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FICHA TÉCNICA

Copyright © 2022 Aretha V. Guedes


Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não
pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização
expressa, por escrito, da autora, exceto pelo uso de citações breves
em uma resenha do ebook.

Pirataria é crime!

Os direitos autorais são protegidos pela lei nº 9.610/98, punido


pelo artigo 184 do código penal.

Título: A secretária e o filho perdido do magnata


Autora: Aretha V. Guedes
Capa: Aretha V. Guedes
Direitos de imagem: Freepik Premium e Canva Premium
Esta é uma obra de ficção! Qualquer semelhança com nomes,
ambientação e/ou situações é mera coincidência.
NOTA DA AUTORA

Olá para você que acabou de chegar aqui! Este livro é a

história de Charles Whitmore e terá pequenos spoilers de Logan


Whitmore (Os gêmeos perdidos do magnata), mas é possível ler
este sem ter lido anterior. Se você recebeu este livro em pdf, epub

ou mobi por e-mail, Telegram, sites, outras redes sociais e afins,


saiba que ele está protegido pela lei nº 9.610/98, sendo o crime de
pirataria punido pelo artigo 184 do código penal. Sabemos que

esta informação não vai te impedir de piratear, mas este livro está
disponível no Kindle Unlimited e ele custa baratinho. Como autora,
dependo da venda dos livros para sustentar não apenas a mim, mas

o meu filho também. Sou nacional e independente, sem editora ou

afim para dar suporte e, infelizmente, amor por literatura não paga a
conta de luz, escola, alimentação...

Se mesmo assim, você ler o ebook pirateado, por favor, apoie

a autora curtindo os posts nas redes sociais, comentando sobre o


livro e indicando para pessoas pagantes. Assim, poderei continuar

escrevendo mais histórias para vocês.


Tenham uma ótima leitura!

ATENÇÃO! Este é um livro para maiores de 18 anos,


contém cenas explícitas.

Abraços,

Aretha V. Guedes

Redes sociais: @arethavguedes


SINOPSE

Charles Whitmore se encantou por uma jovem e a tornou sua

secretária. O romance tórrido no escritório foi inevitável, assim como


o seu abrupto fim. Amargurado, se afunda nos negócios e se afasta
de qualquer oportunidade de ser feliz, até que uma descoberta tira

sua vida dos eixos.

O objetivo de Emily Sinclair é esconder o seu filho do pai. Ela


não quer repetir os erros do passado e se machucar, mas como

proteger seu coração quando o antigo amor bate à sua porta?


SUMÁRIO

Ficha técnica
Nota da autora
Sinopse
Sumário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Outras obras de Aretha V. Guedes
Leia um trecho de Os amores da impostora
Leia um trecho de o natal dos gêmeos perdidos do magnata
Leia um trecho de Meu ex-melhor amigo
Sobre a autora
PLAYLIST
Toda história merece uma boa trilha sonora, por isso, aqui
estão algumas das músicas que serviram de inspiração durante o

processo de escrita de A secretária e o filho perdido do magnata.

Para ter acesso à playlist, basta apontar o celular para o QR

Code, clicar no link ou procurar pelo título do livro no Spotify.

Link da Playlist
PRÓLOGO
Costumo ser uma pessoa boa, trabalhadora e dedicada, mas
errei ao me apaixonar por meu chefe. O coração acelera a cada vez

que seus olhos se voltam para mim, principalmente quando estamos


sozinhos em seu escritório. O primeiro beijo aconteceu seis meses
atrás, durante uma viagem de negócios, dormi com ele naquela

mesma noite. Desde então, temos escapadas no horário de trabalho

e almoços escondidos.

Uma vez ele saiu no jornal e o chamaram de o solteirão

perfeito. Tenho que concordar. Muitas pessoas viam um CEO alto,


loiro, de olhos azuis, bilionário, pulso firme, com cara de safado e

pensam: magnata gostoso que precisa ser domado. Charles

Whitmore é mais do que isso, empresário bem sucedido, chefe


exigente e amante dedicado.
— Os relatórios do dia, senhor. — Deixo a papelada em cima

da mesa na frente dele.

O escritório fica no coração do centro comercial de Los

Angeles, com uma vista panorâmica da cidade. Charles é tão

imponente com sua barba bem cortada e terno sob medida azul
escuro, combina com o cargo que ocupa. Antes que eu possa me

afastar, ele segura meu pulso, os olhos desviam da tela para me

encarar.

— Fique.

Um único comando e eu tremo por completo. Fico dizendo a

mim que devo acabar com nosso relacionamento, é imoral e contra


a política da empresa. Como chefe, é sua obrigação dar o exemplo,

no entanto, permaneço ali e após um breve aceno, caminho até a


porta para trancá-la.

Não preciso me virar para saber que fui seguida. Posso sentir

sua presença atrás de mim, o calor do seu corpo colado ao meu,


prendendo-me entre si e a madeira. Meu cabelos cor de chocolate

são afastados do pescoço e o beijo suave na parte de trás da orelha

me faz derreter por dentro. Tê-lo junto a mim, sussurrando


sacanagens em meu ouvido nunca será suficiente. Sempre quero
mais.

— Você me deixa louco, sabe?

Somos dois, ele me enlouquece também. Charles Whitmore

me vira de frente para que possa tomar minha boca. Um calor se


forma no meu peito todas as vezes que estou em seus braços,

talvez porque cada beijo é como se fosse o último. Tem dias que eu

penso que vou acordar e descobrir que tudo não passa de um

sonho e que esse homem jamais deu uma segunda olhada para

uma mulher como eu.

As grandes mãos invadem meus cabelos e as coisas se

intensificam. Sempre fui uma garota tímida, nunca tinha dado um

beijo de língua antes dele, apenas selinhos. Charles tem um jeito de

conseguir tudo que quer de mim. Eu me agarro a ele, que puxa meu
vestido para cima, deixando-o embolado ao redor da cintura. Um

grunhido possessivo escapa de sua garganta e ele me segura pelas

coxas, levando-me de volta para a mesa.

Os papéis que eu tinha acabado de organizar são

arremessados no chão e sou colocada no mármore frio, uma

oposição ao calor que vem dele. Tenho uma coleção de calcinhas


dadas por Charles, pois as minhas vivem desaparecendo em seus

bolsos. É assim que fico exposta, pingando de desejo.

Ele se livra da calça e a ereção salta livre, não tenho muita


experiência com paus, mas o dele sempre me impressiona. Charles

para por um momento, admirando-me enquanto se acaricia. Em seu


olhar, vejo o reflexo da necessidade que me consome.

— Adoro como você fica molhada para mim. — Agarra meus


cabelos com uma mão e invade meu interior com a outra. Três

dedos explorando minha intimidade. Jogo a cabeça para trás,


entregue, mais ofegante à medida que estimula meu clitóris. Charles
engole meus gemidos com sua boca e quando estou prestes a

explodir, me penetra com uma vigorosa investida. — Você gosta do


meu pau nessa boceta gulosa?

Sei que estou vermelha, sempre fico assim com suas

insinuações e palavras sujas. Meu chefe espera uma resposta e é


isso que lhe dou:

— Sim.

— Sim, o que? — insiste, me fodendo com mais força. Seus

dedos agora afundando em meu quadril, enquanto me puxa mais


para a borda da mesa, mudando o ângulo, para que vá mais fundo.
— Sim, senhor! Por favor, me foda.

Ele sai e vira, me empurrando inclinada na mesa. Arfo ao ser


penetrada por trás, Charles levanta minha perna e a segura no ar,
fazendo exatamente o que pedi. Forte, vigoroso, impiedoso.

Gozamos juntos e ele ainda está dentro de mim, me abraçando,


quando descansa o queixo em meu ombro. Os beijos salpicados em

minhas costas me enchem de carinho e esperança.

É uma pena que seja a esperança de uma tola e que esta

tenha sido a última vez que ficamos juntos.


CAPÍTULO 1

Um ano depois

Há um ditado em Los Angeles que diz mais ou menos assim:


“você acha que chegou ao fim do poço até que vai morar em Skid

Row”. Estou na “cidade dos anjos”, mas é a parte que não aparece

nos cartões postais da Califórnia, com tantos sem-tetos em péssima

condição de higiene e moradia que a ONU chegou a comparar a um


campo de refugiados.

Aqui é onde circula uma das maiores economias do mundo,

com pessoas vindo todos os dias em busca de ser uma estrela de

cinema, brilhar no mundo da moda ou iniciar um negócio


multimilionário. No entanto, também é o lugar dos corações partidos

e sonhos estilhaçados. É comum andar pela parte feia de


downtown, no centro, e se deparar com atores, cantores, CEOs e

até medalhistas dormindo no chão frio, são pessoas que perderam

tudo e passaram a viver na miséria. Eu achei que seria uma estrela


da música, mas isso também não funcionou.

Eu me considero uma garota de sorte, pois apesar de ser

mais uma a ter as esperanças pisoteadas, posso caminhar pelas


ruas com meu filho no colo e saber que tenho um teto sobre nossas

cabeças. Cumprimento Carter, o barman e dono do Texa’s Club Bar,

que para o que está fazendo para fazer cócegas na barriga de


Noah. Meu bebê sorri para o homem alto com roupa de cowboy e

uma aparência de quem pode derrotar qualquer um na queda de

braço, como se fosse o seu melhor amigo.

— Hoje a noite vai ser longa, já temos metade das mesas

cheias — avisa, o que me faz checar o salão principal do bar e

conferir que tem razão.

— Volto em dez minutos.

Corro para o escritório de Carter e deito meu bebê na

cadeirinha que balança sempre que ele se mexe, e a coloco dentro


do cercadinho. Infelizmente, não tenho uma babá para cuidar dele,
então, o deixo seguro com Baby Shark. Troco o meu tênis por botas

cor-de-rosa de cowboy e faço uma trança rápida no cabelo,

deixando-a cair pelo meu ombro esquerdo. Ligo a babá eletrônica e,

com um beijo na testa do meu filho, vou para o trabalho.

Quando me vi obrigada a abandonar meu antigo emprego

para ficar longe de Charles Whitmore, fiquei desamparada e,

infelizmente, fiz parte da estatística de moradores de rua por alguns

dias. Não queria preocupar minha mãe, portanto, demorei a pedir

ajuda. Achei que resolveria por conta própria, mas não foi o que
aconteceu.

Mamãe é uma texana com o coração enorme que teria dado

um jeito de vir a Los Angeles só para surrar o meu antigo chefe, se

soubesse que o homem prometeu me amar para em seguida me

jogar no lixo. Se ela pudesse, teria me dado qualquer coisa que

desejei, mas a minha família é muito humilde. Sobrevive de

subsistência em uma granjinha no interior do Texas, perto de


Houston, longe de onde estou.

Entretanto, ao descobrir que eu estava passando

necessidade, mexeu os pauzinhos, falou com todo mundo que tinha


contato e foi um membro da igreja que a lembrou de Carter, um

antigo amigo de infância do meu irmão mais velho. Após um pedido


desesperado de ajuda, ele me deixou morar no quartinho acima do

bar texano temático por um aluguel barato, além de me dar um


cargo de garçonete.

Dois meses depois, descobri que estava grávida. Com todo o

estresse, não estava prestando atenção à minha menstruação e


demorei a perceber que Charles tinha me deixado com mais do que
um coração partido. Tive medo que Carter me colocasse para fora,

uma vez que o bar não é um lugar adequado para criança, porém,
sentiu pena e deixou-me ficar desde que cantasse no pequeno

palco sem cobrar um cachê.

Então, cá estou eu, uma garçonete de vinte e dois anos com

um bebê de três meses.

— Qual o prato especial, docinho? — um homem grosseiro


pergunta com ar arrogante.

Sei que seu terno é caro, me lembra os que Charles usava,

feito sob medida, somado à sua postura esnobe, tenho certeza de


que é rico. Há algo nos caras que tem dinheiro que os faz agir como

superiores. Em uma área como Skid Row, realmente são. O que me


faz questionar a presença dele aqui. Seu lugar é um restaurante

grã-fino com vista para o mar.

— Costela de porco e sopa de tomate.

Ele inclina a cabeça para o lado e lambe o lábio inferior de


forma sugestiva, não preciso de mais nada para saber qual tipo de
cliente é. Infelizmente, é muito comum ter caras dando em cima de

mim e Leslie, a outra garçonete. Seus dois amigos, que também


estão de terno, mas de alguma forma parecem menos ricos do que

o idiota, dão risadinhas.

— Você está no menu?

Sua piadinha é tão esperada que não me pega de surpresa.


Eu tinha ouvido variações disso diversas vezes, exceto quando

estava trabalhando com o barrigão de grávida. Meus pés doem de


ficar em pé e já não aguento mais ouvir Tim McGraw nos alto-

falantes. Por isso, nem me dou ao trabalho de plantar um sorriso


apaziguador no rosto.

— Não, senhor, mas temos um desconto na cerveja da casa.

— Então, traga logo pra gente! E a costela, mas só se for de


uma porca gostosa como você.
Filho da puta! Aperto os dentes quase ao ponto de trincá-los,
para não dar uma resposta à altura. Fico tão irritada que não espero
o pedido dos outros, assim que me viro, levo um tapa na bunda que

faz os três homens gargalharem. Tensiono os ombros e caminho


direto para Carter, que está vindo em direção à mesa como um

touro enfurecido.

— Não vale a pena.

— Você sabe muito bem que não aceito assédio no meu bar!

Carter já colocou clientes para fora antes, porém esses são

ricos e podem significar novos frequentadores no bar, diferente dos


com baixa renda que costumamos ter. O bar de Carter é limpinho e

organizado, mas está longe de ser um hit para turistas ou locais.

— Não, está tudo bem. Vamos servi-los e pronto.

Repasso o pedido para Brooke, a nossa chef, e ela viu a


interação pela abertura que há entre o bar e a cozinha. Os clientes

podem vê-la cozinhar se ficarem perto do balcão.

— Posso cuspir na comida dele, sempre funciona.

Ela me dá um de seus belos sorrisos vitoriosos, Brooke

parece uma modelo, mesmo com os belos cabelos escuros e


encaracolados escondidos pela touca protetora. Ela chegou a fazer
algumas propagandas e sonhava em ser atriz. No entanto, como
metade dos moradores dessa área da cidade, não deu certo.

— Eca, como que isso funciona?

— Me faz trabalhar com uma dose extra de felicidade! — diz


com sarcasmo e eu faço uma careta, o que a fez rir. — Não faça
essa cara, estou brincando. Sou um anjo, não sabia?

— Tenho minhas dúvidas…

Meneio a cabeça, enquanto sirvo a sopa quente e ela termina

de fritar a costela. Carter enche três canecas de cerveja e leva a


bebida em pessoa, lembrando aos homens que as garotas no bar

não estão sozinhas. Ele é um texano que cresceu em uma fazenda,

alto e com alguns músculos, além de ser um cara respeitado na


área. Tinha que ser ou teríamos assaltos regulares.

Em seguida, levo a comida. Os outros dois rapazes pedem


hamburguer e costela, repasso o pedido para Brooke e atendo as

outras mesas. Demora meia hora para Carter chamar minha

atenção após conferir a babá eletrônica escondida por trás do


balcão:

— Millie, código B.
Leslie acena afirmando que pode dar conta dos clientes,

enquanto corro para o escritório. Inventamos isso para não precisar


dizer em voz alta que meu bebê precisa de mim. Noah está

chorando na cadeirinha, troco a sua fralda e lhe dou de mamar,

sentada no sofá e cantarolo para acalmá-lo. Amo o cheirinho de


seus cabelos, os olhos estão abertos e me encarando. Lembram-me

de seu pai e da dor que foi deixá-lo para trás.

Noah adormece, é um garoto bonzinho, que está acostumado

a ficar só porque passo horas atendendo a clientela. Deixo a porta

entreaberta e volto para o salão principal, indico o violão para


Carter, que me autoriza a cantar no palco. Costumo fazer isso para

que meu bebê continue ouvindo minha voz e entre em sono

profundo.

Os homens fazem alguns comentários nojentos, mas ignoro.

Eles estão bebendo muita cerveja e Carter merece ser


recompensado. Canto quatro canções e volto à função principal. O

trio de terno estavam ficando muito bêbado e solto demais com suas

piadas, tanto eu, quanto Leslie deixamos de servi-los, Carter é quem

se aproxima da mesa deles.


São duas horas da madrugada e eu paro de novo, mas para

checar a situação do banheiro, e estava saindo quando o idiota de

terno me encurrala no corredor:

— Que horas você sai, baby? Posso te levar para um

passeio…

Ele tenta pegar na minha trança, mas dou um passo para

trás, o que o faz um som de escárnio.

— Não precisa ser arisca, não quero te machucar. — Inclina-


se para inspirar perto do meu pescoço. — Posso te recompensar

por uma ótima noite.

— Agradeço o interesse, mas não. Obrigada.

Escapo pela lateral para a segurança do salão principal e o

homem me deixa uma gorjeta generosa junto a um cartão de

negócios com seu telefone. Peço a Leslie que jogue o cartão no lixo,
sem querer me envolver com um engravatado nem tão cedo.
CAPÍTULO 2

— Você tem que provar essa cerveja artesanal, é a melhor


que já tomei e ainda tem garçonetes gostosas.

Jackson Sigmund II é meu amigo de infância e eu confio nele,

apesar de suas tendências narcisísticas. Esteve trabalhando na


Europa e retornou recentemente, sendo um empreendedor, nos
tornamos sócios em alguns negócios à parte da empresa de minha

família, a qual estou administrando desde que meu pai foi preso por

tentar se livrar da minha cunhada[1]. Meu irmão mais velho, Logan


Whitmore, tem sua própria empresa e, depois de um tempo, não

quis mais nada com o legado da nossa família.


Meu primo, Wyatt, me ajudou a gerir a empresa no começo,

mas desde o que fez com Emily, não pude mais suportar a sua
presença. Ainda sou assombrado pela lembrança de sua mensagem

na fatídica madrugada, se gabando de estar com minha Millie. Não

acreditei, mas ele me mandou uma foto beijando-a. Mesmo assim,


continuei a duvidar e invadi a casa dele, o que vi foi uma punhalada

no peito.

— Não sei como você consegue ir naquela área e não ter o


carro roubado — respondo ao meu amigo.

Ele está viciado em um bar no pior lado da cidade, Skid Row.

Eu e diversos CEOs doamos para uma ONG construir vilas, mas é

como tapar o sol com uma peneira. Fazemos casas para cem e
aparecem duzentos novos. Portanto, faço doações também para

associações comunitárias e igrejas que distribuem alimentos para a

população carente.

— Vou de táxi e não é tão longe daqui. Vamos lá, faz meses

que voltei e você está parecendo um puritano. Até quando vai ficar

remoendo por um rabo de saia? — reclama como se ainda

fôssemos adolescentes, o que não adianta até que ele usa a


cartada final: — Vamos, acho que pode ser um bom negócio.
Jackson sabe que decidi me afastar de encontros e festas
para focar no que realmente importa: fazer a empresa prosperar.

Nada mais me empolga na vida.

— Negócio? — debocho, porque esse tempo inteiro, Jack,


como costumava chamá-lo quando era criança, falou mais da

garçonete do que da bebida. — Quer uma sugar baby, por acaso?

Meu amigo dá de ombros, sem dispensar a ideia.

— É uma possibilidade. Para homens como nós,


relacionamentos por contrato podem ser mais economia e menos

dor de cabeça.

Não tiro a razão dele. Todas as mulheres com quem me

envolvi tiraram proveito financeiro de mim e, no final, queriam mais

do que eu podia oferecer. A única que jamais pediu nada foi a que

me traiu.

— Deixa eu ver se entendi, esse cara faz uma cerveja divina

e só vende em um bar pequeno sem alcance algum? Você quer

engarrafar em uma embalagem bonita para vendermos a preços

exorbitantes como artigo de luxo?

Não seria a primeira vez que gourmetizamos algo simples

para ser consumido pelos ricos e influentes.


— Sabia que falar em dinheiro te convenceria mais rápido —

diz ao invés de me responder.

A entrada do lugar não parece promissora, o Texa’s Club Bar


é um prédio de três andares que fica relativamente perto do

escritório, uma vez que ambos estão próximos do centro comercial


de Los Angeles. A entrada não tem segurança e nem fila, o que me
deixa desconfiado, mas o interior não é tão decadente quanto

imaginei.

A decoração é simples, com madeira rústica, chapéus de


vaqueiro e a cabeça empalhada de um cervo nas paredes. De um

lado, um balcão de bebidas com um barman parrudo. Por trás dele,


a parede tem uma larga abertura que nos permite ver a cozinha. No

canto do lado oposto, um pequeno palco tem luzinhas de natal


coloridas em cima.
Uma mulher baixinha de cabelos castanhos vestida de

vaqueira está de costas para nós e se inclina ao pegar um violão.


Sua bunda não aparece, mas a checo mesmo assim. Meu coração

acelera porque se parece com Emily, não é a primeira vez que


confundo uma mulher com ela. Essa, no entanto, tem mais curvas, o

que a deixa mais gostosa.

— Já disse, não dê em cima da minha garota, a vi primeiro.


Lembre-se, a morena é minha — Jack avisa, caminhando para uma

mesa.

Resolvo ficar na cadeira de costas para o palco. Não desejo


passar a noite olhando para uma mulher parecida com a que me

traiu.

— Só estou interessado na cerveja.

Jackson faz um sinal para uma jovem loira que passa por ali,

pedindo pelas bebidas. Escuto os primeiros acordes do violão e


estou prestes a continuar a conversa quando a mulher canta. O
mundo para e não estou ouvindo o que meu amigo diz ou o

burburinho do mar. Tudo que posso escutar é a voz angelical. Não


pode ser, pode? Eu me viro devagar, quase em câmera lenta, como

um acidente que não posso evitar de olhar.


É ela, com as pálpebras fechadas, colocando sua alma em
uma canção sobre desilusão. Estou hipnotizado, incapaz de desviar.
A minha Millie parece um pouco mais velha, apesar de ter passado

apenas um ano. Há um brilho diferente em seu olhar, o que a deixa


mais bonita, ou talvez seja a saudade.

— Eu te avisei que esse bar tem suas qualidades! — Se

gaba, tomando um gole de sua cerveja.

Com isso, as coisas que ele falou antes voltam com força e eu

fico com um gosto amargo na boca. Emily abre as pálpebras e erra


uma nota, ficamos trancados nos encarando por uns três segundos

antes de retomar como se nada tivesse acontecido. Fujo de seu


encanto, endireitando-me na cadeira para ficar de frente a Jackson.

— Ela é a sua garota?

— Isso, você pode ter a loira.

Que palhaçada é essa? Ela me trocou por meu primo, não

ficou com ele e agora fincou as garras em Jackson? Essa mulher foi
a minha destruição. Vê-la em cima do palco, cantando

despreocupada, me leva de volta um ano atrás. Achei que Emily


seria o amor da minha vida, antes de encontrá-la com outro. Tanto
que sozinho no escritório, às vezes cerro as pálpebras e me lembro
como foi vê-la na cama de Wyatt, nua e com os cabelos espalhados
no travesseiro, a lembrança me parte por dentro.

— Em homenagem a todos os homens que já quebraram o

coração de uma mulher, a próxima será uma da Taylor Swift: I knew


you were trouble — o anúncio me faz retesar. Dane-se! Arrasto a
cadeira para o lado de Jackson. Se ela quer uma plateia é o que

darei.

Seu olhar fixa em nossa mesa e, se havia alguma dúvida de

que se trata de uma indireta, se dissipa ao cantar sobre “encontrar

um cara problemático”. Meu amigo fica empolgado e levanta a


caneca em cumprimento, incitando-me a fazer o mesmo.

— Um brinde a novas oportunidades! — diz, ignorante ao fato

de que o motivo do meu mau humor no último ano estar na nossa

frente em um vestido de cowboy e botas combinando.

No automático, correspondo o seu brinde e bebo um gole

maior dessa vez. Jack tem razão, a bebida é boa. No entanto, não
sou capaz de apreciá-la. O foco, sentido e todo meu ser está

conectado à mulher no palco. Então, me lembro como a conheci.

Dois anos atrás, fui dar uma palestra sobre empreendedorismo na


faculdade comunitária e, quando estava indo embora, vi uma jovem

cantar na calça por alguns trocados.

Fiquei encantado por sua voz e aparência de anjo. Coloquei


várias notas na case aberta do violão aos seus pés, mas não

consegui ir embora, convidei-a para um café e descobri que era uma

estudante de música em péssima condição financeira. Como o idiota


que sou, dei-lhe um emprego para um cargo em que não estava

qualificada e ainda me apaixonei por ela.

Seis meses depois, após muitas conversas, atração reprimida

e cafés, ela me acompanhou em uma viagem de negócios. Tirei a

sua virgindade em um quarto de hotel, passamos meses juntos, com

uma intimidade que ia além do sexo, até que eu descobri que ela
era uma enganadora.

— Então, há quanto tempo vocês estão juntos? — questiono

meu amigo, mas o que quero saber de verdade é qual o plano de

Emily.

Talvez a ideia de transformar a cerveja barata em artigo de

luxo não seja de Jackson e o meu amigo tenha se tornado um peão


no grande jogo que essa mulher preparou para mim.
— Faz um mês que venho aqui pelo menos três vezes por

semana. — Pede costelas e fritas para a garçonete loira que usa

uma roupa parecida com a de Millie. — O que achou da cerveja?

— Muito boa.

A bebida é ótima, esse não é o problema.

— A produção é feita pelos funcionários durante o dia e

vendida à noite. Acredita? E eles ainda colocam em promoção.

Acho que conseguimos um bom preço desses caipiras.

Isso me confunde demais, o que ela tem a ganhar? Observo


de soslaio o homem por trás do balcão. Segundo Jackson, é o dono.

Tem a minha idade, mais ou menos, e é um cara parrudo. Emily

nasceu no Texas, será esse cara um parente? Talvez um marido… o

pensamento me incomoda mais do que deveria. De qualquer forma,


ela deve estar em busca de lucros.

— Já falou com o dono?

Seu dar de ombros me faz questionar o quanto meu amigo,


de fato, se preparou para esta “tomada multimilionária” no mercado

de bebidas.

— Ele não gosta muito de mim porque dei um tapa na bunda

da gostosa, foi por isso que eu te trouxe.


— O que? — Fecho os punhos, irritado com a imagem dele

sendo inapropriado com ela.

— Nada demais, sabe como é.

Sou amigo de Jackson desde a infância e é por isso que sei

como pode ser um idiota às vezes, que não tem noção de limites.
Ele é narcisista ao ponto de achar que todas a desejam

secretamente, mesmo que não admitam para si. Muitas vezes tive

que chamar a sua atenção por causa disso.

— Ei, Millie! Código B! — o dono a chama do balcão e, de

imediato, ela larga o violão no canto e some para a parte de trás do


bar sem me dar uma segunda olhada.

Fico me perguntando o que isso significa.


CAPÍTULO 3

Não sei como consigo me manter em cima do palco sem


vomitar. Ver o homem que me machucou tanto e foi injusto comigo

junto com o cliente mais chato que já tive, ao menos desde que
comecei a trabalhar, me faz reviver nossa história em um pequeno
intervalo de tempo.

É o equivalente a rasgar uma ferida antiga. O tal Jackson não

larga do meu pé, fica agindo como se eu estivesse prestes a cair em

seus encantos e admitir que fomos feitos um para o outro, já que ele
é um “cara tão legal”. Urgh! E o pior? Chega dessa vez

acompanhado do pai do meu bebê.


Fico tão nervosa que apenas continuo a cantar e ainda

escolho uma música que sempre me lembra dele. Um tanto


estúpido, mas o que fazer quando se tem o homem que arrancou o

coração do meu peito e o esmagou ao alcance de minha voz?

Acalmo Noah, dando-lhe de mamar e uma dúvida me atinge de


repente. E se ele sabe sobre o bebê? Não é possível! É?

Deus do céu! Medo penetra no meu peito e causa arrepios

em todo o corpo. Em uma batalha pela custódia, tenho certeza que


eu perderia. Por mais que seja a mãe, moro em cima de um bar, não

tenho ajuda e o que ganho em um mês, ele faz mais em apenas

uma hora.

Quando descobri que estava grávida, pensei em ir nas redes


sociais dele e mandar uma mensagem privada, mas vi um anúncio

de noivado com Delilah Chastain, a melhor amiga de Wyatt. Só fazia

três meses desde que fui embora, eu me senti traída e nunca mais

chequei a vida dele. Não queria vê-lo se casar com uma vaca

metida.

Wyatt Whitmore costumava me ignorar até que, do nada,

passou a demonstrar interesse por mim. Nunca me senti à vontade


perto dele e suportava suas indiretas disfarçadas de piadinhas
porque era o primo de Charles. Comecei a me irritar ainda mais a
partir do momento que tentou jogar Delilah no colo do meu homem.

Nunca achei que Charlie fosse cair nessa…

Um barulho do lado de fora do escritório chama minha


atenção e eu reconheço a voz sexy, afinal, assombra meus sonhos:

— Você é o dono?

— Sim, algum problema? — Carter retruca e eu fico mais

atenta.

— Sua bebida é muito boa, é de fabricação própria?

— Exato.

A cerveja artesanal de Carter é sua marca registrada, eu o

ajudo a fazer durante a manhã e à tarde, assim mantemos uma

quantidade armazenada para ser comercializada enquanto a nova

safra fermenta. Sua pequena fábrica ocupa o terceiro andar do bar


inteiro, sendo a metade de barris cheios, mas é apenas a

quantidade para suprir nossa demanda, não para revender. Sei que

é gostosa porque tomei nas primeiras semanas em que comecei a

trabalhar ali, antes de descobrir a gestação.

— Somos investidores, podemos falar de negócios?


Não, não, não… qual plano nefasto ele tem em mente? Quer

me tirar da única rede de segurança que tenho? A conversa


continua sobre produção em larga escala e constituição de marca.

Deixo Noah na vertical em meu ombro e dou batidinhas nas suas


costas para que arrote. Eu o amarro na cadeirinha, lhe dou uma
chupeta e ligo uma música de ninar ambiente, nada muito alto para

não anunciar a quem estivesse do lado de fora da porta que uma


criança dorme no escritório.

Passo direto pelos homens, tentando me fazer invisível e

voltar ao trabalho, mas Carter me para de imediato.

— Millie é quem me ajuda a fazer a cerveja.

Os três homens se voltam para mim com diferentes estados


de humor. Meu chefe está empolgado, Jack parece excitado como
sempre e Charles me lança um olhar assassino, repleto de

desprazer. Como se a minha presença pudesse afetá-lo de alguma


forma.

— Tinha que ser, minha garota não erra nunca! — Jackson

tenta pegar minha mão para beijar, puxar junto de si ou algo


parecido, mas me afasto.

— Não sou sua garota.


Minha voz sai suave para amenizar a rispidez da afirmação,

com o sorriso treinado para agradar clientes. Estava certa ao insistir


que Carter não o colocasse para fora após me dar um tapa na

bunda naquele primeiro dia, o cara gastou muitos dólares no bar e


as gorjetas eram generosas. Duas coisas que não podiam negar a

mim ou ao meu chefe.

— Ainda — o sem noção responde cheio de indulgência.

— Achei que vocês estivessem juntos.

Por mais que a afirmação de Charles me surpreenda,

mantenho uma expressão estoica. Na verdade, nem deveria estar


surpresa, não é a primeira vez que esse homem pensa que estou

dormindo com um amigo seu. Um grupo de jovens entra no bar, me


dando a desculpa perfeita para me afastar.

— Com licença, tenho o que fazer.

Pelo resto da noite, evito ao máximo olhar na direção deles. A

conversa não é longa e eu peço a Leslie que cuide da mesa de


Charles. Qualquer segundo livre, gasto dividindo-me entre checar

Noah e ajudar Brooke na cozinha. É de madrugada quando vão


embora e estou em frangalhos, com meus nervos à flor da pele. Os
ombros chegam a doer de tensão.
Com poucos clientes remanescentes no salão e um novo
código B, Carter indica que eu suba para colocar Noah no berço.
Muitas noites terminam assim, se já está perto da hora de fechar e o

bebê acorda, eu cuido dele e, em troca, retorno para limpar as


mesas e o chão sozinha, independente da hora que for.

