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Cidade

Cinza

Um romace de
Oli lago
Copyright © 2019 Oli Lago

Todos os direitos reservados.

1ª EDIÇÃO

Revisão: Tatielle Alves


Diagramação: Oli Lago
Capa: Oli Lago

Está é uma obra fictícia. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a
realidade de pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Todos os direitos são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de fevereiro


de 1998.

É expressamente proibido o armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte desta obra, através de
quaisquer meios tangíveis ou intangíveis sem o consentimento por escrito do autor.
Prólogo
ANTES

— E como você está se se sentindo, amor? Troco o telefone de orelha


enquanto assino alguns papéis que haviam sido entregues para que eu
despachasse com urgência.

— Estou bem, Enrico. Só com um pouco de sono demais. — Ela reclama. —


O bebê está mesmo me deixando cansada.

— Paty, talvez seja a hora de você pedir aquelas férias.

— Nem comece! Já falamos disso. — Seu suspiro do outro lado me fez ficar
calado. Não gostava de pressionar Patrícia, ela estava se irritando com muito
mais facilidade agora na gravidez que nos pegara de surpresa, ela não tinha
encarado tudo tão tranquila quanto eu sempre pensei que faria se acontecesse.

Enquanto eu estava radiante, tudo que ela conseguia fazer era calcular
quanto tempo teria que ficar afastada do seu trabalho de jornalista
investigativa. Patrícia era absolutamente apaixonada por farejar qualquer
bomba que alguém importante se metia, e isso verdadeiramente nunca me
incomodou, até agora.

Como delegado titular da Polícia Civil eu já sabia bem que jornalistas


eram arteiros demais, conseguiam tudo, mas junto disso também tinha
consciência do quanto corriam riscos, estavam sempre mexendo com quem
não deviam. E minha esposa era uma dessas, por isso eu continuava
insistindo para que se afastasse do trabalho.

— Desculpa, amor. — Me redimo rápido. — Seu avião está no horário?

— Está. Estou uma pilha de nervos, só achamos o tal que viemos atrás há
poucas horas atrás e são três horas de carro até a capital... estamos a tentar
entrar em contato com um fazendeiro da região para que ele frete o
monomotor dele até Brasília, assim conseguimos chegar a tempo do horário
para voltarmos para São Paulo. — A voz dela soou estranha. — Não sei se
vou chegar a tempo do jantar.

— Tudo bem, vou tentar te esperar acordado, aqui está uma loucura também.
Conto mesmo que ela não tenha perguntado.

— Não precisa amor, eu sei que você está exausto.

— Tem certeza?

— Absoluta. — Respondeu imediata. — Preciso ir, Kaká está me chamando


aqui, te amo, tchau.

— Te amo. Respondo para a linha muda. Ela já tinha desligado. Encaro o


meu celular por alguns segundos me sentindo meio decepcionado. Estava
morrendo de saudades, Paty tinha viajado só há quatro dias, mas para mim
parecia uma eternidade.

Há dois anos atrás eu conheci minha agora esposa em uma entrevista


coletiva da qual eu estava sendo obrigado a dar por se tratar de um caso
grande de tráfico de drogas. Naquela época eu tinha acabado de passar no
concurso assumindo o cargo, depois de me abster tanto tempo estudando eu
estava na fase de cachorro louco, comendo toda boceta que aparecia a
disposição, e com ela não tinha sido diferente.

Ela tinha me chamado atenção por perguntas peculiares sobre detalhes


do caso, e depois da coletiva tinha tentado se aproximar, me sentindo o galã,
fui com muita sede ao pote.

Tudo que consegui naquele dia foi o nosso jantar do qual ela passou
discutindo sobre como a matéria seria importante, me deixou no zero a zero e
se recusou a me beijar quando a deixei na porta de casa.

Assim foi naquela noite e nas seguintes, e o resultado daquilo foi que
eu fiquei obcecado para conseguir ir para cama com ela, meus melhores
amigos até apostaram que ela iria me fisgar.
Acreditando na minha capacidade, casei quinhentos reais, com Jonas
e Doug. Eu tinha vinte e três anos e tudo que eu queria era transar com ela,
certo?

Errado.

Duas semanas depois, vários cinemas, duas sessões de teatro, sete


jantares e uma ida ao parque, eu já não queria apenas levar Patrícia para
cama. Ela era uma mulher linda e inteligente, e eu me peguei querendo-a ao
meu lado.

Foi assim que eu acabei perdendo quinhentos reais e me casei com


vinte três anos.

Louco? Talvez. Mas o fato era que agora estava há um dia de


completar vinte e cinto e com um bebê a caminho eu continuava enfeitiçado
por ela.

Anoiteceu e eu deixei o trabalho direto para o nosso apartamento.


Paty e eu tínhamos nos mudado para a cobertura de um dos prédios mais
luxuosos que a construtora do meu pai tinham construído. Construtora esta
que ele sempre gostava de ressalvar que acabaria pelo fato de eu ser o
herdeiro e não me interessar nos negócios.

Eu preferia casa, gostava de espaços enormes com um jardim e


arvores, mas Patrícia odiava, sempre dizia que pregava por segurança, e para
ver a felicidade dela, estávamos morando ali há cerca de um ano.

Como já dito ela não tinha conseguido chegar para o jantar. Estava
deitado na cama pensando em como as coisas mudavam, e no fato de eu me
sentir um novo homem desde a notícia que teríamos um filho e a campainha
soou várias vezes seguidas.

O prédio era muito seguro, poucas pessoas tinham autorização de


subirem sem autorização via interfone, mas Paty também vivia esquecendo a
sua chave e poderia ser ela. Pulei da cama nu e agarrei minha calca de
moletom a colocando no caminho para sala.
Abri a porta ansioso esperando encontrar minha mulher e dei de cara
com meus sogros juntos de meus pais. Imaginei até ser uma surpresa de
aniversário se não fosse pelo fato de que minha mãe amparava minha sogra
que soluçava chorando enquanto o marido Renê me olhou com uma
expressão dura.

Meu corpo entrou em alerta na hora, já sabendo que não receberia


notícias boas.

— O que aconteceu? — Perguntei quando meu pai acenou com a cabeça para
que entrássemos. — Por que estão chorando? Olhei para minha sogra e
depois para minha mãe que limpou os olhos marejados antes de falar:

— Filho o avião em que Patrícia estava sofreu uma pane elétrica e acabou
caindo.

— Como assim? Ela está ferida?

— Filho, ela não resistiu. Meu pai informou e foram as únicas palavras que
eu consegui entender corretamente antes de ver minha vida desmoronando
em câmera lenta fazendo que tudo que já estava no seu devido caísse por
terra.
1
Madalena Cereja
Eu nunca tinha pensado muito em como a solidão podia doer, digo,
doer dentro de si ao ponto de parecer ser físico.

Sentada na escada da varanda do velho casebre naquele meio do nada


enquanto levava uma xícara de café amargo e fumegante a boca, observando
o fim da madrugada ainda escura por sob a imensidão de floresta que me
rodeava começava a perder minha fé indo infelizmente para a turma das que
acreditava ser só mais uma das milhões de pessoas esquecidas por Deus.

Estava sozinha no mundo. Literalmente falando. Não tinha


conhecimento de mais nenhum parente vivo, meus avós pais de minha mãe
que era filha única haviam morrido ainda na minha infância, os pais do meu
pai que também não possuía irmãos tinham falecido enquanto ele ainda era
adolescente. Há quatro anos tinha perdido minha mãe após ela adquirir febre
amarela, e hoje completava o sétimo dia de falecimento de meu pai que
morrera de um infarto fulminante.

Eu não tinha mais nenhuma expectativa, poderia morrer ali naquele


segundo, não me importava. Uma pena era ter sido criada religiosa demais. O
medo de ser condenada ao inferno me acovardava e me impedia de cometer
besteira de tirar a minha própria vida.

Pensar que tudo poderia ser diferente se o lugar onde nasci fosse ao
menos registrado no mapa como uma cidade de verdade me fazia sentir
angustia e ódio. Mas o pequeno povoado de Alvora da das Almas era uma
pacata vila rural ainda comandada pelo coronelismo.
A história do lugar dizia que um pequeno grupo de famílias
construíram suas casas quando se descobriu que ali a terra era sadia e fértil
para qualquer que fosse o plantio. Nisso, o pequeno vilarejo se formou e
ganhou fama aos arredores, ousando dizer que muitas pessoas vinham até da
capital Campo Grande para cá aproveitando não somente a terra, o lugar
lindíssimo e encantador meio ao coração do Pantanal chamava também
curiosos turistas.

Quando construída a primeira igreja o povoado foi batizado pelo


nome de Alvorada. Mas um tempo depois o primeiro diabo em forma humana
botou os pés por ali.

O primeiro dos Rodrigues chamava Sênior, e ele ainda era lembrado


pelos mais antigos ainda vivos.

O desgraçado tinha comprado uma fazenda e mudado com a mulher e


os filhos, era incrivelmente mal e temido, tomou para si todas e quaisquer
terras (que não eram poucas) de toda a região, e fez tudo a base da violência e
ameaça, tocou o terror e o medo nas pessoas as obrigando a seguir o que ele
mandasse e tivesse desejo.

Devido a toda matança da época incluindo o primeiro padre que


chegara ali, mudou-se assim o nome para Alvorada das Almas, nome este que
os Rodrigues encararam como um troféu.

O império dos Rodrigues ainda se mantinha mesmo depois de todos


aqueles anos, todas as pessoas na cidade ainda dependiam deles para
sobreviverem, já que eram proprietários de tudo por ali.

O agora matriarca já se tratava do tataraneto de Sênior, mas Joaquim


Rodrigues era conhecido por ser tão cruel como o tataravô.

Com o passar dos anos trocaram as plantações por agropecuária e não


demorou muito para ficarem conhecidos nacionalmente como realeza do
gado, milhares de pessoas viajavam até ali para os leilões dos quais Joaquim
se aproveitando por ser também prefeito promovia com o dinheiro alheio.

E era para este homem que agora eu devia uma fortuna.

Antes de morrer meu pai havia teimado e insistido que devíamos


mudar, com o seu espirito sonhador sempre me incentivou a terminar os
estudos, e como em Alvorada só oferecia até médio completo para fazer uma
faculdade teria que sair dali coisa que poucos conseguiam, meu pai tinha
enfiado na cabeça mesmo depois de três anos que eu já havia terminado a
escola de que deveríamos tentar.

Então cerca de seis meses atrás ele tinha pego uma quantia não muito
alta, mas que sem dúvidas não poderíamos pagar com Joaquim, tínhamos nos
mudado para a cidade vizinha chamada Vila do Sol onde ele investiu
comprando uma pensão velha que ele insistia em chamar por pousada.

Eu tinha desde o início um pressentimento de que tudo era uma


péssima ideia. Vila do Sol era um pouco maior que Alvorada das Almas e
recebia uma quantidade maior de turistas que se aventuravam pelo Pantanal,
mas o número não era tão grande quanto papai pensava. A pensão não tinha
gerado tanto lucro e cerca de um mês atrás depois de deixar de pagar dois
meses para Joaquim, havíamos voltado a morar no casebre em que cresci.

Com toda a pressão e se vendo encurralado, meu pai começou a viver


triste pelos cantos, ressabiado cheio de medo pelo o que o futuro nos
guardava, tinha o pego chorando uma porção de vezes e em todas ele me
pedia perdão por ter nos colocado naquela situação sem saída. E foi depois de
um dos seus choros que ele saiu sozinho e eu o encontrei caído já morto.

Chorando sozinha pela perca eu fui obrigada a andar alguns


quilômetros a pé embaixo de um temporal pela estrada de terra até chegar à
casa do vizinho mais próximo precisava da ajuda de alguém, já que éramos
tão pobres que não poderíamos pagar sequer um velório, teria de ser
enterrado no quintal de casa, como acontecia com quase todos condenados
que moravam ali.

Seu Francisco, o dono da mercearia e o mais próximo que meu pai


pôde chamar de amigo foi quem furou a cova no fundo do casebre para que
enterrássemos, pertinho do riacho, onde ele gostava de terminar suas tardes
sentado sobre um pedaço de tronco de arvore, dedilhando seu velho violão.

Os barulhos de pisadas nas folhas despertaram-me dos pensamentos,


crescido meio a selva eu tinha aprendido a distinguir barulhos de animais
para humanos. Levantei rápido e entrei na casa iluminada apenas por uma
lamparina em cima da mesa perto do fogão a lenha, abri a pequena gaveta do
armário velho pegando o revólver antigo do meu pai. Eu tinha sido ensinada
a atirar desde criança, e me agarrando nessa ideia eu sabia que fosse quem
fosse chegando ali eu me defenderia, poderia até morrer mas levaria alguém
comigo.

— Lena? A voz de Vicente soou na entrada e logo eu coração se acalmou.

— Vicente! Corri para seu encontro o abraçando com medo. Ele subiu meu
rosto segurando-o entre as mãos e colou nossas bocas.

— Desculpe não vir antes, estava tentando acalmar as coisas, me perdoe por
não vir te ajudar com o corpo do seu pai.

— Vicente, ele vai me matar, não vai?

Os olhos dele escureceram ainda mais quando ele travou a mandíbula e


sussurrou. — Parece que ele pretende algo ainda pior, Leninha.

— O que seria pior que ele me matar?

— Ao que consegui ouvir e entender, Joaquim quer que você se torne mulher
dele.

— O que? — Arregalei os olhos sentindo minhas pernas fraquejarem e meu


estômago se embrulhar. — Me mate! Por favor, Vicente, faça isso por mim,
me mate. Implorei sentindo minhas lágrimas caírem.

— Está louca, Madalena? — Vicente me segurou pelos ombros enquanto me


encarava. — Você sabe muito bem o motivo pelo qual eu trabalho aqui e
porque consegui conquistar a segurança de Joaquim.

— Por vingança, eu sei. — Choro baixinho.

— Exatamente. — Seus dedos longos subiram para meu pescoço. — Estou


aqui há anos para conseguir a confiança daquele verme para conseguir matá-
lo e ficar com tudo que é dele, Lena, vou vingar todos que os malditos
Rodrigues fizeram sofrer, seu pai, meus pais...

— Eu sei disso, mas eu não sou como você Vicente. Não suportaria ter que
me deitar com ele, eu prefiro a morte.

— Eu nunca a mataria, Leninha. Mas também nunca faria você se sujeitar a


isso. Fui o seu primeiro e único homem, nem sequer quero imaginar você
sendo tocada por aquele maldito, nunca deixaria que nada de mal a
acontecesse a você. É por isso que estou aqui, para te ajudar a ir embora.

— Embora? Engulo seco sentindo o arrepio de medo subir minha espinha.

— Não existe outra saída, meu bem. Se você fica, todo o meu plano cai por
terra, eu não suportaria vê-lo te obrigar a nada, e o mataria antes da hora.

— E eu vou para onde? Não tenho onde ir, não tenho dinheiro nenhum,
Vicente.

— Eu cuidei do dinheiro. — Diz remexendo no bolso do jeans e retirando um


envelope pardo. — Tem cinco mil reais aqui, é o suficiente para que você
consiga ir para longe, e se instale por um tempo, você é inteligente Leninha,
consiga um trabalho e se mantenha, e então quando tudo acabar eu vou
encontrar você.

— Aonde devo ir? Como você vai me achar?

— Pense em algum lugar que queira ir, Madalena. Longe o bastante daqui,
Joaquim mandará te procurar nas cidades próximas, por isso nem desça do
ônibus nas paradas, ok? Alguém pode te ver e dar a informação.

— Ok.

— E não se preocupe sobre te achar, vou fazer Alvorada de as Almas ser


conhecida, e quando o fizer você vai saber que pode voltar para casa, e eu
vou estar te esperando.

— Estou com medo.

— Vai ficar tudo bem. Eu sei que você é forte. Vamos, você precisa correr,
vou te levar até Vila do Sol para o primeiro ônibus que sai às seis para
Campo Grande, de lá você decide onde ir. É o tempo certo que Joaquim
demorará para vir até aqui e colocar homens para te procurar.
— Será que ele não via desconfiar de você?

— Não, ele acha que estou no prostíbulo em Vila do Sol, que só voltarei hoje
no início da manhã, armei isso para o caso de alguém ver minha caminhonete
voltando de lá.

— Porque não ouvi o barulho dela?

— Parei longe, não podia deixar rastros na terra, por isso devemos nos
apressar, Joaquim precisa pensar que você está por perto, assim ganha tempo.

Apavorada, mas sem perder mais nenhum segundo, corri pelo pequeno
chalé agarrando a mochila velha e colocando meus três melhores pares de
roupas, algumas blusas de frio e a única foto da minha família. Peguei o
violão, calcei minhas botas e voltei para cozinha encontrando Vicente ainda
de pé inquieto.

— Pronta? Perguntou e eu acenei com a cabeça. Ele agarrou minhas coisas


com uma mão e com a outra entrelaçou com a minha enquanto saíamos
juntos para nos embrenhar na mata afim de não deixar rastros.

Olhei uma última vez para a casa que eu tinha nascido, crescido e
vivido por todos os vinte e um anos de vida. Não tinha sequer tido tempo de o
fechar, ficara lá, com a porta de madeira escancarada, a lamparina acesa
sobre a mesa, a lenha ainda aquecendo o fogão com o bule e minha caneca de
café inacabada. Sem segurar todo o choque que atravessava meu corpo,
guardei essa lembrança comigo e corri entre as árvores com Vicente até
encontrarmos sua picape.

Vicente dirigiu o mais rápido que pôde pelo atalho de estrada de terra
que ele conhecia e que nos levaria até Vila do Sol. Por ser um dos capangas
de confiança de Joaquim, era autorizado a andar em uma 4x4 de última
geração, o que nos permitiu uma fuga rápida. Assim que chegamos a cidade
vizinha o céu estava clareando, e o ônibus que iria para Campo Grande já
estava na plataforma, saíam exatos dois ônibus para a capital, um a seis da
manhã e outro a seis da tarde, Vicente tinha calculado o tempo certo.

Pegou no banco de trás a mochila e o violão, me entregando, tirou mais


uma vez o envelope do bolso e dessa vez me deu orientando a tomar cuidado.
Depois que tirei uma nota de cinquenta colocando no bolso, guardei o
envelope enrolado na minha roupa do fundo da mochila.

Olhei Vicente suspirando alto tentando mais uma vez não cair no choro
quando ele acariciou minha bochecha e deu um pequeno sorriso antes de
sussurrar:

— Vá menina.

— Obrigada por isso. — Agradeci o abraçando. — Amo você, Vicente.

— Seja feliz, Leninha. — Ele respondeu e se curvou abrindo a porta da


caminhonete. — Não se esqueça de ir para o mais longe que puder.

Concordei com a cabeça enquanto saltava do carro ajeitando a mochila


e o violão nas mãos. — Espero que consiga se vingar. — Mordi os lábios. —
Adeus, Vicente. Me despedi fechando a porta e sai correndo para minha
liberdade.

A viagem até Campo Grande era cansativa, o ônibus já havia parado


umas quatro vezes, mas apesar de estar com fome eu me recusei a descer me
lembrando das palavras de Vicente sobre o fato de que Joaquim mandaria me
procurar pela região.

Olhei pela janela vendo o movimento de pessoas entrando e saindo da


lanchonete, fechei os olhos e meus pensamentos voltaram para o dia que
conheci o homem que tinha salvado minha vida. Vicente Albuquerque.

Tinha o visto pela primeira vez no meu aniversário de dezenove anos,


estava sozinha nadando e ele apareceu.

Naquela tarde nós conversamos muito, eu sentia todo o mistério que o


rondava, sua aura pesada e suas palavras sempre calculadas quando contou
que tinha vindo de um lugar distante.

Vicente era um homem lindo, alto, forte, com a pele negra e com um
sorriso encantador, mas esse quase nunca aparecia, sua feição fechada era
assustadora e ele quase sempre estava com ela.

Quando eu o avisei sobre os Rodrigues estranhei ouvindo ele contar


que tinha vindo para Alvorada para justamente trabalhar para Joaquim. Só
entendi o motivo depois, em uma das muitas tardes que me encontrara para
nadar, ele confessou que tinha vindo a Alvorada para buscar vingança.

Contou que tinha nascido ali, e ainda na infância tinha tido a casa
invadida, a mãe o colocara no armário de madeira da cozinha e ordenado que
não chorasse, segurasse a respiração para evitar barulho e só saísse dali
quando os homens maus fossem embora. Obediente ele tinha visto a mãe ser
estuprada por Joaquim e depois ser morta enquanto o pai era torturado
também até a morte.

Ele lembrava de que o pai devia dinheiro aos Rodrigues, e naquela


maldita noite eles tinham ido cobrar, como faziam com todos que não podiam
lhes pagar, cobraram levando a vida. Após ver o assassinato dos pais tão de
perto, jurou a si mesmo que se vingaria. Iria se vingar pelos pais e por todos
aqueles que já tivera o sague derramado por aqueles malditos.

Tinha vagado pela estrada, passou fome e pegou caronas para se afastar
cada vez mais de Alvorada, até que foi acolhido na cidade Miranda, onde
tinha passado toda a vida arquitetando a hora certa para voltar, e agora com
seus vinte e cinco anos tinha retornado, usando de uma falsa fama de
pistoleiro para ganhar a confiança e se tornar o braço direito de Joaquim.

Meu romance com Vicente começou sem a menor das intenções,


éramos amigos, passávamos algumas tardes juntos, nadando e sendo
confidentes um do outro, eu contando sonhos que provavelmente nunca se
realizariam enquanto ele sorria e sempre afirmava: “se você quer mesmo,
Leninha, vai sim acontecer. ”

Eu sempre envergonhada pelo meu corpo gordinho sempre tinha me


sentido feia sobre os olhos masculinos, me vi transformar e ganhar liberdade
com ele que me olhava com admiração e não se fazia de rogado em me
elogiar aumentando cada vez mais minha autoestima. Numa das nossas
tardes, depois que elogiou em como eu era bonita sobre o sol se aproximou
perguntando se eu já tinha sido beijada.

Naquela tarde eu ganhei o meu primeiro beijo, e foi maravilhoso. E


todos os outros também. Duas semanas depois eu tinha entregue a ele minha
virgindade. E também tinha sido incrível.

Vivíamos um romance escondido de todos e ardente entre nós, devido


seu cargo de confiança aumentar a cada dia, tínhamos acabando por diminuir
nossos encontros a tarde no rio e transferindo-os para uma ou duas vezes
durante a semana quando ele pulava a baixa janela do meu quarto no meio da
noite, encontros esses que se mantiveram mesmo quando tive a mudança
rápida e frustrada para Vila do Sol.

Tínhamos vivido três anos assim e agora nos separávamos


bruscamente, talvez nunca mais nos víssemos, e apesar de em todo o tempo
em que estivemos juntos eu não ter escutado dele que me amava em palavras,
mesmo ele gostando quando eu o dizia, o que ele tinha feito por mim nessa
manhã provava que independente de palavras ele me amava. Estava
arriscando sua vingança e sua vida para me salvar, e eu seria eternamente
grata. Vicente me dera a liberdade e pedira que eu fosse feliz, e eu lutaria
com unhas e dentes para ser.

Quando o ônibus chegou a Campo Grande no início da tarde, desci e


esperei pacientemente para que meu violão aparecesse dentre as tantas malas
dos outros passageiros.

Fui ao banheiro e dentro da cabine arranquei o envelope de dinheiro,


retirei três notas de cem reais do bolo e resolvi esconder o envelope dentro da
calça, não podia correr o risco de ser roubada. Fora do banheiro andei pela
rodoviária e me sentei numa lanchonete antes de me decidir para onde
finalmente seria meu destino. Comi um pão na chapa e alimentei meu vício
em café forte sem açúcar, comprei uma garrafinha de água e andei para os
guichês de venda de passagens.

Estava parada frente ao mapa do Brasil pregado na parede analisando


possíveis lugares quando uma voz feminina atrás de mim comentou com
alguém.
— São Paulo é um outro mundo, Nando. Você vai descobrir quando chegar
lá.

Não precisei olhar para trás para observar a mulher que falava, lembrei-
me das incontáveis vezes que minha mãe repetia o desejo de um dia
conhecer. Sem mais dúvidas, sabendo que era longe e grande o bastante, indo
realizar o sonho que minha mãe já não poderia mais, andei para o guichê e
olhei o senhor simpático pelo vidro.

— E então, o que vai ser menina? Ele perguntou ajeitando os óculos de grau.

— Uma passagem para São Paulo. Falei firme e com fé. Assim como o tal
Nando, eu rezei em silêncio para também conhecer outro mundo.
2
Madalena Cereja
A viagem para São Paulo tinha sido mais tranquila, talvez por eu
finalmente poder relaxar um pouco do medo de ser encontrada que me
assombrara em toda viagem até Campo Grande. Tudo que agora eu temia era
estar em lugar desconhecido e com um dinheiro que alguma hora acabaria.
Teria que conseguir um emprego o mais rápido possível, e levando em conta
que meus estudos se baseavam apenas no fim do ensino médio, me faziam
temer arrumar algo com muita facilidade.

Mas não deixaria que isso me abalasse, teria que correr atrás e medo de
serviço eu nunca tive, iria procurar algo honesto que me sustentasse, após me
estabilizar poderia pensar em voltar a estudar talvez.

Olhei pela janela, a rodovia escura passava depressa, mais uma vez
meu coração vagou pensando em Vicente. Ele tinha conseguido dobrar o
maldito Rodrigues? Algum dia ele conseguiria a tão esperada vingança?

Fechei meus olhos desejando que o melhor destino para minha vida e
para a dele fosse traçado naquele momento. O sono me invadiu logo assim
que terminei minha prece, me permiti descansar como não vinha fazendo
desde o falecimento do meu pai. Só voltei a acordar novamente quando o
ônibus fez uma curva e parou. Acordei atônita descobrindo que tínhamos
encostado em um ponto de parada. Me espreguicei limpando os olhos e bebi
um pouco de água.

— Será que ainda vai demorar muito? Indaguei para a senhora que estava
viajando na fileira do meu lado, por sorte o ônibus não estava lotado, nos
dando a possibilidade de ocupar duas poltronas.

— Parece que mais duas, chegaremos logo depois do almoço. — Levou as


mãos aos cabelos pintados de castanho. — Você vai comer agora?

— Estou bem, obrigada. Agradeci lhe oferecendo um sorriso.


— Não quer que eu te traga algo?

— Não senhora, estou mesmo bem.

— Certo, pode vigiar está sacola então? Apontou para o seu banco.

— Olho sim. Concordei e ela saiu pelo corredor até a porta.

Voltei a me distrair pensando na primeira coisa que eu faria quando


chegasse, teria de encontrar um lugar para ficar e veria com as pessoas sobre
empregos, amanhã de manhã procuraria alguns? Teria de comprar também
algumas roupas. Puxei os punhos do meu agasalho já desgastado e velho.

Passados alguns minutos a senhora retornou trazendo nas mãos um


pacote de biscoito e uma garrafa de água e me ofereceu carinhosa enquanto
se sentava na poltrona ao meu lado e o restante dos passageiros que haviam
descido terminavam de se acomodar para que seguíssemos viagem.

— Para você. Me entregou.

— Não precisava.

— Você não desceu em nenhuma parada, eu fiquei preocupada. — Ela sorriu


gentil. — Como se chama?

— Madalena, e a senhora? Respondi aceitando seu agrado.

— É um prazer, Madalena, eu me chamo Rosa. E então, o que está indo fazer


em São Paulo?

— Estou indo morar.

— É mesmo? Minha filha mora lá, estou indo visitar ela e meus netos, ela
está meio tristinha, o casamento não vai muito bem.

— Que pena.

— Pois é. — Concordou como se falasse em convencimento para si mesma.


— Você é corajosa, está indo sozinha... está deixando seus pais? Parece tão
jovem, você mora em Campo Grande?
— Tenho vinte e um, meus pais já são falecidos.

— Oh. — Balança a cabeça como se agora entendesse. — Eu sinto muito por


você, menina... São Paulo parece assustador para você?

— Um pouco, mas acho que aguento. Dou-lhe um sorriso sincero.

— Já tem emprego?

— Não, mas pretendo procurar por um assim que chegar.

— E que tipo de emprego você quer? Especulou.

— Não precisa ser muito, só preciso de algo honesto que me sustente, não
tenho faculdade para algo muito bom. Confessei e ela me olhou admirada
quando tocou minha mão com a sua e apertou sorrindo cravando seus olhos
nos meus.

— Deus vai te abençoar! Você acredita, Madalena?

Um arrepio subiu por minha espinha no mesmo momento que meus


olhos se encheram de lágrimas. — Acredito.

— Então tudo já está feito, pequeno anjo. — Sorriu de novo dando algumas
batidinhas em minha mão. — Tudo vai se encaixar.

— Obrigada por isso, Dona Rosa.

— Não agradeça. Suponho que também não tem onde ficar?

— Não, vou procurar uma pensão, um hotel, eu sei lá.

— Deve ter alguma perto da casa de Aline... Aline é a minha filha. Ela vai
saber nos informar.

Nas próximas horas que passaram, Dona Rosa me contou inúmeras


histórias de sua vida, na última parada ela sequer fez menção de descer,
ficamos as duas lá como boas e velhas conhecidas conversando. Perto das
uma da tarde adentramos a cidade que seria meu novo lar. Minha primeira
impressão de São Paulo foi: barulhenta, eu que estava acostumada com tanto
silêncio e verde ao meu redor fiquei até perplexa quando só vi grandes
arranha-céus e milhares de pessoas nas ruas indo e vindo. Minha vista pela
janela não era o bastante, mas observei o céu cinza e automaticamente meu
coração se apertou.

— Fique tranquila, Madalena. Dona Rosa tentou me tranquilizar percebendo


meu desconforto.

— Estou pronta para uma nova vida. Falei corajosa. Era impossível aquela
cidade conseguir ser pior do que eu enfrentaria se tivesse ficado em Alvorada
Das Almas.

Quando descemos na rodoviária, Dona Rosa ficou ao meu lado


enquanto eu esperava mais uma vez o violão que era do meu pai aparecer no
bagageiro.

— Você toca?

— Não muito... era do meu pai.

Ela apenas concordou com a cabeça enquanto seguimos rumo a uma


banca de jornais, ela agarrou um deles e pagou por ele. Depois remexeu nas
folhas e me entregou:

— Dê uma olhada nos classificados, pode ser que ache algum emprego que te
interesse, vou ligar para Aline vir nos buscar. Avisou enquanto sacava seu
telefone da bolsa e eu começava a vaguear os olhos pelas folhas cheias de
anúncios.

Como um imã meus olhos pousaram no lado esquerdo do final da página.

Precisa-se de Cuidadora

Exigências: Disponibilidade de morar no trabalho.

Salário a combinar.

Tel. (11) xxx-xx-xxx


— E então? A voz de Dona Rosa me chamou a atenção quando voltou com
um sorriso acolhedor no rosto.

— Olha só esse. — Apontei a folha. — Parece que não exige escolaridade,


seria uma boa, não?

— Claro, e provável que seja uma pessoa idosa.

— Eu iria adorar. Respondi esperançosa.

— Ligue já para o número.

— Não tenho como, não tenho um celular, onde tem um telefone público?

— Largue de besteira. — Ela estendeu o celular. — Use o meu, vamos.

— Sério? A senhora pode ligar? Eu não sei mexer em um celular.

Dona Rosa franziu a testa um pouco surpresa. — Não sabe? Nunca teve um
aparelho celular?

— Não.

— Menina, algo me diz que a sua vida foi mais amarga do que você deixa
transparecer. Sussurrou enquanto discava ela mesma os dígitos.

Coloquei o aparelho na orelha e ouvi a chamada por três vezes antes de


uma voz doce atender:

— Olá.

— Oi, boa tarde. — Me antecipei sendo educada. — Tudo bem?

— Boa tarde, quem fala?

— Madalena... bem, eu estou ligando porque acabei de ver um anúncio sobre


uma vaga...

— De cuidadora! Sim! — Ouvi seu suspiro. — Quantos anos tem Madalena?


— Vinte e um. Falei já um pouco desanimada.

— Vinte e um? — Seu tom de voz mudou aumentando a altura. — E me


diga, Madalena, por que quer ser cuidadora? Você poderá morar no emprego?

Encarei Dona Rosa que me olhava em expectativas e respondi


apreensiva: — Bem, sim, a verdade é que ainda estou na rodoviária, senhora.
— Decido por contar a verdade. — Acabo de chegar em São Paulo para
morar, e seria uma grande oportunidade.

— Madalena... — A voz do outro lado pareceu sorrir. — Você pode vir até
mim, agora? Quero conhecê-la.

— Agora?

— Sim, para fazermos a entrevista.

— Ah, claro. — Me passe o endereço que estarei a caminho agora mesmo.


Pedi e a mulher que sequer tinha me dito seu nome me passou um endereço
de um condomínio fechado no Alphaville. Quando desliguei dona Rosa me
olhou animada.

— E aí, conseguiu?

— Ela quer que eu vá agora fazer a entrevista!

— Eu sabia! — Ela me abraçou. — Pode ficar tranquila que vai dar certo, eu
estou sentindo, minha Santa Rita não falha!

— Tomara, dona Rosa! Fecho os olhos fazendo mais uma de minhas preces
silenciosas.

— Aline e eu podemos te levar, vamos, ela já deve estar chegando.

— Não é muito incômodo? Posso pegar um taxi.

— Imagina! Você aproveita e conhece a minha filha, tenho certeza que vão se
tornar amigas. Entrelaçou seu braço no meu enquanto começávamos a andar
para fora da rodoviária movimentadíssima.
Meia hora mais tarde estávamos dentro do carro a caminho para minha
entrevista. Dona Rosa não havia mentido quando descarregava elogios a
filha. Aline era uma mulher adorável, aparentemente tinha quase trinta anos,
e também era uma mulher de curvas, assim como eu, sua pele era
maravilhosamente perfeita, morena cor de canela, os olhos enormes como os
de dona Rosa chamavam atenção e os cabelos encaracolados eram curtos e
estiloso, ela tinha me tratado como se também me conhecesse há anos, me
convidou para apresentar a cidade, e que me levaria para comprar roupas,
mas que antes de me acompanhar fazia questão de me dar algumas roupas de
sua confecção. Quando tivemos a entrada autorizada no condomínio eu me
assustei com o tamanho das casas dali, pareciam sedes de fazenda de tão
grandes, elegantes e graciosas.

Aline assoviou assim estacionou na porta da mansão que era a do


endereço que eu tinha recebido por telefone. — Mandou bem, garota, seja
quem for quem você vai cuidar o quarto de empregadas daqui não pode ser
dos piores.

— Estou nervosa, gente, tomara que eu consiga. Remexi minhas mãos


nervosa.

— É claro que consegue! Já tem o meu número e o da minha anotados, não


é? Não se faça de rogada em nos ligar, se conseguir para que comemoremos,
se não der certo, eu posso dar um jeito de te encaixar na confecção. Além do
quê, temos que ir as compras, e você tem que conhecer os meus filhos.

— Pode deixar. Não sei o que faria se não tivesse conhecido a senhora dona
Rosa. A abracei desajeitada ainda dentro do carro e sorri para Aline que
retribuiu com um encorajamento.

— Você vai ser feliz, Madalena. Ela segurou minhas mãos pela janela. Me
olhando como se enxergasse mesmo minha alma.

Assim espero. Penso enquanto aceno para elas antes de me virar e


começar a andar até a entrada.

O jardim de entrada era magnífico e a porta da entrada era tão grande


que eu cheguei a ficar assustada, daria para passar umas três pessoas de uma
vez, e alguém em pernas de pau não precisaria descer para adentrar a casa.
Com todos aqueles botões que eu presumi ser a campainha eu optei por bater
na porta. Era melhor evitar chegar estragando alguma coisa.

Uma mulher já de meia idade abriu a porta e me encarou de cima a


baixo antes de questionar:

— Pois não?

— Boa tarde, me chamo Madalena, vim para...

— Madalena, que bom que chegou! Escuto a mesma voz doce que falara
comigo ao telefone. A senhora a porta se afasta e oferece passagem para que
eu passe, me sentindo ainda impactada. Eu nunca tinha entrado em um local
tão branco e limpo. A casa era maravilhosa.

— Senhora Giordano. A funcionaria fez uma pequena menção ficando de


lado como um soldado. Encarei a mulher a minha frente, ela usava um
vestido elegante rosa clarinho, os cabelos castanhos bem penteados e o rosto
apesar de não ser muito jovem era muito bonito. Seus olhos eram tão verdes
que chegava a me assustar. Ela era muito rica?

— Eu estava ansiosa para ver você. — Ela sorriu abertamente. — Pelo


telefone eu senti que sua voz era de uma bela menina... e eu tinha razão.
Falou me abraçando e em surpresa eu me senti corar ficando um pouco
desconfortável.

— Obrigada. Respondi sem saber muito o que dizer.

— É um prazer. — Sorriu de novo me parecendo muito sincera. — Sou


Luísa, venha sente-se aqui. — Me arrastou para um sofá branquíssimo. —
Aceita água, um café?

— Aceito água, por favor.

— Vera, traga água para a moça por favor. — Ela pediu educadamente e eu
percebi que talvez ela não exigia que a empregada parecesse um militar. —
Segurou minhas mãos que estavam geladas nas suas que eram quentes. —
Você é tão jovem... só tem essa mochila?

— Eu não tenho muitas roupas. Falo envergonhada e ela apenas concorda


com a cabeça.

— Sabe tocar violão? Olhou para o instrumento que eu carregava.

— Um pouco, mas não toco muito... na verdade ele era do meu pai, ele
faleceu há pouco tempo.

— Sinto muito. — Ela franziu um pouco a testa. — Foi por isso que se
mudou para cá?

— Sim.

— De onde você vem?

Eu contava a verdade? Não era uma boa opção, por isso não hesitei
quando respondi: — De uma cidade chamada Vila do Sol, Mato Grosso do
Sul.

— Parece bem longe.

— É um pouco. Dou um pequeno sorriso.

— Então é sozinha?

— Sim, senhora.

— Não precisa me tratar de senhora, Madalena. — Ela fez uma menção com
a mão enquanto sorria e recebíamos os copos cheios de água. — Sabe
Madalena, devo dizer que receber sua ligação foi um verdadeiro milagre,
entrevistei inúmeras pessoas, mas nenhuma tinha me agradado, eu preciso de
alguém jovem e disponível.

— Fico feliz, dona Luísa, eu preciso mesmo deste emprego.

— Que ótimo, querida. — Ela bateu umas palmas como se não se aguentasse
de alegria. — De imediato eu devo dizer que a pessoa com quem você irá
trabalhar é com meu filho.
— Seu filho? E quantos aninhos ele tem? Falei animada imaginando um
menininho fofo.

Luísa soltou uma pequena gargalhada quando respondeu: — Ah, ele é


um menininho barbudo de vinte seis anos.

— O quê? Meu sorriso sumiu na hora e ela riu ainda mais alto.

— Desculpe, Madalena... Enrico já é adulto, o fato é que ele sofreu um


acidente de moto há pouco mais de um mês atrás, e estará de repouso
absoluto pelos próximos cinco.

— Então se trata de um emprego temporário?

— Não se tudo der certo. — Ela falou alegre demais e eu a encarei sem
entender nada. — Digo, Enrico não tem uma empregada fixa, você pode
começar como cuidadora e depois ficar como secretária? Mas agora de início
a sua função será apenas cuidar dele.

— Cuidar do tipo, lhe dar remédios e fazer a sua comida?

— Exatamente. — Dona Luísa confirmou. — Não permitir que ele faça


extravagancias como vem teimando e fazendo. — Ela suspira. — Enrico
perdeu a esposa há cerca de um ano atrás em um acidente aéreo, ele ainda não
superou, se nega a procurar uma terapia e se enterrou no trabalho, acabou
afastando de mim e do pai, não tive muito acesso a ele até ele sofrer o
acidente de moto e precisar que eu o levasse comida e o ajudasse a se sentar
na cadeira de rodas.

— Filhos são complicados quando se tem pais vivos, só descobrimos o


quanto era fácil quando os perdemos. Falo me sentindo melancólica.

— Como seus pais faleceram?

— Minha mãe há quatro anos de febre amarela, meu pai sofreu um infarto
fulminante recentemente.

Luísa mantem os olhos verdes em mim por uns segundos até dizer: —
Sinto muito mesmo.
— Obrigada. A agradeço.

— E então? Está disposta?

Inquieta eu coço a cabeça pensando que ela não falou nada sobre o
quanto eu receberia.

— O salário...

— Ah, onde eu estou com a cabeça. — Ela leva a mão a testa. — Eu mesmo
a pagaria, será dois mil e quinhentos reais, você não terá que pagar moradia e
nem a sua comida.

Dois mil e quinhentos? Caramba! Em dois meses eu teria a quantia que


Vicente tinha me dado. Mesmo que eu não conseguisse o emprego fixo, dona
Luísa disse que ele precisaria de alguém pelos próximos cinco meses, e eu
não tendo nenhum gasto conseguiria economizar muito e conseguiria me
manter até achar outro.

— Eu aceito.

— Você tem carteira de trabalho?

— Hum... não, mas posso correr atrás de tirar.

— Claro, vamos providenciar isso também. E você se importa de começar


agora?

— Não senhora. Falo animada.

— Perfeito! — Ela se colocou de pé. — Então vamos, talvez peguemos um


transito terrível.

Mais uma vez meu sorriso morre. — Ele não mora aqui? Arregalei os
olhos.

— Ah, não... ele tem seu próprio apartamento, mas pode ficar tranquilo você
terá seu próprio quarto. Piscou sorrindo e eu continuei estática.

Eu estava indo morar com um homem!


3
Madalena Cereja
— Enrico era encantador. — Luísa começou a contar no caminho da casa do
filho.

— E então a esposa faleceu.

— E então, Patrícia se foi. — Concordou cabisbaixa. — Ele ficou diferente,


perdeu o brilho dos olhos, eu tentei de tudo, tantas vezes tentei que ele
conhecesse outra pessoa, que ao menos se distraísse, mas ele se fechou. Me
olhou de soslaio e suspirou. — Você deixou um namorado por lá?

— Não posso chamar bem de namorado... eu tinha alguém sim, mas acabou.

— E acabou bem?

— Sim, ele mesmo me levou até a rodoviária para vir.

— Ah, que bom então... quer dizer que está livre para amar?

— Não pretendo amar ninguém tão cedo, dona Luísa...

— Por que? Ainda ama o rapaz que deixou?

— Sim, amo Vicente e acho que o amarei por toda vida, ele foi muito bom
para mim, mas ele ficou e eu fui.

— Então pode se apaixonar. Tentou de novo.

Sinto minhas bochechas queimarem. — Bom, sim... só não está nos


planos.

— Deve ter um monte de homem atrás de você, não?

— Não senhora. Dou uma risada enquanto ela estaciona perto da calçada.

— Talvez você não perceba, mas com certeza te olham, Madalena. —


Apertou meu braço. — Chegamos! Está pronta? Perguntou sugestiva.

— Sim. Respondi tendenciosamente ainda meio desconfortável.

— Não precisa se preocupar, eu vou te ligar todos os dias para saber notícias
e ver se precisa de alguma coisa, além do que sempre estarei vindo também...
você tem carta branca para me ligar se Enrico passar dos limites, ok?

— Eu não tenho um telefone.

Seus olhos me encaram como se eu fosse uma aberração. — Como


assim? Você não tem um celular?

— Não. Dou de ombros.

— Em que ano você está vivendo, Madalena? Só para eu ter certeza que você
não é uma experiência óvni. — Brincou soltando uma risada. —
Providenciarei um, não se preocupe com isso.

— Dona Luísa... tem mais alguma coisa que eu deva saber sobre seu filho?
Pergunto enquanto ela nos guia para a caixa metálica e eu me sinto tonta
quando o elevador se move.

— Você também nunca andou em um elevador? Ela acariciou meu braço


amorosamente.

— Onde cresci não existe essas coisas.

— Meu Deus, menina que vontade de te abraçar. Responde e o elevador para.


Saímos para um corredor e paramos há outra enorme porta, porém bem
menor do que a da casa dela. Dona Luísa encaixa uma chave e logo estamos
dentro.

— Enrico? — Ela chama alto. — Está aonde?

— Aonde estaria, estou sem andar mãe! Uma voz grossa masculina responde
e ela me olha sorrindo começando a andar e eu a sigo em seu encalço.

Não podia deixar de perceber que assim como a casa, o apartamento era
lindíssimo e luxuoso, mas diferente da casa que era muito clara, todos os
móveis ali eram escuros, as paredes cinzas claro como o céu nublado lá fora,
sem fotos ou quadros espalhados.

— Ranzinza como sempre. Dona Luísa falou parando na porta do quarto que
estava aberta e tudo que consegui enxergar atrás dela foi a ponta de uma
cama e o lençol do que parecia ser seda negra.

— Você demorou hoje. A voz parecia ainda mais grave escutando de perto.
De certo modo me senti acuada só de perceber o quanto parecia autoritário.

— Trouxe alguém comigo, hoje.

— Não quero receber visitas.

— Não é visita. Luísa olhou para mim e me puxou para ficar ao seu lado.

Senti o rubor tomar meu rosto no momento em que bati os olhos na


figura masculina. Ninguém que eu já tinha colocado os olhos nessa vida tinha
uma aparência tão bonita quanto aquela. Enrico estava sentado na cama,
recostado sobre almofadas, sem camisa com o tórax definido e bronzeado,
usava uma bermuda azul marinho que ia até metade de suas coxas
aparentemente musculosas e pouco peludas, a perna esquerda do joelho até o
pé estava imobilizada por gesso enquanto a direita estava flexionada e pouco
coberta por um edredom. Minha inspeção por seu corpo demorou o mesmo
tempo que a sua demorou pelo meu. No momento que encarei seu rosto
mirando seus olhos ele também encarou os meus. Os olhos de Enrico eram
tão verdes quanto os de dona Luísa, os cabelos eram um tom mais claro dos
que o da mãe, e a barba cerrada cobria seu maxilar anguloso que levava aos
lábios bonitos e cheios.

— Oi. Falei tentando não transparecer o horror que sentia por estar ali.

— Quem é essa? Ele se dirigiu a mãe ainda me encarando.

— Sou Madalena. A sua cuidadora. Respondi antes já que ele ainda me


inspecionava.
— Isso mesmo. Dona Luísa concordou olhando dele para mim ainda com um
sorriso enorme no rosto.

— Não preciso de uma cuidadora, cai de moto, não fiquei aleijado.

— Nós sabemos, filho.

— Se você sabe, o que ela faz aqui?

— Eu contratei Madalena para que ao menos você tenha o que comer na hora
certa.

— Eu posso pedir comida.

— Enrico. — Dona Luísa adotou uma postura dura. — Madalena vai ficar.

— Não quero, leve ela pela mesma porta que entrou.

— Você não tem que querer! — Ela colocou as mãos na cintura e vi o


homem se remexer incomodado. — Você precisa, eu a contratei e ela vai
ficar, está decidido! — Finalizou e se virou me olhando gentil. — Madalena,
vamos comigo até a cozinha, farei uma lista do que comprar no
supermercado.

— Ok. Concordo e Luísa começa a sair do quarto, eu a sigo olhando mais


uma vez no rosto bonito que estava em uma carranca de desgosto.

Nos sentamos na cozinha e ela suspira antes de me encarar tentando


parecer calma.

— Ele me odiou. Dou uma risadinha nervosa.

— Enrico odeia todo mundo, aparentemente. Mas você pode mudar isso.

— Posso?

— Bom, tecnicamente você terá de ser a sombra dele agora, vão ter que se
tornar amigos, eu acredito que vão, igual aquele filme: Como eu era antes de
você. Já assistiu?
— Nunca assisti um filme, dona Luísa.

— Ah, claro. — Ela me encara meio perplexa. — Esqueci que você morava
no interior... lá não tinha nada mesmo? Onde fica Vila do Sol?

— No meio do pantanal.

— Sem celular, sem elevador, sem filmes, garota eu ia pirar.

— Não exatamente, a gente não sente falta do que nunca teve.

Ficou em silencio uns segundos ponderando a minha resposta e depois


riu. — Faz todo o sentido. Mas agora você vai conhecer tudo, vem me ajuda
aqui, vamos fazer a lista de compras. Me entregou uma folha e um papel em
branco.

— Mãe! O grito vindo do quarto nos assustou.

— Já vai. — Ela respondeu enquanto tinha a geladeira aberta e tinha o corpo


curvado observando o que tinha lá dentro. — Pode ir ver o que ele precisa,
Madalena? Perguntou ainda remexendo em algumas coisas.

— Claro, é meu trabalho. Pisco me pondo de pé tentando adotar uma postura


corajosa.

Ando de volta para o corredor e para na porta do quarto que


estávamos a pouco. Dou uma leve batida na porta como um pedido de
permissão e chamo atenção de Enrico.

— Pois não, senhor?

— Eu chamei minha mãe. Falou ácido.

— E ela me mandou, já que é meu trabalho. Respondi no mesmo tom.

— Mas eu quero falar é com ela.

— Ela está fazendo a sua lista de compras, senhor. Posso ajudar se me disser
o que precisa. Insisti tentando não parecer mal-educada.
— Como é mesmo seu nome?

— Madalena.

— Madalena de quê?

— Quer meu nome completo? — Olho desconfiada e ele se mantem calado


ainda esperando. — Madalena Cereja Ferrão.

Vejo seus lábios bonitos se repuxarem em um meio sorriso. — Seu


nome composto é cereja?

— Minha mãe achou que parecia legal.

— Ficou péssimo, deveria reclamar com ela. Solta num tom zombeteiro.

Pisco os olhos e respiro fundo tentando não parecer tão ofendida, ele
precisaria mais do que zombar do fato de que eu tinha cereja no nome para
me tirar dali. — Poderia, mas mortos não aceitam reclamações. Respondo fria
e vejo seus olhos se estreitarem.

Enrico raspa a garganta e desvia os olhos dos meus como se tivesse


envergonhado. — Preciso do meu remédio, está na primeira gaveta. Aponta
para uma cômoda do lado oposto da cama.

— Ok. — Concordo e ando até o móvel. Fico paralisada quando abro e meus
olhos repousam sobre três pistolas enormes. — Por que você tem tanta arma?
Pergunto agarrando a cartela de comprimidos totalmente alarmada.

— Eu uso para afastar gente curiosa. — Sua voz dura me fez virar no mesmo
segundo e sou pega de surpresa ao vê-lo com um sorriso perfeito aberto. —
Sou delegado da Polícia Civil, Cereja, pode respirar agora.

Ainda paralisada percebo que ele tem razão em pedir que eu respire, eu
estava segurando o ar. — Vou buscar água. É tudo que consigo responder
antes de deixar a cartela sobre sua mão estendida e andar tremendo para fora
do quarto.

No meio do corredor meu estômago revirou mostrando que ainda


estava assustada. Quando eu teria paz na vida? Eu infelizmente não tinha
como controlar o pânico de lembranças que me tomaram em pensar no
passado. Joaquim Rodrigues tinha me pego pelo pescoço três dias depois que
meu pai tinha sido enterrado quando eu saia da pequena mercearia na cidade.
Me ameaçou colocando uma arma em meu rosto enquanto me xingava e
avisava que por mais que o meu pai tivesse falecido ainda o devíamos. As
lágrimas desceram grossas por meu rosto e eu segui de volta a cozinha
tentando me controlar.

— Madalena? — Luísa me amparou quando me viu. — O que aquele menino


já aprontou?

— Não foi nada, eu só... só tive algumas lembranças ruins, me desculpe.

— Que coisas ruins, meu bem?

— Eu prefiro não falar disso, tudo bem para a senhora se eu não contar?

— Tudo bem, não precisa contar se não se sente confortável, mas o que
Enrico fez que te fizeram lembrar?

— Fui pegar seu comprimido e me deparei com algumas armas...

— Ah meu Deus, esqueci de contar isso, Enrico é delegado de polícia. —


Levou as mãos em minhas bochechas enxugando as lágrimas. — Não precisa
ter medo, Enrico nunca brinca com isso... você tem medo de armas? Alguém
já... ah, minha querida eu sinto muito. Me abraçou.

— Dona Luísa. — Fungo tentando controlar minha respiração. — Quero


pedir sua permissão para revidar as implicâncias de Enrico.

— Como? Ouvi sua risada e me afastei ainda fungando.

— Eu não quero ter que ouvir nada calada, é meu único pedido para
continuar aqui.

— Considere concedido. — Falou animada. — Mimei demais Enrico, ele


precisa de alguém para bater de frente, talvez ele acorde.
— Pois se depender de mim, esses próximos cinco meses poderão ser mais
difíceis para ele do que para mim. Declaro sem medo.

Dona Luísa então se despediu de mim com mais um abraço apertado e


passou os dedos delicados por meu rosto enquanto tinha a lista de compras na
outra mão.

— Eu vou providenciar umas coisas, volto mais tarde com tudo que
conseguir agilizar em tão pouco tempo.

Depois que ela saiu fui até a pia enchi um copo com água, vesti minha
armadura invisível e voltei ao quarto me surpreendendo ao encontrar a cama
vazia. Arregalei os olhos encarando os lençóis que parecia tão macio
emaranhado. Sem conseguir me conter andei até a cama e toquei o tecido
perfeito ficando encantada.

— O que pensa que está fazendo? A voz vinda por trás me fez dar um pulo
quase deixando o copo escorregar dos dedos. Olho para trás dando de cara
com o homem que agora de pé eu conseguia vislumbrar o quanto era enorme
parado na porta que deveria ser um banheiro se firmando sobre duas muletas
que impediam que a perna engessada encostasse no chão. A bermuda agora
caia baixa em seus quadris, deixando o V bem marcado e um evidente
volume meio suas pernas. Desvio os olhos para seu rosto de imediato
fechando e abrindo a boca antes de falar:

— Que susto!

— Perguntei o que estava fazendo.

— Estava sentindo... o tecido. Nunca tinha tocado em seda pura. Respondo


sincera e Enrico me encara em silencio por intermináveis segundos como se
procurasse em minhas palavras um vislumbre de que estava mentindo.

— Não é nada de outro mundo. Falou voltando a se apoiar nas muletas


começando a pular de volta para cama. Seus bíceps inchando pela força eu
encarei seus braços e mãos com veias saltadas.

— Sua mãe mencionou você precisar de cadeira de rodas. Falo ainda


distraída observando seu corpo.

— Para tomar banho, Cereja. Não posso me equilibrar em muletas e lavar o


pau ao mesmo tempo. Respondeu brusco e eu mirei seu rosto me sentindo
chocada e tentando não mirar de novo no enorme volume que marcava a
bermuda. Senti minhas bochechas queimarem.

— A água para o comprimido. — Estendo o copo para que ele segure.

— Demorou muito, foi por isso que estava no banheiro, engoli com a água da
pia.

— Me desculpe, sua mãe estava me dando umas ultimas recomendações


antes de ir fazer compras.

— Bom, da próxima vez traga a água antes, Cereja. Voltou a falar meu nome
como se fosse engraçado.

Lembrando da permissão dada por dona Luísa, não penso muito antes
de proferir um pouco irritada: — Devo pedir para que não trate meu nome
como uma chacota, senhor?

— Mas não é seu nome?

— Meu nome é Madalena.

— Madalena Cereja. — Rebate com um olhar de zombaria.

— Bom, então me trate por Madalena Cereja se assim preferir. Falei com
raiva.

— Eu não a quero aqui, Madalena Cereja.

— Só para que saiba, também não me agrada estar aqui, mas eu preciso do
dinheiro.

— Posso te pagar a quantia que lhe foi oferecida por todos os meses.

— Não quero esmola, e não me vendo, senhor. Respondo séria o pegando de


surpresa, seu semblante muda um pouco quando ele fala baixinho:
— Vou te fazer ir embora de qualquer jeito, era melhor ter aceitado sair por
bem.

Encarando seus assustadores olhos verdes eu engulo seco antes de


rebater: — Não há nada que você faça comigo que será pior do que já passei
na vida.

Perdemos um tempo um encarando o outro em silencio, como se


medíssemos forças esperando qual iria recuar primeiro, e foi ele a fazer
quando piscou encarando o vazio.

— Quero ficar sozinho. Anunciou.

— O que quer comer no jantar? Pergunto lembrando que dona Luísa tinha me
orientado para que o jantar dele não fosse tão tarde.

— Nada.

— Sua mãe pediu... — Comecei a dizer e fui interrompido pelo seu grito
irritado.

— Eu mando na minha vida, não minha mãe! Agora saia eu quero ficar
sozinho.

Assustada sai do quarto do mesmo jeito que havia entrado, chocada e


carregando o copo de água.

4
Madalena Cereja
Cheguei a cozinha e encarei o apartamento silencioso, minha mochila e
o violão ainda estava em uma das cadeiras, na correria toda dona Luísa não
tinha sequer me mostrado onde eu dormiria, e eu me recusava a voltar ao
quarto daquele ogro para fazer tal pergunta.

Pelas próximas horas me sentei na cadeira a qual tinha ocupado antes e


encarei o tampo da mesa. O silencio continuou, como se eu tivesse sozinha
ali. Me sentindo cansada demais fiquei quieta, abaixando a cabeça deixando
minha mente zanzar pelos últimos acontecimentos.

Estava prestes a anoitecer quando meu estômago roncou e eu percebi


que estava sem comer há horas, nem sequer tinha bebido água, por isso mais
uma vez de pé me movi pela cozinha ampla de inox que parecia nunca ter
sido usada e bebi um grande copo com água decidida a fazer algo para jantar,
pois se Enrico não queria comer, eu queria, e por isso fui até a geladeira
vendo o que poderia fazer.

Puxei as mangas da blusa e embolei meu cabelo para o topo da cabeça


o prendendo em um coque, lavei bem as mãos e comecei a cortar alguns
legumes, ia fazê-los assados junto com um frango e faria um arroz branco.

Logo que coloquei a cebola para dourar o cheiro invadiu o ambiente, e


logo tive certeza que tinha cheirado até o quarto pois um novo grito de Enrico
veio dessa vez me chamando apenas pelo primeiro nome. Enquanto abaixava
o fogo e andava até seu quarto perguntei a mim mesma se me acostumaria
com aquilo.

— Pois não? Parei de pé ainda na porta.

— Eu disse que não quero comer. Falou sem sequer me olhar.

— Eu sei, senhor.

— Então por que diabos está cheirando comida?

— Porque eu também moro aqui agora, e eu vou comer. —Falei tentando não
parecer debochada, mas tendo a certeza que tinha falhado miseravelmente
quando ele me olhou com espanto por tamanha audácia. — Desculpe, senhor
estou com fome, olhe para mim e perceba que eu não fico sem comida.

Pisco tentando consertar parecendo mais gentil e ele abre e fecha a


boca como se quisesse dizer algo, mas nada sai.

— Vai querer?
— Já disse que não.

— Ok, posso ir? Levantei as sobrancelhas e ele bufou derrotado.

— Sai.

— Tchau. Aceno docemente para ele que me olhava irritado e volto para a
cozinha com um sorriso enorme no rosto por ter deixado ele sem reação.

Passo o próximo tempo cozinhando e fazendo questão de usar bastante


tempero para que o aroma infestasse todo lugar. Estava terminando de servir
meu prato quando novamente o grito de Enrico me chamando invadiu meus
ouvidos. Involuntariamente me peguei sorrindo o enxergando como uma
criancinha birrenta. Andei para o seu quarto e entrei.

— Diga, Enrico.

— Madalena, você foi contratada para me dar remédios e não está fazendo
isso, está na hora do meu comprimido. Se não se acha capacitada para isso é
só ir embora!

— Sinto muito, sua mãe não me passou os horários ainda, acho que pensou
que você iria fazer... — Volto a me aproximar da gaveta que mais cedo tinha
me causado medo e a abro dessa vez preparada para o que ia ver. Pego o pote
que tinha um adesivo de “noite” colado e o entrego. Sem dizer nada saio indo
até a cozinha pegando um vidro de água na geladeira junto com um copo e
volto. O sirvo e espero ele beber.

— Trouxe um vidro, para o caso de você sentir sede...

— Não gosto de água natural.

— Tudo bem, eu levo de volta. Respondi sucinta enquanto ele me olha


desconfiado.

— Já comeu?

— Ainda não.
— Hum. Revira os olhos e volta a encarar o celular que estava repousado
sobre a perna boa.

Minha mente gritou para que eu só o ignorasse e saísse do quarto, mas


meu coração insistia em acreditar que aquele homem só estava amargurado
com a vida e não era culpa dele.

— Fiz o bastante para nós dois, caso você mudasse de ideia sobre jantar.

De imediato seus olhos pousaram sobre os meus de novo.

— É?

— Sim, posso servi-lo?

— Não estou com fome. Respondeu com a voz calma pela primeira vez
desde que o conheci. Vi em seus olhos que ele estava sim faminto, só
relutava em aceitar como se fosse perder uma batalha.

— Só um pouco. — Insisti. — Prometo que não coloquei veneno em nada. —


Tento brincar lhe oferecendo um sorriso. — Além do que, desperdiçar
comida é pecado. Termino de falar e mais uma vez vejo seus lábios querendo
disfarçar um sorriso.

— Certo, se é pecado eu como um pouco para que não se desperdice.


Respondeu e eu comemoro por dentro.

— Posso trazer seu prato então?

— Eu posso ir até a cozinha se você não se importar com companhia. Falou


mostrando-se todo cabreiro.

— Claro que não, a casa é sua Enrico.

Parecendo perceber o quão tinha abaixado a guarda, ele desvia os olhos


dos meus.

— Tudo bem então, pode ir, eu vou daqui a pouco.

— Não quer ajuda para ir?


— Não, eu estou bem. Responde ainda sem me olhar.

— Certo, eu estou te esperando. Falo saindo do quarto me sentindo alegre,


chego na cozinha pela primeira vez desde que tinha chegado naquela casa
sem a vontade de chorar.

Decidida a impressioná-lo ajeito a comida sobre a enorme mesa de


mogno que dividia a cozinha para sua sala ampla e coloco um prato limpo
para que ele se servisse.

Ando desconfiada até a parede de vidro que tinha em sua sala, com
medo me senti meio zonza ao perceber o quão fora do chão estávamos. Eram
tantos prédios e tão poucas árvores lá embaixo, o céu não se via estrelas
como em Alvorada das Almas, os carros passavam incessantes. Sempre tinha
odiado altura, e ali em cima parecia estar de fora do meu universo comum
vendo um mundo sem sentido lá embaixo.

— O que está olhando? A voz soprou bem no meu ouvido.

— Ai meu Deus! — Pulei levando a mão ao peito e me esbarrando em Enrico


que estava muito perto de mim firmando em suas muletas.

— Você é sempre assustada, Madalena. Enrico me olhou desconfiado e eu


reparei que ele tinha colocado uma camiseta preta que eu quase agradeci já
que seu peito exposto me tirava muito a concentração.

— É claro que me assusto, você mesmo de muletas não faz barulho nunca. O
acuso dando espaço entre nossos corpos já que a proximidade me deixava
imensamente desconfortável.

— Faço sim, você que sempre está distraída, agora mesmo estava encarando
lá embaixo com uma careta estranha.

— É que eu tenho medo de altura.

— E faz essa cara toda vez que entra em um prédio?

— Não sei, esse é o primeiro prédio que entrei na vida.


Me olhando aparentemente chocado Enrico arqueou uma sobrancelha
falando: — Nunca tinha entrado em um prédio?

— Não.

— De onde você veio afinal?

— Vila do Sol.

— Em que estado fica isso?

— No Mato Grosso do Sul. — Respondo apontando para a mesa. — Vamos,


a comida vai acabar esfriando.

— É uma cidade pequena? Ele questionou enquanto me seguia e se


acomodava na mesa.

— Bem pequena.

— Entendi. Ele respondeu distraindo quando seus olhos foram sobre as


panelas.

— Sirva-se. Entreguei seu prato e ele involuntariamente lambeu os beiços.


Estava faminto. Eu podia jurar que Enrico era ainda mais forte do que estava,
talvez devido acidente e com toda sua pirraça tinha perdido peso. Sem
rebater, ele tomou o prato e começou a colocar uma quantidade boa de
comida.

Fiz o mesmo e me sentei levando a primeira garfada na boca, meu


estômago agradeceu e eu quase sorri quando ouvi um gemido baixo de
satisfação vindo dele quando também levou a comida na boca.

— Você tinha uma vida muito simples em Vila do Sol? Perguntou.

— Sim, meu pai e eu nós virávamos como podíamos, mas eu nunca tive luxo,
e quando ele faleceu eu resolvi mudar de lugar e tentar uma vida nova. Falei e
vi que somente por mencionar a palavra morte o seu semblante modificava.

— Quanto tempo faz que ele morreu?


— Menos de um mês. Foi minha resposta curta.

— E já está aqui?

— O que eu deveria fazer? Me isolar? Rebati.

— Cada um sofre de uma maneira, eu acho. Enrico engoliu mais uma garfada
encarando seu prato.

— Eu não tenho mais nenhum parente vivo, não tinha porque ficar. Falei e
ele se manteve calado por mais um tempo, e era como se eu ouvisse as
engrenagens do seu cérebro funcionando antes de dizer:

— Você não estudou? Digo, para tentar um emprego melhor.

— Terminei o ensino médio, onde eu morava não existia uma faculdade, eu


teria que ir para Campo Grande para estudar, poucas pessoas conseguem isso
por lá... com o salário que sua mãe vai me pagar eu estou pensando em
procurar algum curso que seja, para conseguir quem sabe no futuro me
formar.

— Hum. Foi tudo que ele disse.

— Por isso eu espero que você não me faça ir embora.

— Ao que parece eu não posso demitir você, só minha mãe pode. Seus olhos
verdes que estavam escuros devido a luz me encaram como labaredas
lavando meu corpo.

— Por que parece me odiar se nem me conhece? Perguntei incomodada.

— Eu não te odeio. — A voz afiada saiu rouca. — A verdade é que eu não


gosto de ninguém, e você parece mesmo ser diferente... talvez seja mesmo, já
que nunca tinha entrado num prédio e tocou seda como se tocasse ouro... —
Desvia finalmente os olhos dos meus e encara o vazio quando diz: — A luz
que falta em mim parece ter em abundância em você.

— Está enganado. Eu sempre vivi no escuro.


— Como assim? Volta a me olhar.

— Nunca tive eletricidade em casa, morávamos afastados em um chalé. —


Sorrio para sua cara chocada.

— Bom, isso é trágico. — Ele franze a testa me fazendo rir. — Mas você
entendeu o que eu quis dizer, não?

— Sim, eu entendi... mas sabe de uma coisa? Não precisa ter luz em
abundância para ser feliz, se tem uma coisa que aprendi vivendo no escuro
foi que quando não se tem claridade, você ganha vantagem nas sensações, e
pode fazer monstros e sons ganharem beleza.

— Acho impossível um dia cinza ser mais bonito que um dia ensolarado.

— É questão de ponto de vista.

— Por que?

— Porque onde eu morava eu via o sol todos os dias, mas não tinha nada... e
aqui nessa cidade cinza desde que cheguei não consegui realmente ver o céu
de verdade, em compensação as coisas estão dando certo. Ou seja, sou mais
feliz aqui do que lá... vivi dias ensolarados terríveis que nunca vão se
comparar a dias cinzas de agora.

— Você quer dizer então que o dia de hoje foi bom? Mesmo comigo te
tratando mal? Um sorriso de lado escapou.

— Não estava mentindo quando disse que não há nada que você fale ou faça
que será pior ao que já vivi.

— E o que foi que você viveu, Madalena? Questiona enquanto nos


encaramos como se uma tensão elétrica ultrapasse ligando nossos corpos.

— Cheguei! A voz de dona Luísa invadiu o lugar e nos saímos do encanto.

Vi quando Enrico largou o prato como se tivesse voltado a si e travou


o maxilar.
— Você saiu do quarto? Meu Deus, Madalena, você deve ser uma santa!
Existe a santa Madalena?

— Não sei, dona Luísa. Dou um sorriso nervoso olhando para Enrico que
tinha voltado a ser o carrancudo de antes.

— E então, parece que se entenderam. Ela olhou para nós com seu olhar
gentil.

Enrico se mexeu e ficou de pé, agarrando as muletas e posicionando cada um


embaixo dos braços. — Já que você insiste nessa palhaçada, ela pode ficar.
— Resmungou pegando nós duas de surpresa. — Entregue para ela o horário
dos remédios. — Você pode entrar e me acordar. — Falou se direcionando a
mim. — Vou voltar para o quarto, quero ficar sozinho.

— Espera, Enrico... termina de comer. Falei me sentindo vitoriosa.

— Eu falei que não estava com fome. E além disso, sua comida não é das
melhores, Cereja. Alfinetou nos dando as costas e sumindo pelo corredor.

Dona Luísa encarou tudo um pouco perplexa e veio ao meu encontro


deixando as sacolas sobre o sofá.

— Me desculpe por isso, Madalena. Eu tenho certeza que sua comida não é
ruim.

— Eu sei. — Dou uma risada em resposta. — Ele está fazendo charme.

— Como conseguiu fazer ele sair do quarto? Estou tentando fazer isso há um
mês sem sucesso.

— Não pedi que ele o fizesse dona Luísa. Ele se negou a comer, por isso
comecei a cozinhar para mim, quando percebeu que eu não me importava
com a birra ele aceitou não só vir jantar como sair do quarto.

— A lei do não faça, para então fazer? — Ela murmurou como se pensasse.
— Genial. Isso foi, genial. — Riu satisfeita. — Vem, me ajude a guardar
essas comidas, e eu também te comprei um celular, e umas roupinhas.
— Me comprou roupas?

— Sim, é impossível você ter só essa mochila com roupas, vamos ter que
marcar um shopping depois, vou te ajudar a escolher mais algumas, mas hoje
já trouxe umas bem legais, até alguns pijamas. Aqui, esse é seu celular. Me
estendeu o aparelho bonito e novo.

— Meu? Encarei ela sem acreditar.

— Sim, para eu poder te ligar e trocarmos mensagens... eu até já gravei meu


número nele.

— Dona Luísa, eu nem sei o que dizer, estou totalmente sem jeito.

— Imagine, menina. Eu não estou fazendo nada demais, agora vamos guardar
isso, e eu me lembrei que nem te mostrei seu quarto.

— Verdade, eu até pensei em procurar por um perto da área de serviço, mas


decidi esperar a senhora voltar.

— De jeito nenhum que você vai dormir no quarto da área de serviço, vai
dormir no quarto ao lado do de Enrico, já que ele precisa de você a noite.

— Ele precisa? Petrifiquei.

— Sim, ele tem um comprimido durante a madrugada, e ele quase nunca


acorda sozinho. Vou inclusive te mostrar a tabela dos horários de remédio,
você pode agenda-los no seu celular, assim você desperta.

— Ok. Concordo olhando a lista que mostrava que o remédio da madrugada


era as quatro e meia. O que não seria sacrifício já que meu horário biológico
me fazia estar de pé todos os dias fielmente as quatro.

— Que tal você tomar um banho e vestir seu pijama novo enquanto eu ajeito
as compras do mercado?

— Que isso, eu ajudo a senhora.

— Madalena! Senhora está no céu. Vem, você deve estar exausta, desde que
chegou não teve tempo de descanso, foi da rodoviária direto para minha
casa... vai tomar um bom banho, eu ajeito tudo aqui, e passo no seu quarto
antes de ir embora.

— Tem certeza?

— Tenho tanta certeza quanto a que qualquer dia desses eu vou te obrigar a
tocar violão para mim. Piscou feliz.

— Quando quiser. Respondo enquanto andamos para o corredor até o quarto


antes do de Enrico que agora tinha a porta fechada.

— Seu pijama novo está na sacola vermelha. Avisa e me deixa sozinha


sentada na cama com uma quantidade imensa de sacolas ao meu lado.

Retiro uma por uma das sacolas as colocando sobre a cama que era
maior que qualquer uma que eu já tinha visto na vida. O colchão era tão fofo
que eu pensei estar sonhando. Tinha uma mesa e uma cadeira perto da porta
de vidro que levava para uma sacada. A porta fechada eu descobri ser o
banheiro mais luxuoso do mundo, todo de mármore negro que parecia brilhar.
Sem mais demoras eu me enfiei pela quarta vez na vida embaixo de um
chuveiro elétrico.

Meu corpo ainda estava tensionado ainda da viagem e quando a água


quente bateu sobre minhas costas eu soltei um gemido de prazer, mas não
quis ser folgada ficando tempo demais ali, lavei-me com o sabonete novo que
tinha encontrado em um dos armários e esfreguei o cabelo com o shampoo
que também tinha ali. Logo estava enrolada na toalha encarando chocada o
que Luísa tinha dito ser meu pijama novo.

O short de seda provavelmente deixaria metade dos globos da minha


bunda de fora, e a blusa de alcinhas tinham como forma nos seios apenas uma
renda fina.

O barulho de batidas na porta veio no mesmo momento em que eu


suspirava indo buscar dentro da mochila meu moletom velho.

— Pode entrar.
— Já estou indo, Mada. — Dona Luísa colocou a cabeça para dentro me
oferecendo um sorriso. — Gostou das roupas?

— Dona Luísa, acho que a senhora se confundiu um pouco nas numerações...


eu entendo até já que sou gordinha.

— Nunca que eu errei! — Ela se colocou para dentro andando para perto. —
Eu tenho certeza que é seu número, eu já trabalhei com isso. Falou pegando a
peça que eu deixara sobre a cama e me olhando meio arteira. Seu sorriso me
lembrou o de minha mãe. Uma possibilidade que eu achava impossível, mas
ainda assim passou por minha mente foi o fato de que dona Luísa estava
querendo me tacar para cima de Enrico, o que era muito absurdo, pois um
homem como ele nunca olharia para mim.

— Minha bunda vai ficar totalmente de fora.

— Imagina, pode ficar curto, que é o modelo... vai, experimenta ele para a
gente ver. Me entregou ordenando e eu contragosto andei para o banheiro
para vestir.

Não reconheci a mulher no espelho quando me encarei, somente aquele


pijama que parecia muito caro já que o tecido era maravilhoso tinha me
deixado parecendo outra. Sai de volta e escutei as palmas dela.

— Eu falei! Ficou perfeito! Olhe só você, Madalena, comece a ver a jovem


linda que você é meu bem. Você parece não ver isso. — Andou até mim me
dando um abraço apertado. — Agora eu preciso ir, se é que você me entende
eu passei o último mês indo muito pouco em casa, estou com muitas
saudades de dormir agarradinha ao meu marido. Amanhã eu te ligo, tente
aprender a mexer no celular. Boa noite, minha querida, é muito bom ter você
aqui, e pode deixar que eu tranco a porta.

— Boa noite, dona Luísa. Sussurro e a vejo sair tão rápido quanto entrou.

Suas palavras rodam em minha mente e me sentindo exausta eu nem


consigo assimilar tudo. Me jogo sobre o maravilhoso colchão na parte que
não estava ocupada por sacolas e pego no sono profundo. Quando desperto
busco o telefone sobre o colchão e percebo que eram quase quatro, esperaria
mais meia hora e iria ter de encontrar Enrico. E só Deus sabia como ele ia me
tratar dessa vez.
5
Madalena Cereja
Afim de não correr o risco de cochilar de novo, me coloquei de pé e
comecei a fuxicar nas roupas que dona Luísa tinha me trago, descobri que
definitivamente ela não me enxergava com eu me via, tinha algumas blusas
que ficariam curtas demais e duas calças que eu tinha certeza que pareceriam
uma segunda pele. Junto ainda tinham mais três pijamas tão curtos quanto o
que eu usava no momento.

Dobrei cada uma das roupas e as empilhei perto da cabeceira, caminhei


até a porta que levava para a varanda e a destranquei com cuidado. Quando
sai para o ar gelado da madrugada mais uma vez me perdi na imensidão que
via lá embaixo. O tempo realmente não parava ali, os carros passavam lá
embaixo e os prédios tinham muitas luzes acesas. Lembrei de como sempre
diziam “tempo é dinheiro”, ali aquilo era real, e para muitas pessoas dinheiro
importava mais que a vida, e eu sabia disso pois conhecia de perto um.
Joaquim.

Quando faltavam menos de cinco minutos para o medicamento eu sai


do quarto e andei até a cozinha pegando um copo com água gelada antes de
voltar na direção do quarto de Enrico.

Girei a maçaneta calmamente e entrei dando de cara com tamanha


escuridão que tive que ligar a luz. Enrico fechava até as cortinas cinzas
enormes. Tentando não fazer barulho andei até a cômoda e abri a gaveta. Me
surpreendi ao perceber que as pistolas já não estavam mais ali. Talvez ele
tenha medo que você o mate. Minha mente sugeriu e eu quis rir. Localizei o
remédio correto e retirei uma drágea.

Um gemido me fez virar de imediato pensando se mais uma vez ele


tinha me pegado espionando, mas Enrico continuava imóvel. Imaginei o quão
desconfortável devia ser dormir com a perna imobilizada. O lençol estava
enrolado apenas sobre sua cintura e coxas, o peito desnudo e o abdômen
malhado, os braços relaxados e abertos. Seu rosto mesmo em sono pareceu
incomodado quando mais um suspiro veio, como se estivesse sonhando.

Aproximei da cama meio receosa e deixei o copo na mesinha ao lado


segurando o comprimido na outra mão. Estendi o braço livre e toquei minha
mão na sua com cuidado.

— Enrico. Chamei recebendo mais um resmungo em resposta. — Enrico, o


remédio.

Em um segundo estava tocando seus dedos e no outro eu já estava


sendo jogada na cama com ele montando sobre mim e com sua enorme mão
em meu pescoço.

A velocidade em que eu gritei assustada foi a mesma que ele pareceu


estar em transe sem perceber o que fazia.

— Me solta. Pedi com medo.

— Madalena? — Ele afrouxou o aperto e depois de finalmente voltar a si me


soltou totalmente. — Meu Deus, machuquei você? Perguntou analisando meu
pescoço e eu senti todo o seu corpo prensado sobre o meu, inclusive sua
anatomia masculina que roçava minha coxa.

— Eu estou bem. Sai de cima. Pedi tentando me remexer e Enrico rolou para
o lado ainda totalmente desconcertado.

— Desculpa, eu estava tendo um pesadelo. Que ideia foi essa de entrar aqui?
Seu tom de voz foi rude.

— Eu não tive ideia alguma, está na hora do seu remédio que inclusive no
meio disso tudo eu não faço a mínima ideia de onde foi parar, terei de pegar
outro. Me sentei ajeitando as roupas antes de me levantar. Me senti inquieta
ao perceber que agora de pé o pijama parecia ter desaparecido me deixando
nua já que seus olhos não saíam de minhas pernas. Talvez estava imaginando
onde eu estava com a cabeça em usar aquilo. Sentindo seu olhar queimar em
mim andei de novo até o móvel e peguei mais um comprimido e voltei o
entregando.
— Obrigado. Ele respondeu assim que lhe passei o copo com água gelada.

Me mantive calada observando ele engolir a drágea quando ele falou de


novo: — Me desculpa por te fazer acordar também, eu poderia fazer isso.

— Sua mãe disse que nem sempre você desperta. E não me acordou, eu já
estava acordada.

— Já estava? Por que?

— Eu sempre acordei bem cedo, não é um sacrifício, já se tornou rotina.


Recentemente meu pai tinha tentado comprar uma pousada, eu acordava as
três para começar a providenciar o café que deveria estar montado as cinco...
você está se sentindo bem? Pergunto reparando em como sua mão tremia.

— Não. — Jogou a cabeça para trás encostando na cabeceira. — Mas já não


estou bem há um tempo, então não faz diferença.

Meu peito apertou com o desabafo. Seus olhos verdes pousaram sobre
os meus e pareciam clamar por ajuda. Não me segurando me aproximei da
cama e me sentei. — Quer contar o que estava sonhando, talvez se sinta
melhor... era algo sobre sua...

— Madalena! — Eu o vi fechar os olhos cerrando os dentes antes de me


interromper. — O seu trabalho aqui já foi feito, pode voltar ao seu quarto.

— Enrico?

— Estou tentando não ser grosseiro. — Disparou entredentes. — Me deixe


sozinho, agora.

Segurando as lágrimas voltei a ficar de pé agarrando o copo. — Volto


de manhã para o outro comprimido. Comuniquei, mas não obtive nenhuma
resposta.

Quando voltei para meu quarto, passei pela cama e fui direto para a
varanda. O ar gelado no meu rosto parecia aliviar o que me sufocava. Queria
voltar para o quarto de Enrico e contar tudo a ele. De certo modo sentia que
ele deveria saber a verdade sobre toda minha história, sobre Alvorada das
Almas e os Rodrigues, de como eu tinha sofrido perdendo meus pais. Talvez
ele se sentiria melhor sabendo que no mundo existia pessoas tão quebradas
quando ele, e que tudo bem. Que era possível viver com aquilo. Mas eu era
incapaz de fazer isso, porque com Enrico parecia que cada passo para frente
era seguido de dois para trás.

Mais calma andei de volta para cama e acabei adormecendo. Quando


acordei de novo já eram quase sete, tomei um banho dessa vez mais
demorado do que o do dia anterior, coloquei uma calça preta e meus velhos e
inseparáveis coturnos. Da mochila eu tirei e vesti o moletom vermelho que
um dia fora de Vicente e que ele tinha esquecido na minha casa depois de eu
elogiar o quanto parecia quentinho.

Peguei meu celular para verificar as horas e me lembrei de Aline e dona


Rosa, elas tinham pedido que eu desse notícia, agora com um eu poderia
fazer isso. Mas sem saber mexer eu me vi tendo que pedir ajuda a Enrico,
talvez ele destoasse um pouco de seu mau-humor e me ensinasse. Iria
arriscar.

Quando entrei no quarto mais uma vez com água para que ele engolisse
o medicamento, fui tomada por um cheiro divino de perfume. Enrico estava
sentado na cama, novamente sem camisa, a bermuda era outra e seu cabelo
estava molhado enquanto ele tinha um caderno de couro nas mãos.

— Bom dia. Anunciei como se o que tinha acontecido na madrugada nunca


tivesse existido.

— Oi. Foi tudo que ele se limitou a dizer enquanto aceitava e engolia o
comprimido.

Sem saber como puxar assunto decidi ir logo ao ponto. — Você pode
me ajudar com uma coisa?

Vi quando ele levantou os olhos do caderno pousando sobre mim pela


primeira vez desde que tinha entrado.

— Ajudar com o que?


— Sua mãe me deu um celular ontem à noite para que eu pudesse me
comunicar com ela.

— Quer ligar para ela?

— Não, eu queria ligar para outra pessoa. Falei e vi suas sobrancelhas


erguerem me julgando.

— Outra pessoa?

— É para a senhora que conheci no ônibus vindo para São Paulo, ela me
ajudou muito, ela e a filha que me levaram até sua mãe para que eu pudesse
conseguir o emprego... queria muito manter contato com ela. Quer dizer, tem
problema eu usar o celular que ganhei para isso?

— Se minha mãe lhe deu o celular, não vejo problema nenhum, acho que é
livre para conversar com quem quiser, Madalena.

Corei sentindo vergonha antes de dizer: — É que não sei mexer, você
pode me ensinar?

Enrico me olhou como seu tivesse acabado de brotar uma segunda


cabeça.

— Madalena, você as vezes me fala coisas absurdas.

— O que?

— Como assim você nunca teve um celular? E como ligava para as pessoas
na sua cidade?

— Não ligava... se caso precisássemos era usado um telefone fixo.

— Você parece que veio dos anos 50. Vem, senta aqui, vou te ensinar o
básico, o resto você vai descobrindo de acordo com sua curiosidade.

— Sento onde? Estaquei no lugar.

— Na minha cama?
— Não posso.

— Por que? — Ele riu. — Te deitei nela de madrugada. Anda. — Me puxou


pela mão e eu cai sentada na beirada.

— Tem o número?

— De quê?

— Da senhora, Madalena.

— Tenho! Tirei o papel dobrado do bolso do moletom e o entregava.

Enrico mexeu no aparelho e depois me entregou mandando: — Tire


uma foto sua.

— O que? Para que?

— Para pôr no seu perfil.

— Não! Eu estou desarrumada... — Levo a mão aos cabelos soltos ainda


marcados por ter dormido com eles molhados ontem.

— Para de besteira, está linda. Retrucou tomando o celular de novo e tirando


ele mesmo uma foto minha enquanto eu ainda tinha o choque sobre mim. Ele
me achava linda?

— Veja, isso aqui. — Ele mirou o telefone no seu rosto. — Se chama selfie,
que é quando nós tiramos fotos de nós mesmos, viu?

— Vi. Vi um deus grego ao meu lado.

— Aqui, meu número e minha conversa, fale algo comigo para treinar.

— Estou falando com você.

Sua risada me chamou atenção. — Não, cereja. Fale comigo pelo


celular, digite algo, aqui aparece o teclado.

— Ah, ok. Balancei a cabeça entendendo e perdi uns segundos reparando na


sua foto que aparecia. Ele estava sorrindo dentro de uma piscina? Meu Deus!

Olhando para o teclado procurando as letras escrevi:

Madalena Cereja: Oi. Tudo bem?

Enrico pescou seu celular que apitou no colchão e digitou sem nem olhar.

Enrico De Giordano: Tudo.

— Deu para entender?

— Deu. Obrigada!

— Certo, agora aqui nesse botão você pode me mandar um áudio, pressione o
dedo, fale o que tiver de falar e solte para enviar.

— Ok. — Pressionei o botão deixando minha língua afiada soltar: — Estava


pensando se você vai querer alguma coisa horrível feita por mim hoje, café da
manhã, talvez? Almoço?

Notei seus lábios repuxando quando ele me mostrou a tela do seu


aparelho e clicou reproduzindo o que eu tinha falado.

— Nossa, minha voz no telefone fica patética. Avaliei.

— Se você não tivesse acabado de ser tão petulante eu te defenderia.

— Eu petulante? Falei chocada.

— Sim.

— Você falou mal da minha comida e a petulante sou eu.

— Ué, não estava das melhores mesmo.

— Bom saber! — Revirei os olhos enquanto escuto sua risada baixa. —


Agora como eu falo com a dona Rosa?
Ele me guiou para a conversa dela e cruzou os braços me observando.
— Ah, olha a foto dela que gracinha! — Mostro a tela para que ele veja a
senhorinha fofa antes de apertar o botão que enviava áudio. — Oi dona Rosa,
sou eu... a Madalena, lembra que pediu que eu te mandasse notícias? Esse
agora é meu número, tá? Vamos nos falar sempre por ele. Eu queria dizer
que deu tudo certo, lembra que a senhora disse que ia dar? Eu consegui
mesmo o emprego! Avisa a sua filha Aline que assim que eu puder ligo para
ela, eu não esqueci que ela me prometeu me apresentar a cidade... espero
que a senhora esteja bem, um beijo. Tchau.

Soltei o botão e Enrico me olhava com as sobrancelhas erguidas.

— Caramba, um minuto de áudio?

— O que? Não pode?

— Poder pode, mas tem que ter muito tempo para falar com você.

— Ah, não enche o saco Enrico! Empurro seu ombro instintivamente


enquanto escuto sua risada.

— Obrigada por me ensinar.

— Por nada, agora você também pode conversar com as pessoas lá da onde
você veio.

Franzo a testa. — Não tenho ninguém lá.

— Você realmente não tem mais nenhum parente vivo? Soou curioso.

— Que eu saiba, não.

— Você está escondendo algo, Madalena?

— Não é só você que tem direitos de ter cicatrizes. — Falo friamente. —


Você vai querer tomar café?

O rosto de Enrico já não estava mais descontraído. — Só café preto.

— Ok. Me coloquei de pé e comecei a sair do quarto sem mais insistir em


papo. Estava finalmente aprendendo a lidar com ele.
Dona Luísa tinha me mandado uma mensagem desejando bom dia e
informando que tentaria passar por aqui a tarde. Na cozinha comecei a
preparar o café e como no dia anterior iria fazer comida para mim. Quando o
café ficou pronto enchi uma caneca e desliguei os ovos mexidos que
cheiravam muito bem antes de ir para o quarto o servir.

— Seu café. — Entreguei a caneca e ele pegou sem olhar para mim. —
Trouxe açúcar e adoçante caso você...

— Prefiro puro.

— Certo. Agarrei a bandeja indo para a porta.

— Já tomou café?

— Indo agora.

Seus olhos já não pareciam tão ranzinzas quanto antes. — E tem o


bastante para mim?

— Tem.

— Pode me trazer? Por favor... estou faminto. Confessou.

Não consigo segurar o sorriso. — Vou preparar, já volto.

Ajeito a bandeja com torradas e os ovos mexidos, corto kiwi e


morango em cubos colocando em uma tigela, encho o copo com suco de
laranja e volto equilibrando tudo e o encontro com a respiração um pouco
alterada e os olhos fechados.

— Enrico?

— Oi. — Ele se vira para mim abrindo os olhos verdíssimos me encarando de


maneira estranha por uns segundos e só depois observou a bandeja. —
Caralho, que delícia! Se remexeu sentando melhor e posicionando a perna
imobilizada.

— Espero que não esteja horrível. Pisco colocando o pequeno banquete sobre
o colchão.

— Pelo cheiro eu acho que deve estar péssimo. Alfinetou.

— Hum, sei. Volto depois.

— Come aqui comigo. Falou com a boca já cheia.

— Meu prato está na cozinha, não precisa se incomodar, daqui a pouco busco
tudo. Aviso e ele parece um pouco desapontado quando balança a cabeça.

Tomo café tranquilamente enquanto saboreio a comida. Eu encaro a


janela de vidro vendo que o dia lá fora apesar de aparecer o sol mantinha suas
nuvens. Minha vida tinha mudado tanto em poucos dias que eu só consigo
pensar que se Vicente não tivesse aparecido para me salvar eu estaria
provavelmente morta a essas horas.

Mais tarde depois de ajeitar a cozinha eu voltei até o quarto de Enrico.

— Terminou? Pergunto depois de bater duas vezes na porta aberta.

— Sim. — Apontou para os recipientes que não tinha sobrado nenhuma


comida.

— E então, estava tão ruim quanto esperava?

— Péssimo.

— Que pena, tentarei melhorar no almoço.

Um sorriso de criança levada invade seu rosto quando ele diz: — Ah,
sim... a propósito se puder fazer novamente as batatas assadas como ontem,
elas estavam verdadeiramente detestáveis. Piscou descaradamente, foi a
minha vez de sorrir.

— Entendi.

— Sua amiga já respondeu?

— Nem verifiquei ainda, vou começar a preparar as coisas do almoço e volto


para te dar o remédio das onze.

— Tudo bem, pode ficar tranquila, eu tomo sozinho o das onze.

— Certeza?

— Sim, se concentre na comida. Ele respondeu ainda sorrindo e eu olhei para


o teto percebendo a luz ainda acesa.

— Por que está com a luz ainda acesa?

— Porque as cortinas estão fechadas. Falo como se me explicasse o obvio.

— Isso eu sei... — Ando até a sua varanda que estava tampada pela cortina
grossa. — Mas você precisa tomar ar, Enrico, parece que está enclausurado.
— Escancaro tudo e a claridade toma o lugar. Em seguida arrasto a porta de
correr da varanda e a brisa gelada da manhã toma o quarto. — Você não é
prisioneiro, mas parece.

— Quem disse? Questionou aparentemente desconfortável.

— Eu estou dizendo! — Coloco as mãos na cintura o repreendendo com o


olhar. — Reparei que a foto do seu perfil você estava muito mais forte e mais
bronzeado.

Enrico tira a carranca do rosto e seus olhos me analisam antes de soltar:


— Estava reparando minha foto?

— O que? Eu... — Respondo sentindo o calor tomar meu rosto. — Você a


colocou lá para que seja vista.

— É, acho que foi.

— Não desvie o assunto, tome um pouco de sol, respire o ar lá de fora, fica o


tempo todo com esse troço soprando ar gelado ligado.

— Ar-condicionado.

— Tanto faz o nome! — Rebato — Você precisa deixar de ser tão ranzinza
também, sei que a vida é uma merda as vezes. Mas estamos aqui, nascemos...
não tem outro jeito!

Enrico passou os dedos pelo rosto e depois eu reparei em como ele


segurava o riso entre os lábios.

— Você está mesmo me dando uma lição de moral no seu segundo dia de
trabalho, cereja?

Pensando na minha língua grande eu o olhei envergonhada. — Estou.

— Eu poderia te demitir, você sabia disso?

— Já se esqueceu que quem me contratou foi sua mãe? Só ela pode me


demitir. Disse me sentindo petulante e vi sua sobrancelha esquerda se
arquear.

— Sua sorte é que estranhamente eu gosto de você...

Eu o olho querendo sorrir, mas quando volta a falar sinto todo o sangue
sumir do meu corpo.

— E da sua comida boa... e do seu pijama curto.

Abro e fecho a boca incontáveis vezes, mas nenhuma palavra consegue


sair. Eu sabia que aquele maldito pijama era curto! — Vou ajeitar umas
coisas... — Limpo a garganta. — Você quer batatas e o que mais?

— Fica a sua escolha. Respondeu docemente e eu cheguei a balançar a


cabeça tentando limpar a mente. Sai do quarto ainda sobre seu sorriso
naquele rosto bonito daquele homem bipolar.
6
Enrico De Giordano
Assim que Madalena saiu do quarto eu ainda fiquei minutos pensando
em como eu estava me sentindo desde ontem.

Depois de anos.

Meus neurônios chegavam a fritar. Eu não me sentia assim há tanto


tempo que parecia um adolescente. Era estranhamente horrível sentir depois
de anos de luto, não ter controle sobre o próprio pau de novo.

Eu estava me sentindo excitado desde que Madalena tinha aparecido na


madrugada com aquele rosto bonito de sono, o corpo cheio de curvas dentro
daquele pijama rosa de seda que deixava tão pouco para imaginação.

Me senti ainda pior quando sem perceber o quando tocou no nome de


Patrícia, eu me senti um traidor quando a coloquei para fora do quarto e tive
que encarar o quanto estava duro. Por outra mulher. Eu a conhecia há menos
de vinte e quatro horas.

Depois de querer me auto sabotar eu rolei pelo colchão sentindo dor


nas bolas. Eu quase nunca me masturbava. Me sentia péssimo em imaginar
uma pessoa morta e me sentia traindo quando tentava visualizar outra pessoa.

Mas não tive escolhas. Quando abri a gaveta do aparador e agarrei


alguns lenços úmidos deixando os de lado e abaixando o calção, meu cacete
pulou tão duro como se implorasse, que se eu não me aliviasse eu teria uma
sincope.

Alisei a cabeça robusta que já estava pingando lubrificante e segurei


pela base. Fechei os olhos tentando relaxar e tornar aquilo automático como
sempre fazia. Estimularia até gozar e pronto. Mas não tinha acontecido
aquilo. Assim que fechei os olhos eu pude sentir como se ela estivesse ali de
novo, embaixo de mim. Imaginei seus seios que não era tão grande desnudos
a minha mercê para que eu lambesse os mamilos. O quadril largo que
acomodava seu traseiro avantajado colado ao meu, enquanto eu metia e metia
e metia. Entrando e saindo depressa em busca de alivio. Sua buceta
encharcada me engoliria todo. O rosto bonito iria se contorcer e eu morderia a
boca desenhada enquanto ela gozava e eu também, bem duro e gostoso
enquanto escapava em meus lábios o seu nome santo: Madalena.

Eu tinha gozado assim na noite anterior. E tinha sido tão intenso que
hoje de manhã no banho eu tinha feito de novo. E agora aqui, depois que ela
tinha me dado uma bronca e ficado visivelmente afetada quando eu tinha
falado sobre seu pijama eu me via obrigado a fazer de novo.

Virou um adolescente de merda? Questionei irritado encarando o


volume enorme do meu short.

Eu tinha que parar, simplesmente tinha que parar, mas o barulho e o


cheiro da sua comida me deixavam inquieto. Saber que ela estava ali,
cuidando de mim me agradava. E foi como um viciado foi que bati minha
terceira punheta pensando em Madalena. Puta que pariu, eu estava
desesperado. Parecia que ela tinha acordado um monstro.

Me sentindo um merda, levantei com a ajuda das muletas e fui para o


banheiro tomar banho. Quando voltei para o quarto ainda irritado por me
sentir tão afetado, fui até a varanda que ela tinha ainda pouco escancarado e
fechei a porta e novamente a cortina. Me enfiei embaixo dos cobertores e
logicamente me sentindo relaxado pelo orgasmo cai em cochilo.

Quando sua voz me despertou eu imaginei estar sonhando. Madalena


estava invadindo meus sonhos? Eu nunca sonhava coisas boas. Mas que
inferno!

— Enrico, seu remédio das onze. Ela anunciou e eu percebi que não tinha
seguido minha orientação que poderia beber sozinho. O que foi bom, pois
pelo sono eu perderia a hora.

Me sentei na cama e aceitei a água engolindo a drágea sem sequer a


olhar. A vergonha de olhá-la sabendo que pouco tempo atrás meu gozo
pulsava enquanto imaginava sua boca me chupando me deixava totalmente
desconcertado. Parecia já estar se acostumando com minha bipolaridade e
saiu do quarto sem dizer mais nada. Sem ter muito o que fazer voltei a me
deitar tentando voltar a dormir. E como uma sina, daquela vez sonhei de
verdade. Madalena estava definitivamente apetitosa na cozinha me servindo
minha sobremesa favorita, totalmente nua.

Quando abri os olhos me deparei com o que já não era novidade. Uma
ereção gingante entre as pernas e eu me recusei a me tocar. Cobri com o
lençol no mesmo momento que Madalena entrou com meu almoço que
cheirava e me fazia até salivar. Assim como no café, apareceu no quarto
carregando uma bandeja e me deixou informando que voltaria depois.

A comida estava tão deliciosa que eu literalmente quase lambi o prato.


Estava me sentindo satisfeito quando terminei o meu copo de suco de acerola
e ela apareceu na porta.

— E então? Perguntou receosa.

— Nossa, você tem um péssimo dom viu, Madalena. Brinquei e a vi abrir o


sorriso como se gostasse cada vez mais de nossa brincadeira interna.

