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Copyright © 2022 Deby Incour

Capa e Projeto Gráfico: Larissa Chagas


Diagramação Digital: Deby Incour
Revisão: S. Revisão
Imagens de capa: Adobe Stock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa


obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico
sem a permissão por escrito da Autora e/ou Editor.

(Lei 9.610 de 19/02/1998.)

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

1ª EDIÇÃO - 2022
Formato Digital – Brasil
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Epílogo
Oi, gente
Agradecimentos
Sobre a autora
Encontre a playlist de Brincando com o destino
no Spotify. Para poder encontrar com facilidade,
basta abrir seu Spotify, ir em “Busca” (lupa), e clicar
na imagem da câmera. Aponte a câmera para a
imagem abaixo, e automaticamente a playlist vai
abrir.
Algumas músicas estão dentro da história, e
outras me inspiraram em algumas cenas. Espero
que gostem.
Para você que ama uma comédia romântica,
mas ama ainda mais ler: “existia apenas uma cama”.
Eu sei, o impacto disso é avassalador.
Tiro o primeiro alfinete dos trezentos que deve ter nesse
maldito terno ou projeto de um.
— Ai... Porra, Violeta! — o brutamonte enorme, de 1,90m de
altura, que foi o que o estilista disse, cabelos castanhos, olhos
combinam na cor, e uma beleza capaz de foder qualquer calcinha,
reclama pela segunda vez, e olha que nem tirei o maldito alfinete
anteriormente.
— Quem mandou gostar de tudo feito sob medida? Se
alugasse um terno em qualquer loja de shopping ou bairro, não teria
essa palhaçada. Parece um boneco de vodu!
— Sabe que ainda posso te mandar embora? Está no
trabalho, infernizando o cacete do meu tempo! — chia como sempre
faz quando abro a boca. O que é sempre.
Começo a rir e, de propósito, espeto ele antes de tirar o
próximo alfinete. Mais um xingo e mais uma alegria a minha vida.
— Deveria me dar aumento! Sou paga para escrever o
maldito horóscopo da sua revista, não para tirar alfinetes de um
estilista que deu fuga, deixando você nesse estado! — Apoio as
mãos na cintura e olho o monumento, porque é isso que a peste é
quando estou admirando e não querendo sua cabeça.
Vim trabalhar na Sunshine quando estagiava no curso de
Letras. Ou seja, tem exatos dois anos. Estagiei no último ano de
faculdade inteiro, e agora sigo aqui ainda – eu contaria três anos, já
que o ano do estágio começou em janeiro daquela época e foi até
dezembro, mas ninguém valoriza o que falo!
Aos vinte e três anos, eu imaginava que estaria escrevendo
sobre algo útil, não sobre horóscopos que nem sequer acredito, e
que eu sei que muita gente passa direto por eles, pois as
visualizações têm caído drasticamente.
Eu comecei a cursar Letras porque sabia que iria querer
escrever sobre grandes coisas, e bom, sobre outra coisa, que nem
vale a pena ficar lembrando, enfim, fiz alguns cursos à parte –
gratuitos, claro –, tudo sonhando com o momento que meu nome
estaria em destaque na maior revista do país já que era a única
forma que poderia sobreviver com a escrita. E foi exatamente aí que
eu deveria prever que essa merda iria dar ruim. Quando Violeta
Matos pensa em algo grande, a merda é maior ainda. Isso não sou
eu dizendo, é a vida me fodendo desde sempre.
E como se tudo na minha vida já não fosse uma novela
mexicana suficiente, me tornei amiga do dono da revista, o homem
que tem arrancado suspiros de todas as coitadas que nem sequer
imaginam a cobra que essa peste é. Tantos dias de lutas, que penso
que todos os exaltados empacaram na fila e foram egoístas o
suficiente para não se lembrarem que atrás existiam os humilhados
esperando uma oportunidade, e eu liderava essa fila dos
esquecidos.
Como nos tornamos amigos? Não sei. Talvez no exato
momento que ele viu essa carinha linda... Quem que eu quero
enganar? Foi no exato momento que, na entrevista de estágio, meu
salto quebrou, minha bolsa espatifou no chão, e no auge do meu
desespero, suando igual a um porco, criando até manchas na
camisa social que eu usava, que ele olhou nos meus olhos e me
contratou, ali eu me conectei com ele. Porque se o dono da revista
mais foda do país não me tirou a pontapés do seu prédio, era por
ser um bom homem.
Mal sabia eu que o diabo estava mascarado, ou talvez seja a
vida me cobrando por mentir em todo meu currículo de estagiária.
Mas é sobre isso, e não, não está nada bem.
Depois disso, só éramos amigos. Não teve nada específico.
Aconteceu. Óbvio que aconteceria, porque misturaria amizade com
trabalho e eu tomaria bem no meu rabo, já que sigo na mesma
coluna desde sempre, porque ele diz que não quer me trazer
privilégios. E desde quando aguentar as merdas dele, e fazer mais
por ele do que a secretária faz, é privilégio? Eu sou escravizada!
— Vai continuar me admirando? Violeta, eu tenho uma
reunião em cinco minutos! — reclama como sempre.
— Problema seu. Agora me fale, como pode pagar uma
fortuna a um estilista que nem prestou para tirar os alfinetes da
marcação que fez nesse tecido todo? Sabe que ele estava tentando
te matar, né? E pensando bem, eu passei a gostar do cara!
O Sr. Engomadinho me olha nervoso, sem tirar o celular das
mãos.
— Se você usasse esse gás que tem de falar, para fazer
suas coisas, já teríamos nos livrado um do outro!
— Como é? — Me afasto olhando-o e ele ergue a
sobrancelha com seu ar presunçoso e arrogante. — Bom, já que
insiste, meu querido chefe! Vou para a minha mesa, terminar meus
horóscopos da maldita semana, e você que se vire com seus
alfinetes. Que o próximo lugar a ser espetado seja o seu ra...
— VIOLETA! — grita e começo a rir conforme saio da sala
dele, toda de vidro. Sabendo que todos podem ver. — ESTÁ
DEMITIDA! PASSE NO RH AGORA!
Me faz rir ainda mais, pois é para lá que vou mesmo. Mas
para me entreter com as fofoquinhas do corredor da revista. É o
melhor lugar para apurar por elas e talvez me inspirar para criar a
pura mentira que é dos horóscopos que escrevo, tudo baseado nas
merdas diárias de todos aqui.
— Tchauzinho, Natan! — Aceno sem olhá-lo, passando por
todos que me olham e controlam os risos, pois já sabem como
somos.
Caminho em direção ao elevador, e respiro calminha.
Eu amo essa revista, mas amaria ainda mais matar Natan
Valle, a praga que a vida me ofereceu como amigo também!
Eu tenho um problema que entrou na minha vida há dois
anos: Violeta Matos. Eu deveria prever que, quando a loira de olhos
verdes-escuros, mentindo em seu currículo, apareceu na minha
frente, seria problema. Mas eu não tinha escolha. Ninguém queria
trabalhar no horóscopo da revista, e estava na fase de colocar mais
coisas para complementar o foco da Sunshine, que poderia cair no
tédio, se não tivesse outras coisas além de assuntos de moda. E foi
o que fiz. Porém, todos querem cargos grandes, mas poucos
querem começar de baixo. A garota estava desesperada por um
estágio, último ano de faculdade, eu sei o que é isso, já senti na
pele esse desespero. E cedi a maluca, e vejam só, agora tenho que
lidar com suas malcriações, e pior, aguentar minha família dizendo
que ela será a única mulher a me aturar na vida.
Caralho, o que sou? Um ogro?!
Viro o restante de café da caneca em minha boca, e olho
através das paredes de vidro do meu escritório, enquanto vejo o
movimento do andar todo. Aquela desaforada ainda não retornou.
Já fiz o que eu tinha para fazer, e Violeta sumiu. Com toda certeza
está no RH fofocando, porque ao passar pelo andar da moda, onde
recebemos amostras de tudo desse meio para testarmos e falarmos
na revista, eu vi que Nina, sua amiguinha, não estava lá também. E
quando ambas somem, o RH fervilha, com elas e Olívia fofocando
sem parar.
Deus, que cruz a se carregar no auge da minha vida!
— Natan Valle, você está me ouvindo?! — minha mãe berra
em meu ouvido e esfrego a têmpora.
O dia só piora. Violeta me deixou na mão com o cacete do
terno cheio de alfinetes, a reunião foi uma merda, não consegui
negociar a distribuição da revista de modo internacional,
provavelmente terei que ir pessoalmente conversar com a empresa
nos Estados Unidos, e minha mãe está no meu ouvido fazendo o
que faz de melhor: me deixar maluco!
São trinta e nove anos desviando da morte precoce que me
persegue ao ser da família Valle, que ainda vai me causar infarto e
me tirar desse mundo, e agora tendo que lidar com o motivo dos
meus calmantes, a maluca que preciso aceitar que virou uma amiga,
ou o caralho de um castigo que for.
— Estou, dona Marietta! Estou...
— Pois não parece. Filho, sua irmã vai se casar, e é sua
obrigação estar aqui para os preparativos. Ela quer toda a família
perto. O casamento é daqui algumas semanas, mas custa ser
presente nos preparativos? Natan, faça isso por nós. Mal vem nos
ver, pode lembrar que tem família por um instante?
Dramatiza e reviro os olhos, cansado, quero ir para casa
apenas, tomar um banho, comer algo e descansar do dia desastroso
que está sendo.
— Mãe, o que eu faria? Primeiro, que nem a favor dessa
palhaçada sou. Michael é um energúmeno interesseiro, e Naomi
uma ingênua que confia que esse advogado meia boca a ama. Ele
ama o dinheiro da família apenas! Deus, a única coisa boa que ele
deu a nós foi a Melinda e nada mais!
As palpitações se fazem presentes. Eu vou enfartar, caralho.
— Natan, não seja assim. Eles estão juntos há anos, ainda
não superou? Querido, a única coisa que precisa é vir, e apoiar! Sei
que tem aversão a casamentos, o que é uma lástima, já que sua
família inteira é do ramo casamenteiro...
— Mãe, eu nunca disse que tinha aversão! — informo-a e ela
ri.
— E está solteiro durante trinta e nove anos por que mesmo?
Quase quarenta, preciso lembrá-lo.
Ah, não! Esse assunto não... Caralho, esse dia não tem
melhorias?
— Por escolha. Tenho uma vida que não me permite ao luxo
de amar, e ser todo cheio de frescuras românticas.
— Que vida cruel então! A vida sem amor é uma vida vazia,
querido. Natan, olha tudo que construiu. Dono da maior revista de
modo do país, um dos homens mais ricos do Brasil, estudado,
inteligente, bonitão... Filho, para quem deixará tudo isso quando não
estiver mais aqui? Quem vai cuidar? Construiu tanto para nada... No
final tudo acabará.
Respiro fundo, e vejo a diabólica loira sair sorridente do
elevador com um copo da Starbucks em mãos, e ir para a sua
mesa. Onde parece tomar o restante e deixá-lo de lado.
— Mãe, não adianta dramatizar. Não irei lhe dar neto, e
muito menos me casar! Essa conversa não está sendo razoável,
facilita meu dia de merda, dona Marietta!
— Tudo bem... Só não reclame se vir ao casamento e todos
perguntarem a você sobre sua vida, e não ter nada a dizer, porque
se tornou um velhote careta, que não sai, não tem mulheres, não
quer romance, não deseja filhos... Querido, mora logo em um
pântano!
É, pelo visto minha família realmente me acha um ogro.
— Eu...
— Quer saber? Eu cansei — me interrompe. — Se quiser vir
para participar do casamento da sua irmã, tudo bem. Do contrário,
se resolva com ela, e com seu pai, que está bem chateado, pois faz
meses que não nos visita. Filho, família é única, e dinheiro nenhum
no mundo deveria ficar em primeiro lugar. E é exatamente isso que
está fazendo desde sempre.
Esfrego meu rosto, porque em partes ela tem razão. Eu
tenho focado tanto no trabalho, que há muito tempo não sei o que é
viver. Minhas saídas são para eventos ou compromissos. Ao longo
dos anos nunca firmei amizades, além do desastre chamado
Violeta. Relacionamentos nunca nem me preocupei em ter. Eu vivo
para o trabalho, literalmente.
Violeta abre a minha porta, passando direto pela minha
secretária, que a fuzila com o olhar. Se senta na cadeira à minha
frente, me olhando de modo debochado. Ainda irei enforcar essa
garota!
— Mãe, podemos conversar depois? — Respiro com calma.
— Não. Porque nunca tem um depois. Natan, você vem ou
não?! Filho, só responde de uma vez, tão prático.
Dona Marietta sabe ser insistente.
— Eu vou! Eu vou... Mas não garanto que ficarei todos os
dias. Precisarei vir a revista. E não me peça para ser delicado com
Michael, e, por favor, controle os amigos de vocês, porque qualquer
pergunta sobre minha vida íntima, eu mato um! Irei passar esse
tempo dos preparativos ao lado de vocês.
Ela grita animada. Claro que faz, ela ama quando consegue
o que deseja.
— Que alegria! Seu pai e sua irmã vão endoidar, mas
Melinda ainda mais. E sobre controlar a todos, querido, eles não
mentem, você é um solteirão que ficou para titio tem muito tempo.
Daqui uns dias me fala que tem três gatinhos, e tricota. Nada contra
quem decide ficar solteiro, mas quem eu quero enganar? Sou
romântica, trabalho construindo sonhos amorosos, óbvio que queria
meu filho se casando também, para esse coração fraquinho aqui
saber que quando eu morrer, que não há de ser tarde, terei
catarrentinhos seus me chamando de vovó, e uma nora linda te
acertando a fuça para deixar de ser besta e mandão!
— A senhora conhece limites? A minha vida pessoal cuido
eu. E além do mais... — Olho para a loira, e ela me encara
desconfiada. E de repente uma merda, eu sei que é, uma enorme
merda me faz abrir a porra da boca novamente: — Não irei sozinho.
Está feliz?
Caralho.
— Quê? Como assim?! — berra e por pouco não fico surdo.
— É isso mesmo. Se não fosse tão intrometida, já saberia.
Estou indo com... — Natan, se dê por vencido, sua mãe tem razão...
É solteiro, todos fofocam a verdade, por mais que seja sua vida, e
passar dias com um bando de gente te infernizando sobre isso vai
ser fácil... só que não — Minha noiva!
Sempre existe um precipício, e sei que me joguei dele.
— É O QUÊ? QUE NOIVA? NATAN, NÃO BRINQUE ASSIM.
UM PEIDO SEU E A MÍDIA SABE. COMO ESTÁ NOIVO, NÃO
CONTOU A NÓS E NÃO VAZOU? QUEM É A GAROTA?! — grita
tanto, que preciso afastar o celular do ouvido um pouco.
— Isso vai descobrir quando eu chegar. Mãe, tenho uma
demissão a tratar, nos falamos depois. Te amo! — Desligo antes que
ela insista.
Que porra eu fiz?!
Violeta se levanta me olhando assustada.
— Noiva? Natan, usa drogas? Eu sabia que cheirava algo!
Que noiva? Homem, você escraviza a gente, não deve nem ter
tempo para beijar, quem dirá conhecer alguém. Que feio, mentindo
para a dona Marietta, uma mulher tão boa... E depois a mentirosa
sou eu! — Ela gargalha, enquanto pego uma caneta e brinco com
ela em meus dedos, tentando controlar a merda que eu fiz. — Vai,
quem é a Alice do seu País das Maravilhas, senhor Chapeleiro
Maluco?! — Ela continua rindo.
Eu fiz uma enorme merda, e tudo pela falta de paciência e
orgulho.
Estou perdendo cada vez mais os batimentos cardíacos.
— Você!
Ela ri ainda mais, mas continuo sério. Até ela entender que
não brinco, e isso leva alguns minutos. Eu queria estar brincando,
mas como ligar para a minha mãe e desmentir esse cacete?
Violeta cai sentada na cadeira e me olha pálida.
— Está brincando? — Nego lentamente. Eu preciso de ar. —
Natan, eu não sou sua noiva coisa alguma. Eu sou sua amiga, o que
já considero um grande castigo, preciso confessar! Homem, o
alfinete espetou seu cérebro?! — Sua voz está nervosa.
— Eu preciso controlar esse inferno semanal dos dramas da
minha família. E com o casamento da minha irmã, está se tornando
pior. É algo rápido, depois do casamento eu digo que não deu certo,
mas pelo menos vão ver que tentei alguma relação. Você os
conhece, te adoram. Será algo fácil — resumo, tentando não
demonstrar o pânico que estou da merda que armei em segundos.
Natan, aceita, você fez uma catástrofe.
Ela se levanta e balança a cabeça em choque.
— Isso que me pede é loucura! Se isso vazar a imprensa,
vira uma bola de neve! — grita, e respira fundo. — Quer fazer algo
assim ao invés de aceitar que, quando eles jogam na sua cara que é
solitário, fechado demais, e que quando morrer vai levar tudo que
construiu porque não terá a quem herdar, é pura verdade? Natan,
você tem uma ideia maluca dessas, apenas por não aceitar afirmar
que sua família está certa, quando dizem que não vive? Fale algo,
caramba!
Deixo a caneta sobre a mesa e caminho em direção à
máquina de café, preparando mais uma caneca. E dessa vez sem
açúcar para ver se acordo do pesadelo.
— Não — minto. — Faço isso porque se eu não for a esses
preparativos, terei que aguentar o inferno que se formará. Mas se eu
for, e conhecendo aquela cidade toda romântica assim como minha
família, e os amigos deles, eu sei que irei me suicidar com cada
pergunta sobre minha vida pessoal, íntima, e amorosa ou a porra
que for!
Para a minha frente e me analisa como se eu fosse louco. O
que começo acreditar que sou após essa ideia de merda. Devo
estar com algum problema sério.
— Me diz que está brincando! Natan, eu nunca aceitaria isso!
Sou louca, mas não ao ponto...
Engulo em seco, porque nem eu acredito que não estou
brincando.
— Aceite isso, e te dou uma chance em alguma outra coluna
da revista — finalizo a merda, aumentando o esgoto que me joguei
de cabeça. — Não posso voltar atrás. Sabe como essa família é
louca. Já viu de perto.
Ela cai sentada na minha cadeira, enquanto bebo o café que
fica pronto. Amargo, assim como o gosto da minha vida neste
momento.
— Golpe baixo. Mas... — fica pensativa. — Não! Eu não irei
compactuar com essa mentira. Tem trinta e nove anos, encare essa
merda sozinho!
— Mas mentir no currículo dizendo que falava outros
idiomas, que tinha ótimas recomendações dos professores, notas
excelentes... Isso podia fazer? — Ergo a sobrancelha.
— Me contratou porque quis. — Cruza os braços e ergue o
queixo. Puxo-a da minha cadeira. — Ai, seu monstro! Olha, umas
aulas de cavalheirismos não fazem mal!
Sento-me e a encaro. Respiro fundo e busco o ar que está
começando a faltar.
— Tem essa semana para pensar, Violeta. Pense com calma.
É solteira também, e espanta qualquer humano com suas
maluquices… Tão sozinha quanto eu — jogo a merda.
— Respeita a minha personalidade peculiar, seu grosso… —
Faz uma careta de desgosto. — Isso é uma merda, Natan! E não é
justo colocar algo que quero em jogo. Além disso, por uma mentira
desse porte, apenas um espaço em uma coluna é pouco! — Ergue a
sobrancelha.
Só pode ser castigo por mentir a quem deveria honrar.
— Tudo bem... — Esfrego o rosto em desgosto, e sentindo
as mãos formigarem. — Escolhe a coluna, e terá uma bonificação
alta também. E prometo que não vazará nada à imprensa. Só
precisa ser mentirosa como sempre foi, e seguir com o planejado
até o final do casamento. Nesse período teremos que ficar na
cidade deles, e fingir ao máximo, pois são espertos. Eu fiz uma
merda, e você me deve uma ajuda, já que fodeu minha manhã, e
encare como se estivesse retribuindo-me em lhe contratar depois
das mentiras e tolerar todas as suas merdas pela revista.
Balança a cabeça em discordância. Claro que discorda, ela
nunca me ouve!
— Trinta e nove anos, e consegue armar uma merda que
talvez nem um adolescente pensaria tão rápido para fugir dos pais.
Homens não amadurecem, bem que mamãe diz! — Ri com
sarcasmo. — Eu vou pensar, mas não era sobre isso que vim aqui.
E também não garanto que a resposta será positiva. Tenho meus
princípios, e mentir para uma família tão bonita e divertida quanto a
sua não faz parte do meu estilo. Sabe, eu sou uma pessoa boa!
— Imaginava que não era sobre isso, afinal, não teria como
saber! — ironizo e ela me fuzila com o olhar. — Fale logo, e se bem
me lembro, deveria estar demitida depois de mais cedo. E sobre ser
boa, não é o que parece sempre que coloca o caos nesse prédio!
Ela semicerra o olhar e me encara com ironia.
— E se eu estivesse demitida, não teria alguém para te
ajudar nessa porcaria de ideia. E não, eu não aceitei! — Bebo meu
café. — Eu preciso entrar mais tarde amanhã. Minha mãe tem
consulta médica e não quero que ela vá sozinha.
— Devo acreditar nisso, ou está aprontando?
— Eu nunca mentiria sobre algo assim e envolvendo minha
mãe! — responde irritada.
— Eu sei... Desculpe. — Assente. — Tudo bem. Mas
precisará entregar o horóscopo de amanhã.
— Deixei pronto aquela merda. — Encaro-a firme. — Quero
dizer, está pronto o horóscopo de amanhã, senhor Natan! Como
amo essa coluna, tão espiritualista, enérgica. — Gesticula com as
mãos.
— Some daqui, Violeta! Minha cota com você já deu. Eu
preciso de paz no restante do dia!
Ela sai, e parece que dei tudo que ela queria: ficar longe de
mim.
Que merda eu me meti? Esse é o preço a se pagar por ser
solitário em uma família totalmente romântica.
Porra!
Junto minhas coisas o mais depressa, e saio da minha sala.
— Já vai, senhor? — Olga, minha secretária, questiona.
— Sim. E, por favor, busque um cardiologista e uma clínica
psiquiátrica. Eu preciso com urgência dos dois!
Me olha assustada, mas não me leva a sério, porque
ninguém nessa porra me leva. Tenho uma secretária que vive
fugindo de mim quando pode, uma funcionária que se diz amiga,
mas toca o terror na revista e me denomina o próprio demônio a
todos, pensando que não sei, mas tenho uma secretária fofoqueira.
A minha família é totalmente o oposto de mim e me deixa a beira de
um caixão. E o mundo parece sempre ir contra tudo que desejo:
paz.
É, se eu chegar aos quarenta anos irei merecer um prêmio!
Entro em casa jogando meus sapatos ao lado. Tudo que
desejo é banho e comer alguma coisa, após o dia pra lá de maluco.
O bom de se trabalhar na Sunshine é que nunca as coisas são
monótonas. Todo dia é uma loucura nova, e a da vez ainda estou
sem acreditar. E minha mãe acredita que o azar de filha louca veio
para ela.
Eu caio esparramada no sofá, sem me importar com nada. A
bolsa despenca do meu ombro e fico olhando para o ambiente todo
decorado de acordo como minha mãe gosta. Móveis antigos, dois
sofás floridos que odeio de todas as formas, pois me rende muitas
dores nas costas quando caio no sono por aqui. Um aparador
abaixo da TV com diversas fotos – para quê? Parece até um altar ou
algo assim –, e um vaso com uma planta muito mais bem cuidada
que eu.
Bom, plantas, está aí o que essa casa mais tem. Todo canto
que se olha tem plantas espalhadas. Mamãe ama, cuida como
filhas. Conversa e ainda diz que elas a escutam mais que eu. Acho
isso um absurdo de tantas formas.
O cheiro de doces predomina o ambiente e meu estômago
ronca. Dona Zulmira tem mãos de fadas para seus doces, no
pequeno negócio que montou para ela desde que papai morreu, e
perdemos a padaria que tínhamos. Ela se desdobra de muitas
maneiras para sempre termos um pouquinho de conforto que seja.
Ela é o meu exemplo de força, e se hoje trabalho duro mesmo em
uma coluna que odeio, é para tentar ao menos deixá-la dormir um
pouco em paz, sem pensar tanto nas contas que precisamos arcar,
o que a cada dia se torna mais difícil, mas não quero que seja isso o
foco dela, eu darei um jeito de livrar a gente desse problemão.
— Vilu? — A voz da senhora me faz sorrir, e não demora
para a sua imagem surgir vindo da cozinha, com um avental, touca
e um sorriso lindo. — Como foi seu dia, querida? — Se senta no
sofá, e é nítido o cansaço e o quanto tenta disfarçar suas dores no
corpo.
— Uma loucura, mas todo dia é... Mamãe, não sentou desde
que levantou, né? — Ela me olha de lado e respiro com calma. —
Dona Zulmira, precisa evitar de abaixar e levantar, ou carregando
coisas para lá e para cá. Tem que aprender a descansar.
— Descansar é para os fracos! Tenho cinco encomendas
para entregar amanhã.
— MÃE! — grito e me sento direito. — A senhora não precisa
disso. O médico foi claro que precisa pegar leve, até começar a
fisioterapia. Deixe de ser teimosa!
Minha mãe desenvolveu alguns problemas, como artrose,
escoliose, bico de papagaio e hérnia de disco lombar e cervical, com
a artrose e escoliose trazendo um problema a sua coluna, onde é
um pouco torta, e isso traz a ela muitos desconfortos, dores fortes
as vezes, não pode pegar muito peso, e necessita de fisioterapia
frequente como parte do tratamento, mas infelizmente meu convênio
não quer aceitá-la, e não podemos nos dar ao luxo de pagar um no
momento, dependemos dos hospitais públicos, e não conseguimos
fisioterapia, tem muitas pessoas na lista de espera. Tentei ver
algumas clínicas para isso, mas são caras, pois o médico deixou
claro: ela precisa fazer toda semana, ao menos duas vezes por
semana, durante um longo tempo.
— Violeta, temos que colocar dinheiro em casa, e não sou
inválida!
— Mamãe, não estou dizendo isso. Mas o tio e eu nos
desdobramos em mil, para que não tenha que se esforçar tanto
assim. Semana passada pegou várias encomendas e hoje de novo!
E olhe só, é nítido que está com dores hoje.
Ela sorri toda meiga, com a carinha que acha que me
convence.
— Mas temos contas, perdemos a padaria, mas as dívidas
ficaram, e vocês dois mal vivem para poder trabalhar e tentar ajudar,
e ainda assim as coisas estão bem apertadas... Desde que seu pai
se foi, prometemos nos ajudar, e isso me inclui. Infelizmente, não
sabemos quando conseguirei fazer todos os tratamentos, e até lá
não posso ficar parada, vendo ambos se matarem de trabalhar.
Isso me corta o coração, pois eu queria poder dar o mundo a
essa mulher. Desde que papai se foi, nossa vida apertou demais,
parece que com ele nossa sorte também se foi. Perdemos coisas,
entramos em dívidas, mamãe descobriu os problemas... Tudo deu
errado. Tem meses que o senhor Reginaldo se foi, que a saudade
bate, mas que não tivemos como viver o luto direito, não existiu
tempo para isso. Nossa vida mudou totalmente, mamãe não
conseguiu dar conta sozinha da padaria, meu tio tentou ajudar, mas
o que não sabíamos, é que o papai escondia que tinha dívidas com
fornecedores, o aluguel do espaço completamente atrasado. E
quando encontramos o caderninho de contas dele, tomamos um
susto, os boletos não paravam de cair de dentro, e o que mais me
destruiu, e me deixou sentindo culpada, foi que muitas dívidas eram
porque ele escolhia pagar minha faculdade, do que seu próprio
negócio.
Chacoalho a cabeça e me levanto.
— Eu vou tomar um banho, comer alguma coisa e te ajudar.
O tio chega que horas hoje?
— Omar fará extra no restaurante, disse que vem bem tarde.
Concordo e pego minhas coisas. Beijo sua testa.
— Vou preparar algo para você comer...
— Não. Relaxa, mãe. Eu faço um lanche. Não se preocupe.
— Sorrio.
Sigo para o quarto que divido com meu tio, uma pessoa
muito especial para nós. Essa casa é bem simples, dois quartos, um
banheiro, e uma cozinha pequena. Não existe um quintal, pois a
frente da casa, mora a dona, uma senhorinha muito boa, a dona
Palmira. Um tempo após a morte do meu pai, logo quando
descobrimos tudo da padaria, sabíamos que não poderíamos ficar
na casa própria que tínhamos, porque ou era o conforto dela, ou
pagar ao menos a metade da dívida, porque não queríamos que
papai tivesse lutado tanto em vão e isso se tornasse um inferno
maior. E foi assim que tomamos a decisão mais difícil. Nossa casa
não valia muito, mas bancou parte das dívidas que os juros não
paravam de aumentar. Alugamos essa casinha que não é
independente, e viemos com nossas coisas. O lugar fica um pouco
longe do trabalho, na zona Leste, região da Mooca, um lugar
considerado de classe média-alta, mas digamos que gostamos de
fazer jus ao contraditório, porque estou mais para classe baixa perto
de arrastar no chão.
Não conto a ninguém sobre nossa vida, não gosto de ficar
falando das dificuldades diárias que passamos, porque parece que
quanto mais se fala dos problemas, maiores eles se tornam.
Todos os dias enfrento metrô para o trabalho, por morar mais
afastada agora, o que já se torna mais cansativo a rotina, pois só
quem pega metrô em São Paulo na hora de maior fluxo de pessoas,
sabe o caos que é. Mas, às vezes, dou sorte de pegar carona com a
Nina que mora aqui perto, uma amiga da revista. Hoje não foi o caso
de ter sorte. Carro não é parte da nossa possibilidade, ou seja,
sempre um cansaço maior, e hoje estou nesses dias de esgotada.
Pego minhas coisas para tomar um banho e ajudar a
senhora teimosa. Sabe, pensei que essa fase nunca chegaria para
mim, mas me vejo tendo que ser a mãe da minha mãe.

Enrolo os brigadeiros, enquanto mamãe conta sobre a


novela da tarde que assiste. Não assisto, mas ouço, porque é bom
ouvi-la. Amo nossos momentos juntas.
— Enfim, mudando de pato pra ganso, me diga o que está
deixando você com essa carinha pensativa? — questiona enquanto
decora os cupcakes.
— Nada... — Sinto seu olhar em minha direção. — Curiosa!
Bom, hoje o Natan aprontou uma, e não queria estar pensando
nisso, mas acho que... Esquece, mãe. Não importa. Preciso de outro
refratário.
Me olha desconfiada, mas indica onde pegar.
Lavo as mãos para não sujar tudo e pego.
— Eu acho divertida essa amizade maluca de vocês. Mais se
matam do que qualquer outra coisa, mas, ainda assim, estão ali no
mesmo ambiente um pelo o outro, mesmo que neguem até a morte
isso.
— Nem comece. A senhora só passa pano para ele, porque
o acha lindo. Mãe, as vezes que o viu na revista ele só foi educado
com a senhora para se aparecer. Natan é insuportável!
Ela ri alto, como sempre.
— Hoje ele me fez tirar alfinetes dele. Eu não sou paga para
isso! — Retorno à mesa com o refratário.
— E tirou?
— Tentei, mas ele me tira o pior. Deixei que se virasse
sozinho. Olha, esse tempo todo trabalhando ali e me tornando
amiga daquilo, vai exigir muita saúde, porque ele vai conseguir me
matar de ataque cardíaco! — bufo conforme volto a enrolar o
brigadeiro interminável, e com um cheiro divino.
— Por falar nisso, avisou do médico amanhã?
— Sim. Irei entrar mais tarde.
— Obrigada, filha. Sabe que odeio ir em médico sozinha e
seu tio não vai conseguir me acompanhar.
— Relaxa, a melhor companhia que poderia ter fará isso. —
Pisco e ela sorri.
— Mesmo jeitinho cara de pau e levada do seu pai.
Sorrio com orgulho, porque é a melhor comparação que eu
poderia ter.

Já é tarde, estou deitada em minha cama, mexendo no


celular. Meu tio ainda não chegou, disse que pegou trânsito e está
no ônibus ainda.
Minha mente fica fervilhando com o que o Natan disse, e
toda situação que estamos aqui em casa.
Envio uma mensagem a ele, sem poder conter.
Não demora para ele me ligar, e me arrependo
amargamente, porque fico mais nervosa ainda, com medo da merda
que farei.
— Sobre o que quer saber da proposta? — pergunta direto, e
me ajeito na cama.
— A bonificação... — Engulo em seco. — Qual o valor dela?
— Depende da coluna que escolher, Violeta. Algumas o
salário é bem alto. — Sua voz é séria, como sempre.
— E se eu não escolhesse nenhuma, poderia escolher o
valor? — Mordo o cantinho da boca e fecho os olhos nervosa.
— Violeta, de quanto está precisando? Seja direta!
— Eu... Esquece...
— Sabe que odeio isso. Fale de uma vez.
— Cinquenta mil. Por esse valor, eu aceito essa proposta
maluca, e não precisa me dar nenhuma coluna. — Meu peito se
aperta um pouquinho, mas pode ser infarto de estar aceitando essa
merda.
— Eu vou querer saber por que está me pedindo esse valor?
Violeta, eu não quero uma funcionária metida com agiotas!
Parece que posso visualizar sua expressão séria, testa
enrugada e a aparência jovial sumindo, e a que faz jus a sua idade
surgindo de repente.
— Babaca! Eu não mexo com isso. Quer saber? Esquece,
Natan! Boa noite. — Desligo a chamada.
Esfrego o rosto envergonhada.
Como pude pensar que ele daria um valor alto assim?
— Eu sou uma lerda! Mas ele não precisa saber disso, claro.
Respondi alguns e-mails que minha secretária me repassou.
Agora estou verificando a capa da nova edição da Sunshine, que
terá como tema principal dois estilistas que tem feito muito sucesso
nos últimos tempos, uma brasileira e um americano. Faço as
marcações no rascunho da capa, diretamente pelo nosso programa
exclusivo, assim como parte de muitas coisas que usamos na
revista.
Não me lembro bem quando que a revista teve esse estouro,
mas me lembro de como tudo começou. O que antes era apenas
uma pequena sala, e com uma revista apenas com foco digital no
Instagram, que nem tanta potência tinha como hoje, e em um
pequeno site, bem simples, hoje está dentro de um prédio inteiro,
em um dos lugares mais falados de São Paulo, a avenida Paulista.
Além do site hoje ser muito bem estruturado e programado pelos
melhores desse ramo, nossas redes sociais carregam milhares de
seguidores, em todas as plataformas que utilizamos. E claro, hoje
não falamos apenas de moda, mesmo que esse seja o foco
principal. A Sunshine fala principalmente sobre mulheres, homens,
todos os gêneros existentes, sonhos, personalidades, estilos, vozes
importantes. Meu foco hoje é mostrar que a moda é muito além de
roupas e toda grife.
Bom, não passei anos estudando fora do país e me
aperfeiçoando em outros cursos à toa. Se tem uma coisa que posso
dizer que herdei em cem por cento de minha família, é o fato de ser
persistente no que desejo. O que eu coloco minha mão, levo até o
fim. Não consigo me lembrar de uma única vez que eu tenha
recuado por alguma dificuldade, apenas algo que abandonei, uma
única vez e não gosto de pensar muito sobre. O que me lembra, que
ainda esse ano conseguirei levar a Sunshine aos Estados Unidos,
expandir ela internacionalmente. Eu não quero que ela seja apenas
falada lá fora: eles precisam conhecer, consumir, viver a Sunshine.
Eu conseguirei isso, nem que eu tenha que me desdobrar em mil
partes para conseguir.
Envio pelo iPad tudo que precisa ser ajustado na capa.
Confiro as colunas diárias, e vejo que todas estão programadas
para sair no horário. Temos a revista impressa também, mas ela
funciona um pouco diferente. Com toda essa tecnologia, as pessoas
raramente pegam uma revista nas mãos para conferir o que elas
podem encontrar on-line. E foi pensando nisso, que as nossas
revistas se tornaram uma forma de press-kit, que enviamos a
algumas pessoas e aos assinantes do nosso site para receberem
em primeira mão a edição daquele mês. Isso gera muitos
engajamentos a nós, pois em grande maioria, as pessoas
selecionadas fora da lista de assinantes on-line, são em maioria
modelos, influencers, estilistas, designers, e assim por diante. Todo
mês minha equipe separa uma lista de pessoas para receber, falar
publicamente e exibir o que está por vir.
Quando comecei, lembro-me de que as pessoas não
queriam muito esse assunto. Afinal, não fazemos fofocas, falamos a
verdade, exibimos matérias importantes ou de entretenimento. E a
peça-chave foi buscar a atenção do público que queríamos. Com
isso contratei uma grande empresa de publicidade em São Paulo,
hoje conhecida por Luna Publicidades[1], e eles cuidam até hoje da
nossa publicidade, propaganda e marketing, além do dono possuir
uma gráfica onde temos parcerias com as impressões das poucas
tiragens da revista.
Com tudo isso, criamos um setor para cada coisa da
Sunshine, mas o setor mais visitado é o de moda. Nele recebemos
kits, amostras de maquiagens, perfumes, joias, muitas vezes roupas
de grifes... Os lançamentos mais estourados, as marcas nos
enviam, para testarmos e falarmos sobre nas redes sociais, e site.
Nunca fui um homem chato nesse quesito, então sempre acabo
deixando os funcionários levarem amostras, testarem as coisas, só
as joias e roupas de grifes, que os testes são dentro da revista, pois
normalmente são apenas empréstimos para falarmos com mais
precisão. Só, que com isso, toda vez que entregadores entram
nesse setor, o caos reina naquele lugar. O que me lembra, que
quem o lidera é exatamente quem eu espero até agora, com uma
hora de atraso do prometido.
Violeta disse que passaria em meu apartamento em uma
hora, já faz mais de duas horas que ela disse isso. Não fui a revista
hoje, preferi trabalhar de casa. Mas, depois da ligação estranha na
noite passada, algo me diz que essa garota se meteu em
problemas, e espero não ter a polícia a caçando na revista.
A porta do elevador se abre, e sei bem quem é, já que
poucos tem acesso a cobertura facilmente, e ela é uma das que
tem, pois, quando Olga finge não ver minhas ligações, Violeta quem
me socorre com algo, e isso não posso negar.
— Fala, bebezão! O que houve? Olga não mandou sua
vitamina na mamadeirinha ou deseja os cortes dos pães em formato
de carrinho? — a maluca provoca e juro que ainda serei preso por
homicídio.
Joga a bolsa no meu sofá, e retira os saltos caminhando na
direção da cozinha toda em conceito aberto, e abrindo a geladeira.
— Me pergunto quando foi que te dei tanta liberdade, garota!
— Juntos os papéis sobre a ilha e ela ri, pegando uma garrafa de
água.
— Pois eu te digo. Foi exatamente no dia que bebeu demais,
estava caindo, sua secretária queridinha não quis te atender, e fez
muito bem, e tive que vir te socorrer, e limpar seu vômito. Querido,
era para, no mínimo, eu ser sua herdeira! Agora solta a bomba,
porque ainda tenho que ir para a revista. E já adianto, não buscarei
ternos em lavanderia, não vou conferir agenda nenhuma, e não
peço almoço. Sério, como vocês cheio da grana, poder, chegam
aonde chegaram? Porque, porra, tudo dependem da secretária, a
real é que elas sabem mais das suas vidas e negócios que vocês.
Bebe a água, e caminho até a geladeira, pegando uma
garrafa de água para mim.
— Acabou a reclamação do dia? Não foi para ouvir seus
podcast diários que te chamei, Violeta.
Ela me olha, conforme encosto no balcão ao seu lado.
— Olha, eu não tive um bom dia. Então, é com esse humor
de hoje que vai lidar.
Bebo a água e deixo a garrafa de lado, levando as mãos até
o bolso da calça.
— E a mocinha estressada teve um dia ruim por que
exatamente? — Sei que também a provoco as vezes, mas é mais
forte que eu.
— E isso realmente te importa? Vamos, Natan. Agiliza. Tenho
hora! — Se afasta indo em direção aos sofás e se sentando neles.
Sigo a dona de muito dos meus problemas, mas me sento na
poltrona ao lado.
Observo a loira, e uma coisa que infelizmente não posso
negar é a beleza que possui. Violeta é muito bonita. Um semblante
de puro deboche, mas quem a conhece sabe o quanto é pior que
isso. Lábios rosados naturalmente, e bem desenhados, olhos
bonitos, cílios longos, não usa muita maquiagem, e dá para notar
seus traços mais naturais. Os cabelos loiros naturais, que muitas
buscam o tom em salões de beleza. Um corpo magro, mas com
curvas, e um sorriso diabólico.
Desgraça.
Estava na cara que essa diaba seria problema para mim.
— Vou direto ao ponto, por que precisa dos cinquenta mil
reais?
Ela ergue a sobrancelha.
— De novo isso? Esquece. Eu estava com sono, falei bosta.
Esquece esse assunto, Natan!
Noto que hoje ela não está realmente com muitas gracinhas.
Seu humor é ácido, seu semblante cansado e preocupado. Tem
alguma merda acontecendo, ela não sabe disfarçar muito bem.
— Vou reformular então. Me fale o motivo, e terá altas
chances de fecharmos o acordo. — Me olha desconfiada. — Estou
falando sério, Violeta. É um dinheiro alto, mas que não me fará falta,
porém, para você me pedir isso e aceitar fácil a merda em que me
meti, é sinal de desespero, e pode não parecer, mas me preocupo
com você! Ainda penso que me ligarão um dia dizendo que matou
alguém, ou foi presa.
— Nossa, que engraçado! Se preocupa comigo, porque sou
sua única amiga. É sua obrigação me valorizar. Além disso,
ninguém mais quer aquele horóscopo. Não sou idiota. Um pé na
minha bunda e se fode. E não acredito que segue mesmo com esse
plano infantil. Natan, fale a verdade a sua mãe. Assuma que mentiu
pelo orgulho. Por que é tão difícil a você de assumir que sua família
está certa? Você é solitário, e tudo bem. Sua vida, suas escolhas.
Pronto.
Porque eu realmente me sinto assim, mas não precisam
saber disso. Confessar isso seria como assumir que ter tudo que
tenho, me fez perder grandes coisas também.
— E por que é tão difícil para você ser sincera comigo sobre
sua vida também? Violeta, você praticamente sabe minha vida toda.
O que é que está acontecendo?!
Acho que devo ter pegado bem pesado no tom, porque a
menina começa a chorar, escondendo o rosto entre as mãos.
O que eu faço? Chamo alguém? Um médico? Caralho.
— Violeta... Eu... preciso chamar alguém?
— Que merda! — Ela me olha com o rosto ficando todo
vermelho. — Sou tão fodida, que arrumei um chefe-amigo bosta!
Não sabe nem me socorrer... — Enxuga o rosto e respira fundo,
parece que se acalmando, como um alívio de que precisava por
segundos.
— Como poderia se nem sei o que está havendo? Violeta,
que merda fez e agora precisa bancar advogados?
Ela revira os olhos e se levanta.
— O mundo lá embaixo é diferente do seu. Todos temos
problemas, mas para alguns resolver as coisas é mais difícil. Hoje
não é um bom dia, tudo dando errado. E eu não sei o que fazer,
porque não posso discar para a minha secretária resolver para
mim... — Encaro-a e ela respira com calma. — Desculpa, você
também não tem nada a ver com isso. E agora estou com a cara
toda ranhenta, e vermelha. Merda de dia! Deve ser praga das
pessoas que lidam com signos, vai que brincar com essa merda dá
ruim!
Meu celular toca em meio ao seu surto, e retiro do bolso
conferindo o que é.
Puta que pariu.
— Violeta, eu pago esse dinheiro. Não precisa me falar que
merda aprontou. Mas precisa aceitar isso, urgente.
Ela me olha sem entender nada.
— Como assim? Natan, bateu a cabeça? Homem, eu estava
desabafando, e do nada...
Levanto-me e a encaro ansioso, nervoso.
— Parece que me esqueci que nesse final de semana é
aniversário de casamento dos meus pais. Eu preciso ir, e mandaram
levar a tal noiva.
Ela balança a cabeça e começa a rir, esquecendo-se do
desabafo.
— Que filho mais bosta. Meu Deus! Mas o que é um peido
para quem já está cagado? — Ergo a sobrancelha. — Não reclame
do meu jeito. Eu aceito essa porra, mas não quero nada na mídia,
sem beijos, sem sexo, e nunca me deixe sozinha perto da sua
família quando perguntarem sobre essa relação. Eu não quero
mentir para quem pode me vender para outro país.
— Isso não vai acontecer... Por que diabos pensou em sexo
e beijo? — Cruzo os braços e sorrio de lado.
— Porque toda vez que um acordo desse tipo nasce, vem
acompanhado de clichês que eu quero passar longe! Me dá dor de
barriga só de pensar. E pare com essa cara de idiota! — reclama. —
E tem mais, nesse tempo se formos ter que ficar lá, terei que vir
algumas vezes, minha mãe e tio podem precisar de mim. Ah, e não
menos importante, querido noivinho, esse dedo lindo aqui — mostra
o anelar — vai precisar de um anel. Se é pra foder tudo, que faça
direito, pois mentir sobre isso é sério demais, e a fama ruim sempre
fica para o lado mais fraco, e deixa eu te lembrar só para o caso de
não saber: Eu sou o lado mais fraco, o que vai se foder. E tem mais,
controle o projeto mirim do inferno, conhecido por sua sobrinha. Ela
me odeia!
Começo a rir, sem ter como controlar.
— Deixe de ser louca. Melinda é um anjo! O diabo é você,
Violeta. Deixe a minha sobrinha em paz.
— Diga isso para a pestinha que me derrubou da cadeira no
evento passado, e quando foi visitar a empresa, rabiscou toda a
minha cadeira e grudou doces embaixo da minha mesa. Natan, ela
é a réplica do Chucky. E não me admira, com um tio desse... —
Pega a bolsa.
Esfrego o rosto tendo a certeza de que meus problemas só
pioram.
— Vamos na sexta-feira à noite. Te pego na sua casa —
aviso. — E pegue qualquer anel de amostra na revista, só me
mostre o modelo e dou conta com quem enviou.
— Que noivinho mais romântico. Minha mãe terá tanto
orgulho disso! — debocha.
— Vai contar a dona Zulmira?
— Claro! Ela precisa saber que a filha precisa de ajuda
psiquiátrica por se meter nessas merdas. Olha, você me agradeça
estar precisando dessa grana, e ter um coração lindo! — Calça os
saltos.
— Não reclame. Quem mais perde nisso sou eu. Vá para
revista, e não coloque aquele lugar abaixo.
Ela aperta o botão do elevador e sorri.
— Com o meu humor hoje, o máximo é atear fogo. Mas será
coisa básica, não se preocupe.
— Violeta! — digo entredentes e ela entra no elevador me
jogando beijinhos. — Se você... — as portas se fecham.
Parabéns, Natan! Você assinou seu óbito.
“Se você pode sonhar, você pode fazer...”
Não... Já vi isso em algum lugar... Seria plágio. Ai, meu
Santo dos horóscopos, que porra escreverei para doze signos na
próxima semana? Preciso deixar adiantado, já que Natan vai me
meter nessa merda e meu tempo será curto, afinal, farei de tudo
para aterrorizar seus dias.
“Peixes, se joguem no mar e sintam-se livres.”
Não! Alguém pode não saber nadar, acreditar nessa merda e
eu ser processada... Cacete, eu preciso de inspiração, e as fofocas
me rendem ela, porém nada muito bom nos últimos dias.
Bufo pela quarta vez e me levanto da minha mesa. Melhor
dar umas voltas no setor de moda, e ver se assim distraio a cabeça
e penso melhor nisso. Eu realmente acho que deveria ter algum
especialista nisso, esse povo que realmente entende dessas coisas,
porque a cada dia minha criatividade para inventar coisas sobre
signos estão piorando.
Entro no elevador, cansada, podre, acabada. O dia foi uma
merda. A consulta foi remarcada, o médico faltou. Tentei mais uma
vez colocar minha mãe no meu plano de saúde para conseguir a
fisioterapia e tudo deu errado. E terminei aceitando a proposta do
Natan e vendendo a mim... Eu sou...
As portas se abrem e Nina está parada à minha frente, toda
empolgada e cancelando meus devaneios.
— Reage, que chegou coisas novas! Menina, cada make
bafo! Vilu, precisa ver... — Me puxa do elevador e, por pouco, não
caio.
A morena alta e toda meiga sabe ser doidinha, às vezes.
— Ótimo, talvez me dê animo. Que dia do cão!
— Credo! Mulher, não diga algo assim. Positividade. O único
cão não está na empresa, então podemos comer em nossas mesas,
tocar o terror nesse setor, e respirar, sem pensar que ele vai brotar
na nossa cola a qualquer instante...
Eu disse que é doidinha, às vezes.
— Nem me fale. O insuportável não estar na revista já torna
tudo menos ruim. E quero comida japonesa, sua vez de bancar.
Olha, nem um aumento aquela porra me lança... Nina, será que eu
pequei tanto assim na vida só para ser humilhada sempre? Caralho,
não sou o Rambo para a vida achar bom me dar cacetadas diárias!
— Ou brincar com isso de horóscopos está trazendo coisas
ruins. — Dá de ombros.
— A única coisa ruim é o ser humano que me contratou...
Nina, acho que aceitei um contrato com o diabo! Tem um filme mais
ou menos assim, não? Preciso ver e descobrir como...
— Boa tarde, senhoritas!
A voz atrás nos faz pular, e eu engolir a alma que eu nem
sabia ser possível.
Cacete de carma infernal!
Nina fica pálida imediatamente, e eu me viro em câmera
lenta.
— Senhor Valle... Não iria ficar em casa? — pigarreio e ele
ergue a sobrancelha me encarando.
O infeliz está em um terno cinza, todo bem ajustado ao
corpo, bem perfumado e a postura que odeio: modo chefe on.
— E-eu... Com licença. — Nina some às pressas.
Grande amiga, tô fodida com essas amizades.
— Então sou uma coisa ruim, diabo... Mais alguma coisa? —
Leva as mãos aos bolsos da calça e sorrio.
— Ouviu errado. Não falava de você... Nem citei nomes. O
que quer aqui? Ficou com saudade da minha presença? — provoco
e ele me analisa.
— Não. Tive uma reunião de emergência. Mas já que estou
aqui, vamos, escolhe logo o anel para firmar essa merda. — A
arrogância sempre presente. Imbecil.
Começo a rir, e continuo caminhando com ele na minha cola,
sob os olhares dos funcionários vendo a paz deles de um dia
acabar. Faço um sinal discreto para um que já sabe o que fazer:
alertar todos os setores que o Titanic afundou.
Entro na sala repleta de coisas, e as pessoas nela saem
rapidamente, cumprimentando discretamente a figura atrás de mim.
— O que anda falando de mim para os meus funcionários,
Violeta?!
Paro perto de uma pilha de caixas e começo abrir.
— Por que pensa que eu falaria? Basta essa sua fuça de
arrogante entrar pelos corredores que todos te temem. Natan, você
sorri de verdade? Tem dentes? — Franzo o cenho em provocação.
Ele sorri revelando os dentes muito bem alinhados, brancos,
belos. Mas claro que o sorriso é de ironia e deboche.
— Meu sorriso sincero será quando eu te demitir e você
passar na porra do RH para pegar a demissão e não para fazer
fofocas! — Caminha em direção a bancada de vidro onde ficam as
joias. — Que porra de desorganização é essa? Como trabalha em
um ambiente assim?
— Já viu minha mesa? Eu trabalho até dentro do metrô da
Sé se deixar. Digamos que não temos tempo para organização,
quando tem um chefe com sua bancada de engravatados dizendo:
“Faz isso... Faz aquilo”... Somos humanos, sabia? — provoco e ele
pega uma caixa de camurça com anéis.
— Eu não tenho uma voz assim. E venha logo escolher isso!
— Viu? Só ordens! — Me aproximo dele e olho os anéis. —
Quanto romantismo. Minha mãe sonhando que eu daria a ela um
genro digno, romântico, e ofereço um assim... — Pego um anel com
uma pedrinha em formato de coração, delicadinho.
— Um assim o quê? Eu seria uma boa escolha a você,
garota! E porra, eu não daria algo assim a uma noiva. Isso é ridículo
e simples demais. Meus pais não são idiotas.
Gargalho jogando a cabeça para trás e ele me fuzila com o
olhar.
— Se acha mesmo... Como pode? Natan, cai na real: ficar
décadas solteiro, faz com que todas pensem que ou é um péssimo
homem, ou um cara solitário demais. E vejamos, é os dois! Ou seja,
ninguém pensa que seria uma boa escolha, quem dirá a mim. Eu
mereço um lorde, um homem romântico, quente, que me chame de
“sua”, e me faça colocar em risco a luta feminista por esse
pensamento e o desejo de ouvir alguém com uma pegada gostosa
me comandando. — Suspiro. — Qual anel daria, “senhor sou dono
do mundo”?
Pela sua cara, serei morta.
Ele pega um anel e fico olhando. É realmente bonito. Ele
analisa detalhadamente.
— Diamante em ouro branco... Esse aqui, o melhor nesses
anéis. Descubra a empresa para eu comprar antes que venham
atrás buscá-lo de volta. Veja se já tem material dele para revista, e
então pode já ficar com ele.
— E ser roubada no metrô? Amor, eu usar isso até meu dedo
levam, não terei tempo de implorar para deixarem a minha mão
inteira, e nem na bolsa eu confio. — Ele me entrega e seguro como
se minha vida dependesse disso. — Natan, se eu perder isso, vai
me ver estirada na rodovia! — Encaro-o perplexa.
— Volta de Uber para casa. Meu Deus, eu pago! Isso está
saindo cada vez mais caro... Que caralho de problema! — resmunga
colocando a caixa no lugar enquanto sigo olhando o anel. — Pare
de ficar vesga olhando isso, e esconda antes que desconfiem.
Ninguém aqui deve saber, se quiser isso longe da imprensa, me
ouviu?
Assinto apenas para concordar, mas nem prestei atenção
direito.
— Violeta! — Sobressalto quase derrubando o anel, e ele me
encara como se eu fosse seu castigo. — Eu vou me atirar desse
prédio antes de honrar essa mentira que me meti!
Passa por mim e continuo babando no anel.
— Me avise o dia que for fazer, vou comprar pipoca para
assistir! — grito e tenho a impressão de que ele me xinga, mas nem
quero saber, estou mais concentrada em como proteger isso sem
dar merda.
Ouro e diamante no meu dedo... Eu venci na vida? Ou
encaro isso como um problema? Se eu perder isso, o chefinho aí
me mata!

Olho a mulher andando de um lado para o outro, que nem


parece que sentia dor na coluna. Meu tio Omar está sentado ao meu
lado babando no anel, enquanto eu espero minha mãe abrir a boca
sobre tudo que contei.
— Relacionamento não é brincadeira! Onde já se viu
fazerem algo assim, Violeta? Mentirem sobre um noivado! Santo
Deus, eu errei, devo ter errado em alguma coisa...
— Com anel e tudo. Eu amei. Gatinha, arrasa, que se você
não servir, eu finjo ser o que ele quiser. Não penso duas vezes em
largar o emprego de cozinheiro no restaurante — meu tio diz e me
controlo para não rir.
Tio Omar é irmão da mamãe, e, segundo ela, sempre foi o
desvirtuado da família em tudo. Se assumiu gay há muitos anos, e
meus avós nunca foram contra. Muito pelo contrário, sempre
bateram de frente contra todos que o atacavam, é o que eles dizem
e acredito de verdade. Mas sempre deu muito trabalho, com seus
romances, festinhas, e a cabeça maluca.
— Quer continuar tendo uma casa para morar? Então pare
de compactuar com essa loucura — avisa ao irmão. — Gente, não
estamos passando fome. Tudo isso por dinheiro... Violeta, isso é um
absurdo! — Cai sentada no sofá e respiro fundo.
— Mamãe, ainda não estamos, mas se continuar
aumentando os juros de tudo, logo nem o aluguel pagaremos mais.
— Dou de ombros.
— Que, por falar nisso, está atrasado! — meu tio afirma e
concordo.
Quando pagamos parte da dívida com a venda da casa,
outra parte restou, que a cada dia piora, devido aos boletos com
juros. Não queríamos deixar meu pai carregar a fama de péssimo
pagador, e lutamos para arcar com tudo. Mas não ganho horrores
de dinheiro, meu tio também não, e a clientela da mamãe não faz
festa todo dia. Ou seja, muitos boletos acumulando, e a senhorinha
que nos alugou aqui é um anjo que nos entende, e não cobra juros
quando atrasamos o aluguel.
— É o mínimo, mãe... Por ele... Saber que meu pai escolhia
meus estudos ao invés das contas e virou essa bola de neve só me
faz sentir culpa. Ele jamais deveria ter ocultado isso. Eu teria
trancado a faculdade se soubesse que as coisas estavam ruins.
Nunca o deixaria arcar com os livros, os transportes, nada disso.
Daria um jeito. Tentaria novamente uma bolsa de estudos… não sei.
Ele não pode ter feito tudo em vão. — Engulo em seco.
Ela respira com calma e esfrega o rosto cansado. Meu tio
passa o braço ao meu redor e sorri.
— Querida, não se culpe por isso. Reginaldo queria fazer
muitas coisas fora do controle dele, e sempre nos proteger e nos dar
o melhor. Era um cabeça-dura assim como você! — Sorrimos. —
Mas fazer tudo isso por culpa, não é solução. É errado. Não se
brinca com o amor, com o destino.
— Mamãe, meu destino deve me odiar, acredite. Nem vai
afetá-lo.
Ela ri e balança a cabeça.
— Não sabem o porquê de estarem no caminho um do outro
mesmo entre trancos e barrancos. Isso é algo sério. Não pensam
em quando a família descobrir? A dor que causarão a eles?
— Não vão descobrir. Mamãe, eu engano o Natan com
tantas coisas. Vai ser fácil. — Forço a mim mesma acreditar nessa
bosta.
— Quer saber? Espero não ter que lhe dizer: Eu avisei. —
Se levanta. — Vou tomar um banho. Afinal, nada do que eu diga vai
mudar essa ideia maluca, ainda mais com esse aí apoiando. Dois
loucos.
Ela sai da sala e meu tio me encara.
— É para poder sobrar grana para os tratamentos dela
também, né? — questiona e assinto, porque me conhece muito
bem. — É errado, mas como diria a música: “o que é um arranhão
pra quem já está fodido?”. — Rimos. — Só tome cuidado. Essas
coisas nunca terminam bem. E, meu amor, com você tudo é uma
tristeza!
— Me ama ou me odeia? — Faço uma careta.
— Amo, e por amar muito preciso dizer que tem que hidratar
esse cabelo. Está péssimo!
Se nem minha vida é tranquila, quem dirá meu cabelo com
vida própria!
— Quer saber? Preciso pensar no que escrever no
horóscopo. Quer me ajudar?
— Claro. O carinha do Tinder que eu ia sair furou... Olha,
que vida viu! — resmunga e sorrio. — Zeros transas essa semana!
Ao menos alguém tem transado, só não essa semana.
Quando foi que transei com um pau de verdade e nada
emborrachado, que ainda me deu choque na boceta, por que
comprei um falsificado? Que vida filha da puta. Quem diria que
sessenta reais, se tornaria perigoso. Se arrependimento matasse,
eu estaria enterrada e com a boceta eletrocutada.
Saio do meu quarto e o som da cantoria pela casa me faz
repensar no quanto ser solitário é ótimo em grande maioria, levando
em consideração que não preciso aturar todos os dias a pessoa que
trabalha na limpeza do apartamento, vulgo, sobrinha da governanta
da minha família, e parte da turma das fofoqueiras intrometidas que
lhe rodeiam... É, ser solitário pode ser bom sim, e meus pais
deveriam valorizar esse meu estilo de vida. Desse modo evito os
chatos, não aturo os insuportáveis, não necessito dar satisfações a
ninguém, e posso viver na paz do meu lar sempre que o mundo me
estressa, o que é quase sempre.
Passo pela porta do banheiro social onde a mulher bem alta,
cabelos bem pretos, está com um lenço amarrado nele, avental,
luvas, e fones, enquanto dança cantando e esfregando a cuba de
vidro da pia.
É, eu tenho castigos diários.
Passo na cozinha, pegando o café que ela preparou e já
esperando a diabete que virá, pois Zafira ama um café melado.
Acordei muito cedo hoje, como de costume. Malhei, adiantei
algumas coisas do trabalho, pois à noite pego a estrada para o
inferno... Quero dizer: para a cidade da minha família.
Olho o relógio em meu pulso e preciso sair logo. Bebo um
pouco do café, e pego minhas coisas, enviando uma mensagem ao
meu segurança particular, Dionísio, que os serviços dele por ora
estão dispensados. Que tire folga nos próximos dias, mas fique
atento porque a qualquer instante um evento, ou compromisso,
pode surgir e ele será necessário. Desde que minha vida virou um
tormento público, passei a necessitar de mais segurança, ter mais
controle na entrada das pessoas em meu apartamento, na empresa,
e buscar estar sempre acompanhado de segurança em lugares
públicos demais. Dionísio foi contratado em uma empresa de
segurança particular bem competente no estado, e ele fica a frente,
mas com sua equipe sempre em seu comando, principalmente
quando os eventos exigem mais segurança, afinal, nunca se sabe
quando um louco pode surgir.
Pego as duas malas, e sigo para o elevador.
— Zafira... Esquece. — Nem perderei meu tempo, não vai
ouvir. Mesmo sendo uma intrometida dos infernos, ela sabe cuidar
bem daqui, e sei que vai fechar tudo e ativar os alarmes.
Ela mora na cidade da minha família, mas, quando vem a
São Paulo a trabalho em outras casas, passei a me tornar parte da
sua lista, por já conhecê-la, e odiar pessoas desconhecidas
cuidando da minha intimidade dentro do meu lar.
Entro no elevador e respiro fundo, porque o inferno vai
começar em poucas horas. Ajeito a gravata, mas penso seriamente
em apertá-la de vez, me enforcar e acabar logo com essa loucura
toda, mas não darei esse gostinho a Violeta, de saber que está livre
de mim. Não quando sei que ela sonha em pisotear minha cova.

Olga repassa a agenda comigo, e sua boa vontade é tão


contagiante, que eu poderia fechar a revista para sempre, de tanto
ânimo que me oferece.
— Qualquer coisa precisa me avisar com urgência. E fique
atenta, posso precisar de você nesse tempo. Não irei ficar
totalmente ausente, irei comparecer aqui, até porque não suportaria
ficar naquela cidade tanto tempo sem sair, seria o mesmo que me
jogar na fogueira ainda vivo. — Esfrego a têmpora e ela assente.
— E... a Violeta vai se ausentar também, é o que corre pelos
corredores da empresa. Finalmente a despediu? — Posso estar
louco, mas noto um vislumbre de esperança em seu olhar.
Eu te entendo, Olga. Violeta aterroriza a mim também.
— Para o meu azar, não. Ela... Ela tem algumas coisas
pessoais e importantes. Vai trabalhar em home office. Mas foque no
que importa. Na minha ausência, sem problemas, não deixe esse
lugar pegar fogo. O último andar vai estar em funcionamento diário,
qualquer coisa avise meus representantes, e eles tentarão resolver,
do contrário, qualquer problema mais grave, me avise
imediatamente, entendeu?
Assente, anotando tudo. Não sei se ela anota por
organização, por memória curta, ou porque peço coisas demais.
Talvez seja por tudo.
— Pode deixar. Ah, hoje mesmo sairá a entrevista com a
modelo cearense. Já passou pelos editores, revisão, e já
estruturaram no site para mostrar como ficará. Precisa apenas de
sua aprovação. E pode ser liberado a hora que desejar.
Assinto e ela se retira com um aceno que retribuo.
Acesso ao site para já conferir isso e me livrar dessa tarefa
ao menos, pois tenho muitas outras para adiantar.
Confiro algumas coisas em rascunho, e me pego lendo sobre
os estilistas, uma brasileira do interior de São Paulo, e o outro um
americano de San Francisco, uma matéria incrível, repleta de
informações, falando de como começaram, de tudo que passaram
para chegar até aqui, com seus nomes em todo mundo, sendo
reconhecidos por todos que gostam da moda, ou que apreciam
alguma de suas criações. Tem fotos de seus primeiros croquis, os
primeiros rascunhos, e isso me faz sorrir.
— Olha, o satanás sorri! — Sobressalto com a voz. — Vim
avisar que adiantei os horóscopos dos próximos dias, mas nem sei
se vale a pena. — Violeta dá de ombros. — A cada dia os acessos a
essa coluna diminuem. Acredita que uma mulher me acusou de ser
uma colunista de horóscopos mentirosa e sem respeito pelos
signos?
— E você tem? — Ergo a sobrancelha e ela ajeita a postura.
— Nem acredito nisso, se deseja saber. Mas o assunto é
outro. — Ela olha para fora, e fecha a porta de vidro. — Não
queremos que isso vaze. Esse buraco restringe bem o som? Natan,
por que tudo é de vidro? Não tem privacidade nem de coçar o saco!
Se aproxima, se sentando na cadeira à frente da minha
mesa.
— É uma forma da equipe se sentir próxima a mim, e
estarmos mais conectados... Por que estou explicando?
Desembucha, Violeta. Estou ocupado! — resmungo e ela sorri.
— Bom, falei com minha mãe e meu tio. Contei a verdade.
Eles não vão abrir a boca. Mas minha mãe não está nada feliz com
isso... Natan, acha mesmo certo essa mentira? Seus pais são tão
legais. Na verdade, sua família é muito boa, tirando a praga mirim.
Encaro-a, sabendo que não irei me livrar dela, até que
deseje sair.
— Veja como fala da minha sobrinha! — Faz uma careta. —
E sim, é uma grande merda. Um grande erro. Mas que não voltarei
atrás. Se você quiser desistir, é bem tarde, pois metade do dinheiro
já está na sua conta.
Franze o cenho e me olha assustada.
— Quê? Como assim? Eu poderia desistir, sumir com o
dinheiro...
— Não faria. Você é honesta demais quando quer, Violeta.
Honra muito a confiança da sua família, e nunca faria algo assim, no
mínimo devolveria o dinheiro quando o visse após desistir. Por pior
que seja, é uma boa pessoa também. Só irritante pra caralho. E não
sei que merda se meteu, mas para ter aceitado essa bosta que fiz, é
porque precisa realmente desse dinheiro.
Ela sorri toda meiga, e nem parece a diabólica infernal.
Se levanta e suspira.
— Posso te fazer uma última pergunta?
— Não será a última, mas vai em frente. Já detonou meu
tempo. — Cruzo as mãos sobre a mesa.
— Se não existisse o acordo, e eu te pedisse, você
emprestaria?
— Não — respondo rápido e ela assente, se vira para sair. —
Violeta. — Me olha, tentando demostrar que não se chateou. — Eu
te daria o dinheiro, não emprestaria — confesso.
— Então nunca precisou de mim realmente nessa bagunça,
né? — Assinto. — E por que me meteu na prancha desse navio
pirata?
— Simples. Eu confio em você para muitas coisas, exceto
para salvar minha vida. Somos amigos, não é o que sai berrando na
minha cara sempre que quer algo e te nego?
Ela ri e concorda.
— Isso está estranho. Minutos juntos e não brigamos?
Credo! Não, pode parar. — Se estremece. — E Natan...
— Chega. Foram mais que uma pergunta. Violeta, vai
trabalhar, e me deixe fazer meu trabalho! — Esfrego o rosto e ela
reclama.
A loira usando uma calça jeans escura, saltos, e uma camisa
branca, sai resmungando, e toda linda. A diaba é linda, viu!
Uma mensagem da minha irmã chega só me lembrando de
que falta pouco para começar o meu teatro do terror.
Parabéns, Natan! Da próxima vez que quiser ter ideia de
adolescente enrascado, bate bastante punheta para acalmar como
um provavelmente faria, e não faça uma palhaçada como essa.
Torno a trabalhar e focar na entrevista da modelo dessa vez
para então liberar.
Onze horas da noite, é o exato horário que começamos com
a viagem para o interior. Tudo porque Violeta enrolou horas para
preparar uma mala... Uma única maldita mala!
O nosso destino não é tão longe, mas a chuva ainda fraca,
que já começa a cair, é o suficiente para tornar mais demorado o
caminho.
— Eu deveria ter jantado. Estou com fome! — reclama ao
meu lado, e nem perco meu tempo olhando-a.
— Pelo tempo que demorou por uma única mala, era para ter
comido trezentas vezes.
— Muito engraçado... — ironiza, e sinto seu olhar sobre mim.
— Mas vai, me diz, não se sente incomodado sabendo que terá que
mentir para todo mundo sobre uma coisa que deveria ser séria?
Natan, tem um anel no meu dedo que vale mais que meus dois rins!
Nego com a cabeça, e desligo o ar-condicionado do carro.
— A merda foi feita, não tem como ser desfeita mais, não por
ora. Falha minha, tenho que assumir — respondo sem emoções.
— Você é o próprio iceberg, e ainda vai morrer congelado na
sua própria frieza! Ninguém é totalmente feliz assim, pode enganar
a todos, menos a mim. Nunca se meteria nessa loucura se não
soubesse que eles estão certos, mas o seu orgulho anda com sua
frieza e ambos se unem a sua solidão! É exatamente tudo que acho.
E não vou insistir mais nisso. Eu tenho um motivo para te ajudar,
grana, preciso dela. Já você, é bem pior, não que anule meu erro.
Porém, está mentindo para seus pais, sua família sobre algo sério.
Ouço suas palavras, mas me limito ao silêncio. Eu sei
assumir quando estou errado, e este é um desses momentos, mas
algo me impede de voltar atrás da mentira. Talvez a vergonha em
confessar que precisei mentir para me sentir melhor diante das
acusações frequentes que recebo, ou das verdades que sempre
acabo por ouvir. Ter toda essa fama e dinheiro me trouxe a solidão,
e parece que me agarrei tanto a ela, que acabei me esquecendo
como é realmente viver, e assumir que todos sempre estiveram
certos, e que meu pânico disso tudo me fez entrar nessa mentira, é
o mesmo que dizer que talvez esse sucesso todo não esteja sendo
cem por cento prazeroso também.
Ela liga o som do carro bem baixinho e fica quieta, e é bom.
Violeta sabe entrar na minha cabeça como ninguém.
Já faz umas duas horas que estamos rumo a cidade. Pontos
de alagamentos espalhados, a chuva tem piorado, e o trânsito se
formou como já era previsto. Claro que tudo em minha vida costuma
ser bem caótico, e esse início de viagem não poderia ser diferente.
Estou com fome, cansada e apertada.
— Ainda falta muito nesse caos? — indago curiosa e ele
assente, com um braço apoiado na janela fechada, dirigindo apenas
com uma mão do volante da sua Mercedes preta.
— Se não estivéssemos mais parados do que qualquer outra
coisa, provavelmente estaríamos mais perto de chegar, mas nem
chegamos aos pedágios ainda.
— Eu daria tudo para sairmos um pouco desse carro e...
Natan, Deus ouviu minhas preces! Olha. — Aponto para as luzes do
lugar a minha lateral, um pouquinho à frente. — Por favor,
precisamos parar. Minha bexiga vai explodir. Eu tenho que fazer xixi.
Esticar as pernas, comer qualquer coisa... É sério. Estou com
tremedeira já.
Ele se inclina olhando e começa a rir de um jeito irônico e
assustador.
— É brincadeira, né? — Balanço a cabeça negativamente e
ele me olha sério. — Violeta, eu não vou entrar em um motel
qualquer!
— É o que temos. A chuva está piorando, o trânsito um
inferno, minha pressão caindo a cada vez que a fome piora, e vou
fazer xixi nas calças. Então se não quiser seu belo carro mijado, e
eu desmaiada e você tendo que explicar no hospital essa merda
toda, é melhor parar naquele motel, pegar um quarto e me
alimentar! — Aponto um dedo na sua direção e ele me olha bem
irritado.
— Esse lugar deve ser um limbo! Olha o nome disso, Violeta!

“Motel – Faz Tudin”

— Ué, deve ser mineirinho o dono, ou a dona. Não são eles


que encurtam palavras? Achei original. E na minha terra isso chama
xenofobia e preconceito! Deixe de ser insuportável. Pode ter pães
de queijo maravilhosos. Eu estou à beira da morte! — grito.
— Entenda uma coisa: esse lugar tem tudo, menos pão de
queijo. E eu não vou entrar nessa porra nem nessa vida e muito
menos em outra! — rebate bem nervoso e quero esbofetear sua
cara.
— Você já foi um amigo muito melhor. Tudo bem. Que minha
bexiga exploda e eu desmaie! — Reviro meus olhos.
— Perfeito!

Entramos no quarto 65 e começo a rir da cara de ódio


estampado no rosto dele. Mas ele não teve escolha, não quando
ameacei urinar no acostamento.
Não tenho tempo de prestar muita atenção, corro para o
banheiro, que tem até banheira, achei chique.
Me alivio, sentindo uma leveza enorme me dominar, e a
bexiga parando de doer aos pouquinhos. Assim que termino, lavo as
mãos, e fico olhando ao redor.
Saio do banheiro, e Natan está encostado perto da porta,
braços cruzados e bem irritado.
— O banheiro tem florzinhas, achei tão fofo! — Sorrio
olhando ao redor.
Um quarto bastante bonito, devo admitir. Lembra bem hotel,
e não como eu imaginava que um motel deveria parecer. Já fiquei
em hotel? Sim, uma vez com um evento que a Sunshine fez, e o
hotel fechou para os funcionários naquele dia. O que é grátis, eu tô
lá.
— Isso vai sair bem caro, Violeta! — o Sr. Gelinho reclama e
apenas sigo em direção ao frigobar pegando algo para beber, e
puxando um pacote de batata de cima do balcão onde tem outros
tudo enfileirados dentro de uma cesta.
— Para de ser chato. Pense nisso como uma bonita
aventura. E além do mais, é minha primeira vez em um motel. Não
estrague o momento.
Abro o refrigerante e o pacote e começo a comer e beber.
— Se eu pudesse escolher te matar por causa de um dia
específico, hoje seria um deles! Você tem dez minutos para
descansar e sairmos daqui.
— Vai ficar feio para você. Será piada interna daqui, hein.
Vão pensar que brochou, ou tem ejaculação precoce. Dez
minutinhos e nem totalmente lubrificada eu estaria! — pirraço e ele
me fuzila com o olhar.
Ainda bem que minha família sabe com quem estou. Se eu
sumir, ele será o principal suspeito.
— Com dez minutos, até um orgasmo eu te daria, então sim,
você estaria bem lubrificada, Violeta! — fala com a voz grossa, e me
engasgo com a batata.
— Nossa, garanhão! Pega leve, terceira idade. — Gargalho.
— Não me irrite além do que já estou, porque te largo aqui
para bancar esse lugar sozinha.
— Não é nem louco... Se bem que se quiser... Já tenho vinte
e cinco mil reais na conta! — Pisco, mas me calo assim que
caminha na minha direção.
Mundo, foi bom viver até aqui.
Se senta ao meu lado, e estendo o pacote de batatas a ele,
mas recusa. Óbvio que faria, pois nunca vi ele comer nada além de
coisas saudáveis ou “comida de verdade mesmo”, não essas
coisinhas.
— Já foi a um motel? Vamos conversar, assim o tempo
passa rápido, e podemos ir embora logo, antes que tenha um treco.
Ele bufa, esfregando o rosto e apoiando os braços sobre as
pernas e cruzando as mãos, quando seu corpo se curva um pouco
para a frente.
— Uma vez. Não suporto esses lugares. Entre um motel e
um hotel, prefiro pagar bem caro em um hotel.
Sorrio.
— Claro que prefere. Você visa sempre o luxo, e não está
errado. É seu padrão de vida, seu estilo. Tem que aproveitar um
pouco, trabalha demais. E realmente não é um lugar do seu estilo.
— O que quer dizer com isso?
— Simples, você é muito engomadinho, seus passeios são
outro patamar, ao estilo lanchas, navios, aviões, helicópteros, hotéis
cinco estrelas, restaurantes com as melhores críticas, o shopping
sempre mais caro.
— Não frequento apenas shoppings caros, Violeta! —
resmunga e começo a rir.
— Natan, você não sai do Shopping Cidade Jardim! Quando
suas reuniões são despojadas, marcam nos restaurantes de lá.
Acho que o lugar mais simples digamos assim, que frequenta, e
nem é toda pessoa que tem condições de ir com frequência, é a
Starbucks da Av. Paulista, ou as cafeterias e restaurantes por lá,
mas isso quando vai sozinho.
Me olha surpreso e o encaro confuso.
— Como sabe tanto da minha vida? — Franze o cenho.
— Como não saber? Tudo a mídia diz, além disso, eu já te
disse diversas vezes que costumo ser mais sua secretária do que a
Olga, que ganha para trabalhar quando acha conveniente, mas
sempre que tem feriados prolongados, depois ela mete um calote no
trabalho com diversas desculpas e sobra toda sua agenda na minha
mão. Só o salário dela que não vejo na minha conta, porém quem
sou eu para criar conflitos, não é? — Faço uma careta divertida e
torno a comer.
— Mas não é apenas isso. É porque é uma intrometida
curiosa. O que quer descobrir, descobre. Além de ter uma lábia
perfeita para enrolar os outros. Deveria ser jornalista, escritora ou
coisa assim, é ótima em aumentar dramas, criar conflitos, e me
deixar puto e prestes a querer te matar em um curto espaço de
tempo, e logo depois consegue me enrolar de novo e se safar com
suas histórias de pescador!
Sorrio sem jeito, porque mal sabe ele o quanto eu desejaria
estar escrevendo algo importante para a revista ou realmente focar
no que sempre desejei antes de conseguir vaga na Sunshine, mas
se antes não tinha futuro isso, após meu pai vir a falecer e eu ter
que focar no que me traria dinheiro imediato, mesmo que em pouca
quantidade, só piorou a situação.
— E ainda assim não vive sem mim. Eu sei, sou a melhor
coisinha da sua vida, bonitão. Agora me fale, sabem da nossa
chegada? Porque chegaremos de madrugada, e não estou a fim de
acharem que é uma invasão em domicílio, e terminarmos na
delegacia.
— Sabem, mas tenho acesso... Pode não parecer, mas ainda
é minha casa aquele lugar.
— Eu não disse nada! — Dou de ombros. — Olha, da
próxima vez que pretender inventar um surto desse, me avise com
antecedência que deixo um lanchinho na mala.
Termino a bebida e o pacote de batatas, enquanto ele
responde algo em seu celular, que começa a tocar.
— Meus pais estão acordados, e preocupados. Precisamos
ir, vou tentar pegar um caminho melhor, ver se o GPS encontra algo.
Ou vão virar a madrugada preocupados.
— Sim, senhor. Estou levemente alimentada e minha bexiga
está salva. Vamos embora, noivinho! — brinco, jogando tudo no lixo
e ele me lança um olhar que diz muito sobre todas as formas que
pode me enforcar, e nenhuma é positiva, do tipo que eu gemeria de
prazer ao invés de dor.

Ele finalmente conseguiu encontrar um caminho menos


complicado, e segundo o GPS estamos a vinte minutos da cidade.
Passamos pelas placas, e leio os nomes

Ambas as cidades são bem vizinhas, e é para esquerda que


vamos. A cidade de Monte Amor, onde a placa enorme da entrada,
toda fofinha e repleta de flores e corações nos deseja boas-vindas.
— Chegamos ao inferno!
— Credo, Natan! Olha que lugar fofinho. Já ouvi falar muito
dessa cidade e da cidade ao lado. O turismo é pesado por essas
regiões.
— Enquanto uma é conhecida pelas fofocas, na minha se
intrometem em sua vida, e acham que tudo tem que terminar em
casamento. Então sim, é como o inferno para mim.
Não dou ouvidos ao insuportável. Apenas observo um pouco
do que consigo ver em meio à madrugada. Não chove aqui, mas
venta bastante. A cidade dorme, e parece ser bem pequena, bom,
tem menos de dois mil habitantes, é o que deu para ler na placa ao
lado. Pelo visto, todos devem se conhecer por aqui.
O caminho até a entrada do que aparenta ser uma chácara,
não é longo. O lugar é um ovo, isso é muito claro.
Natan pega um pequeno controle no bolso da calça, e aperta
abrindo o enorme portão que abre para o lado.
— Devo dizer que estou com uma dor de barriga tremenda
porque essa loucura está ficando a cada segundo perto de se tornar
real? — comento agoniada.
— Não invente mais nada... Não agora, Violeta. Faça o que
sabe fazer de melhor, que é enrolar as pessoas.
Olho-o de lado e eu poderia matá-lo bem aqui.
— Me respeite! Eu sou uma mulher de responsabilidade,
princípios... Natan, seus pais estão na porta, eu vou ter um piriri.
Estou dizendo a verdade!
Ele para o carro e soltamos os cintos, quando é desligado.
— Sorria, e faça disso real.
Falar é fácil, babaca!
Ele sai do carro, e fico travada, criando coragem para sair
daqui. Sua mãe, a pobre mulher bela, de cabelos escuros, uma
beleza estonteante; seu pai, um homem bonito, forte... Pessoas tão
boas, e eu irei enganá-los... Acho que vou vomitar!
A porta é aberta.
— Vem... — Nego rapidamente. — Violeta... — diz
entredentes, me puxando de dentro do carro.
Seus pais se aproximam, agarrando o filho, de um jeito muito
carinhoso. Estou dura ao lado do Natan, suando frio. Deus, que dor
de barriga!
— Querido, tão bom estar aqui! Que saudade! — sua mãe
diz, apertando-o.
— Estava prestes a te trazer pela orelha. Acha que porque é
o famosinho de São Paulo e do país, e já tem quase quarenta anos
nas costas, pode fugir da nossa aba? Eu te sento o chicote,
moleque! — seu pai diz rindo, e o filho retribui com um sorriso sem
jeito.
Eles me olham surpresos, e Natan pigarreia.
— Querida, que bom te ver! — Ela me abraça e sinto-me
uma vilã de novela.
— Senhora Marietta, é um prazer rever a senhora.
Nos afastamos e o pai dele se aproxima estendendo a mão
educadamente.
— Está mais bela do que nunca, minha jovem!
Sorrio sem jeito.
— Obrigada, senhor Ruben. O senhor está muito bem
também. — Coço a nuca.
— Ué, cadê sua noiva, querido? — Sua mãe olha para
dentro do carro. — Pensei que viria... Natan, você disse que ela
viria!
Madrugada, o circo armado. Deus, isso vai dar tão errado.
Olho para o Natan de lado e ele me lança um olhar de
pedido de ajuda.
— Amor, eu acho que é ela... — Seu pai cutuca a esposa,
que arregala os olhos.
— Não! Impossível, são amigos e vivem se matando...
Espera, é ela? — Olha para o filho e depois para mim. Seus olhos
ganham um brilho assustador demais.
Penso que ele vai acabar com tudo, antes que eu desmaie,
mas Natan trava, não sai nada de sua boca. E a única coisa que
consigo fazer é erguer a maldita mão e mostrar o anel, porque se eu
afirmar isso em voz alta, caio dura.
— SANTO DEUS! MEU DEUS... ISSO É LINDO. DEUS
OUVIU MINHAS ORAÇÕES MESMO! — grita animada, me
agarrando, e começo a rezar mentalmente pedindo perdão pelo
pecado enorme que cometo nesse instante.
— Meus parabéns, não poderia ter feito uma melhor escolha.
Violeta é uma jovem incrível! — seu pai fala.
Eu não sou... É tudo uma fraude!
Engulo em seco e forço um sorriso.
— Nossa, devem estar muito cansados. Vamos, vamos!
Querem comer algo antes de descansar? — Marietta se anima
mais.
— Não! — respondemos juntos.
— Que lindo, falam até em sintonia! — ela diz muito
empolgada. Extremamente animada com a porra dessa mentira.
Natan e seu pai pegam as malas enquanto entramos na
enorme casa, que é a coisa mais linda, fazendo jus ao ambiente
onde é localizada, mas misturando o rústico ao moderno. Ao lado de
fora toda branca com preto, e ao lado de dentro com pontos de
cores sutis espalhados pelo ambiente que mescla o escuro ao claro.
Mas eu prestaria mais a atenção se não estivesse quase
tendo um derrame.
— Olhe só... Está pálida até! Querida, precisa descansar.
Está muito gelada e exausta! — Segura minha mão e quero pedir
socorro.
Natan entra com pai, e carregam nossas coisas, até minha
bolsa que havia esquecido dentro do carro.
— Vamos subir! Marietta, está tudo certo? — seu esposo
questiona e ela concorda.
Subimos a escadaria para o segundo andar da casa, e
caminhamos pelo corredor, até o final dele, onde ela abre a porta, e
acende a luz, revelando um lugar enorme, espaçoso, bem decorado
em tons de azul-escuro e branco. A cama toda bem-feitinha, lareira,
TV, um sofá de canto, e duas portas que devem ser banheiro e
closet. Será perfeito me trancar sozinha aqui pela eternidade!
— E o quarto dela? — Natan questiona e olho confusa.
Esse é o quarto dele? Espera aí...
Seus pais riem e olhamos para eles. As malas são colocadas
no centro do quarto, e eu sentindo cada vez mais um formigamento
na nuca e nas mãos.
— Não somos tolos e nem caretas a esse nível. Ajeitei todo
esse quarto para você e sua noiva. Bom, agora sabemos quem é,
então com toda certeza existe muita intimidade. Agora descansem
bem, e mais tarde podem nos contar sobre essa loucura toda que
nos surpreendeu. Logo no café da manhã conversamos — ela diz
toda emotiva.
Inferno, não terei um café da manhã tranquilo também.
— Querida, eles querem privacidade. Boa noite. Precisamos
descansar também. É muito tarde. — Ruben sorri e se retira
puxando a esposa e fechando a porta.
Olho para o Natan e começo a hiperventilar.
— Eu... Nós... Um quarto apenas... Eles querem saber como
foi tudo isso... Natan, eu... Meu Deus... — Levo a mão ao peito e
caminho de um lado para o outro.
— Violeta, se acalma!
— Mentira... Tudo mentira! — Meu peito sobe e desce
rapidamente. — Eu serei presa por essa mentira. Isso deve dar
cadeia. Eu não combino em uma cela. Eu nem sobreviveria na
prisão. Eu sou jovem demais para isso. Tenho tantos sonhos ainda,
coisas a realizar. Existem lugares que quero conhecer. Inferno, nem
de avião andei ainda, tirei o maldito passaporte e visto a mando da
sua revista, e nem uma viagem bancaram ainda, e não diga que
bancarem isso e trazerem facilidade para ter a porra do visto
americano, já foi algo. Não aprendi a dirigir, e nem um novo idioma
tive chance de aprender ainda. Eu queria tanto fazer academia, ser
mais saudável um dia... Mas tudo vai acabar, serei presa ou
morrerei.
Agarro sua camiseta por baixo da blusa de frio preta que
usa, e continuo com meu desabafo desesperador:
— Eu... não posso morrer ou ser presa... Natan, isso é crime,
pergunte ao seu cunhado, ele vai te dizer... Tenho certeza que é.
Quando descobrirem vão ter um infarto, e nós seremos os culpados.
Nossos rostos em todos os jornais, o mundo falando da gente. Eu
não tenho grana para bons advogados, nunca irei diminuir minha
pena, e bem na minha vez, para o caralho do meu maldito azar,
teremos pena de morte nessa porra, e eu serei mortinha, minha
cabeça vai rolar, eu serei um nada! FAÇA ALGUMA COISA! — grito
desesperada.
Ele segura meu rosto e me encara bem de pertinho. Nossa,
não faz isso que desmaio.
— Respira, porra! Ninguém vai ser preso ou morto, para de
surtar! Vai tomar um banho, isso vai te relaxar. Eu vou buscar uma
água e você vai se deitar naquele sofá e dormir! Respira, Violeta!
Nego rapidamente e ele me senta na cama.
— Se esses forem meus últimos dias de vida e liberdade,
não dormirei naquele sofá. Existe uma única cama, e ela é minha,
Natan! — Puxo o ar com muita força e meu peito chega a doer.
Ele chacoalha a cabeça e esfrega o rosto, em seguida passa
as mãos pelos cabelos deixando-os desalinhados. Então sai do
quarto, e despenco o corpo para trás.
— Que final bem merda será a minha vida! — Ergo os
braços e espero apenas Deus me puxar.
Minha cabeça está explodindo, e não existe um maldito
remédio que cure isso, porque são problemas, apenas problemas
me rodeando infernalmente. Além de ter dormido na porra do sofá,
que, puta merda, Violeta teve razão em não querer. Caralho
desconfortável.
A mesa de café da manhã mais parece um banquete, e isso
tem motivo: a mentira toda sendo criada.
— Cadê Naomi e Melinda? — questiono por minha irmã e
sobrinha.
Violeta se serve sem cerimônia. Nunca vi pessoa mais
descarada que nem essa.
— Chegam amanhã. Fizeram uma viagem ao litoral, para
Michael descansar, o coitado tem trabalhado muito.
— Com o quê, mãe? Coçando a porra do saco? — Minha
perna é chutada por baixo da mesa, pela loira irritante.
Olho-a e ela me encara toda marrenta. Foda-se, eu não
menti nesse inferno. Porra!
— Não diga isso, filho. Não crie problemas. Vamos ficar em
paz, Natan! — reclama e respiro fundo bebendo o café.
— E quanto a festa de aniversário de casamento? Não
deveria estar uma loucura isso aqui? — Meus pais se entreolham e
fico puto com isso. — Me enrolaram, não foi?
— Em nossa defesa, você é tão distante que nem se tocou
que confirmamos uma data errada a você. Na verdade, é logo após
o casamento de sua irmã — papai diz.
Violeta controla o riso, mas não passa despercebido por
mim. Se eu morrer, essa praga do capeta será a culpada. Como
pode me irritar tanto?!
— Agora nos digam, como foi que tudo isso começou? —
mamãe questiona.
O café voa pela boca de Violeta vindo totalmente em minha
direção, me molhando inteiro com sua baba e a bebida quente.
Afasto a cadeira em um impulso e meus pais olham assustados.
— Porra, Violeta! — xingo nervoso. Eu estou prestes a
cometer um crime.
— Veja lá como fala com sua noiva. Não te criamos assim!
— meu pai me repreende e só pode ser brincadeira. — Foi um
acidente. Está tudo bem, querida? — questiona e mamãe a socorre,
enquanto eu estou todo fodido.
— Está sim... Eu... Que vexame! Mil perdões — pede
fingindo vergonha, mas feliz pela minha desgraça. Eu conheço essa
menina, onde eu me fodo, ela sorri.
Pego o guardanapo tentando amenizar a tragédia que se
formou.
— Estou melhor já. Obrigada, gente! — Violeta diz e a fuzilo
com o olhar.
— Então tudo certo... Vamos, sou uma boa romântica. Me
contém como foi tudo isso? — ela insiste.
Alguém notou que eu fui atingido por baba e café? Claro que
não importaria. Quem se importaria com isso, quando a porra de um
romance inventado é mais importante? E ainda dizem que não
venho nesse maldito lugar.
Continuo tentando me secar, quando a voz que eu não
desejaria ouvir nesse momento soa tão doce pelo ambiente, que eu
vomitaria, eu não teria problemas com isso. Quando essa
encapetada abre a boca, duvido até mesmo da minha idade, porque
meus pensamentos são os piores, todos envolvem ela sendo
esganada por mim.
— Então... A amizade nos levou a momentos de
aproximação mais do que prevíamos. Ele sempre solitário assim
como eu, nos uniu de um jeito especial. Natan pode parecer um
homem arrogante, mas é um lorde quando se trata de nós. —
Suspira e fico encarando essa palhaçada toda. Incrédulo em ver
como até o tom de voz da psicopata mudou, e a atenção que ganha
dos meus pais. — Um belo dia, ficamos presos na revista, dia de
chuva, acabou a energia, éramos só nós e os seguranças, e devido
ao meu medo, ele tentou me acalmar e foi então que aconteceu
nosso primeiro beijo. Foi tão romântico.
Balanço a cabeça, porque eu nunca seria romântico desse
modo. Muito pelo contrário, preso com ela e tudo escuro, eu teria
era medo dela tentar algo contra minha vida.
Minha mãe suspira, e meu pai fica todo bobo.
Estou dentro de algum filme bem ruim. Só pode! A maluca
continua com a invenção e tenho pânico de como ela vai terminar
essa porcaria.
— E desde então não nos desgrudamos mais. E há duas
semanas, ele me pediu em noivado. De joelhos e tudo, tão
bonitinho! Natan é a coisinha mais fofa. — Chuto seu pé, e ela
retribui, bem na minha canela.
Filha da puta, que dor!
— Tudo bem? — meu pai indaga e apenas assinto, travando
o maxilar, para conter o gemido.
Não posso acreditar que minha mãe está chorando de
emoção, minha canela está doendo, minha roupa imunda, e todos
achando normal essa história ridícula.
— E eu não falei nada para vazar a imprensa até falarmos
com vocês, porque não sabemos se vai dar certo, e não queremos a
mídia em cima da gente. Pronto — termino essa palhaçada toda.
Violeta me olha de lado, como se eu tivesse destruído seu
enredo perfeito de romance. Nem o troféu de piores do ano ela
ganharia com essa história, seria um insulto ao troféu.
— Eu criei tão bem esse menino... Pensei que tinha virado
um ogro, desaprendido tudo, mas veja só! — Minha mãe enxuga os
olhos e meu pai assente. — Preciso limpar essa bagunça em meu
rosto... Oh, céus! — A mulher toda romântica se retira rindo.
Meu pai nos olha e noto que Violeta termina de comer, como
se nada tivesse acontecido. Essa garota não vale nada.
— Filho, depois quero conversar com você. Colocar os
assuntos em dia! Sua mãe ficará emotiva por longos dias, melhor
preparar Violeta para isso. — Ele ri.
E vou mesmo. Empanada, frita, e cortada!
— Claro, pai. — A olho de lado e ela engole em seco.
A maluca sabe que está encrencada por essa cena toda. Na
verdade, desde que cruzou meu caminho vive encrencada.

Depois de mais histórias mentirosas e muita melação no café


da manhã, troquei de blusa e segui para encontrar o meu pai em
sua saleta especial
Adentro a sala com a porta aberta. Ele mexe na vitrola antiga
que possui, e o som baixinho dos The Beatles ecoa levemente pelo
ambiente. Senhor Ruben sempre foi amante de músicas, e as mais
antigas estão na sua lista de favoritas desde que me conheço por
gente. E graças a ele, minha irmã e eu crescemos a base de muita
música, o que hoje confesso me fazer um pouco de falta, pois sinto
a ausência da calmaria que elas costumam trazer.
Ele me olha sorrindo e cantarola a música com sua voz
bonita.

“Little darling
It's been a long cold lonely winter
Little darling
It feels like years since it's been here.”

— Ah, como isso é bom, meu filho! Nada melhor do que


música para nos fazer relaxar. Here comes the sun, quer coisa
melhor para me deixar tranquilo como os Beatles? — Sorri
balançando a cabeça ao ritmo da música.
Me sento no sofá na sala antiga, e ele faz o mesmo em sua
poltrona, tamborilando os dedos sobre as pernas.
— Nada muda pelo jeito.
— Mudar o que é ótimo? Para quê? Mas me diga, como está
a sua vida? Ainda se lembra como é isso? — Gesticula de mim para
ele. — Conversar com seu velho maluco?
Sorrio e respiro fundo, esticando as pernas e recostando no
encosto do sofá velho.
— A minha vida é corrida, pai. Eu sei que estou em falta com
vocês por aqui...
Balança a mão e faz uma careta.
— Não quero as desculpas de sempre. Passamos tempo
demais buscando desculpas para coisas que deveríamos fazer, ao
invés de encontrarmos soluções. Sua vida é corrida, a minha
também, todos temos algo que nos toma muito tempo, mas é
sempre importante colocar um tempinho para uma ligação, uma
visita rápida, uma troca de mensagens de cinco minutos... Tanta
tecnologia inventada, conectando pessoas de todo mundo, e ainda
assim conseguem desculpas. — Sorri com sarcasmo.
— Pai, se o senhor me chamou para um sermão, saiba que
mamãe faz isso com bastante frequência. — Sorrio sem jeito.
Balança a cabeça com calma.
— Eu te chamei para conversar, saber como está sua vida. É
feliz com tudo que tem conquistado? Nunca nos fala sobre isso.
Como é viver tudo isso, longe daqui?
Encaro-o tentando entender o rumo disso tudo, mas fico sem
chegar a qualquer resultado.
— Como não seria? Tenho tudo o que sempre sonhei, pai...
— Certeza? Ninguém tem tudo, Natan. É extremamente
impossível termos tudo em nossa vida. Por exemplo, eu tenho uma
família que amo, um negócio bom, uma casa bela, e ainda assim
sinto que deixei de aproveitar alguns momentos de minha vida.
Coisas que deveria ter vivido melhor ou tentado ao menos.
Olho ao redor e respiro fundo, inclinando a cabeça para trás,
antes de tornar a olhá-lo.
— Pai, se quer chegar na questão de casamento... A Violeta
está aqui, não está?
Ele ri enquanto a música segue em repetição, sendo uma de
suas favoritas.
— Está... E você, está realmente aqui ou pensando no que
tem que fazer no trabalho? Está aqui de coração, porque ama sua
família, ou apenas de corpo, porque sua alma e pensamentos nunca
nos pertenceram? A Violeta tem prioridade em algum momento de
sua vida também? Ou é apenas colocada em terceiro plano como
faz conosco? — lança suas palavras que me atingem bem no peito.
Esfrego o rosto.
— Eu não quero ficar falando sobre isso. Nunca termina
bem. Sempre discutimos, e não quero isso.
Concorda e respira fundo.
— Só espero que nunca se arrependa de ter mudado tanto,
meu filho. De ter se jogado de corpo em alma em tudo que te
renderia todo luxo possível, mas que te tiraria prazeres da vida que
nada disso lhe pagaria. Doeria mais em mim, vê-lo assumir que
sucesso material não pode se qualificar em pessoal, do que em si
mesmo. — Suspira.
Se levanta e caminha na minha direção parando a minha
frente, apertando meu ombro.
— Quando sair, desligue a vitrola. Acho que esse tempo aqui
será bom pra você. Talvez precise se lembrar como e por que
começou tudo isso, Natan. Antes que seja tarde demais.
Ele sorri e sai cantarolando, dançando. Sinto um déjà vu me
consumir, pois cenas assim eram frequentes antes de eu ir para São
Paulo e para o exterior estudar, e nunca mais voltar para cá, e
contar em meus dedos nesses anos todo quantas vezes estive aqui,
e quantas eles precisaram ir até a mim para me ver, pois voltar aqui
nunca fazia parte dos meus planos principais.
Desligo a vitrola ao me levantar do sofá. Me aproximo da
estante repleta de livros clássicos, mamãe sempre os amou, e ele
colocou exatamente aqui, onde ele passava muito tempo
descansando, apenas para que ela estivesse ao seu lado e
tivessem mais tempo juntos. Dois eternos românticos.
Tem pequenos quadros com fotos nossas, em sua maioria
bem antigas. Eu era um adolescente ainda, e minha irmã uma
criança birrenta. Foto de casamento deles, com o imenso bolo
branco com azul que mamãe sempre gosta de falar, e o vestido que
era de sua mãe, e utilizou. Quando o assunto sobre o casamento
deles surge, ela fica emotiva, pois diz que foi seu conto de fadas da
vida real.
— Acabei de ver seus pais dançando juntinhos! Natan, onde
deu errado com você? É adotado? — Olho para a voz do meu
tormento frequente.
Ela para ao meu lado e olha as fotos.
— Que lindinho. Nem parece que viraria o gelo humano que
é hoje. O iceberg em pessoa. Olha como sorria lindo! Arrasou
corações na adolescência, né? Quantos anos tinha aqui?
— Quinze anos. Era meu aniversário. A primeira vez que
resolvi fazer uma festa de verdade e chamar metade da escola.
— Hum... Era popular? — indaga e concordo. — Eu era a
esquisitona que fazia amizade com gente mais esquisita ainda. Era
cada derrota desde jovem, que puta merda! — Ri das próprias
palavras.
Balanço a cabeça, levando as mãos ao bolso da calça.
— Não tinha como não ser. Essa cidade é muito pequena.
Todos se conhecem. E meus pais eram e ainda são famosos pelos
casamentos que fazem. Isso sempre foi um tipo de realeza por aqui.
E só para constar, segue sendo esquisita! — provoco sem me
conter.
— Ir se foder não quer, né? — Me empurra de leve, e
continua vendo as fotos.
— A forma que não tem medo do perigo, é admirável!
— E desde quando eu tenho medo de cara feia? Agora me
leve para conhecer esse lugar, vai. Sua mãe mandou, e se quer
fazer isso direito, antes que a gente termine preso, move essa
bunda malhada!
Se vira me dando as costas e sai rebolando, toda atrevida.