Estou agitada e Noah deve ter sentido, porque ele também

demora a relaxar. Eu lhe dou um banho morno e brinco com ele na


cama por quase uma hora, antes que mame de novo e sucumba ao

sono. Preferia dormir também, mas trato é trato. Exausta, ativo a


babá eletrônica e desço para o bar.

As luzes estão desligadas, são mais de três horas da


madrugada e eu limpo as mesas cantarolando baixinho porque
preciso ouvir caso Noah acorde e chore. Porém, são raras as vezes

que isso acontece, ele é um neném bonzinho que dorme por pelo
menos três horas seguidas. Ainda mais quando está chovendo

como agora, é quase um relaxante barulho de fundo.

Estou na metade do serviço quando uma batida na porta me


assusta. Clientes já tentaram entrar após o horário antes, pois dá

para ver a luz acesa e a minha sombra pela porta principal de vidro,
apesar da grade de ferro que me protege e do sinal de fechado. Tem
gente que simplesmente se acha no direito de ter o que quer, na
hora que deseja. Ou, talvez, só queira abrigo do aguaceiro que lava
as ruas de Los Angeles.

Vou avisar que não estamos abertos, mas quem está do outro
lado da porta me faz parar. Com olhos azuis mais tempestuosos do
que a chuva que cai, Charles me observa sem se importar de ter o

terno caro encharcado. Fios loiros escorrem por sua testa e ele fica

em silêncio, apenas me observando.

— Estamos fechados.

— Qual o plano, Emily? — finalmente fala, com raiva.

Ora, ele vem ao meu trabalho, tentando revender a cerveja

que eu ajudo a fazer, e sou eu quem tem algum plano oculto?


Irritada, abro as travas e escancaro a porta. Ele entra e eu fecho

para que mais ninguém se aproxime. Charles está molhando o piso

e eu terei mais trabalho para limpar depois. No entanto, acho melhor

resolvermos esse problema de vez e a sós.

— O plano é nunca mais te ver.

Parecendo frustrado como eu, passa as mãos pelos cabelos

encharcados e a água respinga em mim. Sua boca se abre e eu


noto que deve ter bebido demais e até levado alguma garrafa para

tomar no carro, pois ele cheira a álcool.

— Eu te dei tudo e você jogou no lixo! — Despeja de uma vez


em uma torrente de acusações, suas palavras saem emboladas. —

Teria feito qualquer coisa por você.

Só pode ser brincadeira! É isso o que ele pensa? Rebato sem

pestanejar.

— Você é um hipócrita. Faria de tudo? Que mentira! —

Empurro-o irada. — Não fez o mínimo, que era acreditar em mim.

Ele não se abala e em um movimento mais rápido do que

deveria em seu estado de embriaguez, agarra minha cintura,


prendendo-me contra si. Se meu coração continuasse assim, eu

teria algum problema sério de taquicardia antes dos trinta. Odeio

que meu corpo ainda reaja desse jeito à sua presença.

— Contra fatos não há argumentos.

Uma de suas mãos sobe e enrola minha trança em seu dedo,

o que me faz lembrar do passado, de quando Charles me segurava


assim em meio a beijos e juras de amor eterno. Mentiras!

Fatos? Ele queria fatos? Aqui vai um: acordei na cama do

primo dele sem saber como cheguei lá e com ambos discutindo aos
murros. Minha cabeça estava prestes a explodir e não entendi nada

com a visão embaçada. A próxima coisa que sei é que sentia uma

ressaca terrível e tinha recebido uma mensagem do Recursos


Humanos, informando que devido à conduta inapropriada com

Wyatt, que também era um funcionário, fui demitida por justa causa,

com quase nenhum direito e sem aviso prévio.

Eu me desvencilho dele, dou a volta para alcançar a porta e

reabri-la, tenho muito a fazer e não posso arriscar que veja a babá
eletrônica.

— Por favor, volte para onde veio e me deixe sozinha, você


teve sua chance comigo e agora já foi.

O que ele tiver a dizer, é um ano tarde demais.

— Quem disse que quero outra chance? — diz mordaz,


praticamente cuspindo cada palavra.

Ele se aproxima, quase invadindo meu espaço pessoal, eu

me esforço para manter a firmeza. Com tristeza, percebo que este

homem não veio se desculpar, pelo contrário, quer jogar sal em


minhas feridas. Engulo a vontade de chorar:

— Ora, que bom que estamos na mesma página, então.


Não dá tempo nem de fechar a boca após terminar de falar e

seus lábios encontram os meus em um beijo capaz de tomar o resto


da minha alma. A força de vontade estremece e falha, entrego-me

ao momento. Gotas geladas de chuva nos alcançam, porém,

Charles me aquece e eu ignoro.

Amá-lo foi o meu maior erro e parece que estou caindo nesse

ciclo de novo. Não posso fazer isso! Faz meses que não estou mais
sozinha e, se for abandonada de novo, não serei a única a sofrer.

— Pare, por favor! — Afasto-o, colocando a mão em seu

peito. — Superar você foi quase impossível e não tenho certeza de

que o fiz. Acho que só coloquei um curativo no buraco deixado em

meu coração e segui em frente. Estar perto de você me machuca.

Ele não diz mais nada e até parece mais sóbrio, Charles se
vai, debaixo da chuva densa, quanto a mim, me sinto gelada por

dentro e por fora.


CAPÍTULO 4

Minha cabeça está uma bagunça e piora a cada segundo.


Passo a mão pela mesa, o último local em que a tive desejosa, do

jeito que eu gostava. Há um vazio em meu escritório que nunca


pode ser preenchido. Falta as risadas, as histórias de infância no
interior — tão diferente das minhas — o beijo de bom dia. Seria

mais fácil se eu sentisse falta apenas do sexo. Orgasmos eu poderia


conseguir com qualquer outra garota ou até mesmo sozinho, o vazio

é por todo o resto que só ela me dava.

Em um ato reflexo, toco nos meus lábios. Ontem à noite, fui

com o fluxo de Jackson, mas não prestei atenção direito às

discussões sobre negócios. Segui Emily com o olhar enquanto ela


servia qualquer mesa exceto a minha e se escondia na cozinha. Até

que a vi subir as escadas e sumir pelo resto da noite.

Eu fui com o motorista no carro dele, pois o meu chamaria

muita atenção naquela rua. Na hora de ir embora, dei uma volta no

quarteirão para Jackson achar que eu tinha partido e voltamos a


ficar parados do outro lado da calçada. O dono do bar tinha

comentado que nos andares superiores ficavam a casa dele e a

fábrica. Quando Millie subiu, achei que iria pegar alguma grade de
cerveja, mas ela não voltou a descer.

O que Emily faz da vida não é do meu interesse, mas não fui

embora. Não sairia até vê-la partir. Então, uma luz se acendeu no

bar e eu a observei limpar as mesas, cantarolando baixinho. Não


pude ouvi-la por causa do barulho da chuva que me encharcava,

mas tenho certeza que estava fazendo isso, porque seus lábios se

moviam e ela sempre cantava quando estava distraída. Millie tinha

essa mania quando estava fazendo o café-da-manhã na cozinha do

meu apartamento, usando apenas minha camisa e nada mais. Mais


uma coisa que sinto falta.

— Senhor Whitmore — minha nova secretária interrompe os


pensamentos —, o cliente das três desmarcou, devo antecipar o das
quatro?

— Não.

Que porra estou fazendo? Ocupando minha mente com quem

não merece? Meus dedos passam por cima da tela do celular, ligar

para Wyatt me fará algum bem? Ele é o único que sabe sobre Emily
e eu, ainda considero sua opinião, porém, nossa amizade ficou

abalada nos últimos meses, não pude mais encará-lo da mesma

forma desde aquele dia…

Acabei de fodê-la em cima da mesa e mal tivemos tempo de


nos recompor antes que meu primo batesse à porta. Emily começa

a arrumar minha mesa, que bagunçamos durante nosso interlúdio.

Permito que Wyatt entre porque já é estranho estar trancado no

escritório com minha secretária, pior se eu demorar.

Ele entra com alguma piada brincalhona como sempre,

convidando-me para sair com Delilah, uma amiga nossa da época

de universidade. Namorei com ela por um tempo, mas nunca foi

muito sério, apesar do meu primo insistir que fomos feitos um para o

outro.

— Estarei ocupado esta noite.


Com a secretária que tem ocupado todos os pensamentos

amorosos que eu possa ter. Quero levá-la para jantar, mimá-la e me


enterrar em seu corpo várias vezes. Wyatt observa algo por cima do

meu ombro e o meu objeto de desejo está inclinada, resgatando os


papéis que derrubei minutos atrás. Não gosto do jeito que a olha,
cheio de malícia. Portanto, ordeno a Emily que ela saia e vá buscar

café para nós.

— Sua secretária sabe escrever ou você a escolheu pela


bunda? — Wyatt questiona assim que Emily sai e nos deixa

sozinhos em meu escritório.

Eu ainda estou incomodado com o jeito que ele a encarou, de

modo que demoro a registrar o insulto à capacidade de Millie. O fato


dela ser estudante de música e não ter feito secretariado costuma

lhe dar munição para reclamar caso ela, como qualquer ser
humano, cometa algum engano.

— A senhorita Sinclair tem muitos atributos.

Meu primo faz um som de muxoxo e senta na cadeira em

frente à mesa sem pedir licença. Tenho dois irmãos, um mais velho
e um mais novo, possuo um laço próximo com eles, porém, Wyatt é

o irmão de outra mãe. Fomos à mesma escola e universidade,


costumamos contar tudo um ao outro, exceto por Emily. Não falei

para ele sobre o meu caso porque sei que serei julgado. Muitos
membros da minha família são elitistas, não gostam de se misturar

com “gente de classe baixa”, como meu pai costuma dizer.

— Com certeza ela tem — retruca em tom condescendente.

— O que você quer, Wyatt?

— Um empréstimo e o telefone da gostosa — fala com um

levantar duplo de sobrancelhas —, a menos que você a queira para


si e seja como seu irmão.

Meu irmão, Logan Whitmore, se apaixonou pela filha da

cozinheira e teve gêmeos com ela. Não foi uma história bonita,
dividiu nossa família e foi necessário até envolver a polícia. Tanto

que estou decidido a não ter um relacionamento sério por um bom


tempo, só pensarei nisso depois dos quarenta anos.

— De criança em minha vida já bastam meus sobrinhos, não

quero filhos.

— É o melhor que faz, crianças só dão trabalho e despesa.

Não tenha esposa também, a função delas é roubar metade de tudo


que você tem. Muito melhor foder por aí até se cansar e passar para
a próxima — Wyatt para assim que Emily entra na sala com o café.
Sua expressão inteira muda, transformando-se para a versão
sedutora que usa nos bares para pegar mulher: — Oi, linda. Vamos
tomar um drinque mais tarde? — Volta-se para mim com o queixo

levantado em desafio. — A menos que o meu primo se importe de


me emprestar você.

Ele desconfia do que está rolando em portas fechadas e tenta

me fazer confessar há um tempo, mas eu apenas dou de ombros:

— Tanto faz.

Meu primo fazia piada sobre um relacionamento com a


secretária, entretanto, não estava ciente da verdade. Ela, por outro
lado, sabia muito bem que éramos exclusivos e caiu na lábia dele

mesmo assim. Ainda mais quando Emily fingia detestá-lo!

— É isso o que sou para você, uma mercadoria? — ela

questiona assim que meu primo nos deixa sozinhos.

— Você sabe como Wyatt é.

— Sei, por isso que já pedi para não me chamar quando ele

estiver aqui. — Senta na ponta da mesa, junto a mim. — Por favor!


Ele me causa arrepios.

Na época, achei um exagero porque pensei que a arrepiava


com uma sensação de mau agouro. Fui idiota ao não perceber que

era de excitação e não de desagrado.

— Wyatt não faria mal a uma mosca, só fala demais.

— Não gosto da pessoa que você se torna perto dele. — Ela

choraminga, então, fico em pé e a puxo para um beijo.

Eu me sinto jovem de novo perto do meu primo, uma vez que

tive que me tonar responsável mais rápido depois que meu pai
entrou em problemas e eu assumi o controle da empresa.

— Ele é meu melhor amigo desde a infância.

— Talvez o seu eu real seja o babaca quando está com ele.

Ela se afasta, indo para a saída.

— Ora, vamos lá. — A agarro pela cintura e não demora para


que se derreta, entregando-se às minhas carícias. — Não seja

assim.

Então, para e segura meu rosto em suas delicadas mãos,

obrigando-me a encará-la:

— Você falou sério quando disse que não quer filhos?


A insinuação de Wyatt, questionando se eu seria como meu

irmão, louco a ponto de engravidar uma funcionária, fica em sua


cabeça. Meus sobrinhos são maravilhosos, mas foi um estresse

para a família além do necessário e eu tive que lidar com as

consequências.

— Não confuda o que está rolando aqui, é apenas sexo. Não


sou o cara que vai te levar para o altar. O mais sério que nosso

relacionamento pode chegar é no âmbito profissional.

Um suspiro cansado escapa dela e não há dúvidas de que a

magoei, mas é melhor deixá-la ciente de uma vez do que ficar

enganando-a.

— Sei disso, não sou uma iludida.

No resto daquele dia de trabalho, nossa interação foi

estritamente profissional. De certa forma, eu ajudei a empurrá-la no


colo dele. Somos todos um bando de idiotas.
CAPÍTULO 5

Acordo como se tivesse uma sirene reverberando pelo quarto,


mas é só Noah chamando atenção. Eu o trago de volta para a

cama, estou exausta! A interrupção de Charles na noite passada me


fez trabalhar mais para secar o chão e ainda tive que fazer em meio
às lágrimas e uma crise emocional.

Fui dormir junto com os primeiros raios de sol, mas isso não

faz diferença para meu bebê. Ele acorda cedo como sempre e eu

mantenho um olho aberto e outro fechado, apenas meio presente.


Noah solta meu peito e me dá um sorriso banguela. Tem como

resistir? Ele puxou ao pai nesse aspecto, sabe como me derreter em

um único ato.
Pelo meu próprio bem, preciso aprender a ser mais firme,

assim não serei pisada nem pelo pai e muito menos pelo filho.
Lembrar de Charles faz meu sono passar e eu começo o dia. Todas

as vezes que meu ex está no bar, eu fico em perigo. Não há um

segundo de paz para mim. O quarto que divido com o meu pequeno
cabe apenas o guarda-roupa, a cama de solteiro e o berço que foi

da irmãzinha de Leslie. Tem uma janela que não dá para ver direito

a rua por causa do letreiro do bar, mas possuo um banheiro


exclusivo.

Por menor que seja, sou grata. É muito melhor do que dormir

nas ruas ou em algum abrigo. Faço panquecas para mim e Carter,


temos que dividir a cozinha. Tem uma pequena sala que raramente

uso, prefiro ficar trancada no quarto e incomodar o mínimo possível.

Carter é solteiro e de vez em quando traz suas namoradas para

casa. Eu tento não fazer barulho ou passar a noite no apartamento


que Brooke divide com Leslie.

Comigo e Noah de banho tomado e alimentados, verifico que


ainda tenho um tempinho antes do almoço. Portanto, subo ao

terceiro andar para ligar a panela de fervura. Fazemos cem litros por

dia, exceto fins de semana. Temos a caldeira, o quarto do malte, a

sala de fermentação e a de armazenamento. Demora um tempinho


para que a água atinja a temperatura certa para acrescentar o
restante dos ingredientes.

Aproveito, então, para brincar com Noah na pequena varanda

que tem neste andar. Assim, ele recebe um pouco de vitamina D e


eu lhe conto histórias inventadas ou memórias de tempos melhores.

— Era uma vez, um jovem que precisou amadurecer rápido e

assumir responsabilidades antes do tempo, porque o pai dele não


estava mais disponível para cuidar da empresa. O irmão mais velho

até assumiu por um período, mas ele tinha sua vida em outra cidade

e queria seguir um caminho próprio.

Charles achou que levaria pelo menos uns dez anos a mais

antes de assumir o cargo de CEO da empresa.

— O jovem pensou que teria mais tempo para se divertir com

seu primo e amigos, sair com garotas. Ele estava saindo com uma

no fim da universidade, Delilah, herdeira de grande fortuna. Eles

combinavam, loiros, altos, olhos claros e ricos. Pacote completo

digno de capa de revista. Ele largou tudo para começar em grande

estilo.
Na verdade, pelo que Charlie me contou, só ficou com Delilah

por insistência de Wyatt, que era próximo a ela e achava que os três
dariam um ótimo trio, com seus dois melhores amigos juntos. As

famílias deles também eram próximas. Isso que não entendo,


porque noivou com ela logo depois? E se estava noivo, como teve
coragem de me beijar noite passada? Se eu tivesse me lembrado

desse importante detalhe, nem teria deixado-o entrar independente


da chuva.

— Da — Noah “responde”, mas não passa de um balbuciar, é

comum que tenhamos longas conversas como essa.

Ele morde seu brinquedo de borracha, deixando-o cheio de

baba.

— Não foi com grande estilo que começou, no entanto. Ele se


apaixonou… Não, me desculpe. Se interessou pela pessoa errada

— corrijo-me com desgosto. — Uma garota que não nasceu na


riqueza, não tinha reputação ou bom nome. Uma ninguém,

descartável e sem importância.

Carter tem certeza que a minha demissão não foi justa e me


incentivou a processar meu ex-patrão, no entanto, rejeitei a ideia. Eu

só queria sumir e me afastar dele. Gosto de pensar que sou forte,


mas a verdade é que não teria força para encarar suas acusações

descabidas em frente a um juiz.

— A garota errou também, misturou o anticoncepcional, mas


o erro dela resultou em seu bem mais precioso. — Percorro a ponte

do seu nariz com o dedo. — Seu filho.

****

À tarde, Leslie e Brooke prometeram que cuidariam de Noah

no apartamento delas para que eu pudesse ajudar Carter a mostrar


o processo de fermentação da cerveja. Prometi que explicaria a elas

o motivo da minha agitação e que deveria um grande favor.

Meu coração fica agitado enquanto espero a chegada dos


investidores, principalmente porque temo que Wyatt esteja junto. Eu

nunca mais queria rever o homem que destruiu minha vida e achei
que conseguiria tal intento, mas só agora percebi que para onde

Charles fosse, seu primo não estaria muito longe.

Para meu alívio, vem apenas ele e Jackson. Quem diria que
algum dia eu estaria feliz com a visão desses dois? Estou de calça

jeans e uma camiseta fechada com o nome do bar, sem


maquiagem, tênis surrado e com os cabelos presos em um coque
apertado, escondidos pela touca de proteção. Finalizando, ainda
uso luvas amarelas de borracha e avental de plástico. Menos sexy
do que isso só se eu colocasse sujeira na cara.

— Prefiro sua versão noturna, é mais agradável — Jackson


afirma à guisa de cumprimento.

Babaca. Sério, até parece que Charles se cerca de idiotas só


para parecer melhor. É o “menos pior” do grupo ou, talvez, ele seja

igual e minha visão esteja nublada pelos sentimentos que esforço-


me a esconder. O metido do meu ex não faz qualquer comentário,

nem reconhece minha existência. Carter, sem notar a tensão, inicia


sua tour.

— O começo do nosso processo é pela fabricação do malte, é

isso que dá o sabor diferenciado à nossa cerveja. A maioria dos


cervejeiros artesanais usam uma opção pronta.

— Suponho que não queira compartilhar a receita — Charles

até que enfim diz algo e sua voz, mesmo quando não dirigida a mim,
provoca arrepios e me faz querer chorar de uma única vez.

— É de família, nem a minha assistente sabe.

Não que isso me deixe chateada, de fato, é menos trabalho


para mim. Porque essa parte do processo é complicada e ele faz
por conta própria. Carter os leva para a caldeira que tem um
fogareiro de alta potência.

— Temos o processo de fervura, que leva cinquenta minutos

após entrar em ebulição, onde é acrescentado à água o malte, os


lúpulos de amargor e aromático. Minha cerveja tem um teor
alcoólico de cinco ponto seis por cento, é de cor clara e com

amargura mediana.

Eu já tinha feito essa parte e transferido o líquido por sifões

para o depósito de decantação. Passo pelo menos uma hora para

esterilizar cada equipamento e garantir que não haverá


contaminação cruzada.

— Quer dizer que você pode fazer variantes? — Jackson se

interessa ainda mais.

Dependendo da quantidade de lúpulos e do malte, podemos

fazer mais ou menos amarga, da clara à preta e com maior teor

alcóolico.

— Sim, já testei de outras formas, mas não tenho espaço ou


tempo para fazer isso. Passamos, então, para decantação forçada e

resfriamento.
É a parte que estou mexendo em sentido anti-horário, para

ajudar a separar o sólido do líquido. O curioso é que se fosse no


hemisfério sul, teria que mexer no sentido horário. É algo sobre

gravidade e força centrífuga que não entendo direito. Eles observam

com curiosidade o sistema criado por Carter em que a água fria


entra por um cano, resfria a panela com cerveja e sai por outro

cano, pronta para ser reaproveitada.

Já estou quase no final, já que comecei ligando a caldeira

assim que acordei. Jogo gelo por fora para que chegue mais rápido

à temperatura ambiente. De novo, o sistema de sifões transferem o


líquido para outro recipiente. Desta vez, para o depósito plástico

atóxico.

— O que você está fazendo? — Charles se aproxima e posso

sentir a respiração por cima do meu ombro. Ele só está curioso com

a produção, forço-me a acalmar meu coração.

É terrível que basta a sua presença para me deixar com os


nervos no limite.

— Acrescentando a levedura para a primeira fermentação,


preciso mexer para que o ar atmosférico entre, senão o processo

não acontece. — Uso o que parece um remo de aço inoxidável. —


Ficará sete dias isolado, depois liberamos o gás e poderemos

engarrafar.

É trabalhoso e a que estou fazendo hoje só será consumida

daqui a um mês, por isso temos uma sala exclusiva para

armazenamento.

— No fim, cada garrafa leva cinco gramas de açúcar e fica

lacrada por vinte dias para a segunda fermentação. — Carter


complementa, fazendo Charles voltar sua atenção para ele. — E só

assim estará pronta para a venda.

— É um processo demorado — Jackson conclui, maquinando

algo em sua mente.

— Tudo o que vale a pena leva tempo.

Isso foi dito pelo meu ex, mas ele não estava olhando para a

cerveja. Fico incomodada, sem saber que diabo de jogo ele está a
fim de jogar. Porém, não tenho ânimo algum de participar das suas

artimanhas. Lacro o depósito e coloco o álcool setenta por cento na

válvula de escape que tem um formato peculiar e a encaixo nele, de


modo que possamos impedir o ar exterior de entrar, mas que ainda

saia os gases presos dentro.

— Chefe, código B. — Finalizo, anotando a hora e a data.


As meninas não ligaram e Noah está seguro, mas quero uma

desculpa para sumir daqui. A presença de Charles não faz bem para
a minha sanidade.

— Pode ir, está dispensada pelo restante da tarde — Carter

autoriza sem pensar duas vezes. — Eu termino aqui.

O prédio das meninas fica a dez minutos de caminhada, não

troco de roupa, apenas me livro do equipamento de proteção

individual e desço as escadas em disparada. Trabalhar de novo


perto de Charles, apesar do meu chefe ser outro, vai cobrar um

preço alto em meus nervos. Precisando fugir mais rápido, corri e fiz

o caminho na metade do tempo. Estou agitada e suada ao chegar

no apartamento delas.

— Ok, o que está acontecendo com você? — Leslie me puxa


para dentro, vendo-me descabelada e meio louca. — Desde ontem

não está agindo normal.

Noah estica os braços para mim, mas eu os lavo primeiro

antes de pegá-lo. Brooke me oferece um copo de água e eu sento

no sofá com meu bebê no colo.

— É ele — despejo, afundando meu nariz nos cabelos dele.


— O bonitão de ontem é o pai de Noah.
Como esperado, as duas soltam um longo suspiro junto com

um “uau”! Estão boquiabertas e eu possuo total atenção delas.

Leslie até arrasta a cadeira para ficar mais perto.

— O que ele quer? — pergunta assustada.

Elas sabem que temo o dia em que ele poderia levar meu

bebê para longe de mim.

— Revender a cerveja, não acho que saiba sobre o filho.

— E Carter sabe? — Brooke intervém. — Duvido que queira

fazer negócios com um filho da puta. Ele é protetor com a gente.

Não sou a única a ter o apoio de Carter. Ambas têm a ajuda

dele, Leslie quase sucumbiu às drogas se não fosse pelo incentivo


do nosso chefe a permanecer sóbria. O que posso dizer? Ele é um

bom samaritano legítimo, daqueles que ajudam porque querem

fazer a diferença de verdade, não porque vai ter dedução no


imposto ou bancar o filantropo para a sociedade.

— E é por isso que nenhuma de vocês vai contar. Eu nem


deveria ter dito nada, mas tinha que tirar do peito. Não posso roubar

uma oportunidade dessa dele, vai ter muito dinheiro. Imagina o

Texa’s club bar na Venice Beach?


Ele foi quem estendeu a mão quando mais precisei, recuso-

me a prejudicá-lo.

— Não sei se combina. — Brooke dá de ombros. — Prefiro


bêbados pobres a ricos pomposos.

— Isso porque você fica na cozinha e não tem que lidar com
eles — Leslie diz e eu concordo. — Agora sabemos porque Noah é

tão lindo. Tem a quem puxar com a mistura de vocês dois. — Ela me

dá um tapinha no ombro e acaricia a cabeça do meu pequeno. —

Como você está se sentindo?

— Doente, a cabeça leve e meio ausente, como se eu fosse


desmaiar a qualquer momento.

Pensei que a chuva durante o nosso beijo, seguido por

trabalhar com as roupas úmidas tinham sido suficientes para me

adoecer, mas acho que é só o estresse.

— Ele pediu perdão? — Brooke pergunta.

— Não, fez mais acusações.

Sua revolta é imediata:

— Eu vou cuspir na comida dele.


— Vou derrubar cerveja naqueles cabelos loiros — Leslie
cruza os braços.

— Não precisam vir ao meu resgate. Acredito que depois de

ontem, ele não vai me incomodar mais.

Explico como ele foi frio e distante na cervejaria e que é

noivo. Decidimos, então, que o beijo foi um erro e nunca vai se

repetir. Ter o apoio das amigas me faz respirar com alívio porque
não estou sozinha.
CAPÍTULO 6

É uma noite de quarta, então, o movimento está fraco. Temos


apenas um velho cliente que tem uma pose de lenhador malvadão,

mas é um doce por dentro. A esposa dele é enfermeira e quando ela


tem plantão à noite, vem para beber e jogar um pouco de papo fora.

— Ei, Wes, que tal mais uma caneca?

— Enche aqui, boneca. — Levanta a sua vazia, que eu pego

e coloco em minha bandeja.

Não costumo tolerar que os clientes me chamem por apelidos,


mas todo sábado ele vem com a esposa e adora mostrar foto da

neta. Certa vez até a trouxe para que pudéssemos conhecê-la. Tem

a idade do meu pai.


— Como está a netinha?

— Linda! — Esfrega os pelos acinzentados no rosto. — Adora

agarrar a barba do vô.

— Noah vai adorar conhecê-la quando crescer.

Espero a explosão dele. É um avô babão e ciumento, a


menina só tem dois meses e ele já fica nervoso com a perspectiva

de um namorado hipotético. De imediato, fecha a expressão e cruza

os braços, cenho franzido e fazendo um bico digno de uma criança


birrenta.

— Isso não tem graça, traga a cerveja.

— É sério — insisto porque é hilário vê-lo irritado assim

quando o “casal” em questão mal aprendeu a segurar o próprio


pescoço —, Noah tem o coração de todas aqui, ele é perfeito.

Meneando a cabeça, me viro para pegar o seu pedido e

quase solto a bandeja de susto. Charles está parado atrás de mim

com uma expressão séria, sem seu costumeiro terno. Usa uma

calça jeans, camisa de botão dobrada até os cotovelos e cabelos

úmidos penteados para trás. Não veio direto do escritório, o que é

estranho, porque a casa dele fica longe na praia, ainda mais com o

trânsito.
— Quem é Noah?

O quanto ele ouviu? Tremo por dentro, disse algo que

denuncia quem ele é? Leslie me observa com uma expressão

assustada por trás dele, como se quisesse fazer algo, mas não
soubesse o que. Faço um sinal silencioso para ela se acalmar e

agarro o braço de Charles, arrastando-o para mais perto do palco e

longe de Wes.

— Ninguém do seu interesse — resmungo entredentes. —

Deseja algo? Onde está o seu amiguinho?

— Quero conversar, por favor.

Seria melhor afirmar que veio pisotear no que sobrou do meu

coração. No mínimo, quer cobrir a sua bunda traidora.

— Se veio me falar que a noite passada foi um erro, eu sei.


Pode ficar despreocupado, não contarei nada para a sua noiva.

Isso o faz franzir a testa, como se eu tivesse dito alguma

coisa absurda. Ora, será que esperava que eu não soubesse de

nada? Ai, Deus! Sua intenção é ficar com as duas? Nunca vi

Charles como um traidor, porém, quanto o conheço de verdade?

— Cancelei meu noivado meses atrás.


Quê? Engulo em seco, arrependendo-me por não ter

continuado a checar as redes sociais dele. Sua noiva deveria ser


minha armadura para não cair na conversa dele e agora terei que

contar só com a minha força de vontade.

— Por quê?

— Carter é seu namorado? — pergunta ao invés de

responder.

— Não, é meu chefe. — Ele levanta uma sobrancelha diante


da minha afirmação que, para nós, não faz tanta diferença. — E

apenas isso.

Charles dá um pequeno aceno e acho que está aliviado, mas


isso logo passa.

— E Jackson? Quer ele?

Ai, caramba! Se eu quisesse o engravatado, teria ficado com


ele um mês atrás.

— O seu amigo acha que se for muito persistente, consegue

o que quer.

Ele dá uma risadinha, de quem entende melhor do que eu


como o cara é insistente.
— Então, você me entende.

Sobre o que diabos ele está falando? Não sou capaz nem de
pensar direito com o perfume masculino atingindo o meu nariz. Eu
reconheço porque é o aroma de seu sabonete caro, Charles não é

muito fã de perfume. Quando eu tomava banho no seu apartamento,


voltava para o meu com o cheiro dele em minha pele.

— Está enganado, acho que nunca serei capaz de te


compreender.

— Por causa do Noah? — questiona com ciúmes, aposto que

pensa que é algum namorado.

— Possivelmente.

Sou evasiva, mas sério, nem sei o que fazer e nem o que
dizer. Talvez o certo seja subir as escadas, fazer minhas malas,

pegar meu bebê e partir. Não sou diferente dos moradores de rua de
Skid Row que continuam por aqui na esperança de dar a volta por

cima e subir na vida. O que, de fato, estou esperando conquistar


nesta cidade? Que um caça-talentos aleatório entre para tomar algo,

me veja no palco e ofereça um contrato milionário?

Era para eu ter voltado para o Texas no dia em que descobri


que estava grávida.
— Boneca, minha cerveja! — Wes pede e eu já perdi tempo
demais com ele.

— Me desculpe, vou levar. — Elevo o queixo, para fingir ser


forte. — Não tenho mais nada a discutir com você.

Sirvo Wes e peço a Leslie que cuide de Charles. Eu me sinto


desgastada, mais do que isso, despedaçada. Estar no mesmo

ambiente que ele me traz muitas memórias que não posso ignorar.
Se ele comprar a cervejaria, como será? Provavelmente ficarei sem

emprego, porque colocará pessoas mais capacitadas e treinadas no


papel.

Carter me avisa de um código B e é a desculpa perfeita para

eu tomar um tempo e me recompor. Com Noah em meu colo,


percebo que formei uma nova família com Leslie, Brooke e Carter, a
ideia de deixá-los me machuca mais do que deveria. É só que… sei

lá! Eles são ótimos, mas preciso do colo da minha mãe.

