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Copyright © 2021 Diane Bergher

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Revisão: Camille Chiquetti


Preparação de texto: Julia Lollo
Capa e design gráfico: Layce Design
Diagramação: Layce Design

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Nota da autora
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Contato
Escrever sobre o amor é algo que me instiga e me desafia todos os dias
enquanto escritora. Olhar para a vida e acompanhar um mundo em constante
mudança, no qual homens e mulheres desejam encontrar sua cara metade, é
uma tarefa que me toca.
Criar enredos em que o amor acontece é como fazer a mágica acontecer
para alimentar nossas almas sedentas por amor.
Espero, querida leitora, que meus meninos toquem o seu coração de tal
maneira que você sinta borboletas no estômago e sorria pela felicidade lhe
tocar por algumas horas, distraindo-a de um mundo que muitas vezes é difícil
e atribulado demais.

Com carinho,
Diane Bergher.
O dia havia amanhecido nublado na cidade que não dormia, seria um
típico dia emburrado, como diziam os mais velhos. E Zyan estava mais
agitado, apesar de ter acordado antes dos primeiros raios de sol para treinar.
Gostava de correr no Ibirapuera antes de encarar o treino pesado dentro da
academia de seu apartamento. Apesar de não subir a um ringue há anos, ele
cuidava dos músculos com a mesma disciplina de um monge. A prática
esportiva o ajudava a controlar o gênio rebelde que outrora o fizera se
envolver em brigas desnecessárias.
Bem, nem sempre as brigas foram desnecessárias, como aquela
primeira em que salvou uma garotinha cega de ser abusada.
Corina.
A menina cujo rosto sempre lhe fizeram lembrar um anjo, que havia
crescido e se tornado a fonte de seus pensamentos mais impuros. Claro que
Zyan não era um homem religioso e as aulas de catecismo a que foi obrigado
a assistir enquanto vivia no orfanato não lhe deram uma exata compreensão
da aparência de um anjo, mas se eles existissem, teriam todos a aparência
impressionante de Corina Lopes.
A reencontrou em uma loja de chocolates da Avenida Paulista e não
conseguiu mais se afastar dela. Ela agia em seu juízo como um ímã, talvez
porque despertasse seu lado mais protetor. Zyan não sabia dizer o que a fazia
ser tão incrível, mas ela era, e o deixava ansioso quando não estavam juntos,
a ponto de ficar desesperado quando não respondia ou demorava para
responder às suas mensagens.
Como hoje, em que não respondeu às suas mensagens como costumava
fazer todas as manhãs desde que se reencontraram. E o dia nublado não
significava nada quando ela o estava matando de preocupação. Mas como
não se preocupar quando vivia sozinha em um lugar não tão conhecido do
bairro, cuja vizinhança não era das mais amigáveis, e que a fazia pegar duas
conduções para chegar ao trabalho? Se ao menos ela aceitasse sua ajuda,
tudo poderia ser mais simples e fácil, para ela e para ele.
— Não prestou atenção em um gráfico que mostrei a você. – Dimas
jogou a caneta em cima da mesa. O barulho tirou Zyan do transe em que
havia sido colocado porque não conseguia parar de pensar em Corina. —
Como pode decidir qual o melhor investimento se não presta atenção no que
apresento para você?
Zyan girou na cadeira e passou a mão pela careca. Dimas costumava ser
um homem frio e calculista – e não era por acaso que o chamavam de
coração de gelo –, mas ele precisava ser assim se quisesse ter sucesso na
profissão que escolheu. A especulação de valores exigia nervos de aço, e
Zyan estava mais do que conformado de que não servia para se envolver
muito além do que o amigo aconselhava. Era muito passional para tais
responsabilidades.
— Você estuda e me aconselha – respondeu a Dimas. — É o gênio
quando o assunto é fazer meu dinheiro triplicar.
Dimas se sentou em uma das cadeiras e relaxou por um instante. Ele não
precisava agir sempre como um maldito homem de negócios perto daquele
que sempre considerou como um irmão mais velho. Ele e Zyan tinham uma
ligação especial, talvez porque haviam chegado juntos ao orfanato; não que
com os outros não acontecesse o mesmo, mas era com Zyan que ele mais
dividia coisas em comum.
Alex, Elon, Zyan, Dimas e Arlo sempre foram muito unidos, e isso
porque compartilhavam uma infância dividida entre orfanatos e famílias
provisórias. Há muito tempo os cinco haviam feito um pacto para vencerem
na vida, e trabalharam de sol a sol para isso, sem descanso, explorando suas
potencialidades ao máximo para enriquecer e fazer com que esse sonho se
tornasse realidade.
Zyan Ribeiro usou os prêmios que ganhou como pugilista para abrir
uma empresa de segurança, que rapidamente se tornou referência no Brasil
todo.
Alex Santos se tornou um astro do futebol e era um dos jogadores mais
bem pagos do mundo; mas eram a filha e a noiva que o faziam um homem
feliz.
Dimas Cardoso era o gênio da matemática e das finanças, e trabalhar
em um banco como estagiário só lhe aguçou a mente para abrir seu próprio
negócio, acumulando seu primeiro milhão antes dos 30 como corretor de
valores em um mercado ainda pouco explorado no Brasil.
Elon Valente se lançou no mundo da publicidade e se tornou o
queridinho da propaganda, colecionando contratos milionários.
Arlo Carvalho era o homem das festas e fez disso seu ganha-pão ao se
tornar o magnata do entretenimento, com uma rede de boates e bares
espalhados pelas principais capitais do país.
Eles eram ricos, poderosos e unidos por laços que o sangue não poderia
macular. Eles eram família e sempre estariam disponíveis um para o outro.
— O que está acontecendo? – perguntou Dimas. — Desde a festa de
noivado do Alex e da Juliana você anda aéreo. É a loirinha, não é?
Não adiantava negar o óbvio e Zyan concordou com a cabeça.
— Estou preocupado com ela... E um pouco inseguro – admitiu. —
Corina sempre responde às minhas mensagens me desejando um bom dia,
mas hoje não.
— Qual é, Zyan? Aprendi a paquerar com você – debochou o mais
jovem, cuja mente era como uma complicada fórmula matemática, quase
indecifrável para quem não se esforçasse. — Sempre foi minha referência
quando o assunto são as mulheres.
— Corina é diferente – fez uma pausa para beber um gole do café —,
gosto dela e não sei lidar direito com isso.
— Seja você, ué! – incentivou Dimas.
— Um ogro? – Zyan sacudiu a cabeça. — Não posso ser o que sempre
fui, Dimas. Corina é delicada e preciosa demais. Olhe para mim – ele ergueu
a mão e mostrou para o amigo —, uma mão minha é capaz de quebrá-la,
além de ela ser muito mais jovem que eu.
— Como se você pudesse quebrar uma mulher. Aliás, devo lembrá-lo
de que Corina é uma mulher como outra qualquer. Não é mais aquela menina
inocente, que precisava ser protegida o tempo todo. – Dimas foi prático.
— Não quero forçar – confessou o ex-pugilista. — Não quero que se
sinta obrigada, entende?!
— Bem, daí são outros quinhentos. Mas não acho que você possa
esperar que ela tome a iniciativa. Estão saindo há semanas, não estão?! Ela é
tímida, Zyan. Mas eu entendo você! Parece que temos o dom de complicar
tudo, talvez nossa criação entre orfanatos explique os motivos para
acabarmos nos afastando de quem ameaça dominar nossos corações.
— Fala da filha mais nova do gerente, não é? – Zyan parou de olhar
para o café dentro da xícara que estava entre suas mãos e encarou o amigo.
— Aquela menina deve ter sido a única a chegar perto de derreter seu
coração.
— É! – Dimas evitou o olhar do amigo, porque de Zyan ele não
conseguia esconder os segredos da alma. — Não era para ser com ela, talvez
com ninguém.
— Bem, você não tem muita moral para me dar conselhos, Dimas. Foi
covarde quando eu disse para você tentar – retrucou Zyan ao lembrar
daquela paixão platônica e atrapalhada que o amigo viveu quando estava na
faculdade.
— Estraguei tudo... e você sabe como me esforcei para que o estrago
acontecesse. Mas deve seguir seus próprios conselhos, irmão. Vou repetir o
que me disse há muitos anos: arrisque.
— Talvez esteja certo, mas Corina é especial... e como posso fazer dar
certo sem estragar tudo? – retrucou ele.
— Alyssa também era especial – Dimas divagou saudosista, mas ao
som do celular de Zyan se recompôs, retomando a postura de homem de gelo
que o deixou com a fama de predador quando o assunto eram as finanças. —
Que merda! Você sabe que odeio quando deixa o celular ligado. Aliás, onde
se meteram Elon e Arlo? Sei que Alex tinha treino e não viria, mas estamos
adiando essa reunião faz tempo, e possivelmente não vamos chegar a um
consenso hoje.
— Devem estar chegando – respondeu Zyan, levantando-se da cadeira.
Ele e os amigos iriam se reunir para decidir sobre um investimento em
conjunto, mas diante do aviso de um de seus seguranças de que Corina
passava por dificuldades, ele não poderia ficar.
— Está indo para onde? – Dimas o encarou quando percebeu que ele se
movimentava em direção à porta, sério.
— Corina precisa de mim – avisou. — Vocês podem decidir e depois
eu só assino embaixo.
— Qual é, Zyan? – reclamou Dimas.
— Confio inteiramente no seu julgamento, Dimas. Pode decidir, depois
eu faço a transferência – deu o assunto por encerrado e saiu sem perceber
que Arlo e Elon acabavam de chegar.
— O que deu nele? Parece que vai tirar alguém da forca ou apagar um
incêndio – perguntou Arlo.
— Quase isso! Quando uma certa loirinha de olhos azuis que não
enxerga está envolvida... – avisou Dimas, conformado com o fato de que
teria que levar os planos por conta e risco, empenhando seu próprio
patrimônio caso desse prejuízo o negócio que ele estava propondo. Embora
em algum momento Zyan precisaria colocar a cabeça no lugar para ouvi-lo.
— Mais um apaixonado?! – Elon riu.
— Apostam quanto que Zyan vai se casar até antes do que Alex? –
propôs Arlo, sorridente.
Corina sentia que a vida jamais pudesse ser delicada com ela. Não
bastasse nascer cega, o abandono a marcou para sempre. Mas se acostumou
com a cegueira, porque jamais havia visto o mundo conforme lhe descreviam
outras pessoas, colorido e mágico. O mundo de sombras a fazia se sentir
confortável, precisava admitir, e se contentava com as descrições que lhe
ofereciam, quando alguém tinha tempo para isso. Ao contrário do abandono,
com o qual jamais pudera se acostumar. Infelizmente, um parecia estar
intimamente ligado ao outro: a abandonavam porque a deficiência visual
costumava a discriminar.
Sua aparência agradável a levou para dentro de uma família que
desejava uma filha que lembrasse uma boneca, foi assim que a diretora do
orfanato lhe contou sobre a adoção. E ela foi feliz com os Lopes enquanto a
mãe adotiva viveu, uma mulher cujas mãos macias a confortavam quando o
mundo parecia ser perigoso demais para ela. Vítima do câncer, a deixou
quando tinha 15 anos, e a vida que o pai tentou dar a ela não conseguiu
compensar a ausência da figura materna. O irmão mais velho, filho biológico
dos Lopes, nunca a amou como membro da família, e isso os afastou ainda
mais quando o pai morreu atropelado alguns anos antes.
E assim Corina seguiu com sua vida, sozinha, empenhando-se em
sobreviver em um mundo que foi feito para pessoas perfeitas; não para
pessoas como ela, que apesar de terem outras habilidades, eram vistas como
fracassadas. Não que ela se sentisse fracassada, ao contrário disso, mas
estava cansada de provar que poderia ser mais do que uma pessoa pela qual
sentiam pena.
— Como pôde dar o apartamento de nossos pais como garantia de suas
dívidas com traficantes, Beto? – Corina segurou firme no celular adaptado
que ganhou de Zyan, considerando a ideia de chamá-lo para que a ajudasse
com o irmão drogado. — Não terei onde morar – queixou-se, como se ele
pudesse se compadecer.
— Se a mãe e o pai não tivessem adotado você, este apartamento seria
só meu – o irmão bradou. Corina notava pelo timbre de voz que ele estava
nervoso, o que não era uma novidade. Roberto costumava agir com violência
quando passava por um período de abstinência.
— Não vou sair daqui – ela teimou, mesmo que sentisse medo. Mas não
havia outra opção a não ser enfrentar seu destino, por mais cruel que fosse.
— O que ganho na loja não é suficiente para pagar um aluguel. E você está
me atrasando. – Ela temia que a demitissem por chegar atrasada.
Corina ergueu a cabeça tentando encontrá-lo e foi surpreendida pelas
mãos dele em seus braços.
— Você vai sair daqui sim, Corina – disse Roberto. — Não sou
obrigado a carregar um estorvo que não tem meu sangue.
Uma lágrima escorreu pelo rosto dela. Ela tentava compensar o ódio
que o irmão sentia agradecendo a Deus pelas pessoas boas que havia
colocado em seu caminho. Mas a dor que sentia por ser desprezada por
aquele que um dia ousou acreditar que era sua família a corroía por dentro.
Era uma dor difícil de ser superada.
— Me solte, você está me machucando – ela exigiu, mas ele não
afrouxava o aperto e isso começou a deixá-la desesperada.
Um latido de Chanel, seu cão-guia, e um estrondo na porta a assustaram.
Seriam os traficantes para quem o irmão devia? Jesus, a angústia não
deixava que o ar chegasse até os pulmões, impedindo-a de respirar direito, e
o coração ameaçava saltar pela boca. Ela tinha tanto ainda para viver,
principalmente agora que havia encontrado Zyan. Na verdade, eles haviam
se reencontrado, e ela se sentia especial perto dele.
— Tire as suas mãos podres de cima dela. – Era a voz de Zyan, ela
poderia conhecer seu timbre rouco e grave mesmo à distância. — Se afaste
de Corina – exigiu de novo. E de repente ela não sentia mais o aperto nos
braços, mas o leve roçar de dedos em seu rosto.
— Zyan, é você? – ela perguntou, espalmando as mãos pelo tórax dele,
reconhecendo o tecido de seu blazer e o perfume inconfundível que lembrava
uma brisa fresca depois da chuva.
— Sou eu, princesinha! – Ele a abraçou e a beijou na testa. — Você me
deixou louco de preocupação, Corina. Dei a você um celular adaptado para
que pudesse me chamar se precisasse.
— Eu fiquei atordoada quando meu irmão entrou aqui – ela confessou
entre lágrimas e ele quase se afastou dela para dar um fim naquele infeliz
que a fez chorar.
Zyan nunca foi conhecido pela parcimônia; e talvez por isso havia se
tornado um campeão de boxe, principalmente nos primeiros anos, quando a
fúria que sentia o impedia de pensar melhor antes de agir. Foi com a luta que
ele aprendeu a dominar seus piores instintos. E tudo isso graças a um
professor de educação física que teve no ensino médio, que o apresentou a
um olheiro. Os treinos pesados e a ânsia de crescer na vida deram a ele um
propósito, tornando-o o homem que era agora.
— O que fazemos com ele? – perguntou uma voz que Corina não
reconheceu.
Zyan notou sua confusão e decidiu acalmá-la.
— São meus homens, fique tranquila – garantiu, olhando para os
seguranças que o acompanharam até o edifício descascado da Freguesia do
Ó, dentro de um complexo de moradias populares construídas na década de
70. — Levem-no daqui e deem a ele o que quer para que fique longe de
Corina.
Ele sentiu a mão pequena dela em seu queixo.
— Se você der a ele o dinheiro de que precisa, ele vai voltar, Zyan.
Não faça isso! Ele foi a ruína do meu pai adotivo e, por Deus, não quero que
ele seja a sua. Não foi aqui que eu cresci, mas foi este apartamento que
sobrou depois de papai ter gastado tudo para tentar recuperá-lo do vício.
Zyan sorriu pela satisfação de saber que ela se importava com ele.
— Eu posso cuidar de você, Corina – ele disse, as mãos na cintura dela
significavam que jamais a deixaria enfrentar o destino sem sua proteção. —
Basta você deixar. Mas o que ele quer, afinal?
— O apartamento – ela respondeu.
— Então, será dele, porque você tem a mim... Sempre teve – ele disse,
voltando a olhar para Roberto, que era contido por dois brutamontes. — O
apartamento é seu, mas se voltar a importunar sua irmã, juro que coloco você
atrás das grades.
— Ela não é minha irmã. – Roberto cuspiu na direção de Corina.
E isso foi a gota d’água para Zyan, que em dois passos largos o
alcançou e o atingiu com um gancho de esquerda. O garoto magro e com
cabelos sujos não sabia com quem estava se metendo.
— Mudei de ideia, seu merda! O apartamento é de Corina e você vai
sumir daqui para nunca mais voltar. Ouse cruzar o caminho dela de novo que
enxergar o céu xadrez vai ser uma bênção para você, porque há coisas piores
que imagino fazer, bem piores – falou perto do ouvido dele. — Levem-no
daqui – ordenou em voz alta.
Ao se virar, a encontrou sentada no sofá puído abraçada em Chanel.
Zyan se ajoelhou diante dela e secou seus olhos.
— Vai ficar tudo bem – ele prometeu.
— Eu preciso ir trabalhar, estou atrasada – ela avisou, tentando
disfarçar a vergonha que sentia, embora o alívio de ele estar ali com ela a
deixasse menos agitada.
— Eu acho que você não está em condições de trabalhar hoje – disse
ele e se sentou ao lado dela. — Mas como sei que vai insistir em ir para o
trabalho, vou levá-la depois que se recuperar do susto.
— Você já fez muito por mim – ela fungou e encostou a cabeça no
ombro dele. — Mais uma vez você me salvou, Zyan. Nunca falamos a
respeito, mas eu lembro o que fez por mim quando aquele homem da igreja
tentou passar a mão por baixo do meu vestido. Foi você quem impediu que
ele abusasse de mim, e eu era tão pequena para entender o que estava
acontecendo...
Ela, então, levantou a cabeça e o capturou com o brilho azulado dos
seus olhos.
— Corina, eu jamais vou permitir que a machuquem.
— Mas eu devia aprender a me proteger sozinha – ela prosseguiu. —
Nem sempre você vai conseguir chegar a tempo.
— Por isso vou ficar sempre por perto – retrucou, os dedos
entrelaçados aos dela a confortavam. Aquela posição que costumavam ficar
era a preferida dele, quando ele se sentia parte do mundo de alguém. Corina
era sua calmaria.
— De que jeito, seu bobo? – Ela sorriu entre lágrimas. — Um dia você
vai arrumar uma mulher que vai lhe dar uma família e eu acho que ela não
vai me querer por perto.
Corina não deveria ter falado o que falou, mas não poderia desdizer o
que seu coração precisava confessar. Eles estavam se vendo há alguns
meses, e nas últimas semanas se encontravam com mais frequência, como se
fossem um casal, mas sem ser de fato, já que sequer haviam se beijado.
E, meu Deus, como ela adoraria beijá-lo, mas era tão tímida que tomar
a iniciativa era como cruzar o rio Tietê a nado; assim como a poluição a
impedia de nadar no rio, seu receio de que não a quisesse por ser cega a
impedia de tomar a iniciativa de beijá-lo.
Eles eram amigos e teria que se conformar com isso, tal qual se
conformou com a cegueira.
Zyan levou a mão pequena à boca e a beijou.
— Lembra do que conversamos no noivado de Alex e Juliana? – ele
perguntou e ela concordou. — Você me disse que adoraria que o amor
acontecesse novamente na nossa família torta.
Ela sorriu, acomodando-se melhor no estofado para que pudesse ficar
de frente para ele, uma perna embaixo do traseiro enquanto a outra
continuava para fora do estofado.
— Você tem a melhor família do mundo. Uma que você escolheu e não a
que escolheram para você. Desejo o melhor para cada um de vocês. – Ela
mordeu o lábio inferior e ele sentiu o corpo se acender só de pensar que
poderia tocar nos lábios dela, com os seus. — Eu desejo que o amor
aconteça para você, Zyan. – Mesmo que ela não fosse a escolhida, pensou.
— Eu também desejo, Corina. Mas quero que o amor aconteça com
você. – E deixou-se embalar pelo desejo que pulsava dentro dele, tocando-a
nos lábios com os seus, um leve roçar de lábios, de início, para que ela
pudesse se acostumar.
Corina soltou um suspiro longo, que foi abafado conforme ele a beijava,
sem pressa, para que o primeiro beijo deles se tornasse uma marca eterna em
seu coração. Ela tinha gosto de algodão doce e se moldava ao desejo dele
como outra jamais conseguira.
Era como se aquele reencontro tivesse sido escrito nas estrelas. E era
ainda mais perfeito do que da primeira vez, porque ele sabia o que queria
dessa vez, estava ciente da mulher maravilhosa que Corina era e ele, mais
maduro, poderia dar tudo o que ela quisesse, até mesmo seu coração.
De repente, ela estava no colo dele e o atrito do traseiro dela no pênis o
deixava ainda mais duro. Zyan temia assustá-la por ser incapaz de conter os
próprios instintos. Não desejava macular seu anjo de candura. Jamais.
Mas ela parecia mais segura que ele quando desgrudou da boca dele e o
acariciou nos lábios com a ponta dos dedos.
— Não sou de porcelana, Zyan, e sei como os bebês são feitos – soltou
ela. — Esperei tanto por esse beijo – confessou sorrindo —, que achei que
jamais pudesse acontecer.
— Mas aconteceu – ele respondeu baixinho, estava enfeitiçado pela
beleza dela e temia que sua voz pudesse quebrar o encanto. — No pior
momento, mas aconteceu. – Ele havia ensaiado tantas vezes para beijá-la que
havia perdido as contas. E tudo isso para, no final, acontecer quando menos
esperava.
— Mesmo assim perfeito. – E então foi ela dessa vez que procurou
pelos lábios dele e o beijou até que não pudesse sentir mais o próprio corpo.
Ele a deixava extasiada de um jeito perfeito. Beijara outros homens; na
verdade, um menino apenas, e aquele beijo perdido em seu passado não
chegava aos pés da perfeição que era ter os lábios de Zyan sobre os dela.
Ela parecia ter entrado em erupção. E tudo se tornava insignificante
quando ele a fazia se sentir tão feliz e eufórica.
— O que foi? – ele perguntou entre um beijo e outro.
— Você consertou meu dia, Zyan – ela disse com os olhos repletos de
amor. Sim, ele enxergava dentro dos olhos dela, de um azul que não havia
como descrever sem usar o céu como exemplo, a própria devoção que ela o
fazia sentir em meio àquela revolta por alguém tê-la ferido.
— Foi você quem consertou meu dia, princesinha! E eu ficaria o dia
todo aqui com você, beijando-a. – Ele colocou uma mecha do cabelo dela
atrás da orelha e se aproximou para cochichar. — Meus homens estão na
porta e eu acho que isso pode constrangê-la – Corina sorriu em sinal de
agradecimento. Ela o admirava por sempre se preocupar com seus
sentimentos, zelando para que ela sempre pudesse decidir —, mas podemos
continuar hoje à noite, depois que a buscar na loja de chocolates.
— Você está me convidando para um encontro? – ela arriscou perguntar.
— Estou convidando você para um jantar romântico, só eu e você –
confirmou e ela aceitou com um beijo em sua boca.
A euforia de um primeiro encontro como casal o deixou desatento a
maior parte do dia. Zyan a levou para o trabalho e de lá seguiu para a sede
de sua empresa para tratar de assuntos inadiáveis. Assuntos que, aliás,
deviam ter sido adiados a julgar pela sua incapacidade de se concentrar em
outra coisa a não ser Corina.
Felizmente ele encerrava a última reunião do dia e logo a encontraria.
— Fala, Alex! – Ele atendeu a ligação do amigo. — Claro, mando
reforços para sua casa.
Alex estava preocupado com o assédio de jornalistas nas redondezas de
sua mansão, que não desgrudavam de Juliana desde que anunciaram o
noivado para os tabloides.
— Juro que minha vontade é fugir para a Serra Gaúcha com Juliana e
Milena – respondeu, estava angustiado e cansado.
— Eles vão esquecer – garantiu Zyan. — Talvez Elon esteja certo... Se
vocês aceitarem dar uma entrevista, a novidade vira notícia velha e deixam
vocês em paz.
— É com Juliana que me preocupo – explicou o jogador. — Estou
acostumado com os holofotes, ela não. E você sabe como ela se machuca
com as mentiras que inventam.
— Ela vai se acostumar, Alex – disse Zyan. — A propósito, vou levar
Corina para jantar hoje e aceito sugestões.
Alex riu.
— Finalmente vão avançar o sinal – ele brincou, como um incentivo
para que o amigo investisse no relacionamento. — Vou te passar o endereço
do hotel em que levei Juliana pela primeira vez. Tem um restaurante incrível
no terraço e a vista é magnífica. – Ele fez uma pausa ao lembrar de sua
deficiência visual. — Bem, acho que a vista não vai importar muito para
Corina.
— Claro que vai! – Zyan foi categórico. — Não é porque ela é cega que
não possa desfrutar de uma linda vista, Alex. Eu posso ser os olhos dela.
— Você parece disposto a ser bem mais do que os olhos dela, meu
amigo. E quer saber? Não se deixe levar por bobagens. Se seu coração está
dizendo que é Corina a mulher para você, invista nela e seja feliz. Pare de
pensar nas consequências e viva seja lá o que estiver sentindo – aconselhou.
— Agora preciso ir! Passo o endereço para você e divirta-se. Quem sabe
nos casamos juntos.
Zyan se despediu rindo. Alex sempre foi um romântico incurável, o
mais romântico dos cinco, e o único que se casou e teve uma filha. E verdade
fosse dita, ele o admirava por conseguir manter a fé inabalável no amor,
apesar de sua história de abandono e de um casamento fracassado.
Ao ouvir o bipe da mensagem recebida, conferiu o endereço e algumas
fotografias do lugar que Alex sugeriu. Era perfeito para um primeiro
encontro romântico. E decidiu que seria para lá que levaria Corina. Deixou,
então, ordens para que a secretária fizesse as reservas e partiu contente para
buscá-la, iria caminhando até a loja de chocolates e depois um dos
motoristas da empresa passaria para pegá-los.
Apesar de ter começado tumultuado, o dia chegava ao fim da melhor
maneira possível, pois a expectativa de que voltaria a beijá-la o fazia se
sentir vivo como há muito não acontecia.
Mas foi quando a avistou na porta ao lado de Chanel que seu coração
ameaçou saltar pela boca de tão linda que estava. Não que ele não a achasse
encantadora, ela sempre seria perfeita, disso não cabia qualquer discussão.
Ele parou do outro lado da rua e ficou contemplando-a como se fosse
uma miragem que lhe proibiram de tocar. Corina usava um vestido
acinturado, cuja saia rodada chegava até as panturrilhas, e um casaquinho de
lã fina transpassado na cintura para se proteger da aragem fria. Os cachos
loiros estavam soltos e o uso de rímel realçou o azul impressionante dos
seus olhos. Ela não usava os costumeiros óculos escuros a fim de proteger os
olhos e evitar que as pessoas se chocassem com a cegueira. Ela lhe contara
que não gostava de usá-los, mas que preferia evitar o desconforto que
causava às pessoas quando não conseguia focar seu interlocutor; além de
usá-los para se proteger dos raios solares. E mesmo assim ela continuava tão
simples e cintilante quanto sua alma gentil e bondosa, que costumava apenas
tirar o melhor de todas as circunstâncias que a rondavam.
Quando o sinal fechou, ele atravessou a rua movimentada para encontrá-
la.
— Olá, princesinha! – Ele disse praticamente no mesmo instante que a
tocou na mão. — Não deveria ficar aqui sozinha – a repreendeu por temer
que algum aproveitador pudesse se aproximar. Não adiantava, ele sempre
agiria com proteção quando se tratasse dela.
— Angélica está ainda na loja, seu turno termina mais tarde. Não estava
sozinha – ela explicou para tranquilizá-lo —, aliás, eu nunca estou sozinha
quando Chanel está ao meu lado. – Ele se agachou para acariciar a cabeça
felpuda da Golden Retriever. — O que faremos com Chanel? – perguntou
preocupada. — Não quero causar nenhum problema para você. – Corina
sabia que, por lei, todo estabelecimento era obrigado a receber os cães-
guias, mas ser obrigado a algo não garantia necessariamente que fossem
respeitados, e evitava expor quem a acompanhava ao aborrecimento de ficar
explicando que portadores de deficiências visuais tinham direito de ser
acompanhados pelo seu cão-guia.
— O que você decidir. – Ele se levantou. — Chanel pode nos
acompanhar ou ficar com o motorista.
— Acho melhor ficar com o motorista. Ela sempre chama atenção nos
lugares que vamos...
Zyan a interrompeu ao deslizar o polegar pelos lábios dela em uma
carícia que dizia muito o que estava sentindo.
— As pessoas precisam se acostumar com Chanel, Corina.
— Eu desconfio de que vai me levar em algum lugar chique, tanto é que
Angélica me ajudou com a roupa e o cabelo – ela sorriu ao contar —, por
isso é melhor Chanel ficar. Eu a amo, você sabe que sim, e por amá-la não
quero que a desprezem. E eu jamais a dispensaria se não estivesse segura ao
seu lado. Pode apostar que não!
— Sempre será como você quiser, princesinha! – E a tocou com os
lábios dessa vez, um leve roçar que a fez se arrepiar por inteira.
Corina sentia a agitação do calor dele em seus lábios como um elixir
que a despertava para novos sentimentos. Aceitou, então, o braço dele, e
entregou a guia de Chanel para que pudessem chegar ao carro com mais
segurança. Ao se aconchegar contra ele, seu coração foi inundado de uma
felicidade indescritível, e se ela não cuidasse, seria capaz de ele “sair
voando”.
— Foi um primeiro encontro perfeito – Corina disse. Estava sentada ao
lado de Zyan no banco traseiro de seu espaçoso Volvo, acariciando a cabeça
de Chanel. — E a vista da cidade descrita por meio de seus olhos foi o que
mais gostei.
Zyan sorriu para ela, sentindo-se apaixonado.
Corina tinha um jeito único de ver beleza nas coisas mais banais,
transformando o lugar com sua magia de ser ela mesma: delicada, frágil e
cheia de vida. A cada segundo que passava em sua companhia era como se
sua vida se enchesse de cor.
— Podemos fazer outras vezes. Posso te mostrar São Paulo e o mundo –
garantiu ele, usando a ponta dos dedos para erguer a cabeça dela. Fitou os
lábios mais carnudos embaixo e se perdeu na promessa de prazer, beijando-a
enquanto as mãos a buscavam para que se tornasse parte dele.
E ela se entregou com confiança, pois se sentia preciosa nos braços
dele.
Zyan oferecia a ela muito além do que um dia acreditou ser possível
encontrar em um homem. Ele a entendia e a aceitava do jeito que era, sem se
preocupar com a deficiência que a fazia diferente das outras mulheres.
— Eu gosto de beijar você – confessou ela, o rosto corado delatava sua
timidez, mas não conseguia esconder o desejo que sentia de ser tocada por
um homem, intimamente.
— Eu gosto tanto dos seus beijos que me faltam palavras para
descrever – ele riu de repente e ela sorriu em resposta —, embora não seja o
melhor com as palavras. Sou muito bruto para a poesia.
Corina o procurou com as mãos. Queria tocá-lo no rosto para decifrá-
lo, era assim que ela compensava a ausência da visão, com o tato aguçado. E
ele deixou que ela explorasse cada nuance de seu rosto, sem o cuidado de
esconder nada dela, nenhuma cicatriz ou marca, entregando sua alma a ela.
Jesus, ele sequer conseguia conter a tormenta do que era amar uma
mulher, de corpo e alma. O seu “para sempre” havia chegado, e na
companhia do ser mais frágil que cruzou seu caminho, mas o medo de
machucá-la ou contaminá-la com as dores de uma vida de pouco afeto e
muita luta não conseguia impedi-lo de querer estar com ela o tempo todo.
— Até os brutos merecem o amor, Zyan. E há muitas formas de
demonstrar o amor além da poesia – ela o corrigiu.
— Mas a poesia é a forma que mais combina com você – ele tentou
explicar seu ponto de vista. Por mais que procurasse se convencer de que
poderia fazê-la feliz, ele sempre se sentia tão bruto e grosseiro ao lado dela.
— É tão delicada e perfeita, enquanto eu sou grande, desajeitado e nada
refinado.
— Costumam descrever minha aparência como a de um anjo – afirmou
ela, mas sem sorrir dessa vez —, mas eu pouco sei sobre a minha aparência,
muito menos a de um anjo. Não enxergo muito além do que vultos. Mas isso
não me impediu de enxergar sua alma, Zyan, com os olhos da minha alma, e
sei que você é o homem mais bonito do mundo.
Não havia o que responder, não apenas devido à falta de palavras, mas
porque ele desejava se perder no gosto dela até que pudesse se sentir farto.
E mesmo que isso acontecesse, ele voltaria a querê-la, sempre mais, e até
que ela o aceitasse em sua vida.
E ela o beijava com tanta entrega que era como reencontrar um amor de
outra vida, forte e impossível de se resistir. Se realmente outras vidas
existissem, em todas elas a reencontrou e se tornou um devoto de seu amor.
Ele jamais havia saído com uma mulher para namorar. Tudo sempre se
reduzia a sexo sem compromisso. E o que Corina proporcionava a ele era
único. Ela lhe mostrava um mundo colorido, apesar das sombras que a
acompanhavam desde o nascimento. Razão suficiente para que a protegesse
dos dissabores de um mundo que costumava ser cruel com o diferente.
Zyan a abraçou apertado enquanto sussurrava no ouvido que o mundo
era perfeito quando ela estava nele.
Ela era conforto e paz. O lar que ele nunca julgou ser merecedor.
— Chegamos – ele avisou, afastando-se da boca dela. — Tem certeza
de que você vai ficar bem? – O relaxamento que ela o fez sentir sumiu
quando avistou o edifício com a pintura descascada.
— Claro que vou – respondeu ela —, mas me sentirei mais segura se
você me acompanhar até em casa – sugeriu, sendo atrevida uma vez na vida.
Corina estava flertando e Zyan estava ansioso para ficar alguns minutos
a sós com ela. Aquele convite atrevido, que saiu da boca da mais pura das
mulheres, mexeu com sua libido e o deixou afoito para que dos beijos eles
pudessem passar para algo mais tórrido, mas tudo no tempo dela.
Ele a beijou na mão e desembarcou do veículo antes para ajudá-la.
Cruzaram o portão de ferro enferrujado trocando impressões sobre a noite.
Mas logo a animação cedeu lugar à apreensão. Os moradores estavam
nervosos com a explosão que havia acontecido no apartamento 305.
— É o meu apartamento – comentou Corina ao apertar o braço de Zyan
em busca de amparo.
— Fique aqui com o motorista, Corina – ele avisou —, vou subir para
ver o que aconteceu.
— Não! Eu vou junto – ela o interrompeu. — É minha casa e minha
vida, quero ir com você.
— Pode ser perigoso – ele a alertou, em vão, pois Corina podia ser
teimosa quando queria.
E mesmo teimosa, pensou ele, continuava a ser tão delicada e suave
quanto um algodão doce. Ele riu com a comparação. Só ela conseguia fazê-
lo rir em um momento tão tenso.
— Você está comigo e não existe outro homem capaz de me fazer sentir
segura.
Zyan decidiu levá-la, mas quando terminaram de subir as escadas e
alcançaram a porta despedaçada do apartamento, a raiva o atingiu no
estômago para relembrá-lo de que a vida poderia ser muito dura com os
inocentes. Antes de descrever o que haviam encontrado, ele enviou
mensagens para colocar seus empregados em ação.
— Corina, está tudo quebrado. – Ele não sabia como descrever a
destruição que seus olhos captavam porque isso a faria sofrer. — Não me
peça para descrever o cenário quando só sinto vontade de tirá-la daqui.
Ela sentiu os olhos marejarem e a dor da impotência ameaçou dominá-
la. Às vezes, ela não conseguia agir como se tudo pudesse ser resolvido
facilmente apenas com o otimismo em dias melhores. Era de sua casa que se
tratava, ou do que restou dela.
— Para onde vou? – soltou.
— Para minha casa, é lógico! – Zyan a enlaçou pela cintura e a puxou
contra ele, ficando com o queixo dele encostado na testa dela, enquanto ela
se acalmava ao ouvir as batidas do coração dele.
— Não é certo, eu acho – ela deixou escapar —, não somos namorados.
E, então, ele se afastou dela, fazendo com o que o vazio que a amedrontava
como uma lembrança de que não enxergava a abraçasse, ocupando o lugar
dele. — Zyan, onde você está? – perguntou em gaguejos que quase não
saíram da boca diante do desespero que sentia.
Ele pegou a mão dela e a levou até a boca. O calor dos lábios dele em
sua pele a tranquilizou e a tormenta começou a perder força. Porque com
Zyan tudo ficava mais leve e fácil de enfrentar.
— Se o que a impede de aceitar meu convite de ir para minha casa é o
fato de que não somos namorados... – ele fazia pausas entre as palavras
porque queria dar a ela um pedido especial —, quer namorar comigo,
Corina?
Ela riu alto e se jogou nos braços dele. Zyan mal teve tempo de abrir os
braços para sustentá-la.
— Sim, sim, sim!
E mais uma vez a felicidade acontecia em meio ao caos. E pouco
importava, pois o amor acontecia para consertar qualquer destruição.
Corina estava sentada onde Zyan a havia deixado.
Ela não poderia sair dali como uma pessoa comum faria sem correr o
risco de se machucar e quebrar alguma coisa; não conhecia o lugar para se
arriscar assim. Além disso, o cheiro agradável que sentia era um indício de
que a casa dele era decorada com objetos caros. Jesus, ela não gostaria de
trazer a ele prejuízos e ficar sentada como uma estátua era o melhor que
tinha a fazer; mas que também a fazia pensar sobre temas que lhe causavam
aflição, como ter aceitado o pedido de namoro de um milionário que poderia
ter a mulher que quisesse como namorada, e principalmente uma que
enxergasse.
— Por que está tão quietinha, Corina? – Ela ouviu a voz dele e respirou
fundo. Sentia medo até de se mexer no sofá e rasgar o couro macio. — A
casa é sua – ele insistiu, a apatia com que agia o deixava preocupado,
principalmente porque durante o trajeto até ali se comportara com
empolgação.
— Eu... – Ela não sabia como falar sobre o que estava sentindo. Era o
mesmo que admitir que ele havia escolhido errado e isso a deixava
apavorada, pois de alguma forma ela se apaixonara por ele e ser rechaçada
pelo homem amado poderia ser muito mais dolorido.
Zyan se aproximou dela e a tocou na mão para que ela pudesse senti-lo.
— Que idiota eu fui! – ele lamentou. — Não posso largá-la dentro de
uma casa que você nunca esteve sem explicar onde cada móvel está. Mas
amanhã mesmo vou ligar para a decoradora para tornar o apartamento seguro
para você.
Corina apertou a mão dele, sentindo-se envergonhada por trazer
transtornos. Era sabido que sua independência prescindia da segurança de
um cotidiano meticulosamente planejado e memorizado por ela. Essa era a
razão pela qual evitara se mudar.
— Não precisa mudar a decoração, Zyan! Serão por poucos dias – ela
avisou, cada vez mais encabulada.
— Claro que não serão por poucos dias! – Ele tirou o blazer, jogou em
cima de uma poltrona e se sentou ao lado dela. — Você não viu, mas o seu
apartamento ficou destruído.
Ela sabia que ele não havia feito por mal, mas a forma com que falou a
deixou ainda mais abalada.
— Eu gostaria de me recolher – disse quando percebeu que não queria
chorar na frente dele.
— Claro! – Ele se levantou apressado, queria ajudá-la. — Não tenho
empregadas, apenas uma senhora que cuida da casa. É ela quem contrata
faxineira, lavadeira e outras pessoas, além de cuidar da cozinha. Mas ela
chega por volta das sete horas da manhã e sai às cinco da tarde – começou a
explicar a rotina da casa.
— Onde está Chanel? – questionou-o para evitar pensar muito acerca de
seu amor por ele e das dificuldades que teria que enfrentar se quisesse ficar
com ela.
— Eu a deixei na cozinha com um prato de ração, como você instruiu –
explicou, estudando-a com os olhos por não a reconhecer. Era como se ali
estivesse uma versão diferente da mulher que o fazia se sentir quente apenas
por estar ao lado dela.
— Gostaria que Chanel ficasse comigo no quarto – completou ela.
De repente, ela sentiu o calor dele muito próximo a ela. E foi
surpreendida quando ele a pegou no colo sem muito esforço.
— Vou levá-la para o quarto, mas vou deixá-la no meu.
— Não quero incomodar, Zyan.