Caminho com ela pela chácara enorme, com direito a


piscina, riacho, e um espaço grande onde acontece os casamentos
que contratam a Amores do Valle, empresa de casamento que está
há décadas em nossa família, e sendo muito bem falada a cada vez
mais.
— Que lugar lindo! Natan, como consegue ficar sempre em
São Paulo e não passar um tempo aqui? Olha isso. Tudo lindo! —
Abre os braços e ri. — Parece um conto de fadas. Se aqui é assim,
imagine a cidade toda. esse lugarzinho com flores, banquinho para
curtir. Esse lugar cheira a romance.
— E chegamos aonde tem sua resposta do porquê não
venho. Bom, um dos motivos. — Me apoio na cerca que divide o
espaço para festa das áreas restritas a casa.
O sol está ótimo hoje, nada muito quente. O dia está
tranquilo.
— Você é realmente adotado. Certeza disso. — Para ao meu
lado, e observa ao redor, totalmente encantada. — Esse lugar é
inspirador. Quero dar uma volta na cidade, e com certeza terei mais
surtos de fofura ainda.
— Para mim é a mesma coisa desde sempre... Apenas um
lugar com pessoas acreditando em finais felizes. — Franzo os olhos
devido a claridade do sol, que foca em nosso rosto agora.
Bufa e revira os olhos.
— Como pode ser dono de uma revista, ser fodão e não
encontrar inspiração aqui? Imagine as histórias que esse lugar tem
para contar, os amores construídos, os que ficaram para trás... O
quanto um estilista poderia facilmente criar uma coleção inteira
apenas olhando essas árvores e flores. Ou no quanto um escritor
poderia sentar-se aqui nessa grama aparada, sentindo o cheiro da
natureza, escutando os pássaros e escrevendo as melhores
histórias. Esse lugar é perfeito! E se isso é apenas a chácara,
imagino o restante da cidade!
Ela fala como se entendesse realmente sobre inspirações,
existe um brilho diferente em seu olhar. É convidativo, atraente, é
diferente.
— Não conte comigo para esse passeio. Me recuso a
encontrar esse povo e lidar com eles — aviso sabendo bem o que
encontrarei pelas ruas.
— Não precisa! — Ela ri. — Sua mãe já me convidou.
Amanhã ela precisa ir à confeitaria, e disse que irei com ela. Tem
um casamento sendo preparado antes da sua irmã, e vou ver de
pertinho como tudo isso nasce. Se a fama casamenteira deles é
realmente real! — Bate palmas animada.
— Realmente está achando isso tudo um máximo? Não era
você surtando sobre tudo isso? — Encaro-a e ela sorri.
— Meu caro amigo, aprenda algo, se está na merda, não
será um peido que fará qualquer diferença. Enquanto estivermos
aqui, vou aproveitar, pois como eu disse, se tudo terminar em
prisão, eu irei me foder bem mais, então deixa eu curtir minha
liberdade. — Pisca e me joga um beijo, agarrando meu braço. —
Agora, vamos, quero conhecer mais da casa. E me arrume
travesseiros melhores, aquilo é duro que nem você.
Olho-a de lado e vejo seu rosto esquentar. Assim como noto
o quanto está bonita hoje.
— Não foi isso que eu quis dizer. Eu apenas quis dizer, que...
Ai, você entendeu! Que inferno, homem. Não me olha assim não.
Sorrio sem poder conter, pois é engraçado vê-la
desconcertada.
Pior que, no fundo, essa louca acaba me divertindo em
alguns momentos, raros momentos, já que na maioria das vezes eu
só quero jogá-la da janela mais alta.
Organizo minhas roupas nas gavetas da cômoda, pois ficar
tirando tudo da mala é horrível. Natan está perdido em algum canto
da casa trabalhando, como sempre. Seus pais foram resolver coisas
no escritório da Amores do Valle. Eles agem como se o filho estar
com uma noiva fosse uma esperança, eu vejo apenas como uma
derrota. Quando descobrirem a verdade, não quero nem ver no que
tudo isso vai dar, porque esse papo que terminamos, logo após
sairmos daqui, só trouxa para confiar.
Eu me pergunto todos os dias como cheguei a esse ápice
trágico da minha vida dramática, e não encontro respostas além de
que trabalhar e ser amiga desse jumento é loucura.
— Filha, eu disse que daria ruim. Eu lhe avisei. Pegue suas
coisas e venha já para casa. Não precisamos disso! — mamãe
resmunga em meu ouvido, enquanto tento abrir a última gaveta da
cômoda, que está emperrada.
— Mãe, tarde demais. Já organizei as roupas nas gavetas...
ou quase. Mas não tem mais volta. Além disso, eu já paguei o que
está atrasado, e depositei uma quantia na conta da senhora, para ir
com o tio fazer compras, e comprar os remédios que precisa tomar.
— Seu tio abriu o aplicativo do banco e viu. Querida, é muito.
Violeta, eu entendo que se culpe por tudo, que esteja apenas
pensando no nosso bem, mas coração de mãe não engana. Eu
sinto que, se continuarem brincando com algo tão sério, pode
acabar mal. Nunca brinquem com o destino, ele sabe o que vem a
seguir, e se precipitar ou simplesmente fazer dele um jogo
irresponsável, pode ferir alguém ou todos!
Respiro fundo, sentando-me no chão em frente à maldita
gaveta.
— Eu sei... Infelizmente eu sei que está certa. Mas não vejo
mais escolhas diante disso, mamãe. Além do mais, eu sinto que
devo isso a esse idiota também. Natan me cedeu um emprego,
quando sabia que eu nem merecia estar lá, sempre acaba passando
pano para as minhas merdas na Sunshine. A gente briga, se mata,
mas gosto da nossa amizade, e que ele nunca saiba disso. Quero
muito assistir ele se jogar da janela? Quero. Mas juro que é com
carinho.
Ela ri do outro lado.
— Eu desisto...
— GATA, APROVEITA E JÁ ENLAÇA O BOY DE VEZ! —
meu tio berra e posso escutar.
Começo a rir. Tio Omar é nossa melhor coisa. Sempre traz
alegrias quando tudo está um completo limbo.
— Não escute esse irresponsável. Ele só te ajuda a ser mais
maluca.
— Mamãe, a senhora iria amar tanto esse lugar. Essa
chácara é linda! — Suspiro me lembrando dos detalhes. — E com
toda certeza a cidade não deve ser diferente. Vou registrar tudo para
mostrar a senhora. É bastante inspirador.
— Não mude de assunto, Violeta! — Rio baixinho. — Mas
tenho certeza que é. Ouço histórias dessa cidade há muito tempo,
inclusive a lenda deles... É uma cidade bastante antiga.
— Lenda? Que lenda?
— Filha, depois nos falamos. Eu preciso correr agora, que
seu tio vai me ajudar a levar as encomendas. Por Deus, olha a hora.
Te amo, e não apronte mais. Escute meus conselhos, uma vez na
sua vida, sua cabecinha maluca!
— Também te amo. E vê se não trabalha tanto. Manda beijo
para o tio. Amo vocês dois.
Desligamos a chamada e fico refletindo um pouco, e
pensando que se isso der muito ruim, minha mãe vai me deserdar.
Olho para a gaveta a minha frente. E com ambas as mãos
livres agora, dou um puxão e a peste abre.
Existe uma pasta nela, então retiro para deixar em cima da
cômoda e o Natan guardar. Estico-me toda torta para colocar ela no
lugar desejado, mas tudo despenca, a pasta se abre, e espalha tudo
sobre mim. As folhas um pouco amareladas me surpreendem.
Pego-as com cuidado e curiosidade. Algumas parecem sujas
por alguma bebida que caiu, provavelmente café. São desenhos de
pessoas, lugares, cenários de todo tipo, e são lindos. Os traçados
são a coisa mais encantadora, leves, e mesmo não entendendo
nada de desenhos, pois só sei fazer bonecos de palitinho, é
perceptível o talento da pessoa para isso. As outras folhas que
caíram ao lado, são croquis de roupas, silhuetas inacabadas, mas
os designers criados são bonitos, elegantes e românticos. Quem os
fez tem muito talento.
A assinatura atrás de uma delas chama a minha atenção. É
a letra do Natan, reconheceria isso de longe. Mas se é a letra dele,
então...
Me assusto com os passos no closet e junto tudo
rapidamente.
— O que está fazendo aqui? — indaga parando ao meu lado,
e me levanto às pressas estendendo os papéis a ele que me olha
sério, realmente muito sério. — Que merda faz com isso, Violeta?!
— Puxa da minha mão e o olho surpresa, pois nunca o vi com essa
expressão, e olha que sou mestra em irritá-lo.
— Eu estava arrumando minhas coisas, e quando abri a
gaveta estavam nela. Fui colocar em cima da cômoda, mas
despencou e espalhou tudo... São belos desenhos. — Sorrio.
Ele não parece feliz, nem um pouquinho.
— Não mexa onde não foi chamada. Saia daqui, agora. —
Sua voz é rude, assim como sua ordem.
Franzo o cenho, surpresa com isso. Ele nunca agiu assim
comigo, nem mesmo bravo.
— Natan, eu não fiz por mal...
— Saia, Violeta! Agora! — Nem ao menos me olha.
Assinto apenas e pego meu celular, sem me importar com o
restante da roupa para fora. Saio do quarto a passos rápidos. Sem
entender nada dessa grosseria. Eu não fiz mesmo por mal. Nunca
teria mexido se soubesse que teria algo que não deveria mexer. A
porra da pasta caiu sozinha, inferno!
Saio da casa, e caminho pela chácara, lembrando-me do
caminho feito até a parte de onde tem as festas. Caminho em
direção, indo por trás, perto do riacho, onde me recordo de ter uma
árvore com balanço florido, a coisa mais linda. Na certa, as
melhores fotos já existiram aqui e no gazebo florido na parte que
com toda certeza é onde a cerimônia de casamento ocorre, ele é
igual os das princesas em desenhos ou filmes.
Sento-me no balanço, e torço para o galho em que é preso,
seja firme. Fico olhando o riacho, as pedras, e a pequena cachoeira
caindo na entrada de uma espécie de caverna. Eu poderia passar
horas, dias olhando tudo isso. Inspirações percorrem minha mente,
mas não quero me conectar a elas, não posso. Seria o mesmo que
me machucar de novo, sabendo que isso não teria como dar certo,
não ajudaria em casa, pois provavelmente nunca renderia grana o
suficiente.
Mas no meio dessa beleza toda só queria entender por que
Natan agiu daquele jeito? Até parece que cometi um crime.
— O que faz aqui, minha jovem?
— PUTA QUE PARIU! — grito olhando a senhora de cabelos
grisalhos, baixinha. — De onde surgiu? Minha senhora, isso não se
faz. Por Deus! — Levo a mão ao peito.
Ela sorri.
— Vim pela outra entrada da chácara. Sou a governanta da
família. Prazer, Hortência.
Recupero-me do susto e sorrio para a senhora.
— Ah, sim. Que chique, né? Não é que isso de governanta
existe mesmo? Eles têm mordomo também? — Ela gargalha. —
Sou Violeta, a...
— Não tem mordomo. E ouvi falar da senhorita essa manhã,
antes de sair. A noiva do príncipe.
Franzo o cenho confusa.
— Do quê? Natan? Príncipe? — Quero rir da piada. Depois
de hoje ele é tudo, menos príncipe.
Ela sorri ainda mais.
— Ah, não sabe? Pois lhe conto. — Já gostei dela. — Devido
a fama da família dele ser quase uma realeza na cidade, pelos
grandes casamentos, os pais são chamados de os Reis
Casamenteiros. E os filhos, o príncipe e a princesa casamenteira.
Quando ele era jovem, até a adolescência, só o chamavam assim,
de Prince, se referindo à príncipe. Bom, o tempo passou, muita
coisa mudou, pararam com isso, só não com a idolatria pela família
Valle, mas, para mim, ele e Naomi seguem sendo príncipe e
princesa. Me apeguei e sempre serão crianças para mim.
Sorrio da fofura que a fofoqueirinha é. Gostei.
Espera... A assinatura com a letra do Natan era exatamente
isso escrito em letra bonita: Prince Valle.
As roupas românticas, a forma que foi assinada. Era uma
coleção inspirada na fama da família, carregando o nome Prince
Valle... Claro! Natan estava criando uma coleção? Será? Eu nem
sabia que ele desenhava!
— Bom, eu preciso ir. Vou pedir para prepararem um café da
tarde delicioso para a senhorita.
Sorrio com carinho.
— Não se preocupe. Do jeito que seu Príncipe está puto
comigo, é capaz de me jogar nesse riacho se eu entrar naquela
casa. — Ela ri alto, coitada, falo a verdade. — E pode me chamar de
Violeta ou Vilu.
Ela assente e sorri em despedida.
— Até mais, Vilu.
Se afasta e torno a olhar a vista, e agora mais pensativa
ainda. Coloco o celular no bolso do short e fico me balançando
como uma boba, de modo calmo.
É cada loucura surgindo em poucos dias. E para piorar nem
falei com Nina e Olívia sobre meu sumiço. Nosso grupo no
WhatsApp “O terror do chefinho”, está abarrotado de mensagens
delas, preocupadas. Mas estou caçando um jeito de falar sobre isso
a elas, pois teria que falar a verdade, já minto muito sobre meus
problemas familiares, mas contar sobre a ideia maluca do Natan,
mesmo confiando muito nelas, eu teria que dizer o porquê aceitei
isso, nunca acreditariam que foi de bom grado, e dizer que foi pela
amizade não vai rolar também.
Não sinto vergonha da minha vida, mas sei que pode gerar
uma comoção que eu não quero, e tem gente pior que eu. E toda
vez que eu estiver desanimada por qualquer coisa, pensarão que as
coisas complicaram, não terei paz para mais nada. Elas são
maravilhosas, pessoas incríveis, e quero que continuem sendo
assim comigo, alegres, malucas, sem ficar pensando se a situação
ficou pior ou não.
— Você só piora tudo, Violeta... Como sempre! — falo
comigo mesma.
Saio do balanço e caminho para perto do riacho. Me abaixo
perto dele, brincando com a água, que está geladinha. Esse lugar
parece ter sido desenhado a mão... Meu Deus, tem razão da família
dele continuar vivendo aqui. Só louco jogaria isso tudo longe. E ao
que parece, ele é um, já que mal quer vir aqui.
— Te achei...
— PORRA! — Eu me desequilibro e, quando tento me
ajeitar, meu corpo vai diretamente para dentro do riacho. E temos
um problema nisso tudo maior que me molhar com o susto: — EU
NÃO SEI NADAR!
Começo a me debater desesperada, com o coração
acelerado. Eu vou morrer. É o meu fim. Eu sinto isso.
— VIOLETA! — ele grita, mas nem consigo olhar, estou
desesperada.
Eu nem conseguirei conquistar nada. Tudo vai acabar assim,
tragicamente. Que morte lixo. Eu nem terei tempo de escrever algo
bonito para lerem no meu enterro. Meus braços e pernas debatem
sem parar.
— NATAAAAN! — berro desesperada. — SE VOCÊ ME
DEIXAR PARA MORRER, EU VOU FODER SUA VIDA COM
ASSOMBRAÇÕES TODAS AS NOITES... NATAAAAN! — Minha
garganta tem uma força que eu nem sabia.
Engulo um pouco dessa água, que já não sei se é ela ou eu
que estou completamente agitada.
Um corpo me segura por trás, e eu estou tremendo.
— Calma... Respira... Violeta, calma!
— E-Eu morri? Porra, se o meu anjo tiver sua voz, eu vou
preferir seguir para o inferno! — Meus olhos estão fechados, estou
apavorada. — Estou tendo um derrame.
— Não está...
— Já teve um?
— Não... Mas não está tendo um derrame — afirma.
— Se nunca teve, como pode garantir que isso em mim não
é derrame? Natan... — choramingo assustada.
— Abre os olhos, e fique em pé... Não vou te soltar. Confia
em mim — fala com calma.
Tremendo muito, vou abrindo os olhos, esticando as pernas,
e descobrindo que a porra da água bate na minha cintura!
A ÁGUA BATE NA MINHA CINTURA!
Viro-me com calma na sua direção. Está sem camiseta,
cabelos secos, e me olhando com certo divertimento.
— Não era fundo! — falo envergonhada e olhando ao redor.
— É… Não é fundo. Porra, você grita problemas. Como
dramatiza tanto? E se não sabe nadar, por que caralho estava ao
lado desse riacho? Poderia ser fundo! — começa a reclamar,
enquanto vou caminhando lentamente, até a borda, onde pego
impulso para sair desse vexame.
Retiro o celular do bolso, e o coitado está apagado. Mortinho
da silva. Estou ferrada... Pobre não pode ver um dinheiro que
precisa guardar e algo acontece.
Ele para ao meu lado.
— Está tremendo. Tira essa blusa encharcada e coloca a
minha camiseta. — Olho para ele e quero chorar. Sou a porra da
pessoa que chora quando não deveria. — O que houve? — Nego
rapidamente e tento me afastar.
Natan me segura e pega sua camiseta.
— Deixa... Estou bem, Natan! — Minha voz é uma piada
completa para o que acabei de confirmar. Está trêmula pelo choro
travado na garganta.
— Posso? — questiona para a minha blusa e concordo.
Ele retira com minha ajuda, e foda-se que estou de sutiã. Ele
já me pegou experimentando roupa na revista, e uma vez eu estava
sem sutiã, tive que cobrir rapidamente meus seios, e foi a primeira
vez que ele acertou a cara na porta ao sair desesperadamente,
causando um galo na testa de uma semana.
Coloca sua camiseta em mim, que fica pouca coisa grande,
já que não sou tão pequena assim perto dele, fico na altura de seu
peito, tenho 1,69m. Observo seu corpo, e o desgraçado malha
mesmo, todo em forma. Mas já o vi assim antes, e ficar olhando
muito só causa pensamentos impuros e me considero quase uma
santa.
Pega o celular de minha mão, e olha.
— Caiu com ele? — Concordo. — Vou dar um jeito nisso.
— Não precisa, Natan... — Sento-me no chão deixando o
aparelho assassinado de lado, e tirando a água do meu cabelo,
apertando-o.
O idiota se senta ao meu lado, com a calça bem molhada,
mas descalço, enquanto eu estou com o tênis molhado em meu pé.
Seu sapato está ao lado, e claro que ele tiraria antes de me salvar,
deve valer uma fortuna.
— Está tudo bem? — questiona e, por incrível que pareça,
demonstra preocupação.
— Sim. Só mais uma humilhação para a minha infinita lista
— comento e sorrio fraco. — O que queria vindo aqui? Achou que
fugi depois da sua grosseria? — Encaro o riacho do mal.
— Não. E seria bem-feito para mim se tivesse feito isso. Eu
vim me desculpar. Hortência disse que te viu aqui. Eu peguei
pesado. É só que aquelas coisas mexem demais comigo, e fazia
muito tempo que não tinha que lidar com elas. São coisas muito
antigas — confidencia me surpreendendo.
Concordo lentamente com a cabeça.
Então ele realmente criou aquilo tudo.
— Vou te desculpar por isso. Só me assustou o modo que
agiu. — Dou de ombros.
— Me perdoa. Existem limites, e o jeito que agi foi uma
merda. Agora vamos, precisamos nos secar. E precisamos resolver
uma coisa.
— Tipo? — Olho para ele, que fica sério.
— Nessa merda de plano me esqueci de um detalhe. A
sobrinha de Hortência trabalha em minha casa, às vezes. E todas as
vezes que te viu sabia que era minha funcionária e amiga, inclusive
uma semana antes dessa merda toda acontecer. E a mulher mora
aqui, e é uma tremenda de uma fofoqueira.
— Só pode ser brincadeira! Zafira é sobrinha da governanta
da sua família?! — grito e ele assente. — Natan, você é um homem
inteligente, tem a porra da maior revista do país, está na Forbes, é
um dos mais ricos... Tem o mundo aos seus pés devido a sabedoria
para os negócios que dizem que tem, mas cria uma mentira de
merda dessas e ainda se esquece de algo importante assim? Você
tem probleminhas? Já pensou em buscar ajuda? Puta que pariu! —
Me levanto nervosa e pego minhas coisas. — É o nosso fim. Esse
riacho será pouco para os pedaços do meu corpo quando a sua
família picotar todo ele.
Ele se levanta e me segue.
— Precisamos pensar em algo. Ela tem que acreditar que
tudo isso não passou de uma confusão. Zafira não pode abrir a boca
e soltar desconfiança. Não até esses dias infernais nesse lugar
terminarem!
Começo a rir, enquanto caminhamos.
— Ah, meu querido, você vai arrumar um jeito sozinho para
isso, porque eu não vou me meter nessa confusão ainda mais fundo
assim. Arrume um jeito de fazer Zafira não dar com a língua nos
dentes, porque se eu for escorraçada desse lugar, e isso vazar a
imprensa, vai me sustentar pelo resto da sua vida, e passar a
cobertura para o meu nome como pagamento pelos danos
causados! E Natan Valle, eu não estou brincando. Desde que
chegamos aqui, só acontece merdas. Seus pais são o puro
romance, seus desenhos me causaram problemas, e esse riacho
tentou me engolir. São sinais que precisamos parar... Eu sinto
dentro de mim palpitações dizendo que isso vai dar uma merda
enorme! — desabafo desesperada.
— Ou é o seu derrame.
Paro abruptamente o fuzilando com o olhar.
— Agora resolveu ser engraçadinho? Não deboche do meu
futuro! Você sabe que eu terminarei presa, enquanto você vai estar
com essa bunda linda desfilando pelo mundo como se nada tivesse
acontecido.
— Por falar em transitar pelo mundo, tem muitas
reclamações dos seus horóscopos. Faça direito seu trabalho! E pare
de tarar o caralho da minha bunda!
— Só pode ser piada! QUE ÓDIO DE VOCÊ! — berro. Mas
ele nem se abala, segue no modo sério, como se não estivéssemos
fodidos.
Saio andando rápido, tropeçando, quase encontrando o
inferno de vez, mas não paro, porque se eu parar, eu serei presa
sim, mas por matar Natan Valle.
Mais um dia me sentindo dolorido, por dormir naquele
maldito sofá. Violeta me paga. Aquela praga fingiu estar dormindo e
roncando quando entrei no quarto noite passada, e tudo para não
me ceder a porra da minha cama.
Passo as mãos pelo cabelo totalmente irritado, pois não está
sendo um bom dia. Levantei-me bem cedo para comprar o celular
da Violeta, e já tive péssimas ligações da revista. Uma entrevista
precisou ser cancelada, porque, de última hora, a modelo decidiu
pedir alterações, sendo que conferiu diversas vezes aquela merda.
Como minha paciência está do caralho, mandei cancelarem de vez,
e darem um jeito na burocracia final, pois foi um tempo tomado da
agenda dela. Óbvio que não terminou bem, ela literalmente
conseguiu meu número e ficou me alugando durante uma hora, para
no final dizer que EU NÃO ESTAVA SENDO PROFISSIONAL.
Aquela mulher viu toda a matéria antes de ir ao ar, durante
fodidas nove vezes, pois foi o tanto de vezes que ela exigiu rever
tudo.
Olho o carro parado na frente da casa, e isso só vai foder
mais meu humor. Carro do imbecil que sou obrigado a chamar de
cunhado. O que Naomi tinha na cabeça? Merda?
Entro na casa, e mal tenho tempo de abrir a boca, quando a
garotinha loira se joga na minha direção, e a seguro rapidamente.
— Titio! — Melinda, minha sobrinha de seis anos, quase
sete, é a única coisa boa que Michael rendeu a mim. De resto,
apenas desgosto. — Saudade! — Agarra meu pescoço.
— Está linda, princesa. — Beijo seu rosto e ela se derrete
toda. — Tudo bem?
No canto da sala, Violeta está em completo pânico, conheço
a doida. Minha irmã está ao seu lado, e claro que o interrogatório
começou, porque Naomi sabe ser inconveniente.
Michael, como o belo folgado que é, está esparramado no
sofá, e meus pais felizes pela casa cheia.
— Sim! A gente foi na praia. Brinquei muito. Mas mamãe
ficava reclamando que eu iria me queimar.
Sorrio para a minha garotinha.
— E com razão! Sol demais é perigoso, filha. — Minha irmã
se aproxima e beijo sua testa, conforme a morena baixinha abraça
minha cintura. — Eu juro que se não viesse, eu iria te cancelar como
irmão, Natan! — Ela ri e meus pais fazem o mesmo. — E que
novidade é essa de noivado com a Vilu?
Vilu? Íntimas, já?
— É isso mesmo, cunhadão! Some e aparece cheio das
novidades, e com uma novinha, hein! — A tralha esparramada no
sofá abre a maldita boca.
— Ao menos alguém tem novidades nesse lugar. Porque
esse casamento eu acho apenas uma tragédia eminente! — falo
colocando a pequena no chão.
— Eita, vai começar! — Melinda se joga no colo do avô, que
ri baixinho com ela.
— Natan, por favor! Não comece com suas implicâncias. Te
chamei para ficar conosco nesse momento especial, não para suas
reclamações! — Naomi diz, se sentando ao lado do que chama de
noivo, e ele passa um braço por seu ombro.
— Sua irmã tem razão! Um casamento, um noivado... Tantas
coisas boas! Focaremos nelas — minha mãe comenta bem
empolgada.
Me aproximo da garota quase tendo um treco do outro lado
da sala, e ela força um sorriso.
— Eu. Vou. Te. Matar! — diz entredentes.
— O que houve agora? — Olho para eles, que conversam
sobre as lorotas que Michael diz e todos acreditam.
— Seu cunhado! Fez muitas perguntas. Natan, ele não
parece ter caído nesse papo como os outros. E sua sobrinha,
passou duas vezes por cima do meu pé, e uma delas após eu
afirmar que estávamos noivos!
Controlo o riso. Só pode ser brincadeira.
— Michael desconfia até da própria sombra porque vive
fazendo coisa errada, mas com certeza é por perder o posto de
único agregado por aqui. E sobre minha sobrinha, tenha a santa
paciência, a menina é uma criança, Violeta! — Estendo a sacola
para ela.
— O que é isso?
— Seu celular. Agora vamos sumir daqui, antes que nos
coloquem nesse papo furado. E me diga o que falou a eles, pois a
história tem que bater sempre.
Assente e nem pensa duas vezes. Saímos às pressas, com
apenas Melinda vendo, mas dou uma piscadinha para ela, que sorri
e me joga um beijo.
Um anjo. Violeta que é louca!
Entramos no meu quarto e ela se joga na cama com a
sacola.
— O que contou a eles?
— O que já havíamos dito aos seus pais. Mas o Michael
ficou querendo saber datas precisas, que duvidava muito disso.
Seus pais e sua irmã disseram para ele parar de bobagem, mas
depois disso ele ficou me encarando bem desconfiado, e você
chegou em seguida. Natan, eu disse para nunca me deixar sozinha
com eles! — Respira parecendo aliviada de estarmos longe da
confusão.
Não a condeno pelo pânico, eu criei essa porra e a meti
nisso tudo.
— Michael é um idiota, mas não precisamos nos preocupar
com ele.
— Como não? Até com o anel ele implicou. Disse que o
Natan que ele conhece daria algo muito mais valioso a noiva. Ele é
esperto, só safado, pois ficou me dando sorrisinhos idiotas. Olha,
como aquele doce da sua irmã caiu no papinho desse cretino? Que
ódio!
— Pergunta que vale um milhão de reais. Agora veja o
celular e pare de se preocupar com isso. Temos que nos preocupar
com minha mãe, essa sim é perigosa. Dona Marietta sabe pegar
mentiras no ar, às vezes demora, mas pega.
— Era para me confortar? — Ergue a sobrancelha. — Só
acho que o cuidado tem que ser triplicado e com todos, Natan!
Ela abre a sacola, enquanto respondo uma mensagem da
minha secretária.
— Meu Deus! Você é maluco... Natan, um iPhone de última
geração? — Olho para ela, que arregala os olhos mostrando a
caixa.
— Veio com chip, mas pode usar seu mesmo número, foi o
que explicaram.
— Vou testar e ver se o meu ainda funciona, o que duvido, e
peço para passarem meu número para esse... Nossa! — Abre a
caixa retirando o aparelho igual ao meu, mas pegando como se
fosse algum diamante.
— Tenho uma reunião por videochamada agora. Evite falar
demais, e sempre repita a mesma história a eles. — Ela assente,
mas desconfio que nem ouviu direito.
— Obrigada! — Solta um gritinho animado, deixando o
aparelho de lado e se jogando na minha direção, e preciso segurá-la
rápido. — Não vou dizer que não precisava. Sou cara de pau
mesmo. Obrigada, Prince — noto o deboche no apelido.
— Hortência! — Ela se afasta rindo quando digo. — Velha
fofoqueira! Se mantenha longe dela, Violeta. Estou falando sério. E
reveja a porra do horóscopo!
— Eu esqueci meu notebook.
— Pega o meu. A reunião será pelo iPad. E não faça merda,
não brigue em comentários com quem criticou. Apenas reveja o que
anda postando. Não arrume mais confusão, ok?
— Por que não contrata alguém especialista nessas coisas?
Natan, é insuportável isso. Eu aceito até vaga na recepção! — diz
desanimada.
— Acha que não tentei? Mas ninguém quer lidar com nosso
contrato rígido. Se eu tivesse conseguido, nunca estaria na
Sunshine!
Ela me acerta o travesseiro, e dou as costas, saindo do
quarto sob seus xingos, e dando apenas uma piscada para ela ao
fechar a porta.
— SEU OGRO DOS INFERNOS! SEU ICEBERG DE
MERDA! — Um barulho alto de batida chama minha atenção. —
PUTA QUE PARIU... MEU PÉ!
Começo a rir e sigo para um lugar calmo, longe de tudo e
todos.

Termino a reunião, e anoto algumas coisas importantes no


celular para depois encaminhar a Olga e ela organizar tudo. Era
uma reunião para um evento que quero fazer da Sunshine, em uma
temática de primavera. É uma empresa internacional cuidando
disso, para trazer mais visibilidade fora, e facilitar mais ainda a
expansão da revista no futuro.
Deixo o iPad sobre a mesa, e saio do escritório que meu pai
mantém em casa e à toa, já que trabalha no escritório da Amores do
Valle, que fica na vila. Entro no quarto e está vazio.
Desço para o primeiro andar e Melinda está desenhando no
chão.
— Princesa, onde estão todos?
Ela ergue o olhar, e sorri.
— Papai foi tomar banho. Vovô foi resolver umas coisas. A
vovó saiu com minha mamãe e Violeta. A Hortência tá fazendo bolo
de chocolate para mim, do jeito que amo! — Fica bem animadinha.
— Quer desenhar comigo, titio? Você antes desenhava quando a
gente tava junto, mas agora só sabe trabalhar, e trabalhar... — Muda
a entonação da voz e sorrio.
Sento-me ao seu lado, e a puxo para o meu colo. Ela traz o
caderno junto e o lápis que usava.
— A senhorita anda muito reclamona! — Sorrio.
— Mamãe e vovó acham que puxei você. Já o vovô diz ter
certeza que puxei. — Faço cócegas em sua barriga e ela ri. — Eu
não acho você zangado e nem que reclama muito, titio. Só bravo as
vezes!
— Você é perfeita, sabia? — Beijo suas bochechas macias e
ela ri de novo. — E o que quer desenhar?
— Um castelo para o príncipe e a princesa. Ah, ela tem que
ter um vestido bem bonito.
— Mais alguma coisa, senhorita? — questiono e ela nega. —
Então faremos juntos, tudo bem? Eu desenho a princesa e você faz
o castelo, certo?
— Gostei. Acho que sei fazer um.
— O tio ajuda, ok?
Assente bem animada e fico perdido nesse tempinho com
minha princesa.
O tempo vai passando, até termos todo o desenho criado,
enquanto as três não retornam, e o bolo da Melinda fica pronto.
Seu pai está sumido, com certeza dormindo, porque
trabalhar é algo raro de se ver.

Melinda está comendo seu bolo, enquanto verifico as


alterações que pedi da nova edição da revista. As três entram na
casa, bastante sorridentes, e cada uma com uma caixa. Ergo o olhar
para elas.
— Pegamos os doces finos para o casamento, eles ficarão
armazenados como a confeiteira pediu, ou seja, longe da mocinha
aí, até a festa de casamento que teremos amanhã aqui — minha
mãe diz e Melinda sorri com a boca toda suja de chocolate.
— Filha, já metida em doces? Hortência não ajuda, e depois
seu médico fica no meu pé quando a senhorita passa mal — Naomi
diz colocando a caixa sobre a mesa de jantar, assim como as outras
duas.
— Está delicioso! Mamãe e vovó, querem? — Não deixo de
notar que ela não cita Violeta.
Franzo o cenho, pois ela não é de agir assim.
— Melinda, não existe apenas sua mãe e eu. Violeta está
conosco também, e será sua futura titia! Tenha educação, meu
amor, e ofereça a ela também.
A loira tropeça socando a cadeira, e eu me engasgo.
— Que fofos, ficam nervosos! Vivi para ver esse momento.
Natan noivo e ficando sem jeito! — Naomi provoca e a fuzilo com o
olhar. — Ai, ai...
Mamãe assente e elas suspiram como duas tontas.
Violeta puxa a cadeira ao meu lado e chuta meu pé por baixo
da mesa. Filha da puta!
— Bom, já que temos bolo, por que não comemos? Vou lavar
as mãos, e colocar essas caixas na cozinha. Me ajuda, filha?
— Claro! E dona Melinda, tenha modos, mocinha! — minha
irmã avisa e a filha sorri como um anjo.
A baixinha fica encarando a Violeta, que a olha como se
fosse ser devorada.
— Olha, o que o meu tio fez para mim? Ele faz desenhos
para você? — A provocação está evidente no tom de voz da
loirinha, e me soa cada vez mais surpreendente. Nunca havia
notado esse lado dela, se bem que nunca apresentei nenhuma
“noiva” a ela ou coisa do tipo.
Estende o desenho, toda cheia de si, e Violeta pega
observando.
— Que lindo! — diz e parece surpresa. — Quem são o
príncipe e a princesa? Adorei o vestido dela... Nossa! Sério, adorei!
— Fica boquiaberta e me olha e desvio o olhar.
— Não vê? Meu tio e a princesa dele, a que ainda vai
chegar!
Emendo uma tosse no riso preso em minha garganta,
enquanto minha perna sofre lesões pela maluca apertando.
Violeta devolve o desenho, e Melinda desce da mesa
sorrindo. Cantarolando e saltitante.
— Eu te disse... Ela me odeia, e nunca fiz nada para ela!
Quando ela foi a festa da empresa, ela tentou me matar, Natan!
— Violeta, menos! E largue minha perna, cacete! — Empurro
sua mão e ela bufa.
— Consegui colocar meu número no novo chip. Sua mãe me
mostrou um conhecido de vocês na cidade que trabalha na
operadora de telefone, e ele fez rapidinho com os contatos dele lá.
Concordo e ela fica me encarando.
— O que houve agora? O que aprontou?
— O desenho, na verdade, a roupa da princesa da sua
sobrinha. E aqueles desenhos que encontrei... Por que esconde
esse talento, Natan? — Me olha confusa.
Meu coração acelera, porque isso é complicado. Eu não sei
explicar.
Passos chamam minha atenção, e Michael entra na sala de
jantar, se sentando na cadeira à frente.
— E o casal do ano. Quem diria... Estou surpreso! — O
babaca moreno, com cara de malandro, que apenas minha irmã não
enxerga e faz meus pais serem cegos para apoiarem sua decisão,
nos olha com deboche preso em sua expressão. — Pretendem se
casar quando?
— Não sabemos! — respondo seco.
— Ué... Como assim? Não a ama o suficiente para ter uma
data, uma previsão, meu cunhado?
— Você levou quase sete anos para levar minha irmã ao
altar. A data cabe a mim e a minha noiva, não acha? — Que porra
estranha de se dizer com relação a Violeta.
— É só que... Esquece! Sempre sou o condenado aqui, e
olha que sou advogado, mas sempre me colocam no banco do réu!
— Sorri completamente de modo cínico.
— O que seu cunhado quis dizer é que queremos fazer tudo
com calma, Michael — Violeta completa e ele assente.
— O que iria dizer antes? — indago curioso.
Ele ri e nega lentamente.
As outras duas entram e se sentam ao redor da mesa.
— Hortência pediu para prepararem um lanche para nós.
Essa mulher não tem jeito. Se mete no que a Melinda quer, e agora
não acha certo comermos apenas um pedaço de bolo! — Mamãe
sorri. — Seu pai ainda não retornou? — Nego. — Deve estar
complicado no escritório. Depois irei dar um pulinho lá.
— Amor, não é perfeito que estaremos todos juntos para o
nosso grande dia? Quem sabe, já os inspira a se casarem logo! —
Naomi diz repleta de romance que herdou de nossa mãe.
O cretino só sorri e concorda. Filho da puta.
— Estou tão feliz com tudo isso. Natan desencalhou, vocês
finalmente se casarão, amanhã temos um casamento para fazer
acontecer... É disso que eu gosto, casa cheia e o amor no ar. —
Minha mãe suspira. — Não acha isso bom, querida? — questiona
olhando Violeta.
— E-eu? Aham... Perfeito. Maravilhoso. Um sonho! Coisa
bonita... — Aperto sua perna disfarçadamente para ela calar a boca.
Ela pigarreia e logo sorri.
— Vocês já estão morando juntos? — minha irmã questiona.
— Sim! — respondo.
— Não! — Violeta responde ao mesmo tempo que eu. Eles
nos olham confusos. — Mais ou menos... Nossa vida é corrida
demais, e como Natan tem muito trabalho, e muitas viagens, acabo
ficando com minha mãe para não me sentir muito sozinha. Meio que
é um mora e não mora, né? — Ela me olha e assinto.
— É... Exatamente isso! — afirmo a maluquice.
Ela digita algo rápido no celular e disfarçadamente me
mostra.
VIOLETA: “A Zafira! Não podemos morar juntos. Ela limpa lá,
e nunca viu nada meu!”

Um bom ponto, preciso admitir.


Meu pai entra na sala de jantar, todo sorridente.
— Tudo certo. Não falta nada para o casamento amanhã. E
desse modo Violeta vai poder conhecer a mágica que fazemos por
aqui.
— Será incrível acompanhar de pertinho. Pelo pouco que
andei pela cidade, pude ver o quanto todos são maravilhados com
vocês. Deve ser tudo lindo.
— Nem tudo, Vilu! — Naomi diz. — Sou a cerimonialista
junto de minha mãe, termino o casamento igual a uma louca, mas
no final tudo dá certo. Mamãe é mais plena, eu sou apavorada,
sempre acho que vai ser tudo péssimo. Para o meu nem quero
cuidar, estou deixando na responsabilidade deles, apenas
escolhendo entre as opções oferecidas, ou enfartaria. Sou cliente
dessa vez. — Ela sorri.
Minha irmã é linda, inteligente, às vezes bem irritante. Não
merecia se casar com alguém como Michael.
— Você é perfeita, minha paixão! — Seu noivo a beija e
Violeta faz uma careta sem disfarce.
Ela não está errada em fazer isso. Não existe química. É
falso demais. Não é real os sentimentos dele por ela. Eu vejo isso.
Por mais que eu não seja um exemplo de homem romântico, eu
reconheço quando esse sentimento existe, porque cresci no meio
dele.
— Quer nos ajudar amanhã? Será perfeito ter companhia
nova — minha mãe indaga.
— Claro! Vou amar. Adoro fazer essas coisas. — Violeta se
anima de um jeito falso.
A peste odeia isso. Quando peço qualquer favor em relação
aos eventos da revista, ela xinga até a minha quinta geração.
Meu pai se senta diante da mesa também, e um falatório ao
estilo família Valle se inicia.
Minha família inclui muito Violeta na conversa, e posso notar
o quanto ela parece gostar disso. Seus sorrisos de menina, fica sem
jeito em alguns momentos, corando levemente as bochechas. Seu
perfume de flores se espalha quando se movimenta. É uma garota
bonita, que olhando assim diria delicada, mas que sei que mataria
alguém sem pensar duas vezes.
Percebo também os olhares que Michael lança na direção
dela, quando meus pais e sua noiva estão distraídos. O desgraçado
olha diretamente para o decote da regata branca que ela utiliza, e,
às vezes, para o seu pescoço à mostra devido o rabo de cavalo bem
no alto, com poucos fios soltos, incluindo os de sua franja as
laterais.
Michael Barros não vale porra nenhuma.
Passo o braço ao redor dos ombros dela, que segue o
movimento, e me olha de lado como se eu fosse louco.
Pego meu celular em meu bolso e digito, deixando-o sobre
minha perna para que ela veja.

NATAN: “Está focado literalmente em seu decote. Se ele não


respeitar meus pais e minha irmã, e incluindo você nessa mesa, se
prepare para ver essa porra acabar em uma briga bem feia, e quem
será preso nesse caralho será eu!”

Ela lê discretamente, e disfarça quando bloqueia a tela do


celular indicando que já leu tudo. Violeta me conhece bem, sabe o
quanto já acabei com negócios importantes na revista, porque os
imbecis estavam mais preocupados em assediar minhas
funcionárias.
Ela se ajeita, se aproximando mais, e encostando a cabeça
em meu peito, enquanto apoia a mão sobre minha perna, que
chacoalha rapidamente, pelo nervosismo crescendo. Guardo o
celular no bolso.
— Ele quer pirraçar, porque está desconfiando de algo... —
sussurra discretamente.
— E está conseguindo... Ele não vai sobreviver para o
casamento dele! — Ela aperta minha perna e isso me atinge
diretamente onde não deveria. — E se fizer isso de novo, teremos
um problema.
Ela ergue o olhar.
— Nojento! — Ri baixinho e acaba me relaxando um pouco.
— Não cai na provocação dele.
Minha mãe questiona a ela sobre como foi parar realmente
na Sunshine e Violeta respira aliviada, afinal, nisso ela não precisa
mentir.
Mantenho-a colada a mim, e lanço apenas um olhar na
direção de Michael, que desvia os olhos para a minha irmã e beija
seu pescoço.
Eu posso me foder, mas eu levo esse puto junto!
A cidade de Monte Amor é a coisa mais linda que já vi de
perto. Suas flores, suas locações, as pessoas, tudo aqui grita
cenário de filme de romance da Netflix, aqueles bem clichêzinhos.
Tudo é muito inspirador, romântico. Tons de rosa predominam a
cidade. Corações e cupidos estão para todos os lados. Eles
literalmente fazem jus ao nome da cidade.
Até as árvores daqui parecem diferentes, mais belas, não sei
dizer. Realmente é uma cidade bem romântica, Natan nunca
sobreviveria aqui, isso é o terror daquele homem.
Tive que vir buscar umas coisas na confeitaria que
esqueceram, pois tem o casamento ao pôr do sol, e estão a todo
vapor na chácara. É de um casal bem jovem, e pelo jeito bem cheio
da grana, pois o tanto de riqueza e beleza que será isso, de acordo
com o projeto que a Marietta me mostrou, eu só preciso esperar
pelo melhor em dose dupla.
Caminho pelas pessoas sorridentes, e vejo que até guia
turístico tem, não que precisasse, uma voltinha de 180 graus, e
descobrem tudo por aqui. Mas algo me chama a atenção no que ele
conta. É a lenda, minha mãe comentou sobre algo.
Eu poderia escrever tantas coisas inspiradas aqui, algo
dentro de mim grita para fazer isso, é como se, ao colocar os pés
aqui, uma parte adormecida em meu coração voltasse a vibrar,
pedindo-me pelo que sei que não posso ouvir, não agora, e talvez
nunca tenha sido para ser.
Paro perto das pessoas ouvindo tudo, conforme ele aponta
para uma montanha alta que conseguimos ver de todo canto da
cidade.
— Há muitos anos, os primeiros moradores da cidade até
então carregando apenas o nome de “Monte”, viviam em tribos,
cada qual com seu líder. Mas existia o líder geral disso tudo, Olavo,
que vivia a vida de viúvo com seu único filho, Jonas. Tudo por aqui
era belo e lindo, bem mais que nos dias de hoje. As pessoas
amavam, se protegiam, até tudo isso acabar...
O homem faz um drama para contar e me controlo para não
rir, porque sei bem como é isso, eu sou assim.
— O passar dos anos veio e com ele a morte do líder geral,
Olavo. Com isso a cidade recebeu o herdeiro dele, Jonas, para
cuidar de tudo que ele havia deixado, inclusive todo o seu povo.
Entretanto, diferente de seu pai, o jovem não acreditava na magia
do amor que existia aqui, e passou a ser um leviano, brincando com
os sentimentos de todos, principalmente das jovens virgens e
apaixonadas.
Ele mostra os desenhos em uma espécie de caderno, e
observo, admirando a bela ilustração. As pessoas olham surpresas
e fazem fotos.
— Um belo dia, chegou a vez de Rosa cair nos braços de
Jonas, sendo ela a filha de um líder conhecido por suas magias e
“dono do amor” da cidade. A lenda conta que ele ofereceu a filha
assim que nasceu para o maior encantamento de todos: o amor.
Todos poderiam se apaixonar pela bela jovem, mas somente a
pessoa certa poderia tomar sua virgindade, e somente o destino
sabia a quem ela pertencia.
O negócio começou a ficar bom. Me aproximo mais ainda.
— Infelizmente, Rosa foi mais uma vítima do herdeiro que
destruía tudo por aqui. Ela acreditou nas palavras mentirosas de
Jonas, e se entregou a ele de corpo e alma, crendo que ele era seu
destino.
Passada!
— Que safado, cretino! — falo alto demais, e todos me
olham. — Perdão... Prossiga! — Sorrio sem jeito, mas muito curiosa.
O homem sorri e prossegue com a lenda.
— Logo após entregar a ele sua virgindade, a cidade de
Monte acordou pela madrugada assustada com um forte tremor,
tudo nesse lugar parecia prestes a ruir. — Um arrepio me consome
inteira ouvindo isso. — Todos saíram desesperados de suas casas,
e avistaram algo surpreendente: um monte enorme, verde, tendo
apenas uma rosa totalmente morta, que nunca mais sairia dali, era o
que diziam. — Ele aponta a montanha e meus olhos arregalam.
Meu Deus!
— Ninguém entendia o que estava acontecendo, mas o pai
de Rosa entendia perfeitamente, e chorou por longos dias, culpando
Jonas por destruir a magia do amor do lugar, onde ninguém mais
acreditava, e destruir sua filha. Jonas sumiu para sempre, nunca
mais foi visto, dizem que os ventos o levaram para onde tudo é
escuro e sem quaisquer chances de luz. O pai da jovem assumiu o
poder da cidade, e rogou uma nova magia: “A cidade passará a
chamar-se Monte Amor, e aquele monte jamais poderá ser
destruído, para que todos aqueles que lançarem seus olhos para o
monte, lembrem-se do que houve aqui. Monte Amor será lembrada
pela maldição, mas também como uma lição, lembrem-se do porquê
jamais se deve brincar com o amor, e muito menos duvidar de que
todos nós temos pessoas em nosso destino, e precisamos passar
por cada etapa dele, sem zombar, sem tentar desviar dos caminhos
prescritos em nossas vidas, se quisermos dormir em paz”.
— Puta que pariu! — solto assustada e mais uma vez me
olham.
— Se acalme, minha jovem. Isso é apenas uma lenda.
Muitos hoje discordam do último líder, por ele não ter nem ao menos
um nome, a rosa nunca ter sido encontrada naquele monte, e
acharem que ele mais obrigou as pessoas a fazerem tudo regrado,
do que se arriscarem na vida.
— E o que o senhor acha? Acha que é real? Faz sentido? —
Arregalo os olhos.
— Acho que toda lenda veio de alguma realidade
aparentemente!
Ah, pronto! Fodeu.
Todos os turistas parecem concordar. Eu apenas sigo para
longe dali, sentindo uma coisa estranha: medo.
Não sei como cheguei tão rápido na chácara, mas por pouco
não dei a volta ao mundo com a adrenalina assustadora que estou.
Deixo a sacola sobre a mesa, sem encontrar ninguém além dos
funcionários do lugar, e corro em busca do traste que carrego como
amigo e no momento como castigo.
Natan está dentro do maldito escritório desde cedo,
trabalhando sem parar. Não peço licença, pouco me importo se ele
está em reunião ou não, e pelo jeito está.
— Preciso falar agora com você! É muito urgente! — Aponto
em sua direção.
Ele me fuzila com o olhar, e levo a mão ao peito, esperando
o infeliz terminar a porcaria da reunião. Meu coração está à beira de
ter uma parada eterna.
Abaixa a tela do notebook a contragosto, e foda-se.
— Posso saber o que diabos aconteceu para estar agitada
assim e pálida? O que aprontou?
— Eu? Não, Natan! Eu não aprontei nada. A vida que
resolveu que é maravilhoso brincar com meu coração assim. Eu
estava linda e bela na cidade, passeando, pegando o que sua mãe
me pediu, e estava tudo lindo. A coisa mais incrível desse mundo.
Cidadezinha bonita, coisa mais fofa!
— Violeta, foca! — pede e assinto.
— Até que eu, como sempre muito curiosa, resolvi prestar
atenção no guia turístico, e no que ele falava para as pessoas.
Natan, existe uma lenda aqui e eu odeio o final dela! Quando ouvi
aquilo, algo dentro de mim derreteu-me todinha como uma
avalanche de lava. Estou toda arrepiada, olha! — Estendo os braços
mostrando, e ele me olha indignado.
— Você me interrompeu para falar da porcaria da lenda
dessa cidade? Violeta, isso é a porra de uma lenda! — se altera,
sem compreender o quanto isso está me matando. É grave!
— Natan, a lenda é clara! Nunca devemos brincar com o
destino e o amor. E se o nosso destino era sempre sermos amigos?
E se ficar brincando de noivado pode afetar o que era para ser e eu
terminar como uma violeta morta em cima da porra de uma
montanha dos infernos?! Tudo faz sentido, olha meu nome, de uma
flor também! — berro desesperada.
— Se acalme! Pare de ser louca. Ninguém vai terminar morta
em cima de montanha, bom, se continuar me irritando isso vai se
tornar real! — provoca e juro que quero matá-lo. — Pare de ser
maluca. Se sermos amigos é destino, ele me odeia pra caralho.
Agora senta sua bunda nessa cadeira, e se acalme antes de ir até
os meus pais que estão atrás de você!
Sento-me assustada, e respirando rapidamente.
Ele se levanta e vai até a janela e abre-a. E observo os
desenhos ao lado do notebook. Ele estava vendo os que encontrei e
parecem ter surgido bem mais.
Levanto-me e vou para perto dele, buscando o ar. É possível
ver ao longe a vista onde o casamento será.
— Acha que essa lenda pode ser real? Seja sincero, sem ser
a porra de um idiota!
Ele se debruça sobre a janela, e me apoio ficando um pouco
de lado, para poder vê-lo melhor.
— Não, praguinha. — Sorrio. Pois a última vez que me
chamou assim, em tom carinhoso, mesmo o apelido sendo
sugestivo, foi quando me ajudou durante o luto do meu pai. —
Sempre a ouvi desde criança. Nunca ninguém comprovou nada.
Veja bem, o que teve de casamentos fracassados por aqui também,
todos focam apenas no amor e nas coisas bonitas, ninguém quer
ver por detrás de toda perfeição, a verdade é essa. Ou seja, nunca
foi tudo lindo e belo como a lenda conta, e nunca nenhuma magia
realmente existiu.
— Eu fui criada por pessoas românticas, no meio de livros e
filmes assim. Ouvir isso e saber que estamos brincando com essa
situação, não deixa de me assustar. Não é porque minha vida
amorosa é quase inexistente, que eu duvide dos poderes do amor.
Não sou tão fechada quanto você, Natan!
Ele me olha e sinto um friozinho na barriga sempre que me
lança esse tipo de olhar, o que faz a aparência dele se tornar mais
jovial, os traços da idade se perderem e o homem fora dos negócios
surgir.
— Eu sei. Eu vejo os horóscopos. — Sorri um pouquinho. —
Quando se inspira, tudo fica realmente digno de se acreditar que
vão esbarrar com a alma gêmea na esquina ou coisas assim.
Sorrio, pois nunca ninguém falou isso para mim, nem mesmo
minhas amigas.
— É, às vezes escrevo bem, né? — falo mais para mim do
que para ele. — E você, por que largou tudo isso de vez? Eu sei que
passa muitos finais de semana sozinho. Por que nunca vem até
eles? E por que nunca me deixou saber que desenhava tão bem
assim?
Ele respira fundo e olha para longe. Seus olhos parecem
mudar, como se a tristeza o tomasse.
— Já sentiu em algum momento que tomou mais decisões
erradas do que certas? — questiona e me olha. Apenas assinto. —
Voltar aqui é como ver o passado e me questionar até mesmo sobre
minhas conquistas.
Sei bem do que ele fala. Todas as vezes que abro os
arquivos em meu notebook, que olho tudo incompleto, e vejo onde
estou agora e o que faço, eu sinto que falhei em algum momento,
mesmo que as pessoas achem que estou indo longe, por trabalhar
na Sunshine, eu sinto apenas que de alguma forma estou tomando
todas as decisões erradas, e que no final eu nunca chegarei nem
perto do que sempre sonhei.
A porta se abre e olhamos para o senhor bem bonito. Eu
queria ter a genética dessa família. Ninguém envelhece aqui?
Bebem da mesma água que a Rainha Elizabeth II?
— Querida, quer ver de perto toda magia acontecer?
Assinto, realmente animada. Odeio organizar festas, mas
para ver eles trabalhando estou bem curiosa.
— Vamos? — Olho para o Natan, e ele nega.
— Natan nunca gostou. Tão sem graça! — Ruben diz e
sorrimos.
— Tenho coisas a fazer. Vão vocês — diz sério e concordo.
Me inclino e deixo um beijo em seu rosto e posso estar maluca, mas
parece que o ouço suspirar baixinho.
Me aproximo de seu pai, que enrosca meu braço no seu e
saímos com ele falando todo empolgado sobre o casamento.
Certo, estou realmente assustada com a habilidade deles
para organizar tudo. Tem centenas de pessoas para todos os lados,
flores para cima e para baixo, cadeiras chegando, Marietta e Naomi
correndo de um lado para o outro, a família da noiva se
intrometendo sem parar, e eu já teria mandado eles irem se lascar,
porque o casamento é dela e não deles.
Eu estou encarregada de contar os arranjos que estarão no
gazebo. São cem no total que precisam ter aqui. Flores azuis,
brancas e amarelas. Nunca teria pensado nessa combinação, e não
é que ficou bonita?
Perto de mim, a pirralha do mal está com sua boneca e me
olhando de lado. Essa garota me causa calafrios.
Termino de contar e dou um positivo na lista.
— Sabe, você e meu tio não combinam! Meu tio Natan não
vai se casar com você. Ele vai se casar com uma princesa linda,
igual à dos desenhos, e você não é nadinha igual elas. — Me
mostra a língua, antes de passar por mim pisando fortemente em
meu pé.
— SUA COBRINHA MIRIM! — Ela sai saltitante, rindo sem
parar.
E ainda dizem que criança não tem maldade! Me inclino
massageando meu pé.
Uma risada atrás de mim me assusta, pois se me escutou
chamando a pestinha assim, estou ferrada!
Viro-me ajeitando a postura, e vejo a governanta, dona
Hortência, me olhando.
— Eu... Ai, me desculpe... Ouviu do que chamei ela, né? —
Faço uma careta de desespero e ela assente.
— Não se preocupe. Melinda costuma ser carinhosa com as
pessoas, mesmo sendo arteira. Isso dela agindo assim logo com
você me faz pensar que é ciúmes do tio. Ela sempre foi muito
ciumenta com esse tio dela. E bom, eles se falam sempre por
telefone, e agora que ele resolveu passar dias aqui e lhe trouxe, ela
se vê tendo que dividir o príncipe dela. Te vê como a pessoa que vai
os afastar mais. Ela sofre muito com a ausência dele.
— Mas ela me odeia desde antes de eu chegar! Juro que
nunca fiz nada a menina — defendo-me e ela sorri.
— Sim. Porque sempre que ele tem contato com a família,
você se torna pauta dos assuntos, e uma vez ela escutou os avós
falando que, do jeito que as coisas estavam, poderiam terminar
casados e com filhos. Ela veio me confidenciar que estava com
medo do tio arrumar outra criança para amar e esquecer de vez
dela.
Meus olhos marejam.
— Ah, droga. Agora cortou meu coração que o Natan diz que
não tenho. Sério? Eu nunca roubaria o tio dela. Então ela é uma
capetinha por medo? — Hortência concorda.
A Chucky é do bem, meu Deus!
— É o que acredito, já que não para de reclamar de você
para mim. Que deve estar com o tio, que deve estar passeando com
o tio, que deve estar ganhando desenhos do tio dela... Nossa, meu
ouvido é alugado por ela durante horas, desde ontem. Quando ela
vir que não é inimiga, logo vai parar com as malcriações. Vai ver só.
Agora preciso ir, tenho muita coisa a organizar na casa. — Afaga
meu braço e se afasta.
Ai, inferno, agora com essa mentira até uma criança está
sendo magoada. O meu castigo será tão grande, que tenho até
medo.
Espero que, quando e lei do retorno vir, lembre-se de que fiz
por desespero da ausência do dinheiro, e o Natan por orgulho de
assumir que os pais estavam certos, e sinta que o peso dele é pior.
Amém.
A festa de casamento acontece, e estou perto por livre e
espontânea pressão. Meus pais me infernizaram e quero evitar
muito burburinho. Eles estão na festa cuidando de tudo junto da
minha irmã e toda a equipe deles. Minha sobrinha ficou na casa e
Violeta está metida na festa que nem é dela, e a peste está
arrumando assuntos com todos, como se fossem conhecidos dela
há anos.
Já eu, apenas quero voltar ao trabalho, pois amanhã
precisarei retornar a São Paulo para uma reunião com uma marca
de alta costura, que faremos uma exclusiva com eles, e consegui
uma reunião em Las Vegas em breve para conversar sobre a
expansão da revista internacionalmente. Essas foram informações
que recebi há menos de uma hora, e o quanto antes esse
casamento da minha irmã acontecer, melhor será para retornar a
minha rotina normal e evitar ter que fazer tudo correndo.
Pego o celular em meu bolso, que chega mensagens de
trabalho, enquanto encosto na árvore, próxima ao casamento, me
mantendo perto e, ao mesmo tempo, afastado de toda a festa.
Atendo a ligação da Olga.
— Eu espero que esteja pegando fogo na revista! O que foi
agora? — Não aguento mais problemas.
— O horário da reunião foi alterado agora, para as 8h em
ponto. O senhor precisará estar aqui até nesse horário.
Ótimo, terei que sair ainda mais cedo daqui.
— Ok. Mais alguma coisa?
— Apenas que questionam sem parar sobre o sumiço de
Violeta ao mesmo tempo que o senhor. O que devo dizer?
— Responda que ninguém tem nada a ver com minha vida.
E que, se todos trabalhassem mais, não acumulariam serviço. Mais
alguma coisa, Olga? — Respiro fundo.
— Sim. Devo já organizar o hotel de sua ida a Las Vegas,
senhor? A viagem é em menos de um mês.
— Você disse que era em breve, não em alguns dias, Olga!
— Eu ainda terei um infarto nessa porra.
— Confirmei a data hoje. Será antes do casamento de sua
irmã, como disse hoje mais cedo. Um final de semana para resolver
tudo, mas tem um evento antes, precisará ficar uns dias nos
Estados Unidos. Posso organizar tudo, passagens e hospedagem?
— indaga.
— Pode! Vai me acompanhar, precisarei de suporte.
— Senhor, é totalmente impossível. É a data de meu exame
médico e será a quarta vez que remarco e se eu...
— Por Deus, Olga, vá ao médico! Darei um jeito, ok? Mais
alguma coisa? — Estou começando a me lembrar do porquê vivo
irritado! Esfrego a têmpora.
— Apenas isso, senhor. Até amanhã.
Ela desliga rapidamente, claro que faz. Medo de eu pedir
algo. Olga e Violeta, uma some demais e a outra aparece demais.
Meu estresse só piora. A cada ligação ou mensagem dela,
eu recebo uma bomba maior. E agora tem essa, ir a uma viagem
sem suporte de uma secretária, para uma reunião extremamente
importante. Ir desacompanhado fica um pouco mal para esse tipo de
negócio, pois ainda visam muito esse tipo de coisa no mercado
empresarial.
Só tenho tempo de guardar o celular no bolso quando um
corpo me agarra, me assustando.
Olho para a maluca e ela enlaça meu pescoço.
— Apenas entre na encenação, me agarre e finja que somos
um belo casal, pois acabei de escutar seu cunhadinho dizendo a
sua mãe e irmã que tem algo errado conosco, pois Zafira é
linguaruda e nunca comentou nada de nós dois, e que, desde que
ele chegou, não nota qualquer coisa que nos qualifique como casal
— fala bem rápido. — Sua irmã acha que somos tímidos, e ele disse
que você não tem nada de tímido, e que tem algo muito estranho!
Natan, se não quiser ter que abrir a boca sobre a verdade, faça uma
cena digna de Oscar, e os convença sobre isso. — Sorri em
seguida, fingindo que não acabou de soltar uma bomba enorme.
Olho discretamente em direção onde o casamento acontece,
e confirmo que ele está olhando em nossa direção, sozinho agora.
Toco as costas dela.
— Sério? Só isso? Natan, me agarre direito, que porra de
toque é esse? Sou a sua noiva, não um bebê que precisa segurar
com cuidado. Eu sabia que não tinha cara de homem com pega... —
Puxo-a com firmeza para mim, e ela me encara assustada. Sorrio
com sarcasmo. — E foi assim que engravidei!
— Cala a boca, porra! — Ela ri e morde o cantinho da boca.
— Aquele imbecil está me irritando. Se ele atrapalhar meus planos,
vai casar-se de muletas! — Perco mais da minha paciência que
desconfio nunca ter realmente existido.
— Uhum... Quero dizer, se acalme. Calma, que depois desse
puxão e sua mão perto da minha bunda, perdi um pouco do
raciocínio, pois não sou de ferro. Caralho, que pegada fodida!
Natan, ficar fora do mercado das mulheres solteiras é um
desperdício, viu!
Não presto muito atenção, pois minha mãe se aproxima dele
e o imbecil diz algo a ela sem tirar os olhos da gente.
— Com a idade que tenho, estou me prestando a isso. Eu
cheguei no ápice da merda. Em algum momento errei, e foi em
continuar existindo! — falo entredentes.
— Agora que descobriu, noivinho? — provoca e sorri toda
maléfica.
Encaro-a nervoso, mas minha atenção é levada aos seus
lábios rosados, cheios. Sigo em direção ao seu nariz fino, delicado,
vou subindo até encontrar seus olhos verdes. Violeta tem realmente
uma beleza muito sedutora, ao mesmo tempo que esbanja a
menina, se sobressai a mulher.
Ela aproxima sutilmente os lábios perto dos meus, deixando
seu perfume mais intenso para mim. E inferno, estou na seca tem
um bom tempo, é óbvio que tê-la assim colada a mim, me deixaria
com problemas. Grandes problemas. Sou homem, sem sexo, e com
uma mulher linda colada em mim, ainda não fiquei tão idiota assim e
muito menos burro para não saber o quanto isso é uma escolha
errada a se fazer, quando meu pau não sabe o que é foder tem um
longo tempo.
— Para pensar que... estamos nos beijando. Só... finja. —
Sua voz é baixa, como se tivesse medo de falar demais e se
arrepender.
Prendo a fina mecha de seu cabelo que escapa na lateral da
franja, e ela segue o movimento. Eu queria resistir a isso, mas sou
puxado por uma força forte: atração.
Não, eu nunca a vi com outros olhos, Violeta sempre foi meu
castigo, funcionária e amiga. Sempre a achei muito bonita, linda,
com um sorriso admirável e olhos encantadores, mas nunca me
senti excitado assim, por um contato tão simples. Sua boca quase
colada a minha, seu corpo grudado ao meu, nossas respirações se
misturando sem parar.
— Você está... — Meu pau pulsa pausando sua fala. Suas
mãos travam em um puxão no meu cabelo, quando ela sente.
— Eu sei... Eu realmente sei... E isso se tornou um problema
maior agora. — Engulo em seco, sentindo uma agitação estranha
dentro de mim, provavelmente ataque cardíaco. Olho rapidamente
para o lado e Michael não está mais nos olhando. — Ele já saiu... —
sussurro.
— Pode me soltar então... Eu... — Solto-a rapidamente e ela
se afasta meio confusa, e segue para longe bem rápido. Com seu
vestido florido e curto chacoalhando com o vento.
Puta que pariu. Que merda, Natan. Que merda!

Entro na casa, totalmente agitado, buscando o rumo de volta


a razão, já que a coloquei no rabo. Vozes na cozinha chamam
atenção, e me levam até lá, para entender o que está havendo. E a
dona do meu problema está com o vestido todo manchado de rosa,
enquanto Melinda segura um copo em suas mãos.
— Eu não fiz nada! — Melinda se defende me olhando e
colocando o copo sobre a pia. Mas, pela primeira vez, a carinha dela
não me convence. Existe travessura em seu olhar.
— Como não? Melinda, é feio mentir! — a senhorita
mentirosa diz a garota.
— Titio, eu tropecei! Estou falando a verdade! — Ela corre na
minha direção, para que eu a pegue no colo.
Eu me abaixo a sua frente e olho de uma para a outra.
Violeta balança a cabeça e pega um pano sobre a pia e começa a
limpar o chão. Estavam sozinhas, os funcionários com certeza têm
mais o que fazer do que ficar de fiscal de ambas.
Seus olhinhos estão marejados, as bochechas rosadas,
assim como o nariz começando a ficar.
— Melinda, quer me contar o que aconteceu? — questiono e
ela me olha.
Acho que Violeta pode ter razão, Melinda não gosta dela.
Tendo em vista a cena que presenciei do bolo, do desenho, a
situação que Hortência me contou que ouviu entre as duas na
organização do casamento, antes de eu ir parar lá fora, e agora
isso... Acho que o anjinho não é tão anjinho assim.
— Eu... — Faz beicinho e começa a tremer.
— Você vai pedir desculpas a Violeta, e vai pensar sobre
isso. Depois que se acalmar, vamos conversar sobre o que está
acontecendo. Por que está tão estranha desde que nos vimos, e por
que está sendo rude com ela, tudo bem?
Assente piscando rapidamente. Se vira para a Violeta.
— Desculpa, Violeta... — Sua voz é toda tomada pelo choro
que ela está tentando controlar, mas está falhando.
A loira a encara e depois encara a mim, que ergo a
sobrancelha, e ela revira os olhos e sorri para a minha sobrinha.
— Tudo bem... Está desculpada, Melinda.
Não me importo se são sinceras uma com a outra, mas sim
em acalmar os nervos porque não quero dor de cabeça no
momento. Depois com mais calma, resolverei essa situação de uma
única vez, afinal Melinda nunca foi assim com ninguém.
— Eu vou pro quarto... — Ela sai cabisbaixa e, por mais que
me doa ver a pequena assim, é necessário. Precisa aprender a
refletir sobre as coisas erradas que faz.
Levanto-me e encaro Violeta, que suspira.
— Ela tem motivo para estar assim... Não é certo, mas
infelizmente é compreensível. Deveria conversar mesmo com ela.
Essa mentira toda está afetando-a também. E ela sente demais sua
falta, Natan. Na verdade, todos aqui sentem, mas, diferente deles
que sabem expressar seus sentimentos, ela não sabe.
Passa por mim deixando-me pensativo sobre isso tudo. Ao
que noto, essa mentira toda está tomando um caminho cada vez
mais complicado, confuso.
Sigo para o escritório e me tranco nele, para ficar com meus
pensamentos. A solidão me ensinou muitas coisas também, e uma
delas é que ficar longe das pessoas é evitar problemas, porém, ao
se aproximar, é lidar com tudo de modo mais intenso.

Passei o restante do dia sem ver Violeta, e qualquer outra


pessoa da família. Agora é por volta das 22h e estou no quarto,
arrumando o maldito sofá, enquanto a diaba está na cama, deitada
embaixo das cobertas e assistindo TV. O clima entre nós já era
complicado, depois de mais cedo, tudo piorou.
Estou começando a rever minha idade, pois começo achar
que em algum momento regredi nesse inferno.
Batidas na porta chamam atenção, e olho para a Violeta, que
me encara assustada.
— Estão vestidos? — A voz do meu cunhado se revela.
Eu vou matar esse filho da puta.
— Já vai! — Violeta grita desesperada.
Começa a fazer sinal para eu tirar as coisas do sofá, e tiro
rapidamente, jogando dentro do closet e fechando a porta dele.
Empurro-a para o outro lado da cama, e ela me xinga nervosa. Me
enfio embaixo das cobertas, e ela tenta se ajeitar em mim,
praticamente me socando.
— Me lança mais um tapa, e te jogo da janela! — aviso
nervoso com a situação.
— Então, casal?! — o energúmeno insiste como um bom
imbecil que sempre foi.
— Entre logo, Michael! — aviso sem paciência, com Violeta
ainda se ajeitando em mim. Perco a paciência, e a puxo de uma
vez, prendendo-a quieta em meu corpo. — Está de camisola?!
— Não achei que teria que dividir o caralho da cama... Desce
essa mão, e seu pau já era!
A porta se abre após a ameaça.
Ele olha de um lado para o outro, como se procurasse por
alguma falha.
— Estamos na cama, Michael! — falo a ponto de tirá-lo do
quarto a base do soco.
Ele nos olha e sorri nervoso. Então estende o aparelho de
celular.
— Acho que é seu. Esqueceu na mesa da festa. — Aponta
para a Violeta.
A infeliz não se importa em se sentar e, em seguida, se
empinar toda na maldita cama, mostrando o maldito rabo para mim,
revelando parte de sua bunda grande e empinada, enquanto pega o
celular da mão dele. Foi o mesmo que puxar meu pau junto desse
movimento, porque ele pulsa rapidamente, enrijecendo.
Ela torna a se deitar, voltando a posição que estava e me
entregando o celular para colocar na mesa de cabeceira.
Eu preciso de um cardiologista agora.
— Pode sair ou vai continuar de fiscal? — questiono, com
meu pau pulsando cada vez mais.
— C-claro. Estou saindo. Boa noite. — Ele dá mais uma
olhada ao redor e se retira, batendo a porta atrás de si.
Se passa alguns segundos e ela se levanta indo conferir ao
lado de fora, e solta o ar com força antes de fechar a porta e vir para
a cama, mas fica sentada ao meu lado, encostada na cabeceira. A
maldita camisola rosa-claro mal cobre suas pernas, e é
praticamente transparente embaixo, revelando sua calcinha rosa e
pequena.
— Sério que trouxe isso para dormir aqui? Violeta, se quer
me foder, avisa! — Sinto uma batida mais acelerada que a outra em
meu peito. Não é normal.
— Eu achei que não teríamos que dividir o quarto. Que dava
para pular essa parte. E eu já te vi de cueca e quase já me viu nua,
não muda muita coisa. O importante é que essa foi por pouco. Esse
seu cunhado está querendo aprontar, pegar a gente na mentira.
Temos que ficar esperto, Natan! — fala conforme me sento,
deixando a coberta cobrindo onde cresce sem parar.
Engulo em seco e tento controlar.
Que caralho é isso agora?
— Violeta, temos que conversar sobre o que trouxe para
dormir. Tudo que for assim, queime! — Esfrego o rosto e tento me
ajeitar melhor na cama. — Eu compro outras malditas roupas de
dormir. Mas queime tudo que for parecido com isso.
A olho de lado e ela balança a cabeça.
— Quê? — Franze o cenho e desce o olhar para o meu colo.
Seu rosto esquenta e noto quando engole em seco também. —
Melhor dormirmos, Natan! Agora. Fique desse lado da cama, antes
que surja mais surpresas durante a noite. E não encoste em mim.
Tarado!
— Essa noite a porta ficará aberta para o caso de o babaca
tentar algo. Ele encontrar trancado com a chave, só vai colocar mais
ideias na cabeça dele. Michael é safado, e para ele estar querendo
descobrir algo errado aqui, é porque ele está fazendo algo errado, e
me quer longe daqui o quanto antes! E sobre eu ser tarado, pense
antes de colocar essa bunda na minha cara de novo! — jogo a
verdade.
Ela me xinga e desliga a TV, se deitando de costas para
mim, e se cobrindo.
— Apague a luz! Boa noite, Natan — Sua voz é de nervoso e
não é para menos, até eu estou por toda situação.
Apago a luz no interruptor próximo a cama, e me deito, bem
duro ainda, completamente excitado, e me sentindo fodido
literalmente, porque isso não fazia parte dos planos.
Viro-me de lado, ficando com a visão de suas costas e
tentando pensar em qualquer maldita coisa que me faça abaixar
meu pau. Tento até pensar em contas, problemas, qualquer porra.
Mas saber que ela dorme assim e na mesma cama que eu, não
ajuda.
Passos no corredor me chamam atenção, não existe voz.
— A pessoa parou na porta... É ele, Natan! — sussurra, me
surpreendendo, pois pensei que já forçava o sono, afinal faz isso
desde que chegamos para não me dar nem chance de pedir pela
minha cama.
— Eu vou estourar ele na pancada! — Aperto os olhos com
força.
Tem como essa noite piorar? Puta merda!
— Sossegue o rabo. Quieto... A fechadura... Ele vai abrir.
Abrace meu corpo, vai logo. Cada detalhe importa... Essa merda vai
sair mais caro do que pensa. Pode me colocar como sócia da
Sunshine! — diz bem nervosa.
— Violeta... Não vai dar... — tento alertar.
— Vai logo! Natan! — Sua voz é mais firme ainda.
— Não diga que não alertei, porra! — rebato.
Agarro seu corpo e, quando sua bunda encosta no meu pau,
eu não controlo o gemido que escapa.
A porta se abre devagar, enquanto tento controlar minha
respiração. Ela aperta meu braço, e, quando tento ajeitá-lo nela,
minha mão esbarra em seus seios, e eu não estava nem um pouco
pronto para encontrá-los com os bicos duros.
Ouço outro gemido involuntário, mas dessa vez é dela, e eu
sinto meu fim sendo assinado e dado atestado de óbito.
A voz de minha irmã chamando pelo noivo faz a porta ser
fechada pelo susto, que nem mesmo ele esperava. Mas nesse
momento nem esse vigarista importa.
— Eu disse que não dava para te agarrar e que era para
queimar essa camisola. — Minha voz é rouca, e eu reconheço isso,
faz muito tempo que não me sinto excitado a esse ponto, do meu
pau estar babando dentro da calça.
— Natan... Isso quebra lei de amigos. — Sua voz é quase
falha, como se estivesse puxando forças de onde não tem.
Meu coração está muito acelerado, e o quarto começou a se
tornar muito quente.
Ela tenta se mexer, mas impeço.
— Não faz isso. Estou controlando desde a maldita ceninha
mais cedo. Não se mexe até eu tentar acalmar... — imploro.
— Eu sabia que isso daria merda... Eu tinha certeza! Dois
solitários juntos, brincando com o... a porra que for... E agora isso...
— geme baixinho, quando se mexe de leve mesmo eu implorando
para não fazer.
— Por que nunca me ouve, cacete? — quase rosno em seu
ouvido. Seu perfume me afeta ainda mais.
— Eu preciso confessar algo... — Faz uma pausa, e sinto
sua mão ir para o meio de suas pernas. — Quando fico assim, eu
preciso gozar, Natan... Ou fico tensa, irritada... Estou desde cedo
assim... Não dá mais...
— Você não vai fazer isso... Violeta! — falo um pouco mais
alto.
Mas quando foi que ela me escutou?
Ela faz, Violeta começa a se tocar. Ela começa a se
contorcer toda, com a bunda colada em meu pau, rebolando sem
parar e gemendo baixinho, me deixando louco, morrendo de tesão.
Eu estou cada vez mais duro, mais dolorido, e enfiando a razão no
rabo de vez, onde eu tentei buscar e não resolveu, meto a porra da
mão dentro da minha calça, e a coloco por dentro da cueca. Meu
pau melado, começa a ser massageado, eu me masturbo, roçando
ainda mais ele em sua bunda, e pelo jeito a deixando mais louca.
Ela se mexe mais, e perde todo resquício de controle quando
leva sua outra mão aos seios, com a luz dos abajures iluminando a
cena. Ela brinca com o seio, e tudo que consigo pensar é o quanto
seria delicioso meter entre eles, foder seus seios e gozar em seu
corpo.
Eu me imagino fodendo quem nunca deveria. Eu desejo
meter meu pau na boceta dela bem agora. Não sei como tudo isso
perdeu de vez o controle, mas eu desejo nesse instante foder muito
essa garota.
— Natan... É tão errado... Mas é gostoso isso... Ai... —
choraminga tão gostoso. — Eu vou gozar! — Entreabre os lábios.
— Me deixe vê-la gozar! — ordeno, não consigo nem pensar
direito.
A coberta já está em nossos pés pelos movimentos, meu pau
fora da calça, sua mão saindo de seu seio, e cravando as unhas na
minha coxa para foder tudo de vez. Ambos de barriga para cima
agora, ela com as pernas abertas, me revelando sua boceta, magra
e lisa, a calcinha toda para o lado. Seu olhar desce para o meu pau,
e ela morde o cantinho da boca.
— É bem grande... Já imaginava, as marcações em suas
cuecas e calças entregam muito! — Sorri toda cretina. — Oooh...
Que delícia! — Ela se contorce mais ainda.
E sem mais controlar meus instintos, apenas deixo vir.
Falando em seu ouvido, com a boca colada nele:
— Então, o que acha de imaginar meu pau te fodendo, para
ver o quão grande ele pode ser dentro de você?! — rosno,
apertando mais meu pau, a ponto de gozar forte.
— Não se atenta o diabo... Nunca, Natan! — geme mais alto.
Seus olhos se prendem nos meus e, quando vejo ela os
revirar, e a boca abrir em um gemido de alívio, eu gozo, explodo em
minha própria mão, enquanto ela se estremece toda, gozando,
apertando cada vez mais minha perna, e me deixando fraco, e
pronto para entrar no manicômio.
Largo meu pau e ela retira a mão entre as pernas.
— Que porra... — falo soltando o ar, com a adrenalina
percorrendo todo meu sangue.
— Nunca mais falemos disso... Nem tocaremos nesse
assunto, Natan! Nunca.
Assinto apenas, tendo certeza de que isso tudo tem que
acabar o quanto antes, essa mentira não pode perdurar, ou estarei
mais que fodido. Eu estarei morto!
Saio do quarto pela manhã procurando a porra da minha
dignidade que joguei no lixo. O que eu tinha na cabeça quando fiz
aquela merda? Como eu pude simplesmente gozar na frente do
Natan, enquanto ele batia uma punheta? Eu tenho algum problema.
E pior, não posso falar disso para ninguém. Minhas amigas iriam
mandar me internar e se chocar, minha mãe diria que estou usando
drogas, e meu tio mandaria eu me casar com ele.
Que problemão, Violeta!
E para ajudar, o cretino saiu muito cedo para São Paulo
deixando apenas uma mensagem dizendo que precisou ir para a
revista, que logo estaria aqui.
Eu não quero ficar sozinha com esse bando de românticos, a
criança possuída e o cunhado maquiavélico!
Caminho pela chácara, pois sim, pulei o café da manhã, e eu
nunca dispenso uma comidinha, mas não poderia aguentar aquele
povo todo me fazendo perguntas, não hoje.
— PORRAAAAA! MIL VEZES PORRAAAAA! — berro a
plenos pulmões conforme paro perto da saída disso aqui, agarrada
ao notebook dele e meu celular.
A cidade está totalmente acordada, flores sendo vendidas na
rua, jornais sendo entregues, tem até uma banquinha de revista.
Parece que fui engolida por um cenário de filme. Vejo uma cafeteria
chamada “Aroma de paixão” e é ela mesmo minha fuga. Eu preciso
me alimentar, respirar. Ninguém me viu sair, provavelmente pensam
que fui com o Natan e será melhor assim.
Entro no lugar e não está cheio.
É a coisa mais linda, todo feito de madeira, com muitas flores
coloridas, mesinhas redondas espalhadas, uma parede inteira de
frases românticas, e o balcão recheado de gostosuras. A senhorinha
diante dele conversa com o rapaz que deve ser o garçom. Ela usa
um avental todo de coraçõezinhos, assim como ele. O lugar tem
cheiro de doce, e o aconchego de um lar.
Me aproximo do balcão e eles sorriem.
— É nova na cidade, né? — questiona a de cabelos bem
alinhados em um coque, com mexas grisalhas, e assinto. — Bom
dia, minha linda. Seja bem-vinda ao meu humilde café. O que
deseja?
— O que a senhora me recomenda daqui? — Olho as
guloseimas através do vidro e meu estômago ronca.
— Bom, eu recomendo o nosso chocolate quente, que não
importa a estação, todos desejam. Ele é feito de chocolate puro,
creme de avelã e umas pitadas secretas de algumas especiarias.
Essa receitinha está há anos em minha família. — Sua voz é tão
gostosinha, que amor.
— Claro. Quero esse! — Sorrio animada.
— Para comer recomendo nossa torta de maçã que acabou
de sair do forno, ou nosso pão na chapa com um fio de azeite e
orégano, para o caso de não ser adepta a doces demais ou coisas
muito pesadas pela manhã. Tem nossos ovos mexidos também, que
são divinos!
— Perfeito! Vou querer o pão e os ovos, por favor! — Sorrio
animada, afinal irei alimentar o dragão que habita em mim.
— Então sente-se que logo pedirei ao Jonas para levar a
você.
Lembro-me do nome do homem da lenda, e espero que fique
apenas na lenda. Deus me livre de arrumar problemas com magias
e essas coisas. Era só o que me faltava para lascar de vez minha
vida.
Assinto e me afasto, indo para a mesa mais ao fundo, perto
de uma janela com uma vista incrível de tudo o que acontece ao
lado de fora. A cidade parece ficar a cada dia mais bonita. Todos
parecem felizes demais, até me sinto em alguma linha do tempo
maluca, onde tudo está ao contrário do que realmente costuma ser.
— Seu pedido, senhorita! — O tal Jonas me entrega os
pedidos. — Espero que seja de seu agrado.
— Com certeza será. Muito obrigada. — Ele sorri e se afasta,
mas resolvo chamá-lo de novo. — Jonas, né? — Ele se vira e volta
a mim mais uma vez e assente. — É sempre assim por aqui? Tudo
muito feliz e romântico? Tudo belo e encantador?
O jovem loiro e muito bonito, coloca a bandeja na mesa e se
senta diante dela pedindo licença. Olha para os lados, e acho que
procurando a chefe, mas a senhorinha não está no balcão.
— Depende, sabe. Por exemplo, às vezes acontece cada
briga feia nesse lugar. Mas muitos evitam, pois, como todos se
conhecem, sabem que a fofoca vai rolar solta. Aqui sabemos da
vida do prefeito ao dono da banquinha de jornais e revistas. É
pequeno demais esse lugar.
— Nasceu aqui? — indago e ele concorda.
— Por exemplo, dona Clotilde só perguntou se a senhorita
era daqui por perguntar, pois ela sabe que é noiva de Natan Valle.
— Arregalo os olhos. — Já corre por toda cidade. Muitos até querem
acreditar que ele voltou a ser o menino que conheceram um dia,
mas outros duvidam, pois dizem que ele nunca mais será o mesmo.
— Como assim?
Ele sorri.
— Bom, sou bem mais novo que ele, então sei o que dizem.
E com todo respeito, senhorita, imagino que a senhorita também,
pois corre pela cidade que vocês têm idade bem diferentes, mas
ninguém implica não. Natan é homem maduro, jovem de aparência,
mas frio de coração, é isso que todos falam. A família dele sofreu
demais quando ele foi embora daqui. Às vezes, ele vinha, mas
nunca saía da chácara da família. Quem o via, era porque ia até lá,
ou via o carro passando pela cidade. — Bebo um pouco do
chocolate quente e é perfeito mesmo. — O que ouvi dizer uma vez,
é que ele não era para ser esse homem de revista famosa aí. Que
antes dele sair daqui, era atrás de outro sonho que ele estava indo,
mas eu nunca soube ao certo o que era, cada um diz uma coisa. —
Dá de ombros.
— Jonas, vem aqui já! Deixe de importunar a menina! — a
senhorinha chama por ele.
— Ih, lascou-se. Deixe-me ir, antes que eu rode aqui. Dona
Clotilde adora me acertar o bendito pano de prato, e aquela velhinha
tem uma força dos infernos. Passar bem, senhorita. Ah, dê um
pulinho lá na pracinha da cidade, tem uma vista linda, a senhorita
pode gostar, vi a olhando pela janela, parecia muito admirada.
— Jonas!
— Já vou, dona Clotilde! Já vou, mulher! — Ele se levanta
todo cheio de sorrisos e segue até a sua chefe, que lhe acerta o
pano de prato me fazendo rir.
Mas foco na comida, e no que ele disse.
No que o Natan foi em busca? Será que tem a ver com
aqueles desenhos e croquis?
Respiro fundo e abro o notebook, para mexer nos malditos
horóscopos, porque adiantei alguns antes de vir, mas devido as
reclamações terei que pensar em outra coisa.
Abro o Word para pensar no que escrever em doze malditos
signos, que respeito quem acredita, mas eu os odeio, e nada vem à
minha mente. Vou comendo e olhando a vista de fora tentando me
inspirar.
“Escorpião, um signo do cão”
“Sagitário adora um retalho”
“Capricórnio cheira unicórnio”
“Aquário parece um papagaio”
Droga, se fosse para rimar, seria tão mais divertido e legal.
Natan poderia ceder e deixar um entretenimento diferente, olha que
prático. Eminem teria que se preocupar, porque eu iria ser sucesso,
melhores rimas, que nem ele conseguiria cantar rápido elas.
Que delícia de ovos mexidos.
Foco, Violeta Matos!
Mordo um pedaço do pão, e tudo aqui é maravilhoso demais,
eu vou surtar de verdade. Como pode aquele banana não gostar
daqui? Olha a perfeição!
Respiro fundo e apago as porcarias que escrevi, antes de
tornar a escrever algo decente, o que vai ser difícil.
Olho para a cidade e meu coração palpita um pouquinho
mais que o normal. Ver as pessoas interagindo, esse clima, o som
ambiente que começa a tocar, eu apenas começo a bater os dedos
nas teclas, e não é o horóscopo que sai, é outra coisa que estava
adormecida há bastante tempo dentro de mim. É algo especial
demais, e apenas deixo vir, não bloqueio, meus dedos digitam
rápido, parando apenas para tomar o chocolate ou pegar comida.
Pela primeira vez em tanto tempo, eu consigo me sentir viva de
verdade, estou amando digitar ao ponto de não ver o tempo passar.
Tudo vai vindo como se eu estivesse visualizando cada coisa. As
cenas vão acontecendo e tudo vai fluindo de um jeito tão especial,
perfeito.
Quando dou por mim tenho duas páginas escritas, mas a
realidade bate em minha porta e me faz parar e é exatamente o que
faço. Olho as linhas, mas não apago. Eu envio tudo ao meu e-mail,
e abaixo a tela por um tempo, para respirar um pouco.
“Ai, papai, se o senhor soubesse o quanto eu desejaria ser
umas das incríveis escritoras que o senhor um dia adorou.”
Recosto na cadeira e fico olhando o lado de fora, perdida no
tempo, pensando e não chegando a qualquer conclusão.
Meu celular toca e é mensagem em nosso grupo.
O TERROR DO CHEFINHO
VOCÊ, OLI, NINA

NINA: Chefinho está estranho hoje. Parece mais relaxado.


Teve uma reunião, e não saiu fuzilando ninguém.

OLI: Podemos considerar um marco histórico? Cadê a


Violeta que está perdendo isso? Natan Valle está relaxado. Ela
precisa presenciar isso.

VIOLETA: Deve ser porque não estou aí... Estou com


saudades. Como está essa revista sem minha presença? :-(

NINA: Uma merda! Não é a mesma coisa se o nosso trio não


está junto para fofocar. Chegou coisas novas para usarmos, mas
nem tivemos ânimo sem você, amiga. Volta logo! Essa sua saída
misteriosa está demais. Tem certeza de que não está precisando de
algo?

OLI: Estamos preocupadas, Vilu. O que está havendo de


verdade? Disse que tirou um tempo para home office, mas hoje,
quando o chefinho foi questionado, disse que estava fazendo uma
coisa para ele, que não cabia a ninguém questionar, e deu o
assunto por encerrado.

Respiro fundo entristecida por ter que ficar escondendo isso


delas, mesmo que eu fosse falar, explicar isso por mensagem é uma
merda, além de que preciso pensar bem se abro ou não a boca,
pois envolve não apenas a mentira, mas o motivo pelo qual aceitei
tudo isso.

VIOLETA: Eu irei explicar. Só tenham paciência. Mas estou


muito bem. Provavelmente essa semana terei que passar na
empresa, não sei ainda. Mas talvez eu explique tudo. Amo vocês.
<3

Bloqueio a tela do celular para não ver mais nada. Se o


Natan for novamente a São Paulo, quero ir ver minha mãe, ver se
não está abusando e se comprou tudo que faltava em casa, pois até
meu tio ela consegue enrolar. E então penso em como explicar as
meninas. Já tenho escondido coisas demais delas, e não merecem
mais isso.
Termino meu café, e faço o pagamento. É melhor retornar,
não terei como passar o dia sentada aqui. Mas antes retorno a mesa
e ligo para a minha mãe para saber como estão as coisas, e ficamos
um tempinho conversando, com ela contando sobre as
encomendas, que não está abusando muito com faxinas em casa ou
muita encomenda sem descanso. Confiei? Claro que não. Mas não
irei me estressar.

Estou na sala, enquanto a irmã e a mãe do Natan começam


a trabalhar nos preparativos do casamento da Naomi, e, pelo jeito, o
negócio será chiquérrimo. Eles têm muita experiência, mas, pela
primeira vez, a Naomi será apenas a cliente da Amores do Valle, a
famosa empresa de casamentos que está há tanto tempo na família
deles.
Seu noivo foi trabalhar, a filha está na escola, e o senhor
Ruben foi para o escritório da empresa resolver umas coisas por lá.
E eu aqui, na maior cara lavada fingindo não ser uma mentirosa,
afinal não teria como fugir daqui por muito tempo.
— Olha que vestido lindo! — Sua mãe lhe mostra e ela sorri.
— Realmente, mas quero ver os vestidos pessoalmente e
visitarei a cidade vizinha, Recanto das Alegrias. Agendei com a
famosa estilista Milena Ribeiro, já ouviram falar?
— Quem não? — falo e sorriem.
— Uma das melhores do país ultimamente. Quero ir junto,
conhecer o trabalho dela de perto — Marietta declara.
— Ela é um amor. Tivemos a honra de tê-la na Sunshine. Foi
acompanhada dos dois filhinhos, a coisa mais linda, e o esposo.
Uma mulher incrível. Fizeram uma matéria perfeita sobre ela, a vida
como estilista, mãe e esposa. Olha, o que essa mulher faz em um
dia eu não faço em décadas. — Viro a folha da revista e elas riem.
— Mãe cria literalmente superpoderes. Quando a Melinda
nasceu, achei que não daria conta. Mas hoje me vejo indo em
apresentações escolares, levando-a em festinhas de amigos, ao
mesmo tempo que estou cuidando de um grande casamento, e
dando atenção ao Michael. Olha, é cansativo, mas eu amo essa
rotina.
— Ah, eu lembro-me como se fosse ontem, como era cuidar
de duas crianças, do negócio da família, da casa... Amo? Amo.
Faria tudo de novo? Nunca! Deus me livre. Eu fico é doida com
quem romantiza a maternidade em cem por cento. Dá trabalho, não
é fácil. Tem que realmente amar e querer muito, para dar conta de
tudo. Eu já rasgo o verbo. Hoje em dia passo esse bastão aos meus
filhos, eles que reproduzam muito, ser avó é melhor, fazemos a
cagada e jogamos para os braços dos pais.
Sorrio sem jeito, porque falar em criança tragicamente me
lembra da noite ao lado de Natan e tudo que aconteceu, e isso me
faz sentir um frio na barriga, e me remexer no sofá, toda agoniada.
O idiota tem um pau enorme, mãos grandes que saltavam as veias
enquanto ele se masturbava, e seus gemidos são uma desgraceira
de tão bom.
— Nem conte com mais netos da minha parte. E do seu
filho? Sei não. Natan fala sobre isso, Vilu? — Naomi questiona.
Eu vou matar esse filho da mãe por me deixar nessa saia
justa e sozinha!
— Ele... Filhos? Ah, é tudo novo demais, né? Nem sabemos
se isso vai durar! — Não vai durar.
— Ah, mas vai durar. Natan não a pediria em casamento
assim do nada. Meu filho não é do tipo que faz coisas para não ir
até o final. Só uma coisa ele deixou de lado, o resto? Nunca! — A
mulher que poderia até passar como irmã mais velha deles, devido
toda sua beleza incrível, dispara em defesa ao filho, e eu só quero
me enterrar. — Ele só precisa ser mais presente. Cobre isso dele,
querida. Tenho observado, e ele é bem frio em relação a vocês,
talvez seja a pressão da família inteira em cima. Mas não deixe ele
se fechar, conheço esse homem, olha, dá trabalho, mas é gente
boa. — Ela sorri cheia de carinho.
Eu quero ir ao banheiro, porque a dor de barriga veio.
Quando ela souber que isso não deu certo, meu Deus do
céu. Além disso, ela também nota a frieza, isso quer dizer que essa
mentira só piora.
Hortência aparece na sala, chamando-a para algo que nem
presto muito atenção.
— Olha, chega de assuntos familiares. Me ajude a escolher
entre essas cores pastéis aqui. Eu amei esse tom de rosinha, mas
não sei ainda, estou entre ele e esse verdinho. O que acha? —
Naomi senta-se ao meu lado, e me mostra.
Não deixo de notar a semelhança forte que todos eles têm.
Naomi tem os traços da mãe mais fortes, e Natan os do pai. Mas os
irmãos se misturam um pouco em alguns detalhes, como os
cabelos, o jeito de olhar. Naomi tem a altura da mãe, baixa, e Natan
é alto como o pai. Mas só algo os diferencia em cem por cento: a
personalidade. Enquanto os pais e irmã são calorosos e amorosos,
ele tem a frieza e é cheio de não-me-toque.
— Depende. Qual a vibe de vocês dois? — questiono,
sabendo que a do Michael é de vigarista filho da puta.
— Romântica! — responde com muita certeza. — Somos
muito românticos! — Suspira apaixonada.
Alguém faz essa mulher acordar para vida e ver que aquele
bunda mole é um descarado e não a merece?
— Então esse rosinha. Ele é mais delicado! — digo quase
revirando os olhos em desgosto.
— Também acho. Ai, estou tão ansiosa. Falta pouco agora, e
tem tanta coisa a resolver. Eu não queria deixar tudo para um mês
só, mas Michael quis apressar o casamento, e convencer meu irmão
a vir não é fácil, então, como ele veio, é aproveitar para ele
participar desse momento importante para nós. Foram anos
esperando o pedido, e agora não quero perder a chance. — Sorri
toda meiga, e tenho vontade de chacoalhar seus ombros e mandar
acordar.
Se eu falar que não se mexe em time que está ganhando,
ela vai entender como eu sou contra ao casamento ou apenas pegar
a dica e adiar mais um pouco desse circo? Porque nem ganhando
ela está, mas pelo menos seria a coisa menos dura de se dizer a
alguém cega de amores.
O que eu faço? Sorrio. Olha, no final disso tudo precisarei de
Botox também, de tanto que fico sorrindo falsamente para cada
choque que tenho.

