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A OBSESSÃO DO

GOVERNADOR
CONRAD NOWER & NINA HOLLIS
SUMÁRIO
SINOPSE ..................................................................................................................................................... 3

PRÓLOGO .................................................................................................................................................. 5

1..................................................................................................................................................................... 8

2................................................................................................................................................................... 13

3................................................................................................................................................................... 15

4................................................................................................................................................................... 18

5................................................................................................................................................................... 23

6................................................................................................................................................................... 30

7................................................................................................................................................................... 34

8................................................................................................................................................................... 39

9................................................................................................................................................................... 43

10................................................................................................................................................................. 45
SINOPSE

Tudo o que o governador Conrad Nower quer é uma sombra ao seu lado durante os
eventos políticos aos quais precisa comparecer. Cínico, ele acredita que nenhuma
mulher é imune a sentimentos e afasta qualquer uma que comece a dar indícios de que
vai se apaixonar.

Nina Hollis tem uma personalidade forte e leva uma vida bem peculiar. Dona de um ego
inflado e de uma beleza extraordinária, ela está acostumada a ter sua atenção disputada
por homens poderosos, exceto Conrad Nower, que já deixou bem claro que não
pretende cair em seus encantos.

Um jogo perigoso, um desejo desenfreado e um sentimento tão poderoso, que ambos


serão capazes de mover o mundo para VIVER aquela história.
E eu odeio o jeito que eu digo palavras das quais eu ria antes
E eu odeio o jeito que meu coração não é meu
Agora ele é seu.
— I Hate The Way (Sofia Carson)
PRÓLOGO

Nina

Borrifei meu perfume e dei uma voltinha em frente ao espelho. O vestido


azul-royal de seda tinha um caimento perfeito no meu corpo. Minha cintura fina
ficava destacada e em conjunto com meu quadril e minhas pernas bem torneadas,
deu um resultado perfeito. Meus olhos estavam com uma sombra marrom e meus
lábios cheios, cobertos por um batom vermelho.
Sorri lascivamente para a minha imagem. Estava do jeito que deveria estar.
Enquanto saía do meu quarto, os saltos dos meus Jimmy Choo tilintavam no
mármore do chão.
Eu morava em uma magnífica cobertura em Nova York, que me dava uma
vista privilegiada do Central Park.
Cheguei à sala e me servi de uma dose do uísque que descansava no meu
minibar, observando a noite que abraçava a cidade.
Eu estava satisfeita com a minha vida. Aos vinte e sete anos, tinha tudo o
que uma pessoa comum jamais conseguiria, mesmo que passasse a vida inteira
trabalhando. Eu possuía beleza, mais dinheiro do que poderia gastar e fama. Não
o tipo de fama que aparecia na TV e saía em capas de revistas. Uma fama do
submundo, onde apenas bilionários tinham acesso.
Se os homens podiam tudo, inclusive se divertir com as mulheres, por que
as mulheres não podiam fazer exatamente a mesma coisa com os homens?
Queria ter uma história triste para justificar o porquê de ter ido para esse
mundo, mas a verdade era que entrei nele com minhas próprias pernas. Gostava de
sexo e gostava de dinheiro. Uma coisa, automaticamente, me levou a outra.
Terminei minha bebida e entrei no elevador que me deixaria no térreo. Uma
das vantagens de ser a melhor acompanhante de luxo, era poder escolher com quem
eu saía. E os privilegiados tinham que colocar, e muito, a mão no bolso para passar
apenas alguns momentos comigo.
Eu estava ciente do poder que tinha sobre os homens e havia trabalhado
minha mente para tirar o melhor proveito disso. Amor e essas coisas clichês que
vemos em filmes? Tô fora! Pegava meu homem casual e ia embora.
Assim que saí para fora do prédio, vi a luxuosa limusine me esperando. Um
senhor de terno bem alinhado e cabeça raspada, abriu a porta para mim.
— Boa noite, senhorita Hollis.
Dei um sorriso quando ele me ajudou a entrar no veículo. A fragrância do
homem que me esperava lá dentro estava por toda parte e um sorriso involuntário
surgiu em meus lábios quando encontrei os olhos verdes tão familiares.
— Olá, boneca.
Martin (sobrenome) tinha um sorriso lindo e cabelos grisalhos bem
aparados. Seu terno Tom Ford completava o visual de presidente de uma das
maiores empresas de cosméticos do país. Ele era meu cliente VIP, o que pagava o
maior valor para estar comigo.
— Olá, daddy — falei com a voz manhosa, selando nossos lábios em um
beijo casto.
Diferente do que muitos achavam, não era difícil ter uma boa relação no
meu mundo. Muitos homens buscavam apenas companhia para passar a noite, ou
apenas alguém para conversar.
Eu só tinha uma regra: nunca, jamais, sair com homens casados. Eu podia
ser tudo, menos uma destruidora de lares. Sabia que muitos homens acabavam
largando as esposas para ficarem com suas amantes e jamais aceitaria ser uma
dessas.
— Tive uma surpresa hoje quando cheguei em minha cobertura — Martin
disse quando começamos a rodar pela cidade de Manhattan. — Havia toda uma
equipe do melhor restaurante da cidade organizando um menu.
Apesar da voz séria, seu semblante era suave e gentil.
Fiz a minha melhor cara de inocente.
— E você gostou? — Cruzei as pernas sensualmente e levei sua mão para a
minha coxa. Martin começou a acariciá-la. — Pensei que poderíamos jantar no
conforto da sua casa antes de iniciarmos nossa noite — falei, dengosa, pois sabia
que ele gostava.
— Eu adorei, minha boneca. — Martin chegou mais perto e colocou uma
mão no meu rosto, acariciando minha bochecha. — Mal posso esperar para te
comer depois. — Ele começou a deixar beijos pelo meu rosto, parando próximo a
orelha esquerda. — Hoje vou meter tão fundo, que toda Manhattan vai poder te
ouvir.
Arfei. Martin era um dos únicos que conseguia me excitar sem muita
dificuldade. Claro que, muito disso, se devia ao carinho que havíamos começado
a sentir um pelo outro. Mas era somente isso; um carinho desenvolvido depois de
meses de encontros. Não havia sentimento real ali e nunca haveria.
— Você vai gostar, boneca? — Sua mão foi para debaixo do meu vestido e
senti seu dedo me acariciar por cima da calcinha. — Vai gostar de ser fodida forte
e duro por mim?
Sem pestanejar, pulei em seu colo e tomei sua boca. Suas mãos apertaram
minha bunda com firmeza. Minha boceta encharcada ficou posicionada sobre seu
pau, que implorava por libertação.
— Me deixe montar em você, aqui nesta limusine, enquanto a cidade passa
através desses vidros.
Martin gemeu, pegou na barra do meu vestido e o passou por cima da minha
cabeça. Pude enxergar o brilho em seus olhos quando viu meus seios fartos livres,
já que eu não estava usando sutiã. Sua boca começou a brincar com um mamilo
enquanto as mãos mantinham meu quadril no lugar.
Desatei seu cinto e abri o zíper com agilidade. Coloquei a mão dentro de
sua cueca e tomei seu pau, o acariciando devagar, do jeito que ele gostava.
Sua boca ficou mais agressiva, exigente, me fazendo gemer alto. Agradeci
pelo vidro que nos separava do motorista ser à prova de som. Isso pouparia seus
ouvidos dos ruídos impróprios que sairiam ali de trás.
Martin se inclinou apenas o suficiente para eu baixar sua cueca e sua calça.
Suas mãos ágeis pegaram um preservativo em um compartimento da porta da
limusine, o qual ele rapidamente abriu e desenrolou pela extensão de seu membro.
Seus dedos afastaram minha calcinha para o lado e senti seu pau mediano,
porém grosso, me invadindo.
— Cavalgue, boneca — ele exigiu com a voz firme.
Comecei devagar apenas para provocá-lo, mas quando vislumbrei um
pouco de raiva, segurei em seus ombros e aumentei o ritmo, sendo gostosamente
preenchida por ele. Sua boca estava em meu pescoço e suas mãos, firmes em meu
quadril.
Um desejo absurdo tomou conta de mim e quando vi, estava cavalgando
com mais velocidade que uma amazona.
— Isso, porra! — Martin deu um tapa forte na minha bunda. — Mostra o
que essa boceta sabe fazer.
E eu mostrei.
1

Nina

Enquanto esperava o elevador para subir até o andar da Chérie, a agência


para a qual trabalhava, não pude deixar de notar os olhares de desejo dos homens
ao meu redor, o que me fazia detestar o fato de a agência ficar em um prédio
comercial.
Eu amava chamar atenção, mas ali, naquele hall de entrada, eu chamava
atenção demais para o meu gosto. Meu vestido Versace na cor verde oliva também
não ajudava em nada a passar despercebida e eu já sabia que receberia um olhar
repreendedor de Amaro. Ele não gostava que eu aparecesse na agência daquele
jeito, uma vez que para todos os efeitos, ali era apenas um call center.
Só se fosse de tele sexo.
Assim que o elevador chegou, deixei as pessoas que estavam ali entrarem
primeiro e quando entre, apertei o portão de fechar a porta.
— Ai, se meu dinheiro desse — ouvi um sussurro masculino atrás de mim.
— O salário que você ganha não paga nem o par de sapatos que ela está
usando — ouvi outro sussurro, de uma voz diferente da primeira.
Não pude deixar de sorrir presunçosamente. Realmente não seria qualquer
salário que pagaria os sete mil dólares do meu salto alto.
Querendo um pouco de diversão diurna, virei-me para as vozes atrás de
mim.
— Quem falou isso? — perguntei, séria. Os dois rapazes, que eu sabia serem
os donos das vozes, desviaram o olhar, enquanto as outras pessoas do elevador se
seguravam para não rir. — Eu iria adorar ter um homem para fazer um ménage
com meu marido e a namorada dele. Topam?
Os olhos dos rapazes se arregalaram tanto, que pude jurar que iriam sair
para fora.
Alguém se engasgou e eu me virei de volta, tentando segurar o riso. Essa
geração Z tinha muito o que aprender com os Millennials, geração na qual eu me
encaixava.
O elevador parou em algum andar e todas as pessoas saíram dele, me
deixando sozinha. Sabia que muitos haviam se constrangido com a minha fala e ri
ainda mais por isso. Meu dia havia começado maravilhosamente bem.

