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Direitos autorais © 2022 INDIANA MASSARDO Todos os

direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é
coincidência e não é intencional por parte da autora.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou


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qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico,
fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito
da autora/editora.

Design da capa por Indiana Massardo

Revisado e preparado por Elen Arcangelo


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO

Olá, caro leitor, este é meu quinto livro publicado e é um New


Adult fofinho, muito leve escrito para deixar o coração quentinho. É
um volume único para você se deliciar com esse casal muito
engraçado e envolvente.
Espero que goste da leitura e se quiser pode compartilhar sua
experiência comigo nas redes sociais, meu instagram é
@autoraindymassardo e fico muito feliz em receber mensagens dos
leitores.
Convido-te a conhecer meus outros livros publicados na
Amazon que são Romance Dark de máfia, a série Caminhos de um
Capo já está completa e conta com três livros: NASCIDA PARA
PROTEGER, NASCIDO PARA LIDERAR e NASCIDO PARA AMAR,
assim como um spin off A PSICÓLOGA DA MÁFIA.
Espero que goste da leitura e se divirta com meu canceriano
emocionado e a advogada que só pensa em trabalhar.
SINOPSE

Um canceriano emocionado e uma capricorniana que só pensa


em trabalhar.
Leonardo está na melhor fase da sua vida, adora andar de
skate, tocar violão, curtir com seus amigos e viajar, mas por estar no
último ano da faculdade de direito, seu pai o obriga a começar o
estágio na empresa da família.
Marina é uma advogada e só tem um objetivo em mente: se
tornar uma sócia na empresa em que trabalha. Todo o seu tempo e
esforço são dedicados à sua carreira.
Depois de um pequeno acidente e um caso de uma noite na
balada, eles descobrem que terão que trabalhar juntos, já que ele
será seu estagiário.
Uma tentação de olhos azuis, tatuagem no corpo e covinhas
nas bochechas vai ser a perdição da advogada, mas será que o
novinho vai conseguir desestabilizar as estruturas da mulher viciada
em trabalho?
Dedicatória
A todos que estão no corre para dar conta da vida;
Sem tempo, irmão!
Obrigada.
Prepara um papel, uma caneta e uma calcinha reserva...
Porque a Marina vai dar uma aula muito especial para o
novinho...
CAPÍTULO 1
Marina
Onde eu quico, onde eu sento
Eles me pede em casamento
Coração da mãe é grande
Eu não tô perdendo tempo
Sentadona — Luísa Sonza

Minha boceta está pegando fogo enquanto Marcos me beija


intensamente, em uma preliminar longa demais. Sua boca
basicamente fode a minha, mas as mãos não saem das minhas
costas.
Ele beija bem, mas quero esses lábios em outro lugar, não
tenho a noite toda para ficar de brincadeira, por isso levanto do seu
colo e caminho em direção ao quarto, que já sei onde fica e ele é
esperto o suficiente para me acompanhar.
— Deita na cama — ordeno enquanto tiro minha roupa, sem
me preocupar em ser sexy.
O moreno alto e malhado passa por mim com um sorriso
safado e faz o mesmo, assisto quando seu peitoral firme e bem
definido aparece, então vou descendo o olhar para os gominhos no
tanquinho e o volume na cueca que bem sei não ser só enchimento.
As coxas grossas, resultado da academia em que Marcos passa a
maior parte do seu dia, são reveladas quando a calça de moletom
cai.
— Gosta do que está vendo? — pergunta com um tom
brincalhão e safado na voz grossa.
— Pescando elogios a uma hora dessas?
— É sempre bom manter a autoestima.
— Você é um grande gostoso — falo e aponto para a cama
com os lençóis desarrumados que me dão um pequeno nervoso, ele
nunca arruma a cama? — Agora chega de papo furado e vem me
fazer gozar.
— Direta como sempre — Marcos responde e deita na cama
— é por isso que gosto tanto de você.
Que droga de frase foi essa?
Paro o que estava fazendo por um momento, já sentindo meu
corpo todo esfriar, ele nunca falou nada assim antes, e já transamos
há quase três meses. Conheci Marcos na academia, ele é instrutor
de CrossFit: moreno, alto, malhado, mais velho, e aceitou quando
deixei claro que não estava atrás de um relacionamento.
— Melhor usar essa boca para outra coisa — digo enquanto
monto em cima dele, passo uma perna em cada lado da sua cabeça
e vejo o sorriso largo do desgraçado no momento em que sua boca
toca minha carne, seu gemido vibra na minha boceta encharcada —
Isso mesmo, me chupa com vontade.
Seguro na cabeceira da cama e monto a sua cara, sinto as
mãos de Marcos apertando minha bunda, sua língua quente e macia
passa calmamente pelos meus lábios íntimos e chega no centro do
meu prazer, silenciando as vozes em minha cabeça.
Decido não pensar no que ele falou e deixar que o tesão me
domine, minha semana foi uma loucura, estou morta de cansaço e
só quero me perder no orgasmo que mereço.
E isso Marcos pode me dar.
Aos poucos ele começa a chupar mais forte, com movimentos
certeiros atinge meu clitóris e já não controlo mais meus gritos de
prazer, esfrego minha boceta em sua língua até sentir que estou no
ápice, aperto minhas pernas quando o orgasmo me faz perder os
sentidos e Marcos toma para si tudo o que tenho para dar,
chupando até que eu caia, quase desacordada, do seu lado na
cama.
— Adoro como você se entrega assim — Ele fica por cima de
mim e começa a traçar um caminho de beijos pelo meu corpo,
subindo da virilha, para a barriga e para um tempo nos peitos,
dando atenção aos mamilos. — Poderia te chupar a noite toda,
sabia?
Não respondo, estou anestesiada pelo orgasmo e tento
controlar minha respiração, faço um esforço enorme para não fechar
os olhos e dormir, mas seria muita sacanagem.
Por sorte Marcos parece perceber e volta a me beijar, seu
membro roça na minha boceta, ainda coberto pela cueca, mas o
contato já é o suficiente para me fazer ficar acordada e começo a
sentir meu corpo voltar à ativa.
— Camisinha — peço antes que ele tenha ideias erradas e ele
sorri, então levanta, tira a cueca, pega um pacote de preservativo e
desenrola um em seu pau antes de voltar para a cama. — Deita de
costas.
Realmente preciso tomar o controle, senão vou acabar
dormindo. Quando estou por cima monto em Marcos e encaixo seu
pau na minha entrada, tomando todo o seu comprimento de uma
vez, já que estou lubrificada pelo orgasmo. Sinto seu olhar em mim
enquanto levanto e volto a sentar, mas não retribuo.
Fecho os olhos e me concentro em sentir prazer com cada
movimento, passo as mãos pelo peito de Marcos e começo a
cavalgar mais rápido. A imagem de Henry Cavil no seriado The
Witcher toma conta dos meus pensamentos, assisti o último
episódio da primeira temporada durante meu almoço hoje, e que
homem gostoso, só de pensar nele meu tesão aumenta 200%.
Escuto os gemidos de Marcos e sinto suas mãos segurarem
minha cintura, imagino Gerald fazendo isso e me animo ainda mais,
ele tenta controlar meus movimentos, em uma tentativa de me fazer
diminuir a velocidade, mas não deixo, rebolo em seu pau ainda mais
rápido, sentindo-o pulsar dentro de mim, assim o maldito vai gozar
logo, mas eu preciso de mais.
Levo uma mão até meu clitóris e começo a me masturbar,
ainda perdida em minha mente, penso que o homem me fodendo é
o gostoso do ator, e isso me faz gozar mais uma vez, perdendo o
controle do meu corpo, Marcos me gira de costas na cama, levanta
uma das minhas pernas e toma as rédeas.
Agora mais intenso e feroz, o moreno me fode com força, à
procura do próprio prazer. Não demora muito e ele finalmente chega
ao orgasmo, caindo sobre mim.
— Você vai me esmagar — aviso e ele sai de cima e deita ao
meu lado, nossa respiração ofegante está em sintonia, mas o brilho
em seu olhar não combina com o meu, ainda mais quando ele me
encara e vejo com clareza tudo o que não queria ver.
Marcos me olha com um sorriso bobo no rosto, ele passa um
braço embaixo do meu pescoço, cola seu corpo no meu e começa a
acariciar e beijar meu cabelo.
— Eu amo quando você me domina assim, sabia? — fala com
a voz mansa em meu ouvido. — Puta que pariu, acho que nenhuma
mulher fez isso comigo antes.
— Precisa procurar mais, tenho certeza que tem outras com
atitude por aí — desconverso e me afasto um pouco do seu abraço.
— Pra que procurar outra se tem você aqui? — Ele beija meu
pescoço e acaricia meu braço. — Dorme aqui hoje?
Droga, droga, droga!
— Não posso, trabalho cedo amanhã — começo a me levantar
e a procurar minhas roupas —, e seu apartamento é muito longe do
escritório.
— É só acordar uma hora antes, e amanhã é sábado, você
deveria tirar para descansar.
Não me dou ao trabalho de responder a última parte, não devo
satisfações da minha vida a ele.
— Preciso trocar de roupa, fica corrido demais. — Visto-me
mais rápido que o normal e pulo alguns botões da camisa. —
Desculpa — me obrigo a falar quando vejo o olhar magoado em seu
rosto.
— Uma hora vai precisar parar de fugir da gente. — Ele
levanta, veste a cueca preta e vem atrás de mim. — Eu quero mais,
Marina.
— Marcos… — Paro de correr e respiro fundo antes de me
virar e encarar o homem de 36 anos que me olha com expectativa.
— Te falei desde o primeiro dia que era só sexo, não tenho mais
nada para te oferecer.
— Vamos sair, eu te levo para um encontro apropriado, com
um jantar romântico. A gente dá certo, você não pode negar, não é
só atração física. — Ele tenta se aproximar, mas coloco a mão sem
eu peito e o afasto. Seu olhar muda de esperançoso para
ressentido. — Então é isso?
— Não tenho tempo para mais, e acho melhor pararmos por
aqui. — Quase posso escutar seu coração quebrando em mil
pedaços, não deveria ter vindo hoje, da última vez já tinha visto que
ele estava criando sentimentos. — Desculpa, Marcos, você merece
alguém melhor que eu.
— Mas eu quero você — responde com a voz fraca.
Por favor, não chora, eu odeio ver um homem chorando em
minha frente.
— Desculpa — é a última coisa que falo antes de pegar minha
bolsa e sair do seu apartamento, ando o mais rápido possível sem
correr, por sorte o elevador abre antes de eu precisar chamar, e
praticamente me jogo para dentro.
— Hey, cuidado — uma mulher reclama quando nossos
ombros se chocam e ela quase cai. — Você está louca?
— Desculpa — peço e aperto várias vezes o botão do térreo,
ela vê que estou com pressa e não fala mais nada.
No momento em que as portas se fecham e a caixa metálica
começa a descer, solto o ar aliviada. Por que isso sempre acontece?
Eu deixo bem claro que não estou à procura de
relacionamentos quando começo a me envolver com alguém, só
preciso de sexo sem compromisso, algo para diminuir o tesão, sem
sentimentos: só um ato físico e carnal, pronto.
No geral os caras ficam felizes com isso, animados até, mas
em algum momento tudo muda e começam as cobranças, pedidos
para sair, convites para festinhas e jantares, que eu sempre recuso.
Uma porque não quero dar esperanças e outra porque não tenho
tempo.
Só me envolvo com homens para transar, é isso que tenho a
oferecer, sexo casual sem compromisso.
Ponto final.
Porque eles não entendem e param de esperar mais, quando
isso nunca vai acontecer?
CAPÍTULO 2
Leonardo
Y no te voy a envolver
Sé que lo hacemos y tú vas a volver (Volver)
Un perreíto en la pared
Yo soy un caso que hay que resolver
Pero no te voy a envolver
Sé que lo hacemos y tú vas a volver (Volver)
Un perreíto pa' bellaquear
Pegaíto' a la pared
Envolver — Anitta

Essa festa virou uma bagunça, alguém resolveu colocar a


música Envolver, da Anitta, e agora um bando de meninas se joga
no chão para fazer o passinho, alguns gravam, outros tentam imitar.
Resolvi convidar uma galera para o rolê no meu apartamento,
na falha tentativa de me animar, mas honestamente estou quase
mandando geral embora.
Ganhei este lugar do meu pai, fica próximo da universidade e
quase ao lado do escritório dele, eu preferia morar na casa alugada
pelos meus amigos, que foi transformada em uma fraternidade, mas
o velho insistiu. Era isso ou continuar em casa.
Não que minha família seja ruim, mas a universidade é para
curtir, meter o louco, experimentar a vida, nada disso é possível se
continuar debaixo das asas dos pais.
Gabriela é minha melhor amiga e confidente desde que
nascemos. Loira, baixinha e dona de um sorriso contagiante, é uma
das poucas pessoas que me entende. Ela se joga do meu lado no
sofá e me entrega um copo com cerveja, então aponta para o grupo
que começou uma competição de quem rebola melhor.
Aos nossos pés está Rogers, nosso companheiro canino,
deitado na almofada que está jogada no chão. O beagle de oito
anos é um senhor de idade preguiçoso, mas adora ficar próximo da
gente.
— Que cara é essa, Léo? — ela questiona e passo um braço
pelos seus ombros, fazendo-a se aconchegar em meu peito. —
Ânimo! Você ganha de qualquer uma dessas meninas e tenho
certeza que tem mais seguidores que elas.
— Não estou na vibe hoje — respondo e respiro fundo,
tomando um gole da cerveja. — E você, já marcou a próxima
vítima?
Ela aponta para uma ruivinha peituda que está com uma
camiseta do Mickey e uma bermuda muito curta, dançando
enquanto a amiga grava.
— Gostosa, já estou até vendo que vou precisar dos fones de
ouvido para dormir hoje — falo e ela sorri, confirmando suas
intenções. — Já falou com ela?
— A gente tem algumas matérias juntas e ela adora o Rogers.
— Ela solta uma gargalhada. — Eu te falei que ele é um imã de
mulheres — Gabi comenta e se abaixa para acariciar o peludo.
— Isso é verdade, tenho que me cuidar quando levo ele junto
ao parque.
— E você não vai pegar ninguém? O Léo que conheço já
estaria de papo com alguém a uma hora dessas. — Ela volta a se
aconchegar em mim e olha para as pessoas, avaliando cada uma
delas. — O que está acontecendo contigo?
— Sei lá, achei que ia me divertir com o tempo, mas não está
funcionando — respondo desanimado.
— Para com isso, Léo, olha ali — ela me cutuca nas costelas e
faz sinal com a cabeça, pegando-me de surpresa —, a Aline não
parou de olhar para você, dá uma chance para ela.
Avalio a morena de olhos azuis sentada na bancada da
cozinha, acho que a gente estudou na mesma escola, mas ela é
mais nova. Aline é gostosa, tem silicone nos peitos redondos e em
pé, esmagados em uma blusa rosa colada e a saia curta deixa
pouco para a imaginação. Quando percebe que estou olhando, leva
a garrafa de água à boca e mantém meu olhar.
— Não sei se estou a fim hoje — respondo e olho para
Gabriela. — Achei que ia me distrair, mas sei lá.
— Você está estranho, Léo, tem dias já que percebi, teu pai
continua pegando no teu pé?
Respiro fundo e jogo a cabeça para trás, olhando para o teto.
— Sim — confesso, nos conhecemos desde pequenos,
sempre estudamos juntos e no fim acabamos entrando na mesma
universidade, nossos pais são sócios no escritório de advocacia, por
isso acho que só ela me entende.
— Às vezes eu queria um pouco disso — Gabi encara as
pessoas na sala. — Meu pai ainda não deu resposta sobre o
estágio, ele disse que está cedo, é melhor terminar a faculdade
primeiro e depois pensar em trabalhar.
— Que merda, se quiser a gente pode trocar de corpo, você
assume o estágio que meu pai está me empurrando, e eu aproveito
a liberdade mais um pouco.
— Até aceitaria, mas a ruiva não gosta do que você tem no
meio das pernas — Gabi brinca e bate o copo dela no meu. —
Vamos animar, Léo, que tal a gente gravar uma dancinha juntos? O
TikTok todo já acha que somos namorados mesmo.
Ela consegue me arrancar um sorriso.
— Temos que parar de fazer vídeos juntos, isso sim. Esse
povo é muito iludido, quantas views deu o último? — pergunto e ela
pega o celular.
— Está em 3 milhões — responde com um sorriso no rosto. —
Se minha mãe vir isso ela vai dar andamento aos planos para o
nosso casamento.
— Tia Mara continua crendo nisso? — A mãe da Gabi sempre
sonhou em nos unir, não sei porque os adultos fazem isso com as
crianças, mas desde que me conheço por gente ela comentava que
seríamos um casal bonito.
— Você sabe que ela só vai desistir quando você casar —
responde seriamente. — E olhe lá.
— Então ela vai ficar iludida para sempre — respondo e ela
solta uma gargalhada debochada. — O quê?
— Essa fala não me engana, você é um canceriano
emocionado, assim que encontrar alguém que te dê um bom chá,
vai cair de quatro, fácil.
Nem contesto, com a última menina por quem me apaixonei foi
bem assim, é por isso que não transo mais do que uma vez com a
mesma garota, eu me apego demais.
— Mas não vai ser uma menina dessas, quando você se
apaixonar de verdade vai ser por uma mulher — minha amiga fala
com convicção. — Você se afeiçoa fácil, mas acho que nunca te vi
realmente apaixonado.
— Como assim?
— Você namora por carência, Léo, pode admitir. — Ela joga a
verdade na minha cara. — Se apega fácil à primeira menina que te
dá um pouco de carinho, mas já percebeu que logo enjoa?
— Não enjoo não, são elas que terminam comigo — contesto.
— Ou vai me dizer que esqueceu todas as vezes que me consolou
nesse mesmo sofá?
— Eu sei, você é intenso, mas já te falei que é culpa tua os
relacionamentos terminarem — Gabi argumenta e me olha com
aqueles enormes orbes verdes que nunca consigo ignorar. — Por
começar um namoro por carência, você não gosta realmente da
pessoa, e sim do que ela representa. Só uma companhia, mas
quando precisa lidar com a pessoa real, com sua personalidade,
seus gostos, tudo o que faz dela única e especial, você percebe que
não gosta realmente dela e se afasta aos poucos. As meninas não
terminam com você por qualquer coisa, Léo, você praticamente
força que elas tomem uma atitude.
— Você está ficando louca, melhor parar com a bebida —
brinco tentando desconversar, mas Gabriela não terminou ainda e
me lança seu olhar repreensivo.
— Só estou dizendo que quando for para valer, você vai saber.
— Ela vira o restante da cerveja em seu copo e me dá um beijo no
rosto. — Agora vou lá convidar a ruiva para fazer um vídeo privado
— fala e me lança uma piscadinha.
Logo que Gabriela levanta, escuto vozes alteradas vindo da
entrada, mas a música está alta demais para conseguir distinguir o
que estão falando, então vou até lá, rezando para não ser briga, não
estou a fim de deixar alguém com um olho roxo hoje.
— Cara, deu B.O. — Arthur fala, preocupado, ao me ver
chegar — teu véio tá aqui.
Então escuto a voz alterada do meu pai e sei que estou fodido.
— Leonardo, o que diabos está acontecendo aqui? — O
homem de terno preto alinhado vem em minha direção como um
touro. — Recebi mais de dez chamadas do síndico reclamando do
barulho, eu te falei que é proibido algazarra neste prédio.
— É sexta-feira, pai, vê se dá um descanso — respondo e na
hora que encontro seu olhar, sei que deveria ter ficado calado.
Henry Rausing me encara como se fosse me matar.
— Dar um descanso? Eu estava no escritório, no meio de uma
reunião importante com um cliente, trabalhando para bancar essa
festinha e todos os luxos que você tem. Claro, vou dar um
descanso.
— Por isso a mãe reclama — aponto como um pirralho, mas
novamente me arrependo do que falo. Quando meu pai começa a
vir com sermão, não consigo controlar minha língua.
— Não venha colocar a sua mãe no meio, e desliga logo essa
música, quero esse povo fora daqui em dez minutos, nós
precisamos conversar — ordena e, sem mais uma palavra, entra no
apartamento e vai direto para o meu quarto.
Respiro fundo algumas vezes para me acalmar e tentar ficar
sóbrio, não sei nem quantos copos de cerveja tomei, mas tenho
certeza que não deveria ter uma conversa séria com meu pai agora.
— Galera, a festa acabou — anuncio e desligo o som, isso
chama a atenção das pessoas que me olham como se eu estivesse
louco. — Arthur, será que tem como continuar lá na tua república?
Pode levar o barril e as pizzas — peço para meu amigo e ele
confirma, animado.
— Claro, cara — ele responde e dá um tapa em meu braço.
Arthur é meu amigo e sabe um pouco sobre meus problemas com
meu pai, por isso logo toma as rédeas da situação — GALERA, A
FESTINHA VAI CONTINUAR LÁ NA REP ALIEN, O BARRIL VEM
COM A GENTE, QUEM ESTIVER DE CARRO DÁ CARONA PARA
O RESTANTE, VOCÊS SABEM AONDE É.
Com isso as pessoas começam a sair, levando o que
conseguem carregar e me lançam um olhar solidário, cada jovem
aqui dentro entende o que significa ter um pai bufando de raiva à
sua espera.
Aline é a última a sair, mas antes de passar por mim ela
agradece pelo convite e diz estar ansiosa para me ver novamente.
— Quer que eu vá lá com você? — Gabi pergunta quando me
encontra na sala.
— Não, acho que não vai ajudar.
— Vou dar uma geral aqui, se precisar de mim é só falar.
— Pode ir para a república, Gabi — falo porque sei que ela
estava ansiosa pela festinha.
— Já tomei algumas e não quero pegar um Uber a essa hora,
e a ruiva me deu um fora.
— Quem perdeu foi ela — respondo e encaro a porta fechada
do meu quarto. — Vou lá, me deseja sorte.
Assim que abro a porta sei que estou total e completamente
fodido.
Vejo meu pai sentado na minha cama desarrumada, ao
contrário do que eu esperava, ele não me olha com raiva, está com
as duas mãos na cabeça, sem o terno, que vejo jogado do seu lado,
a gravata pende frouxa no pescoço.
Poucas vezes na vida vi meu pai tão desarrumado assim, mas
o que corta meu coração é encontrar seus olhos escuros tão
magoados. Henry olha fixamente para mim, no rosto o
desapontamento é claro, assim como o cansaço e as olheiras
escuras.
— Não aguento mais isso, Léo — desabafa enquanto solta a
respiração. — Eu te falei da última vez que se acontecesse de novo,
teria consequências.
— Desculpa, pai.
— Não tem mais desculpas, estou cansado, você não imagina
o quanto, e alguma coisa tem que mudar. Eu tentei te dar liberdade,
fiz de tudo para que você tivesse as melhores oportunidades.
Lá vem ele jogar na minha cara que sou um inútil.
— Sempre tive muito orgulho do meu filho, você foi gerado e
criado com amor, Léo, tudo o que eu e tua mãe fizemos foi para te
dar o melhor nesta vida. Nunca perdemos um jogo seu, um
aniversário, te apoiamos nos cursos que quis fazer. Quando preferiu
sair de casa para fazer faculdade, te dei um carro e um
apartamento, fiquei tão orgulhoso quando entrou na PUC… cada
conquista sua foi uma alegria para nós.
Não tenho o que falar, ele está certo. Teve uma época em que
meu pai era meu melhor amigo, ele e minha mãe sempre me
apoiaram, incentivaram e torceram por mim.
— Mas você não vê o quão privilegiado é. — Ele respira fundo
e se levanta, agora mais calmo e decidido. — Agora chega, você
está no último ano da faculdade, já pode começar o estágio no
escritório.
— Mas pai, eu não...
— Chega, Leonardo. Já que você nunca se deu ao trabalho de
pisar na empresa que construí com muito esforço e suor, ninguém lá
vai saber que é meu filho.
— Como assim?
— Você vai começar de baixo, vai ser um estagiário como
qualquer outro, e está proibido de contar que é meu filho para
ganhar alguma vantagem.
— Nós temos o mesmo sobrenome — aponto o óbvio.
— Que você não usa, ou acha que não vejo suas redes
sociais? Sei que estou bloqueado em todas, mas não me tenha
como idiota. Já que tem tanta vergonha de ser meu filho, não tem
uma foto com a sua família e prefere usar o sobrenome de solteira
da sua mãe, então vai ser fácil. — Cada palavra que sai da boca do
meu pai vem carregada de mágoa, e é pior do que se ele tivesse me
dado um tapa na cara. — Te espero amanhã de manhã, às 7h00 em
ponto.
— Amanhã é sábado, ninguém trabalha no...
Só com um olhar ele me cala, então arruma a gravata e pega o
paletó, voltando à pose controlada de sempre.
— Tem mais uma coisa, se você não se esforçar ou se não
seguir o estágio com seriedade, tudo isso aqui acaba — ele aponta
para o quarto —, pode dar adeus à sua conta no banco e a este
apartamento. Eu realmente não queria chegar a esse ponto, meu
filho, mas nosso programa de estágio é pesado e concorrido, se não
mostrar que merece estar lá, que tudo o que eu te dei e todas as
oportunidades que criei para você foram em vão, então talvez seja
melhor te jogar no mundo sem nada, quem sabe assim aprende
alguma coisa.
— Está ameaçando me deserdar? É sério isso? — questiono
sem acreditar, meu pai já me deu diversos sermões, mas nunca
falou assim tão firme.
— Por mais que me doa, e você nem imagina o quanto, estou
falando sério.
Ele anda até a porta, então seguro seu braço sem apertar, só
para forçá-lo a me olhar, temos a mesma altura agora, e mesmo que
meu braço tatuado contraste com seu terno de luxo, somos muito
parecidos.
— Tenho uma condição — reúno toda a coragem que consigo
e falo seriamente.
— Isso não é uma negociação — ele responde, mas vejo uma
faísca de curiosidade em seu olhar.
— Quero que fale com o pai da Gabi e o convença a dar uma
vaga para ela — jogo minha proposta e posso jurar que meu pai
quase sorri.
— Se você estiver lá amanhã no horário combinado e prometer
seguir à risca o programa, Gabriela também será aceita. Richard
não vai contestar quando eu contar o que aconteceu aqui hoje.
Acato com um aceno de cabeça e o solto, me virando para
fugir do seu olhar e encarar a parede, escuto a porta abrir e fechar,
então estou sozinho com meus pensamentos e a familiar
constatação de que sou um fracasso.
CAPÍTULO 3
Marina
Ai meu Deus
Bem que a minha mãe me avisou
Que eu ia conhecer o amor
E deixaria ele ir embora
Se você me amar demais
Eu paro de te amar
Um amor fácil me apavora
Vou morrer sozinho — Jão

O despertador me acorda às 5h30 da manhã e quero jogá-lo


na parede, é sábado, e para as pessoas normais significa que o final
de semana começou, mas não para mim.
Levanto com a cara amassada e abro a cortina do quarto só
para constatar que ainda é noite lá fora, caminho aos tropeços até o
banheiro e ligo o chuveiro, preciso de um banho quente para
acordar, mas antes uma música.
— Alexa, bom dia — dou o comando para o dispositivo e logo
minha playlist matinal começa a tocar, o ritmo envolvente da MPB
irrompe pelos alto-falantes e já me sinto mais leve.
No chuveiro canto junto com Jão a música que define minha
vida:
Ai, meu Deus
Eu vou morrer sozinho
Se eu continuar nesse caminho
De não deixar ninguém me amar
E de só me apaixonar
Por quem me faz chorar e me maltrata
Ai, meu Deus
Eu vou morrer sozinho
Capricho no refrão, minha voz pode não ser boa para cantar, e
também não tenho afinação nenhuma, mas isso não importa, a
música é para ser sentida, especialmente quando a letra bate em
um ponto muito pessoal da minha vida.
Termino o banho e vou passar um café, já me sentindo mais
viva. Quando o líquido quente entra em contato com a minha boca,
quase gemo de prazer, no primeiro gole já sinto meu corpo
esquentar e, agora sim, minha alma retorna, pronta para começar o
dia.
Eu amo café. Não existe no mundo algo tão incrível como um
bom café passado no filtro de pano, puro mesmo, sem açúcar ou
leite, não preciso de complemento nenhum que estrague o gosto
dessa preciosidade.
O café e eu temos um ótimo relacionamento.
Ele me faz acordar, dando-me energia e aquecendo meu corpo
no inverno, logo depois ajuda meu intestino a funcionar, o que
sempre é maravilhoso, e ainda tem um cheiro que perfuma o
ambiente todo.
Café é vida, e quem não gosta está tomando errado.
Enquanto me troco, escuto as últimas notícias e me apresso
para organizar minha agenda do dia, como saí mais cedo ontem
para encontrar Marcos, acabei deixando algumas coisas para o final
de semana.
Não que eu tenha deixado meus compromissos de lado para
transar, mas costumo ser a última a sair do escritório, as vezes fico
lá até a meia-noite, portanto sair às 20h foi cedo demais.
Termino de arrumar meu cabelo, passo um rímel nos olhos —
faço um delineado gatinho simples — e escondo as olheiras com
corretivo, nada pesado.
A roupa é a mesma de sempre, um blazer e calça social
pretos, camisa de botão branca e o sapato alto, que é a última coisa
que coloco, dando o máximo de descanso aos meus pés antes de
forçá-los a aguentar mais um dia se equilibrando no salto.
Pontualmente às 6h30 saio de casa, vou de carro até o
escritório e levo em torno de 15 minutos para chegar, não é longe,
mas como os dias estão quentes, prefiro não caminhar a chegar
fedendo.
Aproveito este tempo para escutar mais notícias, o trânsito a
essa hora da manhã é tranquilo, mas quando estou chegando ao
prédio da empresa, um moleque de skate atravessa na frente do
meu carro e sou forçada a frear com brusquidão. Escuto o barulho
de algo batendo no meu carro e meu coração para por um
momento.
Merda, atropelei alguém!
Olho para frente e vejo-o caído no asfalto, rapidamente desligo
o carro e saio para prestar socorro.
— Você está bem? — pergunto nervosa ao chegar até o garoto
de camiseta vermelha e calção jeans que já começa a se levantar,
então percebo que ele é um homem, uns bons vinte centímetros
mais alto que eu, e me encara com o rosto apreensivo. — Porque
não olha por onde anda? A faixa de pedestres fica ali na frente.
Faço sinal com a mão e mostro a faixa pintada no asfalto a
menos de dez metros de onde estamos, local correto para ele
atravessar, e não no meio da pista.
— Desculpa — o homem pede e passa a mão pelos fios dos
cabelos loiros que brilham com os primeiros raios de sol, o
movimento me faz olhar para seus braços tatuados e musculosos, a
camiseta vermelha cola no corpo, dando-me a visão de um
tanquinho definido. — Acho que não riscou seu carro — ele fala e
avalia a lataria do meu Civic, sem prestar muita atenção em mim.
O que agradeço, porque tenho certeza que estou de boca
aberta, babando feito uma adolescente.
— Você está machucado — digo ao acordar do transe
momentâneo e aponto para seu joelho sangrando. — Precisa ir ao
hospital? Quando caiu bateu a cabeça? — questiono preocupada.
Ele olha descontraído para o joelho, mas não por muito tempo.
— Isso é só um raspão, está tudo bem — responde e abre um
sorriso lindo demais. — Já to acostumado. — Dá de ombros, só que
bem nessa hora o sol me cega e ofusca a visão do seu rosto,
forçando-me a fechar os olhos.
Por algum motivo perdi a capacidade de falar, quando volto a
enxergá-lo, seus olhos azuis percorrem o ambiente e encontram o
skate do outro lado da rua.
— Moça, me desculpa, eu realmente preciso correr. — Ele se
apressa, sem nem mesmo olhar em minha direção. — Desculpa de
novo. — O homem sai correndo, recolhe o skate e vira a esquina.
Acompanho tudo de boca aberta, sem saber muito o que fazer.
Quando escuto uma buzina atrás de mim, acordo para a vida e
lembro que estou no meio da rua. O que diabos acabou de
acontecer?
Antes de voltar para o meu carro, vejo um boné preto no
asfalto, provavelmente o apressadinho esqueceu. Recolho e volto
para meu carro, dou partida e continuo meu caminho até chegar no
prédio onde trabalho.
Entro na garagem destinada aos funcionários, está vazia,
como sempre a essa hora, especialmente no final de semana. No
geral sou uma das primeiras a chegar, o segurança noturno me
deixa entrar com um sorriso e agradece quando lhe entrego o copo
descartável com café.
— O que seria de mim sem o melhor café do mundo? — seu
Nelson agradece com um sorriso sincero.
— O que seria de mim sem o senhor para me deixar entrar? —
retruco animada.
— Hoje é sábado, menina, deveria estar descansando, ou
aproveitando a vida — ele sempre fala a mesma coisa.
— Vou descansar quando ficar rica — brinco e caminho até o
elevador. — Tenha um bom final de semana, seu Nelson.
— Você também, menina — ele ergue a mão e vejo o sorriso
genuíno no rosto do senhor de quase setenta anos quando toma o
primeiro gole do café.
É o meu ritual da manhã, chego antes de todo mundo e trago o
café para o segurança que está de plantão. Eles se alternam entre o
seu Nelson, o André e o Ricardo, todos adoram café e eu preciso de
alguém para me deixar entrar.
Por via de regra os funcionários deveriam chegar às 8 horas, já
os advogados têm horários mais flexíveis. Contanto que cumpram
suas funções, geralmente chegam mais tarde e saem mais tarde
também — a não ser alguns acomodados que fazem o mínimo e
acham que estão arrasando. Entretanto, eu não sou qualquer uma,
estou nesta empresa desde o meu segundo ano na faculdade, me
formei antes no colégio com a melhor nota já registrada e consegui
uma bolsa de estudos integral na PUC para o curso de direito.
Meu maior objetivo nesta vida é ter meu esforço e trabalho
reconhecidos, entrei na R&W Advocacia como uma mera estagiária
e fui crescendo aos poucos dentro da empresa. Trabalhei o maior
número de horas possíveis durante a faculdade para garantir minha
efetivação. Conciliar os estudos com o estágio foi difícil, mas sou
viciada em café e amo meu trabalho.
Essa é a empresa mais bem conceituada da cidade, e também
uma das maiores, por isso as vagas aqui são muito concorridas e
somente os melhores advogados são aceitos.
Meu sonho é chegar ao ápice e me tornar uma das sócias, a
empresa foi formada por dois parceiros, Henry Rausing e Richard
Willians, depois foi crescendo e ganhando credibilidade. Outros
entraram como associados e agora o escritório conta com mais de
quarenta advogados em diversos setores.
O único porém nisso tudo é que dentre todos os funcionários
da área jurídica, somente cinco são mulheres. Nunca quis acreditar
que essa discriminação fosse real, sempre pensei que se
trabalhasse muito e fosse a melhor, seria reconhecida por isso, mas
depois de vários episódios no mínimo questionáveis, minha visão de
mundo tem mudado bastante. Já não sou mais a mesma menina
ingênua que acreditava que a meritocracia é real, hoje eu sei que se
quero ter um lugar no topo, preciso trabalhar muito mais que os
outros.
É por este motivo que sou a primeira a chegar e a última a sair,
tenho as maiores taxas de causas ganhas entre meus colegas e
estou fazendo uma especialização on-line para focar em processos
de divórcio.
Todo o meu tempo é destinado a isso.
O elevador para em meu andar, o dia começa a clarear lá fora
e o sol entra pelas vidraças. Minha sala é pequena, mas é privada e
tem uma janela enorme que me proporciona uma vista linda do
nascer do sol.
Aos poucos o amarelo vai tomando conta do céu, iluminando
os prédios que invadem o horizonte e sinto o gostinho de um novo
dia. Vou até minha máquina de café, encho a jarra com água do
filtro, coloco seis colheres do pó extraforte no local indicado e ligo.
Enquanto ela trabalha preparando o elixir da vida, tiro as pastas, o
notebook e começo a arrumar minha mesa.
Estou com cinco casos de divórcio em minhas mãos, dois
deles parecem que se resolverão amigavelmente, outros dois vão
envolver a justiça, já que não houve um acordo preliminar, e o último
é o mais complicado, pois envolve crianças.
Odeio quando os filhos são incluídos nos processos dos pais e
sofrem por causa disso, é irritante ver adultos usando crianças que
deveriam amar e proteger para obter vantagem no processo. Nesse
caso o pai não quer pagar pensão para a mãe e está ameaçando
tirar as crianças dela, caso ela não aceite um valor menor.
Só que o mal caráter é um CEO fodidamente rico e quer pagar
o mínimo para os três filhos, que têm idades entre dois e cinco anos.
Ele proibiu a mulher de continuar trabalhando quando se casaram,
para que ela ficasse cuidando das crianças e da casa, e agora ela
tem dificuldade em retornar ao mercado de trabalho.
Seis anos de casamento, e ele traiu a mulher com metade das
suas funcionárias, ainda alegou que foi porque ela ficou
desinteressante, já que só sabia falar dos filhos.
É obvio que ela só teria esse assunto, ele a proibiu de fazer
qualquer outra coisa, então as crianças se tornaram tudo na vida
dela, e quando ele chegava em casa, era sobre isso que ela iria
falar.
Ai agora ela está há seis anos fora do mercado de trabalho,
não consegue mais emprego, pois tem três crianças que dependem
exclusivamente dela, não tem uma rede de apoio, porque a família
dele não ajuda em nada e a família dela mora em outro estado.
Também não pode se mudar até que o processo termine, porque ele
não autoriza.
E o maldito quer tirar as crianças da mãe só para não pagar
pensão.
Eu fico puta com esses casos, e são os que mais servem de
motivação para me especializar e batalhar por cada uma dessas
mulheres.
Sirvo o café e me concentro em estudar os documentos, faço
anotações em tudo o que é importante para montar a melhor
estratégia possível.
O escritório vazio é tranquilo e relaxante, é por esse motivo
que amo chegar mais cedo, nesse horário me sinto produtiva e
consigo focar toda a minha energia sem ter interferências de
barulhos ou telefones tocando.
CAPÍTULO 4
Leonardo
You let your feet run wild
Time has come as we all, oh, go down
Yeah but for the fall, ooh, my
Do you dare to look him right in the eyes? Yeah
Oh, 'cause they will run you down, down 'til the dark
Yes and they will run you down, down 'til you fall
And they will run you down, down 'til you go
Yeah, so you can't crawl no more
Way Down We Go — Kaleo

Droga, deveria ter vindo de calça, meu pai vai me matar


quando ver minha situação. Acabei esfolando o joelho no asfalto
quando atravessei a rua e quase fui atropelado, por sorte me joguei
e consegui aterrissar sem nenhuma contusão mais séria.
Só lembro da morena, alta e estupidamente gostosa, que saiu
do carro. Queria ter tido mais tempo para me desculpar.
Como esperado, meu pai aguarda na porta de entrada do
prédio, com seu terno cinza escuro perfeitamente alinhado, o cabelo
penteado para trás, a barba recém-feita, e o olhar mortal que me
lança me faz tremer.
Não esperava que estivesse assim em um sábado de manhã,
eu sei que ele vem para o escritório de vez em quando, a mãe
sempre reclama por isso, mas como meu pai é especialista na área
criminal, se um cliente importante precisa dos seus serviços, não
importa a hora ou o local, ele vai.
— O que aconteceu com você? — é a primeira coisa que ele
pergunta quando olha para meu joelho. — Espero que não planeje
vir trabalhar com estas roupas...
— Desculpa, pai.
— Vamos, não quero que ninguém te veja assim.
— Foi por isso que veio me receber na porta? Achei que
estava com saudade — tento brincar para descontrair, mas ele não
sorri. Ao contrário, meu pai respira fundo e anda em direção aos
elevadores.
O vigia, com um copo de café em mãos, libera nossa entrada.
Meu pai o cumprimenta com um aceno e o chama de Nelson, o
lugar onde a recepcionista fica ainda está vazio, provavelmente ela
não trabalha nos finais de semana.
Admiro o hall de entrada com o pé direito alto, piso de
mármore escuro, móveis brancos e decoração minimalista. Atrás da
recepção as letras R&W brilham no logotipo iluminado da empresa,
faz mesmo muito tempo que não venho aqui.
Subimos de elevador em um silêncio desconfortável, meu pai
olha para a frente e espera pacientemente até que o elevador pare
no último andar, ainda estou com meu skate na mão e a mochila nas
costas.
Já que tive que acordar antes do nascer do sol para vir até
aqui, pensei em aproveitar e ir até o parque depois, a pista a essa
hora deve estar vazia e algumas voltas vão me ajudar a relaxar.
O andar dos sócios é ainda mais luxuoso que o hall de
entrada: o piso de mármore claro traz uma sensação de limpeza, os
móveis são todos brancos com detalhes em preto, algumas plantas
estão dispersas pelo local, assim como obras de arte moderna. Tem
mais uma recepção e atrás o logo da empresa em um painel escuro.
De um lado vejo uma grande sala de reuniões com paredes de
vidro, outras três portas mais adiante e bem em minha frente ficam
as salas do meu pai e do tio Richard. Cada nome em placas
douradas fixadas nas portas de madeira escura. Meu pai abre a sua
e me faz sinal para entrar. Assim que ergo os olhos do chão e vejo o
ambiente luxuoso e corporativo, tenho a sensação de estar fora de
lugar.
A sala é espaçosa, o piso de mármore brilha com as primeiras
luzes do sol que entram pela grande janela, o vidro vai do piso ao
teto e proporciona uma visão completamente viciante dos prédios no
horizonte.
Meu pai caminha até a mesa de madeira e senta em sua
cadeira de couro, vejo dois porta-retratos ao lado, um com uma foto
tirada no Natal, essas fotos de família feliz, mas neste caso
estávamos realmente felizes, abraçados em frente a árvore de Natal
à espera do temporizador do celular.
No outro porta-retrato tem uma foto da minha mãe mais jovem
me segurando no colo, eu era ainda um bebê.
Olho ao redor e vejo algumas obras de arte moderna nas
paredes, outras fotografias — dessa vez meu pai está de terno,
cumprimentando algumas pessoas que não faço a menor ideia de
quem são —, em uma parede tem uma estante com alguns livros e
um sofá preto.
E com isso volto a olhar para ele. Como sempre acontece, me
sinto um moleque em sua frente, deveria ter me preparado melhor,
por que tenho que desafiá-lo assim?
— Parece que não tem ninguém trabalhando a essa hora —
comento para quebrar o silêncio.
— Tem, mas não nesse andar, os funcionários começam a
chegar às 8 horas em dias de semana, já nos finais de semana,
somente algumas pessoas trabalham.
— Entendi...
— Tenho um compromisso daqui a pouco, então vamos
começar logo — Assinto com a cabeça e me acomodo na cadeira
em sua frente. — O estágio começa às 8 horas, você tem aula em
algum dia nesse período?
— Só tenho aulas à tarde.
— Ótimo, nas tardes em que não tiver aula estará aqui,
quando for época de provas, temos como política diminuir em 50% a
carga horária do estagiário para que possa estudar, é só falar com
sua supervisora e ela entenderá.
Ele me explica as normas do estágio, o que vou fazer,
começando pelos serviços mais básicos, como separar documentos,
organizar os arquivos dos processos, essas coisas, depois fala
sobre as regras de convivência da empresa, dando ênfase ao
vestuário.
— Não sei como estão os teus ternos, mas pode usar este
cartão para comprar alguns novos, tem uma loja muito boa próxima
daqui. — Ele me entrega seu cartão executivo pessoal. — E não
venha com isso aí trabalhar, você tem um carro novo na garagem.
Aponta para meu skate escorado na outra cadeira.
— São poucas quadras do meu apartamento até aqui, eu não
vou nem suar.
— Não é profissional um advogado andando de skate, você
tem carro e temos vaga de estacionamento para todos os
funcionários.
— É só um skate — respondo como uma criança, mas entendo
seu ponto. — Tudo bem, tudo bem. Mais alguma coisa? —
pergunto, já querendo encerrar essa tortura.
— Falei com o pai da Gabi e ele aceitou que ela entre no
estágio com você — anuncia e não consigo esconder o sorriso em
meu rosto, quase pulo nele de felicidade. — Todos aqui já sabem
quem ela é. Ao contrário de você, a Gabi visita o pai com
frequência, portanto saberão que ela é filha de um dos sócios
proprietários.
— Tudo bem, ela vai enlouquecer quando eu falar.
— Richard vai conversar com ela neste final de semana, deixe
que ele dê a notícia. — Aceno com a cabeça, não importa quem
será o portador da novidade, sei que minha amiga ficará louca. —
Mas ainda mantenho o que te disse ontem, não quero que ninguém
saiba que é meu filho, por isso pedi para vir mais cedo, minha
secretária, Richard e os associados são os únicos que sabem — já
que te conhecem das festas que participaram lá em casa —, mas
dei ordens para que ninguém fale nada.
— Eu já entendi, pai, não vou usar teu nome como vantagem.
Começo a ficar verdadeiramente magoado com isso, nunca
precisei usar o nome dele para nada, entrei na universidade porque
minhas notas e currículo acadêmico foram exemplares, claro que
provavelmente ajudou que toda a minha família estudou na PUC,
mas isso não muda o fato de que me esforcei.
— Se entendeu tudo, acho que terminamos aqui. Segunda-
feira você será apresentado à sua mentora do estágio, ela é uma
advogada excepcional — fala com admiração, o que me deixa
curioso, meu pai dificilmente elogia alguém assim.
— Não vai me mostrar o restante do escritório? — questiono
como brincadeira, mas meu pai me lança um olhar firme.
— Você conhecerá o necessário quando começar o estágio —
responde seriamente —, e Leonardo, não leve isso como um
passatempo. Este lugar é o trabalho da minha vida e meu maior
sonho é que seja você a ficar em meu lugar algum dia, mas para
isso, precisa crescer, meu filho. Chegou a hora.
Abaixo a cabeça e desvio do seu olhar, tenho 22 anos e uma
vida toda para me preocupar em ser adulto.
— Ah, sua mãe te espera para almoçar amanhã, vê se não
esquece como da última vez — avisa quando estou saindo e só
concordo com a cabeça.
Faço o caminho de volta, mas resolvo parar em todos os
andares para dar uma espiadinha, são 22 no total, todos estão
vazios a essa hora, luzes desligadas e tudo. Só um deles, o 13º
andar, parece ter alguém. Paro na entrada do elevador e vejo a
porta aberta de uma sala aos fundos, aparentemente têm mais
viciados em trabalho aqui.
Volto a descer antes que alguém me veja, o segurança me
olha curioso quando deixo o prédio e aceno para ele, coloco o skate
no chão e saio andando pela calçada.
Pego meus fones de ouvido sem fio do bolso e ligo o som no
máximo.
Passo pela loja que meu pai falou, ainda está fechada, então
vou até a pista de skate e desligo minha mente por um tempo,
mantenho toda atenção nas manobras em cima da prancha, aos
poucos o sol vai subindo e o dia realmente começa.
Quando as crianças começam a chegar com suas babás e
seus pais, olho o celular e vejo que são quase 10 horas, volto para o
apartamento, tomo um banho e coloco uma roupa mais leve.
— Bom dia — Gabi me cumprimenta quando saio do quarto. —
Como foi a bronca ontem?
— Nada mais que o esperado. — Dou de ombros e vou até a
cozinha, desvio dos copos descartáveis que sobraram da noite
passada e pego um litro de água da geladeira. — Começo o estágio
na segunda — anuncio e ela pula do sofá.
— Caralho, Léo, sério mesmo? — pergunta animada.
— Sim, e acho que preciso da sua ajuda com uma coisa.
— Claro, o que você está pensando?
Pego o cartão preto do meu pai e ergo para que ela veja, um
sorriso travesso se espalha pelo seu rosto.
— Preciso comprar ternos e não tô a fim de ir sozinho, vai
comigo?
— Para gastar a grana do seu pai? CLARO QUE VOU! — ela
praticamente grita e não contenho uma risada, só minha amiga para
me animar hoje. — Dá cinco minutos, vou me trocar.
Depois disso passamos a manhã toda comprando roupas
sociais, até que o pai da Gabi ligou e a chamou para conversar. Não
falei nada sobre o estágio para ela, nem que fiz um acordo com meu
pai, Gabi merece essa oportunidade, acima de tudo ela quer isso.
Eles conversam pelo telefone e consigo perceber a hora em
que ela recebe a notícia, seus olhos verdes se abrem com a
surpresa e ela leva a mão até a boca para conter um gritinho, então
me olha, estamos no meio da loja e um senhor italiano muito sério
tira minhas medidas, por isso ela se contém.
Quando desliga, Gabi me olha e vejo uma lágrima escorrer do
seu rosto.
— Eu consegui, meu pai... — para de falar devido a emoção.
— Léo, eu...
— Acho que vamos precisar comprar roupas para você
também — comento e ela abre o maior sorriso que já vi e meu peito
se enche de felicidade.
CAPÍTULO 5
Marina
Pode falar que eu sou uma delícia
Que nada te dá mais tesão do que еu
Te fazendo jogar tudo dentro dе mim
Fala que eu sou uma bandida, o amor da sua vida, ai, ai
Sei que tu quer se jogar todo dentro de mim
Nem pergunta se eu quero dar amor
Só me chamar, pode ser no carro
MULHER DO ANO XD — Luísa Sonza

Fiquei no escritório até o início da tarde, depois fui almoçar no


shopping e deixei o restante do tempo para estudar em casa, tenho
muita matéria da pós e alguns trabalhos para entregar.
Às 18 horas resolvi ir na academia, se não me engano Marcos
não trabalha aos sábados, então não corro o risco de encontrá-lo lá.
Fiz 10 km de corrida na esteira e alongamento, até que meu corpo
ficou tão cansado quanto minha mente, só aí dei o dia por
encerrado.
Ou assim imaginava.
Quando cheguei na porta do meu prédio a figura da mulher de
salto alto, saia de couro, body rosa, cabelos loiros cacheados e uma
maquiagem pesada quase me fez dar meia volta e sair correndo,
mas a maldita me enxergou antes.
— Marina, nem se atreva — Carina repreende enquanto me
aproximo. — Pode tirar esse bico da cara, e não adianta falar que
está cansada.
— Mas eu estou, acabei de correr 10 km.
— Então já pode fazer agachamento na balada — responde e
pega no meu braço. — EU CONSEGUI O EMPREGO!
Ela grita e algumas pessoas nos encaram enquanto passam,
mas Carina não se importa e me abraça, animada.
— Parabéns, amiga, você merece muito — respondo, feliz por
ela, que estava há seis meses desempregada.
— É por isso que vamos comemorar, e já que está feliz por
mim, não pode dizer não.
— Amiga, porque não abrimos um vinho, pedimos uma pizza
e...
— Se as próximas palavras que saírem da sua boca não forem
“Saímos para comemorar” é melhor nem terminar a frase — fala
com firmeza, sem deixar espaço para discussões. — Tem meses
que não saímos, e consegui entrada gratuita na melhor boate da
cidade.
Abro a porta do prédio e ela me segue para dentro, seus saltos
fazem uma sinfonia de tec-tec no piso.
— Não tenho roupa para um lugar assim, faz muito tempo que
não saio. — É minha última tentativa de fugir dessa.
— Eu sabia que ia falar isso. Aqui — ela me entrega uma
sacola em que eu não havia reparado até agora —, acabaram as
desculpas?
Minha amiga entra no elevador e me olha com cara de
cachorro sem dono, nós nos conhecemos no primeiro ano de
faculdade, dividimos um apartamento na época e depois disso
nunca mais nos separamos.
Mesmo sendo totalmente diferentes uma da outra, Carina é
uma amiga maravilhosa, ela se formou em marketing, mas trabalha
com moda, não sei exatamente o que faz, mas sei que é com isso.
— Agora vai lá tomar um banho que você está fedendo, ainda
temos um tempinho. Quer um café? — questiona enquanto se
apossa do meu apartamento.
— Precisa perguntar? — respondo e vou para meu quarto,
estou morta de cansaço, mas realmente não tenho como recusar
um pedido da minha amiga.
Tomo um banho, degusto o café que ela preparou e lavo e
seco o cabelo enquanto a cafeína faz efeito. Quando termino de
passar uma maquiagem simples, pego meus óculos e coloco o
vestido curto e colado na cor vermelha que Carina me trouxe, já
passam das 23 horas.
— Você está gostosa demais, amiga, só tira esses óculos e
coloca as lentes de contato — ela fala animada quando apareço na
sala e faço o que ela pede. Realmente prefiro usar os óculos, deixo
as lentes só para algumas ocasiões especiais — O carro chegou,
vamos arrasar hoje — Carina comenta, dando pulinhos de
animação, e finjo acompanhar sua alegria.
Honestamente só queria deitar e dormir. Não sou fã de
baladas, porque não tem lugar para sentar, é sempre cheio de
gente, a música alta demais e a bebida cara, fora que não tem
comida.
Contudo, por ela eu vou, até coloco um sorriso no rosto
quando chegamos, tentando ao máximo espantar o cansaço e não
pensar no quanto estarei acabada amanhã.
Ainda preciso terminar um trabalho da pós e estudar para o
caso de segunda-feira, fora que os novos estagiários vão começar
esta semana e provavelmente serei designada como mentora de
algum deles.
— Está pensando em trabalho, não é mesmo? — Carina me
distrai e sorrio culpada. — Por favor, amiga, só por hoje vamos nos
divertir. A Mika já mandou mensagem confirmando que a galera está
toda lá, só falta a gente.
— Desculpa, amiga, hoje vamos comemorar seu novo
emprego, prometo que vou me divertir. — Finjo mais animação e
sorrio para ela.
— É isso aí. Ah, você não contou como foi com Marcos ontem.
— Foi a última vez.
— Como assim, o que ele fez?
— Me convidou para um encontro — explico e Carina mexe a
cabeça de um lado para o outro. — Ele estava criando sentimentos,
foi melhor terminar agora.
— Seria tão ruim assim?
Sua pergunta me pega de surpresa, ela sabe que não quero
um relacionamento agora. Na verdade, nunca tive um namoro sério
com ninguém, sempre foquei em minha carreira e na vida
profissional, não tenho tempo para lidar com tudo o que um
relacionamento exige.
— Quer dizer, você está terminando a pós, logo vai ter mais
tempo livre, tem estabilidade no trabalho, seria tão ruim assim ter
alguém do seu lado?
— Primeiro que faltam seis meses para terminar a pós,
segundo, não tenho estabilidade, preciso me esforçar mais do que
qualquer um se quero me tornar uma sócia, e terceiro, já tenho outra
pós em mente para quando essa acabar — pontuo meus motivos.
— Você tem 26 anos, é linda, inteligente, deve dar um chá
maravilhoso, porque todos os teus paus amigos se apaixonam —
fala e sorrio para seu comentário, porque no fundo é verdade. — Só
estou dizendo que trabalho não é tudo.
— Eu sei, mas por enquanto é o que eu quero — respondo e
termino o assunto quando o carro para em frente à casa noturna.
Vejo a fila enorme de pessoas esperando para entrar e olho
assustada para Carina. — Sério mesmo?
— Só vem. — Ela abre a porta e agradeço ao motorista do
Uber antes de sair, então Carina vai até o segurança e fala alguma
coisa para o homem, que mais parece um armário de tão grande, e
com isso ele nos dá passagem. — Eu disse que tinha entrada
gratuita.
Carina passa rebolando em minha frente com um sorriso
orgulhoso, acompanho minha amiga e escuto os gritos de protesto
das pessoas da fila, que provavelmente estão aguardando há horas
de pé.
A música eletrônica toma conta dos meus sentidos no minuto
em que entramos, sinto meu peito vibrar com a batida. Carina pega
minha mão e nos guia pela multidão de corpos que se movem
conforme o ritmo.
Seguro a pequena bolsa que trouxe em frente ao corpo até
que chegamos em uma escada, ela faz o mesmo com o segurança
e fala algo para ele, que nos garante passagem para a área VIP.
— COMO VOCÊ CONSEGUIU ESTAS ENTRADAS E ÁREA
VIP? — grito em seu ouvido para que consiga me entender.
— DIGAMOS QUE O DONO É MEU NOVO CHEFE — ela
responde com um sorriso safado no rosto e solto uma gargalhada.
Claro que tinha que ter um homem envolvido. — A GALERA ESTÁ
AQUI, VAMOS COMEMORAR!
Então olho para frente e vejo o grupo que dança ao redor de
uma mesa no segundo andar da boate, são as mesmas pessoas de
sempre, amigos de balada de Carina: Mika, Eric, Maria, Saulo, Théo
e Victor. Eles têm a mesma idade dela, 28 anos, e cada um trabalha
em algo diferente.
Todos a abraçam e a parabenizam pelo emprego novo e me
cumprimentam igualmente animados, é um grupo legal e que se
apoia. Como não saio muito de casa, acabo ficando de fora dessas
festas, mas eles sempre me recebem bem.
Saúdo cada um deles e Victor me entrega uma cerveja, que
aceito para tentar me divertir, a música alta não deixa espaço para
conversas, o que é bom, já que conforme a bebida entra o papo vai
se tornando mais raso.
Começo a me animar assim que termino a segunda long neck,
sou muito fraca para bebidas, então a esse ponto já posso me
considerar levemente alterada, e sinto minha bexiga apertar.
Carina e as meninas foram no banheiro há pouco tempo e
avisaram que o da área VIP está interditado, então resolvo ir
sozinha no da pista. O segurança me deixa descer, e quando estou
procurando o banheiro, um corpo se choca no meu e quase caio de
bunda, mas por sorte sou jogada contra um estranho que passa um
braço pela minha cintura e evita a queda iminente desta
destrambelhada.
No susto não olho para cima, mas sinto os braços fortes e o
peito quente do homem que me salvou de um momento no mínimo
constrangedor. Seu perfume entra pelas minhas narinas e invade
todos os meus sentidos, é deliciosamente forte e amadeirado, eu
amo perfume masculino.
— Me desculpa — consigo falar quando encontro minha voz,
então olho para cima e vejo o sorriso lindo do loiro de olhos azuis
que parece se divertir com minha pouca desenvoltura.
— Está tudo bem, eu peguei você — diz e só então me solta,
garantindo que consigo ficar de pé. Com a distância olho mais
atentamente para ele, tem alguma coisa de familiar no homem,
meus olhos passam pela camiseta preta colada no peito malhado,
os braços à mostra deixam as tatuagens visíveis e é isso que
acende minha memória.
— O skatista — falo e ele me encara sem entender. — Eu te
atropelei hoje de manhã, quer dizer, quase te atropelei, ou você
atropelou meu carro, esse fato ainda não está claro... — Não
controlo o que sai pela minha boca devido ao nervosismo e posso
sentir meu rosto queimar de vergonha.
— Ah, sim, a mulher de hoje de manhã — responde com
aquele mesmo sorriso travesso. — Tudo bem, eu estava errado. —
Ele passa a mão pelos cabelos. — Você está sozinha aqui?
— Não, minha amiga está lá em cima — aponto para o
segundo piso e então minha bexiga decide lembrar do porquê desci
—, só estou procurando o banheiro.
Ele indica um local atrás de mim e vejo uma fila de mulheres
escoradas na parede, droga, vai demorar muito para chegar a minha
vez. Aperto uma perna na outra, controlando a vontade de fazer xixi.
— Você está apertada, né? — o estranho pergunta e fico com
ainda mais vergonha, ele é bonito demais para estarmos
conversando sobre isso. — Vem comigo.
Pega na minha mão sem pedir e me conduz para uma porta
nos fundos, sem ter a chance de recusar, sigo o loiro, então
entramos no que parece ser um escritório e ele cumprimenta um
homem moreno de terno, que está sentado atrás de uma mesa.
— E aí, Rafa? Tudo certo, cara? — o loiro fala.
— Léo, quanto tempo… Não sabia que viria hoje — o outro
homem, denominado Rafa, abre um sorriso para o loiro, que agora
sei se chamar Léo e penso que o nome combina com ele.
— Minha amiga aqui precisa de um banheiro e lá fora está
lotado, será que podemos usar o seu aqui?
— Claro, fique à vontade — o moreno responde e me olha com
mais atenção, indicando uma porta que imagino ser o banheiro. —
Desculpe por isso, já estamos com um projeto de ampliação dos
banheiros e justamente hoje o da área VIP deu problema.
— Tudo bem, obrigada — digo e praticamente corro até o lugar
que indicou e esvazio minha bexiga até me sentir aliviada. Quando
termino lavo as mãos e volto para o escritório, mas agora só vejo o
loiro escorado na mesa.
— Está melhor? — ele pergunta.
— Bastante, obrigada por isso — indico o banheiro e me sinto
boba por agradecer novamente. — Era o dono?
— Sim, Rafa é um amigo de longa data — responde e pega
uma garrafa de água de cima da mesa. — Quer?
Aceito sem pensar e olho para o sofá de couro vermelho do
outro lado da sala, que me parece confortável demais neste
momento. Meus pés já estão pedindo socorro do salto, o loiro
parece perceber e solta uma risada linda.
— Não sei você, mas eu estou cansado do barulho lá de fora
— Léo comenta e atravessa a sala, sentando-se no sofá. — Se
quiser descansar um pouco, podemos ficar aqui.
Paro por um momento e cogito recusar, mas alguma coisa nele
me faz querer ficar, talvez seja o sorriso bonito ou o fato do homem
ser um gostoso grande e tatuado, e se tem uma coisa que me atrai,
é tatuagem.
Então vou até ele e sento ao seu lado, já sentindo meus pés
agradecerem pelo descanso, assim como todo o meu corpo, que
parece formigar ao relaxar.
— Estou tão cansada — desabafo e escoro a cabeça no
encosto, fecho os olhos e respiro fundo. — Esse sofá é muito
confortável — comento e abro os olhos antes que eu me acomode
demais e pegue no sono.
— Então, moça que me atropelou de manhã, posso saber seu
nome? — ele pergunta e só então me obrigo a encarar seu rosto.
— Marina — respondo e estendo a mão para ele. — E você é
Léo?
— Leonardo — ele pega minha mão, mas ao invés de apertar
se curva e seus lábios beijam meus dedos —, mas todo mundo me
chama de Léo.
Levo um minuto para me recuperar do choque e tenho a
certeza de que minha calcinha está encharcada só de imaginar
estes lábios em outro lugar.
Droga, Marina, você transou ontem!
— Você se machucou muito? — pergunto na vã tentativa de
mudar meus pensamentos.
— Não, só um raspão mesmo, já estou acostumado. — Dá de
ombros e me lança um sorriso que faz meu coração parar de bater
por um segundo, só então vejo que o maldito tem covinhas na
bochecha.
COVINHAS!
Como se não bastasse o pacote todo, ele tem COVINHAS NA
BOCHECHA QUANDO SORRI.
— Skates são perigosos — comento como uma sonsa e ele
não responde, só solta uma gargalhada e se ajeita de lado no sofá,
a calça jeans escura aperta as coxas malhadas e atrai minha
atenção para um lugar que não deveria.
— O que você faz? — pergunta, descontraído.
Beijo estranhos em boates, é o que quero responder, mas me
contenho para não passar vergonha.
— Sou advogada — respondo com orgulho, mas sem dar
muitos detalhes — E você?
— Estudante — fala dando de ombros e por um momento fico
em pânico ao pensar que posso estar dando em cima de um menor
de idade, mas que droga, essas baladas deveriam ser para maiores
de dezoito. Será que ele entrou clandestino? — Relaxa, estou no
último ano da universidade, curso direito — Léo complementa e
respiro aliviada, provavelmente leu em meu rosto tudo o que pensei.
— Nossa, boa sorte — brinco e tomo um gole de água antes
de continuar. Quando estou bêbada, ou levemente alterada, não
escondo muito meus pensamentos.
— Obrigado, vou precisar. — Dá uma piscadinha e minha
boceta responde.
Se controla, sua tarada!
— Acho que preciso voltar lá — aponto a porta e só agora
percebo que aqui dentro quase não se escuta o som ensurdecedor
da música alta.
— Só se quiser, Rafa foi embora e eu tenho a chave — fala e
posso jurar ter ouvido segundas intenções nessa frase, lanço um
olhar de lado para ele, que levanta as mãos. — Não me entenda
errado, você parece cansada, só isso.
— Nossa, obrigada!
— Não, não, não... droga, não tenho como me defender, não é
mesmo?
— Sempre tem como se defender, a dificuldade é convencer a
outra parte.
— Falou como uma advogada, agora — Aponta e pega minha
mão. — Vou tentar de novo. Você está linda e relaxada neste sofá
confortável, imagino que tenha tido um dia e tanto, então se quiser
ficar aqui, batendo papo com um louco que atropelou seu carro com
um skate, garanto uma boa conversa.
Okay, eu já não estava com a menor vontade de sair daqui
mesmo, com um convite desses fica impossível recusar.
CAPÍTULO 6
Leonardo
Se essa bunda, se essa bunda fosse minha (uh)
Eu levava pra casinha só pra ver ela jogar (ai, ai, meu Deus)
De pedrinhas em pedrinhas de diamante
Fiz um cordão ignorante só pro seu olho brilhar
E não é que brilhou?
Nessa rua, nessa rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele tem tua bunda
E tua bunda é um anjo que roubou meu coração
Se Essa Bunda — Costa Gold, André Nine, Kawe

Ela é linda demais, puta que pariu!