Ela agarrou a bandeja e eu fui incapaz de segurar meus olhos para não
mirarem seu traseiro.

— O que tanto faz lá fora? Não está limpando o apartamento, não é?


Questionei levantando os olhos sabendo que ela se viraria.

— Só limpei algumas coisas. Ela confessou.

— Você não está sendo paga para isso, Madalena. Tenho uma diarista que
vem toda semana.

— Mas eu vou ficar atoa? Se remexeu sobre os pés.

— Melhor que no futuro me processar por trabalho escravo. Cruzo meus


braços e vejo seu rosto se chocar demonstrando que ela não tinha entendido
que tinha dito de brincadeira.

— Eu nunca faria isso!


— Eu sei, só estava brincando. — Corrijo imediatamente. — Só quis dizer
para não fazer o que não é paga, não é justo.

— Ué, então comece a me pagar. Falou pensativa.

— Ok.

— Ok, o que?

— Está contratada.

— Sério?

— Sim.

Madalena mordeu os lábios uns segundos antes de dizer: — Ok, então


agora você pode me demitir, mas só no serviço de empregada doméstica.

Sem conseguir me conter da felicidade que sentia em vê-la empolgada,


me encosto sobre a cabeceira fechando os olhos me segurando para não agir
errado. — Madalena... você é absurda.

— Desculpe.

— Eu gosto.

— Gosta? Ela soltou uma risada nervosa.

— Mais do que eu deveria até. Confesso e vejo seu sorriso congelar.

— Obrigada, eu acho...

A imagem do meu sonho dela cozinhando para mim, enquanto tudo


desandava enquanto voava farinha para todo lado aparece em minha mente
como um verdadeiro filme.

— Você sabe fazer bolo de brigadeiro?

— Por que? Está com vontade? Perguntou inocente.


Você nem imagina... — Muita!

— Acho que temos os ingredientes, posso fazer para comer mais tarde.

— Posso te ajudar? Ajudar, Enrico? Sério? A minha boca tinha ganhado vida
própria!

— Ajudar?

— Me sentar na cozinha. Reitero pensando no fato de que não conseguia


fritar sequer um ovo sem queimar.

— Enrico. — Madalena riu descontraída. — Já comentei que a casa é sua,


você se esquece?

— Você tem razão... eu realmente me esqueço. — Desabafo. — Moro aqui


há mais ou menos um ano e ainda não sinto aqui como minha casa, mas
também não sentia que o outro apê era.

— Talvez você não sinta porque não quer que seja. Murmurou e eu senti
como um murro. Ela tinha toda razão.

— Talvez. — Coço a cabeça tirando os fios que teimavam em cair na minha


testa. — E o bolo? — E você nua?

— Vamos, pelo jeito você quer ficar gordinho como eu. Riu sozinha já que
eu a encarei. Madalena não era magra, mas do jeito que falou demonstrou que
talvez não ser era um incômodo? Ela era definitivamente muito, digo... hiper
gostosa! Ela não enxergava isso?

— Você é linda assim, Madalena. Falo a fazendo mais uma vez ficar muda
enquanto suas bochechas eram tomadas por rubor.

— Precisa... precisa de ajuda para se levantar? Me pergunta desviando do


elogio, mesmo que eu visse em seu rosto em como estava afetada.

Segurando o sorriso falei: — Não, eu estou logo atrás de você,


Madalena. — Olhando em como você rebola quando anda.
Com minhas muletas firmei até a cozinha e me sentei em uma cadeira
da mesa enquanto a observava parecendo já familiarizada com a cozinha
enquanto colocava os ingredientes que precisaria sobre a bancada da pia.

Eu podia gostar daquilo?

Estava prestes a começar a mais uma vez a cutucar sobre o passado de


Madalena quando a campainha tocou fazendo com que ela largasse a farinha
e saísse rumo a porta. Bendita farinha que nos lambuzávamos em meu
sonho. Estranhei o porteiro não ter ligado no interfone, poucas
pessoas tinham livre acesso em minha casa.

Senti todo o sangue que teimava em concentrar em meus membros


inferiores subirem direto para minha cabeça quando vi Madalena de boca
aberta encarando o homem que estava olhando-a curioso de volta com aquele
sorriso de filho da puta que Jonas tinha.

— Oi. Ouvi ele dizer.

— Olá.

— Aqui é o apartamento do Enrico, não?

Cafajeste! Tentei me levantar, mas me senti até incapaz.

— Sim, veio visita-lo? Madalena deu bola.

— Vim sim, sou melhor amigo dele, você é quem?

Ah, seu filho da puta...

— Sou...

— Por que não avisou que vinha? Interrompi gritando alto bastante os
fazendo olhar para mim quando ficava de pé.

Ele riu de novo para Madalena antes de passar por ela vindo em minha
direção. — E desde quando eu preciso avisar que vou vir te visitar, seu pau
no cu?
Pau no cu você vai ter se rir assim para minha... cuidadora novamente!

— Claro que precisa, caralho, acho que tenho tempo disponível só para você?
Contesto.

— Quem é essa gata, ein? Se vira para olhar Madalena que nos observava
curiosa.

— Sou a cuidadora dele. Ela se adianta respondendo.

— Cuidadora? O canalha ergueu uma sobrancelha me olhando em


desconfiança.

— Minha mãe a contratou para me ajudar nesses meses que terei de ficar com
a perna engessada. Explico tentando parecer convincente, mas nem eu
acreditei.

— Ah é? Caralho em, vou quebrar a perna também, você tem um tempinho


quando acabar por aqui, Mada?

Mada é o cacete! Tire os olhos dela!

— Não sei ainda... — Ela sorri amistosamente e eu nem percebo o rugido que
sai da minha garganta.

— Posso te chamar de Mada?

— Pode sim, tudo bem.

— Tudo bem o cacete! — Explodo. — Cara, vamos ali no quarto?

— Ah, eu tô bem aqui.

— Agora! Resmungo e vejo seus olhos passarem de Madalena para mim, e


então me olha como se visse um fantasma.

— Ta bom, daqui a pouco eu volto, Mada. Ele concorda me seguindo para o


quarto.

— O nome dela é Madalena!


— Ok cara, foi mal. Ele levanta as mãos em rendição quando vamos rumo ao
corredor.

Eu me sento na cama no mesmo tempo que a gargalhada dele sai.

— Puta que pariu!

— O que?

— O que? Ta gostando dela? Ele aponta para porta se referindo a Madalena.

— Tá maluco? Eu só não quero que você coma minha cuidadora.

— Fala sério, Enrico?

— Jonas, fala sério você, a garota chegou ontem! Eu já tive várias


oportunidades de ficar com novas pessoas, eu não fico por uma escolha!

— Uma escolha burra.

— Burra?

— Cara já faz três anos...

— Escuta, eu não quero escutar a mesma conversinha, só quero que fique


claro que não quero você se engraçando com Madalena!

— Por que tecnicamente ela é só sua cuidadora.

— Só?

— Só!

— Entendi. Ele riu cocando a barba.

— Vá se foder!
— O que? Eu não disse nada.

— A sua cara diz tudo! Seja lá o que você está pensando está errado! —
Certo! — Eu não sinto nada por ela. — Já bati três punhetas desde que ela
chegou e pretendo bater mais... fora o sonho cheio de putaria.

— Ok, cara, eu entendi, não precisa se explicar... só achei que você estava
com ciúme, mas se não está...

— Não estou.

— Certo, mas vamos admitir... queria eu estar com a perna imobilizada para
ter uma enfermeira comigo.

— Jonas, só cale a porra da boca e comece a dizer a que veio! Falo


totalmente prestes a explodir de ódio.

— Ok, senhor delegado irritadinho, trago novidades do nosso caso... Ele ri de


novo antes de começar a falar.
7
Madalena Cereja
Passaram-se dez minutos desde que Enrico tinha carregado Jonas para o
quarto. Tinha voltado para a cozinha e tinha começado a fazer o bolo quando
escutei o barulho de um telefone que eu sabia ser o meu tocando.

Andei até o quarto e me sento na cama ao ver que quem me ligava era
dona Luísa.

— Oi dona Luísa.

— Madalena, está tudo bem aí meu anjo?

— Está sim.

— Mesmo? Enrico e você estão... bem?

— Acho que sim. — Ri. — Um amigo dele está aqui... Jonas.

— Ah, Jonas, ele é um ótimo menino. Enrico e ele são amigos desde o
colégio.

— Sim eles estão enfiados no quarto.

— Fofocando. Aqueles dois parecem velhas fofoqueiras, você precisa só ver


quando junta a peste loira junto.

— Peste loira?

— Sim, o outro amigo deles, eles ficam tricotando. — Ela gargalhou do outro
lado. — Mas então filha, eu estou te ligando para saber como está indo...
Enrico não te maltratou?

— Não na verdade parece que estamos nos entendendo aos poucos.

— É mesmo? — Quase gritou. — Que maravilha, eu sabia que era você!


— Eu?

— É! Escute Madalena, estou ligando para te pedir um favor.

— Pode pedir, dona Luísa.

— Como eu te disse passei o último mês cuidando de Enrico e quase não vim
até em casa, Luiggi e eu sempre fomos muito... — Ela riu de novo e quando
voltou tentou novamente explicar: — Ele sugeriu uns dias fora, então vamos
fazer uma pequena viagem de férias, vão ser quinze dias incialmente e saio
agora a noite, eu não vou nem conseguir ir até aí, mas continuaremos nos
falando por telefone, ok?

— Tudo bem, dona Luísa.

— Vamos marcar um jantar quando eu voltar, assim você conhece Luiggi, e


ele já te adora.

— Será um prazer. Sorrio sentindo a felicidade dela do outro lado.

— Então vamos nos falando, meu anjo. Cuide bem de Enrico, um beijo.

— Cuido sim, até a volta dona Luísa, beijo!

Depois de nos despedirmos eu voltei para a cozinha e me surpreendi a


encontrar Enrico sozinho sentado no sofá da sala.

— Oi. — Chamei e ele mirou em mim, percebi seus olhos irritados e engoli
seco. — Seu amigo já foi?

— Já.

— Estava no telefone com sala mãe, ela disse que vai fazer uma viagem com
seu pai por uns dias.

— É ela me enviou uma mensagem.

— Hum. Remexo as mãos inquieta sobre seu olhar e decido voltar para a
bancada para terminar o bolo. — Ela sugeriu fazer um jantar quando voltar
para que seu pai me conheça.
— Você gostou de Jonas? Sua voz saiu firme.

— Ué, sim... ele parece legal.

— Não foi isso que perguntei, Madalena. Quis dizer sobre atração.

Meu queixo cai. — Por que está perguntando isso?

— Você gostou dele então?

— Ele gostou...de mim?

— Madalena!

— O que? Foi você que começou com essas perguntas.

— Esquece! — Bufou passando os dedos entre os cabelos bagunçados. Se


esforçou sobre as muletas ficando de pé e me deu as costas começando a se
mover de volta para o corredor que levaria para o quarto.

Irritada com sua atitude decidi não ir atrás dele, me distrai fazendo o
bolo que ele havia pedido, com a ideia de que quando ficasse pronto talvez
ele estivesse mais calmo.

Perto das três da tarde que era o horário de seu remédio aproximei da
porta do seu quarto e ouvi barulhos altos de tiros, observei ele esparramado
sobre o lençol enquanto os sons vinham enorme TV ligada.

— Com licença, está no horário do comprimido da tarde. Falei entrando e ele


apenas assentiu continuando concentrado. Notei que segurava o que parecia
um pequeno controle entre os dedos.

— O que é isso? Perguntei entregando o remédio e depois que ele o colocou


na boca lhe dei o copo com água.

— Vídeo game.

— Hum... você gosta de dar tiros até em jogos então.

— Pois é.
— Legal. Falei curiosa encarando a tela que mostrava uma zona do que
parecia ser guerra.

— Quer tentar?

— Ah, não... eu nunca toquei numa coisa dessas.

— Se quiser eu posso te ensinar. Me olhou e eu percebi que o Enrico


amigável estava de volta.

— Verdade?

— Sim, senta aí.

— Não sei se é uma boa. Falei em dúvida.

— Anda, Madalena. Ele apontou para o lado vazio da sua cama e estendeu a
mão pegando outro controle e me entregou começando a me explicar o que
cada um fazia.

Dez minutos depois de uma aula rápida começamos a jogar e não


demorou muito para sua voz sair em um tom engraçado: — Assim não! Você
está correndo atrás de mim, somos aliados.

— Ah, somos? Falei encarando a TV e ele soltou uma gargalhada quando eu


apertei alguns botões que faziam dar tiros.

— Caralho! Você me matou! Eu não acredito Madalena, eu era da sua


equipe.

— Ah, mas não tinha ninguém para eu matar, queria matar alguém, me
desculpa. Falei como se explanasse um raciocínio lógico e ele gargalhou de
novo me deixando totalmente boquiaberta e encantada ao ver como ele era
bonito rindo.

— Matar o amigo já que não pode matar o inimigo? Isso não faz sentido
algum. Murmurou ainda entre risadas.

— Quer saber? Cansei desse jogo. — Joguei o controle sobre a cama. — Vou
buscar um pedaço de bolo para você.

— Já ficou pronto? Seus olhos brilharam.

— É claro, né. Eu já volto. Fiz menção de levantar e Enrico segurou meu


pulso me parando.

— Ele gostou de você.

— Quem? Falei desentendida.

— Jonas... eu perguntei se você tinha gostado dele, porque ele disse que
gostou de você... e eu fiquei bravo por isso.

— Por que? Perguntei me sentindo nervosa.

— Porque eu não quero que ele te queira!

— Bom isso não faz sentido.

— Claro que faz... — Ele se mexeu um pouco virando o tronco para ficar de
frente para mim. — Você não está sentindo isso também? Só eu que estou?

— Sentindo o que, Enrico? Jonas não quer nada comigo.

— Não estou falando dele. — Voltou a se virar jogando a cabeça contra a


cabeceira. — Você quer ficar com ele, é isso?

— Claro que não! Ele não quer ficar comigo, deixe de ser instável.

— Quer saber? Você é uma malcriada!

— Eu malcriada? Explodo numa risada irônica e me coloco de pé.

— É!

— Não sou nada, você que é um mimado! Acuso apontando um dedo em sua
direção me sentindo totalmente irritada.
Enrico puxou meu braço que apontava para ele me fazendo cair sentada
na cama de novo enquanto mantemos uma briga silenciosa pelo olhar.

— Você me desestabiliza... porra.

— Você já é desestabilizado. Respondo no mesmo tom.

— Cala a boca, Madalena. Ele lambe os lábios e eu acompanho tudo de perto,


soltando um suspiro.

— Está vendo só? Tento atacar de novo.

Mas Enrico não rebate. Apenas é o tempo de eu subir meus olhos para
os seus e depois voltar para seus lábios e ele me saqueia. Cobre a minha nuca
com sua mão enorme e me beija.

Inicialmente em choque eu me mantenho meio paralisada até sentir sua


língua forçar na minha boca para entrar e eu deixo, respondendo de volta com
a minha.

Totalmente afetada e perturbada sentindo seu beijo se aprofundando,


como se tomasse de mim tudo que precisava inclinei a cabeça ficando a sua
mercê sentindo o gosto bom, a carícia gostosa de nossas línguas se
encontrando e todo meu corpo amolecendo.

Nada ali poderia ser comparado ao que sentia com Vicente, porque tudo
parecia diferente. Um desejo voraz me consumia subindo como labaredas
incendiando meu corpo enquanto meu coração estava disparado, batendo tão
alto que parecia ser capaz de escutar.

Enrico me beijou com fome, como se precisasse daquilo, e eu


correspondi agarrando sua camiseta. Ele me amparou puxando para mais
perto, encostando seu peito sobre meus seios. O perfume gostoso que ele
usava parecia me deixar tonta enquanto as mãos ousaram descendo pelo meu
corpo apertando a cintura.

A mão esquerda desceu para as costas e me apoiou até que eu sentisse a


cama, se afastou um segundo apenas para vir para cima de mim e começar de
novo ainda mais intenso. Senti o gesso da sua perna imobilizada entre as
minhas enquanto a boa se firmava no colchão e eu era capaz de notar a ereção
enorme que roçava minha coxa.

Minha cabeça estava segurada por ele que com uma mão agarrava meu
cabelo enquanto nosso beijo tinha passado de apressado para um lento
gostoso variando entre mordidas e chupadas no meu lábio inferior.

A nossa respiração pesada mostrava toda a aura sensual que nos


rodeava, sentia o meio das minhas pernas molhado e definitivamente
dolorido. Levantei o quadril tentando alivio e soltei um gemido baixinho
quando ele mexeu a perna boa se encaixando todo entre as minhas e esfregou
uma vez. O ponto certo do seu membro sobre o meu me alucinou.

Não conseguia pensar direito, parte de mim sabia que era errado, mas a
outra parte era incapaz de me afastar pois queria muito aquilo. Queria que ele
me possuísse. E ele parecia querer o mesmo aumentando a velocidade em que
esfregava em mim.

Enrico largou meus lábios e desceu para o pescoço chupando e


depositando beijos em minha clavícula. Senti suas mãos cheias em cada um
dos meus seios quando o som estridente do seu celular rompeu o quarto.

Pensei que ele ignoraria quando afastou a cabeça e seus olhos que agora
estavam escuros como um lago sujo me fitaram. Mas então ele suspirou e se
afastou. Rolou para o lado e se sentou e uma carranca tomou seu rosto. Os
ombros pesaram e ele passou os dedos pelo cabelo atendendo a chamada.

— Denise, oi. — Sua voz saiu estranha e desconfortável. Me sentei na cama


observando ele limpar com os dedos os lábios vermelhos e me olhar de
soslaio com arrependimento. Droga! — Ah sim, estou melhorando, você
falou com minha mãe? Estou bem, ela contratou alguém para cuidar de mim.

Alguém para cuidar de mim. Isso que eu era. Uma cuidadora. E não
passaria disso.

— Claro que pode vir, será muito bem-vinda quando quiser... sim eu também
sinto falta dela sempre, acho que nunca vai passar... bom eu ligo para você
depois, fique bem, tchau.
Dela. Quem era Denise?

Quando Enrico desligou e me olhou desconfortável eu vi em seus olhos


o impasse. E quando falou foi realmente a primeira vez que me chateou de
verdade.

— Madalena, me desculpa, eu não sei o que me deu... me desculpa mesmo,


isso foi realmente um erro.

— Um erro... — Repeti suas palavras sentindo o quão doloroso aqui era.

— Sim, eu devo estar mesmo ficando louco de te agarrar assim eu não quero
causar desconforto algum para você, isso não vai voltar a acontecer.

— Tudo bem, entendi. Me levantei e ajeitei minhas roupas amarrotadas.

— Espero que me perdoe, não quero que fique um clima ruim... e que
esqueçamos que isso aconteceu.

— Não se preocupe. Vou esquecer.

— Madalena...

— Você tem razão. — Visto minha postura séria. — Foi um erro, nunca
aconteceu, e eu realmente preciso desse emprego, não vou te incomodar
mais. Respondi tentando parecer impassível saindo do quarto o mais rápido
que consegui segurando a vontade de chorar.

Só bem mais tarde quando eu teria de ir até seu quarto para lhe dar um
remédio foi que levei junto um pedaço do maldito bolo. Ele aceitou o
comprimido e depois agradeceu sem me olhar nos olhos o bolo.

— Eu volto mais tarde para recolher, me grite caso precise.

— Não vou precisar. Respondeu seco e eu senti de novo as lágrimas


voltarem, quem quer que fosse Denise ela tinha conseguido o levar de volta
para o Enrico que eu tinha conhecido quando cheguei aqui.

— Tá bom.
Sai do quarto triste e magoada, mas sabendo que se ele tinha me
afastado e pela pouca conversa no telefone mostrava que se referia a falecida
esposa, talvez ele ainda não tinha superado. E como eu tinha problemas bem
maiores não deveria ficar irritada, só iria fazer como já tinha dito. Iria
esquecer. Eu precisava daquele trabalho e remoer isso só me faria complicar
ainda mais minha vida.

Enrico não me chamou naquela tarde. Na verdade, ele não me chamou


mais. Nos dias que se seguiram todo o nosso diálogo e encontro resumia em
eu ir até seu quarto nos horários de remédios e refeições esperando que ele
me recebesse com alguma piada ou sequer pedisse que eu cozinhasse algo,
mas nada. Eu era recebida com secura, ele não me olhava mais nos olhos.
Tudo se limitava em “obrigados” vazios. Sempre distraído fosse com a TV ou
com o celular, e quando não estava ele fingia estar, por várias vezes agarrava
no segundo que eu entrava o caderno de couro ou um livro fingindo
concentração. As cortinas não tinham sido mais abertas, o quarto estava de
volta com luz acesas, ar condicionado forte e com ele visivelmente
detestando minha presença ali. E aquilo doía demais.

Numa tarde eu tinha entrado no momento em que ele abrira a porta do


banheiro, ainda enrolado na toalha ele me olhou assustado, o corpo meio
vermelho talvez pela água quente, os cabelos penteados com os dedos para
trás e ainda úmido. Eu tinha estacado na soleira da porta e ele desviou os
olhos dos meus rapidamente pedindo que eu voltasse depois e que ele podia
cuidar sozinhos de sua medicação daquele horário.

Eu tinha saído do quarto ainda me sentindo afetada, excitada por sua


visão maravilhosa e triste por seu desprezo. Não podia acreditar que tinha me
apaixonado por Enrico.

Quinze dias se passaram e dona Luísa tinha ligado avisando que


estenderia por mais quinze. Tentou especular se algo tinha acontecido e como
estava tudo, mas eu tinha decidido fingir que estava bem e não que minha
relação com Enrico ia de mal a pior. Jonas tinha vindo mais algumas vezes
visita-lo, e com ele no quarto tinha desenvolvido uma amizade legal comigo.
Ele sempre conversava comigo antes de se enfiar no quarto por que quando
saia de lá tempos depois era levado até a porta pessoalmente por Enrico.
Eu tinha aprendido a finalmente mexer no celular e agora trocava
mensagens com Aline. Dona Rosa já tinha voltado para Campo Grande, mas
sua filha tinha se tornado minha única amiga. Trocávamos mensagens
durante todo o dia regularmente, Aline era a única que sabia como eu estava
me sentindo em relação a Enrico. Gentilmente tinha até me oferecido um
emprego em sua confecção se eu quisesse sair dali, ou estendeu a proposta
para quando terminasse meu contrato.

Os dias corriam e São Paulo já não era mais a cidade cinza assustadora,
estava aos poucos aprendendo a andar pela região me arriscando quando
tinha algum tempo livre, o que ultimamente era sempre. Enrico parecia correr
da minha presença e por isso cada vez mais eu organizava meus horários para
ficar fora de casa.

Naquela manhã ele tinha saído para ir ao médico e tinha recusado a


minha companhia. Tinha ele mesmo pedido o táxi e descido com suas
muletas no elevador sem nem se despedir.

Cansada emocionalmente eu tinha aceitado o convite de Aline para


conhecer a sua confecção e tinha sido incrível. Tinha sido feita de modelo de
várias peças, e tinha me sentido verdadeiramente bonita. Aline tinha me
obrigado a trocar as roupas com que eu tinha ido para um dos muitos looks
que ela tinha montado para mim. Vesti a saia jeans e a camiseta preta me
sentindo maravilhosamente feliz. Devido ser mais longe do que eu pensava
eu voltei para casa cheia de roupas que tinha ganhado de presente e muito
atrasada para o seu almoço.

Subi no elevador orando para que ele não tivesse chegado, mas quando
escancarei a porta o encontrei no sofá, com suas roupas habituais de ficar em
casa, uma camiseta branca folgada e uma bermuda com desenhos estranhos.
O gesso da perna que antes era no começo da coxa tinha diminuído para
abaixo do joelho.

— Desculpe o atraso, eu... não demoro com seu almoço.

— Já almocei. Ele falou frio enquanto seus olhos subiam e desciam. Talvez
ele estava chocado por me ver em roupas que não fossem calças e moletom.
— Ah, sinto muito Enrico eu não sabia que o trânsito nesse horário era tão
intenso.

— Meus pais chegam hoje.

— Eu sei, sua mãe ligou pedindo que preparasse um jantar.

— Que bom, então a minha sogra vai vir no jantar também então faça comida
para mais.

Um tiro doeria menos em mim.

— Sua sogra? Questiono incapaz de disfarçar o meu desapontamento.

— Sim, a mãe da minha falecida esposa, ela também ficou viúva seis meses
depois de perder a filha, ela não lidou bem com isso, então desde já adianto
que talvez ela seja difícil.

— Entendi. — Afirmo balançando a cabeça. — Tem alguma preferência de


prato?

— Só não carne vermelha, Denise não come. Informou se levantando sem


mais tanta dificuldade e percebi que tinha diminuído as muletas agora para
somente uma.

— Correu tudo bem no médico?

— Sim, aparentemente vou tirar o gesso antes do esperado.

— Fico feliz. Falo sincera e passo por ele indo em direção a cozinha.

— Obrigado. — Responde em minhas costas. — Aonde você foi hoje?

— Sai com Aline.

— A filha da senhora que conheceu no ônibus?

— Ela mesma.

— Tem saído bastante com ela...


Enrico hoje estava conversador.

— Ela está me apresentando a cidade como prometeu. E eu não vi problema


nisso desde que tenho muito tempo livre já que você resolveu me ignorar.
Alfineto e o vejo engolir seco e ficar em silêncio por um bom tempo.

— Fiz o melhor para nós dois — Finalmente respondeu.

— Sei. — Dou um sorriso forçado. — Mas aproveitando a deixa queria ver


com você se posso sair hoje à noite.

— Sair hoje à noite? Ele repetiu minha pergunta como se tivesse o xingado.

— Sim, depois que fizer o jantar, ou quer que eu os sirva?

— Você quer sair para onde? São Paulo é perigosa, Madalena você não pode
sair por aí sozinha.

— Aline e o marido dela me convidaram uma balada sertaneja.

Enrico me olhou como se eu fosse doida. — Não.

— Precisa que eu fique para servir vocês?

— Você não é uma empregada, nós mesmos podemos nos servir, mas isso
não significa que você está autorizada para sair.

— Por que?

— Porque não! É perigoso. Sou delegado eu sei bem o que pode acontecer
com mulheres como você.

— Mulheres como eu?

— Indefesas.

A gargalhada foge da minha boca. — Enrico, pare de ser louco eu não


sou uma retardada, além do mais eu estarei com um casal.

— Por isso! Eles estarão ocupados demais e podem te deixar vulnerável


sozinha.

— Isso é bobagem.

— Não é não! Você não vai sair sozinha, quer ir para a balada? Vamos outro
dia, eu te levo.

— Você? Você mal sai de casa.

— Saio sim, você acha que não porque me conhece com essa merda de gesso,
eu vou voltar a minha rotina logo.

— Ok, mas eu quero ir hoje.

— Você não vai sozinha! Falou alto e eu fulminei meus olhos nos dele que
me encaravam de volta também furiosos.

Parecíamos dois touros bravos prestes a se enfrentar. Quem Enrico De


Giordano achava que era? Meu dono? Estava me tratando como um fantasma
durante um mês e agora queria mandar em mim? Foi nesse momento que
uma ideia brilhante surgiu na minha mente. Enrico ia ver que Madalena
Cereja, não era indefesa.
8
Enrico De Giordano
Eu pensei que eu tinha conhecido o inferno há três anos atrás quando
Patrícia tinha morrido com um filho meu no ventre. Viver no inferno tinha se
tornado fácil para mim, eu nunca tinha sido tentado, difícil estava agora que
um maldito anjo tinha invadido o local.

Madalena Cereja Ferrão tinha aparecido como se gritasse ser a salvação


para o pobre homem fodido que eu era. Eu não podia ser salvo.

Depois daquele maldito episódio que era do qual eu me alimentava nos


momentos de fraqueza que foi quando eu a beijei, tinha decidido ignorar
Madalena e trata-la como se não estivesse ali. Mas ela estava, em todo canto
daquele maldito apartamento.

Eu nunca tinha me masturbado tanto em minha vida, de madrugada ou


de manhã quando acordava tão duro que chegava a doer. Muitas vezes
sonhava com Madalena, como teria sido se aquele telefonema não tivesse
interrompido.

De olhos fechados eu me satisfazia sozinho, não podia tocar sua pele


que eu agora sabia ser macia, nem sequer podia sentir seu cheiro gostoso e
ouvir os suspiros carregados com tesão. Mas era isso que podia ter.

Jonas aparecia as vezes, trazia sempre um sorriso enorme no rosto


quando entrava no quarto, sorriso este que eu queria tirar no soco. Tinha me
garantido que não conversava sobre nada demais com Madalena, e eu sequer
podia questionar mais sobre, já que se o fizesse ele insistiria no fato de que eu
estava apaixonado. E também não podia perguntar para ela, pois além de a
estar ignorando ficaria na cara o meu ciúme.

Tinha criado a rotina para que Madalena pensasse que eu não prestava
mais atenção nela, sempre estava fazendo algo quando ela aparecia, e evitava
fielmente olhar dentro dos seus olhos negros que faziam me sentir perdido.
Mas o fato era que tinha me tornado um maldito voyeur a seguia a todo canto.

Mesmo com dificuldade pela perna eu ficava escondido no corredor a


observando cozinhar, ou pela fresta da porta do seu quarto a vendo assistir
desenhos animados. Ela estava fascinada por eles, passava horas a fio os
assistindo, e eu me pegava sorrindo ao perceber que ela tinha adquirido um
gosto especial por Pokémon.

Em uma tarde depois de dias a rejeitando, me sentindo mal de saudade


de ao menos ver o sorriso descontraído em seus lábios eu tinha me enfiado
embaixo do chuveiro, tinha ficado assustado ao perceber que ao mesmo
tempo que meu pau implorava para que eu o aliviasse pensando na boca
gostosa de Madalena me chupando, ou na boceta que mesmo não tendo tido a
chance de tocar tinha certeza que era perfeita eu chorei.

Chorei feito criança por tempo demais. E depois que terminei de me


lavar sai para o quarto totalmente abalado, dei de cara com ela ali, como se
Deus me dissesse: ela está aí, pegue-a seu babaca. Madalena ficou estacada
na porta me encarando como se estivesse encantada. E mais uma vez eu a
afastei pedindo que ela saísse. Pedi, pois, tudo que pude fazer naquele
momento foi voltar para o banheiro para finalmente bater a punheta que tinha
me negado bater enquanto chorava.

Os dias passaram vagarosamente, Madalena tinha entendido que eu não


queria muito contato e tinha começado a sair. Primeiro tinha ido até o
mercado sozinha e depois apenas avisava que sairia com a amiga Aline, filha
da mulher que a ajudara ainda quando vinha para São Paulo.

De certo modo eu quis ficar aliviado por ela estar seguindo sua vida,
mas na verdade eu odiava. Odiava a ver saindo e voltando alegre, odiava a
vendo mexendo no celular tão distraída que era incapaz de notar o quanto eu
estava chateado.

Mas essa era minha vida. Vivendo no inferno com um anjo do lado.

Um mês passou e eu tive o retorno no médico, diminuíram o gesso ao


perceber pela radiografia o quanto tinha evoluído. Estava voltando para casa
pensando em como minha melhora significava que Madalena logo estaria
dispensada quando minha mãe me ligou.

— Oi mãe.

— Filho, já saiu do médico?

— Já. Estou voltando para casa.

— Vem almoçar comigo e com seu pai.

— Mas já vamos nos ver a noite.

— Como se fosse o suficiente para eu ver essa sua carinha linda seu ingrato.

— Tudo bem, eu estou indo, chego logo, estou perto.

— Certo. Ela desligou e eu mudei a rota com o taxista.

Entre o almoço minha mãe tinha contado em como passar aqueles trinta
dias descansando na Grécia tinha sido incrível, já finalmente sabia que eu
estava sendo bem cuidado por Madalena.

Ela tinha elogiado tanto Madalena que eu queria ter me incomodado,


mas o pior foi que apenas fingi estar tudo bem, pois não podia dizer o
contrário, a garota era perfeita.

Na volta para casa eu tinha mais uma vez recebido uma ligação de
Denise, e fui incapaz de não a convidar para jantar quando ela pareceu ter
mais uma de suas incontáveis crises.

Chegar em casa e não encontrar Madalena tinha sido péssimo! Tentei


convencer a mim mesmo que em uns meses seria daquele jeito quando ela
fosse embora me deixando de novo sozinho na minha própria solidão, mas
pensar naquilo me deixava extremamente puto e melancólico.

Sentei no sofá e fiquei encarando o nada esperando que ela chegasse.


Quando abriu a porta trajando roupas que eu nunca a tinha visto usar eu quis
morrer. Madalena estava perfeita. Tive que desenrolar a conversa com ela
indiferentemente tentando disfarçar a vontade de apenas levantar sua saia
enquanto a fodia até amanhã. Vi seu desapontamento quando comuniquei que
minha sogra estaria no jantar. E vi o quão desprezível estava me tornando
quando eu fiquei feliz por isso. Me agarrava a qualquer resquício de que eu
ainda a afetava para não me sentir tão ridículo por pensar nela o tempo todo.

Tamanha surpresa ruim eu recebi quando ela pediu autorização para


sair. Nem por cima do meu cadáver que Madalena sairia para uma balada
sozinha. Gostosa daquele jeito demoraria zero segundos para alguém querer
tocar no que era meu. Tudo bem, não era meu. Eu não queria que fosse meu.
Ou melhor, não podia querer que fosse, mas eu queria. Queria muito.

Tinha ficado chateada, mas não discutiu, falou que iria para seu quarto
até a hora de começar a fazer o jantar e me deixou lá, totalmente curioso.
Andei atrás dela e tive que espiar o que fazia. Sorri me sentindo relaxado
quando vi a TV ligada em desenhos e ela esparramada na cama enquanto com
um sorriso arteiro digitava no telefone.

O que está aprontando, cerejinha?

Sem conseguir mais respostas andei para o meu quarto tomei alguns
remédios e deitei tentando relaxar a mente. Nem percebi que tinha pego no
sono até que o cheiro de peixe assado invadiu meu quarto e eu reparar que já
se passava das nove da noite. Tinha perdido todo o dia graças as drogas
relaxantes musculares.

Depois de me enfiar num jeans e numa camisa de botão eu manquei


com minha agora bota ortopédica deixando as muletas para trás até a cozinha.

— O cheiro está ótimo. — Elogiei e ela não respondeu, se limitou a mexer a


cabeça me olhar e fiquei feliz em ver que se agradava do que via. — Está
chateada?

Madalena ergueu as sobrancelhas e me olhou nos olhos antes de


novamente balançar a cabeça em negativa.

Foi ali que eu percebi que ser ignorado não era tão legal como ignorar.
Me senti irritado disparando: — O gato comeu sua língua?
— Não, só não estou afim de falar.

— Ah é? E por que? Cruzei os braços sobre o peito a observando cortar


alguns tomates.

— Porque quando falamos sempre terminamos discutindo.

Franzi a testa enquanto me aproximava do balcão para a olhar de perto.


Estava bonita, tinha o cabelo amarrado firme no topo da cabeça, o moletom
que ela costumava usar tinha voltado assim como suas calças.

— Parece que o último mês também não foi fácil para você. — Sondei.

Madalena lambeu o lábio inferior incapaz de saber o que aquilo


causava em mim e soltou petulante: — Foi péssimo no começo, mas agora
está tudo bem, superei.

Superou? Me superou? Maldição!

— Superou mesmo? Tentei parecer irônico, mas eu tinha certeza que tinha
saído mais era desesperado. Encarávamos um ao outro como se cada um
medisse a força da dor que causava no outro. A campainha tocou e eu fui
deixado sozinho. Era pedir muito que aquelas merdas de interrupções
parassem de acontecer? Que merda!

Minha mãe apareceu seguida por meu pai que tinha o olhar curioso
sobre a mulher que minha mãe tinha passado todo o almoço elogiando.

Depois de apresentados, Madalena sorria e desenvolvia uma conversa


fascinante com ambos, coisa que comigo parecia incapaz.

— E então o jantar já está pronto?

— Denise deve estar chegando. Falei recebendo os olhares reprovados dos


meus pais.

— Não acredito que ela vem.

— Mãe, por favor, eu tive que convidá-la ela me ligou umas sete vezes no
último mês e parecia bastante mal hoje.

— O problema é esse! Ela sempre está mal, e parece que sempre quer te ver
mal também.

Puxa vida. Pior que era verdade.

— Mãe, não.

— O que? Eu sei que sente pena dela filho, mas aquela mulher parece que só
quer te ver mal, todos nós já reparamos isso. — Se queixou chateada.

— Eu sei mãe, só não posso me negar a recebe-la por oito vezes.

— Mas...

— Querida, é só um jantar. — Meu pai a interrompeu.

— Tá bom. — Ela olhou para Madalena que observava tudo calada. — Eu só


queria que fosse um jantar nosso, para que você e Madalena se conhecessem.

— Não nos faltara oportunidade não é, Madalena? Meu pai a questionou lhe
direcionando um sorriso amistoso.

— Claro, senhor. Respondeu enquanto a campainha voltava a tocar.

Madalena passou por nós e abriu a porta. Minha mãe tinha razão sobre
Denise. Só por vê-la na porta parecia que o ar tinha pesado. Os cabelos
pintados de loiros claríssimos estavam impecáveis e o rosto plastificado se
contorceu numa careta ao observar a menina a sua frente, o que
automaticamente acendeu um pavio em minha mente.

— Você é quem? Desdenhou com arrogância.

— Sou Madalena. Ela respondeu educada.

— Ah, a empregada agora se apresenta com nome? — Deu uma risada


amarga enquanto sem esperar ser convidada passou para dentro. — Luísa
sempre dando liberdade a criadagem.
— Madalena é nossa amiga, e não é a empregada é a cuidadora de Enrico.
Minha mãe se adiantou antes que eu mesmo respondesse.

— Cuidadora? — Ela me olhou pela primeira vez desde que chegara. — Está
colocando mulher dentro de casa agora? Rugiu e percebi o olhar
envergonhado de Madalena por ser atacada.

— Denise, por favor não trate Madalena mal! Suspirei irritado.

— Desculpe. Como você está, meu querido? Andou até mim e alisou minha
barba antes de envolver num abraço que não era bem-vindo.

— Vou bem. Concordei dando um passo para atrás afim de que ela me
soltasse.

— Dona Luísa, o jantar pode ser servido, tá?

— Você não vai nos servir? A mãe de Patrícia voltou a debochar.

— Não, porque eu já disse que ela não é minha empregada, e temos mãos
para nos servir. A repreendi me sentindo totalmente sem paciência e muito
arrependido por tê-la convidado.

— Exatamente, ela inclusive jantara conosco. Meu pai emendou.

— Ah, obrigada pelo convite. — Ela corou. — Mas não vou poder, senhor...
eu até tinha comentado com Enrico e pedido permissão para sair hoje à noite.

Meu queixo se fechou assim como minhas mãos em punho enquanto


todos ali me olhavam e a fúria me atingia em cheio.

Mas que merda é essa, Madalena?

A maldita olhava sem nenhuma pontada de medo. — Eu disse que seria


perigoso sair sozinha, Madalena. — Falei entredentes.

— Fica tranquilo, não irei sozinha. Vou me arrumar, bom jantar. Ela cuspiu
as palavras e escapuliu as pressas me deixando ali pronto para explodir. De
hoje o meu infarto não passava.
Nem sabia explicar o que estava sentindo, e nem o ódio que senti
aumentando quando reparei que minha mãe sorria?

— Ah, então vamos jantar. — Ela falou indo para a mesa. — Uma pena
Madalena ter um encontro.

— Ela não tem um encontro! Respondi me sentindo sufocado.

Ela tinha um encontro?

— Como você sabe?

— Ela vai sair com uma amiga. Falei tentando convencer a mim mesmo.

— Quem se importa com quem e onde a criada vai?

— Ela não é uma criada! Cortei Denise novamente a fuzilando com o olhar.

— Você como sempre cativante, Denise. Minha mãe falou irônica


começando a servir o prato do meu pai que se mantinha neutro e eu me
segurava para não fazer o caminho até o quarto de Madalena e começar uma
discussão por estar morrendo de ciúmes.

A noite prometia.
9
Madalena Cereja
Depois que escapei a tempo de um novo surto de Enrico para o quarto
eu verifico o celular vendo que Aline já tinha enviado uma mensagem
comunicando que estava prestes a sair de casa.

Correndo pelo quarto eu comecei a me arrumar agradecendo por ter


tomado banho enquanto o peixe assava, meu acompanhante deveria chegar a
qualquer minuto.

Vesti um dos conjuntos que Aline tinha me presenteado naquele dia. A


saia envolvia meu corpo até a metade das coxas com a estampa bonita preta e
amarelo mostarda. A blusa era uma espécie de top de ombro único que
deixavam meus seios maiores do que eram. Os sapatos que Aline tinha me
feito comprar com o meu primeiro salário eram altos demais, eu tinha
passado uma semana treinando me equilibrar em cima deles e ainda sentia
que poderia cair a qualquer segundo.

A casa estava tão silenciosa que nem parecia que acontecia um jantar
ali. Duas batidas na porta me fizeram ficar e m alerta até que dona Luísa
entrou saltitando fechando a porta.

— Meu Deus, você está linda! Enrico vai morrer, eu tô falando sério.

— Não sei do que a senhora está falando, dona Luísa. Andei até o espelho
gostando do que via e cobri meus lábios com um batom vermelho sangue.

— Ah Madalena... — Ela coloca as mãos na cintura. — Até um cego


consegue ver a tensão sexual que está rondando vocês dois. O bichinho está
lá fora sem nem tocar na comida, está bufando a cada dois minutos lá na
mesa de jantar.

— Está? Me virei para encará-la enquanto prendia meu cabelo com alguns
grampos para que caíssem sobre o ombro que o top não tinha alça.
— Está! — Ela dá alguns pulos engraçados. — Me diga, quem é vem te
buscar?

— Jonas virá.

— Não brinca! — Dona Luísa leva a mão até a boca me choque e depois joga
a cabeça para trás rindo. — Garota, e eu pensando que teria que te ajudar,
mas eu sabia que esses trinta dias iam ajudar muito, você não é boba!

— Dona Luísa... Enrico não gosta de mim.

— Gosta sim! Você gosta dele também, não é?

— Eu gosto, mas ele não gosta. — Me encolho me lembrando do beijo e de


toda rejeição que veio depois. — Nós dois nos beijamos, e então ele se
afastou, me rejeitou e me trata como se me odiasse.

— Madalena. — Ela segura minhas mãos. — Ele se culpa pela morte da


esposa... ele não entende que foi uma fatalidade, se prendeu a essa culpa e a
essa ideia de fidelidade. E aquela bruxa loira lá na sala se aproveita dele
pensar assim para mantê-lo preso.

— Bom, eu sinto muito por isso, mas ao contrário da filha daquela senhora,
eu estou bem viva, e já passei por coisas difíceis demais, não posso ficar
sofrendo por Enrico se ele não me quer.

— Você está certa, meu bem. — Me abraçou apertado. — Eu concordo e


estou do seu lado... se for para ser, vai ser! Só de ver que Enrico está
percebendo que é capaz de se apaixonar de novo, que não está morto como
Patrícia... só isso já me alivia tanto. Vem sendo anos difíceis, mas agora ele
está vendo que gosta de você.

— Eu não sei se concordo. Ofereço um sorriso nervoso.

— Eu tenho que voltar, menti que vinha no banheiro. Ele estava inquieto para
vir até você, mas não arranjou uma desculpa antes da minha. — Piscou de um
olho só. — Vá logo para sala, não quero perder a cara dele quando te ver
gostosa assim!
— Estou gostosa? Dou uma risada sentindo graça.

— Muito! Falou indo em direção a porta.

Poucos minutos depois de dona Luísa deixar o quarto eu dei uma última
olhada no espelho, agarrei a bolsa colocando o celular e a carteira dentro e sai
para me despedir dos que estavam lá, iria esperar Jonas lá embaixo.

Mas assim que apareci eu fiquei estática encarando a cena bizarra que
acontecia. Dona Luísa estava comendo, mas tinha os olhos ligados e sorria.
Luiggi tinha um braço amparado sobre a esposa e também tentava disfarçar
um sorriso. A velha megera parecia irritada encarando Enrico de pé
apontando um dedo sobre o peito de Jonas que se mantinha parado com as
mãos nos bolsos do jeans escutando todos os xingamentos que o amigo lhe
deferia.

— Você é um filho da puta! Eu avisei para ficar longe dela.

— Enrico, ela me convidou o que tem de mal em saímos juntos?

— Tudo, porra!

— Gente? Andei até os dois mesmo sentindo meu coração começando a bater
mais rápido. O rosto de Enrico se virou para mim e os olhos subiram e
desceram por meu corpo antes voltar a para o amigo.

— Mas vocês não saem juntos, nem por cima do meu cadáver!

— Ah qual é cara, somos amigos. Jonas sorriu na minha direção e eu retribui.

— Enrico, você disse que seria perigoso eu ir sozinha só com um casal, por
isso eu perguntei se Jonas podia ir comigo, ele foi muito legal em aceitar.

— Desde quando vem conversando com ele por minhas costas, Madalena?

— Não foi nas suas costas, Jonas e eu conversamos e trocamos telefone


desde quando ele te visitou pela segunda vez, somos amigos.

Enrico virou o rosto para Jonas numa velocidade absurda e questionou:


— Desde a segunda visita? Eu te levei até a porta todas as vezes.

— Bom, eu conversava com Madalena antes de ir te ver.

O descarado riu na cara do perigo e mesmo com a bota ortopédica


Enrico assumiu uma posição de briga quando balançou a cabeça indignado:
— Vou quebrar essa tua cara, seu talarico do caralho!

Antes que ele tocasse em Jonas eu interferi entrando na frente. —


Enrico, para! Eu o convidei.

— Volta agora para o quarto, você não vai!

— Quem vai me impedir? Você? Ergui o queixo tentando ficar ao menos


mais altiva já que ele bons centímetros mais altos do que eu.

— Enrico, eu não estou acreditando que se envolveu com essa criada! A voz
chiada de Denise interferiu e vi Enrico se virar para onde ela estava soltando
fogo pelas ventas.

— Cale a porra da boca, Denise! Só cale a merda dessa sua boca! — Gritou
tão alto que me assustei. Eu nunca tinha escutado seu tom de voz tão grosso.
— Pare de tentar maltratar Madalena a chamando de criada, nunca mais tente
falar mal dela, estamos entendidos?

Denise afastou sua cadeira com os olhos arregalados enquanto eu me


mantinha chocada e as outras três pessoas encaravam Enrico como se
estivessem orgulhosos.

— Enrico eu não acredito que você está me maltratando assim... eu sou a mãe
da sua esposa.

— Patrícia está morta, Denise! Morta! Ela morreu e não vai voltar assim
como o filho que eu nunca conheci, assim como o seu marido! Estão mortos!
Chega de tentar viver como se a qualquer momento eles fossem entrar por
aquela porta... eles não vão, caralho! Enrico gritou tão alto que eu só não
afirmava que o apartamento de cima tinha ouvido por estarmos na cobertura.

Ficamos todos mudos. Enrico ainda mantinha os punhos fechados e a


respiração alterada. Meu coração parecia bater na boca quando após o surto
ele pousou os olhos sobre os meus e eu reconheci o alivio que tinha visto em
todos momentos que ele tinha sorrido comigo, e também na tarde em que nos
beijamos.

— Bom, foi mesmo uma bela noite, sai de casa para ser maltratada! Denise
tentou de novo.

— Eu não estou te maltratando, Denise... você ainda não me viu maltratar


alguém. — Falou obscuro. — Eu só estou pedindo que se quer continuar
sendo bem-vinda por aqui, pare de implicar com Madalena. Ela é uma pessoa
maravilhosa e não merece nosso amargor, não tem culpa da nossa vida de
merda!

A mulher agarrou a bolsa sobre a outra cadeira e balançou os cabelos


loiros em um tom petulante. — Vou embora, sei que você vai se arrepender e
se desculpar, estarei esperando.

— Não vou me arrepender. Ele rebateu e ela passou os olhos por todos que
estavam ali, se demorando mais em mim antes de andar até a porta deixando
apenas que o barulho do seu salto soasse.

Eu quis conseguir falar algo quando mais uma vez Enrico se virou para
me olhar e agora ele parecia cansado.

— Jonas, vai embora cara... a gente conversa depois, só fique ciente que se
for para sair com Madalena, eu provavelmente estarei junto.

— Eu vou. — O homem atrás de mim falou num tom feliz e passou por mim
tomando o amigo num abraço apertado com direito a alguns murros nas
costas. — É muito bom ter você de volta, seu filho da puta!

— Filho do quê Jonas? A voz de Luísa argumentou quando ouvi a gargalhada


do marido.

— Foi mal aí, tia Luísa, fiquei emocionado. — Ele afastou de Enrico que
ainda mantinha os olhos sobre mim que agora só conseguia me sentir
envergonhada e veio até mim me abraçando também. — Obrigado,
Madalena, foram três anos fodidos.

— Cala boca, larga ela!

— De boa, cara... eu hein, ciumento pra caralho. Jonas riu me soltando e eu


me mantive ali inquieta sem saber o que fazer.

— Nós também vamos indo. Luiggi se levantou.

— Eu tô bem aqui. Dona Luísa se manteve sentada encarando a mim e a


Enrico.

— Amor. Luiggi a pegou pelo braço.

— Que droga, Lulu... eu queria pegar o começo da declaração!

— Que declaração, mãe? Enrico falou parecendo nervoso. Ótimo, eu também


estava prestes a ter uma sincope nervosa.

— A sua, amorzinho da mãe. Ela sorriu e Enrico fez uma careta.

— Me deixem sozinho com Madalena, por favor. Pediu e eu abri a boca


puxando o ar tentando me acalmar. Mas tudo piorou, fiquei tonta e tive que
me sentar no braço do sofá para tentar recuperar as pernas tremendo.

Assim que as três pessoas saíram sem sequer se despedir ne nós e


ouvimos o barulho da porta Enrico cruzou os braços sobre o peito e jogou a
cabeça para trás puxando e soltando o ar antes de voltar a me olhar.

— Agora é só você e eu, cereja.

— Enrico... — Engulo em seco. — Eu sinto muito.

— Você me desafiou essa noite, Madalena. — Andou até parar na minha


frente e soltou os braços vindo com uma mão até meu rosto puxando meu
queixo para cima. — O preço não vai ser nada barato.

— Eu não quis chatear você. Tento me explicar.

Com as mãos sobre minha cintura me ajuda a ficar de pé, bem pertos
um do outro. — É claro que quis. Ele passou a língua sobre os lábios.

— Não, eu juro... eu só queria mesmo sair... e não conheço muitas pessoas, e


Jonas era legal comigo...

— Era legal com você? Você quer ficar com ele Madalena? Vocês beijaram?

— Enrico! Não! — Falei irritada. — Pare de me ofender! Eu ter beijado você


não significa que saio por aí beijando todo mundo. No impulso o empurro me
sentindo chateada e começo a caminhar para o quarto, mas ele segura meu
braço.

— Desculpa, eu não quis ofender... eu só estou puto com tudo.

— Você nunca quer me ofender, mas sempre ofende! Eu não te devo


explicações, sou apenas sua cuidadora.

— Perdão. — Ele me puxa para perto de novo. — Você é mais que isso,
Madalena. Você não percebe o quanto eu estou morrendo de ciúmes? Toda a
cena que eu acabei de fazer não foi suficiente?

— Você está mesmo com ciúmes de mim?

— O que? Não pareceu? Você quer que eu faça mais o que? Quase quebrei o
nariz do meu melhor amigo por sua causa, sua maldita. Fala levantando a
mão direita até meu rosto e se curva me beijando.

Respondo seu toque cruzando meus braços sobre seu pescoço quando
senti a mão esquerda apertar meu seio no mesmo momento que gemia em
minha boca.

— Não faz isso... — Murmuro tentando manter a sanidade que parecia


evaporar. — Não quero que me ignore de novo.

— Eu não vou fazer isso... não posso mais te evitar, eu bem que tentei no
último mês e acredite você ou não, a sensação conseguiu ser bem pior do que
tudo que passei nos últimos anos. — Confessou me olhando intrigado antes
de morder meu lábio inferior e iniciar um novo beijo.
As mãos de Enrico foram até a barra da minha saia a empurrando para
cima me apalpando com as mãos enormes. Amoleci em seus braços e arfei no
seu beijo me equilibrando.

— Quarto. Ele suspirou se afastando um pouco.

— Tem certeza? Perguntei receosa e ele riu.

— Absoluta, e você?

— Também. Concordei e ele entrelaçou nossas mãos enquanto andamos até


sua suíte.

Somente o abajur aceso iluminava o quarto. Me afastei do seu beijo e


andei sorrindo até suas cortinas e a escancarei recebendo a luz da lua. Voltei
o olhando com desejo e ele não perdeu tempo terminando de levar minha saia
para a embolar na cintura. Baixou a mão e acariciou minha vulva ainda por
cima da calcinha.

— Está tão molhada, ein baby.

Beijou meu pescoço e eu o ajudei levantando os braços quando


arrancou meu top. Seus olhos aprovaram quando bateram sobre meus seios
descobrindo que eu não usava um sutiã.

— Que delicia de peitos. Sussurrou se abaixando e depositando um beijo


seguido de uma lambida em cada um dos meus mamilos.

— Ai... Enrico. Gemi baixinho excitada sentindo que ele tomava um bico na
boca enquanto começava se despir.

Me sentia febril, sem querer perder mais tempo eu deixei ele


desabotoando a camisa e fui ajuda-lo com o cinto e depois com o jeans. Senti
nas mãos seu membro marcando a cueca.

— Está com pressa, cereja?

— Muita!
— Então depois fazemos lento. — Riu diabólico e me botou deitada
atravessada no seu colchão enquanto só abaixou a cueca o bastante para seu
membro saltar livre.

Minha boca formigou com vontade de senti-lo na boca por mais que
nunca tivesse tentando aquilo muitas vezes com Vicente. Ele se ajoelhou
entre minhas pernas segurando-se pela base me deixando enxergar toda sua
glória, grande, as veias marcando, os testículos depilados e pesados, era
grosso e a ponta rosa brilhava lubrificada.

Eu pensei em agarrá-lo, chupar, falar, mas tudo caiu por terra quando
sem demoras ele apenas puxou o tecido da minha calcinha para o lado e
entrou até o fundo me fazendo rugir com a leve dorzinha que me acometeu
por seu tamanho e circunferência.

Joguei a cabeça para trás sentindo seus olhos sobre meu rosto. Era
delicioso, parecia me encher e me fazer completa, muito macio e muito
apertado enquanto ele começou a se arremeter e voltar a entrar. Aquilo era
delirante.

Incapaz de manter meus olhos firmados nos seus dois lagos verdes, eu
revirei os meus e cheguei a fechá-los quando ele saiu todo de bateu sua
glande sobre meu clitóris algumas vezes antes de voltar a entrar.

O gemido alto saía de nossas bocas, como dois animais. Meu barulho
parecia agradar, pois quando eu xinguei entredentes, ele fez de novo, e de
novo, entrando com força para que eu sentisse suas bolas batendo em mim e
depois saindo um pouco para voltar a fazer.

Enrico analisava meu rosto milimetricamente enquanto sorria devasso


também soltando pequenos barulhos roucos.

— Gostosa. Que gostosa, cerejinha. Eu sabia que ia ser. Falou antes de me


beijar engolindo meus murmúrios.

Percorri minhas mãos por suas costas, mapeando suas costelas e a


cintura, arrastei as unhas por suas ancas e apertei seu bumbum meio coberto
pela cueca. Enrico se mexeu deixando a perna engessada descansando no
colchão e firmou minha perna para cima pousando-a em seu ombro enquanto
a sua perna boa firmava no chão e levantava a minha outra para enrolar em
sua cintura. Meteu tão bruto que eu senti meu orgasmo dando as caras.

Gritei fora de mim levando as mãos em seus ombros fincando minhas


unhas lá. Parecendo gostar daquilo ele repetiu o movimento antes de soltar:
— Estou perto, caralho!

— Eu também. Aviso sentindo a dormência que começava na ponta dos


dedos dos pés subirem para se espalhar por todo o corpo. Enrico levou uma
mão entre nós e me acariciou no mesmo momento que entrava até o fundo e
rebolava lá dentro. Urramos juntos e eu me movi contra suas investidas,
incapaz de me manter calada. Se antes já estava gostoso, sentir dois de seus
dedos rodeando meu ponto de prazer me fazia tremer dos pés à cabeça.

— Ai... Enrico... Meu Deus... — Choraminguei.

— Goza, cerejinha... goza pra mim porra. Ele ordena com a voz rasgada
determinando meu fim. Alucinada eu sinto meu corpo flutuar fora de órbita
enquanto agarrada em seus braços fortes de veias saltadas eu me deliciava
com toda aquela sensação. O peito vermelho pelas minhas unhas e o rosto
contorcido de prazer sobre mim só me levou ainda mais alto.

— Gostoso! Gritei sentindo o orgasmo me tomando e me deixando num gozo


infinito.

— Isso, Madá... goza no meu pau, porra!

Sem conseguir manter os olhos muito abertos me sentindo latejando lá


embaixo, o senti dar mais duas investidas antes de sair e cobrir a ereção com
uma mão e mirando sob meu sexo e barriga ele gozou soltando xingamentos
baixinhos junto com seus rosnados.

Enrico caiu ao meu lado respirando alto. — Puta merda, isso foi...

— Incrível. — Completo sincera e apaixonada.

— Foi. Foi perfeito. Ele acaricia minha bochecha e deposita um beijo antes
de voltar a se deitar e fechar os olhos. Um leve medo me toma a pensar o que
viria quando ele recuperasse o folego ali do meu lado.

Enrico se mexeu e se firmou sobre o braço para me olhar.

— Desculpe a bagunça...não usamos camisinha então... — Aponta para meu


ventre lambuzado com seu esperma viscoso.

— Tudo bem, que bom que você se lembrou, eu nem pensei nisso.

— Eu estou limpo também, não precisa se preocupar, ok?

— Eu confio em você. Também estou, mas posso fazer exames se você


preferir.

— Eu também confio em você. Respondeu rápido e se levantou da cama


mancando até o banheiro e voltando com uma toalha em mãos. Gentilmente
me limpou e jogou a toalha no chão voltando a se acomodar na cama me
olhando nos olhos.

O silêncio que nos tomou começava a ficar desconfortável quando ele


disse: — Eu não transava com alguém há dois anos.

— Dois anos? Viro minha cabeça o encarando perplexa. Enrico era bonito,
bem-sucedido, legal e depois de hoje sem dúvidas eu nunca duvidaria de sua
virilidade.

— Desde que Patrícia se foi eu nunca consegui sentir interesse em alguém...


não até conhecer você.

Enrico fala aparentemente sincero e voltamos a ficar em silêncio dessa


vez mais pesado que antes.

— Acho que vou para o meu quarto.

— Fazer o que?

— Dormir?

— Foi tão ruim assim que já está fugindo, Madalena?


— Não foi ruim... muito pelo contrário Enrico. — O olho tomada de receio.
— Só não quero te deixar desconfortável caso queira que eu não fique...

— Acabamos de transar, Madá. — Enrico me puxa para perto aconchegando


nossos corpos. — E nem foi do jeito que eu quero, isso foi só a entrada para
tudo que eu pretendo fazer com você.

— A entrada? Meus olhos arregalam.

— Você ainda vai ser castigada por ter me feito ciúmes com meu melhor
amigo... você sabe, isso foi golpe baixo.

— Eu já disse que não foi minha intenção te causar ciúmes.

Seus olhos estavam nos meus quando puxou meu lábio inferior com os
dentes sugando lentamente. — Você acha que engana quem? Já sabia que eu
estava puto em todo esse tempo tentando te ignorar, se aproveitou que Jonas
é um puto e resolveu convidá-lo, você acha mesmo que iria sair com ele?
Nem que eu precisasse dar um tiro naquele ordinário.

— Ele não me desrespeitou, Enrico, somos só amigos.

— Mas ele já sabia que eu estava gostando de você.

— Ele sabia? Você está gostando de mim?

— Você ainda tem dúvida, Madalena? — Sua mão alisa minha bochecha. —
Eu sabia que você era diferente desde quando chegou aqui, quando começou
a me desafiar eu percebi que estava gostando, quanto te beijei naquela noite
eu já estava apaixonado e obcecado por você, cerejinha.

Enrico estava apaixonado? Por mim? Isso era sério? Eu iria acordar a
qualquer momento?

— E Jonas sabia? Meu coração voltou a bater forte.

— A primeira vez que ele veio me visitar, o avisei para não tocar em você,
ele começou a entender o que eu sentia quando tentou insinuar que te
chamaria para sair, fiquei louco de ciúmes, mas ainda me recusava a aceitar...
E o filho da puta te passa o número dele?

Solto uma risada alta escondendo o rosto no seu pescoço, exalando o


cheiro gostoso do seu perfume amadeirado.

— Apesar de achar que ele só estava brincando, você já o ameaçou o bastante


lá fora, até eu fiquei com medo.

— Tomara que ele também tenha ficado. A voz de Enrico saiu grave com
uma pontinha do que eu agora podia diagnosticar como ciúme.

— Obrigada também por me defender das palavras de Denise, foi muito


importante para mim.

— É inadmissível o que aconteceu. — Ele rouba um beijo rápido. — É


importante que você saiba que eu nunca vou admitir que ninguém te maltrate
Madalena... nunca! Nem se existindo um motivo, imagine não existindo.

— Obrigada. Volto a agradecer sentindo meu peito inflar por sua declaração.

— Sinto muito pelas palavras dela.

— Eu já estou acostumada. Dou de ombros me lembrando quantas


humilhações já passei na vida.

— Não significa que não se chateie com as palavras, principalmente quando


não merece ouvi-las.

— É.

— Consigo ouvir seu coração, cereja. — Enrico sorriu e beijou o meio entre
meus seios. — Está nervosa?

— Você está mesmo apaixonado por mim, Enrico? Perguntei gaguejando.

— Estou, Madalena. — Respondeu concreto, me olhando nos olhos. Os


lábios bem perto dos meus. — E você, está apaixonada por mim?

— Definitivamente. Concordo sentindo meu peito prestes a explodir.


— Que bom, pensei que teria um pouco de trabalho para te conquistar depois
do nosso último mês. Piscou sorrindo lindamente me tirando o fôlego por sua
aparência perfeita.

— Quem disse que não terá?

— Você não me desafie, cerejinha. — Enrico riu se colocando de joelhos. —


Vem, vamos tirar o resto dessas roupas, quero você nua para te comer de
novo. Começou tirando a calcinha que ele havia apenas afastado para o lado,
depois foi a vez da minha saia.

Fiquei deitada nua me sentindo exposta enquanto Enrico me olhava


com paixão, sorrindo como se eu fosse a mulher mais linda do mundo. Me
senti adorada quando ele lambeu os lábios murmurando: — Você é perfeita.

Se pôs de pé e xingou baixinho quando a bermuda se enroscou na perna


engessada. Deitada o esperando, admirei seu corpo bronzeado no qual a pele
parecia ter sido mergulhada em mel, os olhos muito verdes com os cílios
longos e espessos eram emoldurados com as sobrancelhas grossas e escuras,
o cabelo desarrumado caindo sobre a testa, o queixo levemente coberto com a
sombra de barba, os ombros largos, o peito forte agora trazia marcas de
minhas unhas, o abdômen definido sem extremos levava ao V sexy que
davam ao pau que chegava a dar água na boca de tão bonito. Enorme
grosso e cheio de veias, já estava novamente ereto, as coxas grossas e
levemente peludas.

— Eu só não reclamo mais por esta merda, pelo fato de sem ter a machucado
eu nunca a teria conhecido. — Falou chamando minha atenção para seu rosto
e voltando a se deitar ao meu lado me beijando. — Não tenho camisinha
aqui, podemos comprar, mas eu prefiro que você procure um médico e tome
remédio, você se importa?

— Já estamos discutindo isso?

— Já que eu pretendo transar com você todos os dias, sim já estamos.

— Amanhã. Concordo com a cabeça.


— Te quero tanto. — Enrico morde meu pescoço. — Fala o que sente por
mim, Madalena, com todas as letras...

— Estou apaixonada por você, Enrico. Confesso e ele me beija com ardor,
fica por cima de mim abrindo minhas pernas. Beija minha boca, meu
pescoço, meus seios enquanto suas mãos exploravam cada parte de mim.
Dessa vez o sexo foi bem mais lento, cheio de paixão, entregues e leves,
transamos lentamente num papai e mamãe que de tedioso não tinha nada. Me
sentia prestes a gozar quando Enrico nos rolou me deixando por cima.

—Vamos ver se sabe cavalgar... — Ordenou dando um tapa estalado no meu


traseiro e eu me assustei o olhando estupefata o sentindo todo enterrado
dentro. — Monta em mim, gostosa. Desafiou.

Sentei e rebolei até estarmos ambos suados gemendo feito loucos.


Enrico me ajudava a ditar o ritmo, tinha voltado a me dar alguns tapas
estalados e eu sem nenhuma vergonha pedia por mais. Gozamos juntos, ele
esperou até que eu estivesse languida para sair e mais uma vez me sujou toda.
Usamos a mesma toalha de antes para me limpar e eu esparramei-me na cama
enquanto sua mão subia e descia por minha coluna deixando nossas
respirações se acalmarem.

— Quer tomar banho? Sua voz saiu baixinha abafada pelo meu cabelo.

— Agora não, estou com preguiça. Soltei a respiração pesada sentindo a


leveza boa que o orgasmo intenso sempre proporcionava.

— Está com sono?

— Um pouco...

— Então tire um cochilo. Puxou o lençol sobre nós dois.

— Devia ir para o meu quarto.

— Fica aqui comigo. — Sua voz saiu sofrida.

— Tem certeza?
— Muita. Respondeu e senti que beijou meu cabelo. O abracei o melhor que
pude, descansando a cabeça em seu peito, ouvindo seus batimentos ritmados
enquanto Enrico começava a me fazer um cafuné.

— Enrico?

— Oi...

— Posso fazer uma pergunta chata? Eu não vou conseguir dormir se não
fazer.

— Por que seria chata, Madá?

Levanto a cabeça e dou um sorrisinho, meu coração se aquecia a cada


vez que ouvia ele me chamando por carinhosamente por Madá.

— Não quero te irritar.

— Não vai, pode fazer, você pode me perguntar o que quiser. Ele me
encorajou.

— Tá bom, lá vai... como foi que a sua mulher morreu? Perguntei e senti seu
corpo endurecer tenso embaixo de mim.
10
Madalena Cereja

São Paulo – Bairro Jaçanã

22h:45min

O carro importado totalmente preto parou na rua estreita. O homem


ao volante desceu e abriu a porta traseira. Belos saltos apareceram
primeiro, depois a mulher totalmente fria de nariz em pé saltou ignorando a
ajuda do motorista e andou até o portão velho e enferrujado onde um homem
a esperava.

— Boa noite, dona.

— Onde está o seu chefe? Eu não converso com empregados. A mulher loira
olhou o homem alto e tatuado com desdém.

— Ele me mandou acompanhar a coroa até lá dentro.

— Coroa é a mãe! Denise Campos Assis, seu imundo! E não preciso que me
acompanhe em nada, eu mando nesta merda aqui! Saia da minha frente!

— Perdão, senhora. O homem se desculpou e a deixou passar na frente a


acompanhando com uma boa distância para dentro do galpão que olhando
de fora parecia abandonado, mas lá dentro vários imigrantes colombianos
ilegais que trabalhavam escravizados empacotando os pequenos papelotes
de droga.

— Denise, querida! O homem já de meia idade porem muito vaidoso


contendo muitos procedimentos estéticos se aproximou rindo.
— Não se aproxime de mim com este sorriso escroto na cara, Edgar! Sabe,
você está fazendo merda atrás de merda há anos... A minha paciência com
você está por um fio!

O cenho do homem se franziu com o insulto. — O que aconteceu?

— Aconteceu que essa sua brincadeirinha de que está tudo sob controle já
me renderam a filha e marido mortos, quando quem deveria estar morto não
está! Ao contrário, graças aos seus homens incompetentes está recuperando
e corremos risco de novo! Acabo de ser expulsa da casa de Enrico De
Giordano, aparentemente ele já está bem do acidente de moto que você
causou, e pior, está apaixonado novamente, você sabe que ele fica bastante
motivado quando está apaixonado.

— Que porra de história é essa?

Enrico limpou a garganta e parou de alisar minhas costas. Me mantive


imóvel esperando sua resposta para minha pergunta idiota, mas que eu sentia
ser necessária.

— Foi um desastre aéreo. O avião em que ela estava caiu.

— E ela estava grávida? Desculpe, é que você gritou para Denise que ela e
seu filho não...

— Patrícia e eu nos conhecemos pouco tempo depois deu entrar para a


polícia, ela era repórter investigativa, nos envolvemos, apaixonamos e nos
casamos. Ela não queria um bebê achava que não era a hora, mas acabou
acontecendo... e já estava com a gravidez bem avançada quando foi investigar
sobre o envolvimento de uns políticos com tráfico internacional.

— Você está dizendo que o avião foi sabotado?


— Não sei, a perícia diz que foi por falta de manutenção, mas eu não caio
nessa... acho que Patrícia foi morta por descobrir o que não devia, mas nunca
consegui provar.

— Eu sinto muito, Enrico.

— Perdi tudo naquela noite, Madalena, a tempestade horrível que caía


quando recebi a notícia e no dia seguinte durante o enterro demonstrou como
minha vida seria dali em diante.

— Por isso você se tornou o que era quando te conheci.

— Minha vida não teve muita graça nos últimos dois anos, eu só trabalhei
feito um cavalo focando no fato de tentar desvendar a quadrilha que matou
ela, apenas isso.

— Eu sinto muito.

— Obrigado. Beijou o topo da minha cabeça.

— Como você sofreu o acidente?

— Aparentemente uma tentativa de assalto, estava voltando para casa, troquei


tiros com os bandidos, consegui acertá-los, mas um deles também acertou o
pneu da moto, perdi o controle, bati no alambrado da rodovia e a moto
amassou minha perna.

— Isso tudo é muito louco...

— E aí você apareceu. — Puxa meu rosto para cima para que nossos olhares
se encontrem. — Me tratando como um qualquer e me mostrando como eu
vinha sendo um filho da puta, mudou tudo, trouxe cor de novo para a cidade
cinza em que eu vivia.

— Você estava muito afim de tornar minha vida um inferno.


— Estava... — Ele riu. — Mas sorte sua que depois que vi você naquele
pijama curto, mudei de ideia.

— Hum... — Respondo envergonhada. —Obrigada por me contar.

— Por nada, Madalena.

— Vou tirar um cochilo agora. Aviso escondendo meu rosto em seu peito.
Tentando assimilar tudo que Enrico tinha me contado, a história da sua
esposa era estranha, e assim como a minha história, era trágica demais para se
acreditar, parecia ter algo mais por trás daquilo tudo.

— Boa noite. Beijou minha boca levemente e eu fechei os olhos.

Perto das sete da manhã eu despertei, ainda não tinha me acostumado


a dormir até mais tarde.

Corri os dedos pelo cabelo que estava embaraçado e encarei Enrico


apagado ao meu lado. Com a boca um pouco entreaberta ele suspirava
baixinho. De madrugada eu tinha acordado para lembrá-lo do remédio e o
mesmo já estava voltando da cozinha depois de tomar, com ambos acordados
nos rendeu mais uma boa rodada de sexo quente, dessa vez com ele me
colocando de quatro na beirada da cama enquanto apoiava a perna
machucada no colchão, depois nos enfiamos embaixo do chuveiro quente e
lavamos um ao outro, Enrico me fez gozar de novo usando apenas os dedos e
quando voltamos a cair na cama eu dormi cheirando o seu pescoço que
cheirava a sabonete de baunilha.

E era esse o motivo de agora eu estava dolorida. Me espreguicei afim


de ir buscar o seu comprimido das sete e meia e preparar o nosso café da
manhã, entrei no meu quarto e vesti uma saia jeans a qual tinha usado no
passeio com Aline na tarde anterior, e somente então me lembrei que não
tinha dado nenhuma notícia a ela, e a coitada deveria ter ficado preocupada
me esperando.

Assim que peguei o telefone percebi as várias ligações e mensagens


dela. Escrevi me desculpando e expliquei com poucos detalhes o que tinha
acontecido, Aline tinha se tornado minha amiga e confidente, por isso ela já
sabia que eu não tinha vindo de Vila do Sol e sim de Alvorada, e sabia o
motivo disso. Sabia também que desde que Enrico tinha me beijado eu estava
nutrindo sentimento por ele.

Deixei o celular no quarto e fui para a sala ligando a TV, coloquei no


canal de desenho animado e estava sorrindo assistindo enquanto batia ovos
em uma tigela quando a porta se abriu e dona Luísa entrou saltitante.

— Bom dia, Madalena! Como você está em?

— Dona Luísa! Sorrio sentindo meu rosto queimar, sem dúvidas estaria
vermelha como uma pimenta.

— Pare com essa dona, querida, presumo que depois de ontem você já pode
me chamar de sogrinha, não é? Me fala que sim! Levantou as sobrancelhas
sugestivamente sorrindo.

— Ah, eu...

— Para de bobeira, Madalena... tudo bem que não precisa me contar todos os
detalhes sórdidos, mas eu quero saber um pouco, você e Enrico se acertaram?

— Nós dois, conversamos. Balanço a cabeça.

— Só? Fez um muxoxo.

— E também nos beijamos...

— Aí fala logo, vocês transaram ou não?

— Meu Deus, dona Luísa?

A mulher gargalhou. — Querida, Enrico tem o sangue de Luiggi nas veias, eu


conheço meu marido então posso afirmar que você deve ter passado muito
bem...

— Sim. — Limpo a garganta e dou um sorriso. — Foi ótimo.

— Bom dia mãe. A voz de Enrico nos corta e eu levanto os olhos para a
direção que ele vinha usando apenas uma bermuda de moletom cinza.

— Oi, filhote. Tudo bem?

— Bom dia. Se aproximou o bastante de mim sem se importar com a mãe de


plateia e depositou um beijo nos meus lábios.

— Brigou com um gato essa noite, filho? A voz brincalhona de Luísa me fez
parar de cortar o queijo em cubos e encarar as costas de Enrico.

Estavam com marcas altas de unhadas e a culpada daquilo era eu. O


coitado nem tinha reclamado.

Meu queixo foi no chão quando Enrico sorrindo descarado olhando


para mim ele piscou de um olho e respondeu: — Tá mais para uma pantera,
mãe. A que devo a honra da sua visita tão cedo? — Emendou após a sua
resposta debochada que tinha me tirado a fala e levado todo o sangue do
corpo para minhas bochechas.

— Vocês acreditam que ontem à noite na correria esqueci minha bolsa, vim
buscar... tenho um compromisso agora de manhã.
— Sério? Não deixou a bolsa de propósito para vir ver o que eu e Madalena
tínhamos aprontado? Enrico colocou as mãos na cintura falando sarcástico.
Dona Luísa gargalhou estrondosamente.
— Aí meu filho, é tão bom ver você assim... — Os olhos dela brilharam
primeiro para ele e depois para mim. — Eu sabia que Madalena era especial
quando botei os olhos nela.
— Dona Luísa, a senhora e Enrico estão me deixando sem graça. Respondi
envergonhada.
— Envergonhada porque, menina? Eu já não sabia mais o que fazer com essa
peste... — Apontou para Enrico que arregalou os olhos fingindo-se de
ofendido. — Só vivia enfurnado em casa ou naquela delegacia, tantas
mulheres se jogando para cima e ele se esquivando, quando se machucou
todas as que se candidataram ele conseguiu que fugissem antes mesmo que
completassem 24 horas de serviço, e veja só, você não só conseguiu o
emprego como fez ele se apaixonar.
— Quem disse que estou apaixonado, mãe?
— Tá na sua cara, Enrico, espero que já tenha dito isso para ela.
— É eu já disse. Sorriu olhando para mim novamente, e tudo consegui foi
continuar muda assistindo a cena bizarra.
— Então... vocês estão juntos?
— Não. — Sim.
Respondemos juntos e Luísa levantou os olhos. — Opa, acho que é
hora de ir, se resolvam aí e mandem notícias ok? Beijos! Se despediu
agarrando a bolsa sob o sofá já a caminho da porta.
— Como assim não estamos juntos? Enrico falou assim que ficamos sozinhos
parando na minha frente tirando a faca que eu estava usando para cortar pão
da minha mão e deixando sobre a bancada.
— Bom... é que eu fiquei confusa... não achei que já estaríamos em um
relacionamento...
— Você e eu trepamos à noite inteira e agora você me dispensa enquanto
quero namorar você? Que momento da vida eu cheguei? Quase três anos para
transar de novo com alguém e recebo essa... devo ter perdido o jeito.
— Não é isso Enrico, nossa noite foi de longe a mais perfeita que eu já tive.
Mas você não tem que ser obrigado a namorar comigo por isso.
— Mas eu não estou sendo obrigado, Madalena. Eu quero.
— Você quer? Porque?
— Que pergunta é essa? Eu achei que tinha entendido ontem e agora a pouco
quando eu disse que estou apaixonado por você.
— Só por isso?
Enrico soltou uma risada nervosa. — Você é muito louca, Madalena.
Não gosta de mim? Se for isso, você pode falar, terminamos tudo.
— Eu gosto. — Me apresso em dizer. — Eu estou apaixonada por você,
Enrico, e eu estou de verdade louca por você.
— E por acaso eu estou apaixonado de mentira?
Abaixo meus olhos. Meu coração batendo forte em meu peito. A
insegurança me tomando.
— É só que... olha para nós, você e eu não temos nada em comum... parece
loucura.
— Madalena, eu gosto de você, a cada segundo desde que bati os olhos eu
gosto, porra... você nem imagina o quanto foi difícil me manter longe. Se
aproxima segurando minhas mãos.
— Não faz sentido...
— Não faz sentido é você dizer isso! Não vê o quanto é perfeita? Você é uma
mulher linda, gostosa, com um coração incrível. Quase perdi o melhor amigo
porque o cara estava afim de você.
— Jonas não quer nada comigo.
— Não vamos voltar a esse assunto agora... só quero que você entenda a
bobagem que está dizendo, você é encantadora, Madá. Diz começando a me
puxar pelo corredor rumo aos quartos.
— O que está fazendo?
— Vamos transar. Preciso mostrar o quanto está abalando minha saúde
mental, eu preciso de você, Madalena. Preciso muito, eu perdi as contar de
quantas punhetas eu bati pensando em você, quero recuperar cada trepada
perdida. — Ele me abraça enquanto o encaro um pouco horrorizada. —
Talvez quando a gente terminar eu consiga ter feito você mudar de ideia.
— Converse como uma pessoa normal, Giordano. Não podemos resolver
todas nossas diferenças com sexo.
— Você falando meu sobrenome ficou sexy, fala de novo.
Revirei os olhos e sai do seu abraço cruzando os braços sobre o peito:
— Enrico.
— Madalena? — Ele parou com a porta do quarto aberta. — Entra.
— Vou terminar o café. Fiz menção de lhe dar as costas e ele segurou meu
braço me puxando para dentro do cômodo e me encostando contra a porta.
— Para de fugir sempre, Madalena, faz parecer que eu estou te forçando,
quando seus olhos me imploram pedindo. Me abraça me levando pelo quarto
e impulsionando nos joga sobre a cama.
— Você nem parece que está com um pé quebrado.
— Imagine o que não vou fazer com você quando tirar esse maldito gesso,
hein? Respondeu rindo e antes que eu pudesse me mexer já tinha me roubado
os lábios em um beijo gostoso, circundou minha cintura com uma mão
enquanto a outra apertava minha nuca.
Sem chances e vontade de lutar, mesmo que a pontinha da minha
baixo autoestima gritando que um homem tão bonito tinha se apaixonado por
mim, uma garota vinda do nada, pobre, sem estudo e fora dos padrões da
beleza, eu não lutei, continuei o beijo, cedendo ao meu desejo.
Percorri seu corpo com minhas mãos ansiosas e me lembrei de evitar
fincar as unhas na sua pele. Meus dedos afagam seu volume entre as pernas
que havia se formado na bermuda. Enrico afastou os lábios dos meus me
dando um sorriso preguiçoso enquanto usava as mãos para tirar os cabelos do
meu rosto.
— Sente isso, cerejinha? — Acaricia um dedo sobre meu lábio inferior. —
Vê como somos juntos?
Encaro o rosto de Enrico como uma criança encara uma vitrine de
doces. — Eu quero você. Falo em desespero voltando a atacar seus lábios e
ele sorri entre o beijo.
— Está rindo de quê? Me afasto sem entender.
— Seu desespero em ser comida. — Toma meu rosto entre suas mãos. — É
excitante para caralho.
— Você é tão babaca, Enrico.
— Eu não me importo com seus elogios doces, Madalena.
Pisca enquanto agarra a barra da minha blusa e a arranca para fora. O
mesmo acontece com a saia e a calcinha.
— Vire de lado, eu amo essa sua bunda grande, paixão.
Ordena e antes que eu me virasse totalmente, desferiu um tapa
estalado que não me assustou, o ardor da pele me faz remexer e gemer
enquanto Enrico mordeu o lábio e sorriu em seguida.
— Seu sem vergonha. Sussurro excitada, meus olhos não conseguiam sair do
moletom marcado por sua excitação. Enrico estava muito pronto, e eu estava
mais ainda.
— Sem vergonha é o sexo que vamos ter agora, cerejinha. Avisa abrindo
minhas pernas mais do que já estavam e começando a se abaixar.
— O que está fazendo.
— Vou chupar você.
— Não... — Arregalo os olhos apavorada. — Nunca fiz isso.
— Nunca?
— Não...
— Você não era mais virgem e o babaca nunca fez oral em você? Enrico
perguntou com um meio sorriso.
— E nem eu nele... eu nunca me senti à vontade, Vicente respeitava isso.
Enrico franze a testa. — Bom eu quero muito, podemos testar, você
não precisa fazer em mim se não quiser, mas eu quero mesmo fazer em você,
tudo bem? Pergunta se abaixando o suficiente para depositar um beijo no
interior da minha coxa.
Solto o ar e sou incapaz de manter o contato visual com Enrico, seus
olhos verdíssimos sobre os meus pareciam transportar ondas elétricas para
meu corpo.
— Responda... — Beija a outra perna.
— Ok. Engulo seco.
— Respira, amor... fica tranquila, vai ser gostoso. Avisa antes deu sentir que
ele arrasta a boca por minhas coxas, distribuindo beijos até minha virilha.
Lentamente usa uma mão para abrir meus lábios e lambe da abertura até o
clitóris.
— Meu Deus! Falo alto levantando o quadril do colchão em direção a sua
boca. Minha boceta pulsava sem parar e eu fechei os olhos com força
tentando abafar o grito preso em minha garganta.
A risadinha gostosa de Enrico chegou ao meus ouvidos segundos
antes de sentir mais uma vez a pressão de sua língua. Esfregava em círculos
em meu ponto e descia lambendo até a minha entrada molhada.
Era gostoso demais. Puta que pariu!
— Não para!
Imploro em desespero e ele me ouve, circunda com a língua mais
vagarosamente e invade meu corpo com dois dedos com cuidado. Sinto que
poderia desmaiar a qualquer momento tendo a sensação do corpo dormente e
ardendo em chamas, aperto meus seios tentando buscar algum alívio e abaixo
a cabeça procurando seu olhar. Encontro seus olhos observando cada
movimento meu e ele sorri com os olhos quando se afasta e deixa um tapa
leve sobre minha vulva antes de se abaixar de novo me beijando os lábios
inferiores tão gostoso quanto os de cima.
Meu orgasmo se construí rápido. As sensações que antes
desconhecidas eram gostosas e intensas, apertei meus mamilos com força
tentando filtrar todo o prazer que percorria meu corpo. Em certo momento fui
tomada por desespero na busca por gozar e sem nenhum pudor enfiei meus
dedos sobre os fios macios da cabeça de Enrico e me esfreguei em sua boa
até o clímax me atingir com a sensação da minha alma sair do corpo e voltar.
Parecia estar desintegrado em mil pedaços que só retornaram a se juntar
quando em curto espaço de segundos ainda com minha boceta sofrendo
espasmos se contraindo, a ereção de Enrico entrou até o fundo e parou lá, se
embainhando até o talo. Ficou lá, enterrado, com nossos corpos grudados, ele
gemendo baixinho por sentir minha contração.
— Namora comigo, Madalena? Falou levando suas mãos em meu rosto, os
olhos grudados um no outro e os narizes colados engolindo as respirações
pesadas.
— É sim. — Respondo emocionada. — É claro que é sim, Enrico. — Era
impossível responder outra coisa.
11
Enrico De Giordano
Madalena estava de olhos ainda fechados ao meu lado, o rosto satisfeito
e a respiração ainda pesada de um pós-orgasmo e pós aceitar meu pedido de
namoro me deixava duro de novo.

Eu corri os dedos por sua bochecha, encantado sentindo meu coração


bater forte. Eu estava me sentindo completo, mais do que já tinha me
sentindo um dia, e isso me deixava até tonto. Madalena tinha chego em
minha vida metendo o pé na porta. O que eu sentia por ela era intenso e doce,
calmo e louco, era diferente do que eu tinha experimentado com Patrícia,
talvez eu nunca quis aceitar e entender, mas a diferença entre os sentimentos
começava por reciprocidade.

Enxergava na mulher nua e satisfeita ao meu lado, a mesma intensidade


de sentimentos que eu tinha. Mesmo eu não ter feito muito por merecer no
início, Madalena confiava em mim. Como há pouco quando confessou ter
medo e vergonha de receber oral, confiou em mim para tentar, se pôs aberta a
deixar sentir.

Olhei seus mamilos amarronzados e ainda excitados, não me contive


em abaixar a cabeça e tomar um na boca a fazendo abrir os olhos e ronronar.

— Sua gostosa. Beijo sua boca num beijo estalado.

— Você quem é... parece até um sonho Enrico.

— Nem me fale. — Firmo um braço atrás da cabeça. — Minha mãe deve


estar mandando fazer até uma faixa.

— Faixa?

— É escrito bem grande: Enrico finalmente transou! Respondo e Madalena


levanta a cabeça repousada sobre meu peito para me encarar soltando uma
risada.

— Ela está feliz.

— E eu entendo. — Respondo voltando a abraça-la. — Ela sempre achou que


se eu saísse transando eu iria superar, mas o meu problema não era o sexo, eu
conseguiria fazer se quisesse, eu só não quis.

— Está querendo dizer que só faz sexo com amor? Isso é bem bonito vindo
de um homem.

— Eu não ligava muito antes, mas eu mudei de ideia depois que me casei.

— Isso é muito bonito.

— Obrigado, eu acho... e você ein, quantos namorados teve além do babaca


do tal Vicente. Perguntei curioso, mas assim que a resposta da pergunta saiu
vi que não tinha sido boa ideia.

— Ele nem chegou a ser meu namorado.

— O cara sequer te pediu em namoro?

— Vicente e eu não éramos assim, Enrico. Ele era legal, do jeito dele, mas
ambos não estávamos abertos a uma relação, funcionava do jeito certo.
Elogiou e meu ciúme apertou.

— Hum. A voz enciumada saiu e eu o olhei de rabo de olho tentando não


transparecer o desconforto.

— Nós conhecemos e fomos amigos antes de nos envolvermos, ele quem me


deu o meu primeiro beijo, e foi o meu primeiro e único até você.

— Entendi, vamos mudar de assunto não estou tão confortável quanto pensei
que ficaria. Rolei os olhos para outro lado pegando o controle da tv e disfarço
ligando o aparelho.

— Ta bom... coloca no Pokémon? Peço como uma garotinha de seis anos.

— Que diabos você viu em Pokémon? Assiste essa coisa o dia todo.

— Eu sou apaixonada no Pikachu, ele é muito fofo.

— Fofo de cu é rola. Responde sorrindo mordendo meu pescoço enquanto


sua mão brincava apertando meu seio como se não tivesse nada demais
naquilo, apenas passando o dedo indicador de um lado para o outro.

— Seja lá o que você estiver pensando, eu não consigo agora, ainda estou
sensível. Avisa notando minha ereção começar a inchar em sua perna.

— O que? Ri descarado.

— Foram duas vezes só agora, eu preciso me recuperar ou vou ficar assada.

— Quem se importa se vamos foder ao ponto de ficar andando de pernas


abertas? Roço o nariz em sua bochecha ainda rindo.

— Enrico. — Ela gargalha. — É doentio.

— Doentio? Ergo as sobrancelhas espantado.

— Sim, precisamos ter controle sobre a quantidade de sexo não podemos


ficar fazendo a toda hora, isso sai do controle.

— Está de brincadeira né? Jogo a cabeça para trás rindo.

— Não. Estou falando muito sério, nossa relação não deve se basear em sexo,
precisamos saber dialogar.
— A relação deve se basear em sexo, amor. — Roubo um beijo momentâneo
dos meus lábios. — Nunca ouviu falar que namoro para dar certo tem que ser
igual pernilongo?

— Pernilongo? Me olha sem entender.

— É, apagou a luz, pica. Beijo seu queixo bonitinho e dou uma pequena
mordida antes de escutar sua gargalhada alta enquanto me livrava de seu
abraço.

— Você é ridículo! Meu Deus, você é muito babaca, levanta, vem me ajudar
a terminar o café, temos muito o que fazer.

— Do tipo o que? Cruzo os braços atrás da cabeça, ficando esparramado e


tranquilamente nu enquanto via que ela procurava suas roupas para se vestir.

— Sei lá, a gente arranja algo. Levanta os ombros sem ideia e argumento.

— Ah amor, estou de férias e voltando a ativa, quero só que você traga sua
boceta até aqui e cavalgue no meu cacete. Aponto para o pau.

— Você é um baixo, Enrico! Vou terminar nosso café! Avisa indo em


direção ao banheiro e eu deixo a cabeça repousar sobre o travesseiro.

Mais tarde estávamos terminando nosso desjejum quando Madalena


comentou sobre ligarmos para a farmácia e pedirmos preservativos. A ideia
não me agradava, mas seria idiota e desrespeitoso da minha parte ir contra
sua vontade, seria meu desejo nenhum método e que o mais rápido possível
Madalena estivesse esperando um bebê, mas eu já tinha experimentado o
amargo de ter uma mulher grávida contra a vontade, talvez não fosse uma
boa ideia passar por aquilo de novo, até porque a primeira vez tinha
terminado de forma trágica.

— Minha mãe pode ir com você ao médico.


— Eu acho melhor que Aline me acompanhe, eu ficaria mais à vontade.

— Você quem sabe, mas vamos marcar o mais rápido possível, vou pedir
algumas na farmácia, mas eu realmente aprecio que você tome algo para
podermos fazer sem, espero que você concorde. A olho sorrindo.

— Uma bela conversa para o café da manhã, não? Brinca estendendo um


pedaço de queijo fresco na mão em minha direção e eu pisco aceitando uma
mordida.

— Somos namorados, estamos discutindo o nosso bem-estar.

— O seu bem-estar, meu bem.

— Transar sem é mais gostoso para nós dois. — Pontuo.

— Tem razão, me desculpe, vou mandar uma mensagem para Aline hoje
mesmo, ela talvez possa me indicar o ginecologista que ela vai.

— Certo. Concordo levando sua mão livre aos lábios depositando um beijo
na palma.

Madalena estava cortando mais um pedaço de bolo para mim quando


o som do meu celular tomou nossos ouvidos.

— Fala, Doug. Atendi de imediato e estendi o braço para que ela deixasse sua
banqueta e se sentasse em meu colo.

— E aí, cara, tudo bem por aí?

— Aqui está, qual o problema?

— Bom cara. — Meu amigo limpou a garganta. — Conversei com Jonas, ele
contou sobre sua cuidadora, até que enfim descabelou o palhaço hein, otário.
— Me ligou para isso? Dou uma risada enquanto acaricio a anca de Madalena
que mastigava um pedaço de manga como se fosse a coisa mais gostosa do
universo.

— Pior que não cara, aconteceu uma tragédia.

— O que? Como assim?

— Sabe nossa investigação, aquela oficina perto da Freguesia qual o dono


estava disposto a abrir o bico sobre as drogas, e até entregar uns documentos?

— Sim, o que é que tem?

— O que tem é que mataram o cara irmão.

— O que? Está brincando? Aqueles filhos da puta! Eu não acredito nisso!


Tem certeza?

— Tenho cara, estou na cena do crime agora, passaram o filho da puta,


puseram fogo aqui, o escritório dele está destruído, a papelada queimou toda.

— Que merda cara, ninguém além da equipe sabia do informante.

— Eu sei. — Meu amigo suspirou. — E eu sei que você está pensando o


mesmo que eu.

— Sim, temos alguém de dentro passando os passos. Precisamos descobrir


quem é o vendido aí de dentro... escute, eu estou quase voltando nós vamos
pegar esses caras está ouvindo?

— Qual foi? Você não quer que sei lá eu dê uma dura nessa equipe de
merda?

— Calma! Não faz nada por enquanto, nós vamos agir com calma, espera até
eu voltar. Levei uma mão a ponte do nariz apertando, tentando relaxar a
tensão que me invadia.

— Eu pensei que pegaríamos eles dessa vez, Enrico. Eu sinto muito.

— Doug, vai dar tudo certo, fica na sua e age como se não soubesse de nada,
quando eu voltar vamos pegar um por um desses abutres de merda! Valeu por
avisar cara.

— Por nada, irmão. Está tudo bem tirando essa porra, não?

— Sim, estou ótimo, apareça depois, você tem que conhecer a Madalena.

— Madalena né? Hum... ela é gostosa?

— Mede suas palavras, ô filho da puta! — Solto uma risada nervosa.

— Foi mal, saiba que estou feliz por você ok? Mas preciso desligar agora.

— Valeu cara, tchau. Me despeço e deixo o aparelho sobre a mesa e jogo a


cabeça para trás soltando um suspiro pesado. — Que droga.

— Aconteceu alguma coisa grave no do trabalho?

— Aconteceu.

— Às vezes eu esqueço que você é delegado, só lembro quando veja suas


armas. — Da uma risadinha. — Você pode falar o que foi?

— Uns filhos da puta que escorregam mais que sabonete molhado, mais uma
vez conseguiram escapar e levar embora as únicas provas que tínhamos
reunido. Estávamos tão perto de chegar no cabeça deles.

— Sinto muito. Aperta meu braço em apoio.

— Tem alguém vendendo informações, e eu vou descobrir quem, assim que


voltar.

— Alguém que trabalha com você?

— Exatamente. — Bufei com raiva. — Mas não quero me estressar com essa
merda antes da hora, vou tomar um banho... quer vir comigo? A olho
deixando claro minhas intenções.

— Não quer ir sozinho para relaxar?

— Amor, se você me acompanhar eu vou relaxar mais. Sorri safado,


deixando a tensão que estava no seu rosto se dissipar.

— E o que combinamos de parar de querer resolver nossos problemas no


sexo?

— Eu quero que se foda, não combinei nada. Fiquei dois anos sem transar,
me dá um desconto, preciso de você no banho comigo agora.

— Para te ajudar com o gesso pé? Da uma risadinha de desentendida.

— Sim, você lembra que eu disse que eu não consigo lavar o pau sozinho, te
contei isso desde o seu primeiro dia.

— Seu sem vergonha. Balança a cabeça rindo em descrença.

— Você ficou toda vermelha e linda quando eu disse aquilo. Comento me


recordando da cena.

— Eu te odiei aquele dia.

— E agora?

— Agora o que?
— Me odeia ainda?

— Não, agora eu gosto de você. Suas covinhas ficam em evidência quando


sorri.

— Então me ajuda? Pergunto todo amável.

— A te ajudar a tomar um banho?

— É.

— Se você se comprometer a me ensinar a fazer contigo o que fez comigo


hoje de manhã... lembra que eu disse nunca tive vontade de fazer? Você me
ensina?

Puta que pariu! Pisco totalmente fora de mim e abro e fecho a boca
duas vezes impactado com suas palavras antes de sorrir largamente.

— Puta merda, você é a mulher da minha vida, Madalena.

— Isso é um sim?

— Você tem alguma dúvida? Respondo a puxando para ficar de pé e irmos


de volta ao quarto.

Entramos no banheiro nos agarrando batendo nossos corpos contra


tudo que encontrávamos no caminho. Ela inspecionava o lugar como se cada
vez que entrasse ali encontrasse o local mais bonito do mundo quando a
coloquei contra a bancada enorme que ficava a pia.

— Está doendo muito? Pergunta alisando os vergões altos no seu peito


devido minhas unhas.

— Não. Respondi excitado com os olhos mirando seus peitos.


— Me desculpa. Ela insistiu acariciando os locais feridos.

— Deixa de bobeira, Madalena, não tem porque me pedir desculpas por algo
que nem eu nem você tivemos noção de quando aconteceu, foi gostoso na
hora. A roubo um beijo e consigo distraí-la.

Eu poderia passar horas admirando-a, toda linda, os cabelos negros e


abundantes, os olhos enormes castanhos que sempre se perdiam nos meus.

Desço os dedos pelo seu colo devagar e paro firmando cada mama em
uma mão. Aperto forte sentindo os mamilos rígidos por baixo do tecido.
Madalena solta o ar pela boca e sinto suas mãos descerem do meu peito pelo
abdômen e pararem no elástico do moletom.

A olho me sentindo ansioso vendo seu rosto perfeito de olhos


fechados, os lábios entreabertos como se necessitasse disso para controlar a
respiração. E a imagem é tão linda que me encoraja a ir adiante. Desço uma
não a incentivo levando sua mão por cima do volume que marcava o tecido e
ambos soltamos o ar pesado. Puxo entre os dentes a respiração quando
Madalena ousa enchendo a mão no meu cacete e o massageia.

— Madalena... Imploro.

— Enrico... só me interrompa se eu fizer algo errado, ok?

— O que seria algo errado? Sobe uma sobrancelha e sua voz sai um pouco
debochada.

— Se ficar me zoando nós paramos. Responde começando a retirar a mão e


em desespero a agarro voltando a firmar sobre meu mastro e a faço apertar.

