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Cinza
Um romace de
Oli lago
Copyright © 2019 Oli Lago
1ª EDIÇÃO
É expressamente proibido o armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte desta obra, através de
quaisquer meios tangíveis ou intangíveis sem o consentimento por escrito do autor.
Prólogo
ANTES
— Nem comece! Já falamos disso. — Seu suspiro do outro lado me fez ficar
calado. Não gostava de pressionar Patrícia, ela estava se irritando com muito
mais facilidade agora na gravidez que nos pegara de surpresa, ela não tinha
encarado tudo tão tranquila quanto eu sempre pensei que faria se acontecesse.
Enquanto eu estava radiante, tudo que ela conseguia fazer era calcular
quanto tempo teria que ficar afastada do seu trabalho de jornalista
investigativa. Patrícia era absolutamente apaixonada por farejar qualquer
bomba que alguém importante se metia, e isso verdadeiramente nunca me
incomodou, até agora.
— Está. Estou uma pilha de nervos, só achamos o tal que viemos atrás há
poucas horas atrás e são três horas de carro até a capital... estamos a tentar
entrar em contato com um fazendeiro da região para que ele frete o
monomotor dele até Brasília, assim conseguimos chegar a tempo do horário
para voltarmos para São Paulo. — A voz dela soou estranha. — Não sei se
vou chegar a tempo do jantar.
— Tudo bem, vou tentar te esperar acordado, aqui está uma loucura também.
Conto mesmo que ela não tenha perguntado.
— Tem certeza?
Tudo que consegui naquele dia foi o nosso jantar do qual ela passou
discutindo sobre como a matéria seria importante, me deixou no zero a zero e
se recusou a me beijar quando a deixei na porta de casa.
Assim foi naquela noite e nas seguintes, e o resultado daquilo foi que
eu fiquei obcecado para conseguir ir para cama com ela, meus melhores
amigos até apostaram que ela iria me fisgar.
Acreditando na minha capacidade, casei quinhentos reais, com Jonas
e Doug. Eu tinha vinte e três anos e tudo que eu queria era transar com ela,
certo?
Errado.
Como já dito ela não tinha conseguido chegar para o jantar. Estava
deitado na cama pensando em como as coisas mudavam, e no fato de eu me
sentir um novo homem desde a notícia que teríamos um filho e a campainha
soou várias vezes seguidas.
— O que aconteceu? — Perguntei quando meu pai acenou com a cabeça para
que entrássemos. — Por que estão chorando? Olhei para minha sogra e
depois para minha mãe que limpou os olhos marejados antes de falar:
— Filho o avião em que Patrícia estava sofreu uma pane elétrica e acabou
caindo.
— Filho, ela não resistiu. Meu pai informou e foram as únicas palavras que
eu consegui entender corretamente antes de ver minha vida desmoronando
em câmera lenta fazendo que tudo que já estava no seu devido caísse por
terra.
1
Madalena Cereja
Eu nunca tinha pensado muito em como a solidão podia doer, digo,
doer dentro de si ao ponto de parecer ser físico.
Pensar que tudo poderia ser diferente se o lugar onde nasci fosse ao
menos registrado no mapa como uma cidade de verdade me fazia sentir
angustia e ódio. Mas o pequeno povoado de Alvora da das Almas era uma
pacata vila rural ainda comandada pelo coronelismo.
A história do lugar dizia que um pequeno grupo de famílias
construíram suas casas quando se descobriu que ali a terra era sadia e fértil
para qualquer que fosse o plantio. Nisso, o pequeno vilarejo se formou e
ganhou fama aos arredores, ousando dizer que muitas pessoas vinham até da
capital Campo Grande para cá aproveitando não somente a terra, o lugar
lindíssimo e encantador meio ao coração do Pantanal chamava também
curiosos turistas.
Então cerca de seis meses atrás ele tinha pego uma quantia não muito
alta, mas que sem dúvidas não poderíamos pagar com Joaquim, tínhamos nos
mudado para a cidade vizinha chamada Vila do Sol onde ele investiu
comprando uma pensão velha que ele insistia em chamar por pousada.
— Vicente! Corri para seu encontro o abraçando com medo. Ele subiu meu
rosto segurando-o entre as mãos e colou nossas bocas.
— Desculpe não vir antes, estava tentando acalmar as coisas, me perdoe por
não vir te ajudar com o corpo do seu pai.
— Ao que consegui ouvir e entender, Joaquim quer que você se torne mulher
dele.
— Eu sei disso, mas eu não sou como você Vicente. Não suportaria ter que
me deitar com ele, eu prefiro a morte.
— Não existe outra saída, meu bem. Se você fica, todo o meu plano cai por
terra, eu não suportaria vê-lo te obrigar a nada, e o mataria antes da hora.
— E eu vou para onde? Não tenho onde ir, não tenho dinheiro nenhum,
Vicente.
— Pense em algum lugar que queira ir, Madalena. Longe o bastante daqui,
Joaquim mandará te procurar nas cidades próximas, por isso nem desça do
ônibus nas paradas, ok? Alguém pode te ver e dar a informação.
— Ok.
— Vai ficar tudo bem. Eu sei que você é forte. Vamos, você precisa correr,
vou te levar até Vila do Sol para o primeiro ônibus que sai às seis para
Campo Grande, de lá você decide onde ir. É o tempo certo que Joaquim
demorará para vir até aqui e colocar homens para te procurar.
— Será que ele não via desconfiar de você?
— Não, ele acha que estou no prostíbulo em Vila do Sol, que só voltarei hoje
no início da manhã, armei isso para o caso de alguém ver minha caminhonete
voltando de lá.
— Parei longe, não podia deixar rastros na terra, por isso devemos nos
apressar, Joaquim precisa pensar que você está por perto, assim ganha tempo.
Apavorada, mas sem perder mais nenhum segundo, corri pelo pequeno
chalé agarrando a mochila velha e colocando meus três melhores pares de
roupas, algumas blusas de frio e a única foto da minha família. Peguei o
violão, calcei minhas botas e voltei para cozinha encontrando Vicente ainda
de pé inquieto.
Olhei uma última vez para a casa que eu tinha nascido, crescido e
vivido por todos os vinte e um anos de vida. Não tinha sequer tido tempo de o
fechar, ficara lá, com a porta de madeira escancarada, a lamparina acesa
sobre a mesa, a lenha ainda aquecendo o fogão com o bule e minha caneca de
café inacabada. Sem segurar todo o choque que atravessava meu corpo,
guardei essa lembrança comigo e corri entre as árvores com Vicente até
encontrarmos sua picape.
Vicente dirigiu o mais rápido que pôde pelo atalho de estrada de terra
que ele conhecia e que nos levaria até Vila do Sol. Por ser um dos capangas
de confiança de Joaquim, era autorizado a andar em uma 4x4 de última
geração, o que nos permitiu uma fuga rápida. Assim que chegamos a cidade
vizinha o céu estava clareando, e o ônibus que iria para Campo Grande já
estava na plataforma, saíam exatos dois ônibus para a capital, um a seis da
manhã e outro a seis da tarde, Vicente tinha calculado o tempo certo.
Olhei Vicente suspirando alto tentando mais uma vez não cair no choro
quando ele acariciou minha bochecha e deu um pequeno sorriso antes de
sussurrar:
— Vá menina.
Vicente era um homem lindo, alto, forte, com a pele negra e com um
sorriso encantador, mas esse quase nunca aparecia, sua feição fechada era
assustadora e ele quase sempre estava com ela.
Contou que tinha nascido ali, e ainda na infância tinha tido a casa
invadida, a mãe o colocara no armário de madeira da cozinha e ordenado que
não chorasse, segurasse a respiração para evitar barulho e só saísse dali
quando os homens maus fossem embora. Obediente ele tinha visto a mãe ser
estuprada por Joaquim e depois ser morta enquanto o pai era torturado
também até a morte.
Tinha vagado pela estrada, passou fome e pegou caronas para se afastar
cada vez mais de Alvorada, até que foi acolhido na cidade Miranda, onde
tinha passado toda a vida arquitetando a hora certa para voltar, e agora com
seus vinte e cinco anos tinha retornado, usando de uma falsa fama de
pistoleiro para ganhar a confiança e se tornar o braço direito de Joaquim.
Não precisei olhar para trás para observar a mulher que falava, lembrei-
me das incontáveis vezes que minha mãe repetia o desejo de um dia
conhecer. Sem mais dúvidas, sabendo que era longe e grande o bastante, indo
realizar o sonho que minha mãe já não poderia mais, andei para o guichê e
olhei o senhor simpático pelo vidro.
— E então, o que vai ser menina? Ele perguntou ajeitando os óculos de grau.
— Uma passagem para São Paulo. Falei firme e com fé. Assim como o tal
Nando, eu rezei em silêncio para também conhecer outro mundo.
2
Madalena Cereja
A viagem para São Paulo tinha sido mais tranquila, talvez por eu
finalmente poder relaxar um pouco do medo de ser encontrada que me
assombrara em toda viagem até Campo Grande. Tudo que agora eu temia era
estar em lugar desconhecido e com um dinheiro que alguma hora acabaria.
Teria que conseguir um emprego o mais rápido possível, e levando em conta
que meus estudos se baseavam apenas no fim do ensino médio, me faziam
temer arrumar algo com muita facilidade.
Mas não deixaria que isso me abalasse, teria que correr atrás e medo de
serviço eu nunca tive, iria procurar algo honesto que me sustentasse, após me
estabilizar poderia pensar em voltar a estudar talvez.
Olhei pela janela, a rodovia escura passava depressa, mais uma vez
meu coração vagou pensando em Vicente. Ele tinha conseguido dobrar o
maldito Rodrigues? Algum dia ele conseguiria a tão esperada vingança?
Fechei meus olhos desejando que o melhor destino para minha vida e
para a dele fosse traçado naquele momento. O sono me invadiu logo assim
que terminei minha prece, me permiti descansar como não vinha fazendo
desde o falecimento do meu pai. Só voltei a acordar novamente quando o
ônibus fez uma curva e parou. Acordei atônita descobrindo que tínhamos
encostado em um ponto de parada. Me espreguicei limpando os olhos e bebi
um pouco de água.
— Será que ainda vai demorar muito? Indaguei para a senhora que estava
viajando na fileira do meu lado, por sorte o ônibus não estava lotado, nos
dando a possibilidade de ocupar duas poltronas.
— Certo, pode vigiar está sacola então? Apontou para o seu banco.
— Não precisava.
— É mesmo? Minha filha mora lá, estou indo visitar ela e meus netos, ela
está meio tristinha, o casamento não vai muito bem.
— Que pena.
— Já tem emprego?
— Não precisa ser muito, só preciso de algo honesto que me sustente, não
tenho faculdade para algo muito bom. Confessei e ela me olhou admirada
quando tocou minha mão com a sua e apertou sorrindo cravando seus olhos
nos meus.
— Então tudo já está feito, pequeno anjo. — Sorriu de novo dando algumas
batidinhas em minha mão. — Tudo vai se encaixar.
— Deve ter alguma perto da casa de Aline... Aline é a minha filha. Ela vai
saber nos informar.
— Estou pronta para uma nova vida. Falei corajosa. Era impossível aquela
cidade conseguir ser pior do que eu enfrentaria se tivesse ficado em Alvorada
Das Almas.
— Você toca?
— Dê uma olhada nos classificados, pode ser que ache algum emprego que te
interesse, vou ligar para Aline vir nos buscar. Avisou enquanto sacava seu
telefone da bolsa e eu começava a vaguear os olhos pelas folhas cheias de
anúncios.
Precisa-se de Cuidadora
Salário a combinar.
— Não tenho como, não tenho um celular, onde tem um telefone público?
Dona Rosa franziu a testa um pouco surpresa. — Não sabe? Nunca teve um
aparelho celular?
— Não.
— Menina, algo me diz que a sua vida foi mais amarga do que você deixa
transparecer. Sussurrou enquanto discava ela mesma os dígitos.
— Olá.
— Madalena... — A voz do outro lado pareceu sorrir. — Você pode vir até
mim, agora? Quero conhecê-la.
— Agora?
— E aí, conseguiu?
— Eu sabia! — Ela me abraçou. — Pode ficar tranquila que vai dar certo, eu
estou sentindo, minha Santa Rita não falha!
— Tomara, dona Rosa! Fecho os olhos fazendo mais uma de minhas preces
silenciosas.
— Imagina! Você aproveita e conhece a minha filha, tenho certeza que vão se
tornar amigas. Entrelaçou seu braço no meu enquanto começávamos a andar
para fora da rodoviária movimentadíssima.
Meia hora mais tarde estávamos dentro do carro a caminho para minha
entrevista. Dona Rosa não havia mentido quando descarregava elogios a
filha. Aline era uma mulher adorável, aparentemente tinha quase trinta anos,
e também era uma mulher de curvas, assim como eu, sua pele era
maravilhosamente perfeita, morena cor de canela, os olhos enormes como os
de dona Rosa chamavam atenção e os cabelos encaracolados eram curtos e
estiloso, ela tinha me tratado como se também me conhecesse há anos, me
convidou para apresentar a cidade, e que me levaria para comprar roupas,
mas que antes de me acompanhar fazia questão de me dar algumas roupas de
sua confecção. Quando tivemos a entrada autorizada no condomínio eu me
assustei com o tamanho das casas dali, pareciam sedes de fazenda de tão
grandes, elegantes e graciosas.
— Pode deixar. Não sei o que faria se não tivesse conhecido a senhora dona
Rosa. A abracei desajeitada ainda dentro do carro e sorri para Aline que
retribuiu com um encorajamento.
— Você vai ser feliz, Madalena. Ela segurou minhas mãos pela janela. Me
olhando como se enxergasse mesmo minha alma.
— Pois não?
— Madalena, que bom que chegou! Escuto a mesma voz doce que falara
comigo ao telefone. A senhora a porta se afasta e oferece passagem para que
eu passe, me sentindo ainda impactada. Eu nunca tinha entrado em um local
tão branco e limpo. A casa era maravilhosa.
— Vera, traga água para a moça por favor. — Ela pediu educadamente e eu
percebi que talvez ela não exigia que a empregada parecesse um militar. —
Segurou minhas mãos que estavam geladas nas suas que eram quentes. —
Você é tão jovem... só tem essa mochila?
— Um pouco, mas não toco muito... na verdade ele era do meu pai, ele
faleceu há pouco tempo.
— Sinto muito. — Ela franziu um pouco a testa. — Foi por isso que se
mudou para cá?
— Sim.
Eu contava a verdade? Não era uma boa opção, por isso não hesitei
quando respondi: — De uma cidade chamada Vila do Sol, Mato Grosso do
Sul.
— Então é sozinha?
— Sim, senhora.
— Não precisa me tratar de senhora, Madalena. — Ela fez uma menção com
a mão enquanto sorria e recebíamos os copos cheios de água. — Sabe
Madalena, devo dizer que receber sua ligação foi um verdadeiro milagre,
entrevistei inúmeras pessoas, mas nenhuma tinha me agradado, eu preciso de
alguém jovem e disponível.
— Que ótimo, querida. — Ela bateu umas palmas como se não se aguentasse
de alegria. — De imediato eu devo dizer que a pessoa com quem você irá
trabalhar é com meu filho.
— Seu filho? E quantos aninhos ele tem? Falei animada imaginando um
menininho fofo.
— O quê? Meu sorriso sumiu na hora e ela riu ainda mais alto.
— Não se tudo der certo. — Ela falou alegre demais e eu a encarei sem
entender nada. — Digo, Enrico não tem uma empregada fixa, você pode
começar como cuidadora e depois ficar como secretária? Mas agora de início
a sua função será apenas cuidar dele.
— Minha mãe há quatro anos de febre amarela, meu pai sofreu um infarto
fulminante recentemente.
Luísa mantem os olhos verdes em mim por uns segundos até dizer: —
Sinto muito mesmo.
— Obrigada. A agradeço.
Inquieta eu coço a cabeça pensando que ela não falou nada sobre o
quanto eu receberia.
— O salário...
— Ah, onde eu estou com a cabeça. — Ela leva a mão a testa. — Eu mesmo
a pagaria, será dois mil e quinhentos reais, você não terá que pagar moradia e
nem a sua comida.
— Eu aceito.
Mais uma vez meu sorriso morre. — Ele não mora aqui? Arregalei os
olhos.
— Ah, não... ele tem seu próprio apartamento, mas pode ficar tranquilo você
terá seu próprio quarto. Piscou sorrindo e eu continuei estática.
— Não posso chamar bem de namorado... eu tinha alguém sim, mas acabou.
— E acabou bem?
— Ah, que bom então... quer dizer que está livre para amar?
— Sim, amo Vicente e acho que o amarei por toda vida, ele foi muito bom
para mim, mas ele ficou e eu fui.
— Não senhora. Dou uma risada enquanto ela estaciona perto da calçada.
— Não precisa se preocupar, eu vou te ligar todos os dias para saber notícias
e ver se precisa de alguma coisa, além do que sempre estarei vindo também...
você tem carta branca para me ligar se Enrico passar dos limites, ok?
— Em que ano você está vivendo, Madalena? Só para eu ter certeza que você
não é uma experiência óvni. — Brincou soltando uma risada. —
Providenciarei um, não se preocupe com isso.
— Dona Luísa... tem mais alguma coisa que eu deva saber sobre seu filho?
Pergunto enquanto ela nos guia para a caixa metálica e eu me sinto tonta
quando o elevador se move.
— Aonde estaria, estou sem andar mãe! Uma voz grossa masculina responde
e ela me olha sorrindo começando a andar e eu a sigo em seu encalço.
Não podia deixar de perceber que assim como a casa, o apartamento era
lindíssimo e luxuoso, mas diferente da casa que era muito clara, todos os
móveis ali eram escuros, as paredes cinzas claro como o céu nublado lá fora,
sem fotos ou quadros espalhados.
— Ranzinza como sempre. Dona Luísa falou parando na porta do quarto que
estava aberta e tudo que consegui enxergar atrás dela foi a ponta de uma
cama e o lençol do que parecia ser seda negra.
— Você demorou hoje. A voz parecia ainda mais grave escutando de perto.
De certo modo me senti acuada só de perceber o quanto parecia autoritário.
— Não é visita. Luísa olhou para mim e me puxou para ficar ao seu lado.
— Oi. Falei tentando não transparecer o horror que sentia por estar ali.
— Eu contratei Madalena para que ao menos você tenha o que comer na hora
certa.
— Enrico. — Dona Luísa adotou uma postura dura. — Madalena vai ficar.
— Enrico odeia todo mundo, aparentemente. Mas você pode mudar isso.
— Posso?
— Bom, tecnicamente você terá de ser a sombra dele agora, vão ter que se
tornar amigos, eu acredito que vão, igual aquele filme: Como eu era antes de
você. Já assistiu?
— Nunca assisti um filme, dona Luísa.
— Ah, claro. — Ela me encara meio perplexa. — Esqueci que você morava
no interior... lá não tinha nada mesmo? Onde fica Vila do Sol?
— No meio do pantanal.
— Ela está fazendo a sua lista de compras, senhor. Posso ajudar se me disser
o que precisa. Insisti tentando não parecer mal-educada.
— Como é mesmo seu nome?
— Madalena.
— Madalena de quê?
— Ficou péssimo, deveria reclamar com ela. Solta num tom zombeteiro.
Pisco os olhos e respiro fundo tentando não parecer tão ofendida, ele
precisaria mais do que zombar do fato de que eu tinha cereja no nome para
me tirar dali. — Poderia, mas mortos não aceitam reclamações. Respondo fria
e vejo seus olhos se estreitarem.
— Ok. — Concordo e ando até o móvel. Fico paralisada quando abro e meus
olhos repousam sobre três pistolas enormes. — Por que você tem tanta arma?
Pergunto agarrando a cartela de comprimidos totalmente alarmada.
— Eu uso para afastar gente curiosa. — Sua voz dura me fez virar no mesmo
segundo e sou pega de surpresa ao vê-lo com um sorriso perfeito aberto. —
Sou delegado da Polícia Civil, Cereja, pode respirar agora.
Ainda paralisada percebo que ele tem razão em pedir que eu respire, eu
estava segurando o ar. — Vou buscar água. É tudo que consigo responder
antes de deixar a cartela sobre sua mão estendida e andar tremendo para fora
do quarto.
— Eu prefiro não falar disso, tudo bem para a senhora se eu não contar?
— Tudo bem, não precisa contar se não se sente confortável, mas o que
Enrico fez que te fizeram lembrar?
— Eu não quero ter que ouvir nada calada, é meu único pedido para
continuar aqui.
— Eu vou providenciar umas coisas, volto mais tarde com tudo que
conseguir agilizar em tão pouco tempo.
Depois que ela saiu fui até a pia enchi um copo com água, vesti minha
armadura invisível e voltei ao quarto me surpreendendo ao encontrar a cama
vazia. Arregalei os olhos encarando os lençóis que parecia tão macio
emaranhado. Sem conseguir me conter andei até a cama e toquei o tecido
perfeito ficando encantada.
— O que pensa que está fazendo? A voz vinda por trás me fez dar um pulo
quase deixando o copo escorregar dos dedos. Olho para trás dando de cara
com o homem que agora de pé eu conseguia vislumbrar o quanto era enorme
parado na porta que deveria ser um banheiro se firmando sobre duas muletas
que impediam que a perna engessada encostasse no chão. A bermuda agora
caia baixa em seus quadris, deixando o V bem marcado e um evidente
volume meio suas pernas. Desvio os olhos para seu rosto de imediato
fechando e abrindo a boca antes de falar:
— Que susto!
— Demorou muito, foi por isso que estava no banheiro, engoli com a água da
pia.
— Bom, da próxima vez traga a água antes, Cereja. Voltou a falar meu nome
como se fosse engraçado.
Lembrando da permissão dada por dona Luísa, não penso muito antes
de proferir um pouco irritada: — Devo pedir para que não trate meu nome
como uma chacota, senhor?
— Bom, então me trate por Madalena Cereja se assim preferir. Falei com
raiva.
— Só para que saiba, também não me agrada estar aqui, mas eu preciso do
dinheiro.
— Posso te pagar a quantia que lhe foi oferecida por todos os meses.
— O que quer comer no jantar? Pergunto lembrando que dona Luísa tinha me
orientado para que o jantar dele não fosse tão tarde.
— Nada.
— Sua mãe pediu... — Comecei a dizer e fui interrompido pelo seu grito
irritado.
— Eu mando na minha vida, não minha mãe! Agora saia eu quero ficar
sozinho.
4
Madalena Cereja
Cheguei a cozinha e encarei o apartamento silencioso, minha mochila e
o violão ainda estava em uma das cadeiras, na correria toda dona Luísa não
tinha sequer me mostrado onde eu dormiria, e eu me recusava a voltar ao
quarto daquele ogro para fazer tal pergunta.
— Eu sei, senhor.
— Porque eu também moro aqui agora, e eu vou comer. —Falei tentando não
parecer debochada, mas tendo a certeza que tinha falhado miseravelmente
quando ele me olhou com espanto por tamanha audácia. — Desculpe, senhor
estou com fome, olhe para mim e perceba que eu não fico sem comida.
— Vai querer?
— Já disse que não.
— Sai.
— Tchau. Aceno docemente para ele que me olhava irritado e volto para a
cozinha com um sorriso enorme no rosto por ter deixado ele sem reação.
— Diga, Enrico.
— Madalena, você foi contratada para me dar remédios e não está fazendo
isso, está na hora do meu comprimido. Se não se acha capacitada para isso é
só ir embora!
— Sinto muito, sua mãe não me passou os horários ainda, acho que pensou
que você iria fazer... — Volto a me aproximar da gaveta que mais cedo tinha
me causado medo e a abro dessa vez preparada para o que ia ver. Pego o pote
que tinha um adesivo de “noite” colado e o entrego. Sem dizer nada saio indo
até a cozinha pegando um vidro de água na geladeira junto com um copo e
volto. O sirvo e espero ele beber.
— Já comeu?
— Ainda não.
— Hum. Revira os olhos e volta a encarar o celular que estava repousado
sobre a perna boa.
— Fiz o bastante para nós dois, caso você mudasse de ideia sobre jantar.
— É?
— Não estou com fome. Respondeu com a voz calma pela primeira vez
desde que o conheci. Vi em seus olhos que ele estava sim faminto, só
relutava em aceitar como se fosse perder uma batalha.
Ando desconfiada até a parede de vidro que tinha em sua sala, com
medo me senti meio zonza ao perceber o quão fora do chão estávamos. Eram
tantos prédios e tão poucas árvores lá embaixo, o céu não se via estrelas
como em Alvorada das Almas, os carros passavam incessantes. Sempre tinha
odiado altura, e ali em cima parecia estar de fora do meu universo comum
vendo um mundo sem sentido lá embaixo.
— É claro que me assusto, você mesmo de muletas não faz barulho nunca. O
acuso dando espaço entre nossos corpos já que a proximidade me deixava
imensamente desconfortável.
— Faço sim, você que sempre está distraída, agora mesmo estava encarando
lá embaixo com uma careta estranha.
— Não.
— Vila do Sol.
— Bem pequena.
— Sim, meu pai e eu nós virávamos como podíamos, mas eu nunca tive luxo,
e quando ele faleceu eu resolvi mudar de lugar e tentar uma vida nova. Falei e
vi que somente por mencionar a palavra morte o seu semblante modificava.
— E já está aqui?
— Cada um sofre de uma maneira, eu acho. Enrico engoliu mais uma garfada
encarando seu prato.
— Eu não tenho mais nenhum parente vivo, não tinha porque ficar. Falei e
ele se manteve calado por mais um tempo, e era como se eu ouvisse as
engrenagens do seu cérebro funcionando antes de dizer:
— Ao que parece eu não posso demitir você, só minha mãe pode. Seus olhos
verdes que estavam escuros devido a luz me encaram como labaredas
lavando meu corpo.
— Bom, isso é trágico. — Ele franze a testa me fazendo rir. — Mas você
entendeu o que eu quis dizer, não?
— Sim, eu entendi... mas sabe de uma coisa? Não precisa ter luz em
abundância para ser feliz, se tem uma coisa que aprendi vivendo no escuro
foi que quando não se tem claridade, você ganha vantagem nas sensações, e
pode fazer monstros e sons ganharem beleza.
— Acho impossível um dia cinza ser mais bonito que um dia ensolarado.
— Por que?
— Porque onde eu morava eu via o sol todos os dias, mas não tinha nada... e
aqui nessa cidade cinza desde que cheguei não consegui realmente ver o céu
de verdade, em compensação as coisas estão dando certo. Ou seja, sou mais
feliz aqui do que lá... vivi dias ensolarados terríveis que nunca vão se
comparar a dias cinzas de agora.
— Você quer dizer então que o dia de hoje foi bom? Mesmo comigo te
tratando mal? Um sorriso de lado escapou.
— Não estava mentindo quando disse que não há nada que você fale ou faça
que será pior ao que já vivi.
— Não sei, dona Luísa. Dou um sorriso nervoso olhando para Enrico que
tinha voltado a ser o carrancudo de antes.
— E então, parece que se entenderam. Ela olhou para nós com seu olhar
gentil.
— Eu falei que não estava com fome. E além disso, sua comida não é das
melhores, Cereja. Alfinetou nos dando as costas e sumindo pelo corredor.
— Me desculpe por isso, Madalena. Eu tenho certeza que sua comida não é
ruim.
— Como conseguiu fazer ele sair do quarto? Estou tentando fazer isso há um
mês sem sucesso.
— Não pedi que ele o fizesse dona Luísa. Ele se negou a comer, por isso
comecei a cozinhar para mim, quando percebeu que eu não me importava
com a birra ele aceitou não só vir jantar como sair do quarto.
— A lei do não faça, para então fazer? — Ela murmurou como se pensasse.
— Genial. Isso foi, genial. — Riu satisfeita. — Vem, me ajude a guardar
essas comidas, e eu também te comprei um celular, e umas roupinhas.
— Me comprou roupas?
— Sim, é impossível você ter só essa mochila com roupas, vamos ter que
marcar um shopping depois, vou te ajudar a escolher mais algumas, mas hoje
já trouxe umas bem legais, até alguns pijamas. Aqui, esse é seu celular. Me
estendeu o aparelho bonito e novo.
— Dona Luísa, eu nem sei o que dizer, estou totalmente sem jeito.
— Imagine, menina. Eu não estou fazendo nada demais, agora vamos guardar
isso, e eu me lembrei que nem te mostrei seu quarto.
— De jeito nenhum que você vai dormir no quarto da área de serviço, vai
dormir no quarto ao lado do de Enrico, já que ele precisa de você a noite.
— Que tal você tomar um banho e vestir seu pijama novo enquanto eu ajeito
as compras do mercado?
— Madalena! Senhora está no céu. Vem, você deve estar exausta, desde que
chegou não teve tempo de descanso, foi da rodoviária direto para minha
casa... vai tomar um bom banho, eu ajeito tudo aqui, e passo no seu quarto
antes de ir embora.
— Tem certeza?
— Tenho tanta certeza quanto a que qualquer dia desses eu vou te obrigar a
tocar violão para mim. Piscou feliz.
Retiro uma por uma das sacolas as colocando sobre a cama que era
maior que qualquer uma que eu já tinha visto na vida. O colchão era tão fofo
que eu pensei estar sonhando. Tinha uma mesa e uma cadeira perto da porta
de vidro que levava para uma sacada. A porta fechada eu descobri ser o
banheiro mais luxuoso do mundo, todo de mármore negro que parecia brilhar.
Sem mais demoras eu me enfiei pela quarta vez na vida embaixo de um
chuveiro elétrico.
— Pode entrar.
— Já estou indo, Mada. — Dona Luísa colocou a cabeça para dentro me
oferecendo um sorriso. — Gostou das roupas?
— Nunca que eu errei! — Ela se colocou para dentro andando para perto. —
Eu tenho certeza que é seu número, eu já trabalhei com isso. Falou pegando a
peça que eu deixara sobre a cama e me olhando meio arteira. Seu sorriso me
lembrou o de minha mãe. Uma possibilidade que eu achava impossível, mas
ainda assim passou por minha mente foi o fato de que dona Luísa estava
querendo me tacar para cima de Enrico, o que era muito absurdo, pois um
homem como ele nunca olharia para mim.
— Imagina, pode ficar curto, que é o modelo... vai, experimenta ele para a
gente ver. Me entregou ordenando e eu contragosto andei para o banheiro
para vestir.
— Boa noite, dona Luísa. Sussurro e a vejo sair tão rápido quanto entrou.
— Eu estou bem. Sai de cima. Pedi tentando me remexer e Enrico rolou para
o lado ainda totalmente desconcertado.
— Desculpa, eu estava tendo um pesadelo. Que ideia foi essa de entrar aqui?
Seu tom de voz foi rude.
— Eu não tive ideia alguma, está na hora do seu remédio que inclusive no
meio disso tudo eu não faço a mínima ideia de onde foi parar, terei de pegar
outro. Me sentei ajeitando as roupas antes de me levantar. Me senti inquieta
ao perceber que agora de pé o pijama parecia ter desaparecido me deixando
nua já que seus olhos não saíam de minhas pernas. Talvez estava imaginando
onde eu estava com a cabeça em usar aquilo. Sentindo seu olhar queimar em
mim andei de novo até o móvel e peguei mais um comprimido e voltei o
entregando.
— Obrigado. Ele respondeu assim que lhe passei o copo com água gelada.
— Sua mãe disse que nem sempre você desperta. E não me acordou, eu já
estava acordada.
Meu peito apertou com o desabafo. Seus olhos verdes pousaram sobre
os meus e pareciam clamar por ajuda. Não me segurando me aproximei da
cama e me sentei. — Quer contar o que estava sonhando, talvez se sinta
melhor... era algo sobre sua...
— Enrico?
Quando voltei para meu quarto, passei pela cama e fui direto para a
varanda. O ar gelado no meu rosto parecia aliviar o que me sufocava. Queria
voltar para o quarto de Enrico e contar tudo a ele. De certo modo sentia que
ele deveria saber a verdade sobre toda minha história, sobre Alvorada das
Almas e os Rodrigues, de como eu tinha sofrido perdendo meus pais. Talvez
ele se sentiria melhor sabendo que no mundo existia pessoas tão quebradas
quando ele, e que tudo bem. Que era possível viver com aquilo. Mas eu era
incapaz de fazer isso, porque com Enrico parecia que cada passo para frente
era seguido de dois para trás.
Quando entrei no quarto mais uma vez com água para que ele engolisse
o medicamento, fui tomada por um cheiro divino de perfume. Enrico estava
sentado na cama, novamente sem camisa, a bermuda era outra e seu cabelo
estava molhado enquanto ele tinha um caderno de couro nas mãos.
— Oi. Foi tudo que ele se limitou a dizer enquanto aceitava e engolia o
comprimido.
Sem saber como puxar assunto decidi ir logo ao ponto. — Você pode
me ajudar com uma coisa?
— Outra pessoa?
— É para a senhora que conheci no ônibus vindo para São Paulo, ela me
ajudou muito, ela e a filha que me levaram até sua mãe para que eu pudesse
conseguir o emprego... queria muito manter contato com ela. Quer dizer, tem
problema eu usar o celular que ganhei para isso?
— Se minha mãe lhe deu o celular, não vejo problema nenhum, acho que é
livre para conversar com quem quiser, Madalena.
Corei sentindo vergonha antes de dizer: — É que não sei mexer, você
pode me ensinar?
— O que?
— Como assim você nunca teve um celular? E como ligava para as pessoas
na sua cidade?
— Você parece que veio dos anos 50. Vem, senta aqui, vou te ensinar o
básico, o resto você vai descobrindo de acordo com sua curiosidade.
— Na minha cama?
— Não posso.
— Tem o número?
— De quê?
— Da senhora, Madalena.
— Veja, isso aqui. — Ele mirou o telefone no seu rosto. — Se chama selfie,
que é quando nós tiramos fotos de nós mesmos, viu?
— Aqui, meu número e minha conversa, fale algo comigo para treinar.
Enrico pescou seu celular que apitou no colchão e digitou sem nem olhar.
— Deu. Obrigada!
— Certo, agora aqui nesse botão você pode me mandar um áudio, pressione o
dedo, fale o que tiver de falar e solte para enviar.
— Sim.
— Poder pode, mas tem que ter muito tempo para falar com você.
— Por nada, agora você também pode conversar com as pessoas lá da onde
você veio.
— Você realmente não tem mais nenhum parente vivo? Soou curioso.
— Seu café. — Entreguei a caneca e ele pegou sem olhar para mim. —
Trouxe açúcar e adoçante caso você...
— Prefiro puro.
— Já tomou café?
— Indo agora.
— Tem.
— Enrico?
— Espero que não esteja horrível. Pisco colocando o pequeno banquete sobre
o colchão.
— Meu prato está na cozinha, não precisa se incomodar, daqui a pouco busco
tudo. Aviso e ele parece um pouco desapontado quando balança a cabeça.
— Péssimo.
Um sorriso de criança levada invade seu rosto quando ele diz: — Ah,
sim... a propósito se puder fazer novamente as batatas assadas como ontem,
elas estavam verdadeiramente detestáveis. Piscou descaradamente, foi a
minha vez de sorrir.
— Entendi.
— Certeza?
— Isso eu sei... — Ando até a sua varanda que estava tampada pela cortina
grossa. — Mas você precisa tomar ar, Enrico, parece que está enclausurado.
— Escancaro tudo e a claridade toma o lugar. Em seguida arrasto a porta de
correr da varanda e a brisa gelada da manhã toma o quarto. — Você não é
prisioneiro, mas parece.
— Ar-condicionado.
— Tanto faz o nome! — Rebato — Você precisa deixar de ser tão ranzinza
também, sei que a vida é uma merda as vezes. Mas estamos aqui, nascemos...
não tem outro jeito!
— Você está mesmo me dando uma lição de moral no seu segundo dia de
trabalho, cereja?
Eu o olho querendo sorrir, mas quando volta a falar sinto todo o sangue
sumir do meu corpo.
Depois de anos.
Eu tinha gozado assim na noite anterior. E tinha sido tão intenso que
hoje de manhã no banho eu tinha feito de novo. E agora aqui, depois que ela
tinha me dado uma bronca e ficado visivelmente afetada quando eu tinha
falado sobre seu pijama eu me via obrigado a fazer de novo.