Só percebo que estou chorando quando as lágrimas caem na


cabeça do meu bebê. Noah me olha de um jeito engraçado, quero

saber se é capaz de entender que algo me perturba. Quão sensível


é um neném?
Não posso ficar escondida a noite toda no escritório, por mais
que esteja quase vazio lá fora, não vou deixar tudo nas costas de
Leslie. Portanto, dou um beijo na testa de Noah e o deixo na

cadeirinha, sonolento. Preciso usar a tática de cantar para ele


dormir, então deixo a porta entreaberta.

Wes ainda está em sua mesa e, por um segundo, acho que

Charles se foi. Porém, o vejo sentado em um dos bancos altos do

bar, mas não conversa com Carter, está parado, encarando o copo
meio vazio. Sei que não devo dedicar músicas profundas a alguém

tão raso e que não merece, mas faço mesmo assim. Por isso, ao

assumir meu posto no palco, começo a cantar Jar of Hearts, da


Christina Perri.

Charles levanta a cabeça e me observa. Espero que escute a


letra e a absorva, não apenas ouça o som da minha voz. Afinal,

quem ele pensa que é para chegar assim meses depois e fazer

perguntas ou exigências? Só para depois me afastar de novo em

busca de uma mulher adequada ao seu padrão. Poxa, se Delilah


que é perfeita, loira, rica e influente não foi capaz de mantê-lo, que

chance tem alguém como eu? Ele só quer brincar com minhas

emoções.
Faço uma seleção de músicas na mesma linha e me entrego

a cada uma delas, tanto que Wes vira o resto de cerveja em sua
caneca, se levanta com uma careta e se aproxima do palco:

— Menina, quem quebrou seu coração? Me diga quem foi

que eu quebro a cara dele em retorno!

Eu me seguro para não olhar na direção do meu antigo chefe

e, ao invés disso, sorrio para o senhor durão que já está com os

punhos fechados prontos para defender minha honra.

— Estou bem, essas músicas são só por causa da TPM.

O velho não acredita e me encara cheio de dúvidas.

— Você mostrou sua alma esta noite, criança, e foi triste de

assistir.

Dessa vez não consigo evitar uma espiada de relance na

direção de Charles, mas ele não está mais junto ao balcão. Eu me


desculpo com Wes, prometendo que o compensarei com músicas

country animadas na próxima vez.

Abandono o palco, me sentindo exposta e dou graças a Deus

que meu ex teve a decência de ir embora e não ser plateia para o


meu vexame.
CAPÍTULO 7

Emily disse que não tinha nada com seu atual chefe, mas o
arranjo deles dois é muito estranho. No mínimo, suspeito. À tarde,

depois que ela saiu por um suposto “código B”, não consegui
arrancar quase nenhuma informação de Carter. Ele apenas afirmou
que ajudou todas as suas funcionárias em determinado ponto da

vida. Tenho dificuldade em acreditar que alguém seja altruísta assim


sem querer nada em troca.

Não que a vida dela, principalmente amorosa, desperte meu


interesse. O que Emily faz não importa. Porque essas músicas

tristes de coração partido? Se ela disse que um cara qualquer


encantou todas, deve ter ganhado o coração dela. Cacete, quem é

Noah? Não importa, repito para mim.

O filho da puta que está sendo enganado agora é problema

dela. Aperto a caneca em minha mão com tanta força que meus

dedos ficam brancos, mas não evito o ódio desenfreado que sinto
por um cara que nunca nem vi.

Porque esse Noah a encantou? O que tem de especial para

ganhar o seu coração? A ideia de outro homem a levar para a cama

faz com que eu não enxergue direito. Mal estou ouvindo a sua voz
melodiosa, em minha cabeça, a única música que toca são os

gemidos fictícios deles.

— Leslie, avisa para a Millie que temos um código B! —

Carter fala e eu abro os olhos para notar que ele se afastou e estava
em uma sala por trás do balcão.

Esse foi o motivo dela ter saído mais cedo à tarde e sumido

ontem à noite. O que significa que há vinte e quatro horas fico

pensando no tal “B”, seria de beijo, boyfriend[2], boceta? A garçonete

se aproxima de Emily, que está distraída com o cliente barbudo.

Dane-se! A curiosidade leva o melhor de mim, então, passo pelo

balcão e espio a sala.


Carter está de costas, balançando algo. Por um momento,
meu cérebro embriagado acha que o choramingo baixo vem de um

cachorrinho, mas quando ele se vira, há uma criança em seu colo.

Código B é de bebê? Jamais pensaria em tal possibilidade.

— Você tem um filho.

Os pensamentos em minha mente correm selvagens. Será de

Emily? Ela mentiu para mim e tem um relacionamento com o chefe?

— Não, sou apenas o padrinho.

Ao invés de sua resposta provocar alívio, uma veia salta na

minha testa. Acho que acabei de ter um pequeno derrame. Porque


nada faz o mínimo de sentido. As possibilidades que passam na

minha cabeça são aterrorizantes.

— E quem é…?

— Esta é uma área restrita, Charles — Emily diz em um tom


sério, que não deixa margem para discussão. — O que faz aqui?

O pequeno bebê aloirado de olhos azuis levanta a cabeça

para ela e abre um sorriso. A reação autêntica de quem vê a mulher


mais importante de sua vida. Carter negou ser o pai e eu duvido que

ele mentiria sobre isso, então, o filho do tal Noah? Ou de Wyatt?

Ou…
— O que há entre vocês? — Carter exige, enquanto Millie tira

o neném do seu colo. — Não sou idiota, apenas esperei que


quisesse se abrir, mas já cansei de esperar e quero saber a

verdade.

— Charles já foi alguém para mim, mas isso faz tempo.

Estou anestesiado de modo que nem registro a alfinetada

direito.

— De quem é o bebê? — murmuro, sem respirar direito.

A sala de leitura da minha mãe tem diversas fotos de família


emolduradas, uma das que mais gosto é de Logan pequeno sentado

em uma cadeira de praia comigo bebezinho em seu colo. A


sensação que tenho é que a minha versão infantil saiu da fotografia

e foi parar no colo da mulher diante de mim.

Emily percebe meu foco e envolve mais a criança em seus


braços, virando de lado, assim não tenho mais uma visão direta

dele:

— Você está aqui para comprar cerveja, não para fazer

interrogatório, vá embora.

— Não sairei até ter respostas. De quem é o bebê? —


Nenhum dos dois responde e eu perco o controle. — DE. QUEM. É.
O. BEBÊ?

— Fale baixo! Aqui é o meu bar, quem manda sou eu.

Carter, sendo um homem esperto, capta a tensão de imediato

e agarra meu braço, tentando me arrastar para longe. Infelizmente


para ele, finco os pés no chão.

— Emily, de quem é essa criança? — resmungo entredentes,


chegando ao limite da sanidade.

— O fato de você ter que perguntar é um dos motivos para eu


não achar que vale a pena te dizer.

O que diabos isso significa?

— Como vou saber? Devo adivinhar? Não tenho nem noção


se esse é um bebê recém-nascido ou não! E se for de Wyatt ou do

tal Noah?

Meus gritos caem em ouvidos surdos, porque ela faz questão


de não me escutar. Continua lá, protegendo a criança como se eu

fosse lhe causar algum mal. Eu me deixo ser arrastado para fora do
escritório e ainda a vejo subir as escadas correndo, com o pequeno
no colo. O bar está vazio, o barbudo foi embora, e a outra garçonete

estende o dedo do meio para mim em um gesto obsceno. Eu nem


fiz nada contra ela!
— Você é um idiota — Carter me empurra para fora, na
calçada.

O meu segurança sai do carro com uma expressão dura,


porém, o interrompo com um sinal e o ordeno de volta para o

veículo.

— Não sou, é uma pergunta justa.

— Você é o antigo chefe dela, né? — Meneia a cabeça com


desgosto. — Não há nada aqui para você, nosso acordo está
cancelado.

Ele tem que estar apaixonado por ela! Não há outro motivo
para abrir mão de um acordo lucrativo por uma mulher que nem é
sua.

— Por que a defende assim? — exijo saber.

— Sempre pensei que o antigo chefe dela fosse um babaca.


Se dependesse de mim, Millie teria processado por demissão

injusta, mas ela não queria te ver de novo. — Ele me encara como
se eu não passasse de um inseto. — Quer saber por que me

importo? Primeiro, ela é um ser humano e eu não sou como o seu


tipo, que só enxerga os outros pelo valor que tem na carteira.
Cruzo os braços, sendo pessoalmente atingido por sua
acusação. O meu pai é assim, trata as pessoas como se fossem
cachorros, separando-os entre aqueles que tem pedigree e os vira-

latas. Sou diferente. Tenho que ser!

— Não sou assim.

— Acha que não percebi o seu olhar cheio de julgamento


quando entrou no meu bar pela primeira vez?

Decadente! Essa foi a palavra que usei. A compreensão deixa


um gosto ruim na boca, quando me tornei uma pessoa amarga?

Ergo o queixo, decidido a pensar sobre isso depois.

— Qual o segundo motivo para se importar com Emily?

— É irmã de um amigo, mas, acima disso, tinha o fato de ser

uma menina jovem e inocente nas ruas, grávida e sem ter para onde

ir. Está vendo essas pessoas dormindo em cima de papelões na


calçada? — indica os moradores de rua a menos de dez metros de

nós. — Foi daí que a tirei, mas quem a tinha colocado nessa

posição foi você.

Um frio sinistro percorre meu corpo, como se tivessem jogado

um balde de água fria em minha cabeça. Se ele tivesse me socado,


o impacto seria menor. A ideia do perigo e necessidade pelo qual

Emily passou.

— Ela morou nas ruas?

Eu me apoio ao muro do bar, o mundo ao meu redor

desmoronando.

— Por umas duas ou três semanas antes do irmão me ligar


desesperado, após terem perdido contato por três dias. Lembro dela

criança, era magricela, tímida e baixinha. Quando a encontrei um

ano atrás, doente e sem forças, ainda se parecia tanto com a


menina, que eu fiquei na dúvida se tinha atingido a maioridade ou se

não passava de uma adolescente.

— Eu não fazia ideia.

Por mais que estivesse com raiva pela traição, não era minha

intenção jogá-la aos lobos.

— Óbvio que não, você não se importou para checar o

estrago que fez. E eu só estou dizendo isso porque a mulher que

vemos hoje ainda está se recuperando. Quem eu trouxe para casa


naquele dia era uma casca de si mesma, um fantasma do que uma

jovem deveria ser. Não quero que ela regrida o progresso que fez e
ainda há Noah a levar em consideração. Ela é uma mamãe urso, vai

protegê-lo de qualquer perigo, até de você.

Noah é o bebê! Obviamente! Como não percebi antes?

Merda, preciso colocar minha cabeça no lugar.

— Mas…

Ele me interrompe:

— Se perguntar mais uma vez se essa criança é sua, vou te

dar um murro bem no meio da sua cara.

E eu devo fazer o que? Aceitar a palavra dela de que o filho é

meu, apesar da traição? Ok, o bebê parece comigo, mas Wyatt é


meu primo. Compartilhamos uma parte dos genes.

— Eu não sei o que fazer — digo com um suspiro exausto.

A decepção de Carter é palpável, não é a resposta que


busca.

— Emily e Noah merecem mais do que incertezas, então é


melhor ir embora e esquecer que algum dia sequer passou por essa

rua.

Não me movo, na verdade, faço um som de escárnio.

— Sinto seu julgamento daqui.


Carter pousa uma mão em meu ombro e, por um breve

segundo, eu me sinto mais novo do que sou.

— Para mim, um homem que não cuida de sua família não é


homem de verdade. Você se acha tão importante com suas roupas

caras e carro chique, mas não passa de um moleque mimado.


CAPÍTULO 8

Eu me sinto claustrofóbica no quarto fechado, então, subo


mais um andar para ficar na varanda perto da sala da caldeira. Noah

mama, enquanto eu olho as estrelas, em uma tentativa de me


acalmar. O que não adianta, principalmente porque demora para eu
ver o carro de Charles dobrar a esquina.

Apesar da lágrima que percorre minha bochecha, estou

anestesiada por dentro. A única coisa que me mantém presa ao

chão é o bebê em meus braços, agarrando meu peito com sua


mãozinha. Diversas vezes imaginei como seria a reação dele caso

descobrisse sobre Noah, até porque eu não tive condição financeira

de mudar de cidade. É triste, mas sua atitude foi o que esperava.


Assim como na manhã em que acordei na cama de outro

homem sem saber como cheguei lá, ele foi rápido em me acusar.
Passei por tanta coisa nesse último ano que me sinto outra pessoa,

mas ele continua o mesmo. Cuido de Noah até que me sinta calma

e segura em deixá-lo dormindo no berço. O relógio me diz que é


mais de onze horas e eu fiquei muito tempo escondida.

Respiro fundo porque tenho trabalho a fazer, mas quando

desço, Leslie e Brooke já foram, e Carter está fechando a porta. É


dia de semana, portanto, o expediente termina à meia noite.

— Fechou mais cedo?

— Quinze minutos antes não faz diferença. — Carter se volta


para mim e há um franzir em sua testa. — Você deveria ter me dito

quem ele era, foi por minha culpa que viu Noah.

Dispenso sua preocupação, está no passado e não pode ser

desfeito. Carter se serve de um copo de cerveja e senta no banco

alto que foi ocupado por Charles mais cedo. Deixo a babá eletrônica
com ele, enquanto começo o serviço de limpeza das mesas.

— Não quero te prejudicar, essa parceria com ele é uma


oportunidade única.
— Acha que quero negócios com um homem como esse? —
questiona com assombro. — Se ele virou as costas para a mulher

que ama, o que acha que faria com um cara que mal conhece?

Quem disse que ele sente qualquer coisa boa por mim?,
penso com sarcasmo. O verbo amar nunca foi usado por nenhum de

nós. Ao menos, não em voz alta. Na minha cabeça, repeti tantas

vezes o “eu te amo”, porém jamais tive coragem de falar a ele de

verdade.

— Charles não faria isso, ele foi sempre muito certo no

trabalho. Muitos tentam tê-lo como investidor ou parceiro, poucos

são os que conseguem. Você tê-lo em sua porta oferecendo uma


oportunidade é o equivalente ao Papai Noel surgir antes do Natal

com o melhor presente que já foi feito.

O pior é que não estou exagerando, no tempo que trabalhei


para ele, não vi uma única parceria dar prejuízo. Carter dispensa

meus argumentos com um breve aceno.

— Agora que ele sabe, o que quer fazer?

— Posso negar que é o pai de Noah. — A cada mesa que

finalizo, meu chefe se ocupa em virar a cadeira em cima dela,


liberando o chão para que eu limpe depois. — O irmão dele também

engravidou uma funcionária e tentaram tirar os gêmeos dela…

Quando a história saiu nos jornais, diversas mulheres no


trabalho acharam que era um lindo conto de fadas moderno, para

mim, no entanto, soou mais como um de terror. Nunca falei com a


esposa do irmão de Charles, mas a admiro por ter suportado o que

passou sem surtar. Eu estaria usando uma camisa de força só pela


traição da própria mãe dela, que aceitou suborno para se livrar dos
netos. A minha jamais faria algo do tipo, se ela pudesse, me teria

embaixo de sua asa.

— Mas ela conseguiu mantê-los?

— Porque fugiu da família Whitmore e também há uma


diferença grande: Logan a ama. Charles só tem rancor por mim.

— O que você decidir, iremos apoiar. — Ele me dá um sorriso


animador. — O Texa’s Club Bar é um time.

— Obrigada, não sei o que faria sem vocês.


Estou em um avião, pensando na vida. Uma hora e quinze de

viagem porque preciso de conselho para colocar a cabeça no lugar.


No momento, acho que apenas uma pessoa terá o discernimento

para dar as respostas que busco. O tempo que levei para contatar o
piloto e ordenar o abastecimento do jatinho particular, fiquei

bebendo no lobby do aeroporto.

Em meu coração, não duvido de quem é o pai, mas o ciúme


me sufoca. Imagino as mãos de Wyatt em seu corpo e dos olhos

sonolentos de quem tinha passado a noite inteira transando. Tive


incontáveis pesadelos com a cena e as inúmeras versões que criei
em minha mente. A mais recorrente é a de que eles estiveram

juntos por meses, me enganando. Sei que é minha paranoia sendo


alimentada pelo ciúme, mas não posso evitar.
No entanto, ao confrontar a imagem da Emily traidora com a
mãe trabalhadora que reencontrei, elas não combinam. São
pessoas completamente diferentes. A que vejo hoje é a mulher por

quem me apaixonei. Tal pensamento me faz parar de imediato, flui


com tanta naturalidade que não sei porque estou sequer chocado.

Qual outra razão para eu ter ficado tão magoado?

Envio uma mensagem para Wyatt, questionando como estão


os negócios no Japão e se ele tem alguma novidade a compartilhar.

Diante dos novos fatos, preciso entender quais foram suas


intenções e como vou fazê-lo confessar. Para isso, preciso que

continue achando que nada mudou em nossa amizade. Espero uma


resposta imediata e tomar a medida certa, considerando que deve
ser à tarde lá, mas não vem.

Tentei deixar as coisas normais entre nós dois, não queria

perder a namorada e o melhor amigo em um mesmo golpe,


entretanto, depois que acabei o noivado, terminei afastando-o

também. Agora percebo que deveria tê-lo chutado da minha vida


muito tempo atrás.

Dane-se! Vou avisar ao piloto que a viagem está cancelada

ao mesmo tempo que a comissária de bordo avisa que está pronta


para o embarque. Resolvo, então, ir. De qualquer forma, Emily deve
estar dormindo e não poderei falar com ela agora. O voo parece
mais longo do que é, porque todas as vezes que fecho as

pálpebras, me vejo entrando no escritório do bar de novo e de novo.

Por que não o segurei no colo? Como será ter o calor do


bebezinho pressionado contra o meu peito? Será capaz de aquecer

o meu coração frio? Apenas no desembarque percebo que chegarei

de madrugada na casa do meu irmão, mas já estou em São


Francisco, portanto, sigo o plano de qualquer forma.

Logan Whitmore mora em uma mansão com uma equipe de


segurança que está vinte e quatro horas sempre ativa. Ainda bem

que me conhecem, pois não me expulsam de imediato. Ao invés

disso, me colocam em uma saleta enquanto checam se sou bem-


vindo.

Posso sentir o olhar de julgamento do segurança,

considerando que estive bebendo, não dormi e nem me limpei antes

de viajar, minha aparência não deve ser das melhores. Não me

ofendo com sua mão descansando quase despretensiosamente


perto da arma em sua cintura, está apenas fazendo seu trabalho.
Logan protege bem sua família, eu deveria estar fazendo o

mesmo.

— Olá, irmãozinho, que merda você fez? — diz, após uns dez
minutos de espera.

Suspiro, essa noite não terá fim.


CAPÍTULO 9

Temos a mesma altura e olhos, mas os seus cabelos são


mais castanhos do que os meus. Nossa diferença de idade não é

grande, o plano era que os três irmãos cuidassem da empresa ao


lado do nosso pai, mas James ainda está na universidade e Logan
mudou de cidade. Então, ficou tudo nas minhas costas.

— Por que acha que fiz alguma besteira?

— São cinco da manhã e você viajou até aqui parecendo que


alguém chutou seu cachorrinho.

Logan indica para que eu o siga e me leva para a cozinha,

onde liga a cafeteira. Observo meu irmão à vontade em sua própria

casa, preparando um sanduíche e fazendo café-da-manhã.


Crescemos pedindo tudo aos funcionários, se estávamos

acordados, alguém deveria estar para nos servir. Eu não sigo essa
regra em meu apartamento, apesar de ter uma governanta que

cuida do lugar e cozinha durante o dia. Vejo que ele também não.

— Cadê os meus sobrinhos?

— Devem acordar em uma ou duas horas. — Estende um


sanduíche de pepino com queijo para mim, além de uma caneca de

café. — Coloque comida no estômago para absorver o álcool.

Há um tom de reprimenda em sua voz. Tão paternal! De certa

forma, Logan sempre cuidou da gente, por isso estranhamos

quando sumiu e cortou contato nos meses em que esteve


protegendo sua futura esposa e filhos.

— Como é ser pai?

— A melhor coisa que já aconteceu em minha vida. — Sorri,

bebendo um gole de café. — Não sei o que faria sem eles ou sem

Ava, minha vida ficaria sem sentido.

— Como teve certeza de que os gêmeos eram seus?

Afinal, assim como Noah, poderia ser de qualquer um. A ideia

me causa repulsa e abandono o sanduíche que mal dei uma

mordida.
— Bastou olhar para eles. Depois que o choque inicial passou
e eu pude tê-los no colo, não fui mais capaz de me afastar.

Choque. Sim, com certeza posso me identificar com isso.

Nunca fui avesso à ideia de ser pai, mas jamais imaginei que
aconteceria assim. Na verdade, quando algo parecido aconteceu

com Logan, fiquei me perguntando o que faria se fosse comigo.

Achei que lidaria bem, mas considerando que bebi e entrei em um

avião, me enganei.

— Nunca desconfiou que pudesse ser de outra pessoa? —

murmuro, envergonhado de até colocar isso em palavras.

— Não, Ava não é do tipo que trai. — Logan enfia metade de

um sanduíche na boca. — Por que o interrogatório? Aposto que não

pegou um avião no meio da madrugada, só porque queria saber

mais detalhes da minha história.

Conto tudo, de como a conheci, às piadinhas de Wyatt, a

manhã que destruiu tudo, como a encontrei por acaso no bar e

descobri sobre a criança. Caramba, digo até que cheguei a pensar


que Noah fosse um amante dela! Ele me dá um olhar de: “você é

paranoico”.
— Não pude dar uma boa olhada no bebê e fui expulso do bar

antes que pudesse pegá-lo ou ter uma conversa decente com Emily,
mas pelo que pude ver, tem alguns dos meus traços.

“Alguns” é eufemismo, porém, minimizo para ele, porque

estou me sentindo um imbecil por sequer duvidar quando a


evidência está na minha cara.

— E ao invés de falar com ela, você veio para cá?

— Preciso do seu conselho e experiência.

Afinal, com meu pai indisponível — e, de qualquer forma, não


seria o mais adequado para dar conselhos —, Logan é o mais perto

de uma figura paterna que tenho.

— Tanta coisa faz sentido agora, porque você e Wyatt estão


com a amizade abalada, o noivado repentino que foi desfeito em

seguida. — Meneia a cabeça, decepcionado. — Gostaria que


tivesse vindo falar comigo antes, irmão.

— Eu estava magoado e com raiva… Acho que


envergonhado também. Não é uma combinação boa.

Nunca tinha sido traído antes, estava acostumado a ser o

cara que dispensa a garota, não o que é trocado.


Um choro vem do andar superior e não demora para uma

babá descer com o meu mais novo sobrinho. Logan pega o filho no
colo e ele deve ter a idade do meu, mais ou menos. Sou péssimo

em diferenciar idade de criança pequena demais. A mulher que não


conheço dá um breve aceno respeitoso e vai pegar o leite materno

congelado para alimentar o pequeno.

Como será que Millie se vira para trabalhar sem ajuda?

— Se fosse interesseira, teria processado você ou Wyatt,

qualquer um dos dois daria uma boa pensão para ela. — Ele aponta
a faca que usou para cortar o queijo. — Você precisa se perguntar
se ama esta mulher.

— Não sei… Desde que a afastei, não tive outra que me


satisfizesse. Delilah é linda e inteligente, mas não aguentava deitar
ao lado dela à noite. Nem no aspecto profissional fui capaz de

substituir Emily adequadamente. Nenhuma foi boa o suficiente,


nunca a tirei da minha mente.

Delilah nunca aceitou o fim do noivado e, de vez em quando,

entra em contato pedindo para reacender a chama antiga. Cedi


algumas vezes por puro tédio.
— Está ouvindo isso, Billy? — Beija a testa do filho, que se
aninha em seu colo. — Quando crescer, seja mais esperto que seu
tio e perceba quando estiver apaixonado antes que seja tarde

demais. — Sua atenção se volta para mim, com a carranca


suavizada agora que tem uma preciosidade em mãos. — Sabe,

mesmo quando tive raiva de Ava, jamais deixei de amá-la ou pensar


nela.

Mais uma vez, posso me relacionar. Dou a volta na mesa para

sentar ao lado dele e brincar com meu sobrinho. Logan pega a


mamadeira aquecida e dispensa a babá, informando que ela pode
voltar a dormir. A jovem se vai e eu admiro meu irmão, à vontade

em cuidar de alguém tão pequenino e frágil. Billy pousa a mão na


mamadeira, com olhos sonolentos. Não lembro uma única vez em

que nosso pai fez algo parecido.

Eu o admiro, ele é minha inspiração para crescer e ser um

homem melhor.

— Você tem a família perfeita.

— Eu sei, os méritos vão para Ava, ela é a cola que nos


mantém felizes e unidos. — Ele me encara com seriedade. — Se a
ama de verdade, não faz muita diferença de quem é o pai biológico
do bebê, esteja lá por sua mulher.

— Você tem razão.

Faço uma última carícia em meu sobrinho e me levanto para ir


embora, mas Logan agarra minha camisa com uma mão livre.

— Aonde pensa que vai? Não vou te deixar sair daqui até que

tenha tomado um banho e dormido um pouco. — Cobre o ombro

com um pano e deixa o bebê em pé para arrotar. — Tem mais uma


coisa, sei que você considera Wyatt como um irmão, mas não é. Eu

e James somos. Não me entenda mal, adoro o cara, é um dos

nossos primos mais próximos, porém, tenho a sensação de que


sempre te invejou.

Em todos os grandes momentos da minha vida, Wyatt esteve

ao meu lado. Tanto que sua ida para o Japão está sendo a época

que ficamos mais tempo longe. Foi necessário, porque eu não

aguentava mais olhar para a cara dele.

— Eu nunca percebi nada.

— Às vezes, é mais fácil alguém de fora notar do que quem

está dentro de uma amizade tóxica. Ele sempre tentou controlar


com quem você se relaciona, amigos, namoradas, até a decisão de
qual universidade iria foi influenciado por Wyatt. Quantas conquistas

teve desde que o enviou na viagem de negócios? Até se


reaproximou de Jackson, que não é o mais esperto, mas tem um

bom coração.

Franzo a testa, perguntando-me se a privação de sono está

nublando meu raciocínio. Porque a primeira reação é negar e


defender meu primo, mas será que Logan está certo?

Ele me coloca em um quarto de hóspedes e eu apago sem


tomar banho, apenas me jogando na cama. Sou embalado por

sonhos com Emily, memórias do passado. Não sei por quantas

horas estive ali, porém, mãos pequenas me acordam e sinto um

peso no peito. Não é ataque cardíaco, são os gêmeos em cima de


mim.

— Eu disse para vocês não entrarem! — Ava aparece na

porta, agarrando Aiden e Clary em cada braço.

Eles são gêmeos fraternos, porém se parecem muito, com

seus cachos dourados e cara de anjo.

— Titio… titio!

Estico os braços, pedindo que ela os deixe ir. Minha cunhada

atende o pedido silencioso e os libera. Não demora três segundos


para escalarem minhas pernas e me abraçarem. Perdi quase um

ano da vida desses dois, pelo menos, do meu bebê terá sido menos

tempo.

— O que te traz aqui parecendo um lixo? — Ela coloca as

mãos na cintura, desconfiada.

— Eu me lembro de você mais agradável.

— São sete da manhã, estou acordada e não posso tomar

café porque vou dar de mamar. Me dê uma hora e eu serei uma


borboleta alegre — responde, mas Logan aparece atrás dela, de

banho tomado e de terno, e a beija no topo da cabeça, o que a faz

derreter. — Talvez dez minutos.

Eles me deixam sozinhos para tomar banho e uso um terno

emprestado do meu irmão porque não trouxe nada além da carteira


e celular. Inclusive, Logan joga uma boxer na minha cara. Eu, muito

adulto como sou, jogo de volta para ele com nojo. Demonstrando o

mesmo nível de maturidade, arremessa de volta, avisando que está


nova e nunca foi usada. Termino confiando em sua palavra.

Após o banho, me sinto melhor, mais energizado, apesar de

ter dormido quase nada. Do lado de fora, as crianças estão

comendo um desjejum de frutas e cereais saudáveis, com muita luz


do sol para o meu gosto. Ava nota que mal posso abrir os olhos com

ressaca, quando pede ao marido um par de óculos escuros e


remédio para dor de cabeça.

Agradeço os cuidados, sentando ao lado dos gêmeos ao me

servir de um copo de suco. Ava quer saber o que aconteceu e eu a

atualizo em tudo. É engraçado como sua expressividade me deixa

saber o que pensa sem que precise falar nada, foi de interesse à
desconfiança e puro horror.

— Você é um idiota — conclui sem pestanejar.

Eu dou de ombros, sem me ofender de alguma forma.

— Esse é o consenso.

Ava tira o filho mais novo do carrinho e o coloca sentado em


cima da mesa, apoiando as suas costas em si.

— Essa mulher deve estar assustada, coloque-se no lugar


dela. Você não sabe como é viver no medo, na dúvida se poderá ou

não cuidar do seu bebê, se haverá comida na mesa ou se poderá

pagar o aluguel no mês seguinte.

Isso me dói mais do que qualquer coisa, pelo que Carter

disse, a situação foi tenebrosa para Emily. Logan passa os braços


ao redor dos ombros da esposa em apoio.
— Charles, quero conhecer meu sobrinho — fala com

seriedade. — Saiba que esse bebê tem primos e tios que estão

doidos para conhecê-lo. Não prive nossa família de sua presença.

— E se ela não me perdoar?

Afinal, Emily não demonstrou estar muito aberta a mim.

— Se joga nos pés dela e implora perdão.

— Você não se jogou no meu. — Ava faz um bico, com a

testa franzida.

Logan apenas ri e lhe dá um breve beijo, apropriado para

menores:

— Meu amor, estou aos seus pés desde o primeiro dia que te

vi.

A esposa, de imediato, derrete e tanto eu quanto os gêmeos

fazemos um barulho de “nhé”.

— Entendi — interrompo o momento dos dois —, tenho que


ser meloso e grudento.

— Não, você tem que ser homem o suficiente para


demonstrar os seus sentimentos — Ava me corrige e, no fundo, sei

que ela tem razão.


CAPÍTULO 10

Alguns dias se passam em que consigo evitar a insistência de


Charles em me ver, assim como Carter anda dispensando as

investidas de Jackson para retomar as negociações. É início da


tarde de sábado e sempre temos a hora do cinema, com os
funcionários vendo algum filme no streaming.

— Estão tocando a campainha. — Carter checa a câmera

pelo celular. — É ele de novo, quer que o coloque para fora?

O homem não desiste! E nem o meu coração deixa de

acelerar a cada nova tentativa, acho que é por isso que evito
encontrá-lo. Não tenho muita resistência quando se trata de Charles

Whitmore. Não podemos continuar assim, entretanto.


— Podem ficar com Noah? Não quero que Charles o veja, por

enquanto. Acho que precisamos de um fechamento ou ele não me


deixará em paz.

— Pode ir, ficamos com ele. Ao invés de filme, vamos dar

uma volta no parque com o rapazinho. — Leslie garante e o restante


concorda.

Carter, inclusive, acrescenta:

— Tire ele da porta e sairemos para dar privacidade a vocês.

Charles tem um sorriso no rosto ao me ver, em uma mão tem

um buquê de flores e na outra um ursinho que deve ter cerca de dez

vezes o tamanho do meu filho. Ele começa um discurso sobre como


estou linda, mas o interrompo, levando-o para o meu quarto. Afinal,

é o único lugar sem câmera de segurança ao qual tenho acesso.

Meu ex observa o espaço apertado com preocupação,

checando a resistência do berço e a mesa de estudos transformada

em trocador, com apenas uma espuma coberta por plástico e um

lençolzinho fino. Deixo as flores e o urso em cima dela.

— Posso ver Noah?

— Não — indico uma cadeira para ele se sentar e eu fico na

beira da cama.
— Gostaria de segurá-lo.

— Por quê? — Cruzo os braços, irritada. — Quer saber se

fogos de artifícios irão estourar e você terá certeza de que é seu?

Ou vai tentar pegar uma amostra dele para um teste de


paternidade?

Estou ciente de que é direito dele e não vou me negar a fazer,

mas a ideia de Charles fazer tal exigência me deixa enervada.