— O quarto de hóspedes não está arrumado, e por isso no meu quarto
você vai ficar mais confortável. Não se preocupe que não vou impor minha
presença contra sua vontade. Prometi que seria tudo no seu tempo, lembra?
Corina passou os braços em torno do pescoço dele e se sentiu segura.
— Confio em você – ela disse, um pouco mais tranquila. Ele causava
esse tipo de efeito nela, a fazia se sentir protegida.
— Então por que ficou chateada? – Zyan a conhecia muito bem para
desconfiar de que algo a incomodava.
— É difícil falar sobre isso – admitiu.
— Então tente falar e prometo que não a pressionarei se não conseguir.
Zyan subiu os degraus com ela nos braços e ao alcançar o quarto, chutou
a porta para passar.
— Eu sou cega, Zyan – ela começou a ensaiar as palavras quando sentiu
o colchão macio —, e quando aceitei seu convite não considerei as
implicâncias de que uma casa nova poderia me trazer. Eu aprendo rápido,
mesmo assim preciso de tempo para gravar cada móvel e detalhe do lugar.
E... – desistiu de falar quando não o sentiu mais perto dela. De alguma
forma, ela suspeitava que poderia o estar irritando.
— E o quê? – ele perguntou, sentando-se ao lado dela. — Mas antes de
me responder, me diga por que sempre para de falar quando me afasto?
— Eu não enxergo você, Zyan. E eu preciso sentir você para saber que
não está se zangando.
— Você precisa dizer tudo, absolutamente tudo para mim, Corina – ele
explicou. — Não sei como é viver sem enxergar e por isso posso cometer
alguns equívocos, mas eu posso aprender se você me ensinar.
— Eu tenho medo de também perder você, porque sou cega – ela
confessou com os olhos marejados.
Zyan deslizou da cama para se ajoelhar entre as pernas dela, levando as
mãos pequenas até seu rosto para que ela pudesse senti-lo. Era dessa
maneira que ela enxergava o mundo, como se na ponta dos dedos estivessem
seus olhos.
— Jamais vou abandoná-la, princesinha. – Beijou-a na palma de uma
mão e depois, na da outra. E então a levou até seu coração. — Porque você
mora aqui dentro, no meu coração, um lugar que eu guardei para ser só seu.
Não fique preocupada em me incomodar, Corina. Você é tão importante para
mim que sou capaz de mudar cada canto desta casa, da minha empresa e da
cidade apenas para deixá-la segura. Não duvide quando prometo transformar
cada lugar que tem vontade de visitar apenas para que fique segura e
confortável.
Corina sorriu para ele, e foi um sorriso que o deixou em êxtase. O que
sentia por ela era algo maior e profundo demais para permitir que ela
voltasse a viver longe dele.
Ela era a sua mulher.
E ele provaria isso a ela.
— Você seria capaz de amar alguém como eu? – ela perguntou, com a
mão espalmada no coração dele, enquanto com a outra acariciava o rosto
dele.
— Eu já amo você, Corina, com todo meu coração.
Ela sorriu entre lágrimas e ergueu a cabeça como sinal de que desejava
beijá-lo.
Zyan se levantou e, aos poucos, foi empurrando-a para o centro da
cama. O coração dela batia forte no peito, ele podia ouvir sem precisar se
aproximar muito.
— Eu posso sair se quiser – disse enquanto a tocava levemente nos
lábios —, mas você não precisa ter medo de mim.
— Não é de você que eu tenho medo – ela gaguejou —, é de mim e da
solidão que sentirei se um dia você partir.
— Não vou partir, a não ser que você me mande embora. – Ele a beijou
no ombro enquanto as mãos a buscavam por baixo do vestido. — E espero
com toda a força do meu querer que jamais você me expulse de sua vida,
porque você é a melhor coisa que me aconteceu.
— Zyan – ela o abraçou e deixou-se embalar pelas sensações que os
toques dele causavam em seu corpo; era como se ela pudesse se moldar a ele
para que se tornassem um só dali em diante —, eu não tenho medo de você.
Me faça sua – exigiu, segura e com a voz firme.
— Você tem certeza? – ele perguntou com a voz rouca, que dizia muito
do que ela fazia com seu juízo, esforçando-se para não perder o controle.
Porque se Corina soubesse o quanto mexia com sua libido, sequer
ousaria lhe propor algo do tipo.
— Sim! Eu quero que me faça sua mulher – ela o segurou pelo rosto,
uma mão de cada lado, e o procurou com a boca para um beijo antes de
concluir o que precisava falar —, mas não me trate como se eu pudesse
quebrar a qualquer momento. A cegueira não é tudo que sou – explicou —,
eu sou uma mulher que deseja fazer amor com você. Pode fazer isso por
mim, Zyan?
Ele sussurrou um sim que a deixou quente em todas as partes em que
desejava que ele a tocasse, e deliciou-se com o calor que se espalhava
conforme ele a beijava.
Finalmente ela descobriria o que era fazer amor com um homem. Não
com qualquer homem, mas com aquele pelo qual seu coração batia mais
forte.
Zyan estava atônito com as palavras que ela havia dito. Era como se
finalmente Deus tivesse tomado a decisão de agraciá-lo com momentos
felizes. Jamais algo lhe chegou com tanta paz. Tudo em sua vida havia sido
conquistado depois de lutas árduas, por meio das quais o uso da violência se
tornou uma obrigação e não uma escolha; e talvez por isso havia se tornado
um lutador de boxe. Mas com Corina não. Ela chegou como se fosse um
sopro morno, para que ele pudesse lembrar que também era filho de Deus e
que merecia ser feliz.
Tudo porque ela o aceitava em sua vida.
Ele se ergueu, então, e se apoiou nos joelhos, sempre cuidando para não
a machucar, uma perna de cada lado, enquanto as mãos abriam os botões do
casaquinho que usava. Depois tirou o vestido, passando-o pela cabeça. A
suavidade dos cabelos dela em seus dedos o deixaram ofegante. Fez o
mesmo com a própria camisa e voltou a se curvar sobre ela para beijá-la na
boca. As línguas se buscavam para saciar a fome que um sentia pelo outro.
A entrega dela o excitava e a expectativa de ser o seu primeiro homem
o fazia sentir prazer e temor, assim, tudo confuso. Sim, Zyan temia não
conseguir dar a ela tudo que merecia.
E, por Deus, Corina merecia sentir prazer muito mais do que ele.
— Você é tão linda – ele a elogiou quando a viu apenas de calcinha e
sutiã. E sorriu quando notou sua timidez, que a deixava ainda mais perfeita
porque a pele ficava rosada, abrindo-se como um botão em flor.
— Eu quero tocá-lo – gemeu ela quando sentiu os lábios dele em sua
barriga. Ele a beijava enquanto desenganchava o sutiã nas costas.
Corina tinha a pele macia e tão branca que os pelos de sua barba
deixavam uma marca vermelha por onde passava.
— Eu machuco você com minha barba? – perguntou, preocupado.
Corina o procurou com os braços e ele deixou que o tocasse. Era
importante para ela o reconhecimento por meio do tato. E algo dentro dele se
quebrou quando entendeu que ela era especial ao usar os outros sentidos
para compensar a falta de visão. Quebrou porque jamais conseguiria
agradecer o suficiente a Deus ou a qualquer outra força que movia o mundo
dos homens pela graça de poder enxergar a perfeição que era a mulher que o
aceitava como parte de sua vida.
— Você não me machuca... Não sei dizer exatamente o que sinto, porque
tudo é tão novo, mas é bom quando me beija.
— Em que nível é bom? – insistiu ele, pois precisava estar seguro de
que estava fazendo a coisa certa. E se assustou com o quanto ela o deixava
inseguro. Mas não se incomodava com a insegurança quando entendia que
era apenas esforço para transformar sua primeira vez em algo especial.
— É como se algo dentro de mim explodisse, mas não para espalhar
cacos, entende?
— Não muito! – admitiu ele.
— Você me toca e eu explodo, principalmente no meio das pernas... –
ela gemia entre as palavras que deixava escapar em razão dos beijos que ele
espalhava —, eu explodo, mas para querer mais, como se meu corpo se
transformasse em um ímã que puxa o seu.
Ele riu e ela se preocupou ao ouvir o som gutural da risada dele.
— Falei uma bobagem, não foi?
— Longe disso, meu amor! Você foi perfeita em sua explicação, porque
eu sinto o mesmo, que sou puxado para dentro do seu corpo – ele sussurrou
bem pertinho do ouvido dela, fazendo com que ela se arrepiasse,
principalmente quando ele apertou os mamilos dela entre os dedos como
uma promessa de que o prazer se tornaria ainda mais forte. — Mas eu
preciso prepará-la para que me receba com o mínimo de dor, Corina.
Ele voltou a beijá-la na boca enquanto ela deslizava as mãos pelo tórax
dele. E aquele toque afetuoso o deixava à beira da loucura. Corina o tocava
de um jeito tão diferente que o fazia se sentir especial e querido. E tais
sentimentos batiam em sua mente para que a excitação se tornasse ainda mais
potente, enviando sinais para o resto do corpo. Sim, seu corpo estava alerta
para que desse tudo o que ela precisava para se sentir feliz.
— É a minha primeira vez – confessou encabulada, mas sem jamais
deixar de tocá-lo —, você pode me avisar se estiver fazendo algo errado.
— Se fizer melhor que isso, vou gozar antes de dar prazer a você –
disse ele enquanto abaixava a cabeça para lamber os mamilos dela.
Corina fechou os olhos para se deliciar daquela sensação poderosa que
ele imprimia em seu corpo com uma lambida na ponta dos seios, entregando-
se ao sentimento para conseguir gravar todas as nuances dos toques dele.
Fechou os olhos e deixou que a explorasse a seu bel-prazer. E era perfeito
não se sentir diferente como alguns meninos insinuaram no passado. Talvez
por isso ainda era virgem. E estava feliz porque sua primeira vez seria com
Zyan.
E foi quando ele a livrou da calcinha e começou a tocá-la entre as coxas
numa subida rumo ao sexo que algo dentro dela explodiu de verdade. A
ansiedade que sentia se tornou mais forte, mas não era do tipo ruim; ela
estava ansiosa por algo que sabia que seria bom, embora não entendesse
como tinha tanta certeza de que seria bom se nunca havia provado.
— Eu vou beijá-la aqui, se me deixar – ele pediu permissão.
— Você pode – respondeu ela com a voz fraca e entregou-se ao
relaxamento que a abraçava como se estivesse tomando um banho quente
depois de ter se molhado na chuva fria. A constatação de que eram os braços
dele que a acalentavam a fez quase chorar tamanha era sua emoção.
Zyan separou, com os dedos, as dobras que escondiam o clitóris e com
a ponta da língua brincou com o botão mágico que ele sabia que daria prazer
a ela. Os gemidos dela agiam como um estimulante potente e o aperto nas
calças era o sinal de que estava chegando ao seu limite. Ele gostava de sexo
oral, muito além do que os homens costumavam gostar. Dar prazer à mulher
era como um rito que ele fazia questão de cumprir, mas com Corina era algo
ainda mais especial. Ela tinha um gosto diferente, que o deixava viciado
conforme os gemidos a deixavam molhada para ele.
Ela tinha gosto de algodão doce.
Não conseguia compará-la a outra coisa a não ser ao doce que ela mais
gostava de comer quando criança. E ele ainda conseguia lembrar de como
apreciava observá-la a distância, sem saber que um dia aquela admiração
pueril se tornaria um desejo impossível de se evitar. Ah, se seu coração
pudesse reconhecê-la como seu amor naquela época... jamais teria permitido
se separar dela. Obviamente que agora crescida, os sentimentos se
intensificavam pela presença da malícia sexual, mas o amor sempre seria
amor; ele sabia que a amou desde a primeira vez.
— Zyan – ela choramingou enquanto se esfregava contra o rosto dele,
totalmente entregue ao prazer que ele provocava em seu corpo —, eu quero
sentir você, por inteiro. Quero tocar em você, bem lá... – Ficou tímida.
E ele sorriu, sentindo-se orgulhoso, embora estivesse um pouco
preocupado, porque quando ela tocasse no pênis talvez não conseguisse
evitar o gozo. Mas como negar a ela algo tão essencial? Tocá-lo a deixaria
confortável e mais segura; e negar isso a ela era o mesmo que vendá-lo para
que não a enxergasse.
Então ele se afastou para se livrar da calça e da cueca, e se apaixonou
um pouco mais quando ela reclamou da distância, voltando a se aproximar,
ao lado dela dessa vez. Às vezes, ele tinha a impressão de que Corina era
como uma gatinha que precisava de carinho, e ele jamais negaria a ela o
prazer de tocá-lo.
— Me ajude – ela disse quando o sentiu ao seu lado.
Zyan a ajudou a se posicionar de lado, para que ficassem um de frente
para o outro, e pegou em uma de suas mãos, conduzindo-a lentamente até o
pênis.
— Aqui está a parte do meu corpo feita para se encaixar no seu – disse
baixinho enquanto deixava a mão dela ali no pênis para que fizesse o que
quisesse, enquanto a dele buscava pelo sexo dela —, bem aqui – explicou ao
penetrar nela com um dedo.
— Eu posso apertar? – retrucou ela, a respiração estava pesada devido
à excitação que a varria como uma tempestade.
— Você pode tudo, mas vai com calma se quiser que eu ainda te dê
prazer – explicou ele.
Corina estava radiante e surpresa, e um pouco temerosa em machucá-lo.
O membro de um homem não era nada daquilo que ela idealizou a partir das
descrições das amigas. Era duro, sim; mas também era suave e macio.
— Eu quero beijá-lo como você fez comigo – ela foi ousada e atrevida,
mas precisava senti-lo por meio do paladar —, por favor – choramingou.
Zyan jamais negaria algo a ela quando suspirava daquele jeito. Deitou-
se de costas e, então, deixou-a por sua conta e risco. Agradou a ele vê-la se
transformar em uma mulher que não tinha medo de exigir para se satisfazer. E
quando Corina deslizou a ponta da língua da base até a glande, precisou
fechar os olhos para conter a forte excitação que o atingiu. Chegou a ranger
os dentes quando ela o colocou todo dentro da boca, repetindo cada um dos
movimentos que ele fez com ela minutos antes.
Mas ele também tinha um limite para respeitar e precisou trazê-la para
cima dele antes que acabasse ejaculando na boca dela.
— Fiz algo de errado? – perguntou, um pouco assustada.
— Tão certo, mas tão certo que quase gozei na sua boca. Você sabe o
que acontece com um homem quando é muito bem estimulado, não sabe?
Ela fez que sim com a cabeça e ele relaxou um pouco. Precisou de
segundos apenas, o suficiente para que girasse com ela de modo que pudesse
ficar por cima. Era a posição menos desconfortável para sua primeira vez.
Apalpou em busca da mesinha de cabeceira e encontrou uma camisinha
dentro da primeira gaveta.
— O que está fazendo? – ela perguntou curiosa; um aviso, na verdade,
de que precisavam conversar.
Fazer amor com Corina era uma experiência única e nada silenciosa. E
apesar de nunca ter sido o mais falante durante o sexo, ele estava se
divertindo com os diálogos; não poderia negar que eram eróticos.
— Vou vestir um preservativo para protegê-la – explicou.
Corina não comentou mais, estava convencida de que ele apenas se
distanciou para o bem dela. Zyan se sentiu feliz por finalmente entender
como as coisas aconteceriam entre eles, em um nível de cumplicidade que a
ausência de olhares trocados jamais poderia afastá-los. Eles tinham muito
mais que os casais comuns.
— É grande, não é?
— É sim, mas vai caber – ele garantiu quando se deitou sobre ela e
pressionou o pênis contra a barriga dela. — Não tenha medo. – Beijou-a e
começou a acariciá-la, levando o pênis até a entrada dela para ficar ali,
estimulando-a somente com a glande.
E conforme ela relaxava e o beijava, ele a penetrava. Às vezes, ela
reclamava e ele parava de empurrar. E nesse jogo permeado de beijos e
carícias, ele conquistou sua virgindade, deixando-a se acostumar com a
invasão sem muita insistência.
Corina se sentia a mulher mais feliz do mundo. Nada poderia abalá-la,
sequer a ardência que sentiu quando ele empurrou e bateu lá no fundo. O
prazer que sentia era muito maior que a dor.
— Zyan – ela o chamou.
— O que foi, meu amor?
— Faça algo, por favor, porque parece que tem bolhinhas explodindo
dentro de mim.
Ele riu e começou a se movimentar dentro dela em um vai e vem que ela
aceitou entre gemidos. Sim, ela o aceitava dentro dela e todo o resto, os
medos, as diferenças, e até mesmo a cegueira, não a impediam de se sentir
parte dele.
E ele parte dela.
— Então fazer amor é isso? – soltou ela. — Eu me sinto tão livre. –
Cada movimento em que ele se empenhava era como se o corpo dela
pudesse se abrir ainda mais para o prazer que só fazia crescer dentro dela.
E a coragem que ele conseguia ler em cada gesto dela o arremessou
para dentro de um transe sexual, forte e potente, como nunca sentiu. Tudo se
tornou mágico e perfeito em um nível que não existiriam palavras para
descrever. Zyan perdia o controle do próprio corpo conforme ela se
movimentava com ele, moldando-se a ele para que se fundissem em um só.
Homem e mulher entregues ao prazer de serem um só.
Corina gemeu alto, entregue ao prazer, entregue a ele, buscando-o com
as mãos enquanto ele estocava duro contra o quadril dela. Uma, duas, três
arremetidas e tudo se transformou em perfeição.
Zyan se apressou para não a esmagar e girou para que ela ficasse em
cima do corpo dele. Corina encostou a cabeça no peito musculoso e relaxou,
mas sem jamais deixar de tocá-lo; era isso que a mantinha ligada a ele de
uma forma poderosa, mas sem saber que era a carícia dela que o deixava um
pouco mais apaixonado.
Por isso o acariciava sem nada pedir em troca.
O amor se concretizava quando ela o tocava com as mãos, para receber
em troca o coração dele. Cada batida era para Corina.
Zyan despertou no dia seguinte sem qualquer vontade de sair da cama, o
que jamais havia acontecido nos últimos dez anos. Não que ele não gostasse
de dormir, mas a agitação de sua alma o impedia de desfrutar do que havia
conquistado: uma casa confortável e comida na mesa. Era como se ele não
pudesse parar nunca para se sentir merecedor.
E a razão para que se sentisse em paz dormia aconchegada em seus
braços, tinha cabelos encaracolados e cheirava a lírios do campo, um
perfume exuberante e tranquilizador.
Corina se remexeu e ele afrouxou o aperto para que ela pudesse se
sentir livre, embora fosse difícil desgrudar do corpo dela. As delicadas
mãos encontraram o rosto dele.
— Você está acordado? – perguntou ela.
— Acabei de acordar, mas está tão bom que continuaria aqui com você
pelo resto do dia, princesinha – respondeu, puxando-a contra ele pela
cintura.
Ela o encantou com o sorriso que abriu. Não havia melhor maneira de
iniciar o dia.
— Que horas são? – perguntou.
— São oito horas – ele falou depois de conferir no relógio que ficava
na mesinha de cabeceira.
— Eu entro às dez... Preciso me arrumar antes que me atrase. – Ela se
sentou na cama para se levantar, mas Zyan a puxou de volta.
— Não sem antes me dar um beijo – avisou ele enquanto a agarrava
pela nuca para trazê-la para sua boca.
Beijou-a com paixão, deixando um pouco mais de seu coração para ela.
E se o que ele estivesse sentindo não pudesse ser chamado de amor,
desistiria de descobrir o significado de palavra tão misteriosa. Porque era
forte, inabalável e só fazia crescer dentro dele.
— Eu ficaria aqui beijando você para sempre, mas não quero perder
meu emprego – ela envolveu o rosto dele com as mãos enquanto seu nariz
encostava no dele. — Já foi tão difícil conseguir um.
— Você é minha namorada e não precisa se preocupar com mais nada –
ele mordeu o queixo dela —, a não ser... ser feliz comigo.
— Eu valorizo minha independência, Zyan – retrucou ela. — Me faz
sentir livre e dona do meu destino. Isso é muito para quem nasceu como eu,
sem poder enxergar.
— Eu sei, princesinha! Mas quero que entenda que pode contar comigo
para tudo, tudo mesmo. E se conforme com o fato de que quero ser muito
mais do que um namorado – ele foi sincero.
— Você é especial para mim – deixou escapar a confissão de seu
coração, sentindo-se privilegiada por receber a atenção de um homem que
era lindo e carinhoso, porque por mais que não pudesse conceber um
conceito de beleza como faziam as pessoas que enxergavam, ela conseguia
se conectar à alma dele, e isso lhe trazia a confiança de que ele era, sim, o
homem mais incrível do mundo. — E você pode me ajudar sempre quiser,
começando agora, ao me ajudar a me vestir – ela decidiu ser mais prática e
menos orgulhosa —, pois não conheço o lugar e sequer sei onde está minha
mala. Claro, se não se importar!
— Jamais me importaria em ajudar você, Corina. – Ele saltou da cama
nu, mas sem deixar de falar para ela o que estava fazendo; não cometeria
esse erro novamente. Atravessou o closet para chegar ao banheiro. Enquanto
a banheira enchia, espalhando o perfume dos sais que ele escolheu para ela,
pegou o primeiro moletom que encontrou e se apressou para voltar para
perto dela. — Vou levá-la para a banheira, princesinha.
Corina aceitou a oferta e ergueu os braços para se firmar no pescoço
dele.
— Eu posso caminhar – o advertiu.
— Não temos tempo para que eu explique onde fica cada móvel, por
isso vai ser desse jeito mesmo, a não ser que você não goste.
— Eu amo ficar nos seus braços, Zyan. Mas não quero me acostumar
mal.
— Mas eu quero acostumar você mal – discordou ele. — Quero encher
você de mimos, porque eu posso. Basta você aceitar.
Ela encostou a cabeça no ombro dele e ficou quietinha para ouvir as
explicações que ele dava sobre o lugar. Haviam atravessado um closet, que
ele disse ter espaço para as coisas dela, e o banheiro parecia ser quase uma
cópia de um palácio, a julgar pelas descrições que lhe dava.
— Não é um palácio – disse ele logo depois que a acomodou dentro da
banheira.
— Você acabou de dizer que tem um lustre de cristais e papel de parede
– asseverou ela, fazendo um biquinho que a deixou charmosa. — Só vi isso
nos salões de bailes dos romances de época que escuto, e não em banheiros.
Zyan se ajoelhou para ajudá-la.
— Admito que é uma decoração um pouco extravagante para um
banheiro, e que não deveria ter dado carta branca para a decoradora. – Ele
estudou o ambiente ao seu redor e voltou-se para Corina com os olhos
repletos de amor. — Mas combina com você, princesa!
— Você não vai entrar? – Ela o tocou com a mão no rosto. E toda vez
que fazia isso era como se ele fosse atingido por uma onda de paz, que fazia
toda a dor e ansiedade irem embora.
— Se eu entrar com você, você vai chegar atrasada. Mas aviso que se
me convidar mais uma vez, irei aceitar, e a última coisa que vamos fazer é
tomar banho.
Corina soltou uma gargalhada que o deixou sem fôlego.
— Então é melhor eu tomar banho sozinha. Pode ir! Eu vou ficar bem.
Apenas me explique onde está o xampu e o sabonete.
— Tem certeza?
— Tenho sim, mas por favor, não me esqueça aqui – avisou. — Preciso
que me ajude com a roupa e o cabelo. – Ele ficou em silêncio, porque foi
atingido pelo azul dos olhos dela. — Por que ficou tão quieto? – Ela sabia
que ele estava ainda perto dela, conseguia senti-lo apesar de não estarem se
tocando.
— Porque você é tão linda, mas tão linda, que as palavras somem da
boca, a mente fica confusa... Só quero olhar para você, Corina.
Ela estendeu o braço e com a ponta do dedo traçou as linhas dos lábios
dele.
— Você é ainda mais lindo, Zyan! E não ria de mim, porque sabemos
que sou cega, mas saiba que consigo enxergar a beleza de outro jeito. Você
me deixou conhecer a sua beleza e eu sou tão feliz por isso.
Ele era um puto de um sortudo. Sim, Zyan queria correr até uma janela e
gritar para que a cidade soubesse que cada esforço havia valido a pena, cada
noite mal dormida para que pudesse ficar cada dia mais rico valeu a pena, e
tudo para que pudesse construir um palácio para sua princesa.
Só dele.
Mas ele não precisava gritar para o mundo, ao menos não naquele
momento em que ela o tocava com a ponta dos dedos e confessava que o
achava o homem mais bonito do mundo.
— Só mostrei para você, Corina, a minha princesa! – Beijou a palma da
mão dela, seguindo com os beijos pelo braço, pescoço, até encontrar os
lábios que forneciam a ele uma amostra do que era estar dentro dela. Mas
sem se esquecer de que precisava se controlar para que não a atrasasse.
E, por Deus, como ele iria conseguir resistir à tentação quando as mãos
dela o procuravam com tanto empenho?
Corina era o toque gentil que ele sempre esperou conquistar.
— Preciso ir – ele se esforçava para soltá-la —, antes que eu me enfie
com você na banheira.
— Era o que mais queria – ela admitiu, os olhos fechados e a boca
ainda tocando a dele —, não vou fingir que não quero você.
— Não deve fingir, porque entre a gente sempre será verdadeiro.
Sempre, sempre... – Beijou-a mais uma vez, dessa vez deixando que ela
procurasse pela língua dele, entregando a ela tudo e mais um pouco. Porque
o amor era isso, uma entrega regada por confiança e carinho mútuo. A muito
custo, ele se afastou. — Eu vou, mas volto para ajudá-la. E que Deus me
ajude, porque você é uma tentação. A minha tentação. – Ele saiu, mas acabou
voltando apenas para deixar um aviso. — Quando tivermos tempo, vou me
juntar a você na banheira, Corina, e será o melhor banho de sua vida.
Ela virou a cabeça na direção de onde vinha a voz.
— Disso não tenho dúvida – disse ela.
— Do que, meu amor? – ele a provocou.
— De que será o melhor banho da minha vida, porque não é a
hidromassagem ou os sais que você espalhou aqui dentro que tornam o banho
perfeito, mas a sua companhia. A sua companhia, Zyan.
A vida realmente era como uma caixinha de surpresas, pensou Corina
enquanto tomava seu café da manhã sentada ao lado de Zyan. Ele não a
deixara sozinha um minuto sequer e o cuidado com que a cercava a fazia se
sentir segura.
E especial.
Mas lá no fundo de sua alma ela temia se apegar a um homem que
talvez pudesse se enjoar rapidamente quando percebesse que a vida que
levava era muito diferente da maioria das garotas de sua idade. Não que não
pudesse ter uma vida comum, ela se esforçava para fazer o que sentia
vontade mesmo que não tivesse a visão perfeita para isso.
O telefone dele tocou de repente, tirando-a dos próprios pensamentos.
E ela agradeceu por isso. Não pretendia perder tempo com a incerteza do
futuro quando apenas tinha o presente para ser feliz. Aprendeu com o tempo
que era vivendo um dia de cada vez que seria feliz, dispensando o apego
excessivo ao futuro, que costumava ser dolorido pela incerteza que
carregava consigo. Ninguém conseguia prever o futuro com exatidão e,
então, não havia motivos para sofrer com antecedência.
O arrastar da cadeira ao seu lado a avisou de que ele estava se
levantando e o toque quente em sua nuca a tranquilizou.
— Vou atender ao telefone na sala – avisou ele. — Paula vai ficar
aqui com você. – Beijou-a na testa. — Pode ser?
Corina sacudiu a cabeça concordando e mordeu uma broa de milho.
— Nunca vi o patrão tão feliz – comentou a funcionária, que era uma
espécie de governanta da casa. Ela tinha a voz mais rouca e isso poderia
significar que ela era mais velha, talvez tivesse cerca de 50 anos. — E
jamais me apresentou uma namorada depois que se mudou para este
apartamento. – O som do riso enfeitou as últimas palavras pronunciadas, o
que deixou Corina mais à vontade. — Aliás, nunca o vi com uma mulher tão
linda como a senhorita.
— Por favor, me chame apenas por Corina – ela disse. — E agradeço
o elogio.
— Só se me chamar apenas por Paula – retrucou a governanta.
— Há quanto tempo trabalha com Zyan, Paula? – perguntou para matar
um pouco da curiosidade que sentia a tudo que dizia respeito à vida do
homem que a deixava com o coração acelerado.
— Trabalho aqui há seis anos. Na verdade, fui contratada por uma
namorada, a única que ele teve antes da senhorita. E foi para trabalhar no
outro apartamento que ele morava, não neste aqui, chique – ela explicou. —
Até cheguei a pensar que iria querer outra empregada quando avisou que iria
se mudar para o Morumbi. Aqui só mora gente chique e eu sou tão simples.
— Então ele teve uma namorada? – De tudo que Paula contou o que
mais lhe chamou a atenção foi a notícia de que existiu uma mulher no
passado de Zyan, uma que enxergava, com certeza.
E isso a deixou com um gosto amargo na boca, apesar da doçura da
broa de milho.
— Paula, pare de encher a cabeça dela de minhocas – Zyan olhou
sério para a mulher mais velha, cujos fios brancos o faziam respeitá-la como
se fosse a mãe que não tivera. Que aliás, precisava ser justo e aceitar o fato
de que Paula havia sido a única coisa boa que o antigo relacionamento
deixou em sua vida, cuja namorada o ensinou que interesses podiam se
sobrepor ao amor quando dinheiro entrava na jogada.
— Paula apenas mencionou que foi contratada pela sua ex-namorada e
eu fiquei curiosa – admitiu Corina, um pouco envergonhada, além de se
sentir culpada por ter dado motivo para que ele se zangasse com a mulher.
— Eu tive algumas namoradas, mas todas elas ficaram no passado –
ele garantiu enquanto a beijava no rosto. — Só tenho olhos para você. Não
precisa se sentir insegura.
E Zyan não queria mesmo que Corina pudesse pensar que alguma
mulher houvesse sido mais importante que ela, cuja doçura e sinceridade o
faziam amá-la mais do que esperava ser possível.
— Não fiquei insegura, mas... – Corina não conseguia disfarçar e
muito menos encontrar uma justificativa para dar a ele.
Então ela girou a cabeça na direção dele, fazendo com que ele quase
perdesse o fôlego com a beleza dela. Corina era irresistível, e se soubesse o
estrago que ocasionava em seu coração, jamais se sentiria insegura. O que
eles tinham era muito especial para que sentimentos como a insegurança os
rondasse. E por isso decidiu que deveria fazê-la se sentir segura. Ele daria
um jeito de convencê-la de que jamais existiria outra em seu coração. Como
podia o amor chegar tão certeiro a ponto de ter certeza de que a amava? Sem
muito esforço para isso, precisava ser justo.
Zyan se aproximou do ouvido dela.
— Você é tão pura que não consegue esconder o que sente,
princesinha – sussurrou ele enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da
orelha dela. — Suas feições delicadas foram feitas para apenas falar a
verdade e isso é o que mais me encanta em você.
Corina sentiu o rosto esquentar, pois sabia que Paula os observava do
outro lado da mesa. E a mulher não perdia sequer um suspiro que o patrão
soltava pela linda garota que tinha a aparência de um anjo. Mas não a
espantou quando ele elogiou a sinceridade dela, era um homem cujas feridas
de uma vida de abandono o faziam desconfiar até da sombra, talvez havia
sido isso que o tornou o homem bem-sucedido que era. E fosse como fosse,
ele merecia viver ao lado de uma mulher especial, que valorizasse o bom
coração que ele tinha, e não apenas seu dinheiro e vida confortável que
poderia oferecer.
— Eu fui indiscreta sem querer – Paula se justificou, afinal, ela estava
tão encantada com a namorada do patrão que não queria causar qualquer
constrangimento. Mas causou ao lembrar que sua antiga namorada era uma
mulher interesseira. — Peço perdão! – disse ela, sentindo-se envergonhada
pelo mal-estar que havia provocado.
— Imagine! – Corina se adiantou. — Se alguém foi indiscreta, fui eu.
Mas admito que fiquei curiosa, porque... – ela ensaiou as palavras na mente
antes de pronunciá-las. — Bem, porque eu sou deficiente visual e uma
bobagem me passou pela mente – decidiu ser verdadeira, porque não levava
o menor jeito para fingir o que não era.
Paula soltou um assovio alto, que revelava que discordava de sua
preocupação.
— Como se sua deficiência pudesse dizer algo sobre você –
asseverou Paula. — E se me permite, enxerga melhor do que muita gente. A
senhorita é perfeita para o patrão, pois nunca o vi sorrir como hoje. Anda
sempre com a cara amarrada.
— Paula?! – Zyan soltou uma gargalhada e encostou a cabeça no
ombro de Corina.
— Mas é verdade, Seu Zyan! O senhor é um bom menino, mas vive
triste pelos cantos. Acha mesmo que não me preocupo? – Ela colocou as
mãos na cintura e soltou um suspiro. — Essa menina lhe devolveu o sorriso,
se é que um dia o senhor sorriu para recuperar a capacidade de sorrir.
Naquela altura, Corina se juntava à risada do namorado e deslizava os
dedos pela cabeça dele.
— Está escutando, meu amor!? Percebeu como Paula me quer bem? –
Ele pegou na mão dela e a levou até à boca para beijá-la.
Corina se sentiu parte dele, da vida dele quando a chamou de seu
amor.
— Aff... Como se eu estivesse falando uma mentira. – Paula revirou
os olhos e se aproximou de Corina para pegá-la pela mão, queria que ela
soubesse por meio do tato que poderia confiar nela, para tudo. — Eu fico
muito feliz que tenha trazido alegria para a vida do Seu Zyan, é um menino
de ouro, e merece sorrir muito. – Ela sentiu os olhos marejados. — É como
um filho para mim.
Corina apertou a mão dela e sorriu.
— Vocês estão me deixando mal-acostumada, isso sim!
— Não falei que Corina é um anjo, Paula? – Zyan a enlaçou pela
cintura. Sua felicidade era tanta que sentia uma agitação se apoderar do
corpo.
E ele faria de tudo para que a felicidade jamais deixasse sua vida.
Alguns minutos depois, eles partiam do Morumbi. Zyan decidiu não
dirigir porque queria aproveitar melhor a companhia de Corina. Ela parecia
mais feliz e menos preocupada com a ideia de que não era boa para ele.
Como se ele realmente pudesse considerá-la menos em razão da deficiência.
Havia muitas pessoas que eram perfeitas fisicamente, mas que tinham a alma
carregada de rancor e egoísmo a tal ponto que se tornavam feias.
E Corina era linda por dentro e por fora. Ele havia vivido muito para
saber que estava diante de uma mulher cuja bondade a tornava uma raridade.
— Estive pensando – ele começou a falar, exigindo sua atenção — o
que você gosta de fazer? Ou o lugar que quer conhecer? Quero dividir um
momento especial com você.
— Ah, Zyan, estar com você é sempre um momento especial –
respondeu, encantada com a preocupação dele em impressioná-la.
— Então podemos fazer algo juntos – ele insistiu. — Só eu e você.
— Se insiste tanto, por que não escolhemos o lugar juntos para que ele
se torne o nosso lugar?! – sugeriu ela.
— Mas conheço muito lugares e seja lá qual for, desde que você esteja
nele, ele vai ser especial – explicou. — Quero te dar o mundo, levar você
para conhecer o que quiser. O que você gostaria muito de fazer?
— De dançar, de nadar e até de dirigir – soltou ela, empolgada. —
Nunca fui em uma boate – contou envergonhada. — Papai nunca deixou por
temer que eu me machucasse.
Zyan a levaria na boate de Arlo, com certeza.
— Vamos fazer tudo isso. E para começar, eu posso te levar para dançar
na boate de Arlo, princesinha. Meu amigo é dono da melhor boate de São
Paulo. Você o conheceu.
— Lembro dele sim – falou ela —, mas lá só vai gente fina, Zyan. Não
sei se tenho roupa para isso.
— Você é linda e eu gosto do jeito como se veste – ele tentou empolgá-
la, mas quando notou que não a convencia, decidiu mudar a abordagem. —
Mas podemos providenciar roupas novas para você. Juliana pode ir com
você fazer compras.
— Será que ela aceitaria me ajudar?
— Claro que sim, Corina! Juliana gostou de você e você dela. Além
disso, ela seria uma companhia mais útil que eu, mas se quiser, eu enfrento o
shopping por você. – Ele tocou no queixo dela com a ponta do dedo para que
erguesse a cabeça e a beijou. — Por você, eu enfrento qualquer coisa, só por
você.
— Se Juliana aceitar, eu libero você – ela brincou com ele, abrindo o
sorriso que rivalizava com o poder do sol, enquanto suas mãos delicadas o
acariciavam no rosto. O toque dela o fazia se sentir bem em um nível que o
deixava com o melhor dos humores.
— Duvido de que ela não aceite – a incentivou porque era importante
para ela se sentir aceita entre seus amigos e ele sabia que jamais um deles
iria desprezá-la em razão da deficiência. — A propósito, precisamos
conversar sobre um assunto delicado, mas importante. – Corina tensionou o
corpo de repente. Zyan a percebeu nervosa e se arrependeu de abordá-la
daquele jeito. — Não fique preocupada! – ele pediu. — Não é nada demais,
eu juro. – Curvou a cabeça para que que pudessem ficar mais próximos. — É
sobre nós, na verdade. Você começou sua vida sexual ontem e não sei se já
consultou um ginecologista. – Era a vez dele de se embananar com as
palavras, pois jamais precisou se preocupar com assuntos relativos ao
universo feminino, mas isso não o isentava de se preocupar com ela.
— Eu nunca fui, Zyan. Porque nunca precisei e acho que porque sentia
vergonha – confessou —, mas eu acho que chegou a hora de consultar um,
não é?
— É sim! Assim vamos fazer tudo certo – explicou. — E como será sua
primeira consulta, eu acho que Juliana poderá ajudá-la melhor do que eu.
Corina soltou um longo suspiro e encostou a cabeça no peito dele.
— Você é tão perfeito que às vezes eu acho que estou sonhando.
— Você é meu sonho bom. E tenho muito medo de acordar – admitiu
enquanto deslizava a mãos pelas costas dela, sentindo-a tão quente que
poderiam muito bem voltar para casa e tirar o dia de folga. Não seria um dia
folga que o faria menos rico. Era milionário e tinha gente que poderia cuidar
de cada maldito problema que o impedia de ficar com ela. E ela poderia
viver para sempre nos braços dele, porque ele poderia muito bem sustentá-
la. Mas ela antes precisava se acostumar com sua presença e com a ideia de
que o dinheiro dele seria mais útil se o deixasse ajudá-la. — Vou fazer de
tudo para que esse sonho nunca acabe, então, se eu exagerar, me perdoe,
Corina. É porque só quero dar a você o melhor. Mas jamais a impedirei de
fazer o que gosta. – Ele encostou o queixo na cabeça dela e a estreitou contra
o peito, como se pudesse se fundir a ela, o perfume de lírios o inundava com
o cheiro da paz que ele sempre perseguiu, mas que só ela conseguia fazê-lo
sentir. — Então se em algum momento eu exagerar e a impedir de algo por
medo de que se machuque, brigue comigo, Corina, me xingue, mas jamais me
deixe sem as suas carícias.
— Ah, Zyan, se eu disser a você que o amo, assim tão cedo, você vai
acreditar em mim? – ela perguntou com os olhos marejados. O que sentia era
tão forte, como um sentimento que sempre estivera ali com ela, adormecido,
apenas à espera dele, de Zyan.
— Eu vou acreditar, porque sinto o mesmo, Corina! E isso é tão
maravilhoso quanto assustador – admitiu, de maneira direta e sem rodeios,
porque ele era assim. E apesar de não ser um poeta e ser mais bruto do que
ela merecia, ele sentia o amor entre eles, dentro do coração, como uma
certeza enraizada e indiscutível.
Corina levantou a cabeça e o tocou no rosto com as mãos, tão encantada
com as palavras que ele havia dito que o tempo congelou para que só
existissem eles. Ele a trouxe para o colo e a abraçou forte quando a percebeu
confusa. A respiração dela ficou pesada ao sentir a virilidade dele, sempre
mais profunda à medida que os olhos escuros buscavam os dela, para que as
almas também pudessem se tocar. Zyan se perdia nas promessas que as
carícias dela deixavam em sua pele enquanto os olhos azuis e tão preciosos
o deixavam afoito pelos beijos que ela prometia.
Zyan não resistiu mais ao desejo quando ela afastou os lábios e os
umedeceu com a língua, simplesmente exigiu que se entregasse a ele.
Beijaram-se como se não existisse nada mais delicioso no mundo, as línguas
se buscavam em exaltação à paixão que exigia se tornar realidade entre eles.
Os beijos de Corina eram a perfeição que ele não merecia alcançar, mas
que não conseguia mais evitar reivindicar.
Era seu coração que a buscava e disso ele não poderia mais fugir.
Alguns dias depois.

