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Querida leitora,
O amor é uma mistura deliciosa de magia e luz
só os corajosos amam
e só os corajosos são felizes.
JENNA WALDORF
Lembre-se de mim...
— Empina essa bunda pra mim — grunhiu.
— Ai! Ah, Nathaniel! — gritei, gemendo e dando um murro na
parede. Seu pau era enorme, e quando ele me puxou para trás,
empinando minha bunda para ele e fazendo a penetração ficar
ainda mais profunda, eu consegui sentir tudo, me perdi em seu
toque, naqueles dedos se movendo em meu clitóris e a mão bruta
agarrando meu seio.
Ele não iria se lembrar.
Naquele momento, eu mesma quase esquecia da nossa real
situação.
Ali, eu não era a filha doente do melhor amigo dele. Ele não
era o viúvo que ficou anos afastado sofrendo sozinho.
Ali, eu era uma prostituta, e ele me tratou como se eu não
valesse um centavo que pagou para outra garota que não era eu.
Quando ele deslizou para fora de mim, jogou duzentos
dólares no sofá onde meu joelho estava apoiado.
— Essa é sua gorjeta. O pagamento ficou com a agência.
Eu me virei para falar com ele, para vê-lo, já que havia
sentido tudo dele em mim, até seu suor grudando em minha pele, e
não vi seus olhos em nenhum momento, mas ele já estava abrindo a
porta e saindo, fechando-a e me deixando sozinha antes que eu
pudesse pensar em uma única palavra para dizer.
Agora eu voltei a ser Jenna Waldorf.
E quando recolhi o dinheiro do sofá, me senti mais doente do
que o câncer um dia me deixou.
CAPÍTULO 1
"Eu estava pensando em quem você é
Seu ponto de vista delicado
Eu estava pensando em você
Eu não estou preocupado com onde você está
Ou pra quem você voltará
Eu estou só pensando em você"
JENNA WALDORF
PASSADO
JENNA WALDORF
DIAS ATUAIS
Minha mãe olhava para o meu pai, meu pai olhava para
minha mãe e os dois me encaravam como se não tivessem
escutado direito.
Desde pequena, pelo menos quando eu fiz onze anos e
comecei a aprender o quão importante era a profissão dos meus
pais, meu pai me incentivou — praticamente decretando — que eu
seria médica e teria a liberdade de escolher entre neurocirurgiã ou
cardiologista. As duas únicas especializações que ele via como
certas para sua filha. Eu nunca quis desapontá-lo, quando tirava
notas ruins na escola sempre encontrava uma forma de revertê-las,
apenas para não ter que chegar em casa com o boletim de merda e
encarar aquele olhar decepcionado que me perseguiria pelo mês
seguinte.
E quando meu irmão três anos mais velho que eu, decidiu
que gostaria de seguir por ortopedia, meu pai literalmente desmaiou
e o levamos Às pressas para o hospital. Ele acordou no meio do
caminho apenas para gritar:
“Não me levem ao Bella River!”. O maior concorrente do
hospital dele.
Após ser atendido por um susto de pressão alta, ele ainda
tentou fazer meu irmão mudar de ideia, mas Kyle deixou claro que
não seria manipulado. De acordo com ele, não queria passar a vida
abrindo cérebros e ficar traumatizado segurando corações, ele
queria mexer com algo que parecesse mais concreto, como ossos,
ferros e um monte de outras coisas que lhe faziam sentir a
adrenalina da ortopedia. Eu entendia o meu irmão e era graças a ele
que eu tomei coragem para dois meses atrás contar ao meu pai que
eu não estava nem um pouco interessada em me tornar médica.
— Quando eu finalmente aceitei o seu irmão, você me vem
com essa facada nas costas, Jenna. O que foi que eu fiz de errado?
Ele não tinha feito nada de errado, é claro. Nem nós fizemos.
A questão era que papai tinha uma mania de querer tudo do seu
jeito e eu não podia deixar que o meu medo de o desapontar me
encaminhasse para uma vida sem paixão, seguindo uma profissão
pela qual não era apaixonada e me tornar apenas mais um diploma
enfeitando a parede da nossa sala. Argumentei incansavelmente,
dizendo que minha mãe era bem-sucedida, tinha uma carreira
brilhante, uma galeria com seu nome e artistas de todo o país
lutavam por uma vaga para conseguir expor no espaço dela. E sua
resposta não podia ter sido mais automática:
— Sua mãe nasceu uma artista e nós nascemos com o dom
de salvar vidas. São coisas extraordinárias, mas diferentes. Você é
minha filha, todos os filhos do meu pai se tornaram médicos e os
filhos deles também. Agora você me diz que será a primeira a não
seguir por esse caminho?
Parecia loucura, mas literalmente toda a família do meu pai
era composta por médicos, enquanto a da minha mãe era uma
mistura maluca de dois primos que montaram um grupo de reggae,
uma tia confeiteira que estava abrindo a terceira loja na cidade, um
tio que vendia imóveis e ficou milionário a ponto de brincar de
trabalhar, tinha engenheiros, estudantes de psicologia, e até
barman. Nenhum deles trabalhava por dinheiro porque nasceram
herdeiros, contudo na visão do meu pai, seus filhos precisavam
continuar o legado.
Eu não estava interessada em ser mais uma naquela lista.
Depois de passar cinco anos lutando pela minha vida, eu tinha que
ser forte e objetiva.
Queria fazer um pouco de tudo. Experimentar coisas
diferentes. Queria a certeza da incerteza.
— Quais são seus planos agora? — mamãe perguntou.
A voz leve e calma me trazia paz. O sorriso era acolhedor, e
ela esticou a mão por cima da mesa, mostrando que estava comigo.
Com os lindos cabelos dourados naturais presos na nuca, olhos
verdes que eu infelizmente não puxei, assim como sua altura, ela
era a mulher mais linda e elegante que já vi. E meu pai por precisar
vestir uniforme e roupa social para o trabalho, gostava de se sentir
bem em casa, por isso, ele dizia que preferia ir a restaurantes quatro
estrelas vestindo bermuda de moletom e chinelos. Mamãe precisava
chantageá-lo com algo de seu interesse na maioria das vezes para
conseguir fazê-lo vestir uma camisa social e calças apropriadas, era
engraçado, porque na maioria das vezes ela aparecia toda elegante
com saltos e vestidos longos e ele estava esperando com jeans e
tênis esportivo.
