puxou
para perto dele, me jogou para baixo em um passo de
dança (daqueles que normalmente encerram uma música
lenta), agarrou suas mãos em meus cabelos e os puxou até
que nossos rostos estivessem praticamente colados um no
outro, e então ele me beijou. E não foi um beijo comum.
Foi um beijo tão forte, tão preciso, com tanta língua, que
me deixou atrapalhada. Enquanto ele deslizava sua língua
pela minha boca, eu abri os olhos e tentei captar algum
detalhe que me mostrasse quem eu estava beijando, mas
aquela fantasia cobria tanto seu corpo quanto boa parte do
seu rosto. As luzes escuras e o gelo seco também não
colaboraram, pois nem a cor do seu cabelo eu consegui
decifrar. Quando ele parou de roçar sua língua na minha,
eu achei que ele fosse parar de me beijar e tentei me
soltar dele, mas ele me prendeu ainda mais firme e sugou
meus lábios, como se eles fossem um pirulito. Quando
meus lábios já estavam inchados e doloridos eu
resmunguei, ele parou e começou a dar vários beijinhos
neles, e então me soltou. Só deu tempo de vê-lo curvando
os lábios em um sorriso, antes de ele e camuflar na
multidão e sumir de vez. Eu me senti tão entorpecida com
aquele beijo que tive vontade de sair correndo pelo
mundo e contando aos gritos que eu havia acabado de ter
o melhor beijo da minha vida e que o dono dos lábios
mais poderosos que eu já experimentei era o Ciclope.
Antes de realmente cometer essa loucura, decidi ir atrás
do Gabbe e do Josh para contar para eles. Eu os procurei
por mais de vinte minutos, e como a Lei de Murphy é uma
presença constante na minha vida, foi só quando eu desisti
de encontra-los que os avistei. Vi a silhueta dos dois em
um dos cantos próximo à grossa cortina vermelha, que
fazia sombra e deixava o ambiente ainda mais escuro.
Enquanto eu me aproximava, percebi que eu precisava
urgentemente passar em um oculista, pois só quando eu
estava praticamente em frente a eles que consegui
entender o que estava acontecendo: um belo de um amasso
entre dois caras super gatos. Imediatamente eu me virei e
comecei a me afastar, mas então o Gabbe disse, surpreso:
- Vivi? – e quando me virei, notei que os dois
estavam completamente sem graça. Mas o desconforto
deles não era nada comparado ao meu.
- Vivi? Quem é Vivi? Eu nunca ouvi falar dessa
pessoa, e também não faço a mínima ideia de quem são
vocês dois. Nunca os vi antes e nem os verei. Aliás, não
estou nem aqui. – e apertei meus passos em direção à
saída da festa.
Quando eu cheguei em casa, nem o Tim, nem o Cadú
nem o Gabriel haviam chegado. Eu tirei a fantasia, tomei
um banho rápido e fui direto para a cama. Demorei um
bocado para dormir. Afinal, a festa havia sido um tanto
quanto agitada e cheia de surpresas. Quando finalmente
caí no sono, logo fiquei consciente.
- Oi, Vivi! Eu sabia que você estava com saudades.
- Ah, Sr. Superbonder! Você é o maior dos
descarados. Você invade meus sonhos e vem insinuar que
eu que te procurei?
- Exatamente isso! Sabe por quê? Por que eu sempre
estou aqui, mas você só me vê quando quer. E depois da
noite de hoje, eu bem que tinha certeza de que você estaria
louca para me ver novamente.
- O que a noite que eu tive tem a ver com você?
- Você tem certeza de que não sabe? Pense bem e me
diga você. – e eu comecei a pensar em tudo que tinha
acontecido, no beijo que eu tinha ganhado e no jeito que
aqueles lábios se moldaram aos meus.
- Você está querendo dizer que aquele beijo...
- Sim! Eu te beijei! Que bom que você finalmente
começou a entender como as coisas funcionam.
- Mas isso quer dizer que você não é só fruto da
minha imaginação?
- Não, gatinha! Eu sou fruto da sua imaginação, mas
ela me baseou em uma pessoa que faz parte da sua vida.
- Então você existe! É isso?
- Eu sempre te disse isso.
- Então não preciso mais temer que você me visite
em sonhos? Eu sempre tentei te afastar porque eu não
queria me apaixonar por alguém que nem sequer existe de
verdade. – eu disse, tateando até encontrar sua mão e
enlaça-la na minha.
- Não precisa ter medo, mas não é certo você se
apaixonar pelo meu eu surreal sem aceitar sua paixão pelo
meu eu real.
- Então me diga quem é você! Será muito mais fácil
para nos dois.
- O caminho mais fácil nem sempre é o certo. Agora
volte a dormir, gatinha. – ele me disse, enquanto me dava
um beijo na testa.
- Na testa? Para onde se foram aqueles beijos e
aquelas massagens quentes que você me dava? – mas ele
não respondeu, e logo tudo escureceu. Na manhã seguinte,
eu acordei com duas terríveis dúvidas: qual seria a
identidade secreta do Sr. Superbonder e como eu deveria
chamá-lo, daquele dia em diante? De Sr. Superbonder ou
de Ciclope?
Quando fui tomar café, não havia mais ninguém
acordado. A diarista Dulce estava limpando a sala, então
fiquei sozinha na cozinha. Resolvi preparar uma torta de
frango com requeijão, que eu sabia que o Cadú tanto
gostava. Ainda que ele não quisesse falar comigo, pelo
menos eu sabia que ele estaria com o estômago cheio,
pois ele nunca resistia à essa minha iguaria. A Bia foi a
primeira a levantar, mas ela estava com cara de poucos
amigos e nada disposta a conversar (Graças a Deus),
então tomou uma xícara de café puro e voltou para o seu
quarto. Logo em seguida o Gabriel entrou na cozinha. Ele
disse um bom dia tímido, e percebi que ele queria falar
comigo, mas estava sem graça. Resolvi tocar no assunto:
- Gabbe, eu queria dizer que o que eu NÃO vi ontem,
eu não vou contar para ninguém. Te dou minha palavra. –
então olhei seriamente para ele, para ele ver que eu não
estava mentindo. Então a expressão dele relaxou.
- O que você não viu? – então ele riu. – Ah, Vivi!
Você é maravilhosa, sabia? Quer saber? Eu acredito em
você!
- Que bom!
- Sabe, essa situação é muito difícil. Meu pai é
extremamente rigoroso e conservador. E não posso nem
me abrir com a Bia, porque ela sempre foi uma grande
cagueta. Tenho medo de que as pessoas me olhem de
forma diferente só por conta da minha opção sexual, como
se isso me tornasse menos homem do que sou.
- O pior é que tem muitas pessoas que realmente
fariam isso, mas eu não sou uma delas. Eu jamais te
trataria de forma diferente só pelo fato de você ter uma
opção sexual diferenciada. – então ele me deu aquele
sorriso lindo, mostrando seus dentes branquíssimos, e me
deu um abraço bem apertado.
Mais tarde, eu estava sentada no sofá, jogando
angrybirds, quando tive uma idéia: eu entraria nos sites de
fofoca e procuraria uma foto do Ciclope, para ver se
algum paparazzi o tinha identificado na entrada ou até
mesmo se eu conseguiria encontrar algum detalhe que
tivesse me escapado. Após vários minutos de procura,
encontrei uma foto do Ciclope: ele estava no meio de um
grupo que estava entrando, o que tornava minha “missão
reconhecimento” praticamente impossível. Droga! Deve
ter alguma outra forma. Mas então minha mente clareou:
as únicas pessoas que estavam em minha mente nas
últimas semanas eram o Brian e o Tim, e se o Sr.
Superbonder/Ciclope era uma projeção da minha mente
baseada em alguém que eu conhecia, só poderia ser um
desses dois. E eu me senti eufórica por estar começando a
desvendar um grande segredo do meu coração.
Naquela noite, eu fui com o Gabriel até um
restaurante japonês e comprei várias porções de sushi,
sashimi, hot rolls e temakis de diversos sabores, além de
uma garrafa de saquê, e levei para casa. Eu resolvi
promover a noite da comida japonesa, então decorei a
cozinha com artefatos japoneses, arrumei a mesa com
copinhos para o saquê e hashis no lugar de talheres. Eu
chamei o Tim e a Bia, e então tomei coragem e bati na
porta do quarto do Cadú. Passaram alguns minutos sem
que ele atendesse, então acabei desistindo. Quando me
virei em direção à escada, a Lei de Murphy prevaleceu e
ele apareceu na porta.
- Fala!
- Eu só queria dizer que hoje é a noite da comida
japonesa. Comprei um monte de coisas que eu sei que
você vai adorar. Por que você não desce e janta hoje
conosco?
- Nem estou a fim de comida japonesa.- ele disse,
então fez menção de fechar a porta, mas eu disse
rapidamente:
- Você viu que eu fiz sua torta favorita? Guardei um
pedaço gigante pra você, no microondas. Se não está a fim
de comida japonesa, pode...
- Você está se fazendo de burra ou perdeu alguns
neurônios nos últimos tempos? É tão difícil para vocês
aceitarem o fato de que eu não quero mais conviver com
vocês? Você fez a torta para mim? Então vou te dar uma
dica: pega essa torta e enfia no seu....- Póffff! Foi esse
barulho que ouvi, antes de o Cadú cambalear e cair pra
trás. Demorou alguns segundos para eu entender que o Tim
havia dado um soco em seu rosto. Eu comecei a chorar.
- Isso é para você aprender a ter respeito pelas
pessoas que só te querem bem. A Vivi não sabe o que
fazer para te agradar, ela sempre te tratou melhor do que
tratou a mim ou ao Ric ou tratará o Gabriel. Tudo que ela
soube fazer por você até hoje foi te tratar com amor. E o
que você tem feito por ela? Tratou ela tão mal no outro dia
que fez ela engolir três calmantes e quase não acordar, e
hoje você manda ela enfiar a torta que ela fez com tanto
carinho no ...
- Já chega, por favor, Tim! – eu pedi,
encarecidamente. Ele ainda estava com o queixo
levantado e os punhos fechados, provavelmente pronto
para desferir outro soco no Cadú. – Resolver as coisas
com violência não leva a lugar nenhum. Por favor, não o
machuque mais!
- Está vendo, Cadú? Mesmo com você a tratando
com um cachorro, ao invés de se ressentir com você, ela
briga comigo por defendê-la. E isso só me faz ter mais
vontade ainda de quebrar a sua cara. Vê se cresce,
moleque! - e então ele desceu a escada pisando fundo. Eu
fui para o meu quarto para chorar mais um pouco, já que
este tinha virado um dos meus passatempos. De toda
desgraça que havia acontecido nos últimos tempos, a que
era mais difícil de aceitar era a mudança de
comportamento do meu menino. Porque a situação do Ric
não havia sido voluntária, mas sim uma conseqüência de
um crime cometido por um covarde, mas a mudança do
Cadú, não. Ele havia escolhido ficar assim. Ele havia
escolhido nos tratar daquela forma. E aquilo me magoava
mais do que tudo. Eu me encolhi na minha cama, e chorei
até quase pegar no sono, quando ouvi alguém bater na
minha porta. Eu não respondi, na esperança de que a
pessoa desistisse, mas então ele disse:
- Vivi? Sou eu. Abre a porta. – e então dei um pulo
da cama e corri para abrir a porta. Ele estava parado, com
o olho inchado e cheirando a esgoto. Deus, ele não deve
tomar banho há dias. Ele me olhou nos olhos pela
primeira vez em dias, e então ele perguntou, em voz baixa:
- o que o Tim contou é verdade? Sobre o calmante? –
Como eu olhei para os meus pés, ao invés de responder,
ele olhou para baixo e seu corpo começou a sacudir
lentamente. Ele estava chorando!
- Não, Cadú, não chore! Por favor! – eu pedi, com
um imenso nó na garganta.Então ele levantou a cabeça e se
jogou em meus braços.
- Eu sinto muito, Vivi! Eu sinto muito!
- Não, Cadú! Não se culpe! Eu decidi tomar por
conta própria. A culpa não é sua.
- A única coisa que tenho feito nos últimos meses é
acabar com a vida dos outros. Eu acabei com a do Ric e
quase acabei com a sua.
- Acabou com a vida do Ric? Como assim, Cadú?
Não foi você quem atirou nele, foi um monstro que já está
preso.
- Mas se eu não tivesse sugerido que tomássemos
umas doses de Whisky antes do show, ele estaria bem. E
agora eu destruí a carreira dele, e...
- Pare com isso agora! – eu disse em voz alta. –
Cadú, a bebida não teve nada a ver com o incidente do
Ric. Eu garanto que mesmo se ele não tivesse bebido, ele
teria dado uns amassos naquela garota patética, de
qualquer jeito. Ela estava quase o comendo com os olhos,
e ele não é de deixar esse tipo de coisa passar em branco.
Isso é uma certeza, Cadú! – e então ele parou de soluçar.
- Você realmente acha isso, Vivi?
- Não, não acho! Tenho certeza! Cadú, por acaso
você está agindo dessa forma estranha por sentir culpa
pelo acidente do Ric?
- Eu só queria afastar vocês, pois não me sentia
digno da amizade de nada. Eu achava que deveria estar no
lugar do Ric, então eu bebia todas as noites esperando que
Deus percebesse que tinha errado ao castigar o Ric, e não
a mim, e que ele finalmente me punisse. – e eu senti uma
tristeza profunda ao pensar no quanto ele deveria ter
sofrido todo esse tempo. Eu o abracei, e ficamos assim
por muito tempo.
12 – O IMPERDOÁVEL

“O que eu senti, o que eu soube. Vire as páginas, vire as


pedras. Atrás da
porta, eu devo abrí-la pra você?” The Unforgiven II -
Metallica

Mais tarde, após o Cadú voltar para seu quarto, eu


pensei no Tim e no jeito que ele havia me defendido. Senti
meu coração se derreter, e finalmente percebi que eu
estava nutrindo sentimentos fortes por ele há um bom
tempo. Senti uma vontade imensa de abraçá-lo, e então
resolvi ir até o seu quarto para termos uma conversa. Eu
estava abrindo a porta do meu quarto quando ouvi um
barulho no corredor. Senti um instinto de me esconder e
espiar, e assim o fiz. E então senti como se tivesse levado
uma facada no peito: a Bia estava saindo do quarto do
Tim, com os cabelos bagunçados e de camisola curta. Eu
queria chorar, mas eu já tinha derramado tantas lágrimas
naquele dia que só me restou deitar na posição fetal e
ficar me chacoalhando até eu finalmente conseguir dormir.
No dia seguinte, quando acordei eu estava descendo
para o café da manhã, encontrei o Cadú no corredor, e ele
entrou comigo na cozinha. Todo mundo ja tinha levantado,
então todos ficaram de boca aberta.
- Bom dia! – ele disse, envergonhado. – Eu queria
pedir... eu queria pedir desculpas a todos pela forma que
tenho me comportado, nos últimos dias. – olhei para o
Tim e quando vi um brilho se ascender em seus olhos,
lágrimas rolaram pela minha face.
- Seja bem vindo de volta, parceiro! – disse Tim. E
então a Bia colocou a mão em seu ombro, em um gesto
íntimo, como forma de comemorar a novidade. Meu
estômago revirou e eu estava saindo correndo da cozinha,
quando a campainha tocou. Abri a porta. E fechei na cara
da pessoa. A campainha tocou novamente. Abri de novo e
disse:
- Eu já disse que não queria mais te ver, não disse?
- Mas Vivi, eu preciso muito falar com você. Você
está sendo...
- CAI FORA! – gritei, interrompendo-o. E fechei
novamente a porta. E a campainha não voltou a tocar
novamente. Todo mundo apareceu na entrada, perguntando
quem era, e eu respondi.
- Era o Brian, mas ele já se foi. E não vai voltar
novamente.
- Ah, vai! Nenhum cara que tenha mais de um
neurônio no cérebro desistiria facilmente de você, Vivi. –
disse Gabriel. E o Tim olhou para ele com um brilho
quase vermelho nos olhos. Ah, vá ter ciúmes da sua
namorada que você ganha mais!
Naquela tarde, nós faríamos o primeiro ensaio com
todos nós reunidos, além de ser o primeiro ensaio do Tim
como vocalista. Eu decidi colocar bolas de algodão no
ouvido, para ouvir menos e sofrer menos ao ouvir aquela
voz que me derretia toda. O Cadú logo notou meus
tampões improvisados.
- Vivi, por quê você está com algodão nos ouvidos?
- Dor de ouvido! – menti. Até que nos últimos meses
eu havia aprendido a mentir melhor.
O ensaio ocorreu normalmente, e eu confesso que
minha mágoa pelo Tim foi maior que minha atração física,
então descontei toda minha frustração no baixo e no vocal.
Todos elogiaram a minha performance, então eu me senti
pronta para arrasar na nossa turnê. E o tempo passou tão
rápido, que já chegou o dia da nossa entrevista no
programa Talking With Sheila, da emissora VXZ. Quando
a entrevista começou, a apresentadora Sheila nos
bombardeou com perguntas a respeito do episódio
ocorrido com o Ric. Nós contamos tudo que ocorreu, e
deixamos uma mensagem para ele dizendo que ele é vital
para a banda e que sentíamos muito sua falta.
Aproveitando a deixa, nós deixamos claro que enquanto o
Ric se recuperava, outro guitarrista o substituiria, e então
o Gabriel entrou no palco e as fãs ficaram à beira da
loucura, gritando histericamente até perderem a voz. Até a
apresentadora pareceu se afetar com sua beleza, e quando
ele abriu seu sorriso branquíssimo, as fãs quase
desmaiaram. Após respondermos várias perguntas sobre a
turnê que faríamos, a apresentadora pareceu se focar em
mim. Lá vem!
- Mudando o foco das perguntas, eu queria conversar
um pouco com a Vivi. Como você deve saber, todos nós
acompanhamos na mídia o início de um romance entre
você e o vocalista da banda Blue4us, Brian Levicce.
Obviamente que todos nós estranhamos quando vazou na
imprensa fotos dele com uma de suas ex namoradas, a top
model Alicia Hershel. Você poderia nos esclarecer o que
realmente aconteceu entre vocês? – eu me senti
extremamente incomodada com a pergunta, mas sabia que
meu silêncio perante a mídia só estava instigando ainda
mais fofocas sobre o assunto.
- Para falar a verdade, Sheila, eu também não sei até
agora o que realmente ocorreu. Nós dois estávamos
saindo e de repente houve o problema do Ric, e eu fiquei
muito abalada. Eu acabei me afastando dele por uns dias,
pois eu precisava de um tempo sozinha, para afastar a
tristeza e para pensar no futuro da banda, porque para mim
perder um membro da banda é o mesmo que me afastar de
alguém da família, mas eu tinha conversado com ele e ele
disse que entendia a dificuldade pela qual eu estava
passando. Então em um certo dia eu ligo a televisão e vejo
as fotos dele com aquela garota e o vídeo que filmaram
dos bastidores do clipe. – e o auditório fazia “ooohs” e
“aaahs”, surpresos com a minha declaração.
- E como você se sentiu com essa situação? – eu
quase respondi com outra pergunta, do tipo “Como você
se sentiria se estivesse no meu lugar?”, mas a educação
falou mais alto.
- No começo eu me senti muito mal, porque estar
com o Brian havia sido um sonho que cultivei por anos,
desde minha adolescência, e quando começamos a sair eu
acreditei que ele era exatamente do jeito que eu havia
sonhado. Ele demonstrou ser romântico, atencioso, além
de ser extremamente lindo. – e o auditório pareceu
concordar com essa última declaração. – Por isso que
quando eu descobri que ele estava me traindo, foi como se
todos os sonhos que cultivei a respeito dele durante anos
fossem por água abaixo. Eu resolvi me focar na banda e
fiz de tudo para não me ressentir, e hoje posso dizer que
estou bem melhor.
- Então o conceito que você tinha sobre a pessoa que
ele é mudou completamente? Você considera o que ele fez
como algo imperdoável?
- Antes que vocês me interpretem de forma errada,
quero deixar claro que eu não acho que ele seja nenhum
tipo de monstro, e não cultivo ressentimento por ele.
Apenas errei ao criar muitas expectativas sobre uma
pessoa que não correspondia aos meus ideais. O que ele
fez eu considero, sim, algo imperdoável, pois ele traiu a
minha confiança. Eu não penso que ele seja uma pessoa
má, apenas que não é alguém merecedor do meu amor.– e
então a platéia me ovacionou. A apresentadora até se
levantou para aplaudir minha declaração, e então disse:
- Se todas as garotas que foram traídas pensassem
como você e se recuperassem como você, o mundo seria
muito melhor.
Algumas horas depois, estávamos na cozinha fazendo
a noite da “comida mexicana”, quando o Gabriel disse:
- Sabe, Vivi, você é uma mulher excepcional. Para
falar a verdade, nunca conheci outra como você. Você é
espontânea, inteligente, amorosa e linda por dentro e por
fora. Não tem como não te admirar por tudo isso. – olhei
para ele e sorri, com o coração transbordando de carinho.
A Bia lançou a ele um olhar magoado.
- Quem vê pensa que você a conhece há anos. –
cutucou Tim.
- Não preciso passar meses nem anos ao lado de uma
pessoa para saber como me sinto em relação a ela. –
Gabbe respondeu, mas eu me questionei a respeito
daquele comentário. Aparentemente eu era daquele tipo de
pessoa que precisava de meses ou anos para saber como
se sente em relação a determinadas pessoas. Pessoas
como Tim.
Após o jantar, o Cadú sugeriu que assistíssemos a um
filme de terror. Fomos todos para a sala e sentamos no
sofá, completamente espremidos. Mas como fazia um dia
mais frio, ninguém pareceu se importar. Eu me lembrei de
quando chegamos em Nova York e passamos uma noite
parecida com aquela. A noite em que dormi no ombro do
Tim e ele quase me beijou. Não pude evitar desejar que
aquilo ocorresse novamente, mas a Bia o puxou para seu
lado, e o Cadú sentou do seu outro lado, de forma que
ficamos separados. Assistimos Sexta Feira 13, e então
fomos todos para a cama. Quando me deitei, fiquei
pensando em todos os momentos que passei ao lado do
Tim, e então tomei uma decisão: eu não deixaria ele
escapar tão facilmente de mim. Se ele pôde tentar me
seduzir, então eu também poderia usar a mesma arma.
Imediatamente levantei e coloquei um conjunto de
calçinha e sutiã de renda na cor vermelha, coloquei um
robe branco quase totalmente transparente, de forma que
dava para ver muito bem através dele. Joguei meu cabelo
para o lado e mordisquei meus lábios para deixá-los mais
rosados. Fui até a porta do quarto dele e bati. Prendi a
respiração quando vi que ele estava usando uma cueca
boxer preta, que deixava suas coxas grossas bem
torneadas. Ele pareceu prender a respiração ao me ver
naqueles trajes, também, e eu demorei alguns segundos
antes de lembrar do meu plano.
- Tim, corre para o meu quarto, por favor, pois tem
um barulho esquisito na janela. Por favor, dê uma olhada
para mim, parece que tem me espiando. Pode ser até que
enquanto eu esteja aqui, alguém tenha invadido. – eu disse
na maior cara de pau. Em breve eu estarei atuando tão
bem que a Globo ou o SBT irão querer me contratar. Ele
demorou alguns segundos para se controlar e correr ao
meu quarto.
- Vivi, não tem nada aqui no quarto. – ele disse logo
após ter checado embaixo da minha cama e espiado pela
janela. Eu preciso pensar em algo, eu preciso pensar em
algo. - Será que a pessoa não se escondeu no banheiro?
- Você tem noção do quanto parece lunática com essa
história? Foi só um barulho, Vivi.
- Não custa checar, né?
Quando ele entrou no banheiro, eu entrei atrás dele e
encostei a porta. O banheiro não era muito grande, de
forma que ficamos torturosamente perto um do outro. Ele
estava examinando o box e eu aproveitei para abrir meu
roupão. Quando ele se voltou para mim, ficamos frente a
frente, com apenas alguns centímetros de distância um do
outro. E então ele notou minha lingerie. Ele me olhou de
um jeito faminto, e os olhos dele se apertaram de desejo.
Notei que o formato de sua cueca estava se alterando, e
ele disse roucamente:
- Vivi, seu roupão abriu. – eu olhei para o meu
roupão e fingi surpresa. Eu pensei em arrancá-lo de uma
vez, mas isso ia contra o meu plano anterior. Então eu o
fechei bruscamente e disse:
- Me desculpe, acabou abrindo na correria. – e
molhei os lábios com a língua. Ele estava dando um
passo na minha direção e eu queria muito poder ficar e tê-
lo em meus braços, mas então eu dei um passo para trás e
disse:
- Bom, se realmente tinha alguém na minha janela, já
foi embora. Provavelmente não era nada, só fui consumida
pelo pânico. Pode voltar para o seu quarto. – Ai, que
dificuldade em deixá-lo ir embora! E então ele foi até a
porta, mas não saiu antes de se virar mais uma vez para
me dar mais uma boa secada. Yes! “Operação Pega Tim”
venceu o primeiro round!
No dia seguinte, acordei disposta a ir à luta. Eu havia
vencido a primeira batalha, mas não aquela guerra. Após
tomar meu banho matinal, coloquei uma mini-mini-mini
saia branca, e vesti uma mini blusa rosa queimado. Passei
meu perfume Touchof Spring, e desci com um sorriso
imenso no rosto. Eu fui a última a levantar, então estavam
todos na cozinha, á minha espera.
- Bom dia, galera! – eu disse. O Tim ficou alguns
segundos me olhando, e percebi que ele estava
fantasiando com a noite anterior.
- Uau, Vivi! Acordou de bom humor, hoje, né? Sem
contar que está gostosona com essa saia.
- Obrigada, Gabbe! Acordei bem disposta, mesmo.
Afinal, hoje á noite iremos para Austin e em dois dias
faremos o primeiro show da nossa turnê americana.
- Esse é o espírito, Vivi! – disse Cadú, engolindo
uma panqueca e já pegando outras duas no prato.
Aparentemente seu apetite tinha voltado ao normal.
Eu fui até a geladeira e peguei uma maçã, e então a
derrubei. Sensualmente, eu agachei para pegá-la.
Enquanto eu agachava, eu empinei meu bumbum e joguei
meus cabelos para o lado. Quando eu a peguei, levantei
apenas um pouco, ficando com as costas ainda arqueadas
e o bumbum ainda empinado, e então olhei para trás, e o
Tim estava exatamente como eu queria: com a boca aberta
e os olhos completamente colados no meu bumbum. Ele
até estava tentando enfiar o garfo com um pedaço de
panqueca em seu queixo. Então eu continuei subindo, e
quando estava completamente na posição vertical, me
sentei. Foi então que ouvi:
- Você não acha que usa roupas muito curtas estando
em uma casa repleta de homens, não? – disse Bia, com um
olhar raivoso. Ah, aquela lacraia mal sabia onde estava se
enfiando. E foi me baseando no famoso ditado “quem fala
o que quer ouve o que não quer” que eu respondi:
- Pelo que me lembro, Bia, eu te contratei com
assistente para fazer as coisas que não tenho vontade nem
tempo de fazer, e não como conselheira de moda. Por falar
nisso, assim que acabar de tomar café, preciso que separe
um dia da beleza para mim em Austin. Dizem que no
Texas existem cremes milagrosos para a pele. – O Gabriel
não conteve uma risada, e o Cadú se segurou para não
explodir em risos. Essa garota anda muito folgada. Está
na hora de coloca-la em seu devido lugar.
Fizemos mais um ensaio naquela tarde, e quando o
Tim estava fazendo um cover de Walking After You, do
FooFighters, eu tive uma outra idéia para o meu plano.
Esperei ele acabar aquela música e então eu disse:
- Meninos, que tal se eu fizesse um cover de It is a
man’s world? – e todos eles concordaram. Mais um ponto
para mim. Afinal, eu sei fazer uma versão super sexy
daquela música.
-Vivi, e a nossa música Dueto dos ossos? Você e o
Tim já ensaiaram? – Como eu pude esquecer da música
em que eu e o Ric cantávamos em dueto? Então o Tim me
olhou fixamente, antes de dizer:
- Se você topar, eu acho uma boa interpretá-la,
mesmo. – ele disse, enquanto eu quase pulava de alegria
por fazer um dueto com o Tim em uma música romântica
que fala sobre sexo?
- Eu topo, sim. Então vamos ensaiar agora. Vamos
deixar a música com a mesma divisão que eu e o Ric
fizemos? Você com a primeira parte, eu com a segunda e
os dois juntos no refrão? – perguntei. Então o Gabriel riu
e disse:
- Ih, essa história de o Tim ficar com a primeira
parte, a Vivi com a segunda e os dois juntos no refrão não
está parecendo divisão de música, mas sim de uma cena
pornô. – e então o Cadú caiu na gargalhada. Eu ri um
pouco, mas como aquela não era uma ideia muito diferente
das que eu tinha na minha cabeça, olhei de um jeito bem
intenso para o Tim, e ele retribuiu meu olhar. Senti o
clima esquentar, mas então o Cadú disse:
- E aí, começamos a tocar no quatro? Então lá vai. 1,
2, 3,4!!! -e os arranjos começaram. Então o Tim cantou a
primeira parte:
“UM QUARTO ESCURO VAZIO
SEM O ENTRELAÇO DAS MÃOS
UMA TEVÊ APAGADA
SEM PODER VER SEU SORRISO
UMA CERVEJA BEM QUENTE
UMA BOCA SEM O SEU GOSTO
SÃO COISAS TÃO RUINS”.
Na parte que diz “uma boca sem o seu gosto”, ele
olhou para meus lábios, e então era a minha vez:
“UMA CAMA TÃO GELADA
OS PÉS BEM FRIOS NO INVERNO
UMA CONDUÇÃO BEM LOTADA
SEM SEUS OMBROS RELAXANTES
UM ESTRESSE QUALQUER NO TRABALHO
SEM RECEBER O SEU COLO
SÃO COISAS QUE DEIXAM MAL”.
E então nos viramos instintivamente um para o outro,
uma vez que resolvemos que não usaríamos a bateria
nessa música. Ele olhou dentro dos meus olhos, e eu quase
esqueci a letra da música. E chegou a parte do nosso
dueto:
“MAS QUANDO O SEU CORPO ENCOSTA NO
MEU
TODO NERVO EM MEU CORPO PARECE
SALTAR
E QUANDO VOCÊ ME PRENSA, SORRI E ME
USA
ESSE DUETO DOS OSSOS ME FAZ RELAXAR”.
Nós esquecemos que estávamos em um ensaio com a
banda e ficamos nos olhando, de um jeito sexy e voraz. O
Gabriel fez um “Hãm, hãm!” e então eu desviei o olhar.
Nós todos fomos para nossos respectivos quartos e
fizemos nossas malas. Percebi que eu sentiria saudades
daquela casa, e desejei poder voltar para lá em breve.
Foram tempos difíceis, mas aquela casa tinha quase se
transformado em nosso lar. Nosso voo estava marcado
para as sete horas da noite, então nós fomos para o
aeroporto quando faltavam quinze minutos para as seis
horas, e embarcamos em um avião com destino à Austin.
O Tim e o Cadú sentaram em poltronas vizinhas, e eu
sentei ao lado do Gabriel. A Bia sentou sozinha, o que era
mais do que cabível, já que ela estava com um bico tão
grande que precisaria ocupar duas poltronas só para ela.
13 – MINHA DOCE CRIANÇA

“Às vezes quando olho o rosto dela, ela me leva embora


para aquele lugar especial. E se eu fixasse meu olhar
por muito tempo, provavelmente perderia o controle e
começaria a chorar.” Sweet Child O’ Mine - Guns N’
Roses