Corina se sentia envergonhada por ter adiado tanto a ida a um


ginecologista. Juliana a aguardava na recepção com Chanel. Elas haviam se
encontrado no elegante edifício em que ficava o consultório da médica. Era
uma médica de rico, mas evitou pensar no valor da consulta quando se
lembrou de que Zyan não se importava com dinheiro, e sim com ela.
O mero pensamento nele a fez se perder entre as lembranças de prazer
que vinham compartilhando nos últimos dias. Faziam amor como se não
existissem problemas e até havia esquecido a inconveniência que era morar
na casa dele quando deveria estar procurando um lugar para viver sozinha.
— Tudo certo, Corina? – A noiva de Alex Santos se levantou para levar
Chanel até sua dona.
— Tudo sim – respondeu enquanto recebia a guia na mão —, não me
conformo que adiei essa consulta por tantos anos.
— Normal – Juliana colocou o braço dela no seu para conduzi-la com
segurança —, você perdeu sua mãe tão novinha que não a julgo por se sentir
insegura. O mais importante é que finalmente se consultou e que poderá
namorar muito.
Corina levou a mão à boca para segurar o riso. Apesar de ainda se
sentir tímida, a noiva de Alex tinha o dom de deixá-la à vontade. A
descreviam como uma mulher bonita nos sites de fofoca e Dimas, que os
visitou na noite anterior, confirmou que era uma gata. Aliás, Dimas era muito
próximo de Zyan, talvez um pouco mais que os outros, e isso não lhe passou
despercebido.
— Obrigada, Juliana! – ela agradeceu. — Vou precisar de mais uma
ajudinha. Doutora Graça me prescreveu um anticoncepcional... se puder me
ajudar na farmácia.
— Claro que ajudo! Lá no shopping tem uma farmácia – avisou
empolgada.
— Eu vim com o motorista de Zyan – explicou Corina. — Ele nos
aguarda no estacionamento. Não adianta falar que posso pegar um Uber. Ele
acha que por não enxergar, eu possa me machucar, e que muito menos é
seguro para Chanel, mas sempre aviso o motorista que uso um cão-guia.
Enfim, eu cheguei até aqui, não cheguei? – Ela deu de ombros.
— Ah, mas Alex é igual, Corina – comentou Juliana. — Então acredito,
minha amiga, que teremos que nos acostumar com os homens que arrumamos.
– Ela sorriu ao lembrar do noivo. — E sabe de uma coisa? Eu adoro a forma
como Alex me protege. Nunca tive alguém que se importasse tanto com meus
sentimentos. Não é como alguns homens que impõem sua presença para que
os outros enxerguem que somos deles. Entende? Eles fazem isso porque
somos importantes para eles.
Corina não tivera muitas experiências para concordar ou discordar, mas
soltou um suspiro ao ouvir as palavras de carinho com que a nova amiga se
referia ao noivo. E que muito bem cabia ao que ela sentia por Zyan.
— Eu a entendo! – mencionou em resposta. — É como me sinto com
Zyan.
— Eles são muito intensos, não é? – Juliana sorriu e seus olhos verdes
brilhavam tamanho era o amor que sentia. — E, Jesus, principalmente em
cima de uma cama! – Ela olhou para Corina. — Não fique envergonhada!
Fazer amor é algo que todo mundo faz, ou deveria fazer; é a gente que
transforma tudo em tabu.
— Verdade! – Corina riu, mas mudaram de assunto quando entraram no
elevador.
— Vamos para o shopping e depois lá para casa, Corina! Já acertei tudo
com os homens. Eles passarão para nos buscar para irmos para a boate do
Arlo. Você vai amar lá – prometeu Juliana.