Natan chegou depois do almoço, mas somente agora à noite


tive um tempo para falar com ele. Estamos no quarto, onde ele
mexe no iPad, sentado no sofá, e sem muita cara de relaxado como
fiquei sabendo que estava na empresa.
Eu disse, o problema dele sou eu. Mas é recíproco.
— Natan, essa semana preciso ir a São Paulo ver minha
mãe — aviso enquanto termino de passar um creme em minhas
pernas, e me sento na cama. — Precisamos conversar sério
também. — Deixo o creme de lado, e ele abaixa o iPad em seu colo,
e me olha.
O desgraçado está com a aparência mais madura, pois sua
expressão é séria. Me olha, e me sinto desnuda, devido a tudo que
aconteceu. Eu nunca senti nada por ele além de raiva na maior
parte do tempo, e carinho em um por cento. Mas agora, algo
estranho está acontecendo. Desde que chegamos nessa cidade,
estamos grudados, e o que aconteceu... Um friozinho se instala na
minha barriga, e eu odeio essa sensação.
— O que aconteceu dessa vez? E sobre ir ver sua mãe, no
meio da semana terei que retornar a revista, você me acompanha.
Se quiser ir antes, posso te levar. Não está presa aqui, Violeta — diz
ficando um pouco mais relaxado, e isso é bom.
Concordo, e respiro com calma.
— Eu vi hoje o quanto sua mãe acredita que você nunca
brincaria com isso. Sua sobrinha está chateada com você, e seu
cunhado louco para pegar um deslize nosso. Ainda tem o que
aconteceu noite passada. Eu não sei até que ponto devemos
continuar com essa situação. Sua irmã está feliz por um casamento
fracassado que ela não enxerga, e nem sequer podemos julgar, pois
estamos brincando com algo sério. Meus pais sempre foram
exemplo de amor para mim, e meu pai nunca me perdoaria por estar
brincando com isso e sei o quanto minha mãe está chateada
também. Sua mãe pensa em ter mais netos, me pediu para cobrar
de você ser menos frio comigo. Tem noção do quanto ela se
preocupa com essa relação? — desabafo com muita sinceridade. —
Seu pai é um amorzinho, vejo os sorrisos felizes ao ver você aqui,
sem saber que está sendo enganado também.
Depois de passar a tarde com elas, eu me senti um lixo. Elas
estão tão felizes com tudo isso, e penso na dor quando verem que
“não deu certo” ou a verdade vir à tona. Eu estou assustada.
— Violeta...
— Não... Eu tive um grande motivo para aceitar isso. Mas,
por ser sua amiga, eu preciso dizer o quanto penso que tudo vai dar
uma merda. E você é tão frio que nem nota!
— Você tinha uma escolha. Eu dei essa escolha. Nunca te
obriguei... — diz, e não é rude. Está sendo calmo.
Baixo o olhar para meu colo e, pela primeira vez, me vejo
querendo dizer a verdade para ele. Porque estou sufocada com
tantas mentiras em um prazo tão curto de tempo.
— Eu sei... Mas tive motivo para aceitar, nunca foi só por
querer. — Engulo em seco, porque nunca tive com quem conversar
de verdade sobre tudo que está acontecendo em minha vida desde
que meu pai se foi. Nunca me senti confortável para me abrir assim
a ninguém.
Ergo o olhar, e ele estende a mão na minha direção,
chamando-me. Levanto-me, com calma, e caminho em sua direção,
segurando sua mão. Ele me senta ao seu lado, e recosto no sofá,
ajeitando meu vestido.
— O que está realmente acontecendo? Tem a ver com o
dinheiro que me pediu e o jeito que agiu da vez que foi ao meu
apartamento, não é? — pergunta de modo preocupado.
Concordo e respiro fundo.
— Natan, nem tudo é perfeito, eu já te disse.
— O que me esconde? Não diz ser minha amiga? Violeta,
acho que depois do que fizemos, não tem sentido ter medo de me
contar algo, porque se faltava algo para dar em cem por cento
nossa intimidade, batemos o recorde. — Me olha, ajeitando-se ao
meu lado. — Me conte, por mais que vivemos nos matando eu
quero te ajudar. O que é que está mexendo tanto com você, pois
não acredito que seja só essa mentira.
— Não é... Muita coisa acumulou junto dela. — Enxugo
rapidamente a lágrima que escorre.
— Então é melhor colocar para fora um pouco do que está
escondendo. Vai por mim, garota, camuflar os problemas só nos
coloca em coisas piores. Olha a merda que me meti e a convidei
para participar exatamente por cometer esse erro. — Ele sorri, e sei
que tenho o modo amigo aqui, que raramente surge, mas sempre
vem quando mais preciso.
Passa o braço ao redor do meu ombro e encosto a cabeça
em seu peito. Ele é um escroto muitas vezes, mas algo que nunca
falo a ninguém, é que Natan já me deu muitos sorrisos, quando
muitas vezes eu só queria chorar. Irritá-lo faz parte da minha vida,
assim como sei que ele me tirar do sério é parte da dele. Implico
muito, mas esse castigo de amizade, já foi durante muitas vezes o
que me fez ter ânimo de sair da cama e enfrentar mais um dia, na
esperança de que outro fosse ser melhor. Ele me conhece bem, e
muitas vezes nunca precisei falar para ele se preocupar em fazer
qualquer coisa que fosse me distrair, até mesmo me irritar, apenas
para me relaxar. As meninas são muito especiais para mim, mas de
alguma forma Natan sempre foi mais.
Observo a garota em meus braços, e vejo que realmente
algo lhe incomoda. Violeta não é muito de falar sobre sua vida
pessoal, é como se ela camuflasse parte do que realmente
acontece, mas não posso reclamar, porque faço exatamente igual.
Não é à toa que não mantive os amigos, e ela, desde que chegou,
sabe do lado que escolho em não falar muito por me sentir exposto
e vulnerável demais para as pessoas.
— Eu vou te ouvir e sem julgamentos. Desde que me disse
que faria tudo por cinquenta mil reais, e abriria mão de estar em
outra coluna, eu soube que havia algo errado. Eu quero te ajudar,
me deixe fazer isso, me deixe ser seu amigo de verdade se algo
está te deixando nesse estado. Independentemente de nos
matarmos grande parte do tempo, eu me preocupo com você, e
claro que não ouvirá isso novamente, espero que tenha gravado —
falo mantendo o tom brando.
Ela ri baixinho e funga mais desanimada do que chorosa.
— Promete que não vai sentir pena e nem me lançar esse
tipo de olhar?
— Nunca faria isso. Acredite no que eu digo.
Ela me olha e mantenho os olhos presos a ela, desligando o
lado que me fez passar a manhã inteira pensando no que fizemos à
noite, na forma como gozei apenas vendo-a se tocar tão gostoso, e
no quanto desejei entrar nela e fodê-la bem forte, até ambos
desabarem de cansaço puro. Eu desligo esse pensamento para
focar no que está a deixando tão preocupada.
— Meu pai tinha uma padaria, tínhamos uma casa própria,
tudo que ele e minha mãe conquistaram quando se casaram. Meus
avós paternos nunca foram a favor da relação, eram de muitas
posses e ainda são, mas praticamente deserdaram o filho quando
descobriram quem ele havia escolhido para casar na época. Nunca
os vi pessoalmente, e nunca se redimiram com o filho. Com isso, ele
lutou por tudo, para que nunca dependesse deles, e conseguiu.
Essa padaria nos rendia uma vida confortável, até se transformar
em nosso pesadelo. — Pega minha mão livre e brinca com meus
dedos, o anel e relógio, deslizando os dedos por eles, talvez em
uma tentativa de se distrair.
— Seus avós foram horríveis. Deserdar o filho por uma
escolha de amor? É uma grande merda isso e olha que sou eu
dizendo sobre isso! — revolto-me e ela assente. — E por que a
padaria se tornou um pesadelo?
Ela respira fundo antes de continuar.
— Quando papai morreu, devido a problemas cardíacos,
encontramos um caderninho dele, onde anotava todas as dívidas
que possuía e guardava boletos. E foi então que vimos que sua
morte não seria nosso único problema. Ele há muito tempo escondia
que estava devendo muitas pessoas, o aluguel de onde a padaria
estava, e essa dívida era imensa. Os credores não queriam saber
se ele tinha morrido ou não. A vida da mamãe se tornou um inferno,
mas a minha também. Nesse caderninho tinha todas as contas que
ele pagava, e muitas vezes na parte que ele selecionava como
prioridades, estava minha faculdade no lugar de qualquer outra
coisa. Ele entrou em muitas dívidas para não deixar de pagar minha
faculdade, os materiais que eu precisava, condução e tudo que
fosse ligado ao meu futuro. E eu nunca soube disso, até tudo isso
acontecer, muito menos minha mãe. — Sua voz está repleta de
angústia e, pela primeira vez, me sinto um grande merda em
absoluto por nunca ter notado que ela precisava colocar coisas para
fora, e coisas bem sérias.
Ela solta minha mão, e se deita no sofá, colocando a cabeça
em meu colo, e automaticamente minha mão lhe dá carinho, em
seus cabelos, seguindo pela lateral de seu rosto.
Violeta muitas vezes é só uma menina, cheia de sorrisos,
brincadeiras, pirraças, que até me esqueço de que já é adulta. Mas
vê-la assim, desse jeito, me machuca pra caralho, porque a minha
garotinha se vai, dando lugar para uma pessoa adulta, com
problemas sérios, e que eu não notei sendo um péssimo amigo.
— Eu comecei a me culpar muito por isso. Enquanto eu vivia
achando que tudo estava lindo, na verdade, estava tudo
desmoronando. Não tínhamos muito para onde correr, e mamãe
nunca aceitou que pegássemos um empréstimo bancário, mas nem
conseguiríamos, não no valor que precisamos. Então a única saída
era vendermos a casa, para pagar parte das dívidas para o meu pai
descansar ao menos em paz, sabendo de onde quer que esteja que
ficaríamos bem, e foi o que fizemos. Pagamos uma parte, alugamos
uma casa de uma senhorinha bem simpática, que nos cedeu a
casinha ao fundo da dela, e meu tio veio conosco, para nos fazer
companhia, e desde então vive com a gente. Mas as coisas nunca
mais foram as mesmas, as dificuldades financeiras aumentaram,
meu tio vendeu o carrinho velho que tinha, para conseguirmos
alugar a casa, e fazer a mudança, mamãe começou a fazer doces
para fora, e eu segui trabalhando na Sunshine. Mas, com as dívidas
que sobraram criando juros, não podíamos e nem podemos nos dar
ao luxo de não pensar nelas. Parte dos nossos ganhos ficam nessas
dívidas, no aluguel que as vezes atrasa, e nas outras contas de
casa.
Engulo em seco. Um nó filho da puta se instala no fundo da
minha garganta.
— E como estão as coisas agora, Violeta? — tenho até medo
de saber.
— Fodidas. Mamãe descobriu que tem artrose, escoliose,
bico de papagaio, e hérnia de disco lombar e cervical, porque
desgraça de pobre vem completinha. — Ri com sarcasmo. — O
tratamento ainda não é cirúrgico, mas exige acompanhamento
médico frequente e tratamento com fisioterapeuta. O meu plano de
saúde pela revista, não quer incluir ela, e meu tio nem tem um para
tentar, pois faz um bico em um restaurante. Tudo só piora. Ela é
teimosa, não sossega a bunda, e abusa se esforçando demais... Por
isso do dinheiro, por isso aceitei isso. Eu nunca brincaria com os
sentimentos das pessoas, Natan. Jamais aceitaria, se não fosse por
precisar muito, e por você ser meu amigo independentemente de
qualquer coisa e ter se metido em uma enrascada de merda por ser
cabeça-dura.
— Vocês passam mais dificuldades como... — Minha voz
trava.
— Não precisa ter medo de questionar. As vezes falta umas
coisinhas, mas nada que nos deixe morrendo de fome, não precisa
entrar em pânico. — Sorri. — Eu não consigo deixar de achar que
tudo isso é minha culpa. Se eu soubesse dessa dívida, teria
trancado a faculdade, tentado de novo a bolsa, nunca teria insistido.
Ele ficou muito feliz quando consegui entrar na Sunshine de
estagiária, ao ponto de hoje eu imaginar como pôde sorrir daquele
modo, se eu fodia a vida deles toda.
— Porra... Violeta, por que nunca me falou isso? Eu teria
ajudado vocês, inferno! — me exalto nervoso com toda a situação,
sentindo meu estômago revirar pelo nervosismo e a cabeça latejar
levemente com a preocupação.
— Porque nunca nem falei para as meninas, Natan. E eu não
queria que você se sentisse obrigado a isso. Acha que não sei que
só me deu a coluna de horóscopo porque ninguém queria? Eu estar
na sua revista, e já ter um emprego é uma ajuda enorme que me dá.
Eu não sou tonta, quando fala essas coisas, eu sei que não é
totalmente brincando. E eu não jogo na sua cara, jamais faria. Eu
gosto daquele lugar, das pessoas. Só odeio mesmo a coluna que
estou, mas isso não vem ao caso agora. — Se senta no sofá e me
levanto bem nervoso. Ela sorri mais calma, provavelmente por abrir
a boca.
— Porra! — acabo gritando. — Violeta, se tivesse me dito, eu
teria arrumado o dinheiro, e sua mãe estaria em tratamento há muito
tempo! Caralho, não vive dizendo que sou seu amigo, inferno? Não
arruma tempo para me tirar do sério? Então dissesse tudo isso
antes. Eu nunca deixaria você passar por essas coisas, sabendo
que poderia ajudar. O que acha que sou ao ponto de se calar? Acha
mesmo que sou um maldito ogro que iria rir e desejar o pior ainda
mais? Eu acolhi você com a morte do seu pai, praticamente
dediquei todo meu tempo durante os dois meses que quase se
afundou de luto, estava desanimada. Eu parei parte da minha vida
nesse tempo para te acudir, ou se esqueceu disso? Acha mesmo
que me sinto feliz em saber que está passando por tudo isso e
fingindo estar tudo bem? Caralho! — Sei que estou sendo duro
demais, mas não tenho como evitar.
Passo as mãos pelos cabelos, e ela dá de ombros. Ela
simplesmente dá de ombros, como se tudo isso fosse natural,
básico.
— Eu não queria falar dos problemas. Estar na revista com
você, as meninas, e todos ali, me animava, fazia esquecer disso
tudo um pouco. Eu não queria que o meu refúgio e as pessoas que
me deixavam leves, me visse de outra forma, e buscassem sempre
em meu semblante sinais de que tudo piorou. Eu não queria isso e
não quero ainda. Eu só estou contando porque sinto que vou
explodir se continuar guardando tantas coisas assim. Porra, hoje
sua mãe até de netos falou, bateu desespero total, e se ao menos
sobre alguma coisa eu não abrisse a boca, cairia durinha nesse
chão, juro! — Aponta para o chão, dramatizando.
Seus olhos marejam, e me vejo abaixando a sua frente, e
segurando seu rosto. Sentindo vontade mesmo de esganá-la por me
ocultar essa merda toda. Eu poderia ter feito essa situação ser
diferente. Eu poderia ter cuidado dela melhor, inferno!
— Violeta, se quiser parar com isso agora, eu desço naquela
sala e acabo com todo esse circo. Eu digo a verdade a eles, e
vamos embora daqui. Só me falar o que quer, e eu farei, tudo bem?
Só não quero que se machuque mais, está me ouvindo? —
Concorda lentamente e suspira.
— É aí que está o problema. Você vai embora, e sua
sobrinha precisa do tio, sua irmã precisa que impeça essa porra de
casamento de merda, e seus pais precisam do filho mais perto.
Natan, essa mentira é fodida, uma merda, estou enlouquecendo,
mas talvez dessa bosta saia milagres. Não sabe o quanto eu daria
para estar com meu pai ao meu lado, o quanto daria para dar
sorrisos a mais a minha mãe. Você pode fazer isso, então faça essa
merda, e após resolver sua situação com eles, contamos a verdade.
Porque se quer ouvir o conselho de alguém que tem se sufocado
demais ultimamente, é que, quanto mais uma mentira sobre nossos
sentimentos é ocultada, mais deixamos de nos conhecer de
verdade, e passamos a ser uma figura totalmente sem
personalidade, onde tudo que disserem sobre nós, será válido,
porque um personagem sem rosto, é uma história sem vida. — Beija
meu rosto, e se afasta, me fazendo levantar.
Puxo-a para os meus braços, e fico abraçado a ela, que só
então chora baixinho, e dessa vez não quero jogá-la longe sem
saber o que fazer. Apenas quero que se acalme, e entenda que vou
ajudá-la mesmo que diga que não precisa.
Acordo sentindo dedos cutucarem meu rosto, e penso ser a
praguinha do outro lado da cama, mas a mão é menor. Abro os
olhos lentamente, e vejo a loirinha de olhos claros, me encarando
toda sorridente.
— Titio, temos uma tarefa hoje! — Esfrego o rosto e olho
para o lado. Violeta está dormindo ainda.
— Que horas são? — Franzo o cenho.
— Não sei. Mas mamãe disse que era hora de levantar.
Deve ser então. Temos que comprar o presente da minha amiga, o
aniversário dela está chegando. Vamos, tenho um grande
compromisso, assim como o senhor tem! Vai, tio! — Ela tenta me
puxar.
A garotinha está com um coque preso de cada lado de seu
cabelo, e o uniforme da escola.
— Depois ainda tem que me levar para a escola — afirma
bem séria.
Quem criou esse monstro?
— E quem disse isso a você? — Minha voz está
completamente rouca por acordar, estou perdido ainda.
— Ué! Essa aí roncando do seu lado. — Sorri toda anjinha.
Olho para a peste dormindo, e não, ela não ronca. E, de
repente, minha calmaria com Violeta passou!
— Ela disse que eu faria tudo isso com você? — Respiro
fundo. — Que ótimo, princesa. Mas sabe o que fiquei sabendo? Que
ela vai adorar participar!
Melinda abre a boca e bufa em seguida. Eu poderia rir, mas
não farei.
— Titio, vamos logo. Vai. Vou esperar na sala. Meu Deus,
homens são tão demorados! — Ela sai bufando.
Em que momento ela deixou de ser minha princesinha fofa?
Caralho. O que Violeta fez?!
Puxo a coberta com força, e Violeta reclama.
— Acorde, sua praga! — Acerto sua bunda e ela me xinga.
Mas não deixo de notar o quanto é gostoso fazer isso, e sorrio
brevemente. — Que porra andou prometendo a minha sobrinha? —
Volto a postura.
Ela ergue a cabeça e está toda descabelada. E, ainda assim,
a diaba fica linda.
— Hã? Eu nem abri a boca. Ela me assusta. Natan, dorme!
— Cobre meu rosto com a mão. — Isso é armação dela. Ela me
odeia. Eu já disse.
Retiro sua mão e levanto-me.
— Não me interessa quem está armando aqui, ambas vão
lidar com um homem bem puto hoje, porque vão me enlouquecer.
Caralho, por que não podem me dar paz por breves horas ao
menos?
Levanto-me e ela resmunga socando a cara no travesseiro.
Sem paciência, pego-a no colo, jogando por cima do ombro e ela
grita, socando minhas costas, que servem mais para massagear.
— SEU IDIOTA! ME COLOQUE NO CHÃO. NATAN, EU
VOU... NOSSA, QUE BUNDINHA GOSTOSA! — Ela ri baixinho. —
EU QUERO DORMIR, MINHA CABEÇA ESTÁ DOENDO...
Acerto outro tapa em sua bunda e ela me bate mais.
— O que falou a ela, Violeta?! — Coloco-a dentro do
banheiro, e ela me olha irritada.
— Nada! Só comentei antes de vir para o quarto, quando
esbarrei com ela, que se tinha raiva de mim, deveria cobrar de você
atenção, pois eu não tinha nada a ver com isso. Em minha defesa,
eu estava preocupada com tudo e conversamos. — Cruza os
braços.
— Você ainda vai me colocar em muitos problemas. Tem dez
minutos para ficar pronta, e se eu terei que aguentar um dia de
compras, você também vai! Eu tinha uma reunião, que será adiada,
e contratos para ver. Também tenho matérias para conferir, sabia?
— indago bem puto.
— Natan...
Não deixo que termine, entro no boxe, pouco me fodendo se
ela está no banheiro ou não. Eu ainda irei afogá-la, com essa boca
dos infernos que acaba de me fazer ter que adiar meus
compromissos da manhã, pois, quando Melinda quer algo, a garota
consegue!
Eu sou um idiota que cede tudo a ela.
— Ah, e espero que seu passaporte e visto americano esteja
em dia, afinal, a revista cuida disso para vocês. Pois vem comigo
para Las Vegas nos próximos dias. E já mandei queimar essa
maldita camisola! Porra, Violeta, me ajuda, inferno! — grito mais
nervoso ainda.
Ela se engasga com algo, mas se morrer, pelo menos não
será por minhas mãos, vejo como algo positivo. Olho para a ereção
enorme entre minhas pernas, e me sinto cada vez mais fodido em
todos os sentidos. Retiro a calça e jogo do lado de fora, ligando o
chuveiro.
— E que diabos eu vou fazer em Las Vegas? Não que eu
esteja reclamando! — ela grita.
É melhor ela se preocupar com o que posso fazer com ela
durante o voo, como jogá-la lá de cima. Um cenário que realmente
me inspira.
Primeiro me ocultando sobre o que está passando, e agora
essa birra com uma criança, e me colocando na merda delas. Puta
que pariu!
Estamos na cidade, procurando a porra de um presente para
amiguinha da pequena pestinha. Mas, ao que parece, ela acreditou
que iríamos para fora da cidade, coitada, confesso que fiquei com
dó.
Mas o mais divertido nisso tudo, é que além de me sentir
mais leve por me abrir com o Natan, e ter tido todo carinho dele,
agora sei que terei uma viagem a Las Vegas, e foda-se o motivo, se
for para matar alguém, estou indo, é grátis, e o que não envolver
meu bolso, eu garanto sucesso.
Porém, o dia estranho não para por aí. Para convencer
Monte Amor, que nada disso é mentira, estou tendo que lidar com
um emburrado andando de mãos dadas comigo, e isso é o ápice do
meu divertimento, pois se tive que madrugar nesse inferno, que seja
com qualidade, e nada melhor do que ter que ver esse idiota
fingindo ser puro romance.
OS HUMILHADOS SENDO EXALTADOS? EU OUVI UM
AMÉM?
Entramos em mais uma loja, e só procuro um lugar para
sentar. Nem sei quantas horas rodamos esse cubículo de lugar para
ela achar algo a amiguinha, mas no meio disso já conquistou quatro
sacolas com o que queria. A bichinha é esperta, preciso admitir e
me inspirar, claro.
Sento-me no sofá ao canto, é uma loja de presentes, uma da
inúmeras nesse lugar. Não está cheia, tem apenas nós três e a
atendente, que se apresenta ao Natan como Larissa, uma mulher de
cabelos cacheados, ruivos, e um sorriso bem largo. Nem sequer me
nota, ou finge não notar. A pequena diabinha conquista sua atenção
quando diz que quer ver um presente para a amiga, e claro que ela
dá atenção, pois assim tem a do tio da criança. A mulher nem
disfarça, e não julgo, Natan de feio não tem nada, é um belo de um
gostosão. Trouxa ela seria se não reparasse.
Cruzo as pernas, apenas aguardando nosso retorno a casa,
para dormir mais dez minutinhos. Eu mereço. Tenho tido muito
desgaste mental com esse surtado.
— O senhor é filho dos Valle, né? — Natan apenas assente
com cara de poucos amigos. — Sou nova na cidade, mas ouvi falar
muito do senhor desde que chegou.
Ai, moça, essa carinha linda não vale nada, vai por mim.
Péssimo.
— Meu titio é famoso! — a pequena diz toda orgulhosa.
Daqui a pouco veste camiseta de fã. Claro que ama ele, peste igual.
— Vou ver o presente! — Ela sai saltitante pela loja de tamanho
mediano.
Nem parece que pode matar pessoas. Olha, carinha de anjo!
Eu apenas penso nas roupinhas que vou levar para fotinhos
em Vegas, e na minha barriga roncando acompanhada da minha
garganta seca.
— O senhor e sua sobrinha desejam uma água, ou um suco?
Sempre tenho o melhor para meus clientes, ainda mais os
especiais. — Sorri mais ainda, daqui a pouco rasga as laterais dos
lábios de tanto que o sorriso alarga.
Me fodi. Morrerei de sede então, pois não sou especial. E eu
exaltando a boa visão da moça, ser boa é difícil.
— Obrigado. Eu não quero nada. E, pela empolgação da
minha sobrinha, duvido que deseje. — Ele se aproxima de mim, se
sentando ao meu lado e só então a mulher me nota.
— Perdão, não notei a senhorita. Precisa de algo, meu
amor? — Pior que a peste é simpática, entendo a babação de ovo
no Natan, a presença dele faz isso.
— Não, estou apenas acompanhando eles. Mas, olha, não
sou especial, mas aceito um suco, pode ser? — Sorrio.
— Ah, claro! Que vergonha de minha parte agir assim. É que
nunca recebi alguém tão famoso por aqui. Vou buscar o suco, um
segundinho. Fique à vontade. — Sai toda atrapalhada.
Natan solta um risinho baixo e quero socar ele.
— Que inferno foi agora que deu até para rir?
— Não perde uma de ser irônica. Sua expressão e voz
entregam, praga.
— Eu agi normal. Olha, Natan, só não te xingo porque terei
uma viagem grátis. — Dou uma piscadinha. — Agora ajude logo sua
sobrinha, eu quero comer. Estou morrendo de fome. — Recosto no
sofá, e meu vestido sobe um pouquinho. Dane-se. Estou largada as
traças mesmo.
A porta se abre no instante que Larissa trás o suco, e, pelo
jeito, o cliente é turista, pelo papo inicial. Assim que ela me entrega
a bebida, agradeço.
O rapaz olha na nossa direção, mas não deixo de notar o
olhar em minhas pernas, mas o que me chama mais atenção, é na
mão que pousa nela, me fazendo engasgar com o suco, por querer
rir.
Só pode ser brincadeira. Ciúmes ou proteção uma hora
dessas?
O rapaz pigarreia e sorri sem graça, então se afasta. Natan
leva o olhar a sobrinha, que parece ter encontrado algo, mas a mão
continua em minha perna, e eu me recupero do engasgo, sentindo
um friozinho na barriga. Que bela mão, devo admitir.
A pequena corre até nós com uma caixinha de música, a
coisa mais linda, tem uma bailarina dentro. É realmente muito
encantadora.
— Tio, acha que esse é legal?
Natan olha e assente.
— Você gostou? Se gostou, então dará de coração, e ela vai
gostar — fala, e olho surpresa para ele.
De onde veio esse conselho? Eu, hein! Gente, o homem não
passa bem.
— Eu gostei. Então vai ser esse! — Sorri.
Termino a suco, e Natan se levanta, estendendo a mão para
mim, que pego apenas para rir mais um pouco desse circo todo. Eu
estou amando esse dia.
Ele faz o pagamento e pede para embrulhar para presente. E
eu não acreditaria se falassem que aconteceria, e vendo continuo
sem acreditar. Natan passa um braço por minha cintura, conforme
saímos da loja, e tudo por causa do homem. Tenho certeza!
Eu vou para o inferno, mas descerei gargalhando.
Natan Valle é ciumento, possessivo, é isso mesmo? Caralho,
estou enfiando meu lado “mulheres unidas” na bunda, nesse
momento. Porque olha, a queda por esse macho assim é bem
drástica. Eu sou péssima, eu sei disso. Mas uma péssima muito
feliz, poxa.
Paramos perto do carro, e a garotinha pula no banco
traseiro. Ele coloca o presente ao lado das outras sacolas. O tanto
que estou controlando o riso, acho que vou morrer.
— Titio, podemos passar na sorveteria? — pede toda
carinhosa, nem parece que me lançou olhares assassinos a manhã
toda.
Entro no carro, e ele também.
— Não, amor — responde carinhoso. Ué, e eu levo coice a
todo segundo? — Precisa ir para escola, e é exatamente onde
deixarei você. Outro dia prometo te levar, tudo bem?
— Sim, senhor! — grita animada.
Sinto seu olhar em mim, e quando olho para trás conforme
coloco o cinto de segurança, ela sorri. A diabinha sorri, e fico
confusa. Devo correr ou já fazer o testamento?
— O que houve, Violeta? — Natan questiona conforme
começa a dirigir.
— Ela sorriu... Natan, ela sorriu para mim. Essa garota
aprontou algo. Ela vai me matar! — digo entredentes, sentindo um
arrepio no corpo todo.
A pestinha começa a rir e o tio também. Ninguém me
respeita, porra!
Paramos na porta da escola, que não fica longe da loja, e ela
se solta do cinto e pega a mochila. A doida se coloca entre nós, e dá
um beijo na bochecha do tio. Então se vira para mim e sinto a morte
tão perto, que eu vejo a luz no fim do túnel.
— Hoje eu gostei um pouquinho de você. Mas tô de olho! —
Aponta para seus olhos azuis meio esverdeados, e engulo em seco.
A porta de trás se abre e a funcionária da escola a pega,
com ela toda empolgada. É, pelo visto, o problema sou apenas eu.
— O que fez para ela? — ele questiona.
— Nada! — Reviro os olhos. — Mas a Hortência falou que é
ciúmes. Parece que ela acha que, se eu me casar com você,
teremos crianças e vai se esquecer ainda mais dela. Na cabecinha
dela, pensa que você não vir até ela com mais frequência, tem a ver
comigo, algo assim. Deveria conversar com ela, antes que me
picote toda enquanto durmo. — Cruzo os braços.
Ele sorri, pois está cheio de sorrisos. Babaca.

Seu pai nos chamou para irmos na Amores do Valle, para eu


conhecer todo o espaço, depois do almoço, e estamos a caminho do
lugar. Mais uma desculpa para eu usar contra não ter terminado os
malditos horóscopos atuais, pois estou realmente sem inspiração
para inventar nada ali, diferente da inspiração para a história que
não para de aumentar dentro de mim desde o instante que dei um
pouquinho de voz a ela enquanto estava na cafeteria.
— Vai me falar o que foi a ceninha na loja de presentes? —
indago conforme nos aproximamos do nosso destino. O lugar pega
uma esquina inteira, e é bem lindo, com um paredão de flores
brancas e rosas, com folhas verdes. O nome fica enorme em cima
da porta branca em um letreiro dourado com um brasão antes do
Valle. — Vocês têm brasão! Que coisa linda e chique. — Sorrio.
— Temos, mas somente eles usam. E não sei ao que se
refere da loja.
Paramos na porta, pois viemos a pé até aqui, já que da
chácara até a Amores do Valle é pertinho. Até me produzi melhor
para vir, após o passeio com a Melinda mais cedo.
— Não se faça de sonso. Falo sobre a ceninha de cobrir
minhas pernas quando o homem olhou. — Ergo a sobrancelha e ele
me olha de lado.
— Não foi nada do que está pensando, maluca. Apenas fiz
para ele entender a merda que fazia! O cara nem disfarçou, porra.
— Você tara a porra do meu corpo quando estou com
camisola, seu hipócrita. — Acerto seu braço e abro a porta.
O idiota aperta minha cintura, puxando meu corpo até ele, e
me assustando, ao mesmo tempo que me arrepiando inteira com
isso. Seu perfume é delicioso, sempre foi, e isso se prende em mim.
Ele se curva um pouco colocando a boca em meu ouvido, e me
fazendo ir com Deus.
— Existe uma diferença. Somos noivos, querida! — provoca
e juro que só não o mato, porque sua família saberia que fui eu.
— Tome cuidado ao dormir ao meu lado, Natan Valle, pois
seu lado debochado está me irritando cada vez mais! — digo
entredentes, contendo a sensação louca de como ele está me
deixando.
O desgraçado beija meu pescoço, me arrepiando mais ainda,
e sabe que faz isso, porque ri como um idiota. Minha boceta sente
esse contato, e meu coração acelera.
Eu o odeio risonho, já disse? Porra! O imbecil passa a minha
frente, cumprimentando a recepcionista, e faço o mesmo, seguindo-
o com vontade de acertar sua cabeça, mas sem condições para
isso, pois estou meio tonta.

Todo o lugar é muito bem decorado e perfeito para entrar no


clima do casamento que o cliente deseja. É romântico, bem
espaçoso, tudo muito organizado. Estou muito surpresa vendo,
porque é realmente muito belo.
Naomi está em reunião sobre detalhes de seu casamento, e
agora descobrimos que o motivo de estarmos aqui também é esse.
Logo Michael estará aqui, o que considero uma lástima, mas
ninguém precisa saber por enquanto.
Natan está com cara de poucos amigos, mas isso nunca
seria novidade, ele é sempre assim, ainda mais quando tem que
fugir de agenda. Já eu, onde tiver lugar para sentar, comida sendo
servida, sorrio até para o inimigo.
Eu gostaria de entender o que essa família fez de tão errado
para ter um filho assim, uma dúvida bem importante. Natan tem que
ser adotado, mas a genética que fode, eles se parecem demais, o
que vale ser observado que se Natan puxar seu pai, será um senhor
bem galante.
— Gostou daqui, querida? — o senhor Ruben questiona e
me sento ao lado do Natan, que está grudado no celular, pelo que
noto, respondendo algum e-mail. — Esse aí nem vive no mesmo
planeta que nós — provoca e o filho nem nota.
— Bom, eu amei. É tudo muito lindo e organizado. Até faz a
gente se inspirar em casar. Acho que até quem tem aversão a
casamentos, um dia aqui, montaria toda a cerimônia.
Rimos e ele assente, se senta na poltrona branca, muito
bonita por sinal.
Estamos em uma saleta repleta de espelhos, com dois sofás
e duas poltronas na cor branca, um tapete felpudo na cor creme,
além das flores decorando muitos lugares, e uma mesa com
diversas revistas sobre casamentos.
— Então precisamos trancar esse aí aqui. Se bem que agora
resolveu desencalhar, já foi um avanço! — provoca mais o filho, que
agora ergue o olhar.
Guarda o celular no bolso, e recosta no sofá, colocando o
tornozelo sobre a perna esquerda, e um braço no encosto do sofá.
O idiota está gostoso além do normal hoje, uma calça social no
estilo um pouco mais curta, sapato social, e uma maldita camisa
branca, colada ao seu corpo, com alguns botões abertos, e um
relógio bem brilhante em seu braço acompanhando o anel em seu
dedo.
— Por que o assunto sempre recai sobre mim? — questiona,
e recosto no sofá cruzando os braços.
Troquei de roupa no caminho para cá, pois mesmo com o sol
começou a gelar um pouco, e coloquei uma calça jeans estilo mom,
uma blusa de manga longa na cor rosinha clara, bem fininha, e uma
sandália branca de salto médio e quadradinho, pois amo saltos. Mas
perto da família desse homem, eu me sinto a todo segundo bem
malvestida. Eles andam sempre como se estivessem prontos para
saírem para alguma festa.
Eu deveria ter colocado um colarzinho ao menos.
Cruzo as pernas e balanço um pouquinho, pois toda essa
atenção em cima da gente me traz medo de ser chutada, porque no
fundo sinto que essa cidade será pouca para termos que correr.
Mãe e filha entram sorridentes e animadas, sentando-se
espalhadas pela sala.
— Ah, não poderia estar mais feliz em estar organizando o
casamento da minha caçula. O que me lembra, quero organizar o de
vocês, e ninguém vai me impedir! — Marietta fala.
— E eu irei ajudar! — Naomi sorri toda alegre.
O sorriso que lanço é tão forçado que posso sentir os ossos
trincando.
— Mãe, bem menos. Nem sabemos quando vai acontecer.
Agora podem agilizar, eu tenho trabalho... — Apoio a mão em sua
perna, para que ele cale a boca, pois noto a tristeza no olhar de sua
irmã. Ele me olha e o encaro séria. — Michael? — indaga, mudando
o assunto.
Perfeito.
— Está chegando... Vejam só, não morre mais! — Naomi
sorri ao ver o noivo.
O advogado caminha até onde a noiva está e se senta ao
seu lado, abrindo o paletó, e deixa um beijo nela, que quem o vê
assim nem imagina que olha o decote da “futura cunhada”.
— Agora estou aqui, podemos falar do nosso casamento,
desse dia que espero ansioso. — Ele sorri.
Eu queria tanto rir, porque olha, eu achava que mentia bem,
mas esse carinha merece um troféu.
Olho para os seus pais, e juro que queria saber se sorriem
por respeito, ou realmente acreditam nas palavras dele e de que
isso vai dar certo.
Retiro a mão da perna do Natan e disfarço coçando o
pescoço para tentar distrair minha vontade de gritar: “deixe de ser
sonso”, até porque estou sendo tão errada quanto ele, enganando
todos.
— Já que estamos aqui, antes de começarmos a falar, tenho
uma coisa a vocês.
Ah pronto, arrumou outro filho com esse babaca que não
merece ser pai nem da primeira?
Naomi se estica pegando uma sacola ao lado do sofá e
caminha até a nós, entregando, então retorna ao lado do noivo.
Natan nem abre, joga a bomba para mim, afinal, se explodir
morro primeiro.
Abro morrendo de medo, me ajeitando no sofá, e juro que
queria ser burra o suficiente para não entender o que essa maldita
caixa quer dizer.
Era melhor ser um novo sobrinho ao Natan!
Retiro a caixa, e estou tremendo. A sacola eu deixo de lado,
e sobre meu colo abro a tampa onde se lê:
“Aceitam ser nossos padrinhos?”, tem um minichampanhe
caro, uma rosa, e duas taças.
Eu quero gritar um “NÃO” tão alto que o Brasil inteiro poderia
ouvir. Olho para o Natan, que me encara e encara o convite.
Balanço a cabeça lentamente, o clima ansioso aumenta no lugar.
E se eu fingir um desmaio? Nos filmes funciona.
— Falem algo! — Naomi questiona animada.
Eu vou vomitar, me borrar toda, não sei, mas algo está
começando a acontecer dentro de mim, e pode ser um derrame, tem
essa possibilidade também.
De repente, faz muito calor, ou eu que estou caindo no
inferno?
Olho para ele e os olhares se prendem em nós, e acho que
estou perdendo a cor, porque sinto tudo girando um pouquinho.
Michael nos olha ardiloso, procurando uma brecha de mentira, ele
sente, um mentiroso reconhece outro.
Olho para o Natan, que precisa resolver isso agora.
— Isso... é uma responsabilidade enorme, Naomi, e...
— Não está pensando em recusar um convite tão especial
assim de sua irmã, não é, meu cunhado?
Alguém mata esse homem? Puta merda!
— Ele tem razão. Ela nem deveria convidar, deveria logo
intimar! — seu pai diz.
Por que ninguém entra aqui estourando algo apenas para
nos livrar disso?
— Amor, não é assim. Ser padrinho de casamento é um
convite muito especial, e uma responsabilidade enorme — Marietta
explica.
— Eu sei, querida. Mas com nosso filho é só intimando, sabe
disso!
Nisso ele tem razão, mas no momento estou do lado de nos
livrar disso, e não vem uma luz bonita, brilhante para nos acudir.
Eu sabia que essa cidade, a lenda, tudo está retornando
contra a gente. Eu sabia!
— Eu... Naomi, eu sinto muito, mas nós... — ele começa a
falar, e me olha, e noto que não faz apenas por ele. Natan não vai
aceitar por minha causa, porque é me colocar mais nesse problema.
Olho para a Naomi e seus olhos marejam, ela força um
sorriso, o clima está pesado. A família inteira espera pelo retorno do
filho, e quando vem, tudo que era para os unir, parece desmoronar.
Se ele der um “não”, toda conexão voltando aos poucos vai se
perder, e eu sou a pessoa mais a favor de união familiar, porque eu
cresci onde um amor foi motivo de afastamentos familiares, e eu sei
que, por mais que papai amasse muito minha mãe, isso o
machucava também. Natan precisa deles, só ainda não se lembrou
disso. E quem sabe livrar a irmã desse casamento antes que
aconteça, porque, na hora que esse papel for assinado, e ela tentar
sair, será um inferno, brigará com quem conhece as leis, as
brechas, e que terá como ferrar ela de todos os modos.
Pensa, Violeta. Pensa!
— Nós não podemos... — Olha para a irmã. Ele vai negar o
convite.
Merda... Que eles possam me perdoar quando tudo for
revelado!
— Nós não podíamos estar mais felizes! — As palavras
saem da minha boca interrompendo-o, antes de poder controlar.
Sua irmã grita tão feliz e corre na direção do irmão, que se
levanta rapidamente, e então se joga em seus braços. Eu continuo
sentada, em choque.
Quando entramos em uma mentira, todo dia a contando, vira
uma cama de gato.
A minha já virou cama de onça!
Se eu levantar desmaio, estou sentindo a dormência. Por
que eu sou assim? Por que fico me preocupando em salvar o rabo
dele também? Tudo está fugindo do meu controle.
Me levanto com calma, deixando as coisas de lado, testando
o chão. Sou abraçada por ela, e logo Michael vem nos
cumprimentar, e é como abraçar um porco espinho.
Nos sentamos novamente, e Natan passa um braço ao meu
redor quando seu pai diz que precisamos comemorar e com a
esposa buscam champanhe.
— Por que fez isso, Violeta? — cochicha em meu ouvido.
— Não sei, mas o meu plano de saúde tem que cobrir
hospício, pois é para onde irei, tenho certeza.
— Está pálida. Respira, por favor... — fala com calma e
preocupado. Passo um braço na sua cintura, e encosto em seu
peito, sob os chamegos do casal todo feliz.
Agora se preocupa? Eu preciso de médico, psiquiatra. Eu
sou louca, e isso ultrapassou os limites.
— Não vai chegar até o final.
— Quê? — Ergo o olhar e ele balança a cabeça.
— Assim que voltarmos de Las Vegas direi a verdade a eles.
Não dá para continuar. Você não precisava fazer isso. Isso está indo
longe demais. Mas preciso acabar com essa palhaçada deles
também. Na gola da camisa dele tem um resquício de batom mal
limpo, e um fio dourado, notei assim que me abraçou. Minha irmã
está cega e meus pais loucos.
Desde que parei em um motel para fazer xixi e comer, eu
entendi como tudo está fugindo do controle. Ele só notou agora?
— O que tanto cochicham? — Michael questiona.
— Amor! Não seja indiscreto. Obrigada por aceitarem, é
muito importante para mim. — A morena sorri toda feliz, como se
sua vida estivesse as mil maravilhas, e deve estar, afinal, ele sabe
enrolar ela.
Sorrio para ela, e Natan acaricia minhas costas, me
acalmando para não bancar indenização disso tudo também.
Faz alguns dias que as coisas só têm piorado desde que
chegamos em Monte Amor. Me questiono em que momento essa
cidade vai parar de me trazer mais problemas. Pois tudo que quero
é resolver essa merda e sumir daqui. Eu tento permanecer, focar na
minha família, mas é como se eu nunca tivesse feito parte disso
aqui, porque está... Está me fazendo repensar tanto nas minhas
escolhas durante esses anos, ao ponto de questionar sem parar
quando foi que me perdi. Eu não era assim, essa frieza não me
pertencia, mas quando saí daqui, algo se quebrou, e é como se eu
não conseguisse colar novamente.
Observo a vista da janela da sala de jantar, que vai
diretamente a piscina. Está bem ensolarado. Naomi e Violeta estão
sentadas a beira da piscina, ambas de biquíni, dizem que trabalham,
mas tendo em vista o horóscopo da revista com tantas reclamações
e decaindo cada vez mais, algo me diz que Violeta não está
trabalhando nisso, até porque encontrei um arquivo suspeito em
meu notebook, que ainda não tive um momento oportuno de
questioná-la sobre.
Meus pais foram a São Paulo buscar algumas encomendas e
pensei em aproveitar para ir para casa e relaxar a cabeça, mas optei
por ficar.
Michael se aproxima da esposa, outro que duvido que
trabalhe também. Violeta está concentrada em algo no notebook em
seu colo, que nem repara na presença dele, porque a sua
expressão fica cada vez mais difícil de controlar quando ele se
aproxima. Ela está aprontando, tenho certeza.
Me pego olhando-a mais que o normal, como se eu não
tivesse nada mais importante para resolver. Eu observo o biquíni
turquesa moldando seu corpo curvilíneo, pois a garota tem curvas
chamativas. Seus cabelos estão presos em um coque bem no alto,
e sua pele brilha pelo protetor solar que passou com ajuda da minha
irmã. Meu pau começa a endurecer com a vista, e, porra, que merda
é essa agora? Desde quando perco o controle assim por apenas
olhá-la? Que inferno está havendo nesse caralho?
Ela morde o cantinho da boca e sorri. É, está aprontando.
Minha irmã mostra umas coisas ao meu cunhado, e deve ser
sobre o casamento. Não sei por que eu tinha que estar aqui, meus
pais têm quase tudo pronto. Isso me cheira a mais armadilha para
me prender nessa casa durante esse tempo. Deles espero de tudo e
não posso culpá-los. Sou o filho que não volta ao lar, e que a cada
instante tem ficado mais distante de tudo.
O babaca disfarça, mas eu noto o olhar que ele lança para a
loira na cadeira ao lado. Ela chama muito atenção, eu sempre
reparei nos olhares que lança a ela por onde anda, nunca fui tolo,
mas Michael tem realmente se superado, porque anda perdendo o
medo de ter a cabeça cortada.
— Titio, vamos para a piscina? — Melinda me assusta, e até
meu pau abaixa na hora.
Caralho, essa menina sabe me causar infartos.
Ela está em um maiô de sereia, a coisa mais linda. E toda
cheia de protetor solar, algum dos funcionários ajudou, mas no
rostinho foi ela, chega a estar branco o negócio.
— Vamos, por favor. Zafira me ajudou a ficar prontinha para
nadar!
Engulo em seco. Não. A mulher está aqui já.
— Ela está aqui ainda, meu amor?
— Sim! Com a tia dela. Vamos? — Estende a mão e me
aproximo dela segurando sua mão. — Não vai nadar? Troca de
roupa. Eu espero!
Se ela me garantir que irei me afogar para não ter que lidar
com mais esse problema, pulo até com essa roupa na porra da
piscina.
— Vou... Espera na sala, tudo bem?
Concorda conforme saímos dali.
Preciso preparar a loira para essa merda. Claro que quero
contar tudo quando voltarmos de viagem, mas antes preciso
preparar terreno e a Violeta, para quem vai encontrar na casa.
Depois do infernal dia que ela aceitou o pedido, ali eu vi que
essa garota faz qualquer coisa por aqueles que gosta, e sei que
mesmo tentando me matar todos os dias, ela me considera
realmente seu amigo, e nunca permitirei que continue nessa porra
toda. Eu só desejaria que minha irmã caísse na real sobre esse
casamento antes de eu abrir a boca, pois depois que a merda toda
for revelada, ela nunca me ouvirá para dizer tudo que penso desse
imbecil, afinal, como afirmar que ele a engana, quando estou
fazendo isso com todos eles? Hipocrisia seria o meu sobrenome.
Eu jamais deveria ter começado com isso, o ponto principal é
esse. Mas agora que foi feito, e tem tomado rumos tão loucos, como
a noite com a Violeta, esse convite de noivado, minha sobrinha
sendo afetada nessa merda toda, Michael desconfiado, meus pais
planejando nosso casamento... Não, em poucos dias o caos tem
reinado mais do que reinou em quase quarenta anos da minha vida.
Eu sei reconhecer quando um limite foi ultrapassado, e nessa
situação muitos foram, inclusive a forma que estou colocando essa
maluca dentro dessa bolha de desastres além do limite.
Me troco rapidamente, e desço para encontrar a pequena
que me espera ansiosa. Seguro-a quando se joga em meus braços.
Saio para fora com a baixinha, a única que me faz latir se for
necessário.
— Papai e mamãe, convenci ele! Sou boa! — ela se gaba
toda animada.
— O que seu tio não faz por você? Ele sempre te mimou. —
Minha irmã sorri.
Coloco-a no chão, e olho para o lado, onde a loira nem
disfarça o olhar que me lança de lado, e a cara de safada.
— Papai fica com ciúmes assim, minha lindinha! — O imbecil
finge se importar com alguma coisa.
— Não fique. Tem Melinda para todos! — Sorri. — Vamos?
— Me olha e assinto.
Violeta nos segue com o olhar. Se ela estava concentrada
em algo, não está mais.
— Não vai, Vilu? — minha irmã questiona.
— N-não... Estou um pouco ocupada. — Me analisa de cima
para baixo.
E o cretino sou eu.
Sorrio segurando a mão da baixinha, que, diferente da minha
praga, sabe nadar e muito bem.
Pulamos na piscina juntos, e ela se diverte, bem animadinha.
E se tem algo que me faz desconectar dos problemas, e relaxar um
pouco é essa criança. Melinda, desde que chegou, foi o motivo para
eu voltar nas poucas vezes que vim, porque ela sempre me puxou
para cá. Eu amo minha família, mas voltar é como eu disse, me traz
questionamentos que me preocupam, porém voltar para ficar com
ela, é não pensar, ao menos por alguns instantes.
— Eu estava com saudade. Mais tarde tenho a festinha, vou
levar o presente. Pode me levar?
— Anda muito exigente! — Sorrio e pego-a no colo, beijando
seu rosto, antes de me jogar para trás, levando-a comigo, que
gargalha. — Levo, meu amor.
— Ebaaa! — grita e mergulha.
Acompanho-a, e ela pisca para mim, me fazendo sorrir
quando voltamos a superfície.
Esfrego o rosto e passo a mão pelo cabelo.
Minha irmã olha atenta ao celular e arregala os olhos antes
de gritar:
— Puta merda! Melinda, a gente tem que ir. Amor, como não
me lembrou que a festinha não é aqui e sim em São Paulo? Melinda
tem que ir se arrumar agora ou não dará tempo. — Naomi se
levanta correndo.
— Nem reparei nisso — Michael diz olhando a mensagem
que ela leu no celular. — Vamos, ou não dará tempo. E teremos que
ficar com ela, ou será complicado buscá-la depois com o trânsito.
Ela assente.
— Mas o tio Natan que iria me levar! — a pequena diz bem
triste.
— Amor, não tem como. Ele não poderia ficar, o convite tem
restrições e não podemos te deixar lá apenas. Vamos, linda. — Ela
se aproxima com uma toalha que está na cadeira e ajuda a baixinha
a sair da piscina.
— Faz assim, marcamos de sair depois. Te levo onde quiser,
e tomar também o sorvete, tudo bem? — questiono.
Ela se anima mais e me dá um beijo me arrancando um
sorriso.
— Vamos. Beijo para vocês! Juízo! — minha irmã grita
entrando na casa com a baixinha em seus braços, que ri do quase
tombo da mãe.
Michael passa pela Violeta e a olha, mas dessa vez ela o
encara e bem séria, deixando-o sem graça. Apenas assente e entra
na casa.
Ela fecha o notebook e se aproxima, sentando-se na beirada
da piscina, ao meu lado.
— A gente precisa fofocar. — Encaro-a e ela ri. — Eu acho
que sei onde está acontecendo as traições do seu cunhado, e
envolve o caso que ele diz estar cuidando em uma cidade próxima.
Sua irmã não pareceu se ligar, mas ele disse a ela assim que surgiu
aqui, que tinha uma audiência sobre esse caso em São Paulo no
final de semana. Mas depois ela perguntou de novo, um pouco
antes de você chegar, e ele disse que era no Rio de Janeiro. Ele vai
ficar quatro dias fora na semana do casamento! Natan, esse safado
está de caso e vai aproveitar muito na semana do casamento.
Escuto sem acreditar. Michael é um filho da puta de primeira.
Puta que pariu.
— É o que veremos. Eu posso estar fazendo uma merda
também, mas eu me fodo levando esse filho da puta. Esse
casamento não vai acontecer, nem que seja a última coisa que eu
faça. Mas na porra daquele altar, ela não sobe! — Encaro-a e ela
assente, balançando as pernas lentamente dentro da água. — Mas
temos outra coisa para resolver. Esse final de semana estaremos
em Vegas, na verdade vamos na quarta-feira e retornamos na
próxima segunda. E Zafira está aqui.
— Primeiro solta a felicidade para depois a bomba? Fodeu.
Se pretende contar a todos a verdade, não será com ela estragando
tudo que tornará menos problemático. Ela sabe que somos somente
amigos. Já pegou alguma mulher por lá nos últimos dois meses
mais ou menos?
Nego e ela me olha preocupada.
— Nunca levo para o meu apartamento e sabe disso. E faz
tempo que não tenho contato com mulheres como está pensando.
Ou nunca teria inventado essa merda a minha família, pois já teria
vazado na mídia de alguma maneira.
Ela concorda e apoia as mãos nas laterais da piscina.
— Acha que será duro demais para eles saberem que
mentimos? Eles vão querer saber o motivo, Natan. Está pronto para
dizer a verdade? — Me olha e seus olhos estão em um verde muito
intenso devido ao sol. O verde-escuro dá lugar a um tom de verde
mais claro, a coisa mais linda.
Nunca havia reparado nisso, e puta que pariu, é inspirador
ver esses olhos assim de perto. Os cílios longos, o rosto limpo de
maquiagem é chamativo, deixando-a com uma carinha ainda mais
jovial. Eu me perco no que ela dizia, porque me vejo preso aos
detalhes que nunca havia notado, como suas bochechas rosadas
naturalmente são ainda mais bonitas.
— Me ouve? Natan, que foi? Parece um tonto me encarando
assim? Tem algum bicho aqui? NATAN, NÃO BRINCA! — Fica dura,
e olha para os lados apenas levando o olhar, apavorada. — O que
foi, inferno?!
Sorrio e balanço a cabeça.
— Nada, Violeta! E sobre o que falava, não, não estou pronto
para tentar entender tudo que precisaria, para então começar a falar
— não minto, apenas deixo a sinceridade falar por mim.
Ela relaxa e concorda.
— É muito funda, do tipo, se eu cair morro afogada? —
indaga indicando a piscina e nego.
— Você não é tão baixa. Não vai morrer afogada, vem. —
Estendo o braço.
— Claro que posso morrer afogada. Estamos falando de
mim, tudo pode acontecer, cacete!
— É... um bom ponto!
Me fuzila com o olhar, e ajudo-a descer. A água bate em
seus seios, e ela encosta na borda, ficando de frente para mim.
Olha ao redor e sorri de um jeito diferente.
— Meus pais amariam ter vivido nesse tipo de cidade. Eram
românticos como os seus. Bom, mamãe continua sendo.
— Como ela está? — questiono preocupado, ainda mais
agora sabendo de toda a verdade que não consigo acreditar que ela
ocultou.
— Está bem. Falei hoje cedo com ela. Está com saudades,
prometi ir amanhã, já que você tem que ir a São Paulo. E agora que
teremos que viajar para fora do país, preciso buscar os documentos
e mais roupas... Achei que nunca a Sunshine me faria usar os
benefícios que nos cedem como o passaporte e ajuda com o visto
americano. Demorou, viu! — Ergue a sobrancelha.
Encosto-me ao seu lado, apoiando-me na beira da piscina,
ficando de frente para as cadeiras.
— Sua sinceridade a cada dia se torna mais impressionante,
preciso dizer! — digo e ela gargalha.
Inferno, tudo parece estar se tornando mais atraente a ela,
desde aquela porra de noite.
Caralho, Natan. Você precisa transar, porra!
— É o que mais ama em mim, que eu sei. Agora, já que
estamos falando da revista, terminei os novos horóscopos. Nina e
Olívia me atualizaram das fofocas, e isso foi inspirador.
— Vou me arrepender no instante que eu questionar, mas
vamos lá. Por que fofocas seriam inspiradoras? — Olho-a e ela ri. —
É, já me arrependi.
— Sempre que vaza fofoca de alguém, eu descubro os
signos dos envolvidos com a ajuda delas, e desse modo construo os
horóscopos e faço conexão com a personalidade de cada um
envolvido, e depois só apenas completo os que faltam.
Normalmente as fofocas por ali envolve mais de cinco, já é bastante,
e, para minha humilde sorte, na maioria das vezes mesmo o signo
sendo repetido tem personalidades diferentes, o que acabo usando
de um para algum outro signo que vai ficar faltando, e com base na
fofoca, eu consigo arrumar conselhos mediante ao que foi dito. É
assim que algumas pessoas acreditam, porque a turma da fofoca vê
na revista, comenta se identificando e tudo fica lindo e brilhoso
porque o chefinho aqui não surta comigo, por reclamações em sua
revista. — Sorri orgulhosa da sua maluquice.
— Eu não sei se fico surpreso pela criatividade, ou se te
demito por usar da vida pessoal dos meus funcionários para criar
suas mentiras!
Ela ri e joga água na minha direção.
— Fique feliz, pois ao menos ainda tem essa coluna em
funcionamento graças a mim. E por falar nisso, por que ainda a
mantém se não rende porra alguma? Natan, ela é mais fracassada
que eu.
Olho-a, pensando em ser sincero, mas ela escorrega,
desligando-me de qualquer resposta que daria, para segurá-la
rapidamente, prendendo seu corpo a beira da piscina e o meu
colado ao dela, que arregala os olhos apoiando as mãos em meu
peito.
— Violeta, tenta não se matar... Tudo bem? — indago e ela
assente.
— Acho que sim... Porra, quase morri. Juro que vi minha
alma indo e voltando...
Fala, mas só consigo prestar atenção em seus lábios, no seu
corpo colado ao meu, coberto apenas por esse biquíni pequeno, nos
seios fartos colados a mim, e no seu olhar me encarando.
Levo uma mão ao seu queixo, e ela entreabre os lábios, me
deixando louco para senti-los. Mais uma vez a razão vai para a puta
que pariu, porque meu pau endurece embaixo dessa água, ele
endurece enquanto colado a ela, que sente, porque engole em seco,
e sua respiração fica ainda mais agitada que o normal. Aproximo
meu rosto do seu, e, porra, meus lábios estão tão perto, apenas
mais um centímetro e eles tocam os seus, e sei que, se isso
acontecer, não irei parar, porque essa garota está me deixando
perturbado. Flashes da noite em que gozamos vem a minha
memória, apenas piorando a situação.
Roço os lábios em seu queixo e ela geme baixinho, e caralho
de gemido gostoso da porra. Suas mãos sobem para os meus
ombros, deslizando suas unhas pela minha pele, me fazendo pensar
no quanto a vida está me cobrando por essa mentira, porque eu
quero muito foder minha amiga, funcionária, a porra da praga na
minha vida.
— Violeta... — sussurro e ela fecha os olhos. Meu pau dói,
conforme pressiono ainda mais nela.
— Senhor Natan! — A voz que grita me faz xingar até a
porra da minha oitava geração.
Zafira!
— Porra...
— E-Ela vai nos desmascarar... — Violeta sussurra com a
voz fraca.
Seus olhos se abrem e se prendem aos meus. Roço meu
pau ainda mais nela, e ela geme baixinho.
— Não é com isso que estou preocupado no momento, saiba
muito bem disso! — Ela morde o lábio inferior, e desprendo-a com o
polegar. — Não faz essa carinha, e não geme assim para mim. Sai
dessa piscina, urgentemente!
— Mas... — Desliza a mão pelo meu peito, e suas unhas me
arrepiam.
— Sai, agora — Beijo o canto da sua boca, quase perto dos
seus lábios e ela geme novamente. Maldição! — Sai, e diga a ela
que já vou. Não posso entrar assim, duro do jeito que estou.
Ela me analisa com uma expressão bem safada. Ajudo-a a
sair da piscina, e me olha toda vermelha, puxa outra toalha livre e
entra às pressas.
Apoio-me na beira da piscina.
— Caralho, Natan! Que inferno... Porra! — Fecho os olhos
com força e mergulho, nervoso, excitado, confuso, e sabendo a
cada instante que tudo tende a piorar.
Que diabos está acontecendo aqui? Alguém, por favor, me
leva para outro mundo porque desse eu já fiz merda demais!
Eu encaro o homem tomando café em sua mesa na
Sunshine, e só consigo pensar na merda que fizemos mais uma vez
ontem. As coisas estão fugindo do controle. Ainda tivemos que fingir
diversas coisas para a Zafira enquanto ela falava para ele sobre ir
essa semana de novo limpar seu apartamento, pois ficou faltando
algumas coisas. O olhar dela em relação ao nosso papo de que
estamos juntos e nunca abrimos a boca para vazar a mídia, pois
queremos privacidade, é de quem duvidava. Se ela abrir a boca com
qualquer coisinha errada para a pessoa errada, vulgo Michael,
estamos na merda.
Os problemas crescem em uma velocidade assustadora.
Natan dormiu no sofá, depois de dias tendo reivindicado um
canto na cama, ele fugiu para o sofá, e o entendo. Se as coisas
continuarem assim, a chance dessa merda triplicar de tamanho é
aterrorizantemente enorme.
Por que me sinto tão excitada quando ele me toca? Por que
estou me deixando afundar nessa bola de neve?! Por que ele não
sai da minha cabeça a todo instante?
— Reunião agora. Não vai fugir, mocinha! — Me assusto
com a voz de Nina e a olho.
Levanto-me e abraço. Estava com saudade dela, e ter um
rosto fora dessa bagunça, me faz tão bem.
— Vamos... Vamos! Eu preciso sair daqui. — Olho na direção
da sala dele, que ergue o olhar na minha direção e sinto uma coisa
estranha.
Encaro Olga, que está lixando a unha e fingindo trabalhar. E
depois a que não trabalha sou eu.
— Perdeu algo, princesinha protegida? — a secretária
irritante questiona.
Sorrio com sarcasmo.
— Não, meu amor. Apenas observando o quanto trabalha
muito bem.
Ela larga a lixa sobre a mesa e me fuzila com o olhar.
Não tem jeito, nosso santo não bate.
Nina sai me arrastando e caminhamos na revista. Eu sinto os
poucos olhares sobre mim, afinal estou sumida tem alguns dias e
apareço logo hoje, no mesmo dia que o chefe? Claro que gera
desconfiança. Mas nada disso abala a beleza que sempre vi aqui, a
iluminação, o lugar é bem claro com branco predominante e o rosa
queimado da cor do nome da revista. Tudo é bem decorado, com
mesas espalhadas, revistas e recortes para todos os lados.
Tecnologia da melhor qualidade. Natan mostra o poder dessa
revista, apenas no prédio todo dele.
Vamos para o setor do RH, e está vazio ainda, é bem cedo, e
pedi para elas virem logo, queria vê-las antes de ir buscar minhas
coisas para então ficar no apartamento do Natan, de onde iremos
para Guarulhos, que é o local em que nosso voo sairá amanhã bem
cedo. Seus pais acreditam que ele está fugindo, mas se ele não
estiver, eu considero uma fuga a mim. Qualquer lugar longe de onde
a bomba pode explodir, eu vou.
— Sem beijos e abraços. Eu quero respostas. Que caralho
está acontecendo, Violeta?! Somos suas amigas, trate de abrir essa
boca, agora! — Olívia, a morena iluminada, começa assim que nos
vê.
Nina se joga sobre a mesa da irritadinha, e eu caio sentada
na cadeira.
— Um problemão fodido, que eu nem sei por onde começar.
Gente, dessa vez eu estou no inferno e abraçando o capeta! —
resmungo nervosa, e elas me olham assustadas.
— Eita, o problema é grande mesmo. Amiga, estamos aqui
por você, sempre. Vamos te apoiar, ajudar e...
— Estou fingindo ser noiva do Natan. Não importa o porquê,
não interessa como aconteceu, mas a merda é essa. Ninguém
nessa porra pode saber, isso é caso de vida ou morte!
Acho que soltar uma informação dessa assim, desse modo,
pode ser bem perigoso. Ambas arregalam os olhos e ficam pálidas.
Pronto, agora serei culpada pela morte das meninas
também. Qual é, destino?
— C-como é? — Nina é quem consegue falar, pois Olívia
segue de boca aberta e olhos quase saltando de seus olhos.
— Foi o que eu disse. Não perguntem, e não abram suas
bocas, confio em vocês!
Assentem em estado de choque.
— M-Meu Deus... Violeta, você se superou! Que grande
merda! — Olívia consegue finalmente abrir a boca.
— E não parou aí... Quase que transamos e nos beijamos.
— Faço uma careta e debruço-me sobre a mesa, esperando a morte
vir me buscar. — Meninas, me ajudem, o que eu faço da minha
vida? Eu me sinto caindo de um precipício. Estou fodida, não estou?
— VOCÊS O QUÊ? — Nina berra e reviro os olhos.
— Eu sabiaaa! — Olívia salta da cadeira nos assustando.
— Sabia do quê, sua louca? — Ergo a cabeça encarando a
maluca. — Olívia, eu preciso de ajuda, não de companhia para o
hospício!
— Vocês dois! Eu sempre comentei com a Nina que rolava
algo. Que esse negócio de amizade e implicância era tensão sexual.
Eu sabia! — Ela bate na mesa me fazendo desistir de ficar
debruçada.
— É, ela falava! E eu meio que comecei a desconfiar
também. Agora então...
— Qual é? — Levanto-me nervosa. — Gente, é para ficarem
do meu lado, não contra mim! Vocês têm noção do problemão que é
isso? Teremos que viajar juntos por alguns dias para Las Vegas.
Passarei essa noite no apartamento dele. Eu estou cada vez mais
fodida e nem é como gosto!
Olívia cai sentada na cadeira e Nina leva uma mão ao peito.
— Essa história só melhora! — A morena sentada à mesa ri
nervosa. — Noivado falso, quase transam, agora viagem e
apartamento dele? Sua safada!
— Argh! — bufo nervosa. — Gente, é sério... O que eu faço?
Eu estou desesperada!
Elas se levantam e vem até a mim, me sentando na cadeira.
Cada uma se abaixa de um lado meu, e me dão carinho.
— Vilu, impossível ajudar sem saber tudo, se não quer ou
não pode dizer, te respeitamos. Mas se o problema está complicado,
é só cancelar tudo e sair fora dessa bagunça. Agora se for o tesão
que está crescendo aí pelo chefinho, não vai mudar nada desistir
dessa loucura toda estranha, porque trabalham juntos e são amigos.
— Oli tem razão, minha amiga! É difícil ajudar sem entender
tudo. Mas quando ativamos essa chavinha que dá acesso a esse
tipo de tesão, esquece, não tem mais volta. Vai por mim, é fato.
Sabe disso.
Choramingo, porque sei que tudo isso é obra da mentira que
nos metemos.
— Eu não o amo. Não assim como imaginam.
— Não imaginamos nada! Tesão é diferente de amor. —
Olívia sorri.
Concordo e respiro fundo.
— E se o destino de vocês foi traçado para ser exatamente
assim? Vilu, sempre diz que um dia encontrará seu lorde, e se for o
Natan Valle? — Nina questiona.
— Já dizia Cazuza: “nossos destinos foram traçados” —
Olívia diz rindo. — “Amor inventado”? Ok, me calei!
— Que tipo de droga podre é essa que usaram? Gente, foco!
Eu estou com um problema enorme. Eu não posso transar com ele!
Ouvimos um pigarreio e olhamos para um dos seguranças
que entra.
Elas riem baixinho e eu só quero me matar.
— Amiga, é hora de enfrentar isso. Você consegue. Sempre
consegue o quer, então basta não querer transar com ele! Precisa
focar em outra coisa até essa loucura aí passar. Que inferno de
ideia é essa que foram ter? Puta merda! — Olívia fala e Nina ri.
— Já viu a Violeta se meter em merda pequena? Ela se joga
em um balde enorme de bosta!
— Eu odeio vocês! — O segurança segue na direção da
porta ao lado. — E ele acha que sou uma louca “transante”! —
Indico onde o homem foi.
Elas gargalham.
— Não. Você não nos odeia. Agora ânimo. Temos tempo
para um cafezinho, e você vai contar melhor essa história, ao menos
explicar direito um pouco do que pode falar e então tentamos te
ajudar melhor, pode ser? — Nina indaga.
— Aceito até se falarem que vão me jogar na avenida! Eu só
quero sumir!
Dramatizo conforme me levanto e elas fazem o mesmo.
— Chegou roupas legais, e não são de alta costura ou
exclusivas apenas para matérias, podemos pegar, isso te anima? —
Olívia questiona.
— Um pouquinho!
— Vários vestidos lindos, lingerie e camisolas lindas! — Nina
fala.
— Ótimo, tomaremos café no setor de moda. Me animei.
Vamos, todas unidas contra a “transa de Violeta Matos!”. — Ergo o
braço na luta contra isso.
O segurança estaca saindo da saleta, e nos olha.
— Agora ele acha mesmo que é “louca transante”. Vamos
logo sair daqui! — Olívia começa a me empurrar e Nina segue rindo
atrás.
1.
2. Não ficar em um espaço pequeno com ele e
sozinhos;
3. Não ficar muito tempo sozinhos;
4. Não ficar olhando para o corpo dele;
5. Não dormir mais juntos;
6. Não o beijar nem que minha vida dependa disso;
7. Em qualquer sinal de deslize, recuar rapidamente.

Essas foram algumas das regras que montei com as


meninas, mas já começamos falhando, e por quê? Claro, eu digo:
TEREI QUE DORMIR DO APARTAMENTO DELE!
Soco as coisas na minha mala, junto das coisas que peguei
na revista e que já fizeram matérias para liberar muito em breve.
— Querida, o que a mala te fez? — meu tio questiona me
tirando da frente da mala.
Ele começa a refazer tudo, e bem organizadinho.
— Nada. Eu mesma me lasco sozinha. — Despenco na
cama dele.
Ele sorri de lado e se senta ao lado da mala, enquanto
continua arrumando.
— Então vai viajar com seu chefe para os Estados Unidos...
Meu amor, está realizando seu sonho, tem noção disso?
Suspiro, porque vejo o brilho em seu olhar.
— Ainda levarei você e mamãe, acreditem nisso. Eu vou dar
esse mundo a vocês dois. Talvez atrase um pouquinho, mas eu
nunca vou desistir! — falo esquecendo-me completamente do traste
na sala com mamãe.
— Eu acredito em você. Mas só de você conseguir ir, já é um
presente para mim e tenho certeza de que para a sua mãe também.
Seus sonhos realizados são nossos também! — Me olha com os
olhos marejados e me emociono.
Sorrio para o homem muito parecido com mamãe, um pouco
mais novo. Cabelos brancos tomam conta dos fios, que ele diz que
vai platinar de vez, a aparência de galã que faz muitas mulheres
caírem aos seus pés, sem saber que na verdade ele não sente
qualquer interesse por elas, pois é muito bem resolvido com sua
vida, e eu sinto orgulho dele por nunca recuar, não sentir medo,
porque é o que muitos sentem, por se sentirem acuados, não terem
apoio de pessoas próximas. Ele tem sorte de os pais terem sempre
o apoiado, assim como mamãe, mas tio Omar sempre fez o que
queria, ele nunca foi medroso. Sempre se jogou de cabeça, e talvez
eu o inveje um pouco, já que, mesmo sendo doida, às vezes fujo
das coisas que desejo pelo medo de quebrar a cara.
— Amo vocês demais... E por falar nisso, como ela está?
Dona Zulmira adora me esconder as coisas. Ela fez compras?
Sentiu dores?
Ele ri baixinho.
— Fez e comprou tudo, até a mais. Fui com ela e fiquei em
cima. Estou de olho no trabalho, e ela está pegando leve porque
sabe que, se eu te ligar, volta correndo e dá umas broncas nela.
Mas vive resmungando que somos dois irritantes.
Rimos e ele está prestes a finalizar a zorra que fiz na mala.
— Eu quero dar o mundo a ela, começando pelo tratamento.
É uma das coisas que mais desejo. Sendo bem sincera, tio, eu
trocaria Las Vegas pelo tratamento de saúde dela, e para tirar a
gente desse sufoco. O dinheiro que pegarei, pagará a dívida, vai
sobrar um pouquinho para o tratamento, mas não o suficiente —
confesso preocupada.
— Querida, sobre isso... — Ele fecha a mala e me olha e
conheço esse olhar. — Eu refiz as contas... Sua mãe não queria que
eu falasse. Mas...
— Tio, fala! — fico angustiada.
— Descobrimos esses dias que você somou errado, meu
amor. Faltou somar os juros de parte dos fornecedores. Com a
soma que fizemos, se em trinta dias pagarmos será vinte mil reais a
mais, do contrário, esse valor aumentará. Entramos em contato com
eles, e deram esse prazo.
Meu coração acelera.
— E-Eu sempre fui péssima com contas... Eu... Meu Deus.
Então não vai sobrar para o tratamento da mamãe, ela precisa de
exames, fisioterapia frequente, e o que eu ganho junto do de vocês,
mesmo sem as dívidas, nunca vai bancar tudo o que ela precisa...
Eu achei que com o que sobrasse e um pouquinho do nosso
desse... Eu... — Minha voz embarga.
Ele se senta ao meu lado e me abraça.
— Daremos um jeito. Ela quer que foquemos nas dívidas,
porque não aguenta mais esse inferno. Mas eu vou tentar arrumar
um emprego a mais para as horas vagas. Tem uma pizzaria
precisando. Tudo nessa vida tem um jeito, Vilu! Seu pai sempre
dizia isso, lembra? Então vamos acreditar — tenta me confortar.
— É, mas ele também escondeu da gente essa merda toda.
— Me levanto nervosa. — Às vezes, não quero sentir raiva dele,
porque eu amo demais. Mas se torna impossível quando ele não
abriu a boca. Tínhamos como ter evitado isso desde o início. Eu
nunca o deixaria entrar em divida por causa da porra da minha
faculdade! Nunca! — Minhas mãos tremem.
— Ei, calma! Reginaldo era teimoso, sabe disso. Ele sempre
iria priorizar seus estudos, e não preocupar sua mãe. A padaria não
estava dando lucros suficientes, e ele nunca pediria ajuda aos
merdas dos pais dele. Então eu o entendo, mesmo que não ache
que foi correto, e entendo você ficar assim, mas de nada vai
adiantar ficar nesse estado agora. Respira fundo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Escuto passos e enxugo
rapidamente os olhos.
— Filha, está ficando tarde. Precisam ir. Fico preocupada
que saiam de carro fora de hora. Mesmo que o segurança dele
esteja acompanhando.
Acabamos atrasando na revista. Ele teve duas reuniões, vim
para cá de carona com a Nina, e ele chegou depois das 21h.
— Já vou, mãe. — Pego a mala, sem olhar para ela, para
que não veja que eu chorava.
— Está tudo bem aqui? — questiona desconfiada.
— Está, mamãe! — Forço um risinho.
— Estava contando a ela uma história triste do restaurante, e
ela se emocionou. Violeta visualizou a cena como sempre faz com
sua criatividade e tornou tudo mais caótico. Mas ela sabe que vai
ficar tudo bem, né? — Me olha e assinto.
— Vamos? — falo me virando para ela, que parece não
acreditar muito, mas sorri.
Ela me abraça apertado.
— Se cuida. Me ligue quando chegar lá, e quando saírem de
lá. Me informe sobre tudo. Filha, não fala inglês, fique sempre por
perto do Natan, e qualquer coisa não deixe de nos avisar. Vou rezar
para que façam boa viagem. Aproveite muito, e vê se nessa viagem
reflitam sobre essa mentira de noivado. Que ela coloque tudo no
lugar, incluindo o juízo de vocês.
Assinto apertando-a, querendo chorar de novo. Porque ela
não merece viver assim. Não merece!
— Eu te amo, mamãe! Se cuida, por favor. Qualquer coisa
me avise e volto o mais rápido possível.
— Eu também te amo, minha princesa! Vai, realiza teu sonho
de andar de avião e conhecer esse mundo. Você merece. Curta
essa viagem, não deixe de se divertir, precisa disso também.
Assinto e engulo em seco. Se eu abrir a boca, torno a chorar.
Vamos para a sala com a mala. Natan se levanta assim que
nos vê e pega a mala.
— Pronta? — questiona e assinto apenas.
— Cuide dela, por favor. Violeta é tudo que tenho! — minha
mãe diz e Natan sorri para ela.
— Irei cuidar, dona Zulmira. Não se preocupe. Sua filha
voltará sã e salva — fala e ela concorda.
Meu tio me abraça e beija meu rosto.
— Carinha feliz. Vai, Vilu, viva seu sonho! — sussurra em
meu ouvido. — Esses problemas não são nada para tudo de bom
que viveremos ainda.
Concordo.
— Espero, tio...
Nos afastamos, e Natan deixa um beijo na minha mãe e
segura a mão do meu tio, que não perde a oportunidade em lhe
abraçar, me fazendo sorrir um pouco.
Eles nos acompanham até o carro, e Dionísio, que já me
conhece, sorri para mim e retribuo com um aceno. Ele guarda a
mala e abre a porta do carro para eu entrar.
— De motorista essa noite também?
— Mil e uma utilidades, senhorita. — Sorri mais uma vez.
Entro no carro, e Natan entra do outro lado. O segurança
fecha minha porta, e Natan e eu colocamos os cintos.
Baixo um pouquinho da janela e olho para eles e aceno, com
o coração apertado. Meu tio fez bem em me contar. Porque eu
prefiro verdades assim, ditas de uma vez. É como um curativo,
quando arrancado de uma única vez, dói muito, mas a dor é mais
rápida, melhor do que enfrentá-la lentamente.
— Está tudo bem? — Natan questiona conforme o carro
começa a andar.
Fecho a janela e respiro fundo.
— Vai ficar, Nate.
Ele ri baixinho e o olho.
— Faz tempo que não me chama assim.
Ele tem razão, e nem sei por que chamei. Houve um tempo
que o chamava assim, às vezes com a pronúncia em “Neiti”, era
quando ele insistia que menti sobre falar outros idiomas como
inglês, e eu americanizava o apelido a ele, para pirraçar, dizendo
que eu poderia falar inglês quando quisesse, então sempre
terminava em “inglês para mim é muito fácil. Não aprendo porque
gosto do que é complicado, Nateee”.
Sorrio me lembrando. Nossas provocações inicialmente para
quem visse, acreditava que éramos amigos de longa data. Nossa
conexão foi tão forte imediatamente, que tem momentos que até me
assusta.
— E ainda não aprendeu o inglês. Segue sendo fácil demais
para você? — Me encara ainda, e suspiro.
— Sim. Vou começar pelo mandarim! Apenas para te xingar
em um idioma que não fale.
Rimos e até Dionísio acaba rindo baixinho.
— Então não aprenda inglês, espanhol, italiano e francês.
— Claro que o exibido seria poliglota! — Reviro os olhos e
olho pela janela.
Ele toca minha mão sobre minha perna. Olho para ele.
— Tem certeza de que está tudo bem? — pergunta um
pouco mais baixo.
Assinto apenas, e ele solta o cinto, se sentando no meio, e
colocando o cinto do assento do meio. Passa o braço ao redor do
meu ombro, e encosto a cabeça em seu peito.
Ele me conhece, e sou uma idiota por achar que posso
esconder meus sentimentos dele. Natan Valle é boa parte do tempo
um ogro, mas quando ele se preocupa com alguém, é realmente
real, ele se entrega a isso de corpo e alma, e parece até se
transformar em outra pessoa, alguém ainda mais especial.
Amo o Natan ogro, todo gelinho, mas amo ainda mais o
Natan amigo. Aquele que não tenho vontade de espetar com um
alfinete, ou matar a cada segundo, porque esse sempre aparece
nos momentos que estou mal. A primeira vez foi após a morte do
meu pai, e agora eu o vejo assim de novo, sendo um amigo que se
preocupa, cuida, e pouco se importa se perde a pose de durão.
Acendo as luzes do apartamento assim que chegamos, e
dispenso os serviços do segurança por ora. Amanhã nos levará ao
aeroporto bem cedo, então já o deixei ciente sobre isso, para não
pegá-lo desprevenido. Teremos que sair antes das seis horas da
manhã, para evitar trânsito e chegar com duas horas de
antecedência ao aeroporto. Serão um pouco mais que treze horas
de viagem, com uma conexão em Nova York até chegarmos em Las
Vegas, onde Olga já reservou tudo, porque é onde o escritório da
revista que quero fechar parceria, está localizado.
Eu já estive em Las Vegas umas duas vezes, e
particularmente, não é o meu lugar favorito dos Estados Unidos, o
que choca muitas pessoas ao descobrirem, afinal, é um lugar bonito,
convidativo. Mas prefiro San Diego, San Francisco, Dallas, Nova
York, Boston, Chicago, Havaí, Kansas, e alguns outros que tive o
prazer em conhecer, além dos mais cotados como Miami, Flórida e
Los Angeles. Já viajei muito a trabalho e para eventos ao país, e
talvez seja esse o motivo que Las Vegas nunca tenha sido marcante
para mim, por sempre ir a trabalho, e passar grandes estresses. A
verdade é que sempre me estresso, então é complicado.
Deixo a mala dela no canto, onde as outras que vamos levar
estão.
Violeta está estranha desde que saiu daquele quarto na casa
dela. Alguma coisa aconteceu, mas a conheço bem o suficiente para
saber que pressioná-la não resolve. Ela tem que abrir a boca
quando se sentir confortável para isso.
— Quer tomar um banho ou algo assim? Sabe onde fica meu
quarto. Pode dormir nele que ficarei por aqui. Zafira virá, e se notar
que algum quarto de hóspedes foi usado, vai dar com a língua nos
dentes, antes que eu mesmo conte a verdade — falo retirando o
celular e a carteira do bolso e colocando sobre a enorme ilha em
pedra preta, que divide a sala e cozinha.
— Vou sim. — Pega uma das malas, a que trouxe de Monte
Amor, e retira o celular do bolso da calça que usa.
— Sua bolsa, que você esqueceu no carro quando
chegamos a empresa, está ali. — Aponto na direção da poltrona
atrás e ela olha.
Antes de ir buscá-la em sua casa, passei aqui, tomei um
banho, e deixei as coisas que estavam no carro, para não ficar
andando com ele cheio de coisas.
— Valeu! — Ela força um sorriso e sai da sala com suas
coisas.
Mas que porra aconteceu?
Muita coisa tem acontecido rapidamente, coisas que nem
deveriam acontecer, mas não acredito que seja alguma dessas a
incomodando no momento. Ela estava normal quando cheguei em
sua casa, me evitando, uns papos estranhos, sendo a Violeta Matos
de sempre. Mas depois que se trancou com seu tio no quarto, algo
mudou.
Será algo com sua mãe, ou relação financeira? Algo se
agravou?
Claro que fico preocupado. Independentemente de tudo, de
toda merda acontecendo, eu me preocupo com essa garota, que
tem tudo para ser o motivo da minha morte precoce.
Vejo o que tem para comer, afinal, não estou ficando em
casa e ela pode estar com fome. Mas, pela hora, ainda é possível
encontrar alguns lugares abertos que possam entregar algo. Ela
ama comer fast food, não é como se fosse odiar.
Vou até meu quarto e ela está no banheiro já. Aproveito para
me trocar rapidamente no closet, colocando uma calça de dormir
preta, e uma camiseta da mesma cor.
Volto para a sala, fugindo da direção do escritório, onde sei
que se eu entrar, irei arrumar trabalho e não posso, pois tenho um
voo cedo, preciso dormir. Abro as portas da imensa sacada e
acendo as luzes de fora, em tom amarelado. A vista é bem alta.
Está uma noite bem fresca. Sento-me no banco de madeira, e
estendo as pernas sobre a mesa de centro. Levo as mãos ao bolso
da calça, e inclino a cabeça para trás, respirando fundo e pensando
um pouco em tudo que está acontecendo.
Em que momento da minha vida eu me perdi tanto? Quando
deixei de lado coisas que realmente me faziam bem para focar em
outras que são importantes também, mas que nunca me
preencheram de verdade?
Quando deixei Monte Amor para trás, foi para ir atrás dos
meus sonhos, mas eu sinto que com tudo que conquistei hoje, em
algum momento eu me perdi pelo caminho. Voltar para aquela
cidade esses dias, ver meus pais, minha irmã e sobrinha, sentir tudo
aquilo, me deixou frio, como se eu tivesse esquecido qual o
verdadeiro sentido de tudo. Isso me assusta muito.
Os desenhos... O início de tudo.
Rever aqueles desenhos, foi um misto de sentimentos fortes,
de repente eu me vi no início de tudo, onde eu dizia que seria um
grande estilista, e então me vi hoje, formado em moda, trabalhando
com tudo ligado a ela, tendo a maior revista do país sobre isso, mas
sem encostar em um croqui há muito tempo. Apenas desenho
quando Melinda me coloca dentro do seu mundo de contos de fadas
e me faz esquecer por breves segundos de tudo. Ali eu me sinto o
Natan do passado, que sabia exatamente o que queria. E agora eu
tenho tudo, literalmente tudo, mas sinto que falta algo.
Violeta surge na sala, usando uma camiseta enorme para
ela, com a estampa de uma mulher mostrando o dedo e dizendo
“foda-se”. Sorrio, porque é a cara dela uma merda assim.
Me encontra e caminha para fora, se inclinando sobre o
parapeito e olhando ao redor, antes de caminhar até ao meu lado e
se sentar, esticando as pernas como eu.
— Está com fome? — questiono, olhando-a de lado.
— Mais fácil perguntar quando não estou com fome, que no
caso é quando estou dormindo. — Sorri, e agora é sincero. — Mas
só quero tomar um leite ou algo assim. Vai por mim, as chances de
eu passar mal comendo demais devido a ansiedade, são enormes.
— Medo de viajar de avião?
— Não! Sou uma pessoa forte. Apenas ansiosa por tudo. É a
primeira vez que estou saindo daqui. E bom, você pode me largar lá
para sempre. É um risco que corro.
Começo a rir.
— É realmente uma grande possibilidade. Mas eu não faria
isso.
— Não vive sem mim, né? — Ergue a sobrancelha.
— Na verdade, sua mãe me mataria — revido e ela me
cutuca com o cotovelo. — Está melhor?
— Uhum! Já passou. Só um choque que levei, mas estou
melhor. Agora vai, levanta essa bunda daí e me ajuda a preparar
algo leve para beber e beliscar.
Se levanta me puxando. Entramos no apartamento, e ela
segue para a cozinha.
— Não é como se não fosse uma intrometida que fuça em
tudo por aqui, Violeta!
— Não me irrita uma hora dessa. Natan, as chances de eu te
jogar do avião são enormes.
— Por falar nisso, antes das seis horas da manhã sairemos
daqui. — Encosto-me na ilha e ela para no meio da cozinha.
— Funciono somente após as 10h. — Faz cara de deboche e
segue para a geladeira.
Começa a xeretar dentro dela, e preciso de todo autocontrole
que descobri não ter, para não ficar notando a sua bunda
aparecendo quando se abaixa, ou o bico dos seios duros quando se
mexe. Desde quando Violeta se tornou um problema de tesão para
mim? Desde quando eu fico igual um tarado babaca vendo isso?
— Pois trate de funcionar antes. Ou vai ficar!
— Não é nem louco. Natan, me deixe aqui, e faço um inferno
da sua vida.
Já está fazendo.
Ela se vira vindo até a ilha com um pote de geleia e leite.
— Preciso de copo, pão, torrada, o que tiver. Homem, você
vive do quê? Vento? Por isso é assim todo durinho! — Ela ergue o
olhar notando o que falou. — Você entendeu! Faça jus a sua idade,
e não seja um moleque bobão!
Balanço a cabeça, entendendo que não irei me livrar tão
cedo desse castigo.
Pego o pão e torrada para ela, que olha a data de
vencimento. Essa maluca realmente acha que eu a mataria? É, até
eu acho!
Entrego o copo que pediu também.
— Vai querer? — questiona e nego, observando o que faz.
Ela encontra a espátula e começa a fazer sua refeição, que
para quem dizia que não poderia comer muito, acredito que dois
pães, e metade do pacote de torrada, não é pegar leve. Mas quem
sou eu para questionar e me irritar com sua resposta?
— Que foi? Nunca viu?! — indaga me encarando.
— Eu não disse nada, Violeta! — Me afasto, sentando-me no
sofá.
— Mas pensou! Para de me julgar em pensamentos, Natan.
Eu conheço essa cara idiota!
Carma que nunca acaba. Puta que pariu!

Estou na sala, deitado no sofá, buscando o maldito sono.


Mas minha cabeça não para. Giro de um lado para o outro, soco o
travesseiro, e não adianta, eu não consigo dormir. Uma coisa não
sai da minha mente, algo que está me chamando sem parar, desde
que fechei o os olhos tentando dormir.
Levanto-me nervoso, e vou para o escritório, algo que eu não
queria. Mas não pego o iPad para trabalhar, eu me sento na cadeira
com ele em meu colo e a caneta, abrindo o programa de desenhos.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto tentado a
desenhar, a inspiração para um vestido vem. Eu o imagino em um
tom de verde-escuro, com detalhes brilhantes. E tudo porque os
olhos dela bagunçam minha cabeça nesse instante. Eles me
encaram como se estivessem aqui a minha frente.
Eu sento-me para desenhar um croqui, porque os olhos da
Violeta me inspiram. Desde que os vi de perto, nunca mais se
apagaram da minha memória. Eu não consigo mais vê-los como
antes, não depois de ver a intensidade que possuem.
Algo está mudando, e ela é parte disso. Violeta está
mexendo com algo aqui, e é... inspirador.
Sorrio nervoso. Os traços surgem, o modelo começa a tomar
vida tão rapidamente que me surpreende. É como se eu pensasse
nele há anos, e não em horas. Meu coração dispara, sentindo a
emoção de tentar novamente, de criar algo de novo. De repente,
não são mais meus dedos que movem a caneta, é a inspiração que
me controla.
Pego os óculos sobre a mesa, e os coloco, concentrando-me
ainda mais no que faço. Não me importa a hora que sairei daqui,
nem se não irei dormir um pouco. Eu apenas sigo o que há muito
tempo não seguia, por senti-lo adormecido: meu coração.
— Natan, eu não sou forte! Puta que pariu. Terra firme. Eu
vou desmaiar. Alguém me segura. Caralho, por que não disse que
teria conexão e precisaria enfrentar dois voos? Natan, da próxima
me traz de barco! — Levo a mão ao peito quando entramos no carro
que nos levará ao hotel.
— Violeta, você vomitou quatro vezes, quase desmaiou
duas. Eu não acho que navio seria boa escolha também! — Me
fuzila com o olhar.
E eu lá tenho culpa dessa porra?
— Aquele caralho teve turbulência! O piloto me odeia, eu
tenho certeza de que ele é contra mim. Natan, ele buscou uma
turbulência que nem existia naquele momento para me irritar. Eu
estou me tremendo inteira. Tinha um padre no voo. UM PADRE NO
VOO DE NOVA YORK PARA LAS VEGAS! Tem sentido? Não tem!
Um padre!
Coloco o cinto, e o homem dirigindo deve pensar que sou
louca. Ainda bem que não entende nada do que eu digo.
— Deixe de drama! E que diacho tem o padre? Violeta, você
está me irritando! — reclama.
O homem fala algo com ele, que responde e depois torna a
me olhar.
— O que tem um padre? Tudo. Ele faria a última reza que
teríamos na vida. Eu senti. A morte tentou me abraçar! Eu estou
tontinha. Eu não nasci para isso. Esquece. Eu só volto para casa se
formos a pé! — aviso, porque não tenho mais fôlego para outra
aventura assim.
— Melhor começar agora então — rebate e só não o mato
porque me faltam forças. — Só tente não dar show. Pode ser? E
nunca falou que tinha tanto medo assim de altura! Ontem estava na
sacada do meu apartamento, e não ficou assim.
— E não tenho! Não quando não envolve eu morrer! Meu
estômago nunca mais será o mesmo. Eu preciso ficar em terra firme
por um bom tempo! — Inclino a cabeça para trás, e só então me dou
conta de uma coisa que me faz arregalar os olhos. — EU ESTOU
EM VEGAS! MEU DEUS DO CÉU! — grito sem conseguir controlar
o tamanho da minha felicidade.
Natan se assusta ao lado, e o motorista freia olhando
assustado também.
— I'm sorry. She has problems. The brain doesn't work very
well[2] — Natan diz ao homem que torna a dirigir e me olha com uma
carinha estranha.
— Que merda disse a ele? — questiono curiosa.
— Apenas para continuar a viagem, que estava tudo bem —
responde e olha para a janela.
Dentro de mim algo diz que não foi bem isso, mas não vou
me estressar. Deixarei para mandá-lo se foder depois que
chegarmos em São Paulo, do contrário, ele pode me deixar aqui
para sempre.
Abro a janela e começo a olhar tudo como um cachorrinho,
com a cabeça quase toda para fora. Eu estou em Las Vegas. Puta
que pariu!
A cidade dos cassinos, dos hotéis lindos, temática, cheia de
loucuras, e muita farra. O pecado mora aqui, mas já pesquisei
algumas coisas para evitar ser presa, afinal, é minha cara um
evento desse porte.
O caminho todo me deixa encantada. E aproveito para fazer
algumas filmagens, aproveitando que já trocamos o chip do celular
assim que pisamos no país, para comunicar a minha família que
estou viva, ou quase.
Posto os vídeos no Instagram porque não sou idiota. Eu
hein, perder a oportunidade única de me exibir assim?
É tudo tão mágico, real. Não é só em filmes, é real isso aqui.
São quase dez horas da noite no horário de Brasília, e aqui são
quatro horas a menos, e estou impressionada demais com tudo,
ainda de dia, imagine à noite. Foram quase quatorze horas de voo,
devido a alguns atrasos e turbulências. Saímos bem cedo do Brasil,
por volta das oito horas da manhã. Achei que demoraria mais, mas
não. Já estamos aqui. E, de repente, o cansaço se foi, o corpo
sofrendo por passar mal também. O fuso horário nem está me
importando. Eu só quero sentir tudo isso, viver esses dias aqui, e
pela primeira vez em meses, esquecer um pouco dos problemas.
O carro para em frente ao hotel, e guardo o celular na bolsa.
Caesars Palace é a escolha do Natan, e onde sua secretária, a
senhorita fofoqueira, reservou a hospedagem. Pelo que pesquisei,
quando ele falou no aeroporto onde ficaríamos, é um hotel de luxo e
cassino, na Las Vegas Strip. Foi reservado um quarto único, com
duas camas, segundo ele, pediu a secretária, sem informar muito a
ela. Mas, como sua família sabe que faríamos a viagem juntos, e
toda essa mentira sobre noivado, se desconfiassem que estávamos
em quartos separados, seria um grande problema, que ele quer lidar
apenas quando retornarmos e contarmos a verdade. Uma coisa de
cada vez, e pela primeira vez concordo com ele em algo nessa
mentira.
Os funcionários do hotel são bem sorridentes e educados,
não entendo porra alguma do que dizem, mas sorrio e aceno,
acompanhando-os junto do Natan. Aonde vão, eu vou.
O lugar é realmente puro luxo, enorme, repleto de pessoas e
funcionários para todos os lados. Me sinto uma barata tonta olhando
tudo, e tentando me localizar, focar em algo, mas não dá. Eu quero
olhar cada lugar na afobação que estou.
Apenas paro de ficar como uma criança boba, quando Natan
me empurra para os elevadores, e vou toda sorridente. Ele revira os
olhos, mas não deixo de notar que sorri.
— As malas? — questiono.
— Vão trazer em alguns minutos.
Assinto e olho o elevador. Até ele é chique. É, não tem como
julgar o homem de querer viver esse luxo. O gelinho humano tem
mesmo que aproveitar do que pode ter.
Saímos no último andar de uma das torres, pois o lugar é
quase uma cidade. Quase não, é bem uma cidade. Tem
praticamente tudo aqui.
Natan segue na frente e o acompanho, ansiosa para ver
tudo. Ele destranca a porta, e quando entramos, acendemos as
luzes, e puta merda!
— Natan! — Levo a mão à boca.
É uma suíte enorme. Com área de estar composta por uma
mesa grande de oito cadeiras. Salinha de TV, máquina de café em
um canto especial, um lustre que deve valer minha vida toda.
Caminhamos em direção a uma das passagens, e nos leva ao
quarto, com uma cama imensa, dois sofás pequenos em cada
canto, tudo em tons escuros e bege claro, uma vibe meio vintage. A
porta ao lado dá para uma parte do banheiro, com banheira, e
dentro dele temos acesso a outra parte onde tem o chuveiro.
Existe um pequeno closet, eu diria, para guardar as coisas.
Retorno para o quarto e Natan está com o celular nas mãos
e um vinco na testa, o que significa problemas.
— O que houve? — questiono, indo em direção as cortinas e
abrindo descubro ser a sacada, com uma vista linda de parte do
hotel e da cidade. Abro a porta dupla e meu corpo se arrepia com a
vista.
— Olga fez alguma confusão. Era um quarto com duas
camas. Não consigo falar com ela. — Eu vou descer e descobrir se
foi ela ou o hotel. Fique aqui que já devem estar trazendo as malas.
— Nem pensar! — Me viro rapidamente para ele. — Natan,
se quem trouxer abrir a boca, eu não vou entender nada.
— É simples. Ele vai colocar a mala aqui, você vai dizer
“thanks”, e vai dar uma gorjeta a ele. Ele vai te agradecer e sair.
Violeta, você sobrevive a isso. Confio no seu potencial! — ironiza
sem disfarçar.
— Sua ironia me irrita! — reclamo.
Ele me olha de lado e me entrega uma nota de dinheiro em
dólar, então sai do quarto.
Esse quarto sendo o certo ou não, eu preciso fazer isso!
Subo na cama retirando os tênis que caem no chão, e então
começo a pular como uma louca, até cair deitada nela soltando
gritinhos.
EU ESTOU EM VEGAS! Meu coração chega a acelerar mais
que o normal com isso.
Espera aí, se o Natan não conseguir outro quarto com outra
cama...
— Não... não! — Sento-me rapidamente tirando o celular da
bolsa e enviando mensagem as meninas.

O TERROR DO CHEFINHO
VOCÊ, OLI, NINA

VIOLETA: Estou em apuros!