— Enrico, seu remédio das onze. Ela anunciou e eu percebi que não tinha
seguido minha orientação que poderia beber sozinho. O que foi bom, pois
pelo sono eu perderia a hora.
Quando abri os olhos me deparei com o que já não era novidade. Uma
ereção gingante entre as pernas e eu me recusei a me tocar. Cobri com o
lençol no mesmo momento que Madalena entrou com meu almoço que
cheirava e me fazia até salivar. Assim como no café, apareceu no quarto
carregando uma bandeja e me deixou informando que voltaria depois.
Ela agarrou a bandeja e eu fui incapaz de segurar meus olhos para não
mirarem seu traseiro.
— Você não está sendo paga para isso, Madalena. Tenho uma diarista que
vem toda semana.
— Ok.
— Ok, o que?
— Está contratada.
— Sério?
— Sim.
— Desculpe.
— Eu gosto.
— Obrigada, eu acho...
— Acho que temos os ingredientes, posso fazer para comer mais tarde.
— Posso te ajudar? Ajudar, Enrico? Sério? A minha boca tinha ganhado vida
própria!
— Ajudar?
— Talvez você não sinta porque não quer que seja. Murmurou e eu senti
como um murro. Ela tinha toda razão.
— Vamos, pelo jeito você quer ficar gordinho como eu. Riu sozinha já que
eu a encarei. Madalena não era magra, mas do jeito que falou demonstrou que
talvez não ser era um incômodo? Ela era definitivamente muito, digo... hiper
gostosa! Ela não enxergava isso?
— Você é linda assim, Madalena. Falo a fazendo mais uma vez ficar muda
enquanto suas bochechas eram tomadas por rubor.
— Olá.
— Sou...
— Por que não avisou que vinha? Interrompi gritando alto bastante os
fazendo olhar para mim quando ficava de pé.
Ele riu de novo para Madalena antes de passar por ela vindo em minha
direção. — E desde quando eu preciso avisar que vou vir te visitar, seu pau
no cu?
Pau no cu você vai ter se rir assim para minha... cuidadora novamente!
— Claro que precisa, caralho, acho que tenho tempo disponível só para você?
Contesto.
— Quem é essa gata, ein? Se vira para olhar Madalena que nos observava
curiosa.
— Minha mãe a contratou para me ajudar nesses meses que terei de ficar com
a perna engessada. Explico tentando parecer convincente, mas nem eu
acreditei.
— Não sei ainda... — Ela sorri amistosamente e eu nem percebo o rugido que
sai da minha garganta.
— O que?
— Burra?
— Só?
— Só!
— Vá se foder!
— O que? Eu não disse nada.
— A sua cara diz tudo! Seja lá o que você está pensando está errado! —
Certo! — Eu não sinto nada por ela. — Já bati três punhetas desde que ela
chegou e pretendo bater mais... fora o sonho cheio de putaria.
— Ok, cara, eu entendi, não precisa se explicar... só achei que você estava
com ciúme, mas se não está...
— Não estou.
— Certo, mas vamos admitir... queria eu estar com a perna imobilizada para
ter uma enfermeira comigo.
Andei até o quarto e me sento na cama ao ver que quem me ligava era
dona Luísa.
— Oi dona Luísa.
— Está sim.
— Ah, Jonas, ele é um ótimo menino. Enrico e ele são amigos desde o
colégio.
— Peste loira?
— Sim, o outro amigo deles, eles ficam tricotando. — Ela gargalhou do outro
lado. — Mas então filha, eu estou te ligando para saber como está indo...
Enrico não te maltratou?
— Como eu te disse passei o último mês cuidando de Enrico e quase não vim
até em casa, Luiggi e eu sempre fomos muito... — Ela riu de novo e quando
voltou tentou novamente explicar: — Ele sugeriu uns dias fora, então vamos
fazer uma pequena viagem de férias, vão ser quinze dias incialmente e saio
agora a noite, eu não vou nem conseguir ir até aí, mas continuaremos nos
falando por telefone, ok?
— Então vamos nos falando, meu anjo. Cuide bem de Enrico, um beijo.
— Oi. — Chamei e ele mirou em mim, percebi seus olhos irritados e engoli
seco. — Seu amigo já foi?
— Já.
— Estava no telefone com sala mãe, ela disse que vai fazer uma viagem com
seu pai por uns dias.
— Hum. Remexo as mãos inquieta sobre seu olhar e decido voltar para a
bancada para terminar o bolo. — Ela sugeriu fazer um jantar quando voltar
para que seu pai me conheça.
— Você gostou de Jonas? Sua voz saiu firme.
— Não foi isso que perguntei, Madalena. Quis dizer sobre atração.
— Madalena!
Irritada com sua atitude decidi não ir atrás dele, me distrai fazendo o
bolo que ele havia pedido, com a ideia de que quando ficasse pronto talvez
ele estivesse mais calmo.
Perto das três da tarde que era o horário de seu remédio aproximei da
porta do seu quarto e ouvi barulhos altos de tiros, observei ele esparramado
sobre o lençol enquanto os sons vinham enorme TV ligada.
— Vídeo game.
— Pois é.
— Legal. Falei curiosa encarando a tela que mostrava uma zona do que
parecia ser guerra.
— Quer tentar?
— Verdade?
— Anda, Madalena. Ele apontou para o lado vazio da sua cama e estendeu a
mão pegando outro controle e me entregou começando a me explicar o que
cada um fazia.
— Ah, mas não tinha ninguém para eu matar, queria matar alguém, me
desculpa. Falei como se explanasse um raciocínio lógico e ele gargalhou de
novo me deixando totalmente boquiaberta e encantada ao ver como ele era
bonito rindo.
— Matar o amigo já que não pode matar o inimigo? Isso não faz sentido
algum. Murmurou ainda entre risadas.
— Quer saber? Cansei desse jogo. — Joguei o controle sobre a cama. — Vou
buscar um pedaço de bolo para você.
— Jonas... eu perguntei se você tinha gostado dele, porque ele disse que
gostou de você... e eu fiquei bravo por isso.
— Claro que faz... — Ele se mexeu um pouco virando o tronco para ficar de
frente para mim. — Você não está sentindo isso também? Só eu que estou?
— Claro que não! Ele não quer ficar comigo, deixe de ser instável.
— É!
— Não sou nada, você que é um mimado! Acuso apontando um dedo em sua
direção me sentindo totalmente irritada.
Enrico puxou meu braço que apontava para ele me fazendo cair sentada
na cama de novo enquanto mantemos uma briga silenciosa pelo olhar.
Mas Enrico não rebate. Apenas é o tempo de eu subir meus olhos para
os seus e depois voltar para seus lábios e ele me saqueia. Cobre a minha nuca
com sua mão enorme e me beija.
Nada ali poderia ser comparado ao que sentia com Vicente, porque tudo
parecia diferente. Um desejo voraz me consumia subindo como labaredas
incendiando meu corpo enquanto meu coração estava disparado, batendo tão
alto que parecia ser capaz de escutar.
Minha cabeça estava segurada por ele que com uma mão agarrava meu
cabelo enquanto nosso beijo tinha passado de apressado para um lento
gostoso variando entre mordidas e chupadas no meu lábio inferior.
Não conseguia pensar direito, parte de mim sabia que era errado, mas a
outra parte era incapaz de me afastar pois queria muito aquilo. Queria que ele
me possuísse. E ele parecia querer o mesmo aumentando a velocidade em que
esfregava em mim.
Pensei que ele ignoraria quando afastou a cabeça e seus olhos que agora
estavam escuros como um lago sujo me fitaram. Mas então ele suspirou e se
afastou. Rolou para o lado e se sentou e uma carranca tomou seu rosto. Os
ombros pesaram e ele passou os dedos pelo cabelo atendendo a chamada.
Alguém para cuidar de mim. Isso que eu era. Uma cuidadora. E não
passaria disso.
— Claro que pode vir, será muito bem-vinda quando quiser... sim eu também
sinto falta dela sempre, acho que nunca vai passar... bom eu ligo para você
depois, fique bem, tchau.
Dela. Quem era Denise?
— Sim, eu devo estar mesmo ficando louco de te agarrar assim eu não quero
causar desconforto algum para você, isso não vai voltar a acontecer.
— Espero que me perdoe, não quero que fique um clima ruim... e que
esqueçamos que isso aconteceu.
— Madalena...
— Você tem razão. — Visto minha postura séria. — Foi um erro, nunca
aconteceu, e eu realmente preciso desse emprego, não vou te incomodar
mais. Respondi tentando parecer impassível saindo do quarto o mais rápido
que consegui segurando a vontade de chorar.
Só bem mais tarde quando eu teria de ir até seu quarto para lhe dar um
remédio foi que levei junto um pedaço do maldito bolo. Ele aceitou o
comprimido e depois agradeceu sem me olhar nos olhos o bolo.
— Tá bom.
Sai do quarto triste e magoada, mas sabendo que se ele tinha me
afastado e pela pouca conversa no telefone mostrava que se referia a falecida
esposa, talvez ele ainda não tinha superado. E como eu tinha problemas bem
maiores não deveria ficar irritada, só iria fazer como já tinha dito. Iria
esquecer. Eu precisava daquele trabalho e remoer isso só me faria complicar
ainda mais minha vida.
Os dias corriam e São Paulo já não era mais a cidade cinza assustadora,
estava aos poucos aprendendo a andar pela região me arriscando quando
tinha algum tempo livre, o que ultimamente era sempre. Enrico parecia correr
da minha presença e por isso cada vez mais eu organizava meus horários para
ficar fora de casa.
Subi no elevador orando para que ele não tivesse chegado, mas quando
escancarei a porta o encontrei no sofá, com suas roupas habituais de ficar em
casa, uma camiseta branca folgada e uma bermuda com desenhos estranhos.
O gesso da perna que antes era no começo da coxa tinha diminuído para
abaixo do joelho.
— Já almocei. Ele falou frio enquanto seus olhos subiam e desciam. Talvez
ele estava chocado por me ver em roupas que não fossem calças e moletom.
— Ah, sinto muito Enrico eu não sabia que o trânsito nesse horário era tão
intenso.
— Que bom, então a minha sogra vai vir no jantar também então faça comida
para mais.
— Sim, a mãe da minha falecida esposa, ela também ficou viúva seis meses
depois de perder a filha, ela não lidou bem com isso, então desde já adianto
que talvez ela seja difícil.
— Fico feliz. Falo sincera e passo por ele indo em direção a cozinha.
— Ela mesma.
— Sair hoje à noite? Ele repetiu minha pergunta como se tivesse o xingado.
— Você quer sair para onde? São Paulo é perigosa, Madalena você não pode
sair por aí sozinha.
— Você não é uma empregada, nós mesmos podemos nos servir, mas isso
não significa que você está autorizada para sair.
— Por que?
— Porque não! É perigoso. Sou delegado eu sei bem o que pode acontecer
com mulheres como você.
— Indefesas.
— Isso é bobagem.
— Não é não! Você não vai sair sozinha, quer ir para a balada? Vamos outro
dia, eu te levo.
— Saio sim, você acha que não porque me conhece com essa merda de gesso,
eu vou voltar a minha rotina logo.
— Você não vai sozinha! Falou alto e eu fulminei meus olhos nos dele que
me encaravam de volta também furiosos.
Tinha criado a rotina para que Madalena pensasse que eu não prestava
mais atenção nela, sempre estava fazendo algo quando ela aparecia, e evitava
fielmente olhar dentro dos seus olhos negros que faziam me sentir perdido.
Mas o fato era que tinha me tornado um maldito voyeur a seguia a todo canto.
De certo modo eu quis ficar aliviado por ela estar seguindo sua vida,
mas na verdade eu odiava. Odiava a ver saindo e voltando alegre, odiava a
vendo mexendo no celular tão distraída que era incapaz de notar o quanto eu
estava chateado.
Mas essa era minha vida. Vivendo no inferno com um anjo do lado.
— Oi mãe.
— Como se fosse o suficiente para eu ver essa sua carinha linda seu ingrato.
Entre o almoço minha mãe tinha contado em como passar aqueles trinta
dias descansando na Grécia tinha sido incrível, já finalmente sabia que eu
estava sendo bem cuidado por Madalena.
Na volta para casa eu tinha mais uma vez recebido uma ligação de
Denise, e fui incapaz de não a convidar para jantar quando ela pareceu ter
mais uma de suas incontáveis crises.
Tinha ficado chateada, mas não discutiu, falou que iria para seu quarto
até a hora de começar a fazer o jantar e me deixou lá, totalmente curioso.
Andei atrás dela e tive que espiar o que fazia. Sorri me sentindo relaxado
quando vi a TV ligada em desenhos e ela esparramada na cama enquanto com
um sorriso arteiro digitava no telefone.
Sem conseguir mais respostas andei para o meu quarto tomei alguns
remédios e deitei tentando relaxar a mente. Nem percebi que tinha pego no
sono até que o cheiro de peixe assado invadiu meu quarto e eu reparar que já
se passava das nove da noite. Tinha perdido todo o dia graças as drogas
relaxantes musculares.
Foi ali que eu percebi que ser ignorado não era tão legal como ignorar.
Me senti irritado disparando: — O gato comeu sua língua?
— Não, só não estou afim de falar.
— Parece que o último mês também não foi fácil para você. — Sondei.
— Superou mesmo? Tentei parecer irônico, mas eu tinha certeza que tinha
saído mais era desesperado. Encarávamos um ao outro como se cada um
medisse a força da dor que causava no outro. A campainha tocou e eu fui
deixado sozinho. Era pedir muito que aquelas merdas de interrupções
parassem de acontecer? Que merda!
Minha mãe apareceu seguida por meu pai que tinha o olhar curioso
sobre a mulher que minha mãe tinha passado todo o almoço elogiando.
— Mãe, por favor, eu tive que convidá-la ela me ligou umas sete vezes no
último mês e parecia bastante mal hoje.
— O problema é esse! Ela sempre está mal, e parece que sempre quer te ver
mal também.
— Mãe, não.
— O que? Eu sei que sente pena dela filho, mas aquela mulher parece que só
quer te ver mal, todos nós já reparamos isso. — Se queixou chateada.
— Mas...
— Não nos faltara oportunidade não é, Madalena? Meu pai a questionou lhe
direcionando um sorriso amistoso.
Madalena passou por nós e abriu a porta. Minha mãe tinha razão sobre
Denise. Só por vê-la na porta parecia que o ar tinha pesado. Os cabelos
pintados de loiros claríssimos estavam impecáveis e o rosto plastificado se
contorceu numa careta ao observar a menina a sua frente, o que
automaticamente acendeu um pavio em minha mente.
— Cuidadora? — Ela me olhou pela primeira vez desde que chegara. — Está
colocando mulher dentro de casa agora? Rugiu e percebi o olhar
envergonhado de Madalena por ser atacada.
— Desculpe. Como você está, meu querido? Andou até mim e alisou minha
barba antes de envolver num abraço que não era bem-vindo.
— Vou bem. Concordei dando um passo para atrás afim de que ela me
soltasse.
— Não, porque eu já disse que ela não é minha empregada, e temos mãos
para nos servir. A repreendi me sentindo totalmente sem paciência e muito
arrependido por tê-la convidado.
— Ah, obrigada pelo convite. — Ela corou. — Mas não vou poder, senhor...
eu até tinha comentado com Enrico e pedido permissão para sair hoje à noite.
— Fica tranquilo, não irei sozinha. Vou me arrumar, bom jantar. Ela cuspiu
as palavras e escapuliu as pressas me deixando ali pronto para explodir. De
hoje o meu infarto não passava.
Nem sabia explicar o que estava sentindo, e nem o ódio que senti
aumentando quando reparei que minha mãe sorria?
— Ah, então vamos jantar. — Ela falou indo para a mesa. — Uma pena
Madalena ter um encontro.
— Ela vai sair com uma amiga. Falei tentando convencer a mim mesmo.
— Ela não é uma criada! Cortei Denise novamente a fuzilando com o olhar.
A noite prometia.
9
Madalena Cereja
Depois que escapei a tempo de um novo surto de Enrico para o quarto
eu verifico o celular vendo que Aline já tinha enviado uma mensagem
comunicando que estava prestes a sair de casa.
A casa estava tão silenciosa que nem parecia que acontecia um jantar
ali. Duas batidas na porta me fizeram ficar e m alerta até que dona Luísa
entrou saltitando fechando a porta.
— Meu Deus, você está linda! Enrico vai morrer, eu tô falando sério.
— Não sei do que a senhora está falando, dona Luísa. Andei até o espelho
gostando do que via e cobri meus lábios com um batom vermelho sangue.
— Está? Me virei para encará-la enquanto prendia meu cabelo com alguns
grampos para que caíssem sobre o ombro que o top não tinha alça.
— Está! — Ela dá alguns pulos engraçados. — Me diga, quem é vem te
buscar?
— Jonas virá.
— Não brinca! — Dona Luísa leva a mão até a boca me choque e depois joga
a cabeça para trás rindo. — Garota, e eu pensando que teria que te ajudar,
mas eu sabia que esses trinta dias iam ajudar muito, você não é boba!
— Bom, eu sinto muito por isso, mas ao contrário da filha daquela senhora,
eu estou bem viva, e já passei por coisas difíceis demais, não posso ficar
sofrendo por Enrico se ele não me quer.
— Eu tenho que voltar, menti que vinha no banheiro. Ele estava inquieto para
vir até você, mas não arranjou uma desculpa antes da minha. — Piscou de um
olho só. — Vá logo para sala, não quero perder a cara dele quando te ver
gostosa assim!
— Estou gostosa? Dou uma risada sentindo graça.
Poucos minutos depois de dona Luísa deixar o quarto eu dei uma última
olhada no espelho, agarrei a bolsa colocando o celular e a carteira dentro e sai
para me despedir dos que estavam lá, iria esperar Jonas lá embaixo.
Mas assim que apareci eu fiquei estática encarando a cena bizarra que
acontecia. Dona Luísa estava comendo, mas tinha os olhos ligados e sorria.
Luiggi tinha um braço amparado sobre a esposa e também tentava disfarçar
um sorriso. A velha megera parecia irritada encarando Enrico de pé
apontando um dedo sobre o peito de Jonas que se mantinha parado com as
mãos nos bolsos do jeans escutando todos os xingamentos que o amigo lhe
deferia.
— Tudo, porra!
— Gente? Andei até os dois mesmo sentindo meu coração começando a bater
mais rápido. O rosto de Enrico se virou para mim e os olhos subiram e
desceram por meu corpo antes voltar a para o amigo.
— Mas vocês não saem juntos, nem por cima do meu cadáver!
— Enrico, você disse que seria perigoso eu ir sozinha só com um casal, por
isso eu perguntei se Jonas podia ir comigo, ele foi muito legal em aceitar.
— Desde quando vem conversando com ele por minhas costas, Madalena?
— Enrico, eu não estou acreditando que se envolveu com essa criada! A voz
chiada de Denise interferiu e vi Enrico se virar para onde ela estava soltando
fogo pelas ventas.
— Cale a porra da boca, Denise! Só cale a merda dessa sua boca! — Gritou
tão alto que me assustei. Eu nunca tinha escutado seu tom de voz tão grosso.
— Pare de tentar maltratar Madalena a chamando de criada, nunca mais tente
falar mal dela, estamos entendidos?
— Enrico eu não acredito que você está me maltratando assim... eu sou a mãe
da sua esposa.
— Patrícia está morta, Denise! Morta! Ela morreu e não vai voltar assim
como o filho que eu nunca conheci, assim como o seu marido! Estão mortos!
Chega de tentar viver como se a qualquer momento eles fossem entrar por
aquela porta... eles não vão, caralho! Enrico gritou tão alto que eu só não
afirmava que o apartamento de cima tinha ouvido por estarmos na cobertura.
— Bom, foi mesmo uma bela noite, sai de casa para ser maltratada! Denise
tentou de novo.
— Não vou me arrepender. Ele rebateu e ela passou os olhos por todos que
estavam ali, se demorando mais em mim antes de andar até a porta deixando
apenas que o barulho do seu salto soasse.
Eu quis conseguir falar algo quando mais uma vez Enrico se virou para
me olhar e agora ele parecia cansado.
— Jonas, vai embora cara... a gente conversa depois, só fique ciente que se
for para sair com Madalena, eu provavelmente estarei junto.
— Eu vou. — O homem atrás de mim falou num tom feliz e passou por mim
tomando o amigo num abraço apertado com direito a alguns murros nas
costas. — É muito bom ter você de volta, seu filho da puta!
— Foi mal aí, tia Luísa, fiquei emocionado. — Ele afastou de Enrico que
ainda mantinha os olhos sobre mim que agora só conseguia me sentir
envergonhada e veio até mim me abraçando também. — Obrigado,
Madalena, foram três anos fodidos.
Com as mãos sobre minha cintura me ajuda a ficar de pé, bem pertos
um do outro. — É claro que quis. Ele passou a língua sobre os lábios.
— Era legal com você? Você quer ficar com ele Madalena? Vocês beijaram?
— Perdão. — Ele me puxa para perto de novo. — Você é mais que isso,
Madalena. Você não percebe o quanto eu estou morrendo de ciúmes? Toda a
cena que eu acabei de fazer não foi suficiente?
— O que? Não pareceu? Você quer que eu faça mais o que? Quase quebrei o
nariz do meu melhor amigo por sua causa, sua maldita. Fala levantando a
mão direita até meu rosto e se curva me beijando.
Respondo seu toque cruzando meus braços sobre seu pescoço quando
senti a mão esquerda apertar meu seio no mesmo momento que gemia em
minha boca.
— Eu não vou fazer isso... não posso mais te evitar, eu bem que tentei no
último mês e acredite você ou não, a sensação conseguiu ser bem pior do que
tudo que passei nos últimos anos. — Confessou me olhando intrigado antes
de morder meu lábio inferior e iniciar um novo beijo.
As mãos de Enrico foram até a barra da minha saia a empurrando para
cima me apalpando com as mãos enormes. Amoleci em seus braços e arfei no
seu beijo me equilibrando.
— Absoluta, e você?
— Ai... Enrico. Gemi baixinho excitada sentindo que ele tomava um bico na
boca enquanto começava se despir.
— Muita!
— Então depois fazemos lento. — Riu diabólico e me botou deitada
atravessada no seu colchão enquanto só abaixou a cueca o bastante para seu
membro saltar livre.
Minha boca formigou com vontade de senti-lo na boca por mais que
nunca tivesse tentando aquilo muitas vezes com Vicente. Ele se ajoelhou
entre minhas pernas segurando-se pela base me deixando enxergar toda sua
glória, grande, as veias marcando, os testículos depilados e pesados, era
grosso e a ponta rosa brilhava lubrificada.
Eu pensei em agarrá-lo, chupar, falar, mas tudo caiu por terra quando
sem demoras ele apenas puxou o tecido da minha calcinha para o lado e
entrou até o fundo me fazendo rugir com a leve dorzinha que me acometeu
por seu tamanho e circunferência.
Joguei a cabeça para trás sentindo seus olhos sobre meu rosto. Era
delicioso, parecia me encher e me fazer completa, muito macio e muito
apertado enquanto ele começou a se arremeter e voltar a entrar. Aquilo era
delirante.
Incapaz de manter meus olhos firmados nos seus dois lagos verdes, eu
revirei os meus e cheguei a fechá-los quando ele saiu todo de bateu sua
glande sobre meu clitóris algumas vezes antes de voltar a entrar.
O gemido alto saía de nossas bocas, como dois animais. Meu barulho
parecia agradar, pois quando eu xinguei entredentes, ele fez de novo, e de
novo, entrando com força para que eu sentisse suas bolas batendo em mim e
depois saindo um pouco para voltar a fazer.
— Goza, cerejinha... goza pra mim porra. Ele ordena com a voz rasgada
determinando meu fim. Alucinada eu sinto meu corpo flutuar fora de órbita
enquanto agarrada em seus braços fortes de veias saltadas eu me deliciava
com toda aquela sensação. O peito vermelho pelas minhas unhas e o rosto
contorcido de prazer sobre mim só me levou ainda mais alto.
Enrico caiu ao meu lado respirando alto. — Puta merda, isso foi...
— Foi. Foi perfeito. Ele acaricia minha bochecha e deposita um beijo antes
de voltar a se deitar e fechar os olhos. Um leve medo me toma a pensar o que
viria quando ele recuperasse o folego ali do meu lado.
— Tudo bem, que bom que você se lembrou, eu nem pensei nisso.
— Dois anos? Viro minha cabeça o encarando perplexa. Enrico era bonito,
bem-sucedido, legal e depois de hoje sem dúvidas eu nunca duvidaria de sua
virilidade.
— Fazer o que?
— Dormir?
— Você ainda vai ser castigada por ter me feito ciúmes com meu melhor
amigo... você sabe, isso foi golpe baixo.
Seus olhos estavam nos meus quando puxou meu lábio inferior com os
dentes sugando lentamente. — Você acha que engana quem? Já sabia que eu
estava puto em todo esse tempo tentando te ignorar, se aproveitou que Jonas
é um puto e resolveu convidá-lo, você acha mesmo que iria sair com ele?
Nem que eu precisasse dar um tiro naquele ordinário.
— Você ainda tem dúvida, Madalena? — Sua mão alisa minha bochecha. —
Eu sabia que você era diferente desde quando chegou aqui, quando começou
a me desafiar eu percebi que estava gostando, quanto te beijei naquela noite
eu já estava apaixonado e obcecado por você, cerejinha.
Enrico estava apaixonado? Por mim? Isso era sério? Eu iria acordar a
qualquer momento?
— A primeira vez que ele veio me visitar, o avisei para não tocar em você,
ele começou a entender o que eu sentia quando tentou insinuar que te
chamaria para sair, fiquei louco de ciúmes, mas ainda me recusava a aceitar...
E o filho da puta te passa o número dele?
— Tomara que ele também tenha ficado. A voz de Enrico saiu grave com
uma pontinha do que eu agora podia diagnosticar como ciúme.
— Obrigada. Volto a agradecer sentindo meu peito inflar por sua declaração.
— É.
— Consigo ouvir seu coração, cereja. — Enrico sorriu e beijou o meio entre
meus seios. — Está nervosa?
— Eu só não reclamo mais por esta merda, pelo fato de sem ter a machucado
eu nunca a teria conhecido. — Falou chamando minha atenção para seu rosto
e voltando a se deitar ao meu lado me beijando. — Não tenho camisinha
aqui, podemos comprar, mas eu prefiro que você procure um médico e tome
remédio, você se importa?
— Estou apaixonada por você, Enrico. Confesso e ele me beija com ardor,
fica por cima de mim abrindo minhas pernas. Beija minha boca, meu
pescoço, meus seios enquanto suas mãos exploravam cada parte de mim.
Dessa vez o sexo foi bem mais lento, cheio de paixão, entregues e leves,
transamos lentamente num papai e mamãe que de tedioso não tinha nada. Me
sentia prestes a gozar quando Enrico nos rolou me deixando por cima.
— Quer tomar banho? Sua voz saiu baixinha abafada pelo meu cabelo.
— Um pouco...
— Tem certeza?
— Muita. Respondeu e senti que beijou meu cabelo. O abracei o melhor que
pude, descansando a cabeça em seu peito, ouvindo seus batimentos ritmados
enquanto Enrico começava a me fazer um cafuné.
— Enrico?
— Oi...
— Posso fazer uma pergunta chata? Eu não vou conseguir dormir se não
fazer.
— Não vai, pode fazer, você pode me perguntar o que quiser. Ele me
encorajou.
— Tá bom, lá vai... como foi que a sua mulher morreu? Perguntei e senti seu
corpo endurecer tenso embaixo de mim.
10
Madalena Cereja
22h:45min
— Onde está o seu chefe? Eu não converso com empregados. A mulher loira
olhou o homem alto e tatuado com desdém.
— Coroa é a mãe! Denise Campos Assis, seu imundo! E não preciso que me
acompanhe em nada, eu mando nesta merda aqui! Saia da minha frente!
— Aconteceu que essa sua brincadeirinha de que está tudo sob controle já
me renderam a filha e marido mortos, quando quem deveria estar morto não
está! Ao contrário, graças aos seus homens incompetentes está recuperando
e corremos risco de novo! Acabo de ser expulsa da casa de Enrico De
Giordano, aparentemente ele já está bem do acidente de moto que você
causou, e pior, está apaixonado novamente, você sabe que ele fica bastante
motivado quando está apaixonado.
— E ela estava grávida? Desculpe, é que você gritou para Denise que ela e
seu filho não...
— Minha vida não teve muita graça nos últimos dois anos, eu só trabalhei
feito um cavalo focando no fato de tentar desvendar a quadrilha que matou
ela, apenas isso.
— Eu sinto muito.
— E aí você apareceu. — Puxa meu rosto para cima para que nossos olhares
se encontrem. — Me tratando como um qualquer e me mostrando como eu
vinha sendo um filho da puta, mudou tudo, trouxe cor de novo para a cidade
cinza em que eu vivia.
— Vou tirar um cochilo agora. Aviso escondendo meu rosto em seu peito.
Tentando assimilar tudo que Enrico tinha me contado, a história da sua
esposa era estranha, e assim como a minha história, era trágica demais para se
acreditar, parecia ter algo mais por trás daquilo tudo.
— Dona Luísa! Sorrio sentindo meu rosto queimar, sem dúvidas estaria
vermelha como uma pimenta.
— Pare com essa dona, querida, presumo que depois de ontem você já pode
me chamar de sogrinha, não é? Me fala que sim! Levantou as sobrancelhas
sugestivamente sorrindo.
— Ah, eu...
— Para de bobeira, Madalena... tudo bem que não precisa me contar todos os
detalhes sórdidos, mas eu quero saber um pouco, você e Enrico se acertaram?
— Bom dia mãe. A voz de Enrico nos corta e eu levanto os olhos para a
direção que ele vinha usando apenas uma bermuda de moletom cinza.
— Brigou com um gato essa noite, filho? A voz brincalhona de Luísa me fez
parar de cortar o queijo em cubos e encarar as costas de Enrico.
— Vocês acreditam que ontem à noite na correria esqueci minha bolsa, vim
buscar... tenho um compromisso agora de manhã.
— Sério? Não deixou a bolsa de propósito para vir ver o que eu e Madalena
tínhamos aprontado? Enrico colocou as mãos na cintura falando sarcástico.
Dona Luísa gargalhou estrondosamente.
— Aí meu filho, é tão bom ver você assim... — Os olhos dela brilharam
primeiro para ele e depois para mim. — Eu sabia que Madalena era especial
quando botei os olhos nela.
— Dona Luísa, a senhora e Enrico estão me deixando sem graça. Respondi
envergonhada.
— Envergonhada porque, menina? Eu já não sabia mais o que fazer com essa
peste... — Apontou para Enrico que arregalou os olhos fingindo-se de
ofendido. — Só vivia enfurnado em casa ou naquela delegacia, tantas
mulheres se jogando para cima e ele se esquivando, quando se machucou
todas as que se candidataram ele conseguiu que fugissem antes mesmo que
completassem 24 horas de serviço, e veja só, você não só conseguiu o
emprego como fez ele se apaixonar.
— Quem disse que estou apaixonado, mãe?
— Tá na sua cara, Enrico, espero que já tenha dito isso para ela.
— É eu já disse. Sorriu olhando para mim novamente, e tudo consegui foi
continuar muda assistindo a cena bizarra.
— Então... vocês estão juntos?
— Não. — Sim.
Respondemos juntos e Luísa levantou os olhos. — Opa, acho que é
hora de ir, se resolvam aí e mandem notícias ok? Beijos! Se despediu
agarrando a bolsa sob o sofá já a caminho da porta.
— Como assim não estamos juntos? Enrico falou assim que ficamos sozinhos
parando na minha frente tirando a faca que eu estava usando para cortar pão
da minha mão e deixando sobre a bancada.
— Bom... é que eu fiquei confusa... não achei que já estaríamos em um
relacionamento...
— Você e eu trepamos à noite inteira e agora você me dispensa enquanto
quero namorar você? Que momento da vida eu cheguei? Quase três anos para
transar de novo com alguém e recebo essa... devo ter perdido o jeito.
— Não é isso Enrico, nossa noite foi de longe a mais perfeita que eu já tive.
Mas você não tem que ser obrigado a namorar comigo por isso.
— Mas eu não estou sendo obrigado, Madalena. Eu quero.
— Você quer? Porque?
— Que pergunta é essa? Eu achei que tinha entendido ontem e agora a pouco
quando eu disse que estou apaixonado por você.
— Só por isso?
Enrico soltou uma risada nervosa. — Você é muito louca, Madalena.
Não gosta de mim? Se for isso, você pode falar, terminamos tudo.
— Eu gosto. — Me apresso em dizer. — Eu estou apaixonada por você,
Enrico, e eu estou de verdade louca por você.
— E por acaso eu estou apaixonado de mentira?
Abaixo meus olhos. Meu coração batendo forte em meu peito. A
insegurança me tomando.
— É só que... olha para nós, você e eu não temos nada em comum... parece
loucura.
— Madalena, eu gosto de você, a cada segundo desde que bati os olhos eu
gosto, porra... você nem imagina o quanto foi difícil me manter longe. Se
aproxima segurando minhas mãos.
— Não faz sentido...
— Não faz sentido é você dizer isso! Não vê o quanto é perfeita? Você é uma
mulher linda, gostosa, com um coração incrível. Quase perdi o melhor amigo
porque o cara estava afim de você.
— Jonas não quer nada comigo.
— Não vamos voltar a esse assunto agora... só quero que você entenda a
bobagem que está dizendo, você é encantadora, Madá. Diz começando a me
puxar pelo corredor rumo aos quartos.
— O que está fazendo?
— Vamos transar. Preciso mostrar o quanto está abalando minha saúde
mental, eu preciso de você, Madalena. Preciso muito, eu perdi as contar de
quantas punhetas eu bati pensando em você, quero recuperar cada trepada
perdida. — Ele me abraça enquanto o encaro um pouco horrorizada. —
Talvez quando a gente terminar eu consiga ter feito você mudar de ideia.
— Converse como uma pessoa normal, Giordano. Não podemos resolver
todas nossas diferenças com sexo.
— Você falando meu sobrenome ficou sexy, fala de novo.
Revirei os olhos e sai do seu abraço cruzando os braços sobre o peito:
— Enrico.
— Madalena? — Ele parou com a porta do quarto aberta. — Entra.
— Vou terminar o café. Fiz menção de lhe dar as costas e ele segurou meu
braço me puxando para dentro do cômodo e me encostando contra a porta.
— Para de fugir sempre, Madalena, faz parecer que eu estou te forçando,
quando seus olhos me imploram pedindo. Me abraça me levando pelo quarto
e impulsionando nos joga sobre a cama.
— Você nem parece que está com um pé quebrado.
— Imagine o que não vou fazer com você quando tirar esse maldito gesso,
hein? Respondeu rindo e antes que eu pudesse me mexer já tinha me roubado
os lábios em um beijo gostoso, circundou minha cintura com uma mão
enquanto a outra apertava minha nuca.
Sem chances e vontade de lutar, mesmo que a pontinha da minha
baixo autoestima gritando que um homem tão bonito tinha se apaixonado por
mim, uma garota vinda do nada, pobre, sem estudo e fora dos padrões da
beleza, eu não lutei, continuei o beijo, cedendo ao meu desejo.
Percorri seu corpo com minhas mãos ansiosas e me lembrei de evitar
fincar as unhas na sua pele. Meus dedos afagam seu volume entre as pernas
que havia se formado na bermuda. Enrico afastou os lábios dos meus me
dando um sorriso preguiçoso enquanto usava as mãos para tirar os cabelos do
meu rosto.
— Sente isso, cerejinha? — Acaricia um dedo sobre meu lábio inferior. —
Vê como somos juntos?
Encaro o rosto de Enrico como uma criança encara uma vitrine de
doces. — Eu quero você. Falo em desespero voltando a atacar seus lábios e
ele sorri entre o beijo.
— Está rindo de quê? Me afasto sem entender.
— Seu desespero em ser comida. — Toma meu rosto entre suas mãos. — É
excitante para caralho.
— Você é tão babaca, Enrico.
— Eu não me importo com seus elogios doces, Madalena.
Pisca enquanto agarra a barra da minha blusa e a arranca para fora. O
mesmo acontece com a saia e a calcinha.
— Vire de lado, eu amo essa sua bunda grande, paixão.