Três horas e quarenta e cinco minutos mais tarde o


avião pousou, e então fomos direto para o Hampton Inn. O
Hotel é magnífico e cada um de nós pegou uma suíte. Nós
chegamos ao Texas do mesmo jeito que chegamos em Las
Vegas: morrendo de fome. Nós decidimos jantar em
qualquer lanchonete, para experimentar o tão famoso
hambúrguer texano, e de lá iríamos a uma danceteria
local, apenas para nos divertirmos, mas iríamos à paisana.
Decidi usar um vestido vinho estilo “fatal”, o cabelo
preso em um rabo de cavalo bem alto, brincos de argolas,
sandálias pretas e batom vermelho. Quando nos
encontramos na recepção do hotel, recebi olhares
luxuriosos até de um senhorzinho que deveria ter mais 75
anos. Eu ri da cara que ele fez para mim, e então ele
acabou rindo. O Cadú fez um “fiu-fiu”, o Gabbe me girou
para ver meu vestido por inteiro, o Tim piscou várias
vezes e ficou olhando para a minha nuca, já que eu quase
nunca prendia o cabelo. A Bia estava usando um vestido
preto com um grande decote, e seus cabelos estavam
repartidos ao meio e postos atrás das orelhas. Que coisa
mais cafona! Acessório que ela usava e que mais se
destacava era o bom e velho bico. E então percebi o
quanto eu fui preconceituosa: eu preferia mil vezes uma
assistente estilo Vogue.
Austin é uma cidade grande, com pessoas de estilo
bem variados, e parece abrigar um grande número de
artistas de diversos gêneros. O lanche que comemos era
bem gostoso, mas confesso que não é muito diferente de
alguns que encontro em São Paulo. Então nós fomos até a
Diskville, uma danceteria que toca música de vários
gêneros. Ao chegarmos, nós resolvemos tomar uma dose
de tequila. O Cadú ficou meio tenso, com medo da última
vez que nos reunimos para beber, mas eu pedi que
relaxasse e curtisse a noite, pois ninguém beberia a ponto
de passar mal ou esquecer onde estava. Nós bebemos uma
dose para esquentar, e então fomos para a pista de dança.
Eu e o Gabbe dançamos muito quando tocou Crazy in
Love, mas todos nós piramos mesmo quando tocou (I can’t
get no) Satisfaction. O Cadú e o Tim faziam caras e bocas,
e o Tim até soltou seus sons esquisitos feitos pela boca. A
Bia não gostava muito de dançar, mas estava lá para não
deixar o Tim sozinho.
Algumas músicas depois, eu já estava despenteada e
suada. Estava tocando Sweet Child of Mine, quando o Tim
encostou os lábios no meu ouvido (porque o som era
muito alto) e disse:
- Eu nunca te vi mais bonita do que você está agora.
É uma cena linda para se ver: você toda descontraída,
descabelada e com as bochechas rosadas. Você está com
cara de menina sapeca. Parece que essa música foi feita
para você. – e eu não pude deixar de rir.
- Você também não está tão diferente. Seu topete já
nem está mais para o alto. – eu disse para provocá-lo,
uma vez que ele era obcecado pelo seu cabelo. Ele
colocou a mão em seu topete e quando percebeu que era
brincadeira, riu.
-Você adora me provocar, não é?
- Eu? Imagine! – e então a Bia se aproximou de nós.
- Eu vou até o bar buscar uma água, alguém quer
alguma coisa?– O que demorar mais para ficar pronto.
- Sim, uma batida de morango com champagne. –
pedi.
- Eu não quero nada, obrigado. – disse Tim, sem dar
muita atenção a ela, deixando-a completamente frustrada.
Ela se foi e logo depois começou a tocar Don’t you want
me, do grupo The Human League. - Eu adoro essa música.
– ele disse, gesticulando as frases da música enquanto
fazia passinhos engraçados, no estilo anos 80, daqueles
que sempre faço quando vou à danceteria Trash 80’s, em
sampa. Quando a garota entra na música e começa a
cantar, ele apontou para mim. Então eu o imitei, e comecei
a dançar os mesmos passinhos engraçados. No refrão
cantamos juntos e fizemos caretas um para o outro. O
Cadú e o Gabbe chegaram mais perto para ver a cena, e
começaram a tirar fotos para registrar aquele mico, mas
eu estava me divertindo tanto que nem me importei. Em
seguida, começou a tocar Can’t stop lovin’ you, do Wham,
e o Tim automaticamente ficou mais sério. Ele me lançou
um olhar estranho, de um tipo que eu nunca tinha visto
nele. A Bia então chegou com minha batida de morango, e
o Gabbe me tirou para dançar.
Mais tarde, quando eu tinha acabado de tomar banho
e vestir uma camisola branca de cetim, senti uma vontade
quase incontrolável de ir até o quarto do Tim e beijá-lo
loucamente. Eu me peguei pensando se o beijo do Tim
seria tão bom quanto o beijo do Sr. Superbonder/Ciclope,
mas a verdade é que eu já estava cansada dessa história
toda de mistério. Além disso, eu já havia beijado o Tim e
podia afirmar que seu beijo era de tirar o fôlego, mas é
realmente difícil comparar dois beijos fenomenais que me
fizeram sentir a verdadeira felicidade de se estar viva. Eu
fechei meus olhos e estava quase entrando no mundo dos
sonos, quando ouço: “Can’t stay at home, can’t stay at
school...”. Quem estaria me ligando às 04:00 horas da
manhã? Peguei meu celular e vi que o número era restrito.
Pensei se deveria atender ou não, mas a curiosidade falou
mais alto.
- Alô! – eu disse.
- Oi! - Mentira que é ele!
- Tim?
- Conhece alguém que tenha a voz idêntica à minha,
gatinha?
- Por que está me ligando a essa hora? Não deveria
estar dormindo, não?
- Não consegui pegar no sono. E pela sua voz, você
também não, né?
- Não! – respondi.- Mas por que você não consegue
dormir? Aconteceu alguma coisa?
- O problema é exatamente esse, Vivi. Não
aconteceu!
- Não entendi.
- A verdade é que tem uma garota que não sai da
minha cabeça, e ela está me fazendo perder o sono há
dias. – senti uma nevasca no meu estômago. Afinal, eu
estava no Texas ou no Alasca?
- E ela sabe disso?
- Acho que sim, mas não tenho certeza.
- E será você também a faz perder o sono, ou o
sentimento é unilateral? – ele hesitou por alguns
momentos, mas finalmente disse:
- É exatamente por isso que eu estou ligando. Eu
estou indo atrás dela. Espero que você não se importe,
mas preciso urgentemente resolver isso. – e então meu
estômago revirou tanto que o Alasca se despedaçou em
mil, assim como meu coração.
- Eu... é... ok.
- Valeu, Vivi! Eu sabia que você entenderia. – e então
ele desligou. Eu nem sabia o que fazer: se eu chorava ou
ria do papel ridículo de sedutora que eu havia adotado. Eu
nunca conseguiria ser o tipo “mulher fatal”, e comecei a
pensar seriamente em processar a revista Everyone por
sua ridícula lista de “Os mais bonitos do mundo”. Agora
ele iria atrás daquela babaca da Letícia, só pode ser, já
que ele está saindo para ir atrás de uma garota que mora
aqui. Aquilo era uma fraude, uma piada. Fui até o Sneak
bar que tinha na minha suíte e abri um chocolate Sneakers.
Quando eu estava muito estressada, ou muito
decepcionada, eu sempre apelava para o bom e velho
chocolate. Devorei os dois que tinham em menos de um
minuto, e só tinha mais um para eu devorar em seguida,
mas aquilo não seria o suficiente. Eu queria entrar em
“coma chocólatro”, então resolvi ir à recepção e pegar
mais algumas barras. Coloquei o primeiro vestido que vi
(um branco meio curto com saia rodada, que não era muito
meu estilo, mas eu me sentia inexplicavelmente bem com
ele) e fui chamar o elevador. Eu fiquei alguns minutos
parada no corredor, segurando a terceira barrinha de
chocolate já quase acabada, quando o elevador finalmente
chegou. Eu dei um passo para entrar, mas algo me
empurrou gentilmente para trás. Olhei para a frente, e meu
coração se apertou.
- O que você está fazendo aqui? – eu disse.
- Nesses cinco minutos desde que eu desliguei,
quantas barrinhas iguais à essa você já devorou?
- E quem é você é, agora? Meu personal trainner,
para controlar as calorias que ingiro?
- Vivi, eu te conheço bem demais para saber que
você só entra em compulsão por chocolates quando algo
te estressa ou te chateia. – ele disse, tentando conter um
sorriso. – Me diz, o que está te chateando?
- Nada! Não posso comer uma barrinha de chocolate
em paz sem vocês acharem que estou surtando? – eu gritei,
e então ele colocou as mãos em seus lábios e fez um
“shiiiuuu”.
- Onde você estava indo?
- À recepção para pegar mais... sabonetes!
- Sabonetes é uma nova marca de chocolate que eu
ainda não conheço?
- Quer saber? Vou voltar para o meu quarto que
ganho mais. – e começei a girar o corpo, mas ele me
puxou e eu perdi o equilíbrio. Ele me segurou, então caí
em seus braços.
- Não quer saber o que vim fazer aqui?
- Não! - Quero, quero, quero, quero, quero, quero,
quero!
- Eu vim dizer a uma garota que não consigo parar de
pensar nela, e que ela me faz perder o sono há dias. – e eu
senti lágrimas tentando escorrer pelos meus olhos. Nossa,
ele tinha conseguido me deixar irritada. Mas peraí! Ele
disse que veio dizer a uma garota que... ei, sou eu? – ele
percebeu a confusão em meus olhos. – Você não é a mestre
em jogos de provocação? Eu só quis experimentar um
pouco do seu jogo. E não é que é bem legal? – então ele
sorriu e foi para cima de mim, com seus lábios perfeitos e
seu perfume intoxicante. Ele me beijava e me empurrava
para dentro da minha suíte. Ele me pegou no colo e me
jogou em cima da minha cama, e então se deitou em cima
de mim. Eu estava tão zonza, tão feliz e com tanto desejo,
que não conseguia nem raciocinar. Então ele parou de me
beijar e olhou para mim:
- Diz pra mim, Vivi!
- O que você quer que eu diga, Tim?
- Que você é louca por mim. – e então ele beijou
minha nuca. – Que você me quer tanto quanto eu te quero.
– e então ele desceu do meu pescoço até o decote do meu
vestido, com a língua. – e o principal: quero que você
diga o meu nome. Do mesmo jeito que eu vou dizer o seu,
agora. – então ele encostou seus lábios no meu ouvido e
sussurrou com a voz mais rouca e mais deliciosa do
mundo: Vivianne. – Nossa, ele sabe como me deixar
completamente louca. Então o puxei e troquei de lugar
com ele, ficando por cima.
- Eu quero você! Quero demais. – eu disse, dando
vários beijinhos em seu pescoço e em seu peito. Me
aproximei do seu ouvido e sussurrei, bem baixinho: -
Timóteo! – e então eu passei minha língua pela sua orelha
e a mordisquei bem lentamente.
O Tim ficou impaciente, então eu resolvi ficar de pé
e arrancar a sua roupa. Puxei seu tênis, sua calça, sua
camisa e suas meias. Ele tentou me ajudar, mas eu o
empurrei para trás, o impedindo. E então eu puxei uma das
alças do meu vestido para baixo, e depois a outra. O
vestido começou a escorrer pelo meu corpo, e eu fiz
alguns movimentos com meu quadril para facilitar, tudo
isso sem desgrudar meu olhar do dele. Seus olhos ficaram
mais escuro que piche, e eu pude ver a intensidade de seu
desejo através do seu corpo.
- Você é a mulher mais linda do mundo! Você não
sabe o quanto esperei por esse momento, Vivi. Você não
sabe o quanto sonhei com seu corpo, em fazer amor com
você, em provar o seu gosto, sentir o cheiro do seu corpo,
sentir a textura da sua pele. – eu estava hipnotizada por
ele, pelas palavras doces que ele dizia. Aquele nem
parecia o Tim de um mês atrás.
Ele também se levantou, me olhando de cima a baixo,
como se estivesse tentando decorar cada pedacinho do
meu corpo. E então ele me tocou. Senti minha pele arder
em reação ao seu toque, e olhei para baixo, envergonhada
pelo tamanho do meu desejo por ele.
- Olhe para mim, Vivi! Por favor, olhe para mim! Eu
quero ver cada brilho em seu olhar, quero ler em seus
olhos cada reação que você tiver. Eu consigo te ler
todinha através dos seus olhos, assim como estou lendo
que você me quer. Que me quer agora! – e então ele me
jogou na cama e subiu em cima de mim, encostando sua
rigizes no meu centro úmido. Eu ergui meu quadril,
tentando urgentemente aumentar nosso contato, querendo
que nossos corpos se tornassem apenas um. Ele soltou um
gemido rouco e se afastou o suficiente para colocar a
proteção, ainda mantendo contato visual. Quando seu
membro generoso escorregou para dentro de mim, nós
dois suspiramos e gememos ao mesmo tempo. Foi o
momento mais íntimo e mais erótico que eu já tinha
vivenciado. Eu sabia que agora eu estava perdida, que a
partir daquele momento seria muito difícil tirar o Tim da
minha cabeça e do meu coração. Nós chegamos ao êxtase
quase no mesmo momento, e em seguida ele me aninhou
em seu peito, enquanto acariciava minhas costas em
movimentos circulares. Nós ficamos em silêncio por
vários minutos e em um determinado momento eu estava
prestes a dormir, mas ele voltou a me beijar como se
dependesse disso para viver. Nós fizemos amor até o sol
brilhar no céu, e depois caimos no sono até a hora do
almoço.
Quando meu estômago roncou, eu abri os olhos e me
deparei com o Tim me observando.
- Bom dia, Vivi! - ele disse, enquanto me dava um
abraço de urso.
- Nossa, que belo jeito de começar o dia. – eu disse,
enroscando meu rosto em seu pescoço e dando vários
beijinhos. Meu estômago roncou.
- Está com fome, gatinha?
- Muita! Só acordei por isso, senão não iria querer
sair dessa cama por nada!
- Então somos dois! Vamos pedir para mandarem
algo pra cá ou você prefere descer e comer alguma coisa
no restaurante do hotel?
- Eu preferia pedir alguma coisa e comer aqui
mesmo, mas aí eu não teria coragem de sair hoje dessa
cama, e nós temos que passar o som para o show de
amanhã, ou você esqueceu?
- Acho que estamos precisando de férias, isso sim. –
ele disse, e então me deu um beijo lento e bem intenso,
daqueles que fazem nossas pernas derreterem como
margarina, e depois se levantou.
Quando estávamos quase terminando nosso almoço
no restaurante do hotel, a Bia nos encontrou.
- Olá! Eu, Gabbe e o Cadú ficamos esperando vocês
por um tempão, no café da manhã. – ela disse.
-Eu estava sem fome! – ele disse, e eu me senti
imediatamente incomodada. Ele usou a palavra eu, e não a
palavra nós. Legal, agora ele quer esconder da Bia a
noite que passamos juntos. Se é isso que ele quer, é isso
que terá. Esse jogo é para dois!
- Eu também! – eu disse curtamente. Ela se sentou à
nossa mesa, e eu estava com tanta raiva que nem terminei
e deixei metade da comida em meu prato, me despedi e
voltei para o meu quarto.
Eu tomei um banho, coloquei uma calça jeans, uma
regata preta e uma camiseta xadrez por cima, calcei meu
All Star branco, desci, me juntei aos meninos e fomos
passar o som para o show do dia seguinte. A Rita havia
contratado uma equipe de suporte, chamada Staff. Eles nos
ajudariam montando as luzes, afinando decorando o palco,
etc. O pessoal era bem dedicado, e todos pareciam muito
contentes em trabalhar conosco. Alguns até pediram
autógrafos. Descobri até que um deles tinha uma paixão
platônica por mim. Quando ele me viu, seus olhos se
encheram de lágrima. E eu me senti extremamente grata
por ter esse carinho por parte de tantas pessoas que nunca
nem vi na vida...
- Vi, a noite foi boa, não é mesmo? – Gabriel disse,
interrompendo meus pensamentos.
- O que? Como assim?
- Ah, Vi! Eu não sou bobo. Qualquer um sente o
clima que rola entre você e o Tim, e ontem á noite, na
Diskville, foi tão óbvio... ele sussurrando em seu ouvido,
depois te tirando pra dançar, te olhando como se fosse a
última garrafa de água no deserto do Saara. E ficou bem
claro que vocês estavam juntos quando nenhum de vocês
desceu para tomar café.
- Ah, Gabbe! Eu não consigo mentir pra você.
Realmente ficamos juntos, essa noite, mas foi só isso. Mas
não comente com ninguém! Ele fez com que eu me
arrependesse.
- Como assim?
- Atitudes valem mais que mil palavras, e ele me
decepcionou, nesse quesito. Mas prefiro nem entrar em
detalhes.
- Vivi, ele parece gostar muito de você. Só te dou um
conselho: cuidado com a minha irmã. Ela não é uma má
pessoa, mas faz tudo que pode para ter o que quer. E você
sabe o que ela quer, não sabe?
- Sim, eu sei.
Nós acabamos de ensaiar às nove e meia da noite.
Estávamos exaustos e famintos, então paramos em uma
pizzaria, antes de irmos para o hotel. O Tim ficava me
olhando, tentando me examinar, uma vez que eu não estava
dando a mínima bola pra ele. A Bia estava muito quieta,
perdida em pensamentos.
- Nossa, galera! Por que está todo mundo tão quieto?
- Deve ser o cansaço. Ensaiamos por muitas horas. –
disse Gabbe.
- Pois vamos nos animando, senão amanhã vamos
acabar tocando a Marcha Fúnebre.
- Credo, Cadú! Da onde você tira essas coisas? – eu
disse.
- Quando estou de barriga cheia, minha imaginação
fica bem fértil. – ele disse, com a boca cheia. Pelas
minhas contas, ele já tinha comido nove pedaços de pizza.
- Nossa, você é um saco sem fundo! Parece que
andou do Ceará até Curitiba a pé, fala sério! – disse Tim.
Todo mundo riu do comentário, menos eu, claro.
Quando chegamos ao hotel, eu me despedi de todos e
fui para o meu quarto. Tomei uma banho e me joguei na
cama. Fiquei um tempo pensando em tudo pelo qual eu
havia passado desde que cheguei aos EUA, como o meu
romance com o Brian, o acidente do Ric, a traição do
Brian, a entrada do Gabbe na banda, a revolta do Cadú,
meus sentimentos pelo Tim. Nossa, em tão pouco tempo,
tanta coisa havia mudado... e lembrei do Sr. Superbonder
e me dei conta de que ele não havia mais aparecido desde
quando ele também se tornou o Ciclope. Fechei os olhos e
tentei dormir, quase rezando para que ele aparecesse no
meu sonho. “Can’t stay at home, can’t stay at school, old
folks say...” Porcaria de celular! Tinha que tocar justo
agora?
- Alô!
- Oi, gatinha!
- Oi! – respondi secamente.
- Que tal se hoje você passasse a noite comigo aqui
no meu quarto?
- Não, Tim. Vou passar a noite aqui, mesmo. Eu estou
muito cansada, só quero ficar quietinha. – E sonhar com o
Superbonder. Aquele sim é o único que me quer de
verdade.
- Ok! Pode ficar quietinha, então. Boa noite!
- Boa noite! – e então desligamos. Eu fechei meus
olhos e peguei no sono. Eu estava com os olhos colados,
então percebi que minhas preces foram atendidas. Então
ele começou a rir.
- Qual a graça?
- Você é uma figura, Vivi! Em um dia, se derrete toda
por mim. No outro, me expulsa do seu sono. E agora fica
me chamando de volta! Dá para se decidir?
- Mulheres são inconstantes por natureza! Você
deveria saber disso!
- Vivi, não use as outras mulheres do mundo como
desculpa para essa sua característica. Até que acho isso
engraçadinho, sabia? Tóc, tóc, tóc!
- Tóc o que? – perguntei confusa.
- Tóc, tóc! – ele respondeu, e então acordei. Alguém
estava realmente batendo na porta do meu quarto. Levantei
com toda preguiça do mundo, e abri. Era o Tim, e ele só
estava usando uma samba canção.
- Tim, eu não disse que queria ficar quietinha?
- Sim. E eu vou te deixar quietinha, mas o que te
impede de ficar quietinha em meus braços?
- Não sei se estou no clima.
- No clima de que? Eu não vou tentar nada demais.
Só quero dormir abraçadinho com você. – e toda raiva
que eu estava sentindo se dissipou.
- Está bem.
- Até vim de samba canção, viu? Só uso isso para
dormir, mesmo. – eu olhei e vi que a samba canção dele
era decorada por várias notas musicais. Achei adorável.
Aquela noite eu dormi aninhada nos braços do Tim, e
o Sr. Superbonder/Ciclope não deve ter gostado muito,
pois ele não tornou a aparecer. Na manhã seguinte nós
acordamos cedo. Ele voltou para seu quarto para tomar
banho, e eu me arrumei e desci, antes dele. Eu desci para
tomar café e encontrei somente a Bia. Eu a cumprimentei,
peguei as mesmas coisas que eu sempre pegava, para
comer, e tomei minhas vitaminas. Então ela disse:
- Vivi, preciso te contar uma coisa.
- Pode falar!
- Ontem à noite eu falei com o Brian. Ele disse que
você não entendeu nada do que aconteceu, que a mídia
tinha aumentado as coisas e que ele precisa falar
urgentemente com você, para se explicar.
- Bia, eu já não deixei bem claro que não quero nem
ouvir falar do nome do Brian?
- Sim. Mas eu ignorei, porque acho que vocês
formam um casal lindo! Vocês dois são perfeitos, juntos. E
nenhum outro cara combina tanto com você quanto o
Brian. – ela disse, sinicamente. Meu sangue subiu tão
rápido que tive a impressão de estar com os olhos
vermelhos.
- Escute aqui, Bia! Você lembra de quando te
contratamos e eu disse que da minha parte você só
precisaria aprender algumas regras? Lembra da regra
número 01?
- Aquela sobre estar sempre com uma mala pronta,
para eventualidades. – ela disse, tentando entender aonde
eu queria chegar.
- Isso mesmo. Pois bem, acho que já passou da hora
de te explicar sobre a regra número 02: Nunca fique no
meu caminho, senão passo por cima de você. – ela fingiu
uma cara de surpresa, e disse:
- Não entendi, Vivi!
- Bia, essa sua máscara de garota sonsa não cola
mais comigo. Sei muito bem o que você quer, e já te aviso
que não vai rolar. Eu não quero o Brian, e você sabe
disso. Não tente manipular a minha vida, você vai acabar
se dando mal. Eu posso ser boa, posso parecer frágil. Mas
a verdade é que sou uma leoa, e você não passa de um
antílope. Você vai querer ficar na minha frente? Já aviso
que vou te abocanhar! – e então o Cadú apareceu,
passando a mão na barriga como se estivesse cheio de
fome. Eu estava quase terminando de comer quando o Tim
chegou.
- Bom dia! – ele disse, todo animado. Todo mundo
respondeu, e então ele me olhou. Eu retribuí seu olhar com
um sorriso, e a Bia ficou com o rosto roxo de raiva.
- Você dormiu com o periquito verde, Tim? Não para
de sorrir. – perguntou Cadú.
- Periquito verde? Talvez algo parecido. – disse
Gabbe, e o Tim olhou para ele, surpreso. Eles acabaram
rindo, já que homens adoram essas piadinhas bobas de
duplo sentido.
O dia passou rapidamente. Eu estava no camarim,
vestindo minha calça de couro preta e meu top preto,
também de couro, quando alguém bate à minha porta. Era
o Cadú.
- Oi, Cadú! Aconteceu alguma coisa?
- Não, eu só estava pensando no Ric. É o primeiro
show que fazemos sem ele. Não me leve a mal, eu até que
gosto do Gabriel, ele é um cara bacana. Mas o Ric formou
a banda, ele escalou cada um de nós e é nosso brother. É
muito estranho tocar sem ele. – ele disse, com tristeza no
olhar.
- Ei, olhe pra mim: o Ric vai voltar para a banda, ele
só este precisando de um tempo para entender como se
virar em suas atuais condições. Ele pode não andar mais,
mas ele vai descobrir que é capaz de continuar fazendo
muitas das coisas que tanto ama.
- E como você sabe disso? Como você tem tanta
certeza de que ele vai voltar?
- É simples, Cadú: eu tenho fé, e minha fé é das
grandes. – então ele sorriu, e me deu um abraço bem
apertado.
Eu estava quase pronta, quando o Tim entrou em meu
camarim.
- Só queria desejar boa sorte. – ele disse, antes de
me dar um beijo apaixonado. Eu tinha até esquecido o que
eu estava fazendo ali, quando ele me soltou. Ele passou
carinhosamente uma mão pelo meu rosto, e disse:
- Arrase como sempre faz. – e então ele saiu.
Nós subimos no palco e cantamos “Hey, menina”. O
povo foi á loucura, e então começamos a tocar Walking
After You, mas eu estava longe do microfone, e como não
tinha ninguém perto, percebemos que a platéia ficou
apreensiva. Mas então o Tim começou a cantar, com seu
microfone portátil, ainda tocando sua bateria. Nós
tínhamos apresentado o Gabbe como novo guitarrista, mas
não havíamos nos pronunciado sobre quem assumiria o
vocal no lugar do Ric, de forma que quando o público
percebeu que era o Tim quem estava cantando, a euforia
dos fãs foi tão grande que sentimos literalmente a terra
tremer. Foi uma reação tão bonita que acabamos ficando
emocionados. O Tim até soltou uma risadinha, não
conseguindo conter sua emoção. E quando a música
acabou, eu fui até o microfone e disse:
- Galera, enquanto o Ric se recupera, eu gostaria de
apresentar nosso novo vocalista: o incrível Tim! -e foram
gritos, aplausos e pulos, por parte da platéia.
Eu comecei a cantar It is a man’s world, e o ritmo foi
tão empolgante, eu dei tantos gritos propositalmente
roucos e sexys, que o público ficou encantado. Então eu
fui até o Tim e passei as mãos em seus cabelos, e
rodopiei, em uma determinada parte da música. O Tim
sorriu e a platéia vibrou, e quando a música acabou, ouvi
os tradicionais gritos dos fãs, como “Vivi, sua gostosa! Eu
te amo”, ou “Vivi, casa comigo?”, e coisas desse tipo. E
então chegou a vez do “Dueto dos ossos”, e o Tim desceu
da bateria e disse:
- Galera, vocês vão me desculpar, mas essa música
vai ter que ficar sem bateria. Afinal, não existe como eu
cantar um dueto com a garota mais linda do mundo
estando a metros de distância dela, não é? Bom, vamos lá!
– eu estava mais vermelha que nunca, e para me distrair,
me foquei na Lua.
O Tim começou a cantar sua parte de olhos fechados,
mas então ele os abriu e os focou diretamente em mim, e
então era a minha vez. Eu não conseguia desfocar meus
olhos dos dele, e quando chegou o refrão e começamos a
cantar juntos, eu senti vários arrepios percorrendo o meu
corpo.A música acabou, mas nós continuamos nos
olhando, assim como fizemos na primeira vez que
ensaiamos. E foi a maior das surpresas quando ele me
puxou para ele e me deu o maior beijo em cima do palco,
na frente de todos. Meus ouvidos começaram a zumbir e
meu coração foi à boca, e quando nossos lábios se
separaram, mal pude ouvi-lo dizendo no microfone:
- Chupa, Brian Levicce!
Quando saímos do palco, o Cadú nos interceptou.
- É séria essa coisa que está rolando entre vocês? – e
eu e o Tim nos entreolhamos, até ele responder:
- É, sim. Você faz alguma objeção?
- Claro que não, cara! Cansei de te ver olhando para
ela como um cachorro querendo um biscoito.
Eu estava terminando de me trocar, quando a Bia
entrou no camarim.
- Parabéns pelo lance com o Tim. Eu queria que
soubesse que eu não tive nenhuma intenção de ficar no seu
caminho. De verdade. – e eu olhei para ela e estranhei por
ver sua feição tão calma. Mas então ela voltou a dizer: -
Mas sabe de uma coisa? Eu não sou nenhum antílope. Na
verdade, acho que sou mais parecida com um tubarão.
Engraçado, você já parou para imaginar como seria uma
luta entre um leão e um tubarão? Tá aí uma coisa
estimulante para se pensar. E quanto a estar no seu
caminho, acho que você se confundiu. Eu o queria antes de
você, então quem está no meu caminho é você. – e então
ela se foi, me deixando com a certeza de que eu teria que
falar urgentemente com os meninos sobre mandar essa
cobra insolente para o olho da rua.
Assim que chegamos no hotel, liguei para o Cadú e
para o Tim e pedi que eles fossem ao meu quarto, pois eu
precisava ter uma conversa séria com eles. Alguns
minutos mais tarde, os dois chegaram e eu comecei a
reunião.
- Bom, meninos, eu ando com um problema sério e
preciso compartilhar com vocês.
- Pode falar, Vivi! – disse Cadú. Eu olhei para o
rosto dos dois e tentei uma forma de contar meus
problemas com a Bia, sem os dois acharem que eu tinha
virado uma daquelas mulheres super ciumentas e
encrenqueiras.
- Bem, eu e a Bia andamos tendo alguns problemas.
Ela fala comigo com desdém e vive questionando as
coisas que eu digo. – eu disse, propositalmente
escondendo a última conversa que tivemos, para que eles
não me interpretassem erroneamente.
- Continue! – o Cadú pediu. Eu pensei no que mais eu
poderia dizer.
- Bem, ela fica me encarando, e disse algumas coisas
pra mim que eu não quero e nem vou repetir.
Simplesmente não gostei.
- E o objetivo dessa reunião é qual? Por acaso você
está pensando em demiti-la? – perguntou Tim.
- Bem... sim, é isso mesmo.- eu disse. Os dois se
entreolharam e ficaram em silêncio por alguns minutos.
Então o Cadú disse:
- Mas Vivi, será que esse comportamento que você
alega que ela está tendo não é uma impressão que você
criou?
- Não, não é!
- Com todo respeito, Vivi, mas a Bia é uma excelente
assistente. Ela faz de tudo por nós e não acho que ela
mereça ser demitida por olhar torto para você. Duas
mulheres juntas sempre acabam se bicando, isso é normal,
mas daí a chegar a demiti-la, penso que isso é um baita de
um extremismo. – defendeu-a Tim, e eu fiquei com
vontade de socá-lo, por isso.
- Eu concordo com o Tim, Vivi! Acho que vocês duas
devem conversar. – disse Cadú. Eu não estava
acreditando que aquela lacraia havia feito a cabeça dos
dois. Ela é uma víbora, isso sim. – Você não vai ficar
chateada, não é?
- Não. Bom, a reunião acabou, podem voltar para os
seus respectivos quartos.
- Ok! Boa noite, Vivi! – disse Cadú, antes de sair. O
Tim continuou sentado, olhando para mim.
- Eu disse que você já poderia voltar para o seu
quarto.
- Disse, mas eu não quero voltar.
- Mas você vai. Boa noite, Tim!
- Ah, Vivi, depois de um dia lindo como o que
tivemos, você não pode...
- Eu disse boa noite, Tim! – e ele saiu, batendo com
força a porta atrás dele.
Eu passei um bom tempo pensando qual seria a
melhor saída para eu desmoralizar a Bia, e acabei me
dando conta de que eu não deveria temê-la. Eu tenho uma
carreira que está sendo consagrada, eu tenho muito
dinheiro, e tudo que ela tinha foi construído na barra da
calça do pai. E eu ainda tinha o que ela mais queria: o
Tim. Percebi que se eu continuasse com raiva dele, ela
estaria à minha frente, pois isso era o que ela mais queria.
Coloquei um vestido e fui até o quarto do Tim. Bati.
Alguns segundos depois, ele atendeu. Aparentemente ele
tinha acabado de sair do banho, pois ele estava apenas de
toalha. Quando ele me viu, seus olhos se arregalaram.
Notei que ele estava quase em pânico, então eu disse:
- Ei, eu disse que era para você ir para o seu quarto,
mas eu não disse que você passaria a noite sozinho. – eu
disse, tentando animá-lo. Mas ele ficou ainda mais branco
do que estava. Que diabos está acontecendo aqui?
- Vivi, essa não é a melhor hora. Pode voltar para o
seu quarto que eu vou em seguida, ok? – ele sugeriu, quase
implorando. Não, tem alguma coisa errada acontecendo
mesmo, e não é coisa da minha imaginação. Eu tentei
entrar no quarto dele, mas ele me prensou contra a porta.
- Não, Vivi! Você vai ter a ideia errada. Não é nada...
– mas eu o empurrei com toda força que eu tinha e
descobri o que o estava apavorando. Ela estava sentada
na cama dele. No quarto dele. E ele estava seminu. Só.
De. Cueca. Então eu entendi o porque de ele resistir tanto
quanto a ideia de demiti-la, e eu me senti tonta. Ele estava
brincando comigo o tempo todo. Ele me usou. Eu olhei
para ele, e ele abriu a boca para tentar dizer mais uma de
suas mentiras, mas eu não hesitei nem um segundo. Meu
punho acertou perfeitamente o seu olho direito.
Eu fui para o meu quarto, arrumei minhas coisas e fiz
check out no hotel. Chamei um taxi e me hospedei em um
hotel que ficava do outro lado da cidade. Deixei bem
claro na recepção que se alguém perguntasse se eu estava
lá, elas deveriam negar até a morte. Eu liguei para a Rita e
disse que eu havia tido uns problemas pessoais, mas que
ela poderia ficar despreocupada, pois eu iria para o
Arizona a tempo de fazer o show. Ela começou a me
bombardear de perguntas, inclusive sobre o beijo que o
Tim me deu durante o show, mas eu disse que foi
encenação e me esquivei das outras perguntas, antes de
desligar o celular. E lá estava eu, sozinha, trancada em um
quarto desconhecido. Fiquei me perguntando o que mais
poderia acontecer de ruim. Parecia que a vida estava me
testando de todas as formas, ou então cobrando um preço
alto por todas bênçãos que eu tinha recebido. Se o preço
do sucesso é esse, prefiro voltar a ter minha vida
normal. Pensei em ligar para a minha mãe e desabafar
com ela, mas percebi que só a deixaria mais preocupada,
e eu não queria que ela ficasse triste por mim. Além do
mais, eu não poderia regredir, eu deveria agir como uma
adulta, e adultos passam por quedas como as que eu
estava levando, mas devem sempre se recompor e tornar a
se erguer. E seria exatamente isso que eu faria. Eu não
vou deixar eles me derrubarem. Talvez o Tim tenha se
envolvido comigo apenas para me magoar, e fazer com
que eu abandonasse a banda, já que aparentemente ele
nunca foi muito com a minha cara. Ou talvez ele
estivesse querendo ocupar o vocal principal. Bem, seja
qual for o motivo, eles não vão vencer.
Aquela noite eu passei em claro, mas no dia seguinte
eu estava bem melhor. Eu percebi que era muito mais forte
do que eu imaginava, e isso surpreenderia não apenas a
mim, mas também aos meus adversários. Imediatamente eu
levantei, coloquei um dos meus vestidos favoritos,
sandália de salto alto, joguei meu cabelo para trás, peguei
minha bolsa e fui até o restaurante Uchiko. Finalmente eu
iria até um restaurante comandado por um dos ex
participantes do programa Top Chef, e minha estreia seria
em alto nível: o restaurante era comandado pelo chefe
Paul Qui, o vencedor da nona temporada. O restaurante é
de comida contemporânea japonesa, e os pratos são
decorados com primor. Eu havia acabado de pedir um
Hama Chili quando notei quem estava sentado em uma
mesa próxima a minha: o escritor e produtor de televisão
Ralph Melbourn. Quando um casal de namorados me
reconheceu e pediram autógrafos, o Ralph virou a cabeça
em minha direção. Eu quase pulei da cadeira quando ele
sorriu e fez um gesto com a mão, me convidando a me
juntar a ele.
14 – DANÇANDO COMIGO MESMA

“Quando não tem mais ninguém à vista, na solitária


noite cheia de pessoas.
Bem, eu esperei tanto tempo por minha vibração de
amor. E estou dançando comigo mesmo.” Dancing With
Myself - Billy Idol

O Ralph é um dos escritores mais privilegiados.