— Eu ainda não sei.
Meu pai ergueu as sobrancelhas castanhas da cor exata de
seu cabelo com a minha resposta. Os olhos cor de mel que eu havia
puxado estavam cheios de críticas.
— Contanto que não vá viver na boêmia, tirar um tempo para
decidir o que você quer fazer da vida é algo com o qual eu posso
viver por enquanto. Mas se eu souber que está querendo viver de
balada, passar todas as tardes no shopping e jogar fora o cérebro
brilhante que você tem, aí sim nós teremos um problema, Jen.
— Pai, eu não sou assim, não quero viver na vida boa me
aproveitando do seu dinheiro.
— Nosso dinheiro — minha mãe corrigiu. — E seu pai sabe
disso, ele só está fazendo comentários se deixando levar pelo
orgulho ferido. Nós já conversamos, Charles, você fez filhos para o
mundo e eles precisam ser livres para descobrir o que querem fazer.
Quer que a sua filha seja uma médica infeliz que vai acabar
matando pacientes na cirurgia porque está tão entediada e triste
com o trabalho que não dá a mínima para o que faz?
— Não diga bobagens, não é assim. — Ele me observou
com olhos um pouco mais cuidadosos. — Eu entendo suas
reservas. Sei que passou por coisas demais e não quero ser um pai
ditador, nós nunca fomos assim, Jen. Eu só me preocupo. Não
estarei aqui para sempre e não quero você sentada esperando a
vida passar enquanto não faz nada, quando você era pequena dizia
que ia ser médica.
— Mas quanta coisa mudou desde que eu era pequena, pai?
— As cicatrizes em meu corpo provavam a mudança. As marcas na
minha mente não me deixavam esquecer. — Eu dizia que queria ser
médica para você e dizia que queria pintar quadros tão bonitos
quanto a mamãe para ela. Eu também falava para o tio Deen que
adorava os colares que ele fazia para vender na praia, mas isso não
quer dizer que eu esteja interessada em comprar um quiosque. Eu
morreria de tédio.
— Não morreria de tédio salvando vidas — ele acrescentou
rapidamente, levando um tapa da minha mãe no braço.
— Pare com isso, Charles. Jen, você tem nosso total apoio
para descobrir o que quer fazer, mas o seu pai está certo quanto a
não demorar muito. — Ela pegou minha mão em cima da mesa. —
Você vai ver quando estiver com a sua mente pronta e descansada.
Não vai precisar sequer pensar sobre isso, porque a resposta estará
na sua frente, você vai olhar para as cinco portas e não vai se
confundir, pois o caminho que você deve seguir terá a porta
brilhante, filha.
Meu pai a fitou com um sorrisinho de adoração e deu um
beijo em sua bochecha.
— Sim, contanto que você continue inteligente como a sua
mãe.
Ela corou e sorriu. Eles estavam casados há mais de vinte
anos e ainda demonstravam toda a paixão.
— Eu vou aceitar o convite da Serena pra passar alguns dias
na fazenda da família e ver se minha mente desperta por algum
propósito lá.
— Quando? — papai perguntou.
— Ela viaja depois de amanhã.
— Não vai dar.
— Por que não? — Franzi o cenho.
Ele passou a mão pelos cabelos.
— Porque eu tenho uma surpresa especial.
Estreitei os olhos.
— Que surpresa?
— Não consegue adivinhar? — Ele sorriu de canto.
— Não. Eu deveria saber? É alguma data comemorativa que
esqueci? — Revirei minha cabeça pensando que dia era hoje. A
data do aniversário do meu irmão, da minha vó e de outros parentes
mais próximos. Não, nada disso. — Não tô esquecendo de nada.
— Isso é porque você não sabe para poder lembrar. O tio
Nathaniel está voltando ao país, querida. — Minha mãe sorriu,
empolgada, e papai a acompanhou. Os dois me observavam como
se fosse Natal e eu estivesse recebendo um puta presente.
— O quê?! — Eu não podia estar escutando direito, meu pai
estava falando de Nathaniel? O Nathaniel? Aquele Nathaniel — Tio?
— questionei. Minha mãe tampou a boca escondendo a risada.
— Ele não é tio dela, nunca foi.
— Ele é tio — papai disse. — Você adorava ele, chamava de
tio para cima e para baixo.
— Nathaniel — repeti, mas repeti ainda mais em minha
cabeça. — Nathaniel Sullivan?
— Nathaniel Sullivan, filha! — Ele riu. — Meu melhor amigo
desde... sei lá, meus nove anos.
— Você não tinha nove, papai, não o conhece há tanto
tempo assim.
Bebi um gole d’água.
E mais um.
E o restante do copo em seguida.
— Claro que conheço, anjinha. É o tio Nathaniel, ele estava
lá quando você nasceu!
Jesus Cristo.
Nathaniel?
Há quanto tempo eu não pensava nele?
— Pai, eu pensei que ele nunca mais fosse voltar. — Meu
coração batia acelerado, não podia acreditar que isso estava
acontecendo.
As últimas lembranças que eu tinha dele eram muito claras.
Ele entrando em casa com sangue nas mãos e chorando no
nosso sofá em completo desespero. Mamãe tentando acalmá-lo e
papai no telefone andando na sala de um lado para o outro. Claire,
nossa governanta me levou para o quarto, e no dia seguinte ele não
estava mais lá e eu nunca mais o vi. E aquilo tinha sido há sete
anos, bem, foi difícil para ele.
Continuar em Seattle depois do que aconteceu era
impossível para Nathaniel. Pelo menos foi o que o papai disse. Ele
cortou todos os laços silenciosamente e foi embora, a última notícia
que recebemos foi uma carta, um ano depois, dizendo que se
alistou no exército e se tornara um cirurgião de guerra.