Ordena e antes que eu me virasse totalmente, desferiu um tapa
estalado que não me assustou, o ardor da pele me faz remexer e gemer
enquanto Enrico mordeu o lábio e sorriu em seguida.
— Seu sem vergonha. Sussurro excitada, meus olhos não conseguiam sair do
moletom marcado por sua excitação. Enrico estava muito pronto, e eu estava
mais ainda.
— Sem vergonha é o sexo que vamos ter agora, cerejinha. Avisa abrindo
minhas pernas mais do que já estavam e começando a se abaixar.
— O que está fazendo.
— Vou chupar você.
— Não... — Arregalo os olhos apavorada. — Nunca fiz isso.
— Nunca?
— Não...
— Você não era mais virgem e o babaca nunca fez oral em você? Enrico
perguntou com um meio sorriso.
— E nem eu nele... eu nunca me senti à vontade, Vicente respeitava isso.
Enrico franze a testa. — Bom eu quero muito, podemos testar, você
não precisa fazer em mim se não quiser, mas eu quero mesmo fazer em você,
tudo bem? Pergunta se abaixando o suficiente para depositar um beijo no
interior da minha coxa.
Solto o ar e sou incapaz de manter o contato visual com Enrico, seus
olhos verdíssimos sobre os meus pareciam transportar ondas elétricas para
meu corpo.
— Responda... — Beija a outra perna.
— Ok. Engulo seco.
— Respira, amor... fica tranquila, vai ser gostoso. Avisa antes deu sentir que
ele arrasta a boca por minhas coxas, distribuindo beijos até minha virilha.
Lentamente usa uma mão para abrir meus lábios e lambe da abertura até o
clitóris.
— Meu Deus! Falo alto levantando o quadril do colchão em direção a sua
boca. Minha boceta pulsava sem parar e eu fechei os olhos com força
tentando abafar o grito preso em minha garganta.
A risadinha gostosa de Enrico chegou ao meus ouvidos segundos
antes de sentir mais uma vez a pressão de sua língua. Esfregava em círculos
em meu ponto e descia lambendo até a minha entrada molhada.
Era gostoso demais. Puta que pariu!
— Não para!
Imploro em desespero e ele me ouve, circunda com a língua mais
vagarosamente e invade meu corpo com dois dedos com cuidado. Sinto que
poderia desmaiar a qualquer momento tendo a sensação do corpo dormente e
ardendo em chamas, aperto meus seios tentando buscar algum alívio e abaixo
a cabeça procurando seu olhar. Encontro seus olhos observando cada
movimento meu e ele sorri com os olhos quando se afasta e deixa um tapa
leve sobre minha vulva antes de se abaixar de novo me beijando os lábios
inferiores tão gostoso quanto os de cima.
Meu orgasmo se construí rápido. As sensações que antes
desconhecidas eram gostosas e intensas, apertei meus mamilos com força
tentando filtrar todo o prazer que percorria meu corpo. Em certo momento fui
tomada por desespero na busca por gozar e sem nenhum pudor enfiei meus
dedos sobre os fios macios da cabeça de Enrico e me esfreguei em sua boa
até o clímax me atingir com a sensação da minha alma sair do corpo e voltar.
Parecia estar desintegrado em mil pedaços que só retornaram a se juntar
quando em curto espaço de segundos ainda com minha boceta sofrendo
espasmos se contraindo, a ereção de Enrico entrou até o fundo e parou lá, se
embainhando até o talo. Ficou lá, enterrado, com nossos corpos grudados, ele
gemendo baixinho por sentir minha contração.
— Namora comigo, Madalena? Falou levando suas mãos em meu rosto, os
olhos grudados um no outro e os narizes colados engolindo as respirações
pesadas.
— É sim. — Respondo emocionada. — É claro que é sim, Enrico. — Era
impossível responder outra coisa.
11
Enrico De Giordano
Madalena estava de olhos ainda fechados ao meu lado, o rosto satisfeito
e a respiração ainda pesada de um pós-orgasmo e pós aceitar meu pedido de
namoro me deixava duro de novo.
— Faixa?
— Está querendo dizer que só faz sexo com amor? Isso é bem bonito vindo
de um homem.
— Eu não ligava muito antes, mas eu mudei de ideia depois que me casei.
— Vicente e eu não éramos assim, Enrico. Ele era legal, do jeito dele, mas
ambos não estávamos abertos a uma relação, funcionava do jeito certo.
Elogiou e meu ciúme apertou.
— Entendi, vamos mudar de assunto não estou tão confortável quanto pensei
que ficaria. Rolei os olhos para outro lado pegando o controle da tv e disfarço
ligando o aparelho.
— Que diabos você viu em Pokémon? Assiste essa coisa o dia todo.
— Seja lá o que você estiver pensando, eu não consigo agora, ainda estou
sensível. Avisa notando minha ereção começar a inchar em sua perna.
— O que? Ri descarado.
— Não. Estou falando muito sério, nossa relação não deve se basear em sexo,
precisamos saber dialogar.
— A relação deve se basear em sexo, amor. — Roubo um beijo momentâneo
dos meus lábios. — Nunca ouviu falar que namoro para dar certo tem que ser
igual pernilongo?
— É, apagou a luz, pica. Beijo seu queixo bonitinho e dou uma pequena
mordida antes de escutar sua gargalhada alta enquanto me livrava de seu
abraço.
— Você é ridículo! Meu Deus, você é muito babaca, levanta, vem me ajudar
a terminar o café, temos muito o que fazer.
— Sei lá, a gente arranja algo. Levanta os ombros sem ideia e argumento.
— Ah amor, estou de férias e voltando a ativa, quero só que você traga sua
boceta até aqui e cavalgue no meu cacete. Aponto para o pau.
— Você quem sabe, mas vamos marcar o mais rápido possível, vou pedir
algumas na farmácia, mas eu realmente aprecio que você tome algo para
podermos fazer sem, espero que você concorde. A olho sorrindo.
— Tem razão, me desculpe, vou mandar uma mensagem para Aline hoje
mesmo, ela talvez possa me indicar o ginecologista que ela vai.
— Certo. Concordo levando sua mão livre aos lábios depositando um beijo
na palma.
— Fala, Doug. Atendi de imediato e estendi o braço para que ela deixasse sua
banqueta e se sentasse em meu colo.
— Bom cara. — Meu amigo limpou a garganta. — Conversei com Jonas, ele
contou sobre sua cuidadora, até que enfim descabelou o palhaço hein, otário.
— Me ligou para isso? Dou uma risada enquanto acaricio a anca de Madalena
que mastigava um pedaço de manga como se fosse a coisa mais gostosa do
universo.
— Qual foi? Você não quer que sei lá eu dê uma dura nessa equipe de
merda?
— Calma! Não faz nada por enquanto, nós vamos agir com calma, espera até
eu voltar. Levei uma mão a ponte do nariz apertando, tentando relaxar a
tensão que me invadia.
— Doug, vai dar tudo certo, fica na sua e age como se não soubesse de nada,
quando eu voltar vamos pegar um por um desses abutres de merda! Valeu por
avisar cara.
— Por nada, irmão. Está tudo bem tirando essa porra, não?
— Sim, estou ótimo, apareça depois, você tem que conhecer a Madalena.
— Foi mal, saiba que estou feliz por você ok? Mas preciso desligar agora.
— Aconteceu.
— Uns filhos da puta que escorregam mais que sabonete molhado, mais uma
vez conseguiram escapar e levar embora as únicas provas que tínhamos
reunido. Estávamos tão perto de chegar no cabeça deles.
— Exatamente. — Bufei com raiva. — Mas não quero me estressar com essa
merda antes da hora, vou tomar um banho... quer vir comigo? A olho
deixando claro minhas intenções.
— Eu quero que se foda, não combinei nada. Fiquei dois anos sem transar,
me dá um desconto, preciso de você no banho comigo agora.
— Sim, você lembra que eu disse que eu não consigo lavar o pau sozinho, te
contei isso desde o seu primeiro dia.
— E agora?
— Agora o que?
— Me odeia ainda?
— É.
Puta que pariu! Pisco totalmente fora de mim e abro e fecho a boca
duas vezes impactado com suas palavras antes de sorrir largamente.
— Isso é um sim?
— Deixa de bobeira, Madalena, não tem porque me pedir desculpas por algo
que nem eu nem você tivemos noção de quando aconteceu, foi gostoso na
hora. A roubo um beijo e consigo distraí-la.
Desço os dedos pelo seu colo devagar e paro firmando cada mama em
uma mão. Aperto forte sentindo os mamilos rígidos por baixo do tecido.
Madalena solta o ar pela boca e sinto suas mãos descerem do meu peito pelo
abdômen e pararem no elástico do moletom.
— Madalena... Imploro.
— O que seria algo errado? Sobe uma sobrancelha e sua voz sai um pouco
debochada.
— Você quer isso, Mada? Pergunto rezando intimamente para que ela
dissesse sim.
— Eu fiz certo? Questiona e pincelo mais uma vez contra sua boca.
— Muito certo, porra! — Sussurro agoniado e sinto meu corpo ser
eletrificado quando ela toma para si arrancando minha mão e volta com a
umidificando. Sinto sua boca molhada como se juntasse a própria saliva antes
de me levar mais fundo.
Quase perdi o controle quando ela subiu os olhos para os meus e sorriu
com meu pau enterrado na boca, nosso tesão era palpável, levei uma mão e
seus cabelos e os juntei em um rabo seguindo seu ritmo de ir e vir, me
engolia cada vez mais como se testasse até onde conseguia.
Pensando não ser mais possível ficar ainda mais duro, eu fui
surpreendido quando ela tirou tudo da boca e o segurou lambendo das minhas
bolas até a cabeça para só depois colocar de novo na boca.
— Aí, caralho, Madalena, você é demais porra... que delícia. Falei tentando
digerir os espasmos que aumentavam cada vez mais, mostrando que meu
orgasmo estava na beira.
Madalena esperou que eu lavasse seu cabelo com todo o cuidado, ela
se virou de costas para enxaguar e mais uma vez senti meu pau endurecer ao
encarar seu traseiro gostoso. Diminui a distância e liguei o foda-se para
minha perna machucada levando uma mão em sua pélvis e desci acariciando
com a ponta dos dedos seu clitóris, ergui uma de suas pernas e a penetrei
fundo por trás e daquela vez não me importei em esporrar dentro dela, e
Madalena nem pareceu se lembrar de nada enquanto eu a inundava. Nos
lavamos em um silencio confortável, cansados e satisfeitos decidimos ignorar
o almoço, passando o resto da tarde vendo TV nus e abraçados na cama.
— Você não tem um quarto, é isso, amanhã vamos mudar todas suas coisas
para o meu quarto.
— Enrico!
O ódio do meu amigo e a raiva por ainda ter de estar longe do meu
trabalho voltou com tudo e eu rugi digitando xingamentos em resposta para
Jonas quando Madalena apontou na porta usando um de seus pijamas de seda
curtos que a deixava apetitosa.
— Eu duvido que consigam. O cara é esperto, mas deve estar passando por
alguns problemas no momento por ser teimoso e não ter me escutado.
Resmungo jogando o celular na mesa de cabeceira.
— Vai ficar tudo bem, já tem gente trabalhando nisso. Finjo calma e
segurança.
— Eu não quero que corra perigo... existe tanta gente ruim nesse mundo.
Sussurra com seu olhar perdido. Madalena parecia lembrar coisas ruins.
— Eu não vou, Madalena, tudo vai dar certo. Beijo sua testa e a acalento
enquanto tudo que eu desejava era que eu estivesse certo.
12
Madalena Cereja
De manhã eu tinha sido acordada com beijos espalhados por minhas
costas. Despertada eu quis ajudar Enrico a cobrir o gesso para que tomasse
banho e ele me surpreendeu ao me puxar para enganchar as penas em sua
cintura e andar comigo para banheiro como se eu não pesasse nada.
— Que caralho, isso é muito gostoso, ver meu pau entrando e saindo da sua
boceta... — Puxa minha nuca o suficiente para que nossos lábios se
enrosquem em um beijo molhado enquanto seu quadril batia forte em
estocadas selvagens.
— Desculpa, estava muito gostoso, paixão. Beijou o meio dos meus seios.
— Mada, você que não imagina o quão rápido fico duro vendo minha porra
escorrer... fica calma, minha porra não é tão potente assim... foi só uma vez.
Ele disse desviando os olhos e eu realmente não me lembrava de outra vez.
— Talvez seja melhor nos abstermos de sexo até lá para não corrermos risco.
Falo com raiva e ele sorri descarado.
— Mas ainda nem lavei seu cabelo. Ele falou claramente chateado. Tínhamos
criado um pequeno ritual nas manhãs desde que estávamos dormindo juntos,
sexo matinal seguido por um banho caprichado onde Enrico era ensaboado
por mim enquanto fazia o mesmo, depois lavava meu cabelo o que eu quase
sempre agradecia com um boquete enquanto o mesmo se mantinha inquieto
com o pé imobilizado na tala impermeável.
— Hoje não.
— Tudo bem, vou fazer o café. Aviso mais uma vez me embrulhando na
toalha e o deixando sozinho no banheiro.
— Claro que não está, você fugiu do banheiro. Já pedi desculpa, amor... eu
sei que vacilei.
— Claro que está, Madalena. Meu Deus, aparentemente ter um filho comigo
apavora a qualquer pessoa. Sua voz baixa saiu chateada e eu me lembrei de
quando ele disse que a esposa falecida não queria engravidar.
— Não é nada disso, Enrico, você entendeu tudo errado. O olho com os olhos
já cheios de lágrimas, doía em mim ver que aquele homem enorme e lindo
era tão inseguro e ferido por dentro assim como eu.
— Porque sou quebrada, Enrico! Você não vê? Deixei o choro me atingir.
— Madalena. — Enrico me puxou para seu colo e levou meu rosto bem perto
do seu. — Isso tudo que você contou é horrível, paixão.
— Sim.
— Então é um coronelismo?
— Exatamente.
— Eu te amo. Sua voz grave falou calma e firmemente e então meu mundo
parou.
— Porque nunca ninguém disse isso. Falo apavorada sentido meu coração
bater na boca.
— Não vai.
— Enrico lembra que eu disse que nada poderia me machucar mais do que já
sou machucada? Eu estava errada, você pode... eu também te amo, é diferente
de tudo que já senti.
— Sinto muito pelo surto de mais cedo, eu não quis que pensasse que não
quero ter um filho seu, é claro que seria um sonho eu só não sei se seria uma
boa ideia.
— Eu fico feliz em saber disso, eu também ficaria feliz em ter um filho com
você, e vai ser uma boa ideia quando for pra ser. Beijou a ponta do meu nariz.
— Isso é bobagem, escute, vou ligar para algumas pessoas, vou pedir que
investiguem esse tal Joaquim, ele vai ter que pagar pelo mal que vem
causando tanto a você quanto ao povo da sua cidade natal.
— Não! Por favor, Enrico! Ele é perigoso, eu tenho medo, se ele descobre
onde estou ele pode vir atrás de mim.
— Ele nunca vai tocar em você, nem ele nem ninguém, Madalena! Confia em
mim!
— Ele está há anos tentando, paixão, enquanto isso muita gente sofre, nosso
país não é lá dos melhores, mas é contra lei isso.
— Quando se mora em lugar esquecido a lei quem faz é o que tem mais,
Enrico.
— Eu vou pedir que investiguem, isso está decidido, só quero que você
confie em mim, ok?
— Mas...
— Eu vou. — Anuncia com firmeza. — E não precisa ter medo, esse cara
nunca vai te tirar daqui. Ele não pode fazer nada com você.
— Se Vicente descobre que eu te contei sobre o segredo dele, ele nunca vai
me perdoar.
— Paixão, eu só vou sondar o que acontece por lá, não estou dizendo que vou
fazer nada.
— Você promete?
Parecia surreal tudo que vinha acontecendo. Mas apesar de tudo meu
peito ainda estava apertado. Algo ruim iria acontecer.
— Nada vai acontecer conosco, esquece esse assunto, vamos comer, temos
muita coisa para fazer hoje.
O Jeep negro com a placa tampada por um saco plástico negro parou
e duas pessoas desceram. Mais uma vez a mulher resmungou ao pisar no
chão desnivelado com seus saltos altos.
— Edgar, eu ainda estou pensando em como deixei você chegar a este ponto
de sou sempre eu a ter que limpar a merda.
— Denise, fica calma, conseguimos pegar o cara, vamos acabar logo com
isso, colocamos fogo nele e nesse casebre, as provas foram destruídas, até
seu querido genrinho retornar para a ativa e conseguir reunir de novo mais
provas já ganhamos mais milhões, e então destruímos de novo, como estamos
fazendo todos estes anos.
— Se a cada vez que se reunir provas eu tiver que matar alguém pela sua
incompetência. A voz estridente dela saiu afiada enquanto montava o pente
em sua pistola 9mm retirada da bolsa preta no banco traseiro do carro.
— Eu sei toda a história. Mas Paty nunca foi igual você, Denise... ela só lhe
puxou na beleza.
— Patrícia era uma fraca, assim como o pai dela, fiz bem em me livrar deles
enquanto era tempo. Eu quase consegui acompanhar a investigação e fazer
com que Enrico prendesse Ernesto e encerrasse o caso.
— A quem?
— Eu vou! Gosto de ver a vida se apagar nos olhos deles. Falou começando
a andar em direção à porta do pequeno barraco.
Edgar voltou ao Jeep e aguardou alguns segundos até ouvir três tiros
seguidos. A mulher com quem teve a infelicidade de se envolver anos atrás
não tinha piedade nenhuma, e estar saindo com um sorriso nos lábios após
ter matado mais alguém mostrava isso.
13
Madalena Cereja
— Pois não, senhor. Ele parou frente à mesa reparando pela visão periférica
que agora o também engravatado fumava charuto assim como o patrão.
— Não toque no nome daquele bastardo, já lhe disse isso mil vezes! —
Cuspiu um pedaço do fumo que mascava. — Humberto é detetive e consegue
achar qualquer rastro que seja, vai achar a menina.
— Ela me deve...
— Ela não tinha dinheiro, duvido que esteja longe. Você só não está
conseguindo cavoucar direito. — O velho olhou para o homem sentado. — O
prazo para me dar notícias é de um mês a partir de hoje.
Doug ainda não havia retornado para São Paulo, e Enrico tinha
xingado até a sétima geração por estar com o pé engessado, ameaçou até
mesmo arrancar o gesso com uma tesoura sem ponta. Só mudou de ideia
quando dona Luísa disse que me levaria embora. A raiva dele tinha se
abrandado e praticamente expulsado os pais para fora após nosso jantar.
— Oi. Parei ao seu lado e ele nem desviou o olhar para mim.
— Oi.
— Dormiu bem?
— Um pouco...
— Não fica assim, Enrico. Levei meus dedos ao seu peito suado.
— Como não fico, paixão? Minha delegacia deve estar um caos, um homem
meu morreu e nem sei se era o verdadeiro traidor, eu não sei onde estou
pisando, perdi todas as provas de novo, esses fodidos sempre conseguem
escapar quando estou quase conseguindo.
— Não é a primeira vez que isso acontece?
— Eu sinto muito.
— Sim, paixão. Ele moveu a cabeça para perto tomando meus lábios nos
seus.
— Não.
— Você precisa ficar bom primeiro, antes de voltar para a loucura que sua
vida parece ser.
— Com certeza.
— Não!
— Nunca diga nunca. Piscou descarado e minha boca se abriu e fechou duas
vezes comigo incapaz de falar qualquer coisa.
— Nunca!
— Você subiu sozinho seu papa-cu, desça também! Gritei com raiva e a
gargalhada estrondosa dele me deixou ainda mais furiosa.
— Papa o que?
— Cale a boca!
— Eu não quero!
— Se um dia acontecer, eu disse “se”... Vai ser por nossa vontade, de nós
dois, eu só brinquei, não é uma exigência, você precisa saber que eu te amo e
que me satisfaz, você sabe disso, não sabe? Madalena?
Bariloche - Argentina
São Paulo
— O que aconteceu, reunião de família? A garota olhou seu pai, ele sempre
era mais simpático e ela nunca negou que gostava mais dele por isso. A mãe
que sempre deixava claro que só a teve para cumprir tabelas, além de lhe
jogar na cara que a mesma ainda deveria ter nascido homem.
Patrícia notou que mulher loira trazia em suas mãos alguns papéis.
— Conheça o seu futuro marido. Lhe jogou os papéis incluindo uma foto de
um homem muito jovem e muito bonito.
— Meu o que?
— Querida, você precisa saber que não vamos te obrigar a nada, você só irá
fazer se sentir confortável. O pai disse gentil e logo a mãe emendou.
— É os negócios, ela tem que fazer sim! Esse é o novo delegado que irá nos
investigar, você precisa se aproximar dele o bastante para sabermos cada
passo que ele dá para descobrir sobre nós.
— Querida...
— Se você pretende ter a vida de rainha que sempre teve, e ainda se casar
com quer que seja depois disso, você vai sim fazer isso! Se prepare que
amanhã mesmo você vai conhecê-lo numa coletiva de imprensa que ele irá
dar! Anunciou dando as costas e saindo do quarto arrastando o pai junto.
O ser humano não devia ser ruim, não havia motivo, tínhamos tudo.
Em compensação eu olhava a família que me acolheu quando cheguei aqui.
Aline era uma mulher batalhadora e que vinha vencendo na vida, que apesar
das dificuldades estava conseguindo sem passar por cima de ninguém isso
tudo tinha sido por ter sido criada por alguém incrível como dona Rosa.
Tinha Luísa, a mulher mais doce que já tinha conhecido na vida, e Enrico,
que apesar dos pesares, tinha todos os motivos para ser amargo, mas no fundo
só estava esperando alguém para voltar a viver.
— Sim.
— Se eu estiver mesmo grávida, nós vamos educar ele para ser bom, não é?
— Promete?
— Prometo.
— Ei? Porque sempre que falo de Vicente você fica chateado? Fica com
ciúmes?
— Seu bobo. Para com isso, você sabe que o que temos nem se compara.
— Sim. O que eu pensava ser amor, nem se compara ao que sinto por você,
Enrico. Falei sincera e vi ele fitando meus olhos por uns segundos
intermináveis.
— Não quero. Balancei a cabeça e ele tirou a camiseta que vestia pela cabeça.
— Tudo bem?
— Sim, eu preciso de você. Concordei sentindo ele cobrir minha boca com a
sua.
O beijo foi intenso e apaixonado, de uma hora para outra a tensão que
nos cobria tinha dado espaço para a calmaria e paixão. Enrico me segurava
terno e cuidadoso. Com carinho. Senti seus dedos em minha calcinha e o
ajudei a se livrar dela, paramos o beijo para que ele jogasse o meu moletom
para longe.
Enrico intercalou entre meus seios e minha boca, foi tão delicado que
se eu já não tivesse a certeza eu teria que nunca mais iria querer outro homem
na vida se não fosse ele.
Movi meu quadril para que entrasse todo dentro de mim e arfei
quando empurrou fundo, não segurei minhas emoções começando a gozar
intensamente pela segunda vez o apertando tanto que logo gemeu rouco em
minha boca me acompanhando.
— Enrico?
— Fala, pau no cu, isso lá é horas cacete? Descobriu o que? Que merda
Douglas, você não está num filme, fala logo! Ok, eu te espero aqui, meia hora
cara, eu ainda estava dormindo... sim seu pau no cu, dormindo, porque trepei
à noite inteira com minha mulher! Desligou rindo e eu o encarei corada com
suas palavras e sem entender nada.
—Loiro putão?
— Mas, Kaká...
— O que eu vou dizer para ela? Pensei que você quisesse investir nos
negócios com o ministro.
Kaká suspira. Patrícia era uma boa mulher. Sempre fazia suas
vontades. Nunca o pressionava para ter filhos. Até tinha aceitado abortar o
primeiro e único que veio por descuido.
— Eu não sei, sua mãe veio dizer que tivemos um problema com o infiltrado,
ele teve que ser morto, estava ameaçando nos entregar.
— É apenas dois dias. Você pode ficar sem mim dois dias, não? Além do
mais, minha mãe ficará até eu voltar, eu presumo, não?
— Acho que sim. O homem fingiu desinteresse o que subiu o ódio no coração
da mulher que o encarava.
— Mas tem algo errado. — Ele a olhou por um segundo antes de bufar
desistindo. — Certo, não me faça me arrepender depois, Patrícia... você é
ingênua querida. Sabe que tem que tomar cuidado, certo?
— Sarah, você sabe que Patrícia está morta. Eu irei ser cuidadosa. Ela se
aproximou abraçando o marido e lhe beijando o pescoço. A satisfação que o
plano estava saindo como planejado a tomou. E a ingênua iriam os
surpreender.
— Caramba. — Douglas soltou uma risada. — Bem que o Jonas falou que cê
estava de quatro, cuzão.
— Oi. É tudo que consigo falar encarando os olhos muito verdes do homem.
Em que momento eu dormi e acordei nesse mundo paralelo de homens fortes
e gostosos?
— Faz brincadeira com isso e vai ser a última coisa que faz na vida. Enrico
vivia fazendo brincadeiras com meu sobrenome e agora estava com ciúmes
disso?
— Calma cara, para de ser afobado. O loiro se sentou no sofá a nossa frente
aparentemente muito tranquilo.
— Doug, você me acordou bem cedo para falar o motivo que Madalena
estava sendo perseguida por aquele desgraçado, fala logo.
— Beleza!
— Quem é Theo?
— O filho dele. — Enrico me explicou. — Ele sofreu a tentativa de sequestro
uma vez.
— E esse filho da mãe aí, o salvou. Por isso eu fui até aquele fim do mundo
para limpar a sua barra, bonitinha. Douglas piscou para mim.
— Estou com o pau esfolado de tanto trepar... só não aguento essa enrolação
do caralho.
— Foi preso, acusado de homicídio, a cidade está o tratando como herói, mas
ele ainda irá responder por homicídio doloso.
— Da minha assinatura?
— Você é filha não reconhecida de Olavo, ele não a registrou, mas deixou
especificado no testamento.
— Eu sou...
— Irmã de Joaquim?
— A irmã mais nova que o pai dele teve, fora do casamento obviamente.
— Meu Deus.
— É claro que ele ia me matar! É isso que a família dele fez a vida toda!
— Não, eu não sou uma Rodrigues! Eu sou filha de criador de gado, minha
mãe era costureira, eu sou pobre, sempre fui, eu não sou! Grito me
levantando e saindo pelo corredor o mais rápido que eu consigo.
Quando caio na cama o choro sai tão alto que eu tenho que abafá-lo
com o travesseiro, menos de dois minutos depois eu escuto a porta do quarto
se abrindo e o colchão ao meu lado se afundar.
— Não pode ser verdade! Eu não quero que seja! Eu não quero ser uma filha
bastarda daquele sangue ruim, e ainda por cima irmã daquele outro demônio!
Sai da cama, fui até o banheiro, lavei meu rosto e sai procurando
Enrico pelo apartamento.
— Se isso for verdade, eu vou destruir um por um! Ouvi sua voz sair ácida.
Enrico me levou com ele para o sofá e Doug continuou a nos encarar
com um sorrisinho no rosto.
— Vamos pedir pizza, a gente aproveita e conversa mais sobre o que Doug
descobriu, ok?
— Por mim tudo bem, eu vou tomar um banho então, eu ia tomar, mas
resolvi procurar por você antes...
— Esperamos você. Beijou minha boca com vontade não se importando com
seu amigo presente e só me largou quando eu o afastei sem fôlego sentindo
minhas bochechas queimarem de vergonha.
— Bom, pelo que parece, Joaquim escondeu como pôde esse segredo,
Madalena, mas quando seu pai faleceu e você ficou sozinha, o cerco se
fechou.
— Como assim o cerco se fechou? Era só ele nunca revelar o segredo, certo?
Eu não quero nada daquela família...
— O que quer dizer com isso? Perguntei sentindo a mão de Enrico apertar
minha perna como se me desse apoio.
— Olavo deixou algumas pessoas a par de tudo, seus advogados em Campo
Grande barravam qualquer coisa que Joaquim quisesse fazer nos últimos
tempos, ele queria vender algumas propriedades mas para que isso fosse feito
exigia-se a sua assinatura, você também era dona.
— Tudo indica que sim, agora ele está morto e não pode confirmar, mas a
única explicação sensata é essa, nunca foi a dívida do seu pai de criação
Madalena, ele morreu devendo apenas uma mera quantia. Treze mil reais
para o patrimônio que agora é seu não são nada.
Enrico surge ao meu lado segurando meu cabelo para fora do rosto e
eu sou incapaz de mover para pedir que ele saia e veja aquela cena. Consigo
voltar a respirar quando termino de lançar tudo que tinha no estômago.
— Madalena, eu sei que isso tudo é uma loucura, mas você não pode pirar.
— A minha vida é uma mentira! Como eu não vou pirar? O encaro pelo
espelho e agarro um enxaguante bucal.
— O que?
— Vai por mim, grávidas vomitam com tudo. Enrico falou calmamente e eu
paralisei. Seus olhos brilhavam como duas safiras me olhando em
expectativa.
— Você acha...
— Madalena?
— Madalena...
— Está na sala.
— Tem certeza?
— Amor, eu acho que não vai ser necessário, você está agindo muito como
grávida.
— Agora!
— Você está me deixando mais nervosa ainda! Gritei ouvindo seu suspiro
pesado do outro lado da porta.
— Madalena...
— Eu quero participar...
— E se der negativo?
— Eu duvido.
— E se der? Coloco as mãos na cintura.
— Eu ainda tenho alguns dias de tentativa até o seu médico, se der negativo
vou me sentir bem empenhado.
— Maldita hora que aceitei ser sua cuidadora. Revirei os olhos pegando o
primeiro teste indo em direção a privada.
Não ouvi sua resposta, mas eu sabia o porquê, não precisava nem
virar o rosto para saber que ele ainda estava sorrindo.
— Deu positivo?
— Erram porque deu negativo, se tivesse dado positivo você estaria dizendo
que são confiáveis. Falei irritada subindo minha roupa e indo para a pia lavar
as mãos.
— Madalena...
— Agora todos lá fora vão ficar chateados também. Eu não vou lá, vai
sozinho!
— Desculpa. — Sua voz sai gentil enquanto suas mãos tomam meu rosto. —
Me perdoa, eu não devia ter chamado todo mundo para vir, eu só fiquei
animado.
— Eu sei disso Madalena, pelo amor de Deus, eu já te disse que a ideia de ter
uma família com você é incrível, mas não significa que temos que fazer isso
se não quiser.
Senti mais uma vez o peso sobre a cama e o toque de seus lábios em
meu ombro. Enrico encaixou nossos corpos e envolveu minha cintura com o
braço. Procurei seus dedos e os entrelacei nos meus, mas não ousei abrir a
boca, nem ele, ficamos em silêncio, deixando somente o barulho de nossas
respirações, aparentemente no momento não havia nada a dizer, ou melhor,
ninguém tinha a coragem de dizer.
— Tô com medo. Falei sentindo minha voz sair rouca e embolada pelo nó
dolorido que estava em minha garganta.
— Eu estou aqui, não precisa ter medo de nada. — Beijou mais uma vez meu
ombro. — Estamos juntos.
Mudei a posição me virando para fitá-lo, precisava olhar seus olhos,
sua íris verde eram minhas favoritas no mundo inteiro, só elas eram capazes
de acalmarem meu coração para que eu entendesse que eu não estava mais
sozinha.
— Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance. Falou imediato sem hesitar.
Meu coração bateu acelerado, mas totalmente aquecido com sua prontidão.
— Se aquilo tudo for realmente meu, eu vou devolver tudo a quem eles
tomaram.
— Eu não esperaria menos de você. Foi a vez de ele afagar meu rosto.
— Obrigada.
— Obrigada de novo.
— Não quero que fique triste como ficou ao ver o resultado lá no banheiro,
por favor.
— Enrico...
— Eu te amo tanto, Enrico. Falei meio a beijo quando com cuidado entrou
em mim até o fundo e parou lá, procurando meu olhar.
— Goza cerejinha... vem pra mim... sua gostosa do caralho! Ouvi ele rugir
com a voz rouca entrecortada antes de se inclinar para grudar nossos lábios
em um beijo alucinante. No segundo seguintes nós dois vínhamos ao auge e
eu sentia meu mundo girar.
Enrico tragou cada um dos meus palavrões com nossas bocas unidas
num beijo cheio de língua. O sentia se despejar dentro de mim com jatos forte
que enchiam meu âmago.
— Pare de balançar esse pé. Segurei sua perna que não parava de se mover
rapidamente enquanto estávamos sentados um ao lado do outro na sala de
espera do consultório de Doutor Anael.
— Hum, sua mãe já comentou... Enrico, pare de balançar o pé! Segurei seu
joelho o obrigando a parar.
— Enrico, você está surtando, pode manter a calma, por favor? Pedi assim
que entramos na sala.
— Não consigo. Ele me olhou e pela primeira vez desde que nos conhecemos
pareceu apavorado.
— E então, Madalena... Luísa me disse que era urgente, ela é uma das minhas
melhores pacientes. O que os trazem aqui?
— Bom, vocês fizeram algum teste? Está com o período atrasado? Porque
exatamente estão com essa dúvida?
— Bem, não estou muito atrasada, apenas alguns dias... e eu fiz um teste
ontem, mas deu negativo.
— Transvaginal?
— Fique calmo, talvez futuro papai, isso é só o começo, você vai ter que ser
forte se quiser ver um nascimento.
— Você vai enfiar isso nela? Os olhos dele estatelaram de novo ao ver o
médico cobrir o aparelho com um preservativo.
— Tenho certeza que o seu é maior que isso, Madalena vai ficar bem. O
médico olhou Enrico e sorriu o que só adiantou para minhas bochechas
queimarem ainda mais.
— Muito bem, olha só isso. Doutor Anael falou e eu mirei o rosto de Enrico
que era uma mistura de pavor e encanto.
— Meu Deus, o meu bebê tem dois corações? Minha voz saiu alta e
assustada.
— Não, você é que tem dois bebês. Doutor Anael sorriu. — Vejam só. —
Apontou para a tela. — O barulho apesar de estarem batendo quase
sincronizados se nota uma alteração.
— Vão ser idênticos? Foi minha vez de falar com minha voz embargada.
Meu coração palpitava só de imaginar dois bebês parecidos com Enrico em
meus braços.
— Isso mesmo, por isso os corações batem sincronizados, pode até chegar a
confundir, mas para mim não há dúvidas que são dois bebês.
— Parabéns casal, gestações múltiplas naturais são raras, tem algum caso na
família?
— Ainda não, bom, daqui há um mês eu diria que vocês podem fazer o de
sexagem, Madalena ainda está no início da gravidez, entrando no segundo
mês de gestação e por isso devo dizer que os enjoos devem aumentar
bastante, devido à presença de dois fetos o volume de hormônios produzidos
vai ser bem maior, consequentemente mais enjoos.
— Ah é?
— Está vendo? — Ele apontou um dedo para mim enquanto ainda olhava o
médico. — Ela riria disso se não estivesse grávida.
— Pode se trocar, Madalena, quando você estiver pronta vou explicar todas
as dúvidas, passar alguns exames para que comecemos o seu
acompanhamento se você desejar continuar me tendo como seu médico.
Doutor Anael se afastou descartando as luvas e indo apertar a mão de Enrico
que ainda mantinha o sorriso no rosto.
— E você com aquele papo, minha porra não é tão forte assim,
aparentemente é tão forte que dividiu meu óvulo em dois. Falei quando
entramos no carro e ouvi sua gargalhada gostosa enquanto colocava os óculos
de sol no rosto e me olhava.
— Aquele papo era para você não cismar em atrapalhar nossas fodas no pêlo,
paixão.
— Seu cretino. Bati a mão em seu braço, mas sem disfarçar que também
achava graça.
— Claro que não. Enrico subiu os óculos para o topo da cabeça e eu quase
pedi para que baixasse pois eu estava prestes a agarrá-lo ali meio ao
estacionamento.
— Você precisa saber disso, estarei aqui para te ajudar no que quiser e
precisar, porque amo você.
— Eu quem tive sorte. — Enrico riu baixinho. — Você não imagina o quão
na merda eu estava antes de você chegar.