Seus programas são sempre excêntricos, e não há sequer
um deles que eu não tenha assistido do primeiro ao último
episódio. Quando ele disse que era fã da Rock & Pie, me
senti tão emocionada quanto uma pessoa que recebe o
maior dos prêmios de reconhecimento. Nós conversamos
sobre várias coisas, desde costumes brasileiros até novos
projetos profissionais. Nós almoçamos e passamos uma
tarde bem divertida. Por fim, ele disse que estava
escrevendo uma série nova que retrata o cair da noite
como um portal para a entrada de mágica em nosso
mundo. A série retrata várias criaturas da noite, e ele
disse que precisava de uma trilha sonora que fosse
taciturna, mas que fosse ao mesmo tempo doce. Ele
sempre disse que me encontrar parecia coisa do destino,
pois eu tinha a voz perfeita para interpretar a música que
ele havia escrito. Ele pediu para o garçom uma folha de
papel e uma caneta e escreveu a letra da música. Então ele
cantarolou a melodia e pediu para eu interpretá-la. Eu
olhei ao redor e enrubesci, mas ele nem se abalou. Ele
gesticulou em forma de encorajamento, e então eu cantei,
baixinho. A música era totalmente a minha cara, e eu
fiquei extremamente emocionada por estar interpretando
uma música para ninguém mais que Sr. Melbourne, o
criador genial das melhores séries que já assisti. Quando
terminei o último verso, ele sacudiu a cabeça. Eu confesso
que me senti um lixo, pois ele sacudiu a cabeça de forma
tão segura que eu pensei que ele tivesse odiado. E ele
finalmente disse:
- Vivi, você toparia interpretar a música de abertura
da minha nova série “Sombras do passado”? – seria
possível que eu estivesse sonhando? Mas então pensei na
banda, e me senti como se estivesse deixando-os para
trás.
- Não precisa ficar preocupada, nem se sentir
culpada. Você é capaz de conciliar a banda com uma
carreira solo. Tenho certeza disso! – ele disse, e quando
pensei na R&P e lembrei do Tim, eu também tive essa
mesma certeza. Eu só me importei com o que o Cadú iria
pensar, mas resolvi acreditar que ele ficaria feliz por
mim. Eu combinei com o Ralph que gravaríamos a música
assim que encerrássemos nossa turnê, na cidade de Nova
York. Só de pensar que teríamos que fazer um show no
mesmo local onde aquele louco atirou no Ric, meu peito
apertou.
Quando eu cheguei ao hotel, eu cochilei por algumas
horas antes de arrumar minhas malas e pegar um voo para
o Phoenix, no Arizona, onde faríamos o segundo show da
nossa turnê. Eu sabia em qual hotel eles estariam
hospedados, então propositalmente me hospedei em outro.
Assim que cheguei, mandei um sms para a Rita avisando
que ela poderia ficar tranquila, pois eu já estava em
Phoenix. Decidi mandar o mesmo sms para o Cadú, pois
ele deveria estar preocupado. Não demorou nem um
minuto para ele me ligar de volta.
- Fala, Cadú!
- Será que dá para você me explicar o que está
acontecendo com você? Onde você está? – ele disse,
praticamente gritando.
- O que está acontecendo, Vivi? – O Tim não prestou
nem para explicar o que aconteceu, pelo jeito! Aquele
filho de uma mãe! Eu pensei em contar, mas queria evitar
qualquer desentendimento entre os dois porque estávamos
no meio de uma turnê e isso poderia prejudicar nossa
banda.
- Eu tive que resolver alguns problemas, Cadú!
Depois conversamos melhor.
- Quais problemas, Vivi? Você nunca escondeu nada
de nós. O que aconteceu?
- Todo mundo tem segredos, Cadú, inclusive eu.
Sinto muito, mas prefiro não envolvê-lo nisso.
- Não estou gostando disso, Vivi, mas vou respeitar
sua privacidade. Bem, nossa passagem de som é amanhã
às onze horas. Te espero lá!
- Ok! Obrigada, Cadú! Te adoro!
- Eu também! Tchau! – e desligou.
Na manhã seguinte, eu acordei as oito e meia e fiquei
enrolando um tempo na cama, pensando sobre o quanto
seria sacrificante ter que encontrar o Tim e a Bia sem
poder dar um murro na cara daqueles dois mau caráter.
“Hello daddy, hello mom, i’m your ch-ch-ch-ch-ch-ch
cherry bomb...”.
- Alô!
- Olá! Por acaso estou falando com Vivianne
Santinni? – Ué, de quem é essa voz?
- Quem está falando?
- Aqui quem fala é Kevin Jackson, gerente de
propaganda e marketing da “ShiningHair”.
- Ah, olá, Kevin! Eu sou a Vivianne, sim.
- É um prazer conversar com você, Vivianne! Eu
gostaria de marcar uma reunião com você. Nós estamos
muito interessados em contratá-la como nossa nova garota
propaganda.
- Garota propaganda? E qual o cachê que vocês
pensaram em me oferecer?
- Bem, nós estamos abertos a discussão, mas a
princípio estamos oferecendo cinco milhões de dólares. –
e eu quase caí pra trás.
- Para quando vocês querem marcar essa reunião?
- Para amanhã. Eu sei que vocês da Rock& Pie estão
em Phoenix, e eu estou disposto a encontra-la aí. Qual o
melhor horário para você? – Uau! Cinco milhões de
oferta inicial, e ele ainda viajaria até aqui para me
encontrar?
- Às duas da tarde. Pode ser?
- Claro! Minha agenda está à disposição da sua.
- Só mais uma coisa: vocês terão que melhorar esse
preço. Melhorar muito! – eu disse antes de desligar. Está
mais do que na hora de eu começar a pensar em mim como
Vivianne, e não apenas como mais uma integrante da
Rock& Pie.

Eles estavam a poucos metros de distância. Quando


me viram, o Cadú veio em minha direção, com os braços
estendidos, pronto para me dar um abraço. O Tim olhou
para os pés e coçou a nuca, e a Bia deu um sorriso
satisfeito. Aquela cobra!
- Oi, Vivi! Como que você me deixa sozinho com
esse bocó do Tim? – ele disse, brincando.
- Se eu disser que senti sua falta você me perdoa? – e
dei uma piscadinha para ele. Ele sorriu.
- Claro que sim, né? Sempre. – e eu lembrei dos
meus novos compromissos profissionais. Senti remorso.
- Cadú, eu precisava falar com você, mais tarde.
Antes do show você teria um tempinho para mim?
- Sim, só que agora fiquei curioso. – eu olhei para o
Tim e para a Bia, que estavam tão próximos de mim, e
disse:
- Mais tarde te conto. – e ele assentiu com a cabeça.
Foi ele se afastar um pouco para o Tim se aproximar.
- Viv...
- Cara, se você disser mais meia palavra que seja, eu
quebro sua cara! Não fale comigo, não me olhe e não
toque no meu nome. – e fui em direção ao Gabbe.
- Poxa, Vivi! Sentimos sua falta. Chegamos a pensar
que você abandonaria a turnê. O Tim ficou um caco.
- Gabbe, por favor, não toque no nome desse canalha
na minha frente. Outra hora te conto o que aconteceu, mas
por enquanto, você e o Cadú são as únicas pessoas aqui
que me interessam.
Nós fizemos a passagem de som, cada um voltou
para o seu hotel e então o Cadú me ligou. Eu acabei
conversando com ele por telefone, mesmo. Contei sobre a
trilha sonora de “Sombras do Passado”, e sobre a reunião
que eu teria no dia seguinte com o Kevin Jackson. Ele
ponderou tudo, e finalmente disse:
- Vi, você está pensando em sair da banda? – e eu
juro que queria muito responder que não, mas fiquei
travada. Ele percebeu. – Ah, Vi! Por favor, não faça isso
conosco. Nós somos uma família!
- Cadú, eu não sairei hoje, mas é algo que eu
futuramente acabarei fazendo. Acontece que nossa banda
não é uma família desde que o Ric saiu. Eu e você somos
como irmãos, mas só.
- Vivi, o que aconteceu entre você e o Tim?
- Cadú, não queira saber. Não quero falar sobre isso,
por favor. Mas olha, não se preocupe. Eu não corri atrás
de nenhuma dessas oportunidades, elas simplesmente
apareceram. Eu não irei largar a banda pra ontem, se é o
que você está pensando. É algo que eu tenho que pensar
para daqui a um tempo. Talvez daqui há anos.
- Ah, então tudo bem. Espero que sejam anos,
mesmo. Ainda precisamos ganhar muito dinheiro. Mas
Vivi, quero que você aproveite cada oportunidade que
apareça. Só te desejo o melhor, e tenho certeza de que
você jamais faria algo para prejudicar a banda.
- Obrigada por ser tão compreensivo, Cadú!
Realmente, eu jamais faria nada para prejudicar a banda.
- Eu sei! Bom, vamos voltar a nos arrumar que temos
um show para fazer. Até!
- Até!
Nós fizemos o show normalmente, até a hora que o
Gabbe começou a tocar Dueto dos Ossos. Eu tinha me
esquecido daquela música, e comecei a ficar enjoada só
de pensar em interpretar uma música romântica com o
verme do Tim. O Tim começou a cantar sua parte e eu
olhei para o público. Tive uma ideia! Deixa eu escolher
um homem bem bonito na plateia e lá vamos nós! Eu me
aproximei de um homem alto, loiro e de olhos verdes. Ele
estava na primeira fileira, então quando começou a minha
parte da música, eu cantei olhando para ele. No refrão,
onde o Tim e eu cantamos juntos, eu me aproximei ainda
mais do bonitão, dei uma piscadinha e sorrisinhos, e
quando acabou a música, eu dei um beijo na bochecha
dele e agradeci. O bonitão ficou se achando, pois levantou
as mãos e ficou apontando para ele mesmo, como se ele
fosse “o cara”. No final das contas, eu havia superado
mais um problema, e fiquei contente por isso.
Após o fim do show, eu voltei para meu camarim e
tomei um copo d’agua, quando alguém bateu à minha
porta. Se for o desgraçado do Tim, eu juro que jogo esse
copo na cabeça dele. O mesmo vale para a lacraia da Bia!
E então eu abri, mas não era o Tim, nem a Bia, muito
menos qualquer outra pessoa que eu esperasse voltar a
encontrar.
- Oi, Vivi! Precisamos conversar, e dessa vez você
não me escapa. – disse Brian Levicce. Ah, mais essa,
agora! Como se eu não tivesse mais nada com que me
preocupar.
- Eu não quero falar com você! Não me faça chamar
os seguranças.
- Por favor, eu mereço uma chance de me explicar.
- Merece uma chance? Ah, essa é boa! Some daqui,
Brian. Eu vou contar até cinco e se até lá você não tiver
sumido, eu vou expulsar você daqui na marra.
- Pois então tire, porque eu não vou arredar o pé
daqui. Eu preciso e vou explicar o que aconteceu. – e
então ele abriu a porta e fez um sinal para uma terceira
pessoa entrar. Uma terceira pessoa alta, de longos cabelos
ruivos e olhos da cor de esmeraldas. Alicia Hershel!
- Vocês só podem estar de brincadeira! – eu disse,
desacreditando da palhaçada que aquela situação estava
virando.
- Por favor, Vivianne! Ouça o Brian, há dias que ele
está super angustiado. Eu nunca o vi tão mal como ele
está. – suplicou Alicia, e percebi que aquela situação
estava começando a me intrigar. Olhei para os dois por
algum tempo e resolvi ouvi-lo ao menos uma última vez.
- Vou cronometrar três minutos! Ouviu? Nem um
minuto a mais, nem um minuto a menos. – eu disse.
- Vivi, as fotos exibidas na mídia não querem dizer
nada. Eu e a Alicia realmente namoramos há alguns anos
atrás, mas nós terminamos justamente por percebermos
que o que tínhamos em comum era apenas uma forte
amizade. Nós nunca perdemos contato, e a Alicia namora
há quase um ano um empresário do ramo automobilístico,
que por sinal, eu que os apresentei. Ele é um grande amigo
meu, e se você quiser falar com ele, ele disse que
poderíamos marcar um jantar para que tudo fosse
esclarecido. Eu e a Alicia somos amigos, apenas. – ele
disse em um tom defensivo.
- É verdade, Vivianne! Eu e ele somos muito amigos,
tanto que há meses que eu si que ele é louco por você.
Foram inúmeras as vezes que eu ia até o apartamento dele
e o encontrava assistindo o DVD Rock & Pie Ao Vivo no
Maracanã, eu sempre encontrava várias fotos suas no
computador dele. Eu até presenciei quando ele indicou
sua banda ao Bruce Hudgens, para que ele os convidasse
a fazer uma colaboração no show dos EmptyBottles, na
Times Square. – Meu Deus! Será que cometi uma
injustiça tremenda com o Brian?
- Vivi, desde a primeira vez que vi você cantando, eu
senti que você era a garota certa, que seria a minha
escolhida. Por você eu mudei meus hábitos, você é a
primeira pessoa em quem eu penso quando acordo e pra
quem desejo boa noite em pensamentos, antes de dormir. –
Ai, meus sais! Ele me ama de verdade! E eu estava
apaixonada pela pessoa errada.Eu me aproximei dele e
peguei suas mãos na minha.
- Brian, me desculpe! Eu vi aquelas fotos e... eu...
então todos disseram que vocês... Ah, me desculpe! – e
ele me abraçou. Olhei para a Alicia e vi que ela parecia
feliz. Ele passou uma das mãos pelos meus cabelos e deu
um beijo no meu pescoço. Eu me afastei. Ele piscou,
surpreso, e então disse:
- Agora que você sabe a verdade, você vai voltar a
ser minha, não é?
- A verdade é que agora eu não consigo, Brian. Eu
preciso de um tempo. Com todo esse mal entendido, muita
coisa aconteceu. Meus sentimentos estão muito confusos.
- Eu entendo, Vivi, mas preciso saber de uma coisa.
- O que?
- Você está namorando o Tim?
- Não! Nem pensar.
- E o que significou aquele beijo? – O que
significou? Significou uma peça que ele me pregou,
significou meu coração sendo despedaçado.
- Não significou nada! Foi mais uma das peças dele.
Não se preocupe com isso. – e pude ver nos olhos dele o
quanto aquele beijo o tinha machucado. Então eu percebi
que a Alicia estava andando em direção a porta. – Ei,
Alicia! Obrigada pela ajuda. E me desculpe por todos
xingamentos que proferi a você, ainda que você não tenha
conhecimento deles. – ela riu e deu de ombros.
- Você é uma boa garota, Vivi! Só não vá machucar
meu amigo novamente. Dessa vez eu deixei passar porque
sei que você deve ter sofrido ainda mais que ele. Mas na
próxima você vai se ver comigo! – ela disse, antes de sair.
Então ele deu um passo na minha direção.
- Bom, pelas minhas contas, ainda faltam cinco
shows para o final da sua turnê.
- Sim, e o próximo é em Washington.
- Bem, então é para lá que vamos!
- Vamos? Como assim?
- Eu tirei umas férias da banda. Vou te acompanhar
pela turnê. Afinal, uma rockstar de verdade sempre leva
groupies em suas turnês. – ele disse e eu ri. Ele sorriu. –
A princípio vou como amigo, prometo! Posso te dar a
honra da minha companhia?
- Ah, Brian! Você nem imagina o quanto estou
precisando de uma boa companhia!
Quando estávamos saindo do Camarim, ele disse
para irmos até onde ele havia estacionado seu carro, um
maravilhoso PaganiHuayra, modelo 2012.Quando
passamos pela frente do Camarim dos meninos, eu resolvi
apressar o passo, mas a porta abriu e o Cadú saiu. Ele
olhou para o Brian e fechou o punho. Segundos antes de
ele conseguir golpear o Brian, eu segurei seus braços e
disse:
- Calma, Cadú! Eu e ele conversamos e tudo não
passou de um mal entendido. Até a garota veio até aqui
para desmentir o boato. – ele olhou o Brian com suspeita.
- Eu juro que jamais faria qualquer coisa para
magoar a Vivi! Eu sou completamente louco por ela! – e
ele disse de uma forma tão natural que o Cadú acabou
relaxando.
- Só te digo uma coisa: pense três vezes antes de
fazer qualquer coisa com ela, se não estiver a fim de usar
dentadura pelo resto da vida.
Nós chegamos ao estacionamento e, como sempre,
haviam diversos paparazzis por lá. Quando me viram com
o Brian, eles desataram a perguntar o que tinha
acontecido. Então o Brian deu um passo a frente e disse:
- É melhor deixarmos claro de uma vez que eu nunca
traí a Vivi. Foi por culpa de insinuações maldosas por
parte da mídia que a Vivi acabou magoada sem motivo
algum. A Alicia namora um dos meus melhores amigos e
os dois são pessoas que considero como parte da família,
até. Eu não tenho e nem voltarei a ter nenhum
relacionamento romântico com ela. A garota que eu quero
e que lutarei para ter pela vida toda é a Vivi. E não, ela
não está namorando o Tim, foi apenas uma brincadeira de
mal gosto da parte dele.
- Vocês voltaram a ficar juntos, então?
- Ela ainda está um pouco confusa, mas eu vou lutar
por ela com todas as minhas forças.

Nós fomos para o hotel no qual eu estava hospedada,


e ele se hospedou por lá, também. Após nos despedirmos
e irmos cada um para o seu quarto, refleti sobre as ironias
da vida. A pessoa que mais me quer bem é quem eu menos
esperava. E quem eu mais queria que me quisesse bem, só
quis me derrubar. Lembrei da música “Coração”, que o
Fagner canta com o Forróçacana e minha mãe tanto gosta.
A letra dizia tudo que eu sentia naquele momento, então
abri meu notebook, entrei no Youtube e coloquei aquela
música para tocar. Eu me despi e estava prendendo meu
cabelo, quando meu celular toca. Era o Tim. Eu taquei o
celular na parede e tomei meu banho sossegada.
No dia seguinte eu tomei café da manhã com o Brian
e enquanto comíamos eu contei para ele sobre meus novos
projetos e o convidei a ir comigo até a reunião que eu
teria naquela tarde, antes de voarmos para Washington. E
ás duas da tarde, em ponto, o Kevin Jackson me encontrou
no saguão do hotel.
- Olá, Srta. Santinni! É um imenso prazer conhecê-la.
Olá, Sr. Levicce! – Kevin disse.
- Espero que não se importe de eu tê-lo convidado. É
que ele é um amigo próximo e tem mais experiência
nesses assuntos do que eu.
- De forma alguma, Srta. Santinni. – ele respondeu, e
então começamos a negociação. Ele explicou que a garota
propaganda deveria gravar um comercial de um minuto e
meio, além de fazer uma sessão fotográfica. Eu me
interessei em representá-los,uma vez que eu realmente
achava os produtos da ShiningHair de boa qualidade.
Quando chegou a hora de negocia o preço, o Brian
interviu.
- A Vivi terá o maior prazer em aceitar a oferta, mas
somente se esse cachê aumentar para oito milhões. – o
Kevin considerou a oferta por um tempo, então disse:
- Seis milhões e meio!
- Oito milhões ou nada feito! – insistiu Brian. Caiu
uma gota de suor da testa do Kevin, mas ele disse:
- Fechado!
Eu li todas as cláusulas contratuais e então assinei o
contrato. À noite, nós pegamos um vôo para Chicago e nos
hospedamos no Hotel Rouge, que é um dos hotéis mais
coloridos, modernos e divertidos que conheci. Eu estava
cansada para sair para jantar, então disse ao Brian que
comeria no meu quarto, mesmo. Ele pareceu um pouco
decepcionado, mas soube entender. Após jantar um creme
de cebola, eu peguei no sono, e para meu desespero, senti
meus olhos colados.
- Oi! – ele disse, e eu queria sair correndo.
- Por que você está aqui? Eu não queria te ver.
- Relaxa. Eu já estou indo embora.
- Então para que veio?
-Para ver se você estava bem, é claro.
- Ah, sim, Sr. Preocupação! Eu tinha me esquecido
de como você é prestativo! – eu disse em tom de ironia,
mas ele já tinha ido embora. Engraçado como ele só
aparecia quando eu já não estava mais na pior. É cada
uma que me aparece!
Na manhã seguinte, eu e o Brian tomamos um café da
manhã reforçado. Foram momentos bem animados, uma
vez que ele contou sobre várias situações engraçadas
pelas quais ele e a banda haviam passado, como o dia que
uma fã subiu ao palco e arrancou a roupa, alegando que o
Brian era o amor da vida dela e que ele precisava ver que
ela tinha o corpo tão bonito quanto o das modelos que ele
costumava namorar. Nós rimos bastante, até ele dizer:
- O que aconteceu com você, Vivi?
- O que você quer dizer, Brian?
- Quando você me olhava, seus olhos brilhavam
como estrelas. Hoje eu não vejo mais esse brilho. – ele
fez uma afirmação, mas entendi que era, na verdade, uma
pergunta.
- Quando eu assisti aquele programa de fofocas e vi
você com a Alicia, eu confesso que boa parte de tudo que
eu já havia sentido por você morreu dentro de mim. Agora
eu preciso recuperar aquele sentimento, entende? Mas do
jeito que você é, e com isso eu quero dizer totalmente
incrível, não vai ser uma tarefa muito difícil. – eu disse
com toda verdade do meu coração. Ele apenas me olhou,
considerando o que eu havia dito, e eu fiquei observando-
o. Lembrei da primeira vez que o vi, no restaurante do
Four Seasons, quando meu coração quase saiu pela boca.
Eu havia ficado hipnotizada por sua beleza, e com toda
confusão que havia acontecido em minha vida, eu
confesso que havia esquecido o quanto ele era atraente.
Naquele momento, mesmo, ele usava uma camiseta polo
de gola V que alongava seu pescoço vistoso, e reparei
novamente naquela veia protuberante que já havia feito eu
perder noites e noites de sono.
- O que foi? – ele perguntou, e eu me senti ridícula
por estar encarando-o.
- Nada!
- Ah, não venha com essa história de “nada”.
Desembucha!
- Eu só estava olhando para você. Eu tinha esquecido
o quão bonito você é.
- E eu tinha esquecido o quanto é bom saber que
você pensa assim. – e reparei o quanto eu gostava quando
ele sorria com os olhos, como estava fazendo naquele
minuto.
Naquela tarde eu marquei com o Gabbe e com o
Cadú um passeio pelos museus de Washington. Os museus
eram mais divertidos e menos antiquados do que eu
achava, e o dia passou rapidamente. Assim que a noite
caiu, o Brian, que estava nos acompanhando, sugeriu que
fossemos ao Ben’s Chili Bowl para provar o cachorro
quente mais tradicional da cidade. Nós fomos, e ao
chegarmos percebemos que aquele lugar mais parecia com
uma balada do que com uma lanchonete, pois era super
lotado e frequentado por pessoas bonitas. Nós estávamos
procurando uma mesa para nos acomodarmos, quando vi
algo que fez com que a raiva me dominasse: o Tim estava
sentado em uma das mesas, olhando o cardápio. Para
piorar, o Cadú acenou para ele e o convidou a se juntar a
nós. E não é que aquele canalha aceitou?
O Brian sentou ao meu lado e passou o braço pelos
meus ombros, em um gesto de posse, tendo em vista que o
Tim estava sentado bem à nossa frente. Cada um de nós
pediu o cachorro quente ao seu gosto, e o Tim, como
sempre, pediu o mesmo que eu. Nosso gosto para comida
sempre foi bem semelhante. Enquanto o cachorro quente
não ficava pronto, todos começamos a comentar sobre um
vídeo que tinha virado febre no youtube, de um grupo de
comédia que parodiavam os hits do momento, e eles
haviam feito uma paródia da música “Hey Menina”, ainda
que nem tivéssemos gravado o videoclipe, o que só
aconteceria no final de semana que estava por vir. Mas
confesso que a paródia ficou bem engraçada, com direito
a um cara cheio dos rebolados e com uma peruca de
cabelos longos e loiros. O Tim conversava com o Gabbe e
com o Cadú, mas estava tendo o bom senso de não puxar
assunto comigo nem com o Brian, ainda que ele nos
encarasse por vários minutos além do normal. Quando o
garçom trouxe nossos lanches, todo mundo começou a
devorá-los, pois estávamos com muita fome. O Cadú
então disse:
- Nossa, Brian! Valeu por indicar esse lugar, o
cachorro quente realmente é espetacular.
- Ah, imagine, cara! Aqui é parada obrigatória para
todo mundo que visita Washington.
- Não precisa ser nenhum gênio para indicar esse
lugar. É tão tradicional que qualquer pessoa da cidade o
indicaria. Tanto que, como podem ver, eu o descobri por
mim mesmo – disse Tim, desmerecendo a idéia que o
Brian teve de ir até lá.
- Eu discordo, aposto que existem muitos outros
lugares gastronômicos que são tradicionais, por aqui. Ele
poderia ter indicado qualquer outro, mas analisou nosso
perfil ao indicar aqui. Sabe que gostamos de comida
simples. – eu disse.
- Nossa, como pode babar tanto ovo pra esse cara. –
ele resmungou como se estivesse falando para ele mesmo,
mas todos nós ouvimos.
- Ei, tenha mais respeito pela Vivi. Pelo que tenho
percebido, ela já está farta de você e de seus comentários
depreciativos. – se exaltou Brian.
- Farta de mim? Não me lembro de ela estar farta de
mim nas vezes que eu a beijei, nas noites que passamos
juntos, enquanto você estava brincando de amiguinho com
aquela modelo magricela. – ele disse e eu fiquei roxa de
vergonha e de ódio. Como ele ousava mencionar as
noites que passamos juntos? Olhei para o Brian e ele
estava praticamente da mesma cor que eu.
- Eu sei que você está louco para causar intrigas
entre eu e a Vivi, e se quer saber, eu não me importo com
o que aconteceu entre vocês. E sabe por quê? Em primeiro
lugar, eu sei que ela ficou arrasada com a história que
inventaram sobre Alicia e eu, e seria totalmente
compreensível que ela tenha buscado consolo nos braços
de alguém, ainda que pensar nisso me mate por dentro. E
em segundo, porque se as noites que você diz ter passado
junto à Vivi tivessem algum significado, agora ela estaria
com você, e não tentando resgatar um relacionamento
comigo. – Brian respondeu, enquanto o Gabbe e o Cadú
prestavam atenção a tudo que dizíamos, e o Tim ficava
mais vermelho que uma tomate. Quanto a mim, eu me senti
completamente infeliz, e uma mágoa cresceu dentro do
meu peito, e quando estava quase me sufocando, eu disse;
- Durante muito tempo eu me perguntei o que fiz para
você me odiar tanto a ponto de fazer de tudo para me
deixar sempre infeliz, Tim. Mas hoje em dia eu já nem me
importo em querer saber, porque seja qual for o motivo,
ele perdeu o significado em meio a tantas maldades que
você já fez para mim. Se você ainda não percebeu,
quantas vezes eu cair será o número de vezes que eu vou
me reerguer, e cada uma destas vezes eu estarei mais
forte. – eu desabafei, enquanto todos me olhavam
assustados com a intensidade das minhas palavras. O Tim
ficou surpreso com o que eu disse, foi como se ele tivesse
levado uma bofetada na cara, e seus olhos se encheram de
lágrimas, provavelmente de raiva por ver que eu não
estava na pior. Mas mesmo dizendo todas aquelas coisas
para ele, eu continuava me sentindo infeliz.
- Tim, que tal se você voltasse para o hotel? –
sugeriu Cadú, ao ver a profundidade do ressentimento que
estava no ar. Então o Tim pegou sua carteira, puxou uma
nota de cinquenta dólares, jogou em cima da mesa, limpou
a boca com um guardanapo e foi embora.
Quando chegamos ao hotel, o Brian voltou para o seu
quarto e eu fui para o meu. Em seguida, ele me ligou.
- Brian, o que houve?
- Vivi, preciso te perguntar uma coisa. É verdade o
que o Tim disse sobre você e ele terem tido um caso? –
Ai, meu Deus! O que eu digo?
- Não sei se pode ser chamado de caso, já que durou
uns três ou quatro dias. Mas sim, eu e ele ...é... se é que
me entende. – o silêncio predominou por quase um minuto.
- E vocês chegaram a ...é... vocês chegaram aos
finalmente? – Eu não respondi, e esse silêncio confirmou
a pergunta. – E-e-e como foi? Como você estava se
sentindo em relação ao que aconteceu? – ele perguntou
gaguejando de nervoso.
- Não entendi a sua pergunta. Você está querendo
saber se foi bom, é isso?
- Sim. Isso e... e se você chegou a ter sentimentos
mais profundos por ele. – O que eu digo?
- Sim, foi bom. E eu cheguei a achar que estava
apaixonada, mas eu estava enganada.
- Ok, acho que já ouvi o suficiente por hoje.
- Brian, você vai desistir de mim?
- Vivi, nem que você me pedisse isso. Eu nunca vou
desistir de você! Nunca! – e então ele desligou.
15 – NADA MAIS IMPORTA

“Nunca me importei com o que eles dizem. Nunca me


importei com os jogos que eles jogam. Nunca me
importei com o que eles fazem. Nunca me importei com o
que eles sabem.” Nothing Else Matters - Metallica