+++

Quando cheguei ao andar da Chérie, que era o último do prédio comercial,


tive o vislumbre do luxo daquele lugar. Tínhamos um andar inteiro só para a
agência, mas o ambiente era ocupado apenas por lindos sofás e a mesa de Amaro,
que ficava em frente a uma imensa janela de vidro.
A agência tinha um total de cinquenta meninas. Podia parecer pouco, mas
ali, qualidade era mais apreciada do que quantidade, e até onde eu sabia, faltava
pouco para a maioria das meninas começarem a ganhar o mesmo que eu.
Por ser a mais velha, eu ainda me destacava, e embora já tivesse vinte e sete
anos, eu estava com tudo em cima e meu rosto não tão inocente era o que atraía os
homens.
Apesar disso, eu era realista. Sabia que, assim que chegasse os trinta,
precisaria deixar a agência. Isso não me abalava. Tinha dinheiro suficiente para
não ser mais a contratada e sim a contratante. Quem sabe eu não varasse uma
sugar mommy?
Nunca iria me esquecer do dia em que vi Amaro no shopping, ao lado de
duas meninas, saindo da Chanel. Apesar de ser nova na época – vinte anos –, sabia
exatamente o que aquilo significava. Uma amiga do colégio tinha me falado que
havia encontrado o homem que lhe conseguia os clientes desse jeito, saindo de
uma loja de luxo ao lado de duas meninas bem mais novas que ele. Propositalmente
passei na frente deles e deixei meu celular cair no chão, apenas para me abaixar e
Amaro ter uma visão das minhas pernas.
Dias depois, eu já era uma funcionária da Chérie.
Para muitos, podia parecer que era uma mercadoria sendo vendida em troca
de algumas centenas de dólares, mas não poderiam estar mais enganados. Eu era
de família rica, contudo, depois de perder meus pais em um acidente de carro,
decidi ocupar minha mente com alguma coisa que me fizesse esquecer que estava
sozinha no mundo. E essa nova vida me ajudou.
Sem contar que eu havia feito a promessa de nunca mexer na herança que
meus pais me deixaram. Não pretendia usufruir de um dinheiro que veio da morte
deles. Uma morte pela qual eu ainda me sentia culpada, mesmo depois de tantos
anos.
Amaro sorriu quando me viu caminhando em direção a sua mesa. Ele era
um homem baixo, com cabelo ruivo e corpo definido. Não parecia machucar uma
mosca, mas sabia que quando tirava para ser carrasco, era o pior dos homens.
— Nina Hollis! — falou com um sorriso.
Revirei os olhos. Odiava meu nome com todas as forças e Amaro o
pronunciava apenas para me provocar.
— Acordou de bom humor hoje! — falei, sentando-me na cadeira em frente
a sua mesa.
— Sempre acordo de bom humor — ele fez um gesto com as mãos —, ainda
mais quando vejo a mulher que mais me rende dinheiro logo pela manhã.
Não era segredo para ninguém que a associada mais requisitada da agência
era eu. Muitos poderiam considerar seu comentário ofensivo, mas eu, pelo
contrário, me sentia mais do que satisfeita em ser reconhecida como a melhor.
— Tá engraçadinho hoje, né? — falei, semicerrando os olhos. — Bom,
estou aqui. O que deseja falar comigo?
Amaro voltou a ficar sério.
— Fiz seu pagamento pela noite com Martin, você viu?
— Acha que com o tanto de dinheiro que eu tenho, vou reparar na entrada
de meros cem mil dólares?
— Você já foi mais humilde.
— E você menos enrolão. Não me chamou aqui para falar do meu
pagamento.
— Tenho um cliente novo para você. — Ele tirou um papel de uma gaveta
— Mas antes, assine esse termo de sigilo — exigiu, apontando a linha pontilhada.
— Não é meu, é exigência do cliente — esclareceu quando viu minha expressão
de confusão.
— Celebridade? — questionei enquanto passava os olhos pelo documento
antes de deixar minha assinatura.
Amaro conferiu se eu tinha assinado e só então falou:
— Político.
Zero novidade até aí. Já tinha saído com vários senadores e parlamentares.
— Qual o senador da vez? — perguntei, desinteressada.
— É um governador — Amaro abriu um sorriso.
Fiz uma careta. Paul Hellman era casado e Amaro conhecia muito bem o
meu mantra.
— Até onde eu sei, o governador Hellman não se separou.
— E quem disse que estou falando dele?
Arregalei os olhos. Apesar de ter contato com homens de todo o país, era a
primeira vez que o governador de outro estado me pedia para a agência.
Claro que esse pedia era apenas semântica. O cliente enviava suas
exigências para a agência, Amaro enviava fotos das garotas que se encaixavam no
padrão especificado e ele escolhia a de sua preferência.
— Trata-se de Conrad Nower, governador de Nevada. — Amaro me
entregou uma pasta preta. — Aí tem tudo o que você precisa saber sobre o trabalho,
que consiste em ficar três semanas com ele, em sua casa.
— Para quê exatamente? Ninguém contrata uma acompanhante por tanto
tempo e ainda a torna uma hóspede. — A desconfiança era nítida em meu rosto.
— As eleições estão chegando e Conrad quer uma pessoa fixa ao seu lado
por um tempo. O requisito é ser bonita, inteligente e que saiba se portar entre
pessoas do alto escalão. Sequer pediu para ver fotos, apenas garantiu que
devolveria a mulher caso ela não se enquadrasse no que havia pedido.
— Ele queria a melhor. — Revirei os olhos. — Quanto?
Peguei a pasta e coloquei-a em meu colo. Olharia em casa com calma.
— Tirando a comissão da Chérie, ao final da estadia terá recebido
quinhentos mil dólares.
Fiquei surpresa. Era o cliente mais caro que eu já havia tido. Apesar do
espanto, mantive a expressão neutra.
— Justo — falei e Amaro revirou os olhos. — Quero um cartão de crédito
para o caso de precisar de alguma coisa. Independente do valor que vai pagar, as
despesas são por conta dele.
Amaro fez um gesto com a mão.
— Já passei tudo a ele, ou melhor, ao assessor dele, e todos os termos foram
aceitos.
— Sendo assim, quando vou?
— Amanhã. Um carro irá te buscar por volta de 11:30 da manhã e um jato
particular estará te esperando no aeroporto.
— Que venha Nevada, então.
Sem ter mais o que conversar, levantei-me e virei as costas para ir embora.
Estava quase chegando no elevador, quando a voz de Amaro me parou.
— Nina! — ele me chamou, dessa vez usando meu apelido.
Virei-me.
— Talvez o que acontecer em Vegas, não tenha que ficar em Vegas.
Apenas me virei de volta e entrei no elevador. Seja lá o que ele queria dizer
com isso, não me importava naquele momento.
2

Nina

Não pude deixar de me deslumbrar quando vi o jatinho todo preto na minha


frente.
Enquanto descia do SUV que havia me buscado, com dois homens de preto
dentro, um funcionário do aeroporto tirava minha bagagem do porta-malas. Havia
sido um tormento fazer mala em tão pouco tempo e, ainda assim, peguei apenas as
roupas mais estilosas que eu tinha. Se precisasse de algo a mais, compraria por lá.
Passei minha bolsa Gucci pelos ombros, ainda segurando a pasta
informativa. Não havia lido nada sobre quem era Conrad Nower e teria que fazer
isso nas próximas sete horas de voo até Las Vegas.
— Haverá alguém esperando pela senhorita na pista de pouso — o homem
que vinha dirigindo o carro me comunicou. — Tenha um bom voo, senhorita
Hollis.
Ele saber meu sobrenome, sem eu ter mencionado, não me impressionou.
Gente que tinha poder conseguia as informações de qualquer pessoa em questão
de segundos.
Abri minha bolsa e tirei um maço de mil dólares.
— Obrigada.
Coloquei o dinheiro no bolso da frente de seu paletó e caminhei em direção
a escada que dava acesso ao interior da aeronave, não dando brechas para
contestações pela minha atitude.
O vento bagunçava meus cabelos castanhos e por alguns segundos me senti
como uma pessoa importante embarcando em mais uma viagem.
— Seja bem-vinda a bordo, senhorita Hollis. Sou Jeffrey, seu piloto, e essa
é Nikki, a comissária.
Jeffrey era alto, robusto e devia ter por volta de quarenta anos. Ele e a ruiva
que me apresentou eram muito bonitos. Estava começando a achar que ter pessoas
visualmente agradáveis trabalhando para ele era um pré-requisito para Conrad
Nower. Dei um sorriso e me sentei na primeira poltrona que vi, colocando o cinto
de segurança logo em seguida.
Não demorou muito e a aeronave já despontava no céu. Somente após
estarmos estabilizados, foi que tirei meus óculos de sol e abri a pasta para conhecer
melhor o meu próximo cliente.
Ia começar a ler quando Nikki, a comissária, apareceu subitamente ao meu
lado, me fazendo fechar a pasta preta e olhar para ela.
— O que gostaria de comer, senhorita?
— Cordeiro com molho de hortelã e batatas coradas, por favor — respondi
com um sorriso, sem me preocupar em perguntar se tinha. Sabia que aviões
particulares costumavam ter absolutamente de tudo disponível.
— Posso sugerir um Carbenet para acompanhar? — Seu tom era
extremamente gentil.
— Claro, por favor.
Nikki sorriu, retirando-se logo em seguida.
Conrad Nower Sayer, quarenta e dois anos, solteiro, nascido em Nevada.
Havia sido senador antes de ser eleito como governador. Sua família era toda
envolvida na política e fazia parte do partido democrata. Nunca foi casado e tão
pouco é considerado de muitos amores. Seu assessor começou a procurar uma
acompanhante, pois com as eleições chegando e o interesse de Conrad em ter um
segundo mandato, estava começando a ficar desconfortável em aparecer sozinho
nos eventos políticos. Joe, seu assessor, teria contratado alguém do próprio estado,
mas foi exigência de Conrad em pegar de outro lugar.
Conforme ia lendo, percebi que meu trabalho era não ter trabalho algum.
Eu apenas o acompanharia em todos os eventos necessários. Pela primeira vez na
vida, eu realmente seria apenas uma acompanhante pelo visto. Bem, pagando bem
eu poderia virar até uma samambaia de varanda.
Não havia nenhuma foto dele na pasta e não podia ligar a internet do celular
para pesquisar. Fechei a pasta e suspirei. No fundo, eu estava ansiosa para saber
em como Conrad Nower reagiria a mim. Eu sabia o efeito que tinha sobre o sexo
oposto. E saber que eu teria um governador ao meu lado, era no mínimo, excitante.
Olhei pela janela, para aquele monte de nuvens que parecia algodão doce e sorri.
Com o coração sabendo que não iria se apaixonar, eu poderia pisar em qualquer
terreno, pois sabia que se alguém saísse ferido, esse alguém não seria eu.
3