— Eu só quero segurar o meu filho pela primeira vez… —


Passa a mão nos cabelos, mas se senta, frustrado. — Como você e

Noah estão?

— Ele é um ótimo bebê, eu estou confusa com o seu assédio

que nunca parou.

Sua testa se franze e ele se inclina para trás, intrigado.

— Achei que estava apenas sendo obstinado. — Respira


fundo e fica sério, tentando diminuir o ar sedutor. — Por favor, me

conte sobre aquela noite.

— Fará alguma diferença? Por que vai acreditar em mim


dessa vez?
Ele aceita minha raiva, pois é merecida, mas há uma dor em

sua face que me faz amolecer.

— Por favor.

Charles não precisa afirmar a qual noite se refere, então puxo

as pernas para debaixo de mim, sentando em posição de lótus para


recontar um dos piores dias da minha vida:

É início da noite e eu bato o ponto, não posso ir para o


apartamento de Charles porque tenho uma prova para estudar. Ele
costuma me dar carona, porém tem algumas ligações a fazer e o

aviso que irei sozinha. Entro no elevador, pensando em dar uma


passada rápida no supermercado. Portanto, conto quanto dinheiro

tenho na carteira.

O que eu tinha no banco foi para ajudar meus pais a


manterem a granja, que não está indo bem porque teve uma praga

de fungo na plantação. A safra inteira foi perdida, levando a um


prejuízo sem precedentes. Meu irmão também tentou ajudar, mas
ele ganha menos do que eu e tem uma filha para criar, então, ficou

de mãos atadas.
— Oi, linda. — Me assusto com Wyatt, ele surge do nada ao

meu lado, antes que eu possa atravessar a porta de saída. — Agora


não está ocupada, né?

Demoro um pouco para compreender sua pergunta, mas

termino me lembrando que ele tinha me convidado para sair na


tarde anterior e eu rejeitei. O primo de Charles às vezes me olha de

um jeito estranho que me deixa desconfortável, por isso fiquei tão


irritada ao ouvir o meu “namorado” afirmar que não se importaria

caso outro homem desse em cima de mim.

— Ei, Wyatt. Estou sim, preciso ir para casa.

— Vamos tomar uma cerveja. — Não aceita minha dispensa e

eu estou pronta para ignorá-lo, mas de sua boca sai a única coisa
que me faria parar: — Se fosse Charles, você iria.

É uma ameaça? Acho que sim. Nunca assumimos nosso

namoro nem para as pessoas mais próximas, no entanto, ele pode


ter descoberto algo. E se Charles tiver contado, porém pedido
segredo? Não entendo a amizade dos dois, é como se um tentasse

ser sempre superior ao outro, são amigos e rivais ao mesmo tempo.


A questão é que meu “namorado” é o chefe, então, ele tem uma

vantagem incontestável.
— Não quero participar de seus joguinhos.

— O que isso quer dizer? — insiste, sem tirar o sorrisinho


convencido do rosto.

— Vocês tem uma competição que não quero fazer parte.

Sigo o meu caminho, indo para a calçada, porém, ele é rápido


e se coloca na minha frente:

— Está enganada e posso provar, só quero te chamar para

sair porque vou planejar a festa surpresa de aniversário para ele e


preciso da sua ajuda.

— Sério?

Talvez eu tenha subestimado Wyatt e esperado o pior dele


injustamente.

— Sim, vamos tomar uma bebida na esquina, combinar as

coisas e depois te dou uma carona para casa.

Concordo, porque tenho pensado no aniversário de Charles e


de modo algum cheguei a uma decisão de como surpreendê-lo.

Afinal, o que dar de presente para alguém que já tem tudo?


Volto ao presente, secando uma inoportuna lágrima que
escorre por minha bochecha. Muitas vezes, sozinha nas ruas,
sentindo fome e frio, me torturei com as ideias do “e se?”, e a

maioria envolvia este momento. Que rumo minha vida teria tomado
se eu tivesse esperado Charles terminar as ligações e me levado

para casa naquela noite? Ou, talvez, seguido meu caminho e ido
direto para o apartamento, sem nenhuma parada.

Teria sido o meu final feliz?

— Tomamos um vinho, enquanto decidíamos onde seria a

festa, mas não lembro direito — explico, secando o rosto com o


dorso da mão. — É tudo meio confuso, mal me recordo do que

aconteceu, só dele fazendo algumas piadas inapropriadas. Depois

veio você, gritando e me chamando de nomes na manhã seguinte.

— Ele me mandou umas fotos de vocês no bar, se beijando.

Quê? Arranco o celular da mão de Charles e vejo uma

sequência de fotos em que estou beijando Wyatt no bar e em


seguida, no carro dele. Meu Deus do céu, tem até uma minha em

seu colo!

— Não lembro disso, juro a você.


Minhas mãos estão tremendo e eu me sinto violada, há um

frio em meu corpo que me faz gelar por dentro. Charles se senta ao
meu lado e o cuidado com que ele esfrega meus braços, puxando-

me para junto de si me faz não resistir. Aceito, porque preciso do

calor do seu corpo para não me sentir desamparada.

— A minha primeira reação foi negar e dizer a ele que você


não faria isso, mas não foi a única coisa que recebi.

Peço que se explique e, relutante, me deixa ver um vídeo em


que sorrio para a câmera e me deixo ser beijada. Meu Deus! Nada

dessa noite faz sentido para mim. Livro-me do seu toque e corro

para o banheiro, colocando tudo que ingeri e mais um pouco para

fora.

— Como isso aconteceu? — Choro contra o vaso, arrasada


contra as possibilidades terríveis que me assombram neste instante.

— Por favor, me explique direito tudo que se lembra.

Apesar da suavidade em sua voz, explodo:

— Eu já disse! Acha que estou mentindo?

— Acredito em você, mas preciso dos detalhes. — Levanta as


mãos em rendição. — O que aconteceu é muito sério e preciso de

mais detalhes para tomar medidas legais.


O que ele pode fazer? Foi um ano atrás, não tem nenhuma

prova, será minha palavra contra a dele. A foto e o vídeo não

provam nada. Necessito de tempo e de espaço, eu me afasto dele


para escovar os dentes porque preciso de algo para fazer.

— Errei com você e Noah de tantas formas! Quero fazer


certo, isso não ficará impune, mas preciso ter certeza de que vocês

dois estarão seguros. Se eu der uma surra em Wyatt, em poucos

dias estará bem, vou atingi-lo de forma que não possa se recuperar
com facilidade. — Beija minha testa quando saio do banheiro e eu

me deixo ser envolvida por seus braços. — Deveria ter percebido

que tinha algo estranho, mas estava tão cego de ciúme que não

pude raciocinar. Você me perdoa?

— Carter me manteve segura no último ano.

Eu quero me afastar dele, mas não tenho forças para dar um

passo para trás. Charles me faz encará-lo e segura meu rosto entre
suas mãos em concha.

— Carter não sou eu e já basta de outro homem bancando o

pai do meu filho.

— Vamos fazer um teste de paternidade, não quero que haja

dúvida.
Ele balança a cabeça para os lados em negação e acaricia

meu rosto com a ponta do polegar:

— Não há dúvida alguma, quero conhecer meu filho.


CAPÍTULO 11

Passamos mais meia hora conversando, em que uso cada


força de vontade para não pegar um avião para o Japão e dar uma

surra no meu primo. Leio as expressões em sua bela face, parte de


mim sabia que tinha algo errado, mas deixei o ciúme levar o melhor
de mim. Estou fervendo por dentro, com vontade de socar Wyatt,

porém, não posso deixá-la sozinha neste momento.

Vê-la passar mal me deixa angustiado, gostaria de tirar

qualquer sofrimento dela. Ainda mais sendo por minha culpa. Emily
está pálida e suando frio, eu a convenço a se deitar, enquanto corro

na cozinha para pegar um copo de água. O lugar está vazio e é

muito limpo, assim como o bar. No entanto, o quarto dela é muito


pequeno para duas pessoas, as coisas do bebê ocupam espaço

demais.

Preciso colocá-los em uma casa mais adequada, com uma

boa área livre para que Noah possa correr, brincar e crescer com

saúde. Retorno para ela, colocando os travesseiros em suas costas


para que ela possa beber a água.

— A culpa é minha, eu não deveria ter sido tão duro com

você.

O que Wyatt fez com ela? Quão longe foi? A ideia dele a

forçando também me causa náuseas.

— A culpa é sua mesmo — concorda, colocando o copo em


uma mesinha de cabeceira e solta um longo suspiro, mexendo na

barra de sua camiseta. — Não acho que ele tenha forçado sexo

comigo, eu estava com a meia-calça peluciada. Ela parece uma

segunda pele, deve ser por isso que você pensou que eu estava

nua. — Funga, esfregando a cara. — É reforçada, difícil de tirar e


colocar, ainda mais se minhas pernas estiverem suadas por uma

“atividade física”. — Faz aspas no ar. — Não tem nem como subir

assim se estiver úmida.


Como não entendo do que está falando, Emily vasculha o
armário para me mostrar uma meia-calça que é pequena demais

para caber em uma mulher adulta. Por fora, parece comum, mas por

dentro é macia ao toque, como uma pelúcia mesmo.

— Isso é para uma criança de dez anos, cabe em você?

— Ela estica, mas tem menos elasticidade do que a normal —

demonstra, puxando-o. — Amanheci vestindo isso e meu sutiã…

Eu nem lembro que ela usava qualquer peça de vestuário,


revivi tantas vezes que criei várias versões na minha cabeça.

Porém, pensando direito, lembro de ter alguma lingerie envolvida.

Deixo a meia-calça de lado e seguro sua mão, acariciando o dorso

com o polegar.

— De qualquer forma, farei com que a justiça seja feita.

— E Delilah?

Ela se afasta do meu toque, voltando a se encostar nos

travesseiros. Minha ex foi um erro descomunal que já foi corrigido e

não faz parte da minha vida mais.

— Fiquei na merda por um bom tempo e Wyatt insistia em me

animar para compensar por ter te levado para sair. Que ele não
sabia o quanto eu estava apaixonado por você, nem tinha certeza

de que estávamos juntos.

Eu estava anestesiado por dentro, aceitei porque não fazia


diferença alguma. Nada fazia mais sentido para mim. Vou fazer meu

primo pagar.

— Mentira, pelo jeito que falou comigo, sabia sim! Até achei

que você tinha contado.

Não tinha compartilhado sobre Emily com ninguém, o que


estávamos vivendo era único demais para expor a outras pessoas,

ainda mais aquelas que estariam prontas para nos julgar.

— Passei meses cego de dor, ciúme e saudade, comecei a


sair para fingir que estava bem por fora. Vivia no automático porque

não me importava com nada além do trabalho. Minha existência se


tornou a empresa, nunca ganhei tanto dinheiro quanto nos últimos
meses.

— Vai dizer que transou com Delilah e colocou um anel em


seu dedo no automático? — questiona com sarcasmo.

De certa forma, foi. Wyatt insistia que era o acordo perfeito e


que seria ótimo para os negócios também, já que a família Chastain
é bem conectada. Dinheiro foi o que chamou minha atenção mais do

que a promessa de amor.

— Não foi o meu melhor momento, por isso que acabei tudo
antes que muitos planos de casamento fossem feitos. Não posso

desfazer o passado, por mais que eu queira, mas podemos fazer um


novo futuro.

— E onde estou nesse futuro?

— Ao meu lado, para sempre. — Volto a segurar sua mão,


beijando a ponta de seus dedos. — Com Noah e os futuros filhos

que tivermos.

Quero uma família com Emily e nenhuma outra.

— Eu não sei… Você está indo de zero a cem rápido demais,


as suas acusações no passado me machucaram muito.

E não há nada que eu me arrependa mais.

— Tudo o que peço é uma chance. — Aproximo-me mais,

fechando o espaço entre nós. Estamos sentados na cama e eu


afasto os fios de cabelos errantes caindo em seu rosto. — Tem
noção do quão difícil é estar ao seu lado e não te tocar? Encarar a

sua boca e não poder te beijar? Eu me sinto morto por dentro sem
você, Emily. Como se toda a alegria tivesse sido sugada de mim.
Ela se inclina em minha direção e, finalmente, os doces lábios
alcançam o meu. É estar no paraíso de novo após ter sido chutado
para fora. Sua boca é macia e quente, não evito o gemido de pura

satisfação que escapa da minha garganta e envolvo sua cintura,


trazendo-a para junto do meu corpo.

Eu a deito na cama. Emily parece um anjo em seu jeans e

camiseta, a mulher mais linda que já vi. Quero adorar o seu corpo,
beijar cada centímetro dela! Faz muito tempo que a desejo e por

mais que eu queira me perder nela, não se trata apenas de sexo,


mas da conquista.

Cubro o seu corpo com o meu e não paro de beijá-la, sua


língua se enrosca com a minha, o calor que vem de sua boca
aquece o meu peito. Tê-la agarrando meus cabelos e as unhas

afundando em meus ombros com necessidade me dá vontade de


bater no peito e gritar como um homem das cavernas.

Ao invés disso, retiro a sua camiseta. O sutiã abre com um

colchete e nem precisa tirá-lo para revelar os mamilos. Que prático!


Seus seios estão maiores, o que é uma boa vantagem na minha

opinião. Emily me avisa para tomar cuidado porque está


amamentando e entendo o que quer dizer quando leite surge no
bico devido à minha atenção.

— Isso é novidade! — Esfrego o mamilo, curioso e a

questiono com o olhar. Emily me dá um pequeno aceno de


aprovação e eu vou em frente. O gosto é meio esquisito, mas nem
isso me impediria de prová-la.

Emily rebola embaixo de mim e eu deixo uma trilha de beijos

por seu colo, seios, pescoço, boca, ventre… Vou indo e vindo,

acima e abaixo do seu tronco porque não consigo ficar muito tempo

longe de sua boca. Ela se livra da minha camisa, jogando-a no chão


ao meu lado. Suas unhas percorrem meu peito e lambe os próprios

lábios, cheia de desejo.

Nossas roupas desaparecem e eu coloco a camisinha que

trouxe no bolso. Porque um homem pode ter esperança. Fico de


joelhos entre suas pernas abertas, Emily morde o lábio, de repente

tímida, e eu afasto mais as suas coxas. Os grandes lábios são ainda

mais doces do que os de sua boca. Ela geme e rebola, estimulo seu

clitóris de novo e de novo e a penetro com os dedos, não paro até


que esteja clamando por meu nome.
— Goza na minha boca! — Aumento a velocidade e seu

quadril desencosta do colchão à medida que fecha o punho no


lençol, perdida em meio ao clímax.

Ela ainda está ofegante, olhos fechados de prazer. Eu me

sento em minhas pernas, admirando-a por um momento, gostaria de

ser um pintor para registrar este momento e transformar em arte os


sentimentos no meu peito. Sou um filho da puta sortudo por tê-la:

— Você é perfeita.

— Tive um filho, não sou mais como você se lembra.

Faz um movimento para esconder a barriga com os braços,

no entanto, eu a paro e seguro os seus pulsos acima de sua


cabeça. Invisto dentro dela e preciso de um segundo para assimilar

como é estar dentro de Emily mais uma vez.

— Acha que isso muda alguma coisa do que sinto? — Eu me

afundo mais e ficamos em silêncio, nos encarando de perto, nossas


testas unidas. — Que estou com você por causa do seu corpo? Sim,

senti falta do sexo, mas eu o que fez falta de verdade foi de te ter ao

meu lado, do seu sorriso, da música, de te abraçar na manhã antes

de sequer abrir os olhos.


Uma lágrima escorre pela lateral do seu rosto e eu beijo o

rastro úmido antes de começar a me mover em busca do nosso

orgasmo. Outro dia podemos fazer o sexo louco que costumávamos


ter, agora só quero amá-la.
CAPÍTULO 12

Sexo com Charles nunca decepciona, no último ano só tive


minha mão de companhia. Isso quando tinha tempo e disposição

para pensar em prazer, tendo um recém-nascido e muito trabalho


para fazer. Após ficar alguns minutos abraçados, ouvindo as batidas
de seu coração enquanto estou descansando em cima do seu peito,

tomamos um banho.

Compartilhamos algumas tortilhas e um pouco do chili que

Brooke preparou para ser servido mais tarde. Conversamos sobre a


vida e ele me diz que fez muitos planos nos últimos dias, até que

meus amigos voltaram do passeio.


Nosso bebê vem em seu carrinho com um novo brinquedo em

mãos, ele estica os braços ao me ver. É estranho que meu coração


esteja acelerado com esse momento? Acho que uma parte minha

ainda teme o que pode acontecer e o medo da rejeição. Aceito os

golpes jogados contra mim, mas jamais em meu filho. Por um


segundo, penso em fazer como o Cam de Modern Family e elevá-lo

imitando o Rei Leão. No entanto, me limito a pegá-lo no colo e me

aproximar de Charles.

— Este é Noah.

Relutante, permito que seja tirado de mim. Há uma plateia

observando Charles segurar o filho pela primeira vez. Acho que

todos estão prendendo a respiração por um breve instante, ao


menos sei que eu estou. Noah geralmente não estranha as

pessoas, mas também não é de fazer graça para desconhecidos.

Entretanto, ele olha para o pai e abre um de seus deliciosos sorrisos

banguelas, sendo espelhado por um sorriso de deleite de Charles.

Derreto e Leslie murmura “ovulei” para Brooke. A cena diante

de mim se torna desfocada, pois as lágrimas nublam minha visão.

— Oi, garotão! Tem cuidado da sua mamãe por mim? —

Charles inspira fundo nos cabelos do bebê, assimilando seu


perfume. — Ele é perfeito — diz mesmerizado e brinca por mais um
tempo, fazendo caretas e palhaçadas para Noah rir mais —, incrível

como parece comigo.

Ai, Deus! Com isso, minhas amigas se dispersam e eu lhe


dou um tapa no ombro.

— Que metido! Você deveria testar as palavras na cabeça

antes de falar.

Demora uns dez segundos para Charles percebem que fez


um autoelogio sem querer e me dá um beijo suave nos lábios.

— Ele tem a sua doçura e sorriso, e é isso o que o torna


perfeito.

Brooke, que estava quase na cozinha, mas ainda ouvindo

nossa interação, gritou:

— Ai, agora eu ovulei!

Jogo um pano de prato nela, que sai rindo. Charles pede que

todos voltem e se reúnam em volta da mesa. Ele tem um anúncio a

fazer e me tranquiliza antes que eu o repreenda, garantindo que


será uma coisa boa.
Primeiro, troco a fralda de Noah e me acomodo no sofá do

escritório para dar de mamar, cobrindo meu seio exposto com um


paninho atoalhado. Brooke, Leslie e Carter arrastam as três

cadeiras ao redor da mesa para perto de mim, enquanto Noah


permanece ao meu lado.

— Gostaria de agradecer a vocês por terem cuidado da minha

família, mas assumirei a partir daqui.

Ops! Comentamos sobre isso no pouco tempo entre o sexo e

o retorno deles, mas está longe de ter sido o suficiente para tomar
uma decisão desse porte.

— Charles, o que está fazendo?

— Confie em mim, baby.

Carter levanta uma sobrancelha diante da nossa interação.

— Quer dizer que vou perder a amiga, colega de quarto,


garçonete e cervejeira? E ainda vou ser afastado do meu afilhado.

De modo algum que o deixarei na mão sem um aviso prévio,

independente do rumo que minha vida tomar, o mínimo que devo


fazer é não prejudicar aqueles que estenderam a mão para mim.
— É por isso que tenho uma proposta. — Ele entrega a Carter

uma papelada que havia trazido, mas deixado esquecida em cima


da mesa. — Não precisa me responder agora. Analise, chame um

advogado e me diga o que pensa. Qualquer cláusula pode ser


negociada.

Como é algo que vai refletir no trabalho de todas, nosso chefe

permite que leiamos o contrato e os únicos sons do ambiente são as


nossas respirações chocadas e a sucção de Noah, que não faz a

mínima ideia de que seu pai acaba de fazer a cabeça de todos


explodir.

Mais três dias se passam em que minha vida dá uma volta de


cento e oitenta graus. Seco as lágrimas que insistem em escorrer, a

última vez que chorei por tantos dias seguidos foi quando Charles
me demitiu em meio a terríveis acusações injustas. A culpa do choro

atual é dele também, mas é por uma boa razão.


Transbordo de felicidade ao mesmo tempo que sinto um
aperto no peito, é um ciclo de vida que se fecha. Estou deixando
para trás o lar que foi meu abrigo e emprego, que manteve a mim e

ao meu filho vivos e alimentados, para ficar sem meus amigos e


mudar de rotina.

As coisas não estão cem por cento com Charles ainda,

transamos, nos beijamos, ele tem convivido com o filho, mas não
cheguei ao ponto de fazer grandes declarações amorosas. Apesar

dele demonstrar com palavras e atitudes que está comprometido,


ainda resguardo meu coração.

Mesmo assim, coloco minhas malas no carro de Charles e me


despeço dos meus amigos. Carter aceitou a proposta, era boa
demais para negar, e vai aproveitar as férias pagas para visitar a

família no Texas. Brooke terá tempo de voltar a fazer testes para


papéis em filmes e Leslie pode quitar o saldo devedor na faculdade

de enfermagem.

A proposta dele é muito — muito, muito, muito — boa e


Jackson chega a questionar a sanidade do amigo. No entanto, ao

descobrir a verdade sobre nós, compreende que a transação não se


trata apenas de lucro, mas de agradecer pelo que fizeram por mim e
por Noah. Por estarem lá para nos amparar quando o Charles não
estava presente.

Jack também se desculpou por ter dado em cima de mim, eu

o fiz prometer se comportar melhor com todas as mulheres no


futuro, enquanto ele reclamou que “Charlie sempre pega as
melhores”. Com isso, teve que se desculpar de novo. Ao baixar

minha guarda, percebo que ele é um bobão inofensivo.

Com um último adeus, me despeço do bar, ensino Charles a

prender Noah no carro e vou embora do antigo lar para um novo, ele

logo vai adormecer, porque o balançar do veículo é o equivalente a


niná-lo. Meu namorado — não sei se posso chamá-lo assim — se

senta ao meu lado no banco de trás, comigo entre ele e o bebê-

conforto. Por mais que me esforce para ser forte por fora, estou
derretida por dentro.

A presença desse homem me causa arrepios de antecipação.

O tempo inteiro quero me jogar em seu colo e proferir juras de amor.

Se eu estivesse sozinha, provavelmente já teria feito algo do tipo.

Mas, como posso ter certeza de que suas promessas se manterão?


E que não são atos impulsivos e passageiros?
Os pensamentos se esvaem com os seus braços me

envolvendo e ele me puxa para o seu colo, afundando os dedos em


meus cabelos e me roubando um beijo. Nos braços dele, qualquer

dúvida desaparece e até esqueço do motorista. É intenso e com

tanta paixão que eu esqueço do resto. Em meu peito, sinto que


podemos fazer funcionar.

Charles me distrai tanto que demoro para perceber o caminho

que tomamos, não é o do apartamento, de fato, estamos quase

entrando em Bel-Air, o bairro mais caro da cidade, recheado de

mansões exorbitantes.

— Aonde estamos indo?

— Vamos fazer uma parada primeiro.

Ele me dá um beijo na ponta do nariz e demora uns dez

minutos a mais para chegarmos na entrada do lugar mais lindo que


já vi. É tão grande que poderia ser um hotel. Pelo lado de fora, é

impossível mensurar o seu tamanho total. Os jardins frontais

deveriam estar enfeitando um palácio, tem até uma fonte.

Poxa, na verdade, parece um palacete. O motorista se

mantém no carro, enquanto sigo Charles e Noah pela lateral, para


que possa checar a quadra de tênis e de basquete, piscina com
uma área de churrasco tecnológica, em que os bancos e televisão

aparecem a um comando de voz.

Por dentro, vemos a cozinha cromada, salas, academia,

cinema, quartos e até um ambiente com isolamento acústico. Deve

ser de algum influenciador digital para gravar vídeos ou algo assim.

— O que acha dessa casa? — questiona, enquanto voltamos

para o jardim, com ele levando Noah no colo.

— Acho que é uma mansão muito bonita, de quem é?

— Sua. Se eu tiver sorte, nossa — diz simplesmente, como se


estivesse falando sobre o clima, mas há uma apreensão em sua

voz. — Quero que nosso filho tenha um ambiente seguro para

crescer.

Eu me viro de costas para observar a casa atrás de mim, ela

parece ainda maior do que antes, como um passo muito maior do


que minha perna. Eu e Noah jamais conseguiremos ocupar esse

lugar inteiro, mesmo que Charles decida morar conosco.

— Quando comprou isso?

— Um pouco mais de um ano atrás, tive que fazer algumas

reformas — dá de ombros e nos leva para uma mesa de madeira à


sombra de uma árvore frondosa —, mas depois perdi o interesse e

está fechada desde então.

O que isso significa? Ainda bem que estou sentada, porque


me sinto com a cabeça leve, tonta. Mais de um ano atrás, quando

ainda estávamos juntos?

— Por quê?

— Na época eu não sabia ao certo, eu me convenci de que

era uma boa ideia ter mais imóveis. Bom, é, mas foi mais do que

isso. Fiz algumas reformas, acrescentei um estúdio de gravações e

dizia que era porque eu pretendia fazer vídeos sobre


empreendedorismo, mas não era.

— Foi por mim?

Certa vez, voltei de uma aula contando sobre as fotos do

estúdio de gravação que o meu professor tinha em casa, que usava

para testar as músicas e fazer videoclipes. Não imaginei que ele

sequer tinha prestado atenção no que falei. Então, nem que fosse a
um nível inconsciente, ele estava pensando em nos levar para o

próximo nível?

— Não está finalizado porque parei a reforma uns oito meses

atrás. — Entrelaça os dedos com os meus, seu toque me acalma. —


Contratei uma decoradora, faremos uma reunião com ela. Quero

que fique do jeito que você desejar.

Como eu desejar? Sou uma mulher simples que nunca teve

luxos e cresceu em uma fazenda. O que eu sei sobre alta sociedade

ou como encher uma mansão desse porte com elegância e bom


gosto? Caramba, no bar o que tinha era uma cabeça de veado

empalhada!

— É demais, não me sinto confortável com isso, não faço

ideia nem de como administrar um lugar assim.

Charles afasta uma mecha de cabelo do meu rosto, ao

mesmo tempo que Noah se joga em meu colo, buscando o meu

decote. O menino adora um peito. Charles aproveita para me


envolver com seus braços:

— Estarei aqui e se acostume, pretendo mimar muito vocês

dois.

— Não sou nada para você… — murmuro, era isso que eu

repetia a mim a cada noite que dormi na rua após perder tudo.

De que nunca signifiquei nada para Charles, não passei de

uma aventura.
— Está enganada, você é meu tudo. Os dois são — afirma

com veemência. — Eu comprei essa casa quando estávamos


juntos, por mais que quisesse negar para mim, foi pensando em

você que a adquiri. Sei que errei muitas vezes, porém quero me

redimir.

Nos últimos dias, ele tem repetido muito que busca o perdão.

— Não minta para mim, por favor. — Minha boca treme

porque já chorei demais e não desejo continuar a derramar

lágrimas. — Não sei se meu coração aguenta outra decepção.

— Emily, eu te amo há mais tempo do que tive coragem de


admitir e isso me custou vocês.

Quantas vezes desejei ouvi-lo falar de amor? E agora que

aconteceu, sinto mais medo do que euforia. Noah percebe o meu

tremor e deita a cabeça em meu ombro, interrompendo a busca pelo

seio, ao menos, por um tempinho.

— Você foi covarde.

Charles não me enfrentou ou quis ouvir minhas explicações,

apenas me arremessou aos leões.

— Fui, mas o amor não me causa mais medo, eu temo muito


mais perder vocês.
Fecho as pálpebras por um momento, absorvendo a
veracidade de suas palavras. No entanto, não sou capaz de ser

recíproca e lhe dizer quanto amor carrego em meu peito. Guardo o

sentimento ao invés de gritar a verdade a plenos pulmões e espero


que ele perceba a verdade com a alma que coloco em meu beijo.

Seus lábios macios se moldam aos meus e são tão suaves,

quanto exigentes. A conexão que nos une é inegável e eu espero

não me arrepender em confiar minha vida e sanidade a ele. Nosso

beijo é interrompido com Noah colocando sua mãozinha entre


nossas bocas. Quer atenção e mamar, atendo ao seu pedido.

— Tudo bem — concordo em embarcar nesta loucura. — Vou


dormir em qual quarto?

Ao invés de responder, Charles fica sério e diz solenemente:

— Vamos para o meu apartamento, aqui não está em

condições de ter moradores ainda. Está fechada há oito meses e a


reforma terá que ser finalizada.

Não há muito a ser revelado em sua expressão, mas


desconfio que adoraria ter um grande sorriso vencedor em seus

lábios. Estreito os olhos, desconfiada.

— Esse é o seu plano para me ter embaixo do seu teto?


Charles me avisou que tinha um lugar perfeito para eu e Noah
morar. Achei que estava falando sobre um cantinho para nós dois,
não invadir sua privacidade.

— Quero te conquistar e eu nunca disse que jogaria limpo.

Sei que poderia insistir para que ele alugasse um


apartamento só para mim e Noah, mas já está gastando demais

com reforma e decoração de uma mansão inteira. Não que vá fazer


diferença em sua conta bancária. Ah, a quem estou querendo
enganar? O fato é que sonhei tantas vezes em morar com ele, como

posso negar agora?

— Tudo bem.
CAPÍTULO 13

Morar com Emily e Noah foi a melhor decisão que já tomei em


minha vida, tem sido um mês mágico. Os dias passaram a ter cor,

acordo com o calor dela junto ao meu e faço questão de levar meu
bebê para o banho de sol antes de tomar café-da-manhã. Trabalho
com mais vontade, ansiando pela hora de voltar para o apartamento

e estar com minha família. E à noite? Ora, transar com Millie é o


melhor bônus que poderia existir.

Beijo o ombro da minha garota que está adormecida, suas


curvas me fazem querer passar o dia inteiro na cama, mas a

empresa não vai se gerir sozinha. Na cozinha, a senhora Gillian tem


o meu café pronto e Stella, a babá, está terminando de dar a

mamadeira para Noah.

— Ele é um bebê muito bom — Gillian elogia.

Ela sempre torceu pela minha felicidade, era uma das poucas

pessoas que sabiam do meu caso com Emily, tendo testemunhado

diversas manhãs em que ela acordou aqui. A governanta é mais


inteligente do que eu, pois sempre acreditou na inocência da minha

mulher e nunca se conformou que eu tivesse a afastado de mim.

— Sim, Emily o criou muito bem.

Stella me informa que ele está alimentado e de fralda limpa,

então o levo para a varanda. Há um bosque não muito longe daqui,


gosto de ter a vista das árvores, um contraste à selva de pedra que

costumo enxergar do escritório no centro. Minhas manhãs começam

com um bom papo com Noah. Ele é muito novo para me entender,

mas conto sobre a vida, a infância, a família e até sobre os meus

times favoritos de baseball.

Uma mão envolve minha cintura e me abraça por trás. O seu

doce perfume me atinge ao mesmo tempo que beijos salpicados,


como de borboletas em minhas costas, me fazem sorrir.

— Como estão os meus homens?


— Maravilhosos esta manhã.

Noah se joga para a mãe assim que a vê. Não tem jeito,

puxou ao pai e é louco por ela. Apesar de estarmos juntos há umas

quatro semanas, Emily ainda não está completamente confortável,


às vezes a vejo deslumbrada com tudo, em outros momentos

parece ter medo ou não acreditar que está acontecendo de verdade.

— Ainda acho estranho acordar e estar tudo pronto, não ter

que me preocupar com nada. Temos comida, ele tomou banho e

não preciso ligar a caldeira.

— Você já fez coisas demais na sua vida, hora de relaxar.

Ela meneia a cabeça, está inquieta já faz um tempinho. Não

pode retornar à universidade agora, só depois que o próximo ano

letivo começar. Com tanta ajuda e o bar permanentemente fechado,

para ser aberto em nova localização em dois meses, há muito

tempo livre. É por isso que seu pedido não me surpreende:

— Posso voltar a ser sua secretária?

No que dependesse de mim, Emily jamais trabalharia de

novo. Não há necessidade, ganho mais do que nossos futuros

descendentes poderão gastar.