Olho para a recepcionista que chama seu superior, e eles me
olham como se eu fosse louco, o que estou a ponto de ficar. Olga
não atende a ligação, e eles dizem que está correto, mostraram até
mesmo a reserva feita.
Onde infernos, ela achou que eu queria uma suíte Premium
para duas pessoas com cama extragrande?
Olga está completamente lascada. Os dias dela na Sunshine
estão contados! Já me basta a empresa inteira de cochicho porque
ficou sabendo que Violeta viria comigo, pois, quando Olga ajeitou a
reserva novamente, tive que dar novos dados, e claro que aquela
fofoqueira abriu a boca.
Me olham sem saber o que fazer, eles não têm culpa.
— Um quarto a mais então. Por favor — peço, afinal, foda-se
se minha família desconfiar de algo, porque ficar no mesmo quarto
que ela é bem perigoso nesse momento. Muito perigoso.
Caralho, eu estou me sentindo louco ao lado dela. Buscando
maneiras de manter a porcaria das mãos longes, e tudo porque fui
um imbecil em inventar essa história de merda. Existiam limites em
nossa amizade que foram quebrados de forma abrupta.
— Um quarto a mais? — a moça indaga preocupada.
Meu inglês deve estar fodido, só pode!
— Sim! Um quarto a mais!
— É que, senhor... — ela pigarreia sem jeito. — Não temos
como lhe conceder mais uma suíte. Precisam ser reservados com
antecedências, para não acontecer imprevistos como agora. Todas
as nossas suítes estão lotadas, ou reservadas. Sentimos muito!
Só pode ser brincadeira. Esse lugar é enorme. Deve ter mais
de dois mil quartos aqui. Como todos estão ocupados? É castigo.
Só pode ser.
— Senhor, se alguém desistir podemos deixá-lo na lista de
espera... — O homem tenta falar e a moça concorda.
— Não... Obrigado... Com licença. — Forço um sorriso,
porque eles não têm culpa dessa porra.
Saio dali pronto para subir ao quarto, e me jogar da sacada.
Ao entrar, encontro Violeta deitada de ponta-cabeça na
cama, e começo a me preocupar com que tipo de pessoa eu
convivo.
Ela me olha e sorri, virando-se de bruços e me encarando
direito.
— Conseguiu resolver? — indaga.
— Não. Olga fez a merda, e não tem outro quarto. É esse o
único que temos no momento.
Ela tenta se levantar, mas tropeça no tênis, e cai de bunda
no chão. Eu poderia ajudar? Poderia. Seria cavalheiro? Seria. Mas
tudo que faço é encarar a cena, e a sacada, e consigo visualizar
perfeitamente eu caindo dela.
A tragédia nesse momento me parece uma salvação. Não
sou a favor de coisas do tipo, nunca seria, nem as romantizo, mas
chega um instante de nossas vidas que pensamos a seguinte coisa:
Para quê?
— Como é que é? — Se senta chocada, como se surtar
fosse resolver. Se me der a mão, empurro ela primeiro da sacada,
amortecerá minha queda.
— É o que ouviu. Eu estou me questionando se meu azar na
vida começou antes de você ou logo depois. Mas sabe o que tudo
indica? É que você é o meu azar. Veja só, tudo voltando-se contra
mim. Não é louca a forma que o destino escolheu que você seria
perfeita para entrar no meu caminho? — falo com toda calma que
ainda me resta.
Ela me encara como se eu fosse louco, e começo a crer que
sou mesmo.
— Ou o destino me odeia. Já parou para pensar que você
pode ser a coisa ruim, e logo me contaminar?
Meu sangue ferve, e conto até dez para não pegar ela, e
jogá-la do caralho da sacada!
Eu poderia muito agir naturalmente. É uma cama grande,
dava para se virar. Mas porra, cinco minutos grudados, e eu já estou
duro, imagine uma noite toda juntos e sem interrupções familiares?
Essa garota fez alguma coisa contra mim. Em algum momento me
deu algo para beber bem poderoso, e eu nem me dei conta.
Se levanta e se senta na cama.
— Faremos o seguinte então. Os sofás são pequenos, a
cama é grande. Podemos dividir ela então... — Faz uma careta
preocupada. — Sofá sem cogitação literalmente. A cama dividimos
com travesseiros ou algo assim. Não sei. Natan, não funciono sob
pressão. Vai, desenvolve uma ideia. Não é o gênio fodão? — fala
completamente nervosa.
Não a respondo, apenas sigo em direção a uma de minhas
malas, e pego a que sei que tenho o que preciso. Tiro as coisas do
bolso e coloco sobre a cama e ela fica me olhando, na esperança de
um milagre surgir, o que sabemos que não vai, porque está tudo
voltando-se contra ambos.
Garota, se está apavorada de ficar comigo sozinha, é porque
também sabe o quanto é perigoso.
— Eu vou tomar um banho, descansar a cabeça e depois
resolvo isso!
Ela ri baixinho.
— Claro que vai resolver, porque nunca ficaremos esses dias
dormindo nesse quarto. E não me diga que na casa dos seus pais
era a mesma coisa, pois lá qualquer um poderia invadir a porra do
quarto! Natan, você não brinque com meu coração fraco! — Encaro-
a e ela não desvia o olhar.
Eu sei o quanto isso é ainda mais perigoso. UMA SÓ CAMA?
É PARA ME FODER EM VEGAS!
— Violeta, só fica caladinha, pelo bem da nossa
sobrevivência!
Ela faz uma careta e se deita na cama.
— Eu fiz uma lista, e nela envolve ficarmos bem distante.
Então não fode minha vida, e minha estadia grátis em Vegas!
Com as coisas que preciso, eu sigo para o banheiro.
— A cada vez que abre a boca, as chances de eu te deixar
voltar a pé são enormes! — Bato a porta do banheiro.
As coisas ficam sobre a bancada de pedra bege da pia,
apoio as mãos diante dela, e me encaro no enorme espelho que
pega a parede toda das duas pias.
Eu sei que estou bem fodido, e não é pouca coisa.

São quase nove horas da noite aqui agora, e o cansaço


começa a me dominar. Violeta tomou banho depois de mim, e
deitou-se, segue dormindo até agora. Nem parece que é um terror
dormindo angelicalmente assim. Essa peste me irrita, mas é uma
boa pessoa, e trazê-la para cá nunca foi somente por precisar de
uma companhia ao evento e reunião, mas por saber que nunca
viajou de avião, e jamais saiu do país. Eu podia dar isso a ela, e não
pensei duas vezes. Posso enganar a mim mesmo dizendo que não
me importo, que trouxe por estar sem escolhas, mas no fundo eu sei
que nunca foi. É, minha família pode ter razão, talvez no final me
reste apenas a amizade de Violeta, e não pretendo perder sua
companhia, porque estarei mais solitário do que o normal.
Em quase quarenta anos de vida, eu torno a me fazer muitos
questionamentos, e alguns me preocupam. Me limitei as pessoas, e
meu destino pode ser ficar sozinho sempre, e tudo porque eu me dei
esse destino, eu fiz essa escolha. Mas se eu ainda puder decidir por
algo, quero manter a praga loira, que em dois anos fez com que eu
me apegasse as suas maluquices.
Consegui falar com Olga quase agora, porque ela me ligou,
mesmo já sendo tarde no Brasil. A pureza de mulher, pensou que
algo grave aconteceu. E aconteceu mesmo, porra.
Não vai aparecer outro quarto, porque tudo que é de errado
acontece, não tem outro jeito de melhorar essa merda.
Sento-me no sofá, e respiro com calma, olhando o celular em
minhas mãos. Terá um evento antes da reunião, e precisarei de toda
minha boa paciência para lidar com isso, o que não é fácil tendo em
vista de quem será minha companhia. Deixo o celular de lado, e
penso em pedir algo para comer, mas estou muito cansado, só
preciso deitar um pouco e descansar antes de enfrentar de vez o
que está por vir.
Apago as luzes, deixando apenas as das luminárias ao canto
acesas. O quarto está gelado devido ao ar-condicionado. Violeta
dorme sem coberta, e está toda encolhida. Diminuo um pouco da
temperatura, e cubro-a quando me deito ao seu lado.
Desde que essa ideia maluca surgiu, eu sabia que estava
cometendo um erro. Mas então fomos para Monte Amor, e tive
certeza. Só que quando eu tive seu corpo colado ao meu, ela
gozando e gemendo ao meu lado, seus olhos verdes em tanto
destaque naquela piscina, seus tremores, eu tive certeza de que era
realmente um problema e bem grande.
Nesse tempo todo eu não a enxergava desse modo, repleto
de tesão, interesse do tipo. Nunca. Vejo isso como um castigo por
toda confusão que criei, porque, se eu não fosse um imbecil, eu
teria dito a verdade aos meus pais, que estavam certos, que eu
sinto falta deles, que talvez esse sucesso todo não esteja me
deixando totalmente satisfeito, que sinto falta de estar mais presente
com Melinda e minha irmã, aguentando as maluquices e fofuras
delas, e que a cada vez que lembro dos desenhos, dos croquis e do
sonho do garoto lá atrás, o meu eu de hoje sente culpa, por ter se
isolado tanto, ao ponto de se tornar frio para muitas coisas.
Quando vejo Violeta e a forma que ela é, mesmo com tudo
que agora sei que está passando, eu a admiro, porque ela tem uma
leveza que até mesmo eu me pego sorrindo em alguns momentos.
Assim como toda a criatividade que possui, totalmente divertida. Eu
vi o texto, duas páginas que provavelmente pensou que eu não
veria, mas estavam lá. Era uma história sendo iniciada, e, porra, era
bom aquilo, mas ainda não tive coragem de questionar o que era,
porque sei que está lidando com coisas demais.
Por que nunca me disse que escrevia tão bem? Talvez por
eu ser um idiota que foquei muito em mim, e me esqueci de olhar ao
redor, para aqueles que sempre estiveram aqui, aguentando a mim,
e minhas ordens.
Ela se mexe e abre os olhos, esfregando-os com os dedos
de um jeito fofo, eu diria.
— Que horas são? — questiona.
— Nove horas da noite. Está com fome? — indago e ela
nega.
— Não. Acho que o cansaço está tirando minha fome, o que
é um milagre. — Sorri e me perco até mesmo nesse detalhe.
Inferno. Preciso parar de vê-la com outros olhos ou isso sairá
de controle.
— Se quiser peço algo para você comer. Tem certeza de que
não quer? — insisto, preocupado que possa estar sem jeito em
afirmar.
Ela se ajeita, ficando de lado para mim.
— Talvez um lanchinho, por que não? — Faz uma careta.
Levanto-me, e vou ao telefone pedir algo para ela comer.
Informo o que tem e ela escolhe.
Retorno para a cama e ela fica me olhando.
— Não acha doido a gente estar aqui? Natan, mal nos
mantemos vivos no nosso país, e resolvemos que isso seria boa
ideia! — Ri e preciso concordar.
— No mínimo terminará com um de nossos corpos caído lá
em embaixo.
— Ou os dois.
— Ou os dois — repito e ela fica me olhando. — Está
realmente tudo bem na sua casa? Da última vez que disse que não
era nada, depois descobri toda a merda.
Observo-a e ela suspira, antes de desviar o olhar.
— Não quero falar disso agora. Mas vai ficar tudo bem.
Sempre fica — responde baixo, e assinto. — Nem vai precisar de
travesseiros para nos separar. Olha o espaço! — muda de assunto.
— Ou pode dormir no sofá.
— Se jogar de uma sacada não quer, né? Vai se ferrar. Seja
cavalheiro! — Ela se levanta, ajeitando o shortinho do pijama que
está, que combina em cor com a blusa de alça fina. Um conjunto
branco com detalhes em renda.
Ela fica gostosa de qualquer jeito, assim como linda. Mas
combinaria ainda mais com roupas de cetim, marcas mais
elegantes, e grifes de respeito. Essa praga merece o melhor, e isso
eu sempre observei, mesmo quando me irrita e só quero planejar
seu velório.
Esfrego o rosto nervoso.
Para, Natan! Só para!

Acordo de madrugada, um pouco confuso, devido ao fuso


horário, e tentando me localizar. Depois que Violeta se alimentou,
conversamos mais um pouco, com ela me provocando, e pegamos
no sono. Agora são por volta das quatro horas da manhã, confiro em
meu celular ao meu lado.
Viro-me e o outro lado da cama está vazio. Franzo o cenho e
me levanto, preocupado, já que a maluca não sabe falar inglês e
nunca veio aqui, e pode ter acontecido algo.
O banheiro está vazio. Paro perto da entrada da sala, e ela
está com meu notebook, de costas para mim, com um moletom,
sentada toda torta na cadeira, escrevendo algo, que eu duvido que
seja o horóscopo, porque o sorriso no rosto dela não diz que é isso,
já vi ela escrever aquilo, e escreve com sangue nos olhos.
Afasto-me com calma, para que não me veja. Conhecendo-a
como conheço, é bem desatenta, não deve ter notado que meu
notebook o Word tem salvamento automático diretamente com meu
e-mail. Eu preciso saber mais do que ela está escrevendo, porque
se a deixa sorridente assim, isso nunca foi de agora.
Eu reconheço alguém que oculta o que ama, porque eu faço
isso também.
Desde que acordei com o horário todo confuso, eu não resisti
em pegar o notebook do Natan, me jogar em um canto qualquer
desse lugar, e colocar para fora o que estava em minha mente sem
parar. Eu sonhei com o que escrevi, e talvez seja a viagem, a ida a
Monte Amor... Não sei. A verdade é que não sei. Mas dentro de mim
isso estava me apertando tão forte que tive que me colocar sentada,
com um coque todo lascado no cabelo, um moletom qualquer pelo
ambiente gelado, e durante uma hora me dediquei ao que fazia.
Copiei tudo, joguei em meu e-mail, e abaixei a tela do
notebook colocando exatamente onde estava. São cinco horas da
manhã aqui, mas no Brasil já é de manhã, aproveito para enviar os
vídeos de ontem a minha mãe, e tio, e para as meninas no nosso
grupo.
Minha cabeça está doendo um pouquinho, devido a essa
bagunça de sono, viagem, levantar já escrevendo... Deus, fazia
tempo que não sentia essa necessidade assustadora de me sentar
e colocar para fora o que imagino.
Sigo para o quarto e Natan ainda dorme, agora sem camisa,
porque essa parte do quarto está um pouco mais quente. Ele
diminuiu a temperatura do ar-condicionado ontem, certeza. Retiro o
moletom, e me deito deixando o celular de lado, já que ninguém
ainda viu o que mandei. Me coloco embaixo das cobertas, para
descansar mais um pouquinho antes de aproveitar todo o dia em
Vegas, já que, pelo que vi, o evento é na sexta-feira, a reunião
sábado. Ou seja, tenho muito o que aproveitar por aqui antes de
retornarmos na segunda-feira.
Ajeito-me na cama, e observo o peito nu do idiota. Natan é
gostoso pra caralho, isso é inegável de todos os modos e sentidos.
Os braços e mãos cheias de veias expostas, o cabelo e barba bem-
feitos, a barriga com mais gominhos do que o tanquinho lá de casa,
o maldito V marcado perfeitamente sentido o caminho do pecado,
onde eu pude comprovar que é a desgraça de um pecado enorme.
O filho da puta é lindo e sabe disso, não é tonto.
Esfrego os olhos e bocejo, me desligando dessa safadeza
toda. Se quero manter meu corpinho longe do dele, e seguir como
funcionária-amiga, preciso focar em manter a cabeça longe desses
pensamentos, já que aquela listinha está toda errada, tudo fugindo
do controle e umas coisas estranhas agitando dentro de mim.

Acordei sentindo-me maravilhosa. Ainda mais por saber


onde estou. Já tomei um banho, comemos, e agora estou
esperando o insuportável terminar uma reunião no notebook antes
de descermos.
Não demora para isso acontecer, e eu me sentir adorável.
O caminho até a entrada do hotel dessa vez é lotado de
pessoas, e agora sem todo o choque, eu consigo notar ainda mais a
beleza de toda estrutura. Natan prometeu que hoje poderíamos dar
umas voltas, e não é todo dia que o diabo está bem-humorado.
O sol não é forte, é um dia gostoso, dá para ficar sem blusa
de frio, mas também usar uma blusinha de mangas bem fininha se
quiser. Um clima bem gostoso.
Ajeito a bolsa a minha lateral, e fico olhando tudo ao redor. O
hotel já é enorme e preciso muito conhecer as coisas nele, mas aqui
fora, na Vegas Strip, tudo é ainda melhor.
— Se der pulinhos e bater palmas, te largo aqui — avisa,
sem nem me olhar, digitando algo rápido no celular, antes de colocar
no bolso.
Começo a rir e pisco para ele, que utiliza óculos de sol.
— Já veio aqui antes? — questiono e ele me olha
assentindo. — Então me leve para conhecer. Vamos, move essa
bunda, Natan!
— Tem alguma tara na minha bunda? Não para de falar dela!
— Ergue a sobrancelha e sorrio.
— Talvez... — Viro-me e esbarro em uma mulher, e Natan
me puxa pela cintura. — Ai, não posso quebrar ninguém aqui. O
prejuízo será em dólar!
Ele sobe o braço ao redor dos meus ombros e noto quando
dá um risinho, que não consegue controlar.
— Vai, Violeta. Serei bonzinho com você hoje.
— Mais que sua obrigação. Cansei de ser humilhada!
Começamos a andar para um canto, onde um carro nos
espera, porque é claro que ele teria alguém para isso aqui.
— Espera, por que quer me agradar? Não vou dormir no sofá
— já deixo avisado, para ele não me enrolar.
— Não vai, eu sei. E nunca faria isso com você aqui. Mas
precisarei de você no evento além da reunião.
— Natan Valle! Que imundo. Me traz para uma coisa e me
explora para outras. Sabe que isso se voltará contra você quando
eu sair da Sunshine e for atrás dos meus direitos trabalhistas, né?
— provoco e ele prende o cinto em mim, já que estou mais
preocupada em irritá-lo.
Faz o mesmo com o próprio cinto e o carro começa a
trafegar.
— Contrata o Michael. Dizem que ele é ótimo! — ironiza e
sorrio.
Podre!

Existem momentos que eu desejaria matar o que chamo de


amigo e chefe, mas, pela primeira vez, não é um desses momentos.
Ele literalmente fez tudo o que eu queria, como conhecer o museu
Madame Tussauds, passar por quase toda Strip para conhecer
melhor o coração da cidade que mesmo à luz do dia é incrível, mas
me prometeu mostrar à noite. Também fomos no show das águas do
Bellagio, porém não estavam ligadas ainda, o que foi mais um
motivo de voltarmos depois.
Fiz ele fazer diversas fotos minhas, e fiz até algumas nossas,
e não reclamou, se bem que sua cara entregava que a qualquer
instante me mataria. Me levou para comer em um restaurante
misturado a um cassino, a coisa mais divertida. Também me levou
para conhecer o St. Mark’s Square, o teto imita o céu, e é perfeito.
Las Vegas é realmente um lugar fantástico.
Agora estamos no hotel novamente, para descansar um
pouco, porque à noite terá mais e estou ansiosa.
Ele está trabalhando, enquanto estou conversando com as
meninas no grupo.

O TERROR DO CHEFINHO
VOCÊ, OLI, NINA

NINA: Vilu está vivendo um sonho. Olha essas fotos. Curte


muito aí, merece. Mas mantenha o rabo longe do chefinho já que
nos fez ajudar naquela lista, quando mandamos se jogar de cabeça.
OLI: É uma cretina! Está com a bunda virada para a lua.
Olha isso tudo, e ainda ao lado desse gostosão. Violeta, quer
saber? Esquece a lista e dá logo para esse homem. Trepa muito em
Vegas, faça por mim!

Derrubo o celular na cara e solto um xingo. Me ajeito na


cama, para responder essa barbaridade. Sou uma mocinha de
respeito, poxa.

VIOLETA: Vocês são péssimas amigas. Eu não quero sentar


no Natan... Gente, precisam me dar apoio, não afundar de vez esse
barco! Cacete. Quer saber? Nos falamos depois. São péssimas!
Largo do grupo e respondo as mensagens de mamãe e meu
tio, que estão apaixonados com a vista, e isso me deixa feliz,
porque, mesmo com tudo que estamos passando, eles conseguem
ficar felizes por me ver vivendo isso tudo. Questiono sobre mamãe,
e ela segue bem, com meu tio controlando-a para não pegar pesado
no serviço.
Levanto-me da cama, deixando o celular de lado e indo
aonde o Natan está. Ele está com os óculos de grau, e acho a coisa
mais fofinha quando está usando. Olho ao redor e vou em direção a
máquina de café preparar um para mim. Olho para ele que está
conversando no notebook em inglês, e aponto para a máquina em
questionamento se ele deseja, e ele assente, dizendo que quer.
Preparo os dois cafés, e levo o açúcar deixando ao seu lado junto
da xícara.
Adoço meu café, praticamente melo o pobre, e tomo um
gole. Não demora para ele abaixar a tela do notebook e retirar os
óculos, bebendo seu café adoçado por ele, que, diferente do meu,
quase não colocou açúcar.
— Natanzinho, coisa preciosa da minha vida...
Ele ergue o olhar pousando a xícara lentamente sobre a
mesa.
— Que porra aprontou? Violeta, eu te deixarei ser deportada!
Que horror, sempre pensando o pior. Caminho para perto
dele, deixando meu café sobre a mesa. Apoio-me na lateral de sua
cadeira e mexo em seu cabelo, amansando a fera.
— Então... Sobre o evento, eu não poderei ir — falo e ele
desvia a cabeça dos meus dedos, me olhando.
— E posso saber o motivo? — Me encara curioso.
Que olhar bonito, né? Porra. Um castanho penetrante!
Respiro com calma, sentando-me em cima da mesa, bem a
sua frente, empurrando com a bunda o notebook. Balanço as pernas
e ele me analisa.
— Simples. Eu sabia da reunião, e tenho roupa para isso. Já
para o evento... — Dou de ombros. — E nem venha dizer para eu
vestir qualquer coisa, porque não irei parecendo uma doida, a única
esquisita... E o evento é de quê mesmo?
Ele se ajeita na cadeira e bebe mais de seu café, colocando
a xícara novamente sobre a mesa, porém mais atrás.
— Aniversário do dono da revista que vim me encontrar,
junto do lançamento da marca de relógio dele. — Ótimo, precisarei
roubar o guarda-roupa de alguma Kardashian.
— É, terninhos, vestidos e roupas sociais que eu possuo,
não serão nem permitidas na entrada disso. Me deixe ficar, juro que
ficarei quietinha aqui, até porque nem sei me comunicar nesse
inferno. — Faço uma carinha de pidona.
Ele se levanta, parando bem na minha frente,
completamente entre minhas pernas, e por um instante eu esqueci
do que falava, ainda como meu coração esqueceu de como se
funciona corretamente. Se inclina me assustando, fazendo meu
coração ter dois tipos de ataques cardíacos. Ele pega o celular atrás
de mim, e coloca no bolso.
— Não se preocupe com isso, Violeta. — Pisca se afastando.
— Me preocupar com o quê? — Franzo o cenho, bem
confusa, e ele ri.
— Com a roupa! E ainda acha que o maior problema de
dividir um quarto comigo, sou eu, garota? — provoca-me. É, eu
odeio quando é debochado assim.
Desço da mesa, e sigo-o para o quarto ignorando o que fala.
Ele começa a tirar a roupa e caminhar para o banheiro, assim, de
cueca, e sendo a coisa mais atrativa. Porra, quem eu sou mesmo?
Agora que sei o tamanho da mala, gostaria de apreciar
algumas viagens... Violeta Matos, foca para longe dele!
Ele entra no banheiro e sigo-o.
— Violeta, privacidade, já ouviu? — questiona retirando o
anel e o relógio, colocando-os sobre a bancada.
— Já. E não me interessa. Natan, eu quero saber como farei
com a questão da roupa, por que... — O maldito não está fazendo
isso.
Ele retira a cueca, de costas para mim, revelando toda sua
bunda. Está descontando sobre a porra da camisola em Monte
Amor, porque claro que ele é vingativo o suficiente para isso.
E que bunda deliciosa! Eu tenho tara em bunda, era só o que
me faltava.
— Natan! Eu estou falando com você. Pode agir como um
homem maduro? — Pigarreio e cruzo os braços.
— Pode agir como uma educada e se retirar daqui? Agora se
quiser que eu me vire... — Sua voz é provocativa.
— ARGH! VOCÊ É INSUPORTÁVEL QUANDO QUER.
PORRA!
Viro-me toda desajeitada, e acerto a cara na porcaria da
parede ao lado da porta, por um maldito erro de cálculo de espaço.
— Ai! — grito esfregando a testa, e escutando o riso do
diabo.
Natan, eu vou te matar antes dessa viagem terminar!
Saio do banheiro, com ódio, dor, e com a imagem da bunda
dele gravada na minha mente assim como de seu pau recebendo
uma punheta feita por ele mesmo.
Puta que pariu, eu estou tão lascada. Por que tenho que ser
safada? Por que não posso continuar vendo-o como chefe-amigo e
gelinho?
O celular do Natan começa a tocar, e o nome de sua mãe
aparece na chamada.
Só faltava essa agora. Pego-o e fico olhando. Eu não vou
atender.
Corro para o banheiro, tacando o foda-se para se ele vai
estar pelado ou não. Abro a porta, e o chuveiro está ligado. A
ligação para, mas logo volta. Bato no boxe.
— Violeta, me esquece por um segundo! — reclama, o que
não é novidade.
— Abre essa porra. Sua mãe não para de ligar. Atende, pode
ser algo sério. Pode ter descoberto alguma coisa. Vai, Natan! —
Minhas mãos gelam, assim como meu coração acelera demais.
— Quê?! — Abre o boxe, e tento focar em seu rosto, e no
possível problema.
Nada de descer o olhar, tenha modos.
— Atenda e diga que depois retorno a chamada — diz
tranquilamente.
— Nem fodendo! Ela adora me encher de perguntas. Se vira,
bonitão! — Empurro o celular na sua direção.
— Pega a toalha ali! — pede bem nervoso agora.
Pego entregando a ele, que rapidamente enrola na cintura,
sem se enxugar, desligando o chuveiro. E ficando assim, um pecado
gostoso, molhado... Eu vou ter um derrame a qualquer instante, e
por ser tarada.
— Caralho, agora está ligando por chamada de vídeo. Que
porra aconteceu? Pegou fogo naquela cidade?!
— Natan, a gente está frito! Vai vendo. Esse mundo será
pequeno para a nossa fuga! — Coço a nuca bem nervosa.
Ele atende a chamada, e fico atrás do celular, totalmente em
choque.
— Até que enfim. Estava preocupada. Como estão as
coisas? Estava no banho? Deveria ter pedido para a Violeta atender,
então. — Ele me fuzila com o olhar e dou um sorrisinho. — Enfim,
me contem como está tudo por aí? Querido, está tratando Violeta
bem? Olha, Natan, tenta se divertir com sua garota também.
Nego lentamente, revirando os olhos, sabendo que ela não
me vê, mas ele sim, e está pronto para me matar. Natan se divertir?
Isso existe?
Pelo jeito, segue tudo lindo na mentira e é o que me importa
no momento.
— Estou, mãe. Jura que me ligou como uma doida para
saber isso? — ele pergunta e, pelo seu tom, conheço bem o tipo de
paciência que está, e é a limitada.
Ela ri do filho, até porque desde quando ele é levado a sério
por alguém?
— Não! Estive pensando, podíamos fazer um casamento em
conjunto, o que acha? Você e Vilu, e Naomi e Michael.
Eu bati a cara com tanta força ou ouvi mesmo isso? Ela falou
isso tão naturalmente que acredito ser pesadelo.
Natan ergue a sobrancelha e começa a rir, mas para assim
que nota que a mãe deve estar séria.
— Mãe, esquece essa ideia. Violeta e eu não iremos nos
casar junto deles. Eu tenho um compromisso em minutos. Depois
nos falamos, amo a senhora. Mas tire isso da sua cabeça. Beijos.
— Mas, filho, pense bem...
Ele não dá tempo da mãe terminar. Finaliza a chamada
rapidamente e me entrega o celular.
— Tem alguém normal nessa porra? Porque é impossível
que minha família seja. Me casar junto daquele merda? Puta que
pariu! — esbraveja bem irritado.
— Econômico, eu diria! — Me olha e ergo as mãos. — Vai
para o seu banho, vai. Eu vou ficar lá fora, onde estarei longe do
seu péssimo humor. Quando a família Valle entra em cena, você
costuma ter péssimas atitudes ou escolhas. A última terminamos
“noivos”, só Deus sabe o que poderia inventar agora, sei lá, que
talvez será papai? — Começo a rir imaginando a cena.
Ele dá um passo na minha direção, e é o suficiente para eu
sair às pressas do banheiro, antes que nem meus ossinhos sobrem
para contar história.
Como prometido irei levar Violeta para conferir o show das
águas, ver a Vegas Strip à noite, e de bônus, sair para beber no bar
do hotel mesmo. Não é porque Las Vegas costuma ser estressante
para mim, que precisa ser para ela também. Como eu disse, eu sou
um ogro? Talvez, mas porra, essa garota já está se fodendo tanto
por minha causa, é o mínimo. Além disso, é a primeira viagem dela,
e por mais que me tire do sério de tantas formas, eu quero que seja
especial.
Estou pronto, usando uma calça preta justa, uma blusa de
mangas cinza, e nos pés uma plain toe de estilo clássico, marrom
escuro. Coloco apenas o relógio olhando para a garota que tem
roupas espalhadas pela cama, enquanto está com o roupão do
hotel, mas pelo menos o cabelo está pronto e a maquiagem
também, e por sinal, sempre acho que fica ainda bonita quando está
com os cabelos soltos em ondas, e a maquiagem leve, ressaltando
sua beleza natural. Parece que ela fica “mais ela”, jovem, pronta
para enlouquecer a todos e viver esse mundo.
— Eu não sei o que usar! Eu sou péssima nisso sozinha.
Normalmente meu tio opina ou as meninas. Mas agora não tenho
nenhum deles. Se bem que raramente eu saio, é claro que eu não
saberia o que usar tão facilmente — resmunga manhosa.
Me controlo para não rir do drama. Me aproximo pegando o
meu celular e carteira no meio da bagunça dela e colocando no
bolso.
— Se minha opinião valer de algo, use o spaghetti strap crop
top, em conjunto daquela saia ali, curta de cintura alta, a rosa-clara
que combina com ele, acredito que sejam conjunto, mesmo tecido e
são glittering.
Ela me olha e ergue a sobrancelha.
— Crop quem? Natan, fala minha língua. Pelo amor de Deus!
Sorrio e pego as peças entregando a ela.
— Top com alças espaguete, Violeta. — Ela fica olhando as
peças conforme falo, e depois me encara.
— Acha que vai ficar legal? A que ponto chegamos. Eu
confiando em você para me ajudar com a roupa que vou sair. O
mundo está tão esquisito.
Me sento em um dos sofás, e a observo.
— Vai realçar ainda mais seu corpo esse tecido, e a costura
dele é feita exatamente para se moldar as curvas. Afinará sua
cintura ainda mais, e o top vai deixar seus seios ainda mais
saltados. Ficará sexy e não vulgar, caso pense em reclamar sobre.
Fica boquiaberta e acabo sorrindo sem jeito.
— Como sabe tudo isso? E não vem me dizer que é por
causa da revista, pois vive mais cuidando de problemas do que
vivendo a moda daquele lugar!
Não quero falar disso agora. Então não respondo e ela
entende o que significa. Pega as peças e vai para o banheiro.
Não demora para ela retornar vestida, e como eu previa,
ficou exatamente do jeito que falei. Ela está apenas mais linda do
que já é.
— Gostei! — Bate palmas animada. — Agora a sandália,
acho que aquela dourada, de amarrar no tornozelo vai ficar bonita.
Além de ter pedras lindas! — Aponta a sandália indo pegá-la toda
empolgada.
Calça a sandália de salto fino, mas não muito alta. Então dá
uma voltinha, e me encara.
— Então? Estou pronta para conquistar meu green card?
Reviro os olhos e me levanto do sofá, olhando a hora em
meu pulso.
— Está perfeita. Mas ficará ainda mais quando formos.
Vamos?
— Sim, senhor. Preciso do celular e meu documento...
— Vamos para o bar do hotel apenas na volta. Não se
preocupe, se precisar será aqui provavelmente, caso duvidem de
sua idade para beber. — Me fuzila com o olhar e sorrio. — Os
lugares que vamos é perto. Pegue apenas o celular. Estou levando
meus documentos, qualquer coisa salvo a princesa de parar na
cadeia provando que estou responsável por você.
Sorri bem animadinha. Que a sorte esteja ao nosso lado e
ninguém termine preso.
— Não vou me irritar com suas provocações, terceira idade.
Vamos, gelinho!
Eu vou matar essa praga!

Uma vez ouvi dizer que, dependendo de sua companhia,


qualquer lugar que esteja pode se tornar especial. Acho que acabo
de confirmar isso, quando vejo o brilho no olhar dela na Vegas Strip.
Está deslumbrada com tudo que vê, sorrindo de um jeito tão bonito,
que deixa sua beleza ainda mais realçada. É como dar doce a
criança que tanto queria. Violeta tem um brilho tão bonito nesse
momento que poderia passar horas admirando, me inspirando em
cada detalhe seu, e criando tantas coleções, desenhos, apenas com
essa visão.
Ela observa o show das águas, tão encantada, que aproveito
que seu celular está comigo, e faço fotos suas, sem que perceba. E
sem poder perder essa chance, faço fotos com o meu também,
porque se um dia eu realmente der voz a minha inspiração de
verdade, eu quero me lembrar exatamente do momento que ela
mais falou comigo.
— Vem, tem mais além dessas águas — falo perto de seu
ouvido, e ela me olha sem conseguir falar, apenas assente sorrindo.
Tiro-a do meio das pessoas ao redor das águas do Bellagio,
e seguro sua mão que está suando provavelmente pela emoção do
que vê. Paramos na rua, e ela me olha e volta a olhar para o que
tem a nossa frente.
— Limusine? — Arregala os olhos.
— Quer viver parte da experiência de Vegas e rodar toda a
Strip como muitos sonham? — Assente emocionada. — Então, é
melhor fazer isso direito.
O motorista nos cumprimenta, e ela apenas assente sem
entender nada e me faz sorrir. Abre a porta para nós, e ela entra
primeiro, olhando tudo ao redor. Sigo-a sentando-me a sua frente. O
espaço é grande, tem bebidas, luzes em tom rosa, alguns aperitivos,
mas ela não se importa com isso, muito pelo contrário, está
completamente fascinada ao ponto de olhar tudo como se fosse um
sonho.
A música Girls just want to have a fun, da Cyndi Lauper,
começa a tocar quando ela bate o dedo no botão ao lado e começo
a rir da carinha animada dela.
— Mentira! Olha, no clima da sua época, Nate! — provoca,
mas nem mesmo suas provocações me atingem. Não quando estou
podendo dar sorrisos a ela, depois de saber de tudo que ela deve
ter perdido no meio dessa merda toda que está passando.
Aperto o botão ao meu lado e o teto se abre, e como eu
imaginava, ela se coloca para fora dele, se empoleirando no banco
como apoio.
— ISSO É MUITO LOUCO! — ela grita e apenas sorrio.
Um dia eu já fui assim, totalmente fascinado por tantas
coisas da vida. Cada detalhe importava ao ponto de eu comemorar
como ela, rindo, se emocionando, gritando. E agora eu posso viver
tudo que quero da melhor forma, e não consigo ao menos me
lembrar de me divertir no processo. Pela primeira vez me vejo
invejando-a.
Levanto-me e me coloco junto dela, no espaço do teto. Seus
cabelos voando com o vento, e seus olhos brilhando cada vez mais.
Ela olha a Vegas Strip de um jeito tão especial, que jamais poderei
me esquecer de como seus olhos verdes estão. Intensos, repletos
de emoções.
— Eu... Nossa! — pela primeira vez vejo essa garota sem
saber o que dizer.
Me olha e talvez hoje em muito tempo esteja sendo o dia que
mais estou sorrindo, porque a sua alegria é contagiante. Toco suas
costas, segurando-a, e ela aproxima o rosto do meu beijando-o.
— Não, você não é sempre um ogro, Natan — fala rindo. —
Vai, preciso de uma fotinho aqui. Se no final isso der merda, posso
recorrer como se tivéssemos união estável!
Começo a rir, sem evitar, e ela me olha surpresa.
— Para essas merdas aprende coisas, né?
— Lerda sim, burra não! — Pisca.
Pego o celular e faço o que ela quer, e acabo saindo nas
fotos e vídeos com ela, quando me agarra, e como eu disse, sua
alegria vivendo tudo isso está contagiante ao ponto de até mesmo
eu não ser capaz de resistir.

Estamos no hotel, depois de nos aventurarmos pelas ruas de


Vegas, e como previsto pediram o documento dela, que mostrou ele
e o passaporte por precaução, mas foram educados, dizendo que
aparenta ter menos de vinte e um anos. Ela levou como elogio, claro
que levaria, já é jovem e ainda foi dada como mais nova.
Estamos bebendo as dicas oferecidas pelo bartender. No
televisor mostra a música tocando, e é Vegas, do Richie Krisak e
Ivar Lisinski. Sorrio da letra, e bebo mais um gole da bebida. São
uma e meia da manhã, e não estou nem um pouco preocupado com
o trabalho, pela primeira vez em muito tempo também.
Estamos sentados diante do balcão. O lugar está um pouco
cheio, afinal, esse lugar nunca dorme, é uma loucura frequente.
— Parece que tudo isso é um sonho. Nunca imaginei estar
aqui, viver tudo isso! Toda vez que eu via isso nos filmes, sempre
quis saber da sensação, mas hoje eu vejo que é muito melhor do
que mostram. É uma energia diferente, algo que me deixa agitada,
feliz... — Ela ri e bebe um pouco de sua bebida, agora com os lábios
sem o gloss que usava, mas bem rosados naturalmente, e que
chamam minha atenção. — Estou falando, mas você já viveu isso e
muito mais. Deve saber bem de tudo que sinto. — Dá de ombros
sem jeito.
Olho para o lugar repleto de pessoas bem-vestidas, vivendo
suas vidas, viagem dos sonhos, passeios frequentes, quem é que
sabe? Em cada um existe um brilho diferente, uns mais iluminados
que outros. E existe Violeta, a quem torno a olhar, e vejo-a
completamente diferente de todos, com algo especial, uma coisa
que parece ter ativado nela essa noite.
— É a primeira vez que esse lugar está se tornando especial,
Violeta — respondo com sinceridade e ela me olha, fazendo uma
careta fofa.
— Está zoando, né? — Nego e ela me estuda, como se
procurasse uma ironia, deboche a qual está acostumada. — Não
está brincando — afirma e sorri. — Que bom que estamos vivendo
isso juntos então. É isso que amigos fazem, vivem momentos
inesquecíveis juntos, certo? — indaga de um jeito estranho.
Não sei se amigo deseja o outro como estou desejando tocá-
la nesse momento. Talvez seja o álcool me deixando relaxar demais,
ou toda essa sensação louca que estamos vivendo desde que
saímos para curtir a cidade. Mas não consigo deixar de olhar seus
lábios, me encantar mais por seu perfume, sentir seus sorrisos
dentro de mim e me hipnotizar em seu olhar. Eu não consigo deixar
de desejar beijá-la, arrancar cada maldita peça de roupa que usa, e
tomá-la toda para mim, ao menos essa noite, nesse clima, mesmo
sabendo que tudo é uma loucura do caralho, e que não poderia
acontecer, eu não consigo deixar de pensar.
Algo ativou assim que saímos do quarto e isso é perigoso de
muitas formas.
— Não, eu não estou brincando quando falo isso. Faz muito
tempo que não sei como é me sentir leve assim. Talvez seja o álcool
— ironizo e ela ri.
— Pode ser... — Sorri timidamente. Ficamos nos olhando, e
me perco nos detalhes de seu rosto. — Talvez seja melhor irmos
nos deitar. Tem o evento mais tarde, e precisa se preparar para a
reunião do final de semana. Por mais que me irrite, eu quero que
conquiste seu sonho de trazer a Sunshine internacionalmente.
Se ela soubesse meu sonho no momento.
— É... Tem razão. — Viro o restante da bebida e ela faz o
mesmo.
Acerto a conta de uma vez, ao invés de pedir para pôr no
meu nome no hotel. Apenas uma distração de segundos longe dela,
eu precisava disso. Porque nem eu consigo me reconhecer nesse
momento.

Estamos no quarto. Eu estou na sala diante da mesa,


sentado na cadeira, refletindo sobre o que está acontecendo. Se
segundos podem mudar vidas, horas então... Precisei de horas ao
lado dela sorrindo, sendo feliz, sem as implicâncias frequentes, para
eu desejá-la um pouco mais, porque, desde que gozamos juntos, eu
sentia que algo havia mudado, destravado uma nova fase como em
um jogo. Mas agora? Ah, agora eu tenho certeza de que algo
destravou de verdade, e não sei até que ponto isso pode ser bom.
Levanto-me respirando fundo, e sigo para o quarto no
instante que ela sai do banheiro, usando uma das malditas
camisolas, só para foder tudo de vez. Completamente sem
maquiagem, mas os cabelos ainda soltos. A cama está vazia, as
roupas não estão mais nela.
— Já vai deitar? — questiona, e é estranho, parece que
estamos sem jeito na presença um do outro.
— Daqui a pouco. Pode ir. Vou tomar um pouco de ar.
Ela assente e começo a caminhar em direção a janela,
nervoso, sentindo-me ainda mais perdido.
Caralho, Natan, o que está havendo?
— Natan? — me chama antes de eu abrir as portas duplas e
sair. Paro virando-me para ela que se aproxima.
— Sim?
Ela sorri com carinho.
— Obrigada. Foi muito especial hoje. Você tornou tudo ainda
mais importante sendo tão calmo, sorridente, leve... Hoje disse que
se sua opinião valesse de algo em questão a roupa, e ela valeu,
porque eu me senti ainda mais linda. Agora, se eu puder retribuir, é
com um conselho de uma amiga que gosta de você: “Não sei o que
o torna tão frio as vezes, mas talvez devesse tentar deixar mais
dessa leveza de hoje te contaminar, te faz bem e eu pude notar. Não
precisa deixar de ser ranzinza, combina com você e faz parte do
nosso show de implicâncias. Só ser leve, ter essa paz interior”. —
Ela se aproxima mais e me abraça. — Obrigada, Nate. De verdade!
Respiro fundo, sentindo todos os sentimentos se agitarem
em uma velocidade que sei que não tenho controle.
Ela se afasta com calma, mas seguro sua mão impedindo-a
quando vai se virar. Ela olha para nossas mãos juntas, e depois
ergue o olhar para mim. E talvez eu esteja fodendo tudo mais um
pouco, mas desde que inventei um noivado passo a duvidar da
minha razão e sanidade.
Eu não penso, só faço.
Eu agarro seu corpo puxando-a na minha direção. E quando
nossos corpos se chocam com o contato, e minha mão se prende a
suas costas sem indícios de que irei conseguir largar, e a outra vai
para seu pescoço, seguindo por baixo dos cabelos longos, eu sei
que não tem mais volta. Quando ela ergue o olhar e seus olhos se
prendem aos meus, e eu vejo o que grita dentro deles, eu sei que é
fim de todo controle.
Eu a beijo como nunca pensei um dia fazer antes de toda
essa loucura começar. Quando minha boca encontra a sua, e
nossas línguas se cruzam, meu peito trava, meu coração não
acelera, é como se ele paralisasse, e talvez ninguém entenda essa
porra, porque nem eu estou entendendo. Mas é literalmente como
se tudo paralisasse.
Quando sinto o gosto doce do seu beijo, o calor dos seus
lábios, o molhado de sua língua, eu não posso mais resistir. Quando
suas mãos sobem para o meu pescoço e me agarram, eu entendo
que está tudo na merda, mas me custo a entender se é bom ou
ruim, porque começo a pensar que tem merdas realmente boas, só
depende do ponto de vista.
Seu beijo é a porra de uma delícia que não posso resistir. Eu
quero resistir? A pergunta é essa.
Não, eu não quero resistir.
Ela se entrega tão perfeitamente a mim, e nosso encaixe é
assustador, é como se nos conectássemos tão certo, que não tem
como desfazer. A razão, o orgulho e o medo, todos estão enfiados
na casa do caralho. Porque no momento eu só quero saber de viver
isso. Ainda mais quando se torna bruto, e a pego no colo em um
impulso, com suas pernas contornando minha cintura, e minha mão
em sua bunda. Eu caminho com ela grudada a mim em direção a
cama, deitando seu corpo ali, com o meu sobre o dela, suas pernas
me contornando ainda, e meu pau roçando bem no centro de sua
boceta, com o pouco tecido que ela utiliza e a calça como barreiras,
mas que não são suficientes para eu sentir o poder de estar assim
nela.
Suas mãos puxam meu cabelo, me fazendo gemer em seus
lábios, assim como ela geme quando pressiono ainda mais sua
boceta desse modo. Eu puxo seu lábio, e mordo ouvindo-a gemer
mais, e, puta que pariu, que som... Que som!
Busco seu pescoço precisando sentir mais dela, mais de sua
pele. Ela se contorce embaixo de mim, esfregando-se em meu pau.
— Natan... — geme meu nome e, porra, que merda excitante
e perfeita. — Isso... Precisamos pegar leve. É um erro... Isso... vai
acabar mal...
Paro encarando-a. Suas mãos seguram meu rosto.
— Não pensa... Não agora. Só vive isso comigo...
— Vai dar merda, não vai? — Sorri.
— Sempre dá em tudo que nos envolve. Mas eu preciso de
você. Eu preciso de você essa noite, porque está me deixando
louco. — Minha voz é rouca, intensa, eu sinto.
Seguro seu queixo, beijando-a mais um pouco.
Existe um momento de nossas vidas que temos que fazer
uma escolha, que talvez mude tudo, mas que sabemos que algo
dentro de nós diz para não perdermos tempo pensando demais, e
só viver o momento. Pela primeira vez, eu não sei o nível de merda
que poderá dar em minha vida, mas eu só foco no homem retirando
a roupa, ficando apenas de cueca, e voltando-se para mim.
O cara que é meu chefe-amigo, que eu vivo querendo
assisti-lo se jogar da janela, está nesse momento se encaixando
entre minhas pernas, e me olhando como se eu fosse a pessoa que
ele mais deseja, e me deixando sem fôlego de um jeito intrigante,
único.
Quando seu pau torna a roçar minha boceta, agora apenas
tecidos finos nos separando, eu me perco nas divagações, porque
tudo que me importa é que não consigo nem pensar diferente do
que estou vivendo. Eu não consigo pensar que isso é errado. Eu
não consigo imaginar o que poderia dar errado. Nada, me veem
além do tesão, do quanto me sinto molhada, e louca para viver isso,
mesmo sem entender mais quem eu sou.
Com uma calma e olhar quente, ele retira minha camisola, e
não me importo quando vejo a peça parar no chão e meus seios
ficam expostos. Tudo que me importa é o sorriso safado que ele me
lança, e o beijo em meus lábios, que desce para o meu queixo,
segue para meu pescoço, e vai indo em direção aos meus seios.
Quando ele para diante do bico duro, louco para ser devorado, o
cretino me lança uma piscadinha safada.
— Linda... — sussurra, com sua voz me arrepiando inteira.
— Perfeita!
Ele passa a língua ao redor do bico, e mordo o lábio
rapidamente com a sensação que me consome. Com o outro seio,
ele toca, e quando penso que essa tortura deliciosa não pode
melhorar, ele chupa meu seio, me fazendo gemer mais alto,
estremecer embaixo de seu corpo, sentindo seu pau me pressionar
mais um pouco. Ele chupa tão gostoso, que busco o tecido da cama
como apoio para cravar as unhas, em uma tentativa de controlar
meu corpo.
Ele começa a chupar o outro seio, e a massagear o que
antes estava em sua boca, e puta que pariu, quando ele puxa o bico
entre seus dentes, eu gemo muito alto em prazer, com minha boceta
contraindo com a sensação.
Larga meus seios e desce a boca por minha barriga
enquanto sua barba arranha minha pele de um jeito bom. Para
diante da minha calcinha e me olha, como se quisesse saber se
quero mesmo continuar, e eu não seria louca em parar, não agora.
Assinto, e ele beija por cima do tecido, antes de tornar a subir,
ficando um pouco de lado, o rosto colado ao meu, nossos lábios
quase se tocando, no mesmo instante que sua mão adentra minha
calcinha, e seus dedos encontram meu clitóris.
— Está melada... Que delícia, Violeta... — A sua voz nesse
momento é uma maldição assustadora.
— Segundos... — sussurro nervosa. Ele me olha sem
entender. — Disse que levaria dez minutos. Precisou de segundos
de beijo para eu...
Não consigo terminar, ele começa a me tocar, e minhas
pernas se abrem mais. Ele me tortura tão bem, que estou a ponto
de gozar assim, com esses beijos, toques... Inferno.
— Estou há dias desejando isso, não faz ideia... E hoje...
Porra, depois de hoje, eu só penso em enterrar meu pau em você e
te comer gostoso. — Sua voz me atinge mais do que o esperado.
A depravação em suas falas não me choca, me
surpreendem. O engomadinho é um safado de primeira, e quem sou
eu para reclamar ao descobrir isso?
— Natan... Eu preciso de você! Eu quero gozar com seu pau
em mim... — imploro e ele sorri, o filho da puta sorri.
Ele desce um dedo, e coloca na minha entrada, me fazendo
inclinar o corpo para a frente, pedindo por mais. Eu preciso que ele
continue.
Não tenho como controlar mais, não nessa tortura desde o
beijo. Eu começo a gozar em sua mão, com meu clitóris sendo
tocado e minha boceta com seu dedo fodendo-a.
Eu choramingo desesperada, e ele geme com a boca ainda
perto da minha. Retira sua mão, e beija minha boca rapidamente,
antes de se afastar o suficiente para retirar minha calcinha, me
deixando totalmente nua.
As luzes acesas revelam tudo de nós, e não me importo.
Algo me faz não temer. Ele caminha até onde deixou sua carteira, e
retira a embalagem laminada, então retorna, e estou ansiosa para
isso. Sua cueca é retirada, e admiro o pau enorme, repleto de veias,
e totalmente duro e babado por sua excitação.
A embalagem é rasgada com facilidade em seus dentes, a
camisinha é colocada. Quando se aproxima novamente, abre
minhas pernas, olhando entre elas, e então me encara, quando seu
corpo se inclina para a frente, o braço esquerdo servindo de apoio a
minha lateral, a boca em meu ouvido, a outra mão posicionando o
pau na minha entrada, e quando seu pênis começa a entrar em
mim, eu agarro suas costas, e ele geme forte em meu ouvido, e que
som incrível é isso.
— Puta que pariu... Você vai me matar... Que boceta
gostosa! — Continua entrando, me alargando, se enterrando em
mim com todo seu tamanho, e me possuindo toda para si. —
Oooh... Está doendo? — questiona.
— N-não... Continua... Continua! — imploro.
Seu pau desliza facilmente porque estou encharcada,
gozada. Quando sinto-o todo dentro de mim, eu termino de bloquear
tudo que poderia pensar em ser contra isso. Eu apenas me entrego
mais ainda ao momento, e deixo-o me foder.
Ele começa a se movimentar, e meter em mim em
movimentos de vai e vem, com sua boca gemendo em meu ouvido,
minhas unhas arranhando sua pele, meus seios colados a ele, e
meus gemidos tão altos, mas não consigo ser diferente. Tudo está
intenso. Natan tem a porra de um pau delicioso e fode bem... Porra,
ele transa muito bem!
— Mais forte... Pode ir mais forte... Aaaaaah... Como isso é
bom! — grito.
Meu coração está acelerado, e quando ele começa a ir mais
forte, tudo fica mais alucinador. Apoia as mãos de cada lado meu,
os olhos presos aos meus, e eu vejo as chamas que queimam
neles. Ele faz exatamente o que eu desejava, é rápido, forte,
fazendo nossos corpos se chocarem bem bruto.
Ataca meu seio novamente, chupando-o forte dessa vez.
Seu pau vai bem fundo, tocando-me no talo. O barulho dos nossos
corpos se perde nos gemidos altos espalhados pelo quarto.
Larga meu seio e me encara de um jeito perfeito. Sua
expressão é de puro prazer, o suor toma conta de nossa pele.
Enrolo as pernas ao seu redor, e sinto-o mais fundo. Ele geme bem
alto, forte.
— Eu... queria dizer que será só essa noite... Mas sentindo-
a... Porra... Eu vou te foder durante todo nosso tempo nesse lugar!
— Não é um pedido, é um aviso, e eu espero que ele honre isso!
— O que acontece aqui... Fica aqui... Não é o que dizem?
Porraaa! — berro quando ele aperta meu rosto e então me beija. —
Nate... Eu não vou aguentar mais... Vou gozar de novo... —
choramingo, mordendo o lábio inferior em desespero.
O desgraçado estoca e então rebola, fazendo o seu pau me
alargar mais.
— Gostosa pra caralho... Puta que pariu! Oooh... Não me
aperta assim, filha da puta! — geme forte e eu sorrio, porque se ele
quer me enlouquecer vai provar do próprio veneno.
Ele mete mais forte do que antes, e eu não posso mais
resistir. Não quando o orgasmo é quem me controla, e começo a
estremecer desesperada em seus braços, e ele a gemer mais forte,
gozando junto.
Seu corpo despenca para o lado, e no mesmo instante retira
a camisinha, dando um nó e colocando na mesa de cabeceira.
Nossas respirações estão fortes, assim como meu coração
está agitado. Ele se aproxima, agarrando meu corpo.
— Tudo bem? Te machuquei? — questiona preocupado, e
me perco nesse tom, nesse olhar.
— Não... Estou bem... — Sorrio sem jeito.
Penso se devo levantar, me ajeitar, não sei bem como agir,
mas acho que ele nota, porque me beija novamente, mas dessa vez
mais calmo, e puxa a coberta cobrindo nosso corpo e apagando a
luz ao lado da cama. A luz das luminárias são as únicas acesas.
Viro-me de costas, e nunca pensei em ficar de conchinha
com Natan Valle, mas é o que acontece.
— O que faremos ao acordar? Quando toda essa coisa doida
nos tomando hoje passar? — questiono baixinho, preocupada.
— Vamos fazer assim. Enquanto estivermos aqui, não iremos
nos importar com o que vem depois. Tem problemas demais nos
rodeando em casa, não precisamos lidar com eles agora e incluir
isso nessa situação toda. Pela primeira vez me sinto leve, bem,
calmo. Pela primeira vez, eu te vi realmente feliz, Violeta. Não sei
que inferno será isso, ou o que está havendo. Mas não é hora de se
preocupar, não agora ao menos. Tudo bem?
Respiro fundo, e ele beija meu ombro nu.
— E viva a cidade do pecado, tornando o impossível em
possível.
Rimos, ele me vira para si, beijando-me novamente e me
entrego a esse momento, na verdade, eu realmente deixo para me
preocupar com tudo depois. Foda-se lista, problemas... Pela
primeira vez, estou me divertindo de verdade em muito tempo,
sentindo-me livre, sem ter que agradar alguém, ou carregar a
responsabilidade de cuidar de tudo e todos. Eu gosto de cuidar das
pessoas que amo, mas acabei me esquecendo de como cuidar de
mim mesma nesse tempo.
Eu sei, é o Natan que escolhi para viver esses poucos dias
de paz. Mas é só que... Não sei. Só quero ouvir meus sentimentos
uma vez ao menos, e viver.

Acordo tentando entender o que está havendo, mas dado por


meu corpinho nu, nem preciso me esforçar muito para pensar. É
simples: eu transei com Natan Valle. Tem como isso ficar mais
esquisito? Só os flashes da noite toda me causam sorrisos idiotas e
friozinho na barriga.
O outro lado da cama está vazio. Me sento puxando a
coberta para me cobrir, e encaro o quarto, as roupas dele agora
sobre o sofá, minha camisola e calcinha na beira da cama. Fecho os
olhos por alguns segundos, sem acreditar.
Eu acho que, quando mamãe disse para refletirmos sobre
essa mentira toda do noivado, não incluía transarmos, nos
beijarmos e dormirmos nus. Isso eu tenho quase que certeza que
não fazia parte do plano.
Pego meu celular ao lado e são oito da manhã aqui. Tem
mensagens das meninas e do meu tio, que respondo rapidamente,
dizendo que estou bem, envio as fotos que o Natan fez, pois na
limusine ele mostrou as outras que eu nem tinha visto. Melhor não
entrar em detalhes de nada, porque a lista deu errado. Refletir? Pior
ainda. E levei a sério demais o ato de me divertir.
Me levanto e vou para o banheiro. Preciso de banho, e
depois um café da manhã. Enrolo-me no roupão no sofá, pego
minha necéssaire e roupas.
Entro no banheiro, e Natan tomou banho recentemente, está
com vapor ainda. Fecho a porta, e coloco tudo sobre a bancada.
Separando cada coisa, a caixinha de remédios e vitaminas que
sempre tomo pela manhã, até porque nisso ninguém pode me julgar.
Quando envolve minha saúde, eu me cuido, ainda mais depois do
papai e dos problemas da mamãe... Eu queria muito poder fazer
mais por ela... Queria que ela estivesse aqui vivendo essa viagem
também.
Não deveria pensar nisso agora, porque só vai me deixar
angustiada, inferno.
Nessa organização vejo o vibrador ali dentro, o que comprei
e foi bom, zero choque, minha boceta agradece. Mas nem precisei
disso, as coisas andam melhorando e me preocupando.
Paro de pensar demais, porque quando fico ansiosa e
nervosa é o que acontece. Fico detalhista, e preocupada. Entro no
boxe e tomo um banho, deixando a água me relaxar mais.

Termino de me arrumar, e caminho na direção da sala com


meu celular em mãos, buscando a cara de pau que eu perdi
gozando. Estou completamente sem jeito, ainda mais sem saber
como agir assim. Se eu achei que em Monte Amor, aquilo que
aconteceu foi meu ápice, eu me superei, como sempre.
Ele está falando no celular, em inglês. Está de costas para
mim, não me nota, ainda mais quando se curva diante da mesa,
anotando algumas coisas no iPad, que vejo ser algo da revista,
parece ser alguma entrevista que foi feita. Faz algumas marcações
com a caneta, riscando alguns pontos, e circulando outros. Natan é
completamente exigente com tudo que sai na Sunshine e não é para
menos. Ele desliza o dedo pela tela, e aparece fotos, e noto que é
uma modelo inglesa, falaram muito sobre ela semanas atrás. Ela
está no Brasil, e a revista conseguiu uma exclusiva com ela e uma
sessão de fotos, que estão lindas pelo que enxergo.
Natan está fazendo a seleção das fotos, e deve ser com
alguém ligado a modelo que fala, isso normalmente acontece, onde
ele vai pontuando o que tem que ser retirado ou colocado na
matéria, manda ao editor que encaminha para cada um de suas
funções, ou o editor mesmo faz algo se for da função dele ou mais
prático de ser resolvido sem os outros, e desse modo evitam
sobrecarregar os funcionários à toa.
Exceto a mim. Babá do Natan nas horas que Olga foge.
Encosto-me perto da bancada de café, esperando que ele
finalize a chamada. Minha fome me faz colocar a timidez na bunda.
Fico observando-o ainda, e está bonito como sempre, todo de
social, terá alguma reunião importante hoje.
Mais mensagens chegam no grupo “o terror do chefinho”
questionando como está a lista. Se soubessem que terminei nua na
cama com ele, e estou admirando sua bunda nesse instante, me
matariam por fazer perderem o tempo delas a meu favor, quando
elas mesmo diziam para eu transar.
Ele me olha de lado, e, droga, nunca foi impactante como
está sendo. Guardo o celular no bolso do short jeans, pronta para
correr.
Reage, Violeta!
Encerra a chamada, e continua anotando umas coisas. Tento
reagir, me aproximando e olhando o iPad.
— Problemas? — pergunto que nem sonsa e pigarreio,
segurando o encosto da cadeira.
— Não até agora. Apenas algumas alterações e a escolha
das fotos que ela fez. — Bloqueia a tela e deixa a caneta de lado,
me olhando. — Violeta, sobre o que aconteceu...
— Não fale que foi um erro, porque vai ficar um clima de
merda. — Encaro-o e ele ergue a sobrancelha. — Foi mal, saiu mais
rápido do que pensei.
— Não era isso que eu iria dizer. Apenas queria dizer que
adorei nossa noite, e foi a primeira vez que essa cidade não me
trouxe problemas — fala e entreabro os lábios, sem saber nem o
que responder, pois por essa nem eu esperava. — Está com fome?
— questiona e assinto. — Sem falas? Então era só te beijar e
transar com você nesse tempo todo para te fazer ficar quieta e me
dar paz? — pirraça.
— Não vou responder. Estou tentando ser uma nova mulher.
— Ergo o queixo e me afasto, com ele me seguindo em direção à
saída do quarto. — Acordei na paz. E permanecerei nela. Nem seu
deboche e ironia vão me tirar do sério.
Tento voltar a ser eu mesma. Porque odeio climão com as
pessoas.
Paro diante da porta me viro para ele, que tem as mãos no
bolso da calça com um olhar presunçoso. Pronto, o suficiente para
me deixar normal, é só eu ficar irritada com ele.
— Posso ficar nu mais uma vez se deseja admirar mais,
Violeta.
O meu sangue ferve. A língua coça.
— Não se preocupe com isso... Não é como se eu já não
tivesse visto melhores. — Olho em direção ao meio de suas pernas
e subo o olhar para o seu rosto.
A expressão do todo fodão, o CEO, dono do mundo, se
perde, e dá lugar a uma de raiva.
Abro a porta, e sorrio saindo do quarto. Eu juro que estou
sendo da paz.
Entramos no elevador que não demora a vir, e encosto-me
no canto, sentindo o espaço se tornar menor, com a presença dele.
— Temos o evento à noite. Vão trazer roupas para que
experimente. E sábado cedo será a reunião no restaurante do hotel.
Segunda-feira de manhã retornaremos ao Brasil — dita a agenda e
fico olhando-o.
— E domingo? — indago sem deboche nenhum. Na paz
maravilhosa que me toma.
— Se não me irritar, já será de bom tamanho estar viva para
vivenciá-lo.
Gente, mas o homem está nervoso assim do nada? Que
horror.
Dou um risinho, mas paro assim que elevador para e um
casal entra, eu apenas sorrio e aceno para o cumprimento deles.
Natan fica me olhando de lado, e bom, depois de conhecer todo o
equipamento, e suas funções, e todo ritmo de funcionamento, um
olhar assim é para me destruir de vez.
Porra, estou ferrada.
Coração, nada de ser atingido. Deixe apenas o tesão falar.
Nos livros que li, isso sempre termina muito mal, e tendo em vista
meu histórico de merda, as chances de se voltar tudo contra mim
são enormes.
Saímos do elevador junto do casal, e sigo o emburrado na
direção de onde tomaremos o café da manhã. E bom, tendo comida,
eu esqueço até porque eu deveria sentir raiva dele.
Violeta está deslumbrante e ao mesmo tempo bem sexy, em
um vestido bandeau com lantejoulas douradas e borlas. Ele é curto,
com decote fora dos ombros, moldando muito bem seu corpo, e
marcando sua bunda e seios. Nos pés uma sandália combinando
em cores e pedrarias. Os cabelos estão soltos, usa apenas um
brinco bem sutil, pois seria demais colocar acessórios chamativos, o
vestido já chama muito a atenção.
Chamei Verônica, uma brasileira que trabalha com alta
costura por aqui, levando as peças para ocasiões importantes. As
roupas podem ser emprestadas ou compradas, depende de quem é
dono da peça. Ela também trouxe maquiadores e cabeleireiros,
como solicitei. Todos já foram embora, apenas ela continua com seu
assistente recolhendo as outras peças que não serão usadas.
— Natan, caso deseje ficar com essa peça, só me informar e
farei toda a burocracia — diz sorrindo e assinto.
— Obrigado, Verô. Se eu for ficar com a peça, irei lhe
informar. Mais uma vez me desculpe por te chamar assim de última
hora, mas não tive escolha. Confio no seu trabalho — falo
assinando a documentação necessária, pois paguei pelo
empréstimo dela e precisa ser devolvida.
Entrego o papel a ela, e olho para o canto, onde Violeta nos
encara, sentada em uma das cadeiras.
— Se não for ficar, amanhã cedo minha equipe vem retirar.
— Guarda o papel e concordo. — Vou apenas terminar de recolher
as coisas, e já irei. — Sorri e volta a falar com seu assistente.
Me aproximo da Violeta. Estamos prontos, apenas
aguardando a saída da Verônica e a chegada do carro.
— O que houve? — questiono, e, pela cara que me lança, é
algum problema.
— Nada... Apenas surpresa. Não me lembro de ter sido
chamada por apelidos e ter tratamentos tão leves assim com você.
Normalmente é raro você ser calmo assim. Estou surpresa.
Ergo a sobrancelha para o seu tom de voz e, pela primeira
vez, eu quero gargalhar muito com o que ouço dela.
— Eu te trato com calma, também!
— Quando estou na merda. Momentos raros estes. Não é
um julgamento, Natan. Só estou surpresa. Afinal, eu sou sua amiga
e nunca recebi... Estou chocada. Nunca imaginei ouvir apelidos
saindo de sua boca — diz baixinho e me controlo para não rir.
Me inclino na sua direção, sem resistir, e seguro seu queixo.
— Está com ciúmes, Violeta? — indago curioso e ela revira
os olhos.
— Você se acha. Eu já disse que estou apenas surpresa.
Não tenho problema algum com...
Aproximo a boca da sua, e caralho, está tão difícil me
controlar perto dessa garota. Eu quero grudar meu corpo ao dela,
arrancar esse maldito vestido deixando-a ainda mais gostosa, e
passar a noite fodendo-a, beijando sua boca, e ouvindo seus
gemidos.
— Nem pense, Natan! Eu estou de batom. E foi só uma
noite, nada mais! — Encara minha boca e nem ela acredita no que
fala. Seu olhar muda e sua respiração agita.
— E eu não estou me importando com isso.
Beijo sua boca, sem me importar se Verônica vê, ou a merda
que for. Eu tomo sua boca, em um beijo lento, torturador a mim
também. Eu não sei o que ela possui, mas está me enlouquecendo
de muitas maneiras.
O barulho atrás de nós me faz interromper o beijo e me
afastar, ajeitando a postura para olhar.
Verônica sorri.
— Desculpem... Apenas para dizer que já estou indo. A
senhorita está linda. Tenham uma noite incrível. — Ela sorri.
— Obrigada — Violeta fala sem graça.
— Irei levá-la até a porta...
— Não precisa! — Verônica gesticula toda sorridente. —
Com licença.
Ela sai com seu assistente, levando uma arara e uma caixa.
Violeta se levanta toda sem jeito e descubro que amo vê-la ficar
assim.
— Para com isso, diabo! — Aponta na minha direção e
sorrio. — Natan, é sério. Isso vai acabar mal. E... — Puxo-a pela
cintura e ela se perde no que fala.
— Temos alguns minutos antes do carro vir nos buscar. Nos
beijando não nos matamos, é a melhor forma de ninguém sair ferido
daqui — falo colocando-a sentada em cima da mesa e ficando entre
suas pernas. — Está muito linda, ainda mais do que já é.
Ela sorri contornando meu pescoço com os braços.
— Obrigada, senhor Natan Valle — seu tom de voz é bem
safado. — Agora, se eu sair toda desajeitada daqui, sabe de quem
será a culpa, né?
— Foda-se, Violeta!
Agarro sua nuca e torno a beijá-la, apertando sua cintura e
puxando seus cabelos. Suas pernas se abrem mais, me
acomodando entre elas, e meu pau endurecendo começa a roçar
sua boceta, porque o vestido sobe. Seu perfume me deixa louco,
assim como sua boca. Levo a boca ao seu pescoço e chupo a pele
perto de sua orelha, e ela geme.
— Não te chamo por apelidos, mas é você que estou
querendo foder nesse momento e quem está fazendo meu pau
endurecer pra caralho. — Minhas palavras saem em direção ao seu
ouvido, e ela mexe o quadril, enquanto se abre mais para mim.
Suas mãos me puxam desesperadas, e eu quero largar essa
porra de evento, mas sou obrigado a ir.
— Natan... Desse jeito você me ferra todinha! — reclama,
mas toda excitada. — Essa amizade está um c-caos...
Sorrio beijando seu pescoço. Olho a hora no relógio em meu
pulso, e falta pouco para o carro chegar. Se eu começar tudo que
quero, nunca sairemos daqui. Volto a boca para a sua, beijando-a
mais uma vez, antes de afastar o rosto.
— Precisamos nos ajeitar. Temos que ir a essa merda — falo
sentindo ódio por isso.
Me afasto um pouco e ela ajeita minha camisa antes de
descer da mesa. Seus dedos limpam meus lábios, e a filha da mãe
beija meu pescoço, me fazendo agarrar sua bunda.
— Preciso me ajeitar e já podemos descer — fala toda
manhosa e se afasta.
Respiro fundo ajeitando minha calça, e o meu pau
completamente duro dentro dela, antes de pegar a parte de cima do
meu terno, para sairmos daqui.

O evento ao lado de dentro é todo fechado apenas a


convidados. Celulares e câmeras da nossa parte é totalmente
proibido. A imprensa está apenas ao lado de fora, tentando captar
quem chega através dos carros, pois entramos direto no hotel, onde
um espaço dele está dedicado ao lançamento do relógio e ao
aniversário de Jeffrey Davis, dono da revista The Fashion World,
que quero fechar parceria para que a Sunshine consiga chegar aqui
também.
Pego as bebidas para mim e Violeta bebermos enquanto
olhamos o relógio através da redoma de vidro, uma das, pois tem
várias espalhadas. O espaço está lotado e repleto de pessoas
famosas e empresários.
— Espero que ninguém aqui escute o que direi ou entenda.
Mas me diga, o que tem demais nesse relógio para esse surto?
Mais do mesmo. Os ponteiros soltam faísca ou algo assim? — a
loira diz e me engasgo com a bebida enquanto ela está em minha
boca, na tentativa de reprimir o riso.
Desta vez não posso nem pensar em discordar dela. O
relógio não tem nada demais, mas é de Jeffrey Davis, isso já é
motivo de sobra para a ansiedade das pessoas com o lançamento.
— Nome é tudo. Se eu lançar hoje qualquer coisa, vende
igual água, por pior que seja. Muitas pessoas compram pela
assinatura final do produto, e isso nem sempre significa que ele é o
melhor. Existem milhares de marcas no mundo, e algumas muito
melhores do que as mais famosas...
— Mas tudo está em quem a vende, divulga e para quem é o
público adquirir — completa. Assinto em um pequeno aceno, e ela
continua olhando o relógio. — Mas que tem melhores que esse
modelo, isso tem. Nada de revolucionário, épico... Meu pai até
usava um parecido, e posso garantir que duvido que fosse de
marca.
Sorrio do quanto está chocada com o surto das pessoas por
algo que é certo, simples, não tem nada demais como já disse.
— Tem opção de troca de pulseira. — Indico com um aceno
a parede de vidro ao lado onde tem elas.
— Nossa... Que épico! Eu espero que a ideia dele para a sua
revista vir para cá, seja melhor do que a de criação de relógios. —
Leva sua bebida à boca.
— Como dono da revista, ele é um dos melhores, pode
acreditar, ou eu não estaria aqui, aguentando esse evento... — Me
aproximo mais, parando as suas costas e sussurrando em seu
ouvido conforme me inclino sutilmente: — Enquanto poderia estar
enterrado em você naquele hotel.
Ela vacila um pouco no apoio das pernas, e seguro sua
cintura.
— Para, satanás! Natan, tenha modos. Sou uma moça pura,
viu!
— Não é o que me mostrou enquanto gemia para mim com
meu pau dentro de você. — Mordo sua orelha e ela ri baixinho.
— Sai! — Desvia e sorrio. — Depravado. Natan, você não
era assim. Que baixaria! — provoca rindo.
Se ela soubesse as baixarias que estão se passando na
minha mente, diria que sou algum tarado à solta.
Ela caminha em direção as pulseiras e sigo-a.
— Natan, me fala que, em algum momento, esse lançamento
melhora. Ao menos teremos bolinho de aniversário do homem.
Porque olha... Alguém precisa dar dicas a ele. Da próxima vez faz o
design e o oferece. Pelos desenhos que encontrei, seu talento é
maravilhoso. Está perdendo oportunidades únicas, hein!
Eu poderia fugir e me sentir mal com ela tocando nesse
assunto, mas não consigo. Ela fala realmente com sinceridade.
Elogia o que por muito tempo passei a ouvir elogios apenas de
Melinda, pois nem eu mesmo me acho capaz para continuar com
eles. Se criei o croqui antes de vir para cá, foi porque algo mais forte
que eu me chamou; e por mais absurdo que seja, toda vez que a
olho, eu sinto o que era adormecido reviver. Cada vez que a toco,
meus dedos sentem a caneta, e minha imaginação voa para tudo
que um dia fez parte do meu sonho.
— Acha mesmo que não é nada demais tudo isso? —
Viramos para a voz atrás e puta que pariu.
Violeta fica pálida, e eu nem sei como inferno sair disso.
— O-o... M... fala português? — ela destrava com a voz
trêmula.
Jeffrey assente e não sei se o sorriso que lança é bom. Por
essa nem eu esperava. Sempre conversamos em inglês. Nunca
imaginei que falasse nosso idioma. Puta que pariu!
— Não muito bem, tenho dificuldades, mas entendo — diz
arrastado e viro de uma vez a bebida em minha boca.
— Me perdoa... Eu... Deus... Senhor Jeffrey, é tudo lindo,
perfeito. Perfect que fala? — Me olha desesperada e minha vontade
é de pegá-la e jogar longe daqui, antes que isso piore.
O homem baixo, forte, nos encara sério.
— Jeffrey, she didn't mean that out of spite. Violeta speaks
without thinking, but she would never do it to upset him.
Falo explicando a ele em seu idioma, que ela nunca faria
isso por despeito, só fala sem pensar, mas nunca para aborrecê-lo.
Tento contornar a situação, e ela só assente sem nem saber que
porra digo.
— É tudo o que ele disse, caso seja positivo! — fala e olho
de lado rapidamente, para que cale a porra da boca.
Ela sorri toda nervosa, as mãos trêmulas com a bebida.
Jeffrey começa a rir, chamando atenção de alguns de seus
convidados. Violeta me olha e devolvo o olhar. Caralho, que merda
está havendo?
— Sweet, você foi a única sincera aqui. Admiro a courage. —
Ele se aproxima mais, colocando a cabeça para a frente, como se
fosse confidenciar algo. — Eu também achei tudo shit. But my team
thought it would be cool and here we are.[3]
— Vou falar pelo início que entendi. Se o senhor admira,
então focaremos nisso. A festa é linda! — ela diz ficando mais
calma.
Ele sorri e assente.
— Eu preciso falar com os outros, mas adorei you. — Olha
para mim e engulo em seco. Se meu negócio foder, eu faço ela
voltar a pé ao Brasil. — See you tomorrow. Enjoy the night with the
young lady. Take her with you, she will be great company for us.[4]
— Ok. Thanks. I'm sorry once again for everything.[5]
Ele toca meu braço e se afasta.
Olho para a Violeta, que solta o ar com força.
— Puta que pariu. Por que tudo acontece comigo? E que
inferno ele ficou falando em inglês? Era me xingando, não era?
Porra, Natan, desculpe...
— Se acalma. Ele gostou de você. Quer que vá comigo a
reunião.
— Sério? — Sorri ficando mais calma ainda. — Olha, eu vou
ficar muda nesse lugar. Isso foi sinal que a próxima eu termino
presa. Natan, o homem tinha que entender português? Ele não fala
direito, mas entende, sério, o universo me odeia. Estou te dizendo.
Primeiro o padre no voo, depois isso? Precisamos rezar e muito! —
Leva a mão ao peito.
— Só fique quietinha o restante da noite, e as chances de
não precisar voltar a pé ao Brasil diminuem.
— Olha, tendo em vista toda a merda, eu acredito que seria
mais seguro. Ou posso abrir um negócio em Vegas e viver aqui. Só
Deus sabe o que nos espera na volta.
Por isso eu prefiro quando estou beijando-a, nunca termina
em merda.

Estamos no carro a caminho do hotel. Saímos do evento


logo após cantarem parabéns ao Jeffrey, o que foi mais um motivo
para reclamações da Violeta, que achou bem morto o “parabéns
americano”, isso que tinha bastante gente; se ela visse os que tem
menos pessoas, teria surtado em dobro. Mas é a cultura deles,
assim como temos a nossa, e está tudo certo.
Ela digita algo no celular, cruzando as pernas, e chamando
minha atenção para elas. Apoio a mão em sua coxa e ela ergue o
olhar.
— Deixe de ser safado... — Balança a cabeça sorrindo. —
Viciou, amor? — provoca. — Eu sei, sua vida é melhor comigo. Mas
sempre se recusou a aceitar.
Olho para a frente e nosso motorista está atento ao trânsito.
Subo um pouco mais da mão antes de colocar a boca na sua, e
começar a beijá-la. Porra, que inferno de beijo gostoso essa garota
tem.
Seu celular faz barulho, e ela ri entre o beijo.
— Calma... Espera... — Afasta a boca, rindo, e olha o celular,
enquanto beijo seu pescoço e sinto sua pele se arrepiar toda.
— Natan... Calma... Merda! — Olho para ela quando seu tom
muda, e seus olhos arregalam. — Olha isso. Nina me mandou.
Estava em uma boate em São Paulo com a Olívia.
Olho para a foto e Violeta amplia a imagem, e todo tesão,
toda a porra da tranquilidade some de mim quando vejo Michael aos
beijos com uma loira na parte inferior da boate. É ele, não tem como
negar. A foto pega bem ambos.
— Natan, se acalma... Olha sua expressão! Pelo menos já
sabe que ele trai ela mesmo, e com isso pode...
— Me envia essa foto agora, Violeta! — interrompo sua fala.
— Natan, o que vai fazer? Se acalma, caramba! Tem que
pensar com calma. Sua irmã se casará em alguns dias, e eles têm
uma filha. Precisa agir com calma. — Ela tenta me acalmar, mas é
pior.
— Violeta, me manda a porra da foto. Só faça isso! — peço
nervoso e ela respira fundo.
— Tudo bem. Depois não diga que não avisei. Agir de
cabeça quente dá merda.
Ela encaminha a foto para mim, e meu celular vibra em meu
bolso na mesma hora. Se esse filho da puta acha que deixarei ele
se casar com a minha irmã, está fodido. Ela nunca assinará aquele
maldito papel, nem que para isso eu precise acabar com a cara
fodida dele.
Violeta apoia a mão em minha perna, tentando me acalmar,
mas não tem como. Não quando vejo que o pai da minha sobrinha,
o homem que está há anos nessa família, é realmente um merda
como imaginava.
Quando Natan Valle resolve ser complicado, é difícil acalmar
a fera. Eu já vi isso outras vezes. Ele é um homem sem muita
paciência, isso é fato, mas, quando se irrita para valer, ele realmente
se transforma, e sua idade começa a fazer jus em cada linha de
expressão que surge em seu rosto.
Mas dessa vez eu posso entendê-lo. Nenhum irmão quer ver
o cunhado traindo a irmã às vésperas do casamento. Porém, não
tem o que ser feito agora. Ele precisa pensar com calma, e é isso
que tento fazer ele entender desde que chegamos no quarto de
hotel.
Ele retira os sapatos abruptamente, assim como o paletó e a
camisa. Está vermelho de raiva. Seus olhos estão transtornados. Se
Michael surgir na frente dele nesse momento, não sobrará um pelo
do homem para contar história. Natan o mata.
— E meus pais apoiam essa porra! Eu sempre disse que ele
quer o dinheiro da Naomi. Michael sempre foi um bosta, com uma
carreira fracassada. Nunca teve audiências, viagens a trabalho. Ele
nem deve saber o que é uma Constituição! Nem a família dele o
aceita, nunca tem contato com eles. Mas Naomi morre de amores...
É do caralho!
Joga as coisas do bolso em cima da cama e fico vendo a
cena.
— Natan, vai tomar um banho, se acalmar, e com a cabeça
fria pensa melhor. Olha como está, vai ter um treco daqui a pouco —
falo tentando colocar juízo na cabeça dele, o que é um absurdo, já
que normalmente o meu que falta.
Ele entra no banheiro, e fico olhando a cena. Para perto da
pia e respira fundo se apoiando nela.
— Eu devo ser um merda naquela família. — Suas palavras
me pegam se surpresa, e me aproximo, encostando na porta e
cruzando os braços.
— Natan...
— Eu passei anos longe deles, fazendo visitas limitadas. Se
não fossem até a mim, nunca eu estaria com eles. Se não
implorassem para eu ir até Monte Amor, jamais eu teria retornado
vez ou outra. Minha sobrinha acha que está sendo esquecida por
mim, meu pai tem certeza de que tudo isso que vivo está errado.
Minha mãe sonha em me ver casado, porque talvez na mente dela
isso vai me levar mais vezes para casa, com netos, uma esposa...
— Meu coração se aperta. Eu nunca o vi ser tão aberto assim, falar
desse jeito, com esse tom e preocupação.
Se afasta da pia, e retira a calça, entrando no boxe e não
demora para o chuveiro ser aberto. Caminho para dentro do
banheiro, preocupada, querendo que ele fale mais. Natan está
realmente nervoso, chateado e eu quero ajudá-lo.
Me aproximo do boxe, abrindo a porta com cuidado.
— Nate... Não é hora de se culpar. Quem fez a merda foi seu
cunhado.
A água o molha inteiro, e ele me olha ao passar as mãos
pelo cabelo.
— Naomi quase chorou com a possibilidade de eu negar ser
padrinho de casamento dela. Você entende o quanto eu tenho sido
um merda para ela também? E vendo essa foto, eu me questiono
quando tudo deu certo, porque é impossível pensar que realmente
tudo que construí foi algo bom.
— Para com isso. Como não pode ter construído algo bom?
Olha a revista, a maior do país. Seu nome desfila pela Forbes e os
melhores jornais empresariais. Natan, as pessoas desse meio
sonham com uma vaga de emprego na Sunshine. Estilistas,
modelos, fotógrafos, marcas... Todos querem uma chance, um
parágrafo em alguma edição. Fez seu nome, e ainda acha que não
fez nada por causa de um cunhado de merda? Ele fez a merda
sozinho, não tem culpa pelo caráter dele.
— Isso nunca foi para ser assim... Violeta, eu quero ficar
sozinho.
— Uma porra! — grito irritada. — Quer falar de fracasso?
Vamos lá. Me formei em Letras porque queria ser escritora, escrever
grandes coisas, conquistar corações, falar sobre coisas legais. Ser
como as escritoras que meu pai me apresentou. Mas parei na sua
revista, e, para ter um futuro melhor, para que meus pais não se
preocupassem comigo, eu arquivei cada maldita história, porque a
sua revista poderia me dar mais futuro. Parei em uma coluna que
odeio, mas fiz amizades, coisas que nem sempre foram fáceis para
mim na adolescência, como eu disse, só surgia esquisito na minha
vida, para combinar comigo nas loucuras. E sabe como essa merda
terminou? Eu sem escrever o que realmente queria, meu pai morto
e deixando uma dívida fodida para nós, minha mãe cheia de
problemas, e eu sem saber o que fazer. Eu larguei sonhos, mas não
fiz boas escolhas depois também, porque todas terminaram comigo
tendo que depender da maluquice em que me meti com você... —
Engulo em seco e ele me olha.
— Violeta... Então é uma história... Aquilo que escreve
sorrindo é uma de suas histórias? — indaga e assinto confusa. —
Ficou salvo no meu notebook.
Claro que mais essa merda aconteceria.
— Não interessa mais. Isso nunca me daria futuro antes,
nunca melhoraria a minha vida e dos meus pais, e agora tampouco.
Mas você? Olha isso, Natan, olha tudo que construiu, e veja tudo
que pode consertar e fazer já que não se sente tão satisfeito. Você
tem chances, pode fazer... O seu cunhado ser um merda,
continuaria sendo independentemente de você ser conectado a sua
família ou não. Então não me venha com um papo que levará você
a achar que fracassou... — Meus olhos marejam.
Ele me puxa para dentro do boxe, e começo a me molhar
inteira, mas foda-se.
— Eu deixei Monte Amor, porque eu queria me formar em
Moda e ser estilista. Minha família inteira me apoiou, lutaram pelos
meus estudos... — revela nervoso. — Acha mesmo que conquistei
tudo? Passo anos me perguntando em que momento eu me desviei
do meu sonho, e com ele, me distanciei da minha própria família. Eu
perdi amigos, eu nunca criei chances para um futuro com uma
família. Cada prêmio, cada conquista, eu nunca tive com quem
comemorar. Cada porra de dinheiro entrando em minha conta, não
pagam as horas de trabalho dos meus pais para me dar o melhor,
porque eu disse que voltaria para eles como estilista, que me aliaria
a Amores do Valle, com vestidos para as noivas, coleções
exclusivas... Sucesso depende muito do ponto de vista das pessoas,
Violeta!
Meu coração acelera, porque vejo sua voz embargar.
— Então pega a porra dos desenhos e continue, Natan!
Porque você ainda pode. Apenas desviou um pouco do caminho! —
grito tremendo de raiva, por ver ele tão cego ao ponto de não saber
que pode ajeitar isso rapidamente. — Desenhe, faça sua coleção.
Porque sabe que vai vender. Se abra com sua família, porque eles
te amam, e vão perdoar alguns anos de ausência. Eu não tive essa
chance, Natan... Eu nunca me dei um caralho de chance. Então
pega a sua e faça! — Empurro-o tentando sair, mas ele me impede,
me empurrando contra o boxe. Não me machuca.
— EU NÃO POSSO, PORRA! EU NÃO POSSO VOLTAR A
FAZER OS MALDITOS CROQUIS! — grita, e vejo o quanto está
desesperado. — EU NÃO POSSO TENTAR CONSERTAR O QUE
NÃO VAI SER CONSERTADO!
— Como não? Eu vi os desenhos. Eu vi o que fez para sua
sobrinha... Como não? Eu vi o jeito que escolheu a roupa para
sairmos, eu vi como me ajudou hoje! Porra, abre seus olhos, o que
te impede de consertar o inferno que for? Michael? Ele quem te
impede de ser o que sonha? Se for, o problema é pior.
— Eu perdi a inspiração — jogas as palavras. — Desde que
saí de Monte Amor, a inspiração se foi. Todos os croquis... Cada um
ficou inacabado. Na faculdade, eu acreditei que era o estresse com
as aulas. Mas quando cheguei em São Paulo para ficar, quando a
revista começou a surgir por eu falar de moda, cada vez mais a
inspiração morria. Toda vez que minha família ligava e me
perguntava sobre a coleção, eu sentia vergonha de dizer que
fracassei, que nunca aquilo foi para mim. Eu não consigo mais fazer
o que tanto amava, e agora com tudo que tenho que lidar da revista,
eu não consigo ter paz nem mesmo para tentar. Eu perdi momentos
com minha família, eu os fiz perderem dinheiro com meus estudos,
porque eu acreditei que daria a eles o que tanto queriam, mas não
foi bem assim... Tudo que hoje eu tenho, nunca foi parte do que
sonhamos juntos, e eu não consigo comemorar, porque dentro de
mim eu sinto um vazio fodido...
Merda.
— Natan...
— Eu li seu texto. Você escreve bem. Eu vejo os textos que
faz no horóscopo quando se inspira. São muito bons. Você ainda
tem a inspiração, garota. Então lute por ela. Faça acontecer.
Porque, quando aquilo que ama morre dentro de você, talvez nunca
mais volte como antes, e se arrependa amargamente de tudo e se
culpe por cada maldita coisa que acontecerá com aqueles que
abandonou. Sabe por que nunca te tirei do horóscopo? — Nego
sentindo as lágrimas escorrerem do meu rosto. — Porque eu sabia
que se daria tão bem em outras colunas, que talvez saísse da
revista, buscando algo maior, mais amplo, jornais talvez. E eu não
estava pronto para perder você naquele lugar. Eu fui egoísta pra
caralho durante esse tempo, mas porque eu já perdi a conexão com
minha família, que, pelo que noto, tem ido de mal a pior, e a única
pessoa que me resta nisso é você.
Meu coração parece parar lentamente. Eu não consigo odiá-
lo por saber disso, porque eu sei como é se sentir sozinha mesmo
rodeada de pessoas. Como eu disse, eu amo as meninas, mas
minha conexão com Natan sempre foi mais forte.
Ele desliga o chuveiro, e se afasta um pouco.
— É melhor você sair... Eu nem deveria estar falando essas
coisas. Ver isso do Michael só me fez entrar em desespero depois
de muito tempo. Porque eu poderia ter evitado essa relação se
minha vida não tivesse fugido do meu controle.
— Talvez sua inspiração volte, só precisa se abrir mais. Foi
em Monte Amor que consegui escrever de novo. Aquela cidade tem
algo, Natan... Mas, acima de tudo, tem sua família. Ela era sua
inspiração, e falo isso com precisão, porque meu pai era a minha, e
quando todos os problemas se acumularam, eu nunca mais toquei
em uma história até agora. Nunca mais li um livro... Eu só segui a
vida do jeito que ela se entregava a mim. Às vezes, pequenas
chuvas se tornam grandes tempestades, se a gente apenas
empurrar o problema com a barriga, e não tentar solucionar.
Ele fica me olhando, e então saio do boxe, escutando a água
cair novamente. Mas de um jeito doido, saio me sentindo mais leve.
Eu nunca contei a ninguém abertamente sobre meu sonho de ser
escritora. Eu nunca coloquei para fora meus problemas desse
modo, na raiva, explodindo de verdade. E foi libertador.
Se um escritor tem seus bloqueios de escrita, um estilista
tem os seus de criação. Natan se culpa tanto por achar que fez a
família jogar dinheiro fora, que não vê, que hoje, se ele lançar
qualquer coisa, estoura, e talvez fosse isso que a vida sempre quis.
Etapas, cada etapa de um jeito. Lá atrás ninguém talvez soubesse
um dia quem ele era em todo esse país, e sua coleção nunca fosse
estourar. Mas com tudo que ele tem hoje... Ah, se ele buscasse a
inspiração, pararia esse mundo com suas roupas. Mas tudo se
conecta a culpa do abandono, da irmã com alguém que ele acredita
que poderia impedir de estar na família, do investimento dos pais,
da distância sentimental... Tudo isso parece ser mais forte dentro
dele, do que seu próprio sonho.
Já no meu caso, passei tanto tempo tendo medo de
fracassar, e deixando de lado meus sonhos para salvar as pessoas,
que acabei dentro do fracasso, e vivo o que tanto tentei evitar.
É como meu pai dizia: Nossas falhas nem sempre serão
culpa de alguém, senão de nós mesmos, e temos que aprender a
conviver com isso, pois quando entendermos o real sentido,
passaremos a tentar nos erguer mais, reclamar bem menos, e parar
de procurar culpados.
E hoje entendo o contexto disso. Reclamamos tanto,
culpamos muitas coisas por não conseguirmos algo, mas nossos
sonhos dependem primeiramente de nós, que desistimos deles no
primeiro “não”, na primeira falha e no primeiro empecilho.
Retiro o vestido todo molhado, e deixo sobre a pia, e diante
dessas reflexões, e de tudo que foi dito, eu retorno ao boxe, abrindo
a porta, usando apenas a calcinha e a sandália. Natan me olha, e
vejo que está sem cueca agora, ela está no suporte ao lado.
— Eu não irei virar uma escritora hoje do nada. Você não vai
lançar uma coleção agora. Michael não tem como ser
desmascarado a distância. Surtar, gritar, nada vai mudar que o que
temos agora é isso, nós dois, essa cidade, e toda a merda que
carregamos por culpa nossa, e que, ao invés de resolvermos, só
pioramos com o passar do tempo. Então, me prometeu transarmos,
relaxarmos, até o nosso retorno. Isso podemos fazer, e quer saber?
Passou a porra do dia todo me provocando, é melhor fazer jus as
provocações!
Jogo de uma vez a bomba. Entrego tudo nas palavras. Tento
tirar a sandália, mas ele me impede.
— Fique com elas e retire a calcinha. Agora. — Sua voz é
firme, e sinto isso dentro de mim.
Retiro a calcinha, sem retirar os olhos dele. Natan não é
delicado, e eu nem queria isso agora. Ele me puxa de encontro ao
seu corpo, e ataca minha boca, me beijando forte, sugando minha
língua de um jeito gostoso, que vai me deixando louca, querendo
cada vez mais.
Seu pau passa a endurecer entre nós, tocando-me, enquanto
sua mão aperta minha bunda, e ele me ergue em um impulso.
Minhas pernas contornam sua cintura, e meu corpo é colocado no
vidro do boxe. Eu puxo seus cabelos molhados, e arranho sua pele
no desespero.
— Porra... — ele geme descendo o beijo para o meu
pescoço, mordendo-me e chupando logo em seguida. — Eu vou te
foder bruto, Violeta...
— É o que espero... Ai... — Suga meu seio bem forte, e a dor
é boa, porque se mistura ao prazer. — Me fode, Natan... Me fode
agora! — imploro desesperada.
Seu pau cutuca minha entrada, e me perco nos chupões, na
forma que ele me mama nos seios. Meus saltos travam na pele de
sua bunda quando ele me penetra forte, me arrancando um grito.
— Tudo bem? — questiona com a respiração bem agitada.
— Continua... C-continua... — imploro a ele.
Leva a boca ao meu pescoço e me fode pressionada ao
boxe, com a água do chuveiro nos molhando, todas as emoções da
noite nos dominando sem parar. Coloco o rosto em seu pescoço, e
ficamos agarrados assim, transando gostoso, forte, deixando os
problemas no esquecimento. Seu pau me abre inteira, vai bem
fundo, e é tão bom. Nossos gemidos se espalham pelo banheiro,
assim como o vapor da água embaçando tudo.
Desliga o chuveiro, e sai de dentro de mim, sem me tirar do
seu colo. Choramingo desesperada.
— Calma, linda... — Sua voz me estremece inteira.
Saímos do banheiro, e ele me coloca na cama. Puxa o
controle do ar-condicionado e o desliga. Torna a se aproximar de
mim, e me vira de bruços, até meter seu pau novamente dentro de
mim, me deixando rendida em seus braços. A cama molha, mas
nada importa.
Sua mão trava as minhas, meu rosto cola a cama, e sinto o
impacto do seu corpo se chocando ao meu. Suas bolas batendo em
mim, a cada vez que seu pau entra forte. A outra mão acerta minha
bunda, e grito pela dor, pelo prazer, me fazendo empinar em sua
direção para ter mais.
— Você me viciou com apenas uma noite... Um gemido... A
porra de um beijo... Caralho, como pode ser tão gostosa assim?
Como essa boceta pode me devorar tão bem?! — fala forte em meu
ouvido.
— Aaaah... Não para... — Meus olhos se enchem de lágrima
pelo tesão.
— Quer gozar, safada? — questiona com a voz de um bom
filho da puta que sabe o que me causa. — Goza, aperta meu pau
com essa bocetinha... Devora mais dele, minha puta... — Acerta
outro tapa em minha bunda.
Um orgasmo me atinge forte, me queimando toda, quando
começo a gozar aos berros, choramingando, sentindo-o gozar forte,
e ouvindo meu nome sair de sua boca como se ele dependesse
disso.
Ele sai de dentro de mim com calma, e me viro de barriga
para cima, quase falecida. Se coloca entre minhas pernas e beija
minha boca com calma.
— Sem camisinha... Sabe que nunca fiz isso com ninguém?
Até nisso me faz perder o controle, garota! — diz e sorrio.
— Me cuido, e sei que faz isso também. Mas... — Coloco as
mãos em seu cabelo molhado, beijando sua boca. — Sua puta?
Exclusividade exige bons pagamentos — provoco. — O meu quero
em fodas gostosas até voltarmos para casa. Me dando isso, serei
sua ninfeta, puta, cachorra, o que quiser, Natan Valle... — Sorrio
para provocar mais ainda.
Ele aperta meu rosto e beija minha boca com força.
— Não brinque comigo, Violeta. Não sabe no que pode se
meter.
— Na verdade, quero você metendo bem aqui... — Toco
minha boceta molhada, gozada e ele segue o movimento.
Seu pau tornando a ficar duro, me faz morder o lábio inferior.
— Caralho! — Ele me beija novamente e sei que o segundo
round está vindo.
Se é para esquecer os problemas que daqui não
resolveremos, faremos do jeito certo, e mais maluco que temos.
Chegamos ao Brasil comigo sentindo que essa viagem para
Las Vegas foi um bom negócio para a Sunshine, mas para mim
também. Jeffrey foi mais paciente para o acordo, e em breve me
dará resposta. Essa reunião pessoalmente foi a melhor coisa, ele
não é um homem muito de negociar através de tecnologias. Ele
gosta da moda antiga, e tradicional. Violeta foi bem, devo isso a ela
também, tornou tudo mais leve com seu jeito de ser, trazendo risos
e muita leveza ao assunto, e bom, em partes ele ceder tem a ver
com ela, que, mesmo falando mal do relógio do cara, ele adorou a
sinceridade dela.
Viemos direto para Monte Amor, mas mais tarde iremos a
São Paulo, tenho uma reunião na revista com as equipes de cada
setor, e ela aproveitará para ver sua mãe, e quero conversar com
ela sobre a situação da dona Zulmira, sua mãe.
Passar esses dias ao lado dela, eu não sei até que ponto
pode piorar tudo, mas, pela primeira vez em muito tempo, me senti
leve. Mais relaxado. Não pelo sexo, mas pelas conversas mesmo
que malucas, e por ver o brilho no olhar dela a cada vez que via a
cidade ao lado de fora.
Me abrir com ela, escutar o que ela também precisava a
dizer, me fez abrir a porta de um lugar que viveu fechada por anos.
Eu senti, eu me permiti sentir, e mais uma pequena inspiração veio.
Não tive tempo de tentar ver se ela sai da minha mente para o
papel. Mas algo surgiu de novo. E agora mais do que nunca, eu sei
que está em partes atrelado a ela, a garota que mais me estressa,
mas que também é uma boa amiga, infernal às vezes, mas é.
Chegamos de madrugada, a casa inteira dorme. Meus pais
sabiam do retorno, por isso não levantaram achando que a casa foi
invadida quando Violeta derrubou a mala.
— Foi sem querer... — Faz uma careta e sussurra.
— Só sobe! — aviso e ela ri baixinho passando por mim e
dando uma piscadinha.
Ela sobe com uma mala pequena, e eu sigo atrás, com a
mala que precisarei agora.
Entramos em meu quarto, e fecho a porta com a chave,
levando em consideração ao bosta que mora aqui também.
— Terra firme de novo. Olha, pilotos de aviões me odeiam.
Voo atrasou duas horas, outra turbulência, trânsito de Guarulhos
para cá em plena madrugada... Natan, o que eu fiz para o Universo?
— Se senta na cama, retirando a blusa de frio, e o coturno.
— Brinca com os signos. Não está tudo atrelado? —
questiono irônico e ela me fuzila com o olhar.
Retiro a jaqueta e esfrego o rosto cansado. Não dormi nada
no voo, preocupado com ela, já que passou mal. E ela está cansada
também, e, quando fica muito cansada, é igualzinha minha sobrinha,
fica agitada, parece que luta contra o sono.
Retiro os sapatos e a camiseta, abrindo a mala e pegando
uma cueca.
— Preciso de um banho, para tentar relaxar e dormir.
Quando eu voltar espero que esteja dormindo. Está acabada,
Violeta. Precisa descansar.
— Sabe que não sou criança, né? — resmunga abrindo sua
mala.
— Age como uma às vezes.
Não fico para as suas reclamações. Entro no banheiro e
tomo um banho rápido, sentindo meus músculos relaxarem, e o
cansaço vir de vez acompanhado do sono.
Me enxugo com as toalhas limpas que, com certeza,
Hortência pediu para deixar tudo organizado aqui sabendo que
voltaríamos hoje.
Coloco a cueca e saio do banheiro, vendo a praga loira
deitada, e espero que esteja dormindo.
Apago a luz e caminho até a cama, deitando-me ao seu lado,
e vendo seus olhos verdes me encararem.
— Não é capaz de seguir nada do que eu diga? — questiono
e ela sorri.
— Estou tentando... Mas é que chegamos aqui no Brasil,
Natan... E quero agradecer por me levar. Eu amei tudo, tirando os
pilotos e os aviões que me odeiam.
Sorrio sem poder evitar.
— Mas? — Puxo-a para os meus braços. Me preocupo com
ela, sempre me preocupei. — O que tem, Violeta?
— Tudo o que aconteceu, e tudo que pode acontecer agora.
Vai contar a verdade a sua família, o Michael traindo sua irmã, e a
gente... Não quero perder nossa amizade.
Beijo sua testa, e ela se agarra em mim. Ajeito as cobertas
sobre nós e respiro com calma.
— Não vai perder, a não ser que nos matemos.
Ela ri baixinho e acaricio seu cabelo, até ela relaxar. Era isso
que eu fazia durante o luto do pai dela. Foi assim que a fiz dormir
várias vezes que foi ao meu apartamento abatida, ou que se
sentava no sofá da sala do setor de moda, onde ficam tudo que
guardamos, e a fazia relaxar para continuar enfrentando o dia dela.
— Nate?
— Oi — respondo com calma.
— É um bom homem e amigo. Só um idiota na maioria das
vezes. Mas eu amo você do jeito que é. E tente buscar pelo seu
sonho, porque aqueles croquis merecem ser conhecidos pelo
mundo todo.
Respiro fundo e beijo seus lábios com calma, sentindo uma
necessidade forte disso. Não respondo, e nem ela insiste. Ficamos
em silêncio e ela dorme em meus braços, primeiro que eu, que fico
a olhando e pensando em todas as formas que posso cuidar dela, e
dar o mundo a essa garota, mas também sentindo a nova inspiração
me consumir, e é assim que durmo após ela.