Nina

Sete horas mais tarde, eu descia as escadas da aeronave. O calor


insuportável quase me fez derreter e agradeci por estar de short e uma blusa que
amarrava no pescoço. Meus saltos faziam barulho enquanto descia as escadas do
jatinho.
Como havia sido me dito em Nova York, havia dois Audi pretos me
esperando e três homens estavam do lado de fora. Eles me deram medo assim que
os vi. Ambos com seus portes de armário ambulante e caras fechadas, ninguém se
meteria a bancar o esperto com eles.
— Boa tarde, senhorita Hollis, sou Ethan, chefe de segurança do
governador. Eu a levarei até a casa dele.
Ethan tinha a pele marrom e sua cabeça raspada, juntamente com sua
postura séria, exalava um ar de respeito.
Imediatamente entendi o porquê de ele ser o chefe de segurança da equipe
de Conrad. Ninguém se arriscaria a aprontar algo sabendo que um homem como
Ethan estava à frente de todo o esquema de segurança do governador. Seria
suicídio tentar qualquer coisa.
— Você vai ficar ao meu lado o tempo todo, suponho — perguntei e recebi
um gesto afirmativo de Ethan. — Então me chame de Nina.
Ethan não disse nada, apenas me conduziu até um dos Audi, enquanto o
segundo homem cuidava da minha bagagem. Quando Ethan ocupou o lugar do
motorista, foi que me dei conta que havia outro homem ao seu lado. Pelo amor de
Deus, estava começando a me sentir como um detenta sendo transferida de um
presídio a outro, cada hora surgia um homem diferente, mais assustador que o
anterior.
Esse segundo não disse nada. Apenas me olhou pelo retrovisor fez um aceno
com a cabeça, na qual retribui. Nada me intimidava. Anos nesse ramo me fizeram
não ter medo dos caminhos que eu escolhia. Mas pela primeira vez, me questionei
se havia sido uma boa ideia ter aceitado aquele trabalho.
Vinte minutos depois, o carro em que eu estava entrou em uma propriedade
muito bonita. Pelo menos dez seguranças guardavam a entrada e outros dois
vigiavam a porta da frente. Pela janela pude ver homens caminhando pelos jardins
laterais e logo constatei que no fundo também deveria estar repleto de seguranças.
Achei um certo exagero. Qual é, o cara era governador, não o presidente.
— Ele é mesmo apenas governador? — falei para ninguém em particular.
— Está mais segura aqui que em qualquer outro lugar, Nina.
Ethan falou me olhando pelo retrovisor. Não pude deixar de sorrir por ele
ter acatado meu pedido e me chamado pelo meu apelido.
Em segundos, a minha porta foi aberta e um homem me ajudou a sair do
carro. Olhei ao redor. O jardim era muito bem cuidado e uma fonte redonda gigante
ficava no meio, fazendo todo carro que entrasse fazer um circuito circular. Voltei
minha atenção para a casa e era uma propriedade de dois andares, que lembrava
muito aquelas mansões que costumávamos ver em novelas e filmes da televisão.
— Por aqui, Nina.
Ethan fez um gesto com a mão, me indicando a escadaria que levava a
entrada da casa.
Quando nos aproximamos, os dois seguranças abriram a porta dupla de
madeira, nos dando passagem. Assim que entrei na casa, meus olhos foram
preenchidos por um ambiente bem decorado, que exalava dinheiro por onde eu
olhava. Desde a escadaria de mármore branco que levava ao andar superior, até a
lareira cor de creme que, com certeza, era apenas decorativa. Em um calor daquele
se ligasse aquilo, a sala viraria o próprio inferno. As janelas iam do chão ao teto e
cortinas na cor branca esvoaçavam com a brisa leve que adentrava por elas.
— O senhor Nower lhe deixou isto. — Ele me deu uma caixinha branca e
um envelope. — Aí tem tudo o que precisa por enquanto. Fique à vontade para
conhecer a casa e escolher o quarto que quiser, somente o do senhor Nower, que
dá vista para a frente da casa, está ocupado.
— Tem alguma governanta por aqui?
Ethan assentiu.
— Mariah. Mas hoje ela está de folga.
Um dia inteiro sabendo que apenas homens estavam transitando pela
propriedade. A constatação poderia assustar qualquer uma, mas eu já havia lidado
com homens poderosos o suficiente para saber que os seguranças nunca, jamais,
em hipótese alguma, mexiam com as amantes do patrão. Acho que eu poderia me
considerar dessa forma.
Ethan fez um aceno e se retirou. Um guarda desceu as escadas e indicou que
minha mala já estava no andar superior. Assenti em resposta e me vi sozinha na
imensa sala de estar.
Colocando minha bolsa e a pasta de lado, abri a caixinha que Ethan me
entregou. Era um celular de última geração, igual ao que eu tinha. Deduzi que seria
por ali que Conrad falaria comigo quando necessário. Todas as funções do celular
estavam bloqueadas, apenas a câmera, mensagens, e-mail e a discagem estava
disponível. Deixando o celular de lado, abri o envelope. Tinha apenas um cartão
preto com um bilhete.

Compre um vestido para usar no coquetel ao qual iremos esta noite e o que
mais quiser.
Esteja pronta às 19h.
Conrad.
4

Conrad

Assim que meu jatinho pousou em Las Vegas, pulei da poltrona. Havia
passado o dia inteiro em uma reunião no Capitólio, no Distrito de Washington e
tudo o que eu mais queria era poder me jogar na minha cama e dormir até amanhã
cedo. Mas como governador de Nevada, eu precisava marcar presença em todos
os coquetéis e jantares de outros senadores e parlamentares do meu partido.
Com as eleições se aproximando cada vez mais e eu querendo um segundo
mandato, meu assessor começou a pegar no meu pé para eu começar a aparecer
acompanhado nos eventos. A ideia era, ter alguém ao meu lado que chamasse
atenção e espalhasse pela mídia que o governador Conrad Nower, finalmente,
estava no caminho do casamento.
Nunca fui mulherengo. Com pais e irmãos na política, desde quando era
garoto fui induzido nessa vida. Logo, não tinha tempo para sair pela noite e voltar
com duas modelos gostosas penduradas em meus braços. Quando estava desejando
carinho feminino, Joe, meu assessor, ligava para uma agência sigilosa e me
enviava a melhor mulher que eles tivessem.
Claro que eu não queria me casar. Não queria e nem ia. Tinha amigos na
política que passava mais tempo fora de casa do que com a esposa, devido as
obrigações. Tinha homem ali que nem se lembrava mais o dia que o filho havia
nascido. E eu não culpava. Já perdi as contas de quantas vezes deixei passar batido
alguma data importante por causa do governo.
E eu não daria esse desgosto para uma esposa que eu pudesse ter.
Quando desci do jatinho, a noite começara a cair. Ethan me aguardava com
mais dois seguranças. Ele era o chefe da minha equipe e apesar de confiar nos
homens que trabalhavam comigo, era em Ethan quem eu confiava cegamente.
— Boa noite, senhor Nower. — Ethan fez um aceno com a cabeça.
Fiz um aceno em retribuição e entrei no SUV. Eu sempre andava com três
carros de segurança. Achei exagero no começo do meu mandato, mas hoje em dia,
depois de alguns atentados que já haviam tentado contra mim, isso não me
incomodava mais.
Uma vez que estava dentro do carro, Ethan começou a sair da pista do
aeroporto, seguindo por um portão lateral de acesso exclusivo. Peguei meu celular
para checar meu e-mail e responder a Joe que estava a caminho do coquetel do
senador Mason.
Me lembrei que teria que passar em casa para pegar Nina Hollis, a mulher
que Joe havia selecionado de uma agência de Nova York. Minha única exigência
era que ela fosse a melhor da casa. Ainda não a tinha visto. Lembrei da pasta com
toda a vida dela que Joe havia me dado e que não havia me dado o trabalho de ler.
Estava começando a me arrepender não saber nada sobre a mulher que ficaria
embaixo do meu teto.
— Você a buscou?
Perguntei ainda com o olho na tela do meu celular.
— Sim, senhor — Ethan respondeu com sua voz firme.
— Entregou meu recado?
— Como o senhor pediu.
Levantei a cabeça e olhei para Ethan pelo retrovisor.
— Como ela é?
Ethan encontrou meu olhar apenas por segundos antes de voltar a encarar a
estrada.
— Uma boa escolha, senhor.
Bufei. Ethan era profissional demais para falar qualquer coisa além do
essencial.
Eu não era bobo, sabia o que essas mulheres faziam. A palavra
acompanhante era apenas um termo para amenizar a real função que elas exerciam.
Eu não estava interessado em ter nada com Nina. Ela seria apenas uma sombra que
me acompanharia nos eventos. Se eu quisesse esquentar minha cama, continuaria
contratando alguém por fora. Foi esse o motivo de não querer ninguém de Nevada.
Uma pessoa que tinha uma vida em outro estado, ficaria muito menos tentada a
querer colocar sentimentalismo onde não havia nada. E já que havia pedido a
melhor, sabia que ela era profissional o bastante para saber o seu lugar.
Minutos depois, eu passava pelo portão da minha casa. Os guardas do turno
da noite já estavam ali e vi a ronda que nunca parava andando pelos jardins laterais.
Apesar de morar ali, era difícil reconhecer como casa um lugar em que eu apenas
dormia e olhe lá.
— Quer que eu a chame, senhor? — Ethan perguntou quando parou o carro
em frente a escada que dava para a entrada.
— Quero — respondi direto.
Ethan desceu do carro e eu comecei a responder uns e-mails que haviam
chegado nos últimos minutos. Meu celular nunca parava e era exatamente por isso
que eu tinha um profissional e um pessoal.
Fiquei tão entretido que só percebi que Ethan havia voltado, quando um
perfume doce feminino incendiou o carro. Mantive a cabeça baixa, terminando de
digitar um e-mail que enviaria para o governador de Ohio.
Ethan retomou o lugar do motorista e começou a sair com o carro da
propriedade. Quando finalizei de digitar, bloqueei o celular e olhei para a frente.
— Devo dizer algo para as pessoas ou apenas ficar ao seu lado?
Uma voz incrivelmente sensual me vez olhar para o lado, só então me
lembrando da existência da mulher ali. Seus cabelos eram na altura da cintura e
estavam caindo em ondas pelas costas. Seus olhos eram cor de mel e sua pele cor
de avelã parecia ser a coisa mais macia da face da terra. Seus lábios estavam com
um batom vermelho, que combinava perfeitamente com o mesmo tom do vestido,
que tinha um decote sensual e discreto ao mesmo tempo e pude ver que seus seios
eram fartos. Seu vestido ia até os joelhos. Meu olhar desceu por suas pernas,
parando nos seus delicados pés, que calçavam uma sandália aberta que era
adornada na canela por uma tira que parecia imitar uma cobra.
Eu tinha a melhor das mulheres no meu lado.
Passei a língua pelos lábios, tentando controlar o desejo que me incendiou
em cair de boca naqueles seios fartos. Meu pau começou a ganhar vida em
segundos e agradeci pela iluminação não estar tão boa, disfarçando assim a minha
situação.
Voltei ao seu rosto e ele continuava totalmente inexpressivo. Os olhos
atentos em meu rosto e os lábios fechados, perfeitamente desenhados.
Pigarreei e voltei meu olhar para a estrada a frente.
— Responda apenas o que te perguntarem. Se procurarem o que somos,
responda que somos amigos. Minha irmã nos apresentou.
— Certo.
Pelo rabo do olho vi que ela voltou seu olhar para a estrada. Não fez
perguntas, não tentou puxar assunto, apenas ficou olhando a paisagem e segurando
a pequena bolsa dourada nas mãos.