No dia seguinte, o dia pareceu voar. Quando eu


menos esperei, já estava no palco, cantando, dançando e
evitando olhar para o Tim no dueto constrangedor. O
Brian ficou o tempo todo nos bastidores, me apoiando. A
Bia também estava o tempo todo nos bastidores, me
olhando com um ar de superioridade que me fazia querer
arrancar cada fio de cabelo daquela cabeleira sem graça.
Quando saímos do palco, ela se jogou nos braços do Tim
para cumprimentá-lo pelo sucesso do show. Eu juro que
passou pela minha cabeça pegar o extintor que estava
atrás de mim e jogar naqueles dois ridículos. Após o
show, nós demos uma entrevista para um jornal local,
agradecemos aos fãs por terem comparecido ao show, e
voltamos para o hotel.
Os dias passaram rapidamente, e já tínhamos feito
um show em Dakota do Sul e no Mississipi, quando
chegou o dia de eu fazer as fotos para a ShiningHair. Nós
voamos para a Florida, onde faríamos o próximo show e
onde eu faria a sessão fotográfica e gravaria o comercial.
O Brian me acompanhou até a mansão “Olivetti”, em
Orlando,e lá tinha uma piscina olímpica maravilhosa que
seria o palco do meu comercial. O dia estava tão quente
que nem me importei quando me disseram que eu usaria
um biquíni preto como vestimenta. Como eu estaria na
piscina na maior parte do comercial, o biquíni realmente
era a melhor das opções. Fiquei contente quando notei que
no final de cada ponta que amarrava meu biquíni, tinha
uma caveirinha. Aquilo sim era a minha cara. Eu decorei
as falas, gravei minhas falas rapidamente e não tive
problema algum durante as filmagens. O diretor disse que
eu havia nascido para isso, pois era raro alguém não errar
nenhuma tomada. O Brian ficou sentado ao lado do diretor
o tempo todo, e mesmo com várias mulheres passeando
pelo estúdio e se jogando em cima dele, ele nem sequer
percebia, pois só tinha olhos para mim. Após a gravação
dos comerciais, fizemos a sessão fotográfica dentro da
mansão, mas dessa vez eu usava um vestido vermelho
transparente eles frisaram meu cabelo, dando a impressão
de ondas, quando eu me movia. No meio da sessão, eles
alisaram meu cabelo e ligaram um ventilador que fazia
com que meu cabelo ficasse esvoaçante. Confesso que
amei aquele dia, amei ser a garota propaganda de uma
marca de shampoo. Aquela tarde havia sido extremamente
prazerosa.
À noite, nós nos hospedamos no mesmo hotel onde os
outros estavam hospedados, o The Peabody Orlando. Eu
havia decidido que não havia mais motivo de fugir de
coisas que não deveriam me importar. Se o Tim e a Bia
estavam juntos, era um problema deles, e eu não tinha
nada a ver com aquilo. Além do mais, o Brian estava aqui,
e isso deveria ser o suficiente para me deixar mais que
feliz. Eu estava me arrumando para sair para jantar
quando o Cadú me liga.
- Oie! – eu disse.
- Vivi, preciso conversar com você.
- Quer vir para o meu quarto? Já estou terminando de
me arrumar.
- Não, prefiro falar pelo telefone, mesmo, porque sei
que você não vai gostar do assunto e temo pela minha
saúde física se eu for até aí.
- E qual seria esse assunto que me irritaria a ponto
de atentar contra sua saúde física?
- Calma. Deixa eu contar a história do início. Depois
do dia que fomos comer cachorro quente, em Washington,
eu estranhei o mal estar que estava rolando entre você e o
Tim. Quando eu voltei para o hotel, eu fui até o quarto
dele. Eu pedi para ele me contar tudo que estava
acontecendo, e após hesitar por um tempo, ele finalmente
confessou a verdade.
- Ótimo! Agora eu não preciso mais esconder mais
nada de você.
- Calma, Vivi! Ele me contou tudo o que houve,
inclusive o que você acha que aconteceu.
- O que eu ACHO que aconteceu? Eu não acho nada.
Eu SEI o que eu vi.
- Mas Vivi, ele me disse que tudo não passou de um
mal entendido. Ele parecia estar sendo sincero. Deixa eu
te contar o que ele me disse, foi assim...
- Você acredita nele e não em mim, é isso que você
está dizendo, Cadú?
- Vivi, eu acredito no que você pensa que viu. Mas a
verdade é outra, ele...
- Não precisa dizer mais nada, Cadú! Mesmo depois
de tudo que ele me fez, você resolveu acreditar nele. Eu
estou decepcionada com você!
- Se for por essa linha de pensamento, você também
achou que o Brian tinha te enganado, mas decidiu ouvir o
que ele tinha a dizer e deu uma segunda chance a ele, isso
que você o conhece há quanto tempo? Dois meses? Então
porque eu não deveria ouvir o meu amigo de anos, hãn? E
porque você também não dá a ele a chance de se explicar?
- Você não sabe do que está falando, Cadú! Eu só
decidi ouvir o Brian porque a própria Alicia foi até mim e
disse que eu tinha entendido tudo errado, que ele era
louco por mim e que eles não tiveram nada, que tudo não
passou de um mal entendido. – eu disse, e o Cadú pareceu
levar em consideração, pois demorou alguns segundos
antes de dizer:
- Então me diga uma coisa: se a Bia se explicar
dizendo que tudo não passou de um mal entendido, você
acreditaria nele? -e eu pensei. Pensei. E pensei. Eu
realmente duvidava que a Bia dissesse qualquer coisa que
pudesse fazer com que eu voltasse com o Tim. E quando
ela assumisse a verdade, o Cadú finalmente veria que eu
estava com a razão, e entenderia minha aversão por
aquele filho da mãe.
- Sim, Cadú! Se a Bia viesse me dizer a versão dela,
eu levaria em consideração. Mas não prometo que o
perdoaria, eu só posso garantir que os ouviria.
Aquela noite eu dormi como um anjo, sem
interrupção de nenhum homem-cola, nem nenhum peso na
consciência. Na manhã seguinte todos acordamos ás cinco
horas da manhã, pois deveríamos ir para Miami Beach
para gravarmos nosso novo vídeo clipe, então acordei,
tomei um banho e me troquei, arrumei as minhas coisas e
desci para tomar café. Com exceção do Brian, todos já
estavam na mesa, inclusive a vadia da Bia. Eu disse um
bom dia geral e liguei no celular do Brian. Ele atendeu e
disse que não estava se sentindo bem, e que ficaria aquele
dia pelo hotel, mesmo. Eu desejei melhoras e fui em busca
do meu suco de laranja com três pedras de gelo e de todas
as outras coisas que fazem rotina do meu café da manhã e
voltei para a mesa. Estavam todos muito quietos, e o Cadú
parecia muito pensativo. Resolvi quebrar o gelo:
- E aí, será que os “Coveréticos” já chegaram? Tenho
a impressão de que por causa deles, esse será o nosso
melhor videoclipe.
- Nossa, com certeza! Eles são muito engraçados. Foi
uma excelente idéia, Cadú, mudar o conceito do
videoclipe e contratá-los para contracenar conosco. Mas
confesso que estou com medo de que a versão cover que
eles fizeram da nossa música seja insuperável. – disse
Gabbe.
- Que nada! Quando foi que você viu o cover e o
original em uma mesma música? Nós seremos os
pioneiros em parodia a própria música. – eu disse, e
todos rimos. O Tim levantou os olhos do seu sanduíche
para olhar para mim, e senti uma fisgada no peito. Eu tinha
tanta raiva dele que até meu peito doía.
A viagem de carro de Orlando até Miami Beach tem
quatro horas de duração. Nós fomos de Limusine, e como
eu estava com muito sono, fui dormindo no ombro do
Gabbe. Quando chegamos até o local da praia onde
gravaríamos nosso videoclipe, nossa produção já tinha
deixado tudo pronto. Nós ensaiaríamos com o pessoal do
Coveréticos (que eram formados por quatro homens), o
nosso coreógrafo ZierManckolvitz e o produtor de
filmagem Ronny Willard nos auxiliariam quanto ao que
eles esperavam que fizéssemos. Nós tivemos um dia
inteiro para ensaiarmos, demos uma pausa comermos um
lanche e então começamos a gravação do clipe.
Como cada um dos Coveréticos já tinha se adaptado
a representar cada um de nós da Rock & Pie, eles já
tinham estudado nossos trejeitos. O cara de peruca loira
se chamava Julio (sim, eles eram brasileiros), e ele estava
usando um vestido azul marinho igualzinho ao meu. Eu
usava meus cabelos meio presos e meio soltos, e nosso
cabeleireiro fez o mesmo penteado na perucona dele. A
história do videoclipe era a seguinte: estava tendo uma
festa na praia e um cara, que era representado por cada
um dos componentes da banda em diversos momentos,
avistava uma garota, representada por mim, e ficava
pirado por ela. Então eu teria que contracenar com cada
um deles. Começou pelo Gabbe, que fez algumas caras de
safado que me lembraram do Ric. Eu passava por ele, e
então ele me seguia por toda festa, até que eu sumia na
multidão. A pegadinha era que ao nosso lado, aconteceria
a mesma coisa com nossos covers, e eles fariam caras
engraçadas e ficariam parodiando as nossas cenas. Então
foi a vez do Cadú. Ele me encontrava sentada com umas
garotas (figurantes), e ficava me encarando e dando
piscadinhas. Eu olhava para ele, cochichava com as
meninas e ríamos dele. Então ele escreveu um bilhetinho e
me deu. No bilhete ele perguntava qual era o meu nome,
então eu levantava, ia até ele, mas um arrastão de pessoas
passava por nós e eu sumia. A cena em que os
Coveréticos parodiavam a parte do bilhetinho foi demais.
O Cadú cover tinha acabado de assoar o nariz, depois
pegou uma caneta e escreveu o bilhetinho em cima das
caquinhas. Foi nojento, mas engraçadíssimo,
principalmente pela cara que a Vivi cover fez quando
abriu o bilhetinho e viu que sua mão estava melada. E
então era a vez do Tim. Sem dúvida alguma eu estava tão
ansiosa por contracenar com ele quanto eu estava por
raspar meu cabelo careca. Nossa cena seria a seguinte:
ele me encontraria dançando, no meio da multidão, e eu
estaria dançando de uma forma super sexy. Nós nos
olharíamos por alguns instantes, e eu viraria de costas
pare ele, ignorando-o, mas ele não se contentaria e me
abraçaria por trás. Ele perguntaria no meu ouvido qual era
o meu nome, eu viraria meu pescoço para seu outro
ouvido e insinuaria sussurrar, mas então o Cadú e o
Gabbe me achariam e me puxariam para eles, e quando
eles começassem a brigar por mim, eles acordariam, e os
três estariam deitados na areia da praia, como se fossem
amigos, e eles diriam um ao outro que tiveram um sonho
esquisito. Então eu passaria por eles com um shortinho de
ginástica e uma regata preta de alçinhas por cima de um
biquíni, como se estivesse fazendo uma corrida matinal.
Os três se entreolhariam e começariam a correr atrás de
mim, e então a cena pularia para os Coveréticos, que
acordariam na areia e encontrariam a Vivi cover correndo
na areia, com um shortinho de ginástica, uma regata preta
e a barrigona de fora, pulando a cada passo que dava.
As gravações acabaram às 02:00 da manhã, e apesar
de ser bem puxada, foi super divertida. A única parte ruim
foi ter que contracenar uma cena romântica com o Tim, ter
que olhar nos olhos dele e fingir desejo, ter que sentir ele
me abraçar por trás, me acariciando e sussurrando no meu
ouvido. Aquela parte foi mais uma sessão de tortura do
que qualquer outra coisa. Como estava muito tarde para
pegarmos estrada, resolvemos nos hospedar em um hotel
lá perto. Nós chegamos ao hotel e fomos direto para a
cama. Pois estávamos extremamente cansados. Eu estava
no terceiro sono quando a porta bateu. Eu ignorei e
continuei em busca do sono perdido, quando ouço outra
batida. Eu estava tão cansada que parecia que estava
bêbada de sono, até minha coordenação motora estava
afetada, pois no caminho da cama até a porta eu tropecei
duas vezes. Nem olhei no olho mágico, pois poderia ser o
presidente dos EUA que eu o mandaria embora, alegando
que eu estava sem condições físicas para conversar. Eu
abri a porta e nem percebi que havia sido prensada na
parede até a hora que senti algumas partes do meu corpo
começarem a fazer cócegas, devido ao contato físico.
- Mas o que que é isso? Vai embora, Tim! Eu não
quero te ver fora de ambientes profissionais, e estou com
muito sono para discutir qualquer coisa.
- Eu sei! Você fica mole quando está com muito sono,
por isso que eu estou aqui a esta hora. – e ele se apertou
ainda mais contra mim.
- Tim, vá embora! Eu estou avisando!
- Vivi, eu falei com o Cadú! Eu vou te explicar tudo,
você vai ver! Eu não fiz nada, eu juro. Eu nem poderia...
você é a única coisa que quero, Vivi! A única que preciso
de verdade. E dói ficar sem você. Dói mais ainda saber
que você não acredita em mim, mas acredita em um cara
que tem a maior fama de mulherengo.
- Ele gosta de mim de verdade. Mais que isso, até! E
eu não vou te ouvir, Tim! Eu não acredito mais em você!
Você pensa que é quem? O cara mais irresistível do
mundo, para eu não conseguir me conter quando estou nos
seus braços? Me solte! Agora!
- Eu não me sinto irresistível, Vivi! A não ser quando
você me olha dessa jeito.
- Desse jeito como? Com ódio? Com nojo?
- Como se eu fosse o homem mais lindo do mundo.
- Não sonha, vai, Tim! O Brian é um zilhão de vezes
mais bonito que você! Ele tem aquele pescoço lindo, – e
olhei para o pescoço dele, que é tão grosso e longo –
aqueles braços musculosos – e olhei para os braços que
me prendiam, que eram tão fortes quanto os do Brian, mas
de forma natural, sem excesso de malhação. Minha boca
ficou seca, e minha voz ficou mais rouca – enfim, ele é
todo perfeito. – ele ficou com o olhar sombrio por um
tempo, mas então sua feição relaxou e ele disse:
- Ah, é? E a boca dele? É tão gostosa quanto a
minha? - eu olhei para aqueles lábios cheios e vermelhos
e minha visão até ficou turva. – Mãe, socorro! Me tira
daqui! Eu bem que queria ser resgatada, mas minha mãe
estava a milhares de quilômetros de distância, e qualquer
outra pessoa que eu conheço e que estava perto de mim
estava dormindo, então eu tentei empurrá-lo, mas ele me
apertou ainda mais. – E o beijo dele, é tão bom quanto
meu? – isso ele disse sussurrando com sua voz rouca no
meu ouvido. Eu quase caí, porque perdi o controle das
pernas, mas ele me segurou e me carregou até a minha
cama e me jogou lá. Eu tentei chutá-lo, estapeá-lo, mas ele
era mais forte, parecia saber cada movimento que eu faria
e se defendia, sem ser golpeado. Ele engatinhou pela cama
até ficar em cima de mim, então ele segurou meu pescoço
e mergulhou seus lábios nos meus. Eu empurrei seu peito,
o esmurrei com toda força que tinha, mas ele nem se
moveu. Então eu fui perdendo as forças e sentindo cada
vez mais o gosto dele, sentindo o coração dele pulsar
contra o meu peito, senti sua língua dançando contra a
minha, e relaxei em seus braços. Ele passou a ponta dos
dedos pelo contorno do meu pescoço, e depois usou sua
boca para trilhar caminhos pelo meu corpo, me fazendo
me sentir febril. Ele voltou a me beijar, mas se encaixou
contra o meu corpo de forma que eu sentisse toda sua
virilidade. Eu suspirei vagarosamente, e ele levantou
minha camiseta e passeou com seus dedos pela minha
barriga, subindo para meus seios, e então ele se afastou
um pouco para tirar a camiseta, e aquela imagem veio na
minha mente de forma implacável, me levando às
lágrimas: ele só de toalha em seu quarto com a Bia em
cima de sua cama. Eu aproveitei que ele tinha se afastado
para empurrá-lo para trás e fugir dele.
- Nunca mais faça isso comigo! Não se aproveite
mais do meu cansaço para abusar de mim. Agora vá
embora! – eu disse em uma voz tão gélida que nem
parecia a minha. Ele demorou uns segundos para se
recuperar, mas então se levantou e foi em direção à porta.
Antes de sair, porém, ele se virou para me olhar e disse:
- Feliz Aniversário, Vivi! – e se foi. Eu não consegui
voltar a dormir, só ficava lembrando do seu toque, do seu
gosto, do seu beijo. Então bloqueei minha mente. Eu não
pensaria mais nele e pronto! Não havia espaço para
confusões amorosas em minha vida, naquele momento. Se
foque em sua carreira, Vivi! Só na sua carreira! Nada
mais importa!
Na manhã seguinte, enquanto voltávamos para
Orlando, liguei para o Brian para saber se ele tinha
melhorado. Ele disse que estava melhor, mas logo
desligou o celular. Que estranho, ele nem puxou assunto
comigo. Olhei para os meninos, ao meu lado, e percebi
que eles estavam estranhamente quietos. E o mais estranho
de tudo: com exceção do Tim, ninguém havia se lembrado
do meu aniversário. Eu passei a viagem inteira deprimida,
com saudades de casa, do abraço gostoso que minha mãe
sempre me dava nos meus aniversários. Quando chegamos
ao Peabody Orlando, levei minhas coisas para meu quarto
e fui até o quarto do Brian, mas ele não estava lá. Eu
voltei para o meu quarto, tomei um banho gelado e liguei
para o Brian, mas ele não me atendeu. Meu estômago
roncou e percebi que já era hora do almoço. Liguei para o
Gabbe para ver se ele gostaria de me acompanhar até um
restaurante, mas ele também não atendeu. Que diabos está
acontecendo com todo mundo? Eu decidi que com fome
que eu não ficaria, então desci, decidida a ir almoçar em
um restaurante que eu já havia ouvido falar que era muito
bom e que era perto do hotel, o Miller’s Ale House, mas
quando estava próxima a porta do hotel, a recepcionista
me chamou. Ela disse que o Cadú havia deixado um
recado avisando que ele e os rapazes iam fazer compras e
só voltariam a noite. Ótimo! Vou passar meu aniversário
sozinha. Perguntei se o Sr. Levicce estava incluso nessa
ida às compras, e ela assentiu. Eu não entedia como podia
ser, já que assim que chegamos eu fui ao quarto dele e ele
já não estava lá. Eu estava perplexa. Todos eles saíram e
me deixaram no hotel, completamente sozinha. Que
aniversário mais patético! Querendo ou não, o único que
se lembrou foi o cachorro do Tim. Imediatamente veio à
minha cabeça a sensação do toque dele em minha pele,
dos seus lábios nos meus... Minha mente berrava: Não,
Vivi! Você não pode desejá-lo. Ele te traiu, não antes de
fazer você se apaixonar por ele, para te deixar mais pra
baixo que piso de subsolo. Ei, eu disse apaixonar? Eu
tinha me apaixonado por ele? Fechei meus olhos e
imaginei seu rosto. Seus olhos negros e sua boca perfeita
fazem meu coração altar, ainda que eu esteja olhando para
ele em pensamento. Droga, Vivianne! Pare de pensar
nisso! Você não se apaixonou por ele! Você jamais teria
feito uma burrada dessa. E mentir para mim mesma me
conforta mais do que pensei.
Eu decidi retomar meus planos sobre almoçar no
Miller’sAlleHouse, então saí do hotel pensando em ir
atrás de um táxi, mas mal coloquei o pé para fora e já fui
engolida por uma saraivada de flashes. Haviam diversos
paparazzis, mas o que me impressionou foi a quantidade
de fãs que carregavam embrulhos. Eu pisquei algumas
vezes, surpresa, e então eles começaram a cantar
“HappyBirthdaytoyou”. Meu coração amoleceu
instantaneamente e não pude conter minhas lágrimas. Uma
menininha que deveria ter no máximo seis anos de idade
se aproximou de mim e me entregou um pequeno
embrulho. Eu a abracei e agradeci pelo presente, e ela
pegou ficou hipnotizada pelos meus cabelos. Ela agarrou
uma macha e ficou brincando com ela, até que sua mãe se
aproximou e se desculpou. Eu disse que não me
importava, então a menina disse com uma voz doce:
“Abre o presente, Vivi”.Imediatamente eu rasguei o
embrulho e vi um colar de prata com um crucifixo vazio.
Eu tinha um desses, até meu último show no Brasil, que
havia sido em Copacabana, no Rio de Janeiro, quando eu
acabei perdendo no palco. Nunca mais eu havia achado, e
acho que meus fãs tinham notado. “Mamãe disse que é pra
dar sorte, porque o papai do céu vai ficar perto do seu
coração.” Todo mundo que estava presente suspirou de
emoção. Aquela menininha ruivinha de bochechas rosadas
era uma coisa de louco. Imediatamente eu coloquei minha
mão dentro da minha bolsa e puxei dois tickets. Eu olhei
para a menina, que tinha uma de suas mãos presas á de sua
mãe, agachei e disse:
- Sabe de uma coisa? Foi o presente mais legal que
ganhei esse ano. Que tal se eu der um presente para você,
também? – a menina olhou para sua mãe, como se
estivesse pedindo autorização. A mãe assentiu com a
cabeça.
- Eu adoro presentes, Vivi! – ela disse, colocando um
dedinho gordinho na boca.
- Bem, que tal se você fosse assistir ao meu show,
amanhã? Eu tenho dois ingressos para o camarote. Você
gostaria de me assistir, amanhã a noite? – eu disse,
preocupada de que a mãe não fosse concordar, mas ela
abriu um largo sorriso.
- Viu, filha? Você vai assistir o show!
- Eu posso mamãe? Você me leva? – ela perguntou,
quase pulando de alegria. Quando a mãe confirmou que a
levaria, a menina deu vários pulinhos. – Vivi, você é a
minha cantora favorita! – e eu percebi que tinha me
enganado. Aquele sim tinha sido o melhor presente do dia.
Vários fãs se aproximaram e me entregaram diversos
presentes. Eu ganhei ursinhos de pelúcia, caixas de
bombom, porta jóias, livros e bijuterias. Após tirar várias
fotos com cada um dos fãs que foram me cumprimentar, eu
comecei a me sentir fraca de fome, então me despedi e fui
até o restaurante almoçar. No caminho, porém, eu olhei
para meu celular e vi que não tinha nenhuma ligação
perdida. Caramba, nem a minha mãe tinha lembrado,
ainda. Decidi colocar o celular no mudo, porque quando
estou ansiosa por uma ligação, qualquer som que escuto
penso que é meu toque de celular. Mas Cherry Bomb não
tinha tocado, naquele dia. Claro, só toca quando não
deve, essa porcaria! O restaurante estava quase lotado, e
imediatamente me arrependi de tê-lo escolhido. Eu mal
havia me acomodado na mesa quando a garçonete foi até
mim e ficou parada, de queixo caído.
- Você está bem? – perguntei.
- Eu não acredito que estou te vendo. É um sonho se
realizando. – ela disse, com lágrimas rolando pelo seu
rosto.
- Ah, não precisa chorar, moça. Por favor, não chore!
– eu quase implorei, pois se vissem não queria que ela
chamasse muita atenção para mim. Um casal de
namorados que estavam sentados na mesa ao lado ficaram
me encarando, e então eu vi que estava perdida.
No final da tarde eu estava segurando uma taça de
vinho branco que deveria ser a nona ou a décima desde
que cheguei ao restaurante, enquanto eu segurava um
violão no colo e tocava para dezenas de pessoas. Após eu
ter sido reconhecida pelos clientes do restaurante, alguém
dedurou que era meu aniversário e todos se aproximaram
para me cumprimentar, e após uma conversa e outra ( e
uma taça de vinho e outra), acabei fazendo amizade com o
casal que se sentava ao meu lado, com duas amigas
argentinas que estavam em orlando a passeio, um casal de
idosos, duas garotas que deveriam ter a minha idade, e
três rapazes adolescentes. Eu havia convidado todo
mundo para se juntar a mim, e um dos adolescentes me
emprestou seu violão, e após todos insistirem para eu
cantar, eu peguei seu violão e engatei um showzinho
particular. Eu cantei algumas das nossas músicas, mas
após algumas garrafas de vinho eu percebi que tinha
sofrido um apagão de memória, pois eu não me lembrava
do que eu havia feito nos últimos minutos, mas sabia que
não tinha dormido, pois voltei à consciência enquanto eu
cantarolava La Cucaracha (sim, foi isso mesmo que eu
disse. La Cucaracha. Como cheguei a isso, meu Deus?).
Sem querer olhei para o relógio da Martina, uma das
argentinas, e vi que já eram cinco horas da tarde. Eu tentei
me despedir do pessoal, mas eles pediram mais uma
garrafa de vinho e pediram para eu tocar mais. Eu toquei
Tudo que Vai, do capital Inicial, e a galera adorou. Eles
de interessaram pela música e eu disse que era um cover
de uma banda que eu amava, então toquei Natasha e o
pessoal começou a dançar. O gerente do restaurante tentou
ficar bravo com a bagunça. Isso mesmo, ele tentou, mas
ele acabava sorrindo a cada música que eu tocava, e
percebi que ele devia ser um rockepienático! Quando
acabei de tocar Natasha, o casal de idosos me
questionaram o significado do nome da banda, e eu decidi
contar a história da banda.
- Quando a banda começou, ela se chamava Rock &
Paz. Os meninos ensaiavam todos os dias e por tantas
horas que ficavam famintos. Eles ensaiavam na garagem
do Ric, e ao lado da casa dele tem uma lanchonete, cuja
dona é uma senhora mineira chamada Josefina, que é uma
cozinheira de mão cheia. Ela faz diversos quitutes, mas o
carro chefe da sua lanchonete são suas tortas de frango
com requeijão. Como todos os dias os meninos ensaiavam
e ficavam com fome, todos os dias eles iam até a
lanchonete da dona Josefina e comiam um ou dois pedaços
de torta. Certo dia, na lanchonete, os meninos estavam
conversando sobre a banda, e o Cadú, que é super
criativo, disse que o nome Rock & Pie seria mais a cara
da banda do que Rock & Paz, então eles acabaram
mudando o nome. Eu contei também que para na acabar
com a tradição da torta eu havia aprendido a fazer uma
bem similar à da dona Josefina, e que procurava fazer
sempre para relembrar os meninos das nossas raízes.
Todos acharam a história bem interessante, mas como já
estava escurecendo, resolvi aproveitar o gancho para me
despedir. Eu pedi a conta, mas ninguém deixou que eu
pagasse nada. Eles fizeram uma vaquinha e disseram que
aquela tarde seria meu presente de aniversário. Pensando
na quantidade de presentes que eu havia ganhado, fiquei
até com peso na consciência de ter dito que meu
aniversário seria patético. Eu me levantei com minha
coordenação motora afetada devido ao excesso de álcool
que eu havia consumido e o gerente me ajudou a conseguir
um taxi. Ele me deu os parabéns e eu fui embora, em
direção ao hotel.
Eu estava dentro do táxi quando decidi checar meu
celular. Carambolas! 23 ligações perdidas! Sete delas
eram da minha mãe. Imediatamente retornei a ligação.
- Oi, mãe!
- Vivianne, onde você se meteu, oras bolas? – ela
esbravejou.
- calma, mãe! Eu estava comemorando meu
aniversário com meus fãs. Ganhei um crucifixo igual ao
que o papai me deu quando eu era criança, antes de ele
falecer. Lembra que eu o tinha perdido em Copacabana? E
depois eu fui almoçar em um restaurante de loucos. Todo
mundo era engraçado, e então eu cantei La Cucaracha e...
- Vivianne, você bebeu, por acaso?
- Ah, mãe... só um pouquinho. Foi de presente, como
eu devo negar algumas taças de vinho oferecidas com
tanta gentileza?
- Filha, quando você entrou na banda, eu deixei bem
claro que te apoiaria, desde que não entrasse no mundo de
sexo, drogas e rock and roll. A única coisa que permito é
o rock androll. Quer dizer, o sexo também, mas em
moderação. Não quero saber de você bêbada ou usando
drogas, ouviu bem? – minha mãe falava e eu ouvia a voz
dela tãããããooo distante. Soltei um soluço bem alto. - Você
ouviu o que eu disse?
- Ouviiiiii, mããããeee! Ai, que chateação. Eu não uso
drogas (com exceção dos calmantes que usei quando o
Ric ficou paralítico, pensei) e nem bebo com frequência.
Mas hoje é meu aniversário, e mesmo que todos meus
amigos tenham esquecido, meus fãs lembraram, então
resolvi comemorar com eles. Isso é tão grave assim? – eu
terminei a frase com um arroto dos fortes.
- Ai que nojo, Vivi! Como assim seus amigos
esqueceram? Ninguém da banda lembrou? – pensei na
noite anterior, quando o Tim disse com aqueles lábios
carnudos e rosados “Feliz Aniversário, Vivi”.
- Só o Tim, mãe! Mas hoje todos eles passaram o dia
fora, fazendo compras, então não o vi mais.
- Ah, querida! Você passou seu aniversário sozinha?
- Não, mãe! Eu não acabei de te dizer que passei com
meus fãs? E é só isso que me importa. Meus fãs. Minha
carreira. Nada mais.
- Sei que está falando isso da boca pra fora, meu
moranguinho! A vida é muito mais que isso, e tenho
certeza de que você sabe disso. Bem, eu falei, falei, falei
e não disse o principal.
- O que, mãe?
- Parabéns, né, filha? Eu desejo que seus sonhos
continuem se realizando e que você continue sendo a filha
mais linda, mais responsável e com o maior coração do
mundo. Você é a coisa mais importante da minha vida!
Quando eu cheguei ao hotel, eu ainda estava com o
coração apertado de saudades da minha mãe. Ela tinha o
dom de me fazer chorar a cada aniversário. Ela é a
melhor mãe do mundo! Assim que passei pela porta a
gerente do hotel se aproximou e me parabenizou em nome
do hotel, dizendo que naquela noite o hotel me
presentearia com um jantar grátis para mim e mais um
acompanhante. Ela me entregou um ramalhete de flores e
aproveitou para dizer que o hotel tinha recebido várias
cestas e ramalhetes em meu nome, e que eles tomariam as
providências de levar meus presentes ao meu quarto. Eu
perguntei sobre os meninos, e ela disse que não os tinha
visto. Caramba, que passeio foi esse? Eles foram visitar
o que? A muralha da China, para demorarem tanto? Fui
para o meu quarto, descalcei minhas sandálias e as joguei
longe. Dei uma cambaleadinha até o banheiro, mas antes
que eu pudesse me vestir, alguém bate à porta.
Finalmente! Espero que eles tenham pique para o
jantar.Assim que abri a porta, a decepção me pegou
desprevenida. Era um funcionário do hotel guiando um
carrinho lotado de cestas, mais bichinhos de pelúcia, mais
chocolates e mais flores. Eu agradeci, deu uma gorjeta e
entrei, contemplando meus presentes. Fiquei encantada
com uma cesta de café da tarde que tinha chocolates,
biscoitos,capuccinos solúveis, cream cheese em
miniatura, um arranjo de flores, um porquinho cor de rosa
de pelúcia entre várias outras guloseimas. Abri o cartão e
li: “Que você, estrelinha, brilhe por muitos outros anos de
vida, nos alegrando e nos presenteando com seu magnífico
dom. Ansioso por nossa parceria. Ralph Melbourn”. Eu
dei o maior sorriso do mundo, quase não acreditando que
aquele gênio tivesse lembrado do meu aniversário e que
ainda estivesse ansioso pelo trabalho que faremos juntos
quando eu interpretarei uma de suas músicas. O maior dos
ramalhetes de flores foi enviado pela ShiningHair, e eles
mandaram um cartão agradecendo pelo meu impecável
trabalho, alegando que planejam outras futuras parcerias
comigo. Isso também massageia meu ego. Feliz, eu ligo
meu IPod na caixa de som e coloco para tocar a música
“Bichos Escrotos”, dos Titãs. Eu me dispo e entro
embaixo do chuveiro. Lavo meu cabelo animadamente,
ensabôo meu corpo inteiro com um delicioso sabonete
líquido com aroma de morangos (em homenagem ao
apelido que minha mãe me deu desde criança :
moranguinho) e finjo que o chuveirinho é um microfone.
Eu danço e remexo, canto e a música acaba, sendo
substituída por Love in the Elevator, da banda Aeorsmith,
uma das minhas preferidas. Eu saio do banho, ainda
cantando e dançando, me enxugo e enrolo a toalha na
minha cabeça, enquanto desfilo pelo quarto em busca do
vestido perfeito para a ocasião. E não demora muito para
meus olhos brilharem de satisfação quando o encontro:
meu novo tubinho preto, com um decote generoso e que
deixa meu bumbum arrebitado. Eu seco meu cabelo e após
seco, o jogo para o lado. Passo rímel, um pouco de blush,
lápis preto ao redor dos olhos e arremato com um batom
vermelho. Uso uma sandália preta com tiras de couro e
salto alto. Ligo para o Brian, mas chama até cair na caixa
postal. Ligo pára o Cadú. Idem! Ligo para o Gabbe e tudo
que penso é: Que merda! Aonde esses garotos foram
parar? Saco!
Em dúvida quanto ao que fazer naquela noite, eu ligo
para o serviço de quarto e peço uma garrafa de
champagne em um balde com gelo. Quando chega, eu o
abro e brindo comigo mesma. Bebo uma taça, enquanto
abro meu notebook. Vários sites publicaram fotos minhas
tiradas na porta do hotel, e outros postaram vídeos meus
cantando no restaurante, inclusive minha versão nada legal
de La Cucaracha. A boa notícia é que todos eles
elogiaram minha simpatia com os fãs. A menininha ruiva e
sua mãe deram uma entrevista, dizendo que eu as havia
presenteado com um par de ingressos. Embaixo da
reportagem, vários fãs comentaram, me desejando
parabéns, ou dizendo que eram meus fãs, ou dizendo que
gostariam muito de me conhecer, frisando o quanto a
menininha e sua mãe foram sortudas por terem conseguido
se aproximar de mim. Eu me senti muito querida, com
aquela reportagem. Então ouço uma música familiar. “
Can’t stay at home, can’t stay at school, olds folks say ya
poor little fool...”.
- Alô! – após alguns segundos de silêncio, uma voz
fraca tenta se animar para dizer:
- Se não é a minha melhor amiga no mundo todo! –
meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas e
meu peito se aperta de saudades. Meu Deus, é o Ric!
- Ric! – eu suspiro.
- Parabéns, minha linda! Te desejo tudo que há de
melhor nesse mundo. Você sabe o quanto é especial para
mim. – e eu mal acredito que estou falando com ele, após
tanto tempo. Desabo a chorar. – Ei, por que está
chorando? O que houve?
- Ah, Ric! Que saudades, meu irmão! É muita,
mesmo, daquelas que sufocam. Poxa, você não poderia ser
mais chato para facilitar a situação? – eu brinco e ele ri.
- Ah, Vivi! Não há nada que possa facilitar a
situação. Eu...hãhãm – ele limpa a garganta – eu também
estou com muita saudades! Mais do que você possa
imaginar! Mas por que está com essa voz tão triste?
- Ah, não estou triste. Não tenho do que reclamar,
meu dia foi bom, e agora acabaou de ser promovido a
excelente.
- Então por que será que não acredito em você? Onde
você está? O que está fazendo?
- Bem, eu estou no meu quarto, aqui no Peabody
Orlando, bebendo uma taça de champagne.
- E quem está aí com você? – Oh, oh! Eu estou em
perigo! Se eu disser que estou sozinha ele vai sacar tudo e
vai me bombardear de perguntas. Eu penso em alguma
história que possa ser convincente, mas todas caem por
terra, pois jamais consegui mentir para ele.
- Eu estou sozinha. Isto é, cheguei agora a pouco,
acabei de sair do banho e resolvi tomar uma taça de
champagne para relaxar.
-Desde quando beber sozinha é sinônimo de
relaxamento, para você? A última vez que vi você
bebendo sozinha foi quando sua amiga Tatiana faleceu. –
bem apontado, eu pensei. – Vivi’s, cadê os meninos?
- Eu... eu não sei. Quando acordei, pela manhã, eles
já tinham saído, e até agora não voltaram.
- Você está me dizendo que eles se esqueceram do
seu aniversário? Você passou o dia sozinha?
- Bem, não necessariamente. Passei com alguns fãs.
- O que está acontecendo com esses caras, hãn? É só
eu me ausentar para eles começarem a fazer várias
burradas. Não pensem que não acompanho vocês por aqui.
Se eu voltar, pode ter certeza que...
- Se você voltar? Você está cogitando voltar, Ric?
Repete, por favor, porque acho que estou sonhando!
- Ei, pode ir indo com calma. Eu só disse SE! Não é
nenhuma certeza, apenas algo pelo qual estou tentando me
preparar.
- Ai, como eu sou uma péssima amiga, Ric! Me
desculpe! Como você está? A cirurgia correu bem, que eu
sei, pelo que conversei com sua mãe, mas e a fisioterapia?
- Eu estou bem, na medida do possível. A
fisioterapia é pesada. Tem dias que penso que não vou
agüentar mais, mas quando tenho uma melhora, sempre me
animo e me esforço ainda mais. Eu estou tendo um bom
progresso. Eu não vou voltar a andar, Vivi, mas estou
fazendo o possível para ser capaz de levar o resto da
minha vida com a maior naturalidade possível. Até sexo
eu poderei fazer, acredite ou não! Eu estou treinando com
a guitarra. Espero ficar tão bom quanto eu era.
- Era, não! Você é ótimo! É só uma questão de
adaptação. Quanto ao sexo, nada me deixa mais feliz do
que ouvir isso. Sei o quanto é importante para você.
- Vivi, preciso desligar! É bom saber que tudo está
indo bem, e garanto que vou dar umas porradas nos dois
por terem deixado você sozinha bem em seu aniversário!
Em breve nos falaremos novamente! Um grande beijo!
Tchau!
- Tchau, Ric! Volte logo para nós! – ele suspirou e
desligou. Eu fiquei tão feliz, mas tão feliz que decidi
tomar mais uma taça de champagne. E outra. E então
resolvi descer e jantar sozinha, mesmo.
- Que se fodam todos eles! A Bia com seu veneno de
cascavel, o Gabbe e seu sorriso de pasta de dente, o Cadú
e sua puxação de saco pela cobra sucuri e pelo vira latas
da vida, o Brian e seus discursos de “eu te quero, eu não
vou te deixar nunca”, mas cá estou eu sozinha em meu
aniversário e cadê ele?, E principalmente o... aquele
cach.. não, aquele pulguento... não... aquele... aquele lá
chamado Tim! – eu soluço e cambaleio pelo quarto.
O interfone do quarto toca.
- Fala! – eu digo em uma forma mais grosseira do
que pretendia.
- Me desculpe por atrapalhá-la, senhorita Santinni,
mas o hotel tem uma supresa para você. Você poderia
fazer a gentileza de descer até a recepção? – Nossa, até o
hotel tem outra surpresa para mim, mas meus amigos sabe
o que me darão? Neneca de pitibiribas! Ao pensar no
sumiço deles, começo a ter uma crise de riso ao estilo da
Rita (que por sinal, também não me parabenizou), e
percebo que a moça do outro lado da linha está sem graça.
Eu tento dizer qualquer coisa, mas só o que sai da minha
boca são ruídos indecifráveis misturados à minha risada
histérica. Após alguns segundos, consigo finalmente me
acalmar e digo:
- Sinto muito por isso. Pode deixar que desço em dez
minutos, ok? – a moça agradece e desliga.
Após deixar minha taça na mesa, ao lado do balde de
gelo que contém a garrafa de champagne, eu me olho no
espelho e inevitavelmente sinto pena de mim mesma. Eu
poderia negar para mim mesma o quanto eu quisesse, mas
o fato de ter sido esquecida pelos meninos me magoou
mais do que eu pensava. Eu penteei meu cabelo, jogando-
o novamente de lado, e chamo o elevador. O elevador está
vazio e fico feliz por isso. Na verdade, seja qual for a
surpresa que o hotel tenha feito para mim, eu espero que
seja rápida, pois já perdi a vontade de sair, jantar ou fazer
qualquer tipo de aparição pública. Eu só queria voltar
para o meu quarto e me entregar ao sono que estava
começando a me consumir. O elevador para no quarto
andar e uma mulher de cabelos acobreados e brilhosos
entra. Eu continuei com meus pensamentos, quando ela
diz:
- Olá, Vivi! Teve um bom dia, hoje? – eu a espiei por
cima, pois eu sou vários centímetros mais alta que ela, e a
reconheço. O que ela fez com seus cabelos sem vida? Na
verdade, ela está... ela está... muito bonita! Sinto uma
dor no estômago e me curvo um pouco.
- Meu dia estava ótimo até agora!
- Que bom! O meu também! Eu e o Tim passeamos
pela cidade, hoje. Ele até me acompanhou ao salão de
beleza, acredita? – e meu estômago dói ainda mais, como
se tivesse levado um murro. Me curvo ainda mais.
- Que bom para vocês, mas o que vocês fazem ou
deixam de fazer não me interessa. – eu digo em uma voz
fraca, evitando que as lágrimas que querem fugir de mim
rolem pelo meu rosto.
- Que bom que você pensa assim. Significa que
estamos superando qualquer mal estar entre nós duas.
- Você está muito enganada, Beatriz! Eu não quero
saber de nada sobre você ou ele fora do âmbito
profissional, o que significa que te desprezo, que você não
passa de uma mosca morta, para mim. Me dar bem com
você? Se olha no espelho! Quem é você para merecer
qualquer tipo de afeição da minha parte? – seus olhos se
apertaram, assim como sua boca. Ela queria responder,
mas o elevador tinha acabado de chegar ao térreo, e eu
passei por ela, empurrando-a. Eu quase me abracei de
felicidade ao perceber que, independentemente do meu
estado atual, eu tinha conseguido pensar em uma forma de
rebaixá-la ao zero, e só o olhar de raiva que ela me deu
fez dessa noite melhor do que eu imaginava. A gerente do
hotel se aproximou e disse:
- Vivi, você pode me acompanhar?
- Desde que você não me leve para uma câmera de
gás. – eu brinquei, com meu senso de humor ainda
deturpado pela bebida. Ela forçou um sorriso. Ela me
guiou através do corredor onde ficava a entrada da sala de
reuniões, a entrada da academia, e chegamos a uma porta
que eu não conhecia. Notei que o corredor estava mais
silencioso do que o normal, e quando ela empurrou a
porta e vi um feixe de total escuridão, confesso que
passou pela minha cabeça que eles poderiam estar
tentando me seqüestrar. Será que há um bando de
brutamontes musculosos à espreita, esperando eu entrar
no salão para me amarrarem e pedir uma recompensa
milionária? Ela abriu totalmente a porta, eu olhei ao
redor e não enxerguei nada.
16 – É ISSO QUE VOCÊ GANHA

“Se eu nunca começar a pensar direitos, esse coração


vai se rebelar em mim. Vamos começar, começar, hey!
Por que nós gostamos tanto de nos machucar?”That’s
What You Get – Paramore