Arrepiei-me, sentindo um calafrio e me abracei lembrando-
me de quando finalmente caiu a ficha de que Lilly tinha morrido. Os
médicos não tiveram tempo de salvá-la dado à pré-eclâmpsia. Ela
morreu no elevador a caminho da cirurgia, o parto seria normal e por
isso ela estava no quarto aguardando dilatar os dez centímetros,
mas no segundo seguinte um coágulo enorme se formou, não
dando tempo de chegar à sala de cirurgia. Ela morreu tentando
empurrar a bebê para fora. Eu me lembro de papai falar que era
como se seu coração tivesse explodido dentro do corpo, fatalizando
ela e Rebeca antes que tivessem a chance de se despedir ou os
dois verem seu rostinho uma única vez.
Por muito tempo me senti culpada, lembrando-me de quando
desejei estar no lugar dela e sendo uma criança boba, pensava que
morreria de amor se nunca tivesse uma chance com ele, quando
soube de sua morte, eu rezei para que Deus me perdoasse, eu tinha
certeza de que foi minha culpa depois de tanto tempo olhando para
ela e sendo apaixonada por seu marido. Contudo, eu era uma
criança fantasiando sobre o melhor amigo do meu pai e não tive
culpa do destino de Lilly e sua filha.
— Não acredito que ele vai voltar — papai refletiu. Tinha um
sorriso no rosto que não dava para medir. — Estou feliz demais. Ele
esteve fora por tanto tempo e temos sete anos para colocar em dia.
— Você teve contato com ele, amor? — minha mãe
perguntou. — Eu cheguei a procurá-lo nas redes sociais.
— Nos falamos poucas vezes. Depois que nossa vida ficou
complicada, eu não quis levar notícias ruins e lembrá-lo de tudo o
que passou. Ele era meu melhor amigo, mas eu teria ficado do
mesmo jeito se um dia perdesse você ou um de nossos filhos.
Imagina perder os dois juntos, foi uma fatalidade sem descrição.
— Será um choque para os dois — mamãe disse.
— Eu ouvi alguns rumores, mas vou esperar para comprovar,
ele é meu melhor amigo e não vou julgar antes da hora.
— Que rumores? — indaguei, reencontrando minha voz.
— Bem, ninguém sabe exatamente por onde ele andou. A
comunidade médica fala, mas só saberemos quando chegar aqui.
— Foi horrível — refleti. — Realmente esperava que ele
estivesse melhor, que tivesse encontrado algum tipo de paz. — Eu
tentava mostrar uma atitude neutra, como se eu nunca tivesse
chorado feito uma idiota por aquele homem.
Papai mudou de assunto, pegou o cardápio de sobremesas,
pensando em qual escolher. Eu notava pelo tique no canto da
sobrancelha direita que ele estava ansioso e estressado. Podia não
falar, porque dizia que era nosso porto seguro, e rochas não
quebravam, mas eu via. Ele queria o melhor amigo de volta, porém,
mais do que isso, estava preocupado com o Nathaniel que voltaria
para nossas vidas.
— Vou levar uma tortinha para o garoto da cirurgia de hoje
com câncer no cérebro inoperável.
— Isso, querido, não é para você — minha mãe o incentivou.
— Não é para mim — ele concordou.
— Leva esse aqui — apontei no cardápio —, é o meu
favorito.
Papai sorriu para mim e deu um aperto em minha mão,
chamando o garçom. Eu tentei prestar atenção na conversa que se
desenrolou na mesa depois disso, mas foi quase impossível.
Pensar que sete anos tinham se passado, e agora ele
voltaria estava confundindo meu juízo. Eu era pré-adolescente na
época e ele tinha trinta e sete anos, não passava de uma fantasia
infantil, mas ainda assim, me fez questionar tanta coisa e ter as
primeiras experiências com sentimentos tão intensos que eu tinha
medo de encontrá-lo e ver que aquilo não passou. Ao mesmo
tempo, eu sabia que agora ele tinha quarenta e dois anos, quatro a
menos que meu pai — embora meu pai fosse um quase coroa
inteirão, eu não o achava bonito daquela forma, então já sabia que
não ia achar o seu melhor amigo também.
Talvez o que minha mãe me prometeu finalmente
aconteceria.
Ai, meu anjinho, eu tinha uma paixão pelo meu tio Grant, dos
onze aos quinze anos. Vai por mim, isso passa. Em alguns anos ele
será só o tio Nathaniel barrigudo, calvo e com a barba suja de molho
de hambúrguer.”
Eu suspirei. Por que será que duvidava disso?
Tentando me livrar da ansiedade que já estava querendo me
consumir, comecei a torcer para que ele realmente tivesse se
tornado tudo aquilo.
Apenas um quase-coroa barrigudo que fazia piadas gentis,
mas inconvenientes, ficou calvo e não iria despertar nem uma única
fração de sentimento em mim.
CAPÍTULO 3
"Eu posso ser sua garotinha mas sei como me divertir
Os caras me perseguem, tentando me pegar
Quando estou fazendo compras é como se tivesse uma arma
Não importa o que eu faça, eles sempre ficam me olhando"
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
Jesus Cristo.
Eu fui tão brutalmente — e bem fodida — que minha rotina
da manhã foi um eterno repeat da noite passada. Aqueles dez
minutos em questão.
Meus pais conseguiriam ver em meus olhos o que eu fiz?
Cogitei fingir que estava me sentindo mal e não descer para
o café, mas como faria isso se minha mãe estava animada
planejando a surpresa para Nathaniel? Era capaz de me buscar no
quarto. Eu nem sequer achava engraçado pensar na expressão dele
quando descobrisse que a garota para quem falou e fez coisas
absurdas na noite passada era eu, a filha do seu melhor amigo.
Você destruiu tudo, Jenna.
Houve uma batida à minha porta, e eu ajeitei o laço branco
no meu cabelo, que combinava com o vestido rosa quadriculado.