+++
Cerca de quarenta minutos depois, entramos no imenso jardim da casa do
senador. Vários SUVs e Audi’s estavam estacionados ali e o jardim estava repleto
de seguranças, tanto do senador quanto dos outros políticos que chegavam.
Ethan desceu e abriu a porta para mim, enquanto o outro segurança abria a
porta para Nina e a ajudava a descer. Ela de pé, pude ter uma visão muito melhor
de seu corpo. Seios fartos, cintura fina, quadril largo, pernas compridas e bem
torneadas. Ela era a mulher perfeita aos olhos de noventa por cento dos homens da
terra.
Quando me aproximei, Nina enganchou o braço no meu e seguimos pelo
tapete azul que conduzia a entrada, com Ethan e mais quatro seguranças ao atrás
de nós.
— Governador Nower — o senador Mason me cumprimentou quando
cheguei na entrada. — Fico lisonjeado com a sua presença.
Controlei-me para não revirar os olhos. Ambos sabíamos que eu estava ali
apenas para marcar presença, não por qualquer resquício de amizade.
— Como vai, senador? — Apertei sua mão.
— Boa noite, senhorita... — Mason pegou a mão de Nina, que deu um
sorriso gentil, ignorando totalmente meus cumprimentos.
— Hollis. Muito prazer, senador.
Sua voz saiu gentil e percebi a rápida medida que o senador fez em seu
corpo.
— Onde está Sarah? — perguntei firme e passei a mão ao redor da cintura
de Nina.
Eu havia pagado por ela e ela estava em minha casa. Por mais que não fosse
nada minha, não deixaria que a cobiçassem como se ela estivesse
desacompanhada. Eu era o governador e ela estava comigo. Era bom manterem os
olhos bem longe dela.
Homens e seus instintos territoriais.
Quando mencionei sua esposa, Mason pigarreou e tirou os olhos de Nina
para dizer que ela estava orientando algumas pessoas do bufê. Fiz um aceno com
a cabeça e puxei Nina para dentro da casa.
Assim que entramos, todos pararam para nos olhar. Eu via os olhares de
desejos dos homens quando viram Nina e vi os olhares de inveja das mulheres. Era
a primeira vez que eu aparecia acompanhando em algum evento e já esperava por
esse burburinho.
— Nower! — Olhei para o lado e vi Jonas, um congressista, se
aproximando.
— Jonas!
Fiz um aceno de cabeça. Jonas era o único homem que possuía alguma
simpatia. Aos sessenta anos, ninguém ousava desrespeitá-lo e até onde eu sabia,
era o único dos homens daquele coquetel que não tinha uma amante. Nora, sua
esposa, o acompanhava aonde ele ia e nunca o vi passar mais que um final de
semana fora de casa. Isso apenas quando era apenas extremamente necessário.
— Até que enfim você chegou, meu caro. — Ele deu um gole no seu
martini. — Você precisa ver em como isso aqui está chato — falou mais baixo.
Dei uma risada fraca.
— Oh e quem é essa? — Ele se virou para Nina.
— Essa é Nina Hollis. Uma amiga.
Ele me deu um olhar de que sabia bem a amiga que ela era. Mas apenas
sorriu e se voltou para a minha acompanhante.
— Muito prazer, senhorita Hollis. — Ele pegou sua mão e a beijou. — Se
me permite o elogio, você é maravilhosa.
Nina deu aquele sorriso que desmancharia até as geleiras do Ártico.
— O prazer é meu.
Jonas se voltou para mim.
— Charlie, do parlamento está aqui. Acho que seria uma boa hora para falar
com ele sobre sua campanha de candidatura. Até porque, um certo homem também
está aqui.
Pelo resmungo de Jonas, soube exatamente de quem ele estava falando.
A noite já tinha tudo para ser uma completa bajulação, fora a conversa chata
daquelas pessoas, mas aquele homem havia acabado de deixar a noite ainda pior
apenas por sua presença naquele evento.
Assenti e me virei para Nina.
— Te vejo depois — falei e ela assentiu.
Jonas lhe deu um sorriso de despedida e me puxou para o outro lado da sala.
5

Nina

Depois que Conrad me deixou sozinha, aproveitei para dar uma olhada ao
redor. Os olhares curiosos não me deixaram nem por um segundo.
Por falar em Conrad, eu não podia deixar de ignorar a presença daquele
homem. No momento que entrei no carro e o vi, concentrado em seu celular,
minhas pernas ficaram bambas só de olhar. Seu maxilar era firme e sua barba,
perfeitamente aparada, o deixava com a aparência ainda mais sexy. Eu notei o olhar
que ele me deu quando entrei no carro, mas havia aprendido a esconder qualquer
emoção que eu pudesse ter e não demorou muito para eu perceber que Conrad tinha
o mesmo talento.
Quando chegamos ali, tive o vislumbre de que seus olhos eram castanhos
claros, o que se destacava perfeitamente em sua pele. Meu desejo por ele triplicou
e eu estava torcendo para ele ser como os outros homens e sucumbir, para poder
saciar minha vontade de tê-lo.
Um garçom passou por mim e eu peguei uma taça de champanhe. Já havia
ido a vários eventos como aquele, mas geralmente, os homens que eu
acompanhava, não me deixavam sozinha no meio da sala. Não querendo mostrar
que estava me sentindo intimidada, com uns quarenta pares de olhos me
observando, me sentei em uma poltrona individual e cruzei as pernas, tomando
meu champanhe em goles pequenos. Sabia que era totalmente deselegante mexer
no celular em lugares assim, então minha diversão – pelas próximas duas horas,
suponho – seria tentar adivinhar como era a vida das pessoas fora dali.
— É uma chatice, não é?
Uma voz feminina surgiu ao meu lado. Me virei e vi uma mulher mais ou
menos da minha idade, sentar-se na poltrona ao lado da minha. Seus cabelos eram
dourados e sua pele branca se destacava no vestido azul que ela usava. Não pude
deixar de notar o enorme diamante que descansava em sua mão esquerda.
— Digamos que não é um lugar para se divertir.
Falei dando mais um gole no meu champanhe. Sabia muito bem que nesses
lugares, qualquer coisa que você falasse, todo mundo estaria sabendo no dia
seguinte.
— Eu ter me apaixonado por um homem desse meio foi o meu maior erro
— ela falou olhando para um homem alto de cabelos escuros. Ele olhou de volta
para ela e deu um sorriso sincero, mas que mesmo assim não havia chegado aos
olhos. — Aliás, sou Beatrice, noiva do governador da Califórnia.
Ela me estendeu a mão e eu a cumprimentei.
— Sou Nina, amiga de Conrad Nower. Não sabia que teria políticos de
outros estados aqui.
— Geralmente não tem. Mas Will está tentando convencer Conrad a dividir
o tratado do meio ambiente com o nosso estado e acabou propondo ao senador para
estender o convite a outros políticos. — Ela se virou para mim e sorriu. — Seu
amigo é duro na queda.
Dei um sorriso de lado.
— Ele é.
Não sabia que ele era, precisava mostrar que era próximo a ele.
— O que você faz, Nina? — Beatrice perguntou com os olhos bem atentos
em mim.
Eu aqueço a cama de homens solitários.
— Sou modelo, em Nova York — respondi com um sorriso polido.
— Oh, sério? Deve ser uma vida empolgante, sempre tendo trabalhos
diferentes.
— Você não imagina o quanto — falei sorrindo. — E você, o que faz?
Percebi que aquela animação dela deu uma leve caída. Arqueei uma
sobrancelha com o gesto.
— Eu era estilista. Desenhava biquinis para várias marcas — ela passou o
dedo na borda da taça —, mas aí conheci Will e acabei me afastando de tudo para
poder acompanhá-lo nos eventos.
— E tudo bem para ele, você ter desistido da sua profissão?
Perguntei, mas já sabia a resposta. O que eu achava que era paixão, na
verdade era posse.
— Foi ele que sugeriu — ela falou séria e terminou de beber o líquido
borbulhante de sua taça.
Não pude deixar de sentir pena de Beatrice. Trocar uma profissão por um
homem, era uma aposta perigosa. Não sabia se ela havia concordado com isso
porque realmente estava de acordo, ou porque tinha medo de Will arrumar uma
amante nas viagens que fazia pelo país.
Um momento de silêncio se instalou entre nós e aproveitei para varrer os
olhos pelo ambiente. Notei que, no geral, todos os homens ali estavam reunidos
em grupos de cinco pessoas, apenas um estava acompanhando do que parecia um
time de futebol e não pude deixar de notar que a maioria se tratava de seguranças.
Era engraçado como sabíamos quem era o líder de um grupo apenas pela
postura e trajetos. O homem em questão tinha um porte másculo que, em conjunto
com os cabelos morenos, deixava sua figura misteriosa ainda mais intrigante.
— Quem é aquele? O que parece que está cercado de seguranças —
perguntei a Beatrice.
Ela seguiu meu olhar, apenas para dar um revirar de olhos logo em seguida.
— Aquele é Bruce Andrews, o oponente de Conrad. Ele é arrogante na
mesma proporção em que é um gênio. — Após dar um gole em sua bebida, ela
continuou: — Seu homem vai ter um trabalho danado para derrubá-lo. Bruce não
é conhecido como tubarão à toa.
Rapidamente mudei de assunto. Tudo o que eu não precisava era me
preocupar com picuinhas políticas, ainda mais quando o outro lado da moeda tinha
um nome que combinava, e muito, com seu apelido. Quando dei por mim, Beatrice
estava me dando dicas do que estava em alta no verão e me passou uma lista de
lojas em Las Vegas que tinha os melhores biquinis. Depois de muita conversa, já
havia quase simpatizado com ela. Estávamos tão entretidas, que não percebemos
quando dois homens se aproximaram da gente. Era Conrad e Will.
— Pronta para ir? — Conrad me estendeu a mão para me ajudar a levantar.
— Como vai, senhorita Stacey.
— Olá, Conrad — Beatrice o cumprimentou e se colocou de pé, ao lado do
noivo.
— Quando vocês se casam? — perguntei para ninguém em particular.
Will olhou para Beatrice e sorriu.
— Logo depois das eleições. Um casamento agora seria muito corrido.
A expressão de Beatrice ficou levemente triste. Percebi ali que ela temia
que Will desmanchasse o noivado, caso não fosse reeleito. Ele podia não a amar,
mas dava para perceber que ela era louca por ele. Se estivéssemos em uma outra
situação, talvez eu pudesse aconselhá-la, mas o que eu, uma mulher que não
entendia quase nada de sentimentos, poderia falar para confortá-la?
— Tome. — Beatrice me deu seu cartão, feito de um material caro, nas
cores creme e rosa chá. — Vou passar uma semana aqui em Vegas, talvez
possamos fazer algo juntas.
Sorri e peguei o cartão.
— Eu iria adorar! — Fui sincera.
Nos despedimos e Conrad me guiou para onde seus seguranças estavam.
Ethan abriu a porta para mim e eu entrei. Peguei meu celular dentro da bolsa e
busquei pelas pesquisas de intenção de voto do estado da Califórnia. Queria saber
se minha intuição estava correta.
— Gosta de política?
A voz de Conrad preencheu meus ouvidos. Levantei minha cabeça e vi que
seu olhar passou da tela do meu celular para o meu rosto.
— Quais as chances de Will ser reeleito na Califórnia? — respondi sua
pergunta com outra pergunta.
Conrad fez uma cara de pensativo por alguns segundos antes responder.
— Poucas. — Sua foz era firme. — Nada do que prometeu em sua
campanha ele cumpriu. No dia em que houve um apagão no estado, ele se trancou
em casa e não apresentou uma solução para a população. O número de frigoríficos
e estabelecimentos que tiveram prejuízo foi enorme. O senado apresentou uma
proposta de crédito emergencial para essas pessoas, mas ele rasgou o projeto e
nunca mais tocou no assunto.
— Isso é horrível — falei, indignada. — E ele ainda teve a coragem de se
candidatar novamente?
Conrad deu de ombros.
— Ele acha mesmo que vai ganhar.
— Recebeu o convite de casamento deles? — perguntei e Conrad assentiu.
— Pode rasgar, não vai ter casamento.
Nossos olhares se fixaram por alguns segundos. Meu ventre se contorceu,
querendo se afundar naquele homem. Sua beleza era tão hipnotizante que te fazia
questionar em que mundo você vivia que nunca tinha visto nada parecido.
Esperava que ele me perguntasse o porquê de eu achar que não teria
casamento, mas Conrad apenas desviou o olhar e ficou encarando a paisagem pela
sua janela.
— Sei que não haverá.
Ele também sabia que o noivado de Will e Beatrice era apenas um meio de
conseguir um novo mandato.