— Não precisa ajudar com nada, sabe disso.


— Trabalhei desde sempre, quando pequena na granja,

depois de babá, faxineira, garçonete, secretária… Não sei ser dona


de casa, ainda mais de uma que não preciso fazer nada. — Suspira,

em dúvida. — O único problema é o Noah, nunca fiquei muito tempo


longe dele.

Se é o que ela quer de verdade, darei um jeito de acontecer.

Uma semana depois

O que Emily quer, ela tem, simples assim. Portanto,

reorganizo a estrutura do escritório, de modo que uma das grandes


salas com banheiro sejam convertidas em um berçário/creche. Ao

pensar em como Carter fez com ela durante o horário de trabalho e


em quanto beneficiou meu bebê, chego à conclusão que minhas
funcionárias com crianças abaixo da idade escolar trabalhariam com
mais afinco, dedicação e mente limpa se soubessem que seus

pequenos estão por perto e seguros.

Contratei uma pedagoga e três cuidadoras para a sala com


camas, berços, área de televisão e brinquedoteca. Aceitamos doze

crianças fixas e temos espaço para alguma que venha de


emergência. Stella fica exclusiva para Noah, sendo filho do CEO,

tem tratamento especial sim, porque sou eu que mando.

Emily é minha secretária/assistente pessoal, ninguém chega a

mim sem passar por ela. A minha antiga secretária se tornou


responsável por fiscalizar a empresa e reportar a Millie. Tendo em
vista que jamais negaria a paternidade de meu filho, não fiz segredo

de que somos um casal.

A fofoca, provavelmente, começou de imediato após o


anúncio ser feito. Tanto que recebi mensagens irritadas de Delilah,

confusas de Wyatt e empolgadas da minha mãe. Ela exigiu um


almoço para conhecer o neto.

— Senhor, tem uma reunião às quatro — Emily diz ao entrar

no escritório.

Aqui, insiste em ser formal, para diminuir as insinuações de


favoritismo. Não estou convencido de que faça alguma diferença,
mas aceito. Até porque fico duro só de vê-la andar em seu salto alto,
me chamando de “senhor”, mas ela que é a verdadeira dona do
lugar. Senti muita falta disso! Checo o relógio, temos quarenta

minutos ainda. Ela está junto à estante, armazenando algumas


documentações importantes em suas respectivas pastas.

— Como está sendo a primeira semana? — Eu me aproximo

por trás e afasto os cabelos do seu pescoço, expondo-o.

— As pessoas me tratam diferente, mas é de se esperar. —

Ela se vira para mim e eu diminuo o espaço entre nós, com isto, fica
presa entre meu corpo e a estante. — Para os funcionários, sou a

sua espiã.

Gosto da ideia de ter alguém de confiança pelos corredores,


sendo meus olhos e ouvidos. Um cavalo de troia em forma de
mulher.

— Tem alguma sujeira para me contar?

Ela faz um som de muxoxo e olha ao redor, certificando-se


que ninguém mais pode nos escutar, apesar de estarmos sozinhos

na sala, e se inclina para sussurrar. Sua respiração toca minha pele,


assim como os seios firmes roçam meu peito.

— Ouvi dizer que tem uma funcionária louca pelo chefe.


“Louca”... Emily acha que não noto, mas ela usa sinônimos e
eufemismo quando quer afirmar o que sente por mim. Adoraria ouvi-
la admitir que me ama, assim como eu digo a ela todas as noites,

porém, não irei pressionar. Virá com o tempo, no dia que estiver
confortável.

— O que faço, então? Devo puni-la? — Aguardo sua

resposta, que é um menear de cabeça. — Neste caso, preciso saber

as últimas contravenções dela.

— Em sua tentativa de seduzir o chefe, invadiu o escritório

sem calcinha e ainda trancou a porta.

Ah, safada! Eu me ajoelho aos seus pés e levanto sua saia


envelope. Emily não mente, está nua por baixo de suas roupas

formais. Coloco uma de suas pernas por cima do ombro, expondo-a

melhor para mim. Seu gosto é o meu paraíso, perco-me na


intimidade feminina, desesperado por mais dela.

Acho que há mais do que os cientistas dizem sobre a química


dos amantes, que faz com o sabor da mulher amada seja diferente,

único. Acredito que ela é perfeita para mim, porque é só dela que

tenho sede. Emily joga a cabeça para trás, apoiando-se em uma


prateleira para não perder o equilíbrio. Seu peito sobe e desce,
buscando ar, mesmo que não esteja fazendo esforço. Exploro suas

dobras, lábios, língua e dedos.

— Tire a blusa. — Minha ordem é acatada de imediato e o


tecido fino encontra o chão, não preciso dar um segundo comando

para que o sutiã tenha o mesmo rumo. — Aperte os mamilos.

Ela o faz e há um prazer pecaminoso em ver minha garota se

dar prazer. Nem me importo mais com o gosto do leite que brota nos

bicos duros, preciso prová-la por inteiro. Percorro uma trilha


ascendente de beijos, ventre, o vale entre os seios e, enfim, seus

mamilos. Emily se remexe embaixo de mim, requebrando o quadril

em busca de fricção.

Espero até que esteja enlouquecida de necessidade para

tomar a sua boca em um beijo que rouba os nossos fôlegos.


Envolvendo meu quadril com suas pernas, se apressa em soltar a

fivela do meu cinto e me livrar das roupas. Gemo de prazer ao ter o

meu pau envolvido em sua delicada mão. Ela sobe e desce,


masturbando-me ao mesmo tempo que colide seus lábios com os

meus.

Não estamos usando camisinha, pois Emily foi à médica e

passou a tomar anticoncepcional. O que é uma pequena benção!


Não tem nada melhor do que me afundar em sua umidade quente e

convidativa. Eu a fodo com força, como ela gosta. Marcante e

selvagem, as pastas ao nosso redor chacoalham e chegam a cair no


chão, mas isso não me faz parar. Pelo contrário, vou com mais

ímpeto.

— Charles! — implora, agarrando-se a mim, enquanto o

movimento do seu quadril se soma ao meu.

Suas paredes me apertam, sei que está perto, mas eu saio e

a viro, suas mãos se apoiam na estante e empina a bunda para

mim. Dou um tapa nela e depois outro, o que a faz se esticar mais
em minha direção. Agarro os cabelos, puxando sua cabeça contra o

meu peito e seguro o delicado pescoço:

— Você foi muito travessa, devo punir mais?

— Sim, senhor!

Seu desejo é uma ordem! Eu a penetro de novo, dessa vez

por trás, e a fodo com mais força. Eu me deixo levar, tomado pelo

prazer. Ela geme e rebola, mas mal tem controle do próprio corpo,
dominada de excitação.

— Gosta assim? — Aperto o seu quadril, aumentando a


velocidade.
— Mais, mais!

Ah, caralho! Essa mulher vai me fazer perder a cabeça! Eu a

fodo ao ponto que precisa se calar com a própria mão ou o escritório


inteiro saberá o que estamos fazendo. Vamos ao limite e além, até

que gozamos, chamando um pelo nome do outro. Ficamos

abraçados em silêncio por um momento, recuperando o fôlego.

Eu lhe pego no colo e a levo ao banheiro privativo, meu

armário no escritório está repleto de roupas dela também. Entre


beijos e carícias, nos deixamos adequados para o trabalho de novo.

Fizemos uma bagunça na estante, então, a ajudo a arrumar.

— Tem uma coisa que eu queria perguntar… — diz após um

segundo de hesitação. — Tem certeza de que não quer o teste de

paternidade? Eu sei que Noah é seu, mas juro que não vou ficar
chateada caso você queira se certificar.

A pergunta vinda do nada me deixa curioso.

— Se alguém tiver te dito qualquer coisa, você precisa me


dizer. Não vou tolerar que…

— Não é nada disso — me interrompe —, é só que eu não

quero que haja nenhum problema.


Paro de juntar as pastas e seguro suas mãos entre as

minhas. Se eu não tivesse planos maiores, a pediria em casamento

agora mesmo:

— Não preciso de provas, só preciso de vocês.

Um singelo sorriso espalha por toda sua face e é disso o que

preciso: de sua alegria e amor, e da nossa família.


CAPÍTULO 14

Minhas mãos estão suadas e eu troquei tanto a minha roupa,


quanto a de Noah um milhão de vezes. Ando de um lado para o

outro, ansiosa. Meu neném está no bebê-conforto, brincando com


seu mordedor e balançando as perninhas. Ele está com quase cinco
meses agora e vai conhecer sua família por parte de pai.

E se a mãe de Charles ou os irmãos não gostarem de Noah?


Adiei o encontro o máximo que pude, reunindo coragem, mas ainda

estou quase passando mal de nervosismo. Só falto pular da minha


própria pele com um beijo no meu ombro.

— Você está muito tensa, baby.


— Como você pode estar tranquilo?

Sei a resposta, ele cresceu com essas pessoas, é amado por

elas. Para ele, nada pode dar errado. Tenho lido histórias sobre

sogras terríveis no Reddit e algumas deveriam estar em filmes de

terror. É incrível como há pessoas no mundo que se acham mais


importantes e merecedoras do que outras.

— O meu pai era a maçã podre e ele está em um lugar que

não pode te machucar.

É por isso que aceitei esse encontro. Charles me abraça

apertado e eu deito a cabeça em seu ombro. Não estou sozinha

nessa, tenho o apoio incondicional do meu amor. Respiro fundo,


enfrentei ameaças maiores no passado do que uma sogra. Forço-

me a ficar calma por fora, apesar de ainda estar tremendo por


dentro.

O interfone toca e soa como a campainha do inferno vindo

coletar minha alma. Ok, um pouco dramático, mas ainda é perto do


que sinto. Minutos depois, entram pela porta as pessoas mais lindas

que já vi. Que genética boa! A mãe dele é uma jovem senhora, não

sei a idade exata dela, mas tenho certeza que aparenta ter menos

do que devia.
James, o irmão mais novo, tem a minha idade e, Deus do céu,
é ainda mais bonito ao vivo do que por foto. O mesmo pode ser dito

de Logan, mas esse eu já conhecia desde a primeira vez que fui

secretária de Charles. Quanto a Avalon, sua esposa, tem um jeito

latino com curvas que fazem até eu duvidar da minha sexualidade,

de tão linda que é. A sua maior marca é o sorriso, no entanto. Faz

com que eu me sinta mais segura.

— Esta é minha mãe e meu irmão, James, minha cunhada

Avalon e Logan, você já conhece. — Charles nos introduz.

— Prazer.

Estendo a mão, tímida, mas a minha futura cunhada me puxa

para um abraço.

— Você é ainda mais incrível do que na foto! — Suas

palavras me fazem rir, sendo espelhos dos meus pensamentos. —

Me chame de Ava, esse pequeno é o Billy — indica o bebê no colo,

que deve ter no máximo um ou dois meses de diferença de Noah. —

E os dois pestinhas correndo são Clary e Aiden.

De fato, há um menino e uma menina de um pouco mais de

dois anos que já estão explorando o apartamento, eles param ao


notar o carrinho de bebê com o novo primo. Seus olhos azuis são
iguais aos do meu pequeno. Na verdade, Noah se parece mais com

eles do que comigo.

— Seus filhos são lindos.

— Obrigada, puxaram ao pai.

Concordo com um aceno, sei bem como é carregar por nove


meses e mal se parecer com a gente. A senhora Whitmore se
adianta e eu percebo que suas mãos tremem também, como se

estivesse nervosa como eu.

— Posso segurar meu neto?

— Sim…

Esforço-me para dar um passo para o lado e sair da frente de


Noah. A face dos visitantes se iluminam ao vê-lo. Relaxo ao notar o
fungar da avó dele, com os olhos cheios de lágrimas não

derramadas.

— Oi, bebê! É a vovó. — Ela o pega no colo. — Sei que meu


marido causou muito problema a você, Ava, e que isso fez com que

vocês duas tivessem medo de mim, mas não sou como ele. —
Implora, segurando meu filho contra si. — Por favor, não me

afastem da minha família. Eu já paguei tanto quando meu marido foi


tirado de mim. Eu me sinto sozinha, vocês me dão vida.
O desespero e a dor nela a tornam mais humana — feita de

carne, osso e sofrimento como o resto de nós — e menos como


uma Barbie terceira idade, metida.

— Prometo que não vou sumir — digo no automático, sem ao

menos pensar duas vezes.

Ava tira Billy do colo de Logan e faz uma careta brincalhona

para o filho.

— Tenho três filhos pequenos, o mais perto de me esconder


que consigo é ir dormir na cama.

James é o próximo a pegar Noah no braço e faz cócegas em

sua barriga, arrancando um sorriso do sobrinho.

— Vocês são tão férteis que tenho medo até de ficar perto.

Apesar de suas palavras sérias, não para de brincar com o


bebê. Logan é o próximo a pegar Noah e o meu bebê não estranha
nenhum dos parentes. A partir daí, o jantar corre bem, com

conversas leves. A sobremesa, no entanto, foi mais pesada. Eles


começam a perguntar sobre a nossa história, curiosos para saber os

detalhes. Charles tinha deixado para eu falar o que me deixasse à


vontade.
À medida que a noite avança, fico mais à vontade e termino
contando tudo, inclusive a parte feia sobre Wyatt e morar na rua
depois. Eles ficaram revoltados e foi a vez do meu namorado

intervir.

— Os únicos que sabem disso somos nós, Jackson e o


detetive particular. Quero Wyatt atrás das grades, se fez isso a

Emily, pode fazer pior com outra.

— Quando ele volta do Japão?

Eu sei muito bem o dia, tenho marcado em meu calendário.

— Em dois meses.

— Traga-o antes — Logan sugere —, não dá para manter um


homem desse tipo como representante internacional da empresa.

James, sendo um dos sócios, meneia a cabeça em desgosto:

— Parece que há mais de uma maçã podre na árvore dos


Whitmore.
Após o jantar, Charles me ajuda a colocar Noah para dormir.
Estamos um tanto calados, perdidos em nossos pensamentos.

Wyatt é a sombra em nossa felicidade, enquanto não tiver resolvido

a situação com ele, terei medo em meu peito. Sem provas ou


testemunhas, estaremos de mãos atadas.

Assim que entramos em nosso quarto, ele me dá um abraço


apertado, daqueles que aliviam a alma.

— Parte de mim sabe que deveria tê-lo trazido de volta, mas

adiei porque a ideia de colocar Wyatt e você no mesmo continente

me deixa nervoso. — Beija o topo da minha cabeça. — Não posso

permitir que ele chegue perto de vocês.

— Seremos mais espertos dessa vez.

Tento passar o máximo de confiança possível, mas nós dois

sabemos que não é assim que sinto de verdade. Ao menos, dessa


vez terei não apenas Charles, mas os Whitmore do meu lado.
CAPÍTULO 15

O novo Texa’s Club Bar fica perto do píer de Santa Monica,


em uma área badalada da cidade. Charles comprou e reformou uma

antiga loja de dois andares, o superior ficou para convidados VIP,


famosos que queriam socializar com um nível de isolamento e
segurança especializado. Por isso que tem entrada própria, mas

parte do piso foi aberto, formando um mezanino para que eles

possam ver o palco no andar inferior.

Por mais que tenha acompanhado as reformas, é diferente do


resultado final com tons neon de vermelho e dourado. Brooke está

nas nuvens com a nova cozinha, ela será a sub chef, uma vez que
não tem experiência para comandar uma cozinha deste porte

sozinha.

Ela fez cursos durante as seis semanas de férias pagas e

esteve em duas propagandas de energético. Não é um grande

passo em sua carreira, porém, é mais do que teve nos últimos anos.
Leslie se dedicou aos estudos, adiantando os trabalhos e fazendo

alguns projetos extracurriculares.

— Está tão lindo!

— Você é linda. — Charles me abraça por trás, enquanto eu

tento resgatar meu queixo do chão. — E esse vestido vai me dar um

ataque cardíaco quando estiver no palco.

Ai, Deus do céu! Por que concordei em fazer isso? A

inauguração vai estar lotada de convidados importantes

devidamente selecionados para fazer com que o evento esteja em

todas as redes sociais, na boca do povo. Charles quer que o bar

seja um completo sucesso, afinal, ele sempre diz que tem uma
dívida imensa com Carter e que não sabe se um dia poderá pagar.

— Posso fugir?

— De jeito nenhum — Carter se junta a nós, igualmente

satisfeito com o seu novo negócio —, você é a estrela do show.


O dinheiro fez bem a ele, está mais bonito e imponente em
suas roupas caras. Com o adiantamento do contrato, comprou um

apartamento fora de Skid Row. Quem vê de longe, pensa que

sempre foi rico, mas basta conhecê-lo para saber que o coração

ainda é grande como sempre.

Suas semanas de férias foram passadas no Texas, ele ajudou

a própria família. Quanto a minha, enviei ajuda financeira e Carter

conferiu, me avisando que está tudo bem com eles. Minha mãe tem

a tendência de minimizar os problemas para não me preocupar.

— Uma coisa é cantar na calçada ou no canto de um bar

simples, outra é em um palco do novo hotspot da cidade.

— Confio em você — Charles beija o meu pescoço, fazendo-

me derreter em seus braços —, estaremos na primeira fila.

— Isso é melhor do que imaginei! — Leslie saltita, animada.

Ela é a gerente da equipe de garçonetes.

Carter é o dono oficial do bar, sendo Charles e Jackson os

sócios minoritários. A cerveja é feita agora em uma fábrica de médio

porte e meu antigo chefe supervisiona cada etapa da produção. Por

um tempo, irão vender a cerveja apenas no bar, mas pretendem


expandir o negócio para formatos engarrafados que possam ser

levados para casa.

Brooke sai da cozinha com sua dólmã de chef:

— Até parece que sou rica!

Jackson surge em seu eu usual, pronto para conquistar


alguma garota que não tenha noção do perigo para o coração que
um mulherengo como ele causa. Ele se abstém de fazer uma piada

porque sabe que nós três estamos fora de seus limites.

Cruzo os braços com as meninas, levando-as para o andar


superior. Temos um tempo antes de abrir e a noite está livre,

preferimos deixar Noah com a babá, uma vez que o bar não é um
lugar adequado para bebês. Ao menos, não um como este, que não

é intimista ou familiar como a versão antiga.

— Como é a vida na alta sociedade?

— Não sei direito, ainda. — Dou de ombros. — Ficamos mais

em nosso próprio mundinho, entre o trabalho e a reforma da


mansão, não sobra muito tempo para a vida de magnata.

Brooke faz um “tsc-tsc” com a boca, meneando a cabeça.

— Aproveita a vida de bilionária, amiga!


— O que devo fazer? — Enumero os estereótipos de

mulheres muito ricas. — Ir para museus, leilões e eventos de


caridade?

Leslie ri e mexe no botão eletrônico que chama uma

garçonete à mesa. Pedimos uma rodada de margaritas.

— Na verdade, são boas opções, você pode ajudar os menos

afortunados.

— Podíamos fazer algo nós três, uma caridade para levar


comida ou algo do tipo para os moradores de Skid Row — sugiro.

Charles faz doações através da empresa, porém, gostaria de fazer


algo mais significativo, colocar a mão na massa.

Entre drinques e discussões, fazemos planos para espalhar a

sorte que recebemos entre aqueles que ainda sofrem dia a dia nas
ruas. Nossa festinha particular acaba quando a hora de abrir chega.

Espio as câmeras de segurança e há uma fila do lado de fora,


inclusive com influenciadores conhecidos que eu sigo.

Mesmo assim, os únicos que entram primeiro são as famílias

de Charles, Jackson, um primo de Carter e os pais de Leslie. Até a


senhora Whitmore decidiu vir. Não demora para o lugar ficar cheio e
eu já começo cantando músicas pop e country. Após a meia noite,
será música eletrônica com um DJ.

Charles sobe ao palco para agradecer a presença de todos


na inauguração e apresentar Carter ao público da alta sociedade.

Após uma rodada de aplausos, ele se volta para mim, apesar de eu


estar acuada na lateral do palco. Minha nossa! tem muita gente

aqui.

— Para o deleite de vocês, teremos a honra esta noite de

apreciar um pocket show de Millie! Filmem isso, pessoal, vocês


serão os primeiros a conhecê-la antes do estrelato!

Assobios e aplausos me recebem, enquanto subo ao palco.

Pensei que seria muito legal o nome artístico Millie, tipo Cher, Adele,
Rihanna e Madonna, mas agora acho estúpido e infantil. Parece que
vou cantar musiquinhas infantis, tipo “o velho Mcdonald tem uma

fazenda, i-a-i-a-ô”.

— Boa noite! — exclamo ao estar no centro dos holofotes. —


Espero que gostem do show.

Que frase mais estúpida! Respiro fundo, ficando debaixo do


holofote, o que é uma coisa boa, pois o excesso de luz me cega por
um momento e não posso ver o rosto dos convidados.
Canto Lavender Haze da Taylor Swift como abertura, o
nervosismo se vai junto com os primeiros acordes de meu violão.
Vou relaxando à medida que o público demonstra curtir e até recebo

alguns pedidos de músicas. Vejo mais celulares voltados para mim


do que jamais tive e vou saindo da zona de conforto e da temática

country.

Então, fecho os olhos e me entrego ao momento, a voz sai

com um reflexo da minha alma e fico tão feliz em ouvir alguns


cantarem comigo. Abro as pálpebras para registrar em minha mente

este momento quando acho que estou tendo algum tipo de

alucinação. O primeiro que vejo é um bebê e não qualquer um, o


meu. Essa não é a parte mais chocante, e sim, quem o segura:

mamãe. Ao lado dela está papai, meu irmão, a esposa dele e sua

filha.

Erro uma nota, completamente surpresa e papai grita:

— Canta My wish!

Segundo ele, a música do Rascall Flatts resume tudo que

deseja para mim, fala sobre conquistar sonhos, carregar o peso de

nossas escolhas e que devo mostrar ao mundo o calor do meu


sorriso. Então, sorrio para ele, a minha família, o bebezinho que é
minha razão de viver e o homem de terno parado ao seu lado, que

me encara com adoração, como se eu fosse uma deusa.

Agora que sou mãe, consigo entender a profundidade da letra


da canção, porque é tudo o que desejo para o meu filho também.

Vagueio o olhar para Charles e leio em seus lábios um “eu te amo”

murmurado. Ele sabe que minha família não teve condição


financeira de conhecer Noah, mal podíamos nos alimentar, como

iríamos pagar por passagem ou gasolina?

Ele fez por onde trazê-los e fez isso por mim e Noah, sem

qualquer ganho pessoal! É neste instante que me pergunto porque

não retribui suas juras de amor? Eu o amo, caramba! Não posso

ficar o resto da vida sendo regida pelo medo de me ferir. Estou me


machucando muito mais por não me entregar cem por cento a ele.

“Eu te amo”, murmuro de volta, com a boca afastada do microfone.

— A próxima música é dedicada ao homem que tem o meu

coração.

Começo a cantar Jump then fall, também da Taylor Swift, que

não é capaz de exprimir o amor que sinto — nenhuma música seria


—, mas chega perto de passar a mensagem que desejo. A plateia
faz um som de “uou!”, porém, não sabem a quem se refere.

Portanto, está tudo bem, porque pode ser qualquer um.

E continuaria assim, caso meu amado não invadisse o palco

no fim da música. Na verdade, mal tenho tempo de terminar antes

dele retirar o violão das minhas mãos, deixá-lo no canto e pedir o


microfone para chamar a atenção de todos.

— Sei que vocês me conhecem, os convidei pessoalmente


para esta ocasião, o que a maioria não sabe é que esta mulher é a

dona do meu coração e me deu o maior presente que pode existir,

filho. — Ele se vira para mim: — Emily, você é meu tudo. É por você
e Noah que levanto todos os dias e sigo em frente, minha vida não

teria sentido sem vocês nela. — Ele se abaixa, apoiando-se em um

único joelho e, do bolso, tira uma caixinha aveludada. — Quer me


fazer o homem mais feliz do mundo e casar comigo?

Demoro uns segundos para responder porque estou em um


misto de choque e êxtase. Há um burburinho baixo pelo bar, mas

quase todos estão em silêncio, esperando uma resposta. Exceto por

um que não consegue manter a boca fechada:

— Diz logo sim!


Eu e Charles encaramos Jackson de soslaio, mas ele tem um

sorriso imenso no rosto. O público ri e eu também, o que me faz


relaxar. Eu me jogo em seus braços, quase nos derrubando do

palco, uma vez em que ele está ajoelhado. Charles se mantém firme

e me segura pela cintura.

— Quero estar com você por todos os dias de nossa vida.


CAPÍTULO 16

— Mamãe! Papai! — Abraço os dois, senti tanta saudade!


Faço o mesmo com meu irmão e sua família.

Charles não se cansa de me surpreender, ele é o melhor.

Meus parentes admiram o anel de noivado, uma pedra tão grande

que vou ficar com medo de andar na rua e perder o dedo. Pelo

menos, não frequento mais Skid Row sem segurança.

Meu coração se alivia por finalmente ter o abraço da minha


mãe. É ter de volta um pedaço de casa. A família Whitmore se

aproxima e fazemos as apresentações, estou tão empolgada que

nem tenho tempo para ficar preocupada de como seria o encontro


entre uma família acostumada a luxos e uma que cresceu na

fazenda, mas a alegria em ver que eu e Charles estamos felizes é


igual. O amor pelos filhos e entre irmãos vai além da classe social.

Ocupamos uma mesa grande que Charles tinha deixado

separada na área vip para nós. Leslie, Brooke, Jackson e Carter


sabiam de tudo, mas não disseram nada. Não era apenas a

inauguração do bar, mas a celebração do nosso noivado. Tem até

alguns amigos meus mais próximos do escritório.

— Você estava muito confiante que eu diria sim, hein? —


murmuro para Charles, que tem Noah retirado do seu colo para

continuar a ser mimado pelas avós. Então, envolve meu ombro com

o braço livre. — Se eu tivesse dito não, ficaria feio.

Estou provocando porque eu jamais diria não. Como me


afastar de um homem feito ele? O seu amor e companheirismo não

pode ser encontrado em qualquer outro lugar. E, mesmo que

pudesse, não quero. Porque o amo e é por ele que meu coração

palpita.

— Não tem problema, ser humilhado publicamente seria a

menor das minhas preocupações.


Estou sobrepujada de emoção, a estreia em um palco que
apesar de pequeno — tem muita mais gente do que estou

acostumada —, o noivado, meus pais, a família dele. Eu só quero

ficar abraçada a ele e ter certeza que isso tudo é real.

— Eu te amo — repito o que sussurrei durante a

apresentação. — Faz muito tempo que você me conquistou e

mesmo quando tive todos os motivos para te odiar, não o fiz. E eu

só demorei a te falar a verdade porque tive medo.

— É tão bom te ouvir dizer isso! Saiba que não quero que

você sinta medo jamais, te prometo dedicar minha vida a proteger a

sua e a de nossos filhos.

Acho engraçado como ele costuma falar no plural quando se

trata de bebês. Não me nego a ampliar a família. Na verdade, até

espero engravidar logo porque desejo que nossos pequenos


cresçam juntos, como foi comigo e Brendon, meu irmão.

— Ei, como você trouxe os meus pais sem causar um

alvoroço?

Eles não ficaram animados com a ideia de ter Charles de

volta em minha vida, não confiam nele — ou, ao menos, não


confiavam — e agora estão participando dos seus planos? Ora, por

meu pai, teria batido na porta dele com uma escopeta na mão.

— Liguei para eles e tive uma conversa muito necessária, não


foi fácil, tenho a impressão de que se fosse em pessoa, seu pai teria

me dado uma surra.

O espio do outro lado da mesa, em uma conversa profunda

com Logan e James. Papai é um cara grande, com músculos


criados pelo trabalho duro na lavoura, não em academia.

— É provável que tivesse levado pelo menos um soco.

— Mas eles perceberam que eu te amo e daria minha vida

por você e Noah.

Tem como eu me apaixonar mais por esse homem? Eu o


puxo para um beijo, praticamente pulando no seu colo. Nossa mesa

faz uma algazarra e meu irmão faz uma cara feia, assim como
papai.

— Acho que está na hora de irmos, eu deveria estar dormindo


quatro horas atrás. — Ele se levanta, ainda com ciúme de que sua

garotinha cresceu.

Charles ordena que o segurança leve meus pais para o


apartamento, junto com Noah, a babá e minha sobrinha. Minha
sogra decide ir também, ficando só os jovens. A noite avança, com o

DJ tomando o controle da festa. Vamos para a pista de dança e os


drinques deixam minha cabeça zonza, faz tanto tempo que preciso

ser responsável sem folga alguma, que não me lembro a última vez
que me senti jovem.

Meu noivo — nem acredito que posso chamá-lo assim! — me

vira de costas e abraça por trás, nos movimentamos de acordo com


a batida da música. Estou cercada por uma aura sensual, uma bolha

só nossa, em que suas mãos percorrem meu corpo e sussurram


obscenidades no meu ouvido:

— Eu já te disse que está gostosa com essa roupa?

— Não. — Viro-me de frente para ele e me penduro em seu


pescoço. — Eu já te disse que quero arrancar sua roupa com os
dentes? — A sobrancelha dele se levanta e no canto da boca há um

sorriso malicioso, mas o paro antes que possa se pronunciar. — Vou


ao banheiro primeiro.

No caminho até o toalete, algumas pessoas me param e

parabenizam e outros chegam a pedir para tirar fotos. Sinto que


estou sendo observada, mas deve ser o que acontece quando se

fica noiva de um magnata durante o próprio show. Com preguiça de


subir a escada para ir ao banheiro da área vip, enfrento a fila para o
do andar inferior, afinal, só tem duas pessoas na frente.

Checo as redes sociais, impressionada com a quantidade de


marcações em meu nome. Deus do céu! Algumas postagens têm

centenas de curtidas. Não apenas do noivado inesperado, como do


meu show, sorrio feito uma idiota para o celular.

— Está muito satisfeita, né, empregadinha?

A pergunta irritada me pega de surpresa e fico mais chocada


ao descobrir quem está parada atrás de mim. Ai, merda. Delilah, a

ex-noiva do meu noivo. Não pode ser bom. A filha da puta é ainda
mais bonita pessoalmente do que nas fotos que vi.

— O que você quer?

— Te avisar que não vou desistir de Charles, ele merece mais


do que uma secretária pobre com uma família caipira e um pirralho
feio.

Ah, não! Pode falar o que quiser de mim, mas não ataque
minha família e, muito menos, Noah. Qualquer vontade de me

encolher ou fugir se esvai, porque nunca vou baixar a cabeça para


quem menospreza meu filho.

— Charles não é mais seu, supere.


— Você usou o golpe da barriga, um método muito comum
para pessoas do seu tipo. Farei com que ele recupere o juízo. —
Eleva o queixo, sem se abalar. — Quanto quer para sumir com seu

fedelho?

Pondero se vale à pena estragar a inauguração do bar com


uma briga, incluindo puxada no cabelo, arranhão na cara e gritos.

Chamaria atenção e talvez até saíssem em redes sociais, mas seria

o tipo errado de marketing.

— A única coisa que eu quero é que você se foda.

— Que baixaria! Não vê que é inadequada para ser uma

Whitmore? — diz com asco. — Saia com o queixo levantado antes


que a alta sociedade te coma viva.

— Deve doer, né? Ser trocada por alguém que você acha

inferior?

A minha constatação feita com tranquilidade, sem aumentar a

voz ou chamar a atenção das pessoas ao redor a deixa irritada.

Praticamente posso ver a fumaça saindo de sua cabeça como em


um desenho animado antigo. Tanto, que resmunga entredentes, os

punhos fechados por eu não estar acuada no canto como em um

filme de menina malvada.


— Não fui trocada.

Dou de ombros, menosprezando ao máximo sua indignação:

— Tem razão, ele chutou sua bunda meses atrás porque

preferia ficar sozinho a estar com você.

Apesar da tonelada de maquiagem, percebo um rubor em

suas bochechas e é tão branca que a região do colo também


adquirem um avermelhado. Só falta bater o pé como uma criança

birrenta. Ah, não… espera! Ela faz exatamente isso.

— Vou acabar com você.