— Desculpa, amor... eu entendi, continua vai. Imploro querendo parecer


visivelmente arrependido. Eu morreria neste exato momento para ter
Madalena mamando meu pau.
Sinto o calor tomar meu corpo quando a vejo se abaixando
vagarosamente para ficar sobre os joelhos, desce a boca distribuindo beijos
por minha barriga e dá pequenas lambidas até ficar cara a cara com o que
implorava por atenção. Madalena abaixa minha bermuda que eu não tinha me
preocupado em usar com cueca e a ereção salta em toda sua glória, livre e
dura bem em frente a sua cara que me olhava receosa, porém com os olhos
brilhantes excitados

— E agora? Me pergunta engolindo seco. — É tão enorme... — Fala e eu não


consigo não sorrir, mas não debochado, estava mais para encantado e
apaixonado por tudo aquilo.

— Você quer isso, Mada? Pergunto rezando intimamente para que ela
dissesse sim.

— Quero. — Afirma desviando os olhos dos meus e indo de novo para o


membro. — Antes de você eu nunca sequer imaginei, mas agora, tenho muita
vontade... só é grande, e se eu fizer algo que não goste? E se eu te machucar?

Meu cacete estava pulsando como se dissesse: “Parem de enrolação! ”


Eu mordi os lábios me segurando para não fazer com que ela se sentisse
ainda mais desconfortável e falei: — Vai devagar, com calma... no seu
tempo, você vai saber o que fazer, não precisa engolir ele inteiro,
Madale...Uhhh! — Perco a fala e um gemido alto sai de mim quando a vejo
enfiar a cabeça brilhante na boca e dar uma chupada leve, como se apenas
testasse o gosto.

Me sinto desesperado quando ela afasta e sobe os olhos para encontrar


com os meus e imploro: — Continua, paixão... por favor. — Enfio os dedos
de uma mão entre seus cabelos e seguro a ereção pela base com a outra.
Madalena estava me olhando devassa, com um sorriso fechado nos lábios
como a perfeita forma de pecado, ela gemeu quando eu passei a ponta que
tinha sido a pouco tocada contra sua boca. — Me chupa, sua gostosa safada!

— Eu fiz certo? Questiona e pincelo mais uma vez contra sua boca.
— Muito certo, porra! — Sussurro agoniado e sinto meu corpo ser
eletrificado quando ela toma para si arrancando minha mão e volta com a
umidificando. Sinto sua boca molhada como se juntasse a própria saliva antes
de me levar mais fundo.

Eu estava me sentindo no auge, me segurava para não gozar tão rápido.


Madalena continuou com sua boca indo e vindo e todo o frenesi me encheu.
Eu nem lembrava de como era bom receber um boquete, e sinceramente a
inexperiência de Madalena fazia aquilo se tornar o melhor que eu já tinha
recebido na vida.

Quase perdi o controle quando ela subiu os olhos para os meus e sorriu
com meu pau enterrado na boca, nosso tesão era palpável, levei uma mão e
seus cabelos e os juntei em um rabo seguindo seu ritmo de ir e vir, me
engolia cada vez mais como se testasse até onde conseguia.

Pensando não ser mais possível ficar ainda mais duro, eu fui
surpreendido quando ela tirou tudo da boca e o segurou lambendo das minhas
bolas até a cabeça para só depois colocar de novo na boca.

— Aí, caralho, Madalena, você é demais porra... que delícia. Falei tentando
digerir os espasmos que aumentavam cada vez mais, mostrando que meu
orgasmo estava na beira.

Incentivada com meus gemidos voltou intercalando chupadas e


lambidas. Soltei um palavrão alto quando focou em rodear a língua na cabeça
e chupou firme me fazendo um arrepio tomar meu corpo. Eu não ia aguentar
mais.

— Merda, eu vou gozar, para. Aviso fechando os olhos deixando a cabeça


pender para trás.

Madalena parecia decidida a fazer exatamente o que tinha feito com


ela, continuou me mamando e sem conseguir mais reprimir gozei sentindo
minha porra invadir sua boca enquanto a safada engolia tudo como se o gosto
fosse a melhor coisa que já provara. Se colocou de pé a minha frente
limpando a boca sensualmente e sorrindo como uma boa garota.

— Se eu não estivesse apaixonado eu me apaixonaria agora, Madalena.


Afirmo me sentindo feliz e ainda tonto pela gozada intensa. A puxo para um
beijo intenso e nos enfio no chuveiro com todo o cuidado para não molhar o
caralho do gesso que estava protegido por um plástico.

Madalena esperou que eu lavasse seu cabelo com todo o cuidado, ela
se virou de costas para enxaguar e mais uma vez senti meu pau endurecer ao
encarar seu traseiro gostoso. Diminui a distância e liguei o foda-se para
minha perna machucada levando uma mão em sua pélvis e desci acariciando
com a ponta dos dedos seu clitóris, ergui uma de suas pernas e a penetrei
fundo por trás e daquela vez não me importei em esporrar dentro dela, e
Madalena nem pareceu se lembrar de nada enquanto eu a inundava. Nos
lavamos em um silencio confortável, cansados e satisfeitos decidimos ignorar
o almoço, passando o resto da tarde vendo TV nus e abraçados na cama.

Tinha conseguido a convencer a deixar eu escolher o filme depois de


assistir três episódios seguidos de desenhos que eu me lembrava da minha
infância. E assim que o filme de guerra começou eu senti seu corpo amolecer
ao meu lado, deitou a cabeça em meu peito e caiu em sono profundo.

Já era final da tarde quando Madalena despertou e me convidou para


ajudar a fazer o jantar. Sabendo que ela só gostava que eu me sentasse ali
enquanto ela fazia todo trabalho e a observava cozinhar. Jantamos um ao lado
do outro, comentando sobre o filme que ela tinha mais perdido do que
assistido. E depois de a ajudar com as louças fomos tomar banho dessa vez
separados e a fiz prometer que iria dormir no meu quarto.

— Enrico, eu sou sua cuidadora...

— E minha namorada! Replico.

— Mas trabalho para você.

— Você quer ser demitida? Eu te demito, te deixo apenas no posto de minha


mulher. Falo petulante.

— Qual o sentido de ter um quarto se eu não vou dormir nele?

— Você não tem um quarto, é isso, amanhã vamos mudar todas suas coisas
para o meu quarto.

— Enrico!

— Madalena! — Abro um sorriso que eu sabia que a faria desarmar as garras.


— Estou te esperando, não demore. Beijo o topo de sua cabeça e sumo pelo
corredor me sentindo extasiado pelo dia incrível.

Entrei no banho e vesti apenas uma cueca boxer me deitando pronto


para esperar Madalena quando o telefone apitou mostrando uma mensagem
de Jonas.

Jonas fez merda.


Sumiu depois de invadir aquela nossa outra pista.
Estou tentando achar o filho da puta.
Te mando notícias.

O ódio do meu amigo e a raiva por ainda ter de estar longe do meu
trabalho voltou com tudo e eu rugi digitando xingamentos em resposta para
Jonas quando Madalena apontou na porta usando um de seus pijamas de seda
curtos que a deixava apetitosa.

— Ei, vem cá.

— Tome o remédio primeiro. Me entregou um comprimido e eu o engoli com


uma golada só de água. Madalena deixou o copo no aparador abriu as
cortinas e a porta da varanda deixando a brisa fria da noite entrar, desligou a
luz deixando apenas os abajures e veio se deitar ao meu lado.

— Doug não me escutou e fez merda, está desaparecido. Contei.


— Desaparecido? Madalena se eriçou.

— Até agora assim... Jonas está atrás dele.

— Quer dizer, alguém pode ter matado ele?

— Eu duvido que consigam. O cara é esperto, mas deve estar passando por
alguns problemas no momento por ser teimoso e não ter me escutado.
Resmungo jogando o celular na mesa de cabeceira.

— Meu Deus, e agora?

— Vai ficar tudo bem, já tem gente trabalhando nisso. Finjo calma e
segurança.

— Enrico, eu estou com medo. Me confessa e eu a rodeio com os braços num


abraço.

— Eu estou aqui por você, cerejinha.

— Eu não quero que corra perigo... existe tanta gente ruim nesse mundo.
Sussurra com seu olhar perdido. Madalena parecia lembrar coisas ruins.

— Eu não vou, Madalena, tudo vai dar certo. Beijo sua testa e a acalento
enquanto tudo que eu desejava era que eu estivesse certo.
12

Madalena Cereja
De manhã eu tinha sido acordada com beijos espalhados por minhas
costas. Despertada eu quis ajudar Enrico a cobrir o gesso para que tomasse
banho e ele me surpreendeu ao me puxar para enganchar as penas em sua
cintura e andar comigo para banheiro como se eu não pesasse nada.

Tinha me colocado sobre a bancada e descartado nossas poucas peças


de roupa antes de entrar em mim. Sentir que estávamos em movimento tão
gostoso que não me segurei em dar mais uns arranhões em sua pele. Enrico
me colocou meio deitada de pernas abertas sobre a pia de mármore ficando
de pé encaixado em mim, voltando a entrar e sair facilmente por causa da sua
altura.

Mirei os olhos em seu peito vermelho e ofegante e os lábios


entreabertos em um sorriso mostravam como Enrico estava fora de controle
assim como eu que mal conseguia manter meus olhos abertos sentindo cada
pedaço da minha pele arrepiada sentindo sua mão massagear meu clitóris
com os dedos na mesma velocidade de suas metidas.

— Que caralho, isso é muito gostoso, ver meu pau entrando e saindo da sua
boceta... — Puxa minha nuca o suficiente para que nossos lábios se
enrosquem em um beijo molhado enquanto seu quadril batia forte em
estocadas selvagens.

O tremor em meu corpo anunciando a chegada do orgasmo começa no


mesmo momento que ele geme rouco em meus lábios e posso sentir o vigor
dele se esvaindo dentro de mim, os músculos tencionados e os dentes
cerrados puxando ar enquanto me observava gozar também. Ficamos
agarrados nos recompondo, ele curvado sobre mim, ofegando contra meu
ombro enquanto meu peito subia e descia.
— Você esqueceu a camisinha e gozou dentro Enrico... puta que pariu!

— Desculpa, estava muito gostoso, paixão. Beijou o meio dos meus seios.

— Gostoso vai ser eu ficar grávida! Empurro seu ombro me sentando e o


obrigando a sair de mim, mas ainda se mantendo meio a minhas pernas.

Os olhos de Enrico desceram para o meu meio como se analisasse


todo o estrago e eu quis socá-lo ao ver seu sorriso safado.

— Eu não estou rindo. Cretino! — Empurro seu ombro.

— Mada, você que não imagina o quão rápido fico duro vendo minha porra
escorrer... fica calma, minha porra não é tão potente assim... foi só uma vez.
Ele disse desviando os olhos e eu realmente não me lembrava de outra vez.

— Mas pode acontecer... — Falei temerosa

— E qual seria o problema?

— Fora o fato de nos conhecermos há um mês? Pulo da bancada e o ignoro


indo para o chuveiro abrindo o jato sobre a cabeça. Logo sinto sua presença
atrás de mim.

— Não é tempo, é sintonia, Madalena, para mim eu te conheço há anos. —


Beija minha nuca. — Me desculpa, não faço mais, enquanto você não se
consultar e começar a tornar o remédio, ok?

— Talvez seja melhor nos abstermos de sexo até lá para não corrermos risco.
Falo com raiva e ele sorri descarado.

— Tudo bem, se você continuar a dormir comigo todas as noites, tranquilo.

— Hum. — É tudo que consigo responder. Eu não aguentava mais ficar


muito tempo perto dele sem querer transar e o maldito sabia bem disso. —
Vou fazer seu café. Falo me esquivando e abrindo o blindex.

— Mas ainda nem lavei seu cabelo. Ele falou claramente chateado. Tínhamos
criado um pequeno ritual nas manhãs desde que estávamos dormindo juntos,
sexo matinal seguido por um banho caprichado onde Enrico era ensaboado
por mim enquanto fazia o mesmo, depois lavava meu cabelo o que eu quase
sempre agradecia com um boquete enquanto o mesmo se mantinha inquieto
com o pé imobilizado na tala impermeável.

— Hoje não.

— Madalena? Ele chamou aparentemente chateado.

— Tudo bem, vou fazer o café. Aviso mais uma vez me embrulhando na
toalha e o deixando sozinho no banheiro.

Sai do quarto de Enrico ainda abalada, sem saber o que estava


sentindo ao certo, não estava chateada por ele ter gozado dentro de mim, até
porque eu assumia esse risco desde que começamos, o coitado era obrigado a
se segurar toda vez que transávamos, o que estava acontecendo muito. Mas o
que temia era o que aquilo podia desencadear, me apavorava pensar que
poderia engravidar.
Eu era apenas uma pessoa sozinha no mundo, sem lar, sem família, que tinha
fugido do passado e estava transando com o próprio chefe do emprego
temporário, eu ainda não tinha tido coragem de contar tudo que havia passado
para chegar até São Paulo para Enrico, e ele não sabia minha verdadeira
história, eu nem sabia para onde estava indo, não podia correr o risco ter um
filho e levar ele comigo sendo que não sabia para onde eu estava indo.

Entrei no meu antigo quarto me enxugando e me enfiando na primeira


roupa que encontrei. Fui para a cozinha começando a preparar o café da
manhã ainda tentando me acalmar e me convencer de que assim como Enrico
tinha dito, tinha sido somente uma vez e que ia ficar tudo bem.

— Vai conversar comigo? Parou ao meu lado se encostando no balcão


usando apenas as habituais bermudas que caiam baixas em seus quadris, o
abdômen a mostra com a correntinha de ouro fina que enfeitava seu pescoço
e caia sobre o peito.

— Está tudo bem.

— Claro que não está, você fugiu do banheiro. Já pedi desculpa, amor... eu
sei que vacilei.

— Não estou chateada com você, Enrico.

— Claro que está, Madalena. Meu Deus, aparentemente ter um filho comigo
apavora a qualquer pessoa. Sua voz baixa saiu chateada e eu me lembrei de
quando ele disse que a esposa falecida não queria engravidar.

— Não é nada disso, Enrico, você entendeu tudo errado. O olho com os olhos
já cheios de lágrimas, doía em mim ver que aquele homem enorme e lindo
era tão inseguro e ferido por dentro assim como eu.

— Então o que é, Madalena?

— Eu só surtei, tá legal? — Desligo as panelas e paro a sua frente. — Eu só


percebi que se caso acontecesse eu seria a irresponsável.

— Por que? Questionou nervoso.

— Porque sou quebrada, Enrico! Você não vê? Deixei o choro me atingir.

— Madalena. — Ele pegou minhas mãos e me puxou até a sala né sentando


no sofá. — Desde que você chegou, eu estou esperando você se sentir
confortável o bastante para me contar o que realmente aconteceu com você...

— Eu sinto muito. Desabafo deixando as lágrimas descerem enquanto


trocávamos olhares.

— Me conta. — Ele levantou os dedos e alisou minha bochecha. — Eu estou


aqui por você, cerejinha.

E então eu respirei fundo e abri o jogo. Comecei contando que na


verdade eu não vinha de Vila do Sol e sim de Alvorada das Almas, contei o
porquê de a cidade ter ganho aquele nome, depois contei sobre a minha mãe e
sobre o meu pai ser um sonhador, sobre ter pego dinheiro com Joaquim
Rodrigues para investir na velha pousada em Vila do Sol que foi a sentença
final de sua vida. Contei de Vicente e de como o conheci, contei até mesmo o
que Vicente tinha ido fazer a Alvorada, mesmo que tivesse o prometido anos
atrás que eu nunca contaria seu segredo para Enrico, eu contei. Abri meu
coração, meu passado, e o berreiro, chorei do início ao fim enquanto Enrico
escutava tudo, calmamente, com as mãos entrelaçadas a minhas. Quando
finalizei eu esclareci o surto da manhã do no banheiro, o meu medo não era
engravidar de Enrico, eu não queria que ele não achasse que eu repugnava a
ideia de ter um filho com ele, porque eu não repugnava... só tinha um futuro
incerto demais para colocar outra pessoa no mundo.

— Madalena. — Enrico me puxou para seu colo e levou meu rosto bem perto
do seu. — Isso tudo que você contou é horrível, paixão.

— Eu sei. Pisco os olhos tentando clarear a visão embaçada pelo choro.

— Você disse que esse pilantra do tal Joaquim é prefeito da cidade?

— Sim.

— Então é um coronelismo?

— Exatamente.

— Porra, essas coisas me revoltam tanto. — Enrico bufa. — Madalena, se


Vicente não tivesse te salvado você acha que ele teria...

— Com certeza estaria morta. — Falo friamente. — Eu nunca permitiria que


ele me tocasse, nunca. Sinto um tremor interno me invadir.
— Madalena... acima de qualquer coisa, quero que você saiba que você não
tem mais um futuro incerto, porque você está comigo, nós dois estamos
juntos e não quero que você tenha nenhuma dúvida disso.

— Eu tenho medo, Enrico. Confesso baixinho.

— Eu te amo. Sua voz grave falou calma e firmemente e então meu mundo
parou.

— Você não pode dizer isso.

— Por que não?

— Porque nunca ninguém disse isso. Falo apavorada sentido meu coração
bater na boca.

Enrico soltou uma risada. — Você é muito absurda, paixão, é o que


sinto, é de verdade, eu vou dizer sim.

Encaro seus olhos muito verdes e uma sensação de paz interior me


toma. Sentia o mesmo por Enrico, as palavras só não conseguiam sair no
momento por isso me aconcheguei nos braços dele o abraçando com força
enquanto minhas lágrimas voltam a cair.

— Eu não quero que isso acabe. Choraminguei.

— Não vai.

— Enrico lembra que eu disse que nada poderia me machucar mais do que já
sou machucada? Eu estava errada, você pode... eu também te amo, é diferente
de tudo que já senti.

— É diferente comigo também, Madalena. A voz baixinha de Enrico em meu


ouvido acalentava meu coração.
— Eu pensei que tinha chegado a amar Vicente, mas com você é tudo tão
diferente.

Limpo os olhos e ele sorri como se estivesse satisfeito, Enrico odiava


quando eu me referia a Vicente com o carinho que eu sabia que sempre iria
nutrir por ele, mas o que sentia por ele era totalmente diferente.

— Eu também te amo de um jeito diferente do que amei, Patrícia. —


Confessa me olhando um pouco envergonhado. — Com você foi tão
espontâneo, Madalena, quando eu vi já te amava, e acredite se quiser é
estranho pensar nisso, mas eu te amo muito mais do que eu já conhecia de
amor.

— Sinto muito pelo surto de mais cedo, eu não quis que pensasse que não
quero ter um filho seu, é claro que seria um sonho eu só não sei se seria uma
boa ideia.

— Eu fico feliz em saber disso, eu também ficaria feliz em ter um filho com
você, e vai ser uma boa ideia quando for pra ser. Beijou a ponta do meu nariz.

— Mas isso não significa que ainda estou com medo.

— Isso é bobagem, escute, vou ligar para algumas pessoas, vou pedir que
investiguem esse tal Joaquim, ele vai ter que pagar pelo mal que vem
causando tanto a você quanto ao povo da sua cidade natal.

— Não! Por favor, Enrico! Ele é perigoso, eu tenho medo, se ele descobre
onde estou ele pode vir atrás de mim.

— Ele nunca vai tocar em você, nem ele nem ninguém, Madalena! Confia em
mim!

— Deixe o Vicente... ele vai se vingar, ele vai conseguir...

— Ele está há anos tentando, paixão, enquanto isso muita gente sofre, nosso
país não é lá dos melhores, mas é contra lei isso.

— Quando se mora em lugar esquecido a lei quem faz é o que tem mais,
Enrico.

— Eu vou pedir que investiguem, isso está decidido, só quero que você
confie em mim, ok?

— Mas...

— Eu vou. — Anuncia com firmeza. — E não precisa ter medo, esse cara
nunca vai te tirar daqui. Ele não pode fazer nada com você.

— Ele é um bicho, Enrico, Joaquim é bicho, não um ser humano.

— Eu estou acostumado a mexer com bichos. — Beijou a palma da minha


mão. — Fica calma.

— Se Vicente descobre que eu te contei sobre o segredo dele, ele nunca vai
me perdoar.

— Paixão, eu só vou sondar o que acontece por lá, não estou dizendo que vou
fazer nada.

— Você promete?

— Prometo. Ele afirma balançando a cabeça e eu volto a abraçá-lo.

Parecia surreal tudo que vinha acontecendo. Mas apesar de tudo meu
peito ainda estava apertado. Algo ruim iria acontecer.

— Agora me alimente, mulher. Forcou um sorriso e deixou um beijo rápido


em meus lábios.

— Se algo acontecer com você eu nunca vou me perdoar. Confesso sentindo


meu peito doer em angústia.

— Nada vai acontecer conosco, esquece esse assunto, vamos comer, temos
muita coisa para fazer hoje.

— Temos? O olhei curiosa. Não tínhamos nada para fazer.

— Videogame, filmes, assistir o seu maldito Pokémon, e testar umas


posições novas. Piscou me fazendo sorrir verdadeiramente.

O casebre ficava no matagal afastado meio a saída para região


norte. Além dos sítios da região serem bem afastados uns dos outros o lugar
já estava abandonando há tempos e era conhecido por ser um cemitério
clandestino com desova de corpos.

O Jeep negro com a placa tampada por um saco plástico negro parou
e duas pessoas desceram. Mais uma vez a mulher resmungou ao pisar no
chão desnivelado com seus saltos altos.

— Edgar, eu ainda estou pensando em como deixei você chegar a este ponto
de sou sempre eu a ter que limpar a merda.

— Denise, fica calma, conseguimos pegar o cara, vamos acabar logo com
isso, colocamos fogo nele e nesse casebre, as provas foram destruídas, até
seu querido genrinho retornar para a ativa e conseguir reunir de novo mais
provas já ganhamos mais milhões, e então destruímos de novo, como estamos
fazendo todos estes anos.

— Se a cada vez que se reunir provas eu tiver que matar alguém pela sua
incompetência. A voz estridente dela saiu afiada enquanto montava o pente
em sua pistola 9mm retirada da bolsa preta no banco traseiro do carro.

— Você matou Patrícia porque quis.


— Aquela idiota queria me destruir, se apaixonou por Kaká e engravidou
quando o plano era manter-se casada com Enrico, você sabe que a casamos
com ele por um motivo, não podíamos correr o risco de esperar aquele bebê
nascer ela insistia em dizer que era dele, mas eu duvido. Seria um bastardo
como ela.

— Eu sei toda a história. Mas Paty nunca foi igual você, Denise... ela só lhe
puxou na beleza.

Edgar alisou o queixo da loira que lhe deu um sorriso de escárnio.

— Patrícia era uma fraca, assim como o pai dela, fiz bem em me livrar deles
enquanto era tempo. Eu quase consegui acompanhar a investigação e fazer
com que Enrico prendesse Ernesto e encerrasse o caso.

— Fazendo de você a esposa do traficante internacional traída.

— Eu sempre fui bem em atuar. — Ela gargalha estrondosamente. — Vamos,


estou louca para voltar para casa e relaxar, amanhã preciso fazer uma visita
a alguém.

— A quem?

— Não te interessa, já que você mais atrapalha do que ajuda.

— É para eu ou você matar o policial que está lá dentro?

— Eu vou! Gosto de ver a vida se apagar nos olhos deles. Falou começando
a andar em direção à porta do pequeno barraco.

Edgar voltou ao Jeep e aguardou alguns segundos até ouvir três tiros
seguidos. A mulher com quem teve a infelicidade de se envolver anos atrás
não tinha piedade nenhuma, e estar saindo com um sorriso nos lábios após
ter matado mais alguém mostrava isso.
13

Madalena Cereja

Alvorada das Almas

6h:36 min da manhã

A caminhonete cinza estacionou frente à sede da fazenda dos


Rodrigues, o lugar ainda tinha as luzes acesas devido à floresta impedir que
o sol se mostrasse até ficar no meio do céu, cerca de quatro homens
desceram e entraram, apenas um se vestia formalmente com terno e gravata
enquanto os outros três trajavam roupas informais.

Entraram para o escritório do tão temido homem que já estava


sentado em sua cadeira de couro negra, com um charuto aceso na boca
enquanto a fumaça deixava o ambiente abafado.

O homem de confiança de Joaquim arregalou os olhos ao perceber os


desconhecidos ali a sua frente, parecia ter recebido um golpe na boca do
estômago, depois de semanas na falsa busca que mantinha por Madalena
Cereja havia voltado gosta a fazenda há três dias atrás dizendo que não
tinha encontrado nada.

O velho estava mais irritado do que o habitual. Joaquim não falava o


porquê de querer encontrar a garota, só dizia que precisava trazê-la. Vicente
desconfiava de qual segredo rondava sua antiga amante.

— Vicente, deixe-nos a sós um momento. Joaquim ordenou e ele encarou os


três seguranças atrás do homem engravatado, naquele momento ele soube
que eles teriam alguma ligação com a busca incessante de Joaquim por
Madalena.
Saiu do escritório temendo que toda sua vingança fosse por água
abaixo, e até pensou em escutar atrás da porta, mas os três homens que
acompanhavam o engomadinho saíram junto com ele do escritório deixando
apenas os dois homens lá dentro.

Colocando em risco algo que poderia ser o fim de um plano de anos.


Vicente se recusava a acreditar que perderia tudo. Mas não sentia tanto por
saber que por Madalena, ele teria que agir rápido se algo desse errado,
sempre quis pegar toda a fortuna de Joaquim para si, mas de todo modo, se
não desse certo mataria o velho maldito sem pensar duas vezes, e estava
tentado a fazer naquele momento.

A porta do escritório se abriu e a voz estrondosa de Joaquim o


chamou.

— Pois não, senhor. Ele parou frente à mesa reparando pela visão periférica
que agora o também engravatado fumava charuto assim como o patrão.

— Quero te apresentar, este é Humberto, ele irá encontrar Madalena.

— A filha de Ferrão? Vicente arregalou os olhos ao perceber que sua


intuição estava certa sobre o homem engravatado.

— Não toque no nome daquele bastardo, já lhe disse isso mil vezes! —
Cuspiu um pedaço do fumo que mascava. — Humberto é detetive e consegue
achar qualquer rastro que seja, vai achar a menina.

— Porque tanta vontade em achar a garota, patrão?

— Ela me deve...

— Mas a dívida é pequena, senhor.

— Ninguém deve a Joaquim Rodrigues, Vicente. Você sabe bem disso!


— Ela já deve estar longe, o senhor sabe que buscamos todas as regiões
atrás dela.

Os olhos escuros de Joaquim pairaram sobre Vicente.

— Ela desapareceu há semanas.

— Ela não tinha dinheiro, duvido que esteja longe. Você só não está
conseguindo cavoucar direito. — O velho olhou para o homem sentado. — O
prazo para me dar notícias é de um mês a partir de hoje.

— Eu trarei antes, pode apostar. Humberto afirmou tragando o charuto.

Caminhei pelo apartamento ainda grogue de sono em busca do


barulho de música que vinha do segundo andar, quase nunca tinha ido até lá,
era onde ficavam a área de lazer e academia.

Parei na porta observando Enrico suado usando apenas uma bermuda


de moletom, com o pé imobilizado desferindo socos em um saco de pancadas
enorme pendurado pelo teto, o cabelo empapado de suor caia sobre a testa e
ele parecia estar com raiva, batia com as luvas sobre o mastro de areia com
força concentrado.

Na noite anterior finalmente seu amigo Doug havia dado notícias,


aparentemente o policial que eles já desconfiavam estar vazando informações
e ter roubado todas as provas da investigação que Enrico fazia desde que
tinha se tornado delegado havia sido encontrado morto com três tiros na
cabeça.

Doug ainda não havia retornado para São Paulo, e Enrico tinha
xingado até a sétima geração por estar com o pé engessado, ameaçou até
mesmo arrancar o gesso com uma tesoura sem ponta. Só mudou de ideia
quando dona Luísa disse que me levaria embora. A raiva dele tinha se
abrandado e praticamente expulsado os pais para fora após nosso jantar.

Não havíamos feito amor na noite passada, Enrico apenas tinha me


abraçado com força e acariciado meus cabelos até que eu caísse em sono
profundo, quando eu acordei ele já não estava mais na cama, tinha ido ao
banheiro escovar os dentes e saído na sua procura e o encontrando ali
demonstrava que sua raiva da noite anterior ainda não tinha passado.

— Oi. Parei ao seu lado e ele nem desviou o olhar para mim.

— Oi.

— Ainda está muito bravo? Coloquei as mãos na cintura enquanto meus


olhos faziam o caminho do seu abdômen contraído brilhando com a camada
de suor.

— Só estava pensando. — Ele dá um último soco. Se virando para me olhar


mais comedido. — Bom dia, cerejinha.

— Bom dia. Dou um sorrisinho apaixonado encarando seu rosto bonito


enquanto ele retirava suas luvas as jogando no chão e me puxa pela cintura.

— Dormiu bem?

— Dormi e você, conseguiu dormir?

— Um pouco...

— Não fica assim, Enrico. Levei meus dedos ao seu peito suado.

— Como não fico, paixão? Minha delegacia deve estar um caos, um homem
meu morreu e nem sei se era o verdadeiro traidor, eu não sei onde estou
pisando, perdi todas as provas de novo, esses fodidos sempre conseguem
escapar quando estou quase conseguindo.
— Não é a primeira vez que isso acontece?

— Não. — Ele fechou os olhos jogando a cabeça para trás. — Eu investigo


esses abutres há anos, a primeira vez que conseguiram escapar foi na mesma
época que Patrícia morreu.

— Eu sinto muito.

Enrico voltou a me olhar. — Vou ligar para meu médico e ver se


consigo adiantar a retirada dessa merda, preciso voltar a trabalhar.

— E só vai voltar se ele autorizar, não é?

— Eu estou grudento. Enrico disfarçou minha pergunta olhando minha mão


em seu peito.

— Não importo. Espalmei a mão e desci do peito ao cós da bermuda. —


Você só vai voltar se o médico liberar, não é?

— Sim, paixão. Ele moveu a cabeça para perto tomando meus lábios nos
seus.

— Não seja irresponsável, por favor.

— Vem tomar banho comigo?

— Não tente me distrair com sexo.

— Estou conseguindo? Uma sombra de sorriso apareceu em seus lábios.

— Não.

— Sério? Sua sobrancelha se ergueu.

— Você precisa ficar bom primeiro, antes de voltar para a loucura que sua
vida parece ser.

— Eu vou me comportar, prometo.

Encaro seus olhos por uns segundos buscando algum rastro de


brincadeira ou mentira, mas ele parecia estar sendo muito sincero. — Então
vamos tomar banho, você precisa lavar meu cabelo hoje. Bocejo o abraçando
preguiçosa.

— Hoje você não vai virar uma gata brava?

— Se você não gozar dentro de mim me fazendo surtar com a possibilidade


de termos um bebê com menos de um mês de namoro, não serei.

— Tarefa complicada. — Piscou sorrindo enquanto entrelaçava nossos dedos


e íamos rumo ao andar debaixo. — E se eu gozar no seu traseiro?

Parei no meio do caminho estatelando os olhos.

— Você quer comer... minha bunda?

— Com certeza.

— Nem pensar. Tá maluco? Me soltei da sua mão.

— Ei. — Enrico não segurou a risada. — Qual o problema?

— Nunca fiz antes e nem pretendo!

— Eu posso ser o primeiro.

— Não!

— Nunca diga nunca. Piscou descarado e minha boca se abriu e fechou duas
vezes comigo incapaz de falar qualquer coisa.
— Nunca!

— Vou lembrar disso quando estiver comendo seu rabo, paixão.

— Enrico, você está sendo grosseiro! Virei as costas e comecei a andar o


deixando para trás.

— Madalena? Eu preciso de ajuda na escada.

— Você subiu sozinho seu papa-cu, desça também! Gritei com raiva e a
gargalhada estrondosa dele me deixou ainda mais furiosa.

— Papa o que?

— Cale a boca!

— Madalena... Ele se aproximou mancando o mais rápido que conseguia.

— Eu não quero!

— Tudo bem, paixão, eu nunca vou te obrigar a nada. Tentou apaziguar se


aproximando mansamente.

— Mas vai gostar menos de mim se eu não te deixar?

— Claro que não, Madalena, que ideia.

— Sua... sua esposa fazia?

Os olhos de Enrico ficaram sérios por uns segundos e ele soltou um


suspiro.

— Paixão, não é para você ficar se comparando.


— Então faziam... — Sussurro. — Eu posso tentar.

— Madalena, não é assim, escuta: — Me puxou firmando meu rosto em suas


mãos. — Esquece o que disse, nunca compare o que temos, somos só nós, eu
e você, ok?

— Ok. Falo baixinho recebendo seu abraço sentindo as lágrimas em meus


olhos se acumularem.

— Se um dia acontecer, eu disse “se”... Vai ser por nossa vontade, de nós
dois, eu só brinquei, não é uma exigência, você precisa saber que eu te amo e
que me satisfaz, você sabe disso, não sabe? Madalena?

— Eu te amo. — Balanço a cabeça choramingando emocionada com suas


palavras. — Te amo, Enrico.

Estávamos eu Aline e dona Luísa sentadas na mesa da praça de


alimentação do shopping lanchando após algumas comprinhas quando eu
decidi desabafar sobre o acontecido do dia anterior no qual apesar de Enrico
insistir em dizer que eu esquecesse, aquilo martelava na minha mente.
— E então vocês brigaram?
Encaro minha sogra sentido minhas bochechas queimarem de
vergonha.
— Não exatamente, ficamos juntos depois, eu só não quero que Enrico perca
o interesse em mim, vocês entendem?
— Então vocês transaram?
— Dona Luísa. Olho ao redor verificando se alguém escutava nossa
conversa, mas todos pareciam alheios ao papo. Contar para a mãe do meu
namorado que o filho tinha falado sobre sexo anal comigo não era nada
confortável.
— O que, querida? Acha que eu fiz Enrico como? Rezando? Foi trepando, e
muito... já te disse que Luiggi é muito fogoso.
— É mesmo? Aline falou interessada.
— Garota, eu sofro para aguentar aquele homem, a idade não afetou em nada,
acredita?
— Verdade? Rafael custa me procurar duas vezes na semana. Reclamou
— Isso não pode, em? Trata de dar um jeito, dá uma apimentada nisso,
homem precisa, e cá entre nós, a gente também. Eu sei que o trabalho nos
deixa exaustas, mas sexo é fundamental para nos deixar relaxadas, com
autoestima, felizes.
Parei encarnado as duas mulheres a minha frente e dei um sorriso.
Gostava daqueles almoços que vinha acontecendo umas duas vezes na
semana. Enrico dizia que eu devia espairecer e ir me acostumando para
quando ele voltasse a trabalhar e que deveria criar uma nova rotina.
— Está rindo do que? Luísa me olhou rindo também.
— Falar para eu dar a bunda para Enrico é fácil, você não imagina o tamanho
do pau do teu filho, né?
A nossa gargalhada chamou a atenção das mesas do lado.
— É claro que eu sei, amor, pari aquele menino, puxou o pai. Mas vai por
mim, você vai gostar.
— Mada, se ele disse que não vai forçar e se acontecer vai ser por vontade
dos dois, o que te deixa nervosa? Aline questionou mastigando uma batata do
seu lanche.
— Já falei, eu tenho medo que ele comece a me achar chata por negar isso,
ainda mais agora que vai voltar a vida dele, sair do apartamento, gente olhem
para mim, Enrico é lindo, ele é perfeito!
— E você também é, ou ele não queria comer seu rabo. Luísa leva o milk-
shake aos lábios e eu arregalo os olhos perplexa com suas palavras.
— O que ela está querendo dizer amiga, que você tem que parar de
insegurança. E fazer ou não fazer sexo anal com Enrico não vai os
sentimentos dele por você, ele já te ama, não muda muita coisa.
— Ah vai, porque aí você vai querer sempre, principalmente quando beber
umas boas taças de vinho, dá um fogo... menina! Luísa piscou rindo
escandalosamente.
— Luísa você tá me saindo uma safada.
— O que minha filha? Casada há trinta e dois anos, a gente se vira como
pode. Ajeitou os cabelos bem penteados.
— Ele disse que Patrícia e ele...
— Não se compare com a falecida. Patrícia era uma cobra igual a mãe. —
Luísa conta. — Que descanse em paz, mas que livramento.
— Você não gostava dela? Aline pergunta curiosa.
— Ela quem não gostava de Enrico! Não como Madalena gosta. — Dona
Luísa aponta para mim. — A impressão que eu tinha era que Denise amava
mais Enrico que a própria filha, parecia ser benéfico o casamento, cheguei a
desconfiar ser por dinheiro, mas não entendi já que eles também possuíam
muitos bens.
— Você acha que Patrícia não amava Enrico pelo fato dela não querer ter
engravidado? Especulo.
— E por outros muitos motivos. Ela sempre parecia distante, sorria, mas
nunca chegava aos seus olhos... Enrico não via isso pois se apaixonou por ela,
e aparentemente ela conseguia fingir bem quando estavam juntos.
— Que horrível, então é meio feio dizer, mas que bom que ela se foi. Aline
falou fazendo o sinal da cruz.
— Que bom mesmo, pensei que ela ia conseguir levar meu filho quando
morreu, Enrico caiu em uma depressão horrorosa por anos, até sofrer a
emboscada e Madalena aparecer. A mão macia de Luísa alisou a minha.
— Enrico sofre muito ainda, ele ainda não se abre totalmente.
— Isso não quer dizer que ele não te ame. Dona Luísa afirmou amorosa.
— Eu sei. Balanço a cabeça, pois eu acreditava naquilo.
— Amiga, Enrico gosta muito de você, eu nem sei como ele não ligou para
você ainda inclusive. Aline pontuou já que ele vivia me ligando quando eu
estava fora de casa.
— Está no médico. Dona Luísa contou para minha amiga. — Vai tirar o
gesso da perna hoje.
— Pensei que ele ficaria mais tempo.
— Nós também, mas ele conseguiu convencer o doutor, vai fazer fisioterapia
três vezes na semana.
— Então agora você vai trabalhar com o quê?
— Estava falando com a Madá sobe alguns ótimos cursos que ela pode se
matricular até poder prestar o vestibular.
— É uma ótima ideia. Aline concordou e eu bebi um gole do meu suco
sentindo um arrepio subir em minhas costas como se estivesse sendo
observada.
— Desculpe senhoras, eu não queria atrapalhar vocês, mas não pude deixar
de ouvir vocês dizendo sobre cursos, e com o sangue de empresários
correndo nas veias sou obrigado a me intrometer, sou dono de uma ótima
escola que oferece cursos profissionalizantes. Um homem fala surgindo do
nada em nossa frente.
Eu continuei calada enquanto Luísa lhe sorria como sempre muito
simpática.
— É mesmo? E você é?
— Muito prazer, me chamo Humberto, sou sócio da Única Cursos, fica no
centro, já ouviu falar?
— Não, sinto muito. Luísa falou e balançamos a cabeça tentando ser
simpáticas.
— Podem me passar o número de vocês e eu envio nosso cronograma?
— Claro, anote meu número aí, e eu te mostro tudo, Madalena.
— Você se chama Madalena? Os olhos escuros dele se encontraram com os
meus e meu estômago embrulhou.
— Ok. — Gaguejei. — Ela é Aline e essa Luísa.
— Sou a sogra dela.
— Já é casada, Madalena? Ele me olhou curioso.
— Namorando.
— Entendi. — Deu um sorriso forçado. — Bom, meninas, eu preciso ir, mas
vou mandar para você Luísa, será um prazer ter vocês conosco.
— Eu fico aguardando.
Ele nem sequer se despediu, nos deu as costas e saiu andando
desaparecendo feito um fantasma como quando aparece e o peso que eu
estava sentindo no peito só aumentou.
Quando dona Luísa me deixou no apartamento já no fim da tarde se
recusou a descer falando que ligaria depois, subi o elevador e entrei em casa
encontrando o apartamento silencioso.
Estranhei já que Enrico tinha dito que sairia do médico direto para
casa.
— Paixão? — Chamei pelo apelido que ele costumava me tratar e que acabei
também pegando mania de volta, tranquei a porta e desfiz dos sapatos de
saltos que estava me acostumando a andar. — Você está aí? Ando pelo
corredor e encontro tudo vazio, a luz do andar de cima estava acesa e eu subi
as escadas pensando se Enrico já tinha chego do médico para a academia?
Estatelei os olhos e finquei os pés quando cheguei no fim da escada.
Ao lado da piscina uma linda e única mesa estava posta, com duas
velas acesas, Enrico estava parado de pé, usando Jeans e camiseta escura, o
cabelo desgrenhado brilhava com as luzes, nos pés usava pares de sapatos, o
gesso já não estava mais lá. Ele parecia bonito demais para meus olhos.
— Até que enfim você chegou. — Abriu um sorriso genuíno. — Surpresa.
— Uau! Viro o rosto observando as pétalas de rosas jogadas no chão. —
Estamos comemorando a retirada do gesso? Ergo uma sobrancelha.
— Eu estava esperando poder calçar sapatos para oferecer um jantar decente
de pedido de namoro.
Minha garganta inchou, nem a saliva era capaz de descer, os olhos
pinicavam de tão emocionada quando ele me guia até uma cadeira e se senta
a minha frente. Percebo meu violão encostado perto da mesa e ele o segura
passando os dedos levemente pelas cordas.
— Dei uma afinada, espero que não se importe. Sorri enquanto eu só balanço
a cabeça incapaz de dizer qualquer coisa.
Os primeiros acordes de seus dedos longos saem com meu chiado de
choro abafado enquanto a voz mais doce que eu jamais poderia imaginar que
Enrico tivesse começou a cantar:
"Saio por aí juntando flor por flor
Só para te mostrar
O que a vida fez com todo o amor
Só para ti, só para ti, só para ti [...]”
Me debulhei em lágrimas, meu nariz deveria estar feito um tomate de
tão vermelho e puxava o ar pelos dentes. Limpei os olhos mais uma vez
quando diminuiu os acordes e com um meio sorriso o vi deixar o violão de
lado repousando um dos joelhos no chão a minha frente sacando uma
caixinha de veludo preta do bolso.
— Eu já me considero seu, mas mesmo assim acho válido te pedir, quero que
você tenha todas as lembranças para contar um dia para os filhos que vamos
ter. Aceita namorar comigo, Madalena?
— É óbvio que aceito! — O abraço meio desajeitada enquanto nos
levantamos e engatamos um beijo desesperado — Porque não disse que sabia
cantar? Que musica linda!
— Você também nunca cantou, então eu preferi guardar segredo, consegui
impressionar?
— Muito! Meu Deus! Que lindo! Pulo novamente em seus braços voltando a
beijá-lo enquanto passeio minhas mãos por baixo da sua camisa.
— Eu preparei um jantar, tem vinho.
— Vinho? Sua mãe disse que vinho deixa a gente com fogo. O olho
declarando minhas más intenções já me sentindo totalmente acesa.
— Ela disse é? — Enrico riu. — Nem quero imaginar o que vocês andam
falando nesses almoços.
— Melhor não saber. Sorrio em resposta.
— Bom, se dá fogo ou não, vamos testar essa noite.
Ignoramos as cadeiras frente à frente e Enrico puxou a sua para que
ficássemos lado a lado. Encheu duas taças e brindamos um sorrindo para o
outro.
Eu nunca tinha experimentado vinho antes, a única bebida alcoólica
que já havia chegado a beber tinha sido cerveja ou cachaça, não
recomendando a última, pois dava uma dor de cabeça do diabo, mas eu
achava que o gosto era suave.
— É bom? Ele perguntou em expectativa e eu dei um bom gole na taça.
— Sim, nem parece que tem álcool.
— Mas tem, vamos devagar. Sorriu de novo beijando minha bochecha e
puxando a tampa do recipiente que dona Luísa tinha me dito chamar “cloche”
e eu ver uma pizza de calabresa.
— Você pensou em tudo, senhor Giordano.
— É porque você ainda não viu o quarto. Piscou de um olho só e eu senti até
minhas entranhas esquentarem.
— Bom, agora eu quero ir ver.
— Acalme-se paixão, tudo tem sua hora. Respondeu em uma calma irritante
enquanto nos servia com a pizza que cheirava muito bem.
— Deu tudo certo no médico?
— Sim, começo as TENS na semana que vem.
— O que é isso?
— Fisioterapia com um aparelho de ondas de choque, será duas vezes na
semana, por dois meses, o lado bom é que já vou poder parar com os
medicamentos.
— Sério?
— Seríssimo. Concordou mastigando um pedaço generoso de pizza.
— Nada de acordar de madrugada para comprimidos então?
— Podemos acordar de madrugada para outras coisas agora. Apertou minha
perna nua por estar usando um vestido.
— Sei. Finjo desinteresse, mas o sorriso em minha boca estava enorme.
— Falei com Doug hoje. Ele começou a contar e meu coração se apertou só
de ouvir o nome do seu parceiro.
— Ele está bem?
— Como ele estava muito estressado com tudo que vinha acontecendo eu o
mandei para Alvorada das Almas.
Deixei o garfo cair no prato e arregalei os olhos.
— Como é?
— Não confio em quase ninguém, ele é a pessoa certa para ir lá.
— Porque você fez isso?
— Precisamos arrumar um jeito de prender o tal Joaquim, sei lá, eu te disse
que iria investigar, paixão.
— Agora ele corre perigo! — Aumento a voz. — Vocês são loucos? Ele vai
aparecer lá falando o que?
— Cerejinha, calma. — Enrico segurou minha mão por cima da mesa. — Ele
só foi sondar a cidade, estamos longe, eu sou delegado em São Paulo não
posso me intrometer em outro Estado, Doug está fazendo um favor particular
para mim.
— Enrico, eu tenho medo, sério... Joaquim não tem medo de matar ninguém,
e se acontecer alguma coisa com seu amigo?
— Querida, Doug é esperto o bastante, fique tranquila.
— Se você o mandou para Alvorada, quem vai investigar o caso das drogas?
— Eu e os outros agentes?
— Você? Meus olhos se apertam e o medo aumenta ainda mais.
— Você sabe que eu preciso voltar, Madalena. Que é por isso toda minha
correria para mudar o tratamento da perna.
— Você não poderia ter uma profissão menos perigosa?
— Eu poderia, mas eu gosto do que faço, paixão. Beijou minha cabeça e
encheu mais uma vez nossas taças.
Dessa vez não esperei nada, virei o líquido na garganta de uma vez e
senti o calor subir por meu rosto, o álcool estava se espalhando em meu
corpo.
— Você está tentando ficar bêbada? Seus olhos pousaram na taça vazia na
mesa e em mim a enchendo novamente um pouco menos do que
anteriormente.
— Relaxar, é só muita coisa para assimilar, apenas isso.
— Madalena?
— O que? Pergunto antes de virar de novo a taça de vinho e já sentindo meu
corpo todo quente. Enrico estava falando, mas tudo que eu conseguia
concentrar era na sua boca bem desenhada, queria chupar seus lábios por
horas, morder seu pescoço, puxar seu cabelo macio, me esfregar nele
enquanto suas mãos me apertavam do jeito que só ele sabia fazer.
— Você ouviu o que eu disse? Ele me olhou rindo e eu saí do pequeno transe.
— Sua mãe tinha razão sobre o vinho...eu preciso que você me foda agora.
— Agora? Sua voz saiu junto com um sorriso safado.
— Sim... me fode aqui, e depois me leva para o quarto que eu vou precisar
lamber seu corpo inteiro antes de você me comer de novo.
— Madalena... — A voz de Enrico saiu grossa transparecendo que minha
safadeza estava o afetando.
— É sério. Ataquei sua boca enquanto trabalhava minhas mãos no cinto do
seu jeans, ouvi o som do zíper sendo aberto e logo estava com sua ereção na
mão e ouvi o arfar em minha boca.
— Você está estragando o jantar romântico. Sua risada saiu junto com um
gemido enquanto minha mão subia e descia.
— Foda-se, o jantar.
— Amor as camisinhas estão no quarto...
— Transamos sem camisinha esse tempo todo, não vai me deixar na mão
agora por causa dessa merda. Falei insana já montando seu colo e puxando
minha calcinha para descer alucinada em seu mastro.
Gememos um na boca do outro. Os dois de olhos abertos. O ônix se
fundindo com a esmeralda. Nossas respirações unidas enquanto eu começava
a subir e descer com força.
— Devagar, porra, senão eu gozo logo.
— Eu preciso de rápido, eu preciso! Resmunguei insana enquanto cobri seu
pescoço com minha boca.
As mãos de Enrico fincaram no meu traseiro controlando o ritmo, vez
ou outra desferia tapas estalados e ardidos que faziam meus gemidos se
transformarem em gritos finos.
— Ai, merda! Vou gozar. Anunciei contraindo os músculos da minha boceta
subindo até que somente a cabeça do pau de Enrico estava dentro de mim e
ele gemeu como um animal quando fiz isso.
— Puta que pariu, mulher!
— Eu te amo! Procurei sua boca antes de descer mais uma vez até sentir suas
bolas para rebolar. Fiz mais duas vezes antes de sentir seu corpo tencionar e
ele gozar xingando palavras desconexas gemendo rouco.
Ficamos quietos até nossas respirações se regularem e eu me afastei
para encarar seu rosto.
— Onde você estava todo esse tempo, Madalena? A voz baixinha e carinhosa
tocou meu coração como fogo.
— Sofrendo por aí. Sussurrei forçando um sorriso.
— E eu sofrendo aqui... — Beijou meu queixo como um toque de pluma. —
Nessa cidade cinza e fria... que bom que você veio.
Emocionados e ainda abraçados continuamos ali, apenas um desfrutando da
presença do outro até sentirmos as primeiras gotas de chuva caírem sobre
nosso rosto e olhamos juntos para o céu escuro e carregado, já era noite, mas
ainda assim cinza tampado pelas nuvens pesadas de chuva.
— Vamos entrar?
— Vamos. Concordei e me mexi. Senti sua porra escorrendo por minha perna
e Enrico não escondeu a satisfação em ver a cena, tinha um sorriso descarado
no rosto bonito.
— Se for um menino eu espero que seja tão bonito quanto você. Falei e
Enrico me olhou assustado.
— O quê?
— Seu filho... a teoria de que sua porra não é tão potente já deve ter falhado a
muito tempo.
— Você acha? Sua voz saiu animada e eu fui incapaz de não sorrir.
Aquilo era uma loucura, nos conhecíamos há pouco mais de um mês.
— Eu acho.
— Então a gente continua tentando ou...
— Aline conseguiu um encaixe no médico daqui duas semanas, até lá você
tem a chance de procriar comigo.
— Procriar? Sua risada sai alta enquanto ele se levanta ajeitando as calças,
mas nem a abotoando.
— Isso soou como se eu fosse uma vaca?
— Soou.
— Cala boca! Empurro seu braço e passo por ele rumo as escadas sentindo a
chuva aumentar.
— Ei, devo levar o vinho?
— Se você ainda estiver com intenção de comer a minha bunda, deve sim.
Falo por cima do ombro vendo a expressão chocada.
— Você está falando sério? Ouço sua pergunta, mas não a respondo. Tinha
eu acabado de concordar em ter um filho com Enrico seguido por fazer sexo
anal? Eu nunca mais beberia vinho na vida!
14
Madalena Cereja
Me sentei na beirada da cama e esperei Enrico aparecer carregando a
garrafa de vinho nas mãos e a deixou sobre a mesinha de aparador vindo me
encontrar.
— Você não quer me tocar? Sussurrei me sentindo ousada, passei os dedos
pelo meu vestido e desci as alças expondo minha pele, deixando meus seios
livres.
O silêncio de Enrico enquanto seus olhos me analisavam
acompanhando cada movimento meu.
O vestido caiu acumulado na cintura, suspirei em expectativa e
molhei os lábios com a língua percebendo como o olhar daquele homem me
deixava excitada.
Ele ainda estava parado, só me olhava. Sério demais levou o bico da
garrafa a boca e bebeu um bom gole, estendeu a garrafa e eu aceitei de bom
grado fazendo o mesmo. Não bebi mais que dois goles, não era acostumada
temia a ressaca de amanhã, só estava gostando demais de estar me sentindo
tão desinibida.
— Você falou sério lá em cima? Sua voz rouca me causou arrepio.
— Sobre o que?
— Sobre termos um bebê... e sobre eu comer o seu traseiro.
— É sério. Respondi corajosa, eu me sentia assim, o álcool tinha me deixado
louca. Me coloquei de pé e deixei que o vestido escorregasse para o chão
ficando apenas de calcinha a sua frente. Mexi no meu cabelo deixando que as
ondas longas cobrissem meu seio esquerdo.
Enrico me encarou parecendo ser capaz de me queimar, com o olhar
largou a garrafa na superfície mais próxima e tirou sua camiseta pela cabeça,
logo depois arrancou os sapatos no mesmo momento que abaixava o jeans e a
cueca juntos, como se estivesse com pressa.
— Tire a calcinha e vem comigo.
Estatelei os olhos quando passou rumo ao banheiro com o pau
totalmente ereto deixando-me com a visão do seu belo traseiro. Fiz o que
tinha me mandado e entrei no banheiro atrás dele.
Assustei quando a porta bateu atrás de mim e antes que eu pudesse
virar Enrico me agarrou por trás com força. A ereção pressionada em minha
bunda. Sua mão grande fechada em torno da minha garganta me
imobilizando.
— Você está sendo uma menina má há muito tempo, Madalena... —
Murmurou baixo contra meu cabelo.
— Estou?
— Acha que já me esqueci de Jonas?
— Porque você sempre tem que... — Comecei a dizer, mas Enrico me
empurrou para frente e andamos alcançando a bancada. Ele deitou meu
tronco de bruços enquanto abriu minhas pernas com as suas e entrou em mim
de novo.
— Hoje você vai me dar a verdadeira cereja e fazer jus ao seu sobrenome
Madalena?
— Eu odeio quando você brinca com meu nome. Resmungo entredentes.
— Eu não estou brincando meu anjo, eu amo que você tenha cereja no nome.
Apertou meu seio enquanto a outra mão se enrolava em meu cabelo firmando
um ritmo.
— Ah, porra, que gostoso!
— Aguenta firme, paixão, essa noite tem muita coisa para se fazer.
— Pare de falar! Fecho os olhos deixando que o prazer me invada de uma
forma estrondosa enquanto o barulho de nossos sexos me excitava.
— Eu gosto de falar. Gosto de falar o quanto é gostoso ver meu pau te
comendo.
— Enrico! Grito quando seus dentes cravaram no meu ombro e eu levo as
mãos para trás em busca de o puxar ainda mais perto, mas a posição me
impede.
— Mais! Sinto minhas pernas tremerem sem que eu pudesse controlar,
sensações tão deliciosas ondulavam meu corpo mostrando que estava prestes
a gozar quando Enrico saiu de dentro de mim.
— Não! — Protestei. — Por favor...
— No chuveiro, paixão, vem, você está mais embriagada do que deveria,
vamos te deixar melhor. Me puxou para o box.
Meu corpo quente ficou ainda mais em chamas quando Enrico encheu
a esponja com espuma e começou a passear pelo meu corpo, quando moveu
sobre meu clitóris inchado que implorava por atenção eu gemi em sua boca.
— Vou te embebedar mais vezes. Riu enquanto puxava meu lábio entre os
dentes.
— Eu tô muito louca para trepar, paixão. Ri de volta enquanto ele
massageava minha nuca, meus seios, meus braços, desceu por minha bunda e
arriscou com os dedos alisando meu buraco que eu jamais permitiria se não
tivesse chapada.
— Você quer mesmo tentar isso?
— E se der errado? Sabe o que quero dizer né? O olhei com medo e Enrico
riu. Ele não podia ser tão bonito. Merda. Que homem lindo!
— Paixão, não vai dar errado... você só precisa relaxar.
— Se eu relaxar mais do que estou eu desmaio.
— Sei. — Ele beijou a ponta do meu nariz. — Eu sinto que você está fixada
com isso, pensando que eu preciso
— E não precisa?
— Eu quero, Madalena... é diferente. Vamos fazer assim. — Começou a
dizer enquanto desligava o chuveiro. — Vamos para o quarto agora, tire da
cabeça que é obrigação fazermos sexo anal.
— É difícil eu tirar isso da cabeça.
— Vai tirar. Me deu um beijo rápido.
— E então estou salva? Levanto as sobrancelhas.
— Tudo pode acontecer essa noite, garota. Inclusive você ficar grávida, ou já
se esqueceu?
— Enrico, eu vou precisar de mais vinho.
*

Bariloche - Argentina

O barulho do helicóptero rompeu a noite silenciosa, logo carros


negros adentraram a imensa mansão que mais se parecia um palácio.
Por já ser madrugada o frio ainda era mais congelante que o normal,
a neve que cobria as montanhas naquela época do ano fazia parecer estar na
Europa.

A mansão amadeirada era bem iluminada. A mulher saltou do carro


usando seu cachecol cobrindo até o nariz, odiava quando tinha que fazer
aquelas visitas, mas devido às circunstâncias estava sendo necessário.
Foi recebida por soldados armados que a acompanharam até o
escritório do andar de cima aonde o casal já a esperara.
— Denise, uma honra recebê-la minha sogra. Carlos Alfredo se levantou de
trás da mesa de mogno para receber a recém-chegada.
— Kaká, meu querido! O abraçou lhe dando dois beijinhos no rosto. — O
frio estão fazendo bem aos dois, não? Ela move os olhos para a filha que
ainda estava estática perto da mesa.
Patrícia não parecia nada com a mulher de anos atrás, tinha passado
por procedimentos plásticos e mudado o rosto assim como a cor do cabelo
agora já não eram loiros e sim ruivos escuros.
O então agora marido que na época era o seu "parceiro de trabalho"
também já não era o mesmo, tinha deixado a barba crescer, pintado o cabelo
de preto escuro e usava lentes pretas para esconder os olhos azuis.
— Você achou? O homem sorriu.
— Porque tanta urgência em vir? Patrícia cuspiu as palavras demonstrando
a infelicidade. Ela odiava ainda fazer parte daquilo, chorava todas as noites
pelo fato de ter se apaixonado pelo filho do sócio de sua mãe naquela sujeira
toda, depois de Alfredo falecido, o filho havia assumido e dividia os negócios
com sua mãe.
— Acalme-se menina. — Ela a olhou com desdém. — Sempre afoita em
resolver as coisas, lembra-se como teve pressa em tirar aquele bastardinho.
— Ele era filho de Kaká você sabe muito bem disso! Patrícia começou a se
exaltar.
— Querida... — O marido a puxou pela mão em um falso carinho. — Não
fique tão nervosa, você sabe que sua mãe gosta de te implicar. — Sorriu
complacente. — Porque não vai até a cozinha preparar um chá para nós
enquanto converso um pouco com Denise?
— As empregadas podem fazer isso.
— Gostaria que você o fizesse, os seus sempre são mais gostosos.
— Ok. Beijou levemente seus lábios.
Os dois esperaram a mulher que levava a infelicidade e amargura no
olhar deixá-los a sós.
— Que garota sentimental... só pode ter puxado o pai. Denise gargalhou
enquanto se desfazia de seu cachecol.
— Não toque no nome do pai dela, Paty ainda não superou o fato de que
decidimos por nos livrar dele.
— Eu não estou dizendo? Essa garota devia dar as mãos aos céus por estar
viva, se casou com você, ganhou identidade nova! Eu não, eu preciso estar
naquele país de merda, fingindo ser a mãe e viúva sofrida para não
perdemos os negócios.
— O que te trouxe aqui, Denise? Kaká colocou as mãos no bolso da calça.
— É assim que você me recebe depois de meses, Kaká? A mulher se ergueu
olhando para a porta do escritório fechada.
— Você tem razão, querida, eu sinto muito... que tal tirar a calcinha e
levante essa saia, sente-se de pernas abertas na mesa, resolvemos os
problemas depois. Anunciou deixando a mulher animada.
*
O ar gelado batia na minha bunda desnuda e me arrepiava. Me
remexo na cama sentindo o corpo musculoso esparramado ao meu lado e
abro os olhos encontrando Enrico dormindo serenamente. O rosto mesmo
adormecido era bonito, as feições fortes, aquela bela boca contornada pela
barba perfeita e os olhos fechados com os cílios longos que ao se abrirem
seriam os mais verdes que eu já havia visto na vida.
O quarto cheirava sexo, meu perfume o de Enrico e ao vinho que
derrubamos no tapete quando fomos transar perto da janela.
Eu nunca mais queria perder isso. Meu corpo estava totalmente
dolorido, parecia que eu tinha corrido uma maratona. Mas o que eu mais
temia estar destroçado não estava.
Sim. Tinha acontecido. Eu tinha tomado mais vinho e tinha deixado
Enrico experimentar a minha porta traseira.
De início tinha sido péssimo, e estranho. Narrando em breve relatos
eu deveria dizer que foi meio trágico no início, mas o resultado melhor do
que eu imaginei.
Tinha tudo se desenrolado quando estávamos transando loucamente e
eu estava de quatro na cama o sentindo até o fundo, quando ele mais uma vez
ousou seu dedo no ponto proibido, percebi que o álcool fazia estrago quando
ao invés de ficar tensa e pedir que ele saísse dali, empurrei contra.
Depois daquilo foi uma loucura, Enrico tinha buscado um óleo de
massagem no banheiro que costumávamos usar na sua perna quando ainda
estava com ela imobilizada, massageou minhas costas, meus braços, e cada
banda do meu bumbum. Quando estava extremamente mole e excitada ele
entrou em mim de novo me deixando mais uma vez pronta para gozar.
Já quase avançando com as unhas em seu rosto exigindo que ele me
desse o orgasmo que vinha interrompendo a tanto tempo ele pressionou a
ereção no lugar que eu jurei nunca deixar ninguém entrar.
— Aí, para! Vai dar merda, e vai ser literalmente! Gritei afundando minha
cabeça no travesseiro enquanto ouvi tua risada.
— Para de me fazer rir, paixão, caralho!
— Enrico... Implorei sentindo uma enorme pressão, eu me sentia tão cheia
que ele parecia já estar todo dentro.
— Já entrou tudo?
— Amor, a cabeça. Calma!
— A cabeça? Sai! Sai, Enrico! Seu pau é grande demais, eu não aguento! Vai
dar merda, porra! Tentei olhar para trás, mas seu braço me apalpou.
— Madalena... — Sua voz grave saiu abafada. A mão livre foi para meu
clitóris e o esfregou me arrancando um gemido alto. — Relaxa... — Ele
forçou mais um pouco. — Não contrai... se Deus fez é porque cabe. — Ouvi
sua risada de novo.
— Ai... é muito estranho — Eu desabafei contra o travesseiro, sentido um
mesclado de dor e prazer por seus dedos ainda estarem trabalhando em mim.
— Vou me mexer, tudo bem?
— Sim... — Concordo baixinho e sinto o primeiro movimento. Depois disso?
Foi só alegria, realmente, nada a me arrepender. Um sorriso enorme tomou
meus lábios me lembrando de como eu me tornei uma safada. Pedia por mais
enquanto Enrico perdia o controle.
— Tá rindo do que? Ouvi a voz dele ao meu lado e meu coração pulou alegre
o vendo acordado e ainda grogue.
— De mim mesma... em como eu perdi o controle ontem.
— Não foi só o controle que você perdeu né, paixão? Beijou minha bochecha
e eu senti minha bochecha ficar vermelha.
— Enrico, cala a boca. Falo envergonhada.
— Está tudo bem aí? O safado perguntou rindo.
— Está.
— Não está doendo?
— Aparentemente não, vamos ver quando eu for ao banheiro se o seu pau
não arrancou minhas pregas. A gargalhada de Enrico invadiu o quarto e isso
o serviu para que eu ficasse ainda mais vermelha.
— Você está parecendo um tomate. Beijou minha boca e eu nem ousei
aprofundar o beijo.
— Estou com vergonha!
— Por que paixão? Foi a melhor noite da minha vida. Sua voz saiu doce e
atingiu direto meu coração.
— Foi?
— Foi, Madalena. Foi bom pra você também?
— Sim.
— Mesmo? Vai querer repetir mais vezes? Brincou subindo e descendo as
sobrancelhas grossas.
— Com certeza!
— Então não tem porque ter vergonha, casal faz sexo, não sei se gostoso
como nós fazemos, mas fazem.
— Tomara que seja, para todo mundo ser feliz. — Dou meu primeiro sorriso
largo do dia. — O que vai querer para o café da manhã?
— Eu vou preparar o café hoje.
— É? Falo surpresa o vendo se levantar e vestir sua cueca.
— Sim, pode ir tomar banho enquanto preparo tudo, você merece depois da
noite ontem. Piscou e se ajoelhou me roubando mais um beijo enquanto seu
celular começou a tocar.
— Preciso atender. — Falou se afastando com o aparelho na orelha. — E aí?
Falou com a voz totalmente fria.
Eu me remexi me enrolando com o lençol.
— Então você conseguiu? Você é um gênio porra! E já está aí? Certo... Faz
do jeito que você achar melhor cara, só resolva isso ok? Resolva isso aí!
Valeu, me liga quando terminar.
— Está tudo bem?
— Tudo, meu amor. Você vai querer torradas?
Encaro seu semblante ainda meio estranho e respondo: — E ovo
mexido.
— Ok, não demora não, tá. Avisou já me dando as costas indo para fora do
quarto.
*
Alvorada das Almas
O carro vermelho parou frente ao casarão e observou o local
aparentemente vazio, por ser já metade da manhã a casa deveria estar com
poucos empregados.
Apenas um homem desceu do carro. Mas tão bem vestido quanto o
outro intruso anterior. Pisou no cascalho que levava até a sede fazendo
barulho sobre os sapatos de aparência bem caros.
Vicente estava parado a porta da entrada da sede já se colocou de pé.
O homem não era conhecido. Quem era este infeliz agora?
— Bom dia, você é? — O homem loiro e muito forte estendeu a mão para ele.
— Vicente e você?
— Vicente... — Sua voz saiu como se o reconhecesse. — Tenho um recado de
Humberto para o senhor Joaquim Rodrigues.
— E você é quem?
— O seu chefe está ou não? O loiro desafiou e viu as narinas do homem à
sua frente inflarem.
— Venha comigo.
Minutos depois já dentro do escritório Joaquim ofereceu a mão ao
recém-chegado se apresentando.
— Joaquim Rodrigues.
— Douglas Saragoça. Cumprimentou firme.
— Humberto mandou você? E não me avisou?
— Ele avisou por telegrama, parece que o telefone ainda não chegou nesta
região? Nem o da prefeitura que você informou conseguimos contato. A voz
pesada do loiro saiu firme e Joaquim sorriu frio.
— Não gostamos muito de tecnologia por aqui... O que aconteceu com
Humberto?
— Trabalhamos juntos, ele precisou ir cuidar de um caso importante que já
estava aberto fora do país, e me deixou cuidando do seu.
— Entendi... O prazo que eu dei a vocês já está terminando, conseguiram
achar a garota?
Os olhos do loiro saíram de Joaquim e pousaram em Vicente parado
ao lado da mesa.
— Preferia ter esta conversa em particular.
— Vicente é meu braço direito.
— Eu não confio nele. Falou baixo e Vicente arregalou os olhos surpreso
com a audácia.
— Mas eu confio.
— Pois não deveria. O homem sorriu de escárnio e agarrou um charuto na
mesa começando a prepara-lo até acendê-lo e dar a primeira tragada. Os
dois homens na mesa encaravam em expectativa. Vicente já estava com raiva
nos olhos, o medo e rancor já o dominavam. Ele não precisava esperar mais.
Já sabia que seria desmascarado.
— Tenho provas concretas que este rapaz ajudou a garota que você tanto
quer a fugir. Douglas contou com desdém.
— Como é que é? Joaquim se afastou na mesa.
— Isso é mentira! Vicente tentou se defender.
— Porque quer trazer a garota? O loiro se colocou de pé.
— Isso não vem ao caso!
— Vem sim, diga-me por que precisa da garota e eu digo onde a encontrar.
— Eu preciso dela aqui, inferno! Você ajudou, Madalena, Vicente? O grito
do velho saiu alto enquanto movia a mão para a gaveta da mesa e tirava um
revólver.
— Você não se lembra de mim não é, Joaquim? Vicente arrancou a sua
pistola da cintura e apontou para o homem.
Douglas Saragoça estava de fora vendo o embate entre os dois
homens. Ainda com o charuto na boca, mantinha a mão direita também em
sua 9mm preparado para atirar caso precisasse.
— Eu me lembrar de você? O que está falando seu merda!
— Da família que você matou, da mulher que você estuprou! Seu filho da
puta! Você lembra? Lembra de Aurélio Dantas? Seu velho desgraçado!
Os olhos de Joaquim se arregalaram um pouco, como se um flash de
lembrança o trouxesse ao passado.
A risada medonha do homem fez com que Vicente tremesse de ódio.
— Você é filho daquele escravo? Como é que você conseguiu escapar? Eu
taquei fogo naquela maldita casa.
— Escapei para acabar com você! — Gritou alto no momento que o primeiro
tiro em Joaquim foi disparado atingindo seu peito. — Seu desgraçado, filho
da puta! Atirou mais duas, três, quatro, cinco vezes.
Douglas Saragoça esperou até o homem descarregar todo o ódio dele
sobre o velho caído no pequeno escritório e percebeu em como a arrogância
não valia de nada. Anos de maldade para nada. Agora estava ali, morto, e
dali nada levaria. Já deveria estar ardendo no inferno.
— E você... — Ele virou a arma para Douglas que sacou a sua e sem hesitar
atirou no braço direito que Joaquim segurava a arma e na coxa esquerda.
O homem encarou o sangue que brotou em seu ombro manchando a camisa
azul que usava e na perna queimava ao ponto que caiu de joelhos incapaz de
se manter em pé.
— Fique tranquilo aí, pelo o que escutei você também foi fodido por esse
velho, mas vai ter que pagar pelo o que fez! Avisou chutando a arma que
Vicente usava para longe. Joaquim estava caído morto ainda com a sua em
punho. Douglas se aproximou e trocou o revólver pela 9mm que havia
atirado nele.
— Seu desgraçado! Eu iria conseguir ficar com tudo que era dele...
— Não, não iria. — O loiro se abaixou para olhar dentro dos olhos de
Vicente. — Você não ia conseguir, e estava fazendo tudo errado, o máximo
que iria fazer você fez agora que foi matá-lo.
— Como você descobriu... sobre Madalena... porra.
— Não se preocupe, a garota está bem, e agora com este filho da puta morto
vai ficar em paz! Não se mexa, vai perder muito sangue na perna e vai
precisar de transfusão, quando a polícia chegar você pode tentar alegar a
legítima defesa, apesar de que você descarregou a arma no velho, mas vale
tentar, conte a sua história triste.
Douglas se colocou de pé e começou a se retirar da sede da fazenda
deixando para trás um morto e um ferido. Estava feliz por não ter sido
preciso tirar a vida de ninguém naquele serviço.
— Entrou dentro do carro vermelho e pegou a rodovia Estadual, quando
conseguiu sinal de celular agarrou o descartável que sempre levava nessas
ocasiões e ligou para polícia fazendo uma denúncia anônima. Em seguida
discou os números de quem ele finalmente havia pago a dívida por ter tido
um dia o filho que na época ainda só tinha quatro anos salvo de um
sequestro.
— Resolvido. — Falou assim que a voz do outro lado atendeu. — Pode
avisar o Jonas para liberar o detetive.
— Acabou?
— Em partes.
— Como assim em partes, caralho?
— O desgraçado morreu sem contar porque sua garota era tão importante
para ele, mas vou descobrir o porquê.
*
Para a minha felicidade a água quente relaxou meus músculos e assim
que sai do banheiro estava totalmente renovada. Não tinha sofrido nenhum
dano com a noite de sexo insano. Encontrei Enrico na cozinha, distraído
cantando baixinho alguma música em inglês que eu não fazia a mínima ideia
do que era só sabia que era encantador vê-lo cantar.
— Cantando é? Está feliz? Beijei seu ombro enquanto começava a ajudá-lo
arrumando a mesa.
— Estou. — Seu sorriso se abriu. — Porque não estaria? Tenho uma bela
namorada, vou voltar ao trabalho depois de amanhã.
— Hum. Mordi um morango enquanto via encher nossos pratos de ovos
mexidos.
— Estava pensando em ver se gosto de trabalhar com Aline.
— Com Aline? Enrico se sentou à minha frente servindo nossos copos de
suco.
— É, na confecção sabe?
— É o que quer?
— Não sei, mas com você bom eu já não tenho um emprego, preciso começar
a pensar em algo, talvez procurar um lugar para morar.
— Procurar o que? Enrico deixou o copo na mesa me encarando.
— Um lugar?
— Você mora comigo.
— Enrico.
— Madalena, porque você sempre complica tudo nessa sua cabecinha? —
Estendeu a mão segurando a minha. — Vê isso? — Segurou o anel que havia
me dado na noite passada. — Estamos juntos mesmo, não quero que você se
mude, e sobre o emprego... eu acho que você deveria pensar algo que gosta,
você disse que terminou o colégio, pode tentar uma faculdade.
— Mas preciso trabalhar para pagá-la de toda forma.
— Você pode passar na pública, e se não conseguir eu posso...
— Não quero que você pague.
— Eu posso te ajudar a arrumar um emprego?
— Que tipo de emprego?
— O que você quiser.
— Sua mãe falou sobre uns cursos, vou dar uma olhada, até conhecemos um
cara no shopping, disse que era o dono de uma rede.
— Um cara é? Seus olhos escureceram um pouco.
— É, um tal Humberto, sua mãe até passou o número dela para ele.
— Bom, eu conheço um lugar legal, vou te levar lá.
— Porque, o dono é uma mulher? Sorrio o encarando.
— É meu primo. — Riu desviando os olhos dos meus. — Madalena, você
sabe se sua família tem alguma ligação com o tal Joaquim além da dívida que
seu pai morreu deixando?
— Que eu saiba só isso, por que?
— Doug me ligou agora pouco.
— Ligou? O que ele disse? O olho surpresa.
— Joaquim está morto, Madalena.
— Ele o matou?
— Vicente o matou. Enrico me olha arisco.
— Vicente? Ele morreu?
— Não. — Seu maxilar subiu mostrando que estava tenso. — Douglas teve
que lhe dar um tiro, mas ele via sobreviver e vai ser preso, provavelmente.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Vicente estava ferido. Tinha se
vingado de Joaquim o matando, mas tinha assinado sua sina triste.
— Ele... ele vai ficar muito tempo?
— Paixão, você está chorando porque, exatamente?
— Eu não sei. — O olho com medo interno. — Eu sempre avisei Vicente que
a vingança não seria uma boa opção. Mas agora Joaquim está morto, ele já
foi tão ruim, Enrico, você não imagina o quanto aquele homem foi ruim...
Deixo as lágrimas descerem por minhas bochechas e o vejo se
levantar e vir para meu lado me abraçar.
— Ei, acalma.
— Tanta gente morreu nas mãos daquele maldito, e por causa dele...
— Paixão — Enrico segura meu rosto. — Respira meu bem, eu só estou
contando para que você não se surpreenda, ele era prefeito da cidade talvez
isso tome mídias nacionais, eu não sei.
— Vicente vai me odiar.
— Porque?
— Ele sabe? Sabe que foi você quem enviou Doug?
— Não, ele não sabe. — Enrico fechou os olhos por um momento. —
Joaquim havia contratado alguém para descobrir seu paradeiro, por sua sorte
eu já tinha pedido que Jonas acompanhasse você todas as vezes que saísse de
casa.
— Jonas?
— Jonas trabalha comigo você sabe.
— Eu sei, mas você pediu que ele me espionasse? O olho sem entender.
— Fizesse sua segurança, Madalena, escute tudo, ok?
— Pensei que você tinha ciúmes do Jonas...
— Ele sabe que não deve tocar em você, paixão, e é da minha confiança. As
coisas estão ficando um pouco fora do controle e você sendo minha
namorada fica visível, falei para que ele te protegesse de longe, foi assim que
ele capturou o cara que Joaquim contratou para te achar.
— Ele o matou?
— Madalena, somos policiais, não podemos sair matando todo mundo,
querida.
Abaixo os olhos me sentindo envergonhada. — E o que fizeram
então?
— Fizemos ele abrir o bico. Juntei o que Joaquim tinha dito a ele com a
história que você tinha me contado, Jonas o manteve preso aqui em São
Paulo enquanto Doug viajava até Alvorada.
— Quando e como você fez isso tudo? O olho surpresa.
— Pelo telefone. — Abre um sorriso bonito.
— Enrico, você está me assustando. O que mais você apronta quando está
mexendo no celular?
— Cerejinha, eu só quero que você não se preocupe, saiba que está segura
comigo.
— E eu pensando que você estava preocupado com o caso que tinha perdido
as provas.
Enrico fica sério novamente. — Tudo vai se ajeitar. — Beijou meu
cabelo. — Vou tomar um banho, que tal aproveitarmos meu último dia de
férias?
— Como?
— Vendo Pokémon. Enrico piscou e eu limpei meus olhos sorrindo.
— Vai logo!
*
Bariloche - Argentina
Patrícia estacou com a bandeja nas mãos e ouviu os gemidos.
Não queria acreditar no que ouvia.
O nojo lhe invadiu e o vômito subiu a garganta.
Sua própria mãe. Quem a obrigou a entrar naquela merda de mundo
que sua vida era.
Ela amava Carlos. Amava em um amor realmente doentio. Ele havia
a convencido a aceitar o mundo obscuro que a família dela e dele eram
metidos.
Ela tinha perdoado ele ter obrigado ela beber o abortivo.
Tinha perdoado o fato de ter a obrigado a enganar o primeiro
marido.
Tinha perdoado humilhações.
Ter que fingir a morte.
Mas uma traição ela não perdoava.
Deixou a única lágrima cair e esperou até que os gemidos cessassem.
— O que te fez vir, Denise? A voz de Kaká soou e ela achou que era a hora
de aparecer.
— Tivemos que nos livrar de Rafael. Ele estava querendo abrir o bico para
Enrico depois que o atentado deu errado.
— Aquele merda não vai sossegar enquanto não dermos um fim nele.
A mulher sentiu o peito se apertar. Não imaginava que palavras
doeriam tanto.
— Vai ser mais fácil agora.
— Porque?
— Porque ele está apaixonado.
— Não brinca. Finalmente saiu do luto? Kaká riu.
— Apareceu uma mulher, uma cuidadora, você acredita? O bobo está todo
derretido pela garota.
— E você sugere o que? Que o deixemos na merda de novo como quando
armamos a morte de Patrícia?
— O que for mais excitante, querido. A risada da víbora soou.
A mulher do lado de fora engoliu o ódio e jurou que a partir daquele
momento agiria sozinha. Pois era assim que ela estava desde sempre.
— O que eu perdi? Entrou percebendo o dois nojentos a sua frente se
calarem.
— Estávamos te esperando, filhota.
15
Madalena Cereja
Anos antes

São Paulo

Patrícia havia acabado de chegar da faculdade, estava totalmente


exausta e quase pronta para tirar seu cochilo da tarde quando os pais
entraram em seu quarto.

— O que aconteceu, reunião de família? A garota olhou seu pai, ele sempre
era mais simpático e ela nunca negou que gostava mais dele por isso. A mãe
que sempre deixava claro que só a teve para cumprir tabelas, além de lhe
jogar na cara que a mesma ainda deveria ter nascido homem.

— Sua mãe tem que falar com você, querida.

Patrícia notou que mulher loira trazia em suas mãos alguns papéis.

— Conheça o seu futuro marido. Lhe jogou os papéis incluindo uma foto de
um homem muito jovem e muito bonito.

— Meu o que?

— Querida, você precisa saber que não vamos te obrigar a nada, você só irá
fazer se sentir confortável. O pai disse gentil e logo a mãe emendou.

— É os negócios, ela tem que fazer sim! Esse é o novo delegado que irá nos
investigar, você precisa se aproximar dele o bastante para sabermos cada
passo que ele dá para descobrir sobre nós.

— E para isso eu preciso me casar com ele?


— Por pouco tempo, idiota! É só até conseguirmos apagar qualquer rastro
que seja!

— Eu não quero fazer isso.

— Querida...

O pai tentou amenizar, mas a mãe o segurou, apontando o dedo no


rosto da filha.

— Se você pretende ter a vida de rainha que sempre teve, e ainda se casar
com quer que seja depois disso, você vai sim fazer isso! Se prepare que
amanhã mesmo você vai conhecê-lo numa coletiva de imprensa que ele irá
dar! Anunciou dando as costas e saindo do quarto arrastando o pai junto.

Ali começaria sua sentença ao inferno.

Eu não tinha conseguido dormir nada naquela maldita noite, por


diversas vezes tinha tido pesadelos ao qual acordava me debatendo, todas as
vezes encontrei Enrico acordado me segurando com carinho, beijando meu
cabelo e prometendo que iria ficar tudo bem.

Eu tinha medo de perguntar o que realmente estava acontecendo,


Enrico parecia saber de mais coisas do que ele arriscava me contar, doía saber
que Vicente estaria preso. E que ele tinha matado Joaquim, tinha matado de
verdade, ele sempre disse que faria aquilo, mas no fundo eu nunca acreditei.
Na verdade, eu nunca poderia acreditar que pessoas eram tão ruins.

O ser humano não devia ser ruim, não havia motivo, tínhamos tudo.
Em compensação eu olhava a família que me acolheu quando cheguei aqui.
Aline era uma mulher batalhadora e que vinha vencendo na vida, que apesar
das dificuldades estava conseguindo sem passar por cima de ninguém isso
tudo tinha sido por ter sido criada por alguém incrível como dona Rosa.
Tinha Luísa, a mulher mais doce que já tinha conhecido na vida, e Enrico,
que apesar dos pesares, tinha todos os motivos para ser amargo, mas no fundo
só estava esperando alguém para voltar a viver.

Já eram quase quatro da manhã quando cansada de tentar dormir para


acordar assustada e de me mover e talvez acordar Enrico quando senti sua
perna se mexer e reparei que ele também estava acordado.

— Enrico, está acordado? Chamei baixinho com a cabeça enfiada em seu


pescoço respirando o cheiro bom do seu perfume amadeirado.

— Sim.

— Por que você acha que existem pessoas más?

— Porque existe o bem e o mal, paixão. Desde sempre existe, e alguns


escolhem o errado.

— A família de Joaquim tem um legado de destruição, dizimou famílias, o


mal continuou pelo sangue...

— Pela criação, Madalena. Não se cresce coelho em ninho de cobras.

— Se eu estiver mesmo grávida, nós vamos educar ele para ser bom, não é?

Senti se afastar e logo os dois lagos verdes me encaravam. — Vai ser.

— Promete?

— Prometo.

Fecho os olhos um instante sentindo meu coração ficar em paz.

— Você acha que está grávida?


— Não sei... eu nunca tinha feito sem, apesar de tudo, nisso Vicente sempre
foi muito cuidadoso.

— Hum. Enrico se remexeu na cama tirando o rosto do meu.

— Ei? Porque sempre que falo de Vicente você fica chateado? Fica com
ciúmes?

— Eu? Imagina, Madalena. Sua voz granida me arrancou uma risada.

— Seu bobo. Para com isso, você sabe que o que temos nem se compara.

— Verdade? Ele me olhou com certa insegurança.

— Sim. O que eu pensava ser amor, nem se compara ao que sinto por você,
Enrico. Falei sincera e vi ele fitando meus olhos por uns segundos
intermináveis.

— Eu digo o mesmo, Madalena... o que eu sinto por você não se compara ao


que já senti na vida. — Murmurou rouco, seus olhos escurecidos. — Vamos
tentar dormir?

— Não quero. Balancei a cabeça e ele tirou a camiseta que vestia pela cabeça.

— O que quer fazer então? Enrico me olhou sorrindo.

— Adivinha? Passei as pernas em sua cintura.

— Tudo bem?

— Sim, eu preciso de você. Concordei sentindo ele cobrir minha boca com a
sua.

O beijo foi intenso e apaixonado, de uma hora para outra a tensão que
nos cobria tinha dado espaço para a calmaria e paixão. Enrico me segurava
terno e cuidadoso. Com carinho. Senti seus dedos em minha calcinha e o
ajudei a se livrar dela, paramos o beijo para que ele jogasse o meu moletom
para longe.

Gemi alto quando de joelhos ele lambeu e me beijou lá embaixo.


Gozei forte na sua boca e ainda sentia os espasmos quando ele tirou seu short
e me penetrou. Fui tão arrebatada que estremeci da cabeça aos pés,
apaixonada agarrei seus ombros fincando minhas unhas que estavam
visivelmente mais curtas e ondulei sob suas arremetidas.

Enrico intercalou entre meus seios e minha boca, foi tão delicado que
se eu já não tivesse a certeza eu teria que nunca mais iria querer outro homem
na vida se não fosse ele.

Movi meu quadril para que entrasse todo dentro de mim e arfei
quando empurrou fundo, não segurei minhas emoções começando a gozar
intensamente pela segunda vez o apertando tanto que logo gemeu rouco em
minha boca me acompanhando.

Enrico rolou para o lado quando acabamos e ficamos lá, imersos em


pensamentos, lado a lado. Virei o rosto para o encarar quando senti sua mão
entrelaçar com a minha e levar até seus lábios.

— Eu te amo. Ouvi sua voz grossa.

Estava lindo, descabelado, os olhos sorriam para mim.

— Obrigada por tanto.

— Eu que tenho que te agradecer, Madalena. Enrico falou se virando com


calma e colando seu corpo ao meu. Nus, suados e abraços adormecemos,
dessa vez mais nenhum pesadelo me acordou até a manhã seguinte.

O sol invadiu o quarto. Desde que tínhamos começado a dividir o


quarto o ar condicionado tinha sido praticamente aposentado, a janela ficava
quase sempre aberta, Enrico sempre sorria quando me pegava abaixada perto
da sacada olhando com medo toda a bagunça lá embaixo, às vezes
sentávamos os dois ali, apenas sentido o ar bater, e o sol que as vezes nos
dava a graça de manhã meio as nuvens cinzas nos cobrir.

— Estão batendo a campainha? Enrico resmungou.

— É o seu celular. Falei baixinho me encolhendo mais em seu corpo quente.

— Eu não coloquei para despertar...

— Mas está tocando. Falei me sentando na cama enquanto ele se mantinha


quieto.

— Enrico?

— É meu último dia de folga, não vou levantar agora não.

— Amor, estão te ligando. — Pego o aparelho. — Doug filho do cão?

— Mas que merda! Se sentou na cama depressa.

— Fala, pau no cu, isso lá é horas cacete? Descobriu o que? Que merda
Douglas, você não está num filme, fala logo! Ok, eu te espero aqui, meia hora
cara, eu ainda estava dormindo... sim seu pau no cu, dormindo, porque trepei
à noite inteira com minha mulher! Desligou rindo e eu o encarei corada com
suas palavras e sem entender nada.

— Desculpe, paixão. — Beijo meu lábio. — Vamos tomar um banho rápido


que esse filho da puta parece que descobriu o motivo de Joaquim estar atrás
de você.

— Porque meu pai o devia?

— Parece que não. Enrico falou ficando de pé e me convidando a


acompanhá-lo.

— Se não é isso é o que?

— Nós vamos saber quando o loiro putão chegar.

—Loiro putão?

— Douglas. Enrico riu.

— Ah... — Balancei a cabeça me levantando ainda sem entender, que motivo


mais Joaquim teria para mandar me caçar?

Buenos Aires - Argentina

O homem adentrou o quarto imenso e olhou a mulher na cama,


Patrícia era uma mulher estonteante de se olhar, e mesmo depois de ter que
mudar a aparência com a sua falsa morte, pintar os cabelos, mudar o nariz e
fazer algumas aplicações de botox ainda era uma linda mulher. Passava
creme nas pernas calmamente.

Kaká se aproximou se livrando do casaco pesado devido ao frio que


fazia lá fora.

— Sua mãe perguntou de você no jantar.

— Não estava com muita fome, amor... — O olhou e sorriu docemente. —


Querido, queria ver com você, Antonella a esposa do ministro.

— Sim, o que tem ela?

— Me convidou para passar o fim de semana no Rio de Janeiro com ela,


parece que ela quer fugir um pouco do frio.
— A resposta é não.

— Mas, Kaká...

— Você não pode ir para lá, Patrícia, está louca?

— Eu não me chamo mais Patrícia! Sou Sarah Petrova, esposa de Eduardo


Petrova. Você se esquece que temos uma nova identidade?

— Ainda assim é arriscado, querida.

— O que eu vou dizer para ela? Pensei que você quisesse investir nos
negócios com o ministro.

— E eu quero! Vamos abrir o cassino no Uruguai juntos.

— Então eu viajar com Antonella para um fim de semana seria ótimo, eu só


aceitei a ideia dela pensando que você ficaria orgulhoso. Ela o olha como a
boa submissa de sempre.

Kaká suspira. Patrícia era uma boa mulher. Sempre fazia suas
vontades. Nunca o pressionava para ter filhos. Até tinha aceitado abortar o
primeiro e único que veio por descuido.

— Vocês iriam somente ao Rio de Janeiro?

— Sim, para um fim de semana na praia, sabe, para bronzearmos, Antonella


confessou ter uma casa de veraneio em Angra.

— Você acha que estará segura?

— O que poderia acontecer?

— Eu não sei, sua mãe veio dizer que tivemos um problema com o infiltrado,
ele teve que ser morto, estava ameaçando nos entregar.
— É apenas dois dias. Você pode ficar sem mim dois dias, não? Além do
mais, minha mãe ficará até eu voltar, eu presumo, não?

— Acho que sim. O homem fingiu desinteresse o que subiu o ódio no coração
da mulher que o encarava.

— Então posso ir?

— Você vai levar soldados.

— Os seguranças de Antonella serão o bastante, Kaká, se eu levar seus


brutamontes ficará na cara que tem algo errado.

— Mas tem algo errado. — Ele a olhou por um segundo antes de bufar
desistindo. — Certo, não me faça me arrepender depois, Patrícia... você é
ingênua querida. Sabe que tem que tomar cuidado, certo?

— Sarah, você sabe que Patrícia está morta. Eu irei ser cuidadosa. Ela se
aproximou abraçando o marido e lhe beijando o pescoço. A satisfação que o
plano estava saindo como planejado a tomou. E a ingênua iriam os
surpreender.

— Entre aí cara. Ouvi Enrico dizer e me mantive imóvel no sofá.

Estava suando frio. Não conseguia pensar direito. Não entrava na


minha cabeça que existia outro motivo por Joaquim Rodrigues me perseguir.

O enorme homem muito loiro parou na minha frente sorrindo


charmoso.

— Essa é a Madalena? Ela é linda cara.

— É linda e minha namorada. Enrico tratou logo de dizer se colocando do


meu lado.

— Caramba. — Douglas soltou uma risada. — Bem que o Jonas falou que cê
estava de quatro, cuzão.

— Oi. É tudo que consigo falar encarando os olhos muito verdes do homem.
Em que momento eu dormi e acordei nesse mundo paralelo de homens fortes
e gostosos?

— Douglas Saragoça, primeira dama, mas pode me chamar de Doug, ou


como você preferir, sei lá, talvez gostoso? Abriu um sorriso simpático.

— Sou Madalena Cereja, pode me chamar de...

— De Madalena. Enrico terminou a frase e eu o olhei.

— Seu sobrenome é Cereja?

— Faz brincadeira com isso e vai ser a última coisa que faz na vida. Enrico
vivia fazendo brincadeiras com meu sobrenome e agora estava com ciúmes
disso?

— Calma cara, para de ser afobado. O loiro se sentou no sofá a nossa frente
aparentemente muito tranquilo.

— Doug, você me acordou bem cedo para falar o motivo que Madalena
estava sendo perseguida por aquele desgraçado, fala logo.

— Primeiro, — Ele levanta um dedo. — Estamos quites agora, você salvou


Theo e eu salvei sua garota.

— Beleza!

— Quem é Theo?
— O filho dele. — Enrico me explicou. — Ele sofreu a tentativa de sequestro
uma vez.

— E esse filho da mãe aí, o salvou. Por isso eu fui até aquele fim do mundo
para limpar a sua barra, bonitinha. Douglas piscou para mim.

— Bonitinha, de cu é rola, desembucha!

— Qual foi mano? Você não parece estar transando o suficiente...

— Estou com o pau esfolado de tanto trepar... só não aguento essa enrolação
do caralho.

— Enrico! — O reprimi sentindo minhas bochechas queimarem e percebi os


sorrisos nos dois rostos que me encaravam. — O que aconteceu com
Vicente? Perguntei e vi Enrico revirar os olhos se recostando

— Foi preso, acusado de homicídio, a cidade está o tratando como herói, mas
ele ainda irá responder por homicídio doloso.

— Então ele não vai sair logo?

— Acho que não. Douglas confirmou e eu abaixei a cabeça triste. Sentia


realmente pelo rumo que a vida de Vicente tinha ido.

— E sobre o tal Joaquim perseguir, Madalena? Enrico voltou a perguntar.

— Bom, o negócio é um seguinte irmão, ao que parece Madalena era tão


preciosa para Joaquim por que ele precisava da assinatura dela.

— Da minha assinatura?

— Isso mesmo. — Doug balançou a cabeça e abriu uma maleta mexendo em


alguns papéis. — Aqui estão as cópias do testamento de Olavo Sênior
Rodrigues.
— O pai de Joaquim? O que isso tem ligação comigo?

— Aparentemente tudo, Madalena, você simplesmente consta como herdeira


legítima dele.

Enrico estatelou os olhos assim como eu.

— Como é que é? Gaguejo.

— Você é filha não reconhecida de Olavo, ele não a registrou, mas deixou
especificado no testamento.

— Eu sou...

— Irmã de Joaquim?

— A irmã mais nova que o pai dele teve, fora do casamento obviamente.

— Minha mãe... — Eu encaro o chão tentando me lembrar de alguma pista


que fosse.

— Olavo especificou no testamento que qualquer decisão que fosse tomada


nas terras, deveria ter o consentimento de todos os filhos, como vivos só
existiam Joaquim e você...

— Meu Deus.

— Então ele iria mesmo matá-la?

— Se ela se negasse a fazer o que ele queria, talvez sim.

— É claro que ele ia me matar! É isso que a família dele fez a vida toda!

— O que importa agora é que você é a única herdeira daquilo tudo,


Madalena.
— Eu? Eu não quero! Aquilo é maldito! Construído sobre sofrimento alheio,
eu não quero!

— Madalena. Enrico me segurou.

— Não, eu não sou uma Rodrigues! Eu sou filha de criador de gado, minha
mãe era costureira, eu sou pobre, sempre fui, eu não sou! Grito me
levantando e saindo pelo corredor o mais rápido que eu consigo.

Quando caio na cama o choro sai tão alto que eu tenho que abafá-lo
com o travesseiro, menos de dois minutos depois eu escuto a porta do quarto
se abrindo e o colchão ao meu lado se afundar.

— Conversa comigo. A voz baixinha de Enrico toca meu coração como a


única âncora que eu tenho meio ao mar a deriva.

— Não pode ser verdade! Eu não quero que seja! Eu não quero ser uma filha
bastarda daquele sangue ruim, e ainda por cima irmã daquele outro demônio!

— Paixão, fica calma, tudo se resolve.

— Eu não quero ficar com aquele dinheiro amaldiçoado.

— Shhh... — Ele abafa cabeça em seu peito. — Descansa um pouco, quando


você acordar, a gente conversa de novo.

— Douglas deve estar pensando que eu sou louca.

— Ele está acostumado comigo, fique tranquila.

— Fica aqui comigo.

— Eu vou ficar aqui. Enrico avisou e eu fechei os olhos, ainda soluçando


deixando as lágrimas escorrerem.
16
Madalena Cereja
Quando eu acordei estava sozinha. O céu lá fora já estava começando
a mudar de cor e eu percebi que tinha dormido mais do que o normal, tinha
me deitado antes do almoço e aparentemente já estava entardecendo.

Sai da cama, fui até o banheiro, lavei meu rosto e sai procurando
Enrico pelo apartamento.

O encontrei na sala acompanhado novamente por Doug e os dois


sussurravam algo, Enrico parecia extremamente tenso.

— Se isso for verdade, eu vou destruir um por um! Ouvi sua voz sair ácida.

— Fica calmo, primeiro estou esperando a perícia de tudo para confirmar


para você... Douglas me viu parada ao longe e se calou de repente fazendo
Enrico olhar para mim.

— Ei, você acordou. Ele se levantou e veio na minha direção rapidamente.

— Oi. Falei baixinho recebendo o seu abraço.

Enrico me levou com ele para o sofá e Doug continuou a nos encarar
com um sorrisinho no rosto.

— Está mais calma, Madalena?

— Não muito. — Suspiro. — O que estavam falando aí?

— Sobre o trabalho. — Enrico beijou minha bochecha. — Você dormiu


bastante, não está com fome? Questionou e meu estômago pareceu acordar
para a vida com suas palavras.
— Um pouco.

— Vamos pedir pizza, a gente aproveita e conversa mais sobre o que Doug
descobriu, ok?

— Por mim tudo bem, eu vou tomar um banho então, eu ia tomar, mas
resolvi procurar por você antes...

— Esperamos você. Beijou minha boca com vontade não se importando com
seu amigo presente e só me largou quando eu o afastei sem fôlego sentindo
minhas bochechas queimarem de vergonha.

— Já volto. Avisei voltando a me levantar e indo novamente em direção ao


quarto.

Meia hora mais tarde estávamos sentados à mesa de jantar, Enrico ao


meu lado e Douglas a nossa frente enquanto devorávamos a pizza que estava
deliciosa.

— Você disse que eu estou no testamento... — Olho para o homem loiro. —


Como isso é possível, quero dizer, porque eu só descobri isso agora, Olavo
Sênior já faleceu há um bom tempo?

— Bom, pelo que parece, Joaquim escondeu como pôde esse segredo,
Madalena, mas quando seu pai faleceu e você ficou sozinha, o cerco se
fechou.

— Como assim o cerco se fechou? Era só ele nunca revelar o segredo, certo?
Eu não quero nada daquela família...

— Ele faria se pudesse, o fato é que Olavo pensou em tudo.