Acordo com o despertador do celular, e sabendo que


precisamos levantar para ir a São Paulo, e precisa ser bem cedo,
devido ao trânsito.
Acaricio seu rosto e ela resmunga me fazendo rir.
— Violeta... — chamo-a e ela torna a resmungar. — Se quer
ir ver sua mãe, precisa acordar.
Ela abre os olhos e assente sonolenta.
— Não precisa estar na reunião hoje, o horóscopo... —
Como dizer que nem útil é e deixo apenas por ela, já que outras
coisas trazem entretenimento?
— Eu já sei... Mas quero ir, preciso escrever mais alguns, e
farei na revista, e também quero ver minha mãe e meu tio... Droga,
cancela esse horóscopo logo, Natan. É inútil tem muito tempo. —
Revira os olhos e se levanta. — Preciso me alimentar antes. E por
favor, se for abrir a boca para a sua família agora, espere eu tomar
café antes de sairmos escorraçados.
Esfrego o rosto, não crendo no que tenho que lidar.
Levanto-me e ela olha para o meio de minhas pernas e sorri.
Meu pau está com ereção e óbvio que estaria. Cedo, e Violeta
passou horas com a bunda colada nele.
Passo a sua frente entrando no banheiro com ela logo atrás.
— Malha a bunda, né?
— Violeta, minha bunda poderia deixar de ser pauta da sua
safadeza? — Viro-me e ela sorri vermelha.
— É chamativa, ué. — Dá de ombros.
Vai direto para o boxe e fico olhando a cena. Essa garota
será meu eterno problema.

Meu pai saiu cedo para uma reunião importante, e minha


mãe e Naomi foram na cidade vizinha conversar com a estilista
sobre o vestido de noiva, parece que é uma coleção exclusiva feita
por Milena Ribeiro, uma grande estilista brasileira. E como o
casamento está às portas, seria impossível ela fazer um vestido,
mas tem exclusivos nunca usados, e foram conferir.
Isso me traz náuseas. Porque Naomi nem imagina a porra
que lhe aguarda sobre esse noivo.
Violeta ainda não desceu para tomar café, e minha
companhia se tornou Hortência e Zafira.
— Estou impressionada. Como o senhor conseguiu manter
esse noivado escondido? Eu trabalho há muito tempo lá, nunca vi
nem uma calcinha naquele apartamento! — Zafira diz e me engasgo
com o café.
— Zafira! Tenha a santa paciência. Olha como fala. Ele é seu
chefe! — sua tia chama a sua atenção.
— É um bom ponto. — A voz que surge na sala de jantar me
deixa puto. — Bom dia, meu cunhado. E estou do lado da Zafira,
afinal, é impressionante ela nunca ter notado nada. Trabalha
limpando sua cobertura.
Ambas saem às pressas da sala, com a Hortência puxando a
sobrinha. Pouso a xícara sobre a mesa e limpo a boca com o
guardanapo.
— Porque talvez eu esconda melhor as calcinhas da minha
noiva, do que você as suas merdas! — falo, levantando-me.
— Não sei o que quer dizer. Mas, ao contrário, estou
surpreso com você. Um homem sério, respeitado... mentindo sobre
um noivado? Sabe que eu quase acreditei quando ouvi os gemidos
dela dia desses por aqui? — Meu sangue ferve e estou louco para
destruir a cara dele. — Mas quando viajaram, eu tive umas coisas
para fazer em São Paulo, e resolvi visitar a Sunshine, que está bem
bonita por sinal. E conversa vai, conversa vem, ouvi dizer que são
apenas amigos, nunca passaram disso. Pensei, talvez sejam
tímidos, não é mesmo? Local de trabalho... — ironiza, e minha
respiração acelera. — Só que aí, puxei alguns contatos, e descobri
que a jovem não passa de uma quase sem-teto, com uma mãe toda
doente, um pai morto, um tio trabalhando em um restaurante
qualquer... E sabe o que é melhor em ser advogado? É que consigo
puxar algumas coisas, e meus contatos ajudam. Logo liguei os
pontos, e te admiro muito... Tudo não passa de caridade, acertei?
Ofereceu dinheiro a ela para fingir? Como foi? — Sorri repleto de
ironia.
— Cala a sua boca, seu filho da puta! — Dou um passo mais
perto dele, e ele não se move. — Lave esse limbo de boca para
falar dela, e da família dela. Você não passa de um merda, que faz
viagens para comer qualquer uma que surgir no seu caminho e
ceder, enquanto a otária da Naomi te espera aqui com sua filha! —
digo entredentes e ele ri.
— Não... Você não vai estragar meu casamento, e sabe por
quê? Porque basta uma palavra minha assim que cheguem, para
acabar com essa palhaçada toda. E sabe qual lado mais irá pesar
aqui. Não tem mais toda a confiança deles, Natan... Há muito tempo
perdeu a autoridade por aqui. Então se quer continuar fingindo que
está noivo dessa putinha, pagando-a, tanto faz, foda-se. Mas se
tentar qualquer coisa para acabar com meu casamento, eu não fodo
sua vida apenas aqui, eu fodo ela na imprensa! Volta para São
Paulo, fique por lá, porque eu sempre soube que nunca viria de bom
grado...
Não deixo que continue, eu acerto seu rosto com um soco, e
jogo-o em cima da mesa. Ele tenta revidar, tenta me acertar, mas
desfiro outro murro em sua face. A mesa de café da manhã começa
a ser destruída. Gritos começam a surgir de todos os lados.
— NUNCA MAIS FALE DELA ASSIM. NUNCA MAIS, SEU
DESGRAÇADO! — Soco-o mais vezes.
Meu coração está acelerado, minha raiva triplicada, e ele me
empurra, e fecha o punho para me acertar, mas para quando o
choro alto faz meu coração se destruir.
— Papai... Titio... — Melinda chora assustada.
Olho ao redor, e Hortência e Zafira, além de outros
funcionários, nos olham chocados. Violeta está parada na ponta da
escada com os olhos arregalados.
— Eu quero minha mãe! — ela grita desesperada.
— É só o que causa nessa família. Você vem e os problemas
chegam. Eu não sou um problema sozinho! — Ele toca a boca
machucada, e sai, nem se importando para a filha chorando.
— Senhor... — Hortência tenta falar comigo, mas ergo a
mão.
Violeta se aproxima às pressas, mas da Melinda.
— Ei, amor. Vem, vai ficar tudo bem! — Ela pega a Melinda
no colo, que, mesmo com a idade, ainda é pequenininha.
Melinda vai para os braços dela, e Violeta me olha, tenta
falar, mas nego. Não vou falar disso agora.
— Não quero ficar aqui. Quero minha mãe... — Ela agarra o
pescoço da minha garota e esconde o rosto.
— Ela logo vai estar aqui. Está tudo bem. Que tal subirmos
para o seu quarto e você me mostra tudo por lá, pode ser? —
Violeta diz.
Melinda assente e elas sobem juntas, enquanto Hortência se
aproxima.
— Vamos ajeitar essa mão. Ah, meu Príncipe, não é assim
que vai tirar esse safado daqui. Vamos. — Ela me arrasta para
longe de todos e respiro fundo.
Eu quero esse filho da puta o mais longe dessa casa.

Entro no quarto da Melinda, e a decoração da vez é toda de


princesas. Ela sempre é de fases, e, pelo jeito, essa é a mais
demorada do momento.
Violeta está sentada na cama dela, com as costas no
encosto, e Melinda dormindo em seus braços, com as pernas ao
seu redor, e a cabeça em seu peito.
Mesmo diante do problema, essa cena me causa algo
estranho, e muito bom.
Me aproximo com calma, e me abaixo ao lado delas.
— É melhor não falar perto dela o que houve. Depois
converse direito, porque a sua família vai acabar sabendo. Seja o
que for que aconteceu, não deixe ele fazer você perder a cabeça e
te transformar no vilão — fala baixinho.
Acaricio o rostinho da minha princesinha.
— Obrigado por cuidar dela! — falo com um pouco mais de
calma e beijo sua testa.
— Sabe que ela nem é tão monstrenga assim? A Chucky
pode ser um amorzinho também. — Sorri acariciando os cabelos da
pequena.
— Ela é um amor sim, e não merecia ver aquilo — falo e
Violeta assente. — Eu ainda preciso ir a São Paulo, e vai ser bom
esfriar a cabeça antes de contar a eles do que aconteceu aqui, e a
verdade sobre nós. Vem comigo ainda? Não quero que fique nessa
casa se eu ou minha família não estiver aqui, não com ele...
Ela concorda e coloca a pequena sobre a cama com calma.
— A Hortência pode ficar com ela? Ela pode acordar
assustada, não sei... — diz bem preocupada, e isso me faz sentir
mais do que está surgindo.
— Vou falar para ela ficar com a Melinda até Naomi retornar,
e pedir para virem o mais depressa. — Me levanto, dando um beijo
na testa da pequena.
Violeta se levanta e a cobre, antes de sairmos do quarto. Ela
segura minha mão e olha os machucados.
— Vou ficar bem, Violeta.
— Vai mesmo, porque eu vou socar sua cara depois. Porra,
Natan. Cair na pirraça daquele merda? É pra foder! — reclama e na
razão.
Ela sai andando à minha frente, e pega a bolsa no meu
quarto para sairmos.
Paramos perto do meu carro, que meu segurança aguarda
aqui, pois veio trazer, já que nos deixou aqui de madrugada depois
do aeroporto e foi embora para a capital. Mas, antes de entrarmos,
prendo seu corpo nele e a beijo, porque eu quero sentir a calmaria
que me traz. Dane-se se vou falar a verdade a minha família ao
retornarmos, eu preciso senti-la mais um pouco, antes de tudo isso
findar. Eu preciso da Violeta.
— O que foi isso? — indaga timidamente e sorrio.
— Nada. Vamos? — desconverso.
— Olha, você busque ajuda de terapia. Sua bipolaridade me
mata! — Se vira colocando a cabeça na janela de onde o segurança
está. — Bom dia, coisa linda. Pode parar no caminho em algum
lugar para eu me alimentar? Seu chefe é um bosta e destruiu meu
café da manhã.
Dionísio começa a rir, e eu a puxo, abrindo a porta do carro e
a colocando lá dentro, sob seus xingos.
— Devo parar em algum lugar mesmo? — indaga confuso e
controlando o riso.
Fecho a porta e colocamos o cinto.
— Não pare para ver senão mato um. Olha, eu sem café da
manhã dou aula para o capeta! — rebate nervosa.
Noto que o anel não está mais em sua mão.
— Pare em algum lugar, de preferência a rodovia para deixá-
la retornar a pé! — aviso e ele ri. Caralho, falo a verdade!
— Natan, eu não sou o Michael não. Eu te soco a cara que
nem terá tempo de pensar. Olha, homens me estressam! — reclama
mais um pouco, mas nem me importo.
Seguro sua mão.
— Cadê o anel?
— Ah, guardei. Você disse que vai contar toda a verdade...
Está no seu closet, pode pegar de volta. — Sorri sem jeito. — É bom
para eu não perder, e não tenho direito a ele. Foi apenas para o
nosso acordo.
Ouvir isso me causa um incômodo, e prefiro não responder.
O que está acontecendo, Natan?!
Observo o andar em que trabalho, e está praticamente vazio.
Quase toda revista em reunião no último andar, junto da bancada
dos engravatados. E eu? Bom, o que o horóscopo poderia mudar
nesse lugar?
Nina está lá também, e Olívia atolada de papéis no RH, e eu
sigo tentando criar algo útil para os signos, que ninguém vai ler. O
engajamento disso está cada vez mais baixo, que em breve vai
sumir. Mas tem uma turma pronta para me tirar do sério,
reclamando. Olha se confiam a vida inteira em horóscopos, o
problema não está em mim apenas, é o que penso.
Mas minha mente está um pouco longe, não que sempre
esteve aqui. Mas depois de Las Vegas muita coisa mudou. Porra,
Natan e eu transamos, isso pode aumentar toda essa merda? Claro.
E agora ainda tem essa briga dele com o cunhado, a verdade aos
pais dele que ele quer contar... Meu Deus, como isso tudo pode
terminar?
E agora essa coisa dentro de mim, algo novo, que está
mexendo comigo de um jeito maluco, e eu não sei explicar. Eu o
vejo, ouço, sinto, e dentro de mim é como se tudo estivesse dando
cambalhota ou descendo em uma montanha-russa muito alta. Estou
com medo, a verdade é essa, porque li romances suficientes e
escrevi parte de alguns para saber o que isso pode significar. Não é
como se fosse tudo rápido, em um passe de mágica. Mas, às vezes,
o sentimento está ali, basta um fósforo para acender a chama.
Giro-me na cadeira, e respiro fundo, tentando pensar no que
fazer nesse maldito horóscopo, e no problema que envolve a grana.
Sem o dinheiro certo em trinta dias tudo vai piorar, e minha mãe
precisa do tratamento. Não posso pedir mais dinheiro ao Natan. E
agora ainda tem esse problema com o cunhado maluco, os pais
casamenteiros, e tudo que aconteceu em Vegas... Estou fodida mais
do que nunca.
Esfrego meu rosto, morrendo de medo do que está por vir, e
preocupada em como lidar com cada coisa. E para piorar tudo,
ainda tem essa inspiração para a história que não para de crescer
em minha mente, onde tudo acontece em uma cidade pequena, com
um estilista e uma jovem estudante de Literatura. Não, eu não
pensei em mim ou no Natan, só veio, aconteceu, e meio que se
conectou em alguns pontos, e ele viu... Droga, ele viu tudo ou parte
do que escrevi, nem sei mais.
Me apoio na mesa e olho mais uma vez para a página de
horóscopos e não consigo, estou mais travada do que nunca,
porque sempre que penso em escrever, apenas a história que
comecei vem à minha mente.
Levanto-me para buscar café, ou uma faca e cortar logo
minha cabeça.
Caminho até a pequena cozinha no andar, cada um tem
uma, para almoços ou coisas assim. Pego um café na máquina,
cumprimentando as funcionárias ali com um aceno, e saio de lá,
descendo ao setor da moda.
O andar tem poucos funcionários, e sigo para a mesa de
quem mais tenho contato, Gabriel, que cuida da edição das fotos de
cada ensaio.
Ele me olha sorrindo, e me sento na beirada de sua mesa. O
nerdzinho retira os óculos e esfrega o rosto, enquanto bebo um gole
do meu café. Apoio a perna na lateral de sua cadeira e ele bate em
minha mão em um cumprimento.
— Esse lugar é um tédio sem você. Resolveu voltar a rotina?
— indaga e rio.
— Se soubesse no que me meti, juro que choraria, Gabe. E
aí, como estão as coisas por aqui? Sem o iceberg nesse Titanic é
muito melhor, né?
Ele ri alto, e balança a cabeça ficando vermelhinho.
— Não diga isso. Ele é seu amigo também, não é? —
questiona e respiro fundo.
— Melhor mudarmos de assunto. Vim dar uma olhada nas
coisas que chegaram, estou buscando relaxar a cabeça para
trabalhar. Está muito ocupado? Acho que preciso de companhia um
pouco.
— Que nada. Estava editando algumas fotos, mas algumas
preciso mandar aos editores e ao Natan antes de mexer. — Olha no
relógio moderno em seu pulso. — Tenho um tempo livre. Vamos.
Segura minha mão me ajudando a descer da mesa, e deixo
o café em sua mesa. Coloca os óculos de grau e vamos para a sala
que tem mais caixas, e Natan tem razão, isso está um caos. Tudo
fora do lugar, nem o sofá, que já rendeu muitas fofocas minhas com
as meninas, e muitos momentos de carinho da parte do Natan
durante o período de ausência do meu pai, está livre.
— Uau... Isso vai de mal a pior! — ele diz.
— Uhum... O chefinho tem razão em ter reclamado... Quem
sabe tentar arrumar isso aqui me anima. Fica como um bônus ao
setor de vocês. Se forem bonificados final do ano, lembre-se de
quem ajudou a arrumar essa zorra! — aviso e ele ri.
— Vou te ajudar no tempinho que tenho. Fico com as caixas
lacradas, abrindo e colocando tudo em cada lugar, e você com as
coisas novas nas araras, e o que está espalhado fora das caixas.
Tudo bem?
— Você é perfeito. Então vamos colocar ordem nesse
cabaré!
Ele fica novamente vermelhinho. Me esqueço do quanto ele
pode ser tímido. Não somos muito amigos, mas temos um contato
legal, de respeito, risos, e ele sempre salva meu rabo quando
esqueço de pegar artes de banner para a coluna do horóscopo.
Como ele entende um pouco, faz correndo e me manda, para eu
não ter que pedir aos designers em cima da hora e levar um
esporro. Se tem um setor que ninguém aqui quer irritar é dos
publicitários, social medias e designers. São maravilhosos, mas
quando o assunto é fazer coisa em cima da hora, ou atrapalhar o
que foi programado, as coisas ficam sérias. Senti na pele já.
Começamos a organizar, e nem vejo o tempo passar. Vamos
rindo no meio disso tudo, ainda mais quando experimentamos
algumas coisas que chegaram, como o casaco de pelos que não
recomendo a ninguém com rinite.
O sofá já volta a ser funcional, a bancada não tem mais nada
em cima, as araras no lugar, assim como os sapatos, joias e
produtos de beleza.
— Sobrou essas quatro caixas com bolsas, e acessórios.
Mas agora preciso ir. Se quiser, na hora do almoço terminamos.
— Relaxa, garoto. Eu termino aqui. Volte a sua função. Só
vim te colocar em mais trabalho. — Abraço-o e ele fica ainda mais
sem jeito.
— Qualquer coisa me chama, Vilu. — Se afasta todo
atrapalhado, e estaca na porta quando a figura de terno e olhar sério
nos encara. — S-senhor Natan... Bom d-dia. — O pobre coitado se
atrapalha todo e se retira às pressas.
Dou um olhar a ele que sabe bem o que significa: Alerte a
todos que não estão na reunião, que o iceberg entrou em campo de
visão do nosso Titanic.
Natan entra na sala, e fecha a porta atrás. Diferente de sua
sala, essa apenas uma parte é de vidro, que é a frente, ao lado
direito. Ao lado esquerdo onde fica o sofá, é toda fechada, pois tem
um pequeno provador.
Começo a pegar as coisas das caixas e colocar o que falta
no lugar.
— Acabou a reunião ou se irritou com a metade deles e
fugiu? — questiono.
Ele caminha para dentro da sala e se senta no sofá, abrindo
o paletó de um jeito elegante. Nem parece mais o Natan de Vegas.
A postura voltou ao de homem dos negócios, assim com a
expressão tornou a aparentar sua idade, não tem mais a suavidade.
— Não fugi... Resolveram organizar isso aqui? — indaga e
assinto, pegando mais coisas das caixas.
— Estava bloqueada na criação do horóscopo, e acabei
vindo para cá e ganhando a ajuda do Gabe para isso. Na hora da
bonificação desse setor, lembre-se do que estou fazendo aqui! —
Sorrio.
— Gabe? — Ergue a sobrancelha me analisando e começo a
rir.
— Não vem com essa. Não dê uma de ciumento, Natan,
quando a gente nem sequer tem nada. Não implicou quando
questionei sobre a Verô? Por que vai fazer essa cara de bunda
agora comigo? — falo empurrando a caixa vazia para o lado, junto
das outras. — Depois precisa arrumar alguém para tirar essas
caixas vazias.
Me aproximo pegando a que está perto dele, e ele me puxa
para o seu colo.
— Natan, a gente... — tento falar, mas ele me impede, me
inclinando sobre o sofá e me beijando.
O beijo é bruto, gostoso como sempre, e me deixa toda
agitada. O coração busca um jeito de sobreviver a isso, assim como
o desejo que me deixa louca a cada vez que ele me toca. Uma mão
aperta minha cintura, e a outra agarrada a minha nuca, aperta-me
forte. Seu corpo fica entre minhas pernas, e um gemido rouco sai de
sua boca, baixo, mas forte, e isso me faz gemer também.
— Natan... Está louco? — indago olhando a porta, mas então
noto a chave nela, que não estava antes. — Nos trancou aqui? O
que está havendo, seu louco? — indago e ele me olha de um jeito
quente, enlouquecedor.
— Preciso parar de pensar em você... De buscar sua boca,
seu corpo... Mas porra, está ficando a cada instante mais difícil...
Que porra está fazendo comigo, garota? — Beija meu pescoço e
inclino a cabeça para trás.
— Vamos nos foder nisso, precisamos parar antes que
alguém saia machucado... — Agarro seu cabelo e puxo de leve, e o
safado geme, roçando seu pau em mim. Sua barba arranhando
minha pele de um jeito bom.
— Tem noção que nunca fiz isso nesse lugar e nem
pensava? Porra, eu respeito pra caralho minha revista, tenho
controle sobre minha vida, minhas ações, mas então, você que só
tinha que ser a porra de uma amiga e funcionária, me vicia nessa
boca, nessa boceta... Violeta, você vai me ferrar!
Começo a rir baixinho, sentindo meu pescoço ser devorado
mais uma vez, e me contorço em desespero.
— Aqui não... Não com todos aqui... — Puxo seu rosto e
beijo sua boca, que está sendo uma perdição. — Se me foder como
tem feito, a revista inteira saberá o que estamos fazendo... Acredite!
Ele ri e, caramba, que som bom!
— Depois que for ver sua mãe, faremos uma parada em meu
apartamento antes de retornarmos a Monte Amor.
Sinto um friozinho bem forte na barriga, entendo bem o que
ele quer dizer.
Assinto apenas, e ele se senta novamente, mas monto nele
beijando-o de novo, antes de me levantar e me ajeitar.
— Acho que precisará se acalmar antes de sair. — Mordo o
cantinho da boca olhando para o enorme volume entre suas pernas.
— Ou você pode vir aqui, e sentar essa bocetinha nele....
Minha calcinha já era, isso é claro. Completamente
encharcada.
O cretino me puxa novamente para o seu colo, me beijando
como um louco, e acabo rindo, mas cedendo ao beijo viciante.

Tentei falar com as meninas hoje, mas impossível. Aquela


revista estava uma loucura depois da reunião, muita coisa a ser
resolvida, então, assim que deu meu horário, vim para casa, e sem
carona, claro. Não tive mais contato com o Natan após nosso
pequeno momento juntos, ele ficou cheio de reuniões, entrando e
saindo de sua sala, com a Olga me fuzilando sempre que podia.
Consegui pelo menos montar cinco textos para os signos,
depois tento os outros. Aproveitei para responder os comentários da
coluna e me arrepender mais um pouco por permanecer nesse
negócio.
Me agarro a minha mãe, que está sentada no sofá, depois de
eu ter tomado um banho, colocado uma roupa mais quentinha, pois
o clima na capital está esfriando, e chovendo um pouco.
— Essa casa sem você não é a mesma. Sinto falta da sua
bagunça. Como está sendo nessa cidade, como foi a viagem?
Conte tudo! — questiona, bem sorridente.
Até o cheiro adocicado dela me fez falta.
Deito a cabeça em seu colo, e ela mexe em meus cabelos
soltos.
— Sobre Vegas... Mãe, foi um sonho isso. Tão perfeito. Eu
queria que a senhora e o tio pudessem ver aquilo de perto. Um dia
levarei vocês, gravem isso! — falo e ela sorri mais ainda.
— Só de você estar assim já fico feliz. Eu amei as fotos e
vídeos que mandou. Estava linda, deslumbrante, até seu semblante
estava melhor. Mas me diga, refletiram sobre tudo?
— É aí que entra sobre Monte Amor. Mãe, tudo vai de mal a
pior, mas ao menos Natan resolveu contar tudo a família. Acredita
que o cunhado dele é um cuzão?
— Violeta Matos! — Acerta minha testa e começo a rir. —
Mas não me simpatizei com ele naquele evento da revista que
fomos. Não gosto de quem não conversa olhando nos olhos.
— E fez bem em não se simpatizar. O cara é um babaca que
mete chifre na Naomi. A coitada não merecia. A pobrezinha está
programando o casamento. Mas acho que Natan vai resolver isso,
só não faço ideia de como, porque hoje mesmo brigou com o
Michael, e a coisa foi feia, sobrou até para eu cuidar da
minidemoníaca. Mãe, se eu contar minha vida para alguém, me
chamam de louca e duvidam.
Ela ri e claro que faz, porque sou uma piada para ela.
— Eu tentei avisar sobre esse problema... — fala e não
tenho nem como retrucar. — Mas essa decisão dele dizer a verdade
veio por conta da viagem?
— Não... — Ela pausa o carinho em minha cabeça. Respiro
com calma e resolvo dizer a verdade a ela, porque sempre fomos
muito amigas. — Mãe, aconteceram algumas coisas entre nós... —
Sento-me no sofá e ela me olha preocupada. — Calma, eu sei o que
vai dizer ou pensar... Mas aconteceu. Foi algo na noite especial que
ligou tudo. E bom, uma coisa levou a outra e... Ai, que droga! —
Esfrego o rosto sem maquiagem, totalmente limpo pós-banho.
— Eu... Olha, dessa vez você se superou! — Bate as mãos
na perna e faz uma careta. — Eu sabia que estavam brincando com
o destino de vocês. Eu sempre disse que a conexão dos dois era
muito forte! E agora, acham que vão acabar com essa mentira e
seguir naturalmente? Olha essa cara de boboca que está! Está
apaixonada ou já se apaixonou nele... — Olho para ela incrédula. —
Por Deus, vocês acenderam o fósforo, né? Ah, seu pai tinha razão.
Ele sempre dizia que existia uma chama adormecida entre os dois,
e precisavam apenas atear fogo.
Levanto-me assustada.
— Não... Quero dizer... Apaixonados? Chamas? Mamãe,
não! — grito nervosa e caio sentada no outro sofá. A mulher ri como
se sua vida dependesse desse riso. Chego a me assustar mais
ainda vendo a cena. — Mãe, pode levar a sério isso aqui?!
Ela enxuga os olhos, pois chora de rir.
— Querida... Me perdoa. Mas isso é bem-feito aos dois. Se
não tivessem brincado com o destino, ele não teria voltado tudo
contra vocês. Se nunca aprontassem com essa mentira, nunca
estaria vivendo isso. Agora me fale, o bonitão está com os quatro
pneus e o estepe também arriados por você?
Fico boquiaberta e de olhos arregalados. A mulher só pode
estar de brincadeira. Eu me recuso a continuar assistindo isso.
Natan e eu? Nunca! Não. Nós nos mataríamos.
Levanto-me nervosa, e ela continua rindo, gargalhando sem
parar.
— Filha... Perdão, mas é impossível evitar, eu... — mal
consegue falar.
Entro em meu quarto e me jogo na cama ao som do seu riso,
que acaba me fazendo sorrir um pouquinho, porque há muito tempo
não a ouvia rir assim.
Em meu celular chega uma mensagem do Natan
questionando por que não avisei que já tinha vindo, que teria me
trazido. Apenas digo que precisava ver logo minha mãe e para não
se preocupar com isso. Deixa avisado que, à noite, passa para me
pegar, e amanhã vamos sentar com a família dele e contar tudo.
Escuto barulho na casa e é meu tio, que questiona a minha
mãe, que segue rindo, o que está havendo.
Ele caminha rindo para o nosso quarto, e para na porta me
encarando.
— O que deu nela? — questiona surpreso, e logo caminha
na direção da cama, se deitando ao meu lado e me abraçando.
— Minha vida é uma piada para a sua irmã!
Ele ri e beija meu rosto.
— Conte tudo. Vim correndo para casa quando soube que
estava aqui. Quero saber de tudo.
— Se terminar rindo como ela, te esgano, tio! — falo
nervosa.
O maluco já começa a rir, e eu me sinto uma otária.
— Transaram! Eu sabiaaaa. — Se debate e nem parece que
tem mais de quarenta anos. — Detalhes, titio trabalha com eles. Me
conte tudo.
— Eu quero saber da minha mãe, como ela está e sobre as
contas. Chega, não falo mais nada do Natan!
— Ah, mas vai falar sim. E sobre sua mãe, segue inteira e
viva, a dívida segue sendo uma dívida, não vamos mudar nada hoje.
Então foque no que pode mudar agora, que é me animar com essa
fofoca fresquinha. Vai!
Me cutuca, que começo a rir, mas paro quando a mulher
maluca para na porta com uma mão no peito.
— Vão querer um lanchinho? — indaga mal conseguindo
falar.
Meu tio começa a gargalhar, e eu puxo o travesseiro
escondendo meu rosto. Eu odeio quando eu me lasco, e eles usam
isso como entretenimento. Droga, eu sofro tanto. Eu tomei no rabo?
Tomei. Pronto.
Meu tio me cutuca novamente e começo a rir, com ele me
agarrando.
— Ah, filha... Da próxima vez, me escuta! — ela diz alto.
Pedi ao Dionísio para buscar a Violeta, pois precisava
terminar algo que comecei assim que cheguei no meu apartamento.
E sei que, quando for a Monte Amor ainda essa noite, os problemas
daquele lugar vão me atrapalhar. Meus pais e Naomi não param de
me ligar, e sei o motivo, mas não quero ter que lidar com isso por
telefone. Quando eu for falar com eles, já conto a verdade por
inteira, isso inclui a merda que Michael anda fazendo. Se ele abrir a
boca à imprensa sobre Violeta e eu, ele não terá tempo de respirar,
antes que eu acabe com a vida dele. Aquela merda de ameaça não
me amedrontou. O que me causou a raiva foi o modo como ele falou
dela. Isso eu jamais permitiria vindo dele ou de qualquer outra
pessoa.
Me ajeito na cadeira do escritório, e volto a atenção ao papel
a minha frente, e ao lápis em minhas mãos. Estou dando vida a
mais uma inspiração. Eu não sei até quando esses relapsos de
inspirações vão surgir, mas eu precisava me arriscar. Deixei de lado
algumas coisas da Sunshine, como os preparativos do evento que
teremos, e todas as outras burocracias da revista, para focar nisso.
Estou quase terminando, e dessa vez é um vestido acompanhado
de um casaco.
Bebo um pouco da água, e observo o que vai surgindo a
cada detalhe, traçado, tudo surgindo como antes, quando as coisas
não tinham perdido o rumo, e eu não sentia culpa por não ter sido
aos meus pais o que prometi antes de sair daquela cidade e tudo
mudar, e nos afastar.
Faço a parte final, e largo o lápis, assim como os óculos de
grau, e admiro o que foi feito. Sorrio como um idiota, porque é como
se o Natan de anos atrás estivesse surgindo em mim mais uma vez.
Pode uma pessoa ter duas versões e elas se
desconectarem? Claro que pode. Eu vivi isso esses anos todos.
Deixo as folhas sobre a mesa, e saio do escritório
carregando o copo. Não tirei a roupa ao chegar, apenas me desfiz
dos sapatos, e gravata, então abri a camisa social, e deixei aberta,
entrei naquele escritório e comecei a dar vida a imaginação e
criatividade.
Ouço a fechadura eletrônica do hall de entrada do elevador
ao acesso a cobertura, e sei bem de quem se trata. O meu
problema diário, a dona dos meus pensamentos mais impuros
ultimamente, e a praga que vai me deixar a beira do homicídio.
Deixo o copo sobre a ilha da cozinha e vejo-a entrando, com
a bolsa apenas, já que nem precisamos de mais nada, tudo está em
Monte Amor.
— Sabe, no auge da minha vida, nunca pensei que teria que
me preparar para me foder e fugir de uma cidade quando a verdade
viesse... — Ela me encara, e desce o olhar pelo meu corpo, então
pigarreia. A garota é uma safada dos infernos. — Então... O que eu
dizia? Esquece. Não importa. Natan, eu não quero morrer! —
Aponta na minha direção, e joga a bolsa no sofá, passando por mim.
— Evoluindo no seu modo de chegar na casa dos outros? —
indago e ela se aproxima, sentando na banqueta, e me encarando.
— Quando tudo isso der merda, essa cobertura será pouca
para passar ao meu nome, porque vai me lascar inteira — fala e
abro a geladeira, dando um sorriso. — É, eu preciso pensar antes
de formular alguma frase.
— Está com fome? Posso pedir algo para comer antes de
irmos. Eu não vou parar em porra de motel! — aviso e ela ri.
— Faz Tudin, um motel tão fofo daquele. Deixa de ser
metido! — Retira a jaqueta preta enquanto fecho a geladeira,
confirmando que não tem nada, já que não estou ficando aqui.
Está com um cropped rosa-claro escrito: “às quartas usamos
rosa”. Ergo a sobrancelha.
— Hoje não é quarta — falo, me apoiando na ilha e ela olha
para a própria roupa.
— Eu sei. Mas já viu eu fazendo algo corretamente? Agora
pede algo para comermos, porque olha, tudo hoje está muito
maluco! Virei piada em casa, e quase esganei minha mãe e meu tio.
Só me resta a comida para me trazer paz — dramatiza e nem perco
meu tempo questionando o porquê virou piada, já que vai criar todo
um cenário maluco devido a sua imaginação peculiar.
Penso no jeito dela de transar, mas seria escroto para
caralho dizer isso. Então penso no jeito que ela escreve, e sim, ela
faz coisas corretamente, mas quando quer.
— Pegue meu celular no escritório, por favor. Move um
pouco dessa bunda, que vai te animar — provoco sem poder me
controlar, e ela me encara irritada.
— O dia que eu morrer, vocês vão se arrepender por terem
me feito sofrer! — Desce da banqueta e por pouco não cai.
Ajeita a calça preta de cintura alta, marcando completamente
sua bunda, e segue para o corredor. Balanço a cabeça, e respiro
fundo, tentando focar em outras coisas, porque problemas não
faltam.
Aguardo pelo retorno dela, mas demora e resolvo ir atrás, já
que ela é como criança, quieta demais significa problemas.
Entro no escritório e ela está diante da mesa olhando os
croquis e sorrindo. Não nota minha presença, então, quando a
abraço por trás e beijo seu pescoço, ela se assusta me fazendo
sorrir; ultimamente ela tem conseguido muito isso de mim.
— Você fez isso hoje? — questiona.
— Uhum... Não é algo grandioso, mas não quis deixar de
tentar o que estava imaginando — falo a verdade, não preciso
mentir ou me gabar. Eu reconheço que estou há muito tempo sem
fazer essas coisas. Eu fiz um vestido antes desses, mas tudo
envolvendo essa loira diabólica.
— Não entendo nada, mas eu usaria. Estão incríveis aos
meus olhos, Natan. É... perfeito... — Deixa-os sobre a mesa, e se
vira de frente para mim, sorrindo ainda mais. — Estou feliz que está
conseguindo. Não sou a pessoa mais indicada para falar de sonhos
com alguém, mas, se esse é o seu, investe. Já tem roupas,
acessórios, luxos demais. Não precisa investir mais neles. Está na
hora de investir no que deixou adormecer dentro de você. — Beija
meu rosto e pega meu celular. — Conselho dado, quero comer.
Pego o celular de sua mão e ela caminha para fora do
escritório.
— Como se mantém magra, comendo tanto e muita
besteira? Malhar eu duvido que seja algo do seu feitio. Sabe o que é
uma academia, Violeta? — Caminho para fora e ela ergue a mão
me mostrando o dedo.
— Deve ser o sexo frequente, ele queima muitas calorias,
não é o que falam? — debocha.
Filha da puta.
Não perderei meu tempo me estressando. Deixarei para
gastar com o estresse em Monte Amor.

Comemos a comida italiana que foi a escolha dela, e


estamos no meu quarto, com ela deitada de bruços na minha cama,
enquanto separo a roupa para tomar um banho e pegarmos a
estrada.
— Esse lugar é lindo, faz sentido viver trancado aqui, sem
viver lá fora.
— Eu nunca sei quando está elogiando ou me irritando,
normalmente ambos se conectam. — Saio do closet e coloco as
coisas sobre a poltrona.
Ela está pensativa e sorrindo de um jeito estranho.
— Gosto de te tirar do sério, me diverte. — Brinca com os
anéis em seus dedos.
Retiro a camisa de vez e me sento na outra poltrona livre,
observando-a.
— Mais problemas em casa? Precisa me falar, eu quero te
ajudar, garota.
Desvia o olhar e nega rindo baixinho.
— Isso não é sua obrigação, Natan. Vai ficar tudo bem.
— Violeta, me fale. Me deixe te ajudar. Não quero nada em
troca. Isso de noivado fake, o dinheiro, nada disso tem com o que
estou dizendo agora. Eu quero te ajudar, mas preciso saber a
verdade sobre tudo — falo sendo paciente, porque sei o quanto é
difícil admitir que precisamos de ajuda. — Olha para mim, e me fala.
Me encara sem jeito.
— Eu não quero que você sinta que precisa viver me
ajudando. Por isso nunca abri a boca. Eu não quero isso. Não é sua
obrigação. Somos apenas amigos, e sou sua funcionária também.
— Prende uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Transamos, nos beijamos, dormimos na mesma cama,
acho que já passamos dos limites de amizade, funcionária e chefe.
Na hora de jogar qualquer coisa na minha cara, me cobrar por não
agir em relação aos meus sonhos, tem uma boquinha bem atrevida.
Mas quando é sua vez de estar do lado que precisa pedir ajuda, e
falar o que está havendo, recua. Você também foge, Violeta. Eu li
seus textos, eu te disse. Escreve bem pra caralho, mas fica vivendo
o que não quer para agradar as pessoas... Eu estou te dando a
chance de falar o que precisa, para que possa ficar com a cabeça
livre e se entregar ao que tanto quer fazer, que é escrever. Não sou
idiota. Mas precisa se comunicar também.
Respira fundo e se levanta, sentando-se direito na cama, e
agarrando um dos travesseiros.
— As coisas só complicaram um pouco. Fiquei sabendo
antes de viajarmos. A dívida, os problemas da minha mãe... Tudo
está um pouco complicado, mas não quero ficar pensando nisso, só
vai me preocupar e chatear mais.
— Qual o valor de verdade dessa dívida? — Espero pela
resposta que duvido que venha.
— Nem eu sei. Fiz uma cagada na soma, e quem sabe
corretamente é meu tio. Mas isso não importa, Nate. Prometeu não
me olhar com pena ou coisas assim, lembra?
— E não estou fazendo... Faremos assim, vamos resolver
essa situação em Monte Amor, e, assim que retornarmos, vamos
lidar com isso. Eu vou quitar essa dívida, e cuidar do tratamento da
sua mãe.
Ela me olha assustada, pálida.
— Q-que? Não! Natan, e-eu não pedi isso. Isso é loucura.
Eu... Tem ainda o dinheiro do acordo... Não! — grita assustada.
— Pegue esse dinheiro e invista no seu sonho. Só prometa a
mim, que, se for deixar de vez aquela revista, não deixará a minha
vida. Por mais irritante que possa ser, eu me apeguei às suas
loucuras. — Sorrio. — Te prendi demais em uma coluna fracassada,
apenas para te manter comigo. Está na hora de deixar de ser
egoísta, e deixar viver o que nasceu para ser. E vou querer ser um
dos primeiros a ler essa história que está escrevendo quando
estiver...
Não termino de falar, ela corre na minha direção, se jogando
em meu colo, e me agarrando. A minha garotinha chora, e me
preocupo em ter dito algo que a magoou, mas ela apenas ri em
meio ao choro.
— Eu sei que me odeia, mas aí tentar me matar é demais!
Natan... Isso é loucura. E nunca quis sair de lá, só escrever algo útil,
bom. Droga, por que tem que ser um lorde às vezes? Porra! E não
vai bancar nada!
Ela não facilita!
Aperto seu corpo ao meu, e meu coração dispara. Não, isso
não é indício de uma morte precoce. Já ouvi muito da boca dos
meus pais e irmã... Só não sei se estarei pronto para admitir que o
que ela me causa além de tesão, inspiração, é am... Fecho os olhos
com força, e ela beija meu pescoço, e como um bom tarado por ela
que me tornei, puxo seu rosto e beijo sua boca atrevida, gostosa.
Ela agarra minha nuca, e se esfrega em meu colo, com
minha mão livre apertando sua bunda com firmeza, roçando seu
corpo ao meu. Seu cropped sobe, e descubro que está sem sutiã,
quando seus seios roçam meu peito nu, e arrancam um gemido
dela. Meu pau endurece como um bom rendido a essa garota.
Ela sai do meu colo, largando minha boca, e fico vendo a
cena. A loira começa a se despir à minha frente, me dando o prazer
dessa visão perfeita. Seus seios fartos, seu corpo lindo, a boceta
chamativa... Gostosa demais!
Completamente nua, se ajoelha à minha frente, me deixando
saber exatamente o que pretende quando abre meu cinto e minha
calça, e começa a descê-la por entre minhas pernas, com minha
ajuda. Não falo nada, apenas observo a cena, quase gozando
apenas com isso. Minha cueca é a próxima a ser jogada longe do
meu corpo, e resta apenas meu pau, ereto, inchado, louco para
gozar nela.
A safada apoia as mãos em minhas coxas, me arrepiando
com suas unhas, e me fazendo arfar de tesão. Desliza a língua por
toda a base, e chupa apenas a cabeça, rodeando a língua ao redor.
Travo o maxilar com a sensação que me deixa louco.
— Então, chefinho... Será que mereço uma promoção de
sentar no seu colo, após chupar bem aqui? — Desliza a língua mais
uma vez, e agarro sua nuca puxando seus cabelos com força.
— Não me provoca, caralho... — digo entredentes e ela sorri.
Violeta coloca meu pau em sua boca, e começa a chupá-lo, e a filha
da mãe não começa devagar. — Violetaaa! — Abro os lábios e
gemo forte.
Ela me chupa tão bem, indo ao limite, tomando cuidado com
os dentes. Ela me suga forte, me devorando bem gostoso. Deixo-a
controlar, mesmo segurando seus cabelos na mão.
A diabólica começa a se tocar enquanto tem meu pau em
sua boca, e se ela quer me matar, está encontrando o jeito certo
para isso. Geme com a boca cheia, e isso me faz gemer mais alto
ainda.
— Senta no meu pau agora... Vai ter outras... oportunidades
de sentir minha porra… nessa boca!
Puxo-a e ela não recua, mas se senta de costas, encaixando
sua boceta no meu pau, e sentando de uma vez.
— Quer me matar, caralho?! — Seguro sua cintura e ela ri
manhosa.
Ela fica agachada em cima de mim, com as pernas nas
laterais livres da poltrona espaçosa, e começa a quicar assim, em
cima do meu pau, com as mãos apoiadas nas laterais da poltrona, e
gemendo como uma louca, e me deixando com o triplo de tesão que
já estava.
Deixo-a se divertir assim, sentando forte em mim, até puxar
seu corpo para trás, colocar suas pernas nos braços da poltrona,
sua cabeça deitar em meu ombro, e eu fodê-la bruto, metendo nela
arreganhada em cima de mim, choramingando, gemendo forte.
Aperto seus seios gostosos, e desço uma mão para a sua boceta,
massageando seu clitóris.
— Está tão encharcada, que não quero sair de você tão
cedo... Quero passar a noite te comendo, garota! — Minha voz é
quase falha.
— Faz... Me... come a noite toda... Nataaan! — grita
desesperada.
E é o que farei. Pela manhã retornamos a Monte Amor, essa
noite quero apenas passar assim com ela, metendo nela sem parar.
— Está me apertando demais, minha cadelinha... Porra... —
Puxo seu seio e ela grita.
Violeta chora quando o orgasmo começa a dominá-la, e
começa a estremecer bem forte, mas não a solto, até estar gozando
nela, colocando toda minha porra em sua boceta, enquanto ela me
engole, apertando, gemendo bem gostoso.

Estamos deitados em minha cama, ela está completamente


nua, assim como eu. Suas pernas sobre as minhas, e minha mão
acariciando suas costas e indo até sua bunda, lento, calmo.
Já tivemos duas rodadas de sexo, e quero muito ir para a
próxima, mas respeito seu corpo, seus limites. Ela está cansada,
sua boca inchada, e sua boceta avermelhada, pelos tapas que dei,
assim como sua bunda.
— Vai parecer estranho se eu disser que estou gostando
disso? — questiona me fazendo olhá-la.
— Não. Tudo que era para ser estranho tem se tornado
nosso normal ultimamente.
Ela assente e toca meu pau lentamente, e ele estremece ao
toque de sua dona… Porra, olha o nível dos meus pensamentos!
— Agora não... Está cansada. Descanse um pouco. — Beijo
sua boca com cuidado e ela ri.
— Não estou dolorida e nem ardida. Se amanhã eu não
andar, nosso único problema será saber como irei correr da sua
família.
Começo a rir e ela monta em cima de mim.
— Eu vou livrar essa bunda deles. Está na hora de consertar
a merda que criei.
Apoia as mãos em meu peito e aproxima o rosto do meu.
— Concordo, mas antes vamos aproveitar mais. Não é todo
dia que tenho um velhote para transar!
Acerto sua bunda e ela gargalha.
Observo a placa de entrada da cidade de Monte Amor, e se
eu estava sentindo a morte, agora eu estou me sentindo sendo
carregada por ela. Isso tem tudo para dar errado. Não existe
chances de tudo isso terminar bem.
— O que está havendo? Veio o caminho inteira calada. Isso
é um recorde. — O infeliz, dirigindo como um gostoso, me olha
rapidamente de lado e eu só quero gritar.
Vejo as pessoas da cidade que é um amorzinho, e só
consigo pensar que Monte Amor vai virar Monte Terror. Observo o
monte enorme, o da porcaria da lenda, que realmente parte da
cidade pode ver, e só consigo ver o meu corpinho virando uma rosa
morta, e servindo como parte dois da lenda: A história em Monte
Amor se repete.
Que porra, hein!
— Natan, pensa bem... Para que falar? Deixa a gente dizer
que terminou e pronto. Era esse o plano inicial, lembra?
— Era. Até eu ver o quanto estava se prejudicando nessa
merda. E nas merdas que Michael disse — só em citar o nome do
vigarista safado, seu tom de voz e expressão mudam.
Ele me contou de madrugada tudo, pedi, e me choquei. Não
esperava pelas respostas que ouvi, nunca imaginei que Michael
pudesse ir tão longe assim. Ele tem tanto medo de Natan fazer a
cabeça da família, que é capaz de qualquer coisa para prejudicá-lo,
antes de ser escorraçado daqui.
Um lado meu fica assustado com isso, as coisas que ele
sabe e desconfia, mas o outro bem idiota se sente feliz por saber
que toda a pancadaria se deu por Natan ficar puto com o que ele
disse sobre mim.
Droga, talvez minha mãe tenha razão. Ela sempre tem. Se
eu realmente acendi a chama adormecida entre nós dois, eu vou me
lascar, e, pelo modo que tudo anda se encaminhando, irei descer de
ponta-cabeça aos problemas e sozinha.
Maldita foi a hora que aceitei tudo isso... Ou não.
Ele tentar me ajudar, só piora tudo que estou sentindo. É
algo que nunca deveria acontecer. Ele é o demônio que eu deveria
espetar com todos os alfinetes, mas não, eu tinha que sentar nele e
gostar. É tipo ir ao inferno, sentar no capeta e gemer de prazer.
ISSO É LOUCURA!
O carro entra na chácara e estaciona ao lado dos outros.
Sair do carro é quase a morte para mim.
A porta da frente se abre, e já espero pelo tiroteio, mas antes
fosse, pois quem sai correndo e se joga nos braços do Natan é a
boneca do mal, a Chucky. Seu tio a agarra, se abaixando à sua
frente.
— Meu amor, tudo bem? — questiona acariciando o rosto da
garota.
— Sim... Pensei que não fosse voltar!
Eu queria que ele não voltasse, pode crer.
— O tio precisa conversar com você depois. Talvez amanhã.
— Eba! Amanhã não tenho aula, podemos ir! — Ri
animadinha.
Se sobrevivermos, ele pode sumir no mundo com ela, que eu
irei sair dando cambalhotas nessa cidade.
— Perfeito, princesa. Agora me diga, seus avós e sua mãe
estão onde?
Ela faz uma carinha que não gosto. Me arrepia toda.
— Tá encrencado! Vovó está nervosa, o vovô bem sério, e
mamãe, como a Hortência e a Zafira falaram, está soltando
fumacinha. Eu acho que você e o papai vão ficar de castigo. — Faz
uma careta, e Natan se levanta. — Estão no escritório do vovô
esperando você.
Hortência berra o nome da pequena.
— Vai. Tem aula, amor.
— Me busca na escola? — indaga e ele assente.
Eu queria ter a confiança dele de pensar que vamos sair
vivos. Ela me olha e dá um sorrisinho, e, Deus me livre, nunca sei
quando ela está sendo positiva ou não.
Retribuo apavorada.
Faz um sinal para mim e tenho que abaixar à sua frente, não
porque quero, mas porque o tio dela, o imbecil, me empurra.
Coloca a boca em meu ouvido, e tampa com a mão, como se
fosse contar um segredo.
— Obrigada. Você foi legal aquele dia. Mas, se tentar tirar
meu titio de mim, eu vou pôr lama na sua cama, e formiga nas suas
gavetas.
Engulo em seco e ela beija meu rosto saindo em disparada.
O inimigo me beija no rosto!
— Natan... — Minha voz é trêmula. — Natan...
— Que foi, Violeta?! — resmunga.
— Sua sobrinha... Eu tenho pena da mulher que se tornar
sua esposa. Aconselhe a ela a nunca ter uma gaveta de roupas
aqui, e jamais se deitar em sua cama! — Levo uma mão ao peito e
ele me olha como se eu fosse doida.
— Vamos entrar, e pare de loucuras. E que porra de esposa?
Violeta, eu não caso!
— Faz bem, meu caro... Faz bem! — Dou tapinhas em suas
costas e ele continua me olhando de lado.
— Vamos!
— Nem pensar. Não ouviu a pequena demônio? Sua mãe vai
atirar na gente, seu pai nos enterrar, e sua irmã atear fogo, pois já
está soltando fumaça. E sua sobrinha, jogar a areia final e pisotear o
túmulo. — Encosto no carro, agarrando a bolsa. — Nesse lugar não
entro!
— Ela não disse nada disso. Move esse rabo para dentro de
casa, ou eu juro que te arrasto de ponta-cabeça! Vai logo, cacete!
— Natanzinho... Coisinha linda, pensa comigo... Para quê?
Já fodemos tudo, literalmente. Deixa como o plano inicial. Comecei
a achar ele perfeito! — Sorrio para tentar convencê-lo.
Ele esfrega a têmpora e leva uma mão ao bolso. Em breve
explode de raiva. Se aproxima de mim, e segura meu rosto com
ambas as mãos.
— Beijos não me compram... — Ele me beija com calma e
vou me derretendo toda. — Talvez um pouquinho...
— Está mais tranquila agora? Ninguém será morto,
enterrado, ou a merda que for. Vamos entrar, minha linda? — Me
beija de novo e praticamente falto desfalecer com o jeito calmo e
gostoso de me beijar, e a voz sedutora.
Assinto bem tonta, e ele entra comigo segurando sua mão.
— Epa! Isso não se faz... Jogo sujo, Natan Valle!
O filho da mãe pisca para mim. Ele já me conhece, sabe
como me fazer relaxar e ceder... Babaca.
Solto sua mão e ele olha conforme caminhamos rumo ao
local de onde acontecerá o crime.
— Se quer falar a verdade, entrar de mãos dadas não vai
facilitar. Agora faz logo isso, porque eu estou tendo um treco. A dor
de barriga está triplicando em um nível bizarro. Natan, se eu morrer
por sua causa, eu volto dos mortos para te assombrar dia e noite.
— Então não preciso me preocupar muito, já tem feito isso
em vida.
Fico boquiaberta com a ousadia do diabo. Olha só!
Ele bate na porta e eu estou gelada, vou cair dura em breve.
A porta é aberta e seu pai nos olha, e educadamente me
lança um sorriso.
— Querida, pode esperar aqui fora? Esse assunto precisa
ser apenas entre nós — seu Ruben diz, e nem precisa implorar.
— Claro!
Saio às pressas, sentindo o olhar de Natan queimar as
minhas costas.
Me sento na sala, agoniada, pegando o celular na bolsa, e
vendo que estava no silencioso. Minha família e amigas sabem que
hoje diremos a verdade a eles, falei cedinho com eles. As meninas
queriam mais detalhes, e acabei contando que transamos, e que as
coisas perderam o controle. Olívia surtou, Nina quer ser madrinha,
minha mãe sente que tudo ainda vai piorar e meu tio nos vê com
dois filhos.
No final, todo mundo vai parar no mesmo hospício.
Está lotado de mensagens no grupo, ligações perdidas da
minha mãe e meu tio, e até da Olga. Abro uma das mensagens,
acreditando que o mundo está se acabando, porque só isso para
todo esse caos. Mas um friozinho na barriga, misturado a dor,
começa a ser acompanhado de uma tremedeira, ansiedade e
coração acelerado.
Algo dentro de mim grita que é um problema, e não poderia
estar mais certa.
Abro os links enviados, e Natan Valle e eu estamos
estampados em diversas fotos, e todos dizendo “Natan Valle está
noivo de sua amiga e funcionária, a jovem Violeta Matos”. Eu sinto
uma tontura, e a morte me acalentando.
Começo a passar o olho rápido, e pelo que entendi, tudo
aconteceu por causa das fotos que fiz em Vegas, eu não tirei o
maldito anel, que nem lançado foi ainda, a Sunshine recebeu com
exclusividade para a matéria, e vazaram a informação que Natan
Valle comprou. As fotos, a viagem, tudo isso se conectou. Tem fotos
do carro saindo da garagem dele hoje, e o vidro aberto pegou nós
dois. Imagens nossas andando de mãos dadas em Monte Amor,
onde falam que vieram investigar mais da história, pois o homem
que nunca esteve em um relacionamento, e é um dos solteirões
mais cobiçados de São Paulo, estar saindo com alguém com anel
de noivado e tudo, é um evento histórico.
Envio uma mensagem com as mãos trêmulas ao Natan, mas
ele não vê. Se ele falar a família que tudo isso é mentira, será pior
agora, porque citam a Amores do Valle, a empresa da família dele,
que acreditam que serão os organizadores da festa. Citam o
casamento da Naomi... Inferno... A família nunca vai perdoá-lo por
colocá-los em vexame público, porque terá que desmentir
publicamente, afinal, como hoje saímos do apartamento dele e
horas depois estamos separados ou a porra que for? Vão acabar
com a vida dele na mídia, prejudicar a revista que está prestes a
fechar contrato internacional, expor mais ainda a família dele, e a
minha.
Levanto-me, passando mal de verdade. E caminho
lentamente até o escritório. Bato na porta, e quem sai é Naomi.
— Vilu... Tudo bem? Está pálida. — Ela me toca e assinto no
automático.
— Eu preciso falar com seu irmão... Agora. — Engulo em
seco.
Natan aparece na porta e a escancara. Ele me olha
assustado, e meu pé vacila. Me segura rapidamente em seus
braços, e minha visão vai ficando cada vez mais turva. Eu acho que
vou cair dura.
— Violeta, o que houve? O que aconteceu? Violeta?!
Sua voz vai ficando distante.
— Mídia... A gente... Noivado... Fui... Com... Deus... —
minha fala fica mole.
— Hã?
Tudo fica escuro.
Fecho a porta do meu quarto, após o médico, amigo dos
meus pais, sair. Segundo ele, ela está muito estressada, e teve um
pico de emoções fortes, precisa descansar bastante hoje, e amanhã
já estará renovada, mas ainda precisará se alimentar melhor, ter
boas horas de sono, e, se continuar assim; procurar um hospital.
Ela me deu um susto enorme, mas já sei o motivo. Assim
que acordou só falava disso, e só parou quando o médico chegou.
Minha família está na sala, queriam estar aqui, mas não deixei. Será
demais para ela.
Porra, que susto!
Caminho até ela, me sentando ao seu lado, e ela se ajeita.
— Nunca mais me apronte uma dessas. Caralho, Violeta...
Porra! — Meu coração está acelerado, estou desesperado.
— Fala com meu corpinho, meu bem! — Esfrega o rosto. —
Estou bem. Vaso ruim não quebra... Merda, acho que acabei de me
chamar de coisa ruim! — Sorri e reviro os olhos, deito-me ao seu
lado, e agarro seu corpo.
— Nunca mais me dê um susto assim, é sério. Nunca mais,
Violeta! — Fecho meus olhos inalando seu perfume, escutando sua
respiração e tendo a certeza de que está bem. — Como está se
sentindo? Vamos ao hospital... Esse médico talvez não tenha
avaliado direito.
— Deixa de ser maluco. Ele avaliou. Só faltou me virar de
ponta-cabeça. Estou bem, Nate... Juro... Só estou com um
pouquinho de dor de cabeça. Quando vi as notícias...
— Ei, não vamos falar disso agora. Eu vou resolver essa
merda. Eu prometo.
— Não! — Me olha e seus olhos me prendem a ela. Parecem
com os de uma boneca. — Não podemos desmentir mais. Se não
falou nada, não abra a boca. Seguiremos com o plano. Esperamos
um mês a mais, e desfazemos dizendo que não deu certo. Agora
com a informação na mídia, a gente sabe como isso vai ser,
trabalhamos no meio disso. Eles vão especular o porquê
terminamos, e terá que dizer a verdade a eles, que nunca existiu.
Eles vieram a cidade, investigaram, todos aqui sabem que está
noivo. Não tem como dizer que coletaram informações erradas. E
sua família vai se lascar, assim como a minha, pois esse inferno
será maior. A gente os meteu nisso, e vamos ter que livrá-los sem
prejudicar ainda mais as coisas.
Sorrio e beijo sua testa.
— Quando vai parar de tentar livrar o rabo das pessoas de
problemas, e começar a pensar mais em si mesma? — pergunto e
ela balança a cabeça.
— É questão de lógica. Sabe disso. Eles têm fotos nossas de
hoje no carro, têm provas na cidade, o bendito do anel... Natan, está
prestes a fechar um contrato internacional, eles vão destruir sua
imagem se desconfiarem que tudo foi mentira. Sua família pode
perdoar a mentira, mas ela agora publicamente? E minha mãe, ela
vai jogar a vida inteira na minha cara que me avisou, e eu não terei
como dizer o contrário. Mais um mês, para abaixar a poeira, e você
solta a nota que terminou a relação, que partiu de você.
Franzo o cenho.
— Por que partiria de mim?
Ela baixa o olhar e abraça minha cintura.
— Porque está na cara que eu não teria como terminar com
você. É mais fácil eu sair como a interesseira que é o que logo
dirão, e você o pobre coitado, do que eu sair disso como a jovem
que deu um pé na bunda de Natan Valle. Como eu disse, somos
desse meio, sabemos que tipo de notícia funciona. E para fechar
esse ciclo de vez, é melhor você me tornar a vilã, que não é como
se eu já não fosse em sua vida. — Ri baixinho e ergo seu queixo.
— Eu não vou mandar você ir para a puta que pariu, porque
te respeito, e está mal. Mas jamais ache que é a vilã na minha
história, e nunca mais pense que eu te daria um pé na bunda,
porque você sim faria comigo, e sabemos disso. E foda-se se vão
espalhar que é interesseira, porque eu sei que nunca foi. Não queria
o anel que quis te dar, só ficou com o vestido do evento porque
molhamos ele no banho, e eu coloquei em sua mala, e vai tentar me
enrolar para não ajudar sua família... Você vive renunciando aos
seus sonhos, das coisas que quer... Que tipo de interesses você
tem? Em se autoprejudicar? Só se for. Para de fazer isso, para de
tentar cuidar de todo mundo, de tentar livrar meu rabo dessa merda
que eu criei — peço e ela nega.
— É o meu jeito. Meu tio diz que puxei ao meu pai nisso.
Não consigo ser diferente. Ainda mais se amo as pessoas. E eu
amo você, Nate, mesmo quando abusa da minha humilde paciência,
me fazendo arrancar porra de alfinetes de roupa, limpar seu vômito,
e te aturar. Eu sei que mentiu, e nunca deveria ter feito isso, mas
esses dias grudados, eu tive mais certeza do porquê fez isso. Só é
solitário demais e confessar isso em voz alta, assumir que todos
tinham razão, dói, porque é assumir que não tem ninguém, mesmo
rodeado de pessoas. Poucos entendem esse sentimento. — Sua
voz é baixa, e me acerta bem no peito.
— Como sabe disso?
— Porque mesmo com Nina, Olívia, meu tio, mamãe...
Mesmo tendo essas pessoas, me sinto assim também, e acho que é
isso que nos conectou, sabia? Nossa solidão nos uniu. — Dá de
ombros.
Respiro fundo e beijo o topo da sua cabeça.
— Você é muito especial para mim, Violeta, mesmo tendo a
certeza de que essa cumplicidade vai ser meu maior problema.
Ela ri e beija meu queixo.
— Já está sendo, Natan... Agora busca uma água para mim,
vai... E pega o anel, precisamos terminar de lascar tudo. Está na
hora de terminar de brincar com o destino.
— Acha mesmo que o destino queria a gente junto? Ele nos
odeia a esse ponto? — provoco, apenas para ver sua cara de
marrenta e funciona.
— Ele me fez desmaiar nos seus braços. Olha o melodrama.
Ele não nos suporta e mamãe disse ontem, antes de eu ir para sua
casa. Disse que acha que o destino vai revidar pior ainda, por
estarmos brincando com um dos principais aliados dele: o amor.
— Quantas vezes ela esteve certa? — indago levemente
preocupado.
— Todas. Todas as vezes dona Zulmira esteve certa. Olha,
estou começando a ficar tonta de novo. — Ela se afasta deitando-se
de braços abertos na cama. — Se eu morrer, pode, por favor, me
enterrar de rosa? Uma das minhas cores favoritas, você sabe.
Olho-a de rabo de olho. Está ficando ótima, já está me
irritando. E não é uma das, é a sua favorita.
Levanto para pegar a água dela, antes que meu carinho dê
lugar ao assassinato.

Violeta segue deitada, após eu levar a água que queria, e


acabou dormindo. Será melhor, ela dormindo me deixa
despreocupado por pensar que vai aprontar alguma maluquice ao
invés de descansar.
Meus pais estão no escritório, e estou com eles. Naomi teve
que ir ao escritório da Amores, mas quero conversar com ela
depois.
Estão preocupados com a Violeta e não é para menos, até
eu estou depois desse desmaio, e, pelo jeito, ela conquistou até os
funcionários. Hortência pediu para prepararem uma sopa bem forte,
aproveitar que está um pouco frio na cidade. Zafira foi a São Paulo,
e questionou se precisa trazer algo a mais a Violeta. Naomi disse
que vai trazer uns doces para animá-la, porque eu disse que tudo
isso veio do estresse da imprensa, bom, não menti.
— Eu sei que é um momento delicado, a imprensa causando
estresse em nossa menina, mas precisamos conversar sobre o que
aconteceu entre você e Michael. Melinda estava em estado de
choque quando chegamos, chamando por você, pela mãe e a
Violeta.
Nossa menina…
Não deixo de notar o carinho nas falas de meu pai. E sorrio
ao ouvir que Melinda chamava por ela, pois nem parece que existe
um conflito entre ambas.
— Filho, o que aconteceu para tudo isso? Michael não quer
nem mesmo estar em sua presença. Disse que você surtou —
minha mãe questiona, e me encosto na janela, com vista para as
árvores, o local onde tem as festas, e toda beleza desse lugar que
um dia foi cenário de muitas inspirações.
— Michael não é quem pensam. Naomi não pode continuar
com esse casamento. Ele a trai. Recebi fotos dessa merda. Acham
mesmo que eu iria surtar à toa? Eu sei que estamos muitos
desconectados tem bastante tempo, mas duvidarem dos meus
motivos quanto a ira, me deixa sem muito o que fazer além de
mostrar as fotos e acabar com esse circo todo que estão armando.
— Filho... — meu pai tenta falar, enquanto minha mãe se
senta no sofá entristecida.
— Não, pai. Michael usa essa casa, o dinheiro de vocês, da
Naomi, pouco se importa de verdade com a filha... Acham mesmo
que está ligando para toda essa palhaçada de casamento? O
casamento está às portas, ela está vendo vestidos, decidindo
detalhes finais... Porra, como pensam que me sinto, vendo-a
caminhar rumo à merda? Querem que eu fique na minha? Então
não me chamassem para vir a essa porcaria de cidade, para reviver
o inferno da perfeição que exalam aqui, porque sabiam que eu
jamais aceitaria isso, ainda mais agora! — me exalto. É a minha
irmã que está se prejudicando, e eu a amo a ponto de preferir que
sinta ódio de mim do que se case com esse idiota.
— Não exalamos perfeição, Natan! — meu pai grita. —
Quando viu algo perfeito aqui? Acha que não sabemos que Michael
não presta? Mas quer que agarremos ela pelo braço e a obrigamos
a não se casar? Ela o ama, e está cega nessa relação.
— Então seguram a mão dela e embarcam nessa canoa
arrebentada? Que merda é essa? Michael a trai, entendem isso?
Usa Naomi como banco! Enquanto ela se mata pela filha, ele está
com outra! — Encaro-os, sentindo uma raiva enorme.
— Eu sei, Natan! Eu sei! Mas é isso o que pais fazem. Nós a
alertamos, mas ela não consegue ver. Mas eu também não vou ver
minha filha sumir com esse homem e me deixar com coração na
mão! — mamãe diz alterada, e a olho. — Se fôssemos contra, ela
se casaria do mesmo jeito, mas sabe o que morreria? Nossa
relação. Melinda não ficaria aqui, porque ele pegaria o dinheiro dela,
e sumiria com as duas para qualquer outro lugar, como ele sempre
quis. Ele sonha em tirá-las daqui! Sonha ter tudo no comando dele!
Pode achar que somos uns pais de merda, mas fazemos até o que
odiamos para ter vocês por perto, para ajudar, proteger, mesmo que
isso signifique casar ela com quem não confiamos, e nos humilhar
para ter você aqui! — Sua voz é tomada pelas lágrimas e meu pai
se senta ao seu lado.
Meu coração se quebra com a cena. Ele abraçado a ela, e
ambos me olhando desse jeito.
— Eu... Eu nunca pensei que fossem uns merdas! De onde
tiraram isso? — indago assustado, nervoso.
— O que quer que pensamos? Some, mal nos coloca em
sua vida. Essa cidade sempre foi pequena demais para você e
compreendemos. Mas nunca imaginamos que São Paulo te
engoliria tanto, ao ponto de se esquecer de olhar para trás, e
lembrar do porquê tudo começou — meu pai fala e isso me atinge
de um jeito que me assombra.
Olho para eles sem poder mais ficar aqui.
— Eu preciso... Eu só... — não termino de dizer, não
consigo.
Saio do escritório, porque é demais para mim. É demais ver
que não tenho acertado com eles, e tenho sido tão recluso, que os
tenho feito pensar que eram péssimos.
Pego a chave do carro, e saio. Tenho que buscar Melinda
também, e preciso de ar.

Estamos na Aroma de Paixão. Pulamos o sorvete, pois está


frio e tudo que não preciso é deixar essa garota doente. Naomi já
deve estar me odiando o suficiente.
Ela quis chocolate quente e bolo de cenoura com cobertura
de brigadeiro. Eu apenas peguei um café.
— Titio, teve dia da família na escola. E mostrei foto sua.
Minhas amigas disseram que você parece bem jovem, e que é muito
bonito. Mas eu disse que já era velhote. — Dá de ombros e começo
a rir, limpando o cantinho da sua boca.
— Farei quarenta anos, não sou tão velhote, princesa.
— É sim. Quando fica bravo, parece que tem até mais. Tipo
cem anos. — Arregala os olhinhos e sorrio preocupado com minha
idade, como nunca fiquei. De repente, não desejo que vinte de
dezembro chegue. — E sua noiva querida, não veio por quê? —
questiona com certa ironia.
Às vezes, ela me faz duvidar da idade que irá fazer em
breve.
— Porque eu prometi uma tarde nossa e conversarmos, sua
encrenqueira. — Toco seu nariz com a ponta do dedo e ela ri.
— O que quer conversar? Manda aí.
— Primeiro, sua mãe tem que rever onde aprende a falar
desse jeito. E segundo, eu quero saber por que tem tratado a
Violeta tão mal? O que está havendo? É sempre bem carinhosa.
Ela bebe o chocolate e apoia as bochechas gordinhas nas
mãos.
— É simples! — responde como se fosse óbvio para mim. —
Ela vai se casar com você. Aí terão um monte de filhinhos e eu vou
ser ainda mais esquecida. Eu ouvi meus avós falando que você só
teria a Violeta, mas não é verdade. Tem eu! — responde bravinha, e
vejo minha irmã toda quando faz birra. — E aí a Violeta veio para a
nossa casa, e você só fica com ela. Antes eu até achei que não era
verdade, mas aí vão se casar que a vovó disse. — Faz beicinho e
seus olhos se enchem de lágrimas.
— Princesa, como pode pensar que eu irei te largar? Eu
nunca faria isso. O tio tem estado muito distante, mas isso não
significa que eu vá me esquecer da primeira garota mais linda da
minha vida. — Toco seu rostinho, e uma lágrima escorre. — Me
casar com a Violeta não quer dizer que ela será a bruxa má das
suas histórias de contos de fadas. Ter filhos com ela não vai fazer
com que eu te esqueça. É impossível te esquecer.
Enxugo a lágrima e ela funga. Pego o guardanapo limpando
sua boca novamente e ela sorri.
— É verdade isso? Nunca vai me deixar ou esquecer? —
Sua voz é manhosa e isso me faz rir, porque me lembra alguém.
— É verdade. Eu te amo, meu amor, nunca te esqueceria. —
Me inclino beijando seu rosto.
— Também te amo. Só sinto muita saudade. Podia vir me ver
mais! — Come mais um pedaço do bolo.
— Eu prometo tentar mudar isso, se prometer que vai
começar a pegar mais leve com a Violeta, tudo bem?
Ela concorda e bate na minha mão em um cumprimento.
— É engraçado ela com medo. — A danadinha ri. Concordo
porque é verdade. — Gosta muito dela, né? Seus olhinhos brilham
igual glitter!
A dona Clotilde, dona da cafeteria, e bem antiga por aqui,
para ao nosso lado, me salvando dessa pergunta.
— Que coisa boa ver vocês aqui. Menino, como cresceu.
Está um baita homão. Olha, se eu fosse mais jovem, essa cidade
seria pequena para o nosso casamento — diz, e Melinda ri. — Vai
casar, né? Ainda bem. Estava na hora de desencalhar!
E está aí o porquê essa cidade me irrita.
— Dona Clotilde! — Um rapaz loiro, que não faço ideia de
quem seja, se aproxima.
— Jonas! — Melinda se joga em seus braços, e fico olhando
a cena.
— Ah, esses dois. Sempre ela vem aqui, ambos só
aprontam, riem tanto que certeza que é coisa errada! Pelo jeito, ele
atrai as moças da sua casa. É a pequena Melinda, é a sua noiva...
Bato na xícara e o café vai por toda a mesa.
Caralho.
— Eita, titio! — Melinda diz, sendo colocada no chão.
— Não se preocupe, senhor. Vou já limpar. Acontece! — o tal
Jonas diz saindo às pressas.
Dona Clotilde sorri e acaricia a cabecinha da minha sobrinha.
— O amor é lindo. Só citar a noiva, e já fica todo nervoso.
Não fique, vai dar tudo certo. Já viu casamento aqui dar errado?
Essa cidade é um amor! — Ela acerta meu ombro e fico olhando.
Eu odeio as pessoas daqui. Isso é um fato consumado.
— Melinda, vamos. Tenho compromisso, princesa — aviso e
estendo minha mão.
— Sim, senhor! — Ela segura minha mão.
— Que isso? Fiquem. Jonas limpa rapidinho. O menino é
todo perdido, mas é um bom rapaz. Atrai clientela. Não sei se pelo
papo furado ou a beleza. Mas quem se importa? Meu bolso
agradece! — A velha, usando uma tiara de corações, ri.
Melinda começa a rir ao me olhar.
— Passar bem, dona Clotilde!
Saio às pressas dali, sob o olhar dos outros clientes.
Que porra é essa de encantar as mulheres da minha família?
Que caralho ele estava falando com Violeta? E que porra é essa de
intimidade com a Melinda?
Me sinto sufocado, quando a coloco no carro e prendo o
cinto de segurança.
— Tio, quantos filhos quer com a Violeta? Não quero dividir
você com muitos não!
— Que filhos, Melinda? — questiono me ajeitando no meu
banco.
Estou até com falta de ar nesse cacete.
— Ué, disse que não importa que vai se casar, ter filhos...
Blá-blá-blá... Titio, está bem?
Eu confirmei isso mesmo? Porra, eu estou ficando gagá.
Caralho!
Estou no gazebo, com o notebook do Natan no colo.
Consegui fazer mais uns horóscopos, e comecei a escrever mais,
deixar a inspiração falar comigo, sem medo. Mesmo depois de todo
o surto, o desmaio, eu sei que deveria estar lá dentro deitada
descansando, mas estou aqui escrevendo, com uma blusa de
moletom preta dele, o que me admira ele ter uma, todo fresco do
jeito que é, mas deve valer mais que meu rim, tal de Balanciaga.
Eu também precisava fugir um pouco de todos, antes que me
sufocassem com perguntas, mesmo sabendo que querem só ser
cuidadosos. O iceberg sumiu, não faço ideia de onde se meteu, mas
tendo em vista o caos criado, não irei me surpreender se descobrir
que ele fugiu para a montanha. Eu estou querendo.
Mas no meio dessa bagunça toda, eu tenho essa história que
não para de falar comigo, e quero muito ir até o final,
independentemente de dar certo ou não. Eu só preciso ouvir essas
vozes falando dentro de mim, que me acalmam.
Conversei com as meninas, mas não contei nada do que
está havendo entre nós dois, e já liguei acalmando minha mãe e tio
que estavam preocupados com as notícias, e é claro que eu não
abri a boca para dizer que desmaiei, ou teriam vindo imediatamente
para cá.
Copio tudo que criei e jogo em meu e-mail como tenho feito.
Era para eu trazer meu notebook, e acabei esquecendo. Dessa vez
verifico se não ficou nada salvo, não quero que o Natan continue
vendo, pois não sei ainda se está bom... Mas olhar essa vista, me
faz esquecer dos problemas, e focar na minha imaginação, e
automaticamente deixo tudo fluir.
Monte Amor é um encanto. O cenário de conto de fadas que
muitos procuram.
Abaixo a tela do notebook, e vejo Naomi caminhando com
uma caixinha em mãos, e por Deus, a última vez que ela trouxe algo
até a mim, terminou com um convite de padrinhos!
Coço a nuca com o nervosismo.
— Te achei! — A morena toda delicadinha sorri e se
aproxima, sentando-se na escada. — Doces para você. Vai levantar
o astral depois de toda a loucura. — Me entrega a caixinha.
Sorrio olhando, e deixo sobre meu colo.
— Obrigada — agradeço, e ela sorri. — Desculpe o show
todo, desmaio... — Faço uma careta.
— Para com isso, meu amor. Está tudo bem. Ser dessa
família é está preparada para essas situações sempre. Uma hora ou
outra o noivado de vocês vazaria a imprensa. Natan deveria ter te
preparado melhor para isso. A mídia pode ser intensa demais as
vezes — comenta e assinto.
— Já passou por algo assim? Não vejo citarem muito vocês.
— Deixo a caixa e o notebook de lado, e levo as mãos ao bolso do
moletom.
Ela encosta a lateral do gazebo, inclinando delicadamente as
pernas na escadaria, e me olha com atenção.
— Antigamente, logo que o Natan criou toda a fama, isso era
difícil. Aparecíamos na mídia por conta dos casamentos, mas depois
era um passo em falso e já estávamos na boca do povo. Isso não
era confortável para nós, e então ele contratou uma equipe de
relações públicas, que começaram a nos dar dicas de como evitar
sempre estar estampado em páginas de fofocas. Às vezes, ainda
saímos por conta da nossa vida pessoal ser muito conectada ao
público, mas nem chega perto de antes.
Faz sentido. Pouco se sabe sobre eles pesquisando o
básico.
— Esse lugar é lindo! — Olho ao redor e ela assente.
— Nunca pensei em sair daqui. Amo Monte Amor. Essa
cidade me traz paz. Mas Michael não é feliz aqui. Desde que
Melinda nasceu, que ele passou a morar aqui, as coisas
complicaram um pouco. Ele deseja morar na capital, mas sinto que
será uma mudança radical demais para ela. Aqui tem amigos, é
mais seguro, tem os avós, e tem meu trabalho. Eu não trocaria esse
lugar.
— Mas? — indago e ela me olha sem jeito.
— Casamento é ceder um pouco, não é?
— Depende ao que está cedendo. Ele te conheceu aqui,
certo? — concorda. — Então sabe o quanto aqui é importante para
você e a filha. A segurança dela, a sua felicidade, deveria ser
prioridade para ele. — Não controlo a língua. Quase morri hoje,
estou tacando o foda-se.
Ela ri baixinho e me sinto menos monstra.
— Não gosta dele também, né? — indaga e sinto meu rosto
esquentar. — Está tudo bem. Natan também não gosta, e sinto que
meus pais o respeitam e toleram por minha causa e da Mel.
— É só que ele... Quer que eu seja sincera? — Assente. —
Pelo pouco que vejo vocês, eu sinto que não estão na mesma vibe.
Naomi, quer mesmo se casar com ele? É exatamente isso que
deseja?
Ela me olha e vejo seus olhos marejarem.
— Eu o amo, Vilu. Só que nos últimos dias eu... — Respira
fundo. — Eu acabei descobrindo umas coisas que eu não queria... E
agora ainda essa briga dele com meu irmão... Parece que o dia que
era para ser perfeito está se tornando um pesadelo. Nesse final de
semana me caso, mas...
— Naomi, sei que se conselho fosse bom seria vendido e
não dado. Mas se eu fosse você, adiaria esse casamento, pensava
um pouco mais. Posso estar chegando agora, nem tenho voz aqui...
Mas, de coração, pense bem no que irá fazer. Essa decisão pode
mudar sua vida para sempre... Sua e a da Melinda.
Ela sorri sem jeito e pisca rapidamente.
— Obrigada por se preocupar. Às vezes, preciso de pessoas
assim por perto. Tenho amigas especiais, minha família, mas parece
que os de dentro não estão sendo “úteis” ultimamente.
Me arrasto, sentando-me ao seu lado, e a abraço apertado.
— Antes de continuar com esse casamento, converse com o
Natan. Ouça seu irmão. Ele é um idiota em grande parte, mas te
ama, e só quer o seu bem e da Melinda. — Afasto-me dela, que
enxuga o rosto rapidamente.
— Vou conversar. Hoje não tem como, pois Melinda o
alugou... Ah, e ele está atrás de você. Hortência quem te viu aqui e
avisou. Está bravo, pois a senhorita deveria estar repousando. Vim
para te chamar, e acabei te enchendo com coisas minhas. — Sorri
sem graça.
— Deixe disso. Não sou a melhor conselheira, mas no que
eu puder ajudar, farei.
Concorda se levantando, e estendendo a mão a mim. Pego
as coisas e saímos dali, com ela contando de um casamento que
estão organizando, homoafetivo, e pelo jeito será lindo. Pela
primeira vez vejo-a falar de outro casamento com mais entusiasmo
do que o dela que está às portas.
Entramos na casa e sinto o cheiro de sopa, que me lembra
de casa e faz meu coração esquentar. Nunca passei tanto tempo
longe de minha mãe. Estou sempre ali preocupada dela precisar de
algo.
— Hortência fez a nossa cozinheira preparar uma sopa para
você. Alguém será muito mimada por aqui — Naomi diz e reviro os
olhos. — Preciso ver algumas coisas do meu casamento. Depois
nos falamos — diz desanimada e assinto.
Ela se afasta indo pelo corredor, e eu respiro fundo, subindo
a escada.
Deixo o notebook e a caixa de doces no quarto do Natan, e
vejo o anel em cima da mesa de cabeceira. Coloco novamente,
afinal, essa mentira só prolonga. Ainda não tive coragem de olhar
minhas redes sociais. Provavelmente irei encerrar essas, fazer
novas e trancar, porque não quero o mundo vendo cada coisa que
posto. Antes era diferente, só cem seguidores. Agora, pelas
notificações que não param de chegar... Se bem que... Não, eu não
posso usar isso a favor de um futuro incerto. Nem sei se irei publicar
o que estou escrevendo.
Saio do quarto e sigo para onde tem vozes e risadas. O
quarto da garotinha do mal, está com a porta aberta. Paro diante
dela, e estão ambos na mesa de estudos ao lado, sentados
desenhando. Espero que a caneta não seja permanente, porque
Melinda está toda rabiscada.
Aproveito o foco deles e saio dali para explorar um pouco
mais da casa. Natan bravo comigo, significa eu tomando broncas
por não estar descansando.
Desço as escadas e sigo o barulho do som, e da cantoria
que começou. Paro na porta aberta, e vejo Ruben cantando e
dançando Exagerado, do Cazuza. Ele faz isso de olhos fechados, e
começo a sorrir da cena. Que coisa mais incrível. Energia boa, que
contagia.
Ele abre os olhos e me vê, então estende um braço.
— Não... Eu nem deveria estar aqui... — falo timidamente e
ele me puxa.
— Alegria. Quer melhor repouso que esse? Música, dança...
Ah, como eu amo a música. Ela expressa o que nem sempre
conseguimos colocar em palavras. — Me rodopia e rio. — Quando
tudo está ficando uma completa bagunça, é isso que me faz relaxar,
querida.
Dança me conduzindo, e começo a rir, sentindo uma leveza
maravilhosa me consumir.
— Lembro-me como se fosse ontem quando lançou. Peguei
Marietta e dançamos ao som dela na chuva. Era a cena de filme que
ela sonhava em fazer.
Posso imaginar eles fazendo isso, e deve ter sido muito
bonito.
— Eu gosto dessa música. E adoro a energia do senhor —
falo e sorrimos.
A música termina e paramos de dançar. Ele ainda cheio de
energia e eu procurando a alma que saiu do meu corpo.
— Eu adorei participar desse momento! — falo e ele ri.
— Sempre às ordens, querida. Quando tudo estiver uma
loucura, já sabe como extravasar. — Ele olha o relógio em seu
pulso. — Tenho que correr, Marietta está no mercado com a
Hortência. Foram e pediram para eu buscar.
Ele para à minha frente, e segurando meus braços beija
minha testa.
— Vou ficar mal acostumada assim — brinco ficando sem
jeito.
— Meu filho fez uma ótima escolha. Acho que a única que
ele sabe que acertou em tudo de verdade.
Sorri e sai me deixando pensativa.
Ah, se soubessem a merda toda... Respiro chateada, e saio
logo em seguida.
Volto ao segundo andar, e sigo para o quarto do Natan, onde
me deparo com ele, que me encara fechando a expressão. Fecho a
porta atrás, e sigo sorrindo para a cama.
— Estou me deitando, juro. Realmente estou me sentindo
cansada e estou respeitando meu corpinho. — Deito-me e ele me
olha como se fosse cortar minha cabeça.
— Repouso, Violeta. Foi isso que o médico pediu. E bastou
eu sair para você escapar daqui. Porra, quer me deixar louco? — Se
aproxima, sentando-se ao meu lado e me tocando no rosto.
— Natan, eu desmaiei. Não estou com febre! Além disso,
estava tomando um ar fresco. — Ele encara seu moletom e o vejo
tentando controlar o sorriso. — Peguei mesmo. Não me julgue.
— Não me importo que use minhas coisas. Só sossegue a
bunda. Eu vou tomar um banho, estou todo sujo das canetas da
Melinda. Pode ficar aqui, e quietinha nesse tempo? — questiona
como se eu fosse uma criança.
— Vai, homem. Vou ficar bem! — Sorrio e ele me olha
desconfiado. — Não precisa se preocupar tanto, Natan... É sério.
Ele fica me olhando de um jeito estranho, diferente, e isso
mexe comigo mais que o normal.
— Eu sempre vou me preocupar com você, Violeta. —
Acaricia meu rosto.
Meu coração sente essas palavras, assim como eu sei o que
essas batidas irregulares significam. Brincamos com algo que
retornou diretamente do modo que não deveria.
Cupido filho da puta, eu te odeio.
Mas eu não sou idiota, e, pelo jeito, mamãe sempre previu
isso. Dois anos de amizade, e todas as vezes que sempre me
deixou confortável, cuidou de mim, tudo virou mais que amizade, e
claro que viraria. Esse infeliz tinha que foder tudo no que deveria
seguir sem problemas. Mas então, a viagem, os sorrisos, toques,
beijos, sexo... Os malditos olhares... Destino, eu lhe desejo
parabéns pela grande merda em que me meteu.
Ou eu que me meti sozinha nessa bosta toda?
Ele aproxima o rosto do meu, e quando acho que vai me
beijar, ele se afasta rapidamente, e vai para o banheiro.
Fico olhando para o teto e uma lágrima escorre pelo meu
rosto.
Que problemão, Violeta... Que problemão. Justo ele? Não
poderia ser qualquer outro? Você tinha que cair nesse tipo de
encanto?
O pior de tudo é que eu previa também que brincar com
essas coisas poderia dar ruim. Assim como sei que Natan prefere a
solidão a qualquer pessoa presa em sua vida. Eu só preciso que
isso acabe logo, antes que eu me machuque, e nem poderei culpá-
lo, porque sou consciente de tudo que aceitei.
Estendo a mão e olho o anel, que me traz um sorriso. Pois
como uma dona de uma imaginação maluca, pela primeira vez
imagino isso sendo real, e sabe que seria bom?
Esfrego meu rosto e viro-me socando o travesseiro, logo
depois agarro-o.
— É, Violeta, só vai te restar o Motel Faz Tudin, e Vegas...
Meras lembranças de como tudo começou e terminou.
Começo a rir em meios às lágrimas. Minha vida é caótica pra
caralho.
Acordo com toques na porta. Ao meu lado Violeta dorme
agarrada a mim, e preciso me desvencilhar dela com cuidado para
ver quem está às... Espera, que horas são? Olho a hora no meu
celular ao lado, e vejo que são três horas da manhã.
Esfrego o rosto, e entro no closet para pegar uma calça
rapidamente e ver quem insiste nas batidas leves na porta. Abro a
porta e meu olhar desce para o pingo de gente com um pijama de
unicórnio, e uma carinha de sono, me olhando.
Olho pelo corredor e tudo está escuro.
— O que faz aqui, meu amor? — Me abaixo à sua frente.
— Tive um sonho muito mal. Posso dormir aqui? — pede
manhosa e sonolenta.
Sorrio pegando-a no colo, e fecho a porta.
— Quer me falar o que sonhou?
Ela nega, colocando a cabeça em meu pescoço e fechando
os olhos.
Deito-me na cama com ela, ficando entre as duas. Ajeito a
coberta sobre nós, e logo tenho duas garotas coladas praticamente
em cima de mim, e dormindo. Balanço a cabeça e sorrio.
Violeta abre os olhos com lentidão e olha para a Melinda e
depois para mim.
— Quer que eu fique no sofá? — indaga com a voz bem
rouca e baixa.
Aperto-a em mim e beijo sua testa.
— Dorme, linda — falo com calma.
Ela assente e fecha os olhos pegando no sono de novo, e,
assim como Melinda, com o rosto em meu pescoço.

Acordo dessa vez com o despertador, e estico meu braço


desligando-o rapidamente e conferindo a hora. É bem cedo, e
preciso ir a São Paulo de novo, pois tenho algumas coisas sobre o
evento para conferir presencialmente. E quero ter a oportunidade de
conversar com a Naomi o quanto antes. Eu preciso resolver minha
vida com meus pais e com minha irmã, antes que essa merda só
piore.
Melinda dorme literalmente em cima de mim, e Violeta
agarrada a mim e a pequena. Eu estou servindo de cama para
ambas, e, porra, queria não me sentir bem assim, queria não
imaginar um futuro, porque nunca me vi construindo uma família,
mas agora... Caramba, tudo tem mudado, e nem me reconheço
mais.
Retiro a pequena de cima de mim, e me afasto dos braços
da Violeta. Ajeito elas na cama, e fico olhando a imagem por alguns
segundos, e nem parece que se odeiam, pois a Melinda se
aconchega nos braços da Violeta, que a abraça.
Sigo para o banheiro, antes que eu continue que nem um
tonto admirando-as.

Meu banho foi rápido. Me troco rapidamente, e pego minhas


coisas, colocando o que preciso no bolso, e ajeitando o relógio em
meu pulso.
Deixo um beijo no rosto delas, e saio do quarto com cuidado
para não as acordar.
Ajeito o paletó e vejo Naomi na porta do quarto da filha,
olhando confusa. Ela me olha. Faço um sinal e ela se aproxima.
Abro a porta do meu quarto com cuidado, e ela olha a cena e ri
baixinho.
Saímos dali e começamos a descer as escadas.
— Melinda passou os dias reclamando com puro ciúme da
Violeta e agora está lá? Quem entende essa garota!
— Se implicam, mas tenho certeza de que se gostam. Violeta
tem quase o mesmo cérebro que ela.
— Natan! — me repreende e sorrio.
Entramos na sala de jantar, e a mesa para o café da manhã
está posta.
— Acordou primeiro que todos? — indago conforme nos
sentamos.
— Preciso ir a São Paulo resolver umas coisas a trabalho por
lá e do meu casamento. Nossos pais foram dormir tarde, devem
estar bem cansados, Melinda não tem aula hoje, e Michael bom...
Preferiu ficar em um hotel em São Paulo... — Me encara e respiro
fundo. — É, terá que lidar com minha companhia, maninho.
— Nunca foi um problema para mim. Preciso ir a São Paulo
também. Te levo, e depois precisamos conversar.
— Agora quer conversar, Natan? São anos evitando a nós,
fazendo pose apenas para eventos, me surpreende querer
conversar agora — fala conforme sirvo-a com o café.
— Tem toda razão em estar puta comigo, mas isso não deixa
de lado que me preocupo com você, e com a Melinda. E por causa
disso mesmo essa conversa precisa acontecer hoje!
Ela assente.
— No almoço. E vai me trazer de volta. Me encontro com
você na revista — avisa e assinto. — Violeta não vai te
acompanhar? — indaga erguendo a sobrancelha.
— Ela precisa descansar, e eu preciso de sua ajuda para
outra coisa, claro, se após nossa conversa você ainda quiser me
manter como irmão. — Coloco o café para mim e dou um gole.
A morena sorri.
— Espero que parte dessa conversa, seja me contar a
verdade. Não sou tão burra assim. Vocês dois nunca foram noivos.
Mas como um belo plot da vida, começaram a se gostar de verdade.
O brilho que estão após essa viagem, nem se compara ao que
chegaram aqui.
Me engasgo com o café, e ela ri pegando um pedaço de
bolo.
— Não sei do que está falando... — pigarreio.
— Violeta não ficaria nervosa ao extremo por vazar tudo a
mídia, se não tivesse algum problema por detrás. E eu te conheço,
Natan. Sempre foram amigos, nunca o vi falar ou olhar diferente
para ela. Chegaram aqui frios. E agora, até seu jeito de olhá-la
mudou. Eu faço casamentos, meu irmão. Eu reconheço os olhares
de alguém que vai se casar e de quem nem sabe se está fazendo a
coisa certa. Eu preciso reconhecer, pena que comigo não funciona...
— Observo sua expressão e seu tom mudar. — E quer mais? Papai
e mamãe devem desconfiar. — Dá de ombros.
Fico olhando a xícara à minha frente, e sentindo uma azia
dos infernos.
Estou na merda.

Olho as papeladas em minha mesa, e me questiono para o


que Olga é realmente paga. A mulher literalmente jogou tudo aqui,
fora de ordem, e está sabe Deus onde, porque sua mesa está vazia.
O estilista do meu terno para a festa da Sunshine, Renan
Espinosa, diz que está tudo pronto na mensagem que me envia,
mas depois irei buscar, ou até ele vai rodar hoje, ou pensa que me
esqueci que me deixou cheio de alfinetes e nas mãos de Violeta
Matos?
Deixei minha irmã em um dos lugares que precisava ir, e vim
para a Sunshine onde o caos reina. Eu me mantenho longe por
horas, e fazem a festa. Preciso começar a dar sumiços e surgir
assim de surpresa, sem aviso, para pegar todos no pulo.
Minha secretária atrasada, Nina passeando pela revista,
comidas e bebidas espalhadas pelas mesas dos funcionários nesse
andar, a recepção com apenas uma atendente. Não me atrevo a ir
em outros andares ou terei um infarto.
Retiro meu paletó e desfaço o nó da gravata, retirando-a,
antes que eu a amarre na janela e me enforque!
Jogo sobre minha mesa, que está uma zona e abro os
primeiros botões da camisa, antes de sair da minha sala, pegando o
celular em meu bolso e enviando uma mensagem a Olga.
— B-Bom dia, chefe — Nina diz parada em frente ao
elevador, e paro ao seu lado, sentindo os olhares dos demais as
minhas costas.
— Sua amiguinha não avisou que eu estaria a caminho, não
é? — Ergo a sobrancelha e a menina fica vermelha, só falta tremer.
— Como adoram partilhar sobre meus passos por aqui, eu vou sair
por vinte minutos, é o tempo que tem para avisar a todos que na
hora que eu retornar essa revista precisa ser um lugar sério de
trabalho, ou a sua outra amiguinha vai ter uma fila imensa no RH.
A porta do elevador se abre e ela entra junto com comigo,
assentindo sem parar.
— S-sim, senhor... Vai estar tudo em ordem.
Descemos ao térreo, e meu celular começa a tocar. Atendo
parando na saída do elevador e vendo os outros funcionários
correndo de um lado para o outro.
— Fugiu? Natan, esse lugar é perigoso para mim! — Violeta
reclama em meu ouvido.
Nina para no balcão da recepção falando com a única ali
presente, mas os olhos delas estão em mim.
— Preciso trabalhar, Violeta. E fique sabendo que a lista de
demissões da revista hoje será enorme.
— Pare de atormentar as pessoas. As meninas estão perto
de você? Seu capeta, deixa as pessoas em paz. Pegou tudo um
caos, não foi? — Faz uma voz engraçada.
— Depende o que qualifica como caos. E não estou
atormentando ninguém. — Passo por elas e bato os dedos em meu
relógio para que Nina se lembre bem do meu recado. — O que
quer?
— Eu acordei ao lado do inimigo. Natan, ela poderia me
matar dormindo. Como deixou?
— Por que está falando abafado?
— Estou escondida no closet. Vai que ela acorda, não te
acha e me mata! Por que não me acordou? Eu teria ido junto.
Preciso conversar com as meninas mesmo — reclama conforme
saio da revista e caminho sentido a Starbucks.
Dionísio parece que adivinha onde estou, pois vejo-o me
seguindo discretamente. Isso que o combinado é apenas em
lugares mais perigosos. Mas como saber qual é? Ele tem razão, e
sabe o que faz.
— Pare de achar que a garota vai te matar. Sai do closet, vai
comer e descansar. Chegarei tarde aí, então fique longe do Michael
se ele surgir aí, o que duvido. Tenho muitas coisas para resolver
aqui. Mais tarde nos vemos. Vai sobreviver, Violeta. Meus pais estão
aí, Hortência também. Capaz de hoje fazer um banquete se ontem
ordenou que fizessem sopa. Tem mimos aí. Fique quietinha uma vez
na sua vida.
Entro no estabelecimento, e sigo em direção ao balcão.
Ainda está vazio, deve ter aberto agora.
— Natan... O acordo era que eu não ficaria nessa loucura
aqui sozinha! Porra, move sua bunda aí e vem me buscar.
— Vai comer e descansar, por favor, Violeta. Depois nos
falamos.
— Onde está? Você na revista sozinho é perigoso!
— Estou na Starbucks tentando fazer meu pedido. Eu não
vou mandar suas amigas embora, está feliz? Agora, sai do closet e
vai comer.
Ela resmunga enquanto a atendente me olha a espera de eu
fazer o pedido.
— Já que está aí, traz meu notebook. Preciso dele. Eu sou
desvalorizada nessa amizade. A cada dia que se passa, você tem
piorado... Argh, que ódio! Tchau, Natan!
— Tchau, Violeta.
Desligo antes que ela torne a surtar. Faço meu pedido e dou
um sinal para Dionísio vir e pedir algo a ele também. Meu único
funcionário que não me estressa.
Esse dia tem tudo para dar errado!