— Se você ainda tem dúvidas, acabe com elas agora, Madalena... eu amei
Patrícia e ela se foi, mas o amor que senti não se compara ao que eu sinto por
você. Acho até estranho falar isso, mas eu te amo bem mais, e sinto que você
me ama mais que ela me amava também, com a gente é diferente.
— Vamos transbordar amor, Cerejinha. Ele colou seus lábios nos meus.
Enrico dirigiu direto do médico até a casa dos pais. Luísa tinha
exigido que fôssemos almoçar lá o que quer que fosse a notícia, dessa vez
Jonas não estava participando pela chamada de vídeo, estava lá em carne e
osso, me abraçando sorrindo quando nos cumprimentamos e Enrico logo
apareceu ao meu lado.
— Eu sabia! Minha Nossa Senhora não falha, eu pedi tanto, eu falei, traz uma
moça completa, e olha só Luiggi, ela trouxe Madalena que me deu logo dois
netinhos.
— Já pensou se for duas menininhas? Aí meu Deus, a vovó não vai aguentar.
— Lembro.
— Eu tentei... comprei uma fantasia e tudo mais e sabe o que ele disse?
— O que?
— Que eu estava sendo ridícula. Que eu não devia ter comprado a maldita
fantasia, que ela estava pequena demais para mim... Madalena, foi horrível.
Aline choramingou.
— Amiga, que horror, porque você não me ligou? A abracei com força.
— O que?
— Liberdade! — Ela sorriu. — A confecção anda bem, e vou poder tirar os
próximos dez dias para me curtir, sem preocupar com os meninos, Rafael é
um bom pai, além de tudo... Ele não está errado em querer ser feliz, eu
também vou tentar ser agora.
— Ele é um gato. — Ela suspirou. — Até demais, às vezes acho que ele está
zoando quando me joga essas cantadas... e é policial, sempre tive uma queda
por policiais.
— O que tanto cochicham aí? Enrico apareceu ao meu lado trazendo dois
copos. — Suco para a mais nova mamãe, e champanhe para você.
— Meu Deus, amo que vocês estão brindando dia de semana durante o
almoço, como estou de férias me darei o direito até de ficar bêbada.
— Não querendo ser fuxiqueiro, mas já sendo, Aline não era casada?
— Ela parece estar bem apesar de tudo, mas já avise o seu amigo, que se for
para fazê-la sofrer... — Aponto para o rumo em que Douglas estava se
mantendo atrás de Aline.
— Douglas conversou com o tal advogado, vamos ter que fazer uma pequena
viagem até Campo Grande em alguns dias.
— Para quê?
— Se você souber a quem pertence. Vamos resolver tudo quando formos até
lá.
— Eu nunca deixaria vocês irem sem mim. Falou me apertando entre suas
pernas.
— Vai ser estranho demais voltar para lá... se formos até Alvorada.
— Você nunca pretendia voltar?
— Quando sai de lá eu não podia, nunca mais tinha pensado. Mas agora fico
feliz, foi lá que eu nasci, lá é onde tem minha história.
— Seu pai é quem te criou. Sua mãe não está mais viva, mas ela com certeza
tem orgulho de você.
— Tomara que sim. Subi o rosto para olhar o seu e ele beijou meu nariz com
carinho. Emocionada por todos acontecimentos do dia eu suspirei pensando o
que mais o destino me reservava.
18
Enrico De Giordano
Entrei no meu escritório depois meses sem pôr os pés, a sensação que
eu tive era que estava ali pela primeira vez e encarei minha mesa abarrotada
de papéis e sorri percebendo que eu realmente sentia falta daquilo.
— Desaprendeu a bater?
— Bom dia? Olhei meu amigo que parecia com cara de poucos amigos.
— Mesmo depois de eu dizer que não seria uma boa ideia, eu te falei que a
Madalena disse que não é para você chatear ela...
— Nos beijamos... cara foi sei lá... bom pra caralho! Eu fiquei ligadão. Tava
a ponto de bala já, mas quando eu me convidei para entrar pareceu que ela
tinha levado um choque, encarou meu cacete duro dentro da calça e falou: "É
melhor nós dois esquecermos o que aconteceu aqui hoje" saiu do carro
fugindo igual diabo foge da cruz! Bicho, eu tô puto!
— E aí você foi para o cabaré como sempre, né? Ligou para alguém da sua
agenda.
— O que?
— Liguei para a Amanda, uma garota que eu fico sempre... cara na hora do
fight o moleque que estava duro que nem uma pedra meia hora antes se
recusou a ficar duro de novo. Confessou como se me contasse a pior tragédia
da história.
— Vou levar o seu espanto como um elogio. Voltou a levar as mãos aos
olhos fungando alto e chateado.
Foi o estopim, voltei a gargalhar, e dessa vez ainda mais alto do que
antes.
— Caralho, você está fodido, nem transou ainda com a e o seu pau já tá
brocha para as outras.
— Cala boca! Eu não estou gostando dela, ontem foi só um prolapso, hoje eu
vou visitar Theo, e você sabe o que acontece quando eu visito ele.
— Então você deveria parar de trepar com ela, pois mais cedo ou mais tarde
ela descobre.
— Deveria parar de trepar com quem? Jonas abre a porta segurando um
envelope pardo nas mãos.
— Gostosa, já comi.
— Até parece, você decidiu viver como eremita desde que a Patrícia morreu,
mas seu passado te condena e até que enfim Madalena apareceu para
desenferrujar esse seu ou mole. Doug brinca.
— Pau mole não é o meu caso, já o... — Comecei a dizer e vi o rosto do meu
amigo mudar de cor, ele nunca me perdoaria se eu contasse aquilo para
alguém.
— Está fazendo o que aqui? Não era pra tá de campana no meu prédio, ô
porra? Bradei olhando meus amigos e mudando o rumo do assunto.
— Eu precisava trazer isso aqui, e além do mais ela estava em casa cara, para
de ser psicótico. Jonas nos encarou e abriu o envelope. — Saiu o relatório do
celular do agente que foi encontrado morto, conseguiram puxar as mensagens
que ele tinha apagado recentemente, os números que ele mais entrava em
contato.
— O apartamento está vazio, tipo, não tem nada mais que algumas coisas
velhas lá, parece que a pessoa com quem Hugo falava trabalhava dali.
— Eu sei lá porra! — Falo com raiva sentindo minha mente girar tentando
entender. — Lembra quando investigamos Honório?
— Lembro cara, foi bem na época que a Paty faleceu... e então a gente parou
por um tempo e quando voltamos nós não encontramos nada concreto, logo
depois ele morreu também, todas da família da sua falecida estão mortas.
Jonas falou e eu senti meu peito apertar.
— Por isso. Sempre estava um passo à frente. Encaro minha mesa por um
segundo.
— Encontraram algo?
— Até agora nada, mas foi ele que entregou o dinheiro para Hugo na última
vez.
— Eu acabo com ela. Miro os olhos sobre meus amigos falando com ódio.
— Ih, ferrou, não acredito que essa sua pica murcha se apaixonou na morena
sem nem experimentar.
— É não deixa o cara irritado, ele já está bastante chateado. Dou uma risada.
— Vocês são dois filhos da puta. Eu vou trabalhar que ganho mais.
— Espera, conta mais, ela te dispensou mesmo? Então eu posso sair com ela?
— Não você não pode! Primeiro que sair com a Madalena, agora com a
minha? Qual foi seu fura-olho.
— Vazem da minha sala. Ordeno caminhando para fora ainda rindo. Mais
uma vez encarei o telefone e estranhei por Madalena ainda não ter aparecido,
pensei em ligar, mas fiquei com medo de acordá-la. A gravidez estava
fazendo com que ela dormisse muito mais que o normal.
Não era o suficiente o que meus olhos viam, por isso meus passos
quebraram o espaço rápido até que eu ficasse de frente a mulher.
Ela olhou para o lado talvez imaginando fugir. Agarrei um de seus braços
com força ainda mudo e ouvi sua voz tentando se explicar: — Eu não
planejava te encontrar assim, mas agora começo mesmo a acreditar em
destino, Enrico.
— Eu vou te explicar, meu amor... eu vou explicar tudo, tudo! Ela jogou seus
braços ao redor do meu pescoço e o seu cheiro invadiu minhas narinas, ela
ainda cheirava a lavanda, mas dessa vez o cheiro não aqueceu o meu coração
como das outras vezes.
— Sua mãe fez isso? Perguntei segurando seus braços e vi suas pupilas
dilatarem em surpresa. Eu estava certo nas dúvidas.
— Você já sabe?
— Enrico, tem muitas coisas que você precisa saber, e eu vou contar tudo,
estou cansada de servir como um animal para minha mãe... por ela eu tive
que me afastar de você. Segurou a capela da minha jaqueta e aproximou os
lábios dos meus. Afastei de imediato e a encarei incomodado com a
aproximação, aquilo era uma loucura.
— Enrico? — Patrícia me encarou novamente surpresa. — Você deixou de
me amar? É isso? Você...
— Não fale do que você não sabe! Balancei a cabeça sentindo meu peito
inflar com raiva.
— Como você sabe sobre Madalena? Seguro seus pulsos com força.
— Me solte!
— Então fala! — Grito sentindo minha mente girar. — Fala tudo, porra!
— Eu fui designada para me envolver com você para saber cada passo das
investigações, a coisa saiu do controle porque casamos e você continuou
chegando cada vez mais perto, e então forjaram a minha morte, minha mãe
teve essa ideia, ela usou do seu amor por mim para te deixar abalado.
Minha vida toda foi uma mentira. Eu fui apaixonado por uma mentira.
— Sim.
— Não sei. — Seus olhos escaparam algumas lágrimas. — Acho que não era
seu, era de Kaká, em todo caso ele me fez o tirar, eu não o perdi, eu o abortei.
Como se ainda fosse possível meu coração doeu ainda mais. — O que
você veio fazer aqui?
— Por que?
— Aqui. — Patrícia tirou um pen drive do seu sobretudo. — Dentro dele tem
tudo que você precisa para botar na cadeia quem merece... faça isso, faça por
favor Enrico, você tem que fazer.
— Você precisa agir rápido, Kaká já deve ter percebido que eu não estou no
Rio de Janeiro, então você está correndo perigo, Madalena está também.
— Amo.
— Você sabe que vai presa, não é? Agarrei seu braço e comecei a puxá-la
rumo ao meu carro.
— Você escutou o que eu disse? Sobre estar em perigo? Madalena pode estar
correndo risco.
— Se você sabe alguma coisa fala logo! Aponto um dedo em seu rosto e a
vejo arregalar os olhos assustada. Patrícia nunca tinha me visto me alterar
com ninguém.
— O que é isso?
— Não.
— Eu vou com você, eu só quero ficar mais um minuto ali. Ela apontou para
onde deveria estar enterrada.
— Guarde tudo. Ela apontou para o pen drive e a carta na minha mão.
— Ande!
— Me desculpe por tudo, Enrico, de verdade. Falou mais uma vez antes de
voltar a caminhar para perto da lápide.
— PATRÍCIA!
Os olhos azuis que um dia eu tanto amei já não tinham mais vida,
tinha uma pequena arma nas mãos e o tiro mortal que tinha desferido no
ouvido começou a jorrar sangue demais.
— Meu Deus! Meu Deus! Levei as mãos à cabeça encarando seu corpo inerte
e sem vida. A dor que eu sentia agora não se comparava a dor que eu senti há
dois anos atrás, agora eu estava apenas em choque, sentia pena por ver que
ela tinha tomado uma decisão tão horrorosa, tirar a sua vida, a vida que eu
sofri tanto pensando que já havia sido ceifada.
Nem sei como consegui chegar ao meu prédio tão rápido. Desci
correndo até a guarita da portaria e João o porteiro se assustou.
— Inferno! Respondo lhe dando as costas e voltando para o carro com Doug
ao meu encalço.
— Como assim?
— Esse cara é um covarde, repare, ele desce do carro, mas não toca em
Madalena, com certeza já está de volta a toca.
— E mantém, é onde ele se encontra com todos, mas aqui é onde ele não
encontra ninguém, ninguém além de nós.
— Me desculpe por não estar por perto quando Madalena precisou, cara... eu
sinto muito por Patrícia, eu acho. — Me deu um abraço de lado.
— Pois não?
— Eu...
— Não sequestrei ninguém. Falou medrosamente e meu sangue nos olhos fez
com que eu lhe desferisse o terceiro forte tapa no rosto.
— Você não está entendendo, desgraçado, você já perdeu, abre o jogo logo,
onde está a mulher que você sequestrou saindo do mercado hoje.
— Você me subestima? Eu posso ser o diabo quando eu quero ser, vou te dar
uma última chance para responder a porra da minha pergunta.
— Eu já disse...
Desferi mais dois tapas fortes em seu rosto e vi o covarde deixar as
lágrimas escorrerem.
— Caralho, vai falar não. Jonas abriu a mochila pegando um de seus muitos
canivetes afiados dos quais ele amava.
— Não sei. Ele respondeu e eu firmei a ponta da arma em sua coxa apertando
o gatilho sem dó. O grito desesperado ecoou por todo apartamento.
— Que bom que essa porra deve ter acústica. Doug falou tranquilamente
sentado no sofá frente aonde estávamos.
— Eu não tenho nada, eu sou pobre, viu? Falo sentindo meu estômago
embrulhar. Não era uma boa hora para meu enjoo matinal vir com tudo.
— Garota, fique calada! — O cara do meu lado esquerdo segurou meu pulso
com força o suficiente para machucar.
Só não esperava que aquele carro preto com quatro brutamontes fosse
aparecer na saída. Agora eu não sabia para onde estavam me levando, e eles
não falavam nada, todos os quatro se mantinham calados. Pararam o carro e o
homem do lado do motorista desceu, depois disso logo pegamos a rodovia, o
que mostrava que eu estava sendo levada para longe.
— Deixa vomitar, temos hora! Ouvi o outro retrucar e inclinei a cabeça para
frente.
— Que caralho!
— Calma, cara, fica frio tá? — O que tinha assumido o passageiro ainda
quando o primeiro homem tinha nos deixado apareceu. — Entra no carro, eu
cuido da garota.
— Agora sim... — Suspiro e ergo os olhos para o homem alto a minha frente,
ele era tão forte quanto Doug, os cabelos eram enormes amarrados em um
coque desajeitado. Aceito o lenço e limpo a boca. — Obrigada, por ser um
pouco... gentil.
Não sabia mais quanto tempo tinha passado e evitava olhar para cima,
encarando minhas mãos trêmulas no carro silencioso com os três bandidos
me sentia sendo levada para a morte. Tudo que eu conseguia pedir era que
Enrico me achasse.
O carro parou e o bandido que não era tão estupido quanto o outro me
puxou mais gentilmente para fora do carro.
Meu coração se quebrou quando eu ergui os olhos e percebi o enorme
avião, se entrasse ali era o meu fim, eu estaria morta, Enrico nunca me
acharia, meus bebês nunca iriam conhecer a vida, e toda a felicidade que eu
imaginei ainda viver foi tirada de mim naquele momento enquanto me
arrastavam para o desconhecido.
— Não quero.
— Tome logo.
— Não quero!
— Não estou perguntando se você quer! O moreno que tinha sido grosseiro
antes gritou e eu segurei o copo deixando minhas lágrimas escorrerem.
Assim que o líquido tocou minha língua eu sabia que não se tratava só
de água, mas sinceramente eu não queria saber o que era, apenas rezei para
que aquele pesadelo acabasse, e se para que ele terminasse eu tivesse que
morrer, que fosse logo.
— Vai sentir sono agora. Ouvi a voz do cabeludo ao meu lado. Apenas fechei
os olhos ainda molhados pelas lágrimas que continuavam a escorrer. Pensei
em dizer que estava grávida, para que talvez me liberassem, mas a
possibilidade de que agissem ainda pior comigo fez eu me manter calada.
— Algumas horas, já falei com a mulher, ela vai estar nos esperando,
mandou que pousemos em Buenos Aires. Reconheci a voz do moreno
ríspido.
O frio era tanto que eu despertei. Parecia estar dentro de uma caixa de
gelo. Abrindo os olhos observei o local escuro. Estava deitada no chão duro e
gelado, o lugar parecia enorme e possuía pequenas luzes nas paredes de
madeira.
— Olá? Falei baixinho. Não sabia se era bom ou ruim estar sozinha.
Meu estômago roncou. Não fazia ideia quanto tempo tinha passado
desde o momento que eu tinha sido colocada dentro daquele carro levada até
o avião e tomado aquela porcaria que me fez dormir, podia ter sido horas, ou
dias.
— A mamãe sente muito por não proteger vocês... sente muito, meus bebês.
Deixo as lágrimas escorrerem sentido o vento gelado ultrapassar as paredes
de madeira deixando o local totalmente congelante.
— Ela está acordada? A voz de um homem surgiu e eu tive que levar a mão
aos olhos ao sentir uma luz forte no rosto.
— Olá, Madalena, que bom que resolveu acordar do seu cochilo e nos dar o
ar da graça... já estava ficando preocupado, um dia e meio, hum?
— Devo dizer que estou surpreso, não esperava que você fosse tão... fofa? —
Seu sorriso de escárnio me embrulhou o estômago. — Mas ainda assim é
bem bonita, sabia? — Se aproximou de mim o bastante para estender o braço
e agarrar meu queixo com força para que eu o olhasse. — É uma pena que
tenha se envolvido com a pessoa errada... Enrico De Giordano não é um bom
homem.
Olhei dentro dos olhos dele ao ouvir o nome de Enrico. Então era
isso. Era por isso que eu estava ali. Eles tinham me levado para se vingar de
Enrico. Meu coração se apertou ao imaginar em como ele ficaria mais uma
vez destruído ao perder quem amava. Ele se sentiria culpado de novo. Eu não
queria que Enrico sentisse culpado por minha causa. Ele não tinha culpa de
nada.
— Enrico com certeza é melhor que você! Puxo meu rosto com força me
livrando do seu aperto.
— Devo trazer comida? Uma voz do fundo falou e meu estômago remexeu
com a palavra.
Todos esses anos? Franzi a testa sem entender nada do que ele dizia e
parecendo compreender ele esclareceu.
— Talvez seja melhor eu me apresentar primeiro para que você não fique
confusa. Meu nome agora é Giovani Petrova, mas um dia foi Carlos Alfredo
Filho, casado com Sarah Petrova, a qual um dia foi Patrícia Alencar, a que foi
esposa do seu namoradinho.
— Com você? Bom está ansiosa pensei que quisesse saber da história toda.
— Mais uma vez me deu um sorriso diabólico.
— Eu deixaria, Madalena, aliás, eu odeio ter que matar pessoas... não é muito
do meu feitio sabe? — Se colocou de pé me analisando mais uma vez. — E
você tão bonita, é até mesmo um desperdício te matar... — Olhou para traz
rumo aos homens. — Tom, Viegas, a coloquem de pé.
— Isso querida, agora você quer saber a história? — Ele mordeu o lábio
ainda sorrindo. Minha mente chegou a me deixar tonta ao imaginar que
Enrico tinha sido enganado a vida toda. — Chega de conversa... — Sua mão
nojenta alisou minha perna e subiu pelo meu quadril até meu seio esquerdo.
— Eu vou ser gentil, querida... não poderei dizer o mesmo dos meus
parceiros.
— Pelo amor de Deus, não faz isso! Começo a sapatear tentando dar chutes
no ar.
— Quem você pensa que é? — O tal Carlos Alfredo se virou na direção dele
como um animal indo rumo a presa. — Para estar me questionando? Seu
merda!
— Você mata pessoas, gênio. Comer uma boceta agora é absurdo? Sua
maricas!
A cena que aconteceu a seguir nunca mais iria sair da minha mente se
eu conseguisse escapar viva dali o homem cabeludo ainda desafiava o chefe o
encarando com raiva, de certo modo eu me sentia agradecida por mesmo
sendo bandido ele estar me protegendo de tamanha brutalidade que tentavam
fazer. Carlos Alfredo sorria diabolicamente enquanto o mesmo moreno
grosseiro que tinha me machucado no carro arrancava uma arma e mirava em
suas costas sem que ele visse.
O verdadeiro choque não foi capaz de impedir que meu grito alto
saísse quando tomei a maior quantidade de ar que podia nos pulmões. Senti o
aperto nos meus braços machucarem ainda mais enquanto chutava o ar sem
parar e senti o primeiro tapa no rosto, mas aquilo não me impediu de
continuar a gritar.
— Sua vadia! Ouvi a voz de Carlos Alfredo e senti mais uma vez sua mão
pesada acertar meu rosto, o gosto de ferrugem do sangue invadiu minha
língua. Eu encarei seu rosto que ousava considerar bonito e percebi que
diziam que Lúcifer também enganava por sua beleza. Cuspi em seu rosto sem
pensar nas consequências e vi a saliva e o sangue atingi-lo em cheio.
— Você vai levar a gente até o lugar exato, seu filho da puta, e fica calado se
quiser continuar vivo! Jonas avisou o jogando na última poltrona.
— Você precisa é calar a porra da boca se quiser sair dessa porra vivo!
Apontei mais uma vez minha arma na sua direção e Doug apareceu do meu
lado.
— Calma, cara, matar esse infeliz não vai ajudar em nada agora, já estamos
decolando, em poucas horas estaremos com Madalena.
— Eu não sei direito... Rômulo falou quando retiramos a fita da sua boca.
— Sim, esse é o único lugar que eu já vim tratar de negócios com eles em
Buenos Aires... eu juro que não existe outro.
— O que está fazendo? — Ele nos olhou assustado. — Vão me deixar aqui?
— Tem barulho. Doug confirmou e olhou para trás dando o sinal de ordem
para Jonas vir logo.
— Calma, Enrico.
— Cala a boca, sua puta! Ouvi o filho da puta dizer e meus olhos pousaram
sobre eles, o desgraçado ousando a dar uma coronhada em Madalena que já
estava caída de joelhos.
— Ah, seu filho da puta! Rugi e escutei o barulho dos tiros começarem a
diminuir atrás de mim, a qualquer modo estávamos em maior número, e eu só
precisava meter dois tiros na nuca desse canalha, mas eu não o mataria pelas
costas. Ele iria ver meu rosto, para saber que quem o matou tinha sido eu.
— Abaixa a sua arma. Ele mandou e eu fiz o que pediu, ainda tinha mais um
revólver na cintura e sacaria assim que tivesse oportunidade. — Como
chegou aqui tão rápido? Como soube exatamente sobre esse lugar?
— Aquela fraca! — Carlos passou os olhos por Madalena que estava com o
braço sangrando e a lateral da testa devido a coronhada. Meu coração doía de
vê-la daquela maneira. — Ela não se matou? Ela deixou uma carta dizendo
que se mataria.
— Ela se matou na minha frente, mas antes ela me contou tudo. Falei e vi os
olhos de Madalena se esbugalharem em surpresa.
Kaká pareceu por alguns segundos afetado com a notícia, mas logo se
recompôs e indagou: — Como chegou até aqui?
— Não tão rápido, era para você chegar mais tarde. — Ele ousou rir. — Eu
me divertiria com ela primeiro. Apontou para Madalena.
Fechei meus punhos com raiva. Queria voar em Carlos e mata-lo com
as próprias mãos, não precisaria de armas com a raiva que estava sentindo.
— Certo, então deixe Madalena ir. Se isso é entre eu e você, deixe ela sair.
Falei dando alguns passos ainda com as mãos erguidas em rendição.
— Ela está grávida. Avisei sentindo uma pontada no peito ao imaginar que
naquele momento talvez ela não estaria mais. Não me deixaram passar por
mais de duas portas, cai de joelhos tremendo sem parar sentindo minhas
lágrimas descendo pelo rosto.
Madalena tinha que viver, ela não podia morrer, meus filhos tinham
que estar bem, tudo tinha que ficar bem.
— Acabei de falar com Gabriel, a notícia boa é que o pen drive que Patrícia
te entregou realmente tinha todas as provas que precisávamos. Jonas falou
baixo.
— Que bom.
— Está morto?
— Quer um café?
— Não.
— Jonas. — Chamei meu amigo que andava de volta para onde Doug estava
conversando ao telefone.
— Oi?
— Obrigado.
— Não por isso, cara... somos irmãos você sabe. Anunciou firme e eu
desabafei:
— Estou com medo. Falei sentindo o bolo na garganta e vi ele retornar para
meu lado.
— E se ela tiver perdido os bebês, você viu como a barriga dela sangrava?
Levei as mãos aos olhos que pareciam brasas.
— Enrico, o que for para ser vai ser meu amigo, eu sei que vamos sair dessa.
Me abraçou forte e eu retribui o abraço, me deixando chorar no ombro de um
dos meus melhores amigos.
Depois que Jonas saiu falando que iria me comprar umas roupas,
Doug sentou ao meu lado e mencionou que tinha falado com Aline por
telefone, depois disso ficamos em silêncio, ele apenas apertava meu ombro
quando minha respiração era funda demais e era notável que eu estava prestes
a surtar.
— O médico já deve estar vindo. Uma delas encarou a outra e afirmou com a
cabeça.
Só Deus sabia agonia que eu estava sentindo quando dessa vez mais
um médico apareceu com um prontuário nas mãos.
— Aqui. — Eu corri até ele dessa vez minha voz saia por mais que trêmula
de nervosismo, aceitei a mão que ele me estendeu.
— Noiva.
— Noiva. — Ele confirmou. — Como você se chama?
— Enrico De Giordano.
— Não, ela não perdeu os bebês. Se vocês possuem alguma crença eu diria
que pode se considerar um milagre, os fetos não foram afetados, e estão bem
na medida do possível, os batimentos de ambos estão bons, a placenta não foi
atingida, mas como eu disse, Madalena corre risco de infecção, e se isso
acontecer teremos de abri-la novamente e aí a coisa se complica. A voz
gelada do médico me atingia como um soco, eu tremia e mal conseguia me
sustentar em pé sobre as pernas.
— Eu posso... vê-la?
— Você precisa sair, logo vão vir buscá-la para levá-la ao CTI.
— Não me abandona, cerejinha, por favor. Apertei sua mão fria antes de sair
de lá e voltar para a sala de espera encontrando Jonas dois copos de café na
mão e me entregou um.
— Tá bom. Sentei ao seu lado deixando minha cabeça firmada entre meus
dedos.
— Ela é o meu menor problema agora. Joguei a cabeça para trás descansando
no encosto da cadeira.
— Foda-se. Suspiro.
— O que você achou dela? Sua voz saiu mais calma como se percebesse que
eu não estava afim de discutir sobre nada que não fosse Madalena.
— Pálida e imóvel...
Meus pais haviam chegado e Aline também tinha vindo com eles,
estávamos todos acampados no hospital, e eu só saia de lá quando era
obrigado a ir ao hotel que agora estava hospedado para tomar banho, comer
ou que fosse para responder às perguntas dos detetives que haviam assumido
o caso da pequena "chacina" que havíamos feito para salvar Madalena.
Para Madalena as visitas eram esparsas, ela ainda estava na UTI então
eram apenas duas pessoas por vez pelo período de meia hora, eu sempre
conseguia ficar um pouco mais quando João Pedro me autorizava até o fim
do seu plantão, o que resumia em eu ser silencioso e fingir que não estava lá.
Se resumia em eu ficar horas em pé segurando a mão livre de agulhas de
Madalena e as vezes sussurrando em seu ouvido que já estava na hora de
acordar.
— Seu pai e Jonas foram comer algo, Aline foi ligar para casa para saber dos
filhos, Douglas foi atrás, você viu como ele está um cachorrinho atrás dela?
Ela deu uma risadinha sem muito humor.
— Passou, as notícias são as mesmas, ele disse que você poderia ir vê-la
assim que chegasse.
— Oi, paixão, já voltei. Falei baixinho e senti meu coração quase escapar
pela boca quando seus olhos tremeram e se abriram se fixando em mim. —
Madalena? Você está me vendo? Me ouve?
— Estão bem, paixão, eles estão bem, só faltava você acordar e voltar para
nós. Respondi sentindo meus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez.
Nos últimos dias tinha chorado mais do que a vida toda, mas não me
arrependia de chorar agora, pois estas de agora eram de felicidade.
— Está tudo bem, meu anjo. — Beijei sua testa. — Agora que você acordou
só precisamos resolver uma coisa para qual estava te esperando.
— O que?
— Eu vivi no inferno esses dias, nunca mais quero passar por isso, Madalena.
— Seguro suas duas mãos junto às minhas. — Casa comigo, vamos ser uma
família, eu te amo tanto, tanto que até dói. Você aceita?
— É claro que aceito. Sorriu fraquinho, mas seus olhos brilhavam marejados.
Desci meus lábios para colar aos seus, entregando ali a minha vida,
Madalena era a dona de mim, eu não tinha dúvida nenhuma, daqui uns meses
quando os bebês nascessem eu seria o homem mais feliz do mundo,
independente das confusões que o dia a dia insista em oferecer.
— Onde estamos?
— Eu o matei?
O abracei e chorei quando ele contou isso. Não queria que ele
sofresse, sabia que ter visto ela se matar estaria sempre na mente dele. Nunca
superaria.
— Eu vou ficar bem.
— Promete?
— Nada pode ser pior do que imaginar não ter você comigo, Madalena.
— Amor, não fale besteira, você não tem que privar sua vida. Os errados são
eles, e agora está tudo bem, eu juro que nunca mais vou deixar que coisas
assim aconteçam.
— Sobre isso. — Ele alisou meu cabelo prendendo uma mecha atrás da
orelha. — É última vez que você repete, logo o detetive vira conversar com
você, então você irá contar tudo, enquanto chegar nessa parte irá dizer que eu
pulei sobre quando ele atirou em você.
— Por que?
— Porque sim, Madalena. Não quero você envolvida nisso, se você assumir
isso vai ser acusada, mesmo que tenha sido legítima defesa.
— O problema é este, eu não sei o quão influente aquele desgraçado era por
aqui, por isso é melhor deixar isso comigo, afinal de contas eu vinha em uma
investigação de anos. — Enrico me olhou sério demais. — Eu não sei quantas
pessoas estão envolvidas e quantos estão tristes com essa morte, se souberem
que você quem atirou nele podem querer fazer algo, você tem que se lembrar
que não está sozinha. Você está com duas pessoas aqui. Levou a mão em meu
ventre e eu a cobri com a minha.
— E quem mais?
— Ainda não... mas vai dar tudo certo, já conversamos com João Pedro, o
detetive vem hoje à tarde e amanhã de manhã ele já consegue liberar você
para que voltemos para casa.
— Para casa?
— Mas é seguro?
— Claro que sim, paixão. Além do mais, você vai precisar de repouso
absoluto, então nós ficaremos na casa dos meus pais por uns dias.
— Eles mesmos insistiram, e eu achei uma ótima ideia, lá vai ter mais gente,
mais segurança.
— Vamos ter que esperar um tempo até que tudo seja controlado, tudo bem?
— Logo, nós vamos virar essa página da nossa vida, Madalena, e finalmente
vamos estar onde sempre queríamos. Beijou minha têmpora e eu fechei os
olhos pedindo em silêncio que ele estivesse certo.
— E eu gosto mesmo dele. Encarei Enrico ao meu lado que sorria tranquilo.
— Os dois vem transando por aí, Doug propôs um relacionamento sério e ela
disse não.
— Ontem à noite eu acho... bom o fato é que ele está chateado, disse que ela
se negou e que o ex-marido ligou bem na hora, por isso ela aparentemente
ficou balançada, e então ele a colocou na parede, ou assumiam o que tinham,
ou terminavam.
— E ela terminou.
— Isso.
— Eu vou conversar com ela. Falei de novo e Enrico voltou a segurar meu
braço.
— Eu também não sei, paixão... nós dois temos sorte. Beijou a palma da
minha mão e me puxou para um abraço.
— Te amo.
— Eu também.
— Oi.
— Não, eu nunca vou escolher isso, se eu errar vou me sentir culpado. Senti a
pontada de risada em sua voz.
— Favores sexuais.
— E então?
— Se eu perder?
— Mas você nunca me nega nada na cama, não faz muito sentido.
— Não nega nada, você até tenta, mas logo está lá implorando para que
façamos. — Ele mordeu a boca rindo.
— Não só por isso, é porque nós dois somos bastante à vontade no sexo.
— Mas talvez você tenha algum fetiche, sei lá.
— Para.
— Não, cada um vai dizer o seu, e depois falamos o sexo que achamos que os
bebês são.
— Primeiro o sexo dos bebês seu tarado! — Bati em seu braço e vi ele voltar
a sorrir. — Meninas.
— Óbvio!
— Não!
— São sim!
— Que fatos?
— Tá bom, agora fala o fetiche. Ele olhou com safadeza e eu senti meu
estômago gelar, eu definitivamente amava aquele homem.
— Não vamos falar disso aqui. Voltei a me encolher nos braços de Enrico.
— Mas poderia providenciar quando chegarmos em casa. Sua voz saiu tão
baixinha que me atingiu em cheio.
— Certo, você não devia mesmo ter contado, já que teremos que ficar em
abstinência por um tempo.
— Não, vamos falar disso agora! Que história é essa? Eu estou grávida,
sabia?
— Você está brincando, não está? Fiz uma careta de total decepção.
Enrico daquela vez riu da minha cara. — Primeiro você precisa estar bem,
paixão.
— Nem pensar. Sua resposta foi sucinta, mas o riso ainda estava em sua voz,
soltei uma lufada de ar e me encolhi forçando minhas mãos embaixo da
cabeça, estava morrendo de vontade de entrelaçar meus dedos nos seus, mas
não iria.
— Não, ele só disse que você precisa de repouso amor, e é verdade, você
talvez ainda não caiu em si de tudo que passamos nos últimos dias.
— É claro que eu sei, eu quase fui morta. E aquela vadia ainda está solta...—
Suspirei fechando os olhos. — Eu só não quero que isso nos afaste, eu nunca
vou me esquecer o que aconteceu... sobre eu ter matado Alfredo.
— Esqueça isso, você prometeu que nunca mais pronunciaria isso.
— Eu estou com medo que isso nos afaste, Enrico, eu estou realmente com
medo.
— Nada vai nos afastar, Madalena. Você é a minha vida! Sobre Denise, eu
não quero que se preocupe, eu não vou mais vacilar, ela nunca mais vai se
aproximar de vocês. Pronunciou olhando diretamente nos olhos e acariciando
meu ventre.
— E ainda tem toda a minha história que temos que descobrir. — Suspirei
cansada. — Eu só queria sumir para um lugar só eu e você, entende?
— Você precisa falar com sua amiga quando chegarmos. Enrico olhou para a
porta do banheiro que tinha sido fechada com força.
— É eu vou falar com ela, acho que Aline está errando... — Comecei a dizer
quando ouvimos barulhos vindos do corredor e Enrico cobriu minha boca
com a sua, puxando a manta que nos cobria para que fosse incapaz de verem
nossos rostos.
Aline passou pelo corredor e bateu insistente na porta até que Douglas a
colocou para dentro.
— Ao menos alguns de nós está transando. Resmunguei mais uma vez e sorri
ao ver seu rosto surpreso pela minha ousadia.
— Madalena...
— O que?
— Paixão?
— Eu te amo, sua teimosa. Escutei ele dizer antes de mergulhar para o sono
tranquilo.
Estar de volta a São Paulo era estranho e bom, a cidade cinza que há
meses atrás me assustou tanto quando coloquei os pés pela primeira vez,
agora me parecia acolhedora e eu sentia realmente em casa.
— Não sei, amor, estou cuidando para que o apartamento fique mais seguro.
— Um tempo.
— Você teve alguma notícia dela? Não precisava dizer o nome, Enrico sabia
muito bem a quem eu me referia.
— Ainda não.
— Denise vai ser presa. Isso se ela tiver sorte, porque eu pretendo encontrar
com ela antes.
— Como assim? — Arregalei os olhos. — Você quer dizer que vai matá-la?
— Enrico...
— Pode fazer?
— Posso. Falei sentindo um enorme nó na garganta.
— Você não pode se estressar, vem, vou te levar para o quarto. Enrico
desconversou e abriu a porta do carro, não pude deixar de notar a sua arma
que marcava na camiseta que vestia e em como ele pareceu avaliar todo o
local antes de dar a volta e abrir minha porta.
— É assim que vamos viver agora? Deixei minha voz sair baixa e engasgada.
— Você está achando o que acha que é melhor, mas não é. Neguei aceitar seu
abraço e segui Luísa escadas acima sem esperar que ele me seguisse.