+++
Já passava das 22 horas quando entramos na sala de estar da casa de Conrad.
Cansada da viagem e sedenta por uma cama, segui em direção as escadas, ainda
tendo o vislumbre dele começando a tirar a gravata preta.
— Nina? — A voz firme e grave me fez parar assim que pisei no primeiro
degrau.
Senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e precisei respirar fundo
antes de me virar para encarar a perfeição em forma de homem.
— Se comportou bem hoje. Espero que seja assim nos próximos eventos e
conseguiremos nos entender com facilidade — decretou, os olhos vidrados em meu
corpo.
Eu não sabia qual era a dele, mas resolvi arriscar.
— Acho que mereço uma recompensa pelo bom comportamento, então. —
Encostei-me no corrimão e cruzei os braços, levantando ainda mais meus seios.
Conrad semicerrou os olhos.
— Achei que sua agência tivesse passado o seu pagamento.
Dei uma risada sem humor.
Desci o degrau que havia subido e comecei a caminhar em direção a ele,
jogando minhas pernas como uma modelo em uma passarela. Seu olhar
acompanhava cada passo meu e vi quando ele mordeu a própria bochecha.
Quando estava perto o bastante, peguei sua gravata e o puxei para mais
perto. Suas mãos automaticamente foram para minha cintura, dando um aperto ali.
Dei outro puxão na gravata, colando nossos corpos de vez e senti seu pau cutucar
minha intimidade, o toque facilitado por causa dos meus saltos. Só aquele toque
bastou para minha calcinha ficar encharcada.
— Estava pensando em algo que exige se movimentar — sussurrei em seu
ouvido e me esfreguei de leve nele. — Algo que envolva cavalgar.
Conrad soltou um gemido e grudou seu corpo ainda mais ao meu. Eu estava
elétrica, meu corpo já estava sedento por ele e sua ereção bem ali, na minha boceta,
não facilitava em nada.
Sem poder esperar mais, tomei seus lábios com urgência, soltando um
gemido. Conrad desceu suas mãos para minha bunda e a apertou. Seu beijo tinha
gosto de whisky, misturado com o cheiro de sua colônia, deixava tudo mais
inebriante.
Conrad me impulsionou para cima e enrosquei minhas pernas em seu
quadril. Sem desgrudar nossas bocas, ele nos jogou no sofá, ficando por cima do
meu corpo. Sua boca começou a mordiscar meu pescoço, enquanto uma de suas
mãos estava enroscada no meu cabelo e a outra deslizava por minha perna, me
causando arrepios. Céus!
— Você é o sonho de qualquer homem — sussurrou ao meu ouvido. — É
gostosa pra caralho e linda como uma deusa. Mas eu não te contratei para
esquentar minha cama.
Eu arregalei os olhos e ele se afastou de mim, ficando de pé e tentando
arrumar o pau, que insistia em mostrar que estava ansioso para entrar em ação.
Me sentei e o encarei com confusão. Era a primeira vez que um homem me
rejeitava assim.
— Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, Nina. — Conrad me encarava
com a expressão fechada. — Você apenas faz o papel de minha sombra, entendeu?
Sem envolvimento, sem perguntas pessoais e sem pretensão de ter qualquer coisa
comigo. Não é porque sou homem que caio nas graças de qualquer par de pernas
que me aparece e sei como mulheres são. Um mês aqui na minha casa seria o
suficiente para você criar laços comigo e não quero sair como o cretino da história.
Calma, ele estava me dispensando porque achava que eu poderia me
apaixonar por ele? Era isso? Mais aquele homem era muito presunçoso mesmo.
Não sabia o tipo de mulher que ele costumava sair. E ele ter esse pensamento me
confirmava que deveria ser apenas caçadoras de fortunas querendo enlaçá-lo a todo
custo. Ou eram apenas muito inocentes mesmo.
E então, não consegui mais segurar o riso. Gargalhei tanto, que lágrimas
brotaram do meu rosto.
— Você acha... — Me recompus, ainda rindo um pouco. — Você acha que
o fato de querer transar com você é porque quero ficar com você e
automaticamente quero que você se apaixone por mim? — Segurei outra risada.
— Calma aí, pau de ouro, uma mulher pode ter sexo sem envolver sentimentos.
Foi a vez de ele rir, só que sem humor.
— Todas falam isso, Nina e no final mandam o famoso papo de ‘ai, me
apaixonei’ — ele imitou uma voz feminina no final.
Me levantei e cheguei bem perto dele, o encarando bem no fundo do olho.
— Sabe qual é o problema de vocês, homens? É que não conseguem lidar
quando encontram uma mulher que nem vocês. — Ele abriu a boca para continuar,
mas eu o impedi. — Se gabam de usar as mulheres e fazer o que bem entender com
elas, mas quando encontram uma exatamente com o mesmo intuito de vocês,
colocam esse papo de que não querem se envolver com medo delas se
apaixonarem. — Aproximei bem meus lábios dos deles. — Vocês não aguentam
não ter o controle da situação.
— Acho melhor você tomar cuidado com jeito que fala comigo — ele
rosnou.
— Ou o que? — rosnei de volta. — Vai me prender? Porque se for isso, só
aceito se for na cama e transar comigo até suas pernas ficarem bambas.
Vi seu olhar vacilar e sua respiração se descontrolar. Eu já tinha lidado com
homens mais grosseiros do que ele e no final todos caiam aos meus pés, cediam na
minha primeira tentativa se seduzi-los. Mas Conrad, não. Conrad, por mais que me
desejasse, não estava dando indícios de que iria sucumbir. E isso me excitava, pois
adorava o jogo da sedução.
— Que você tenha uma péssima noite — desejou e se virou, indo para as
escadas e começando a subir.
— Igualmente! — gritei, quando ele já estava no fim da escada.
6