Estou cansada de ameaças vazias, essa mulher não vai

destruir a felicidade que lutei tanto para construir.

— Jura? Quer saber? Até perdi a vontade de fazer xixi, vou

arrastar Charles para o escritório e transar com ele. Se ficar atrás da

porta, vai ouvi-lo gemer quando estiver gozando por minha causa.
CAPÍTULO 17

Confiro a cozinha e a equipe de garçons, checando se está


tudo certo. Carter, Leslie e Brooke têm as coisas sob controle, é um

trio que trabalha há tanto tempo juntos que fazem funcionar como
uma máquina bem oleada. Há um barman novo e o chefe não
precisa fazer mais bebidas, o que o incomoda um pouco, mas ele

estará ocupado comandando um bar três vezes maior do que o

anterior. Verifico também a área vip e agradeço os cumprimentos


daqueles que me param, dando os parabéns pelo noivado.

Desço as escadas, me perguntando porque não lembrei a

Emily que há um banheiro no escritório do bar. Peço, então, dois


drinques enquanto espero o retorno da minha noiva. É um prazer

pensar nela assim, saber que em breve estaremos casados. Estou


ansioso para que possa chamá-la de esposa e eu me torne seu

marido.

No fundo, sabia que Emily me amava, mas escutar um “eu te


amo” dos seus lábios me causa um prazer indescritível e paz

interior. Eu me sinto completo de verdade pela primeira vez, mal

posso esperar para tê-la andando em minha direção no altar, com


Noah trazendo as alianças em seu carrinho de bebê. É tolo pensar

em detalhes do casamento logo após o noivado? A decisão de

como será a cerimônia é de Millie, porém, quero fazer parte do


processo.

— O meu convite deve ter se perdido, mas ainda bem que

consegui outro.

Fico sem palavras ao reconhecer a quem a voz pertence. A

necessidade de esmurrar a face do homem que considerei meu

melhor amigo por toda minha vida toma controle de mim. Logan,

que estava dançando com Ava, para de imediato e me dá um olhar

de advertência. Ele sinaliza para eu me acalmar, por pouco não


perco o controle.
— Wyatt, o que faz aqui?

O sorriso vencedor de sempre, que costumava considerar sua

marca registrada, parece errado e maléfico agora. Tudo nele soa

errado de alguma forma. Meu primo era assim e eu não podia ver?
É como se um véu tivesse sido retirado dos meus olhos.

— Não podia perder o noivado do meu primo favorito —

felicita como se nada tivesse acontecido entre nós, porém, não

compartilho sua empolgação, o que faz baixar o tom de voz. —

Algum problema?

— Considerando que você deve ter visto com quem noivei,

sim, temos um problema.

Ele fica sério de vez e me pede para conversar em um canto,

com mais privacidade. Curioso com o que tem a falar, levo-o para

um ponto atrás do bar e me arrependo em seguida, tendo a certeza

de que vou apenas me irritar.

— Tem certeza que está fazendo a escolha certa? Ela já te

traiu uma vez.

— Precisamos falar sobre isso, mas não aqui.

Devo ter passado algo em minha voz, o que o deixa em

alerta. Provavelmente, Wyatt achou que poderia vir com piadas


leves e me fazer esquecer os problemas ou perdoá-lo por deslizes

do passado. Não desta vez.

— Que sério, Charlie! — Aproveitando que estamos por trás


do bar, pega uma garrafa de tequila sem pagar. — Achei que

estávamos em uma festa.

— Pois é, estávamos. Com licença, vou procurar minha noiva.

Estou possesso de raiva, com uma energia acumulada que

não posso dissipar. Assim que me afasto dele, sou atacado. Ainda
bem que é o melhor ataque que pode existir. A boca de Emily se

une à minha com um toque de fúria, ela praticamente me devora na


frente de todos. Fico impressionando, considerando que é uma

mulher mais tímida e privada.

— Quero você agora.

— Sim, senhora.

Dane-se Wyatt! Posso dar um soco nele depois. Levo-a para

o escritório e mal tenho tempo de girar a chave antes de ser


empurrado contra a porta e ter meu terno arrancado. Acho que ela

até arranca alguns botões da minha camisa em sua pressa de me


deixar sem roupas. Se eu soubesse que a pedir em noivado a
deixaria assim, teria feito antes e várias vezes.
Ela se ajoelha e a calça tem o mesmo tratamento, indo parar

no chão. Não tem visão mais bela do que minha mulher aos meus
pés, lábios entreabertos e meu pau em sua mão, pronta para me

receber. Assisto fascinado sua língua percorrer minha extensão e


me masturbar com a delicada mão.

Sem tirar os olhos de mim, me engole até que eu sinta o

fundo da garganta, ao mesmo tempo em que brinca com as bolas.


Não seguro o gemido que escapa de mim, ainda bem que a música

alta do lado de fora impede que o bar inteira saiba o que estamos
fazendo.

Não que me importe muito, o mundo todo pode descobrir o

que essa mulher faz comigo. Ela varia entre usar a mão e a boca,
cada chupada me leva mais perto de gozar, mas não quero que

pare tão cedo, também não consigo afastá-la. Agarro seus cabelos
e fodo sua boca, Emily relaxa para que eu possa tomá-la por inteiro,

suas unhas afundam em minhas coxas e eu estou mais perto ainda.

Por isso, me afasto e a faço se levantar, pressionando minha


garota contra a porta. Estou tão necessitado quanto ela, então,

levanto seu vestido sem cerimônia e rasgo a lingerie minúscula.


Estimulo seu clitóris e tomo seus lábios em um beijo profundo, a
língua varrendo o interior de sua boca, mas ela está tão molhada
que não perco tempo. Quente, molhada e apertada, não me canso
de estar dentro da minha mulher.

Eu a fodo contra a porta e tanto ela, quanto a madeira tremem

a cada estocada. Emily envolve as pernas ao redor da minha cintura


e os braços em meus ombros, pendurando-se em mim. Ela quica

em meu pau, jogando a cabeça para trás em prazer. Chupo o seu


pescoço e beijo todo pedaço de pele que consigo alcançar. Ela está

perto, posso sentir suas paredes me apertando.

Levo-a para o sofá preto, deitada nele com os cabelos

espalhados, a faz parecer um anjo. Ela é meu anjo. Eu a penetro de


novo e, com nossas mãos entrelaçadas, sem desviar meu olhar
dela, atingimos o orgasmo juntos. Após uma última estocada, eu me

deito e a puxo para que se acomode em cima de mim.

— Não que eu esteja reclamando, mas o que foi isso? —


Acaricio suas costas, deitados no sofá, com nossas pernas

entrelaçadas.

Gosto como ela esfrega minha perna com seu pé de unhas


pintadas de vermelho.
— Só quero marcar território — diz envergonhada, enfiando o
rosto em meu peito. Afasto os cabelos para que possa ver o seu
rosto. — Delilah me confrontou na fila do banheiro e disse que quer

nos separar.

Fico em alerta, a felicidade pós-sexo desaparece de imediato.


Eu me sento tão rápido que Emily se assusta e cobre os seios em

uma atitude que parece envergonhada. Puxo-a para que sente em

meu colo e beijo o topo da sua cabeça.

— O que ela está fazendo aqui? Não a convidei, não sei

como entrou. Wyatt está aqui também, não pode ser coincidência.

Minha cabeça está a mil com o significado por trás da


presença dos dois. Pode não ter ligação, uma vez que as notícias

da inauguração percorreu os melhores círculos sociais.

— Achei que só podia entrar com convite. — Emily me tira

dos meus pensamentos.

— Você está certa, mas ele pode ter conseguido algum no

escritório, ainda é um funcionário de alto cargo.

Não seria difícil convencer um funcionário a lhe dar uma,

talvez duas entradas. Delilah é amiga de longa data de Wyatt, se ele


quiser abalar meu relacionamento, ela seria um caminho perfeito.
— Acha que estão juntos? — Millie demonstra chegar à

mesma conclusão que eu.

— Se sim, por quê?

E essa é a grande questão.


CAPÍTULO 18

Trabalhar com um anel gigante no dedo chama atenção, os


funcionários passam a me tratar diferente, com mais respeito. Ao

menos, na minha frente. Inclusive, alguns que me olhavam torto ou


mal falavam comigo decidem ser amigáveis. Sei que é uma reação
esperada, mas coloco essas pessoas em uma lista mental para

tomar cuidado e não me tornar amiga.

Interesseiros gostam de verdade apenas dos benefícios que

você pode fornecer a eles.

O diamante em meu dedo tem um peso que em nada tem a

ver com o seu tamanho. Por mais que tenha ficado furiosa com
Delilah e fazer sexo irritada tenha sido ótimo, parte do que ela falou

faz sentido, não adianta negar. Sou uma “caipira” vinda de uma
família simples que não sabe nada da vida. Não tenho qualquer

treinamento de etiqueta ou do que é necessário para ser uma

Whitmore.

Poxa, não possuo nem a educação necessária para o cargo

que ocupo. Sou uma cantora sem carreira ou graduação que se

tornou secretária porque o chefe quis levá-la para a cama. Ao


menos, Ava, que também não veio de berço de ouro, prometeu que

está disponível para me ajudar sempre que eu precisar.

Tenho a impressão de que tudo que conquistei não foi por

mérito próprio, apesar de Charles sempre me garantir que estou no


lugar certo, que é ao lado dele. Estou digitando um relatório em

minha mesa quando Wyatt aparece, sentando na ponta como se

fôssemos próximos.

— Parece que entramos em uma máquina do tempo, hein?

Eu de volta aos Estados Unidos, você como a secretária gostosa.

Desde que retornou no sábado, Wyatt tem pisado em ovos,

em uma tentativa de se encaixar na nova dinâmica em que a


empresa entrou, com Jackson sendo o braço direito de Charles e eu
com mais poder do que antes.

— Não exatamente, sou a noiva do CEO e as diretrizes do

meu cargo foram ressignificadas.

— Se achando poderosa, hein? Gosto disso em uma mulher.


— Ele se inclina para tocar em meu rosto, mas me afasto rápido em

um ato reflexo. — Me desculpe, é o costume. Podemos recomeçar?

Seremos parentes, prima.

Odeio como me chama de prima, soa errado e sarcástico,

como se fosse menos do que deveria. Sua aproximação me causa

arrepios e dá vontade de fugir.

— Não deu muito certo da última vez.

— Prometo que vou me comportar. — Ele sorri, como um


predador encarando sua presa.

Wyatt é igual a Delilah, se eu recuar, vai me atacar com o

dobro de força. Até agora não tivemos sorte em provar que ele

armou para mim no passado, mas talvez seja tão egocêntrico e

narcisista que tente fazer de novo. Um homem do tipo dele, que

nunca teve nada negado e cresceu tendo tudo que desejou sem se
preocupar com o meio para obtê-lo, pensa que jamais será pego. E,

se for, terá mamãe e papai para livrá-lo de qualquer consequência.

Portanto, mordo o lábio inferior, tentando ser sedutora como


uma mocinha de comédia romântica.

— O que eu ganho com isso, primo?

A mudança de atitude o deixa intrigado e Wyatt pende a


cabeça de lado, me enxergando com outros olhos. A vontade de dar

um soco em sua cara chega a ser maior do que minha necessidade


de respirar, porém, estou fazendo o que os advogados sugeriram,

deixá-lo pensar que tem a vantagem para que o derrubemos em seu


próprio jogo.

— Ser a primeira dama da empresa não é suficiente?

— O ano que passei longe me mostrou que nada é certo, um

dia posso ser a amada, no outro posso ser demitida.

Ele fica em pé, afastando-se da mesa para me encarar ainda

mais de cima, mostrando sua superioridade.

— Ter um filho te garante muita coisa.

Eu mexo com a gola da minha blusa, chamando atenção para


o meu colo e região dos seios. Como um míssil teleguiado, seus
olhos se prendem em meu discreto decote.

— Enquanto for menor de idade. — Dou de ombros, deixando


a sugestão pender entre nós.

— Compreendo. — Passa a mão pela barba rala. —


Podemos combinar um dia para sair e conversar.

Concordo em fazer isso quando Charles tiver uma viagem de


negócios.

— Essa ideia é uma merda — meu noivo diz assim que


escuta o plano.

Estamos no intervalo de almoço e fomos a um restaurante


próximo para comer. Noah está em meu colo, batendo na mesa com

sua mão gordinha.

— Olha o linguajar na frente dele — repreendo Charles, que


dá um beijo na mão do bebê.
— Desculpe, mas é uma ideia muito, muito, ruim.

Sua ênfase é desnecessária porque não há dúvidas de que é


perigoso para minha sanidade mental e física. Falar com Wyatt é
enervante, mas faço o que for preciso para fazê-lo pagar pelo que

fez. Não se trata de vingança, e sim, justiça. Além de afastar


amizades tóxicas da minha família.

— Ele precisa achar que tem alguma vantagem.

— Em cima de você! — reclama baixo para que ninguém ao


nosso redor possa escutar. — Já é difícil tê-lo por perto sem dar um

soco, como vou deixar que saia sozinha com ele?

— Confie em mim.

Ele meneia a cabeça e afasta o prato, tendo perdido a fome.

— Confio em você, mas não nele.

— Não temos provas do que fez comigo, mas podemos fazê-


lo confessar.

Racionalizar não adianta, Charles está estressado e

intransigente, com medo por mim. Estamos sentados do mesmo


lado da mesa e ele arrasta a cadeira para perto, passando o braço

por meu ombro para me manter perto.


— Ter você respirando o mesmo ar que Wyatt já é
estressante, como espera que fique tranquilo? — Pega Noah e o
coloca contra o seu peito, buscando se acalmar. — Ele não é idiota,

deve saber que tem algo errado. É mais fácil eu dar uma surra nele
e acabar com isso.

Eu o beijo na têmpora, querendo tirar a preocupação da sua

cabeça:

— Prefiro meu futuro marido fora da cadeia, por favor.

Após o almoço, Charles desmarca a primeira reunião para

que possamos levar Noah para dar uma volta na praça. Nosso bebê

ama ver os cachorrinhos brincarem e adora quando uma criança


mais velha se aproxima para interagir com ele. Ava faz parte de uma

ong que resgata animais e está de olho em um para que a gente

possa adotar.

Aproveito que a tarde está amena embaixo da sombra de

uma árvore, apesar do sol quente da Califórnia, e lhe conto sobre


minha vontade de ajudar os moradores de rua de Skid Row,

considerando que eu fui uma por pouco tempo. Charles não apenas

aprova a ideia, como quer me dar total apoio.


Fico aninhada a ele, enquanto dou de mamar no banco de

madeira, sabendo que pelo menos um dos meus planos é bom.


CAPÍTULO 19

Dias se passam em que eu, Jackson, Carter e Emily


seguimos um plano criado por nós, Logan e James. Agimos dando

pequenas e sutis dicas de que o noivado não está tão bem quanto
parece. James dá a entender que os Whitmore estão desconfiados
do amor que Emily afirma sentir por mim. Inclusive, Jackson

insinuou que Noah pode ser filho de Carter e que isso tudo é um

esquema para fazer com que o amante dela enriqueça às minhas


custas.

Odeio isso de modo geral, mas minha família e amigos acham

que é a melhor forma de fazer o carma funcionar. Só faltava uma


última ação: fazê-lo acreditar que pedi um teste de paternidade.

Jackson, sendo o tagarela que é, deixou escapar para meu primo


durante uma cervejinha no happy hour.

O nosso plano funciona tão bem que estou na academia,

levantando peso, quando percebo uma mulher no reflexo do espelho


em short muito curto e justo, além de um top que poderia ser

considerado um sutiã. Delilah é bonita, não posso negar, mas a sua

beleza não tem qualquer apelo para mim. Funcionou quando eu era
mais novo, na universidade, porém, faz tempo que não sou mais um

jovem que se atrai por um corpo malhado e ignora o pacote

completo.

Não largo o peso no chão, apesar de saber que meu treino


está arruinado pelo dia. Continuo a encará-la pelo espelho,

percebendo que não pretendo parar ou lhe cumprimentar

apropriadamente, resmunga:

— Você não pode estar falando sério sobre casar com sua

funcionária.

— Ela é muito mais do que uma funcionária.

Delilah se mostra irritada por eu não lhe dar total atenção e

bate o pé no chão, de um jeito que já vi meus sobrinhos fazerem,


cruza os braços.

— Sim, é uma interesseira que só quer sugar o seu dinheiro.

Então, as informações dadas a Wyatt chegam a ela também?

Interessante.

— Delilah, você nunca trabalhou de verdade na sua vida e

acha que pode falar sobre “sugar o dinheiro” dos outros? — digo

com um levantar de sobrancelha.

Ela se irrita e bate em meu ombro. Decido colocar o peso no

chão antes que ela faça algo estúpido que leve um de nós a se

machucar.

— Não aceito ser trocada assim, não falam mais de mim nas

redes sociais como Delilah, mas como a sua ex-noiva. Tem noção

de quão humilhante é? — Empurra-me de novo, mas é óbvio que


não tem capacidade de me tirar do eixo.

Soube disso, James me avisou que uma de suas muitas

namoradas comentou sobre estarem fazendo piada com a situação

de Delilah. Minha ex-noiva foi terrível com muitas pessoas durante

as preparações do nosso casamento antes que eu cancelasse o

evento. Ela estava tão dona de si, que algumas amizades foram

desfeitas.
— Logo aparece outro drama e esquecerão de você.

É sempre assim na alta sociedade, são um bando de lobos

desesperados pela próxima fofoca.

— Não com os vídeos dela no meu feed o tempo todo! —

esbraveja, o que faz com que o instrutor se aproxime, mas sinalizo


para que afaste. — Tem gente pegando meus vídeos e colocando a

música da sua empregadinha.

Foda-se! Chego o mais perto do seu espaço pessoal que


posso sem ser muito ameaçador. Afinal, ela ainda é uma garota e,

independente de quem seja, não irei ameaçar uma mulher.

— Primeiro, trate Emily com respeito, ela é minha futura


esposa e mãe do meu filho. Segundo, se você não agisse como

uma vaca na maior parte do tempo, ninguém estaria fazendo piada.

Se Delilah perdeu amigos, a culpa é dela e de mais ninguém.


Outra semana se passa, entre fingir que estou sendo

enganado por Emily e suportar a presença de Wyatt, fico no limite


da paciência. Minha garota sabe que não aguento mais e se senta

em meu colo, deitando a cabeça em meu peito, enquanto me


abraça.

— Acho que seria melhor demiti-lo e seguir em frente, sem

essa necessidade de justiça.

Faço com que ela me encare e afasto os cabelos do seu

rosto. Seria fácil, porém, o que aconteceu com Emily não pode se
repetir com nenhuma outra mulher. Eu a beijo, os lábios deslizando
pelos seus. A cura para minhas mazelas é ela. Não há nada melhor

para me deixar feliz e de coração elevado.

— Eu te amo — sussurro contra sua boca.

— Eu te amo mais.

Não me canso de ouvi-la se declarar, são minhas três

palavras favoritas de todos os tempos. Meus dias ficam melhores e


melhores, acordar ao seu lado e acompanhar o crescimento de

Noah não tem preço. Com eles, me sinto completo. Antes não
passava de uma casca vazia que se entretinha com trabalho árduo
e prazeres passageiros. Aperto sua cintura, trazendo-a para mais
perto, porém uma batida na porta nos interrompe.

— Vocês deveriam ver isso — Jackson afirma empolgado,


mostrando a tela para mim e Millie.

“Obrigada por me levar para almoçar, você é meu salvador”,


diz uma mensagem de Delilah. Por que diabos ela enviaria

mensagem para Jack?

— Explique-se.

Nós sentamos no sofá do meu escritório, para examinarmos a

troca de mensagens deles. Meu amigo exalta a beleza e


superioridade de Delilah, deixando evidente que está interessado
em levá-la para a cama. O que ele fez, a fodendo no banheiro da

boate. Jackson não tem qualquer critério.

— Eu a encontrei por acaso em uma balada e a convidei para


sair. Não foi difícil convencê-la, já tivemos um rolo naquela festa de

aniversário, lembra?

Emily faz um som de desgosto e lhe dá um olhar sujo:

— Há algum limite para que você não tente transar com

alguma mulher?
Ao invés de notar o sarcasmo em sua voz, Jack pondera de
verdade sobre o assunto por um momento.

— Não sou um comedor de casadas, serve?

Isso me faz rir, lembrando que não muito tempo atrás, ele foi
perseguido na rua por um marido irado, que ao chegar em casa de
uma viagem de trabalho, encontrou um homem seminu em sua
cama.

— E a senhora Gracewell?

— Eu não sabia que ela era casada! — defende-se, a mulher


tinha uns quarenta anos e o informou que era divorciada. — Enfim,

Delilah ficou pedindo detalhes sobre vocês, como se reencontraram

e tudo mais.

— O que você disse? — questiono, voltando ao que

realmente importa.

— Eu menti! Disse que Emily veio exigindo dinheiro e que


inventou uma história triste para você virar sócio do seu amante na

cervejaria e que há grandes chances de Noah ser de Carter. Afirmei

também que você tentou dar em cima de mim e que até eu te

chamava de linda, mas que me cortou só quando “tinha Charles na


palma da mão de novo”. E eu tentei abrir os seus olhos, mas você

está cego de amor e se recusa a ver a verdade.

Jackson pegou pitadas da verdade e sujou com mentiras.


Emily se irrita, mas logo se acalma, percebendo que além de ser o

melhor, foi ideia dela. Estamos apostando que logo a informação

chegará aos ouvidos de Wyatt. O que eu quero é que isso acabe


logo e possamos ter paz de novo.
CAPÍTULO 20

Acordo mais tarde por ter ido cantar de novo no bar, estou
acostumada com o aumento de pessoas em minha plateia, tanto

que até tenho coragem de arriscar algumas músicas originais.


Coisas que compus sobre perda e amor. Ninguém me vaiou, então,
acho que gostaram ou, ao menos, não detestaram a ponto de me

obrigar a parar.

Resolvemos passar a noite sozinhos na mansão, ao invés de

ficar no apartamento com governanta e babá, apesar da decoração


não ter sido finalizada. Uma vez que Charles supostamente está

viajando a negócios. Então, a ideia é tirar diversas selfies na nova


casa, ostentando a mim e ao meu bebê Whitmore. Mais uma

armadilha para Wyatt, mostrando o quão superficial eu sou e como


estou interessada nos bens materiais.

— Onde estão meus amores?

Desço as escadas, arrastando as pantufas pelos degraus.

Está frio, então, fecho o roupão ao meu redor com mais força. A
casa é enorme, não faço ideia de como irei usar todos os cômodos

uma vez que estiver finalizado. Tem até alas! Sério, estou

esperando a Fera aparecer para me avisar que a ala oeste é


proibida para convidados.

Um barulho de risadas no quintal chama minha atenção e eu


sigo o som para me deparar com Charles e Noah sentados no

banco de madeira, enquanto se divertem observando a camada de


tapete branco que o nosso quintal se tornou. Isso explica o frio! Eu

não tinha me dado ao trabalho de ver o lado de fora através da

janela ao levantar.

— Venha para neve, baby. — Charles estende a mão para

mim. Ele está sentado em um banquinho baixo, perto do chão, com

o filho no colo.
Apenas o rosto de Noah é visível, estando com gorro, luvas e
um casaco tão grosso que mal consegue fechar os braços. Seu

narizinho está vermelho e ele eleva o rosto, maravilhado com os

poucos flocos de neve que ainda insistem em cair do céu, pousando

em suas bochechas rosadas. Saco o celular para tirar uma foto, não

posso postar, mas quero registrar o momento. Eu lhe mostro uma

bola de neve que acabo de fazer, Noah se treme um pouco, por


mais que esteja com luva.

Eu me sento ao lado deles, dando beijos nos meus dois

rapazes e congelo a bunda no processo. Noah bate palmas, feliz.


Não me canso de admirar a singela beleza que é a interação dos

homens que comandam meu coração. A neve nesta parte da

Califórnia é rara, em todos os meses do ano, e em apenas um —

quando o inverno está mais frio — tem a possibilidade de

passarmos por uma nevasca. O que torna esta ainda mais especial.

— É a primeira vez que ele vê neve.

— Ainda bem! — Charles une seus lábios aos meus ou tenta,

porque uma mãozinha gorducha se mete entre nossas bocas e

Noah se estica para me beijar. Agora que ele tem quase seis meses,

começa a desenvolver um pequeno Complexo de Édipo. Nós só


fazemos rir e lhe damos um beijo duplo nas bochechas. — É uma

primeira vez que posso acompanhar — diz, ajeitando o gorro do


nosso bebê. — Ainda não me perdoei por ter perdido os meses da

sua vida.

Vez ou outra ele me falava algo do tipo, triste por não estar
presente na gravidez, nascimento e primeiras semanas de vida.

Gostaria que ele tivesse visto tudo isso, mas por que chorar se nada
pode ser feito a respeito?

— Não adianta ficar se torturando por isso, o que importa é


estar presente em cada descoberta e conquista dele a partir de
agora.

— E das suas também. — Acaricia a lateral do meu rosto


antes de pegar o celular no bolso para digitar no aparelho durante
alguns segundos.

A curiosidade é saciada quando a tela é virada para mim,

mostrando uma mensagem particular dele com um homem que não


reconheço de imediato. Continuo a ler, uma vez que estão falando

de mim e da performance da noite passada.

— O que é isso?

— Um agente viu você cantar e adorou, ele quer uma reunião.


Fico em choque, congelada no lugar, enquanto ele me mostra

o site do agente e a sua longa lista de clientes. Ainda bem que estou
sentada, pois minhas pernas tremem e fico sem palavras. Talvez

seja hipotermia, mas mal reconheço minha voz com o sussurro que
sai da minha garganta:

— Ele só agencia estrelas…

— É por isso que te quer. — Charles me dá um beijo na


minha cabeça, o que faz Noah o imitar. — Não há estrela maior do

que você, meu amor. Gostaria de poder sair para celebrar.

Seu polegar desliza por minha bochecha, capturando uma


lágrima que eu nem percebi que havia derramado. Sou capaz de

ultrapassar os limites dos palcos de um bar? A expressão confiante


de Charles me dá forças, sinto como se pudesse fazer qualquer
coisa desde que tenha o apoio da minha família. Não preciso de

festas ou comemorações, apenas deles.

— Só quero assistir a neve cair e ficar com meus amores. —


Eu os abraço apertado, afundando o rosto no casaquinho de Noah.

— Você foi colocado na Terra para realizar os meus sonhos.

— Acho justo, considerando que vocês dois são os meus.


Ele me segura e observamos a neve por mais um tempo
antes de entrarmos para fazer o almoço juntos. Noah fica no bebê-
conforto em cima da bancada e colocamos música ambiente,

enquanto partimos verduras e dançamos para nosso filho. O bebê


adora as palhaçadas e é divertido ter um momento sem funcionários

ao redor, apenas os três juntos. Até porque Charles é terrível nisso,


acho que nunca cortou um tomate na vida.

Estamos tão envolvidos em fazer o almoço que nem percebo

a mensagem em meu celular, mas quando vejo, quase derrubo o


frango que estava temperando.

— Amor, olha isso.

É uma mensagem de Wyatt:

“Eu me sinto mal com minha nova prima sozinha em casa,


que tal um drinque para passar o tempo?”

Deus do céu, ele mordeu a isca! É o que desejo, estou

contando com isso, mas quando acontece, puro medo percorre meu
corpo.

— Minha mão está tremendo — murmuro, procurando uma


cadeira para me sentar.
Charles me abraça por trás, inclinando-se para ler o que digito
na tela. Meus dedos pairam no telefone, sem saber o que escrever.

— Você não precisava fazer nada que não queira, sempre

podemos voltar para o plano inicial e eu apenas socá-lo.

Respiro fundo, é minha chance de acabar com isso.

— Não, eu consigo.

“Onde sugere? Acho que Texa’s Club está muito

movimentado.”

A resposta não demora muito a chegar com o endereço de

um bar no lado mais obscuro da cidade, onde ninguém da alta


sociedade estaria disposto a frequentar.

— Pode confirmar, temos algumas horas para montar nossa


armadilha. Quero ele atrás das grades, com uma longa vida para se

arrepender de cada decisão ruim que já fez.


CAPÍTULO 21

Estar escondido em uma van, enquanto a minha mulher entra


em um bar com um filho da puta que a machucou no passado me

deixa à flor da pele, apesar de ter dois seguranças e um inspetor


particular disfarçados de frequentadores no estabelecimento.
James, Logan e Jackson estão comigo na van com o detetive

contratado, assistindo as gravações feitas pela câmera escondida

na blusa de Emily, em um de seus botões.

O local é simples, sem nada que se destaque, paredes


brancas, mesas de madeira, garçons com aparência entediada.

Wyatt ocupa uma mesa de costas para a porta, sozinho, com um


copo de uísque na mão. Ele tem um sorriso conquistador no rosto,

que guarda para garotas bonitas. Odeio que seja direcionado para
Millie e que só possa ouvir sua interação pela transmissão ao vivo

ao invés de estar lá ao lado dela:

— Estava começando a achar que não viria.

— Tenho um bebê, não é tão fácil escapar.

Noah está com Ava e meus sobrinhos, enquanto meus irmãos

vieram me dar apoio.

— Escapar? — Wyatt pende a cabeça de lado, se achando

engraçado, encantador ou alguma merda desta.

Murmuro que quero descer e bater nele, mas Logan me avisa

para ficar quieto e aguentar firme. “Ela está protegida”, lembro-me.


Os seguranças estão a poucas mesas de distância.

— É, precisava de um pouco de ar livre. — Ela se senta,

levantando a mão para pedir um vinho ao garçom. — Sabe, pensei

muito em você no último ano.

Gostaria de vê-la em ação, mas a câmera está voltada

apenas para ele e a do detetive não pode ser transmitida em tempo

real para nós. A única coisa que consigo ver são as reações de

Wyatt a ela, que a avalia com cuidado e fascinação.


— Se arrepende de ter transado comigo naquele dia?

— Sim, porque não lembro como foi ter você na cama, sem

ofensa.

Não percebi que estava ficando de pé na van até Logan

colocar a mão no meu ombro e me fazer sentar de novo. Se um


deles mandar eu me acalmar mais uma vez, vou arrumar briga com

quem não merece.

Wyatt continua, sem saber que está sendo ouvido:

— Não estou ofendido, também lembro pouco, bebemos

demais naquela noite.

— Tive raiva de você. — Emily faz uma pausa e pondera,

batendo as unhas ritmicamente na mesa. — Raiva não é suficiente,

ódio de verdade. Veja, fiquei sem namorado, emprego ou moradia


por sua causa. — Bebe um gole do vinho trazido pelo garçom para

efeito dramático. — Sofri no comecinho, mas as coisas deram muito

certo no final.

A última frase é dita em um tom firme, com um toque de

superioridade.

— Eu não teria tanta certeza se fosse você — Wyatt diz com

o queixo levantado, soberbo, de quem sabe que está na vantagem.


— Como assim?

— Ouvi algumas coisas que com certeza são do seu

interesse, pode ser que o mundo perfeito seja como um castelo de


cartas, pronto para desabar com um simples sopro.

Para enfatizar, faz um som de “puft”, como algo sendo


disperso ao vento.

— Suponho que haja um preço para compartilhar a

informação. — Emily se aproxima mais, demonstrando interesse. —


Não achei que estivéssemos em um encontro de negócios.

— Sempre é.

A resposta seca a faz recuar, mas logo ela volta a se inclinar:

— Qual seu preço?

— Afaste-se do meu primo.

Por que essa obsessão comigo? Talvez saiba que não há

lugar para ele na minha vida com Emily. É triste que nossa amizade
desfeita tenha chegado ao ponto de ser sustentada por mentiras e

traições.

— É um preço muito alto, não acha? — Fico impressionado


em como ela se mantém no personagem. — Teria que ser por um
motivo muito bom.

Ele dá uma risadinha sarcástica que gela meus ossos.

— Quer saber? Vou te dar um aviso de graça: você vai perdê-

lo de qualquer forma, assim que o resultado do teste de DNA sair.

A isca de Jackson também funcionou e foi dada a Delilah,


prova de que estão em algum esquema juntos. Emily deve ter pego
algumas aulas de teatro com Leslie, pois posso imaginar sua

expressão surpresa sem ver o seu rosto.