O dia havia passado na lentidão que sempre acontecia quando Zyan


estava longe de Corina. A garota se infiltrara em sua mente para domar seu
coração de um jeito que o tornou dependente das carícias dela.
Sentia até dificuldade de se concentrar para tentar resolver os impasses
que a empresa encontrava para abrir uma filial na Argentina. Aliás, ele não
poderia mais fugir da responsabilidade e teria que planejar uma viagem para
lá o quanto antes. Mas talvez ele levasse Corina consigo, uma viagem
romântica era do que eles precisavam para estreitar os laços.
Fazer amor com Corina vinha se tornando sua obsessão, como se nada
além importasse a ele no mundo. Era quando a tocava que o mundo ficava
mais alegre e tudo fazia sentido. E ela, ah, ela se encaixava tão bem nele; sua
entrega o fascinava de um modo que era difícil explicar. Apenas sabia que
era bom e que a queria cada vez mais.
— Decidi passar por aqui antes de ir para casa – disse Alex quando
entrou na sala dele. — Quer dizer, fomos impedidos de chegar antes da hora
lá em casa. Deve estar sabendo que as mulheres montaram seu QG por lá.
— Corina me avisou – riu Zyan, fazendo sinal para que Alex se
sentasse. Ele estava ansioso para saber sobre a consulta, mas guardou a
curiosidade para si. — Nunca a vi tão empolgada. E sequer sei como
agradecer à Juliana pela amizade que está oferecendo a ela.
— Não é muito difícil gostar de Corina – argumentou. — E Juliana a
adora, você sabe que sim!
Zyan concordou com a cabeça e pediu licença para responder a uma
mensagem.
— Cara, essa expansão para a Argentina está me deixando louco – ele
soltou como um desabafo.
— Principalmente quando você está apaixonado – debochou Alex.
— Nunca me apaixonei desse jeito – ele admitiu. — Você me conhece
há anos, é como um irmão, e sabe do que falo.
— Claro que sei! – anuiu o jogador. — Estar apaixonado é assim
mesmo; e por experiência própria, só vivendo essa paixão para a agitação
que sente se aquietar.
— Foi assim com Juliana? – perguntou, porque não custava tentar
entender o que sentia. — Essa agitação se aquieta mesmo?
— Sim e não!
— Como assim, Alex? – Zyan se levantou e saiu de trás de sua mesa.
Desafrouxou o nó da gravata e abriu os últimos botões da camisa. O
expediente havia terminado e já não precisava parecer um executivo.
— A agitação de querer ficar sempre perto se aquietou quando ela
aceitou morar comigo como minha noiva. Mas eu sinto saudade quando
estamos longe e tem dias que não vejo a hora de chegar em casa. Mas já não
é aquela agitação desesperada, de quem precisa a ver porque os momentos
juntos são sempre contados, entende?
— Acho que sim! – Zyan estreitou os olhos castanhos. — Você está
sugerindo que eu coloque um anel no dedo de Corina.
— É uma ótima ideia, não acha? – brincou Alex. — Mas não foi bem
isso que quis dizer. – Zyan fez sinal para que ele fosse mais objetivo. — Que
quando a mulher certa chega é para ser para sempre e o casamento é apenas
uma formalidade que nos dá segurança. O que importa é que você a ama e a
quer por perto. Então seja lá o que pretende fazer, sempre faça pensando no
melhor para vocês.
— É um ótimo conselho – afirmou Zyan, pensativo. — Então se eu a
convidar para viajar comigo para a Argentina, não serei apressado?
— Eu diria que não! Você me conhece e sabe que eu faria exatamente
isso. Porque até negócios se tornam mais agradáveis quando estamos com
elas. – Ele apontou o dedo indicador no ar. — Outro conselho!
— Vou conversar com Corina a respeito. Ela tem o trabalho na loja de
chocolates e é uma ótima funcionária – pensou alto. — Além disso, tem o
problema do apartamento dela.
— Dimas contou para nós. Sinto muito, Zyan! – Alex se penalizou.
— Não sinta! Não quando foi o estrago no apartamento dela que a
trouxe para meus braços – ele soltou um longo suspiro, os cantos da boca se
arquearam em um sorriso maroto, e foi para perto da janela de vidro, de
onde podia enxergar os prédios majestosos da Paulista como um tapete de
luzes que começava a brilhar com o cair da tarde. — Eu não a quero lá
sozinha e desprotegida. Aquele irmão dela é um viciado da porra.
— Mas você é o CEO de uma das companhias de segurança mais
gabaritadas do país, que está prestes a se tornar uma multinacional, e isso
não é nada – argumentou Alex para ajudá-lo a não se sentir impotente.
— Você se engana, Alex! Eu não pensaria duas vezes em tirar aquele
traste do caminho se não soubesse que Corina o ama. É a única família que
ela conheceu. – Zyan colocou as mãos no bolso da calça e ficou pensando no
que poderia fazer para resolver aquele impasse.
— Mas vocês estão namorando, não estão?! – Alex se aproximou e
tocou no ombro do amigo, que sempre foi mais do que um amigo, eles eram
irmãos. — Você e Corina estão juntos. E por isso ela faz parte da nossa
família torta. Assim como todos receberam Juliana e a avó dela, todos nós a
recebemos como parte da família, Zyan. E não importa as dificuldades ou
problemas, sempre estaremos ao lado dela. Aliás, ela vem do mesmo lugar
que a gente. Como podemos esquecer aquela garotinha meiga e cega que nos
tocava com a ponta dos dedinhos para agradecer pelos doces que
guardávamos para ela? Já tínhamos tão pouco e ainda guardávamos apenas
para vê-la sorrir.
— Você lembra disso? – Zyan voltou a sorrir quando foi tomado pela
lembrança da menina que não podia enxergar, completamente cega, mas
cujos olhos azuis e cabelos enrolados o fascinavam a ponto de tratá-la como
uma bonequinha.
— Difícil esquecer – revelou Alex. — Todos no orfanato a protegiam,
mas era de você que ela mais gostava. Vocês já estavam predestinados.
Juliana acredita nessas coisas, viu!
Zyan sorriu de canto, o peito subia e descia pela respiração pesada.
Corina sempre foi seu amor, mas as sombras do abandono que o cercavam
não o deixaram notá-la do jeito certo. Além disso, era muito jovem para
acreditar que um amor poderia acontecer tão cedo e durar por tantos anos.
Mas durou, caso contrário, ele não se sentiria tão dependente dela como
estava se sentindo.
— Quem sabe vamos ter uma menina linda como ela? – deixou escapar,
mas não se arrependeu, porque não era mentira. Ele a amava com todo seu
coração. E queria formar com ela uma família.
— Não duvide, meu amigo! A mulher de sua vida chegou e com ela tudo
pode acontecer – garantiu Alex.
Em outros tempos, Zyan teria desdenhado das previsões românticas do
amigo. Mas com o coração tomado do jeito que estava, simplesmente aceitou
que o amor era inexplicável e que talvez aceitar o ponto de vista de Alex
poderia ser apenas o começo do que era ter fé em dias melhores.
A agitação e a alegria do lugar podiam ser sentidas por Corina por meio
das conversas altas que se perdiam entre a música eletrônica e o cheiro de
perfume caro que se misturava à fumaça com fragrância adocicada; às vezes
podia identificar notas de tabaco e o cheiro azedo de bebida derramada no
chão. Ela se agarrava ao braço de Zyan como um porto seguro em meio a um
ambiente totalmente novo, mas intrigante.
— Está bem? – ele perguntou.
— Estou sim, um pouco confusa com tanto barulho – explicou, tentando
tranquilizá-lo, já que era normal se sentir um pouco perdida. A falta de visão
dificultava um pouco as coisas, mas não a impedia de viver o momento.
— Você está nos meus braços, Corina. Só confie!
— Eu confio, Zyan! Como nunca confiei em alguém, eu confio em você
– garantiu ela.
Zyan sentiu o coração se encher de um carinho especial. Corina era
dele, assim como ele era dela. Apenas para ela havia reservado sua melhor
parte, aquela que queria proteger e amar antes de tudo e que lutaria contra o
mundo para mantê-la segura se fosse preciso.
Arlo os encontrou e deu dois beijinhos em Corina e Juliana, depois de
apertar as mãos dos amigos.
— Reservei mesas na área vip para vocês. Dimas e Elon virão também
– comentou feliz. — Faz tempo que não nos reunimos por aqui.
— Vocês são todos uns metidos, isso sim! – reclamou Zyan, encarando o
amigo como se tivesse feito uma grande desfeita em se meter na noite que
deveria ser só para casais.
— Qual é, Zyan? – Arlo levantou as mãos para o alto para dramatizar e
soltou uma gargalhada que se juntou ao som dos alto-falantes. — Agora que
são casais querem excluir os solteiros?
— Se Zyan arrumou uma namorada, não vai demorar para vocês
solteiros encontrarem uma também – disse Alex, convicto de que era apenas
uma questão de tempo para que todos se tornassem casais.
Corina apertou a mão do namorado e começou a deslizar a outra pelo
braço dele, tentando acalmá-lo. O tempo que conviveram apenas como
amigos a fez conhecê-lo melhor e uma coisa ela havia percebido desde os
primeiros encontros: que ele era muito sério e desconfiado.
— São seus amigos, e que mal há que nos acompanhem na minha estreia
na noite paulistana? – ela comentou.
— Corina já é nossa, Zyan – soltou Arlo. — Aliás, ela sempre foi,
porque se minha memória não estiver tão ruim – ele coçou a barba —, ela
era tipo o chaveirinho de nosso grupo lá no orfanato.
— Vocês são do mesmo orfanato? – Juliana perguntou, quebrando o
clima sério que os rondou de repente.
Alex começou a falar sobre a vida deles no orfanato enquanto eles se
deslocavam até a área vip.
Zyan manteve Corina sempre presa ao seu corpo, de modo que ele
funcionasse como uma espécie de escudo para protegê-la dos perigos. Ele
estava se especializando em servir de guia para ela e sabia que a cacofonia e
a aglomeração que acontecia ali poderia confundir os sentidos dela.
— Conte tudo para mim, Zyan – ela pediu quando estavam os dois
acomodados lado a lado em um estofado de couro negro que ficava num
canto mais reservado da área vip. — Você prometeu ser meu intérprete.
Quero saber como as pessoas estão vestidas, o que estão fazendo?!
Ele a atendeu prontamente, esforçando-se para descrever cada detalhe
que seus olhos conseguiam capturar enquanto trocavam beijos. O que era
difícil, pois manter a mente focada em outra coisa que não o corpo quente
dela era como entrar em uma arena para uma final, estava alerta e focado ao
mesmo tempo. Juliana e Alex preferiram ir para a pista de dança. E Arlo
precisava resolver alguns problemas com a gerência. Eles estavam a sós em
um canto reservado para que pudessem namorar um pouco. E, por Deus, era
o que mais ele queria fazer depois de quase um dia inteiro longe dela.
— Jesus, Corina, você quer me matar com esse vestido justo? – ele
soltou enquanto os lábios passeavam pela curva que ligava o pescoço ao
ombro.
Ela sempre o impressionava e não precisava muito esforço para que
roubasse a atenção dele, mas a produção a deixou sexy em um nível que
sentia ciúme até dos olhares que os homens direcionavam para ela. Corina
vestia um tubinho vermelho que marcava suas curvas sem deixá-la vulgar, as
mangas chegavam na altura dos cotovelos e o decote quadrado valorizava
seu colo. A maquiagem destacou seu rosto angelical e o esfumado dos olhos
a deixou com um ar fatal, que era capaz de colocar os homens aos seus pés.
— Juliana garantiu que você iria gostar, mas fiquei insegura com a cor
que ela sugeriu e com a falta de saltos – admitiu enquanto espalmava as
mãos no peito dele. — As blogueiras de moda costumam dizer que esse tipo
de vestido fica bonito com saltos. Por isso compramos um salto anabela, que
não é tão alto e é mais seguro para mim.
— Ah, eu gostei muito – garantiu ele, mas não a convenceu porque
pouco entendia de moda. Para provar a ela que sabia do que estava falando,
a puxou para o colo dele, de modo que atestasse o estrago que ela vinha
fazendo com ele. O pênis duro a fez sorrir e o abraçar. — Está vendo o que
você faz comigo?
— Você também está lindo. – Ela deslizava as mãos dos ombros em
direção aos braços musculosos. Zyan havia dispensado o blazer do terno e
dobrado as mangas até a altura dos cotovelos. Juliana contou que ele era o
mais forte dos amigos e que cuidava muito de seu físico, o que não a
surpreendeu muito, pois sabia que no passado havia sido um campeão de
boxe.
Corina se sentia atrevida quando estava com ele. Enquanto as mãos o
buscavam para saciar a fome que sentia de se grudar a ele, a boca percorria
o queixo quadrado e bem pronunciado com beijos e mordidinhas.
— Mas você que é gostosa – soltou ele. — Ah, Corina, você ainda vai
me matar de tesão.
Ela riu e o encheu de alegria com seu riso fácil. Zyan afundou os dedos
no rosto dela e a encarou para gravar cada reação de prazer que ela deixava
escapar conforme ele a exigia como parte dele. E ele a devorou com a boca,
para saciar a agitação que o consumia. Beijar Corina era como tocar o
paraíso do qual ele nunca foi merecedor. E não sentia qualquer remorso por
isso, ao contrário, ele apenas se deixava tocar pela paz que ela trazia à sua
alma.
— Eu nunca vi nada tão magnífico quanto você, Corina – ele confessou,
vidrado, totalmente apaixonado e em êxtase pela mulher que era o anjo que
Deus lhe enviou. — E eu senti tanta, mas tanta saudade de ficar assim com
você.
Corina fechou os olhos e se entregou ao beijo de corpo e alma. Ela
queria que as digitais dele ficassem gravadas em sua pele, que o gosto dele,
ácido e com notas de café, ficassem para sempre com ela. Zyan era quente
como o vermelho, mas aconchegante como o azul. Era assim que ela
percebia as cores em sua vida, em conceitos abstratos que foram se
formando em sua mente conforme as descrições que recebia. Ele era tudo e
mais um pouco, completo e perfeito.
O seu homem.
Como um porto seguro que a fazia se aventurar pelo mundo enquanto
segurava na mão dela.
— Não imaginei que um dia me sentiria tão feliz. – Ela encostou a testa
na dele e ficou ali, ouvindo o pulsar do coração dele. As batidas da música
serviam de fundo, como uma sinfonia perfeita que harmonizava o que eles
estavam sentindo. — Eu nunca saí para um encontro assim.
— Me sinto honrado por ser o primeiro – ele riu —, e se você gostar
podemos vir mais vezes.
— Com você eu vou para qualquer lugar, sempre é perfeito. – Ela
beijou a ponta do nariz dele. Zyan riu e a apertou contra ele, a mão boba
começou a subir pela coxa por ser incapaz de se conter. Ela aceitou o
atrevimento e fechou os olhos para sentir os dedos longos se enfiarem entre a
renda da calcinha para tocá-la naquele pedacinho da anatomia feminina que
ela guardou para ele. Tudo nela se acendia e a fazia relaxar para que o
aceitasse em sua vida.
— Vamos para a Argentina na próxima semana? – ele arriscou convidar.
— Você fala sério? – Ela se sobressaltou de repente pela surpresa do
convite.
— Claro que sim, meu amor! Preciso ir resolver questões do trabalho e
não quero deixar você aqui. Sei que você tem o trabalho e não quero
atrapalhar, mas... – ela o interrompeu ao grudar sua boca na dele.
— Eu tenho alguns dias de folga para tirar e eu acho que mereço um
pouco de diversão na sua companhia. – Corina se deixou levar pela emoção
e pelo relaxamento que ele proporcionava a ela. Talvez no dia seguinte mil e
uma ideias lhe tomariam a mente para confundi-la, mas ali, nos braços dele,
pretendia ser e fazer o que sentisse vontade. — Sim, eu posso ir com você,
mas agora eu quero dançar. Me leve para a pista de dança, Zyan. Por favor!
Zyan a encarrou com os olhos de um homem apaixonado, incapaz de
negar algo àquela que parecia ter lhe jogado um feitiço de amor. Ele estava
duro devido aos amassos que deram e não fazia ideia de como iria disfarçar
o volume dentro da calça. Mas Corina queria dançar e eles iriam dançar.
Levantou-se, então, e a conduziu até a pista de dança.
Arlo estava ao lado do DJ e os avistou do alto do palco. Cochichou
com o artista da noite e, em seguida, ele mudou a música para um remix mais
romântico.
Zyan fez sinal de positivo com o braço levantado para o amigo e
abaixou a cabeça para conversar com Corina. A voz de Adele ao som da
remixagem do DJ os embalava entre homens e mulheres que se mexiam
conforme o ritmo das batidas.
— Eu não sei o que fazer – Corina avisou, temendo envergonhá-lo.
— Se mexa apenas – disse ele em timbre de voz mais alto.
— E se eu fizer algo errado? Não quero te envergonhar...
— Eu não danço bem não! – avisou em resposta. — E estamos aqui
para nos divertir.
Corina abriu o sorriso mais lindo que alguém poderia dar e jogou os
braços para o alto. Sua beleza começava a chamar a atenção dos homens que
estavam ao seu redor. Mas ela era tão inocente que não fazia ideia do que
causava em quem estava perto. Mesmo que ela pudesse enxergar com os
olhos, jamais conseguiria perceber a malícia com que a admiravam.
Zyan se comportava como um cão de guarda que não permitia que
ninguém se aproximasse; e quando ela se afastava um pouco mais dele, os
braços se esticavam para trazê-la de volta, como um reflexo daquilo que o
coração sentia. Alguns flashes chamaram sua atenção. Havia blogueiros e
jornalistas, como sempre acontecia nas noites de sexta-feira na boate de
Arlo. E no dia seguinte Corina estrelaria as manchetes dos principais sites
de fofocas. Precisava prepará-la para isso de alguma forma.
— Estou com sede – ela disse quando ele a prendeu em um dos giros.
— É tão bom dançar.
— Melhor é assistir a você dançando, princesinha. – Ele tirou uma
mecha de cabelo do olho dela e a beijou com vontade, sem se importar com
os flashes que ficaram mais intensos, mas orgulhoso por demonstrar que a
mulher mais bonita da noite era dele.
Quando desgrudaram as bocas, Corina jurou que o coração iria saltar
pela boca. Jamais havia se sentido tão livre e leve, como se a dança e o
beijo tivessem rompido os grilhões que a impediam de voar, e tudo porque
era cega.
Zyan a enlaçou pela cintura e ela o abraçou, aconchegando-se a ele,
muito manhosa. Ele a conduziu de volta para mesa. E lá encontraram Elon e
Dimas.
Elon, sempre o mais despojado, foi o primeiro a se aproximar de
Corina para cumprimentá-la com dois beijinhos no rosto. Dimas repetiu o
gesto logo em seguida.
— Gatinha, você deveria considerar a ideia de virar uma das minhas
modelos. Estamos procurando garotas lindas e que vivem intensamente
apesar da deficiência. – Elon a olhava com admiração e Zyan sorriu de
canto, puxando-a de volta para perto dele.
— Eu, modelo? – perguntou ela, surpresa.
— Não inventa, Elon! – Zyan o repreendeu.
— Mas eu falo sério, ué! – Elon passou as mãos pelos cabelos loiros,
os olhos azuis faiscavam empolgação. — Corina é uma mulher linda e
duvido de que marcas importantes não vão querê-la. A representatividade
está com tudo. Não seja um homem das cavernas, Zyan! Ou pensa em guardar
a Corina só para você? – Foi um pouco sarcástico para provocá-lo.
Zyan apontou um dedo na direção do amigo.
— No dia em que você reencontrar a sua ruivinha, a gente conversa de
novo, Elon.
— Quem é a ruivinha? – perguntou Corina, intrigada com o estranho
diálogo, mas se divertindo muito. A cabeça dela ia de um amigo ao outro
conforme o som da voz mudava de direção. Aos poucos, ela começava a
gravar detalhes dos amigos de Zyan e isso lhe possibilitava reconhecê-los
melhor.
— O amor platônico de Elon – disse Juliana, que acabava de chegar à
mesa de mãos dados com Alex. — Não a conheço, mas dizem que é uma
francesa linda que Elon conheceu na adolescência.
— Ah, quero saber tudo sobre essa ruivinha – insistiu Corina.
— O dia em que eu encontrar minha ruivinha, vou colocar vocês três
para modelar para minha agência, só aviso – ele brincou com elas e todos
caíram na gargalhada. — Já pensou? Uma morena, uma loira e uma ruiva. O
mundo da publicidade vai ter um colapso e eu vou ganhar os principais
prêmios.
— E quem é o amor de Dimas e Arlo? – Corina foi atrevida de um jeito
que a surpreendeu.
— Arlo é da vida louca – contou Elon, que tinha a fama de língua solta
como Alex —, fica com todas, mas não se apega a nenhuma.
— Já Dimas – prosseguiu Alex —, é mais seletivo e esconde o jogo
dentro desse coração de gelo.
— Por que vocês insistem em dizer que eu escondo o jogo? – reclamou
Dimas. — Sempre empenhados em arruinar minha reputação.
— Porque esconde mesmo – confirmou Zyan, mas decidiu se calar
quando encontrou o olhar do amigo. Ele era o único que conhecia a mulher
por quem o coração de gelo derretia.
Corina bebia sua água enquanto ouvia as histórias deles. Cada risada
era motivo para que se sentisse mais parte daquela família ligada por laços
que eram mais fortes do que os consanguíneos.
— Corina, quer ir ao banheiro comigo? – Juliana a convidou.
— Ah, estou louca para fazer xixi – ela aceitou o convite, mas ao sentir
o aperto de Zyan em sua mão, procurou-o. — O que foi?
— Eu posso levá-la – ele disse, preocupado.
— Você não pode entrar no banheiro feminino – ela o lembrou.
— Mas levo você no banheiro que fica em um dos escritórios...
Juliana se aproximou do casal para prometer que cuidaria de Corina:
— Eu vou estar com ela o tempo todo, juro!
— Tudo bem! – Zyan se convenceu de que ela precisava ter a
experiência completa de uma noite na boate e banheiros femininos faziam
parte do espetáculo, afinal de contas.
Ele a beijou e conduziu a mão dela até o braço da noiva de Alex.
— Não a puxe, Juli! Procure avisá-la dos obstáculos e da direção que
irão tomar com antecedência e jamais grite com ela – orientou ele.
Juliana sorriu e sacudiu a cabeça. Mas foi compreensiva, pois sabia que
era Zyan quem cuidava da segurança de todos.
— Eu já tive alunas com deficiência visual – avisou.
— Vou ficar bem – prometeu Corina e lhe jogou um beijo no ar.
Zyan as acompanhou com os olhos enquanto os amigos o observavam
com sorrisos que significavam que não iriam deixar por menos a paixão que
ele sentia pela loirinha do orfanato.
— O que foi? – ele perguntou ao se aproximar da mesa para pegar o
copo de cerveja. — Se vocês estivessem no meu lugar fariam o mesmo.
— Ela não vai quebrar, Zyan! – disse Arlo que acabava de chegar com
uma cadeira que havia arrastado de outra mesa.
— Ela tem deficiência visual e nunca esteve numa boate antes –
explicou o óbvio.
— A gente sabe – avisou Alex. — Não estamos criticando, não é?
Todos concordaram.
— Estamos apenas achando curioso – emendou Dimas.
— Eu diria engraçado mesmo – retrucou Elon. — Você com todo esse
tamanho agindo com tanta delicadeza e cuidado... É diferente!
— Vai ter volta viu – prometeu Zyan, sorrindo de canto. Nada e ninguém
estragaria sua noite, que apenas estava começando.
— Eu acho que estou pronta para voltar – avisou Corina, mas a voz
revelava que estava insegura quanto à aparência.
Juliana a estudou com os olhos.
— Está perfeita, Corina! – elogiou-a.
— Estou confiando em você! – retrucou Corina e aceitou o braço de sua
nova amiga.
Ela gostava da noiva de Alex mais do que de início julgou ser possível.
Juliana era uma garota de bem com a vida, além de ser muito gentil, e elas
compartilhavam muitos gostos em comum, o que a deixava muito à vontade
para confiar em tudo que lhe dizia.
— Eu e Alex estávamos ensaiando para sairmos para dançar, mas
sempre acontecia algo. Como sabe, Milena vive conosco e minha avó ainda
estava muito debilitada da cirurgia que fez – falou Juliana. — E então Zyan
chamou Alex para um encontro de casais e olha só. Estou até me sentindo
mais leve.
— Eu também amei – soltou Corina.
— Mais três passos e vamos passar pela porta – avisou Juliana, sempre
atenta a todos os detalhes para que a namorada de Zyan se sentisse segura.
— Vamos pegar a direita quando sairmos e passaremos pelo bar. Quero
pegar um coquetel. Pode ser?
— Sem problemas – concordou Corina.
As duas seguiram lado a lado até o bar e quando chegaram foram
imediatamente atendidas pelo barman. A pulseira do vip lhes concedia
algumas regalias.
— Você quer um, Corina? – perguntou Juliana, mas a ausência da amiga
ao lado a deixou apavorada. Começou, então, a olhar ao redor para
encontrá-la e disparou em sua direção quando a viu, não muito distante dali,
conversando com um desconhecido. O homem aparentava ter uns 25 anos e a
segurava pelos braços.
— Solte-a! – Juliana falou alto e o jovem girou a cabeça para fitá-la.
— Quem é você? – perguntou ele enquanto os olhos deslizavam pelo
corpo da noiva de Alex com segundas intenções.
— É minha amiga, Beto – respondeu Corina. Naquela altura, Juliana
havia dado um jeito de trazê-la para perto dela e o encarava. — Juliana, o
Beto é meu irmão.
— Irmão adotivo – ele a corrigiu e Juliana o odiou um pouco mais por
ser tão abusado e prepotente.
— E daí se Corina é sua irmã adotiva? – soltou ela. — Irmão é irmão e
pronto.
Beto voltou a prender os olhos no corpo de Juliana
— Você é gostosa, apesar de marrenta – afirmou ele.
— Ela tem noivo, Beto – avisou Corina.
— E você, irmãzinha? O que faz aqui vestida como uma puta? – Ele
soltou uma gargalhada e passou as mãos pelo cabelo oleoso. — Não quis
sair com meu amigo para dar para um ricaço, é isso?
— Você sabe que não é isso! – Corina tentou justificar. — Jamais
poderia fazer o que me pediu.
Juliana se colocou entre eles ao presumir que o homem poderia tentar
algo contra a irmã.
— Eu não sei da história, mas não é lugar para isso – deu o aviso.
Beto aproveitou a proximidade e deslizou as mãos até a cintura de
Juliana com a intenção de beijá-la, mas foi contido por Alex, que o puxou
pelo colarinho da camiseta com tanta força que ele caiu sentado no chão.
— Alex, não! – Juliana gritou.
E Corina começou a andar para trás assustada, só parou quando sentiu
as costas se chocarem no peito de alguém.
— Estou aqui – disse Zyan. — Fique calma, por favor! Estou aqui... –
repetia sem parar.
— O que eu fiz? – ela soltou.
— Você não fez nada, meu amor! – ele tentava consolá-la de alguma
maneira.
— Zyan, leve as garotas daqui – gritou Alex enquanto atingia o rosto de
Beto com o punho.
Arlo, acompanhado dos seguranças, chegou a tempo de contê-lo. Em
seguida, chegaram Elon e Dimas.
— Elon, fique com Corina por um momento, por favor! – exclamou
Zyan. — E você, Dimas, tire Juliana do meio da confusão – ordenou. —
Princesinha, Elon está aqui com você. Ele vai levá-la até a sala da gerência
e logo eu a encontro lá. Confie em mim – e a beijou na testa.
Zyan pisava duro enquanto abria caminho entre a multidão que se
aglomerava para assistir à briga. Jesus, na manhã seguinte todos os sites e
jornais noticiariam a briga do astro de futebol como furo. Mas a merda
estava feita e tentar juntá-la não adiantava nada; por isso ele queria dar um
aviso para o irmão de Corina. Quando os alcançou, os seguranças já o
arrastavam para os fundos da boate.
— O que vai fazer? – Arlo perguntou. — Acabei de tirar Alex da
confusão e agora você quer entrar.
— Me deixe! – Zyan reclamou, empurrando o amigo com o braço. — O
que tenho que resolver com esse merda é sério.
— Vou com você – disse Arlo e o seguiu.
Passaram por dentro do bar e atravessaram um corredor com pouca
iluminação para chegar no local onde costumavam encostar caminhões e
furgões para fazerem entregas de mercadorias e material de show.
Zyan apressou o passo e não pensou muito quando prensou Beto contra
uma grade de ferro.
— Não se ache o espertinho – avisou com os olhos grudados nele. —
Eu sei que foram os traficantes que mandaram explodir o apartamento de
Corina – bradou.
— Aquela puta não quis aceitar ser namorada do chefe da boca para dar
para você. – Ele cuspiu na cara de Zyan.
— Volte a se referir à sua irmã dessa maneira e juro que mato você, seu
verme! Corina é minha mulher, você gostando ou não. E mais uma coisa,
jamais a deixarei pisar novamente naquele apartamento. Mas seu não vai ser.
Arlo se aproximou quando notou que Zyan estava quase sufocando-o.
— Chega, Zyan! – Agarrou o braço dele. — Você já deu o aviso que
precisava. Deixe que os seguranças cuidam do resto.
Zyan foi afrouxando aos poucos os dedos em torno do pescoço, embora
os olhos se mantivessem fixos no garoto desleixado e magro, cuja cocaína
havia consumido até os miolos. No final, ele sentiu pena da tristeza que era
viver daquele jeito.
— Venha, Zyan! – insistiu Arlo. — Corina espera por você.
E assim Zyan o soltou por completo e virou as costas. O sangue corria
quente pelas veias, a mente estava completamente embotada pelo ódio que
sentiu ao constatar que Corina jamais estaria segura ao lado do irmão. No
entanto, ela jamais conseguiria enxergar a maldade que existia no coração
dele, porque era muito pura e bondosa para isso.

Corina ficou tão abalada com o acontecimento, além de se sentir


culpada pela exposição a que Alex e Juliana foram submetidos, que quis ir
embora da boate. Permaneceu calada durante todo o trajeto até o Morumbi.
Zyan dirigiu em silêncio ao seu lado. Não queria esgotá-la talvez com
palavras que pouco poderiam ajudar. Ele a entendia em um nível que estava
certo de que ela precisava apenas saber que ele estava ao lado dela, para
isso bastava que de tempo em tempo ele estendesse o braço e lhe fizesse um
carinho.
— Você quer tomar um banho? De banheira? – arriscou perguntar
quando chegaram à suíte.
— Acho que sim! Mas dessa vez quero que você entre comigo na
banheira – ela respondeu e o sorriso que abriu o deixou aliviado.
— Vem comigo! – Ele passou os braços pelas pernas dela e a suspendeu
no ar. — É mais rápido assim, além de ser como eu gosto de ter você.
Zyan a deixou sentada em um chaise, que estava ali como parte da
extravagante decoração do banheiro, enquanto cuidava para encher a
banheira e separar algumas toalhas. Corina se encolheu e abraçou as pernas.
— Me sinto culpada por ter dado tudo errado – confessou.
— Você não é culpada de nada e não deu tudo errado. Nós conseguimos
nos divertir e você dançou como queria – a lembrou.
— Mas amanhã Alex e Juliana vão ser notícia por minha culpa.
— Não vai ser a primeira vez que eles viram notícia. – Ele se
aproximou e se ajoelhou diante dela ao lembrar que precisava avisá-la sobre
os paparazzi. — Mas vai ser a sua primeira vez. Corina, eu não sou tão
conhecido como Alex Santos, mas tive uma carreira promissora como
lutador de boxe e sou conhecido como um empresário de sucesso no ramo
que escolhi, razão para que a imprensa invista em mim de vez em quando.
Não sempre como Alex. Você é minha namorada e vão fofocar até se
cansarem.
— Não me importo – ela deu de ombros —, me preocupo mais com o
que Beto falou. Ele foi desrespeitoso com Juliana e falou uma coisa horrível
de mim.
— Eu sei! – afirmou ele. — Beto repetiu cada maldita palavra que falou
para você.
— Ele me culpa pelos problemas dele, Zyan. Como se eu devesse ter
me entregado a qualquer um para salvá-lo das dívidas com os traficantes. E
mesmo se eu tivesse aceitado algo do tipo, ele jamais iria parar. Ontem teria
sido o meu corpo e amanhã o que ele daria em troca para não ser morto por
traficantes? – Ela passou a mão nos olhos quando a verdade de que o vício
do irmão havia destruído a família dela a atingiu.
— Você está certa, meu amor!
— Escolhi você porque você é especial, não porque é rico e tem um
banheiro que parece um palácio.
— Também sei disso. – Zyan começou a tirar a roupa dela enquanto a
enchia de beijinhos para que se sentisse preciosa. — Você é minha
princesinha. A trouxe para cá para que eu pudesse protegê-la, Corina.
— Não vou conseguir voltar para casa mesmo depois de conseguir
consertar os estragos – ela suspirou pesado —, meu irmão está louco e é
capaz de qualquer coisa para manter o vício. Tenho medo de me expor.
Ele se afastou um pouco para tirar a própria roupa.
— Seu irmão está perdido para as drogas. E quanto a voltar para casa,
nem em sonho que vou deixar. Vai me matar de preocupação, isso sim!
— Eu preciso de um lugar para morar, Zyan – ela justificou enquanto
ele a erguia e a levava até a banheira.
— Você tem um lugar para morar – interrompeu-a. — Aqui comigo! É
um apartamento enorme e se quiser posso mandar dividir em dois, metade
fica para você e a outra metade para mim. O banheiro-palácio fica do teu
lado, pode deixar.
E, então, ela riu com a sugestão e o mundo dele deixou de ser tocado
pelo ódio. Ela era a calmaria que sua alma sempre ansiou e assisti-la em sua
dor o deixou impotente, mesmo que fosse um homem rico que pudesse
comprar o que ela quisesse. Havia coisas que o dinheiro não podia resolver
e Corina provou isso a ele.
— Amanhã vou mandar entregar bombons para Juliana e Alex – ela
começou a fazer planos —, com um pedido meu de desculpas.
— Um pedido nosso – ele a corrigiu —, se não se importar.
Corina negou com a cabeça e soltou um suspiro quando sentiu a água
morna molhar sua pele. Zyan se sentou logo em seguida e a acomodou entre
as pernas.
— Me conte sobre sua consulta – ele pediu, também para que ela
esquecesse um pouco as preocupações.
— Comecei a usar uma pílula. Julguei ser a melhor opção para a gente
depois de ouvir com atenção as explicações da médica.
— E podemos fazer amor sem preservativo hoje?
— Sim! – ela encostou a cabeça no ombro dele e o beijou no queixo. —
Quando transamos pela primeira vez eu tinha acabado de menstruar, então
está tudo certinho.
— Isso é ótimo, princesinha! – Zyan desceu com as mãos até os seios e
começou a massageá-los enquanto a boca se empenhava em excitá-la com
beijinhos depositados no pescoço dela, cuja pele macia o enlouquecia. Eles
haviam transado algumas vezes sem preservativo, mas Zyan sempre tomara o
cuidado de não perder o controle a ponto de ejacular dentro dela, para que
pudesse vesti-lo a tempo. Corina sentiu o cutucão do pênis grosso entre as
nádegas e deixou o relaxamento a envolver conforme ele a tocava. — O que
acha de experimentarmos algo novo hoje? – Ela concordou com a cabeça. —
Então fique de frente para mim, meu amor. – Ela se virou e ele a ajudou a se
acomodar melhor com uma perna de cada lado. Zyan conduziu as mãos dela
até o pênis. — Leve até você. Eu sou seu, Corina.
A confiança que ele tinha nela a abalou. Corina sentia o mundo se tornar
mais quente, um lugar melhor quando ele fazia questão de estar presente,
ensinando-a a confiar mesmo quando tudo dizia que era perigoso.
Zyan afundou os dedos no traseiro dela para que ela não perdesse o
equilíbrio e movimentou um pouco o quadril para ajudá-la na tarefa de
encaixar o pênis em sua entrada. Quando ela sentiu a ponta deslizar e a carne
se abrir para recebê-lo, a mansidão da promessa de prazer a abraçou,
fazendo com que ela fincasse as unhas nos ombros dele enquanto jogava a
cabeça para trás.
Ele perdeu o fôlego com a imagem da perfeição diante dele, linda,
majestosa e totalmente absorvida pelo êxtase sexual. Eram um só,
conectados por laços tão sagrados que não conseguiria descrevê-los com
precisão.
— Isso é bom – confessou ela entre gemidos roucos que o deixavam à
beira do próprio orgasmo. — É ainda melhor.
— E vai ficar melhor se você subir e descer – instruiu-a.
Ela arriscou um movimento e soltou mais um gemido quando o pênis
bateu lá no fundo de novo.
— Assim? – perguntou, os olhos fechados e a boca entreaberta
delatavam o quanto estava absorvida pelo momento. — Eu posso beijá-lo
enquanto me movimento?
— Você pode tudo, sempre – a incentivou e a estreitou contra ele
quando ela se curvou para beijá-lo. O roçar da ponta dos mamilos contra a
pele do peito dele a fez ofegar e empinar o bumbum, de modo que a
penetração se tornou um espetáculo.
Corina esqueceu toda a dor que sentiu por ter sido acusada injustamente
pelo irmão. Não poderia se sentir menos do que Zyan a considerava em sua
vida por lhe entregar a virgindade. Ele a fazia se sentir especial. E isso era
muito para uma garota que sempre se sentiu sozinha em um mundo no qual
enxergar fazia parte do rol do que era ser perfeita. Ela se sentia uma mulher
inteira nos braços dele e o mero pensamento de que ele a queria a fez se
soltar e começar a rebolar, como se aquele conhecimento houvesse sempre
feito parte de quem era ela; como se Zyan fosse o dono da chave que abria a
caixinha feminina do prazer.
— Eu esperei tanto tempo por você, Zyan – ela deixou escapar, cada
vez mais tomada pelo desejo que a envolvia, como se brumas tornassem seu
corpo uma extensão dos pensamentos que a conduziam a procurar o próprio
prazer. — Tanto, tanto, tanto...
O nome dele saindo dos lábios dela como uma carícia sensual o
desestabilizou, a emoção do pertencimento retumbou dentro dele como se ela
fosse a extensão da alma dele. Não foram as semanas que passaram juntos
depois de anos separados que o fizeram amá-la, era como se ele estivesse
apenas esperando o tempo certo para reencontrá-la, a outra metade de sua
alma.
Corina se soltava, permitindo-se agir com atrevimento a ponto de
buscar a língua dele em uma exploração que a fazia se sentir parte dele, da
vida dele. Conforme o prazer quase a sufocava, ela o beijava, virando a
cabeça para encontrar um ângulo diferente.
— Jesus, Corina! Você vai me matar de tesão – ele admitiu, as sílabas
se arrastavam na rouquidão da voz embargada pelo desejo que ela
provocava nele. Ela beijava, chupava, lambia, o agarrava com os braços e
pernas, rebolava para que a penetração fosse cada vez mais profunda e
prazerosa. Ele agarrou, então, os quadris enquanto o corpo dele se erguia
contra o dela e arremeteu com dureza, desesperado para se fundir a ela, os
dois juntos queimando no núcleo do arrebatamento sexual. — Dentro de
você é o melhor lugar para se estar – confessou enquanto o coração batia em
um ritmo acelerado, trabalhando com vigor para bombear sangue para o
pênis. Jamais sentiu algo do tipo, a brutalidade do prazer sexual aliado ao
amor mais puro e inocente do mundo. Era algo divino, não podia negar.
Ela se afastou da boca dele, os olhos entreabertos e o rosto corado eram
a prova que o prazer dela era dele. Só dele.
Zyan tomou um mamilo na boca e chupou com gosto. Os espasmos que
vinham de cima se encontraram com os que vinham de baixo e a explosão
aconteceu dentro do corpo dela. Tremores eram compartilhados e um não
sabia onde começava e terminava o prazer do outro.
Gemidos se perdiam entre eles como promessas de amor profundo. Uma
vida não seria o suficiente para caber tanto sentimento inexplicável. Pairava
sobre eles a magia do amor, puro, letal, impossível de evitar.
Os dias seguintes foram tão mágicos quanto os primeiros que passou na
companhia de Zyan, embora Corina sentisse que não poderia fingir para
sempre que os problemas não existissem. Ela vivia de favor na casa do
namorado e isso não poderia ser saudável para o relacionamento que
queriam fazer desabrochar para durar muitos anos. Mas ele insistia que não
havia mais como viverem separados e a cada despertar nos braços dele o
amor parecia se enraizar ainda mais no coração dela.
— Já dei água para Chanel – avisou Angélica quando retornou à loja e
encontrou Corina ajoelhada empilhando caixas de bombons em uma
prateleira. Ela gostava de trabalhar na loja de chocolates importados porque
podia sentir o aroma delicioso do cacau misturado ao leite e outras
essências, além de conversar com gente de todas as partes do mundo. Sabia
falar espanhol, que aprendera com a mãe, e um pouco de inglês, o que a
ajudava a se comunicar com os clientes estrangeiros.
— Obrigada, Angélica – Corina agradeceu.
— Imagina! Chanel é tão quietinha.
— Mas o neto da Dona Íris não gosta dela – retrucou Corina.
— E aquele mimado gosta de alguma coisa?
— Não sei como vai ser quando Dona Íris se aposentar. Posso ficar sem
emprego. Ela era amiga da minha mãe e por isso me convidou para trabalhar
na loja. Igor já são outros quinhentos.
— É um safado isso sim – soltou Angélica, ajoelhando-se ao lado de
Corina para ajudá-la. — Porque você é muito ingênua para entender as
piadinhas de duplo sentido que ele solta. E não consegue enxergar como ele
seca você. Ainda bem que você se entendeu com o Zyan. Quero ver se Igor
vai ter coragem de soltar mais um “ai” agora que alguém com o dobro de
tamanho dele pode revidar.
— Meu Deus, Angélica! Bata na boca! Não quero nem pensar em mais
uma confusão para o meu lado. Já chega a confusão da boate.
— Não falam de outra coisa nas redes sociais. E tem cada foto linda
sua.
— Zyan me contou todo orgulhoso que eu fiquei muito bem nas fotos. –
Ela riu.
— Você é linda, Corina! Devia considerar a ideia de trabalhar na
agência de Elon Valente. – Angélica tocou no braço da amiga, era o código
que tinham estabelecido para que mudassem de assunto. — Igor chegou –
sussurrou e logo em seguida se levantou. Angélica também era linda, com
seus quase um metro e oitenta de altura e os cabelos castanhos na altura dos
ombros.
— Boa tarde! – cumprimentou ela. — Em que posso ajudá-lo?
— Vim trazer os bombons belgas. Vovó está resfriada e não pode vir –
avisou o homem de aproximadamente 27 anos e com uma prepotência digna
de alguém que se achava melhor que qualquer um por morar na zona sul e
não ter que usar metrô. Angélica sorriu e pegou as caixas do bombom mais
caro da loja e que geralmente era estocado na casa da dona para evitar que
estragassem. — Já deve saber como guardá-los.
Angélica fez que sim com a cabeça e se apressou para guardar as
caixas, assim evitaria que Igor a seguisse e implicasse com Chanel. Aliás,
ela não entendia como ele podia implicar com o cão-guia, cuja casinha havia
sido construída em um local separado do resto da loja, a fim de cuidar para
que o animal ficasse separado dos chocolates e clientes.
— E você, Corina? Ainda por aqui? – Igor se aproximou de Corina.
— Como sempre – ela respondeu sem desviar a atenção do serviço.
— Achei que já tivesse pedido as contas agora que ficou famosa – ele
debochou. — Para uma ceguinha você teve muita sorte – ele se ajoelhou e
deslizou o dorso dos dedos no rosto dela —, mas também, com esse rosto de
anjo, quem não se encanta por você?
— Corina! – Zyan a chamou e ela sentiu o coração pular no peito ao
lembrar do que Angélica havia dito sobre Igor. — Algum problema, meu
amor? – ele perguntou se aproximando aos poucos.
— Não! Estou terminando aqui e logo podemos ir – ela disfarçou o
constrangimento. — Este é o neto da Dona Íris. Ele assume a administração
da loja quando ela não se sente bem.
Zyan estendeu o braço para cumprimentá-lo.
— Zyan Cardoso – disse. — Sou o namorado de Corina.
Igor o encarou e estendeu o braço também.
— Eu o conheço. Você é famoso.
Zyan se aproximou.
— Que bom que me conhece, Igor! – Seu rosto era uma máscara de
indiferença, sequer mostrou os dentes enquanto falava. — Eu vi o que você
estava fazendo com minha namorada. E só tenho um aviso para dar: faça de
novo e terá que se ver comigo.
Corina terminou de guardar as duas últimas caixas e se levantou, alheia
à conversa que o namorado mantinha com o neto da dona da loja.
— Amanhã vou estar de folga. Já combinei com a Dona Íris, Igor – ela
avisou enquanto limpava as mãos no avental.
Zyan olhava dela para Igor à espera de que ele pudesse maltratá-la. Mas
se ele se atrevesse a desdenhar mais uma vez de Corina... Ele era capaz de
comprar a loja para ela, desde que quisesse, obviamente. Porque algo nela
deixava transparecer que não era feliz no trabalho, embora ela demonstrasse
grande carinho pela dona e por Angélica.
— Zyan – ela girou a cabeça na direção em que achava que ele estava e
se sentiu aliviada quando sentiu o toque dele em sua mão —, eu vou pegar
minhas coisas e a Chanel – o nome da cão-guia saiu baixinho —, já volto.
Angélica voltou logo em seguida e cumprimentou Zyan. Ela não
conseguia tirar os olhos do homem e poderia ser constrangedor se o ex-
lutador não estivesse acostumado.
— Já que você é namorado de Corina e está aqui – Igor começou a
expor a situação que ele julgava ter sido invenção de gente velha —,
gostaria de saber se pretende se casar com ela.
— E por que o interesse na vida particular de uma funcionária de sua
avó? – Zyan cruzou os braços e o encarou.
— Vou ser claro – atestou ele. — Corina é um estorvo para esta loja.
Há anos não podemos mudar a decoração porque vai confundi-la.
— Entendo! – retrucou Zyan em um atitude impassível. — Vou dar um
jeito nisso o quanto antes – prometeu.
— Sabia que um empresário de sucesso como você compreenderia
nossas razões – Igor disse, o peito estufado e o sorriso bobo grudado nos
lábios eram a prova que Zyan queria, de que se tratava de mais um filho de
papai mimado que brincava de ser CEO.
— Vou estudar com Corina a possibilidade de comprar a loja de sua
avó. Mas se ela desejar ter a loja para si, trataremos direto com sua avó.
Agora, se me der licença, temos que ir. – Ele deu as costas ao neto de Dona
Íris ao avistar Corina com Chanel parada perto do balcão em que ficava o
caixa.
— Achei que você não viria me buscar hoje – disse assim que ele
entrelaçou os dedos aos dela, lembrando-se de que iriam embarcar para
Buenos Aires num voo depois das dez horas. — A reunião foi mais curta do
que esperava?
— Decidi encerrar antes – explicou ele. — Senti uma saudade
inexplicável. Mas chegando aqui percebi que existia uma razão.
— Só um pouco, Zyan! – ela pediu e virou a cabeça na direção em que
ela sabia que ficava o caixa para falar com Angélica. — Você tem certeza de
que posso ir?!
— Claro que sim, Corina! – Angélica se debruçou sobre o balcão
desgastado para cochichar. — Ele é só chato. Vá em paz!
Zyan piscou para Angélica, que corou de vergonha. Despediram-se e
saíram da loja.
— O que você estava falando sobre a reunião? – Corina queria retomar
a conversa do ponto em que haviam parado.
— Que eu deveria buscá-la para descobrir que você tem um chefe
babaca.
— Igor é só o neto da Dona Íris – ela o corrigiu.
— Que dá em cima de você e que um dia vai ser o patrão. E quando
esse dia chegar, ninguém vai impedi-lo de assediá-la.
— Você está falando como a Angélica.
— Porque está na cara que ele é louco por você, Corina. Mas perdeu a
chance, o babaca. – Ele a abraçou e a trouxe para perto dele, o sentimento de
posse comandava cada pensamento e ação. — Mas é tão babaca que não tem
coragem de assumir o que sente em razão de sua deficiência visual, Corina.
Ela se aconchegou nele e esticou o pescoço para beijá-lo no queixo.
— Me sinto aliviada por você não achar que eu estava me oferecendo
para ele – desabafou.
— Jura que achou que eu seria capaz de ser tão idiota assim? – Ele
revirou os olhos. — Eu conheço você, Corina, para saber que é incapaz de
coisa do tipo... ainda mais depois de se derreter nos meus braços – fez
referência à noite de paixão que tiveram —, mas isso não significa que vou
aceitar um aproveitador ao seu lado.
— Ele é o neto da minha chefe, mas não sei se vai ser assim tão fácil –
ela o lembrou.
— Ah, vai sim! Mas vamos comprar a loja, se você quiser. Mas só se
você quiser.
Ela soltou uma gargalhada, apesar de ter ficado um pouco assustada
com a promessa dele.
— Você é louco! – soltou.
— Sou louco por você – retrucou ele, seguro de cada sentimento que
tinha pela mulher que era perfeita para seu coração.