23
Douglas Saragoça
Eu estava ferrado. Fodido em todas as formas possíveis.
Nunca na vida toda desde que iniciei a minha vida sexual tinha
contabilizado mais do que quatro dias sem transar. E somente uma pessoa
tinha conseguido fazer com que eu ficasse duas malditas semanas esperando
para esfolar o meu pau de tanto trepar para depois me dispensar na cara dura
na noite passada.
Inferno.
— O que?
— Anda. Ela levou a mão em meu jeans e apertou meu pau que já estava
meia bomba devido os pensamentos impuros que eu estava tendo com ela
antes.
— Aline.
— Ah, Aline, você é tão teimosa... eu deveria deixar você com fome por ter
sido uma má menina na noite passada. — Segurei seu queixo e passo meu
polegar por seus lábios cheios. A safada não perdeu tempo em cobrir a ponta
e chupar com vontade me deixando totalmente cego de tesão.
— Mas eu pensei que você não se importava comigo. — Falei com raiva
lembrando das suas palavras duras na noite passada. — Como é mesmo que
você disse quando eu propus que namorássemos? "Nem fodendo", bom pelo
jeito agora você quer foder, não é?
— Você agora está com medo? Aline me encarou com os olhos negros
brilhantes e os cabelos emaranhados, a vontade de tomar sua boca na minha
só não era maior do que sentir meu pau pulsando na sua língua quente.
— Eu não estou com medo de nada. Falei rindo tentado disfarçar meneando a
cabeça sentindo o coração acelerado por causa do sorriso dela.
— Então anda. Apontou para a caça que já estava com uma barraca devido
meu pau duro preso.
— Ah caralho, como que não morre de amores por uma pica dessas. Ela
choramingou tomando meu pau nas mãos.
Soltei o primeiro gemido quando sua boca desceu sobre meu pau,
engolindo tudo até a base, parou e subiu os olhos para mim, como se fizesse
questão que eu visse o que ela fazia; babou meu membro todo subiu e desceu
e depois o embainhou com as duas mãos enquanto chupava cada uma das
bolas.
— Então vem. A puxei de pé já levando as mãos nas suas coxas, levantei seu
vestido de malha fina o embolando na cintura.
— Aí. Ela riu quando bateu a perna na pia devido ao pouco espaço.
— Eu amo te chupar. Falou baixinho, mas meu coração sentiu cada uma
delas, eu não amava só chupá-la, amava Aline por inteiro, e precisava que ela
me amasse de volta, precisava urgentemente disso.
Movi meus quadris e deixei que ela ditasse o ritmo para descer sobre
minha ereção que entrou apertada me arrancando um gemido.
— Não é assim... tenho dois filhos... e você tem um. Gemeu alto.
— Eu não vou desistir. Informei sentindo sua boceta ainda pulsar ao meu
redor.
— Mas tem que desistir. — Falou visivelmente triste. — Nunca daria certo.
— Caralho, a camisinha...
— Não se preocupe, eu tenho DIU, e estou limpa, fiz exames depois que
descobri sobre as puladas de cerca de Rafael. Contou com a voz chateada.
— Bom, eu também estou limpo, nunca transo sem camisinha não sei como
esqueci agora... — Falei observando ela se limpar e voltar o vestido para o
lugar.
— Obrigada, Douglas.
— Eu sinto muito, Enrico, nós vamos tentar mais uma vez rastrear a conta e o
telefone. Ouço o homem dizer do outro lado da linha.
— Não tente! Consiga! Falei puto da vida jogando o celular sobre a mesa.
— Eu posso?
— Claro que sim, pai. Suspirei levando as mãos aos olhos. Minha cabeça
parecia prestes a explodir.
— Que bom. Solto o ar totalmente exausto e ele me olha por uns segundos
intermináveis antes de voltar a falar.
— Quando você tinha seis anos, alguém fuçava e destruía as plantas que sua
mãe cultivava na entrada, sua mãe vivia reclamando e acusando os cachorros
do antigo vizinho, eu não sei como e nem quando você teve a ideia, mas em
uma manhã nós estávamos sentados à mesa do café e você adentrou correndo
com a antiga Polaroid que eu tinha dado para sua mãe de natal nas mãos...
— Eu já devia saber naquela época que você iria se tornar quem é, e não um
engenheiro.
— Não sinta. — Seus olhos claros que eram do mesmo tom que os meus me
encararam. — Eu só estou te dizendo isso para te lembrar que desde criança
você já sabia o que fazer, não fique tão desesperado, o pior já passou, Denise
é apenas uma carta do baralho, todas as outras já foram descartadas.
— Pensei que você estava fazendo mudanças no apartamento, não que ela
tinha o invadido.
— E estou, mas depois dessa merda, eu não sei... eu só não posso imaginar
que ela faça algo com meus filhos, com vocês, sei lá, só preciso achar essa
louca logo.
— É claro que é, eu tenho certeza que Doug e Jonas conseguem, você precisa
cuidar da sua mulher.
— Mas e se...
— Pai. — Chamei o fazendo parar e dei a volta na mesa para parar em sua
frente. — Obrigado, por tudo.
— São homens, eu sonhei com eles. — Piscou sorrindo. — Vá, suba antes
que sua mãe deixe a coitada louca, ela precisa descansar.
— Isso, o chamem para jantar, Aline também virá com os filhos. Beijou
minha bochecha e me deixou sozinho no escritório.
— Não! Ela tentou se soltar e pulou abrindo os olhos negros que eu tanto
amava.
— Ei... você teve um pesadelo, paixão. Beijo seu queixo ouvindo sua
respiração se acalmar.
— Enrico... Sua voz manhosa se juntou como abraço apertado que ela me
deu, suas unhas grandes arranharam minhas costas.
— Eles não vão te machucar, amor, todos eles estão presos ou mortos.
— Me desculpa por não chegar antes. Beijei seu rosto tentando acarinha-la.
— Eu nunca fico com raiva de você, apesar de você merecer as vezes... não
estou cansada Enrico. Você não me quer? Se esfregou mais uma vez e deixou
escapar um sorriso por sentir minha ereção pronta embaixo dela.
— Não é essa a questão, você ainda está se recuperando, nem devia estar
fazendo esforço.
— Então vem por cima. Mordeu meu pescoço e eu sorri da sua falta de
vergonha. Madalena estava totalmente diferente de quando nós começamos,
ela não era mais insegura com seu corpo e muito menos com suas vontades.
— Por favor. Implorou mais uma vez com um sorriso disfarçado na cara.
— E não quer mais trepar? Ergui uma sobrancelha deixando que seu rosto me
avaliasse.
— Como você se acha, Enrico, eu odeio você ser tão bonito! Cruzou as
pernas em minha cintura.
— Vão ser felizes, assim como a mãe deles. Eu ri beijando sua boca, fazia
muito tempo que não nos beijávamos tão a vontade, com a língua passeando
pela boca um do outro, de modo que você sente o tesão subindo a ponto de te
deixar maluco.
— Eu também. Concordei.
— Por sua saúde? Tento debater, mas sinto sua mão descer entre nós e afastar
o elástico da cueca encontrado minha ereção mais do que pronta. Soltei o ar
pelos dentes quando ela me apertou e subiu e desceu com a mão sobre meu
pau duro.
— Quer que eu pare agora? Sua voz saiu baixinha e risonha enquanto
esticava a língua para fora e contornava a cabeça do meu pau.
— Está brincando comigo? Puta que pariu, me come agora, Enrico! Exigiu e
eu consegui segurar o riso somente até o momento que encontrei seus olhos.
Comecei a rir desesperado enquanto ela estava totalmente furiosa.
Meu pau ainda duro reclamou preso dentro da cueca enquanto eu me levantei
rápido da cama e fui até a minha mala que estava próxima do sofá.
— Enrico?
— Ah Enrico chega, ok. Ela fez menção de bater as mãos em meu peito e eu
aproveitei para cobrir o primeiro pulso.
— Vamos ver agora quem manda aqui, senhorita Madalena Cereja, muito em
breve Madalena De Giordano. Ergui seu outro braço e fiz com que ficassem
presos na cabeceira.
— Puta merda.
— Sem muito barulho, lembre-se que não estamos em casa. Alertei voltando
a me abaixar.
25
Madalena Cereja
Os lampejos do terror que eu tinha passado naquele sequestro
assombravam realmente a minha mente. Eu não queria expor para Enrico o
medo que eu ainda estava sentindo e o pânico em pensar que tinha sido eu a
matar alguém. Tinha ceifado a vida de uma pessoa apesar de que esta não
merecesse continuar viva. Não queria deixar Enrico ainda mais nervoso do
que parecia estar, aqueles dias que tínhamos passado no hospital tinha sido
péssimo sem notícias nenhuma do paradeiro da única pessoa que faltava ser
presa, que era sua ex-sogra.
O fato era que eu estava grávida, mas não morta, aliás eu realmente
estava chocada ao sentir que os hormônios estavam mesmo em alta, eu queria
transar com Enrico o tempo todo, e depois dele decidir que iríamos evitar o
contato sexual tinha me deixado ainda mais apreensiva.
— Nunca mais é muito tempo, Cerejinha, mais uns cinco minutos e eu deixo
você dar mais umas lambidas. O ordinário sorria enquanto voltava a subir na
cama escondendo algo na mão.
— Está ansiosa? Sua cara de safado estava ainda mais bonita quando mordeu
os lábios ao me encarar presa na cama totalmente a sua mercê.
— Sem muito barulho, lembre-se que não estamos em casa. Falou abaixando
a cabeça e movendo os lábios por minhas coxas.
Enrico não podia pedir que eu fosse silenciosa quando sabia que eu
estava prestes a explodir de tesão. Ele começou a beijar minhas pernas e só
parava quando chegava bem perto da minha boceta.
— Me toque lá, preciso que me faça gozar, é sério, está até doendo... —
Tentei mover os braços e gemi ao sentir o incomodo do aço pinicando minha
pele.
— Quero tocar você. Baixei os olhos para seu membro que estava duro e
brilhante.
— Ainda não. Sussurrou com um riso na voz e mais uma vez se afastou de
mim.
— O que tem o vinho? Perguntei remexendo minhas pernas sentido ele alisar
a cabeça do seu pau sobre minha entrada. Arregalei os olhos ao entender que
ele se referia ao fato de eu ter ficado embriagada para decidir que faríamos
sexo anal.
— Enrico, me solta.
— Não se estresse, não era você quem queria ser algemada? Está ruim?
— Você vai tocar. Beijou cada um dos meus seios, depois o pescoço, subiu
para as bochechas e só então tomou meus lábios. Nossas línguas se
enroscaram no mesmo momento que senti ele entrar em mim até o fundo.
Gememos um na boca do outro, engolindo nossos prazeres enquanto
ele começava a se movimentar com facilidade por minha lubrificação,
aumentando cada vez mais a fricção.
Gemi o mais baixo que consegui deixando o prazer tomar meu corpo
que tremia lânguido como se eu tivesse sido eletrocutada. Enrico diminuiu a
penetração e levantou minhas pernas as encaixando em seu ombro. Estava
ainda sentindo os espasmos do meu orgasmo quando ele saiu de dentro de
mim e eu vi seu mastro brilhante com nossos fluidos. Sem cerimônia ele
levou uma mão em mim e desceu com o dedo até a minha entrada menor
espalhando nossa excitação ali, enfiando apensas a ponta do dedo
estimulando enquanto eu incapaz de me mover voltava a sentir pontadas de
prazer.
Senti seu corpo teso sobre o meu e encarei seu peitoral suado pelo
esforço, minhas pernas ainda em seus ombros, antes aquilo para mim seria
totalmente obsceno, mas eu não conseguia sentir nada mais que alegria ao ver
que estava ali com quem eu amava e me amava de volta sem nenhum tipo de
limite.
— Conversei com meu pai e ele deu a ideia de nós afastarmos por um tempo,
enquanto Denise não é encontrada.
— Ele disse sobre nós dois irmos para algum lugar afastado. Voltou a falar.
— E lá estaríamos seguros?
— Se Joaquim era o único que te queria e ele já está morto, não temos o que
temer.
— E tem Vicente.
— Meu medo não é esse. — Afirmei com certeza. — Vicente nunca me faria
mal, afinal ele tinha me ajudado a fugir.
— Eu sei do que estou falando, ele não faria, e quando chegarmos lá eu quero
vê-lo.
— É isso mesmo.
— Madalena, vamos com calma, nós não sabemos o que vamos encontrar,
ok?
— Não é isso, esse cara talvez sabia que você era irmã de Joaquim, já passou
pela sua cabeça que tudo não se passou de um plano dele?
— Você disse que ele falou que iria te procurar não disse?
— Tudo bem.
— Acredite você ou não, é só por isso que eu não estou surtando. Confesso e
ele puxa meu rosto para o seu, unindo nossos lábios mais uma vez.
26
Aline Gouveia
Antes
— Papai, o senhor vai vir buscar a gente hoje? Marcelinho, meu caçula de
cinco aninhos questionou ao pai que estava deixando-os na porta da loja
após buscá-los na aula.
— Eu ia te falar, mas eu ainda estava na correria, você pode ficar com eles
por um tempo? Eu vou precisar viajar.
— Argentina? O que diabos ela está fazendo lá? Ela precisa que você a visite
e tire férias?
— Ela foi sequestrada, levou um tiro Rafael. Tento contar o mínimo possível.
— Não, mas Enrico é, ele precisa de alguém que fique com ela no hospital
enquanto ele ajeita as coisas por lá.
— Você sabe bem de quem eu estou falando, o cara que você anda trocando
conversinhas pelo telefone! Acusou com o semblante fechado. Ele tinha
pegado meu aparelho sem que sequer percebesse e lido boa parte do flerte
que estava rolando entre mim e Douglas desde que nos aproximamos no
almoço de descoberta dos gêmeos.
— Rafael, eu não estou te pedindo permissão, assim como você não me pediu
permissão para me trair e assumir a sua secretária como nova namorada.
— Escute aqui, Aline... se envolva com esse cara ou com qualquer outro e
nunca mais vê seus filhos!
— Vou te dar um voto de confiança, Aline... até porque eu tenho certeza que
aquele bombado de academia não ia querer nada sério com você... mas
espero que não me decepcione, a não ser que você queira ver os meninos
apenas aos finais de semana.
Queria dizer a Doug que queria tentar, que iríamos ficar juntos, que
ele conheceria João e Marcelinho, que eu iria ficar feliz em conhecer o seu
filho. Mas era impossível. Impossível pois apesar de traída e humilhada,
Rafael tinha deixado claro para mim no dia que eu embarquei para Argentina,
que se eu me envolvesse com alguém ele tiraria meus filhos de mim.
Limpei mais uma vez o rosto que já estava seco e fingi tranquilidade.
— Rafael, tem gente na porta. Seu desprezo na voz enquanto ainda avaliava
eu de cima a baixo me embrulhava o estômago. Kelly era linda, jovem, o
corpo esbelto e os cabelos compridos, no auge da sua juventude e isso só me
fazia sentir ainda mais vontade de chorar.
— Rafael... para.
— Está molhada? Pare de fingir que ainda não é apaixonada por mim, Aline.
— Está com saudade, Aline? Não fique, eu posso te ajudar, você sabe que eu
ainda gosto de você também, somos uma família...
— Eu tenho nojo de você! Cuspi as palavras.
— Tem nojo de mim? E vai ficar sem transar o resto da vida? Porque você
sabe, se entregue a outro homem e eu te mato! Seu tom de ameaça me subiu
um arrepio na espinha no mesmo momento em que ouvimos passos vindos do
apartamento e ele se afastou imediatamente me deixando sozinha no
corredor.
— A mãe de vocês estava me contando da viagem que fez para ir ajudar a tia
Madalena. Rafael disfarçou sorrindo para namorada.
— Você não disse que era só sexo? Então não tem problema eu comer essas
duas gostosas aqui, não é? Puxou o cabelo da loira que mamava seu pau com
vontade enquanto a outra soltava suas bolas e me olhava em curiosidade.
— Vem gata. A outra loira me convidou e eu quis me mover para fora, mas
minhas pernas não me obedeciam.
— Desgraçado!
— Ela não é nada minha, só sirvo para comer ela quando ela quer, eu não sou
nada para ela, podem perguntar, ela me disse isso duas vezes nas últimas 48
horas.
— Ela já está de saída, não é Aline? Ou você realmente quer participar? Sabe
que eu dou conta.
— Eu não posso ficar com você, mas não é porque não te amo, seu estupido!
Você estragou tudo! Limpei o rosto e vi o semblante de Douglas mudar.
— Como assim?
Quando Thais apareceu grávida a seis anos atrás eu não tinha fugido
mesmo que não tivesse onde cair morto na época. Porque eu sabia que Theo
precisaria de mim presente para ser um homem honrado e bom.
Tudo mudou quando eu conheci Aline, ela era linda, diferente das
outras com quem me envolvi a vida toda, seu corpo moreno e voluptuoso me
deixava louco, e o fato de que tinha acabado de sair de um relacionamento
seria magnífico se não tivesse sido agarrado pelas bolas antes mesmo de ter
transado, e depois que fiz, me sentia arrebatado.
Em toda minha vida eu não tive que correr atrás de muitas mulheres,
Aline foi uma das poucas e eu só sabia sentir desespero quando lembrava do
nosso último encontro dentro daquele minúsculo banheiro do avião a mesma
me olhou com desdém e disse que não tínhamos nada mais do que a atração
carnal.
Porra.
Para mim não era apenas isso. Eu sentia meu estômago gelar, mãos
suarem, coração bater forte e cada vez que entrava e saía dela um arrepio
gostoso me subia a espinha como se fosse a garantia de que estava no lugar
certo.
Gabriela ex-cunhada.
Não.
Amanda da academia.
Felipa vizinha.
Duas Marias.
Bingo!
Eu podia ver a dor nos olhos da minha garota e suas lágrimas fizeram
eu me odiar. Queria ajoelhar e pedir perdão no mesmo instante, quando ela
gritou que me odiava. A ira em pensar que eu era um estúpido só me fez
piorar as coisas quando gritei de volta mentindo que o sentimento era
recíproco.
— Eu não posso ficar com você, mas não é porque eu não te amo, seu
estupido! Você estragou tudo! Passou os dedos pelo rosto tentando afastar as
lágrimas que não paravam de descer.
— Odeio você! Odeio você! Repetiu como se afirmasse para si mesma antes
de me dar as costas e sair ignorando eu chamar seu nome.
— Espero que sim. Respondeu seca e me pulou ignorando eu estar ali caído.
— É assim que eu resolvo as coisas quando a mulher que eu amo diz que eu
não significo nada pra ela. — Falei e percebi os olhos dela voltarem a se
encher de lágrimas. — Fala comigo... — Pedi mais uma vez e tentei me
colocar de pé, o que foi impossível quando eu percebi que meu pé esquerdo
tinha mesmo se estendido e eu reclamei ao firmá-lo no chão. — Caralho fodi
mesmo o tornozelo.
— Para! Sente aí, seu louco! Me empurrou novamente para a escada. — Que
ideia também pular lance de escada, tá se achando o super-homem, seu burro!
Brigou comigo se abaixando para olhar meu pé que já visivelmente estava
luxado.
— Eu não podia te deixar ir, se você tivesse parado eu não teria que ter
pulado.
— Agora a culpa é minha? Levantou os olhos para o meu rosto com raiva.
— Claro!
— Se eu não tivesse pegado duas vadias chupando a merda do seu pau eu não
tinha saído sem olhar pra trás! Acusou e eu me calei por uns segundos
percebendo o quão horrível era ouvindo ela dizer aquilo. Eu tinha mesmo
vacilado.
— Falei o que?
— Que eu não era nada além de sexo... me magoou muito sabia? Me fiz de
vítima.
— Aline...
— Para te pedir desculpas. Mas não vou pedir depois daquela cena.
— Elas estavam...
— Eu sei que errei, Douglas, mas não é transando com outras que você
resolve as coisas, ao contrário, é assim que você fode as coisas! Eu vou
embora agora.
Soltei seu punho e levei as duas mãos para seu pescoço abaixando
minha cabeça para aproximar nossos lábios.
— Acredito. Bufou.
— É verdade, eu não fiz nada com elas, elas tinham acabado de chegar, só
estavam...
— Seu pau?
— Não, o seu pau... me perdoa minha gatinha... por favor, eu não sei onde eu
estava com a cabeça, eu só me senti humilhado e queria que a dor passasse,
queria te tirar da mente, nem que fosse por um breve momento, mas mesmo
antes de você aparecer eu já tinha percebido que não adiantaria. Você está
impregnada em mim, eu te amo, e nem sei como, porque eu só amei de
verdade meus pais e meu filho até conhecer você.
Suas mãos cobriram meus ombros e senti o carinho dos seus dedos no
cabelo, soltei um gemido e ela me seguiu.
— Não!
— Aline? A olhei fazendo a cara mais dramática que eu pensei que poderia
fazer.
— Elas...
— Esquece a porra das garotas! As mandei embora antes de vir atrás de você,
eu estou dizendo que foi um vacilo, eu só estava tentando esquecer o belo
toco que você havia me dado.
— Eu nunca faria isso com você! Eu juro, juro pela minha vida, pela vida do
meu filho. Segurei seu queixo e estiquei a língua para fora lambendo sua
boca de forma sensual. Aline fechou os olhos e gemeu com meu ato.
— Para Doug...
— Eu não quero que você pense que eu só vim aqui por sexo.
— Eu sei que não. — A olhei com cuidado e sorri levando os fios negros do
seu cabelo para trás da orelha. — Você veio porque está tão apaixonada por
mim quanto estou por você.
— Eu não queria ter dito aquilo para você... — Ela voltou a choramingar.
— É complicado.
— Complicado é me magoar... Aline eu me senti péssimo, você não tem
noção? Eu fiz aquela merda que você viu agora a pouco por me sentir um
lixo, era injusto eu te amar enquanto para você eu não era nada.
— Porque Rafael ameaçou me tirar as crianças... ele disse que me tira meus
filhos se eu me envolver com alguém, Douglas. E eu não posso perder eles,
eu te amo, amo mesmo, mas são meus filhos, eles são tudo o que tenho...
— Você não vai a lugar algum! Vai subir comigo agora, vamos conversar,
uma conversa franca e você vai me explicar tudo que está acontecendo! E vai
explicar agora!
— Doug...
— Eu vou matar esse filho da puta! Falei assim que ela terminou de me
relatar toda a história.
— Douglas, por favor... não faz nada, pode piorar as coisas, eu não quero
viver em um pé de guerra.
— Pé de guerra? Esse cretino acha que tem algum direito sobre você? Ele vai
ver com quem tá mexendo.
— Faço o que você quiser, se você prometer que vai me contar a verdade.
— Eu preciso de você antes... por isso quero que você... —Espalmou sua mão
gelada sobre meu peito e eu senti meu pau remexer na cueca com a rapidez e
alegria em perceber que quem o usaria agora era a mulher que eu desejava.
— Vai ter que jogar aquela merda fora! Apontou para o móvel cinza e eu
concordei de imediato.
— Estou indo, promete que não vai embora? Que vai ficar e me contar tudo?
— Me aproximei de novo dela, ainda mancando. — Vamos colocar as coisas
no lugar? Sem mentiras?
Arregalei os olhos e ela riu estrondosamente. — Você não perde por esperar.
Beijei seus lábios com medo, e dei as costas indo rumo ao banheiro
começando a planejar como eu iria conseguir resolver as coisas com aquele
desgraçado.
28
Madalena Cereja
Me mexi na cama me sentindo ser observada, um frio na espinha
passou antes que eu me sentasse depressa e encontrasse o quarto vazio e
silencioso. A única luz que iluminava o local vinha de fora das portas da
varanda o que significava que tinha anoitecido, estranhei o fato de Enrico ter
me deixado dormir tanto se teríamos um jantar, mas com certeza a sua
tremenda preocupação dizendo que eu devia descansar tinha falado mais alto.
— Enrico pediu que não fizéssemos, disse que ele mesmo faria se chegasse e
você ainda estivesse lá. Ela comentou segurando minha mão e alisando.
— Calma querida, está tudo bem. Dona Luísa me acalmou. — Enrico foi com
Douglas resolver uma coisa.
— Eu sei... e eu cedi, por medo, mas ai teve Buenos Aires e Doug e eu nos
aproximamos ainda mais... eu gosto dele Madalena, não quero ficar longe.
— Ao menos é isso que ele diz. — Sorriu sem graça. — Nós dois brigamos e
magoamos um ao outro, mas conversamos e decidimos tentar.
— Contra minha vontade, eu implorei que ele deixasse isso quieto, que
iriamos resolver que fosse na justiça... ele concordou até chegarmos aqui para
o jantar, quando Enrico comunicou que amanhã de manhã vocês irão viajar
ele decidiu que resolveria tudo hoje.
— Acalma amiga, se Enrico está junto eles não vão fazer nenhuma besteira.
A abracei e encarei dona Luísa que nos olhava também apreensiva, ela
também sabia que fariam sim, muitas coisas.
— Nós viemos conversar. Enrico falou e olhou com seriedade e ele retribuiu
com um ar presunçoso.
— Acho que não temos o que conversar, não é porque vocês são policiais que
podem sair batendo assim na casa dos outros, ou vocês têm um mandado?
— Que merda, Doug, não faz isso. Enrico balançou a cabeça como se
repreendesse o amigo.
— O que? Ele queria um mandado, estou mostrando, vai nos deixar entrar
ou não?
— Quer falar com o delegado? Ele está aqui do meu lado seu chorão!
Douglas cuspiu as palavras visivelmente irritado. — Anda logo, vem com a
gente.
— Eu não vou com vocês há lugar algum! Se negou retirando o celular do
bolso. — Vou ligar para a polícia.
— Eu já disse que nós somos a polícia seu idiota! Douglas falou levando um
lenço a boca do homem a sua frente que tentou se debater por alguns
segundos até começar a perder as forças.
— O que diabos vocês querem? — Gritou aos dois homens. O loiro assumia
o controle da situação enquanto o conhecido estava mais atrás. — Enrico?
Rafael olhou para o homem que tinha encontrado poucas vezes, e que tinha o
tratado amigavelmente.
— Eu só estou aqui para evitar que as coisas saiam do controle, essa história
não é minha. Enrico levantou as mãos se abstendo.
— Aquela vadia da Aline foi chorar para você, não é? É por isso que estou
aqui?
— Sua mulher é o caralho! Filho da puta é você, seu maluco! Você traiu
Aline, está com outra e se acha no direito de interferir na vida dela? Douglas
o jogou no chão e abaixou o imobilizando de modo que seu joelho ficava
sobre seu peito.
— Você só pode ser retardado. — Doug gritou e mais uma vez agarrou sua
arma a engatilhando. — Eu já matei tantas pessoas, Rafael, você só seria
mais um. Me dê a resposta que eu quero para não estourar sua cara e
estragar até o velório.
— Eu estou esperando você dizer, eu disse que não tenho problema nenhum
em te matar.
— Repita comigo: Eu sou um otário e peço desculpas por isso, nunca mais
vou intrometer na vida da minha ex-mulher e nem ameaçar a tirar meus
filhos de perto dela. Repita!
— Eu quero que saiba que isso foi só um brinde do que pode te acontecer se
continuar tentando atrapalhar a vida de Aline, ela agora está comigo, quer
você queira ou não. — O loiro falou pausadamente cada palavra antes de
sair de cima do homem e levantar o celular dele entre os dedos. —Você devia
ligar para uma ambulância, não é todo dia consegue se livrar de uma
tentativa de sequestro relâmpago.
— Você tem certeza que quer sair humilhado dessa história, Rafael? Douglas
sorriu friamente e viu o homem baixar os olhos derrotado. — Guarde o seu
orgulho e apenas aceite que foi o fim e você mereceu cada soco que eu te dei,
Aline não está mais sozinha, o único vínculo que vocês possuem agora são os
garotos.
— Está tudo bem, gatinha. — Meu amigo segurou a mulher pelo rosto. — Só
estou um pouco sujo...
— Douglas...
—É... — Meu amigo sorriu encantado, nada parecido com o homem sem
escrúpulos que estava prestes a ceifar a vida do pai deles.
— Você caiu de bicicleta tio? O mais velho se aproximou dessa vez com
curiosidade.
—Crianças, deixem o tio Doug ir até o banheiro se lavar, o jantar já vai ser
servido, que tal apostarmos quem chega primeiro a sala de jantar em? Minha
mãe interferiu e as crianças pularam alegres saindo em disparada.
— Eu não fiz nada, só fui com Doug para evitar que as coisas saíssem do
controle, correu tudo bem, tenho certeza que Rafael entendeu.
— Meu Deus.
— Ei. — Seguro seu rosto perto do meu e beijo a pontinha do seu nariz. —
Ele vai sobreviver, Aline e Douglas vão se acertar lá em cima, tudo certo.
— Me desculpa. — Soluçou.
— Ei, não tem o que pedir desculpas, aquele cara estava te tratando mal e
recebeu o que merecia, não chora, pensei que tínhamos resolvido tudo essa
tarde.
— O que?
— Nada demais, conversamos, tive que dar umas ameaças... uns socos. —
Falei tranquilo observando o rosto assustado da minha mulher. — E um tiro.
— Completei.
— Foi no ombro... não é nada, ele vai ficar bem, no máximo imobiliza o
braço uns tempos.
— Você está achando ruim? Ele merecia até mais por fazer o que fez contigo.
— Mas...
— Mas nada, cacete, eu já disse que ele vai ficar bem, vamos, responda a
minha pergunta.
— Que pergunta?
— Eu também tenho um filho, você vai conhecer o Theo, tenho certeza que
os garotos vão se entender falando nisso.
— Eu sou sincero em tudo que faço, você sabe, agi de forma errada tentando
mostrar para mim que você não era importante, mas você é. Droga! Você é
Aline, eu nunca quis aquelas mulheres apesar de errar em permitir que elas
estivessem lá, eu prometo, nunca vou te enganar, prefiro sofrer eu a te fazer
sofrer. Falei sendo sincero e ela me encarou em silêncio me avaliando.
— E você tem que parar de resolver as coisas no tiro. Pontuou depois de uns
segundos.
Sim, logo após o banho Aline tinha se negado a tocar em mim, tinha
permitido que eu pedisse desculpas pela pior decisão da minha vida que tinha
sido chamar as duas Marias a colocando deitada nua em minha cama e
lambesse cada parte do seu corpo, tinha a feito gozar três vezes, sendo que a
terceira ela tinha se tornado a segunda mulher na minha vida que eu
conseguia fazer ejacular. A cena tinha entrado para as melhores da minha
mente, ela estava tão excitada e louca que puxava meus cabelos sem dó, tinha
afastado a boca do seu clitóris e substituído por meus dedos, alisava seu
pontinho no mesmo ritmo que a penetrava com a outra mão. Ela tinha se
contorcido e gemido tanto que só por lembrar eu já estava muito duro.
— Eu aceito... mas com a condição, sem traição, sem mentiras e sem mais
tiros no meu ex-marido!
— Preciso te comer.
— Que bom que não teve sentimento, mas eu ainda me lembro. Voltou a
andar e eu a puxei pelo punho.
— Problema nosso! Poxa Aline... eu tô duro, não faz isso, tira a porra da
lembrança da sua mente, me chupa gostoso que você vai ver que só você
importa.
— Não mesmo.
— Outro? Você quer me derreter? Falo irritado e ouço a sua risada gostosa.
— Eles já devem estar comendo, quem não tá comendo aqui sou eu, apesar
de estar morrendo de fome! Eles sabem que precisávamos conversar.
— Conversar.
— A Aline, cacete, você vai ficar fazendo esse jogo toda vez que formos
transar? Eu já aviso que vai ser bastante então.
— Então me castiga de outro jeito, bate na minha cara se quiser, você vai ser
a primeira a fazer isso, mas precisamos trepar. Choraminguei e ela continuou
em silencio por um tempo. Estava prestes a desistir quando senti suas mãos
descerem para o cós da minha calça.
— Ou te chupando até sua alma sair do corpo pra você nunca mais ousar a
deixar outra pessoa tocar no que é meu.
— Uma boa ideia essa segunda opção! — Pisquei de um olho só e soltei uma
lufada de ar ao sentir sua mão adentrar por minha cueca e segurar minha
ereção. — Merda! Xingo entre os dentes.
— Ah cacete! Gemi levando as mãos até seu rosto para retirar os fios de
cabelos que impediam de vê-la subir descer em meu mastro. — Lambe seu
macho, sua gostosa! Implorei recebendo um choque na espinha cada vez que
a via subir e descer, lamber minha ereção e brincar com minhas bolas
chupando uma de cada vez. Eu amava aquela mulher, com todas as minhas
forças nem entendia como tinha vivido tanto tempo sem ela.
— Que belo jeito de dizer que me ama. Riu limpando a boca e se pondo de
pé.
— Vamos descer.
— Ah, mas não vamos mesmo. A puxei para a cama e a coloquei embaixo de
mim com tamanha rapidez para que ela não tivesse chance de escapar. Desci
as mãos por seu vestido de tecido fino florido e ergui aproveitando a fenda da
saia. Meus olhos brilharam e cheguei a ficar com agua na boca ao ver a
lingerie de renda que cobria sua boceta.
— Me fala que você quer de verdade. Pedi ainda encarando o meio de suas
pernas enquanto minhas mãos seguravam seus pulsos sobre a cabeça.
— Me fode, seu cretino. Respondeu e não perdi mais tempo, soltei suas mãos
que imediatamente vieram para meu pescoço e ombro, afastei sua calcinha e
me deliciei ao ver que ela estava todo o tempo excitada, levei dois dedos e
brinquei espalhando todo seu mel a fazendo soltar alguns gemidos baixinhos
antes de guiar entrando nela.
— Nem eu, meu lindo, entra com força, vai. Pediu e eu atendi, entrei até o
talo e a vi revirar os olhos no mesmo instante que eu quase urrei de prazer ao
sentir sua boceta apertada e quente ao meu redor.
— Estou apaixonada por você, Douglas. Sussurrou na minha boca. Não era
um eu te amo, mas mesmo assim meu coração se aqueceu a beijei tão
eroticamente enfiando minha língua na sua boca no mesmo ritmo em que
entrava nela. Aline era meu paraíso particular, e para tê-la valia a pena pecar,
eu tinha certeza disso.
— Puta que pariu! Deveria ficar com raiva de você mais vezes.
— A gente já vai... Enrico disse que vai se afastar com Madalena até
conseguirmos prender Denise.
— É verdade, você conheceu ele agora, mas sou amigo do Enrico há anos, só
eu sei o que esse cara passou quando Patrícia morreu... de mentira aquela
ordinária. Rolei e a abracei deixando meu rosto perto do seu.
— Eu nem quero imaginar... Madalena também sofreu tanto, fico feliz que
eles tenham se encontrado.
— É claro que eu quero, eu quero tudo com você, morena linda da minha
vida. Afirmei sorrindo e totalmente feliz, pois eu realmente queria.
31
Madalena Cereja
Estava encurralada, mais uma vez eu estava no armazém em que
Carlos Alfredo tinha me mantido presa quando me sequestrou. Os passos
cada vez mais perto me faziam tremer enquanto me mantinha abaixada no
canto escuro tentando me passar despercebida, mas foi em vão.
Tentei abrir a boca para gritar, mas o cano da sua arma estava pregado
em meus lábios
— Deixe que eu mesmo mato essa bastarda! A voz que frequentou meus
pesadelos por tanto tempo alcançou meus ouvidos e a imagem do homem
saiu da escuridão se aproximando o bastante para que eu pudesse discernir,
Joaquim Rodrigues estava na minha frente também com uma arma em punho.
— Ei, eu estou aqui. Você está com muita coisa na cabeça Madalena, eu sei
que isso está sendo difícil demais, mas logo vai acabar, eu prometo! Beijou
minhas pálpebras molhadas e acariciou minhas bochechas.
— Parecia tão real. Você está certo sobre tudo, parece que desde que fui
embora daqui nada foi normal em minha vida.
— Eu sei que não tem sido fácil desde que nos conhecemos Madalena, eu
peço desculpas por ter tornado a sua vida nessa bagunça.
— Joaquim está morto e Denise vai ser encontrada, nunca mais eu vou te
perder de vista.
— Eu sinceramente confio em você... só que meu pressentimento não é esse.