A festa já estava ficando chata depois que a Gabi saiu com a
ruiva da outra noite, minha amiga me arrastou para a balada e me
deixou aqui sozinho.
Estava pronto para ir embora também e dar este dia como
encerrado quando a morena caiu em meus braços depois de
alguém esbarrar nela, e só pode ter sido o destino ou alguma merda
assim.
Conheço o Rafa há muito tempo, ele namorava um amigo meu
e, quando terminaram, acabou ficando no grupo. Depois que se
formou em economia, seu pai disse que poderia escolher algum
lugar para investir, se trabalhasse no negócio da família também,
então ele começou a trabalhar na rede de lojas de roupas e abriu
uma boate. Quando percebeu como eu olhava para a morena, Rafa
me entregou a chave do escritório e saiu para curtir a noite.
Marina fala animadamente sobre a pós que está fazendo na
área de direito civil, com ênfase em família. A forma com que se
expressa sobre os estudos, com tanto orgulho e dedicação, me dá a
certeza de que ama o que faz.
Ainda mais com essa voz doce.
Adoro ouvir as pessoas falarem sobre o que gostam, seja
comida, livros, filhos, trabalho, qualquer coisa. Ela me envolve tanto
no assunto que quando vejo estamos debatendo sobre áreas do
direito, ela não parece muito mais velha do que eu, ainda mais
quando relembra seus tempos na universidade.
Claro que não me passou despercebido a forma com que seus
olhos castanhos caem sobre meu corpo em alguns momentos, ou
como ela morde o lábio inferior enquanto estou falando. Também
percebi nitidamente que seu corpo está cada vez mais próximo do
meu, suas mãos brincam com o cabelo castanho levemente
enrolado e ela fica vermelha toda vez que toco em sua mão, que
descansa próxima da minha no sofá.
Marina está dando em cima de mim descaradamente.
E eu estou respondendo, porque não sou louco de recusar.
O vestido sem alça vermelho abraça suas curvas de uma
forma provocante e deixa as pernas longas à mostra, a forma com
que ela se ajeita no sofá e transpassa uma perna sobre a outra faz
meu olhar viajar para baixo, e puta que pariu, é um caminho sem
volta.
Quando volto a encará-la sei que percebeu. Tenho certeza que
a temperatura aqui subiu e não foi só para mim, então me aproximo
um pouco mais e ela para de falar, sentindo a eletricidade entre nós.
— Você deveria dar aulas na universidade — comento com a
voz um pouco mais grave do que antes —, nunca vi alguém me
fazer ficar tão interessado em direito assim.
Solta uma risada encantadora que me contagia.
— Não tenho pretensão de ser professora — responde com
um sorriso. — Meu objetivo é empresarial mesmo.
— Pensando bem, é melhor não ir por este caminho mesmo.
— Acha que eu não conseguiria? — questiona em um claro
desafio, e coloca uma mecha que se desprendeu de seu cabelo
atrás da orelha.
Sinto inveja da sua mão, pois queria ser eu a fazer isso.
Que merda, se concentra, Léo!
— Não é isso — finalmente encontro minha voz —, mas talvez
seus alunos não consigam se concentrar na aula com uma
professora tão bonita assim. — Lanço minha cantada e a vejo corar
levemente.
— Quer dizer que para ser professor a pessoa não pode ser
atraente, ou corre o risco de distrair os alunos? Achei que as
pessoas iam para a universidade pelo conteúdo das aulas, e não
para admirar os professores — responde seriamente e, por um
momento, acho que falei merda, já que ela mantém o olhar
penetrante no meu, um claro desafio para o debate.
— A maioria vai por obrigação dos pais.
— Você se encaixa neste grupo? — Mais um desafio.
— O que você acha?
— Não gosto de julgar alguém baseando-me em uma conversa
de balada — responde, esquiva. — Mas me fala, do que realmente
gosta?
Sua pergunta me pega desprevenido e penso por um
momento, é difícil responder algo assim, ainda mais quando estou
tentando impressioná-la.
— Sem julgamentos? — pergunto e ela confirma com a
cabeça. — Gosto de andar de skate nas primeiras horas da manhã,
de passear com meu cachorro ouvindo música, curtir um bom filme
com meus amigos e tocar violão.
Marina ergue as sobrancelhas bem feitas e delineadas em
sinal de surpresa.
— Você toca bem?
— Não, mas eu gosto — respondo e arranco um sorriso lindo
dela, que atrai minha atenção para seus lábios rosados. — Mas o
que eu mais gostaria de fazer neste momento, é provar a tua boca.
O que foi que eu disse?
QUE MERDA DE FRASE RIDÍCULA FOI ESSA?
Arrependo-me na mesma hora por não controlar a desgraça
que sai da minha boca, mas não tenho tempo para pedir desculpas
ou tentar me redimir, já que Marina cola a sua boca na minha em um
beijo delicioso.
Não demoro a reagir ao seu toque, os lábios quentes e doces
são viciantes e reivindicam os meus, a língua com um leve gosto de
cerveja desliza com delicadeza até tocar na minha, em um
movimento encantador que me faz queimar.
Seu corpo se move em sintonia com o meu, assim como sua
mão, que viaja pela minha nuca. Ela me tem sob seu controle, não
tenho dúvida alguma sobre isso. Aos poucos Marina traz seu corpo
para mais perto, mas parece que ainda estamos longe demais,
então passo uma mão pelas suas costas e ela sobe em meu colo,
com uma perna de cada lado do meu corpo, o vestido curto e
apertado viaja para cima, mas ela não se importa, muito menos eu.
Sua boca se abre ainda mais para mim e nossas línguas
começam uma batalha, escuto um gemido doce que sai dela e ecoa
por todo o meu corpo, sinto meu pau cada vez mais duro nas
calças, enquanto o tesão aumenta.
— Caralho, que loucura é essa? — questiono quando ela beija
meu pescoço.
— Loucura é ter alguém tão gostoso assim me atiçando esse
tempo todo e não aproveitar o momento — ela responde provocante
e se esfrega em mim, sem deixar um milímetro de distância entre
nós.
Passo a outra mão pelas suas costas e começo a beijar seu
pescoço, ela tem um cheiro doce de perfume que me faz querer
devorá-la.
Marina é gostosa, provocante, inteligente e confiante.
Que droga de combinação perfeita é essa?
Forço-me a diminuir as investidas quando percebo que estou
roçando meu pau em sua boceta descontroladamente. Se continuar
assim, vou gozar nas calças ou fodê-la aqui mesmo, mas quando
respiro fundo e me afasto para encará-la, os olhos castanhos me
incendeiam.
— Não ouse parar agora. — A voz dela sai como um maldito
comando, e não tem mais volta.
— Nem se eu quisesse — respondo e ataco sua boca
novamente, agora sem pena ou apreensão.
Desço minhas mãos pela sua bunda e faço o tecido do vestido
subir ainda mais, amontoando-se em sua cintura enquanto Marina
se esfrega na minha ereção. Uma das suas mãos puxa meu cabelo
e mantém minha boca colada à sua enquanto a outra desce pelo
meu peito.
— Preciso trancar a porta — falo em um lapso de consciência,
lembrando-me que qualquer um pode entrar aqui e nos pegar assim.
— Por quê? — pergunta com um sorriso safado no rosto. — A
metade da diversão em transar na balada é saber que podemos ser
pegos a qualquer momento.
— E você gosta disso? — provoco e ela morde meu lábio
inferior como resposta, solto um gemido e me esfrego ainda mais
nela. — Safada, se não parar agora...
— Eu não vou parar — ela me corta e beija meu pescoço —, a
não ser que você peça. — Dá uma mordida no lóbulo da minha
orelha e sinto sua respiração quente enquanto fala: — Mas pelo que
estou sentindo no meio das minhas pernas, está com tanto tesão
quanto eu, então se entrega logo e me fode neste sofá, porque eu
tenho certeza que quero dar para você.
Ai caralho, estou perdido!
E ela sabe disso, porque sorri em provocação e se esfrega
ainda mais em mim, seus peitos estão próximos da minha cara e
preciso prová-los, por sorte o vestido é sem alça e me garante fácil
acesso a eles, ainda mais que ela está sem sutiã. Vejo seus
mamilos duros e convidativos saltarem, então vem a surpresa: duas
joias me encaram, ela tem piercings nos mamilos! Ai, caralho, essa
mulher é uma perdição.
Passo a língua por um deles e sinto o metal frio, Marina se
contorce com a provocação, minha mão trabalha no outro peito e ela
geme, completamente entregue.
Seu gosto é delicioso, quero provar todo o seu corpo, mas ela
me para e coloca uma mão em meu queixo, atraindo minha atenção
para seus olhos.
— Tem camisinha? — pergunta seriamente e agradeço aos
céus por sempre manter uma na carteira, aceno positivamente e ela
abre ainda mais o sorriso safado. — Então me fode logo, antes que
alguém entre aqui.
— Seu pedido é uma ordem — respondo, tiro a carteira do
bolso de trás da calça. Marina levanta o quadril para me dar espaço
enquanto me ajuda a abrir o zíper do jeans, sua mão me provoca
por cima da cueca e posso jurar que solto um rosnado.
Ela sabe o que faz, e pior ainda, tem total consciência desse
fato.
A morena me tem sob seu domínio.
Marina toma o preservativo de minhas mãos, me ajuda a
abaixar a calça e a cueca, liberando meu pau, que pulsa de tesão.
Ela olha para baixo e lambe o lábio com fome no olhar, fazendo-me
sonhar com essa boca envolvendo minha ereção, me chupando
como um picolé.
Contudo não temos tempo e ela logo desenrola o preservativo
no meu pau com habilidade, suas mãos pequenas e frias me fazem
tremer de tesão com o contato, mas me seguro e deixo que domine
o momento.
Sinto que é assim que ela gosta, que é isso que quer. Marina
tem uma presença marcante e exige controle, e caralho, ela me tem
em suas mãos, literalmente.
Quando termina não me deixa respirar, sobe em cima de mim
e se esfrega no meu pau, a calcinha de renda e a camisinha são as
únicas barreiras, mas consigo sentir o seu calor, ela está pegando
fogo.
Levo uma mão ao meio das suas pernas, sinto a umidade ali,
coloco a calcinha para o lado e passo o dedo pela sua boceta
encharcada e depilada. Marina geme e devora a minha boca,
perdida no tesão, ela se esfrega ainda mais no meu pau e, quando
me posiciono em sua entrada, ela se abaixa e me engole de uma só
vez.
Sem aviso.
Sem me deixar respirar.
Sinto sua boceta quente se abrir enquanto meu pau a invade,
e puta que pariu, é gostoso demais.
A morena cavalga em mim sem restrições, sua boca me
devora ainda mais em um beijo desesperado, com mordidas leves
em meu lábio. Tomo para mim cada um dos seus gemidos e agarro
sua bunda com as duas mãos, sentindo a pele quente e macia,
aperto ainda mais enquanto ela sobe e desce, em movimentos
contínuos.
O rebolado me leva à loucura, é como se estivesse no céu,
seu cheiro é inebriante, os gemidos me fazem querer mais, sinto
que estamos chegando ao ápice. Marina começa a perder o controle
dos movimentos enquanto vou de encontro a ela, fodendo sua
boceta cada vez mais rápido, perdendo-me no momento.
— Caralho, que gostoso — falo e ela sorri, provocante,
sabendo que é o motivo do meu descontrole.
Tenho certeza que se a música lá fora não fosse tão alta, as
pessoas ouviriam nossos gemidos, porque Marina já perdeu o
controle do seu prazer, assim como eu.
Estou quase lá, sinto que não vou durar muito, ainda mais
quando ela se aperta ao meu redor, levo uma mão à sua boceta e
encontro o clitóris inchado, começo a massageá-lo até que ela se
descontrola.
— Goza gostoso comigo — sussurro em seu ouvido e Marina
geme de prazer, perdendo o controle dos movimentos. Sinto suas
pernas tremendo e ela puxa ainda mais meu cabelo.
É minha perdição. Assistir a morena gozar com o meu pau
enterrado nela me faz explodir no melhor orgasmo que já tive na
vida, sua boceta se aperta ao meu redor e suga cada gota do meu
tesão enquanto meto nela até não ter mais forças para continuar.
Marina cai em meus braços, completamente entregue e
satisfeita, sua respiração ofegante combina com a minha, assim
como o sorriso escancarado em seu rosto.
Passo uma mão pelos fios do seu cabelo comprido, tirando
alguns que grudam na face suada, enquanto ela acaricia meu peito.
— Isso foi... — começo a falar, mas não encontro as palavras
certas para descrever o que acabou de acontecer.
— Sim — Marina responde, então um celular começa a tocar
do outro lado da sala, olho para cima da mesa do escritório e vejo a
bolsa dela. — Droga.
Ela levanta apressada e ajeita o vestido rapidamente antes de
correr e atender a ligação.
— Carina, não estou entendendo nada... — Escuto ela falar
enquanto tiro o preservativo e vou até o banheiro descartá-lo. — Eu
não fui embora — se defende, falando com quem quer que esteja do
outro lado da linha. — Não, não precisa se preocupar, eu pego um
Uber... nos falamos amanhã.
Retorno ao escritório quando ela termina a ligação e seu olhar
encontra o meu. Marina está descabelada e com o vestido
amassado, e ela parece ainda mais linda assim.
— Sua amiga te deixou aqui? — pergunto.
— Sim, ela achou que fui embora — responde e dá de ombros.
— Não posso nem culpá-la, sumi por mais de uma hora.
— Nossa, nem vi o tempo passar — digo e caminho até ela. —
Posso te dar uma carona até a sua casa.
Seu sorriso vacila com as minhas palavras e vejo o exato
momento em que ela desvia o olhar do meu.
O clima muda rapidamente e ela se afasta.
— Obrigada, mas não moro longe e já chamei um Uber —
desculpa-se enquanto tenta ajeitar as roupas. — Obrigada por isso.
— Está agradecendo pelo orgasmo? — pergunto, tentando
descontraí-la e arrancar um sorriso, mas ela só fica vermelha.
— Sim, acho que estou — responde e olha para a porta,
parecendo acuada, como se quisesse sair correndo. — Preciso ir, foi
bom te conhecer.
— Hey — chamo antes que ela se vire e seguro seu braço
levemente. — Passa seu telefone, podemos combinar alguma coisa
amanhã.
Sei que o que pedi não foi nenhum absurdo, ainda mais depois
da foda insana que tivemos e da conexão que sentimos.
Bem, pelo menos eu senti. Olhando para seu rosto cheio de
incertezas fico na dúvida se Marina está na mesma página que eu.
— Melhor não — responde com aquela cara de alguém que vai
me dar um fora. — Eu não tenho o hábito se sair, ter encontros,
namorar. Não faço isso.
— Deixa eu adivinhar: você não tem tempo? — pergunto
sarcasticamente, mas seu olhar relaxa quando ela responde.
— É isso mesmo, não me leve a mal, de verdade. O que
fizemos foi bom demais e você é muito gostoso, mas tenho outras
prioridades no momento.
Eu não acredito que estou levando um fora de alguém que
conheci há menos de duas horas.
A compreensão de que sou realmente um emocionado vem
com as palavras que Gabi falou na noite passada, e só por isso
solto Marina e a deixo ir.
— Tudo bem, então, foi bom te conhecer, Marina. — Escoro-
me na mesa e vejo seus olhos castanhos caírem com tristeza.
— Foi bom te atropelar, duas vezes — ela brinca. Antes de se
virar para sair, a morena fica na ponta do pé e me dá um beijo
rápido nos lábios.
É uma despedida.
Sinal de encerramento.
E o que eu mais quero é agarrá-la novamente e não deixar que
vá sem antes me passar seu contato.
Então, da mesma forma rápida com que caiu em meus braços,
Marina desaparece e fico aqui, sozinho, sentindo sua falta.
Como diabos posso sentir falta de alguém que acabei de
conhecer?
Droga de coração emocionado!
CAPÍTULO 7
Leonardo
Eu fui presenteado
Com pessoas que
Fazem toda a diferença
E não me deixam desistir
De mim e dos objetivos
Que me trouxeram até aqui
E mesmo com os seus defeitos
São especiais pra mim
Amizade — Wesley Camilo

Acordei cedo no domingo, mesmo estando cansado depois do


dia corrido e da transa espetacular, por algum motivo minha mente
não conseguia se desligar da morena.
A maldita advogada não saiu do me pensamento, seu cheiro
ficou impregnado na minha camiseta, como uma prova de que não
foi um sonho, e me neguei a colocar a peça de roupa para lavar.
Talvez eu vá dormir abraçado com ela? Quem sabe.
Deixei embaixo do travesseiro, assim pude sentir o perfume
deliciosamente doce de Marina em meu quarto.
Depois de um tempo desisti de tentar dormir e procurei a
morena nas redes sociais, porém a quantidade de resultados foi
desanimadora.
Passei horas vendo fotos de mulheres morenas, até diminui as
buscas procurando por ex-alunas de PUC, mas nada. Ou ela não
tem redes sociais, ou eu sou um péssimo detetive.
Quando os primeiros raios de sol entraram pela janela, Rogers
começou a bater com a pata em minha porta, exigente como só
esse cachorro sabe ser. E pontual também, já que são 7 horas da
manhã quando ele me chama para caminhar.
Nem sempre atendo, Gabi e eu revezamos os cuidados com o
animal, já que este foi o combinado quando o adotamos no abrigo.
Escolhemos um cachorro já adulto e que estava lá há um
tempo, Rogers é um beagle que foi resgatado de um criador de
fundo de quintal, passou por maus bocados antes de chegar até
nós, mas agora vive uma vida de rei.
Literalmente!
Gabi vive comprando roupas e petiscos para ele, que tem até
seu próprio Instagram com mais de 1 milhão de seguidores, o
maldito é famoso e muito esperto.
Eu o ensinei a pegar a bolinha e trazer de volta, a sentar e latir
ao comando “fale”, mas o melhor truque, e que já garantiu o número
de muitas meninas na pista — tanto para mim quanto para Gabi —,
é que Rogers anda de skate.
Sim, o cachorro se equilibra em cima da prancha e ainda pega
impulso, é uma fofura de ver.
A primeira vez fez isso foi por conta própria, depois
começamos a incentivá-lo e agora, quando deixo o skate parado,
ele vai lá e faz a festa.
Solto Rogers da corrente assim que chegamos na pista, o local
está vazio e deve continuar assim por um tempo, as primeiras horas
da manhã são meu momento de paz, por isso aproveito o clima
ameno e me deixo levar pelas manobras, meu skate viaja pelo piso
de concreto polido, sem resistência alguma, enquanto esvazio a
mente e deixo meu coração me guiar.
Amo estes momentos, me desligo de tudo e só curto a brisa.
Olho Rogers, que passeia pela grama e cheira uns matinhos,
correndo livremente pelo parque, sem ir longe demais, e ficamos
assim por um bom tempo, até que outras pessoas começam a
chegar para aproveitar o domingo. O sol começa a arder mais forte
e queimar minha pele, e preciso tomar mais cuidado na pista, já que
a galera entra junto para as manobras.
Reconheço alguns rostos que me cumprimentam ao passar,
mas não paro para falar com ninguém.
Assim que o lugar enche demais, chamo Rogers, que vem
correndo ao meu encontro, a língua de fora e o olhar brilhando de
felicidade.
Vou com ele até a torneira e deixo que tome mais água, já que
secou a do pote que eu trouxe, então voltamos para o apartamento.
Pego meu celular e vejo a mensagem do meu pai, avisando-me
para não chegar muito tarde.
Droga, eu tinha até esquecido que prometi almoçar em casa
hoje.
Depois da desgraça que foi nosso encontro ontem — por total
e absoluta culpa minha — queria ficar longe dele por um tempo.
Meu pai é a pessoa que mais admiro nessa vida, Henry
batalhou muito para construir sua carreira e a empresa da nossa
família, é um advogado incrível e renomado, e um pai dedicado.
Não tenho do que reclamar, sou filho único e sempre tive o
apoio dele e da minha mãe para tudo o que quis fazer.
Quando decidi aprender a tocar violão para chamar a atenção
das meninas, minha mãe encontrou o melhor professor da cidade e
meu pai me deu meu primeiro violão, eles ouviram o desastroso
processo de aprendizado, até que finalmente comecei a tirar
algumas músicas com mais desenvoltura.
O skate foi outro presente dele, que segurou a mão do
Leonardo de seis anos até que criei confiança suficiente para soltá-
lo, meu pai assistiu diversos tombos meus, e me socorreu em todos,
garantindo que eu estava bem.
Apesar de trabalhar longas horas no escritório, e ficar um bom
tempo fora de casa, meu pai sempre esteve presente nos momentos
importantes, e também nunca chegou atrasado para jantar.
Minha mãe era professora na minha escola e mantinha a casa
em ordem, seu único pedido era ter um tempo todos os dias com a
família, e isso era no jantar. Nem sempre ela cozinhava, de vez em
quando pedíamos uma pizza ou meu pai trazia hambúrgueres da
rua, mas a regra era comermos juntos e conversar sobre o dia.
No momento em que estaciono em frente à casa dos meus
pais, no condomínio residencial de classe alta, vejo minha mãe abrir
a porta.
Clara Rausing tem o semblante mais calmo e acolhedor que
alguém pode ter, com 1,55m de altura, cabelos loiros bem cuidados,
cinquenta anos e um corpo em forma devido às tantas aulas de
pilates que ela faz, minha mãe é uma senhora conservada.
Ela parou de lecionar na escola há algum tempo e agora se
dedica à aulas particulares de reforço para algumas crianças.
— Esqueceu que tem casa, é? — pergunta ao abrir os braços
e me receber em um abraço apertado. — Que saudade, meu filho.
— Oi, mãe — respondo e me abaixo para que ela me dê um
beijo no rosto. — Para de drama, não faz tanto tempo assim que
estive aqui.
— Quase um mês, garoto.
— Mentira — retruco para provocá-la e recebo seu olhar de
aviso, então abro meu melhor sorriso e aperto minha mãe em um
abraço de urso até que ela peça para parar.
— Vem, teu pai resolveu fazer um churrasco lá atrás, achei
que a Gabi vinha com você.
— Não, os pais dela passaram lá, eles vêm aqui depois?
— Devem estar chegando, decidimos comemorar que
finalmente nossas crianças vão começar a trabalhar.
Isso é outra tradição aqui em casa, tudo o que acontece é
comemorado.
— Não somos mais crianças — respondo e recebo um belo
tapa no braço.
— Vão ser sempre nossas crianças, sim, e se não parar de
perturbar, no dia do seu casamento vou usar essa mesma
expressão em meu discurso.
Ela caminha decidida em minha frente até chegarmos aos
fundos da casa. O quintal tem uma área de festas bem planejada
para pequenos eventos, assim como a piscina e a quadra de tênis,
mais adiante.
Vejo meu pai ao lado da churrasqueira, tentando acender o
fogo, ele está com um calção branco, camiseta azul clara e
havaianas brancas nos pés.
— Henry, eu te falei para pôr outra roupa se fosse lidar com
fogo, vai manchar outro calção — minha mãe repreende, então ele
se vira com um sorriso bobo no rosto.
— Desculpa, amor, peguei o primeiro que vi — responde
quando nos aproximamos. — Bom dia, meu filho, será que pode me
ajudar aqui?
— Claro, pai — Largo meu celular e as chaves em cima da
mesa e começo a organizar o fogo. — É melhor trocar de roupa ou
ela vai realmente te matar dessa vez — comento e aponto para
minha mãe, que parou com as mãos na cintura e o olhar fixado no
calção branco do meu pai.
— Já vou, já vou — ele sai e sorrio quando escuto os dois
discutindo até o andar de cima, não é bem uma briga,
especialmente quando é só minha mãe quem fala, da boca do meu
pai só sai “sim, meu amor” e “desculpa, coração”.
Pouco depois a Gabi chega com seus pais, Richard e Mara
Willians, que me abraçam, felizes pelo estágio. De canto de olho
vejo que minha amiga parece querer conversar, então vamos até
meu antigo quarto.
O local ainda tem os pôsteres das minhas bandas favoritas da
época em que eu era roqueiro, que vão do Kiss aos The Rolling
Stones e aos Beatles, hoje já não sou tão seletivo e escuto o que a
galera quiser. Também tenho várias fotos de momentos especiais,
que pendurei em um grande quadro de memórias.
Os troféus de competições escolares estão dispostos na
prateleira juntamente com minha coleção de carrinhos hotweels.
Gabi se joga na cama com os braços abertos e respira fundo,
chamando minha atenção. Ela está com um vestido florido rosa e
botinas pretas, seu estilo favorito para irritar sua mãe, que vive
enchendo o saco para que ela se vista mais “como uma menina”.
— Como foi com teus pais? — pergunto, sabendo que é sobre
isso que ela quer conversar.
— Então, ontem meu pai disse que fui aceita no estágio, assim
como você. A gente teve uma pequena conversa e, sei lá, pensei
que ele estava orgulhoso de mim, sabe.
— E o que mudou? — indago, já que ela estava muito feliz
com a notícia.
— Minha mãe — sua voz adquire aquele tom triste que sempre
usa quando fala sobre ela. — Ela não quer que eu trabalhe ainda.
— Não entendo, você está no último ano da faculdade,
logicamente quando se formar vai começar a trabalhar, porque
postergar tanto o inevitável?
— Acho que ela ainda sonha que eu vá encontrar um homem,
me apaixonar, casar, e viver como dona de casa, assim como ela —
Gabi desabafa e seu semblante fica ainda mais triste. — Não que
tenha algo de errado nisso, só não é o que quero para a minha vida.
Jogo-me do seu lado na cama e ficamos olhando o teto do
quarto por um tempo.
— Eu estava feliz ontem, meu pai parecia orgulhoso, pela
primeira vez achei que estava me reconhecendo, sabe? Aí minha
mãe passou a manhã toda no meu ouvido, falando sobre tudo o que
pode dar errado na minha vida, que eu não vou ter tempo para
nada, que estudar não é tudo, que eu deveria focar na minha vida
pessoal e me cuidar mais.
— Não sei como te ajudar — digo, me sentindo um inútil.
— Não tem nada para fazer, eu tenho que parar de criar
expectativas com ela, que algum dia minha mãe vá me aceitar por
quem eu sou. Acredita que ela viu a ruiva saindo do meu quarto hoje
de manhã e perguntou quem era a “minha amiga”?
Ela faz aspas com as mãos.
— Não acredito, e o que você respondeu?
— Disse que era minha namorada — fala e solta uma
gargalhada. — Juro que vi minha mãe desencarnar na minha frente
por um momento, ela ficou ainda mais branca do que já é, achei que
teria um ataque do coração bem ali.
— Você é malvada.
— Não, ela mereceu. Depois falei que era brincadeira, porque
fiquei com medo do meu pai querer me punir e cancelar o estágio,
então tive que ouvir um pequeno sermão sobre tratar a vida com
mais seriedade, e blá, blá, blá...
— Se fosse ajudar em alguma coisa, eu fingiria que a gente
namora só para tirar tua mãe do teu pé, mas acho que seria pior.
— Nem brinca, Léo, ela nos obrigaria a casar no dia da
formatura, só para não dar escapatória.
Rimos com a ideia, Gabi é minha melhor amiga há tanto tempo
que essa não é a primeira vez que brincamos sobre isso, seus pais
moram no mesmo condomínio e vivíamos juntos.
Aprontamos mais do que deveríamos nos orgulhar enquanto
crescíamos, mas nunca vi minha amiga com outros olhos. Ela
sempre foi a Gabi, minha confidente, aquela que entende o que
estou sentindo antes mesmo de eu saber.
E, apesar dela ficar com mais garotas, Gabi é bissexual. Por
isso, quando ela contou para seus pais, teve que explicar que ela
sente atração por homens e mulheres.
Claro que Mara resolveu ignorar esse fato, até hoje ela não
aceita que Gabi se relacione com outras meninas. Mesmo minha
amiga tendo apresentado várias namoradas à família durante os
anos.
— Não sei como te ajudar, Gabi, mas vamos nos concentrar
nesse maldito estágio — falo e respiro fundo.
— Às vezes quero te bater, sabia? — A loira me fuzila com o
olhar. — Queria trocar de família contigo.
— Desculpa, é que eu só queria terminar a faculdade em paz,
sabe? Não sei porque, mas tenho essa sensação de que assim que
entrar naquele escritório, minha vida vai acabar.
— Você é tão dramático, Léo! — Gabi se vira e ficamos de
frente um para o outro — Sempre foi resistente à mudanças, mas
vai ser bom, eu tenho certeza disso. E pensa pelo lado positivo,
vamos sofrer juntos como escravos na empresa dos nossos pais.
Solto uma gargalhada com sua tirada.
— Não te contei a melhor parte, né? — Ela me olha, curiosa.
— Meu pai me proibiu de falar que sou filho do dono. Como uso o
sobrenome da minha mãe em tudo, ele disse que posso continuar
assim e passar por um estagiário normal.
— Bem feito. — Gabi me surpreende ao apoiar meu pai.
— Como assim? Achei que ficaria do meu lado.
— Sempre te disse que era ridículo você esconder seu
sobrenome das pessoas, poxa, Léo, parece que tem vergonha do
teu pai.
— Não é isso, só não quero conquistar as coisas só porque
sou filho de Henry Rausing.
— Corta essa. — Gabi levanta e coloca as mãos na cintura,
sua face muda de descontraída para séria e o nariz arrebitado
começa a ficar vermelho conforme ela se irrita. — A gente é
privilegiado sim, e é uma merda às vezes, mas você sabe quantos
colegas gostariam de estar na nossa pele? Pensa bem, Léo, olha as
oportunidades que você teve na vida por causa do esforço dos teus
pais, eu entendo o tio Henry ficar magoado contigo.
— Eu sei disso, Gabi, tô ligado nos meus privilégios, só não
quero me escorar neles a vida toda.
— Falou o homem branco, de classe média, de olhos azuis,
hetero e gostoso. Você já nasceu assim e vai ter privilégios a vida
toda por causa disso.
Realmente preciso ouvir essas verdades, respiro fundo e não
contesto o que ela disse, Gabi é a voz da razão quando preciso, a
diabinha está sempre certa e consegue abrir meus olhos quando
falo merda.
— Acho que só to reclamando por medo — confesso
finalmente o que vem me atormentando. — E se eu não conseguir
dar conta?
— É isso, então? Está duvidando de si mesmo.
— Não me sinto preparado — revelo e fecho os olhos, sem
coragem de encarar minha amiga.
— Ninguém está, a gente vai aprendendo aos poucos — Gabi
fala com calma e carinho na voz. — Eu também tenho medo, afinal
nossos pais são foda, às vezes fico pensando se algum dia vou ser
tão boa quanto eles, mas aí eu lembro que eles também começaram
de algum lugar, e nós estamos nessa parte, no começo.
— Queria ter essa visão positiva e confiante da vida.
— É por isso que somos amigos, você é o Grumpy e eu a
Sunshine!
Ela brinca com uma trope de livros que é a sua preferida,
Grumpy/Sunshine significa que um dos personagens é mal-
humorado e o outro mais alegre.
No nosso caso eu sou o descrente e ela é a confiante.
Acho que nos enquadramos nisso também.
— Não sou mal-humorado — defendo-me.
— Mas é negativo. Caramba, Léo, a melhor característica do
homem hetero é ter uma autoestima inflada, coloca esse superpoder
em jogo.
Solto uma gargalhada e ela me acompanha.
— Bem, eu confesso que sou um grande gostoso — brinco e
flexiono os músculos dos braços.
— Isso aí, já é um começo. Agora vamos descer, senão minha
mãe vai criar ainda mais expectativas de que estamos dando uns
pegas no teu quarto.
Levanto rápido e puxo minha amiga para um abraço apertado.
— Obrigado, Gabi.
— Para com isso, está todo grudento e sentimental hoje — ela
reclama, mas responde meu abraço. — Você demorou para voltar
para casa ontem. Pegou alguém?
— Nem te conto — falo e ela sorri, já sabendo que vem história
por aí.
CAPÍTULO 8
Marina
Ela é o sol e seu amor é ultravioleta
Sua presença causa impacto tipo um cometa
Despida de vaidade, carrega simplicidade
Descarta futilidade, fiel a sua verdade
Eu nunca vi igual, nem nunca vou ver
Tão doce e independente, ela gosta de viver
Com aquela malandragem que a Cássia sempre quis
E eu só peço a Deus essa mulher pra eu ser feliz
Ela tem o dom — Tritom

Passei o domingo fazendo tarefas da pós e estudando.


Consegui adiantar algumas coisas da semana e isso foi
maravilhoso, porque o trabalho vai ser corrido e não gosto de deixar
nada atrasar.
No fim do dia fiz uma boa faxina, eu amo meu apartamento, é
bem pequeno e aconchegante: tem um quarto, um banheiro, sala e
cozinha integrados, e é isso.
Não preciso de mais nada, tem espaço para meus livros e
algumas plantas, que entram aqui para morrer, já que sou uma
péssima mãe de planta e esqueço de dar água, nem parece que vim
do interior.
Carina, inclusive, me deu algumas que são de plástico só para
alegrar o ambiente mesmo.
Essas continuam “vivas”.
Já as outras, coitadas.
Comprei o apartamento e o carro depois que meu pai morreu,
dois anos atrás, em um incêndio na empresa em que ele trabalhava.
Outros nove funcionários também perderam a vida e no inquérito foi
descoberto que a empresa estava com a licença de funcionamento
suspensa, não havia feito vistoria dos bombeiros há anos e não
estava dentro das normas.
Foi terrível, ainda mais porque conhecíamos o dono. Meu pai
já tinha seus setenta anos, mas era um homem forte e trabalhador.
Minha mãe ficou desolada, ela mora em uma pequena cidade
no interior de Santa Catarina chamada Descanso, tentei convencê-
la a vir morar comigo depois que meu pai se foi, mas ela se recusou.
Eu nasci de surpresa, minha mãe já tinha 44 anos e achou que
não poderia engravidar, eles passaram anos tentando e nunca
conseguiram, então quando ela menos esperava, eu cheguei.
Meus pais me deram amor e uma boa educação, e é tudo o
que uma criança pode pedir. Tive uma infância feliz e livre na casa
de madeira em que minha mãe ainda mora, nunca fui obrigada a
trabalhar na lavoura, meus pais priorizaram meus estudos.
Minha mãe pagou um curso de inglês na cidade vizinha e um
pré-vestibular para que eu conseguisse entrar na faculdade com
bolsa integral. Sempre fui estudiosa, gostava de ler muito mais do
que correr rua ou assistir TV, não tive muitos amigos quando
criança, mas sempre fui muito ligada às minhas primas e familiares.
Minha melhor amiga de infância é Rosane, e mantemos
contato até hoje. Ela ainda mora lá com seu namorado, acredito que
logo irão casar.
Depois do enterro do meu pai, as famílias das outras vítimas
resolveram se reunir e processar a empresa, nós aceitamos nos
juntar e, depois de um processo cansativo, recebemos uma grande
quantia de dinheiro.
Nada compensa a vida que perdemos, sinto a falta dele todos
os dias, meu pai foi um homem gentil, carinhoso e sempre tinha
uma palavra de conforto ou uma xícara de café.
Aliás, é culpa dele que sou viciada.
Depois da faxina resolvi dar uma corrida no parque, poderia ter
ido até a academia, mas não queria correr o risco de encontrar o
Marcos, está muito cedo ainda e ele me mandou mensagem durante
o final de semana.
Não entendo, de verdade mesmo, porque isso acontece
comigo.
Sou transparente desde o primeiro momento, deixo as cartas
na mesa e aviso que é só sexo, eu não me envolvo com ninguém.
Não tenho relacionamentos.
Não tenho encontros.
Não vou dormir abraçada e acordar tarde.
Pelo simples motivo de que não quero, meu tempo é muito
bem dividido entre o trabalho e a pós, isso significa sim que minha
vida profissional é prioridade, ponto!
Não é difícil de entender, sou feliz quando trabalho, me sinto
realizada com cada conquista, e sou uma grande profissional,
mesmo que minha carreira ainda esteja decolando, sei que estou no
caminho certo, mas para que isso continue, preciso investir meu
tempo e energia em uma coisa só, sem distrações desnecessárias.
Algumas horas por semana para transar enlouquecidamente, é
isso que eu tenho para oferecer.
Nada mais.
E sei que não é suficiente para manter uma relação amorosa.
Ninguém deveria aceitar migalhas, e é só isso que tenho a
oferecer neste momento.
Até quando vai ser assim? Quem sabe?
Minha única certeza é que agora todo o meu foco e energia
são direcionados à minha carreira, e nada mais.
Sou uma péssima amiga, não mando mensagens todos os
dias, não fico checando se a pessoa está bem ou não, e meus
amigos sabem disso e não me cobram, mas um namorado é
diferente.
É com pura consciência deste fato que, quando vejo que a
outra pessoa está criando sentimentos, corto contato.
Marcos é um homem lindo, querido, tem um bom papo e
transa bem, quando eu disse que seria só sexo, um pau amigo, o
moreno ficou animado.
Foi legal por quase três meses, sem cobranças, e com muito
tesão, a gente se encontrava muito na academia, transava no
chuveiro, se não tinha ninguém, ou na sala dele. Eram aquelas
rapidinhas gostosas e suadas, um final de treino perfeito.
Dez quilômetros de esteira e um orgasmo é o segredo para
manter a saúde física e mental.
Entretanto, quando começou a me convidar para ir na casa
dele as coisas mudaram, ele sempre queria ver um filme e pedir
comida depois do sexo, me convidava para ficar lá, dormir com ele,
depois vieram as indiretas sobre sair ou viajar juntos.
E bem, você sabe como terminou.
Depois da corrida tomo um bom banho, peço comida chinesa e
pego o livro que estava lendo no kindle para relaxar, o escolhido da
vez é um Romance Dark de máfia que tem me conquistado, o nome
do livro é Giordano, da Carina Reis.
Essa sabe escrever uma putaria bem construída, quando
quero tirar a cabeça dos artigos e leis que estudo todos os dias, me
jogo em um bom romance e sempre funciona.
Ainda mais quando posso fantasiar com certos mafiosos
grandes e gostosos.
Eu amo filmes e séries também, mas não tenho muito tempo
para assistir, é à noite, antes de dormir, que tiro um momento para
isso, ou nos raros casos que preciso descansar a mente no meio do
dia e assisto alguma coisa enquanto almoço na minha mesa. Depois
que terminei The Witcher não comecei seriado novo ainda.
Antes de dormir dou uma olhada nas redes sociais, não uso
muito, minha página do Instagram está lá só para colocar algumas
fotos das poucas viagens que já fiz, algumas com meus pais e
outros momentos com os amigos.
Vi que Carina me marcou em uma foto da noite passada, por
sorte foi no começo da noite, antes do álcool fazer efeito, ontem
aceitei a marcação e já estou arrependida.
Droga, já tenho mais de vinte solicitações de amizade. Carina
é o que chamam de influencer nas redes sociais, ela tem milhões de
seguidores, toda a vida dela está espalhada pelas suas redes.
Não tenho paciência para isso, e já falei que não tenho tempo?
Pois é, recuso todas as solicitações e tiro a marcação da foto, não
preciso de ninguém sabendo sobre minha vida, e também não estou
a fim de receber as famosas fotos de pau.
Alguns minutos depois recebo uma mensagem.
Carina: Ô vagabunda, por que tirou a marcação da foto? Tem
vergonha da gente, é?
Marina: Você é famosa demais, amiga, já tinha um monte de
solicitações aqui, sabe que não gosto.
Carina: Agora eles estão perguntando nos comentários quem
é a morena de vermelho.
Marina: Não me importo, só estava cansada de recusar
solicitações.
Carina: Mudando de assunto, porque saiu daquela forma de
lá? Se queria ir embora era só ter falado.
Marina: Amiga, eu não fui embora, desci para ir ao banheiro,
mas alguém esbarrou em mim e quase caí no chão, por sorte um
loiro gostoso me segurou...
Carina: LOIRO GOSTOSO, É?
Marina: Então, ele me salvou do tombo e da fila do banheiro,
que estava enorme.
Carina: Como assim?
Penso em contar sobre o acidente em que eu o atropelei de
carro pela manhã — ou que ele atropelou meu carro com o skate —,
mas resolvo deixar isso de lado e só relatar o que aconteceu na
balada.
Marina: O loiro conhecia o dono, que é o seu chefe e me
deixou usar o banheiro do escritório.
Carina: A-ham, aí o banheiro te manteve refém por mais de
uma hora?
Marina: O banheiro não, mas o sofá do escritório e o loiro
gostoso, sim.
Carina: SUA SAFADA, VOCÊ PEGOU OS DOIS?
Solto uma gargalhada com a mensagem dela, se bem que não
seria nada ruim ter dois homens para mim, porém não sei se
aguentaria.
Marina: Não, você tá louca? Quando sai do banheiro o dono
não estava mais lá, tinha um sofá muito chamativo e eu e o loiro
sentamos para conversar um pouco.
Carina: Você transou com ele, né?
Marina: Eu contei das tatuagens nos braços?
Carina: Amiga, tem que parar com essa tara por tatuados.
Marina: É meu fraco, mas o pior foram as covinhas no rosto,
ele tinha COVINHAS! Nunca vou superar.
Carina: HAHAHAHAHA você não vai superar? Conta outra!
Aposto que não lembra nem o nome dele.
Marina: Claro que lembro!
Puta que pariu eu não lembro do nome dele!
Que droga, venho pensando no homem como loiro gostoso,
consigo descrever aquelas tatuagens nos braços com detalhes, e
posso jurar que tem mais naquele corpo, se tivesse tirado a
camiseta dele...
NOME, EU NÃO LEMBRO O NOME!
Carina: E qual é o nome dele?
Droga, preciso inventar alguma coisa, porque diabos quando
preciso de um nome não consigo pensar em nada. Pensa Marina,
nome masculino...Já sei!
Marina: Gerald, o nome dele era Gerald.
Sério que este foi o primeiro nome que veio na minha mente?
O bruxão gostoso e loiro interpretado pelo Henry Cavil
aparentemente deixou uma marca no meu cérebro.
Carina: Credo, que nome de velho, você pegou um Sugar
Daddy, foi?
Marina: Não, ele era novinho, inclusive está na faculdade
ainda.
Carina: Virou papa anjo agora?
Marina: De anjo o loiro não tinha nada (emoticon de diabinho).
Carina: Sua safada, pelo menos pegou o Instagram dele ou
algo assim?
Marina: Claro que não, foi uma transa de balada, eu estava
com tesão, ele disposto a me comer, só isso.
Carina: Você é minha inspiração, amiga, quero ser tão
desapegada assim algum dia.
Só pelo tom da mensagem sei que ela quer conversar, olho
para o relógio, já são 10 horas da noite, em um dia normal eu já
estaria dormindo.
Sim, como uma senhora de 83 anos.
Só que minha amiga acabou de passar por um término de
namoro conturbado, devido a essa grande exposição nas redes ela
vem aguentando tudo e fingindo estar bem, quando sei que está
quebrada.
Marina: Como você está?
Carina: Não sei, Maurício estava lá ontem, eu o vi na pista
quando entramos, estava beijando outra mulher, ele já até seguiu
em frente.
Marina: Poxa, amiga, porque não me falou nada? A gente
poderia ter ido em outro lugar.
Carina: E perder uma festa daquelas? Não, eu vou superar.
Só é difícil saber que acabou mesmo, sabe, a gente ficou junto por
quase dois anos.
Marina: Eu imagino.
Não sei o que falar, então deixo que ela desabafe, eu nunca
tive um namorado ou me apaixonei por alguém, pensando bem, em
todos os meus 26 anos, meu coração não foi quebrado ou
machucado.
Ser fechada para o amor tem suas vantagens.
CAPÍTULO 9
Marina
Ela queima o arroz
Quebra copo na pia
Tropeça no sofá, machuca o dedinho
E a culpa ainda é minha
Ela ronca demais
Mancha as minhas camisas
Dá até medo de olhar
Quando ela tá naqueles dias
Propaganda — Jorge e Mateus

No momento em que o despertador me acorda às 5h30 da


manhã, me arrependo de ter ficado até a meia-noite falando com
Carina, meus olhos demoram a realmente abrir, e quando o fazem,
já querem fechar de novo.
Quase volto a dormir, mas lembro que tenho uma reunião com
os sócios proprietários as 7h30, levanto me arrastando e coloco
uma música para animar, tomo um banho rápido, sem lavar o cabelo
— já lavei no sábado —, hoje só vou erguer um coque e pronto.
Também decido usar as lentes de contato ao invés dos óculos de
armação.
Coloco a roupa que já estava separada e preparo um café,
finalmente sentindo meu corpo acordar.
— Santa cafeína — falo comigo mesma enquanto tomo o
primeiro gole e pego meu salto para sair, mas como um castigo
divino, bato o dedo mindinho na quina do sofá. No susto a xícara cai
da minha mão, se espatifa no chão e respinga na minha sala inteira,
e nas minhas calças, que por sinal são cinza claro. — Caralho —
solto o primeiro de muitos xingamentos enquanto avalio o desastre.
Não vou ter tempo de limpar a sala, já são quase 7 horas e
preciso sair logo ou vou me atrasar, então só troco de calça, limpo
meus pés antes de pôr outro salto alto e finjo não ver que meu lindo
tapete branco agora tem uma grande mancha escura, e que isso
provavelmente não vai sair, já que não tenho tempo para recolher e
levar na lavanderia antes de ir trabalhar.
Droga, que inicio de semana bom, hein? Pelo menos não pode
piorar! Mas como desastre bom nunca vem sozinho, assim que
tento ligar meu carro, ele não dá sinal de vida.
O escritório fica a três quadras daqui, mas se eu for
caminhando, chegarei toda suada, e ainda estou cheia de
documentos para carregar, mais a pasta do notebook.
Resolvo chamar uma carona de aplicativo, por sorte é uma
mulher que chega logo, seu semblante não é dos melhores, visto
que aceitou uma corrida de três quarteirões, mas dou uma gorjeta a
ela quando paramos em frente ao prédio do escritório.
Antes de descer sinto uma cólica e meu estômago resolve
roncar, já que não comi nada em casa. Droga, eu preciso de café e
comer alguma coisa.
Como não vejo nenhum dos vigias e a recepcionista ainda não
chegou, passo meu cartão e corro para o elevador. O plano era
deixar as coisas em minha sala e depois subir para a reunião, como
ainda tenho quinze minutos, respiro fundo e me acalmo, afinal estou
adiantada.
Claramente alguém só pode ter ouvido meus pensamentos,
porque o elevador decide travar entre o segundo e o terceiro andar.
— Não, não, não, por favor, não faça isso comigo —
praticamente imploro para a caixa de metal, sabendo que de nada
adianta.
Aperto o botão de emergência, mas nada acontece, então
começo a apertar todos os andares, em uma tentativa ridícula de
consertar o elevador e fazê-lo subir.
Vai que provocando uma pane no painel o sistema volte a
funcionar?
Não tenho sorte, levam mais de cinco minutos de puro
desespero para que a caixa resolva voltar a trabalhar, e como fui
esperta e apertei todos os andares, ele para em cada um deles até
chegar no meu.
A essa hora já estou suando e mais nervosa do que deveria,
tenho certeza que meu cabelo não está mais tão perfeito quanto
antes, mas é isso o que temos para hoje.
Corro até a minha sala, deixo tudo o que não vou precisar em
cima da minha mesa, olho para minha máquina de café com
tristeza, ela parece olhar para mim também, em uma comunicação
unilateral. Digo mentalmente que logo estarei de volta, para ela me
esperar e salvar este dia. Já que foi uma xicara de café que causou
o alvoroço, nada mais justo que seja outra que o resolva.
Fora que meu nível de cafeína está baixíssimo, visto que tomei
só um gole antes de derrubar tudo.
Eu quero café!
Preciso de café!
Quando saio correndo da minha sala, Regina já está em sua
mesa e me cumprimenta com sua cara de cansada de sempre, a
secretária não é a melhor pessoa antes das 10 h da manhã.
Consigo pegar o outro elevador, sem querer dar mais chance
ao azar e entrar na mesma caixa que deu problemas antes, então
subo até o último andar. Em uma vã tentativa de deixar minha
aparência melhor, respiro fundo e coloco alguns fios do cabelo de
volta no lugar, limpo um pouco da maquiagem que borrou em meu
olho e desamasso a blusa preta.
Respiro fundo mais algumas vezes, para diminuir a velocidade
com que meu coração pula no peito, devido a correria até aqui.
— Pelo menos minhas bochechas estão vermelhas e pareço
saudável — falo para mim mesma, tentando pensar em algo
positivo. — Vai dar tudo certo, é só uma reunião com os sócios
proprietários, donos da empresa e as pessoas que têm meu sonho
nas mãos.
Não sei porque sempre fico apreensiva quando tenho reuniões
com os chefes.
A cada andar que o elevador sobe e ninguém entra, respiro
aliviada. Foram poucas vezes que tive reunião com os chefes, uma
porque são advogados criminais e delegam o setor em que trabalho
aos sócios, outra porque eles realmente não se envolvem muito com
os advogados mais jovens.
Henry Rausing e Richard Willians são tubarões em sua área,
incrivelmente inteligentes e afiados, têm contatos pela cidade toda e
são os primeiros a serem chamados quando uma celebridade ou
cliente VIP entra em apuros com a justiça.
Eles não estão nem aí para casos pequenos como os que eu
trabalho, a área da família não é o foco, ainda mais divórcios.
A secretária me recebe com um sorriso assim que passo pela
recepção, tão diferente dos andares de baixo, aqui é tudo grande e
luxuoso.
— Senhorita Lucca, por favor siga até a sala de reuniões à sua
esquerda. — Não consigo ler seu nome no crachá, mas a ruiva
simpática aponta para uma porta e sigo até lá, mas antes que eu
entre, sinto uma mão em meu braço, é a secretária. — Senhorita,
não sei como falar isso, mas tem uma mancha escura atrás da sua
calça.
Olho para ela sem entender, então aponta para a própria
bunda e, em uma troca de pensamentos como só nós mulheres
conseguimos fazer, entendo a desgraça que aconteceu.
Minha calça é branca.
Eu estava com cólica.
Já ligou os pontos? Pois é, eu também.
— Está muito ruim? — Viro-me um pouco mais para ela
avaliar, e sua expressão é a única resposta que preciso. — Droga,
droga, droga.
— Calma, que número você usa? — a ruiva questiona.
— De 38 a 40, depende.
— Usamos o mesmo tamanho, vem comigo. — Ela pega a
minha mão e praticamente me arrasta para o banheiro.
— Não vou conseguir lavar isso e a reunião vai começar daqui
a pouco. — Começo a me desesperar.
— Henry ainda não chegou, ele avisou que vai se atrasar,
então temos alguns minutos — ela fala e fico um pouco mais
aliviada. — Troca de calça comigo, eu só fico sentada mesmo,
depois que sua reunião acabar a gente resolve.
Eu poderia beijá-la aqui e agora de tão feliz que fico pela sua
ajuda.
— Você só pode ser um anjo — digo enquanto tiramos as
calças e trocamos, a minha fica um pouco comprida para ela, mas
atrás da mesa ninguém vai realmente ver.
Ela me entrega um absorvente e faço o melhor para limpar a
calcinha manchada, mas não tem muito o que fazer, então coloco
sua calça, que por sorte é preta e fica um pouco mais curta nas
canelas, mas serve na cintura.
— Perfeita, agora preciso voltar — ela avisa e sorri
encorajadora para mim.
— Obrigada... — Olho para o crachá e leio seu nome —
Melinda, você me salvou, estou te devendo no mínimo um almoço, o
que acha?
— Perfeito, saio ao meio-dia, podemos comer algo no
restaurante da esquina. — Ela aceita antes de sair.
Espero um pouco no banheiro e aproveito para me recompor,
vou precisar comprar uma calça e calcinhas depois da reunião e
comprar uma para Melinda também.
Quando entro na sala os homens já estão sentados, e sim são
todos homens, das dez pessoas na sala, nem uma mulher além de
mim.
Cumprimento a todos cordialmente e sento-me ao lado de
Carlos Ricci. O moreno de 1,80m de altura, olhos azuis e barba
perfeitamente alinhada com o cabelo escuro é a última pessoa que
eu queria encontrar hoje.
Carlos é o estereótipo do filhinho de papai, que vem de família
rica, teve privilégios a vida toda e fez uso de todos eles para passar
por cima das outras pessoas.
Ele entrou na empresa por que seu pai é um grande
empresário que conhece os sócios proprietários e conseguiu um
lugar aqui para o filho, sem que ele sequer precisasse passar por
um estágio ou trabalhar para conquistar uma promoção. Carlos já
entrou como advogado júnior, mesmo sem experiência nenhuma.
Eu tive que começar lá de baixo, assim como todos os outros
colegas aqui presentes. Nós sabemos o que é trabalhar para
merecer uma promoção, se ferrar com casos ruins e chorar no
banheiro por estar tão cansado de tanto trabalhar que seu corpo
simplesmente se desliga.
Somos em nove advogados juniores que trabalham em
diversos setores, por um castigo divino, o maldito do Carlos é meu
colega no setor familiar, com isso acabamos tendo uma pequena
competição.
— Bom dia, Marina, cresceu durante a noite? — Ele fala em
tom de deboche e aponta para minha canela, onde a calça subiu
quando me sentei.
— Por que não presta atenção na reunião, ao invés de ficar
reparando na minha roupa?
— Nossa, tem alguém de mal humor hoje — comenta mais alto
para que os outros escutem. — Está naqueles dias?
Eu posso dar um tapa na cara do maldito sem perder meu
emprego?
Não.
Mas valeria a pena ser mandada para o olho da rua por isso?
Sim.
Ele tem a sorte de Henry Rausing entrar neste exato momento,
porque se esperasse mais um minuto sequer, estaria com uma
tatuagem dos meus cinco dedos bem no meio da sua cara.
Carlos sabe que conseguiu me atingir, porque abre um
sorrisinho debochado no rosto, vangloriando-se do fato que acabou
de ser um machista escroto e vai sair impune disso.
Sabe por quê? Sou a única na sala que entende o quão
problemático é a fala desse desgraçado.
Os outros homens provavelmente estão rindo e concordando
com ele, afinal, uma mulher não aceitar suas brincadeiras ridículas e
responder como ele merece só pode ser lido como sinal de que ela
está irritada, portanto, de TPM.
Porque na cabeça de alguns homens, somente uma alteração
hormonal é motivo para deixar uma mulher irritada assim, eles não
consideram que geralmente são eles o maior motivo de ficarmos
putas e querermos cometer um assassinato.
A reunião começa logo que Richard se junta ao sócio na ponta
da mesa, eles discorrem sobre a importância do programa de
estágio e como isso pode trazer novos integrantes ao grupo.
Todos aqui sabem o quanto é benéfico este programa, afinal
participamos dele para entrar na empresa, menos Carlos, é claro,
por isso o maldito fica dando risada de canto enquanto os sócios
falam e não presta atenção.
Henry é quem conduz a reunião na maior parte do tempo e
antes da apresentação dos candidatos recebemos uma pasta com
informações sobre quem será designado a nós. Leio com apreensão
antes de abrir, sonhando que seja uma mulher.
No ano passado não tive estagiário, mas acompanhei a
seleção e, dos dez estudantes de direito, nenhum era mulher. Todos
homens, brancos, e devo acrescentar que somente dois deles eram
bolsistas na universidade.
Abro minha pasta e me seguro para não suspirar de decepção,
ainda não sei porque crio expectativas sobre essas coisas. Meu
estagiário é um estudante da PUC: Leonardo Franco, 22 anos, está
no último ano da universidade e não tem nenhuma experiência de
trabalho listada.
Nem sequer um trabalho de verão.
O nome não me parece estranho, só não consigo associar a
alguém que eu conheça.
Sem bolsa na universidade, mas parece um bom aluno, pelo
menos tem notas altas na maioria das matérias, do meu lado Carlos
abre um sorriso que chama minha atenção, então dou uma espiada
em sua pasta.
Não é possível, justamente ele recebeu uma estagiária.
Sinto pena da pobre mulher que terá que aguentá-lo todos os
dias por quase um ano e ainda fazer todo o serviço que ele não faz
porque se recusa a trabalhar mais do que as horas necessárias.
Carlos não faz hora extra, ele não leva os casos para casa
para estudar, e muito menos ajuda os colegas quando alguém
precisa. Ele faz somente o que é obrigado e é recompensado por
isso.
Só queria saber quanto ele ganha, estou há anos tentando
descobrir. Já que no papel estamos no mesmo cargo e temos as
mesmas responsabilidades, queria saber se recebemos a mesma
recompensação monetária.
— Lembrem-se que seus estagiários não são escravos, eles
estão aqui para aprender e vivenciar o dia-a-dia de um profissional
que atua na área que escolheram se formar, por isso sejam bons
mentores e lembrem-se que vocês já estiveram no lugar deles —
Henry encerra seu discurso.
— Só mais uma coisa, este ano minha filha está entre os
novos estagiários — Richard comenta e isso chama a atenção de
todos. — Não quero que ela seja tratada com favoritismo, só por ser
filha do chefe, apenas estejam avisados de que não será tolerada
nenhuma brincadeira ou falta de profissionalismo, e não falo
somente dela.
Bem, é normal um pai proteger sua filha, vejo que Carlos se
ajeita na cadeira, finalmente desconfortável e presumo que foi ele
quem ficou com a menina.
— Como política da empresa, o setor de RH nos pediu para
reforçar as regras sobre interações entre funcionários, lembrando
que é desencorajado o relacionamento afetivo entre os profissionais
dentro da empresa — Henry comunica seriamente. — Por lei não
podemos proibir, como vocês sabem, mas qualquer vínculo entre
funcionários da empresa deve ser comunicado ao RH.
O clima fica pesado e posso sentir todos os homens olhando
para baixo, não sei porque ficam tão desconfortáveis com o assunto,
é só não sair correndo atrás de cada mulher que encontram pela
frente.
Já somos minoria aqui dentro, as normas da empresa ajudam
a proteger as mulheres para que este bando de macho escroto não
fique nos atormentando enquanto tentamos trabalhar.
Não que funcione sempre, porque alguns não se importam,
mas em algum grau já ajuda, e fico feliz que foi reforçado aqui,
mesmo sabendo que é só pela filha do dono estar entre o grupo de
estagiários, já é alguma coisa.
Pergunto-me se quando entrei também falaram algo sobre isso
ou se ninguém se importou. Por sorte meu mentor foi maravilhoso
comigo e me ensinou muita coisa, foi uma pena que ele tenha saído
da empresa um tempo depois.
A porta da sala se abre e aos poucos os estudantes entram,
alguns confiantes demais, outros tremendo de nervosismo, os
ternos que não parecem ter sido usados antes me lembram o filme
do poderoso chefinho.
A única mulher no grupo é a penúltima a entrar, a loira anda
confiante em um salto alto, calça social escura, camisa branca de
botão e um blazer preto.
Vejo que todos os homens na sala fazem questão de olhar
para ela em algum momento, mas logo desviam o olhar ao lembrar
de quem é filha, apesar disso ela sorri, segura, e mantém uma
postura profissional.
Só queria ter a honra de ser sua mentora, que droga, porque
não poderiam ter posto as duas únicas mulheres juntas?
Então o último homem entra e meu coração para de bater por
um momento, sinto que perdi completamente a cor do rosto e meus
joelhos enfraquecem.
O loiro dono das covinhas mais fofas que já vi e olhos azuis da
cor do mar passa pela porta. Em um terno cinza escuro ele nem
parece ser um estudante, muito menos o moleque skatista que
atropelei no sábado, e menos ainda o gostoso tatuado com quem
transei enlouquecidamente na balada.
O destino gosta de tirar uma com a minha cara, porque bem
aqui na minha frente, com um terno que abraça perfeitamente seus
braços fortes e o deixa ainda mais atraente, ele ostenta um maldito
crachá pendurado com o nome Leonardo, o mesmo que na pasta do
meu novo estagiário.
CAPÍTULO 10
Leonardo
Menina mulher, que intimida atitude
De quem sabe o que quer, mesmo que o tempo mude
Ela é sol, é verão, é poema, é canção
Que alegra o meu coração
Morena, me encantei com o seu jeito de olhar
Paralisei o tempo só pra lembrar
Daquela cena que eu tirava a tua saia
E você beijava a minha boca
Morena — Vitor Kley, Bruno Martini

Vejo o exato momento em que ela coloca os olhos em mim, e


sei que me reconhece, também tenho certeza de que não estava
esperando me ver ali.
Bem, morena, eu também não esperava, mas que delicia de
surpresa. Pensei nela o tempo todo e já estava começando a
duvidar de que era tão bonita quanto nas minhas lembranças, mas
puta que pariu, Marina pessoalmente é ainda mais linda.
Especialmente com essa expressão assustada. Preciso me
controlar para não soltar uma gargalhada, então mantenho um
sorriso fechado.
Realmente achei que ela não poderia fica mais gostosa do que
naquele vestido vermelho, mas a advogada é encantadora. Roupa
social combina com ela e o cabelo preso garante a visão do
pescoço fino e delicado que beijei na outra noite.
Só essa lembrança traz de volta uma enxurrada de memórias
não apropriadas para o momento, especialmente porque se eu ficar
pensando naquele sofá vermelho, não vou controlar meu pau e será
no mínimo deselegante.
Por isso desvio o olhar e sento na última cadeira, de frente
para ela, que parece estar congelada no lugar. Ainda de pé, ela
demora para recuperar os sentidos e sentar, só então desvia o olhar
de mim e analisa alguns papéis em sua frente.
Meu pai começa a dar as boas-vindas aos estagiários, fala
algumas palavras, assim como tio Richard, então ele apresenta
cada um dos advogados juniores e seus setores. Todos são bem
receptivos e cordiais, menos um.
O homem sentado ao lado de Marina tem uma expressão de
deboche no rosto que chama minha atenção, ele faz algum
comentário para ela, tenho certeza que é algo ridículo, porque ela
revira os olhos e se afasta dele.
Só pela reação dela sei que o cara não vale nada.
Chega a vez de cada estagiário se apresentar e tenho a
sensação que estou de volta ao colégio, no primeiro dia de aula, e
preciso falar meu nome, idade e de qual cidade venho.
Bem, comparado aos advogados da sala, nós realmente
somos um bando de adolescentes tentando entrar na brincadeira
das crianças mais velhas.
Depois das apresentações os advogados leem o nome do seu
estagiário nos documentos em sua frente, que agora sei que são
fichas nossas, e provavelmente contêm nossas informações.
Marina fica cada vez mais nervosa, a cada nome chamado por
um de seus colegas, sinto alívio por não ser o meu, porque se tem
uma coisa que quero nesta vida, é que seja ela a me chamar. Por
favor, se um Deus existe, ou qualquer divindade, só peço isso e
serei feliz.
— Gabriela Willians — o homem ao lado de Marina anuncia o
nome da minha amiga, mas sua cara de deboche continua, mesmo
ele tentando disfarçar, já que tio Richard está na mesma sala.
Olho de lado e vejo que Gabi reage naturalmente e
cumprimenta seu mentor com um aceno discreto e um sorriso, mas
não estou satisfeito com ele, memorizo o nome do desgraçado,
Carlos Ricci, para sondar meu pai sobre ele.
Então sobrou só uma.
Marina é a última.
— Leonardo Franco. — Meu nome saindo da sua boca é como
um chamado, mesmo que sua voz tenha vacilado um pouco e ela
esteja nervosa, meu coração bate mais rápido no peito.
Quero te ouvir chamando meu nome mais vezes, morena, nem
que eu tenha que arrancar isso de você entre gemidos de prazer.
Se controla, Léo!
Mantenho o meio sorriso e aceno em concordância, mas
Marina não me olha diretamente, vejo que sua pele fica um pouco
vermelha, ela está se controlando para não demonstrar nervosismo.
— Com o tempo vocês irão conhecer melhor seus mentores e
a área em que atuam, espero que este período na empresa R&W
contribua positivamente na construção de suas carreiras. — Tio
Richard termina a reunião e todos começam a se levantar para sair.
Como estamos na ponta da mesa, Marina e eu somos os
primeiros a passar pela porta, ela me lança um olhar de
preocupação e a sigo para fora, sem uma única palavra.
Olho para Gabi atrás de mim, mas ela já foi falar com o pai,
que também chamou o debochado do Carlos, espero que Tio
Richard dê uma dura nele.
— Leonardo — Marina chama minha atenção quando
chegamos à recepção. — Tenho um assunto a resolver, mas você
pode descer até o 13º andar e esperar na minha sala.
Sua fala cordial e controlada me faz sorrir só de lembrar da
forma descontraída com que ela conversava na balada, mas decido
manter o seu jogo.
— Claro, Marina — falo e vou até o elevador, pegando a última
leva de pessoas. Antes das portas se fecharem, vejo Marina
conversando com a secretária do meu pai.
Ela me conhece, mas não vai falar que sou filho do dono, meu
pai a proibiu, e se tem uma coisa que as pessoas fazem quando
Henry Rausing ordena algo, é aceitar e seguir sem contestar.
A sala da Marina é a última deste andar, parece uma das
menores também, mas quando abro a porta vejo que tem uma vista
espetacular da cidade, assim como a do meu pai. Devem estar do
mesmo lado do prédio.
Faço uma pequena análise do ambiente, ela não tem muita
decoração, nem uma planta para dar vida ao lugar. Vejo um quadro
com seu diploma da PUC e outros certificados ao lado.
Na parede em frente à sua mesa tem uma foto emoldurada,
deve ser do dia da formatura do colegial, Marina está com aqueles
chapéus bregas e a roupa preta, segurando um canudo e com o
sorriso orgulhoso no rosto.
Ela parece mais nova do que alguém que acabou de se formar
no colegial, não tem data nem nada. Do seu lado um senhor já de
idade, com cabelo e barba brancos a abraça, o sorriso orgulhoso
estampado no rosto. Ele usa roupas simples e parece estar com os
olhos vermelhos, a senhorinha de cabelos brancos e sorriso largo
do outro lado também demonstra estar emocionada.
Não sei se são seus pais ou avós, mas a foto provoca uma
sensação boa no meu peito.
A Marina ali usa óculos grandes, ela não estava com eles na
balada. Tem sardas no rosto e o sorriso aberto expõe o aparelho
nos dentes. Pergunto-me, com que idade ela se formou?
Olho para o restante dos diplomas e vejo o da PUC, então faço
as contas e percebo que ela deve ter entrado na universidade dois
anos antes do normal.
A morena é uma prodígio, constato com orgulho, do pouco que
conversamos na balada pude perceber que ela é inteligente e ama o
que faz, mas a cada nova informação sobre Marina, percebo que
não estava enganado, ela é incrível.
Desvio a atenção para o restante da sala, não tem muita coisa
interessante, parece ter chegado às pressas de manhã, porque sua
bolsa e documentos estão fechados em cima da mesa.
Vejo a cafeteira do outro lado, é um modelo simples, com filtro
descartável, nada daquelas cápsulas mais modernas. Percebo que
está limpa e seca, o que deve significar que ela não fez café hoje.
De tudo o que sei sobre estagiários é que nosso papel
principal é pegar café para os mentores, se Marina tem sua própria
cafeteira dentro do seu escritório, é porque ela não gosta da bebida
servida na cozinha.
Encontro o filtro e o pó de café em uma gaveta no balcão
abaixo da cafeteira, é um extraforte, não faço a mínima ideia de
quantas colheres colocar.
Atrás da embalagem fala que para cada litro de água deve-se
usar de 4 a 5 colheres de sopa do pó, olho a jarra da máquina e
coloco 500 ml de água antes de despejar no lugar indicado.
Então retiro um filtro de papel, coloco 2 colheres de café e ligo
a cafeteira, mas quando ela começa a despejar água quente no
café, o líquido sai claro demais, alguma coisa não está certa.
Que droga, aquilo parece mais uma água suja do que
realmente algo tomável, então desligo da tomada, coloco mais 2
colheres de café no filtro, e volto a ligar.
Assim que vejo o líquido escuro cair na jarra, fico aliviado,
agora sim parece café.
Que droga, vou comprar uma cafeteira de cápsulas para ela, é
muito mais prático, além de poder variar os sabores. Eu
particularmente não sou fã de expresso, ou café puro assim, em
casa tomo chococino alpino, que é praticamente um leite com
chocolate.
Agora uma coisa que não tem como negar: o cheiro que fica
no ambiente é delicioso.
Procuro as xícaras no balcão, mas só encontro uma, e nada de
açúcar.
A falta de outras xícaras eu até entendo, ela não deve estar
acostumada a dividir o seu café, visto que tem uma máquina na
cozinha aqui do lado. Quando estava procurando o escritório de
Marina passei por lá. Agora, não ter açúcar é impossível.
Deve estar escondido em algum lugar, porque não é plausível
que alguém consiga beber café sem adoçar um pouco.
— Desculpe a demora. — Escuto a voz de Marina e levo um
susto, estava indo abrir as gavetas da sua mesa para procurar o
açúcar e sinto que fui pego no flagra, como uma criança. — O que
está fazendo aí?
— Procurando açúcar — respondo e até para mim parece uma
desculpa esfarrapada. — E uma outra xícara, só encontrei uma.
Aponto para a cafeteira que está no final do seu serviço.
— Eu não uso açúcar, mas se quiser pode pegar na cozinha —
ela responde sem manter meu olhar, mas ainda está parada na
porta de entrada. — Sobre a xícara, aqui está.
Só agora reparo que ela segura uma caixa nas mãos, que me
entrega, também percebo que trocou as calças, agora usa uma
cinza escura.
— O que é isso? — pergunto curioso.
— Comprei pela Amazon como presente para o estagiário,
mas demorou mais que o previsto a chegar — explica e só então
anda até a sua mesa.
— Obrigado — digo e abro a caixa, encontrando uma caneca
grande completamente preta, sem nada escrito. — Vou pegar
açúcar, já volto.
Caminho até a copa e lavo a caneca antes de colocar duas
colheres de chá bem cheias de açúcar, só para garantir, o líquido da
cafeteira estava bem escuro. Quando retorno Marina já está com
seu notebook e a mesa organizada, servindo uma xícara grande de
café, não é tamanho normal, é grande mesmo, tanto que ficou
menos da metade na jarra de 500 ml.
Faço o mesmo que ela, quando o liquido quente começa a
esquentar a xícara em minha mão, vejo que a cor vai mudando para
branco, então viro e na frente está escrito:
“Estagiário: Que a força esteja com você”
Embaixo, a figura do Mestre Yoda, de Star Wars.
Ela acabou de me dar uma caneca com a referência da melhor
franquia de filmes já feita?
Marina é fã de Star Wars?
Isso só pode ser alguma brincadeira, essa mulher não existe
realmente.
Então olho para a sua caneca e vejo que também mudou de
cor, devem ser essas tintas mágicas que aparecem com o calor, e é
uma maldita estrela da morte com o Darth Vader na frente e um
balão escrito:
“Você vai obedecer esta advogada por bem ou por mal.”
Tudo bem, já posso me jogar aos pés dela.
— Você pode usar o tablet da empresa, se precisar — ela abre
uma gaveta da sua mesa e me entrega uma pasta com o aparelho
dentro —, o escritório é pequeno, mas podemos dividir a mesa,
fique à vontade para trazer algum lanche, mas indico deixar dentro
da sala, a geladeira não é confiável.
Seu tom profissional e o olhar evasivo me deixam
desconfortável.
— Preciso saber em quais horários irá trabalhar, e quando for
época de provas, pode tirar o dia para estudar, porém peço que me
avise com antecedência nestes casos — explica enquanto senta em
sua cadeira, eu ainda estou de pé com minha xícara na mão,
olhando-a ficar cada vez mais nervosa. — Faremos um tour pelo
escritório depois do almoço, eu tenho uma reunião daqui a uma hora
e ainda preciso preparar o material.
— Marina, respira — corto sua fala e espero que erga sua
cabeça. Quando os lindos olhos castanhos encontram os meus,
sorrio e assisto ela ficar vermelha. — Não precisa ficar com
vergonha...
— Quem disse que estou com vergonha? — defende-se
rapidamente. — Só não esperava encontrar você aqui.
— Mas esperava me encontrar? — instigo.
— Não — responde seriamente. — Olha, não quero que haja
confusão entre nós, o que aconteceu antes de hoje ficará no
passado, eu não tinha a menor ideia de que seria meu estagiário
quando... bem, você sabe.
— Quando me atropelou e depois transou comigo na balada?
— Não seguro as palavras, é fácil demais provocá-la e assistir
Marina corar.
— Sim, eventos separados, porém não é o ponto aqui. — Ela
respira fundo antes de continuar: — Nosso envolvimento prévio não
será levado em consideração em nossas interações futuras, se
possível gostaria que esquecesse o que aconteceu, assim podemos
começar uma relação profissional.
Palavras de uma advogada, porém a forma com que ela desce
rapidamente o olhar para meus braços e morde o lábio, antes de
perceber e voltar a me olhar seriamente, diz outra coisa.
— Primeiro, eu nunca vou esquecer, nem que me atropelou, e
muito menos o que fizemos naquele sofá vermelho — falo e coloco
as duas mãos em sua mesa, me abaixando lentamente até meu
rosto ficar próximo ao dela. — Segundo, você fica linda de roupa
social, só tem uma coisinha. — Ergo uma mão e pego uma mecha
do seu cabelo, que desprendeu do coque, lentamente coloco atrás
da sua orelha, meus dedos passam pelo seu rosto em uma carícia
leve e o contato faz todo o meu corpo queimar.
Marina perde a fala, sua boca levemente avermelhada abre-se
em surpresa.
Eu quero beijá-la, quero tomar esses lábios e relembrar o que
fizemos na balada, sentir seu gosto, agora misturado com café, e
devorá-la até perder os sentidos.
— Não. — Marina levanta-se bruscamente, com o movimento
ela bate na mesa e derrama toda a sua xícara de café em cima de
um amontoado de papéis. — Droga, não, por favor… meu café de
novo, não.
Corro até o balcão onde lembro de ter visto um pacote de
guardanapos, então tento ajudá-la a secar a mesa, mas a maioria
dos papéis acaba molhado.
Marina pega um monte de guardanapos do pacote e me ajuda
a secar, mas não tem muito o que fazer, ela está nervosa e vejo
suas mãos tremerem. Acho que fui rápido demais.
— Desculpa, não quis te deixar desconfortável — digo, me
arrependendo pelo descontrole. — Tem alguma coisa importante
ali? — indico os papéis, que agora estão no lixo.
— Tudo aqui é importante, ou não estaria em minha mesa —
responde sem paciência. — Tenho uma reunião em menos de uma
hora e agora vou precisar reorganizar todos os contratos
novamente.
— Bem, eu posso te ajudar, já que sou seu estagiário e tals —
tento brincar, mas seu olhar me diz que não é hora, então contenho
o sorriso.
— Vou mandar imprimir, preciso que busque na recepção,
depois me ajude a reorganizar em pastas individuais — fala
enquanto começa a trabalhar em algo em seu computador. — Vai, é
só pedir para Regina, já deve estar na impressora.
— Regina, é?
— A recepcionista do nosso andar, desculpa, depois do tour
você vai entender.
— Certo, vou lá.
Saio da sala e fecho a porta atrás de mim, este andar é
composto por vários escritórios em cubículos, e outras salas
fechadas, como a de Marina, mas lembro de passar por uma
recepção ao lado do elevador, então vou até lá.
CAPÍTULO 11
Marina
Sozinha ela é inteira, igual o oceano
Tipo um vinho que melhora com o passar dos anos
E ela já passou por tanta coisa
Mágoas, qualquer coisa pode ser a gota d'água
Ela me olhou e paralisou, estátua
Cada fala dela é um show, eu bato palma
Rara, igual o mais belos dos diamantes
Falam do seu corpo, pois não viram sua alma
Alma de cigana — 3030