Algumas horas depois e com o coração ainda sob o impacto do que era
voar pela primeira vez, Corina não sabia se ria ou chorava de emoção. A
viagem estava sendo magnífica e acima das expectativas que havia nutrido.
Zyan passara o tempo todo sorrindo como um bobo apaixonado por cada
reação que ela tinha, com cada uma de suas descobertas. Ele tentou traduzir
em palavras o que via para empolgá-la; se conseguiu atingir o resultado
almejado, não sabia dizer, mas que ela ficava ainda mais linda empolgada,
ah, isso ficava. Cada sorriso era seguido de uma carícia que ela fazia
questão de deixar no corpo dele, o que o deixou ansioso para que chegassem
o quanto antes no hotel, pois seria perfeito quando a euforia que sentia se
transformasse na mais pura energia sexual.
— Será que Chanel vai ficar bem mesmo? – ela perguntou quando já
estavam entrando no carro que os levaria para o hotel.
— Vai sim! A Milena ama a Chanel e com certeza ela vai ser
paparicada – comentou Zyan ao se sentar ao lado dela no banco de trás do
táxi.
— Nunca fiquei tantos dias longe dela – explicou.
Zyan a beijou no rosto e a puxou para que ela pudesse ficar com a
cabeça encostada no ombro dele. Já passava da meia noite e Buenos Aires
tinha uma magia diferente. E pela primeira vez desde que começaram a se
encontrar, ele sentiu muito por ela não poder enxergar todas as maravilhas
que o mundo oferecia; ele nem sempre iria conseguir explicar a beleza das
coisas do jeito que ela merecia. E talvez se ela pudesse enxergar com os
próprios olhos, seria capaz de perceber nuances que ele provavelmente
deixava passar. Corina era pura demais para enxergar o lado feio do mundo,
mesmo que ela pudesse enxergá-lo com a visão perfeita, a qual a maioria das
pessoas não conseguia valorizar.
— Em algum site dizia que consideram Buenos Aires a Paris da
América Latina, em razão da arquitetura e dos inúmeros parques que existem
na cidade – Corina contou empolgada. — O que mais me chamou a atenção
foi o Rosedal, que tem mais de dezoito mil roseiras.
— Depois da reunião vamos seguir direto para Bariloche, como
prometi, para que você conheça a neve, Corina. Mas prometo que vamos
voltar um dia para Buenos Aires. Não faltarão oportunidades agora que vou
abrir uma filial da empresa.
— Eu sei que vamos! – Ela sorriu e ele grudou a boca na dela.
O percurso de trinta e cinco quilômetros do aeroporto até o centro da
cidade passou depressa. Corina enchia o coração de Zyan com o que tinha de
melhor. Ela tinha o dom de fazer o tempo passar da forma mais agradável.
Ele pagou o motorista e se apressou para realizar o check-in.
— Não posso esperar menos do que a suíte presidencial, não é? – ela
brincou quando ele foi buscá-la na poltrona em que estava sentada
aguardando enquanto ele os registrava no hotel.
Zyan riu e se curvou para cochichar no ouvido dela.
— Com banheira de hidromassagem – provocou-a de propósito.
Ele tinha tanto para aprender com Corina. A gentileza com que tratava
as pessoas e a maneira incrível com que interpretava o mundo, valorizando
as pequenas coisas como se não houvesse problemas, evitando se deixar
tocar pelo rancor, até mesmo quando tinha motivos para isso. Ela era um sol
sempre disposto a aquecer qualquer um que duvidasse do poder que era
viver.
Corina tropeçou ao cruzar a porta da suíte. Zyan conseguiu segurá-la,
mas se sentiu mal por permitir que um degrau a desequilibrasse. E se sentiu
desapontado por não ter exigido uma suíte mais segura para ela.
— Podemos trocar de suíte – ele se apressou para justificar sua falta de
cuidado com algo tão importante. — Me perdoe, princesinha! Eu fiquei
olhando para você e esqueci de guiá-la direito.
— Estou bem! – ela o tranquilizou. — Como sempre você me salvou.
— Quando voltarmos, o apartamento vai estar mais seguro para você.
Paula vai organizar melhor algumas coisas. – Ela levou a mão até o rosto
dele e o puxou a fim de que ele parasse de falar.
— Por favor, você poderia me beijar ao invés de ficar falando sobre
minha segurança? Só me faz lembrar que sou cega, e isso é a última coisa
que quero pensar quando estou com você.
Ele abriu um sorriso de orelha a orelha e a pegou nos braços. Era o
lugar mais seguro para ela estar, nos braços dele. Fechou a porta com um
chute.
— A vista daqui é magnífica, meu amor. Buenos Aires é muito
interessante daqui de cima – ele começou a descrever o que via. — Nossa
cama é enorme, com edredom branco. Atrás da cama tem uma grande janela
de vidros. – Ele a depositou na cama. — E tem um enorme vaso com rosas
amarelas em cima da mesa, sua flor preferida.
— Você está mesmo olhando para a paisagem ou para mim? – Como ela
sentia os olhos dele no corpo dela, ele não sabia, mas era exatamente ela que
o fascinava.
— Estou olhando para você, princesinha – admitiu —, porque me
interessa bem mais do que a paisagem de Buenos Aires, que eu já vi outras
vezes. Você é até mais linda que as rosas. E olha que escolheram as
melhores flores para enfeitar a suíte. Quero amar você. Agora – avisou com
a voz tão embargada que quase ficou presa na garganta. O pênis latejava no
aperto da calça de alfaiataria.
— Eu também quero você. – Ela estendeu os braços e os passou ao
redor do pescoço com veias saltadas, trazendo a boca dele para perto da
dela. Foi então que ele não resistiu e avançou para cima dela como um leão
faminto.
— Deveríamos ir com calma... – ele tentou se conter, mas como
conseguiria? Ele não era de ferro, afinal. — Não quero machucá-la.
Ela o impediu de discursar sobre delicadeza com um beijo na boca,
puxando-o contra ela para que percebesse que ele jamais a machucaria; o
que acontecia entre eles era um encaixe perfeito. Homem e mulher em busca
de prazer como uma celebração do amor que estavam descobrindo aos
poucos.
— Sabe o que acho? – Ela arriscou se afastar da boca dele. — Que eu e
você fazemos amor, e quando duas pessoas fazem amor, elas não podem
machucar uma à outra. Você me toca com amor, Zyan – constatou. — Não há
coisa mais perfeita do que seu corpo me tocando, transformando meu corpo
em uma extensão do seu.
— Jesus, Corina! Quando acho que entendi a perfeição que você é, você
consegue me surpreender com mais perfeição. Eu vou amar você com meu
corpo enquanto entrego meu coração a você.
— Faça isso, Zyan, e garanto que me tornará a mulher mais feliz do
mundo – ela disse enquanto as mãos trabalhavam para abrir os botões da
camisa muito bem passada. Naquela altura ele já havia se livrado do blazer
e ela estava apenas de calcinha e sutiã, linda e perfeita como ele sempre a
viu —, mas não se contenha, por favor! Quero você por inteiro, até mesmo a
parte mais selvagem que você tanto esconde de mim.
— E se eu a assustar? – temeu que ela pudesse fugir dele.
— Não vou! Só vou embora se não me quiser mais – garantiu, tomada
de um desejo duro e primitivo. Corina sentia o corpo convulsionar à medida
que ele deslizava as pontas dos dedos em sua pele em um esforço para
arrastar a calcinha pelas pernas.
Zyan a olhou e quase gozou quando viu em seu semblante o desejo. Os
olhos estavam mais azuis do que o normal, reflexo talvez da excitação que a
varria. Ele afastou as pernas dela com as mãos e a estudou com os olhos,
deslizando o olhar de cima a baixo, tantas vezes até que se sentiu farto. Ou
talvez mais faminto pelo gosto dela.
Sim, ele queria provar da doçura de Corina. E abaixou a cabeça para
beijá-la entre as pernas. O fogo que ela o fazia sentir quase o consumia
tamanha era vontade de tocá-la bem ali, naquele pedacinho de carne que
sempre estava escondido e que havia se convertido na fonte dos mais
ardentes desejos de um homem. Embora ele não pudesse mentir que tudo
nela perturbava sua mente de uma maneira que apenas vivia para pensar em
formas de tirar dela os mais sensuais gemidos.
Corina se recostou na pilha de travesseiros e afastou um pouco mais as
pernas, um convite audacioso para uma garota que até outro dia era virgem.
Talvez a viagem de avião a deixara com os miolos moles, não saberia
explicar direito; ou talvez tivesse sido apenas a taça de espumante que tomou
durante o voo que a fizera se sentir tão disposta a ser selvagem uma vez na
vida. Mas ela queria que ele a beijasse e fizesse algo mais, como chupar o
clitóris e dar a ela o que tanto precisava. Sim, ela esperava que Zyan
percebesse sua aflição e que não demorasse para atendê-la.
— O que você quer, Corina? – ele perguntou para atormentá-la, ela
estava certa disso.
— Jura que você vai me fazer confessar assim com todas as letras o que
quero? – Ela respirou pesado, como se o ar que inalava pudesse lhe dar uns
segundos a mais antes de se render totalmente à tentação, para em seguida
levar o dedo indicador até a boca.
Zyan sentiu o impacto da cena e foi quase dolorido se conter para não
se jogar de boca em cima dela. Corina não precisou sequer verbalizar o que
ela queria, porque os olhos dela já foram suficientes para externar que ela
precisava dele, da boca dele. Quando os lábios encontraram a carne sensível
e excitada os gemidos dela o prenderam em uma espécie de música mágica,
as pernas dela se enrolaram ao redor do pescoço dele como se fosse a
serpente do paraíso capturando-o em uma espécie de jogo sexual em que não
havia vencedores; mas ele não se importava que fosse ela a vencedora. A
cada lambida que deixava na região mais sensível do corpo feminino, ela se
contorcia, e cada gemido era como se ela pedisse por mais. E assim foi até
que ela implorou para que ele parasse.
— Oh, meu Deus!!! Como pode uma língua fazer com que eu me sinta
como chocolate derretido? E ao mesmo tempo me sinto ardida, mas uma
ardência boa.
Ele se afastou um pouco para falar. Mas antes soltou uma risada que a
fez rir também.
— Você tem gosto bom, Corina! É doce, ainda mais doce que um
chocolate.
Enquanto ele começava a subir em busca da boca dela, espalhando
beijos pela pele arrepiada, afundava dois dedos dentro dela; o polegar
roçava no clitóris para que ela sentisse mais um pouco da ardência que era
boa. Ele brincava com a excitação feminina como parte daquele jogo erótico
de provocações trocadas. Porque se havia uma certeza que flutuava entre
eles como uma verdade inquestionável era a de que ninguém ali se atrevia a
dizer quem provocava mais o outro.
Algumas batidas de coração depois e outros tantos gemidos
ocasionados pela exploração na pele feminina, os lábios se encontraram
para que ele provasse mais uma parte dela. Tão doce quanto.
As mãos de Corina deslizavam pelos braços, costas, até chegar na
altura do elástico da cueca. Ele a ajudou, e quando a ereção saltou entre eles
e ela a envolveu com as mãos, Zyan rangeu os dentes e jurou que estava
perdido. Só mais um movimento que ela ousasse fazer e ele se derramaria.
Isso não poderia acontecer. Então ele deslizou um pouco para baixo e voltou
a subir até que sentiu o encaixe acontecer. Seu pênis escorregava dentro
dela, enquanto a voz doce e melodiosa o guiava naquela doce tortura. Ele
adorava a sensação maravilhosa de fazer parte do corpo dela.
— Mais duro... – ela ronronava como uma gatinha —, eu quero mais
duro. Não tenha medo de me quebrar.
Que diabos ela achava que ele era para aguentar tantas provocações?
Não aguentava mais e deixou que ela o comandasse a seu bel-prazer,
dando a ela exatamente o que pedia: duro e forte. Começou então a se
movimentar dentro dela, implacável, quase letal, em busca do próprio prazer
conforme ela o incentivava. Mas isso não o impedia de cuidar para que ela
alcançasse o orgasmo com ele. Corina estava quase lá, ele podia sentir que
sim, a respiração pesada e entrecortada, suspiros que eram soprados pelos
lábios inchados de tanto beijar, os olhos fechados e as mãos que o buscavam
indicavam que estava absorvida no prazer que compartilhavam.
Jesus, ela era linda quando se entregava assim! E só dele.
Tomado pelo ofuscamento que a beleza de Corina proporcionava à
mente, Zyan se perdeu enquanto estocava em busca da promessa de prazer
conjunta, derramando-se dentro dela no exato instante em que ela conjugou o
verbo amar para recompensá-lo pelos anos que não se sentiu digno de
ninguém.
Porque sempre havia sido ela e mais ninguém.
No dia seguinte, com um atraso que nunca aconteceu na vida de Zyan,
ele conseguiu se reunir com os executivos da empresa de segurança para
tratar da fusão. Foi o jeito que encontrou de entrar no mercado argentino sem
ter que enfrentar certas burocracias. Ele levou Corina consigo, pois não
queria ficar um minuto sequer longe dela, a preocupação com sua segurança
sempre viria em primeiro lugar. Além disso, decidiram viajar apenas os
dois, como um casal, o que a deixava mais exposta aos perigos; por isso, ela
reclamando ou não, teria que ficar colada a ele.
Mas Corina parecia feliz quando ele a encontrou na recepção com os
fones nos ouvidos e uma xícara de café pousada em cima da mesinha de
canto. A recepcionista sorriu para ele e soprou um elogio sobre a beleza e
simpatia da sua noiva.
Noiva.
A palavra ficou suspensa no ar para lembrá-lo de que tê-la como esposa
seria ainda melhor.
Zyan seria capaz disso num piscar de olhos. Seu coração, de certa
forma, exigia isso. Mas temia que ela se assustasse com a rapidez dos
acontecimentos. E por enquanto era melhor que guardasse o desejo de ser
marido dela apenas para ele.
Quem sabe um dia, que esperava não estar distante, pudessem se casar e
com isso legitimar a felicidade que ela o fazia sentir. Uma família de
verdade, só dele.
— Um dos nossos motoristas já está a postos para levá-los até o
aeroporto – avisou a secretária em um “portunhol” engraçado.
Zyan agradeceu e se aproximou de Corina. Deixou-a que o reconhecesse
e depois curvou a cabeça para beijá-la na boca. Ele amava o jeito que ela se
abria para receber um beijo. Corina era pura entrega, genuína e verdadeira.
Ela aceitou a ajuda dele e deixaram o elegante e moderno edifício
empolgados para a segunda parte da viagem. Bariloche era o destino e tudo
que ela contava sobre o que havia pesquisado sobre o lugar o deixava um
pouco mais encantado. Corina não deixava de viver porque não podia notar
o mundo com os olhos, ela se desdobrava de alguma forma para compensar a
falta da visão.
Ele amava participar da vida dela de um jeito que em alguns momentos
esquecia que tinha responsabilidades. O jeito com que ela colocava o cabelo
encaracolado atrás da orelha, os suspiros que soltava ao provar uma comida
diferente o deixava extasiado. E quando ela fechava os olhos e afastava os
lábios para receber os beijos dele era como se ele estivesse tocando um
anjo. Um anjo com a aparência mais perfeita. Tudo nela o lembrava do
paraíso perdido. E isso o assustava na mesma medida que o deixava afoito
para tocá-la, como se em algum momento Deus pudesse considerar a ideia
de puni-lo pelos tantos erros que cometeu em seus muitos anos de vida,
afastando-a dele. E foram muitos, mas nenhum foi em vão, porque ele tentava
fazer o certo, para ele e para os amigos que dependiam dele para sobreviver
em um mundo que costumava ser mais injusto do que justo.
— Corina! – a chamou, estavam sentados lado a lado no jatinho que os
levaria até Bariloche. — Se eu disser que quero fazer amor agora, você vai
achar um abuso de minha parte?
— Aqui e agora? – ela soltou enquanto a mão apertava a dele. Quando
estavam juntos era como se existisse uma espécie de magnetismo que os
impedia de se soltarem. Era inevitável um não tocar no outro, o tempo todo.
— Aqui e agora – confirmou, a voz se perdeu no eco de tão arrastada
que saiu.
— Eu acho uma ideia maravilhosa. Mas por querer o mesmo que você,
você me acharia uma mulher sem princípios?
Zyan se virou de lado na poltrona para ficar de frente para ela. Levou a
mão dela aos lábios e usou a ponta da língua para brincar com o pulso
delicado.
— Você é a pessoa com mais princípios que conheci, Corina – ele
atestou. — Gostar de fazer sexo não a torna pior do que ninguém.
— Não me importo com o que os outros vão dizer, Zyan. – Ela também
se virou no banco para ficar de frente para ele. — Só me importa sua
opinião, o que você pensa de mim.
— Só penso o melhor, princesinha! – garantiu. — Embora muitas vezes
meus pensamentos não sejam nada puros... como agora, que desejo fazer
amor com você.
Corina sorriu e ficou de joelhos na poltrona, arrastando-se para o lado
de modo a montar nele. Ela usava uma saia de lã batida e absolutamente
nada por baixo. Quando se vestiu de manhã, fez de propósito esquecer a
calcinha e a meia.
— Você quer me matar! – Ele a buscou com os olhos enquanto as mãos
a exploravam por baixo da saia.
Corina se sentia atrevida, no controle da situação. E ele amava o efeito
que isso causava em sua aparência.
— Eu achei que você pudesse gostar – ela abaixou a cabeça para se
aproximar do ouvido dele —, de sexo no avião.
E então ele entendeu a pergunta que ela havia feito sobre o que ele
pensaria sobre ela gostar de sexo. Os dedos dele se infiltravam entre as
dobras de carne sensível, o toque era firme, mas com pouca pressão, para
excitá-la. Corina apoiou os braços nos ombros dele e o beijou com vontade,
entregando-se a ele como se fosse um presente enviado do céu para fazê-lo
feliz. Ele fechou os olhos e inalou o perfume de lírios, impregnando-se da
presença dela como um sopro de vida. Não tinha força para abandonar a
pele molhada, muito menos a boca dela, para pedir que o ajudasse com o
zíper da calça. Mas ela o entendia tão bem, em um nível de profundidade que
os verbos eram substituídos por uma espécie de telepatia.
— Você me faz tão bem – Corina disse sem se afastar da boca dele,
enquanto as mãos acariciavam o pênis endurecido. Ela explodia entre as
pernas conforme tomava consciência de que a virilidade era despertada
pelas carícias que se empenhava em deixar. Algo dentro dela sempre a
empurrava para que o enchesse de carícias, como se aquele corpo forte e
másculo, forjado a partir da dificuldade, cujas lutas o marcaram, precisasse
do toque dela para se livrar das feridas de uma vida de pouco afeto. Sua
alma exigia que o marcasse com seu amor.
— Corina, por Deus, você ainda vai me matar... – ele rangeu os dentes
entre um intervalo e outro que a língua dela se afastava da dele para tomar
fôlego. — Você me intoxicou com seu corpo perfumado, marcou minha mente
com seu sabor de algodão-doce... e marcou meu coração com seu amor.
Ela encaixou por conta própria o pênis em seu corpo, já úmido em razão
das preliminares, e empurrou para baixo, forçando o encaixe, dominando a
penetração enquanto ele se desmanchava de prazer nos braços dela. O raspar
do clitóris na extensão endurecida a fez arquear as costas e fincar as unhas
nos ombros dele, ofegos de prazer ardiam nos tímpanos dele para empurrá-
lo em direção ao arrebatamento sexual. Eles estavam juntos, de mãos dadas,
bem pertinho da borda, bastava saltarem juntos para se abraçarem no mais
mundano dos prazeres da vida.
Eles faziam sexo enquanto se entregavam aos sussurros e promessas de
amor. Ou talvez seria mais apropriado dizer que faziam amor enquanto o
sexo os unia para que o mundo deixasse de ser solitário.
Homem e mulher, opostos da mesma essência, grudados e suados,
ardentes em busca do fogo da criação.
Isso era se completar, pensaram. E até o fim dos tempos sempre seria
assim: um homem buscando sua metade em uma mulher, para se tornarem
perfeitos dentro das imperfeições que os faziam humanos.
— Eu amo você! – ele quase gritou com ela ainda montada sobre ele,
depois do mais incrível e delicioso orgasmo que experimentou na vida. —
Para sempre.

Bariloche era um pedacinho da Suíça que foi parar nas montanhas


argentinas. E os brasileiros pareciam amar o destino nevado nos meses de
inverno. O ruído familiar do português em meio ao espanhol dos argentinos
fazia com que Corina se sentisse em casa. Era o Brasil em meio à neve, ela
pensou ao sentir o vento gelado no rosto.
— Um dia vou levar você para a Suíça. Se você está gostando de
Bariloche, vai amar a Suíça – prometeu Zyan carregado de sacolas em um
braço enquanto com o outro conduzia Corina entre as pessoas. Precisavam
de equipamentos para explorar as montanhas cobertas de neve e por isso
decidiram ir às compras assim que aterrissaram.
— Mas pelo pouco que descreveu, Bariloche é praticamente um oásis,
mesmo sem neve – comentou Corina.
— Você está com as mãos geladas – ele a apertou contra o corpo para
que se aquecesse —, deveria ter colocado as luvas. Ainda bem que você
decidiu vestir uma calça na loja. – Sorriu ao lembrar da travessura sexual
que havia aprontado dentro do avião. Jamais veria uma saia no corpo dela
sem pensar no calor que encontrou no meio de suas pernas.
— Estou tão empolgada que mal sinto frio – confessou. — É como
viver um sonho de princesa. – Corina se afastou e rodopiou no ar, deixando-
o assustado. Se ela caísse e se machucasse, não se perdoaria. Por isso se
apressou para enlaçá-la pela cintura.
— Em Bariloche? – Ele riu com sua comparação. Corina era tão meiga
e diferente das mulheres que costumava sair que não o surpreendeu com sua
felicidade. Qualquer outra teria preferido uma viagem para a Suíça.
— Sim! – ela concordou com a cabeça. — Tem neve, não tem?! E onde
tem neve, tem trenós, que me lembram príncipes. E o príncipe é você, é
lógico! Eu adoro assistir aos filmes de Natal, sabe – explicou quando o
silêncio dele pairou sobre eles.
— Você não existe. – Ele se divertia com ela de um jeito incomparável;
e era difícil descrever o poder que ela exercia sobre ele, no sentido bom da
palavra. Zyan sorria mais quando estava com ela. E se irritava muito menos,
precisava admitir.
Eles passaram rapidamente pela cabana da pousada que escolheram
como ninho de amor para o final de semana, apenas para deixar a bagagem.
Logo em seguida, voltaram para as ruas do charmoso centrinho histórico de
Bariloche. Aproveitaram para namorar enquanto apreciavam o sabor intenso
do chocolate quente, que se tornava uma delícia no frio. Estava tão
aconchegante que decidiram jantar por ali mesmo. O fogo ardia estridente
dentro da lareira de tijolos à vista, as peles em cima dos bancos e os
lampiões pendurados no teto criavam uma atmosfera rústica e propícia para
o deleite. Tudo havia sido projetado para que o relaxamento e a
contemplação envolvesse seus visitantes, desde o cardápio até a vista
magnífica das montanhas congeladas. O simples sempre seria mais, pensou
Zyan enquanto a segurava presa nos braços.
— Você me faz enxergar melhor, Corina – ele sussurrou no ouvido dela
a verdade que o coração sentia. — Cada vez que você pede que eu descreva
o cenário, eu preciso parar para notar cada detalhe, me esforço para
recompensá-la com a melhor descrição.
— Você consegue descrever melhor que ninguém – ela explicou. — Por
isso costumo abusar de sua boa vontade.
— Mas é você quem me ensina que a vida é muito mais do que eu
imaginava. Por exemplo... – Zyan levantou a mão com a dela em cima e
apontou para a janela, cuja madeira que segurava a folha de vidro servia de
moldura para as montanhas cobertas de branco. — Lá estão as montanhas
cobertas de neve, elas são brancas como a neve, e eu deveria temê-las,
porque são geladas, e passar frio me lembra as noites que passei na rua antes
de chegar ao orfanato – ele tomou fôlego —, mas você me fez enxergar a
beleza da imensidão que se descortina diante dos meus olhos como um manto
de paz. Você tem ressignificado minha existência, Corina.
Corina levantou a cabeça e o tocou com os lábios no queixo. Ela soltou
uma risadinha tímida quando sentiu a barba crescida.
— Você me faz sentir completa com suas descrições. Seus olhos me
enchem de esperança, Zyan. Não passei frio como você, mas ser cega
quando a vida é tão rápida e agitada é como não ter um agasalho nas noites
mais frias.
Zyan não tinha palavras para o que ela lhe dissera. Eram almas que
haviam sobrevivido de alguma maneira para se encontrarem e tornarem a
vida perfeita.
Beijou-a no rosto. Um beijo era tudo que ele tinha para demonstrar o
quão sua vida se tornara melhor ao lado dela.
No dia seguinte, Corina e Zyan levantaram cedo para aproveitar melhor
o dia nas montanhas, embora ele tivesse considerado a hipótese de ficarem
até tarde na cama, nus e com os corpos entrelaçados. Não havia melhor jeito
de se aquecer do que grudados embaixo dos cobertores e com o fogo da
lareira servindo de fundo para os gemidos que ele amava provocar nela
enquanto a neve caía fina lá fora.
Mas Bariloche havia sido adicionado ao itinerário em razão de Corina,
para que ela realizasse um de seus muitos sonhos. E por ela, Zyan era capaz
de qualquer coisa. Ninguém ousaria interrompê-lo em seu intento de
satisfazê-la, nem mesmo o desejo que ele sentia de se enterrar dentro dela e
dali nunca mais sair.
Ele a ajudou a se levantar e o sorriso de felicidade estampado no rosto
dela o fez esquecer de tudo, até das horas que não passaram grudados na
cama. Corina estava realizada pela aventura que viveu ao esquiar sentada.
Os brasileiros que desceram a montanha com eles chamaram de esquibunda
e cada gargalhada que ela soltava o deixava afoito para que ela
experimentasse tudo que tivesse vontade. Sua namorada tinha uma ânsia de
viver que o fascinava, dando um sentido à vida que jamais ousou ser
possível nutrir.
— Meu Deus, Zyan! Eu amei – ela soltou enquanto ele arrumava os
óculos no rosto dela. Ele se preocupava que a claridade pudesse ferir os
olhos claros. Por não enxergar, Corina não conseguia sentir quando os raios
solares estavam machucando seus olhos. — Me senti tão livre. Você pularia
de paraquedas comigo?
Zyan soltou uma gargalhada, mas de puro nervosismo. Poucas coisas lhe
causavam pavor e uma delas era a altura.
— Ah, princesinha! Grandes alturas nunca foram meu forte, mas vou dar
um jeito de realizar mais esse desejo. Arlo é mais dos esportes radicais e
pula de parapente. Quem sabe ele aceite uma passageira bonita como você.
— Você não se importaria? – ela perguntou.
— Claro que não! Arlo é como um irmão e você vai estar tão segura
com ele quanto comigo. Vamos combinar com ele – ele prometeu e a beijou
na testa.
Corina o abraçou em busca de calor e começaram a caminhar enquanto
Zyan puxava o trenó pela corda para devolvê-lo na estação. Chegando lá, ele
pagou por dois chocolates quentes e se sentaram em um banco, lado a lado
— Vou voltar para São Paulo com uns quilos a mais se não parar de
beber chocolate quente – soltou ele.
Ela riu e o beijou no rosto.
— Você compensa durante a semana – o incentivou e ele voltou a se
perder entre pensamentos enquanto estudava o rosto dela. Corina o fazia
acreditar que tudo na vida era possível. Ela era a esperança na qual ele não
acreditava. — Jesus! Você acorda tão cedo todos os dias para se exercitar –
levantou a mão e o acariciou no maxilar —, mas não estou reclamando viu...
Adoro os gominhos de sua barriga – corou ao confessar que o corpo dele era
atraente e gostoso de tocar.
— Você gosta é?! – Ele a puxou pela nuca e encostou a testa na dela. —
Mas fique sabendo que a tentação que dorme na minha cama tem dificultado
um pouco. Sair do teu lado para encarar os exercícios físicos não tem sido
fácil.
— Eu poderia ir com você, mas tenho medo de atrapalhar.
— Você nunca atrapalha, Corina. Não pelas razões que você acredita –
ele a beijou na boca —, se pensou na deficiência visual, garanto que isso
não atrapalha. Mais fácil as razões serem outras, meu amor.
— Tipo o quê? – Ela quis saber; sorria tanto que se transformava em um
raio de sol em meio ao frio intenso.
— Acho que iríamos fazer outra coisa além de nos exercitar, como fazer
amor – ele sugeriu, mas foi interrompido pelo celular que tocou no bolso. —
É Elon – ele avisou quando olhou para a tela do aparelho.
Corina se afastou para que ele pudesse atender o amigo. Lembrou de
Chanel, se a tivessem trazido, ela poderia guiá-la em um pequeno passeio
pelos arredores com segurança enquanto Zyan atendia o telefone. Ele a olhou
e de alguma forma entendeu o que lhe passava pela mente, e estendeu a mão
até encontrar a dela e entrelaçar os dedos.
— Elon ligou para deixar um recado para você – disse ele, chamando a
atenção dela.
— Para mim?
— Sim! Ele arrumou uma marca que quer você como garota
propaganda.
— Uau! Assim tão depressa e sem eu sequer ter feito um teste?! – Ela
ficou surpresa.
— Estamos falando de Elon Valente. – Ele riu, mas de orgulho pelo
amigo ter conquistado tanto em sua vida. — Ele não brinca em serviço, e
apesar de ter implicado com ele lá na boate, eu sei que ele tem um olho bom
para encontrar talentos. Se falou que você leva jeito, é porque leva.
Corina encostou a cabeça no ombro dele e soltou um suspiro.
— Tenho pensado muito a respeito do que ele disse para mim lá na
boate – confessou. — Seria uma oportunidade de mudar minha vida.
— Você gostaria de virar modelo, Corina?
— Eu não sei exatamente se poderia gostar – ela foi sincera —, mas se
eu não tentar, como vou saber se vou gostar ou não?!
— E a loja de chocolates? O que acha de ser dona dela? – ele arriscou
perguntar porque a empáfia do neto da dona ainda o perturbava. Não queria
que ele a assediasse de novo, Corina era tão pura e inocente que não merecia
passar por situação do tipo. Se ele não tivesse chegado a tempo, sabe-se lá o
que poderia ter acontecido. Não custava consultá-la a respeito.
— Eu gosto de lá, mas não tanto para me imaginar fazendo aquilo pelo
resto da vida. Não me entenda mal, por favor. – Zyan curvou a cabeça e a
beijou na cabeça. — Acontece que as oportunidades para uma deficiente
visual já são tão poucas que o que aparece nós agarramos. Meu pai se
preocupava com meu futuro, sabe! E quando Dona Íris me chamou para
trabalhar na loja, eu não pensei duas vezes.
Zyan queria tirar a decepção que ela sentia de alguma forma, mas
abraçá-la era o que ele poderia fazer no momento.
— Então vou confirmar e você vai fazer o teste na segunda-feira – ele
decidiu.
— Você me apoiaria?
— Claro que sim! Meu Deus, Corina, às vezes eu acho que você pensa
que sou um desses homens que não deixam a mulher fazer nada. Pois saiba
que seja lá qual for a experiência que você teve com sua família adotiva, eu
não sou assim. Sei que às vezes eu exagero na proteção com você, porque
sinto medo que se machuque e quero que seja feliz, mas as decisões sempre
serão suas e eu as apoiarei sempre. Se você quiser ser modelo, eu vou ser o
primeiro a aplaudir você.
— Você vai ficar orgulhoso quando eu aparecer em um outdoor?
Ele limpou o bigode de chocolate que ficou na boca dela com uma
lambida e aproveitou para beijá-la.
— Eu já tenho orgulho de você, princesinha! Você é linda, Corina. E
chama atenção dos homens, viu. Ainda bem que vive grudada em mim, assim
eles já ficam sabendo que estamos juntos. – Ele lhe deu mais um beijo. — O
que vamos fazer agora?
— Eu acho que podemos voltar para o chalé – ela insinuou, fazendo um
biquinho que o excitou ao imaginar os lábios dela em torno do pênis. — Se
você não se importar, podemos jantar por lá mesmo.
— Nem queria ter saído do chalé. – Ele sorriu de canto e a puxou para
fora do banco, enlaçando-a pela cintura para suspendê-la no ar. — Você é
meu vício, Corina.