Coloquei um salto para parecer um pouco maior, já que ontem a
altura dele me engolia. Talvez vestida assim, com cara de quinze e
não vinte, ele não percebesse que era eu. Talvez eu estivesse
pirando à toa e ele nem iria me reconhecer.
— Filha! — Minha mãe bateu à porta outra vez. — Está
pronta? A surpresa é para o tio Nathaniel, não pra você — riu —,
precisa estar lá embaixo quando ele chegar!
Eu abri a porta, deixando-a entrar.
— Ele não é meu tio, mãe.
— É claro que é. Ele só não foi seu padrinho porque nós não
te batizamos, mas ele é o melhor amigo do seu pai. Não se lembra
quantas vezes vocês dois faziam aquela cara de cachorro pidão que
fazia seu pai ceder a tudo o que você queria? As noites comendo
chocolate M&M até tarde? E as dancinhas?
Meu Deus.
Meu pai nunca vai me perdoar.
— Acha que eu me pareço com a Jenna criança?
Mamãe riu.
— Que pergunta é essa, anjinha? Você é a mesma de
sempre, mas agora usa salto e minissaia. Você amadureceu, filha,
mas continua nossa princesa. Lembra do tio Nathaniel te chamando
de anjo? Será que ele vai lembrar?
— Não tenho mais doze anos, mãe. Realmente espero que
ele não lembre de nada.
Literalmente.
— Esse vestido não está muito curto? — Ela puxou a barra
para baixo.
— Mamãe! — Bati em sua mão, sorrindo. — Ele não tá vindo
aqui pra ver a minha evolução. Eu só vou ficar cinco minutos e
tenho que sair.
— Por quê? — Ela colocou as mãos na cintura, horrorizada.
E balançou a cabeça daquele jeito de quem não ia ceder. — Seu pai
e eu estamos preparando essa surpresa desde que soubemos que
ele ia voltar. Já faz sete anos, Jen!
— Pois é, sete anos e ele não liga se eu estarei aqui ou não.
E se ver papai e eu juntos fazê-lo lembrar do que perdeu?
Seus olhos marejaram. Até eu me senti um pouco azeda
pelo que disse.
— Você sempre foi um sonho para seu pai, e seu tio...
— Ele não é meu tio.
— Seu tio — repetiu, enfática. — Não vai se amargurar
disso. Eles são amigos, Jen, não competidores. Não estão
analisando qual vida deu mais certo. Você não tem escolha, filha, se
o seu compromisso é com a Serena, mande-a vir pra cá.
Ela saiu do meu quarto deixando-me com mil pedidos de
desculpas na ponta da língua e uma vontade louca de simplesmente
desfazer a noite passada e desaparecer.
Quando eu vi um carro familiar parando na garagem da
nossa casa, me senti aquela criança que ficava observando cada
passo dele outra vez. Esperando para ver como ia me dar oi, se ia
me dar um abraço e brincar comigo, ou simplesmente me tratar
como um bebezinho, apertando a ponta do nariz e puxando minhas
tranças. Ele sempre foi de “e os namoradinhos” para “seu primeiro
namorado vai levar uma surra pra ver se aguenta o tranco da
família, aí a gente vai ver se ele pode continuar”. Eu nunca devia ter
visto aquilo como algo fofo e romântico de sua parte, mas via. Era
inevitável quando tudo o que eu pensava quando olhava para ele
eram corações e uma casa com nossas iniciais na caixa de correio.
— Jen! — mamãe gritou.
Eu queria gritar de volta que estava descendo, mas minhas
pernas não obedeciam ao comando de sair do quarto, e minha boca
não abria.
Eu fechei a cortina e me afastei da janela antes que ele
aparecesse. Eu não queria vê-lo outra vez, não podia. Não sabia
como lidar com o fato de que aquele homem — o que tinha me
encostado em uma parede e me fodido como se eu fosse uma puta
— era o mesmo que fazia meu coração bater irracionalmente.
— Não posso — decretei.
No mesmo momento, sentei na cama e tirei meus saltos,
correndo para pegar um par de tênis no closet. Saí do quarto
devagar, descendo a escada pelo canto para ninguém me ver. Eu
parei por alguns segundos para ouvi-lo cumprimentar meu pai, e
quando as risadas deles se misturaram, a culpa que senti deixou
muito claro que eu não iria conseguir passar por aquele dia sem me
entregar.
E se eu fosse a culpada pelo fim da amizade entre ele e
meus pais, eu não me perdoaria.
Nathaniel já tinha perdido tudo, não era justo que perdesse
papai também.
Fechando os olhos, eu conseguia sentir o leve incômodo do
sexo. Suspirei. Merda. Eu corri para a sala de estar quando eles
foram para a cozinha.
— Onde essa menina está? — mamãe questionou. — Claire!
Vá lá em cima e diga a Jen que se ela não descer, eu vou subir e
mostrar todos os pijamas de bichinho que ela insiste em guardar.
Eu não ouvi Nathaniel rindo junto com mamãe e meu pai.
Escondi-me na parede com espelhos do corredor. Quando os
pés de Claire subiram a escada, eu corri para tirar os dois porta-
retratos de cima da lareira, e uma da nossa família, e escondi entre
a lenha, sabendo que minha mãe não acenderia, já que a lareira
servia só como decoração.
Nossa casa era nova, por isso, os quadros que tínhamos da
família ainda não foram pendurados.
Prendendo o meu cabelo eu um coque, pulei a janela. Só
tinha meu celular no bolso e nele, um único cartão registrado. Eu
teria que encontrar uma boa desculpa para os meus pais depois,
mas não podia ficar ali. Simplesmente não dava. Eu sabia que
minha mãe iria entender se eu pudesse explicar a ela, mas era
óbvio que nunca iria acontecer.
Acenei para um táxi na portaria do condomínio. Me sentia
uma criminosa, mas era melhor isso do que passar a tarde sentindo
aquela culpa esmagadora. Precisava chegar à casa de Serena, ou
até mesmo em um dos quartos do hospital, mas bem, bem longe de
Nathaniel Sullivan.
CAPÍTULO 6
"Se eu te seguir até o rio
Enviar minha tristeza para o mar
Você ficará comigo para sempre?