— O que quer dizer com isso? Perguntei sentindo a mão de Enrico apertar
minha perna como se me desse apoio.
— Olavo deixou algumas pessoas a par de tudo, seus advogados em Campo
Grande barravam qualquer coisa que Joaquim quisesse fazer nos últimos
tempos, ele queria vender algumas propriedades mas para que isso fosse feito
exigia-se a sua assinatura, você também era dona.

— E então era por isso que ele estava atrás de mim?

— Tudo indica que sim, agora ele está morto e não pode confirmar, mas a
única explicação sensata é essa, nunca foi a dívida do seu pai de criação
Madalena, ele morreu devendo apenas uma mera quantia. Treze mil reais
para o patrimônio que agora é seu não são nada.

— Pare de dizer que isso é meu! — Olho Enrico apavorada.

— Mas é, Madalena. — Douglas olha para mim e depois para o amigo. —


Para descobrir isso tudo eu entrei em
contato com o advogado em Campo Grande, o tal Gonçalo Arantes me fez
prometer que faria você entrar em contato com ele.

— Entrar em contato para quê?

— Para que receba o que é seu por direito.

Meu estômago embrulha e de repente o cheiro delicioso da pizza me repugna.


Afasto a minha cadeira depressa e saio correndo até o banheiro social
colocando o que tinha acabado de comer para fora.

Enrico surge ao meu lado segurando meu cabelo para fora do rosto e
eu sou incapaz de mover para pedir que ele saia e veja aquela cena. Consigo
voltar a respirar quando termino de lançar tudo que tinha no estômago.

— Meu Deus. Abaixo a tampa da privada e dou descarga, me coloco de pé


indo até a pia.

— Paixão, você está bem?


— Eu pareço? Falo irônica e Enrico arregala os olhos um pouco pela minha
irritação.

— Madalena, eu sei que isso tudo é uma loucura, mas você não pode pirar.

— A minha vida é uma mentira! Como eu não vou pirar? O encaro pelo
espelho e agarro um enxaguante bucal.

— Você vai vomitar de novo. Ele segura meu pulso.

— O que?

— O gosto forte, vai te fazer vomitar de novo. — Apontou para o pote. —


Vamos para o quarto, você escova o dente lá.

— Eu não tenho mais o que vomitar.

— Vai por mim, grávidas vomitam com tudo. Enrico falou calmamente e eu
paralisei. Seus olhos brilhavam como duas safiras me olhando em
expectativa.

— Você acha...

— Acho. Confirmou com a cabeça e eu fecho os olhos sentindo meu peito


disparar.

Eu sabia que tínhamos falado daquilo. E deixado as oportunidades


abertas, mas só de pensar que agora seria uma realidade.

— Madalena?

— Eu quero surtar. — Falei baixinho e sua risada invadiu o banheiro.

— Mais uma prova que tem alguém aí dentro.


— Enrico, só fique em silêncio, por favor.

— Madalena...

— Douglas foi embora?

— Está na sala.

— Mande ele ir comprar exames agora.

— Tem certeza?

— É claro que eu tenho certeza! Abri os olhos totalmente irada o encontrando


com o sorriso tão grande que doeria as bochechas se continuasse assim por
muito tempo.

— Amor, eu acho que não vai ser necessário, você está agindo muito como
grávida.

— Agora!

— Estou indo. Levantou as mãos em rendição e saiu do banheiro me


deixando sozinha.

Me encarei no espelho por todos minutos que fiquei sozinha, Enrico


tinha razão, eu também não precisava de um teste. Eu já sabia do resultado.
Mas agora sabendo que o sangue maldito dos Rodrigues corria em minhas
veias, fazia tudo não fazer sentido, eu precisava saber o que realmente tinha
acontecido, eu não me lembrava da minha infância, nunca tive parentes ou
fotos, se meu pai não era meu pai, minha mãe era minha mãe?

Levei mais uma vez minhas mãos ao vidro de enxaguante e


amaldiçoei Enrico por estar certo, meu estômago voltou a embrulhar ao sentir
o cheiro e eu saí batendo os pés pelo corredor para o nosso banheiro afim de
escovar os dentes.
Quarenta e cinco minutos depois eu estava trancada no banheiro
ouvindo toda a algazarra lá fora. Enrico tinha pedido que Doug comprasse os
testes e feito algumas ligações, Luísa e Luiggi haviam chegado numa rapidez
tremenda, Aline tinha aparecido depois que minha sogra tinha a avisado e
estava sentada confortavelmente ao lado de Douglas. Esse estava adorando
ter uma mulher babando por ele, e eu só precisava lembrar minha amiga que
ela era casada. Jonas tinha pedido que alguém fizesse chamada por vídeo já
que estava de plantão e eu tinha deixado todos ali e me trancado no sozinha
no banheiro. Enrico estava batendo na porta insistindo que eu o deixasse
entrar.

— Paixão, é xixi, o que tem eu te ver fazendo?

— Você está me deixando mais nervosa ainda! Gritei ouvindo seu suspiro
pesado do outro lado da porta.

Meus olhos encaravam os cinco testes diferentes sobre a pia.

— Madalena...

— Enrico! Me deixa, eu já saio.

— Eu quero participar...

Abri a porta em um solavanco e ele me olhou ainda com o mesmo


sorriso enorme.

— Da para tirar esse sorriso da cara?

— Não. Falou fechando a porta.

— E se der negativo?

— Eu duvido.
— E se der? Coloco as mãos na cintura.

— Eu ainda tenho alguns dias de tentativa até o seu médico, se der negativo
vou me sentir bem empenhado.

— Maldita hora que aceitei ser sua cuidadora. Revirei os olhos pegando o
primeiro teste indo em direção a privada.

Não ouvi sua resposta, mas eu sabia o porquê, não precisava nem
virar o rosto para saber que ele ainda estava sorrindo.

Encarei os olhos de Enrico e vi que tinha algo errado, o sorriso tinha


sumido. O silêncio no banheiro fazia com que toda a bagunça lá fora
parecesse uma guerra.

— Deu positivo?

— Não... — Sua voz saiu meio triste e eu me aproximei encarando o primeiro


e único teste que ainda tinha feito.

— Eu disse. — Encarei o único risco vermelho. — Eu não vou fazer o resto.


Larguei o filete sobre a pia.

— Claro que vai, esses testes erram.

— Erram porque deu negativo, se tivesse dado positivo você estaria dizendo
que são confiáveis. Falei irritada subindo minha roupa e indo para a pia lavar
as mãos.

— Madalena...

— Agora todos lá fora vão ficar chateados também. Eu não vou lá, vai
sozinho!

— Você ainda tem mais cinco testes para fazer, paixão.


— Se você quiser faremos um de sangue, eu estou exausta, você não vê? —
O encaro derrotada. — Enrico, eu sinto muito, mas eu não estou bem, eu
simplesmente não consigo estar feliz e não é por não querer ter um bebê seu,
eu só não paro de pensar em tudo que Douglas descobriu e todas as incertezas
que eu tenho agora. Desabafo sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Desculpa. — Sua voz sai gentil enquanto suas mãos tomam meu rosto. —
Me perdoa, eu não devia ter chamado todo mundo para vir, eu só fiquei
animado.

— E agora está triste pelo primeiro resultado. E se eu fizer todos os outros e


der negativo? Eu sei que você quer um filho, mas eu posso não estar grávida,
amor.

— Eu sei disso Madalena, pelo amor de Deus, eu já te disse que a ideia de ter
uma família com você é incrível, mas não significa que temos que fazer isso
se não quiser.

— Só lide com eles, tudo bem? Eu vou para o quarto. Me afasto de


seu aperto e saio do banheiro em silêncio entrando no quarto.

A possiblidade de estar grávida caiu no meu colo como uma bomba


meio aos escombros. Eu já estava perdida. Não sabia onde me agarrar com
toda a notícia que Doug havia descoberto, e então eu estava começando a
aceitar sutilmente e o teste deu negativo.

No fim das contas, tudo era a prova de que a vida mudava em


questões de segundos. Em um segundo eu era Madalena Cereja Ferrão, pobre
e fugitiva de Joaquim Rodrigues, e no outro eu era Madalena Cereja Ferrão
irmã bastarda de Joaquim Rodrigues que havia herdado uma fortuna maldita
e que poderia ou não estar grávida do namorado.

Diante da situação, meus neurônios sobrecarregados teciam uma rede


infinita de futuros possíveis. Mas meu lado racional e cauteloso só imaginava
ao pior cenário: E se como Doug disse eu tivesse que me apresentar aos
advogados em Campo Grande e tudo não passasse de uma armadilha? E caso
não fosse o que eu faria com todo aquele dinheiro maldito? Toda aquela
fortuna tinha sido construída a base de morte, roubo e exploração, o certo
seria devolver o que pudesse aos seus respectivos donos. E se realmente eu
fosse a dona faria isso. Existia essa possibilidade? Eu teria de conversar com
Enrico. Se eu estivesse mesmo grávida iríamos continuar namorando?
Casaríamos? Era muito cedo ao meu ver. Eu não tinha dúvidas que amava
Enrico, eu só não queria que ele se sentisse obrigado a casar comigo porque
eu teria um filho dele. E o que as pessoas pensariam? Afinal eu tinha sido
contratada para ser sua cuidadora, e aparentemente eu cuidei dele sentando
em seu pau. Todas aquelas nossas fodas surreais me transformariam em uma
interesseira?

Não queria que Enrico e eu parecêssemos dois estranhos, mas era o


que vinha me dando a impressão desde que Doug apareceu hoje de manhã, e
o mais estranho era isso, eu só tinha recebido toda a notícia hoje de manhã e
parecia que já estava há anos naquela agonia. Um misto de vergonha e culpa
me invadiu.

A casa estava tão silenciosa que eu nem saberia dizer se Enrico já


tinha mandado todos para casa. Estranhei Luísa não ter o ignorado e ter vindo
me ver, mas parece que ela realmente me entendia. Quando me abraçou ao
chegar tinha me dito que "iria ficar tudo bem" como se sentisse em meu olhar
que não era o fato de estar ou não grávida era tudo que me incomodava.

Senti mais uma vez o peso sobre a cama e o toque de seus lábios em
meu ombro. Enrico encaixou nossos corpos e envolveu minha cintura com o
braço. Procurei seus dedos e os entrelacei nos meus, mas não ousei abrir a
boca, nem ele, ficamos em silêncio, deixando somente o barulho de nossas
respirações, aparentemente no momento não havia nada a dizer, ou melhor,
ninguém tinha a coragem de dizer.

— Tô com medo. Falei sentindo minha voz sair rouca e embolada pelo nó
dolorido que estava em minha garganta.

— Eu estou aqui, não precisa ter medo de nada. — Beijou mais uma vez meu
ombro. — Estamos juntos.
Mudei a posição me virando para fitá-lo, precisava olhar seus olhos,
sua íris verde eram minhas favoritas no mundo inteiro, só elas eram capazes
de acalmarem meu coração para que eu entendesse que eu não estava mais
sozinha.

Enrico me olhou com os lábios curvados em um meio sorriso forçado


e triste. Estava visivelmente chateado e preocupado comigo. Mas ainda assim
era perfeitamente um deus, Enrico era tão bonito que se eu o olhasse por
muito tempo começava a desacreditar que ele era de verdade e que estava ali
comigo. Sem conseguir evitar levei uma mão ao seu rosto e afaguei seu
maxilar com a barba curta espetando meus dedos enquanto eu fazia
movimentos repetidos.

— Conversa comigo, Madalena. Ele pediu com a expressão sofrida.

Queria dizer todos os pensamentos que tive antes dele chegar,


começando pelo fato de que não queria que pensassem que eu iria dar o golpe
da barriga, e nem que ele se sentisse obrigado a se casar, e depois tinha o fato
da minha outra vida, aliás, verdadeira vida, eu precisava saber a minha
história, e só ele poderia me ajudar.

— Eu preciso saber a verdade sobre a minha história... você me ajuda?

— Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance. Falou imediato sem hesitar.
Meu coração bateu acelerado, mas totalmente aquecido com sua prontidão.

— Se aquilo tudo for realmente meu, eu vou devolver tudo a quem eles
tomaram.

— Eu não esperaria menos de você. Foi a vez de ele afagar meu rosto.

— Obrigada.

— Vou pedir que Doug entre em contato com o tal advogado.


Assenti com a cabeça e fechei os olhos por um momento antes de
voltar a abrir a boca ainda sem encara-lo. — Eles ficaram bravos em ir
embora? Você contou a eles sobre o resultado negativo?

— Ficaram um pouco, mas entenderam você, amanhã iremos ao médico,


minha mãe marcou com o dela antes mesmo de sair daqui.

— Você contou a ela sobre Joaquim?

— Não, você vai contar quando se sentir confortável para isso.

— Obrigada de novo.

— Não há de quê, paixão. Piscou de um olho só me fazendo ficar ainda mais


derretida.

— Se amanhã no médico... não der certo.

— Madalena. Enrico me olhou estranho.

— Não quero que fique triste como ficou ao ver o resultado lá no banheiro,
por favor.

— Eu não vou prometer o que não posso cumprir.

— Enrico...

Antes que eu pudesse terminar de protestar, ele me deu um beijo de


tirar o fôlego, e me fitou com aquela cara linda e devassa enquanto afastava
meus joelhos me puxando para a borda.

— Tudo bem pra você? Perguntou pedindo a permissão.

— Tudo. Concordei com a cabeça soltando o ar entre os dentes. Aquele era o


melhor jeito de sentir que estava tudo bem entre nós.
Enrico sorriu diabolicamente e se ajoelhou dando vários beijos em
minhas coxas para só depois ir subindo de encontro a meu clitóris deixando a
língua passar lenta e pausadamente sobre a região muito sensível.

Minhas mãos foram de encontro ao seu cabelo que estava


visivelmente mais curto. Ele tinha o cortado quase num corte militar desde
que soubera que voltaria para delegacia, alegando que o cabelo curto o
deixava com o semblante mais sério. E eu tinha ficado triste no início, porque
amava seus fios desalinhados, mas não podia deixar de notar que ele tinha
ficado ainda mais sexy.

Enrico me chupou ininterruptamente por um momento, me esfreguei


nele e gemi sem condições de conter o que sentia. Quando notou que estava
cada vez mais perto do orgasmo começou a intercalar beijos, chupadas e
lambidas.

Cheguei ao ápice descontrolada e em tempo recorde, ainda com as


mãos procurando agarrar entre os seus cabelos. Enrico se afastou deixando
um último beijo e levantou ficando entre minhas pernas. O puxei com as elas
cruzando os pés e colando nossos corpos. Ele se deitou sobre mim e uniu
nossas bocas em um beijo afoito.

— Eu te amo tanto, Enrico. Falei meio a beijo quando com cuidado entrou
em mim até o fundo e parou lá, procurando meu olhar.

— Eu te amo, Madalena. Porra, eu te amo, mais do que eu já imaginei ser


capaz de amar. Sua voz baixa enquanto se movia em mim, levemente
inclinado, uma de suas mãos segurava um dos meus joelhos enquanto a outra
apalpava com força um dos meus seios me tirando de órbita.

Gememos juntos, ambos pronunciando palavras indecifráveis por


todo calor do momento a medida que o nosso gozo se aproximava com força.

— Goza cerejinha... vem pra mim... sua gostosa do caralho! Ouvi ele rugir
com a voz rouca entrecortada antes de se inclinar para grudar nossos lábios
em um beijo alucinante. No segundo seguintes nós dois vínhamos ao auge e
eu sentia meu mundo girar.

Enrico tragou cada um dos meus palavrões com nossas bocas unidas
num beijo cheio de língua. O sentia se despejar dentro de mim com jatos forte
que enchiam meu âmago.

Depois dos segundos posteriores ao gozo, voltamos a nos beijar, dessa


vez sorvendo nossas respirações pesadas.

— Pare de balançar esse pé. Segurei sua perna que não parava de se mover
rapidamente enquanto estávamos sentados um ao lado do outro na sala de
espera do consultório de Doutor Anael.

— O nome desse cara é estranho, não é?

— Enrico é um nome comum né?

— É italiano. — Me olhou de rabo de olho. — Eu sou italiano, você sabe. —


Piscou convencido.

— Hum, sua mãe já comentou... Enrico, pare de balançar o pé! Segurei seu
joelho o obrigando a parar.

— Estou um pouco nervoso, paixão.

— Não me faça desistir de fazer essa consulta também.

— Os exames de farmácia eu aceito, agora este aqui, você não foge,


bonitinha. Apertou meus dedos entre os seus. E separou os pés parando de
balança-los.

— Madalena Cereja Ferrão. A moça da recepção da qual não tinha me


agradado nenhum pouco pois assim que chegamos tinha jogado todo o pouco
charme que tinha para meu namorado me chamou.

— Somos nós! Enrico se colocou de pé e saiu me puxando pelo corredor até


o consultório.

— Enrico, você está surtando, pode manter a calma, por favor? Pedi assim
que entramos na sala.

— Não consigo. Ele me olhou e pela primeira vez desde que nos conhecemos
pareceu apavorado.

Doutor Anael era um homem em seus quarenta e poucos anos, magro


e alto nos encarava sorrindo e nos recebeu muito simpático.

— E então, Madalena... Luísa me disse que era urgente, ela é uma das minhas
melhores pacientes. O que os trazem aqui?

— Precisamos saber se ela está grávida. Enrico falou primeiro e eu quase ri


da sua voz esganiçada.

— Bom, vocês fizeram algum teste? Está com o período atrasado? Porque
exatamente estão com essa dúvida?

— Bem, não estou muito atrasada, apenas alguns dias... e eu fiz um teste
ontem, mas deu negativo.

— O que não comprova nada. O doutor falou e vi o rosto de Enrico se


iluminar.

— Eu disse isso para ela.

— Exatamente, algum motivo os níveis de hormônios podem ser baixos e não


detectarem na urina.

— E então nós iríamos fazer um de sangue, mas decidimos vir logo.


— É o que eu recomendo, mas já que está aqui podemos fazer um ultrassom
transvaginal agora mesmo. Se tiver alguém aí nós o vemos.

— Ótimo. Concordo e vejo o sangue do rosto de Enrico sumir.

— Transvaginal?

Doutor Anael soltou uma risada enquanto se afastava de sua cadeira e


se movia pelo consultório.

— Fique calmo, talvez futuro papai, isso é só o começo, você vai ter que ser
forte se quiser ver um nascimento.

— Enrico? Olhei meu namorado pálido e acompanhei o médico na risada.

— Pode se trocar ali. O doutor me instruiu e minutos depois eu estava deitada


na maca usando a bata azul de hospital com as pernas abertas e muito
desconfortável.

— Você vai enfiar isso nela? Os olhos dele estatelaram de novo ao ver o
médico cobrir o aparelho com um preservativo.

Eu também estava com medo, e estava agradecendo Enrico estar ali


para eu rir dele e me distrair, eu nunca tinha feito exames assim, eu tinha ido
ao médico algumas vezes em Vila do Sol, mas nunca tinham enfiado nada
dentro da minha vagina. Me sentia totalmente envergonhada em abrir minhas
pernas para o médico, e ainda mais com Enrico ao meu lado.

— Tenho certeza que o seu é maior que isso, Madalena vai ficar bem. O
médico olhou Enrico e sorriu o que só adiantou para minhas bochechas
queimarem ainda mais.

— Amor... Chamei e Enrico levou os olhos aos meus.

— Tudo bem. Ele riu totalmente apavorado.


— Vamos lá, relaxe Madalena, não vamos demorar. Doutor Anael se
posicionou e senti o aparelho penetrando em mim.

Segundos depois a tela do computador ao nosso lado apareceu uma


imagem estranha e depois de uns segundos um ruído forte.

— Muito bem, olha só isso. Doutor Anael falou e eu mirei o rosto de Enrico
que era uma mistura de pavor e encanto.

O barulho forte e mais bonito que eu já havia escutado na vida tomou


conta dos meus ouvidos. Cada batida fazia com que meus olhos se enchessem
ainda mais com lágrimas. Eu não precisava de palavras entendendo o que
aquilo significava.

— Aparentemente o exame da farmácia estava errado, você está grávida,


Madalena.

A mão gelada de Enrico tomou a minha e eu tirei meus olhos da tela


para ver seu rosto, seus olhos também estavam molhados e brilhantes.

— Esperem só um momento, pois tem algo... A voz do médico nos chamou


atenção.

— Algo errado com o bebê? Enrico pareceu desesperado.

— Não é o coração... parece que temos dois corações.

— Meu Deus, o meu bebê tem dois corações? Minha voz saiu alta e
assustada.

— Não, você é que tem dois bebês. Doutor Anael sorriu. — Vejam só. —
Apontou para a tela. — O barulho apesar de estarem batendo quase
sincronizados se nota uma alteração.

— Dois bebês? Meus olhos se arregalam.


— Gêmeos? A voz de Enrico sai baixinha.
17
Madalena Cereja
Ainda estava em transe quando Enrico levantou os olhos abrindo o
sorriso lindo e mais radiante. Vi sua íris verdes parecerem liquefeitas quando
ele mordeu o lábio e anunciou animado: — Gêmeos, porra!

O médico soltou outra risada e os braços de Enrico me envolveram


em um abraço.

— Talvez seja prudente diminuir a intensidade e deixar que eu termine o


exame. Doutor Anael falou sorrindo.

— Tem razão, desculpa, Doutor. Ele se afastou ainda eufórico.

Enrico voltou a apertar minha mão e encarar ao monitor.

— Olha eles, paixão...

— Aqui. — O médico apontou para a imagem que aparecia, sumia e voltava


a aparecer. — Os gêmeos de vocês são univitelinos, ou seja, estão somente
em um saco gestacional, o que o fazem carregar a mesma carga genética.

— Vão ser idênticos? Foi minha vez de falar com minha voz embargada.
Meu coração palpitava só de imaginar dois bebês parecidos com Enrico em
meus braços.

— Isso mesmo, por isso os corações batem sincronizados, pode até chegar a
confundir, mas para mim não há dúvidas que são dois bebês.

— Caralho. — Enrico soltou uma risada nervosa. — Dois!

— Parabéns casal, gestações múltiplas naturais são raras, tem algum caso na
família?

— Não. Enrico respondeu.

— Eu não sei dizer. Falei a verdade e senti uma pontinha de tristeza ao


lembrar que eu não sabia realmente de onde vinha.

— Bom, de todo modo, vocês são sortudos.

— E já dá para saber o sexo deles? Enrico perguntou enquanto o médico


fazia o exame que ele tinha chamado de “Translucência Nucal” o que era
basicamente medições do feto e a ausência de “Trissomia 21”.

— Ainda não, bom, daqui há um mês eu diria que vocês podem fazer o de
sexagem, Madalena ainda está no início da gravidez, entrando no segundo
mês de gestação e por isso devo dizer que os enjoos devem aumentar
bastante, devido à presença de dois fetos o volume de hormônios produzidos
vai ser bem maior, consequentemente mais enjoos.

— E mais mudança de humor. Enrico emendou e eu o encarei possessa.

— Ah é?

— Está vendo? — Ele apontou um dedo para mim enquanto ainda olhava o
médico. — Ela riria disso se não estivesse grávida.

— Engraçadinho. Revirei os olhos reprimindo a minha vontade de sorrir.

— Pode se trocar, Madalena, quando você estiver pronta vou explicar todas
as dúvidas, passar alguns exames para que comecemos o seu
acompanhamento se você desejar continuar me tendo como seu médico.
Doutor Anael se afastou descartando as luvas e indo apertar a mão de Enrico
que ainda mantinha o sorriso no rosto.

Entrei para o pequeno banheiro escutando ele tagarelar em como já


sabia que eu estava grávida.

Passamos a próxima meia hora escutando atentamente o que o médico


nos dizia, Enrico me deixou vermelha quando perguntou se tinha alguma
restrição em continuarmos a fazer sexo.

Sai de lá com algumas amostras de vitaminas e com um Enrico muito


falante ao meu lado.

— E você com aquele papo, minha porra não é tão forte assim,
aparentemente é tão forte que dividiu meu óvulo em dois. Falei quando
entramos no carro e ouvi sua gargalhada gostosa enquanto colocava os óculos
de sol no rosto e me olhava.

— Aquele papo era para você não cismar em atrapalhar nossas fodas no pêlo,
paixão.

— Seu cretino. Bati a mão em seu braço, mas sem disfarçar que também
achava graça.

— Fizemos mesmo. — Ele parou de sorrir e falou levando a mão em meu


ventre. — Fizemos dois bebês.

— E eu estou muito apavorada agora.

— Vai ficar tudo bem, eu vou te ajudar.

— Posso esquecer a faculdade que sua mãe vinha insistindo.

— Claro que não. Enrico subiu os óculos para o topo da cabeça e eu quase
pedi para que baixasse pois eu estava prestes a agarrá-lo ali meio ao
estacionamento.

— Você vai fazer o que quiser, Madalena, estudar, trabalhar sozinha,


trabalhar com Aline... eu vou estar ao seu lado ok? Levou minha mão aos
lábios e a beijou.

— Obrigada. Falei comovida.

— Você precisa saber disso, estarei aqui para te ajudar no que quiser e
precisar, porque amo você.

Meus olhos se encheram de lágrimas. — Eu só não consigo acreditar


ainda que tive tanta sorte.

— Eu quem tive sorte. — Enrico riu baixinho. — Você não imagina o quão
na merda eu estava antes de você chegar.

— Eu sei que a morte de Patrícia foi...

— Sobre isso, — Enrico me olhou sério demais me interrompendo. — Eu


quero que você saiba que não é uma substituta, você sabe, não é?

Minha garganta inflou e eu fiquei impedida de responder. Não


conseguia dizer nada.

— Se você ainda tem dúvidas, acabe com elas agora, Madalena... eu amei
Patrícia e ela se foi, mas o amor que senti não se compara ao que eu sinto por
você. Acho até estranho falar isso, mas eu te amo bem mais, e sinto que você
me ama mais que ela me amava também, com a gente é diferente.

— Eu te amo mais do que a mim mesmo. — Sussurro. — E nem sei como


será quando eles nascerem, porque eu já te amo tanto, Enrico...

— Vamos transbordar amor, Cerejinha. Ele colou seus lábios nos meus.

Enrico dirigiu direto do médico até a casa dos pais. Luísa tinha
exigido que fôssemos almoçar lá o que quer que fosse a notícia, dessa vez
Jonas não estava participando pela chamada de vídeo, estava lá em carne e
osso, me abraçando sorrindo quando nos cumprimentamos e Enrico logo
apareceu ao meu lado.

— Eu só estava cumprimentando meu segurança particular.

— Vai brincando com fogo, senhorita Madalena. Enrico murmurou beijando


o topo da minha cabeça com um sorrisinho maldoso nos lábios, enquanto
andávamos até a mesa do almoço montada meio ao jardim enorme.

— E aí filho da puta? Doug foi o primeiro a falar e recebeu um tapa estalado


de Luísa no braço. — Aí, eu esqueci... como é que foi lá, cuzão?

— Eu vou ser vó? Luísa perguntou.

— E eu tia? Aline emendou.

— Desembucha filho! Luiggi ordenou.

— Galera, são gêmeos! Enrico contou animado demais e Luísa se


dependurou no marido começando a chorar emocionada.

Aline correu para perto de mim dando pequenos pulos histéricos.

— Caralho, aí foi foda! Jonas falou chocado.

— Puta merda! Parabéns seu puto! Douglas se aproximou de Enrico e o


abraçou.

— Eu sabia! Minha Nossa Senhora não falha, eu pedi tanto, eu falei, traz uma
moça completa, e olha só Luiggi, ela trouxe Madalena que me deu logo dois
netinhos.

— Ou netinhas. Aline me olhou sorrindo levando a mão esplanada em minha


barriga. — Ainda não dá pra saber né?

— Só daqui um mês, segundo o que conversamos com o médico. Esclareço.


— Mãe, eu não acredito, a senhora fez promessa? Enrico riu enquanto recebia
o abraço da mãe.

— É claro, depois de ter a vida desgraçada por aquela família amaldiçoada,


só na promessa! Eu estou tão feliz! Luísa estendeu o braço para mim e eu me
aproximei para que ela também me juntasse no abraço.

— E são gêmeos idênticos, estão na mesma bolsa, o que significa serem


mesmo rostinho e mesmo sexo. Eu contei e mais uma vez comemoraram.

— Já pensou se for duas menininhas? Aí meu Deus, a vovó não vai aguentar.

— Se forem dois moleques iguais Enrico foi na infância, prepare-se


Madalena! Luiggi falou e todo mundo caiu na risada.

— Aí meu Deus, meu sonho ter gêmeos idênticos. Aline suspirou.

— Estou à disposição para tentar se você quiser. Douglas falou descarado e


vi o rosto da minha amiga ser tomado pela vermelhidão, eu não estava
entendendo nada, Aline era casada com Rafael, e estava toda sorrindo para
Douglas?

— Amiga? — A puxei de canto enquanto todos começavam a se servir de


bebida e comida para comemorar. — O que está rolando ali? Apontei para
Doug perto da mesa conversando com Enrico e Jonas.

— Nem me pergunte, eu não estou entendendo nada também.

— Mas e Rafael? Perguntei e a vi murchar na mesma hora.

— Agora? Provavelmente embarcando com meus filhos e a nova namorada


para a viagem de férias que ele decidiu fazer de última hora.

— Como? Meu queixo caiu.


— Amiga, você não teve tempo para que eu te contasse... meus últimos oito
dias foram um inferno... Rafael apareceu em casa e começou a fazer as malas,
ele só disse que estava cansado, que não dava mais e que queria o divórcio.

— Meu Deus. Levo a mão à boca chocada.

— Eu fui até o trabalho dele... para tentar conversar e descobri o motivo.


Adivinha? O motivo estava sentado na mesa dele, de pernas abertas.

— Ele estava te traindo?

— Com a secretária. — Ela olhou para o chão e sorriu triste. — Passei os


últimos anos tentando vencer na minha vida profissional, nós dois passamos
na verdade... deixamos nosso casamento de lado. Lembra quando Luísa disse
que eu devia apimentar minha relação?

— Lembro.

— Eu tentei... comprei uma fantasia e tudo mais e sabe o que ele disse?

— O que?

— Que eu estava sendo ridícula. Que eu não devia ter comprado a maldita
fantasia, que ela estava pequena demais para mim... Madalena, foi horrível.
Aline choramingou.

— Amiga, que horror, porque você não me ligou? A abracei com força.

— Você já tem seus problemas querida... e além do mais, precisava superar


isso sozinha, eu não vou chorar por Rafael, nos desgastamos demais, e no
final das contas eu não o amo mais, ele foi buscar os meninos hoje de manhã,
e sabe o que eu senti?

— O que?
— Liberdade! — Ela sorriu. — A confecção anda bem, e vou poder tirar os
próximos dez dias para me curtir, sem preocupar com os meninos, Rafael é
um bom pai, além de tudo... Ele não está errado em querer ser feliz, eu
também vou tentar ser agora.

— Com ele? Voltei a olhar para Douglas.

— Ele é um gato. — Ela suspirou. — Até demais, às vezes acho que ele está
zoando quando me joga essas cantadas... e é policial, sempre tive uma queda
por policiais.

— Então vai fundo.

— No caso, ele quem vai ter que ir. Ela sussurrou.

— O que tanto cochicham aí? Enrico apareceu ao meu lado trazendo dois
copos. — Suco para a mais nova mamãe, e champanhe para você.

— Meu Deus, amo que vocês estão brindando dia de semana durante o
almoço, como estou de férias me darei o direito até de ficar bêbada.

Aline se colocou de pé e ajeitou o cabelo a pele morena bonita


destacava sobre a roupa que usava. Reparei na minha amiga e agradeci por ter
conhecido sua mãe naquele ônibus vindo para São Paulo, Aline era uma
mulher maravilhosa de quem eu tinha orgulho e me ensinava tanto, tinha me
ajudado a ser mais desinibida, amar meu corpo, e sempre me dizia que eu
devia ser modelo da sua grife, acima de tudo era muito amiga.

— Você está de férias? Douglas se aproximou dela e a seguiu rumo à mesa


de bebidas.

— Não querendo ser fuxiqueiro, mas já sendo, Aline não era casada?

— Estão se separando, o marido a deixou por outra, você acredita?


— Que filho da puta...

— Ela parece estar bem apesar de tudo, mas já avise o seu amigo, que se for
para fazê-la sofrer... — Aponto para o rumo em que Douglas estava se
mantendo atrás de Aline.

— Pode deixar, eu vou avisar. — Sorriu. — Vamos comer?

— Vamos estou faminta!

Quando finalmente estávamos sozinhos e já de volta para casa


sentados meio a almofadas sentamos perto da piscina vendo o sol sumir para
dar lugar a lua. Enrico esfregou as mãos em meus braços e pousou as mãos
em meu ventre e comentou:

— Douglas conversou com o tal advogado, vamos ter que fazer uma pequena
viagem até Campo Grande em alguns dias.

— Para quê?

— Primeiro vão te submeter há um exame de DNA, porque além de estar no


testamento, precisa-se provar que você é a única herdeira e vai receber tudo.

— E eu vou poder devolver tudo.

— Se você souber a quem pertence. Vamos resolver tudo quando formos até
lá.

— Você vai comigo, certo?

— Eu nunca deixaria vocês irem sem mim. Falou me apertando entre suas
pernas.

— Vai ser estranho demais voltar para lá... se formos até Alvorada.
— Você nunca pretendia voltar?

— Quando sai de lá eu não podia, nunca mais tinha pensado. Mas agora fico
feliz, foi lá que eu nasci, lá é onde tem minha história.

— História que você deve se orgulhar apesar de tudo.

— Se eu for filha de quem estão dizendo.

— Seu pai é quem te criou. Sua mãe não está mais viva, mas ela com certeza
tem orgulho de você.

— Tomara que sim. Subi o rosto para olhar o seu e ele beijou meu nariz com
carinho. Emocionada por todos acontecimentos do dia eu suspirei pensando o
que mais o destino me reservava.
18
Enrico De Giordano
Entrei no meu escritório depois meses sem pôr os pés, a sensação que
eu tive era que estava ali pela primeira vez e encarei minha mesa abarrotada
de papéis e sorri percebendo que eu realmente sentia falta daquilo.

Sentei na minha cadeira e tirei a arma da cintura colocando no suporte


abaixo da mesa, encarei o telefone e sorri ao perceber que Madalena
provavelmente ainda não havia acordado já que não tinha me mandando
mensagens e tinha dito que me mandaria assim que fizesse.

Eu estava totalmente radiante, não podia acreditar que depois de tudo


poderia ser feliz de novo, e que a mulher que eu amava estava carregando
dois bebês meus dentro dela.

Doug abriu a porta e entrou se jogando na cadeira a minha frente.

— Desaprendeu a bater?

— Não enche o saco!

— Bom dia? Olhei meu amigo que parecia com cara de poucos amigos.

— Para você que acordou com sua garota, deve ser.

— Desde quando você quer acordar com uma garota?

— Cara... — Doug joga a cabeça para trás e leva as mãos ao rosto. — Cê


acredita que a amiga da tua mina me dispensou?

— Mentira, alguém te dispensou? Zombei.


— Pois é, dá pra acreditar? Ele respondeu como se não tivesse pego a ironia.

— Aline te dispensou como?

— Ontem eu a levei para casa, né?

— Mesmo depois de eu dizer que não seria uma boa ideia, eu te falei que a
Madalena disse que não é para você chatear ela...

— Ela quem me chateou! — Doug solta uma lufada de ar e eu não consigo


segurar a risada. — Tá rindo né, desgraçado.

— O que de fato aconteceu? Cruzo as mãos sobre a mesa esperando o relato


do pobre homem.

— Nos beijamos... cara foi sei lá... bom pra caralho! Eu fiquei ligadão. Tava
a ponto de bala já, mas quando eu me convidei para entrar pareceu que ela
tinha levado um choque, encarou meu cacete duro dentro da calça e falou: "É
melhor nós dois esquecermos o que aconteceu aqui hoje" saiu do carro
fugindo igual diabo foge da cruz! Bicho, eu tô puto!

Minha gargalhada estrondosa o deixou ainda mais irritado.

— Para de rir, porra!

— E aí você foi para o cabaré como sempre, né? Ligou para alguém da sua
agenda.

— Agora que vem a pior parte.

— O que?

Douglas me olhou por uns segundos e revirou os olhos. — Não vou


falar, você vai me zoar pelo resto da vida.
— Anda logo, desembucha cara. — Falei ficando sério fingindo gentileza. —
Sou seu amigo. O incentivei e vi seus olhos azuis me analisarem em silêncio
por mais um tempo antes de voltar a abrir a boca.

— Liguei para a Amanda, uma garota que eu fico sempre... cara na hora do
fight o moleque que estava duro que nem uma pedra meia hora antes se
recusou a ficar duro de novo. Confessou como se me contasse a pior tragédia
da história.

— O que? Arregalei os olhos.

— Vou levar o seu espanto como um elogio. Voltou a levar as mãos aos
olhos fungando alto e chateado.

— Você brochou? Mordi a boca tentando segurar o riso.

— Se você rir, vou te dar um tiro.

Foi o estopim, voltei a gargalhar, e dessa vez ainda mais alto do que
antes.

— Caralho, você está fodido, nem transou ainda com a e o seu pau já tá
brocha para as outras.

— Cala boca! Eu não estou gostando dela, ontem foi só um prolapso, hoje eu
vou visitar Theo, e você sabe o que acontece quando eu visito ele.

— Você come a tia dele, inclusive Thais já descobriu isso?

— Exatamente, eu como a tia dele. Tá maluco, se a Thaís descobre que eu


trepo com a irmã dela ela surta cara, provavelmente me impede de ver o meu
filho, e isso ia me deixar muito puto, mais do que eu já estou hoje.

— Então você deveria parar de trepar com ela, pois mais cedo ou mais tarde
ela descobre.
— Deveria parar de trepar com quem? Jonas abre a porta segurando um
envelope pardo nas mãos.

— Doug está comendo a ex-cunhada.

— Gostosa, já comi.

— Filho da puta, eu sabia! Doug lhe dá um murro no ombro.

— Caralho, vocês são uns safados. Balanço a cabeça em descrença.

— Até parece, você decidiu viver como eremita desde que a Patrícia morreu,
mas seu passado te condena e até que enfim Madalena apareceu para
desenferrujar esse seu ou mole. Doug brinca.

— Pau mole não é o meu caso, já o... — Comecei a dizer e vi o rosto do meu
amigo mudar de cor, ele nunca me perdoaria se eu contasse aquilo para
alguém.

— Cala a porra da boca cara! Interrompe dando uma tossida.

— Está fazendo o que aqui? Não era pra tá de campana no meu prédio, ô
porra? Bradei olhando meus amigos e mudando o rumo do assunto.

— Eu precisava trazer isso aqui, e além do mais ela estava em casa cara, para
de ser psicótico. Jonas nos encarou e abriu o envelope. — Saiu o relatório do
celular do agente que foi encontrado morto, conseguiram puxar as mensagens
que ele tinha apagado recentemente, os números que ele mais entrava em
contato.

— Tá de brincadeira? Doug agarrou o papel.

— O pior vocês não sabem. — Jonas me olhou sério. — O número é


registrado no nome de um laranja, e pelo GPS do aparelho a gente foi até
onde ele estaria. E é um lugar que você já frequentou, Enrico.
— Eu frequentei? Onde?

— O antigo apartamento da Patrícia, em Consolação.

— Como é que é? Sinto os pelos do meu corpo eriçar em um arrepio.

— O apartamento está vazio, tipo, não tem nada mais que algumas coisas
velhas lá, parece que a pessoa com quem Hugo falava trabalhava dali.

— Quem aluga o apartamento agora? É o mesmo apartamento ou o mesmo


prédio?

— Mesmo apartamento, 1201 edifício Haddock.

— Puta merda! Arranco os papéis das mãos de Doug.

— Quem aluga? Você não conseguiu nada? Pergunto remexendo os papéis.

— Os nomes são todos laranja, eu só achei estranho ser no antigo


apartamento dela... primeiro o seu atentado e agora essa.

— Tem alguma coisa ligada a você. Doug me olha desconfiado. — Quem te


odeia?

— Eu sei lá porra! — Falo com raiva sentindo minha mente girar tentando
entender. — Lembra quando investigamos Honório?

— Lembro cara, foi bem na época que a Paty faleceu... e então a gente parou
por um tempo e quando voltamos nós não encontramos nada concreto, logo
depois ele morreu também, todas da família da sua falecida estão mortas.
Jonas falou e eu senti meu peito apertar.

— Mas Denise está viva. Pontuei.

— Opa. — Doug se ajeita na cadeira. — Que aquela velha é difícil de engolir


todo mundo sabe, mas você acha que ela seria capaz? Ela frequentou sua casa
durante todo esse tempo cara.

— Por isso. Sempre estava um passo à frente. Encaro minha mesa por um
segundo.

— Jonas, entre em contato agora com o pessoal da inteligência, peça para


quebra de sigilo dela, Doug, descubra aonde ela está, eu quero saber cada
passo que ela der.

— Tá, vou falar com...

— Não! — Interrompo. — Quanto menos pessoas souberem dessa merda


melhor, não sabemos se só Hugo era o traidor aqui dentro, eu preciso ir até
um lugar e depois vou almoçar com Madalena, volto depois do almoço para
começar a ajeitar os casos que estão em atraso.

— E aquele tal Edgar, desistimos dele? Jonas também se põe de pé.

— Encontraram algo?

— Até agora nada, mas foi ele que entregou o dinheiro para Hugo na última
vez.

— Então continuamos na cola dele. Aviso afastando a cadeira e me


colocando de pé. Agarro a glock e a coloco no cós da calça escondido pela
jaqueta.

— Cara, se a bruxa loira estiver envolvida em algo, mano do céu.

— Eu acabo com ela. Miro os olhos sobre meus amigos falando com ódio.

— Aonde você vai? Douglas questiona.

— Preciso ir num lugar, qualquer coisa pode me ligar.


— Tá, mas e o meu problema?

— Qual problema? Jonas questiona.

— A amiga da Madalena não quer dar pra mim.

— Aline? Ele riu.

— Se você falar que comeu, tá morto! Doug se levanta com raiva.

— Qual foi cara, calma. Jonas me olha e eu abri um sorriso zombeteiro.

— Ele tá apaixonado. Comento em um tom de zoera.

— Ih, ferrou, não acredito que essa sua pica murcha se apaixonou na morena
sem nem experimentar.

— Cala a boca, Jonas! Doug fechou os olhos irritado.

— É não deixa o cara irritado, ele já está bastante chateado. Dou uma risada.

— Vocês são dois filhos da puta. Eu vou trabalhar que ganho mais.

— Espera, conta mais, ela te dispensou mesmo? Então eu posso sair com ela?

— Não você não pode! Primeiro que sair com a Madalena, agora com a
minha? Qual foi seu fura-olho.

— Ah qual é e se ela quiser?

— Jonas, você tem amor à vida cara?

— Vazem da minha sala. Ordeno caminhando para fora ainda rindo. Mais
uma vez encarei o telefone e estranhei por Madalena ainda não ter aparecido,
pensei em ligar, mas fiquei com medo de acordá-la. A gravidez estava
fazendo com que ela dormisse muito mais que o normal.

Quando nos conhecemos ela sempre estava acordada desde a


madrugada, e agora vivia cochilando pelos cantos, isso foi uma das coisas
que me fez ter a certeza que ela estava grávida antes mesmo que ela fizesse
os exames. Decidi ir primeiro aonde eu precisava e depois iria direto para
casa.

Estacionei o carro perto de um pinheiro e desci colocando meus pés


na grama úmida, meu peito apertou quando encarei as centenas de lápides no
chão. Eu não pisava ali desde o enterro de Patrícia, não tinha coragem, mas
agora eu precisava, sentia que precisava ir até ali para me despedir dela
corretamente.

Ergui os olhos e avistei ao longe a figura de uma mulher bem vestida,


usava um sobretudo marrom e um chapéu da mesma cor, o cabelo vermelho
por baixo do acessório parecia sem vida. Andei mais rápido ao perceber que
ela estava parada em frente ao túmulo de Patrícia.

— Ei. Chamei quando cheguei mais perto.

Assim que a mulher ergueu o olhar e se virou assustada eu vi um


fantasma. Não poderia ser. Mas era! O rosto um pouco diferente, mas os
olhos eram os mesmos.

Os da minha falecida esposa.

Não era o suficiente o que meus olhos viam, por isso meus passos
quebraram o espaço rápido até que eu ficasse de frente a mulher.

— Não é possível. Falei desacreditado.

Ela olhou para o lado talvez imaginando fugir. Agarrei um de seus braços
com força ainda mudo e ouvi sua voz tentando se explicar: — Eu não
planejava te encontrar assim, mas agora começo mesmo a acreditar em
destino, Enrico.

A voz que atormentou meus pesadelos durante todos esses anos


invadiu meus ouvidos. Patrícia estava viva, diante do seu túmulo?

— Como? Encarei a lápide e mirei meus olhos nos seus.

Meu coração batia tão forte, estava extremamente surpreso com


aquele sentimento, porque Patrícia estar ali foi o que eu pedi e desejei durante
todo o tempo em que estive sozinho e trancafiado, enxergando e vivendo o
automaticamente cinza.

— Eu vou te explicar, meu amor... eu vou explicar tudo, tudo! Ela jogou seus
braços ao redor do meu pescoço e o seu cheiro invadiu minhas narinas, ela
ainda cheirava a lavanda, mas dessa vez o cheiro não aqueceu o meu coração
como das outras vezes.

— Patrícia. A afastei ainda chocado.

— Sarah. — Ela sussurrou. — Eu agora me chamo Sarah, Enrico. Contou


ainda com os olhos marejados.

— Sua mãe fez isso? Perguntei segurando seus braços e vi suas pupilas
dilatarem em surpresa. Eu estava certo nas dúvidas.

— Você já sabe?

— Então é verdade? É ela, não é?

— Enrico, tem muitas coisas que você precisa saber, e eu vou contar tudo,
estou cansada de servir como um animal para minha mãe... por ela eu tive
que me afastar de você. Segurou a capela da minha jaqueta e aproximou os
lábios dos meus. Afastei de imediato e a encarei incomodado com a
aproximação, aquilo era uma loucura.
— Enrico? — Patrícia me encarou novamente surpresa. — Você deixou de
me amar? É isso? Você...

— O que aconteceu com o bebê que você esperava?

— Eu perdi o nosso filho, Enrico... — Ela baixou os olhos e a raiva brotou


bruta dentro de mim ao perceber que mentia em algo. — Você me perdoa?

— Você o perdeu ou o tirou? Cuspi as palavras vendo seus dedos tremerem.

— Você se apaixonou de novo, não é? Você gosta dela?

— Não fale do que você não sabe! Balancei a cabeça sentindo meu peito
inflar com raiva.

— Madalena o nome dela, não é? — Patrícia sorriu friamente. — Eu pensei


que você iria me amar para sempre.

— Como você sabe sobre Madalena? Seguro seus pulsos com força.

— Está me machucando, Enrico.

— Vou machucar de verdade se não parar de conversinha e começar a falar


logo!

— Me solte!

— Então fala! — Grito sentindo minha mente girar. — Fala tudo, porra!

— Foi tudo um plano... — Começou a sussurrar e eu afrouxei os dedos


deixando suas mãos caírem. — Desde o início, desde te conhecer, te
namorar... minha família está envolvida com o tráfico há anos e quando você
passou no concurso e pegou o caso eles viram você como um problema e
obviamente eu era a solução rápida.
O arrepio que me subiu a espinha foi como se a morte me encarasse
de perto naquelas palavras.

— Eu fui designada para me envolver com você para saber cada passo das
investigações, a coisa saiu do controle porque casamos e você continuou
chegando cada vez mais perto, e então forjaram a minha morte, minha mãe
teve essa ideia, ela usou do seu amor por mim para te deixar abalado.

— E conseguiu... vocês destruíram minha vida! Você destruiu. Encaro a


mulher que um dia eu acreditei amar mais que a mim mesmo.

— Enrico, por favor, me escute...

— Quem está junto?

— Como assim? Ela me olhou confusa.

— Vocês não estão sozinhas, quem é o outro cabeça?

— Carlos Alfredo. Ele é filho do sócio da minha mãe, assumiu os negócios


depois da morte do pai.

— O câmera que trabalhava contigo? Arregalo os olhos entendendo tudo. Em


segundos minha mente monta todas as peças do quebra-cabeça.

Minha vida toda foi uma mentira. Eu fui apaixonado por uma mentira.

— Aquele bebê era meu?

— Sim.

— Eu quero a verdade, fale a verdade!

— Não sei. — Seus olhos escaparam algumas lágrimas. — Acho que não era
seu, era de Kaká, em todo caso ele me fez o tirar, eu não o perdi, eu o abortei.
Como se ainda fosse possível meu coração doeu ainda mais. — O que
você veio fazer aqui?

— Eu disse a verdade, estou cansada de ser a cadela de estimação de Denise,


quero contribuir para foder com ela.

— Por que?

— Porque ela me traiu! — Falou com raiva. — E eu estou disposta a entregar


tudo que seja necessário para acabar com ela.

— Eu não acredito em você!

— Aqui. — Patrícia tirou um pen drive do seu sobretudo. — Dentro dele tem
tudo que você precisa para botar na cadeia quem merece... faça isso, faça por
favor Enrico, você tem que fazer.

— Isso tudo é insano...

— Você precisa agir rápido, Kaká já deve ter percebido que eu não estou no
Rio de Janeiro, então você está correndo perigo, Madalena está também.

— O que você sabe sobre Madalena?

— Pouca coisa... Denise não disse muito, você a ama?

— Amo.

— Mais do que a mim?

— Diferente de como amei você.

— Como amou... — Seus olhos claros umedecidos pelas lágrimas voltam a


piscar.
— Amei... agora amo outra, e é diferente e mais forte.

— Entendi. Balançou a cabeça.

— Você sabe que vai presa, não é? Agarrei seu braço e comecei a puxá-la
rumo ao meu carro.

— Espera, ainda não terminamos.

— É claro que terminamos. Falei encarnado seus olhos apreensivos.

— Você escutou o que eu disse? Sobre estar em perigo? Madalena pode estar
correndo risco.

— Se você sabe alguma coisa fala logo! Aponto um dedo em seu rosto e a
vejo arregalar os olhos assustada. Patrícia nunca tinha me visto me alterar
com ninguém.

— Eu não sei... eu só... você me perdoa, Enrico?

— Por destruir minha vida? Não.

— Por favor. Ela volta a mexer no casaco e retira um pequeno envelope.

— O que é isso?

— Uma carta, escrevi para você.

— Não vamos perder tempo, vem, me acompanhe.

Patrícia me encarava com os olhos perplexos como se não


reconhecesse o homem que estava a sua frente, mas eu também não
reconhecia a mulher, agora tudo estava tão claro que eu não conseguia
acreditar em como pude ter sido cego durante tanto tempo.
— Me dá só uns segundos?

— Não.

— Eu vou com você, eu só quero ficar mais um minuto ali. Ela apontou para
onde deveria estar enterrada.

— Não tente nenhuma gracinha.

— Guarde tudo. Ela apontou para o pen drive e a carta na minha mão.

— Ande!

— Me desculpe por tudo, Enrico, de verdade. Falou mais uma vez antes de
voltar a caminhar para perto da lápide.

Guardei o pen drive e a carta dentro da jaqueta e agarrei meu telefone


discando os números de Madalena, precisava ouvir a voz dela.

O telefone chamou três vezes quando eu escutei o estampido seco.


Subi a cabeça sabendo muito bem do que se tratava o barulho.

— PATRÍCIA!

A mulher estava caindo de joelhos no momento que cheguei para


agarrar seu corpo e o grito do seu nome saiu pela minha garganta.

Os olhos azuis que um dia eu tanto amei já não tinham mais vida,
tinha uma pequena arma nas mãos e o tiro mortal que tinha desferido no
ouvido começou a jorrar sangue demais.

— Meu Deus! Meu Deus! Levei as mãos à cabeça encarando seu corpo inerte
e sem vida. A dor que eu sentia agora não se comparava a dor que eu senti há
dois anos atrás, agora eu estava apenas em choque, sentia pena por ver que
ela tinha tomado uma decisão tão horrorosa, tirar a sua vida, a vida que eu
sofri tanto pensando que já havia sido ceifada.

Liguei para Doug e em pouco tempo o cemitério estava isolado. Eu


estava totalmente em transe explicando o que tinha acontecido quando me
lembrei que não tinha conseguido falar com Madalena.

— Que desgraça cara... ela te entregou o pen drive e se matou? Você


verificou se realmente existe provas nele? Doug falou quando os peritos
pegavam o corpo de Patrícia e levavam para o caminhão do IML.

— Sabe se Jonas está fazendo a segurança de Madalena? Ignorei sua


pergunta com incalculável ainda na cara orelha. Madalena não me atendia, e
meu estômago começava a embrulhar.

— Que eu saiba ele tinha ido no serviço de inteligência antes.

— Que merda, vem comigo!

— O que está acontecendo?

— Madalena pode estar em perigo. Falei já correndo para o carro.

Nem sei como consegui chegar ao meu prédio tão rápido. Desci
correndo até a guarita da portaria e João o porteiro se assustou.

— Eita, seu Enrico, algum problema?

— Madalena está em casa?

— Não senhor, saiu agorinha e ainda não voltou não senhor.

— Inferno! Respondo lhe dando as costas e voltando para o carro com Doug
ao meu encalço.

— Calma, tenta ligar de novo.


— Não atende! Disquei mais uma vez e chamou até cair na caixa postal. Nem
a cena horrível de Patrícia se matando a minutos atrás estava sendo capaz de
me apavorar tanto quanto a possibilidade de que acontecesse algo com
Madalena e os bebês.

Dirigi até o mercado e Doug e eu nos separamos para procurá-la, dez


minutos mais tarde estávamos na sala da segurança vendo as imagens do
sistema de câmeras.

— Aqui. Apontei para imagem em que Madalena aparecia no caixa.

— Passe para as câmeras do estacionamento. Doug exigiu e segundos depois


meu coração se despedaçou.

Um carro preto tinha abordado Madalena, ela tinha tentado correr,


mas a força tinha sido colocada lá dentro.

— Dê zoom. Mas que caralho! Levei as mãos à cabeça.

— Conhecemos esse cara... — Doug falou com o rosto fechado. — É o tal do


Rômulo, investigamos ele há alguns meses.

— Rômulo? Encaro a imagem e reconheço o imundo. Era mesmo o filho da


puta que tinha escapado por falta de provas. — Eles acabaram de assinar a
sentença de morte deles.

— Eu sei onde encontrá-lo. Doug ficou de pé.

— Como assim?

— Esse cara é um covarde, repare, ele desce do carro, mas não toca em
Madalena, com certeza já está de volta a toca.

— Então vamos logo! O segui para fora da sala de segurança.


Naquela altura, minha mãe já tinha sido informada do
desaparecimento de Madalena e estava com meu pai e Aline em casa
esperando que eu mandasse notícias.

Dirigi desobedecendo todas as leis de trânsito até o um prédio no


Morumbi.

— Pensei que ele mantinha uma casa no Jaçanã.

— E mantém, é onde ele se encontra com todos, mas aqui é onde ele não
encontra ninguém, ninguém além de nós.

— Como descobriu isso? Falei descendo do carro e me surpreendi ao ver


Jonas vindo ao nosso encontro com uma mala de lona nas mãos, como eu o
conhecia sabia que lá dentro ele carregava seus instrumentos preferidos.

— Jonas descobriu, o cara seguiu o infeliz até aqui. Doug apontou.

— Me desculpe por não estar por perto quando Madalena precisou, cara... eu
sinto muito por Patrícia, eu acho. — Me deu um abraço de lado.

— Vamos resolver tudo. Falo tentando me auto convencer.

— Ele pode ter seguranças aqui? Jonas encarou o edifício de aparentemente


vinte andares.

— Se tiver, eu mato todos. Estou com saudades de matar alguém sabe?


Douglas falou calmamente enquanto entrava no prédio.

— Pois não?

— Viemos visitar uma pessoa...

— Podem informar o nome para que eu possa anuncia-los?


— Agente Civil, Agente Civil, Delegado Civil. Doug ergueu o distintivo com
cara de poucos amigos enquanto apontava para cada um de nós.

— Eu...

— Obrigado, pode manter a discrição, não pretendemos demorar não viu?

— Sim senhor. O homem balançou a cabeça assustado.

O filho da puta de Rômulo morava na cobertura, tivemos que chegar


pela escada já que o elevador só dava acesso com chave específica, nos
surpreendemos ao encontrar o lugar sem nenhum segurança sequer, em
poucos minutos nos três havíamos invadido o maldito apartamento e aquele
merda amarrado em uma cadeira no meio da sala. Com os olhos assustados
enquanto eu me mantinha furioso.

— Onde está a garota que você sequestrou hoje?

— Não sequestrei ninguém. Falou medrosamente e meu sangue nos olhos fez
com que eu lhe desferisse o terceiro forte tapa no rosto.

— Você não está entendendo, desgraçado, você já perdeu, abre o jogo logo,
onde está a mulher que você sequestrou saindo do mercado hoje.

— Eu juro cara... — Choramingou. — Eu não sei de quem vocês estão


falando, eu sou trabalhador, vocês já fizeram isso antes e não acharam nada.

— Trabalhador o caralho! Doug gritou se irritando e eu me aproximei


apertando seu maxilar com força o bastante para deslocar o osso se quisesse.

— Você me subestima? Eu posso ser o diabo quando eu quero ser, vou te dar
uma última chance para responder a porra da minha pergunta.

— Eu já disse...
Desferi mais dois tapas fortes em seu rosto e vi o covarde deixar as
lágrimas escorrerem.

— Filho da puta! Tá chorando agora é, mas eu já disse que você perdeu, eu


sei do seu envolvimento com Denise e Kaká, essa sua historinha de
trabalhador não cola, fala logo.

— Eu não sei! Gritou.

— Caralho, vai falar não. Jonas abriu a mochila pegando um de seus muitos
canivetes afiados dos quais ele amava.

— Espera. Levantei a mão e saquei minha glock da cintura a engatilhando.

— Para onde levaram a garota.

— Não sei. Ele respondeu e eu firmei a ponta da arma em sua coxa apertando
o gatilho sem dó. O grito desesperado ecoou por todo apartamento.

— Que bom que essa porra deve ter acústica. Doug falou tranquilamente
sentado no sofá frente aonde estávamos.

— Mais uma chance. — Engatilhei a arma e a levantei rumo ao meio da sua


testa. — Para onde, levaram a garota? Falei pausadamente encarando o fundo
dos seus olhos para que ele entendesse que eu não estava brincando e atiraria
sem nenhum temor.

— Foi pra Buenos Aires. Buenos Aires porra.


19
Madalena Cereja
— Eu não sei que vocês querem, mas eu tenho certeza que pegaram a pessoa
errada. Falo apavorada encarando os quatro homens enormes dentro do carro.

— Fique calada e quieta.

— Eu não tenho nada, eu sou pobre, viu? Falo sentindo meu estômago
embrulhar. Não era uma boa hora para meu enjoo matinal vir com tudo.

— Garota, fique calada! — O cara do meu lado esquerdo segurou meu pulso
com força o suficiente para machucar.

Engoli seco sentido as lágrimas encherem meus olhos. Maldito dia


para acordar com desejo de comer pepino em conserva. Odiava quando
Enrico colocava picles na comida, mas aparentemente os bebês na minha
barriga amavam aquela merda, acordei com muita vontade e não tinha mais
em casa, por isso antes mesmo de ligar para meu namorado eu tomei um
banho e sai para o mercado mais próximo de casa afim de matar o desejo.

Só não esperava que aquele carro preto com quatro brutamontes fosse
aparecer na saída. Agora eu não sabia para onde estavam me levando, e eles
não falavam nada, todos os quatro se mantinham calados. Pararam o carro e o
homem do lado do motorista desceu, depois disso logo pegamos a rodovia, o
que mostrava que eu estava sendo levada para longe.

Minha cabeça martelava tentando entender quem poderia estar por


trás daquilo, Joaquim estava morto, não tinha mais ninguém atrás de mim, ao
menos era isso que eu achava.

— Eu preciso vomitar. Falei sentindo mais uma vez a ânsia de vômito me


tomar.
— Até parece.

— É sério... eu preciso. Tampei a boca com os olhos arregalados para o


moreno ao meu lado.

— Encosta o carro que ela vai vomitar em mim!

— Deixa vomitar, temos hora! Ouvi o outro retrucar e inclinei a cabeça para
frente.

— Para logo, cacete! Um deles exigiu e senti o carro diminuir a velocidade.


A porta se abriu e um braço me puxou para fora com força me machucando,
nem tive tempo de reclamar da dor, joguei a cabeça para frente deixando nada
mais que o líquido esponjoso da água que eu tinha ingerido antes de sair de
casa sair.

— Que caralho!

— Mano, eu não tô nem acreditando.

— Calma, cara, fica frio tá? — O que tinha assumido o passageiro ainda
quando o primeiro homem tinha nos deixado apareceu. — Entra no carro, eu
cuido da garota.

— Que se dane então! Vi o moreno voltar e se sentar no banco do motorista


dessa vez.

— Você está bem? Vejo um lenço estendido na minha direção.

— Agora sim... — Suspiro e ergo os olhos para o homem alto a minha frente,
ele era tão forte quanto Doug, os cabelos eram enormes amarrados em um
coque desajeitado. Aceito o lenço e limpo a boca. — Obrigada, por ser um
pouco... gentil.

— Não precisa ficar com medo, só recebemos ordens de te levar até um


lugar.

— Vocês têm certeza que pegaram a pessoa certa?

— Vão ficar namorando aí fora até quando? Estamos na rodovia!

— Já estamos indo, cacete! — O homem respondeu irritado e voltou a me


olhar com calma. — Fica tranquila, tá?

— Você é legal para um bandido.

— Eu acho que sou. — Ele ousou a dar um sorrisinho e apontou o carro


novamente. Eu olhei para os lados e até pensei na possibilidade de correr,
mas antes mesmo de terminar o pensamento a sua voz soou em meu ouvido.
— Eu te alcançaria, é melhor não tentar.

Não quis olhar em seus olhos, entrei dentro do carro novamente e


abaixei a cabeça tentando manter minha respiração controlada.

Enrico já deveria ter sentido minha falta, ele poderia me encontrar?


Ele me encontraria, certo? Ele tinha que me encontrar.

O carro saiu do asfalto e nos embrenhamos em uma estrada de terra, o


balanço do automóvel me deixou totalmente tonta eu respirei fundo contando
mentalmente até cinco para puxar o ar e soltar, o suor gelado molhava minha
nuca. Tinha certeza que o medo que eu senti quando pensei que Joaquim
poderia me matar não se comparava com o medo que eu sentia agora.

Não sabia mais quanto tempo tinha passado e evitava olhar para cima,
encarando minhas mãos trêmulas no carro silencioso com os três bandidos
me sentia sendo levada para a morte. Tudo que eu conseguia pedir era que
Enrico me achasse.

O carro parou e o bandido que não era tão estupido quanto o outro me
puxou mais gentilmente para fora do carro.
Meu coração se quebrou quando eu ergui os olhos e percebi o enorme
avião, se entrasse ali era o meu fim, eu estaria morta, Enrico nunca me
acharia, meus bebês nunca iriam conhecer a vida, e toda a felicidade que eu
imaginei ainda viver foi tirada de mim naquele momento enquanto me
arrastavam para o desconhecido.

— Tome isso! Um homem me entregou um copo assim que me colocaram


em uma das poltronas.

— Não quero.

— Tome logo.

— É água. O cabeludo gentil me incentivou.

— Não quero!

— Não estou perguntando se você quer! O moreno que tinha sido grosseiro
antes gritou e eu segurei o copo deixando minhas lágrimas escorrerem.

Assim que o líquido tocou minha língua eu sabia que não se tratava só
de água, mas sinceramente eu não queria saber o que era, apenas rezei para
que aquele pesadelo acabasse, e se para que ele terminasse eu tivesse que
morrer, que fosse logo.

— Vai sentir sono agora. Ouvi a voz do cabeludo ao meu lado. Apenas fechei
os olhos ainda molhados pelas lágrimas que continuavam a escorrer. Pensei
em dizer que estava grávida, para que talvez me liberassem, mas a
possibilidade de que agissem ainda pior comigo fez eu me manter calada.

— Quanto tempo agora? Ouvi a voz desconhecida e imaginei ser a do


motorista do carro que até o momento não tinha aberto a boca.

— Algumas horas, já falei com a mulher, ela vai estar nos esperando,
mandou que pousemos em Buenos Aires. Reconheci a voz do moreno
ríspido.

— Pensei que fôssemos a Bariloche. O cabeludo que estava ao meu lado


falou.

— Eles não resolvem os problemas em casa. Ao menos não os problemas


vivos.

Eu era um problema vivo? Buenos Aires? Estávamos indo para outro


país?

Enrico nunca mais me acharia. Eu estava mesmo destinada a morrer.


A escuridão me tomou.

O frio era tanto que eu despertei. Parecia estar dentro de uma caixa de
gelo. Abrindo os olhos observei o local escuro. Estava deitada no chão duro e
gelado, o lugar parecia enorme e possuía pequenas luzes nas paredes de
madeira.

— Olá? Falei baixinho. Não sabia se era bom ou ruim estar sozinha.

Meu estômago roncou. Não fazia ideia quanto tempo tinha passado
desde o momento que eu tinha sido colocada dentro daquele carro levada até
o avião e tomado aquela porcaria que me fez dormir, podia ter sido horas, ou
dias.

Me encolhi abraçando minha barriga. Percebi a enorme e pesada


corrente prendendo um de meus pés me impedido de me mover muito.

— A mamãe sente muito por não proteger vocês... sente muito, meus bebês.
Deixo as lágrimas escorrerem sentido o vento gelado ultrapassar as paredes
de madeira deixando o local totalmente congelante.

O barulho de pneus do lado de fora me fizeram arrepiar ainda mais,


logo as portas do que se parecia ser um velho armazém foi aberta e uma
grande lufada de ar entrou junto com os faróis de dois carros que foram
acesos, pude ver que ainda era dia do lado de fora. Ainda era dia, ou já era
um novo dia? Me encolhi ainda mais quando percebi os carros parando e o
barulho das portas batendo.

— Ela está acordada? A voz de um homem surgiu e eu tive que levar a mão
aos olhos ao sentir uma luz forte no rosto.

— Parece que sim. A voz que eu reconhecia de um dos bandidos do carro


falou.

Ergui o rosto e vi os três que haviam me levado, ao lado mais dois


brucutus altos e um homem muito bem vestido que aparentemente não fazia
parte deles, usava um terno preto e uma gravata vermelha brilhante, o rosto
era bonito e os olhos eram negros assustadores.

— Olá, Madalena, que bom que resolveu acordar do seu cochilo e nos dar o
ar da graça... já estava ficando preocupado, um dia e meio, hum?

Continuo o encarando muda, reparo os homens que aparentemente lhe


serviam de capangas se afastarem o suficiente deixando que somente eu e o
homem ficássemos sobre a luz que a lanterna que antes tinha sido colocada
no meu rosto iluminasse o pequeno espaço em que estávamos.

— Devo dizer que estou surpreso, não esperava que você fosse tão... fofa? —
Seu sorriso de escárnio me embrulhou o estômago. — Mas ainda assim é
bem bonita, sabia? — Se aproximou de mim o bastante para estender o braço
e agarrar meu queixo com força para que eu o olhasse. — É uma pena que
tenha se envolvido com a pessoa errada... Enrico De Giordano não é um bom
homem.

Olhei dentro dos olhos dele ao ouvir o nome de Enrico. Então era
isso. Era por isso que eu estava ali. Eles tinham me levado para se vingar de
Enrico. Meu coração se apertou ao imaginar em como ele ficaria mais uma
vez destruído ao perder quem amava. Ele se sentiria culpado de novo. Eu não
queria que Enrico sentisse culpado por minha causa. Ele não tinha culpa de
nada.

— Enrico com certeza é melhor que você! Puxo meu rosto com força me
livrando do seu aperto.

— Ora ora, e ainda é ranzinza? Aparentemente Enrico gosta de mulheres de


gênio forte, cá entre nós eu também. Alisou a minha maçã do rosto e eu quis
levantar a mão para empurrar a sua, mas eu segurava meu ventre com tanta
força que era incapaz de soltar.

— Devo trazer comida? Uma voz do fundo falou e meu estômago remexeu
com a palavra.

— Está com fome, Madalena?

— Não. Falei com raiva e vi o sorriso brotar em seus lábios enquanto se


abaixava para ficar com os olhos à altura dos meus.

— Não? Não mesmo? Riu.

— Me solte! Enrico vai me encontrar!

Uma gargalhada estrondosa e assustadora saiu da sua boca: — Ele


pode até tentar, como fez todos esses anos.

Todos esses anos? Franzi a testa sem entender nada do que ele dizia e
parecendo compreender ele esclareceu.

— Talvez seja melhor eu me apresentar primeiro para que você não fique
confusa. Meu nome agora é Giovani Petrova, mas um dia foi Carlos Alfredo
Filho, casado com Sarah Petrova, a qual um dia foi Patrícia Alencar, a que foi
esposa do seu namoradinho.

— Patrícia está morta! Sussurro.


— Isso é o que fizemos todos pensarem. Aliás, uma hora dessas deve mesmo
estar morta, ou presa, e é o que merece por ser uma traidora!

— O que vai fazer comigo?

— Com você? Bom está ansiosa pensei que quisesse saber da história toda.
— Mais uma vez me deu um sorriso diabólico.

— Por favor, me deixe ir.

— Eu deixaria, Madalena, aliás, eu odeio ter que matar pessoas... não é muito
do meu feitio sabe? — Se colocou de pé me analisando mais uma vez. — E
você tão bonita, é até mesmo um desperdício te matar... — Olhou para traz
rumo aos homens. — Tom, Viegas, a coloquem de pé.

Ordenou e os dois homens morenos que eram os que o


acompanhavam se aproximaram agarrando meus braços me colocando de pé.

A blusa fina branca que eu tinha colocado para ir ao mercado já


estava totalmente suja, meu short jeans deveria estar quase tão feio quanto.

— Por isso, — O homem se aproximou ficando cara a cara comigo. Eu podia


sentir o cheiro do seu hálito de álcool e cigarro misturados. — antes de fazer
o que Denise pediu, eu vou ter que sentir...

— Denise? O interrompi assustada e chocada.

— Isso querida, agora você quer saber a história? — Ele mordeu o lábio
ainda sorrindo. Minha mente chegou a me deixar tonta ao imaginar que
Enrico tinha sido enganado a vida toda. — Chega de conversa... — Sua mão
nojenta alisou minha perna e subiu pelo meu quadril até meu seio esquerdo.

— Não! Por favor! Suplico apavorada.

— Eu vou ser gentil, querida... não poderei dizer o mesmo dos meus
parceiros.

— Não mesmo, eu gosto de foder duro. Um dos homens que me agarrava


pelo braço sussurrou no meu ouvido e eu me senti enojada.

— Pelo amor de Deus, não faz isso! Começo a sapatear tentando dar chutes
no ar.

— Vocês não podem estuprá-la! — O bandido cabeludo me olhou com pena


no olhar. — Estão loucos?

— Quem você pensa que é? — O tal Carlos Alfredo se virou na direção dele
como um animal indo rumo a presa. — Para estar me questionando? Seu
merda!

— Estou questionando sim! Porra! Violentar uma mulher é absurdo. Ainda


mais essa coitada, que está aqui por puro capricho seu!

— Você mata pessoas, gênio. Comer uma boceta agora é absurdo? Sua
maricas!

— Comer sem o consentimento sim, seu escroto! Ele estufou o peito


enquanto eu ainda me debatia e gritava sendo segurada pelos homens.

A cena que aconteceu a seguir nunca mais iria sair da minha mente se
eu conseguisse escapar viva dali o homem cabeludo ainda desafiava o chefe o
encarando com raiva, de certo modo eu me sentia agradecida por mesmo
sendo bandido ele estar me protegendo de tamanha brutalidade que tentavam
fazer. Carlos Alfredo sorria diabolicamente enquanto o mesmo moreno
grosseiro que tinha me machucado no carro arrancava uma arma e mirava em
suas costas sem que ele visse.

— Não! Tentei avisar gritando já tarde demais, ouvindo o primeiro


estampido. O cabeludo caiu de joelhos ainda com os olhos abertos vidrados
aos meus.
— Desculpe. Eu consegui ler em seus lábios antes de cair inerte no chão.

O verdadeiro choque não foi capaz de impedir que meu grito alto
saísse quando tomei a maior quantidade de ar que podia nos pulmões. Senti o
aperto nos meus braços machucarem ainda mais enquanto chutava o ar sem
parar e senti o primeiro tapa no rosto, mas aquilo não me impediu de
continuar a gritar.

— Me solta! Seu nojento! Me solta! Socorro! Seu escroto!

— Sua vadia! Ouvi a voz de Carlos Alfredo e senti mais uma vez sua mão
pesada acertar meu rosto, o gosto de ferrugem do sangue invadiu minha
língua. Eu encarei seu rosto que ousava considerar bonito e percebi que
diziam que Lúcifer também enganava por sua beleza. Cuspi em seu rosto sem
pensar nas consequências e vi a saliva e o sangue atingi-lo em cheio.

Estava preparada para o pior quando novos estampidos tomaram o


local. Senti uma queimação enorme no braço e nem tive mais reação ao
perceber que tinha recebido um tiro no ombro. A blusa branca em segundos
se empapava e eu senti uma leve vertigem.

— Madalena, se abaixa! A voz que eu clamei tanto em silêncio na mente


gritou para mim.

Talvez eu já estivesse morta e tinha chegado ao paraíso, mas o


importante era que Enrico estava ali.
20
Enrico De Giordano
Passei as últimas horas em tensão total e visivelmente perturbado.

Graças fato do meu pai ser rico eu tive facilidade em conseguir um


avião que nos levasse pra Buenos Aires, estava acompanhado de Jonas e
Doug que carregaram Rômulo amarrado e mancando com a perna com um
cinto estancando o sangue que eu mesmo tinha atingido com um tiro, e quatro
seguranças pessoais que também trabalhavam para o meu pai. Como
delegado eu sabia que o que eu estava fazendo era totalmente errado, mas
tudo que eu conseguia pensar era na minha mulher grávida que tinha sido
levada.

— Eu já falei o que sei, me deixem em paz agora...

— Você vai levar a gente até o lugar exato, seu filho da puta, e fica calado se
quiser continuar vivo! Jonas avisou o jogando na última poltrona.

— Eu levei um tiro, eu preciso ir ao hospital.

— Você precisa é calar a porra da boca se quiser sair dessa porra vivo!
Apontei mais uma vez minha arma na sua direção e Doug apareceu do meu
lado.

— Calma, cara, matar esse infeliz não vai ajudar em nada agora, já estamos
decolando, em poucas horas estaremos com Madalena.

— Ela já deve estar morta.

— Retira o que você disse agora! Levantei da minha poltrona como um


animal e o cobri com socos totalmente irado de raiva.
Enrico! — Jonas conseguiu me arrastar enquanto Douglas colocava
uma fita na boca do homem. — Porra, cara, fica calmo, surtar agora não vai
adiantar.

Me joguei na poltrona mais longe o possível de todos e deixei minha


cabeça pairar entre a certeza que Deus não deixaria nada de ruim acontecer
com Madalena e entre o fato de que eu mataria qualquer um que tivesse
tocado nela.

As horas de voo pareceram dias, quando finalmente pousamos


encontramos alguns carros a nossa disposição e mais uma vez eu agradeci
pelo fato do meu pai ter influência. Tinha passado a vida toda negando o
status que ele sempre dizia ser meu em sua empresa, e agora era por ele que
estava conseguindo salvar o amor da minha vida.

— Eu não sei direito... Rômulo falou quando retiramos a fita da sua boca.

Doug limpou a sua barba cheia e deu uma risada engatilhando a


pistola. — Eu estou muito sem paciência irmão. Pousou o cano da arma no
meio da boca do sujeito.

— Eu só conheço um armazém, se não estiverem lá eu juro por Deus que eu


não sei onde estarão!

— Então fale o endereço.

— Estrada 44, norte.

— Bom garoto! Doug piscou tirando sua glock da boca de Rômulo e eu


voltei a encarar a rua tomada por neve. O lugar era cinza e gelado. Meu
coração batia tão rápido que eu podia senti-lo na boca, tudo que eu desejava
era que aquele filho da puta não estivesse certo com as malditas palavras e
que Madalena não tivesse sido morta, pois caso acontecesse dessa vez eu não
aguentaria.
O carro cantou pneu e acelerou tanto que nem sei como não fomos
parados, eu não ousei pegar o telefone para avisar meus pais que havia
chegado, queria avisar quando estivesse tudo resolvido. Mas sentia dentro de
mim que tinha algo muito errado e pedia silenciosamente que fosse engano.

Passou por minha cabeça chamar o reforço da polícia argentina, mas


tive medo de fazer com que tudo ficasse ainda mais complicado do que já era.
Precisava ver como seria tudo e então acionária a polícia.

Foi um terror até conseguirmos chegar ao armazém que parecia


abandonado no meio do nada, as paredes de madeira velhas pareciam prestes
a desabar a qualquer momento.

— É aqui? Perguntei me virando para ver o rosto de Rômulo.

— Sim, esse é o único lugar que eu já vim tratar de negócios com eles em
Buenos Aires... eu juro que não existe outro.

Balancei a cabeça e olhei para meus dois melhores amigos dando a


ordem que eles sabiam muito bem o que fazer. Desci do carro pisando na
neve fofa e vi Doug retirar Rômulo e o jogar de joelhos.

— O que está fazendo? — Ele nos olhou assustado. — Vão me deixar aqui?

— Foi um desprazer conhecer você. Avisei antes de me virar e começar a


andar rumo a porta do armazém acompanhado dos quatro seguranças
armados e de Doug, enquanto Jonas ajeitava o silenciador na arma para
terminar com Rômulo.

— E então? Estão aí dentro?

— Tem barulho. Doug confirmou e olhou para trás dando o sinal de ordem
para Jonas vir logo.

Estávamos tentando achar mais visibilidade quando o primeiro


estampido soou, e não foi o corpo de Rômulo que caiu na neve, o barulho
vinha de dentro no exato momento em que ouvimos isso os gritos
começaram.

— Me solta! Seu nojento! Me solta! Socorro! Seu escroto! Ouvi a voz


feminina e meu peito quase explodiu. Era Madalena.

— É ela. Agarrei minha arma.

— Calma, Enrico.

— Calma o caralho, vamos invadir! Dei a ordem e corri dando com o pé no


portão velho do armazém já soltando o primeiro tiro para a primeira imagem
masculina que vi na frente.

Não vi quem estava do meu lado, só enxergava um alvo e só


precisava salvar ela. Atirei em dois homens e corri para o único ponto de luz
no lugar enquanto gritei em plenos de pulmões: — Madalena, se abaixa!

— Cala a boca, sua puta! Ouvi o filho da puta dizer e meus olhos pousaram
sobre eles, o desgraçado ousando a dar uma coronhada em Madalena que já
estava caída de joelhos.

— Ah, seu filho da puta! Rugi e escutei o barulho dos tiros começarem a
diminuir atrás de mim, a qualquer modo estávamos em maior número, e eu só
precisava meter dois tiros na nuca desse canalha, mas eu não o mataria pelas
costas. Ele iria ver meu rosto, para saber que quem o matou tinha sido eu.

Meus pés pareciam dormentes e por mais que estivesse correndo o


armazém parecia grande demais, eu estava chegando perto de onde via que
Madalena estava e o medo me corroeu ao ver que ele apontava a arma para o
rosto dela.

— Mais um passo e eu atiro. Ouvir a voz gelada de Carlos Alfredo se virando


na minha direção que me fez frear, o medo me engolfou tão forte que eu tive
dificuldade de respirar.

— Abaixa a sua arma. Ele mandou e eu fiz o que pediu, ainda tinha mais um
revólver na cintura e sacaria assim que tivesse oportunidade. — Como
chegou aqui tão rápido? Como soube exatamente sobre esse lugar?

— Patrícia me procurou. — Contei ocultando o fato que tínhamos Rômulo


morto lá fora.

— Aquela fraca! — Carlos passou os olhos por Madalena que estava com o
braço sangrando e a lateral da testa devido a coronhada. Meu coração doía de
vê-la daquela maneira. — Ela não se matou? Ela deixou uma carta dizendo
que se mataria.

— Ela se matou na minha frente, mas antes ela me contou tudo. Falei e vi os
olhos de Madalena se esbugalharem em surpresa.

Kaká pareceu por alguns segundos afetado com a notícia, mas logo se
recompôs e indagou: — Como chegou até aqui?

— Não era o que queria? Me encontrar? Você sabia que o encontraria


sequestrando a minha mulher.

— Não tão rápido, era para você chegar mais tarde. — Ele ousou rir. — Eu
me divertiria com ela primeiro. Apontou para Madalena.

Fechei meus punhos com raiva. Queria voar em Carlos e mata-lo com
as próprias mãos, não precisaria de armas com a raiva que estava sentindo.

— Rômulo me trouxe. — Falei chamando sua atenção e ele olhou de


imediato para mim e muitas perguntas vieram a minha mente, tentando
distraí-lo até conseguir afastá-lo um pouco de Madalena para sacar minha
arma e matá-lo. — Por que tanta enrolação, Kaká... todos esses anos, seria
mais fácil tentar me matar logo, não?
— Eu tentei várias vezes, seu imbecil, mas Denise sempre regou uma paixão
secreta por você, nunca deixava que chegássemos até o fim, sempre só sustos,
sempre só ameaças, sempre dizia que era melhor você continuar a nos
investigar aos poucos do que um novo cara, mas estou de saco cheio de você
Enrico, já faz anos que você é meu pé no saco! Anos!

— Certo, então deixe Madalena ir. Se isso é entre eu e você, deixe ela sair.
Falei dando alguns passos ainda com as mãos erguidas em rendição.

— Não! — Madalena se manifestou pela primeira vez com um grito


agoniado fazendo menção de se levantar. — Enrico, não faz isso!

— Cale a boca! O berro de Carlos Alfredo me congelou e ao ver ele quase


atirar em Madalena eu dei passos agoniados me aproximando rápido.

— Se afasta agora! Ele mandou e eu parei mal sendo capaz de respirar.

— Enrico, eu te amo, você está ouvindo? Nunca se esqueça disso. — Ouvi


Madalena sussurrar baixinho. Perdi alguns anos da minha vida naquele
momento, eu me perguntava onde estavam aqueles filhos da puta que
estavam comigo que não apreciam ali para me ajudarem.

Foi naquele momento de descontrole que tudo aconteceu. Eu estava


prestes a sacar minha pistola da cintura quando de surpresa Madalena deu um
pulo sobre o braço esticado de Carlos Alfredo. Ouvi o primeiro estampido
seco. Corri, mas não consegui impedir que os dois se engalfinhassem rolando
no chão, saquei a arma e como em câmera lenta mirei em Carlos Alfredo que
estava por baixo, naquele momento ouvi os disparos que fizeram os dois
pararem inertes. Cai de joelhos ao lado deles e entrei em pânico ao perceber
quanto sangue jorrava ali.

Madalena estava com os olhos imobilizados em choque quando a


segurei.

— Madalena! — Gritei desesperado virando-a para mim e a puxando para


meus braços, sua cabeça pendeu para trás e vi sangue inundando sua roupa
saindo de sua barriga sujando também a mim. Meu coração se partiu ao
imaginar que algo teria acontecido com meus filhos, Madalena também
estava muito ferida. — Não! Não! Não! Berrei como um bicho ferido
desesperado e percebi a movimentação perto, Doug e Jonas foram os
primeiros a chegar correndo.

— Puta que pariu! Ouvi Doug dizer já ao meu lado.

— Caralho, vem vamos levá-la para o carro. Jonas ordenou se abaixando e


me olhando nos olhos como se tentasse dizer que ficaria tudo bem, mas pela
primeira vez vi que ele também não conseguia ter certeza no olhar.

Ergui Madalena nos braços e saímos correndo pelo armazém,


deixando um rastro de corpos mortos, inclusive de Carlos Alfredo para trás,
entrei no carro com Jonas e Doug e deixei o restante do pessoal no local para
que cuidassem de tudo. Saímos em disparada para o hospital mais próximo e
o mundo pareceu ativar um modo em câmera lenta.

Doug parou o carro na emergência, desci com Madalena nos braços,


ambos totalmente ensanguentado, os paramédicos correram para perto de
mim a colocando numa maca dando os primeiros socorros, um balão
respirador foi colocado e levei as mãos a cabeça totalmente em desespero
com o que acontecia.

— Mulher jovem, ferimento de arma de fogo. Um dos socorristas gritou em


castelhano.

— Ela está grávida. Avisei sentindo uma pontada no peito ao imaginar que
naquele momento talvez ela não estaria mais. Não me deixaram passar por
mais de duas portas, cai de joelhos tremendo sem parar sentindo minhas
lágrimas descendo pelo rosto.

Madalena tinha que viver, ela não podia morrer, meus filhos tinham
que estar bem, tudo tinha que ficar bem.

Rezei como nunca tinha rezado na vida e vi meus dois amigos ao


longe me observarem calados, sofrendo cada um silêncio.

Estava sem dúvidas passando pelo pior momento da minha vida.


Quase meia hora mais tarde uma enfermeira apareceu avisando que Madalena
tinha sido levada para o centro cirúrgico. Eu cheirava a sangue e o que mais
me machucava era por ser o sangue da mulher que eu amava.

Apoiei-me na parede, arrasado e ouvi os passos até a mão vir ao meu


ombro.

— Acabei de falar com Gabriel, a notícia boa é que o pen drive que Patrícia
te entregou realmente tinha todas as provas que precisávamos. Jonas falou
baixo.

— Que bom.

— Os seguranças do seu pai chamaram a polícia e se mandaram de lá, não


terão como descobrir que fomos nós, e aparentemente o tal Carlos Alfredo
estava envolvido com um esquema político por aqui.

— Está morto?

— Madalena o acertou bem no peito, ele não teve chances.

— Ao menos isso. Suspirei deixando meus olhos se fecharem.

— Quer um café?

— Não.

— Vou providenciar umas roupas novas pra você.

— Jonas. — Chamei meu amigo que andava de volta para onde Doug estava
conversando ao telefone.
— Oi?

— Obrigado.

— Não por isso, cara... somos irmãos você sabe. Anunciou firme e eu
desabafei:

— Estou com medo. Falei sentindo o bolo na garganta e vi ele retornar para
meu lado.

— Vai dar tudo certo, fica tranquilo, Madá é forte cara.

— E se ela tiver perdido os bebês, você viu como a barriga dela sangrava?
Levei as mãos aos olhos que pareciam brasas.

— Enrico, o que for para ser vai ser meu amigo, eu sei que vamos sair dessa.
Me abraçou forte e eu retribui o abraço, me deixando chorar no ombro de um
dos meus melhores amigos.

Depois que Jonas saiu falando que iria me comprar umas roupas,
Doug sentou ao meu lado e mencionou que tinha falado com Aline por
telefone, depois disso ficamos em silêncio, ele apenas apertava meu ombro
quando minha respiração era funda demais e era notável que eu estava prestes
a surtar.

Enfermeiras tentaram me examinar, mas me neguei, tudo que eu


precisava saber era como estava minha mulher e meus filhos.

Somente depois de mais de quatro horas de cirurgia, eu já com roupas


limpas e a muito pouco de surtar, um médico alto e moreno veio em nossa
direção, meus olhos se arregalaram para sua expressão fechada e o medo
voltou a me golpear duramente, ficamos os três de pé.

— Está viva? Doug perguntou já que eu parecia mudo.


21
Enrico De Giordano
— Vocês são os familiares de Lionel Suarez? O médico falou e mais uma vez
eu caio no precipício da agonia por não serem notícias de Madalena.

— Não, somos de Madalena Cereja Ferrão. Doug se afastou um pouco e um


casal que eu sequer tinha percebido a presença ali antes se aproximaram do
médico com os olhos chorosos. Aparentemente a notícia que receberam não
eram boas, pois a mulher se agarrou ao homem e começou a chorar
compulsivamente dando alguns gritos abafados fazendo a dor no meu peito
só aumentar em pensar na possibilidade de também perder Madalena.

Duas enfermeiras se aproximaram e Doug as parou.

— Precisamos de notícia de Madalena Cereja, a moça que chegou baleada.

— O médico já deve estar vindo. Uma delas encarou a outra e afirmou com a
cabeça.

Só Deus sabia agonia que eu estava sentindo quando dessa vez mais
um médico apareceu com um prontuário nas mãos.

— Familiares de Madalena Cereja? Ele falou e me surpreendi ao perceber


que era brasileiro.

— Aqui. — Eu corri até ele dessa vez minha voz saia por mais que trêmula
de nervosismo, aceitei a mão que ele me estendeu.

— João Pedro Castanheira, sou médico da sua?

— Noiva.
— Noiva. — Ele confirmou. — Como você se chama?

— Enrico De Giordano.

— Muito bem, Enrico, Madalena também é brasileira?

— É. — Confirmo nervoso com o pequeno interrogatório. — Ela está viva?

— Sim, está viva.

O alívio veio como uma onda forte e quase me derrubou. Me permiti


soltar a respiração antes de voltar a perguntar: — E meus filhos?

— Vamos por partes. Um tiro acertou o ombro e retiramos a bala, o outro a


vesícula, e está teve que ser removida, ela sofreu uma parada cardíaca durante
a cirurgia por isso demoramos mais que o esperado, a hemorragia interna foi
grande já que a bílis se espalhou pelo abdômen e ela corre risco de infecção,
colocamos um dreno e será mantida em aparelhos, o caso é grave e as
próximas 48 horas serão importantes para sabermos como irá reagir, o
importante é que saiba que fizemos o possível.

— Ela... ela perdeu os bebês, doutor? Doug questionou por mim.

— Não, ela não perdeu os bebês. Se vocês possuem alguma crença eu diria
que pode se considerar um milagre, os fetos não foram afetados, e estão bem
na medida do possível, os batimentos de ambos estão bons, a placenta não foi
atingida, mas como eu disse, Madalena corre risco de infecção, e se isso
acontecer teremos de abri-la novamente e aí a coisa se complica. A voz
gelada do médico me atingia como um soco, eu tremia e mal conseguia me
sustentar em pé sobre as pernas.

— Então ela está viva, e os bebês também? Doug falou.

— Sim, ambos estão vivos, e como eu disse as próximas horas serão


primordiais, o que poderia ser feito nós fizemos, agora vai depender de como
ela irá reagir.

— Eu posso... vê-la?

— Ela está no pós-operatório, depois irá para o CTI, infelizmente...

— Por favor... eu só preciso vê-la um minuto. Sussurrei encarando-o nos


olhos e vi doutor João Pedro morder a boca antes de suspirar.

— Só um minuto, eu não posso dar mais que isso.

Concordei e o segui em silêncio pelo corredor deixando Doug e Jonas


para trás.

Entramos numa sala e ele me ajudou a lavar bem os braços e as mãos,


me deu a roupa esterilizada e até uma touca para a cabeça, após estar
devidamente vestido me acompanhou até o ambiente que era o pós-
operatório.

— Como isso tudo aconteceu?

— Ela foi sequestrada. Sussurrei enquanto ainda parecia em transe.

— Vocês estavam viajando?

— Não, ela foi trazida para cá.

Vi o médico franzir o cenho. — O hospital é obrigado a entrar em


contato com a polícia quando recebemos casos assim, ainda mais se tratando
de estrangeiros.

— Tudo bem, nós resolvemos, só preciso que ela fique bem.

Ele balançou a cabeça como se convencesse que eu falava a verdade.


— Ela ainda está sob efeito da anestesia. — Avisou e eu balancei a cabeça
sentindo meu coração bater na boca. — Você tem um minuto.

Concordei mais uma vez e entrei deixando o médico na porta me


observando. Quando vi Madalena no leito, cheia de aparelhos com um
respirador a ajudando a se manter viva, imóvel e totalmente pálida senti uma
dor tão grande que cheguei a ficar tonto, não se comparava ao que eu pensei
sofrer quando Patrícia tinha fingido sua morte, vê-la parada sem poder fazer
nada para que revertesse aquilo se não a pedir clemência divina me deixava
desesperado. Parei ao seu lado, fitei seu rosto e alisei seu cabelo negro,
inclinei um pouco deixando um beijo em sua testa enquanto as lágrimas
continuavam a descer silenciosamente.

— Eu te amo, Madalena, por favor, não me deixe. O pior já passou paixão,


volte para mim, preciso de você e dos nossos bebês. Falei baixinho perto do
seu ouvido e ouvi os batimentos dela se alterarem um pouco.

— Você precisa sair, logo vão vir buscá-la para levá-la ao CTI.

Levantei a cabeça mais uma vez me abaixei perto de Madalena.

— Não me abandona, cerejinha, por favor. Apertei sua mão fria antes de sair
de lá e voltar para a sala de espera encontrando Jonas dois copos de café na
mão e me entregou um.

— Doug foi ligar para Aline.

— Tá bom. Sentei ao seu lado deixando minha cabeça firmada entre meus
dedos.

— Está um alvoroço lá fora, a morte de Carlos Alfredo parece ter atingido a


imprensa, ainda mais pelo fato de ele ser um bandido e ter sequestrado
Madalena.

— Conseguimos mesmo provar que ele é um bandido?


— Conseguimos. Denise está sendo procurada, ela já está declarada fugitiva
pela polícia de São Paulo.

— Ela é o meu menor problema agora. Joguei a cabeça para trás descansando
no encosto da cadeira.

— Vão querer colher seu depoimento.

— Eu não me importo, estamos em um país diferente, mas ainda sou o


delegado responsável pela investigação dessa merda.

— Enquanto era tráfico em São Paulo... a partir do momento que se tornou


internacional a polícia federal que é responsável.

— Foda-se. Suspiro.

— O que você achou dela? Sua voz saiu mais calma como se percebesse que
eu não estava afim de discutir sobre nada que não fosse Madalena.

— Pálida e imóvel...

— É grave, mas ela vai conseguir.

— Eu quero acreditar nisso.

— Vai sim. — Concordou. — O pior já passou, logo ela e os bebês estão em


casa.

Casa. Ouvir Jonas dizer que logo estaríamos em casa me sufocava.


Me levantei e andei até a janela mais próxima olhando a rua tomada por neve
lá fora. Estava totalmente arrasado, em silêncio mais uma vez naquele
pesadelo que estava vivendo falei com Deus, fiz todas as promessas
possíveis, lembrando de que eu pensei que já tinha sofrido na vida, mas nada
se comparava ao que eu passava e sentia agora. O que me provava ainda mais
que Madalena despertou em mim o amor que eu nunca tinha sentido.
Perder Patrícia me deixou pensar que o mundo era cinza e não fazia
sentido, mas eu tinha certeza que se perdesse Madalena eu estaria morto e
sozinho.

As quarenta e oito horas passaram, e Madalena continuava


desacordada me deixando apreensivo. Pois ela não ter acordado preocupou
doutor João Pedro, até ameacei em transferi-la para um hospital em São
Paulo, porém logo fui avisado que ela provavelmente não aguentaria uma
viagem de tanto tempo no seu estado atual.

Os exames foram refeitos e ao menos as notícias não foram


assustadoras, os fetos continuavam bem, a hemorragia não havia voltado e
nem tinha sinais de infecções.

Meus pais haviam chegado e Aline também tinha vindo com eles,
estávamos todos acampados no hospital, e eu só saia de lá quando era
obrigado a ir ao hotel que agora estava hospedado para tomar banho, comer
ou que fosse para responder às perguntas dos detetives que haviam assumido
o caso da pequena "chacina" que havíamos feito para salvar Madalena.

Jonas e Doug estavam sendo imprescindíveis ali, já que tinham


assumido o papel e estavam resolvendo praticamente tudo sobre o que tinha
acontecido, no Brasil a bomba sobre Denise Campos Assis a socialite da elite
paulistana estar envolvida com o tráfico de drogas estava em todas mídias
sociais.

Para Madalena as visitas eram esparsas, ela ainda estava na UTI então
eram apenas duas pessoas por vez pelo período de meia hora, eu sempre
conseguia ficar um pouco mais quando João Pedro me autorizava até o fim
do seu plantão, o que resumia em eu ser silencioso e fingir que não estava lá.
Se resumia em eu ficar horas em pé segurando a mão livre de agulhas de
Madalena e as vezes sussurrando em seu ouvido que já estava na hora de
acordar.

Estávamos entrando no terceiro dia com Madalena sem acordar e eu


tinha acabado de chegar no hospital, minha mãe se levantou me encontrando
comigo na porta da sala de espera.

— Onde está todo mundo?

— Seu pai e Jonas foram comer algo, Aline foi ligar para casa para saber dos
filhos, Douglas foi atrás, você viu como ele está um cachorrinho atrás dela?
Ela deu uma risadinha sem muito humor.

— Bom, ele está mesmo tentando. Abraço minha mãe me sentindo


confortado.

— Sim, e eu fico feliz por ele, ela é uma ótima mulher.

— Sim, ela é. João Pedro passou por aqui?

— Passou, as notícias são as mesmas, ele disse que você poderia ir vê-la
assim que chegasse.

— Então eu vou lá. Me afasto ansioso já em direção ao corredor. As


pouquíssimas horas que ficava sem ver Madalena me deixava aflito, por mais
que a esperança que tudo ficasse bem estivesse viva em mim.

Entrei no quarto e meu coração se apertou, Madalena já não estava mais


respirando por aparelhos o que me deixava menos nervoso, sua cor começava
a voltar e as bochechas estavam até mesmo ruborizadas. Me coloquei ao seu
lado como todos os dias e segurei sua mão:

— Oi, paixão, já voltei. Falei baixinho e senti meu coração quase escapar
pela boca quando seus olhos tremeram e se abriram se fixando em mim. —
Madalena? Você está me vendo? Me ouve?

— U-uhum. Madalena respondeu e eu senti amor e paz me invadirem,


naquele momento Deus me devolvia ela, senti ali que ela sobreviveria e que
tudo voltaria a ser ainda melhor do que foi antes.
— Até que enfim você voltou, meu amor.