Quando chegaram no chalé, a pressa e a ansiedade os atingiu em cheio.


Nada mais importava a eles do que se amarem. Zyan se afastou dela para
fechar a porta. Ao se virar de volta, a palavra amor ficou suspensa no ar,
porque ele não conseguia pronunciar o que estava sentindo, de tão impactado
que ficou com a beleza que era sua namorada. Corina se despedia com a
graça e delicadeza de alguém que deveria ter sido cercada de riqueza desde
o nascimento. Ele passou a mão pela cabeça tentando entender o quão forte
era o que ele sentia por ela, aquela necessidade primitiva de protegê-la era
assustadora.
Antes de Corina, o sexo sempre havia sido meramente físico e que
esmorecia assim que conseguisse atingir o orgasmo. Sempre havia sido mais
sobre ele do que sobre a parceira, embora se empenhasse para retribuir o
prazer que lhe era concedido. Mas Corina, ah, com Corina, ele sentia uma
necessidade que transbordava ao físico; bastava olhar para ela que seu
corpo entrava em ebulição e seus pensamentos derretiam a cada toque que
ela depositava em sua pele. Ele nunca conheceu o desejo neste nível tão alto
de necessidade.
Era amor, só podia ser amor.
E não tinha medo de se entregar a ela, porque havia entre eles a
confiança e a certeza de que eram metades que se completavam.
Zyan avançou e a puxou contra ele, grudando os lábios nos dela com
fome. Corina se abriu para ele, sem resistência, como sempre acontecia. Era
o ápice para ele senti-la se derreter nos braços enquanto a devorava com a
boca. O fato de ela não sentir medo o enternecia, o fazia baixar a guardar
para permitir que também fosse tocado no coração. E isso era muito para um
homem que crescera cercada de desconfianças por viver nas ruas durante
anos. Ele era um sobrevivente no sentido mais estrito da palavra, um
vencedor que não ousou deixar que a vida desgraçada a que foi confinado
ditasse o seu futuro. Mas isso o fez se rebelar para as pequenas coisas da
vida, como sonhar com uma família ou com uma mulher que o fizesse se
sentir importante. E Corina chegou para provar que ele merecia ser feliz.
Quando eles pararam para respirar, ela o acariciou no rosto com as
palmas das mãos.
— Você é tão linda, Corina! – a elogiou, voltando a juntar seus lábios
aos dela em uma explosão de sentimentos que os tornava parte de algo maior
e mais importante. Eles eram muito mais do que sexo quente, muito mais do
que uma forma de fazê-lo esquecer da dor que sofreu pelos anos de
abandono... Eles eram parte um do outro.
Tomado pela emoção da certeza de que não haveria outra mulher para
seu coração, ajoelhou-se diante dela, levando consigo toda a roupa que
encontrava. Beijou-a na barriga enquanto as mãos massageavam os seios. E
ao encontrar os pelos loiros que escondiam a parte feita para que ele se
encaixasse nela, soprou para provocá-la, um aviso de que em poucos
instantes a beijaria bem ali, como uma prova de que a queria feliz.
A cada lambida que ele depositava no meio de suas pernas, Corina se
entregava mais, o corpo se movimentava no ritmo das investidas dele em
busca de prazer, os gemidos saíam como uma prece que implorava por
alívio.
O alívio que ele concederia se fosse piedoso.
Ah, mas Zyan não era piedoso no sexo. Ele era implacável e selvagem,
provocante e experiente.
Corina não sabia o que era precisar de alguém com tanta intensidade,
um desejo que ardia para queimar qualquer possibilidade de lutar contra
sentimento tão avassalador e forte.
Zyan se levantou e se afastou alguns centímetros para se livrar da roupa
que o incomodava. O vazio a envolveu dentro de uma solidão que a motivou
a abraçar o próprio corpo. Ele não deixou de encará-la um minuto sequer,
deslizando pelo corpo feminino como se estivesse hipnotizado pela magia de
uma mulher bonita, cujo corpo fora moldado para enlouquecer a mente de um
homem. Ao retornar para perto dela, nu e com a virilidade à mostra, deixou
os braços caírem e passou os dedos pelas coxas numa subida que a excitava,
os dedos escorregaram pela vulva, brincando com o clitóris, sempre
subindo, até apertar os seios e os chupar como se fossem pedaços de seu
doce favorito.
E assim ele foi empurrando-a até a cama, enchendo-a de carícias e
beijos que a preparavam para o ato sexual. Zyan amava as preliminares com
Corina. Ela retribuía cada carícia com gosto e o brindava com sorrisos
lânguidos enquanto se abria para recebê-lo. Sexo jamais seria apenas sexo
com ela em seus braços. E a cada pedacinho do corpo dela que ele provava
era como se ele encontrasse mais um motivo para querê-la feliz ao lado dele.
— Me diga, meu amor, se é isso que você quer? – ele perguntou no
exato instante em que a ponta do pênis se encaixou no sexo dela. — Você me
quer dentro de você?
— Sim – as sílabas escorregavam de sua boca como assovios quase
inaudíveis, tamanho era o êxtase que a envolvia. — Quero você dentro de
mim. Sim, sim, sim! Deus, como eu quero você... – Ela se contorcia embaixo
dos músculos dele ao sentir a carne rígida rasgar sua pele, deslizando
conforme os beijos se tornavam mais profundos.
Beijar e fazer amor. Tocar e ser tocada. Ele lhe dava uma pequena
amostra do que era enxergar. Ele a tirava da escuridão quando a amava com
tanto desespero.
Zyan queria resistir mais, levá-la a lugares nunca visitados. Mas ela
estava tão pronta e receptiva que, por mais que a mente quisesse, não
conseguia parar de empurrar duro contra o quadril dela. Ela não queria que
ele parasse e o puxava contra si com os braços, beijando-o sem parar,
moldando-se ao corpo masculino a ponto de se fundir a ele.
E de repente Zyan gemeu o nome dela, apertando-a contra ele quando
tudo saiu, o sêmen quente e viscoso era o de memos, pensou. Ele gritava com
todas as letras o amor que sentia por ela, deixando escorrer pelos lábios
todo o sentimento de plenitude.
Nunca havia sido assim. Absolutamente nada o fazia lembrar algo tão
incrível quanto atingir o orgasmo com Corina. Tão perfeito e sagrado. O céu
deveria ser assim, mas tocar o céu não era para ele. E então a mulher certa
chegou e o ensinou que o céu era ela, tão linda e delicada. Sua Corina, sua
felicidade.
O final de semana havia sido mais do que perfeito. Idílico era a palavra
certa para descrevê-lo. Corina não sabia como explicar a felicidade que a
envolvia; era como se tivesse sido jogada dentro de uma bolha quente que
não a permitia pensar nos problemas. Era o efeito que Zyan causava em sua
vida.
Eles haviam se divertido, rido e até cantado em um karaokê, além de
fazerem amor sempre que sentiam vontade. Se isso não era a felicidade, ela
não sabia o que mais seria.
E quando chegaram em São Paulo e foram para o apartamento dele no
Morumbi, as mudanças que Paula havia feito a deixaram emocionada. O
chão havia sido preparado com placas com relevos altos e de acordo com o
padrão internacional, o que daria a ela maior independência e segurança
para se locomover. Os cantos dos móveis foram revestidos com borrachas
para evitar acidentes e tapetes foram removidos para que ela não se
enrolasse neles.
Corina se sentia parte do lugar, e com a paciência de Zyan pôde
memorizar rapidamente cada detalhe. Mas ele havia prometido mais
mudanças e isso a fez perder as palavras. Ele realmente se importava com
ela, o que não acontecia desde que o pai morrera. Se importava tanto que
havia tirado a segunda-feira de folga para acompanhá-la até a agência de
Elon, depois de passarem vários dias juntos.
— Meu Deus, Zyan! – Ela apertou a mão do namorado, estava eufórica,
sentindo o coração disparar no peito à mera menção de que iria receber
quase dez vezes mais do que ganhava na loja de chocolates para posar para
algumas fotos. — É muito dinheiro.
— Com expectativa de mais, meu amor. – Ele beijou a mão dela. —
Você viu o que Elon falou! Há outras marcas interessadas.
— Eu vou aparecer em outdoors – ela riu. — E muita gente vai me ver.
— Milhões! – confirmou ele.
— Preciso conversar com a Dona Íris – ela lembrou da loja —, não
posso deixá-la na mão depois que me ajudou tanto.
— Vai dar tudo certo, Corina – garantiu ele. — Ela vai entender que é
uma oportunidade única para você e com certeza vai aceitar. Pelo que
sempre disse, ela se preocupa com seu futuro.
— Quero apresentá-lo a ela. Para que ela veja o quanto você é bom,
Zyan.
— É você quem é boa e me faz querer ser bom. – Ele a olhou tomado de
um amor que não cabia mais no peito.
Zyan não fazia mais esforço para entender o forte sentimento que o
ligava a ela, apenas sentia e aceitava que viver sem Corina ao seu lado não
era mais uma possibilidade quando ela o levava para o céu sem muito
esforço.
Eles chegaram no estacionamento e ele a ajudou a embarcar no Volvo.
— Para onde vamos agora? – ela perguntou quando ele se sentou ao
lado dela, no banco do motorista, e a avisou que iria dirigir.
— Vamos buscar Chanel na casa de Alex – avisou ele.
— Estou morrendo de saudade da minha menina. Espero que Chanel
tenha se comportado bem.
— Falei com Alex enquanto você fazia o teste fotográfico e Chanel foi
uma verdadeira dama. Milena a tratou como uma princesa e as duas não se
desgrudaram.
— Chanel é muito dócil – ela explicou —, o que é uma qualidade
importante para que se torne um cão-guia. Papai vendeu o nosso carro para
comprá-la.
Zyan a observou pelo canto dos olhos e ficou intrigado com a
informação. Além de se indagar como Roberto ainda não havia tentado
vender Chanel para pagar as dívidas com os traficantes. Mas evitou de
perguntar, para não estragar o bom humor de Corina. Ela não merecia.
— Não sabia que um cão-guia pudesse ser tão caro – comentou.
— É sim! Mas era o sonho de mamãe que eu pudesse ter um. Ela
entendia que o cão serviria como meus olhos e me protegeria dos perigos
muito mais do que uma bengala. E realmente deu muito certo. Eu não teria
me arriscado tanto sem Chanel. Mas um cão-guia costuma se aposentar por
volta dos 8 ou 10 anos. E Chanel está quase lá. Eu me preocupo muito com
isso.
— E por quê? – Ele quis saber.
— Por vários motivos. O primeiro é que não quero entregar Chanel
para outra família. Mas não terei dinheiro suficiente para manter dois
cachorros. Bem – ela reconsiderou —, eu não terei dinheiro para comprar
outro cão-guia.
— Isso jamais será um problema. Se quiser, abrimos um canil para
colocarmos todos os cães-guias que você terá. Nos mudamos para uma casa.
Alex me disse que tem uma à venda no condomínio dele.
Corina girou a cabeça e sorriu para ele.
— Você é impossível – soltou ela.
— Eu amo você, Corina!
— Mas seu dinheiro não é o mais importante, que fique claro. – Ela
abraçou o próprio corpo ao lembrar das acusações que o irmão lhe fizera na
boate, de que ela era uma aproveitadora, como se ela tivesse vendido sua
virgindade a um homem rico. Zyan percebeu sua tensão e deslizou o braço
para encontrar a mão dela; ele sentiu a quentura dela se espalhar pelo corpo
como um afrodisíaco. — Mesmo que você não fosse milionário, eu ainda
teria escolhido me entregar a você. Era para ser você, Zyan. – Ela agarrou a
mão dele e a levou ao coração. — Eu sinto aqui que era para eu ter me
guardado para você.
— Mesmo que você não tivesse chegado virgem até mim, mesmo assim,
meu amor, eu iria querê-la. Eu amo você, todas as partes suas, inclusive seu
passado... Eu quero tudo de você e não me importo com o que os outros vão
pensar ou dizer.
— Mesmo minha cegueira?
— Inclusive sua deficiência – ele a corrigiu —, que se torna
insignificante, e mesmo você ainda não sendo capaz de perceber o quanto
cativa as pessoas.
— Às vezes, eu me canso de ser cega e agir como se o mundo fosse
perfeito porque estou viva. É difícil manter o otimismo sempre, sabe.
— Eu sei! – Zyan entendia do que ela falava. A vida não havia sido
sempre generosa com eles, que dividiam um passado de abandono, e isso os
aproximava de certa maneira para que nunca mais se deixassem. — Mas eu
encontrei você e quero que você divida seus fardos comigo. Eu treino todos
os dias para ficar forte – ele brincou.
— Seu bobo! – Ela beijou a mão dele antes de voltar para o volante.
— Vamos jantar na casa do Alex – avisou. — Elon espalhou a notícia e
todos vão para lá para comemorar.
— Jura?
— Sim, sim. Acostume-se com a família barulhenta que arranjou. Todos
são maravilhosos, mas metidos na mesma medida.

O jantar havia sido maravilhoso. Zyan amava a macarronada da avó de


Juliana e repetiu duas vezes. Não existia melhor macarronada do que a de
Dona Francisca.
— Vocês três – a velha senhora apontou para os solteiros que estavam
esparramados pelos sofás da sala com as barrigas esturricadas de tanto
comer —, devem apressar as coisas para encontrar namoradas. Olhe para
Alex e Zyan e se inspirem. Não encontraram as meninas mais lindas do
mundo?
Zyan sorriu e beijou a cabeça de Corina, enquanto Alex tascou um beijo
na noiva, um daqueles de cinema.
Milena bateu palmas, empolgada.
— Eu quero muitas tias, todas lindas como a tia Juli e a tia Corina!
— Pois comece a rezar para que o tio Elon aqui encontre sua ruiva –
Elon disse. — Porque desses dois – apontou para Dimas e Arlo —, vai ser
difícil ganhar tias deles.
— Não me compare ao Dimas – reclamou Arlo. — Não tenho coração
de gelo.
Zyan soltou uma gargalhada e abraçou Corina.
— Vocês ficam de gracinha com o Dimas, mas eu aposto que ele ainda
vai nos surpreender – comentou sorridente.
Dimas revirou os olhos enquanto organizava o tabuleiro para uma
partida de banco imobiliário.
— O que você sabe que a gente não sabe? – perguntou Elon, que tinha a
fama de fofoqueiro. Não é por nada que se transformou no gênio do
marketing: o homem levava jeito para fazer a notícia circular. — E nem vem
com desculpinha, que todos nós sabemos que vocês sempre foram um casal.
— E eu fico onde nisso? – Corina se divertia com o diálogo recheado
de provocações. — Se Zyan e Dimas formam um casal, eu acho que estou
sobrando.
Dimas sacudiu a cabeça rindo.
— Podemos formar um trisal – ele sugeriu, entrando na brincadeira. —
O que acha, Zyan?
O ex-lutador pegou uma almofada e jogou contra o amigo.
— Eu acho que não tem espaço para mais ninguém nessa relação –
avisou. — Elon – chamou pelo amigo —, você não tem jeito! Mas isso é
puro ciúme porque Dimas confia mais em mim do que em você.
— Existiu uma garota na vida do Dimas, sei que existiu. Mas ele não
quer dizer quem foi – provocou Elon.
Juliana se desprendeu dos braços do noivo e se ajoelhou ao lado de
Dimas.
— Nem para mim você quer contar? – Ela apoiou o cotovelo em cima
da mesa e ficou piscando charmosa para Dimas.
— Alex, não vale mandar a fada de olhos verdes para me hipnotizar –
disse ele encarando o jogador de futebol, que levantou as mãos para o ar.
— Por favor, Dimas, conta para nós – pediu Corina.
— Pronto, agora o anjo de olhos azuis se juntou na chantagem. – Dimas
estava se divertindo com o mistério que todos queriam descobrir. — Mas
não vou contar. Não sou língua solta como Elon, que fica anunciando que
ama uma ruiva que nunca mais encontrou.
— Opa!!! – soltou Arlo. — Recebemos uma pista da mulher maravilha:
ela, seja quem for, passou pela vida do Dimas.
— Mulher Maravilha? – perguntou Dona Francisca.
— A heroína dos quadrinhos, bisa! – respondeu Milena enquanto se
levantava para pedir colo para Arlo.
— Isso mesmo, Bombom! Para descongelar o coração de gelo do tio
Dimas, só mesmo sendo uma heroína.
Dimas só ria enquanto todos se divertiam com os palpites nada
certeiros de sua vida amorosa.
Zyan deu um beijo na bochecha de Corina ao perceber que ela
bocejava.
— Está cansada? – ele perguntou baixinho enquanto a algazarra
acontecia.
— Um pouco! – admitiu.
— Vamos para casa, então! Amanhã você tem que estar cedo na loja
para resolver a demissão. Aliás, vou com você, meu amor – ele avisou.
— Não precisa! Eu sei que você tem coisa importante no seu trabalho.
Eu posso fazer isso sozinha, e se precisar eu chamo você.
— Promete? – ele insistiu, trazendo a boca dela perto da dele com o
dedo.
— Prometo! – E o beijou, entregando-se à sensação maravilhosa de
fazer parte da vida de um homem que a colocava como prioridade, que foi
tão generoso que dividiu com ela uma família perfeita e barulhenta.
Quase dois meses depois.

Zyan havia acabado de encerrar uma ligação de vídeo com Corina e se


sentia temeroso de deixá-la ir sozinha até a Freguesia do Ó. Sozinha ela não
iria, porque seria acompanhada do motorista e mais um segurança, ele
precisava admitir. Mas ele sempre sentia como se ela não estivesse segura o
suficiente quando ele não estava com ela.
— Ela vai ficar bem – garantiu Dimas, que estava ali com ele, em sua
empresa, ajudando-o com os incômodos que a burocracia da fusão com a
companhia argentina de segurança estava trazendo para sua vida, além de
tratarem de outros assuntos que diziam respeito também aos outros amigos.
— Você age como se ela não estivesse acompanhada de dois armários, que
se duvidar são maiores que você... e olha que você é grande, Zyan.
— Corina é frágil e um pouco ingênua quando se trata daquele infeliz do
irmão adotivo dela – lembrou-o Zyan. — Depois que ela começou a ganhar
dinheiro como modelo e tem aparecido nos outdoors por aí, sei que ele tem a
importunado. Ela esconde de mim, porque sabe que não tenho muita
paciência com o desgraçado. – Ele soltou um longo suspiro enquanto
passava as mãos pela cabeça. — E para piorar, Corina pensa em usar o
dinheiro que está ganhando como modelo para reformar o apartamento.
— Não brinca! – Dimas olhou para o amigo e se compadeceu por
entender que Zyan não conseguiria mais viver longe de sua amada, por mais
que sua mente racional não conseguisse compreender um sentimento tão
imprevisível quanto o amor. Há muito ele havia desistido de entender o que
era o amor na vida de um homem. — Mas se ela quiser voltar para a
Freguesia do Ó, ela vai ficar ainda mais exposta às chantagens do irmão.
— Então! – Zyan se aproximou da cadeira e se sentou, ficando de frente
para o amigo, que o estudava com seus olhos claros. — Não vou ter mais
paz, porque duvido de que ela aceite que eu coloque seguranças na porta do
prédio dela. Corina é orgulhosa.
— Mas vocês estão bem, não estão?
— Estamos, mas tudo não passou de um arranjo até que ela pudesse
encontrar um lugar para morar. Corina entende que não somos casados para
que possamos morar juntos.
— Que coisa ultrapassada! – exclamou Dimas, e Zyan não gostou.
— Ela foi criada de um jeito diferente – esclareceu. — Os pais
adotivos dela eram bons, apesar de muito tradicionais, mas não é isso que a
impede de ficar comigo, eu acho. Ela se sente insegura de que eu possa
pensar que ela se aproveita do meu dinheiro e insiste que morar em outro
lugar seria a prova de que não se importa com meu dinheiro. Sei lá, acho que
foi coisa daquela dona da loja para o qual ela trabalhava. Respeito a mulher
por ter dado uma oportunidade à Corina, mas não sei se ela consegue
compreender o que é ser pobre e abandonada quando sempre viveu no luxo.
— Esse pensamento da Corina só revela que ela é boa, Zyan.
— Eu sei que ela não é uma aproveitadora – concordou —, mas não vou
aguentar viver sozinho de novo naquele apartamento depois que ela encheu
de vida o lugar. Não vai ter mais graça se ela sair. Não sei mais viver sem
ela ao meu lado – admitiu.
— E o que pretende fazer?
— Pedi-la em casamento – disse Zyan, muito certo da decisão que havia
tomado. — Se ela não aceita morar comigo como namorada, que seja como
esposa. – Ele tirou de dentro da gaveta o par de alianças que havia
comprado no dia anterior e mostrou. — Espero que ela aceite ou vou passar
vergonha.
— Sua princesa vai aceitar. – Riu Dimas.
— Não ria!
— Como não rir? – retrucou o homem cuja mente era uma complexa
fórmula matemática. — Você está tão apaixonado que chega a ser engraçado.
Mas não me leve a mal, quero que vocês todos sejam felizes! E se o amor
vai ser o meio para alcançar a felicidade, cada um de vocês pode contar
comigo. Para tudo.
— Opa! – falou Arlo ao entrar na sala acompanhado de Elon e Alex.
Os cinco amigos haviam combinado de se reunir para decidir detalhes
do próximo empreendimento no qual seriam sócios. A questão é que estavam
indecisos em qual ramo se meteriam dessa vez.
— Eu ouvi bem ou nosso lutador vai pedir Corina em casamento? –
Elon perguntou, batendo nas costas de Zyan.
— Não ouviu mal – confirmou Dimas. — Zyan quer se casar e virar
marido da Corina para não a deixar voltar para a Freguesia do Ó.
— Juliana vai amar a novidade. Sabem como ela se apegou à Corina –
comentou Alex. — E Milena vai ficar dois dias pulando porque vai ganhar
uma tia.
— Que cara é essa então? – Arlo se aproximou da mesa e se apoiou
com os cotovelos para encarar o ex-boxeador.
— Ele está com medo de que ela não aceite – explicou Dimas quando
percebeu a seriedade de Zyan, que estava com as pontas dos dedos unidas
como se formasse um prisma.
— Como se a loirinha conseguisse dizer não para o amor da vida dela.
Qual é, Zyan? – Arlo jogou as mãos para o alto. — Vocês dois vivem
grudados.
— E você, Alex – Elon olhou para o jogador de futebol —, o que tem a
dizer? É o único de nós com experiência desse tipo para aconselhar.
Alex saiu da janela em que estava apoiado e olhou para os amigos com
o coração transbordando um sentimento de orgulho que não cabia no peito.
Eles eram sua família, e saber que Zyan queria dar o próximo passo com a
mulher de sua vida o encheu de esperança de que logo os outros seguiriam o
mesmo exemplo. Essa era a dinâmica da vida, homens encontravam sua outra
metade para perpetuar a felicidade de viver em família; não era porque
haviam crescido sem o esteio de uma família que não poderiam perseguir
uma.
— A insegurança de Zyan foi a mesma que senti quando decidi que
queria me casar com Juliana – ele ponderou. — Vocês sabem que foi tudo
muito rápido e que Juliana é jovem e poderia não querer se amarrar comigo,
um pai solteiro.
— Viu só? – Zyan apontou o dedo para os amigos. — Todos me julgam,
mas um dia poderão estar no meu lugar.
— Somos intensos, essa é a verdade! – Alex voltou a falar. — Talvez
nossas histórias nos tenham forjado a ser como somos: apressados e
intensos. É inquestionável que o abandono nos marcou e isso faz com que, às
vezes, exageremos no trato com quem amamos. Mas eu penso que se
conseguirmos explicar isso para nossas mulheres, tudo fica mais fácil. O
segredo é o diálogo, Zyan. Peça-a em casamento, mas a deixe escolher a
data.
— E ficar esperando como você tem feito? – Zyan sacudiu a cabeça, um
pouco inconformado com a sugestão que não lhe trazia uma solução
definitiva para o medo que sentia de ficar longe de Corina.
— Melhor esperar com uma aliança na mão direita do que nada –
argumentou Alex. — Corina é jovem e cheia de vida, está descobrindo o
mundo agora.
— Um relacionamento não pode ser assim tão complicado – reclamou
Elon, cujo charme o beneficiava com as mulheres, logo não era o melhor
candidato a falar sobre relacionamentos complicados.
— Você fala assim porque nunca encontrou a ruiva do beijo – ponderou
Zyan, revirando os olhos. — Além de suas aventuras amorosas se limitarem
a trepadas de fim de semana.
Alex riu do comentário e resolveu explicar melhor a fala de Zyan.
— O que ele quer dizer é que quando o amor entra em jogo, o meio de
campo embola, Elon – se utilizou de expressões do futebol para elucidar a
explicação. — Não é apenas sobre os nossos sentimentos, mas os das nossas
parceiras, entende?
— Olha, Elon! – soltou Arlo, que estava brincando com as canetas que
encontrou na mesa de Zyan. — Você implica com Dimas, mas fique sabendo
que vocês dois são muito parecidos. Enquanto Dimas prefere evitar
compreender o amor porque é difícil de entender mesmo, você se acha o
perito sentimental.
— Ah, sim! – debochou Elon, relaxando em uma das poltronas. — E
você, o que pensa do amor, já que tão bem traçou nossos perfis?
— Boa pergunta! – Dimas fez sinal de positivo para Elon.
— Eu não acho nada! – disse Arlo, relaxado. — Para que vou gastar
energia tentando entender algo que não foi feito para entender e sim para ser
sentido.
— Muito pertinente! – declarou Zyan.
— Mas é verdade – insistiu o dono da rede de boates, cuja vida era
muito simples para tanta filosofia. — O amor acontece diferente para cada
pessoa, entendem? Então vou deixar para me preocupar com isso quando ele
chegar, se chegar.
— Bom ponto! – concordou Alex e olhou para Zyan. — Faça o pedido e
lide com o que vem depois. Simples assim! Agora vamos tratar do que nos
trouxe aqui porque tenho que buscar Juliana na escola – apressou todos.