Estou suando frio neste momento, o que diabos acabou de


acontecer?
Eu preciso de ar, essa sala é fechada demais, meu Deus, o
que fiz para merecer isso?
Eu PRECISO de café!
O loiro gostoso em que cavalguei sem vergonha alguma no
sábado à noite, agora é meu estagiário!
E fica ainda mais bonito de terno, isso só pode ser castigo de
alguma das minhas vidas passadas, sei lá. Sempre fui uma boa
menina, nunca decepcionei meus pais, nem fiz maldade para
alguém, realmente não mereço esse castigo.
Encaro a porta por onde aquela bunda avantajada acabou de
passar, tenho que confessar, tenho uma maldita tara por homens de
terno, e o motivo é bem simples: a calça social não esconde o que
tem por baixo, especialmente se o cara realmente tem algo lá.
Bem, você me entende, e se não, é melhor começar a reparar.
E o Léo tem “coisas” por baixo.
CONTROLE-SE, MARINA, ELE É SEU ESTAGIÁRIO!
Droga, esse é um daqueles dias em que eu realmente deveria
ter ficado em casa, e ainda não consegui tomar meu café.
Como vou conseguir pensar sem o poder da cafeína?
Levanto rapidamente e vou até a cozinha, pego um dos panos
e volto para limpar o restante do café da minha mesa, assim como o
que caiu no chão.
Vai ficar uma mancha no carpete, terei que avisar a moça da
limpeza. Ela já me odeia, porque sempre que vem limpar este andar,
precisa me tocar para fora do meu próprio escritório.
Tenho que me recompor antes que ele volte, respiro fundo
uma, duas, três, dez vezes, mas meu coração continua batendo
descontroladamente.
Preciso de café, é isso.
Troco o filtro que ele usou, está bem leve, o que indica que foi
usado pouco pó, vou ter que ensiná-lo como se faz um bom café.
Encho a cafeteira com água, coloco um novo filtro e seis colheres
bem cheias de pó de café, preciso que seja forte, já que logo mais
tenho reunião.
Em um dia normal estaria em minha segunda xícara, então eu
usaria cinco colheres, mas hoje não tomei nem uma, preciso de algo
forte e que faça efeito logo, já posso sentir a dor de cabeça
chegando.
Sim, eu tenho um vício.
Não, eu não pretendo parar com ele.
Pelo menos minha caneca não quebrou, foi um presente do
meu antigo mentor, Lázaro Romani, quando fui efetivada na
empresa, logo depois que me formei.
Ele sabe que gosto de Star Wars porque foi ele quem me
apresentou à franquia, disse que só aceitava uma estagiária que
entendesse suas referências.
Passei um final de semana todo assistindo aos seis filmes, no
final acabei me encantando pelo universo criado por George Lucas,
e claro, comecei a entender todas as piadinhas que aquele
desgraçado fazia.
Lázaro foi o melhor mentor que alguém poderia pedir, me
ensinou tudo o que precisei para começar minha carreira. Quando
conheceu seu namorado na época, marido agora, ele se desligou da
empresa para ir morar no Rio de Janeiro com seu amor.
O casamento dos dois foi lindo, tive o prazer de presenciar a
união deles e até hoje conversamos, quando tenho dúvidas sobre
algo, ele é o primeiro que me socorre.
Recebo uma proposta de trabalho todas as vezes que vou até
lá visitá-los, já cogitei algumas vezes aceitar, porém a empresa dele
é pequena e eu teria que pegar causas trabalhistas e criminais
juntamente com as familiares, para conseguir ter um bom fluxo de
trabalho.
Aqui a empresa é grande e quem direciona os casos que
entram são os meus superiores, por isso não preciso procurar
clientes e consigo focar na área específica em que quero me
especializar.
Fora que, por ser um escritório conceituado, os casos são bem
variados e alguns desafiadores.
Leonardo retorna com o maço de papéis em mãos e coloca
calmamente em cima da minha mesa, garantindo primeiro que o
local está seco.
— Aqui está — fala, enquanto começo a separar os
documentos.
— Pega as pastas com o logo da empresa que estão naquele
armário — indico o local e ele abre a porta —, cinco devem bastar,
agora você pode começar a separar estes documentos e organizar
nas pastas enquanto reviso alguns dados para a reunião.
Mostro a ordem dos papéis para ele, como devem ser
colocados nas pastas e entrego os post-its para que cole nos
lugares onde precisamos das assinaturas das partes envolvidas.
Ele percebe que não é hora de conversar, então se concentra
no trabalho e faz exatamente como mostrei, de canto de olho reparo
em seu rosto focado em cada documento.
O café finalmente fica pronto e encho minha caneca, no
primeiro gole sinto a calma que tanto procurei e me concentro em
sentar de volta na cadeira. Com muito cuidado deixo a caneca do
outro lado da minha mão e volto a ler meus e-mails.
Quando chega a hora da reunião, Leonardo já organizou as
pastas e eu terminei meu café, já me sinto mais confiante.
— Este caso é complicado, não tenho tempo para te passar os
detalhes agora, mas podemos revisar isso depois, você pode entrar
na reunião comigo, porém peço que não fale nada — oriento
enquanto ele recolhe as pastas e me segue para a sala de reuniões
no 15º andar. — Estive trabalhando neste caso por quase quatro
meses, finalmente chegamos a um acordo, esta é a última reunião
e, com sorte, todos assinarão o divórcio sem precisarmos levar o
caso à justiça.
— Certo, prometo ficar quieto — concorda com um sorriso no
rosto, a forma relaxada e o olhar despreocupado só me mostram
sua inexperiência.
— Por favor, preciso que aja profissionalmente lá dentro, são
clientes grandes e não posso me dar ao luxo de que algo de errado
aconteça, sei que é seu primeiro dia, mas precisa agir como se já
trabalhasse aqui há anos, entende?
Leonardo arruma a postura e posso jurar que ficou mais alto
ainda, tira o sorriso do rosto e fecha a cara em uma expressão séria.
— Melhor assim? — pergunta e agora quem quer sorrir sou eu,
pelo teatrinho todo.
Só aceno com a cabeça quando o elevador chega no 15º
andar.
— Aqui temos as salas de reuniões usadas para receber os
clientes, não usamos o escritório particular — faço sinal para as
outras portas e ele confirma que entendeu com a cabeça —, se eu
te mandar marcar alguma reunião com cliente, será sempre em uma
destas salas, então você precisa falar com a Regina e reservar o
horário aqui.
— E se não tiver horário livre?
— Sempre tem, mas caso isso aconteça, ela vai te redirecionar
para outro andar. — Entro na sala e aponto para a grande mesa de
madeira rodeada por cadeiras de couro preto. — Coloque três
pastas de um lado da mesa — aponto para os lugares em que os
clientes ficarão, de costas para a parede e de frente para a grande
janela com vista da cidade.
— É linda a paisagem daqui, não é mesmo? — Leonardo
comenta enquanto faz o que mando e reparo para onde ele está
olhando. — Por que não ficamos deste lado?
— Você não quer seus clientes olhando para uma parede,
assim eles tem uma vista do céu, da cidade, é um símbolo de algo
como liberdade — instruo enquanto abro meu notebook e busco as
canetas no armário do escritório. — Eles estão assinando um
divórcio, colocando um ponto final numa relação que muitas vezes
era sinônimo de prisão, por isso é importante que tenham uma vista
assim.
— Nossa, nunca imaginei que advogados se preocupassem
com isso.
— O ambiente influencia as ações das pessoas, em como elas
irão reagir a algumas informações. Se nos fecharmos em uma sala
onde o cliente vá se sentir preso, ele começará a ficar acuado e se
tornará menos receptivo, portanto tenderá a lutar mais contra o que
é proposto.
Olho para o relógio na parede, faltam quinze minutos para a
reunião começar. Recebo o aviso da recepção de que minha cliente
está subindo e respiro fundo. Acalmando meu coração, entro em
meu estado de advogada mediadora.
— Ela está chegando, a partir de agora peço que não fale
nada, você ficará sentado ao meu lado, tome notas mentais, mas
não escreva durante a reunião, os clientes não gostam disso.
Ele confirma com a cabeça, saio da sala e vou até o elevador
bem na hora em que Dóris chega. A mulher de 48 anos com quem
estive trabalhando nos últimos meses me olha com tristeza, a
maquiagem faz um bom serviço em esconder suas olheiras, porém
eu reconheço a expressão de choro.
— Marina, será que hoje esse pesadelo termina? — ela
pergunta enquanto a conduzo até a sala de reuniões.
— Estou confiante que tudo irá se resolver — falo e lanço um
sorriso carinhoso para ela. — Esse é meu estagiário, Leonardo
Franco, ele irá acompanhar a reunião.
Apresento os dois e Léo estende a mão, cumprimentando
Dóris cordialmente. A mulher demora a olhar diretamente para ele,
mas quando o faz, vejo a surpresa em seu rosto.
Sim, ele é um colírio para os olhos.
— Gostaria de tomar alguma coisa? — pergunto e ela aceita
um café, Léo entende a deixa e sai para buscar a bebida da mulher.
— Bem, a vista acabou de melhorar muito neste escritório —
ela comenta baixinho, enquanto acompanha a bunda do Léo passar
pela porta e sorrio para ela.
Dóris senta na cadeira ao meu lado e deixo-a a par das últimas
alterações feitas nos documentos, quando Léo chega com o café ela
parece se acalmar um pouco.
Seu marido chega logo depois com os dois advogados a
tiracolo. Ele vem complicando as negociações por não aceitar o fim
do casamento, mesmo tendo traído a esposa com sua secretária, o
maldito não quer deixar Dóris livre.
Foram 25 anos de união, eles têm uma filha de 23 anos, uma
empresa, casa, carros, tudo construído em conjunto, para que ele
simplesmente decidisse jogar uma vida toda pela janela e se
relacionar com outra mulher.
Dóris descobriu o caso e pediu o divórcio, então começou a
batalha.
A reunião dura quase duas horas, período este em que os
advogados da outra parte avaliam as alterações no contrato, que eu
já havia enviado a eles na semana anterior, mas sempre conferimos
os documentos impressos antes de firmar.
Por fim ambas as partes assinaram nos lugares marcados, e é
isso, o fim de um casamento. Dóris segurou as lágrimas até o fim.
Quando seu ex-marido terminou de assinar o último documento, ela
levantou, estendeu a mão para ele, agradeceu e saiu.
Deixei Leonardo responsável por recolher os documentos e
segui minha cliente, encontrando-a quase no elevador. No momento
em que Dóris me viu, as lágrimas caíram, então a levei para uma
sala menor que estava desocupada.
Nunca passei por um final de namoro, afinal não tive
relacionamentos, mas consigo sentir sua dor. Mesmo não tendo
como comparar, me coloco no lugar dela.
É uma vida toda construída ao lado da pessoa que você ama,
toda a base de um relacionamento é a confiança, e isso foi
quebrado no momento em que ele a traiu.
Ela até tentou perdoar, mas assim que um vaso se quebra, é
muito difícil colar todos os pedaços, e as rachaduras ficarão sempre
ali.
— O que eu vou fazer agora? — Dóris pergunta quando para
de soluçar.
— Você é uma mulher incrivelmente forte, inteligente e
batalhadora — afirmo e coloco a mão em seu ombro. — Vai ficar
tudo bem, pode não parecer agora, porque é tudo muito recente,
mas você vai ficar bem.
— Ai, menina, queria ter a confiança de uma pessoa jovem,
mas agradeço seu carinho e principalmente o trabalho dos últimos
meses, não sei o que seria de mim sem você.
— Foi uma honra conhecê-la e estar ao seu lado neste
momento — falo com carinho, realmente passei a gostar de Dóris,
quanto mais aprendia sobre a mulher, mais a admirava. — Meu
trabalho é daqueles que, quando termina, falar que “espero que
possamos trabalhar juntas novamente” é ruim, então vou dizer que
espero que nunca mais precise dos meus serviços, mas que seja
feliz e se encontre nesta nova jornada.
Ela sorri com a minha brincadeira e me puxa para um abraço
apertado.
Este é o momento que mais gosto do meu trabalho, a
sensação de finalizar um caso com leveza, mesmo que seja o final
de um casamento, prefiro ver como um recomeço para ambas as
partes.
O celular dela começa a tocar, então Dóris me solta e levanta,
respira fundo, fecha os olhos por alguns segundos, e quando volta a
abrir ela está mais calma e recomposta.
— Minha filha está ali embaixo — avisa e mostra a tela do
celular. — Obrigada por tudo, Marina, tenha a certeza de que
recomendarei seu trabalho para minhas amigas.
— Eu que agradeço a confiança, vou te acompanhar até o
elevador.
E assim termina mais um caso, no momento em que Dóris sai,
me sinto mais leve para continuar o dia.
CAPÍTULO 12
Leonardo
Louca, linda, se vem de Lala, mas bem melhor sem roupa
Tentando entender qual o poder dessa garota, ai, ai
Pra acabar com a postura do pai
Do pai
Tão louca, linda se vem de Lala, mas bem melhor sem roupa
Tentando entender qual o poder dessa garota, ai, ai
Pra acabar com a postura do pai
O poder dessa garota — MC Gabzin

Quando Marina saiu da sala para acompanhar sua cliente, o


clima mudou da água para o vinho.
O homem, que antes se mantinha calmo e com o olhar frio,
começou a chorar feito criança e teve que ser amparado por seus
advogados. Pelo que entendi do caso, ele traiu a esposa e acabou
com um casamento de mais de vinte anos.
Agora está arrependido. Bem, deveria ter pensado nisso antes.
Eles saíram logo depois e fiquei organizando os papéis, como
ela me falou para fazer.
Depois que Marina retornou, voltamos para o seu escritório e
ela me explicou um pouco sobre o caso, mas já era quase meio-dia
e tenho aula à tarde.
Na saída pego meu celular e percebo que não pensei em ver
as redes sociais ou sequer cogitei abrir minhas mensagens durante
a manhã, o que é praticamente um milagre, então vejo que tem um
recado urgente da Gabi me pedindo para esperá-la para ir para
casa.
— Você já está liberado — Marina fala enquanto fecha a sua
sala e me vê escorado na parede. Seu olhar surpreso me faz rir,
será que pensa que estou esperando por ela?
— Já estou indo — falo e vejo quando a Gabi aparece na porta
da sala, do outro lado do corredor, mas antes de andar até minha
amiga, chego mais próximo de Marina e toco seu braço levemente,
chamando sua atenção. — Obrigado por hoje, foi uma surpresa
maravilhosa te encontrar novamente. — Vejo seus olhos castanhos
se arregalarem em surpresa, o rosto começa a ficar vermelho e ela
abre a boca para responder. — Até amanhã, chefe.
Digo a última palavra aproximando minha boca do seu ouvido,
posso sentir o cheiro do perfume doce delicioso que ela usa, e que
me traz de volta as lembranças de sábado à noite.
É o mesmo impregnado em meu travesseiro, graças a
camiseta que não vou lavar nunca.
Não deixo que responda, me afasto antes que ela consiga
recuperar os sentidos, porque eu sei que está afetada pela minha
presença, da mesma forma que meus dedos formigam só por ter
encostado em seu braço.
Gabi me olha com uma expressão curiosa no rosto, mas não
pergunta nada, passo um braço pelos ombros da minha amiga e
saímos em direção ao elevador.
Já que temos praticamente todas as aulas juntos, nossos
horários no escritório serão os mesmos.
Decido não forçar mais uma conversa com Marina, ela está
claramente afetada pela minha presença, o que achou ser só uma
foda casual com um estranho na balada acabou de ficar mais
complicado.
Ela não esperava por isso, muito menos eu, achei que meu pai
me colocaria com algum de seus advogados mais carrascos, que
me fariam de escravo, mas eu tenho muita sorte mesmo.
— Como foi com o debochado? — pergunto para a Gabi no
caminho de casa, hoje ela veio de carro.
— Debochado?
— O teu mentor — explico.
— Carlos parece legal, mas não tivemos tempo para fazer
muita coisa, ele me deixou organizando alguns arquivos enquanto
saiu para uma reunião, quando deu meio-dia me mandou
mensagem que eu poderia ir embora, já que ele não retornaria a
tempo.
— Ele nem te levou fazer um tour pelo lugar?
— Eu conheço todo o escritório, Léo, você que nunca foi lá —
repreende e dá de ombros. — Enfim, ele até ofereceu, mas percebi
que estava ansioso para a reunião, então disse que não precisava.
— Teu pai pegou pesado com ele? — Imagino o tio Richard
dando diversas indiretas ao debochado.
— Meu pai mandou Carlos me tratar como qualquer outra
estagiária. — Sinto o ressentimento na voz da minha amiga. — Não
me importo com isso, vou fazer o meu melhor e provar que mereço
estar lá, não por ser filha do dono, mas porque tenho potencial para
ser uma grande advogada.
— Essa é a minha amiga.
— Queria mesmo ter a sua mentora.
— Por quê? — Fico curioso com a expressão sonhadora no
rosto de Gabi.
— Sabia que ela se formou com honras? Marina Lucca tem
uma taxa altíssima em fechamento positivo de casos de divórcio,
além de tudo, já tem uma pós, vários cursos e está terminando mais
uma, e isso com 26 anos.
— Pelo visto ela tem uma admiradora secreta também —
comento.
— Nossa, sim, ela é uma profissional admirável, até meu pai
elogiou o trabalho dela algumas vezes, e foi o que chamou minha
atenção, Richard Willians não tem o costume de falar bem de outros
advogados — Gabi comenta e sorri. — O que vocês fizeram hoje?
Ela te deixou ver algum dos casos em que está trabalhando ou ficou
só no serviço escravo como o meu?
— Acompanhei o fechamento de um dos casos, foi
interessante — comento, lembrando da manhã.
— Ela te deixou participar da reunião no primeiro dia? — Gabi
fala abismada e me olha com a expressão surpresa.
— Participar não é bem a palavra, eu organizei os documentos
nas pastas, busquei café para o pessoal e fiquei observando a
reunião.
— Uau, espero que saiba a sorte que tem, Léo, tenho certeza
que os outros estagiários não chegaram nem perto de acompanhar
uma reunião no primeiro dia.
Penso sobre isso, não me liguei que seria algo especial, só
fiquei lá sentado e busquei café, mas pensando bem, Marina me
advertiu para não falar nada, e o clima estava tenso enquanto os
advogados da outra parte liam os contratos e debatiam cada
cláusula.
— Vai lá buscar nosso almoço, tenho que passar em casa e
me trocar antes de ir para a faculdade, nem morta que apareço
assim na aula. — Gabi para o carro em frente ao restaurante onde
sempre pedimos comida, é próximo do escritório e de casa também.
Entro correndo e a recepcionista já está com o nosso pedido
separado, mas quando vou pegar a sacola, ela não me reconhece.
— Ju, sou eu, Leonardo — digo e vejo o momento em que
Juliana me olha dos pés à cabeça e forma uma expressão
engraçada, é como se não acreditasse no que está vendo.
— Não pode ser, cadê o boné, a camiseta, e, por Deus, cadê
teu skate? — a loira pergunta. Nos conhecemos há algum tempo,
ela participa de algumas festinhas junto com a galera da faculdade,
acho que é um ano mais nova que eu, chegamos a ficar algumas
vezes, mas não rolou nada demais.
— Estou fazendo estágio, fui obrigado a vestir as calças de
homem grande — brinco e dou uma piscadinha para ela, que fica
vermelha. — Ju, estou com um pouco de pressa, coloca na conta
para mim?
— Claro, desculpa, aqui está seu pedido. — Ela entrega a
sacola e segura minha mão quando vou pegar. — Se quiser fazer
alguma coisa no final de semana, tem meu número.
Não respondo à sua investida, só aceno e me viro para sair,
então vejo Marina sentada em uma mesa nos fundos do
restaurante. Ela está almoçando com a secretária do meu pai, por
um momento nosso olhar se encontra e não controlo o sorriso.
Droga, estou fodido mesmo.
Saio do restaurante e volto para o carro da Gabi, sinto o olhar
de Marina ainda em mim, me acompanhando pela janela.
— Que sorriso é esse? — Gabi questiona quando dá a partida
e seguimos para casa.
— Nada — desconverso.
— A Ju deu em cima de você de novo? — Gabi solta uma
gargalhada quando confirmo. — Faz quanto tempo que vocês
ficaram?
— Sei lá, algumas semanas.
— E não rolou nada a mais?
— Não, você estava lá, foi na festa que o Arthur deu na
república, a gente trocou uns beijos e só.
— Sim, eu lembro dessa parte, mas depois vocês sumiram e
eu estava ocupada em um dos quartos.
— Então, ela queria que eu a levasse para casa, mas ela tinha
tomado alguma coisa, não estava muito bem, então só a
acompanhei até o apartamento onde ela mora.
Relembro daquela noite, realmente não sei o que a Juliana
havia tomado, mas quando chegamos ao seu quarto ela apagou na
cama. Avisei uma das meninas que moram com ela e que estava
estudando para ficar de olho, ela pareceu não gostar, mas foi lá e
me avisou no outro dia que a Ju estava bem.
— Todo mundo pensou que vocês tinham transado, até o
Arthur comentou que estava interessado na Ju, mas ela disse que
estava a fim de você.
— Droga, vou ter que conversar com ela, não sabia disso, e já
faz um bom tempo.
Do nada a barriga da Gabi faz um barulho tenebroso e ecoa
pelo carro, a surpresa nos faz soltar uma gargalhada.
— É melhor alimentar logo esse monstro que você tem aí
dentro — brinco enquanto ela estaciona na garagem do nosso
prédio.
— Foi alto demais, né? Estou morrendo de fome, só tomei um
café de manhã, acho que vou começar a levar algum lanche.
— É bom mesmo, vai que esse monstro resolve sair e engole
minha amiga.
Levo um soco ao sair do carro e passar por ela, então subimos
para almoçar.
CAPÍTULO 13
Marina
She's blood, flesh and bone
No tucks or silicone
She's touch, smell, sight, taste, and sound
But somehow I can't believe
That anything should happen
I know where I belong
And nothing's going to happen, yeah
She's so High — Tal Bachman

É impossível me concentrar quando tenho os olhos do loiro em


mim, por isso comecei a encontrar coisas para ele fazer fora do meu
escritório.
No segundo dia Léo veio com uma caixa de cápsulas para
máquina de café, e só pela marca gravada na tampa, imaginei que
ele realmente vem de uma família com dinheiro.
Além dos ternos de boa qualidade, o celular de última geração
e o notebook que começou a trazer para trabalhar foram outros
indicativos.
Depois que ele foi embora no primeiro dia abraçado com
Gabriela, a filha de um dos sócios proprietários, me pareceu que
eles tinham alguma coisa. Também reparei que ela estava no carro
quando o vi saindo do restaurante, e eles chegam todos os dias
juntos.
Bem, não é da minha conta, só espero que eu não tenha sido
usada para trair alguém, odeio ser a outra e descobrir depois, só
que nada disso deveria me afetar. Se o maldito controlasse seus
olhares e parasse de me secar no escritório… eu preciso trabalhar.
Este era o meu lugar de paz e sossego, e agora divido com minha
maior provação.
O pior de tudo é que meu corpo todo responde a ele, sinto seu
perfume até quando não está mais presente, o cheiro ficou
impregnado na minha memória, e com isso vêm as lembranças
daquele maldito sofá vermelho.
Já tive diversos casos de uma noite só. Não que eu saia muito,
geralmente entro nos aplicativos de namoro para essas ocasiões, é
só para sexo mesmo.
Ainda prefiro um pau amigo, alguém que esteja na mesma
sintonia que eu e aceite meus termos, sem procurar sentimentos ou
conexões, só uma boa foda — com horário marcado para não
atrapalhar minha agenda. No entanto, jamais fiquei com uma
pessoa com quem eu tenha que conviver, acho que Marcos foi o
primeiro e já tenho certeza que terei que trocar de academia, porque
evitá-lo será impossível.
Agora, Léo é diferente, vou ter que conviver com ele pelos
próximos meses.
Se não conseguir controlar as reações do meu corpo, será um
longo período de tortura.
Ainda mais porque já tive uma prova do que ele pode fazer,
daquela boca macia que sabe muito bem como e onde beijar, das
mãos grandes e fortes que não precisaram de ajuda para encontrar
minha bunda, e claro que não posso esquecer da forma com que
seu pau se encaixou perfeitamente em mim.
Droga, só de lembrar minha calcinha está molhada e sei que
meu rosto está vermelho, por sorte vim para casa mais cedo e já
estou deitada confortavelmente na minha cama.
Estou realmente com tesão só de pensar nele? O que está
acontecendo com meu maldito cérebro? Até parece que não tenho
outras coisas mais importantes para pensar.
Minha mão viaja até o meio das minhas pernas, preciso
descarregar essa coisa pelo meu estagiário, nem que seja me
masturbando. É isso, vou me dar um bom orgasmo e depois volto a
ler o artigo que se encontra aberto no notebook ao meu lado, mas
que nem lembro em qual parte parei.
São três dias olhando para o sorriso perfeito, com aquelas
malditas covinhas encantadoras. Meus dedos encontram o meio das
minhas pernas e estou molhada, não lembro a última vez que só de
pensar em um homem fiquei assim, no instante em que toco o
centro de prazer, posso jurar que sinto como se fosse ele a me
tocar. Da mesma como fez no sábado à noite, tomando controle
enquanto eu o cavalgava e tirava tudo dele. Consigo lembrar do
gemido rouco e exigente que ele soltou enquanto entrava e saia de
mim, acelero o movimento dos meus dedos, esfregando o clitóris
com mais intensidade.
Eu tive o test drive, lembro de todas as sensações do corpo do
Léo contra o meu, mas foi limitado demais, como se uma voltinha no
parque não bastasse para testar a potência máxima do motor.
Quero a viagem completa, preciso saber como é me esfregar nele
sem roupa nenhuma, se tem mais tatuagens naquela pele perfeita,
como é sentir a sua boca na minha boceta.
Céus, eu preciso de mais.
É com esse pensamento que perco todo e qualquer controle e
estimulo meu clitóris com raiva, praticamente chorando por um
orgasmo, algo que me liberte desses desejos, qualquer coisa que
consiga arrancar de mim a vontade de foder meu estagiário
amanhã.
Gozo sentindo minhas pernas tremerem em um orgasmo forte,
mas não é o suficiente, nada parece ser, porque quando recupero o
controle do meu corpo e minha respiração volta ao normal, os olhos
do loiro ainda estão marcados na minha mente.
***
Na quinta-feira deixei algumas tarefas para ele cumprir, assim
como os novos casos em que vamos trabalhar juntos. Depois que
fechei o de Dóris, meu supervisor encaminhou mais dois casos, já
que o setor está com uma demanda alta.
Sexta-feira é o pior dia, porque se ver meu estagiário durante
meio período já é complicado, o dia todo será uma tortura.
Cheguei mais cedo para começar a trabalhar nos novos casos,
estou animada com isso, seu Nelson me deixou subir bem feliz
quando lhe entreguei o copo descartável.
Depois do primeiro dia em que minha bebida favorita se voltou
contra mim comecei a tomar mais cuidado, mas parece que
voltamos a nos dar bem.
O dia nem amanheceu ainda quando abro as cortinas da
minha sala e organizo a mesa. Coloco a cafeteira para trabalhar e
assisto os primeiros raios de sol iluminarem o céu.
Então me perco nos novos clientes, organizo uma pasta para
cada processo e começo minhas avaliações e anotações, formando
uma estratégia para concluir os casos sem complicações. Estou tão
concentrada que levo um susto ao erguer os olhos e encontrar meu
estagiário me olhando com um sorriso no rosto.
— Bom dia — Léo diz e parece se divertir com minha reação.
— Desculpa se te assustei, mas cheguei e você não percebeu,
então não quis atrapalhar.
— Bom dia — respondo quando encontro a voz, e sinto meu
coração pular no peito. — Há quanto tempo está aí?
— Não muito. — Dá de ombros.
— Certo, vamos começar então, você terminou o que te passei
ontem? — Recupero a razão e visto minha roupa de mentora
comprometida, mas ainda não consigo encarar os olhos azuis, e
tudo piora quando o desgraçado levanta e se vira de costas.
Já falei que calça social não esconde nada, não é mesmo? O
tecido fino ainda marca o contorno da bunda redonda do meu
estagiário. E que bunda!
Respira fundo, Marina, pensa em outra coisa, vamos lá:
divórcios, brigas, guerras, pessoas morrendo.
Volto a olhar sua bunda, quando ele vira e me pega no flagra.
Meu rosto queima e tenho certeza que ele percebe, mas não fala
nada.
Eu vou ser demitida por assédio sexual, se continuar assim.
— Precisamos começar a reunir mais informações sobre os
novos casos, você leu tudo o que te passei? — Começo a trabalhar,
decidida a esquecer quem está na minha frente.
— Sim, fiz algumas anotações aqui. — Ele abre sua pasta e
me mostra os apontamentos. — Só tenho uma dúvida.
— Ficaria surpresa se não tivesse nenhuma.
— Você fechou um caso e já pegou outros dois, não é demais?
— Eu não pego casos, o supervisor do setor é quem decide
quais causas serão atribuídas para cada advogado, nós estamos
com uma grande demanda no momento, por isso Mauricio me
repassou estes dois.
— Entendi — responde, mas fica pensativo.
— Esta é a vantagem em se trabalhar em uma empresa
grande e conceituada, sempre temos novos desafios, com isso o
trabalho nunca fica monótono.
— Acho que sim.
— Agora vamos começar.
Passo a manhã toda ensinando como é o processo de
organizar um novo caso, quais os documentos precisamos reunir
para formar uma estratégia e agir sobre as demandas do cliente.
Preciso dizer que Léo aprende muito rápido e faz comentários
certeiros. Mandei que estudasse alguns arquivos antigos que são
parecidos com estes, assim ele terá uma base do que foi feito
naqueles processos específicos, para começar a pensar em como
agir nos novos.
Quando o horário do almoço se aproxima, uma batida na porta
chama nossa atenção e Léo vai abrir.
— Vamos almoçar? — Reconheço a voz de Gabriela, mas ele
está bloqueando a visão da menina. — Eu te mandei mensagem,
mas você não viu.
— Ah, sim, só um minuto — responde e passa as mãos pelos
cabelos, olho para o relógio e vejo que já é meio-dia.
— Pode ir, continuaremos à tarde — digo, dando permissão.
Ele pega seu paletó e o celular, mas antes de sair me lança
uma piscadinha.
— Até depois, chefe.
Porque toda vez que me chama de chefe parece uma
provocação? E qual é a desgraça do motivo dessas palavras me
fazerem corar feito uma adolescente?
Não tenho tempo de pensar no assunto antes de Melinda
invadir meu escritório com várias sacolas do restaurante japonês.
— Antes que fale algo, estou atolada em trabalho — comenta,
enquanto coloca tudo em cima da minha mesa. — Imagino que
também esteja, então tomei a liberdade de pedir o almoço para nós
duas.
— Você é um anjo, sabia? — respondo e abro espaço para as
embalagens. O cheiro faz meu estômago roncar, olho para as duas
xícaras sujas ao lado da cafeteira e percebo que não comi nada a
manhã toda. — Eu nem ia almoçar, estava pensando em pedir um
sanduíche ou algo assim.
— Tem que comer, mulher — Melinda fala enquanto ataca uma
das caixas. — E aproveita que esse almoço foi patrocinado pelo
chefe.
— Como assim? — questiono enquanto abro a embalagem
com yakissoba.
— Sempre que tenho muito trabalho, Henry tem o dobro, então
ele pede almoço e me deixa livre para fazer o mesmo — explica. —
Nunca sou forçada a ficar no escritório, mesmo que ele não saia
daqui.
— Achei que os sócios proprietários trabalhassem menos que
a gente.
— Richard sim, ele tem horários certos e dificilmente fica mais
tempo no escritório, mas Henry é diferente, as vezes sua esposa
vem almoçar aqui para ver o marido no meio do dia.
Melinda e eu temos almoçado juntas todos os dias, ela se
tornou uma ótima companhia na empresa. Depois do episódio da
calça manchada em que paguei seu almoço e uma calça nova,
começamos a conversar.
Não sou amiga dos meus colegas, quase nunca falo com
ninguém a não ser sobre assuntos profissionais; uma porque não
acho apropriado ter conversas paralelas no horário de trabalho, e
outra que isso toma tempo, uma coisa que prefiro usar fechando os
casos.
— Ah, tenho uma coisa para te contar — diz com a boca cheia.
Já falei que Melinda adora uma fofoca? Então sorrio com o
jeito dela, porque sei que virá uma informação sobre a vida de
alguém.
— Você está sendo cogitada para uma promoção à
supervisora — anuncia e quase cuspo o que tinha na boca com o
susto.
— Como assim?
— Então, Maurício, o supervisor do seu setor, vai sair da
empresa, sua mulher recebeu uma boa proposta para trabalhar em
Paris e obviamente ele vai junto — explica. — Pelo que entendi está
entre você e o galã de novela, Carlos Ricci. Os chefes vão avaliar o
desempenho individual de vocês pelos próximos meses.
— Droga — digo e sinto meu humor mudar rapidamente.
— Achei que ficaria mais animada. — Melinda percebe e para
de comer, me olhando com mais atenção.
— Ficaria se fosse qualquer outra pessoa, mas Carlos já
ganhou — respondo, dando de ombros.
— Como assim, mulher? Você é muito melhor que ele.
— Exatamente, eu faço o dobro de horas, fecho três vezes
mais casos que ele, tenho a maior porcentagem de aprovação entre
todos os advogados associados, e mesmo assim estão cogitando
outra pessoa — explico e começo a ficar com ódio a cada palavra
que sai da minha boca. É um absurdo ter que competir por uma
vaga assim, ainda mais com alguém como Carlos. É um insulto a
todo o trabalho que venho fazendo nos últimos anos.
— Pensando assim, você tem razão.
— Claro que sim, e se estão cogitando o cara mais preguiçoso
do setor, o que isso diz sobre mim? Qual é a visão que os sócios
têm do meu trabalho, quando me colocam para competir com
alguém como ele?
— Olha, eu não sei o que vai acontecer, mas você é uma ótima
profissional, eles vão ver isso.
— Queria ter essa confiança, mas francamente perdi a
esperança há um tempo. Isso não deveria ser uma competição, eu
mereço a promoção, não por meses de trabalho, e sim por todos os
anos em que estou na empresa.
É injusto saber que não importa, que todo o esforço que eu
faço não é visto.
— Desculpa, Mari, não queria te deixar triste. Achei que te
contando daria alguma vantagem.
— Não é você — falo com mais calma agora. — Realmente
agradeço por me contar, eles vão anunciar isso de alguma forma ou
farão as observações em particular?
— É sigiloso, eu não deveria ter contado nada, por favor não
fala para ninguém. Mauricio vai sair só daqui a alguns meses e até
lá nada será divulgado.
— Pode deixar, será nosso segredo — levanto a mão só com o
dedinho erguido e ela faz o mesmo.
— Agora me conta, já voltou para a academia?
Solto uma gargalhada com a troca de assunto. Contei para ela
sobre Marcos e agora somos confidentes da minha vida amorosa
inexistente, Melinda ficou admirada por eu nunca ter namorado.
Ela e seu noivo estão juntos há dois anos e meio e o
casamento está programado para o próximo ano, eles já moram
juntos e tudo.
CAPÍTULO 14
Leonardo
And if I may just take your breath away
I don't mind if there's not much to say
Sometimes the silence guides a mind
To move to a place so far away
The goosebumps start to raise
The minute that my left hand meets your waist
And then I watch your face
Put my finger on your tongue 'cause you love to taste, yeah
Sweater Weather — The Neighbourhood

Gabi e eu descemos para almoçar, no caminho ela conta sobre


sua manhã e parece entediada.
Diferente de mim, a quem Marina fez estudar os casos antigos
e analisar os novos, minha amiga só organiza papéis, atende
telefone e busca café.
Ela parece desapontada toda vez que falo sobre meu dia, por
isso resolvo guardar para mim, mas a diferença entre nossos
mentores fica cada vez mais evidente.
Encontramos os outros estagiários no restaurante,
aparentemente na sexta-feira todos têm turnos duplos. Durante a
semana não tive muito tempo para socializar com eles, por isso fico
animado em ouvir a experiência individual de cada um.
A maioria estuda na PUC e já passou da metade do curso,
mas temos dois que estudam na USP, Daniel, que é da UNINOVE e
João, da UNIP.
Minha amiga está ainda mais feliz com isso, já que até agora
só tinha ouvido sobre meus dias, e Marina é muito diferente de
Carlos, aliás, escutando o que todos falam sobre seus afazeres,
realmente tenho sorte.
Ninguém chegou perto de estudar um caso ou debater algo
com seus mentores, a maioria faz o mesmo que Gabriela.
— Eu me perdi duas vezes já dentro daquele prédio — Daniel
comenta. — Demorei três horas para encontrar o setor de
contabilidade e a pessoa a quem precisava entregar os contratos,
quando voltei meu chefe nem percebeu que eu tinha saído.
— Eles não se importam, contanto que o café esteja quente e
os arquivos organizados. — Gabi entra na conversa, chamando
atenção dos outros homens. — E podem tirar essa expressão do
rosto, sim, meu pai é dono da empresa, mas eu faço a mesma coisa
que vocês.
— Ah, para. Carlos não é nem louco de mandar a filha do dono
buscar cafezinho para ele. — Jimmy fala em tom de brincadeira e
todos riem.
— Não só buscar, como fazer da forma que ele gosta — Gabi
responde. — Uma dose de expresso, com leite de amêndoas e
cacau, sem açúcar, mas com chantilly por cima.
Minha amiga faz uma imitação debochada do seu chefe
sentado de pernas cruzadas segurando a xícara e tomando como se
fosse um lorde, levando todos ao riso.
— Quem diria? O cara se acha o melhor — Jimmy comenta. —
Falando nisso, foram convidados para o happy hour hoje?
— Sim, Carlos disse que é para comemorar a primeira semana
— Gabi responde e todos concordam.
Marina não me falou nada, portanto fico calado, mas quando
me perguntam, digo que vou sim, afinal é sexta-feira e nada melhor
do que terminar a semana com uma boa cerveja.
Depois disso o assunto muda para a faculdade e vira uma
mesa de lamentações, como sempre acontece quando dez
estudantes se reúnem, afinal estamos todos no mesmo barco,
sofrendo com a matéria que vai se acumulando com o tempo.
Voltamos para o escritório e de cara percebo que Marina não
saiu daqui, deve ter pedido almoço, considerando as caixas vazias
de comida chinesa empilhadas na lixeira. Ela está concentrada no
notebook, mas levanta a cabeça quando me vê entrar.
Marina fica linda compenetrada, os óculos de armação
vermelha pendidos na ponta do nariz são um charme, assim como o
vinco que se forma em sua testa quando ela está pensando em
algo, quase consigo ouvir as engrenagens em sua cabeça
trabalhando.
Deixo a torta de limão que trouxe para ela em cima de sua
mesa e ela me lança um olhar duvidoso.
— Só uma sobremesa, não sei se você gosta, mas a torta da
dona Dendê é a melhor — explico. — Se quiser pode deixar para o
lanche da tarde, droga, eu nem te perguntei se você tem alguma
restrição alimentar… desculpa.
Eu me enrolo nas explicações, não vi Marina comer nenhum
doce, vai que ela é intolerante a lactose, ou sei lá, faz dieta.
— Não, tudo bem, eu amo torta de limão — agradece
enquanto abre a embalagem. — E você está certo, esta é a melhor.
Assisto Marina devorar o doce e posso jurar que controlou um
gemido na primeira colherada. Faço uma anotação mental, ela gosta
de torta de limão.
— Aceita um café? — pergunto, já sabendo a resposta.
— Pode deixar que eu faço — ela se levanta rapidamente e vai
até sua máquina.
— Segundo os outros estagiários, fazer café é uma das nossas
funções, por que você não me deixa fazer isso? — questiono e ela
fica vermelha. — Você não gostou?
— Então… não é isso, só estava muito fraco — responde e
vejo quando coloca seis colheres bem cheias de pó dentro do filtro.
— Agora entendo o porquê, você vai morrer de gastrite assim.
— Não, eu tomo bem forte de manhã quando chego e depois
do meio-dia, que é para não ficar com sono, os outros são mais
fracos — defende-se. — Eu preciso de cafeína para conseguir me
manter focada.
— Falou como uma completa viciada.
— Nunca disse que não sou.
Solto uma gargalhada com sua admissão. Marina é direta, isso
ninguém pode negar.
— Eu vou fazer um de cápsula — pego uma das que trouxe de
casa.
— Isso aí é puro açúcar e conservante — Marina enfatiza,
escorada no balcão.
— Pelo menos é gostoso, o que você toma é amargo, não sei
como consegue.
— Depois que acostuma a tomar sem açúcar, você sente o
gosto bom do café mesmo.
— Mas eu não coloco tanto açúcar assim.
— Não importa, já muda o gosto — ela dá de ombros,
despejando o líquido preto na sua xícara, que logo muda de cor e
mostra os desenhos de Star Wars. — Temos a primeira reunião com
os novos clientes segunda-feira, gostaria que você começasse a
organizar as pastas e preparar os documentos.
E com isso acabou o descanso, Marina me passa o que tenho
que fazer e depois sai. Ela passa a tarde toda fora, quando retorna
já são quase 18h e ela parece cansada.
Já estou organizando minhas coisas no momento em que ela
entra na sala e coloca as pastas em cima da mesa.
— Nossa, não vi que já era tarde assim. Quando der seu
horário você pode ir, mesmo que eu não esteja aqui — fala e tira o
notebook da sacola. — Foi uma boa semana, Leonardo, nos vemos
segunda-feira.
Marina me dispensa sem nem mesmo olhar para meu rosto, e
por algum motivo isso me magoa.
— O pessoal vai se reunir no bar do Joe para comemorar a
primeira semana dos estagiários, você vem? — pergunto antes de
sair.
— Droga, tinha esquecido disso. — Ela respira fundo, tira os
óculos e fecha os olhos enquanto massageia a têmpora. — Passo lá
depois que terminar aqui. — O sorriso forçado em seu rosto não
passa confiança.
— Eu te pago uma cerveja dessa vez — tento animá-la —,
quem sabe tem um bom sofá lá também.
No momento em que as palavras saem da minha boca,
percebo que deveria ter ficado quieto, droga, me controlei a semana
toda para não dar nenhuma indireta.
— Eu acho que a gente precisa conversar — Marina fala
seriamente e indica a cadeira em frente à sua mesa. — Não quero
que haja alguma coisa mal entendida entre nós.
— Desculpa, foi só uma brincadeira — digo e ela respira fundo.
— Olha, eu vou ser sincera — meu coração acelera, sei o que
vem a seguir, mas não estou pronto para levar um fora —, aquele
dia foi bom e não me arrependo, mas não vai acontecer novamente.
Você é meu estagiário, vamos trabalhar juntos pelos próximos
meses e não é apropriado nos envolvermos em outro contexto.
Ah, mas ela não vai vir com essa desculpa para cima de mim,
não.
— Você sente — afirmo e encaro seus olhos castanhos. —
Essa coisa entre nós não pode ser só comigo.
— Léo, eu não...
Levanto e contorno a mesa, coloco uma mão em cada lado da
sua cadeira, o que deixa meu rosto a centímetros do dela. Posso
sentir sua respiração acelerar e vejo as pupilas dos olhos dilatarem.
— Viu? Você reage à minha proximidade — indico e me
aproximo ainda mais. — Não quero criar problemas para você
dentro do escritório, mas assim que saímos daqui eu não sou mais
seu estagiário e você não é mais minha chefe. Fora do horário de
trabalho, somos só um homem e uma mulher que tiveram uma foda
inesquecível, preciso acrescentar, e que continuam atraídos um pelo
outro.
Caralho, eu quero tomar essa boca rosada e carnuda para
mim, a vontade de beijá-la está me consumindo. Sentir o cheiro do
seu perfume e o calor da sua respiração, tão próximos e mesmo
assim não poder tocá-la está me matando.
— O que você quer de mim? — pergunta com a voz baixa.
— Tudo o que quiser me dar — respondo e encosto minha
testa na dela.
Posso sentir a eletricidade entre nós, a forma com que ela se
inclina para frente. Marina fecha os olhos e nossos lábios quase se
tocam, quando alguém bate na porta.
Ela pula na cadeira e me empurra com a mão, assustada. Eu
me afasto rapidamente, sentindo que posso matar a pessoa do
outro lado, por cortar o momento.
— Léo, você está pronto para ir? — A pergunta da Gabi me faz
respirar fundo enquanto caminho até a porta e vejo minha amiga
encostada na parede do corredor. — Você está bem?
— Já vou, me espera no carro — respondo impaciente e ela
concorda com a cabeça, mas lança um olhar curioso para mim.
— Tudo bem, não demora.
Fecho a porta e volto a olhar para Marina, mas alguma coisa
mudou, ela parece brava.
— Pode ir, Leonardo — agora sou Leonardo novamente —,
sua... amiga está esperando.
A pausa antes da palavra “amiga” chama minha atenção,
Marina volta a olhar para o computador, em uma tentativa falha de
demonstrar desinteresse.
— Marina, a Gabi e eu...
— Não tenho interesse na sua vida particular, Leonardo — ela
me corta de forma rude. — Agora, se me der licença, preciso
terminar meu trabalho, tenha um bom final de semana.
Ela está me dispensando.
Depois de quase ter me beijado, a desgraçada está me
mandando embora.
Tudo bem, não vou forçar nada, se Marina quer fingir que não
se sente atraída por mim, ela que sabe, mas espero que não pense
que vou tornar as coisas fáceis para ela.
Ah, minha querida chefe, você vai se arrepender por começar
esse jogo, não vou descansar até que admita que sente o mesmo.
Recolho a mochila com o meu notebook e o celular e saio do
escritório, mas não sem antes me virar e pegar a descarada olhando
para a minha bunda.
Um sorriso se forma no meu rosto no momento em que seu
olhar encontra o meu e ela sabe que foi pega em flagrante.
***
Gabi e eu somos os últimos a chegar ao bar e o clima é
realmente de festa, rolam algumas brincadeiras entre os advogados
e os estagiários, mas todos parecem se entrosar durante a noite.
— Sua chefe não vem? — Minha amiga pergunta depois de
um tempo.
— Marina não participa dessas coisas. — Carlos se intromete
com a voz um pouco enrolada, ele já tomou algumas cervejas. —
Na verdade, acho que nunca a vi em nenhuma social da empresa.
— Aposto que está no escritório ainda — Mateus comenta e o
tom de deboche me deixa bravo. — Ela tem uma cama lá? — ele
pergunta e todos me olham aguardando uma resposta.
— Não ficaria surpreso — Carlos graceja sem esperar que eu
responda. — Com o tanto que trabalha, ela não deve ter vida fora do
escritório.
— Acho que não tem nem redes sociais — Mateus emenda
com o celular na mão e ambos começam a rir.
Isso me faz ferver de raiva, quem são eles, para falarem sobre
ela assim?
— Marina é uma excelente advogada e trabalha mais do que
qualquer um de vocês — digo com a voz mais alta do que pretendia.
Os homens me olham por um momento, então começam a rir
ainda mais e a fazer piadinhas, como um bando de macho escroto.
Depois começam a falar mal de outros colegas, e até dos sócios,
eles só deixam os proprietários de fora, mas isso é porque Gabi está
aqui. Vejo a troca de olhares entre os dois.
As piadas continuam, cada vez mais ridículas e indecentes, os
outros advogados não parecem querer entrar na onda e formam
grupos separados.
Quando o maldito do Carlos tem a ousadia de sugerir que
Marina deve ser fria na cama, levanto e vou ao banheiro jogar uma
água no rosto, estou a ponto de explodir.
Não aguento mais ficar no mesmo ambiente que esses dois,
se não for embora agora, vou sair no soco com o desgraçado do
Carlos, e tudo piora no momento em que comenta sobre a forma
que Marina se veste, insinuando que ninguém sentiria atração por
uma mulher que cobre tudo.
— Cala essa boca — falo com raiva.
— Ela já tem até um defensor! É melhor não se apaixonar pela
chefe, menino — ele brinca quando levanto rapidamente e sinto a
mão da Gabi me segurar.
— Léo, vamos para casa. — Minha amiga me puxa, mas antes
que possamos sair da mesa, Mateus chama a atenção do grupo.
— Vocês são namorados? — ele pergunta seriamente, vejo
Carlos arregalar os olhos e olhar atentamente para onde a mão da
Gabi segura a minha.
— Não que seja da sua conta, mas somos só amigos — Gabi
responde e fica vermelha.
— Aham, sei — Carlos diz e troca um olhar com Mateus antes
de levantar e ir até a mesa ao lado, onde duas garotas pareciam
ansiosas pela sua companhia a noite toda.
— Vamos — Gabi volta a me puxar e dessa vez a sigo para
fora do bar, mas ao invés de entrar no meu carro, abro a porta de
trás e pego o skate, então entrego a chave para ela.
— Preciso de ar, a gente se vê em casa.
— Tudo bem, qualquer coisa me liga.
Faço sinal positivo com a cabeça, coloco o skate no chão e
pego impulso. Deixo o caminho me levar até o parque, a essa hora
a pista está vazia.
Como não trouxe os fones de ouvido, ando de um lado para o
outro enquanto minha mente viaja pelos últimos dias. É difícil não
pensar nela, embora eu já tenha gostado da morena da balada, a
Marina advogada é ainda mais interessante.
A cada dia que trabalhamos juntos ela me encanta mais, a
forma séria com que encara cada um dos seus clientes, o
profissionalismo, a inteligência daquela mulher, tudo é fascinante e
motivador.
Estou cursando direito, mas nunca realmente cheguei a
imaginar como seria trabalhar com isso, só segui o fluxo, afinal, tem
essa pressão de que você está no colégio, mas já precisa decidir
todo o rumo da sua vida: que faculdade escolher, qual curso fazer,
tudo isso com menos de vinte anos de idade.
E essas decisões são levadas para sempre.
É importante demais para uma criança decidir.
O problema é que não consigo pensar em alguma outra coisa,
e não é como se eu odiasse a área ou fosse mal nas matérias. Eu
estudo e vou bem, algumas até são interessantes, mas é isso
mesmo que eu quero da minha vida?
Tantas opções, e mesmo assim o mundo parece limitado.
CAPÍTULO 15
Marina
Tempo no espelho pra passar o meu batom
Tempo pra ouvir até o fim desse som
Tempo pra um amor que não te faz perder o tom
Eu quero tempo pra mim
Eu quero tempo pra
'To sem tempo irmão
Sem tempo
Sem tempo — Mariah Nala

Mais uma semana passou e já não sei como vou aguentar


todos estes meses, cada dia uma nova tortura, ainda mais agora,
que parece que o Léo está me provocando de propósito.
Desde o nosso quase beijo, que foi interrompido pela
namorada — ou amiga — dele, ainda não tenho certeza qual é a
relação ali, Leonardo mudou.
E não foi algo pequeno, não, ele está deliberadamente
tentando me deixar louca.
Qualquer oportunidade que tem em ficar mais próximo possível
de mim, ele aproveita, seja no elevador lotado de gente, onde
sutilmente seu braço toca o meu e parece que levei um choque, ou
no corredor estreito, quando anda do meu lado.
E posso jurar que começou a passar mais perfume, porque
seu cheiro está impregnado até na minha agenda, e isso me deixa
louca, porque carrego o pequeno caderno dentro da bolsa, e, com
isso levo o Léo comigo para tudo que é lugar.
Tentei dar mais tarefas para ele cumprir fora do escritório, mas
não posso evitá-lo para sempre. Odeio a visão dos meus colegas de
que estagiário só serve para fazer café e organizar documentos.
Se tenho alguém para debater os casos comigo, vou usar essa
pessoa sim. Léo é mais inteligente do que se dá o crédito, já percebi
isso nele, em alguns momentos é até um pouco inseguro.
Não sei nada da sua vida pessoa, porque não perguntei,
também não aceitei seu pedido para me seguir nas redes sociais. Já
está difícil demais me conter e não fuçar nas dele para saber mais.
Preciso me controlar, é só meu estagiário, a única interação
que teremos é profissional. Dentro do escritório minha obrigação
para com ele é unicamente ensiná-lo sobre a vida de um advogado,
afinal, é para isso que servem os estágios. É como se fosse um
período de teste para descobrir se você quer realmente essa vida
para si.
Contudo, se a pessoa já passou por todo o trabalho de entrar
na universidade, está quase no final do curso e ainda não desistiu,
dificilmente um estágio a fará mudar de ideia.
Às vezes acontece, e está tudo bem. Muitas pessoas têm uma
visão romantizada da vida de um advogado, aquelas audiências
emocionantes dos filmes nos grandes tribunais são o que atraem
jovens iludidos. A realidade é 90% de trabalho com papelada e
clientes irritantes, e o restante em frente a um juiz, tentando resolver
picuinhas.
No meu caso, que não sigo o direito penal — portanto não
participo de julgamentos criminais —, as coisas são ainda menos
luxuosas, e no meu ramo isso é um bom sinal.
Esta semana recebi mais um caso novo, aparentemente meu
supervisor acha que estou trabalhando pouco. Com isso e as aulas
da pós, trabalhei até quase 10h da noite todos os dias, inclusive
hoje.
Já que cheguei tarde em casa, decidi usar a academia do meu
prédio, que neste horário está sempre vazia, afinal, quem em sã
consciência vai correr na esteira às 11h da noite?
Só que eu preciso me movimentar, especialmente depois de
tanto trabalho. Fico o dia todo sentada, o máximo que caminho é
dentro do escritório, ou quando preciso encontrar os clientes, mas
isso nem conta como exercício.
Gosto de correr na esteira enquanto escuto música e leio um
bom livro no kindle, ajuda a relaxar e a dormir melhor depois.
Preciso sentir que meu corpo está tão cansado quanto minha
mente.
E não posso mais ir até a academia que costumava frequentar,
mesmo que o local fique aberto até a meia-noite, especialmente
depois que Marcos passou a semana toda tentando me ligar.
Respondi por mensagem no primeiro dia, mas me arrependi logo
depois.
Não sou boa nessa parte, porque eu aviso desde o começo o
que quero, aí a pessoa espera mais que o combinado e cria
expectativas em cima de mim. Quando não acontece nada, mesmo
que já tenha sido informada que não teria mais, fica decepcionada
comigo.
Às vezes tenho vontade de fazer os caras com quem transo
assinarem um contrato, aceitando todas as cláusulas para não se
apaixonarem e não exigirem mais do que tenho a oferecer, que é
basicamente sexo, com hora e local marcados com antecedência e
sem envolvimento sentimental.
Marcos achou que eu estava mudando de ideia quando o
procurava, disse que sentiu que tínhamos uma ligação maior do que
só a física, mas isso tudo foi só do lado dele.
E é difícil ter que ressaltar esses fatos para a outra pessoa,
ainda mais quando ela está magoada, então combinei de encontrá-
lo na sexta-feira depois do trabalho, para conversarmos e
colocarmos um ponto final nisso.
Seria muita falta de empatia simplesmente sumir e bloquear o
homem, ele não me fez nada de mal, só está sofrendo.
— Precisa de mais alguma coisa? — A voz do Léo me tira das
minhas divagações.
— O quê? — pergunto e volto ao presente. Devo ter viajado
por um tempo, porque não vi quando ele voltou. — Ah, não, pode ir,
nem reparei na hora.
Já é sexta-feira e o relógio marca 18h20, será que ele esperou
muito tempo?
— Tudo bem, acabei de voltar, mas você estava tão
concentrada que não tive coragem de te atrapalhar.
— Só estou pensando nos novos casos — minto e me sirvo de
mais uma xícara de café, já que o meu esfriou.
Como se lesse minha mente, Léo abre um sorriso de canto e
caminha em minha direção. Seu corpo passa tão próximo do meu
que posso jurar que vamos nos chocar, mas não acontece, ele
coloca alguns documentos em cima da minha mesa e volta a me
olhar.
Agora, a poucos centímetros de distância, preciso erguer meu
rosto para encontrar seus olhos, aquele azul intenso faz todo o meu
corpo arrepiar.
— Tenha um bom final de semana, Marina — o loiro pronuncia
lentamente e morde o lábio inferior, em uma clara provocação. Ai,
como queria ser eu a morder esse lábio! Quando percebe onde
estou olhando, abre um sorriso com aquelas covinhas
encantadoras, se vira, e sai… deixando-me desconcertada em meu
próprio escritório.
Só então solto a respiração que nem percebi estar segurando,
e quando inspiro novamente, seu cheiro toma conta de todos os
meus sentidos e me faz tremer.
Droga de tentação.
Leonardo nem encostou em mim, mas sinto que vou precisar
trocar a calcinha antes de encontrar Marcos, porque estou
completamente molhada pelo meu estagiário.
Decido encerrar o dia, recolho minhas coisas e organizo a
mesa. Amanhã termino o que deixei pela metade, pois marquei com
Marcos às 20h e ainda preciso ir para casa, tomar um banho e tirar
o perfume do Léo de mim.
Chego ao restaurante 15 minutos adiantada, é um lugar bonito,
que serve comida italiana. Logo encontro o olhar apreensivo do
homem, que se levanta ao me ver chegar.
— Você está linda — Marcos elogia quando me sento de frente
para ele e evito o seu abraço — Quer tomar alguma coisa?
— Só uma água. — Faço o pedido para o garçom, que logo
volta com meu copo e uma taça de vinho para Marcos. Pego o
cardápio e decido escolher logo o macarrão à carbonara, pretendo
resolver as coisas aqui rapidamente, jantar e ir para casa.
— Obrigado por aceitar me encontrar.
— Isso não é um encontro, Marcos.
— Mas pode ser, é só você querer.
Respiro fundo e encaro seu olhar apreensivo, ele é gostoso,
não tem como contestar esse fato, mas percebo que já não me sinto
mais atraída por ele. Marcos me olha e minha única reação é
balançar a cabeça negativamente.
— Não é um encontro e não vai ser, eu te falei desde o
começo que não teríamos nada a mais do que sexo.
— Mas eu achei que...
— Deixa eu terminar — peço e sinto meu peito apertar ao ver a
tristeza em seu olhar. — Eu não namoro, não saio para encontros,
não sou romântica e também não procuro um relacionamento.
— Porque não tem tempo — sua fala é praticamente um
deboche, e eu entendo de onde vem.
— Vou ser sincera aqui, tudo bem?
— Não espero menos que isso de você.
— Se eu quisesse realmente ter um relacionamento,
encontraria tempo para isso, mas eu não quero, você entende isso?
— digo com a maior calma que consigo reunir. — Eu tenho tempo
para meu trabalho porque coloco isso como prioridade, o restante é
secundário, no momento.
— Você fala como se não tivesse sentimentos, mas eu vi outro
lado seu, não pode esconder o que passamos, porque eu sei que
você gostou.
— Claro que gostei da sua companhia, não teríamos passado
tanto tempo juntos se não gostasse, você é legal, engraçado,
inteligente.
— Viu só? Você admite que gosta de mim. Poxa, Marina,
vamos tentar algo.
— Não foi o que eu disse.
— Então me explica.
— Não tenho sentimentos assim por você, estava atraída
fisicamente, sim, mas foi só isso.
— Estava? — Isso parece atingi-lo, Marcos me olha com as
sobrancelhas erguidas em uma expressão de surpresa.
— Marcos...
— Da forma fria como fala, parece que não tem sentimentos,
Marina.
— Eu tenho — defendo-me, mas já estou acostumada a ser
chamada de fria, ainda mais nestas circunstâncias. — Só não tenho
sentimentos por você.
Marcos arregala os olhos, incrédulo, e absorve minhas
palavras enquanto leva o vinho à boca.
— Você quer mais porque está pronto para isso, e eu entendo,
Marcos, de coração. Nós passamos ótimos momentos juntos, mas
você precisa entender que para mim foi só sexo, nada mais.
— Entendo — responde secamente.
— Você vai encontrar alguém que queira o mesmo e esteja
preparado para isso. É um homem incrível e merece ter seus
sentimentos retribuídos, mas essa pessoa não sou eu.
Por sorte o garçom escolhe este momento para trazer nossos
pedidos, o cheiro da comida é maravilhoso demais e meu estômago
ronca de fome.
— Acho que foi isso que me atraiu em você — Marcos
comenta, enquanto levo uma garfada da massa à boca. — A
indisponibilidade. Achei que tínhamos algo a mais, mas você está
certa, foi tudo coisa da minha cabeça mesmo.
Droga, não consigo responder, acabei colocando mais comida
na boca do que deveria e demoro para mastigar.
— Aproveita o jantar, Marina. Vou te deixar com a companhia
da única pessoa com quem você se importa — ele levanta e termina
o vinho, deixando seu prato intacto —, você mesma.
Com isso Marcos sai e me deixa ali, com a boca cheia de
macarrão e sozinha.
Pelo menos agora tenho tempo de continuar a leitura do artigo
para a pós, então tiro meu tablet da bolsa e abro o documento.
CAPÍTULO 16
Leonardo
Quando eu te vi eu tava bem louco
Pra te agarrar faltava bem pouco
Chá, docinho, whisky, água de coco
A poção de êxtase pro seu corpo
Você já sabe qual é
Tem Café — Gaab