Olga está na minha sala, revendo comigo as coisas do


evento, e a revista nem parece a mesma de antes. Meu celular não
para de chegar mensagens da Violeta reclamando, dizendo que
está entediada, que vai morrer, que está com tontura, que vê a
morte... A cada instante ela se torna mais dramática que o normal.
Não respondo, e isso está se tornando motivos de ameaças da
parte dela.
— Sua noiva será parte da presença VIP como os
funcionários ou acesso como o senhor e sua família? — indaga e
noto a careta ao se referir a Violeta.
— Disso cuido depois. Era apenas isso? — pergunto e ela
assente se levantando.
— Sexta-feira não poderei vir, pois...
— Chega, Olga. Toda semana é algo novo. Perdi as contas
de contas consultas médicas e parentes já matou. Ou apresenta
provas de que realmente sua saúde está em risco, e sua família tem
tido momentos difíceis, ou será difícil mantê-la aqui. Nos últimos
dois anos, Violeta tem feito mais das suas tarefas do que você
mesma. Eu odeio ser rude com vocês, mas precisa de limites. —
Assino alguns papéis.
A mulher desata a chorar e eu quero sumir daqui. Olho-a
preocupado e ela se senta na cadeira de novo.
— É que... eu tenho um filho, senhor. — Arregalo os olhos e
ela funga desesperada. — Eu nunca falei pelo medo de jamais me
contratarem. Ele tem seis anos, e entrei aqui quando ele fez um
aninho. Não mora comigo, e sim com minha mãe no interior de São
Paulo, na cidade de Recanto das Alegrias, e ele precisa de mim... E-
eu...
— Jamais deixamos de contratar alguém porque tem filho!
Olga, pelo amor de Deus. — Franzo o cenho e esfrego o rosto. —
Pare de chorar. Eu não vou te demitir. Mas era melhor ter dito a
verdade. Porém, eu compreendo que deve ser muito difícil, mas
ficar faltando toda semana, sumindo, é difícil para mim também.
Preciso de alguém presente, cuidando das coisas.
— Eu sei... — Enxuga o rosto se acalmando. — Ele virá
morar comigo. Minha mãe está vindo para cá. O pai dele é um...
Enfim, por isso preciso ir na sexta-feira. Virei com eles no final de
semana, exatamente para parar com essas faltas repentinas. Ele
tem ficado muito doente ultimamente devido a minha ausência... Eu
sei que o senhor não tem filhos, nunca entenderia isso, mas estou
desesperada.
— Olga, tira a sexta-feira e a próxima semana para cuidar
dessa adaptação do garoto aqui. Mas não se acostume. — Seus
olhos brilham. — Fique atenta ao celular, porque posso precisar de
algo que você tenha a informação. Agora vai beber uma água e se
recompor.
Ela concorda.
— Obrigada, senhor... Muito obrigada! — Ela se levanta às
pressas e sai da sala.
Esse dia tem mais novidades? Porque estou com medo já.
Volto ao trabalho, e aproveito para ir até o andar dos
designers para conferir os banners, capas, da edição comemorativa
que teremos pelo aniversário da revista que decidi unir ao evento.
Em seguida vou até o andar da moda, e confiro as matérias
e fotos sendo feitas para algumas campanhas da Sunshine.
Nina está distraída em sua mesa, desenhando algo, e nem
nota minha presença ao seu lado. Gabriel, o coleguinha tímido da
Violeta, chuta sua cadeira achando que não noto, e ela sobressalta,
e assim que me vê tenta esconder o que desenhava, mas impeço,
sendo mais rápido e puxando o caderno.
— Perdão, senhor... Isso não é nada, eu...
Ela fazia um croqui. Os traçados, a delicadeza em seu
desenho, é perfeito. Me faz voltar ao passado, quando eu me perdia
assim nas distrações do que eu amava.
— Nunca disse que desenhava tão bem, Nina, e que
entendia a esse ponto sobre moda. — Devolvo a ela o caderno, e
suas bochechas coram.
— Comecei tem pouco tempo... Juro que não atrasei meu
trabalho. Estou com alguns minutinhos livres, por isso...
— Está tudo bem. Deveria investir mais nisso, tem muito
talento.
Ela me olha surpresa, e confusa. Mas não poderia ser um
tolo e dizer o contrário. Estou muito surpreso.
— O senhor acha? Sempre me achei a pior da turma de
Moda. Não sei nem como terminei a faculdade.
— Entende de moda, Nina, e é boa no que faz aqui, ou
nunca estaria na revista. Eu contrato os melhores aos meus olhos.
Tem talento de verdade... Terá um desfile aqui em São Paulo, não
me recordo a data ainda, mas é importante, pegue o segundo
ingresso com a Olga. Primeira fileira, e acesso aos bastidores.
Entrevista exclusiva com o estilista. Faça essa matéria, ela é sua.
Seus olhos arregalam e ela solta um gritinho.
— Jura? Meu Deus! Obrigada, mil vezes obrigada... Violeta
teve sorte... — Ergo a sobrancelha e ela se assusta. — Quero dizer,
muito obrigada. O senhor é incrível. Eu...
— Vai, fofoque com suas amigas, menina. Mas não vaze isso
a mais ninguém. Eu gostei do que vi, da atenção que dava ao
croqui. Agora me mostre que não irei me arrepender em lhe dar
essa oportunidade. Dê o seu melhor, e se divirta no processo.
— Obrigada! Não vai se arrepender.
Ela se levanta correndo e deixa um beijo na bochecha do
garoto que só falta desmaiar, e então sai correndo pelo setor da
moda com todos a olhando sem entender nada.
Olho o caderno de novo e sorrio. Um incentivo ao sonho de
alguém, às vezes é tudo que a pessoa precisa.
“Passeie com a Melinda, será incrível, querida!”
Claro que a avó vai idolatrar a neta, e eu não teria escolhas.
Estou tendo que passear com a Chucky por Monte Amor, e ela já
me fez parar na cafeteria, na sorveteria, e agora estamos na praça,
após ela me sujar de sorvete, que, tudo bem, foi sem querer, e está
agora sentada ao meu lado no banco, como se fosse uma santinha.
— Por que não vai brincar com as crianças ali? — Olho as
crianças pulando corda e jogando bola.
— Porque não quero. Quer ficar livre de mim, titia? — Ela me
olha de lado, e juro que vejo o olhar do Natan inteirinho, me arrepia
de medo. — Meu tio falou que vão casar e ter filhos. Só quero uma
criança, e tá muito bom!
— Como é? Seu tio disse o quê, pirralha? — Chego a me
engasgar com a saliva, e penso que a morte veio me buscar.
Ela cruza as pernas sobre o banco se virando de frente para
mim. Coloco o celular entre nós. Está um dia ensolarado hoje, bem
melhor que ontem, e eu sobrevivendo a uma garotinha que me
causa urticária. Sério, que coceira na nuca.
— O que ouviu eu dizer, Violeta. Se você prometer que não
vai roubar meu tio só para você, eu prometo tentar ser sua amiga,
sabe. — Faz uma careta maligna.
Ah, pronto, agora tenho que negociar com uma criança que
tem pacto com o submundo!
— Eu não vou ca... — Merda, se eu abrir a boca... E por que
cacete ele inventou isso a menina? — Melinda, eu nunca te fiz nada.
Eu sei muito bem que, quando foi à revista aprontou, assim como
inventou ao seu tio que eu falei que você o levaria para comprar o
presente... Você me assusta, menina! — Arregalo os olhos.
Ela gargalha, e pior que é uma risada gostosa de se ouvir.
— Eu não sou má! Sou só uma criança fofa. — Dá de
ombros.
E o Chucky era só um boneco!
— Seu tio é só seu. Relaxa, ok? Podemos tentar uma paz
aqui? — questiono esperançosa.
— Só se você for pular corda comigo!
— Esse é o seu acordo? — questiono impressionada. Ela me
olha sem jeito. — Você não sabe pular, por isso não me misturou ali,
né? — Ela desvia o olhar.
— Não sei. Eu não aprendo essas coisas. Na escola todo
mundo brinca, mas eu nunca.
Fodeu, me derreti já.
— Como assim? — Encaro-a e bem preocupada.
— Meu pai não tem tempo de me ensinar a pular corda,
andar de bicicleta... Meus avós e mamãe trabalham muito e não
quero dar mais trabalho. Vou fazer sete anos, sou grande! — Ergue
o queixinho.
— Quem te disse isso? É só uma criança, Melinda!
— Papai. Ele diz que não tenho idade para brincar com
essas coisas, que tenho que estudar, aprender idiomas, e não ficar
brincando com isso, e que ele não tem tempo também.
Eu vou matar esse maldito!
— Pois vamos pular corda sim! E quer saber, sou ótima com
bicicletas também. Meu acordo é, ficamos na paz e te ensino o que
não sabe, fechado?
Estendo a mão e ela bate.
— Fechado. Mas não tenho nada disso. Teremos que
comprar. Se eu pedir ao vovô, ele dá. Mas aqui não tem bicicleta
para vender. Sabe dirigir?
— Não. — Faço uma careta. — Mas... começamos com a
corda. Aqui vende em algum lugar. E darei um jeito na bicicleta.
Precisamos da sua altura para comprar certinho, o resto deixa
comigo! Eu vou te ensinar até estar maravilhosa fazendo tudo. Já
pulou amarelinha?
— Isso já — responde rindo, mas juro que fiquei com medo
dela falar que não. — Sei desenhar, você sabe? — Nego. — É, mas
isso tem que ter talento, não posso te ensinar.
— Melinda! — falo boquiaberta e ela gargalha. — Não nega
de quem é sobrinha! Vamos atrás da corda e voltamos aqui para
brincar, faço isso muito bem, vai ver!
Ela salta do banco animada e acho que pode estar nascendo
uma ótima parceria aqui. Espero, isso vai garantir minha
sobrevivência. E que porra é essa de filhos e casamento que Natan
andou confirmando?

Quatro quedas minhas, um joelho raladinho dela, mas muitas


risadas e diversão na praça, que o menino Jonas da cafeteria tinha
razão, o lugar é lindo.
— Disse que fazia isso bem! — ela me lembra.
— Sim. Não falei que era atleta olímpica... Sabe o que é? Às
vezes, me esqueço de que vai fazer sete anos. É muito madura para
algumas coisas.
— Sei o que é. Na minha escola é beeem puxado.
Aprendemos muitas coisas. Sei falar inglês, desde bem
pequenininha, já aprendia. Tem balé, música, esportes, estudamos
muito!
— Que ótimo. Serei humilhada por uma criança... Ah, porra!
— Me enrosco na corda.
Quinta queda.
Ela ri e se senta na grama.
— Não precisa dizer ao seu tio sobre eu falar palavrões na
sua frente, e nem para a sua família.
Ela revira os olhos e se deita na grama. Meu celular começa
a tocar e é uma videochamada com a Nina.
Atendo me ajeitando, e encostando na árvore, afastando-me
o suficiente para ter privacidade, mas de olho na pirralha que tira o
pirulito do bolso e abre colocando na boca e olhando o céu.
Parecendo desenhar as nuvens na imaginação, pelas caretas
divertidas que faz.
— Por que tem galhos na sua cabeça? — A morena com
cara de choro diz.
— Nem queira saber. O que aconteceu? Por que está na
sala da moda? O que houve? Que merda o Natan aprontou? Se ele
te demitiu, não acredite. Ele me demite todos os dias!
Ela ri e nega, se sentando no sofá.
— Não, Vilu... Eu estou chorando de felicidade. Era para ter
te contado logo, mas só consegui agora na hora do almoço. A
matéria do desfile com o estilista internacional será minha! — Seus
olhos brilham mais ainda pelas lágrimas. — Natan me deu um
ingresso. Quer que eu faça a exclusiva, e tudo porque viu meu
croqui. Falou que tenho muito talento. Esse ingresso e matéria são
um sonho, e poderei ter acesso aos bastidores.
Meu coração se enche tanto com sua conquista.
— Nina, isso é tão bom! Amiga, você merece... Mas que
croqui? Nunca nos contou nada. — Franzo o cenho.
— Eu faço croquis, mas sempre tive vergonha de mostrar.
Ele me pegou no flagra hoje. Viu e, pelo jeito, gostou. — Enxuga o
rosto, mas não resolve. — Sabe o que é um homem tão foda quanto
ele falar isso para mim? Vilu, é meu sonho fazer algo bom na moda,
fazer meu nome. E agora, com essa matéria, eu poderei assinar ela,
e verei os bastidores de um desfile. Talvez assim me descubra
mais... Droga, não sei. Amiga, estou surtando!
Sorrio emocionada por ela.
— Vai e se joga. Corra atrás do seu sonho, Nina. Eu estou
orgulhosa de você, e louca para conhecer esses desenhos. — Meus
olhos marejam de felicidade.
— E não parou aí. Depois que peguei o acesso ao desfile
com a Olga, descobri que ele também estará presente. Estou
apavorada... Eu não posso fazer feio nessa chance que ele me deu!
— Não vai fazer! Nina, você é perfeita. Viva seu momento,
minha amiga. Eu sempre vou torcer por você e pela Oli.
— Podemos comemorar na sexta-feira? — pede animada e
assinto. — Eu preciso ir agora. Mas tinha que te contar isso. Estou
morrendo de fome. E na sexta-feira aproveita para nos contar que
diacho aconteceu, essas notícias, e tudo!
— Nem me fale... A vida me fodendo sempre. — Ela ri. — Vai
lá. Surte muito, merece! Te amo demais. Essa matéria será um
arraso!
— Também te amo, bonequinha! — Me joga um beijo e
desliga.
Bloqueio a tela do celular, me sentindo muito feliz. A
conquista das pessoas que amo é a minha também. Mas algo me
atingiu um pouquinho, e não foi a conquista dela, nunca seria,
jamais a invejaria. Foi o fato do Natan ver o potencial nela em
segundos, e abrir portas a ela. E a mim, parece que ele só falou por
falar sobre o que acabou lendo em seu computador.
Uma insegurança tremenda me domina.
E se o que escrevo não for bom? E se eu nunca tiver
oportunidades assim, e descobrir que em mais de vinte anos eu
nunca conquistei nada, e nem descobri no que sou boa?
E se...
Talvez seja ciúmes dele, ou por ele descobrir isso dela
primeiro, não sei... Mas algo me atingiu bem aqui dentro. Um medo,
uma insegurança, de, no final, o problema de tudo ser eu, e eu
jamais me entender, me conhecer de verdade.
Me sento ao lado dela, e deito em seguida. Olho para o céu
e ela aponta uma nuvem.
— O que vê? — pergunta e respiro fundo.
— Um homem barrigudo comendo uma torta.
Ela ri e acabo sorrindo também.
— Eu vejo um elefante ali! — Aponta a outra e parece
mesmo. — Meu tio que me ensinou a ver essas coisas. E você?
— Meu pai. — Olho para ela, que sorri segurando o pirulito.
— Nossa imaginação é um tesouro e ele pode ser usado para o
bem ou não. Era o que ele dizia.
— Mamãe já me falou isso, eu acho — diz olhando
novamente o céu. — Um cavalo pulando corda.
— Está mais para eu caindo com a corda.
Começamos a gargalhar, e ela se vira, deitando a cabeça em
minha barriga, e continuamos com nossa busca às formas nas
nuvens, e depois voltamos a pular corda, ou tentamos, mas nos
divertimos.

Melinda foi para o banho a mando de seu avô, para


comermos, estou na sala com sua avó, me mostrando os detalhes
de um casamento que vai vir após o da filha.
— É um casal homoafetivo, uns amores. Os dois querem
uma cascata de chocolate e outra de queijo. Disseram que ou os
convidados saem rolando, ou nem fazem a festa.
Começo a rir, vendo as inspirações do projeto.
— Terá piñata? — Mostro e ela assente rindo.
— Sim! Será bem agitado o negócio! — Arregala os olhos.
— Esse casamento será épico! — digo e sorrimos.
Ajudo-a recolher as coisas, mas noto um vinco de
preocupação em seu semblante. Algo que notei dessa família, é que
são bem explícitos com suas expressões.
— Algum problema, dona Marietta?
— Ah, meu amor, apenas Marietta. E é coisa de mãe. O dia
que for mãe entenderá dessas coisas que sentimos, sabe. — Ela
suspira e fico olhando-a.
— Se a senhora quiser falar, desabafar, sou ótima em ouvir,
e péssima em aconselhar, mas no final sempre dá bom, juro.
Ela ri e isso me deixa feliz.
— Filhos, mesmo grandes, dão muito trabalho. Naomi está
em São Paulo com o irmão. Disse que vão vir juntos. Precisam
conversar. Espero que tudo termine bem. Eles precisam se unir
novamente. Me dói ver minha família toda perdida.
Toco sua perna com carinho.
— Vai dar tudo certo. Será boa essa conversa, vai ver só.
Ela segura minha mão e acaricia, então sorri.
— Sabe, querida, obrigada por passear com a Melinda.
Desde a briga, ela está toda estranha, e me contou que teve
pesadelo essa noite. Voltou sorridente, animada. Isso é um bom
sinal. A ausência do pai em casa, o tio e a mãe distantes... Criança
sente as coisas, nós que somos tolos em pensar o contrário.
Assinto, sentindo-me péssima por ter ficado puta em passear
com ela, sendo que no final foi muito bom.
Ela se levanta pegando as pastas.
— Preciso guardar isso e ver se esse almoço sai logo. Estou
faminta, e você também deve estar. Melinda chegou reclamando de
fome.
Concordo e ela se afasta sorrindo.
Pior que eu acho que vou sentir falta deles e desse lugar,
quando tudo isso acabar e eu sumir do mapa, pela vergonha.
Levanto-me e sigo para o quarto, preciso de um banho
também.
Entro direto no banheiro, deixando o celular sobre a
bancada. Tem mensagens do Natan, mas nem confiro. Me ignorou
nas minhas. Sou rancorosa sim!

Depois do banho, almoçamos juntos, e seus avós logo


voltaram a Amores do Valle, enquanto Melinda foi para o quarto
dela, e eu estou no do Natan, com o notebook no colo, e
escrevendo, olhando através da janela a paisagem linda, e mil
coisas se passando pela minha cabeça.
Talvez não dê em nada, e seja tudo uma porcaria, mas ao
menos eu segui meu coração e ouvi minha inspiração.
Foi impossível conseguir almoçar com a minha irmã.
Apareceu uma emergência na revista, um problema em uma
matéria, que me resultou em remédio para a dor de cabeça, e
estresse. Mas agora estou no restaurante onde marquei de me
encontrar com ela, para comermos, pois, ao que parece, nenhum
dos dois fez. Depois irei passar em casa, preciso de um banho, tirar
esse estresse todo e seguir para outro lugar; buscar o notebook da
Violeta.
Nossos pedidos foram feitos, e nos alimentamos, antes de
mais nada. Ao final, ela pediu água com gás, e eu preferi ficar sem.
Olho o celular enviando mais uma mensagem a Violeta, estou
preocupado com essa louca. Quero saber se comeu, se passou mal
novamente, como estão as coisas. Mas me esqueci o quanto ela
pode ser rancorosa quando quer, e eu ter ignorado as mensagens
dramáticas dela foi o suficiente para essa “não resposta”.
— Então, o que Natan Valle deseja conversar comigo? É
uma honra para mim ter um minuto de seu precioso tempo — me
provoca.
— Naomi, não faz isso. Nem combina com você. Eu errei
sim, me mantive mais afastado do que presente, mas nunca deixei
de me importar ou amar vocês.
Ela respira fundo e me encara.
— Desculpe. Foi mais forte do que eu. Agora me diga, o que
quer conversar? Se afastou de mim, dos nossos pais, da sobrinha
que te idolatra... Muito trabalho? Se for essa a sua desculpa, meu
irmão, ninguém mais acredita. — Bebe um gole de sua água. —
Natan, desde que veio para cá, são anos, muitos anos ligando o
dane-se para nós. Só retorna sob pressão, ou os choros da Melinda.
Acha mesmo que eu não me chatearia? Eu vejo nossos pais todos
os dias preocupados, pensando no quanto “o Natan adoraria tal
coisa, ou odiaria...”, sempre lembram de você. Eu vou ser direta
com você, por também te amar: nada do que construiu deveria ser
maior do que sua família.
Engulo em seco e respiro fundo, encarando-a, sentindo suas
palavras me socarem bem no peito e refletirem como um murro no
estômago.
— Não vim trazer desculpas. Eu vim pedir perdão. Tem
razão, nada disso deveria ser maior do que vocês. E talvez seja por
isso que nunca foi — falo e ela franze o cenho.
— Do que está falando?
— Eu nunca estive feliz de verdade, Naomi! Sempre me
culpei pela ausência, mas fui orgulhoso ainda mais para retornar e
dizer que eu sentia falta de vocês, e que tudo isso que construí me
tornou solitário demais — confesso, não tem mais porque ocultar. —
Menti sim sobre o noivado, me ausentei, mas pelo medo de assumir
que nunca estiveram errados. Eu cheguei aqui em busca de me
tornar aquilo que sempre disse que seria...
— Um estilista de sucesso — fala com a voz trêmula. —
Natan...
— E terminei dono de uma grande revista. Precisei lidar com
milhares de estilistas e sonhos, apenas para ver a vida jogando na
minha cara que nada do que planejei ao lado de vocês aconteceu.
Minhas inspirações morreram, e hoje o que faço de melhor é isso,
governar um prédio e milhares de funcionários, e torcer para não
vazar minha bunda nua na mídia.
Ela sorri de lado.
— Sempre foi maior que a minha, diga-se de passagem. —
Sorrimos e lágrimas escorrem pelo seu rosto. — Sempre tivemos
orgulho das suas conquistas. Nunca duvidamos que seria alguém
incrível. Sobre seu sonho de ser estilista, eu nunca imaginei que a
inspiração tivesse parado. Vivia com a cara em papéis e lápis nos
dedos criando calos até.
— Aconteceu. Me perdi tanto no rumo para o meu sonho,
que, em uma cagada da vida, obtive sucesso, mas nunca com o que
amei. Eu amo o que faço hoje, mas nunca chegará perto do que eu
amava antes. Em algum momento, entre sair de Monte Amor e ir
para os estudos, até cair aqui, eu perdi as inspirações. Nunca mais
fiz um croqui, os desenhos apenas nos pequenos momentos com
Melinda e que ela me pede. Eu sinto vergonha de dizer aos nossos
pais que tudo que investiram em mim pode ter sido em vão.
Trabalharam duro para me dar o melhor dos estudos, e hoje estou
aqui, vivendo o oposto de tudo.
— Nunca deveria ter se afastado por causa disso. Natan, te
amamos independente do que tenha seguido. Ainda pode tentar
seguir com o que sempre sonhou. Mas esse era seu sonho, nunca o
deles. E sonhos mudam, caminhos novos surgem, e está tudo bem.
Eles nunca te condenariam por desviar do percurso. É adulto, tem
suas escolhas, e eles não podem controlá-las. Talvez a pessoa que
mais te condene seja você. Se cobra tanto pelo seu sonho, que
conquistar tudo isso hoje, te faz sentir vergonha, como se não
merecesse estar vivendo isso. Você é o seu crítico, meu irmão, e
projetou isso a nós, que nunca faríamos isso a você. — Estende a
mão segurando a minha. — Se fechou tanto pela sua autocrítica,
que acabou esquecendo de viver o que construiu, e de continuar
tentando o que sempre quis.
Meu peito se aperta com suas palavras e meus olhos
marejam, me fazendo piscar rápido.
— Sempre foi boa com as palavras. Deve ser por isso que
conquistam tantos clientes na Amores — comento e ela ri puxando a
mão. — Eu amo você, sabe disso, não sabe? Sempre será minha
irmãzinha, Naomi. Sempre!
Ela assente chorosa, e sorrio emotivo.
— Também te amo, e sinto tanto sua falta. Aquela casa é
uma droga sem você irritando a gente com seu perfeccionismo e
reclamações.
— Não fico reclamando — defendo-me e ela ri, enxugando o
rosto com cuidado.
— Não vou discutir isso. E sobre o noivado de mentira, tudo
para não admitir que estávamos certos sobre terminar solteiro, com
gatinhos, e tricotando para a mamãe?
Meus ombros relaxam, e começo a ficar mais confortável. Me
sentindo mais leve, por estar assim, conversando tranquilamente
com minha irmã, coisa que não fazia há bastante tempo.
— Desespero? Burrice? Infantil? Escolha o que quiser e irei
concordar com tudo. Iria dizer a verdade no retorno de Vegas, mas
vazou tudo a imprensa, e, como pode imaginar, as coisas
complicariam. Era para ser só até o seu casamento, e depois
diríamos que não deu certo.
Ela ri alto, e reviro os olhos. Mereço isso, infelizmente.
— Meu irmão, com o amor e o destino não se brinca. Eles
andam unidos. Se o destino queria vocês juntos,
independentemente da maneira, brincarem com isso de amor foi o
mesmo que brincar com ele. Agora terão que lidar com as
consequências. Se afirmarem isso em voz alta aos nossos pais, se
preparem para o surto tremendo. Dois românticos incuráveis. Eles
devem desconfiar de algo, não são tolos, mas afirmar a eles será
como colocar fogo na lenha. É colocar e correr!
Assinto e rio sabendo bem que isso será uma merda
enorme.
— Darei um jeito nisso. Vai dar tudo certo. — Me olha
desconfiada. — Mas tenho outra coisa a dizer a você. Um pouco
delicada...
Ela se ajeita na cadeira e me encara desanimada.
— Michael me trai — fala e fico olhando sem saber nem o
que fazer. — Eu o amo, mas isso não me deixou tão cega ao ponto.
— Como sabe?
Ela sorri entristecida e isso me destrói. Odeio vê-la triste.
— Hortência me deu o recado da moça que lava nossas
roupas semanalmente. Duas camisas do Michael estavam
manchadas na gola, e queria que eu visse antes da remoção, para
não pensarem que foi ela. Enfim, eu peguei as camisas e dei uma
desculpa qualquer a Hortência para repassar a moça. Quando
peguei, era batom vermelho, eu não uso, não é meu estilo. E o
cheiro do perfume feminino também não era meu. Só sendo idiota
para não desconfiar. Então conversei com a Vilu, e ela disse que era
para eu conversar com você, e, pela carinha dela, eu já sabia que
minhas suspeitas não eram tolas, e as provas eram mais do que
reais.
— Naomi... Eu... nem sei o que te dizer. Quando eu recebi a
foto dele com outra...
— Tem fotos também? Que maravilha. A cada instante me
torno mais otária — diz com ironia. — Nem quero ver. Anos nessa
relação, amando o cara que me deu uma filha linda, e me fez
acreditar em conto de fadas. Casamento às portas, rios de dinheiro
gasto, e agora essas bombas caindo em meu colo. Aviso divino? É
o que eu tento pensar. Já chorei, já surtei, e entendi que a briga dos
dois veio por causa de algo relacionado a isso. Agora ele está em
um hotel aqui. Hoje fui vê-lo, e só se confirmou mais da merda toda,
porque agora as dores de cabeça, cansaços, nervosismo para o
casamento fazem sentido. E claro, o medo dele te ver, porque sabe
que eu o ouviria independente de qualquer coisa. Nunca foi burro,
sempre captou tudo no ar, e faz sentido sempre tê-lo desprezado —
desabafa. Me levanto, sentando-me na cadeira ao seu lado, e
puxando-a para os meus braços. — Sou uma burra... E agora, serei
motivo de vexame.
— O único vexame é o dele. Michael nunca mereceu você e
a filha que tem. São preciosas demais para ele, meu anjo.
Ela funga em meus braços e a aperto mais.
— Não sei o que fazer. Ainda o amo, o sentimento não vai
embora assim. Tem a Melinda... Eu não sei o que fazer de verdade.
O casamento é final de semana, mais de cem convidados, tudo
pago, tirei essa data da agenda da Amore, parei o papai e a mamãe,
para o quê? Um casamento burro!
— Ei... Se acalma. Não pensa assim, Naomi. Você acreditou
nele, o amor que sente por ele sempre foi real, não pode se culpar
por isso. Além disso, agora viu o que precisava ver, e não fechou
seus olhos diante dessa situação.
— Obrigada por sempre me proteger, e ser o pai para
Melinda que ele nunca foi e até isso eu vejo agora.
— Eu sempre vou cuidar das duas. — Beijo o topo da sua
cabeça. — Eu comprei um apartamento na praia, nunca contei a
ninguém. Fui duas vezes nele.
Ela ergue a cabeça, com os olhos vermelhos.
— O que quer dizer com isso?
— Eu comprei... A chave estará dentro da primeira gaveta à
esquerda do meu closet.
— Natan, está me dando uma fuga? — Me encara confusa.
— Estou te dando uma chance de pensar em você mesma, e
escolher o que quer fazer. Mas preciso ser sincero e dizer que não a
quero naquele altar.
Me aperta e nem me importo de estar borrando minha
camisa branca com a sua maquiagem.
— Obrigada... Não foge mais. Eu ainda preciso de você!
— Não vou. Tudo será consertado, passou da hora, meu
anjo.
Ela assente e respira fundo.
Faço um sinal ao garçom e assim que se aproxima, peço a
ele suco de maracujá, o favorito dela, e ela se afasta. Ela sorri e me
agradece.
Meu coração fica mais leve por estar conectando-me a ela
mais uma vez, mas triste por saber a merda que ela se meteu por
quem não a merece.

Saio do carro por volta das 20h. Naomi me acompanha.


Depois de comermos, passei em casa, tomei um banho, retornei a
revista para resolver umas algumas coisas de última hora, e ela foi
junto, aproveitou para ir na sala que todos amam, e sair com
sacolas de lá. Então fiz ela me acompanhar até a casa da Violeta.
Uma senhorinha bem sorridente está no portão, parece ter
chegado agora também.
— Boa noite. Procuram alguém? — indaga.
— Boa noite. Eu vim buscar algo da Violeta. Sou...
— O noivo dela — a perturbada ao meu lado diz e quero
matá-la. Esqueci-me o quanto Naomi pode ser irritante também.
— Ah, sim. Sabia que vi esse rostinho antes. Já veio aqui. E
claro, das revistas e televisão. Entre... A mãe dela está aí, ou pelo
menos estava quando saí há vinte minutos. Vamos, não fiquem aí
fora.
Entramos e minha irmã agradece. Seguimos pelo corredor.
— Poderíamos ser sequestradores. Esse lugar não é seguro!
— aviso e ela me cutuca.
— Natan! Para de loucura. Ela te reconheceu, e vocês estão
em todos os lugares como noivos. Não comece com paranoia de
riquinho que mora em cobertura e fica procurando defeito na casa
dos outros — reclama.
— Foda-se. Qualquer um que ela conhecer deixa entrar?
Porra, estamos em uma cidade grande, tem que ser esperto por
aqui!
— Eu sei, mas para... Olha, é aqui? — Aponta a porta aberta
e a luz acesa da sala.
Assinto e ela coloca a cara dentro.
— Dona Zulmira? — chamo-a e escuto uns barulhos de vidro
se quebrando.
Entro às pressas e Naomi me segue. Sigo em direção ao
som, que vem da cozinha. A mãe da Violeta está em cima da
cadeira, e no chão tem vidro para todo lado.
— Oh, céus... Olha que desastre. Fui pegar a travessa ali, e
essa veio junto! Cuidado, vão se cortar… — avisa.
— Meu Deus, venha, ajudo a senhora. Já nos conhecemos,
mas vale apresentar de novo. Naomi, irmã do Natan! — Minha irmã
a ajuda e ela desce apoiando uma mão na coluna, como se sentisse
dor.
Olho na mesa e tem caixas de doces.
— Era aquela ali que a senhora queria? — questiono
apontando e ela assente.
Subo na cadeira, e pego-a, em cima do armário acima da
geladeira. Coloco sobre a pia e ela me olha agradecida.
— Vai para a sala, e eu recolho esses vidros aqui, para que
não se corte.
— Não, menino! Eu faço isso... Não se preocupe.
— Ele tem razão, dona Zulmira. Vamos sair daqui. Vem,
ajudo a senhora. — Minha irmã sai com ela e fico olhando a
bagunça.
Porra, se Violeta sonhar com a cena que vi aqui, ela mata a
mãe dela.
Vejo a vassoura ao canto, junto da pá. Acho que ela também
limpava a casa. Junto os cacos de vidros e coloco dentro do lixo.
Recolho tudo que vejo. Assim que termino retorno a sala e ela está
sentada no sofá com a Naomi.
— A senhora se machucou? — questiono avaliando-a.
— Não! — Ela ri e é o mesmo sorriso da filha. Lindas. —
Está tudo bem. — Se ajeita no sofá. Parece cansada.
Olho para a minha irmã, que me olha de lado. No caminho
tomei a liberdade de contar algumas coisas a ela, exatamente para
me ajudar em uma questão. Não expus tudo sobre a loirinha,
apenas no que eu precisava de ajuda.
Sento-me no sofá livre e olho para ela.
— Vim buscar o notebook da Violeta. — Sorrio.
— Ah, claro. Ela me ligou de tarde falando sobre. Deixei
separado já. Olha, essa... — Olha para a minha irmã e depois para
mim.
— Ela sabe a verdade, dona Zulmira.
— Que bom! Eu acho isso tudo uma loucura, mas sabe que
estou até me divertindo com as peripécias da vida? — Sorri de um
jeito diferente e fico um pouco confuso, mas Naomi parece
compreender.
— Me perdoe por meter a sua filha nisso, foi realmente um
ato bem infantil de minha parte.
— Da parte dos dois! Dois malucos. Olha, meus nervos
sofrem. Vou buscar o notebook.
— Deixa que eu pego. A senhora parece cansada. —
Levanto-me e ela assente.
Olho para a Naomi, que sabe o que fazer. Preciso que ela
entre no assunto principal. Se ela for como a filha, será fácil de se
abrir com quem confiar e nos levar ao que desejo.
— Está na cama dela. A segunda porta à esquerda.
Assinto e sigo para onde ela informa. Entro no quarto com a
porta aberta, e tem duas camas. Ela divide com o tio pelo jeito. Sua
cama seria fácil de encontrar mesmo sem o notebook. Toda rosa-
claro, o que já notei que é sua cor favorita. No pequeno painel com
luzinhas na parede, tem fotos dela com as amigas, a família, comigo
em alguns momentos nesse tempo de amizade, e algumas
sozinhas.
Pego uma de suas fotos e fico olhando, admirando a beleza
da garota que tem me deixado maluco mais que o normal.
Tem prateleira com alguns livros, todos romances. Coloco a
foto no lugar e pego o livro na mesa de cabeceira, não parece que
estava sendo lido, pois não tem marca página. Fast Love, da autora
Deby Incour. Folheio e ao final uma folha de caderno cai, me
fazendo deixar o livro de lado e olhar. Pego-a, sentindo-me intruso,
mas uma curiosidade me puxa como um imã.
São as contas que eles devem. Sigo o olhar para o outro
lado e na mesa de cabeceira do tio dela tem um caderno que parece
ser de onde essa folha veio. O caderno do pai dela!
Pego-o e olho, e meu corpo cai sobre a cama. A divida deles
não é apenas o que está nesse pedaço de papel com a letra dela.
Tem uma página com contas feitas recentes pela data anotada, e é
muito mais.
A situação deles é mais apertada do que Violeta tentou me
passar.
Um nó se forma na minha garganta. Eu só quero proteger
minha garota e tirar eles dessa merda toda.
Coloco as coisas no lugar, mas tiro foto das páginas antes.
Pego o notebook dela, mas meu olhar vai para a sua bolsa,
pendurada ao canto, com um caderno rosa para fora. Pego-o, já
estou fodendo tudo mesmo.
Abro-o com calma. Ela anota as coisas de trabalho, e, pelo
jeito, as ideias loucas do horóscopo que agora sei como surgem.
Mas o que me chama atenção é o final, onde tem ao que parece sua
lista de desejos, coisas que ela sonha para ela, as viagens, levar a
família, dar uma vida melhor a eles, e ser reconhecida por algo bom
um dia.
Mal sabe ela que já é reconhecida, por mim, pelos colegas
de trabalho. Todos sabem a importância que ela é. Sua alegria, sua
inteligência, tudo isso é o que marca a presença dela, além de ser
única com suas maluquices. Violeta só não enxerga o quanto pode
ir muito longe. Talvez por ter medo de se arriscar ou pela falta de
oportunidades, quem sabe os dois.
Saio do quarto, deixando o caderno no lugar e respirando
fundo.
Entro na sala e Naomi está falando exatamente do
combinado: doenças e saúde.
— Passei no banheiro... Desculpem a demora — minto e
elas assentem. — O que a senhoritas falam? — questiono me
fazendo de sonso.
Sento-me no sofá, deixando o notebook de lado.
— Doenças. Já viu velho falar de outros assuntos que não
levem a isso? — dona Zulmira diz rindo.
— A senhora não é velha. Deixe disso! Ela estava aqui me
contando que tem artrose, bico de papagaio, e várias outras
coisas... Nossa, trabalha tanto. E eu reclamo de uma câimbra! —
minha irmã diz e sorrio.
— E a senhora se cuida? — questiono, sabendo a resposta.
— Bom, tento. Mas saúde pública sabe como é, infelizmente,
e convênios são muito caros. Fico nessa luta de dores, dando
trabalho a minha família, e fazendo tudo picado — se lamenta.
Ela não merece isso. Desde que a conheci tenho muito
respeito e carinho, afinal, além de boa pessoa, colocou meu
problema favorito no mundo.
Olho para a minha irmã e ela entende.
— Mas meu irmão tem uns contatos legais, sabia? Ele
ajudou a mãe de uma amiga. Tinha umas coisas parecidas com a
senhora. Ele poderia ver um médico a senhora, seria rapidinho, e
nem lhe daria custos. Esses amigos dele atendem um número de
pessoas sem convênio. Uma ação bacana! Parceria com um projeto
dele com a Sunshine — Naomi diz e fico impressionado com ela.
Essa é boa.
— Sério? — Os olhos dela brilham tanto, que preciso me
controlar para não ficar tão emotivo assim. Me sinto um filho da
puta, vivendo tudo do bom e do melhor, enquanto pessoas como ela
se fodem para conquistar o mínimo. Eu lutei muito para ter tudo
isso, mas não me faz pensar diferente. — Olha, se conseguir, eu
vou! Vai ser um peso a menos na cabeça da minha filha e do meu
irmão. — Sorri esperançosa e Naomi desvia o olhar, para conter as
lágrimas que se formam.
Touché.
— Perfeito. A senhora confia em mim? — questiono e ela
assente. — Irei falar com esses amigos, e a senhora vai cuidar
dessa saúde, tudo bem? Vamos resolver isso. Sem problema algum
para mim.
— Isso é maravilhoso, querido. E Violeta discute comigo
quando digo que é um bonitão bom!
Minha irmã começa a rir e eu penso se mato a peste loira ou
deixo passar que ela me destrói pelas costas.
— Olha só que milagre bom, dona Zulmira. Falando de
problemas e meu irmão tendo a solução. É disso que gosto! Mas o
papo está incrível, porém preciso ver minha filha, que, aos cuidados
dos avós, vive de besteiras. — Abraça dona Zulmira.
Levanto-me e entrego o notebook a minha irmã.
— Venham mais vezes. Adorei você! — diz a minha irmã,
que sorri toda feliz. — Vou levá-los até o portão.
Antes dela se levantar, caminho até ela, e me abaixo a sua
frente, e ela me olha sem entender.
— Dona Zulmira, se precisar de qualquer coisa, não sinta
vergonha em me pedir, tudo bem? Nem precisa falar com a Violeta,
fale comigo. Eu vou deixar meu número com a senhora. E, por favor,
não se esforce muito. A senhora vai fazer o tratamento que for
necessário, e logo estará zerada. Vai poder fazer coisas que gosta
sem sofrer tanto. Eu prometo! — Controlo a voz que quer embargar.
Ela toca meu rosto e sorri.
— Não se preocupe comigo. Sou só uma velha. A idade
chega e os problemas acompanham.
— Não diga isso... Eu vou ajudar a senhora. — Seguro sua
mão deixando um beijo e ela me olha emocionada.
Levanto-me, e ajudo-a.
Ela nos acompanha até a o portão e se despede toda
carinhosa.
— Cuide da minha menina, já será uma ajuda imensa a mim
— pede. — Muito obrigada, meu menino, por isso.
— Sempre. Mas preciso cuidar da senhora também, ou
nossa menina nunca ficaria em paz... Nem eu. — Beijo sua testa. —
Não me agradeça, é o mínimo.
Ela assente e espero fechar o portão, então entro no carro
com minha irmã. Fico olhando-a sumir pelo corredor.
— Está amando a Violeta... — Viro-me para a Naomi. —
Sempre a amou, só que não sabiam que essa amizade nunca foi só
amizade, né? Acenderam a chama que só precisava de uma
pequena faísca. — Suspira. — Bela atitude de hoje. Eu fiz uma
burrada no amor, não faça você também, Natan!
Não respondo, porque, no fundo, eu só não quero lidar com
a verdade me assombrando desde que minha boca encostou na
dela. Eu estou louco por ela.
Estou no closet, separando minhas roupas, e me preparando
para o jantar em família, onde pode ter a presença do demônio
vulgo, Michael. Eles estão esperando Naomi e Natan chegar, e eu
estou preparando meu psicológico para me estressar e passar
perrengue, porque é só o que tem acontecido ultimamente.
Deixo a roupa separada, para pelo menos descer um pouco
mais digna, porque depois de ir à praça, me arrebentar pulando
corda, almoçar, escrever, nenhum banho nesse decorrer foi o
suficiente para tirar a cara de derrotada que estou, por ficar com a
cara na frente do computador durante horas. Sério, eu vou ficar
cega, eu sinto dentro de mim isso.
Minha mãe ligou avisando que Natan já pegou o notebook lá,
e isso tem mais ou menos umas duas horas, ou seja, o traste deve
estar chegando, e bem puto, pelas mensagens que ignorei dele.
Olho-me no espelho, e tudo que vejo é a cara da derrota.
Tomei outro banho rapidinho, para levantar meu astral. Pego o
vestidinho rosa de alças finas, ele é justo, curtinho, e tem florzinhas
espalhadas, a coisinha mais linda. O decote parece de corset, ou é
esse decote mesmo, mas não sou obrigada a entender, apenas
gostei e vou usar.
Visto-o sem sutiã mesmo. Nem teria como colocar. Meus
seios já estão em estado de sobrevivência dentro disso.
Pego a escova de cabelo e tento dar um jeito no
emaranhado que se formou após refazer o coque por diversas
vezes. Nos livros, as mocinhas falam do “coque bagunçado”, e
nossa, agem como se estivesse lindo, e nelas deve estar mesmo,
mas, em mim, tenho uma visão de coque bagunçado bem diferente,
do tipo: fugi do hospício e foi o que deu para fazer durante a fuga e
uma luta corporal com um psiquiatra.
Passo um óleo nas pontas, e noto o quanto está longo. Meu
cabelo é loiro natural, muitos pensam que fiz mechas, coitada de
mim, não tenho nem cacife para manter um negócio desses. Tem
dias que ele é meu amigo, mas na maioria das vezes nos odiamos.
Hoje é esse dia. Tento melhorar ele, que hoje resolveu ser bem
ondulado nas pontas.
— É o que temos para o momento!
Essa família não me ajuda no meu direito de ser feia quando
quero. Eu me acho bonita, mas gosto de exercer meu direito de ser
ridícula quando posso. Mas aí ficam andando como se estivessem
no tapete vermelho do Oscar. Porra, eu só quero um camisetão, um
short jeans velho, e meu coque podre.
Passo perfume e começo a dar um jeito nessa cara.
Corretivo, pó translúcido, um blush para parecer que estou viva, e
um batom bem clarinho e matte, para dizer que minha boca existe,
algo que acho bonito pra caramba em mim, meus lábios cheios e
rosadinhos naturais, mas hoje resolveu ser o próprio cadáver.
Termino a produção, e não está “nossa, que maravilhosa”,
mas ninguém pensará que sou um cadáver diante da mesa.
Começo a guardar tudo ou Natan me expulsa daqui pela
zorra. Jogo tudo dentro das gavetas, com a organização que
deixaria qualquer mãe bem louca, e está tudo certo.
Me assusto quando braços rodeiam minha cintura, sentindo
literalmente minha alma sair do corpo.
— Natan! Porra, quer me matar? — Levo uma mão ao peito.
Ele beija meu pescoço, simplesmente do nada, e meu corpo sente
isso, minha pele se arrepia instantaneamente com seu contato,
assim como meu coração começa a ficar agitadinho. — Você
bebeu?
— Está melhor? — indaga mordendo minha orelha em
seguida, e ignorando minha pergunta. Assinto meio tonta, porque
ele está me provocando sem parar. Mais beijos no pescoço e uma
mordida na altura do ombro, claro, um gemidinho escapa. — Por
que não me respondeu o dia todo? Eu estava preocupado com
você, Violeta!
Engulo em seco, porque acho que esqueci até como se fala.
Ele me vira de frente para si, pressionando meu corpo na
cômoda, e, antes que eu tente responder, ele me beija de um jeito
bruto, desesperado, me prendendo para si, com uma das mãos na
minha nuca e a outra apertando minha cintura. Eu sinto seu pau
completamente duro me pressionar, deixando-me louca.
Enlaço seu pescoço, cravando as unhas em sua pele, e ele
geme assim como eu. Me puxa da cômoda, e leva para a direção do
enorme espelho, virando-me de frente, onde minhas mãos
espalmam sobre ele em apoio. Sua mão desce entre minhas
pernas, e o filho da mãe afasta a minha calcinha, e começa a
brincar com minha boceta, assim, sem mais nada, ele chega
excitado e me leva para a sua loucura.
— Eu preciso de você agora, Violeta... Eu preciso foder você
nesse momento, minha linda.
Meu rosto colado ao espelho, sua voz bem no meu ouvido, e
eu perdida quase que em outra dimensão.
— Me fode... Faz isso, Natan... Termine o que está
começando... — falo completamente tomada pelo forte tesão que
ele está me dando em questões de minutos.
Escuto o barulho de sua calça sendo aberta, mas seus
dedos continuam na minha boceta, brincando com meu clitóris, e
espalhando todo o melado que surge. Meu vestido vai parar no meio
da cintura, e minha calcinha vai para o chão, onde ergo as pernas
empurrando-a para o lado. E quando penso que não pode melhorar,
ele me penetra bem forte, me arrancando um gemido alto, minha
bunda empina, e ele me fode forte, colada ao espelho. Sua boca
tece gemidos em meu ouvido, toda minha produção para o jantar vai
para o lixo, e eu pouco me importando.
Estou amando um Natan que chega com tesão.
Natan me fode bruto, seus dedos ainda brincando entre
minhas pernas, a outra mão apertando minha bunda, que ficará
marcada pela pressão, e continuo não me importando.
— Gostosa... E totalmente minha... Porra de garota infernal!
— Acerta minha bunda um estralo alto ecoa, solto um gemido
misturado a um grito.
— Natan... Vou querer saber... Aaah... O que houve? Ai, que
gostoso... Ooooh.
— Saudade, garota... Saudade... Shhh...
Ele mete mais forte e mais fundo, e me empino ainda mais.
Olho para o espelho e vejo a cena, Natan Valle me fodendo como
um louco, a expressão totalmente perdida em mim, e quando seus
olhos se encontram com os meus, quando ele me olha como se eu
fosse a única pessoa que ele quer nesse instante, eu tenho a
certeza de que me fodi mais do que já estou sendo fodida. Eu
realmente estou louca por esse imbecil. Porque meu coração erra
tantas batidas, que não teria médico a explicar isso.
Meu corpo cede, minhas pernas enfraquecem, quando o
orgasmo me consome inteira. Eu vejo-o o gozar também, ele me
acompanha, e nunca pensei que seria tão gostoso ver isso. Ele
esporra em mim, gemendo forte, indo à loucura.
Puxa meu corpo e se senta no banco estofado, com seu pau
ainda dentro de mim, pulsando levemente agora. Ele então sai com
cuidado e me senta de lado em seu colo. Jogando os sapatos longe
e a calça junto da cueca também. Deito a cabeça em seu ombro,
respirando rápido, assim como ele.
— Eu tinha acabado de me arrumar para jantar.
Ele sorri e beija meus lábios com calma.
— Estava linda... Continua linda. — Segura meu queixo, e
fico olhando-o antes de beijá-lo de novo. — Não me olha assim,
como se eu fosse a sua pessoa especial, linda.
Passo as pernas ao seu redor, abraçando seu pescoço.
— Então para de ferrar tudo, Nate.
Beijo-o e suas mãos agarram minha bunda, e sinto seu pau
tornar a endurecer embaixo de mim, mas calmo agora.
— Não era nem para estarmos transando. Precisa de
repouso... — Beijo seu pescoço. — Violeta... Porra! Vem para o
banho comigo, pois até descermos ao jantar, terá meu pau dentro
de você de novo. Só quero esquecer o dia cansativo, e ficar com
você.
Suas palavras finais me tocam onde não deveria, porque só
piora as coisas.
— Acho perfeito! — Sorrio mordendo o cantinho da boca. —
Até passou minha raiva de mais cedo. — Beijo a pontinha do seu
nariz e sua bochecha.
Ele me fuzila com o olhar, mas torno a domar a fera com
meus beijos, e ouvindo seus gemidos, e sendo agarrada por seus
braços e tocada por suas mãos.

Depois do jantar, que por sorte Michael não estava, estamos


na sala ouvindo histórias antigas, e perfeitinhas, tirando a porra da
lenda que eles contaram de novo. Essa merda me assombra. E se
eu virar uma rosa morta no monte da cidade? Deus me livre!
Estou no sofá e, por incrível que pareça, a garotinha do mal
está em meus braços, dormindo em mim, para a surpresa de todos,
até minha. As pernas ao meu redor, e a cabeça em meu peito. Veio
se aconchegando até estar assim comigo. Quem sou eu para
discutir? Vai que a garota me mata.
Naomi está ao nosso lado, Natan está na poltrona à frente e
seus pais abraçadinhos no outro sofá.
— Sempre que começamos com essas histórias antigas, ela
pega no sono, mas dessa vez acho que é o cansaço por passar o
dia se divertindo com a Violeta — Marietta fala e seu marido
concorda.
Naomi e Natan me olham surpresos.
— Acho que estamos entrando em um acordo amigável —
falo baixinho dando de ombros, e acariciando suas costas.
— Ela é sempre carinhosa, só tem ciúmes de você — Naomi
comenta e olho para o Natan, que me dá um sorrisinho discreto.
— É impressionante. Ela grudou de verdade na Violeta.
Parece até quando Marietta ficou grávida da Naomi. Natan era
terrível, passou a ficar calmo e não desgrudava da mãe, Hortência
dizia que tinha criança vindo e ele estava sentindo. Dito e feito. Um
mês depois descobrimos a gravidez.
Sinto um pinicar na nuca, e uma moleza no corpo. Coço a
nuca, nervosa.
— Calma... — Naomi diz rindo. — Coisa de antigos. Eles
ainda acreditam que manga com leite mata. E creem que teste de
talheres revela sexo de criança... E por aí vai.
A mãe da Chucky tenta me acalmar, mas, gente, com isso
não se brinca. Uma criança em mim? De quem seria? Natan, claro,
meus vibradores podres que não seriam o culpado, olha até eu me
surpreendo com meu lado idiota. Deus me livre. Não. Eu não sei
cuidar nem de mim. Tive um hamster que fugiu, pobre Zequinha!
Olho para o Natan, que pigarreia, e me observa, pensativo.
Acho que vou desmaiar de novo. Deus me livre! Não, nada de bebê.
Sorrio de nervoso puro e os pais deles riem.
— Calma, a menina ficou pálida até! Filho, está
traumatizando a garota. Que merda disse a ela sobre terem filhos?
— sua mãe indaga e ele olha.
— Não disse nada. Nunca falei que não teríamos. Mas
deveriam deixar de apavorar minha noiva. Já basta o desmaio —
fala sem surtar, sem dizer “não teremos”, e em um tom estranho
“minha noiva”.
Deus, sou eu aqui, socorro!
Naomi me olha de um jeito esquisito. Por que me olha
assim? Engulo em seco.
— Ela só gostou que ensinei ela a pular corda e prometi
ensinar ela a andar de bicicleta — falo mudando de assunto.
— Não acredito que Michael ainda não a ensinou pedalar!
Deveriam ter me dito, eu faria isso! — Ruben reclama.
Naomi suspira e puxa as pernas para cima do sofá.
— Eu também falhei nisso, pai. Ela é só uma criança.
Merece aprender essas coisas. Me dediquei tanto ao trabalho e ao
pai dela, que a minha filha busca outros para essas coisas agora. —
Sua tristeza é nítida. — Obrigada por dar isso a ela, Vilu. — Sorri
toda carinhosa.
— Ela só não quer incomodar vocês. E acho que ela precisa
de uma bicicleta, mas não tem para comprar na cidade. — Olho
para o tio dela, que assente.
— Darei a ela essa semana — Natan fala e sorrio em
agradecimento, pois era a ele que eu iria recorrer a essa ajuda
mesmo.
Ele pisca para mim e desvio o olhar sem jeito.
— Tão bom esse momento... Sinto falta disso! — Marietta
diz, e essa é minha deixa, para dar esse momento a família.
Levanto-me com a garota em meus braços.
— Vou levar ela para o quarto.
— Eu levo... — Naomi diz.
— Está tudo bem. Fique aqui. — Dou uma piscadinha e ela
assente. — Boa noite, gente!
Sussurra um “obrigada”. Ela precisa desse momento, pelo
seu semblante logo se nota que está com muitas coisas para
pensar.
Subo com calma para não rolar as escadas com a joia da
família, e ser presa. Caminho até seu quarto e com cuidado coloco-
a na cama, mas ela se agarra a mim sem soltar.
— Não vai... Todo mundo sempre vai embora daqui. Fica!
Paraliso no lugar, sentindo suas palavras bem no meu peito,
e formarem um nó na minha garganta.
— Vou ficar aqui, pestinha, tudo bem? — digo baixinho e ela
sorri.
Deito-me ao seu lado, nos cobrindo, e ela logo se enrosca
mais em mim. Da sua janela com as cortinas abertas, é possível ver
o céu estrelado, mas também a merda da montanha... monte, ou a
porra que for o nome disso, que pertence a porcaria da lenda. Isso é
sinal de que tudo deu merda, claro que é um sinal sobre isso.
A garotinha funga, e mexo em seus cabelos, fazendo cafuné,
e fechando meus olhos, para não ficar olhando o que não devo e
pensado merda.
Acordo com um carinho no rosto, e um perfume que
reconheço bem.
— Vem para o quarto. Ela não vai mais acordar, está no sono
pesado — Natan sussurra e beija meu rosto.
Levanto-me com cuidado, tirando sua mãozinha de mim, e
colocando a boneca de pano que ela agarra. Fecho a cortina e saio
do quarto com Natan apoiando as mãos em minhas costas e me
levando para o seu quarto.
Entramos e me sento na cama. Ele retira a blusa, me dando
uma bela visão, preciso assumir. Que corpo, meu Deus!
— Como foi a conversa com sua irmã? Deu tudo certo? Ela
parece bem pensativa — falo meio sonolenta.
— Ela já sabia da traição. — Quando essas palavras saem
de sua boca perco o sono por completo.
— Como é?! — Arregalo os olhos.
Ele respira fundo e se aproxima, sentando-se com as costas
encostada na cabeceira, e me chamando para perto de si. Retiro o
vestido e o tênis branco que usava, e sem ligar por eu estar apenas
de calcinha. Deito-me entre suas pernas, de frente para ele,
deitando a cabeça em seu peito nu, meus seios colados ao seu
tanquinho perfeito, minha bunda para cima. Ele acaricia minhas
costas descendo em direção a minha bunda onde aperta levemente.
— Ela viu batom na camisa dele e sentiu o perfume de outra
mulher. Começou a ligar os pontos. Está confusa, não sabe bem o
que fazer. Mas confio que tomará a melhor decisão. Também
conversamos sobre minha distância, e acho que as coisas vão se
ajeitar. É o que espero.
Sorrio feliz por eles dois estarem se acertando.
— Ela merece ser feliz e longe daquele cara. Onde ele está?
— Em São Paulo. E tem mais, ela sabe sobre nós.
Desconfiou — fala e ergo o olhar para ele. — Está tudo bem. Não
vai abrir a boca. Só precisamos ficar grudados essa semana. Depois
voltaremos a São Paulo, e em breve tudo será como antes, sem
problemas — o tom de sua voz muda, e eu sinto uma tristeza
imensa.
— É... Sexta-feira preciso ir a São Paulo, quero ver minha
família, e sairei com as meninas, Nina quer comemorar o que fez
por ela... Por falar nisso, obrigada por fazer isso. Ela merece e
muito. — Sorrio.
Ele ergue meu rosto e me encara bem sério.
— Precisa deixar eu te ajudar também. Me deixe fazer isso,
Violeta. Eu quero ajudar você e sua família, para que possa focar na
sua escrita. Me deixe fazer isso por você? — pede com a voz rouca.
Meu coração sente cada uma de suas palavras, mas eu
reconheço esse olhar.
— O que você fez e a troco de que quer me ajudar, Nate?
— Eu só quero sua felicidade em troca. Apenas isso, minha
linda. E talvez eu tenha feito sua mãe aceitar ajuda médica, com
uma história maluca que Naomi inventou, sobre eu ter amigos
médicos e eles atenderem sem custo. Ela aceitou essa ajuda, vinda
de uma mentira, mas para o bem dela — confessa.
Arregalo os olhos, e me levanto puxando sua camiseta e
vestindo-a. Sigo em direção a janela, abrindo-a, e engolindo em
seco.
— Violeta, não fica assim... Eu só quero ajudar vocês. Se
oferecesse a você iria arrumar desculpas... Porra, eu realmente
desejo ajudar vocês! — fala e se aproxima de mim.
Me apoio na janela e olho a noite ao lado de fora, meus
olhos marejando sem parar.
Isso que ele está fazendo... Droga, é muito, e eu nunca
poderei devolver a ele.
— Natan, não tinha esse direito. Eu não posso criar uma
dívida com você, além da que já existe.
— Quê? Que porra está falando? — Franze o cenho.
— Manter a coluna na revista. Não precisa dela, fracassou.
Me contratou porque ninguém querida, mas agora aquela merda é
fracassada, e continua mantendo para não me enxotar dali e me
deixar sem nem onde cair morta. E agora... — Começo a chorar,
minha voz embarga como uma traiçoeira. — Não tinha que fazer
isso. Não tinha!
— Está louca? Violeta, olha para mim! — Segura meus
braços e tento sustentar o olhar ao seu, mas é difícil. — Sim,
contratei porque ninguém queria a vaga. A coluna só tem
fracassado, é uma verdade também. Mas te mantenho na Sunshine,
porque é boa, mas porque não quero você longe de mim. — Reviro
os olhos. — Estou falando sério e sabe disso. Eu te disse, fui
egoísta, nunca te dei outra coluna com medo de que fugisse, fosse
embora, cacete! Eu te... — Ele trava e meu coração para. — Eu me
importo com você, e quero você perto de mim, sendo bem cuidada,
assim como sua família. Eu só quero te ajudar sem nada em troca.
Só isso... Acredite em mim.
Agarro seu corpo, e ele me abraça apertado. Eu me entrego
ao seu aconchego e choro baixinho em seus braços.
— Se realmente fizer isso por ela... Nate, talvez seja um
tratamento eterno. Quando encontrar uma mulher, porque isso pode
acontecer, ela pode se sentir desconfortável em ver você ajudando
uma amiga a esse ponto... E ninguém terá o direito de dizer sobre
isso, pois cada um tem um tipo de insegurança... E eu... Isso não é
certo. Somos amigos, não precisa pegar esses problemas também,
arrumar coisas eternas comigo, e problemas futuros.
— Ouvi muitas vezes dizerem que a única mulher a me
suportar seria você. Então, se você tiver ciúmes de si mesma, será
complicado. Sugiro psicólogo — ironiza.
— Idiota! Não é hora de ser engraçadinho e irônico.
Ele ri baixinho e beija meu pescoço.
— Não pense nisso, afinal, ter outra mulher e lidando com
você ainda meu lado, que já fodi bem gostoso, e recebi um boquete
delicioso, seria até uma traição, porque é difícil de esquecer a visão
do seu corpo nu e o som dos seus gemidos. — Acerto seu braço,
ele está tentando me distrair. Tento me afastar, mas me impede me
agarrando por trás. — Para de pensar merda, e paro de te irritar
também.
— Ela ficou feliz, né? — questiono com a voz mais
embargada ainda.
— Sim — fala e me viro de frente para ele de novo. — Não
quero nada em troca. Só me deixe ajudar vocês nessa dívida e na
saúde de sua mãe, para eu ficar menos preocupado.
— E o dinheiro do acordo? O que faremos com o que falta e
o que sobrou? Com isso, nem deveria me pagar.
— Você vai pegar... — Me pega no colo e me leva para a
cama novamente, tirando sua blusa de mim e me dando mais uma
vez a deliciosa visão de estar tirando a calça, e vindo parar entre
minhas pernas apenas de cueca. — E vai investir no que quer fazer.
Você vai escrever, e ainda irei assistir seu sucesso de camarote. Se
me deixar te ajudar, nunca vai precisar usar ele para essa dívida.
— Com uma condição então em ajudar apenas minha mãe.
— Enxuga meu rosto conforme falo e deixo claro no que aceitarei
ajuda. — Vai voltar a focar em seu sonho de ser estilista também,
porque, no dia que eu me casar, eu quero que meu marido desmaie
me vendo em um vestido de noiva lindo, feito pelo melhor, Natan
Valle! — Abraço seu pescoço.
Ele faz uma careta engraçada.
— Não dá azar ver o vestido antes do casamento?
— O noivo sim. É o que dizem. Nunca me casei para saber.
Mas o que isso tem a ver? Não tire o corpinho de fora. Depois de
me fazer chorar, é o mínimo, me dar o vestido.
Ele ergue a sobrancelha e sorri.
— Então teremos que descobrir se dá azar. E desmaiar
talvez não ocorra, mas ficar louco de tesão, posso garantir.
— Do que... — Arregalo os olhos e ele continua me olhando
sério. — Natan, para de brincar com essas coisas! Da última vez,
olha a merda que deu. Para!
Ele não diz nada, apenas me beija, cortando o assunto e me
deixando perdida como sempre. O único problema é quando tudo
acabar, e eu precisar me encontrar.
O decorrer da semana tem sido dividido entre preocupar-me
com minha irmã, resolver coisas da revista e ter Violeta em minha
cama todas as noites e manhãs. Talvez estivéssemos há bastante
tempo na seca, mas eu diria que me viciei nessa garota, e que isso
é algum tipo de castigo por toda merda que nos meti.
Hoje é sexta-feira, estou na revista, e ela também, diz que
trabalha, mas mais vejo-a transitando para cima e para baixo,
enrolando. Porém, não posso reclamar, a peste entregou os
horóscopos, e deixou tudo programado no site da Sunshine.
Quando ela quer, sabe adiantar tudo.
Estou sem a Olga hoje, e ficando maluco com o tanto de
coisas, pois logo hoje tenho quatro reuniões e preciso conferir uma
sessão de fotos de umas joias para a revista antes que venham
buscá-las.
Todos olham para mim e para a Violeta, claro que fariam, a
notícia sobre o noivado não para de crescer, e a cada instante isso
piora, mas ninguém comenta perto de mim, não seriam loucos.
Naomi, que agora sabe da verdade, disse que, se abrirmos a boca a
nossos pais sobre mentirmos com algo assim, mesmo que
desconfiem, vão ficar putos, e na razão, eles odeiam que brinquem
com coisas sérias, e o amor para eles é muito sério.
Estou fodido, e não tenho como discordar que sou o único
culpado para isso tudo.
Esfrego o rosto, conferindo a liberação da nova edição da
revista, para já conferir as próximas sendo criadas. Estou cansado.
Passa das duas horas da tarde e nem tempo de comer eu tive.
Passei por uma reunião, assinei papeladas, daqui a pouco tenho
mais uma com a Luna Publicidade, que cuidará da divulgação da
festa da editora junto da minha equipe de marketing, pois quero
bastante holofote em cima desse projeto, já que nele pretendo
anunciar o contrato internacional, que tenho certeza de que dessa
vez será firmado.
Retiro a gravata e deixo em meu bolso, abrindo os primeiros
botões da camisa. O estilista não para de ligar pedindo para buscar
a porra do terno, pois o combinado foi que eu pegaria, eu iria pedir a
Olga esse favor, mas sem chances. Minha cabeça está explodindo.
A porta se abre e nem preciso olhar para saber quem é.
— Violeta, agora não!
Ela se aproxima parando ao meu lado e deixando uma
sacola de papel pardo à minha frente, com um cheiro que me deixa
com mais fome ainda.
— Está o dia todo sem comer, e soltando fumacinha já. Olga
deu fuga de novo, não foi? — Sorri tirando as coisas da minha
frente, e ajeitando para colocar a comida.
Afasto a cadeira um pouco, cansado demais para dizer que
não precisava.
— Ela precisava resolver umas coisas pessoais. Ficará uns
dias ausente. — Esfrego a têmpora, minha cabeça lateja.
A loira toda linda em uma saia preta justa e curta, e uma
camisa social azul-marinho, se vira para mim, e aponta para a
mesa.
— Salada que gosta, e comida quentinha. Juro que não tem
veneno. Do restaurante que ama, e “comida de verdade” como fala.
Tem suco natural também e vou buscar seu remédio. E nem precisa
dizer que não precisava, está com uma cara péssima, espantando a
todos mais que o normal.
Ela se afasta indo até a mesa da Olga ao lado de fora e
pegando na gaveta uma caixinha, vem até a mim novamente e
coloca ao lado da comida.
— Remédio de dor de cabeça. Agora come, toma o remédio
e melhora o astral. Fiquei sabendo que teremos a ilustre presença
do dono da Luna Publicidades! — Morde o cantinho da boca.
— Com a esposa dele junto, Violeta! Controle sua safadeza
antes que eu te chute para o RH! — Aproximo a cadeira da mesa e
ela ri se afastando.
— Vai, se alimenta, dragão, antes que coloque fogo em
alguém. — Caminha rindo até a porta.
— Obrigado... E desce essa saia, porra! — provoco e ela
sobe ainda mais a saia, ficando mais curta ainda e deixando mais
de suas pernas que amo ao meu redor, à mostra. — Violeta... —
digo entredentes.
Me dá uma piscadinha e joga um beijo, saindo da sala e
fechando a porta.
Balanço a cabeça, sabendo exatamente o tipo de problema
eterno que arrumei na minha vida.

A reunião acontece na sala de reuniões, e as pragas que


trabalham para mim não sabem nem disfarçar, estão caçando coisa
para fazer nesse andar, que não tem nada, apenas para ficarem de
olho em quem está na sala, o dono da Luna Publicidades[6], uma
grande empresa de publicidade aqui de São Paulo e também dono
de gráficas e empresa voltada apenas ao marketing digital.
Ele e sua esposa atuam como os melhores nessa área, e
óbvio que a Sunshine os escolheu para orientar todo o setor de
marketing, publicidade e propaganda, e para campanhas mais
importantes e divulgações de algum evento ou algo assim, onde
eles cuidam de tudo e sozinhos.
— O evento será voltado ao aniversário da revista, temática
primaveril, e possivelmente com uma surpresa, é isso? — a mulher
jovem de olhos intensamente azuis, indaga, anotando no iPad tudo
que está sendo dito.
— Exatamente. Antes não teria a comemoração do
aniversário da revista, mas optei por unir. São muitas informações,
mas preciso que esse evento seja muito bem falado. Divulgado em
todos os lugares. E irei atrair focos em doações para custear bolsas
de estudos para jovens na moda.
Tomei essa decisão esses dias. Quero custear no mínimo
cem bolsas de estudos, mas quero fazer outras pessoas tomarem
essa atitude também, me ajudarem nisso.
Ela sorri e olha para o marido.
— Isso pode ser feito, e talvez tenhamos alguém que vai
adorar ajudar a erguer esse evento, e fazer essa campanha crescer
mais ainda. Minha irmã, como sabe, é estilista, isso para ela seria
maravilhoso. Milena Ribeiro pode custear uma das bolsas, e ajudar
no que vamos programar para atrair todos os olhos a sua revista,
Natan — Tomás Ribeiro diz, e assinto.
— Perfeito. Não confiaria a divulgação disso tudo a outras
pessoas.
— O que acha de ceder alguns convites aos fãs da revista e
alguns para universitários da moda? Isso vai deixar a Sunshine
ainda mais bem apresentada ao público, levando em consideração
que, no mesmo final de semana, terá corrida automobilística bem
famosa aqui na cidade, então atrair o público para seu evento será
importante, providencie convites a pessoas importantes, isso
deixará o evento em evidência — Isadora diz. — O resto
cuidaremos para que na internet e no Brasil isso seja
completamente falado sem parar, e se espalhe de boca em boca.
Meu olhar vai para fora, onde a loira quase cai em cima da
mesa de café junto das amigas e colegas, que querem a todo custo
saber o que se passa aqui, mas tudo porque Tomás Ribeiro está
aqui. Ele foi e continua sendo um dos nomes mais falados quando o
assunto é corações derretidos por São Paulo. Essas malditas listas
que nos colocam, que a meu ver não muda em nada, nunca fui
mulherengo para usufruir disso. A solidão sempre foi minha maior
companhia. Saí sim com algumas mulheres, mas nada que me faça
aproveitar ser parte de uma lista absurda dessa, como ele e outros
são colocados.
— O que acharem que deve ser feito farei. — Olho o relógio
em meu pulso. — Eu tenho uma reunião agora, mas, se precisarem
de qualquer coisa, entrem em contato. Está um dia complicado.
Nos levantamos e nos despedimos com um aperto de mãos.
— Claro. E meus parabéns pelo noivado — Tomás diz e
engulo em seco.
— Obrigado. — Assinto apenas.
Isadora me olha e olha para fora.
— É aquela ali, né? Que linda! Nossa, belas pernas...
— Isadora... — seu marido chama sua atenção, e ela faz
uma careta e, em seguida, sorri.
— Não sou cega, homem! A menina é gata... Com todo
respeito, viu, Natan! — Me olha e sorrio. — Bela escolha... Meus
parabéns! Trabalham juntos, né? Sabe que já vi algo parecido?
— Isadora, chega. Não seja intrometida. Vamos! — Tomás
fala e ela ri baixinho.
— Não sou. A mídia que foi. Eu, hein. Me deixe, homem! —
Ela ri e acabo sorrindo da discussão dos dois.
Acompanho eles até os elevadores, e posso estar louco, mas
ouço algumas suspirarem, e se a Violeta foi uma delas, será o
último suspiro de sua vida.
Assim que eles entram em um elevador, eu respiro fundo e
caminho até a tropinha.
— Algum setor foi transferido para cá e não me avisaram? —
indago e todos começam a sair rapidamente, correndo paras os
elevadores e escadas.
Violeta passa lentamente com as amigas à minha frente, e
sigo atrás delas, à espera de um elevador. Posso jurar que a peste
loira está se controlando para não rir.
Entramos no elevador alguns minutos depois e encosto
atrás. O trio está mudo, como se estivessem indo para a forca.
Observo-as e, por Deus, Violeta domina essa revista inteira.
Ela consegue fazer todos se aliarem a ela, menos Olga, que mal se
falam, mas nunca se gostaram. Quando cito uma para a outra, é
motivo de revirar de olhos e bufar. Violeta diz que seu santo não
bate com o de Olga, já minha secretária alega que Violeta age como
uma louca. E eu? Bom, apenas finjo que estou bem de saúde, e me
controlo para não matar as duas.
Chegamos ao meu andar, e as outras duas estão tão
preocupadas, que saem nele, perdidas, mas impeço a loira.
— Você fica! — Seguro seu corpo. — E vocês duas, esse
não é o andar de vocês! — Olham controlando o riso que lançam a
amiga, mas as portas se fecham.
Pego o molho de chaves em meu bolso, e a pequenininha
coloco perto dos botões e travo o elevador.
Violeta me olha e cruza os braços.
— Tem câmeras. Não pode me matar. Além disso, eu não
estava fazendo nada demais... Só... Como posso dizer...
— Só o admirando? — Me aproximo dela, colando nossos
corpos. Descruza os braços.
— Natan... — Ela ri de nervoso. — Para, tem câmeras, e
estamos na sua revista.
— Tenho que buscar o terno, e você vai ver o vestido de
madrinha, e foda-se as câmeras. Apenas vão ver o quanto eu
desejo minha noiva.
— Natan Valle, tenha modos...
— Não pensou neles subindo mais a saia e empinando a
bunda ao sair da minha sala, sua diaba!
Beijo sua boca relaxando-me, acalmando o estresse do dia,
sentindo sua boca que tanto me deixa louco, e seu perfume que me
fascina. Eu sugo sua língua pressionando seu corpo na parede
metalizada do elevador. Ela geme em minha boca, me
enlouquecendo.
— Se isso for... ciúmes... continuarei provocando-o... em...
Aaaah... — Chupo seu pescoço interrompendo sua fala.
Meu pau está latejando, doendo.
— Eu te quero essa noite no meu apartamento, antes de
retornarmos a Monte Amor! — falo e ela geme quando minha mão
passa por baixo de sua saia, e agarra sua bunda.
— Não dá... Eu tenho que sair com as meninas. Não sei a
hora que... retorno. Terá que aguentar seu vício por uma noite,
gelinho. — Beija meu pescoço e fecho os olhos. Aperto sua bunda e
ela geme mais.
Porra, me esqueci disso.
— Se eu ficar louco, será a principal culpada! — Beijo-a
novamente, roçando meu pau nela, louco para fodê-la bem aqui,
mas jamais irei compartilhar sua carinha quando vai gozar com
qualquer outra pessoa, e as câmeras fariam isso. Quero ter essa
visão perfeita apenas para mim.
Solto-a com cuidado, querendo mais. Sempre mais.
Destravo o elevador e aperto o botão para descer.
Ela ri se ajeitando e parando à minha frente, agarrando-me.
Passo um braço ao seu redor, e beijo sua boca com calma, para não
perder a cabeça e sumir com ela para o meu apartamento e
abandonar o resto do dia.
As portas se abrem assim que ele para, e ela se afasta
rapidamente, parecendo receosa.
Saímos do elevador, e seguro sua mão, pouco me
importando com o que vão ver, já acham que somos noivos de
verdade. Ela me olha, e olha para as nossas mãos unidas, mas não
diz nada, apenas vejo suas bochechas corarem, e os olhares de
todos voltarem a nós. Me inclino, segurando seu queixo e puxando
seu rosto para o meu, dando um beijo rápido.
— Natan! — diz entredentes e toda tímida, me fazendo sorrir.
Saímos do prédio e logo Dionísio surge com o carro.
— Por que ele vai te levar? Desaprendeu a dirigir?
— Porque é um pouco longe, e estou cansado. E porque
pretendo ir o caminho inteiro com as mãos em você — cochicho em
seu ouvido e ela tropeça me fazendo rir.
— Eu odeio a sua versão debochada, irônica e
engraçadinha! Saiba sempre disso — reclama.
Pisco para ela, conforme cumprimentamos meu segurança e
entramos no carro.
— Merda, minha bolsa... Cinco minutinhos e já volto. Depois
vou direto para casa, já vai dar meu horário, e preciso sair com as
meninas. Nos liberou mais cedo, esqueceu?
— Cinco minutos. Contados, vai! — falo e ela sai às pressas
do carro.
Dionísio me olha e solta um risinho idiota. Afinal, eu sou
muito chato com horários, mas minha vida sempre foi voltada a
servir essa praga loira desde que surgiu no meu caminho
derrubando tudo na entrevista, suando sem parar. Não teria como
ser diferente agora.
Estou em um barzinho ao ar livre com as meninas. Pedimos
uma rodada de bebidas e comida, claro. A noite está bem fresca, e
por isso estou com uma saia de cintura alta preta bem justa ao meu
corpo, uma blusa de mangas preta fininha e totalmente
transparente, e por baixo um sutiã preto, conjunto dessa blusa.
Meus cabelos estão ondulados, soltos, e a maquiagem é mais
marcante, com um batom bem vermelho. Estou com uma sandália
preta nos pés, e tudo vindo da sala maravilhosa da moda na
Sunshine, assim como as meninas, Nina em um vestido vermelho
lindo, e Olívia com um cropped e saia, a coisa mais linda.
Estamos um tempo já aqui, tem música ao vivo, e está cheio.
Acabei optando por contar a verdade a elas com todos os detalhes,
de um jeito certo, não picado, me abri com elas de verdade sobre o
que está havendo entre mim e Natan, sobre o sexo, o problema com
o Michael na nossa cola, e do modo que estou me sentindo em
relação ao nosso chefe. Não tem como negar mais, eu estou
amando esse idiota.
Bebo um pouco da caipirinha.
— Amiga, que merda mais tesuda que se meteu! — Olívia
fala e reviro os olhos.
— Não, Violeta arrumou o melhor partido. Chefinho vai
perder o juízo — Nina comenta.
— Parem as duas. No final, só restará eu bem lascada e
sofrendo. Vocês que lutem para cuidar de mim e me animar. Além
disso, esse é o último final de semana grudados, depois voltamos,
vamos fingir pra mídia até passar umas semanas e falarmos que
acabou. Nem sei como ficará nossa amizade, mas eu de verdade
acho que isso vai acabar desestabilizando o que construímos
nesses anos. Tenho medo de ter que sair da revista da pior forma.
— Viro o restante da bebida.
— Não pensa nisso. Natan é louco por você também, vimos
o jeito que te olhou naquele elevador, e a forma que ficou te vendo
junto da gente quando estava em reunião com o dono da Luna
Publicidades. Ele gosta de você mais do que imagina, Vilu. — Nina
tenta me confortar, mas ela é romântica, nem tem como não pensar
que tudo vai dar certo.
— Independentemente de como isso pode acabar, aproveite
esse final de semana e dê um bom chá de boceta nele.
— OLÍVIA! — berramos e ela gargalha nos fazendo rir junto.
— São péssimas conselheiras. Quer saber? Viemos aqui
para comemorar a conquista da Nina na matéria que vai fazer, e é
nisso que vamos focar. Além de nos divertirmos. Faz tempo que não
temos um happy hour, então sem Natan, sem problemas. Só
curtição! — Pego a outra bebida na mesa e elas pegam mais uma
também, e brindamos.
— Então vamos nos divertir. Somos jovens, solteiras até o
momento... — Olívia me olha e revira os olhos. — E a noite é uma
criança! — Pisca.

Viramos alguns shots após as bebidas e comidas, e estamos


dançando pelo bar, nos divertindo com as outras pessoas. Fazemos
fotos, vídeos e, pela primeira vez em dias, entro nas minhas redes
sociais que está uma loucura e taco o foda-se, apenas posto. Não
quero saber que tem mais de trinta mil pessoas me seguindo, isso
não me interessa, não mais.
Ao fundo cantam No Ouvidinho, do Felipe Amorim, e
dançamos, e, claro, rindo do que isso vai significar a nossa coluna
de idosas depois. Olívia me filma com o copo na mão e dançando, o
orgulho da mamãe, só que não. Tampo a câmera rindo, e ela desvia
filmando a gente.
Começamos a cantar junto do cantor, que está escolhendo
as músicas com a gente. A dança completa a loucura toda.
Não demora para outra música ser pedida e a da vez é
Vermelho, da Glória Groove, me lembrando da última vez que fui
para uma festa com elas, e terminei loucona ao som dessa música.
E elas lembram, porque começam a rir, e viro o copo de bebida,
antes de rebolar na frente delas, que acertam minha bunda.
Cantamos o refrão batendo palma junto de todos na batida
da música até voltarmos a dançar, rebolando até o chão, no ritmo.
Assim que a música termina saímos da muvuca para deixar
os copos na mesa, mas logo voltamos para ela, bêbadas?
Possivelmente, mas sendo feliz.

Passa das três da manhã e nem sabemos muito bem como


sobrevivemos a tanto. Exagerado, do Cazuza, toca agora e não
mais ao vivo, nem o cantor deu conta do povo. Estamos sentadas
perto da porta, com elas cantando a plenos pulmões.
Elas cantam me olhando e fazendo gestos. Duas idiotas.
Mostro o dedo a elas, enquanto reposto tudo que me marcaram,
mas não deixo de ver o rostinho do Natan dentre as pessoas, que
visualizam meus stories, que agora são muitas, e tenho até medo da
merda, mas não vou me privar, e até queria criar outra conta, mas,
porra, quem veio até mim foram eles, quem invadiu minhas redes
sociais foram todos eles.
As palhaças me filmam conforme cantam, e apenas faço
uma careta desviando o rosto dos celulares delas. A música termina
para a minha salvação.
Mensagens chegam em meu celular e meu coração bobo
acelera.

NATAN: Na hora que for embora, me avise e busco vocês.


Se cuida, e não me deixe preocupado.

NATAN: Por que está sem o anel?

Franzo o cenho com a última mensagem, e torno as ver as


fotos e vídeos postados. Está nítido que não estou usando. O
homem é literalmente observador e eu uma idiota. Era nítido que
isso poderia gerar merda na mídia.
— O que houve? — Oli me pergunta.
— Anel. Natan perguntou por que não estou com ele. Se
alguém na imprensa pegar esse detalhe as especulações vão
começar, tenho certeza.
— Ainda te avisamos sobre ter guardado ele. Coloca e
tiramos uma fotinho sua com ele e posta. — Ela joga na minha cara
e com razão.
— Se isso fosse real, não precisaria me preocupar com
essas merdas! — reclamo chateada.
Elas riem e percebo a bosta que acabo de afirmar.
Coloco o anel pegando na bolsa, pois tirei pelo medo de
andar com isso pelo bar e perder. Opto por uma foto juntas, onde
aparece minha mão e posto nos stories, e no feed do Instagram. E
até que ficaram boas. Somos fotogênicas, quem diria.

VIOLETA: Não precisa vir. Voltamos de Uber. E desculpa


pelo vacilo com o anel. Já postei foto com ele, para evitar ferrar seu
nome e essa mentira. Só evitei perder ou ser roubada.

NATAN: Não estou me importando com o que diriam.


Apenas fiquei curioso porque estava sem. Eu faço questão de
buscá-las. Está tarde. E tome cuidado, se tornou uma pessoa
pública, Violeta, lugares assim requer mais atenção.

Reviro os olhos.

VIOLETA: Eu sei disso. Só não vou parar a porra da minha


vida por uma mentira! Quer saber? Mais tarde nos vemos. Vou para
casa e, antes das nove horas da manhã, passo na sua cobertura
para terminarmos nossos serviços em Monte Amor! Não se
preocupe, Natan, eu não vou fugir dessa merda. Sua mentira vai
permanecer!

As meninas puxam o celular da minha mão e olho sem


entender.
— Está bêbada, sentimentos aflorados. Essa carinha
significa que vai fazer merda. Celular e álcool é uma humilhação
que não precisamos! — Olívia diz.
— Eu só estou cansada dessa porra! — explodo de vez. —
Essa merda vai acabar logo, para que tanta preocupação com a
merda de anel? Em vir me buscar? Medo de eu fugir e não honrar o
final desse inferno na cidade dele? Eu vou até o final dessa
porcaria, dei minha palavra! Só estou...
Engulo em seco e respiro fundo.
— Amando-o. Está amando o chefinho, e saber que tudo é
uma mentira está começando a te machucar, e esse final de
semana está te fazendo cair na realidade sobre tudo. O álcool não
ajudou. Então respira e vamos continuar nos divertindo — Nina fala
com carinho me fazendo sorrir.
— Estou fodida! Vou ao banheiro, respirar fundo e deixar
essa merda de lado.
Colocam o celular na minha bolsa, pego-a levantando-me.
— Vamos juntos, afinal, amigas sempre grudadas, bêbadas
sim, mas prontas para socar tarado também! — Olívia comenta nos
fazendo rir.
Entramos no banheiro um pouco cheio, e elas vão usar
enquanto seguro a bolsa delas e pego meu celular.

NATAN: Não vou discutir com você por mensagem, ainda


mais que bebeu. Quando estiver melhor, falamos sobre isso se
desejar!

É o que tem na mensagem, nada mais. Jogo o celular na


bolsa de novo.

Quase cinco da manhã e não dá mais. Precisamos ir. Eu


tenho que ir para Monte Amor daqui quatro horas. Preciso de banho,
e uma hora de sono ao menos.
Ainda tem algumas pessoas agitadas, enquanto saímos mais
afastadas da bagunça com as meninas tentando pedir Uber, mas
meus olhos param na Ranger Rover branca ao lado, um dos carros
do Natan, com o Dionísio fazendo sinal.
— É, acho que não precisaremos de Uber. — Indico com a
cabeça e elas seguem o sinal. — Segurança do Natan e um dos
carros dele.
— É disso que estou falando! Foi para isso que assinei
Netflix, para viver aqueles filmes na vida real! — Nina fala
arrancando risos da gente.
Vamos até ele, que nos cumprimenta.
— Fui instruído a deixar as senhoritas em suas casas. —
Abre a porta para nós e sorrimos.
— Que riqueza! DEUS, SE FUI POBRE NÃO LEMBRO! —
Olívia berra entrando no carro, e puxando Nina.
Começo a rir, e até ele sorri.
— Como sabia onde estávamos?
— Parece que sou bom no meu trabalho, ou o senhor Natan
mostrou uma das fotos e reconheci o lugar. — Pisca e sorri.
Reviro os olhos rindo, e contorno o carro, quero ir na frente.
Abro a porta antes que ele faça, mas ele fecha.
— Está aqui faz tempo?
— Tem umas duas horas ou quase — responde e assinto.
Enquanto Natan mandava as mensagens, o segurança dele
já estava aqui.
As meninas passam os endereços, e Olívia mora mais perto,
então é a primeira a ser deixada. Em seguida é a Nina, e todas ele
esperou entrar e estarem em segurança.
— Bom, restou a senhorita. Estamos perto de sua casa.
Senhor Natan disse para te deixar onde escolhesse.
Sorrio para ele e respiro fundo.
— Melhor em casa. Ele já deve estar dormindo.
— Se me permite dizer... Ele não está dormindo. Enquanto a
senhorita não estiver em casa segura, ele não vai descansar. A
cada cinco minutos me envia mensagens.
Meu coração idiota e bêbado, solta pulinhos, mas minha
razão sabe que eu com álcool e toda sentimental não é a melhor
coisa ir até ele.
— Me leve para casa, por favor.
Ele assente e solto o ar com força, terminando a noite
divertida ao modo dramático. Isso estava escrito, daria merda. Meu
cupido me odeia.
Sete horas da manhã e eu simplesmente não dormi direito.
Se cochilei foi muito e tudo pela preocupação que eu estou
sentindo. Academia pela manhã não foi o suficiente para me relaxar,
nem mesmo um treino pesado. Aquela mensagem da Violeta me
deixou louco, ainda mais sabendo que não poderia resolver nada no
momento, não com ela possivelmente bêbada, e de madrugada. Eu
simplesmente odeio ficar com as coisas em aberto, mal resolvidas,
mas foi inevitável.
Quando Dionísio disse que ela não viria para cá, eu já
imaginava, mas ter certeza foi uma merda, me deixou irritado,
frustrado e minha preocupação triplicou, mas ao menos chegou em
segurança em casa.
Agora aguardo ela vir para cá, pedi para Dionísio ir buscá-la.
É final de semana, o trânsito é pior e precisamos chegar logo em
Monte Amor. Não sei que inferno minha irmã decidiu, mas preciso
estar lá. Pedi café da manhã para Violeta, sabendo exatamente que
não teria tempo dela tomar em casa. Eu poderia ter ido buscá-la e
de lá iríamos, mas precisei de um bom banho para acordar, e
organizar a bagunça no escritório, onde passei parte da madrugada
fazendo alguns croquis, antes das mensagens, e de toda inspiração
ir embora.
A porta se abre enquanto bebo meu café, e vejo-a entrar.
Está de jeans, tênis, e moletom branco. O cabelo preso em um
coque. Os olhos cansados, assim como a aparência. Ela se
aproxima deixando a bolsa sobre um dos sofás, e se sentando na
poltrona.
— Vamos? — indaga com a voz rouca e meu coração
acelera com sua visão e voz.
Sem “bom dia”, está muito puta comigo.
— Tomou café? — questiono e ela nega. — Então tome
primeiro, por favor.
Indico as coisas na ilha da cozinha e ela olha, e balança a
cabeça em negativa.
— Valeu... Estou sem fome.
Respiro fundo, deixando minha xícara de lado e indo até ela,
parando ao seu lado e estendendo a mão. Ela fica olhando um
tempo, mas segura, pelo menos não está recusando meu toque.
Levo-a até toda a comida sobre a ilha.
— Come, eu sei que deve estar faminta. Não precisa se
matar de fome porque está irritada e, pelo jeito, comigo. — Toco seu
rosto e ela desvia o olhar. — Vou te deixar comer, enquanto resolvo
umas coisas.
Me afasto depressa, indo para o escritório, para não cometer
a burrice de beijá-la, quando as coisas não estão boas, e piorar de
algum modo tudo. Porque minha vontade é fazer isso, beijá-la a
cada vez que estamos perto um do outro, e de puxar seu corpo para
mim sem poder evitar. Eu a desejo a todo instante.
Fico vendo os croquis feitos, e sorrio, pois cada maldita peça
está sendo criada pensando em como ficaria nela. Violeta está me
inspirando mais do que eu imaginaria, e isso pode ser pior do que
pensava. Se ela é parte principal da minha inspiração, isso significa
que na hora que ela se distanciar, e que eu não a tiver mais grudada
a mim, isso pode acabar. Se apenas com esse desentendimento de
madrugada, eu vi tudo virar uma nuvem branca em minha mente,
então ter distância dela pode ser pior ainda.
Ela está me dando a imaginação, e junto outros sentimentos
fortes, mas que não posso priorizá-los. Eu tenho medo de machucá-
la, de não saber ser bom a ela, ou de todo meu trabalho me
consumir ao ponto de não dar a ela atenção necessária. Eu não
posso prendê-la a mim, a minha solidão. Violeta é jovem, e por mais
que doa pensar nisso, ela pode ter caras mais novos, que vão dar a
ela momentos mais descontraídos, as curtições que ela gosta, as
noites que merece, e as alegrias que meu mundo não daria, porque
tem muito tempo que não sei mais o que é isso.
Deixo os papéis de lado, e fecho o escritório. Passo em meu
quarto pegando o terno e o vestido dela, que pegamos com o
Renan, na mesma cor das madrinhas, um rosa-claro.
Retorno à sala e deixo sobre o sofá. Ela está lavando as
coisas que sujou. Já guardou tudo. Termina enxugando as mãos e
se vira me olhando.
— Podemos ir — fala e é o que farei.
Ir logo para Monte Amor, onde nunca deveria ter levado essa
mentira.

O caminho inteiro ela veio muda, e nunca imaginei o quanto


isso seria um incômodo para mim. Me acostumei ao seu barulho,
provocações, a forma de me enlouquecer. O silêncio não combina
com Violeta Matos.
Mas seu semblante piora quando estaciono o carro na frente
da casa e vemos a pessoa entrando. Michael está aqui. Eu já sabia
que ele tinha vindo ontem, pois Melinda, ao me ligar contando que a
bicicleta chegou, também falou que o pai estava aqui. Esperou eu
dormir longe para retornar, se fazendo de vítima, e mal sabendo que
Naomi já sabe sobre suas merdas.
Desgraçado.
— Quero vomitar. — Abre a porta falando, e pegando sua
bolsa. — Patético.
Sei bem o que quer dizer.
Pego nossas roupas ao sair do carro e entramos na casa,
que tem vozes altas e correria para todos os lados, mas apoio as
mãos nas costas da Violeta e levo-a para o meu quarto, fugindo da
bagunça.
— Não vai ajudar nos preparativos? — pergunta enquanto
entro no closet colocando as coisas.
— A verdade é que nunca precisaram de mim para isso. Era
apenas parte do plano para me trazer de volta. — Retorno ao quarto
e ela está na janela.
Me aproximo, vendo sua bolsa sobre a cama.
Temos uma vista de onde ocorrerá a festa, e está tudo sendo
preparado. Será ao pôr do sol, mas desde já tudo está sendo feito,
preparado pelos melhores, com meus pais lá ditando cada coisa.
— Acha que ela se casa? — questiona.
— Não sei... Naomi o ama, e existe a Melinda. Você se
casaria ainda assim após uma traição?
— Talvez eu estivesse como ela, confusa. Tem uma criança,
um amor de anos, e centenas de pessoas esperando esse dia com
eles. Não é algo fácil de se decidir às vésperas do casamento. Por
isso sou a favor do casamento intimista, se der merda, só precisará
desconvidar um pingo de gente.
Sorrio, me apoiando sobre a janela.
— Então, Violeta Matos não é uma mulher que quer uma
festa extravagante?
Nega sem jeito e sorri. O primeiro sorriso de hoje e o
suficiente para me relaxar um pouco.
— Nem sei se irei me casar um dia. Mas se acontecer,
evitarei comemorações enormes. É um dia especial demais a meu
ver para ter tantas pessoas, onde metade não fez parte da vida dos
noivos, a verdade é essa.
— Preciso concordar com você.
— E temos um milagre aqui. — Me olha e sorrio.
Viro-me em sua direção.
— Quer conversar sobre o que aconteceu de madrugada?
Ela balança a cabeça lentamente.
— Álcool aconteceu. Melhor eu me manter longe do celular
toda vez que eu estiver alcoolizada. — Tenta se afastar, mas
impeço, segurando sua mão e trazendo seu corpo a mim.
— Eu sei que tem muita coisa nessa sua cabecinha, e eu
entendo seus olhares, eu não sou tolo, minha linda, sei exatamente
o que está havendo... — Ela desvia o olhar envergonhada. — Não
faz isso, não sinta vergonha. Mas tem muita coisa acontecendo, eu
não posso dar a você agora as palavras que deseja ouvir. Estou
puto comigo por te trazer a essa situação, pois jamais desejei te
machucar assim. Eu me importo demais com você para te machucar
e não sentir em mim essa dor.
Ela abraça minha cintura, e aperto seu corpo a mim.
— Odeio ficar nesse clima, nunca ficamos assim.
— Eu sei... Talvez seja melhor pararmos com tudo que
estamos fazendo no meio dessa mentira, antes que nos
machuquemos ainda mais. Quando voltarmos a São Paulo, essa
distância de noites juntos, todo o contato mais íntimo, vai se
encerrar, e provavelmente é disso que precisamos para podermos
tentar começar ajeitar essa bagunça toda. — Ela assente em meus
braços. Beijo o topo da sua cabeça sentindo um nó na garganta se
formar lentamente, e uma dor no peito surgir. — Me perdoa por te
fazer sofrer assim. Mas você merece mais, Violeta. Muito mais do
que um cara como eu.
— Não escolha por mim, Nate... Só não faça isso.
Ficamos abraçados, sentindo um ao outro. Meu coração
dolorido demais com tudo, e eu posso estar cometendo uma burrice
imensa, mas é o melhor no momento. A razão precisa ser nossa
aliada, quando tem coisa demais envolvida. Eu a desejo... eu estou
perdidamente maluco por ela, desejando mais que seu corpo, sua
boca. Eu quero continuar sendo o primeiro a ver o verde dos seus
olhos se iluminar todas as manhãs. Eu quero ser quem a terá ao
lado sempre... Porra, passei tanto tempo a empurrando para longe,
querendo distância, que acabo de descobrir que nunca suportaria a
ausência dela em minha vida.
A porta se abre e a pequena entra toda animada e correndo
na nossa direção. Me afasto da Violeta, pegando Melinda no colo
assim que se joga em meus braços.
— Papai e mamãe vão casar. Mas tem uma bicicleta que o
vovô montou e dá tempo de começar as nossas aulas! — ela diz
toda empolgada e franzo o cenho.
— Prometi que a ensinaria — Violeta fala rindo.
— Ainda bem que o seu convênio médico é ótimo, princesa.
— Beijo suas bochechas gordinhas e rosadas.
Violeta faz uma careta para mim e ainda assim é linda.
— Eu não vou cair. Tem rodinhas, capacete... Vai ser legal.
Vamos, Violeta? Você prometeu. Podemos ir na praça da cidade, e
depois comer bolo na dona Clotilde. Assim vejo o Jonas, e você
também. Ontem ele perguntou de você.
Coloco-a no chão e encaro Violeta, sentindo uma merda
estranha dentro de mim. A mesma que senti vendo-a dançar e toda
linda daquele jeito de madrugada. Ciúmes. Maldito ciúmes.
— P-Perguntou por mim? — Ela coça a nuca, e isso significa
que está nervosa.
— Sim! Disse que sumiu. Perguntou se estava bem. Vamos?
Violeta assente.
— Vou apenas trocar de roupa, colocar uma de calor e
vamos, tudo bem? — diz a minha sobrinha, que concorda.
— Você vem, titio? — questiona e assinto. Violeta me olha.
— Não perderia por nada sua primeira vez em uma bicicleta!
Violeta semicerra os olhos e balança a cabeça. Foda-se se
entendeu o real motivo de eu estar indo. Caralho, o cara mal a viu
direito e quer saber dela, preocupadinho que sumiu? Uma porra!
Terei uma morte precoce, e a cada instante fico mais certo
sobre isso.

O passeio de bicicleta até que está se saindo melhor do que


eu imaginava. Violeta leva jeito com crianças, o que é totalmente
assustador, preciso confessar. Ela passa muita segurança para a
Melinda, que pedala com sua ajuda, e me questiono de onde veio
essa paciência e conexão com a criança que ela tinha pavor. Mas
não irei questionar, pelo bem dos resquícios da minha sanidade
mental.
— Olha, tio! — Melinda grita pedalando sozinha quando
Violeta a solta, mas se mantendo por perto.
Ela vem até a mim e sorrio.
— Parabéns, minha princesa! Está indo muito bem.
Violeta bate em sua mão como um cumprimento, e para ao
meu lado cruzando os braços. Está linda com esse short infernal,
marcando bem sua bunda grande.
— Sou uma boa professora, né? Eu deveria ter seguido com
licenciatura em Letras.
— Não exagere, Violeta. Mas está indo bem com ela — falo
e ela sorri. — Mais duas voltas e vamos para a dona Clotilde comer
seu bolo e ir para casa ver se sua mãe precisa de algo, certo?
— Sim, senhor! — Bate continência, e pedala com a Violeta
indo ao seu lado.
Fico observando as duas, e é uma cena bonita de se ver. Me
faz pensar mais sobre um futuro que nunca imaginei. E de algum
jeito bem perturbador eu vejo Violeta ao meu lado, construindo uma
família com ela.
Inferno, preciso parar de pensar nessas coisas.