- Você primeiro, senhorita Santinni. – ela disse


enquanto apontava o salão com a mão, me incitando a
entrar. Eu engoli em seco e olhei para o corredor, em
busca de uma alma viva que pudesse testemunhar como a
última pessoa que me viu antes do meu seqüestro.
- Algum problema, senhorita Santinni? – ela
perguntou, impaciente, e eu me senti ridícula por estar
com medo de ser seqüestrada. Ela estava apenas tentando
fazer uma gentileza. Ou não? Respirei fundo e tomei
coragem de dar um passo adentro. E outro. E então ela
fechou a porta atrás de mim. Ai, meu Deus! É aqui que eu
vou morrer! Por que não segui meu instinto?Me virei em
direção à porta e tentei abri-la, mas a porta já estava
trancada. O medo me consumiu e me paralisou, e eu fiquei
ali, parada, sentindo alguns poucos pingos molhados
descerem para minha calçinha. Não, não, não! Não é
possível que eu faça xixi nas calças!Percebi que os
pingos que saíram eram apenas precedentes de uma
cachoeira que ameaçava jorrar, uma vez que minha bexiga
estava cheia de tanto álcool que bebi.Trancei minhas
pernas e soltei um gemido de frustração. A irritação
começou a superar meu medo.
- Alguém pode me dizer o que está acontecendo
aqui? – eu gritei, ainda olhando para a porta. Então uma
voz familiar ressoou pelo salão.
- Podemos sim. – e então as luzes se acenderam e
uma multidão de rostos conhecidos e desconhecidos
misturados entre si gritou em uníssono.
- Surpresaaaaa! – aqueles filhos de uma égua! Eu
permaneci paralisada, tentando processar o acontecido,
quando os meninos se aproximaram, rindo. O Brian tomou
a frente e me abraçou. Eu ainda estava dura como uma
pedra, sem abraçá-lo de volta e me sentindo nojenta por
estar com a calçinha ensopada de xixi.
- Parabéns, Vivi. Desculpe por tê-la abandonado o
dia todo, mas foi por uma justa causa. Você merecia uma
festona. – ele disse, mais empolgado que nunca, antes de
me dar um selinho. Eu parecia um dos pilares do hotel,
pregada em frente a porta, sem saber o que pensar. Ele se
afastou um pouco e me olhou. Ele ia perguntar algo, mas
então o Cadú o empurrou para o lado e disse.
- Sai que agora é minha vez! Feliz aniversário, Vivi!
Você deve ter ficado puta comigo, né? – ele me olhou e
seu sorriso exagerado foi diminuindo, ao perceber que eu
não expressava nenhuma emoção em meu rosto. – Ei, foi a
única forma que achamos para surpreender!
- Pois é! E bota surpresa nisso! – eu disse, entre os
dentes. O Gabbe me puxou para ele, me fazendo tropeçar,
e disse:
- Parabéns, Vivi! – e ao observar minha reação, ele
sussurrou em meu ouvido: - De um a dez, qual seu grau de
desconforto, nesse momento?
- Dez é um número muito baixo. – eu disse, antes de
virar para olhar pelo salão e dar de cara com o Tim. Ele
estava com cara de deboche.
- Parabéns, novamente. Pela sua reação, vejo que
essa festa foi a melhor idéia que o Brian já teve. Afinal,
ele te conhece tão bem, né? Sabe que você AMA
surpresas. – ele ironizou, enquanto olhava para o Brian.
Pude ver que o tom de pele do Brian começou a arroxear,
e ele fechou os punhos. Após respirar por alguns
segundos, ele relaxou e se aproximou de mim.
- Poxa, Vivi! Eu pensei que fosse te agradar. Se eu
soubesse que você ia ficar tão chateada, juro que não teria
feito nada disso. – e ele disse em um tom tão desgostoso
que senti pena por ele.
- Ah, me desculpe pela minha reação, Brian! É que
eu não sou a pessoa mais fã de surpresas, mas o gesto de
vocês conta muito. Obrigada! – eu dei um sorriso amarelo,
mas ela suspirou de alívio.
- Prometo que você vai gostar, Vivi!
Várias pessoas me cumprimentaram, como alguns
técnicos de som que eu havia conhecido, o diretor de
filmagens da Chocorocker e o fotógrafo Johnny, todos
companheiros da banda do Brian (Blue4us), todos
integrantes da banda EmptyBottle, várias pessoas que
conheci em diversos estados por onde nossa turnê passou,
e várias pessoas que nunca tinha visto antes, mais gordas
ou mais magras. Eu estava conversando com o Euller
Mctravis quando as luzes diminuíram e o palco iluminou.
Uma banda de rock famosa por seus covers, chamada The
Echo, estava no palco, e eles começaram a tocar
That’sWhat You Get, da banda Paramore. O clima da festa
mudou automaticamente, ficando mais descontraído. O
Gabbe se aproximou de mim e disse:
- Vivi, preciso falar com você.
- Tudo bem, Gabbe, mas primeiro preciso ir ao
banheiro para tirar minha calcinha mijada. – eu disse e me
afastei, enquanto ele ficou parado no mesmo lugar, rindo
sem parar.
Alguns minutos depois, eu voltei a encontrar o
Gabriel no salão.
- Pronto, agora você pode falar.
- Calma aí, você realmente fez xixi nas calças?
- Você esperava o que? Vocês me trancaram aqui no
escuro, eu pensei que estivesse sendo seqüestrada. – e
mal terminei de falar e ele se dobrou de tanto rir.
- Ah, qual é, Gabriel! Para a palhaçada. O que você
queria falar?
- Ai, Vivi! Espere um pouco! – ele riu mais um
pouco, soltou um pouco de ar e voltou a se concentrar. –
Pronto! – ele disse, antes de soltar um “Ufa!”. – É sobre a
minha irmã. Ela está aprontando algo, tenho certeza!
- E por que você diz isso?
- Por que meu pai deixou escapar que a Bia andou
pedindo alguns favores, mas ele não me contou quais
eram. Sem contar que ela anda estranha. E parece
psicótica sobre o Tim. Aonde quer que ele vá, ela vai
atrás. Não sei como ele não se irritou, ainda.
- Ah, ele não se irritou porque ele gosta dela. Só por
isso. Ela deve ser muito boa de cama! Aquela... – e parei
de falar, ao lembrar que o Gabbe é irmão da jararaca. Ao
olhar para o lado, fui pega desprevenida. O Ralph
Melbourn estava vindo em minha direção. Nossa, até ele!
- Vivi, minha querida! Meus parabéns! Espero que
tenha recebido meu presente.
- Ralph, que bom te ver! Recebi sim, fiquei muito
lisonjeada por você ter se lembrado, e agora estou
exultante por você estar aqui. Venha cá, deixe-me te
apresentar o Gabriel, nosso guitarrista. Gabbe, esse é
Ralph Melbourn. – eu disse, antes de ser envolvida por
um choque de corrente elétrica alheia. Os olhares que eles
deram um para o outro eram tão palpáveis e óbvios que
me senti até constrangida. O Gabbe estava petrificado,
olhando para o Ralph de jeito embasbacado. Após alguns
segundos, ele sorriu para o Ralph, que ficou de queixo
caído por aquele sorriso perfeito. Resolvi deixar os dois
a sós.
- Ralph, se você me der licença, acabei de encontrar
uma amiga que não cumprimentei, ainda.
- Claro, fique à vontade. – ele disse, sem desviar os
olhos do Gabbe. E eu fui ao encontro da Alicia.
- Bela festa, hein, Vivi!
- Obrigada por ter vindo, Alicia!
- Pelo visto, o Brian está muito feliz. – ela disse,
olhando para ele enquanto ele conversava com seus
companheiros do Blue4us.
- É, parece que sim.
- E por que você não está tão feliz quanto ele?
- O que?
- Ah, você sabe do que estou falando. Vocês dois se
acertaram? – eu fiquei surpresa com a pergunta.
- Devido às circunstâncias, estamos indo devagar.
- Você não gosta dele? – Como assim? Claro que
gosto dele. Ele é lindo, ele é companheiro, ele é fiel.
Diferentemente do Tim. Olho para ele e o pego olhando
para mim. Desvio meu olhar.
- Como não posso gostar? Ele é perfeito!
- Entendo. – ela diz, sem parecer muito convencida.
A banda começou sua versão cover de Animal,
originalmente interpretado pela banda Neon Trees. – Ei,
vou dar um olá para o Brian, fique a vontade para receber
seus convidados. – e então foi na direção dele. Eu olhei
para a pista de dança e ela parecia estar me chamando.
O ritmo da música Animal sempre me contagiou, e
pelo visto fazia o mesmo com o cadú, pois ele se juntou a
mim, e começamos a nos sacudir freneticamente,
intercalando nossos movimentos esquisitos com vários
pulinhos. Quando a música acabou, o vocalista disse:
- Boa noite, galera! É um prazer imenso para nós da
banda The Echo podermos tocar na festa de comemoração
do aniversário de uma das nossas rockstars favoritas.
Vivianne, somos todos seus fãs. Sabemos que hoje é seu
dia e que nós que deveríamos te dar presentes, e não o
contrário, mas como essa é uma oportunidade de ouro,
será que você poderia se juntar a nós em um cover? – ele
pediu com tanta ansiedade que eu nem cogitei negar seu
pedido. Eu subi ao palco e eles começaram a tocar What
Doesn’t Kill You (Stronger), da Kelly Clarkson. Ah,
mentira que eles querem que eu faça um cover de uma
música tão bem interpretado pela diva Kellyzinha! Até
porque eu canto rock e não pop. Será puro mico!
- Vocês não acham que essa música é fora demais do
meu contexto, não?
- Não, achamos que é perfeita para você! –
respondeu o baterista, que me dava sorrisinhos, tentando
flertar. Ah, vá! Justo o baterista! Ninguém merece! – a
banda começou a tocar e eu soltei minha voz. Eu comecei
os primeiros versos e então caí na real. Aquela música
parecia ter sido escrita por mim. Dizia exatamente tudo
que eu queria falar para o Tim. Eu o procurei na multidão
e o encontrei encostado em um canto, ao lado do bar. Ele
me assistia atentamente, e eu cantei a música toda olhando
para ele. Minha voz se fortaleceu, eu ergui minha cabeça e
cantei com todo meu fôlego. Ele não se moveu, e eu
cantava todas as frases de forma enfática, principalmente
quando chegou na minha parte favorita, cuja tradução é
mais ou menos essa:
“Graças a você eu comecei algo novo
Graças a você eu não sou a do coração partido
Graças a você finalmente penso em mim
Sabe que no fim esse dia foi apenas o meu começo
No fim...
O que não te mata, te faz mais forte
Te faz sentir maior
Não significa que estou solitária quando estou
sozinha
O que não te mata, te faz um lutador
Dar passos mais leves
Não significa que estou acabada só porque não
estás”.
Depois dessa parte, cantei o resto da música de
olhos fechados. Quando a música acabou, eu continuei lá,
parada, e então abri os olhos. Todos estavam me olhando,
boquiabertos, e então começaram lentamente a bater
palmas, até que o salão foi abaixo, de tantas palmas e
elogios. O pessoal da banda The Echo me agradeceu, e
eles pareciam emocionados. Bem, Vivi, você pode não ser
uma Kelly Clarkson da vida, mas foi muito bem! Muito
bem mesmo. Enquanto eu descia do palco, percebi que eu
me sentia uns dez quilos mais magra, após despejar todos
meus sentimentos na letra da música.
Quando eu voltei para a pista de dança, o Cadú me
parabenizou e disse que como sempre eu interpretei
perfeitamente. Eu agradeci e então a banda trocou o
vocalista. A tecladista assumiu o vocal e eles começaram
a tocar That’s Not My Name, da banda The Thing Things.
Eu dei um gritinho de “Uhuul” e voltei a fazer meus
movimentos malucos. Eu amo essa música! O garçom
passou e eu me servi de uma taça de champagne, pois
minha boca estava seca e eu não vi ninguém servindo
água. Eu virei a taça, ainda dançando, quando o Brian se
aproximou de mim.
- Vivi, se você soubesse o quanto eu fico fascinado
quando ouço você cantar. - e então ele me puxou até que
ficássemos colados, peito a peito. Ele começou a dançar
sensualmente, me levando junto naquela sensação gostosa.
Eu coloquei minhas mãos em seu peito e o acariciei. Uau,
que peitoral é esse? Ele passou as mãos pelos meus
cabelos e segurou meu rosto delicadamente, me puxando
para um beijo. Seus lábios se juntaram aos meus e se
moveram delicadamente. Aquilo era bom. Mas ele se
afastou e disse:
- Vivi, por que você está se torcendo toda? – e meus
pensamentos voltaram a funcionar.
- É porque estou com a bexiga apertada, mas estou
com preguiça de ir até o banheiro.
- Ah, Vivi! Isso não faz bem. Vai lá, eu te espero! –
ele disse, me dando um gentil empurrãozinho em direção
ao banheiro.
O banheiro estava vazio, então eu entrei e já
consegui me aliviar imediatamente. Eu estava lavando a
mão, distraída, quando vejo um vulto encostado na porta
atrás de mim. Forcei meus olhos a reconhecer a figura, já
que eu estava alcoolizada a ponto de ter meus sentidos
deturpados. Ah, não!
- Você chama aquilo de beijo?
- Você sabe que está em um banheiro feminino, né?
- Sabe, por ser um rockstar com fama de mulherengo,
achei que ele tivesse uma pegada melhor.
- Ele tem uma boa pegada! Só que estava em um
momento carinhoso. Ás vezes é gostoso receber um beijo
mais delicado.
- Ah, concordo plenamente. O único problema é que
você não pareceu reagir bem ao “beijo delicado” que ele
te deu.
- Por que você diz isso? – eu disse, olhando minha
própria imagem no espelho, para evitar encará-lo.
- Porque você não se arrepiou, nem suspirou
vagarosamente, nem deu a ele seu olhar voraz.
- Impressão sua! Além do mais, você não me conhece
tão bem, assim. Eu tenho várias formas de demonstrar meu
desejo. Não menospreze o beijo do Brian, ele é muito
melhor nisso que você. – menti. Eu não precisei olhá-lo
para ver que seus olhos de apertaram e que por eles
passou uma nuvem de raiva. - Agora vá embora, Tim!
- Sim, eu vou. – e ele foi em direção à porta. Eu nem
esperei para vê-lo saindo antes de me virar em busca de
papel para enxugar minha mão, que eu tinha acabado de
lavar. Percebi que a banda estava tocando Kiss me, da
banda Sixpence Non Rich. Eu joguei o papel no lixo e me
virei, tropeçando em oitenta quilos de músculo e
gostosura. Olhei para cima e petrifiquei.
- Eu estou com um problema. Não aceito perder,
então vou ter que beijá-la para comparar sua reação à que
teve quando ele te beijou.
- Você não vai me beijar coisa nenhuma!
- Não? – e então ele me levantou do chão e me jogou
em cima da pia. Ele me cobriu com seus braços e
bruscamente uniu seus lábios aos meus, com força, raiva e
muito desejo. Eu dei alguns socos em seu peito e não movi
meus lábios, me recusando a ceder ao seu encanto. Ele se
afastou apenas o suficiente para me olhar e dizer em um
tom tão baixo e tão rouco que quase não pude escutar.
- Se você não me beijar de volta, eu vou beijar ainda
mais forte, e vou deixar seus lábios inchados e doloridos.
- E se você não me soltar, vou gritar. Vou contar até
três. Um, do....- ele tapou minha boca com suas mãos e
aquela chama de raiva voltou a passar por seus olhos.
- Ok, você não quer retribuir meu beijo. Entendi!
Tudo bem, eu aceito. Mas vai ter que permanecer
indiferente a isso... – ele começou a beijar meu pescoço,
para cima e para baixo, e então desceu até meus ombros.
Uma de suas mãos ainda tapava minha boca, e a outra ele
colocou nos meus cabelos, me puxando até que minha
cabeça se inclinasse. Seus beijos foram em direção ao
meu colo, então ele afastou minhas pernas e soltou meus
cabelos, para usar sua mão livre em um passeio pelas
minhas coxas. Droga, eu estou sem calçinha! E quando
suas mãos chegaram até minha virilha, ele suspirou,
surpreso. Eu olhei para ele, mortificada de vergonha, e
então pressionei minhas coxas para se fecharem, com toda
força que tinha.
- Ts, ts, ts, ts! Quanto mais você resiste, mais tempo
ficará presa a mim. Não entendeu ainda que quero ter
certeza de como você responde? – e então ele separou
minhas pernas com força. Vagarosamente, ele subiu sua
mão em direção ao meu centro úmido. Eu tentei protestar,
fazendo barulhos abafados. Ele começou a me acariciar
lentamente, e apesar da minha mente estar gritando
“Corra, Vivi!”, meu corpo dizia: “ Minha nossa, como é
bom!”. Seus dedos aumentaram a velocidade dos
movimentos, girando circularmente e eu arqueei minhas
costas para trás e projetei meu quadril para a frente,
soltando um gemido abafado. E então ele parou. Suas
mãos me soltaram e ele sorriu.
- Na próxima vez que eu te tocar, não vai ser
forçando a barra. Isso só serviu para provar meu ponto de
vista. Você ainda me quer. – e novamente eu me senti
humilhada. Ele estava me rejeitando, poderia ter me tido
ali mesmo, mas como sempre, preferiu virar as costas. Eu
não deixaria barato, dessa vez.
- Você tem razão, Tim. Meu corpo reage ao seu
toque, mas é porque ele tem memória, e infelizmente já
tivemos alguns momentos íntimos, antes. Com o Brian é
diferente porque eu e ele não chegamos a ter relações
sexuais, então ainda me sinto tímida em expressar meu
desejo por ele. Bem, até hoje, pelo menos.
- Até hoje? – ele perguntou em tom azedo.
- Sim! Essa será nossa primeira noite juntos. Se é
que me entende. E pode ter certeza de que será muito boa.
Afinal, você sabe o quanto ele me atrai. Há anos que sou
louca por ele. – a boca dele abriu e fechou. E voltou a
abrir novamente, mas então eu passei por ele e atravessei
a porta. Andei em direção ao Brian e quando o alcancei,
ele sorriu e disse:
- Nossa, você demorou. Está tudo bem?
- Sim! Está tudo perfeito. – e ele me beijou, e eu me
entreguei de cabeça àquele beijo.
- Vivi, você me deixa louco. – ele disse em meu
ouvido.
- Seria muito deselegante se deixássemos os
convidados aqui e fossemos para seu quarto? – eu disse,
com um olhar insinuante. Ele prendeu a respiração e
passou a mão pelos cabelos.
- Definitivamente não ligo a mínima se é deselegante
ou não. – ele me segurou pelos pulsos e me puxou em
direção à porta do salão. Estávamos quase atravessando
quando um familiar “Ei” faz meu estômago queimar. O
Brian se virou para olhar e então era tarde demais. O Tim
acertou em cheio sua mira, deixando o Brian com grandes
possibilidades de acordar com o olho arroxeado.
O soco foi forte, e o Brian foi pego desprevenido,
mas isso não o impediu de se erguer e partir pra cima do
Tim.
- O que foi isso, seu imbecil?
- Ela é minha, cara! – o Tim disse em um rosnado.
- Se ela é sua, então por que ela está comigo? Vê se
te enxerga! – e ele tentou se virar e me levar para a saída,
mas o Tim agarou meu braço.
- Me solte, Tim!
- Vivi, pare com isso! Por favor, precisamos
conversar seriamente.
- Tim, se você não a soltar imediatamente, não me
responsabilizo pelas minhas ações. – então o Cadú se
materializou entre nós.
- O que está acontecendo aqui?
- Cadú, diz pra ela a verdade.
- Cala a boca, Tim! Você pode tê-lo enganado com
sua lábia, mas eu sei o que vi. Você não me merece, e eu
não sou sua. Me deixe ir!
- Não! – ele respondeu, e eu perdi a paciência. Olhei
ao meu redor e vi a Bia parada, sem cor nenhuma em seu
rosto. O Cadú também a viu, então a chamou e disse:
- Bia, explique para a Vivi o que aconteceu naquela
noite. – e ela ficou ainda mais pálida.
- Largue ela, Tim! – o Brian voltou a gritar, mas o
Cadú disse:
- Calma, primeiro deixe a Bia falar. Ela pensou por
alguns instantes e então disse:
- O que vocês querem saber? O beijo foi rápido, mas
foi bom. – ela disse, com um sorriso tímido no rosto.
- Que beijo, Bia? – perguntou Cadú.
- Você está perguntando o que aconteceu na noite que
a Vivi me encontrou no quarto do Tim, não é? Então, nós
nos beijamos. Não chegou a ser um beijo longo, mas foi
muito bom. – o Cadú ficou surpreso, e olhou para o Tim
de forma acusadora.
- Ei, eu não a beijei. Ela partiu pra cima de mim, mas
eu disse que amava a Vivi, e ela disse que entendia. Eu
não retribuí o beijo.
- Você mentiu para mim, Tim! Não acredito nisso! –
acusou Cadú, magoado. Eu olhei para o Tim e balancei a
cabeça, incrédula sobre a profundidade de suas mentiras.
Ele parecia estar em choque, então soltou meu braço e
disse:
- Eu não estou mentindo. Diga a eles, Bia! – mas ela
ficou em silêncio, e ele pareceu ter ficado chocado com
sua atitude. Ele suspirou e passou correndo por nós, em
direção a porta. O Brian me olhou e disse:
- Vamos, princesa! Esse circo já deu o que tinha que
dar. Eu olhei para o Cadú e ele disse, tristemente:
- Me desculpe, Vivi! – e então o Brian me tirou
daquela loucura.
O quarto do Brian era estranhamente organizado, e
cheirava limpeza.
- Vivi, você está bem?
- Sim, estou!
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro, Brian!
- Se a Bia tivesse dito que não tinha acontecido nada
entre eles, você ainda assim estaria aqui, agora? – Meu
Deus do céu! Como posso responder aquilo?
- Que pergunta estúpida, Brian. Vem cá, deixe-me dar
uma olhada no seu olho.
- Responda primeiro, Vivi!
- Claro que sim! – Diga com mais firmeza que talvez
até você acredite, Vivi. – Agora venha até aqui! - eu o
chamei, mas ele permaneceu parado atrás da porta, me
olhando. – Ei, por favor, venha até aqui! – eu pedi
docemente, fazendo com que ele desse um sorriso fraco e
se aproximasse de mim.
- E tem como dizer não para você? – ele disse,
sentando ao meu lado, em sua cama. Eu olhei seu olho
inchado e notei seu olhar triste, que fez meu coração se
apertar. Sem pensar, eu passei carinhosamente a ponta do
meu dedo indicador ao redor do seu olho agredido, e ele
soltou um gemido abafado.
- Ai, me desculpe!
- Não, não machucou. Pelo contrário. Seu toque é tão
suave... ah, Vivi! – ele suspirou e então quem tocou meu
rosto com a ponta dos dedos foi ele. – Eu não suporto ver
aquele idiota encostando em você. Só de pensar que vocês
dois... nossa, isso não é nada agradável.
- Brian, por favor, não vamos falar sobre isso agora,
ok? Espere um minuto, eu vou ligar para o serviço de
quarto e pedir um pouco de gelo.
Eu liguei para o serviço de quarto e após fazer o
pedido, fiquei conversando com o Brian por algum tempo.
Minha cabeça começou a latejar e eu comecei a me sentir
nauseada.
- Engraçado, não te vi beber quase nada. Pelo visto,
tem o organismo fraco para bebidas. – e o comentário
dele foi tão ingênuo que eu ri.
- Vocês me deixaram sozinha o dia inteiro bem no dia
do meu aniversário. Acha que fiquei fazendo o que? – e
então contei para ele dos meus encontros com alguns fãs,
do almoço no Miller’s Ale House e do champagne na
minha suíte.
- Ah, então a bebedeira está explicada. Aliás, chega
a ser impressionante o fato de você estar tão consciente.
- Apesar de eu ter bebido muito, eu não fiquei em
momento algum de estômago vazio, e bebi muita água
mineral para rebater. Mas pode ter certeza que ficarei um
bom tempo sem beber nada. Só bebi muito hoje por ser um
dia especial para mim.
- Não só para você. – e então ele se aproximou e me
deu um beijo terno, mas logo se afastou – E por falar
nisso, eu ainda nçao te dei meu presente.
- Outro presente? Vocês já me deram um festão, não
precisavam me dar mais nada.
- Confesso que deu trabalho organizar a festa. Fiquei
dois dias inteiros atrás da decoração perfeita, da banda
perfeita, da comida perfeita... nada menos que perfeito
para você, Vivi, porque você é assim. – E o troféu de
homem mais fofo do mundo vai para... Sr. Brian Levicce!
– Mas existe outra coisa que quero te dar. Espere um
minuto. – ele disse, e então foi até o guarda roupa e tirou
de lá algo enfeitado com uma fita cor de rosa gigantesca.
Ele voltou a se sentar ao meu lado. – Isso é seu. Espero
que goste. Eu abri o embrulho eencontrei um par de
sandálias da marca Mying Xung Lee, de couro com
algumas partes revestida de veludo, todo na cor preta. A
sandália tinha duas letras penduradas no feixo: VS. Meu
Deus, não era apenas uma sandália Mying Xung Lee, mas
sim um par feito especialmente para mim. Eu abri um
imenso sorriso, e soltei uma risadinha espirituosa.
- Nossa, Brian! Elas são maravilhosas!
- As letras são feitas de ouro. Eu pedi para ela
desenhá-lo e confecioná-lo exclusivamente para você. –
eu prendi o ar, e observei novamente o deslumbrante par
de sandálias.
- São perfeitas, Brian! Eu amei! – e então o abracei,
e assim ficamos por um bom tempo, até baterem á porta. –
Deve ser o gelo.
Eu passei vários minutos segurando uma camiseta do
Brian recheada com várias pedras de gelo, apertando-a
em seu olho. Após alguns minutos, meus olhos começaram
a querer fechar. O sono estava batendo fortemente, e eu
devo ter dado uma pescada, porque o Brian disse:
- Vivi, sei que planejamos passar essa noite de outra
maneira, mas você está com muito sono, e eu com esse
olho machucado. Que tal se deixarmos nossa noite
romântica para amanhã? – Ufa! Graças a Deus!
- Você está certo, Brian! Após todos acontecimentos,
acho que não estamos no clima, não é mesmo?
- Eu sempre estarei no clima para você, mas não
quero que nossa primeira vez seja com você quase
dormindo e eu com essas coisas em meu olho. Pode deixar
que eu seguro o gelo, princesa! Pode ir para o seu quarto
descansar.
- Ok! Eu vou, mesmo. Estou muito cansada. – eu
entreguei a camiseta com os gelos para ele e aproveitei
para abraçá-lo fortemente e dizer: - Eu não sei como
agradecer tudo que fez por mim. Foi uma festa
maravilhosa, e eu amei meu presente. Você é lindo, Brian,
por dentro e por fora.
- Eu faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa! –
e então ele me puxou para seu colo e me beijou de uma
forma nada gentil. Seus lábios se juntaram aos meus, que
foram separados por sua língua gentil. Ele se movia
rapidamente, de forma apaixonada. Quando nossos lábios
se separaram, ele disse: - Melhor você ir logo, senão vou
mudar de idéia e te trancar aqui por pelo menos três dias.
- Eu não preciso ir. Quero dizer, por mais que não
seja o clima perfeito para nossa primeira noite... er...para
nossa primeira vez, mas eu não queria te deixar aqui
assim. Posso dormir com você essa noite? E com dormir
eu quero realmente dizer dormir, literalmente. – a cara que
ele fez foi a mais feliz que já o vi fazer desde que o
conheci.
- Não precisa perguntar duas vezes. Você sabe que
quero muito, isso.
- Então vamos fazer o seguinte: eu vou até meu
quarto para tomar um banho rapidinho e buscar um baby
doll e já volto, ok?
- Como você decidir, Vivi! – eu dei um selinho nele e
saí do seu quarto. Peguei o elevador e desci no meu andar.
Na porta da minha suíte tinha uma caixa pequena,
embrulhada com fitas vermelhas. Eu agachei e a recolhi,
entrei no meu quarto, tirei minhas sandálias que eu
calçava, e coloquei em cima da minha cama as duas
caixas que eu segurava: a caixa que guardava o presente
que o Brian havia me dado, e a caixa vermelha que estava
na minha porta. A curiosidade estava gritando, então abri
a caixa, e encontrei o que aparentava ser um álbum de
fotografias e um pen drive. Eu abri o álbum de fotografias
e meu sangue subiu. Tim! Eu folheei o álbum e as
primeiras fotos eram da banda. Tinha o Cadú concentrado
em seu piano, o Tim fazendo suas caretas tradicionais,
enquanto segurava a baqueta, o Ric dando um sorriso
charmoso para uma fã e eu, com os braços erguidos, no
final de um dos shows. Em várias, nós estávamos no meio
de show, em outras esávamos em algum programa de
televisão, ou em alguma lanchonete, ou em alguma festa. A
partir da metade do álbum só tinha fotos minhas. Eu
sorrindo, eu séria, eu fazendo careta, eu, eu, eu... Meu
Deus, o que ele pretendia, ao me dar esse álbum? Eu
fiquei muito confusa, então liguei meu notebook e pluguei
o pen drive. Só tinha dois arquivos salvos, um texto de
Word e uma música. Eu abri a música, e o arcode de First
Time Ever I Saw Your Face, na versão do Josh Krajcik,
começou a ressoar pelo quarto. Essa música acaba
comigo! É uma das mais lindas do mundo! Eu comecei a
tremer quando o Josh começou a cantar:

“A primeira vez que eu vi seu rosto


Eu pensei que o sol nascia em seus olhos
E a lua e as estrelas foram os presentes que você deu
Para os céus escuros e vazios.
A primeira vez que eu beijei sua boca
Eu senti a Terra girar em minha mão
Como o coração tremulo de um pássaro capturado
Isso deve ficar sob meu comando, meu amor.

E a primeira vez que eu fiz amor com você


Eu senti seu coração tão perto do meu
E eu sabia que nossa alegria iria encher a Terra
E durar e durar até o fim dos tempos, meu amor.

A primeira vez que eu vi seu rosto, seu rosto,


Seu rosto, seu rosto.”