A terceira semana com Marina está diferente. Ela parece mais


irritada, até xingou a cafeteira, coisa que nunca a vi fazer,
geralmente quando fala com a máquina, é com uma voz carinhosa.
Você pode pensar que isso é estranho, eu também achei, mas
vim a perceber que Marina ama café. É mais que um vício, é
praticamente uma relação de dependência, então qualquer objeto
que contenha a bebida dos seus sonhos a conquista.
— Você não entende, Gabi, ela estava bufando de raiva em
um momento, e no outro posso jurar que poderia ter chorado se eu
não estivesse lá — comento assustado com minha amiga assim que
saímos do escritório.
— Sei lá, Léo, vai que ela está com algum problema pessoal?
— Pode ser, mas as mudanças de humor são estranhas, e é
do nada, sabe? Hoje de manhã acabou o café na jarra da cafeteira e
vi que seus olhos se encheram de lágrimas quando ela percebeu,
era só fazer mais!
Lembro da cena, quase abracei Marina quando vi que ela
estava ficando triste. Até achei que tinha recebido alguma notícia
ruim, porque ela estava falando com alguém no telefone, então vi
que ela olhava para a caneca e para a cafeteira, como se fosse o
fim do mundo não ter mais café pronto.
— E o que você fez? — minha amiga pergunta com um sorriso
no rosto.
— Fiz mais — respondo o óbvio. — Achei que ia ajudar, mas aí
ela ficou ainda mais emocionada, e do nada começou a me xingar.
Disse que consegue fazer o próprio café e que não precisa de mim
para isso.
— Ela te xingou?
— Sim. Aí saiu e quando voltou estava com os olhos
vermelhos. Eu juro, Gabi, tem alguma coisa errada.
Na minha cabeça consigo imaginar vários cenários ruins, e
isso tem me deixado louco. Percebi que os outros advogados não
gostam dela, vivem fazendo piadinhas pelos corredores.
Não sei se Marina notou alguma coisa, ouviu algo que não
gostou, ou mesmo se ela se importa, mas isso está me corroendo.
Matheus, o amigo do Carlos, não esconde a inveja que sente
da minha mentora. Mais de uma vez o peguei falando sobre ela com
seu estagiário, fazendo piadinhas de mau gosto.
Como eles não sabem quem eu sou, não se importam com a
minha presença e continuam destilando ódio por aí, só param se a
Gabi está junto, talvez por medo dela falar algo com o pai.
— Leva um chocolate para ela amanhã — minha amiga
sugere.
— Como assim? Um chocolate não vai mudar nada.
— Só faz o que eu digo. Se é o que imagino, Marina vai te
agradecer.
Passo o restante do dia pensando nisso, então compro uma
caixa de chocolates Ferrero Rocher, porque vi Marina comer um
desses dias atrás, então imagino que ela deva gostar.
Quando chego ao escritório, encontro minha chefe brigando
com alguém no telefone.
— Não, você não pode fazer isso — censura, com a voz
alterada, enquanto caminha de um lado para o outro. — Eu te avisei
antes, falei que não deveria se aproximar dele de novo. — Ela está
de costas para a porta, por isso não me vê entrar e continua
brigando com a pessoa do outro lado da linha. — Não, a medida
restritiva não tem brechas, você não pode ficar próxima dele.
Aproveito a distração e coloco um dos chocolates dentro da
primeira gaveta da sua mesa, então faço barulho com os pés,
deliberadamente, para ela não se assustar com a minha presença.
Marina se vira e, no momento que seus olhos encontram os
meus, ela parece aliviada, mas ainda vejo fúria em seu rosto.
— Espero não precisar falar de novo, da próxima vez que
pensar em se aproximar do seu ex-marido, ande na direção oposta,
porque não poderei te ajudar se continuar agindo contra todas as
minhas indicações — afirma para sua cliente, até sei qual caso é, a
mulher não aceita o fim do casamento e começou a perseguir o ex-
marido, chegou ao ponto de arrombar a casa dele. O homem entrou
com um pedido de restrição protetiva e agora está um caos.
— Certo, venha até o escritório à tarde, falaremos sobre seu
caso. — Marina respira fundo e pega a xícara com a frase “Você
vai obedecer a esta advogada por bem ou por mal”, toma um
longo gole e parece se acalmar. — Eu sei, eu sei, mas você precisa
aceitar que chegou ao fim.
Depois de alguns minutos ela desliga o celular e se joga em
sua cadeira.
— Bom dia — digo e sou respondido com um olhar que
claramente pode ser traduzido por “o que tem de bom?” — Vou
passar mais café.
— Obrigada. — Seus olhos mudam de ódio para gratidão em
segundos, então ela balança a cabeça e olha para o computador. —
Temos uma reunião daqui a pouco, poderia organizar as pastas?
E assim começa mais um dia de trabalho com minha chefe
mudando de humor a cada meia hora. Juro que não sei o que fazer
para melhorar a situação.
Até fiquei um período mais longo fora do escritório, deixando-a
sozinha por um tempo. Achei que poderia melhorar seu humor —
talvez ela esteja assim porque comecei a provocá-la — mas não
aguentei muito tempo longe.
É muito bom sentir que tenho algum efeito sobre ela.
Quando estamos no elevador, tento ficar o mais próximo
possível, sem encostar, de preferência um pouco atrás, assim tenho
a visão privilegiada dos pelos do seu pescoço arrepiados.
Ela está sempre com roupas sociais, a camisa de botão é
como um uniforme, variando só a tonalidade, do preto, para o cinza,
até o branco.
Aliás, ela não usa roupas coloridas no trabalho, as calças ou
saias são sempre pretas ou cinza, assim como as camisetas, e os
sapatos de salto parecem todos iguais.
Se for comparar, a Marina que conheci na balada não parece
em nada com a minha chefe, e mesmo assim elas se completam.
Porque ela fica maravilhosa naquele vestido vermelho colado
ao corpo, com os cabelos soltos em ondas e a sandália de salto que
a deixa mais alta, mas também é um espetáculo de roupa social,
mesmo que o tecido cubra todo o seu corpo e o cabelo esteja preso
em um coque ou rabo de cavalo. Os óculos complementam a
aparência profissional e a deixam ainda mais com cara de
inteligente, Marina continua deslumbrante com eles.
Tem alguma coisa na forma como ela caminha com confiança
e marcando presença, como alguém que sabe seu valor. Talvez seja
isso, ou é o olhar intenso, a forma como sua voz fica mais grossa e
intensa quando ela está falando sério, e muda para um tom mais
suave no momento em que faz uma brincadeira.
Estes momentos são raros, mas nossa… valem cada centavo.
Ainda mais bonito que isso, só o sorriso solto e sincero que ela
raramente abre no escritório — mas que não saiu do seu rosto
enquanto conversávamos naquele sofá.
Às vezes quero voltar para aquela noite e ficar mais tempo
com ela, porque na minha memória consigo recordar de cada
segundo da nossa interação, de todas as vezes que ela passou a
mão pelo cabelo, da forma com que se aproximou aos poucos e
flertou comigo descaradamente.
Da língua deliciosa umedecendo o lábio, e não vou nem
lembrar do restante, porque se começar a pensar no que vi abaixo
do pescoço, vou ter que fazer uma viagem ao banheiro.
A reunião termina próximo do horário de almoço, já estou
organizando minhas coisas quando lembro que preciso pedir um
favor, mas já não sei se tenho coragem, então testo seu humor
antes.
— Acho que eles vão conseguir se resolver sem irem ao
tribunal — comento sobre o casal que passou duas horas
debatendo a divisão dos bens.
— Sim, finalmente um caso fácil — ela responde mais
tranquila.
Ótimo, acho que posso falar tranquilamente.
— Marina — chamo seu nome e ela vira-se par mim com o
olhar curioso — gostaria de te pedir um favor, mas só se você tiver
tempo mesmo, se não tiver, tudo bem, de verdade...
Começo a divagar e me enrolo nas palavras, sei que estou
nervoso, Marina é uma advogada incrível e não tem tempo para
nada.
— Claro, pode falar.
Sua voz calma me deixa mais confiante, então respiro fundo
antes de voltar a falar.
— Então, tenho um trabalho para entregar, é um estudo de
caso, é até bem parecido com um que você trabalhou há um tempo
— explico o motivo de pedir ajuda para ela. — Do casal Cocenza —
informo e ela acena positivamente, lembrando-se do caso que me
pediu para estudar. — Então, tive que montar uma linha de ação,
mas estou com algumas dúvidas, será que você poderia ler e avaliar
se fui pelo caminho certo?
— Claro, para quando precisa?
— Semana que vem.
— Manda no meu e-mail.
— É grande, e de verdade, se não tiver tempo não tem
problema. — Sinto meu rosto ficar vermelho e nem consigo encarar
seus olhos.
— Envia o quanto antes, que irei ler e podemos discutir na
sexta-feira, assim, se tiver alguma alteração, você já pode trabalhar
nele no final de semana.
— Obrigado — agradeço sinceramente e sou recompensado
com um sorriso lindo, que chega até seus olhos e faz meu coração
pular no peito.
Passei a tarde toda ansioso, até levei o Rogers para passear à
noite para poder gastar energia na pista de skate.
Debati comigo mesmo se deveria ou não pedir a ajuda dela,
mas como é algo em que sei que ela tem experiência, resolvi
arriscar. E este trabalho vai contar um terço da minha nota final,
preciso muito ir bem.
Normalmente pediria ajuda da Gabi, só que ela também está
bem enrolada na faculdade, o último ano é corrido, ainda tem o
tempo que passamos no estágio e já estamos revisando alguns
conteúdos para o exame da OAB. Estou tendo que estudar nos
finais de semana.
Na quinta-feira Marina continuava irritada, então deixei mais
um chocolate em sua gaveta e me mantive o mais longe que
consegui.
Só que quando eu via que ela estava incomodada, queria
abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem. Que droga isso.
Está cada vez mais claro que os outros estagiários não têm a
mesma sorte que eu, na verdade, Marina é um ponto muito fora da
curva naquele escritório, e me pergunto se meu pai sabe disso.
O almoço de sexta-feira é o único momento todos os
estagiários se reúnem durante a semana, e eles usam essa hora de
intervalo para reclamar dos supervisores e do trabalho praticamente
escravo.
Depois de três semanas era de se imaginar que as coisas
tivessem evoluído um pouco, mas para alguns, nada mudou. Gabi
continua fazendo serviços gerais e agora está organizando a
agenda do Carlos, como se fosse secretária dele.
Jimmy teve sua primeira reunião com clientes, mas acabou
abrindo a boca e falando merda na hora que não devia.
— Quando fico nervoso eu falo, é impossível controlar —
justifica, mas a camisa suada e os cabelos desarrumados entregam
seu estado de calamidade.
— Cara, pelo menos você participou de algo. — Daniel tenta
acalmá-lo. — O máximo que fiz até agora foi ler alguns casos
enquanto organizava as pastas, e escondido ainda.
— Carlos disse que faz parte do processo de aprendizado,
primeiro preciso aprender como a rotina funciona para depois
participar — Gabi reproduz o que o otário do seu mentor falou.
— O único sortudo deste bando todo de escravos é o Léo, que
além de estar fazendo algo útil, ainda tem uma gostosa como
mentora — Daniel brinca depois de um tempo. — Sério, cara, como
você consegue se concentrar em algo com aquilo tudo na sua
frente?
Eu realmente odeio esses comentários, porque no momento
em que Daniel abriu a boca, já imaginei minha mão fechada
acertando a sua cara de mauricinho e tirando esse sorriso ridículo
dele.
Preciso me segurar para não voar em meu colega do outro
lado da mesa, então só respiro fundo algumas vezes, conto até dez
e espero as risadas diminuírem.
— Estou lá para trabalhar e não ficar reparando na minha
mentora.
— Mas tem que admitir que ela é gostosa — o babaca
pressiona. — Até com aquelas roupas de freira que ela usa, tenho
certeza que tem algo bom por baixo e...
Ele não tem tempo de continuar, porque não me aguento e
agarro a gola da sua camisa do outro lado da mesa, fazendo com
que se levante e olhe diretamente nos meus olhos.
— Mais uma palavra sobre ela, e eu juro que você sai daqui
com alguns dentes a menos. — Aperto um pouco mais o tecido e
vejo o momento em que ele começa a sentir dor. — Estamos
entendidos?
— Tudo bem, tudo bem — responde e bate na minha mão,
tentando se desvencilhar, mas sou maior e bem mais forte que ele.
— Desculpa, cara, só estava brincando.
— Vocês não falam sobre a aparência ou o corpo dos outros
advogados, porque falam dela? — assinalo com raiva. — Se estão
insatisfeitos com seus mentores, façam uma reclamação no RH, ou
criem coragem e digam para eles diretamente.
Depois disso ficou um clima de enterro, a Gabi ainda tentou
falar sobre a universidade, mas o pessoal não se animou e resolvi
voltar antes para o escritório.
Quando estou com a mão na maçaneta para entrar, escuto um
som que me faz travar no lugar: a gargalhada leve de Marina produz
um efeito calmante em mim.
— Acho que deveríamos ter uma semana de folga na TPM. —
Reconheço Melinda, a secretária do meu pai, elas devem estar
almoçando juntas. — Ninguém merece aturar esse bando de
homens normalmente, quem dirá nesse período difícil.
Então é esse o motivo da Marina estar tão estranha! E por isso
que a Gabi estava rindo da minha cara quando sugeriu o chocolate.
— Nem me fale, Mel, eu só quero matar o Mauricio. Se ele
trouxer mais um caso novo essa semana, quem vai precisar de um
advogado sou eu, para me tirar da prisão por agressão.
— Eu entendo, você precisa descansar um pouco.
— Como? Sério, nunca tive tantos casos ao mesmo tempo,
ainda tem a pós, que está no final.
— E a vida pessoal, hein? A gente nunca fala sobre isso. Você
me contou sobre aquele cara da academia, mas depois disso não
deu mais notícias, vamos mulher, solta essa fofoca.
Isso chama minha atenção e chego mais próximo da porta
para conseguir ouvir melhor.
— Tive que aceitar jantar com ele na sexta-feira para fazê-lo
entender que não tínhamos nada, eu odeio deixar pontas soltas,
mas parece que agora ele finalmente aceitou.
— Mas vocês estavam namorando?
— Claro que não, eu começo a trabalhar antes das 8h da
manhã, tem dias que saio daqui depois das 10h da noite, estou
fazendo mais uma pós e pretendo emendar outra depois dessa, não
tenho tempo para o drama de um relacionamento agora.
— Esqueceu de falar que nos finais de semana você também
está aqui, né.
— Só quando tenho muita coisa para fazer.
— O que é sempre, e eu sei disso porque sou avisada sobre
entradas fora do expediente.
— Tá, eu estou sempre aqui — Marina aceita e elas riem,
posso apostar que ela revirou os olhos ao falar.
— Mas você não me engana, tenho certeza que tem alguém
nessa cabecinha.
Marina faz uma pausa antes de responder e isso é o bastante
para meu coração pular no peito, será que ela tem alguém?
— Não tenho tempo, Mel.
— Você só fala isso porque ainda não encontrou alguém que
valha a pena, quando essa pessoa chegar, vai saber.
— Que demore mais alguns anos. Preciso focar na minha
carreira, já é difícil sozinha, imagina tendo que dividir o meu tempo
com um namorado?
— Falando assim até parece algo ruim, mas quando é a
pessoa certa, você vai querer dividir seu tempo, sua cama, até esse
chocolate aí.
— Sai fora, tira o olho do meu bombom. — Marina solta uma
gargalhada e faço uma anotação mental para enviar um chocolate à
secretária do meu pai, só por fazer essa mulher rir assim. — Mas
sério, não sei de onde estão surgindo, desde terça que encontro um
na minha gaveta, achei que ontem fosse o último.
— Coloca um maço de dinheiro ali dentro para ver se multiplica
também.
— Com a minha sorte é capaz de sumir.
— Ah, nem te contei — Mel fala com a voz mais baixa e séria.
— o Senhor Willians está de olho no Carlos.
— Por quê?
— Você não viu ainda? Ele está tratando a menina como sua
assistente pessoal, essa semana ele a mandou fazer tarefas
pessoais, o cretino, até buscar roupa na lavanderia a menina foi.
— Não acredito que ele teve a coragem.
— Sim, e é a filha do chefe, né? Imagina se fosse uma de nós?
— Eu tive sorte quando entrei, Lázaro foi um ótimo mentor.
— Você teve muita sorte, trabalho nesta empresa a mais de
dez anos, já vi de tudo por aqui, e nunca vou me conformar com a
forma que os estagiários são tratados.
— Olha, eu realmente não sei qual é a estratégia dos outros
advogados, mas acho que é minha obrigação dar um bom exemplo
para o meu estagiário.
— E como ele está indo?
— Leonardo é muito inteligente e esforçado, também sabe
seguir ordens e não fica acomodado, e o principal: ele não passa o
tempo todo no celular — Marina explica e posso jurar que percebi
um pouco de orgulho na sua voz. — No geral, ele tem potencial para
ser um ótimo advogado.
— Bom saber.
— Por quê?
— Sei lá, pelo menos você ficou com um dos bons, te
contaram que um menino acabou prejudicando uma audiência essa
semana?
Melinda desconversa, mas sei que estava sondando meu
desempenho para contar ao meu pai. Depois disso elas terminam o
almoço, Mel conta algumas fofocas do escritório, e eu resolvo
esperar meu horário para realmente entrar.
Vou até o banheiro e jogo uma água no rosto, então eu sou
esforçado? Sorrio ao lembrar dela me elogiando. Será que teria
coragem de falar isso na minha frente sem ficar vermelha?
CAPÍTULO 17
Marina
Já não me importa a sua opinião
O seu conceito não altera a minha visão
Foi tanto sim, que agora digo não
Porque a vida é louca, mano
A vida é louca
Dona de mim — IZA

Qualquer coisa que dá errado eu quero matar alguém,


enquanto choro em posição fetal no chão do banheiro. Desgraça de
hormônios.
Sempre sofri muito com a TPM, até tomei anticoncepcional por
alguns anos para tentar controlar isso, mas depois parei e aceitei
que é uma reação natural do meu corpo.
Geralmente percebo quando estou entrando neste período e
tento me controlar, mas tem meses que isso é mais difícil, e este é
um deles.
Estou atolada em casos complicados de lidar, com clientes que
testam minha paciência. Esse stress todo mais os trabalhos da pós
e a falta de sexo são a mistura perfeita para a loucura.
Pelo menos o chocolate ajuda, no primeiro dia que encontrei o
Ferrero Rocher na gaveta, achei que era ainda da caixa que ganhei
da Carina. Até procurei mais, porque um só não parecia suficiente,
como não encontrei pensei ser o último.
A surpresa de ter outro bombom na mesma gaveta no outro
dia me fez considerar outras possibilidades.
Na sexta-feira, depois do almoço com Melinda, encontrei mais
um chocolate, então tive certeza que alguém colocou ali.
De manhã a gaveta estava vazia, ao meio-dia tinha chocolate
lá, fiquei no escritório o tempo todo, fora uma ida ao banheiro,
ninguém além de mim e meu querido estagiário entrou lá.
Por este motivo tenho certeza de onde vem o doce, ainda mais
quando o loiro me traz um pedaço de torta de limão ao retornar do
seu horário de almoço.
— Estou tão insuportável assim? — questiono no momento
que o Léo coloca a embalagem em cima da minha mesa.
— O que quer dizer? — ele se faz de desentendido, mas vejo
o sorriso de canto antes que desvie o olhar.
— Nada, não. — Resolvo entrar na dele, afinal, quem sou eu
para reclamar de chocolates mágicos e pedaços de torta de limão?
— Li o seu trabalho, está muito bom, tomei a liberdade de fazer
algumas indicações no arquivo, espero que não se importe.
— Claro que não — ele me olha ansioso —, muito obrigado,
Marina.
— Imagina, temos um tempo antes da próxima reunião, se
tiver dúvidas posso te ajudar enquanto aproveito minha sobremesa.
— Da próxima vez eu trago a torta toda, e não só um pedaço.
— A piscadinha me faz sorrir, e as malditas covinhas que
acompanham seu sorriso aquecem meu peito. — Vou pegar meu
tablet.
Passamos a próxima hora discutindo seu trabalho, indico
alguns artigos para ele ler e reforçar melhor seus argumentos, mas
no geral estava muito bem fundamentado.
Hoje ele está com uma camisa social azul clara e a calça
preta. Quando voltou do almoço, Léo havia tirado o paletó e a
gravata, acredito que pelo calor, então o tecido fino da camisa
deixava seus músculos mais marcados.
Queria arrancar essa camisa para ver o que tem por baixo.
Deveria ter aproveitado mais aquele sábado, porque não tirei a
camiseta dele? Agora essa maldita curiosidade está me matando.
CONTROLA ESSES HORMÔNIOS, MARINA!
A reunião termina quase 18h, o novo cliente está fazendo
exigências absurdas e quer ficar com tudo, deixando seu parceiro
sem nada. Odeio pessoas assim, queria poder mandar para a
terapia, ao invés disso passo horas tentando colocar um pouco de
juízo na cabeça do homem.
Quando chego ao meu escritório, vejo que minha mãe tentou
me ligar várias vezes, um sentimento ruim me faz respirar fundo e,
bem neste momento, recebo mais uma chamada dela.
— Oi, mãe, aconteceu alguma coisa? — vou direto ao assunto.
“Então, querida, eu sei que você disse que está com muito
trabalho, mas tua prima está me pressionando para uma resposta
sobre o convite de casamento.”
Respiro fundo, claro que é sobre isso.
— Mãe, eu já falei que não sei se vou conseguir ir.
“Filha, ela te convidou para ser madrinha, é muito desrespeito
recusar.”
Não entendo isso, se é um convite e não uma intimação, a
recusa deveria ser aceita.
— Mas mãe...
“Vou responder que você vem sim, e trate de trazer o
namorado que ninguém conhece, tem mais de seis meses que está
me prometendo fotos e nada ainda.”
Então… essa é outra coisa que ninguém sabe, mas para tirar
minha mãe do meu pé, disse que estava namorando há um tempo e
venho sustentando esta mentira há seis meses.
— Ele trabalha, não tem como...
“Não me venha com essa, mocinha, dê um jeito. Espero você e
um acompanhante, onde já se viu namorar e não conhecer a
família?”
— Tudo bem, eu vou tentar mãe, preciso desligar agora, ainda
estou no trabalho, nos falamos amanhã.
Desligo e respiro fundo, minha mãe é uma pessoa
maravilhosa, mas é de outra época.
— Está tudo bem? — A voz do Léo me faz pular de surpresa,
achei que estava sozinha.
— Droga, que susto, você estava aí o tempo todo?
Ele me encara com diversão estampada no rosto.
— Só vim buscar minhas coisas e já estou indo embora.
— Tudo bem, tenha um bom final de semana. — Viro-me para
a janela na falha tentativa de esconder a vergonha estampada em
meu rosto por ele ter ouvido minha conversa.
— Marina, posso fazer uma pergunta?
Não, só vai embora.
— Claro, no que posso ajudar, Leonardo? — Uso seu nome
completo para tentar parecer mais profissional.
— Por que mentiu para sua mãe que tem namorado?
— Por que acha que é mentira?
— Não respondeu minha pergunta.
— Nem vou responder, isso é um assunto particular e não lhe
diz respeito — digo com mais rispidez do que pretendia.
Léo sorri de canto e ergue as mãos em sinal de rendição, mas
ele teve a sua resposta.
— Só fiquei curioso.
— Pois não fique, e não é educado ouvir a conversa dos
outros assim.
— Mas está tudo bem mentir para a sua mãe? — Ele me
pegou. — Se por acaso esse namorado, que eu tenho certeza que
não existe, estiver indisponível para te acompanhar no casamento…
Ele ouviu essa parte também? Sempre esqueço que minha
mãe praticamente grita no telefone.
— O quê? Vai conseguir alguém para ir comigo?
— Alguém não, eu vou com você.
Ele não está falando sério, não pode.
Espero que comece a rir, ou fale que é só uma brincadeira,
mas não, Leonardo está parado na minha frente com uma
expressão séria no rosto. Os malditos olhos azuis intensamente
focados em mim, confiante e firme nas suas palavras.
— Não preciso que me acompanhe em lugar nenhum, se por
acaso meu namorado não puder ir, eu consigo outra pessoa, ou vou
sozinha, não tem nada de errado nisso. — Minha voz sai mais fraca
do que pretendia.
— Nada além de encarar sua família toda e dizer que não tem
namorado, e sei que consegue outra pessoa. Você é linda,
inteligente, sexy, divertida, qualquer homem que passar quinze
minutos com você vai cair aos teus pés. — Ele caminha até mim e
nossos rostos ficam a centímetros um do outro.
— Quinze minutos? — provoco sem me segurar.
— Não sou qualquer homem, Marina — Léo se aproxima ainda
mais, consigo sentir sua respiração quente misturada com o
perfume inebriante que usa. — Eu estava aos teus pés desde o
primeiro dia, lembra? Tecnicamente estava aos pés do seu carro,
mas considero a mesma coisa.
Ah, se ele soubesse que esses olhos já tinham me chamado a
atenção naquele mesmo dia! Mas me recuso a admitir em voz alta.
— Léo, você não deveria brincar assim...
Ele se aproxima ainda mais e, pela primeira vez na vida, fico
sem palavras.
— Gosto de como meu nome fica ao sair da sua boca. —
Mordo o lábio inferior para conter um gemido e ele sorri. — Caralho,
você não tem noção do quanto quero te beijar agora.
Ele está muito perto.
Menos de um centímetro é a distância que nos separa, posso
sentir a eletricidade pulsante no ambiente, a atração entre nós é
como um imã, praticamente incontrolável.
Só quero me render ao momento.
Sentir essa boca na minha, esquecer quem somos e onde
estamos.
Foda-se. Quando vou me jogar nele, o barulho estrondoso do
alarme de incêndio começa a soar, as luzes de emergência
acendem e quase morro do coração.
Com o susto tento me afastar dele, mas tropeço nos meus
próprios pés e sinto uma dor massacrante no tornozelo, vejo minha
vida passar pelos meus olhos enquanto o chão se aproxima.
Lá vou eu, cair de bunda feito um saco de batatas, bem na
frente do meu estagiário.
— Peguei você. — Suas palavras são a minha salvação, assim
como os braços fortes que me amparam — Precisa parar de fingir
que vai cair só para que eu te segure.
— Eu não...
Paro de falar quando sinto cheiro de fumaça, vejo que Léo se
assusta também. Ele tenta me colocar de pé e cobre o nariz com a
manga da camisa, mas a dor me atinge na hora e sei que não vou
conseguir caminhar direito.
— Vem comigo.
Agarro meu notebook e a bolsa e tento ir atrás dele, a fumaça
começa a engrossar quando abrimos a porta do escritório, mas Léo
segura minha mão e me puxa. No minuto em que chegamos ao
corredor começo a escutar gritos e não aguento mais a dor no meu
pé.
Pessoas correm ao nosso lado enquanto a fumaça aumenta,
minha visão fica turva em algum momento e começo a tossir
descontroladamente.
Droga, o ar fica cada vez mais pesado.
Escuto uma mulher chorando e gritos de fogo, não sei de onde
vêm e já não controlo mais a tosse, a fumaça entra em meus
pulmões e começo a perder a força para correr.
— Marina, Marina, você está bem? Nós precisamos sair daqui.
— Léo me apressa, consigo distinguir seus olhos, mas então outros
olhos azuis vêm em minha mente.
Dessa vez no rosto enrugado e amável do meu pai. Será que
foi assim que ele morreu? Trancado em um ambiente, sem
conseguir respirar direito, perdendo as forças até que tudo se
apagasse.
Sinto que estou hiperventilado, mas não consigo puxar ar
suficiente, todo o meu corpo trava e preciso me agachar, mas no
momento em que vou me entregar, braços me erguem do chão.
Não sei mais o que está acontecendo, mas sei que estou com
ele.

***

Minha garganta está doendo.


Por que está tudo escuro?
Que bip bip bip é esse?
Abro os olhos lentamente, parece que é noite ainda, pisco
algumas vezes para conseguir distinguir uma janela ao meu lado.
Onde estão meus óculos?
Tento me mover e sinto cada parte do meu corpo, bom pelo
menos isso está certo, então sinto algo em minha mão esquerda.
— Hey, você acordou — uma voz conhecida fala baixinho e
alguém aperta minha mão, era isso que estava sentindo, um toque
quente e eletrizante. — Está tudo bem.
— Onde... o que... — minha voz falha e começo a tossir.
— Aqui, toma um pouco de água. — A pessoa coloca um
canudo na minha boca e no mesmo momento que sugo e o líquido
desce pela minha garganta sinto um pouco de alívio, mas volto a me
engasgar e tossir. — Com calma, querida.
— Léo? — viro e encontro seu rosto muito próximo do meu, o
azul dos seus olhos estão rodeados por um tom vermelho, como se
ele tivesse chorando.
— Sou eu, estamos no hospital. Você virou o pé e desmaiou,
no caminho acabou inalando mais fumaça e precisou ficar em
observação.
Sua voz é carinhosa e calma, ele não para de acariciar minha
mão enquanto fala.
— Desculpa, Marina, eu tentei te tirar de lá mais rápido, mas...
eu tentei... — a angústia na sua voz me atinge como uma
punhalada, então lembro dos últimos momentos, a dor no meu pé, a
fumaça, os olhos azuis.
— Eu lembrei do meu pai — digo vagarosamente, palavra por
palavra. — Acho que foi isso que me fez ficar ansiosa, a fumaça foi
um gatilho.
— Como assim?
Respiro fundo, já conseguindo manter o ar mais tempo nos
pulmões sem tossir, então conto sobre a morte do meu pai, como
recebemos a notícia logo depois, e que isso gerou um gatilho para
mim no incêndio.
— Está tudo bem no escritório? — pergunto, enquanto ele
absorve o que falei.
— Infelizmente não, nosso andar acabou sendo atingido, mas
o pior é que pegou nos servidores. O sistema de contenção de
chamas demorou a ser acionado e o prédio ficará fechado por um
tempo.
— Não! Como assim, fechado? Eu tenho que trabalhar
amanhã.
Começo a ficar agitada sem entender o que ele está falando.
— Ninguém vai trabalhar amanhã, os proprietários já
anunciaram que a empresa ficará fechada em um primeiro
momento.
— Eu tenho clientes, tenho casos em aberto, não posso… —
Tento levantar, mas braços fortes me seguram. — Léo, eu preciso
trabalhar.
— Agora não, morena, você precisa descansar. Dorme um
pouco, amanhã é um novo dia.
Descansar? Ele está ficando louco, só pode. Olho para baixo e
vejo uma bota ortopédica no meu pé esquerdo, não sinto dor,
provavelmente pelos remédios.
Estou realmente cansada.
Eu me entrego às suas palavras e volto a deitar, não sei
porque meu corpo está tão cansado. Sinto como se tivesse corrido
uma maratona, mas não consigo fechar os olhos.
O bip das máquinas me dá medo, assim como o cheiro de
antisséptico. Tudo aqui parece muito com hospital, porque estou em
um.
— Eu odeio hospitais — confesso baixinho.
— Vem cá — Léo fala e, como se não fosse nada, sobe em
cima da cama e me puxa para seu peito. — Finge que está em
algum outro lugar, prometo ficar aqui até você acordar.
Ele me abraça e desisto de lutar contra, me aninho em seu
peito, sentindo o perfume inebriante da sua camiseta. Não é mais a
camisa de botão, será que ele trocou de roupa?
Não consigo pensar nisso agora. Entrego-me ao cansaço e
durmo em seus braços, como já sonhei algumas vezes em fazer,
mas jamais consegui chegar à essa sensação, parece estranho.
Sinto-me bem e protegida.
CAPÍTULO 18
Leonardo
E eu até já fiz café pra tu não vir me falar
Que 'tá com sono e que o amor tem que esperar
Baby fica, a gente faz um funk
Mas amanhã a gente tem que trabalhar
E eu até já fiz café pra tu não vir me falar
Que 'tá com sono e que o amor tem que esperar
Café — Vitão

Meu pai também ficou em observação, descobri depois que ele


foi o último a sair, ficou lá até garantir que o último de seus
funcionários estivesse a salvo.
Gabriela, por sorte, não estava lá naquele momento. Ela me
ligou quando ficou sabendo e pedi para que me trouxesse roupas
limpas, avisei que não sairia daqui até garantir que Marina estivesse
bem.
Ela tinha uma amiga listada como contato de emergência.
Quando liguei para o número, a mulher chamada Carina que
atendeu disse estar viajando a trabalho, mas me fez prometer
mantê-la atualizada.
Perguntei se tinha mais alguém para quem eu devesse ligar,
alguma pessoa que poderia ficar com Marina depois de sair do
hospital, mas Carina negou.
Ela não tem ninguém na cidade.
Minha mãe veio ao hospital para ficar com o meu pai, ele está
bem, mas vai precisar descansar. Quando disse que ficaria com
Marina, ela me olhou esquisito, avisei que ela é minha chefe e que
não tem mais ninguém na cidade.
Sei que foi uma desculpa esfarrapada, mais para minha mãe
não ficar pensando besteira, porque não vou sair daqui sem a
morena.
Ela demorou a acordar, e quando fez estava meio grogue, no
momento em que contou sobre seu pai tudo fez sentido. Não tinha
tanta fumaça, mas ela começou a tossir demais e seu olhar parecia
perdido.
Quando percebi que ela não conseguiria sair caminhando, a
peguei nos meus braços e tentei tirá-la de lá o mais rápido possível.
Só no hospital que vi o estado do seu pé, estava muito
inchado, provavelmente virou quando se assustou, e foi minha
culpa. Fui um troglodita e não me controlei, precisei provocá-la, por
minha causa Marina se machucou e não conseguiu sair sozinha do
prédio.
Não dormi nada durante a noite, não por estar desconfortável,
só não consegui desligar minha mente. Marina se acomodou em
meu peito, mas só relaxou mesmo quando comecei a acariciar seus
cabelos.
A enfermeira até tentou me mandar descer da cama, mas me
recusei. Para conseguir ficar ali eu disse que era o namorado dela,
só assim obtive permissão e algumas respostas do médico.
Ela vai precisar ficar em repouso por alguns dias por causa do
pé, e não vou deixá-la sozinha.
Claro que Marina não aceitou minha ajuda calmamente.
Primeiro tentou me mandar embora de manhã, disse que já estava
bem e que iria embora de táxi, mas eu não saí do seu lado, então
ela começou a ficar brava, disse que eu não tinha nada que estar lá
e que não precisava de ajuda de ninguém.
Isso também não foi o suficiente, porque quando tentou andar
com a bota ortopédica, ela quase caiu por não conseguir firmar o pé.
Marina teve alta depois do almoço e protestou o tempo todo
contra a minha presença, tentou até fechar a porta do carro na
minha cara, mas nada me fez sair do seu lado, e é melhor que se
acostume, porque não vou deixá-la sozinha.
Sua amiga ligou várias vezes para saber como ela estava, na
última vez Marina parecia que ia explodir de raiva.
— Você não vai cortar sua viagem pela metade só para vir ficar
comigo, eu consigo me cuidar sozinha, venho fazendo isso por
anos, Carina — Marina quase gritava no telefone.
Ela está sentada no sofá da sala com o computador de um
lado, o tablet do outro e um monte de papéis espalhados em cima
da mesinha de centro.
— Não, Carina, se você fizer isso... — fala assustada, estou na
cozinha preparando um café para ver se consigo acalmá-la — Não,
eu já disse que não preciso… — Levanta o rosto e me olha
estranho, então faz sinal para que me aproxime e me entrega o
celular — Ela quer falar com você.
Pego o aparelho da sua mão trêmula, Marina está vermelha e
tenho certeza que pronta para explodir de raiva.
— Olá, Carina, gostaria de falar comigo? — pergunto
tranquilamente e Marina arregala os olhos ao perceber que sei
quem é.
“Então, ela não quer aceitar minha ajuda.”
— Percebi.
“Na verdade, essa cabeça dura não quer ajuda de ninguém, e
quando fica assim é difícil fazê-la mudar de ideia, então vou te
passar a criptonita da Marina.”
— Uma arma secreta? — indago em voz alta e Marina perde a
cor na minha frente.
—Não! — a morena grita e tenta pegar o celular das minhas
mãos, mas não consegue. — CARINA, NÃO FAZ ISSO, EU VOU TE
MATAR.
“Se ela tentar te mandar embora, fala que vai ligar para a dona
Regina.”
— Dona Regina, é? Certo, e você tem o número dessa
pessoa? — provoco ainda mais ao ver Marina surtar do meu lado.
— SUA TRAIDORA, E AINDA DIZ SER MINHA AMIGA —
protesta para que Carina escute.
“Sim, te mandei por mensagem, só a ameaça já deve
funcionar, mas se ela insistir em ficar sozinha, ligue para a mãe
dela. Marina é um caso perdido no quesito aceitar ajuda.”
— Pode deixar — não consigo controlar o sorriso no meu rosto
—, vou cuidar muito bem dela, e caso tenha algum problema, usarei
essa arma secreta sim.
“Boa sorte, e Leonardo, não se aproveite da situação ou corto
suas bolas e te faço engolir.”
Carina não espera que eu responda e desliga na minha cara,
mas sorrio com a sua ameaça. Mesmo que sejam minhas bolas em
jogo, é bom saber que Marina tem uma amiga assim.
— Agora que resolvemos essa situação, o que você acha de
um chá e pizza para o jantar? — Entrego seu celular e volto para a
cozinha para preparar um chá quentinho e cuidar dela.
— Como assim, resolvemos a situação? Não resolvemos
nada, já falei que posso me cuidar sozinha, não te convidei para
entrar na minha casa e muito menos ficar aqui.
— Quer que eu ligue para a sua mãe? Tenho certeza que ela
pode pegar um avião e estar aqui amanhã mesmo.
A ameaça produz o efeito que eu queria e Marina se cala.
— Muito bem. — Dou o assunto por encerrado. — Então, pizza
ou comida japonesa?
CAPÍTULO 19
Leonardo
Tento esconder, mas todo mundo sabe
Esse sorriso de cantinho da pra ver até do outro lado da cidade
Eu corro pela rua de tanta felicidade
Te abraço e lá se vai essa saudade
Não te largo, não te troco — Ana Gabriela

Estes são os melhores dias da minha vida.


Primeiro, Marina me odeia com todas as suas forças.
E isso é incrível.
Nossa rotina é maravilhosa. Eu chego de manhã cedinho e,
como se fosse um dia normal no escritório, trabalhamos nos casos
em aberto. Os clientes mais urgentes são atendidos de forma
remota, por vídeo chamada, pelo menos até o escritório voltar a
funcionar.
O que por mim pode demorar o tempo que for, estou amando
conhecer outro lado da minha chefe, ainda mais quando ela está em
uma reunião muito séria, o cabelo preso em um coque perfeito,
maquiagem básica, óculos pendido na ponta do nariz, camisa social
e a calça de pijama rosa de unicórnios.
SIM, UMA CALÇA DE PIJAMA ROSA COM ESTAMPA DE
UNICÓRNIOS.
E essa não é a única, Marina tem um guarda-roupa que
surpreende, aparentemente ela só não usa cores no trabalho,
porque em casa tudo é colorido. Os pijamas foram minha maior
surpresa, ainda mais combinados com a pantufa fofa do Frajola, que
ela usa só em um pé, já que o outro está na bota ortopédica.
Ela também gosta de deixar o ar condicionado ligado dentro de
casa, mesmo que lá fora esteja quente, aqui é gelado, parece que
estamos no escritório.
De tarde eu tenho que ir para a aula, mas deixo o almoço
reservado e ajudo a organizar o seu apartamento. Adoro cuidar
dela, mesmo que fazer faxina não seja a coisa que eu mais ame na
vida, faço o que posso para manter seu espaço limpo e organizado.
Ela disse que tem uma empregada que vem uma vez por
semana, só que um dia cheguei de manhã e ela estava tentando
usar o aspirador de pó.
Com uma mão na muleta, outra no aparelho, o pé machucado
erguido e o fio preso na boca, ela quase caiu. Marina tem uma
péssima coordenação motora e parece uma criança que não sabe
seus limites.
Depois da aula sempre venho ver como ela está, mesmo sob
protestos. Ela me recebe e jantamos juntos. Para mantê-la entretida
peço ajuda com alguns trabalhos ou digo que estou com dúvidas
nas matérias, e isso faz com que ela aceite minha presença.
Não é só desculpa, os apontamentos de Marina em meus
trabalhos têm me rendido as maiores notas que já tirei, ela é
incrivelmente inteligente e seu olhar crítico consegue encontrar até
os menores erros.
Vou para casa depois que ela toma banho. Já percebi que
Marina não tem a melhor coordenação motora do mundo, por isso
fico com medo de deixá-la sozinha. Vai que ela cai no banheiro, bate
a cabeça e se machuca ainda mais?
Só de pensar nisso tenho vontade de ajudá-la com o banho,
mas me controlo. Fico na sala, me torturando com o pensamento de
que a morena está a poucos metros de distância, completamente
pelada, se ensaboando embaixo do chuveiro. Minha imaginação é
fértil demais para controlar.
Assim como meu pau, que exige mais atenção do que o
normal, parece que voltei à adolescência e preciso me masturbar
três vezes ao dia para controlar o tesão.
Hoje eu trouxe Rogers comigo, ele fica sozinho à tarde toda
quando eu e a Gabi estamos na universidade, então pensei que
pode fazer companhia para minha chefe.
Até coloquei sua roupinha de Capitão América para convencê-
la a aceitar o cachorro, já que não sei se ela gosta ou não de
animais.
— Tenho uma surpresa para você, espero que não se importe
— falo ao abrir a porta, peguei uma cópia da sua chave para ela não
precisar levantar. — Este aqui é o Rogers e ele fica muito sozinho
no meu apartamento.
Marina me olha curiosa do sofá, ela está com um pijama
vermelho com o Darth Vader estampado na camiseta, a calça tem o
símbolo dos Siths desenhados, o rosto sem maquiagem e os óculos
no rosto. Seu estado indica que não terá reuniões por vídeo
chamada hoje.
Mas o melhor é ver seu cabelo solto, os fios ondulados caem
pelos seus ombros em uma cascata escura e linda.
— O que você... — ela não tem tempo de falar, Rogers corre
até o sofá e se joga em seu colo, exigindo atenção e Marina o
recebe com os braços abertos.
Seu sorriso me faz prender a respiração, Rogers lambe seu
rosto e ela solta uma gargalhada maravilhosa, caralho, Marina fica
ainda mais linda feliz assim.
Meu maldito coração quase explode no peito ao presenciar
esta cena, já posso imaginar nossa casa: adotaremos mais
cachorros e gatos e cuidaremos como filhos...
— Não sabia se você gostava de cachorros, mas resolvi
arriscar — comento enquanto entro no apartamento e vou até a
cozinha deixar algumas coisas que comprei para ela, mas sem tirar
os olhos da cena. Estendo o tapete higiênico na lavanderia e coloco
o pote de água e ração ao lado.
— Eu amo, quase adotei um ano passado, mas fico muito
tempo fora de casa e seria cruel com um animal.
— Sim, eles precisam de companhia, a Gabi e eu nos
revezamos para cuidar deste aí, passear pelo menos uma vez por
dia e brincar com ele.
Percebo que seu sorriso vacila por um momento enquanto ela
brinca com Rogers.
— Você pode ficar com ele à tarde, prometo que é bem
comportado. — Sento ao seu lado no sofá e o cachorro vem
imediatamente para o meu colo. — Não é mesmo, sua bolinha de
pelos? Conta para a Mari que você sabe fazer xixi só no tapetinho,
que não vai morder as coisas dela, e que você promete não
atrapalhar.
Ele fica cada vez mais animado e balança o rabo
freneticamente, não sei porque falo com essa voz de criança com
ele, mas sempre o deixa animado.
— Ah, e ele sabe fazer alguns truques também. — Pego minha
mochila e tiro uma bolinha amarela de dentro, Rogers desce do sofá
imediatamente. — Senta — dou o comando e ele responde na hora.
— Bom garoto, agora pega. — Jogo a bolinha até a cozinha com
pouca força, já que o lugar é pequeno e não quero que ele quebre
nada no primeiro dia, então assistimos enquanto corre
enlouquecidamente atrás do seu brinquedo favorito.
Ao retornar o sacana não devolve para mim, mas sim para
Marina, ele larga aos seus pés e senta no chão, aguardando que ela
jogue de novo.
— Ele sempre traz de volta quando quer continuar a brincar, se
ele cansar vai largar em outro lugar — explico e ela aceita, jogando
a bolinha em outra direção. — Não vai ser assim o dia todo, é que
caminhamos pouco já que eu moro perto daqui, então ele ainda tem
uma energia para gastar.
— Você mora perto?
— Sim, há umas três quadras daqui. A Gabi e eu dividimos o
apartamento com o cachorro. — Pisco e ela sorri, mas novamente
desvia o olhar.
— Vocês moram juntos? — a pergunta sai vacilante, e só
então entendo sua dúvida.
— Gabriela é minha melhor amiga desde que nascemos.
Crescemos juntos, nossas famílias moram perto. — Tento ser o
mais vago possível sobre isso para ela não desconfiar da verdade,
apesar de querer ser honesto com Marina, meu pai me fez prometer
não falar nada. — Quando entramos para a mesma faculdade
nossos pais alugaram um apartamento um pouco fora do campus,
na tentativa de não atrairmos problemas.
Sorrio ao lembrar da minha mãe e a da Gabi explicando que
dentro do campus tinha muita festinha e nós não iríamos estudar se
entrássemos para alguma república.
— Espertos, o campus é uma confusão.
— Sim, e não é tão longe assim. Enfim, essa foi a condição
das nossas mães para aceitarem que saíssemos de casa.
— Entendi, e vocês...
Ah, querida, eu sei que você quer perguntar.
— Nós o quê? — provoco, me fazendo de desentendido.
— Nada — Marina desconversa e tenta levantar, mas seguro
sua mão e me aproximo dela. Com nossos rostos a centímetros um
do outro, consigo sentir o perfume do seu shampoo e o calor da sua
respiração.
— Pergunta — desafio.
— Não tem nada para perguntar.
— Sei que é mentira.
— Vocês têm alguma coisa? — Evasiva, vacilante, Marina
solta a respiração e fica vermelha.
— Gabi é minha melhor amiga, mais que isso, ela é como uma
irmã, eu a amo e a protejo, mas não, nunca nos envolvemos desta
forma.
— Nunca?
— Apesar do que nossas mães sempre sonharam, somos só
amigos — respondo e vejo um pequeno sorriso vacilante em seu
rosto. — Um homem e uma mulher podem ser amigos sem se
envolverem, ou você não acredita nisso?
— Claro que acredito.
— Que bom que deixamos isso claro — falo e me aproximo
ainda mais sem tocá-la. — Por que não quero que pense que eu
estaria com alguém e daria em cima de você ao mesmo tempo, não
sou esse tipo de homem.
— Você está dando em cima de mim? — questiona e seu olhar
se transforma em surpresa.
— Descaradamente — respondo e ela morde o lábio inferior.
— Agora que deixamos claro que eu estou solteiro e interessado pra
caralho em você, já posso te beijar? — instigo, chegando ainda mais
próximo. Marina inspira profundamente e fecha os olhos, como uma
permissão.
É agora, meu corpo todo queima na antecipação de tomar
seus lábios rosados e macios para mim.
Mas Rogers escolhe bem este momento para pular no sofá,
bem no meio de nós dois. Com a bolinha já toda babada na boca,
ele exige lugar e nos separa.
A interrupção faz Marina se afastar rapidamente, ela tenta se
levantar do sofá, mas esquece do pé machucado quando coloca
todo o peso nele.
— Não, você precisa parar de correr. — Levanto e a seguro
antes que caia novamente. — Marina, olha para mim.
— Tenho que trabalhar, Léo. — Ela se recusa a me olhar
diretamente, mas sua mão segura meu braço como apoio.
— Já chega.
Dessa vez não dou oportunidade ao destino, passo um braço
pelas suas costas e colo seu corpo ao meu, Marina suspira de
surpresa, e no momento em que seus lábios se abrem para
protestar, grudo minha boca na dela.
E caralho, é ainda melhor do que eu lembrava.
O beijo não vem devagar, já começa intenso e dominante.
Toda a antecipação toma conta do meu corpo quando sinto ela
reagir, seus lábios se abrem e a língua encontra a minha, quente e
molhada, com gosto de café, sabor de Marina.
Não controlo o gemido que escapa da minha boca quando ela
agarra meu pescoço e se aproxima ainda mais, respondendo com a
mesma intensidade ao nosso contato.
Cada parte de mim chama por ela enquanto sua boca me
domina, Marina toma o controle da situação e me empurra de volta
para o sofá.
Como da primeira vez, é ela quem está por cima, e caralho, eu
estou entregue.
Rogers sai de perto, como um bom garoto, e Marina tenta
montar em mim, mas a bota ortopédica atrapalha seus movimentos
e ela geme de frustração.
— Vem cá — Levanto-me novamente e espalmo sua bunda,
ela se assusta quando a ergo, mas passa as mãos pelo meu
pescoço, segurando-se enquanto caminho até seu quarto.
Sonhei com este momento desde que entrei aqui pela primeira
vez para pegar uma coberta para ela. A cama tem uma colcha preta
com estampa de constelações, as paredes são em quatro tons de
azul, do mais claro ao mais escuro, decoradas com pinturas
diversas que reconheci serem fanarts de alguns filmes famosos.
— O que você está fazendo comigo, Léo? — Marina pergunta
quando a deito delicadamente em sua cama.
— Não sei, mas agora eu quero te beijar de novo — respondo
e subo na cama. Coloco uma mão em cada lado do seu rosto, ela
transpassa as pernas pela minha cintura e nossas bocas voltam a
se encontrar.
— Não é certo — protesta. — Você é meu estagiário.
— Não agora, neste momento eu sou teu homem e vou fazer
tudo o que você mandar. — Mordo seu lábio inferior, descendo aos
poucos pelo queixo e pescoço, sinto seu cheiro e a forma com que
sua pele arrepia ao meu toque. — O que você quer, Marina?
— Léo — ela geme quando coloco uma mão por dentro da
camiseta, sentindo sua pele macia em meus dedos.
Marina reage e começa a abrir os botões da minha camisa,
mas suas mãos tremem, então me afasto e decido dar um
showzinho para minha chefa.
— É isso que você quer? — pergunto e tiro o tecido de dentro
da calça social, seus olhos castanhos não saem do meu peito, então
começo a abrir os botões, um por vez. Vejo seu peito subir e descer
mais rápido enquanto ela assiste à minha exibição. — Responde, é
isso que você quer?
— Sim — ela praticamente rosna para mim em resposta. —
Quero ver o que diabos tem por baixo dessa camisa.
Abro os primeiros botões e seu sorriso se alarga ainda mais, a
forma com que me olha com desejo faz meu pau pulsar dentro da
calça.
— Sou todo seu — digo enquanto termino de abrir o último
botão, suas mãos impacientes me atacam e ela empurra a camisa,
deixando meu peito à mostra para seu olhar apreciativo. — Gosta
do que vê?
— Eu sabia que essas tatuagens não acabavam no braço —
responde e passa a língua pelos lábios, o sorriso safado me faz
soltar uma gargalhada.
— Tem mais além dessas — provoco e me abaixo para beijar a
sua boca. Marina passa as mãos pelo meu peito, seu toque age
como uma descarga elétrica em minha pele, fazendo-me perder o
controle. — Eu quero você.
Ela geme e ergue os braços acima da cabeça, seu olhar
entregue é o que preciso para continuar. Tiro sua camiseta,
admirando cada parte do seu corpo no processo, jogo a peça ao
lado da minha e parto para o sutiã de renda preta.
Eu me enrolo um pouco com os ganchos na parte de trás e
Marina ri da minha cara, enquanto levanta as costas um pouco
mais, dando-me espaço para descobrir como abrir este negócio.
Quando finalmente consigo, a visão dos peitos deliciosos deixa
minha boca salivando em antecipação, ainda mais quando vejo seus
mamilos rosados e duros para mim. Os piercings decorando cada
um são como um maldito presente, não espero e caio de boca.
Passo a língua pelas joias geladas e sinto Marina arquear as
costas, oferecendo-se para mim.
— Gostosa pra caralho — falo e abocanho um mamilo
sensível, com uma mão me equilibro em cima dela e com a outra
acaricio o outro seio — Você não imagina o quanto sonhei em
chupar estes peitos novamente.
— Não passe vontade — ela responde e se esfrega contra
minha ereção enquanto lambo o mamilo. — Eu quero sentir tua
boca na minha boceta, Léo.
Seu pedido descarado me faz sorrir e quase gozo nas calças,
maldita provocadora, ela está entregue, nada vai nos parar agora.
— Como quiser — respondo e desço um caminho de beijos
pela sua barriga. Ela passa uma mão pelo meu cabelo e agarra os
fios, possessiva, indicando quem manda aqui.
Abaixo mais e tiro a sua bota ortopédica com cuidado, só
então consigo livrá-la da calça do pijama e tenho a visão da calcinha
de renda que combina com o sutiã.
Será que ela estava esperando por isso?
A dúvida deve estas estampada em meu rosto, porque Marina
solta uma gargalhada e passa a mão pela calcinha.
— Eu amo renda — fala dando de ombros. — Sinto-me
gostosa.
— Você é gostosa, com uma calcinha de renda ou com roupas
sociais. Tenho certeza que até com um saco de batatas. Não
importa o que use, é a mulher mais linda que eu já vi.
Ela parece assustada com minhas palavras, mas não dou
tempo para que pense muito nisso, engancho um dedo na calcinha
e abaixo o tecido, deixando-a completamente nua em minha frente.
CAPÍTULO 20
Marina
Eu rebolo, sim
De um jeito que te enlouquece
Minha boquinha faz coisas
Que sua mente não esquece
Que sua mente não esquece
Eu rebolo sim — MC Branquinha

De tudo o que tinha programado para hoje, ter Leonardo na


minha cama me devorando com os olhos não estava na lista.
Mas foda-se, não tem a menor chance de eu recuar agora.
É impossível pensar em um motivo sequer para não me
entregar ao momento, ainda mais com a visão deste homem sem
camisa em cima de mim.
Como suspeitava, as tatuagens do braço seguem o caminho
para o peito, juntando-se em um lindo desenho colorido que desce
pelos gominhos do abdômen.
Que homem, minha Cher amada.
Só consigo pensar em passar minha língua por este corpo
malhado e rabiscado.
— Se continuar me olhando assim, vou gozar na cueca — Léo
brinca e passa as mãos grandes e quentes pelos meus peitos. —
Perfeita.
Não digo nada, só assisto ele se abaixar e abocanhar um
mamilo enquanto acaricia o outro com a mão esquerda, a sensação
da sua língua macia e quente na minha pele me faz incendiar.
Minha boceta já está encharcada, seu toque tem este efeito
em mim, é intenso e carinhoso ao mesmo tempo, não consigo
definir direito e isso me assusta.
— Vou chupar essa boceta agora, Marina — Léo murmura
enquanto trilha uma linha de beijos do meu peito, passando pela
barriga, até o Monte de vênus — Me ensina como você gosta.
Ai, caralho, ele está pedindo mesmo para que eu o ensine a
me chupar? Puta que pariu, quando penso que não pode melhorar,
Leonardo acaba de ficar ainda mais perfeito.
— Começa devagar, como se estivesse beijando minha boca
— oriento e sinto sua respiração no meio das minhas pernas. —
Faça com meus lábios o mesmo que antes, quero sentir a tua língua
apreciando cada parte da minha boceta.
Ele começa a beijar meus grandes lábios delicadamente, com
movimentos deliciosos sua boca prende meus lábios vaginais e olho
para baixo, é como se Léo estivesse beijando a minha boca.
Com a diferença de que seus olhos azuis estão fixos nos
meus, ele assiste minhas reações enquanto me chupa com vontade,
e isso me faz gemer de tesão.
— Usa a língua, Léo — peço entre gemidos e o vejo sorrir,
safado. Ele faz o que falo e sinto sua língua passar pela minha
boceta calmamente, até chegar ao clitóris inchado. — Isso, bem aí.
— O que você quer, Marina? — ele me desafia, a boca a
milímetros da minha boceta, sinto a respiração quente me atiçar,
mas ele não volta a lamber onde preciso.
— Me chupa com vontade — praticamente imploro e levo uma
mão ao seu cabelo, sentindo os fios loiros e macios passarem pelos
meus dedos.
— Como desejar. — Então sua boca volta aos meus lábios,
mas agora é mais intenso, mais rápido, ele não espera por
orientação. Leonardo sabe o que fazer quando lambe meu clitóris,
prendendo o botão sensível entre seus lábios para depois soltar e
me levar a loucura.
Não controlo os espasmos que dominam meu corpo, ainda
mais quando ele intensifica os movimentos e me segura contra a
sua boca, possessivo, seus olhos nos meus demonstram o quanto
ele gosta do que faz.
Os gemidos que escapam da sua boca vibram em meu clitóris
e não preciso de mais nada para chegar ao ápice, ou assim pensei,
até ter dois dedos dele invadindo meu canal enquanto eu gozo em
sua boca. Léo toma tudo de mim e pede mais.
Com movimentos de entra e sai rápidos e precisos, ele atinge
aquele ponto que poucas pessoas conseguem, me fazendo delirar.
Tento sair do seu domínio, as sensações são fortes e intensas
demais, mas ele não deixa, sua língua ainda me tortura enquanto os
dedos me penetram, e gozo novamente, dessa vez molhando tudo
embaixo de mim em um squirting delicioso.
— Léo... Meu Deus, eu não... Léo — grito sem conseguir me
segurar.
— Goza para mim, gostosa — ele fala e sinto que vou gozar
de novo.
Diabos, o que é isso? Nunca tive tantos orgasmos seguidos
assim.
Seus dedos não param, mesmo quando minhas pernas
tremem ao redor da sua cabeça, ele continua me chupando, não
consigo mais controlar meus movimentos, fecho os olhos e agarro o
cobertor, arqueando as costas e sentindo sua boca ainda no meu
clitóris.
— Eu não aguento mais — falo com a voz sôfrega.
— Aguenta sim — ele responde e seus dedos me penetram
ainda mais rápido. — Eu quero ver você gozar mais uma vez, vem
pra mim, gostosa.
Sua voz exigente me quebra e toma as últimas forças do meu
corpo, guiando-me a um prazer que jamais pensei em experimentar.
Sinto-me leve e extasiada quando gozo mais uma vez.
Será que morri e estou o céu?
Consigo ver estrelas, de tão forte que meus olhos se fecharam,
então volto à realidade aos poucos, sentindo meu corpo todo
amolecer e vibrar ao mesmo tempo.
O toque da sua mão acariciando minhas pernas é elétrico,
minha pele está sensível, meu coração parece que vai sair da caixa
torácica e explodir em milhões de pedaços, como fogos de artifício.
— Você não imagina quantas vezes sonhei em te fazer gozar
assim, até a exaustão. — A voz do Léo me acorda, mas me recuso
a abrir os olhos. — Tão gostosa, ainda mais doce do que imaginei,
quis sentir teu gosto desde o momento em que transamos naquele
sofá.
Não tenho força nem para responder, só sorrio, porque eu
sonhei com a boca do Léo me levando às alturas desde aquele
momento também.
— Que tal uma boa xícara de café? — ele pergunta no meu
ouvido. Sinto sua mão acariciar meu cabelo e percebo que Léo está
deitado do meu lado.
Abro os olhos e encontro as írises azuis intensas me
encarando, mas seu sorriso é o que faz meu coração pular uma
batida.
— Só preciso de alguns minutos e podemos continuar aqui —
Viro-me de frente para ele e passo a mão e seu peito nu.
— Infelizmente entramos em horário de trabalho daqui a cinco
minutos — aponta para o relógio na minha parede —, e já tive o
bastante, por enquanto. Agora quero te alimentar e usar seu cérebro
para me ajudar em um trabalho.
— Eu sabia que três orgasmos não sairiam de graça — brinco
e assisto seu rosto se torcer em uma gargalhada leve e espontânea.
— Vem cá que eu te ajudo a colocar as roupas que eu mesmo
tirei.
— Acho que preciso de um banho antes.
— Tudo bem — Léo levanta rapidamente, e quando vou fazer
o mesmo, ele me surpreende e me ergue em seus braços, levando-
me até o banheiro.
— O que você pensa que vai fazer? — pergunto, mas passo
meus braços pelo seu pescoço e me aninho em seu peito.
— Te dar um banho, é claro — responde simplesmente, então
ele tira os sapatos e as meias, ainda comigo em seu colo, e entra no
banheiro — Se apoia em mim.
Ele me coloca no chão com cuidado e me apoio no pé bom,
deixando o outro erguido, ainda está bem inchado. Assim que estou
de pé, Léo tira o cinto, abaixa a calça social e a cueca, e entra
comigo no chuveiro.
Está bem, eu não tenho autocontrole para ver seu corpo
completamente nu sem que minha boceta aperte de tesão. Passo os
olhos pelo tanquinho que desce em um V perfeito até sua ereção,
que tem a ponta brilhante e me faz querer lambê-lo.
— Olhos aqui em cima, mocinha — Léo coloca a mão no meu
queixo e me força a olhar para o seu rosto. — É só um banho, por
enquanto.
— Você está me provocando — reclamo e mordo meu lábio
inferior, tento me aproximar dele, mas esqueço que meu pé está
machucado e quando vou andar, sinto uma dor absurda e Léo me
segura em seus braços.
— Estou, desculpa. — Seu rosto se contorce em preocupação
ao ver minha dor, e ele me mantém de pé, ainda afastado de mim o
máximo que consegue. Liga a água e sinto o jato quente cair pelas
minhas costas.
A pressão do chuveiro faz com que as gotas massageiem
minha pele e sinto meus músculos relaxarem, realmente ele me
esgotou com tantos orgasmos.
Léo faz o que prometeu e me dá banho, literalmente. Enquanto
uma mão me mantém segura, a outra passa a esponja com o
sabonete líquido pelo meu corpo, em um carinho cuidadoso.
Nossos olhares não se desconectam nem por um segundo,
vejo o fogo por trás do azul dos seus olhos, mas tem algo a mais,
um sentimento intenso que me faz tremer de medo. Suas mãos
ensaboam meu corpo, depois ele enxagua, pega o shampoo e
passa no meu cabelo.
Os dedos grossos massageiam meu couro cabeludo e me
entrego a ele, que se aproxima mais a cada momento até que sinto
sua ereção na minha barriga.
Quero fazer o mesmo que ele, então passo o sabonete na
minha mão e começo a ensaboar seu peito, admiro cada uma das
tatuagens e vou descendo, sinto seu corpo retrair quando chego no
seu pau, mas não deixo que pense em se afastar.
Seguro a ereção com uma mão e Léo solta um gemido, nossos
olhares se encontram e o que vejo refletido nele é desejo, puro e
incontrolável.
Ele enxagua o shampoo do meu cabelo enquanto começo a
masturbá-lo, primeiro com movimentos lentos. Escuto sua
respiração acelerar e suas mãos apertam minha cintura, mantendo-
me estável em um pé só.
— Marina, não precisa...
— Eu sei, mas eu quero — falo e começo a aumentar a
velocidade dos movimentos, sentindo seu pau inchar ainda mais na
minha mão. — É bom assim?
— Aperta um pouco mais — pede e quando o faço, ele geme
de satisfação. O som ecoa pelo banheiro até atingir o meio das
minhas pernas. — Caralho, que delícia.
Ele não se controla e toma minha boca em um beijo firme e
necessitado — nada de calma —, Léo está pegando fogo enquanto
faço com ele o mesmo que fez comigo.
Eu me esforço ainda mais e ele geme na minha boca, sinto
que está chegando lá, então faço os movimentos ainda mais rápido,
segurando da base até a ponta, até que sinto o gozo quente na
minha barriga e Léo morde meu lábio inferior. Gemendo meu nome
contra minha boca, ele se entrega.
E é lindo demais assistir este homem gozando na minha mão,
tomado pelo prazer que eu o fiz sentir.
— Quero você dentro de mim, Léo — afirmo contra a sua boca
e o sinto gemer em resposta. — Preciso sentir teu pau entrando
fundo em mim, me fodendo como daquela vez.
— Marina... — Léo suspira contra meus lábios, seu pau ainda
em minha mão, ele nem amoleceu e já está pulsando de novo. —
Você me faz perder a cabeça.
Ele troca de lugar comigo e fica embaixo da água até sair toda
a espuma do sabonete que usei em seu corpo, então deliga o
chuveiro e me ergue em seus braços novamente, levando-me de
volta até a cama.
Estamos ambos molhados e deixamos um caminho pelo
carpete, mas não me importo, nem quando ele me deixa na colcha e
sobe em cima de mim, suas pernas abrem as minhas e sinto seu
membro roçar meu clitóris.
— Droga, eu não tenho camisinha — Léo anuncia com dor na
voz.
— Primeira gaveta do lado direito — indico a mesinha de
cabeceira e ele sorri, desce da cama e encontra o pacote fechado
de preservativo que sempre mantenho ali.
— Eu amo uma mulher prevenida — elogia e abre a
embalagem com os dentes, desenrola no seu membro e volta a ficar
no meio das minhas pernas. — Vou te foder devagar e bem gostoso
dessa vez. — Suas palavras saem ao mesmo tempo em que seu
pau me invade. — Caralho, Marina, você já está pronta para mim.
— Só vem Léo — exijo e arranho suas costas quando ele toma
a minha boca em um beijo suave que acompanha as estocadas do
seu pau, ele entra e sai de mim, com movimentos profundos que
atingem aquele ponto lá dentro, fazendo-me tremer.
CAPÍTULO 21
Leonardo
Eu achei ela tão linda, ela é tão linda
Se ficar comigo, a vida fica mais bonita
Mãe, ela é tão linda, ela é tão linda
Se ficar comigo, fica pro resto da vida
Tão Linda — Atitude 67

Marina está entregue embaixo de mim, seus gemidos são


como os chamados de uma sereia, meu pau reage a ela e começo a
meter mais rápido.
Pego os dois travesseiros e coloco embaixo da sua bunda,
erguendo sua pélvis contra mim para que ela não precise trançar as
pernas na minha cintura.
A posição a deixa ainda mais aberta e receptiva, meu pau
entra mais fundo, isso faz ela gritar de prazer a cada estocada. Seu
canal aperta meu membro, sugando-me para dentro dela, fazendo-
me perder o controle.
Não vou durar muito e eu acabei de gozar, como pode uma
mulher ter tanto poder assim sobre mim?
— Me fode com mais força — Marina exige e o restante do
meu controle se esvai. — Quero mais Léo, até no fundo.
Puta que pariu, ergo sua perna direita e seguro em frente ao
meu peito, tomando cuidado para a esquerda ficar deitada, sem
correr o risco de machucar seu pé. A posição me faz ir ainda mais
fundo do que achei ser possível, e começo a estocar mais rápido.
Fodo sua boceta como a desgraçada faz com meu coração, a
necessidade de mais me atormenta a cada vez que entro e saio
dela, o cheiro de sexo misturado ao seu shampoo domina meus
sentidos.
Tudo em Marina me atrai, sou como um animal no cio: sinto o
cheiro da sua excitação, vejo o desejo em seu olhar, a forma com
que suas mãos se seguram em meus braços e como Marina grita
meu nome.
Seus gemidos fazem minha pele queimar, meu pau pulsa
ainda mais dentro dela, sinto ela me apertar e sei que está quase,
preciso que goze de novo, desta vez enquanto meu membro a
penetra.
Cuspo em meus dedos e levo até seu clitóris, ela está molhada
pra caralho, e no momento em que toco o nervo sensível, Marina
grita e se contorce de prazer, atingindo o orgasmo e eu a
acompanho, sem conseguir controlar meus movimentos, gozo na
camisinha, mas continuo entrando e saindo dela.
Meu pau quer mais, o maldito não amolece mesmo depois de
gozar duas vezes. Se continuar assim, vou estar pronto para mais
uma.
— Caralho, Léo, dessa forma eu não consigo te acompanhar
— Marina relaxa e abaixo sua perna, saio dela devagar, tiro o
preservativo, dou um nó na ponta e jogo no lixo do banheiro antes
de voltar e me deitar ao seu lado.
— Não me canso de você — confesso e aninho a morena em
meu peito, como fiz na cama do hospital, mas agora que estamos
sem roupa, pele contra pele, posso sentir seu coração bater tão
rápido quanto o meu.
— As regalias de se ter 22 anos de idade — ela brinca e passa
a mão pelo meu peito em uma carícia intuitiva —, mas vou precisar
de um tempo, de verdade, não sei se consigo caminhar agora.
— Não precisa, eu te carrego. — Beijo seu rosto e sou
recompensado com um lindo sorriso espontâneo. — Desculpa se
me empolguei demais, você me faz perder o controle.
— Gosto do Léo descontrolado — confessa.
— Sou todo seu — enfatizo e beijo sua testa, então escuto um
telefone tocar na sala e o som nos tira da magia do momento. — Eu
vou atender, já volto.
Saio correndo pelado até encontrar o celular de Marina em
cima da mesa de centro, na tela vejo o nome de um homem
chamado Marcos, não lembro de termos algum cliente com este
nome.
— É o seu celular — anuncio quando volto para a cama e
entrego o aparelho para Marina.
Ela olha para o nome na tela e torce o lábio em uma careta
estranha, então recusa a ligação e joga o aparelho em cima da
cama.
— Pode me ajudar? Acho que preciso de outro banho rápido.
— Claro, se segura no meu pescoço. — Ela faz o que digo e
caminho de volta para o banheiro, mas alguma coisa na forma como
ela recusou a ligação me deixa em alerta, porém não quero quebrar
nosso momento.
Depois disso trabalhamos a manhã toda e não perdi uma
oportunidade sequer de roubar um beijo dela, não consegui me
conter, ainda bem que não estamos no escritório.
À tarde deixei Rogers com ela e fui para a universidade,
encontrei Gabi e nossa galera na aula, mas eu sou transparente
demais, porque no instante em que minha amiga bateu os olhos em
mim, ela soube que eu estava escondendo algo.
Não contei para a Gabi que Marina é a mulher da balada, na
verdade não sei porque estou escondendo isso, não é como se
fosse algo proibido ou ruim, só acho que ainda não é hora dela
saber.
—Tá chapado a essa hora, Léo? — Arthur debocha quando
me junto ao grupo antes de cada um ir para sua sala. Ele, Gabi,
Jimmy, Karen, Ju e a ruiva que minha amiga pegou aquela noite,
mas não lembro o nome, todos olham para mim.
— Parece que viu um passarinho azul, ou foi uma balinha que
te deixou assim? — Jimmy entra na brincadeira, o estagiário passou
a andar com nosso grupo há pouco tempo, mas já está se sentindo
em casa. — Compartilha o que quer que esteja usando com o
grupo, cara, também quero vir para uma aula de direito penal
relaxado assim, ainda mais que hoje tem prova.
— Cala a boca, se tu não estudou e tá preocupado, o
problema é teu — respondo e tiro minhas coisas da mochila.
— Ele tá estranho — Arthur comenta desconfiado para o resto
do grupo e arrasta uma cadeira, sentando-se do meu lado, muito
próximo. — Comeu alguém, foi?
— Não sou canibal, e você não tem um projeto para entregar
hoje? — provoco e tento segurar o riso, meu amigo está no último
ano de Engenharia Civil, mas suas aulas são no prédio ao lado.
— ELE TRANSOU! EU SABIA QUE ISSO ERA MAIS QUE
DROGAS, O LÉO TRANSOU! — Arthur grita e a sala toda olha para
nós, alguns começam a rir e eu já não contenho as gargalhadas,
mas pego meu amigo pelo pescoço e finjo um mata-leão.
— Quem foi a ‘sortuda” da vez? — a pergunta ácida e
sarcástica vem da Juliana, que me olha como se pudesse explodir
minha cabeça com o poder da mente.
— Ninguém que vocês precisem saber. — Tento encerrar o
assunto, mas isso só traz mais curiosidade aos meus amigos, que
começam a especular sobre todas as garotas que já deram em cima
de mim.
— A Ju não foi, porque ela está se corroendo de ciúmes —
Arthur provoca e olha para a loira, que fica vermelha com as
palavras do meu amigo. Dou um tapa em seu braço. — E faz uma
cota que não te vejo com ninguém, fala aqui pro teu brother, eu juro
que não falo pra ninguém.
— Aham, sei, justamente você, o rei da fofoca. — Gabi vem
em minha defesa, mas ela está com aquela cara de vamos
conversar depois. — O professor está vindo, vamos todos nos foder
em mais uma prova, depois podemos beber alguma coisa lá no AP.
— Eu não posso, tenho compromisso mais tarde — respondo
rapidamente —, mas aproveitem por mim.
Por sorte bem nesta hora o professor entra na sala e todos
caminham para seus lugares, Arthur pega suas coisas, dá um
tapinha nas minhas costas e vai para sua aula. A apreensão antes
da prova dispersa os pensamentos sobre minha vida sexual, mas
minha amiga ainda me olha, curiosa.
A prova parecia fácil, Marina me ajudou a estudar, mesmo não
sendo sua área, ela tirou todas as minhas dúvidas. Geralmente eu
ligaria para o meu pai ou me enfiaria nos livros para entender a
matéria, mas ter minha mulher explicando sobre as leis e a
aplicação delas foi encantador.
Terminei a prova antes de todo mundo e fiz sinal para Gabi que
iria para casa, ainda mandei mensagem para seu celular avisando
que não estaria lá quando ela chegasse, mas que aproveitassem a
festa por mim.
Voltei até o meu apartamento só para tomar um banho e trocar
de roupa, resolvi deixar o carro na garagem e fui até a casa da
Marina de skate mesmo.
Quando chego escuto suas gargalhadas antes mesmo de abrir
a porta, seus risos flutuam até meu coração e produzem aquele
efeito instantâneo de calma e felicidade que ainda é novo para mim.
— O que está acontecendo aqui? — questiono ao ver Marina
sentada no chão, o pé machucado descansa em uma almofada,
enquanto Rogers pula nela, insistente.
— Ele quer brincar.
— Joga a bolinha para ele.
— Não sei onde foi parar, esse monstrinho não trouxe de volta
da última vez e meu pé está doendo para levantar e procurar.
Sua confissão é novidade, até agora Marina não havia
reclamado de dor.
— Já tomou o remédio? — questiono e caminho até ela. Dou
um beijo em seu rosto antes de procurar a bolinha, Rogers não vai
parar até que eu a encontre, conheço meu cachorro.
— Odeio essas pílulas, me deixam com muito sono e preciso
trabalhar.
— Você precisa tomar os remédios — repreendo e vou até a
cozinha, pego os comprimidos receitados pelo médico, um copo
com água e levo para ela. No caminho vejo a bolinha amarela ao
lado do sofá e jogo para Rogers. — Toma que logo passa.
— Realmente não preciso, Léo, é só dor. — Ela torce o nariz e
é a coisa mais fofa desse mundo.
Marina está fazendo birra para tomar a medicação.
Sento do seu lado e coloco uma mecha caída do seu cabelo
atrás da orelha, acariciando a pele macia do seu rosto, vejo ela
receber o carinho e controlar um sorriso, então a beijo calmamente
nos lábios.
— Se você tomar os remédios certinho, te concedo um desejo
— brinco e ela sorri, minha mãe costumava usar esta técnica
comigo quando era mais novo.
— Virou gênio da lâmpada, foi?
— Não completamente, mas prometo realizar o que for que
você tenha em mente.
— Qualquer coisa? — pergunta em um tom de desafio, sua
expressão safada não deixa dúvidas de que o pedido será bom.
— Qualquer coisa que esteja ao meu alcance — prometo e ela
pega os comprimidos, colocando ambos de uma vez na boca, leva o
copo com água até os lábios e engole sem desviar o olhar do meu
rosto.
— Quero um café bem forte — responde e me olha com
carinha de coitada. Não acredito nisso. — O quê? Não consigo
levantar daqui faz 2 horas, se ficar mais 10 minutos sem uma boa
dose de cafeína eu vou surtar, Leonardo.
Começo a rir do seu desespero, Marina me surpreende cada
vez mais.
— Você é uma viciada, sabia disso? — saliento e vejo ela
sorrir e acenar positivamente. — E não tem nem vergonha de
admitir.
— Algumas pessoas usam drogas, eu só quero minha bebida
favorita.
— Não vem com essa, você também é viciada em trabalho.
— Não é um vício, é uma paixão — ela se defende —, mas
está aí, me julgando. Vai me dizer que não tem nada na sua vida
que você ame fazer?
Penso por um momento, mas não tenho resposta.
— Acho que ainda não encontrei meu vício. — Dou de ombros,
mas ela percebe minha voz vacilar e me olha com mais atenção.
— Você não sonhava em ser um advogado?
— Acho que não, só segui o que foi programado para mim a
vida toda — repondo sem dar muitos detalhes.
— Sua família te obrigou?
— Não foi uma obrigação, eles sempre me deixaram livre para
escolher, mas quando chegou a hora eu realmente não vi outra
coisa que poderia fazer — digo enquanto preparo a cafeteira. —
Você sabia que queria ser advogada desde quando?
— Desde a quarta série — responde sem vacilar. — Os pais
da minha melhor amiga na época — Lucy Lynn era o nome dela —
estavam se separando e ela foi arrastada para uma briga judicial
terrível. Nós morávamos perto, brincávamos juntas todos os dias,
quando seus pais se separaram ela foi obrigada a morar com o pai e
a nova madrasta, e sua mãe perdeu tudo.
— Como assim?
— Eu era muito nova ainda para entender a maldade nas
pessoas, mas ela foi mais um caso em que o pai usa os filhos para
punir a mãe, sabe? Ele era um filho da puta controlador, quando a
mãe dela pediu o divórcio por não aguentar mais os abusos, ele
usou seu dinheiro e influência para tirar a filha dela como punição.
— E o que aconteceu depois?
— Eles se mudaram para outro estado e nunca mais vi minha
amiga de novo — responde com a voz triste. — Meus pais nunca
mais falaram sobre eles, acho que também não tiveram mais
notícias.
— Odeio esse lado da lei, onde o dinheiro e o poder contam
mais do que a justiça.
— Eu também.
Levo a xícara para ela e sento do seu lado no chão, peguei um
copo com água para acompanhá-la. Ela leva a bebida à boca e
geme de prazer com o primeiro gole. Eu amo assistir suas reações,
os olhos fechados, o sorriso solto… ela é linda.
— Você não vai tomar também? — pergunta quando percebe
que estou olhando para ela.
— Se eu tomar um gole disso aí a essa hora, não durmo a
noite toda.
— Este é o objetivo — responde com uma piscadinha.
CAPÍTULO 22
Marina
Pane no sistema
Alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Admirável Chip Novo — Pitty

Tudo bem, não entremos em pânico.