— Teste? Que teste? — A voz se torna mais esganiçada, até


que ela baixa para não chamar a atenção de ninguém ao redor. —

Quando foi feito?

Isso o deixa mais confiante, acreditando que está na


vantagem. Não faz ideia no que está se metendo. A esta altura, sei

que meu primo não presta, porém, testemunhar seu outro lado em
ação ainda é chocante.

— Ainda não foi… mas se for, o resultado será diferente do


que Charles espera?

— Não! Claro que não! — Emily nega com veemência, mas

sua voz quebra no final, sem mostrar confiança.


— Nesse caso, não tem com que se preocupar, não é? — fala
com superioridade. — Porque se tivesse, eu daria um jeito de
resolver.

O silêncio se estende na mesa e até na van ficamos calados,

ouvindo nada além do barulho da rua e da música baixinha que sai


do bar.

— Só por curiosidade, que jeito seria esse? — Ela quebra o


silêncio.

Wyatt pede uma segunda dose de uísque e espera ser

servido antes de responder. Suponho que seja uma tática para


deixá-la ansiosa.

— Todos têm um preço, inclusive laboratórios de análises

clínicas. — Bebe um gole, se sentindo poderoso demais para seu


próprio bem. — Você pode partir, casar com seu cowboy da

cervejaria e receber uma pensão generosa pelo bebê.

Ora, parece que ele pensou bem no plano. Faz sentido se


acha que Noah é de Carter e Emily me vê apenas como uma conta

bancária com pernas.

— O que você ganha com isso? — E essa era a grande

questão, o motivo para concordarmos com toda essa palhaçada.


— Estou apenas protegendo o meu primo.

Até parece que é o bom samaritano!

— Se vamos colaborar, precisamos ser honestos um com o

outro. — Ela cruza os braços e logo descruza, percebendo que


poderia tampar a visão da câmera assim. — Está apaixonado por
Charles?

Uma pergunta simples e honesta que o atinge como uma bola

de demolição. Costumava achar algumas piadas dele homofóbicas,


mas nunca o vi nesse nível de descontrole:

— Que porra é essa? EU SOU UM HOMEM DE VERDADE!

Tá me confundindo?

Logan avisa aos seguranças para não se envolverem ainda,

enquanto James me mantém sentado diante dos gritos. Emily disse

que o provocaria e estou preparado para isso — ou achei que


estava —, porém em qualquer momento irei pular fora.

— Cara, tem algo errado nessa sua necessidade de que ele

fique solteiro. A única coisa que consigo pensar é que o quer para

si.

— Não é nada disso. — Os dois se encaram, imagino que ela

esteja séria porque pelo que posso ver, parece que quem piscar
primeiro perde.

— Então, o que é? Posso te ajudar a sair do armário — Emily

insiste no assunto, considerando que o deixa fora de si. — Sei que


boa parte da sua família é tradicionalista, mas eles…

Wyatt cai como um patinho em sua provocação, dando um


tapa na mesa.

— Cala a porra da boca! Quero o caminho livre para Delilah,

tá?

Variações de “eu sabia” são ditas por mim e meus

companheiros. Era a nossa maior aposta, mas ainda havia uma

questão a ser explicada.

— Então, é por ela que está apaixonado. — Conheço Emily a


ponto de notar a diferença em sua postura apenas pela mudança na

voz. — Foi por ela que me drogou naquela noite, me deitou na cama

e tirou minha roupa? — Os olhos de Wyatt se expandem com o


questionamento direto, até eu estou chocado. — Não fique

surpreso, nós dois sabemos que foi isso que aconteceu.

Acho que Wyatt vai negar, entretanto, repensa e não vê

necessidade de continuar com suas charadas.


— Peço desculpas por ter feito isso, se eu soubesse que você

era flexível assim, teria seguido um plano melhor, que te incluísse.

Ele confessou, porra! Dessa vez, nem Deus poderia me

segurar dentro da van, portanto, meus irmãos nem tentam. Salto

fora e avanço para dentro do bar, à medida que me aproximo por


suas costas, vejo que Emily continua seguindo o roteiro.

— Tudo bem, provavelmente não daria certo — afirma com


um dar de ombros. — Eu era uma tola naquela época, aprendi a

verdade sobre a vida depois. Só tem uma coisa que não entendo, se

a ama, por que jogá-la no colo do primo?

— Tenho os meus motivos — Wyatt responde evasivo.

— E quais seriam eles?

Explodo, agarrando-o pelo colarinho e puxando para fora da

cadeira. O dono do bar e garçons se sobressaltam e tentam apartar


a briga, mas os seguranças intervêm, impedindo que a polícia seja

chamada. Não dou atenção a eles, meu foco é todo de Wyatt e o

pavor que demonstra.

— O que faz aqui?

— Quais seriam eles, porra? — exijo, sacudindo-o com ódio.

— Por que quis destruir minha vida?


Ela está encurralado e sabe disso. Não é idiota, tem noção de

que entrou em uma armadilha por acreditar que Emily é corrupta


como ele.

— Não é justo que seu pai tenha mais dinheiro! O meu é o

mais velho, deveria ser o chefe da família!

Ah, o ego humano! Nosso maior inimigo. O pior? O lado dele

da família é rico, milionário, na verdade. Apenas não chega ao

mesmo nível de magnata do meu.

— Você acabou com nossa amizade de anos por despeito?

Não é culpa minha se meu pai é melhor nos negócios do que o seu!

Sem contar eu e meus irmãos, muito melhores investidores e


administradores do que ele.

— Mas é culpa de Logan que ele jogou o nome dos Whitmore

no lixo! — esbraveja, apesar de estar em desvantagem. — Ele

engravidou uma empregadinha e nos envergonhou, daí você decide

fazer a mesma coisa! Não podia permitir. Precisava parar antes que
chegasse ao ouvido das pessoas, fiz pelo seu bem, para te livrar de

uma vagabunda sanguessuga.

Não penso, apenas entro em ação e acerto seu queixo com

um gancho de direita. Eu o derrubo no chão e continuo a socar


apesar dos gritos ao redor, até que Logan e James intervém, me

tirando de cima dele, enquanto que Jackson ordena aos seguranças

que levantem o filho da puta. Ele tenta me acertar, mas erra e atinge

a perna da mesa. Deve ter doído, pois grita de dor e frustração.

— Qual o papel de Delilah no seu plano? — Emily exige


saber.

Ao invés de responder, ele cospe sangue no chão e se cala.


Tudo bem, se ele não disser, tenho certeza que Delilah abrirá a

boca.
CAPÍTULO 22

Chuto a perna de Wyatt, que está preso entre os dois


seguranças disfarçados que Charles contratou. Dizem que não se

deve chutar quem está caído, mas, tecnicamente, ele está em pé. O
canalha achou mesmo que sou tão baixa quanto ele. Logan analisa
a situação e sinaliza para que o detetive utilize o comando remoto

para desligar as câmeras espiãs e “cuidar das filmagens”.

Não tenho certeza a que está se referindo, até que em um

movimento rápido, o meu cunhado mais velho atinge Charles com


um soco direto nos lábios, abrindo o inferior. Grito, vendo o líquido

vital pingar no chão.


— Que foi isso? — questiono nervosa, pronta para defender

meu futuro marido.

— Legítima defesa. — Dá de ombros. — Agora pode chamar

a polícia.

Os olhos de Wyatt se alargam, assim como os meus, ao

compreender a motivação por trás das atitudes de Logan:

— Eu não bati nele!

Trinco os dentes, sabendo que seria difícil alegar algo do tipo


se Charles não tiver um machucado, porém, ainda me dá vontade

de bater no meu cunhado para protegê-lo.

— Boa sorte em convencer alguém disso. — James oferece

um bolo de dinheiro para o dono do estabelecimento. — São dez


testemunhas confiáveis contando que você partiu para cima do meu

irmão ao descobrir que arrancamos uma confissão e Charles teve

que se defender.

Respiro aliviada, o medo dele ser preso por agressão

diminuindo. A confusão da noite aumenta quando os policiais

chegam e coletam o depoimento de todos, além dos dispositivos de

gravação, que foram desligados assim que os rapazes resolveram

invadir o bar.
Na delegacia, Wyatt usa sua ligação de direito para chamar
Delilah. Ela vem de imediato, acompanhada da irmã mais nova e

com o rosto banhado em lágrimas, de quem chorou o caminho

inteiro. Ao menos, é o que tenta aparentar. No entanto, há rímel

descendo por seu rosto e eu desconfio que seja de propósito,

porque até o meu é à prova d’água, não é possível que o dela saia

com uma choradinha.

— O que aconteceu? — berra ao nos ver parados na

recepção. Ela dá uma olhada para os policiais por ali, cuidando de

suas próprias vidas, e começa a gritar ainda mais alto: — Eu não


tenho nada a ver com isso! Wyatt me convenceu, apenas dei em

cima de você, Charles.

A irmã, que não passa de uma adolescente e tem mais noção

do que Delilah, tenta pará-la, mas não consegue. A mulher está

entregando o ouro de graça.

— Mas ela nem está sob julgamento e já entregou ele?

— Não há lealdade entre trapaceiros. Eu ficaria chateado se


você desistisse de mim tão rápido.

Delilah, vendo que Wyatt está detido, não poupa detalhes. Ela
cospe a verdade inclusive com informações que sequer são
solicitadas pelo delegado. A verdade é que a família dela não está

tão bem quanto parece, os negócios que o falecido pai deixou estão
afundando mais rápido do que o Titanic, o que arruinaria a

reputação que ela se esforça para demonstrar nas redes sociais.


Além, obviamente, de prejudicar o estilo de vida extravagante.

O plano deles era que Delilah se casasse com Charles e

fundisse as empresas, então, assim que o dinheiro dos Whitmore


somado às habilidades administrativas do meu noivo salvassem o
negócio, ela pediria divórcio, levaria metade do que meu amor tem e

estaria livre para se casar com Wyatt. Por isso, manipularam para
se livrar de mim e a colocar no lugar.

Resumindo, é um plano idiota. São tão egocêntricos e


confiantes em seu poder de persuasão que jamais pensaram que

não poderiam ultrapassar qualquer revés. Além de convencer


Charles a se casar com uma mulher que não ama, ainda teriam que
fazê-lo optar por não assinar um acordo pré-nupcial e separar os

bens.

Wyatt tinha certeza de que enrolaria Charles mexendo com


sua ganância e veia workaholic, que ele ganharia muito ao tomar

controle da empresa de Delilah. Agora terão tentativa de fraude e


mais uns crimes do colarinho branco jogados em cima das

acusações de agressão que já possuíam.

Com os ótimos advogados que meu futuro marido tem, aposto


que ele estará enterrado em um monte de merda por um bom

tempo. Tudo por causa de inveja! Eu e Noah tivemos que sofrer por
mesquinhez. Veja bem, o lado de Wyatt da família é milionário, mas

estão longe de ser magnatas como o de Charles. Que culpa ele tem
se o pai — por mais filho da puta que seja — é um melhor CEO do

que o tio? É assim que as coisas funcionam! Quem administra


melhor, ganha mais dinheiro.

É tarde da madrugada, mais um pouco seria de manhã,

quando voltamos para casa. Ela parece ainda maior sem Noah, que
está com Ava para a noite. Estou esgotada física e mentalmente, ao

mesmo tempo em que um peso foi tirado dos meus ombros, sinto
que as minhas energias foram sugadas.

Portanto, Charles prepara um banho, enquanto eu pego

alguns sanduíches de picles e taças de vinho. Comemos junto à


bancada e, na banheira, relaxamos, tomando o resto da bebida e

ouvindo música, abraçados, com minha cabeça apoiada em seu


peito. Não precisamos dizer nada, nos abraçamos em silêncio e
estar aqui com ele me faz respirar aliviada e me sentir segura.

Ele me leva para a cama e afasta os cabelos do meu rosto,


dando-me um beijo na ponta do meu nariz:

— Tudo de ruim que aconteceu foi apenas porque Wyatt e


Delilah pensaram que nosso amor era pequeno.

— Estão enganados, é tão grande que é maior do que nós, é


infinito.

Ele acena concordando e me beija com suavidade,

demonstrando através dos lábios o que o coração sente.

— Por mim, fugiríamos para Vegas amanhã e nos


casaríamos, quero ter as alianças em nossos dedos, mostrar para o

mundo que estamos presos um ao outro por toda a eternidade.

Tinha analisado algumas opções de casamento com a ajuda


de Ava, Leslie, Brooke e minha mãe. Com um orçamento ilimitado

para a cerimônia e festividades, eu podia escolher o que quisesse


para o grande dia. É o equivalente a entrar em uma sorveteria nova

que tem tantas variações de sabores que fico indecisa em qual


escolher. Acho que ficaria mais confortável se pudesse decidir
apenas entre morango, chocolate e baunilha. Poderia até misturar
os três, colocar cobertura e fazer um sundae.

Vegas seria meu sundae. Diversas vezes pensei em fugir

para lá.

— Tem que ser amanhã? — Envolvo seus ombros com os


braços. — Se você me der uma semana, posso organizar algo.

Charles fica intrigado e se aconchega em mim de conchinha,

beijando meu pescoço.

— Você terá o tempo que precisar, meu amor, desde que no


final, a gente suba ao altar.
CAPÍTULO 23

— Eu quero te ver.

Paro ao lado da porta, infelizmente o errado, pois continuo de


fora do seu quarto de hotel. A uma semana que Emily pediu, se

transformou em três por causa da confusão com Wyatt e decidimos

nos casar independente de ainda não ter terminado o julgamento

dele. O detetive encontrou podres durante a investigação e ele foi


mais bem sucedido em outras falcatruas do que a fraude do meu

casamento.

— Não pode, amor. — A voz dela chega a mim e eu a

imagino com o rosto apoiado na madeira. — Dá azar.


Vamos casar em Vegas, fechamos um hotel-cassino para os

convidados e a capela será apenas nossa, com uma decoração


escolhida por minha noiva. A nossa família e os amigos mais

próximos vieram, não precisamos de muita gente, apenas aqueles

que se importam de verdade com nossa felicidade presenciarão


este momento único.

Dispensamos as despedidas de solteiro, por não haver

necessidade de tal supérfluo. No entanto, as mulheres decidiram


que devemos ficar os últimos cinco dias sem nos ver, assim a lua de

mel será mais especial. Uma pena que não entendam que todos os

dias ao lado dela são especiais. Não me levaram à sério e cá estou


eu, sentado no corredor do hotel, esperando pela ínfima chance de

vê-la.

— Desde quando nos importamos em cumprir as tradições do

casamento? Tivemos um filho antes de subir ao altar.

Noah está de novo com o priminho, pegamos um quarto só

para a babá e os pequenos. Os gêmeos de Logan adoram que

agora têm dois bebês para cuidar e brincar, um para cada.

— Exato! Vamos pelo menos fazer uma coisa certa — retruca,

mas posso ouvir sua risada através da porta.


— Estou acostumado a dormir ao seu lado.

Cinco noites sem dormir estão cobrando o preço e tudo que

quero é me aconchegar nela. Afundar o rosto em seus cabelos e a

abraçar apertado. Sem ela, eu me sinto vazio. A porta se destranca


de supetão e eu quase caio para trás por estar apoiado nela. Emily

me espia com ar de riso.

— A quem estou enganando? — Ela se agacha e me beija na

ponta do nariz. — Não vou conseguir dormir mesmo, mas você vai

ter que sumir antes das meninas chegarem para os preparativos.

Aceito sua condição de imediato e me levanto, envolvendo-a

em meus braços. Lar. Onde quer que ela esteja, é meu lar. O beijo

casto no nariz que Emily me dá é devolvido com um cheio de

saudades em seus lábios. Ela é meu desejo traduzido em pessoa.

— Estava desesperado por seu beijo, você me deixou viciado.

— Começou a suar por abstinência? — Ela se afasta,

rebolando a bunda gostosa enquanto anda. Estou hipnotizado por

seu quadril e tanto sabe que me encara por cima do ombro, fazendo

todo um teatro em se inclinar para subir na cama e engatinhar no

colchão para deitar .

— Prefiro suar por outro motivo.


Atrevida, se insinua para mim e eu não posso deixar de notar

a camisolinha pequena que mal cobre o seu corpo, estou duro


apenas de olhar para ela desse jeito, deitada na cama, as lâmpadas

principais do quarto apagadas, enquanto que a luz do abajur


noturno ilumina sua silhueta.

Ela é um anjo.

— É sua última noite de solteiro, ainda dá tempo de fugir.

— Não dá — Junto-me a ela na cama, o mais perto que


posso chegar sem, de fato, tocar nela —, estou preso a você desde

a primeira vez que te vi cantar na calçada da universidade.

Nunca esquecerei o momento, a garota em roupas simples


com um violão velho cantando na entrada da universidade. Emily se

deita por completo e eu pairo sobre ela, afastando os fios de cabelo


do seu rosto, tranquilo por saber que nada mais a ameaça.

— Nem acredito que deu tudo certo.

É muito provável que Wyatt faça companhia ao meu pai na


cadeira, mais um Whitmore preso. Desse jeito, até parece que a

família está sendo expurgada. Fico triste que tenha chegado a tal
ponto.
— Espero que James tenha um relacionamento tranquilo —

dá de ombros, com um ar brincalhão —, desse jeito, metade dos


Whitmore estarão atrás das grades.

Não consigo imaginar o meu irmãozinho se tornando

responsável, é o mais farrista entre nós.

— Com a quantidade de mulher que ele arruma no bar, vai

terminar tendo mais problemas ainda. — Em seguida, penso que


não era muito diferente antes de conhecer Emily. — Ele vai parar

quando achar a certa, como eu fiz.

— Eu sabia que você era o homem da minha vida, mas nunca


achei que fosse possível te ter.

O engraçado é que não muito tempo atrás, pensei o mesmo

sobre mim, que jamais teria a sorte de ser perdoado por ela.

— Você me tem pelo resto de nossas vidas.

Eu a beijo, dominado pelo misto de amor e desejo que me

invade quando estamos juntos. Passo a perna de cada lado do seu


quadril e ela está me observando em silêncio. Essa mulher me tem

na palma da mão, tudo nela me fascina. Percorro o comprimento


dos doces lábios e as curvas no arco do cupido, é um toque singelo,
mas que a arrepia. Com ela, não se trata apenas de sexo — por
mais que possa ser sujo e selvagem — é amor transcrito em um
encontro de nossos corpos.

É o gemido que escapa de sua boca quando me inclino e a


beijo, são as suas unhas me marcando porque ela quer se prender

a mim, é o sabor de sua pele sob minha língua enquanto chupo seu
pescoço e faço um caminho descendente para os seios. São os

mamilos duros, implorando por atenção ou a forma como seu corpo


se contorce embaixo de mim, em busca de fricção. É até a forma

como ela se livra da camisola, ansiosa pelo que estou prestes a


fazer.

Também se trata das provocações, de suas pernas abertas


com minha cabeça entre as coxas macias e a mordida que deixo na
parte interna delas. Ou, da forma como me encara com expectativa,

apoiada nos cotovelos e os olhos grudados em mim, curiosos para


me ver afastar a calcinha minúscula para o lado e percorrer a

extensão da sua intimidade com a língua.

Ela se joga para trás, encarando o teto com um sorriso no


rosto que logo se transforma em arfar, uma vez que meus dedos a

penetram, alcançando o ponto dentro dela que a faz enlouquecer.


Não paro de estimulá-la, porque não é sexo e nem um amor
decente se minha garota não gozar, pois o prazer faz parte do
pacote. Silencio seus gritos com a minha boca, sorvendo dela o que

tiver para me dar e a penetro em um único movimento. Nada me


deixa mais duro do que vê-la tendo um orgasmo.

Faço com que levante seu tronco, assim estamos ambos

sentados, entrelaçados e com nossos rostos unidos no meio da

cama. Posso beijá-la, chupar o seu pescoço, puxar os cabelos e


assistir um novo orgasmo ser construído pela mudança em suas

feições e na velocidade com que quica em meu pau. Sua boceta me

aperta, úmida e convidativa. Quero ir rápido e atingir o meu próprio


prazer, em uma ânsia de ter tudo dela, por outro lado, desejo

saborear cada momento.

Isso me faz fechar as pálpebras, como se me privar de sua

beleza fosse diminuir o apelo. No entanto, o efeito é oposto. Porque

nosso amor também é um reflexo do suor de nossa pele a cada

batida dos corpos, são os poros se encontrando e reconhecendo, é


o ar que exala de sua respiração ofegante, os pequenos barulhinhos

de sua garganta, é a pulsação acelerada na palma quando seguro

seu pescoço ou os seios se esfregando nos meus a cada


movimento. Ou, os meus dedos afundando em seu quadril ao

mesmo tempo em que vou de baixo para cima, ao encontro dela.

Amor e sexo, sou eu, ela e o sentimento que nos une, os


hormônios que percorrem nossas veias e a explosão que nos faz

ver estrelas, clamando os nossos nomes como se fosse a oração de

dois amantes.

Permanecemos abraçados, aproveitando o momento e a

euforia pós-orgasmo. Ela encosta a testa na minha com um sorriso


preguiçoso, mas cheio de satisfação:

— Eu te amo com toda a força do meu coração.

Sei bem do que está falando, eu me sinto assim também.

— Eu vou te amar para sempre.

Salpico seu rosto com beijos, desenhando uma linha

imaginária com no meio da sua face com a ponta dos dedos,


memorizando suas delicadas feições.

— Como pode ter certeza? — Emily segura minha mão,

pressionando-a contra sua boca.

— Eu apenas sei. — Encosto-me nos travesseiros para que

ela possa deitar em meu peito. — Porque você e Noah dão sentido
à minha vida.
CAPÍTULO 24

Rodopio na frente do espelho, sentindo-me uma verdadeira


princesa de conto de fadas. Talvez eu seja! Ao invés de castelo,

ganho uma mansão em Bel-Air, meu príncipe é um CEO magnata e


ao invés da carruagem me esperando do lado de fora, há uma
limusine.

— Ai, ai, ai, estou tão linda!

Giro ainda mais, agora que as meninas estão me aplaudindo.


Mamãe, Ava, Leslie, Brooke e minha sogra estão com taças de

champanhe em mãos. Noah e seus primos estão prontos,

sentadinhos porque demos às crianças maiores o dever de manter


os bebês entretidos. Os gêmeos de Logan entrarão na minha frente,

empurrando o carrinho do irmão mais novo, Billy. Enquanto que


minha sobrinha levará Noah no colo com as alianças.

— Está sim! — Ava ajeita o meu véu, que a cabeleira tinha

acabado de colocar, mas saiu do lugar porque eu estava


rodopiando. Ela se tornou mais do que uma cunhada, é quase como

uma irmã para mim.

— Nunca fiquei tão bonita — digo para meu pequeno, que

mal presta atenção ao vestido. — Olha, Noah, mamãe tá linda?

Ele bate palmas e estica as mãozinhas para mim, mamãe

coloca uma fralda longa em meu ombro para que eu o pegue sem o
risco de me sujar. Sei que o certo é casar primeiro e ter o filho

depois, mas estou feliz que possa compartilhar este momento com
Noah, apesar dele não fazer ideia do que está acontecendo.

No entanto, sabe que é uma festa e que todos estão felizes,

pois está animado também. Meu garoto adora estar cercado da


família, que não para de mimá-lo, em especial as avós. Tinha medo

de como seria quando as duas tivessem que conviver, uma vez que

vêm de origens tão diferentes, mas o amor pelo neto as uniu. Não
faz diferença se você é uma socialite bilionária ou a dona de uma
granja no interior, ambas eram loucas igualmente pelo garoto.

Uma tímida batida na porta faz meu coração acelerar, com

esperança de que seja meu futuro marido. A sua visita na noite


passada foi o que me fez dormir bem, sem espaço vazio na cama

ao meu lado e o calor do seu corpo invadindo o meu, aquecendo-me

por dentro. Entretanto, é meu pai, avisando-me que está na hora.

O fotógrafo registra o momento das rodadas de abraços e as

mulheres se vão. Eu irei sozinha com papai em outra limusine, onde

há um buquê de rosas me aguardando, no cartão leio uma

mensagem: “caso seja difícil de me encontrar, eu serei o homem


mais feliz no altar, com a mão estendida para te receber. Te amo,

Charles.”

O fotógrafo registra as lágrimas que luto para não derramar.


Pondero se devo levar esse buquê ao invés do de lilases que

escolhi previamente. Termino ficando com o meu, pois é o que

combina com a decoração. O meu vestido de noiva tem um corte

clássico de princesa, acinturado e que se abre em uma saia

arrendada digna de um desenho da Disney, com delicados apliques

de renda na barra.
É simples, ao contrário do véu, que foi um presente da minha

sogra: uma tiara feita de diamantes verdadeiros, que não faço ideia
de quanto vale, e o tecido diáfano que cobre meu rosto até a altura

do colo. Atrás, ele é comprido a ponto de se arrastar pelo chão.

Meu pai está nervoso, suas mãos tremem ao se servir


de um pouco de uísque para acalmar os nervos. A viagem não é

longa, portanto, não há tempo para conversar. Ele vira todo o


conteúdo do copo em um gole só assim que paramos em frente à
capela.

— Pode sorrir, papai — digo ao perceber sua tensão em


frente aos portões fechados, esperando para serem abertos.

— Como posso? — Ele aperta meu braço com mais força. —


Vou dar minha menininha para um cara fazer certas coisas com ela.

Ele está falando de mim em terceira pessoa? Seguro a risada,


finalmente entendendo o problema. Em parte, ao menos, já que não

faz muito sentido.

— Hum… o senhor sabe que já tenho um filho, certo?

— Uh-hum — concorda, ainda desconfortável. Ele ajeita a


gravata, que está ajeitada, mas não faz diferença. — Estou sendo
idiota, eu sei. É que minha menininha está se casando.
Fico na ponta do pé e lhe dou um beijo na bochecha:

— Uma parte de mim sempre será a sua menininha.

Ele retribui com um na minha cabeça

— Está bem.

A cerimonialista contratada às pressas faz um sinal

questionando se estamos prontos e eu aceno em concordância.


Respiro fundo, à medida que é revelado o interior da igreja e sua

decoração em branco e lilases. É incrível o que o dinheiro pode


comprar, inclusive um lindo casamento “às pressas” em Vegas.
Preparado em apenas duas semanas.

Todos os bancos estão cheios com parentes e amigos, no


altar, minhas madrinhas sorriem: Leslie, Brooke, Ava, uma amiga de
infância e minha cunhada. Do outro lado, os padrinhos estão

igualmente alegres: James, Jackson, Logan, Carter e meu irmão.


Então, tem Charles. Meu homem sabe cumprir suas promessas,

além de ser o mais bonito, é o mais feliz também. O seu sorriso


equivale ao brilho do sol da Califórnia no ápice do verão.

Eu queria correr para me jogar em seus braços e proclamar


de uma vez por todas que sou a sua mulher, mas não posso largar
papai e atropelar os seus sobrinhos, que vão na frente, derrubando
pétalas no chão. Ando devagar, um passo de cada vez, sob as
notas de uma canção que estou compondo para ele. Não está
pronta, por isso é apenas a parte instrumental.

Como prometido, a mão do meu noivo está estendida na

minha direção, esperando por mim. Coloco a minha sobre a dele e é


tão pequena em comparação, mas, mesmo assim, encaixa

perfeitamente.

— Cuide bem dela — papai ordena em tom severo.

Charles nem pisca com a voz de aço do sogro antes de fazer

a promessa.

— Todos os dias, pelo resto da minha vida. — Ele leva minha


mão aos lábios e beija o dorso sem tirar os olhos de mim. A

intenção é tirar o véu depois, perto do final, mas ele murmura: —


Quero ver o seu rosto.

Charles afasta o tecido e não sei como, mas a sua face se

ilumina ainda mais ao ver a minha. “Perfeita”, diz em um sussurro


quase inaudível. Está difícil segurar as lágrimas de felicidade a cada

palavra dita pelo ministro vestido de Elvis Presley, porque não tem
graça casar em Vegas se não for por um.
Perco a batalha com o choro quando Noah entra no colo de
minha sobrinha, lindo em um meio fraque como o pai, ele brinca
com a caixa de veludo que tem o fecho de zíper para que meu

pequeno não consiga abrir. O que é uma boa ideia, porque está na
boca dele. Noah quer vir para o meu colo, mas mamãe o pega.

O ministro pergunta se temos os nossos próprios votos,

Logan se adianta para dar um papel ao irmão, mas Charles

dispensa, tendo memorizado seu discurso:

— Eu não sabia o que faltava em minha vida até te encontrar.

Você, sozinha, me completa, faz com que me sinta invencível e


capaz de conquistar o mundo para colocá-lo aos seus pés. E, se já

não tivesse me dado tanto, me presenteia com Noah, a nossa maior

preciosidade. Prometo cuidar de você e estar ao seu lado na saúde


e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe.

A batalha contra as lágrimas? É, perdi de fato. Ainda bem que

tenho os votos memorizados, senão eu jamais seria capaz de ler.

— Também prometo cuidar de você e estar ao seu lado na

saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos

separe, mas não porque é o que se deve dizer durante os votos,


mas porque é algo que sinto dentro de mim. Não me importo com
sua riqueza ou o poder que tem, o homem por trás do glamour é

quem eu necessito, foi por esse Charles que me apaixonei e é a ele


que me ofereço de corpo, alma e coração, com todo meu amor, até

que a morte nos separe.

O ministro Elvis faz os votos finais e diz:

— Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.

Aplausos irrompem do público e ele envolve minha cintura

com um braço, trazendo-me para junto de si. Seu perfume

masculino está somado a um leve aroma de morango, e eu nem sei


porquê, mas é gostoso. Quero me jogar nele e rolar em seu

perfume, pular a festa planejada no cassino e me trancar com ele na

suíte de lua de mel.

— Você é minha, já posso te arrastar para a caverna e te

trancar lá?

Olho para os lados, feliz por ninguém ter ouvido. Exceto,


talvez, pelo fotógrafo, que está perto registrando os nossos passos.

Ora, o pensamento de Charles não é muito diferente do meu.

— Sinto muito, seu plano não irá funcionar, tenho uma

reunião com o agente quando voltar da lua de mel.


Teremos cinco dias para nós e Noah ficará com meus pais na

mansão, enquanto que Ava e minha sogra estarão prontas para

ajudar a mimá-lo ainda mais.

— Droga, e agora? — Ele estala a língua, como se estivesse

chateado. — Como vou fazer com meu plano de te manter


trancafiada como escrava sexual?

— Vai ter que se contentar com as noites.

Ele fica pensativo por um instante e bate o dedo no queixo:

— Tudo bem, soa perfeito para mim.

E, realmente, é.
EPÍLOGO

Estamos na lateral do palco principal de um festival de


música, Emily Whitmore é um sucesso nacional — e, em breve, será

internacional também. Tocando uma mistura de country e pop, com


canções autorais, a maioria sobre nosso amor. Não apenas a parte
bonita, mas a dor e o sofrimento que percorremos para chegar ao

nível que estamos hoje. Noah bate palmas, acompanhando o ritmo.

Minha amada também compôs músicas sobre nosso filho,

inclusive uma foi o seu primeiro hit. Ela canta neste momento e
estica o braço, indicando a criança em meu colo com o sinal

universal para se aproximar. Deixo Noah no chão e ele corre com

passinhos apressados para a mãe.


Ele tem três anos agora e parece um homenzinho em jeans,

camiseta, tênis da Nike e abafadores de ouvido. A plateia vai à


loucura ao vê-lo! Noah, inclusive, arranha uma frase do refrão no

microfone. Ele puxou à mãe neste quesito, é um pequeno artista.

— Ela é foda — James grita acima do som alto da música.

Mal pisco, hipnotizado por minha família brilhando no palco. O


que fiz para ser tão sortudo?

— É, eu sei.

— Sério, ela é muito foda — meu irmão reitera quando Noah

fala com sua vozinha de criança, arrancando risos do público.

Acho que acabo de me apaixonar um pouco mais por eles! Eu

os amo tanto que às vezes sinto que não funciono direito se estou
por muito tempo longe dos meus amados. É um pedaço de mim que

faz muita falta. Por isso, tenho um plano em mente para a turnê

nacional de Emily que começa em poucos dias.