Aroma de Paixão está cheia, final de semana é comum isso


na maioria das vezes. A bicicleta ficou no carro, assim como os
acessórios de segurança. Violeta e ela foram lavar as mãos no
banheiro, e já encontraram uma mesa ao retornarem, enquanto eu
fazia os pedidos do que queriam. Melinda um bolo de cenoura com
chocolate, e suco de laranja, e Violeta com seu paladar bem
maduro, chocolate quente com torta de... (pasmem!) chocolate
também. Peço um suco natural para mim, não estou com fome. A
preocupação com o casamento está me tirando o apetite.
Vou para a mesa com elas, me sentando ao lado de Violeta,
que ajeita a pulseira em seu braço que Melinda lhe deu. Reviro os
olhos do chamego entre as duas, e elas riem.
— Essa Chucky é do bem!
— O que é Chucky, Violeta? — Melinda pergunta bem
curiosa.
— Nunca pesquise. Um boneco do mal. Mas você é do bem,
e eu sem-noção por te chamar assim.
A pequena ri da explicação maluca, que ela acredita que
será sua futura titia.
O garçom, famoso Jonas, vem trazer nossos pedidos, e não
deixo de observar os sorrisos para ambas. Elas pegam seus
pedidos e eu puxo o copo na minha direção.
— Não perguntou da Violeta? Ela está aqui, Jonas! —
Melinda estende a mão para a loira ao meu lado, e eu apenas
encaro o moleque, que fica todo sem jeito.
— Eu? Ah, estava curioso, pensei que sabe, não tinha sido
bem atendida aqui... — Começa a se enrolar, e eu inclino
lentamente a cabeça em sua direção.
— E por acaso teria motivos para isso? — pergunto, e
Violeta coloca a mão em meu colo.
— Cale a boca, traste... — sussurra para mim, mas não dou
muita atenção. — Fui muito bem atendida. Estava na correria
apenas! — Ela está toda sorridente. Que porra é essa?
— Casamento chegando, né? Eu vi sobre a despedida de
solteira. Meus parabéns...
— JONAS, OS CLIENTES! — dona Clotilde berra.
Passei a me simpatizar com a velha!
— Com licença. Qualquer coisa me grite! — Ele se retira indo
até ela, que o acerta com o pano de prato. Amo essa mulher agora.
— Que papo é esse de despedida de solteira?
Dou de ombros, e ela pega o celular e começa a olhar. Vejo
a merda da vez quando ela me mostra. Está em todos os lugares
que a noiva de Natan Valle estava em clima de comemoração com
as amigas, e, ao que tudo indica, era despedida de solteira.
— Merda... Olha isso! — Ela faz uma careta, bem chateada.
— Estar atrelada a mim tem esses problemas, infelizmente.
Melinda nos olha sem entender nada, mas mais preocupada
com seu bolo. Porém, é quando Violeta coloca o celular na mesa, e
puxa a mão dele, que bate na caneca de chocolate quente, que
acredito que o universo me odeia. O chocolate-quente vem
diretamente em cima do meu pau. Essa porra pelando cai em cima
do meu pau!
A calça que estou é fina, e eu sinto esse caralho, como eu
sinto.
— PORRA! — grito alto ao sentir, e Melinda arregala os
olhos.
— MEU DEUS... MEU DEUS! NATAN, DESCULPA.
GUARDANAPO, PRECISAMOS DE GUARDANAPO! — Violeta
berra.
— Tira a mão... Cacete! — Tento empurrar sua mão, e
quando esbarra onde a cagada foi feita, a porra enrosca.
— A pulseira... Merda, a pulseira enroscou. ALGUÉM TRAZ
GUARDANAPO! — ela grita mais e vejo Jonas e dona Clotilde
correrem.
Melinda arregala mais ainda os olhos.
— Está tudo bem? — ela pergunta, mas ninguém responde.
— Tira a mão, Violeta! Essa porra está me queimando! —
digo entredentes.
— EU NÃO CONSIGO TIRAR A MÃO DO SEU PAU,
CARAMBA! ENROSCOU! — Ela me olha, se dando conta do que
acabou de berrar a plenos pulmões. Ela simplesmente gritou isso
em um lugar lotado.
Olhamos para todos que estão nos encarando boquiabertos,
seu rosto vai esquentando.
— Que pau, Violeta? — Melinda indaga para fechar com
chave de ouro!
— O da mesa... O da mesa, Mel! — ela diz rapidamente,
pensando rápido.
— Se eu ficar sem meu pau, vai ter que se casar comigo por
castigo, filha da mãe! — falo entredentes.
— ALGUÉM SALVA ESSE HOMEM? — ela grita apavorada.
Puxo sua mão com força, e estoura a pulseira. Mas o zíper
da calça belisca minha cueca com isso, e acaba beliscando ainda
mais o que já está provavelmente necrosando.
Eu apenas me inclino, e solto um gemido de dor.
Dona Clotilde entrega panos úmidos e secos, e Jonas
começa a limpar a bagunça.
— Nate, perdão... Quer ir ao hospital? Vai que caiu o
negócio... Eu estou apavorada! — diz com a voz assustada.
— O que caiu? — Melinda indaga, mas nem olho.
— Vamos... sair... desse... lugar... agoraaa! — travo uma dor
na garganta.
— Melhor levarem ao médico, sabe, pode ter machucado!
Era só o que me faltava, o moleque preocupado com o meu
pau também!
Desastre, é tudo o que está virando esse dia. Bom,
aparentemente o pau do Natan está a salvo, depois a humilhação
na cafeteria. Mas o clima para esse casamento está péssimo. Nem
sei se esse vestido lindo vale a pena hoje. Peguei no estilista doido
do Natan, o maluco dos alfinetes, é longo, rosa-claro, bem justo na
cintura, com decote princesa, onde uma alça é bem fininha e toda
detalhada em pedrinhas, e a segunda alça cai em meus ombros,
com os brilhos mais destacados, combinando com o detalhe em
prateado da cintura, que imita um cinto bem delicado. O tecido é
leve, molinho, bem gostoso para o clima lá fora.
Estou com uma sandália que eu tive a sorte de ter uma na
mesma cor do vestido e com detalhes semelhantes. Meus cabelos
estão presos em um penteado que a cabeleireira das madrinhas fez,
algo no estilo campo, meio despojado, alguns fios soltos, eu gostei.
E a maquiagem, claro que não fui eu também, só alguém
profissional para salvar a cara de ressaca que eu estava.
Termino de colocar um brinquinho delicado, e evito
acessórios, o dia já deu muito ruim com uma pulseira.
Natan sai do closet, em um smoking cinza-claro, e está um
perfeito galã de novela, e já anda sem ser quase encurvado. Um
milagre? Acredito nisso. Pobre pau.
Para a minha frente, e ajeito a gravata-borboleta em seu
pescoço, e ele me olha, e estou me controlando para não me
lembrar da cena e rir.
— Está perfeita — diz e sorrio.
— E você está quase tão lindo como eu! — Beijo seu rosto e
me afasto. — Só vou passar o batom e podemos ir. — Acha que
está tudo bem? Naomi não quis a ajuda de ninguém e está quase
na hora do casamento.
— Não sei. E é isso que está me incomodando.
Passo o batom nude e o gloss por cima, e pego a bolsa de
mão conjunto do vestido. Deixo meus documentos dentro, e batom
por via das dúvidas, se der merda estarei preparada para fugir da
prisão. Uns trocadinhos também, nunca se sabe. Eu não precisando
pegar um avião, ao menos um ônibus será possível.
Enlaço meu braço ao dele.
— O último final de semana em Monte Amor e fingindo
sermos um casal para eles — falo sentindo meu estômago revirar.
Ele respira fundo.
— O último.
Assinto e saímos do quarto rumo ao casamento, e ao final
disso tudo.

Uau!
É o que preciso dizer e o que consigo falar. Naomi caprichou
nas escolhas e sua família fez acontecer. O casamento está puro
luxo. Flores que devem valer um carro ou mais, todas naturais. O
gazebo onde está o juiz de paz está lindo, com flores rosa-claro,
branco e detalhes em verde das folhagens. Dois ambientes, o da
cerimônia e o da festa, e ambos bem estruturados. Telão, fotógrafos
para todos os lados, e muita gente. As madrinhas e amigas gritam
dinheiro só pelo olhar, e eu grito terror só de ver o babaca do noivo
no gazebo, todo cheio de sorrisos, fingindo que é santo.
O cretino é cara de pau.
A nossa entrada e do traste já foi feita, e estamos à espera
da noiva com seu pai, e da Melinda que entrará junto dela. Coitada,
tão nova e participando de uma palhaçada dessa. Mas quem sou eu
para julgar? Olha a merda que me meti.
Natan e eu estamos de pé ao lado do gazebo, junto dos
demais. Sua mãe olha tudo atenta, em modo de deixar cada coisa
ainda mais perfeita. O pôr do sol se inicia e isso significa que a hora
mais esperada está chegando. Vejo dona Clotilde na primeira fileira
das cadeiras, e ela sorri para mim. Pobre mulher, passou um
perrengue mais cedo em seu estabelecimento e agora em um
casamento dado ao fracasso.
— Ela não deveria ter convidado esse tanto de gente! —
Natan diz baixinho.
— Ela não deveria nem ter feito esse dia chegar, mas não
vamos julgar. Estamos aqui pelo apoio moral. Você é irmão dela, faz
seu papel.
— Se eu fizer meu papel, eu estouro a cara desse filho da
puta na porrada, e acabo com esse circo!
— Natan! — chamo sua atenção e ele olha para o futuro
capeta, conhecido por cunhado, que nos lança um olhar do tipo “não
tem mais volta, é oficial”.
A marcha nupcial inicia, sendo tocada pelos músicos, e todos
se viram para olhar Naomi, que, puta que pariu, está linda. Uma
verdadeira princesa. Pobrezinha, não merecia isso. Seu pai e sua
filha um de cada lado dela. A pequeninha está perfeita, e toda
sorridente, diferente da mãe que parece sentir uma dor de barriga, e
não é para menos.
Aperto o braço do Natan, nervosa, como se eu estivesse
fazendo essa merda. Ele acaricia minha mão, mas não tira o olhar
da irmã. O idiota do noivo força tanto um choro, que logo se cagará
todo.
— Ai... Ela não pode fazer isso...
— Já fez, Violeta... Já fez! — Natan fala totalmente nervoso.
Suas outras madrinhas sorriem, e talvez sejam iludidas
nesse babaca como ela era. Os padrinhos todos em pose, bem-
vestidos, e alguns devem ser amigos do Michael, pois sorriem
vitoriosos para ele. Olha, se eu me irritar, para acertar a cabeça
deles nesse gazebo é três segundos.
Seu pai a entrega ao Michael, e Melinda corre para ficar com
a avó. Não existe um olhar caloroso do pai a ela, nem um “lindinha
do papai”, ou beijinho. Babaca! Ele segura o seu troféu, quero dizer,
a mão de sua futura esposa, e eu poderia vomitar agorinha.
— Vamos dar início a esse dia especial — o juiz de paz fala,
e mal sabe ele a merda que é esse dia, isso sim.
Ainda bem que não é um padre, seria um pecado enorme
isso.
Ele começa a falar, e Naomi está séria. Não fui em muitos
casamentos em minha vida, mas acompanhei de muitos famosos, e
até aos que duraram menos de um ano, a noiva sorria mais. Ela
está esquisita, mas como não estaria se casando com um merda?
O homem fala sem parar, e eu já me sinto cansada e pronta
para fugir. Só não começo a roer as unhas, pois, antes de vir para
cá, até fiz elas, estão fofinhas.
Finalmente chega nas palavras mais traumatizantes, e claro
que Michael diz o “sim” mais forte de sua vida. Chega a falar rindo.
Natan fecha a expressão e afago seu braço, não tem jeito, toda
merda aconteceu, fazer o quê?
A pergunta é feita a Naomi, as pessoas choram e mal sabem
que ela está se casando com o sapo que nunca seria um príncipe.
Iludidos.
Um minuto se passa.
Silêncio.
Três minutos se passam.
Silêncio.
— Talvez não tenha compreendido pelo nervosismo... — O
homem sorri. — Naomi Valle, aceita casar-se com Michael... — ele é
interrompido pelo movimento que ela faz, largando o buquê, que
rola a escada do gazebo e para próximo ao tapete de entrada.
Solto o braço do Natan, meus olhos arregalam. As pessoas
ao redor começam a cochichar.
— Não... Eu não vou me casar com ele!
As palavras dela saem e um coro de “Meu Deus!” sai em
perfeita sintonia da boca de todos. Olho para o Natan, que está sem
cor, mas não mais que o Michael.
— Amor, que brincadeira é essa? — Ele ri de nervoso. —
Para com isso, não seja tola. — Sua voz é tomada pelo nervosismo.
— Isso não é brincadeira que se faça. — Continua rindo, pálido.
Ela se vira para ele enquanto seus pais estão prestes a
enfartarem. Até eu estou, após esse choque.
— EU. NUNCA. IRIA. ME. CASAR. COM. QUEM. ME. TRAI!
— fala pausadamente, diante do microfone.
Olho para as pessoas, meu coração em pura adrenalina, e
vejo dona Clotilde quase verde. Todos estão de pé agora, sem
entender nada. O falatório bem alto.
— Natan, corre, a velha vai desmaiar!
— Hã? — O coitado me olha confuso, perdido.
Eu o empurro, e talvez empurrar quem está em choque, não
seja a melhor solução. Ele tropeça, indo em direção à dona da
cafeteria, que perde a força nas pernas, e no tropeço dele, a cadeira
vai para o lado, onde ele cai sentado, e ela cai de joelhos,
diretamente com a cara no meio de suas pernas. Meus olhos
arregalam, levo uma mão à boca. A gargalhada da Melinda se
mistura à loucura.
Dona Clotilde escorrega com a cara do meio das pernas dele
ao chão, mas deixando algo em cima do seu pau bastante
prejudicado hoje: a dentadura dela. Uma gargalhada escapa da
minha garganta, e preciso emendar a tosse que invento, eu sinto
que vou ter um treco se não parar.
Pessoas correm para socorrê-la, e me aproximo do Natan.
Os convidados não sabem para onde olhar.
— Não é um bom dia para o Natanzinho... — falo e ele me
fuzila com o olhar.
— TIRA ESSA PORRA DAQUI! — Aponta e nego.
— Nunca... Olha, sua irmã deu... — Ele usa a barra do meu
vestido para pegar o dente da velha e joga sobre o corpo dela
estirado nos braços das pessoas. — Seu nojento!
Naomi desce as escadas erguendo a frente do vestido,
Melinda gritando dizendo que a mamãe está fugindo.
— MINHA FESTINHA... TÃO LINDA... — Marietta lamenta a
dor de tudo indo por água abaixo.
— Traindo minha filha? Seu carrapato! — Ruben pula para
dentro do gazebo, e empurra o Michael.
O juiz de paz tenta fugir, mas rola a escadaria, e espero que
sobreviva, será péssimo ter que depor sobre isso na delegacia.
Natan se levanta tentando ir até o pai, mas fica indeciso entre ele e
a mãe, que está gritando que vai desmaiar.
O pai da noiva e o “não mais noivo” se atracam feio, e
Michael leva um microfone na testa e eu começo a rir em
desespero.
— Tira a Melinda agora daqui! — Natan diz, mas a garota já
está correndo atrás da mãe.
O que eu faço? O que eu faço? Fico olhando de um lado
para o outro, e Monte Amor está em choque, pois a cidade dos
casamentos está tendo um casamento arruinado, ao vivo e a cores.
O juiz de paz é erguido, e sai todo torto, desgovernado. Eu
ergo meu vestidinho, arranco os saltos, e agarro-me a minha bolsa,
para correr desse caos.
— VIOLETA! SEGURA MINHA CAUDA! — Naomi grita na
entrada do tapete de gramas.
— Eu vou ajudar uma noiva em fuga. Meu Deus, que
maravilhoso! — grito animadinha, e Natan me empurra para sair do
meio da baderna, mas nesse movimento eu tropeço na dona
Clotilde, e o dente da velha voa para baixo das cadeiras, e, por
Deus, que não tenha quebrado!
No mesmo instante, Natan é acertado pelo Michael, que
escapa dos braços do Ruben, e isso ganha grandes proporções,
porque os padrinhos se metem na briga.
Pego minha sandália linda e acerto a cabeça do Michael.
— NÃO TOCA NELE, SEU BOSTA!
Ele grita de dor, e Natan me pega no colo, me tirando dali.
— PARA, SUA LOUCA! — Natan grita, me tirando da
bagunça.
Bato as pernas, e ele me joga por cima do ombro.
— Ele te acertou. — Pego o outro par, e atiro na direção do
babaca, mas minha mira é uma merda, e acerto a cabeça de um
dos músicos, que cai do banco, levando o violino junto. — MOÇO,
PERDÃO! Natan... Eu matei alguém, Natan! — berro.
Ele me coloca no chão perto da sua irmã e sobrinha.
Que o moço e o dente da dona Clotilde sobrevivam.
— Somem daqui agora, deixa que eu resolvo isso. Vai! — ele
grita bem sério, e corre na direção da bagunça.
A pobre da dona Clotilde se levanta desnorteada e banguela.
Marietta desmaia em cima dos arranjos, caindo entre as flores, que
ao menos amorteceram a sua queda. Ruben pula nas costas do
Michael, que cai de quatro no chão com o ex-sogro montado em
suas costas e tentando o enforcar.
— O que eu fiz? — Naomi indaga apavorada, aflita.
— Se livrou de um bosta. Sebo nas canelas, lindona! — grito.
— Eu não sou uma égua, Violeta! — rebate.
— Vai parecer uma quando eu segurar essa cauda para
corrermos. Me ajuda, Aqui Melinda. Finja que a mamãe é uma égua
e vamos fugir, porque isso vai dar tão ruim. Oh, céus... — lamento
olhando o céu e tropeçando. — Opa! Cair agora não. — Rio de
nervoso.
— O que estamos fazendo e por que todo mundo está
brigando? Olha, papai está vesgo, vovô puxou a gravata dele! — Ela
ri achando graça.
Olho rapidinho, e começo a rir, mesmo sabendo que é
errado. Parece cena de filme o negócio.
— Vamos. Agora. Quem sabe dirigir aqui? Temos uma fuga!
— Eu não sei... — Melinda diz enquanto corremos
segurando a cauda da sua mãe. — E não saio com você dirigindo!
— Arregala os olhos.
Rio mais um pouco, porque ela se lembrou de que não sei
dirigir. Corremos para o carro da Naomi.
— Precisamos tirar isso, como vou dirigir? Deus...
Impossível!
— Arranca o vestido, se a cauda não sair, arranca ele!
— Eu não posso dirigir pelada! — me fala como se eu fosse
doida, sendo que ela que está fugindo e causando o caos.
— Pode. Não tem tempo. Se entrar vai desistir de tudo,
certeza. Vai logo, Naomi. Arranca isso, mulher! — Ajudo-a abrir o
negócio, que parece de outro mundo.
Para que tantos botões? Deus!
Ela arranca o vestido quando terminamos, e Melinda acha no
carro uma blusa de frio da mãe. Dou para ela vestir ao menos a
parte de cima. Está em uma lingerie sexy, eu diria, ao menos não é
uma calcinha rasgada, já me ocorreu em uma ida ao hospital,
traumático eu diria.
— Só torcer para o carro não quebrar — brinco e ela me olha
apavorada. — Gata, você nua, uma criança, e eu descalça. No
mínimo dirão que rapitamos ela. Não queremos isso, certo?
— Estou com os documentos na bolsa. Vamos, está tudo
aqui no carro. Natan levará minha mala depois, já mandei
mensagem.
— Já sabia que fugiria? — Arregalo os olhos.
Entramos no carro, e colocamos o cinto. Melinda consegue
se ajeitar bonitinho e com segurança.
— Sim! Só não sabia que teria coragem suficiente, por isso
não peguei a mala, e só deixei a bolsa aqui. — Ela dá ré no carro.
— Segurem-se! Meu Deus... O que eu estou fazendo?
— Se você não sabe, não questiona a Ele, que vai que nos
castiga para mostrar? Às vezes, é melhor nem saber. Vamos,
Naomi!
E, quando vemos Michael ou os resíduos dele correndo na
nossa direção, eu deixo a bolsa cair aos meus pés, e me agarro a
porta.
— Sou tão novinha para morrer — choramingo.
Mas a última coisa que vemos, é uma cadeira o acertando,
que cai em câmera lenta, e uma multidão correndo, porque fugimos
da chácara e saímos às pressas de Monte Amor. O destino? Não
sei, só estou embarcando nessa porque é grátis, e sempre quis
participar de uma história marcante.
— Queria uns docinhos! — Melinda reclama.
— Filha, isso não é hora.
— Mamãe, eu amo a senhora, não sei nada do que está
acontecendo, mas o papai apanhou do vovô, então é coisa séria. E
é a segunda vez que ele apanha, outra vez foi o tio Natan que bateu
nele. Ele vai ficar de castigo?
Começo a rir sem poder evitar.
— Ah, princesa, ele vai sim, mas um dia entenderá tudo!
Também amo você — Naomi fala — Alguém tem dinheiro para o
pedágio?
— Trocadinhos? Falou minha língua. Quem diria, eu
salvando a bunda gostosa de uma ricaça! — Pego minha bolsa, e
dentro do meu documento tem uma graninha. Eu sabia que seria
útil. — Para onde vamos, que seu irmão disse estar liberado para
entrarmos? — Olho a mensagem na tela do celular.
— Litoral!
— Puta que pariu! — Olho e ela dá de ombros. — A próxima
vez que for me colocar na sua fuga, ao menos me prepara. Eu teria
trazido um biquíni, poxa. Estou pálida, preciso de um bronzeado.
— Está preocupada com isso, Vilu? Sério?
— Amor, prioridades!
Ela gargalha, e eu estou falando sério.
— Achei salgadinho na sacola aqui! Quem quer? — Melinda
grita.
— Eu! — respondo. — Espero que não esteja vencido. —
Pego o pacote que ela me estende.
— Eu não quero nada. Irei vomitar se comer qualquer coisa.
— Quer saber? Vamos nos divertir, pensar nisso como uma
linda aventura.
Ligo o som, e Arranhão, do Henrique e Juliano, toca na rádio,
e eu começo a rir ainda mais. Naomi ri, e talvez de nervoso, pelo
choque de sua decisão, mas cantamos conforme pegamos a
rodovia rumo a fuga do ano, com uma noiva quase nua, a madrinha
descalça e, pelo que vejo no espelho do carro, descabelada, e uma
criança vestida de rosa-claro como uma princesa da Disney.
Olha, eu amo essa família, puta merda.
No meio de toda essa loucura, a única coisa que
verdadeiramente me surpreende, é meu pau terminar inteiro. Puta
que pariu!
A briga no casamento terminou quando liguei para a polícia,
que teve que comparecer ao lugar e acalmar a porcaria da
algazarra. Todos foram colocados para fora, inclusive Michael, que
teve suas coisas atiradas pela janela por meus pais, que confesso
não ter me movido para evitar isso. Ele retirou tudo que estava no
chão com a ajuda de seus amigos, e saiu todo quebrado de Monte
Amor. A sorte é que a imprensa não foi chamada, mas não duvido
que alguém tenha gravado e vaze isso na internet.
A festa estava sendo desmontada, o que sobrou da parte da
cerimônia, e as comidas sendo doadas pelos meus pais. Em todos
esses anos, a Amores do Valle nunca passaram por isso, e olha que
já fizeram casamentos em que madrinhas se pegaram, e noiva foi
para cima da sogra.
Passa das 22h quando chego no litoral para levar a mala que
a Naomi pediu, comida do supermercado porque sei que não tem
nada lá, e coisas da Violeta. Parece que ter adquirido esse
apartamento foi útil de verdade.
Subo no elevador com as coisas dentro do carrinho do
próprio condomínio, e entro no apartamento, um por andar, enorme.
Para quê escolhi mais um lugar grande? Por ser idiota ou por
realmente gostar de espaço, não entendi ainda. Violeta pode ter
razão: eu busco o luxo que o meu dinheiro proporciona.
Entro no apartamento com poucos móveis, saindo pela sala,
são duas entradas, a outra na cozinha.
A sala tem uma parede inteira de vidro com vista de frente
para o mar. Nunca decorei, nem nada. Não tive tempo para isso
ainda. A verdade que foi uma compra no impulso, era um valor bom,
e seria um canto para eu espairecer longe de toda São Paulo. O que
tem aqui é o que já veio nela, o básico, algumas coisas de cozinha,
quartos, e os poucos móveis. Seria de um casal pelo que a corretora
informou, que acabou desistindo do lugar, pois iriam morar em outro
estado, e venderam com o pouco que já haviam comprado.
Deixo as coisas de comer na cozinha, e as coisas delas no
corredor, então desço para colocar o carrinho novamente na
garagem e subir.
Não demoro nessa tarefa, e, quando retorno, sigo pelo
apartamento, procurando as foragidas, que devem estar exaustas e
não me admira que durmam. A luz a iluminar a sala é da noite
praiana, já o corredor segue bem escuro. São quatro quartos, todos
suítes, dois banheiros à parte, o de visitas, e o da lavanderia, e é em
cada quarto que terei que saber onde se colocaram.
Encontro minha irmã e Melinda dormindo agarradas em um
dos quartos de hóspedes, embaixo das cobertas. Entro com cuidado
e fecho a janela, e paro perto delas, deixando um beijo no rosto de
cada.
Resta mais três quartos, sendo um que é meu. Abro a porta
ao lado, mas não tem ninguém, e faço isso com outro, então Violeta
só pode estar no que é meu.
Abro a porta tendo a visão dela sentada na poltrona perto da
parede toda de vidro, o único quarto com a mesma estrutura da
vista que a sala. Ela me olha e sorri.
— Deixa eu adivinhar, esse seria seu quarto?
— Esse é o meu quarto. — Fecho a porta atrás de mim e me
aproximo dela, olhando a vista e em seguida observando o quarto.
Apenas uma cama, duas poltronas, mesa de cabeceira embutida. O
closet com a porta aberta, está vazio, e o banheiro sem espelho,
toalhas, nada. — Eu preciso arrumar tempo para decorar esse lugar.
Sento-me na cama, e ela me olha.
— Achei lindo. Depois de uma fuga daquelas, a falta de
móveis não é um problema.
Sorrio.
Agora está com os cabelos soltos, ainda com o vestido, mas
a maquiagem já quase não existe mais em seu rosto.
— Trouxe as coisas que pediram. Eu demorei porque estava
complicado em Monte Amor.
— Como seus pais estão? — Me olha preocupada.
— Bem. Minha mãe tomou calmante, e meu pai garantiu que
vai mantê-la calma. Estão muito preocupados com a Naomi. —
Suspiro. — Como ela está? Melinda?
— Até o momento só surtos além do que já deu. Já chorou,
já se culpou, está envergonhada, mas firme na decisão de que não
tem volta, e precisa respirar esses dias longe. Já Melinda está
achando um máximo estar na praia, e tem certeza de que o pai está
encrencado. — Sorri. — Naomi vai falar com você, mas quer que
levemos Melinda devido as aulas, e porque ela precisa ficar sozinha,
para se situar e voltar à vida de cabeça erguida. Ela ama o traste,
vai sofrer um pouquinho.
— Se Michael surgir na minha frente, eu mato aquele
imbecil. Mas depois de toda humilhação, não pisará tão cedo em
Monte Amor. E espero que Naomi consiga lidar da melhor forma
com essa situação, para não sofrer além do necessário. Porém,
minha irmã é adulta, forte, vai conseguir se reerguer. O que me
preocupa é a Melinda. Ela cresceu colada ao pai, que, por pior que
fosse, na mente dela estava ali por amor a ela. Será difícil quando
cair a ficha que não vão morar juntos mais, e que só vai vê-lo em
finais de semana ou da forma que for acordado.
Ela concorda.
— Acha que ele pode tentar tirar a menina dela?
— Não. Michael não sabe cuidar nem de si mesmo. E agora
sem onde cair morto, não tem nem como recorrer a essa merda.
Além disso, se ele pensar em fazer, entrego minha fortuna nas mãos
dos melhores advogados do país se for necessário, mas eu acabo
com a vida dele. Se eu não o matei na porrada quando falou
aquelas merdas sobre você, foi porque Melinda impediu, e no
casamento para evitar ainda mais escândalo. Mas agora nada me
impede.
— E no fim, ele nem precisou vazar nada. Só se ele vazar
que é tudo mentira... — Ri baixinho e a observo.
— Só se ele for bem idiota, você quis dizer, porque todos nós
saberíamos agora que foi ele, ainda mais após a ameaça dele e
tudo que aconteceu, e logo esse escândalo vai vazar na imprensa,
certeza que alguém filmou, e vai ficar bem feio a ele, a credibilidade
bem baixa — tranquilizo-a.
— Bom, eu sei que elas estão dormindo, mas precisam
comer. Principalmente sua irmã. Melinda foi a única a ir comigo na
padaria aqui perto. Eu trouxe comida a Naomi, mas não quis nada.
Deus me livre sofrer por escroto e morrer de fome. Ela vai comer, ou
não me chamo Violeta! — Se levanta determinada. — Minhas
coisas? Preciso de um banho, não aguento mais essa roupa.
— Vou buscar. Mas hoje, deixa elas dormirem. Amanhã
prometo que farei Naomi comer e se cuidar caso não faça. Elas
precisam descansar e está tarde.
— Ao menos um banhozinho na Melinda, então? A coitada
está ainda com a roupinha do casamento.
Sorrio com sua preocupação e assinto.
Levanto-me para pegar suas coisas e ela me segue, mas
indo para onde minha irmã dorme.

Após ela dar um banho na Melinda, a pequena voltou a


dormir e mais confortável. Com cuidado Violeta retirou os grampos
do cabelo da minha irmã, que seguiu dormindo muito cansada.
Deixamos ambas descansando, e fomos para o meu quarto.
Eu não poderia estar menos agradecido por tudo que ela
está fazendo pela minha família. Violeta tem um coração puro,
mesmo com sua mente atrevida que me estressa, ela tem uma
bondade única.
— Agora é minha vez — diz se aproximando de mim, que
fecho a porta. — Abre o vestido para mim, por favor?
Coloca os cabelos para o lado, e me aproximo mais,
segurando a parte superior ao zíper sutil e descendo-o devagar.
Suas costas totalmente nuas se revelam para mim, e a necessidade
de tocar sua pele começa a me consumir.
Desde que a vi vestida assim, só pensava em tirar esse
vestido e tomá-la para mim, como o bom vício que se tornou. Violeta
está me deixando rendido a ela, totalmente domado, e isso está me
deixando preocupado, porque eu sinto, eu vejo seus olhares, e sei
que tudo mudou, e eu não posso machucá-la, significaria perdê-la
para sempre, e nesse tempo colados, eu compreendi algo: Violeta
Matos pode ser a minha morte precoce, mas também é uma parte
da minha vida que eu não quero perder. Contraditório, mas sincero.
Ela se vira para mim, segurando a parte da frente do vestido
e meus olhos focam nos seus, o meu tom de verde favorito.
— Por que está me olhando assim, todo boboca? — indaga
rindo, provocativa.
Toco seu rosto com cuidado, indo contra a tudo que eu falei
sobre ficarmos longe, evitarmos contato físico.
— Obrigado por cuidar delas, e estar fazendo tanto pela
Melinda, mesmo ela te apavorando. — Sorrio e ela me olha de um
jeito fofo, jeito de menina.
— Não precisa agradecer. Eu gosto da sua família. E a
Melinda e eu estamos nos entendendo. — Continua me encarando,
e então desvia o olhar. — Para com isso, Natan.
Sorrio sem entender e ergo seu rosto pelo queixo.
— Parar com o quê, Violeta? — falo baixo, não
reconhecendo minha própria voz.
— De me olhar assim, como se eu fosse a sua pessoa
favorita, quem deseja sempre ter por perto.
Meu coração acelera com o olhar que me lança, e, pela
primeira vez em todos esses anos, eu sinto as barreiras caírem de
vez. Talvez toda essa loucura mais cedo tenha servido de lição:
passamos tempo demais valorizando o que não merecia, e
perdendo grandes chances de viver o especial.
Minha família possivelmente esteve sempre certa ao dizer
que só me restaria a Violeta, e não porque não tive outras opções,
mas é porque nenhuma fez meu coração acelerar como ela está
fazendo, ou me deixou rendido a esse modo.
— E se você for a minha pessoa favorita e quem eu sempre
quero por perto? — questiono.
Ela me olha com os olhos brilhando, e engole em seco.
— Natan, mais cedo...
— Esquece o que falei mais cedo. Estou focado no agora. E
se você fosse, o que mudaria? — indago tomado pelos sentimentos
que estão me consumindo por esse olhar que me lança.
— E-eu... não sei, tá legal?! — Fica nervosa e se afasta. —
Eu não sei o que mudaria. Tudo está mudando, mas parece que sou
a única ver isso, então não me peça para pensar em algo que talvez
não aconteça. Não me deixe imaginar como seria, se nem
possibilidades podem existir.
— Eu mereci essa — assumo.
— Merece ouvir muito mais, Natan! Porra, como não
consegue ver que está me deixando louca? E não falo das suas
manias e chatices. Falo de como tudo mudou desde que nos
tocamos um para o outro, e só piorou quando tudo aconteceu em
Las Vegas. — Seus olhos marejam. — Em um momento parece que
está na mesma vibe que eu, em outro diz que isso tudo vai acabar,
para nos distanciarmos que vai ser melhor... Eu estou surtando,
sabia? Não tem o direito de ser a melhor pessoa para mim, mexer
com meus sentimentos, e depois recuar como se não tivesse feito
nada. Eu não quero viver uma vida repleta de mentiras, enganações
e achar que está tudo bem... Olha sua irmã, olha o resultado disso
tudo. Então para de me olhar como se eu fosse tudo para você, pare
de... — Me aproximo e ela me encara. — Natan, me leva a sério,
cacete. Quando tudo isso terminar, sabe o que vai restar? Nada.
Meu maior medo vai acontecer, que é perder nossa amizade... Mas
eu não vou conseguir, não sou madura o suficiente para saber
separar o que sinto, da amizade, do profissionalismo...
Eu não quero viver sem essa garota. É isso que grita sem
parar em meu peito agora.
Ela se afasta novamente, indo para o banheiro, mas antes de
entrar eu deixo as palavras saírem:
— Talvez a lenda em Monte Amor seja real. Brincar com o
amor e com o destino gera consequências. — Ela fica parada, de
costas para mim. Levo as mãos ao bolso da calça sem tirar os olhos
da loira que tem me deixado perturbado. — Mais cedo, eu
acreditava que precisava acabar com tudo isso, mas então eu te vi
nesse vestido, eu te vi caminhar comigo naquele casamento, mas
eu vi a garota que tentou me defender do Michael como uma leoa, e
que ajudou minha irmã a fugir, sem se importar se estava se
metendo em alguma enrascada. — Ela se vira de frente para mim, e
lágrimas escorrem pelo seu rosto. — Mas no caminho para cá, eu
também me lembrei de todas as vezes que me fez sorrir, que deixou
aquela revista mais leve, que cuidou das minhas dores de cabeça,
mesmo quando era a causadora da maioria. — Ela ri em meio ao
choro.
— Nate...
— Silêncio, garota, quando o homem que está apaixonado
por você está tentando se declarar, você escuta! — Ela começa a
chorar mais, agarrada ao vestido. — Eu me lembrei durante o
caminho até aqui, que, em dois anos, se eu aproveitei um pouco das
conquistas que surgiram, foi porque estava lá. Mas também lembrei
que não hesitei em te fazer fingir ser minha noiva... — Respiro
fundo. — E agora começo a pensar que sempre foi a minha opção,
a mulher que eu escolheria um dia. — Ela encosta na parede. Meu
coração parece que vai estourar a qualquer momento. — É você
quem tem me inspirado novamente, sabia disso? — Ela nega
rapidamente, toda vermelhinha. — Esses olhinhos infernais têm
tirado o meu juízo, e não saem da minha mente a cada vez que
desenho. Toda vez que te vejo sem esse anel, me dói, eu sinto uma
coisa estranha, uma agonia... Ver aquele tal de Jonas querendo
saber de você, me trouxe ciúmes... Assistir você naqueles vídeos
dançando, bebendo, toda linda, gostosa como estava, me deixou
louco, puto, porque eu sabia que, se qualquer outro cara surgisse ali
e você se interessasse, eu não poderia cobrar nada de você...
Porque essa merda era tudo mentira.
Coloco tudo para fora. Eu deixo sair, não me controlo.
Caminho em passos lentos na sua direção, parando bem a sua
frente.
— Eu não sou burro, conheço bem que tipo de sentimentos
cresciam dentro de mim, e por isso quis afastá-la, falei sobre
voltarmos a São Paulo e tudo isso parar... Por medo, porque tenho
sido um bom covarde há bastante tempo, e só tentei ser novamente.
Mas cheguei aqui e novamente esses olhos, essa voz, seu
perfume... Violeta, você disse que essas histórias de relações fakes
sempre davam ruim... Não diria ruim, mas me fez pagar com a
língua. Passei várias vezes dizendo aos meus pais que nunca você
seria a única mulher em minha vida, e olha que merda, não consigo
te ver fora dela.
Puxo-a pela cintura, e ela enlaça meu pescoço, o vestido
despencando aos seus pés.
— Agora me diga, Violeta, o que mudaria se o que disse
fosse real?
— T-Tudo, Natan... Tudo m-mudaria!
— Seja mais clara... Sempre tem muito a dizer, minha linda...
Ela me olha, e sorrio, sentindo-me cada vez mais leve. Cada
instante que coloco meus sentimentos para fora, eu sinto-me mais
perto do Natan do passado, o jovem sonhador do passado.
— Eu diria a você que estou completamente louca por você,
apaixonada, sentindo meu coração ter um treco, e morta de ódio
porque poderia ser o príncipe Harry, mas a Meghan foi mais rápida!
— pirraça.
— Até nesses momentos é capaz de me irritar, garota!
Beijo-a, e, puta que pariu, como amo essa boca, essa
língua... Violeta é a minha desgraça de pose de durão, e ela sabe
disso, porque ela me conhece mais do que ninguém.
Desço a mão por sua bunda, sentindo o tecido todo rendado,
afasto nossos corpos para ver, e ela usa calcinha estilo shortinho,
apertada ao seu corpo, branca. Meu pau sente exatamente o que é
vê-la usando apenas isso.
Ela se aproxima, retirando minha blusa com minha ajuda, e
deixando-a cair o chão. Meus sapatos retiro em seguida, chutando-
os longe, e admirando minha garota. Se ajoelha a minha frente, sem
tirar os olhos de mim, e abre meu cinto, faz o mesmo com a calça
preta, e quando desce o tecido, leva junto a cueca da mesma cor.
Dou o mesmo destino a elas que dei aos sapatos.
— Prometeu que teria outras oportunidades de sentir seu
gosto... Eu estou morrendo de vontade agora. — Morde o cantinho
da boca e meu pau pulsa.
Toco seu rosto delicado. Melhor maneira de nos conectarmos
após tudo, porque somos completamente ligados ao toque.
— Fique à vontade para chupar o que é seu.
Eu amo o quanto ela não é tímida para essas coisas. A loira
agarra meu pau, e o devora. E como ela chupa gostoso. Preciso
firmar as pernas, e segurar seus cabelos, para controlar meu corpo,
enquanto ela engole-me todo, os olhos marejando, se engasgando
um pouco, mas não para. Jogo a cabeça para trás, e meus lábios
entreabrem, e quero gritar seu nome, mas preciso me conter, não
sei como é o som desse lugar, mas me lembrarei de verificar
futuramente.
— Porra... Violetaaa... Cacete de boca gostosa!
O barulho dos seus chupões misturado aos seus gemidos
baixinhos me deixam mais louco de tesão ainda. Ela me aperta em
sua boca, e brinca com minhas bolas, massageando. Olho para ela,
seus olhos se abrem e encontram os meus.
— Eu vou gozar, linda... — aviso-a para que se prepare, e
ela chupa mais forte ainda. — Caralho... — Jogo a cabeça para trás,
sentindo meu pau pulsar forte.
Eu explodo em sua boca. Gozo forte, mas a safada chupa
tudo, sugando cada gota de sêmen que coloco em sua boca.
Ela se levanta sorrindo, e retira a calcinha sob meu olhar.
Estou fadigado, recuperando-me de seu boquete, quando ela sobe
na cama, e de costas para mim, fica de quatro, bem empinada, o
rosto colado ao colchão, me dando a visão de sua bunda deliciosa,
e sua boceta brilhando, encharcada.
E quando acho que parou por aí, ela simplesmente introduz
um dedo dentro de si, e começa a se masturbar, me olhando, e
sorrindo.
Ela quer me matar!
Meu pau começa a endurecer como um louco mais uma vez.
Me aproximo dela, subindo na maldita cama, e parando bem atrás
da cena, escutando o barulho do dedo entrar no molhado, dos
gemidos baixinho dela.
Puxo sua mão e ela geme um pouco mais alto, mas morde
os lábios contendo.
— Parece bem apetitosa essa bocetinha. Talvez esteja na
hora de eu saber o quanto...
— Ela é toda sua, Natan Valle. — Sua voz me deixa maluco.
Desço o rosto para o local da minha perdição, e abro os
lábios vermelhinhos de boceta, e lentamente passo a língua entre
eles, assopro em seguida, sua pele se arrepia, e ela estremece.
Minha garota é muito sensível, e isso é perfeito. Torno a repetir o
gesto, e ela geme.
— Precisa controlar os sons, minha escandalosa... Ou
teremos que interromper isso aqui. — Acerto sua bunda e ela fecha
os olhos gemendo contra a cama. — Boa garota!
Levo a boca à sua boceta, e beijo-a no pontinho sensível, e
sugo o grelinho, antes de começar a chupá-la com força, lambendo-
a, beijando, e deixando a loira desesperada à minha frente. Acho
que descobri outra coisa nela que me viciou além do meu pau aqui
dentro: é ter sua boceta em minha boca.
Violeta rebola em minha boca, buscando mais, buscando o
alívio, esfregando sua boceta em minha boca. Mas quando começa
a tentar se afastar, sei que o orgasmo está chegando, e a seguro
firme, tomando todo seu gozo direto da fonte, sugando, lambendo
tudo que escorre, enquanto ela abafa o gemido na cama, toda
trêmula.
— Nate... Faleci... — fala manhosa e sorrio, endireitando
meu pau bem na sua entrada, e penetrando-a lento. — Porra...
Esquece o que eu disse... Isso é muito bom... Nossa... —
choraminga deliciosamente.
— É? Então rebola no meu pau do mesmo jeito que rebolou
naquele bar. Dança nele, Violeta... — Puxo seu cabelo segurando-o
em um nó na minha mão. A outra mão em sua cintura. — Me come
com essa boceta gulosa!
— Pode deixar, chefinho... — a cretina provoca, porque sabe
que é a única que pode fazer isso a mim. Então começa a rebolar
para mim, apertando-me, espremendo meu pau. — Assim que você
quer? Ou assim... — Ela rebola mais forte.
— Oooh... Isso, faz o que sabe fazer de melhor, Violeta... Me
deixar louco! — Ela me aperta forte. — Isso... Bem assim!
Sorri, mas logo para, quando a cada vez que rebola, e me
aperta, em seguida meto forte nela. Seus olhos fecham, seus lábios
abrem.
— Nate... Eu não vou aguentar ficar gemendo baixinho...
Não assim... Aaaaah!
Inclino meu corpo na sua direção, e coloco a boca em seu
ouvido, gemendo quando vou até o fundo dentro dela.
— Confia em mim? — Assente choramingando. — Se quiser
que eu pare, me toque na mão...
Eu tampo sua boca.
E assim, curvado sobre ela, tampando sua voz, e com a
boca em seu ouvido, ela torna a rebolar, e eu a meter. Meus
gemidos em seu ouvido, e os seus sendo abafados por minha mão.
Seus olhos fechados, as mãos agarradas ao tecido da cama, seu
cabelo em minhas mãos... Eu a deixo presa a mim. Fodendo-a
gostoso, sentindo cada vez mais que ela é para mim, sempre foi.
Seus olhos se abrem e sua mão toca a minha, que sai
imediatamente de sua boca.
— Me beija... Me beija... Aaaaah... Agora! — implora, e fico
puto por saber que não ouvirei o grito forte que escaparia de seus
lábios, mas ao menos terei ele preso em minha boca.
Eu beijo minha garota, forte, bruto, engolindo o grito dela
quando começamos a gozar juntos, quando nos entregamos juntos
ao prazer. Eu mordo seu lábio, e ela torna a devorar minha boca.
Esporro dentro dela ainda mais forte do que em sua boca, e é tão
gostoso estar com ela como nunca estive com ninguém.
Largo sua boca, para sair de dentro dela, e respirarmos, mas
ela me impede.
— Não... Fica dentro de mim mais um pouquinho... Está
gostoso ficar assim com você.
— Deixa apenas eu te deixar mais confortável então... —
Assente lentamente.
Deito-me ao seu lado, e com meu pau semiereto ainda, puxo
seu corpo e entro nela de lado, bem devagar, e ela geme baixinho,
mas quando se ajeita, me faz gemer também. Beijo seu pescoço, e
agarro seus seios.
— Me sinto fraca, sensível, mas não quero seu corpo longe...
Louca? Possivelmente... Tão gostoso seus toques... — arfa baixinho
quando puxo um dos bicos.
— Está fraca... Toma um banho comigo, faço algo para que
coma, e depois prometo ficar com meu pau dentro de você por
quantas horas quiser... Precisa se alimentar, minha linda.
Ela inclina o rosto me beijando e vou tirando meu pau de
dentro dela, que monta em cima de mim, e me sento sem tirar a
boca da sua.
— Se colocar veneno na minha comida, eu volto dos mortos
para te buscar!
Acerto sua bunda e ela ri dando-me o prazer do som que tem
sido um dos meus favoritos. Levanto-me com ela em meus braços,
e caminho para o banheiro.
— Me deu uma ótima ideia, antes só pensava em te matar,
não sabia como fazer.
Acerta meu rosto de leve, e a coloco no chão roubando um
beijo.
— Promete que não vai acordar me fazendo de otária?
Natan, já basta a vida que me faz todo dia!
Sorrio acariciando seu rosto.
— Não brincaria com isso... — Me olha desconfiada. — Vou
reformular: Não brincaria com seus sentimentos, porque estaria
fodendo os meus também.
Ela me agarra, e, porra, quero sempre estar assim, colado a
ela.
Saio do quarto, e sei que é bem cedo porque as meninas me
ligaram por videochamada devido ao barraco no casamento. Vazou
tudo à imprensa, porque filmaram e jogaram na internet. Me
aguardam em São Paulo para contar pessoalmente tudo.
Fofoqueiras. Criei tão mal minhas amigas.
Mas, no meio de tudo, preciso assumir que estou toda boba,
sem jeito, após a noite de declarações com o Natan. Nem sei como
agir, fazer... Droga, me vejo sem saber o que fazer na presença
dele.
Escuto vozes baixas na cozinha, e caminho em direção a
ela. Diferente do apartamento dele na capital, esse a cozinha é
fechada, porém bem grande. Os irmãos conversam, conforme
bebem café. Naomi encostada na pia, e Natan com a caneca
encostado na ilha central da cozinha.
Ela é a primeira a me ver e sorri estendendo a mão. Seguro-
a e abraço de lado. Natan nos olha, e sinto um friozinho na barriga
pior que antes.
— Bom dia! — cumprimento e eles retribuem. — Como está?
— questiono a Naomi, que suspira, enquanto me afasto, pegando a
caneca, que está perto dela e me estende, em seguida aponta a
garrafa de café.
Pego um pouco de café e bebo um gole.
— Péssima... Um lixo... Ele me liga sem parar. Desliguei o
celular. Mas também já vi as notícias na mídia — bufa desanimada.
Paro ao lado do Natan e a observo. Não merecia isso. Desde
que a conheci, sempre vi o doce que era, uma pessoa boa.
— Ele deveria ter o mínimo de senso, e nem pensar em ligar!
— Natan fala furioso e olho de lado. Bebe seu café e respira fundo.
— Nossos pais estão preocupados, mas essa semana não
tenho cabeça nem para pisar em Monte Amor — comenta. — Eu só
preciso pensar mais, esfriar a cabeça. Melinda precisa voltar com
vocês, devido a escola. Podem fazer isso por mim? Nem sei como
vou falar com ela sobre o pai não morar mais com a gente... Tanta
coisa... — Pega sua caneca e bebe um gole da bebida quente, em
seguida a deixa de lado e cruza os braços.
— Uma coisa de cada vez. Melinda só precisa entender o
básico por ora, e, quando tiver idade suficiente, poderá explicar
melhor. Precisa só relaxar um pouco, vai dar tudo certo, sempre dá.
Falo isso por experiência própria. Quando perdi meu pai achei que
nunca superaria, foi difícil, ainda é, ninguém supera uma dor rápido
assim, mas se eu consegui, com certeza você consegue passar por
isso... Se consegue ser mãe e cuidar de tantas coisas, vai dar conta
dessa situação, e logo tudo isso servirá de história para rir, quem
sabe? — falo com calma, e ela sorri com carinho.
— Violeta tem razão. Você vai conseguir superar isso. E não
estará sozinha. Tem a mim e aos nossos pais. Além de todas as
pessoas que se importam com você — Natan diz e ela assente.
— Vocês têm razão! Eu só preciso respirar fundo, viver esse
momento, mas lembrar que tudo passa. E quer saber, esses dias
aqui serão bons, vou focar em mim, coisa que há muito tempo não
faço, e curtir minha companhia. Melinda estará em boas mãos.
— Pegarei ela no final de semana para ficar comigo, assim
vai distrair a cabecinha dela.
— Você é perfeito! Se um dia tiver filho, ele terá uma sorte
imensa. O que faz pela Melinda, nem o pai dela fez — Naomi o
elogia e eu sorrio, pois Natan fica sem jeito.
Ele deixa a caneca de lado e sorri para ela.
— Eu amo essa menina, sabe disso — fala enquanto ela se
desencosta da pia e segue para mexer na geladeira.
— Eu sei disso. E o amo ainda mais por isso. Agora vamos
ajeitar esse café da manhã, que Violeta deve estar morrendo de
fome, e eu preciso tentar comer um pouco, e daqui a pouco a Mel se
levanta querendo comer.
Pouso a caneca ao lado para ir ajudar, mas, ao passar pelo
Natan, ele me puxa pela cintura, me fazendo soltar um gritinho.
Então me agarra por trás e beija meu pescoço. Meu coração foi com
Deus, minhas pernas se tornaram geleias puras.
Sua irmã nos olha e sorri.
— Como eu previa... A mentira voltou contra vocês.
Aproveitem, merecem essa felicidade.
Sinto meu rosto esquentar e quero matar o Natan por estar
me fazendo ficar assim.
— Não... A gente... Nós... Eu... — Tento me soltar dele, mas
o infeliz não deixa.
— Estamos deixando acontecer, e ver no que vai dar. —
Beija minha boca antes de me soltar.
Estamos?
— Pela cara dela, nem ela sabia disso. Natan sendo Natan...
— Sua irmã balança a cabeça e ri. — Precisarei ir ao mercado
comprar mais coisas já que ficarei mais tempo aqui.
— Eu faço isso antes ir embora. E por falar nisso, não quero
retornar tarde. Provavelmente voltarei a São Paulo hoje à noite
ainda. Segunda-feira tenho que estar bem cedo na revista para uma
sessão de fotos de algumas modelos.
Começo a ajudá-la, e ele se junta a nós.
— Agora que tudo acabou, vê se não fica mais longe, Natan
— ela pede e eu apenas fico quietinha, é um momento deles.
— Não vou. Mas nas próximas semanas será corrido, tenho
desfile para comparecer, os ajustes finais do evento da revista, e
quero resolver outras coisas também. — Me olha e fico sem
entender.
Ela concorda e logo muda de assunto, sobre moda, coisas
da revista, provavelmente para não focar no desastre das últimas
horas.

Demos um pulo na praia antes de irmos embora. Melinda


brinca com a mãe, e Natan e eu estamos sentados em um dos
quiosques, tomando água de coco, sentindo a brisa do mar. Está
vazio, não é alta temporada, e também faz pouco sol. Mas é um dia
bonito da mesma forma.
— A última vez que vim à praia foi quando Olívia arrastou
Nina e eu para um bate e volta. Terminou caótico, chegamos sem
nem lembrar direito o que aconteceu. — Sorrio me lembrando, e ele
ajeita os óculos de sol no rosto, porque claro que um gostoso
colocaria óculos escuros para ficar mais gostoso ainda.
— Devo me preocupar com as futuras saídas de vocês? —
indaga e começo a rir.
— Não. Temos medo da cadeia e sabemos que será nosso
destino na próxima.
Ela sorri e bebo um pouco da água de coco.
— Precisamos conversar sobre o que ficou pendente. — Me
olha e o encaro confusa. — Sobre deixar eu ajudar vocês nessa
dívida.
— Natan, isso de novo...
— Sim! Violeta, eu quero ajudar e posso fazer isso. Deixe de
ser orgulhosa, sabe que parte disso é do orgulho também. Eu não
quero que se enrolem mais. Essa ajuda é independentemente de
estarmos juntos ou não, é pela amizade que nasceu primeiro, e o
carinho que sempre tive por você, custe a acreditar ou não.
Estende sua mão e segura a minha, acariciando.
— Eu não quero que pense que sou interesseira, ou que as
pessoas comecem a falar, porque é o que vai acontecer! — digo a
verdade.
— Eu nunca pensaria isso, e ninguém vai saber além da
gente. Eu jamais deixaria exposto que te cedi essa ajuda. Por favor,
me deixe fazer por você algo que vai lhe dar paz, e gerar calma a
sua mãe e tio... Ei, não chore, linda. — Enxuga meu rosto, que
começa a cair lágrimas. — Quero seu bem, apenas isso.
Pela minha mãe... Talvez essa seja a chance de trazer paz a
essa família. O nosso milagre. O orgulho pode ser um grande
destruidor de oportunidades também, e não quero que ele seja mais
meu aliado, quando parece que tudo se encaminha exatamente
para ter uma resolução, que apenas eu fico adiando.
Assinto e sorrio de leve, controlando-me para não chorar que
nem uma maluca.
— Pela minha mãe... — falo e ele respira como se estivesse
aliviado. — Eu não sei quando poderei te devolver tudo isso...
— Eu pedi algum retorno? Não quero de volta, Violeta.
Agora sou eu que solto o ar com força, e ele se senta ao
meu lado, me puxando para os seus braços.
— Obrigada por ser esse amigo, mesmo que em grande
parte eu queira te socar. — Sorrio para não tornar tudo um banho de
lágrimas.
Ele beija o topo da minha cabeça.
— E tem mais...
— Natan, se controla! — falo nervosa e ele nem me dá bola.
— Sobre a revista... Sua coluna. Esse será o último ano dela.
— Preocupado em enjoar da minha cara, né? — Rio e ele
revira os olhos.
— Não, sua praga! Eu vou abrir uma nova coluna ano que
vem. Estive pensando sobre isso quando perdi o sono após nossa
noite. — Só de lembrar me dá uma coisa gostosa. — Eu quero uma
coluna onde se fale sobre sonhos, metas, vida real, com pessoas
reais, comuns.
— Pessoas como eu? — provoco e ele me olha feio. — Não
menti, bonitão. Mas é uma ideia boa, interessante. Será inspirador.
E isso significa que ano que vem precisarei de um novo emprego. E
lá vamos nós! — Começo a rir.
— Não. Eu quero que você cuide dessa coluna, e escreva de
verdade nela. Seja a escritora que nos poucos textos, e nas
pequenas inspirações dos horóscopos vi ser — fala e apenas
arregalo os olhos, me afastando e chocada. — Invista no seu sonho
de escrita, mas se sobrar um espaço, quero que continue
trabalhando na Sunshine, em uma coluna que realmente merece
seu talento. Passei tempo...
Seguro seu rosto com ambas as mãos e o beijo, antes de
agarrá-lo, em um abraço apertado.
— Acho que isso é um obrigado, certo? — pergunta rindo e
assinto.
— Claro que é... Eu nunca quis sair da revista, só queria a
chance de escrever algo especial... Eu... Espera... Não está fazendo
por...
— Pode parar! — Me afasta. — Não termine de falar uma
merda dessas. Me conhece bem o suficiente para saber que eu
jamais faria algo assim envolvendo o meu eu profissional. Nunca
daria essa coluna por estarmos juntos.
Vejo a verdade em seus olhos, e seria uma tonta pensar que
ele poderia fazer o contrário.
— Obrigada! Mas tem que prometer que vai investir no seu
lado estilista. Eu também quero ver você tendo mais sucesso do que
possui, mas dessa vez em algo que sempre quis — digo e ele apoia
a mão em minha perna.
— Eu vou... — Me beija e nem consigo acreditar em como
tudo isso está se encaminhando.
— Eca! Chega de beijos, vamos brincar! — Somos
interrompidos pela voz que surge e os bracinhos que agarra o tio.
— Melinda, deixe os dois! — sua mãe chama sua atenção.
Natan a coloca em seu colo, e ela me olha de lado,
enciumada, mas em seguida solta um risinho. Essa garota me
causa medo ainda, acabo de notar.
— Está tudo bem... O que a princesa da minha vida quer
fazer? — questiona a ela, e o olho erguendo a sobrancelha.
Sim, vou competir atenção com uma criança que tenho
pânico, e não está nada bem, eu sei, mas são as consequências da
falta de terapia.
— Brincar de bola. Mamãe comprou uma! — Aponta para a
mãe, que segura a bola amarela.
— Então vamos. — Ele a coloca no chão e se levanta.
Pegam a bola e saem do quiosque, juntinhos. Naomi se
senta ao meu lado, e bate seu ombro no meu.
— Será um pai maravilhoso.
— Pode parar! Depois de te ajudar em uma fuga, temos
intimidades o suficiente para eu dizer que vou socar sua cara se
continuar insinuando isso!
Ela ri alto e me sinto bem em causar isso a ela.
— Quero sobrinhos, Violeta! Nossas fichas estão apostadas
em você. Além disso, acho que seriam a coisa mais linda como
papais. — Me lança um olhar debochado.
— Meu Deus, o deboche veio de família. Estou ferrada! —
Rimos. — Esquece. Sem filhos. Eu me cuido muito bem se quer
saber. E se eu arrumasse um filho com ele, no meio dessa bagunça,
Natan me jogaria da janela, porque eu garanti que me cuidava.
— Remédios falham. Camisinha falha... Melinda veio de uma
dessas falhas.
— Ok... Para de me apavorar! Eu sei que falham, mas não
comigo. Não pode ser comigo. O plano é eu assistir ele se jogar da
janela, e não ser jogada.
— Ué, não teria feito sozinha. Ele contribuiu! — Ergue a
sobrancelha.
— Sim. Tem toda razão. Mas ele nunca me leva a sério, e
justo nisso de que me cuido, levou! E eu me cuido, mas sabe quais
a chances de dar merda em minha vida? Duzentos por cento. Ele
não precisa saber que pode ter se metido em uma furada.
— Relaxa, ele seria bem babão.
— Acha? — Franzo o cenho. — Pode parar! Olha só isso...
Eu pensando nessa loucura. Naomi, não!
Ela gargalha enquanto eu estou toda arrepiada.
Natan brinca com a sobrinha, que pega os óculos de sol dele
e coloca, quando parece ter feito um gol.
Chega de emoções em minha vida. Já deu! E olha que é
uma pessoa que quer ser escritora falando que chega de emoções.
Um mês é o tempo que se passou desde o escândalo do
casamento de Naomi, que ainda segue tendo algumas notícias na
mídia. Por conta disso, o aniversário de casamento dos meus pais
foi adiado, e ficou para agora, nesse final de semana, junto do
aniversário da Melinda, que tem sido afetada pelo sumiço do pai, e
tem ligado as vezes para ela, mas nem fingir ao menos que faz isso
de bom grado o imbecil consegue. A garota é inteligente, sabe que
algo grave aconteceu.
No meio disso tudo, tem toda a correria na revista, meu
relacionamento ainda não definido com a Violeta, e os croquis
sendo criados aos poucos. Essa semana tem o desfile que Nina irá
me acompanhar, e hoje tenho reuniões e sessão de fotos para
acompanhar.
Mas estou me sentindo mais tranquilo após quitarmos a
dívida da família da Violeta, que por sinal ainda não falou para a
mãe e o tio. Quer fazer questão de falar quando eu estiver junto, o
que tem sido difícil com a correria, mas provavelmente final de
semana conseguiremos, já que eles nos acompanharão para Monte
Amor.
— Então o tema da próxima edição será a festa da Sunshine,
e ela será limitada e especial, apenas impressa e somente após ela
que iremos postar tudo no site? — Nina indaga e assinto.
— Todos já sabem suas funções. Temos que mostrar nessa
edição o que a revista faz, quem ela é. Bastidores, funcionários,
funções... Vamos apresentar a Sunshine de dentro para fora. O que
vemos, para se tornar o que eles veem.
— Podemos fazer filmagens com edições especiais,
chamativas — Gabriel diz e concordo.
Eles estão anotando tudo.
— Entrevista com pessoas dos setores, mostrando para o
que serve cada coisa. Eu posso cuidar delas — uma de nossas
jornalistas, Betina, dá a ideia.
— E eu posso pegar algumas para vídeos nas redes sociais!
— Matheus Henrique, social media, completa.
— Gostei... Vão anotando tudo. E quero ver o tema das
entrevistas antes, Betina — falo e todos assentem.
A reunião segue, com mais funcionários dando ideias, e tudo
sendo ajustado para não sair de controle.

Olga me passou a agenda do dia, e saiu para almoçar,


enquanto sigo para a sessão de fotos que a turma está participando,
depois estará dispensada. A revista está quase vazia devido ao
horário, e prefiro assim, ou isso vira uma loucura e as fotos acabam
demorando, devido aos curiosos.
— Natan, impossível... Elas não fazem jus a esses biquínis.
Eu quero corpos mais reais... São lindas, mas não servem para a
proposta que queremos, poxa! — Renato, nosso fotógrafo, fala
repleto de dramas. — Gato, temos que dar um jeito nisso! Me
recuso a continuar esse ensaio! — Se joga na cadeira ao lado e
reviro os olhos.
— E por que não pensou nisso antes de ver o perfil dessas
modelos, que já foram pagas? Elas receberam um cachê bem alto!
— falo e ele balança as mãos.
— Eu sofro tanto! Olhe, Natanzinho... Eu serei massacrado
nessa campanha. Renato será dado como o pior fotógrafo... — Joga
a cabeça para trás.
Respiro fundo, porque tem horas que me esqueço de que
convivo com pessoas dramáticas demais.
— Meninas, estão dispensadas hoje. Fizeram um bom
trabalho. Terão acesso VIP a festa da revista, como pedido de
desculpas pelo que nosso fotógrafo aprontou — falo e elas sorriem
para ele.
Se despedem do drama que muitas já conhecem.
— O que faremos? — indaga.
— O que você vai fazer, a pergunta é essa! Essas fotos
precisam ser feitas hoje. Todo cenário está montado, e a marca
aguarda essa exclusiva para lançar no mercado os biquínis. Se vira,
Renato. Se vira!
Ele me olha chocado, e me afasto indo até a mesa de
bebidas e pegando um suco.
— Ai, que porra... Ai, moço, perdão. Eu tropecei no fio... Está
tudo inteiro, né? — A voz me faz ter certeza de que algo estranho
está acontecendo, pois durante parte do dia ecoa por todo espaço, e
a ouço apenas agora.
Me viro bebendo o suco, e a loira caminha na minha direção.
— Ué, cadê as modelos? Renato surtou de novo, não foi? —
Sorri.
— Como sempre. E o que a senhorita está fazendo aqui, que
não foi almoçar? E por que o dia inteiro não a vi? Violeta, o que
anda aprontando? — Coloco o copo ao lado e ela morde o canto da
boca controlando mais do riso.
— Duas coisas. Primeiro, talvez eu tenha arrumado confusão
com uma senhora que reclamou do que saiu no horóscopo semana
passada. Natan, a doida enviou e-mail xingando, agredindo minha
inteligência!
— Violeta... — digo entredentes, controlando-me para não a
esganar.
— Espera, não acabei. E esbarrei com a Olga na porta da
revista, ela estava com uma senhora e um garotinho que chamou
ela de mãe! A Olga é mãe! Eu estou perplexa! Acredita nisso?
Respiro bem fundo, porque minha paz acabou e isso é bem
nítido.
— Pare de arrumar confusão com as pessoas, Violeta! —
repreendo-a e ela cruza os braços parando ao meu lado. — E eu
sabia sobre a Olga.
— Como sabia, e não me contou? Natan, somos amigos! É
seu dever me manter informada sobre as novidades. Elas movem
minha inteligência!
Eu estou me arrependendo de ter vindo a revista hoje.
— Por que não foi almoçar? — mudo o foco.
— Ah, eu tentei, mas deixei as meninas e vim comer alguma
coisa na cozinha por aqui, ou roubar comidas do ensaio, sempre
montam mesas deliciosas! — Olha ao redor. — Eu disse!
— Tentou? Agora você tenta almoçar? E posso saber o que
impediu a donzela de almoçar? Já sei, precisava ter tempo em
arrumar problemas com nossos leitores? — A olho e ela sorri de
lado.
— Injusto de sua parte pensar tal coisa sobre mim. Mas é
que elas foram almoçar japonês e não rolou. Meu estômago não
está muito bem. Deixa de pensar o pior sobre a pessoa mais
encantadora da sua vida.
É, por que eu vim a revista hoje?
— Já falei para ir ao médico. Tem dias que tem reclamado
que seu estômago está ruim, e está enjoada.
— É a porra do anticoncepcional. Já marquei médico sexta-
feira... Donuts, tudo que eu precisava. — Aponta a mesa lotada
deles.
— Está com estômago ruim, e vai comer...
Nem termino de falar, ela me deixa falando sozinho e vai
para a mesa com doces e pega um donut rosa.
— É ELA! VIOLETA... NATAN, PODE SER A VIOLETA!
PEGUEI MAIS DUAS FUNCIONÁRIAS PERDIDAS AQUI! — Aponta
para as meninas e Violeta olha assustada.
— Eu o quê? — Limpa a boca e engole o que tem nela,
quase se engasgando. — Renato, não fiz nada! Natan, eu nem me
movi dessa vez! — Arregala os olhos.
— Não, meu amor, você ainda vai fazer. Duas funcionárias, a
noiva do chefe... Perfeito! Corpos reais.
— Como é? — Violeta larga o donut e se aproxima. — Devo
me sentir elogiada ou atacada? Fiquei levemente confusa.
E lá vamos nós... Os dois vão me enlouquecer.
— Vilu, preciso que vocês façam as fotos da campanha dos
biquínis para a revista. Topa?
— Mentira! — Ela se anima. Os olhos até brilham e bate
palminhas. Eu não preciso disso... Não preciso... — Claro que
topo... Quero dizer, Natan autorizou a gente fazer? — Olha para
mim, com carinha de cachorro perdido.
— Se me derem paz, façam o que quiserem!
Eles se animam mais, com gritos, e ela se joga em meus
braços, e é a primeira vez que tem atitude assim aqui dentro após
estarmos realmente juntos, e toda coisa sobre noivado na mídia. Ela
morre de vergonha se me aproximo dela, se a puxo para um canto e
a beijo. Sempre com receio do que possam dizer ou de alguém ver.
Seguro seu corpo, e ela parece se tocar agora do que faz, porque
se afasta toda desconcertada, e sorrio da carinha que faz.
Me afasto antes que eu fique louco com eles.
Noiva do chefe. Não é que isso tem soado cada vez melhor?
Mas nos últimos dias entramos em acordo que, ao menos agora que
estamos juntos de verdade, devemos contar a verdade aos meus
pais, dizer como tudo começou, e que, pelo menos o noivado não é
real, porque merecem a verdade, isso já passou dos limites... Só
não sei se estou pronto para o que vai vir depois, porque agora
juntos oficialmente, na imprensa sempre será real, até quando durar
o “o noivado”, e o plano era acabar com ele e seguir tudo certo,
mas... Não desejo acabar com isso, por mim, levo muito adiante, eu
só preciso conversar de verdade com ela, e talvez pular algumas
etapas, e oficializar outras.
É, eu estou amando essa menina, e só sendo um imbecil
para deixá-la escapar agora. Porra, eu realmente não quero acabar
com esse noivado, muito pelo contrário, eu a quero no altar comigo.
— Vão, se troquem. Agora sim isso vai funcionar! — Os
gritos do Renato me fazem desligar os pensamentos.
Elas vão se trocar, e se preparar. Renato não quer
maquiagens pesadas no rosto e nem que coloquem maquiagens
corporais. Então a maquiagem que usam é o suficiente, assim como
o estilo dos cabelos. A proposta é mulheres e corpos reais, vestindo
biquínis, usando sem medo. O maluco pode me irritar, mas sabe
fazer ensaios como ninguém.
As outras duas terminam de colocar os biquínis e já se
encaminham para as fotos, onde Renato e seus assistentes ajustam
tudo nelas, junto do figurinista e da funcionária da marca que veio
conferir tudo de perto.
Entro na salinha especial, onde se preparavam, e Violeta
ajusta o biquíni verde-escuro em seu corpo, mas assim que me vê
pelo espelho sorri.
— Por essa não esperava, né? Violeta modelo! — Pisca e
sorrio.
Me aproximo, parando as suas costas, e a ajudando com a
peça. Ajeito a parte de cima, e em seguida a lateral da parte de
baixo. Ela se vira de frente para mim, e não deixo de notar o quanto
está gostosa nisso. Destacou mais seus seios, e empinou ainda
mais sua bunda.
— Você vive para me surpreender, linda. — Beijo seus lábios
e ela ri timidamente. — Vai, essas fotos estão atrasadas. — Acerto
sua bunda e ela pisca se afastando.
Paro na porta, levando as mãos ao bolso da calça, e
assistindo tudo. A alegria delas nas fotos, e o quanto fazem Renato
vibrar. Todas muito lindas, mas meu foco está apenas na minha
garota, fazendo caretas, brincando com os acessórios. Ela é
fotogênica, sempre notei isso devido as suas redes sociais, mas
agora parece que tem algo a mais em seu semblante, no seu
corpo... Algo que está a deixando mais linda ainda.

Depois de duas horas de fotos, tudo foi finalizado, e elas


foram se vestir, enquanto Renato veio me mostrar as fotos que
ficaram incríveis, mas ele sabe disso e nem precisa que eu fale
algo. Vejo a hora e preciso ir para a minha sala, que tenho uma
videochamada internacional e é o que faço.
Vou para o meu andar, que já está começando a encher
novamente, e entro em minha sala, recebendo mais agenda da
Olga. Depois que ela trouxe o filho para viver com ela, a mulher está
ligada na mais alta potência e me fazendo arrepender de reclamar
quando sumia.
A reunião inicia e é sobre uma entrevista com um estilista de
alta costura, que estou fechando uma exclusiva com ele. Quero
deixar tudo adiantado essa semana, já que final de semana estarei
em Monte Amor, e quero resolver minha vida com a Violeta, me
dedicar somente a ela, porque eu sei que, nas últimas semanas,
tenho tido tanta coisa para resolver, que mal tivemos tempo para
sentar e conversar de verdade. Nossos momentos têm sido na
revista, que são bem curtos, ou quando ela vai para o meu
apartamento, e ela anda bem cansada, sonolenta, então é óbvio que
priorizo ela descansar também, e preciso obrigar ela a fazer isso, ou
luta contra o cansaço.
Enquanto a reunião acontece, vejo-a se aproximar de sua
mesa, com uma expressão esquisita, de preocupação. Não deixo de
desviar o olhar para ela, tentando entender o que está havendo.
Mas preciso focar nessa reunião, ela é muito importante, porém o
meu problema é que Violeta se tornou ainda mais importante para
mim do que antes, e tudo sobre ela tem virado minha prioridade.
Os últimos dias tem sido uma completa coisa esquisita.
Claro, teve coisas boas, mas outras muito estranhas, que estou
tentando a todo jeito não ficar pensando muito sobre, mas depois
das fotos de hoje, eu não senti como as vi. Não quero preocupar
minha mãe, por isso nem comentei com ela, porque a última vez
que fiquei bem mal devido ao anticoncepcional que usei, ela ficou
doida, desesperada, já que existem preocupações com essa pílula
também, isso todo mundo sabe. Só que agora estou me sentindo
esquisita de novo, mas os sintomas são outros.
Natan tem notado os breves deslizes que dou quando algum
sintoma surge, e preciso ser uma grande atriz e disfarçar mais.
Marquei consulta na sexta-feira, mas ainda assim não consigo me
desligar sobre isso.
Eu quero focar que poderei dizer a minha mãe que estamos
sem dívida, no tratamento médico que ela começou a fazer, e está
radiante, e que talvez futuramente a gente possa morar em um
lugarzinho melhor, mas simplesmente não consigo. Essas coisas
estão me deixando preocupada, ainda mais após a merda que
Olívia disse no almoço que fugi.
“Enjoada de novo por uma comida? Ama Japa, amiga. Olha,
se não fosse toda maluca com esses remédios e vitaminas que
toma, eu diria que pode estar grávida.”
Não. Isso não poderia. Não falharia logo comigo, né? Não!
Logo agora que Natan e eu estamos tendo uma fase tão gostosa,
mas indefinida. Eu nem sei se ele pretende levar adiante, ou o que
vai acontecer, porque eu apenas sei que o amo, mas não posso
garantir que tudo isso não vai terminar com ele me tirando de sua
vida, e eu precisando aceitar que sempre existiu essa possibilidade.
“Amiga, a Oli tem razão. Compra um teste só para tirar a
dúvida. Se tem certeza de que não está, só vai confirmar. Eu
mesma já fiz vários, porque, mesmo sem transar, atrasou minha
menstruação, eu já fico maluca, achando que engravidei do vento.”
Eu sei... É só para tirar isso da mente. Claro que eu comprei
um teste apenas para isso. Nunca foi porque desconfio... Porra,
quem eu quero enganar? Por isso vim correndo para cá, nada que
como desce, por puro nervosismo. O convite para as fotos veio em
boa hora, porque me distraíram um pouco. Mas então eu me vi
naquele biquíni, e, droga, o pé da minha barriga está levemente
inchado, e meus seios doloridos... Tem a sonolência, cansaço além
do normal, e os leves enjoos com coisas que eu amava comer,
cheiros... Porra... Eu vou ter um treco. Atrasada eu não posso nem
contar com isso como sintoma, porque meu anticoncepcional
interrompia o ciclo... O que está estranho também é essa cólica
chatinha que surge as vezes, eu não as tinha tem muito tempo.
Merda.
Olho para as pessoas, e para a sala do Natan, todos
trabalhando. Levanto-me com minha bolsa e desligo a tela do
computador. Sigo em direção ao banheiro, aproveitando que todos
estão concentrados em seus afazeres.
Tranco a porta do banheiro feminino, pois, quando está
trancado assim, sempre sabemos que as meninas da limpeza estão
aqui dentro, e usamos outros.
Deixo a bolsa sobre a pia, e me olho no espelho, tentando
manter a calma. Mas eu sempre fui de tentar resolver tudo logo,
porque minha ansiedade é mais forte do que eu.
Pego a caixinha com o teste que custou minha alma, mas
melhor do que de risquinhos, que do jeito que estou agoniada,
ficaria mais míope do que já acho que sou. Por falar nisso, preciso
pegar leve na escrita, antes que eu fique sem visão, mas está
fluindo tão bem meu romance...
Foco, Violeta!
Abro a caixinha e retiro o teste todo modernizado, e vejo
apenas como usar para não fazer cagada, porque é bem minha
cara.
A Sunshine não era o melhor lugar para fazer isso, mas
tendo em vista tudo que está acontecendo nos últimos tempos, e
agora esses sintomas, não pode ser normal. Eu estava tomando o
remédio certinho, eu sei que não é cem por cento seguro o
anticoncepcional, mas mesmo assim. Qual a chance?
Termino de fazer e deixo sobre a bancada da pia. Com medo
de olhar, mesmo sabendo que é bem rápido esse.
— Vamos lá, Violeta! Você é corajosa! — Lavo as mãos e me
encaro no espelho. — Atura Natan Valle, e sobreviveu dias ao lado
da mini monstrenga, aguentará olhar esse teste maligno. E vai
provar que não está grávida, e tudo não passa de algo hormonal.
Respiro fundo, ergo a cabeça e é hora da verdade.
Pego o teste e minha respiração trava.

GRÁVIDA
6-7 semanas

Levo uma mão à boca conforme um soluço escapa, e


começo a chorar, e não sei qual o sentimento que me toma, mas eu
choro muito, tremendo cada vez mais. Olho mais uma vez o teste e
isso só me deixa mais chorosa. Soluços vão escapando cada vez
mais, conforme vou guardando tudo rapidamente na bolsa. Lavo as
mãos e tento lavar o rosto, mas não paro de chorar. A pouca
maquiagem se perde nas lágrimas, meu rosto está completamente
vermelho, assim como meus olhos.
Grávida dele... Eu estou grávida do Natan...
Pego meu celular com a mão completamente trêmula, e
começo a pesquisar, os olhos embaçando e eu limpando. Os
sintomas, muitos dos que tenho é o que tem na internet.
Pego a bendita tabela de gravidez, afinal, que porra são 6-7
semanas? Inferno, eu não entendo isso. E se o teste estiver errado?
Caralho, foi caro!
Levo a mão à minha barriga e choro mais. Um bebê... Eu
terei um bebê.

1 mês / 1-4 semanas


2 meses / 5-8 semanas...

Não... Dois meses que eu estou carregando alguém que


depende unicamente de mim? Começo a fazer umas contas
mentais, olhar semanas, e isso só bate com uma coisa: Las Vegas.
Foi em Las Vegas.
Eu sabia que, quando a esmola é muita, o santo desconfia.
As pessoas vêm de viagem com um chaveiro, perfuminho, um imã...
NÃO UM BEBÊ!
Grávida. Eu estou grávida... Droga, eu bebendo naquele dia
com as meninas, as quedas pulando corda... Deus, olha isso, eu
não sirvo para esse tipo de acontecimento, onde pensou que eu
daria uma boa mãe? O Natan, o que ele vai pensar? Que eu
apliquei o golpe da pança! Claro que vai.
Minha respiração começa a ficar intensa, e meu estômago a
embrulhar, e não demora para eu estar agarrada ao vaso sanitário e
colocando tudo para fora do pouco que ingeri hoje. Minha pressão
deve ter ido dessa para melhor.
Não, o teste está errado, e eu vou processar a empresa
porque isso foi caro!
Depois de quase colocar as tripas para fora, me limpo,
escovo correndo os dentes, tento ajeitar minha aparência, que nem
milagre ajudaria muito, e saio do banheiro depois de tentar me
recuperar. Pela empresa é como se todos me olhassem me
culpando, mas eu nem abri a boca. Será que acende uma lamparina
na cabeça de uma grávida com setinha e tudo? Deus!
Eu preciso ir para casa agora. Não... Eu preciso ir ao médico,
um exame lá será mais preciso e vai provar que isso é tudo errado.
E é só mais um dia maluco na vida de Violeta Matos.
Esbarro com Olga, que me olha de cima a baixo.
— Que houve, menina? — pergunta e nego.
— Nada. Não é hora agora, Olga! — falo e ela me analisa. —
Avisa o Natan que precisei ir, e depois explico o motivo.
— Sabe que não sou sua secretária, né? E está pálida!
Sério, lidar com ela agora?
— Eu sei, mas acho que pode fazer isso, levando em
consideração que na hora de fofocar meus passos aqui dentro é
rápida. Avise-o, por favor! — falo firme e ela revira os olhos e
assente.
— Está bem? Sério, está péssima.
Reviro os olhos e me afasto.
De fininho saio da Sunshine, como literalmente uma foragida.
Não sei como consigo pedir um Uber, como consigo colocar o
destino, e nem como estou respirando ainda, porque eu sinto que
estou indo dessa para o outro plano se é que existe realmente um.

Faz alguns minutos que estou olhando o exame em minha


mão, com minha médica sorrindo como uma tonta. Já me basta a
enfermeira entregando isso e dizendo parabéns.
— Doutora Sarah, isso está errado, certo? Não, é impossível.
Como? Eu estava tomando tudo bonitinho...
Assim que vi minha médica aqui a interceptei, que, pobre
coitada, foi obrigada a arrumar tempo para mim fora de consulta.
— Violeta, tem tomado corretamente os remédios? —
Assinto. — Eles podem falhar, querida. Mas precisa ver se não tem
esquecido, se esteve doente e tomou algum outro tipo de remédio
forte que cortou o efeito, ou se o seu organismo não rejeitou de
alguma maneira. Podemos examinar, e vai precisar de muitos
exames agora. Mas está grávida. O teste, o exame, todos estão
certos, e, pelo tempo que está, já deve começar o quanto antes seu
pré-natal.
— Pré quem? — falo espantada e ela sorri.
— Faz assim, vai para casa. Descansa. É um susto, eu sei.
Milhares de mamães passam por isso. Amanhã você retorna e vou
te explicar tudo, te encaminhar a outros médicos, e para sua sorte
sou obstetra também.
— Sorte? Sarah, uma criança habita nesse corpinho aqui...
Eu estou enfartando! — quero gritar, me controlo para não fazer
isso.
— Ei, nada disso. Vou te passar um calmante, mas não
posso ficar receitando sempre. Precisa manter a calma de agora em
diante. Hoje só descanse, e amanhã retorne, que vou te ajudar,
explicar tudo, orientar melhor ainda. Agora tenho uma consulta, o
dia está cheio. Mas respire, ok? — tenta me acalmar.
Assinto. Ela é minha médica desde que comecei a vir nesse
hospital. Já conhece meus dramas. Na vez do anticoncepcional me
fazendo mal, eu disse que estava morrendo, e parei o hospital, ela
me acalmou, e agora retorno com essa.
GRÁVIDA! VIOLETA MATOS, GRÁVIDA!

Estou em casa. Mamãe e meu tio saíram para a fisioterapia


dela, e será bom ficar sozinha um pouco. Natan me ligou, as
meninas também, mas enviei mensagem a eles dizendo que estava
com uma enxaqueca muito forte e vim para casa.
Estou deitada na minha cama, com a mão em minha barriga,
e chorando. Apavorada. Muito apavorada.
Eu tomei tudo certinho, por que na minha vez falhou? Me
levanto, indo até a última gaveta da cômoda onde guardo remédios,
documentos, coisas médicas. Pego o maldito anticoncepcional, mas
meu coração para de novo.
Ambas as caixinhas que comprei lacradas.
Começo a revirar a gaveta, e vejo bem ao fundo os potinhos
da vitamina que precisava tomar também, chacoalho e não fazem
barulhos. Abro-os e estão vazias.
— Não... Não... Você não fez isso, Violeta... Não!
Pego minha bolsa e retiro dela a caixinha de remédios. Pego
o comprimido... A vitamina. Eu enchi essa merda toda com a
vitamina esse tempo todo. Faz um bom tempo que não estou
tomando o anticoncepcional!

— Filha, faz isso direito. Olha, organizando remédios


enquanto escreve esse horóscopo, ouve músicas... Vai misturar
tudo... Violeta, me ouve! Essas vitaminas aí parece o
anticoncepcional...
— Relaxa, mãe. Não vou misturar. Vou fazer direitinho.
Confia em mim que é sucesso!

Terminei de arrumar os remédios e joguei as caixinhas


dentro da cômoda, sem olhar. Apenas fechei a caixinha de remédios
que me acompanha, e voltei a escrita. Eu precisava entregar os
horóscopos em meia-hora, ou o Natan me mataria, e com isso fiquei
desatenta, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo.
MÃE, POR QUE FOI CONFIAR EM MIM?
Nesse maldito dia, eu estava tão distraída, já tinha xingado o
Natan de todos os modos, estava cansada, e tinha que organizar
tantas coisas. Eu nem abri os anticoncepcionais, fui tão relapsa que
apenas coloquei as vitaminas, lacrei e joguei tudo na gaveta. E
segui como se nada tivesse acontecido.
Mas acabou de acontecer para me lembrar que eu fiz merda.
Volto a chorar, agora pela minha burrice. Se São Paulo
alagar, eu ainda serei a culpada!
Problemas.
Essa fuga da Violeta me cheira a muitos problemas. Ela está
me escondendo algo, e pretendo descobrir ainda hoje. Chamei ela
para vir a meu apartamento, passar a noite aqui, e ao menos isso
não recusou.
Pedi jantar, porque eu queria levá-la para comer fora,
conversar, mas tendo em vista o assunto que pretendo ter, não seria
o cenário mais propício, então aqui será melhor, e assim tento
descobrir o que está havendo.
Estou no escritório nesse tempo finalizando um croqui de um
vestido longo, tendo em mente a minha musa inspiradora, que tem
me deixado totalmente bobo. Passei tanto anos saindo com
pouquíssimas mulheres, bloqueando minha vida para
relacionamentos e principalmente nunca pensando em casamentos.
Fugindo da minha família, e agora me vejo preocupado em estar
presente para eles a cada instante, em me conectar mais ainda aos
meus pais, e não deixar Violeta sair mais de minha vida, e que esse
noivado que começou na brincadeira apenas passe para outra fase.
Não é como se nos conhecêssemos ontem. São dois anos ao lado
de quem eu me privei de saber que sempre foi a mulher da minha
vida.
Precisou de uma mentira, uma grande confusão, para tudo
acender dentro de mim, só que está aceso na intensidade do tempo
que nos conhecemos. É complicado explicar, pela primeira vez me
vejo sem saber como dizer algo.
Sou notificado pelo celular que o jantar está na portaria, e
peço para colocarem no elevador por gentileza.
Levanto-me para buscar, e não demora. Já havia deixado a
mesa de jantar arrumada para isso então fica mais fácil. Violeta me
manda uma mensagem que está subindo, pegou trânsito. Eu a
mandei vir com o Dionísio, mas não quis, disse que não queria
incomodar ele que estava de folga hoje, mas ao menos consegui
deixar com que eu pagasse o Uber. A garota é teimosa quando
quer.
Volto para a sala e, assim que a porta do hall se abre, olho
para a loira usando um short preto curto, uma blusa cinza de alças
finas, marcando seu decote, os seios bem destacados, e um tênis
branco. Os cabelos soltos e úmidos, e uma carinha inchada, que me
preocupa.
Veio apenas com sua bolsa, aqui tem coisas dela que ficou
das vezes que esteve aqui.
Ela deixa a bolsa no sofá e se atira em meus braços, me
abraçando pelo pescoço. Seguro seu corpo, e inalo seu perfume.
— O que houve, linda? Está tudo bem? — pergunto e ela me
beija. — Violeta, o que está havendo?
Ela se afasta sorrindo, mas existe algo a mais nisso.
— Nada. Estou apenas sendo carinhosa. — Mentirosa. —
Não aguenta ficar longe de mim, né? — desconversa. — Eu sei...
Sou a razão da sua vida, mas estou com fome. Me alimente e serei
toda sua depois.
Fico observando-a, mas ela torna a me distrair, me beijando.
É, ela está escondendo algo.

Depois do jantar em que ela mal tocou na comida, e isso é


totalmente estranho, estamos sentados na sacada. A noite está bem
fresca, tranquila. Ela está encostada em meus braços, a cabeça em
meu peito, enquanto acaricio seu braço.
— Final de semana vamos para Monte Amor com sua
família. A festa é íntima, apenas conhecidos, conseguirei estar mais
conectado a você, e prometo ser seu esse final de semana. Os
últimos têm sido complicados.
Ela concorda e apoia uma mão em minha perna.
— Minha mãe e meu tio vão adorar conhecer lá... Ela não
para de ser grata a você “por indicar ela aos seus conhecidos” e ela
estar fazendo o tratamento. — Começamos a rir, porque Naomi
criou isso. — Nate, mas, já que vamos falar ao seus pais sobre tudo,
como ficará na imprensa quando descobrirem que esse noivado não
é noivado, agora que estamos meio que juntos.
— Meio não... Estamos juntos, Violeta. — Ela ergue o olhar.
— Não estou preocupado com eles. Eu apenas quero fechar cada
ponta aberta, e focar em nós.
Seus olhos brilham, me encantando sempre mais.
— Nem definimos o que somos, como...
— É por isso que arrumei esse tempo hoje para ser só nós e
conversarmos. — Ela se afasta um pouco, e se vira de lado me
olhando. — Se acalma. Não te chamei para terminar nada. —
Sorrio. — Meus sentimentos por você, já sabe quais são. E a cada
dia eu tenho mais certeza sobre eles. Eu amo você, acho que
sempre amei, isso talvez explicasse a preocupação excessiva,
cuidados, e nunca te mandar embora mesmo me irritando
constantemente. E não falo de amor de amigo.
Seus olhos marejam, porque tem se tornado bem chorona
ultimamente.
— Nunca disse que me amava... Digo, depois de tudo, sem
ser como amigos... Espera, nem como amigos dizia... — Sua voz
embarga.
— Então, que merda eu fui. — Prendo a mecha do seu
cabelo. — Não tem como não te amar, esse é o problema, linda...
Não chore.
Ela sorri piscando rapidamente, e enxugando os olhos.
— É só que... O que quer dizer com isso?
— Que esse anel talvez seja para ser sempre seu... —
respondo com nervosismo, sentindo-me ansioso. — Eu quero que
esse noivado seja real, e que nossa próxima etapa seja o
casamento. Eu quero continuar exatamente daqui, porque em dois
anos já fui cego demais em relação a você.
Ela me olha, e me preocupo, não sei que o que pensa.
Talvez eu tenha apavorado a garota. Caralho, por que eu fui ser o
não-romântico da família? Naomi sempre implicou com isso de eu
jogar as coisas do nada.
— Quer... Quer continuar com o noivado, mas agora de v-
verdade? Natan, está me pedindo em casamento? — Arregala os
olhos.
Merda, eu nunca fiz isso antes.
— Acho que tô...
— Acha? — Se levanta e sigo o movimento. — Natan, está
ou não me pedindo em casamento? — Sua voz altera.
— Estou, Violeta. Mas porra, agora fiquei com medo de estar
fazendo isso. Quer se acalmar? — falo assustado, e ela leva as
mãos à boca. — Violeta?
Cai sentada ao meu lado e me olha.
— Eu... Quer casar comigo? Logo comigo? Nate... Comigo?
— indaga chorosa.
— Sim, por que não faria isso? Eu amo você. Eu quero estar
sempre com você. Lidar com suas loucuras dia e noite, com sua
péssima alimentação, sua desorganização... Eu quero cuidar de
você... Eu te amo, e não estou brincando. Porra, meu coração está
quase falhando aqui. — Saio do seu lado, e me abaixo a sua frente,
entre suas pernas. — Começamos com uma mentira, e eu não
quero ter que apagar tudo que construímos agora, para recomeçar
do zero. É perder tempo demais, quando posso ter ao meu lado a
senhora Valle que vai me enlouquecer, e provavelmente me fazer
pular dessa sacada enquanto assiste de camarote. Mas esse anel,
porra, ele só sai do seu dedo se for para substituir por um ainda
melhor antes da aliança dourada.
— Não... — fala chorando e engulo em seco. — Eu gosto
dele! Me apeguei ao “fortuninha”, até apelidei. — Começo a rir
emocionado com a diabinha. — Eu te amo também... E se você
realmente tem certeza disso, eu não poderia recusar. Eu me
acostumei a carregar esse status de sua noiva, parece que faz parte
de mim já... Porra, Natan, para de me fazer chorar, que inferno! —
Ela se joga em meus braços, e a seguro firme, conforme enrola as
pernas ao meu redor e torno a me sentar com ela em meu colo. —
Sabe que não terá volta isso, né?
— Eu sei, o que é algo complicado, levando em
consideração... — começo a provocar e ela me olha assustada. —
Estou brincando. Eu nem quero que tenha volta. Eu quero contar
aos meus pais a verdade, mas dando a eles as consequências de
se brincar com o destino, e que sempre estiveram certos sobre uma
coisa.
— O quê? — Acaricia meu rosto.
— Que eu só teria você em minha vida.
— Eu vou alagar São Paulo... Droga! — reclama.
Beijo-a e como amo fazer isso. Eu sempre quero estar
assim, com a boca na sua, seu corpo colado ao meu, e conectado a
ela como se nada mais existisse.
— Temos um problema! — Interrompe o beijo. — Agora não
poderá mais fazer meu vestido de noiva!
Começo a rir e balanço a cabeça.
— Eu te disse aquela vez, vamos descobrir se esse papo de
dar azar é verdade. Eu faço questão de desenhar seu vestido, e que
ele seja a primeira roupa que eu criei para todos verem. — Meu
coração acelera mais com isso, imaginando exatamente o quão
princesa ela estará.
— Uma escritora e um estilista... Sabe que gostei?
— É mesmo? E por falar nisso, e aquela história que
comecei a ler, quando vai me deixar terminar? Acha que não vejo
que escreve às escondidas, Violeta Matos?
Suas bochechas esquentam.
— Deixarei ver, deixa só eu ajustar algumas coisas, mas se
odiar não me fala. Sou sensível! E ela é erótica, Natan, nada de
comentários machistas!
— E por que eu faria? Estou, na verdade, curioso para saber
o que essa cabecinha narra nas cenas eróticas, até porque
desconfio que use a gente como inspiração. Aquela introdução...
Cobrarei direitos autorais, mas de um outro jeito! — Beijo seu
pescoço e ela ri.
— Pode parar, tarado! — Ela se levanta. — Eu preciso ir ao
banheiro, e você, se controle. Acabou de me pedir em casamento,
seja romântico!
— Estou sendo. E meu pau está louco para entrar em você
bem devagarzinho, enquanto beijo você bem romântico.
Ela balança a cabeça.
— Escroto! Iceberg puro. Argh! — Ela entra no apartamento,
e sorrio.
Noivo oficialmente de Violeta Matos, puta merda!
Esfrego o rosto, e levanto-me.
Entro no apartamento quando seu celular começa a tocar
dentro de sua bolsa. Ela segue no banheiro, então tomo a liberdade
de pegar, pois está aberta e ele está em cima. É a Nina ligando. Vou
levar para que Violeta atenda, mas acabo puxando sem querer a
alça da bolsa que vai ao chão, espalhando algumas coisas, porém
dentre elas tem algo que me assusta... muito.
A ligação é esquecida. Abaixo-me colocando as coisas na
bolsa, mas mantendo em minha mão um teste de gravidez. Existe
um visor nele, e está escrito nitidamente “GRÁVIDA”.
Nina desiste da ligação, e Violeta entra na sala.
— Natan, por que casas tão enormes? Cansativo andar... —
Viro-me para ela, e seus olhos param na minha mão. — O que está
fazendo com isso? — questiona com a voz trêmula.
— Seu celular estava tocando, acabei derrubando sua
bolsa... Violeta, o que é isso? — Minha voz muda, meu coração está
muito acelerado. Minhas mãos tremem.
— Natan, eu posso explicar...
— Você está grávida?!
Ela se aproxima devagar, pálida. Deixo seu celular sobre o
sofá e ela segura o teste de gravidez. E não precisa me dizer nada,
seu olhar me responde tudo.
Observo o homem completamente sério, me olhando, e meu
coração gela, porque não sei o que esperar disso, já que para mim
foi um choque também.
— Eu não queria que soubesse assim... — falo com a voz
repleta de receio.
Natan esfrega o rosto e passa a mão pelos cabelos, se
afastando e isso me preocupa.
— Desde quando sabe? — indaga com a voz aflita.
— Hoje... As meninas começaram a plantar mais ideias para
eu fazer o teste, e fiz na revista.
— Por isso foi embora! Nunca foi uma enxaqueca. Pensava
em me contar quando?
— Natan... Eu queria contar com calma, porque ainda estou
assustada. Foi uma falha minha, ok? Eu fiz uma confusão com os
remédios... Eu... — Minha voz embarga mais um pouco.
— Não! Isso foi nós dois, Violeta. Quem mais sabe?
— Apenas eu e você... Não falei com ninguém. — Sento-me
no sofá e ele fica me olhando. — Fala alguma coisa, qualquer coisa.
Só não faz isso, não me olha de um jeito que eu não consigo ler. Por
favor... grita, surta, tudo vai ser melhor que isso. — Deixo o teste de
lado.
— Eu preciso respirar um pouco.
Assinto me levantando, e indo até minha bolsa, pego-a e
pego meu celular, com o coração apertado. Não quero chorar aqui,
não na frente dele.
— Eu vou... eu vou embora.
— Não. Fique aqui. Não saia daqui. Eu só preciso de um
tempo. — Se aproxima beijando minha testa e se afasta, indo para o
corredor.
Fico olhando a cena sem saber o que fazer, então apenas
sigo para o corredor, e entro em um dos quartos de hóspedes, vou
em direção a janela fechada e abro, me debruçando sobre ela e
observando a cidade do alto, o coração pequeninho. Eu não posso
julgá-lo, porque estou assustada também, isso me pegou de
surpresa tanto quanto ele, e cada um teria sua reação. A minha é só
chorar, sentir medo... A dele talvez seja se afastar, e esse é o meu
medo. Natan fazer o mesmo que fez com sua família a vida toda, se
afastar de vez.
Enxugo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e saio do
quarto indo até o dele. Entro no closet, pego uma camiseta dele e
volto para o de hóspedes. Tiro minha roupa, e a coloco. Meu cabelo
já está seco e o prendo em um coque. Pego meu celular e me deito
na cama por cima da colcha mesmo.
Começo a mexer no aparelho, e vejo as fotos e vídeos de
Las Vegas, e isso só me faz chorar mais. Nossos momentos lá,
onde com toda certeza essa gravidez surgiu, se minhas contas não
estiverem erradas, o que duvido que estejam.
E se ele rejeitar o próprio filho?
O pensamento me toma e bloqueio a tela do celular, levando
a mão à minha barriga. Eu não sinto raiva desse serzinho, nunca
sentiria. Eu estou assustada com tudo, mas independentemente de
tudo, ele ou ela não tem culpa da mãe ser louca e destrambelhada.
Mãe... Eu serei mãe... Isso soa tão errado. Eu não sei cuidar
de mim direito. Logo se nota pela troca de remédios, a soma errada
dos juros da dívida.
Droga, como eu vou falar para dona Zulmira que ela será
vovó? O tratamento dela passará a ser com o cardiologista, se
sobreviver a notícia, pobre senhora, não tem um segundo de paz.
Fico quietinha, o que bem é raro, apenas de olhos fechados,
tentando buscar calmaria. As horas vão passando, talvez duas,
quatro, não sei, e nem quero focar nisso para não piorar a
ansiedade que me consome.
Escuto a porta abrir, mas tenho medo de abrir os olhos e ver
o que pode me machucar. Permaneço quieta, pronta para ter tudo
isso indo por água abaixo, afinal, finais felizes aparentemente são
apenas em livros, contos de fadas e filmes.
Sinto a cama baixar ao meu lado, provavelmente se sentou.
Controlo o tremor que quer surgir pelo receio. Até que sua mão toca
meu ventre, e meu mundo congela, quando ele acaricia. Abro os
olhos lentamente, e ele leva o olhar a minha direção. Parecendo
mais relaxado.
— Eu realmente não queria que soubesse assim... Eu queria
te contar com calma, para estar mais preparada caso chutasse meu
rabo — falo, mas ele fica em silêncio.
Sobe a sua camiseta que uso, e me deixa mole quando se
inclina beijando minha barriga. Meus olhos que não sabem mais o
que é serem normais, começam a marejar, me fazendo piscar várias
vezes para controlar o vexame puro que tenho me tornado. Eu não
sou chorona assim... certo, eu era um pouquinho, mas, Deus, está
demais.
Ele retira a própria camiseta, mantendo os olhos em mim,
meu coração poderia ganhar nota dez pela bateria de escola de
samba que virou. Sobe em cima de mim, e me agarra, beijando-me
calmo, encaixando-se entre minhas pernas se conectando a mim de
um jeito bom, realmente muito bom. Seguro seu rosto com as mãos,
prendendo seu corpo a mim com minhas pernas. Sua mão aperta
minha cintura por baixo da blusa, e o calor de sua pele se junta com
o meu.
Distribui os beijos descendo pelo meu queixo e indo para o
meu pescoço, me deixando perdida, derretida em seus braços. Sua
camiseta é retirada de mim, e seus beijos tornam a se espalhar pelo
meu corpo. Meu seio se torna seu foco, com lambidas, leves
mordidas e chupões, que me fazem gemer embaixo dele. O tecido
de sua calça de moletom justa, me deixa sentir seu pau duro,
roçando minha boceta por cima do tecido da calcinha pequena.
Aperta o outro seio, e alterna de um para o outro com os
toques e sua boca. Observo a cena, eu não quero perder nada. Mas
agora a boca desce para minha barriga, dando beijos calmos, que
me fazem sorrir, até irem parar no tecido da calcinha, que começa a
ser retirada, e me deixa totalmente nua para si.
Abre bem minhas pernas, e desliza os dedos por minha
vagina, entre os lábios, tocando-me sem tirar os olhos de mim. Um
dedo desce para dentro de mim, e logo em seguida vem outro, me
fazendo contorcer toda, e agarrar o tecido da cama. Mas então sua
boca vai diretamente na minha boceta, e sei que estarei perdida em
segundos.
Natan me chupa gostoso, enquanto mete os dedos dentro de
mim, os sons de prazer preenchem o quarto, acompanhado dos
meus gemidos que começam a ficar fortes e altos.
— Natan... Eu quero você... — peço. — Não, eu imploro por
isso. Agarro seus cabelos, contorcendo-me inteira, oferecendo cada
vez mais minha boceta a ele.
Seus dedos saem de mim, assim como sua boca, mas sei
que terei o que tanto quero. Ele retira a calça junto da cueca, me
dando a perfeita visão do seu corpo malhado, seu pau delicioso, e
seu olhar que me devora. Existe fogo em sua expressão, algo que
eleva minha autoestima.
Se inclina sobre mim, encaixando seu pau na minha entrada
encharcada e sensível, e começa a me penetrar. Entra lento, até
atingir o limite, onde seu corpo cola ao meu, e minhas pernas
enlaçam sua cintura. Seus olhos presos aos meus, um braço
controlando o peso sobre mim, e o outro tem a mão em meu rosto.
Eu toco seu corpo, agarrando suas costas, e é assim que ele se
movimenta, começa a entrar e sair de dentro de mim, gemendo com
a boca próxima a mim, misturando os sons com os meus. Ele não é
bruto, não existe vozes, apenas nossos gemidos, os corpos se
chocando um no outro, e nossos olhares.
Natan faz amor comigo, e sei disso quando seus lábios
tocam os meus, e o beijo é diferente, é carinhoso, me fazendo
agarrar seu rosto, para não perder esse contato, esse momento. Vai
até o fundo, sai... entra de novo. A boca que sai dos meus lábios
cola em meu ouvido, e palavras são perfeitas:
— Eu te amo, meu amor...
Sua linguagem do amor é o toque, sempre foi. Nunca acharia
ruim de ouvir isso durante o sexo com ele, porque eu sei que não é
do momento, ele fala porque é realmente real. Natan fala de
coração. Aperto-o forte em meus braços, e gemo mais alto quando,
desse jeitinho, ele consegue me fazer ter um orgasmo, me deixar
tonta, trêmula embaixo dele. Sinto-o gozar, mas me perco nos sons
perfeitos dos seus gemidos roucos, que me deixam perdendo o
sentido.
Ele continua se movendo mais devagar, e sei bem, não quer
perder esse momento, e eu também não. Mesmo sensível, eu quero
que continue, até não aguentarmos mais.