— Estava... me... esperando?

— A cada maldito segundo, Madalena. Beijei seus dedos.

Ela me olhou mais uns segundos parecendo confusa e sorriu


devagarzinho para depois franzir a testa e tentar levar as mãos ao ventre. —
Os... os bebês...

— Estão bem, paixão, eles estão bem, só faltava você acordar e voltar para
nós. Respondi sentindo meus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez.

Nos últimos dias tinha chorado mais do que a vida toda, mas não me
arrependia de chorar agora, pois estas de agora eram de felicidade.

— Eles estão mesmo bem?

— Está tudo bem, meu anjo. — Beijei sua testa. — Agora que você acordou
só precisamos resolver uma coisa para qual estava te esperando.

— O que?

— Casa comigo, Madalena? Fiz o pedido direto, não conseguia mais


imaginar que ainda não tinha a pedido realmente, não fazia sentido amá-la
daquele jeito e não a ter como minha esposa.

— Casar? Me olhou confusa como se esperasse que eu estivesse brincando.

— Eu vivi no inferno esses dias, nunca mais quero passar por isso, Madalena.
— Seguro suas duas mãos junto às minhas. — Casa comigo, vamos ser uma
família, eu te amo tanto, tanto que até dói. Você aceita?

— Sério? Murmurou mais uma vez ainda confusa e eu ri da sua


desorientação.
— Seríssimo, cerejinha.

— É claro que aceito. Sorriu fraquinho, mas seus olhos brilhavam marejados.

Desci meus lábios para colar aos seus, entregando ali a minha vida,
Madalena era a dona de mim, eu não tinha dúvida nenhuma, daqui uns meses
quando os bebês nascessem eu seria o homem mais feliz do mundo,
independente das confusões que o dia a dia insista em oferecer.

— Vou avisar o seu médico que você acordou.

— Onde estamos?

— Ainda em Buenos Aires. —Avisei vendo seu sorriso diminuir um pouco.


— Você está segura, não se preocupe.

— Eu o matei?

— Vamos falar disso depois... primeiro vamos chamar o seu médico.


Desconversei alisando seu queixo e saindo em busca de João Pedro. Tentei
não pensar na reação de Madalena ao saber que o tiro que ela dera em Carlos
Alfredo tinha lhe ceifado a vida, não queria que ela vivesse com remorso, ele
merecia aquilo e só esperava que ela entendesse isso.
22
Madalena Cereja
Ainda sentia dores, a sorte era que apesar de estar em outro país o
meu médico falava à minha língua, e atencioso. Tinha me explicado que eu
iria poder ter uma vida normal sem a minha vesícula com apenas algumas
restrições alimentares, já havia sido transferida da UTI para um quarto e
estava sendo cuidada e paparicada por todos.

Enrico não saia de perto de mim, ficava o tempo todo me rodeando


como uma mãe vigiando sua cria.

No final de tudo, conversamos e ele tinha me esclarecido sob o


fatídico dia dos acontecimentos. Ele tinha voltado a trabalhar e antes do
almoço tinha decidido ir ao cemitério disposto a se despedir do túmulo de
Patrícia. Sentia que finalmente iria virar a página e começar a sua nova vida
comigo. Mas foi quando ele chegou lá e a viu, viva em frente ao seu túmulo.
Patrícia o explicou que tinha forjado uma nova identidade e que sua morte era
uma armação da sua mãe e do restante dos envolvidos, tinha se casado com o
homem que na época Enrico acreditava trabalhar com ela, Carlos Alfredo era
disfarçadamente seu câmera-man, o disfarce perfeito para o herdeiro do
tráfico que era a sua verdadeira face.

Recentemente em uma visita ela tinha descoberto que Denise e ele


mantinham um caso amoroso, cega de ódio e cansada de mentiras tinha
decidido por traí-los, entregando um pen drive que continha todas provas
necessárias, muitas dessas que Enrico tinha conseguido adquirir durante os
anos, mas que eram destruídas com o tempo. Após tudo, ele tinha lhe avisado
que a levaria presa e horrivelmente a mulher suicidou-se no momento que ele
se distraia tentando entrar em contato comigo.

O abracei e chorei quando ele contou isso. Não queria que ele
sofresse, sabia que ter visto ela se matar estaria sempre na mente dele. Nunca
superaria.
— Eu vou ficar bem.

— Promete?

— Nada pode ser pior do que imaginar não ter você comigo, Madalena.

— Me desculpa por ter ido ao mercado... se eu não tivesse ido...

— Amor, não fale besteira, você não tem que privar sua vida. Os errados são
eles, e agora está tudo bem, eu juro que nunca mais vou deixar que coisas
assim aconteçam.

— Mas eu o matei, Enrico.

— Sobre isso. — Ele alisou meu cabelo prendendo uma mecha atrás da
orelha. — É última vez que você repete, logo o detetive vira conversar com
você, então você irá contar tudo, enquanto chegar nessa parte irá dizer que eu
pulei sobre quando ele atirou em você.

— Por que?

— Porque sim, Madalena. Não quero você envolvida nisso, se você assumir
isso vai ser acusada, mesmo que tenha sido legítima defesa.

— Mas eu o matei. Se eu fiz isso eu devo responder por isso.

— Não. — Enrico se remexeu sentado na cama ao meu lado. — Prometa,


diga que vai esquecer que disparou aquela arma.

— Se eu disser a verdade posso ser presa?

— O problema é este, eu não sei o quão influente aquele desgraçado era por
aqui, por isso é melhor deixar isso comigo, afinal de contas eu vinha em uma
investigação de anos. — Enrico me olhou sério demais. — Eu não sei quantas
pessoas estão envolvidas e quantos estão tristes com essa morte, se souberem
que você quem atirou nele podem querer fazer algo, você tem que se lembrar
que não está sozinha. Você está com duas pessoas aqui. Levou a mão em meu
ventre e eu a cobri com a minha.

— Alguma notícia da bruxa?

— Denise? Ele repuxou os lábios com a maneira nada harmônica que eu a


tratei.

— E quem mais?

— Ainda não... mas vai dar tudo certo, já conversamos com João Pedro, o
detetive vem hoje à tarde e amanhã de manhã ele já consegue liberar você
para que voltemos para casa.

— Para casa?

— É, vamos voltar para o Brasil.

— Mas é seguro?

— Claro que sim, paixão. Além do mais, você vai precisar de repouso
absoluto, então nós ficaremos na casa dos meus pais por uns dias.

— Imagina, eu não quero dar trabalho nenhum.

— Eles mesmos insistiram, e eu achei uma ótima ideia, lá vai ter mais gente,
mais segurança.

— E sobre viajarmos para Alvorada?

— Vamos ter que esperar um tempo até que tudo seja controlado, tudo bem?

— Sim. Balanço a cabeça ainda atordoada.


— Não fique com medo. Enrico me abraçou em seus braços.

— É um pouco difícil me pedir isso.

— Logo, nós vamos virar essa página da nossa vida, Madalena, e finalmente
vamos estar onde sempre queríamos. Beijou minha têmpora e eu fechei os
olhos pedindo em silêncio que ele estivesse certo.

O detetive chamava Raul Gonçalo e veio no início da tarde, Enrico


tinha se negado a me deixar sozinha com ele por mais que ele tivesse pedido,
contei toda minha versão da história, desde o momento que havia saído do
apartamento para ir atrás dos malditos pepinos em conserva até o momento
que aqueles homens nojentos me rodeavam e ameaçavam me violentar.
Parecia estar vivendo tudo de novo, senti a bílis subir pelo meu estômago
quando tive que baixar os olhos para mentir sobre o fato de que não tinha
sido eu a disparar o tiro que acertou o peito de Carlos Alfredo.

Raul nos confirmou que a polícia tentaria montar o restante do


quebra-cabeça e entraria em contato se preciso, mas que eu estava liberada
para voltar para o Brasil. Somente no início da noite que recebi alta, Doutor
João Pedro se despediu de mim com um sorriso sincero e disparou: — Não
deixe esse homem aí escapar, ele gosta mesmo de você.

— E eu gosto mesmo dele. Encarei Enrico ao meu lado que sorria tranquilo.

Saímos do hospital e pegamos um carro que nos levaria ao aeroporto,


onde o avião particular de Luiggi estava a nossa espera. Todos já estavam
aguardando por nós, incluindo uma Aline muito triste e um Douglas muito
zangado que tentaram disfarçar forçando sorrisos e fazendo uma pequena
comemoração quando apareci viva e bem na frente deles, mas eu percebi pelo
olhar da minha amiga que aqueles dias que ela passara ali não tinha sido tão
bom como tentava disfarçar.

— Onde está indo? Enrico perguntou quando me levantei da poltrona.

— Já volto, vou ali atrás conversar com Aline.


— Acho melhor deixar para conversar com ela depois. Ele desviou os olhos
para trás, ela estava na poltrona mais distante, sentada junto com um dos
seguranças de Luiggi. Doug estava literalmente na ponta oposta, com um
fone de ouvido na cabeça e a cara de que não queria ser incomodado.

— Você sabe de alguma coisa? Voltei a me sentar olhando Enrico ficar


corado. Poucas vezes via corar envergonhado.

— Os dois vem transando por aí, Doug propôs um relacionamento sério e ela
disse não.

— O que? Arregalo os olhos chocada.

— Pois é, pensei que seria ao contrário. Deu de ombros.

— Quando foi isso?

— Ontem à noite eu acho... bom o fato é que ele está chateado, disse que ela
se negou e que o ex-marido ligou bem na hora, por isso ela aparentemente
ficou balançada, e então ele a colocou na parede, ou assumiam o que tinham,
ou terminavam.

— E ela terminou.

— Isso.

— Caramba. —Volto a olhar para Doug algumas poltronas frente a nossa. —


Ele deve estar arrasado.

— É, sinceramente eu nunca o vi tão puto da vida por causa de uma mulher.

— Eu vou conversar com ela. Falei de novo e Enrico voltou a segurar meu
braço.

— Em casa, não é a hora, deixe os dois pensarem um pouco.


— Mas tem que ser resolvido, porque duas pessoas que se gostam ficam
separadas?

— Eu também não sei, paixão... nós dois temos sorte. Beijou a palma da
minha mão e me puxou para um abraço.

— Te amo.

— Eu também.

— Me acorda quando chegarmos então. Pedi.

— Tá bom. Ele acariciou meu cabelo gentilmente e eu fechei os olhos


sentindo o quanto Enrico me amava e pensando se Aline não estava era com
medo de que Douglas fizesse com ela o que Rafael fez.

Afinal ela estava saindo de um casamento bastante machucada, e ela


tinha os filhos. Sorri ao me lembrar que tinha recebido a dádiva de estar tudo
bem com os nossos bebês.

— Enrico? Chamei subindo a cabeça para seu pescoço.

— Oi.

— Você acha que são dois homens ou duas mulheres?

— Eu não sei. Se fez de desentendido.

— O que você quer que seja?

— Não, eu nunca vou escolher isso, se eu errar vou me sentir culpado. Senti a
pontada de risada em sua voz.

— Ah, qual é? Afastei encarando seus olhos brilhantes.


— Não.

— Vamos apostar. Ergui e abaixei a sobrancelha.

— Apostar o que? Riu mostrando os dentes bonitos.

— Favores sexuais.

— Estou gostando disso. — Me olhou de rabo de olho.

— E então?

— Se eu perder?

— Se você perder, eu escolho o que faremos, se você ganhar você escolhe,


simples.

— Mas você nunca me nega nada na cama, não faz muito sentido.

— É claro que eu nego. Aumento um pouco a voz claramente ofendida e


abaixo assustada.

— Não nega nada, você até tenta, mas logo está lá implorando para que
façamos. — Ele mordeu a boca rindo.

— Tá dizendo isso só porque eu deixei você comer meu traseiro, né?


Perguntei indignada e vi seus olhos crescerem antes da risada tomar seu
rosto.

— Madalena, você sempre tão sútil.

— Ué, estou perguntando.

— Não só por isso, é porque nós dois somos bastante à vontade no sexo.
— Mas talvez você tenha algum fetiche, sei lá.

— Ah é? E você tem fetiche?

— Tenho. Falei sentindo o ardor tomar minhas bochechas.

— O que? O que é? Ele se mexeu alegre.

— Para.

— Não, agora eu quero saber...

— Você vai saber se eu ganhar a aposta.

— Não, cada um vai dizer o seu, e depois falamos o sexo que achamos que os
bebês são.

— E se pensarmos igual? Pensei na possibilidade.

— Tiramos par ou ímpar antes.

— Certo. Concordei preparando para jogar.

— Par! — Pedi e vi ele rir antes de jogar os dedos abertos em três e eu


apenas com um. — Yes! Comemorei.

— Tá, você começou ganhando. — Revirou os olhões verdes. — Agora fala


o fetiche.

— Primeiro o sexo dos bebês seu tarado! — Bati em seu braço e vi ele voltar
a sorrir. — Meninas.

— Vou ganhar fácil. Ele riu.


— O que? Você acha que são meninos?

— Óbvio!

— Não!

— São sim!

— Aí Enrico... e você dizendo que não tinha preferência.

— Não tenho, só estou constatando fatos.

— Que fatos?

— Eu os coloquei aí dentro, eu sei que são dois garotos.

— Vai sonhando. Revirei os olhos inquieta.

— Tá bom, agora fala o fetiche. Ele olhou com safadeza e eu senti meu
estômago gelar, eu definitivamente amava aquele homem.

— Não vamos falar disso aqui. Voltei a me encolher nos braços de Enrico.

— Ótimo, me deixa curioso e corre Madalena?

— Do que adiantaria eu contar? Você não ia poder fazer nada a respeito no


momento...

— Mas poderia providenciar quando chegarmos em casa. Sua voz saiu tão
baixinha que me atingiu em cheio.

— Providenciaria? Subi as sobrancelhas e vi seu sorriso bonito tomar seu


rosto maravilhoso.
— Talvez...

— Talvez? Como assim talvez? Providenciaria ou não?

—Fala logo. Revirou os olhos verdes ansiosos.

— Não é nada demais... — Funguei em seu pescoço incapaz de olhar em seus


olhos. — Talvez eu tenha te imaginado usando suas algemas em mim.
Sussurrei baixo me sentindo envergonhada.

O silêncio me apezinhou por segundos incessantes até que ele falou de


repente: — Está falando sério?

— Sim. Foi tudo que consegui responder.

— Certo, você não devia mesmo ter contado, já que teremos que ficar em
abstinência por um tempo.

— O quê? Por que?

— Porque você ainda está se recuperando? Falou como se me dissesse o


obvio.

— Eu estou ótima! Afirmei em tom de desespero.

— Descanse, Madalena, depois falamos disso.

— Não, vamos falar disso agora! Que história é essa? Eu estou grávida,
sabia?

— Mais um motivo. Enrico mordeu os lábios como se segurasse o riso.

— Você está brincando, não está? Fiz uma careta de total decepção.

— Não, nós vamos sim respeitar o seu repouso.


— Eu não preciso de repouso!

Enrico daquela vez riu da minha cara. — Primeiro você precisa estar bem,
paixão.

— Eu já disse que estou bem!

— Shhhh... — Enrico moveu a cabeça e beijou meus lábios rapidamente. —


Durma um pouco, logo estaremos em casa. Sussurrou.

— É melhor estar brincando comigo, Enrico! Me virei para o outro lado o


ignorando e fechando os olhos extremamente irritada. Ouvir sua risadinha foi
capaz de me deixar ainda mais frustrada, estava muito disposta a discutir
sobre, mas me sentia realmente cansada, mesmo o ignorando senti seu braço
vir por minha cintura e espalmar em minha barriga.

— Tira a mão! Resmunguei.

— Nem pensar. Sua resposta foi sucinta, mas o riso ainda estava em sua voz,
soltei uma lufada de ar e me encolhi forçando minhas mãos embaixo da
cabeça, estava morrendo de vontade de entrelaçar meus dedos nos seus, mas
não iria.

Passados poucos segundos eu voltei a me remexer ficando de frente


para ele colando nossos rostos.

— O médico disse alguma coisa que você não me contou? Perguntei


ressabiada.

— Não, ele só disse que você precisa de repouso amor, e é verdade, você
talvez ainda não caiu em si de tudo que passamos nos últimos dias.

— É claro que eu sei, eu quase fui morta. E aquela vadia ainda está solta...—
Suspirei fechando os olhos. — Eu só não quero que isso nos afaste, eu nunca
vou me esquecer o que aconteceu... sobre eu ter matado Alfredo.
— Esqueça isso, você prometeu que nunca mais pronunciaria isso.

— Eu menti para a polícia e eu nem sei porque Enrico.

— Para sua segurança. Aquele merda ia morrer de qualquer jeito, entenda


isso.

— Eu estou com medo que isso nos afaste, Enrico, eu estou realmente com
medo.

— Nada vai nos afastar, Madalena. Você é a minha vida! Sobre Denise, eu
não quero que se preocupe, eu não vou mais vacilar, ela nunca mais vai se
aproximar de vocês. Pronunciou olhando diretamente nos olhos e acariciando
meu ventre.

— E ainda tem toda a minha história que temos que descobrir. — Suspirei
cansada. — Eu só queria sumir para um lugar só eu e você, entende?

— Tudo vai se resolver, Madalena, eu prometo! Ele parou de mover a mão


quando vimos Douglas passar pelo corredor bufando enquanto eu podia ouvir
as risadinhas que Aline soltava no fundo da aeronave.

— Você precisa falar com sua amiga quando chegarmos. Enrico olhou para a
porta do banheiro que tinha sido fechada com força.

— É eu vou falar com ela, acho que Aline está errando... — Comecei a dizer
quando ouvimos barulhos vindos do corredor e Enrico cobriu minha boca
com a sua, puxando a manta que nos cobria para que fosse incapaz de verem
nossos rostos.

Aline passou pelo corredor e bateu insistente na porta até que Douglas a
colocou para dentro.

— Mas que porra... — Eu dei uma risada baixa.


— Ainda bem que a maioria está dormindo. Enrico riu junto comigo.

— Ao menos alguns de nós está transando. Resmunguei mais uma vez e sorri
ao ver seu rosto surpreso pela minha ousadia.

— Madalena...

— O que?

— Você está agindo como se o seu mundo tivesse ruído.

— Eu quero dormir. — Falei de repente. — Me acorde quando chegarmos


em casa.

— Paixão?

— Estou cansada, por favor. Falei fechando os olhos e encolhendo os braços


para baixo do meu rosto. Segundos depois senti os braços de Enrico me
rodearem e sua barba espetar minha bochecha enquanto ele se aninhava da
melhor maneira possível.

— Eu te amo, sua teimosa. Escutei ele dizer antes de mergulhar para o sono
tranquilo.

Estar de volta a São Paulo era estranho e bom, a cidade cinza que há
meses atrás me assustou tanto quando coloquei os pés pela primeira vez,
agora me parecia acolhedora e eu sentia realmente em casa.

Estava exausta do voo longo, Enrico me acordou e entramos no carro


que nos levariam para a casa dos seus pais que era onde ficaríamos por um
tempo, pelo menos até a maldita da Denise ser encontrada e presa.

Luiggi dirigia o carro conversando sobre alguma coisa banal com


Luísa enquanto Enrico se mantinha do meu lado imóvel mordendo os lábios
carnudos perdido em pensamentos só dele.
Douglas nem tinha se despedido de nós no aeroporto. Aline tinha ido
pegar os filhos na casa do ex-marido.

— Quanto tempo pretende ficar no seus pais?

— Não sei, amor, estou cuidando para que o apartamento fique mais seguro.

— E isso demora quanto tempo?

— Um tempo.

— Você teve alguma notícia dela? Não precisava dizer o nome, Enrico sabia
muito bem a quem eu me referia.

— Ainda não.

— Acha que ela vai voltar.

— Você não tem que se preocupar com isso, Lena.

— É claro que eu tenho, ela sabe que me pegando atinge a você.

— Denise vai ser presa. Isso se ela tiver sorte, porque eu pretendo encontrar
com ela antes.

— Como assim? — Arregalei os olhos. — Você quer dizer que vai matá-la?

— Eu já falei que não precisa se preocupar, Madalena... só confia em mim,


pode fazer isso?

— Enrico...

— Pode fazer?
— Posso. Falei sentindo um enorme nó na garganta.

— Chegamos! A voz animada de Luísa invadiu nossos ouvidos, reparei que


já estávamos estacionados no jardim frente a enorme casa dos pais dele.

— Por favor, conversa comigo.

— Você não pode se estressar, vem, vou te levar para o quarto. Enrico
desconversou e abriu a porta do carro, não pude deixar de notar a sua arma
que marcava na camiseta que vestia e em como ele pareceu avaliar todo o
local antes de dar a volta e abrir minha porta.

— É assim que vamos viver agora? Deixei minha voz sair baixa e engasgada.

— Eu estou fazendo o que posso, vem. Me estendeu o braço e eu senti meu


coração apertado, aquilo parecia que estava tão longe de terminar.

— Você está achando o que acha que é melhor, mas não é. Neguei aceitar seu
abraço e segui Luísa escadas acima sem esperar que ele me seguisse.
23
Douglas Saragoça
Eu estava ferrado. Fodido em todas as formas possíveis.

Era o fim de uma era de orgias sensacionais as quais eu vinha


aproveitando durante meus trinta e um anos de vida.

Nunca na vida toda desde que iniciei a minha vida sexual tinha
contabilizado mais do que quatro dias sem transar. E somente uma pessoa
tinha conseguido fazer com que eu ficasse duas malditas semanas esperando
para esfolar o meu pau de tanto trepar para depois me dispensar na cara dura
na noite passada.

Mais uma vez me remexo na poltrona. O avião estava até silencioso


pela quantidade de pessoas que tinham ali dentro, fiz questão de sentar o mais
longe possível para evitar ver a cara de Aline, não estava suportando ver
aquele seu rosto bonito que não demonstrava nenhum arrependimento em ter
me dispensado.

Inferno.

Joguei a cabeça no encosto e encarei o céu pela janela, o horizonte lá


de cima era lindo, o sol enganava, nem parecia que lá embaixo a neve caia
deixando que nossos dedos congelassem.

Olhei para o lado e enxerguei Enrico e Madalena um pouco atrás


dividindo os assentos, meu amigo tinha passado dias horríveis após
descoberto que grande parte da sua vida tinha sido uma mentira, mas tinha
dia garota ali, em seus braços, a sua mão espalmada sobre o ventre dela
deixava claro que os bebês que Madalena esperava completavam a felicidade
que os dois mereciam, os dois conversavam baixinho com os rostos
praticamente colados.
Fiquei tentado a olhar ainda mais para trás quando uma risada que eu
sabia muito bem de quem era já que a mesma estava sendo desferida em meu
ouvido nos últimos dias, Aline estava de conversinha com algum daqueles
filhos da puta que trabalhavam pra Luiggi?

Agarrei meu celular com força o bastante a ponto de quebrar o


aparelho e tentei me distrair com as novas notícias sobre o caso, a Polícia
Federal tinha assumido as investigações e Denise tinha se tornado uma
foragida internacional, mas ainda não tínhamos tido nem sinal do seu
paradeiro. Tínhamos conseguido prender muitas pessoas com as provas que
Patrícia tinha entregue no pen drive antes de se matar, o que tinha sido mais
um caso solucionado facilmente, a perícia tinha concluído o suicídio e
encontrado uma carta escrita à mão meio às roupas que ela usava. Nela a
falecida explicava o porquê estava se matando é mais uma vez culpava a mãe
e agora o marido que também estava morto.

Outra risada invadiu meus ouvidos e respirei fundo deixando uma


respiração pesada sair. Soltei meu cinto e me levantei reparando que a
maioria dormia, seguranças atrás de Enrico e Madalena que usava fones de
ouvido Aline e o seu parceiro de assento e mais dois que também estavam
sentados ao lado deles conversavam e se divertiam jogando cartas.

Fingi desinteresse na cena e dei as costas começando a andar até a


cabine do banheiro, entrei e fechei a porta encarnado no espelho o homem
fraco é patético que havia me tornado por causa de uma boceta. E que
boceta. Meu cérebro fez questão de relembrar e senti meu pau apertar dentro
da cueca.

Estava me sentindo em um daqueles filmes de comédia romântica


quando ouvi duas suaves batidas na porta.

— Está ocupado! Cuspi as palavras com raiva.


Admito, saber que estava puto por causa de Aline me deixava ainda mais
puto, mulher nenhuma no mundo tinha me dispensado, e a morena tinha
gozado feito uma louca no meu pau, gritado que nunca tinha sentido aquilo
sem nenhum medo que os outros escutassem, e tinha me dispensado, será que
ela tinha mentido? Não é possível!

Dois segundos mais tarde a porta voltou a soar e eu me irritei mais


que o que já estava.

— Mas que porra, eu disse que tem gente.

— Abra. Ouvi a voz suave que me acalentou de imediato. Eu só podia estar


sonhando.

Rapidamente bati a mão no trinco e encarei Aline parada no corredor.


A mesma de olhou para trás como se avaliasse se entrava no pequeno
cubículo comigo ou não, de onde estávamos os caras nos quais ela jogava
cartas a veria. Mas isso não a incomodou. Bateu as mãos em meu peito e
entrou se encostando na porta.

— Que porra você... — Comecei a dizer.

— Abaixa a calça, preciso te chupar. Falou com precisão me deixando


chocado.

— O que?

— Anda. Ela levou a mão em meu jeans e apertou meu pau que já estava
meia bomba devido os pensamentos impuros que eu estava tendo com ela
antes.

— Aline.

— Cala a merda da boca, Doug, só deixa eu te chupar, caralho! Voltou a


apertar mais uma vez e sorriu ao perceber que eu tinha entrado no seu jogo.

— Ajoelha então, puta. — Ordenei e vi a mesma se abaixar em minha frente.


Para melhor resultado abaixei a tampa do vaso e me sentei deixando que ela
entrasse entre minhas pernas. — Quer leite, minha gatinha? Sussurrei
puxando um punhado de seu cabelo enrolando entre os dedos.

— Quero, por favor... — Gemeu alucinada como se já estivesse muito pronta


para me receber.

— Ah, Aline, você é tão teimosa... eu deveria deixar você com fome por ter
sido uma má menina na noite passada. — Segurei seu queixo e passo meu
polegar por seus lábios cheios. A safada não perdeu tempo em cobrir a ponta
e chupar com vontade me deixando totalmente cego de tesão.

— Anda, abre logo essa calça...

— Mas eu pensei que você não se importava comigo. — Falei com raiva
lembrando das suas palavras duras na noite passada. — Como é mesmo que
você disse quando eu propus que namorássemos? "Nem fodendo", bom pelo
jeito agora você quer foder, não é?

— Você agora está com medo? Aline me encarou com os olhos negros
brilhantes e os cabelos emaranhados, a vontade de tomar sua boca na minha
só não era maior do que sentir meu pau pulsando na sua língua quente.

— Eu não estou com medo de nada. Falei rindo tentado disfarçar meneando a
cabeça sentindo o coração acelerado por causa do sorriso dela.

— Então anda. Apontou para a caça que já estava com uma barraca devido
meu pau duro preso.

Não perdi tempo soltando o botão e descendo o zíper, levei a parte da


frente do jeans para baixo junto com a cueca deixando o mastro pulsar duro
frente aos seus olhos.

— Ah caralho, como que não morre de amores por uma pica dessas. Ela
choramingou tomando meu pau nas mãos.

Nada do que eu tinha experimentado e sentido em toda minha vida se


comparava com o mínimo toque de Aline, sua mão, sua boca e sua boceta era
incomparavelmente melhor do que todas que eu já havia conhecido.

Soltei o primeiro gemido quando sua boca desceu sobre meu pau,
engolindo tudo até a base, parou e subiu os olhos para mim, como se fizesse
questão que eu visse o que ela fazia; babou meu membro todo subiu e desceu
e depois o embainhou com as duas mãos enquanto chupava cada uma das
bolas.

— Puta que pariu.

— Aí, que delícia. Ela sussurrou chupando a cabeça meio a um sorriso.

— Sobe esse vestido, senta na minha piroca.

— Eu acho que vou. Mordeu os lábios como uma garotinha mimada.

— Então vem. A puxei de pé já levando as mãos nas suas coxas, levantei seu
vestido de malha fina o embolando na cintura.

— Aí. Ela riu quando bateu a perna na pia devido ao pouco espaço.

— Você está sem calcinha, sua safada?

— É para facilitar para você. Brincou e eu balancei a cabeça reprimindo, mas


levando dois dedos fundo dentro dela que se contraiu jogando a cabeça pra
trás.

— Sua sem vergonha, está até pingando só de me chupar.

— Eu amo te chupar. Falou baixinho, mas meu coração sentiu cada uma
delas, eu não amava só chupá-la, amava Aline por inteiro, e precisava que ela
me amasse de volta, precisava urgentemente disso.

Movi meus quadris e deixei que ela ditasse o ritmo para descer sobre
minha ereção que entrou apertada me arrancando um gemido.

— Aí merda. Ela falou no meu ouvido.

— Senta, gostosa! Mandei descendo um tapa forte em seu traseiro a


incentivando a começar a se mover.

Gemíamos juntos respirando com dificuldade enquanto cada um


apreciava o outro.

— Fica comigo, porra. Supliquei a cada nova investida.


Ela virou a cabeça e esfregou os lábios nos meus.

— É tudo tão complicado, Doug...

Desci as mãos e apertei sua cintura, aumentando a intensidade,


transformando as metidas lentas e suaves em estocadas.

— Você quem está complicando. É só você aceitar namorar comigo, o resto a


gente ajeita.

— Não é assim... tenho dois filhos... e você tem um. Gemeu alto.

Era totalmente errado estarmos conversando de filhos enquanto


transávamos, mas eu estava desesperado.

— Aline... — Tentei mais uma vez.

— Não, cala boca. — Pediu cruzando os braços em meu pescoço. — Só


continua.

— Mas somos bons juntos.

— Muito bom. Gemeu abaixando a cabeça e tocando os lábios nos meus.


Estiquei dentro dela até sentir que estava perto de gozar. Aline fincou
as unhas em meus ombros e eu engoli cada um de seus gemidos só gozando
quando ela terminou ficando mole sobre meu colo.

— Eu não vou desistir. Informei sentindo sua boceta ainda pulsar ao meu
redor.

— Mas tem que desistir. — Falou visivelmente triste. — Nunca daria certo.

— Se não tentarmos, não vamos saber.

— Eu sei. Se afastou descolando nossos corpos. Só quando vi minha porra


escorrendo por sua coxa que cai em mim sobre não ter usado preservativo.

— Caralho, a camisinha...

— Não se preocupe, eu tenho DIU, e estou limpa, fiz exames depois que
descobri sobre as puladas de cerca de Rafael. Contou com a voz chateada.

— Bom, eu também estou limpo, nunca transo sem camisinha não sei como
esqueci agora... — Falei observando ela se limpar e voltar o vestido para o
lugar.

— Obrigada, Douglas.

— Aline? — Perguntei chocado não acreditando que ela estava me


agradecendo pela transa. — Se você me deixar sozinho de novo eu juro que
nunca mais toco em você.

— Você disse isso dá outra vez, e olha onde estamos agora.

— Estou falando sério dessa vez! Vamos resolver as coisas, ou não me


procure mais.

— Não temos o que resolver, você não entende? É só sexo.


Abri e fechei a boca tentando dizer todas as coisas entaladas em
minha garganta, mas nada saiu. No momento seguinte ela tinha aberto a
porta do banheiro e voltado para o seu assento com a cara mais lavada do
mundo.

Me vesti o mais rápido que consegui e me ajeitei voltando pelo


corredor. Quase arrebentei todos os caras que me olhavam com a certeza do
que tinha acontecido ali dentro e por saber que por baixo aquele vestido ela
não usava nada. Aline não me olhou mais nos olhos. É sequer falou comigo.

Sem ela minha vida seria uma merda. Eu estava arruinado.


24
Enrico de Giordano
— Foda-se se vocês a perderam de vista, achem, eu já disse que quero
encontrar Denise, porra! Gritei ao telefone e meu pai parou estacado na porta
do seu escritório o qual eu estava utilizando como meu desde que havíamos
chegado.

— Eu sinto muito, Enrico, nós vamos tentar mais uma vez rastrear a conta e o
telefone. Ouço o homem dizer do outro lado da linha.

— Não tente! Consiga! Falei puto da vida jogando o celular sobre a mesa.

— Eu posso?

— Claro que sim, pai. Suspirei levando as mãos aos olhos. Minha cabeça
parecia prestes a explodir.

— Luísa está lá em cima com Madalena, tentando distrair ela um pouco...

— Que bom. Solto o ar totalmente exausto e ele me olha por uns segundos
intermináveis antes de voltar a falar.

— Quando você tinha seis anos, alguém fuçava e destruía as plantas que sua
mãe cultivava na entrada, sua mãe vivia reclamando e acusando os cachorros
do antigo vizinho, eu não sei como e nem quando você teve a ideia, mas em
uma manhã nós estávamos sentados à mesa do café e você adentrou correndo
com a antiga Polaroid que eu tinha dado para sua mãe de natal nas mãos...

— Eu tinha várias fotos. Completei sorrindo com a lembrança.

— As fotos dos filhos de Elizabeth roubando rosas.


— Eu precisava de provas para acusar.

— Eu já devia saber naquela época que você iria se tornar quem é, e não um
engenheiro.

Meu sorriso sumiu encarando o homem a minha frente. Meu pai e eu


tínhamos vivido anos em debate pelo fato de eu me negar a assumir os
negócios da família.

— Eu sinto muito, pai.

— Não sinta. — Seus olhos claros que eram do mesmo tom que os meus me
encararam. — Eu só estou te dizendo isso para te lembrar que desde criança
você já sabia o que fazer, não fique tão desesperado, o pior já passou, Denise
é apenas uma carta do baralho, todas as outras já foram descartadas.

— Eu tenho medo do que ela pode estar tramando. — Confesso. — Eu não


disse a Madalena, mas ela está mandando ameaças pai, o apartamento foi a
invadido, tudo que estava lá dentro foi revirado, ela fez questão de deixar o
nome dela lá para eu saber que esteve ali. O homem que levamos conosco e
que entregou onde ficava o armazém é irmão mais novo de um dos seus
principais comparsas.

— Pensei que você estava fazendo mudanças no apartamento, não que ela
tinha o invadido.

— E estou, mas depois dessa merda, eu não sei... eu só não posso imaginar
que ela faça algo com meus filhos, com vocês, sei lá, só preciso achar essa
louca logo.

— Ela deixou um recado, que recado?

Agarro o celular e mostro a imagem que Doug havia me mandado, o


apartamento estava todo sujo de tinta vermelha como se um massacre tivesse
acontecido ali, e na parede da sala escrito: "Você me tirou tudo e eu te tirarei
tudo."

— Ela é tão louca quanto a filha. — Meu pai sussurra e eu me lembro de


Patrícia na minha frente no cemitério, pouco depois de me entregar as provas
no pen drive e mirar a arma contra o próprio ouvido. — Talvez seria bom
levar Madalena para longe.

— Eu preciso achá-la primeiro.

— Não. — Papai balançou a cabeça em negação. — Você tem pessoas por


você aqui, pegue Madalena e saia de São Paulo, sem registros de onde foram,
vão no avião da construtora.

— Não tenho certeza se é uma boa ideia.

— É claro que é, eu tenho certeza que Doug e Jonas conseguem, você precisa
cuidar da sua mulher.

— Mas e se...

— Não, Enrico. Papai me olhou sério. — Você nunca acatou minhas


opiniões, mas agora vai, você e Madalena irão para um lugar seguro por um
tempo, um lugar afastado talvez a casa de veraneio...

— Podemos ir para Alvorada das Almas.

— Onde? Meu pai enrugou a testa.

— A cidade onde Madalena nasceu, teríamos de ir de todo modo para


resolvermos sobre ela ser ou não herdeira do tal Joaquim Rodrigues.

— Este também já bateu as botas?

— Graças ao bom Deus, sim.


— Então, ótimo, vou organizar tudo, vocês podem ir amanhã depois do café.
Afirmou se levantando.

— Pai. — Chamei o fazendo parar e dei a volta na mesa para parar em sua
frente. — Obrigado, por tudo.

— Eu te amo, e amo ainda mais os dois meninos que estão na barriga da


Madalena.

— Ela acha que são meninas. Dou um sorriso.

— São homens, eu sonhei com eles. — Piscou sorrindo. — Vá, suba antes
que sua mãe deixe a coitada louca, ela precisa descansar.

— Vou pedir que Doug e Jonas venham aqui mais tarde.

— Isso, o chamem para jantar, Aline também virá com os filhos. Beijou
minha bochecha e me deixou sozinho no escritório.

Respirei fundo tentando aceitar que a ideia de ir para longe com


Madalena até que Denise fosse encontrada seria a melhor escolha para nós e
para os bebês.

Sem pensar muito e realmente pela primeira vez acatando ao desejo


do meu pai, disquei os números de Doug e depois de Jonas os convidando
para jantarem e então comunicaria da minha decisão.

Subi as escadas e abri a porta do quarto, minha mãe já não estava


mais fazendo companhia para Madalena, ela estava sozinha, deitada na cama
encolhida e segurando o ventre como se o protegesse. A imagem inflou meu
peito me dando a certeza de que qualquer escolha que fosse necessária para
proteger a ela e aos bebês era a escolha certa.

Entrei para o banheiro e me enfiei embaixo da ducha, tomei um banho


rápido querendo me livrar do cansaço das horas de voo que tínhamos
passado. Vesti uma cueca e me juntei a Madalena na cama, estava prestes a
abraçá-la quando o primeiro gemido saiu baixinho de seus lábios e seu
choramingo. Ela estava tendo um pesadelo.

— Ele é bom! Ele vai me encontrar! Não toque em mim!

— Madalena? A chamei com cautela contornando seu corpo com os braços.

— Não! Ela tentou se soltar e pulou abrindo os olhos negros que eu tanto
amava.

— Ei... você teve um pesadelo, paixão. Beijo seu queixo ouvindo sua
respiração se acalmar.

— Enrico... Sua voz manhosa se juntou como abraço apertado que ela me
deu, suas unhas grandes arranharam minhas costas.

— Estou aqui... calma.

— Enrico, que horrível, eu estava lá de novo... e eles estavam tentando...

— Eles não vão te machucar, amor, todos eles estão presos ou mortos.

— Eles queriam me tocar. O soluço saiu na última palavra me cortando o


coração. Eu nem podia imaginar o que seria capaz de fazer se tivesse
acontecido o pior.

— Me desculpa por não chegar antes. Beijei seu rosto tentando acarinha-la.

— Você me salvou. Madalena se afastou encarando meu rosto enquanto


acariciava minha barba. — Me salvou, Enrico, desde o começo.

— Shhhh... vai ficar tudo bem.

— Me faça esquecer. Se remexeu colando nossos corpos e ficando por cima


de mim enquanto continuava a choramingar distribuindo beijos em meu
rosto.

— Madalena, nem pense... — Gemo tentando segurar seus quadris que se


forçavam contra mim, estimulando meu pau.

— Por favor. Sussurrou puxando meus lábios entre os dentes.

— Você precisa descansar, e pensei que estava com raiva de mim. Ri


deixando um pequeno beijo em seu nariz.

— Eu nunca fico com raiva de você, apesar de você merecer as vezes... não
estou cansada Enrico. Você não me quer? Se esfregou mais uma vez e deixou
escapar um sorriso por sentir minha ereção pronta embaixo dela.

— Não é essa a questão, você ainda está se recuperando, nem devia estar
fazendo esforço.

— Então vem por cima. Mordeu meu pescoço e eu sorri da sua falta de
vergonha. Madalena estava totalmente diferente de quando nós começamos,
ela não era mais insegura com seu corpo e muito menos com suas vontades.

— Você não tem jeito, não é?

— Por favor. Implorou mais uma vez com um sorriso disfarçado na cara.

Segurei seus quadris e a rolei para baixo de mim. Sua camisola de


seda curta me deixava com livre acesso, vislumbrei a calcinha de renda preta
e senti minha boca até salivar. Fazia tanto tempo que não fazíamos amor que
eu parecia um homem sedento.

Vi seus olhos se encherem de lágrimas novamente quando subi a


camisola até os seios e me abaixei deixando dois beijos em sua barriga.

— Papai vai brincar com a mamãe um pouquinho tudo bem, ursinhos?


Fiquem quietinhos que eu prometo não machucar vocês.

— Enrico, agora eu quero chorar... — Resmungou emocionada, mas


sorrindo.

— E não quer mais trepar? Ergui uma sobrancelha deixando que seu rosto me
avaliasse.

— Como você se acha, Enrico, eu odeio você ser tão bonito! Cruzou as
pernas em minha cintura.

— Ué, eu não sou bonito? Então posso me achar.

— Se os bebês nascerem com a sua modéstia...

— Vão ser felizes, assim como a mãe deles. Eu ri beijando sua boca, fazia
muito tempo que não nos beijávamos tão a vontade, com a língua passeando
pela boca um do outro, de modo que você sente o tesão subindo a ponto de te
deixar maluco.

Madalena afastou a boca da minha e riu baixinho.

— Realmente senti falta disso.

— Eu também. Concordei.

— E estava querendo se abster porquê?

— Por sua saúde? Tento debater, mas sinto sua mão descer entre nós e afastar
o elástico da cueca encontrado minha ereção mais do que pronta. Soltei o ar
pelos dentes quando ela me apertou e subiu e desceu com a mão sobre meu
pau duro.

— E agora? Quer parar?


— Madalena...

— Se você quiser, eu posso parar. Me instigou mordendo os próprios lábios.

— Continua, porra. — Pedi descaradamente e ela riu vitoriosa. Desceu ainda


mais a peça deixando meu membro livre para sua inspeção. Fiquei de joelhos
enquanto ela se remexia e me tomava até o fundo da sua garganta.

— Isso... puta merda. — Fechei os olhos sentindo a onda de prazer me tomar.

— Quer que eu pare agora? Sua voz saiu baixinha e risonha enquanto
esticava a língua para fora e contornava a cabeça do meu pau.

— Quero. — Pedi e ela me olhou em desafio. Me afastei o bastante para


puxar a cueca de volta. — Vamos cochilar antes do jantar. — Falei me
jogando de costas para ela na cama.

O silêncio que tomou o quarto me fez querer gargalhar, apostava


comigo mesmo que não duraria dez segundos e contei somente até o cinco
quando sua voz irritada saiu:

— Está brincando comigo? Puta que pariu, me come agora, Enrico! Exigiu e
eu consegui segurar o riso somente até o momento que encontrei seus olhos.
Comecei a rir desesperado enquanto ela estava totalmente furiosa.

— Eu não estou achando graça! — Resmungou cruzando os braços de modo


que seus seios ficavam acenando para mim. — Você não me quer mais?

Meu pau ainda duro reclamou preso dentro da cueca enquanto eu me levantei
rápido da cama e fui até a minha mala que estava próxima do sofá.

— Enrico?

— Oi? Olhei para trás ainda em busca do objeto.


— Eu estou te odiando tanto. Sussurrou com voz de choro e meu coração
diminuiu. Mordi as bochechas para segurar mais uma crise de riso enquanto
pegava o que procurava e voltava a me aproximar da cama. Subi de joelhos
até ficarmos mais uma vez frente a frente.

— Isso foi só para mostrar que eu mando... — Falei impiedoso.

— Você não manda em nada! Praticamente gritou me pirraçando.

— Não? Ri me preparando para o bote.

— Não, eu que mando em você, e agora estou mandando você parar de


brincadeiras e transar comigo ou eu nunca mais vou chupar você!

— Nunca mais é muito tempo, cerejinha. Vamos dizer cinco minutos e eu


deixo você dar mais umas lambidas?

— Ah Enrico chega, ok. Ela fez menção de bater as mãos em meu peito e eu
aproveitei para cobrir o primeiro pulso.

Madalena arregalou os olhos ao perceber que eu tinha acabado de


algemar a sua mão direita.

— Enrico? Me olhou perplexa.

— Vamos ver agora quem manda aqui, senhorita Madalena Cereja, muito em
breve Madalena De Giordano. Ergui seu outro braço e fiz com que ficassem
presos na cabeceira.

— Aí porra. Ela riu e eu a acompanhei, a descarada já não estava mais com


raiva de mim.

— Ansiosa? Perguntei mordendo a parte de dentro da sua coxa esquerda.

— Puta merda.
— Sem muito barulho, lembre-se que não estamos em casa. Alertei voltando
a me abaixar.
25
Madalena Cereja
Os lampejos do terror que eu tinha passado naquele sequestro
assombravam realmente a minha mente. Eu não queria expor para Enrico o
medo que eu ainda estava sentindo e o pânico em pensar que tinha sido eu a
matar alguém. Tinha ceifado a vida de uma pessoa apesar de que esta não
merecesse continuar viva. Não queria deixar Enrico ainda mais nervoso do
que parecia estar, aqueles dias que tínhamos passado no hospital tinha sido
péssimo sem notícias nenhuma do paradeiro da única pessoa que faltava ser
presa, que era sua ex-sogra.

O fato era que eu estava grávida, mas não morta, aliás eu realmente
estava chocada ao sentir que os hormônios estavam mesmo em alta, eu queria
transar com Enrico o tempo todo, e depois dele decidir que iríamos evitar o
contato sexual tinha me deixado ainda mais apreensiva.

Luísa tinha me acomodado no quarto de hóspedes e ficado comigo


por um tempo depois da nossa pequena discussão lá embaixo. Ela tinha dito
que ele estava no escritório "resolvendo algumas coisas" o que obviamente se
resumia em ligar e gritar com as pessoas. Que era o que sempre vinha
fazendo e tentava disfarçar quando estava perto de mim. Eu estava
traumatizada e frágil e Enrico parecia uma mistura de raiva e pavor.

Tendo mais um dos pesadelos que vinham me assombrando desde o


hospital eu senti seu aperto e a sua voz me despertar. Os olhos de Carlos
Alfredo no sonho estavam frios e sem vida, e quando encontrei Enrico me
confortando foi como sair de um afogamento.

O abracei com todas as forças e choraminguei em seus braços incapaz


de me manter zangada pois precisava dele. Nunca tinha sequer imaginado ser
dependente de alguém, mas era dependente dele, do seu cheiro, do seu toque,
sentir seu cabelo macio entre meus dedos e a barba macia que cobria o rosto
bonito, os olhos verdes brilhantes que me passavam confiança e o seu sorriso
que mostrava que me amava de volta.

— Me faz esquecer. Implorei colando nossos corpos e rezando internamente


que ele cedesse, porque era o que eu precisava, doses diárias de Enrico me
fariam esquecer qualquer trauma que tivesse passado.

Com muita insistência ele cedeu e quase me fez chorar quando se


ajoelhou na cama e conversou com os bebês, como se pedisse permissão para
o que íamos fazer.

Nem sabia explicar como tinha sentido falta do beijo dele, ou de


transar, nem esperei muito antes de tomá-lo na boca, fui tão afoita que quase
me engasguei por seu tamanho e grossura. Só de tocar Enrico eu já me sentia
pulsante e molhada, não precisava de nada, estava louca em tamanha
excitação quando decidi por provocá-lo e recebi em resposta o que não
imaginava.

Enrico tinha se afastado e sorrido demonstrando que estava bem com


aquilo, que não continuaríamos e eu só fui capaz de ficar irada. Eu precisava
dele, ansiava com aquilo é não conseguia imaginar como ele podia estar
indiferente e reclamei exigindo que ficasse comigo. Se levantou da cama
confiante e eu contemplei sua nudez que me distraia e só me deixava mais
atiçada ainda.

— Eu nunca mais vou chupar você! Menti totalmente frustrada aí vê-lo


reprimir o sorriso.

— Nunca mais é muito tempo, Cerejinha, mais uns cinco minutos e eu deixo
você dar mais umas lambidas. O ordinário sorria enquanto voltava a subir na
cama escondendo algo na mão.

A minha raiva e frustração caiu totalmente por terra quando ao fazer


menção de bater em seu peito senti o meu pulso ser tomado pelo metal frio e
apertado.

Completamente chocada quando percebi que Enrico tinha saído da


cama para buscar suas algemas na mala.

— Está ansiosa? Sua cara de safado estava ainda mais bonita quando mordeu
os lábios ao me encarar presa na cama totalmente a sua mercê.

— Puta merda. Foi tudo que consegui falar.

— Sem muito barulho, lembre-se que não estamos em casa. Falou abaixando
a cabeça e movendo os lábios por minhas coxas.

Enrico não podia pedir que eu fosse silenciosa quando sabia que eu
estava prestes a explodir de tesão. Ele começou a beijar minhas pernas e só
parava quando chegava bem perto da minha boceta.

— Aí... eu preciso que me toque.

— Eu estou tocando. Sua voz baixinha saiu como um sopro em minhas


pernas arreganhadas.

— Me toque lá, preciso que me faça gozar, é sério, está até doendo... —
Tentei mover os braços e gemi ao sentir o incomodo do aço pinicando minha
pele.

— Não force os pulsos, vai machucar.

— Quero tocar você. Baixei os olhos para seu membro que estava duro e
brilhante.

— Agora não. — Avisou levando as mãos até a barra da minha calcinha e a


puxou para o lado deixando livre acesso a minha boceta já toda melada. —
Você sempre tão molhada, paixão... — Soprou sobre minha vulva o arrepio
me subiu a espinha no mesmo momento que sua boca me tomou entre os
lábios e rodeou a sua língua onde eu necessitava.

Joguei a cabeça para trás tomada de prazer e fechei os olhos puxando


mais uma vez os braços em um movimento involuntário pois desejava levar
minhas mãos em seu cabelo.

Enrico brincou com meu clitóris e intercalava com lambidas


profundas. Gemi tão alto que ele levou a mão que apertava meu seio para
minha boca enquanto com a outra usava dois dedos para entrar e sair de mim
em um ritmo gostoso.

Subiu e tomou um mamilo entre os lábios enquanto continuava a me


penetrar com os dedos.

— Aí, eu vou gozar. Falei por baixo de sua mão.

— Ainda não. Sussurrou com um riso na voz e mais uma vez se afastou de
mim.

— Sabe, eu estava mesmo pensando em te soltar, mas levando em conta que


você não pode tomar vinho...

— O que tem o vinho? Perguntei remexendo minhas pernas sentido ele alisar
a cabeça do seu pau sobre minha entrada. Arregalei os olhos ao entender que
ele se referia ao fato de eu ter ficado embriagada para decidir que faríamos
sexo anal.

— Enrico, me solta.

— Não se estresse, não era você quem queria ser algemada? Está ruim?

Ruim não era a palavra de como eu me sentia no momento, mas eu


não tinha em mente que seria tão frustrante não poder mexer os braços. —
Está muito bom, mas quero tocar você.

— Você vai tocar. Beijou cada um dos meus seios, depois o pescoço, subiu
para as bochechas e só então tomou meus lábios. Nossas línguas se
enroscaram no mesmo momento que senti ele entrar em mim até o fundo.
Gememos um na boca do outro, engolindo nossos prazeres enquanto
ele começava a se movimentar com facilidade por minha lubrificação,
aumentando cada vez mais a fricção.

Não precisava de muito mais, no momento em que ele entrou em mim


eu já estava me segurando para não gozar, e agora depois de minutos tão
perfeitos, já não conseguia mais me segurar, não consegui nem dizer que
estava perto, eu estava contraindo tanto que vi quando levou os olhos aos
meus e mordeu os lábios como se também se segurasse só para que eu
chegasse primeiro.

Gemi o mais baixo que consegui deixando o prazer tomar meu corpo
que tremia lânguido como se eu tivesse sido eletrocutada. Enrico diminuiu a
penetração e levantou minhas pernas as encaixando em seu ombro. Estava
ainda sentindo os espasmos do meu orgasmo quando ele saiu de dentro de
mim e eu vi seu mastro brilhante com nossos fluidos. Sem cerimônia ele
levou uma mão em mim e desceu com o dedo até a minha entrada menor
espalhando nossa excitação ali, enfiando apensas a ponta do dedo
estimulando enquanto eu incapaz de me mover voltava a sentir pontadas de
prazer.

— Se doer você me fala eu tiro... — Pontuou antes de começar. Senti a


pressão para seu membro começar a entrar e daquela vez foi visivelmente
mais fácil me acostumar, talvez pelo fato de que eu sabia o que esperar e
estava muito mais calma.

As estocadas leves aumentaram o ritmo quando ele percebeu que já


recuperada estava sentindo prazer. Sua mão estimulava meu clitóris e eu me
retorcia na cama a ponto de levantar o corpo do colchão.

— Goza de novo, paixão... vem comigo, vem. Ordenou e eu o obedeci tendo


o orgasmo mais intenso da minha vida.

Senti seu corpo teso sobre o meu e encarei seu peitoral suado pelo
esforço, minhas pernas ainda em seus ombros, antes aquilo para mim seria
totalmente obsceno, mas eu não conseguia sentir nada mais que alegria ao ver
que estava ali com quem eu amava e me amava de volta sem nenhum tipo de
limite.

Enrico saiu de dentro de mim vagarosamente quando se recuperou e


se moveu pegando a chave da algema no criado mudo, no minuto seguinte
estávamos enroscados em um abraço gostoso enquanto ele despejava
beijinhos em meu queixo e eu ja ronronava como uma gata preguiçosa.

— E então? Foi legal? Seus dedos acariciavam meus cabelos da nuca.

— Foi maravilhoso, eu amei muito.

— Que bom. Beijou minha boca por uns segundos.

— Obrigada, por tudo. Murmurei satisfeita e feliz. As pessoas diziam que o


sexo não resolvia as coisas, mas eu era totalmente contrária a isso, ele podia
não resolver tudo, mas já era meio caminho andado. Depois de transar todo
casal se sentia mais ligado e com energias renovadas.

Ele se deitou sobre as costas encarando o teto e eu coloquei a cabeça


sobre o seu peito sentindo seus olhos descerem para mim.

— Daqui a pouco Jonas e Doug virão para o jantar. Comentou.

— Tudo bem? Questionei intrigada sentindo um leve aperto no peito, parecia


que sempre que as coisas começavam a ficar bem, éramos interrompidos a
voltar a realidade.

— Conversei com meu pai e ele deu a ideia de nós afastarmos por um tempo,
enquanto Denise não é encontrada.

— Afastarmos? — Me remexo preocupada. — Está terminando comigo?

— Claro que não, Madalena. — Se sentou na cama para me encarar. — Nada


vai nos separar, você é minha, minha mulher, mãe dos meus filhos, nada vai
nos separar, eu já disse isso.

Meus olhos já cheios de lágrimas o encarando enquanto eu controlava


minha respiração que tinha aumentado pelo medo.

— Ele disse sobre nós dois irmos para algum lugar afastado. Voltou a falar.

— Ah... — Compreendi a ideia e comecei ponderando a possibilidade.

— E eu pensei sobre irmos resolver suas pendências, em Alvorada das


Almas.

— Em Alvorada? O olhei mais uma vez em dúvida.

— Sim, você precisa ir em algum momento, é esse seria o bom momento.

— E lá estaríamos seguros?

— Se Joaquim era o único que te queria e ele já está morto, não temos o que
temer.

— E tem Vicente.

— Vicente provavelmente continua preso, ele não nos fará nada.

— Meu medo não é esse. — Afirmei com certeza. — Vicente nunca me faria
mal, afinal ele tinha me ajudado a fugir.

Enrico revirou um pouco os olhos como fazia todas as vezes que eu


me referia ao meu ex-namorado. — Não se pode dizer com tanta certeza.

— Eu sei do que estou falando, ele não faria, e quando chegarmos lá eu quero
vê-lo.

— Qual parte dele estar preso você não entendeu?


— Ele está preso, podemos ir vê-lo.

— Madalena? Enrico enrugou a testa e eu voltei a falar com certeza.

— Se eu for mesmo a herdeira daquilo tudo, eu vou devolver tudo a todos, e


o que sobrar eu darei a Vicente.

— Como é que é? Seu semblante parecia surpreso.

— É isso mesmo.

— Madalena, vamos com calma, nós não sabemos o que vamos encontrar,
ok?

— Você está falando isso porque está com ciúmes.

— Não é isso, esse cara talvez sabia que você era irmã de Joaquim, já passou
pela sua cabeça que tudo não se passou de um plano dele?

— Mas então porque ele me ajudou a fugir?

— Você disse que ele falou que iria te procurar não disse?

— Era incerto. Balanço a cabeça incapaz de acreditar que Vicente também


era mal como a maioria das pessoas que tinham atravessado o meu caminho
até agora.

— Só vamos saber a verdade quando estivermos lá.

— Tudo bem.

— Seja qual for o problema, eu estarei lá.

— Acredite você ou não, é só por isso que eu não estou surtando. Confesso e
ele puxa meu rosto para o seu, unindo nossos lábios mais uma vez.
26
Aline Gouveia
Antes

— Papai, o senhor vai vir buscar a gente hoje? Marcelinho, meu caçula de
cinco aninhos questionou ao pai que estava deixando-os na porta da loja
após buscá-los na aula.

— Hoje? Rafael me olhou sem entender.

— A mamãe vai viajar, ela não disse ainda?

— Que história é essa? Rafael adentrou a butique deixando as mochilas dos


garotos no balcão enquanto aos dois passavam correndo para os fundos da
loja aonde tinha o meu escritório com a TV e o vídeo game deles.

— Eu ia te falar, mas eu ainda estava na correria, você pode ficar com eles
por um tempo? Eu vou precisar viajar.

— Para onde? Cruzou os braços frente ao peito.

— Madalena está precisando de mim, ela está na Argentina.

— Argentina? O que diabos ela está fazendo lá? Ela precisa que você a visite
e tire férias?

— Ela foi sequestrada, levou um tiro Rafael. Tento contar o mínimo possível.

— E você é policial agora? Falou em desdenho.

— Não, mas Enrico é, ele precisa de alguém que fique com ela no hospital
enquanto ele ajeita as coisas por lá.

— Aquele cara vai?

— Que cara? Finjo de desentendida.

— Você sabe bem de quem eu estou falando, o cara que você anda trocando
conversinhas pelo telefone! Acusou com o semblante fechado. Ele tinha
pegado meu aparelho sem que sequer percebesse e lido boa parte do flerte
que estava rolando entre mim e Douglas desde que nos aproximamos no
almoço de descoberta dos gêmeos.

— Douglas também é policial, então provavelmente sim, ele vai.

— Uma ova. — Bateu a mão no balcão. — Você não vai!

— Rafael, eu não estou te pedindo permissão, assim como você não me pediu
permissão para me trair e assumir a sua secretária como nova namorada.

— Eu não quero outro homem perto dos meus filhos, Aline!

— Você vai ou não ficar com eles?

— Escute aqui, Aline... se envolva com esse cara ou com qualquer outro e
nunca mais vê seus filhos!

— Como é que é? Olhei para ele perplexa.

— Você escutou bem! Arranje um namorado e eu pego a guarda dos


meninos!

— Quer dizer que você tem direitos e eu não?

— Sim eu tenho! Está avisada!


— Eu não tenho medo de você, Rafael! Vá se foder!

— Pois deveria, ou esqueceu que eu trabalho em uma empresa com um


departamento jurídico ótimo? Agora com a promoção eu tenho condições de
oferecer muito mais que você aos meninos e você sabe disso! Você acha que
o juiz irá escolher entre eles morarem na Freguesia ou no Morumbi?

Meus olhos se encheram de lágrimas ao perceber que ele não estava


blefando.

— Eu não tenho ninguém, você está louco? Eu só quero ir ajudar Madalena,


não é mentira, ela é minha amiga e precisa de mim.

Rafael me olhou por uns segundos calado antes de voltar a falar.

— Vou te dar um voto de confiança, Aline... até porque eu tenho certeza que
aquele bombado de academia não ia querer nada sério com você... mas
espero que não me decepcione, a não ser que você queira ver os meninos
apenas aos finais de semana.

Dirigi do aeroporto aonde tinha me despedido de Madalena e Enrico


que seguiriam para a casa dos pais dele até a casa de Rafael onde buscaria
meus filhos completamente em lágrimas. Doeu em mim cada palavra que eu
disse a Douglas, na última noite e dentro daquele banheiro. Negar a ele que o
sentimento que eu estava nutrindo bem antes de ficarmos juntos na loucura
que aconteceu na Argentina era tudo menos uma brincadeira ou apenas sexo
me doía profundamente.

Eu estava arrasada e machucada quando conheci Douglas, e tudo que


ele fez foi me puxar de volta, mostrando que eu não era a mulher acabada,
feia e triste que Rafael traiu.

Queria dizer a Doug que queria tentar, que iríamos ficar juntos, que
ele conheceria João e Marcelinho, que eu iria ficar feliz em conhecer o seu
filho. Mas era impossível. Impossível pois apesar de traída e humilhada,
Rafael tinha deixado claro para mim no dia que eu embarquei para Argentina,
que se eu me envolvesse com alguém ele tiraria meus filhos de mim.

Quando o avião pousou ele fez questão de me ignorar apesar de que


eu ainda podia senti-lo pulsando dentro de mim devido nossa pequena
aventura no banheiro. Meus olhos tampados de lágrimas ardiam assim como
a minha garganta fechada com uma bola que impedia que eu engolisse.

Estacionei o carro, limpei o rosto do choro e respirei fundo, subi o


elevador até o apartamento de Rafael, Kelly, a nova mulher do meu ex-
marido abriu a porta usando apenas um short jeans curto e uma regata, os
olhos bateram em mim me avaliando com desprezo.

Limpei mais uma vez o rosto que já estava seco e fingi tranquilidade.

— Oi, eu vim buscar as crianças.

— Rafael, tem gente na porta. Seu desprezo na voz enquanto ainda avaliava
eu de cima a baixo me embrulhava o estômago. Kelly era linda, jovem, o
corpo esbelto e os cabelos compridos, no auge da sua juventude e isso só me
fazia sentir ainda mais vontade de chorar.

— Como foi de viagem? — Rafael apareceu atrás dela me encarando como


se me avaliasse. — Amor, você busca os garotos no quarto?

— Claro. A mulher o olhou com um sorriso falso e saiu do meu campo de


visão.

Continuei calada, segundo meu estômago revirar e minha cabeça girar


com raiva por ter escolhido tão mal o homem que era pai dos meus filhos.

— Então, como foi? E Madalena? Sua voz voltou a me chamar atenção.


— Tudo bem, Madalena está bem, em casa agora.

— Você está diferente. Rafael olhou para dentro como se inspecionasse se


vinha alguém antes de me empurrar para fora e me imprensar contra a parede
do corredor.

Arregalei os olhos ao sentir sua mão contornar meu pescoço.

— Você transou não foi? Transou com aquele cara Aline?

— Me solta. Pedi desesperada.

— Você cheira a sexo, sua vadia! Eu te disse o que aconteceria se você se


envolvesse com alguém.

— Eu não estou com ninguém, Rafael!

— Não? Ele esfregou seu nariz em meu pescoço subindo para a


bochecha, me cheirando como um animal e meu estômago até embrulhou.

— Rafael... para.

— E porque você está com essa cara de choro?

— Me solta! Me debati e ele cobriu minha boceta com eu mão grande.

— Está molhada? Pare de fingir que ainda não é apaixonada por mim, Aline.

A minha vontade era de gritar e vomitar naquele homem nojento, mal


sabia ele que o tesão que ele jurava ser por ele era os resquícios de uma foda
bem dada com outro homem.

— Está com saudade, Aline? Não fique, eu posso te ajudar, você sabe que eu
ainda gosto de você também, somos uma família...
— Eu tenho nojo de você! Cuspi as palavras.

— Tem nojo de mim? E vai ficar sem transar o resto da vida? Porque você
sabe, se entregue a outro homem e eu te mato! Seu tom de ameaça me subiu
um arrepio na espinha no mesmo momento em que ouvimos passos vindos do
apartamento e ele se afastou imediatamente me deixando sozinha no
corredor.

— Mãe! Mamãe! Meus filhos apareceram correndo juntos na porta.

— Que saudade de vocês! Soltei o ar encarando as únicas pessoas que me


importavam realmente.

— A gente também sentiu saudade! Marcelinho se agarrou no meu pescoço e


eu o levantei enquanto alisava os cabelos negros de João.

— A mãe de vocês estava me contando da viagem que fez para ir ajudar a tia
Madalena. Rafael disfarçou sorrindo para namorada.

— Bom, eu já vou indo, pegaram tudo?

— Sim mãe. João respondeu se despedindo do pai, e da mulher que


especialmente se referiu como "tia Kelly".

O caminho de volta foi menos triste do que a vinda, tinha conseguido


me distrair com as crianças contando tudo que tinha acontecido nos dias que
tinham passado com o pai. Quando cheguei em casa os garotos foram para o
banho e me coloquei mais uma vez ao luxo de poder chorar, as lembranças
das noites com Douglas invadiam minha mente enquanto eu pensava o por
que tudo tinha que ser difícil, a novidade hoje era que Rafael tinha realmente
perdido o controle ameaçando me matar se eu arranjasse alguém.

Meu telefone tocou e Luísa me convidou para um jantar de retorno, os


garotos ficariam animados e eu concordei quando ela disse que seria uma
despedida de Madalena e Enrico que estariam saindo em uma pequena
viagem a dois, Madalena estava reagindo bem ao trauma que tinha passado,
mas a vaca criminosa mãe da agora realmente falecida esposa de Enrico ainda
estava desaparecida e ele tinha decidido não correr riscos pelos bebês.

Meu coração já acelerou ao pensar se Douglas estaria no jantar.


Mesmo ainda faltando algumas horas, a ansiedade me tomou, mais até do que
eu desejava, por isso não aguentando mais esperar e eu troquei meus shorts
por uma calça jeans e peguei as chaves do carro, passei na casa da vizinha e
pedi que ela ficasse com as crianças por um tempinho, entrei no carro
decidida, cansada de não tentar, iria resolver as coisas.

Estacionei frente ao condomínio que havia ido apenas uma vez e o


porteiro me questionou o andar e eu informei o nome. Meu estômago gelou
ao pensar se Douglas deixaria ou não eu subir, eu nunca tinha botado os pés
na sua casa apesar de saber onde ele morava. E agora estava ali rastejando
por ele depois da nossa discussão.

— Pode subir senhorita. Fui avisada e me novo para o elevador sentindo


minha alma quase sair do corpo.

A porta estava estranhamente meio aberta quando sai do elevador.


Uma sensação ruim me tomou e eu dei alguns passos a empurrando.

Nada se compararia a cena que eu veria, Douglas estava sentado no


sofá, totalmente nu e com um copo cheio de bebida na mão enquanto duas
mulheres loiras estavam agachadas no chão e enfiadas entre suas pernas
disputando quem chupava seu pau.

Parei com os olhos arregalados e o vi me olhar com desprezo.

— Resolveu participar da festa? A voz grossa me atingiu como um tiro. E eu


não era capaz nem de sair correndo dali, já que era essa a minha vontade.

"Até porque eu tenho certeza que aquele bombado de academia não


vai querer nada sério com você..." As palavras de Rafael soaram em minha
mente. Se pudesse se ouvir um coração se quebrando, seria o som que iria
ruir naquele exato momento.

— Douglas... — Sussurrei sentindo meus olhos se encherem de lágrimas o


bastante para que rolassem pelo rosto.

— Você não disse que era só sexo? Então não tem problema eu comer essas
duas gostosas aqui, não é? Puxou o cabelo da loira que mamava seu pau com
vontade enquanto a outra soltava suas bolas e me olhava em curiosidade.

— Ela também vai participar?

— Acho que não, querida, ela não é muito de compartilhar, ou é Aline?

— Vem gata. A outra loira me convidou e eu quis me mover para fora, mas
minhas pernas não me obedeciam.

— E então? Vai ficar? O sorriso amargo de Douglas me deixou furiosa,


queria ir até ele e estapeá-lo.

— Desgraçado!

— Eu? Sua risada irritada assustou as garotas que se afastaram e ficaram de


joelhos nos encarando.

— O que está rolando aqui, ela é sua namorada?

— Ela não é nada minha, só sirvo para comer ela quando ela quer, eu não sou
nada para ela, podem perguntar, ela me disse isso duas vezes nas últimas 48
horas.

— Você sabe que isso não é verdade! Chorei arrasada.

— Ih, que clima estranho! Uma das mulheres se colocou de pé e se moveu


até o outro sofá agarrando uma saia de couro e começando a se vestir.
— Não vai não, eu vou comer você.

— Vai mesmo? — Ela colocou as mãos na cintura. — Está parecendo DR


isso aqui.

— Ela já está de saída, não é Aline? Ou você realmente quer participar? Sabe
que eu dou conta.

As lágrimas que me cegavam misturavam-se com a raiva que eu


estava sentindo de Douglas.

— Douglas, eu odeio você!

— É recíproco! — Gritou de volta se levantando em toda sua glória nua e


andando para perto de mim deixando as duas mulheres para trás. — Veio
fazer o que aqui, falar mais uma vez em como eu não sou um nada para você?

— Eu não posso ficar com você, mas não é porque não te amo, seu estupido!
Você estragou tudo! Limpei o rosto e vi o semblante de Douglas mudar.

— Como assim?

— Odeio você! Odeio você! Repeti dando as costas e começando a sair do


seu apartamento mais despedaçada do que havia chegado.

— Aline? Espera, agora você fala tudo! A voz masculina me chamou.

Ignorando andei para fora do apartamento e não perdi tempo


esperando o elevador, abri a porta que dava para as escadas e comecei a
descer sem olhar para trás.
27
Douglas Saragoça
Michael Corleone quando viu a família passando por problemas
enfrentou os próprios desejos de Don Corleone e tomou as rédeas da situação
em o Poderoso Chefão, e contrariando as expectativas de todos que achavam
que ele não seria capaz se tornou o chefe que todos admiravam.

Eu sempre fui capaz. E ninguém nunca desconfiou disso. Minha vida


era controlada por mim e totalmente nos trilhos.

Quando Thais apareceu grávida a seis anos atrás eu não tinha fugido
mesmo que não tivesse onde cair morto na época. Porque eu sabia que Theo
precisaria de mim presente para ser um homem honrado e bom.

Por isso não briguei com minha ex-namorada e nem comecei um pé


de guerra como era o desejo dela, cedi em algumas coisas e exigi outras,
amava meu filho e tinha orgulho do garoto que ele era.

Assim também tinha sido no trabalho desde que tinha passado no


concurso da polícia, dois anos depois de me tornar investigador, Enrico tinha
passado no concurso se tornou o delegado titular.

Sem sair dos trilhos.

Assim era a minha vida e eu gostava.

Tudo mudou quando eu conheci Aline, ela era linda, diferente das
outras com quem me envolvi a vida toda, seu corpo moreno e voluptuoso me
deixava louco, e o fato de que tinha acabado de sair de um relacionamento
seria magnífico se não tivesse sido agarrado pelas bolas antes mesmo de ter
transado, e depois que fiz, me sentia arrebatado.
Em toda minha vida eu não tive que correr atrás de muitas mulheres,
Aline foi uma das poucas e eu só sabia sentir desespero quando lembrava do
nosso último encontro dentro daquele minúsculo banheiro do avião a mesma
me olhou com desdém e disse que não tínhamos nada mais do que a atração
carnal.

Porra.

Para mim não era apenas isso. Eu sentia meu estômago gelar, mãos
suarem, coração bater forte e cada vez que entrava e saía dela um arrepio
gostoso me subia a espinha como se fosse a garantia de que estava no lugar
certo.

Incrivelmente puto, não perdi tempo me despedindo de ninguém


assim que pousamos, fui direto para casa a fim de retornar a minha antiga
vida antes da droga que me viciara chamada Aline.

Deslizei meus dedos pelas chamadas recentes da agenda telefônica em


busca de alguém para começar a desintoxicação.

Gabriela ex-cunhada.

Não.

Amanda da academia.

Não devido ao terrível episódio que na última vez eu simplesmente


não consegui dar no coro.

Felipa vizinha.

Estava namorando, eu acho.

Duas Marias.
Bingo!

Meus olhos brilharam ao me lembrar das duas amigas loiras que já


tinha comido. Maria Clara e Maria Tereza eram o sonho realizado de
qualquer homem, peitudas e gostosas que amavam transar juntas.
Disquei o número animado e dois minutos depois já tinha um encontro
marcado com elas.

Cheguei em casa desolado, sentei no meu sofá esperando as garotas


chegarem, mas tudo que eu desejava era cancelar tudo e ir atrás de Aline,
gritar com ela e exigir que se sentisse como eu me sentia. Apaixonado.

Porem me recusava a me humilhar de novo, eu nunca iria rastejar por


uma boceta enquanto havia tantas querendo que eu comesse.

As Marias chegaram juntas e não perderam tempo com conversa já


que sabiam bem porque tinham sido chamadas, sem cerimônia arrancaram as
próprias roupas e me ajudaram a me livrar das minhas. Sentado no sofá com a
cabeça jogada para trás eu tentava parar de pensar em Aline enquanto as duas
sugavam meu pau intercalando enquanto uma lambia a cabeça a outra se
dedicava nas bolas.

O interfone tocou insistentemente e eu bufei afastando as garotas e


indo até lá. Meu coração palpitou quando recebi a notícia de que uma moça
chamada Aline estava querendo subir. Algo dentro de mim pedia para que eu
escondesse as garotas e implorasse para que ela entrasse e ficasse comigo,
mas a outra parte orgulhosa de mim fez eu voltar para o sofá parando apenas
parar abrir a porta e a deixar encostada, sentei novamente e comecei a receber
de novo as lambidas das garotas. Poderosa era a raiva que eu sentia, nada
tinha me deixado tão duro e com satisfação quanto saber que ela iria me ver
ali e entenderia que Douglas Saragoça não corria atrás de ninguém.

Bom, ao menos era isso que eu pensei que aconteceria.

Eu podia ver a dor nos olhos da minha garota e suas lágrimas fizeram
eu me odiar. Queria ajoelhar e pedir perdão no mesmo instante, quando ela
gritou que me odiava. A ira em pensar que eu era um estúpido só me fez
piorar as coisas quando gritei de volta mentindo que o sentimento era
recíproco.

As Marias estavam sem entender nada enquanto presenciavam todo o


embate. E tive certeza que tinha feito merda quando choramingando ela me
olhou como se sentisse nojo da minha nudez e falou baixinho:

— Eu não posso ficar com você, mas não é porque eu não te amo, seu
estupido! Você estragou tudo! Passou os dedos pelo rosto tentando afastar as
lágrimas que não paravam de descer.

— Como assim? Tentei questionar me colocando de pé afim de me


aproximar dela.

— Odeio você! Odeio você! Repetiu como se afirmasse para si mesma antes
de me dar as costas e sair ignorando eu chamar seu nome.

Minha cabeça girou e eu olhei para as duas loiras ainda ajoelhadas


como se esperassem que eu voltasse. Sem perder muito tempo andei de volta
para o sofá e agarrei a minha cueca começando a vesti-la depressa.

— Vão embora! Ordenei.

— O que? — Maria Clara me olhou indignada. — Vai mesmo atrás dessa


garota e nos deixar aqui?

— Sim, eu vou atrás da minha futura mulher, vistam-se e saiam da minha


casa! Falei dando as costas e saindo pela porta o mais rápido que consegui, o
elevador continuava parado no meu andar o que significava que ela não tinha
o pego.

Abri a porta que dava para as escadas e comecei a pular os degraus, a


cena ridícula de um homem do meu tamanho descalço e usando apenas
minha cueca. Se o síndico me visse eu receberia uma multa enorme.
— Aline! — Gritei vendo ela dois lances de escada a minha frente. —
Espera! Exigi e ela continuou a descer.

Em um pensamento desenfreado corri pulando quatro degraus inteiros


de cada vez prestes a perder o equilíbrio e me agarrei ao corrimão quando
percebi que iria arriscar, pulando para cair no andar que ela estava.

Ouvi o gritinho desesperado quando estanquei no chão a sua frente como um


saco de batatas jogados.

— Meu Deus, você é louco!

— Aí, caralho! — Levei minha mão ao meu pé descalço e a olhei de relance


com as mãos na boca em choque. — Porra eu fodi meu pé!

— Espero que sim. Respondeu seca e me pulou ignorando eu estar ali caído.

— Fala comigo... — Agarrei sua perna como uma criança birrenta.

— Agora você quer falar? Me olhou irritada.

— Quero, eu quero, me desculpa pela cena lá em cima eu só estou chateado.

— É assim que você resolve as coisas quando está chateado?

— É assim que eu resolvo as coisas quando a mulher que eu amo diz que eu
não significo nada pra ela. — Falei e percebi os olhos dela voltarem a se
encher de lágrimas. — Fala comigo... — Pedi mais uma vez e tentei me
colocar de pé, o que foi impossível quando eu percebi que meu pé esquerdo
tinha mesmo se estendido e eu reclamei ao firmá-lo no chão. — Caralho fodi
mesmo o tornozelo.

— Para! Sente aí, seu louco! Me empurrou novamente para a escada. — Que
ideia também pular lance de escada, tá se achando o super-homem, seu burro!
Brigou comigo se abaixando para olhar meu pé que já visivelmente estava
luxado.

— Eu não podia te deixar ir, se você tivesse parado eu não teria que ter
pulado.

— Agora a culpa é minha? Levantou os olhos para o meu rosto com raiva.

— Claro!

— Se eu não tivesse pegado duas vadias chupando a merda do seu pau eu não
tinha saído sem olhar pra trás! Acusou e eu me calei por uns segundos
percebendo o quão horrível era ouvindo ela dizer aquilo. Eu tinha mesmo
vacilado.

— Se você não tivesse me humilhado depois de transarmos eu não tinha


ficado puto é chamado as garotas. Tentei responder à altura e ela suspirou
largando meu pé.

Observei a sua posição abaixada o quanto seus seios gostosos estavam


na altura das minhas vistas.

— Porque você falou aquilo? Sussurrei ainda encarando seus peitos.

— Falei o que?

— Que eu não era nada além de sexo... me magoou muito sabia? Me fiz de
vítima.

— Ver duas mulheres te chupando também me magoou. Estamos quites! Se


colocou de pé passando as mãos pelo short jeans curto.

— Aline...

— Foi um erro vir... eu já estou indo.


— Não, não foi, fala comigo, porra! — Pedi mais uma vez ao vê-la aflita. —
Porque veio até aqui?

— Para te pedir desculpas. Mas não vou pedir depois daquela cena.

— Elas não significam nada.

— Elas estavam...

— Não significam nada! — Voltei a falar a interrompendo. — Eu não amo


aquelas mulheres, eu amo você, será que você ainda não enxergou isso?
Estou apaixonado por você! Louco, completamente fascinado. — Falei mais
uma vez me firmando para ficar em pé.

— Que belo jeito de demonstrar amor. Revirou os olhos.

— Eu já disse que estava me sentindo humilhado.

— Eu sei que errei, Douglas, mas não é transando com outras que você
resolve as coisas, ao contrário, é assim que você fode as coisas! Eu vou
embora agora.

— Não! — Segurei seu pulso e ela me olhou com o semblante chateado. —


Só fala para mim o que você veio fazer aqui, fala a verdade.

Aline respirou fundo e piscou algumas vezes deixando duas lágrimas


rolarem pelo rosto bonito. — Dizer que também estou apaixonada... que eu
estava mentindo no avião, eu não consegui parar de chorar nem parar de
pensar em você depois que cheguei, eu precisava...

Soltei seu punho e levei as duas mãos para seu pescoço abaixando
minha cabeça para aproximar nossos lábios.

— Não! — Me interceptou com a cara de nojo. — Não encoste em mim


depois...
— Eu não encostei nelas, não as beijei. Falo encarando seus olhos negros.

— Acredito. Bufou.

— É verdade, eu não fiz nada com elas, elas tinham acabado de chegar, só
estavam...

— Chupando o meu pau.

— Seu pau?

— O seu. Falou desviando os olhos dos meus em desconforto e eu senti


vontade de rir.

— Não, o seu pau... me perdoa minha gatinha... por favor, eu não sei onde eu
estava com a cabeça, eu só me senti humilhado e queria que a dor passasse,
queria te tirar da mente, nem que fosse por um breve momento, mas mesmo
antes de você aparecer eu já tinha percebido que não adiantaria. Você está
impregnada em mim, eu te amo, e nem sei como, porque eu só amei de
verdade meus pais e meu filho até conhecer você.

— Me deixa ir embora. Tentou se desvencilhar do meu aperto e eu agi na


loucura colando minha boca na sua e forçando minha língua para entrar.

Aline se debateu por uns segundos antes de amolecer em meus


braços. Beijando-nos com vontade eu ignorei a dor no meu pé e a forcei
contra a parede.

Suas mãos cobriram meus ombros e senti o carinho dos seus dedos no
cabelo, soltei um gemido e ela me seguiu.

— Vem comigo. Pedi.

— Não!
— Aline? A olhei fazendo a cara mais dramática que eu pensei que poderia
fazer.

— Elas...

— Esquece a porra das garotas! As mandei embora antes de vir atrás de você,
eu estou dizendo que foi um vacilo, eu só estava tentando esquecer o belo
toco que você havia me dado.

— Eu terminei o meu casamento por causa de traição, Douglas.

— Eu nunca faria isso com você! Eu juro, juro pela minha vida, pela vida do
meu filho. Segurei seu queixo e estiquei a língua para fora lambendo sua
boca de forma sensual. Aline fechou os olhos e gemeu com meu ato.

— Para Doug...

— Vem comigo, volta comigo...

— Eu não quero que você pense que eu só vim aqui por sexo.

— Eu sei que não. — A olhei com cuidado e sorri levando os fios negros do
seu cabelo para trás da orelha. — Você veio porque está tão apaixonada por
mim quanto estou por você.

— Sim, isso é verdade. Admitiu.

— Está na hora de pararmos de fazer merda, morena... precisamos confiar um


no outro.

— Eu não queria ter dito aquilo para você... — Ela voltou a choramingar.

— Então porque disse?

— É complicado.
— Complicado é me magoar... Aline eu me senti péssimo, você não tem
noção? Eu fiz aquela merda que você viu agora a pouco por me sentir um
lixo, era injusto eu te amar enquanto para você eu não era nada.

— Não posso ficar com você.

— Porque não? Perguntei irritado com aquela situação toda.

— Porque Rafael ameaçou me tirar as crianças... ele disse que me tira meus
filhos se eu me envolver com alguém, Douglas. E eu não posso perder eles,
eu te amo, amo mesmo, mas são meus filhos, eles são tudo o que tenho...

— Como é que é? Encarei perplexo a mulher a minha frente.

— Aquele filho da puta está te ameaçando?

— Por favor, eu preciso ir.

— Você não vai a lugar algum! Vai subir comigo agora, vamos conversar,
uma conversa franca e você vai me explicar tudo que está acontecendo! E vai
explicar agora!

— Doug...

— Agora, Aline! Desembucha!

Seus olhinhos brilhantes me encararam uns segundos antes de


começar a me contar tudo. O fato de que o ex-marido de Aline era um merda
eu já sabia. Já que ela tinha comentado que ele tinha a traído com a secretaria
e vivia dizendo a ela que a mesma não era atraente. Mas saber que aquele
imbecil tinha a ameaçado tirar a guarda dos filhos e até mesmo tirar a vida
dela pelo fato dela se envolver com alguém, mas especificadamente comigo,
me deixou irado.

— Eu vou matar esse filho da puta! Falei assim que ela terminou de me
relatar toda a história.

— Douglas, por favor... não faz nada, pode piorar as coisas, eu não quero
viver em um pé de guerra.

— Pé de guerra? Esse cretino acha que tem algum direito sobre você? Ele vai
ver com quem tá mexendo.

— Douglas! Aline me olhou apavorada.

— Eu vou até lá agora!

— Não, pelo amor de Deus espera! Segurou meus ombros e eu percebi o


quanto ela estava assustada. Algo dentro de mim falou que não era assim que
eu iria deixá-la feliz e em segurança. Fechei os olhos por uns segundos
decidindo que agiria com calma como em tudo da minha vida.

— Ok, eu espero... vamos subir, você se acalma e nós conversamos mais.

— Primeiro você toma um banho. Me olhou de cima a baixo ainda chorando.

— Faço o que você quiser, se você prometer que vai me contar a verdade.

— Eu preciso de você antes... por isso quero que você... —Espalmou sua mão
gelada sobre meu peito e eu senti meu pau remexer na cueca com a rapidez e
alegria em perceber que quem o usaria agora era a mulher que eu desejava.

— Vamos. — Tentei dar um passo e gemi ao pisar. — Merda!

— Vamos de elevador. Ela me ajudou passando meu braço sobre o ombro e


saímos rumo ao corredor.

Quando paramos no meu andar Aline me ajudou a sair e percebi a


porta do apartamento encostada não encontrando nenhum resquício de que
havia passado alguém ali.
Aline olhou para o sofá com raiva e voltou a me olhar tomando uma
grande porção de ar. E eu me preparei para mais um pouco de discussão.

— Vai ter que jogar aquela merda fora! Apontou para o móvel cinza e eu
concordei de imediato.

— Eu me mudo se for o que você quiser.

— Só o jogue fora. — Virou o rosto para o outro lado e começou a andar


para minha cozinha que era dividida por um balcão. — Vá tomar banho, vou
preparar uma sacola com gelo para você colocar no pé.

— Quer vir comigo?

— Não tinha ninguém chupando minha boceta, estou limpa.

— Ainda. Pisquei sem vergonha e vi seus lábios carnudos repuxarem.

— Vai tomar a porra do banho, Doug.

— Estou indo, promete que não vai embora? Que vai ficar e me contar tudo?
— Me aproximei de novo dela, ainda mancando. — Vamos colocar as coisas
no lugar? Sem mentiras?

— Eu prometo, vamos resolver. — Concordou e levou uma mão até minha


boca. — Como eu quero esgana-lo...

Arregalei os olhos e ela riu estrondosamente. — Você não perde por esperar.

— Por acaso está planejando cortar meu pau fora?

— E eu me divertiria com o que? — Sorriu angelical. — Anda, vai tomar


banho, cacete!

Beijei seus lábios com medo, e dei as costas indo rumo ao banheiro
começando a planejar como eu iria conseguir resolver as coisas com aquele
desgraçado.
28
Madalena Cereja
Me mexi na cama me sentindo ser observada, um frio na espinha
passou antes que eu me sentasse depressa e encontrasse o quarto vazio e
silencioso. A única luz que iluminava o local vinha de fora das portas da
varanda o que significava que tinha anoitecido, estranhei o fato de Enrico ter
me deixado dormir tanto se teríamos um jantar, mas com certeza a sua
tremenda preocupação dizendo que eu devia descansar tinha falado mais alto.

Levantei ainda nua e fui até o banheiro em busca de uma ducha


rápida, abracei meu ventre embaixo do jato morno e sorri ao pensar que nem
em meus melhores sonhos eu pensaria estar passando por aquilo, noiva do
homem que eu amava e que me amava de volta, dentro de mim dois
serezinhos crescendo e que nos traria muita felicidade.

Depois de me vestir sai do quarto a procura de Enrico, encontrei dona


Luísa na sala conversando com Aline e Luiggi, todos sorriram ao me ver.

— Ei, ninguém me acordou. Me aproximei me sentando ao lado de Luísa.

— Enrico pediu que não fizéssemos, disse que ele mesmo faria se chegasse e
você ainda estivesse lá. Ela comentou segurando minha mão e alisando.

— E onde ele está? — Encarei os três a minha frente e reparei os olhos


apreensivos de Aline que estavam meio vermelhos. — Aline, você andou
chorando? Voltei meus olhos para Luiggi que levava seu copo de whisky a
boca.

— Calma querida, está tudo bem. Dona Luísa me acalmou. — Enrico foi com
Douglas resolver uma coisa.

— Que coisa? Encarei os três.


— Rafael estava me ameaçando Madalena. — Aline confessou com a voz
chorosa. — Ele ameaçou tirar as crianças de mim quando percebeu que eu
estava me envolvendo com Doug.

— Mas o que é isso, que absurdo!

— Eu sei... e eu cedi, por medo, mas ai teve Buenos Aires e Doug e eu nos
aproximamos ainda mais... eu gosto dele Madalena, não quero ficar longe.

— E ele gosta de você! Me levantei indo sentar ao seu lado.

— Ao menos é isso que ele diz. — Sorriu sem graça. — Nós dois brigamos e
magoamos um ao outro, mas conversamos e decidimos tentar.

— Então eles foram falar com Rafael?

— Contra minha vontade, eu implorei que ele deixasse isso quieto, que
iriamos resolver que fosse na justiça... ele concordou até chegarmos aqui para
o jantar, quando Enrico comunicou que amanhã de manhã vocês irão viajar
ele decidiu que resolveria tudo hoje.

— Acalma amiga, se Enrico está junto eles não vão fazer nenhuma besteira.
A abracei e encarei dona Luísa que nos olhava também apreensiva, ela
também sabia que fariam sim, muitas coisas.

— O meu medo é que tudo piore.

— Onde esta as crianças?

— Dona Camélia as levou a cozinha para servir um lanche antes do jantar.


Luísa contou e Aline aceitou meu abraço suspirando enquanto eu acariciava
seus cabelos.

— Vai ficar tudo bem. Afirmei sem ter a certeza de nada.


*

São Paulo - Bairro Morumbi

A ousadia de Rafael foi por água baixo e olhos esbugalharam ao


abrir a porta do apartamento encontrando os dois homens já conhecidos.

— O que querem? Tentou passar autoconfiança e encarou o namorado da


amiga de Aline.

— Nós viemos conversar. Enrico falou e olhou com seriedade e ele retribuiu
com um ar presunçoso.

— Acho que não temos o que conversar, não é porque vocês são policiais que
podem sair batendo assim na casa dos outros, ou vocês têm um mandado?

— É claro que eu tenho um mandado... — O homem loiro e forte ao qual ele


odiava há meses por estar rondando sua mulher falou sacando sua pistola
automática e mirando no meio da testa de Rafael. — Aqui, pode ler!

— Que merda, Doug, não faz isso. Enrico balançou a cabeça como se
repreendesse o amigo.

— O que? Ele queria um mandado, estou mostrando, vai nos deixar entrar
ou não?

Rafael já não estava mais esnobe, Enrico continuava parado com os


braços cruzados sobre o peito como se achasse tudo aquilo um tédio.

— Vocês são loucos? Eu posso foder vocês!

— Quer falar com o delegado? Ele está aqui do meu lado seu chorão!
Douglas cuspiu as palavras visivelmente irritado. — Anda logo, vem com a
gente.
— Eu não vou com vocês há lugar algum! Se negou retirando o celular do
bolso. — Vou ligar para a polícia.

— Eu já disse que nós somos a polícia seu idiota! Douglas falou levando um
lenço a boca do homem a sua frente que tentou se debater por alguns
segundos até começar a perder as forças.

Os dois homens carregaram o recém desmaiado até o carro dele na


garagem e Douglas assumiu o volante enquanto Enrico seguia no carro de
trás para o local combinado.

Rafael começou a despertar e recebeu um galão de água no rosto,


olhando ao redor se assustando por perceber que já não estava mais em
casa, seu carro estava estacionado perto de onde estava sentado no chão de
asfalto, uma construção que parecia um galpão abandonado, mas não estava
tão longe da cidade, já que podia escutar os barulhos dos carros.

— O que diabos vocês querem? — Gritou aos dois homens. O loiro assumia
o controle da situação enquanto o conhecido estava mais atrás. — Enrico?
Rafael olhou para o homem que tinha encontrado poucas vezes, e que tinha o
tratado amigavelmente.

— Eu só estou aqui para evitar que as coisas saiam do controle, essa história
não é minha. Enrico levantou as mãos se abstendo.

— É, a conversa é entre a gente. — Doug puxou o maxilar do homem a sua


frente e apertou o bastante para machucar. — Gosto do papo reto, mas se for
pra ser torto é com você mesmo, nossa conversa vai se rápida se você
colaborar, é claro.

— Aquela vadia da Aline foi chorar para você, não é? É por isso que estou
aqui?

O soco seco que Douglas atingiu no queixo de Rafael o tonteou, logo


em seguida outro golpe acertou o nariz que minou sangue o deixando caído
no chão.
— Seu desgraçado! Fale assim dela de novo e eu não me importo de deixar
seus filhos órfãos de pai.

— Seu filho da puta! — Rafael cuspiu um pouco de sangue. — Fique longe


da minha mulher!

— Sua mulher é o caralho! Filho da puta é você, seu maluco! Você traiu
Aline, está com outra e se acha no direito de interferir na vida dela? Douglas
o jogou no chão e abaixou o imobilizando de modo que seu joelho ficava
sobre seu peito.

— Homem nenhum vai tomar meu lugar...

— Você só pode ser retardado. — Doug gritou e mais uma vez agarrou sua
arma a engatilhando. — Eu já matei tantas pessoas, Rafael, você só seria
mais um. Me dê a resposta que eu quero para não estourar sua cara e
estragar até o velório.

— Nunca! Sussurrou petulante como se duvidasse.

Doug sorriu como um demônio antes de olhar o amigo perto da porta


ainda com os braços cruzados assistindo toda a cena, mirou a arma no
ombro do homem e disparou. O estampido da arma foi baixo perto do grito
que Rafael soltou ao ser atingido.

— Você é louco! Gritou desesperado tentando se debater.

— Eu estou esperando você dizer, eu disse que não tenho problema nenhum
em te matar.

— Enrico, você é delegado, eu vou denunciar vocês!

— Não é essa a resposta que eu quero, Rafael. Douglas sussurrou mirando


mais uma vez a arma desta vez no seu outro ombro.
— O que você quer que eu diga? Vou deixar Aline em paz, eu juro! Gritou o
homem desesperado enquanto sua camiseta ficava empapada de sangue.

— Repita comigo: Eu sou um otário e peço desculpas por isso, nunca mais
vou intrometer na vida da minha ex-mulher e nem ameaçar a tirar meus
filhos de perto dela. Repita!

— Eu não vou dizer isso!

— Repita! Exigiu o homem apertando mais uma vez o maxilar de Rafael.

— Eu sou um otário... nunca mais vou intrometer na vida dela e nem


ameaçar a tirar meus filhos de perto... —Sussurrou as palavras
entrecortadas por gemidos.

— Eu quero que saiba que isso foi só um brinde do que pode te acontecer se
continuar tentando atrapalhar a vida de Aline, ela agora está comigo, quer
você queira ou não. — O loiro falou pausadamente cada palavra antes de
sair de cima do homem e levantar o celular dele entre os dedos. —Você devia
ligar para uma ambulância, não é todo dia consegue se livrar de uma
tentativa de sequestro relâmpago.

— O que? O homem o olhou sem entender.

— Sequestro relâmpago... foi o que você acabou de sofrer. — Jogou o


aparelho no chão ao lado dele. — Espero que estejamos entendidos.

Deu as costas para o homem que se mantinha deitado no chão e


começou a seguir para a picape preta.

— Isso não vai ficar assim!

— Você tem certeza que quer sair humilhado dessa história, Rafael? Douglas
sorriu friamente e viu o homem baixar os olhos derrotado. — Guarde o seu
orgulho e apenas aceite que foi o fim e você mereceu cada soco que eu te dei,
Aline não está mais sozinha, o único vínculo que vocês possuem agora são os
garotos.

Antes de entrar na caminhonete o loiro olhou mais uma vez para o


homem já sentado no asfalto segurando o ombro ensanguentado. Mirou mais
uma vez sua arma no rumo do homem que os encarava derrotado.

— Já chega cara. A voz de Enrico o repreendeu.

— Eu preciso descarregar essa arma em algum lugar. O tom zombeteiro e


assustador saiu, antes de ele descarregar sua arma na lateral do carro de
Rafael.

— Chega. Enrico segurou a mão do amigo e o olhou por uns segundos. —


Ele entendeu o recado, vamos para casa, vamos voltar para nossa família.
29
Enrico De Giordano
Os olhos de Madalena brilharam quando passei pela porta da sala,
sorri para ela tentando acalmá-la e fazê-la entender que estava tudo bem
mesmo que estivesse em silencio, ela estava com um garotinho no colo
distraído com algo que passava na tela do tablet que o outro garoto um pouco
mais velho segurava.

— Douglas! — Aline gritou se levantando rapidamente e vindo ao nosso


encontro. — Você está machucado? Que tanto de sangue é esse?

— Está tudo bem, gatinha. — Meu amigo segurou a mulher pelo rosto. — Só
estou um pouco sujo...

— Você o matou? Ela sussurrou apavorada.

— Claro que não. — Ele me olhou em cumplicidade. — Está tudo certo, eu


disse que ele ia entender.

— Douglas...

— Amor? Madalena apareceu ao meu lado e segurou minha mão.

— A imagem de você segurando aquele garotinho é a coisa mais linda. Falo a


distraindo e consigo, já que o rubor toma suas bochechas.

— Não tente desviar o assunto, você agiu errado e você sabe.

— Mamãe o moço se machucou? A voz do menininho menor tomou toda a


sala deixando-nos todos estáticos.

— Oi carinha. — Doug se abaixou para ficar da altura do garoto.


— Oi. — Ele o olhou curioso.

— Como você se chama?

— Marcelinho e o meu irmão é o João. — Apontou para o garoto maior que


nos olhava com desconfiança. — E você como se chama?

— Meu nome é Douglas, mas você pode me chamar de Doug se quiser.

— Tio Doug? Levou as mãozinhas pequenas a testa retirando os cachos


negros que caíam sobre.

—É... — Meu amigo sorriu encantado, nada parecido com o homem sem
escrúpulos que estava prestes a ceifar a vida do pai deles.

— Você caiu de bicicleta?

— É, cai. — Doug sorriu sem graça.

— Sua mãe vai brigar com você. Riu arteiro.

— Você caiu de bicicleta tio? O mais velho se aproximou dessa vez com
curiosidade.

— Na verdade... foi de skate.

— Que legal, eu queria andar de skate! O mais velho contou.

— Eu também! O garotinho menor emendou.

—Crianças, deixem o tio Doug ir até o banheiro se lavar, o jantar já vai ser
servido, que tal apostarmos quem chega primeiro a sala de jantar em? Minha
mãe interferiu e as crianças pularam alegres saindo em disparada.