Você me perseguirá nos meus sonhos?
Se eu jogar tudo no rio e deixar o ritmo liderar
Ele ficará com você sempre que você me deixar?"
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
Eu queria devorar aquela menina de todas as formas
possíveis. Sua boceta era diferente, o gosto dela não saiu da minha
cabeça desde a primeira vez. Eu chupava os pequenos e grandes
lábios com tanta vontade e desejo que eu sentia seu clitóris pulsar
na minha boca, eu ficava ainda mais louco quando ela se contorcia
e eu tinha que segurar suas pernas com força para continuar
fodendo, e parecia que ela gostava disso. Meti um dedo em sua
boceta, enquanto ela rebolava na minha boca, coloquei mais um e
seu gemido ficou ainda mais alto, meu rosto estava completamente
lambuzado com seu gosto e se pudesse eu me afogaria ali. Eu
sabia quando ela ia gozar, suas pernas apertavam meu pescoço,
sua respiração perdia o ritmo, e sua boceta ficava ainda mais
apertada, ela apertava meus dedos a ponto de parecer que iam
quebrar e se quebrasse eu nem me importaria.
Eu aumentava o ritmo e a força, e sabia exatamente o jeito
que ela gostava apenas pelo tom do seu gemido, eu fazia um
gancho com meus dedos enquanto sugava o seu clitóris, e tudo nela
vibrava até chegar no ápice e gozar.
Puxei-a do balcão e a virei de costas para mim apoiada no
mármore, segurei sua nuca enquanto puxava seus cabelos e com a
outra mão posicionei meu pau pulsando em sua entrada. Não fiz
cerimônias, entrei de uma só vez, queria gozar dentro daquela
menina, queria escutá-la gritando de prazer e ela gritou.
— Me machuca, isso! Pode colocar tudo dentro de mim. —
pediu, sôfrega. Seu corpo brilhava com uma fina camada de suor,
vermelho em vários lugares pelos meus tapas e apertões.
— Você quer, pau, putinha? Gosta de violência? Vai gozar
gostoso chorando pra mim.
Ela não viu, mas eu sorri maliciosamente enquanto socava
dentro daquela boceta molhada e apertada, e ela gritava, seu
interior me sugando a cada palavra.
Nossa respiração estava ofegante no mesmo ritmo, meu
coração acelerado batia em suas costas, ela podia sentir.
Beijava suas costas e seu corpo inteiro se arrepiava, eu
segurava seus seios com força, minhas mãos se encaixavam
perfeitamente neles, seu coração estava acelerado. Virei seu corpo
de frente para o meu e a beijei com o gosto da sua boceta na minha
boca, segurei seu pescoço com uma mão e aos poucos a inclinava
com a outra mão em direção ao chão de madeira da sala. Beijei seu
corpo inteiro começando pelo pescoço, cheguei bem perto do seu
ouvido e suspirei, mordi a ponta da sua orelha e beijei embaixo do
ouvido, desci a língua pela linha da sua coluna acompanhado das
pontas dos meus dedos que deslizavam a lateral do seu corpo.
Cheguei até a sua bunda, e porra! Que bunda gostosa do
caralho.
Separei as nádegas até seu cuzinho aparecer, cuspi
lentamente e senti o choque do seu corpo, fazendo o meu se
arrepiar.
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
O rosto dele.
Sua expressão.
A forma como ele me olhava era impagável.
Ele não tinha ideia de que a puta com quem tinha feito
tantas coisas impossíveis de verbalizar tinha nome e sobrenome, e
estava muito mais perto do que imaginou.
Depois do câncer, eu comecei a brincar com a vida. Me
divertia com tudo, zoava meus pais, fazia piadas e provocava
qualquer um. Atraía confusões só para sentir a emoção e no fim
tudo ficava bem, mas dessa vez, por mais que o rosto de Nathaniel
conseguisse disfarçar o quão puto estava comigo, eu não conseguia
pensar em uma boa forma de me justificar.
Não tinha como me redimir.
Com certeza ele estava pensando as mesmas coisas que
eu. Eu sabia errar e admitir, sabia quando eu tinha ferrado tudo.
Meu pai nunca entenderia, e eu jamais teria coragem de tentar
explicar. O que eu precisava agora era de um tempo sozinha com
Nathaniel para dizer a ele que eu não sabia quem ele era da
primeira vez e deixá-lo pensar que aquilo tinha sido um engano de
ambas as partes.
Mas até mesmo essa alternativa era falha, já que fiz a
besteira de dizer o nome dele na boate.
Ainda que ele não me desculpasse, eu precisava implorar
que não contasse nada ao meu pai, além de esclarecer que não era
garota de programa.
Charles Waldorf ficaria maluco se sequer sonhasse com
uma história dessa.
Eu sabia que não deveria provocá-lo, porque a única
culpada de tudo realmente era eu.
— Quando o senhor vai começar a operar no hospital do
meu pai?
— Você — me corrigiu. — Me chame de você. — Ele me
olhou nos olhos de forma intensa pela primeira vez, talvez eu
piorasse tudo o chamando de tio, senhor e todos os adjetivos que o
lembrava de sua idade e nossa posição.
— Quando você começa a trabalhar?
Suas narinas inflaram, e me perguntei o que podia estar
pensando enquanto me olhava.
— Amanhã. Tenho uma cirurgia às oito.
— Estamos ansiosos — papai acrescentou com
entusiasmo. — É um caso extremamente raro e difícil, Nate.
— Você conseguiu responder a todos os pedidos de
autorização de imprensa, amor? — mamãe perguntou.
— Imprensa? — Franzi o cenho.
— As pessoas não só querem ver Nate em ação, como
esperam poder registrar isso para o mundo ter acesso.
— Por quê? — questionei honestamente. Eu sabia que ele
era um bom cirurgião, papai sempre dizia, mas a imprensa tomaria
conta do hospital por uma cirurgia?
— Filha, você precisa ficar ainda a par da sua família. —
Papai riu. — Nathaniel é um cirurgião muito requisitado por aí afora.