Nina

Acordei no dia seguinte com uma gritaria ao longe. Com um olho fechado
e outro aberto, conferi as horas no meu celular.
Dez e quinze da manhã.
Sentei-me na cama e me espreguicei, só então dando uma boa olhada no
quarto que havia escolhido.
Tinha optado por ficar com o quarto dos fundos, o que tinha uma vista para
a piscina e um sobrado. Acreditava que ali era onde os guardas faziam as refeições.
Me levantei e fui até a varanda, sendo abraçada pelo terrível ar quente de Las
Vegas. O verão havia começado e pelo que pesquisei, as temperaturas ali poderiam
chegar aos quarenta graus.
Apertei os olhos por causa da claridade e a gritaria que ouvi eram dos
guardas que ainda não tinham começado o turno. Eles estavam jogando sinuca e
podia ouvir as bolas se chocando com umas com as outras. Martin havia me
ensinado a jogar sinuca. Acho que eu teria uma pequena diversão agora pela
manhã.
Concentrei minha atenção para o quarto que eu havia escolhido. Ele se
comparava facilmente ao que de minha casa. A cama king size era tão confortável
que poderia ficar deitada o dia inteiro sem me cansar. Havia uma enorme
penteadeira, onde eu já havia organizado todas as minhas maquiagens e
cosméticos. Minhas roupas já estavam devidamente no closet, que era apenas uma
extensão do quarto. Tirei o pijama e fui andando nua para o banheiro.
A ducha ficava acima da banheira. Mas o calor era tanto, que não me
imaginava usando aquela banheira para relaxar, já que tinha a enorme piscina à
minha disposição.
Depois do banho, vesti uma blusa de alcinha e um short jeans, ficando de
chinelo nos pés. Conrad não havia me deixado nenhum recado, então supus que
não teria nenhum compromisso com ele hoje. Eu gostava de me vestir no luxo dos
pés à cabeça, mas também prezava pelos momentos de simplicidade. Ficar com
roupas mais simples quando estava em casa, sem ter nenhum compromisso, era a
minha forma de voltar a ser apenas a Nina, sem ter o peso de ser a Nina, a
acompanhante. Não que eu achasse ruim, mas tudo na vida era equilíbrio.
Meu pensamento voltou para a noite passada. Ainda não havia engolido
aquele papo de que não queria ter nada comigo com medo de sentimentos virem à
tona. Se ele não tinha controle de suas emoções, eu tinha das minhas. Iria mostrar
isso a ele. Iria mostrar que poderíamos nos divertir muito juntos. E pela breve
demonstração que ele havia me dado no sofá, eu sabia que seria uma diversão
prazeroso. Não pude controlar o desejo que, automaticamente, despertou em mim
apenas por me lembrar do que havia acontecido. Saí do quarto e desci as escadas.
Havia conhecido pouco da casa no dia anterior, então sabia apenas o caminho para
a sala de jantar.
O cheiro de bolo de laranja inebriou os meus sentidos assim que entrei na
sala de jantar, onde uma farta mesa estava posta. Me sentei em uma das cadeiras e
peguei um prato para começar a me servir, quando uma mulher na casa dos
cinquenta anos, baixinha e de cabelos pretos, adentrou no local.
— Oh, bom dia querida — sua voz era gentil. — Você deve ser amiga do
senhor Nower.
— Oi, bom dia. Pode me chamar de Nina. — Sorri enquanto colocava uma
fatia de bolo no prato. — A senhora deve ser Mariah.
— Senhora está no céu, querida. — Ela revirou os olhos. — Vamos deixar
as formalidades de lado.
Eu ri. Gostei de Mariah de imediato.
— Eu não sabia do que você gostava para o café da manhã, então preparei
de tudo um pouco — Ela falou enquanto colocava uma jarra de suco na minha
frente — Por favor, me diga que come mais que uma simples xícara de café e um
pãozinho.
Não precisei pensar muito para saber que ela se referia a Conrad. Como um
homem daquele porte vivia só disso? Era um milagre que estivesse totalmente em
forma.
— A vida é muito curta para viver só de pãozinho — falei sorrindo.
Eu cuidava do meu corpo, fazia meus exercícios e evitava comer besteiras.
Mas nunca fiz essas dietas de gente que passavam fome. Eu ainda torcia para as
pessoas entenderem que dieta não é ficar sem comer, é comer de tudo um pouco,
mas em quantidade reduzida. Se te faz passar fome, então não é dieta.
— Se você me disser o que gostaria para o almoço, eu já posso providenciar.
Mariah era daquelas senhoras que se não te visse comendo, era capaz de ter
um infarte.
— O que Conrad pedir, eu vou querer também — garanti dando uma
mordida no bolo de laranja, que estava uma delícia.
— Aquele homem só toma café em casa — ela resmungou. — Prefere ficar
comendo em restaurantes do que ter uma comida caseira, nunca vou entender.
Isso indicava que eu não veria Conrad pelo restante do dia. Isso não me
impressionou. Ele devia ter muitas coisas a serem resolvidas que não poderiam ser
feitas de casa.
Fiquei trocando amenidades com Mariah por mais um tempo e disse a ela
para fazer o que quisesse para o almoço, já que seria apenas nós duas e eu comia
de tudo. Era bom saber que tinha outra mulher naquela casa.
Depois que me deliciei com o café, que estava muito gostoso por sinal, fui
para a área da piscina. Passei por vários cômodos que estavam fechados e sabia
que não teria nada que pudesse me interessar por ali, então ignorei.
A gritaria que eu ouvira mais cedo ainda estava lá e me perguntei que horas
aqueles guardas começavam o turno. Animada por ter visto uma mesa de sinuca,
abri o pequeno portão que dividia a área da piscina do pequeno sobrado e subi os
três degraus. Na lateral da casa tinha uma área coberta que tinha churrasqueira e
duas geladeiras de área externa e pude ver várias cervejas ali, provavelmente para
a folga de alguns deles.
Tinha em torno de oito homens. Quatro em pé jogando e os outros quatro
sentados. Todos estavam vestidos com o uniforme, mas não estavam com o paletó.
As camisas estavam dobradas até os cotovelos e as gravatas estavam frouxas.
— Tem lugar para mais uma?
Falei chegando perto. Os que estavam jogando pararam imediatamente e os
que estavam sentados se levantaram em um pulo.
— Ah, por favor, não precisam disso. — Fiz um gesto com a mão. — Ouvi
o som das bolas se chocando e pensei de jogar uma rodada com vocês. Se não tiver
problema, é claro.
Alguns seguranças trocaram olhares, no mínimo se questionando se eu sabia
o que estava fazendo. Se eles achavam que aquelas caras fechadas iam me
intimidar, estavam enganados.
Vi dois seguranças fazendo menção de sair e aquilo foi demais.
— Se alguém sair daqui, vou reclamar com o patrão de vocês — falei séria.
— Não é porque estou de visita que precisam me tratar com formalidades. — Fui
até um aparador que tinha os tacos e peguei um. — Vão ver que não sou como as
dondocas que vocês pegam nos hotéis e trazem para cá para o chefe de vocês
trepar.
Vi que alguns seguranças seguraram o riso, enquanto outros riram
abertamente. Fiquei feliz de ter conseguido quebrar o gelo.
— Muito bem então — um segurança de traços europeus e olhos azuis falou.
— Vamos ver o que sabe.
Tirei uma nota de cem dólares do bolso e coloquei no centro da mesa
— Cem dólares que venço o melhor de vocês.
Um coro de “Uh” se espalhou pela área em que estávamos. Dei um sorriso,
aquilo estava me animando,
— Vai perder e vai perder feio — o mesmo homem falou comigo.
Arqueei minhas sobrancelhas.
— Eu fico com as bolas pares — falei decidida.
Ele deu de ombros.
— Isso vai ser interessante — ele falou enquanto arrumava as bolas dentro
do triangulo.
Sorri. Aqueles valentões mal podiam esperar.
7

Conrad

Quando saí do meu gabinete, minha cabeça estava prestes a explodir. Havia
tido quatro reuniões para sintetizar as pesquisas sobre como eu estava nessa
eleição.
Como sempre, as pesquisas estavam a meu favor, mesmo que a disputa com Bruce
estivesse acirrada.
Quando se faz um bom trabalho na política, você não precisa se preocupar
com o resultado, apenas confia no seu estado e ponto. Claro que tivemos problemas
com algumas fake news espalhadas pela oposição, com o intuito de me
desestabilizar. Mas isso não foi um problema, já que quase que imediatamente
conseguimos desmentir e tirar a matéria de circulação. Desde então, o jogo estava
seguindo limpo.
De alguma forma, eu e Bruce havíamos travado um pacto silencioso de não vencer
por meio de inverdades criadas para derrubar o outro. A grande maioria das mentiras
vinham de eleitores ferrenhos, aqueles que faziam de tudo para seu candidato ganhar e
esse tipo de coisa saía do controle.
Esse fair play, contudo, não mudava o fato de que ele ainda era meu oponente. Eu
abrangia ideias com a finalidade de atingir todos os eleitores, ao passo que Bruce Andrews
partia para o lado tradicional, uma vez que sua família fazia parte da nata de Nevada e,
consequentemente, esses eleitores ainda gostavam de seguir velhos costumes.
As obrigações do cargo também me mantiveram com os pensamentos
distantes de Nina. O jeito que ela havia me enfrentado no dia anterior, falando que
homens não aguentavam quando encontravam mulheres iguais a eles, havia me
impressionado. Geralmente garotas de agências eram treinadas para nunca
contrariar, apenas concordar com tudo que lhe fosse dito. Mas Nina, não.
Não havia aceitado minha recusa ao seu corpo muito bem. E preciso dizer
que precisei de um controle dos infernos para não enterrar meu pau nela e fincar
bandeira ali. Minha mão precisou trabalhar ontem à noite para diminuir o tesão
que havia se formado. Mas eu não ia transar com uma mulher que iria ficar poucos
dias em minha casa. Por mais que seria apenas sexo, para elas nunca seriam só
sexo, por mais que insistissem em dizer o contrário.
Mesmo sabendo que Nina era treinada para esse tipo de coisa, nada me
garantia que ela não desejava sair dessa vida e que talvez só estivesse esperando
uma oportunidade perfeita para tal feito. Já havia saído com mulheres que se
diziam sem sentimentos e o final era sempre o mesmo. Eu já tinha problemas
demais em minha vida para lidar com mais um problema desnecessário.
Assim que entrei no carro, meu celular pessoal tocou. E era o toque da
minha mãe. Atendi no segundo toque. Eu poderia ser homem feito, mas ainda tinha
medo da fúria da minha mãe quando não atendia suas ligações de imediato, ainda
mais quando ela sabia que eu não estava nas obrigações do cargo.
— Oi, mãe — tentei soar o mais gentil que consegui.
— Conrad Nower, se esqueceu que tem mãe?
O drama da dona Ylma nunca mudava.
— Eu estou bem mãe, obrigado por perguntar.
— Não banque o engraçado comigo, eu troquei suas fraldas por anos.
Eu ri, mesmo sabendo que estava desafiando a morte naquele momento.
— Eu ia te ligar mãe, eu juro.
— Mentiroso! Mas me conta, vem almoçar esse final de semana, não vem?
Praguejei baixinho. Tinha me esquecido totalmente que esse final de
semana minha mãe colocara na cabeça de juntar todos os filhos e fazer um
churrasco. Eu tinha dois irmãos e uma irmã, mas mesmo sendo o mais velho deles,
eles tiravam com a minha cara, pois eu era o único que não havia caído nas graças
de um casamento.
Sorri em pensar que veria minhas sobrinhas. De tanto Michael e Jason
brincarem com as mulheres alheias, o karma veio, ambos tiveram duas filhas cada
um, e apesar de serem crianças ainda, as meninas já davam indícios de que
deixariam meus irmãos de cabelos em pé.
Eu abri a boca para responder, quando me lembrei que teria que levar Nina.
Por mais filho da puta que eu pudesse ser, não iria deixar a mulher por dois dias
inteiros sozinha naquela casa.
— Vou levar uma amiga comigo, mas antes de...
— VOCÊ TEM UMA NAMORADA? QUERIDO, CONRAD ESTÁ
NAMORANDO! — minha mãe berrou ao telefone antes que eu pudesse terminar a
frase.
Me fodi.
— Mãe, é só uma amiga.
— Amiga que beija na boca não é amiga, Der.
Revirei os olhos. Seria impossível conversar com minha mãe com toda
aquela agitação dela.
— Prepare dois quartos para mim, mãe. Chegarei aí na sexta à noite.
— Dois? Para com isso, garoto...
— Adeus, mãe!
Desliguei o telefone. Oficialmente eu era um homem morto por ter
desligado na cara dela, mas era isso ou daqui a pouco ela estava falando sobre
casamentos e o aniversário dos futuros filhos que iriamos ter.
Minha mãe não era ingênua. Ela sabia que homens tinham uma certa
necessidade de carinho feminino, mas isso não diminua sua vontade de me ver de
quatro por um par de pernas e sossegar. Se dependesse de mim, isso ainda levaria
um bom tempo. E eu já tinha uma boa estimativa de quando isso iria acontecer.
Nunca.
Ethan, que estava dirigindo, fez uma curva rápida e brusca, que me fez ir
parar do outro lado do carro. Só então percebi que ele estava dirigindo de um jeito
totalmente diferente do que o habitual.
— Estamos sendo seguidos? — perguntei, já em alerta.
— Não, senhor — Ethan respondeu.
— Então por que está dirigindo desse jeito? Virou bombeiro e vai apagar
um incêndio? — resmunguei.
O segurança que estava ao seu lado resmungou algo que não consegui
entender. Ethan ouviu e lançou um olhar mortal para o pobre homem.
— Há algo que eu deveria saber? — perguntei com a minha falsa voz calma,
que ambos sabiam que antecediam uma fúria.
Os dois seguranças que estavam no carro comigo estavam agindo estranho
demais para o meu gosto.
— Sua convidada, senhor Nower — o segurança que estava no banco do
carona respondeu.
— Nina? — perguntei confuso. — O que tem ela?
Ethan se dignou a soltar apenas um resmungo.
— Se nenhum dos dois me falarem o que está acontecendo, não precisam
se apresentar para o serviço amanhã.
Eu não falava sério, mas eu detestava pessoas que ficam enrolando para
contar qualquer coisa.
— Nina limpou a carteira de todo mundo, senhor Nower — Ethan
respondeu.
Fechei a cara. Aquela intimidade de Ethan, em chamá-la por um apelido,
não me agradou nem um pouco. Nina era minha convidada e era obrigação deles
manter o devido respeito.
— Ela roubou vocês? — perguntei ainda tentando entender.
— Está lá, desde de manhã vencendo todos nós na sinuca — Ethan
resmungou. Eu ia abrir a boca para falar algo, mas Ethan emendou. — Na troca de
turnos, senhor.
Cerrei o maxilar. Nina havia passado o dia todo na casa dos seguranças?
Jogando sinuca? Quando disponibilizei o cartão de crédito, estava contando que
todo dia iria chegar aviso de compras altíssimas no shopping, não que passaria o
dia jogando com meus homens.
Talvez, só talvez, eu a tivesse subestimado.
Não falei nada o resto do percurso, mas percebi que os homens estavam
putos por terem perdido uma grana preta para Nina.
Assim que passamos pelos portões, um motoboy passou por nós, com uma
bag de entrega nas costas. Que porra estava acontecendo? Estava virando bagunça?
Raramente havia entrado entregador naquela casa e quando isso acontecia era
passado por um sistema rígido de identificação, mesmo não colocando um pé
dentro da propriedade.
— Até que enfim, brother — um segurança falou quando Ethan parou o
carro e desceu, abrindo a porta para mim. — Estava morrendo de fome e você não
chegava logo.
— O que está acontecendo?
Perguntei quando percebi que vários seguranças sumiram para os fundos
quando os que estavam comigo chegaram.
Ethan pigarreou e o segurança que havia reclamado da fome sumiu de vista.
— A Nina… — Olhei feio para ele quando a tratou com intimidade. Ele
pigarreou. — A senhorita Hollis pegou o dinheiro que ganhou na sinuca e pediu
pizza para os homens.
Minha boca com certeza foi ao chão nesse momento. Primeiro que não
esperava. Segundo que percebi que nunca tinha feito nada parecido pelos meus
homens. E Nina estava aqui há um dia e já havia feito o que não fiz a anos. Não as
pizzas em si, mas o gesto de mostrar que não era melhor que ninguém, que podia
se misturar sem problemas.
Fiz um aceno dispensando Ethan e entrei em casa. Mariah estava regando
um arranjo de flores, que eu tinha certeza de que não estava ali quando eu saí de
manhã.
— Boa noite, senhor Nower. — Mariah me deu um sorriso. — Montei um
prato para o senhor.
Não pude evitar de sorrir. Mesmo sabendo que eu quase nunca comia em
casa, Mariah sempre deixava meu prato pronto. Um gesto, que mais uma vez
percebi, que tinha passado despercebido.
— Se me permite um comentário senhor — Mariah falou e eu assenti: —
Sua... convidada é uma mulher incrível.
— O que ela fez o dia inteiro? Soube que ela não saiu.
Não me passou despercebido ela ter usado o termo convidada. Mariah sabia
exatamente o que e quem, Nina era, mas era discreta demais para comentar
qualquer coisa. Cruzei os braços e me encostei na parede da lareira. Mesmo
sabendo o que ela havia feito, queria ouvir de outra pessoa.
Mariah deu de ombros e sorriu.
— Eu mal a vi. Tomou café da manhã e depois ficou jogando sinuca com
os guardas que não estavam no turno. Fiz várias travessas de lasanhas e acabei
almoçando por lá com eles. Não a vejo desde então, mas continua lá.
Me endireitei e comecei a andar em direção a porta de vidro que dava para
os fundos. Queria ver que bagunça havia se alastrado enquanto estava fora.
8