— Ela é, por isso preciso de você, James.

Meu irmão acena, mal ouvindo o que digo enquanto Emily

começa outra música, estando agachada no palco para ficar na

altura de Noah.
— Uh-hum, no que precisar.

— A única coisa que preciso é que você troque de lugar

comigo, quero que assuma a função de CEO.

Isso chama a sua atenção, que se vira para mim com

surpresa. James está formado e tem a idade que eu tinha quando


tomei as rédeas dos negócios. Sou o atual CEO, além de ser um

dos três sócios — junto com meus irmãos — e cuido da empresa,

enquanto ele tem a liberdade de viajar pelo país, visitar filiais e

buscar novos negócios.

Trabalho desde antes de terminar a universidade, é a minha

vez de ser livre e usufruir o dinheiro que tenho. O Texa’s Club bar

virou sucesso, ainda mais tendo sido o “berço” do estrelato de Emily.

A cerveja passou a ser vendida em território nacional e pretendemos

abrir em outros estados. Carter e sua bebida são sensação e o cara


está muito rico, mas não perdeu seu coração gigante e nem

abandonou Leslie ou Brooke. Uma se formou e teve ajuda financeira

para ser sua própria chefe e a outra obteve contatos dentro do bar

para novos testes e está prestes a estrelar uma série em um famoso

streaming.

— Você quer seguir Emily na turnê.


Não é uma pergunta ou acusação, apenas a constatação de

um fato. Dou de ombros em uma resposta silenciosa.

— Você terá Jackson para te ajudar e Logan aparece sempre.

Quero ir em turnê com ela usando nosso jatinho particular

com Noah, muito melhor e mais seguro do que enfrentar a estrada


de ônibus. Teremos tempo para curtir a cidade e o hotel entre

shows. Temos que aproveitar que Noah não está em idade escolar e
poderá nos acompanhar nesta aventura, depois veremos como será

feito.

— Tudo bem, irmão — diz sem pestanejar. — Eu cuido de


tudo.

Emily termina a última apresentação da noite, saindo do palco

com seus saltos altos e nosso filho no colo, acenando para as


milhares de pessoas que vieram para vê-la:

— Obrigada, Nova Iorque! Amo vocês!

Noah também repete o “amo vocês”. Abraço os dois assim


que chegam ao meu alcance na lateral do palco, longe dos olhos do

público, apesar de ainda sermos capazes de ouvir os aplausos.

— Arrasou, cunhada! — James faz dois sinais de “joinha” com


as mãos, mas está de olho na bunda da baixista, que passa com
uma piscadela.

Tiro Noah do seu colo, imaginando que esteja exausta, após


mais de hora em pé, cantando e dançando. Tenho Emily do meu
lado esquerdo, abraçada a mim e ele do direito, cercado pelos dois,

sinto-me em meu paraíso particular.

— O que achou do show?

— O melhor que já fez!

Seus lábios produzem não apenas os mais belos sons, como


os mais deliciosos beijos. Noah coloca a mão entre nossas bocas e
puxa o rosto da mãe para lhe beijar também. O menino consegue

ser mais ciumento do que eu!

— Você diz isso de todos.

— O que posso fazer se você melhora a cada apresentação?

Estou falando sério, mas ela acha que é brincadeira e bate no


meu ombro:

— Você é um… bobo!

Estamos evitando palavrões porque Noah repete tudo que


escuta. Eu levanto a mão esquerda para lhe mostrar a aliança:

— Posso até ser, mas sou o seu bobo e para sempre.


Ela sorri com suavidade e nos abraça mais apertado:

— Sempre e eternamente, meu amor.

Meu coração se enche de alegria e paz, não importa se estou

em uma mansão, apartamento, hotel ou na lateral de um palco,


desde que esteja com Noah e Emily, eu me sinto em casa. Porque
com eles sou completo.
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V. GUEDES

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Não planejei me tornar uma enganadora de homens, jamais


foi algo que almejei, mas foi o que aconteceu. Comecei com a

necessidade de criar um perfil falso para ter a liberdade de comentar


e curtir postagens nas redes sociais sem sofrer represálias, porém
me perdi no personagem. Sou jornalista e escrever está enraizado
em mim, um hobby que sempre tive, apesar de nunca ter sido capaz

de finalizar um livro.

Através de Paola Espinosa, realizei o sonho de dar à vida a


alguém, ela não é apenas um fake. Tem família, cachorro, um

afilhado fofo que cresceu ao longo dos anos — e acabou de ter sua

festa do quinto aniversário —, sonhos, carreira e dicas engraçadas


para os seguidores. É um pouco triste que a vida dela seja mais

divertida que a minha. E, o mais importante, possui três namorados!

Não que tenha encontrado com eles ao vivo, uma vez que é
impossível. Afinal, ela não existe de verdade.
Borrifo uma nuvem de perfume acima de mim e confiro a

maquiagem no espelho, aprovando o resultado. Paola é mais bonita


do que eu, uma mulher nota dez. Quanto a mim, em dias que a

minha autoestima está, de fato, em alta, sou uma oito. Na TPM, de

mau humor e com espinhas pipocando na pele, não passo de seis e


meio nem com muito esforço.

Sorrio para o meu reflexo, me sentindo a maior maquiavélica

que já existiu desde que Maquiavel ainda era vivo. Paola convenceu
o meu chefe a dar uma chance maior à jovem jornalista. Eu o

manipulei, levando-o a achar que foi ideia dele. E, sim, Olavo

Bittencourt, CEO da revista Esporte & Ação, a maior da área e com


um site que dava todas as notícias quentes em tempo real, é um

dos pretendentes de Paola.

Sete meses atrás, eu estava muito irritada com o meu chefe

sendo um grosseirão idiota quando decidi que iria brincar com ele.

Sendo um homem de meia idade recém-divorciado, foi alvo fácil

para a jovem insinuante que não parava de elogiar o quão belo são
os seus olhos azuis, os cabelos pretos riscados de cinza e o

impressionante porte austero.


Para ser sincera, ele é tudo isso mesmo. E se fosse qualquer
outra pessoa e não meu superior, estaria mais do que disposta a

tornar as coisas entre nós em algo físico. Às vezes, me pergunto

qual seria a sua reação se soubesse que a mulher que ele chama

de “amor” está a uma porta de distância do seu quarto de hotel.

Deixando tais pensamentos desnecessários de lado, agarro

minha bolsa e tablet para sair em direção ao elevador. Eu e meu


chefe viemos para Mônaco por causa do Grande Prêmio da Fórmula

1. Ele com o intuito de assistir e se divertir, eu para trabalhar. Por

pouco não cantarolo no corredor do resort, esta é a oportunidade da

minha vida, a chance de crescer no emprego.

Dane-se! Estou feliz, observo os arredores, não tem mais


ninguém. Aproveito para assobiar a música que toca na televisão

sempre que mostrava um piloto brasileiro como vencedor. Falando

nisso… Rubel Mancini é o novo queridinho da Fórmula 1, estreante

na Ferrari, está fazendo a melhor campanha da temporada e já virou

febre nacional.

Dois anos mais jovem do que eu, alto, loiro e com um


tanquinho lambível de seis gominhos que é sonho de consumo de

muita gente, Rub, como costuma ser chamado, tem um fã clube


extenso. A quantidade de vitórias consecutivas o tornou um tanto

convencido, se fosse um desenho animado, seria o relâmpago


McQueen no primeiro filme de Carros.

Ele foi babaca com uma amiga minha, Natália, durante uma
coletiva de imprensa dois meses atrás. Então, usei os contatos que
tinha para que se tornasse mais uma vítima de Paola e suas

palavras de incentivo. Ela é quase a líder de torcida particular dele,


uma garota virginal que está esperando o momento certo para ser

deflorada.

Coitado dele! Sem perceber, me dá pequenas dicas e

informações das corridas e da Ferrari porque a doce Paola não


entende nada sobre carros e Fórmula 1. Não é culpa minha se ele é

muito gentil em lhe contar como as corridas funcionam e tirar as


suas dúvidas.

Sei que muita gente me julgaria se soubesse o que faço, mas


uso as armas que tenho para crescer na profissão. O mundo dos
esportes é dominado pelos homens, estou apenas equilibrando a

balança. Sou uma impostora, o que faço é um catfish ao me passar


por outra pessoas e enganar os meus contatos emocionalmente,

mas tenho limites e nunca pedi dinheiro. Apesar de ter um aumento


de salário ao me tornar repórter de campo com a ajuda de minhas

atividades…

É um crime sem vítimas, no entanto. Eles têm o que

merecem! O elevador apita no meu andar e as portas cromadas se


abrem, argh! O assobio alegre morre assim que vejo quem está

dentro. Ao contrário de mim, que mudo a expressão para uma


carranca de desgosto, Arturo Freitas abre um amplo sorriso em sua
bela face de queixo quadrado e maçãs do rosto altas. Ele se formou

um semestre antes de mim e desde que ajudou a sua turma no


trote, jogando uma mistura de leite, farinha e ovo na minha cara e

nos outros “feras” de jornalismo, o odeio.

Com Arturo, a gostosona Paola Espinosa fecha a trindade de

namorados. Além do prazer de me vingar dele, consigo informações


sobre a revista concorrente porque o idiota adora se gabar.

— As máquinas correndo rápido na pista são os carros, ok?


Cuidado para não ser atropelada.

Em resposta, estendo o dedo do meio. Zero peso na


consciência, penso. Ao mesmo tempo, no entanto, lembro de

algumas confidências pessoais que não só ele, mas todos os três já


me contaram.
— Que falta de educação, Helô — insiste em fazer contato, se
inclinando para perto.

Puta merda, não sente o perfume dele e ignora a palpitação

no peito. É ansiedade pré-evento. Ele é um idiota que gosta de se


gabar, mas tem momentos que mostra um outro lado, mais sincero,

que às vezes eu tenho a impressão que apenas Paola conhece.

— É Heloísa para você. — Viro-me para ele, encarando os

seus escuros olhos e me forço a não cair em tentação. Seus


cabelos que antes ostentavam longos fios castanho-escuros, de

garoto hipster que curte esportes radicais e natureza, estão mais


curtos, espetados para cima. Eles deixam sua beleza mais à mostra.
— Cuide-se, Arturo. Estou pronta para assumir o seu lugar — digo

assim que a porta se abre e escapo do espaço apertado como se o


próprio diabo estivesse no meu encalço.

Ele ri e me segue logo atrás:

— Sei não, meu avô costumava dizer que quem tem bunda

grande é preguiçoso.

Qualquer sentimento bom se esvai de imediato e, desta vez,

não faço nenhum gesto obsceno porque o meu chefe está me


esperando com os braços cruzados e uma expressão de poucos
amigos.

— Está cinco minutos atrasada — fala, após dar um breve

aceno de reconhecimento a Arturo.

— O repórter da concorrência prendeu o elevador, senhor, por


isso demorou.

Pode ser mentira ou não… jamais saberei. O CEO da


Esportes & Ação me encara de cima a baixo, de uma forma que fico

na dúvida se é lisonjeiro ou não. A minha escolha de roupas é uma

camisa de botão e uma calça de linho ajustada, com salto alto preto

de sola vermelha. Profissional e elegante, sem nada demais, porém,


não há muito que eu possa fazer sobre os meus seios que

preenchem bem a camisa.

— Vamos, não podemos nos atrasar e ainda temos que tomar

o café da manhã.

O fotógrafo da revista, Acácio, se junta a nós e enlaça o braço

com o meu.

— Você está gostosa, essa sua roupa deveria ser proibida —

sussurra em meu ouvido, mas não me ofendo. Ele tem a mania de


dizer o que pensa sem muito filtro. — Se eu gostasse de mulher,

você seria a primeira opção.

— Continuarei solteira e na fila, então.

A minha resposta de praxe o faz rir. Cacá, como todos o

chamam, é como eu, sempre alguns quilos a mais do que o peso

sonhado. O meu sendo mais distribuído na bunda e seios, o dele na


barriga e, segundo o próprio, no pau. Nunca vi para me certificar.

Um movimento na saída do restaurante do hotel chama minha

atenção, algumas meninas dão gritinhos e tiram fotos. Por cima do


ombro de Olavo, vejo Rubel assinando guardanapos de papel, com

Arturo filmando a algazarra com o seu celular. Cacá saca sua

câmera, ele nunca sai sem ela, e começa a tirar fotos. Mais tarde

terei que redigir a notícia sobre “astro da Fórmula 1 atacado no café


da manhã por fãs adolescentes”. Antes de se afastar, no entanto,

ele me provoca baixinho para que ninguém mais possa ouvir.

— Seus três mosqueteiros estão aqui, o que vai fazer sobre

isso, D’Artagnan?

Durante uma noite de fraqueza em que a bebida me fez abrir

a boca mais do que devia, contei sobre Paola e minhas dúvidas em

relação à legitimidade de fazer catfish para ter benefícios, Acácio


achou o máximo e virou meu confidente. Por isso, quando falamos

sobre isso, usamos o código dos mosqueteiros para ninguém mais

entender.

Olavo e Arturo cumprimentam Rubel, o meu chefe estende a

mão para mim, chamando-me para me apresentar:

— Esta é minha repórter em ascensão, Heloísa Moreira.

— É um prazer conhecê-la. — Ele beija o dorso da minha


mão.

Não lembro nem de mover o braço para que consiga tal

intento. Meu coração está a ponto de saltar pela boca, as mãos

tremem, mas disfarço o nervosismo. Os três em um único lugar e eu

no meio. Todos os pesadelos que já tive com eles descobrindo a


verdade passam por meu cérebro e a primeira coisa que sai da

minha boca é o mais imbecil que eu poderia falar.

— Estou com fome.

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DOS GÊMEOS PERDIDOS DO
MAGNATA

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— Mamã, mamã!

Meus gêmeos vêm correndo em roupas pesadas de frio, com


casacos grossos. Clary e Aiden estão com um ano e meio, adoram

correr e brincar pela mansão. A casa é o parque de diversões


pessoal deles. Ainda bem que temos babá ou eu não aguentaria o

ritmo dos dois, estando grávida de seis meses.

É inverno, mas moramos em São Francisco e isso significa


que apesar dos vento frio que diminui a temperatura, não costuma

nevar. Eles devem estar cozinhando embaixo do casaco grosso,

luvas, gorro, calça de moletom e cachecol.

— O que estão aprontando? — Eu me sento na ponta da


cama e desfaço o nó do cachecol rosa de Clary.

Com certeza, não foi feito pelos pequenos, mas a menina

foge do meu alcance, sem querer se desfazer do traje. Meu menino


bate palmas e dá pulinhos:

— Qué neve!

Bem, isso será um problema. A neve é um evento tão raro


que só acontece a cada década ou mais em São Francisco.

— Não temos muita neve por aqui, meus amores.

Antes que eu possa descobrir um jeito de explicar isso para

duas crianças pequenas a diferença entre as regiões geográficas,


clima e temperatura.

— Bana! — Ambos pulam com animação.

O que é isso? Os gêmeos não param de saltar sem sair do

lugar, repetindo “bana” o tempo inteiro. Por um momento, penso que

estão falando de banana, mas não parece ser o caso. Então, Clary

solta um “papá, bana”, Sei a quem ir para descobrir uma resposta,


seguro as mãos deles, um de cada lado e chamo por Logan.

Encontro meu marido no escritório no primeiro andar, parecendo

inocente e ocupado em sua mesa de trabalho.

— Amor, o que é “bana”?

Ele mexe na gravata e passa as mãos pelos cabelos, em um

tique nervoso. Sei que está aprontando algo. Logan é um marido e


pai atencioso, às vezes atencioso demais, e tem dificuldade de dizer
não para os pequenos. Meu marido tem pulso firme no trabalho,

mas em casa ele que recebe ordens dos filhos. Quero ver como

será na adolescência! Pelo menos, tem a mim para equilibrar.

— Vocês contaram? — Estreia os olhos para as crianças que

sorriam e, espertos como são, saem correndo com seus passinhos

rápidos de volta para Julie, grande amiga e a babá favorita deles. —


Eles assistiram Frozen e querem ver neve, fazer um Olaf. Tenho

alguns assuntos a resolver em Carson City e podemos ficar na

cabana em Lake Tahoe, já está coberto de neve…

Até parece que o trabalho não passa de uma desculpa!

— Você é incapaz de dizer não.

Não estou brava, apenas quero fazê-lo admitir que é um

papai babão.

— Que mentira! — Ele se levanta e dá a volta na mesa, para

envolver minha cintura com seu braço. Tenho como resistir? Não!
Eu me perco nos seus olhos azuis e perfume masculino. Conheço

Logan desde que ele era um adolescente, uma vez que minha mãe

era cozinheira da casa dele e eu fui sua funcionária também. Eu me


apaixonava um pouco a cada dia que o via, na verdade, faço isso

até hoje. — Vetei o sorvete três semanas para trás.

É óbvio que ele diz isso com os lábios em meu pescoço,

complicado conviver com um homem que sabe meu ponto fraco. Eu


me derreto e tenho dificuldade de lembrar meus argumentos:

— Porque eles estavam com dor na garganta e sua mãe te


convenceu que faria mal.

— Não deixei eles fugirem da vacina.

Isso me faz gargalhar e eu jogo meus braços ao redor dos

seus ombros, brincando com a parte de trás dos cabelos castanhos


aloirados. Não tem como unir nossos corpos de vez, como antes,

porque minha barriga de seis meses está no meio. Logan não


acompanhou a gravidez dos gêmeos, tendo conhecido-os apenas

quando tinham oito meses. Talvez seja por isso que ele tenha
dificuldade em dizer não, porque queira compensar o tempo
perdido.

O que é desnecessário, esse homem é mais presente do que


muito pai que jamais esteve longe do filho.

— Amor, você os colocou no carro e tentou escapar porque


ouviu o choro de um bebê… — Faço uma pausa para me impedir de
rir. — Que nem era um dos nossos!

Fomos aplicar a vacina no horário marcado, mas tinha um


bebezinho sendo atendido antes. O neném chorou na outra sala,

Logan agarrou os gêmeos, colocando um de cada lado embaixo do


braço, e fugiu em uma velocidade que daria inveja ao Usain Bolt. Eu

e as enfermeiras ficamos tão chocadas que não tivemos reação.

— Foi instinto… — Ele fecha a porta atrás de mim e me

pressiona com seu corpo contra ela. — E eu trouxe eles de volta.

— Quando eles forem adolescentes…

— Relaxa, amor! Vamos fazer uns bonecos de neve, o que


pode dar errado?

Logan me beija, fazendo-me esquecer as objeções por um


momento. De fato, o que pode dar errado?

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LEIA UM TRECHO DE MEU EX-
MELHOR AMIGO

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Meus dias estavam uma correria infernal. Quando eu ainda frequentava a


universidade, achei que seria uma advogada de renome, juíza ou promotora pública.

Sonhei com grandes casos, achei que traria justiça ao mundo. Por diversas vezes me
imaginei bradando no tribunal sobre o direito criminal e a impunidade humana. Salvando

criancinhas e mandando criminosos para a cadeia.

O máximo que eu fazia era salvar o meu chefe de desaparecer em uma pilha de

papéis.

Afinal, era eu quem ficava afundada na papelada o dia todo.

Ser assistente era uma droga. Ser assistente da assistente era pior ainda. Minha

vida tinha uma quantidade exata de zero emoções. A última coisa mais emocionante que

fiz foi deixar a minha carteira de trabalho no Recursos Humanos e eles a assinaram.

Quando fui efetivada na empresa em que estagiei, achei que tinha conseguido a
sorte grande e que logo me tornaria mais uma advogada ricaça como tantas que
circulavam por ali. Haja ilusão! Mesmo formada e aprovada no exame de ordem, eu não
passava de uma estagiária diplomada cuja maior função era passar o dia todo carimbando
documentos. Bati a cabeça contra a escrivaninha.

— Ai! — Esfreguei a pele perto da linha do cabelo.


— Isso é que acontece quando você bate a testa contra a madeira. — Joana, minha
amiga e colega de trabalho acrescentou mais duas pastas ao material acumulado em

minha mesa. — O chefe avisou que esses tinham urgência.

Caramba!

Tudo para aquele filho da puta era em caráter de urgência, menos ser um homem
decente que não traía a esposa. Para isto, ele não tinha pressa alguma. Apontei para os
documentos do meu lado esquerdo.

— Ele falou que esses eram importantíssimos também.

Ela deu de ombros.

— Olha, eu te ajudaria, mas… — Joana não precisava falar nada, o franzir em sua
testa dizia tudo. Também estava atolada de trabalho. Precisávamos de mais funcionários e

isso era um fato, se o patrão deixasse de ser tão pão-duro, poderia contratar mais uma ou
duas secretárias de confiança. — Não vai atender?

Só então percebi que a minha amiga não deixou a frase pendendo no ar, ela só
mudou o seu foco para o meu celular, que piscava com insistência em cima da mesa.

Merda! Eu tinha colocado no silencioso sem vibração e havia uma dezena de chamadas
perdidas da minha mãe. Ela nunca me ligava a esta hora! Ainda mais agora, que estava
em um retiro espiritual para limpar a alma de toda a poluição e tecnologia. Só conseguia
imaginá-la fazendo colar de miçangas e flores o dia todo.

Não precisei cumprimentá-la, assim que coloquei o telefone junto ao meu ouvido, a
escutei disparar do outro lado da linha:

— É a tia Dulce, ela está hospitalizada e… — Antes que terminasse de falar, eu já


estava em pé e pegando a minha bolsa.

Foda-se o trabalho, a papelada e o pau no cu do meu chefe. Se ele me demitisse,


talvez estivesse fazendo um favor. Gritei um “Dulce” e “hospital” para Joana como
explicação para a minha partida repentina, sem me importar com o trabalho
importantíssimo que ficaria acumulado para o dia seguinte.

Minhas mãos suavam contra o volante à medida que eu avançava pelas ruas até o
Memorial Santo Antônio. Tia Dulce era vizinha da minha casa desde antes de eu vir ao
mundo. Não era minha parente de sangue, porém sua importância era maior do que muitas
primas e outras tias que eu tinha espalhadas pelo Brasil. Ela foi babá da minha mãe
quando nova, também cuidou de mim. Com setenta e seis anos, havia tomado conta,

através de gerações, de diversas crianças da rua. Se fosse uma casa, seria tombada como
o nosso patrimônio histórico.

Vê-la adoentada não era algo que eu gostaria de presenciar, mas não a deixaria
sozinha em um momento desses. Sabia que ela costumava exagerar e tinha uma leve
tendência à hipocondria, porém eu tinha medo de não dar a devida atenção. E se fosse
dessa vez que ela realmente precisaria de ajuda?

Após me identificar na recepção e ameaçar a enfermeira com um processo se ela


não me deixasse entrar de imediato, consegui a liberação para ver tia Dulce. Com o
coração acelerado, girei a maçaneta e fiquei aliviada ao perceber que ela estava
respirando bem, sem ajuda de aparelhos, e acordada, olhando para a televisão com uma

expressão de tédio que mudou para de coitadinha.

— Oh, minha criança! Não acredito que veio até aqui… — disse com sua melhor voz

de vovó abandonada. Ela esticou a mão para mim e eu a segurei entre os meus dedos,
sentindo a pele quente, apesar do ar condicionado. — Não precisava ter se dado ao
trabalho de vir checar se eu bati as botas.

— Ora, deixe de bobagem! A senhora ainda tem muito a viver.

Tia Dulce começou a falar que quando ligou para minha mãe era só para avisar caso
ela precisasse passar os últimos dos seus dias no hospital, pois assim não teria ninguém
para alimentar Erasmo Carlos. Seu cachorro, não o cantor. Eu sorri, condescendente. Nós
duas sabíamos que ela tinha ligado porque morria de medo de dar o seu “suspiro final”
sozinha.

Era o grande pavor daquela mulher destemida que não teve medo de trabalhar e
ficar solteira por vontade própria, apesar das muitas propostas em sua juventude. Ela era
um pássaro que não podia ser domado em uma época na qual as mulheres se viam presas
no ciclo casamento-filho. Uma visionária nascida no século passado que ostentava um
rastafari impressionante quando as mulheres negras se viam quase obrigadas a alisar os
cabelos para conseguir emprego e agora, na velhice, ostentava com orgulho os seus lindos
cachos brancos com cinza.

— Quando a minha mãe sentenciou que eu morreria sozinha porque nunca tive
filhos, respondi que os meus pequenos jamais me abandonariam.

— E estava certa, nunca vou te deixar. — Beijei a sua testa, sentindo o calor ali
também. Ela estava febril. — O que você teve?

— Estou com febre, tosse e catarro…

— Ah, então é um resfriado? — A interrompi.

— Isso foi o que o médico disse! — Ela fez um bico e revirou os olhos. — Eu acho
que é coronavírus, vi os sintomas e são os mesmos.

Pressionei meus lábios juntos, segurando a vontade de rir. Era tão típico dela!
Relaxei, já sabia que era um alarme falso, como a unha encravada que tinha o risco de
gangrenar o pé inteiro, a dor de cabeça que já era um provável derrame e por aí ia.

Só louco a contradizeria! Se não a levasse a sério, era bronca na certa.

— E onde a senhora teria entrado em contado com alguém contaminado?

— Não é óbvio? — Olhou como se eu fosse louca. — O colar que você comprou da
China! Chegou antes de ontem.
Eu tive que rir. Ela quase enlouqueceu durante a pandemia, mas os dias de
quarentena haviam acabado. Os cientistas descobriram um meio de controlar o covid-19,
além de nos imunizar. Alguns setores ainda sentiam o reflexo do caos que gerou pós-surto,
porém a vida, de modo geral, tinha voltado ao normal.

— Tia, pelo amor de Deus, a senhora tomou a vacina, lembra? Além disso, esse
colar estava parado em Curitiba há uns seis meses e o coronavírus não dura dezoito horas
fora do corpo. — Ao menos, esperava que não estivesse falando besteira. Tinha ouvido
isso em algum lugar. A porta se abriu e pelo reflexo na janela vi que era um homem de

branco, deveria ser o médico. Ele, sem dúvidas, poderia explicar bem melhor do que eu. —
Não é verdade, doutor? — falei me virando para o recém-chegado. — O vírus não dura
mais do que…

A minha voz morreu quando me vi frente a frente com um homem que eu pensei que
jamais veria de novo. O seu sorriso amistoso era uma oposição ao cenho franzido. Eu tinha
me enganado, não era um jaleco que ele vestia. E sim, uma camisa de botão que não fazia
muito esforço em esconder os músculos embaixo deles.

— Não sei, mas deve ser. — Deu de ombros. — De nós dois, você sempre foi a mais
esperta.

Enquanto a minha mente rodopiava com um bilhão de pensamentos aleatórios, a


maioria sendo algo em torno de: “o que diabos ele está fazendo aqui?”, o homem que um
dia foi o meu melhor amigo passou por mim e entregou o copo de plástico para ela.

— Trouxe um chá de camomila, tia. — Ele entregou o copo com maior cuidado,
ajudando a ficar sentada primeiro.

Hum… Ela não estava surpresa.

— Eu queria café… — resmungou.

— A enfermeira disse que chá era melhor.


— Só se for para ela!

Apesar das reclamações, ela começou a bebericar. Ele me olhou com uma
sobrancelha levantada, achando divertido as reclamações da velhinha traidora. Fazia uns
dez minutos que eu estava no quarto e ela não teve a decência de me contar que tínhamos
visita? De que já havia um outro alguém a acompanhando?

— Quando você voltou? — Não quis fazer com que soasse como uma acusação,
mas foi assim que saiu.

— Há tempo suficiente para encontrá-la sozinha e com febre em cima de uma cama.

Ele também fez soar como uma acusação, mas tinha sido de propósito.

— Eu estava trabalhando — defendi-me.

— Eu também.

Cruzei os braços.

— E por quanto tempo teremos a honra de sua presença? — Sabia que estava
sendo grosseira, mas aquele era Matheus, o meu ex-vizinho e ex-melhor amigo que me
magoou muito ao ir embora e nunca mais voltar.

Até agora.

— Não se preocupe, não pretendo ficar tempo suficiente para você se cansar da
minha cara.

Precisava dar certo crédito a ele. A sua voz tinha ficado mais sexy com a idade,
assim como os traços lindos do queixo quadrado aos olhos azuis. Já era belo na
adolescência, mas a barba por fazer dava um bom tom de mistério. Apreciar a sua beleza
máscula só me deixava mais puta de raiva.

— Quase não te reconheci com tanto pelo na cara. — Bati o dedo no queixo e
estreitei os olhos, pensativa. — Finalmente ganhou um pouco de testosterona e perdeu a
aparência de bebê.

Antes que ele pudesse retrucar, tia Dulce estalou a língua:

— Tá louca, menina? Esqueceu que te mostrei a foto dele surfando no Havaí?

Droga! Agora quem ostentava um sorriso enorme — e presunçoso — era ele. Meu
ombro se levantou com um deboche equiparado ao tom da minha voz.

— Ah, é! Eu já tinha até esquecido — por favor, tia Dulce, fique quieta —, sabe era
uma foto bonita, mas tão comum…

— Comum?! — ela disse com surpresa. — Se ele não fosse como um filho para mim
e eu tivesse uns quarenta anos a menos, eu…

A interrompi:

— Então, quando posso levá-la para casa?

Seu lado hipocondríaco foi ativado.

— Acho que vão me liberar em uma hora e aí você pode nos dar uma carona para
casa.

— Nos?

Olhei para Matheus, que ainda estava com o sorriso matador nos lábios.

— Tia Dulce me convidou para passar uns dias em sua casa, estava na dúvida se

aceitava ou não, mas decidi ficar um pouco mais. Espero que não seja um problema para
você.

Oh.

— E o que você veio fazer aqui? — Tentei esconder a minha curiosidade, porém foi

mais forte do que eu.


Ele estava ainda mais bonito. Desgraçado! Por que não poderia ser como um

daqueles homens que envelheciam mal e se tornavam adultos esquisitos? Seria tão mais
fácil. Ele se aproximou e eu foquei a minha atenção no botão da sua camisa. Era de um

tom perolado e brilhava sob a luz, com certeza mais seguro do que encarar o seu rosto tão
perto do meu.

— Os motivos são vários, devo passar na sua casa mais tarde para listar um por
um? — questionou em um sussurro que tia Dulce não pôde ouvir, mas que, sem dúvidas,

estava se esticando para escutar.

— Não! De jeito nenhum, não é da minha conta mesmo... — Minha resposta enfática
demais aumentou o seu ar de presunção. Queria saber o que se passava em sua cabeça.

— Mais tarde passo para fazer uma visita — voltei-me para a nossa tia — e ver como a
senhora está.

— Mal posso esperar — murmurou.

Ai, meu Deus!

Matheus seria meu vizinho outra vez? Meu coração trovejou em meu peito. Seria
apenas por uns dias. Eu não achava que estava pronta para tê-lo em minha vida… e

perdê-lo de novo.

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SOBRE A AUTORA

Aretha V. Guedes é casada, tem um filho e formada em


Ciências biológicas e Odontologia. Começou a escrever em 2015 o

romance Elle — música, amor e amizade, o primeiro da Série Jack


Rock, que foi destaque em Romance no Wattpad. Com milhões de
leituras na Amazon, é autora de diversos títulos como O CEO, a
virgem e o velho maluco que quer um neto, Meu ex-melhor amigo,

Filha da máfia, Um bebê para o Natal, A promessa do sheik, Alfa e


ômega, Reich – entre vampiros e deuses, Obstinada, Khalil — o
segundo herdeiro do sheik, Amor em desafio, entre outros. Além de

bestseller e de ter figurado na lista de mais vendidos da Veja com o


box da trilogia Elle, também foi vencedora de dois prêmios

internacionais Wattys e do concurso Luvbook/Ler Editorial, com o


livro Amigos para Sempre. É autora das editoras Qualis, Mavlis e

Grupo Editorial Portal. Siga-a nas redes sociais para ficar por dentro

das novidades, promoções e sorteios: @arethavguedes.

Whatsapp (83) 99387-1499


[1]
Leia Os gêmeos perdidos do magnata na Amazon: https://amzn.to/3tTuJDh
[2]
Boyfriend = namorado (inglês)

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