— O que aconteceu? Madalena interrompeu meus passos enquanto meu pai e


minha mãe seguiam para sala de jantar e Aline e Douglas subiam as escadas
para o banheiro.

— Pegue alguma roupa minha. Avisei meu amigo que assentiu.

— Enrico? Madalena me questionou novamente.

— Rafael ameaçou tomar as crianças se Aline se envolvesse com Doug, foi


por isso que os dois estavam separados.

— Ela disse. Madalena assentiu.

— E então. Dou de ombros.

— E então o que vocês fizeram?

— Eu não fiz nada, só fui com Doug para evitar que as coisas saíssem do
controle, correu tudo bem, tenho certeza que Rafael entendeu.

— E por que tanto sangue?

— Porque Doug atirou nele. — Falo espontaneamente e vejo minha mulher


arregalar os olhos chocada. — Mas está tudo bem... foi no ombro.

— Meu Deus.

— Ei. — Seguro seu rosto perto do meu e beijo a pontinha do seu nariz. —
Ele vai sobreviver, Aline e Douglas vão se acertar lá em cima, tudo certo.

— Vocês são loucos.

— Um homem deve proteger sua mulher, meu amor.

— Está dizendo que faria o mesmo?


— Eu faria até pior. — Dou um sorrisinho. — Vem vamos alimentar nossos
bebês e esqueça isso, está tudo bem, amanhã de manhã vamos para Alvorada,
e não quero que você se estresse mais do que já está. — Abaixo o suficiente
para beijar o seu ventre sobre o vestido. — Você está linda, o cochilo foi
bom? Entrelaço nossos dedos enquanto começamos a caminhar para sala de
jantar.
30
Douglas Saragoça
Fizemos o caminho todo até o antigo quarto de Enrico em silêncio.
Aline entrou atrás de mim e se sentou na beirada da cama abaixando os olhos
para o chão, percebi suas mãos tremendo levemente.

Abri o closet e fui em busca de roupas limpas, já estava acostumado a


pegar roupas de Enrico emprestadas quando nos reuníamos aos domingos
para fazer churrasco.

Tirei a camisa suja de sangue e a deixei no chão.


Agarrei a camiseta de algodão cinza e voltei para o quarto ouvindo o primeiro
chiado baixinho.

— Você está chorando? — Senti meu peito apertar e joguei a camiseta de


lado me abaixando a sua frente. — Olha para mim, morena. — Levei um
dedo ao queixo de Aline e levantei seu rosto, os olhos marejados me cortando
o coração.

— Porque está chorando?

— Me desculpa. — Soluçou.

— Pelo o que, meu amor?

— Por te por nessa situação... eu sinto muito...

— Ei, não tem o que pedir desculpas, aquele cara estava te tratando mal e
recebeu o que merecia, não chora, pensei que tínhamos resolvido tudo essa
tarde.

— Ele vai até a polícia... ele vai...


— Eu disse a ele que estava com o delegado ao lado se ele quisesse reclamar.
Sorri me sentando ao seu lado.

— Meu Deus, eu não sei nem o que dizer.

— Diz que namora comigo. Falei espontaneamente e vi o seu choro


interromper para ela arregalar os olhos bonitos para mim.

— O que?

— É. — Dou de ombros. — Namora comigo... agora que Rafael já está ciente


que tem que te deixar em paz, não tem nada nos impedindo.

— O que fez com ele? Aline desviou o assunto.

— Nada demais, conversamos, tive que dar umas ameaças... uns socos. —
Falei tranquilo observando o rosto assustado da minha mulher. — E um tiro.
— Completei.

— Você atirou nele? Levou as mãos a boca.

— Foi no ombro... não é nada, ele vai ficar bem, no máximo imobiliza o
braço uns tempos.

— Como nada, você atirou nele... meu Deus.

— Você está achando ruim? Ele merecia até mais por fazer o que fez contigo.

— Ele é o pai dos meus filhos, Doug.

— E é o cara quem te maltratou e ameaçou.

— Mas...

— Mas nada, cacete, eu já disse que ele vai ficar bem, vamos, responda a
minha pergunta.

— Que pergunta?

— Que pergunta, Aline, a se você vai namorar comigo?

Aline se remexeu ao meu lado e se levantou andando de um lado para o


outro. — Sou recém separada, tenho dois filhos, você tem certeza disso?

— Eu também tenho um filho, você vai conhecer o Theo, tenho certeza que
os garotos vão se entender falando nisso.

Aline sorriu por uns segundos antes de voltar a fechar a cara. — A


cena que eu vi no seu apartamento... eu não vou aceitar traições Douglas, eu
sei que menti sobre o fato de que não estávamos juntos e eu não deveria ter
dito que você não passava de sexo para mim, mas eu não admito que aquilo
se repita.

— Eu sou sincero em tudo que faço, você sabe, agi de forma errada tentando
mostrar para mim que você não era importante, mas você é. Droga! Você é
Aline, eu nunca quis aquelas mulheres apesar de errar em permitir que elas
estivessem lá, eu prometo, nunca vou te enganar, prefiro sofrer eu a te fazer
sofrer. Falei sendo sincero e ela me encarou em silêncio me avaliando.

— E você tem que parar de resolver as coisas no tiro. Pontuou depois de uns
segundos.

— Algumas coisas precisam ser resolvidas no tiro. Dou um sorriso


zombeteiro.

— Não! Cruzou os braços sobre os seios e eu reparei o quanto ela estava


bonita, a roupa grudada no seu corpo gostoso atingiu em cheio ao meu pau
que ainda estava chateado por ter sido totalmente ignorado naquela tarde.

Sim, logo após o banho Aline tinha se negado a tocar em mim, tinha
permitido que eu pedisse desculpas pela pior decisão da minha vida que tinha
sido chamar as duas Marias a colocando deitada nua em minha cama e
lambesse cada parte do seu corpo, tinha a feito gozar três vezes, sendo que a
terceira ela tinha se tornado a segunda mulher na minha vida que eu
conseguia fazer ejacular. A cena tinha entrado para as melhores da minha
mente, ela estava tão excitada e louca que puxava meus cabelos sem dó, tinha
afastado a boca do seu clitóris e substituído por meus dedos, alisava seu
pontinho no mesmo ritmo que a penetrava com a outra mão. Ela tinha se
contorcido e gemido tanto que só por lembrar eu já estava muito duro.

— Namora comigo? Implorei mais uma vez e a vi sorrir. Definitivamente


aquele era o meu sorriso preferido no mundo.

— Eu aceito... mas com a condição, sem traição, sem mentiras e sem mais
tiros no meu ex-marido!

— Feito! Concordei e não contive a alegria a levantando pela cintura e


enganchando suas pernas em meu quadril caminhando para o banheiro
enquanto tomava seus lábios.

— O que está fazendo? Interrompeu nosso beijo.

— Preciso te comer.

— Nem pensar! Descruzou as pernas ficando em pé na minha frente.

— O que? Por que? Falei indignado.

— Porque estamos na casa dos outros, meus filhos estão lá embaixo...

— Vai ser rápido, juro!

— E você ainda está de castigo! Piscou começando a me dar as costas.

— O que? Isso é injusto! Reclamo a puxando de volta.


— Injusto foi eu ver duas vadias fazendo o seu pau de pirulito.

Levei as mãos ao rosto totalmente frustrado e arrependido, — Nunca


vai esquecer aquilo, não é? Merda! Caralho! Porra! — Xinguei frustrado. —
Já pedi desculpas, admiti ter sido um asno, prometi que nunca mais irá
acontecer, você me fez tomar três banhos essa tarde, gatinha... não tem mais
nada daquelas meninas aqui, nunca teve sentimento, esqueça isso.

— Que bom que não teve sentimento, mas eu ainda me lembro. Voltou a
andar e eu a puxei pelo punho.

— Problema nosso! Poxa Aline... eu tô duro, não faz isso, tira a porra da
lembrança da sua mente, me chupa gostoso que você vai ver que só você
importa.

— Não mesmo.

— Então deixa só eu meter um pouquinho, é sério gatinha, eu posso ter uma


síncope das bolas roxas a qualquer momento. Levo sua mão até meu cacete
duro e inchado. Vejo os olhos dela baixarem para meu jeans volumoso.

— Por favor... deixa. Faço minha melhor cara de drama.

— Porque você não vai tomar banho?

— Outro? Você quer me derreter? Falo irritado e ouço a sua risada gostosa.

— Para se acalmar, estão esperando a gente para jantar Douglas.

— Eles já devem estar comendo, quem não tá comendo aqui sou eu, apesar
de estar morrendo de fome! Eles sabem que precisávamos conversar.

— Conversar.

— A Aline, cacete, você vai ficar fazendo esse jogo toda vez que formos
transar? Eu já aviso que vai ser bastante então.

— Não é jogo. — Ela revirou os olhos. — Eu só ainda estou com raiva de


você. — Falou e fez um beicinho lindo e emburrado que me fez ficar louco e
completamente chateado por ter feito a bobagem de levar mulheres a minha
casa depois de já saber que estava apaixonado por ela.

— Então me castiga de outro jeito, bate na minha cara se quiser, você vai ser
a primeira a fazer isso, mas precisamos trepar. Choraminguei e ela continuou
em silencio por um tempo. Estava prestes a desistir quando senti suas mãos
descerem para o cós da minha calça.

— Que jeito eu te castigaria, Doug? Me dê ideias, eu estou muito chateada


ainda, mas eu realmente gosto de você e isso me deixa ainda mais irritada,
como eu posso te castigar? Te dando um tiro? Sorriu e eu ri de volta pela
ousadia.

— Castiga sentando em mim até esfolar minha pica.

— Ou te chupando até sua alma sair do corpo pra você nunca mais ousar a
deixar outra pessoa tocar no que é meu.

Ergueu uma sobrancelha e me apertou de novo por cima do


jeans, voltei a rir sentindo a onda gostosa de prazer me atravessar pelo
mínimo contato que fosse.

— Uma boa ideia essa segunda opção! — Pisquei de um olho só e soltei uma
lufada de ar ao sentir sua mão adentrar por minha cueca e segurar minha
ereção. — Merda! Xingo entre os dentes.

— Senta aí! Me levou de volta para o quarto e me empurrou na cama me


fazendo cair meio deitado. Suas unhas afiadas abaixaram meu jeans
juntamente com minha cueca e joguei a cabeça para trás entrando no paraíso
ao sentir sua boca sugar a cabeça do meu pau enquanto a outra mão apertava
minhas bolas.
— Ah... isso caralho!

— Estava gostoso assim enquanto elas faziam, seu desgraçado?

— Não, só você é capaz de fazer assim. Falei querendo sorrir pelo


xingamento, mas me mantive sério pelo fato de que era assustador para mim
falar aquilo sabendo que era a verdade. Aline tinha me amarrado literalmente
pelas bolas, durante a minha vida toda eu não tinha me sentido assim com
nenhuma mulher, eu a queria por perto e comigo, para sempre.

— É mesmo? Então eu vou te chupar até você ficar a ponto de gozar.

— Ah cacete! Gemi levando as mãos até seu rosto para retirar os fios de
cabelos que impediam de vê-la subir descer em meu mastro. — Lambe seu
macho, sua gostosa! Implorei recebendo um choque na espinha cada vez que
a via subir e descer, lamber minha ereção e brincar com minhas bolas
chupando uma de cada vez. Eu amava aquela mulher, com todas as minhas
forças nem entendia como tinha vivido tanto tempo sem ela.

— Vou gozar... merda Aline! — Avisei e ela se manteve firme. — Eu te amo,


porra! Soltei espontaneamente e vi seus olhos brilharem pregados nos meus
antes de se afastar na última hora interrompendo meu ápice.

— Que belo jeito de dizer que me ama. Riu limpando a boca e se pondo de
pé.

— Volta aqui. Implorei e a vi sorrir. Eu estava frustrado a ponto de explodir,


qualquer toque no meu cacete e eu gozaria, mas eu queria que ela fizesse.

— Vamos descer.

— Ah, mas não vamos mesmo. A puxei para a cama e a coloquei embaixo de
mim com tamanha rapidez para que ela não tivesse chance de escapar. Desci
as mãos por seu vestido de tecido fino florido e ergui aproveitando a fenda da
saia. Meus olhos brilharam e cheguei a ficar com agua na boca ao ver a
lingerie de renda que cobria sua boceta.

— Me fala que você quer de verdade. Pedi ainda encarando o meio de suas
pernas enquanto minhas mãos seguravam seus pulsos sobre a cabeça.

Aline não respondeu, mas moveu o quadril abrindo as pernas e o


erguendo na minha direção. Ergui os olhos para seu rosto e encontrei seu
sorriso safado que eu era apaixonado.

— Me fode, seu cretino. Respondeu e não perdi mais tempo, soltei suas mãos
que imediatamente vieram para meu pescoço e ombro, afastei sua calcinha e
me deliciei ao ver que ela estava todo o tempo excitada, levei dois dedos e
brinquei espalhando todo seu mel a fazendo soltar alguns gemidos baixinhos
antes de guiar entrando nela.

— Eu não vou aguentar muito tempo. Avisei.

— Nem eu, meu lindo, entra com força, vai. Pediu e eu atendi, entrei até o
talo e a vi revirar os olhos no mesmo instante que eu quase urrei de prazer ao
sentir sua boceta apertada e quente ao meu redor.

— Eu te amo. — Voltei a falar e ela me encarou maravilhada. — Eu te amo


mesmo, de verdade, acredita em mim. Falei pausadamente enquanto entrava e
saia.

— Estou apaixonada por você, Douglas. Sussurrou na minha boca. Não era
um eu te amo, mas mesmo assim meu coração se aqueceu a beijei tão
eroticamente enfiando minha língua na sua boca no mesmo ritmo em que
entrava nela. Aline era meu paraíso particular, e para tê-la valia a pena pecar,
eu tinha certeza disso.

Ela se agarrou em mim e torceu os dedos no meu cabelo puxando com


força. Senti o tremor de suas pernas cruzadas em minha cintura.

— Vou gozar. Sussurrou e eu cheguei a prender a respiração para continuar o


ritmo até que ela terminasse e eu pudesse ir.

Poucas coisas na vida eram consideradas as imagens mais lindas que


eu já tinha visto. Theo quando nasceu, e a cada sorriso que ele me dava, cada
sorriso que Aline dava e também amava quando ela estava distraída olhando
para o nada como se eu decidisse algo de extrema importância. Mas assistir
Aline gozando sem dúvidas era perfeito, o jeito que seus peitos balançavam
se empinando, o pescoço jogado para trás e os olhos fechados com força, a
boca carnuda levemente aberta enquanto sua garganta rugia o ápice.

— Aí meu Deus! Gemeu e então eu me deixei ir, gozei como um louco


chegando a perder os sentidos por alguns segundos.

— Isso foi... — Tentei dizer e ela riu me interrompendo ao dizer:

— Puta que pariu! Deveria ficar com raiva de você mais vezes.

— Não mesmo. Suspirei a olhando de rabo de olho.

— Precisamos descer, meus filhos estão aí.

— A gente já vai... Enrico disse que vai se afastar com Madalena até
conseguirmos prender Denise.

— Estou sabendo... eu acho que é o melhor a se fazer, não são somente os


dois agora, se acontecer algo com os bebês Enrico nunca se perdoaria.

— É verdade, você conheceu ele agora, mas sou amigo do Enrico há anos, só
eu sei o que esse cara passou quando Patrícia morreu... de mentira aquela
ordinária. Rolei e a abracei deixando meu rosto perto do seu.

— Eu nem quero imaginar... Madalena também sofreu tanto, fico feliz que
eles tenham se encontrado.

— Eu também, porque eles se encontrando fizeram a gente se encontrar.


— Isso foi fofo. Ela riu.

— É, eu sou muito romântico.

— Menos quando deixa suas putas chuparem seu pau. Resmungou se


sentando na cama e começando a ajeitar sua roupa amassada.

— De novo essa história? Perguntei derrotado. — Você vai ficar me jogando


na cara isso até quando?

— Até estivermos velhos! Cruzou os braços petulante. — Vamos logo,


precisamos pegar uma parte desse jantar, e eu te apresentar oficialmente aos
meus filhos.

— Você vai me apresentar? Falo totalmente surpreso.

— Você não me pediu em namoro? Então sim, vou te apresentar. Deu de


ombros.

— Caralho, eu preciso tomar um banho, não posso ir conhecer meus enteados


assim. Levantei da cama nervoso.

Aline revirou os olhos mas sorriu enquanto me via aparentemente apavorado.

— Você não quer?

— É claro que eu quero, eu quero tudo com você, morena linda da minha
vida. Afirmei sorrindo e totalmente feliz, pois eu realmente queria.
31
Madalena Cereja
Estava encurralada, mais uma vez eu estava no armazém em que
Carlos Alfredo tinha me mantido presa quando me sequestrou. Os passos
cada vez mais perto me faziam tremer enquanto me mantinha abaixada no
canto escuro tentando me passar despercebida, mas foi em vão.

Denise apareceu ao meu lado e agarrou meus cabelos com força me


fazendo gemer e me puxando de modo que ficasse de joelhos a sua frente.
Abracei meu ventre com medo do que aconteceria comigo.

— Pensou mesmo que ia escapar de mim? Ninguém escapa de mim! Sua


empregadinha.

Tentei abrir a boca para gritar, mas o cano da sua arma estava pregado
em meus lábios

— Eu vou matar você e esses malditos bebês que você carrega.

— Deixe que eu mesmo mato essa bastarda! A voz que frequentou meus
pesadelos por tanto tempo alcançou meus ouvidos e a imagem do homem
saiu da escuridão se aproximando o bastante para que eu pudesse discernir,
Joaquim Rodrigues estava na minha frente também com uma arma em punho.

Era o fim da linha.

— Madalena! — A voz de Enrico me chamou e eu tentei localiza-lo com os


olhos, mas era escuro demais. — Madalena, amor acorde, estou aqui.

Abri os olhos assustada e tensa, encarei o rosto preocupada de Enrico


debruçado sobre mim.
— Você estava tendo um pesadelo, paixão. Me abraçou com força e eu não
fui capaz de segurar as lágrimas que rolavam. O quarto que estávamos não
era conhecido por mim, havíamos chegado em Vila do Sol naquela manhã e
tínhamos nos hospedado na melhor pousada da cidadezinha. O lugar era
considerado luxuoso ali, e eu nunca tinha colocado os pés quando vivi por ali,
mas Enrico tinha se decidido ficar já que ir e voltar para Campo Grande
enquanto nos reuníamos com o advogado que abrira o testamento dos
Rodrigues seria cansativo.

— Foi horrível Enrico... Denise e Joaquim estavam comigo naquele


armazém... eles iam me matar.

— Ei, eu estou aqui. Você está com muita coisa na cabeça Madalena, eu sei
que isso está sendo difícil demais, mas logo vai acabar, eu prometo! Beijou
minhas pálpebras molhadas e acariciou minhas bochechas.

— Parecia tão real. Você está certo sobre tudo, parece que desde que fui
embora daqui nada foi normal em minha vida.

Enrico me olhou por uns segundos como se estivesse envergonhado.

— Eu sei que não tem sido fácil desde que nos conhecemos Madalena, eu
peço desculpas por ter tornado a sua vida nessa bagunça.

— Ela já era uma bagunça. — O interrompi. — Ou você já se esqueceu


porque estamos aqui?

— Nem se compara em ser sequestrada por traficantes internacionais.

— São todas farinhas do mesmo saco, os Rodrigues, Denise e toda aquela


corja... nossa sorte é que Joaquim está morto, menos um.

— Joaquim está morto e Denise vai ser encontrada, nunca mais eu vou te
perder de vista.
— Eu sinceramente confio em você... só que meu pressentimento não é esse.
Falei sentindo meu coração apertado e deixei Enrico sem palavras. — Ele me
abraçou com força enquanto acariciava meu cabelo. — Que horas são?
Observei a pequena janela escancarada e o céu lá fora.

— Já passam das três, você capotou após chegarmos do laboratório. Falou se


referindo ao fato de que tínhamos ido até o laboratório e feito a retirada de
sangue para provar se eu era ou não herdeira daquela maldita família.

— Não acho que foi só retirar o sangue que me deixou cansada. — Sorri me
espreguiçando na cama me lembrando de como ele tinha me distraído com
sexo assim que chegamos na pousada. Ainda estava tensa com tudo e com o
fato de que só poderia ir ver Vicente daqui três dias, ele já tinha sido
transferido para o presídio de Campo Grande e fora do dia das visitas só era
permitido ver seu advogado.

— Você já foi mais jogo duro, sabia? Passou seus braços pela minha cintura
nua.

— Antes eu não carregava dois bebês, eles sugam minha energia. Ri.

— Como eles estão? Sua mão passou por meu seio enchendo a palma e
apertando antes de descer e pousar abaixo do estomago, onde uma pequena
bola dura já fazia evidencia.

— Ótimos, eu acho... não estou nada enjoada agora.

— Quando voltarmos vamos poder descobrir o sexo deles.

— Estou ansiosa. Suspirei sonhadora, eu tinha grandes esperanças de que


seriam dois menininhos, só não tinha dito isso a Enrico.

— Você não está com fome?

— Não. — Me remexi de novo até ficarmos de narizes colados. — Amor...


ainda não conversamos sobre seu encontro com Patrícia, não quer me contar
sobre isso? Falo meio receosa.

— O que temos a dizer? — Enrico não desviou os olhos dos meus. Seus
olhos verdes límpidos escureceram com uma floresta durante a noite. — Foi
totalmente estranho e doloroso.

— Eu acho que sinto muito por ela ter mentido e feito o que fez.

— Patrícia arruinou minha vida desde que entrou nela. — Sua voz magoada
saiu cortante. — Usou do fato de que estava apaixonado para acabar com
minha vida dia a dia, sofri muito quando achei que ela tinha morrido naquele
avião, ainda mais carregando o filho que eu pensava ser meu. Me senti
culpado, ela não queria engravidar, mas aí apareceu grávida... e depois de
carregar a dor por anos descubro que nem era meu.

— Eu sinto muito.

— Ver ela se matar não me doeu nem me afetou, não dessa vez Madalena. —
Sua profunda raiva transparecia em sua voz. — Se ela não fizesse o que fez
ela ainda continuaria morta para mim.

Assenti, entendendo que assim como eu Enrico nunca curaria certas


feridas. Afaguei os fios sedosos do seu cabelo e ele subiu sua cabeça até
nossos lábios se encontrarem. Nosso toque se fez em voltas lentas e
compassadas de língua.

— O jeito que eu amo você, não se compara em como eu amei ela um dia,
saiba disso. Falou cessando nosso beijo.

— Eu sei, não é isso que me preocupa. Nossas testas se encostaram e o


silencio flutuou entre nós.

— Então o que te preocupa? Ergueu o queixo se concentrando em minhas


pupilas.
— Que você nunca se cure, assim como eu sempre tenha esse trauma, porque
ver você com esse ódio me faz me sentir inútil e impotente, queria poder
retirar tudo isso que você sente.

— Você aniquila tudo, Madalena, desde que chegou... e desde que


descobrimos os bebês eu sinto que realmente estou tendo a oportunidade de
ser feliz de verdade.

— Eu estou aqui para você, assim como você está para mim. Segurei seu
rosto entre as mãos.

— É isso que me deixa tranquilo. Sorriu um pouquinho antes de abrigar o


rosto na curva do meu pescoço.

— Que bom. Voltei a afundar os dedos em seu cabelo afagando da maneira


que podia.

— Quando você me conheceu... eu não gostava de muita luz porque estava


chovendo bastante na noite em que forjaram o acidente, viver no cinza me
fazia reviver todos os dias o porque eu não merecia ser feliz de novo.

— Mas você merece, sempre mereceu.

— Eu não sabia disso até você chegar, Madalena. Sorriu verdadeiramente e


meu coração derreteu encarando sua íris verdes.

— Quero te levar há um lugar.

— É? Levantou as sobrancelhas curioso.

— Sim, ainda está cedo, podemos ir agora?

— Aonde exatamente?

— Minha antiga casa, quero ir lá mais uma vez, e com você.


— Tem certeza?

— Sim! Não sei se alguém foi até lá, ou sequer se ainda está de pé, mas eu
quero ir, quero que conheça, quero mais uma vez ter uma lembrança.

— Lembrança do seu pai? Enrico perguntou meio receoso.

— Tudo ali me lembra dele, e independente do que esse exame mostrar, ele
sempre será o homem que cuidou de mim e me amou.

— Vamos então. Enrico se levantou e me ajudou a ficar de pé.

Meia hora depois estávamos dentro da picape que Enrico havia


alugado, seguíamos a estrada de terra que levava a parte afastada de Alvorada
das Almas, lugar onde já se era considerado parte das terras dos Rodrigues.

Fomos pelo caminho todo calados, Enrico aproveitava o fato do carro


ser automático para dirigir com apenas uma mão e manter a outra entrelaçada
com a minha. Meu coração palpitava dolorido em pensar que estava voltando
ao lugar que pensei nunca mais poria os pés, e que dessa vez seria definitivo
a despedida.

Ao longe a estrada foi se estreitando e a caminhonete foi impedida de


seguir, descemos e começamos uma caminhada tranquila pelo pequeno trieiro
que levava ao meu antigo chalé.

A casa antiga tinha paredes de barro, as janelas de madeira e o


pequeno alpendre ainda tinha a cadeira que minha mãe costumava sentar para
costurar, a escada da entrada onde aos fins de tarde meu pai sentava para
cantar suas músicas, o pequeno pé de limão que eu tinha plantado ainda
criança.

Nem senti meus olhos se enchendo, as lágrimas apenas rolaram ao


perceber que depois de ter ido embora e ter conhecido tantas coisas, eu agora
enxergava o quão precário era minha vida ali, sem nunca ter visto TV, ter um
celular, ou que fosse andar em um elevador de um prédio, a minha vida
antiga era regrada a luz do sol, dormindo ao entardecer, e acordando antes do
amanhecer.

— Era aqui? Ouvi Enrico ao meu lado, olhei seu rosto que parecia perplexo e
chateado.

— Era. Concordei ainda sentindo as lágrimas descerem pela bochecha.

— Você quer entrar?

— Quero, quero sim, vem comigo. Concordei o puxando pela mão rumo a
casa, eu estava entrando no meu passado, mas dessa vez de mãos dadas com
meu presente e futuro.
32
Enrico De Giordano
Eu sempre tinha sido privilegiado, nascido e criado em meio ao luxo,
viagens internacionais, melhores colégios, melhores roupas. Ver Madalena
ali, meio aquele cenário tão simples e pobre me mergulhava na realidade de
privilégios e quebrava meu coração em pedaços incontáveis.

Saber que ela tinha crescido ali, sem nenhuma oportunidade enquanto
eu gozava de tudo do bom e do melhor me fazia ver que não era somente eu
ou Madalena, o mundo era cheio de Enricos e Madalenas, e aquilo era
injusto.

Prestei atenção enquanto ela me puxava até a porta do pequeno e


velho casebre, no alpendre alguns móveis velhos ao qual ela contava sobre a
mãe costurar todas as tardes, o pai tocar o violão que ela tinha levado consigo
para São Paulo.

— Tome cuidado onde pisa, faz muito tempo que está fechada, pode ter
algum animal peçonhento.

— Então é melhor não entrarmos. Me contrapus.

— É só tomarmos cuidado. Riu de meia boca e abriu a porta de madeira que


rangeu.

O lugar era tão simples que eu não demorei cinco segundos para
reparar em todos os móveis. O fogão de lenha ainda tinha em cima um bule e
Madalena explicou que quando teve que fugir era de manhã, tinha feito o seu
café e não teve nem tempo de nada, o que mostrava que a casa tinha ficado
intocada até então.

Ela andou pelo lugar enquanto me mantive atento esperando que


algum escorpião ou cobra aparecesse e eu tivesse que enfrentar sendo que
nunca tinha matado um bicho desses na vida, se fosse uma pessoa eu estaria
pronto, era só sacar a minha pistola automática na cintura.

— Deixe de ser medroso. Madalena colocou as mãos na cintura sorrindo.

— Não é medo, é cuidado, você está grávida, não devia estar aqui. A olhei de
cara amarrada e ela sorriu mais ainda vindo na minha direção.

— Eu vivi aqui, Enrico. Eu só queria dar uma olhada pela última vez.

— É tão... simples. Medi minhas palavras e ela me olhou de canto de olho.

— Todos de Alvorada vivem assim, os malditos tomaram tudo de todos.

— É por isso que você disse que irá devolver?

— Sim! — Concordou balançando a cabeça. — Se eu for um deles tudo vai


ser devolvido, é o certo, e depois quero que derrubem esse lugar.

— Derrubar?

— Quero que esse lugar acabe, que ele fique vivo apenas na minha memória.

Deu de ombros e eu concordei com o seu pensamento, até porque não


seria difícil derrubar aquele lugar que parecia prestes a desabar.

— Entendi. Concordei e a vi fazendo a sua carinha atrevida. Eu já conhecia


as faces de Madalena, por mais que sempre me surpreendesse eu sempre
sabia quando estava prestes a aprontar algo.

— O que? Me preparei e ela riu ainda mais.

— Vou te mostrar um lugar, vem.


— Que lugar? Finquei meus pés no chão e ela tentou me arrastar.

— Onde eu tomava banho.

— Seu banheiro? A olhei sem entender e meu coração se aqueceu ao ouvir


sua risada, apesar de tudo ser tão trágico ela parecia feliz em estarmos ali.

— Não seu bobo, a privada é no fundo da casa. Vou te mostrar meu lugar
favorito aqui. É lá fora.

Voltei a andar a acompanhando me sentindo aliviado em sair dali de


dentro. Madalena agarrou meu braço e nos colocou a andar entre a mata.

— Amor você sabe onde está indo? Isso aqui não tem trilha e se a gente se
perder?

— Enrico, você esquece que eu cresci aqui? É claro que eu sei onde eu estou
indo. Revirou os olhos e eu me mantive calado pelos próximos minutos até
ouvir o barulho de queda d'água.

— Isso é uma... — Minhas palavras cessaram ao ver a clareira e a pequena


cachoeira. O lugar era lindo, o rio parecia não ser tão fundo e as pedras
molhadas na beirada brilhavam devido ao sol da tarde baterem sobre elas.

— Gostou? Ela me soltou o braço e se aproximou da água, se abaixou


molhando as mãos sorrindo feliz.

— É incrível... então é por isso que você gosta tanto daqui.

— Eu venho aqui desde criança... vinha com minha mãe, depois sozinha,
depois com Vicente. Arregalou os olhos ao perceber o que tinha dito. Mordi a
boca tentando segurar a raiva e o ciúme que me corroía toda vez que ela
falava sobre aquele cara, ainda estava me preparando para o fato de que
íamos visitá-lo daqui dois dias.
— Vocês se encontravam aqui? Perguntei com um misto de ciúme e
curiosidade.

— Vamos nadar?

— Não muda de assunto, senhorita Cereja. Cruzei os braços sobre o peito e


quase sorri ao reparar seus olhos sobre meus músculos tensionados,
Madalena já me confidenciara o quanto o seu tesão aumentava quando eu
assumia uma versão brava.

— Não me chame de Cereja. Revirou os olhos para mim e me deu as costas


levando as mãos a barra do vestido de alcinhas que usava e o tirando.

Meus olhos quase pularam ao me deparar com ela totalmente nua.

— Você vem ou não? Se virou de frente enquanto retirava sua sapatilha.

Levei minha mão a gola da camiseta e a arranquei, retirei as botas e


desafivelei o cinto, deixei tudo empilhado sobre uma pedra maior, coloquei
minha arma e o meu jeans. A olhei nua enquanto só me restava a cueca.

— E se alguém aparecer?

— Não vem ninguém por essas bandas, somos só nós. Encorajou e eu assenti
descendo minha cueca. Madalena mordeu os lábios ao ver que apesar de tudo
eu já estava totalmente duro.

— Um mergulho? Ergueu a sobrancelha enquanto seus olhos ainda estavam


num ponto especifico em mim.

— Muito cuidado. Estendi a mão para ela antes de pularmos na água. Eu


submergi antes, tirei os cabelos dos olhos e esperei ela retornar, tentei
encontra-la e um misto de medo já estava me tomando quando senti suas
mãos em meus ombros, virei para trás me deparando com ela toda linda e
sorridente.
— É gelada. Reclamei.

— É porque já está entardecendo, vem, vamos aproveitar, temos que ir daqui


a pouco, se escurecer muito fica perigoso algum animal

Suas mãos subiram para o meu cabelo, e as minhas suspenderam suas


coxas encaixando seu corpo no meu. Mexi as mãos até que minhas palmas
estivessem posicionadas em sua bunda apertando a carne macia.

— Você vinha aqui com ele? Insisti novamente sentindo o ciúme ser mais
forte do que a vontade de comer ela.

— Vicente é passado. — Madalena balançou a cabeça. — Mas sim, eu e ele


nos conhecemos aqui.

— Se conheceram aqui? Porra como eu vou competir com isso?

— Não é uma competição Enrico!

— Mas você gostou dele, não gostou?

— Eu estou com você.

Ela mordeu meu lábio e se remexeu agasalhando apenas a cabeça do


meu pau dentro dela. Um gemido rouco saiu da minha garganta quando ela
rebolou massageando a cabeça da minha rola. O fato de estarmos na água
deixava tudo ainda mais intenso.

— Você é minha, não é Madalena?

— Sua. — Assentiu entredentes. — Só sua. — Se mexeu encaixando nossos


corpos.

— Sua safada... — Abracei seu corpo nos girando na água a carregando para
o lado um pouco mais raso. — Você já quer pau de novo, não é? Questionei e
ela gemeu voltando a me beijar de um jeito faminto.

Soltei seus braços e deixei que ela me surrasse com movimentos


gostosos de investidas rápidas enquanto puxava meu cabelo com força. Os
barulhos dos nossos corpos se movendo na água misturados com respirações
e cachoeira caindo ao fundo me levavam a um verdadeiro frenesi.

— Você é tão gostoso... Enrico. Deixou meus cabelos e cobriu os seios os


apertando. O que se tornou a minha cena favorita na vida perdendo apenas
para quando ela jogava a cabeça para trás para gozar.

— Você quem é! Cravei os dedos em sua cintura e comecei eu a movimentar,


metendo até o fundo fazendo com que gritos do fundo da sua garganta
saíssem fazendo eco pelo local.

— Diga de novo que você é minha. Pedi desesperado me afundando nela.

— Sua! — Madalena confirmou cruzando as pernas em minhas costas. — É


só você Enrico, só você.

— Eu te amo. Confessei contornando seu lábio inferior com o dedo.

— Eu te amo. Sorriu lindamente para mim acalmando o meu ciúme


transbordando meu coração com suas palavras e com as melhores sensações
que já sentira na vida inteira estando dentro dela.

Suas mãos deslizaram pelas minhas costas enquanto mais uma vez
nossas línguas se enroscavam em uma velocidade que aumentava de acordo
com minhas estocadas.

Interrompi o beijo e desci a boca lambendo seu pescoço até a


mandíbula. Madalena gemeu alto e me apertou contraindo ainda mais sua
boceta apertada.

— Eu...
— Ainda não. — Diminui nosso ritmo e inverti os papéis de modo que eu
ficasse contra as pedras e ela ficasse montada sobre mim. — Senta, cerejinha.
Exigi franzindo o cenho e segurando meu pau pela base enquanto sorria.

Madalena revirou os olhos, mas moveu o quadril para cima se


encaixando e lambuzando a ponta da minha ereção na sua entrada. Puxei o ar
e levei minhas mãos em sua cintura a incentivando a sentar. Apoiou as mãos
em meu peito e eu desci as minhas para seu bumbum apertando as duas
bandas antes de deixar um tapa estalado no lado esquerdo que a fez me olhar
selvagem enquanto parou de se mexer me deixando todo dentro.

— Sua gostosa! Respirei pesado e ela se abaixou o suficiente para nos


beijarmos.

Deixei Madalena me cavalgar no ritmo que ela queria. Ela espalmou


meu tórax e abriu mais as coxas galopando como uma boa amazona. Ignorei
o fato de estar sobre uma pedra fria e só me concentrei que sua boceta
deliciosa encharcava meu pau o apertando como um punho forte.

— Eu vou gozar, Enrico... pelo amor de Deus, que delícia! Clamou e eu gemi
junto nosso beijo tragando um ao outro.

Madalena gozou primeiro jogando a cabeça para trás, seus seios


ficando ao nível dos meus olhos. Arfou quando tomei um mamilo na boca
revelando seu orgasmo potente que a estremecia.

Deitou seu corpo sobre o meu toda manhosa e a amparei continuando


a meter nela, me sentindo tão perto de gozar que parecia que meu corpo
estava se desintegrando naquele frenesi.

— Caralho! Murmurei segundos antes de gozar chamando seu nome no seu


ouvido e deixando um urro rouco soar pela floresta que nos rodeava, me
derramando por completo dentro dela, só depois firmei as mãos em sua bunda
e me retirei devagar, observando minha porra escorrer. Sorri com a sensação
ridícula de que estava marcada por mim.
— Eu te amo. Madalena suspirou chamando minha atenção. Voltei a pegá-la
nos braços e andei para parte mais funda capturando seus lábios num beijo
gostoso enquanto a água fresca tranquilizava nossos corpos pós-orgasmos.

Madalena estava enroscada em, distraída encarando o céu quando


com medo a questionei: — Você está feliz formar uma família comigo? —
Morria de medo de Madalena me odiar pelo fato de ter ficado motivado a
engravidá-lo por pura vontade e arrogância e me lembrando do bebê de
Patrícia que eu pensava ser meu.

— É claro que eu quis e quero... não tinha mais ninguém e você vai me dar
de novo uma família, Enrico.

As palavras inesperadas provocaram batidas fortes em meu peito e eu


confessei me sentindo emocionado: — Você é de longe a melhor coisa que
aconteceu na minha vida toda, Madalena.
33
Madalena Cereja
Depois da nossa tarde maravilhosa na cachoeira voltamos pelo
caminho que fizemos com Enrico ao meu encalço perguntando a cada minuto
se estávamos indo pelo caminho certo. Quando nos aproximamos de novo da
velha casa eu segurei sua mão e o guiei para o lugar onde meu pai havia sido
enterrado nos fundos da casa.

— É seu pai? Ele perguntou quando paramos frente a cruz improvisada de


madeira.

— Foi o máximo de dignidade que consegui dar para o homem que cuidou de
mim. Meus olhos marejaram.

— Tenho certeza que tanto ele quanto a alma de sua mãe a protege de onde
estiverem.

— O sonho dele era que eu conseguisse sair daqui, acho que ele está feliz.

Fiquei em silêncio e fiz uma pequena oração pedindo que as almas


dos meus pais estivessem em paz, deixei as lágrimas rolarem e respirei fundo
antes de olhar para o homem ao meu lado.

— Foi uma pena ele não ter conseguido viver o sonho dele, ter feito a
pousada dar certo... quando tudo acabar, se eu for mesmo dona desse lugar,
vou derrubar essa casa para que a floresta tome conta de tudo de novo. Falei
com angustia e Enrico continuou calado ao meu lado. Depois de mais alguns
minutos voltamos a andar até onde tínhamos deixado a picape e então
voltamos para Vila do Sol.

Chegamos já com o anoitecer e foi somente o tempo de tomarmos


banho para irmos em busca de um jantar em um dos restaurantes da cidade.
As pessoas que me conheciam pela época que meu pai tentara montar
a pousada se aproximavam e ficavam chocadas quando eu apresentava Enrico
como meu namorado.

— Acho que agora todas as meninas daqui vão comprar uma passagem para
São Paulo, mal sabem elas que tirei a sorte grande. Brinquei levando a colher
com meu sorvete de coco a boca.

— Passagem porquê? Ele perguntou sorrindo sem entender.

Larguei o talher e encarei seu rosto perfeito. — Para ver se


conseguem achar um cara igual você.

— Até parece. Sorriu envergonhado.

—Você não tem noção do quanto é perfeito, não é?

Sua testa se enrugou e ele levou a colher de mousse a boca antes de


me responder. — Obrigado, você também é linda meu amor.

— Não quanto você. Dou de ombros e ele revira os olhos.

— Meus dois melhores amigos queriam ficar com você, se eu não fosse
rápido tinha te perdido, sabia?

— Eu só tive sorte.

— Realmente você teve muita sorte em ter esse traseiro, a propósito não pude
aproveitar o bastante dele durante essa tarde, gostaria de requerê-lo agora a
noite. Enrico piscou depravado e sorriu me fazendo apertar as pernas
excitada.

— Seu pervertido!

— Você gosta. Riu abertamente.


— Madalena, é você mesmo? Seu Francisco, o homem que ajudara enterrar
meu pai e com certeza o seu único amigo fiel enquanto teve vida se
aproximou da nossa mesa.

— Seu Francisco! — Levantei sorridente e Enrico me acompanhou. — Sou


eu mesmo.

— Então ele estava certo em dizer que você voltaria... —Falou parando a
dois passos de mim.

— Ele?

— Vicente. Respondeu e percebi a postura de Enrico mudar.

— Como assim seu Francisco?

— Eu vim porque me disseram que você estava na cidade, preciso entregar


para você algo que Vicente pediu.

— Mas eu vou visitá-lo. Contei.

— Vai visita-lo onde, no cemitério? Seu Francisco me olhou tristemente e eu


percebi que algo estava errado.

— O que disse? Senti uma tontura repentina e deixei meu corpo cair na
cadeira.

— Madalena? — Enrico se pôs ao meu lado. — O que foi?

— Não foi nada demais, a pressão só deve ter caído um pouquinho.

— É Francisco seu nome, não é? Estendeu a mão para o senhor a nossa


frente.

— Sim senhor.
— Sou Enrico. Sou noivo de Madalena, estou acompanhando ela para
cuidarmos de algumas situações.

— Sobre ela ser dona de tudo, nós aqui da região toda já "tamo" sabendo.

— Isso. — Enrico respondeu me olhando e eu continuava em transe. — O


senhor disse algo sobre Vicente, o que tem ele? Nós vamos até Campo
Grande visitá-lo no fim da semana, o nosso advogado disse que não
conseguiríamos vê-lo fora do dia de visita.

— Não sei o que ele falou "procês", mas a verdade é que "ceis" tão
desinformado. Vicente foi encontrado morto na, ele faleceu há quase um mês.

O baque em meu peito foi grande. E as palavras de Francisco se


repetiam em minha mente como um sino: " encontrado morto"

— Seu Francisco, isso não pode ser verdade...

— Me desculpe falar assim filha, mas você sabe que eu gostava muito dele...
eu o visitei duas vezes, uma quando ainda não o tinham levado para capital
ele ainda estava no hospital, mas lá ele estava sedado, só falei com ele
quando já estava em Campo Grande... lá ele parecia diferente.

— Diferente? Perguntei sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Ele parecia feliz, Madalena... ele estava feliz! Eu não entendi nada, mas
ele disse que tinha terminado o que tinha que ser feito.

— Meu Deus. Levei as mãos ao rosto e Enrico passou o braço por meu
ombro.

— Ele acabou com o velho, Madalena, o corpo de Joaquim ficou


irreconhecível, Vicente dilacerou o corpo, e arrancou a cabeça de Joaquim,
quando os policiais chegaram encontraram a mesma em cima da mesa do
escritório, servido na bandeja de charutos.
Enrico me olhou surpreso e eu balancei a cabeça totalmente abalada.

— E sobre a morte dele?

— Não se sabe quem foi, ele estava arrumando umas confusões lá dentro,
parece que não era a favor de humilhações e defendia uns mais fracos,
dormiu e não acordou, mataram ele com um pedaço de vidro.

Minha visão já estava embaçada de tanto chorar, as lembranças de


Vicente invadiam minha mente me deixando fraca. Era doloroso saber que
ele tinha tido um final tão triste por uma vingança.

— Você disse que ele pediu que entregasse algo a Madalena.

— Uma carta! Ele me entregou quando eu o visitei e contei a especulação de


que você é a dona de tudo, pediu que te entregasse, ele disse que você
voltaria e que eu te entregasse.

— E cadê essa carta?

— Aqui. — Falou tirando um envelope dobrado do bolso. — Eu sinto muito


por tudo, Madalena, e fico feliz em ver que você está bem, seu pai estaria
feliz.

— Obrigada seu Francisco, obrigada. Levei meus braços até ele que me
recebeu em um abraço, o meu choro não parou enquanto o homem acalentava
minha dor.

— Você é mesmo herdeira deles, Madalena?

— Eu ainda não sei... os exames ficarão prontos ainda seu Francisco, mas eu
quero que saiba que se eu for, tudo vai ser devolvido a cada um que perdeu
terras para Joaquim, eu não quero nada disso.

— Então tomara que seja, filha, Alvorada merece que o fantasma dos
Rodrigues nos deixe em paz. — Sorriu tristemente se afastando. — Agora eu
preciso voltar, eu só vim mesmo porque precisava te entregar a carta,
Manoela tá me esperando, ela não dorme enquanto eu não chegar e a estrada
é longa até lá.

Me despedi de Francisco ainda chorosa segurando a carta entre as


mãos. Quando ficamos sozinhos Enrico se sentou ao meu lado e segurou
minha mão, deixando que eu minhas lágrimas descerem.

E eu chorei. Chorei pelo fim triste de Vicente, chorava por ele não ter
tido muitas oportunidades, chorava por ter tantas pessoas no mundo passando
o mesmo que ele e que teriam o mesmo final, chorava de medo pelos meus
filhos passarem por aquilo, chorava clamando a Deus que me protegesse e
protegesse Enrico de Denise que ainda estava solta por aí.

— Ei, já chega, respira, você não pode ficar chorando tanto, faz mal para os
bebês. Enrico falou depois de um tempo e eu o abracei com força. As poucas
pessoas que estavam no restaurante nos encaravam curiosos.

— Vamos embora? Pedi limpando o rosto.

— Você não vai ler a carta?

— Quando estivermos no quarto, eu preciso sair daqui, preciso ficar só com


você. Implorei e o vi assentir, vinte minutos depois adentramos nosso quarto.

Enrico parecia tenso e incomodado e eu tinha medo de que meu choro


tivesse sido mal interpretado por ele.

— Você sabe que eu estou triste por Vicente, mas não é porque eu amo ele
ainda, não é? Parei me sentando na cama esperando que se aproximasse de
mim depois de deixar a carteira e a arma que mantinha na cintura sob o
aparador ao lado.

Seus olhos sobre os meus diziam que não entendia, o ciúme dele era
claro, o incomodo de saber que Vicente tinha sido meu primeiro e único
homem antes dele sempre ficava visível quando tocávamos no assunto.

— Sei. Mentiu.

— Mentiroso. — Andei até ele e entrelacei meus laços em seu pescoço. —


Vicente e eu sofremos juntos, Enrico, ele mais que eu, teve os pais mortos
por Joaquim tudo que ele buscava aqui era vingança, seu fim trágico me
deixou triste.

—Eu sinto muito, eu sei que vivo com esse ciúme... eu só não queria que
você tivesse conhecido ninguém antes de mim... é bobagem, mas eu só...

— Você foi casado. Pontuo e ele revira os olhos.

— E você sempre tem essa na manga. — Beija meus lábios. — Anda, vamos
abrir a carta.

— Ainda não. Balanço a cabeça em negativa encarando seu rosto.

— Como assim, ainda não?

— Primeiro eu preciso saber que você não está chateado comigo... eu estou
triste por Vicente Enrico, mas não quero que fique incomodado com nada.

Levou as mãos em meu rosto prendendo meu maxilar. Sua boca


cobriu a minha em um beijo que seria totalmente obsceno se estivéssemos em
um local público.

— Desculpa. — Se afastou. — Eu sei que você está triste, eu não quero...

— Me beija de novo. Pedi puxando sua camiseta e o fazendo voltar para


perto de mim.

— Mas...
— Qualquer coisa que você fizesse já me deixava excitada, mas agora
grávida... depois desse beijo eu realmente preciso que me beije.

Enrico se sentou na cama comigo em seu colo e ficamos ali nos


embriagando um com o outro por um tempo incontável, sentia sua ereção
embaixo de mim assim como minha boceta apertava e doía com todo aquele
tesão, mas não me atrevi a ir a diante, não era apenas sexo, era compreensão,
beijávamos nos entregando, de modo que nosso coração se unia, batendo em
um ritmo só, mostrando como nos encaixávamos.

Afastei a cabeça em busca de ar, Enrico mordeu meu queixo antes de


abrir os olhos, a aura que nos rodeava era novamente de paz.

— Eu te amo. Falei primeiro.

— Eu vivo você, Madalena. Respondeu visivelmente mais relaxado.

— Vem, vamos abrir a carta. Pulei fora do seu corpo e ele se aconchegou na
cama. Peguei o envelope fazendo o caminho de volta me acomodando ao seu
lado.

Já tinha sido pega de surpresa algumas vezes na vida, mas nada havia
me preparado para o que tinha naquela carta:

"Minha amada Leninha,

Acho digno começar esta carta contando a você toda a verdade.


Verdade esta que começa por meu nome verdadeiro.

Vicente Alencar nunca existiu de verdade. Meu nome verdadeiro é


Aurélio Dantas Filho, filho de Aurélio Dantas, capataz dos Rodrigues.

Sobre meus pais terem sido mortos eu não menti, eles foram mortos.
E tudo aconteceu porque meu pai se negou a fazer algo, algo que eu que eu
só entendi como valeu a pena quando te conheci.
Meu pai foi ordenado a matar uma criança de um casal de lavradores
Madalena... mais precisamente um bebê. Um indefeso bebê de um casal que
haviam acabado de começar a vida juntos. Tudo isso sob ordens de Joaquim,
quando ele se negou antes que o fosse feito, ele mesmo se demitiu. Explicou
que não serviria de escravo ao filho como servia ao pai e que nunca mataria
uma criança inocente. Na noite que meu pai se demitiu tivemos a casa
invadida, minha mãe estuprada, meu pai foi morto e decapitado.

Guardei o rancor por anos Madalena, planejei minha vingança a


tanto tempo que pareceu eternidade até voltar a pôr os pés em Alvorada das
Almas.

A cidade que falei ter crescido também era mentira, quando meus
pais foram mortos eu peguei carona em uma boleia, o caminhoneiro me
levou até o interior de São Paulo, lá eu fui adotado por um fazendeiro
chamado Raul Benedito, um dos maiores produtores de café daquela região,
o homem viúvo e sem filhos me criou como filho,, estudei e me formei, voltei
para a fazenda e trabalhei junto com ele por uns anos seguintes, fui feliz na
medida do possível, tinha tudo, conheci o luxo, quando ele faleceu me deixou
rico e sem ter que me preocupar com muito, sou o barão do café daquele
lugar, e segundo as revistas barão do café do país. Rico e poderoso como um
Rodrigues.

Mas não se preocupe, não sou tão ruim quanto o maldito, sou justo,
direito, e sinto imensa felicidade em ver a minha cidade crescendo com a
ajuda da minha fazenda.

Quando meu pai adotivo faleceu, decidi que era a hora da vingança,
deixei meus negócios nas mãos de pessoas de confiança e voltei a Alvorada
das Almas disposto a conseguir o que queria Madalena... voltei e encontrei o
bebê que era para ter sido morto, aquele que custou a vida do meu pai. O
bebê era você.

Você Madalena, era o motivo pelos meus pais terem sido mortos, e eu
não conseguia sentir nenhum ódio, entendi que era o destino, porque amei
você, amei o seu jeito de menina mulher e de ter se entregado a mim com
paixão, amei que você não pedia nada em troca e nem tentava especular
muitas coisas.

Sinto muito por ter mentido, mas era necessário, vim até Alvorada
decidido a só ir embora quando conseguisse meu objetivo, e estou indo
embora após o cumprir.

Francisco veio me visitar e disse sobre você ser possivelmente a


herdeira de tudo. Enfim eu entendi o porquê aquele maldito queria que te
mantassem ainda bebê.

Você é a dona de tudo. Tudo isso é seu Madalena, e só você pode


devolver a vida nesse lugar assombrado.

O homem que apareceu na fazenda parecia ter vindo a mando de


alguém, por pouco tudo não foi por água abaixo, e até senti um pouco de
raiva de você por isso, mas ele disse que você estava bem, e então a raiva se
foi imediatamente. Fiquei feliz, porque você merece Leninha.

Você merece ser feliz!

Ps: Quando receber esta carta irá recebê-la com a notícia de que
estou morto. Espero que não chore muito e nem fique triste por mim, até
porque devo lhe dizer que não estou morto. Estou bem e de volta ao meu
lugar, onde cresci e se tornou o meu lugar. Quem morreu naquela cadeia foi
o assassino de Joaquim Rodrigues que se chamava Vicente Alencar, um
homem sem família e sem história, com documentos falsos e apenas mais um
na estatística.

Este que te escreve é Aurélio Dantas, um homem do bem, um


empresário muito bem-sucedido.

Leninha, um dia se quiser me procurar, sabe já o meu verdadeiro


nome, procure por mim na internet, será um prazer te receber na minha
casa. Saiba Madalena, podemos começar tudo do zero, nossa vida nova, você
e eu.
Mas se não quiser... eu vou tentar entender, deixei você ir e tenho que
lidar com as consequências por mais que sejam dolorosas.

Fique bem, Leninha.

Com Amor.

Aurélio Dantas Filho."

Deixei o papel cair sobre o meu colo totalmente chocada.

A voz de Enrico me chamou a atenção quando suspirando falou: —


Que filho da puta!
34
Douglas Saragoça
Quando senti seus lábios contra os meus tão receptivos, meti a língua
em sua boca tomando seu fôlego sentindo seu gosto e me embriagando. O
leve gemido que ela soltou foi diretamente para um ponto específico do meu
corpo me deixando totalmente duro.

Levei a mão a um dos seus seios pesados e apertei sem dó escutando


sua respiração pesada.

— Quero chupar você. Sua voz manhosa me ascendeu ainda mais, Aline era
muito gostosa, puta que pariu! Movi os dedos para o botão do jeans incapaz
de negar o pedido daquela safada.

O toque do despertador me fez pular na cama.

A luz do sol já brilhante invadia meu quarto me fazendo situar da


verdadeira situação.

Estava sonhando.

De novo.

Namorar com alguém que você ama significa ficar sem transar?
Porque isso era o que Aline estava me fazendo passar desde que há dois dias
atrás tínhamos decidido fazer o encontro dos nossos filhos na casa de Luísa e
Luiggi. Tinha sido ótimo, Enrico e Madalena tinham viajado, mas Luísa tinha
insistido em apresentar as crianças em um ambiente neutro, onde eu levaria
Theo, Aline levaria os filhos dela e só depois que eles interagissem
contaríamos que estávamos juntos.

Certo. Deu tudo muito certo, tinha deixado Theo primeiro para que ele
começasse a se divertir, já era acostumado a passar tardes ali. Depois tinha
ido buscar Aline em casa, de lá fomos até o apartamento do ex-marido buscar
os filhos. Rafael tinha aberto a porta totalmente manso, a tipoia ainda
envolvia o ombro que eu mesmo tinha acertado com um tiro. Não tinha mais
arrogância em seu olhar, a mulher até bonita ao seu lado também parecia ter
entendido que não deveria mais ocorrer desavenças entre nós. Aline se
manteve ao meu lado, de mãos dadas enquanto Rafael esperava que as
crianças se despedissem e nos seguissem para o carro.

Quando todos reunimos, Luísa resolveu entreter os meninos com a


piscina e logo os três ficaram amigos dividindo o tempo se divertindo e
beliscando os petiscos que estavam ali para eles. Durante o almoço Aline e eu
tínhamos anunciado o nosso relacionamento. E Theo foi o primeiro a se
manifestar:

— Quer dizer que agora vocês são aqueles amigos que beijam na boca?

— Resumidamente isso. Aline sorriu.

— E então eu posso chama-lo de tio Douglas? O caçula de Aline me olhou


curioso.

— Claro que sim. Falei feliz pela simplicidade que crianças encaravam as
coisas.

— Você podia ensinar a gente a andar de skate né tio? O Theo disse que você
ensinou ele... eu sempre quis aprender. João pediu animado fazendo todos na
mesa sorrir.

— É claro que posso, a gente vai marcar um fim de semana, pode ser?

— A gente aprende num fim de semana? Marcelinho perguntou abismado.

— A gente tenta, mas eu demorei quase um mês. Theo confessou.


— Nós vamos ter tempo. Anunciei e eles comemoraram com uma barulheira,
o diálogo entre os três que fez com que eu e Aline apertássemos nossas mãos
unidas embaixo da mesa sorrindo um para o outro em cumplicidade.

Nada tinha dado errado até então, o problema em si foi quando fomos
levar Theo em casa.

O fato que minha ex-mulher agora deixava a irmã morar com ela não
era problema para mim antes, mas agora era, e era dos grandes.

Quando desci com Theo, Aline decidida resolveu me acompanhar


assim como eu tinha feito quando chegamos a casa de Rafael, eu não podia
pedir que não fosse.

Entrelaçou a mão na minha e seguimos para a porta, eu fingi não ter


problema nenhum até porque eu não acreditava que aquela maluca iria falar
merda, afinal eu tinha sim trepado com a irmã de Thaís algumas vezes, mas
assim como ela exigia segredo para a irmã, eu esperava que ela não fosse
surtar, além do que era passado, morto e enterrado.

Ledo engano. Nicole tinha feito questão de se insinuar e foi além me


convidando para voltar já que Thaís tinha saído com o novo namorado.

Aline tinha se mantido ereta ao meu lado e não disse nada quando eu
neguei e a apresentei como minha namorada a maldita que tinha estragado
tudo, se abaixou e se despediu de Theo, voltou ao carro ainda em silêncio e
me interrompeu quando tentei me explicar.

— Não conversamos disso na frente das crianças. Apontou para os filhos que
estavam no banco traseiro. Concordei e segui totalmente puto para sua casa.
Ela não tinha me deixado entrar e apenas se despediu dizendo: Nós vamos
nos falando.

Ô MERDA! EU ERA O NAMORADO DELA, CARALHO!


Encarei meu pau totalmente duro, tanto que armava uma barraca na
cueca. Abaixei o tecido e agarrei o mastro que implorava por atenção.

Porra, se o despertador não tivesse tocado certamente eu teria


gozado no sonho. Aline era tão maldita que teria me feito gozar dormindo.

Subi e desci a mão sentindo um espasmo relaxante.

Agarrei meu celular na mesinha e abri a sua conversa, essa qual só eu


tinha tentado falar nos últimos dois dias.

Segurei meu cacete e mirei a câmera de modo que mostrava como as


veias saltadas daquela merda imploravam por alívio.

"Até que dia pretende ficar sem falar comigo?"

Escrevi e enviei junto com a foto. Pouco me lixava se ainda eram sete
e meia da manhã, se tivéssemos dormido juntos eu não precisaria bater essa
punheta.

Abri um sorriso quando poucos segundos depois apareceram que ela


estava digitando.

"Ainda não decidi!"

Só isso? Porra!

"Por favor minha deusa, eu preciso de você."

Parti para o jogo do desespero, pois era como eu realmente estava.

"Você precisa aprender a controlar seu pau, principalmente com ex-


cunhadas!"

Eu ri porque podia imaginar ela digitando com raiva.


"Deusa, vou aí te ver."

Avisei e pulei da cama ao perceber que ela não tinha se negado como
tinha feito nos dias anteriores, com certeza estava sentindo minha falta como
eu dela.

"Não posso, estou indo trabalhar!"

Respondeu e ficou off-line. Ignorando tudo corri em direção ao


banheiro pois literalmente não teria tempo para punhetas, ela não havia dito
não, havia dito o local onde estava indo.

Não ousei a me aliviar embaixo do chuveiro, ia guardar todo o tesão


acumulado para castigá-la!

Meia hora depois eu estava fingindo o fato de que tinha que ir até a
delegacia trabalhar e dirigi rumo a sua confecção.

A empresa estava lotada de mulheres que me davam olhares curiosos


e sorrisinhos até maldosos que já sabiam quem era eu pois tinha ido ali
algumas outras vezes desde que ela tinha aceitado namorar comigo. Andei
em direção ao primeiro andar do sobrado onde ficava localizado o escritório e
entrei sem bater.

Aline estava sentada com Ruth, a senhora que era sua secretária e
ambas me encararam quando parei na soleira da porta.

— Bom dia senhor Saragoça. A mulher me cumprimentou formalmente


sorrindo.

— Bom dia Ruth, bela manhã. Sorri.

— Entrando sem bater? — Aline me olhou furiosa e entregou alguns papéis


para a secretária. — Ruth, envie esses desenhos imediatamente para as
meninas fazerem a peça piloto, qualquer dúvida mande me chamar.
A mulher concordou e saiu nos deixando sozinhos, continuei parado a
encarando toda linda e imponente atrás daquela cadeira, os óculos de grau
que só a via usando quando precisava ler alguma coisa a deixava ainda mais
sexy.

Respirei fundo e dei as costas passando pela porta e girando a chave a


trancando.

— Douglas, eu estou trabalhando. — Disse mexendo com uma pilha de


papéis. — A gente se fala mais tarde.

Ignorei que me rechaçava, levei os dedos no botão do jeans e o desfiz


abaixando o zíper.

Aline arregalou os olhos ao me ver aproximando de sua cadeira já


com o pau marcando doido para saltar, devido estar sem cueca.

— Nós ainda não voltamos a conversar!

— Melhor assim. — Suspirei parando ao seu lado e abaixando o jeans


suficiente para minha ereção pular para fora. Vi seus lábios abrirem e
fecharem encarando meu cacete que implorando atenção com a ponta
babando de tesão. — Amo quando você fala, mas em alguns momentos é
desnecessário... só me chupa. Ordenei segurando meu cacete pela base para
que ficasse na altura do seu livre acesso.

— Você acha que vai entrar aqui e me mandar... — Começou a reclamar e eu


levei a mão a sua nuca no momento que me aproximei o bastante batendo
com minha ereção em sua boca a surpreendendo.

Estava prestes a sopitar de tanto tesão, meu pau babou ainda mais ao
sentir por milésimos de segundo sua boca contra ele.

— Cala a boca e chupa agora, deusa! Ordenei louco, estava cansado de ser
bonzinho com ela. Eu a amava e ela tinha que entender isso, nunca mais
aceitaria que brigássemos por coisas bobas como aquelas.

Aline tremeu um pouco antes suspirar, não ousou a falar nada, seus
olhos negros pareciam derretidos quando com adoração encarou meu pau e o
agarrou com as duas mãos.

— Você está com saudade? Ela tentou mais uma vez tomar as rédeas e eu
mordi minha boca para não gemer, hoje quem mandaria ali era eu.

— Para de falar. Puxei seu cabelo da nuca para que sua cabeça deitasse e não
esperei ela soltar o ar pela garganta, entrei na sua boca até o fundo e a vi me
encarar alucinada.

Entrei e sai três vezes rapidamente a fazendo babar e quase engasgar no meu
pau.

Me afastei e limpei sua boca molhada de saliva. Os olhos assustados


se misturavam com paixão.

— Ajoelha. — Ordenei e ela sequer titubeou. Caiu de joelhos a minha frente


e levou as mãos a minha bunda ainda coberta pela calça. — Mãos para trás!

Aline resmungou um pouco antes de soltar meu traseiro e descer os


braços. Juntei seus cabelos em um rabo de cavalo e com a mão livre segurei
seu queixo. — Agora chupa minhas bolas. — Ditei e sem pestanejar sua
língua saiu para fora da boca, ela lambeu e chupou todo meu mastro em
velocidade que quase me fazia gozar e voltava com lambidas lentas.
Chupava meus testículos um por um e depois ia direto a cabeça brincando
com a língua na abertura.

Em ponto de bala querendo gozar só me segurava por ver sua


dedicação querendo me tirar prazer. Determinado a castigar sua vontade de
me fazer gozar deixei que me chupasse por tempo o bastante para cansa-la,
seus olhos já saíam lágrimas e a mandíbula talvez já doesse de tanto que ela
tentava, tinha desistido de me obedecer deixando as mãos nas costas,
segurava minha ereção com força me estimulando. Poderia ser capaz de rir se
não estivesse tendo que me concentrar tanto para não gozar como um animal
na sua garganta.

Aline bufou baixinho antes de segurar meu pau contra minha barriga,
o dedo rodeava meu ponto de prazer quando despretensiosa chupou uma bola
e depois a outra, me olhou safada antes de ir além, sua língua passou e
brincou na linha que ligava meu pau a minha bunda.

Um choque de prazer tomou meu corpo e quase que minhas pernas


cederam naquele mesmo segundo. Safada!

Urrei jogando a cabeça para traz e tentei me afastar dela, mas fincou
os dedos de uma mão na minha bunda enquanto a outra subia e descia no meu
pau. Brincou com a língua mais uma vez e outra antes de eu desistir de me
segurar, gozei forte fazendo com que meu esperma voasse no seu rosto e em
minha barriga.

Aline gemeu satisfeita e eu não perdi tempo, meu pau ainda dando
espasmos do orgasmo delicioso, mas graças aos dois dias que ela tinha me
deixado sem transar eu ainda estava duro.

— Anda até o sofá e fique de quatro. Ordenei segurando seu rosto e limpando
minha porra que escorria em sua bochecha e levei a sua boca. Seus lábios
bonitos fecharam em torno do meu dedo e o chupou devassa.

— Sem se levantar, vá sobre os joelhos e as mãos!

Exigi quando percebi que ela iria se levantar. Seus olhos sobre os
meus ardiam mostrando a dúvida que deveria estar sentindo, Aline amava
controlar, mas ela estava amando que eu a controlasse. Obedeceu e rebolou
engatinhando até o sofá marrom na outra ponta da sala. Se levantou me
olhado enquanto os dedos iam até a barra do seu vestido e o subindo até a
cintura, se ajoelhou sobre o móvel e empinou o bumbum na minha direção
me olhando por uns segundos antes de se abaixar sobre os cotovelos.

Terminei de tirar minha roupa enquanto chegava até ela, totalmente


nu e duro salivei ao ver seu rabo moreno empinado para mim, com o pequeno
pedaço de seda branco da calcinha enfiado no bumbum delicioso.

Levantei a mão e bati com força o bastante para arder e envermelhar


as duas bandas. Aline choramingou, mas empinou ainda mais.

— Você gosta, não é? Sua safada! Murmurei sorrindo e ela não ousou
responder, apenas roçou o bumbum contra mim que estava parado perto o
bastante para ela sentir.

Aline tremia e arfava, enfiei os dedos em seu cabelo e a puxei de modo que
conseguisse lhe beijar a boca. Senti seus lábios doces contra o meu me
incentivando ainda mais a fazer o que tinha em mente. Meti a língua na sua
boca com vontade e me afastei massageando suas costas para ela voltasse a
posição que eu queria.

— Você está tão molhada que eu posso ver a mancha em sua calcinha, bebê.
Sussurrei alisando com as palmas abertas seu traseiro então puxei as tiras de
renda descendo a peça para que ficassem até o meio das coxas.

Aline gritou quando abaixei e cobri sua boceta com minha língua.
Podia apostar que todas as mulheres lá fora, ou ao menos Ruth saberia o que
estava acontecendo ali, mas não me importava, não estava disposto a parar.

Chupei seu brotinho com dedicação, brincando com os movimentos e


me excitando cada vez que sentia que ela estava cada vez mais molhada.

— Aiai... — Gemeu empurrando sua boceta na minha cara.

Levantei o rosto e ouvi seu descontento antes de sentir dois dedos


meus a penetrando até o fundo. Estava tão molhada que barulhos gostosos de
sucção se espalhavam junto com seu gemido. Senti sua coluna ficar tensa
quando tirei os dedos molhados de sua vulva e levei até o seu ânus
espalhando no local antes de forçar a ponta do dedo que entrou sem muita
dificuldade por estar lubrificada.
— Aí Doug, aí não... — Tentou me convencer com sua voz mansa e eu sabia
que era apenas um medo bobo.

— Você está sugando meus dedos como uma boa menina, bebê... mal posso
esperar para socar no seu cuzinho com toda força... — Falei baixo e a ouvi
gemer e latejar contra mim alucinada.

Espalhei mais um pouco de seus sucos vendo meu pau até tremer com
a imagem dos meus dois dedos entrarem e saírem do seu buraquinho com
tamanha facilidade. Andei até sua frente e segurei meu pau mais uma vez
para que ela o chupasse.

Aline tomou mina ereção esfomeada chupando até o fundo, engasgando e


chupando ainda mais.

Não deixei que continuasse e me afastei de novo, saindo do seu


campo de visão voltei para sua traseira a vendo apoiar o rosto no estofado, os
cabelos se espalhando sobre ela. Segurei sua cintura e desci até o traseiro,
abrindo-o e mirando meu pau em sua boceta.

Aline pareceu surpresa e gemeu gostoso apertando sua musculatura a


ponto da minha loucura. Meti em estocadas profundas que me deixaram sem
ar até parar dentro dela me acomodando sobre o sofá também de joelhos.

— Você é tão linda, tão gostosa Aline... — Comecei a dizer segurando seu
quadril e me movendo. — Como pode pensar que eu desperdiçaria isso o que
temos por algo do passado que nunca bem beirou ao que sinto agora... você
me deixa louco, mulher.

Minha voz saiu pecaminosa o bastante, e o que a deixava ainda mais


inquieta.

— Vou comer seu cuzinho gostoso, e você vai gostar...

— Devagar... Devagar Doug, eu não fiz isso muitas vezes.


— Confia em mim... você vai se acostumar logo... você sabe o que fazer, não
se contraia e rebola contra mim. Avisei saindo de sua boceta e mirando a
cabeça no buraquinho que parecia incapaz de se alargar.

— Relaxa. — Pedi sentindo a minha cabeça robusta começar a invadir e


Aline remexeu reclamando da ardência e eu a segurei pela cintura. — Relaxa
que eu estou quase dentro.

— Você é grande demais, eu não posso... não vai entrar...

— Vai sim. — Tentei acalma-la e quase desisti quando a vi olhar para trás
com os olhos cobertos por lágrimas.

— Não!

— Está doendo muito? Quer que eu pare?

— Não e sim. Gemeu baixo.

— Sim ou não, Aline, se decida minha deusa.

— Entra logo de uma vez. Rugiu.

— Então toma tudo e fique quieta até se acostumar. Exigi a empurrando com
a mão livre para que ficasse deitada de bruços e de quebra entrei todo a
enchendo até o talo.

Aline gemeu mordendo o tecido de uma almofada e mantive quieto


até ela se acalmar e se mexer um pouco falando:

— Pareço estar entalada. — Riu baixo e mexeu o traseiro contra mim.

— Isso, acostume comigo, empurre contra mim.

— Seu desgraçado! — Me xingou mas fez o que eu tinha ordenado, empinou


a bunda e moveu contra. — Você não deveria estar aqui, todas mulheres lá
fora devem saber que eu estou dando o cu aqui dentro! Choramingou e fui
incapaz de segurar a risada.

— Se todos já sabem, rebola esse rabo!

— Você não manda em mim! Resmungou e gemeu ao mesmo tempo devido


eu ter me movimentado pela primeira vez desde que estava dentro dela. Mas
eu sabia que nosso tesão que era mais forte que sua mente difícil. Aline me
obedeceu começando a rebolar contra enquanto eu começava a puxar e voltar
minha carne dura.

— Rebola mais, cadelinha... está começando a ficar gostoso, não é?

— Ah seu filho da puta! Xingou de novo movendo a bunda fazendo com que
meu pau deslizasse dentro dela espalhando o prazer proibido e gostoso que
nos dois sabíamos que viria.

— Isso amor, toma meu pau no seu rabinho.

— Aí... caralho... — Mexeu ficando deitada apenas com a bunda arrebitada


para mim.

Aline pareceu ficar fora de si, começando a arquejar enquanto o corpo


respondia sozinho aos estímulos, empurrava contra recebendo as estocadas
fundas e fortes. Agarrei de novo seus cabelos e a puxei para morder seu
ombro.

— Agora você é toda minha, sua boca, sua bocetinha e seu cuzinho
pertencem a mim, assim como eu sou todo seu, não importa quem nos
encontremos por aí, é só eu e você minha deusa... vou viver te comendo de
quatro para aproveitar meus paraísos nessa terra.

— Ah, Douglas... porra! Choramingou de novo, parecendo estar prestes a se


explodir.
— Hoje é só o começo... mais tarde quero você sentando no colo do papai e
gozando como uma boa garota. Falei perto do seu ouvido e a senti estremecer
antes de gritar rouca. Cheia de luxúria. Levei meus dedos em sua boceta
melada e espalmei a mão ali, brincando com os dedos em seu clitóris.

Aline se mexeu ao ponto de que ficássemos sentados e foi a vez de eu


enlouquecer quando começou a subir e descer.

Senti minha alma quase sair quando ela se contraiu gozando forte me
levando junto. Ficamos os dois suados e arfantes ainda sentados enquanto
regulávamos nossa respiração.

— Eu não quero piranhas se insinuando para você, você é só meu... só meu.

— Eu amo você, não tem outras. Falei grogue e ainda de olhos fechados.
Minha ereção ainda diminuía dentro dela quando vagarosamente levantou e
sentou ao meu lado, cobrindo meu rosto com uma mão e acariciando minha
barba.

— Promete?

— Se você prometer que não vai mais se afastar de mim... eu odeio quando
você me ignora, senti sua falta.

— Tudo bem. Sorriu desconfiada e encostou os lábios nos meus.

— Precisamos de um banho. Se levantou e eu encarei sua rachinha brilhando


por sua excitação.

— Vamos sim. Concordei a seguindo para o banheiro no fundo do seu


escritório.

Mais tarde estávamos de volta e já vestidos, o ar de paz no ar deixava


tudo leve, nossos olhares cúmplices de quem havia compartilhado bons e
intensos orgasmos. Estava prestes a convidá-la para dormir na minha casa
quando meu celular tocou no bolso.

— Pode falar, pau no cu. Cumprimentei Jonas enquanto Aline se mantinha na


minha frente agarrada a mim como um carrapatinho.

— Encontrei ela!

— Como assim encontrou quem? Perguntei e Aline se afastou me olhando


nos olhos.

— Denise! Encontrei Denise!


35
Enrico de Giordano
Durante quase cinco meses de relacionamento eu tentei não pensar
que Madalena tinha me conhecido gostando de outro cara.

Vicente era como um fantasma que me assombrava sempre que eu


parava para pensar sobre o passado dela.

Vir para Alvorada das Almas tinha me deixado possesso e ao mesmo


tempo tranquilo, não queria que ela voltasse para lá, mas em saber que aquele
merda estaria preso era uma coisa boa... minha ira estava nas alturas desde
que ela tinha dito o desejo de passar para ele as posses de terras que seriam
suas por direito, não me importava com a merda da herança, eu só não queria
que Vicente recebesse nada, e egoistamente saber que ele tinha sido morto
não tinha me deixado triste.

Mas então aquela maldita carta revelou que além de estar vivo ele
ainda a amava e ainda pior, estava disposto a estar com ela. Revelou que tudo
que tinha vivido nos últimos anos não passava de um teatro e que era até rico.
Desgraçado!

Quando Madalena terminou de ler aquela merda de carta meu coração


se apertou e a dúvida de que ela ainda o amava me tomou quando vi lágrimas
descerem por seu rosto e o desespero a tomar.

Levantei da cama e me vesti com as primeiras peças de roupa que


havia encontrado, pedi para ficar sozinho e fui incapaz de olhar em seus
olhos quando me chamou pelo nome. Sai sem olhar para trás andei em passos
rápidos para fora da pequena pousada em que estávamos hospedados. Eu me
sentia incapaz de conter meu ciúme e raiva.

Aproveitei a noite e me sentei meio a clareira do pomar, o lugar era


afastado das vistas de quem entrava e saia da pousada, iluminado apenas por
pequenas tochas de fogo o que deveria servir para afastar animais no local,
poucos passos e passando pela pequena cerca de madeira eu poderia me
embrenhar dentro do pantanal que agora parecia um tapete negro. A luz da
lua batia sobre o teto das arvores altas e faziam sombras monstruosas.

Encostei minha cabeça no tronco de árvore e encarei o céu pensando


em possibilidades de como a minha vida tinha mudado em meses.

Madalena estava grávida, eu seria pai e Vicente não podia ousar a


tocar na minha mulher, mesmo que tentasse eu seria capaz de matá-lo com
minhas próprias mãos, ou melhor ainda, usaria a sua carta para ferrar com a
vida dele e o deixar na cadeia por um bom tempo e eu como delegado seria o
correto a fazer, mas se eu o procurasse para colocá-lo na prisão daria
importância a ele. E Vicente ou Aurélio não me importava, o que eu mais
queria era distância.

Ainda tinha problemas maiores como o fato de que Denise estava


foragida, não era qualquer investigação que corria para encontrar seu
paradeiro, minha ex-sogra estava entre os foragidos federais do país, e até
mesmo a polícia internacional estava envolvida, tinha certeza que ela seria
incapaz de dar as caras para aprontar alguma perante tal reboliço. Por isso o
essencial ali era descobrir se Madalena era mesmo herdeira legítima dos
Rodrigues, ajudar ela a se decidir o que faria com tudo incluindo a sua
vontade de devolver dinheiro e terras a quem tinha tido suas vidas
prejudicadas pelo falecido coronel.

— Eu posso me sentar? Ouvi a voz doce de Madalena e movi o rosto a


encontrando em pé, segurando um cobertor nas mãos, meu coração ficou
pequenininho só de imaginar como eu não seria nada se chegasse a perdê-la.

— Pode.

Foi tudo que consegui dizer. Madalena se aproximou de mim e


estendeu o pequeno cobertor no chão. Me olhou uns segundos antes de se
sentar e me convidar para se juntar a ela sobre o tecido.
Ficamos os dois lados a lado e em silencio por um bom tempo até ela
decidir a falar:

— Você não quer falar comigo?

— Não agora. Murmurei com certeza ainda incapaz de encarar seus olhos, eu
já era um homem barbado, mas se tratando de Madalena eu tinha certeza quer
poderia chorar feito um garotinho perdido se encarasse seus olhos e vissem
sentimentos por Vicente ali.

— Eu te disse que não o amo mais, Enrico. — Sua voz baixa saiu rouca e
chateada. — Te disse hoje à tarde como me sinto, não valeu? Não acreditou?

— Não se trata disso... — Quase engasguei com o bolo formado na garganta.


— Eu não consigo controlar, eu não...

— Estou grávida Enrico... a minha maior prova de que quero estar com você
está aqui. Ela levou as mãos a barriga marcada pelo vestido preto.

Meus olhos comicharam e encarei seu rosto chateado e seus olhos


negros inundando minha alma.

— Eu não quero que você fale com ele. Não quero que o veja. Não quero que
ele esteja em nossas vidas.

Concordou balançando a cabeça ainda me encarando esperando que


eu falasse mais.

— Não quero que você dê a ele o dinheiro e a fazenda... podemos fazer outra
coisa, reformar, doar para outra pessoa, mas eu só não quero Vicente em
nossas vidas, eu não consigo. Estou sendo arrogante em dizer que não quero
que você tenha um passado, mas que seja! Quero que mesmo vivo ele esteja
morto para você assim como Patrícia se fez morta desde quando me
apaixonei por você.
Desabafei soltando tudo que me deixava angustiado.

Madalena segurou meu braço e agarrou minha mão a levando ao seu


ventre, espalmei os dedos sobre a barriga e acariciei sentindo uma emoção
imensa, enquanto estava grávida Patrícia nunca deixava que eu pegasse em
sua barriga, nem mesmo ela pegava... diferente de Madalena que por várias
vezes eu a via conversando, acariciando e até mesmo se emocionando
sozinha.

— Nunca mais me deixe sozinha, tudo bem? Falou soltando minha mão que
continuou sobre os bebês e levou os dedos a minha barba acariciando meu
queixo.

— Eu só morri de ciúmes em te ver chorando, a minha vontade é botar esse


cara na cadeia.

— Cada um tem sua luta, eu tenho certeza que ele não faria mal há mais
ninguém... e o que ele fez é mesmo errado, mas não acho que mereça.

— Olha aí, já está defendendo ele. Revirei os olhos.

— Enrico, eu defenderia qualquer um, ele ou outra pessoa que passou pelo
que passou, você sempre teve família meu bem... olha onde estamos, olha
onde fomos essa tarde, ser sozinho dói. Vicente foi sozinho por culpa de
Joaquim, eu não o culpo por querer vingança.

Minha mente foi incapaz de formular qualquer resposta que rebatesse


aquilo, doía em mim saber que antes de tudo Madalena tinha sofrido tanto,
quando a conheci ela não tinha tocado em um telefone, não tinha acesso a TV
ou sequer entrado em um elevador.

— Eu não vou denunciá-lo, só espero que ele siga a vida dele como estamos
seguindo a nossa.

— Declaremos por encerrado esse assunto, eu não vou procurar por ele, mas
estou feliz que ele esteja bem, isso é tudo! Madalena determinou.

— Desculpa. Pedi sentindo-me mal ao perceber o ciúme se esvaindo aos


poucos.

— Eu já entendi que terei que te dizer o quando sou apaixonada por você
umas sete vezes ao dia. Brincou passando dois dedos pelo bico que eu nem
sabia que estava fazendo.

— Eu quero mais vezes! — Falei petulante arrancando uma gargalhada dela o


que me fez sorrir também.

— Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te


amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Foram umas dez?

— Onze. — Ri a puxando para que se sentasse montada em meu colo e lhe


roubei um beijo.

— Eu digo mais vezes enquanto você estiver pedindo desculpas por toda a
cena, mas lá dentro. Apontou para o rumo da pousada e rebolou contra mim.

Ri da sua ousadia e finquei as mãos em seus quadris a incentivando a


continuar a me montar num verdadeiro sexo a seco.

— Você sempre pensando nisso, não é? Ergo uma sobrancelha em desafio, e


na boca um sorriso maior que o do gato da Alice.

— Eu te disse, se antes de ficar grávida nós já transávamos o tempo todo,


agora com todos esses hormônios... —Mordeu meu lábio e sugou.

— Você quer mesmo entrar? Perguntei e Madalena não respondeu de


imediato, não me olhou ainda compenetrada nos movimentos. Impossível de
adivinhar o que pensava soltei o ar que prendia quando parou de se mover
fazendo a ereção que estufava a calça reclamar.
— E se alguém nos ver? Olhou ao redor.

Continuei com as mãos em seu quadril, incentivei a voltar a se mexer,


quando me obedeceu subi para encher as palmas em seus seios que estavam
visivelmente maiores devido a gravidez e então murmurei:

— Já é tarde, ninguém vai ver, é só você gemer baixinho, cavalgar bem


devagar. Belisquei um de seus mamilos e Madalena jogou a cabeça para trás.

Parecendo mais à vontade me lançou um olhar safado, relaxada se


afastou o bastante para levar as mãos até o cós do meu jeans abrindo o botão
e abaixou o zíper deixando que meu cacete saltasse livre.

— Sem cueca? Mordeu a boca como uma garotinha travessa.

— Sai do quarto com pressa. — Dei de ombros. — De uma coisa serviu meu
pequeno surto.

— Verdade. — Concordou voltando a se mover até eu sentir sua pele quente


e macia se esfregar sobre mim e eu ri ao perceber que a maldita também não
usava calcinha.

— Você também saiu com pressa?

— Sim, correndo para você.

— Fez muito bem, meu amor.

A parabenizei rindo e tive que segurar o urro que se espalharia como


um uivo de lobo naquela escuridão quando sem muitas preliminares agarrou
meu pau mirando em sua entrada e desceu agasalhando até o fim.

Estremeci de puro tesão e rangi os dentes. Madalena moveu os braços


para o redor do meu pescoço e fincou as unhas em minhas costas, as pernas
envolveram minha cintura, gemeu e miou baixinho contra minha boca
fazendo seu ritmo. Imobilizei seu rosto para beijá-la à minha maneira
preferida, enfiando a língua com vontade em sua boca e ela me beijou de
volta.

Afastei um pouco a boca sentindo nossas respirações se misturarem e


abri os olhos dizendo:

— Vai ser para sempre assim, Madalena. Sem distâncias, sem espera...

— Para o resto das nossas vidas. Choramingou e eu aproveitei nos deitando


sobre o cobertor ficando ali deitados frente a frente.

Puxei a sua perna livre para cima enganchando-a em meu braço, e


afastei o quadril tirando meu pau todo para fora só para enterrar de novo,
entrando e saindo com estocadas fundas para que sentisse cada parte dela se
contraindo.

— Tá gostoso, Madalena? Tá gostando do meu pau te comendo assim? —


Questionei com a voz entrecortada a sentindo estremecida. — Quando você
gozar, vamos voltar lá para dentro e vou mamar e lamber seus peitos
enquanto te faço gozar nos meus dedos... vou comer você a madrugada toda
Madalena, vou entrar em todos seus buraquinhos apertados, e só depois que
estivermos acabados eu vou gozar bem gostoso na sua boca. Sussurrei e ela
soltou um pequeno gritinho ao ouvir minhas promessas pecaminosas.

— Enrico...

— Você quer?

— Eu quero, faça tudo comigo. — Gemeu desorientada. — Eu te amo. —


Declarou enquanto eu continuava a meter sem dó sentindo um choque em
minha coluna avisando que estava prestes a perder o controle.

Diminui as estocadas e sai de dentro dela, a deitei de costas no


cobertor, cobri sua boceta com a boca cheia brincando com seu clitóris a vi se
remexer inquieta.

A deixando no ponto, fiquei de joelhos e voltei a entrar, dessa vez


lentamente, sentindo como sua musculatura já estava sofrendo espasmos.
Levei uma mão até seu seio esquerdo enquanto a outra pincelou seu brotinho
inchado que pedia para ser tocado.

Madalena gritou alto, mas aquilo não me fez parar, continuar entrando
e saindo até ver o seu orgasmo longo que a fez revirar os olhos sentindo a
contração de sua boceta. Sua vulva apertou o meu pau como se o sugasse,
impossível segurar gozei forte dentro dela, selando nossa comunhão e paz
além do físico.

Ali eu entendi que poderia existir passado e um Vicente, mas o que


tínhamos era especial, o passado ficava para trás a cada quente esporrada que
eu sentia dar, mostrando que o nosso presente e o nosso futuro seriam
perfeitos.

Depois de alguns minutos nos recuperando ela ousou a sorrir contra


minha boca e jogou os braços sobre meu peito.

— Como pode ser assim?

— Assim como? A encarei olhando para baixo.

— Especial. Ela sussurrou e eu tive que sorrir de volta. Ela tinha razão, o que
tínhamos era especial.

— Tivemos sorte.

— Eu não acredito em sorte. — Se remexeu ficando com o rosto colado ao


meu. — Acredito em Deus.

— Foi Ele que me deu você.


— Digo o mesmo... Foi Ele quem me fez ir até São Paulo, que te fez precisar
de uma cuidadora... se o exame de DNA for positivo quando o pegarmos...
vou conversar com seu Francisco e fazer a proposta que ele cuide da fazenda,
como você disse a gente pode reformá-la, podemos construir casas para os
empregados também, afinal terei dinheiro para isso.

— É uma boa ideia. A abraço sentindo alívio por não ouvir o nome daquele
sujeito e a possibilidade de dar algo para ele.

— Aí gente vai poder vir passar férias aqui, com as crianças...

— E elas vão poder nadar na cachoeira.

— Sim! — Riu feliz e eu deixei um beijo em sua testa. — Vamos entrar?

— Já está pronta para mais? Acariciei seus cabelos negros que haviam
crescido bastante quase beiravam a cintura agora.

— Eu sempre estou pronta para mais.

Caminhamos juntos de volta para o quarto com as mãos entrelaçadas


e cada um com os olhos brilhando em satisfação e felicidade.

Quando fechei a porta e joguei o cobertor que ela tinha levado no


chão perto da pequena cômoda levei minhas mãos em seu rosto começando
um beijo. Estava determinado, ia cumprir cada promessa que tinha feito lá
fora.

Quando o sol chegou, duas notícias chegaram juntas, infelizmente


uma delas, a pior que que eu poderia receber, fez com que Madalena e eu
sofrêssemos juntos a cada hora que passamos no voo de volta para casa, nós
dois estávamos convictos de que éramos um pouco culpados, e assim como
Madalena tinha dito que acreditava em Deus, eu podia afirmar naquele
momento que também nunca acreditei tanto.
36
Enrico De Giordano
Rodovia Caminho do Mar

(Antiga Estrada Velha)

— Você não devia ter feito essa merda! — Edgar grita enquanto bate as
mãos no volante. — Você só age sem pensar Denise, e isso vem ferrando a
gente!

— Aquele desgraçado merecia!

— Você só devia ter fugido! Agora por sua culpa perdemos mais um
carregamento, fora ainda os quatro soldados que morreram nessa
confusão! Chegaremos em Santos com a cara e coragem, espero que você
esteja preparada para a morte, é isso que vai acontecer quando você contar
para aqueles italianos que a mercadoria ficou para trás por causa de um
capricho seu!

— Matar aquele inútil não foi capricho! Estou de saco cheio disso,
precisamos de um plano para matar Enrico logo, só isso.

— Você ainda não entendeu que Enrico não é mais nosso problema? A
federal tomou o caso para eles, sua inútil!

— Pare de gritar comigo! Você esquece que eu quem manda aqui?

O homem olhou com raiva e a mulher manteve o nariz em pé


cerrando os dentes.

— Você tem razão Denise, essa dor de cabeça não é minha.


— Exatamente!

— É por isso que eu tô indo tentar limpar a merda sozinho.

— Como? Arregalou seus olhos quando ele freia bruscamente o carro.

— O que está fazendo?

— Sai.

— Você está louco Edgar?

— Sai da porra do carro! Voltou a gritar dessa vez mirando a arma que
mantinha entre as pernas enquanto dirigia para ela.

— Edgar eu vou acabar com você!

— Desse da porra do meu carro se não quiser morrer aqui e agora!

— Você está acabado! Gritou histérica percebendo que ele estava mesmo
decidido. Abriu a porta e desceu na beira da rodovia movimentadíssima.

— Você quem está! Respondeu antes de acelerar o carro e deixá-la para


trás. Denise grunhiu de ódio percebendo que estava sozinha e sem sequer
uma bolsa. Respirando fundo pensou que apesar dos pesares ainda era
Denise Campos Assis, e daria um jeito.

Acordar ao lado de quem a gente ama tem suas vantagens. Acredite


ou não eu costumava acordar bastante mal-humorado nos últimos anos,
amargo e puto em qualquer que fosse a situação.

Mas depois que Madalena Cereja tinha entrado no meu apartamento


com o intuito de ficar por pouco tempo e me fez querer que ela ficasse para
sempre, já não me lembrava mais como era acordar sem expectativa de um
dia bom.

Vila do Sol trazia em si um ar puro e tranquilo, eu podia escutar os


pássaros ao longe, nada além disso, já não me recordava como era isso,
estava habituado às buzinas incessantes de São Paulo.

Madalena tinha dormido poucas horas, tínhamos mesmo perdido a


noite de sono nos emaranhando um no outro desde que ela tinha me buscado
no pomar e me acalmado sobre o fato de que o filho da puta de Vidente
estava vivo.

Tínhamos conversado que ela não ria procurar Vicente, e eu também


não iria o denuncia-lo que era o que deveria fazer como um verdadeiro
servidor público. Tínhamos escolhido apenas por fingir que nunca havíamos
aberto aquela carta, Vicente estava morto e enterrado, juntos com Patrícia,
todo o passado meu e de Madalena.

Vida nova.

Encarei o relógio na parede e revirei os olhos ao perceber que estava


parado, alcancei o meu de pulso e fiquei surpreso ao perceber que já se
passavam das nove, puxei o telefone e vi a mensagem do advogado que
estava encarregado de tomar conta dos interesses dos Rodrigues afirmando
que já havia pego o exame e estaria vindo ao nosso encontro.

Remexi na cama um pouco tenso pela mensagem e encarei minha


garota ao lado. Apenas um lençol estava enroscado entre suas pernas e
tampavam um pouco dos seios nus, o cabelo esparramado sobre o travesseiro
e a barriga já evidente que abrigava nossos bebês desnuda.

Madalena era perfeita, eu poderia admirar seu sono por horas a fim.
Mas o dever nos chamava, era chegada a hora de ter a certeza se sua vida foi
uma mentira e se era mesmo herdeira do bando que ela tanto repugnava por
assombrar e destilar maldade na sua cidade natal.
— Acorda preguiçosa. Cochichei em seu ouvido e ela riu ainda de olhos
fechados.

— Não.

— Vamos lá, cerejinha... temos compromisso.

— Você só me deixou dormir agorinha, eu e os bebês estamos com sono.

— Eles não estão não. Rio cobrindo seu ventre com a mão e acariciando.

— Estão sim, você me deixou exausta.

— Se eles estivessem significa que me desobedeceram e não dormiram


enquanto o papai e a mãe brincavam... vocês dormiram não foi? Conversei
com a barriga e escutei a risadinha de Madalena.

— Porque temos que levantar?

— O advogado mandou mensagem, ele está vindo nos encontrar. Falei e a vi


abrir os olhos de imediato.

— Já?

— Já, meu bem.

— Precisamos ligar para seu Francisco... quero falar com ele se o resultado
for positivo.

— Você sabe que só estamos confirmando algo já confirmado não é, amor?

— Bom, não existe outro motivo para que Joaquim quisesse tanto a minha
presença por aqui. Se sentou na cama já tensa.

— Você está mesmo certa de que não vai se desfazer da fazenda?


— Nem do casebre. — Falou com certeza. — Eu pensava em deixar com
Vicente como um jeito de recompensá-lo por tudo... mas se ele já tem suas
coisas nada mais justo que eu ficar com que é meu por direito?

— Sim. Concordei revirando os olhos por ter que escutar o nome daquele
cara logo cedo.

— E depois podemos tornar esse lugar o nosso refúgio, não é?

— Claro que sim, podemos fazer o que você quiser meu anjo, vem, vamos
tomar banho? Proponho e ela sorri se levantando e me acompanhando para
debaixo do chuveiro.

Cerca de quarenta minutos depois saímos da pousada e caminhamos


para o café mais próximo.
Seu Francisco já estava sentado na mesa junto com Ramon o advogado que
cuidava do caso.

— Doutor. — O cumprimentei puxando a cadeira para que Madalena se


sentasse primeiro. — Seu Francisco.

— Olá. Ambos responderam pouco sorridentes.

— E então? Me sentei ao lado da minha mulher que de imediato entrelaçou a


mão na minha demonstrando o nervosismo.

— Bem, como nós já imaginávamos... o exame deu positivo. Madalena era


irmã legítima de Joaquim Sênior Rodrigues.

O baque em seu rosto durou por minutos enquanto eu lia os papéis.

— Sendo assim... seu Francisco eu preciso que me ajude.

— Eu estou aqui para isso, filha, o que você precisar.


— Nós vamos começar com as cabanas dos canaviais... devolva-as a cada
família que foi expulsa de lá.

— Você vai mesmo devolver tudo? Doutor Ramon perguntou chocado.

— Vou sim.

— Vai dar trabalho. Coçou a cabeça.

— Se Madalena quer assim, é assim que vamos fazer. Disparei cortando


qualquer futura discórdia por parte do advogado que cuidava do testamento.

— Certo.

— Os procedimentos agora são quais?

— Bom, como Madalena é legítima e a única pessoa viva que se restou dos
Rodrigues, não tem muita burocracia. Sênior queria isso e por isso deixou um
testamento, irei preparar todos os papéis e em poucos dias Madalena se
tornará dona de tudo.

— As terras perto da Cachoeira, devolva elas a Martim seu Francisco, diga


que ele pode voltar imediatamente enquanto organizamos toda a papelada.

— Esse pessoal não vai nem acreditar, vão ficar tudo doido.

— Os funcionários da fazenda, não quero ninguém trabalhando obrigado,


ficará apenas quem quiser, e o pagamento começará a ser em dinheiro a partir
de hoje, nada de cestas. Madalena declarou e eu sorri orgulhoso reparando
em como ela parecia apavorada, porém segura do que queria.

— E o casebre? A sede?

— O casebre vai continuar como está, não quero que o toquem... a sede por
enquanto permanecerá fechada, eu iriei reformá-la, mas primeiro irei pedir
alguns conselhos.

— Madalena, que alegria. Seu Francisco não se conteve e levantou a


abraçando enquanto meu celular vibrou no bolso, eu estava prestes a ignorar
quando vi que Douglas já me ligava insistentemente por algumas vezes
seguidas.

— Pode falar cuzão. Atendo descontraído.

— Enrico? Caralho, que bom que você atendeu... mano, seja lá o que for que
esteja rolando aí, vem para casa!

— O que? Porque? Senti meu sorriso diminuir.

— Jonas está ferido... Denise tentou o matar cara! — Sua voz abaixou e saiu
sofrida. — Sinceramente eu não sei se ele vai sair dessa.

— Como assim? Conte essa merda toda!

— Ele a encontrou cara... me ligou, mas eu não cheguei rápido o bastante, foi
uma armadilha... eu sinto muito.

A voz embargada de Douglas me fez ter certeza que as coisas tinham


saído do controle, e o choque de saber que um dos meus melhores amigos
podia morrer me despedaçou e mil.

— Quantos tiros? Questionei sentindo uma mistura de ódio e medo em meu


interior.

— Dois.

— Dá para escapar, levaram ele na hora não foi?

— Dois tiros nas costas irmão...


Um zunido soou no meu ouvido e meu corpo chegou a amolecer.

— Enrico? Ouvi Madalena chamar, mas eu não conseguia responder,


continuava com o celular na orelha enquanto ela se levantava para me
segurar.

— Precisamos voltar. — Falei por fim.

— O que aconteceu? — Me olhou apreensiva. — É dona Luísa? Seus pais


estão bem? Aline?

— Foi com Jonas.

As horas seguintes passaram na velocidade de um conta-gotas.

Madalena explicou a seu Francisco seus primeiros desejos e Ramon


pediu cerca de oito dias para preparar tudo que seria necessário para as
escrituras e o dinheiro que ainda estava na conta de Joaquim fosse
transferido.

Saímos de Vila do Sol tristes e apreensivos totalmente diferentes de


como havíamos acordado.

Dirigi em silêncio até Campo Grande, Madalena tinha ido todo o


caminho mexendo no meu cabelo perto da nuca, como se mostrasse que
estava ali, mas sem dizer qualquer palavra.