Foi só sexo, já fiz isso muitas vezes, com tantas pessoas
diferentes, é uma transa espetacular. A diferença é que a outra parte
é meu estagiário.
Caralho, Marina, o que você fez?
E por qual motivo está sorrindo enquanto acaricia os cabelos
loiros e macios do novinho deitado no seu colo?
Estou fodida mesmo, ainda temos meses para trabalhar juntos,
não deveria ter me entregue assim.
Léo acabou pegando no sono enquanto assistíamos sobre
crimes, Catching Killers é o nome do programa, sou viciada nesses
documentários, ainda mais quando mostra a perspectiva dos
investigadores, como eles conseguiram pegar tal assassino e
condená-lo.
Já são quase 11h da noite, Rogers está deitado na almofada
que coloquei para ele no chão, onde ele puxou sua cobertinha e se
aninhou para dormir nos meus pés. Foi bom ter uma companhia
hoje.
Achei que depois que o Léo saísse e me deixasse sozinha
durante a tarde, eu finalmente iria enlouquecer com o que fizemos
pela manhã, mas honestamente, não consigo fingir que não gostei
— ou me arrepender.
Foi bom, muito bom, um pouco demais até, para duas pessoas
que só haviam transado na balada. Ele dominou meu corpo, que
respondeu ao seu toque como nunca fez com ninguém.
Geralmente demoro para me soltar tanto, por isso gosto de ter
parceiros de foda fixos. Quanto mais transo com alguém, melhor
fica, mas o Léo foi diferente, ele já sabia o que fazer, e quando não
soube, perguntou.
Só de lembrar da sua voz pedindo instruções para me chupar,
já fico molhada. Não existe nada tão lindo e sexy quanto um homem
gostoso, no meio das tuas pernas, querendo explicações de como te
dar prazer da melhor forma possível.
E a desgraça é um bom aluno!
Nota 10...
Maldição, estou ficando com tesão novamente, e nós
transamos antes de começarmos a assistir o documentário, porque
eu não aguentaria sentar ao seu lado, ter tudo aquilo ao meu
alcance, e não aproveitar mais uma vez.
Ou duas...
Só que foram três!
E ele nem pareceu murchar. Nunca peguei alguém mais novo
que eu, o poder dos 22 aninhos de idade me assusta. Como alguém
aguenta gozar pela segunda vez e quase não amolece?
Isso é muita testosterona, eu estava acabada depois da
primeira, mas nem se eu desmaiasse admitiria isso. Assim que meu
pé melhorar, vou voltar a treinar sério. O objetivo não é ter um corpo
malhado, mas sim aguentar a maratona que é foder com esse
novinho.
Sai dessa, mulher!
Eu sei que isso não pode continuar, por ele ser meu estagiário.
Quando voltarmos à empresa, não tem como continuar assim, mas
a atração que sentimos ao ficar próximos um do outro é enorme, e
agora que me entreguei, não consigo tirar as mãos dele.
Só que pode ser assim apenas aqui em casa, no escritório é
outro ambiente.
Sempre julguei os homens que mantinham relacionamentos
com suas secretárias ou estagiárias, não é certo usar de uma
posição de poder para atrair um parceiro. E aqui estou eu, fazendo o
mesmo.
Posso tentar justificar dizendo que nos conhecemos antes, que
eu não o seduzi, falar para mim mesma o quanto ele me provocou,
mas foi isso, realmente?
Será que não li suas atitudes como eu queria que elas
significassem, e não como realmente eram?
Ele estava mesmo me provocando, ou só estava trabalhando?
Será que sou uma maldita aproveitadora, assim como tantos
homens por aí, e só estou procurando justificativas para o que fiz,
sabendo que foi errado?
Ai, meu Deus, não sou melhor do que ninguém. Se for contar,
sou ainda pior, porque mesmo sabendo de tudo isso, tendo noção
de todas estas dúvidas, continuo querendo-o do meu lado.
Se ele continuar aqui, vou entrar em desespero.
— Léo — chamo baixinho enquanto acaricio seu rosto —
acorda.
Ele geme e aperta os olhos antes de abri-los, vejo a imensidão
da sua íris azul me procurar, então ele sorri abertamente quando
foca em meu rosto.
— Desculpa, acho que dormi — fala com a voz rouca de sono.
— Que horas são?
— Quase meia-noite.
— Nossa. — Ele pisca mais algumas vezes, continuo
acariciando seus cabelos em um gesto involuntário. — Tive um
sonho tão bom.
— Dormiu assistindo documentário de assassinos e o sonho
foi bom? Devo me preocupar?
Tento fazer uma brincadeira para encobrir a forma com que
meu coração disparou no peito.
— Sonhei que estava deitado em uma praia, à noite, contando
as estrelas no céu — sua voz doce me encanta —, ainda consigo
ouvir o barulho das ondas quebrando ao fundo.
— Parece bom.
— Você estava lá, do meu lado, rindo de alguma coisa —
continua a falar e sinto meu rosto queimar de vergonha. — Amo sua
risada, sabia? Não lembro sobre o que falávamos, mas era algo
bom, um momento feliz.
Não sei o que responder, minha garganta se fecha como se
tivesse uma cobra apertando. Por que quero tanto beijá-lo? Como
diabos consigo imaginar a cena que ele descreve com precisão em
minha mente?
— Bem, vou te deixar dormir. — Léo levanta e parece não
perceber meu desespero, então me beija delicadamente nos lábios
e começa a recolher suas coisas. — Amanhã precisamos ir ao
fórum, certo?
Sua pergunta me pega desprevenida e procuro rapidamente
em minha mente a agenda do próximo dia.
— Sim, às 10h.
— Certo, eu venho de carro, então.
Léo termina de pegar suas coisas, coloca a guia no Rogers,
que reclama para levantar. Ele está deitado confortavelmente e não
parece querer sair dali.
— Vamos, garoto, se você levantar bonitinho eu te dou um
petisco quando chegarmos em casa. — Léo tenta subornar o
cachorro, mas nem a palavra petisco o faz levantar. — Cara, você
está pesado demais para te levar no colo.
— Pode usar meu carro, se quiser — ofereço, já que não
parece que Rogers vai levantar por livre e espontânea vontade.
— Não tenho outra vaga de garagem no prédio, a Gabi ocupa
uma e eu outra. Vamos, para de corpo mole, o Capitão América não
fazia isso.
— Você realmente está tentando racionalizar com o cachorro
comparando-o a um herói da Marvel? — Sorrio para a cena em
minha frente.
— Acha que ele não entende? Esse cachorro é mais esperto
que eu, quer ver? — Léo respira fundo e olha seriamente para o
beagle que mantém os olhos fechados, mas as orelhas estão
erguidas, atentas. — Eu te deixo andar de skate.
Como em um passe de mágica, o cachorro levanta, animado.
Léo me olha com aquela carinha de eu te disse e não controlo a
gargalhada que sai da minha boca.
— Realmente, esse é esperto demais — comento e me
levanto, pego a muleta ao lado do sofá, mas Léo já está com um
braço na minha cintura, apoiando-me.
— Vem, eu te ajudo a deitar, depois vou para casa.
— Não precisa, eu consigo caminhar, Léo.
— Sei que consegue, mas quero te dar um beijo de boa noite.
Do nada meus joelhos falham com suas malditas palavras.
Não, eu não posso sentir nada assim, nunca teve sentimento
envolvido, não é agora que vai ter.
— Está tudo bem, ainda quero terminar esse episódio, depois
vou dormir.
Léo me avalia com o olhar, mas aceita a batalha perdida e eu o
acompanho até a porta. Antes de sair ele me segura em seus
braços e beija minha boca com carinho, é um beijo doce e cheio de
significado, que vou ignorar por enquanto.
No momento em que fecho a porta atrás de mim e olho para
meu apartamento, o lugar parece vazio. Pela primeira vez desde
que vim morar aqui, me sinto sozinha.
Seu cheiro ainda está impregnado no ambiente, marcando sua
presença em cada lugar e é estranho saber que ele não está aqui.
Que merda é essa, Marina?
Sempre me senti aliviada ao mandar um homem para casa
depois de uma boa foda. Amo dormir sozinha, ter a cama toda só
para mim. Meu apartamento é um refúgio, o lugar que transformei
em minha casa.
Por que parece que falta algo quando tudo está da mesma
forma que ontem?
Só estou cansada. Tantas rodadas de sexo me deixaram
exausta, é isso. Depois da última nós tomamos um banho e ele me
ajudou com o pijama, é bem mais fácil colocar as calças quando
tenho alguém para me escorar.
Não que não consiga sozinha, eu consigo, mas demora mais e
sou uma grande desequilibrada, sempre esqueço que meu pé está
machucado e tento andar sem a bota, ou me viro e bato em algum
lugar.
Chega de pensar nisso, melhor ir dormir.
***
Léo chegou ainda mais cedo hoje, tomou a minha boca em um
beijo devastador assim que passou pela porta e me levou de volta
para o quarto. Não lutei contra, só de vê-lo já estava completamente
molhada, ele sentiu minha necessidade e respondeu.
Poucos minutos depois sua boca estava na minha boceta, me
fazendo gemer e me esfregar nele, sentir sua língua me lambendo
todinha é um paraíso, gozar enquanto ele me olha é ainda melhor.
Ele não perdeu tempo e tirou a roupa toda, cuidando para
colocar a camisa social estendida em um cabide para não amassar,
depois voltou-se para mim com o olhar sedento, admirando meu
corpo ao desenrolar o preservativo em seu membro, duro e pronto
para mim.
— Este é o melhor café da manhã do universo — lambe seus
lábios antes de me beijar, fazendo-me sentir o gosto do meu
orgasmo —, preciso estar dentro de você.
— Ninguém está te impedindo — respondo e tomo sua boca,
mordo seus lábios e engulo seus gemidos enquanto ele me penetra
de uma só vez, até o fundo, sem parar, fazendo-me gritar com a
invasão deliciosa.
Não pode ser tão bom assim, é perigoso demais.
O loiro me fode como se pudesse antecipar o que quero, suas
mãos grandes apertam minha cintura e controlam a velocidade das
investidas, atraindo-me mais para sua pélvis, os travesseiros
embaixo da minha bunda me deixam na altura perfeita para ele.
Apesar de preferir assumir o controle, deixo que ele faça
comigo o que quiser, dou ordens e Léo cumpre, sem contestar.
Quando falo para ir mais rápido, é isso que faz, se digo para me
virar e me foder de quatro, ele não pensa duas vezes.
Estou quase gozando de novo, seu pau batendo fundo dentro
de mim, seus dedos trabalhando em meu clitóris, exigindo meu
prazer, intensificando tudo.
Por um momento agradeço que ele não consiga ver meu rosto
nesta posição, porque é impossível conter a expressão que se
forma quando mais um orgasmo me leva às alturas.
Léo me puxa para encostar seu peito em minhas costas
suadas, sinto sua boca em meu pescoço, os beijos tão necessitados
quanto as investidas em minha boceta. Estou sem chão.
— Quero te foder assim todas as manhãs — sussurra em um
gemido grosso contra meu ouvido, mordendo o lóbulo da orelha
enquanto aumenta a velocidade. — Quero sentir tua boceta contrair
contra o meu pau, ouvir você gritar meu nome pedindo mais,
implorando para ser fodida assim.
— Léo — choramingo ao sentir que outro orgasmo se forma,
ele não parou de me masturbar enquanto me penetra, estou sem
forças e mesmo assim quero mais.
— Você vai gozar de novo, antes que eu termine vou arrancar
mais um orgasmo teu, porque não consigo parar, não quero parar.
Ele passa uma mão em meu pescoço, segurando-me ali,
entregue e à disposição da sua boca gostosa. Sinto a mordida em
meu ombro ao mesmo tempo que seu dedo acelera os movimentos
em meu clitóris, o pau acerta aquele ponto especial dentro da minha
boceta, e eu já nem sei mais quem eu sou.
— Me fode mais rápido, tira tudo de mim — exijo e finco
minhas unhas em seu braço, segurando-me para não desabar.
Contraio minha boceta, ordenhando seu pau que pulsa dentro
de mim, toda minha pele parece queimar com seu toque. Estou
sensível, sinto que não aguento mais, até que sou elevada às
alturas e caio em um orgasmo potente, devastador, que drena
qualquer resquício de sanidade que antes havia sobrado.
Léo me acompanha, metendo uma, duas, três vezes enquanto
geme e goza dentro de mim, seus dedos diminuem a velocidade em
meu clitóris e a mão no meu pescoço afrouxa, sinto sua respiração
pesada e rápida enquanto caímos na cama.
Suados, entregues, esgotados.
Ele deita de lado e me segura contra si, ainda está dentro de
mim, e não me importo. Pela primeira vez na vida quero ficar neste
abraço, deixar alguém cuidar de mim, sentir as carícias calmas, que
significam muito, mas que não estou pronta para admitir.
Só dessa vez, só hoje.
CAPÍTULO 23
Leonardo
Love is the answer, at least for most of the questions in my
heart
Like why are we here? And where do we go?
And how come it's so hard?
It's not always easy and
Sometimes life can be deceiving
I'll tell you one thing, it's always better when we're together
Mmm, it's always better when we're together
Yeah, we'll look at the stars when we're together
Better Together — Jack Johnson

Marina e eu estamos vivendo em uma bolha de sexo e


felicidade.
Nos últimos dias a rotina é essa: chego cedo ao seu
apartamento, mato a saudade dela com um sexo matinal
maravilhoso que nos dá gás para começar o dia de trabalho,
lidamos com os casos e clientes, depois almoçamos juntos.
À tarde vou para a aula e ela fica com Rogers, que não
desgruda da morena por nada neste mundo. Quando volto, ela me
ajuda com os trabalhos da faculdade e eu faço a janta, comemos,
assistimos um filme, transamos e vou embora.
E é essa última parte que mais odeio, deixá-la é uma tortura,
até Rogers se recusa a levantar, fica cada dia mais difícil convencê-
lo a sair de perto dela.
Quem sou eu para julgá-lo? Preciso reunir todas as minhas
forças para dizer boa noite, porque sei que Marina não está
preparada para assumir o que sente. Ela quer fingir que isso é só
sexo casual, uma foda qualquer, mas lá no fundo dos seus olhos
consigo enxergar a verdade, ela sente o mesmo que eu, e está
assustada com isso.
Só que eu não estou, porque pode parecer precipitado, cedo
demais, mas foda-se: eu tenho certeza que Marina é a mulher da
minha vida, não consigo sentir medo ou apreensão, estou calmo
pela primeira vez em todos os relacionamentos, porque sei que é
ela.
Marina é a primeira certeza que tenho, ela me faz querer ser
melhor para poder estar à sua altura, sinto-me leve ao seu lado.
Meus dedos formigam ao tocar sua pele, minha boca se molda
perfeitamente à sua, até meu coração bate no mesmo ritmo do dela.
Porque ela já tem tudo de mim, a morena tomou sem precisar
pedir cada pedacinho meu, ao seu lado me sinto completo.
E isso não me assusta, ao contrário, me conforta.
O escritório será reaberto na semana que vem, nosso andar
teve que ser todo reformado por causa da fumaça e da parte que
pegou fogo, assim como outras áreas do prédio. Eles ficaram três
semanas fechados para trocar tudo.
Falei com meu pai quase todos os dias neste período, ele está
melhor, mas aflito por causa do que aconteceu. O incêndio me fez
enxergar um lado de Henry Rausing que eu não conhecia, ele se
preocupa com seus funcionários e não só com a empresa.
Minha mãe também me liga todos os dias e está me cobrando
uma visita, prometi que este final de semana iria para casa, afinal é
o aniversário dela e teremos uma pequena festa.
Queria tanto levar Marina comigo! Apresentá-la para dona
Clara, mostrar essa parte da minha vida para ela, sinto-me um
mentiroso todas as vezes que conversamos sobre família.
Ela vem fazendo mais perguntas pessoais, algumas respondo
honestamente, outras preciso desviar para não entregar nomes. É
difícil, mas não posso falar nada, prometi ao meu pai e vou manter
minha palavra.
No que diz respeito ao estágio, nós somos mentora e
estagiário, nada mais.
Durante a reforma no escritório, os outros estagiários
ganharam férias, praticamente, já que seus mentores estavam
trabalhando remotamente. Alguns, como Carlos, cancelaram
reuniões e deram a desculpa de não poder trabalhar enquanto o
escritório não reabrisse.
Meu pai estava puto com isso, mas não podia obrigá-los,
alguns foram realocados em outros escritórios, mas não tinha como
fazer isso com todo mundo.
Marina vinha trabalhando cada vez mais para dar conta de
tudo, mesmo em casa ela não deixava um prazo atrasar, estava
constantemente em contato com seus clientes, dando-lhes a
confiança que um advogado precisa dar.
Fiquei puto quando a Gabi falou que Carlos havia ido viajar e a
deixou de férias, sem nada para fazer, o cara é um acomodado
mesmo.
Não queria deixar Marina sozinha no final de semana, então
passei o sábado todo com ela. Foi maravilhoso, trabalhamos de
manhã e percebi que este era seu normal, inclusive foi assim que
ela me atropelou — ou eu a atropelei — naquele dia.
De tarde o dia estava lindo e consegui convencê-la a ir ao
parque comigo, foi uma luta para que ela aceitasse, até ameacei
levá-la carregada. No fim ela concordou, com a condição de que
não ficássemos de mãos dadas em público.
Mesmo querendo abraçá-la e beijá-la a todo momento,
respeitei seu limite. Levamos Rogers junto, ela sentou em um banco
e assistiu o cachorro se divertir com meu skate, e claro que me exibi
um pouco também.
Não perderia a oportunidade de mostrar a ela o que sei fazer
em cima de uma prancha com rodinhas, vi seus olhos admirados e o
sorriso solto em seu rosto, só isso foi pagamento suficiente e fez
todo o meu dia valer a pena.
Tomamos sorvete, ela escolheu de chocolate e eu de morango,
e só quando o sol começou a cair no horizonte que voltamos para o
seu apartamento. Foi um dia perfeito que terminou com a minha
mulher gemendo meu nome enquanto nós fazíamos amor em seu
sofá.
Sim, estou entregue, foda-se.
Ela pegou no sono em meus braços, pela primeira vez, e me
doeu ter que levantar e ir embora, mas não quis forçar nada. Vamos
dormir juntos quando ela se entregar ao que sente e me convidar
para ficar, até lá eu vou para casa sentindo seu cheiro em todas as
minhas roupas.
No domingo de manhã eu liguei para ver como ela estava e fui
surpreendido com a voz de Carina atendendo seu celular.
“Ora, ora, os estagiários hoje em dia estão trabalhando muito
mesmo, até no domingo.”
Carina falou brincando e soltou uma gargalhada, ouvi barulhos
de alguma coisa caindo no chão e Marina falando no fundo, mas
não consegui entender o que era.
“Hoje essa daqui é minha responsabilidade, por ficar tranquilo,
Léo.”
— Tudo bem — respondi e ela desligou.
— Léo, tua mãe vai nos matar se chegarmos atrasados para o
aniversário dela — Gabi grita da porta enquanto calça o sapato de
salto. — E vê se arruma esse cabelo.
— Sim, já estou indo — respondo rapidamente, ainda
preocupado com a morena.
Termino de me arrumar e mando uma mensagem para ela
antes de sair, avisando que se precisarem de alguma coisa, é só me
ligar.
Clara Rausing adora comemorar aniversários, o dela
principalmente, por isso todo ano ela faz uma grande festa no
jardim, mesmo sendo de dia, todos estão muito arrumados.
Gabi e eu chegamos juntos e somos recebidos pela sua mãe,
que não poupa as indiretas sobre nós dois, coisas como “vocês
ficam lindo juntos” e “até combinaram a cor da roupa” me deixam
vermelho de vergonha e minha amiga, de raiva.
Nós não combinamos, Gabi está com um vestido azul claro e
eu coloquei a primeira gravata que encontrei, calhou de ser azul
também, mas para Mara Willians qualquer coisa é motivo para dizer
que eu e Gabi somos um casal.
Em sua cabeça nossa união é só questão de tempo. Minha
amiga pede desculpas quando nos afastamos da sua mãe e eu a
tranquilizo, estou acostumado com isso e geralmente até provoco
sua mãe, só que agora é diferente, não sei.
A imagem de Marina vem em minha mente enquanto caminho
com Gabi até chegar à área de festas. Queria que fosse a morena
ao meu lado, desfilando no meio de todas essas pessoas.
— Parabéns, mãe — falo quando ela abre os braços e me
recebe com um sorriso. — Que a senhora tenha muitos anos de
vida pela frente, com saúde e alegria, o presente está na mesa.
Comprei um colar de prata com um pingente de flor para ela,
minha mãe adora colares, por isso é sempre um bom presente.
— Obrigada, meu filho, você é meu maior presente — ela
corresponde ao meu abraço por um tempo, então me solta e faz
sinal para meu pai, que está do outro lado do gramado,
conversando com um grupo de homens.
Reconheço alguns dos sócios da empresa, o tio Richard
também está entre eles.
— Aqui está meu garoto — meu pai me dá um meio abraço
quando me aproximo do grupo e me apresenta para todos, mesmo
que eu já conheça a maioria — Como está a faculdade?
— Corrida, final de semestre é sempre cansativo — respondo
dando de ombros.
— Aproveita essa fase, garoto, depois só piora — Julian
comenta e todos concordam. — Como anda o estágio?
— Muito bem — afirmo simplesmente.
— Teu pai falou que ninguém sabe que você é filho do dono,
isso é bom, assim não tem tratamento especial — Stefan, outro
sócio, um pouco mais velho que Julian, comenta. — Quem é teu
mentor?
— Marina Lucca — respondo e recebo olhares estranhos do
grupo.
— Nossa, você deve estar ficando louco, já — Julian avalia. —
Pelo menos estas semanas vão te dar uma folga daquela lá.
A forma como ele fala de Marina não me passa despercebida,
nem a troca de olhares entre James e Julian.
— Na verdade, Marina vem trabalhando de casa — anuncio e
meu pai parece surpreso.
— Sério? Nenhum dos outros advogados daquele setor está
trabalhando — meu pai observa. — Se não me engano ela
machucou o pé, deveria estar aproveitando o descanso.
— Marina tem casos em aberto e clientes que dependem dela,
não vai deixar o escritório na mão — falo com a voz mais alta do
que pretendia, mas respiro fundo antes de continuar —, ela é uma
ótima advogada, tenho aprendido muito, ao contrário dos meus
colegas estagiários, que só fazem café e arquivam documentos.
— Todos têm que começar de baixo, foi por isso que teu pai
não quis que usasse seu sobrenome — tio Richard é quem cria
coragem para falar, mas até ele parece surpreso. — Gabi, vem aqui,
filha.
Minha amiga se aproxima e cumprimenta a todos com o olhar
firme e a postura ereta.
— Conta como está seu estágio, ouvimos a versão de um dos
herdeiros, digamos que ele nos deixou curiosos para saber a sua —
Julian pergunta e olha com mais interesse do que deveria para a
minha amiga, mas ela não se deixa intimidar.
— Para falar a verdade está bem fraco, não faço nada a não
ser café e organizar papéis, não tive experiência com a área jurídica
ainda — Gabi responde francamente e eu assisto aquele bando de
homens se surpreenderem. — Eu esperava um pouco mais, não tive
contato com nenhum caso em que meu mentor está trabalhando e
já tem quase dois meses que estou lá.
— Mas isso é normal, minha filha, ou você esperava participar
de reuniões e audiências logo de cara? — Tio Richard tenta acalmar
as coisas, sorrindo como se aquilo fosse uma brincadeira.
— Léo participa desde o primeiro dia, o que mostra o quão
despreparado são os outros advogados. Marina consegue ensiná-lo
ao mesmo tempo em que fecha três vezes mais casos do que
qualquer um de seus colegas. — Gabi me olha como se pedisse
desculpa, mas sorrio em aprovação, sei que ela tem isso entalado
há muito tempo. — Deveriam avaliar melhor seus funcionários e
parar de contratar pessoas despreparadas.
— Gabriela — tio Richard agora a repreende, mas não
funciona.
— Você perguntou, pai, só estou falando a verdade. — Ela dá
de ombros. — Ou vocês não sabem sobre o desempenho de seus
funcionários?
— Claro que sim — James responde, afinal ele é um dos
responsáveis pelo nosso setor.
— Então vai realmente dizer que Carlos e Marina estão em um
mesmo patamar lá dentro?
— São ambos bons advogados — Richard responde, tentando
encerrar a discussão.
— Não. Marina é uma excelente advogada, Carlos é
acomodado e só faz o essencial. — Gabi joga na cara deles e eu
poderia abraçá-la agora, mas ouvimos minha mãe chamar do outro
lado do pátio e o grupo respira, aliviado.
Meu pai faz sinal para que eu fique para trás e o acompanhe
enquanto os outros caminham em nossa frente.
— Quero que fique aqui depois da festa, precisamos
conversar.
— Tudo bem — respondo.
Depois disso ele ficou ao lado da minha mãe o tempo todo,
eles se amam, não há dúvidas sobre isso, Henry Rausing é
completamente caidinho por sua mulher, a forma com que ele olha
para ela, com admiração e carinho, me faz pensar se faço o mesmo
com Marina.
Porque se for assim, será impossível esconder meus
sentimentos do mundo, ainda mais no escritório.
Quando todos os convidados vão embora, fico com meus pais,
ajudando a organizar as coisas. Gabi voltou com o meu carro para
nosso apartamento depois de quase se desentender com sua mãe e
meu pai disse que me levaria depois da nossa conversa.
— Senta, Léo — indica a cadeira em frente à mesa do seu
escritório, meu pai não consome bebidas alcoólicas, portanto está
com um copo de água na mão. — O que falou à tarde é verdade?
— Não tenho motivos para mentir — retruco seco e recebo um
olhar cansado dele.
— Quero saber se o estágio está atrapalhando seu
desempenho nos estudos. Você já começou a fazer seu trabalho de
conclusão de curso e estudar para a prova da Ordem?
— Claro que já comecei, estamos na metade do semestre, pai,
e sobre a prova da ordem, a Gabi e eu estamos estudando, o
estágio não está me atrapalhando em nada.
— Eu sei que Marina é uma excelente advogada, ela trabalha
muito e seu currículo é incrível para alguém tão jovem, mas não
quero que te faça trabalhar mais do que o necessário a ponto de
atrapalhar teus estudos. Se isso estiver acontecendo, podemos
trocá-lo de mentor, talvez...
Não deixo que termine o que ia falar e me levanto.
— Não ouse fazer algo assim, pela primeira vez estou
realmente interessado em me tornar um advogado, minhas notas
aumentaram, acho até que sei em qual área quero atuar, e tudo isso
é consequência da convivência com Marina. — Respiro fundo para
me acalmar. — Ela me fez estudar casos antigos para que eu
entendesse como realmente tudo funciona na prática, tira minhas
dúvidas quando estou perdido com alguma lei, está sempre se
atualizando em sua área e faz tudo isso porque gosta.
Meu pai me olha com curiosidade, mas não interrompe minha
fala até que eu termine.
— Afinal, é para isso que os estágios deveriam servir,
conhecer na prática como é trabalhar com a área que escolhemos,
só que não acontece com todo mundo, e vocês não fazem nada
sobre isso — acuso sem medo.
— O que quer dizer com isso?
— Você sabe muito bem, a empresa além de não se importar
com os estagiários, não fiscaliza os mentores, então eles fazem o
que querem e ninguém fala nada. A única que está interessada em
ensinar alguma coisa é Marina, e você viu como os associados
debocham dela.
— Eles não debocharam dela, você ainda não está
acostumado a conviver neste mundo empresarial, meu filho, nem
tudo é lindo.
— Eu sei, só não esperava que a empresa da minha família
fosse conivente com coisas assim — jogo na sua cara —, a
mudança precisa vir de algum lugar, pai.
Ele respira fundo algumas vezes, realmente absorve o que
acabei de falar e o peso das minhas palavras. É o que mais gosto
no meu pai, quando ele conversa comigo, ouve o que falo, não só
escuta.
— Preciso que seja sincero comigo, tem alguma coisa a mais
acontecendo? — ele pergunta e congelo no lugar. — A forma com
que fala dela, como a defende...
— Claro que não — minto descaradamente quando encontro
minha voz. — Eu a admiro, é só isso.
Ele senta na cadeira e pensa por algum tempo, dando-me a
chance de respirar e me acalmar.
— Você disse que ela está com o pé machucado e trabalhando
em casa?
— Sim, desde que saiu do hospital.
— No sistema consta que ela está de licença, assim como os
outros funcionários.
— Provavelmente não tem batido ponto. — Dou de ombros. —
Isso não importa, fechamos dois casos essa semana, deve constar
no seu sistema.
— Fechamos? Você ajudou?
— Sim, ela está com o pé machucado, eu vou até sua casa
todos os dias e faço meu trabalho, depois vou para a faculdade, e é
isso.
Não dou mais detalhes, e agradeço por não ser minha mãe
aqui, porque dona Clara conseguiria ler no meu rosto o que estou
escondendo.
— Qual área você está interessado em seguir? — meu pai
pergunta curioso, sentando-se mais para frente com o olhar
brilhando e um meio sorriso. — Há pouco disse que acha saber em
qual área do direito vai se especializar depois da faculdade, estou
curioso para saber.
Respiro fundo e agradeço a mudança de assunto.
Então conversamos sobre direito como nunca fizemos antes,
conto o que venho pensando nos últimos tempos, as coisas que
planejo para o futuro, e o vejo ficar cada vez mais feliz.
Henry Rausing esperou por este momento por muitos anos,
sempre me dando espaço para seguir minha vida no meu tempo, é
bom ter um pai com quem contar.
Quando terminamos a conversa já é tarde da noite e ele me
leva para casa, o clima entre nós está mais leve e até feliz, posso
ver o sorriso em seu rosto.
— Estou orgulhoso de você, meu filho — fala ao estacionar em
frente ao meu prédio. — Sempre soube que encontraria seu
caminho.
Não tenho resposta, meu peito se enche de calor com as suas
palavras e entro em casa muito mais relaxado, só tem uma coisa
que me deixa apreensivo: a pessoa com quem eu mais queria
compartilhar este momento é Marina, e não posso falar sobre isso
com ela, ainda não.
CAPÍTULO 24
Marina
'To preocupada com a minha amiga, ela 'tá descontrolada
Não pode ver o gostoso que ela fica tarada
Sei que ele faz gostoso (seu gostoso)
Sei que te pega de jeito
Bota que bota com força
Tapa na bunda, perfeito
Mas quando ele chega perto, ela perde a linha e só quer
transar
Então pode, pode na minha treta, dá um mete na minha tropa
Não para, não para não, vem a- (vem), vem a- (vem), vem
aqui, me bota
Tô Preocupada (Calma Amiga) — Anitta e Rebecca

Carina invadiu meu apartamento no domingo de manhã. Sua


presença é um furacão na minha vida, e claro que conseguiu ler na
minha cara que estava escondendo algo.
— O que aconteceu? — foi a primeira coisa que ela perguntou
ao entrar com muitas sacolas de comida e dois copos de café na
mão. — Pode abrir o bico, passou dias sem me falar nada por
telefone, eu te conheço, dona Marina.
Contei sobre o incêndio, o meu pé, o trabalho, o casamento
que terei que ir, e enrolei ao máximo para falar sobre o Léo, mas
não adiantou nada.
— Você pegou o estagiário, não pegou? — a pergunta não
veio carregada de julgamento, é só o jeito de Carina falar.
— Lembra do carinha da balada?
— Sim, por quem você nos abandonou para dar uma no sofá.
— Então, é o Léo.
Assisti enquanto seus olhos praticamente saiam das órbitas e
ela assimilava o que falei.
— Caralho, você está brincando, me fala que é brincadeira.
— Quem me dera, o gostoso que achei que seria uma foda de
balada acabou sendo meu estagiário — contei toda a história sobre
como descobri depois e nossos últimos dias. — Ele tem 22 anos,
amiga, é um neném.
— Eu sabia que você não lembrava do nome dele, você falou
que era Gerald, e nunca vou esquecer disso porque escrevi no
bloco de notas.
— Não vem me julgar, era para ser uma foda de uma noite só,
eu não tinha a obrigação de lembrar o nome dele.
— Marina Mucilon — provoca e quem está gargalhando sou
eu. — Mas vocês continuam se pegando?
Só precisou de um olhar para ela ter a minha resposta, sinto
meu rosto queimar de vergonha e não consigo encarar minha
amiga.
— Eu estou ferrada — confesso. — Ainda temos meses juntos,
como vou dispensar o Léo e ainda vê-lo todos os dias no escritório?
— Calma, por que você já está pensando em acabar com
isso?
— Acorda, amiga, não tenho tempo para nada, quem dirá
manter um gostoso desses — cito o óbvio, mas recebo aquele olhar
de repreensão característico de Carina. — E você sabe que não
tenho relacionamentos, só sexo casual. Como vou manter isso e ver
o homem no escritório todos os dias?
— Você está sendo ridícula.
— Não estou, não. Nunca fiquei com ninguém do meu meio
profissional exatamente por este motivo, na hora que acabar ainda
serei obrigada a conviver com ele e vai ficar um clima pesado.
— Amiga, eu não te entendo. Você está feliz como nunca te vi
antes, relaxada até, e fica procurando motivos para sofrer, pensando
em quando for terminar, você não dá uma chance sequer para as
coisas.
— Eu sou realista.
— Não, você se autossabota, entra nessa de só sexo casual
para se proteger, assim ninguém nunca vai conseguir entrar no seu
coração e te fazer sofrer.
— Para com isso...
— Ah, não, agora você vai me escutar, não tenho nada contra
sexo casual, todos temos nossas necessidades e transar é incrível,
mas você usa isso para se afastar de tudo e de todos. E o pior é que
quando percebe que alguém conseguiu enxergar por trás de todos
os muros que levanta — essas barreiras infernais — e realmente
gostou do que viu, você se fecha ainda mais e se afasta da pessoa.
Absorvo tudo o que Carina diz, mesmo querendo contestar, sei
que não conseguiria ganhar essa. Eu tenho meu trabalho como
prioridade e muita gente não entende.
— Garanto que se eu fosse homem você não estaria me
dando esse sermão todo.
— Se fosse homem seriam as mesmas palavras, ou acha que
nosso grupinho não escuta isso também? Você não está ligada nas
fofocas, amiga — Carina me dá uma piscadinha. — Mas me conta,
é real essa coisa de que os novinhos têm mais resistência?
Solto uma gargalhada com a forma com que ela muda rápido o
foco da conversa.
— Vai dizer que nunca ficou com alguém mais novo que você?
— Sabe que eu prefiro os daddys. — Dá de ombros.
Realmente desde que a conheço Carina só fica com homens mais
velhos. — Agora para de esquivar e responde.
— O Léo foi o primeiro homem mais novo com quem já fiquei,
então não posso falar sobre os outros...
— Vai me matar de curiosidade, amiga, desembucha logo.
— Quer saber mesmo? — provoco e me inclino mais para
frente, colocando a mão no lado da boca para esconder meus
lábios, falo baixinho como um segredo. — Real oficial, amiga.
Carina suspira e descansa a cabeça nas mãos escoradas na
mesa.
— Será que ele tem algum amigo para me apresentar? Ou
quem sabe o pai dele, vai que é genético.
Com isso soltamos gargalhadas e ela conta sobre seu último
caso com um cara que deu em cima dela na rede social, mas não
deu certo.
Ela fala por um tempo da sua viagem, está feliz e orgulhosa do
trabalho que vem fazendo e isso me deixa animada. Minha amiga
merece toda a felicidade do mundo.
Quando ela termina já é quase hora do almoço e decidimos ir
até o shopping, mesmo que eu não consiga caminhar direito, ela me
ajuda e almoçamos em um restaurante japonês que amamos.
— Até tentei acompanhar sua viagem, mas sabe como sou
com essas redes sociais — confesso enquanto me delicio com um
sashimi de polvo.
— Falando nisso, encontrei teu loiro nas redes, e não me olha
assim, eu procurei quando ele me ligou avisando que você estava
no hospital — ela informa e pega o celular, procura alguma coisa e
quando encontra me entrega o aparelho. — Ele é muito gato e tem
uma legião de fãs por aí.
Assisto um vídeo do Léo fazendo uma dancinha em alguma
praia, se bem que quase não vejo o céu azul e o mar ao fundo,
porque o seu sorriso sincero no final é a única coisa em que consigo
realmente prestar atenção. A cena aquece meu peito e faz meu
coração bater mais rápido.
Além, é claro, do fato dele estar sem camisa, com aqueles
braços tatuados e o peito musculoso todo à mostra, um calção de
banho azul claro, pendido na cintura e solto no meio das pernas, o
que deixa bem pouco para a imaginação de quem assiste ao vídeo.
— Mas, amiga, não queria te mostrar isso. — Carina passa
para o próximo vídeo, este é do Léo e da Gabi juntos, fazendo
alguma dancinha mais sensual e terminando quase se beijando. —
Pelo que li nos comentários, muita gente pergunta se eles namoram
ou teoriza o relacionamento dos dois, mas ainda não encontrei nem
ele ou ela negando.
Vejo a interação dos dois e realmente parece haver uma
química ali, a dúvida praticamente me consome, junto com algo a
mais, um sentimento que nunca tive, de posse.
Léo não é nada meu, não temos um acordo de exclusividade,
mas ele disse que eles são só amigos, e devo confiar na sua
palavra, não devo?
Então, lembro da quantidade de casos em que já trabalhei de
pessoas que traíram seus parceiros. Mesmo depois de anos de
casados, tendo declarado seus sentimentos para todos, eles ainda
traiam. Quem sou eu para acreditar 100% nele?
— Eles são amigos de infância — respondo o que ele me
contou. — Na verdade são melhores amigos, moram juntos, vão
para a mesma universidade. Ela também é estagiária na empresa e
filha de um dos donos.
O olhar da minha amiga me faz desconfiar mais ainda, que
droga é essa agora?
Nunca precisei pensar sobre isso, sempre pergunto se o cara
com quem vou dormir é comprometido, tenho por regra não ser a
outra e também não trair outras mulheres, só que nunca estive do
outro lado.
E ainda não estou. Léo e eu não temos nada mais que sexo, e
nem isso definimos direito. Se ele quiser sair com outras mulheres,
ou se tem outras parceiras, não é da minha conta.
Pelo menos não deveria ser.
Então porque diabos só de pensar nele beijando outra pessoa
sinto meu sangue ferver de raiva? Não é normal, eu não sou assim
com ninguém.
— Eu a achei também, mas o perfil é fechado — Carina
comenta.
— Para de perseguir as pessoas — resmungo em uma
tentativa falha de brincadeira e devolvo seu telefone, mas memorizo
o nome do Léo na rede social para procurar depois. — Eu preciso
da sua ajuda. — Mudo de assunto e minha amiga quase cospe o
refrigerante que tinha na boca.
— Calma, eu acho que não ouvi direito — Carina responde
mais dramática que o necessário. — Marina Lucca está pedindo
ajuda? Quem terei que enterrar, amiga?
Rio da sua piada e vejo os outros clientes do restaurante nos
olharem de cara torta.
— Preciso comprar um vestido para o casamento da minha
prima.
— Resolveu ir, então? — Ela bate palmas em minha frente e
abre um sorriso largo, Carina vem me mandando aceitar o convite e
tirar uns dias para visitar minha família há tempos.
— Minha mãe me liga todos os dias para confirmar que estarei
lá, só que agora terei que gastar uma fortuna em passagem aérea
porque não posso dirigir.
— Você e sua mania de ir de carro para todo lugar, se tivesse
comprado antes não sairia tão caro.
— Eu tenho medo de avião, sabe disso, prefiro mil vezes
passar 16 horas dentro do meu carro, ouvindo música e curtindo a
estrada, do que 1 hora naquele negócio que pode cair a qualquer
minuto, e mesmo assim ainda preciso pegar um ônibus depois,
porque o aeroporto é longe da minha cidade.
Ela solta gargalhadas ao ver meu desespero, mas já tivemos
essa conversa várias vezes. Carina sabe que é uma discussão
perdida, então só me ajuda a encontrar um vestido vermelho que
combine com minha bota ortopédica, já que não sei se até lá
conseguirei tirá-la.
Depois passamos a tarde tranquilas, ela conta sobre a viagem
e me faz tirar milhões de fotos para seus fãs, eu só agradeço pela
distração. Minha amiga é muito diferente de mim, mas neste caso, é
o que deixa nossa amizade tão fluida e verdadeira.
No final do dia ela me deixa em casa e me ajuda com as
compras, pedimos uma pizza para jantar, assistimos um filme de
romance bem clichê, como ela gosta, e depois ela vai para casa.
Quando Carina sai, tenho aquela sensação de paz que sempre
experimento ao passar muito tempo ao lado de uma pessoa, preciso
recarregar minhas energias e curtir um tempo sozinha.
Curiosamente, é o contraste entre este momento e quando o
Léo vai para casa, que faz meu coração acelerar.
Quando ele sai, eu não me sinto aliviada, e sim sozinha.
CAPÍTULO 25
Leonardo
Deixa eu te levar
Me traz amor e só você me faz viver
E a minha alma canta
Imagina vir numa manhã de sol
Um milhão de bênçãos pra comemorar
Imagina vir numa manhã de sol
E com ela do meu lado ainda melhor
Manhã de sol — 3030 e Bhaskar

Percebo que tem alguma coisa errada no momento em que


entro em seu apartamento, na segunda-feira de manhã, e a
encontro completamente vestida em suas roupas sociais de
trabalho. O notebook e pastas de documentos na mesa da cozinha
e não na sala, e seu olhar não encontra o meu.
— Precisamos ir ao fórum hoje, e aparentemente o escritório
vai voltar a funcionar a partir de amanhã — fala sem nem ao menos
me dar um beijo.
— Tudo bem. — Tiro meu tablet da mochila, hoje não trouxe o
Rogers, já que não sabia qual seria a programação da semana.
— Droga, o que está acontecendo? — Marina reclama e a vejo
ler algo no computador, a expressão preocupada me deixa alerta. —
Como diabos eles descobriram que estou trabalhando? Era só o que
me faltava mesmo, meu acesso ao sistema está bloqueado.
— Como assim? — pergunto e dou a volta na mesa, ficando
ao seu lado para conseguir ver a mensagem no computador. Seu
perfume me atinge no momento em que me abaixo e quase suspiro
de saudade, mas me seguro. — Estranho. — Leio a mensagem que
aparece com o aviso e já sei que fiz merda, meu pai deve ter
alertado o RH de que Marina estava trabalhando em casa quando
não deveria. — Vou tentar o meu.
Coloco meu login e senha e também não consigo entrar no
sistema.
— Eu tenho uma audiência marcada à tarde, preciso das
informações do sistema — ela reclama. — Ainda é muito cedo para
ligar lá.
— Mas porque fomos desconectados? — Faço-me de
desentendido e volto ao meu lado da mesa, pego o celular e mando
uma mensagem para o meu pai.
Leonardo: Por que não consigo entrar na minha conta da
empresa?
Pai: Você e sua chefe vão receber as duas semanas de férias
que os outros tiraram, use este tempo para estudar para a prova da
OAB e terminar seu projeto do TCC.
Leonardo: Eu consigo fazer isso e ainda trabalhar, mas
porque a Marina também está bloqueada?
Pai: Não que seja da sua conta, mas a sua chefe não tira
férias desde que entrou na empresa. Na verdade, foi você quem me
fez enxergar o erro em nosso sistema, já que ela estava fechando
casos sem computar horas. Agora, qualquer funcionário de férias
não terá mais acesso ao sistema.
Puta que pariu, ela vai me matar quando descobrir que sou a
razão pela qual será obrigada a tirar férias.
— Não, eles não podem fazer isso comigo — Marina berra,
desesperada. — Estou sendo obrigada a tirar férias, isso só pode
ser brincadeira — ela pega o celular e liga para alguém — Mel,
desculpa a hora, eu sei que ainda não começou o expediente, mas
você...
Ela é interrompida pela voz da secretária do outro lado da
linha, então seu semblante muda de confusão para ódio.
— Eu não preciso de férias — quase grita com a outra pessoa.
— Mel, me ajuda com isso, nunca te pedi nada...Como assim, foram
ordens do chefe? — Ela para e escuta. — Eu não estava
computando minhas horas, só que não posso fechar os casos sem
colocar no sistema… Como que eles descobriram? — Mais um
tempo de tensão, então Marina relaxa na cadeira e massageia a
têmpora com a mão. — Tudo bem, obrigada por tentar... Acho que
nos vemos em duas semanas, então.
Desliga o telefone e encara a parede da cozinha, o olhar
perdido no rosto faz meu coração apertar. Por que fui abrir minha
maldita boca?
Dou um tempo para que ela se recomponha, mas quando
passam alguns minutos e Marina continua na mesma posição,
decido que é o suficiente e vou até ela.
— O que aconteceu? — Ajoelho-me em sua frente e seguro
suas mãos frias, mas ela ainda não me olha diretamente. — Marina,
olha para mim.
— Você pode ir para casa. — Respira fundo e suas palavras
são como facas no meu peito. — Parabéns, está de férias forçadas.
— Como assim?
— Não entendeu? Se eu estou de férias, você também está.
Na verdade, nós dois nem deveríamos estar trabalhando, e te peço
desculpas por isso, só que não podia deixar os casos assim, em
aberto, e sumir por semanas. Meus clientes dependem de mim. —
Ela respira fundo e finalmente olha diretamente para mim. —
Desculpa por isso, você poderia ter tirado esse tempo para estudar
e fazer teu TCC.
— Não se preocupa comigo, tenho tudo sob controle —
respondo e passo a mão em seu rosto, por um momento ela se
entrega à carícia e vejo a minha morena, mas logo se recompõe e
volta a se fechar.
— Você pode ir, Leonardo, o aviso veio de cima e não tem
nada que eu possa fazer sobre isso.
— Calma, não precisa me mandar embora assim. — Tento me
aproximar mais, mas ela se afasta e vira o rosto. — Não, você não
vai fazer isso.
— O quê? Te dar férias? Não foi decisão minha.
— Não, você não vai usar isso como desculpa para me afastar
agora.
— Não sei do que está falando...
— Sabe muito bem, você é inteligente demais para isso. Se
não temos mais uma relação de trabalho, vai ter que me aguentar
como um amigo, porque vou continuar vindo aqui e cuidar de você.
— Não preciso que cuide de mim, venho fazendo isso sozinha
há muito tempo.
— Pois é melhor se acostumar, porque não tem um motivo
bom o suficiente que vá me tirar daqui, e vou continuar vindo todos
os dias de manhã, a gente vai almoçar juntos, eu vou para a aula de
tarde, e volto de noite para jantar contigo e assistir seriado.
— O que te dá o direito de pensar que vou aceitar isso? Você é
só meu estagiário, não temos mais nada além disso — ela rebate.
Como um animal ferido, tenta me ferir também.
— Você pode mentir para si mesma, mas eu sei a verdade —
ataco de volta e me aproximo ainda mais dela, nossos rostos
praticamente se encostando.
— Que verdade? — desafia.
— Que você está se apaixonando por mim da mesma forma
que eu já estou entregue a você — digo claramente e não deixo que
responda, avanço sobre ela e tomo sua boca em um beijo intenso.
Marina leva apenas um segundo para reagir, mas logo suas mãos
estão no meu pescoço e eu a pego no colo.
Ela pode tentar enganar a si mesma enquanto estamos
separados, mas no momento em que nossos corpos se encontram,
é impossível negar a atração entre nós.
— Vai dizer que não sente isso? — Mordo seu lábio inferior e
arranco um gemido dela. — Que não gosta de estar nos meus
braços? — Abro a porta do seu quarto com um chute, como um
troglodita. Eu a pegaria no sofá da sala mesmo, mas seu pé ainda
não está bom o suficiente. — Diz que não sente isso aqui.
— Não sei do que está falando — responde com a voz fraca
quando a deito na cama.
— Só acredito se falar com confiança, entregue assim não me
convence — provoco e ela tenta se afastar de novo, mas prendo
seu corpo embaixo do meu e seguro seus braços acima da cabeça.
— Caralho, Marina, para de mentir para si mesma e aceita. — Beijo
sua boca com intensidade, nossas línguas travam uma batalha e
seu gosto me faz enlouquecer. — Eu tô apaixonado por você e sei
que também sente algo por mim.
— Não posso...
Ao mesmo tempo em que nega com palavras, solto suas
mãos, que viajam pelo meu corpo e abrem os botões da camisa
rapidamente, ela tira meu cinto e desce o zíper da calça.
— Por que não? — Faço o mesmo com ela, mas com menos
delicadeza, em um puxão firme estouro os botões da sua camisa,
absorvendo a visão do sutiã de renda branco. O tecido fino é inútil
para esconder seus mamilos duros, consigo ver o contorno dos
piercings e minha boca saliva em antecipação.
— Você é mais novo... — fala com a voz fraca, me fazendo
morder seu pescoço e arrancar um gemido gostoso dela.
— Idade é só um número — respondo e tiro a minha camisa, já
aproveito que estou sob seu olhar atento e me liberto de todas as
roupas, ficando completamente nu em sua frente. — E você gosta
muito deste novinho aqui — provoco quando ela morde o lábio
inferior para conter o gemido.
— É meu estagiário...
— Tecnicamente estamos de férias, neste momento aqui eu
sou teu homem — rebato e tiro a bota ortopédica, para depois puxar
sua calça para baixo e deixa-la só de lingerie. — Qual é a próxima
desculpa? — desafio quando volto a ficar por cima dela.
Agora sem roupa, meu pau roça sua abertura coberta pela
calcinha de renda. Em um lapso de consciência pego uma
camisinha da gaveta da cômoda e encapo meu membro antes de
voltar para ela.
— Eu não tenho tempo para isso...
— Tem duas semanas — contesto e coloco uma mão em cada
lado da sua cabeça, vejo seus olhos castanhos assustados com
nossa conexão, o lábio rosado e o nariz arrebitado de Marina me
fazem suspirar. — Vamos fazer um trato, aceita viver isso aqui —
levo uma mão até o seu coração e depois aponto para o meu —, me
dá esses 14 dias para te conquistar. Se no final desse tempo você
não quiser me dar uma chance real, eu prometo me afastar.
— Você quer fazer um teste de relacionamento?
— Quero te provar que somos perfeitos um para o outro, que
não vou atrapalhar teus sonhos, muito pelo contrário: estarei lá para
te ajudar durante o caminho, para te apoiar e torcer por você .—
Cada palavra que sai da minha boca é sincera. — Vou ser teu
homem, Marina.
— E quer que eu seja tua mulher?
— Não, só quero que me aceite. — Volto a beijar seu pescoço.
— Quero dormir com você em meus braços e acordar te dando
muitos orgasmos, quero rir das séries ruins e debater aqueles filmes
mais sérios que você gosta, teorizar o que vai acontecer na
continuação dos livros que você tanto lê. — Ela não contém o
sorriso e meu coração explode de felicidade. — Quero estudar ao
seu lado, levar o Rogers para passear no parque contigo, andar de
mãos dadas, ou ficar sentado de mãos dadas até que seu pé
melhore.
— Eu não sei fazer essas coisas — confessa com o olhar
triste. — Nunca me envolvi emocionalmente com alguém.
— Deixa eu ser o primeiro, então — imploro e encosto minha
testa na dela. — Me dá uma chance para te provar que não vai ser
perda de tempo.
— Léo, eu não sei...
— Só aceita, se não por estar certa disso, porque terá duas
semanas sem poder trabalhar. Eu prometo preencher esse tempo
com atividades interessantes — instigo e roço meu pau na sua
boceta, ainda coberta pela calcinha — Fala que sim.
Provoco ainda mais e ela geme embaixo de mim, suas mãos
apertam meus braços enquanto incito.
— Isso é chantagem, você não está me deixando pensar
direito.
— Porque se você parar para pensar, vai negar. — Aproveito
para descer com a minha boca até o mamilo direito e mordo a ponta
arrepiada por cima do sutiã, arrancando dela um gemido. Suas
costas arqueiam enquanto ela começa a se esfregar em mim. — Só
uma palavra e eu vou te foder da forma que me ensinou, firme e
forte, só aceitar a minha proposta e eu te faço gozar até que me
implore para parar.
— Léo — Marina suspira e arranha minhas costas. — A
resposta é sim. — Sua voz sai baixinha, agoniada, mais como uma
confissão.
Meu coração acelera e não controlo o sorriso de felicidade que
me invade, ela disse sim, Marina realmente aceitou me dar uma
chance!
— Finalmente. — Arranco sua calcinha e deslizo meu pau para
dentro da sua boceta, que já está pingando em antecipação. Marina
me engole e geme ainda mais alto quando começo a entrar e sair.
— Você quer isso tanto quanto eu, só se entrega.
— Segura minhas mãos acima da minha cabeça e me
masturba enquanto me fode — exige e faço o que ela pede,
dominando seu corpo e controlando nosso prazer. — Chupa meus
peitos, quero sentir tua língua nos meus piercings.
— Eu amo quando você me dá ordens assim — confesso e
faço o que ela manda. Sou recompensado com seus gritos de
prazer assim que abaixo seu sutiã e abocanho o mamilo direito,
lambendo e chupando com gosto. Levo minha mão livre até o seu
clitóris e começo a massageá-lo.
— Quero mais rápido e mais forte, preciso gozar, Léo.
E assim eu faço. Sua boceta começa a apertar ainda mais meu
pau, sinto minhas bolas contraírem, estou quase lá. Prendo a
respiração para aguentar um pouco mais e massageio seu clitóris
mais rápido, nossos corpos se chocam em uma sinfonia de sons
deliciosos, que combinam com os gemidos altos e incontroláveis.
— Eu vou gozar — anuncio, meio que pedindo permissão. —
Vem comigo, quero sentir tua boceta estrangular meu pau.
— Me beija, Léo — ela pede e no momento em que nossos
lábios se tocam, sinto seu canal me apertar e engulo seus gemidos,
liberando meu próprio prazer dentro dela enquanto continuo
entrando e saindo, até que cada músculo do meu corpo se entrega
e me jogo ao seu lado.
É com a respiração ofegante, sentindo seu cheiro delicioso
dominar todos os meus sentidos, que tenho a mais absoluta certeza
de que estou completamente apaixonado por esta mulher.
E não tem a menor chance de deixar que me mande embora
no final destas duas semanas.
CAPÍTULO 26
Marina
E é tão mais fácil quando
Tem você pra dormir junto
Tem pra acordar junto e viver junto
Tem você pra me contar dos seus dias seguros
Se não, tem ausência e saudade
Tem lembrança de felicidade
Tem guarda-roupa vazio
Sem teus tons escuros
Dói sem tanto — Anavitória

Estou completamente fodida. Por que aceitei isso?


Ah, claro, talvez pelo fato de ter um gostoso em cima de mim,
alguém que me faz sentir coisas que só havia lido em livros. A forma
com que meu corpo reage a ele me deixa apreensiva, e essa droga
de sentimento está me tirando dos eixos.
Depois do sexo maravilhoso em que ele me convenceu a lhe
dar uma chance, Léo preparou o café e passamos a manhã toda no
sofá, planejando os próximos dias e conversando.
Ele me contou sobre as expectativas do seu pai para que se
torne advogado, como nunca realmente se imaginou exercendo a
profissão até começar o estágio, falou sobre sua amiga e como a
mãe dela ainda pensa que vão ficar juntos.
Depois me mostrou milhões de fotos que ele tem no celular,
das suas últimas férias na praia. Reconheci o lugar do vídeo que a
Carina me mostrou, algumas festas com um grupo de amigos da
idade dele, músicas que gravou no violão. Léo se abriu comigo
sobre seus sonhos e medos, e foi lindo.
Ele é mais novo e ainda não parece ter acordado para a vida
em alguns pontos, mas hoje percebi que a fachada de menino
sorridente, que faz dancinhas na internet, anda de skate com os
amigos e toca violão, esconde um homem preocupado com o
próprio futuro, confuso e até assustado.
Este é um ponto que temos em comum. Por mais
desesperador que seja, acredito que ninguém esteja completamente
tranquilo com a vida adulta, porque ela é cheia de mudanças e
reviravoltas.
Nada é constante, tudo muda e aceitar essas revoluções é
complicado.
Resolvi me abrir para ele também, Léo já sabe mais sobre mim
do que qualquer um dos meus amigos, acho até que a Carina, e ele
me entende.
Mais do que isso, Leonardo está me dando tempo para aceitá-
lo.
Eu vejo como me olha a todo momento, especialmente quando
acha que não estou atenta. Sei o que seu toque carinhoso significa,
ele já falou e demonstra a cada momento que está apaixonado por
mim. É um sentimento verdadeiro, o que só me assusta ainda mais.
Não sei definir o que sinto, nem se consigo corresponder da
forma que espera, mas em algum momento resolvi tentar. Talvez
seja o susto das férias forçadas que não consegui reverter, e olha
que tentei, mas aparentemente o RH descobriu que eu não tiro um
dia de férias desde que entrei na empresa, a não ser no final de
ano, quando viajo para visitar minha família, mas geralmente são
férias coletivas e nada mais que 10 dias. Agora essas duas
semanas serão uma pausa obrigatória, que não vão influenciar no
andamento dos meus casos, e mais para frente terei que tirar um
mês inteiro.
— O que eu vou fazer em duas semanas sem poder trabalhar?
— reclamo enquanto almoçamos o macarrão com molho branco que
o Léo cozinhou. — Já adiantei todos os trabalhos da pós e não
consigo começar algum curso novo assim, em cima da hora.
— Se quiser pode me ajudar a estudar para o exame da ordem
— sugere. — Eu já estou estudando há um tempo com a Gabi, mas
ainda estou terminando o projeto do TCC. Alguns colegas sugeriram
formar um grupo de estudo, mas isso nunca funciona, acaba virando
festinha.
Rio da careta que ele faz e concordo, estudar com mais
pessoas é complicado.
— Se quiser eu te ajudo a finalizar seu projeto — concordo,
mais animada por ter um objetivo em mente. — Duas semanas dá
para estudar bastante, e com um plano para continuar depois, vai
ficar mais fácil, a data da prova já está aí.
— Eu aceito. — Ele abre aquele sorriso lindo e sincero. — Mal
posso esperar para ver você me ensinando a matéria da faculdade
só de lingerie, e com os óculos, é claro.
— Seu tarado, eu não disse isso.
— Você quer que eu retenha o máximo possível da matéria,
não quer? Essa é a melhor forma.
— Vai sonhando, garotão — respondo e coloco mais uma
garfada de macarrão para evitar o sorriso.
— Já sonho com você há muito tempo, morena, quero botar
alguns deles em prática — a piscadinha quase me faz cuspir a
comida da boca.
— É mesmo? Conta algum deles — decido provocar, não sou
mulher de fugir de assunto sobre sexo.
— O mais recorrente é te chupar até você gozar na minha
boca, no seu escritório.
— Previsível demais.
— Enquanto você está em uma vídeo chamada com algum
cliente importante — ele continua em um desafio. — Só de pensar
que terá que manter esse rostinho lindo e inexpressivo, enquanto
passo minha língua por toda a sua boceta melada e te chupo da
forma que me ensinou, já fico duro feito pedra.
Ah, se ele soubesse que minha calcinha está completamente
encharcada só de ouvi-lo falar sobre isso.
— Continua sendo um clichê, mesmo que invertido, porque
geralmente o chefe é o homem e a pessoa que está chupando é a
secretária ou estagiária.
— Tem razão, mas ainda é meu sonho — dá de ombros e leva
o copo com Coca-Cola à boca — Me conta um teu?
Espero ele tomar alguns goles antes de falar.
— Você já fez sexo anal?
Como esperado, Léo cospe o refrigerante para o lado e
começa a tossir, claramente não estava esperando por isso.
— O que você falou?
— Não falei, perguntei se já fez sexo anal — explico
calmamente, me esforçando ao máximo para conter a risada.
— Em mim ou em outra pessoa?
— Ambos.
Leonardo faz uma pausa dramática e finge pensar no assunto,
entrando na provocação, deixando-me ainda mais curiosa.
— Não, nunca fiz sexo anal. O mais próximo que cheguei foi
estimular a região de uma ex-namorada com o dedo, mas ela não
curtiu muito, então não seguimos adiante.
— Gostaria de fazer? — pergunto e agora já não consigo
esconder o sorriso safado.
— Se você me ensinar, faço qualquer coisa, amor.
A temperatura esquentou do nada no meu apartamento.
— Vai ser um prazer — engulo em seco —, para nós dois.
Ficamos por sei lá quanto tempo nos olhando, em uma
conexão absurdamente intensa, e não é só tesão ou atração física,
seu jeito de me admirar é diferente.
— Eu te comeria mais uma vez, mas é minha vez de dirigir até
a faculdade e a Gabi está me esperando. — Ele recolhe os pratos e
coloca na pia enquanto separo o que restou do macarrão em um
pote para congelar. — Vai rolar uma resenha com a galera hoje,
topa ir comigo?
Seu convite me pega de surpresa, ainda mais pela forma que
ele fala, uma “resenha”.
— Do que você está rindo? Vai ser legal — ele fala enquanto
lava a louça e nem percebi que estou com um sorriso enorme no
rosto.
— Não é pelo convite, mas as gírias que você usou — explico
e ele ergue as sobrancelhas, me encarando seriamente. — Você
não fala assim, tão... jovem, pelo menos não quando está comigo.
Parece ainda mais novo.
Então Léo solta uma gargalhada alta ao perceber sobre o que
estou falando e não me aguento, tenho que acompanhá-lo.
— Isso é porque meu pai é advogado. Ele pegou no meu pé a
vida toda para não falar gírias jovens, ainda mais agora no escritório
ou com os clientes, então eu me controlo bastante.
— Entendo, mas é estranho.
— É normal, agora para de se esquivar do meu convite.
— Não estou me esquivando, só não posso ir. Se algum dos
seus amigos estagiários ver a gente junto, vão pensar que
estamos... bem... juntos.
— Mas nós estamos. — Léo volta ao seu jeito descontraído. —
Não precisa se preocupar, essa é uma galera diferente. Acho que a
Gabi também não vai, mas vou conferir, se isso te deixa mais
tranquila.
— Como assim, galera diferente?
— Outro grupo de amigos, essa resenha é da galera do
parque, rolou evento na pista ontem e hoje é comemoração — sua
explicação ainda não faz sentido. — Ontem teve competição de
skate no parque, eu não fui porque foi aniversário da minha mãe,
então eles me intimaram, digamos assim, para participar da
comemoração hoje.
Não me passa despercebido seu uso de palavras mais
formais, mas pelo menos agora entendo.
— Posso te dar uma resposta depois? Ainda é muito cedo,
Léo.
— Claro, amor, vou falar com a Gabi também...
— Você não pode contar da gente, ela é filha do dono, se
alguém descobre eu vou ser demitida. — Sinto meu coração bater
em desespero. Merda, o que diabos estou fazendo?
Largo a toalha e caminho como consigo até a sala, vendo a
situação novamente por uma perspectiva sensata. Eu sou a chefe
dele, é proibido me envolver com funcionários, ainda mais com
alguém que está abaixo de mim na hierarquia.
— Marina, olha para mim. — Léo não perde tempo e vem até
mim, segurando-me em seus braços enquanto tento me soltar. —
Não pira, morena, você não vai perder o emprego nem nada disso,
ninguém tem nada a ver com o que a gente faz depois do trabalho.
— Não é tão simples assim. — Desvio do seu beijo, já me
sentindo mal por estar gostando do seu abraço. — É proibido, você
é meu estagiário, é como se eu tivesse tirando vantagem de você
por ter um cargo superior ao seu.
— Morena, olha aqui. — Ele pega meu queixo e me força a
encarar seus lindos olhos azuis. — Se alguém está tirando
vantagem aqui, sou eu. Você tem sido a melhor mentora possível
dentro e fora do escritório, me ajuda com a faculdade, e além de
tudo me deu o prazer de conhecer a Marina de verdade, não só a
advogada. Do meu ponto de vista, quem está tirando vantagem sou
eu.
— Você é ingênuo demais, Léo.
— Pode ser, mas não vou te deixar pirar por isso. — Ele se
abaixa e encosta sua testa na minha, o toque é reconfortante, seus
braços fortes se moldam ao meu corpo e me trazem ainda mais
perto do calor do seu peito, o cheiro do perfume é tudo o que meu
coração precisa para se acalmar. — Estou aqui porque quero
conhecer todas as tuas faces, então vou te deixar pensar, só não vai
por esse caminho, estamos de férias, lembra?
— Férias forçadas.
— Sim. — Seu sorriso fácil me contagia e o acompanho. —
Agora, preciso realmente ir, mas se você começar a pirar de novo,
pode me deixar te usar mais um pouco e ler meu projeto do TCC.
— Abusado — respondo e não me controlo, roço meus lábios
nos dele em um beijo carinhoso, pegando a mim de surpresa. — Vai
estudar, novinho.
— Quando eu voltar, te mostro o que o novinho aqui pode
fazer. — Então só escuto o barulho e sinto a ardência na minha
bunda, ele acabou de me dar um tapa.
O LEONARDO ACABOU DE BATER NA MINHA BUNDA!
— Da próxima vez que resolver me dar um tapa assim, é
melhor que eu esteja sem nada e de quatro — provoco e vejo seu
olhar surpreso. — Sim, eu gosto de uns tapas, mas só na hora
certa.
— Caralho, agora vai ser impossível prestar atenção na aula
com a imagem da tua bunda gostosa toda vermelha. — Ele me beija
e se afasta, pegando a mochila. — Até mais tarde, morena.
Depois que ele sai, encontro uma caixa de bombom Ferrero
Rocher em cima da minha cama, o danado deve ter escondido ali
em algum momento durante a manhã.
CAPÍTULO 27
Leonardo
Você intenso é meu pecado
No ponto certo pra me esquentar
Te levo junto, sempre ao meu lado
E eu sou doce pra te acompanhar
Cafeína — Vicka