Tenho sorte que seja meu amigo e tenha aceitado trabalhar para
mim.
— Com você — seu amigo o corrigiu, fazendo meu irmão e
mamãe caírem na risada.
Meu pai ergueu sua taça, e nós o acompanhamos.
— Pegaremos casos impressionantes daqui para a frente.
— Mas você já tem casos incríveis no hospital, pai.
— Isso é verdade, filha, mas agora seremos referência em
cirurgia geral. Ninguém vai parar o Saint Glory.
Eu assenti lentamente, virando-me para encarar o rosto
petrificado de Nathaniel.
— Nesse caso... um brinde ao doutor Sullivan — falei. —
Seja bem-vindo.
— Viva! — disse mamãe. — Bem-vindo, meu amigo
querido.
Nós brindamos, bebemos e depois que o prato dele
chegou, comemos em silêncio por dois minutos antes que ele me
surpreendesse, virando-se para mim.
— Só para confirmar, então você não trabalha no hospital,
Jenna?
— Não.
— E não tem pretensão de fazê-lo?
— Só se ela for se candidatar a chorona profissional —
disse Kyle. — Jen não aguentaria ver um óbito sem chorar como
uma menininha.
Meu irmão piscou para mim.
— Eu sou uma menininha, idiota. E você sabe que eu
aguento muito mais do que isso, idiota. — Virei-me para o motivo da
minha ansiedade e sonhos eróticos. — Mas isso não significa que
eu não tire vários dias da minha semana para aparecer e ver papai
trabalhando. Admirar a paixão dele pelo que faz é uma das coisas
que mais admiro no mundo.
Nathaniel franziu os olhos ligeiramente, como se ficasse
surpreso com minha confissão.
— Nisso nós dois estamos em comum acordo.
— Vocês terão muito em comum — disse mamãe. — Não
vamos esquecer que você a viu crescer, Nate. Se tem alguém que é
mais parecido com essa garota do que Kyle, é você.
Eu quis me enfiar debaixo da mesa e não sair mais na
menção de que ele me viu crescer.
— O que quer dizer, mãe?
— A rebeldia, a forma como vocês não abrem mão de lutar
pelo que acreditam e buscam sempre a justiça de tudo. — Ela riu, e
tocou o braço de Nathaniel. — Você tinha que ver a cara do pai dela
quando ouviu que ela não cursaria medicina.
Ele forçou um sorriso, e naquele momento, as linhas de
expressão nos olhos ficaram ainda mais evidentes. Deliciosamente
aparentes.
Desviei o olhar.
— Eu imagino que tenha sido uma batalha difícil para
Charles.
— Difícil? — Kyle bufou, rindo. — Meu pai estava à beira
de um colapso.
— Posso entender isso. Quando conversávamos antes, ele
desejava uma família inteira de médicos.
— Não é uma família inteira — argumentei, mas entendia o
que ele quis dizer. — Minha mãe faz parte da família e nunca sequer
pensou em ser cirurgiã.
— Mas eu seria obrigado a roubar a noiva do meu melhor
amigo se ele sequer tentasse fazê-la desistir da arte.
Eu me inclinei para a frente, estreitando os olhos. Papai e
mamãe davam risada.
— Por quê?
Aceitando o desafio, Nathaniel também se inclinou em
minha direção. Para mim, foi impossível não lembrar da última vez
que estivemos tão perto assim na mesa de um restaurante.
— Sua mãe não podia ser impedida de fazer o que amava.
Ela sempre deixou isso muito claro.
Eu me recostei, aliviada com a resposta. Se ele dissesse,
depois da risada dos meus pais, que já houve um triângulo amoroso
ali, eu com certeza iria pirar. Há muito pouco que a minha cabeça
não se abriu para tentar entender, mas ter transado tão loucamente
com o homem que poderia na verdade ser o meu pai em uma outra
possibilidade de vida era insano. E eu jamais aceitaria isso.
Ainda assim, soltei um riso sem graça.
— Ufa! — brinquei. — Por um momento pensei que vocês
iam dizer...
— Que fomos um triângulo amoroso? — mamãe
completou, erguendo as sobrancelhas. — Não... no momento que
eu vi Charles e ele me chamou para um encontro com as mãos
suando sem conseguir para de me olhar nos olhos com os olhos
esbugalhados, eu não consegui olhar para mais ninguém.
— Mesmo que Nate estivesse atrás de mim encorajando-
me a chegar em você?
Kyle deu risada.
— Não brinca, pai. Eu esperava mais do senhor.
— Ah, meu filho — ele ergueu os braços —, um dia já foi
um patinho.
Caímos na risada, e até mesmo Nathaniel que
demonstrava estar muito tenso — pelo menos eu via isso — abaixou
a cabeça, sorrindo fechado e provavelmente lembrando da situação.
Eu estava satisfeita e aliviada que pelo menos por essa
noite importante, conseguimos deixar a nossa confusão de lado e
comemorar com meu pai. Não havia nada mais valioso para mim do
que sua felicidade, e que soubesse do meu orgulho pelas suas
conquistas.
E meu caso de uma ou três noites com Nathaniel Sullivan
jamais mudaria isso.
Mais tarde, quando o jantar de farsas acabasse, ele tinha
que saber disso.
CAPÍTULO 13
"A raiva nunca morre
Faz parte do viver
É parte de você
O fim cessará o fogo
E nos fará aceitar que nós tendemos a perder"
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
Bohnes, Vicious
NATHANIEL SULLIVAN
Nej, Paro
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
N?
Virei o papel para ver se havia algo no verso, mas
não, nada. Absurdo. Eu estava completamente no escuro
quanto ao que ele estava pensando, o que aconteceu ontem
depois que fui para o quarto, eu só sabia que meus sapatos
e bolsa estavam no corredor e havia apenas duas opções,
ou Nathaniel os deixou lá — e eu sabia o momento exato em
que foram jogados — ou ele tinha alguém que cuidava da
casa e não quis me incomodar.
Porém, eu não acreditava que alguém trabalhando
para ele teria jogado os pertences de um hóspede pela casa.