Estamos deitados, completamente nus, com seu corpo


agarrado ao meu, o leve vento da noite entrando no quarto. Seus
dedos acariciando minhas costas e meu ouvido tendo o som das
batidas em seu peito.
— Me desculpa... Eu precisava respirar um pouco. Ver
aquele teste desse modo me assustou.
— Está chateado com isso... Em saber que estou grávida de
você? — questiono sentindo medo pela resposta, mas ergo o rosto
para ver o seu.
Ele franze o cenho bem sério, e me encara.
— Claro que não! — responde firme. — Apenas assustado.
Mas nunca chateado. Eu amo crianças, veja pela minha sobrinha.
Só não estava pensando que teríamos um agora e tudo no meio
dessa loucura que criei. Mas jamais estaria chateado. É um filho
com você, não teria pessoa melhor para me dar um herdeiro.
— Que você nunca nem quis... Natan, eu...
— Para com isso, Violeta. Eu não queria um filho, porque
também não queria relacionamento. Mas, porra, acabei de pedir
você em casamento, disse que te amo, que sou louco por você. As
coisas mudaram. E pare de colocar a culpa apenas em si mesma,
que sei que é o que está fazendo. Que tenha trocado os remédios,
mas isso é o seu jeitinho de ser louca de sempre. Mas transamos
pra cacete, sem camisinha, não sou um imbecil que não sabe que
métodos não são cem por cento confiáveis, e a falta deles é cem por
cento de chances de surgir uma criança ou até doenças. Eu confiei
em você, assim como confiou em mim. Então não pense que não
estou feliz... Deixa o susto passar, só isso — fala e sei que é
sincero, porque seus olhos me dizem a verdade também.
— Foi em Vegas... Pelas contas que fiz, o tempo que
pesquisei, dois meses... Logo na primeira vez. — Escondo o rosto
em seu pescoço e ele ri baixinho.
— Agora algumas coisas fazem sentido. Como seus choros,
manhosa, cansaço e sonolência além do normal, comilanças
desenfreadas e o estômago ruim.
Sorrio odiando que todos os sinais sempre foram claros e eu
idiota não quis crer.
— Depois do ensaio, eu já estava com o teste, foi quando fiz,
e por causa das fotos. O meu número de sutiã era certinho, mas o
do biquíni ficou um pouco apertado, meio pequeno, e notei a barriga
um pouco inchada na parte debaixo. Isso fez a insistência das
meninas ficar na minha mente.
— Eu notei que seus seios estavam mais inchados e estava
mais sensível neles, mas com tantas coisas não foquei nisso. Sobre
seu corpo, só observo o quanto é gostosa e linda, que notei que
estava ficando ainda mais, só que com algo diferente, não sabia
identificar. Os sinais estiveram com a gente.
Assinto e beijo seu pescoço.
— E agora? Como será isso agora? — Ergo um pouco do
corpo, me apoiando nele. Os cabelos agora soltos.
— Vai ao médico e começaremos a cuidar da sua saúde e do
nosso bebê. Contaremos a nossa família a verdade sobre tudo, doa
a quem doer, será nossa história. E na mídia seguiremos noivos.
Mas tem algo no meio disso. — Encaro-o confusa. Ele mexe em
meu cabelo e sorri. — Quero que case comigo antes dessa barriga
se tornar maior e mais linda. O vestido que farei para você, é um
modelo um pouco justo na parte superior, e seria muito
desconfortável para a mãe do meu filho algo assim estando com
uma barriga grande. — Sorri para mim de um jeito especial.
— Sério que está pensando nisso? — Começo a rir. — Não
sabia que era todo emocionado com essas coisas, Sr. Gelinho.
— Não era, até imaginar perfeitamente como seria seu
vestido.
— Não vai me deixar saber até fazer, não é?
— Inverteremos os papéis. Você só saberá no dia. Confia em
mim?
— Tenho que confiar, é o pai do meu bebê e meu noivo...
Nossa, como isso soa estranho, Natan! — falo e ele acerta minha
bunda enquanto me beija. — Eu confio, sempre confiei, velhote.
— Como consegue ser tão irritante em questões de
segundos? — indaga e me levanto piscando para ele.
Caminho em direção a janela, mesmo nua. Porra, estamos
no topo do prédio enorme, a não sei quantos metros de altura, e de
noite, eu quero sentir essa paz, tranquilidade, o vento em meu
corpo, após tudo. Fico de costas para a janela, sob seu olhar
completamente de safado.
Depois não queremos levar choque com filhos chegando.
Seu pau começa a subir, e o cretino se levanta, vindo na minha
direção.
— Quer me matar, é isso que sempre desejou, não é? —
Puxa meu corpo, virando-me de costas para si. Os seios sendo
exibidos na imensa janela de vista livre para a cidade. O vento me
arrepiando e deixando o bico dos meus seios duros e doloridos.
Seu pau pressiona minha bunda, conforme ele se esfrega
em mim. E como não sou idiota, me empino rebolando para ele,
sentindo-o passar pelo vão da minha bunda, e gemidos saírem de
nossas bocas.
— Seremos pais tão depravados, Natan... Que merda, hein!
— Acerta minha bunda com força. — Ai...
Morde meu ombro e sobe para o meu pescoço, até morder o
lóbulo da minha orelha.
— Fazer o quê se a minha mulher é gostosa pra caralho, e
me enlouquece? Consequências, linda... consequências!
Ele me penetra, e porra que delícia.
Apoio minhas mãos na janela com força, e quase de quatro
diante dela, Natan começa a me foder forte, meus gemidos sendo
controlados com muita força por mim, mas alguns escapam sem
controle. Meus seios chacoalham ao ar livre.
— Puta merda... Isso é bom! — falo entredentes, e ele sorri
em meu ouvido, mas logo geme forte.
— Sabe o que mudou também? O quanto tem estado mais
sensível... Sedenta... Com essa boceta me espremendo cada vez
mais, apertando-me forte... Teremos um problema... Se eu já queria
te foder a cada cinco segundos... agora isso piorou! — Acerta minha
bunda novamente quando o aperto mais forte ainda.
Escorrego a mão por entre minhas pernas, e começo a me
tocar também, recebendo seu pau, e rebolando nele. Ele fica bruto e
eu amo quando ele fica assim. Ergue uma perna minha apoiando na
poltrona ao lado, e me segurando mais firme ainda para si. Um de
seus braços aperta meus seios, o rosto a lateral do meu, e meus
gemidos silenciosos se tornam forte como os dele. Meu ponto G é
atingido e meus olhos lacrimejam pelo prazer desesperador.
— Ai... Nate... — choro desesperada, insana.
— Goza, lambuza todo meu pau, Violeta! — fala com a voz
mais sexy que o normal. Rouca, vibrante, misturada aos nossos
sons.
Mais um orgasmo, e dessa vez mais forte, me enfraquece
toda, deixando-me o dobro do sensível. O grito é silenciado por sua
mão em minha boca.
— Violeta... Porra! — me chama gozando forte, e mantendo-
me presa a ele. —Ooh... Porra... Porra!
— Meu Deus! — choramingo quando sua mão sai de minha
boca.
— Shhh... Só mais um pouco... Calma, amor... Nunca gozei
assim... Só mais um pouco... Isso... Me aperta... Gostosa! — Está
fadigado como eu.
Continua esporrando em mim, e eu estremecendo em seus
braços, sendo preenchida e gozando mais um pouco.
Choramingando mais ainda na mistura dos gemidos, o seu pau
fazendo barulho no entre e sai lento agora, o nosso gozo
escorrendo entre minhas pernas.
— Natan! — chamo em desespero quando aperta o biquinho
do meu seio.
Ele sai com calma de dentro de mim, e cai na poltrona, me
puxando para o seu colo. Ambos fracos, tremendo, suados, e com a
respiração prestes a se perder.
— Te machuquei? — pergunta bem preocupado.
— Não... Me lembre de sempre... estar nua... nas janelas...
— respondo com dificuldade e ele sorri me abraçando.
Estamos melados, minha boceta escorregadia em seu colo,
em cima do seu pênis.
Ele me beija com calma, morde meu lábio, em seguida deixa
um selinho e sorri todo cafajeste.

Acordo tentando entender quem sou, onde estou. Olho para


os lados, e o quarto é o do Natan agora, que, por sinal, não está
aqui. Levanto-me e sigo para o banheiro, ainda sonolenta. Preciso
de banho, comida e ir para a revista.
É o que faço, tomo um banho, escovo os dentes para
acordar de vez e isso não demora muito. Tenho algumas coisas
perdidas aqui, e será uma dessas roupas que usarei para ir
trabalhar.
Toda cheirosinha, e ainda tentando me localizar um pouco,
eu sigo atrás do dono desse lugar, que está silencioso demais.
Me assusto com Zafira limpando a sala, e ela me olha
sorrindo.
— Bom dia, dona Violeta! Oh lugar, para surgir poeira...
Sabe, se eu fosse ricaça, jamais compraria um lugar tão alto. Isso
atrai mais poeira, muito vento, aviões... Rico parece que não pensa.
Não é eles que limpam, né? Bom para mim que faço graninha! — a
doida fala e começo a rir.
— Concordo com você. E lugares grandes demais me geram
cansaço... Sou sedentária — falo e ela borrifa algo no sofá e preciso
engolir em seco com o cheiro que me dá um enjoo imediato.
— Tudo bem? O que a dona dizia?
— Nada. Tenha um bom-dia. — Sorrio me afastando o mais
rápido. — Espera... O seu chefe?
— Escritório. Como sempre!
Assinto e saio às pressas, quando ela borrifa mais do
produto. Caralho, estou fodida. Eu amo cheirinhos, principalmente
de limpeza, poxa.
Sacanagem serzinho de moradia sem aluguel!
Porra... Estou pensando em um bebê. EU ESTOU GRÁVIDA
MESMO! Isso ainda vai me causar choques.
Entro no escritório sem bater, e o homem de camisa social
com a gravata caída nas laterais da camisa com os primeiros botões
abertos ainda, me olha.
Fecho a porta e levo a mão ao peito.
— Natan, eu estou grávida! Puta que pariu... Eu estou
grávida!
— Está... Violeta, não é hora dos seus...
— Não. Natan, se uma criança entra, logo ela precisa sair.
Mas além disso, tem uma criança que depende de mim para
sobreviver! Entende isso? Eu vou sair nos jornais como assassina!
Senhor! — Me abano e ele coloca o celular no bolso, e apoia os
braços nas laterais da cadeira.
— Por isso o seu noivo e pai dessa criança vai ficar em cima
de ambas. Por falar nisso, tem a consulta hoje. Iremos ao médico
primeiro antes da Sunshine.
— Como é que é? Não! Natan, nunca ouviu sobre os exames
que grávidas fazem? É um tal de aperta aqui, fura ali, soca aqui. —
Faço uma careta mais desesperada ainda.
— Talvez tenha ouvido, mas não me lembro de nada de
“socar”.
— Você entendeu! E isso não pode vazar a mídia. E se
pegam os dois juntos no hospital?
— Seremos discretos. Pare de me enrolar. Já tomou café? —
Se levanta e caminha na minha direção.
Ele sempre foi gostoso assim ou ficou mais agora? Será que
ganhei uma supervisão junto da gravidez? Gostei!
— Não. Como está tão leve depois disso? Claro, do seu pau
as crianças saem em líquido, enquanto de mim com bracinhos e
pernas! Porra, injustiça, hein!
Eu tenho a singela impressão que ele quer rir, e se ele fizer,
eu furo ele todinho.
— Vamos tomar café, Violeta.
— O que houve com o “meu amor”? Achei tão fofinho!
Ele sai me arrastando para fora do escritório. Escroto.
Passamos pela sala e Zafira não está mais, porém o cheiro...
Merda. Levo a mão à boca e respiro fundo.
— O que houve, linda? — questiona-me.
— O cheiro, parece forte demais. Tem cheiros que estão me
causando isso nos últimos dias... — Faço uma careta.
— Vou falar com a Zafira para pegar leve nos produtos.
— Não... Vamos sair daqui. — Caminhamos para a sala de
Jantar e só então volto a falar. — Não precisa. É sua casa, e ela tem
que limpar. Está tudo bem, Natan.
— Será sua também — fala e tropeço em cima da cadeira.
— Estou falando sério. Vou querer acompanhar de perto essa
gravidez, Violeta.
— A PATROINHA ESTÁ GRÁVIDA?! DEUS DO CÉU!
Dou um pulo com o grito atrás de nós e Natan me segura.
— Perdão... Gente, perdão... Eu estava vindo perguntar se
vão voltar ao quarto sabe, para eu trocar o jogo de cama... Então...
Isso é real? Nossa, dona Marietta e seu Ruben vão surtar. E a
Naomi? Nossa, Monte Amor vai parar!
— Não... Não... — Me afasto do Natan e seguro os braços
dela, rindo. — Zafira, ninguém pode saber ainda. Queremos falar
com calma, tudo bem? Tem que manter isso em segredo. A gente
pode confiar em você?
Ela sorri toda animada.
— Claro! Deus me livre negar algo a uma gravidinha e ficar
com terçol!
— Ah, existe isso? — questiono curiosa e olho para o Natan,
que me fuzila com o olhar. — Bom saber, Zafi.
— É o que dizem sabe... — A mulher começa a chorar e me
assusto. Natan se senta na cadeira e olha a hora no relógio,
impaciente. — Nunca me chamaram assim... Minhas patroas nunca
fizeram isso!
— Não sou patroa, mulher. Se acalma! — Abraço-a
desesperada e Natan a olha incrédulo.
— Ela é sua patroa, Zafira. Agora essa novela pode acabar,
e minha noiva pode vir tomar café para sairmos? Ninguém morreu,
certo? Zafira vai manter o segredo, pois confio nela, correto? — ele
diz e ela assente. — Perfeito.
Zafira se afasta enxugando o rosto e sorrindo.
— Vou deixar vocês... Ah, a cama, posso trocar tudo lá?
Assinto sorrindo e ela se retira falando nada com nada e
rindo.
— Acha que ela vai calar a boca?
— Depende, se for louca igual você, o que julgo que seja,
pode abrir a boca em um tropeçar.
— Acaba de chamar a mãe do seu filho de louca?
— Tome café, amor. — Se levanta e me coloca sentada.
— Não gostei do seu tom, viu! Olha, Natan, você precisa
respeitar meus sentimentos... Eu vou pedir demissão, traste!
— E vai casar e viver comigo da mesma forma. Violeta, a
hora! — informa apontando o relógio.
Reviro os olhos e me sirvo. Tanto príncipe perdido por aí, era
só um pulinho na Europa antes da Meghan. Mas não, vai brincar
com o destino e os aliados dele, vai, sua idiota.
Eu serei pai.
É apenas nisso que foco desde que entrei na casa dos meus
pais, com a família da Violeta. Mas também é apenas nisso que
foquei durante os dias que nos trouxe até aqui. Ninguém além de
nós dois sabe, e da Zafira, porra, tem ela, mas, para a dona Marietta
não ligar surtando, a sobrinha de Hortência honrou o prometido.
Violeta está sentada ao meu lado no sofá, e todos estamos
na sala. Chegamos tem umas duas horas, almoçamos, e amanhã
terá a festa dos meus pais e da Melinda. A pequena foi para o
quarto com Hortência, a meu pedido, assim que decidimos falar a
verdade sobre tudo... E foi feito, sim, é por isso que estamos aqui,
no completo silêncio, com Naomi comendo literalmente pipoca, e
todos os outros chocados... Meus pais no caso, a mãe e o tio da
Violeta já sabiam.
A loira chacoalha a perna nervosa, e eu apoio a mão sobre
ela, acariciando. Porque se está nervosa agora, eu nem quero
imaginar quando soltarmos a parte dois de toda história.
— Eu não sei o que dizer... Eu desconfiei de algo, mas ter
certeza... Eu... Eu... Nossa! — minha mãe fala, indignada. — Brincar
com essas coisas? Natan, logo você que sabe o quanto levamos a
sério isso?
— Em defesa dele, aceitavam o Michael! — Naomi diz e dá
de ombros.
Nossos pais a olham e ela sorri.
— É, eu entendo a senhora! — dona Zulmira diz, e o Omar
concorda. — Eu tentei alertar, mas ouvem? Quando Violeta me
ouviu? Nunca!
Ela não me ouve também, não é como se fosse um privilégio
da mãe.
— E agora estão noivos de verdade?
— Sim! Oficializamos e falei com a mãe dela ontem, pai.
Ele assente em choque.
— É... Ao menos é real agora. Só precisamos lidar com
essas informações... Deus! — Ele coça a barba e olha para a minha
mãe.
Violeta respira fundo e me olha, apenas assinto.
— Tem mais, gente... — Ela pigarreia. — Ai, Natan. Fala
você! — Ela começa a morder o cantinho da unha. — Não consigo!
Olho para ela, puxando sua mão da boca, e todos nos olham
atentos.
— Tem mais? O que tem mais? Violeta Matos! — sua mãe
diz ficando nervosa.
Minha irmã come a pipoca mais apressada, olhando de um
lado para o outro. Meus pais vêm um pouco mais para a frente do
sofá, e Omar nos encara curioso, o único leve nisso tudo além da
praga que carrego como irmã.
— Violeta está grávida! — solto sem enrolações.
Naomi se engasga com a pipoca e Omar começa a socorrê-
la. Meus pais arregalam tanto os olhos, que penso que vai explodir.
Sua mãe está pálida e seu tio batendo nas costas da minha irmã e
nos encarando assustado.
— DO NATAN?! — Zulmira grita.
— De quem mais seria, mamãe? Olha, não surtem... É só...
— Um bebê? Violeta, você vai ter um bebê? Olha, filha,
dessa vez você se superou além do limite. Eu não sei o que falar,
como agir, porque olha... — Ela bate as mãos sobre as pernas e
arregala os olhos. — Um bebê? — A filha assente lentamente. Ela
prende os lábios um no outro e balança a cabeça de um lado para o
outro.
— Be... Be... Be...
— BEBÊ?! — meu pai berra o que minha mãe se engasgou.
Naomi para de tossir e fica agarrada a Omar, assistindo tudo.
— Um bebezinho, que amor. Serei titia?
— Seremos titios, gatinha!
Os dois loucos falam como se os outros três não estivessem
quase tendo um infarto.
— Natan, acho que estou tendo um derrame... Juro! —
Violeta fala e a olho. Ela está pálida.
— Calma... Respira fundo, sem estresse, lembra? O máximo
é eles...
— UM FILHO, SEU FILHO DA PUTA! — minha mãe berra
nos fazendo olhá-la. — Vocês mentem e arrumam um bebê? Natan
e Violeta, eu não sei o que fazer com vocês! Eu não sei... Só sei...
EU SEREI VOVÓ DE NOVO? — Seus olhos se enchem de lágrimas
e ela levanta.
— Corremos? — Violeta indaga.
— Acho que não... Vamos ver — falo e ela assente.
— Eu preciso de uma água... Álcool! Preciso de álcool forte
— meu pai fala.
— Eu... Meu Deus, casamento de novo, mais um netinho...
Nossa, ficou amarga minha boca...
— MÃE! — grito e levanto-me rápido e segurando a mulher
que cai em meus braços.
— Pronto, mentem, arrumam filho, e viram assassinos. Foi
exatamente o futuro que pedi para a minha filha! — dona Zulmira
diz.
Começamos a socorrer dona Marietta, no caos que tudo vira,
pois meu pai nos xinga, Naomi e Omar falam de serem padrinhos,
Zulmira joga na nossa cara tudo que avisou, e Violeta... Minha
garota ri, porque essa diaba está se divertindo.
— Eu disse que daria merda! Me deve uma! — fala enquanto
abana minha mãe. — Não deveríamos chamar um médico ou algo
assim? Oh, gente, ela está demorando acordar... Dona Marietta?
Dona Marietta?
— Querida... Não apronte essa agora! — meu pai diz a
minha mãe e começo a ligar para o médico.
Juro que posso ouvir minha noiva falando baixinho ao tio que
não quer ser presa, que não combina com uniforme laranja, ou
listrado.
Se essa criança puxar Violeta Matos, estou fodido!
Os ânimos parecem ter se acalmado mais, após minha mãe
acordar sem precisar do médico, que nem atendia a ligação. Naomi
verificou a pressão dela, e estava tudo certo. O choque de saber
que um noivado começou na mentira e terminou com um bebê foi
forte para ela. Nossa sorte é que Melinda não estava presente para
ver mais uma loucura acontecendo na família.
Violeta foi descansar, estava com tontura, muito enjoo, e tudo
por conta do estresse. Eu fiquei com ela até que dormisse,
aproveitei agora para procurar pelos meus pais. Naomi levou dona
Zulmira e Omar para conhecer a chácara e Melinda foi junto, pois
adorou o tio da Violeta.
Minha mãe e meu pai estão na sala especial deles, sentados
juntos no sofá, com a pequena mesa à frente jogando cartas. É um
dos passatempos deles. Ao fundo a vitrola toca bem baixinho My
girl, do The Temptations.
Me aproximo, puxando uma cadeira e sentando-me à frente
da mesa.
— Será que aceitam mais um nesse jogo? — questiono e
mamãe sorri.
— Sempre, filho. Sempre! — meu pai responde. — Eu já iria
perder mesmo, é bom que assim reinicia.
Sorrio, e eles jogam as cartas na mesa, e me empurram para
misturá-las.
— Como Violeta está? Coitadinha, deveríamos ter pegado
mais leve, mas as emoções... Ela está chateada conosco? — minha
mãe questiona em tom de preocupação.
— Não. — Misturo as cartas e sorrio. — Ela vai ficar bem. Só
precisa descansar um pouco.
Coloco as cartas amontoadas no centro da mesa e meu pai
as distribui.
— Filho, antes de jogarmos... Quero conversar com você. Na
verdade, nós dois queríamos — ele fala e minha mãe concorda. —
Não foi correto a forma que tudo começou, mas estamos felizes que
você e ela estejam se amando de verdade. Essa criança é fruto de
uma loucura, mas de muito amor também. Não foi assim que
imaginávamos que tudo aconteceria, mas é sua vida, suas escolhas,
e talvez tenhamos pressionado tanto você, ao ponto de nos
esquecer que é um homem já, tem suas responsabilidades, suas
conquistas, sua própria vida.
— Nós amamos você, e independentemente das suas
escolhas, queremos apenas seu bem e sua felicidade. Sempre ela,
querido.
Sorrio para eles e seguro a mão da minha mãe por cima da
mesa.
— Me perdoem por ter falhado com vocês nesse tempo todo.
— Do que está falando? — ela questiona e ri confusa.
— Eu saí daqui com um objetivo, ser um grande estilista, e
vocês bancaram cada parte desse sonho. Eu prometi que
estaríamos juntos na Amores do Valle, mas simplesmente perdi o
controle sobre tudo. Terminei dono de uma revista importante, mas
perdendo a inspiração para seguir meu sonho. Me afastei daqui, de
vocês, com um sentimento de frustração. Nunca senti as conquistas,
porque parece que nunca fizeram parte do que sonhamos juntos. A
nossa outra conversa não terminou como eu desejava, então quero
ter a chance de resolver as coisas com essa... Eu só quero pedir
perdão — falo as palavras, eu as deixo vir.
Os olhos deles se enchem de lágrimas e, quando elas
escorrem, e um sorriso surge, eu me pego chorando, sentindo tudo
que guardei, toda a solidão que por um tempo eu achei que era
perfeita. Ninguém é feliz o tempo todo, mas ninguém pode encontrar
a felicidade sendo solitário.
— Filho, você e sua irmã são nosso maior orgulho. As coisas
que fazem, lutam, correm atrás, não poderíamos estar menos
felizes. Cada conquista de vocês sempre foi nossa. Seu sonho te
frustra, porque é o que mais queria. Ele nunca foi “o nosso sonho”,
sempre foi seu, meu amor. E está tudo bem se os caminhos se
desviaram, mas veja, sempre falamos que, por mais que desviamos
dos nossos caminhos, uma hora o destino nos coloca de volta nos
trilhos, e voltamos para o início de tudo. Recomeçar, reconhecer que
falhou em algo, não é fracasso, é um ato de sabedoria — minha
mãe diz, e enxugo rapidamente o rosto.
— Ela tem razão. Estamos sempre aqui. E nunca nos
chateamos porque não virou um estilista ou coisa assim. A nossa
única dor era sua ausência, apenas isso, Natan. Porque não
sabemos até quando estaremos nesse mundo, e nossa família já é
pequena demais para perder tempo com distâncias. — A voz de
meu pai é tomada pela emoção.
Afasto a mesa e levanto-me abaixando na frente dos dois,
segurando a mão de cada um deles.
— Nem por um segundo eu deixei de amar vocês. Nunca!
Espero que sempre saibam disso.
Eles se inclinam me abraçando, e passo os braços por eles.
Sentindo o que há tanto tempo não sentia: o calor mais puro. Eu
sinto as emoções, e toda frieza se quebrando dentro de mim, dando
lugar ao homem que aprendeu muito, errou pra cacete, mas quer
consertar cada coisa, e viver outras.
— Nós sabemos, querido. Sempre soubemos. Mesmo
quando nos tirava do sério com o papo de ser um velho com gatos e
tricô! — mamãe diz e me afasta um pouco deles. Papai começa a rir
e ela também.
— Eu nunca disse que seria assim, mãe! — Enxugo o rosto.
— Vocês falavam.
— Nós ouvíamos assim. — Meu pai dá de ombros e me faz
rir.
Levanto-me e sento-me na cadeira novamente, mantendo a
mesa pequena fora do lugar.
— E agora, como está esse coração? — minha mãe
questiona, enxugando o rosto assim como meu pai.
Solto uma lufada de ar.
— Ansioso. Viver essa nova fase me traz medo, mas estou
ansioso para viver cada instante. Não vejo a hora de estar
oficialmente casado com Violeta e ter nosso bebê nos braços. —
Rimos.
— A ama demais, isso é tão nítido. Estamos felizes por estar
vivendo isso. Bravos pela mentira, mas felizes ao mesmo tempo.
Precisará preparar Melinda, aquela ali tem se apegado ainda mais a
vocês desde a ausência do pai — meu pai comenta e assinto.
— Iremos conversar com ela amanhã. Não quero que ela
sinta que estarei longe da vida dela mais — concordo. — E tem
mais, e não precisam se apavorar — adianto quando arregalam os
olhos. — Eu perdi a inspiração, mas voltei a ter. Aos poucos tenho
criado croquis e... não sei o que a vida tem a me reservar, porque
tudo que imaginei se transformou em outras coisas, mas quem
sabe... Eu quero tentar seguir com isso, sem deixar a Sunshine de
lado.
— Natan, isso é incrível. Sempre levou jeito para essas
coisas. Lembro de cada desenho lindo, e dos croquis que fazia. Tem
um talento lindo! — Minha mãe se empolga. — Vou querer
roupinhas exclusivas, e já vi tudo... Essa criança será mimada, o pai
vai desenhar tudo... Violeta então, nem se fala!
Minha mãe faz meu pai e eu sorrirmos com suas ideias.
— Violeta tem sido o motivo das minhas inspirações, então
com certeza será parte de toda a criação e minha principal modelo...
— E por falar nela, será bom preparar umas comidas
reforçadas. Vou já conversar na cozinha. O jantar tem que ser
divino. Comemorações! — Minha mãe se levanta e sai às pressas.
— O jogo, mãe! — falo, mas ela já se foi.
— Esquece. Se empolgou! Vamos nós dois? Está pronto
para perder para o seu velhote? — indaga meu pai arrastando a
mesa ao lugar.
— O senhor nunca ganha, se bem me lembro.
— Olha, é um homem adulto, mas te sento a cinta! Me
respeite. Sou um talento raro, viu!
Começo a rir, mas de extrema felicidade, com o coração
totalmente leve.
O celular em meu bolso vibra e é uma mensagem de Violeta.
VIOLETA: Se eu falar que sonhei com sexo, tive ideia para
uma cena do livro, e agora também estou com tesão, você seria
gentil em cuidar de mim mais tarde?

Essa praga quer me deixar a ponto de um manicômio me


prender.
Meu pai distribui as cartas após embaralhar de novo, e
começar o jogo. Aproveito e respondo rapidamente.

NATAN: Precisa descansar, Violeta! Me ouve uma vez na


sua vida. Está com nosso bebê dentro de você, precisa de
descanso, ainda mais após o dia de hoje.

A filha da puta me envia uma foto nua no banheiro, o bico


dos seios duros e uma carinha de safada. Sinto uma fisgada no pau.

VIOLETA: É apenas um desejo, lindo. Vai negar a mamãe do


seu filho? Eu preciso escrever a cena, mas queria colocar
realidades nela... E tudo começou em uma banheira no sonho, pode
me ajudar nessa inspiração? ;-)

NATAN: Mais tarde... Porra, garota!

Meu pai pigarreia e guardo o celular.


— Desculpe. Uma mensagem de trabalho.
Ele sorri todo debochado.
— Uhum... Vamos ao jogo? Faz tempo que não fazemos
isso. Vamos ver se Natan é bom ainda nas cartas ou somente nos
negócios.
E ele debochou muito cedo. Uma hora depois, eu venci duas
vezes, enquanto ele alegou que roubei, mas nada disso me abalou,
porque eu sentia falta disso, e precisei reviver para compreender
que nenhuma fortuna, hotel cinco estrelas, carros do ano, casas e
roupas de luxo, se comparam a esses momentos que duram pouco,
mas levamos as lembranças pela eternidade.
Acordar após uma noite de sexo deliciosa, não tem preço. E
sabendo que será um dia totalmente precioso, com festinha e
comidas é melhor ainda. E foi graças a isso, que tive a manhã mais
tranquila, a tarde melhor ainda e agora, a noite mais incrível. A
família Valle chamou apenas alguns amigos da Melinda, e poucos
conhecidos do casal, que completa anos juntos com uma pele
invejável e um amor lindo.
Mamãe está adorando aqui, eu posso ver em seus olhos,
assim como tio Omar. Iremos falar com ela hoje sobre a dívida, que
ainda não sabe que foi quitada, mas chegou o momento de saber
disso. Mesmo diante de cada novidade surgindo tão rapidamente,
eu não consigo pensar em outro modo disso ter sido diferente, tudo
está se encaminhando como deveria ser. Me lembra o livro que
estou escrevendo, por mais que eu pense e decida de um jeito, os
personagens falam comigo, literalmente estão escolhendo que
caminho seguir, e estou deixando, porque está ficando muito melhor
do que eu imaginava.
Natan está com a irmã, em um canto da festa simples, perto
de tudo que fazem, mas é melhor. Eles quiseram tudo longe dos
holofotes e depois do casamento desastroso, acho que é a melhor
coisa mesmo. E está uma festa divertida. Aniversário de casamento
junto a festinha de criança, tem coisa melhor? Minha barriguinha
agradece e quem habita nela também, isso resulta em muitas
comidas como eu disse.
Estou com a mesma roupa que usei na noite em Vegas, a
saia que está levemente mais apertada e cropped, ambos rosa-
claro. Está calor, e essa roupa é de uma noite tão especial que
merecia ser repetida.
Me aproximo de mamãe e meu tio, e eles me olham.
— Bravos comigo? — indago segurando o copo de suco que
peguei da Melinda, ela me provocou antes de mais nada, disse que
eu estava barrigudinha! Atrevida! Pior que passei a gostar da
pestinha e sei que gosta de me irritar.
— Eu não. Amorzinho, você conseguiu o meu sonho! Viva
ele e aproveite muito por mim! — meu tio diz e eu sorrio.
Mamãe revira os olhos e paro ao seu lado, e ela me abraça
de lado.
— Filha, não tem como esperar o básico de você. Sempre foi
assim. Se não fosse para causar, nem se atrevia a fazer nada.
Estou feliz, acima de tudo feliz porque estou vendo o quanto está
feliz, e poxa vida, terei um netinho ou netinha, e isso enche esse
coração velho de alegria sempre!
— Amo tanto vocês, sabem disso, né? Minha vida não
poderia ter melhores pessoas! Queria apenas que papai estivesse
aqui para ver tudo isso. — Me emociono e bebo um pouco do suco.
— Gatinha, ele está aqui, sempre em nossos corações. —
Meu tio beija meu rosto e a testa da minha mãe.
— Acham que ele estaria orgulhoso de mim se estivesse
aqui pessoalmente? — Minha voz embarga e a mulher da minha
vida assente.
— Muito. Ele não poderia estar mais orgulhoso da cópia fiel a
ele! — Me beija e me aperta em seus braços. — Olha tudo que está
construindo, querida! Na base da loucura, mas está.
Começamos a rir.
— Tem duas coisas que quero contar a vocês. A primeira é
que estou escrevendo e, dessa vez, é pra valer. Eu quero levar isso
adiante. Tenho pensado muito sobre, e não quero passar nessa vida
sem ter arriscado no meu sonho.
— Eu via a filhas das minhas colegas e todas queriam ser
princesas, modelo... Eu achava que tinha algo errado com você
porque desde criança dizia que seria escritora, escreveria histórias,
e acho que seu pai fez bem em lhe influenciar assim, porque é sua
mente criativa que torna nossas vidas melhores! Amo você, minha
menina!
— E vai ser uma escritora de sucesso. Best-seller que fala?
Pois bem, será isso e muito mais. Minha sobrinha será a melhor! —
Meu tio abre os braços falando e começo a rir.
— Menos... Se controla, tio. Não quero criar muitas
expectativas. Talvez não dê em nada, mas quero tentar!
— Pois eu acho que será um sucesso! Concordo com seu
tio. — Viramos para a voz atrás de nós e Natan sorri para mim.
— Todos concordamos. Violeta não faz nada para o básico,
eu já disse! — Minha mãe dá palco a eles e reviro os olhos sem
jeito.
— E o que era a segunda coisa a dizer? — meu tio indaga.
Sorrio e olho para o Natan, que pisca para mim.
— É que não tem mais dívida — falo observando os dois,
que olham assustados.
— C-como assim? Ela está para ser quitada ainda, não é? —
mamãe questiona nervosa e entrego meu copo ao meu tio.
— Não, mamãe. Natan nos ajudou. Ele quitou tudo. A dívida
não existe mais e tem um tempo, só que eu queria contar quando
ele estivesse por perto. Pois foi graças a ele isso. — Sorrio para o
meu noivo, que pisca para mim, então torno a olhar para ela.
Ela começa a chorar e a abraço apertado, com meu noivo
nos olhando e sorrindo. Meu tio se aproxima se juntando ao abraço
e amparando a irmã.
— Não sei nem como lhe devolver isso... — ela fala olhando
para ele e já me fazendo chorar como uma doida.
— Não quero esse dinheiro de volta. Eu fiz por vocês, dona
Zulmira. Merecem isso... Sua filha se dedicou demais assim como
vocês, mas precisavam descansar um pouco. E agora tem uma
criança que precisa de nossa atenção, mais do que boletos — ele
fala todo carinhoso.
Ela se aproxima dele e o envolve em um abraço. Pego o
copo novamente e coloco na mesinha ao lado. E sou abraçada por
meu tio, enquanto assistimos a cena.
— Obrigada, meu querido... Muito obrigada. O que você tem
feito pela gente, e por minha filha... Nunca poderei ser grata o
suficiente!
— A senhora já fez o suficiente por mim, em colocar no
mundo a mulher da minha vida. Tenha isso como o maior
pagamento que poderia me fazer. — Me olha ao falar e fico
vermelha, sem jeito.
— Ganhou na loteria mesmo... Sua safadinha! — meu tio diz.
— Eu disse que tudo iria se resolver. Bastava ter fé! — Assinto e
beijo seu rosto.
Mamãe se afasta do Natan.
— Vocês me perdoem, mas preciso beber um pouco d’água,
respirar... Emoções demais!
— Eu vou com a senhora! — Me preocupo.
— Se aquiete aqui. Eu a acompanho... — Meu tio enlaça o
braço com o dela e olha para o Natan. — Mas nada disso será o
suficiente se fizer essa menina sofrer. Porque eu coloco meu lado
tranquilo de lado, esqueço tudo que fez e desmonto sua fuça linda!
— Tio! — falo incrédula e Natan sorri.
— Minha intenção é apenas fazê-la feliz, não se preocupe.
Eu a amo profundamente.
Tio Omar assente e ele se afasta com mamãe o puxando.
Enlaço o pescoço do Natan, que envolve minha cintura.
— Tudo se encaixando... Falta apenas uma coisa. Falar
sobre a gravidez ao seu terrorzinho ambulante! — Sorrio e beijo
seus lábios.
— Assim que ela estiver longe das amiguinhas, falamos com
ela.
Concordo e ele me beija de novo.

Por que as pessoas sempre acham de resolver a vida


quando estou comendo ou vou comer? Natan me chamou bem na
hora que eu estava me alimentando, porque achou o momento
perfeito para falar com a pirralhinha. Entro na casa e os vejo no
sofá, ela em seu colo e eu me sento ao seu lado, querendo apenas
voltar a comer, mas sabendo que isso é importante.
— Vai, fala! Tio, minhas amigas estão me esperando. É
minha festa, sou importante!
Começo a rir e Natan me fuzila com o olhar. Agora tenho
culpa que a menina solta cada pérola?
— Serei rápido, mas é importante, princesa. — Beija seu
rosto e ela o olha atenta. — Lembra quando conversamos sobre o
tio se casar, ter filhos... Que nada disso iria afetar meu amor por
você?
Ela desce do colo dele e leva as mãos à cintura. Está com
um chapeuzinho brilhoso de festa que é preso na tiara. Um
shortinho verde-claro e uma camiseta de Princesas, branca. O tênis
desapareceu, usa meias estampadas com coroas, e as bochechas
toda pintada de gatinha, porque uma das mães das crianças, que
trabalha com isso, está pintando todo mundo. Acho que até eu
mereço uma pintura fofinha.
Justin Bieber, Ariana Grande, Taylor Swift, com uma mistura
de Beatles, sertanejo, Barbie, Cyndi Lauper, está tocando na festa,
entre outros cantores e grupos. É a playlist mais aleatória que já vi
na vida, e quem montou foram Naomi, Melinda e Ruben, com tudo
que gostam. Medo.
— Eu já sei, a tia Violeta está grávida e vai casar... Eu ouvi
tudo! Vovó caiu durinha e mamãe fez a pipoca voar. A Hortência
caiu no sono com minhas histórias incríveis que contava, e eu dei
uma escapadinha! — A baixinha pisca.
Tia? Olha, que fofo! E espera, ela já sabe? Interrompemos
minha refeição e ela já sabia e está plena assim?
— Ouviu? Melinda, não pode ficar ouvindo a conversa dos
outros.
— Vocês estavam falando bem alto, tio! Ué... — Faz uma
careta engraçada.
— E como está? Ficou triste com isso? — questiono e ela
nega. Estou em choque.
— Eu acredito no meu titio. E ele disse que não vai me
esquecer. Mas só um bebê! Não deixem a cegonha trazer mais um,
aí eu fico brava! — Faz um biquinho engraçado.
— Não se preocupe. A cegonha entendeu bem o recado! —
falo e Natan me olha puto.
Não é da vagina dele que uma criança vai sair, por isso deve
estar planejando um time de futebol!
— Que bom, princesa. O tio fica feliz que esteja tudo bem.
Eu te amo, pequena, e sempre será especial para mim! Sempre!
Ela se joga nos braços dele e fico vendo a cena, tão
lindinhos. Nem parecem que me estressam às vezes. Mas sou
surpreendida quando ela pula em meus braços.
— Eu gosto de você. E quero continuar andando de bicicleta
e pular corda, faz isso comigo de novo? Vovô ficou reclamando de
dor na coluna e mamãe é ruim demais. A vovó fugiu!
Começo a rir e aperto-a enchendo de beijos.
— Vamos fazer isso de novo, loirinha! Prometi te ensinar até
ser muito boa e vou fazer.
Ela beija meu rosto, e fala em meu ouvido:
— Cuida do meu titio, ele é grande, mas precisa de cuidado!
Sorrio emotiva, o que não é novidade.
— Farei, pode deixar comigo! É uma promessa. Desde que
faça isso também, tudo bem?
Ela concorda e sai às pressas jogando beijo para nós,
quando as amiguinhas surgem berrando por ela.
— O que é a promessa? — Natan questiona e o beijo.
— Algo nosso, amor. Vamos?
Ele me olha desconfiado, mas assente.

Eu queria saber por que invento de comer se depois ficarei


cansada de comer tanto e enjoada? Porra!
Estou na base de água, única coisa que desce agora, mas
sem colocar tudo para fora, e isso é uma vitória, e depois do tanto
que comi, não precisava estar grávida para passar mal.
Estou em um canto da festa, observando todos e em paz de
verdade. É como estar vivendo em um sonho que nunca poderia ser
real. Viver sem se preocupar com dívidas, com as dores da mamãe
sem tratamento, cheia de receios com meu sonho, e agora só me
resta a saudade mesmo do meu pai, que eu queria que estivesse
pessoalmente aqui assistindo de perto nossas conquistas, porque
ele lutou até o final nos dando o melhor sorriso todas as manhãs, e
não deixando faltar o pão na mesa. Foi meu herói antes de eu
descobrir os das histórias que lia para mim.
Deixo o copo ao lado e cruzo os braços observando o sorriso
no rosto de mamãe enquanto se junta na conversa com Naomi e
meu tio, os pais do Natan conversando com os amigos, as crianças
brincando. O cenário perfeito de final de filme e livros, mas é a
realidade, é a minha história e tudo isso está me inspirando mais um
pouco. Essa cidade faz isso, mas a energia das pessoas em Monte
Amor é contagiante. Eles acreditam tanto em finais felizes, que te
fazem crer também.
Ergo o olhar e vejo a famosa montanha da lenda, e começo
a rir baixinho. Pelo menos não terminei como uma rosa morta, já foi
um avanço. O céu estrelado parece se conectar ao que aqui
começou a ser construído. A cidade dos casamentos e onde
verdades são descobertas e magias lançadas, tem como um escritor
não se inspirar com tudo que aqui começa?
Girls Just Want to Have Fun, da Cyndi Lauper, começa a
tocar e minha mente viaja para Las Vegas, e a noite que vi Natan
ainda mais diferente do que eu via. Eu enxerguei nele o que nunca
tinha pensado. Eu senti o frio na barriga, a energia que nos
conectava.
Braços envolvem minha cintura e sorrio.
— Ouvi dizer que minhas garotas querem se divertir...
— Por que insiste que é uma menina? Apenas para ser
contra mim, que acho que é menino? — Começo a rir.
Ele me vira para ele, todo sorridente, e não é nem pelo
álcool, é porque ele está com esse brilho desde que descobrimos
que teríamos um filho e eu aceitei me casar com ele.
— Oh girls just wanna have fun... — cantarola me fazendo rir
mais. — Dança comigo, futura senhora Valle?
— Claro, senhor Natan Valle! — Jogo um beijo na sua
direção e ele me dá uma piscadinha.
E ao som de Cyndi Lauper dançamos juntos, com ele me
girando e inclinando meu corpo para o lado, e assim me arrancando
gargalhadas.
— OS CASAIS TÊM MÚSICAS ROMÂNTICAS, NATAN! —
grito por cima da música quando ele me rodopia.
— Os casais comuns... Nunca fomos comuns. — Agarra-me,
beijando meu pescoço. — What you gonna do with your life? Oh,
daddy dear, you know you’re still number one... É o que espero que
minha filha sempre diga: que sou o número um dela.
Gargalho e ele ri junto.
— Se me contassem que Natan Valle cantaria para mim, eu
diria que a pessoa merecia ser internada em um hospício!
Ele torna a me puxar para a dança, porque a música torna a
repetir, mas dessa vez com todo mundo dançando e o senhor
Ruben guiando os passos de todos. Estou me sentindo em um
musical muito maluco, onde assisto de longe, com um homem lindo
dançando comigo, e me olhando como parte do seu mundo perfeito.
Finalmente a festa da Sunshine chegou, e não poderia ser
menos do que imaginei. Todos os contratados e minha equipe
conseguiram fazer o melhor. Com ela a grande novidade veio
também, ontem mesmo Jeffrey e eu firmamos contrato. A partir do
próximo ano, a revista será distribuída por ele nos Estados Unidos
em parceria com a dele. Ele está no Brasil e veio até a festa
também.
Minha família está presente, exceto por Melinda, é tarde
demais e muito criança para ela estar por aqui. Sou rodeado pela
imprensa, com milhares de perguntas que preciso responder, mas
todas terminam nela, na loira dos olhos verdes, que todos querem
saber quando o casamento vem. Claro que não vamos falar. Violeta
e eu decidimos nas últimas semanas que o casamento será em
breve, uma cerimônia intimista, apenas para os mais próximos, e
longe dos holofotes. Assim como a gravidez será mantida em
segredo até quando conseguirmos esconder da imprensa, para
levar de modo mais tranquilo possível, por isso a clínica, os
médicos, o hospital, todos estão proibidos de vazarem qualquer
coisa a imprensa, pois é um momento apenas nosso.
Me afasto do paredão imenso de entrevistas e cumprimento
algumas pessoas, antes de ir até minha família e Violeta.
— Está tudo lindo, esse tema primaveril foi perfeito. E isso de
darem bolsas de estudos, filho, que ideia sensacional — minha mãe
declara e sorrio beijando sua testa.
— Ela tem razão. Está tudo muito belo. Meus parabéns. E
qual a novidade que está guardando de todos? — meu pai
questiona todo curioso.
— Vão descobrir em breve.
— Poupe nossos corações. As últimas novidades
envolvendo você e Violeta quase nos mataram! — dona Zulmira diz
e eles começam a rir.
— Minha irmã tem razão. Eu nem me casei ainda para
morrer assim por susto — Omar dramatiza e acho que sei a quem
Violeta puxou.
Pego o drink que é oferecido e bebo um gole.
— Natan, desembucha! — Minha irmã me cutuca.
Olho ao redor, procurando minha noiva que sumiu desde que
chegamos. E como também não vi Nina e Olívia, significa que o trio
está junto em algum lugar.
— A única coisa que farei agora é lidar com meus
convidados e procurar minha noiva, porque com todo respeito, dona
Zulmira, se sua filha some isso significa problemas! — Sorrio e me
afasto diante das curiosidades deles.
Sou parado por conhecidos, como Tomás Ribeiro e Isadora
que fizeram isso acontecer, e os parentes deles Milena e Breno[7], a
estilista e o professor, que vieram a meu convite.
Fazer a festa hoje em um sábado foi estratégico, pois
amanhã terá uma corrida automobilística em São Paulo, a STARS
ON THE RACETRACK[8] e muitas pessoas vão, pois ela faz o
estado praticamente parar, e fui um dos convidados a assistir junto
da Violeta. Cada detalhe de hoje foi pensado para ser único, onde o
foco fosse essa festa, e conseguimos. Ela literalmente parou as
redes sociais, até porque convidei os pilotos e vários membros
dessa corrida, para chamar mais a atenção. Quanto mais pessoas
souberem dela, mais a Sunshine será falada e mais a novidade será
espalhada.
Vejo Violeta saindo de um corredor com as meninas, e me
aproximo, sem que me notem. Elas riem, e mesmo com a música
alta, escuto quando dizem sobre um tal grupo delas no WhatsApp,
que chamam de “Terror do chefinho”. Eu posso estar ficando louco,
mas essas pragas estão insinuando que tem um grupo zombando
de mim? Bebo mais do drink, e encosto à lateral de onde param.
Nina começa a falar que já trabalha na matéria que dei a ela.
Realmente a garota ficou animada com o desfile que fomos, e sei
que me dará o melhor. Aquele croqui que a vi fazendo, estava
incrível, e não quero mais deixar de lado talentos escondidos dentro
da revista. Ela mereceu isso.
Já Olívia parece bem animada com as férias que vai ter no
próximo mês, fala que juntou uma grana durante um tempo, e que
algum banco ficará devendo, mas vai passar sete dias em Ilha Bela,
litoral paulista, e outros sete em Nova York. Chama Nina para ir com
ela, porque ambas pegarão férias juntas, mas Nina diz que suas
férias serão para focar na matéria, e estudar mais, ir em alguns
desfiles e ateliês.
Já minha amada noiva, com toda ironia que possui, diz que
as dela é só final do ano, e levando em consideração que já estará
casada comigo, considera que será um castigo, tendo que vista que
a deixo louca, e a barriga provavelmente estará maior e ela não
conseguirá fazer muita coisa.
Mas o melhor nisso tudo, é quando suas amigas notam
minha presença e arregalam os olhos, fazendo a loira se virar
abruptamente.
— Amor! Que coisa linda em te ver, minha razão de viver! —
Se joga em meus braços e a fuzilo com o olhar.
As amigas fogem rindo, como sempre.
— “Terror do chefinho”, castigo nas férias... Mais alguma
coisa que preciso saber, dona Violeta? — Ela tenta pegar minha
bebida, mas impeço. — Essa tem álcool. Tem uma mesa de drinks
sem eles, e pensado em você.
Ela sorri e me beija, do jeito que sabe me faz baixar a
guarda.
— E eu te deixei escolher o lugar da lua de mel para sair um
pouco daqui também, porém temos que ver se vai poder viajar, sua
médica pediu para falarmos com ela antes. Mas se não pudermos,
vamos para o apartamento na praia, que quero que decida toda a
decoração dele. — Beijo sua boca novamente, e a aperto em meu
corpo com a mão livre.
Minha garota está linda, em um vestido branco, com uma
fenda linda revelando sua perna direita, com pequenas flores em
lilás mais escuro por todo ele. O decote coração sem mangas só
realça ainda mais seus seios lindos. Dei a ela o vestido, feito
exclusivamente a ela, pois não queria que nada a deixasse
desconfortável e apertada, tendo em vista que, aos poucos, sua
barriga cria um volume e algumas de suas roupas já apertam ou não
fecham.
Ela está de quase quatro meses, e já sabemos o sexo.
Violeta se recusou a ideia da minha mãe e irmã de fazer chá-
revelação, pois sua ansiedade era maior, e preciso confessar que a
minha também. E até mesmo nomes já estávamos pensando antes
de saber o sexo que veio após o ultrassom morfológico.
— Natan, eu ainda estou tentando me acostumar com você
me tornando parte das suas coisas... — Seu rosto cora.
— Nossas coisas desde o momento que te tornei minha
noiva. — Pisco e termino meu drink.
— Mas vai me ajudar, né? Até porque tenho um livro para
terminar, e o senhor um vestido de noiva para fazer e uma coleção
para criar, além de toda a revista e essa novidade para administrar.
— Ergue a sobrancelha e sorrio.
— E por isso faremos tudo junto. Exceto seu vestido.
— Ei, eu desenho muito bem, Natan!
Começo a rir e entrego o copo ao garçom que passa.
— Não, meu amor. Não desenha. Violeta, você consegue
deixar uma reta torta com uma régua.
— A régua era torta! — pontua o que é mentira. Ela tentou
desenhar uma casinha para a Melinda, e deu muito ruim.
— Já comeu? — mudo de assunto. — Está com enjoo?
— Comi antes de vir. E enjoo só tenho tido quando passo
perto daquelas flores ali, por isso me mantenho longe, e vou ver seu
discurso daquele outro lado. Ou irei colocar tudo para fora.
Assinto e beijo seu pescoço virando-a de costas para mim.
— Falou com sua mãe e tio sobre a casa que minha família
tem em Monte Amor e está desocupada?
— Ainda não. Mas irei falar. Mamãe amou aquele lugar, e
nas outras duas vezes que fomos fez até amizade com a dona
Clotilde, que, admiravelmente, segue com os dentes intactos. — Ela
sorri. — Acho que ela vai aceitar... Mas, Nate, seus pais não querem
cobrar aluguel, e eu não acho certo... Sei lá, você já está fazendo
tanto. Olha isso, graças ao tratamento eu nem a vejo reclamar mais
de dor como antes, agora sai, passeia mais, está vivendo de novo.
— Violeta, para com isso. Eu os quero bem. Lá eles terão
ótimas oportunidades também. Minha mãe amou os doces e meu
pai está com ideias da Amores do Valle ter o próprio buffet e não
depender de terceirizados mais, e seu tio é cozinheiro, ótimo por
sinal, amei a comida dele quando fomos ao restaurante em que
trabalha essa semana.
— Eu sei, mas não deixa de eu me sentir como se todos
estivessem me julgando por você fazer essas coisas, e eu saindo
como interesseira.
Viro-a de frente para mim, e seguro seu queixo.
— Olhe bem para mim, que falarei pela última vez sobre
isso. Eu amo você, e quero sua família bem, porque adoro eles. Se
lá, eles vão estar felizes e você mais tranquila, então isso vai me
deixar em paz. Ninguém está falando nada, isso é a sua cabecinha
criando coisas que não deveria nem pensar. Sabe com o que
deveria se preocupar? — Ela nega. — Com a gente, nossa
garotinha, e em terminar essa história que estou louco para ler,
afinal tem gerado momentos maravilhosos de você com muito tesão,
misturando aos seus hormônios de grávida.
Ela ri, e a beijo gostoso, querendo largar tudo e sumir dessa
festa com ela.
— Ei, o maluco dos relógios chegou. Vai, vou ficar com as
meninas e nossa família.
— Vai ficar em casa hoje? — Acaricio seu rosto.
— É onde eu mais fico. Minha mãe já está fazendo minhas
malas, acho que com medo de eu voltar para ela. Natan, eu sou tão
desvalorizada. Precisa ver. Eu sofro, viu!
— É mesmo? Então mais tarde podemos ver como valorizá-
la. Agora preciso ir. Não quer vir comigo?
— Nem pensar. Traumatizada estou depois da merda do
evento em Vegas, fui à reunião porque não tive escolhas. Vai. — Se
afasta me jogando beijo.
Me aproximo do Jeffrey e nos preparamos para falar juntos
com todos eles. E assim construir mais essa etapa no que tenho
feito esses anos, e que com minha família perto, e Violeta, passei a
ver tudo com outros olhos e parar de ter receio em seguir com o que
anos atrás desejei.

Minha família veio toda para casa, e a da Violeta preferiu ir


embora, e pedi que alguém da equipe do Dionísio levasse eles.
Outra coisa que precisei foi arrumar um segurança extra para
Violeta, quando eu e ela tivéssemos compromissos distintos e para
lugares que necessitariam de mais cuidado.
Minha noiva já retirou os saltos, e trocou de roupa, colocando
um short preto colado ao seu corpo, e bem curtinho, e uma camiseta
branca escrito “Hoje não, Mr. Darcy”, cada vez mais peculiar o que
ela usa nas camisetas. Os cabelos soltos – mais curtos, cortou
semana passada –, e zero maquiagem, apenas com os acessórios,
é assim que ela vem até mim.
Melinda está dormindo, com a babá que minha irmã
contratou, e acredito que será fixa, já que a temporada de
casamentos tem aumentado, com o número de noivos surgindo,
estão em constante correria em Monte Amor, inclusive para o nosso
casamento que será lá.
Passo o braço ao redor da sua cintura e ela encosta a
cabeça em meu peito.
— O que houve, minha princesa? Parece bem cansada —
falo e ela assente manhosa.
Minha mãe e meu pai discutem sobre ele ter furtado doces
da festa, e ela dizendo que isso não é elegante da parte dele. Naomi
se aproxima de nós rindo.
— E essa carinha, Vilu?
— Cansada e um pouco enjoada. Parece que os enjoos têm
piorado um pouco ultimamente, do nada fico assim.
Minha irmã sorri e acaricio a cintura da minha garota, e deixo
um beijo no topo de sua cabeça.
— Sofri muito disso na da Melinda. Vivia a base de tudo que
fosse azedo, limão era meu aliado, bolacha de água e sal também,
e suco de abacaxi sem açúcar, aqueles não muito maduros, era o
que me ajudava. Mas graças a Deus isso até os cinco meses,
depois amenizou, e era uma coisa ou outra que me enjoava.
— Antes isso me ajudava, mas agora não suporto o cheiro
do limão, abacaxi me faz colocar tudo para fora. Eu vou morrer, né?
— choraminga e sorrio negando.
— Não, amor. Não vai.
— Charlotte será uma garotinha exigente, olhe só, deixando
a mãe desesperada já! — Minha mãe nos escuta e fala do sofá. —
Relaxa, querida. Vai ficar tudo bem. Comeu alguma coisa?
Estômago vazio não ajuda em nada.
— Comi antes de sair.
— E que tal preparar algo a você, leve, mesmo que esteja
tarde, para ver se melhora? Quer me ajudar a pensar? — minha
mãe questiona e se levanta vindo até a cozinha.
Violeta assente e sorrio. Ela tem estado bem manhosa
quando fica se sentindo mal, e todos já notaram, e com isso dão
toda atenção do mundo a ela, inclusive eu.
— Quer docinhos? Vai que ajuda! — meu pai fala.
Ela se desvencilha de mim e se aproxima dele, sentando-se
ao lado dele, que passa o braço ao seu redor.
— Se sua filha for manhosa igual a mãe está, meu irmão,
está perdido. Vai ter alguém pior que Melinda.
— Nem me fale! — Observo a cena dela comendo o doce,
como uma criança toda dengosa.
— Eu vou adorar ver ele perdendo os cabelos! — dona
Marietta diz e a olho. — Que foi? Estou dizendo a verdade, ué.
Pecado mentir. — Abre a geladeira e minha irmã me abraça de lado.
Passo os braços ao seu redor, e Violeta nos olha e sorri.
Sopro um “eu te amo” para ela, que me joga um beijo e deita a
cabeça no ombro do meu pai, que tem tratado ela repleta de mimos,
acolhendo seus desejos, assim como Naomi e minha mãe. Já sua
mãe é mais firme, a faz comer e fica em cima para que ela se cuide,
tome as vitaminas certo, e seu tio acalentando seus surtos. Já eu
fico para tudo, cada uma dessas coisas, no que ela desejar, meu
mundo está totalmente voltado a ela.
— Semana que vem terei que ir aos Estados Unidos resolver
coisas dessa revista, ela não vai porque tem consulta. A mãe dela
vai ficar de olho nela nos próximos dias, mas fiquem também, com
mais olhos em cima dela, mais difícil de aprontar — falo e minha
irmã concorda.
— Tenho coisas de casamentos para resolver aqui, passo
para ver ela.
Concordo e ela fica na pontinha dos pés para beijar meu
rosto.
— Michael?
— Nem fale. Acredita que o idiota não quer pagar pensão a
Melinda? Ele é advogado e não quer agir dentro da lei!
— Não me surpreende. E o que vai fazer? — Fecho a
expressão.
— Não quero entrar nessa briga. Estou exausta dela.
Melinda sempre foi sustentada por mim mesmo, já que ele usava
meu dinheiro. Só espero que ao menos continue ligando e pegando
a filha as vezes, mesmo que obrigado, ela precisa desse contato,
mesmo sabendo que ele não estará mais com a gente. Quando ela
crescer e caso decidir que não quer mais, não forçarei. Mas até ela
sente que o pai está mais distante ainda, não é à toa que o mundo
dela gira em torno de você, e agora da Violeta, a mais nova
amigona dela.
Sorrio e aperto-a em meus braços.
— E seu coração?
— Um lixo. Não quero relacionamentos tão cedo, Nate. E sei
que vai perguntar, mas aquele grande amor por ele tem morrido
cada vez mais, ainda mais quando vejo a forma que ele tem tratado
a própria filha, o descaso, e na frente dela tenta fingir que se
importa. Quis o carro dele, foi buscar esses dias, carro que eu dei
de presente. Olha, um carma! — reclama.
— Talvez seja melhor acionar a justiça, ou algum bom
advogado para impor limites contra ele.
— Nossos pais querem isso, e talvez ao menos para isso eu
faça. Tudo que eu puder evitar dor de cabeça farei.
Concordo e Violeta se levanta indo até minha mãe, que a
chama para decidir o que fazer, e ela escolhe vitamina e torradas.
— Filho, acha que tem mais docinhos sobrando lá? Dá
tempo de pedir reserva?
— Pai, controle sua saúde! — Naomi diz e começo a rir.
— Seja como o Natan, o chato fitness, que não come nada,
malha todo dia... — Violeta reclama revirando os olhos e a olho de
lado. Minha mãe ri e fico impressionado no quanto elas adoram se
juntar para me tornar a piada delas.
— Deus me livre. Já passei disso. Estou velho, só quero
viver o que me resta e sendo livre dessas coisas. — Se deita no
sofá nos encarando. — Quero vitamina também, a minha bem
melada, faça o favor!
Violeta pisca para ele, cúmplices de comer tudo que não
deve.
— A sua sem açúcar, Ruben! Não me estressa, querido, tem
se tornado tão rebelde. Isso é culpa do Natan.
Ergo a sobrancelha, sem crer no que acabo de ouvir. Naomi
se afasta rindo e se junta a elas.
— Eu vou tomar um banho, é o melhor que faço! — aviso
saindo dessa bagunça.

Depois de toda a baderna deles, todos foram se deitar, e me


tranquei no quarto com minha noiva, que está nesse momento
sentada em mim, completamente nua, quicando em meu pau, e
gemendo, enquanto abocanho seu seio, mamando nele e apertando
sua bunda, abrindo-a com o aperto. As mãos dela apertando meus
ombros, e meu pau sendo esmagado pela boceta que me deixa
louco.
É assim que nossa madrugada segue, que os enjoos
desaparecem, e que tenho os melhores sons, os dos seus gemidos.
— Forte... Quero forte... — implora com a voz entrecortada.
Puxo seu corpo para cima do meu, e dou a ela o que quer,
fodo-a forte, intercalando com ela rebolando lento, e sua bunda
sendo marcada pelos tapas, que toda vez que dou, ela geme mais
forte, e ainda bem que a acústica de cada ambiente foi muito bem
projetada para não vazar quando está tudo fechado.
Um tempo depois...

Estou sentada diante de uma livraria no centro de São Paulo,


vendo a fila que se forma ao lado de fora. Tudo começou com uma
publicação independente na Amazon, livro em formato digital, eu
não imaginava que aquilo fosse explodir assim, e que uma grande
Editora me convidasse para fazer parte do seu time de autores.
O livro “Felizes para sempre?”, comédia romântica erótica,
entre o estilista e a escritora, explodiu. Ficou por semanas no TOP
cinco dos mais vendidos do ranking geral da Amazon, e primeiro
lugar em Romance, e segundo em comédia romântica.
Eu não estava entendendo nada, tive apoio de todos ao meu
lado, mas tentei ao máximo estudar como funcionava a divulgação,
como se ingressava nisso tudo, e sim, tive a sorte, a oportunidade
de ter também tudo mais fácil, quando o sobrenome Valle se atrelou
ao meu, mas não me lancei autora com ele, nem mesmo utilizo para
nada que crio, eu dou ênfase ao sobrenome da minha família, que
me fez sonhar, ser quem sou. Violeta Matos é escritora, mãe,
colunista da Sunshine, esposa e isso é o que sempre foco. Matos,
antes de mais nada, antes de Valle.
Claro que houve pessoas comentando merdas nas redes
sociais, dizendo que tudo isso veio pelo casamento oportunista, e
quer saber? Hoje eu taco o dane-se. Eu sei que, se a história fosse
ruim, nunca teria sido reconhecida da forma que está sendo.
Ninguém nem se importaria com ela, visto que infelizmente somos
um país com baixos números de leitores feitos em pesquisas.
E agora, vendo as primeiras pessoas dessa fila, eu diria que
fiz tudo como deveria ser.
Natan está com Charlotte em seus braços, a garotinha de
dois anos, que foi motivo do papai ter quase um infarto com o
vestido que me preparava, pois as medidas mudavam sem parar, e
cada semana era crucial para os planos da surpresa irem por água
abaixo. Mas no final, deu tudo certo. O vestido foi em creme, de
manga comprida A-line, em tule, tafetá e renda, uma fenda na altura
da coxa, com bordados na parte superior em um degradê com saia
dele, e um decote em V bem sutil. Uma surpresa linda, porque
Natan realmente conhece meu estilo, as coisas pelas quais eu me
encantaria, e me lembro sempre daquele momento, onde ele
chorava no altar ao me ver, e onde quebramos a crença de que ver
o vestido antes traz azar, como poderia dizer isso tendo essa visão
linda um tempo depois?
Abrem a fita e Natan é o primeiro a entrar com a garotinha
loira, de olhos castanhos-esverdeados, que, às vezes, ficam bem
escuros e horas bem claro, uma mistura perfeitinha de olho de gato.
Ela começa a soltar gritinhos e me chamar, e eu sorrio toda boba
com a caneta presa em meus dedos.
— Somos muito seus fãs. E não podíamos perder esse dia.
Poderia autografar para nós? — Natan me entrega o livro, sorrindo,
e abro na página da dedicatória feita ao meu pai e sorrio, antes de
colocar na página em branco do autógrafo.
— E essa princesinha, ela não tem idade para essa história.
O senhor não acha? — questiono autografando.
— Quando ela fizer cinquenta anos e eu não existir mais,
poderá ler e pensar nas coisas desse livro. Mas ela adora a autora,
fazer o quê? Foi uma grande fornecedora de alimento a ela, e é
maluquinha igual.
Faço uma careta e fecho o livro.
— Aqui está, senhor. Aproveite a leitura!
Ele se inclina me beijando e Charlotte tenta pular em mim,
mas ele impede.
— Sempre deliciosa, senhora Valle! — fala em meu ouvido.
— E filha, a mamãe tem que trabalhar — diz a pequena.
— Te amo, meu amor! — Beijo as bochechas gordinhas e ela
gargalha.
— EI, ALGUÉM TIRA ESSE HOMEM E ESSA
PRINCESINHA DA FILA? ELE É CASADO COM ELA, TEM
BENEFÍCIOS DEMAIS, E A GAROTINHA É FILHA! — Olívia grita
levando todos aos risos.
Tem fotógrafos, imprensa, tudo registrando esse momento.
— Me lembre de demitir ela! — fala resmungando e pegando
o livro.
— Toda semana demite uma de nós, chefinho. Agora a gente
quer prestigiar nossa amiga e tem uma fila enorme! — Nina
resmunga.
Ele sai da fila a contragosto, mas se senta ao canto com a
garotinha descendo do seu colo, com um vestidinho lindo e jogando
beijos para todo mundo, com seus cabelinhos repartidos ao meio, e
presos nas laterais com pompom pink, balançando de um lado para
o outro nos pulinhos que dá. Ela rouba a cena da própria mãe, e
nem me importo, ela é tudo para mim. Charlotte é inteligente,
esperta e tenta falar tudo, mesmo falando tudo bem errado.
Manhosa muitas vezes, até porque mimam ela demais, e isso inclui
o pai. Mas é a razão de tudo para nós. A única que consegue fazer
Natan Valle largar o trabalho sem pensar duas vezes, para dar toda
a atenção do mundo a ela. A que quebra as coisas nas artes que
apronta, e o pai segue sem tentar pular do prédio. As pessoas
pensam que Natan faz tudo que eu quero, e é rendido a mim
totalmente, mas só passar um dia colado a nós para saber que para
quem ele se deita no chão e dá a patinha é por nossa menina,
comigo ele me irrita antes de fazer, o que acho um absurdo, devo
confessar.
— Chegou nossa vez! Gata, quase dormimos nessa fila.
Amiga, quero um autógrafo lindo. Vai, agiliza! — Olívia entrega o
livro e começo a rir.
— Eu deveria cobrar o de vocês, ganharam o livro de
presente!
— Te suportamos por nove meses toda enjoada, chorona e
surtada. Era o mínimo. Te amamos, Vilu, mas foi o caos. Agora
autografa logo, porque daqui a pouco batem na gente! — Nina
declara.
Autografo o livro delas, que tiram fotos comigo, e logo saem
da fila, quase enxotadas por Marietta, minha mãe, tio Omar, Naomi,
Ruben e Melinda, que também não pode ler nada do que escrevi,
mas veio.
— Filha, que orgulho! — mamãe já fala chorando e meu tio a
ampara.
— Mãe, só não precisa ler. Sério! Nenhum de vocês além da
Naomi, meu tio, leiam esse livro, ok? — imploro e eles riem.
Ninguém me compreende. É putaria em muitas partes. Vou
ser deserdada.
— Vou ler sim, senhora, apimentar as coisas! — Marietta
fala.
— Que nojo, mamãe, e sua neta está aqui!
Melinda vem até a mim me abraçando.
— Parabéns, tia. Mas precisa escrever um para mim e para a
Charlotte, isso é uma exigência! Com licencinha! — Me beija em um
selinho e corre para o tio e a prima, que assim que a vê a agarra
nas pernas.
Desde que minha filha nasceu, o inesperado aconteceu. Ela
e Melinda são um grude puro, e a razão dos surtos de Natan,
Naomi, meus e todo resto para falar a verdade, pois é cada susto
que nos dão!
— Exigente, não? — Começo a autografar.
— Nem me fale! Disse que tenho que andar todas as
manhãs de domingo com ela de bicicleta. Obrigado, querida. Culpa
sua! — meu sogro fala e começo a rir.
Entrego os livros e ganho um beijo de cada um, mas um
abraço bem apertado da minha mãe.
— Ele estaria muito orgulhoso... — diz chorosa.
— Ele está! Voa, minha borboletinha, esse mundo é seu! —
meu tio diz.
— Amo todos vocês, demais! — falo olhando para todos
eles, que se emocionam e saem da fila, quando meus leitores
começam a gritar que a família da escritora e amigos estão
roubando o tempo deles, mas tudo na brincadeira, porque descobri
que sou mais maluca ainda com todos, e crio intimidades doida com
meu público.
Eu não poderia me sentir melhor vivendo isso. É o meu
sonho de contos de fadas que eu nem sabia que precisava, até tudo
acontecer. Eu nunca trocaria nada disso pelo que estou
conquistando hoje.

Horas depois...

A vista de Milão não poderia ser melhor. Depois de uma


temporada de autógrafos da minha mulher, chegou a vez de estrear
minha coleção na semana de moda, ao ar livre, com centenas de
famosos, gente importante, convidados, e claro que toda nossa
família está junto, com minha garota mais feliz do que nunca, por
mim, por ela, por nossa filha, e por trazer sua mãe e tio para uma
viagem internacional.
Esses últimos tempos têm sido agitados, não é fácil conduzir
uma revista que agora é internacional, uma criança agitada, uma
mãe maluca, família sem juízo, sobrinha ciumenta, e uma coleção
sendo criada, que não é qualquer coleção, foi inspirada na mulher
da minha vida e em como tudo começou em Monte Amor. Estrear
em Milão a “Violet: Para Violeta" – by Natan Valle” está sendo um
momento de ansiedade, receio, mas coragem em dar um passo que
por anos recuei. Assim como firmar parceria para vestidos de noivas
com a Amores do Valle, porque significa que terei que delegar
algumas coisas, confiar mais ainda nas pessoas que trabalham
comigo, se eu quiser ser estilista, dono de revista, pai e marido.
Delegar coisas será importante.
Estou em um canto dos bastidores, com Violeta ao meu lado,
e Charlotte em seu colo.
— Papa... Papa! — a minha princesinha pula em meus
braços, toda linda, em um vestido rosa-claro combinando com o da
mãe, e todos feitos por mim. Cor favorita da minha esposa.
Me beija toda carinhosa, pois é, e muito, a coisinha mais
perfeita de nossas vidas.
— O papai hoje vai ser enaltecido por um bando de
mulheres, temos que ficar atentas, gatinha! — sua mãe diz e ela ri, e
espero de verdade que nunca entenda as maluquices da mãe.
— Como se eu tivesse olhos para qualquer uma além das
duas! — Beijo a boca da minha mulher.
— Gosto assim, tudo na linha, nos trilhos! — A loira dá leves
tapinhas em meu ombro.
As modelos se preparam e eu apenas observo a minha
equipe cuidando de tudo.
— Filha, o que acha de depois daqui irmos para a Disney e,
em seguida, Nova York? Acho que a mamãe quer muito conhecer
esses lugares, e você adora tudo da Disney — comento e a
pequena se interessa mais em falar coisas que poucos entendemos,
e brincar com o relógio em meu dedo, tentando tirar, e mexendo em
toda configuração dele, curiosa como sempre.
— Está falando sério? — Violeta indaga que nem uma
criança que descobre que vai ganhar o que queria de Natal.
— Sim. Um presente a você por tudo que tem conquistado
com a coluna, onde fala sobre coisas importantes, com entrevistas
maravilhosas, e pelo seu livro, e o sucesso que o próximo que está
criando também será. — Ela me abraça e Charlotte acha ruim, pois
atrapalha sua curiosidade no relógio.
— Mas minha mãe e meu tio não têm visto americano... Não
tive tempo nem de ver isso... E filha, tem que dividir seu papai,
quero dizer, sabe dividir ele.
Começamos a rir e a loirinha faz um biquinho fofo e Violeta a
beija.
— Tem. Fizeram com minha ajuda para irem conosco. Minha
família vai também, afinal, não é como se eles não se
desgrudassem, pois vivem na mesma cidade agora, trabalham em
parceria na Amores do Valle, levar apenas uma turma e não a outra,
é desconectar a loucura que são juntos. — Sorrio.
— Meu Deus! — ela grita e algumas pessoas olham. —
Agora eu juro que vou aprender falar inglês e dirigir, só para não me
meter em mais enrascadas futuramente.
— Isso quer dizer que pretende se meter em algumas agora?
— indago erguendo a sobrancelha e colocando minha menina no
chão, que queria descer.
— Sim! Estamos falando de mim, amor! — Sorri.
Aproximo a boca do seu ouvido, e seguro sua cintura.
— Ficaremos um final de semana em Vegas, apenas nós
dois, para relembrar os velhos tempos.
— Natan! — Ela ri baixinho. — A última vez voltamos com
um filho! Se controla. Nada de bebês agora. Charlotte ainda mama
no meu peito para dormir e nem saiu das fraldas, não apronte!
— Ainda bem que estou de olho no que anda tomando
agora, né? Mas daqui uns dois anos...
— Natan Valle, pare de ser depravado. Eu sou uma moça
pura, eu já disse! — debocha e começo a rir beijando sua boca.
Charlotte se solta de mim e corre do seu jeitinho para uma
das modelos com um vestido modelo romântico.
— Boneca, vem aqui com o papai! — Caminho na sua
direção e Violeta fica rindo atrás.
Pego a garotinha em meu colo, e retorno para a sua mãe,
com a loirinha gritando toda feliz e rindo.
— Esa... Esa... Papa!
— Filha, não é uma princesa, o vestido parece, mas não é,
amor. — Violeta a pega e ela começa a fazer biquinho.
Sorrio, pois ela é fissurada pelas princesas desde bem
bebezinha, e agora conforme vai aprendendo mais, ficando mais
esperta ainda, uma das coisas que aprendeu a falar é princesa ao
seu modo.
— Mama... — Esconde o rosto no pescoço da mãe.
— Quais a chances de ela roubar as princesas da Disney
para ela? — questiona.
— Todas. Mantemos ela grudada a nós — falo sorrindo e
acariciando minhas garotas antes de dar um beijo nelas.
Me chamam e sei o que significa. Olho para a minha mulher,
que toca meu rosto e sorri.
— Vai, é sua vez de brilhar agora. Estarei na primeira fila,
assistindo de pertinho isso. Te amo! — Me beija. — Dá beijo no
papai, filha, para ele ficar calminho!
Charlotte vira o rostinho vermelho, e faz um biquinho de beijo
fofo, e me aproximo, ganhando mais baba que beijo, mas sendo a
melhor da minha vida.
— Amo vocês! — falo antes de me afastar.
Violeta se afasta com nossa filha, e eu dou uma última
olhada, sabendo que nunca uma mentira foi tão perfeita, e que,
quando achamos que brincávamos com o destino, era ele que
estava brincando conosco, e construindo algo lindo em nossas
vidas.
Olho de canto para a plateia, através do telão, e vejo a minha
família e de Violeta, e ela se juntando a eles, e com essa visão eu
tenho a certeza de que posso continuar, sem solidão, sem receios,
apenas deixar acontecer, vivendo tudo que a vida está me dando,
inclusive os maiores presentes sentados na primeira fila, minha
garotinha rindo com a prima, e minha mulher falando alguma coisa
as duas que deve ser alguma arte delas, pois as três são terríveis
juntas, mas não poderia escolher melhor.
É hora de viver isso e, quando a primeira modelo entra na
passarela e meu nome e da coleção surge no telão, eu sei que tudo
só está começando, não será o fim, é só mais um sucesso em vista.
Do outro lado, alguns funcionários da revista, inclusive as
amigas de Violeta, todos estão aplaudindo, porque não é uma
conquista somente minha, é de todos nós – e não poderia deixar
parte da turma de fora, uma pena não poder trazer tudo –, e em
especial para mim vindo por elas, porque hoje mãe e filha me
inspiram, e eu não poderia ser menos agradecido por isso.
Meus olhos encontram com os da minha loira, e ela sopra
um “eu te amo”, e apenas pisco para ela, porque ter ela comigo
nesse dia é melhor ainda do que todo o sucesso da coleção
divulgada.
É, parece que algumas brincadeiras e mentirinhas podem
virar realidades.
Se você chegou até aqui, quer dizer que leu tudo – ou não, o
que seria bem triste ter pulado páginas –, e essa parte é comum
acabarmos por esquecer de bater o dedinho até o final, onde as
estrelinhas vão surgir e poderá deixar sua avaliação. É exatamente
para isso que vim te lembrar: Por favor, não deixe de avaliar esse
livro na Amazon, pois cada avaliação que surge ajuda muito este
livro a crescer de pouquinho em pouquinho no site e conquistar
muitos outros corações.
Outro ponto importante é que se encontrou algum errinho,
pode me ajudar, sabe como? Dentro do seu Kindle basta selecionar
a palavra e reportar a Amazon, sem denúncias, apenas colocar
como deveria ser e a Amazon vai me informar para corrigir os
errinhos que passaram.
Peço também que qualquer forma de distribuição ilegal do
livro seja denunciada, pois PDF é crime, e essa história é registrada
em diversos países com os Direitos Autorais. Por favor, não leiam e
nem compartilhem essa história de forma ilegal, não sabem o
quanto isso me fere mentalmente e pode me prejudicar
financeiramente.
Agradeço primeiramente sempre a Deus, que me guia, me
ajuda em meus sonhos e me faz ir longe quando penso que tudo
está perdido.
Quero agradecer também minhas betas maravilhosas nesse
livro, Heveny (my princess), Marcielle (meu encosto) e Larissa
(minha Rainha de Wakanda), que leram e me apoiaram muito
quando achei que não sabia mais o que estava fazendo. Elas
seguraram minha mão nessa história e me animaram em continuar,
mesmo com Marcielle inventando um shipper parecido com remédio
que gerou muitas piadas: Vitan. Amo vocês, meus amores.
Agradeço as meninas do meu grupo no WhatsApp por todo
surto, apoio que sempre me dão, mesmo me endoidando com suas
loucuras piores que as minhas, já fazem parte do meu dia a dia.
Amo vocês, meninas.
Quero agradecer também as minhas meninas, Liziara Araújo,
Rafaelly Monike, Shirley Santos, Francine Locks, Mariana Coelho,
Nayara Alves, Nathalia Santos, Hanna (Nana), que são muito
especiais em minha vida, me apoiando, torcendo por mim,
aconselhando, segurando minha mão em muitos momentos que
penso em desistir devido ao meu grande problema em me
autossabotar. Love u, minhas princesas.
Blogs parceiros e não-parceiros, mas que me apoiam
demais, obrigada. Vocês têm noção do quanto são importantes?
Sério, eu sou grata demais a vocês.
Minha família, leitoras no geral, eu sou grata demais por tudo
que fazem por mim, por todas as vezes que me fazem rir quando a
ansiedade só me permite chorar, pelas vezes que me incentivam a
escrever quando acho que tudo vai flopar. Obrigada por cada um
que lançar energias boas sobre mim, juro, eu sinto de verdade.
Obrigada a você que leu também, faz parte do meu sonho
também.
Escrever esse livro foi um respiro para mim depois de meses
escrevendo dois livros com foco em dramas. Espero que, para você,
que o leu também tenha sido.
Nos vemos na próxima história, meu amor.
Isso nunca é um adeus, é sempre um até logo.
A verdade é que nem eu sei quem sou, e passo todos os
dias tentando me descobrir. O que posso lhe contar é que comecei a
escrever com dezesseis anos, e hoje tenho vinte e quatro, e posso
te assegurar que escrever não me torna inteligente demais, apenas
maluca o suficiente para colocar para fora vozes da minha cabeça,
que alguns chamariam de esquizofrenia, eu diria que tenho medo de
dizer a uma psicóloga que essas vozes realmente existem, e elas
me contam histórias, criam rostos, sons e nos trazem aqui, a esses
livros.
Nascida em Guarulhos, casada desde os dezoito anos e
vivendo meu Friends to Lovers e, às vezes, um Enemies to lovers,
dona do cachorrinho mais travesso desse mundo, Cookie — sério,
ele me deixa louca. Apaixonada por romances e não sendo nada
romântica, movida a música mesmo cantando muito mal, da casa de
Sonserina com um bizarro gosto para personagens de
personalidade duvidosa — Hello, Mr. Darcy! —, e sempre encantada
por vampiros que brilham, e histórias com vestidos bufantes e
carruagens, além de muitas outras coisas.
Eu sou uma mistura muita louca dentro de mim mesma, mas
posso te assegurar que nem vale a pena tentar entender, pois, como
diria Alice no País da Maravilhas:
“Quem é você?” — perguntou a Lagarta.
“Eu... mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei
quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já
passei por várias mudanças desde então”. — respondeu Alice.
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“Nunca sabemos quando a vida pode nos


destruir lentamente.”
Ela queria salvá-lo do inferno.
Ele não queria aceitar que ela poderia ser o
seu anjo. (...)
Dor.
Adrenalina.
Amor.
Erotismo.
Peterson Vieira é um dos grandes pilotos
automobilísticos da STARS ON THE RACETRACK,
mas já não é mais o mesmo que todos um dia
conheceram.
Enfrentando a ausência daquele que um dia foi
seu grande herói, o jovem busca acalmar todo o
sofrimento nas coisas que estão prestes a destruir
toda a carreira que tem construído ao longo dos
anos. A angústia domina sua vida, e a adrenalina da
pista de corrida já não lhe traz mais alegrias como
antes.
Gabriella Brandão passou por um momento em
sua infância que jamais será capaz de apagar, mas
que, com ajuda e enfrentando um dia de cada vez,
busca o melhor da vida sempre que pode. A jovem
leitora e nerd recebe uma proposta que pode mudar
sua vida, e lhe atrai de muitas formas, sendo uma
delas: a sua paixão pela maior corrida
automobilística e a busca pelo autoconhecimento.
Dois jovens feridos, mas que tem os caminhos
totalmente cruzados pelo destino. Ele se afundando
no próprio inferno, e ela tentando ser sua âncora.
“Mas até que ponto devemos voltar ao inferno
para buscar alguém?”
Esta história contém alertas para possíveis
gatilhos como: ansiedade, alcoolismo, assédios e
outros. Não deixem de ler os avisos dentro do livro
destacados logo no início.
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“Não adianta fugir do destino, porque ele, com


certeza, se encarregará de perseguir você seja onde
for.”
Ela queria sua independência e fugir do caos,
que era sua família, e com certeza lidar com um cara
como ele não fazia parte dos seus planos. Ele não
queria acreditar que conviver com ela poderia
resultar em algo bom. Pela primeira vez, não via
positividade em uma situação.
(…) Adrenalina.
Luxúria.
Dores.
Donos da pista e inimigos da boa convivência.
Cristiano Martin é um dos pilotos
automobilísticos da STARS ON THE RACETRACK,
a maior corrida do mundo. Com a nova temporada
prestes a iniciar, ele se vê sendo colocado dentro de
uma guerra na pista de corrida e fora dela, a qual
não está preparado para lidar, e todos os problemas
do passado começam a cercá-lo mais uma vez,
trazendo gatilhos que ele sabe que nunca aprendeu
a controlar totalmente. Com um sorriso, piadas para
descontrair, é o jeito que ele prefere mascarar sua
dor, e parece funcionar… até agora.
Jade Azevedo é uma jovem muito bela, e
pronta para passar por cima de todos aqueles que
tentam rebaixá-la de alguma forma. O que ela quer,
com toda certeza é capaz de conseguir. Entretanto,
a garota cheia de marra sabe camuflar muito bem
todas as feridas abertas em seu peito, mas quando
está sozinha as máscaras caem e tudo que esconde
desmorona de vez.
Duas pessoas que se encontram na
adrenalina, que camuflam suas dores, batem de
frente na pista de corrida e fora dela, mas que, se
todos ao redor soubessem de suas dores de
verdade, não diriam nada, apenas os abraçariam e
cuidariam deles, como mereciam.
“Até quando podemos esconder nossos
sentimentos e nossas feridas atrás de uma
máscara? Até que momento podemos dizer que tudo
está bem, quando, na verdade, tudo está
desmoronando ao nosso redor?”
Esta história contém alertas para
possíveis gatilhos como: preconceito,
racismo, abusos psicológicos e outros.
Não deixem de ler os avisos dentro do
livro, destacados logo no início.
+ 18 anos

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Ela é um desastre em pessoa e sem nenhum


tipo de filtro entre o cérebro e a boca.
Ele acaba de completar quarenta anos e está
sendo apelidado de Sugar Daddy, mas seu humor
digno de limão é ainda mais famoso.
O único objetivo deles: se manterem fora do
caminho um do outro.
O empecilho: os improváveis acontecimentos.
Se Isadora pudesse escolher uma única
pessoa para odiar o resto de sua vida, essa pessoa
teria um nome e seria Tomás, o homem que tem
quase certeza de ser o culpado de sua demissão.
Retornando para a sua cidade natal, ela
pensava que nada mais poderia piorar, mas ledo
engano. Como se já não bastasse ter que recomeçar
sua vida do zero, e conviver com pessoas que amam
fofocar sobre sua vida, ela acaba esbarrando em seu
maior tormento, e tendo de conviver com ele mais
tempo do que gostaria.
Se Tomás pudesse realizar dois sonhos ao
mesmo tempo, primeiro escolheria manter-se longe
da jovem mais estabanada e irritante que trabalhou
em sua equipe; e segundo, não ter que lidar com
pessoas que adoram testar sua paciência, inclusive
sua própria irmã.
Tendo que tomar à frente dos negócios da
família, apenas para ajudar a irmã, ele na certa não
contava em ter que passar mais tempo na cidade em
que viveu por pouquíssimo tempo, onde todos
conseguem tirá-lo do sério.
Porém, se tormentos e desastres na vida de
ambos nunca vieram em pequenas quantidades, por
que agora viriam? Eles já deveriam prever por isso.
Ao se redescobrirem em Recanto das Alegrias,
terão que lidar com os improváveis sentimentos que
vão persegui-los juntamente com as confusões que
estão prestes a acontecer em suas vidas.
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: +18 anos

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SPIN-OFF DE "IMPROVÁVEL AMOR"

Ela é uma pessoa amorosa, paciente, mas que


consegue ser orgulhosa e guardar rancores como
ninguém.
Ele é um cafajeste de primeira, mas totalmente
apaixonado por ensinar suas crianças e muito
amante da adrenalina de percorrer todo o
autódromo, em um hobby que carrega alguns anos.
O único objetivo dela: fazer seu coração
esquecer que ama aquele que um dia a machucou.
O empecilho: uma confusão tremenda em que
se coloca, a aproximando ainda mais do seu
problema.
Se Milena pudesse escolher deixar de amar,
ela com toda certeza faria. A jovem estilista, se vê
totalmente rendida por aquele que não vale nada,
em um amor antigo. Vivendo em Recanto das
Alegrias, cidade pacata e a mais famosa por suas
fofocas entre os moradores, a herdeira milionária se
encontra sem chão quando o destino coloca em
suas mãos a responsabilidade que ela jamais
imaginou chegar de tal forma. Ela já vivia com
problemas suficientes, mas parece que para a vida,
não. Milena terá que viver uma situação que não
fazia parte de seus planos no momento.
Se Breno pudesse escolher não se preocupar,
sem dúvidas teria deixado há muito tempo. Por mais
cafajeste que o professor possa ser, ele carrega
dentro de si a culpa por tudo que causou a herdeira
Ribeiro. Ele sabe que a magoou, só não imagina o
porquê de tanto rancor, afinal, ela sempre soube
quem ele era. Porém, ele pode ser ótimo em
matemática, perfeito em equitação, muito bom no
volante, ótimo em seus charmes e incrível em seus
milhões de talentos, entretanto, quando o assunto é
o coração, temos um imenso problema.
Se já não bastasse a mudança radical que
Milena terá de enfrentar em sua vida, agora terá de
consertar a confusão que deixou acontecer, e evitar
que mais pessoas sejam prejudicadas nessa loucura
que tudo se transformou.
Uma pequena surpresa, uma grande confusão,
mas somente uma única certeza: ambos terão que
aprender a lidar com tudo que vir a acontecer, e
aceitar as redenções que a vida oferecer.
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: +18
ANOS
ALERTAS DENTRO DO LIVRO

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Eu me apaixonei por ele, mas ele não sabe.


Eu queria distância dela, mas algo mudou.
Destino? Coincidência? Quem é que sabe!
Lorenzo já não tem mais quatorze anos; Dulce
já não é mais uma criança. Ambos cresceram e
jamais puderam se desconectar; na verdade, nunca
nem tentaram realmente.
De vizinhos, para aula de equitação juntos,
mesma cidade, mesmo ciclo de pessoas, e agora a
mesma universidade e curso.
Lorenzo está em seu último ano como
universitário na Califórnia, ele só não contava que
logo ela – a ruivinha repleta de sardas que sempre
tira sua paz e que se autodenominou sua melhor
amiga – entraria para a mesma universidade que
ele, e agora ainda mais ousada, destrambelhada e
prestes a tornar seus dias mais perturbadores.
Dulce não escolheu a Califórnia por causa do
seu amigo, é claro. Realmente amava Psicologia, e
lá era o lugar ideal para ela estudar. Não usava
roupas chamativas e dava seus sorrisos
conquistadores para atormentá-lo, isso nunca! Era
uma jovem que fazia jus ao seu nome, bom, era o
que ela tentava acreditar.
Dois jovens prestes a descobrirem que, no jogo
do amor, apenas ele escolhia quem ia vencer. E,
quando as máscaras caírem, tudo pode acontecer; e
eles já deviam prever por isso, porque já sabiam
que, de onde vieram, ninguém escapava de viver
uma louca paixão predestinada.
E talvez, melhores amigos era tudo que o
destino sempre quis para dar seu golpe final e deixar
o caminho preparado para o par perfeito, que desde
sempre estiveram conectados.
Ah, e o que acontecia em uma noite de
Halloween jamais permanecia nela. Sim, eles
deveriam saber disso também.
Para maiores de dezoito anos.
Novela derivada do universo de
Recanto das Alegrias. A leitura dos livros
antecessores "Improvável amor" e
"Rendidos ao amor" se faz necessário.

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Nova York está ainda mais iluminada. As luzes


e decorações de Natal já estão espalhadas pela
cidade. O frio marca presença e a neve é esperada
para formar o cenário digno de filmes. Porém, nada
disso tem servido de inspiração para Mariana Carter,
uma das escritoras best-sellers do The New York
Times.
Mariana tem vivido seu maior bloqueio criativo,
e tudo passa a piorar quando o seu talentoso e muito
belo editor lhe dá um prazo para entregar um livro, e
nem mesmo a cidade que um dia tanto a inspirou,
está sendo capaz de ajudar.
O que ela vai fazer? Isso não se sabe.
Mas talvez, só por um momento, tudo o que
precisamos entender é que muitas vezes a
inspiração está onde... ou melhor: a nossa
inspiração pode estar nas pessoas que menos
imaginamos.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: +18 anos

[1]
Easter eggs com referência ao livro “Improvável amor”, da autora Deby Incour.
[2]
Em tradução livre: Eu sinto muito. Ela tem problemas. O cérebro não funciona
muito bem.
[3]
Mas minha equipe achou que seria legal e aqui estamos
[4]
Vejo você amanhã. Aproveite a noite com a jovem. Leve-a com você, ela será
uma ótima companhia para nós
[5]
Obrigado. Me desculpe mais uma vez por tudo.
[6]
Luna Publicidade, Tomás e Isadora fazem parte do livro “Improvável amor”, da
mesma autora, que está à venda na Amazon e pelo Kindle Unlimited. Aqui eles
aparecem como um crossover apenas, sem qualquer ligação importante.
[7]
Milena e Breno são protagonistas do livro “Rendidos ao amor”, da mesma
autora. Um spin-off sequencial de “Improvável amor”. Comédias e eróticos
disponíveis na Amazon e pelo Kindle Unlimited.
[8]
Stars On The Racetrack faz referência aos livros “Fast Love” e “Slow Down”, da
mesma autora. Inspirados em corrida automobilística. Livros com dramas,
eróticos, gatilhos e pitadas de comédias disponíveis na Amazon e pelo Kindle
Unlimited.

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