Reuni toda a coragem e confiança que consegui para sair


daquele apartamento, não queria deixá-la sozinha com seus
pensamentos, por mim matava aula e ficava abraçado à morena o
dia todo.
Só que hoje é meu dia de ir de carro para a faculdade e a Gabi
já me mandou dez mensagens, ela precisa falar com o professor
antes da aula e eu prometi que chegaríamos a tempo.
— Caralho, Léo, custa me responder ou atender essa merda
de celular? — minha amiga grita comigo quando entra no carro,
percebo que ela fala sério quando me fuzila com o olhar.
— Desculpa, me enrolei com algumas coisas.
— Se tivesse me falado, eu iria de carro, mas como combinei
contigo, mandei lavar o meu. — Respira fundo no banco, — A gente
vai se atrasar, vou ter que falar com o senhor Marino no final da
aula.
— Tudo bem, eu te espero para vir para casa.
— Não precisa, vou pra república hoje, a Vitória convidou para
uma resenha.
Vitória é a ruiva com quem ela vem se relacionando há um
tempo, percebo que conversamos muito pouco nos últimos meses e
já não sei mais o que está acontecendo na vida da minha amiga.
— Vocês estão ficando sério? — pergunto, curioso, e recebo
um olhar de lado dela, que fica vermelha e tenta disfarçar um
sorriso. — Pela sua carinha acredito que a resposta seja positiva.
— Sim, mas ela ainda não quer namorar, disse que está cedo
demais e essas coisas.
— Tem quanto tempo que vocês estão ficando?
— Ela me deu um fora naquele dia que teu pai acabou com a
festinha, mas depois mandou mensagem e nos encontramos, então
tem quase dois meses, eu acho.
— Nossa, e eu nem sabia disso.
— Você tem andado sumido, e não adianta esconder, sei que
tem mulher envolvida. — Ela se vira no banco e me olha mais
atentamente. — Conta logo.
— Eu não deveria falar nada, mas tá foda esconder — admito
com um sorriso no rosto e isso chama a atenção da Gabi. —
Lembra da mulher da balada?
— A gostosa que te fodeu no sofá? — descreve sem rodeios.
— Como assim, me fodeu?
— Pelo que você me contou, a mulher praticamente montou
em você. Se ela fez a maior parte do serviço, ela quem te fodeu —
explica com um dedo levantado e o olhar sério. — Mas o que tem
ela?
— Então, aquela noite ela deixou bem claro que queria transar
e aconteceu de eu estar lá, nem me passou seu número ou o nome
completo.
— Já gostei dessa mulher.
— Quando fomos apresentados aos advogados na primeira
reunião do escritório, lá estava ela, sentada do outro lado da mesa.
Marina é a morena da balada — anuncio com um sorriso ainda
maior no rosto, mas levo um tapa forte no braço. — Ei, porque me
bateu?
— Caralho, Léo, tira esse sorriso do rosto — Gabi repreende
seriamente, achei que ela iria rir da situação. — Você sabe que não
podemos nos envolver com colegas de trabalho, ainda mais com
nossos mentores?
— Ah, corta essa, uma empresa não pode proibir o
relacionamento entre seus colaboradores.
— Por lei realmente não pode, mas é altamente desencorajado
— explica e percebo que o assunto é sério. — Já ouvi meu pai
falando sobre casos de envolvimento entre funcionários que não
dão certo e criam um clima difícil na firma, por isso eles
desincentivam, especialmente quando é uma relação com um
subordinado.
— Se for consensual, não vejo problema algum.
— Léo, eu te amo, sei o quanto você é incrível, mas tem que
crescer um pouco. O mundo não é tão simples e bonito quanto você
pensa.
— Para com isso, se ela quer e eu também, o que tem de
errado?
— Sério, isso só poderia vir de um homem mesmo. — Percebo
que a Gabi está ficando brava, sua voz ganha um tom mais agudo.
— Tira um pouco seu nariz do próprio umbigo e começa a reparar
na hierarquia da empresa dos nossos pais, começando pelos sócios
proprietários, que são dois homens. Reparou que as secretárias são
todas mulheres, jovens e que se encaixam de certa forma em um
padrão de beleza?
— Eu não fiquei lá por tanto tempo para reparar nisso —
respondo, mas ela finge que não me ouviu e continua a falar.
— Abaixo dos nossos pais existem os sócios, e eu vou falar no
masculino mesmo, porque entre eles não tem uma mulher, mas
cada um tem uma secretária. No setor de RH temos mais mulheres
trabalhando, assim como no financeiro.
— Como você sabe de tudo isso? — questiono, abismado ao
entender qual é o seu ponto.
— Eu sou mulher, e pretendo algum dia assumir o lugar do
meu pai e mudar essa merda de empresa machista que nossas
famílias criaram.
— E você vai — afirmo com uma pontinha de orgulho dela —,
mas ainda não entendo o que tudo isso tem a ver com envolvimento
entre os funcionários.
— Quando um homem se envolve com a sua secretária, por
exemplo, se ele está em uma posição de poder sobre ela, pode usar
essa posição para ganhar algo em troca, ameaçando demiti-la ou
interferir na carreira dela.
— Isso é uma merda mesmo — concordo, absorvendo o
significado das suas palavras.
— O pior é que mesmo se a mulher denunciar, em muitos
casos o cara não perde nem o emprego. Ou ela é desacreditada, ou
passa por oferecida. No fim as chances de a culpa cair sobre a
mulher são muito maiores do que as do homem ser penalizado
pelas merdas que fez.
— Tá, isso eu sei, mas no meu caso eu sou o homem...
— É pior ainda. Se acontecer algo entre vocês, podem usar
isso contra ela, e como eu disse, é muito mais fácil a mulher ser
penalizada, independentemente da posição. E você é filho do dono,
mesmo que ninguém saiba disso, vai manchar a carreira e a
reputação da Marina.
Medito em seus argumentos, realmente não tenho defesa
contra eles, a maior prejudicada será a morena.
— Olha, não estou querendo te dizer o que fazer, nesse caso o
que não fazer, ou pelo que eu vejo, o que você deveria parar de
fazer — Gabi repreende com o olhar. — Só pensa bem antes de
continuar com isso.
— Eu não vou parar nada, Gabi. Sei que pode dar merda, e
das grandes. Agradeço por tudo o que me falou porque realmente
não tinha pensado dessa forma, só que não tem mais volta.
— Como assim?
— Eu tô apaixonado, completamente caidinho por ela. —
Sorrio só de lembrar da mulher que domina meu coração e me faz
suspirar de saudade. — E hoje ela aceitou me dar uma chance, a
gente foi forçado a tirar férias, porque falei pro meu pai que ela
ainda estava trabalhando — e aparentemente não deveria — então
teremos duas semanas.
— Vocês estão juntos, juntos? — questiona curiosa.
— Sim, eu vou ao apartamento dela de manhã, às vezes levo
até o Rogers comigo. Quando você não está, e é para lá que eu vou
depois da aula também — confesso e respiro fundo. — É lá que
queria ficar o tempo todo, para falar a verdade.
— Puta que pariu, ela te deu o maior chá mesmo.
— Marina é incrível, Gabi, só que ela não quer namorar,
especialmente comigo — enfatizo, me sentindo um pouco triste ao
lembrar deste fato. — Na verdade acho que ela nunca namorou,
está tão focada em sua carreira que acha que não tem tempo para o
amor.
— Se ela fosse homem, seria aplaudida por isso.
— Eu sei, mas quero que ela saiba que não pretendo interferir
com seus planos de carreira, quero estar ao lado dela nesse
caminho e ajudá-la, se possível. — Respiro fundo. — Preciso fazê-la
enxergar que pode ter uma vida e ainda assim ser uma advogada
bem sucedida.
— Já contou que você é filho do dono?
— Não, eu prometi para o meu pai que não falaria nada.
— Léo, a gente já está chegando, então tenho tempo de te dar
só mais um conselho: não adianta começar algo em cima de uma
mentira, ou um segredo. Se você realmente quer que ela te dê uma
chance, é melhor contar quem você é e deixá-la saber onde está
entrando.
— Eu vou contar, só quero que ela me conheça antes, sabe. —
É mais uma tentativa de mentir para mim mesmo do que convencer
minha melhor amiga. — Hoje tem resenha na pista, convidei a
Marina para ir comigo e prometi que não teria nenhum dos
estagiários por lá.
Ela me lança seu olhar de canto e levanta uma sobrancelha,
os lábios comprimidos em sinal de desgosto.
— Não é uma boa ideia.
— Eu sei. — Mentira, não sei de nada. — Me ajuda a descobrir
se alguém do nosso grupo vai estar lá?
— Você nem abriu as mensagens do grupo de estagiários, né?
Eles vão se reunir para estudar hoje, acho que vai ser na casa do
Paulinho. Eu disse que não ia porque não gosto dessa coisa de
grupo de estudos, mas pelo que parece, todos os outros vão.
— Beleza — agradeço mentalmente. Fora eles, ninguém da
galera do skate vai reconhecer a Marina, então estaremos livres. —
Obrigado, Gabi.
Paro o carro no estacionamento e pego a mochila do banco de
trás.
— Vai com calma, Léo — sua voz soa preocupada. — Não
quero te ver machucado.
— Eu sei o que estou fazendo, mas obrigado pelos conselhos.
— Saio do carro e ela faz o mesmo. — Só vou trocar de roupa, nos
encontramos na sala.
— Beleza, te vejo na aula.
Troco de roupa no primeiro banheiro que encontro, o plano era
parar em casa antes de vir para a faculdade, mas como já estava
atrasado, não quis enfurecer minha amiga ainda mais. Por sorte
sempre tenho uma muda de roupa na mochila.
A aula é interessante, mas estou aéreo, as palavras da Gabi
continuam martelando na minha cabeça. Eu sabia que não era bem
visto o relacionamento entre funcionários na empresa, mas nunca
imaginei que seria algo sério assim.
Agora entendo porque a Marina estava com tanto medo de
aceitar o que sente. Sua carreira é a coisa mais importante para ela
no momento, não quero prejudicá-la. Sabendo que isso pode
acontecer, preciso muito pensar em como contar para os meus pais
sobre ela, e principalmente, deixar às claras quem realmente sou.
Percebi que ela ficou curiosa quando falei que meu pai era
advogado, não queria mentir, então contei a verdade, porém não me
aprofundei mais que isso. Droga, as coisas estão ficando mais
complicadas do que eu imaginava. Eu só me apaixonei, não deveria
ser tão difícil assim.
Quando a aula termina, confiro o grupo dos estagiários e vejo
que realmente todos vão se encontrar para estudar para a OAB.
Respondo que não vou poder ir, mas fico mais aliviado em saber
que estarão reunidos em um lugar só.
— E aí, cara, vai ir no rolê na pista hoje? — Arthur me
encontra no estacionamento — Eu preciso de uma carona, quero
tomar umas e se for de carro vai dar merda.
Droga, esqueci completamente que ele também faz parte do
grupo, e se ele abrir a boca para a galera sobre Marina, ela vai ficar
constrangida e com medo dele contar para alguém.
— Preciso falar contigo — anuncio seriamente e destravo as
portas do meu carro, indicando que ele entre. — Então, eu não vou
sozinho hoje...
— Aeee, eu sabia que teu sumiço era mulher. Tá pegando
quem agora? — pergunta animado e não contenho o sorriso. —
Leonardo, que cara é essa? — Finge surpresa e bate no meu braço.
— Tu tá apaixonado, filho da puta?
— Cala a boca. — Não contesto, porque é verdade mesmo.
— Caralho, agora tô mais animado em conhecer a gatinha do
que ir no rolê, a Gabi vai também? A gente podia convidar a galera
e...
— Não — corto sua fala e ele percebe que é sério. — É
complicado, cara, mas a galera da faculdade não pode saber.
— Como assim? Tem alguma coisa de errado com ela? Ou é
um ele?
— Não tem nada de errado e é uma mulher. — Respiro fundo,
ele é meu amigo há muito tempo, mas Arthur é fofoqueiro, por isso
preciso que entenda que o assunto é importante. — Olha, você tem
que me prometer que não vai contar nada para ninguém. A Gabi
sabe, se quiser bater papo com alguém sobre isso, porque eu sei
que você não vai se aguentar.
— Calma, cara, não vou falar nada não, a gente é parça e se é
segredo é segredo.
— Vou levar a Marina comigo — digo e avalio sua reação.
Primeiro ele fica confuso com o nome, mas alguns segundos depois
seus olhos se arregalam em surpresa, as sobrancelhas vão lá no
alto e ele leva uma mão à boca. — Sim, a minha mentora do
estágio.
— P.U.T.A.Q.U.E.P.A.R.I.U! — Pontua cada uma das letras.
— Ninguém pode saber, e também preciso que não faça
nenhum escândalo quando encontrar ela hoje à noite.
— Cara, ela não é... tipo... mais velha e tals?
— Quatro anos, só que a gente ainda não está namorando,
porque ela tem medo do que pode acontecer no escritório.
— Mas tu quer namorar, né? Esses olhinhos brilhando aí não
me enganam — ele abre um sorriso ao me provocar.
— Mais que tudo no mundo. Acho que nunca curti tanto
alguém na vida, cara.
— E qual é a treta? Porque ela não quer te assumir?
— Não é isso. Ser minha mentora pode complicar as coisas
para ela no escritório, e tem o meu pai também.
— Teu coroa já pegou ela?
— Não, você tá louco? — Agora quem dá o soco no braço dele
sou eu, meu pai é fiel à minha mãe e jamais se envolveria com outra
mulher. — Lembra o dia da festa que ele mandou todo mundo
embora? — Arthur acena com um positivo. — Então, naquele dia ele
me deu meio que um ultimato para colocar minhas merdas no lugar
e me obrigou a aceitar o estágio na empresa, só que com a
condição de que ninguém soubesse que sou o filho do dono.
— Caraca, teu coroa é foda. Então a Marina não sabe que tu é
dono daquilo tudo?
— Não sou dono, sou filho de um dos donos.
— Não vejo diferença alguma.
Respiro fundo para continuar a explicação, Arthur as vezes me
tira do foco com seus milhares de questionamentos.
— Voltando ao assunto, eu aceitei com a condição de que a
Gabi também fosse e prometi que não usaria o sobrenome do meu
pai, já que eu uso só o da minha mãe nas redes, mesmo.
— Nunca entendi porque fazer isso — comenta e percebo um
pouco de julgamento em sua frase. Ele não vem de uma família rica,
seus pais trabalham muito para conseguir pagar a mensalidade do
curso de Engenharia civil da PUC e ele trabalha para se sustentar.
— Estou percebendo isso agora, só que esta foi a condição
dele e aceitei, não posso voltar atrás. Ele queria que eu passasse
por essa fase sem regalias e vou provar que consigo.
— Eu entendo teu pensamento, mas é um pensamento burro.
— A menção do meme nos leva a gargalhadas dentro do carro, não
aguento meu amigo, ele sempre sabe como transformar um
momento sério em algo leve. — Desculpa, não consegui controlar,
a força do deboche é maior que a razão.
— Tudo bem — respondo com lágrimas nos olhos. — Enfim,
até me perdi aqui, mas resumindo: ninguém pode saber sobre nós e
não quero que ela se sinta desconfortável hoje, demorou para me
dar uma chance e essa é a primeira vez que vai me ver com a
galera.
— Léo, fica tranquilo, confia no teu parça aqui — Arthur pega
minha mão em um aperto exagerado — prometo fazer a tua mina se
sentir parte da geral, e vou manter minha boca fechada.
— Valeu, cara — aperto sua mão mais um pouco e realmente
agradeço pela sua amizade. — Sobre a carona, acho que o Luiz
também vai, sabe que ele não bebe, então é de boas.
— Verdade, vou falar com ele. — Pega sua mochila e abre a
porta, mas antes de sair se vira para mim com um sorriso no rosto.
— Léo, eu nunca te vi tão feliz assim com nenhuma mina antes.
— Para, eu já tive bons relacionamentos. Você e a Gabi falam
como se eu tivesse enganado as outras meninas.
— Pode ser. — Dá de ombros. — Mas agora parece diferente,
você tá preocupado com ela, e não só em agradar a mina, mas quer
que ela seja aceita, eu só espero que ela saiba valorizar o cara
incrível que você é.
Com isso ele sai e me joga um aceno com a mão por cima do
ombro.
CAPÍTULO 28
Marina
Hoje eu tô pensando em você
Em tudo que cê sabe fazer
Depois eu já não sei te dizer
Mas eu te quero sem maldade, baby
Sem filtro — IZA

Passei a tarde lendo o projeto do TCC do Léo e fazendo


anotações e apontamentos, tive até um pequeno sentimento de
nostalgia da minha época da faculdade.
Às 18 h tomei um banho e fiquei observando meu guarda-
roupa, o que se usa para ir ao parque assim? Tenho vestidos
fofinhos, mas seria mais para o dia, e não está frio, então uma
jaqueta é demais. Posso pôr uma bermuda jeans e camiseta, ou
uma calça?
Só tem uma pessoa que pode resolver meu problema.
— Preciso de ajuda — falo no momento que Carina atende ao
telefone e abro a vídeo chamada. — O que se usa para ir ao
parque, à noite, com um menino de 22 anos que provavelmente tem
amigos ainda mais novos?
A risada debochada da minha amiga ecoa pelo ambiente e me
contagia.
“Você está realmente ferrada, amiga”. Só concordo com a
cabeça, Carina para um minuto para pensar então recebo algumas
fotos no WhatsApp. “Hoje vai ser quente, então você pode usar uma
bermuda jeans preta, tem aquela sua camiseta com estampa de
gatinho que eu te dei, coloca o All Star preto no outro pé e deixa teu
cabelo solto. Ah vê se usa algum colar, aquela Choker de coração é
perfeita e você nunca usou”.
Separo as roupas que ela falou e coloco três opções de
bermuda jeans em cima da cama.
“Essa mais curta e rasgada. Já que é para fazer o novinho ficar
louco, coloca essa bunda pra jogo”.
— Você é uma baita de uma safada.
“Pode me agradecer amanhã, aceita um café depois do
trabalho?”
— Então, estou de férias — conto e a imagem da câmera fica
toda tremida, escuto barulhos de batida, claramente Carina deixou o
celular cair no chão. — Amiga, você está aí?
“Sim. Caralho, Marina, que milagre é esse? Não me lembro a
última vez que te ouvi falar em férias”.
— Digamos que fui forçada a aceitar, cortaram meu acesso ao
sistema da empresa e não tive outra opção.
“Pode tirar a tristeza da voz, você mais do que ninguém
merece um descanso, e isso vai te fazer bem, aproveita que final de
semana tem o casamento da tua prima e vai pra lá ficar uns dias”.
— Você está louca? Nem morta eu conto para minha mãe que
estou de férias, eu amo minha família, mas não sei se aguento mais
que dois dias com aquela loucura toda. Se é para descansar é
melhor ficar aqui mesmo.
“Aham, esse discurso não tem nada a ver com o novinho com
quem, do nada, você aceitou sair em uma segunda-feira à noite,
para um encontro?”.
Ela me pegou, não falei que era um encontro porque sabia que
Carina ia zoar com a minha cara, e também porque não sei se é
realmente um encontro. Na minha concepção seria um jantar
romântico em um restaurante, mas eu sou uma pessoa jovem com
alma de velha.
“Amiga, não pira, é só um encontro”. Carina chama minha
atenção quando não respondo. “Fico feliz por você e não quero te
fazer enlouquecer, mas pode tirar um tempo dessas férias para me
contar todas essas novidades”.
— Vem jantar aqui na quarta? — convido e ela sorri feliz na
câmera.
“Vou sim”
— Combinado, então, vou me trocar, que ele já deve estar
chegando. Obrigada por tudo, amiga.
“Sempre às ordens”.
Desligo e coloco a roupa que ela indicou, avaliando meu
reflexo no espelho pareço muito mais jovem do que o normal. A bota
ortopédica é preta, assim como o all star, então não destoa tanto
assim, esta semana tenho consulta e talvez já possa tirar, não dói
mais para caminhar e até consigo me mover sem a muleta.
Seco meus cabelos, decido deixá-los soltos mesmo, faço uma
maquiagem um pouco mais pesada nos olhos, meus óculos cobrem
bastante mesmo, só que não consigo enxergar direito sem e odeio
lentes de contato, só uso em casos extremos. Por fim, passo só um
lip tint nos lábios.
Olhando assim não pareço ter mais do que vinte anos, será
que vou conseguir me enturmar com os amigos dele? Não saio
muito com pessoas da minha idade, Carina é o mais próximo disso
— e o nosso grupo de balada, que eu quase nunca participo.
Minha vida é meu trabalho, portanto estou sempre rodeada de
homens engravatados e mais velhos, ninguém fala sobre “galera” ou
“rolê” em uma reunião de negócios, alguns clientes até são mais
informais, só que são poucos.
Exatamente às 19h escuto o já familiar barulho das chaves do
Léo na porta de entrada, que faz meu coração acelerar, sinto meu
rosto ficar vermelho e não consigo disfarçar o sorriso que se abre
em meu rosto.
Lá está ele, de All Star preto, bermuda jeans rasgada, uma
camiseta vermelha com estampa de quadrinhos e aquele sorriso
com as malditas covinhas que me fazem suspirar.
Quando me vê seus olhos brilham e o sorriso aumenta. Ele se
escora na porta e me admira, só consigo definir assim, seu olhar
passa pelo meu corpo até meu tênis e ele sorri ainda mais.
— Acho que nunca te vi de Converse, até agora foram
chinelos, pantufas e saltos — comenta e vem até mim.
— Converse? Como assim? — Não entendo sobre o que está
falando.
— Seu tênis é um Converse preto — explica e minha mente
faz um giro de 380 graus, aparentemente os jovens não chamam
mais de All Star e sim de Converse. — Você está linda. — Léo me
distrai e passa as mãos pelas minhas costas, colando nossos
corpos até que seus lábios estão nos meus em um beijo carinhoso.
— Você também está gato, skatista — brinco e ele solta uma
gargalhada. — Tenho algo para você.
Saio dos seus braços e vou até meu guarda roupa, Léo me
segue e senta na minha cama, despreocupadamente.
— Se for alguma coisa sexual, pode esperar até a gente
voltar? Vai ser foda encarar a galera de pau duro a noite toda. —
Sua suposição me faz rir, então jogo o boné preto que ele perdeu no
dia em que o atropelei. — Caralho, meu Vans estava com você!
— Você deixou cair quando atropelou meu carro. — Dou de
ombros e vou até ele, fico no meio das suas pernas, pego o boné
das suas mãos e passo meus dedos pelos seus cabelos loiros e
macios. — Para falar a verdade, eu prefiro você sem. — Coloco o
boné em sua cabeça com a aba virada para trás e ele sorri, sem
desviar o olhar do meu rosto nem por um segundo.
— Se você prefere sem, não vou mais usar, a não ser quando
for andar no sol.
Léo tira o boné e se inclina para frente, sua cabeça descansa
em meu peito e minhas mãos vão automaticamente para seus
cabelos, mas meu coração acelera, o que é isso que estou
sentindo?
— Pode usar o que quiser — encontro minha voz para falar e
ele me abraça mais forte.
— Se continuar esse carinho gostoso, eu vou dormir e a gente
perde o rolê e o sexo.
— Seu safado. — Saio dos seus braços e o empurro na cama.
— Vamos então, que não quero voltar muito tarde.
— Prometo trazer essa bunda gostosa de volta antes da meia-
noite. — Sinto a ardência e o estralo do tapa que ele dá na minha
bunda, mas antes de conseguir gritar, Léo passa uma mão no meu
pescoço e me beija. — Agora vamos, quero exibir minha garota para
a galera.
— Você é desses então?
— Como assim?
— Exibido — brinco.
— Já se olhou no espelho? — Léo me segura em frente ao
grande espelho do meu quarto e fica atrás de mim, o reflexo de nós
dois juntos faz meu estômago apertar, é uma sensação estranha. —
Eu vou estar ao lado da mina mais gostosa que existe, claro que
vou me exibir.
Eu me vejo ficando vermelha com seus elogios e ele beija meu
rosto com carinho. Olhando assim nós realmente combinamos, até
minha unha é do mesmo tom de vermelho da camiseta dele.
Ao chegar ao parque sou surpreendida quando Léo tira um
violão preto do porta-malas do seu carro, ele percebe e dá de
ombros, como se não fosse nada, eu tinha esquecido disso.
Além dessas covinhas fofas, as malditas tatuagens de badboy,
o corpo musculoso e o sorriso encantador, o desgraçado ainda toca
violão. Fica cada vez mais difícil não me apegar ao novinho.
Cher, porque me abandonaste?
— Não sou o melhor cantor do mundo, se é isso que espera —
ele comenta e pega minha mão enquanto caminhamos devagar do
estacionamento até o parque. — Mas a galera pediu para eu ajudar
com o som.
— Vai cantar uma música para mim?
— Todas para você, morena.
Droga, como controlar essa sensação estranha no estômago?
Não é uma dor, nem gases, também não parece que estou com
fome, afinal faz pouco tempo que comi um sanduíche.
Não consigo decifrar o que é isso, só sei que a mão do Léo na
minha é reconfortante.
O lugar está realmente cheio, e com pessoas completamente
diferentes das que estou acostumada a conviver. E todos parecem
conhecer meu acompanhante.
Léo cumprimenta cada um que passa por nós, alguns com um
aperto de mão estilizado, outros com um abraço, muitos só com
palavras, mas toda vez ele me apresenta da mesma forma.
— Essa é Marina, minha garota!
E toda vez eu fico vermelha e sem reação.
O pior é que não tenho nem tempo de contestar, porque
quando recupero a fala já estamos com outro grupo e ele me
apresenta da mesma forma, todos me olham e sorriem, alguns
admirados, outros assustados.
Léo recebe todo tipo de piadinha, mas ninguém me olha torto.
Eles nos recebem e um menino de cabelo verde e roupa preta abre
espaço no banco para mim sentar ao lado do Léo, que deixou o
violão escorado enquanto conversa com seus amigos.
O lugar é interessante, tem uma pista de skate enorme mais à
frente que mais parece uma piscina com o fundo desnivelado, onde
muita gente pratica o esporte. Não sei como não batem um no outro,
mas é interessante de assistir. Em volta da pista algumas pessoas
sentam no chão mesmo e se dividem em grupos.
O que mais me chama atenção é quando começam a fazer
umas danças diferentes enquanto alguém grava, devem ser aquelas
de TikTok, como no vídeo que a Carina me mostrou do Léo.
Reparo que muitos estão com copos nas mãos, outros fumam
o que só posso imaginar ser maconha, porque passam de um para
o outro, mas também tem gente que está tranquila curtindo a noite.
Uma caixa de som pequena é a responsável pela música, que
no momento é um RAP que não conheço. Um grupinho de 5
meninas chama minha atenção, elas devem ter menos de 20 anos,
estão vestidas da mesma forma que eu, bermuda curta e tênis, mas
no lugar da camiseta, usam croppeds que deixam a barriga à
mostra.
Queria ter a coragem e a confiança para usar algo assim.
Carina sempre usa e já me deu um de presente, mas não sei… me
sinto exposta demais, o que é besteira porque é só uma barriga.
Fora que fica lindo.
As meninas olham para o Léo e comentam, soltam risadas e
olham novamente, mas não se aproximam.
— Então essa é a gata do Léo. — Sou tirada da minha
observação por um menino que senta do meu lado e pega minha
mão. Ele tem o cabelo descolorido, bem branco, a pele preta e os
olhos escuros. Está com uma camiseta branca muito maior que o
necessário, bermuda jeans rasgada e um tênis rosa neon, mas o
que chama a atenção é o bigode bem fino, ainda mais quando ele
leva minha mão à boca e beija, como se estivéssemos no século 19.
— Larga minha garota, cara. — Léo finge empurrar o outro,
mas eles sorriem, claramente são amigos. — Marina, este é o
Arthur, um sarna que virou meu amigo.
— É um prazer. — Viro-me para ele e sorrio, Léo passa a mão
na minha cintura e encosta minhas costas no seu peito.
— O prazer é todo meu, gata. — Arthur pisca para mim e o
Léo solta uma gargalhada. — Agora, a galera tá querendo música,
Léo, e não essa caixinha de som aí.
— Beleza — ele responde e me dá um beijo no rosto. — Vou
tocar um pouco, você quer tomar alguma coisa?
— Uma água sem gás, se tiver — respondo e ele levanta e me
dá um beijo rápido nos lábios.
— Vou buscar. — Antes de sair, Léo lança um olhar feroz para
o amigo. — Sem gracinhas.
— Relaxa, cara, eu cuido da tua garota. — Arthur levanta as
mãos e coloca atrás da cabeça, fazendo-me sorrir.
— Não preciso de ninguém para cuidar de mim — repreendo.
— Tô ligado — responde, então seu rosto fica mais sério antes
dele voltar a falar. — Olha gata, o Léo é meu parça há anos, esse
cara tem um coração de ouro. Eu já vi o cara apaixonado várias
vezes, mas nunca assim e espero que não zoe com ele, tá
entendendo?
Ele está me dando um aviso e protegendo o amigo.
— Entendido.
— E pode relaxar, as minas do grupinho só estão curiosas,
você é diferente das outras namoradas dele.
— Não estamos namorando — contesto assustada e o encaro,
mas ele só sorri e balança a cabeça de um lado para o outro.
— Ele te apresentou como “minha garota”, que é código para
“minha namorada” aqui. A galera toda recebeu um olhar de morte
quando olhou para os teus peitos, e eu quase levei um soco por
beijar tua mão, o cara tá entregue, gata.
Meu coração dispara e sinto como se não tivesse ar no
ambiente, já estava difícil pensar nisso aqui como um encontro,
agora ainda preciso absorver o fato de que todos pensam que
estamos namorando.
Namorando!
Eu nunca nem fiquei sério com ninguém, quem dirá assumir
um compromisso como um namoro.
— Calma, gata, respira. — Arthur percebe meu desespero e
atrai minha atenção para ele. — Tá tudo bem, só precisava te dar o
recado.
— Eu já entendi — consigo encontrar minha voz para falar. —
Sei que são amigos e que você não quer que eu o machuque, não
pretendo fazer isso, mas ainda é cedo demais.
— Entendido, gata, pode relaxar agora.
Neste momento Léo retorna com minha água e quase
agradeço pela interrupção. Ele me dá um beijo na boca, mais
demorado e possessivo do que antes, claramente marcando
território, antes de pegar o violão.
Quando as primeiras notas saem do instrumento, várias
pessoas começam a se aproximar e formam um círculo, muitos
sentam no gramado, outros no chão de concreto, mas todos
prestam atenção na música.
Até que a voz grossa e afinada começa a cantar, nas primeiras
palavras já estou arrepiada. Léo tem uma voz doce que se molda
perfeitamente aos altos e baixos da música que eu amo, ele está
cantando Ouvi Dizer, da banda Melim, e cada frase faz meu coração
bater mais rápido.
Ah, se eu acordasse todo dia com o seu bom dia
De tanto café na cama faltariam xícaras
Me atrasaria, só pra ficar de preguiça
Se toda arte se inspirasse em seus traços
Então qualquer esboço viraria um quadro Monalisa
Ele escolheu essa música especialmente para mim, não tenho
a menor dúvida sobre isso, a letra é perfeita para nós.
Tudo ao meu redor some enquanto ele canta e é como se só
existíssemos nós dois, a conexão é inegável. Será que estou
respirando?
Léo nasceu para brilhar, isso é um fato. Ele está de pé, com
uma perna erguida no bando e o violão apoiado na coxa, seu braço
musculoso e tatuado sobe e desce, criando uma melodia perfeita.
Não entendo nada de música, nem sei se os acordes estão
certos ou a batida é a mesma da original, mas nada disso importa. A
única coisa em que consigo prestar atenção agora é na forma que
ele sorri com cada palavra, como suas covinhas ficam ainda mais
evidentes e na intensidade do seu olhar.
Esses olhos azuis da cor do céu, profundos como um oceano e
intensos como uma tempestade, estão focados somente em mim.
Ouvi dizer que existe paraíso na terra
E coisas que eu nunca entendi
Coisas que eu nunca entendi
Só ouvi dizer que quando arrepia já era
Coisas que eu só entendi
Quando eu te conheci
E tudo faz sentido, a sensação no meu estômago, a forma com
que me sinto bem quando ele está comigo, como meu corpo reage
ao seu toque, essa eletricidade entre nós, o arrepio que percorre
toda a minha pele, tudo isso só acontece com ele.
O que eu mais temia aconteceu e já não é mais uma
possibilidade, e sim um fato: eu estou atraída pelo skatista que
atropelou meu carro, encantada pelo novinho de olhos azuis com o
maldito sorriso com covinhas, perdidamente apaixonada pelo meu
estagiário.
CAPÍTULO 29
Leonardo
That you were out of my league
All the things I believed
You were just the right kind
Yeah, you were more than just a dream
You were out of my league
Out of My League — Fitz and The Tantrums

Não paro de admirar a forma com que a Marina me olha, eu


sei que está sentindo o mesmo. Enquanto canto as músicas que
separei para hoje, que são as que mais domino, ela não desvia o
olhar.
Até quando o Arthur puxou assunto, em alguns momentos,
Marina respondeu e sorriu para o meu amigo, mas mesmo assim,
sua atenção ainda estava em mim.
A galera foi legal com ela, puxaram assunto, introduziram a
Marina nas conversas, e mesmo estando claramente deslocada,
acho que ela gostou do pessoal.
O melhor foi o momento em que as meninas me convidaram
para gravar com elas, como a gente faz normalmente, e eu recusei.
Uma porque não estava na vibe de passar um tempo pegando
dancinha nova e deixar a Marina de lado, e outra porque eu vi a
forma com que elas olharam feio para a minha morena.
Só que na hora que elas se aproximaram, Marina estava
sentada do meu lado no banco e colocou a mão na minha coxa,
talvez um pouco próximo demais do meu pau. Com um apertão leve
ela marcou seu território enquanto conversava com o Arthur, e com
esse gesto simples e possessivo a morena me fez abrir o maior
sorriso e recusar o convite das meninas.
Depois que parei de cantar, deixei meu violão para o João, que
continuou com a festa. Enquanto levei Marina até a borda da pista
de skate, percebi seus olhares admirados para a galera que estava
andando.
— Já tentou subir em cima de um desses? — pergunto e seu
olhar é o suficiente para saber a resposta. — Quando seu pé
melhorar, vou te ensinar.
— Você está louco. Achei que já teria percebido minha falta de
equilíbrio quando quase cai na balada e depois no escritório,
imagina o desastre que seria em cima de um skate — responde
assustada. — Mas gostaria de te ver andar de skate.
— Sério?
— Claro, gosto de conhecer mais sobre você. Hoje vi que sabe
cantar muito bem, anda por vários grupos diferentes.
— Assim fico convencido, morena.
— Li o projeto do seu TCC, está muito bom e mais avançado
do que eu imaginava. — Seu elogio sincero me faz ficar com
vergonha, porque é verdadeiro. Sei que o arquivo vai ter vários
apontamentos, mas só o fato dela ter lido e não achar um lixo, já me
deixa surpreso. — Só falta saber se realmente consegue andar
nessa pista maluca aí, ou se você se jogou na frente do meu carro
porque perdeu o controle.
— Vamos apostar então, morena? — provoco, já que ela
resolveu duvidar das minhas habilidades. — Se eu conseguir te
deixar admirada você me ensina o que prometeu de manhã.
— Mas isso não é aposta, já que nós dois ganhamos com o
prêmio — o sorriso tentador faz meu coração acelerar e meu pau
começa a acordar.
— Caralho, morena, assim você me deixa de joelhos — brinco
e dou um beijo no seu rosto. — Vou descolar um skate.
— Descolar — ela repete e sorri. — Tenho que confessar que
não entendi metade das coisas que seus amigos falaram hoje, é
tanta gíria e palavras que nunca ouvi na vida, que até me senti
burra.
— É só uma forma diferente de se comunicar, eu preciso me
segurar quando estou falando contigo ou na empresa. Na faculdade
é mais de boa, mas te entendo, se ficar confusa pode me perguntar,
vai ser incrível te ensinar alguma coisa, pelo menos uma vez.
Pisco para ela e corro até a galera, pego o skate do Luiz
emprestado e quando volto, ela e o Arthur estão sentados na
beirada da pista rindo de alguma coisa.
— Não posso dar as costas por um minuto — brinco antes de
me equilibrar na borda da pista. — Mano, você vai ser o juiz.
— E o que eu vou julgar, cara? Competir sozinho não vale.
— Me diz se a minha garota vai ficar admirada com as
manobras.
Arthur solta uma gargalhada alta e faz um sinal de joia com a
mão, então eu dropo na pista, sinto o vento e a sensação familiar de
controle. Quando estou em cima da prancha, é como se o skate
fosse uma extensão do meu corpo, me sinto livre e relaxado.
Claro que na pista preciso ter mais cuidado e, como quero
realmente impressionar minha morena, faço as manobras que sei
que atraem atenção da galera. Não sou nenhum profissional, mas
consigo realizar um salto pressionando a parte de trás do skate e
fazer com que ele gire ao contrário, essa manobra também é
conhecida como “Pop shove-it”.
Continuo andando e saltando pelos obstáculos, sentindo cada
manobra. Saber que ela está me olhando é ainda mais animador,
por algum motivo estava apreensivo em trazê-la aqui, sei que esta
não é a galera com a qual Marina está acostumada, mas eles são
meus amigos.
Essas pessoas são tão diferentes entre si que me abriram os
olhos para a diversidade no mundo. Fui criado com muitos
privilégios, em escolas particulares, nunca precisei me preocupar
com dinheiro, só que essa não é a realidade da maioria da
população.
Quando comecei a frequentar a pista e conhecer o pessoal,
eles me acolheram sem nem saber que eu tinha dinheiro, claro que,
depois de um tempo, o Arthur me contou que eles viram na minha
cara que eu era um playboy, especialmente pelas roupas de marca
que usava, mas que não me acharam metido e por isso me deram
uma chance.
Já faz quatro anos desde a primeira vez que pisei aqui e nunca
me senti mal neste lugar, trouxe a Gabi comigo depois, e claro que o
Rogers conquistou a galera, e é aqui que nos sentimos bem.
Termino a última volta e quando vou fazer o último Ollie vejo
Marina sorrir e me desconcentro. Caio com as duas rodinhas de trás
e isso me desequilibra, minha bunda vai direto ao chão e o skate
voa longe enquanto tento manter minha dignidade.
Levanto rapidamente e olho para Marina, que está com o olhar
preocupado, ao contrário do Arthur ao seu lado, que solta
gargalhadas e se contorce de tanto rir.
— E aí, ganhei? — pergunto enquanto recupero o skate e finjo
que nada aconteceu, subo e sento do lado da minha garota.
— Você se machucou?
— Tá tudo tranquilo, morena, eu sou acostumado com alguns
tombos. — Pisco para ela, mesmo que minha bunda esteja doendo
e tenha a certeza que terei um hematoma.
— Cara, depois desse showzinho, não tem quem não ficou
admirado. — Arthur responde ainda rindo.
— Você ficou, morena?
Ela finge pensar e esconde o sorriso, criando um momento de
tensão antes de passar a mão pelos meus cabelos suados e me
beijar. Sua boca deliciosa domina a minha e logo nossas línguas
batalham por espaço, ainda estou ofegante das manobras, mas ela
consegue roubar o restante do meu ar.
— Te respondo em casa — Marina responde baixinho no meu
ouvido e me abraça.
— Eu tô suado, morena.
— Eu sei — responde e não se afasta.
Ficamos na pista mais um tempo até que percebo que a galera
começou a ficar alterada demais, já está tarde e logo o lugar vai
estar perigoso.
— Quer uma carona? — Ofereço para Arthur. Ele mora longe
daqui e a essa hora é complicado voltar.
— Valeu, cara, mas o Luiz acabou de mandar mensagem que
já estamos indo também.
— Beleza, irmão, qualquer coisa me liga.
— Foi um prazer te conhecer, morena — fala para Marina,
enfatizando o apelido carinhoso que uso para ela.
— Digo o mesmo, Arthur, bom retorno.
Meu amigo nos deixa sozinhos, sentados na beira da pista.
Passo um braço pelas costas dela e trago seu corpo mais próximo
ao meu, Marina coloca uma mão na minha coxa e descansa a
cabeça no meu ombro.
— Está feliz? — questiono sem olhar para ela.
— Sim — responde baixinho. — Obrigada por me trazer aqui,
entendo porque gosta deste lugar.
— É ainda mais bonito de manhã bem cedinho, dá para assistir
o nascer do sol entre aqueles prédios. — Aponto para as
construções que se erguem altas no horizonte. — Tira uma foto
comigo? — Quis fazer isso a noite inteira, mas fiquei com medo da
reação dela.
— Eu estou um caos.
— Você está perfeita. — Olho para Marina, que começa a ficar
vermelha de vergonha. — Não vou postar, só quero ter alguma
recordação desse momento.
Ela pensa um pouquinho, então acena positivo com a cabeça.
Pego meu celular do bolso, abro a câmera frontal e tiro a primeira
foto, a luz não está das melhores, mas o que importa é o instante.
Aproveito e bato mais uma sequência de selfies enquanto
pego Marina de surpresa e a beijo, quero que ela veja o quanto
ficamos bem juntos, como fica linda sorrindo, e preciso eternizar
esse sentimento todo que tenho dentro de mim de alguma forma.
Então, para quebrar o momento fofo, minha barriga resolve
fazer um barulho alto e ela começa a rir.
— Eu adorei o pessoal e o programa, mas é sério que não tem
comida? Esses encontros de jovens seriam muito melhores com um
bom churrasco, ou algumas pizzas.
— A galera geralmente traz umas besteiras, ou sai para comer
depois. — Olho no relógio e vejo que são quase 10h da noite. —
Nossa, nem vi a hora passar.
Como se precisasse complementar, a barriga dela também
começa a roncar, e nós dois caímos na risada.
— É, acho que esse encontro não foi perfeito. — Levanto
rapidamente e ajudo Marina a ficar de pé. — O que você acha da
gente comer alguma coisa no caminho?
— Sim, por favor, podemos passar no Subway, que é rápido e
não precisa esperar — sugere e concordo. Devolvo o skate do Luiz
e olho meu celular novamente, vejo que recebi uma mensagem.
Gabi: Léo não vou conseguir ir para casa hoje, você dá
comida para o Rogers?
— Se importa se a gente passar lá em casa depois de comer?
— pergunto e ela nega com a cabeça.
Léo: Pode deixar, amanhã vou levar ele comigo.
Gabi: Beleza, você viu que o restante das aulas dessa semana
serão online?
Léo: Nem abri meu e-mail ainda, obrigado por avisar. Qualquer
coisa me liga.
Gabi: Aproveita ;)
Léo: Digo o mesmo <3.
No caminho até a lanchonete, Marina fala sobre a galera, ela
parece realmente feliz, e é tudo o que eu queria para essa noite.
Não me importo com o que o pessoal vai falar, só que ela se sentiu
bem ao meu lado.
Rogers já está impaciente quando chegamos, vou até a
despensa e pego a ração. Como já passou da hora dele comer, dou
um sachê daqueles que ele adora junto com a ração seca, me sinto
culpado por não passar mais tempo em casa com ele.
— O apartamento de vocês é muito bonito — Marina comenta
e vai até a sacada. Ela não está avaliando o local, mas parece
surpresa. — Sempre quis uma varanda assim, mas o aluguel deve
ser uma pequena fortuna, ainda mais pela localização.
Seria mesmo, se meu pai não tivesse comprado o imóvel. É
um apartamento grande, com duas suítes, sala de estar, sala de
jantar, cozinha. A sacada forma uma pequena área de festas, com
churrasqueira e um minibar. O prédio também tem piscina,
academia, área de festas compartilhada e mais algumas regalias.
— Coisa do meu pai e do pai da Gabi — respondo,
esquivando-me. É uma meia mentira, tio Richard tem outro
apartamento neste prédio, mas minha melhor amiga e eu decidimos
dividir o do meu pai.
— Ah, sim, ele pode pagar. — Dá de ombros e senta no sofá.
Coloco a comida no pote do Rogers e troco a água do bebedouro
dele, só então sento do lado dela e passo a mão pelos seus ombros.
— Quer ficar aqui essa noite?
Ela pensa por um momento, provavelmente mentalizando sua
agenda para o próximo dia. Apesar de estar de férias do trabalho,
tenho certeza que Marina já conseguiu preencher o seu tempo com
alguma coisa.
— Primeiro me responde uma coisa — diz seriamente.
— Claro, pode perguntar — eu me preparo, será que ela vai
querer saber sobre meus pais? Não quero mentir.
— A tua cama é de solteiro?
— O quê? — Não acredito no que ela acabou de perguntar.
— Eu posso dormir com um novinho, mas me recuso a ficar
espremida em uma cama de solteiro minúscula. Preciso de espaço
e já vou avisando que me viro a noite toda, pode culpar o café ou o
que quiser. Também nunca dormi com ninguém, então não sei se
ronco ou não.
Sua tagarelice me faz sorrir e trago seu corpo ainda mais
próximo do meu. Tomo sua boca em um beijo que a faz parar de
falar, mesmo que eu tenha certeza que posso passar a noite toda
ouvindo essa mulher discursar sobre qualquer coisa.
— Minha cama é maior que a tua, morena, pode ficar tranquila
— comento e ela sorri de canto. — E não precisa se preocupar,
você pode roncar, babar, me chutar, roubar as cobertas, pode até
peidar, se quiser. — Ela fica vermelha e beijo seu pescoço. — Não
me importo, contanto que esteja nos meus braços a noite toda e me
dê o privilégio de acordar ao teu lado, pode fazer o que quiser
comigo.
CAPÍTULO 30
Leonardo
Te ensinei 'certin'
Te ensinei 'certin'
Hoje tu tira onda porque eu te ensinei 'certin'
Me olha direito, me pega com jeito que eu vou gostar
Me beija sem medo, com calma e desejo que eu vou gamar
Seja cavalheiro, pensa em mim primeiro, senão vai me
assustar
Não me chame pra cama, me chame pra festa, talvez um
jantar
Te Ensinei Certin — Ludmilla

A pegação começou no sofá, e quando vi, já tinha Marina


deitada embaixo de mim, minha camiseta no chão e suas mãos
trabalhando em abrir minha bermuda. Seus lábios doces e macios
me fazem enlouquecer, e já estou duro por ela.
— Já disse que adoro teu cheiro? — falo enquanto planto
beijos pelo seu pescoço. — É tão você. Quero esse perfume nos
meus lençóis, morena.
— Para de falar essas coisas fofas, eu não sei responder. —
Sua sinceridade me faz rir, então ergo sua camiseta e tenho a visão
do sutiã preto que aperta seus peitos.
— Eu quero te chupar — peço e ela geme quando abaixo o
sutiã e abocanho seu mamilo duro. — Quero lamber todo o teu
corpo, sentir cada pedacinho da tua pele. — Com uma mão consigo
abrir o fecho da peça e a ajudo a se livrar da camiseta e do sutiã. —
Caralho, ainda quero gozar com esses peitos masturbando meu
pau.
Ela sorri, safada, e passa a mão na minha nuca, puxando-me
para devorar a minha boca. Seus dentes de fecham no meu lábio
inferior, sinto uma pequena pontada de dor, mas logo sua língua
alivia o local e ela chupa onde antes mordeu.
Marina sabe beijar, e não é só aquele beijo simples, ela tem o
controle de quando intensificar os movimentos e o melhor momento
para ser mais delicada.
— Adoro essa sua boca, essa barba, esses lábios… só de
lembrar do que eles sabem fazer, já fico molhada — confessa e sua
mão aperta meu pau por cima da cueca. — Está prontinho para
mim.
— Você nem imagina o quanto — respondo e empurro meu
quadril de encontro à sua mão, ela segura mais firme e me arranca
um gemido de prazer.
Abro sua bermuda jeans e invado sua calcinha com a minha
mão, só para constatar que ela está encharcada, literalmente. Não
tenho dificuldade alguma para deslizar um dedo dentro dela e senti-
la se esfregar na minha mão, Marina está pronta, e com tanto tesão
quanto eu.
— Quero assistir você gozar, morena. — Começo a provocá-la,
entrando e saindo da sua boceta quente e deliciosa, imaginando ser
meu pau lá, sendo estrangulado por ela. — Você gosta assim?
— Sim, demais, Léo — Marina responde com os olhos
fechados e sua mão esfrega ainda mais meu pau, me fazendo ferver
de tesão.
— E assim? — introduzo mais um dedo nela e escuto seu
gemido, mais alto e prolongado. Marina morde o lábio inferior, na vã
tentativa de conter os sons que saem da sua boca. — Pode gritar,
morena, ninguém mais vai te escutar.
— Que gostoso, não para, por favor.
Ela não se controla e coloca a mão fria e delicada dentro da
minha cueca, libertando meu pau, que já está pingando por ela.
— Abre os olhos — praticamente ordeno em meio a um
gemido. — Olha o que você faz comigo.
Começo a investir contra a sua mão, coordenando os
movimentos do quadril com meus dedos, que entram e saem dela
na mesma velocidade com que ela me masturba.
Já sinto o aperto nas minhas bolas e sei que logo vou gozar. A
sensação dela entregue embaixo de mim é demais, mas me
controlo e faço ela parar, me ajoelho em sua frente e a coloco
sentada na beirada do sofá. Ela está ofegante e não entende o que
vou fazer, até que tiro sua bota ortopédica e abaixo a bermuda e a
calcinha, jogando-os para longe.
Marina me olha com um misto de admiração e desejo quando
coloco suas pernas em meus ombros e lambo sua boceta. O clitóris
inchado e sensível é meu ponto de ataque, escuto os gritos
desesperados da morena, que se contorce e agarra meus cabelos.
— Lambe tudo e com vontade — ela implora enquanto se
esfrega na minha boca, e é o que faço.
Não existe nada melhor do que o sabor do orgasmo da minha
morena, puta que pariu. Quando sinto que ela está quase gozando
— suas pernas começam a tremer ao redor da minha cabeça —
coloco dois dedos em seu canal e a masturbo mais intensamente.
É uma delícia assistir Marina se entregar. Seu orgasmo puxa o
meu e na mesma hora que ela grita, liberando seu prazer na minha
boca enquanto chupo cada gota do seu orgasmo, sinto minhas
bolas apertarem e levo a mão livre ao meu membro. Não precisa
mundo para eu gozar também.
Nada nesse mundo me dá tanto tesão quanto assistir Marina
gozando e gritando meu nome.
— Vou te foder até que você esqueça todas as palavras do
dicionário e só tenha meu nome na tua cabeça. — Mordo o interior
da sua coxa, sentindo suas pernas amolecerem em meus ombros.
— Quero todos os teus orgasmos, morena, não só essa noite.
Levanto ainda com as pernas trêmulas e vou até o banheiro do
meu quarto, lavo a porra da minha mão e na volta vejo os porta-
retratos que tenho dos meus pais. Por sorte Marina ainda não
entrou aqui. Recolho os três e guardo na gaveta da cômoda antes
de voltar para encontrá-la jogada no sofá, os cabelos um
emaranhado de fios, a maquiagem do olho borrada no canto, seu
rosto ainda está vermelho e a respiração ofegante, mas o sorriso
estampado em seus lábios faz meu coração bater ainda mais
rápido.
Eu amo a visão de uma mulher bem fodida, ainda mais se for a
minha mulher.
— Se não me engano, eu ganhei uma pequena aposta —
provoco e sento na beiradinha do sofá, plantando um beijo em sua
boca.
— Não esqueci da nossa aposta, só me dá cinco minutinhos.
— Sua respiração ofegante me faz sorrir. — Como você já consegue
estar pronto para outra?
— Com a visão da mulher mais linda do mundo no meu sofá,
quem pode me culpar? — Beijo seu nariz arrebitado e seu rosto,
inspiro o cheiro do seu perfume e beijo seu pescoço. — Vem cá,
morena, esse sofá vai ser pequeno demais para o que quero fazer
contigo.
Sem dar tempo para ela pensar, passo um braço pelas suas
pernas e o outro pelas costas, levantando seu corpo. Marina se
segura automaticamente em meu pescoço e solta um gritinho
assustado.
— Não me deixa cair.
— Nunca.
Levo-a até o meu quarto e fecho a porta, dou comando para a
Alexa tocar minha playlist preferida e mudar as luzes para azul. Tiro
o que sobrou das minhas roupas e pego um pacote de camisinhas e
lubrificante.
— Se estiver cansada, a gente pode só dormir. — Dou uma
chance para ela recusar.
— Não vou conseguir dormir sem antes estar bem fodida. —
Seus olhos escuros encontramos meus e ela abre um sorriso
provocador. — Primeira regra do anal: eu preciso estar lubrificada e
com muito tesão.
— Caprichar nas preliminares, entendido.
— Segundo, pau que come cu não entra na boceta. — Quando
vou perguntar, ela ergue um dedo e me cala. — Significa que
sempre que for trocar de penetração vaginal para anal, precisa
trocar a camisinha. Isso também vale para os dedos, nada que entra
em um encosta no outro antes de lavar bem.
Aceno concordando, faz sentido, mesmo que nos pornôs que
já assisti ninguém faça isso, acho que realmente é algo necessário.
— Outra coisa, sexo anal deve ser feito com camisinha,
sempre. Não só por doença, mas é uma região contaminada e você
pode acabar com uma infecção em um local onde não quer ter uma,
entendido?
— Até agora tudo certo — concordo e ela morde o lábio
inferior, provocativamente.
— Então vem aqui, que a visão do teu pau praticamente
babando só com a nossa conversa está me deixando sedenta por
você.
Ela engatinha na cama e vem até mim, com o olhar fascinado
no meu membro. Marina o abocanha inteiro e me leva à loucura,
seus lábios apertam ao redor do meu pau, fazendo pressão
enquanto ela chupa da ponta até a base, dando atenção especial à
cabeça. Ela quase me faz gozar de novo quando massageia minhas
bolas e preciso me segurar para não tomar o controle e foder essa
boquinha deliciosa.
— Que delícia, morena, nossa! — elogio entre gemidos, mas
me afasto antes que termine. — Quero gozar dentro de você, então
vira.
Marina faz o que digo e fica de costas. Garanto que seu pé
machucado esteja para fora da cama e ela não sinta dor, então
tenho sua bunda empinada na beirada, na altura perfeita para ser
penetrada.
A música “Foda é que ela é linda”, que me faz pensar nela
toda vez que escuto, começa a tocar e é perfeita para o momento.
Acaricio sua bunda redonda e branquinha, canto junto com o refrão
e Marina olha de canto com um sorriso safado, mordendo o lábio em
antecipação.
Foda é que ela é linda
E sabe que eu não sei dizer não
Quando passa, mobiliza
Dispensa apresentação
Foda é que ela é linda
E sabe que eu não sei dizer não
Quando passa, mobiliza
Dona da situação
Pego uma camisinha e desenrolo no meu membro antes entrar
na sua boceta, que já está tão encharcada da brincadeira no sofá
que não tenho dificuldade alguma em me enterrar até o fundo.
Marina me presenteia com um gemido e contrai seu canal ainda
mais.
Seus cabelos escuros estão jogados para o lado, e ela olha
para trás enquanto saio até a pontinha, devagar, apreciando cada
sensação, só para entrar novamente e ouvi-la gemer.
Pego o lubrificante a base de água que comprei há um tempo
atrás, até agora só usei para punheta, mas é sempre bom estar
prevenido, então faço o que ela falou: passo um pouco nos meus
dedos e levo até a sua bunda.
— Isso, Léo, agora com cuidado vai fazendo movimentos
circulares. — Faço exatamente o que ela diz, ainda com meu pau
entrando e saindo da sua boceta. Marina rebola na minha mão e
não consigo parar de admirar essa mulher. — Isso, ai que gostoso.
— É assim que você gosta? — provoco.
— Sim, nossa… — Sua voz sai estrangulada de prazer. —
Agora coloca a pontinha do seu dedo, devagar, vai abrindo espaço e
entrando aos poucos — pede e é exatamente o que faço, com o
indicador entro e saio do seu anel. No começo ela se fecha ao redor
do meu dedo, então sinto que aos poucos vai relaxando e introduzo
mais um dedo. — Assim, você aprende rápido.
— Com uma professora como você, eu viro um aluno
dedicado.
Essa mina é o crime, olhar sublime, ela quer que eu rime
Modelo de vitrine, essa noite tu define
Traz no sutiã as gramas, cara de santa
Ela tem a manhã, menina mulher, você me ganha
Caralho, que sensação maravilhosa, sinto a boceta de Marina
estrangulando meu pau, então diminuo os movimentos e foco em
seu anel, entro um pouco mais com os dois dedos e ela se contrai,
deixo que se acostume antes de voltar a movimentar.
— Estou pronta, troca a camisinha — ordena.
Saio dela, tiro o preservativo e coloco outro. Passo mais
lubrificante na camisinha antes de voltar para ela, vejo sua bunda
empinada. Levo a pontinha do meu pau para a entrada e provoco
um pouco, espalhando o lubrificante, da mesma forma que fiz com
os dedos, até que ela relaxa e consigo entrar com a cabecinha.
— Caralho, que cu apertadinho, morena — Seguro-me para
absorver as sensações deliciosas e espero ela relaxar. Quando sinto
que seu anel se acostumou com meu membro, entro mais um
pouco, calmamente. — Que delícia, puta que pariu.
— Isso, Léo, nossa vai mais fundo.
Não precisa falar duas vezes. Quando estou completamente
dentro dela, solto a respiração e Marina começa a rebolar, fazendo
meu pau entrar e sair. A visão é um espetáculo, não consigo
descrever algo tão bom.
Dou um tapa na sua bunda e assisto a pele branca ficar em um
tom rosado, ela solta um gritinho de surpresa, mas sua boca se
contorce em um sorriso.
— Se masturba pra mim, morena — peço e seguro sua cintura
com as duas mãos. — Eu vou te foder forte agora, porque não vou
aguentar muito tempo, mas quero que você goze comigo.
— Sim, por favor me fode logo — ela implora e abaixa mais o
tronco, empinando sua bunda, leva uma mão até o meio das pernas
e começa a se tocar.
Com isso me liberto e fodo seu cu como sonhei o dia todo, e
Marina se entrega. Ela recebe meu pau enquanto geme
descontroladamente, entro e saio ainda mais rápido, trazendo seu
corpo de encontro ao meu, já não consigo mais pensar em nada, só
assimilo as sensações.
Quando estou sentindo que vou explodir, faço movimentos
mais rápidos e curtos e escuto Marina gritar de prazer.
— Goza comigo, amor — peço e ela faz, levando-me aos céus
até que meu próprio prazer atinja o ápice, e gozo enterrado em sua
bunda. Despejo toda a minha porra na camisinha, até que não tenho
mais forças para me mover.
Saio dela com cuidado e desabo ao seu lado, sem forças para
abrir os olhos. Vejo pontos claros entre as pálpebras e respiro com
dificuldade, parece que corri uma maratona, coloco a mão para o
lado e toco as costas de Marina, que também respira ofegante.
— Então... sou um bom aluno? — brinco enquanto me
recupero.
— Nota 10 — ela responde e dá tapinhas em meu peito.
— Como pode ser tão bom assim? — falo admirado e abro os
olhos para encarar a morena. — Parece que a cada vez que
transamos é melhor que a anterior. Como isso é possível?
Ela solta uma gargalhada e se vira de lado, os cabelos
bagunçados e o rosto vermelho a deixam ainda mais linda.
— Foi o teu primeiro anal, espera só até a gente fazer uma DP.
— Fazer o quê?
— Dupla penetração — responde como se fosse óbvio.
— Eu não tenho a mínima vontade de dividir você com
ninguém, morena — contesto já ficando puto com a imagem que se
forma em minha mente: a minha Marina na cama com outro homem.
— Nem pensar!
— Quem disse que precisa de outro homem para isso? Graças
a beleza tecnológica chamada vibrador, as possibilidades são
infinitas. — Sua mão passa pelos meus cabelos suados em uma
carícia gostosa. — E só para constar, eu também não divido.
— Essa é a tua forma de perguntar se somos exclusivos?
— Essa sou eu dizendo que não aceito de outra forma —
responde seriamente, então ela desvia o olhar antes de voltar a
falar. — A não ser que você não queira, sei que muitas pessoas têm
relacionamentos abertos e...
— Marina, eu só quero você, não consigo nem pensar em
outra mulher e muito menos na ideia de você com outra pessoa —
respondo confiante e tomo sua boca. — Só quero você, amor.
Sim, eu a chamei de amor mais uma vez, e ela percebeu. Senti
seu corpo todo ficar tenso com a palavra, mas ao contrário do que
imaginei, ela não contestou. Aceitou meu beijo e aos poucos relaxou
em meus braços.
Puta que pariu, eu disse que a amo e ela não fugiu.
CAPÍTULO 31
Marina
Mesmo que não venha mais ninguém
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa
Somos do mundo
Sempre fomos bons de conversar
Mais Ninguém — Banda do Mar

Ele me chamou de amor!