A opção mais óbvia era que enquanto eu passava creme no
corpo, Nathaniel foi ao quarto, e de repente minha sensação
de estar sendo observada deixou de ser delírio de uma
cabeça com tesão.
Fitei as cápsulas de cafeína dispostas no balcão.
— É isso que eu ganho depois de ser assistida sem
minha permissão, babaca? — murmurei.
Deixei sua casa às nove da manhã. Só tinha um
lugar que eu podia ir, o lugar onde eu fazia o que amava e
não me sentia julgada como ele me julgava por ser quem
era. Precisava me distrair e abstrair a cabeça dos
pensamentos que iam e vinham relacionados àquele
homem.
Assim que saí do elevador na recepção do prédio,
um homem mais velho se aproximou.
— Bom dia, Senhorita Waldorf, vou levá-la onde
quiser.
— Não precisa — falei sem parar.
Eu normalmente teria dito “bom dia, não precisa”,
porém, estava tão puta com Nathaniel que sobrou para
quem não merecia.
— Senhorita, eu tenho ordens para...
Virei-me para ele.
— Sei de quem são suas ordens e acredite, sei que
é uma merda, mas não se preocupe. Embora seu chefe seja
velho o suficiente para ser meu pai, ele não é. — Voltei a
caminhar, e o homem ficou estático no lugar. Olhei por cima
do ombro. — Pode dizer a ele que falei isso com essas
exatas palavras.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem à
Cassandra perguntando se o estúdio estava aberto, e
quando recebi a confirmação peguei um táxi direto para lá.
NATHANIEL SULLIVAN
“SENHOR, ELA ME DISPENSOU, NÃO SEI PARA
ONDE FOI.”
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
— Eu prometo.
Assenti devagar, confiando em sua palavra. Livrei-me
de seu aperto e fui para o lado do cachorro, passando as
mãos devagar pelo corpinho.
— Vai ficar tudo bem, lindinho, mesmo que ele seja
um resmungão vou obrigá-lo a te ajudar.
— Agora eu sou resmungão? — Ele cruzou os
braços fortes sobre o peito.
— Sempre foi, e convenhamos que nunca tentou
negar ou esconder isso.
Ele me observou em silêncio por um momento.
— É por isso que as pessoas sofrem — falou
devagar. — Se envolvem em algo que às vezes nem é da
conta delas. Escolhem sofrer.
Eu sabia que era o trauma dele falando, mas a
verdade era que eu sabia o que significava ser abandonada
à própria sorte como um cão atropelado na avenida. E por
sorte, tive pessoas para cuidar de mim e lutar por mim
quando quis desistir.
— Você não é o único que conhece a dor de
verdade, doutor.
— Depois de anos no exército aprendi a não
comparar dores, sei que é inútil. Se fosse assim, passaria a
vida questionando a Deus porque me matou sete anos atrás.
Virei-me assustada.
— Não diga isso, Nathaniel, você não está morto.
— Para todos os efeitos eu estou. O amor da minha
vida e o fruto de nós dois foi perdido, mas nem por isso eu
vou comparar dores e vivências, as coisas não funcionam
assim para mim.
Eu queria me aproximar e abraçá-lo, e quase fiz isso,
mas no momento que soltei o cachorro a porta abriu e meu
pai entrou com um homem mais jovem, cujo jaleco tinha
patinhas cinza bem clarinho.
— Boa tarde.
— Ah, graças a Deus. — Suspirei de alívio.
— Vou dar uma olhada nesse garotão — disse ele,
tomando o meu lugar.
Meu pai me abraçou.
— Sinto muito, meu amor, você viu acontecendo?
— Não, ainda bem. Eu teria desmaiado. — Revirei os
olhos.
— Ainda bem que Nate estava lá, viu só, quando eu
disse que ele não hesitaria quando você pedisse socorro,
falei sério. Escolhi muito bem o meu melhor amigo.
Abraçada ao meu pai, fitei Nathaniel, que desviou o
olhar de papai para mim.
— É — falei baixinho. — Você estava certo.
Meu pai me apertou.
— É impossível negar algo a essa garota, Nate,
agora que voltou assim como eu você está fodido.
Nathaniel engoliu em seco, assentindo e forçando
um sorriso fechado.
— Parece que sim.
Ai, pai, você nem tinha ideia de quão certo estava
nisso.
E principalmente, eu também não tinha ideia do
porquê meu coração estava batendo tão forte se ele só
aceitou me ajudar com o cachorro para que eu não ficasse
enchendo o saco e saísse logo do seu caminho. Ele não me
suportava.
Fechei os olhos abraçada ao meu pai, e foquei meus
ouvidos nas palavras do médico. Apenas quando ouvi que
os machucados foram superficiais e ele levaria o cachorrinho
para sua clínica fiquei aliviada. Meu pai garantiu que iríamos
visitar para acompanhar sua recuperação.
Talvez Nathaniel realmente estivesse morto de
coração, porque mesmo tendo me ajudado, ele não ficou
tempo o suficiente para ouvir as boas notícias.
CAPÍTULO 20
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
Uma coisa que meu pai disse era verdade, nunca houve
uma tarefa que ele me deu que eu não tenha concentrado tudo de
mim para realizar. Se ele queria que a pediatria chamasse atenção,
iria conseguir.
A primeira coisa que fiz naquela manhã de sábado foi reunir
todas as enfermeiras disponíveis não apenas da ala infantil, mas de
todo hospital e mostrei as caixas cheias de acessórios, roupas e
havia até uma maquiadora para desenhar nos rostos. Eu não queria
nada que fosse assustar os pequenos — não era um Halloween
adulto —, porém, sempre fui contra a ideia de que um hospital
precisava ser triste.
Havia crianças ali se curando, recebendo cirurgias e
tratamento e quando os adultos chegassem para visitar outros
pacientes, veriam nos corredores, elevadores e até ao falar com o
pessoal do hospital que algo estava acontecendo.
Não era nem meio-dia quando eu caminhava pelos
corredores e fui abordada por uma residente da ortopedia,
informando que sua atendente estava livre em alguns horários para
atender crianças que precisavam de atenção.