Falei sentindo meu coração apertado e deixei Enrico sem palavras. — Ele me
abraçou com força enquanto acariciava meu cabelo. — Que horas são?
Observei a pequena janela escancarada e o céu lá fora.
— Não acho que foi só retirar o sangue que me deixou cansada. — Sorri me
espreguiçando na cama me lembrando de como ele tinha me distraído com
sexo assim que chegamos na pousada. Ainda estava tensa com tudo e com o
fato de que só poderia ir ver Vicente daqui três dias, ele já tinha sido
transferido para o presídio de Campo Grande e fora do dia das visitas só era
permitido ver seu advogado.
— Você já foi mais jogo duro, sabia? Passou seus braços pela minha cintura
nua.
— Antes eu não carregava dois bebês, eles sugam minha energia. Ri.
— Como eles estão? Sua mão passou por meu seio enchendo a palma e
apertando antes de descer e pousar abaixo do estomago, onde uma pequena
bola dura já fazia evidencia.
— O que temos a dizer? — Enrico não desviou os olhos dos meus. Seus
olhos verdes límpidos escureceram com uma floresta durante a noite. — Foi
totalmente estranho e doloroso.
— Eu acho que sinto muito por ela ter mentido e feito o que fez.
— Patrícia arruinou minha vida desde que entrou nela. — Sua voz magoada
saiu cortante. — Usou do fato de que estava apaixonado para acabar com
minha vida dia a dia, sofri muito quando achei que ela tinha morrido naquele
avião, ainda mais carregando o filho que eu pensava ser meu. Me senti
culpado, ela não queria engravidar, mas aí apareceu grávida... e depois de
carregar a dor por anos descubro que nem era meu.
— Eu sinto muito.
— Ver ela se matar não me doeu nem me afetou, não dessa vez Madalena. —
Sua profunda raiva transparecia em sua voz. — Se ela não fizesse o que fez
ela ainda continuaria morta para mim.
— O jeito que eu amo você, não se compara em como eu amei ela um dia,
saiba disso. Falou cessando nosso beijo.
— Eu estou aqui para você, assim como você está para mim. Segurei seu
rosto entre as mãos.
— Aonde exatamente?
— Sim! Não sei se alguém foi até lá, ou sequer se ainda está de pé, mas eu
quero ir, quero que conheça, quero mais uma vez ter uma lembrança.
— Tudo ali me lembra dele, e independente do que esse exame mostrar, ele
sempre será o homem que cuidou de mim e me amou.
— Era aqui? Ouvi Enrico ao meu lado, olhei seu rosto que parecia perplexo e
chateado.
— Quero, quero sim, vem comigo. Concordei o puxando pela mão rumo a
casa, eu estava entrando no meu passado, mas dessa vez de mãos dadas com
meu presente e futuro.
32
Enrico De Giordano
Eu sempre tinha sido privilegiado, nascido e criado em meio ao luxo,
viagens internacionais, melhores colégios, melhores roupas. Ver Madalena
ali, meio aquele cenário tão simples e pobre me mergulhava na realidade de
privilégios e quebrava meu coração em pedaços incontáveis.
Saber que ela tinha crescido ali, sem nenhuma oportunidade enquanto
eu gozava de tudo do bom e do melhor me fazia ver que não era somente eu
ou Madalena, o mundo era cheio de Enricos e Madalenas, e aquilo era
injusto.
— Tome cuidado onde pisa, faz muito tempo que está fechada, pode ter
algum animal peçonhento.
O lugar era tão simples que eu não demorei cinco segundos para
reparar em todos os móveis. O fogão de lenha ainda tinha em cima um bule e
Madalena explicou que quando teve que fugir era de manhã, tinha feito o seu
café e não teve nem tempo de nada, o que mostrava que a casa tinha ficado
intocada até então.
— Não é medo, é cuidado, você está grávida, não devia estar aqui. A olhei de
cara amarrada e ela sorriu mais ainda vindo na minha direção.
— Eu vivi aqui, Enrico. Eu só queria dar uma olhada pela última vez.
— Derrubar?
— Quero que esse lugar acabe, que ele fique vivo apenas na minha memória.
— Não seu bobo, a privada é no fundo da casa. Vou te mostrar meu lugar
favorito aqui. É lá fora.
— Amor você sabe onde está indo? Isso aqui não tem trilha e se a gente se
perder?
— Enrico, você esquece que eu cresci aqui? É claro que eu sei onde eu estou
indo. Revirou os olhos e eu me mantive calado pelos próximos minutos até
ouvir o barulho de queda d'água.
— Eu venho aqui desde criança... vinha com minha mãe, depois sozinha,
depois com Vicente. Arregalou os olhos ao perceber o que tinha dito. Mordi a
boca tentando segurar a raiva e o ciúme que me corroía toda vez que ela
falava sobre aquele cara, ainda estava me preparando para o fato de que
íamos visitá-lo daqui dois dias.
— Vocês se encontravam aqui? Perguntei com um misto de ciúme e
curiosidade.
— Vamos nadar?
— E se alguém aparecer?
— Não vem ninguém por essas bandas, somos só nós. Encorajou e eu assenti
descendo minha cueca. Madalena mordeu os lábios ao ver que apesar de tudo
eu já estava totalmente duro.
— Você vinha aqui com ele? Insisti novamente sentindo o ciúme ser mais
forte do que a vontade de comer ela.
— Sua safada... — Abracei seu corpo nos girando na água a carregando para
o lado um pouco mais raso. — Você já quer pau de novo, não é? Questionei e
ela gemeu voltando a me beijar de um jeito faminto.
Suas mãos deslizaram pelas minhas costas enquanto mais uma vez
nossas línguas se enroscavam em uma velocidade que aumentava de acordo
com minhas estocadas.
— Eu...
— Ainda não. — Diminui nosso ritmo e inverti os papéis de modo que eu
ficasse contra as pedras e ela ficasse montada sobre mim. — Senta, cerejinha.
Exigi franzindo o cenho e segurando meu pau pela base enquanto sorria.
— Eu vou gozar, Enrico... pelo amor de Deus, que delícia! Clamou e eu gemi
junto nosso beijo tragando um ao outro.
— É claro que eu quis e quero... não tinha mais ninguém e você vai me dar
de novo uma família, Enrico.
— Foi o máximo de dignidade que consegui dar para o homem que cuidou de
mim. Meus olhos marejaram.
— Tenho certeza que tanto ele quanto a alma de sua mãe a protege de onde
estiverem.
— O sonho dele era que eu conseguisse sair daqui, acho que ele está feliz.
— Foi uma pena ele não ter conseguido viver o sonho dele, ter feito a
pousada dar certo... quando tudo acabar, se eu for mesmo dona desse lugar,
vou derrubar essa casa para que a floresta tome conta de tudo de novo. Falei
com angustia e Enrico continuou calado ao meu lado. Depois de mais alguns
minutos voltamos a andar até onde tínhamos deixado a picape e então
voltamos para Vila do Sol.
— Acho que agora todas as meninas daqui vão comprar uma passagem para
São Paulo, mal sabem elas que tirei a sorte grande. Brinquei levando a colher
com meu sorvete de coco a boca.
— Meus dois melhores amigos queriam ficar com você, se eu não fosse
rápido tinha te perdido, sabia?
— Eu só tive sorte.
— Realmente você teve muita sorte em ter esse traseiro, a propósito não pude
aproveitar o bastante dele durante essa tarde, gostaria de requerê-lo agora a
noite. Enrico piscou depravado e sorriu me fazendo apertar as pernas
excitada.
— Seu pervertido!
— Então ele estava certo em dizer que você voltaria... —Falou parando a
dois passos de mim.
— Ele?
— O que disse? Senti uma tontura repentina e deixei meu corpo cair na
cadeira.
— Sim senhor.
— Sou Enrico. Sou noivo de Madalena, estou acompanhando ela para
cuidarmos de algumas situações.
— Sobre ela ser dona de tudo, nós aqui da região toda já "tamo" sabendo.
— Não sei o que ele falou "procês", mas a verdade é que "ceis" tão
desinformado. Vicente foi encontrado morto na, ele faleceu há quase um mês.
— Me desculpe falar assim filha, mas você sabe que eu gostava muito dele...
eu o visitei duas vezes, uma quando ainda não o tinham levado para capital
ele ainda estava no hospital, mas lá ele estava sedado, só falei com ele
quando já estava em Campo Grande... lá ele parecia diferente.
— Ele parecia feliz, Madalena... ele estava feliz! Eu não entendi nada, mas
ele disse que tinha terminado o que tinha que ser feito.
— Meu Deus. Levei as mãos ao rosto e Enrico passou o braço por meu
ombro.
— Não se sabe quem foi, ele estava arrumando umas confusões lá dentro,
parece que não era a favor de humilhações e defendia uns mais fracos,
dormiu e não acordou, mataram ele com um pedaço de vidro.
— Obrigada seu Francisco, obrigada. Levei meus braços até ele que me
recebeu em um abraço, o meu choro não parou enquanto o homem acalentava
minha dor.
— Eu ainda não sei... os exames ficarão prontos ainda seu Francisco, mas eu
quero que saiba que se eu for, tudo vai ser devolvido a cada um que perdeu
terras para Joaquim, eu não quero nada disso.
— Então tomara que seja, filha, Alvorada merece que o fantasma dos
Rodrigues nos deixe em paz. — Sorriu tristemente se afastando. — Agora eu
preciso voltar, eu só vim mesmo porque precisava te entregar a carta,
Manoela tá me esperando, ela não dorme enquanto eu não chegar e a estrada
é longa até lá.
E eu chorei. Chorei pelo fim triste de Vicente, chorava por ele não ter
tido muitas oportunidades, chorava por ter tantas pessoas no mundo passando
o mesmo que ele e que teriam o mesmo final, chorava de medo pelos meus
filhos passarem por aquilo, chorava clamando a Deus que me protegesse e
protegesse Enrico de Denise que ainda estava solta por aí.
— Ei, já chega, respira, você não pode ficar chorando tanto, faz mal para os
bebês. Enrico falou depois de um tempo e eu o abracei com força. As poucas
pessoas que estavam no restaurante nos encaravam curiosos.
— Você sabe que eu estou triste por Vicente, mas não é porque eu amo ele
ainda, não é? Parei me sentando na cama esperando que se aproximasse de
mim depois de deixar a carteira e a arma que mantinha na cintura sob o
aparador ao lado.
Seus olhos sobre os meus diziam que não entendia, o ciúme dele era
claro, o incomodo de saber que Vicente tinha sido meu primeiro e único
homem antes dele sempre ficava visível quando tocávamos no assunto.
— Sei. Mentiu.
—Eu sinto muito, eu sei que vivo com esse ciúme... eu só não queria que
você tivesse conhecido ninguém antes de mim... é bobagem, mas eu só...
— E você sempre tem essa na manga. — Beija meus lábios. — Anda, vamos
abrir a carta.
— Primeiro eu preciso saber que você não está chateado comigo... eu estou
triste por Vicente Enrico, mas não quero que fique incomodado com nada.
— Mas...
— Qualquer coisa que você fizesse já me deixava excitada, mas agora
grávida... depois desse beijo eu realmente preciso que me beije.
— Vem, vamos abrir a carta. Pulei fora do seu corpo e ele se aconchegou na
cama. Peguei o envelope fazendo o caminho de volta me acomodando ao seu
lado.
Já tinha sido pega de surpresa algumas vezes na vida, mas nada havia
me preparado para o que tinha naquela carta:
Sobre meus pais terem sido mortos eu não menti, eles foram mortos.
E tudo aconteceu porque meu pai se negou a fazer algo, algo que eu que eu
só entendi como valeu a pena quando te conheci.
Meu pai foi ordenado a matar uma criança de um casal de lavradores
Madalena... mais precisamente um bebê. Um indefeso bebê de um casal que
haviam acabado de começar a vida juntos. Tudo isso sob ordens de Joaquim,
quando ele se negou antes que o fosse feito, ele mesmo se demitiu. Explicou
que não serviria de escravo ao filho como servia ao pai e que nunca mataria
uma criança inocente. Na noite que meu pai se demitiu tivemos a casa
invadida, minha mãe estuprada, meu pai foi morto e decapitado.
A cidade que falei ter crescido também era mentira, quando meus
pais foram mortos eu peguei carona em uma boleia, o caminhoneiro me
levou até o interior de São Paulo, lá eu fui adotado por um fazendeiro
chamado Raul Benedito, um dos maiores produtores de café daquela região,
o homem viúvo e sem filhos me criou como filho,, estudei e me formei, voltei
para a fazenda e trabalhei junto com ele por uns anos seguintes, fui feliz na
medida do possível, tinha tudo, conheci o luxo, quando ele faleceu me deixou
rico e sem ter que me preocupar com muito, sou o barão do café daquele
lugar, e segundo as revistas barão do café do país. Rico e poderoso como um
Rodrigues.
Mas não se preocupe, não sou tão ruim quanto o maldito, sou justo,
direito, e sinto imensa felicidade em ver a minha cidade crescendo com a
ajuda da minha fazenda.
Quando meu pai adotivo faleceu, decidi que era a hora da vingança,
deixei meus negócios nas mãos de pessoas de confiança e voltei a Alvorada
das Almas disposto a conseguir o que queria Madalena... voltei e encontrei o
bebê que era para ter sido morto, aquele que custou a vida do meu pai. O
bebê era você.
Você Madalena, era o motivo pelos meus pais terem sido mortos, e eu
não conseguia sentir nenhum ódio, entendi que era o destino, porque amei
você, amei o seu jeito de menina mulher e de ter se entregado a mim com
paixão, amei que você não pedia nada em troca e nem tentava especular
muitas coisas.
Sinto muito por ter mentido, mas era necessário, vim até Alvorada
decidido a só ir embora quando conseguisse meu objetivo, e estou indo
embora após o cumprir.
Ps: Quando receber esta carta irá recebê-la com a notícia de que
estou morto. Espero que não chore muito e nem fique triste por mim, até
porque devo lhe dizer que não estou morto. Estou bem e de volta ao meu
lugar, onde cresci e se tornou o meu lugar. Quem morreu naquela cadeia foi
o assassino de Joaquim Rodrigues que se chamava Vicente Alencar, um
homem sem família e sem história, com documentos falsos e apenas mais um
na estatística.
Com Amor.
— Quero chupar você. Sua voz manhosa me ascendeu ainda mais, Aline era
muito gostosa, puta que pariu! Movi os dedos para o botão do jeans incapaz
de negar o pedido daquela safada.
Estava sonhando.
De novo.
Namorar com alguém que você ama significa ficar sem transar?
Porque isso era o que Aline estava me fazendo passar desde que há dois dias
atrás tínhamos decidido fazer o encontro dos nossos filhos na casa de Luísa e
Luiggi. Tinha sido ótimo, Enrico e Madalena tinham viajado, mas Luísa tinha
insistido em apresentar as crianças em um ambiente neutro, onde eu levaria
Theo, Aline levaria os filhos dela e só depois que eles interagissem
contaríamos que estávamos juntos.
Certo. Deu tudo muito certo, tinha deixado Theo primeiro para que ele
começasse a se divertir, já era acostumado a passar tardes ali. Depois tinha
ido buscar Aline em casa, de lá fomos até o apartamento do ex-marido buscar
os filhos. Rafael tinha aberto a porta totalmente manso, a tipoia ainda
envolvia o ombro que eu mesmo tinha acertado com um tiro. Não tinha mais
arrogância em seu olhar, a mulher até bonita ao seu lado também parecia ter
entendido que não deveria mais ocorrer desavenças entre nós. Aline se
manteve ao meu lado, de mãos dadas enquanto Rafael esperava que as
crianças se despedissem e nos seguissem para o carro.
— Quer dizer que agora vocês são aqueles amigos que beijam na boca?
— Claro que sim. Falei feliz pela simplicidade que crianças encaravam as
coisas.
— Você podia ensinar a gente a andar de skate né tio? O Theo disse que você
ensinou ele... eu sempre quis aprender. João pediu animado fazendo todos na
mesa sorrir.
— É claro que posso, a gente vai marcar um fim de semana, pode ser?
Nada tinha dado errado até então, o problema em si foi quando fomos
levar Theo em casa.
O fato que minha ex-mulher agora deixava a irmã morar com ela não
era problema para mim antes, mas agora era, e era dos grandes.
Aline tinha se mantido ereta ao meu lado e não disse nada quando eu
neguei e a apresentei como minha namorada a maldita que tinha estragado
tudo, se abaixou e se despediu de Theo, voltou ao carro ainda em silêncio e
me interrompeu quando tentei me explicar.
— Não conversamos disso na frente das crianças. Apontou para os filhos que
estavam no banco traseiro. Concordei e segui totalmente puto para sua casa.
Ela não tinha me deixado entrar e apenas se despediu dizendo: Nós vamos
nos falando.
Escrevi e enviei junto com a foto. Pouco me lixava se ainda eram sete
e meia da manhã, se tivéssemos dormido juntos eu não precisaria bater essa
punheta.
Só isso? Porra!
Avisei e pulei da cama ao perceber que ela não tinha se negado como
tinha feito nos dias anteriores, com certeza estava sentindo minha falta como
eu dela.
Meia hora depois eu estava fingindo o fato de que tinha que ir até a
delegacia trabalhar e dirigi rumo a sua confecção.
Aline estava sentada com Ruth, a senhora que era sua secretária e
ambas me encararam quando parei na soleira da porta.
Estava prestes a sopitar de tanto tesão, meu pau babou ainda mais ao
sentir por milésimos de segundo sua boca contra ele.
— Cala a boca e chupa agora, deusa! Ordenei louco, estava cansado de ser
bonzinho com ela. Eu a amava e ela tinha que entender isso, nunca mais
aceitaria que brigássemos por coisas bobas como aquelas.
Aline tremeu um pouco antes suspirar, não ousou a falar nada, seus
olhos negros pareciam derretidos quando com adoração encarou meu pau e o
agarrou com as duas mãos.
— Você está com saudade? Ela tentou mais uma vez tomar as rédeas e eu
mordi minha boca para não gemer, hoje quem mandaria ali era eu.
— Para de falar. Puxei seu cabelo da nuca para que sua cabeça deitasse e não
esperei ela soltar o ar pela garganta, entrei na sua boca até o fundo e a vi me
encarar alucinada.
Entrei e sai três vezes rapidamente a fazendo babar e quase engasgar no meu
pau.
Aline bufou baixinho antes de segurar meu pau contra minha barriga,
o dedo rodeava meu ponto de prazer quando despretensiosa chupou uma bola
e depois a outra, me olhou safada antes de ir além, sua língua passou e
brincou na linha que ligava meu pau a minha bunda.
Urrei jogando a cabeça para traz e tentei me afastar dela, mas fincou
os dedos de uma mão na minha bunda enquanto a outra subia e descia no meu
pau. Brincou com a língua mais uma vez e outra antes de eu desistir de me
segurar, gozei forte fazendo com que meu esperma voasse no seu rosto e em
minha barriga.
Aline gemeu satisfeita e eu não perdi tempo, meu pau ainda dando
espasmos do orgasmo delicioso, mas graças aos dois dias que ela tinha me
deixado sem transar eu ainda estava duro.
— Anda até o sofá e fique de quatro. Ordenei segurando seu rosto e limpando
minha porra que escorria em sua bochecha e levei a sua boca. Seus lábios
bonitos fecharam em torno do meu dedo e o chupou devassa.
Exigi quando percebi que ela iria se levantar. Seus olhos sobre os
meus ardiam mostrando a dúvida que deveria estar sentindo, Aline amava
controlar, mas ela estava amando que eu a controlasse. Obedeceu e rebolou
engatinhando até o sofá marrom na outra ponta da sala. Se levantou me
olhado enquanto os dedos iam até a barra do seu vestido e o subindo até a
cintura, se ajoelhou sobre o móvel e empinou o bumbum na minha direção
me olhando por uns segundos antes de se abaixar sobre os cotovelos.
— Você gosta, não é? Sua safada! Murmurei sorrindo e ela não ousou
responder, apenas roçou o bumbum contra mim que estava parado perto o
bastante para ela sentir.
Aline tremia e arfava, enfiei os dedos em seu cabelo e a puxei de modo que
conseguisse lhe beijar a boca. Senti seus lábios doces contra o meu me
incentivando ainda mais a fazer o que tinha em mente. Meti a língua na sua
boca com vontade e me afastei massageando suas costas para ela voltasse a
posição que eu queria.
— Você está tão molhada que eu posso ver a mancha em sua calcinha, bebê.
Sussurrei alisando com as palmas abertas seu traseiro então puxei as tiras de
renda descendo a peça para que ficassem até o meio das coxas.
Aline gritou quando abaixei e cobri sua boceta com minha língua.
Podia apostar que todas as mulheres lá fora, ou ao menos Ruth saberia o que
estava acontecendo ali, mas não me importava, não estava disposto a parar.
— Você está sugando meus dedos como uma boa menina, bebê... mal posso
esperar para socar no seu cuzinho com toda força... — Falei baixo e a ouvi
gemer e latejar contra mim alucinada.
Espalhei mais um pouco de seus sucos vendo meu pau até tremer com
a imagem dos meus dois dedos entrarem e saírem do seu buraquinho com
tamanha facilidade. Andei até sua frente e segurei meu pau mais uma vez
para que ela o chupasse.
— Você é tão linda, tão gostosa Aline... — Comecei a dizer segurando seu
quadril e me movendo. — Como pode pensar que eu desperdiçaria isso o que
temos por algo do passado que nunca bem beirou ao que sinto agora... você
me deixa louco, mulher.
— Vai sim. — Tentei acalma-la e quase desisti quando a vi olhar para trás
com os olhos cobertos por lágrimas.
— Não!
— Então toma tudo e fique quieta até se acostumar. Exigi a empurrando com
a mão livre para que ficasse deitada de bruços e de quebra entrei todo a
enchendo até o talo.
— Ah seu filho da puta! Xingou de novo movendo a bunda fazendo com que
meu pau deslizasse dentro dela espalhando o prazer proibido e gostoso que
nos dois sabíamos que viria.
— Agora você é toda minha, sua boca, sua bocetinha e seu cuzinho
pertencem a mim, assim como eu sou todo seu, não importa quem nos
encontremos por aí, é só eu e você minha deusa... vou viver te comendo de
quatro para aproveitar meus paraísos nessa terra.
Senti minha alma quase sair quando ela se contraiu gozando forte me
levando junto. Ficamos os dois suados e arfantes ainda sentados enquanto
regulávamos nossa respiração.
— Eu amo você, não tem outras. Falei grogue e ainda de olhos fechados.
Minha ereção ainda diminuía dentro dela quando vagarosamente levantou e
sentou ao meu lado, cobrindo meu rosto com uma mão e acariciando minha
barba.
— Promete?
— Se você prometer que não vai mais se afastar de mim... eu odeio quando
você me ignora, senti sua falta.
— Encontrei ela!
Mas então aquela maldita carta revelou que além de estar vivo ele
ainda a amava e ainda pior, estava disposto a estar com ela. Revelou que tudo
que tinha vivido nos últimos anos não passava de um teatro e que era até rico.
Desgraçado!
— Pode.
— Não agora. Murmurei com certeza ainda incapaz de encarar seus olhos, eu
já era um homem barbado, mas se tratando de Madalena eu tinha certeza quer
poderia chorar feito um garotinho perdido se encarasse seus olhos e vissem
sentimentos por Vicente ali.
— Eu te disse que não o amo mais, Enrico. — Sua voz baixa saiu rouca e
chateada. — Te disse hoje à tarde como me sinto, não valeu? Não acreditou?
— Estou grávida Enrico... a minha maior prova de que quero estar com você
está aqui. Ela levou as mãos a barriga marcada pelo vestido preto.
— Eu não quero que você fale com ele. Não quero que o veja. Não quero que
ele esteja em nossas vidas.
— Não quero que você dê a ele o dinheiro e a fazenda... podemos fazer outra
coisa, reformar, doar para outra pessoa, mas eu só não quero Vicente em
nossas vidas, eu não consigo. Estou sendo arrogante em dizer que não quero
que você tenha um passado, mas que seja! Quero que mesmo vivo ele esteja
morto para você assim como Patrícia se fez morta desde quando me
apaixonei por você.
Desabafei soltando tudo que me deixava angustiado.
— Nunca mais me deixe sozinha, tudo bem? Falou soltando minha mão que
continuou sobre os bebês e levou os dedos a minha barba acariciando meu
queixo.
— Cada um tem sua luta, eu tenho certeza que ele não faria mal há mais
ninguém... e o que ele fez é mesmo errado, mas não acho que mereça.
— Enrico, eu defenderia qualquer um, ele ou outra pessoa que passou pelo
que passou, você sempre teve família meu bem... olha onde estamos, olha
onde fomos essa tarde, ser sozinho dói. Vicente foi sozinho por culpa de
Joaquim, eu não o culpo por querer vingança.
— Eu não vou denunciá-lo, só espero que ele siga a vida dele como estamos
seguindo a nossa.
— Declaremos por encerrado esse assunto, eu não vou procurar por ele, mas
estou feliz que ele esteja bem, isso é tudo! Madalena determinou.
— Eu já entendi que terei que te dizer o quando sou apaixonada por você
umas sete vezes ao dia. Brincou passando dois dedos pelo bico que eu nem
sabia que estava fazendo.
— Eu digo mais vezes enquanto você estiver pedindo desculpas por toda a
cena, mas lá dentro. Apontou para o rumo da pousada e rebolou contra mim.
— Sai do quarto com pressa. — Dei de ombros. — De uma coisa serviu meu
pequeno surto.
— Vai ser para sempre assim, Madalena. Sem distâncias, sem espera...
— Enrico...
— Você quer?
Madalena gritou alto, mas aquilo não me fez parar, continuar entrando
e saindo até ver o seu orgasmo longo que a fez revirar os olhos sentindo a
contração de sua boceta. Sua vulva apertou o meu pau como se o sugasse,
impossível segurar gozei forte dentro dela, selando nossa comunhão e paz
além do físico.
— Especial. Ela sussurrou e eu tive que sorrir de volta. Ela tinha razão, o que
tínhamos era especial.
— Tivemos sorte.
— É uma boa ideia. A abraço sentindo alívio por não ouvir o nome daquele
sujeito e a possibilidade de dar algo para ele.
— Já está pronta para mais? Acariciei seus cabelos negros que haviam
crescido bastante quase beiravam a cintura agora.
— Você não devia ter feito essa merda! — Edgar grita enquanto bate as
mãos no volante. — Você só age sem pensar Denise, e isso vem ferrando a
gente!
— Você só devia ter fugido! Agora por sua culpa perdemos mais um
carregamento, fora ainda os quatro soldados que morreram nessa
confusão! Chegaremos em Santos com a cara e coragem, espero que você
esteja preparada para a morte, é isso que vai acontecer quando você contar
para aqueles italianos que a mercadoria ficou para trás por causa de um
capricho seu!
— Matar aquele inútil não foi capricho! Estou de saco cheio disso,
precisamos de um plano para matar Enrico logo, só isso.
— Você ainda não entendeu que Enrico não é mais nosso problema? A
federal tomou o caso para eles, sua inútil!
— Sai.
— Sai da porra do carro! Voltou a gritar dessa vez mirando a arma que
mantinha entre as pernas enquanto dirigia para ela.
— Você está acabado! Gritou histérica percebendo que ele estava mesmo
decidido. Abriu a porta e desceu na beira da rodovia movimentadíssima.
Vida nova.
Madalena era perfeita, eu poderia admirar seu sono por horas a fim.
Mas o dever nos chamava, era chegada a hora de ter a certeza se sua vida foi
uma mentira e se era mesmo herdeira do bando que ela tanto repugnava por
assombrar e destilar maldade na sua cidade natal.
— Acorda preguiçosa. Cochichei em seu ouvido e ela riu ainda de olhos
fechados.
— Não.
— Eles não estão não. Rio cobrindo seu ventre com a mão e acariciando.
— Já?
— Precisamos ligar para seu Francisco... quero falar com ele se o resultado
for positivo.
— Bom, não existe outro motivo para que Joaquim quisesse tanto a minha
presença por aqui. Se sentou na cama já tensa.
— Sim. Concordei revirando os olhos por ter que escutar o nome daquele
cara logo cedo.
— Claro que sim, podemos fazer o que você quiser meu anjo, vem, vamos
tomar banho? Proponho e ela sorri se levantando e me acompanhando para
debaixo do chuveiro.
— Vou sim.
— Certo.
— Bom, como Madalena é legítima e a única pessoa viva que se restou dos
Rodrigues, não tem muita burocracia. Sênior queria isso e por isso deixou um
testamento, irei preparar todos os papéis e em poucos dias Madalena se
tornará dona de tudo.
— Esse pessoal não vai nem acreditar, vão ficar tudo doido.
— E o casebre? A sede?
— O casebre vai continuar como está, não quero que o toquem... a sede por
enquanto permanecerá fechada, eu iriei reformá-la, mas primeiro irei pedir
alguns conselhos.
— Enrico? Caralho, que bom que você atendeu... mano, seja lá o que for que
esteja rolando aí, vem para casa!
— Jonas está ferido... Denise tentou o matar cara! — Sua voz abaixou e saiu
sofrida. — Sinceramente eu não sei se ele vai sair dessa.
— Ele a encontrou cara... me ligou, mas eu não cheguei rápido o bastante, foi
uma armadilha... eu sinto muito.
— Dois.
— Ele vai escapar. Falei por fim e ela me olhou com os olhos cheios de
lágrimas.
— Eu estou com medo, Enrico, por tudo, por mim, por você, por nossa
família, e tem os bebês...
— E se...
— Não pense muito, você não pode se estressar, lembre-se dos meninos. Pedi
e vi seus olhos vermelhos pousarem em mim.
— Meninos?
— Tudo bem, eu também acho que são meninos. Soluçou e meu celular
voltou a tocar no interrompendo.
— Ele não aguentou, filho... vem para casa. A voz cortante e chorosa da
minha mãe me destruiu. Mais uma vez eu experimentava de perto o gosto de
perder alguém, e o pior era que dessa vez eu tinha perdido alguém que valia a
pena ter por perto. Tinha perdido um irmão.
37
Madalena Ferrão
Nada tinha tanto valor quando se perdia, a notícia de que Jonas tinha
falecido tornou as horas que ficamos dentro daquele avião infinitas.
Se Jonas tinha cumprido a sua missão aqui, tínhamos que aceitar e ele
enquanto acariciava os nós dos meus dedos. Encarava o nada e depois
suspirava. Assim foi até que pousamos e fomos para casa encontrar os outros.
Expliquei que ninguém ali era culpado, nem Enrico por estar comigo
longe, nem Douglas por não ter chegado a tempo e nem Aline por estar com
Douglas. Era para ser.
— Conheci Douglas e Jonas na sétima série... nós nunca nos separamos por
muito tempo, fizemos até faculdade juntos. Quando eu tinha 17 anos, Jonas
fraturou a perna e operou o fêmur, íamos para a viagem do fim de ano da
escola, mas quando vi que ele não iria eu também desisti, passamos todos os
dias de suas férias no quarto dele assistindo filmes e jogando vídeo game,
todos os dias eu estava com ele, e ele sempre esteve comigo, agora ele se foi
Madalena, se foi para sempre e eu não estava lá para ele, deveria estar,
porque se alguém foi culpado por ele estar onde estava esse alguém sou eu.
Me olhou com os olhos lacrimejados e eu não fui capaz de segurar as
lágrimas.
— Não foi culpa sua, minha vida.
— O que? Não Enrico, você está nervoso e chateado, mas Jonas não teve
culpa assim como você e Douglas também não, amor você não tem culpa.
Entenda isso. Me aproximei deitando a cabeça em seu peito.
— Durma. Não é bom para você ficar sem dormir no seu estado.
— Eu sei, é por isso mesmo que tem que tomar cuidado. Resmungou saindo
do quarto e me deixando sozinha.
Ver Jonas cinza e gelado como aquela maldita cidade que estávamos
me deixava sufocada.
Não era meu amigo ali naquele caixão, parecia um pesadelo. A mãe
dele estava pior do que eu podia imaginar, o avô era grisalho, mas o rosto
inchado e chateado parecia deixá-lo com mais idade que realmente deveria
ter, a irmã mais nova de Jonas que eu sequer sabia que existia, era uma garota
linda e robusta, eu diria que era um pouco menos rechonchuda que eu, ainda
mais agora que eu estava grávida, mas ainda assim seu corpo maravilhoso
não se encaixaria nos padrões podres da sociedade. Com os olhos azuis
prateados que brilhavam ao longe, se aproximou de mim e me abraçou como
se me conhecesse a tempos.
— Eu também, Madalena, o Jon sempre falou muito bem de você, que você
tinha dado de volta a felicidade a Enrico.
— Ele era meu melhor amigo. A garota suspirou baixinho e olhou para onde
sua mãe estava.
— Eu sei, Madalena... o rosto dele está tão tranquilo, poderia estar dormindo
se não tivesse tão pálido...
— Vai passar, querida, saiba que estou aqui por você, para sempre Catarina.
Afirmei sem ter a certeza de nada.
Quando seguimos para o cemitério, Enrico andou para perto de mim e
me estendeu o braço para seguirmos juntos até o jazido.
— Também.
— Quando vai voltar a falar comigo? Falei não conseguindo disfarça minha
irritação.
Enrico olhava a cena cerrando os dentes, pela primeira vez desde que
soubemos a notícia e pela primeira vez desde que o conheci ele deixou que
uma lágrima grossa descer por sua bochecha, mas a limpou rapidamente e
respirou fundo.
— Tudo bem chorar, Enrico. Apertei sua mão que segurava a minha.
— Não deve ser fácil perder um filho, Joana era muito ligada à Jonas, você
não sabe, mas o pai de Jonas, suicidou-se quando ele e Catarina ainda eram
crianças.
— Que terrível.
— Tirar tá própria vida nunca e a melhor escolha! Retire o que você falou
agora!
— Tudo bem. Ele levantou as mãos em rendição e andou até o bar no canto
da sala colocando uma dose de whisky.
— Enrico, escute, eu sei que não é fácil perder um amigo, ainda mais como
você perdeu Jonas, pela mão da pessoa que está sendo um pé no seu saco,
mas eu não admito que você continue agindo assim.
— Sabe Madalena, você ama esses bebês, não é?
— Me responda!
— Então vá para o quarto e arrume suas coisas, você vai para a casa dos
meus pais.
— É apenas um tempo.
— Madalena, você é o meu único ponto fraco, eu estando com você fico
vulnerável, não posso ficar todo o tempo te protegendo.
— Eu sei.
Enchi com a maioria das roupas que tinha trago desde o início e
algumas peças que Aline tinha me presenteado.
— Enrico, eu não sei qual a sua ideia, mas eu espero sinceramente que saiba
o que está fazendo, e se realmente pretende pegar Denise que seja rápido, se
você quer continuar comigo tem uma semana.
— Na terça que vem tenho o exame para descobrir o sexo dos bebês, e se
você não estiver lá, de volta, acabou. — Declarei lhe dando as costas. — Não
precisa se preocupar em me levar para casa do seus pais, eu já chamei um
táxi, está lá embaixo.
Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Santo Agostinho
Ela não entendia, mas também não poderia entender, eu não tinha dito
tudo a ela, Madalena estava passando pelos primeiros meses de gestação que
sempre eram bem complicados, e se tratando de gravidez gemelar o cuidado
deveria ser multiplicado.
"Madalena é a próxima"
— Desgraça!
— Mas temos nas paralelas, peguei as imagens de ambas no horário que você
estipulou, o lugar é afastado e só tem galpões, não se passa muito carro, acho
que não vai ser difícil.
— Me envia agora.
— Obrigado, Cássio.
— Doutor Enrico?
— Esse nosso serviço não deve chegar no ouvido dos federais, certo?
— Sim... esses caras estão agindo lentos demais, e eu estou mesmo sendo
prejudicado, estão levando minha família para a merda e eu vou dar um jeito
nisso.
— Sinto muito por Jonas, Doutor, ele era um bom homem, estou as ordens se
precisar.
— Sim, senhor?
— Um minuto.
— Five Heavens.
— Você? O que faz aqui? Virei rápido dando de cara com Rafael saindo pelo
portão da garagem.
— Rafael meu amigo. — Sorri e ele fez uma carranca. — Desce do carro.
Ordenei indo para seu lado da porta.