Algumas horas depois, o carro da empresa de Zyan estacionava na


frente do elegante prédio do Morumbi. Paula estava chegando da padaria e a
ajudou a desembarcar, entregando a ela a bengala. Elas subiram de elevador
e atravessaram a porta de casa enquanto conversavam animadamente sobre o
dia de Corina.
— Elon garantiu que tem muita gente interessada em me contratar –
contou festiva. — Logo vou conseguir o dinheiro para reformar minha
casinha, Paula.
— Isso é ótimo, mas e o Seu Zyan? – perguntou a empregada, que
naquela altura havia se apegado em demasia à jovem. — O patrão vai
morrer de tristeza se a senhorita sair daqui.
— Vai demorar um pouco ainda... e eu me sinto mal em me aproveitar
da generosidade dele. Era para ser apenas uns dias e olha só, estou aqui há
mais de mês.
— Mas ele é mais feliz com a senhorita morando aqui com ele! –
insistiu a mulher mais velha, dizendo ainda que iria preparar o banho dela.
Corina ficou pensativa a respeito do que Paula havia lhe dito, afinal, ela
também sentiria muita falta de Zyan quando retornasse para casa. Havia se
apegado a ele de um jeito que adormecer depois de fazerem amor e
despertar com ele grudado nela era tudo o que ela precisava na vida. Mas
não queria se sentir como um peso na vida dele. Precisava admitir, por outro
lado, que Zyan jamais a havia feito se sentir assim, era ela quem precisava
lidar com as próprias inseguranças; e talvez se voltasse para casa pudesse
refletir melhor sobre o que ele a fazia sentir. Dona Íris havia lhe dito algo
assim quando a visitou para agradecê-la pelo trabalho, que ela precisava se
sentir segura por si só para depois investir numa relação a dois. Não custava
tentar entender a si mesma, Zyan merecia que ela o fizesse feliz. E para isso
precisava ser feliz consigo mesma.
— Chanel! – chamou pela cachorra e se alardeou quando ela não veio
ao seu encontro. Chanel havia ficado com Paula porque a sentiu apática
depois que o veterinário a diagnosticou com uma virose. — Chanel! –
Corina chegou na cozinha, pois era onde ela costumava gostar de ficar e não
a encontrou. — Jesus, menina, onde você foi se meter?!
Corina voltou para a sala quando ouviu o bipe do seu telefone.
Encontrou-o dentro da bolsa.
— Beto, o que quer agora? – Ela não estranhou, pois o irmão a estava
importunando muito desde que descobriu que estava trabalhando para Elon
Valente como modelo.
— O de sempre, irmãzinha – disse ele do outro lado da linha.
— Não posso dar dinheiro a você! – ela foi firme. — Você sabe que
estou juntando dinheiro para arrumar nosso apartamento. É o que nos restou
do papai, Beto!
— Você está dormindo na cama de um dos homens mais ricos de São
Paulo, Corina. Peça dinheiro para ele – exigiu.
— Eu tenho vergonha na cara, viu. – Ela sentiu o rosto ficar quente
tamanha era a vergonha que sentia. — Já estou morando na casa dele de
favor porque nossa casa está toda quebrada. Aliás, Zyan evita me contar a
verdade, mas desconfio de que o estrago tem o dedo daqueles traficantes
com quem você vive se metendo. E você quer que eu peça mais dinheiro.
— E daí? – ele resmungou do outro lado da linha. — Alguma vantagem
tem que ter em você ficar trepando com um ricaço do Morumbi.
Corina soltou um suspiro que revelava seu cansaço com a situação que
envolvia o irmão. Ela nunca havia se queixado por ter sido adotada pelos
Lopes, mas nos últimos tempos, e principalmente porque vinha
acompanhando a interação que os amigos de Zyan mantinham, vinha
questionando muito a sorte que tivera em ter sido adotada. Zyan e os amigos
viviam como uma família de verdade, muito diferente do que ela mantinha
com o irmão adotivo, o único que lhe sobrou e que só lhe trazia dor de
cabeça.
— Não vou dar o dinheiro, entendeu? Não insista, Beto. – Tentou ser
dura, mas lá no fundo da alma ela sabia que não tinha o menor jeito para ser
dura, ainda mais quando era uma manteiga derretida. Talvez Zyan estivesse
certo quando dizia que ela era muito frágil para viver sozinha e cercada de
problemas.
— Ah, mas você vai me dar sim – ele retrucou, nervoso. — Por um
motivo muito simples, Corina: estou com Chanel; e se quiser que eu não a
venda, me traga o dinheiro. – Corina sentiu as pernas moles e procurou um
sofá para se sentar. De repente, começou a pensar em mil e uma
possibilidades diferentes e o pavor passou a comandar cada batida de seu
coração. — Está aí, Corina? – ela respondeu que sim, com a voz tão fraca
que ele sorriu por ter alcançado o objetivo de amedrontá-la. — Eu quero
todo o dinheiro que você está juntando para a reforma do apê, todo,
entendeu? E me encontre lá na boca de fumo daqui duas horas, entendeu?
— Isso não é justo, Beto! – Corina sentiu as lágrimas escorrerem pelo
rosto, mas tentou se controlar para que o irmão não se aproveitasse ainda
mais dela.
— Não foi justo você ter vindo para nossa casa, Corina! Eles sempre a
amaram mais porque era ceguinha. O pai gastou tudo e mais um pouco para
que pudesse enxergar de novo. Você o deixou na miséria, Corina.
Era mentira, pensou Corina. Ela não havia deixado o pai na miséria e
ela o amava muito para tentar qualquer coisa que o desagradasse. Diferente
do irmão, que não se importava em ver o pai desesperado para livrá-lo do
vício. Mas de nada adiantaria lhe dizer isso quando ele sempre manipulava
os fatos em benefício próprio.
— Eu vou até você, mas você tem que me prometer que não vai ferir
Chanel para se vingar. Ela não tem culpa de nada, Beto! E depois que eu
entregar o dinheiro, você vai prometer que nunca mais vai voltar a me
importunar.
— Está pedindo demais, irmãzinha – ele debochou. — Mais uma coisa!
Não avise o ricaço ou juro que você nunca mais vai ver a Chanel. E dê um
jeito de se livrar daqueles homens que trabalham para ele e que vivem ao
seu redor como se fossem abelhas.
— Por que na boca de fumo? – Ela sentiu a tensão a envolver. — Por
que não pode ser lá em casa? Você sabe que eu vou ter dificuldade para
chegar na boca de fumo sem a Chanel.
— Dê um jeito, Corina! Mas chegue a tempo ou não vai ver Chanel.
Tenho gente interessada na cadela. Não pense que esqueci que a cadela
custou o carro do pai.
— Claro que você não esqueceu – ela desdenhou, porque era humana e
estava cansada de ter que escutar daquele de quem deveria esperar amor e
proteção acusações que a faziam se sentir um estorvo.
— Eu vou estar lá como quer – e encerrou a ligação antes que
resolvesse despejar toda a amargura que sentia, o que apenas complicaria
ainda mais o que já estava um caos.
Corina se sentia exausta em um nível que as palavras não eram mais
capazes de expressar. Ela não tinha culpa se os Lopes a adotaram dentre
tantas meninas perfeitas, que não tinham deficiência. E foi feliz enquanto a
mãe vivia e a ensinava a aproveitar cada pequeno detalhe de felicidade que
a cercava, mesmo que o irmão não parecesse gostar dela e não tivesse
paciência com a irmã cuja deficiência visual a impedia de correr e subir em
árvores do jeito que ele queria.
Os Lopes eram bons, a não ser pelo filho que costumava ser
desobediente e deixá-los irritados. Principalmente a mãe era boa. Mas
pessoas boas pareciam ter um prazo menor de vida e quando iam embora era
como se a bússola parasse de trabalhar certinha; era assim que ela pensava
na mãe falecida: como a bússola que orientava a família no caminho do bem,
e quando ela se foi, todos acabaram perdidos em meio à dor e ao vazio que
ela deixou.
E Corina jamais foi boa o suficiente para juntar os cacos que eles se
tornaram. Não era perfeita para que o irmão se orgulhasse dela, ou forte o
suficiente para que o pai parasse de se preocupar. Talvez Beto estivesse
certo quando dizia que ela sempre seria um problema para quem a quisesse
por perto.
Até mesmo para Zyan.
Zyan não conseguia se concentrar no que os amigos discutiam mesmo
que Corina tivesse avisado que havia chegado em casa e pretendia
descansar. A agonia o fazia se sentir como se estivesse sentado em agulhas, e
não em uma cadeira confortável da sala de reuniões de sua empresa, de onde
ele comandava um império de tecnologia que mantinha as pessoas seguras.
Dimas tagarelava sobre as boas expectativas em investir em um resort
no Nordeste, enquanto Arlo queria algo no Sul do país. Ele não tinha como
manter o foco quando só conseguia pensar em Corina e em como iria pedi-la
em casamento. Seu iPhone vibrou em cima da mesa e o tirou do transe assim
que olhou para a tela com o coração saltando no peito. Era uma mensagem
de Paula para que ligasse de volta o quanto antes. Com pressa, levantou da
cadeira e os deixou para que continuassem a reunião sem ele. Alex o
acompanhou com o canto dos olhos, mas nada disse quando fez sinal de que
se falariam depois.
— O que foi, Paula? – Sequer conseguiu cumprimentá-la. Zyan não
sabia como, mas ele pressentia que algo de ruim estava acontecendo. Aquela
sensação de impotência que lhe gelava até os ossos sempre vinha
acompanhada de notícias ruins; sempre havia acontecido assim.
— Corina falou para o senhor para onde iria? – ela perguntou, muito
direta e com a voz que deixava transparecer preocupação exacerbada. Paula
não costumava incomodá-lo no trabalho, mas quando precisava preferia
deixar um recado para sua secretária.
— A última vez que nos falamos foi para me avisar que estava indo
para casa – ele explicou, afoito. — Ela não chegou em casa, é isso que quer
me dizer, Paula?
— Jesus Amado! – exclamou a empregada. — Onde essa menina
resolveu ir? Mas, Seu Zyan, ela chegou em casa. Subimos juntas, pois a
encontrei na frente do condomínio quando eu estava chegando da padaria.
— Como assim, Paula? – ele insistiu, um pouco mais confuso a partir
do relato dela.
— Eu a deixei na sala para preparar o banho que sei que ela gosta, mas
quando voltei não a encontrei, muito menos encontrei Chanel. Fiquei
preocupada, Seu Zyan! A menina nunca sai sem avisar. E como ela costuma
falar para o senhor para onde vai, decidi ligar.
— Fez bem! Vou entrar em contato com a equipe de vigilância do
condomínio imediatamente – avisou Zyan, sentindo cada um de seus
músculos endurecer pela tensão que o dominava. Ele precisava descobrir o
paradeiro dela o mais rápido possível e também no que sua equipe havia
falhado para perdê-la de vista. — Você tentou o celular dela? – perguntou
antes de encerrar a ligação.
— Sim! – Paula respondeu. — Ela não atende. Sempre cai na caixa
postal. E o porteiro não a viu sair. Eu fiquei preocupada e achei que era
melhor ligar para o senhor – justificou mais uma vez.
— Fez bem! – repetiu e desligou para voltar para a reunião.
Quando atravessou a porta, os amigos o encararam ao perceber que algo
não estava bem. Zyan dava ordens para que sua equipe rastreasse o celular
de Corina, enquanto a secretária anotava uma série de ações que deveria ser
repassada para o pessoal que cuidava dos softwares.
— O que foi que aconteceu? – perguntou Elon quando conseguiu se
aproximar.
— Corina não está em casa e não avisou para onde iria – soltou ele, tão
nervoso que os rangidos de dentes se tornavam uma espécie de fundo
musical para dramatizar o pânico que o envolvia. — Ela foi atrás do irmão,
eu sei que foi – lamentou com irritação. — Ela insistiu para que eu relaxasse
um pouco sua segurança porque dizia que havia vivido muito bem sem tantos
homens a cercando antes de mim... E eu cedi, porque não queria me tornar
um namorado chato. Vocês sabem como me torno opressor com quem amo –
ele falava enquanto abria os botões do paletó —, mas que merda viu! Como
toda aquela segurança do condomínio conseguiu deixar que uma garota que
não enxerga conseguisse passar despercebida assim?
— Calma, Zyan! – Alex se aproximou. — Se ela levou o celular, logo
você descobre para onde foi. É só questão de tempo para a equipe conseguir
acesso às imagens das câmeras.
— Mas já pode ser tarde – ele deixou o medo sair por meio de palavras
com pouco otimismo.
— Estamos com você nessa – Arlo o apoiou.
— Se eu não conseguir chegar a tempo de salvá-la seja lá do que for,
vou me sentir o pior tipo de homem – ele desabou na cadeira e afundou a
cabeça dentro das mãos. — De que adianta ser dono de um império de
vigilância se não consigo manter minha namorada segura?
— Já deu, Zyan! – Dimas se levantou, o rosto era uma máscara de
indignação. — Você não pode se culpar por tudo, meta isso na cabeça. O que
aconteceu com Lilian não pode ditar sua vida para sempre. – Ele sabia que
não era momento de trazer à tona feridas antigas, mas era necessário para
que o melhor amigo não se deixasse esmorecer por fatos que ele nunca pôde
controlar. — O mundo girou e você é uma pessoa diferente agora. Corina é
diferente de Lilian e ela o ama muito para se expor a um risco desnecessário.
— Dimas está certo, Zyan! – prosseguiu Alex. — O que aconteceu com
Lilian estava além de você. Você não foi culpado pela morte dela.
— Agora é pior, vocês não entendem! – esbravejou Zyan. — Eu
construí essa empresa porque me sentia culpado por não ter protegido Lilian
do jeito certo. Mas se eu perder Corina mesmo com tudo isso – ele
gesticulou —, com a estrutura dessa empresa... Jamais vou me perdoar.
— Você não vai perdê-la, meta isso na sua cabeça – insistiu Dimas. —
É diferente do que aconteceu com Lilian em tantos graus que até eu, o
coração de gelo, consigo entender – bateu no peito —, Lilian assumiu o risco
quando decidiu fazer o que fez. Você queria protegê-la, foi ela quem não quis
e deu as costas a você quando entrou naquela carro, que foi como sua
sentença de morte.
Dimas se referia ao trágico falecimento da irmã de Zyan, vítima de uma
troca de tiros entre gangues meses depois de ele a ter reencontrado. Não
haviam crescido juntos, Zyan mal sabia que tinha uma irmã mais nova, mas
quando a descobriu deu as tripas o coração para compensá-la pela vida
difícil a que fora obrigada.
— Lilian era minha irmã, porra! – Zyan se sobressaltou e quase quebrou
o iPhone pelo aperto com que o segurava, dando as costas aos amigos para
buscar ar puro perto de uma janela. — Eu a encontrei muito tarde, tão tarde
que não consegui evitar perdê-la para sempre para os traficantes. E se eu
perder Corina, minha vida acaba de vez. Ainda mais porque sei que o irmão
adotivo é também metido nessa coisa de drogas.
Dimas foi atrás dele e o tocou no ombro. Jamais o deixaria afundar na
própria miséria quando ele só fez amar e proteger quem estava ao seu redor.
— Escute aqui! Você tem a nós, Zyan! Estamos juntos nessa e vamos
encontrar a Corina. Mas você precisa colocar a cabeça no lugar, porque é
você quem sabe o que tem que ser feito para encontrá-la. E depois que seus
homens descobrirem o paradeiro dela, nós vamos estar com você, sempre.
— Se for preciso, vamos todos para o inferno com você – emendou
Elon. Eles eram família e jamais um deixaria de apoiar o outro em sua dor.
Zyan olhou para cada um dos amigos e soltou um longo suspiro, o peito
subia e descia e as mãos em punho revelavam o quanto se esforçava para
não perder o controle. Se tivesse um saco de areia pendurado bem ali, na sua
elegante e moderna sala de reuniões, não pensaria duas vezes em apunhalá-
lo para que o ódio fosse transmutado em socos. Crescer no meio da
violência o tornou um homem com pouca paciência quando se tratava de
ameaças a quem ele mais amava, embora a disciplina dos treinos e a
maturidade que os anos lhe trouxeram o ensinaram técnicas para controlar os
instintivos mais brutos. Mas a verdade era que sequer tinha tempo para
perder com as próprias emoções. Ele precisava agir com rapidez e, para
isso, era necessário que as emoções se acomodassem dentro dele. Graças
aos amigos, ele sabia que iria conseguir e a raiva seria descontada em outro
momento, depois que tivesse Corina em segurança.
— Vamos encontrá-la – disse ele em tom de voz alto e sem gaguejar, era
sua promessa que o manteria focado em encontrá-la. Ou se agarrava no
pouco de lucidez que lhe restava ou não conseguiria fazer o que era preciso
para trazê-la de volta aos seus braços.