Eu queria correr para o escritório do meu pai e comemorar
que já estava colhendo os frutos de sua ideia, mas preferi aparecer
com um relatório caprichado e completo segunda de manhã.
— Tia, posso vestir esse? — Voltei minha atenção para a
garotinha com leucemia, que segurava um chapéu de bruxa e asas
de fada.
Sorri para ela e me aproximei.
— É claro que pode. Deixa eu te ajudar.
Sua mãe ficou no canto observando com um sorriso cansado
no rosto. Enfrentava dois turnos de trabalho e vendia doces caseiros
na porta do hospital buscando uma renda extra para arcar com os
custos do tratamento que não tinha seguro para cobrir.
Coloquei o chapéu de bruxinha nela e a levei para o
corredor, onde havia um espelho.
— Olha só como ficou linda! Parece uma princesa bruxinha.
Ela riu encantada ao se ver.
— Pode ir ao quarto da Tiff e do Theo? Ele gosta do Batman,
e Tiff vai querer ser a joaninha.
— Sério? — Fingi surpresa. — Eu tenho uma capa preta e
vou guardar especialmente para o Theo.
Seus olhos brilharam.
— Tá bem.
— Vamos voltar para o quarto, sua mamãe vai querer te ver.
Assim que entramos, a mãe a abraçou e começou a elogiá-
la. A garotinha tinha um sorriso no rosto tão grande que marejou
meus olhos.
— Não se esqueça que vamos fazer um desfile de fantasias
no salão às sete da noite.
— Mas às sete já tenho que estar na cama dormindo.
— A sua mamãe me contou que você vai poder dormir um
pouco mais tarde. E a doutora Sidney concordou!
Ela bateu palmas, dando pulinhos.
— Que legal! Aposto que todos vão acreditar que sou uma
bruxa de verdade.
— E uma fada também — afirmei, abraçando-a uma última
vez antes de parar no próximo quarto.
Quando as duas caixas esvaziaram, eu chamei o elevador
para voltar à sala dos residentes onde as outras estavam, e dei de
cara com Nathaniel.
Ele ergueu a cabeça, e ao me ver com o rosto pintado e uma
roupa colorida, abriu um sorriso torto.
— Você realmente tem muito tempo livre.
Ele puxou o carrinho para dentro, e eu entrei em seguida,
acionando meu andar.
— Na verdade, não me lembro de ter feito algo melhor na
vida.
Eu gostava de festas, de beber e me divertir, mas isso era
diferente, e nunca imaginei que voltar a passar meus dias no andar
que costumava ver como uma prisão na adolescência, onde sofri e
chorei até estar curada, me sentiria tão aliviada e feliz. Era como se
uma parte minha que ainda guardava traumas daquele tempo
estivesse se curando cada vez que eu via os sorrisos daquelas
crianças.
— E essa é a sua fantasia? Eu esperava algo um pouco
mais — ele deslizou os olhos pelo meu corpo — um pouco mais
exposto vindo de você.
— Quer me ver vestida de coelhinha sexy, doutor? Posso
arranjar isso.
Ele abaixou a cabeça para esconder o sorriso e me fitou
novamente quando estava sério.
— Temos que falar sobre aquele dia.
— Tudo o que precisava ser dito já foi, doutor, você
precisava de ajuda e olha só pra mim... adoro ajudar os
necessitados.
Ele estreitou os olhos.
— O que você e Emma conversaram?
Deixei o queixo cair em falso choque.
— Sua melhor amiga não te contou?
— Não seja engraçadinha. Ela me disse que vocês tiveram
uma conversa de mulheres, mas isso não me dá nenhuma porra de
pista.
Aproximei-me o máximo que dava com o carrinho entre nós.
— E vai continuar sem pistas, porque não é da sua conta.
— É da minha conta quando me envolve. — Seus olhos
caíram para o meu decote por um instante, eu sorri e fechei o botão
da camisa.
— E quem disse que te envolve? — Ele estava tão
divinamente lindo aquele dia com o cabelo penteado para trás e
uma gravata azul, além do jaleco que não escondia os músculos
dos braços fortes. — O mundo não gira ao seu redor, doutor, nem
tudo o que converso tem a ver com você.
Ele olhou para cima quando o elevador apitou que estava
prestes a parar em outro andar.
— Continue dizendo isso a si mesma, pequena Jennie.
— Não sou pequena.
Ele bufou.
— Você cresceu em idade, mas continua pequena pra
caralho, e se não tomar cuidado com as coisas que me diz eu posso
parar de me controlar e te quebrar no meio.
Eu me arrepiei e fiquei muda por um momento. Ele riu com
sarcasmo.
— Viu só? Não consegue sequer ouvir palavras sujas vindas
de mim.
Ele desceu quando as portas se abriram, e eu continuei lá
dentro.
— Boa tarde. — A doutora Sidney entrou, ele apenas
acenou e não respondeu, se afastando com aquela expressão
fechada.
— Boa tarde, doutora. — Forcei um sorriso.
Ela apontou para meu carrinho.
— Todos estão falando sobre isso, Jenna, alguns ricaços
com família internada no andar da neuro perguntaram com quem
eles falam pra fazer doações. Isso é realmente mágico, você está
fazendo algo muito bom aqui — seus olhos marejaram —, e eu
agradeço que seja pelas nossas crianças.
— Só estou fazendo por elas o que eu e meus pais
gostariam que tivessem feito por mim naquela época se fôssemos
uma dessas famílias sem condições.
— Sabe que anos atrás quando você ainda era uma
adolescente rebelde já carregava essa doçura no olhar? Eu sempre
soube que você ia muito longe.
Suas palavras quase me fizeram debulhar em lágrimas. Eu
limpei a garganta e agradeci.
— Nos vemos às sete, doutora, vou te esperar.
Ela sorriu.
— Eu não perderia por nada.
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
JENNA WALDORF
NATHANIEL SULLIVAN
JENNA WALDORF
2 ANOS E ALGUNS MESES DEPOIS
FIM.