Nina

Dei uma mordida na pizza de pepperoni enquanto ouvia Phil contar mais
uma de suas histórias.
Eu não poderia ter tido dia mais agradável. Todos os homens que
trabalhavam ali me trataram de igual para igual, depois de verem que eu não era
uma dondoca, pelo menos não quando estavam com eles. Não demorou muito para
estarmos fazendo piadas sujas uns com os outros. Eu havia tirado uma nota preta
pela tarde, vencendo cada um deles na sinuca. Ver a cara de chocados deles por eu
ter vencido cada um, tinha sido impagável.
Achei nada mais justo que usar esse dinheiro e pedir pizza para todo mundo.
O motoboy havia acabado de sair dali e três pizzas inteiras já tinham sido
devoradas.
— Tenho certeza de que Nina não quer ouvir um de seus encontros
desastrosos, Phil. — Um segurança jogou uma azeitona nele.
— Tenho certeza de que tenho várias histórias que superam esse encontro,
Phil — falei, rindo.
— Ah, agora conta — outro segurança falou, empolgado.
Era impressionante em como eu havia me entrosado com eles rápido. E eles
terem aberto o espaço para mim, só me deixou mais feliz. Isso me fez questionar
se Conrad não deveria dar aquela liberdade para eles e duvidava até que soubesse
que hoje era aniversário de quatro seguranças de sua equipe.
— Eu também gostaria de ouvir.
Uma voz alta e firme ecoou atrás da gente. Me virei e vi Conrad vindo em
nossa direção. Todo mundo parou de rir e se levantou. Contraí os lábios, de repente
me questionando o que ele faria com os pobres homens por estarem conversando
com uma acompanhante dele.
Seu semblante era sério e fechado. Ele podia intimidar seus homens, mas
não a mim.
Terminei minha fatia de pizza e dei um gole na cerveja que tomava. O olhar
de surpresa que Conrad tentou esconder, não passou despercebido por mim.
— Uma vez eu fiquei com um homem que me mandou embora nas
preliminares — falei com o olhar desafiador na direção de Conrad.
Uns seguranças tossiram, enquanto outros riram tanto que a cabeça virou
para trás. Para minha surpresa, a expressão de Conrad não se alterou em nada. Pelo
ao contrário, se manteve totalmente impassível.
— Certeza de que da fruta que você gosta, ele gostava até do caroço —
outro segurança gracejou.
— Não duvido. — Dei de ombros. — Depois ele se virou para mim e falou
que não queria que eu me apaixonasse, dá para acreditar? Phil, o que você faria se
uma mulher só quisesse sexo com você e nada mais?
— Aproveitaria cada centímetro dela. Onde arrumo uma dessas, inclusive?
Todos riram, menos Conrad. Os seguranças perceberam que somente o
chefe não estava se divertindo ali e rapidamente pegaram as caixas de pizzas e se
mandaram para dentro da casa, deixando apenas eu e Conrad na área externa. Dei
um gole na minha cerveja e ignorei sua presença. Estava me perguntando se ele
havia se tocado que eu tinha acabado de falar justamente dele.
— Posso saber por que está na casa dos meus homens? — perguntou,
parando ao meu lado e olhando para o enorme casarão a frente.
— Posso saber por que você tinha que chegar e cortar todo o clima
descontraído? — revidei.
Ele me pegou pelo braço, me forçando a descer da mesa de sinuca. Seu
aperto era firme, mas não machucava. Nossos lábios estavam a centímetros um do
outro e eu sentia quando sua respiração batia na ponta do meu nariz. Meu corpo
ficou em alerta.
— Escute aqui, essa é minha casa e pelo tempo que te comprei, você me
deve no mínimo respeito. Está me ouvindo? — Ele rosnou. — Então pare de agir
como uma mercadoria barata e ficar de indireta como se fosse uma adolescente do
ensino médio.
Automaticamente tive vontade de esbofetear seu rosto, mas me contive. Eu
estava completamente ciente da minha posição ali e se fosse fazer o que tinha
vontade, não pegaria bem para minha posição.
— Posso até ser uma mercadoria, como o excelentíssimo governador acaba
de dizer — fui o mais irônica que consegui —, mas barata? — Ri sem humor. —
É você quem está desembolsando centenas de dólares para eu estar aqui. E é essa
mercadoria que está te livrando do vexame de aparecer sozinho dos eventos. —
Fixei meu olhar no seu. — Como é a sensação, senhor governador, ter que contratar
alguém para estar do lado sabendo que ninguém faria isso por vontade própria?
Seus olhos se estreitaram e vi a raiva que sondava ali. Minha expressão
deveria estar igual, mas isso não o impediu de apertar meu braço ainda mais.
— Quem você pensa que é para falar assim comigo? — Sua voz não passou
de um rosnado.
— Alguém que com certeza tem mais coração do que você. Posso ter
aquecido a cama de muitos homens, senhor governador, mas isso não me torna
menos humana que qualquer outra pessoa — fui firme. — Olhe em volta, bastou
você chegar para todo o clima de descontração ir pelos ares. Acha isso bom? Eu
prefiro ser a mercadoria barata que dá a seus homens minutos de risadas, do que
ser o governador que ao menos cumprimenta seus funcionários.
— Não me provoca, garota! — Ele rosnou.
— Ou o que? — Rosnei de volta. — Vai me devolver para a agência? —
falei com deboche. — Pois saiba que não precisa se dar o trabalho, governador
Nower. Posso sair com minhas próprias pernas.
Dei um tranco para soltar meu braço. Conrad bufava igual um touro raivoso
e podia ver que seus punhos estavam fechados. Meu coração estava acelerado pela
raiva e minha vontade era de socar aquele rosto perfeito até ser necessário um
cirurgião plástico para reconstruí-lo.
Dando as costas a Conrad, saí calmamente da casa dos seguranças. Iria
embora dali. Nenhum desejo seria maior que meu orgulho e Conrad havia ferido o
meu. Não era porque ele havia pagado por mim que poderia se achar meu dono.
Sequer havia sexo naquele contrato, logo qualquer posição que ele poderia colocar
não se enquadraria. Se eu era uma sombra daquele homem, não seria tocada da
forma como ele se achava no direto de fazer. Eu poderia reportar seu
comportamento para a Chérie. Seu dinheiro seria devolvido e Amaro cuidaria para
que ele jamais contratasse nenhuma outra garota da cidade. Mas por algum motivo,
fazer reclamação de Conrad mais me trazia desconforto do que alívio.
Quando entrei na casa e olhei de relance para trás, vi Conrad se
aproximando calmamente. Suas mãos estavam no bolso da calça e ele andava
como se estivesse acompanhado de seguranças atrás, todo pomposo e com aquele
ar de gente importante.
Continuei minha caminhada e subi as escadas com toda a tranquilidade que
consegui. Ele não iria me intimidar, se era esse o seu jogo.
Quando entrei no quarto que havia escolhido, olhei para trás e não vi nem
sombra de Conrad. Suspirei e fui pegar minha mala que estava no closet. Já era
tarde da noite e eu sabia que os voos para Nova York não eram frequentes, teria
que passar a noite em um hotel antes de pegar um voo pela manhã, ou fretar um
jato.
Eu não tinha motivos tão fortes para ir embora. Não era fraca que bastaria
uma ignorância para sair correndo. Mas, de alguma forma, aquela situação com
Conrad me exauriu. Ser sombra de um homem, depois ser recusada e tratada como
se ele tivesse me achado na rua, foi demais para minha cabeça. Eu estava
acostumada com os homens caindo aos meus pés e a ser colocada em um pedestal,
mesmo que por apenas algumas horas. Conrad me tratando diferente disso estava
ferindo o meu ego, tinha que admitir.
Quando estava voltando para o quarto arrastando minha mala ainda vazia,
vi uma figura masculina escorada no batente da porta. Conrad estava sem o paletó
e sem a gravata e sua camisa estava dobrada nos cotovelos. Por mais que sua
expressão fosse séria, eu podia ver vislumbres de um sorriso ali.
— Posso saber aonde vai? — ele rosnou.
— Além de grosso você também é surdo? — retruquei enquanto colocava
a mala em cima da cama.
Conrad deu risada sem humor e entrou de vez no quarto. Ele fechou a porta
atrás de si, girando a chave logo em seguida.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei quando ele colocou a chave
no bolso e se aproximou.
— Vou te mostrar que você não vai a lugar algum.
9