Foi só quando a música acabou que percebi que eu


estava chorando compulsivamente. As lágrimas rolavam
tão rapidamente que não dava nem tempo de secá-las. Eu
abri o arquivo de texto e li:
“Minha pequena, me desculpe pela simplicidade do
presente, mas sei que se eu te desse qualquer outra coisa
você me devolveria ou jogaria no lixo. Você está tão
brava comigo que nem percebe que eu não sou nem
sombra do que eu já fui. Sem você, eu sou apenas um
rapaz vagando pelo mundo, com um buraco no peito. Eu
espero que um dia você descubra que tudo não passou de
um imenso mal entendido, e eu não descansarei até que
isso aconteça. A música que te mandei é aquela que você
sempre cantarola, seja nos ensaios da banda, nos
restaurantes ou até mesmo no chuveiro, como já ouvi. Eu
lembro perfeitamente da primeira vez que percebi sua
fascinação por ela: estávamos comendo um cachorro
quente perto da sua casa, e tocou essa música. Você ficou
com ela na cabeça e cantarolou dezenas de vezes,
repetidamente. Quando eu cheguei na minha casa, procurei
essa música no Google e desde então eu a ouço
praticamente todos os dias, porque dizia tudo que eu senti
quando te vi pela primeira vez. Você viu a última foto do
álbum? Lembra quando foi tirada? Por diversas vezes
você me perguntou o por que de eu te tratar tão friamente,
e percebi que até hoje eu não tinha te dado nenhuma
explicação. Quando você entrou na banda, eu namorava a
Letícia. Quando eu te vi, um sentimento tão estranho
passou por mim que fiquei confuso. Eu só o entendi
depois do primeiro show que fizemos, aquele em que
abrimos para os Hackerboys. Você estava ali, tão linda e
tão segura de si, que aquela imagem ficou dias e dias na
minha cabeça. Eu perdi completamente o interesse pela
Letícia (que nunca tinha sido tão grande, para falar a
verdade). Eu terminei com ela e estava louco para dizer
para você como eu me sentia, mas então ouvi você dizer
para a Rita que mesmo nos conhecendo a tão pouco
tempo, já sentia como se cada um de nós fossemos alguém
da família, como se fossemos os irmãos que você nunca
teve. A imagem de você dizendo “IRMÃO” foi tão
repulsiva que decidi parar de te tratar bem, para você
deixar de me enxergar daquela forma. Mas você é tão boa,
tão maravilhosa, que ainda assim continuou a me tratar
bem e garantir para mim um espaço em seu coração na
vaga de IRMÃO. O dia que o Cadú tomou a Piña Colada
batizada e que você dormiu no nosso quarto e me olhou
daquela forma tão faminta, foi como se você estivesse me
vendo pela primeira vez, e confesso que foi um dos dias
mais felizes da minha vida, perdendo apenas para a nossa
primeira noite de amor. Estar dentro de você e depois
dormir com você nos meus braços foi a melhor sensação
que eu poderia ter nessa vida, e ainda que você nunca
mais seja minha, eu posso dizer que um dia eu tive o
prazer de encontrar a verdadeira felicidade. Eu vou te dar
o espaço que você precisar, até que você entenda a
verdade que está diante dos seus olhos, mas não vou
deixar de lutar para que isso aconteça. Seu, Tim.”
Eu fiquei quase uma hora sentada, lendo e relendo e
relendo aquela carta e ouvindo a música do Josh Krajcik,
enquanto derrubava lágrimas que saíam torrencialmente
dos meus olhos. Eu não estava entendendo nada. Aquela
carta era maravilhosa, e parecia ter sido escrita por um
Tim que eu não conhecia. Ou melhor, por qualquer pessoa
do mundo, exceto pelo Tim. Eu abri novamente o álbum de
fotografias e passei para a última foto. Era verdade, a
última foto do álbum era, na verdade, a primeira que tirei
como membro da banda. Eu conheci o Cadú e o Ric
naquele dia, e lembro que fiquei super emocionada ao ser
fotografada a lado deles. Dava para ver a emoção
estampada na minha face... assim como dava para ver o
Tim paralisado, olhando para mim. Meu Deus! Será que
tudo que ele disse na carta é verdade?
Eu preciso saber, preciso mesmo! Mas se ele sente
tudo isso que ele diz sentir por você, por que ele a traiu
com a insípida da Beatriz? E minha esperança se
afundou. O telefone do meu quarto tocou.
- Alô!
- Oi, princesa! – Ai, meu pai! Eu tinha esquecido do
Brian. Como posso passar a noite com ele desse jeito,
tão repleta d sentimentos confusos como estou? Acho
melhor dizer para ele que não vou passar a noite com
ele. Isso, vou dizer. Apesar de que ele ficou tão feliz
quando eu sugeri passar a noite lá... Não posso fazer
isso, ele está tão bom para mim...
- Oi, Brian! Eu recebi mais alguns presentes de fãs e
acabei me distraindo, aqui. Eu chego aí em quinze
minutos.
- Está bem, Vivi! Estarei te esperando. Até mais!
- Até!
Eu juntei todas as forças que eu tinha para me
levantar, tomar um banho rápido sem chorar, para meu
olho desinchar, e me arrumar para ir dormir com o Brian.
Quando eu cheguei até seu quarto, ele estava de banho
tomado, com uma cueca samba canção azul marinho.
- Espero que não se importe por eu dormir dessa
forma.
- Claro que não! - eu respondi. Então ele me puxou
para a cama. Eu virei na direção oposta ao seu rosto, para
que eu pudesse enfim liberar as lágrimas que tanto
estavam ameaçando rolar.
- Nem acredito que você está aqui ao meu lado. Eu
sempre quis dormir ao seu lado, poder te abraçar até o
amanhecer. Essa será uma das melhores noites da minha
vida. - ele disse e me fez lembrar que o Tim havia escrito
algo semelhante no texto que me mandou. As lágrimas
estavam me sufocando tanto que nem respondi o
comentário do Brian.
- Princesa, sei que você está cansada, então vou te
deixar dormir sossegada. Boa noite, minha querida! - e
então ele deu um beijo delicado em um dos meus ombros.
- Boa noite, Brian! - foi tudo que consegui responder,
antes de fechar meus olhos e buscar meu sono.
Eu estava no cume de uma pequena montanha que
ficava localizada em um vale tão lindo e tão verde que
parecia uma montagem. O vento soprava e trazia alguns
fios do meu cabelo até o meu rosto. Eu levei meus dedos
até os fios rebeldes, mas outros dedos os alcançaram
antes dos meus. Virei para olhar a quem pertencia aquela
mão, mas imediatamente o dia escureceu e uma penumbra
caiu sobre nós, como se estivéssemos em um palco e
cortassem a luz que nos dava o destaque em nossas falas.
Eu vi sua sombra, e uma sensação familiar me invadiu.
- Você não sabe o alívio que estou sentindo por você
estar finalmente progredindo. - e o ar me faltou.
- Você! Pensei que eu já tinha me curado disso. Por
que você voltou? E porque meus olhos não estão colados?
- Eu voltei porque você precisa de mim, e seus olhos
não estão colados porque meu papel em sua vida está
finalmente se esgotando.
- Isso significa que você vai embora de vez? Que eu
nunca mais voltarei a te ver?
- Eu disse que está se esgotando, e não que já se
esgotou. E digo isso porque a verdade está na sua frente,
basta você dar um passo e estender a mão para alcançá-la.
- então ele pegou minha mão direita e a entrelaçou na sua,
e eu senti uma paz inesperada.
- Existem tantas coisas que não entendo...
- É exatamente esse o x da questão, Vivi! Eu acho
que você tem medo de saber. Porque não foi atrás da
minha identidade? - e eu percebi que ele estava dizendo a
mais pura verdade. Eu parei de tentar descobrir quem é o
Sr. Superbonder/Ciclope, pois estava com medo de me
frustrar com a descoberta. Se fosse o Brian, eu sei que me
ressentiria por não ser o Tim, e se fosse o Tim, sei que me
ressentiria ainda mais, por ser tão perfeito e tão canalha
ao mesmo tempo. E se fosse outra pessoa....bem, se fosse
outra pessoa eu teria a maior das decepções.
- Eu não quero saber quem é você. Ainda que eu
descobrisse agora, as coisas não mudariam. Eu
continuaria com os mesmos problemas.
- O que posso dizer quanto a isso? Acho que nada,
né? Tenho que respeitar seu tempo, sua opinião. Mas é
horrível te ver assim tão infeliz. – eu encostei minha
cabeça nos meus joelhos e deixei as lágrimas rolarem. Ele
me abraçou e apoiou seu rosto em minhas costas, enquanto
mexia em meus cabelos, com uma das mãos. Então ele
beijou minha nuca e senti um arrepio eletrizante. Eu virei
para ele, mas ele me olhou de um jeito estranho, antes de
começar a desaparecer. O engraçado era que mesmo sem
enxergá-lo, eu ainda podia sentir os beijos em minha nuca.
Então eu acordei e percebi que os beijos não foram dados
em sonho, mas sim pelo Brian, enquanto eu dormia. Eu me
virei para encará-lo.
- Bom dia, dorminhoca! Você fica tão inda quando
dorme...- e olhando para ele percebi que a situação era a
contrária. Ele estava mais lindo que nunca, com seu
cabelo despenteado e seu peitoral musculoso nu. Se fosse
em qualquer outro dia, eu com certeza passaria a manhã
inteira fazendo amor com ele, deslizando a mão pela sua
pele, descobrindo o significado das tatuagens espalhadas
em seu corpo, fazendo-o chegar ao limite do seu
condicionamento físico, mas eu estava com meu coração
tão pesado que parecia que era feito de chumbo.
- Bom dia, Brian! Dormiu bem?
- Maravilhosamente bem. Tem como não dormir bem
ao seu lado?
- Ah, eu sei que me mexo muito.
- E eu não me importo em acompanhar seu ritmo. – e
então ele me puxou para ele e me beijou ardentemente.
Quando ele me puxou para mais perto dele, percebi que
ele havia acordado animado demais para o meu gosto.
Enquanto ele me beijava, eu tentava falar:
-Brian....eu...
- Brian nada. Eu quero você, Vivi! E quero agora! –
ele me quer agora! O que eu faço? Eu fechei meus olhos
e lembrei da carta do Tim, do álbum de fotografia, da
música que ele mandou, e então surgiu em minha mente a
imagem da Bia mencionando o beijo que eles deram
enquanto eu estava indo ao quarto dele, planejando uma
noite romântica. A simples lembrança dele só de toalha
enquanto ela estava em sua cama fez meu coração parar.
Outra lembrança desagradável surgiu em minha memória:
a Bia saindo do quarto dele em Nova York, com os
cabelos desgrenhados e camisola curta. Se ele me amava,
como alegou na carta, como pôde dormir com a Letícia,
com a Bia, entre outras diversas fãs que apareciam
aleatoriamente em sua cama?Não, ele nunca me amou de
verdade!
- Vivi, se você não quiser fazer isso, tudo bem. Eu
vou esperar o quanto for preciso. Eu sei bem o que eu
quero, e o que eu quero está bem aqui, nos meus braços –
e então ele me beijou minha testa. – Eu te amo! – ele me
ama! Ele me ama! Brian Levicce me ama. Ele, por quem
suspirei durante anos. O Brian me ama, não o Tim! Ele,
que largou seu vício em supermodelos para ficar
somente comigo.E então eu decidi:
- Eu quero fazer amor com você, sim, Brian! – e ele
deu um suspiro aliviado, seguido por um sorriso de orelha
a orelha.
- Você tem certeza disso?
- Sim, certeza absoluta! – e então ele me tomou em
seus braços e fez amor comigo apaixonadamente.
Eu estava cochilando, com a cabeça apoiada no
abdome do Brian, quando ouço: “can’t stay at home, can’t
stay at school, old folks say...”.
- Alô!
- Vivi, onde você está? Esqueceu que temos que
passar o som para o show de hoje à noite?
- Putz, Cadú! Esqueci mesmo! Me encontre em meia
hora no saguão do hotel. Tchau!
- Ok! Tchau! – e desligou.
- Ah, me diga que você não tem que ir agora!
- Bem que eu poderia poder dizer, mas se eu
dissesse, estaria mentindo. – então ele me abraçou
fortemente e sussurrou:
- Mas eu ainda tenho fome de você!
- Mas isso vai ter que esperar até a noite – eu dei um
beijo rápido nele antes de pular na cama e me vestir. –
Tenho que voltar para o meu quarto para tomar um banho
rápido e me arrumar. Estou super atrasada! Você vai
conosco para a passagem do som?
- Depois de descobrir seus talentos ocultos, acho que
não consigo ficar nem mais uma hora longe de você. Te
sigo para onde for! Confesso que você me surpreendeu
muito.
- Positivamente ou negativamente?
- Não se faça de desentendida! Positivamente, é
claro! Agora eu sei o porquê da fixação masculina em
relação às mulheres brasileiras.
- Você ainda não viu nada! – eu disse, antes de deixa-
lo e voltar para meu quarto.

Quando terminei de me arrumar e cheguei ao saguão


do hotel, todos os meninos já estavam lá. O Tim me olhou
fixamente, provavelmente esperando que eu demonstrasse
alguma reação em relação ao presente que ele havia me
dado. Espere sentado! Fui até o Brian e o beijei
apaixonadamente. Só separei meus lábios dos dele quando
ouvi o Cadú falar para alguém:
- O que você está fazendo aqui? – e ao me virar, me
deparei com uma Beatriz surpresa e aparentemente
irritada.
- Como assim, o que estou fazendo aqui? Estou
trabalhando, é claro!
- Eu deveria ter imaginado, mesmo, que você é do
tipo de garota que se faz de desentendida. Bem, já que é
necessário deixar mais claro que isso, então lá vai: pegue
suas coisas e se manda daqui! – Cadú, meu herói! Eu
esperei tanto por esse momento...
- Tudo isso porque eu e o Tim nos relacionamos?
- Não, Beatriz! Tudo isso porque agora acredito na
Vivi! Sei que você a desafiou, a destratou e usou o Tim
como se fosse um troféu, tudo para elevar seu ego.
- Não, eu realmente sou apaixonada por ele!
- Não tanto quanto é apaixonada por si mesma, sister!
Está mais do que claro que você fez de tudo para apagar o
brilho da Vivi. Mas o que você não entende é que a Vivi é
uma estrela, Bia, enquanto você não passa de um mero
vagalume.
- Sua máscara caiu, antílope – eu complementei.
Então ela desfez sua feição de mocinha ingênua e
desentendida, passando para uma feição debochada e até
maldosa.
- Isso é o que você pensa, Vivianne! Nossa história
mal começou. Aguarde e verá! – e então ela foi embora,
com o rosto em chamas. Eu olhei para o Tim, que havia
assistido tudo em silêncio. Ele deve ter ficado muito
ressentido por perder seu lanchinho.
17 – ESTOU AFUNDANDO

“Obscurecendo e confundindo a verdade e as mentiras.


Assim, eu não sei o que é real e o que não é. Sempre
confundindo os pensamentos na minha cabeça. Desse
modo, não posso confiar em mim mesma.” Going Under -
Evacescence

Eu estava tomando um energético no meu camarim


quando a assistente de iluminação entra abruptamente.
- Srta. Santinni, me desculpe pela invasão, mas
preciso falar urgentemente com você! – ela disse, tão
pálida que eu quase enxerguei através dela.
- Aconteceu alguma coisa?
- Infelizmente sim! Preciso que você venha ver com
seus próprios olhos. - e ela me conduziu até a cabine de
operação da iluminação. Nenhum dos aparelhos respondia
ao comando. Comecei a suar de nervoso.
- Como pode ter acontecido isso? O que vocês
fizeram de errado?
- Eu chequei todos aparelhos pela manhã. Isso só
pode ter acontecido na hora que todos fomos almoçar.
- Eu não quero saber como aconteceu, eu só quero
saber como vão consertar em vinte minutos.
- É isso que tenho para dizer, Srta. Santinni! Não
sabemos o que houve com eles. Não temos como consertar
sem mandar um técnico avaliar, e infelizmente é certo que
nenhum técnico chegará aqui em vinte minutos, muito
menos teria tempo para consertar.
- Era só o que me faltava!
Após conversar com os meninos, chegamos à
conclusão de que ainda faríamos o show. Subimos ao
palco e explicamos tudo ao público, e eles pareceram
concordar em assistí-lo da mesma forma. Nós estávamos
tocando normalmente, e faltavam três músicas para
encerrarmos o show. Nós começamos os acordes de
“Dueto dos ossos” e o Tim entrou na música. Eu me
esforcei em não olhar para ele, como sempre, e então
chegou minha parte. Eu comecei a cantar e o som não soou
pelos alto falantes. Meu microfone parecia desligado ou
desconectado, então a platéia começou a vaiar. Olhei para
o Tim, sem saída, e ele cantou minha parte da música. No
final, mais uma vez pedimos desculpas para o público, e
então ele me cedeu o microfone dele para eu cantar as
últimas duas músicas: It’s a man’s, man’s, man’s world e
“O tempo não parou”. No final do show, percebi que,
apesar dos gritos dos fãs, eles estavam um pouco
decepcionados, pois a euforia de sempre não estava tão
marcante.
Assim que saímos do palco, virei para os meninos e
disse:
- Que diabos aconteceu aqui hoje? Tudo deu errado!
A iluminação, o som... esse show foi um fracasso.
- A hora que seu microfone pifou, eu suei mais que
um maratonista nas Olimpíadas. – disse Cadú.
- Isso tudo foi muito estranho. Deu tudo errado no
mesmo dia, quase como se nosso fracasso tivesse sido
planejado. – Gabbe disse inocentemente, mas me fez ter
um pensamento recorrente: poderia toda essa confusão
ter sido planejada, mesmo? Se fosse, eu já tinha minha
suspeita definida.
- Eu vou dar uma olhada nos aparelhos danificados.
– disse Tim, saindo mais rápido que o “The Flash”.
- Brian, você viu algo estranho, pelos bastidores?
- Não, Vivi! Todos pareciam estar trabalhando
seriamente. – e então resolvi deixar meus pensamentos de
acusação de lado.
Aquela noite eu passei com o Brian, em seu quarto.
Ele conversou comigo e tentou me acalmar, dizendo que já
havia acontecido coisas semelhantes com ele, nas turnês
do Blue4us. Na manhã seguinte, eu acordei com o humor
um pouco melhor. Eu e o Brian nos arrumamos e
descemos para tomar café, quando vejo uma coisa que me
fez perder o apetite: a Bia estava no saguão do hotel, com
toda cara de pau do mundo, em um papo engatado com o
Tim. Eu parei por um segundo para observá-los, e foi o
suficiente para vê-los dando um aperto demãos, daqueles
que damos quando fechamos um acordo.
- Você está vendo o que estou vendo? – perguntou
Brian.
- Infelizmente sim, e nem preciso saber o que é para
decifrar que daí não vem coisa boa.
Nós estávamos tomando nosso café quando o Cadú
desce. Eu contei o que eu tinha visto para ele, e ele ficou
puto.
- Cara, a cada dia que passa parece que conheço
menos o Tim. E esse novo Tim é um otário!
- Concordo cem por cento! – eu respondo.
- Nem preciso expressar minha opinião, né? –
ironizou Brian. Nisso o Gabbe chega com vários jornais
na mão.
- Vocês precisam ver isso. – e então ele espalhou os
jornais pela mesa. Eu li as matérias principais e fiquei
horrorizada.
- Todas falam sobre nós!
- Olha só essa matéria: “Prometeram e não
cumpriram. O fracasso do show de Rock & Pie”. Olha
essa outra: “Caos no rock: a torta desandou”. E o pior: “O
fenômeno Rock & Pie destinado ao extermínio. Vejam os
5 principais motivos.” – apontou Cadú.
- Leia essa matéria inteira, Cadú! – sugeriu Gabbe.
- “O maior fenômeno do rock atual vem apresentando
indícios de um eventual fracasso desde o incidente com o
guitarrista e um dos vocalistas da banda, Ricardo
Gusmão. Aparentemente, ele era a elo entre os outros
integrantes. Desde que ele tirou férias “indefinidas”, com
o intuito de cuidar da própria saúde, várias calamidades
ocorreram com a banda. Vejamos:
1 – Deu a louca no tecladista – o tecladista da banda,
mais conhecido como Cadú, teve um sério desvio de
comportamento. Ele começou a andar com celebridades
conhecidas por dar escândalos em festas, usar substâncias
tóxicas ou ter passagem pela polícia por vandalismo.
Além disso, ele foi flagrado diversas vezes já alcoolizado
pela manhã e acompanhado de prostitutas nova iorquinas.
Apesar de aparentemente ter cessado com esse hábito
adquirido, suas ações são suficientes para escandalizar
várias de suas fãs, que o admiravam por sua aparente
inocência e fama de bom menino.
2 – Cai a máscara da “grande família” –Com o mau
comportamento do Cadú, dizem as más línguas que a
vocalista e baixista da banda, Vivianne Santinni, entrou
em um profundo estado depressivo, chegando, inclusive, a
se dopar com calmantes, a ponto de quase não conseguir
acordar mais, revelou uma fonte confiável. Com toda essa
confusão, o baterista da banda, Tim, tomou as dores da
Vivi e partiu para a porrada com o Cadú. Tudo isso
demonstra que a “grande família” está prestes a “se
divorciar”.
3 – Três não é par – O relacionamento ioiô entre
celebridades é comum, mas chega a ser prejudicial
quando envolve uma terceira pessoa, principalmente
quando essa terceira pessoa é um dos integrantes da
própria banda. Quando houve uma especulação por parte
da mídia sobre uma suposta traição do vocalista da banda
Blue4us, Brian Levicce, a Vivianne Santinni não demorou
muito para cair nos braços de um outro rockstar: Timóteo
Azevedo, o baterista (e atual vocalista) de sua própria
banda. Nossa fonte informou que o caso deles foi curto e
acabou porque mais uma vez a Vivianne Santinni
(considerada pela revista Everyone como a sexta mulher
mais bonita do mundo, vejam a ironia!) foi traída.
Aparentemente o Tim foi visto com a assistente pessoal da
banda, a senhorita Beatriz Saraiva, que já não trabalha
mais para eles. Logo em seguida, Vivi reatou seu namoro
com o Brian Levicce, mas conforme nossa fonte
confidencial, seus sentimentos ainda estão divididos entre
os dois rockstars. Outras fontes confirmaram, também, que
Tim e Brian se agrediram fisicamente na festa de
aniversário da Vivi, onde aparentemente os dois
disputavam a moçinha da história.
4 – Indícios de carreira solo – outro motivo para uma
futura separação da banda seria o brilho da vocalista Vivi,
que está tão em alta que anda recebendo inúmeros
convites para participações especiais em shows, para
estrelar campanhas de cosméticos e de acessórios da
moda. A última fofoca sobre a senhorita Santinni é a
probabilidade de ela gravar uma música solo que será a
bertura da nova série do aclamado produtor e redator
Ralph Melbourne, que teria como título “Sombras do
passado”. Lembrando que a senhorita Santinni acabou de
estrelar uma campanha para a marca de cosméticos
ShiningHair.”
- e quando o Cadú acabou de ler, estávamos todos
em estado catatônico.
- Essa revista merece ser processada. – disse Brian.
- sabe de uma coisa? Você está certo! Cansei de
deixar esses jornalistas fracassados tentarem alavancar a
carreira à custa de fofocas sobre a minha vida. Vou falar
com meu advogado e verei o que podemos fazer. – eu
disse.
- Vivi, você só está se esquecendo de uma coisa.
- Do que, Cadú?
- Dessa fonte mistérios que a revista alegou ter. Qual
a única pessoa que poderia ter vazado a história dos
calmantes?
- Filha de uma puta! Aquela cobra venenosa! – eu
xinguei com todas as minhas forças.
- Às vezes tenho vergonha de ser da mesma família
que ela. – confessou Gabriel. Então o Tim se juntou a nós.
- Preciso falar com todos vocês.
- É sobre as notícias dos jornais? Porque se for, já
estamos todos a par dessa sujeirada.
- Não! É outra coisa. Bom, conforme os últimos
acontecimentos, sei que não sou mais bem vindo na banda,
e sinceramente não quero mais me sentir como um fardo
para vocês. Sendo assim, eu estou me demitindo e farei
parte de uma nova banda que está sendo formada.
- Repete tudo que você disse, Tim, porque acho que
escutei mal.
- Não, você escutou bem. Eu estou trocando de
banda.
- E que banda nova é essa? – perguntei,
inconformada com o que tinha acabado de ouvir.
- A banda se chama Bobt’s. É formada pelo Bruno,
nosso antigo baixista, Orlando, o antigo tecladista dos
Hackerboys, pela Bia e por mim. – silêncio total. E mais
silêncio. E o silêncio continuou, até que a tampa da minha
panela de pressão explodiu.
- Você é um traidor! Seu covarde, agora que estamos
passando por uma fase difícil, você nos vira as costas e
corre para o lado oposto. Como posso ter me enganado
tanto ao seu respeito? E como você teve tanta cara de pau
de me dizer tudo aquilo....que.... – e então não vi mais
nada, apaguei totalmente.
Quando acordei, eu estava deitada na minha cama
com o Gabbe, o Brian e o Cadú sentados ao meu lado.
- Como você está? – perguntou Brian.
- Com ódio! É assim que estou! Gabriel, desde
quando sua irmã é cantora?
- Ela chegou a gravar um cd, há uns seis anos atrás,
mas achei que aquela fase de cantora tivesse passado.
Claro que me enganei, né?
- Então o tempo todo o que ela queria era roubar o
lugar da Vivi, como vocalista da banda. Como não
conseguiu, se coçou para montar uma nova banda que
tivesse o mesmo frescor que a nossa. – concluiu Cadú.
- Pois é, acho que é isso mesmo, Cadú! – eu
concordei.
- Então o Orlando saiu dos Hackerboys...
- Disso eu já sabia, já tinha visto uma matéria na
internet. Aparentemente ele brigou com todos outros
integrantes. – comentou Gabbe.
- Meninos, nós não temos mais o Ric, não temos mais
o Tim. Como podemos encerrar nossa turnê na Madison
Square Garden? Nossos fãs já estão decepcionados, e não
temos condição de continuarmos sem outra voz masculina.
Acho que esse é o fim da linha.
- Não me diga que você desistirá, Vivi! Não vou
suportar mais essa. Eu tenho uma idéia meio louca, mas
não sei se vai dar certo. Mais tarde nos falamos, preciso
ir, agora! – e eu estava tão desnorteada com as últimas
bombas que virei para o Gabbe e para o Brian e disse:
- Sem querer ser grossa nem nada, mas preciso ficar
um pouco sozinha. – o Gabbe saiu na mesma hora, mas o
Brian pareceu relutante.
- Você tem certeza de que quer ficar sozinha?
- Sim, Brian! Eu tenho! Não é nada com você, só
estou muito irritada. Preciso pensar um pouco.
- Ok, eu entendo. Se precisar de mim, me ligue.
Eu passei todas a as horas seguintes deitada na cama,
pensando na minha carreia, pensando nas coisas que o
jornal publicou sobre os motivos para nossa banda
fracassar, pensando sobre a facada que levamos nas
costas. Já tinha passado das dez horas da noite quando
resolvi levantar daquela cama. Afinal, eu não estava
doente para me entregar daquela forma. Eu levantei e
liguei o meu IPod no rádio. A primeira música da minha
tracklist não poderia ser mais apropriada: Going Under,
da banda Evanescence. Prestei atenção na letra, e o ar
faltou em meus pulmões.

“Obscurecendo e confundindo a verdade e as mentiras


Então eu não sei o que é real e o que não é
Sempre confundindo os pensamentos na minha cabeça
Então não posso mais confiar em mim mesmo
Eu estou morrendo novamente
Eu estou afundando
Me afogando em você
Estou caindo para sempre
Eu tenho que me libertar”

Os versos iam acabando e eu percebendo que se eu


tivesse escrito uma música naquele momento, seria
exatamente essa. Ah, Amy Lee, é como se você cantasse o
que se passa em meu coração.O meu celular toca.
- Alô!
- Vivi, não se preocupe. Amanhã à noite nós vamos
para Nova Yorque e no sábado faremos o nosso maior
show.
- Como assim, Cadú? Nós não temos nem um
baterista nem um segundo vocalista.
- Nós temos um baterista, sim. O Gabbe. – e eu me
lembrei de uma vez que ele comentou que tocava guitarra,
baixo, bateria e violino.
- Mas isso é o mesmo que tapar um buraco e destapar
outro. Se ele for nosso baterista, ficaremos novamente
sem um guitarrista.
- Aí é que você se engana. Acabei de encomendar um
guitarrista para nós.
- Encomendar? Como assim encomendar, Cadú?
Você enlouqueceu? Além do mais, iria faltar um segundo
vocalista, de qualquer jeito.
- Vivi, você confia em mim?
- Ah, Cadú, não é questão de confiar ou não, mas
sim...
- Confia ou não, caramba? – ele disse gritando,
aparentemente irritado.
- Sim, confio!
- Então boa noite! Nos vemos pela manhã.

Na manhã seguinte eu acordei sem a mínima fome,


mas o Cadú e o Brian me obrigaram a comer, me
relembrando da minha recente crise de anemia. Eu tentei
sondar o Cadú a respeito do que ele estava aprontando,
mas ele disse que não poderia contar. O gabbe logo se
juntou a nós, e meu estômago doeu ao ver que mais uma
vez ele vinha com um punhado de jornal.
- Vocês precisam ver isso! – e então o Brian arrancou
o jornal da sua mão, ávido por descobrir sobre o que o
Brian estava se referindo.
- “O fim de Rock & Pie?”, “O Fenômeno de R & P
morre tão rápido quanto nasce?”, “Surge uma nova
promessa: Bobt’s, a salvação do rock brasileiro”. Quer
saber, acho melhor nem ler o restante.
- e então ele amassou os jornais e os jogou fora.
- O Brian está certo. Não vamos nos importar com
essas matérias sensacionalistas. E querem saber por quê?
Porque agora nós temos o maior guitarrista que
poderíamos ter. Eu escolhi bem, podem ter certeza.
- Que é... – eu arrisquei.
- Que é uma incógnita até amanhã de manhã.
- Ah, qual é! Vamos fazer um jogo: eu chuto três
nomes, e se eu acertar você me avisa. – ele refletiu, então
respondeu:
- Ok, mas com uma condição: se você errar, não toca
mais no assunto.
- Fechado! Vejamos....como você deu a entender que
tinha contratado um guitarrista e um vocalista, penso que
pode ser uma só penso que dará conta de tudo. Então....sei
lá... Marcelo Camelo, do Los Hermanos?
- Não! Próximo!
- Edgard Scandurra, do Ira!
- Nops! Última chance!
- Ai, que coisa chata! Deixe-me ver... Digão, do
Raimundos!
- Nossa! Você acertou! Só que não!
- Ah, Cadú...
- nem termina o que ia dizer. Você prometeu que não
tocaria mais no assunto. Ponto final! - e eu fiz um bico do
tamanho do mundo.
Naquela noite nós pegamos um vôo para Nova
Yorque. O Brian voltou para seu apartamento, alegando
que tinha muitas coisas para resolver, e eu, o cadú e o
Gabbe voltamos para a mesma casa que tínhamos alugado
anteriormente. Assim que entramos, o clima ficou tão
pesado, tão tenso, que ninguém pronunciou um palavra
sequer. Eram tantas lembranças que eu não pude me
conter, simplesmente saí correndo para o meu quarto e
desabei a chorar, e eu devo ter chorado um bocado,
porque no meio da madrugada eu acordei e quando passei
a mão nos meus olhos, percebi que estavam úmidos. Eu
devo ter dormido chorando!
Na manhã seguinte, eu levantei cedo, ansiosa por
conhecer nosso novo guitarrista. Como o Cadú disse que
ele chegaria pela manhã, mas não deu um horário exato, eu
decidi que dava tempo de fazer nossa tradicional torta de
frango com requeijão. Eu preparei o recheio, fiz a massa,
coloquei para assar e e resolvi entrar na internet, em
busca de notícias sobre “o traidor”. E desta vez eu achei o
que queria. Tinham várias matérias feitas sobre a banda,
reportagens feitas com todos reunidos, e uma informação
crucial: eles fariam um show em Nova Yorque, em
seguida do nosso. Mas é muita cara de pau, mesmo! Claro
que o show deles seria menor, mas grande o suficiente
para uma banda que tinha dois dias de formação. Só então
me dei conta da verdade: pela excelência da divulgação e
pela rapidez da agenda de show, estava mais que claro
que eles já estavam tramando tudo pelas nossas costas. É
a única explicação! Esses dois queriam desestabilizar a
banda e aproveitar o escândalo para se promoverem. Será
que o Tim foi o responsável pela sabotagem do nosso
show em Orlando? E então a campainha me distraiu
daqueles pensamentos. Eu corri para abrir a porta e então
tive uma ótima surpresa: a Rita estava ali, parada, me
olhando com um sorriso gigante estampado na cara.
- Oi, Rita! Que surpresa boa! Você não sabe como é
bom ver um rosto familiar em um momento como esse.
- Você parece surpresa em me ver. – ela disse, sem
sair do lugar.
- O Cadú não avisou que você viria, ele apenas disse
que hoje pela manhã chegaria nosso novo guitarrista.
- E ele não mentiu – disse uma voz atrás da Rita, que
me fez pular para trás, com o coração batendo a mil por
hora. A Rita deu dois passos á frente e então ele apareceu,
me fazendo derramar um rio de lágrimas de felicidade.
- Ric! Não acredito que é você! – e então me lancei
em seus braços. Ele me apertou tanto que quase pude
ouvir o som de “crack” das minhas costelas. Quando o
soltei, olhei para ele e vi que ele estava tão emocionado
quanto eu, com os olhos até inchados de tanto chorar. Ele
praticamente soluçou, tentando dizer:
- Eu cheguei a acreditar que isso não voltaria a
acontecer.
- Eu não! Eu sempre soube que você seria capaz!
Mas me expolique isso, porque nos falamos a pouco dias
atrás, e você disse que ainda estava se recuperando.
- Eu estava, mas meu maior obstáculo é o
psicológico. Eu não perdi minha habilidade com a
guitarra, apenas a minha auto estima. Eu coloquei na
minha cabeça que para eu ser digno de ser um rockstar, um
aleijado como eu deveria se superar em tudo, mas eu
estava errado. Eu sou bom no que faço, e não preciso que
me digam que sou o melhor do mundo para eu me afirmar
como músico. A verdade é que eu já sou tudo isso. A
música corre pelo meu sangue, a música é o componente
do ar que respiro. Sem a música, eu sou um container
vazio. E eu não sou um aleijado, porque eu consigo fazer
muito mais coisas que muitas pessoas que conseguem
andar. Eu sou ativo, e não vou deixar esse par de pernas
me impedirem de cumprir meu destino nesse mundo.
- Eu juro que nunca na minha vida senti tanto orgulho
de alguém como estou sentindo de você nesse minuto. E eu
não tenho palavras para agradecer o que está fazendo por
nós.
- Vivi, quando o Cadú me ligou e contou tudo que
aquele filho de uma mãe fez, eu percebi que não havia
outro lugar no mundo onde eu deveria estar a não ser ao
lado de vocês. Vocês são meus irmãos, me apoiaram nas
horas mais difíceis que passei, e eu faria qualquer coisa
para poder retribuir tudo que fizeram por mim. – e então
percebi que eu faria aquele jornalista sensacionalista
engolir palavra por palavra, tudo que ele havia
profetizado sobre a nossa carreira. Não somos uma
família uma ova! E então o cadú desceu as escadas.
Quando ele e o Ric se olharam e deram um abraço de
irmão, tudo que vi foi a face de dois meninos. E todos nos
abraçamos e agradecemos a Deus por essa benção
maravilhosa.
Após devorarmos nossa tradicional torta, fomos
ensaiar. Nós encerraríamos a turnê com o repertório um
pouco diferente: o Ric queria cantar I Believe in
Miracles, dos Ramones, e eu queria cantar Piece Of My
Heart, da Janis Joplin. Nós eliminamos o “Dueto dos
Ossos” do repertório, mas incluímos outro dueto:
cantaríamos juntos “Tainted Love”, em um cover da
versão do Marilyn Manson. Cortamos também “It’s a
man’s, man’s, man’s world”. O Ric continuava tocando tão
bem quanto antes, senão melhor, tendo em vista o quanto
tinha ensaiado. O Gabbe e o Ric mal se conheceram e já
pareciam amigos de infância, e engaratarm uma conversa
entusiasmada sobre futebol e sobre a paixão pelo Red Hot
Chilli Peppers. Quando encerramos o ensaio, a Rita nos
encontou e disse que tinha conseguido agendar para
aquela noite uma entrevista no programa Intothe Night,
apresentado pelo sério apresentador Boris Clark. Aquela
seria nossa chance de esclarecer os recentes
acontecimentos e de alfinetar o jornal Orlando News.
Para descansar da exaustão que o ensaio nos causou,
nós nos jogamos no sofá e ligamos a televisão, então tive
a idéia de colocar naquele canal de fofocas para saber o
que estavam falando sobre nós e o que falavam sobre a
Bobt’s. Não demorou nem quinze minutos para passarem
um vídeo amador dos integrantes do Bobt’s em um
restaurante italiano. A Bia parecia estar nas nuvens, e o
Time tava mais sério que nunca, quase como se estivesse
lá por obrigação. Senti um enjôo passageiro, mas respirei
fundo e me senti melhor.
- Fico doente só de olhar para a cara desse panaca! –
disse Ric.
- Eu também! – concordei. De repente, ouço tocar
Light myFire, na voz do Jim Morrison. Imediatamente
olhei para a televisão e me vi.
- Olha, é meu comercial, meninos! Quer dizer, o
comecial da ShiningHair!
- Nossa, Vivi! Você parece uma deusa, de biquíni.
- Aposto que existem milhares de homens assistindo
a esse comercial e pensando: Come on, Vivi, light myfire!
– comentou Cadú.
- Que nada, só de olhar para ela o fogo deles já
acendeu. – brincou Ric, então peguei as almofadas do sofá
e joguei uma em cada um deles.
- Engraçadinhos!
- Você pode achar ruim o quanto quiser, mas que
olhando para você de biquini nesse comercial, a última
coisa que prestarão atenção é em seu cabelo. – disse
Gabbe.
- Não é não. A intenção é mostrar que mesmo após o
cloro da piscina, os cabelos continuam bonitos, porque eu
uso os produtos da ShiningHair.
- Ah, ta! Blá,blá,blá! – brincou Cadú, então tornei a
jogar almofadas neles, até que virou uma guerra de
almofadas tão séria que tive que me esconder para não ter
a cabeça arrancada ao ser atingida com força. E então
percebi que havia muito tempo que eu não me sentia tão
feliz.
Enquanto eu me arrumava para ir ao Into the Night,
eu liguei para o Brian.
- Oi!
- Oi, minha rockstar favorita! Como você está?
- Estou bem. Na verdade, estou mais que bem. Estou
ótima!
- Ah, é? E o que aconteceu para você se sentir
assim?
- O nosso novo guitarrista chegou.
- Ah, é verdade! Nossa, meu dia foi tão corrido que
acabei esquecendo de perguntar quem é a nova estrela da
guitarra. E pela sua felicidade, dever ser algum cara muito
bom. É bonito, também? Devo sentir ciúmes?
- Se é bonito? Ah, ele é lindo! Mas exagerei quando
disse “o novo guitarrista”, porque de novo ele não tem
nada, a não ser a idade. É o Ric, Brian! Você pode
acreditar nisso? Ele voltou!
- Mas que ótimo, Vivi! Nossa, vocês devem estar
super felizes. A essência da banda voltou. Que massa!
- Felicidade parece uma palavra pobre, em
comparação ao que sentimos.
- Estou muito contente por você, Vivi! Aliás, tão
contente que estou indo até aí para te seqüestrar. Quero
que passe essa noite aqui comigo, no meu apartamento.
- Brian, hoje não vai dar. Nós seremos entrevistados
pelo Boris Clark às 23:00 horas. Chegaremos aqui muito
tarde.
-Ah, que pena! Já estou morrendo de saudades de
você.
- Eu já te disse que você é maravilhoso?
- Não!
- Pois você é!
- Não escutei direito. Pode repetir?
- Seu bobo!
- Sabe qual o único problema de você não vir até
aqui é que não vou poder cantar agora para você uma
música que não sai da minha cabeça.
- E que música chiclete é essa?
- Come on, baby, Light my fire! – e eu caí no riso.
O Boris Clark era tão sério pessoalmente quanto
víamos na televisão, mas nem por isso ele deixava de ser
um entrevistador formidável. Assim que chegamos aos
estúdios do seu programa, ele nos recebeu muito bem e
nos acomodou em um camarim bem servido e confortável.
E então chegou a hora da entrevista.
- Quero receber aqui os integrantes da banda Rock &
Pie. – anunciou o Boris,e entramos eu, o Cadú e o Gabbe.
- Boa noite, Vivianne, Cadú e Gabriel!
- Boa noite, Boris! – nós três dissemos.
- Bem, vocês tem sido constante alvo de críticas nos
últimos meses, sejam elas negativas ou positivas, e
acredito que já tenham se acostumado um pouco com isso.
Entretanto, nos últimos dias houveram alguns fatos que
instigaram o número de rumores sobre o fim da banda.
Vocês tem algo a comentar sobre esses fatos recentes?
- Com fatos recentes você quer dizer a saída do Tim
e a sabotagem do nosso show em Orlando? – questionou
Cadú.
- Sabotagem?
- Nós temos uma teoria, mas não podemos afirmar
devido a falta de provas, mas se você pensarem bem,
como que um sistema inteiro de iluminação que já tinha
sido checado pela assistente de iluminação pode estragar
por inteiro em apenas uma hora? Sem contar que meu
microfone misteriosamente pifou bem na minha parte
principal do dueto. É muita coincidência para um dia só,
não concorda? – eu disse.
- Vendo por esse lado, concordo, sim. Mas e quanto à
saída do Tim, quais foram as principais razões? – eu e o
Cadú nos olhamos, aborrecidos por termos que falar de
um assunto tão desagradável e tão doloroso para nós.
- Bem, o Tim saiu inesperadamente. Em um dia
aconteceram os fiascos do show, e no outro ele anunciou
que estaria entrando em outra banda, sem nenhuma
justifica plausível. – o gabbe fez o favor de explicar.
- E a saída dele não teve nada a ver com o confronto
que estava acontecendo entre ele e seu namorado,
Vivianne? – Ai, meus sais! Quando essas perguntas vão
cessar?
- O Brian e o Tim se desentenderam por motivos
alheios à banda. Além do mais, os conflitos sempre foram
causados pelo Tim.
- E como vocês se sentiram com essa saída
inesperada de um integrante original da banda? – eu
percebi o cadú ficando com o rosto afogueado, de raiva.
Ele nem hesitou ao dizer:
- Se coloquem no nosso lugar: há anos você faz parte
de uma banda, e os integrantes se tornam seus melhores
amigos. Mais do que isso, até, se tornam seus irmãos. Em
um determinado momento vocês acabam tendo um mau
dia, como tivemos devido aos problemas no show em
Orlando, e então um dos seus irmãos simplesmente
chegaem você e diz “Estou trocando de banda. Até mais”.
Como vocês se sentiriam?
-É, realmente... – Boris tentou dizer, mas o desabafo
do Cadú não tinha acabado.
- Eu posso dizer como eu me senti, sim! Eu me senti
como se tivesse alimentado um porco com filé mignon. E
senti também uma imensa vontade de quebrar a cara dele,
para falar a verdade. E essa vontade ainda não passou.
- Dá para ver que vocês ainda estão bem abalados
com a decisão que o antigo parceiro de vocês, o Timóteo
Azevedo, tomou. E me digam, esse choque inicial que
vocês tomaram desestruturou os planos da banda, em
algum momento? – Boris se apressou a dizer, com medo
de que o Cadú começasse a destribuir socos em todos que
visse pela frente.
- Para falar a verdade, sim. Mas foi apenas por uma
questão de horas, pois em pouco tempo reestruturamos
nossos componentes. – eu disse.
- Então vocês já possuem um baterista novo? – ele
perguntou o que combinamos, uma vez que ele já tinha
visto o Ric nos bastidores e tinha ficado completamente
feliz por sua recuperação.
- Sim, Eu! – respondeu Gabbe.
- Mas se você for o baterista, quem será o
guitarrista?
- Ele! – nós três dissemos em uníssono, enquanto
apontávamos para a porta. E então o Ric entrou,
visivelmente tímido. O auditório ficou tão surpreso que o
silêncio predominou por alguns segundos, mas então o
clima do ambiente mudou. As meninas da platéira se
emocionaram tanto que começaram a chorar, os garotos
gritavam incentivos, e o Ric mais uma vez ficou com os
olhos cheios de lágrima, mas conseguiu se conter. A
reação da platéia foi tão linda que até o Boris se
emocionou. Sua voz estava embargada, quando ele disse:
- Ricardo Gusmão! Você não imagina o prazer
imenso que temos em te receber aqui.
- Boa noite, Boris! Agradeço muito pelo carinho! E
boa noite, platéia maravilhosa! – e os gritos histéricos que
as meninas sempre deram para o Ric recomeçaram,
demonstrando quenada havia mudado, quanto a isso.
- Ric, por favor, nos conte como é a sensação de ter
sobrevivido a um ataque bárbaro e como foi que
conseguiu se recuperar tão rapidamente.
- Boris, durante um bom tempo eu reprimi a
lembrança daquela noite, pela mágoa que eu tinha
guardado. Ainda hoje eu não gosto de lembrar, pois é um
atestado da maldade que alguns seres humanos são
capazes de fazer. O que importa é que eu consegui superar
minha depressão devido ao carinho da minha família e
dos meus amigos, que estão aqui comigo, além do amor
que tenho pela música. Hoje pela manhã, quando cheguei
e fui recebido pela Vivi, pelo Cadú e pelo Gabriel, que
diga-se de passagem, até então eu não o conhecia
pessoalmente, e eles comentaram sobre uma reportagem
infeliz que o jornal Orlando News fez, onde eles
insinuavam que nossa “grande família” estava
desmoronando e chegaria ao divórcio. Essa pessoa
desinformada não deve saber o quanto cada um de nós
apóia o outro, o quanto gostamos e cuidamos um do outro.
E sim, nossa relação é de irmãos. Claro que tem a
exceção da relação Vivi-Tim, mas isso é passado, e agora
só o que nos importa é continuar tocando e alcançar
momentos da vida de cada um de vocês através da noss
música.