— Ele vai escapar. Falei por fim e ela me olhou com os olhos cheios de
lágrimas.

— Dois tiros nas costas?

— Ele vai resistir. Voltei a dizer tentando convencer a mim mesmo.

— Quando essa mulher vai nos deixar em paz? Quando?


— Não chora, meu anjo.

— Eu estou com medo, Enrico, por tudo, por mim, por você, por nossa
família, e tem os bebês...

— É a última vez que ela atrapalha nossas vidas, amor. Prometo.

— E se...

— Não pense muito, você não pode se estressar, lembre-se dos meninos. Pedi
e vi seus olhos vermelhos pousarem em mim.

— Meninos?

— Foi somente modo de dizer. Disfarço a gafe, morria de medo de que


Madalena achasse que eu tinha alguma preferência.

— Tudo bem, eu também acho que são meninos. Soluçou e meu celular
voltou a tocar no interrompendo.

— Me dê uma notícia boa mamãe. Implorei encarando o painel que mostrava


que para nosso embarque ainda faltavam vinte minutos.

— Ele não aguentou, filho... vem para casa. A voz cortante e chorosa da
minha mãe me destruiu. Mais uma vez eu experimentava de perto o gosto de
perder alguém, e o pior era que dessa vez eu tinha perdido alguém que valia a
pena ter por perto. Tinha perdido um irmão.
37
Madalena Ferrão
Nada tinha tanto valor quando se perdia, a notícia de que Jonas tinha
falecido tornou as horas que ficamos dentro daquele avião infinitas.

O meu choro vinha e ia embora, Enrico não chorou, mas eu via em


seus olhos que um pedaço do coração dele tinha sido arrancado.
Segurávamos a mão um do outro enquanto eu tentava consolá-lo o melhor
que conseguia contando sobre os pensamentos que me rodeavam desde que
minha mãe tinha me deixado.

Foi o desejo Dele. Ele era o Senhor de todas coisas, de todas as


vidas.

Se Jonas tinha cumprido a sua missão aqui, tínhamos que aceitar e ele
enquanto acariciava os nós dos meus dedos. Encarava o nada e depois
suspirava. Assim foi até que pousamos e fomos para casa encontrar os outros.

Douglas parecia tão desolado quanto Enrico, e tinha explicado tudo,


estava com Aline quando ele havia ligado dizendo ter encontrado Denise e o
comparsa em um galpão escondendo cocaína em barris, ele tinha demorado a
chegar e quando o encontrou ele já estava desacordado com dois tiros nas
costas junto com mais quatro homens mortos.

Durante o trajeto ao hospital ele tinha tido um logo relâmpago de


consciência e tinha dito o nome de Denise. Durante a cirurgia tinha sofrido
três paradas cardíacas e na quarta foi atingido por queda de adrenalina e
numa parada cardiorrespiratória não tinha resistido.

Aline tinha me abraçado e chorado também, mais tarde no quarto


tinha me confidenciado que Douglas não tinha ido assim que Jonas tinha
ligado porque estavam juntos, tinham brigado e naquela manhã os dois
haviam se encontrado para fazer as pazes.

Expliquei que ninguém ali era culpado, nem Enrico por estar comigo
longe, nem Douglas por não ter chegado a tempo e nem Aline por estar com
Douglas. Era para ser.

Jonas tinha se tornado um grande amigo em pouco tempo e eu podia


dizer com toda certeza que ele estaria em paz, era um cara íntegro e gentil,
lutava por seu trabalho porque esse era o seu sonho, um mundo justo.

Naquela noite ninguém tinha dormido apesar de termos cada um ido


para seu quarto, Luísa estava tão abalada quanto deveria estar a verdadeira
mãe e estava tão agarrada a Luiggi que eu tinha certeza que se ele saísse do
seu lado ela desabaria.

Enrico continuava calado. Agora mais afastado de mim e quase nunca


me encarava nos olhos quando eu tentava conversar, tinha medo que ele
fraquejasse e se enfiasse novamente no seu mundo cinza, de dor e rancor,
onde ele vivia quando eu o conheci.

— Você não quer conversar?

— Conversar sobre o que?

— Sobre tudo, qualquer coisa que você queira falar, amor...

— Conheci Douglas e Jonas na sétima série... nós nunca nos separamos por
muito tempo, fizemos até faculdade juntos. Quando eu tinha 17 anos, Jonas
fraturou a perna e operou o fêmur, íamos para a viagem do fim de ano da
escola, mas quando vi que ele não iria eu também desisti, passamos todos os
dias de suas férias no quarto dele assistindo filmes e jogando vídeo game,
todos os dias eu estava com ele, e ele sempre esteve comigo, agora ele se foi
Madalena, se foi para sempre e eu não estava lá para ele, deveria estar,
porque se alguém foi culpado por ele estar onde estava esse alguém sou eu.
Me olhou com os olhos lacrimejados e eu não fui capaz de segurar as
lágrimas.
— Não foi culpa sua, minha vida.

— Foi sim. — Deu um sorriso amargo desviando os olhos dos meus. — Eu


estrago a vida de todos que estão por perto, eu sinceramente não sei o que
você está fazendo aqui, eu devia te mandar para longe.

— O que? Não Enrico, você está nervoso e chateado, mas Jonas não teve
culpa assim como você e Douglas também não, amor você não tem culpa.
Entenda isso. Me aproximei deitando a cabeça em seu peito.

— Durma, Madalena. Amanhã o sepultamento será bem cedo. Falou levando


as mãos ao meu rosto e se afastando ficando de pé.

— Enrico? Chorei ainda mais ao vê-lo indo embora.

— Durma. Não é bom para você ficar sem dormir no seu estado.

— No meu estado? — Olho perplexa. — Estou grávida dos seus filhos.

— Eu sei, é por isso mesmo que tem que tomar cuidado. Resmungou saindo
do quarto e me deixando sozinha.

Chorei sozinha até dormir. No dia seguinte seguimos para o enterro e


eu vi na pele como era triste uma despedida com muitas pessoas. Minha mãe
tinha sido enterrada só por mim e meu pai. E meu pai por mim e seu
Francisco.

Ver Jonas cinza e gelado como aquela maldita cidade que estávamos
me deixava sufocada.

Não era meu amigo ali naquele caixão, parecia um pesadelo. A mãe
dele estava pior do que eu podia imaginar, o avô era grisalho, mas o rosto
inchado e chateado parecia deixá-lo com mais idade que realmente deveria
ter, a irmã mais nova de Jonas que eu sequer sabia que existia, era uma garota
linda e robusta, eu diria que era um pouco menos rechonchuda que eu, ainda
mais agora que eu estava grávida, mas ainda assim seu corpo maravilhoso
não se encaixaria nos padrões podres da sociedade. Com os olhos azuis
prateados que brilhavam ao longe, se aproximou de mim e me abraçou como
se me conhecesse a tempos.

— Eu sinto que nos conheçamos em um momento tão triste, Catarina. Limpei


as lágrimas de seu rosto.

— Eu também, Madalena, o Jon sempre falou muito bem de você, que você
tinha dado de volta a felicidade a Enrico.

— Ele foi um grande amigo.

— Ele era meu melhor amigo. A garota suspirou baixinho e olhou para onde
sua mãe estava.

— Ele está em paz. Saiba disso.

— Eu sei, Madalena... o rosto dele está tão tranquilo, poderia estar dormindo
se não tivesse tão pálido...

A abracei antes que terminasse de falar. A acalentei em meus braços e


notei os olhos de Enrico em mim pela primeira vez desde que havíamos
chegado ali. Devolvi o olhar tentando transpassar para ele o mesmo acalento
que dava para aquela menina, mas pouco segundos depois ele voltou a me
ignorar.

— Sua mãe... ela está muito abalada.

— Ela está fora de si. — Murmurou a garota se sentando ao meu lado. —


Estou com medo... ela não é assim.

— Vai passar, querida, saiba que estou aqui por você, para sempre Catarina.
Afirmei sem ter a certeza de nada.
Quando seguimos para o cemitério, Enrico andou para perto de mim e
me estendeu o braço para seguirmos juntos até o jazido.

— Você se sente bem? Ele perguntou apenas encarando meu ventre.

— Sim, e você como está?

— Também.

— Quando vai voltar a falar comigo? Falei não conseguindo disfarça minha
irritação.

— Eu estou falando com você.

— Então eu reformulo a pergunta, quando vai voltar ao normal? Está agindo


como quando te conheci.

— Madalena, isso não é hora. Cochichou quando paramos junto à multidão.

Ao longe a tropa militar se preparava para a honra de tiros. Uma


bandeira brasileira e da polícia foi estendida sob o caixão. Meu coração doeu
mais do que já estava quando começaram a descê-lo e os tiros soavam
fechando de vez o ciclo que guardaríamos para sempre em nossa mente.

Enrico olhava a cena cerrando os dentes, pela primeira vez desde que
soubemos a notícia e pela primeira vez desde que o conheci ele deixou que
uma lágrima grossa descer por sua bochecha, mas a limpou rapidamente e
respirou fundo.

— Tudo bem chorar, Enrico. Apertei sua mão que segurava a minha.

— Eu não estou chorando de tristeza. — Seus olhos estavam escuros. — É


ódio.

— Enrico, por favor fala comigo.


— Vamos para casa. Anunciou.

Diferente da noite anterior, Enrico dirigiu para o seu apartamento


ainda em silêncio, quando adentramos ele jogou as chaves sobre a mesa e
desfez a gravata negra e do paletó.

— A mãe dele parecia bem abalada.

— Não deve ser fácil perder um filho, Joana era muito ligada à Jonas, você
não sabe, mas o pai de Jonas, suicidou-se quando ele e Catarina ainda eram
crianças.

— Sério? Arregalo os olhos chocada.

— Calmon se suicidou quando a empresa dele quebrou, ele não aguentou o


tranco, se negava a pedir ajuda ao sogro.

— Que terrível.

— Ele fez o que achava ser a saída, não o julgo.

— Enrico, você teria coragem?

— Se fosse a melhor escolha.

— Tirar tá própria vida nunca e a melhor escolha! Retire o que você falou
agora!

— Tudo bem. Ele levantou as mãos em rendição e andou até o bar no canto
da sala colocando uma dose de whisky.

— Enrico, escute, eu sei que não é fácil perder um amigo, ainda mais como
você perdeu Jonas, pela mão da pessoa que está sendo um pé no seu saco,
mas eu não admito que você continue agindo assim.
— Sabe Madalena, você ama esses bebês, não é?

— De novo você se refere aos bebês como se eles fossem só meus!

Enrico jogou a cabeça para trás e esfregou os olhos. — Você ama


nossos filhos?

— Eu preciso obrigar você a dizer? Que merda está acontecendo?

— Me responda!

— É claro que sim!

— Então vá para o quarto e arrume suas coisas, você vai para a casa dos
meus pais.

Um baque tão forte como um murro me atingiu com aquelas palavras.

— Você está terminando comigo?

— É apenas um tempo.

— Está terminando então?

— Eu preciso achar ela. Preciso encontrar Denise.

— E por isso tem que terminar comigo? Grito.

— Madalena, você é o meu único ponto fraco, eu estando com você fico
vulnerável, não posso ficar todo o tempo te protegendo.

— Eu não sou uma boneca de porcelana.

— Já esqueceu de Bariloche? Você quase morreu! Quase perdeu os... quase


perdeu nossos filhos!

— Enrico, eu... — Soluço entre o choro.

— Me escute, Madalena, vá ao quarto, são só uns dias, eu prometo que


encontro aquela desgraçada bem rápido.

— Enrico, por favor, separados ficamos mais fracos, não protegidos.

— Baby... — Ele se aproxima se ajoelhando a minha frente. — Eu amo você,


mais que tudo, mas eu preciso disso, preciso que me entenda. Prometo que
quando tudo acabar nós vamos ficar bem.

— Quem garante que com seus pais eu estou segura?

— Eu sei.

Balanço a cabeça em negação engolindo o choro. Limpo os olhos


antes de me levantar e deixá-lo ainda de joelhos.

— Só se lembre, Enrico, que você escolheu isso, eu não concordo.

Andei para o quarto que dividíamos e procurei a mochila que eu tinha


trago quando tinha chegado ali meses atrás, vinda fugitiva de Alvorada das
Almas.

Enchi com a maioria das roupas que tinha trago desde o início e
algumas peças que Aline tinha me presenteado.

Quando voltei à sala a encontrei vazia, procurei por Enrico e o encontrei no


escritório com o telefone no ouvido gritando com alguém do outro lado da
linha.

— Foda-se eu quero a merda das câmeras na minha mesa! Gritou já com os


olhos em mim.
— Pronta?

— Sim. Foi tudo que me limitei a fazer.

— Madalena eu não quero que fique chateada, não faz bem...

— Aos bebês. Eu já sei, vamos logo.

— Você pode olhar para mim?

— Enrico, eu não sei qual a sua ideia, mas eu espero sinceramente que saiba
o que está fazendo, e se realmente pretende pegar Denise que seja rápido, se
você quer continuar comigo tem uma semana.

— Como assim uma semana?

— Na terça que vem tenho o exame para descobrir o sexo dos bebês, e se
você não estiver lá, de volta, acabou. — Declarei lhe dando as costas. — Não
precisa se preocupar em me levar para casa do seus pais, eu já chamei um
táxi, está lá embaixo.

— Madalena? Você enlouqueceu?

— Eu enlouqueci? Tem certeza? Aumento a voz não conseguindo segurar a


raiva.

— Eu vou te levar. Agarrou as chaves do carro e passou por mim rumo a


porta.

O caminho para a mansão dos Giordano foi feito totalmente em


silêncio. Quando Enrico estacionou na entrada sequer desligou o carro.

— Eu volto assim que...

— Terça-feira é o prazo. Anunciei descendo e batendo à porta sem olhar para


trás. A cada passo que eu dava a caminho da porta parecia perder um pedaço
do meu coração. Eu não queria acreditar que estava passando por aquilo.

O carro acelerou e segundos depois o vi passar pela guarita. Luísa


apareceu na porta e abriu os braços como uma mãe recebia um filho. Corri
para abraçá-la e chorar até que perdesse a noção da hora. No fundo eu só
desejava que aquela mulher fosse pega, eu queria Enrico de volta.
38
Enrico De Giordano
"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.


O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo


no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene


ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.


Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado


como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,


apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,


a vida continua, linda e bela
como sempre foi."

Santo Agostinho

Termino de ler a lembrança entregue na cerimônia de Jonas e limpo


mais uma vez os olhos marejados, eram verdade as palavras de Santo
Agostinho, Jonas continuava vivendo, agora no mundo de Deus, e seria ele o
meu guiador para a guerra que eu estava prestes a enfrentar.

Tinha feito coisas dolorosas e difíceis na vida, tinha passado por


momentos complicados nos quais eu pensava que não seria capaz de vencer,
mas nada, absolutamente nada se comparava ao que eu estava sentindo
depois de deixar Madalena na casa dos meus pais.

Ela não entendia, mas também não poderia entender, eu não tinha dito
tudo a ela, Madalena estava passando pelos primeiros meses de gestação que
sempre eram bem complicados, e se tratando de gravidez gemelar o cuidado
deveria ser multiplicado.

Tínhamos recebido orientação médica para que ela não sofresse


grandes emoções, já vivia ressabiado com medo de que ela enfrentasse a
qualquer momento um estresse pós-traumático pelo sequestro de Carlos
Alfredo, se eu contasse o que realmente estava se passando não colocaria não
somente a vida dela em risco como a dos meus filhos.

Enfrentei-a usando a máscara que estava acostumado, tinha passado


anos da minha vida sendo grosseiro e fingindo não sentir o que realmente
sentia quando Patrícia forjou sua morte, era fácil para mim ser fechado e me
afastar das pessoas que me amavam, eu era bom nisso, e se era necessário ser
um filho da puta para proteger a mulher que eu nem sequer imaginei amar
tanto, eu seria um filho da puta.

Entrei em casa e fui diretamente para o escritório, estava esperando


ligações importantes para começar a minha caça, o rosto triste e choroso de
Madalena invadia minha mente a cada minuto e eu quase desisti de tudo e fui
atrás dela. Abri a galeria do meu celular e encarei as fotos da perícia feita no
local que Jonas havia sido morto, meu estômago embrulhou ao o recado
escrito no chão com o sangue do meu amigo.

"Madalena é a próxima"

Soquei minha mesa com um ódio enorme dentro de mim, tinha


certeza que quando a pegasse seria capaz de rasgá-la no meio com as próprias
mãos, Denise tinha tido tempo, atirou pelas costas, mexeu no corpo o que eu
desconfiava ter prejudicado ainda mais seu estado e ainda utilizou do sangue
que brotava dos ferimentos para me afrontar escrevendo o nome da minha
mulher.

A vagabunda que eu recebi dentro da minha própria casa por anos


tinha deixado claro que aquilo não se tratava mais de atrapalharmos os
negócios fodidos da família que só tinha me sobrado ela, se tratava de
vingança, ela queria vingança e era contra mim, aparentemente me matar não
era mais o foco e sim queria me atingir matando o que eu mais amava. Assim
como Carlos Alfredo tinha sido morto durante o sequestro.

Os trinta barris cheios de cocaína pura tinham destino certo segundo o


pessoal da federal, iam sair do país de algum modo. Todos deixados para trás
tinham sido apreendidos e levados, os quatro corpos encontrados mostravam
que Jonas tinha conseguido limpar a área antes de ser atingido fatalmente.

O telefone tocou interrompendo meus pensamentos e eu atendi de


imediato.

— Me fala que conseguiu. Atendi meu agente da inteligência tentando não


xingar o tempo todo como eu tinha feito quando liguei para pedir o serviço.

— Senhor... Oi, eu consegui entrar em contato com o nosso amigo que


trabalha no serviço de câmeras da prefeitura, na rua do galpão e nas laterais
não se tem sistema de monitoramento.

— Desgraça!

— Mas temos nas paralelas, peguei as imagens de ambas no horário que você
estipulou, o lugar é afastado e só tem galpões, não se passa muito carro, acho
que não vai ser difícil.

— Me envia agora.

— Já deve estar no seu e-mail.

— Obrigado, Cássio.

— Doutor Enrico?

— Sim. Suspirei já abrindo minha caixa de entrada.

— Esse nosso serviço não deve chegar no ouvido dos federais, certo?

— Sim... esses caras estão agindo lentos demais, e eu estou mesmo sendo
prejudicado, estão levando minha família para a merda e eu vou dar um jeito
nisso.

— Sinto muito por Jonas, Doutor, ele era um bom homem, estou as ordens se
precisar.

— Eu não vou me esquecer, valeu demais cara. Anunciei desligando o


telefone.

As câmeras do circuito de segurança chegavam a ser deploráveis de


tão ruins, mas eu tinha os programas certos para usar, destaquei os vídeos os
cortando de vinte em vinte minutos e passei os próximos quarenta assistindo
o nada, as sete e quarenta e três que era perto do horário que Jonas tinha
ligado para Douglas cinco carros passaram pela rua da esquerda e apenas um
na da direita, as oito e três o carro cinza que tinha passado junto com os três
na avenida esquerda passa novamente em sentido contrário e com uma
velocidade muito maior que a anterior.

Voltei para a imagem onde os cinco carros passavam e ampliei,


melhorei com o programa e consegui diagnosticar a placa, busquei as
informações e não era um carro frio, nenhum boletim de ocorrência de roubo,
proprietário Jorge Luiz Gonçalves.

Catei meu celular e disquei novamente para Cássio.

— Sim, senhor?

— Procure no sistema por Jorge Luiz Gonçalves, se temos alguma passagem.

— Um minuto.

Enquanto esperava na linha me levantava da mesa enfiando a Glock


na cintura e vestindo minha jaqueta por cima.

— Senhor, nenhuma passagem.

— E no seu outro sistema? Perguntei já saindo de casa, Cássio era um ótimo


hacker, era capaz de encontrar endereços, contas bancárias, e conseguir um
dossiê completo de qualquer pessoa.
— Ele atualmente trabalha em um prédio no bairro Morumbi senhor.

— Qual o nome? Sorri satisfeito.

— Five Heavens.

— Eu sei onde é, valeu! Agradeci e não segurei o palavrão ao me lembrar de


que tinha ido recentemente aquele prédio, com Douglas, porque era o prédio
que o ex-marido de Aline morava.

Entrei no meu carro ainda tentando encaixar as peças em minha


cabeça, Rafael poderia estar envolvido com algo, ou era apenas uma mera
coincidência? Se ele estivesse envolvido com algo não teria se escondido
depois da surra que Jonas tinha o dado, existia tantas possibilidades que eu
nem sei como consegui chegar até lá, minha mente girava e meu cérebro
pareciam pegar fogo.

Estava a caminho da portaria quando escutei:

— Você? O que faz aqui? Virei rápido dando de cara com Rafael saindo pelo
portão da garagem.

— Rafael meu amigo. — Sorri e ele fez uma carranca. — Desce do carro.
Ordenei indo para seu lado da porta.

— O que? Porque? Qual foi cara eu deixei ela em paz, eu nem falei mais
nada, ok? Eu entendi que fui...

— Desce da merda do carro. Puxei a jaqueta para o lado para que ele visse
minha arma.

— Mas que inferno! Eu não tenho mais paz!

— Eu vou perguntar só uma vez. — Exigi o encostando no carro segurando


seu colarinho. — Denise Campos Assis.
— Quem? Ele franziu o cenho.

— Anda logo, fala.

— Falar o que cara, eu não conheço ninguém com esse nome.

— Tem certeza? — Arranquei a pistola e a firmei em seu queixo. Rafael


suspirou apavorado e vi lágrimas em seus olhos. — Em que você trabalha?

— Pelo amor de Deus cara, eu me tornei sócio de uma agência publicitária,


não conheço ninguém com esse nome, eu juro pelos meus filhos.

Afrouxei o aperto de seu pescoço e desci a arma. — Certo, eu acredito


em você, agora me diga você conhece Jorge Luiz?

— Meu porteiro?

— Então ele trabalha mesmo aqui.

— Seu Luiz trabalha sim.

— Ótimo, vou precisar de um favor.

— Seria um prazer, mas estou atrasado. Tentou abrir a porta do carro e eu


fechei novamente com um olhar furioso.

— Rafael, pensei que fôssemos amigos.

— Nós somos, mas fique longe de mim ok? Eu estou cansado de me apontar
armas, eu levei um tiro da última vez!

— Se me ajudar, não vai levar outro.

— O que você precisa?


— Só preciso que você me empreste a chave do seu apartamento.

— Ah, cara, por favor, eu tive que pagar multa pelo barulho que vocês
fizeram.

Um riso me escapou. — Tudo bem, então você só precisa autorizar


minha entrada.

— Você quer o que com o seu Luiz?

— Autoriza a porra da minha entrada e eu te deixo ir.

— Você não é delegado, pode entrar onde porra quiser.

— Rafael, acho que você não está entendendo, eu não estou pedindo um
favor, estou mandando você fazer se não quiser levar um belo tiro na testa. O
ameacei olhando ao redor para ter certeza de que não tinha ninguém vendo.

— Certo cara, vamos lá. Apontou para a guarita e andamos até o interfone.

— Fala seu Rafael, esqueceu alguma coisa?

— Ah... meu amigo vai entrar para ir até meu apartamento, Luiz

— Ah sim, vou abrir o portão.

Me virei para Rafael e lhe dei dois tapinhas no ombro. — Vai


trabalhar cara, a gente se vê por aí.

— Eu espero que não. Sussurrou com os olhos arregalados e me deu as costas


no momento que o portão foi liberado.

Em segundos estava de volta dentro do carro e acelerando pela rua.

— Tenha uma boa tarde. Acenei para o carro e depois passando pelo portão
subindo os poucos degraus até o hall.

— Seja bem-vindo. Ouvi o homem dizer e me virei desconfiado.

— O senhor é Jorge Luiz Gonçalves?

O homem de aparentemente trinta e poucos anos se remexeu na


cadeira típico de quem devia e me olhou ressabiado.

— Por que?

— Eu já estive aqui antes só que não conhecia o senhor...

— Eu não trabalho a noite.

— Sou Enrico De Giordano. — Me apresentei e vi em seus olhos que ele me


conhecia pelo nome. — O senhor pode me responder como que um porteiro
tem condições de manter em seu nome um carro importado?

— Não sei do que o senhor está falando.

—Mas eu sei. — Arranquei mais uma vez a pistola dessa vez apontando para
ele. — Desembucha agora!

— Eu a ganhei, senhor. Respondeu com as mãos erguidas em rendição.

— Ganhou não, perdeu filho da puta! Vira de costas com as mãos para trás.
Ordenei e vi sua garganta subir e descer com ele engolindo seco quando
engatilhei a arma mirando em seu peito.

— Você não pode fazer isso! O desgraçado tentou recuar não obedecendo
minha ordem.

— Já que você é surdo, espero que não seja cego. — Retirei o meu distintivo
que me identificava como delegado de polícia do bolso e mirei em seu rosto.
— De costas e mãos para trás!

Jorge Luiz pareceu entender que estava encurralado, percebi seu olhar
lateral demonstrando que calculava se era capaz de fugir.

— Tenta e te apago aqui mesmo. Anunciei dobrando o rosto um pouco para o


lado em desafio. Estranhamente eu me sentia motivado e cheio de adrenalina,
coisa que eu não sentia há muito tempo.

Enfim me obedeceu virando e colocando as mãos nas costas. Passei


pelo pequeno balcão e tateei sua roupa averiguando se não escondia nenhuma
arma, agarrei três braçadeiras de plástico que eu costumava sempre carregar e
prendi seus pulsos.

— Está doendo.

— Cala a porra da boca! Falei irritado e o vi murchar.

— Eu não sei de nada, eu juro!

— Isso, ainda vamos descobrir, primeiro me fala onde é a sala de controle.

— Sala de controle? Tentou se virar para me olhar e se assustou ao receber


um tapa forte que eu lhe dei na nuca.

— Não fica me encarando, eu sei que eu sou bonito, mas não é pra ficar
olhando para minha cara, seu merda. Vamos, eu não tenho o dia todo, sala
das câmeras, onde é?

— Vamos nesse corredor. Apontou com a cabeça e eu o segui, de perto,


fazendo questão que ele sentisse o cano da arma em suas costas.

Entramos na pequena saleta que cheirava a mofo, um computador


com três telas estava ligado sob uma mesinha já velha mostrando as imagens
das câmeras, elevadores, garagem, calçada, área de lazer, e cada corredor do
edifício.

— Encoste aí. O empurrei a parede de modo que pudesse o ver, abaixei


começando a desconectar as câmeras de monitoramento de todo o edifício,
apaguei todas as imagens do sistema, fazendo com que minha ida ali nunca
fosse descoberta, desliguei todos os aparelhos deixando o sistema
inoperante, peguei o telefone fixo que tinha ao lado da mesa discando os
números da empresa que tinha gravado no cartão pregado da parede.

— Diga que estão com problemas nas câmeras, que precisa ser feito a
manutenção porque você derrubou água sobre um dos aparelhos. Exigi e
levei o telefone até ele segurando. Luís fez o que eu tinha mandado e o levei
para fora.

Andamos juntos para fora da sala e eu o encaminhei para o elevador


de serviço, apertei até o vigésimo sétimo andar, que era o último antes da
cobertura.

— Você pegou a pessoa errada. Resmungou encarando a câmera do elevador.

— Está desligada, infelizmente. Avisei também encarando o aparelho, e


sobre você ser a pessoa errada eu tenho certeza que não.

— Onde você vai me levar?

— Como conseguiu o carro? Perguntei calmamente.

— Eu ganhei. Voltou a repetir e eu bati as costas da mão sobre seu rosto.

— Como conseguiu o carro?

— Eu não sei o que quer saber! Insistiu arrogantemente.

O elevador parou e o empurrei por dois lances de escada, o cadeado


transpassado meio a correntes impediam que a porta que nos dava acesso ao
telhado fosse aberta. Vi sua surpresa ao me ver sacar um molho de chaves
incluindo uma micha e destrancar, deixei minha jaqueta entre a porta para
que não travasse sozinha. Subimos mais um pequeno lance de escadas antes
de chegarmos ao topo, o vento lá em cima era gelado, e a vista sumia meio ao
tempo nublado que fazia naquele dia.

Chutei suas pernas o fazendo cair de joelhos a minha frente. Agarrei


seus cabelos pelo topete e abaixei o rosto para encarar seus olhos, saquei meu
pequeno canivete alemão firmando a ponta da adaga em sua garganta o vendo
arregalar os olhos desacreditado que eu faria alguma coisa, desci a lamina de
sua garganta até o ombro e finquei a ponta ali, o grito abafado saiu.

— Se você me ajudar, posso te ajudar.

— Eu só emprestei o nome! — Entregou covardemente. — Eles colocam


carros no meu nome e me deixam andar nos carros, quando precisam buscam
e depois os devolvem para mim, eu só sei isso!

— Quem?

— Eu não sei o nome deles, são muitos caras.

— Tá me achando com cara de otário? — Desfiro mais um tapa apertando


novamente o canivete que ainda estava fincado em sua pele, o sangue já
havia brotado manchando a sua camisa branca e eu continuava eufórico
sentindo a endorfina correr em minhas veias.

— São muitos caras, eu juro, um deles... um deles se chama Edgar.

— Edgar? Pronuncio o nome do imundo que tínhamos conseguido prender


por poucos dias.

— Isso! Ele negocia comigo, eu não sei o que fazem com os carros, eu juro,
eu juro pelos meus filhos.
— Você devia se envergonhar por jurar por inocentes que talvez nem
existam! — Aperto sua mandíbula. — Aonde negociavam?

— Não temos ponto específico, ele me liga e marca o ponto de encontro,


cada vez em um lugar.

— E cadê esse número?

— No meu celular, mas não é o dele, eu sempre falo com uma espécie de
secretária, deixo o recado e ele me retorna.

— Você tem mesmo filhos? Fala a verdade!

— Não senhor, só uma namorada. Concorda cabisbaixo.

— Você é novo cara, como foi cair nessa?

— Eu estava precisando de grana, consegui um emprego em uma locadora de


carros, foi quando o cara apareceu e alugou um Jeep preto.

Jeep preto. Esse era o carro que tinha sido visto algumas vezes no
antigo apartamento de Patrícia na Consolação, tínhamos conseguido imagens
para investigar a morte do nosso agente.

— Mais nomes, diga todos os nomes.

—Os outros dois chamavam Rômulo e o outro Hugo, eram com eles que eu
negociava, foi Hugo que alugou o Jeep, mas aí ele sumiu e Edgar apareceu.

Hugo tinha sumido porque tinha sido morto. Pensei. — Como


negociaram isso?

— Depois do aluguel do Jeep, Edgar apareceu para fazer a entrega, ele me fez
a proposta de usar meu nome, eu aceitei por necessidade, eu juro.
— Que tipo de necessidade vale a pena sujar sua índole?

— Aparentemente nenhuma.

— Cadê o seu celular?

— Aqui no meu bolso.

— Quando foi a última vez que Edgar entrou em contato com você? —
Perguntei sacando o aparelho. — Fale a senha.

— Vinte e dois, zero nove, ele me ligou há três dias atrás, buscou a BMW,
isso é tudo que eu sei cara, eu juro, eu nem sei para o que eles usam os carros.

— É este número? Mostrei a tela para ele.

— Sim, esse mesmo. Concordou.

— Sabe qual foi seu azar? Falei tranquilamente indo para trás dele e retirei o
canivete de seu ombro e cortava as braçadeiras livrando seus braços e
guardando-as já arrebentadas no bolso do jeans.

— Não senhor.

— Essa gente com quem você se meteu andam me atormentando bastante,


por culpa deles eu tive que me afastar da minha mulher que está grávida... —
Saquei minha arma mais uma vez e voltei para sua frente. — Por isso eu
prometi para mim mesmo, que mesmo que seja uma participação mínima
nesse lance, significa que está com eles. E se com eles, está contra mim, e se
está contra mim...

— Por favor... — Ele suplicou e eu não esperei dando o primeiro tiro em seu
ombro. Jorge gritou e seu urro estremeceu sobre o céu cinza de São Paulo.

— Você se considera um homem de sorte? Porque você vai precisar para sair
daqui. Avisei mirando a arma em sua perna apertando de novo o gatilho.

— Me mata logo! Suplicou chorando.

— Eu não vou matar você. — Avisei o olhando jogado sobre o chão. — Você
pode sair daqui se for valente o bastante, eu não mataria você com um tiro na
cara, estragaria o velório. Sussurrei para mim mesmo não sentindo nenhum
remorso. Virei as costas e comecei a andar para a escada.

— Enrico!

— Uma dica. Virei para trás o vendo ainda miseravelmente jogado no chão.
— Gritar não será uma boa ideia para sair daqui, é melhor pensar em algo ou
vai sangrar até morrer.

Desci o lance de escadas e agarrei a jaqueta, deixei a porta travar


sozinha joguei as correntes e o cadeado no chão e desci pela a escada de novo
até pegar o elevador que me levaria até o hall, agradeci pelo prédio ser
luxuoso assim o movimento era mínimo naquele horário da tarde andei até a
sua mesa liberei o portão. Voltei para meu carro pensando qual seria o
próximo passo.

Depois de passar o dia todo na delegacia desenvolvendo outros casos,


dirigi de volta para casa.

Precisava de um banho e de colocar minha mente em ordem, tudo


indicava que Edgar era mesmo o braço direito de Denise, mas eu desconfiava
muito que tinha sido ele a matar Jonas, principalmente pela afronta deixada
na cena do crime.

Embaixo do chuveiro eu esfreguei meu corpo e minhas mãos, odiava


pensar que tive que perder pessoas nessa minha jornada, e que teria que
cometer algumas maldades como tinha feito com Jorge naquela tarde, mas era
o necessário para ter minha paz de volta e Madalena salva e comigo.
Madalena. Fechei os olhos trazendo em minha mente a sua imagem
tudo que tínhamos vivido até ali desde que ela chegou. Inevitavelmente senti
minha ereção dar as caras, me recusei a me masturbar, desliguei o chuveiro
com um humor alterado e sai irritado de volta para o quarto.

Desci para o escritório depois de me vestir e encarei o celular que


tinha pegado de Jorge. Disquei o número que ele havia confirmado ser o que
entraria em contato com Edgar e chamou várias vezes antes de cair na caixa
postal.

Esfreguei os olhos totalmente exausto e decidi ir para a cama, eu


estava ansioso para que tudo se resolvesse, mas sabia que a pressa poderia me
atrapalhar.

Deitei na minha cama que agora parecia espaçosa demais, agarrei o


travesseiro que era de Madalena e meu peito chegou a doer ao sentir o cheiro
de baunilha que exalava.

Esperava que ela estivesse também sentindo minha falta, mas não o
bastante para sofrer e fazer mal para os bebês.

— Logo estaremos juntos de novo, amor. Logo. Afirmei para mim mesmo e
fechei os olhos buscando o descanso. Passou-se meia hora e nada de
conseguir pegar no sono, mesmo que meu corpo demonstrasse sinais que
precisava disso.

Me sentei na cama decidido a tentar tirar o peso do meu coração.


Agarrei meu celular na mesinha e disquei os números que meu cérebro se
lembrava de cor.

— Enrico? A voz doce me aqueceu mesmo através do telefone.

— Oi. Foi tudo que fui capaz de dizer.

— Tudo bem? Madalena perguntou depois de segundos mudos.


— Você está?

— Não. Falou sucinta em um tom triste que me doeu.

— Paixão, não faz assim.

— Vem me buscar... fala comigo. Seu miado choroso me deixou totalmente


desestabilizado e encheu meus olhos.

— Cerejinha, fica calma, nada mudou meu amor, só estamos em casas


separadas por pouco tempo, você precisa de segurança e eu preciso encontrar
Denise.

— Não! Eu não posso ficar calma, todo mundo me pede calma, eu não quero
ficar calma! Quero que converse comigo, conte o que está acontecendo.

— Estamos conversando.

— Nos olhando! Quero que me conte o que realmente está acontecendo


olhando nos meus olhos.

— Você não tem que se preocupar, aliás, você não pode se preocupar,
entende que é o para o seu bem, Madalena.

— Enrico...

— Amor, eu não liguei para brigarmos, eu precisava ouvir sua voz, estou
com saudades.

A linha ficou muda por mais uns segundos eu ouvia apenas o chiado
baixinho de seus suspiros.

— Você ainda me ama? Suas palavras saíram engasgadas.

— Eu nunca amei tanto. — Falei a verdade.


— Eu só queria entender...

— Você só precisa saber que estou resolvendo as coisas.

— Quer dizer que está resolvendo até consigo mesmo?

— Sim. — Menti encarando o teto, eu não tinha nenhum problema


emocional, todos os pensamentos negativos que me rodeavam da época que
eu ainda não a conhecia tinham se esvaído quando eu a conheci.

— Vai demorar muito? Porque não pode ser comigo por perto?

— Porque eu te amo...

Seu soluço profundo mostrou que as lágrimas deveriam estar rolando


em seu rosto.

— Eu vou desligar. Avisei achando melhor deixar que ela se acalmasse, não
queria me acalmar se para isso fosse necessário que ela ficasse triste.

— Vai ligar de novo?

— Você quer?

— Quero.

— Ok.

— Saiba que eu também amo você. Falou e desligou a linha, encarei meu
telefone por minutos intermináveis antes de voltar a me deitar abraçando seu
cheiro, orei em silêncio que aquilo acabasse logo, prometi para mim mesmo
quando tudo aquilo acabasse, uma nova vida ia começar.
39
Enrico De Giordano
— Você tinha mesmo que me deixar sozinho nessa? Sei que deve ser bem
melhor aí, mas eu não tenho mais respostas, não tenho mais onde procurar.
Alisei a lápide e encarei as escritas, ler o nome de um dos meus melhores
amigos ali doía como jogar sal sobre machucados.

Sentado sobre seu túmulo eu tentava repassar tudo em minha mente


tentando encontrar qualquer brecha que tivesse deixado passar.

Já faziam dois dias desde que eu tinha ido até Jorge Luiz, e até agora
a única pista que era a tal secretária de Edgar atender ao maldito telefone não
tinha acontecido.

— Me ajude a encontrar, meu amigo. Eu preciso terminar isso. Suspirei


limpando meus olhos marejados.

Quando entrei na minha sala da delegacia eu me sentia exausto, sentia


que estava deixando e lado todos os outros casos que dependiam de mim para
tratar apenas do meu problema pessoal, isso me deixava ainda mais irritado,
me sentia no limite.

Havia tomado decisões e aquela fase da minha vida ia se encerrar.

Já no quase no final da tarde minha porta se abriu e eu só levantei o


rosto de toda a papelada quando ouvi a voz de Douglas tempo de vê-lo se
jogar frente a minha mesa.

— E aí, irmão?

— Deu tudo certo?


— Sobre limpar suas merdas com o tal de Jorge? Deu sim. O cara pulou,
então por mais que ele tinha duas perfurações no corpo o suicídio foi
constatado.

— Ao menos uma notícia boa. Respondo menos tenso.

— Qual foi?

— Estou exausto, não temos mais pistas, os filhos da puta da Federal não
avançam nas investigações, nem sinal da desgraçada da Denise, ainda não
conseguimos rastrear o maldito número, por último não menos importante,
saudade da minha mulher.

— Aline foi vê-la ontem, Madalena disse que você tem ido visitá-la.

— Só ligar não foi o suficiente.

— Conta a verdade para ela cara, ela precisa saber que você a deixar lá é para
o bem.

— Estou mesmo pensando nisso, eu estou cansado Doug, sinceramente, eu


estou muito cansado cara. Seguro a ponte do meu nariz tentando regular a
respiração.

— Eu nem imagino a barra que você está passando... e me sinto péssimo por
estar feliz com toda essa merda acontecendo, até porque faz pouco tempo que
Jonas se foi.

— Para de ser idiota, eu estou muito feliz por você e Aline, eu tenho certeza
que Jonas também está, inclusive Rafael aparentemente deu mesmo paz, não
é?

— Nem me fale, ele finalmente resolveu estender a bandeira branca, estou


vivendo no paraíso cara, me mudei para casa dela, os meninos estão se dando
bem, Thaís expulsou a vaca da irmã de casa o que significa sem mais crises
de ciúme todas as vezes que vou buscar e deixar Theo.

— E quando sai o casamento?

— Vai com calma ok? Revirou os olhos e encarou tudo que tinha ao meu
redor menos a mim.

— Você já pediu e ela disse não, não foi? Dei uma risada olhando a cara
indignada do meu amigo mostrando que eu tinha acertado em cheio.

— Para o seu governo ela não disse não! Ela disse que precisamos
experimentar como vai ser morando juntos primeiro, e então depois casamos.

— É isso não é um não.

Sorriu e encarou um dos poucos porta-retratos que eu mantinha sobre


a mesa, Jonas eu e ele sorrindo abraçados, ambos ainda usavam os coletes e
mostrávamos as armas em punho, a foto tinha sido tirada anos atrás depois de
uma operação.

— Sinto falta dele, acho que nunca vou deixar de sentir.

— Ele cumpriu o que tinha que cumprir aqui, eu sei disso.

— Talvez se eu tivesse...

— Não. Não tinha, aconteceu o que tinha que acontecer cara, não existem
culpados, Jonas foi nosso melhor amigo enquanto esteve vivo e não vai
deixar de ser.

— Você tem razão, é só tão injusto...

— Ninguém mais do que eu sei disso, Doug.

— Vai contar a verdade para Madalena, não corra o risco de se arrepender


depois.

— Com licença, senhores. Cassio apontou na entrada da minha sala.

— Pode entrar.

— Estava tentando monitorar o número que você havia pedido, mas ele
estava desligado.

— Disso eu sei.

— Bom, acontece que ligaram o aparelho, e enfim consegui rastrear um


lugar.

— Tá brincando? Dou um pulo na cadeira.

— Não senhor, o endereço está aqui. Estendeu a mão e entregou o papel.

— Eu conheço esse lugar? Franzi o cenho e encarei Doug a minha frente.

— Qualquer coisa me chame. O agente se despediu nos deixando sozinhos.

Doug encarou o papel por um tempo como se puxasse em mente. —


Acho que esse é o endereço de Hugo.

— Hugo? Será que esse filho da puta não morreu?

— Ele está morto cara, eu mesmo vi o corpo. Garantiu.

— Então como o endereço desse desgraçado é onde o celular que Jorge... —


Arregalo os olhos vendo as peças do quebra-cabeça se encaixarem em minha
mente.

— O que foi, merda, para de olhar para o nada com esses olhos estranhos.
— É ela, porra!

— Ela quem, Enrico?

— A mulher de Hugo! Você lembra que quando ele foi morto, você até
chegou a ir na casa deles?

— Miranda? Você acha que...

— É ela! Jorge disse que conheceu Hugo enquanto trabalhava numa locadora
de carros, certo? A Miranda disse que tinha trabalhado em uma locadora de
carros e que agora era secretária, Hugo não começou a alugar carros de Jorge,
ele já arrumava com a mulher antes de tudo, ela ser secretária só fecha a
história! Jorge disse que sempre arrumava os carros que a secretária pedia,
ele nunca falava de fato com Edgar.

— Isso é loucura cara, não é possível que a Miranda tá envolvida nisso.

— É isso! Caralho! Precisamos achar essa mulher, se ela ligou o aparelho


ainda deve estar em casa. Doug passou as mãos pela barba meio inquieto e eu
reparei que tinha alguma coisa errada.

— O que?

— Eu comi ela, cacete!

— Miranda? Você tá brincando.

— Sim! Caramba, foi depois de ir à casa dela, sei lá, ela é gostosa cara, e eu
ainda não tinha conhecido Aline então...

— Puta que pariu, tem alguém em São Paulo que você ainda não comeu?

— Madalena?
— Fala isso de novo e vai ser a última coisa que fala na vida! Aponto o dedo
no seu rosto e ele ri me ignorando.

— Eu era solteiro, cara, as mulheres queriam me dar eu ia negar fogo igual


você?

— Douglas, só cale a boca, por favor?

— Está bom, escuta só, eu posso ir sondar a pilantra, descubro onde ela está e
a faço dizer onde encontramos o tal Edgar.

— É melhor eu ir.

— Cara, tá de boa, eu tô falando que dei um trato nela, ela não vai fazer nada,
além do mais você tem um lugar para ir, vai até a casa dos seus pais agora e
abre o jogo com a Madalena, quando eu tiver respostas entro em contato.

— Vê se não come de novo.

— Me respeita que agora eu sou um cara comprometido com minha morena.


Piscou se pondo de pé.

— Não se coloque em perigo, estou falando sério!

— Fica de boa, irmão. Eu te ligo.

— Vou precisar. Respondo também me colocando de pé,

Doug tinha razão, eu não podia continuar escondendo nada de


Madalena.

Minha mãe tinha me recebido com um abraço apertado quando eu


cheguei a sala.

— Madalena está no quarto?


— Ela não anda saindo muito de lá.

— Vou falar com ela.

— Enrico?

— Sim.

— Seu pai me contou tudo que está acontecendo e sobre a ameaça deixada e
eu acho que ela devia saber.

— Eu vim fazer isso, mãe. Beijo o topo de sua cabeça e subo as escadas de
dois em dois degraus.

Madalena estava enfiada debaixo das cobertas enquanto um desenho


qualquer passava na TV, ela ignorava tudo encarando para fora da janela.

— Oi. Falei chamando sua atenção. Ver o brilho dos seus olhos voltarem ao
me ver ali me fez ter a certeza que eu tinha feito a escolha correta.

— Oi.

— Posso? — Apontei para a cama e ela me surpreendeu ao levantar a coberta


para que eu me juntasse a ela, reparei no pijama que vestia. — Eu me lembro
desse pijama... —Brinquei enquanto retirava meus sapatos e me juntava a ela
embaixo do edredom.

— É eu estava usando ele quando você me jogou na cama pela primeira vez.
Suspirou.

— Uma pena aquela noite eu ter te deixado sair daquele quarto. — Beijo seu
nariz. — Senti saudade.

— Não mais que eu.


— Muito mais. — Murmurei alisando seu ventre. — Como vocês estão?

— Tudo bem, eu acho. Franziu um pouco o cenho.

— Porque? O que está sentindo?

— Não é nada demais.

— Como assim nada demais?

— É só uma cólica chatinha.

— A gente vai para o hospital. Fiz menção de levantar e ela me segurou.

— Está tudo bem, eu juro... você veio mais cedo hoje.

Olhei seus olhos escuros por um tempo já não tendo mais tanta
certeza de contar. — Eu vim... vim contar uma coisa.

— Pois conte.

— É que... amor você está mesmo certa de que não precisamos de um


hospital?

— Pare de besteira, eu já disse que estou bem.

— Ok. — Fecho os olhos sentindo seus dedos sobre minha boca. — Eu vim
contar o motivo pelo que eu decidi que é melhor você ficar aqui.

— Enrico, então fale logo. Abri os olhos me deparando com seu rosto meio
nervoso.

— Ameaçaram você.
— Quando?

— Quando mataram Jonas, ao lado do corpo tinha escrito que você seria a
próxima. Minha voz saiu rouca, doía em mim só de lembrar das letras escritas
com sangue.

—Foi por isso que você me mandou embora?

— Eu não mandei você embora meu anjo, eu só te quero num lugar seguro,
essa casa é o local mais seguro que eu poderia te colocar.

— Foi ela não foi? Denise fez isso?

— Sim.

— E você já a encontrou? Vi os olhos de Madalena se encherem de lágrimas.

— Eu vou, eu prometo, ela não vai fazer nada. Puxo o rosto de Madalena
para o meu e colo nossos lábios, sem língua, apenas tocando seus lábios
enquanto sentia suas lágrimas descerem.

Deixando que meu toque passasse a confiança de que ela precisava,


pois se de uma coisa eu tinha certeza era que morreria, mas nunca deixaria
que ela fosse atingida, nada do que eu tinha passado para encontrá-la na
Argentina se repetiria.

— Obrigada, por vir me contar.

— Eu sei, mas prometa que vai tentar se acalmar, você não pode se estressar,
lembra dos nossos bebês.

— Tudo bem. Concordou me abraçando de novo.

Só sai da casa dos meus pais, quando Madalena dormiu, me sentindo


mais leve voltei para casa ainda esperando o telefonema de Doug.
Estava no meu escritório repassando os passos e as pistas que tinha de
um outro caso quando ele ligou.

— Qual foi cuzão, tá na mão.

— O que é que tá na mão?

— Edgar está fora de São Paulo, ele chega amanhã de manhã e vai para uma
reunião com algum gringo comprador de coca;

— Você tem certeza?

— Bom, Miranda garantiu isso.

— Você ainda está com ela? Onde está?

— No casebre, ela ainda está lá dentro, acho que vai precisar implantar
alguns dentes quando sair da cadeia, o que é uma pena, eu tentei ser bonzinho
em consideração a nossa foda, mas ela não estava mesmo colaborando.

— E quem disse que ela vai para cadeia?

— Coloco na conta do bispo?

— Sem dúvidas, termine aí e vai para casa, amanhã nós temos que pegar
Edgar.

— Você quem manda, chefe.

— Doug?

— Oi.

— Eu te amo, obrigado.
— Eu não vou te responder, só saiba que você é meu irmão, isso basta certo?

— Basta.

— Ok. Até amanhã. Desligou e eu fiquei lá, encarando meu teto pensando se
finalmente estaria tão perto do fim do meu inferno.

Eram duas da manhã quando meu celular tocou insistentemente.

— Alô, mãe? Aconteceu alguma coisa? Perguntei enquanto já estava de pé


rumo ao meu guarda-roupa em busca de roupas.

— A Madalena... ela teve um sangramento e estamos no hospital.

Mais uma vez antes de eu conseguir respirar para fora de todo o rio de
merda que era minha vida, me sentia sendo afogado.

Santos - Litoral

Edgar tragou o charuto e ouviu as primeiras batidas na porta.

Assim que escancarou a enorme porta de madeira topou com


Denise com a aparência judiada e roupas sujas.

— Como foi de viagem, querida?

O barulho do tapa que ela acertou no seu rosto subiu por toda casa.

— Você está fora! Acabou para você!

Edgar riu alisando onde a mulher tinha acertado.


— Vou levar em conta que ficou chateada comigo te abandonando na
rodovia há alguns dias atrás. Sofreu muito para chegar?

— Fora, Edgar! — Voltou a gritar e a gargalhada tomou lugar ao sorriso do


homem a sua frente. — Você está fora da sociedade!

— Não seja tola, tudo que conseguiu até hoje foi por mim, não por seu
falecido marido ou Carlos Alfredo, eu consegui! Eu não estou fora, Denise,
tudo é meu, os clientes, os contatos, tudo é meu! Se quiser continuar sendo
minha sócia, ótimo, se não quer, eu não digo que sentirei falta!

Denise engoliu o ódio e respirou fundo encarando o velho ao lado. —


Você foi um idiota, desgraçado!

— E você uma boba que nos fez perder cerca de 14 milhões em mercadorias,
tudo por capricho, eu só te deixei sozinha para pensar na sua cagada!

— Estamos quites então. Se deu por vencida se sentando no sofá branco.

— Como chegou até aqui?

— Com muito ódio, as pessoas não confiam em mulheres pedindo ajuda, por
isso demorei tantos dias, caminhoneiros nojentos que se viam no direito de
roçarem as mãos sujas em mim.

— Matou algum pela estrada?

— Teria feito se você não tivesse trago minha bolsa com a minha arma
dentro!

A gargalhada de Edgar voltou a irrita-la.

— Você devia ter voltado para casa. A mercadoria já foi, amanhã de manhã
eu volto para São Paulo, tenho uma reunião com outro italiano.
— Voltar sozinha para que me peguem? Nem pensar querido, podemos ter
nossas desavenças, mas estaremos juntos até o fim.

— Obrigado pela parte que me toca, querida.

— Eu vou com você.

— Onde?

— Na reunião com o italiano, quero conhecer o famoso Matteo Castelli, ouvi


dizer que ele teve alguns negócios enrolados no Rio de Janeiro.

— Isso não é da nossa conta. Cortou imediatamente.

— Tem certeza? Tráfico de pessoas pode nos render o triplo.

— Ele já tem o fornecedor, seria bobagem tentar negociar, aliás, não é


confirmado isso, Matteo ao que ouvi dizer nesta última remessa, ele está
levando apenas uma garota.

— Porque ele levaria só uma.

— Porque ele quer.

— Mesmo assim, acho que devíamos falar com ele sobre o assunto.

— Você não se cansa de fazer merda? Como quer começar um negócio de


tráfico de pessoas do nada? Nosso negócio é pó, a pura e boa cocaína, não
saia dos trilhos!

— Edgar, você nem imagina o que passei para chegar até aqui, eu saio dos
trilhos quando eu quiser, que horas saímos amanhã?

— Você está descontrolada desde que seu homem morreu, não é?


— Está louco? Eu nunca gostei daquele velho.

— Eu estou me referindo a Alfredo. Desde que a tal Madalena apagou Kaká


você não tem sido mais a mesma pessoa.

Denise fechou a cara e passou os dedos pelos fios loiros


embaraçados.

— Eles vão ter o que merecem, Enrico e aquela empregadinha gorda vão
sofrer!

— Você deve saber que Enrico também tem interesse em pegar você, agora
depois do que aprontou com o policial bonzinho que era o cão de guarda
dele.

— Não me importo, deixa a caçada mais interessante. Sorriu


diabólica enquanto levava a mão as costas e descia o zíper do vestido
demonstrando as intenções.

— Pensei que estivesse com raiva de mim.

— Acho que podemos selar a paz. Perdoo você.

— Não vai rolar... suba e tome um banho, você cheira a suor e perfume de
homem velho, sairemos as seis, é melhor tentar descansar da viagem difícil
que teve. Boa noite.

Edgar deu-lhe as costas indo em direção ao escritório, Denise se


manteve em pé, mordendo a carne interna da bochecha, salivando de ódio
em ter passado todos os perrengues dos últimos dias e ainda ser rejeitada.

Nenhum homem em sã consciência deveria rejeitá-la. Edgar teria o


que merecia na hora certa. Como uma cobra após atacar, se encolheu e foi
se esconder. Subiu as escadas que levava aos quartos tentando maquinar os
próximos passos.
40
Enrico De Giordano
Não sabia dizer como dirigi tão rápido, ou se tinha cometido alguma
infração no trânsito.

Quando recebi o telefonema da minha mãe dizendo que Madalena


estava no hospital eu revivi à noite que Patrícia forjou a morte e a notícia de
que nosso bebê tinha morrido.

Revivi também a tarde que tinha passado com Madalena e como ela
tinha dito que estava bem quando na verdade não estava, as cólicas tinham
um motivo, mas eu não quis contrariá-la, aceitei que não seria nada quando
significava que meus filhos podiam estar morrendo.

— Como ela está? Nem cumprimentei meus pais, já questionando como


Madalena estava.

— Estão fazendo exames. Meu pai respondeu enquanto minha mãe


choramingava ao seu lado.

— Era muito sangue. — Ela chorou mais alto e eu a olhei com pena. Doía em
mim, mas eu tinha certeza que nela também, ninguém mais que minha
mãe tinha passado os anos em que vivi de luto sofrendo por me ver na merda.

— Eles vão ficar bem, Lulu, foi só um susto. Meu pai a abraçou e me olhou
chateado. Sabia que ele a confortava mesmo que seus olhos dissessem que ele
não tinha certeza de nada.

— Ela estava sentindo cólicas quando eu fui vê-la. Eu devia ter trago ela a
tarde mesmo.

— Ela disse que começou após o almoço, eu também tentei trazê-la.


— Não posso perder nenhum deles. Sussurrei mais para mim do que para
eles.

— Não adianta ficar chorando pelo que não fizeram, vamos ter fé, primeiro
vamos esperar o médico aparecer.

Meu pai interviu e concordei indo na direção da poltrona do outro


lado da sala, longe de onde meus pais estavam, isso porque ouvir os suspiros
da minha mãe me deixavam ainda mais apavorado, e eu precisava pensar.

Teria sido culpa minha? Ter afastado Madalena, a mandado para casa
dos meus pais querendo deixá-la em segurança fez com ela perdesse meus
filhos?

Fechei os olhos e encostei a cabeça na parede, tentando regular minha


respiração aos poucos. Primeiro respirando e soltando por 50 vezes, depois
aumentei para 100, no 150 eu já me sentia totalmente relaxado. O silêncio já
era tudo em minha mente quando ouvi passos pesados.

— Familiares de Madalena Cereja?

— Como ela está? Os bebês? Perguntei afoito.

— Eu sinto muito por demorar tanto, fizemos o possível ela tinha perdido
muito sangue quando chegou aqui, o estado dela não é nada tranquilo.

Encarei o médico a minha frente, mas não conseguia distinguir nada


que ele dizia, ou questionar qualquer coisa.

Madalena tinha perdido os bebês?

Tinha mais uma vez perdido quem eu amava? Dias depois de perder
Jonas, eu não sabia quando Deus ia permitir parar com aquela merda de maré
terrível que minha vida tinha se enfiado desde que conheci Patrícia.
Madalena me odiaria? Ela botaria a culpa em mim?

Não estaria errada já que eu era mesmo o culpado.

Tentando protegê-la eu fiz a pior escolha, talvez se estivéssemos


juntos ela não teria se estressado. Eu tinha certeza que a culpa era minha. E
agora eu estava fodido.

Precisaria ser forte por ela, só que não conseguia me mover para
entrar lá, ou sequer abrir a boca para falar qualquer coisa que fosse.

Só desejava chorar em pensar que meio a todo pesadelo de ainda ter


pistas de Denise como apenas uma sombra eu tinha acabado de perder meus
filhos. Meus tão desejados bebês.

— Enrico? — Meu pai chamou e eu o olhei saindo do transe. — Você


escutou o que o médico disse?

— Na verdade não. Respirei apertado e comecei a hiperventilar. Era


inteligente o suficiente para saber que estava tendo um ataque de pânico.

— Querido? Minha mãe se colocou ao meu lado em um instante o médico


que conversava conosco me levou a cadeira mais próxima.

— É uma crise, está em choque pela grande emoção, vamos rapaz, controle a
respiração. Pediu e eu comecei a fazer o que ele pediu e o que já estava
fazendo minutos atrás.

— Filho, acalme-se, você não ouviu o médico? Eles estão bem na medida do
possível. O sorriso no rosto da minha mãe mostrava que eu estava mesmo
louco.

— O que? Encarei meus pais como um doente mental.

— Enrico, vamos lá, eu sei que é apavorante, mas sua mulher e seus filhos
precisam de você. Meu pai falou.

— Estão vivos? Sussurrei baixinho desacreditado.

— Você realmente não ouviu nada? Minha mãe se sentou ao meu lado.

— Ele está tendo uma crise nervosa, Luísa. Papai repetiu as palavras do
médico que continuava a me amparar.

— Estão vivos, Doutor?

— Sim rapaz. — Ele assentiu ainda me observando de perto. — O que sua


mulher teve é o que chamamos de deslocamento de placenta. Isso não parece,
mas é bastante comum no início da gravidez, ainda mais se tratando de uma
gravidez gemelar, o deslocamento pode sim causar o aborto espontâneo do
feto, mas não foi o caso da sua garota.

— Estão vivos. Falei como um bobo, meio chorando e olhando meus pais.

— Estão, filho. Mamãe comemorou e meu pai sorriu.

— Doutor... por que ela teve isso? Eu tive culpa? Digo, nós não estamos
passando por momentos fáceis no momento.

— Os casos de deslocamentos não são especificamente por um motivo, pode


ser ou não, mulheres estressadas, mulheres com pressão arterial desregulara,
ou mulheres normais e saudáveis, a placenta fica colada e pode vir a se mover
ou descolar quando estamos nesse início, o que causa o sangramento e cólica
que é o que Madalena sentia, foram rápido em trazê-la, nós conseguimos agir
com urgência e salvar os fetos.

— Então não foi minha culpa.

— Abortos espontâneos tem esse nome por uma razão meu rapaz.
— Eu preciso vê-la, posso?

— Só mais uma coisa. — Ele me olhou atento. — Eu sei que disse que não
foi sua culpa, mas a situação que Madalena está agora, eu acho necessário
dizer o que é indispensável para que essa gravidez seja levada até o fim.

— Faço qualquer coisa. Assenti.

— Para começar, ela passará a noite aqui, vamos continuar a monitorando


para o caso de alguma mudança ou volta nas cólicas, nada de esforços, ela
terá que viver o máximo possível em repouso, nada de pegar peso ou se
exercitar demais, sem estresses ou ações que possam alterar seu emocional
bruscamente.

— Pode deixar. Concordei prontamente e ele levou sua mão ao meu ombro.

— No mais, pode ficar calmo que sua mulher e seus bebês estão bem, a
propósito, dois garotões valentes.

Meu coração errou as batidas.

— Vocês viram o sexo? Falei arranhado.

— Sim, vocês ainda não haviam descoberto?

— Não, nos ainda veríamos na próxima semana.

— Bom, mas já estou adiantando, são dois meninos que estão mesmo afim de
ver o mundo.

Não sei quem chorou primeiro, levei a mão aos olhos explodindo de
felicidade quando percebi meus pais se abraçando.

— Dois menininhos, Luiggi! Eu não vou aguentar. Mamãe fez um pequeno


teatro e papai fingiu não estar chorando olhando para o lado e limpando um
olho.

— Pare de bobeira, mulher.

— Eu quero ficar com ela. Me coloquei de pé.

— Tudo bem, ela já foi transferida ao quarto, peço a compreensão de vocês


para que entrem um de cada vez, e depois disso apenas o acompanhante.

Quando parei frente ao quarto em que estava Madalena eu não segurei


minha felicidade, abri um sorriso enorme pensado que mesmo com todas as
dificuldades que teríamos ia dar tudo certo. Ousei a encarar o teto e agradecer
a Deus silenciosamente, pedindo perdão por questioná-lo minutos antes. Ele
estava cuidando de tudo, tinha me dado uma prova grande disso.

Abri a porta do quarto e vi Madalena deixar as lágrimas escorrerem


ao me ver. Estendeu o braço para que eu fosse ao seu encontro e segundos
depois estava a abraçado forte.

— Vai ficar tudo bem, meu amor.

— Me desculpa.

— Shh... não fale isso, você não teve culpa, talvez eu tive.

— Claro que não, Enrico, o médico disse que o primeiro trimestre e o quarto
mês é bastante complicado, mas eu devia ter escutado você e sua mãe e ter
vindo para o hospital mais cedo.

— É, ele me disse também. Levei a mão ao seu ventre acariciando.

— Eu nunca senti tanto medo na vida, foi desesperador pensar que estava
perdendo eles.

— Eles? Sorri abertamente não escondendo minha alegria.


— Você também já sabe, não é?

— Sim. Estou muito feliz e você?

— Eu também, já sentia que seriam menininhos, espero que sejam tão lindos
quanto você.

— Espero que sejam como você.

— Não mesmo, você trabalhou muito duro, os genes desses olhos verdes
água estão neles, eu posso apostar. Ela sorriu e eu beijei a ponta do seu nariz.

— O médico disse que você precisará tomar alguns cuidados.

— Sim, ele explicou, vou me cuidar, prometo.

— E eu prometo estar ao seu lado, estamos muito perto de acabar com os


problemas, e quando terminar serei um homem livre.

— Como assim? O que quer dizer com ser um homem livre? Seu olhar
curioso sobre mim me deixou um pouco inquieto, mas eu não mentiria mais,
eu não esconderia mais nada de Madalena para correr o risco de deixar ela
doente. Por isso escolhi bem as palavras e falei:

— Quando pegar Denise vou aceitar a proposta que meu pai vem fazendo há
anos, vou me afastar da delegacia e assumir as empresas.

Madalena deixou o queixo cair totalmente chocada.

— Enrico, você está louco?

— Eu não quero saber, Daniel. Quero que minha remessa seja embarcada
amanhã, eu já paguei pela porra da mercadoria! — O homem bateu a mão
na mesa visivelmente irritado. — Não volte a me ligar se não for me dar uma
boa notícia! Esbravejou já desligando o telefone sem ao menos se despedir.

— Com licença, senhor, pediu que avisasse quando o tal Francisco ligasse
ele está na linha.

— Ótimo, Lara, pode passar. Falou em forçada gentileza para a moça


incrivelmente tímida que havia assumido o cargo de sua secretária
recentemente, ele sabia que ela não merecia receber grosserias para
descontar problemas, mais uma vez alcançou o telefone enquanto a moça o
deixava sozinho.

— Francisco, meu amigo, que bom falar com você, alguma novidade?

— Vicente? Bom falar com você também, como está menino? A voz do amigo
de longa data o chamando pelo nome que inventara fez o homem sorrir
amargamente, e ainda mais por chamá-lo de menino. O fazia lembrar que
mesmo com apenas trinta e um anos ele já tinha sofrido e se vingado
bastante na vida.

— Eu estou bem, Chico. — Se limitou a responder esperando a notícia que o


homem daria, tinha sido bem claro quando pediu que o homem ligasse
apenas quando a sua carta deixada para Madalena fosse entregue, e se ele
ligava agora significava que sua garota tinha voltado.

— Ela foi aí? Fez como combinamos? Lembrou-se de tudo armado, ainda
quando estava na prisão de Campo Grande. Tinha contado a verdade a
Francisco e contado que iria se dar como morto, Vicente estava indo para
não mais voltar, e Aurélio assumiria de novo a sua vida, tinha combinado
que o homem confirmaria a todos, inclusive a Madalena que ele estava
morto, ninguém deveria saber da sua falsa morte, ali ele só confiava em duas
pessoas, e Madalena só iria descobrir que ele tinha escapado quando lesse a
carta que deixara.

— Então Vicente... digo, Aurélio. Eu ainda não me acostumei. Deu uma


risada, mas o tom de voz não o agradou, eriçou um arrepio em sua coluna
que o fez se mexer na cadeira.

— Fala logo, Chico, o que aconteceu?

— Eu entreguei sim, entreguei sua carta para Madalena, ela esteve aqui há
uns dias atrás.

— Esteve? Ela foi embora de novo? O resultado dos exames? Ela não é filha
do velho, é isso?

— Ela veio de passagem, fez os exames, deram positivo sim.

— Então?

— Então ela devolveu o que podia das terras, a fazenda diminuiu para menos
da metade, apesar de continuar grande, você sabe, agora voltou ao
verdadeiro tamanho de quando o primeiro Sênior tataravô teve. Quando o
pai de Madalena, Sênior Neto casou-se e teve Joaquim, a fazenda já tomava
toda a região, você sabe.

— Eu não sei o que é pior nesses sangues ruins, Chico, a corja de Sêniors de
tataravô a pai de Madalena, ou eles quebrarem a tradição desse nome
maldito com aquele demônio que eu matei. O homem brincou.

— São todos filhos cramunhão, Vicente, não muda nada. Ele riu.

— Mas me diga, o que ela pretende fazer com a fazenda? Já colocou à


venda?

— Ela queria vender, mas o moço que veio com ela a convenceu de reformar.

— Moço? — O vinco na testa aumentou mostrando em como ele tinha sido


pego de surpresa. — Que porra é essa, Francisco?

— Ãh... então, é isso que eu ia te contar, Madalena não estava sozinha não,
ela estava acompanhada do noivo dela, e pelo jeito que se abraçavam eles se
gostam mesmo viu.

— Mas que merda! — Xingou ignorando o homem do outro lado da linha. —


Chico, quem está tomando conta para ela aí da fazenda?

— Eu.

— Certo, ao menos ela não foi burra... escute, obrigado pela consideração
em ligar. Esfregou o rosto incrivelmente irritado com a notícia do noivado
repentino da mulher que ele esperava voltar a ser sua.

— Espera, Vice...Aurélio, o que pretende fazer?

— Eu pedi que Madalena me procurasse naquela carta que você entregou,


Chico. Falei que iria entender se ela estivesse chateada... mas porra, não
acreditava que ela estaria com outro, noiva ainda por cima.

— Seu Enrico parece ser um homem honesto.

— Enrico? É assim que ele se chama?

— É sim.

— Ok.

— Fica bem, filho.

— Vou ficar. Obrigado, de todo modo.

— Por nada.

— E Chico... — O homem chamou em forma de agradecimento pela


lealdade. — Qualquer coisa que precisar, não se acanhe em me ligar.
— Pode deixar garoto, juízo. Despediu-se e deixou Aurélio encarando o
telefone.

Madalena tinha um noivo? Então ela nunca o procuraria. Nunca.

— Lara! Gritou e viu a moça aparecer em seu escritório em segundos.

— Sim, senhor.

— Quando é minha reunião com Drummond em São Paulo?

— Daqui três semanas, senhor.

— Ok. — Concordou com a cabeça e a moça continuou o encarando sem


entender. — Já pode sair. Apontou a porta e ela correu para fora como um
cão assustado.

Em três semanas daria um jeito de ver o que Madalena estava aprontando,


com seus próprios olhos.
41
Enrico De Giordano
Madalena ainda me encarava com o rosto emburrado depois de eu
contar minha decisão de sair da polícia.

— Você não pode deixar seu sonho, Enrico.

— Meu sonho é viver em paz com minha família, eu não quero nunca mais
ter que passar por isso.

— Enrico...

— Amor me escuta. — Me debrucei sobre ela deixando nossas testas coladas.


— Estou ótimo com minha decisão, eu juro.

— Tem certeza?

— Muita. Eu sei o que estou fazendo. Além do mais, meu pai sempre
reclamou em não ter um substituto, ele vai amar a ideia, vou ter mais tempo
disponível para você e os bebês.

— Você tem que estar feliz!

— E eu vou estar. — Beijei seus lábios depois desci para sua barriga beijando
abaixo do seu umbigo. — O papai vai ter muito tempo para brincar com
esses guerreirinhos, não é? Sussurrei e vi Madalena sorrir.

— Eu nem acredito que ficou tudo bem.

— Madalena, você sabe que tem mesmo que


cumprir as ordens não? Repouso total amor.
— Eu sei, vou fazer tudo direito, juro.

— Que bom. Abri meu sorriso aberto e ela acariciou minha barba já grande.

— Gosto de você assim, te deixa muito sexy.

— Talvez eu adote esse visual quando me tornar um homem de negócios. —


Pisquei. — No momento é porque não estou tendo tempo de me barbear
mesmo.

Madalena sorriu corando as bochechas.

— Tem espaço para mim, aí? Perguntei levando as sobrancelhas.

— É claro que tem. Respondeu se ajeitando na cama. Me livrei das botas e


subi me deitando ao seu lado, ela se aconchegou em mim enquanto eu
repousava minha mão sobre seu ventre.

— Eu adoro tanto você. Ela sussurrou.

— Poxa vida, pensei que me amasse, Madalena. Brinquei.

— Amo, amo muito, mas adoro quando você tem atitudes como essas, em ter
ido me contar sobre a ameaça, sobre estar tão preocupado agora, sabe?
Demonstra que sou tão importante quanto você é para mim.

— Você é tudo para mim, Cereja. Respondi beijando seu cabelo e a ninando
até ela pegar no sono, eu não consegui pregar o olho, mas só de ter minha
mulher nos braços, e meus filhos vivos em sua barriga já me sentia
descansado.

O sol nasceu e uma enfermeira entrou no quarto se assustando ao me


ver deitado ao lado de Madalena, mas sorriu quando se aproximou e verificou
o soro.
— Volto mais tarde, com o café. Falou baixinho ainda sorrindo e eu não me
atrevi a responder, apenas sinalizei com a mão livre e ela nos deixou a sós
novamente.

Perto das sete e meia eu sai da cama e Madalena se remexeu me


procurando, ronronou como uma gatinha quando não me encontrou. Sorrindo
pela cena fui até o banheiro e lavei o rosto cansado, bochechando pasta de
dente.

Agarrei o telefone verificando as horas pensando que faltava pouco


para alguma notícia de Doug e voltei me sentando na cadeira ao lado da
cama.

— Porque levantou tão cedo? Madalena abriu os olhos preguiçosa.

— O dever me chama, bebê. Eu tenho que ir, você vai ficar bem?

— Vou, onde você vai? Acabou de amanhecer.

— Vou resolver nossa vida.

— Você achou Denise?

— Ainda não... mas estou bem perto.

— Tome cuidado, Enrico.

— Não preocupa, você não deve se estressar, lembra disso?

— Lembro. Ela revirou os olhos.

— Assim que acabar, eu volto.

— Você vai pegar ela hoje?


— Assim eu espero. Dou de ombros e ela segurou minha mão apertando
meus dedos.

— Vem aqui. Pediu e eu me aproximei o bastante para ficar sobre ela.

Madalena estendeu o braço livre do soro e fez o sinal de uma cruz


sobre minha testa.

— Que Ele te proteja, meu amor.

— Amém! Sorri e me abaixei para beijá-la.

— Eu devo estar com bafo! Virou o rosto e eu ri segurando seu maxilar


selando nossos lábios por um bom tempo.

— Eu te amo.

— Volta logo.

— Minha mãe já deve estar chegando para ficar com você. Avisei e comecei
a andar para a porta do seu quarto.

— Enrico? Chamou me fazendo parar segurando a porta.

— Faça o que tiver que fazer para ficarmos em paz. — Sentenciou.

— Até mais tarde, paixão. Sorri forçado e sai fechando a porta.

Faria até mais do que teria que fazer, eu estava pouco me fodendo para
os parceiros de Denise, queria que os gringos e Edgar explodissem, e era por
isso que eu e Douglas tínhamos comunicado a Federal, eles estariam
esperando no local marcado para fechar o cerco. A única pessoa que me
interessava ali era aquela velha desgraçada morta por minhas próprias mãos,
daquilo eu não abriria mão.
42
Douglas Saragoça
Mordi a ponta do chiclete e ofereci a outra metade a Enrico.

— Não quero.

— Deveria.

— Porque? Ele sobrou sobre a mão avaliando seu hálito e eu ri da sua cara.

— Não tá fedendo mais que o normal não, tô só tentando te relaxar.

— Vai tomar no seu cu!

Xingou e eu gargalhei.

— Eu sei que quando passou no concurso você deu o rabo para aqueles caras.

— Qual foi cara? Respondi ainda sorrindo.

— Você limpou o casebre?

— Porque se a gente vai matar mais um lá hoje. Dei de ombros enquanto


acariciava minha Magnum 357 como um troféu maravilhoso aos olhos.

— É, você tem razão. — Concordou. — E a gasolina?

— Já está lá, fica tranquilo cara, eu deixei tudo no esquema, agora é só pegar
a velha.

— Eu não vejo a hora de estar livre disso. Limpou o rosto de uma sujeira
invisível.

— Vai mesmo pedir pra te exonerarem?

— Com certeza.

— Que loucura... eu acho que vou sentir sua falta.

— Se não fosse burro podia ficar com meu lugar.

Olhei meu amigo que sorria ironicamente e decidi entrar na


brincadeira.

— Vai se foder. Respondi rindo.

— Ah, a verdade dói né? Mas para ser investigador eu só precisei ir lá fazer a
prova. Ri de novo e dessa vez ele me acompanhou.

— Olha o carro. Apontei e vi Enrico fechar a cara se ajeitando no banco.

— Caralho, esse fodidos nos ferrando há tanto tempo e batendo de carro


importado.

— Realmente, eu pago uma prestação alta para um caralho nessa belezinha


aqui. Apontei para o volante da minha Land Rover.

— Todo mundo sabe que isso foi ganhado com você roubando no poker
clandestino, ou seja, dinheiro sujo!

— Sujo não, eu lavei ele antes. Ri e ele balançou a cabeça recriminando.

Tinha que admitir um pequeno vicio em jogos de cartas, nunca jogava


se não fosse apostado, qualquer um consciente não se arriscaria a jogar
comigo, eu mesmo não me subestimava, se ousasse a sentar em uma mesa
para jogar, não sentava para perder. Já tinha ganho além de dinheiro, dois
apartamentos, e alguns carros.

— Como você quer fazer? Perguntei saindo do carro.

— Estava pensando em deixar Edgar para a Federal, mas aí seria só eu a


brincar hoje, vamos limpar os dois, deixa só os gringos para se acertarem
com eles, isso se eles chegarem a tempo, creio que não botaram muita fé em
nossa investigação, como sempre fazem. Não tem nenhum carro disfarçado
aqui.

— Aparentemente não mesmo, pior para eles, obrigado por pensar no meu
bem-estar, amigo, agradeço por poder testar minha belezinha nova. Balancei
a arma em punho.

— As ordens. Respondeu já atravessando a rua e indo para a parede que


levava ao portão que daria acesso ao depósito de bebidas abandonado que o
carro acabara de entrar.

— Eles não trouxeram nenhum segurança? Enrico encarava ao redor.

— Aqueles dois caras ali do outro lado. Apontei disfarçadamente.

— Vai lá, vou até lá atrás ver se tem mais. — Avisou já saindo na frente. —
Nada de tiros ainda. Sussurrou.

Atravessei a rua de novo e me aproximei dos caras. Não era mesmo o


momento de usar minha nova garota Leslie. Atirar faria muito barulho e com
os tiros deixaria as pessoas afoitas, teria de improvisar. Pensei tocando o
bolso de dentro da jaqueta e sentindo o objeto que nunca deixava para trás.

— Você tem isqueiro? Perguntei ao primeiro homem que estava encostado no


poste.

— Não tenho, o que é que faz aqui? Respondeu mal-humorado me analisando


de cima abaixo.
— Como está fumando se não tem um isqueiro? Perguntei já com a mão
dentro da jaqueta, ele me encarava pronto para briga e eu saquei a carteira de
cigarro escondendo o objeto com o polegar atrás da caixinha.

— Já disse que não tenho! Vaza isso é propriedade privada. Respondeu bruto.

— Estamos na rua cara, mas beleza então. — Dei de ombros e comecei a


andar. Estiquei o braço rumo ao pescoço do homem passando a lâmina de aço
sob seu pescoço.

O sangue começou a jorrar e seu amigo logo brotou a minha frente,


não perdi tempo o degolando também, tomando cuidado para não sujar minha
roupa, porque eu tinha um almoço com Aline e as crianças, não daria tempo
de ter que passar em casa.

Deixei os dois corpos no chão e corri para encontrar um Enrico já


alucinado me esperando para entrar, sabia que ele também tinha tido que agir,
sempre que seus olhos estranhos de gato ficavam tão pretos como a noite
significava que alguém tinha ido acertar as contas com Deus.

— Quantos lá atrás?

— Três.

— Usou a adaga?

— Ponta curvada. Falou calmo e eu dei uma risadinha fria pensando em


como aquilo era perfeito para estripar.

— A coisa lá não deve tá bonita.

— E realmente não está... vamos, os gringos devem estar chegando, e pode


ser que a Federal também.

— Vamos. — Corri com ele até a porta e subi pela parede encarando pela
pequena janela. — Só tem os dois lá.

— Eu não me importo, já vou chegar atirando.

— Não esqueça que Edgar é meu.

— Se a Federal vier, vão achar só o corpo deles aqui, podem achar que foram
os gringos, mas eu acho que eles vão escafeder no ar.

— Eles que façam o serviço deles. Ri e acompanhei Enrico até a porta de


trás.

Quando entramos, vi um Enrico que nunca havia visto em toda vida.


Ao meu lado chegava a fungar alto, aproximamos dos dois malditos de costas
para nós.

Não perdi tempo, caiu na rede era peixe, e aquele era grande. Mirei
em Edgar ainda de costas e dei o primeiro tiro que o atingiu perto da nuca.

Denise se colocou de pé de imediato assustada encarando o parceiro


cair primeiro de joelhos e depois bater no chão.

Em segundos segurava uma arma nas mãos, mas eu só conhecia uma


pessoa que era melhor de mira do que eu, e essa pessoa estava do meu lado.
Atirou na mão esquerda de Denise e eu vi a arma voar para longe enquanto
ela gritava com seu punho sangrando.

— Bom dia, sogra. Como vai você? Sua velha desgraçada. Andou rápido até
a mulher que já estava agachada e tentava recuperar sua arma a puxando
pelos cabelos louros falsos.

— Enrico, me solta, seu idiota! A mulher xingou quando ele enrolou suas
madeixas na mão a deixando de joelhos.

— Você só não vai morrer nesse segundo, sua puta ordinária, porque você
tem algumas coisas a acertar comigo.

— Eu não vou dizer nada! Gritou e recebeu uma bela coronhada em cheio
que fez o sangue brotar em sua testa.

— Isso é o que vamos ver.

— Só um? Perguntei chutando com o bico da bota o corpo inerte de Edgar.

— Faz sangrar mais. — Ele pediu estranhamente amargo. — Faz o triplo em


que fizeram em Jonas. — Ordenou e eu olhei para meu amigo.

Enrico segurava Denise pelos cabelos com a arma em punho frente ao


rosto dela.

Odiava matar pessoas. Sabia que talvez seria necessário desde quando
tinha entrado naquela profissão, e carregava comigo como um modo de não
me sentir tão mal era que se a pessoa era ruim, fazia o mal e prejudicava a
sociedade, ela merecia a morte, e essa morte sim deveria ser decidida pelos
homens, de resto deixava para o Senhor no qual tinha fé tomar conta.

Edgar era um deles. Maldoso, líder de uma organização que traficava


drogas e armas para o mundo, prejudicava a sociedade e prejudicava a mim já
que estava ao lado da mulher que ameaçava a família do meu melhor amigo.

Pensando assim, não hesitei em virar o corpo ainda com o pé e


desferir mais cinco tiros sobre ele já morto. Fazendo o que Enrico havia
pedido, o ferindo o triplo de vezes que nosso amigo tinha sido. Vi o sangue
brotar em sua camisa branca e o corpo sem vida no chão.

Costumava pedir pelas almas das mortes cometidas, mas eu tinha


certeza que aquele ali eu não pediria.

Enrico arrastou Denise até o corpo do homem.


— Olha só o seu amigo.

— Eu devo agradecer a vocês, esse cara já estava um pé no saco. A velha riu


amarga e foi surpreendida quando bruscamente Enrico levou seu rosto até o
corpo e esfregou sem dó alguma a cara dela sobre o sangue que escorria no
chão.

Quase choquei com a cena digna de filme de terror, o sangue


espalhado no rosto a deixando toda vermelha, espalhando até no começo do
cabelo.

— Para, seu desgraçado! Ela falou e Enrico esfregou mais algumas vezes a
sufocando.

— Nós temos que ir cara.

— Eu sei. Murmurou a puxando para que ficasse de pé.

Sai na frente dando cobertura enquanto Enrico vinha logo atrás


arrastando Denise que se mantinha calada, ainda com o rosto pingando com
sangue e a mão sangrando.

— Ah porra, ela vai sujar meu carro. Reclamei abrindo meu porta malas.

— Cadê o saco? Enrico indagou.

— Não trouxe sacos. Só algemas. Bufei retirando as duas algemas e


prendendo os braços e os calcanhares da mulher.

— Eu pago a lavagem.

— É claro, vou ficar bem na fita chegando com o carro cheio de sangue para
lavar. — Ri e vi a mulher nos encarar com raiva. — Está olhando o que
vadia? Perdeu o cu na minha cara? — Reclamei.
— Vai se foder!

— Não. É você quem vai. Afirmei arrancando minha camiseta pela cabeça.
Ironicamente e bastante repugnante vi os olhos interessados da ordinária
sobre meu abdômen.

— Você me deve uma Ralph nova. Falei para Enrico e embrulhei a cara da
mulher enfiando uma bola do tecido em sua boca a impedido de falar, eu
sabia que o tecido podia sufoca-la, mas preferia ela com pouco ar do que
deixar minha bebê recém adquirida suja com aquele sangue podre. Rasguei
sua blusa que parecia de seda e enrolei em seu pulso atingido. A joguei
dentro fechando porta-malas e assumimos os bancos da frente.

Liguei o carro e sai devagar pela rua. Assim que virei a esquina o
Bentley negro passou por nós.

— Os gringos com certeza chegaram.

— É uma pena para nossos amigos federais. Enrico deu de ombros com o
telefone na orelha.

— É, eu também lamento. Sorri irônico.

— Cassio, rua F, Quadra 10, verticais e horizontais. Entre em contato com o


seu cara na prefeitura, quero todas as imagens dessa câmera sumindo agora.
Certo, quando terminar me avisa, preciso mandar um belo agrado para vocês.

— Você sabe que apagando tudo, eles nunca vão achar os gringos que
passaram ali, não é?

— O que eu posso fazer, a família vem em primeiro lugar.

— Entendo, não estou criticando. Além do mais, já posso te considerar um


ex-delegado e aí essa história para polícia e mídia não ficaria nada legal.
— Esse também é um dos motivos de eu sair.

— O que? O olhei enquanto parávamos no sinal e ouvíamos os pequenos


chutes que Denise dava dentro do meu porta-malas.

— Jurei honrar e fazer justiça, isso que estamos fazendo é errado, e me sinto
mal em te colocar nessa comigo, mas eu não conseguiria sozinho.

— Tudo bem cara, a gente limpa a sujeira do outro, é assim que é e sempre
vai ser. Ri um pouco e vi meu amigo um pouco desorientado encarando o
nada.

— Eu sonhava em ser policial, e agora eu sonho em acordar e nunca ter me


metido nisso, conhecer Patrícia foi a pior coisa da minha vida.

— Mas se não tivesse entrado, não conheceria Madalena e nem estaria com
sua família formada agora, as coisas são feitas para acontecer.

— Eu sei, só que me sinto um traidor. Eu não devia estar abusando do poder


nem indo contra lei.

— Você mesmo disse, família em primeiro lugar.

— Eu sei, Doug, só que nunca me imaginei fazendo isso.

— Eu sei.

— Mas eu preciso. Pontuou.

– Com certeza.

— Será o fim da linha da minha vida antiga, o começo da minha vida nova.

— Eu nunca te julgaria, sei que você estaria comigo se fosse eu no seu lugar.
— Doug... — Enrico me olhou pela primeira vez desde que estávamos dentro
do carro. — Quando chegarmos lá, eu vou entrar sozinho com ela.

— Você tem certeza?

— Tenho sim, vai ser só eu e a maldita.

— Eu não sei se é uma boa ideia. Falei receoso por perceber o quão abalado
ele estava.

— É sim, eu preciso acertar as contas com essa safada. Quando terminarmos


nós vamos dar esse assunto por encerrado e vamos voltar para casa.

— Ok. Compreendi o seu pedido e ficamos em silêncio até parar o carro


frente ao casebre velho no qual na noite passada eu tinha trago a coitada da
Miranda. Ela ainda estaria morta perto da porta.

— Vou voltar logo.

— Tudo bem. Balancei a cabeça e vi meu amigo respirar fundo algumas


vezes antes de abrir a porta do carro.

— O que você acha de Lucca e Dante?

— Quem? Enruguei a testa sem entender.

— Meus filhos. O vi sorrir timidamente.

— Caralho, são dois garotos? Pensei que só ia descobrir semana que vem.

— Longa história, te conta na volta.

— Certo. — Eu ri de volta e o vi sumir para traseira do carro.

Vi Enrico sumir para dentro do casebre com a moribunda, e àquela


hora que passei esperando foram longas, mas eu sabia que lá dentro meu
amigo exorcizava seus demônios, por isso esperei, pacientemente pois sabia
que quando saísse eu teria de volta o amigo que eu conheci ainda no colégio.
43
Enrico De Giordano
O lugar sujo fedia a mofo, sangue e algo podre. O corpo da mulher de
Hugo estava perto de uma porta velha de costas, a poça de sangue um pouco
já seca e um pouco talhada. Alguns mosquitos rodeavam. Eu não fazia ideia
de como seria o inferno, mas olhando aquelas paredes escuras sujas e o odor
que aquilo estava eu tinha certeza que deveria ter um lugar lá parecido com
esse.

Empurrei Denise que algemada se desequilibrou para que caísse de joelhos


sobre o chão de madeira.
Reparei em como a mulher ainda que dominada por mim tentava parecer
altiva, os saltos nos pés a roupa rasgada e encardida. Tirei a camiseta do seu
rosto e livrei sua boca do bolo de pano.

— Você está acabado... — Ela sussurrou.

— Tem certeza que eu quem estou? — Abaixei para que ficasse frente a ela.
— Acabou, sua puta! Finalmente, você vai me dar sossego.

— Nunca vai acabar, você pode me matar, mas nunca vai acabar! Você acha
que só eu e Edgar cuida das coisas?

— Eu tenho certeza que não. Levei a mão até seu maxilar prendendo forte o
bastante para que ela fungasse com dor. — Mas eu também tenho certeza que
só você é fascinada o bastante comigo, e você será a última da sua família.

— Eu devia ter te matado ao invés de forjar a morte de Patrícia. Eu sabia que


aquela garota fraca ainda estragaria as coisas.

— Você sabe que não foi por ela que não me matou. Você sempre pensou
que poderia me enganar e confesso que conseguiu por um bom tempo.
— E ainda estaria conseguindo se aquela mulher não tivesse aparecido.

Não esperei muito para levar a mão aberta até seu rosto desferindo um
tapa forte o bastante para machucar sem deslocar um osso. Eu ia contra meus
princípios em estar agredindo uma mulher, mas tentava me convencer que na
minha frente não era uma, Denise não era digna sequer de ser considerada
humana, um demônio em forma de gente, a maldita era tão ruim que merecia
aquilo.

— Eu tive tantas chances... — Ela sussurrou encarando o teto.

— O poder não é tudo.

— Para mim é sim. Seus olhos pousaram nos meus.

— Pois você perdeu tudo, o dinheiro e o poder.

— Eu não me arrependo de nada! Matei aquele seu amigo bastardo e matava


de novo. Ele mereceu, sua empregadinha matou Alfredo.

— Não fale como se o amasse.

— Ele foi o mais perto do que eu senti de amor.

Meu riso irônico veio a garganta saindo um som estranho.

— Me poupe.

— Me poupe você, seu fraco apaixonado de merda!

— Agora eu sou o fraco? Você ser insensível e frígida não é culpa minha.

— Se tem uma coisa que não sou é frígida amor. Falou com ironia.

Puxei o seu rosto mais uma vez não me importando em sujar minha
mão com o sangue seco em seu rosto.

— Você acha que essa sua falsa beleza é tudo, não é? Peguei a navalha no
bolso a abrindo em um baque.

— Porque não me mata logo? Não é isso que veio fazer aqui?

— Eu quero te deixar bonita antes, bonita como a sua alma. — Falei


encarando seus olhos e não pensei muito antes de cuspir sobre seu rosto. —
Lembra do recadinho que me deixou? Que minha mulher seria a próxima?

Denise pareceu surpresa com minha atitude.

— Você não é mal, Enrico. Desista de tentar.

— Realmente... — Respondi agarrando seu cabelo e passando o metal


bruto. Os tufos loiros saíram em minha mão, deixando-a com o cabelo curto o
bastante. — Mas estou abrindo uma exceção para você.

Joguei no chão a sua frente e a vi engolir seco.

— Seu filho da puta!

— É mesmo? Minha voz rouca saiu baixa demais. Forcei a ponta da navalha
sobre seu rosto e vi o sangue brotar em sua bochecha enquanto eu descia
abrindo a pele em um corte até profundo em forma da letra “M” ouvindo-a
urrar de dor.

— Não é divertido quando é com os outros, puta?

— Seu infeliz! Choramingou levando os braços presos até o lado esquerdo.

— Queria muito que você ficasse viva, para conviver com isso. O “M” de
Madalena em seu rosto cai bem em você.
— Maldito! Desgraçado! Maldito! Eu devia ter te matado! Matado seus pais!
Eu devia... — Interrompi suas palavras acertando um chute em seu estômago.

Denise caiu no chão e se encolheu gemendo com a dor.

— Você acha que eu sou tão burro assim? Acha que como a boa sem
vergonha que é nunca tinha reparado suas investidas? Até quando Patrícia
ainda morava comigo, você sempre me tratou mais que um genro.

Brinquei mais uma vez com a ponta afiada descendo pelo seu outro
lado do rosto

— Você acha que eu não via que queria a cada segundo dar para mim?

— Cala boca!

— Cala a boca o cacete! Gritei me levantando e a colocando novamente de


joelhos.

— Eu sempre vi, fingia não ver, mas sempre vi. E sei que no fundo você só
não me matou pois tinha a esperança de ainda conseguir algo comigo.

— Eu fui mesmo uma tola!

— É realmente você foi. Respondi frustrado por ouvir sua confirmação.

— Todas as visitas, agrados e olhares, você nunca me olhou ou tocou como


uma sogra, sempre com segundas intenções. Mas saiba que nunca, nunca
senti nada por você, nem mesmo nojo. Pois se eu sentisse estaria me
importando!

— Eu podia te fazer me amar... eu sei que podia. — Ela choramingou e eu vi


pela a mulher se rendendo e abrindo o jogo. — Eu ia conseguir me livrar
desse jogo maldito, fazer você gostar de mim.
A risada que eu não consegui segurar a fez me olhar e aumentar os
soluços.

— Nunca.

— Eu gosto de você.

— Pois eu não. — Respondi e apontei para o corpo de Miranda. — Aquela


mulher ali é só mais uma que morreu por culpa das suas sujeiras.

— Eu não me importo.

— Eu sei disso. Só o que importa é o dinheiro. Só isso. Me coloquei de pé e


saquei a minha carteira do bolso de trás do jeans.

Denise continuava de joelhos, dessa vez parecia chateada e por


incrível que pareça duas listras de lágrimas desciam pelas bochechas feridas
que também sangravam e pingavam sujando seu vestido.

— Pois se só o dinheiro importa, você vai me dar paz comendo o que mais
gosta! Embolei todas as notas de dinheiro que eu possuía na carteira. Seus
olhos pousaram na minha mão amassando o bolo de notas de cem e
cinquenta.

Forcei seu maxilar abrindo sua boca e enfiei tudo ali até ela se
engasgar.

Ela tossiu tentando puxar fôlego. E eu respirei fundo sabendo que já


era hora de acabar com aquilo, não que eu achasse que já tivesse sofrido o
bastante, eu só não conseguia mais ficar ali, tinha coisas mais importantes
para fazer.

— Olha bem dentro dos meus olhos, quero ser a última coisa que você verá
viva.
Engatilhei a arma e abaixei até firmar em sua testa.

— Não valeu a pena, matar seu marido, sua filha, pessoas por aí, nunca valeu
a pena. Falei vendo a última lágrima descer antes do primeiro disparo.

Sabia que iria tirar um fardo das costas e ganhar outro, eu já tinha
matado algumas pessoas, mas todas em razão da minha profissão, nunca por
querer como tinha feito com ela e com todos os outros que trabalhavam para
ela. Mas o remorso não veio.

Olhar a mulher que arruinou minha vida de cinco anos atrás até hoje
morta, ainda com os olhos abertos e a boca cheia de dinheiro que ela tanto
buscava, não me trouxe dor, nem remorso, apenas a sensação de dever
cumprido.

Foi a minha vez de deixar as lágrimas rolarem, chorei não por tristeza e sim
por pensar que finalmente eu teria a vida que merecia. Longe daquilo, de todo
o podre que fui sufocado há anos.

Madalena tinha chego para me fazer sair da piscina de merda, segurou


minhas mãos e me deu força para sair daquela movediça.

Nunca mais eu pensaria na minha antiga vida, eu tinha renascido ali.


Naquele momento.

O grito rouco que veio na minha garganta saiu no minuto que mirei a
arma sobre o corpo já sem vida e a descarreguei sem nem morar onde
pegaria.

Gritei sentindo meus demônios saírem, não teria mais lugar para
tristeza e nem pensamentos naquela merda toda. Eu tinha para quem voltar,
tinha para quem viver.

Apertei o gatilho mais algumas vezes mesmo depois de descarregar a


pistola.
Encarei meus dedos sujos de sangue seco, minha camiseta com alguns
respingos. Mais uma vez cuspi sobre o corpo da mulher que quase conseguiu
me destruir.

— Vai para onde você merece, filha da puta! Suspirei dando as costas e indo
rumo à porta.

Abaixei pegando os galões cheios de gasolina que Doug já tinha


deixado ali. Comecei a distribuir o líquido por cada canto do casebre velho.
Ali tinha sido o local escolhido por mim durante anos para torturar alguns
caras que não abriam a boca quando precisavam, o playground particular meu
e de Doug viria a baixo junto com nosso passado.

Não levaríamos nada dali. Mas eu não queria nada.

Encharquei os dois corpos o bastante e sai para fora começando a


rodear a casa.

O carro de Doug estava estacionado longe, quase perto da estrada de


terra.

Peguei o fósforo e me afastei o necessário olhando por uma última


vez antes de lançar a chama.

Como uma bolha de fogo o local foi tomado por labaredas altas. Cai
de joelhos e deixei mais uma vez o choro me invadir, não sabia dizer quanto
tempo, mas as chamas já tomavam até o teto quando senti mão me cobrirem
para que eu ficasse de pé.

— Já chega cara, acabou.

Conclui mudo só balançando a cabeça arrasado.

— Cassio ligou, as imagens de circuito já foram apagadas, e aparentemente


os gringos ainda estavam lá, dois deles foram mortos.
— Bom.

— E o que vamos fazer agora?

— Viver meu amigo, vamos viver. O encarei sorrindo entre as lágrimas.

— Você merece isso. Ele me sorriu de volta e me abraçou.

— É uma pena termos perdido Jon nessa luta. Murmurei me sentindo um


pouco nostálgico.

— Ele foi vingado, e aposto que está sorrindo por nos onde quer que esteja.

— Eu também acho. Respondi encarando a primeira explosão no teto fazendo


as madeiras começarem a cair.

— Tenho um almoço com minha garota, mas depois volto aqui para ter
certeza que tudo vai queimar até virar cinzas.

— Eu agradeço, tenho que ir ao hospital ficar com Madalena.

— Está tudo bem? Você disse que ia contar o que aconteceu.

— Agora vai ficar. Falei arrancando a minha camiseta e caminhando com ele
de volta para o carro.

— Se alguém ver nos dois dentro desse carro vai realmente desconfiar que
somos gogoboys indo para uma despedida de solteiro. Enrugou a testa
encarando meu peito nu.

— Ou um casal, né amorzão?

— Só se você malhar mais, tem que ser fortinho para aguentar o tranco do
papai aqui.
— Vai tomar no cu, Doug. Ri alto da sua palhaçada.