Nina

Conrad fechou a mala que estava aberta e pegou um de meus braços, me


colando contra seu corpo. Sem salto alto, ele era vários centímetros mais alto que
eu e precisei inclinar minha cabeça para conseguir olhá-lo nos olhos. Sua
respiração estava rápida e pesada e seus olhos passeavam por todo o meu rosto.
Por mais que eu quisesse focar em seu rosto, era aqueles lábios perfeitos que
estavam me chamando a real atenção.
— Não gosto de ser contrariado, Nina. — Sua voz era baixa e rouca.
— Então não dê motivos para isso, Conrad.
Ele me soltou e deu um passo para trás, passando as mãos nos cabelos. Dava
para ver que estava perturbado. Isso não era problema meu. Decidida a ignorar sua
presença, fui até o closet e peguei vários cabides de uma vez, os jogando na cama.
Eu ainda iria embora.
— Falei sério quando disse que você não ia a lugar algum. — Sua voz voltou
a ficar firme.
— Se a preocupação é o dinheiro, eu mesma posso fazer o reembolso.
Falei com raiva, indo em direção a minha bolsa e pegando o talão de
cheque. Assinei e destaquei a folha, apontando na direção dele.
— Ande, pegue — desafiei.
Ele pegou, mas ao invés de guardar, rasgou a pequena folha em mil pedaços.
Suas mãos apertaram levemente meus braços novamente e ele me prensou na
parede atrás da cama. Poderia ser considerado doentio, mas meu corpo acendeu
totalmente, sedento por aquele homem.
— Você provoca demais, mulher — ele falou próximo aos meus lábios —
Mas você não vai sair daqui, entendeu? Eu preciso de você — Ele encarou meus
lábios e seus olhos se voltaram para os meus — para ir comigo aos eventos.
Seus olhos continuaram focados nos meus e eu não me atrevi desviar. A
tensão entre a gente era palpável e eu fiquei me perguntando o que passaria em sua
cabeça naquele momento. A minha só passava coisas obscenas que eu gostaria de
fazer com aquele homem, por segundos esquecendo sua atitude grosseira.
Conrad deu mais um passo, prensando ainda mais meu corpo na parede e
eu pude sentir que ele havia ficado excitado. Ele me desejava e uma hora iria
sucumbir. Seu rosto chegou mais perto do meu, seus lábios bem definidos a
centímetros de minha boca. Era perturbador como íamos de um extremo ao outro.
Eu havia achado que teríamos uma relação harmoniosa, mas fazia um dia que eu
estava naquela casa e Conrad havia esfregado na minha cara que eu seria apenas
uma roupa esperando para ser usada. Eu não me importava, havia aceitado a
realidade do meu trabalho há muito tempo, mas se ele não seria amigável, poderia
ao menos se dar o trabalho de não ser tão carrasco.
Minhas emoções estavam um turbilhão. Conrad era o tipo de homem que
impunha sua posição e suas ideias, não deixava nada passar batido. Era dominante
e autoimposto e tudo isso juntava ao fato de meu corpo estar completamente
rendido por ele. Eu o queria mais que um par de saltos novos da Chanel e eu amava
sapatos novos.
— Você não vai a lugar algum — sussurrou.
Dito isso ele me soltou e saiu a passos largos em direção a porta. Tirou a
chave do bolso, destrancou e saiu, fechando a porta atrás de si.
Que porra tinha acabado de acontecer?
10

Conrad

Foi difícil dormir aquela noite.


Eu não sabia exatamente o porquê, mas sabia que a presença de Nina tirava
meu bom senso e meu auto controle. Quando havia determinado que não dormiria
com ela, não era por falta de desejo. Nina tinha um corpo de parar o trânsito e isso
em conjunto com sua boca astuta e sua autoconfiança, era o combo perfeito para
deixar de joelhos até o mais frio dos homens. E claro, não poderia me esquecer de
que tinha visto ela bebendo cerveja. Achava que dondocas como ela bebiam apenas
Negroni e Asperol e não uma cerveja direto da garrafa e aquilo havia me trazido
uma surpresa positiva em relação a ela.
Eu poderia ter errado quanto à forma que havia me referido a ela, a
chamando de mercadoria. Mas no mundo em que eu vivia, tudo se resumia a
negócios e transações. E era isso que meu contrato com sua agência representava
para mim. Até aquele momento, eu a via apenas como algo que estava em minha
posse. Mas ela havia mostrado que, com certeza, não seria apenas a sombra que eu
desejava que ela fosse.
Esperava que ela não fosse embora. Se eu iria pedir desculpas? Talvez em
outro ano. Por agora, minha preocupação maior é que ela cumprisse a sentença e
voltasse para Nova York. Eu ainda tinha três eventos antes das eleições e precisaria
estar acompanhado. Coquetel na casa do senador havia sido apenas algo casual.
Os oficiais ainda estavam por vir e toda a imprensa estaria lá.
Aparecer acompanhando não era um pré-requisito, mas eu via que um
homem acompanhando acabava sendo mais comentado que um homem sozinho e
na política, todo tipo de comentário era válido. Mesmo aqueles negativos, ainda
conseguiam fazer o objetivo reverso e acabavam te impulsionando.
Bufei e coloquei o travesseiro em cima da cabeça. Eu sabia que minhas
atitudes se deviam ao fato de ter visto minha acompanhante socializando com
outros homens. Os meus homens. Meu instinto de territorial masculino estava se
sentindo ameaçado, era apenas isso.

+++
Joe, meu assessor falava em como eu só estava subindo cada vez mais nas
pesquisas. Apesar de estar liderando contra o candidato do outro partido, ele ainda
poderia me alcançar nos próximos dias. Não era algo preocupante, mas eu estava
acostumado a pensar no pior, pois somente assim eu poderia evitar que ele de fato
acontecesse.
— Confirmei sua presença no leilão beneficente de Las Vegas — Joe falava
enquanto mexia em algo no seu tablet. — Coloquei o nome da senhorita Hollis
também. Aliás, acha que ela foi uma boa escolha?
Essa pergunta me fez levantar os olhos dos papéis que estava lendo e
encarar o homem magricela na minha frente. Seus óculos eram redondos e deixava
em destaque seu cabelo ruivo como fogo.
— Ela serve — respondi vagamente e voltei a ler os papéis.
— Serve? — Ele riu sem humor. — Se você não tiver sido afetado pela
beleza dela Conrad, irei questionar sua sexualidade.
Soltei os papeis e encarei o engraçadinho na minha frente.
— É só isso, Joe? — falei com meu tom de voz que eu sabia que o
amedrontava. Ele ia abrir a boca para responder mas eu o emendei. — Ótimo,
então. Prepare o jatinho para daqui dois dias, irei até a Califórnia para a casa dos
meus pais, e também avise para estar pronto no período da manhã.
Joe escreveu alguma coisa em seu tablet, assentiu com a cabeça e saiu sem
dizer mais nada. Às vezes ele confundia que era apenas meu assessor e não meu
parceiro de whisky para ficar bancando o íntimo.
Tentei voltar a ler os papeis que exigiam minha atenção, mas minha mente
se voltava para Nina. Eu não a via fazia dois dias. Quando saía de casa ela ainda
estava dormindo e quando eu chegava, ela já havia se recolhido. Ela não havia
voltado para Nova York. Não sabia se havia sido por causa do que seja lá havia
acontecido entre a gente, ou se havia colocado a cabeça no lugar e visto que esse
era seu trabalho e ela tinha um compromisso a cumprir.
Apesar de não tê-la mais visto, Ethan me dava updates diários de tudo o que
ela fazia durante o dia. E, claro, não dava outra; se não estava na área da piscina,
lendo um livro, estava arrancando dinheiro dos meus homens na sinuca. Esse
último fato me tirou uma risada sincera. Era vergonhoso um bando de homens
barbados perder para uma dondoca. Fiz uma nota mental de, se um dia, antes dela
retornar a Nova York, as coisas estivessem menos intensas entre nós, eu iria
desafiá-la para uma partida.
Quando eu estava determinado a voltar para os documentos que eu tinha
que ler, meu celular se acendeu na mesa indicando uma mensagem. Era de Ethan.
A senhorita Hollis está de saída para se encontrar com Beatrice Stacey
agora na parte da tarde. Elas irão almoçar juntas!

A preocupação automaticamente tomou conta de mim. A noiva do Will era


cega por ele. Era aquela dependência emocional que nada mais importava do que
agradar a pessoa. O fato de Nina estar se aproximando daquela moça, me deixou
com o pé atrás. Nada me garantia que aquilo era apenas um meio para tecer algo
que, indiretamente, recairia sobre mim.

Garanta que ocorra tudo bem!


Não confio em ninguém que tenha algum contato com Will, fique de
olho.

Sim, senhor.

Suspirei após sua resposta e deixei o celular de lado. Hoje, mais do que
nunca, eu precisava encontrá-la acordada quando voltasse para casa.

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