- Realmente, mesmo entre altos e baixos, a Rock &


Pie é uma banda inspiradora. Muito obrigada a todos
vocês por terem exposto seus sentimentos. E vocês,
telespectadores, não saiam daí, pois voltamos logo, logo,
após os comerciais.
18 – ABRA SEUS OLHOS

“Cada minuto a partir deste agora podemos fazer o que


gostamos em qualquer lugar. Eu quero tanto abrir seus
olhos porque eu preciso que você olhe dentro dos meus.”
Open Your Eyes - Snow Patrol

Assim que chegamos à nossa temporária casa, fomos


cada um para o seu próprio quarto. Eu estava tão cansada
que só me despi e me enfiei embaixo das cobertas, sem
nem ao menos vestir uma camisola. Não demorou muito
para que eu pegasse no sono. Eu estava sonhando comigo
mesma, quando eu era bebezinha. Eu era realmente uma
menininha adorável, com bochechas gordinhas e uma
risada deliciosa. Eu estava ouvindo essa risada quando o
meu eu bebê sumiu. Eu abri meus olhos e estava
novamente no cume da pequena montanha, e ele estava alí
ao meu lado.
- É muito bom ver você!
- É muito bom ver você, também!
- Então o Ric voltou... fiquei muito feliz quando eu
soube.
- Como você soube? Aliás, como você sabe tanto
sobre a minha vida?
- Eu já te expliquei isso.
- Tá, a baboseira de você ser alguém que conheço
reprojetado pela minha mente em meus sonhos.
- Isso não é uma baboseira, é a mais pura verdade.
Mas não vamos discutir, por favor. Eu vim em paz, apenas
para te olhar uma última vez antes de...
- Antes de...
- Digamos apenas que será uma última vez antes do
grand finale.
- Grand finale? Nossa, é cada uma que você inventa,
Sr. Superbonder! Você me faz rir demais!
- Tudo bem, eu adoro seu sorriso, mesmo...
- Adora, é?
- Sim! Na verdade, eu adoro esses pequenos detalhes
que você tem ou faz, como o jeito que inclina levemente o
pescoço de lado, quando acha que estou contando alguma
mentira, ou como você espreme os olhos quando alguém
está te contando algo importante, ou como seu sorriso
chega aos seus olhos antes de chegar aos lábios. – e o que
ele me disse me fez me sentir tão especial que me joguei
em seus braços cobertos pela sombra.
- Eu vou sentir sua falta.
- Talvez sim, talvez não.
- Como assim?
- Você tem mais de um caminho a seguir. Eu estou em
um deles, gatinha!
- Então um dos meus caminhos eu estou destinada a
viver com um ser imaginário, é isso?
- Foi isso que eu disse, por acaso?
- Não, mas... ah, então você está novamente
mencionando o seu “eu verdadeiro”.
- Sim!
- Sinto te decepcionar, mas eu estou com o Brian. Ele
me faz feliz.
- Faz?
- Sim!
- Então não é só a mim que você está decepcionando.
– e ele se foi. Acordei em pânico, e após refletir um
tempão, tentando entender o significado das coisas que ele
havia me dito, acabei voltando a pegar no sono e só
acordei na manhã seguinte, com o cheiro de pão
quentinho. Eu logo desci e encontrei a Rita e todos na
cozinha. A Rita estava terminando de preparar os ovos
mexidos quando o Gabbe ligou o rádio em uma estação
americana que eu não conhecia. A Rita começou a nos
servir uma porção de ovos mexidos e a fatiar o pão que
ela havia comprado na padaria, quando ouço a primeira
música que rádio toca: Only When i Sleep, da banda The
Corrs. Juro que literalmente engasguei quando ouvi o
seguinte trecho:

“Mas é somente quando eu durmo


Vejo você em meus sonhos
Me rondando em círculos
Me virando de cabeça pra baixo
Mas eu somente ouço você respirar
Em algum lugar do meu sono
Me rondando em círculos
Me virando de cabeça pra baixo
Apenas quando eu durmo
E quando eu acordo
Suas sombras desaparecem”.

- Vivi, quer ajuda para desengasgar? Quer que eu dê


um tapa nas suas costas? – perguntou Cadú, todo solícito,
ao que eu respondi apenas com um sinal negativo, uma vez
que mal conseguia respirar direito, quanto mais falar.
- E então? Ansiosos para o grande show de hoje a
noite?
- E se estamos, Rita! – respondeu Gabbe.
- Desculpe tocar no assunto, Gabbe, mas você teve
alguma notícia da “coisa ruim”? – o Cadú deu umas
risadinhas exageradas ao ouvir o novo apelido da Bia.
- Graças a Deus, não! Aquela lá só me arranjou
confusão, durante minha vida toda. Vocês pensam que ela
é ruim hoje? Isso é porque vocês não a viram no formato
de pestinha. Era a criança mais insuportável e mais
maldosa que já vi. Porque você acha que sou gay... linha?
– ele bem que tentou corrigir, quando percebeu que havia
acabado de desabafar seu maior segredo, mas eu não
achei que a desculpa colou. Está certa que sou suspeita
para opinar, uma vez que já sabia do fato, mas é que a
emenda pareceu tão artificial... entretanto, ninguém
pareceu esboçar reação nenhuma quanto ao comentário
feito.
Após o café da manhã, nós nos arrumamos e fomos,
como sempre, passar o som, só que desta vez não seria em
um local qualquer, mas sim no Madison Square Garden.
Eu confesso que achei que quando o Ric voltasse a pisar
naquele lugar ele teria uma crise de choro ou de raiva, ao
lembrar do louco que atirou nele, mas quando chegamos lá
ele apenas ficou pensativo por alguns minutos, mas depois
olhou para cada um de nós e disse:
- Eu sobrevivi! E aqui estou eu, novamente, e pronto
para detonar nesse palco!
Nós voltamos para casa no final da tarde e fomos
tirar um cochilo, pois tínhamos uma hora e meia para
descansar, meia hora para tomar banho e colocar uma
roupa qualquer, já que no nosso camarim teriam
maquiadores e cabelereiros nos aguardando, e meia hora
para comermos. O tempo voou, e no que pareceru um
piscar de olhos, eu já estava no meu camarim, com o
cabelo feito, maquiada, faltando apenas me vestir.
Naquela noite eu usaria um shorts preto de couro, um
corpete vermelho e botas pretas de salto agulha e cano
alto, que chegam a bater no meu joelho. Três batidas
soaram à minha porta.
- Pode entrar!
- Uau, princesa! Você está maravilhosa!
- Obrigada, Mr. Levicce!
- De nada, Miss Santinni! – nisso, alguém bateu á
minha porta e disse:
- Vivianne, o show deve começar em cinco minutos.
- Eu tenho que ir, Brian! – eu disse, antes de tentar
lhe dar um beijo rápido, mas ele me segurou e acabou
tornando o beijo um tanto quanto caliente.
- Só não se esqueça disso, ok? – ele disse, quando eu
estava atravessando a porta. Eu parei, instantaneamente, e
perguntei:
- Disso o que?
- Que eu te amo! – e meu coração começou a bater
freneticamente. Eu abri a boca para tentar responder, mas
era como se algo puxasse minha voz para dentro de mim.
Eu apenas sorri docemente e disse:
- Você é perfeito, sabia? – e então fui em direção ao
palco, deixando para trás um Brian desapontado.
Quando subimos no palco e as luzes se acenderam, a
multidão de fãs começou a entoar: “Ric! Ric! Ric! Ric!
Ric!”. Olhei para ele e ele parecia uma criança quando
ganha um presente de Natal. Nunca nós tínhamos feito um
show daquele tamanho, e me senti emocionada, honrada e
inacreditavelmente triste. Olhei para o Gabbe e ele estava
eufórico. Olhei para o Cadú e seus olhos encontraram os
meus, e então eu soube que ele estava pensando a mesma
coisa que eu: era surreal o fato de olharmos para a bateria
e não encontrarmos o Tim fazendo suas caretas e seus
barulho com a boca, agitando suas baquetas pelo ar. O
Gabbe era uma pessoa super querida, mas ele não havia
participado desse sonho desde o começo, ao contrário do
Tim, que era integrante da banda desde que ela tinha sido
fundada, anos antes de eu mesma entrar. Eles já tinham
tocado em restaurante, em barzinhos, em festas de quinze
anos e em formaturas, tudo em busca do sonho de espalhar
sua música pelo mundo e ser reconhecido pelo seu talento.
E ele era talentoso, disso eu não tinha dúvida alguma. Eu
apenas não contava com a falsidade e com a ambição que
ele demonstrou ter. Olhando para o público e para os
meninos, percebi que inesperadamente eu não tinha ódio
do Tim. Não, eu não tinha ódio, nem raiva. Eu só tinha
uma grande mágoa por ele não ser o homem que eu havia
acreditado que ele fosse, e isso fazia com que eu sentisse
raiva de mim mesma.
Nós tocamos De frente com o passado, depois
tocamos Compulsões, seguida por O tempo não parou, e
então o Ric cantou I Believe in Miracles. A melodia da
música é bem animada, mas a letra tinha tanto a ver com a
história do Ric e com a forma que ele havia superado toda
desgraça pela qual havia passado, que todo mundo ficou
emocionado. Os fãs choravam e gritavam “Eu te amo,
Ric”, os técnicos de som e de iluminação choravam nos
bastidores, até onde eu conseguia enxergar, o Gabbe e o
Cadú choraram e eu estava com um nó na garganta,
segurando o choro, até que olhei para o camarim VIP,
onde vários atores, atrizes, personalidades da música e do
cinema estavam nos assistindo, e o encontrei alí, em um
canto, praticamente se escondendo. Eu reconheceria
aquele cabelo em qualquer lugar, ainda que estivesse
comprido, sem o tradicional topete, e todo desgrenhado.
Sua barba estava comprida, e me lembrei que no dia que
ele partiu ela já estava por fazer. O que fez com que eu
não conseguisse conter minhas lágrimas foi ver que ele
mesmo estava derramando as dele, enquanto ele assistia a
performance do Ric. Então o Ric acabou de cantar e a
plateia foi ao delírio. Foi uma mistura de empolgação,
porque a música era animada, e emoção, por causa da
história do Ric, que eu tive a certeza de que aquele show
seria lembrado pelo público durante muitos anos, assim
como nós jamais esqueceríamos aquele momento.
A próxima música era Piece of my heart, e eu a
interpretaria. Tomei fôlego por alguns minutos e senti
aquele congelamento que eu me afetava quando eu estava
me sentindo assustada pela multidão. Eu tive que
conversar mentalmente comigo mesma e dizer o quanto eu
estava orgulhosa por ter chegado até alí e por ter
conseguido enfrentar meu pânico de cantar em público
durante tanto tempo. Eu disse a mim mesma que não havia
o que temer, então fechei meus olhos e comecei a tocar os
acordes, com a minha Lua. Então expus toda minha
coragem ao cantar:

“Eu não te fiz sentir como se você fosse o único


homem? Sim!
Eu não te dei quase tudo que uma mulher
possivelmente possa dar?
Doçura, você sabe que sim!
E a cada vez digo a mim mesma que eu, bem, acho
que tive o bastante.
Mas eu vou te mostrar, baby, que uma mulher pode
ser durona.
Eu quero que você venha, venha, venha, venha e
leve-o,
Leve-o!
Leve outro pedacinho do meu coração agora, baby!
Oh, oh, quebre-o!
Quebre outro pedacinho do meu coração agora,
querido, sim, sim
Oh, oh, possua um!
Possua outro pedacinho do meu coração agora, baby,
Você sabe que pode, se isso te faz sentir-se bem,
Oh, sim, realmente.
Você está fora, nas ruas, parecendo bem,
E baby, bem dentro do seu coração, eu acho que você
sabe que isso não é correto.
Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca me ouve quando
eu choro à noite,
Babe, eu choro o tempo todo!
E a cada vez digo a mim mesma que eu, bem, não
consigo suportar a dor.
Mas quando você me segurar em seus braços, vou
cantar mais uma vez.”

Eu estava cantando e não consegui conter o impulso


de olhar para o Tim, mas só vi o topo de sua cabeça
desaparecendo em direção à saída do camarote. Quando
eu terminei Piece of My Heart, nós cantamos Hey Menina
e encerramos o show. Estávamos indo cada um para seu
próprio camarim quando o Ric disse:
- Vocês viram quem eu vi? – mas aparentemente o
Cadú e o Gabbe não o tinham visto.
- Eu o vi, Ric! Infelizmente eu o vi.
- Ele parecia tão infeliz... – o Ric disse.
- Cada um tem o que procura!

Na manhã seguinte, eu relutei em levantar. Eu pensei


em levantar cedo e aproveitar meu penúltimo dia nos EUA
fazendo compras, visitando o Central Park, indo até a The
Cheesecake Factory, mas só de lembrar que eu teria que
enfrentar o Brian sem saber se eu seria capaz de retribuir
o “Eu te amo”, minha cabeça explodia. Sem contar que
hoje seria o show de estréia da banda Bobt’s, o que fazia
meu humor piorar mais ainda. Eu estava lembrando que
naquela noite eu gravaria a música de abertura da série
Sombras do Passado, quando os meninos e a Rita
começaram a me chamar incessavelmente, inconformados
que já passava do meio dia e eu ainda estava na cama. Eu
finalmente resolvi levantar e tomar um banho longo e
relaxante, me arrumar e ir às compras.
Fazer compras com os meninos é pior que fazer
compras com mulheres, pois eles não conseguem se conter
quando encontram um aparelho eletrônico qualquer que
nunca tenham visto antes, ainda que seja um aparelho de
cortar pelo do ouvido. Isso sem contar que a cada parada
que eles davam os paparazzis faziam a festa, tirando
milhares de fotos iguais que não pareciam fazer o mínimo
sentido. “Can’t stay at home, can’t stay at schoo, old
folk...”.
- Alô!
- Oi, Vivi! Tudo bem com você?
- Tudo bem, sim! E você?
- Mal, e piora cada vez que lembro que amanhã você
volta para o Brasil.
- Nossa, eu vou sentir muita saudades daqui! – ele
ficou um tempo em silêncio, mas então disse, em uma voz
bem fraca:
- Não vá! Fique aqui comigo! – e eu percebi que a
maior parte da saudades que eu sentiria seria por causa
dele.
- Eu não posso, agora. Tenho muitos compromissos
no Brasil.
- Mas e para um futuro próximo?
- Eu tenho que pensar, Brian. Essas coisas não se
resolvem assim, de uma hora para a outra.
- Tudo bem, eu entendo. Bom, que tal tomarmos um
café e namorarmos um pouco?
- É uma boa idéia, onde você está?
- Aqui na sua frente! – e quando olhei adiante, eu o
encontrei, parado na calçada, olhando para mim com o
celular na mão. – Sabia que a cada vez que olho para você
é como se eu te visse pela primeira vez? – e então ele
desligou e veio na minha direção.

Eu e o Brian passamos a tarde toda passeando pelas


ruas de Nova Yorque, e sim, ele me levou ao Central Park.
Enquanto ele me contava as novidades da banda e eu
olhava para ele e só conseguia pensar que quando eu
voltasse para São Paulo eu sentiria uma falta imensurável
do Brian e de toda sua paixão cristalina.
- Você está bem? Parece tão longe...
-Eu só estava pensando que quando eu voltar para
minha cidade vou morrer de saudades de momentos como
esse. Eu vou sentir muito a sua falta.
- Você tem uma escolha, Vivi. Eu te dei uma outra
opção. – e percebi que o Sr. Superbonder disse a mesma
coisa. Que incrível coincidência! Então sentamos em um
banco, no Central Parque, e ficamos lá, abraçados, até o
final da tarde.
À noite eu me arrumei e fui ao encontro do Ralph
Melbourne. O Gabbe foi comigo, uma vez que o Ralph o
tinha convidado, e após nos encontrarmos ele nos levou
até o estúdio de gravação. Eu li a música por algumas
vezes e percebi que com exceção de alguns sinônimos, o
Ralph não tinha mexido na letra. Aquilo me deixou
contente, pois eu a achava perfeita do jeito que estava.
Enquanto eu gravava a música, o Ralph e o Gabbe me
assistiam, enquanto a equipe de gravação me orientava. A
letra era muito boa, e um tanto quanto sombria, mas eu a
acolhi como parte do que eu estava sentindo,
ultimamente. Quando finalmente encerramos a gravação,
o Gabbe e o Ralph decidirm sair pra tomar um drinque.
Eles me chamaram, mas como eu percebi o clima
romântico que estava rolando, decidi voltar para casa.
Além do mais, desde que olhei no relógio eu só conseguia
pensar no show dos Bobt’s, que já deveria estar na
metade, pelas minhas contas.
Quando cheguei em casa, o Ric, a Rita e o Cadú já
estavam dormindo, mas eu estava completamente sem
sono. Eu fui para o meu quarto e liguei meu notebook, em
busca de jogos divertidos que pudessem me distrair até eu
pegar no sono. Joguei um jogo de docinhos voadores por
mais de uma hora, até que o sono começou a me pegar de
jeito. Antes de desligar o notebook, porém, eu não resisti
ao impulso de ler a carta que o Tim havia escrito e que eu
havia salvado nos meus documentos. Após ler e reler e
reler novamente, finalmente o fechei e tentei me entregar
ao sono, mas a melodia da música First Time Ever I Saw
Your Face não saia da minha cabeça. Eu simplesmente não
conseguia entender como uma pessoa que foi tão sensível
ao escrever uma carta tão linda como aquela poderia ser a
mesma pessoa que tinha apunhalado seus amigos e
companheiros de banda pelas costas, além de ter me
traído com uma víbora manipuladora como a Bia. Isto
tudo está muito errado! Nós estávamos prestes a voltar
para o Brasil e o Tim continuaria ali, fazendo parte de
uma banda com a qual não tinha nenhuma história, que não
tinha dividido nenhuma conquista e cujo nome era apenas
a letra inicial de cada integrante. Eu quase ri com a
breguice daquilo, mas se eu tivesse rido, seria uma risada
amarga, de despeito. Eu fechei meus olhos e fiquei
lembrando das musiquinhas que ele inventava com o som
de sua boca, lembrando do jeito que ele me olhava e me
fazia sentir como a mulher mais linda do mundo, da forma
que ele me beijava e fazia com que eu me esquecesse de
todos os problemas do mundo, de como eu sentia minha
pele febril quando ele simplesmente me tocava, da força
que ele me deu todas as vezes que eu subi ao palco e
percebi que não tinha coragem suficiente para cantar
sozinha. Então minha mente me mandou esquecer tudo
aquilo, pois não passaram de mentiras cruéis criadas por
um homem sem coração. E o sono me envolveu e me levou
a um mundo onde tudo era lindo e ninguém sofria por um
coração partido.

Na manhã seguinte eu desci para tomar café e


encontrei queijos, presunto, patês e pães esplhados pela
mesa, assim como uma jarra com suco de laranja e um
bule com café, mas ninguém estava na cozinha. Eu fui até a
sala e os encontrei cochichando, enquanto olhavam para a
televisão.
- Bom dia! O que estão fazendo? – eu perguntei e os
fiz pular de susto.
- Bom dia, Vivi! – eles disseram, sem responder
minha pergunta.
- E então?
- Não estamos fazendo nada, só estávamos assistindo
televisão. – eu olhei para a televisão e os encontrei
assistindo um canal rural.
- Estão pensando em comprar cavalos, é?
- Não, só estávamos admirando os animais – O Ric
disse mais rápido do que o normal, e eu percebi que eles
estavam mentindo.
- Eu não vou cair nessa, podem abrir o jogo! – eu
disse e eles pareceram aflitos, mas foram salvos pela
campainha. Eu dei a eles um olhar que dizia “Isso não
acabou por aqui”, e então fui atender a porta. Era o Brian!
- Bom dia! Que surpresa gostosa! – eu disse.
- Bom dia, meu amor! – ele respondeu e me deixou
corada. Eu fiz sinal para que ele entrasse e fomos até a
sala. Quando os meninos e a Rita viram o Brian, eles
pareceram incomodados.
- Bom dia, Brian! Por que você não leva a Vivi para
tomr café da manhã em algum lugar bem chique e
diferente, antes de partirmos?
- Não há necessidade! Tem uma bela mesa posta na
cozinha, repleta de coisas gostosas. Você já comeu?
- Na verdade, já. Eu acordei muito cedo... estou um
tanto quando ansioso, então não dormi direito, essa noite.
Vivi, será que poderíamos conv....- mas a campainha o
interrompeu. Eu novamente fui atendê-la, mas quando abri
a porta, meus joelhos tremeram de nervoso e eu quase caí.
- O que você pensa que está fazendo aqui?
- Voltando para casa. – ele disse, e eu percebi que
ele estava carregando suas malas. Será posssível que ele
tenha perdido todo juízo?
- Nem nos seus melhores sonhos! Cai fora daqui
antes que eu chame a polícia.
- Mas eu quero que você chame a polícia. Você vai
precisar.
- O que... – eu disse, confusa, e então o Brian foi até
a porta, com um bico do tamanho do mundo, e gritou:
- Saia daqui antes que eu quebre todos os seus
dentes! - mas a Rita e os meninos se juntaram a nós,
disseram para ele se acalmar e em seguida pediram para o
Tim entrar.
– Como assim, entrar? Vocês estão malucos?
Esqueceram tudo que ele nos fez? – eu perguntei,
indignada.
- Vivi, o Tim tem algo para te contar. Você precisa se
acalmar e ouvi-lo. – O Ric me disse. Me acalmar e ouví-
lo? Jesus, será que estou tendo um pesadelo?
- Não há nada que saia da boca desse traidor que
possa me interessar. – eu cuspi minhas palavras com ódio,
mas então o Tim se proximou de mim e segurou uma de
minhas mãos.
- Por favor, Vivi! É algo sério e de seu interesse.
- Solte ela agora mesmo! – esbravejou Brian, e o Tim
se virou para encará-lo nos olhos.
- Não estou aqui para discutir com você. Podemos
deixar isso para depois!
- Mas é muita cara de pau sua, mesmo!
- Cara, numa boa... cala a boca e me deixe falar,
porque estou começando a ficar irritado.
- Cala a boca o car... - mas eu o abracei e disse:
- Calma, Brian! Todos estão pedindo para ouvi-lo,
então o assunto deve ser realmente sério. Vamos ouvir o
que ele tem a dizer, e depois o colocamos daqui pra fora.
– o Brian não pareceu gostar muito do que eu disse, mas
também não retrucou, então eu continuei a dizer: - Fale
logo o quem tem a dizer, Tim.
- Eu preciso do seu notebook e de um cabo USB,
Vivi! Pode buscar para mim?
- Mas que folgado, ora essa! – eu reclamei, enquanto
subia para buscar o que ele pediu. Quando desci e
entreguei o note ao Tim, ele o abriu e eu prendi o ar, de
vergonha: eu tinha esquecido de fechar a carta que ele
havia me mandado, então quando ele ligou o notebook, as
primeiras coisas que apareceram foram as frases
românticas que ele tinha escrito para mim. Ele me olhou e
notei, pela primeira vez em muito tempo, um brilho de
satisfação passar por seus olhos. Ele logo minimizou a
carta, então não deu tempo de as outras pessoas lerem o
que estava escrito, de forma que somente eu e ele
compartilhamos aquele momento embaraçoso. Então ele
plugou o cabo USB em um aparelho que parecia um
gravador digital.
- Agora peço que vocês façam silêncio, por favor. –
e então ele deu play no aparelho e a voz da Bia ressoou
pela sala.
- Tim, cansou de ensaiar?
- Não, vim para o meu quarto para relaxar. Estou um
pouco estressado. Você conhece alguma técnica boa de
relaxamento? – ele disse com a voz insinuante, e eu
comecei a ficar mais irritada do que já estava.
- Na verdade, conheço várias. Podemos começar
com uma massagem. Tire a camiseta! – e então houve
pouco mais de um minuto de silêncio, porque
aparentemente ele estava se despindo e ela estava se
preparando para dar o bote.
- Nossa, sua pele é tão macia! – ela disse, e só de
pensar naquela jararaca colocando as mãos nele, senti
meus punhos se fechando de raiva. Se a Bia estivesse ao
meu alcance, com certeza ela levaria dois jebs diretos na
cara.
- Suas mãos também são muito boas! Assim como
você toda! – Ai, que ódio!
- Ah, é? Pensei que você só tivesse olhos para a
putinha da Vivianne!
- Não, não é verdade! Ela tem suas qualidades, mas o
que mais admiro em uma mulher é a sagacidade, e a Vivi é
muito ingênua para o meu gosto. – Até quando eu terei
que ouvir essa tortura? Olhei para o Cadú, angustiada,
mas ele fez um sinal para que eu continuasse a ouvir a
gravação.
- Vire! Quero olhar em seus olhos, agora! – ela
mandou, antes de prosseguir. – Por que você diz que ela é
ingênua?
- Porque todo mundo a faz de tonta. Ela sempre foi a
coitadinha para quem empurramos nossos problemas,
esperando que ela os resolvesse. Sem contar que ela
sempre tenta ser amiga de todo mundo, e isso não é um
bom sinal para uma pessoa: significa que ela é fraca, que
depende muito da opinião alheia.
- Tim, estou gostando muito de conhecer esse seu
lado. Sabe que concordo com tudo que você está dizendo?
- Sei, sim! Você, por outro lado, é totalmente o
oposto da Vivi. Você é esperta, sagaz, faz as coisas hoje
pensando longe, planejando o dia de amanhã.
- Nossa, você está me deixando muito excitada. – e
então todos ouvimos um barulho que parecia ser de um
beijo. Eu olhei para o Tim e ele estava me olhando
atentamente. Eu senti meu estômago ir até a boca, de tanto
nojo, mas me controlei para não dar a ele o gostinho de
me ver mal. Após longos minutos que pareciam horas, o
beijo acabou.
- Você é incrível! Sabe quando fiquei caidinho por
você?
- Quando tentei te agarrar no seu quarto que não foi,
porque você me dispensou bruscamente. Você bem que
merece uns tapinhas por isso. – ele a dispensou? De
verdade?
- Você pode fazer comigo o que quiser. Eu aceito uns
tapinhas de bom grado.
- Bom menino! Mas me diga, quando foi que ficou
caidinho por mim?
- Quando descobri sua genialidade. Eu nunca achei
que você fosse mulher suficiente para sabotar nosso show
em Orlando, mas quando percebi que foi você, tirei meu
chapéu e aqui estou eu, totalmente aos seus pés. – e ela
ficou em silêncio, aparentemente incomodada por ele ter
tocado no assunto. – Ah, por que ficou assim tão retraída?
Não vai me dizer que não foi você! Porque se não foi, vou
ficar muito despontado! Eu sempre gostei de mulheres de
atitude, e foi só por isso que te segui até a Bobt’s. – mais
alguns segundos de silêncio se passaram, até que
finalmente ela disse:
- Claro que fui eu! Quem mais seria engenhosa o
suficiente para “comprar” alguns técnicos de iluminação e
os persuadir a destruir todos equipamentos do show?
- Mas e quanto ao som do microfone da Vivi? Como
foi que você o cortou na metade do show?
- Tim, não há nada que o dinheiro não compre, e a
lealdade de uma equipe não é uma exceção. Você mesmo é
o maior dos exemplos. Eu não precisei te comprar, mas
como você mesmo disse, bastou eu dar o meu golpe de
gênio em cima da Rock & Pie para você vir correndo para
os meus braços. Não existe nada incorruptível nesse
mundo, meu querido.
- Aí é que você se engana. Sai de cima de mim, sua
piranha! – e então a gravação acabou, e eu fiquei ali,
parada, tentando assimilar tudo que eu tinha acbdo de
ouvir. Então o Tim não me traiu, como eu havia pensdo.
Ele não beijou a Bia enquanto estávamos juntos.
- Então você saiu da banda para...
- Para conseguir provar que a Bia não vale um
centavo. Para tentar obter a prova da minha inocência,
além de uma prova concreta contra ela para que
pudéssemos entregá-la às autoridades. Lembra o que eu te
disse na carta? – e de repente tudo ficou claro.
- Que você não ia descansar até que eu entendesse
que tudo não passou de um mal entendido.
- Sim, mas depois acabei descobrindo que não houve
um mal entendido, mas sim uma armação. Quando tudo
deu errado no show em Orlando, eu tive certeza de que a
Bia tinha armado para nós, e quando ela me procurou, no
dia seguinte, para me convidar a me juntar a ela na Bobt’s,
eu enxerguei aquele convite como uma oportunidade de
ouro. Eu só tinha um trunfo contra ela, pois só conhecia
uma de suas fraquezas: eu mesmo. E só conquistando a
confiança dela eu conseguiria obter sua confissão. – ele
disse com uma empolgação de menino, e então o Cadú foi
até ele e o abraçou, dando alguns tapinhas em suas costas.
- Me desculpe por ter duvidado de você, irmão! Nem
temos como te agradecer pelo sacrifício que fez por nós. –
em seguida o Ric se aproximou dele, e o Tim ficou
completamente emocionado.
- Ric, você não sabe como foi um prazer para mim
poder te ver tão bem, tão seguro de si, no show na Times
Square. – os dois se olharam como dois cúmplices e o Ric
deu alguns tapinhas em suas costas.
- Senti sua falta, parceiro! – ele disse ao Tim em uma
voz embardaga. A Rita foi a próxima a abraça-lo, e disse
o quanto ela ficava feliz por ele não ter ido para o “lado
negro da força”.
- Gabbe, eu sei que ela é sua irmã, mas ela não pode
sair impune. Tem que responder por seus atos, de uma
forma ou de outra. – o Tim disse ao Gabbe, que ergueu os
ombros.
- Não esquenta, Tim! Você fez a coisa certa! – e então
todos eles olharam para mim, e eu olhei para o Tim, e
depois para o Brian, que estava ao meu lado, angustiado.
Meu coração disparou, o ar faltou e eu me senti em queda
livre, então eu saí correndo, porta a fora, pelas ruas que
não sei o nome, em direção a lugar nenhum, apenas
tentando organizar meus pensamentos. Se desde o começo
eu tivesse acreditado que o Tim não tinha me traído, eu
sinto em meu coração que até hoje estaríamos juntos,
mas então eu não estaria com o Brian, e ele era tão fofo,
tão lindo, tão apaixonado... E eu o amava. Sim, eu
amava o Brian! Mas eu era apaixonda por ele como eu
era pelo Tim? Não, eu não era. Era só o Tim chegar
perto de mim que o ar me faltava, que eu me derretia
toda, que meu coração disparava, que minhas mãos
suavam... e eu o amava, também! Ai, o que eu faço da
minha vida? Como posso escolher entre dois homens que
são tão maravilhosos que acho que eu nem esteja à
altura deles? Eu deveria ter ficado só com o Sr.
Superbonder, isso sim. Ele não me deixa nem em meus
sonhos, ele faz minha pele arder como fogo ao seu
mínimo toque, ele... ei, espere aí, Vivi! Use o Sr.
Superbonder como critério de desempate! Ele sim é
merecedor de uma digna escolha, e seja qual dois dois
ele for, será ele quem eu escolherei. Eu voltei até nossa
casa em Nova Yorque e encontrei todo mundo na sala, o
Brian em estado catatônico, parado no mesmo lugar, e o
Tim sentado no sofá, olhando para as próprias mãos, que
carregavam o gravador. Eu entrei na sala e todos eles me
olharam.
- Eu sinto muito por ter saído daquela forma,mas eu
estava tendo um ataque de pânico. – eu me expliquei, mas
ninguém disse nada, provavelmente ansiosos pelo rumo
que a conversa tomaria.
- Tim, eu não sei como me desculpar com você. Eu
estou envergonhada por tudo que fiz e que disse, mas por
outro lado, se tudo isso não tivesse acontecido, eu não
estaria com o Brian. – eu olhei para o Brian e ele deu um
sorriso to meigo, tão lindo...
- Eu entendo, Vivi! Bem, a vida é assim, né? Nem
sempre podemos ter tudo que desejamos. – disse um Tim
apático.
- E não terminei de falar, Tim. Eu tenho uma simples
pergunta para vocês dois, e ela é essencial para eu tomar
qualquer tipo de decisão.
- Decisão, Vivi? Nós não estamos juntos? –
resmungou Brian.
- Estamos, Brian, mas você sabe tanto quanto eu que
o fantasma do Tim esteve nos rondando por tempo demais.
Eu cansei de ficar presa ao pensamento do que poderia ter
acontecido e às lembranças do que aconteceu. Preciso
fazer uma escolha definitiva.
- E qual é a pergunta, Vivi? – perguntou Tim,
ansiosamente.
- Qual a fantasia que vocês usaram na festa da Carly
Anne? E não adianta negarem porque sei que os dois
foram até lá. – os dois se entreolharam desafiadoramente,
até que o Brian disse:
- Eu fui vestido de mágico. – e senti um misto de
sentimento: o desapontamento e a ansiedade.
- Brian, eu...- eu precisava dizer a ele o que eu tanto
temia, mas ele percebeu e se apressou a dizer.
- O que aconteceu naquela festa que possa ser usado
como critério de desempate no dia de hoje, Vivi? O que
importa não são as nossas ações, a forma que te tratamos?
- Você está certo em partes, Brian, mas a verdade é
que eu nunca me senti com você da mesma forma que me
senti com o Ciclope!
- Com o Ciclope, não, Vivi! Comigo! Quando eu te
vi, tão linda, tão sexy e aparentemente tão vulnerável,
dançando sozinha no meio das sombras, eu não consegui
me conter, eu sabia que precisava te beijar naquele mesmo
segundo!
- Então é isso? Você está escolhendo ele ao invés de
mim?
- Eu sinto muito, Brian! De verdade! Se tivéssemos
nos conhecido em outro momento... – e eu comecei a
chorar, descontroladamente. – Me desculpe, Brian! Eu te
amo, de um certo modo. Hoje eu percebi. Mas eu amo o
Tim, também, e ele me escolheu antes de você. Ele me
escolheu antes mesmo de eu saber que ele tinha escolhido,
e eu devo a ele essa chance.
- Se você me ama, como está dizendo, então significa
que está confusa. Não tome nenhuma decisão precipitada.
- Eu estou confusa, mesmo. Mas eu sei que estou
tomando a escolha certa. Eu estou ouvindo meu coração.
- Ok, eu vou tentar aceitar sua decisão. – ele disse,
com os olhos marejados. – Mas só por um tempo, Vivi. Só
por um tempo! – ele frisou. – Sabe por que? Por que eu
sei que você será minha. Você só precisa de um tempo
para entender. É como eu disse anteriormente: eu nunca
vou desistir de você. – e então ele se foi, deixando metade
do meu coração em frangalhos. O Tim imediatamente foi
até mim e me abraçou.
- Calma, minha gatinha! Não fique assim tão
angustiada!
- Gatinha? Nossa, como é que eu não percebi antes?
- Não estou entendendo!
- Só você me chama assim, mais ninguém. Como é
que não percebi que você era o Sr. Superbonder? – e ele
me olhou intensamente, antes de se afastar e passar as
mãos pelo cabelo.
- Como assim, Sr. Superbonder? O Cadú te falou
alguma coisa?
- O Cadú... hãn?
- O Cadú é a única pessoa que sabe sobre esses
sonhos estranhos que eu tive. Eu passei noites sonhando
com você, mas você não podia me ver, então me chamav
de ... calma aí... você também sonhou com isso? Quero
dizer, todas as vezes?
- Sim, Tim! Todas as vezes. – e começamos a rir,
totalmente intrigados pela surpresa que nossas mentes
tinham nos pregado. Como foi que sonhamos as mesmas
coisas, com total sincronismo, nós jamais poderíamos
explicar, mas eu sabia que era coisa do destino. Ou do
amor.
- Vivi, preciso muito fazer isso... – e então ele me
abraçou com muita paixão e me beijou
avassaladoramente, com uma fome insaciável que fez com
que o ambiente da sala subisse uns dez graus. Suas mãos
passeavam pelos meus cabelos, pelas minhas costas,
pelos meus quadris, e quando eu estava completamente
sem fôlego, ele parou de me beijar e prendeu seus olhos
nos meus. Eu achei que ele fosse dizer alguma coisa, mas
ele simplesmente me olhava, com os olhos refletindo suas
emoções. Aquele silêncio valia mais que mil palavras.
19 – SINFONIA AGRIDOCE