— O que? Porque? Qual foi cara eu deixei ela em paz, eu nem falei mais
nada, ok? Eu entendi que fui...
— Desce da merda do carro. Puxei a jaqueta para o lado para que ele visse
minha arma.
— Meu porteiro?
— Nós somos, mas fique longe de mim ok? Eu estou cansado de me apontar
armas, eu levei um tiro da última vez!
— Ah, cara, por favor, eu tive que pagar multa pelo barulho que vocês
fizeram.
— Rafael, acho que você não está entendendo, eu não estou pedindo um
favor, estou mandando você fazer se não quiser levar um belo tiro na testa. O
ameacei olhando ao redor para ter certeza de que não tinha ninguém vendo.
— Certo cara, vamos lá. Apontou para a guarita e andamos até o interfone.
— Ah... meu amigo vai entrar para ir até meu apartamento, Luiz
— Tenha uma boa tarde. Acenei para o carro e depois passando pelo portão
subindo os poucos degraus até o hall.
— Por que?
—Mas eu sei. — Arranquei mais uma vez a pistola dessa vez apontando para
ele. — Desembucha agora!
— Ganhou não, perdeu filho da puta! Vira de costas com as mãos para trás.
Ordenei e vi sua garganta subir e descer com ele engolindo seco quando
engatilhei a arma mirando em seu peito.
— Você não pode fazer isso! O desgraçado tentou recuar não obedecendo
minha ordem.
— Já que você é surdo, espero que não seja cego. — Retirei o meu distintivo
que me identificava como delegado de polícia do bolso e mirei em seu rosto.
— De costas e mãos para trás!
Jorge Luiz pareceu entender que estava encurralado, percebi seu olhar
lateral demonstrando que calculava se era capaz de fugir.
— Está doendo.
— Não fica me encarando, eu sei que eu sou bonito, mas não é pra ficar
olhando para minha cara, seu merda. Vamos, eu não tenho o dia todo, sala
das câmeras, onde é?
— Diga que estão com problemas nas câmeras, que precisa ser feito a
manutenção porque você derrubou água sobre um dos aparelhos. Exigi e
levei o telefone até ele segurando. Luís fez o que eu tinha mandado e o levei
para fora.
— Quem?
— Isso! Ele negocia comigo, eu não sei o que fazem com os carros, eu juro,
eu juro pelos meus filhos.
— Você devia se envergonhar por jurar por inocentes que talvez nem
existam! — Aperto sua mandíbula. — Aonde negociavam?
— No meu celular, mas não é o dele, eu sempre falo com uma espécie de
secretária, deixo o recado e ele me retorna.
Jeep preto. Esse era o carro que tinha sido visto algumas vezes no
antigo apartamento de Patrícia na Consolação, tínhamos conseguido imagens
para investigar a morte do nosso agente.
—Os outros dois chamavam Rômulo e o outro Hugo, eram com eles que eu
negociava, foi Hugo que alugou o Jeep, mas aí ele sumiu e Edgar apareceu.
— Depois do aluguel do Jeep, Edgar apareceu para fazer a entrega, ele me fez
a proposta de usar meu nome, eu aceitei por necessidade, eu juro.
— Que tipo de necessidade vale a pena sujar sua índole?
— Aparentemente nenhuma.
— Quando foi a última vez que Edgar entrou em contato com você? —
Perguntei sacando o aparelho. — Fale a senha.
— Vinte e dois, zero nove, ele me ligou há três dias atrás, buscou a BMW,
isso é tudo que eu sei cara, eu juro, eu nem sei para o que eles usam os carros.
— Sabe qual foi seu azar? Falei tranquilamente indo para trás dele e retirei o
canivete de seu ombro e cortava as braçadeiras livrando seus braços e
guardando-as já arrebentadas no bolso do jeans.
— Não senhor.
— Por favor... — Ele suplicou e eu não esperei dando o primeiro tiro em seu
ombro. Jorge gritou e seu urro estremeceu sobre o céu cinza de São Paulo.
— Você se considera um homem de sorte? Porque você vai precisar para sair
daqui. Avisei mirando a arma em sua perna apertando de novo o gatilho.
— Eu não vou matar você. — Avisei o olhando jogado sobre o chão. — Você
pode sair daqui se for valente o bastante, eu não mataria você com um tiro na
cara, estragaria o velório. Sussurrei para mim mesmo não sentindo nenhum
remorso. Virei as costas e comecei a andar para a escada.
— Enrico!
— Uma dica. Virei para trás o vendo ainda miseravelmente jogado no chão.
— Gritar não será uma boa ideia para sair daqui, é melhor pensar em algo ou
vai sangrar até morrer.
Esperava que ela estivesse também sentindo minha falta, mas não o
bastante para sofrer e fazer mal para os bebês.
— Logo estaremos juntos de novo, amor. Logo. Afirmei para mim mesmo e
fechei os olhos buscando o descanso. Passou-se meia hora e nada de
conseguir pegar no sono, mesmo que meu corpo demonstrasse sinais que
precisava disso.
— Não! Eu não posso ficar calma, todo mundo me pede calma, eu não quero
ficar calma! Quero que converse comigo, conte o que está acontecendo.
— Estamos conversando.
— Você não tem que se preocupar, aliás, você não pode se preocupar,
entende que é o para o seu bem, Madalena.
— Enrico...
— Amor, eu não liguei para brigarmos, eu precisava ouvir sua voz, estou
com saudades.
A linha ficou muda por mais uns segundos eu ouvia apenas o chiado
baixinho de seus suspiros.
— Vai demorar muito? Porque não pode ser comigo por perto?
— Porque eu te amo...
— Eu vou desligar. Avisei achando melhor deixar que ela se acalmasse, não
queria me acalmar se para isso fosse necessário que ela ficasse triste.
— Você quer?
— Quero.
— Ok.
— Saiba que eu também amo você. Falou e desligou a linha, encarei meu
telefone por minutos intermináveis antes de voltar a me deitar abraçando seu
cheiro, orei em silêncio que aquilo acabasse logo, prometi para mim mesmo
quando tudo aquilo acabasse, uma nova vida ia começar.
39
Enrico De Giordano
— Você tinha mesmo que me deixar sozinho nessa? Sei que deve ser bem
melhor aí, mas eu não tenho mais respostas, não tenho mais onde procurar.
Alisei a lápide e encarei as escritas, ler o nome de um dos meus melhores
amigos ali doía como jogar sal sobre machucados.
Já faziam dois dias desde que eu tinha ido até Jorge Luiz, e até agora
a única pista que era a tal secretária de Edgar atender ao maldito telefone não
tinha acontecido.
— E aí, irmão?
— Qual foi?
— Estou exausto, não temos mais pistas, os filhos da puta da Federal não
avançam nas investigações, nem sinal da desgraçada da Denise, ainda não
conseguimos rastrear o maldito número, por último não menos importante,
saudade da minha mulher.
— Aline foi vê-la ontem, Madalena disse que você tem ido visitá-la.
— Conta a verdade para ela cara, ela precisa saber que você a deixar lá é para
o bem.
— Eu nem imagino a barra que você está passando... e me sinto péssimo por
estar feliz com toda essa merda acontecendo, até porque faz pouco tempo que
Jonas se foi.
— Para de ser idiota, eu estou muito feliz por você e Aline, eu tenho certeza
que Jonas também está, inclusive Rafael aparentemente deu mesmo paz, não
é?
— Vai com calma ok? Revirou os olhos e encarou tudo que tinha ao meu
redor menos a mim.
— Você já pediu e ela disse não, não foi? Dei uma risada olhando a cara
indignada do meu amigo mostrando que eu tinha acertado em cheio.
— Para o seu governo ela não disse não! Ela disse que precisamos
experimentar como vai ser morando juntos primeiro, e então depois casamos.
— Talvez se eu tivesse...
— Não. Não tinha, aconteceu o que tinha que acontecer cara, não existem
culpados, Jonas foi nosso melhor amigo enquanto esteve vivo e não vai
deixar de ser.
— Pode entrar.
— Estava tentando monitorar o número que você havia pedido, mas ele
estava desligado.
— Disso eu sei.
— O que foi, merda, para de olhar para o nada com esses olhos estranhos.
— É ela, porra!
— A mulher de Hugo! Você lembra que quando ele foi morto, você até
chegou a ir na casa deles?
— É ela! Jorge disse que conheceu Hugo enquanto trabalhava numa locadora
de carros, certo? A Miranda disse que tinha trabalhado em uma locadora de
carros e que agora era secretária, Hugo não começou a alugar carros de Jorge,
ele já arrumava com a mulher antes de tudo, ela ser secretária só fecha a
história! Jorge disse que sempre arrumava os carros que a secretária pedia,
ele nunca falava de fato com Edgar.
— O que?
— Sim! Caramba, foi depois de ir à casa dela, sei lá, ela é gostosa cara, e eu
ainda não tinha conhecido Aline então...
— Puta que pariu, tem alguém em São Paulo que você ainda não comeu?
— Madalena?
— Fala isso de novo e vai ser a última coisa que fala na vida! Aponto o dedo
no seu rosto e ele ri me ignorando.
— Está bom, escuta só, eu posso ir sondar a pilantra, descubro onde ela está e
a faço dizer onde encontramos o tal Edgar.
— É melhor eu ir.
— Cara, tá de boa, eu tô falando que dei um trato nela, ela não vai fazer nada,
além do mais você tem um lugar para ir, vai até a casa dos seus pais agora e
abre o jogo com a Madalena, quando eu tiver respostas entro em contato.
— Enrico?
— Sim.
— Seu pai me contou tudo que está acontecendo e sobre a ameaça deixada e
eu acho que ela devia saber.
— Eu vim fazer isso, mãe. Beijo o topo de sua cabeça e subo as escadas de
dois em dois degraus.
— Oi. Falei chamando sua atenção. Ver o brilho dos seus olhos voltarem ao
me ver ali me fez ter a certeza que eu tinha feito a escolha correta.
— Oi.
— É eu estava usando ele quando você me jogou na cama pela primeira vez.
Suspirou.
— Uma pena aquela noite eu ter te deixado sair daquele quarto. — Beijo seu
nariz. — Senti saudade.
Olhei seus olhos escuros por um tempo já não tendo mais tanta
certeza de contar. — Eu vim... vim contar uma coisa.
— Pois conte.
— Ok. — Fecho os olhos sentindo seus dedos sobre minha boca. — Eu vim
contar o motivo pelo que eu decidi que é melhor você ficar aqui.
— Enrico, então fale logo. Abri os olhos me deparando com seu rosto meio
nervoso.
— Ameaçaram você.
— Quando?
— Quando mataram Jonas, ao lado do corpo tinha escrito que você seria a
próxima. Minha voz saiu rouca, doía em mim só de lembrar das letras escritas
com sangue.
— Eu não mandei você embora meu anjo, eu só te quero num lugar seguro,
essa casa é o local mais seguro que eu poderia te colocar.
— Sim.
— Eu vou, eu prometo, ela não vai fazer nada. Puxo o rosto de Madalena
para o meu e colo nossos lábios, sem língua, apenas tocando seus lábios
enquanto sentia suas lágrimas descerem.
— Eu sei, mas prometa que vai tentar se acalmar, você não pode se estressar,
lembra dos nossos bebês.
— Edgar está fora de São Paulo, ele chega amanhã de manhã e vai para uma
reunião com algum gringo comprador de coca;
— No casebre, ela ainda está lá dentro, acho que vai precisar implantar
alguns dentes quando sair da cadeia, o que é uma pena, eu tentei ser bonzinho
em consideração a nossa foda, mas ela não estava mesmo colaborando.
— Sem dúvidas, termine aí e vai para casa, amanhã nós temos que pegar
Edgar.
— Doug?
— Oi.
— Eu te amo, obrigado.
— Eu não vou te responder, só saiba que você é meu irmão, isso basta certo?
— Basta.
— Ok. Até amanhã. Desligou e eu fiquei lá, encarando meu teto pensando se
finalmente estaria tão perto do fim do meu inferno.
Mais uma vez antes de eu conseguir respirar para fora de todo o rio de
merda que era minha vida, me sentia sendo afogado.
Santos - Litoral
O barulho do tapa que ela acertou no seu rosto subiu por toda casa.
— Não seja tola, tudo que conseguiu até hoje foi por mim, não por seu
falecido marido ou Carlos Alfredo, eu consegui! Eu não estou fora, Denise,
tudo é meu, os clientes, os contatos, tudo é meu! Se quiser continuar sendo
minha sócia, ótimo, se não quer, eu não digo que sentirei falta!
— E você uma boba que nos fez perder cerca de 14 milhões em mercadorias,
tudo por capricho, eu só te deixei sozinha para pensar na sua cagada!
— Com muito ódio, as pessoas não confiam em mulheres pedindo ajuda, por
isso demorei tantos dias, caminhoneiros nojentos que se viam no direito de
roçarem as mãos sujas em mim.
— Teria feito se você não tivesse trago minha bolsa com a minha arma
dentro!
— Você devia ter voltado para casa. A mercadoria já foi, amanhã de manhã
eu volto para São Paulo, tenho uma reunião com outro italiano.
— Voltar sozinha para que me peguem? Nem pensar querido, podemos ter
nossas desavenças, mas estaremos juntos até o fim.
— Onde?
— Mesmo assim, acho que devíamos falar com ele sobre o assunto.
— Edgar, você nem imagina o que passei para chegar até aqui, eu saio dos
trilhos quando eu quiser, que horas saímos amanhã?
— Eles vão ter o que merecem, Enrico e aquela empregadinha gorda vão
sofrer!
— Você deve saber que Enrico também tem interesse em pegar você, agora
depois do que aprontou com o policial bonzinho que era o cão de guarda
dele.
— Não vai rolar... suba e tome um banho, você cheira a suor e perfume de
homem velho, sairemos as seis, é melhor tentar descansar da viagem difícil
que teve. Boa noite.
Revivi também a tarde que tinha passado com Madalena e como ela
tinha dito que estava bem quando na verdade não estava, as cólicas tinham
um motivo, mas eu não quis contrariá-la, aceitei que não seria nada quando
significava que meus filhos podiam estar morrendo.
— Era muito sangue. — Ela chorou mais alto e eu a olhei com pena. Doía em
mim, mas eu tinha certeza que nela também, ninguém mais que minha
mãe tinha passado os anos em que vivi de luto sofrendo por me ver na merda.
— Eles vão ficar bem, Lulu, foi só um susto. Meu pai a abraçou e me olhou
chateado. Sabia que ele a confortava mesmo que seus olhos dissessem que ele
não tinha certeza de nada.
— Ela estava sentindo cólicas quando eu fui vê-la. Eu devia ter trago ela a
tarde mesmo.
— Não adianta ficar chorando pelo que não fizeram, vamos ter fé, primeiro
vamos esperar o médico aparecer.
Teria sido culpa minha? Ter afastado Madalena, a mandado para casa
dos meus pais querendo deixá-la em segurança fez com ela perdesse meus
filhos?
— Eu sinto muito por demorar tanto, fizemos o possível ela tinha perdido
muito sangue quando chegou aqui, o estado dela não é nada tranquilo.
Tinha mais uma vez perdido quem eu amava? Dias depois de perder
Jonas, eu não sabia quando Deus ia permitir parar com aquela merda de maré
terrível que minha vida tinha se enfiado desde que conheci Patrícia.
Madalena me odiaria? Ela botaria a culpa em mim?
Precisaria ser forte por ela, só que não conseguia me mover para
entrar lá, ou sequer abrir a boca para falar qualquer coisa que fosse.
— É uma crise, está em choque pela grande emoção, vamos rapaz, controle a
respiração. Pediu e eu comecei a fazer o que ele pediu e o que já estava
fazendo minutos atrás.
— Filho, acalme-se, você não ouviu o médico? Eles estão bem na medida do
possível. O sorriso no rosto da minha mãe mostrava que eu estava mesmo
louco.
— Enrico, vamos lá, eu sei que é apavorante, mas sua mulher e seus filhos
precisam de você. Meu pai falou.
— Você realmente não ouviu nada? Minha mãe se sentou ao meu lado.
— Ele está tendo uma crise nervosa, Luísa. Papai repetiu as palavras do
médico que continuava a me amparar.
— Estão vivos. Falei como um bobo, meio chorando e olhando meus pais.
— Doutor... por que ela teve isso? Eu tive culpa? Digo, nós não estamos
passando por momentos fáceis no momento.
— Abortos espontâneos tem esse nome por uma razão meu rapaz.
— Eu preciso vê-la, posso?
— Só mais uma coisa. — Ele me olhou atento. — Eu sei que disse que não
foi sua culpa, mas a situação que Madalena está agora, eu acho necessário
dizer o que é indispensável para que essa gravidez seja levada até o fim.
— Pode deixar. Concordei prontamente e ele levou sua mão ao meu ombro.
— No mais, pode ficar calmo que sua mulher e seus bebês estão bem, a
propósito, dois garotões valentes.
— Bom, mas já estou adiantando, são dois meninos que estão mesmo afim de
ver o mundo.
Não sei quem chorou primeiro, levei a mão aos olhos explodindo de
felicidade quando percebi meus pais se abraçando.
— Me desculpa.
— Shh... não fale isso, você não teve culpa, talvez eu tive.
— Claro que não, Enrico, o médico disse que o primeiro trimestre e o quarto
mês é bastante complicado, mas eu devia ter escutado você e sua mãe e ter
vindo para o hospital mais cedo.
— Eu nunca senti tanto medo na vida, foi desesperador pensar que estava
perdendo eles.
— Eu também, já sentia que seriam menininhos, espero que sejam tão lindos
quanto você.
— Não mesmo, você trabalhou muito duro, os genes desses olhos verdes
água estão neles, eu posso apostar. Ela sorriu e eu beijei a ponta do seu nariz.
— Como assim? O que quer dizer com ser um homem livre? Seu olhar
curioso sobre mim me deixou um pouco inquieto, mas eu não mentiria mais,
eu não esconderia mais nada de Madalena para correr o risco de deixar ela
doente. Por isso escolhi bem as palavras e falei:
— Quando pegar Denise vou aceitar a proposta que meu pai vem fazendo há
anos, vou me afastar da delegacia e assumir as empresas.
— Eu não quero saber, Daniel. Quero que minha remessa seja embarcada
amanhã, eu já paguei pela porra da mercadoria! — O homem bateu a mão
na mesa visivelmente irritado. — Não volte a me ligar se não for me dar uma
boa notícia! Esbravejou já desligando o telefone sem ao menos se despedir.
— Com licença, senhor, pediu que avisasse quando o tal Francisco ligasse
ele está na linha.
— Francisco, meu amigo, que bom falar com você, alguma novidade?
— Vicente? Bom falar com você também, como está menino? A voz do amigo
de longa data o chamando pelo nome que inventara fez o homem sorrir
amargamente, e ainda mais por chamá-lo de menino. O fazia lembrar que
mesmo com apenas trinta e um anos ele já tinha sofrido e se vingado
bastante na vida.
— Ela foi aí? Fez como combinamos? Lembrou-se de tudo armado, ainda
quando estava na prisão de Campo Grande. Tinha contado a verdade a
Francisco e contado que iria se dar como morto, Vicente estava indo para
não mais voltar, e Aurélio assumiria de novo a sua vida, tinha combinado
que o homem confirmaria a todos, inclusive a Madalena que ele estava
morto, ninguém deveria saber da sua falsa morte, ali ele só confiava em duas
pessoas, e Madalena só iria descobrir que ele tinha escapado quando lesse a
carta que deixara.
— Eu entreguei sim, entreguei sua carta para Madalena, ela esteve aqui há
uns dias atrás.
— Esteve? Ela foi embora de novo? O resultado dos exames? Ela não é filha
do velho, é isso?
— Então?
— Então ela devolveu o que podia das terras, a fazenda diminuiu para menos
da metade, apesar de continuar grande, você sabe, agora voltou ao
verdadeiro tamanho de quando o primeiro Sênior tataravô teve. Quando o
pai de Madalena, Sênior Neto casou-se e teve Joaquim, a fazenda já tomava
toda a região, você sabe.
— Eu não sei o que é pior nesses sangues ruins, Chico, a corja de Sêniors de
tataravô a pai de Madalena, ou eles quebrarem a tradição desse nome
maldito com aquele demônio que eu matei. O homem brincou.
— São todos filhos cramunhão, Vicente, não muda nada. Ele riu.
— Ela queria vender, mas o moço que veio com ela a convenceu de reformar.
— Ãh... então, é isso que eu ia te contar, Madalena não estava sozinha não,
ela estava acompanhada do noivo dela, e pelo jeito que se abraçavam eles se
gostam mesmo viu.
— Eu.
— Certo, ao menos ela não foi burra... escute, obrigado pela consideração
em ligar. Esfregou o rosto incrivelmente irritado com a notícia do noivado
repentino da mulher que ele esperava voltar a ser sua.
— É sim.
— Ok.
— Por nada.
— Sim, senhor.
— Meu sonho é viver em paz com minha família, eu não quero nunca mais
ter que passar por isso.
— Enrico...
— Tem certeza?
— Muita. Eu sei o que estou fazendo. Além do mais, meu pai sempre
reclamou em não ter um substituto, ele vai amar a ideia, vou ter mais tempo
disponível para você e os bebês.
— E eu vou estar. — Beijei seus lábios depois desci para sua barriga beijando
abaixo do seu umbigo. — O papai vai ter muito tempo para brincar com
esses guerreirinhos, não é? Sussurrei e vi Madalena sorrir.
— Que bom. Abri meu sorriso aberto e ela acariciou minha barba já grande.
— Amo, amo muito, mas adoro quando você tem atitudes como essas, em ter
ido me contar sobre a ameaça, sobre estar tão preocupado agora, sabe?
Demonstra que sou tão importante quanto você é para mim.
— Você é tudo para mim, Cereja. Respondi beijando seu cabelo e a ninando
até ela pegar no sono, eu não consegui pregar o olho, mas só de ter minha
mulher nos braços, e meus filhos vivos em sua barriga já me sentia
descansado.
— O dever me chama, bebê. Eu tenho que ir, você vai ficar bem?
— Eu te amo.
— Volta logo.
— Minha mãe já deve estar chegando para ficar com você. Avisei e comecei
a andar para a porta do seu quarto.
Faria até mais do que teria que fazer, eu estava pouco me fodendo para
os parceiros de Denise, queria que os gringos e Edgar explodissem, e era por
isso que eu e Douglas tínhamos comunicado a Federal, eles estariam
esperando no local marcado para fechar o cerco. A única pessoa que me
interessava ali era aquela velha desgraçada morta por minhas próprias mãos,
daquilo eu não abriria mão.
42
Douglas Saragoça
Mordi a ponta do chiclete e ofereci a outra metade a Enrico.
— Não quero.
— Deveria.
— Porque? Ele sobrou sobre a mão avaliando seu hálito e eu ri da sua cara.
Xingou e eu gargalhei.
— Eu sei que quando passou no concurso você deu o rabo para aqueles caras.
— Já está lá, fica tranquilo cara, eu deixei tudo no esquema, agora é só pegar
a velha.
— Eu não vejo a hora de estar livre disso. Limpou o rosto de uma sujeira
invisível.
— Com certeza.
— Ah, a verdade dói né? Mas para ser investigador eu só precisei ir lá fazer a
prova. Ri de novo e dessa vez ele me acompanhou.
— Todo mundo sabe que isso foi ganhado com você roubando no poker
clandestino, ou seja, dinheiro sujo!
— Aparentemente não mesmo, pior para eles, obrigado por pensar no meu
bem-estar, amigo, agradeço por poder testar minha belezinha nova. Balancei
a arma em punho.
— Vai lá, vou até lá atrás ver se tem mais. — Avisou já saindo na frente. —
Nada de tiros ainda. Sussurrou.
— Já disse que não tenho! Vaza isso é propriedade privada. Respondeu bruto.
— Quantos lá atrás?
— Três.
— Usou a adaga?
— Vamos. — Corri com ele até a porta e subi pela parede encarando pela
pequena janela. — Só tem os dois lá.
— Se a Federal vier, vão achar só o corpo deles aqui, podem achar que foram
os gringos, mas eu acho que eles vão escafeder no ar.
Não perdi tempo, caiu na rede era peixe, e aquele era grande. Mirei
em Edgar ainda de costas e dei o primeiro tiro que o atingiu perto da nuca.
— Bom dia, sogra. Como vai você? Sua velha desgraçada. Andou rápido até
a mulher que já estava agachada e tentava recuperar sua arma a puxando
pelos cabelos louros falsos.
— Enrico, me solta, seu idiota! A mulher xingou quando ele enrolou suas
madeixas na mão a deixando de joelhos.
— Você só não vai morrer nesse segundo, sua puta ordinária, porque você
tem algumas coisas a acertar comigo.
— Eu não vou dizer nada! Gritou e recebeu uma bela coronhada em cheio
que fez o sangue brotar em sua testa.
Odiava matar pessoas. Sabia que talvez seria necessário desde quando
tinha entrado naquela profissão, e carregava comigo como um modo de não
me sentir tão mal era que se a pessoa era ruim, fazia o mal e prejudicava a
sociedade, ela merecia a morte, e essa morte sim deveria ser decidida pelos
homens, de resto deixava para o Senhor no qual tinha fé tomar conta.
— Para, seu desgraçado! Ela falou e Enrico esfregou mais algumas vezes a
sufocando.
— Ah porra, ela vai sujar meu carro. Reclamei abrindo meu porta malas.
— Eu pago a lavagem.
— É claro, vou ficar bem na fita chegando com o carro cheio de sangue para
lavar. — Ri e vi a mulher nos encarar com raiva. — Está olhando o que
vadia? Perdeu o cu na minha cara? — Reclamei.
— Vai se foder!
— Não. É você quem vai. Afirmei arrancando minha camiseta pela cabeça.
Ironicamente e bastante repugnante vi os olhos interessados da ordinária
sobre meu abdômen.
— Você me deve uma Ralph nova. Falei para Enrico e embrulhei a cara da
mulher enfiando uma bola do tecido em sua boca a impedido de falar, eu
sabia que o tecido podia sufoca-la, mas preferia ela com pouco ar do que
deixar minha bebê recém adquirida suja com aquele sangue podre. Rasguei
sua blusa que parecia de seda e enrolei em seu pulso atingido. A joguei
dentro fechando porta-malas e assumimos os bancos da frente.
Liguei o carro e sai devagar pela rua. Assim que virei a esquina o
Bentley negro passou por nós.
— É uma pena para nossos amigos federais. Enrico deu de ombros com o
telefone na orelha.
— Você sabe que apagando tudo, eles nunca vão achar os gringos que
passaram ali, não é?
— Jurei honrar e fazer justiça, isso que estamos fazendo é errado, e me sinto
mal em te colocar nessa comigo, mas eu não conseguiria sozinho.
— Tudo bem cara, a gente limpa a sujeira do outro, é assim que é e sempre
vai ser. Ri um pouco e vi meu amigo um pouco desorientado encarando o
nada.
— Mas se não tivesse entrado, não conheceria Madalena e nem estaria com
sua família formada agora, as coisas são feitas para acontecer.
— Eu sei.
– Com certeza.
— Será o fim da linha da minha vida antiga, o começo da minha vida nova.
— Eu nunca te julgaria, sei que você estaria comigo se fosse eu no seu lugar.
— Doug... — Enrico me olhou pela primeira vez desde que estávamos dentro
do carro. — Quando chegarmos lá, eu vou entrar sozinho com ela.
— Eu não sei se é uma boa ideia. Falei receoso por perceber o quão abalado
ele estava.
— Caralho, são dois garotos? Pensei que só ia descobrir semana que vem.
— Tem certeza que eu quem estou? — Abaixei para que ficasse frente a ela.
— Acabou, sua puta! Finalmente, você vai me dar sossego.
— Nunca vai acabar, você pode me matar, mas nunca vai acabar! Você acha
que só eu e Edgar cuida das coisas?
— Eu tenho certeza que não. Levei a mão até seu maxilar prendendo forte o
bastante para que ela fungasse com dor. — Mas eu também tenho certeza que
só você é fascinada o bastante comigo, e você será a última da sua família.
— Você sabe que não foi por ela que não me matou. Você sempre pensou
que poderia me enganar e confesso que conseguiu por um bom tempo.
— E ainda estaria conseguindo se aquela mulher não tivesse aparecido.
Não esperei muito para levar a mão aberta até seu rosto desferindo um
tapa forte o bastante para machucar sem deslocar um osso. Eu ia contra meus
princípios em estar agredindo uma mulher, mas tentava me convencer que na
minha frente não era uma, Denise não era digna sequer de ser considerada
humana, um demônio em forma de gente, a maldita era tão ruim que merecia
aquilo.
— Me poupe.
— Agora eu sou o fraco? Você ser insensível e frígida não é culpa minha.
— Se tem uma coisa que não sou é frígida amor. Falou com ironia.
Puxei o seu rosto mais uma vez não me importando em sujar minha
mão com o sangue seco em seu rosto.
— Você acha que essa sua falsa beleza é tudo, não é? Peguei a navalha no
bolso a abrindo em um baque.
— Porque não me mata logo? Não é isso que veio fazer aqui?
— É mesmo? Minha voz rouca saiu baixa demais. Forcei a ponta da navalha
sobre seu rosto e vi o sangue brotar em sua bochecha enquanto eu descia
abrindo a pele em um corte até profundo em forma da letra “M” ouvindo-a
urrar de dor.
— Queria muito que você ficasse viva, para conviver com isso. O “M” de
Madalena em seu rosto cai bem em você.
— Maldito! Desgraçado! Maldito! Eu devia ter te matado! Matado seus pais!
Eu devia... — Interrompi suas palavras acertando um chute em seu estômago.
— Você acha que eu sou tão burro assim? Acha que como a boa sem
vergonha que é nunca tinha reparado suas investidas? Até quando Patrícia
ainda morava comigo, você sempre me tratou mais que um genro.
Brinquei mais uma vez com a ponta afiada descendo pelo seu outro
lado do rosto
— Você acha que eu não via que queria a cada segundo dar para mim?
— Cala boca!
— Eu sempre vi, fingia não ver, mas sempre vi. E sei que no fundo você só
não me matou pois tinha a esperança de ainda conseguir algo comigo.
— Nunca.
— Eu gosto de você.
— Eu não me importo.
— Pois se só o dinheiro importa, você vai me dar paz comendo o que mais
gosta! Embolei todas as notas de dinheiro que eu possuía na carteira. Seus
olhos pousaram na minha mão amassando o bolo de notas de cem e
cinquenta.
Forcei seu maxilar abrindo sua boca e enfiei tudo ali até ela se
engasgar.
— Olha bem dentro dos meus olhos, quero ser a última coisa que você verá
viva.
Engatilhei a arma e abaixei até firmar em sua testa.
— Não valeu a pena, matar seu marido, sua filha, pessoas por aí, nunca valeu
a pena. Falei vendo a última lágrima descer antes do primeiro disparo.
Sabia que iria tirar um fardo das costas e ganhar outro, eu já tinha
matado algumas pessoas, mas todas em razão da minha profissão, nunca por
querer como tinha feito com ela e com todos os outros que trabalhavam para
ela. Mas o remorso não veio.
Olhar a mulher que arruinou minha vida de cinco anos atrás até hoje
morta, ainda com os olhos abertos e a boca cheia de dinheiro que ela tanto
buscava, não me trouxe dor, nem remorso, apenas a sensação de dever
cumprido.
Foi a minha vez de deixar as lágrimas rolarem, chorei não por tristeza e sim
por pensar que finalmente eu teria a vida que merecia. Longe daquilo, de todo
o podre que fui sufocado há anos.
O grito rouco que veio na minha garganta saiu no minuto que mirei a
arma sobre o corpo já sem vida e a descarreguei sem nem morar onde
pegaria.
Gritei sentindo meus demônios saírem, não teria mais lugar para
tristeza e nem pensamentos naquela merda toda. Eu tinha para quem voltar,
tinha para quem viver.
— Vai para onde você merece, filha da puta! Suspirei dando as costas e indo
rumo à porta.
Como uma bolha de fogo o local foi tomado por labaredas altas. Cai
de joelhos e deixei mais uma vez o choro me invadir, não sabia dizer quanto
tempo, mas as chamas já tomavam até o teto quando senti mão me cobrirem
para que eu ficasse de pé.
— Ele foi vingado, e aposto que está sorrindo por nos onde quer que esteja.
— Tenho um almoço com minha garota, mas depois volto aqui para ter
certeza que tudo vai queimar até virar cinzas.
— Agora vai ficar. Falei arrancando a minha camiseta e caminhando com ele
de volta para o carro.
— Se alguém ver nos dois dentro desse carro vai realmente desconfiar que
somos gogoboys indo para uma despedida de solteiro. Enrugou a testa
encarando meu peito nu.
— Ou um casal, né amorzão?
— Só se você malhar mais, tem que ser fortinho para aguentar o tranco do
papai aqui.
— Vai tomar no cu, Doug. Ri alto da sua palhaçada.
— Pouco mais das duas, a enfermeira disse que você ia mesmo ficar
sonolenta com o medicamento do almoço.
— Não se você não tiver que ir. Beijou a ponta do meu nariz e eu senti meu
estômago revirar. Não queria ter medo de perguntar se tudo tinha acabado,
mas estava começando a me convencer que tudo tinha dado certo já que
Enrico parecia feliz.
— Acabou? Gaguejei encarando seus olhos claríssimos.
— Está.
Minha reação instantânea foi rodear seus ombros com meus braços. O
abracei desajeitada e ouvi sua risadinha quando afastei o suficiente para
espalhar em seu rosto beijos estalados.
— Olha o palavrão, mocinha. Enrico ria da minha cara e não perdeu tempo
em assumir o lugar ao lado do meu se deitando na cama pequena que o
deixava quase com os pés para fora.
— Sim, cerejinha, você está livre dos seus demônios e eu livre dos meus,
agora somos só nós.
— Lucca e Dante. Sua voz saiu abafada por sua boca estar no meu pescoço.
— Quem?
— Eles. Pousou a mão sobre minha barriga.
— Mesmo?
— Você acha que eles serão meio italianinhos tão turrões quanto você?
— Bom, quando você caiu de amores por mim não sabia nem mexer num
celular.
— Seu idiota, sai da minha cama. Empurrei seu peito tentando expulsa-lo,
mas seu riso se misturou com o meu até ele colar nossos lábios iniciando um
beijo lento que se transformou em um amasso quente em pouco tempo.
Rocei a mão sobre sua ereção inchada sobre o jeans e o ouvi suspirar.
— Vamos.
— Tem certeza?
— Enrico? Sai.
— Amor, eu estou brincando, é claro que eu vou chupar você dia e noite, nos
só não podemos pôr em risco os bebês.
— Veremos. Implico e ele se remexe o bastante para ficar de lado, sua mão
desceu por dentro do lençol e puxou a minha bata de hospital para cima.
— O que pensa que está fazendo? Segurei sua mão que subia por minha coxa.
— Acalmando você.
Foi minha vez de remexer quando senti sua mão pousar sobre meu
monte entre as pernas, mesmo temente com o que poderia acontecer se
alguém entrasse ali, fui incapaz de não abrir as pernas para receber a primeira
pincelada de seus dedos entre meus lábios.
— Vira aqui, me beija, para eu engolir todos esses seus gemidinhos. Pediu e
eu virei o rosto encontrando o seu.
A nossa conexão era tanta que eu fui incapaz de fechar os olhos, então
Enrico fez o mesmo, me beijava fundo com os olhos abertos, enquanto seu
dedo brincava lá em baixo, rodeando meu ponto rígido por um tempo para
me invadir com os dedos e quando sentia que eu estava perto voltava a rodear
em minha pulsação.
— Enrico... — Engasguei com as palavras e levei minha mão em seu jeans, o
sentindo sobre o tecido.
— Aí... Deus... eu vou gozar. — Supliquei afastando a boca da sua, mas ele
voltou o rosto para o meu.
Aumentei o ritmo da minha mão e senti seu membro crescer ainda mais
quando me arrisquei a enfiar a mão e acariciar suas bolas.
Ainda gozando senti seu pau pulsar e ele segurar minha mão sobre
enquanto os jatos quentes da sua porra sujavam minha mão e sua barriga.
— Puta que pariu, você joga muito baixo. Me olhou ainda chocado, mas com
sorriso no rosto e no olhar. Pulou para fora da cama subindo suas calças e
sumindo para dentro do pequeno banheiro.