— Não, é você mesmo quem vai. Riu também erguendo as sobrancelhas,


saímos de volta ao carro. Daquela vez eu não olhei para trás, porque nada ali
me importava. Estava finalmente livre.
44
Madalena Cereja
Abri os olhos e me remexi na cama encarando ao redor.

Enrico estava deitado no sofá perto da parede me olhando com um


sorriso que fez meu coração errar as batidas, estampado no rosto bonito.

Incapaz de segurar suspirei pensando em que loucura Deus estava


pensando quando me mandou um homem daquele.

— Oi. Falei sentindo a garganta seca.

— Olá, dorminhoca. Se aproximou colocando o corpo sobre a cama deixando


o rosto perto do meu, senti o cheiro bom de sabonete e a raiz do cabelo ainda
úmidas, que significava que ele tinha tomado banho recentemente.

— Que horas são?

— Pouco mais das duas, a enfermeira disse que você ia mesmo ficar
sonolenta com o medicamento do almoço.

— Sua mãe foi embora?

— Eu pedi que ela fosse, quero ficar aqui com você.

— Você... você não tem nenhum lugar para ir?

— Não se você não tiver que ir. Beijou a ponta do meu nariz e eu senti meu
estômago revirar. Não queria ter medo de perguntar se tudo tinha acabado,
mas estava começando a me convencer que tudo tinha dado certo já que
Enrico parecia feliz.
— Acabou? Gaguejei encarando seus olhos claríssimos.

— Sim, meu amor, Denise não será mais um problema.

— Ela está morta? Questionei e vi Enrico desviar os olhos por um segundo


dos meus antes de voltar e confirmar:

— Está.

Minha reação instantânea foi rodear seus ombros com meus braços. O
abracei desajeitada e ouvi sua risadinha quando afastei o suficiente para
espalhar em seu rosto beijos estalados.

— Que felicidade, puta merda, finalmente!

— Olha o palavrão, mocinha. Enrico ria da minha cara e não perdeu tempo
em assumir o lugar ao lado do meu se deitando na cama pequena que o
deixava quase com os pés para fora.

— Eu nem acredito, meu Deus, a gente tá mesmo vivendo isso?

— Sim, cerejinha, você está livre dos seus demônios e eu livre dos meus,
agora somos só nós.

— E eles. Falei me referindo aos bebês.

— Isso mesmo, só nossa pequena família contra o mundo.

— Caralho, é sério, não dá para não falar palavrões.

Enrico gargalhou e acariciou meu cabelo respirando baixinho.

— Lucca e Dante. Sua voz saiu abafada por sua boca estar no meu pescoço.

— Quem?
— Eles. Pousou a mão sobre minha barriga.

— Você escolheu os nomes? Sem mim?

— Você não gosta? A gente pode escolher juntos se você quiser.

Mirei seu rosto envergonhado e me senti mal entrelaçando nossos


dedos.

— Eu gosto. Pior que eu gosto muito. Abri um sorriso e o vi soltar o ar.

— Mesmo?

— Você acha que eles serão meio italianinhos tão turrões quanto você?

— Eu não sou turrão. — Revirou os olhos. — E eu certamente desconfio que


eles também serão metade bichinhos do mato pirracentos.

— Você me chamou de bicho do mato?

— Bom, quando você caiu de amores por mim não sabia nem mexer num
celular.

— Seu idiota, sai da minha cama. Empurrei seu peito tentando expulsa-lo,
mas seu riso se misturou com o meu até ele colar nossos lábios iniciando um
beijo lento que se transformou em um amasso quente em pouco tempo.

Enrico passeava as mãos por meu corpo assim como eu explorava o


seu.

Rocei a mão sobre sua ereção inchada sobre o jeans e o ouvi suspirar.

— Mas que merda, para de me torturar.

— Eu quero tanto você. — Beijei seu queixo. — Eu preciso mesmo voltar


para casa.

— Mesmo que você volte, moça. A recomendação é repouso absoluto. Falou


afastando minha mão e estrategicamente a colocando sobre meu seio direito
para aproveitar e apalpá-lo.

— Nós não conversamos com o médico sobre isso.

— Mas nem se ele liberasse. Eu não quero arriscar nada.

— Vamos ficar seis meses sem sexo então?

— Vamos.

— Tem certeza?

Riu. — A nossa sorte é que você pode me pagar vários boquetes.

— Enrico? Sai.

— Amor, eu estou brincando, é claro que eu vou chupar você dia e noite, nos
só não podemos pôr em risco os bebês.

— Eu definitivamente não quero falar sobre isso. Desviei os olhos para o


teto.

— E sobre nosso casamento, você quer falar?

— Não vou me casar com você. Resmunguei emburrada.

— Ah, mas vai mesmo, nem que eu te leve amarrada ao cartório.

— Veremos. Implico e ele se remexe o bastante para ficar de lado, sua mão
desceu por dentro do lençol e puxou a minha bata de hospital para cima.
— O que pensa que está fazendo? Segurei sua mão que subia por minha coxa.

— Acalmando você.

— Tira a mão, estamos no hospital, alguém pode entrar! O olhei indecisa,


com medo, porém com vontade.

— Shhhh... então não faz barulho. Sussurrou beijando minha bochecha


subindo para minha orelha onde mordeu o lóbulo e beijou minha nuca.

Foi minha vez de remexer quando senti sua mão pousar sobre meu
monte entre as pernas, mesmo temente com o que poderia acontecer se
alguém entrasse ali, fui incapaz de não abrir as pernas para receber a primeira
pincelada de seus dedos entre meus lábios.

— Quieta, baby, se alguém entrar aqui estamos mesmo encrencados.

— Como você quer que eu fique quieta? Mordi o lábio e instantaneamente


empurrando contra seus dedos.

— Você está tão molhada... está se sentindo bem?

— Bem demais. Respondi de imediato e senti seu sorriso contra minha


bochecha.

— Vira aqui, me beija, para eu engolir todos esses seus gemidinhos. Pediu e
eu virei o rosto encontrando o seu.

Nossos olhos grudaram um no outro e colamos nossos lábios.

A nossa conexão era tanta que eu fui incapaz de fechar os olhos, então
Enrico fez o mesmo, me beijava fundo com os olhos abertos, enquanto seu
dedo brincava lá em baixo, rodeando meu ponto rígido por um tempo para
me invadir com os dedos e quando sentia que eu estava perto voltava a rodear
em minha pulsação.
— Enrico... — Engasguei com as palavras e levei minha mão em seu jeans, o
sentindo sobre o tecido.

— Tsc, tsc... — Me recriminou com um barulho quando sentiu meus dedos


tentando o livrar da calça.

— Eu quero! Falei como uma menina emburrada.

Desfiz o botão e abaixei o zíper, abaixando o jeans e a cueca o


suficiente até sentir a ponta do seu pau duro e quente em minha mão.

— Porra, Madalena. Xingou quando movi meus dedos e aumentou a


velocidade em que esfregava mim.

— Aí... Deus... eu vou gozar. — Supliquei afastando a boca da sua, mas ele
voltou o rosto para o meu.

Aumentei o ritmo da minha mão e senti seu membro crescer ainda mais
quando me arrisquei a enfiar a mão e acariciar suas bolas.

— Que porra. Xingou no mesmo momento em que eu soltava um:

— Puta que pariu.

Senti minhas pernas tremerem não conseguindo me manter de olhos


abertos, gemi na boca de Enrico enquanto o gozo me lambia gostosamente.

Ainda gozando senti seu pau pulsar e ele segurar minha mão sobre
enquanto os jatos quentes da sua porra sujavam minha mão e sua barriga.

Enrico tirou os dedos de mim e os levou aos lábios. Corei as


bochechas as sentindo queimarem quando ele riu sem vergonha nenhuma e se
ajeitou sobre a cama.

Me sentindo ousada e quente, aproveitei a minha mão também suja e


o surpreendi provando com a ponta da língua um pouco do seu gosto
chupando a ponta do meu dedo.

— Puta que pariu, você joga muito baixo. Me olhou ainda chocado, mas com
sorriso no rosto e no olhar. Pulou para fora da cama subindo suas calças e
sumindo para dentro do pequeno banheiro.

Voltou com uma toalha molhada e fez questão de me limpar.

— Se a enfermeira entrar, com certeza ela vai saber que as coisas aqui
esquentaram, é só olhar para sua carinha. Abaixou me dando um beijo.

— E aí ela tem certeza quando olhar para a sua.

— Sem dúvida. — Piscou. — Está vendo? Os próximos meses não serão tão
ruins. Brincou.

— É eu acho que não.

— Agora podemos conversar sobre o casamento? Falou quando voltou e se


sentou ao lado da cama.

— Você me convenceu, me caso com você em qualquer lugar que você


queira, maldito. Abri um sorriso.

— Eu não tinha dúvida nenhuma disso, e sobre o lugar, estava pensando se


você não queria se casar em Alvorada.

— Alvorada? Está falando sério? O olhei em choque pensando na


possibilidade.

— Se você quiser, acho que conseguimos montar um altar perto da sua antiga
casa.

— Enrico... — Senti meus olhos se encherem de lágrimas.


— Seria como um recomeço, você enterraria o passado e daria um novo
passo.

— Eu quero muito. Concordei.

— Então vamos cuidar disso. Falou levando minha mão aos lábios e
beijando.

— Depois que os bebês nascerem, certo?

— Depois que eles nascerem. —Concordou. — Até lá planejamos tudo, e


teremos tempo de reformar o lugar.

— Vai ser incrível. Olhei para o nada imaginando o quanto eu tinha sonhado
com aquilo sem nem pensar.

— Já é incrível, meu amor, vai só ser ainda mais.

— Você tem razão. — Sorri satisfeita.

— E depois, temos que comprar uma casa, quero um lugar grande para os
meninos brincarem.

— Com muitas árvores.

— Sim, bichinho. Ele riu e eu o belisquei imensamente feliz por finalmente


imaginar um futuro em paz.

São Paulo - Jardins

— A minha reunião é amanhã? O homem perguntou se sentando na poltrona


da sua suíte enquanto bebia uma dose de whisky puro.
Desde que havia chego em São Paulo se sentia sufocado por pensar
que estava tão perto de vê-la.

— Sim, senhor.

— Então pode sair Pedro, obrigado por tudo até então.

— Precisando é só chamar, senhor. Se despediu o deixando novamente


sozinho.

Aurélio encarou no celular o número de telefone e endereço que com


muito custo tinha feito Francisco lhe passar.

Tinha passado noites querendo ligar, mas estava decidido que a


veria, telefonemas não resolviam as coisas, porque telefonemas não tinham
olho no olho.

Terminou seu copo e se levantou encarando-se no espelho.

Era um homem bonito, usando aquelas roupas então ficava ainda


mais atrativo, o terno de grife era pomposo, e o sapato italiano tinha sido
uma fortuna.

Na sua fazenda ele não se vestia assim, mas ainda usava botas
importadas caríssimas, porém aquele seu estilo gentleman era usado quando
ia tratar de negócios.

E era para isso que ele estava ali, para fechar um novo contrato e se
por sorte voltar para casa com sua futura esposa.

Desceu o elevador e esperou até que um táxi lhe fosse arranjado na


portaria.

— Para onde senhor?


— Para esse endereço. Entregou o papel ao motorista.

— É para já, meu patrão.

Enquanto o táxi cortava as ruas, Aurélio olhava o movimento


pensando em como Madalena devia ter se divertido em ver tudo aquilo pela
primeira vez, desejou ter estado com ela, Joaquim tinha o feito perder
Madalena? Ele não queria sequer pensar naquela possibilidade.

Ela tinha o prometido voltar, não era possível que o tal Enrico tinha
ganhado tanta importância.

Quando parou frente ao prédio, pediu que o taxista aguardasse pois


infelizmente temia não ser recebido.

— Vim para ver Madalena e Enrico. Mordeu a língua ao mencionar o último


nome.

— Seu Enrico e dona Madalena acabaram de sair moço, o senhor talvez


pegue eles ainda saindo da garagem.

— É mesmo? Obrigado então. Deu as costas e saiu do condomínio correndo.

A Evoque preta já estava pegando a rua, e então voltou para o táxi


correndo.

— Meus amigos estão naquele carro pode seguir. Quero fazer uma surpresa.

— Sim senhor. O taxista concordou satisfeito por já perceber que a corrida


sairia cara.

Quando o carro adentrou ao shopping Aurélio pagou o que devia ao


táxi e saltou correndo para o estacionamento mantendo uma distância
segura.
Viu o casal entrar no elevador que levaria ao terceiro andar do
shopping e entrou no outro indo atrás.

Quando a caixa metálica parou ele saiu, enxergou de costas


Madalena de mãos dadas com o tal Enrico, chegou a espumar de raiva e teve
que se controlar para não ir até lá e fazer uma cena ridícula.

Só teve certeza de que ainda tinha um coração batendo dentro dele


depois de todos aqueles anos vivendo para vingança, quando depois de
gargalhar alto por algo que o cara tinha dito, Madalena se pôs de perfil e o
chocou.

Aurélio viu todos os planos voando por terra quando percebeu que Madalena
estava marcada por outro. Levando no ventre um fruto do seu novo
relacionamento.
45
Madalena Cereja
Estava esparramada no sofá da cobertura com os pés sobre a mesinha
de centro enquanto esperava Aline voltar da cozinha.

Tinha se passado um mês desde que eu tinha tido que ir até o hospital,
hoje de manhã Enrico e eu tínhamos ido a mais uma consulta e saímos
satisfeitos ao receber boas notícias, os meninos estavam bem, eu estava
ótima, e finalmente tinha recebido liberação para ter relações sexuais. Não
que significasse que Enrico se arriscaria, ele estava convicto em passar os
próximos meses nos abstendo, mas eu poderia tentar a sorte.

Há duas semanas ele tinha definitivamente deixado para trás a sua


carreira na polícia, tinha recebido a aceitação de afastamento e conversado
com Luiggi sobre assumir a construtora, meu sogro não estava cabendo em si
de empolgação. Por isso nossas noites estavam se dividindo entre eu ler livros
ou assistir filme e quanto ele se dedicava em estudos e análises de papéis da
empresa.

— Ele está mesmo empenhado em pintar desenhos no quarto dos bebês?


Aline me puxou dos meus pensamentos me entregando um copo de suco e se
sentando ao meu lado.

— Está, você sabe, quando ele coloca algo na cabeça... de todo modo já
deixei combinado com Luísa que se não gostarmos podemos cobrir tudo. Ri
da cara engraçada que minha amiga fez.

— Com Douglas o ajudando lá em cima? Pode ligar para o pintor... — Riu


alto. — Pensei que vocês iam mudar para uma casa.

— É nós íamos, mas todas que achamos não pareciam boas o suficiente,
Enrico encontrou defeito em cada uma delas acredita? Por fim a que achamos
é perto da casa dos pais dele mas precisa de muitos reparos, decidimos
reformá-la e por isso estaremos aqui até então.

— Bom, até porque bebês não ocupam tanto espaço.

— Foi o que eu disse. Até eles fizerem um ano a casa já vai estar pronta, aí
sim mudamos.

— Parece um sonho né, amiga? Você parece tão feliz com Enrico, e agora
com os bebês. Murmurou enquanto encarava o sofá.

— E você parece tensa, o que está acontecendo? É o Rafael?

— Não. — Me olhou aparentemente envergonhada. — Rafael está ótimo,


bem até demais eu diria, preocupado com os filhos e me deixando totalmente
em paz.

— Então o que é?

— Amiga eu contei que Doug me pediu em casamento não foi?

— Sim, e você disse que não.

Aline enrugou a testa. — Eu não disse não, eu só disse que era melhor
morarmos juntos antes.

— Tá, e daí?

— Ele disse que quer ter um filho comigo.

— O que? A encarei e ela balançou a cabeça em contragosto.

— E você não quer.

— Não... — Quer dizer, eu quero, mas não agora. Madalena, eu tenho medo,
medo de me casar e repetir meus erros, eu amo o que eu e ele temos sabe?
Companheirismo e sexo quente.

— E teme que casando e tendo filho...

— Amiga, eu sei que você está bem nessa fase, mas sim. Sei lá, eu acho que
me traumatizei. Perder Rafael foi fácil, mas perder Doug me destruiria.

— Mas se você continuar negando tudo...

— Vou perdê-lo. É isso que tenho medo. Além do mais também tem a
confecção, consegui finalmente inserir o nome no mercado, estaremos
presentes no próximo desfile de moda dos empreendedores em Minas Gerais.

— Isso é ótimo.

— Sim! E eu não teria tanto tempo, para ter um bebê.

— Amiga, acho que você fica inventando desculpas, porque está se borrando
de medo.

— Porra, sim! — Ela riu e colocou as mãos nos olhos. — É exatamente isso.

— Aline, se tem uma coisa que eu aprendi nos últimos tempos é que eu não
sei como, mas nós duas tiramos a sorte grande. — Aponto para o rumo do
corredor. — Aqueles dois homens lá no quarto nos amam, não podemos ter
medo de viver e perder eles por isso.

— Você acha que eu devia ter um bebê?

— Pode ao menos aceitar se casar, e então depois do casamento...

— É, você tem razão. — Ela se remexeu no sofá. – Até porque dividir uma
casa com ele tem sido ótimo, não é possível que vire um pesadelo só porque
assinaremos um papel.
— Pois é.

— O que estão fofocando aí? — Doug surgiu primeiro, com a camisa


enrolada no rosto como um talibã e andou até minha amiga se jogando no
sofá ao lado dela. — Caralho, Enrico está tentando matar a gente, ele tá me
fazendo pintar nuvens no teto!

— Que bom que você não tem labirintite então. Aline o olhou sorrindo e ele
balançou a cabeça a repreendendo antes de selar os lábios com os dela.

Encarei o corredor e vi meu noivo dignamente perfeito vindo com os


olhos em mim, usando apenas uma bermuda que caia baixa em seus quadris.

— Ei, como você se sente? Perguntou quando se sentou ao meu lado


passando os braços por meus ombros.

— Perfeitamente bem, senhor.

— Acho que paramos por hoje, Doug não para de reclamar de fome.

— E é bom me alimentar, não vou trabalhar de graça não, porra.

— Cala boca.

— Que cala boca o que, bicho amarrado, acabou de se tornar CEO de uma
das maiores empreiteiras do país e não quer pagar pintor para o quarto dos
moleques. Veja só, eu humildemente investigador de polícia pretendo quando
nossa princesinha nascer montar um castelo digno para ela.

— Princesinha? Aline o olhou derretida.

— É amor, eu já conversei com Deus, vamos fabricar uma garotinha. Falou


piscando e vi Aline tão abalada que poderia ser capaz de pular sobre ele e
conceber o bebê ali mesmo.
— Seu pau no cu, eu não estou economizando nada só quero que seja
especial.

— Aham, você acha que me engana, né? Você dá tchau de mão fechada.
Douglas implicou e vi Enrico revirar os olhos rindo.

— Tô com fome. Doug reclamou.

— Ah, mas que merda, você não precisa vir mais.

— Ah é? Eu perco a minha sexta de folga para pintar nuvem e você me


esnoba? Colocou a mão sobre o peito em drama.

— Podíamos ir ao shopping. Aline deu a ideia.

— Ao cinema. Completei.

— Não posso ficar sendo visto em encontros duplos, ainda mais cinema, vou
perder minha marra de mal. Douglas insinuou.

— Amor, cala essa boquinha linda. Aline apertou o maxilar do loiro que riu
apaixonado.

— Obrigado, Aline. Enrico agradeceu e fez Doug resmungar.

— E então? Pergunto olhando Enrico.

— Você não está cansada? Acordou bem cedo hoje.

— Eu estou bem amor, o médico disse você não ouviu. Ele até me liberou
para alguma caminhada, e para alguns exercícios. Brinquei levantando as
sobrancelhas.

Enrico riu me repreendendo ao balançar a cabeça.


— Certo, vamos ao shopping, nos encontramos lá em uma hora, é o tempo de
tomarmos banho e nos arrumar.

— Não esqueça sua carteira, porque é você quem vai pagar. Doug avisou se
levantando e puxando Aline junto.

Depois que eles se foram, fomos para o quarto, eu indo escolher um


vestido mais soltinho enquanto Enrico se enfiava no chuveiro. Sorriu ao
passar por mim e acariciou a barriga frente ao espelho.

— Te amo. Beijou minha têmpora e foi tomar sua ducha.

Sentindo os hormônios da gravidez dar as caras eu me emocionei


sozinha pensando em como eu estava feliz.

A mão livre de Enrico brincou sobre meu joelho enquanto parávamos


no semáforo, voltando para casa depois de aproveitarmos um pouco da sexta-
feira com nossos amigos.

— Consigo ver fumacinha saindo da sua cabeça, cerejinha, o que você tanto
pensa?

— Aline comentou que Douglas quer ter um bebê também.

— É mesmo? — Ele ergueu as sobrancelhas e voltou a atenção no trânsito


que começava a andar.

— Ele não comentou?

— Na verdade não, não falamos sobre isso.

— Ela me disse que está com medo...

— Bom, mas ela já tem filhos isso não faz sentido, amor.
— Por isso, ela diz que sabe das dificuldades e tem medo que com um bebê
ela perca o que tem com Doug...

— Espera. —Enrico riu indignado balançando a cabeça. — Você não está


achando que vamos nos afastar por causa dos bebês, não é?

Olhei para o outro lado, me sentindo totalmente infantil com minhas


inseguranças. Enrico estava fazendo questão de participar de tudo, vivia me
mimando, desde que tinha se afastado da delegacia tinha deixado como
exigência a Luiggi que só assumiria as empresas depois que os meninos
nascessem, mas ainda assim eu me sentia insegura. Talvez pelo fato de que
nos últimos tempos vivíamos passeando por aí e eu vivia me mordendo de
ciúmes por toda atenção e olhares que ele recebia.

— Madalena? — Me chamou e eu continuei a ignorá-lo tentando segurar as


lágrimas que insistiam em rolar por minha bochecha.

Notei o carro encostando na entrada garagem do nosso prédio e seguir


rumo a nossa vaga depois que o portão abriu. Enrico estacionou e desligou o
carro com o silêncio sufocante ainda nos rondava.

— Esquece. Falei com a voz embargada destravando o cinto e fazendo


menção de descer.

— Claro que não. — Senti sua mão puxar meu rosto para que eu o olhasse.
— Vamos conversar. — Pediu docemente.

— Desculpa.

— Madalena, desculpar pelo o que, meu amor?

— Eu estou com medo também... de perder o que temos.

— Amor... — Enrico também tirou o cinto de segurança e me puxou para um


abraço. — Porque isso agora? Você acha mesmo que vamos nos afastar
quando eles nascerem? Eu sinceramente acho que vamos ficar mais unidos
que nunca.

— Você ainda me acha bonita? Perguntei chorando.

— Mais bonita que nunca. Sua risadinha safada me fez engolir alguns
soluços.

— Tem certeza? Você viu quantas mulheres te olharam hoje à tarde? Quantas
te jogaram charme? E aquela garota na livraria. Bufei me lembrando da
abusada que fingiu não me ver e descaradamente pediu o telefone dele.

— Eu não reparei em nenhuma delas, estava ocupado olhando para você. —


Sua mão alisou minha bochecha sorrindo. — Os hormônios estão te deixando
ciumenta?

— Estou falando sério. — Desvio os olhos dos seus. — Eu estou me sentindo


tão pouco atraente...

— Caralho Madalena, mas você está, está, gostosa pra cacete, paixão.

— Então por que você não me toca mais? Questionei sentindo minhas
bochechas queimarem.

— Baby, você sabe que não quero por vocês em risco de nada. Falou me
olhando com descrença.

— O médico até liberou.

— Liberou hoje.

— Então quer dizer que voltamos a transar hoje? Ergui uma sobrancelha e
Enrico gargalhou baixinho.

— Tudo isso se resume a sexo?


— Não, eu só estou mesmo perguntando se você ainda me quer.

— Isso te responde? — Levou minha mão até o volume entre suas pernas. —
Ou você ainda tem alguma dúvida? — Piscou. — Eu também sinto sua falta,
Madalena.

— Então...

— Amor, é perigoso... você sabe que sim.

— Eu estou bem.

— E se eu cutucar os bebês? Você sabe que... que eu sou um pouco grande.

— Enrico? Revirei os olhos irritada.

— É sério.

— Eu só não quero que você procure ninguém na rua.

— Está louca, Madalena, eu não acredito que disse isso!

— Eu sei... desculpa, eu não devia ter falado isso. — Levei a mão ao seu
rosto. — Desculpa mesmo, fui uma idiota.

— Sim, foi mesmo. Eu esperava que seu humor instável me deixasse menos
maluco.

— Sinto muito... eu sinto mesmo, não quis dizer isso ok? Eu sei que você
seria incapaz.

Enrico encarou o nada por um tempo. E eu totalmente envergonhada


só queria fugir dali.

— Vou subir.
— Não. Exigiu que eu ficasse me segurando pela mão enquanto usava a outra
para afastar seu banco e o inclinar.

— O que está fazendo?

— Eu sou culpado por todo esse mau humor, eu devo estar te dando poucos
orgasmos.

— Não, amor, você é ótimo... — Falei me lembrando o quanto ambos


estávamos expert em técnicas orais devido às longas horas as quais nos
dedicávamos nesses últimos tempos devido a penetração ter sido banida
desde que tinha ido parar no hospital.

— Você quer pau, eu entendi. Enrico sorriu devasso e senti meu estômago
revirar ao vê-lo abaixando o jeans o suficiente para deixar livre a ereção.

— Eu... — Tentei falar qualquer coisa, mas as palavras ficaram travadas na


garganta.

— Tsc, Tsc... — Fez um barulho com a boca em repreensão enquanto se


acariciava me olhando. — Está querendo arregar, cerejinha?

— Estamos no estacionamento.

— Sobe aqui logo. Apontou para si mesmo e eu encarei ao redor ainda


retraída.

— Enrico, isso é loucura.

— Anda, paixão... eu também estou com saudades da sua boceta, quero te


comer.

Com receio me movi para cima do seu colo, o montando e sentindo


seu membro duro entre nós. Rebolei e o vi deixar o ar escapar entre os dentes
enquanto nos ajeitávamos.
Em um segundo suas mãos estavam por baixo do meu vestido
segurando cada lado da minha bunda me incentivando a rebolar mais algumas
vezes antes de segurar minha calcinha e a forçar até que rasgasse a jogando
sobre o banco do passageiro para voltar e verificar o quanto eu estava
molhada.

— Está ansiosa, minha gatinha?

— Muito! Respondi animada o bastante.

Enrico se juntou a mim sorrindo, achando graça de toda minha


empolgação.

— Senta devagar, faz tempo e você vai estar muito apertada, além do mais
não queremos e nem podemos fazer você sangrar.

— Ok. — Concordei jogando a cabeça para trás sentindo seu carinho com os
dedos. Depois que a cabeça do seu pau se encaixou em minha entrada ficou
ali por um tempo, apenas pincelando misturando todo o nosso mel.

— Senta, sua gostosa do caralho.

Obedeci, Enrico. Desci sobre seu mastro rígido e no mesmo momento


um rugido que chegava a ser engraçado saía da minha garganta.

— Puta que pariu, que delícia! Comemorei abalada por perceber o quanto eu
tinha sentido saudade daquilo.

— Você tá esmagando meu pau, Madalena, eu não vou durar nada, porra!
Enrico resmungou mordendo os lábios e eu apreciei a cena. Começando a me
mover lentamente com suas mãos em minhas ancas me guiando no ritmo.

— Sente isso, Madalena? — Questionou quando aumentei um pouco o ritmo


e os barulhos dos nossos corpos era a única coisa que podia se escutar se
misturando com gemidos e respirações pesadas. — Sente o quanto eu amo
você? Senti sua falta, minha menina. Nada e ninguém vai nos afastar um do
outro, já passamos coisas demais até aqui, confia em mim.

— Eu confio. Choraminguei jogando minha cabeça para trás, afim de


mergulhar naquela imensidão de sensações que me invadiam.

— Então pare de ter medo.

— Ai... Merda...

— Isso gostosa, contrai mais, que tá uma delícia. Pediu quando acariciou meu
clitóris e fiz o que me pediu soltando os primeiros espasmos do meu
orgasmo.

— Eu amo você. Amo você. Me declarei sentindo sua boca cobrir meu seio
direito o chupando com gana.

— Goza, porra, goza pra mim, cerejinha.

— Enrico... ai meu Deus! Gritei mesmo sabendo que se alguém estivesse na


garagem iria escutar, mas eu estava pouco me lixando.

Quando as primeiras ondas de êxtase me atingiram eu gemi alto


subindo e descendo contra ele como uma descontrolada, queria que ele me
desse tudo que eu pudesse conseguir.

Parei de me mover sobre Enrico, deixando minha cabeça se esconder


em seu pescoço e senti ele me penetrar mais duas vezes antes dos jatos de seu
gozo e seu palavrão na voz rouca gostosa invadisse minha mente.

— Isso foi realmente sensacional. Ele limpou os fios de cabelo da testa me


vendo voltar ao meu lugar.

— Foi sim. Sorri e recebi um beijo estalado na boca.


— Acho que temos mais o que fazer lá em cima, vamos?

Me convidou abrindo a porta do carro e abotoando o jeans que tinha


voltado a cintura, mas ainda aberto.

— Temos mais?

— Com muita calma, igual fizemos agora. Enrico me avisou todo precavido e
eu sorri feliz.

Quando adentramos o elevador eu encarei meu rosto vermelho que


denunciava o que tínhamos feito.

— Senti falta disso. Ele falou puxando meu lábio inferior entre os dentes e o
chupando levemente.

— Eu também. Ri entrelaçando nossas mãos.

— E disso também. Passou um dedo pelo interior da minha coxa que escorria
seu esperma.

— Você faz coisas tão obscenas não parecerem... sujas.

— E não é. Piscou me carregando para dentro da cobertura.

— Para cama, quero você de quatro agora mesmo.

— As coisas estão ficando interessantes. Brinquei o seguindo totalmente em


frenesi.

O resto da tarde tinha sido muito bem aproveitada, o pôr do sol


invadia a varanda quando Enrico parou de alisar meus cabelos e suspirou
pesado.

— Vou tomar um banho, você vem?


— Vai na frente, eu já te alcanço. Sussurrei totalmente preguiçosa pela
maratona sexual que havíamos praticado.

— Anda, preguiçosa. Deu um tapa estalado em minha nádega esquerda e


andou sem vergonha nenhuma totalmente nu para o banheiro.

Ronronei baixinho como um gato preguiçoso antes de ouvir meu


telefone tocar.

Alcancei a bolsa e notei o número desconhecido.

— Alô? Atendi ainda sorrindo.

— Eu quero ver você. A voz que eu reconhecia muito bem soou do outro
lado e eu me deixei cair sentada na cama com o celular ainda na orelha.
Enrico ia surtar.
46
Enrico De Giordano
Desisti de prolongar o banho quando percebi que Madalena não
apareceria. Provavelmente estaria esparramada preguiçosamente na cama
tirando um cochilo, ela vivia dormindo pelos cantos devido a gravidez, e após
o sexo ela sempre ficava sonolenta.

Me sentindo totalmente renovado me enxuguei e bati os dedos no


cabelo para que os fios se livrassem da água, envolvi a toalha na cintura e fui
de volta para o quarto.

— Ei, pensei que estivesse dormindo. Olhei Madalena sentada na ponta da


cama encarando o vazio, me ericei percebendo que tinha algo errado. —
Amor, você está bem?

— Enrico. Os olhos de Madalena encontraram os meus e eu cheguei até ela


em segundos.

— Baby, está sentindo alguma coisa? Puta que pariu, eu sabia, vamos para o
hospital.

— Não, eu estou ótima. Ela deu um sorrisinho e segurou minhas mãos antes
de começar a falar:

— Enrico, Vicente acabou de me ligar. Meu corpo enrijeceu.

— O que? — Gritei sem nem perceber. — Como assim acabou de ligar,


como esse desgraçado tem seu telefone?

— Enrico, fica calmo, pare de gritar ok? Ela revirou os olhos como se minha
atitude estivesse sendo exagerada.
— Madalena, que porra está acontecendo? Cruzei os braços sobre o peito.

— Ele pegou o meu telefone com Francisco, disse que quer me ver.

— Esse filho da puta! Na carta ele disse que era para você procurá-lo, o que
diabos...

— Ele está vindo para cá. Me interrompeu.

— O que? Ele não entra na minha casa, nem morto!

— Ah entra sim. Madalena me desafiou me olhando com raiva.

— Não! Bati o pé incapaz de segurar minhas pernas que me levavam de um


lado ao outro.

— Você vive dizendo que essa casa também é minha, pois eu recebo quem eu
quiser também, por isso vamos receber Vicente.

— Madalena, o que esse desgraçado quer aqui?

— Eu não sei! Mas se você parar de gritar e sapatear na minha frente


podemos conversar e esperar ele chegar para decidir.

— Você está brigando comigo por causa desse cara? É sério? Coloquei as
mãos na cintura totalmente indignado.

— Enrico, eu odeio quando faz isso.

— Faz o que?

— Tem ciúmes de Vicente! Eu nunca questionei você ter procurado por sua
ex-mulher, nunca!

— Patrícia não tem nada a ver com isso Madalena, não faça comparações!
— É claro que tem, vocês foram casados, diferente de eu e Vicente, já falei
mil vezes que o que tivemos ficou no passado, talvez ele só queira vir ver que
estou bem, e eu também quero vê-lo.

— Ah você quer o ver? Então boa visita para você, inferno! —Resmunguei
incrivelmente irritado e sai do quarto batendo a porta forte o bastante para
quase quebrar o trinco a tempo de ouvi-la gritar:

— Babaca!

Entrei no antigo quarto que Madalena ocupou assim que chegou,


algumas coisas dela ainda estavam ali, como o violão e a mochila preta velha.
Me sentei na cama incrivelmente puto querendo quebrar coisas e gritar até
que a raiva passasse, mas precisamente sonhava em quebrar a cara de Vicente
exigindo que sumisse e nos deixasse em paz.

Minutos se passaram com a casa em total silêncio, ouvi a porta do quarto ao


lado sendo aberta e depois fechada, passos no corredor o que mostrava que
Madalena provavelmente estava indo para a sala.

Remoendo o ódio entre ir até lá pedir desculpas, e em ficar ali apenas


engolindo meu ego, levantei espiando o corredor e voltei para o nosso quarto
começando a me vestir rápido, talvez eu precisasse parecer mais à vontade no
meu próprio território, e caso fosse necessário intervir naquela merda de
conversa.

Escutei a campainha e corri para fora do quarto ficando escondido no


corredor, perto o bastante para ver e ouvir a conversa sem que me notassem.

O homem negro forte e alto apareceu e ao olhar minha mulher abriu


um sorriso enorme o que só ajudou minha raiva transbordar.

— Eu não acredito que estou vendo você, Leninha. Falou primeiro e o ciúmes
me invadiu quando Madalena o abraçou. Leninha de cu era rola! Rugi em
silêncio assistindo a cena.
— Vicente, você nem imagina o quanto estou feliz, eu fiquei muito triste
quando achei que você tinha morrido, entre. Deu passagem para ele passasse
pela porta quando se afastou.

— Era o que devia ter acontecido! Resmunguei baixinho para mim mesmo
voltando a prestar atenção.

— Madalena, você está...

— Grávida? Sim, e de gêmeos, acredita só? Ouvi o sorriso na voz da minha


menina, sentindo meu coração amolecer um pouco.

— Meu Deus.

— Isso aí cara, grávida de mim! Sussurrei rindo sozinho da cara decepção de


Vicente.

— Como isso aconteceu? Sua tristeza transparecia na voz.

— Gozando bem gostoso e dentro em todas as vezes que trepamos otário.


Pensei totalmente orgulhoso.

— Bom, quando você me ajudou a fugir eu decidi vir para São Paulo e
quando cheguei até aqui consegui um emprego de cuidadora, foi onde
conheci Enrico o meu noivo.

— Noivo? Você está noiva desse tal Enrico? Vicente falou meu nome
entredentes e eu percebi que ele me odiava assim como eu, ao menos nosso
desafeto era recíproco.

— Sim, nos apaixonamos e aconteceu. Madalena levou a mão ao ventre e


acariciou sorrindo.

— Então você se apaixonou? Ama mesmo esse cara?


Um choque subiu em minha coluna e eu esperei pela resposta.

— Amo, Vicente. Eu amo Enrico mais que eu imaginei ser possível amar
outra pessoa.

O sorriso em meus lábios e o amor que eu também sentia por


Madalena foi o que me fez sair do corredor e andar para a sala.

— Desculpe a demora, estava tomando um banho. — Falei chamando


atenção dos dois. O cara se colocou de pé me medindo de cima a baixo e eu
não me senti acuado, fiz o mesmo com ele estendendo a mão e apertando
firme. — Devo chamar você de Vicente ou de Aurélio? Cutuquei o olhando
com desprezo.

— Ah, é verdade... — Madalena franziu o cenho e sorriu. — Eu nunca vou


me acostumar com seu verdadeiro nome.

— Pode me chamar como você quiser, Lena. — Os olhos negros dele se


encontraram com os meus. — Aurélio Dantas. Falou soltando a minha mão.

— Enrico De Giordano. Respondi de volta.

Estávamos no meio do concurso de quem mijaria mais alto. Sentei ao


lado de Madalena e passei o braço pelo encosto, de modo que a ponta dos
meus dedos tocassem seu ombro. Notei os olhos dele enxergando minha
demonstração de território e aproveitei para terminar.

— Fico feliz que tenha vindo nos ver, Aurélio. Madalena se preocupou com
você, com toda aquela história de falsa morte... eu como delegado fiquei bem
tentado a cumprir a lei e ir atrás de você.

— Você é delegado? Sua voz não vacilou.

— Agora afastado, pedi exoneração por estar com alguns projetos, mas na
época que lemos sua carta eu era sim. Frisei a voz quando me referi ter lido a
carta junto com Madalena.

— E porque não o fez?

— Por Madalena. Não julgo você ter matado Joaquim, na verdade até
agradeço. — Sorri ironicamente e o vi travar o maxilar demostrando o quão
irritado estava. — Madalena contou que estamos grávidos? Brinquei olhando
minha mulher que me encarava como se eu tivesse nascido uma segunda
cabeça.

— É ela comentou, mas não tem como não perceber.

Uma gargalhada falsa saiu da minha garganta. — É são dois moleques


grandes.

Aurélio limpou a garganta e olhou Madalena. — Pensei que a gente ia


terminar junto.

O infeliz era mesmo descarado. Olhei também para Madalena e a vi


abrir e fechar a boca em busca de palavras, pensei em responder, mas algo
dentro de mim me parou.

— Eu agradeço muito a você, Vicente... sem sua ajuda eu estaria morta agora,
mas nossa vida seguiu rumos diferentes, estou feliz, e espero que você
também encontre alguém. Madalena falou em um tom de voz doce, porém
extremamente firme, o que puta merda, me excitou para um cacete. Eu amava
aquela mulher.

— Você vai vender a fazenda? Estou interessado se for. Ele perguntou ainda
a encarando ignorando minha presença.

— Não, eu e Enrico decidimos manter a verdadeira terra, o resto já foi


devolvido aos respectivos donos.

— Entendi. Ele balançou a cabeça e encarou o chão por um segundo antes de


levantar novamente os olhos para Madalena, agindo como se eu não estivesse
ali.

— Inclusive, o dinheiro que me deu... eu quero devolver.

— É seu, Leninha.

— Ela vai devolver sim, não precisa mais dele. Me intrometi e vi os olhos
dele faiscarem sobre mim.

— E eu também não preciso! Por favor eu insisto, Lena.

— Tudo bem, não vamos discutir isso.

Aurélio suspirou e puxou de volta a respiração soltando: — Se você


não estivesse grávida, eu teria chance?

— Não. Madalena respondeu de imediato e eu tive que morder minha língua


para aguentar não cobrir aquele idiota de socos.

— Se eu não tivesse conhecido Enrico, eu talvez ainda pensaria que o que


vivemos foi o mais perto de amor que vivi, Vicente. Mas eu conheci, e é por
isso que estou dizendo, não era para ser, você vai conhecer alguém e vai
perceber que o que sente não se pode comparar.

Porra de mulher gostosa! Puta que pariu! Minha mente gritou e eu


quase roubei um beijo de Madalena.

— Eu espero que esteja certa.

— Estou, você vai ver.

— Eu vou indo então... — Limpou as mãos sobre as calças e se colocou de


pé. — Cuide bem dela, Enrico.
— Já estou fazendo isso, Aurélio. Falei também ficando de pé e Madalena
nos seguiu.

— Posso te dar um abraço de adeus?

— Claro que sim. Concordou e aceitou que ele rodeasse seu corpo com os
braços.

— Eu te amo, Madalena. Arriscou dizer eu revirei meus olhos.

— Eu também amo você, obrigado por tudo, tenha uma boa vida Vicente,
nunca vou me esquecer de você. Madalena sorriu amigavelmente o cortando
de qualquer flerte que fosse.

— Eu também não.

— Adeus. Estendi a mão para que ele apertasse e o vi recuar uns segundos
antes de aceitar.

— Adeus, Enrico. Sussurrou meu nome tão baixo que quase não foi possível
escutar. Quando fechei a porta e me virei para Madalena a encontrei de
braços cruzados.

— Decidiu aparecer, depois de ficar ouvindo a conversa, idiota?

— Idiota? — Eu levantei as sobrancelhas surpreso. — Eu não estava ouvindo


a conversa. Me defendi mentindo.

— E eu sou a rainha Elizabeth, eu te conheço. Bateu um dedo no meu peito e


saiu para a cozinha.

— Ta bom, confesso... estava ouvindo, você não achou que eu ia deixar você
sozinha com esse cara né? Viu o quanto ele te quer? O filho da puta nem
disfarçou!
— Enrico, chega! Vicente é passado, e depois de hoje ele entendeu bem isso.

— Eu espero que sim. — Me aproximei dela a puxando pela cintura. — Você


foi mesmo bem convincente, adorei.

— Sai, não quero papo com você agora. Se debateu tentando se soltar.

— Ah, mas eu também não estou afim de papo. Beijei seu queixo e desci por
seu pescoço ouvindo o gemido baixo.

— Para. Murmurou manhosa.

— Eu te amo.

— Não tente ser doce depois de ser cuzão.

— Desculpa. — Dei a cartada final distribuindo beijos em seu rosto e


pescoço. — Eu prometo que nunca mais toco no nome desse cara.

— É claro, provavelmente agora que ele nunca mais apareça.

— Então? Dou um sorriso safado que eu sabia ser um dos pontos fracos de
Madalena e ela prende os lábios afim de não sorrir comigo.

— Babaca.

— Cala boca e me beija, paixão.

E ela concordou, colou seus lábios nos meus e iniciamos um beijo


bruto e cheio de promessas.

— Vamos voltar para o quarto? Questionei entre os suspiros.

— Aham. Concordou voltando a me beijar, a vida tinha suas peripécias, mas


era boa.
47
Madalena Cereja
— Amor, preciso de ajuda! Gritei e Enrico brotou na minha frente em
segundos.

— O que foi, paixão?

— Não consigo abaixar, preciso que você prenda as sandálias. Apontei para o
chão e o vi sorrir.

Beijou minha barriga que estava tampada por um vestido vinho. —


Você vai mesmo usar esses saltos?

— Sim. Revirei os olhos esperando que ele prendesse as tiras.

— Enrico o que está fazendo? Senti suas mãos subirem por minhas
panturrilhas e pararem no joelho. — Conferindo.

— Conferindo o que seu doido?

— Você está sem calcinha?

— Estou.

— Mas que porra! Estamos indo jantar com meus pais Madalena, eu não
posso ficar de pau duro num jantar com meus pais.

— Não dá para usar uma calcinha com esse barrigão e esse vestido, marca
muito, ninguém vai perceber que eu estou sem.

— Eu vou saber e vou querer enfiar a mão por baixo o tempo todo.
— Estou contando com isso. Pisquei e o vi abrir e fechar a boca algumas
vezes.

Sem mais reclamações, Enrico me segurou pela nuca e saqueou minha


boca, me beijando com força me deixando sem fôlego, o beijo cheio de
lasciva e molhado do jeito que somente ele sabia beijar.

Me lembrei da noite anterior depois que Vicente tinha saído e


tínhamos feito amor na sala, Enrico tinha mais uma vez declarado seu medo
em que eu o deixasse, e por isso eu estava disposta a passar cada dia do resto
da minha vida o provando o quanto eu o amava.

Meu corpo ferveu a ponto de não me restar opção senão quase rasgar
a roupa bem passada que Enrico usava.

— A gente está atrasado.

— Foda-se. Xinguei enquanto começava a desafivelar seu cinto.

— Minha mãe vai ligar daqui a pouco. Enrico conversou enquanto subia os
tecidos do meu vestido solto me puxava para ficar de lado. Se abaixando
colocou a boca em mim, me lambendo e estimulando em movimentos rápidos
e circulares. Gritei e me debati até ele achar ser o suficiente antes que eu
gozasse. Se encaixou atrás de mim, da forma mais confortável que estava
para se fazer amor ultimamente e entrou fundo em mim.

— Ai, caralho! Murmurei sentindo a sensação gostosa que ele me


proporcionava.

— Vai ter que ser rápido, baby. Puxou minha cabeça e eu me virei o máximo
possível para que ele alcançasse minha boca, capturou meu lábio inferior
entre os dentes e me fez esquecer qualquer motivo que fosse enquanto
entrava e saia repetidamente, doando-nos por inteiro, saciando a vontade
louca que nos invadia.
Quando gozamos juntos, ficamos por uns minutos um no braço do
outro, apenas curtindo a calmaria gostosa na aura de felicidade.

— Vamos mesmo nos atrasar. Falou e eu me remexi levantando a cabeça que


descansava em seu peito largo.

— O que diabos estamos comemorando mesmo?

O silencio durou alguns segundos antes dele limpar a garganta. —


Você sabe que minha mãe não precisa de motivos.

— Mas ela pediu que fossemos tão formais. Me espichei e fui a primeira a
levantar. Enrico veio logo atrás subindo sua calça e ajeitando a camisa que
tinha ficado amarrotada.

— Talvez ela conte o motivo quando chegarmos lá. Ele deu de ombros e o
encarei suspeita, sabia quando Enrico escondia algo de mim, mas levaria em
conta que Luísa tinha pedido para que não contasse, tentei me recordar se ela
tinha comentado alguma data e não lembrei de nada.

Enrico então finalmente prendeu minhas sandálias e mais uma vez


depositou um beijo em meu ventre inchado. Saímos de casa rumo a casa dos
meus sogros e durante o trajeto por diversas vezes o peguei me encarando.

— O que?

— Nada.

— Você está muito estranho.

— Só estou feliz. Levou minha mão a boca e beijou os nós dos meus dedos.

— Eu acho que também estou.

— Acha? Levantou as sobrancelhas.


— Eu vou ter certeza disso quando descobrir o que estão escondendo.

Balançou a cabeça escondendo o sorriso. — Já estamos chegando.

Quando adentramos a propriedade dos pais de Enrico ele estacionou


ao lado do carro que eu reconhecia ser de Doug, o que significava que ele,
Aline e as crianças também estariam presentes.

— Porque não estamos indo lá para dentro? Perguntei quando ele segurou
minha mão com a sua e saiu me carregando para o jardim.

— Eles estão lá perto da piscina.

— E porque não podemos passar por dentro da casa?

— Quero sentir o ar puro. Brincou e eu revirei os olhos.

— Bom, deveria sentir o ar puro quando não estou usando saltos.

— Sei, eu te ajudo a caminhar, firme em mim. Enlaçou seu braço no meu.

O jardim estava extremamente escuro e me agarrei ainda mais em


Enrico, com medo de tropeçar.

— Amor que diabos, isso aqui não era tão escuro.

— Espera aqui. Ele parou no meio do caminho e encarou o relógio de pulso.

— Está na hora.

— Na hora de que? Questionei e deixei meu queixo cair quando como num
passe de mágicas luzes se ascenderam.

O jardim estava repleto de luzes, sobre a grama eu podia ver centenas


de girassóis espalhados até uma caixa com um balão de coração voando.
— Enrico, o que é isso?

— Vamos lá descobrir. Me incentivou e eu andei na frente não me


importando com o salto enterrar na grama encontrando a caixa aberta.

Levei a mão a boca encarando o filhote minúsculo dentro da caixa.

— Meu Deus! Sussurrei e abaixei para alcançar o cachorrinho caramelo e


encostar seu focinho no meu nariz.

— Ei, bebê. — Falei e ele me lambeu fazendo uma risada sair da garganta. —
Eu não acredito que você... — Me virei e mais uma vez paralisei quando
encontrei Enrico sob um dos joelhos e uma caixinha nas mãos.

— Eu sei que já falamos ser noivos, e planejamos até quanto tempo vamos
demorar para casar depois que os meninos nascerem, mas estava faltando
fazer isso certo.

Arfei sentindo o ar me faltar.

— Agora estamos completos, eu, você, nossos bebês, e o nosso labrador que
você tanto insistiu para termos desde que assistiu Marley & Eu, é a nossa
família Madalena, e prometo proteger vocês até o fim, quer se casar comigo?

— É claro que eu quero! Meu Deus! Eu quero muito. Respondo eufórica


vendo o sorriso de Enrico se aumentar enquanto enfiava o anel com a pedra
nada singela de diamante em meu dedo.

Assim que se colocou de pé, segurou meu rosto entre as mãos e colou
nossos lábios enquanto o filhotinho ficava entre nós.

— Ah, seus lindos! Ouvi a voz de dona Luiza atrás de mim.

— Finalmente o pedido oficial, porra! Doug gritou e me afastei vendo os


nossos ali sorrindo. As crianças logo se aproximaram correndo para ver o
filhote.

— Como ele chama, tia? Theo questionou alisando a cabecinha do animal.

— Põe o nome dele de Vicente. Douglas implicou e vi Enrico dar um murro


em seu peito que o fez gemer.

— Que tal vocês escolherem? Perguntei ignorando a pequena discussão que


meu oficialmente noivo estava tendo com o amigo.

— A gente podia chamar ele de Goku. Marcelinho falou e nos fez rir.

— Ele tem topete, olha. — Theo apontou e eles se abaixaram para analisar o
pequeno montinho de cabelo que teimava em ficar para cima sobre a
cabecinha do cachorro. — A gente podia chamar ele de Elvis

— Elvis eu gostei. Luiggi riu abraçando a esposa.

— Então vai ser esse. Conclui me levantando.

— A gente pode brincar com ele.

— Não cheguem perto da piscina. Aline afirmou vindo me abraçar.

— Eu estou muito feliz por você.

— Não posso nem acreditar. Sussurrei a abraçando de volta.

Ribeirão Corrente - São Paulo

— O que pretende fazer? O homem mordeu o charuto que exalava a fumaça


grossa por todo escritório.
— Sinceramente? Nada.

— Nada? Aurélio Dantas desistindo?

— Madalena não merece que eu trame contra ela, gostaria que ela ficasse
comigo e se tornasse minha esposa, mas se não é o que ela quer. Deu de
ombros encarando alguns papéis sobre a mesa.

— E nem mesmo vai tentar pegar para si a fazenda do velho? Você se


aventurou durante uns bons anos entre duas vidas para conseguir aquilo.

— Você foi a Alvorada uma vez não foi, Sérgio? Questionou levando o copo
de whisky a boca.

— Sim, te levar dinheiro.

— E viu como aquele lugar era tão pacato como Ribeirão Corrente, mas
aqui eu sou o barão, nós produzimos o melhor café, eu não preciso daquelas
terras, eu as queria quando pertenciam aquele maldito, Madalena apesar de
marcada pelo sangue, merece aquilo, ela sofreu assim como eu a vida toda.

— Aurélio, o que diabos aconteceu com você?

— Eu a amo. — Sorriu amargo. — Eu protegi Madalena desde o início, e


não vai ser agora que vou fazer o contrário, quero que ela viva feliz com
aquele cara, e agora mais ainda já que vai ter filhos.

— Eu subestimei você. O homem riu baixinho.

— Eu posso ser ruim. Se eu quisesse ser eu mataria Madalena e pegaria toda


aquelas terras, ou mataria aquele noivo dela e obrigaria ela se casar
comigo, mas não foi assim que Raul me criou, ele me ensinou a ser direito, e
é isso que vou ser, amores vem e vão.

— No seu caso muitos amores.


— Nem tanto. — Aurélio balançou a cabeça. — Mandei Joana embora, ela
estava querendo dar ordens em casa.

— E agora?

— Boceta nunca me faltou, não é problema.

— Eu sei, mas eu pensei que você quisesse ter um filho.

— Não mais, não agora pelo menos, quando chegar a hora eu vou encontrar
alguém... até lá quero sossego.

— Falando em filho. — Sergio se remexeu na cadeira. — No fim de semana


temos o casamento de Álvaro, você sabe, ele arranjou a filha do Gadelha
para a fusão das empresas.

Aurélio mexeu nos papeis e encontrou o envelope do convite abrindo.

— Samantha Gadelha e Álvaro Roriz. Leu e encarou o amigo. — É


interessante eu ir nisso?

— Se pretende começar a investir realmente no mercado mineiro, é sim


interessante. E temos que manter Álvaro por perto, ele não é confiável.

— Você vai comigo, não vou levar nenhuma mulher.

— Você quem manda. Bateu a mão sobre o tampo da mesa.

— Agora me deixe sozinho por favor, tenho uma garrafa de scotch para
terminar enquanto lambo as feridas por ter sido trocado pela única mulher
que imaginei levar adiante.

— Você vai ficar bem meu amigo.

— Eu já estou bem. — Aurélio o encarou amargurado. — Vá até o heliporto,


peça para Sampaio se preparar, hoje à noite iremos para Franca.

— Para sua casa?

— Sim, ligue para Silvana e peça para ela separar umas garotas.

— Legal.

— A morena daquela última noite, e a ruiva, aquela com os olhos bem


claros.

— Graziela? Pensei que você tinha a criticado da última vez.

— Ela é a única que aguentou meu pau todo naquele rabo e não reclamou.
Falou desistindo de encher o copo e virou a garrafa na boca.

— Ok, informações demais. Sérgio riu começando a sair do escritório.

— Saímos as oito. Aurélio sussurrou virando de novo o líquido quente na


garganta. Se daria ao luxo de sofrer por Madalena naquela noite, e seria a
última.
48

Aline Gouveia
Douglas tinha passado a caminho todo na volta falando no quanto
Madalena parecia disposta a encarar qualquer parada com Enrico, e em como
ficava feliz por isso já que o amigo tinha passado alguns anos vivendo um
luto que não merecia.

Eu remoía por dentro pensando que por mais que não fosse uma
indireta eu me sentia atingida. Não tinha aceitado me casar com ele, ter um
filho, e estava relutando para apresentá-lo a minha família.

O que tinha de errado comigo?

— Morena, você está prestando atenção no que estou falando?

— Oi? Virei a cabeça o encarando.

— Poxa, preta... tá me ignorando agora é? Tá com a cabeça onde? Perguntou


selando nossos lábios.

— Desculpa, amor, estava distraída, o que foi?

— Vou verificar se os meninos estão dormindo, sempre que o Theo vem eles
inventam de virar a noite no videogame.

— O que você estava dizendo?

Doug balançou a cabeça aparentemente triste. — Não é nada, não...


volto daqui a pouco. Sorriu forçadamente saindo para o corredor.
Sentei no sofá e observei a minha sala, os porta-retratos novos ali
mostravam um casal feliz, diferente do que já esteve antes, nossa família feliz
e um casal radiante.

Douglas não era Rafael, e eu precisava entender isso. Tinha que parar
de ficar com medo sendo que a cada dia ele mostrava empenhado em me
mostrar o quanto eu era especial.

Andei para o nosso quarto e sorri ao vê-lo enfiado no quarto dos


meninos com a porta entreaberta sentado no chão contando alguma de suas
histórias para que os três pegassem no sono.

Me enfiei no banheiro e escovei os dentes correndo para trocar de


roupa e esperá-lo. Mexi na gaveta do armário encontrando o que precisava e
voltei para o quarto me enfiando num conjunto de lingerie azul bebê.

— Pronto, agora eles não param de dizer que também querem um cachorro.
— Doug apareceu na porta do quarto sorrindo e arregalou os olhos ao me
enxergar. — Opa! Falou já sorrindo.

— A gente pode ter um cachorro quando nos mudarmos para a casa nova.
Comentei.

— É, a gente pode... — Falou espiando mais uma vez o corredor e entrando


passando a chave na porta. — Bonita lingerie. Sorriu.

— Vem cá, quero conversar uma coisa.

— D.R agora? Poxa amor, você não podia ficar de roupa então? Jogou a
cabeça para trás como se sentisse cansaço.

Não segurei a risada na cena. Doug odiava discutir relacionamento,


coisa que eu fazia com frequência. Ele vivia falando que as coisas nem
tinham acontecido e eu já as estava discutindo.
— Vem logo. Chamei batendo a mão ao meu lado da cama.

— Ok, mas mesmo se a gente brigar vamos transar, ninguém manda colocar
essa porra aí. Andou até mim e se sentou.

— Doug... — Falei soltando uma lufada de respiração.

— Talvez eu deva ficar sem roupa também para facilitar não?

— Amor, cala boca! O olhei brava, mas sem conseguir conter o sorriso nos
lábios.

— Tá, pode mandar.

— Eu andei pensando numa coisa... — Encarei o chão criando coragem. —


Desde que começamos você vem deixando claro que gosta de mim.

— Eu amo você, pretinha. Amo muito. Puxou meu queixo para que nossos
olhos se encontrassem e abriu um sorriso lindo naquela cara de homem mau.

— Eu também te amo. Aliás, eu desconhecia esse sentimento até te conhecer.


— Senti lágrimas enchendo meus olhos. — Eu queria ter te conhecido antes,
para não ter tanto medo de me entregar como quando você me conheceu.

— As coisas aconteceram como tinha que ser, estamos juntos agora, e eu te


prometo que vai ser até morrer.

— Quero perguntar uma coisa. Me virei para ficar de frente para ele.

— Pergunte.

Alcancei o esparadrapo que tinha achado na gaveta minutos antes e


retirado uma pequena tira.

— O que é isso?
— Shhh... — O silenciei pegando o pedaço e o encarando — Chega de
atrasar a felicidade.

— Do que está falando?

Agarrei sua mão e rodeei o seu dedo anular esquerdo e enrolei a fita.
— Desculpe não ter nada mais digno no momento, eu sei que acabamos de
chegar de um pedido de noivado fofo, mas você me pediu e eu fui uma idiota,
por isso nada mais justo que eu pedir agora.

Douglas estava aparentemente chocado encarando do dedo com o


esparadrapo e para meu rosto.

— Você aceita casar comigo? Perguntei e senti um alívio enorme, provando


que aquilo era a coisa certa.

— Ah, porra. — Riu mais uma vez antes de me puxar nos braços em um
abraço. — É claro que é sim, sua maluca! Que pergunta, o que eu mais quero
é você como minha esposa!

— É?

— É! Porra, eu não acredito que você...

— Eu prometo que vou deixar de ter medo, estou apostando todas as fichas.

— E para ganhar, amor. Doug beijou minha bochecha e depois a outra, para
depois colar nossas bocas.

— Tem mais uma coisa.

— O que? Levantou as sobrancelhas enquanto puxava a camiseta pela


cabeça.

— Vou marcar o médico para ver a possibilidade de uma gravidez.


Doug paralisou novamente sobre a cama.

— Está falando sério?

— Eu quero ter um filho seu.

— Aline, caralho é a melhor noite da minha vida! — Deitou sobre mim


enquanto suas mãos apertavam meus seios e beijava cada um deles. —
Obrigado, pretinha, eu amo tanto você...

— Não me machuque. Pedi baixinho quando nossos olhos se encontraram.

— Antes de fazer isso eu prefiro a morte.

Acariciei sua barba cheia sorrindo de volta, sentindo meu coração


bater na garganta enquanto meus olhos insistiam em cair lágrimas.

— Não chora, amor...

— Eu tô feliz.

— Eu também, vem, vamos fazer o primeiro sexo de noivos. Piscou me


fazendo suspirar, eu não podia querer mais nada.
49

Enrico De Giordano
Meses depois

— Enrico... — Ouvi a voz de Madalena ao meu lado que me fez inspirar


fundo.

— Hum? Questionei e ainda com os olhos fechados levei minha mão até sua
perna indo direto para seu sexo.

Madalena andava irritada por terem tido que se abster de sexo nas
últimas semanas. Os bebês estavam grandes e pesados o que a faziam se
sentir inquieta e com dores a maior parte do tempo, só se acalmava quando
recebia orgasmos, e eu estava me empenhando em dá-los com a boca e mãos
sempre que estava por perto, quando a mão dela bateu na minha me fazendo
assustar e abrir os olhos.

— Agora não, tarado! Os bebês vão nascer.

— O que? Me levantei num pulo.

— Calma, não me deixa apavorada! Precisamos ir para o hospital.

— A bolsa estourou?

— Há minutos atrás, ali no banheiro. Apontou para o cômodo que estava com
a luz acesa.

— Puta que pariu! Levei as mãos a cabeça e encarei minha mulher na cama,
usando uma camisola escura.
— Você quer tomar um banho? Eu vou ligar para o médico e para os meus
pais. Agarrei meu celular na mesinha da cabeceira.

— Não esqueça de pôr a mala dos bebês no carro.

— Certo. Falei correndo pelo quarto, mas sem conseguir fazer nada direito.

— O que está fazendo? Madalena riu da minha cara.

— Procurando meu celular!

— Amor, está na sua mão. Madalena apontou e eu encarei o aparelho que


tinha pego segundos atrás.

— Ok! Balancei a cabeça começando a caçar o número.

— Eu já volto para te ajudar. Falou dando alguns passos e de repente parou


soltando um gritinho abafado.

— Paixão? Corri para o seu lado e ela me olhou com os olhos arregalados.

— Quando dizem que dói, eles estão falando sério. — Ainda curvada
segurando a barriga estendeu uma mão para que eu segurasse. — Não vou
conseguir tomar banho, quero um hospital agora, me dê o robe. Apontou para
a peça de seda caída sobre a ponta da cama. A entreguei e ela vestiu
tampando a sua camisola.

— Certo, vamos lá. Concordei começando a carregá-la pelo corredor para


entrarmos no elevador.

— Amor, as coisas. Madalena parou se encostando na parede.

— Um segundo! Corri até o quarto dos meus filhos e agarrei a mala que
Madalena e minha mãe já haviam deixado prontas, voltei ao nosso quarto e
puxei a bolsa de Madalena e minha carteira voltando para o corredor
correndo com tudo nos braços.

— Você vai assistir o parto assim? Apontou para mim e só então reparei que
estava descalço usando apenas cueca.

— Mas que merda! Voltei em passos rápidos para o quarto e me vesti com o
primeiro jeans e camiseta que encontrei pela frente, calcei o tênis não me
importando com amarrar os cadarços, agarrei de novo as bolsas em um braço
e fui amparar Madalena com o outro até entrarmos no elevador e irmos para o
carro.

— Olá. O médico atendeu.

— Os bebês estão nascendo! Gritei.

— Oi, Enrico, acalme-se, lembre-se que vai dar tempo. — Ele soou calmo
demais. — Já estão vindo?

— Você está no hospital? Perguntei encarando Madalena ao meu lado e suei


frio ao ver sua careta de dor.

— Estou, já vou preparar tudo para a chegada de vocês.

— Certo, doutor, até mais. — Desliguei segurando a barriga de Madalena. —


Está doendo muito?

— Está, eu quero que eles saiam. Choramingou.

— Não aqui, pelo amor de Deus, já estamos chegando.

— Ai porra, anda logo Enrico! Ela xingou e eu arregalei meus olhos.

— Eu não posso exceder o limite de...

— Enrico, caralho, chega logo nesse hospital se você não quiser parir você
mesmo esses bebês!

Mirei a estrada e rezei silenciosamente para que tudo corresse bem,


acelerei o carro me repreendendo internamente.

Quando chegamos Madalena já foi recebida e posta em uma cadeira


de rodas. Tentei acompanha-la, mas a enfermeira me barrou dando um
pequeno sorrisinho. — Vamos levá-la para fazer uns exames, pode aguardar
aqui, que o chamo para se juntar a ela daqui a pouco.

— Enrico. Madalena me olhou com medo e eu corri para o seu lado me


abaixando para que ficássemos da mesma altura.

Era a hora de fingir calmo. Encarei seus olhos escuros e forcei um


sorriso.

— Vai ficar tudo bem, lembra que já planejamos tudo?

— Eu estou com medo, está doendo tanto... será que é normal?

— É sim, já tinham nos avisado, fique firme, logo eles estarão com a gente.

— Você vai entrar comigo, não é?

— Não perderia por nada. Beijo sua testa e me levanto sentindo como se ela
levasse meu coração junto.

Volto a sala de espera e agarro meu celular ligando primeiro para


meus pais e depois para Doug, ambos avisaram que estariam a caminho.

Meus filhos iam nascer.

Minutos incontáveis se passaram quando uma enfermeira apareceu, já


não era a mesma que tinha conversado comigo, porém vinha na minha
direção e algo em sua expressão me disse que as notícias não seriam boas.
— O senhor é o esposo de Madalena Cereja?

— Sim. Me prontifiquei ficando de pé não a corrigindo que éramos apenas


noivos já que Madalena já era minha esposa no coração.

— Tivemos um pequeno problema, ela já havia sofrido um deslocamento de


placenta no começo da gestação e agora durante os exames ele novamente
teve um pequeno sangramento.

O baque no meu estômago foi o mesmo que levar um murro.


Madalena não podia correr riscos.

— É comum acontecer em gravidez múltipla como a dela, mas nesse caso


não podemos esperar para um parto normal como era o desejo de vocês, o
doutor se decidiu por uma cesariana de emergência e vim te buscar, caso você
queira entrar.

— Eu quero.

— O senhor se sente apto a entrar? Digo, tem alguns pais que não conseguem
ficar e acaba comprometendo o trabalho da equipe.

— Eu vou entrar sim.

— Me siga então, por favor. Concordou saindo na frente e eu a segui pelo


hospital, aproveitei para enviar uma mensagem para minha mãe explicando
tudo e entramos em uma sala onde ela me ajudou a higienizar os braços e
mãos, vestir uma roupa cirúrgica descartável, cobrir a cabeça com uma touca
e uma máscara antes de seguirmos.

Encontrei Madalena apavorada enquanto alguns medicamentos


começavam a ser injetados em sua veia.

— Me desculpa. Pediu quando apareci ao seu lado.


— Pelo o que, paixão?

— Não vou conseguir trazê-los do jeito certo... talvez aconteça algo.

— Não vai acontecer nada. — Beijo sua testa. — Fica calma, logo estaremos
fora daqui e com eles nos braços.

— Madalena, você não vai sentir nada, prometo, vamos trazer esses garotos
geniosos para o mundo. — O médico sorriu tentando acalmá-la. — Já
escolheram os nomes, certo?

— O primeiro é Lucca, o outro Dante. Madalena avisou e sem explicação


meu coração doeu. Sem conseguir olhar nos olhos dela e apenas engoli seco
rezando que aquilo tudo acabasse logo.
50

Madalena Cerja
Abri os olhos e estava no hospital. A agulha do soro aplicado no meu
braço me incomodava.

Meu corpo doía como se eu tivesse sido serrada ao meio, mas me


recordando de que minha última lembrança era na sala de cirurgia para a
cesariana, significava que fazia sentido todo incômodo.

— Oi amor. Escutei a voz de Enrico e virei o rosto para encontrá-lo do lado


da cama. A vermelhidão em seu rosto denunciou que ele havia andado
chorando, o sorriso que ele lhe deu tentou camuflar o olhar preocupado.

— Não minta para mim. — Pedi sentindo agulhas na garganta. — Os bebês


estão bem?

—Sim, está tudo bem com eles, eles são perfeitos. Contou e ela sentiu o
peito inflar, sentia-se injustiçada por não lembrar do que havia acontecido e
por nunca ter na mente a imagem dos filhos nascendo, mas se eles estavam
bem.

— Então por que a cara de choro?

— Você está se sentindo bem? Enrico segurou sua mão na sua.

— Pareço ter sido serrada, dói tudo do peito para baixo. — O encaro. —
Aconteceu alguma coisa?

— Meu Deus, Madalena eu fiquei apavorado. Enrico me olhou de novo e


dessa vez os olhos brilhando com lágrimas prontas para descer.
— Amor? Levei a mão ao seu rosto.

— Quando fizeram a incisão você sofreu uma hemorragia, e a pressão caiu.

— Eu quase morri? — Arregalei os olhos. — De novo?

— De novo. Aparentemente você gosta de me ver chorar. — Sorriu amargo.


— Você teve uma parada cardíaca enquanto eu estava lá, eles tiraram Lucca e
então tudo piorou... quando Dante nasceu o seu coração parou Madalena, eles
me levaram de lá junto com os bebês.

— Eu sinto muito.

— Eu não posso continuar sofrendo tantas emoções, você ficou mais de doze
horas dormindo.

— Eles estão bem? Digo, não estão como eu, certo?

Vi os dentes de Enrico aparecer quando sorriu abertamente.

— Eles são absurdamente lindos, Dante é tão genioso, no momento deve


estar tocando o terror no berçário.

A risada que eu soltei me fez gemer de dor. — É mesmo?

— Ele não aceita colo de estranhos, até agora só para de chorar quando está
no meu como ou no da minha mãe.

— E Lucca?

— Ele reconhece minha voz e reconhece mulheres, entregue ele nos braços
de um homem que não seja eu que o berro vai lhe arrebentar os ouvidos.

— Eu quero vê-los. Eles têm seus olhos?


— Não vou dizer nada, você vai ter que ver, vou chamar a enfermeira para
que os traga. Enrico limpou o rosto vermelho e se abaixou beijando minha
boca. — Obrigado por nossa família.

Quando os dois pacotinhos entraram no quarto eu senti que tudo tinha


mudado, desde que tinha descoberto a gravidez eu já sabia que o meu amor
tinha mudado, que minha vida fazia sentido, mas nada da minha imaginação
havia me preparado para quando Enrico me entregou um bebê e se
aproximou com o outro nos braços se sentando ao meu lado na cama.

Lucca e Dante eram mais que perfeitos. Eu seria suspeita para falar, mas
incrivelmente lindos, o desenho dos lábios dos dois seriam tão bonitos quanto
os de Enrico, o narizinho angulado e os olhos eram do formato dos meus,
com cílios longos. O pouco cabelo que cobria a cabeça dos dois era tão loiro
que chegava a ser transparente, mostrando que provavelmente seria castanho
claro como o do pai.

— Como vamos diferencia-los? Perguntei aproximando o bebê do meu rosto


para sentir o cheirinho. Meus olhos grudaram nos dois pequenos céus que se
abriram e me encararam.

— Você vai saber. Enrico riu me mostrando Lucca. O bebê idêntico ao outro
trazia no rosto um ar diferente, enquanto Dante parecia tímido e emburrado,
Lucca resmungou e mexeu os bracinhos me encarando curioso.

— Oi, amorzinho... sou eu, a mamãe. Me apresentei e recebi um chorinho de


volta.

— Ai meu Deus. Olhei dos bebês para Enrico e depois de volta para eles.

— A nossa vida está literalmente em nossas mãos, baby.

— Seus pais estão lá fora?

— Já devem estar chegando.


A porta se abriu e uma mulher já de meia idade entrou com roupa de
enfermeira.

— Hora de dar comida para eles, o que acha?

— Claro. Falei animada.

— Ótimo, me chamo Ângela e vou te ensinar a pega corretamente. Você


pode tentar com o dois, mas eu recomendo um de cada vez.

— Um de cada vez. Concordei.

— Vai alterando eles de lado para que não se acostumem, e como você tem
dois bebês não vai sofrer com o problema de somente um peito esvaziar.
Brincou.

— Certo.

— Aproveitaremos a ajuda do papai que ficará ninando o outro até chegar sua
vez.

Enrico se levantou e fez o que ela havia feito, ninou o pequeno


pacotinho nos braços e me fez suspirar encarando o homem tão perfeito
segurando o nosso fruto nos braços.

Dante mamou primeiro já que já estava em meus braços, quando


nossos olhos se encontraram enquanto ele se alimentava eu senti uma ligação
tão grande que podia jurar que ele tinha pego metade da minha alma para si, e
a mesma sensação se repetiu na vez de Lucca.

Eu era completa.
51
Enrico De Giordano
Estava definitivamente contando no calendário, a cada dia quando
chegava na empresa rabiscava com a caneta um dia a menos no resguardo de
Madalena, estava visivelmente irritado e quem sofria as consequências eram
os meus funcionários.

Tinha certeza que alguns rezavam internamente para que meu pai
desistisse da aposentadoria e voltasse a presidência do grupo. Tirando a
abstinência, se não fosse por estar num caso sério de bolas roxas, em casa eu
vivia o paraíso. Certo, não era tão grande o caso, de bolas azuis, Madalena e
eu estávamos nos pegando bastante, mas namorar como dois virgens que só
gozavam com os dedos e na boca um do outro já estava me deixando irritado.

— Amor, você está pronto? Madalena apareceu na minha frente usando um


vestido rosa claro que marcava seus seios cheios e o cabelo em um penteado
que deixava somente sobre um ombro, ela tinha perdido todo o peso que
tinha ganhado com a gravidez e mais um pouco. Fato que eu tinha realmente
reclamado, amava seu corpo de antes. Mas ainda assim, era a mulher mais
bonita que eu poderia querer.

— Quase. — Avisei terminando de ajeitar a minha gravata. — Você está


lindíssima.

— Obrigada. Sorriu envergonhada.

— Os meninos mamaram? Encarei seus peitos sem nenhuma cerimônia.

— Já, e tirei leite também, espero que na vaze nesse vestido.

— Sorte deles. Beijei seu colo e ouvi sua risada mistura com gemido.
— Você sabe que dia é hoje, não é? Madalena ergueu as sobrancelhas.

— O fim do seu resguardo. — Sorri abertamente. — Eu nunca me


esqueceria, eu só amaldiçoo Douglas por escolher se casar logo hoje.

Madalena gargalhou ajeitando a gola da minha camisa. — Você é um bobo,


vamos, os padrinhos não podem se atrasar.

— Nem uma rapidinha?

— Prefiro deixar para mais tarde e não sair da cama durante toda noite.

— Eu vou te cobrar isso.

— Espero realmente que sim.

— Será uma vitória se eu conseguir dar uma metida antes que Dante chore,
ele parece ter um alerta contrafazer mais bebês.

— Pare de besteira. — Madalena bate no meu braço. — Além do mais, eles


vão ficar com seus pais está noite, já combinei tudo.

— É mesmo? Minha animação veio com tudo. Eu amava meus filhos, mas eu
também amava a mãe deles, e amava transar. Estava ansioso demais para
conseguir tocar em Madalena sem ser interrompido como tinha acontecido
nos últimos meses.

— Sim, é mesmo. Vamos?

— Espera, falta uma coisa. Puxei sua mão e peguei a caixinha que estava
guardando no bolso da calça.

— O que é isso?

— Comprei uns brincos para você.


— Enrico? Já falei para não ficar gastando comigo.

— Isso não é gastar, estou te deixando mais linda ainda. Beijei sua bochecha.

— Sei. — Revirou os olhos. — Você sabe que não me importo com


diamantes.

— Mas eu me importo, e é o que você merece, coloque-os e vamos. Findei o


assunto e ela aceitou o que tinha pedido. Os diamantes a deixaram ainda mais
linda como eu já imaginava.

— Vamos lá?

— Já pensou que logo seremos nós. Sua alegria me


Contagiou.

— Logo, paixão, mas por hoje contentamos em casar aquele loiro cuzão.

— Enrico! Riu de como eu mencionei Douglas.

— Ele deve estar tremendo muito na base, nunca pensei que ele casaria.

— Então ele vai tremer mais ainda quando Aline lhe dar o presente de
casamento.

— O que?

Madalena riu misteriosa enquanto saímos do quarto. — Aparentemente o


número de crianças vai aumentar.

— Sério? Arregalo os olhos.

— Ela confirmou ontem à tarde, está grávida de pouco mais de um mês.

Doug também tinha recebido sua felicidade e encontrado o caminho


certo.

A cerimônia tinha sido muito bonita e tinha acontecido no jardim dos


meus pais, eu estava ao lado do meu amigo encarando nossas duas mulheres
dançarem, cada uma segurava um dos meus filhos nos braços.

— Acha que se sua mãe não tivesse contratado Madalena, isso tudo estaria
acontecido? Doug questionou levando o copo de whisky na boca.

— Não... ela já tinha contratado outras pessoas antes e eu tinha expulsado


todas, era mesmo para acontecer. Sorrio também bebendo um gole da minha
bebida.

— Às vezes eu acho que tudo tem mesmo que acontecer, sabe? Digo sobre
Madalena nascer onde nasceu, você ter vivido uns anos tristes, eu ter me
deixado levar naquela vida devassa por um tempo apesar de ter tido um filho,
Aline ter se casado e ter tido os meninos, Jonas ter...

— Era pra ser. O corto antes que ele se refira a morte trágica do nosso outro
melhor amigo.

— Tem dedo dele nesse nosso destino, você sabe né?

— Sem dúvidas que sim. Concordo.

— Um brinde a ele?

— Um brinde. Bato meu copo com o seu e viramos cada um todo o líquido
dos copos.

— Eu acho que vou roubar minha esposa, preciso descobrir o que diabos ela
está escondendo como meu presente de casamento.

— Você vai gostar.


— Você sabe o que é? Doug me olha curioso.

— Madalena me contou.

— Merda, até você sabe, eu vou lá agora.

— Vai sim, eu vou aproveitar para pedir que minha mãe fique com as
crianças, eu preciso ir consumar o fim de resguardo da minha noiva.

— Boa sorte. Doug ri se levantando e eu o sigo.

— Foi um bonito casamento cara. Bato em seu braço e me surpreendo com


seu abraço de urso.

— Você é meu irmão cara, obrigado por tudo.

— Estou aqui para o que der e vier, cuzão. Sussurro um pouco emocionado.

— Vamos lá, vamos resgatar nossas mulheres. Saiu me arrastando rumo a


pista de dança.
52
Madalena Cereja
Três meses depois

— Talvez essa coroa de flores o esteja irritando. Aline falou enquanto eu


tentava acalmar Dante que estava inquieto em meu colo, tentando alimentá-lo
antes de irmos.

— Será? Você não gosta das flores? Falei com o bebezinho e arranquei o
adereço da cabeça, como num passe de mágica Dante se aquietou encarando
meu rosto com um sorriso banguela nos lábios.

— Eu sabia. Esse bichinho é genioso demais. — Minha sogra riu enquanto


balançava Lucca que já tinha pego no sono.

— Você tinha que se parecer tanto com seu pai? Pergunto ao bebê que me
ignora voltando a se fartar em meus seios.

Decido aceitar a decisão de Dante e não volto a colocar o adereço de


flores na cabeça, prendo um pouco dos fios e me encaro no espelho
respirando fundo. Tinha chegado o dia.

No fim da tarde de uma quinta-feira, eu fiz o caminho a pé para minha


antiga casa que tinha dado lugar a uma linda capela de pedras.

Enrico estava lá me esperando, no altar, ao lado de Doug e de seu pai,


enquanto eu fiz o caminho atrás da minha sogra e da minha melhor amiga. Os
bebês estavam quietinhos, Dante parecia encantado com os olhos de Catarina,
a irmã de Jonas era uma menina do bem, e eu torcia para que crescesse e
vencesse na vida tanto quanto merecia, Lucca continuava em sono profundo
dessa vez no colo de dona Aura, a senhora que por muita insistência eu tinha
aceitado contratar como babá.
Parei frente ao meu futuro marido e encarei seu rosto perfeito,
imensamente feliz por viver aquele momento.

— Estamos aqui reunidos hoje, perante Deus e aos homens para celebrar a
união de Enrico De Giordano e Madalena Cereja Ferrão. O padre de Vila do
Sol que eu conhecia muito bem, pois era o mesmo desde que me entendia por
gente, falou e eu sorri me distraindo encarando Enrico.

Seu terno cinza contrastava com os olhos verdes, a barba baixa o


deixava tão másculo como quando sem perceber forçava o maxilar quando
algo o incomodava. A boca bonita com lábios cheios que escondiam os
dentes perfeitos. As mãos fortes seguravam as minhas, de frente um para o
outro.

— Eu, Enrico De Giordano, te recebo Madalena, como minha esposa, para


amar-te e respeitar-te e ser fiel por todos os dias da minha vida. Encarei seus
olhos mergulhando na felicidade.

— Eu te amo. Sussurrei e o vi repuxar os lábios sorrindo.

Na minha vez, repeti as promessas de fidelidade, amá-lo e respeita-lo,


até o fim de nossas vidas. Mas quando terminei de dizer as lágrimas já
desciam junto e só consegui sorrir quando também emocionado Enrico não
esperou que o padre deixasse que ele me beijasse. Cobriu meus lábios com os
seus e eu consegui ouvir risadas quando o celebrante anunciou:

— Eu vos declaro, marido e esposa. Podem continuar.

Enrico tinha deixado as reformas da fazenda e construção da capela


para o casamento nas mãos de sua empreiteira, e agora ali encarando como o
lugar tinha sido preservado, mas mesmo assim se transformado em luxuoso
eu tinha certeza de que se tinha gastado uma fortuna.

Ao redor da igreja tinha se espalhado tendas muito bem iluminadas e


coberta por flores, o chão estava acolchoado por uma madeira e nem parecia
o mesmo lugar qual eu tinha crescido.
— Está gostando da festa? Enrico apareceu ao meu lado, me olhando com
tanto amor que eu podia sentir nossos corações sincronizados, transbordando
de alegria.

— Está tudo muito lindo, a construção de tudo foi bem rápida não?

— É porque você ainda não viu o que fiz no caminho da cachoeira.

— Você mexeu lá também? Arregalo os olhos.

— Só limpei e iluminei o caminho da trilha, vou te mostrar quando a festa


acabar.

— Vamos até lá quando a festa acabar?

— Vamos sim. — Beijou minha mandíbula. — Dante se apaixonou por


Catarina, você viu?

— Ele não quer desgrudar dela. — Sorrio. — Você falou com ela? Ela me
pareceu meio triste.

— Ela se mudou para a casa do avô, aparentemente a mãe está indo embora.
Ela quer se mudar de São Paulo para fazer faculdade.

— Talvez seja uma boa saída para ela. — Sussurro me lembrando de como a
mãe de Jonas tinha se tornado ainda mais amarga depois da morte do filho.
Catarina era uma garota forte por superar o suicídio do pai e a morte do irmão
sem nenhum apoio. Respiro fundo a encarando de longe. — Cada um tem um
sofrimento.

— Ela vai ficar bem, o tempo vai passar, e eu a avisei que pode nos enxergar
como família.

— Com certeza. Rodeio seu pescoço com meus braços e me aproximo seu
rosto do meu. — Cada um tem seu sofrimento, mas também sua alegria, você
é a minha.

Enrico levantou as sobrancelhas e sorriu. — Você está me lembrando


que eu não fiz o discurso.

— Que discurso?

— Vem! Me puxou para o meio do salão e me deixou ao lado de dona Luísa


indo diretamente ao centro e agarrando o microfone. Limpou a garganta
chamando a atenção de todos levantando a taça que havia capturado das mãos
de um garçom.

— Senhoras, senhores e Doug. Falou atracando risada de todos.

— Me ama menos, cara. O loiro respondeu também rindo.

— Quero oferecer um brinde, um brinde a minha adorável e linda esposa,


Madalena. Quero dizer a todos e principalmente a ela que... quando você
chegou no meu apartamento naquele início de tarde com o intuito de ser
quem me daria comida e remédios enquanto eu estava com a perna fodida, eu
nem sequer imaginei que em pouco tempo você me tiraria do fundo do poço
no qual eu estava. Obrigado por seu jeito decidido, eu me apaixono por você
todos os dias, obrigado por me dar dois filhos lindos, a família que
construímos juntos é tudo que eu já tinha desistido de ter, e mais do que eu
sonhei um dia. Você é capaz de transformar qualquer cidade cinza em
aquarela, te amo Cerejinha. Levantou a taça na minha direção e sorriu
lindamente.

Incapaz de falar qualquer coisa, sorri de volta limpando as lágrimas


que teimavam em cair enquanto escutava as palmas e assobios ao fundo.

— Me concede essa dança, senhora De Giordano?

— Concedo tudo para você. Encaixo minha mão na sua e o deixo me guiar.
A festa tinha durado até o fim da madrugada, apesar de meus sogros
terem voltado a Vila do Sol levando os bebês, a maioria dos amigos tinham
se animado, eu me deixei cair na pista com Aline que mesmo grávida dava
um show e Catarina que parecia viver o desconhecido tinha até comentado
que a mãe nunca a deixava sair muito.

Eram perto das cinco da manhã quando todos finalmente se foram


deixando apenas eu Enrico e o pessoal do cerimonial que começavam a
desmontar as coisas.

Enrico estava um pouco afastado conversando com um dos garçons e


eu encarei o céu clareando, e as árvores que rodeavam o lugar deixava tudo
ainda noite. Mirei meus olhos na capela e minha mente enxergou a velha casa
que eu morei e tinha sido demolida. Há muitos meses atrás estava eu
desesperada, nesse mesmo horário, encarando o céu, com o coração doendo e
sem saber o que de fato a vida reservava para mim. Mal sabia eu, que era o
melhor. Sai andando para o fundo da igreja aonde levaria ao caminho que eu
sentia precisar ir.

Meus chinelos afundaram um pouco na terra quando desci do deck,


mas eu não me importei andando até o túmulo dos meus pais. Cai de joelhos
encarando as duas sepulturas que tinham sido feitas, Enrico tinha mexido ali
também, o que antes continha apenas duas cruzes de madeira agora tinha
mármore e nomes.

— Obrigada por cuidarem de mim. Falei sentindo as lágrimas descerem


apesar de saber que não eram de tristeza.

Meu coração estava leve, e eu sabia que eles estavam felizes. Não
importava a verdade de que eu era filha daquele homem que tinha feito tanta
barbaridade e nem irmã daquele que um dia quis me matar. Eu me
considerava filha daqueles dois que estavam enterrados ali, e era isso que
importava. Suspirei voltando a ficar de pé e bati os dedos sobre o vestido que
agora continha duas marcas de terra nos joelhos. — Tenham paz.

— Você está bem? Enrico perguntou quando me encontrei com ele poucos
passos, ele tinha me seguido e me deixado ali sozinha, respeitando o
momento.

— Estou, amor. Obrigada por arrumar aquilo também.

— Quer ir comigo na cachoeira?

— Agora?

— Não vamos entrar, só se você quiser. — Riu segurando minha mão. —


Preparei uma surpresa para nós, vamos.

Acompanhei seus passos, e fiquei chocada ao perceber que assim


como o chão da festa, o trieiro que levava até a Cachoeira também tinha sido
coberto por madeiras e luzes envolto as árvores tornava o lugar claro e menos
assustador na escuridão.

Levei a mão na boca quando avistei o bangalô montado perto da água,


o teto de renda que caia até o chão.

— Você não fez isso.

— Eu fiz sim. — Enrico sorriu. — Queria um lugar especial para passarmos


nossa noite de núpcias, bem, ela já está quase acabando, mas vai dar tempo
de aproveitarmos um pouco, tem uma cesta ali do lado com o café da manhã.

— Amor, você é demais! Pulo contra ele o abraçando com força.

O bangalô era suspenso do chão e um colchão com muitas almofadas


estava posicionado ali.

— A gente vai transar ali sem nem lembrar que um bicho pode aparecer?
Pode existir cobras por aqui.

— A única cobra que você vai ver hoje é uma já muito conhecida, que
inclusive está morrendo de fome. Brincou me arrancando uma gargalhada.

— Me ajude com o vestido. Pedi me virando e senti suas mãos puxando meus
braços para trás enquanto me levava para o colchão.

— Ainda não, primeiro eu vou foder você vestida de noiva, ansiei por isso a
noite toda. Beijou minha nuca e eu soltei um gemido baixo, sentindo minhas
paredes internas flexionarem.

— Ai...

— E depois quero você nua, me chupando gostoso. — Mordeu o lóbulo da


minha orelha e soltou deixando um beijo no lugar. — Você quer?

— Quero muito. Empinei minha bunda contra ele, senti suas mãos se
moverem entre os tecidos do meu vestido enquanto deixava minha bunda a
mostra. O barulho da cachoeira era alto ali tão perto, mas ainda assim escutei
o farfalhar de suas roupas antes de sentir Enrico entrar fundo me fazendo
empinar ainda mais.

— Geme gostoso, ninguém vai ouvir mesmo, sou só eu e você, minha


menina. Falou começando a se mover em estocadas brutas que me arrancava
gritos misturados com gemidos.

Ousei olhar sobre o ombro e quase delirei encontrando ele tão


entregue quanto eu, com o rosto concentrado no ponto que nossos corpos se
encontravam.

— Eu te amo.

— Ah porra, eu te amo demais, você de longe é meu melhor presente.

Fechei os olhos e joguei meu corpo contra o seu, afim de aliviar toda
a pressão gostosa que fluía em mim, Enrico não diminuiu ou parou até me ver
gozar, só então se deixou ir também.
Antes que eu me deixasse descansar, senti suas mãos ágeis
desfazendo os botões me livrando do vestido e do conjunto de lingerie. Girei
me deitando de frente e esperei ele desabotoar a camisa, o paletó e a gravata
ele tinha retirado assim que chegamos na festa, com o cabelo bagunçado
extremamente sexy, Enrico terminou de descer a calça junto com sua cueca e
arrancou às meias junto com o sapato.

Completamente pronto para nossa próxima rodada ele parou ao lado


da cama improvisada me olhando devasso enquanto eu já encarava seu
membro ainda duro.

— Dizem que leite no café da manhã é bem saudável, paixão. Deitou sua
cabeça para um lado em desafio e eu ri da sua tamanha cara de pau.

— Se dizem, eu vou testar. Engatinhei na cama o agarrando com as mãos.

— É mesmo um belo jeito de começar o dia.

— Nosso primeiro dia de casados. Falei quando lhe dei a primeira lambida.

— O primeiro dia do resto de nossas vidas.


epílogo

Enrico De Giordano
4 anos depois

Eu estava sentado perto da churrasqueira, com uma cerveja nas mãos


enquanto distraidamente me sentia feliz.

Era feriado de sete de setembro, por isso estava me dando ao luxo de


beber durante a semana.

Madalena tinha acabado de passar por mim desfilando o corpo


visivelmente mais magro, assim como aconteceu com os gêmeos, estava
acontecendo agora com Nina. Ela parou perto da piscina onde Aline vigiava
os filhos que aproveitavam à tarde de sol.

— Aí filho da puta, como está tudo? Doug apareceu do meu lado levando a
sua cerveja aos lábios bebendo um bom gole.

— Vou atualizar minha mãe como você a anda chamando enquanto ela viaja.

Douglas riu. — Não fale nada, ela é capaz de sair do Cruzeiro em que
está na Itália e voltar para chutar minhas bolas.

— É, realmente. Concordo.

— E então... como é a sensação de ser pai de menina? Douglas apontou para


o cercadinho onde Nina dormia o sono das princesas. Meu coração inflou
com a cena de ver Lucca e Dante a vigiando. Tínhamos combinado os três
que sempre protegeríamos nossa princesinha.
— É incrível cara, você sente isso com a Maria Flor, é mesmo incrível.
Sorrio.

— Eu tô amando também, vamos ver se com uma garota seu filho para de
ficar ao redor da minha.

Revirei os olhos rindo. Douglas se irritava todas as vezes que via


Lucca e Maria Flor juntos, mas o que acontecia era o fato de serem quase da
mesma idade, Lucca era encantado pela garotinha morena de olhos cor de
mel, vivia dizendo que a sua amiga florzinha tinha o segundo cabelo e rosto
mais bonito do mundo, o primeiro era o de Madalena.

— Cara, desencana, nossos filhos são amigos, se for para namorarem vai ser
no futuro.

— Espero que você esteja ciente que eu mato ele.

— Seu afilhado?

Doug mordeu os lábios e mirou os olhos na direção dos meus filhos,


os dois idênticos, e Madalena ainda fazia questão de vesti-los igualmente
quase sempre, eu continuava a saber distinguir cada um somente pelo olhar e
sorriso. Dante mantinha a sua eterna marra de
poucos amigos que tinha nascido com ele, e Lucca se tornava cada dia mais
brincalhão.

— Ok, tenha em mente que eu tenho três filhos para namorar sua menina,
Marcelinho talvez? Ou prefere Theo? O João é mais velho acho que você se
irritaria mais.

— Seu cu. Apontei um dedo na cara dele, sentindo o ciúme me tomar, só em


pensar que Nina cresceria linda e eu teria que algum dia enfrentar um
namorado dela eu já me sentia faltar o ar.

— Pimenta no olho do outro é refresco né?


— Sai de perto de mim! Sai o deixando para trás e indo na direção dos meus
filhos.

— É bom ter em mente! Gritou e eu me virei apontando o dedo do meio


disfarçadamente para que ninguém visse antes de voltar a andar.

— Oi papai a gente tá vigiando. O Elvis latiu e acordou ela. Dante contou.

— Foi é? Me abaixei para ficar na altura deles e ri por ambos estarem com
bonés na cabeça que os identificavam por ter a inicial do nome.

— A gente tá aqui... tá aqui para ela não chorar até dormi. Lucca
complementou.

— Fico muito feliz por ajudarem, vocês sabem que o papai confia muito em
vocês, não é?

— Sim. Responderam em uníssono.

— Então tá bom, para sempre tem que ser assim, vocês precisam cuidar da
Nina quando o papai e a mamãe não estiverem por perto.

— Pode deixar. Dante afirmou na sua voz infantil que diferente de Lucca,
tinha muita facilidade com as palavras.

— Agora vão para a piscina, vão se divertir. O papai vai pegar ela um
pouquinho. Avisei pegando meu pequeno pacotinho cor de rosa que nem
resmungou muito, apenas abriu os olhos tão claros quanto os meus por um
segundo e voltou a cochilar.

Lucca correu na frente gritando por Maria Flor, vi Doug o encarar por
uns segundos antes de se render e sorrir.

— Ela está toda manhosa hoje né? — Madalena apareceu ao meu lado e
beijou minha boca rapidamente. — Acho que foram as vacinas.
— Provavelmente. Falei balançando a bebê.

— Quero mostrar uma coisa.

— O que?

— Olha isso. Madalena me entregou seu celular e senti um leve aperto no


peito ao ver quem era na foto. A legenda dizia:

Fora da pista: Um dos maiores cafeicultores do Brasil se casou em sua


fazenda no fim de semana.

Aurélio Dantas Filho, se casou no último sábado na sede das suas fazendas
em Ribeirão Corrente, a festa contou com cerca de 800 convidados.

Desviei os olhos para Madalena e a vi sorrindo.

— Ele conseguiu um final feliz. Comemorou e fui incapaz de negar-lhe sorrir


de volta.

— Que bom não?

— Tomara que ele seja tão feliz quanto a gente. Finalmente eu vou poder
parar de lamentar um dia ter quebrado o coração dele.

— Você ainda lamenta? Ergui as sobrancelhas e a vi revirar os olhos.

— Chega, eu vou lá dentro me trocar, está vazando leite.

— Nina não quer mamar?

— Aparentemente não, olha só como está calminha. Olhou para o bebê no


meu colo.

— Ao contrário de mim que queria muito mamar. Resmunguei e ouvi sua


risada.

— Você não vale nada! Falou e antes que eu pudesse me defender ela
emendou: — Sua sorte é que também gostaria de estar mamando. Piscou
descaradamente.

— Madalena? Você não falou isso!

— Eu falei sim, estou ansiosa para a noite. — Inclinou o corpo e beijou


minha bochecha sussurrando em meu ouvido— Felizes para sempre, paixão.

— Para todo sempre, cerejinha. Respondi enquanto a via sumir para dentro
de casa.

Balancei Nina nos braços enquanto via as crianças se divertirem,


meus filhos tendo a oportunidade de crescerem juntos assim como Doug, eu e
Jonas tínhamos crescido. E aquilo para mim não tinha preço, era mesmo
especial.

Eu tinha sofrido bastante tempão atrás, que aquilo que eu vivi nos
últimos anos sempre me fazia pensar ser um sonho, um sonho cinza que só
ganhava cor quando Madalena aparecia, aí sim minha cidade cinza ganhava
cor, minha garganta seca aliviava, meus devaneios sumiam e meu antigo eu
dava a lugar ao homem completo que eu era hoje e tinha certeza que seria até
a morte.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente Deus, que vem me tocando com ideias maravilhosas


para fazer o que eu amo que é escrever.

Agradeço as minhas poucas amigas que mesmo indiretamente me


apoiam e acreditam no meu talento.

Agradeço também as leitoras do Wattpad que leram o livro e


depositaram votos e comentários para que eu continuasse a diante apesar do
tempo corrido que é minha vida, eu nunca esperei atingir público, entrei no
aplicativo por mera diversão e me senti muito lisonjeada quando vi que as
pessoas gostavam, tendo fé em mim.

Por último, o agradecimento é para você que adquiriu este livro,


muito obrigada por se interessar na minha história, espero que goste e se
divirta, guarde com você os personagens num cantinho do coração com
carinho por eles como eu tenho.

Não tenho palavras que expressem o que sinto. Obrigada.


Dedicatória
Para minha mãe, que me acompanha apenas em espirito, mas que me ensinou
a ter paixão por escrever.

No breve tempo que vivi ao seu lado se dedicou a me mostrar o


quanto ler era importante. Ela despertou em mim sede de leitura e escritas em
diários. E quando ela partiu foi que eu me arrisquei a escrever os primeiros
romances, estes feitos a mão em milhares de cadernos antigos. Obrigada mãe,
sem você eu não estaria aqui e nem teria a coragem de publicar o meu
primeiro eBook e continuar adiante com as histórias mirabolantes que surgem
em minha mente. Tudo que faço é para que você se sinta orgulhosa de mim.

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