ATENÇÃO, O LÉO ME CHAMOU DE AMOR!
Puta que pariu.
Amor...
Já falaram essa palavra para mim, nesse mesmo contexto,
inclusive, porque na hora de gozar tudo parece amor. Só que essa é
a primeira vez que essa palavra não significa um ponto final.
Sim, minha primeira reação foi de surpresa, mas ao contrário
das outras vezes, não quis correr quando ele me abraçou. No
momento em que absorvi a palavra e tudo o que ela significa, eu
quis ficar.
Peguei no sono assim que fechei os olhos e acordei com a
visão do loiro sorrindo para mim. Devo ter me virado durante a noite,
não sei, mas estou de lado, abraçando um travesseiro, tem outro no
meio das minhas pernas e outro embaixo da minha cabeça.
— Sabia que é esquisito ficar olhando alguém dormir? —
comento ao perceber que ele está bem acordado.
— Você é linda demais para não olhar. — Ele me dá um beijo
delicado nos lábios. — Como consegue ficar cada vez mais bonita?
Você me enlouquece, amor.
Meu coração acelera no peito, agora estou acordada.
Léo passa a mão no meu cabelo e me deito de costas, jogando
os travesseiros para longe quando ele começa a beijar meu
pescoço. Todo o meu corpo já está acordado no momento em que
sua boca chega no meu mamilo sensível.
— Sabe o que eu quero de café da manhã? — pergunta e me
olha, com aqueles orbes azuis tão intensos e as covinhas marcando
o sorriso safado.
— O quê? — respondo ofegante.
— Te fazer gozar na minha boca.
Desgraça de novinho safado! Sua mão desce para o meio das
minhas pernas, eu dormi só de calcinha — o que não costumo fazer
—, então o caminho está praticamente livre.
— Léo, nossa… — gemo quando seus dedos roçam minha
intimidade por cima da renda delicada.
— Você já está molhadinha, amor, só tem um problema.
— O quê? — questiono, perdida nas sensações do seu toque.
— Tem uma calcinha no caminho. — Ele não dá tempo para eu
contestar e rasga minha calcinha, minha calcinha que custou 120
reais está destruída em suas mãos!
— Não acredito que você...
Não consigo continuar o que estava falando no momento em
que seus dedos me penetram e ele se abaixa, fazendo um caminho
de beijos pelo meu corpo. A outra mão estimula meu mamilo,
arrancando-me gemidos.
— Eu compro outra para você, amor. — Sinto seu hálito quente
na parte interna da minha coxa, então recebo uma mordidinha e ele
coloca mais um dedo dentro de mim.
Esse maldito novinho sabe o que faz, ou ele aprende muito
rápido, ou estava fingindo não saber. De qualquer forma, o que
importa é que estou nas alturas.
Sinto o orgasmo se formar no momento em que sua língua
passa pelo meu clitóris, que já está sensível. Léo me chupa com
vontade, sem fazer cerimônia, seus lábios beijam os meus
intensamente enquanto os dedos entram e saem.
Agarro seus cabelos em uma tentativa de controle, me esfrego
mais nele, rebolando enquanto sua boca me devora, até que
explodo em sensações, e preciso dizer que acordar com um
orgasmo é melhor que com café.
Léo sobe me beijando e lambe os dedos que estavam dentro
de mim, é uma delícia de assistir, então ele devora minha boca e
sinto meu próprio gosto.
— Você é tão doce, amor, que eu poderia te chupar o dia todo
sem enjoar.
Ele me faz sorrir e acaricio seus cabelos, Léo deita do meu
lado até que recupero o folego e realmente acordo para a vida.
— Que horas são? — questiono.
— Oito e meia — responde e me abraça. — Vou fazer um café,
se quiser tomar um banho tem toalhas limpas no banheiro, e sinta-
se à vontade para roubar uma cueca minha, se quiser.
— A calcinha que você acabou de rasgar vale mais que uma
cueca — respondo brincando e ele sai do quarto sorrindo.
Resolvo aceitar sua proposta e tomar um banho. Abro o
armário e procuro a gaveta de cuecas, só então reparo que todas
são de marca e estão organizadas por cor.
Olho para as outras roupas, a maioria das camisetas são de
marca, fora algumas com estampas diferentes, assim como os jeans
e os tênis mais embaixo. Resolvo bisbilhotar mais um pouco e abro
as portas ao lado, só para ter a visão da parte que guarda as roupas
sociais.
Ele tem uns dez conjuntos de ternos diferentes, calças sociais,
sapatos, muitas camisas de diversas cores. A primeira gaveta
contém várias gravatas, reconheço algumas que já o vi usando,
outras são novas.
É estranho para um estagiário ter tanta roupa social assim,
lembro que só comecei a realmente investir pesado em meus
conjuntos quando fui efetivada na empresa, porque são peças caras
demais para comprar em grande quantidade.
Léo falou que seu pai é advogado, talvez seja por isso que ele
tem tantos ternos, e pelo luxo do apartamento, imagino que sua
família tenha dinheiro.
Olho com mais atenção para o quarto, ele tem uma AppleTV
bem grande de frente para a cama, em um painel que abriga vários
aparelhos de vídeo game que não sei reconhecer.
Logo abaixo tem uma escrivaninha com papéis
desorganizados em cima, livros e alguns cadernos, então reparo
que todos os seus aparelhos são da Apple: tem um iPad em cima de
um livro, um Macbook que já conheço, pois é o mesmo que ele usa
no escritório e tem um adesivo de alguma banda atrás, logo ao lado
um Apple watch, um Airpod max, que é meu sonho de consumo,
duas caixinhas pequenas com Airpods normais, e claro, o
carregador Magsafe duo.
Ele tem praticamente todos os aparelhos vendidos pela Apple.
Eu precisei dividir em doze vezes no cartão ao comprar meu
iphone, e nem é modelo novo. Acho que até agora não havia
considerado nossas classes sociais como diferentes, estava tão
presa ao fato dele ser mais novo e meu estagiário que nem reparei
que provavelmente ele venha de uma família muito mais rica que a
minha.
Pensando bem, se for colocar alguém no mesmo patamar da
Gabriela, cujo pai é literalmente o chefe de todos os meus chefes,
então nossa diferença fica ainda maior.
Droga, melhor não pensar nisso agora, já bastam os outros
fatores que me fazem pensar mil vezes antes de considerar este
envolvimento, se adicionar mais um, vou descer pela janela e sair
daqui de fininho.
Decido pegar a primeira cueca que encontro e tomo um banho,
depois de tudo o que fizemos ontem — e hoje — preciso
urgentemente de uma boa chuveirada.
***
Depois do dia em que dormi na cama do Léo, não nos
desgrudamos mais. Ele me levou para casa e tiramos a manhã toda
para ajustar seu projeto do TCC. Durante a tarde ele teve aula on-
line, enquanto me dediquei à minha pós, e à noite preparei uma
lasanha de abobrinha para ele, fazia tempo que não tirava um
tempo para cozinhar.
Léo levou o Rogers para casa depois da janta e voltou com a
desculpa de ter esquecido o notebook na minha sala.
Ficou na cara que era uma desculpa quando ele me agarrou
na porta de entrada, e depois de uma boa foda, peguei no sono em
seus braços novamente.
No outro dia repetimos a mesma rotina, com a pequena
mudança de que Léo me levou ao médico e fui liberada da bota
ortopédica, meu pé já está bem melhor, só precisarei tomar cuidado.
Na quinta-feira ele passou o dia comigo, comecei a ajudá-lo para a
prova da Ordem.
Já é de noite quando pego meu celular e vejo as milhares de
ligações e mensagens da minha mãe.
— Droga — falo para mim mesma, já sabendo o que ela quer.
Neste momento meu celular começa a tocar e vejo o nome
dela na tela, respiro fundo e arrumo a postura, antes de atender.
— Boa noite, mãe — atendo com um tom calmo e carinhoso.
“Esqueceu que tem família, menina? Te criei melhor do que
isso.” — sua resposta vem alta e impaciente.
— Desculpa, estava ocupada com o trabalho.
“Sim, sim, sim, sempre esse trabalho. Mandei mensagem,
liguei, e nada. Preciso saber a que horas você chega no sábado.”
— Então, mãe, não vou conseguir...
“Nem termina o que ia falar, você vem ou eu pago teu tio para
me levar de Santa Catarina até São Paulo para te buscar. Marina,
filha minha não vai fazer uma desfeita assim, não.” — Sua voz vai
aumentando de volume conforme ela fala, soltando tudo em uma
expiração só. Minha mãe está puta.
— Mãe, não é bem assim...
“Que horas, Marina Lucca? Não me faça perguntar
novamente.”
Droga, ela usou meu sobrenome, e todo mundo sabe que no
momento em que uma mãe usa seu nome completo, é porque não
tem saída.
— Te mando mensagem com a hora — reconheço minha
derrota.
“Assim espero, se cuida na estrada, o casamento é às 19h.”
— Tudo bem, preciso ir agora, mãe, um beijo.
“Beijo, filha, saudades”.
Desligo e respiro fundo novamente, o médico falou que não
deveria dirigir ainda, mas talvez eu consiga um carro automático. De
São Paulo até a casa da minha família, em Descanso, Santa
Catarina, normalmente eu levo umas dezesseis horas dirigindo.
— Era sua mãe no telefone? — A voz do Léo me faz pular de
susto, tentei falar baixo para ele não ouvir, mas meu apartamento é
pequeno demais e não fechei a porta do quarto antes de atender a
ligação.
— Sim.
— Não é nesse final de semana que você tem aquele
casamento para ir com o seu “namorado”? — Faz o sinal se aspas
com as mãos, irônico, e sorri pendendo a cabeça para o lado.
— Sim — respondo simplesmente, mas fico vermelha de
vergonha por ter inventado um namorado fictício.
— E você já combinou com o seu “namorado” que horas vocês
saem para essa viagem que você vai fazer com o seu “namorado”?
Seu olhar é um desafio, mas não tenho saída.
— Para com isso, você sabe muito bem que não tem ninguém.
Minha mãe estava preocupada por eu estar sozinha na cidade
grande, como se eu precisasse de alguém para me ajudar aqui.
Chegou um tempo que fiquei cansada de dizer que estava bem
assim e inventei um namorado.
— Ela não tem redes sociais ou algo assim para conferir?
— Claro que tem, mas ela só sabe mexer no Facebook, por
isso quase não posto nada lá. Para falar a verdade, nem para o
Instagram tenho tempo ou energia, então é mais fácil mentir.
Vejo o momento em que seus olhos brilham e sinto medo, pela
primeira vez, de que ele vá me pedir em namoro. Meu coração
dispara e olho instintivamente para a porta, será que consigo correr
antes? Ou caminhar rápido, já que ainda não consigo correr direito.
— Não precisa se preocupar, morena, eu vou contigo.
— O quê?
— Vamos aos fatos: você não vai conseguir passagem de
avião tão em cima da hora, e nem pensar em querer dirigir ou ir de
ônibus, teu pé ainda não está bom.
— Você não pode estar falando sério.
Ele se aproxima, sem um pingo de hesitação em seu olhar,
pega minhas mãos e beija meu rosto.
— Não tem saída. — Meu coração dispara. — Não se
preocupa, amor, não vou te pedir em namoro nem nada, eu sei que
para você é muito cedo, então veja esse final de semana como um
test drive.
— Como assim?
— Você pode me usar para mentir para sua família que tem
um namorado, enquanto mente para si mesma que não quer um.
Nesse meio tempo serei o melhor acompanhante que você pode
sonhar, no final da viagem você pode analisar se vale a pena
namorar comigo.
— Você não pode largar tudo e ir viajar comigo...
Que desculpa esfarrapada, Marina.
— Acontece que estou de férias, então, tecnicamente posso
sim. Minhas aulas amanhã serão online, podemos sair logo depois
do meio-dia. A aula da tarde é só teoria mesmo, pego com a Gabi
na próxima semana. Quanto tempo leva até a sua casa?
— Umas dezesseis horas de estrada.
— Combinado, podemos sair logo depois do meio dia, assim
não pegamos horário de pico na rodovia.
— Mas aí vamos chegar lá de madrugada, é ruim dirigir à
noite.
— Podemos parar em algum lugar para dormir e continuar de
manhã cedinho — sugere e acho que esta é realmente a melhor
opção.
— Você não precisa pedir permissão para alguém, ou algo
assim?
— Só vou avisar meus pais e a Gabi, mas não tenho nada
marcado para este final de semana, deixei livre há muito tempo. —
Dá uma piscadinha e sorri de canto. — Aceita, morena, eu te deixo
até escolher a playlist.
Penso por um momento. Eu não quero ir sozinha e enfrentar
toda a minha família, que acha que tenho namorado, fazendo mil
perguntas do porquê o tal não foi.
Também gostaria de ver minha mãe e minhas tias, a última vez
que passei uns dias com elas foi no Natal, e retornei antes do Ano
Novo para atender a emergência de uma cliente, que precisou
entrar com um pedido de medida protetiva contra o ex-marido que
estava ameaçando matá-la caso ela continuasse com o processo de
divórcio.
— Tudo bem, mas você não sabe a confusão em que está
entrando.
— Um final de semana todinho sendo seu namorado me
parece perfeito.
— Não esquece que é um casamento. Toda a minha família vai
estar lá: meus tios, tias, primos e primas. Vai ter criança correndo,
pessoas gritando, piadas e ameaças contra a sua segurança, caso
me machuque. Tem certeza que não quer retirar a oferta?
— Vou amar provar para cada um deles que farei de tudo para
merecer estar ao teu lado. — Ele me segura em seus braços e me
beija intensamente. — Agora que esse assunto está decidido, a
pergunta que não quer calar: o que vamos assistir hoje?
— Tem um seriado novo que a Carina vem me enchendo o
saco para assistir, o nome é Hearstopper, e pelo que pesquisei, é
realmente lindo.
— A galera estava comentando sobre ele, vamos pedir uma
pizza e começar?
Concordo e assim passamos mais uma noite, completamente
apaixonados pelo Charlie e pelo Nick. Em alguns momentos vi os
olhos do Léo se encherem de lágrimas, foi fofo, mais ainda quando
ele reagia às cenas do casal da mesma forma que eu, apertando
minha mão, beijando meu rosto, me estreitando mais em seus
braços.
Sentir todo o amor e o carinho que o seriado entre os meninos
passou, estando ao lado do Léo, foi diferente.
Não paramos até terminar, então dormimos tarde e acordamos
quase dez horas da manhã.
Léo foi para casa arrumar suas coisas e eu fiquei organizando
minha mala. Não preciso levar muita coisa, afinal serão somente
três dias, a cidade é pequena e, fora o casamento, não tem mais
nada para fazer.
Coloco o vestido que comprei com a Carina e uma rasteirinha,
não vou conseguir usar salto por um tempo, mas já é melhor que a
bota ortopédica. Levo mais algumas mudas de roupa e pego um
casaco.
Mesmo estando em maio, e tecnicamente ainda ser outono, o
clima no Sul é bem instável. Na previsão diz que será um final de
semana quente e com sol, mas nunca se sabe, melhor garantir.
CAPÍTULO 32
Leonardo
E bora pra Mercúrio só pra ver qual é
Com férias em Netuno só pra relaxar
Noivado em Saturno economiza o anel
Casal do ano eleito pela NASA
Casal Do Ano (Plutão) — Atitude 67

Organizo minha mala com tudo o que acho que posso precisar,
olhei na internet, mas as imagens de satélite da cidade mostram
pouca coisa, ou tem pouca coisa lá. É um local com menos de 9 mil
habitantes e predominantemente agrícola.
Estou quase pronto para sair quando recebo uma mensagem
do meu pai.
Pai: Boa tarde, filho, como está a faculdade?
Léo: Boa tarde, pai, tranquilo :).
Pai: Que bom, sua mãe me pediu para te convidar para
almoçar com a gente no domingo na casa dos Willians.
Léo: Não vai rolar, vou sair com uma amiga neste final de
semana, volto só na segunda.
Pai: Para onde vocês vão?
Droga, como vou me livrar dessa, agora? Não posso contar
para meu pai que esta “amiga” é a Marina, mas também não quero
mentir para ele.
Léo: Vou acompanhá-la em um casamento. Ela não queria ir
sozinha, e como estou de férias, resolvi aproveitar.
Pai: Certo, vai de carro?
Léo: Sim, volto na segunda-feira.
Pai: Tudo bem, filho, só nos avise quando chegar lá, sabe que
sua mãe fica preocupada. Se precisar de alguma coisa é só falar.
Léo: Valeu, pai, manda um abraço para a mãe.
Sinto-me um mentiroso quando escondo coisas dos meus pais.
Mesmo que não tenhamos uma relação de melhores amigos,
sempre aviso se vou sair da cidade ou algo assim. Não quero sumir
e deixá-los preocupados, só que dessa vez não posso dar mais
detalhes e não quero que meu pai desconfie de nada. Se eu disser
para qual cidade estou indo, ele vai ligar os pontos.
— Vai viajar? — Levo um susto com a voz da Gabi logo atrás
de mim, achei que ela não estava em casa.
— Sim, já estava te mandando mensagem. — Mentira, esqueci
de avisá-la também.
— E posso saber para onde? Parece que tá saindo fugido. —
Olho para minha amiga e tenho certeza que ela está lendo a culpa
misturada com a felicidade na minha cara — Desembucha,
Leonardo.
— Promete não contar nada para ninguém? — Ela concorda
com a cabeça. — Marina tem um casamento para ir na cidade natal
dela, e me ofereci para ser seu acompanhante. Vamos dirigir até
Santa Catarina e passar o final de semana lá, volto na segunda-
feira.
Ela assimila minhas palavras por um momento, respira fundo e
me abraça.
— Eu já falei o que acho disso antes, então se você está feliz,
é o que importa, mas conta pra ela logo.
— Sim, na volta vou falar com ela. Acho que Marina já está
desconfiada de alguma coisa, temos falado mais sobre nossas
vidas, e é difícil não mencionar meu pai ou minha mãe, quero tanto
que eles conheçam minha namorada.
— Sua o quê? — Levo um tapa no braço. — Você começou a
namorar e não me falou nada?
— Ai, não, ainda não! Mas é o que mais quero nessa vida,
Gabi.
Minha amiga se afasta e me avalia com o olhar, ela está com
as roupas da academia, provavelmente indo treinar, e parece
desconfiada.
— Você está apaixonado, não está?
— Completamente entregue.
— E ela?
— Marina tem medo, e não a culpo, vou usar esse tempo
longe daqui para fazê-la enxergar o quanto a amo.
— AMA? LEONARDO, VOCÊ AMA ELA? — Gabi joga a toalha
que tinha em mãos para longe e arregala os olhos, em surpresa.
— Sim, te falei que estou apaixonado.
— Você se apaixona muitas vezes, mas essa é a primeira que
usa a palavra amor. — Não tenho como responder, realmente,
pensando agora, acho que nunca disse “eu te amo” para alguém
antes, fora os meus pais. — Estou feliz por você, de verdade, mas
abre o jogo logo, Léo. Quanto mais tempo demorar, pior vai ser.
Confirmo e ela me abraça antes de sair. Minha amiga
consegue me fazer abrir os olhos, nos conhecemos há tanto tempo
que ela tem um mapa das minhas emoções.
Marina veio equipada para a viagem, e eu digo isso de forma
literal: ela trouxe uma térmica de café, obviamente, o notebook, seu
kindle, uma mala com roupas, travesseiro e uma coberta.
Deixei que ela escolhesse a playlist para a viagem, quero
conhecer mais sobre seus gostos musicais, e não me decepcionei.
Ouvimos um misto de MPB com rock internacional e até alguns
funks, a surpresa foi minha morena cantando junto com Anitta, a voz
desafinada quase conseguiu fazer meu coração explodir no peito
com a cena.
Até descobri que a Marina tem algumas piadas quando ela me
perguntou:
— E se acontecer um crime na Lua, qual país será incumbido
do julgamento?
— Acho que não será crime, porque na Lua não tem lei —
respondi e ela sorriu, travessa.
— Na verdade, não vai ter julgamento.
— Por quê?
— Obviamente será um crime sem gravidade.
Precisei parar o carro no acostamento de tanto que rimos da
piada.
Em cada momento que passamos juntos descubro algo novo
sobre ela e me apaixono ainda mais, é incrível a complexidade
dessa mulher. Quem olha a advogada inteligente e focada em seu
trabalho nem imagina que ela canta funk e adora seriados fofinhos.
Nós paramos em alguns postos para fazer lanches e esticar as
pernas, depois encontramos um hotel em uma cidade do Paraná
para passar a noite. Por mim continuaria a viagem, mas Marina não
quer chegar lá de madrugada.
O quarto é simples, tem uma TV antiga, um frigobar pequeno,
um banheiro e uma cama pequena. Deixei-a tomando um banho e
fui em busca do nosso jantar. O hotel não tem restaurante, mas
encontrei vários barzinhos e comprei dois hambúrgueres, porque sei
que Marina gosta, uma porção de batata frita, refrigerantes e dois
sorvetes.
Quando retorno para o hotel encontro-a sentada na cama, os
óculos pendidos na ponta do nariz enquanto olha concentrada para
a tela do kindle. Tem alguma coisa estranha, seu rosto está
vermelho, ela está mordendo o lábio inferior e suas pernas estão
cruzadas, outro ponto bem importante de ressaltar é que Marina
está sem sutiã e com os mamilos duros marcados na camiseta
branca de tecido fino.
— Ai, que susto, Léo. — Ela pula quando vê que estou na
porta e joga o kindle para longe. Por sorte o aparelho está na
capinha de proteção quando cai no chão, próximo aos meus pés,
me abaixo para pegar e ela salta da cama. — Não olha!
— Por quê? — questiono com o aparelho em mãos, então
começo a ler a parte que ela marcou no texto, achei que era algum
artigo ou lei, mas não, Marina está lendo putaria!
— É só um livro — defende-se e tenta tirar o kindle das minhas
mãos, mas não deixo. Fujo dela e coloco a sacola com comida em
cima da mesinha da TV. — Devolve, Leonardo!
— Você está lendo putaria — digo mais surpreso do que
julgando. — E uma das boas mesmo. Que livro é esse?
— Não te interessa, me devolve.
— Um guarda costas para a CEO — leio o nome do livro ao
tocar na parte superior da tela. — Preciso ler depois, é bom?
— Como assim, você vai ler? — Levanta uma sobrancelha e
me olha desconfiada.
— Aguento os surtos da Gabi desde que ela entrou para o
mundo dos livros hot aos 15 anos — explico e Marina relaxa. — Ela
falava tanto sobre esses livros que fiquei curioso e comecei a ler
também. É um caminho sem volta, ainda mais quando descobri que
essas cenas escritas por mulheres são praticamente um guia para
nós, homens, aprendermos como transar bem.
Marina não se aguenta e solta uma risada gostosa com as
minhas palavras.
— Eu sabia que você não precisava de tanta instrução assim
por algum motivo — comenta e fica vermelha. — Quero dizer, você
é novo, tenho certeza que já namorou bastante, mas, assim...
— Marina Lucca, você está elogiando minhas habilidades
sexuais? — Aproximo-me dela, que tenta negar e fica ainda mais
vermelha quando beijo seu rosto. — Fico feliz que goste, e agora
preciso ler todo esse livro para saber o que te deixou cheia de tesão
quando entrei.
— Pois leia, talvez possamos usar algumas das cenas dos
livros como inspiração. — Passa os braços pelos meus ombros e
beija minha boca, mordendo meu lábio inferior para depois chupá-lo
com carinho. — Mas depois, agora estou com fome e essa sacola aí
cheira a coisa boa.
— Pode ir comendo, vou só tomar um banho rápido e logo te
acompanho. — Pego a roupa que deixei separada antes de sair e
vou para o banheiro, quando volto Marina está com os lanches na
cama, mas não começou a comer o seu ainda, ela me esperou.
Jantamos e assistimos um episódio de “I am a killer”,
começamos juntos este documentário de crimes reais da Netflix. É o
que escolhemos quando queremos realmente ver um episódio só e
depois parar.
No outro dia acordamos cedo, tomamos café no posto de
gasolina ao lado do hotel e seguimos viagem. A estrada começou a
mudar ao chegarmos próximos do nosso destino: o asfalto não é tão
bom, não tem pedágio, mas o trânsito é bem pesado. Marina disse
que é normal e me avisou para tomar cuidado com os buracos.
Ela começou a ficar nervosa ao passarmos pelo lugar que ela
chamou de trevo principal da cidade, e precisei me aguentar para
não rir ao perceber que no mesmo lugar estava escrito BEM
VINDOS A DESCANSO e a poucos metros, BOA VIAGEM.
A cidade é realmente pequena, não tem prédios, acho que a
maior construção que passamos deveria ter uns 5 ou 6 andares, e
muitos terrenos vazios. Pelo que Marina tentou me mostrar, é
basicamente uma rua principal, alguns bairros menores e o restante
são comunidades agrícolas.
E é para uma delas que seguimos, a estrada agora não é mais
asfaltada, é de chão batido mesmo, cheia de pedras soltas, preciso
tomar cuidado ao dirigir. Ela até perguntou se eu não queria que ela
assumisse o volante, mas sei que seu pé não está completamente
curado.
Andamos aproximadamente vinte minutos e eu só vi lavoura,
gado e algumas casas muito espaçadas umas das outras. A
paisagem é bonita e tranquila, o céu bem azul no horizonte ao
longe, e está um dia quente e ensolarado.
— Então, eu preciso te avisar de algumas coisas — Marina
fala ao meu lado, ela parece ainda mais nervosa, estralando os
dedos. — Minha família é simples, minha mãe é aposentada e cuida
das poucas terras que temos, mas não há luxo.
— Não me importo com isso — afirmo e pego sua mão,
tentando confortá-la.
— Só quis te avisar, não tenho vergonha alguma das minhas
origens, minha família é maravilhosa.
— Eu entendo, não precisa se explicar — concordo e ela
relaxa um pouco. — Estou tão feliz de conhecer sua mãe e o lugar
em que você cresceu… é muito diferente de São Paulo, aqui o céu é
azul e parece tão calmo.
— É lindo, né? Sempre que volto para visitar minha mãe, tenho
a sensação de estar em uma realidade paralela, sem o tumulto, o
barulho e a poluição da cidade grande.
Chegamos em uma casa branca de madeira, cercada por um
muro pequeno com grades em cima que nada ajudariam na
proteção. Paro o carro embaixo de uma árvore em frente à casa,
onde Marina indica, para ficar na sombra, e já consigo ver que tem
alguém nos esperando.
— Está pronta? — pergunto e ela me olha apreensiva.
— Quem deveria perguntar isso sou eu.
— Sou o primeiro namorado que você traz para casa, sei que
está nervosa, mas te garanto que tua família vai me adorar — pisco
para ela confiante —, afinal, quem não quer um cara todo tatuado,
vindo da cidade grande, cheio de marra, namorando sua filha?
Ela solta uma gargalhada do meu lado com a brincadeira.
— Você está ferrado.

CAPÍTULO 33
Marina
Por um instante minha vida
Se fez mais bonita
Quando você chegou
Lá onde as estrelas dormem
A gente tem sorte
De encontrar amor
A vida é boa com você — Bryan Behr

Minha mãe estava esperando na porta de casa, ansiosa, com


as mãos na cintura. Recebi o melhor abraço do mundo ao descer do
carro, ela me segurou por um tempo antes de puxar o Léo.
Foi engraçado ver a senhora de cabelos brancos, ainda mais
baixa que eu, apertando o loiro alto e musculoso, mas o sorriso no
rosto da minha mãe não se apagou em momento algum.
Ao entrarmos em casa o almoço já estava pronto, mamãe não
parou de falar, me atualizando sobre os preparativos para o
casamento, ela está ajudando a Tia Cecília a organizar tudo.
Levamos nossas coisas para o meu antigo quarto e sentamos
para almoçar. Só de ver a polenta com galinha e queijo que minha
mãe preparou, já fiquei com água na boca. É minha comida favorita,
ela sabe disso.
Léo sentou ao meu lado e comeu com gosto, elogiando as
habilidades culinárias da dona Regina, que se derreteu aos
encantos do loiro. Minha mãe não poupou esforços no
interrogatório, ela quase nem comeu de tanto que falou e fez
perguntas.
Para a minha surpresa, Léo respondeu todas tranquilamente,
até entrou na mentira de que estamos namorando há mais de seis
meses. Pediu desculpas por não ter vindo antes, e me salvou
falando que foi culpa dele, por estar enrolado com o trabalho e a
faculdade.
Contei que trabalhamos juntos, claro que não disse que ele é
meu estagiário, minha mãe não perguntou e achei melhor não
revelar isso para todos, já teremos que responder perguntas
demais.
— Menino, come mais um pouco, eu fiz bastante porque a
Marina adora. — Minha mãe insiste quando o Léo termina a
segunda pratada, vejo seu olhar desesperado e o conflito entre
agradar a sogra e arriscar uma indigestão, ou recusar.
— Mãe, ele já comeu um monte, polenta não é algo leve, e
tenho certeza que a senhora fez sobremesa também — comento e
sinto o aperto da mão do Léo na minha perna embaixo da mesa.
— Mas é claro, fiz aquela torta de bolacha que você ama, e
também tem sagu de vinho e pudim, já vou pegar... — Ela levanta e
juro que quase deixo que sirva a sobremesa, só para ver até onde
ele vai para agradar minha mãe.
— Estou cheia agora, mãe, vamos comer à tarde, no lanche, é
melhor — falo e me levanto, começando a recolher os pratos. — A
senhora pode ir deitar que eu organizo as coisas aqui.
Se tem uma coisa que Dona Regina sempre faz depois do
almoço, é dormir, e já consigo ver seus olhos pesando na mesa, ela
batalha contra o sono.
— Tudo bem, filha, só vou descansar alguns minutos. —
Levanta-se e vai para o quarto.
— Ajuda aqui — falo e Léo já começa a lavar a louça,
enquanto eu recolho tudo e guardo o que sobrou da comida. — E aí,
já quer correr?
— Nem pensar, sua mãe é incrível, e essa foi a melhor
refeição que eu já fiz na vida.
Rio da sua afirmativa tão verdadeira. Pelo tempo que
convivemos juntos, consigo reconhecer quando ele está sendo
sincero, Léo é transparente e aberto com seus sentimentos.
— Sua mãe não cozinha?
— De vez em quando — responde sem mais detalhes.
À tarde caminhamos pela propriedade com a minha mãe, que
passa o tempo todo contando as fofocas e fazendo perguntas.
Como senti falta dela! A sobremesa estava maravilhosa, como
sempre a torta de bolacha da dona Regina é a melhor do mundo,
assim como o pudim e o sagu. Quando preparada com amor, a
comida sempre fica melhor.
A tarde foi chegando ao fim e começamos a nos trocar para o
casamento. Mesmo sendo madrinha, não marquei salão de beleza
nem nada, a cerimônia vai ser simples, na igreja da comunidade.
Léo havia me questionado qual seria a melhor roupa para ele usar,
respondi que qualquer conjunto social estava bom, só sugeri a
gravata vermelha, para combinar com meu vestido.
Sequei e enrolei as pontas do meu cabelo, fiz uma maquiagem
um pouco mais elaborada e passei um batom vermelho. Assim que
sai do quarto, vi Léo sentado na caixa de lenha da cozinha,
conversando com a minha mãe. Quando o loiro percebeu minha
presença, levantou rapidamente e veio até mim.
— Você está maravilhosa, morena — elogia com o olhar
brilhante, então me faz girar e avalia meu vestido. — Sou o cara
mais sortudo desse mundo todo.
— É mesmo, e vê se cuida bem dela — minha mãe responde
por mim, deixando-me vermelha.
— Pode deixar, sogrinha.
Léo passa um braço pelas minhas costas e beija meu rosto.
Seu abraço é protetor e carinhoso, Sinto-me diferente ao seu lado e
a sensação de que tenho algo no estômago volta a me assombrar.
Chegamos à igreja meia hora antes do casamento. Meu primo
Régis, que será o padrinho junto comigo, vem nos encontrar e ajuda
minha mãe a subir as escadas.
Como imaginei, toda a família já está presente, não precisa
nem entrar na igreja para ver, já que as conversas são ouvidas de
longe. É uma noite de celebração e todos estão animados.
Assim que entramos somos rodeados por minhas tias e
primas, que me abraçam e já começam o interrogatório.
— Como vocês se conheceram?
— Há quanto tempo estão namorando?
— Você tem irmãos, tios, primos?
— Deixem eles em paz, depois eu conto tudo, hoje a noite é da
Camila — minha mãe repreende e leva minhas tias para longe, mas
pelos olhares de canto elas estão falando de nós.
Léo cumprimenta todo mundo que vem falar com a gente, eu o
apresento a cada integrante da minha família, aos amigos e aos
conhecidos como meu namorado, e sua mão não sai da minha em
momento algum.
Recebo comentários que variam de “vocês formam um bom
casal” até “preciso ir para São Paulo encontrar um assim pra mim”,
o último vem da minha melhor amiga de infância, Rosane, que me
abraça apertado ao entrar na igreja e se juntar a nós.
— Que saudade, mulher, agora entendo porque não vem
visitar a gente mais vezes. — A ruiva aponta para Léo e faz um OK
com a mão. — Ele tem algum irmão, ou primo, ou pai?
— Para com isso ou vou contar para o Roberto — indico com a
cabeça o seu noivo, que sorri e acena do outro lado da igreja.
— Conta, ele sabe que é brincadeira, não troco meu cavalinho
por nada nesse mundo — ela responde confiante. — Mas me conta,
está pronta para o enxame de vespas?
— Como assim? — Léo questiona preocupado.
— Ela está falando das minhas tias. — Indico as mulheres
conversando com minha mãe.
— Essa daqui nunca apresentou um namorado para a família,
todo mundo pensava que era lésbica, e agora aparece com um
gostoso, alto e com cara de neném — Rosane comenta e começo a
rir da sua descrição.
— Isso porque você ainda não viu as tatuagens — informo e
ela arregala os olhos, surpresa.
— Não é possível. O tio Júlio vai te encher o saco amanhã —
avisa e o Léo dá de ombros.
— A Marina gosta, é o que importa — ele fala e beija meu
rosto. entre os meninos vejo várias cabeças virarem para nós neste
momento, por sorte sou salva pelo padre, que avisa que a cerimônia
vai começar.
Minha prima Camila está linda e muito feliz em seu vestido
branco de cauda curta, ela e Roan são apaixonados desde o
colégio, começaram a namorar depois de formados e ganharam um
pedaço de terra dos pais para começarem sua vida juntos.
Eles estão tão felizes… é lindo ver o noivo emocionado
quando ela entra na igreja, na hora do sim e das alianças. Eu fico na
primeira fileira de cadeiras junto com meu primo, mas tenho visão
do Léo mais ao fundo, sentado com a minha mãe. Nossos olhares
se encontram durante toda a celebração, é como se existisse um
imã entre nós.
A festa é feita no salão da comunidade, ao lado da igreja. Uma
banda local foi contratada para tocar no baile depois do jantar, todos
estão felizes pelo casal e animados para começar a comemorar.
No interior não tem muita decoração ou luxo. Minha mãe conta
que ajudou com os enfeites de flores das mesas, um restaurante
local está servindo o jantar e a bebida é liberada.
Assim que todos se sentam, as perguntas começam: meu tio
Osvaldo, pai da noiva e irmão da minha mãe, senta ao lado do Léo
depois de jantar e faz o que meu pai faria se ainda estivesse vivo.
— Então, rapaz, você é o guri que se acha bom o suficiente
para namorar com a nossa menina? — meu tio pergunta e dá um
tapa de mão aberta — não tão fraco — nas costas do Léo, que
quase se engasta com o refrigerante que estava tomando.
— Não sei se sou bom o suficiente, mas com certeza me
esforço para ser — ele responde e aperto sua mão.
— Se meu cunhado estivesse vivo, seria ele a fazer as
ameaças, mas como foi se encontrar com Deus cedo demais, farei
as honras — Tio Osvaldo fala alto e grosso, fingindo uma pose
ameaçadora quando na realidade, ele é um doce. — Espero que
não faça nada para nossa menina, porque se eu souber que alguma
coisa aconteceu, você pode tentar se esconder até nos confins
daquela São Paulo, mas eu te acho, viu.
— Já chega, irmão — minha mãe corta e sorri. — Está
assustando o guri.
— É exatamente o que eu queria — meu tio retruca, ainda de
cara fechada fingindo brabeza. Léo engole a saliva e fica tenso ao
meu lado. — Recado dado, você sabe dançar?
Eu e minha mãe caímos na gargalhada com a pergunta, e Léo
parece não entender.
— Depende da música — responde incerto.
— Marina é meio desengonçada, mas ela pode te ensinar —
minha mãe se intromete.
— Não sou desengonçada, só não tenho muito equilíbrio, é
diferente — me defendo e Léo aperta minha mão. — E estou com o
pé um pouco machucado, mãe, não vou poder dançar muito.
— Mas não vai recusar uma valsa com teu tio aqui, assim que
essa banda resolver começar a tocar. — Tio Osvaldo se levanta e
vai até os músicos.
— Quer sair correndo agora ou vai esperar minhas tias te
tirarem para dançar? — pergunto baixinho só para o Léo ouvir.
— Ninguém me tira do teu lado essa noite, morena, pode ficar
tranquila. — Então ele roça os lábios nos meus, delicadamente,
como um selinho entre casais que estão há anos juntos. — Sua
família é incrível, acho que nunca vi tanta gente tentando falar ao
mesmo tempo.
— Aqui é assim mesmo, competição de quem consegue falar
mais alto e terminar uma história, verdadeira ou não, nem importa.
Ele ri e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Estou adorando conhecer mais sobre você, é incrível como
consegue me surpreender a cada minuto. — Sua voz é sincera e
cheia de emoções.
Não tenho resposta, simplesmente devolvo o beijo que me deu
e me aconchego mais em seu abraço.
O restante da festa é só alegria. Léo resolveu não beber,
porque teremos que sair de viagem no outro dia, e ele disse que não
quer ter dor de cabeça. Isso gerou piadas e implicâncias dos meus
tios e primos a noite toda.
Minha mãe o ensinou a dançar, o básico pelo menos, dois
passos para lá, dois para cá, e eles se divertiram nas tentativas,
mas o Léo brilhou mesmo quando minhas primas menores
começaram a reproduzir as dancinhas do TikTok. Ele fez os
mesmos movimentos de brincadeira, mas elas viram e o chamaram
para gravar junto.
Essas ele sabia de cor, e lá se foram mais algumas gozações
e piadas dos meus tios. Os homens da minha família são bem
tradicionalistas e um pouco machistas, é um traço marcante na
região, mas o Léo levou tudo na brincadeira e não se importou.
No fim da festa o pessoal já está mais bêbado do que seria
aconselhável, as crianças, que antes gritavam e corriam para todo
lado, agora estão dormindo nos bancos e a banda parou de tocar,
deixando somente uma música ambiente. Léo me chama para pegar
um ar fora do salão e de mãos dadas saímos caminhando
lentamente. O vento aqui fora está frio, ao ver que me encolho, ele
tira o casaco e coloca em meus ombros.
Paramos nos degraus da igreja, mais afastados do barulho da
festa, e olhamos para o céu limpo e estrelado.
— É tão bonito aqui, acho que a última vez que vi tanta estrela
no céu, foi na praia — Léo admira-se e me faz sentar de lado em
seu colo. Vejo seu rosto sereno e os cabelos que balançam com o
vento, a única iluminação artificial vem do ginásio, aqui estamos sob
a luz da lua cheia. — Obrigado por aceitar minha companhia — diz
e passa a mão em meu rosto, em uma carícia deliciosa.
— Eu que preciso te agradecer, e pedir desculpas também,
minha família às vezes passa do ponto.
— Eles têm outra realidade, não levo para o pessoal —
responde. — Mas tem uma coisa que quero saber.
— O quê?
— Como uma menina que se formou dois anos antes, entrou
para a faculdade com bolsa integral, e pelo que vi hoje só estudou a
vida toda, acaba com dois piercings nos mamilos?
Solto uma gargalhada alta com a indignação em suas
palavras.
— É sério, amor, eu consigo entender todas as tuas
características únicas, é só essa mesmo que não faz sentido.
Geralmente as meninas começam pelo nariz ou umbigo, você foi
logo nos mamilos — explica seriamente. — E não estou
reclamando, porque adoro, mas sério, conta essa história aí.
— Não tem muita história, como você mesmo disse, entrei dois
anos antes na faculdade, menor de idade. Não saía para nada e só
estudava, aí quando completei dezoito anos, a Carina me levou para
a balada pela primeira vez. Teve tequila envolvida, alguma aposta
que nem eu ou ela lembramos qual foi, e acordei no outro dia à
tarde, em casa já, com a cabeça latejando e os peitos doendo.
— E você não lembra de nada?
— Tenho flashes. A Carina fez uma tatuagem naquele dia, em
algum lugar que estava aberto de madrugada, ou era algum amigo
dela, não sei, e eu acordei com piercings nos mamilos. — Dou de
ombros. — Todos temos nosso momento rebeldia.
— Eu sei, morena, fiz minha primeira tatuagem com dezoito
anos também — responde e beija a pele sensível na voltinha do
pescoço. — E amo teus enfeites, foram uma surpresa deliciosa.
— Também gosto muito das tuas tatuagens — respondo e
passo a mão pelos seus braços.
— Sua mãe falou algo sobre isso? Ela gostou de mim? —
questiona, aflito.
— É impossível não gostar, você conquistou cada uma das
mulheres presentes hoje, e fez ciúmes em todos os homens.
Ele sorri satisfeito e respira fundo.
— A única mulher que quero conquistar é você, morena —
responde e me beija. Seus lábios quentes e macios devoram os
meus, abrindo caminho para nossas línguas se enroscarem, não
precisa de muito para o beijo ficar mais intenso e provocativo. — Eu
te amo, Marina.
Sua voz sai baixa, mas confiante. Em meio ao nosso beijo,
perco a concentração e me afasto dele, encarando assustada seus
olhos azuis, tão intensos e verdadeiros que não consigo ver um
pingo de incerteza em seu semblante.
Ele me ama.
Leonardo realmente me ama.
Meu coração parece que vai explodir, coloco a mão em seu
peito e constato que estamos na mesma sintonia. Nunca senti isso
antes, aquela coisa no estomago volta e só então consigo dar
sentido à expressão “borboletas no estômago”.
— Não espero que responda, só precisava que soubesse que
te amo de verdade, e não como algo que falei depois de gozar. —
Sorri de canto. — Eu amo cada parte sua, morena, esses olhos
castanhos e brilhantes, a forma com que seu nariz mexe quando
está lendo, o cheiro do teu perfume, o gosto da tua boca,
especialmente misturado com café. Amo o som da tua risada e dos
teus gemidos, sou fascinado na forma com que se dedica à sua
carreira, como organiza toda a tua vida e segue o planejamento,
estou encantado com como você é carinhosa com a sua mãe e
querida pela sua família.
— Léo, eu... — Não consigo falar, por algum motivo as
palavras não saem da minha boca, mas ele entende.
— Eu sei, essa é outra coisa que amo sobre você: mesmo
estando com medo do que sente, continua aqui, nos meus braços.
— Ele respira fundo e me beija carinhosamente. — Eu te amo mais
a cada segundo que passa, e também estou assustado, nunca senti
algo tão intenso assim antes, mas não consigo imaginar ficar longe
de você.

CAPÍTULO 34
Leonardo
Vem cá, me diz o que cê viu no meu olhar
Será que o imperfeito te agrada
Porque até seus defeitos eu aprendi a amar
Somos tão diferentes
Qual é a do Amor — João Gustavo & Murilo

Acho que nunca estive em meio a uma família tão grande e


diferente da minha. No casamento os tios da Marina tentaram de
tudo para me constranger, mas nada do que falaram me atingiu, no
final eles só aceitaram e pararam com as brincadeiras.
No domingo as comemorações não terminaram e teve almoço
na casa dos recém-casados, que convidaram somente as pessoas
da família mesmo. Minha sogra comentou que este sim é o
verdadeiro churrasco, nada como temos em São Paulo.
Aqui eles assam pedaços grandes de carne, e o almoço é
servido exatamente ao meio-dia. Quando chegou o horário todos
sentaram à mesa e se deliciaram com a comida. Além da carne
assada, tinha maionese, mandioca cozida, arroz, farofa, muita
salada, um pão doce que dona Regina me fez experimentar e
chamou de cuca alemã.
Confesso que sai empanturrado, mas tudo estava delicioso. O
melhor foi ver como as pessoas se tratam com cainho, claro que
tiveram algumas discussões um pouco acaloradas, alguns bate-
bocas, criança correndo, gritando, caindo, levando xingão dos pais,
mas eles se importam um com os outros.
Dona Regina, que exigiu que eu a chamasse de sogra, pois
achou que este momento nunca iria acontecer, ficou muito
emocionada na despedida e nos fez prometer voltar logo e ficar pelo
menos uma semana.
Saímos de Descanso às 16h, depois da minha sogra lotar o
porta malas do carro com comida, ela havia preparado várias coisas
caseiras para a filha.
Marina veio calada na primeira parte da viagem,
provavelmente triste por ter que se despedir, então deixei que
ficasse tranquila com os seus pensamentos. Paramos no mesmo
hotel que ficamos na vinda, para descansar, por que mesmo não
tendo bebido nada, fomos dormir tarde no sábado e acordamos
cedo no domingo.
Dormi abraçado com ela mais uma noite e aproveitei cada
minuto, na esperança de que isso ainda se repita. Estou tentando
não apressar muito as coisas, mas fica cada vez mais difícil me
afastar dela, ainda mais quando a morena se aconchegou tão
gostoso durante a noite.
Acordamos antes do sol nascer e seguimos viagem, são quase
10h da manhã quando encosto em frente ao prédio dela.
Deixo Marina em sua casa primeiro e a ajudo a levar as coisas
para cima, ela anda cabisbaixa e pensativa enquanto tiramos tudo o
que a mãe dela enviou.
— Ei, vem cá. — Pego sua mão ao colocar a última caixa na
cozinha e a faço sentar no sofá. — O que você tem?
Marina me olha com seus grandes orbes castanhos e suspira.
— Não sei, é sempre um choque voltar da casa da minha mãe
— confessa, mas desvia o olhar, sei que te mais para falar.
— Não gostou da viagem?
— Claro que sim, foi bom ver minha família e estava morrendo
de saudade da minha mãe.
— Queria ficar mais? — tento adivinhar o que sente, mas ela
nega com a cabeça e sorri.
— Dessa vez não.
— É porque fui junto?
Ela percebe a insegurança em minha voz, sei que
praticamente forcei minha companhia, mas até agora não parecia
que ela havia se arrependido de aceitar.
— Você estar lá foi a melhor parte — confessa e passa seus
dedos levemente pela minha barba. — É isso que me assusta.
Volto a respirar aliviado com suas palavras e seguro sua mão.
— Você quer esse relacionamento tanto quanto eu, amor —
digo e sinto ela ficar tensa. — Namora comigo, Marina?
Ela olha para mim e penso que vai sorrir e dizer sim, mas
Marina se levanta bruscamente e começa a andar de um lado para
o outro.
— É tudo confuso agora, Léo.
— Então me fala, quais os motivos para não namorar comigo?
— desafio e ela para de andar para falar.
— Você é mais novo, ainda nem terminou a faculdade, é meu
estagiário e eu não tenho tempo para namorar.
— Então vamos lá: sou 4 anos mais novo, quando tivermos 60
anos de casados, isso nem vai importar — rebato seu primeiro
ponto e, assim que ela abre a boca para falar, me levanto e faço
sinal para que escute. — Segundo, que falta menos de um ano para
eu terminar a faculdade, seu terceiro ponto só é válido no trabalho,
já deixamos isso bem claro, fora dele somos somente um homem e
uma mulher.
— Mesmo assim é meu estagiário.
— Só até o final do ano — contesto, tentando fazê-la ter uma
perspectiva maior das coisas. — Alguns meses não são nada,
quando quero passar a vida toda ao seu lado, amor.
Com estas palavras ela congela no lugar, os olhos e a boca
abertos em surpresa.
— Agora quero que discorra mais sobre seu último ponto,
porque não faz o menor sentido para mim — desafio.
— Como não? Eu trabalho mais de doze horas por dia, tenho a
pós e pretendo continuar estudando e me especializando. Quase
não consigo tirar uma hora para fazer exercícios, quem dirá ter
tempo para manter um relacionamento saudável.
— Amor, qualquer relacionamento exige trabalho das partes
envolvidas — falo com calma e confiança para que as palavras
cheguem até ela como quero. — Tempo de qualidade não é
contabilizado em horas “gastas” ao lado da pessoa. Isso não
importa, você pode ter 1 hora por semana e isso parecer pouco,
mas se estes 60 minutos forem usados com amor e carinho
genuíno, serão os melhores 3600 segundos que você terá.
— Você fala como se tudo fosse um conto de fadas, mas vai
me odiar e cobrar atenção quando perceber o quão difícil é estar ao
lado de uma mulher ocupada.
— Eu nunca vou te odiar. — Caminho até estar em sua frente
e pego suas mãos. — Quantas vezes preciso falar que te amo de
verdade?
— A gente se conhece há pouco tempo, você está se iludindo,
Léo.
— Eu sou iludido, confesso, mas não dessa vez. Não quando
meu coração dispara como um tambor só de pensar em você. Isso
aqui — coloco sua mão no meu peito e a faço sentir o que causa em
mim — não é ilusão. Não tem como fingir ou enganar meu coração,
amor, eu te amo, aceita isso.
— Eu não quero machucar você, quando voltarmos à realidade
e essas miniférias chegarem ao fim, tudo vai mudar — fala com
tristeza.
— Não amor, tudo sempre muda, a vida não é constante, mas
o que importa é passar por isso juntos. — Aproximo-me mais e me
abaixo para encostar minha testa na dela. — Dá uma chance para a
gente, deixa eu te mostrar que vale a pena ter alguém ao seu lado.
Marina fecha os olhos e inspira profundamente, me preparo
para o não, organizo em minha mente a lista de motivos para que
ela fique comigo, e quando estou pronto para falar, ela abre os
olhos.
— Tudo bem.
O que ela disse?
Tum-tum… tum-tum…
Meu coração dispara no peito.
Eu ouvi direito mesmo?
Tum-tum… tum-tum…
— Você… amor… isso significa… — Não consigo formular as
palavras certas.
— Sim — fala mais confiante e com um pequeno sorriso no
rosto. — Significa sim.
Não consigo acreditar que ela finalmente aceitou ser minha
namorada.
Não deixo que se arrependa, passo as mãos em sua bunda e
a faço enroscar as pernas em minha cintura, prendo sua boca em
um beijo intenso e avassalador e ela responde com a mesma
vontade, mordendo meu lábio inferior e me fazendo gemer.
Nossas línguas se tocam enquanto caminho em direção ao
seu quarto, coloco-a deitada em sua cama e começo a me despir. A
primeira a sair é a camiseta, as calças e a cueca seguem o mesmo
caminho e em questão se segundos estou completamente pelado
em cima dela.
Passo as mãos pela sua blusa e Marina ergue os braços com
um sorriso safado, dando-me permissão, tiro sua calça de moletom
e a deixo só de sutiã e calcinha.
É neste exato momento, quando nossos olhares se encontram,
que sei que o que faremos a seguir não será igual as outras vezes.
Pela primeira vez não vai ser só sexo, hoje farei amor com a minha
morena.
Marina acaricia meus cabelos, puxando meu pescoço e
chamando a atenção para sua boca, colo nossos corpos e volto a
beijá-la, dessa vez com mais calma, sentindo cada toque e o gosto
de café em seu hálito, tão característico dela.
Consigo abrir seu sutiã com uma mão só, fato esse que me faz
sorrir orgulhoso contra sua boca, e começo a estimular seu seio.
Aperto o mamilo duro de tesão e sou presenteado com um gemido
gostoso.
— Eu amo esses piercings — confesso contra sua boca e
começo a descer com beijos pelo pescoço e clavícula.
Chego até seu seio e lambo o outro mamilo, prendendo-o em
meus lábios enquanto trabalho com a outra mão no outro seio.
Marina se contorce embaixo de mim, minha ereção roça em sua
calcinha de renda preta, deixando-me ainda mais duro com a
proximidade da sua boceta quentinha.
— Eu quero essa boceta na minha boca, amor — confesso e
ela sorri.
Deito do seu lado e assisto quando Marina levanta, tira a
calcinha e sobe em cima de mim, com uma perna de cada lado. Sua
boceta roça meu pau, mas não é isso que quero, não ainda.
— Vem cá, amor, traz essa boceta deliciosa pra minha boca e
senta na minha cara. — Passo as mãos em sua bunda e aperto com
vontade até ela subir e ficar com uma perna de cada lado da minha
cabeça.
É a visão do paraíso.
Daqui assisto Marina se entregar, meus lábios roçam os seus,
como se estivesse beijando sua boca, e ela geme, então a
pressiono ainda mais e passo a língua por toda a extensão da sua
boceta. Seus gemidos são provocantes e me fazem continuar,
provoco seus lábios com beijos e lambidas até chegar ao clitóris
inchado.
Então ela começa a se esfregar no meu rosto, usando-me para
encontrar o seu prazer, e puta que pariu, é uma coisa deliciosa de
ver. Devoro sua boceta como se fosse uma refeição, tomo cada
gemido, cada movimento para mim, chupo com gosto, olhando
diretamente para seu rosto contorcido de prazer.
Ela firma contato visual comigo e posso sentir que está perto,
seus peitos eriçados vistos de baixo balançam enquanto ela se
move, sacudindo acima de mim. Vou à loucura.
Marina geme ainda mais alto, segurando com firmeza na
parede até que sinto suas pernas tremerem e ela se aperta ao meu
redor, explodindo em um orgasmo maravilhoso. Tomo tudo o que me
dá, chupando cada gota do seu prazer, me delicio com o gosto da
morena e estimulo ainda mais seu clitóris sensível, fazendo com que
grite meu nome e jogue a cabeça para trás.
— Léo, eu vou...
Não deixo que termine a frase e nem que saia de cima de mim,
estimulo seu centro de prazer com mais intensidade e seguro sua
bunda para que não se mova.
E assim ela goza de novo, ainda mais intensamente que antes.
Seus sucos molham minha barba e me deixam enlouquecido, ainda
mais quando é meu nome que sai da sua boca.
Caralho, é uma delícia assistir meu amor gozar.
Saio de baixo do seu corpo e ela despenca na cama, ainda
com espasmos do orgasmo, sentindo o que fiz com ela, todo o
prazer que lhe proporcionei.
Só que não acabou.
Encontro minha calça e pego o pacote de preservativo,
desenrolo um em meu membro duro e pronto enquanto Marina
assiste, mordendo o lábio inferior, provocante.
Subo na cama e me coloco no meio das suas pernas, que
abraçam minha cintura, nossos corpos ficam a centímetros um do
outro. Olho para ela, seu rosto avermelhado dos orgasmos, os olhos
brilhantes e a boca entreaberta.
— Vou fazer amor com você agora — falo enquanto pressiono
sua entrada e deslizo para dentro dela. Calmamente, assisto seu
rosto se contorcer em tesão e emoção. — Bem assim, amor. —
Entro e saio devagar, sentindo suas paredes apertando meu
membro. — Eu te amo, morena.
Marina me beija e geme contra a minha boca, suas unhas
arranham minhas costas e me fazem enlouquecer, logo nossos
movimentos estão coordenados. O beijo é intenso e absurdamente
inebriante.
Marina me manda deitar, então monta no meu pau, de frente
para mim, tomando o controle. Seus cabelos caem pelo seu corpo
enquanto ela sobe e desce na minha ereção, seguro em sua cintura
e assisto minha morena rebolar.
Não vou durar muito, ainda mais quando ela se abaixa e volta
a me beijar. Seus peitos se esfregam em mim e Marina morde meu
lábio, intensificando os movimentos até que é demais e sinto que ela
está gozando, apertando meu membro e levando-me com ela ao
ápice do prazer.
Observo seu rosto enquanto gozo dentro dela, o semblante
contorcido pelas sensações, a respiração ofegante e o olhar
apaixonado. Porque ela pode se recusar a falar as palavras, mas
não consegue esconder os sentimentos.
— Eu te amo — falo por nós dois quando ela se aninha em
meu peito, procurando meu abraço. Planto beijos no topo da sua
cabeça, até que nossa respiração volte ao normal.

CAPÍTULO 35
Marina
Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Sou tão tranquilo e tão contente
Quase sem querer — Legião Urbana

— Não acredito que vivi para ver o dia em que Marina Lucca
começou a namorar — admite Carina, sentando-se do meu lado no
sofá e me entregando o copo com refrigerante.
Ela até convidou o Léo para ficar, mas coitado, acho que ainda
não está preparado para aguentar os surtos da minha amiga. É
quarta-feira, minhas férias estão terminando e eu realmente prometi
que nos encontraríamos.
— Aparentemente sim — respondo e abaixo o volume da TV.
— Quem diria que o novinho seria persistente o suficiente, hein
amiga? Agora conta tudo.
É o que faço, relato toda a viagem e os dias que passamos
juntos depois de voltar. Confesso que entrei em desespero depois
de aceitar o pedido, teve o sexo, que foi muito mais do que só uma
transa, mas que ainda não estou preparada para admitir o que
realmente significou.
Quando ele foi para a faculdade, me dediquei a organizar uma
planilha no Excel com os nossos horários, para quando voltarmos a
trabalhar conseguir manter este relacionamento. Também fiz uma
lista de objetivos em comum e com o que posso ajudá-lo.
— Bem coisa de capricorniana mesmo — Carina debochou.
Léo ainda precisa terminar a faculdade e passar na prova da
Ordem, nisso posso ajudá-lo a se organizar e estudar. Podemos
passar um tempo juntos assim, e também não será nada perdido
para mim, já que é sempre bom rever os conceitos principais.
Como vamos nos encontrar no trabalho todos os dias, o fiz
prometer que teríamos uma relação profissional na empresa, nada
de gracinhas ou brincadeiras. Estou até pensando em redigir um
contrato e fazê-lo assinar, para garantir que saiba o quanto isso é
importante para mim.
No mais, estou tentando confiar que o pouco tempo que
teremos juntos será o suficiente, que eu serei o suficiente para ele.
— Sua mãe amou o Léo — anuncia depois que conto sobre a
viagem. — Ela me ligou quando vocês saíram de lá e falou que
finalmente está tranquila, porque agora você tem alguém que te
ama.
— Minha mãe só faz drama, não preciso de homem nenhum
para viver.
— Ela só não quer te ver sozinha e infeliz.
— Quem disse que eu estava infeliz?
— Tá, não teremos essa discussão novamente — corta a
conversa, já sabendo que não consegue me ganhar nessa. — Mas
que você está bem mais alegre agora, isso não tem como contestar.
— Para com isso.
— É verdade, assume de uma vez que está toda apaixonada.
Por sorte, bem nessa hora o interfone toca avisando que a
pizza chegou e levanto correndo para ir buscar. Não me sinto pronta
para falar em voz alta o que estou sentindo, nem sei ainda se
realmente vai dar certo.
***
Esse fim de semana foi surpreendente, acredito que nenhuma
outra palavra consiga traduzir tão bem o que senti nesses dias. Nós
passamos muito tempo juntos, porém não foi sufocante. Estudamos,
trabalhamos, assistimos filmes e transamos, muito, em todos os
locais do meu apartamento, em várias posições. Pude até pôr em
prática algumas coisas que li nos livros e nunca fiz antes, porque
precisava de mais confiança e intimidade.
Quando o Léo foi para casa ontem à noite, tive novamente
aquela sensação estranha de vazio ao ficar sozinha no
apartamento.
Senti falta dele.
A segunda-feira sempre foi sinônimo de um bom dia para mim,
porém hoje estou ansiosa. Tive uma conversa longa com o Léo, ele
me prometeu que na empresa será discreto, teremos uma relação
profissional e só isso.
Só que como esconder um olhar?
Aqueles malditos orbes azuis brilham toda vez que encontram
os meus, e só de pensar que o verei em breve, fico ainda mais
nervosa.
Acordei cedo, fiz minha rotina matinal e os alongamentos que
o médico pediu enquanto escutava as notícias e me preparava para
ir trabalhar. Agora, na garagem do prédio, respiro fundo e rezo para
que dê tudo certo.
Seu Nelson abre o maior sorriso ao me ver com seu café,
foram só algumas semanas, mas senti falta desse ritual.
— Bom dia menina, bem vinda de volta — comenta e lhe
entrego o copo descartável.
— Obrigada, sentiu mais a minha falta ou a do café? — brinco
e ele libera minha passagem
— A sua, é claro. Perguntei para o chefe quando não te vi mais
chegando cedo, ele disse que estava de férias. — Isso chama
minha atenção.
— Para quem você perguntou?
— Doutor Rausing, ele é o único tão viciado em trabalho
quanto você — responde, dando de ombros.
— Bom dia, seu Nelson. — Como se fosse invocado, meu
chefe aparece neste exato momento, ainda nem amanheceu lá fora
e ele já está aqui. — Marina, seja bem vinda de volta.
— Obrigada — agradeço ao encontrar minha voz. O homem é
alto, tem cabelos claros misturados com alguns fios brancos, a
barba bem feita e os olhos azuis me lembram de alguém.
— Gostaria de ter uma conversa com você, se puder me
acompanhar até minha sala — indica o elevador com a mão.
— Claro — caminho até a caixa metálica com meu chefe logo
atrás de mim, e tenho uma sensação ruim sobre isso.
O elevador para no último andar, Henry sai na frente em
direção à sua sala, não tem ninguém aqui ainda. As luzes estão
acesas no corredor e na recepção, mas o restante está escuro.
Ele abre a grande porta de madeira com placa dourada, onde
está escrito Dr. Henry Rausing, sócio proprietário. Este é um dos
poucos advogados da empresa que pode realmente ser chamado
de doutor, já que os outros não fizeram nem mestrado, muito menos
passaram pelos anos de doutorado, só assumem o título por ego.
— Como está seu pé? Soube que acabou se machucando no
dia do incêndio — indaga enquanto deixa suas coisas em cima da
mesa e senta-se na cadeira de couro. Coloco minha pasta na
cadeira ao lado e sento-me na outra.
— Muito melhor, obrigada.
— Que bom, peço desculpas por não ter checado antes.
— Foi só uma torção.
— Espero que tenha aproveitado as férias.
— Foram produtivas, obrigada.
— Estava analisando seu histórico na empresa. — Pega uma
pasta da primeira gaveta e abre em cima da mesa, provavelmente é
minha ficha de funcionária. — E achei que já estava na hora de
conversarmos, está conosco há quase seis anos, certo?
— Sim, entrei no programa de estágio quando estava no último
ano da faculdade — respondo orgulhosa.
— Vejo que se formou no ensino médio dois anos antes do
normal, entrou na PUC com bolsa de 100%, suas notas foram as
mais altas da turma, o que te garantiu também uma bolsa na
primeira pós que cursou, em direito de família e sucessão.
Ele me olha em busca de confirmação, e só concordo com a
cabeça.
— Seu mentor aqui na empresa foi Lázaro Romani, um grande
advogado, e pelo relatório que fez sobre você não deixou dúvidas
da sua capacidade profissional.
Henry fala tranquilamente e tudo parece um elogio, porém
estou no aguardo do “mas”, sei que não me chamou aqui para falar
sobre a grande profissional que sou.
— Lázaro foi um ótimo mentor e amigo.
— Sim, foi por isso que, quando chegou até mim a informação
de que você estava trabalhando enquanto todos estavam de férias,
tive uma longa conversa com meu antigo colaborador — Henry fala
seriamente e descansa os cotovelos na mesa. — Ouvi muitos
elogios sobre você, Lázaro até mencionou que vem tentando roubá-
la para trabalhar com ele, mas você prefere ficar em uma empresa
maior e se especializar em casos de família.
— Sim, a R&W abrange uma maior cartela de clientes e, com
isso, consigo trabalhar nos casos em que estou me especializando
— explico calmamente.
— Também é mais fácil de burlar o sistema, já que a empresa
é grande e ninguém parece notar quando um funcionário trabalha
mais do que deveria. — Seu comentário não sai como um
julgamento, apenas aponta. — Pelo que vejo na sua ficha, você
toma o cuidado de bater o ponto às 8h da manhã, como todos os
outros funcionários, mas aqui estamos, 6h45 da manhã.
Droga, droga, droga.
— Ainda sobre o ponto, 18h é o final do seu turno, ou deveria
ser, mas tomei a liberdade de conversar com o senhor Nelson e os
outros vigias, são pessoas incríveis e adoram um café. — Ele pisca
e dá um meio sorriso, deixando-me nervosa. — Eles confirmaram
que você dificilmente sai antes das 20h, quando não fica muito mais
que isso.
Cerro os dentes e engulo em seco, não tem nada de errado
em trabalhar a mais, ele deve saber, já que se estamos os dois aqui,
neste horário, é porque ele também chega mais cedo.
— Acho que o que preciso saber, é, por quê?
— Como assim? — Sua pergunta me pega de surpresa.
— Por que trabalhar mais que os outros e não computar essas
horas. No sistema, você faz a mesma coisa que qualquer outro
funcionário, com a diferença de que fecha muito mais casos e tem
uma maior taxa de aprovação entre os clientes.
— É por isso — respondo simplesmente. — Acomodar-me e
fazer o mínimo não garante a excelência, muito menos um lugar
como sócia.
— Este é seu objetivo?
— Sim — respondo com a voz firme e sem hesitação.
— Só isso? — o questionamento é basicamente um desafio.
— É meu propósito. — Mantenho minha postura, mas o que
queria realmente é jogar na cara do meu chefe o quanto é difícil
para uma mulher crescer dentro desta empresa, toda a
desigualdade entre seus funcionários e, claro, se eu fosse um
homem, poderia sim trabalhar das 8h às 18h, como Carlos faz, e
ainda assim chegaria ao meu objetivo.
Henry mantém o silêncio por um tempo, olhando diretamente
para o meu rosto. Mantenho seu olhar sem vacilar e novamente
tenho aquela sensação de que o conheço, nunca fiquei cara a cara
assim com meu chefe, muito menos por tanto tempo, também não
havia analisado suas feições assim tão de perto.
— Certo. — Ele é o primeiro a quebrar o silêncio e se escora
na cadeira. — Como deve imaginar, não tenho nada contra meus
funcionários trabalharem horas extras. Seria muita hipocrisia da
minha parte, mas a partir de agora peço para que anote essas
horas, não é justo que não receba por elas.
— Não posso, o sistema só permite duas horas extras por dia.
— E não é aconselhável que faça mais — Henry pontua, mas
sei que é só porque ele não pode obrigar os funcionários a fazerem
mais horas, poderia ser processado por isso. — Contudo, caso haja
a necessidade, repasse verbalmente para Melinda e ela saberá
como computar isso em sua bonificação anual.
— Tudo bem. — Quem sou eu para recusar um aumento em
minha bonificação?
— Outra coisa, férias são obrigatórias.
— Mas...
— Neste ponto não tem discussão, estas duas semanas foram
as primeiras férias que tirou em seis anos, fora a pausa obrigatória
de final de ano que todos os funcionários fazem. Mesmo querendo
lhe parabenizar por conseguir burlar nosso sistema, como seu chefe
não posso admitir algo assim, não é saudável e não deveria ser
normalizado trabalhar a esse ponto.
— Não preciso de mais de uma semana — rebato.
— Todos precisam descansar — afirma e respira fundo. —
Agora gostaria de conversar com você sobre o Leonardo.
Paro de respirar com a menção do nome. Droga, será que ele
sabe de alguma coisa?
Alguém cortou o fornecimento de ar nesta sala?
Por que, do nada, parece estar trinta graus mais quente?
— O que gostaria de saber sobre meu estagiário? — consigo
falar sem gaguejar.
— Como está o desempenho dele?
— Acima do esperado, devo dizer, porém é minha primeira
experiência como mentora. — Vejo a necessidade em
complementar e tento manter minha postura o mais firme e
impessoal possível. — Leonardo é esforçado e vai além do
esperado.
— Isso é bom, ele já falou alguma coisa sobre seus planos
para o futuro?
— Não — respondo, achando curiosa sua pergunta. Não sabia
que os proprietários se interessavam pelos estagiários, achei que só
começavam a realmente enxergar os empregados quando se
tornavam importantes.
— Ainda é cedo, se possível gostaria de saber caso ele
declare uma área de interesse, estamos sempre de olho nos nossos
funcionários.
— Claro, manterei o relatório mensal atualizado.
Henry parece querer falar mais alguma coisa, mas se mantém
calado por um tempo.
— Não vou tomar mais do seu tempo, tenho certeza que está
ansiosa para retornar ao trabalho. — Ele se levanta e estende a
mão, faço o mesmo e aperto firme. — É sempre bom saber que
contamos com funcionários dedicados assim. Você está fazendo um
ótimo trabalho, Marina, só se lembre de viver um pouco.
Ao me virar para sair, vejo um porta-retratos em cima de sua
mesa com a foto de uma mulher segurando um bebê. Não tenho
tempo para olhar com atenção, mas lembro do que Melinda falou,
que às vezes a mulher vem almoçar na empresa para fazer
companhia a ele.
Se Henry trabalha tanto quanto parece, deve ser realmente
complicado manter uma família. É o que mais vejo nos casos de
divórcio, pessoas que não conseguem fazer um relacionamento dar
certo por conta das responsabilidades e demandas da profissão.
Também é meu maior medo, pensando no Léo e no fato de
que aceitei esse namoro. Será complicado, mas lá no fundo tenho
uma pontinha de esperança de que vá dar certo.
Talvez, se eu conseguir me organizar e planejar bem, podemos
ter um bom relacionamento.

CAPÍTULO 36
Leonardo
O afeto aparece nas coisas mais simples
Um café da manhã e uma flor pra você
Seu sorriso dizendo que me admira
Um segredo que é nosso e agora vão saber
Nosso Segredo — Cassiano Andrade

Voltar ao trabalho fez bem para Marina, ela realmente gosta da


sua profissão. Uma coisa que aprendi sobre a morena é que manter
uma rotina planejada é essencial, ela não aceita muito bem
surpresas ou que as coisas saiam fora do planejado.
Marina é metódica, organizada e controlada. E eu amo tudo
isso nela.
A cada dia que passa, nossa relação só melhora.
Criamos uma rotina maravilhosa: no trabalho agimos
profissionalmente e reúno todo o autocontrole que não tenho — mas
finjo ter — para não babar pela minha namorada ou roubar um beijo
no escritório.
Quando tenho aula, preciso confessar que penso nela a maior
parte do tempo. Marina tem me ajudado muito a me manter
organizado com os trabalhos, TCC e o cronograma de estudos para
a prova da Ordem.
Como ela costuma trabalhar até mais tarde, a Gabi e eu
combinamos de estudar todos os dias depois da aula, seguindo o
cronograma que a Marina criou, para darmos conta de tudo o que
precisamos revisar.
A data está se aproximando rapidamente, a primeira etapa
será no dia 03 de julho. Como já estamos quase no final de maio,
temos menos de 2 meses para estudar.
A noite é o período mais complicado, porque, se fosse por
mim, eu dormiria abraçado com a minha morena todos os dias.
Contudo prometi que manteríamos somente um encontro durante a
semana, na quarta-feira. Em troca Marina me garantiu que de sexta-
feira à noite até a segunda-feira de manhã estaríamos juntos.
Não que façamos tudo juntos esse tempo todo, essa é outra
característica bem marcante da minha namorada, ela não consegue
passar muito tempo sem fazer algo produtivo.
No máximo são algumas horas vendo filme ou seriado, e
precisa ser algo que realmente prenda sua atenção do começo ao
fim. Fora isso, Marina não é grudenta ou exige muita atenção, eu
sou muito mais carente, até preciso me controlar em alguns
momentos para não a sufocar.
Nós passamos o tempo juntos, porém cada um faz o que
precisa fazer.
Marina lê muito, desde artigos, leis, casos de outros
advogados, até os livros de romance em seu kindle. Ela também
gosta de fazer exercícios. Agora que seu pé já está recuperado,
voltou a correr, com isso vamos juntos até o parque, ela aproveita a
pista de corrida com o Rogers, que está bem apegado à morena, e
eu encontro a galera do skate.
Mesmo quando fazemos coisas separados, eu sinto a sua
presença, às vezes só uma troca de olhares enquanto ela corre já é
o suficiente para me fazer sorrir.
Claro que todo mundo percebeu.
A galera da pista tira uma com a minha cara toda vez que me
encontra, estão me chamando de cachorrinho apaixonado.
Nem consigo contestar, porque sou mesmo, eu amo essa
mulher, é óbvio para qualquer pessoa que olhe para a minha cara.
Arthur diz que quando estou com ela pode ver os corações subindo
na minha cabeça e estourando como pequenos balões cor-de-rosa.
Só que este fato não passou despercebido pela minha mãe
também. Clara Rausing bateu os olhos em mim e já veio com seu
interrogatório, na mesa do almoço de domingo.
Queria tanto contar para ela sobre a Marina! Tenho certeza
que vai amar conhecer a morena, só que não posso, e isso está me
matando.
Odeio manter segredos dos meus pais. Ao oposto do que eles
pensam, não tenho vergonha deles, muito pelo contrário, tenho um
orgulho imenso em ser seu filho, só que até este estágio terminar,
não posso falar nada.
Nem para minha mãe, porque ela não vai manter em segredo,
se tem uma coisa sobre meus pais é que eles não escondem nada
um do outro. E se meu pai descobrir, isso pode acabar com a
carreira da Marina.
Depois que a Gabi fez o seu discurso, pensei mais sobre
relacionamentos no local de trabalho, especialmente entre
funcionários que estão em cargos diferentes, e é um assunto
complicado.
Por mais que eu queira pensar que meu pai não demitiria a
Marina por se envolver comigo, não tenho como ter certeza, e não
posso arriscar, ela jamais me perdoaria por algo assim.
Já está bem difícil me esquivar das suas perguntas sobre
minha família, tenho que desviar do interrogatório dos meus pais
sobre ela, esconder os sentimentos na empresa e não postar nada
sobre nós nas redes sociais.
Tudo isso é uma tortura quando o que mais quero é gritar para
o mundo todo ouvir o quanto amo essa mulher.
Hoje é sábado e passei o dia todo estudando para a prova da
Ordem, estou ficando louco com tanto conteúdo. Mesmo me
preparando há um bom tempo, são quase cinco anos de faculdade
condensado em alguns meses de revisão para uma prova.
Marina sugeriu que eu começasse a fazer as provas antigas e
cronometrasse o tempo, e ela ficou comigo, enquanto estudava para
sua pós. Mesmo fazendo coisas diferentes, é bom ter companhia, e
posso tirar dúvidas com ela sempre que não entendo algo.
— Vamos caminhar um pouco? — sugere e olho para o relógio
do notebook, já são 17h. — Depois eu corrijo sua prova, é bom dar
um descanso, às vezes.
Se ela está sugerindo uma pausa, é porque devo estar
péssimo.
— Tudo bem, vou pôr o Rogers na coleira.
— Só vou trocar de roupa e já volto.
Ela coloca uma calça de academia preta, tênis e o casaco
corta-vento, pego meu moletom e a coleira do Rogers para passear.
O dia está bem frio e o sol já não esquenta muito.
Ao descer as escadas do prédio, Rogers começa me puxar
com força, ele nunca faz isso, então tento segurá-lo, mas o cachorro
não para.
— O que ele tem? — Marina pergunta assustada, vindo atrás
de nós, ela abre a porta do prédio e quase sou arrastado para fora.
— Não sei, ele nunca me puxou assim. — Decido seguir meu
cachorro, Rogers corre na calçada e entra em um beco ao lado da
padaria. — O que tem aí, garoto?
— Cuidado, Léo, vai que tem outro cachorro?
Mas ele nunca brigou com outros animais, por isso sigo o
caminho que indica, passamos por umas latas de lixo e ele entra no
meio de duas enormes sacolas fedidas.
— Sai daí, garoto, você tem comida em casa. — Tento puxá-lo,
mas quando retorna, Rogers está com uma sacola de lixo preta na
boca e algo se mexe dentro dela. — Larga, Rogers, larga — ordeno
e ele caminha até Marina, que parece assustada e assiste o
cachorro deixar a sacola em sua frente.
— O que tem aí dentro? — ela pergunta e dou de ombros.
— Não sei, pode ser um bicho meio morto, cuidado.
Neste momento escutamos um som agudo e bem baixo vindo
do embrulho, Rogers late para nós, então outro som sai e reconheço
algo como um miado.
— Será que é um gato? — teorizo ao me abaixar. Se for, é
muito pequeno. Entrego a coleira para Marina segurar e abro a
sacola, de dentro sai um filhote de gato amarelo, ele deve ser muito
novinho, mas já está com os olhos abertos e caminha.
— Quem tem coragem de fazer algo assim? — Ela se abaixa
em minha frente, Rogers ao seu lado chega mais próximo do
gatinho e o cheira. — Vem cá, pequeno, pronto. — Marina pega o
peludo no colo, o filhote grita desesperado, mas ela não se importa.
— Cuidado para ele não te arranhar.
— Tudo bem, pronto, pronto, peguei você. — Ela aninha o
gatinho nos braços e, assim que está mais confortável, ele para de
gritar. — Ele só está assustado, e sujo, provavelmente com frio,
acho melhor levá-lo ao veterinário.
— Hoje as clínicas normais estão fechadas, mas eu tenho o
número da veterinária do Rogers, vou ligar e perguntar se ela pode
nos atender.
Marina volta rápido para a sua casa e pega a chave do carro,
nesse meio tempo consigo falar com a Joana, ela disse que está na
clínica atendendo um paciente e pode nos receber em quinze
minutos.
Levo Rogers junto, seguimos até o local, não é longe, mas a
essa hora o trânsito não colabora.
Ao chegarmos Joana nos recebe na mesma hora.
— O que aconteceu com nosso Capitão dessa vez? —
pergunta quando Rogers desce do carro e corre até ela, exigindo
carinho.
Joana já nos atendeu várias vezes, ela é amiga da minha mãe,
por isso cuida do Rogers desde que o adotamos.
— Dessa vez não é com ele — explico e ela me olha, confusa.
— Encontramos esse filhote dentro de uma sacola de lixo, na
verdade Rogers encontrou.
Marina entrega o gatinho, que agora está enrolado em uma
mantinha, para a veterinária e parece apreensiva.
— Ele está bem gelado — a morena comenta e a doutora
entra rápido no consultório.
— Venham, vou avaliar nosso paciente.
Ela faz os primeiros exames, diz que o filhote deve ter quase
dois meses, mas está abaixo do peso e com a temperatura corporal
muito baixa, também está com pulga, então ela passa um remédio
nele e no Rogers. Meu cachorro sempre tem o controle preventivo,
mas como está nos dias de renovar, Joana indica passar nele
também.
A veterinária coloca uma bolsa de água quente embaixo da
coberta e logo o gatinho parece se acalmar, ela oferece um sachê,
que ele se lambuza todo comendo.
— Ele parece bem, deve ter sido abandonado ainda hoje, vou
coletar sangue para os exames e podemos combinar as primeiras
doses de vacina para segunda-feira, acho melhor esperar seu
organismo se recuperar um pouco — Joana indica e entrega a
carteirinha para Marina. — Vocês precisam de alguma coisa do pet
shop?
— Eu não tenho nada de gato em casa — Marina comenta e
trocamos um olhar.
— Ele pode ficar comigo, mas também só tenho coisas de
cachorro.
— Não, ele vai ficar comigo — ela decide e sorri. — O que vou
precisar para ele? — questiona à veterinária, que encara nossa
interação com o olhar curioso.
— Vamos lá que eu te mostro — Joana responde.
— Eu fico aqui com ele, pega um osso para o Rogers e alguns
petiscos — peço e ela acena um positivo antes de sair para comprar
o que o gatinho vai precisar, me abaixo e acaricio meu cachorro. —
Você foi um super-herói hoje, amigão, salvou esse carinha aqui.
Rogers parece entender o que falo e aceita o carinho,
orgulhoso. Quando Marina retorna com a veterinária, tenho certeza
que ela se empolgou nas compras, mas quem sou eu para falar
alguma coisa? Meu cachorro tem um guarda roupa só para ele no
quarto da Gabi.
— Está pronta? — questiono e pego o gatinho no colo.
— Sim, se precisar de mais alguma coisa pego segunda,
quando vier fazer as vacinas — Marina responde, mais calma. —
Obrigada, doutora, você nos salvou.
— Imagina. Qualquer coisa o Leonardo tem meu número, a
clínica tem plantão 24 horas, se eu não atender, meus funcionários
o farão. — Joana nos acompanha até a saída.
No caminho para o apartamento de Marina, com o gatinho no
meu colo e Rogers no banco de trás, preso no cinto de segurança,
olho para minha namorada e a vejo feliz enquanto dirige.
— Você tem certeza que quer um gato?
— Sim, te falei que estava pensando em adotar um cachorro,
mas um gatinho será perfeito, eles são mais independentes.
— Você sabe que esse aqui vai aprontar muito, né? — brinco e
ela sorri em resposta.
— Eu já tive gatos, Léo, só não eram criados dentro de casa,
mas esse menino vai ser diferente. Vou mandar pôr proteção nas
janelas do apartamento essa semana, a veterinária também passou
algumas informações e pretendo pesquisar mais.
— Como vamos chamá-lo?
— Não sei ainda, Rogers é por causa do Capitão América,
certo?
— Sim, foi a primeira roupinha que a Gabi comprou quando
estávamos pensando em adotar um cachorro.
— A gente pode chamar esse de Tony Stark, tenho certeza
que consigo uma roupinha do Homem de Ferro para ele — sugere
animada.
— Será que não corremos o risco de ter Guerra Civil no seu
apartamento? — Faço referência ao filme em que o Capitão
América e o Homem de Ferro estão em lados opostos e se
enfrentam.
— Acho que Rogers não pretende brigar com o Tony, afinal foi
ele que o salvou. E não pode pensar assim, afinal o Capitão
América e o Homem de Ferro foram aliados nos outros filmes, só
nesse que estavam em conflito — debate, fazendo meu coração
aquecer ainda mais, essa mulher não deixa de me surpreender.
— Você assistiu todos? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Claro que sim, e pensando agora, Tony é perfeito para o
nosso gatinho. É meu personagem favorito.
Ela falou nosso gatinho!
Meu e dela!
Nosso...
— Então, carinha, seu nome será Tony — declaro para o
gatinho e acaricio seus pelos. Ele ronrona alto no meu colo e eu
gosto, nunca tive gatos, mas sempre amei animais.
É até difícil de acreditar que, ao salvar esse filhote, tenhamos
assinado o ponto em que as coisas começarão a dar errado.