— Se a enfermeira entrar, com certeza ela vai saber que as coisas aqui
esquentaram, é só olhar para sua carinha. Abaixou me dando um beijo.
— Sem dúvida. — Piscou. — Está vendo? Os próximos meses não serão tão
ruins. Brincou.
— Se você quiser, acho que conseguimos montar um altar perto da sua antiga
casa.
— Então vamos cuidar disso. Falou levando minha mão aos lábios e
beijando.
— Vai ser incrível. Olhei para o nada imaginando o quanto eu tinha sonhado
com aquilo sem nem pensar.
— E depois, temos que comprar uma casa, quero um lugar grande para os
meninos brincarem.
— Sim, senhor.
Na sua fazenda ele não se vestia assim, mas ainda usava botas
importadas caríssimas, porém aquele seu estilo gentleman era usado quando
ia tratar de negócios.
E era para isso que ele estava ali, para fechar um novo contrato e se
por sorte voltar para casa com sua futura esposa.
Ela tinha o prometido voltar, não era possível que o tal Enrico tinha
ganhado tanta importância.
— Meus amigos estão naquele carro pode seguir. Quero fazer uma surpresa.
Aurélio viu todos os planos voando por terra quando percebeu que Madalena
estava marcada por outro. Levando no ventre um fruto do seu novo
relacionamento.
45
Madalena Cereja
Estava esparramada no sofá da cobertura com os pés sobre a mesinha
de centro enquanto esperava Aline voltar da cozinha.
Tinha se passado um mês desde que eu tinha tido que ir até o hospital,
hoje de manhã Enrico e eu tínhamos ido a mais uma consulta e saímos
satisfeitos ao receber boas notícias, os meninos estavam bem, eu estava
ótima, e finalmente tinha recebido liberação para ter relações sexuais. Não
que significasse que Enrico se arriscaria, ele estava convicto em passar os
próximos meses nos abstendo, mas eu poderia tentar a sorte.
— Está, você sabe, quando ele coloca algo na cabeça... de todo modo já
deixei combinado com Luísa que se não gostarmos podemos cobrir tudo. Ri
da cara engraçada que minha amiga fez.
— É nós íamos, mas todas que achamos não pareciam boas o suficiente,
Enrico encontrou defeito em cada uma delas acredita? Por fim a que achamos
é perto da casa dos pais dele mas precisa de muitos reparos, decidimos
reformá-la e por isso estaremos aqui até então.
— Foi o que eu disse. Até eles fizerem um ano a casa já vai estar pronta, aí
sim mudamos.
— Parece um sonho né, amiga? Você parece tão feliz com Enrico, e agora
com os bebês. Murmurou enquanto encarava o sofá.
— Então o que é?
Aline enrugou a testa. — Eu não disse não, eu só disse que era melhor
morarmos juntos antes.
— Tá, e daí?
— Não... — Quer dizer, eu quero, mas não agora. Madalena, eu tenho medo,
medo de me casar e repetir meus erros, eu amo o que eu e ele temos sabe?
Companheirismo e sexo quente.
— Amiga, eu sei que você está bem nessa fase, mas sim. Sei lá, eu acho que
me traumatizei. Perder Rafael foi fácil, mas perder Doug me destruiria.
— Vou perdê-lo. É isso que tenho medo. Além do mais também tem a
confecção, consegui finalmente inserir o nome no mercado, estaremos
presentes no próximo desfile de moda dos empreendedores em Minas Gerais.
— Isso é ótimo.
— Amiga, acho que você fica inventando desculpas, porque está se borrando
de medo.
— Porra, sim! — Ela riu e colocou as mãos nos olhos. — É exatamente isso.
— Aline, se tem uma coisa que eu aprendi nos últimos tempos é que eu não
sei como, mas nós duas tiramos a sorte grande. — Aponto para o rumo do
corredor. — Aqueles dois homens lá no quarto nos amam, não podemos ter
medo de viver e perder eles por isso.
— É, você tem razão. — Ela se remexeu no sofá. – Até porque dividir uma
casa com ele tem sido ótimo, não é possível que vire um pesadelo só porque
assinaremos um papel.
— Pois é.
— Que bom que você não tem labirintite então. Aline o olhou sorrindo e ele
balançou a cabeça a repreendendo antes de selar os lábios com os dela.
— Acho que paramos por hoje, Doug não para de reclamar de fome.
— Cala boca.
— Que cala boca o que, bicho amarrado, acabou de se tornar CEO de uma
das maiores empreiteiras do país e não quer pagar pintor para o quarto dos
moleques. Veja só, eu humildemente investigador de polícia pretendo quando
nossa princesinha nascer montar um castelo digno para ela.
— Aham, você acha que me engana, né? Você dá tchau de mão fechada.
Douglas implicou e vi Enrico revirar os olhos rindo.
— Ao cinema. Completei.
— Não posso ficar sendo visto em encontros duplos, ainda mais cinema, vou
perder minha marra de mal. Douglas insinuou.
— Amor, cala essa boquinha linda. Aline apertou o maxilar do loiro que riu
apaixonado.
— Eu estou bem amor, o médico disse você não ouviu. Ele até me liberou
para alguma caminhada, e para alguns exercícios. Brinquei levantando as
sobrancelhas.
— Não esqueça sua carteira, porque é você quem vai pagar. Doug avisou se
levantando e puxando Aline junto.
— Consigo ver fumacinha saindo da sua cabeça, cerejinha, o que você tanto
pensa?
— Bom, mas ela já tem filhos isso não faz sentido, amor.
— Por isso, ela diz que sabe das dificuldades e tem medo que com um bebê
ela perca o que tem com Doug...
— Claro que não. — Senti sua mão puxar meu rosto para que eu o olhasse.
— Vamos conversar. — Pediu docemente.
— Desculpa.
— Mais bonita que nunca. Sua risadinha safada me fez engolir alguns
soluços.
— Tem certeza? Você viu quantas mulheres te olharam hoje à tarde? Quantas
te jogaram charme? E aquela garota na livraria. Bufei me lembrando da
abusada que fingiu não me ver e descaradamente pediu o telefone dele.
— Caralho Madalena, mas você está, está, gostosa pra cacete, paixão.
— Então por que você não me toca mais? Questionei sentindo minhas
bochechas queimarem.
— Baby, você sabe que não quero por vocês em risco de nada. Falou me
olhando com descrença.
— Liberou hoje.
— Então quer dizer que voltamos a transar hoje? Ergui uma sobrancelha e
Enrico gargalhou baixinho.
— Isso te responde? — Levou minha mão até o volume entre suas pernas. —
Ou você ainda tem alguma dúvida? — Piscou. — Eu também sinto sua falta,
Madalena.
— Então...
— Eu estou bem.
— É sério.
— Eu sei... desculpa, eu não devia ter falado isso. — Levei a mão ao seu
rosto. — Desculpa mesmo, fui uma idiota.
— Sim, foi mesmo. Eu esperava que seu humor instável me deixasse menos
maluco.
— Sinto muito... eu sinto mesmo, não quis dizer isso ok? Eu sei que você
seria incapaz.
— Vou subir.
— Não. Exigiu que eu ficasse me segurando pela mão enquanto usava a outra
para afastar seu banco e o inclinar.
— Eu sou culpado por todo esse mau humor, eu devo estar te dando poucos
orgasmos.
— Você quer pau, eu entendi. Enrico sorriu devasso e senti meu estômago
revirar ao vê-lo abaixando o jeans o suficiente para deixar livre a ereção.
— Estamos no estacionamento.
— Senta devagar, faz tempo e você vai estar muito apertada, além do mais
não queremos e nem podemos fazer você sangrar.
— Ok. — Concordei jogando a cabeça para trás sentindo seu carinho com os
dedos. Depois que a cabeça do seu pau se encaixou em minha entrada ficou
ali por um tempo, apenas pincelando misturando todo o nosso mel.
— Puta que pariu, que delícia! Comemorei abalada por perceber o quanto eu
tinha sentido saudade daquilo.
— Você tá esmagando meu pau, Madalena, eu não vou durar nada, porra!
Enrico resmungou mordendo os lábios e eu apreciei a cena. Começando a me
mover lentamente com suas mãos em minhas ancas me guiando no ritmo.
— Ai... Merda...
— Isso gostosa, contrai mais, que tá uma delícia. Pediu quando acariciou meu
clitóris e fiz o que me pediu soltando os primeiros espasmos do meu
orgasmo.
— Eu amo você. Amo você. Me declarei sentindo sua boca cobrir meu seio
direito o chupando com gana.
— Temos mais?
— Com muita calma, igual fizemos agora. Enrico me avisou todo precavido e
eu sorri feliz.
— Senti falta disso. Ele falou puxando meu lábio inferior entre os dentes e o
chupando levemente.
— E disso também. Passou um dedo pelo interior da minha coxa que escorria
seu esperma.
— Eu quero ver você. A voz que eu reconhecia muito bem soou do outro
lado e eu me deixei cair sentada na cama com o celular ainda na orelha.
Enrico ia surtar.
46
Enrico De Giordano
Desisti de prolongar o banho quando percebi que Madalena não
apareceria. Provavelmente estaria esparramada preguiçosamente na cama
tirando um cochilo, ela vivia dormindo pelos cantos devido a gravidez, e após
o sexo ela sempre ficava sonolenta.
— Baby, está sentindo alguma coisa? Puta que pariu, eu sabia, vamos para o
hospital.
— Não, eu estou ótima. Ela deu um sorrisinho e segurou minhas mãos antes
de começar a falar:
— Enrico, fica calmo, pare de gritar ok? Ela revirou os olhos como se minha
atitude estivesse sendo exagerada.
— Madalena, que porra está acontecendo? Cruzei os braços sobre o peito.
— Ele pegou o meu telefone com Francisco, disse que quer me ver.
— Esse filho da puta! Na carta ele disse que era para você procurá-lo, o que
diabos...
— Você vive dizendo que essa casa também é minha, pois eu recebo quem eu
quiser também, por isso vamos receber Vicente.
— Você está brigando comigo por causa desse cara? É sério? Coloquei as
mãos na cintura totalmente indignado.
— Faz o que?
— Tem ciúmes de Vicente! Eu nunca questionei você ter procurado por sua
ex-mulher, nunca!
— Patrícia não tem nada a ver com isso Madalena, não faça comparações!
— É claro que tem, vocês foram casados, diferente de eu e Vicente, já falei
mil vezes que o que tivemos ficou no passado, talvez ele só queira vir ver que
estou bem, e eu também quero vê-lo.
— Ah você quer o ver? Então boa visita para você, inferno! —Resmunguei
incrivelmente irritado e sai do quarto batendo a porta forte o bastante para
quase quebrar o trinco a tempo de ouvi-la gritar:
— Babaca!
— Eu não acredito que estou vendo você, Leninha. Falou primeiro e o ciúmes
me invadiu quando Madalena o abraçou. Leninha de cu era rola! Rugi em
silêncio assistindo a cena.
— Vicente, você nem imagina o quanto estou feliz, eu fiquei muito triste
quando achei que você tinha morrido, entre. Deu passagem para ele passasse
pela porta quando se afastou.
— Era o que devia ter acontecido! Resmunguei baixinho para mim mesmo
voltando a prestar atenção.
— Meu Deus.
— Bom, quando você me ajudou a fugir eu decidi vir para São Paulo e
quando cheguei até aqui consegui um emprego de cuidadora, foi onde
conheci Enrico o meu noivo.
— Noivo? Você está noiva desse tal Enrico? Vicente falou meu nome
entredentes e eu percebi que ele me odiava assim como eu, ao menos nosso
desafeto era recíproco.
— Amo, Vicente. Eu amo Enrico mais que eu imaginei ser possível amar
outra pessoa.
— Fico feliz que tenha vindo nos ver, Aurélio. Madalena se preocupou com
você, com toda aquela história de falsa morte... eu como delegado fiquei bem
tentado a cumprir a lei e ir atrás de você.
— Agora afastado, pedi exoneração por estar com alguns projetos, mas na
época que lemos sua carta eu era sim. Frisei a voz quando me referi ter lido a
carta junto com Madalena.
— Por Madalena. Não julgo você ter matado Joaquim, na verdade até
agradeço. — Sorri ironicamente e o vi travar o maxilar demostrando o quão
irritado estava. — Madalena contou que estamos grávidos? Brinquei olhando
minha mulher que me encarava como se eu tivesse nascido uma segunda
cabeça.
— Eu agradeço muito a você, Vicente... sem sua ajuda eu estaria morta agora,
mas nossa vida seguiu rumos diferentes, estou feliz, e espero que você
também encontre alguém. Madalena falou em um tom de voz doce, porém
extremamente firme, o que puta merda, me excitou para um cacete. Eu amava
aquela mulher.
— Você vai vender a fazenda? Estou interessado se for. Ele perguntou ainda
a encarando ignorando minha presença.
— É seu, Leninha.
— Ela vai devolver sim, não precisa mais dele. Me intrometi e vi os olhos
dele faiscarem sobre mim.
— Claro que sim. Concordou e aceitou que ele rodeasse seu corpo com os
braços.
— Eu também amo você, obrigado por tudo, tenha uma boa vida Vicente,
nunca vou me esquecer de você. Madalena sorriu amigavelmente o cortando
de qualquer flerte que fosse.
— Eu também não.
— Adeus. Estendi a mão para que ele apertasse e o vi recuar uns segundos
antes de aceitar.
— Adeus, Enrico. Sussurrou meu nome tão baixo que quase não foi possível
escutar. Quando fechei a porta e me virei para Madalena a encontrei de
braços cruzados.
— Ta bom, confesso... estava ouvindo, você não achou que eu ia deixar você
sozinha com esse cara né? Viu o quanto ele te quer? O filho da puta nem
disfarçou!
— Enrico, chega! Vicente é passado, e depois de hoje ele entendeu bem isso.
— Sai, não quero papo com você agora. Se debateu tentando se soltar.
— Ah, mas eu também não estou afim de papo. Beijei seu queixo e desci por
seu pescoço ouvindo o gemido baixo.
— Eu te amo.
— Então? Dou um sorriso safado que eu sabia ser um dos pontos fracos de
Madalena e ela prende os lábios afim de não sorrir comigo.
— Babaca.
— Não consigo abaixar, preciso que você prenda as sandálias. Apontei para o
chão e o vi sorrir.
— Enrico o que está fazendo? Senti suas mãos subirem por minhas
panturrilhas e pararem no joelho. — Conferindo.
— Estou.
— Mas que porra! Estamos indo jantar com meus pais Madalena, eu não
posso ficar de pau duro num jantar com meus pais.
— Não dá para usar uma calcinha com esse barrigão e esse vestido, marca
muito, ninguém vai perceber que eu estou sem.
— Eu vou saber e vou querer enfiar a mão por baixo o tempo todo.
— Estou contando com isso. Pisquei e o vi abrir e fechar a boca algumas
vezes.
Meu corpo ferveu a ponto de não me restar opção senão quase rasgar
a roupa bem passada que Enrico usava.
— Minha mãe vai ligar daqui a pouco. Enrico conversou enquanto subia os
tecidos do meu vestido solto me puxava para ficar de lado. Se abaixando
colocou a boca em mim, me lambendo e estimulando em movimentos rápidos
e circulares. Gritei e me debati até ele achar ser o suficiente antes que eu
gozasse. Se encaixou atrás de mim, da forma mais confortável que estava
para se fazer amor ultimamente e entrou fundo em mim.
— Vai ter que ser rápido, baby. Puxou minha cabeça e eu me virei o máximo
possível para que ele alcançasse minha boca, capturou meu lábio inferior
entre os dentes e me fez esquecer qualquer motivo que fosse enquanto
entrava e saia repetidamente, doando-nos por inteiro, saciando a vontade
louca que nos invadia.
Quando gozamos juntos, ficamos por uns minutos um no braço do
outro, apenas curtindo a calmaria gostosa na aura de felicidade.
— Mas ela pediu que fossemos tão formais. Me espichei e fui a primeira a
levantar. Enrico veio logo atrás subindo sua calça e ajeitando a camisa que
tinha ficado amarrotada.
— Talvez ela conte o motivo quando chegarmos lá. Ele deu de ombros e o
encarei suspeita, sabia quando Enrico escondia algo de mim, mas levaria em
conta que Luísa tinha pedido para que não contasse, tentei me recordar se ela
tinha comentado alguma data e não lembrei de nada.
— O que?
— Nada.
— Só estou feliz. Levou minha mão a boca e beijou os nós dos meus dedos.
— Porque não estamos indo lá para dentro? Perguntei quando ele segurou
minha mão com a sua e saiu me carregando para o jardim.
— Está na hora.
— Na hora de que? Questionei e deixei meu queixo cair quando como num
passe de mágicas luzes se ascenderam.
— Ei, bebê. — Falei e ele me lambeu fazendo uma risada sair da garganta. —
Eu não acredito que você... — Me virei e mais uma vez paralisei quando
encontrei Enrico sob um dos joelhos e uma caixinha nas mãos.
— Eu sei que já falamos ser noivos, e planejamos até quanto tempo vamos
demorar para casar depois que os meninos nascerem, mas estava faltando
fazer isso certo.
— Agora estamos completos, eu, você, nossos bebês, e o nosso labrador que
você tanto insistiu para termos desde que assistiu Marley & Eu, é a nossa
família Madalena, e prometo proteger vocês até o fim, quer se casar comigo?
Assim que se colocou de pé, segurou meu rosto entre as mãos e colou
nossos lábios enquanto o filhotinho ficava entre nós.
— A gente podia chamar ele de Goku. Marcelinho falou e nos fez rir.
— Ele tem topete, olha. — Theo apontou e eles se abaixaram para analisar o
pequeno montinho de cabelo que teimava em ficar para cima sobre a
cabecinha do cachorro. — A gente podia chamar ele de Elvis
— Madalena não merece que eu trame contra ela, gostaria que ela ficasse
comigo e se tornasse minha esposa, mas se não é o que ela quer. Deu de
ombros encarando alguns papéis sobre a mesa.
— Você foi a Alvorada uma vez não foi, Sérgio? Questionou levando o copo
de whisky a boca.
— E viu como aquele lugar era tão pacato como Ribeirão Corrente, mas
aqui eu sou o barão, nós produzimos o melhor café, eu não preciso daquelas
terras, eu as queria quando pertenciam aquele maldito, Madalena apesar de
marcada pelo sangue, merece aquilo, ela sofreu assim como eu a vida toda.
— E agora?
— Não mais, não agora pelo menos, quando chegar a hora eu vou encontrar
alguém... até lá quero sossego.
— Agora me deixe sozinho por favor, tenho uma garrafa de scotch para
terminar enquanto lambo as feridas por ter sido trocado pela única mulher
que imaginei levar adiante.
— Sim, ligue para Silvana e peça para ela separar umas garotas.
— Legal.
— Ela é a única que aguentou meu pau todo naquele rabo e não reclamou.
Falou desistindo de encher o copo e virou a garrafa na boca.
Aline Gouveia
Douglas tinha passado a caminho todo na volta falando no quanto
Madalena parecia disposta a encarar qualquer parada com Enrico, e em como
ficava feliz por isso já que o amigo tinha passado alguns anos vivendo um
luto que não merecia.
Eu remoía por dentro pensando que por mais que não fosse uma
indireta eu me sentia atingida. Não tinha aceitado me casar com ele, ter um
filho, e estava relutando para apresentá-lo a minha família.
— Vou verificar se os meninos estão dormindo, sempre que o Theo vem eles
inventam de virar a noite no videogame.
Douglas não era Rafael, e eu precisava entender isso. Tinha que parar
de ficar com medo sendo que a cada dia ele mostrava empenhado em me
mostrar o quanto eu era especial.
— Pronto, agora eles não param de dizer que também querem um cachorro.
— Doug apareceu na porta do quarto sorrindo e arregalou os olhos ao me
enxergar. — Opa! Falou já sorrindo.
— A gente pode ter um cachorro quando nos mudarmos para a casa nova.
Comentei.
— D.R agora? Poxa amor, você não podia ficar de roupa então? Jogou a
cabeça para trás como se sentisse cansaço.
— Ok, mas mesmo se a gente brigar vamos transar, ninguém manda colocar
essa porra aí. Andou até mim e se sentou.
— Amor, cala boca! O olhei brava, mas sem conseguir conter o sorriso nos
lábios.
— Eu amo você, pretinha. Amo muito. Puxou meu queixo para que nossos
olhos se encontrassem e abriu um sorriso lindo naquela cara de homem mau.
— Quero perguntar uma coisa. Me virei para ficar de frente para ele.
— Pergunte.
— O que é isso?
— Shhh... — O silenciei pegando o pedaço e o encarando — Chega de
atrasar a felicidade.
Agarrei sua mão e rodeei o seu dedo anular esquerdo e enrolei a fita.
— Desculpe não ter nada mais digno no momento, eu sei que acabamos de
chegar de um pedido de noivado fofo, mas você me pediu e eu fui uma idiota,
por isso nada mais justo que eu pedir agora.
— Ah, porra. — Riu mais uma vez antes de me puxar nos braços em um
abraço. — É claro que é sim, sua maluca! Que pergunta, o que eu mais quero
é você como minha esposa!
— É?
— Eu prometo que vou deixar de ter medo, estou apostando todas as fichas.
— E para ganhar, amor. Doug beijou minha bochecha e depois a outra, para
depois colar nossas bocas.
— Eu tô feliz.
Enrico De Giordano
Meses depois
— Hum? Questionei e ainda com os olhos fechados levei minha mão até sua
perna indo direto para seu sexo.
Madalena andava irritada por terem tido que se abster de sexo nas
últimas semanas. Os bebês estavam grandes e pesados o que a faziam se
sentir inquieta e com dores a maior parte do tempo, só se acalmava quando
recebia orgasmos, e eu estava me empenhando em dá-los com a boca e mãos
sempre que estava por perto, quando a mão dela bateu na minha me fazendo
assustar e abrir os olhos.
— A bolsa estourou?
— Há minutos atrás, ali no banheiro. Apontou para o cômodo que estava com
a luz acesa.
— Puta que pariu! Levei as mãos a cabeça e encarei minha mulher na cama,
usando uma camisola escura.
— Você quer tomar um banho? Eu vou ligar para o médico e para os meus
pais. Agarrei meu celular na mesinha da cabeceira.
— Certo. Falei correndo pelo quarto, mas sem conseguir fazer nada direito.
— Paixão? Corri para o seu lado e ela me olhou com os olhos arregalados.
— Quando dizem que dói, eles estão falando sério. — Ainda curvada
segurando a barriga estendeu uma mão para que eu segurasse. — Não vou
conseguir tomar banho, quero um hospital agora, me dê o robe. Apontou para
a peça de seda caída sobre a ponta da cama. A entreguei e ela vestiu
tampando a sua camisola.
— Um segundo! Corri até o quarto dos meus filhos e agarrei a mala que
Madalena e minha mãe já haviam deixado prontas, voltei ao nosso quarto e
puxei a bolsa de Madalena e minha carteira voltando para o corredor
correndo com tudo nos braços.
— Você vai assistir o parto assim? Apontou para mim e só então reparei que
estava descalço usando apenas cueca.
— Mas que merda! Voltei em passos rápidos para o quarto e me vesti com o
primeiro jeans e camiseta que encontrei pela frente, calcei o tênis não me
importando com amarrar os cadarços, agarrei de novo as bolsas em um braço
e fui amparar Madalena com o outro até entrarmos no elevador e irmos para o
carro.
— Oi, Enrico, acalme-se, lembre-se que vai dar tempo. — Ele soou calmo
demais. — Já estão vindo?
— Enrico, caralho, chega logo nesse hospital se você não quiser parir você
mesmo esses bebês!
— É sim, já tinham nos avisado, fique firme, logo eles estarão com a gente.
— Não perderia por nada. Beijo sua testa e me levanto sentindo como se ela
levasse meu coração junto.
— Eu quero.
— O senhor se sente apto a entrar? Digo, tem alguns pais que não conseguem
ficar e acaba comprometendo o trabalho da equipe.
— Não vai acontecer nada. — Beijo sua testa. — Fica calma, logo estaremos
fora daqui e com eles nos braços.
— Madalena, você não vai sentir nada, prometo, vamos trazer esses garotos
geniosos para o mundo. — O médico sorriu tentando acalmá-la. — Já
escolheram os nomes, certo?
Madalena Cerja
Abri os olhos e estava no hospital. A agulha do soro aplicado no meu
braço me incomodava.
—Sim, está tudo bem com eles, eles são perfeitos. Contou e ela sentiu o
peito inflar, sentia-se injustiçada por não lembrar do que havia acontecido e
por nunca ter na mente a imagem dos filhos nascendo, mas se eles estavam
bem.
— Pareço ter sido serrada, dói tudo do peito para baixo. — O encaro. —
Aconteceu alguma coisa?
— Eu sinto muito.
— Eu não posso continuar sofrendo tantas emoções, você ficou mais de doze
horas dormindo.
— Ele não aceita colo de estranhos, até agora só para de chorar quando está
no meu como ou no da minha mãe.
— E Lucca?
— Ele reconhece minha voz e reconhece mulheres, entregue ele nos braços
de um homem que não seja eu que o berro vai lhe arrebentar os ouvidos.
Lucca e Dante eram mais que perfeitos. Eu seria suspeita para falar, mas
incrivelmente lindos, o desenho dos lábios dos dois seriam tão bonitos quanto
os de Enrico, o narizinho angulado e os olhos eram do formato dos meus,
com cílios longos. O pouco cabelo que cobria a cabeça dos dois era tão loiro
que chegava a ser transparente, mostrando que provavelmente seria castanho
claro como o do pai.
— Você vai saber. Enrico riu me mostrando Lucca. O bebê idêntico ao outro
trazia no rosto um ar diferente, enquanto Dante parecia tímido e emburrado,
Lucca resmungou e mexeu os bracinhos me encarando curioso.
— Ai meu Deus. Olhei dos bebês para Enrico e depois de volta para eles.
— Vai alterando eles de lado para que não se acostumem, e como você tem
dois bebês não vai sofrer com o problema de somente um peito esvaziar.
Brincou.
— Certo.
— Aproveitaremos a ajuda do papai que ficará ninando o outro até chegar sua
vez.
Eu era completa.
51
Enrico De Giordano
Estava definitivamente contando no calendário, a cada dia quando
chegava na empresa rabiscava com a caneta um dia a menos no resguardo de
Madalena, estava visivelmente irritado e quem sofria as consequências eram
os meus funcionários.
Tinha certeza que alguns rezavam internamente para que meu pai
desistisse da aposentadoria e voltasse a presidência do grupo. Tirando a
abstinência, se não fosse por estar num caso sério de bolas roxas, em casa eu
vivia o paraíso. Certo, não era tão grande o caso, de bolas azuis, Madalena e
eu estávamos nos pegando bastante, mas namorar como dois virgens que só
gozavam com os dedos e na boca um do outro já estava me deixando irritado.
— Sorte deles. Beijei seu colo e ouvi sua risada mistura com gemido.
— Você sabe que dia é hoje, não é? Madalena ergueu as sobrancelhas.
— Prefiro deixar para mais tarde e não sair da cama durante toda noite.
— Será uma vitória se eu conseguir dar uma metida antes que Dante chore,
ele parece ter um alerta contrafazer mais bebês.
— É mesmo? Minha animação veio com tudo. Eu amava meus filhos, mas eu
também amava a mãe deles, e amava transar. Estava ansioso demais para
conseguir tocar em Madalena sem ser interrompido como tinha acontecido
nos últimos meses.
— Espera, falta uma coisa. Puxei sua mão e peguei a caixinha que estava
guardando no bolso da calça.
— O que é isso?
— Isso não é gastar, estou te deixando mais linda ainda. Beijei sua bochecha.
— Vamos lá?
— Logo, paixão, mas por hoje contentamos em casar aquele loiro cuzão.
— Ele deve estar tremendo muito na base, nunca pensei que ele casaria.
— Então ele vai tremer mais ainda quando Aline lhe dar o presente de
casamento.
— O que?
— Acha que se sua mãe não tivesse contratado Madalena, isso tudo estaria
acontecido? Doug questionou levando o copo de whisky na boca.
— Às vezes eu acho que tudo tem mesmo que acontecer, sabe? Digo sobre
Madalena nascer onde nasceu, você ter vivido uns anos tristes, eu ter me
deixado levar naquela vida devassa por um tempo apesar de ter tido um filho,
Aline ter se casado e ter tido os meninos, Jonas ter...
— Era pra ser. O corto antes que ele se refira a morte trágica do nosso outro
melhor amigo.
— Um brinde a ele?
— Um brinde. Bato meu copo com o seu e viramos cada um todo o líquido
dos copos.
— Eu acho que vou roubar minha esposa, preciso descobrir o que diabos ela
está escondendo como meu presente de casamento.
— Madalena me contou.
— Vai sim, eu vou aproveitar para pedir que minha mãe fique com as
crianças, eu preciso ir consumar o fim de resguardo da minha noiva.
— Estou aqui para o que der e vier, cuzão. Sussurro um pouco emocionado.
— Será? Você não gosta das flores? Falei com o bebezinho e arranquei o
adereço da cabeça, como num passe de mágica Dante se aquietou encarando
meu rosto com um sorriso banguela nos lábios.
— Você tinha que se parecer tanto com seu pai? Pergunto ao bebê que me
ignora voltando a se fartar em meus seios.
— Estamos aqui reunidos hoje, perante Deus e aos homens para celebrar a
união de Enrico De Giordano e Madalena Cereja Ferrão. O padre de Vila do
Sol que eu conhecia muito bem, pois era o mesmo desde que me entendia por
gente, falou e eu sorri me distraindo encarando Enrico.
— Está tudo muito lindo, a construção de tudo foi bem rápida não?
— Ele não quer desgrudar dela. — Sorrio. — Você falou com ela? Ela me
pareceu meio triste.
— Ela se mudou para a casa do avô, aparentemente a mãe está indo embora.
Ela quer se mudar de São Paulo para fazer faculdade.
— Talvez seja uma boa saída para ela. — Sussurro me lembrando de como a
mãe de Jonas tinha se tornado ainda mais amarga depois da morte do filho.
Catarina era uma garota forte por superar o suicídio do pai e a morte do irmão
sem nenhum apoio. Respiro fundo a encarando de longe. — Cada um tem um
sofrimento.
— Ela vai ficar bem, o tempo vai passar, e eu a avisei que pode nos enxergar
como família.
— Com certeza. Rodeio seu pescoço com meus braços e me aproximo seu
rosto do meu. — Cada um tem seu sofrimento, mas também sua alegria, você
é a minha.
— Que discurso?
— Concedo tudo para você. Encaixo minha mão na sua e o deixo me guiar.
A festa tinha durado até o fim da madrugada, apesar de meus sogros
terem voltado a Vila do Sol levando os bebês, a maioria dos amigos tinham
se animado, eu me deixei cair na pista com Aline que mesmo grávida dava
um show e Catarina que parecia viver o desconhecido tinha até comentado
que a mãe nunca a deixava sair muito.
Meu coração estava leve, e eu sabia que eles estavam felizes. Não
importava a verdade de que eu era filha daquele homem que tinha feito tanta
barbaridade e nem irmã daquele que um dia quis me matar. Eu me
considerava filha daqueles dois que estavam enterrados ali, e era isso que
importava. Suspirei voltando a ficar de pé e bati os dedos sobre o vestido que
agora continha duas marcas de terra nos joelhos. — Tenham paz.
— Você está bem? Enrico perguntou quando me encontrei com ele poucos
passos, ele tinha me seguido e me deixado ali sozinha, respeitando o
momento.
— Agora?
— A gente vai transar ali sem nem lembrar que um bicho pode aparecer?
Pode existir cobras por aqui.
— A única cobra que você vai ver hoje é uma já muito conhecida, que
inclusive está morrendo de fome. Brincou me arrancando uma gargalhada.
— Me ajude com o vestido. Pedi me virando e senti suas mãos puxando meus
braços para trás enquanto me levava para o colchão.
— Ainda não, primeiro eu vou foder você vestida de noiva, ansiei por isso a
noite toda. Beijou minha nuca e eu soltei um gemido baixo, sentindo minhas
paredes internas flexionarem.
— Ai...
— Quero muito. Empinei minha bunda contra ele, senti suas mãos se
moverem entre os tecidos do meu vestido enquanto deixava minha bunda a
mostra. O barulho da cachoeira era alto ali tão perto, mas ainda assim escutei
o farfalhar de suas roupas antes de sentir Enrico entrar fundo me fazendo
empinar ainda mais.
— Eu te amo.
Fechei os olhos e joguei meu corpo contra o seu, afim de aliviar toda
a pressão gostosa que fluía em mim, Enrico não diminuiu ou parou até me ver
gozar, só então se deixou ir também.
Antes que eu me deixasse descansar, senti suas mãos ágeis
desfazendo os botões me livrando do vestido e do conjunto de lingerie. Girei
me deitando de frente e esperei ele desabotoar a camisa, o paletó e a gravata
ele tinha retirado assim que chegamos na festa, com o cabelo bagunçado
extremamente sexy, Enrico terminou de descer a calça junto com sua cueca e
arrancou às meias junto com o sapato.
— Dizem que leite no café da manhã é bem saudável, paixão. Deitou sua
cabeça para um lado em desafio e eu ri da sua tamanha cara de pau.
— Nosso primeiro dia de casados. Falei quando lhe dei a primeira lambida.
Enrico De Giordano
4 anos depois
— Aí filho da puta, como está tudo? Doug apareceu do meu lado levando a
sua cerveja aos lábios bebendo um bom gole.
— Vou atualizar minha mãe como você a anda chamando enquanto ela viaja.
Douglas riu. — Não fale nada, ela é capaz de sair do Cruzeiro em que
está na Itália e voltar para chutar minhas bolas.
— É, realmente. Concordo.
— Eu tô amando também, vamos ver se com uma garota seu filho para de
ficar ao redor da minha.
— Cara, desencana, nossos filhos são amigos, se for para namorarem vai ser
no futuro.
— Seu afilhado?
— Ok, tenha em mente que eu tenho três filhos para namorar sua menina,
Marcelinho talvez? Ou prefere Theo? O João é mais velho acho que você se
irritaria mais.
— Foi é? Me abaixei para ficar na altura deles e ri por ambos estarem com
bonés na cabeça que os identificavam por ter a inicial do nome.
— A gente tá aqui... tá aqui para ela não chorar até dormi. Lucca
complementou.
— Fico muito feliz por ajudarem, vocês sabem que o papai confia muito em
vocês, não é?
— Então tá bom, para sempre tem que ser assim, vocês precisam cuidar da
Nina quando o papai e a mamãe não estiverem por perto.
— Pode deixar. Dante afirmou na sua voz infantil que diferente de Lucca,
tinha muita facilidade com as palavras.
— Agora vão para a piscina, vão se divertir. O papai vai pegar ela um
pouquinho. Avisei pegando meu pequeno pacotinho cor de rosa que nem
resmungou muito, apenas abriu os olhos tão claros quanto os meus por um
segundo e voltou a cochilar.
Lucca correu na frente gritando por Maria Flor, vi Doug o encarar por
uns segundos antes de se render e sorrir.
— Ela está toda manhosa hoje né? — Madalena apareceu ao meu lado e
beijou minha boca rapidamente. — Acho que foram as vacinas.
— Provavelmente. Falei balançando a bebê.
— O que?
Aurélio Dantas Filho, se casou no último sábado na sede das suas fazendas
em Ribeirão Corrente, a festa contou com cerca de 800 convidados.
— Tomara que ele seja tão feliz quanto a gente. Finalmente eu vou poder
parar de lamentar um dia ter quebrado o coração dele.
— Você não vale nada! Falou e antes que eu pudesse me defender ela
emendou: — Sua sorte é que também gostaria de estar mamando. Piscou
descaradamente.
— Para todo sempre, cerejinha. Respondi enquanto a via sumir para dentro
de casa.
Eu tinha sofrido bastante tempão atrás, que aquilo que eu vivi nos
últimos anos sempre me fazia pensar ser um sonho, um sonho cinza que só
ganhava cor quando Madalena aparecia, aí sim minha cidade cinza ganhava
cor, minha garganta seca aliviava, meus devaneios sumiam e meu antigo eu
dava a lugar ao homem completo que eu era hoje e tinha certeza que seria até
a morte.
Agradecimentos