“Porque é uma sinfonia agridoce, esta vida. Tente fazer


finais encaixarem.” Bitter sweet Symphony - The Verve

Eu nem podia acreditar que estava em um avião com


destino a São Paulo. Só de pensar que eu dormiria na
minha cama, que eu veria a minha família, que eu poderia
falar livremente a minha língua, eu já ficava toda
emocionada. Ok, não era só por isso que eu estava
emocionada. Eu e o Tim estávamos lado a lado,
abraçados, ouvindo Equalize, da Pitt. Sim, eu também já
enjoei um pouco, mas quando ouvimos abraçadinhos com
a pessoa que amamos, essa música parece outra. O Tim
traçou vários beijos do meu ombro até meu pescoço, e
começei a sentir um calor inexplicável.
- Tim, não me provoque. Estamos em público!
- Ah, Vivi! Qual o problema de brincarmos só um
pouquinho? - ele disse com uma voz deliciosa de menino
danado, e o calor cresceu ainda mais. Equalize acabou e
começou a tocar Saber amar, dos Paralamas do Sucesso. -
Nossa, eu...
- Eu sei, você ama essa música! Na verdade, você
ama todas as músicas deles! - eu ri, mas ele me olhou
fixamente por vários segundos, sério.
- Oi que foi? - ele me olhou daquele jeito sério por
mais alguns segundos, antes de apertar meu nariz e dizer:
- Que tal se formos até o banheiro do avião?- e seu
rosto voltou a parecer com o de um menino pimentinha.
- Tim, nós somos famosos. As pessoas nos vigiam a
cada segundo. Acha que ninguém vai pereceber que
entramos juntos em um banheiro e que demoramos uma
eternidade para sair de lá?
- Bem, você está certa. Mas só não entendi uma
coisa.
- O que?
- Qual o problema de descobrirem? Você não quer
que te vejam comigo, é isso?
- Não é isso, Tim. Aposto que os sites já noticiaram
que você foi visto no aeroporto comigo, e sem dúvida
devem ter centenas de fotos daquele beijo delicioso que
você me deu na fila de embarque.
- Você achou aquele beijo delicioso? É porque ainda
não provou desse aqui. - e ele me beijou lentamente, mas
com uma certa força e movimentos sensuais. Começou a
tocar Senhor do Tempo, do Charlie Brown Jr. Ele
começou a apertar minhas costas em movimentos
aleatórios, então colocou a mão dentro da minha blusa e
acariciou minha camisa, me dando arrepios até que eu
desse um gemido rouco.
- Ok, você venceu! Vamos até o banheiro!
- Boa menina! - e eu fui vagarosamente até o toilete,
torcendo para ninguém prestar atenção em mim, mas no
fundo eu sabia que isso estava fora de cogitação. Logo em
seguida o Tim bateu na porta e entrou. Ele mal entrou e já
me suspendeu, em um dos cantos da parede. Ele beijou
minhas coxas e subiu até o meu triângulo do prazer. Eu
mal pude me conter, tive que tampar minha boca para que
não me ouvissem. Quando ele parou de me beijar
intimamente, ele levantou minha blusa e se afastou um
pouco para me observar.
- Você está ainda mais bonita, se é que é póssível! E
impressionantemente eu te quero mais ainda, se é que é
possível!
- E eu digo que é possível, sim, porque estava
pensando exatamente a mesma coisa em relação a você. -
eu disse, enquanto tirava sua camiseta e abria o zíper de
sua calça jeans. E nos amamos alí de pé, no banheiro,
mais ardentemente que nunca.
Quando estávamos voltando para nossas poltronas,
senti aquela tontura habitual dos dias que não me alimento
direito. O Cadú notou e foi em minha direção.
- O que foi? Está se sentindo mal?
- Com toda confusão que rolou nesta manhã, eu
acabei nem comendo nada. Vou pedir umas bolachinhas
para a aeromoça. Não se preocupe.
- Vivi, se você não se cuidar terá outra crise de
anemia.
- Eu sei, não se preocupe. - e então o Tim parou ao
lado do Cadú.
- O que foi?
- A Vivi quase desmaiou no corredor. Ela acabou de
me dizer que ainda não comeu nada.
- Pode deixar que eu cuido disso. Tenho alguns
bolinhos na minha mochila. - e então ele pegou um de
chocolate com baunilha e me deu. Eu devorei em duas
bocadas e quase imediatamente me senti melhor.
Após o avião pousar e pegarmos nossas malas, eu e
os meninos nos olhamos e nos abraçamos. Com exceção
do Tim, que era órfão, os pais de todos estavam nos
esperando no corredor a seguir, e assim que o
atravessássemos, iríamos cada um para seu canto. Claro
que nos veríamos praticamente todos os dias, mas era
totalmente diferente da rotina que criamos nos últimos
meses, onde acordávamos e dormíamos praticamente
juntos. Eu sentiria falta dessa rotina, mas eu também sentia
falta da minha mãe, e passar alguns dias ao lado dela era
minha prioridade, naquele momento. O Cadú foi o
primeiro a dizer:
- Vou sentir saudades de vocês. Eu sei que vamos
continuar nos vendo, mas será diferente.
- É, eu estava pensando a mesma coisa, Cadú!
- Não se preocupem que em breve faremos outra
turnê e aí vocês matarão a saudades dos meus roncos. - o
Tim brincou.
- Eu tenho é pena da Vivi! - disse Ric.. - E vocês
acham que fizemos a coisa certa ao incluir o Gabbe na
banda como nosso segundo guitarrista?
- Com certeza! - eu disse.
- Claro! - disseram o Cadú e o Tim.
- Por que, Ric? Acha que nos precipitamos? -
perguntou Rita, que também havia voltado conosco.
- Não, eu confesso que me senti aliviado. Afinal, se
acontecer algum imprevisto com algum de nós, ele pode
nos substituir em qualquer instrumento.
- Fato! - eu disse.
- Bem, galera... então é isso. Nos vemos depois de
amanhã, no ensaio geral.
- Ok! Até! - eu disse para todos, antes de me virar
para o Tim e dizer - Mas você eu quero ver amanhã.
- Por que não hoje?
- Porque preciso de um tempo para ficar com a minha
mãe.
- Então eu vou dormir sozinho?
- Acho bom, porque se eu descobrir que dormiu com
outra pessoa, corto-lhe a cabeça!
Quando cruzamos o corredor, minha mãe abriu um
sorriso lindo e eu corri para seus braços. Olhei ao meu
redor e vi o Ric com seus pais e o Cadú com sua mãe. O
Tim estava indo embora sozinho, e me senti mal por ele.
Devia ser muito triste não ter uma família para te receber
na volta de uma longa viagem. Assim que cheguei em casa
fui direto para meu quarto. Joguei minhas malas no meio
do caminho e pulei em cima da cama. Ai, como minha
cama é deliciosa!
- Vivi, é impressionante como as vezes você ainda
parece uma garotinha.
- Ah, mãe, é que eu estava morrendo de saudades do
meu quarto, da minha casa, das minhas coisas...
- Eu imagino que sim, filha! Bom, agora que você
está aqui, precisamos ter uma conversa séria.
- Aconteceu alguma coisa?
- Eu que te pergunto, Vivi! O que é que realmente
aconteceu entre você, o Brian e o Tim?
Nós passamos a tarde toda conversando, e minha
mãe ouviu tudo que eu tinha a dizer, mas ela não abriu a
boca para dar sua opinião, e eu achei isso muito estranho.
- Você acha que eu tomei a decisão errada, né?
- Não, filha, só estou com medo de que tenha se
antecipado, como o Brian mesmo disse.
- Mãe, não foi uma decisão fácil, mas eu fiz a
escolha que meu coração mandou eu fazer.
- Aí é que está o erro, filha. Às vezes o coração nos
trai. Mas vamos torcer para que não seja o caso, né? Não
pense que eu não goste do Tim, ao contrário, eu o acho
uma graça de menino, mas com a vida aprendo que fofura
não é tudo.
Naquele dia eu passei a tarde e parte da noite
passeando pelos shoppings de sampa, e depois fomos a
um restaurante para comer um rodízio de comida
japonesa. O cheiro de fritura embrulhou um pouco meu
estômago, então resolvi marcar uma consulta com um
nutricionista, mas só consegui agendar para a outra
semana. Na manhã seguinte a Rita me ligou logo cedo.
- Vivi, bom dia! Está aproveitando bem a volta pra
casa?
- Bom dia, Rita! Estou, sim. Estava precisando de um
colo de mãe.
- Bem, então aproveite bem, mesmo, porque daqui a
duas semanas vocês viajarão novamente.
- Como assim? Viajaremos para onde?
- Farão uma turnê pela Europa. Começarão em
Portugal, seguirão para Espanha, França, Alemanha, Itália
e encerrarão na Rússia.
- Nossa, isso é incrível!
- E tem mais: vocês já possuem um novo
patrocinador: Frost and Pie, uma nova marca de tortas
congeladas. De onde será que eles tiraram a inspiração de
colocar esse nome, né?
- É, né? De onde será?
- Bem, vou ligar para o Gabbe e vou pedir para ele
agendar um vôo de forma que vocês cheguem praticamente
juntos no aeroporto de Portugal.
- Ok! Obrigada pela força, Rita!
Naquele final de tarde, eu e o Tim fomos passear no
parque do Ibirapuera. Confesso que não pude deixar de
lembrar do passeio que eu e o Brian demos pelo Central
Park, e meu estômago se apertou de tristeza, mas foi só eu
olhar para o sorriso do Tim para toda tristeza ir embora.
Nós andamos de mãos dadas, demos vários autógrafos,
tiramos fotos com alguns fãs e depois fomos para o
apartamento do Tim. Nós fizemos amor até a metade da
madrugada, e depois dormimos aninhados um no outro. Na
manhã seguinte eu estava voltando para a minha casa,
quando me dei conta de que o Tim não havia mais dito que
me amava. Quer dizer, ele só disse na carta que me deu no
meu aniversário, mas pessoalmente, olhando nos meus
olhos, ele nunca havia me dito. Mas após refletir melhor
sobre o assunto, percebi que eu também não havia dito. Eu
só tinha mencionado no dia que terminei com o Brian, mas
nem sei se contava, já que eu tinha dito ao Brian que o
amava, também. Nossa, que confusão de sentimentos!
Assim que entrei em casa, senti o cheiro de pão
quentinho que minha mãe devia ter acabado de comprar, e
aquele enjôo novamente me pegou desprevenida, mas
desta vez foi tão forte que nem deu tempo de correr para o
banheiro, acabei vomitando no corredo, mesmo. Minha
mãe me viu alí agachada e se apressou na minha direção,
mas eu não queria a deixar preocupada, então rapidamente
me levantei, mas acho que o "rapidamente" foi um tanto
quanto exagerado, porque comecei a ver tudo dobrado, e
então desfocado, até que tudo desaparecesse da minha
visão.
Quando abri os olhos, encontrei minha mãe sentada
na beirada da minha cama, onde eu repousava.
- Filha, você se sente melhor?
- Um pouco. Ainda estou com um pouco de tontura.
- Querida, preciso te perguntar uma coisa: é possível
que você esteja grávida?
- O quê? – eu praticamente gritei – Mas é claro que
não!
- Você tem certeza, filha? Porque esses enjoos e
esses desmaios me lembram o que eu sentia quando estava
grávida de você. – e então Vivi começou a lembrar das
vezes que transou com Tim. Nós tínhamos usado
camisinha, definitivamente! E com o Brian... bem, com o
Brian também!
- Mãe, eu tenho, sim. Usei camisinha em todas
relações sexuais que tive.
- Então você faz parte do 1% de chance de falha que
ela oferece.
- Não, mãe! Não pode ser!
- Vamos fazer o seguinte: eu vou até a farmácia e
compro um teste.
- Mas mãe.. eu... não é possível, deve ser algum
sintoma da minha anemia.
- Pode ser, filha. Pode mesmo! Mas sexto sentido de
mãe é difícil de se enganar.
Meia hora mais tarde, eu estava aguardando os cinco
minutos que a bula do teste recomenda para que o
resultado fosse preciso, e esses minutos pareceram horas.
Fiquei lembrando das vezes que Tim disse que não queria
ser pai antes dos quarenta anos, e de como ele é
desajeitado com crianças. Ele vai me odiar! E então ela
pensou na possibilidade de o filho ser do Brian. Ela sabia
que ele gostava de crianças, porque uma vez ele tinha
mencionado que um dia iria querer ter uma dúzia de
filhos, e ela riu pelo exagero do comentário. Mas ela não
sabia se ele estava preparado para isso, naquele momento.
Talvez ele não estivesse, e quando descobrisse,
começasse a odiá-la, se é que já não estava odiando. E
então ela se deu conta de que em qualquer uma das
hipóteses, o Tim acabaria a odiando. Ela sentiu o
estômago doer quando o cronômetro do seu celular apitou,
anunciando que os cinco minutos de tortura havia
acabado. Sua mãe entrou no banheiro onde ela estava, e
colocou a mãe em seu ombro:
- Coragem, filha! – e então Vivi respirou fundo e
conferiu o teste.
- Droga! Droga, droga, droga, droga! Droga!
- Ai, meu Deus! Não acredito! Eu vou ser avó! Eu
sabia! Eu vou ser avó! Uhuuul!
- Mãe, com todo respeito: fica quieta!
Como eu não me conformei com o resultado daquele
teste, pedi para minha mãe buscar uma dúzia de testes de
marcas diversas, mas todas elas davam o mesmo resultado
que tanto martelava na minha cabeça: POSITIVO! Eu
passei os dois dias seguintes trancada no meu quarto,
praticamente em choque. Nas primeiras vezes que o Tim
ligou, eu disse a ele que tinha pegado uma espécie de
virose e que precisava dedescanso. Minha mãe confirmou
minha versão, me dando a oporunidade de refletir melhor
sobre o que fazer. O que mais me assustava era o fato de
não saber exatamente quem era o pai do bebê que eu
carregava dentro de mim. Como você pôde ser tão
estúpida, Vivianne? O que deu em você para transar com
os dois em um período tão curto de tempo? Esse havia
sido um comportamento atípico, e eu estava me sentindo
como uma mulher promíscua.
No terceiro dia em que eu estava trancada no meu
quarto, minha mãe saiu para fazer compras quando a
campainha tocou. Ah, não! Só faltava ser o Tim! Eu olhei
pelo olho mágico e vi a cabeça do Ric. Respirei alivida e
abri a porta.
- Meu Deus, você está um caco! Nossa, quase me
assustou!
- Obrigada pela parte que me toca! Vem, entre logo!
Quem foi que te trouxe?
- Minha mãe. Ela aproveitou para ir ao mercado que
tem aqui perto da sua casa.
- Ah, ela vai esbarrar com a minha mãe! E então, a
que devo o motivo da visita?
- Eu vim ver como você estava, ué! Você não
apareceu nos dois últimos ensaios da banda, e eu sei que
só falta quando está quase morrendo.
- Pois é, eu estou com essa... er...virose!
- Vivi, você é a pessoa mais preocupada com os
outros que eu conheço! Lembra da última vez que pegou
virose?
- Claro que lembro! Eu fiquei péssima!
- Isso mesmo! Tão pésima que nem nos deixou entrar
na sua casa, quando fomos te visitar. – e então ele me deu
um olhar sagaz, do tipo “Touché!”, ou “Te peguei!”.
- Ah, é verdade! Eu não deveria ter te deixado entrar,
mas é que estou tão sozinha e estava com tantas
saudades... – eu tentei consertar, mas pela cara que ele fez
eu logo percebi que não deu certo.
- Qual o problema, Vivi? É por causa do Brian?
- Não! Quer dizer, talvez... – e ele me olhou no fundo
dos olhos, como sempre faz quando quer arrancar a
verdade de mim, e eu acabo nunca resistindo e sempre
entrego o jogo pra ele. Mas dessa vez, ao invés de ir logo
contando, eu comecei a chorar descontroladamente.
- Ei, Vivi’s...calma, não fique assim! Shhhhhiiiu, vai
passar, seja lá o que for!
- Não, Ric! Dessa vez não vai passar! Eu... eu estou
grávida!
- O... o que? – ele perguntou, confuso.
- Sim, é verdade! Eu estou grávida! E quer saber da
maior? Não sei quem é o pai!
- Uau! Agora dá para entender o por quê dese cabelo
bagunçado e dessas olheiras profundas. Não é a toa que
você está um caco – ele brincou, tentando me fazer rir.
- Ric, isso não é hora para brincadeiras!
- Por que não, Vivi? Eu entendo que não é a melhor
hora para isso, já que temos vários compromissos
agendados, e entendo também que você e o Tim acabaram
de se acertar, mas pense bem... qualquer um deles será um
pai maravilhoso, e tenho certeza de que... ops, pensando
bem, talvez você tenha um problema mais sério, mesmo.
- Um que eu ainda não saiba?
- Não sei... bem, é que o Tim não se dá muito bem
com crianças. Na verdade, acho que elas o deixam
aterrorizado.
- Ah, Ric! E se ele foi o pai e não quiser assumir
nosso filho? Ou pior, e se o Brian for o pai e não quiser
assumir o filho e o Tim também não quiser mais nada
comigo? O que será dessa criança?
- Não se preocupe, Vivi! Isso provavelmente não
acontecerá, mas se serve para te deixar sossegada, eu
prometo que nesse caso eu assumirei a paternidade! Ok?
Ficou mais tranqüila, agora? – e ele me deu um sorriso tão
sereno, tão confiante, que eu tive certeza de que ele estava
falando sério. E me senti ridícula por estar tão perturbada
quanto a criação do meu filho ou da minha filha. Eu seria
uma mãe maravilhosa, e isso bastava. Se o pai quisesse
assumir, ótimo, senão ele teria “tios” que o fariam se
sentir muito amado e muito especial.
- Sim, fiquei. E sabe por quê? Porque sei que,
independentemente de quem seja o pai verdadeiro, meu
filho terá sempre três presenças masculinas maravilhosas
para se espelhar: você, o Cadú e o Gabbe.
- Ah, sim! Isso é um fato!
- Vocês são os melhores amigos que uma garota
poderia ter.
- Ah, deixe de ser exagerada!
- Ric, quanto a turnê, como estou nas primeiras
semanas de gestação, dá para eu viajar tranquilamente.
Serão apenas três meses, não é?
- Sim, até onde eu saiba, é isso. Mas será que todo
agito dos palcos e a pressão dos ensaios não
comprometerá a saúde do bebê?
- Ah, duvido! De qualquer forma, assim que
chegarmos em Lisboa marcarei uma consulta com um
obstetra.
- Ah, assim que se fala! Nossa prioridade agora é
esse pequenino ou essa pequenina que está dentro da sua
barriga. Mas quer saber de uma coisa? Você tem cara de
mãe de menino! - e Vivi se sentiu estranhamente feliz com
aquele comentário.
- Sabe, essa é a primeira vez que me imagino como
mãe. E seja menino ou menina, eu o amarei demais.
- Vivi, quando você contará para o Tim?
- Não sei, Ric! O que você acha que devo fazer?
- Contar tudo para ele o mais rápido possível.

Naquela noite eu fiqui refletindo sobre tudo que o


Ric havia me dito, e percebi que ele estava certo. No dia
seguinte eu contaria tudo para o Tim. Senti uma mistura de
alívio com apreensão, e decidi descansar e deixar para
me preocupar sobre tudo apenas no dia seguinte. Eu me
aconcheguei em minha cama e fechei meus olhos, bucando
um sono que não vinha de forma alguma. Passaram-se
duas horas e alguns minutos desde que havia decidido
dormir, mas eu ainda estava acordada, então percebi que
eu não irira conseguir dormir enquanto não jogasse limpo
com meu namorado. Liguei para ele.
- Oi, gatinha! – ele disse com a voz rouca de quem
havia acabado de ser acordado - Que bom que me ligou.
Eu estou louco de saudades.
- Tim, eu preciso te ver!
- Nem fale assim que fico todo arrepiado! Estou
louco de vontade de você. Só de pensar...
- Não, Tim! Preciso conversar com você.
- É algum assunto sério?
- Sim! Posso ir até seu apartamento?
- Claro!
- Então até daqui a pouco.

Em vinte minutos eu já estava na porta do seu prédio,


mas me faltava coragem para descer do carro e encará-lo.
A verdade é que eu não sabia como começar a conversa.
Na minha cabeça, eu fantasiei que eu chegaria lá e diria na
lata “eu estou grávida” e ele me pegaria no colo e me
giraria, os dois em êxtase de tanta felicidade, mas a
realidade seria, sem dúvida, bem diferente. Até porque eu
e ele não éramos, por enquanto, os únicos personagens
dessa história. Após enrolar por cerca de quinze minutos,
resolvi deixar de ser covarde e fui até seu prédio.
Assim que o elevador parou no seu andar, ele abriu a
porta e encostou no batente, largadamente. Ele estava
lindo como sempre, só de cueca e com os cabelos
desgrenhados. Sua barba estava por fazer, do jeito que eu
tanto gosto. Meu coração bateu mais forte. Bem mais
forte!
- Oi! – eu disse.
- Oi! – ele respondeu com um olhar preocupado,
enquanto ele dava um passo para dentro de seu
apartamento para que eu pudesse entrar. Quando eu
passava por ele, ele me puxou e me deu um selinho. Ah, se
ele soubesse como eu amava sentir sua boca na minha...
- Me desculpe por ter vindo a essa hora, mas eu não
conseguiria dormir enquanto não conversasse com você. –
ele franziu as sobrancelhas, curioso.
- Pois então vamos conversar! O que aconteceu,
gatinha?
- Não é algo fácil de se contar! – e inalei um bocado
de ar, tentando aliviar a tensão que eu sentia dentro de
mim.
- Você está me deixando nervoso! Fale logo!
- Tim, eu... eu...
- Vivi, não me torture mais.
- É que não sei como dizer. Eu...- e uma onde de
náusea me atingiu. Corri para o banheiro e vomitei.
- Vivi, você não devia ter saído de casa. Você ainda
está doente. – aquilo me ofendeu, ainda que houvesse
inocência em suas palavras. O que eu tinha dentro de mim,
não era uma doença, mas sim um bebezinho.
- Tim, eu não estou doente!
- Como você é teimosa!
- Tim, eu não estou doente! – eu repeti, e então me
aproximei dele , peguei suas mãos e as segurei nas
minhas. Olhei dentro de seus olhos e o encarei por alguns
instantes, tentando buscar minhas forças. – Eu estou
grávida! – e ele soltou minhas mãos. Ele chacoalhou a
cabeça e passou a mão por seus cabelos.
- Isso não tem graça, Vivi!
- Não, não tem! Eu jamais brincaria com isso!
- Não,não pode ser! Nós usamos camisinha!
- Usamos!
- Então como você está grávida?
- Tim, eu não sei te explicar... simplesmente
aconteceu!
- Não, não posso ser pai!
- Tim... – eu disse, me aproximando dele e tentando
tocar nele para confortá-lo.
- Não! – ele esbravejou, se afastando de mim. – Eu
não sei lidar com crianças.
- Nem eu, mas isso aprenderemos com o tempo.
- Não, não, não! Eu não sou o tipo de cara que é um
modelo de super pai. Eu sou desligado, desatento,
confuso...
- Tim, não existem pré-requisitos para ser pai.
- Mas eu não quero ser um! – ele finalmente
confessou, aos berros. Uma dor inexplicável me atingiu,
mas não pude identificar onde era. Fiquei um tempo sem
palavras, e uma inexplicável mágoa se apoderou de mim.
- Talvez você não seja!
- Hãn?
- Eu disse que talvez você não seja. Afinal, eu... er...
eu transei com o Brian, também. – e o que eu vi me deixou
ainda mais confusa. Parecia que uma espécie de alívio
passou por seus olhos.
- Só pode ser dele. Nós usamos camisinha! – ele
disse em um tom fraco, cansado. Não pude deixar de
pensar que ele estava feliz com aquela possibilidade.
- Eu e ele também usamos! – eu disse em meu tom
mais desagradável. O fato de ele querer que o filho fosse
de outra pessoa só serviu para me deixar mais infeliz.
- Vivi, você precisa contar para ele.
- Vou contar! – eu disse, reprimindo lágrimas de
desgosto.
- É o melhor que você tem a fazer.
- Bom, era só isso que eu tinha para te falar. – e olhei
para ele, com um último rastro de esperança de que ele se
arrependesse de ter sido tão imbecil e que pedisse
desculpas, alegando estar morrendo de raiva pela
possibilidade de que o Brian fosse o pai, mas ele
simplesmente assentiu com a cabeça e olhou para a porta,
desejando que eu fosse embora. Eu andei até a porta, mas
ele não veio atrás de mim. Decidi tirar a última dúvida
que me assombrava. – Você vai continuar na banda, né?
- Sim, irei!
- Ok! – e então eu fui embora.
Alguns dias depois, eu estava no aeroporto de
Guarulhos aguardando o horário do meu voo. Nem parecia
que há tão pouco tempo atrás eu estava embarcando para
Las Vegas, sonhando com o sucesso da turnê, reclamando
das safadezas do Ric, das traquinagens do Cadú e do mau
humor do Tim. Era impressionante o fato de que naquela
época eu não tinha nenhum motivo real de preocupação. O
Ric estava andando, eu estava solteira (não que eu não
esteja compromissada agora. Nem sei mais qual é o meu
status de relacionamento. Ainda bem que mal uso o
facebook) e não tinha nenhum bebê crescendo dentro de
mim.
- Vivi, aqui está a água que você pediu.
- Obrigada, Ric!
Os meninos estavam sentados próximo a mim, mas eu
não tinha vontade de conversar. Para minha sorte, eles
também não estavam afim de muito papo. O Cadú, apesar
de ter delirado de felicidade quando descobriu que eu
estava grávida, tinha se ressentido do Tim por sua atitude
tão covarde, e o Ric compartilhava da mesma frustração.
Os dois estavam sem jeito de conversar comigo, pois
sabiam o quanto eu estava magoada, e que não havia nada
que eles fizessem que pudesse me fazer sentir melhor. O
Tim, por sua vez, só me dirigia palavras monossilábicas,
como “Oi, tchau, sim e não”. Ele não havia tocado
novamente no assunto da gravidez.
Naquela mesma manhã eu havia ligado para o Brian,
que atendeu a ligação meio ressabido. Quando eu disse a
ele para me encontrar em Lisboa daqui a dois dias porque
eu precisava falar com ele, seu tom de voz ficou um tanto
quanto mais animado. Na verdade, o quíntuplo do ânimo
inicial, e ele disse que remarcaria uma entrevista para que
pudéssemos nos encontrar. Eu não tinha a mínima ideia de
como ele reagiria quando soubesse da minha gravidez,
mas já estava preparada para o pior. Afinal, pior que a
reação do Tim não poderia ser.
Três crianças passaram correndo por nós, e eu não
pude deixar de sorrir e colocar a mão em meu ventre. A
menina era um tanto quanto gorduchinha, e quando ela viu
que eu estava olhando, ela deu um tchauzinho com suas
mãos pequeninas. Me senti derretendo toda. Olhei para o
Ric e percebi que ele tinha visto a cena, e ele também
estava sorrindo. Olhei para o Cadú e ele estava quase
cochilando. Novidade! Olhei para o Tim e ele estava me
olhando de uma forma estranha, um tanto quanto sombria,
para falar a verdade. Mas dessa vez eu não me importei,
porque eu sabia que em poucos dias eu saberia a verdade,
já que a Rita tinha feito questão de agendar um obstetra
para mim para daqui a três dias. Eu faria todos os exames
necessários e logo descobriria quem é o verdadeiro pai, e
independentemente do pai querer assumir a paternidade ou
não, aquela criança seria amada e teria tudo que eu
pudesse dar a ela. Corrigindo: ela não seria amada. Ela já
era! Eu a amava mais do que tudo!

FINAL DO LIVRO 01

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