CAPÍTULO 37
Marina
Dói sem tanto te lembrar
Dando voltas e fazendo
Meu mundo bambo girar
Mal tu sabe que meu peito
Tem só falta do teu fogo
Nosso jeito torto de seguir
Dói sem Tanto — Anavitória

Esta semana os estagiários foram liberados para estudar para


a prova da OAB, Léo está uma pilha de nervos, é até fofo. Ele e
seus amigos estão reunidos no apartamento dele para aproveitar as
últimas horas de estudo.
Lembro bem quando foi a minha vez, mas eu tinha me
programado e estudado tudo antes, com isso, quando chegou a
data da prova, estava tranquila e descansada.
Tentei falar para o Léo se acalmar, mas cada um lida com o
stress de uma forma. Ele é mais dramático e seus amigos também,
talvez essa seja a diferença, já que eu estudei sozinha o tempo
todo.
Combinamos de nos encontrar somente depois da prova, que
será hoje à tarde.
Pelo menos tenho uma companhia. Tony ganhou meu coração
logo de cara, depois do resgate e das vacinas, o gatinho ganhou
peso e começou a mostrar suas garras.
Literalmente.
Meu sofá já está todo esfolado, até coloquei aqueles
arranhadores especiais de corda, mas não adianta, ele gosta
mesmo do tecido. O peludo tem uma energia que é difícil
acompanhar, essa semana que o Léo não veio aqui com o Rogers,
precisei brincar muito com ele para que me deixasse dormir em paz.
Já estou com meu café pronto no copo térmico com a tampa
fechada, que comprei depois do incidente com a xícara, quando
reparo que o Tony está calmo demais. Geralmente de manhã é uma
luta para sair sem que ele esteja agarrado nas minhas pernas,
tentando me escalar.
Procuro pela sala e não o vejo, olho nas duas caminhas que
comprei, mas que ele pouco usa, e também não está dormindo. Vou
até o quarto e nada. Começo a ficar preocupada.
Largo minha pasta e o copo e chamo por ele, mas o pequeno
não responde.
Olho por todo o lugar, até encontrá-lo embaixo da cama, mas
tem alguma coisa errada.
— Tony, vem aqui com a mamãe, vem — chamo e ele não se
move. — Vem amor, o que você tem?
Consigo colocar a mão com muita dificuldade embaixo da
cama, não tem muito espaço. Por sorte alcanço o gatinho e o tiro de
lá, porém percebo que tem algo de errado, ele está com os olhos
caídos e abatido.
Tento animá-lo, levo até o pote de ração e coloco sachê, mas
ele não quer comer, se aninha na caminha mais próxima e mia
baixinho.
Tem alguma coisa de errada com ele. Pego o celular e mando
mensagem para a veterinária.
Marina: Bom dia Joana, desculpa a hora, mas o Tony não
parece bem, ele está abatido, não quer comer e acho que está com
febre.
Faço um pequeno vídeo e envio para ela, antes das primeiras
doses da vacina a veterinária fez vários exames de sangue e
constatamos que o Tony é portador de FELV, que é a leucemia
felina.
A doença causa enfraquecimento do sistema imunológico dos
felinos que, por não terem proteção, acabam por estar em grande
risco de serem infectados por outros problemas de saúde, podendo
levá-los à morte.
Os sintomas da leucemia variam muito, conforme a imunidade
dos animais infectados. Alguns deles podem ficar assintomáticos
por anos, visto a boa resposta de seu sistema imune, mas alguns
têm perda de apetite, dificuldade em respirar, gengivite, apatia,
febre, estomatite, assim como outros sinais clínicos.
Ela me pediu para ficar de olho caso percebesse algum destes
sintomas.
Veterinária Joana: Bom dia, Marina, ele está assim há muito
tempo?
Marina: Percebi agora de manhã, mas ontem ele não quis
brincar muito, achei que estivesse cansado, só.
Veterinária Joana: Certo, você pode levá-lo até a clínica?
Estarei lá em trinta minutos.
Marina: Claro, nos vemos lá.
Preparo a caixinha de transporte dele com um paninho
quentinho, pego a carteira de vacinas, os sachês que ele mais
gosta, e corro até o carro.
Por sorte acordo bem cedo, são 6h30 da manhã quando chego
na clínica e a doutora já está na porta. Ela é uma mulher linda,
preta, alta, cabelos cacheados maravilhosos e muito simpática.
Joana nos atende rapidamente e constata que realmente está
com a temperatura alta, então faz os exames de sangue. Os
resultados não são bons, mas ela diz que temos esperança, ainda
que talvez precise de uma transfusão de sangue.
— Você conhece alguém que tenha um gato saudável, com
mais de 5 kg que possa doar sangue? — Joana pergunta.
— Não, ninguém que conheço tem gatos.
— Tudo bem, neste caso, se você aceitar, um dos meus gatos
se encaixa neste perfil e posso trazê-lo ainda hoje para os exames e
fazer o transplante o quanto antes.
— Claro, por favor, doutora, faça o que for possível — imploro
já sentindo o desespero no meu peito. Tony é tão pequeno, sofreu
muito já e agora mais isso.
Olho a hora, são 7h45, vejo que o Léo mandou mensagem de
bom dia há pouco tempo, então meu celular toca com a chamada e
seu nome está na tela. Aproveito que Joana saiu da sala para
atender.
“Bom dia, amor, dormiu bem?” A voz sonolenta dele me
acalma um pouco.
— Não tanto quanto gostaria — respondo e escuto seu sorriso
do outro lado.
“Já está no escritório?”
— Ainda não, estou a caminho. — Respiro fundo.
“Aconteceu alguma coisa? Você nunca chega tarde assim.”
Se contar sobre o Tony ele ficará preocupado, e não é um bom
dia para isso. Também não tem nada que possa fazer, só irá distraí-
lo da prova e pode afetar seu desempenho.
— Não, tudo bem, só resolvi chegar no horário, já que não vou
te ver lá mesmo — respondo e meu coração aperta no peito. — Está
pronto para a prova?
“Sim, um pouco ansioso, não dormi bem, mas como você
mesma falou, estudei o que tinha para estudar, agora é saber se foi
o suficiente.”
— Você vai tirar de letra, tenho certeza, me liga quanto
terminar — peço e escuto sons de passos no corredor. — Preciso ir
agora, mas fica calmo, vai dar tudo certo.
“Tenha um bom dia, amor, nos vemos à noite.”
— Boa prova, Léo — respondo e desligo assim que Joana
entra na sala.
— Marina, o Tony vai ficar internado, preciso da sua assinatura
nos termos para os procedimentos. — A veterinária me entrega os
papéis e assino todos. — Farei tudo ao meu alcance para esse
pequeno ficar bem, a doença não tem cura, mas podemos controlar
os sintomas e rezar para que seu organismo se fortaleça.
— Obrigada mesmo — agradeço e sinto meus olhos arderem.
Não sou alguém que chora facilmente, mas estou com muito medo
por ele. — Desculpa, nunca imaginei que em tão pouco tempo me
apegaria assim.
— É normal, querida, eles têm este efeito na gente. — Joana
me entrega uma caixa com lenços, mas recuso, contenho as
lágrimas e respiro fundo. — Hoje é a prova da OAB, não é?
Congelo com seu comentário, será que ela ouviu minha
conversa com o Léo?
— Almocei ontem com a Clara, ela comentou que o Leonardo
faria a primeira parte do exame hoje, aquele menino deve estar uma
pilha de ansiedade.
— Você conhece o Léo há muito tempo? — a forma com que
fala dele e dessa tal de Clara me pega de surpresa.
— Sim, desde que ele nasceu. Sua mãe e eu somos amigas
de infância — responde com tranquilidade. — Fui madrinha de
casamento da Clara e meu marido já precisou dos serviços do
escritório do marido dela algumas vezes.
— Escritório? — questiono confusa.
— Henry Rausing é dono de um dos maiores escritórios de
advocacia da cidade, você deve conhecer, R&W Advocacia.
— Henry Rausing é o pai do Léo? — não acredito no que ela
falou.
— Sim, você disse que é advogada, deve conhecer a R&W, é
uma empresa grande e bem conceituada na cidade — comenta
tranquilamente.
— Sim, eu conheço — confirmo, mas já estou no automático,
não consigo pensar no que isso significa.
— Quando disse que ele veio com você aqui, Clara ficou
surpresa, não quis especular nem nada, mas vocês estão
envolvidos de alguma forma?
“Sim, ele é meu namorado.”
É a primeira coisa que vem na minha mente, mas não consigo
formar a frase, nem poderia falar isso para ela.
— Somos só conhecidos — respondo com o coração a mil. —
Joana, preciso ir ou chegarei atrasada para o trabalho, você tem
meu número, pode me mandar notícias do Tony durante o dia?
— Claro, querida, te mantenho atualizada em cada
procedimento.
— Obrigada, faça o que for necessário, você precisa de algum
valor antecipado?
— Não, deixarei a conta em aberto, pode acertar no final, ele
provavelmente ficará alguns dias aqui.
— Tudo bem — respondo querendo correr, mas vou até o meu
gatinho e dou em beijo na sua cabeça. — Fica bem, amor, mamãe
te ama.
Consigo caminhar até meu carro, mas bem na hora que abro a
porta, como se os céus entendessem o que estou sentindo, uma
chuva começa a cair, para formar o cenário perfeito com as lágrimas
que já não consigo mais controlar.
Ele mentiu para mim, me fez cair como uma idiota em seus
braços, sem que eu soubesse onde realmente estava me metendo.
Porque já é ruim me envolver com meu estagiário, minha
carreira já estava em risco só com isso, mas saber que ele é filho de
um dos proprietários, e mais, não me falou nada, torna tudo muito
pior.
Chego ao trabalho consternada, preciso de um café e colocar
minha cabeça no lugar. Não posso ligar para ele e discutir isso
agora, jamais faria algo assim sabendo que posso prejudicá-lo.
— Marina, você está sendo chamada para uma reunião com o
chefe — Regina entra na minha sala e dá o recado, sem olhar
diretamente para mim, mas meu peito se aperta ainda mais.
— Obrigada.
— Doutor Henry está aguardando, é melhor subir logo — avisa
antes de sair.
Vou até o banheiro e dou um jeito no meu cabelo, que acabou
desmanchado devido à correria. Prendo em um coque mais firme,
retoco a maquiagem que escorreu dos meus olhos e troco a camisa
amassada, por sorte tenho uma de reserva.
Respiro fundo uma, duas, três, dez vezes, mas nada consegue
me fazer ficar calma, então engulo o que estou sentindo e vou até o
último andar. Melinda não está na recepção, por isso caminho
diretamente até a sala do doutor Henry.
A porta está aberta, e assim que entro sei que tudo vai dar
errado, ainda mais ao ver uma mulher, loira, baixinha, com um
vestido social rosa pink e salto alto, lembro de ter visto seu rosto
antes.
A foto que estava em cima da mesa do meu chefe! Ela é a
mulher com a criança no colo, é a mãe do Leonardo.
Henry está de pé atrás da sua mesa, o terno preto
perfeitamente alinhado combina com o semblante sério em seu
rosto. Avalio melhor meu chefe, o cabelo loiro, os olhos azuis, até a
barba emoldurando o rosto quadrado, agora que sei a verdade, vejo
cada traço do Léo em seu pai.
Não tem como não ver a semelhança.
Eu sou realmente muito burra.
— Marina, feche a porta, por favor — Henry pede e faço isso
antes de entrar. — Deixe-me apresentá-la à minha esposa: Clara
Rausing, esta é Marina Lucca.
Será que ela vai me estapear na cara? Ou começar a me
xingar? Não sei se estou preparada para isso.
Olho para a mulher que agora está bem na minha frente, mas
ao contrário de raiva ou desgosto, encontro-a com um sorriso no
rosto.
— É um prazer conhecê-la, Marina — Clara estende a mão e
me cumprimenta com um aperto quente e delicado.
Não tenho palavras para responder, nem sei ao certo o que
está acontecendo, então me mantenho calada e forço um sorriso
educado.
— Sente-se, por favor — Henry indica a cadeira e faço o que
pediu, Clara se senta ao meu lado, mas vira-se em minha direção.
Sinto-me uma garotinha que fez coisa errada na escola e foi
chamada pelo diretor. — Acredito que saiba o motivo de tê-la
chamado aqui hoje.
Confirmo com a cabeça, já sentindo todo o meu rosto corar,
mas que droga, decido não me abaixar e assumir minha culpa de
cabeça erguida.
— Meu relacionamento com o Leonardo — digo com
confiança.
— Vocês estão namorando? — Clara pergunta animada, mas
Henry não me deixa responder.
— Desde quando isso vem acontecendo?
— Nós nos conhecemos no final de semana anterior ao início
do estágio dele. Quando soube que seria sua mentora, cortei
qualquer envolvimento não profissional.
— E quando isso mudou? — Henry questiona de forma dura.
— Nas semanas de férias.
— Desde quando você sabe que ele é nosso filho? — Sua
pergunta vem cheia de acusações, só então entendo o que
realmente está acontecendo.
— O que quer dizer com isso? — Encaro o homem. — Sei que
por ele ser seu filho essa é mais que uma questão pessoal para
vocês, mas não vou ficar aqui sentada ouvindo acusações.
— Essa não é uma questão somente pessoal, ele é seu
estagiário, qualquer relacionamento entre funcionários deve ser
avisado ao setor de Recursos Humanos exatamente para que
situações como esta não aconteçam. — Henry me entrega uma
pasta fechada, ao abrir encontro diversas fotos em que eu e o Léo
estamos juntos, a maioria do casamento da minha prima. —
Recebemos esta pasta de forma anônima com um bilhete sobre o
relacionamento entre dois funcionários.
— Uma denúncia? — questiono abismada. — A empresa não
tem nada a ver com o que acontece fora do expediente de trabalho,
e antes que interfira, eu sei sobre a política de relacionamento entre
funcionários, mas também sei que no momento em que abrisse meu
envolvimento com ele para o RH, acabaria com qualquer chance de
crescimento aqui. E não que eu precise me justificar, porém só
tomei conhecimento do fato dele ser seu filho hoje pela manhã,
quando minha veterinária comentou. Até agora eu o conhecia como
Leonardo Franco.
Mantenho o tom da minha voz calmo e controlado. Mesmo que
por dentro esteja quebrada, não darei este gostinho para ninguém.
— Ele não te contou? — Henry questiona, surpreso.
— Não.
— É claro que não, você mesmo o proibiu, praticamente
obrigou nosso menino a ficar anônimo na empresa do próprio pai —
Clara defende o filho e olha acusadora para o marido, mas muda
seu tom de voz quando pega minha mãe e fala comigo — Desculpa
por isso, Marina, Henry só está preocupado com o nosso filho,
releve o que falou.
— Claro que estou preocupado, ela pode estar usando nosso
filho para subir na empresa — Henry dispara e nesse momento me
levanto e sou seguida pela sua mulher.
— Retire agora o que disse — Clara enfrenta o marido e
coloca a mão no meu ombro. — Henry Rausing, retire neste
momento o que acabou de falar e peça desculpas a Marina, você
está ofendendo esta mulher e não deixarei que faça isso em minha
frente.
— Amor, eu não...
— Henry, agora. — Clara parece ainda mais séria e vejo o
advogado levantar, de ombros caídos e olhar baixo.
— Peço que me perdoe, ainda não sei o que pensar sobre
tudo isso.
— Obrigada — respondo secamente —, mas não tem o que
pensar. O fato é que eu sabia que era errado me envolver com meu
estagiário e estou pronta para assumir a responsabilidade por esse
erro, mas fora isso, vocês podem ficar tranquilos, esse
relacionamento acabou de terminar.
Recolho o que sobrou do meu orgulho e me viro para sair, mas
Clara segura minha mão.
— Você não fez nada errado, querida, e tenho certeza que o
Léo deve estar morrendo por não ter te contado antes. Já tem um
tempo que percebi que ele estava diferente, mais calmo e focado
nos estudos, até perguntei se tinha alguém e ele desconversou,
agora entendo o porquê — a mulher suspira. — Mas se posso te dar
um concelho, conversa com ele antes de decidir alguma coisa.
— Não tem o que conversar, ele mentiu, mesmo sabendo o
quanto minha carreira é importante para mim — respondo sentindo
a dor em cada palavra. — Irei conversar com o RH e aceitarei as
consequências por não ter declarado nosso relacionamento, foi
errado da minha parte. Também não falarei com ele até o final da
prova, podem fiar tranquilos, só peço que, se possível, este assunto
não saia daqui.
— Infelizmente as fotos foram vistas por mais pessoas,
acredito que não vai demorar para esta informação se espalhar —
Henry conta com tristeza. — Nosso gerente do RH sugeriu que você
tire férias, pelo menos um mês, até que essa situação esfrie e
possamos contornar da melhor forma possível.
— Eu não posso simplesmente sair assim, tenho clientes
contando comigo, casos em aberto.
— Todos serão repassados para seus colegas, pode ficar
tranquila.
E então me dou conta de uma coisa.
— Realmente não faz diferença, não é mesmo? — questiono
ao perceber minha insignificância.
— O que?
— Todo o trabalho que faço, não faz diferença, qualquer
pessoa pode fazer a mesma coisa, simples assim. — Uma
sensação de calma se apossa da minha mente. — Saber disso me
deixa ainda mais certa do que farei a seguir.
— Querida, não tome decisões precipitadas, sei que está
magoada. — A senhora Rausing tenta me acalmar, mas já não
preciso disso.
— Considere este meu aviso prévio.
— Marina, não precisa disso, iremos controlar essa situação e
em alguns dias ninguém mais lembrará...
— Não me importo com minha imagem, senhora Rausing, mas
saber que meu trabalho tem tão pouco valor assim, que qualquer
pessoa pode fazer, confirmou uma decisão que deveria ter tomado
há muito tempo. — Viro-me para meu ex-chefe e encaro seus olhos
azuis, ele é realmente muito parecido com o Léo.
E a lembrança me quebra por dentro.
CAPÍTULO 38
Leonardo
Amor, lembra como a gente se entendia?
Eu e você era a mais pura sintonia
Sempre me atendia, ah
Eu amava tua energia
Vai e vem — Giana

A prova estava bem difícil, mas acredito que fui bem, depois de
tanto estudar e fazer os simulados consegui terminar às 17h.
Confiro o gabarito mais uma vez, mas após marcado não tem volta,
estou até tonto de tão concentrado que fiquei, nem vi o tempo
passar.
Entrego para o avaliador e saio sem nem olhar quantas
pessoas ainda estão na sala. Está chovendo bastante, por isso só
ligo meu celular ao chegar no carro e finalmente respirar tranquilo,
espero muito ter ido bem.
Assim que a tela do aparelho liga, percebo que tem alguma
coisa errada. As notificações começam a chegar aos montes, mas o
pior são as incontáveis chamadas perdidas da minha mãe.
Meu coração dispara no peito ao imaginar o pior, ela
geralmente só me liga uma ou duas vezes, e sabia que eu estava
em prova, então é estranho receber essa quantidade de
notificações.
Ignoro o restante das mensagens e ligo para ela, que atende já
no segundo toque.
— Oi, mãe, está tudo bem? Terminei a prova agora e liguei o
celular, aconteceu alguma coisa? O pai está bem? — falo em uma
enxurrada de palavras nervosas, pego a chave do carro, mas
percebo que estou tremendo demais.
“Oi, meu amor, está tudo bem, pode ficar tranquilo, você está
em casa, já?”
— Não, estou no estacionamento do local da prova —
respondo um pouco mais calmo.
“Então venha direto para a nossa casa, seu pai e eu estaremos
te aguardando.”
Droga, será que ela planejou alguma festa? É bem a cara da
minha mãe fazer isso.
— Só tenho que passar em um lugar antes, mãe, pode ser
mais à noite?
“Não, filho, venha direto, é urgente.” O tom de voz sério
novamente me deixa preocupado, mas se ela planejou alguma
comemoração e quer fazer surpresa, pode estar fingindo para me
fazer ir o mais rápido possível. “Dirige com cuidado, meu bem.”
Ela não deixa que eu conteste e encerra a chamada na minha
cara. Droga, eu queria passar no escritório antes e ver a Marina,
pelo menos para receber um abraço.
Vejo que ela não me mandou mensagens durante o dia, eu
prometi que iria me concentrar na prova e nos falaríamos à noite,
então envio mensagem para ela avisando que posso demorar um
pouco.
Léo: Amor, acabei a prova agora, acho que fui bem. Sei que
tínhamos planos, mas acho que vou chegar um pouco tarde, preciso
passar na casa dos meus pais. Assim que souber a hora que sairei
de lá eu te aviso. Beijos, te amo muito, morena, já estou com
saudades.
Coloco uma figurinha fofinha que a Gabi fez do Rogers: com
as orelhas meio erguidas e a língua de fora, olhando diretamente
para a câmera com a cabeça pendida para o lado e um coração em
cima da cabeça.
Ela recebe a mensagem, mas não lê, deve estar ocupada.
Decido ignorar o restante das notificações, caso contrário ficarei
aqui por muito tempo até ver tudo, deve ter rolado algum babado na
internet.
Levo quase uma hora para chegar ao condomínio em que
meus pais moram, o porteiro libera minha entrada e logo estaciono
em frente à casa onde cresci. Não vejo nenhum carro diferente na
rua nem nada e a chuva deu uma acalmada.
Assim que abro a porta de casa, sei que não será uma festa,
meu pai está sentado no sofá, ainda com seu terno de trabalho e
minha mãe me abraça apertado.
— O que está acontecendo? Alguém morreu?
— Não, mas precisamos conversar com você. — Henry indica
o outro sofá, de frente para ele, minha mãe senta ao seu lado. —
Acredito que ainda não tenha visto seu celular depois da prova?
— Não, o trânsito estava um caos, quase bateram em mim
várias vezes, sempre fica assim quando chove.
— Melhor assim, meu filho — minha mãe diz, nervosa. —
Precisamos falar sobre a Marina.
Meu coração parou de bater?
— Como… o quê… — eu me enrolo com as palavras.
— Calma, filho, nós sabemos sobre vocês. — Meu pai tenta
me tranquilizar, mas não consigo computar suas palavras. —
Recebemos uma denúncia anônima no escritório e infelizmente a
informação não ficou em segredo.
— Por que não nos contou, Léo? — minha mãe pergunta. —
Ela é uma linda mulher.
— Você falou com a Marina? — Levanto-me ao entender a
situação. — O que você fez, pai? Não me diz que mandou ela
embora — acuso e ele faz o mesmo, me enfrentando.
— Claro que não, agora se acalma e vamos conversar.
Mesmo querendo sair correndo daqui, preciso saber o que
realmente aconteceu, depois posso ir atrás da minha morena.
— Nós conversamos com ela, sem acusações, só
precisávamos entender como isso aconteceu — meu pai explica
com calma. — Pode nos contar como se envolveu com ela?
Gostaria de saber a sua versão.
— Por quê? — Enfrento, ainda desconfiado, mas só recebo um
olhar preocupado deles. — Ela me atropelou de skate, ou eu
atropelei o carro dela, no sábado que fui falar contigo sobre o
estágio. Lembra que estava com o joelho ralado? — Meu pai
confirma com a cabeça. — Depois nos encontramos na balada à
noite e, bem, isso vocês não precisam saber.
— Mas isso foi logo antes de você entrar na empresa, o que
indica que vocês tiveram algo lá dentro.
— Não, você não conhece a Marina. Ela deixou bem claro,
assim que viu que eu seria seu estagiário, de que não aceitaria
minhas investidas e provocações.
— Suas provocações? — eu pai questiona desconfiado.
— Claro, eu já estava aos pés daquela mulher desde o
momento em que coloquei os olhos nela, quanto mais tempo
passava ao seu lado, mais passei a admirá-la e, bem, me apaixonei.
— Dou de ombros, foi inevitável. — Só que Marina tem sua carreira
como prioridade. Depois do incêndio, fiquei com ela, porque ela não
tem ninguém na cidade e sua melhor amiga estava viajando.
— Quando te perguntei se tinha algo a mais acontecendo na
festa de aniversário da sua mãe, porque não me contou?
— Acorda, pai, você me proibiu de falar que sou seu filho, e eu
não sou burro. Sei que iria prejudicar a carreira dela caso alguém
soubesse que estávamos envolvidos — explico e ele parece
culpado, mas acena concordando. — Eu ia esperar o estágio
terminar, então poderíamos abrir nosso relacionamento sem sermos
julgados.
— Como seu pai, jamais julgaria você, meu filho.
— Nós só não gostamos que você tenha escondido algo assim
da gente. — Minha mãe parece magoada.
— Desculpa, mãe, quis tanto apresentá-la a vocês, não sabe o
quanto isso tem me atormentado, mas não podia. — Ela parece
entender, então volto a meu pai. — O que aconteceu no escritório?
— O RH sugeriu que ela tirasse um mês de férias, para abafar
o caso e as fofocas, assim também teríamos mais tempo para lidar
com o fato de que agora todos sabem que você é meu filho.
— Quem vazou essa informação?
— Não sabemos ainda, o RH recebeu uma pasta com fotos de
vocês em um casamento, e depois alguns funcionários receberam
fotos destas fotos, sabe como a fofoca se espalha rápido, alguém
falou que você é meu filho e agora todo mundo sabe.
— Marina deve estar pirando, preciso ir até ela. — Levanto-
me, mas sou parado pela mão do meu pai. — Me larga, pai, eu
preciso ir até lá.
— Tem mais uma coisa que precisa saber.
— O quê?
— Ela pediu demissão.

***
Não consigo encontrar um lugar para estacionar próximo do
prédio dela, então paro a duas quadras e corro na chuva, meu
coração está quase saindo do peito. Marina deve estar surtando,
não quero nem pensar que ela passou o dia todo assim.
O elevador parece demorar uma eternidade para chegar até o
10º andar.
— Vamos, vamos, vamos. — Tento apressar a caixa de metal,
inutilmente.
Estou todo molhado, mas não me importo, corro pelo corredor
até a porta do seu apartamento, tenho certeza que deixo o piso
ensopado no caminho, mas foda-se.
Não espero que ela abra a porta, simplesmente entro com
minha chave e encontro a morena, sentada no sofá. O pijama rosa
de unicórnios e as pantufas do frajola quase me fazem sorrir, mas
seu semblante triste e os olhos vermelhos me contêm.
— Amor — digo ao encontrar minha voz.
— Nós precisamos conversar — Marina responde, me olhando
no olho.
Aproximo-me calmamente, mas ela se encolhe no sofá, os
braços em frente ao peito demonstram proteção, ela está se
esquivando de mim.
— Preciso explicar.
— Você está ensopado — fala assim que chego mais próximo.
— Vai tomar um banho, deve ter uma muda de roupa sua no meu
roupeiro, vou fazer um café e a gente conversa.
— Não me importo com isso, preciso que me escute, amor.
— Não vou correr, só não quero que pegue um resfriado. —
Marina levanta e vai até a cozinha.
— Tudo bem — respondo e vou até seu quarto.
Assim que entro na água quente do chuveiro, percebo que
estou tremendo de frio, mas não demoro. Pego a roupa que tinha
aqui e encontro ela sentada à mesa, o café pronto, sua xícara do
escritório com a estampa do Darth Vader em mãos e outra xícara,
preta, em frente à cadeira vazia.
Olho em volta e sinto falta do gatinho amarelo.
— Cadê o Tony? — questiono ao sentar.
— Está internado, passou mal de manhã e o levei para a
veterinária. Ele ficará lá até receber a transfusão e melhorar a
imunidade.
— Ele está bem?
— Estável, Joana disse que é complicado, mas faremos o que
for possível — explica e concordo com a cabeça. — Foi ela quem
me contou sobre você.
— Joana é amiga da minha mãe — digo mais para mim do que
para ela. — Me desculpa, amor.
— Conheci sua mãe hoje, ela é linda — fala com carinho e dor
na voz. — Doutor Henry... seu pai, me disse que te proibiu de falar
que é filho dele.
Então ela já sabe de tudo.
— Eu não queria usar o sobrenome dele para ser reconhecido.
— Entendo. Na verdade, pensei muito sobre isso durante o
dia, sei porque não me contou no começo, mas depois que nos
envolvemos, você tinha que ter me falado, Léo. Todas as conversas
que tivemos sobre sua família, você disse tudo menos quem eles
realmente eram.
— Fiquei com medo que fosse mais um motivo para você fugir
de nós — confesso olhando fundo em seus olhos, consigo sentir a
mágoa ali, sua dor. — Deveria ter falado, só que... não sei, fui
deixando para depois.
— O depois chegou. — Marina leva a caneca aos lábios e
toma um grande gole de café. — Eu pedi demissão.
— Meu pai me falou, por que fez isso? Se tem alguém que
deve se afastar da empresa sou eu, que ainda sou um simples
estagiário e nem quero estar lá.
— Acha que fiz isso por você? Que larguei minha carreira por
causa de um homem? — responde firme, mas com um tom de
desafio na voz. — Melhor acordar, finalmente percebi que todo o
meu esforço não era recompensado como deveria e aceitei a oferta
do Lázaro.
— Seu antigo mentor? — questiono confuso.
— Sim, ele sempre me ofereceu um lugar em seu escritório, é
pequeno, mas trabalharei com pessoas que gosto, e eles precisam
de alguém para a área de família. — Marina respira fundo e sei que
tem mais. — Já conversei com Lázaro e ele vai me ajudar a
encontrar um lugar lá, assim que o Tony melhorar vamos nos mudar.
— Como assim, mudar? — Não consigo assimilar.
— O escritório é no Rio de Janeiro, e antes que você fale algo,
eu estou tranquila com essa decisão, acredito que será o melhor
para a minha carreira.
Realmente não sei o que falar, ela parece calma, e tenho
certeza que pensou muito sobre isso, mas Marina vai mudar para
outro estado, e não tenho como trocar de faculdade no último ano,
nem largar tudo aqui.
— Sei o que está pensando, Léo, mas não estou incluindo
você nesta nova fase. — Suas palavras são como um tapa. — Acho
que, de alguma forma, sempre soube que não daria certo e tudo o
que descobri hoje veio para confirmar.
— Está terminando comigo? — Meus olhos se enchem de
lágrimas ao perguntar, mas me mantenho firme e encaro seu rosto.
— Nunca deveria ter aceito esse namoro, mesmo que... bem,
não importa, essa situação só confirmou que estamos em fases
diferentes da vida, não é o momento certo. Você precisa terminar os
estudos e decidir o que quer da vida, e eu vou começar um emprego
novo, em uma cidade diferente, não é o momento certo.
— Isso não existe — contesto com a voz baixa. — A única
coisa que importa é o que sentimos, o resto podemos trabalhar. Eu
sei o quanto te amo, mas e você? O que sente por mim?
Marina me olha assustada, sua boca abre e fecha várias
vezes, mas nada.
Nenhum som.
Nada.
— Acho que tenho minha resposta. — Levanto e deixo a xícara
em cima da mesa. — Espero que encontre felicidade nessa nova
fase, de verdade mesmo, você é uma pessoa incrível, Marina.
E assim, com o coração quebrado em uma mão, e o orgulho
ferido na outra, deixo a chave do seu apartamento em cima da mesa
e saio.
Sem coragem de olhar para trás, reúno os pedaços que
sobraram e me afasto dela. Lembro agora o que a Gabi falou, sobre
eu não ter realmente me apaixonado antes.
Ela tinha razão, o fim nunca foi tão doloroso assim, por isso
que sei que a amo, e que esse sentimento tão puro e verdadeiro
jamais será esquecido.

CAPÍTULO 39
Marina
Acordo um pouco tonta, sentindo a liberdade
Faz tempo que eu decidi viver a minha idade
Saio atrasada sentindo um vazio
E a sensação é que eu nem moro mais aqui
Falta de casa, mas medo de ficar
E perder o mundo acontecendo sem parar
Mente cheia de sonhos e o meu corpo a mil
Coração fechado, quem se aproximou sentiu
Música Secreta — Manu Gavassi

2 anos e 7 meses depois

Segunda-feira é meu dia favorito, acordar cedo, correr, tomar


um café, ler as notícias e brincar com o Tony e a sua irmã felina,
Natasha, que adotei para fazer companhia a ele. Essa é minha
rotina matinal.
Consegui vender meu apartamento em São Paulo e dei
entrada em outro, um pouco melhor, aqui no Rio de Janeiro. Não é
tão próximo do trabalho, mas tem dois quartos, um que serve como
escritório e brinquedoteca dos gatos, o outro é a suíte.
Também consegui uma peça com sacada, é tão bom assistir
ao pôr do sol ali no final do dia, a altura garante um pouco de
tranquilidade e o vinho me relaxa.
Me tornei sócia do escritório um ano depois de começar a
trabalhar com o Lázaro. Recebi um bom dinheiro de compensação
no acordo com a R&W, que aceitei por todas as horas exta que fiz
sem receber nada. Investi tudo na empresa e meu amigo aceitou,
com a condição de que fôssemos sócios proprietários.
Aos poucos estamos crescendo e ganhando credibilidade na
cidade, é difícil e uma briga de leões, mas preciso admitir que amo
meu trabalho.
A única parte ruim é que, por ser amiga do meu sócio, ele
toma certas liberdades, uma delas é se envolver na minha vida
pessoal. Lázaro tentou me desencalhar várias vezes, me
apresentou os solteirões mais cobiçados da cidade.
Até fui em encontros, tentei dar uma chance ao destino, mas
no máximo consegui uma foda de uma noite.
Ninguém chegou próximo ao lugar que ele esteve, nenhum
homem sequer despertou 1% dos sentimentos que o Léo tomou
para si. Falando nele, me tornei o que sempre odiei, a ex-namorada
stalker que acompanha a vida do ex nas redes sociais.
Nos primeiros meses ignorei tudo sobre ele, na vã tentativa de
esquecê-lo, mas a Carina vivia me mandando atualizações, maldita
amiga. Depois me rendi e procurei seu nome.
Agora sei que, depois de formado, Léo fez mestrado, está se
especializando na área criminal, como o pai, mas não trabalha na
empresa. Pelo que vi em seu LinkedIn e nas redes, está estudando
para dar aulas na universidade.
Isso me lembra que ontem ele havia postado um story falando
sobre algumas mudanças, então abro seu Instagram para ver se
tem atualizações. Obviamente estou em uma conta falsa, sem foto
nem nada, não que ele fosse reparar, porque sua conta é muito
grande, mas melhor garantir.
Vejo que postou um story à noite, é uma foto dele com seus
pais rodeados de caixas e malas, acima está escrito “Abrace as
mudanças que a vida lhe proporciona”.
Procuro mais informações, mas não encontro nada, então volto
a observar a foto, ele está ainda mais lindo, a camisa polo azul clara
combina bem com seus olhos. A barba loira parece mais preenchida
e marca seu queixo quadrado, os cabelos bem penteados para trás,
ele parece mais forte e vejo uma tatuagem nova no pescoço.
Posso dizer o dia que ele fez, porque o acompanhei nos
stories, sei também o quanto malha todos os dias, que sai para
festas com os amigos, estuda muito e continua andando de skate.
Sim, eu falei que sou uma maldita stalker.
Respiro fundo antes de sair do aplicativo, preciso ir trabalhar
logo ou ficarei presa no trânsito infernal da manhã. Lázaro mandou
mensagem que temos uma reunião, mas não deu mais detalhes.
Hoje decidi usar uma camisa social rosa clara, com a saia
branca e os sapatos prata, o dia está quente, mas levo o blazer
junto, o ar condicionado do escritório é frio.
— Bom dia, Marina — Valéria, minha secretária, é quem me
cumprimenta assim que chego ao escritório. — O senhor Lázaro e o
compromisso da manhã já estão aguardando na sala de reuniões
número 2, aqui está seu café.
— Obrigada, Val. — Entrego minha bolsa e o casaco para ela
e pego o copo térmico. — Sabe me dizer qual é o nome dele? Acho
que o Lázaro esqueceu de comentar.
— Não sei, eu não estava aqui quando chegaram.
— Tudo bem — agradeço e sigo para a sala de reuniões.
Nossas instalações aqui são pequenas: temos 3 salas de
reuniões, 5 escritórios individuais para os sócios, 4 salas
compartilhadas para os associados e a Carla, do RH, tem a sua sala
também, fora isso temos a recepção geral e cada sócio tem a sua
secretária.
Apesar de pequeno, é um lugar aconchegante e bem aberto,
com vista para o mar e janelas infinitas, que deixam o ambiente
claro e arejado. O piso de mármore branco e a decoração em verde
claro também ajudam a dar vida.
Tomo um gole de café enquanto caminho pelo corredor até a
sala de reuniões 2, é a menor e mais fechada, usamos mais para ter
um contato individual com o cliente.
— Bom dia — cumprimento assim que entro e fecho a porta
atrás de mim. — Perdoem a minha demora, o trânsito estava...
E ali está ele, a única pessoa que consegue fazer meu coração
pular uma batida, em um terno cinza completo. O homem loiro de
olhos azuis e sorriso encantador, com as malditas covinhas, se vira
para me olhar.
— Você fica linda de rosa — Leonardo fala com a voz grossa e
um sorriso no rosto, sem desviar os olhos dos meus, ele caminha
calmamente em minha direção. — Olá, Marina.
Perco totalmente a habilidade da fala, ainda mais quando seu
perfume me atinge e com ele, todas as lembranças voltam à minha
mente.
— Leonardo acabou de chegar ao Rio de Janeiro, lembra que
comentei que estaríamos recebendo um candidato para a vaga de
associado na área penal? — Lázaro comenta, mas nada do que diz
entra na minha mente. — Bem, vou deixá-los sozinhos, devem ter
muita coisa para conversar. — Ao passar por mim, meu sócio fala
baixinho: — Fecha a boca mulher e fala alguma coisa.
— Eu...hm.. desculpa. — Saio do estado de torpor e recupero
um pouco da sanidade, então estendo a mão para cumprimentá-lo
— Bom dia, Léo.
No instante em que seus dedos encostam nos meus, sinto
aquela eletricidade que percorre todo o meu corpo, essa coisa que
só acontece com ele, da qual eu tanto senti falta, me faz arrepiar e
suspirar.
— Por que... desculpa, qual é o motivo da reunião? —
questiono sem conseguir desviar do seu olhar.
— Já conversei com seu sócio, é um cara interessante, mas
ele deixou claro que qualquer contratação precisa passar por você
antes, então acho que teremos uma entrevista de emprego.
— Achei que estava seguindo a área acadêmica. — Largo sua
mão e sento na cadeira mais próxima da janela, tentando colocar
espaço entre nós.
— Então tem me acompanhado? — provoca, sentando-se ao
meu lado, e não na frente.
— Só soube de algumas coisas — minto e fico vermelha, ele
percebe.
— Mentira. — Segura minha mão e coloca uma mecha que se
desprendeu do meu cabelo atrás da orelha. — Você não faz ideia do
quanto foi difícil ficar longe, morena. — Assisto o apelido carinhoso
que só ele usa sair dos seus lábios e sinto meu corpo estremecer.
— Mas tinha razão quando disse que estávamos em momentos
diferentes, demorei para perceber e aceitar que precisava crescer e
pôr a minha vida no lugar.
— O que está fazendo aqui, Léo? — pergunto baixinho.
— Tenho três motivos — murmura e se aproxima ainda mais,
leva a mão ao meu rosto e o polegar acaricia delicadamente a linha
da mandíbula. — Quero um emprego de meio período e a sua
empresa foi a mais recomendada no Rio de Janeiro.
— Por que meio período? — Desvio o olhar, tentando focar em
qualquer coisa, menos nele.
— Vou começar o doutorado na PUC aqui do Rio, mas preciso
de mais experiência — responde tranquilamente, respiro fundo e
encaro seus olhos atentos. — O segundo motivo, é você.
Dois anos e sete meses sem ele, sem sentir seu toque, essa
eletricidade que só a sua presença causa em mim, o delicioso
perfume que é tão dele e me faz estremecer.
Com a outra mão ele pega a minha e enlaça nossos dedos,
seu rosto chega ainda mais próximo e sinto a barba arrastar pela
pele sensível do meu pescoço quando ele inspira profundamente,
muito próximo da minha orelha.
— Quero você de volta, amor — pede, confiante, e eu perco
qualquer resquício de sanidade que sobreviveu aos minutos em que
ele retornou.
— Você quer? — sussurro, segurando-me em seus braços,
ainda mais fortes e musculosos.
— Mais do que tudo na vida. — Arrasta os lábios pelo lóbulo
da minha orelha, arrancando-me um gemido baixo e incontrolável.
Inclino a cabeça para dar-lhe mais espaço, mas o loiro recua.
Exalo descontente, sentindo a falta da sua proximidade, ele
encosta a testa na minha e novamente nossos olhares se
encontram.
— Eu te amo tanto, Marina, não teve um dia nestes últimos
dois anos e sete meses que não pensei em você — admite em um
murmúrio. — Tentei te esquecer, fiz de tudo para tirar você da minha
mente, mas foi em vão.
— Léo...
Ele não me deixa falar, tão rapidamente sua boca cobre a
minha, e é como se nunca tivéssemos nos separado. Seus lábios se
moldam aos meus com familiaridade, e no instante em que nossas
línguas se encontram, me perco nas sensações.
Ouço seu gemido de dor quando mordo o lábio inferior, ele
leva a mão ao meu pescoço e sorri assim que passo a língua por
onde mordi. É o meu Léo e eu sei do que ele gosta.
Todo o meu corpo reage a este homem, passo as mãos pelo
seu cabelo, é ainda mais macio do que eu lembrava, ele me puxa
para o seu colo e sento de lado. Sua boca me devora com beijos
desesperados, cheios de saudade.
O mesmo sentimento que martela no meu peito.
— Eu amo o gosto de café na sua boca — provoca contra
meus lábios. — Que saudade, amor.
Suas palavras fazem meu coração bater ainda mais rápido, e é
como se a vida ganhasse cor novamente, uma última peça no
quebra-cabeça e me sinto leve e feliz.
— Me dá uma chance — implora contra meus lábios.
— Todas que quiser — respondo finalmente, dando-me conta
de que não conseguiria me afastar dele uma segunda vez, porque
agora é para sempre. — Eu também te amo, Léo.
—Você… — se afasta rapidamente com o olhar descrente.
— Sim, me perdoa por esperar tanto tempo para admitir, mas
sempre foi você, acompanhei teus passos de longe, comemorei
cada uma das tuas conquistas, mas tudo o que queria era estar ao
seu lado.
— Nós temos todo um futuro pela frente, morena, porque
agora ninguém mais me tira do seu lado — declara beijando minha
boca, um ato carinhoso e que dá veracidade às suas palavras. — Já
vou deixar bem claro: nós vamos morar juntos, casar, adotar
quantos cachorros e gatos você aguentar, e a partir de hoje nada
mais pode nos separar.
— Não espero menos — assinto e me entrego a ele.
O meu Léo, o único homem que conseguiu entrar no meu
coração e tomou conta do lugar, passou por todas as minhas
barreiras naquela época, e agora está aqui, mais maduro, forte e
confiante.
— Você disse que tinha três motivos? — Lembro-me de suas
palavras e vejo o meio sorriso em seus lábios.
— Estou com saudades do Tony e quero conhecer a Natasha
— responde travesso. — Você não é a única stalker, amor, não teve
um dia que deixei de procurar seu perfil, aliás, obrigado por deixar
aberto e postar atualizações.
— Acho que foi tudo para você — confesso envergonhada.
Realmente comecei a interagir mais no meu Instagram depois
que vim para o Rio de Janeiro, um pouco foi por insistência da
Carina, que vivia pedindo para eu postar mais fotos, e outra na
esperança de que ele estivesse vendo.
— Eu sei, morena.
Sorrio, porque finalmente tenho meu novinho de volta.

CAPÍTULO 40
Leonardo
Essa eu fiz pra cada passo nosso
Cada dia lindo da nossa história
É cedo essa sobre o nosso amor
A também de ser do dia em que, 'cê foi embora
Sobre minha blusa do Taz desbotada
Sobre sua mãe tão muda quando eu ligava
Sobre eu bebendo sem você do meu lado
Sobre eu chorando quando toca Exagerado
Essa eu fiz pro nosso amor — Jão

Faz seis meses que reencontrei o amor da minha vida, e não


nos desgrudamos mais. Até tentei dar espaço para que ela se
acostumasse novamente com a minha presença, mas um mês
depois já estávamos morando juntos.
As coisas se inverteram um pouco, já que minha rotina é mais
corrida que a dela agora, mas aproveitamos cada momento que
estamos juntos. Não me canso de matar a saudade da morena,
como ela pode estar ainda mais gostosa? Nunca vou entender.
Hoje é o casamento da Gabi e da Victória, elas resolveram
fazer só uma celebração íntima para os amigos e a família, na casa
de campo dos pais da Vic. Demorou para dona Mara aceitar o
casamento da filha, Gabi até brigou com a mãe por causa disso,
então, acho que para não perder o contato com a filha, Mara
Willians se obrigou a acordar para a vida e pediu desculpas.
Como sou um dos padrinhos, vim antes para trazer o Rogers,
que vai entrar com as alianças, e Marina está chegando com meus
pais. Inclusive, dona Clara e a morena estão se dando muito bem,
minha mãe foi a primeira pessoa a me apoiar quando falei que iria
para o Rio de Janeiro atrás do meu amor.
Meu pai demorou um pouco para aceitar, ele ainda queria que
eu seguisse seu legado com a empresa, mas não pretendo assumir
sua cadeira. Aprendi a amar o magistério, assim que conseguir meu
doutorado quero dar aulas na faculdade.
— Ele está pronto? — Gabriela entra na sala e prendo a
respiração. A visão da minha melhor amiga em um vestido de noiva
traz lágrimas aos meus olhos, ela está linda, o cabelo loiro preso em
um coque e o sorriso no rosto são encantadores. — Não vai chorar,
Léo.
— Você está linda. — Exalo pausadamente e controlo as
lágrimas. — Respondendo sua pergunta, depois de uma hora,
consegui colocar essa roupa nele.
Rogers está deitado do meu lado, a roupinha imitando um
terno ficou um charme, mas ele não pareceu gostar muito.
— Obrigada. — Gabi se abaixa e acaricia a cabeça dele. —
Sabe, eu e a Vic partimos para a Alemanha mês que vem, a viagem
vai ser longa demais para ele e vamos ficar um ano inteiro lá.
Desde que me mudei para o Rio de Janeiro, o Rogers ficou
com elas em São Paulo. Nós dividimos o apartamento depois que
nos formamos na faculdade, a Gabi ficou na empresa dos nossos
pais, a Vic se formou em psicologia e abriu seu consultório e eu
estava fazendo mestrado.
Como ele já estava acostumado com nossa rotina lá, nem
pensei em pedir para levá-lo comigo para o Rio, mesmo querendo
muito e sentindo a falta do peludo, por isso estou tão feliz com essa
notícia.
— Está me pedindo para assumir a guarda do nosso cachorro?
— Agora sim uma lágrima escorre pelo meu rosto.
— Sim, e para de chorar, o que vai ser de você quando o seu
dia chegar?
— A Marina já sabe que eu vou chorar a cerimônia toda —
confesso e ambos sorrimos, então seus pais entram na sala e
avisam que vai começar. — Estou feliz por você. — Dou um último
abraço nela e saio com o Rogers ao meu lado.
Fui o encarregado de entrar com ele, que carrega as alianças
em um bolso da roupinha, então fico mais atrás, assistindo de longe
o começo da celebração.
A Vic entra primeiro com seu pai, logo depois a Gabi caminha
com o tio Richard, que parece ter chorado horrores já. Vejo meus
pais na segunda fileira, e logo ao lado deles, o cabelo escuro da
minha morena.
A cerimônia é linda, todos os presentes estão aqui para
celebrar o amor.
Depois da lua de mel, elas vão passar uma temporada na
Alemanha, fazendo especializações em suas áreas, e o Rogers vem
morar comigo. Ele está realmente velhinho e com alguns problemas
de saúde, seria difícil aguentar a viagem para lá e a mudança
drástica de realidade.
Acompanho a celebração, mas não consigo tirar os olhos da
minha morena. Em um vestido rosa escuro, ela está um arraso.
Não sei como é possível, mas o que sinto por essa mulher fica
cada dia mais intenso, quando penso que não posso amá-la mais,
Marina chega em casa cansada do trabalho e me abraça, e pronto,
o sentimento fica ainda maior.
— Que lugar mais lindo — Marina comenta enquanto
dançamos uma música lenta, seus braços descansam apoiados em
meu pescoço e eu nos conduzo calmamente pela pista. — E a
decoração ficou perfeita.
— Sim, mas nada aqui se compara a você, amor — Beijo seu
rosto com carinho e assisto ela sorrir. — Vem comigo.
Marina pega a minha mão e me deixa guiá-la para longe da
festa, já anoiteceu e chegou o momento.
— Onde você está indo? — questiona enquanto andamos até
um lugar mais afastado e chegamos ao banco de madeira com vista
para as montanhas no horizonte.
Pedi para a Gabi adicionar um local especial na decoração e
minha amiga me ajudou a planejar este momento. O banco está
decorado com rosas brancas e rodeado por luzes que deixam um
clima romântico.
O baldinho com champanhe descansa na pequena mesa e o
chão está coberto com pétalas de rosas brancas.
Deixo que Marina absorva o lugar primeiro, ela olha cada
detalhe, admira o horizonte e só então se vira para mim. Mesmo
tendo ensaiado um discurso lindo para este momento, já não lembro
uma palavra.
— Marina Lucca — começo a falar e minha voz falha, pego
suas mãos e estou tremendo. — Droga, estou nervoso.
Ela sorri e aperta minhas mãos, transmitindo confiança, Marina
sabe o que vai acontecer, e está calma.
— Eu não acredito em amor à primeira vista — digo e respiro
fundo. — Quando você me atropelou, ou eu atropelei seu carro, tive
a visão de uma mulher maravilhosa que desceu preocupada
comigo, só depois avaliou o próprio veículo, e esse fato chamou
minha atenção.
— Quem se importa com um carro ao atropelar alguém?
— Muita gente, mas não você. — Levo sua mão direita aos
lábios e a beijo. — Você se preocupou comigo, claro que na minha
pressa em chegar ao escritório do meu pai, acabei deixando o amor
da minha vida escapar pela primeira vez.
— Não tinha como saber, e eu estava babando no loiro tatuado
que atropelei. Se você tentasse falar comigo àquela hora, seria
constrangedor. — Rimos da lembrança, ainda tão nítida em minha
mente.
— Mas o destino foi ainda mais generoso, e te jogou,
literalmente, em meus braços poucas horas depois.
— Pode culpar a bebida e minha falta de equilíbrio.
— Prefiro pensar como destino, é mais romântico. — Pisco
para ela, que concorda com a cabeça. — Agora me deixa continuar.
— Não vou mais interferir.
— Obviamente que não seria assim tão fácil, e depois do
melhor chá que eu já levei na vida, você saiu sem nem me passar
seu nome completo. — Coloco um dedo em sua boca quando vejo
que vai falar algo. — Só que quando duas pessoas estão destinadas
a ficar juntas, nada vai separá-las, e lá estava você, na segunda-
feira de manhã, sentada do outro lado da mesa como minha
mentora. O estágio que eu não queria fazer acabou sendo o
caminho que me levou até você.
É agora, retiro do bolso interno do terno a caixinha vermelha e
me abaixo, com um joelho no chão e o outro dobrado, respiro fundo
e olho para cima. Encontro os orbes castanhos da minha morena,
aquele sorriso encantador e o amor que transborda na forma com
que ela me olha.
— Marina, você é o amor da minha vida, mas além disso, é a
mulher mais encantadora, forte, batalhadora e inteligente que eu
conheço. De todos os meus privilégios, poder estar ao seu lado e
compartilhar minha vida com você é o maior deles, então… — abro
a caixinha e mostro o anel de ouro branco com um diamante no
topo. — Casa comigo, morena?
— Sim, um milhão de vezes sim. — Sua voz sai confiante.
Tiro a aliança e coloco em seu dedo, minhas mãos tremem,
estou nervoso, mas consigo fazer isso. Beijo o anel e puxo a
morena para os meus braços, tomo sua boca em um beijo insano e
apaixonado.
Marina passa os braços por meus ombros e responde ao
contato com a mesma intensidade, o sorriso no rosto faz meu
coração bater ainda mais rápido.
— Pronta para casar com um canceriano emocionado, amor?
— pergunto quando ela quebra o contato e olha diretamente para
meus olhos.
— Só se você aceitar esta capricorniana viciada em trabalho
— provoca, entrando na brincadeira. A gargalhada de Marina faz
meu mundo brilhar.
Então ela me empurra e caio sentado no banco, assisto seu
sorriso safado e lembro da nossa primeira vez, enquanto ela passa
uma perna em cada lado do meu corpo e monta em mim.
Não conseguimos nos segurar, a morena abre meu cinto e a
calça, libertando meu membro enquanto procuro a camisinha no
bolso e deslizo sobre ele. Passo as mãos pelas suas pernas e o
vestido sobe sem dificuldade, dando-me acesso à calcinha de
renda, sinto o tecido úmido ao passar meus dedos por sua boceta e
Marina rebola na minha mão.
Estamos em sintonia, o beijo se torna mais necessitado e
intenso e a morena assume o controle. Coloco a calcinha para o
lado, ela segura meu pau em sua entrada e me afundo nela,
devorando-a com paixão enquanto seu corpo sobe e desce em cima
de mim.
— Eu te amo pra caralho, morena — digo entre gemidos e ela
sorri contra a minha boca.
— Também te amo, novinho.
Seguro sua cintura e ajudo-a a cavalgar, não precisa muito
para atingirmos o ápice. Marina grita meu nome quando estimulo
seu clitóris com uma mão, e seu orgasmo puxa o meu, assim gozo
dentro da minha morena, que despenca sobre mim e descansa a
cabeça no vão do meu pescoço.
Nossas respirações ofegantes estão em sintonia com as
batidas aceleradas de dois corações apaixonados.
Jamais poderia imaginar que minha vida seria assim, mas hoje
só tenho a agradecer pelo destino ter me colocado em seu caminho.

EPÍLOGO
Marina
Não 'tava ruim sem você
Eu sei cuidar de mim sem você
O lance é que ao teu lado a vida é melhor, bebê
Me diz qual vai ser
Sem você — Mariah Nala

Cinco anos depois

— Amor, cuidado, ele vai cair desse skate e se machucar —


advirto preocupada. — Sabe que esse aí herdou minha falta de
coordenação motora.
— Relaxa, ele levanta — afirma com um sorriso orgulhoso no
rosto. — Vai lá, Rogers, ensina teu irmão como que faz.
O beagle que está deitado aos meus pés, no banco do parque,
nem se dá ao trabalho de erguer a cabeça. Faz anos que o Rogers
não tem mais energia para andar no skate.
— Deixa ele em paz — defendo o peludo e me abaixo para
acariciar sua cabeça. — Algum dia você também vai ficar velho
demais para andar nisso aí.
— Pelo menos não antes de você — responde debochado e
solto uma gargalhada.
— Vem mais pra cá, amor, está atrapalhando as crianças. —
chamo, ao perceber que eles estão indo cada vez mais longe, então
o Léo pega nosso filhote e o coloca sobre o skate, empurrando até
chegar ao local em que estou sentada.
— O Charlie vai aprender a andar de skate como o pai, não é
mesmo, garotão? — Léo senta ao meu lado e chama o cãozinho,
que foi batizado com o nome do personagem de Hearstopper. O
filhote que não tem a menor noção do seu tamanho, pula no colo do
Léo e começa a lamber seu rosto descontroladamente.
Adotamos o Charlie com oito meses. Ele foi comprado em um
canil, mas sua dona não estava preparada para ter um labrador
cheio de energia comendo seu apartamento, então ela o colocou
para adoção e foi assim que o encontramos.
Faz três anos que compramos uma casa em um bairro nobre
do Rio, com um grande quintal, piscina, área de festas: tudo o que
um filhote de labrador chocolate pode querer para ser feliz. O
Rogers já está velhinho e não brinca mais como antes, por isso
quem realmente aproveita é o Charlie. Agora que completou um ano
e tem todas as vacinas em dia, começamos a trazê-lo para o
parque, para brincar com os outros cachorros, e o Léo insistiu em
ensiná-lo a andar de skate.
Nós decidimos que não queremos ter filhos humanos. Eu já
sabia há muito tempo que não tinha o desejo de ser mãe, não é por
falta de tempo ou condições financeiras, eu só não quero carregar a
responsabilidade de criar e educar um ser humano, por isso, antes
de casarmos, há quatro anos atrás, perguntei quais eram os
objetivos do Léo com essa questão.
Ele disse que não conseguia nos ver como pais, simples
assim, por isso quando as inevitáveis perguntas sobre maternidade
começaram, antes mesmo do casamento, já tínhamos a resposta.
Estamos felizes com a nossa vida a dois, rodeados de
cachorros e gatos, convivendo com nossos amigos e família, isso é
a nossa felicidade.
Léo terminou o doutorado e foi contratado como professor pela
PUC do Rio de Janeiro, ele ainda trabalha em alguns casos do
escritório, mas são bem poucos e selecionados para a sua área.
O que ama mesmo é ensinar, e é gratificante estar ao lado
dele nessa jornada.
Lázaro e eu fizemos a empresa decolar, precisamos contratar
mais funcionários e associados para dar conta do fluxo de trabalho,
mas não poderíamos estar mais felizes.
Henry Rausing e seu sócio enviaram uma proposta de parceria
entre as empresas, a qual estamos avaliando no momento.
Será algo grande, que pode nos lançar ainda mais no mercado
nacional.
— Está feliz, morena? — questiona ao passar um braço pelos
meus ombros, Léo planta um beijo em meu rosto e me olha com
seus orbes azuis marcantes.
— Sempre estou feliz ao seu lado, amor — respondo
confiante, a palavra amor já não é mais dita com cuidado, é uma
constante em meu vocabulário.
Isso porque o significado dela é tão puro e verdadeiro, que não
preciso me preocupar em falar, eu sinto o quanto amo este homem
e sou amada por ele.
Todos os dias e para todo o sempre.

FIM.
GOSTOU DE SEM TEMPO PARA O AMOR?

Venha ler as sinopses das outras obras da autora.


E NÃO ESQUEÇA DE AVALIAR ESTA LEITURA <3
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer do fundo do coração aos meus amigos que


me incentivaram a continuar escrevendo, sem julgamentos, e
sempre com uma palavra de carinho.
À minha mãe, que me incentivou a ler e que comprou Harry
Potter para uma menina que acabou se apaixonando pelos livros
por causa daquele mundo encantado. Obrigada, mãe, sei que se
estivesse viva estaria comemorando comigo e com orgulho de mais
esta conquista.
Quero deixar um agradecimento amplo e especial a todas as
autoras que conversam comigo, trocam experiências e publicam
suas histórias, ler livros nacionais é o que me dá força e confiança
para publicar.
À todas as autoras do Milícia das Gostosas, que era para ser
um grupo de amigo secreto de Natal, e acabou se tornando um
lugar de apoio e companheirismo.
A Camila Cocenza que veio me dar a ideia de escrever um
New Adult, disso surgiu um pequeno desafio e sai da minha zona de
conforto, obrigada Camis.
Às autoras que me apoiam e inspiram a cada dia: Binha
Cibele, Agatha Seravat, Jô Magrini, Ruby Lace, Dani Medina,
Cinthia Basso, Mari B. Maia, Cecília Turner, Tayana Alvez, Silvie
Basset, Carina Reis, Camila Cocenza, Jéssica Luiz, Maya Passos,
Victória Gomes e tantas outras, gratidão!
Às bookstan maravilhosas que me apoiam e às parceiras
lindas que foram incríveis neste lançamento!
Agora às minhas MAFIOSAS, que estão no grupo do whats e
surtam comigo todos os dias, vocês não têm ideia do quanto são
importantes na minha vida e de como me motivam a continuar.
À minha revisora, Elen Arcangelo, por embarcar nesta jornada
comigo e não me largar, seu trabalho é incrível.
As betas maravilhosas que abraçaram esse livro e surtaram
comigo, obrigada meninas, de coração mesmo!
E agora quero agradecer a você, que deu uma chance ao meu
livro e se aventurou nesta nova leitura, obrigada de coração.
NASCIDA PARA PROTEGER

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Em um mundo dominado por homens, uma mulher jamais
pode comandar.
Daniele Corleone é a única filha do Capo mais poderoso de
New York, Alphonse Corleone — o líder da Família Genovese —,
mas por nascer mulher não tem direito a herdar o cargo do pai.
Apresentada aos terrores dessa vida cedo demais, com dez
anos de idade matou um monstro para defender sua mãe. Sua vida
muda completamente quando seu pai lhe dá uma escolha: seguir os
passos de todas as mulheres em seu mundo, tornando-se esposa
do futuro Capo, ou entrar para a máfia e arriscar tudo em um
caminho jamais seguido, para ser a próxima liderança da Família.
Lucas Costello é o filho do Consigliere e tem uma nova
missão: treinar e proteger uma menina de dez anos de idade. O que
no começo pode parecer algo simples se torna a missão mais
importante da sua vida, já que o seu futuro e o dela estão
conectados.
Se ela fracassar, ele não terá mais lugar naquele mundo.
É SOBRE AMOR.
SOBRE PROTEGER QUEM SE AMA.
É SOBRE SER FORTE QUANDO TODOS ACREDITAM QUE
SE É FRACO.
NASCIDO PARA LIDERAR

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É SOBRE AMOR,
É SOBRE FAMÍLIA,
É SOBRE TORNAR-SE UM LÍDER EM UM JOGO ONDE AS
APOSTAS SÃO DE VIDA OU MORTE.
ALPHONSE CORLEONE é o único filho de Don Corleone,
chefe da Família Genovese e o homem mais temido e poderoso de
New York. Ele aprendeu cedo que é só mais um peão no tabuleiro
de seu pai. Será moldado, manipulado e usado em um jogo de
poder perigoso.
AMÉLIA BIANCHI foi criada para ser a mulher perfeita, sua
prisão particular tirou dela o poder de escolha, em uma tentativa de
moldá-la como uma boneca, a casca bonita por fora e vazia por
dentro. Ela terá que lutar contra tudo o que foi ensinada para
encontrar a própria voz e libertar-se das grades douradas em que
viveu a vida toda.
Um contrato de casamento, feito desde o dia em que eles
nasceram, garantirá a união entre duas famílias e o controle da
cidade de New York pela Família Genovese.
Ele precisará ser forte e lutar pelo poder para proteger o amor
da sua vida, mesmo que para isso precise se tornar um monstro
ainda pior que seu próprio pai.
Neste jogo não existe a possibilidade de fracasso, as apostas
são altas e no final, somente um rei pode continuar de pé.
Aviso: Nascido para liderar, livro 2 da série Caminhos de um
Capo, é um volume único e pode ser lido separadamente. Como a
história se passa antes do livro 1, Nascida para Proteger, você pode
escolher a ordem de leitura, mas ambos estão interligados.
NASCIDO PARA AMAR

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RICARDO MORETTI é o único filho do Capo e aceitou o
acordo que unificará a máfia na Sicília e acabará com uma guerra
de gerações: casar-se com a herdeira da Família rival.
O que ninguém sabe é que seu coração pertence a outra
pessoa.
GIAN CARLO STEWART perdeu a mãe quando criança e foi
criado pela família Moretti, ele tem a mesma idade de Ricardo e
cresceram juntos, formando uma linda amizade. Gian foi treinado
para assumir o cargo de Consigliere quando seu amigo se tornar
Capo.
Quando adolescentes, foram enviados ao colégio interno para
fugir da guerra, lá descobriram um sentimento ainda maior entre
eles, e da amizade nasceu o amor.
Eles estão juntos desde os quinze anos e precisaram esconder
sua relação por todo esse tempo, sabem que seu amor é proibido —
ainda mais dentro da máfia —, mas quem pode controlar o coração?
Para garantir a paz, vão sacrificar sua própria felicidade e
tentarão esconder seu relacionamento, porém até quando isso será
possível?
É SOBRE AMOR E AMIZADE
É SOBRE A FAMÍLIA QUE ESCOLHEMOS
É SOBRE APOIAR E ESTAR AO LADO DE QUEM SE AMA
Aviso: Nascido para Amar, livro 3 da série Caminhos de um
Capo, é um volume único e pode ser lido separadamente.
A PSICÓLOGA DA MÁFIA

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LUANA MASSERIA é a filha do chefe de segurança da Família
Genovese, a máfia que comanda New York. Ela é uma psicóloga
respeitada na cidade. O que ninguém sabe é que ela é a psicóloga
da filha do Capo, Daniele Corleone.
Depois de perder os pais em um curto espaço de tempo, sem
família, com apenas uma amiga e nenhum relacionamento amoroso,
a mulher se vê triste e solitária na cidade de pedra.
YURI SAITO é um psicopata e tem plena consciência desse
fato. Dono de um ego enorme e um senso de moral deturpado, o
homem estava entediado em sua vida de luxo e riqueza.
Até que aparece a oportunidade para entrar em um novo jogo,
algo diferente de tudo o que ele já fez e que trará um novo propósito
para sua vida: se infiltrar na rotina de uma psicóloga e vigiá-la sem
que ela saiba. Será que ele conseguirá esconder sua verdadeira
face diante de uma profissional qualificada?
Ela é a presa perfeita, mas ele não é o único predador nessa
caçada.
Um thriller psicológico com a máfia de plano de fundo,
personagens complexos e envolventes, um mistério a ser
desvendado e um relacionamento explosivo.
Você vai entrar na mente de um psicopata e entender seu
envolvimento com a psicóloga de forma única e arrepiante.
A PSICÓLOGA DA MÁFIA é um spin-off da série Caminhos de
um Capo, que pode ser lido de forma independente, porém os
personagens que aparecem aqui fazem parte de um mesmo
universo.
Indiana Massardo é uma libriana romântica, leitora voraz de
romances e tem 28 anos. Formada em Engenharia Civil, não segue
a profissão, é artista há mais de 5 anos. Trabalhando com arte
realista em aquarela no perfil oficial @indymassardo, agora também
segue na carreira de escritora no perfil @autoraindymassardo.
Atualmente vive sozinha com seus gatos e cachorros, sonha
em ter uma estabilidade financeira para poder viver mais
tranquilamente.
Este é seu quinto livro publicado e está muito orgulhosa do
mundo que criou e dos personagens fortes que nasceram disso.
Promete muitos lançamentos dentro deste universo, o próximo
em março de 2022.

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