Corina pegou o primeiro táxi que aceitou sua chamada e viajou com o
coração apertado, e o nó que sentia na garganta não a impediu de gaguejar
quando o motorista perguntou se precisava esperá-la.
— A moça não deveria se enfiar ali dentro sozinha – ele a alertou ao
apontar para o beco que dava acesso ao que ele sabia ser uma entrada para
uma boca de fumo, mas ela evitou comentar e apenas entregou o dinheiro da
corrida.
— Pode ficar com o troco – avisou e desembarcou.
Não enxergar e não ter como se guiar na calçada que não era preparada
para cegos a deixava insegura, mas Chanel dependia de sua coragem. Não
duvidava de que Beto pudesse vendê-la. Conforme ia tateando com a
bengala, conseguiu encontrar um cantinho que parecia ser seguro para enviar
a mensagem para que o irmão a encontrasse. E não demorou para ouvir a voz
grossa dele.
— Fez tudo certo uma vez na vida – disse ele ao se aproximar de
Corina, que sentiu alívio em encontrá-lo. Naquelas circunstâncias e com a
adrenalina correndo nas veias, ter a companhia de Roberto era melhor do
que nada.
— Você sempre me julgou uma imprestável – lamentou ela —, mas eu
sei me virar, viu?!
— Trouxe o dinheiro? – ele foi logo perguntando enquanto a guiava
beco adentro.
— O dinheiro está na minha conta, Beto! E você não me deu tempo para
passar em um banco para sacar ou algo do tipo. Se tiver alguma agência por
aqui podemos fazer isso agora, ou eu faço um PIX – ela apertou o braço dele
—, mas antes eu quero ver a Chanel.
— Está lá em cima com um dos parça – respondeu ele. — Espero que
não esteja me enrolando, Corina.
— Não sou como você. – Ela ergueu o queixo para encará-lo; por mais
que não pudesse enxergá-lo, queria que ele percebesse que não era a
covarde a quem ele sempre fez questão de chamar. — E não gosto deste
lugar. Não esqueço que foi aqui que você me trouxe para me apresentar para
o tal do teu chefe. E eu boba achando que você estava me trazendo para um
lugar decente.
— E você por acaso entende de decência, irmãzinha? – Ele soltou uma
gargalhada que a humilhou por prever o que seria dito a seguir. — Fica
dando para o cara do Morumbi a troco da vida boa que ele está dando para
você.
— Você é um... – ela teria dito mais se ele não a tivesse empurrado para
dentro de um cômodo com cheiro de mofo.
— Guarde os elogios para depois, Corina! – ele sussurrou no ouvido
dela.
— Quem está aqui? – perguntou preocupada.
— Os meus colegas de trampo e o chefe da boca – explicou ele.
Corina tentou evitar de pensar no pior, mas era difícil quando lembrava
que um deles tentou estuprá-la meses antes. Quando sentiu um hálito quente
perto e notou que não era do irmão, os pelos se arrepiaram. Beto se colocou
entre eles e ela se encolheu abraçada ao próprio corpo.
— Já falei que não pode tocar na minha irmã – ele avisou —, ela virou
princesinha do Morumbi. O cara que pega ela é gente poderosa.
— Onde está Chanel? – Corina perguntou para interromper a conversa
que eles mantinham como se ela não estivesse ali. Era humilhante que a
tratassem como um objeto que só servia para dar prazer a um homem. Era
vergonhoso que falassem daquele jeito de Zyan, um homem que a tratava
como uma preciosidade.
Roberto ordenou que trouxessem Chanel, e quando Corina a sentiu se
esfregando em suas pernas se agachou para abraçá-la. O sentimento era o
mesmo que devolver seus olhos e a emoção a envolveu de um jeito que não
conseguiu evitar de chorar.
— Ela tem a grana, mas está no banco – Roberto começou a explicar. —
Preciso ir com ela até uma agência para sacar o dinheiro.
— É melhor – respondeu o outro homem que Corina sabia, pelo cheiro,
se tratar de um dos melhores amigos do irmão —, Wander só aceita dinheiro
vivo.
— Vou com ela até a agência da esquina – decidiu Roberto enquanto
Corina acompanhava tudo com os ouvidos bem atentos, agarrada à Chanel.
— Você sabe que o chefe gosta da ceguinha – insistiu o amigo. — Você
poderia ser promovido, se a loirinha fizesse umas visitinhas.
— E morto pelos homens do namorado dela. Já falei que não vale a
pena se meter com essa gente, podem ser tão perigosos quanto os parceiros
do Wander. Corina tem que voltar para o Morumbi sem um fio de cabelo fora
do lugar – ele parou de falar para puxá-la para cima —, aquela confusão na
boate da zona sul só trouxe complicações para mim, isso sim! O tal do Zyan
Cardoso é amigo do dono da boate, só para você saber com quem estamos
nos metendo, se a ceguinha não voltar para o Morumbi.
— Você quem sabe! – O amigo deu de ombros.
— Vamos para o banco sacar o dinheiro, Corina – avisou ele. —
Depois vou colocar você dentro de uma condução para que volte para casa.
E já sabe, nada de abrir a boca para contar para o namorado rico onde
esteve.
— Se eu conseguir sair disso viva, não pretendo envolver Zyan nessa
história – retrucou ela, mas o coração estava despedaçado em ter que mentir
para o amor de sua vida. — Eu poderia usar esse dinheiro para tratar você,
Beto – tentou uma última abordagem antes de desistir de vez de salvá-lo. Ela
devia isso à mãe e ao pai que tanto os amaram. Roberto nunca a considerou
parte da família, mas os pais sim, e era por eles que ela tentaria mais uma
vez —, por favor, Beto, você é jovem e pode reconstruir sua vida longe das
drogas. Pode pensar em terminar o ensino médio, quem sabe até um curso
técnico. Zyan pode ajudá-lo nisso, eu sei que pode. – E ela não teria
vergonha de pedir ajuda a um homem generoso como Zyan, não para salvar o
irmão.
— Cala a boca, Corina! – ele a xingou e ela se encolheu assustada. —
Da minha vida cuido eu. Me passe o dinheiro e o apartamento para meu
nome e prometo que não a procuro mais.
Corina sabia que não poderia confiar na palavra dele depois que muitas
promessas haviam sido quebradas e os levado à ruína. Mas se dissesse
realmente o que pensava, ele seria capaz de entregá-la a quem ela não
queria. O humor do irmão costumava oscilar rapidamente pelo efeito das
drogas que usava e não poderia contar com a generosidade momentânea com
que ele a tratava. O melhor era falar menos e da forma mais objetiva
possível.
— Será do jeito que você quiser, Beto – concordou para não complicar
ainda mais sua situação. Ao menos ela tinha Chanel ao seu lado.
— Você não pode perder a razão agora – advertiu-o Dimas, que
estava sentado ao lado de Zyan enquanto ele dirigia como um louco pelas
ruas de São Paulo. Só pelos sinais que ele furou já devia ter sido multado
umas cinco vezes.
— Você fala isso porque não é sua mulher que está numa boca de fumo
– Zyan soltou enfurecido com o comentário do amigo.
Sua equipe havia conseguido rastrear Corina pelo celular e depois de
alguns contatos com pessoas certas conseguiram descobrir o endereço para
onde ela havia ido após receber um telefonema do irmão. Zyan se sentia
péssimo em invadir a privacidade dela, mas era isso ou deixá-la à mercê dos
traficantes, que ele sabia que costumavam assediá-la. E somado a tudo isso,
ainda sabia que o irmão jamais a protegeria, era um maldito egoísta,
inclusive, seria capaz de entregá-la a quem lhe pagasse mais.
— Você avisou a polícia e já estamos chegando – Dimas tentou animá-
lo.
Atrás vinham Elon e Alex no carro de Arlo, que se esforçava no
volante para não perder o Volvo de Zyan de vista.
— Se aquele infeliz a machucou eu o mato, Dimas! Não importa se
tiver que ir para cadeia, mas ele vai morrer por ter ousado machucar Corina.
Dimas passou as mãos pela cabeça, sem saber o que falar para Zyan.
Talvez se estivesse em seu lugar, ele estaria agindo igual, ensandecido e em
busca de vingança. Mas alguém precisava frear os ímpetos destrutivos de
Zyan, para o bem dele. E de Corina.
Um bipe anunciou uma chamada e, ao apertar o botão no volante, um
dos especialistas em segurança que trabalhavam para ele avisou o novo
endereço em que Corina estava, uma agência bancária. E tudo fez sentido
para Zyan; Roberto queria o dinheiro dela, provavelmente para pagar
dívidas com traficantes. Havia sido assim com sua irmã e ele sabia que, às
vezes, trabalhar para os traficantes não era suficiente para manter o vício,
sempre iria precisar de mais e mais até que a morte resolveria tudo. Ele
bateu as mãos no volante, sentindo-se mais uma vez impotente, como se o
peso da morte de Lilian retornasse para assombrá-lo.
— Eu sei o que você está pensando – Dimas avisou —, mas não vou
deixar você se perder.
— Está difícil manter o foco, Dimas – confessou ele.
— Eu sei que está, mas você vai conseguir – incentivou-o. — Nós
estamos aqui para isso, para ajudá-lo a atravessar mais essa provação,
entendeu?
Zyan fez que sim com a cabeça e se concentrou na estrada. Foram
meses afundados na miséria porque não conseguiu evitar a morte da irmã,
noites em claro porque ao fechar os olhos só conseguia ver o corpo dela
caído no asfalto. Ele não poderia passar por aquilo de novo e justo com a
mulher que se infiltrou em sua vida como um sopro de esperança. Corina lhe
devolveu a vontade de viver. Tentou se concentrar no sorriso dela, seu anjo
o guiaria para que a salvasse.
Dentro de quinze minutos eles desembarcavam nas redondezas em que
o pessoal da empresa havia indicado. Eles se dividiram para cobrir uma
área maior ao redor da agência bancária e assim evitar que Roberto fugisse
levando consigo Corina. A região estava deserta em razão do adiantado da
hora e por estar perto de uma boca de fumo. Zyan evitou olhar muito ao
redor para não piorar seu estado de ânimo, pois tudo ao redor era sujo e
abandonado e alguns mendigos já puxavam colchões velhos para passar a
noite na porta da agência.
Na verdade, estavam todos em alerta, e quando Zyan avistou a
cabeleira loira de Corina um misto de sentimentos o assaltou de maneira que
não conseguiu mais conter a tormenta que exigia romper a racionalidade para
que pudesse acabar com a preocupação de uma vez por todas. Dimas tentou
segurá-lo pelo braço, mas acabou sendo arrastado junto. Zyan tinha quase
dois metros de puros músculos trabalhados para se tornar uma máquina
mortal nos ringues; contê-lo não era uma tarefa para um homem só.
— Largue-a – exigiu ele quando alcançou Roberto e os olhos caíram
na mão com que ele segurava Corina. Isso o cegou a ponto de se esquecer
que poderia assustá-la. — O que eu falei para você naquela noite na boate?
Que era para ficar longe dela. E o que você fez? A trouxe para o inferno que
está acabando com sua vida, seu merda! – esbravejou e o atingiu com o
punho fechado no olho esquerdo. A força do impacto arremessou o corpo de
Roberto contra os caixas eletrônicos.
Dimas puxou Corina para um lado e a abraçou enquanto ela soluçava
compulsivamente pelo susto que teve ao ser apresentada a um lado de Zyan
que ela sabia existir, mas que jamais ele fez questão de mostrar.
— Não deixe que ele mate meu irmão – ela pediu entre lágrimas de
medo e apreensão que a invadiram assim que ouviu a voz de Zyan. Mas ela
sabia que ali estava um homem irritado além do limite e não o homem gentil
por quem se apaixonou.
— Ele te machucou? – Dimas perguntou enquanto acarinhava os
cabelos dela na tentativa de acalmá-la.
Ela negou com a cabeça.
— Onde está Chanel? – Ficou preocupada com o cão-guia.
Dimas o procurou com os olhos e Arlo mostrou que estava com o
animal dentro do carro.
— Elon, fique com Corina – Dimas pediu. — Eu e Alex vamos
impedir que Zyan cometa uma besteira. – Ele beijou a testa de Corina. —
Não vai acontecer nada – prometeu. — Estamos aqui para evitar o pior. Só
confie em nós, por favor. E vá com Elon para casa. – Ele sabia que era isso
que Zyan queria.
Elon puxou Corina para perto dele enquanto observava Dimas correr
para ajudar Alex a deter Zyan, cuja fúria o havia deixado descontrolado.
— Não quero ir para casa! – ela negou com a cabeça. — E se Zyan
matá-lo? Eu não queria causar tanto transtorno. – Corina se sentia
responsável pela tragédia que ela pressentia que poderia acontecer por ter
saído como uma louca de casa sem avisar ninguém. — Eu não tive muita
escolha, Elon. Meu irmão ligou avisando que estava com Chanel e que iria
vendê-la se eu não entregasse o dinheiro.
— Que maldito! – Elon esbravejou ao se dar conta de que
indiretamente havia contribuído para a confusão na vida deles, como se uma
mulher não pudesse ter o direito de ganhar seu próprio dinheiro. — Escute,
Corina! Vou levá-la para casa. Aqui não é lugar para você. E depois, quando
Zyan estiver mais calmo, vocês podem conversar e resolver as diferenças.
— Ele não vai me perdoar. – As lágrimas escorriam pelas suas
feições delicadas.
— Ele ama você, Corina! Essa reação dele é porque ficou com medo
que tivessem machucado você. Em casa eu explico melhor, agora vamos.
Arlo se aproximou e entregou a chave do carro para Elon.
— Podem ir com meu carro – disse ele. — Voltamos com Zyan
depois. Chanel já está no carro.
Elon assentiu com a cabeça e conduziu Corina até o carro, uma Land
Rover de luxo. Que grande confusão haviam se metido, pensou o publicitário
ao avistar os amigos empenhados em evitar uma tragédia. Uma viatura
acabava de estacionar e Arlo se aproximava dos policiais para conversar.
— Me fale, Elon! O que está acontecendo? – Corina estava encolhida
no banco de trás com a cabeça de Chanel no colo.
— Eles pararam de brigar – deu um breve relato dos acontecimentos
—, mas a polícia chegou e eu acho que seu irmão está com drogas no bolso.
— Jesus! Dessa vez ele não escapa – ela lamentou e secou as lágrimas
com o lenço de papel que tirou da caixa que Elon lhe alcançou.
— Vai ser melhor para ele. Zyan não vai abandoná-lo, Corina. Eu sei
que você ficou assustada com a reação dele, mas ele tem um motivo para
isso. E um bem forte. Quando você descobrir, vai entendê-lo. Agora, preciso
levar a princesinha de volta para o seu castelo. – Ele tentou descontrair, mas
não deu muito resultado, percebeu quando ela soltou um longo suspiro.
— Eu me sinto a própria Rapunzel – desabafou. — Presa em um
castelo para sempre porque não sou capaz de cuidar de mim mesma. Mas a
diferença entre o conto de fadas e a minha história é que posso ter perdido o
príncipe para sempre.
— Você fez o que qualquer pessoa faria no seu lugar. Chanel é
importante para você e, no calor dos acontecimentos, você não pensou muito
e apenas seguiu as instruções do seu irmão, tudo para recuperar Chanel. Mas
nós chegamos a tempo.
— Ele havia prometido me deixar em paz, Elon – ela gaguejou. —
Talvez eu tivesse conseguido cuidar de tudo sozinha. Pelo menos uma vez na
vida! – se queixou. — Essa maldita deficiência não me permite viver de
acordo com minha consciência. Estou cansada de ser um problema para todo
mundo.
— Bem, para começar você não é um problema para todo mundo –
Elon deu a partida no carro —, e quanto ao seu irmão deixar você em paz,
não estou tão seguro. A gente não sabe o que poderia ter acontecido se não
tivéssemos chegado a tempo. Viciados não são confiáveis e você estava
muito exposta.
— Eu queria ficar com Zyan. – Ela se encolheu ainda mais no banco.
— Ele prefere que você esteja segura.
— Mesmo longe dele?
Elon não tinha resposta para pergunta tão pertinente. Mas como julgar
Zyan se talvez ele pensasse exatamente igual caso a mulher de sua vida
estivesse em perigo? A primeira coisa que faria era se certificar de levá-la
para um local seguro e depois trataria de dar uma lição em quem a havia
machucado. Era estranho para ele pensar assim de uma mulher que viu
apenas uma vez na vida e cujo beijo o estragou para todas as outras. E por
mais que costumassem fazer piada disso, aquele sentimento era tão certo
dentro dele que ainda acreditava que um dia iria encontrá-la.
Corina não falou mais. A ansiedade que sentia não a deixava pensar
em outra coisa a não ser em Zyan e Roberto. Mas o silêncio era opressor, era
como jogá-la para dentro da escuridão que fora condenada a viver desde que
nasceu; e isso a fazia desejar enxergar. Ela poderia puxar conversa com
Elon, ele era divertido e gostava de conversar sobre qualquer assunto, mas
no momento ele apenas tentaria justificar o comportamento violento de Zyan,
que ela ainda não havia conseguido digerir muito bem.
Quando o carro estacionou dentro da garagem e ele abriu a porta para
ajudá-la a desembarcar, ela não conseguiu firmar os pés no chão e um mal-
estar súbito a atingiu de tal modo que precisou se apoiar em Elon para não
cair dura no chão.
— Não me sinto bem – conseguiu dizer antes de cair na inconsciência.
— Corina! – Elon a chamou diversas vezes, mas como ela não
respondia, ele a devolveu para o banco traseiro. — Vou levá-la para um
hospital. Jesus! Se algo acontecer com você, garota, Zyan corta meu
pescoço.
E assim ele fechou a porta do carro e se apressou para arrancar em
busca de ajuda.
Todos se sentiam cansados em um nível que não era apenas físico, mas
muito mais mental. Zyan olhava para o delegado como se fosse o salvador
que fez falta para a irmã quando sugeriu a internação compulsória.
Felizmente, e graças à atuação do advogado amigo de Arlo, Roberto havia
sido indiciado por uso de drogas. Mas foi por pouco que não foi enquadrado
como traficante, o que lhe renderia complicações por se tratar de um crime
hediondo.
— Foi por pouco – disse Alex assim que pisaram fora da delegacia —,
mas vai ser bom que ele passe a noite na cadeia.
— Sei lá, tenho pena de gente assim, que perde a vida para as drogas –
comentou Dimas ao se recordar do quanto esteve perto daquele mundo se
não tivessem lhe dado uma chance na vida.
— A gente sabe que a vida não é fácil – comentou Arlo —,
principalmente nós, que vimos muita gente morrer para o tráfico.
— Mas não é impossível – retrucou Alex.
Todos estavam mais relaxados depois de decidirem o que seria feito
com o irmão de Corina.
— Ele vai para uma clínica de desintoxicação – decidiu Zyan —, e
Corina vai ter que aceitar que quero ajudar. – Ele passou as mãos pela
cabeça, sentido o cansaço se apoderar de cada músculo de seu corpo. Ao
menos, saber que Elon a havia tirado de perto dele e que a havia levado para
a segurança do apartamento o acalmou a ponto de não querer mais acabar
com a vida do irmão dela.
Dimas estendeu o braço para devolver a chave do carro, mas Zyan fez
sinal negativo com a cabeça.
— Dirija você, estou morto – admitiu o cansaço. — Só quero ir para
casa e me jogar numa cama. Mas sei que preciso conversar com Corina. Eu a
assustei.
— Assustou? – Arlo o encarou preocupado. — Ela ficou mal quando
percebeu que era você gritando.
— Que merda! – esbravejou Zyan. Talvez fosse melhor ele ir para a
casa de Dimas ou Arlo para deixar as coisas esfriarem. Não queria ter que
enfrentar sua primeira briga com ela. E ele ainda estava puto com o fato de
que ela não o chamou quando precisou dele.
— Sexo depois da reconciliação é muito bom, viu! – Alex bateu nas
costas de Zyan. — Mas seria legal se você comprasse flores ou algum
presente para ela. Talvez seja a hora de pedi-la em casamento – sugeriu
entusiasmado.
— No momento só consigo pensar em encontrar outro lugar para
morarmos, um que não vão nos achar – ponderou Zyan. — Agora que
denunciei a boca de fumo vamos estar ainda mais expostos.
— Você é o melhor no que faz, Zyan – disse Dimas. — Redobre a
segurança e tudo vai dar certo.
— Vocês ouviram o delegado – Arlo disse. — Eles suspeitam de tráfico
humano na boca de fumo.
Alex deu uma cotovelada no amigo para que ele parasse de falar sobre
o assunto.
— Deixa ele, Alex – disse Zyan ao perceber que os amigos queriam
poupá-lo. — O que importa é que Corina está bem agora.
Eles se acomodaram dentro do carro. Dimas e Zyan se sentaram na
frente, enquanto Arlo e Alex, atrás. Foi Dimas dar a partida no carro que o
telefone de Zyan tocou.
— É Elon – ele avisou antes de atender.
Como Elon costumava ser curioso, todos relaxaram e começaram a
conversar descontraidamente. Mas à medida que perceberam que era algo
sério, o silêncio imperou dentro do carro para lembrá-los de que problemas
podiam chegar em lotes.
— Como assim no hospital? – Zyan soltou e toda a preocupação
retornou para o seu corpo. — E só agora você me avisa, Elon?!
— Foi quando consegui – Elon explicou do outro lado da linha.
— Estamos indo para lá – avisou Zyan.
— Só mais uma coisa, meu Deus, não sei por onde começar! – Elon
estava nervoso, ele percebeu. — Talvez seja melhor você vir e conversar
com o médico, ele vai te explicar melhor.
— Pelo amor de Deus, Elon! O que aconteceu com Corina para você
estar tão nervoso? Justo você que nasceu para falar pelos cotovelos e usar
essa cara perfeita para encantar – Zyan exigiu saber informações mais certas
do que havia acontecido.
— Cara, a Corina está bem. Ela está dormindo para descansar. O
médico achou melhor que ela ficasse em observação. Mas você não vai
acreditar... – Elon se enrolava com as palavras.
— Desembucha! – ordenou, impaciente.
— Então... eles a atenderam porque ela desmaiou, e quando o médico
veio falar comigo, ele queria falar com o pai.
— Com o pai dela? – perguntou Zyan.
— Não, com o pai do bebê – conseguiu contar finalmente, mesmo que
de um jeito torto.
— Você está querendo dizer que Corina está grávida? De um filho meu?
— Claro que seu, Zyan! – Foi a vez de Elon se indignar com o
raciocínio lento. — É você quem tem dormido com ela, afinal. Quer saber,
venha para cá logo e assuma teu lugar como pai – e encerrou a ligação.
Zyan tirou o telefone da orelha e ficou olhando para a tela em estado
hipnótico.
— Elon disse que vou ser pai – soltou embasbacado.
Dimas olhou para ele, tão embasbacado quanto.
— Você vai ser pai – comemorou Alex —, e Milena vai ter um primo...
Ou prima.
— E Corina, como está? – Arlo lembrou de perguntar.
— Ela está bem, eu acho. Dormindo em observação porque o médico
não quis liberá-la de imediato – explicou Zyan, ainda confuso com a
novidade. — Caramba, não sei como isso foi acontecer!
— Como não? – perguntou Dimas, curvando os lábios em um sorriso
que era puro sarcasmo.
— Ela começou a usar pílula – justificou.
— É um método muito eficaz, mas se um comprimido for esquecido, a
gravidez pode acontecer – emendou Alex, sempre o mais entendido no
assunto. — Olha, agora não adianta ficar pensando em como aconteceu
quando o importante é que aconteceu e um bebê vem aí.
Zyan sacudiu a cabeça e riu alto, era um misto de alívio e preocupação
com o que viria dali por diante. Mas de uma coisa ele estava muito seguro:
nada faltaria à Corina e ao bebê.
— Veja pelo lado positivo – Dimas olhou rapidamente para Zyan e
piscou —, você tem a deixa para fazer o pedido de casamento.
— Devagar com o andor que o santo é de barro! – Alex se sobressaltou
no banco de trás e se aproximou com a cabeça, ficando entre Dimas e Zyan.
— Não saia assim do nada fazendo o pedido – aconselhou.
— Por que não? – Arlo resolveu se meter na conversa.
— Porque ela pode achar que o Zyan não a ama e que a está pedindo em
casamento em razão da gravidez – explicou Alex, com muita propriedade,
aliás.
— Fala sério que a gente tem que pensar nisso tudo para fazer um
pedido de casamento?! – Arlo ficou pensativo de repente e Alex soltou uma
gargalhada.
— Mulheres são complicadas, Arlo – garantiu o jogador.
— Deus me livre das mulheres então! – Ele se benzeu.
— Caras, vamos deixar o Zyan se acostumar com a ideia de que vai ser
pai – sugeriu Dimas, como sempre sendo o mais racional do grupo. — Eu
acho que ele teve muitas emoções para uma noite.
Zyan olhou para o amigo e agradeceu com uma sacudida de cabeça. Sua
cabeça fervia pelas tantas possibilidades que imaginava, dentre as quais a
que Corina poderia ter se ferido caso eles não tivessem chegado a tempo, ou
até mesmo ser vítima de tráfico humano; e então ele não perderia apenas a
mulher que amava, mas o filho que carregava com ela, um filho dele e dela,
um elo que seria eterno.
Jesus! Não importava o quanto ela estivesse zangada com ele, a
primeira coisa que faria assim que a encontrasse era dizer o quanto a amava.
Ninguém o impediria de abrir o coração para ela; e depois, se ela ainda
quisesse, eles poderiam ter a primeira briga.
— Querem saber? – Ele olhou pelo retrovisor para enxergar os amigos.
— Não importa como e quando eu vou pedi-la em casamento, só preciso
dizer que a amo e que o bebê só veio para nos fazer feliz. É isso! – concluiu
com os lábios retorcidos em um sorriso de satisfação genuína, pedindo a
Dimas que acelerasse para que chegassem o quanto antes ao hospital.
Corina despertou com a cabeça pesada, mas com o corpo menos
dolorido. Abriu os olhos e tateou em busca de algo que lhe trouxesse
familiaridade.
Juliana, que estava descansando em uma poltrona, se levantou
imediatamente quando percebeu que a amiga estava acordada e pegou na
mão dela.
— Sou eu, Corina! A Juliana! – avisou.
— Juliana, onde estou? E que horas são? Me sinto confusa – disse
Corina.
— É de manhã, e você está no Albert Einstein – explicou Juliana.
— No hospital?! – E então ela se lembrou do mal-estar que sentiu ao
desembarcar do carro e dos braços de Elon a sustentando por ser incapaz de
ficar de pé sozinha. — Lembro que Elon estava me levando para casa.
— Você teve um mal-estar e ele a trouxe para cá. Aliás, ele fez muito
bem.
— E Zyan? E meu irmão? – Corina estava ansiosa por notícias.
— Estão todos bem, minha amiga. – Juliana passava as mãos pelos
cabelos de Corina. — Seu irmão passou a noite na delegacia e de lá vai ser
levado para uma clínica para dependentes químicos.
— E Zyan? O que aconteceu com ele?
Juliana sorriu ao perceber o quanto Zyan era sortudo em ter encontrado
uma mulher tão apaixonada. Ela queria que todos eles encontrassem o amor,
para serem felizes, assim como ela e Alex.
— Zyan está lá fora com a minha vó. Ele está bem, Corina. Não se agite
por nada, tudo está bem agora e todos estão vivos.
Corina apertou a mão da noiva de Alex.
— Juliana, por favor, você poderia buscá-lo? Estou ansiosa para
encontrá-lo. – Corina ainda sentia medo da reação dele, mas a vontade de
ouvir a voz dele era maior do que qualquer sentimento que pudesse separá-
los.
— Claro! – Juliana a beijou na testa e foi ao encontro de Zyan.
Ela o encontrou sentado em uma poltrona de frente para Dona
Francisca, que tagarelava sem parar. Zyan se levantou assim que a avistou,
ansioso para retornar para o lado de seu amor.
— Ela acordou e quer encontrar você – Juliana avisou.
Ele olhou de Juliana para Francisca e engoliu em seco. Estava nervoso
e qualquer um poderia perceber o quanto estava com medo de enfrentar seu
destino. O modo com que Corina o receberia ditaria os acontecimentos dali
por diante. Ele a amava, mas não queria impor-se como se ela não tivesse
alternativa. A decisão sempre seria dela, jamais poderia viver ao lado de
alguém se fosse para ser um fardo, mesmo que tivessem um filho para criar.
— Você contou sobre o bebê? – perguntou para Juliana.
— Não, Zyan! É um momento que você merece compartilhar com ela. –
Juliana se aproximou dele, se colocou na ponta dos pés e o beijou no rosto.
— Vai logo encontrá-la, Corina está ansiosa. Não deve deixar uma mulher
grávida esperando por você.
Zyan sorriu e partiu ao encontro de seu futuro, confiante de que nada
poderia ser tão difícil. Todos os infernos que passou até ali, absolutamente
tudo que precisou viver, finalmente fazia sentido, o havia preparado para que
pudesse alcançar a felicidade, para que pudesse dar valor à bondade de uma
mulher, que lhe provou que uma carícia era o suficiente para curar um
coração ferido.
Ela ouviu o barulho das dobradiças da porta e virou a cabeça na
direção em que vinha o som, linda como sempre. Zyan quase perdeu o fôlego
quando os olhos azuis o encontraram, que mesmo desfocados tinham tanto
para oferecer a ele. Ela era perfeita e “ai” de quem ousasse dizer o
contrário.
— Bom dia! – ele disse acanhado, um pouco envergonhado por lembrar
que a preocupou com sua explosão de fúria.
— Ah, Zyan! Ainda bem que você está bem. – Corina levou uma mão ao
coração e estendeu a outra porque precisava tocá-lo, sentir o calor dele
atravessar a pele para chegar até seu coração como um sopro de esperança
de que tudo se resolveria.
— Está tudo bem comigo, princesinha! – ele garantiu enquanto beijava a
palma da mão dela, escorregando com os lábios até o pulso e ficando ali,
sentindo o perfume dela, para inundar sua alma de paz. — Roberto está bem
também. Eu sei que explodi, mas eu fiquei tão atordoado ao imaginar que ele
poderia fazer mal a você.
— Ele não faria, Zyan! – Ela não conseguiu evitar de ser teimosa em
acreditar que bondade podia existir na cabeça dura do irmão.
— Eu penso diferente, mas não quero brigar em razão de uma pessoa
que está doente. Roberto será tratado e se ele quiser, pode recomeçar sua
vida. Vou ajudar para que isso aconteça, mas por você, porque sei que
jamais conseguirá virar as costas para ele.
— Roberto é o que sobrou de Graça e Mateus, os meus pais adotivos –
ela começou a explicar, com os olhos marejados. Zyan puxou uma cadeira e
se sentou de modo que pudesse ficar com o rosto pertinho do dela. — Ele
tem razão quando diz que se eu não tivesse chegado, as coisas poderiam ter
sido diferentes. Meus pais gastaram até o que não tinham para encontrar uma
cura para minha cegueira, e quando ninguém mais lhes deu esperança,
começaram a correr atrás para que eu pudesse receber educação que me
proporcionasse certa autonomia. Já contei sobre o quão cara Chanel foi. Mas
talvez eles tenham pagado um preço ainda mais caro, Zyan! – Ela deslizou o
dorso da mão pelo rosto dele. — Graça e Mateus se preocuparam tanto
comigo que esqueceram que Roberto precisava de mais atenção. Por isso,
jamais vou conseguir abandoná-lo a seu bel-prazer. Devo isso a quem cuidou
de mim.
— Mas, Corina, era ele quem deveria cuidar de você.
Ela riu entre lágrimas, sentindo-se aliviada por ter Zyan ao seu lado.
— Não é porque ele é perfeito fisicamente que não precise de mim –
ela argumentou. — As feridas da alma podem ser mais latentes do que as do
corpo.
— Você é boa demais, Corina.
— Não sou não! – Ela sacudiu a cabeça ao lembrar da confusão que
havia provocado. — Eu abusei da sua confiança e me deixei convencer por
Roberto. Você deve estar muito irritado comigo, Zyan.
— Não nego que fiquei – ele suspirou —, mas passou. O medo que senti
de perder você foi muito maior do que a frustração que senti quando
descobri que você não me procurou. Eu teria dado o dinheiro para ele para
que você tivesse Chanel de volta, Corina. Sei que Chanel é importante para
você.
— Me perdoa? – ela o desarmou com o pedido de perdão.
— Não, não! – Ele sacudia a cabeça, as lágrimas escorrendo pelos
olhos porque ela o tocava com gentileza e nunca ninguém havia sido tão
suave com ele como Corina estava sendo. — Sou eu quem devo pedir
desculpas por não conseguir controlar meu gênio, por não entender que você
é boa demais para abandonar uma pessoa assim do nada.
— Zyan, eu já falei que eu o amo por inteiro, a parte boa e a parte ruim.
– Ela se apoiou na cama com os cotovelos quando percebeu que ele havia se
afastado. — O que me machucou foi você não me deixar chegar perto.
— Eu só queria proteger você – ele argumentou, estava de costas para
ela, porque era incapaz de enfrentá-la quando se sentia tão indigno de alma
tão bondosa.
— Venha cá! – ela exigiu com o braço estendido. — Venha cá, por
favor! – E ele se virou para alcançá-la, sentando-se ao lado dela na cama
para entrelaçar os dedos nos dela. — Eu percebi que preciso de sua
proteção, Zyan! Da sua proteção e da dos seus amigos. Elon foi tão bom
comigo e eu me senti protegida ao lado dele. Ele me explicou a dor que
carrega por ter perdido a irmã para o tráfico. E isso apenas me deu a certeza
de que eu escolhi o homem certo para amar. Jamais vou fugir da proteção
que todos vocês oferecem por orgulho ou por me sentir um estorvo. Eu
prometo! – Ela levou o indicador à boca para selar a promessa. — Mas,
Zyan, jamais tente me proteger de você. Isso não aceito de jeito algum.
Ele sentiu vergonha.
— Eu temia machucá-la.
— Jamais irá me machucar, eu sei que não.
— Como sabe que não? Há um lado escuro dentro de mim, que às vezes
toma conta da minha mente de um jeito que não posso controlar. – Ele tentou
explicar o quanto era quebrado e o quanto temia que suas feridas a
machucassem.
Mas Corina estava determinada a provar que a escuridão não era páreo
para o amor.
— Porque eu sinto que você me ama. Ou estou enganada sobre os seus
sentimentos para comigo?
— Não, não está! Eu a amo tanto que temo perdê-la ou machucá-la –
confessou.
— Só há uma maneira de você me machucar – ela apertou a mão dele
com uma das suas e, com a outra, o acariciou no rosto —, me evitando!
Quero estar ao seu lado para qualquer coisa. E se me trancar dentro de um
quarto, longe de você, eu vou ser infeliz.
Zyan secou as lágrimas enquanto sorria como um bobo.
— Eu amo você, princesinha! Com todo meu coração. – Corina deslizou
na cama para ficar mais perto dele e o abraçou com carinho. — Eu achava
que iríamos ter nossa primeira briga – admitiu.
— Você veio preparado para brigar?! – Ela riu. — Não quero brigar
com você, Zyan. Eu errei também.
— Não! – ele discordou, colocando o indicador na boca dela. — Você
fez o que precisava ser feito. Não teve tempo de pensar muito e decidiu de
acordo com seu coração. Mas ainda tenho algo para contar para você. Algo
que ainda poderá fazê-la mudar de ideia quanto a não brigar.
Ela encostou a testa na dele.
— Algo a ver com o meu desmaio, não é? Elon estava estranho sobre
isso.
— Você já sabe? – perguntou ele, na tentativa de abreviar a conversa.
— Acho que sei, mas como estava com muita dor de cabeça, preferi
dormir a pensar. Elon estava comigo e poderia resolver tudo, não é? Espero
não estar com nada grave.
— Fez bem, meu amor! – Ele a beijou na ponta do nariz. — Mas não
tema notícias ruins. Você não está doente.
— Não?!
— Não! Você está esperando um bebê. Conversei com o médico e ele
me explicou que a gravidez é de poucas semanas.
— Grávida, eu? Jesus, como conseguimos isso?!
— Vamos ter que conferir em casa na cartela do anticoncepcional – ele
riu.
— Oh, meu Deus! Eu devo ter esquecido de tomar algum comprimido!
Que vergonha, Zyan! – Ela afundou o rosto no pescoço dele.
— Vergonha por quê? Eu participei ativamente de tudo e deveria ter
ajudado você a não esquecer. Fui egoísta, isso sim.
— Ah, mas eu garanti que estava tudo certo... e não estava. – De
repente, ela se afastou dele, ficou preocupada com o que ele poderia estar
pensando a respeito de sua deficiência, que às vezes dificultava tudo, aliás,
mais vezes do que ela queria admitir, porque o mundo era feito para que
pessoas perfeitas pudessem viver. — Não fiz de propósito – se adiantou a
justificar.
— Eu sei que não! – Ele a trouxe para seu colo, tomando o cuidado de
não a enrolar com os caninhos do soro. — Mas eu preciso saber uma coisa
antes de fazer outra coisa.
— O quê?
— Se eu a pedir em casamento, você vai aceitar? – Ele a beijou no
rosto ao perceber sua confusão. — Alex disse que você poderia ficar
chateada porque havia a possibilidade de pensar que estou pedindo você em
casamento em razão do bebê. Não é pelo bebê, mas é também. – Ela sorriu
para ele. — Quer dizer, eu já queria pedir você em casamento porque não
queria que voltasse para a Freguesia do Ó, não queria que voltasse porque
iria sentir falta de você, entende? Mas agora que vamos ter um bebê, eu acho
que temos mais motivos para nos casar.
— Você quer dizer que me ama? É isso, não é? – Ela o tocou com as
duas mãos no rosto, de modo a formar uma concha, e isso o desestabilizou a
ponto de perder o raciocínio. Ela sempre o desarmaria com suas carícias,
isso era uma verdade pela qual não cabia discussão.
— Eu queria falar palavras bonitas, mas só sei dizer que amo você,
Corina. Amo tanto que se me disser um não eu não vou conseguir aceitar.
— Faça o pedido – ela o incentivou, mas de repente o impediu,
segurando-o pelo braço. — Espere, por favor! Tenho uma pergunta a fazer. –
Ele soltou o ar pela boca, pura preocupação com o que viria a seguir da
boca dela. — Você me ama do jeito que sou?
— Você é perfeita. – Um alívio o invadiu.
— Não sou! Eu tenho uma deficiência, que não tem cura, e que exige
uma vida diferente. Eu sempre me senti um estorvo ao fazer parte da vida
das pessoas, e não quero que as pessoas sintam pena de mim, Zyan. Eu nasci
sem enxergar, tudo que aprendi sobre o mundo e as pessoas não foi pelos
olhos, e eu vivo bem assim se as pessoas puderem me respeitar do jeito que
sou. Não conheci o mundo como a maioria das pessoas, entende? O mundo
sempre foi do jeito que eu consegui percebê-lo. – Ela respirou fundo para
retomar o fôlego. — O que quero dizer é que vou ser a melhor mãe do
mundo, mas do meu jeito. E se você puder me aceitar do jeito que sou,
vamos ser felizes. – Era importante para Corina entender o quanto ele a
compreendia.
— Eu a amo exatamente do jeito que é. E não tenho dúvidas da mãe
maravilhosa que será para nosso filho. – Zyan não era bom com as palavras,
mas sabia se expressar muito bem com o corpo; era quando seus sentimentos
se concretizavam, e por isso abaixou um pouco a cabeça e a beijou,
deixando que a paixão que sentia a tocasse e a convencesse de que eram
perfeitos um para o outro, independentemente das imperfeições que
carregavam. — Eu amo você, Corina! Vou amar cada um dos filhos que você
me der. E vou me esforçar para merecer cada segundo de suas carícias. E
sabe o que penso? Que nos completamos muito bem – ele riu e voltou a
sentir os olhos marejados —, eu posso ser os seus olhos se você puder
encher meu coração de bondade. Você me ensina que amar é fácil quando
somos tocados pela bondade.
Ela sorriu em resposta e encostou o rosto no ombro dele, o corpo ainda
sentia o impacto do beijo. Mas foi quando ele deslizou a mão até a barriga
dela que o coração acelerou dentro do peito, repleto de amor, do amor dele.
— Faça a pergunta de novo – exigiu, mais feliz e relaxada.
— Quer se casar comigo, Corina Lopes?
— Sim, sim!
Então ele tirou as alianças de dentro do bolso e com cuidado a colocou
no dedo dela. A ajudou a fazer o mesmo com ele. A dela era enfeitada com
pedras preciosas coloridas, enquanto a dele era lisa. Corina deslizava os
dedos pelas joias, era pura felicidade.
— Você vai deixar eu cuidar de você do jeito que meu dinheiro
permitir? – ele arriscou perguntar.
— Se eu o impedir de ser você mesmo, estaria sendo uma hipócrita.
— É por isso que eu amo você! – E a beijou de novo, mas dessa vez
livre dos medos que o faziam se sentir menos do que realmente era.
Corina o havia ensinado muito mais do que o peso de seus 30 anos lhe
trouxe. Mas a mais importante das lições, ele jamais esqueceria: o amor era
capaz de unir, jamais de separar.
Corina deixou o hospital no dia seguinte, depois de ter feito uma bateria
completa de exames. A companhia e apoio de Zyan a deixaram mais
tranquila, principalmente porque o irmão também estava encaminhado e
quem sabe um dia pudesse se tornar o homem que a mãe e o pai sempre
esperavam que ele fosse. Não precisava ser rico como Zyan, mas que tivesse
vontade de trabalhar e ter sua própria família.
— Estou ansiosa para abraçar Chanel – disse quando Zyan abriu a porta
do carro para que ela desembarcasse. — Tem certeza de que ela melhorou
da virose?
— Jesus, Corina! Chanel está melhor que você, desconfio. Paula a
mimou de um jeito que daqui a pouco vai ganhar um quarto de hóspedes.
— Senti falta da comida da Paula – ela fez uma careta ao lembrar da
comida do hospital, que não era ruim, mas não chegava perto da comida
gostosinha de Paula, muito menos da macarronada de Dona Francisca —, e
da Paula também, é lógico!
— Ela está se sentindo a avó do ano – Zyan revirou os olhos —,
começou a tricotar roupinhas para o bebê.
— Mas o bebê vai precisar, Zyan.
— Tudo bem, eu me rendo – ele riu e a beijou na boca. — Vamos nos
mudar, Corina. Disso não abro mão. Alex me indicou um corretor que diz ser
muito bom. Quero uma casa aconchegante para você e de preferência com
apenas um andar, para que fique mais segura. Aquela que ele disse que
estava à venda no condomínio dele tem dois andares.
— Você vai conseguir a casa perfeita. – Ela não teimaria mais a tudo
que dissesse respeito à sua segurança. Quando o bebê chegasse, ela
precisava se sentir confiante para cuidar dele, e uma casa preparada para as
necessidades de uma pessoa com deficiência visual seria importante. E ela
iria conseguir, estava certa de que sim, isso porque poderia contar com uma
rede de apoio que tornaria seus dias mais amenos.
— Alex e Juliana nos convidaram para dividirmos a cerimônia – ele
julgou que era um bom momento para falar a respeito —, mas fiquei de ver
com você. Não queremos impor nada a você, Corina.
Ela sacudiu a cabeça e se colocou na ponta dos pés para abraçá-lo.
— Claro que aceito me casar com nossos amigos. Vai ser tão incrível –
comemorou a ideia maravilhosa.
Ele sentiu orgulho da mulher que havia escolhido para dividir o resto da
vida. Corina era de uma leveza que tudo à sua volta costumava brilhar e ter
um colorido especial. Ele a puxou para dentro do elevador e a prensou
contra a parede de espelho, sentindo o desejo comandar cada um de seus
pensamentos. Ela enfiou as mãos por baixo da camisa e o acariciava
enquanto a língua o buscava, entregando-se ao esplendor que era fazer parte
dos braços de um homem como Zyan.
— Quero você – ela deixou escapar.
E, por Deus, ele começava a se arrepender de ter topado uma festa
surpresa de boas-vindas.
Mal teve tempo de explicar quando a porta do elevador abriu e uma
salva de palmas os ovacionou.
Corina sentiu o rosto esquentar porque sabia que haviam sido flagrados
em um momento quente.
— Eles não viram, juro que não viram – Zyan se explicava ou tentava se
explicar.
— Como não me avisou sobre isso? – ela se queixou, com o rosto
enterrado no peito dele.
— Porque deixaria de ser surpresa e todos estavam tão animados.
— Eles são ótimos! – Ela sorriu e criou coragem de sair de trás do
noivo para receber os cumprimentos dos amigos.
Zyan se adiantou a ela.
— Devagar, gente! Por favor! – ele pedia cautela temendo que Corina
pudesse se sentir mal.
— Credo, Zyan! – Elon se meteu entre ele e Corina e a puxou para um
abraço. — Não esqueça que fui eu quem cuidou dela no hospital. Sou
praticamente o segundo pai do bebê. O médico até achou que eu era o pai.
— Só até eu chegar. – Zyan empurrou o amigo para o lado e recuperou a
noiva.
Elon, que não perdia a chance de se divertir, soltou uma gargalhada.
Mas foi Dona Francisca, com a ajuda de Paula, que colocou ordem na
bagunça, levando Corina até o sofá para que descansasse.
— Estou bem, gente! – ela avisou. — Muito feliz com a surpresa.
— Nós compramos presentes para minha priminha. – Bombom apareceu
ao lado de Corina e começou a desembrulhar os presentes, numa euforia
contagiante. — Eu escolhi tudo rosa, tia Corina – ela avisou e todos caíram
na gargalhada quando Zyan fez uma careta.
— Ainda bem que tenho você para me ajudar a escolher as roupinhas da
bebê. – Corina a abraçou e o coração de Zyan amoleceu um pouco mais ao
constatar o quão maravilhosa ela seria como mãe. — O que acha da ideia de
termos uma menina, Zyan? – Ela estendeu o braço para chamá-lo para perto
dela e ele a atendeu sem titubear.
— Que vou ter que dobrar a segurança com duas mulheres lindas dentro
de casa.
— Escolheu o ramo certo, Zyan! – Arlo brincou, se aproximando para
dar um beijo em Corina. — Nunca mais nos deixe assustados assim – ele
pediu e ela concordou beijando-o no rosto.
— Faço das palavras do Arlo as minhas, Corina. – Dimas a beijou
também no rosto e tocou a ponta do nariz dela com o indicador. — Você tem
um exército para ajudá-la. Aliás – ele se voltou para a noiva de Alex —,
vocês duas tem nossa lealdade, viu Juliana! Para qualquer coisa, é só chamar
um de nós. São como nossas irmãs.
— Se um não puder, o outro vai estar – emendou Elon.
— Sempre foi assim com a gente – foi a vez de Alex cumprimentar
Corina, para logo em seguida abraçar a noiva —, cada mulher que resolver
entrar para a família vai ter que nos aguentar, a todos nós no pé, porque
somos desse jeito mesmo, pegajosos.
— E quem vai ser o próximo? – Juliana deslizou os olhos pelos três
solteiros. — Eu e Corina não vamos aguentar tanta atenção.
Elon arranhou a garganta e resolveu que precisava responder uma
mensagem urgente. Dimas alegou que estava com sede. E Arlo foi puxar o
saco de Paula porque estava com fome.
— Está percebendo como as coisas são, Corina?! – Juliana se sentou ao
lado da amiga e pegou Milena no colo. — Todos eles adoram pegar nos
nossos pés, mas desaparecem quando são colocados contra a parede.
Sumiram todos – ela riu.
— São bons meninos, todos eles – afirmou Corina.
— São sim! – concordou Juliana. — Por isso quero que cada um deles
arrume uma mulher especial. Eles merecem. Mudando de assunto, Zyan falou
sobre a possibilidade de nos casarmos no mesmo dia? – Corina fez que sim
com a cabeça. — E o que você achou da ideia?
— Maravilhosa! Eu amei quando fomos juntas às compras e sei que vai
me ajudar a escolher um vestido bem lindo.
— Vai ser um casamento maravilhoso! – Juliana ficou empolgada e
começou a contar os detalhes que estava imaginando para a cerimônia.
Zyan não conseguia desviar os olhos da noiva, enquanto Alex parecia
que estava encantado.
— São perfeitas, não são? – O jogador bateu na barriga de Zyan com o
cotovelo.
— E são nossas – concordou Zyan.
— Espere para saber o que é felicidade quando o bebê nascer. Você vai
pensar que vai explodir de tanto amor. Mas quer saber! Você merece
explodir de amor, parceiro. – Alex bateu no ombro do amigo. — Bora lá
encontrar os outros para encher um pouco o saco deles.
— Vai na frente – ele avisou —, só o tempo de avisar Corina e pegar as
cervejas.
Felicidade era uma coisa muito simples, pensou ele quando beijou a
testa da noiva. Bastava encontrar a pessoa certa para que tudo no mundo se
encaixasse.
Depois da algazarra que foi o fim de tarde e de comemorarem o
pequeno milagre que crescia em seu ventre, Corina aceitou um pouco de
mimo de seu amor. Ela estava tão feliz que não conseguia parar de sorrir.
— Eu percebi uma coisa, meu amor! – ela disse enquanto Zyan a levava
no colo até o andar de cima. — Que não é nada difícil me acostumar com os
paparicos.
— Finalmente vai aceitar que nasceu para ser mimada. Por todos! – Ele
aceitou o beijo dela no rosto.
— Todos vocês me fazem sentir bem, como parte da família – ela
admitiu o quanto os amigos dele a valorizavam pelo que era e não pelo que
não tinha.
— Porque você faz parte da família – ele foi redundante de propósito.
— Amar você é tão fácil, Corina. – Ele chutou a porta do quarto e avançou
até o banheiro que ela tanto gostava.
Ela sabia muito bem para onde ele a tinha levado pelo cheiro dos sais
que impregnavam o cômodo.
— Vou sentir falta do banheiro-palácio – soltou entre gritinhos quando
sentiu os lábios dele no pescoço. Ele a tinha colocado sentada no chaise e a
beijava conforme a despia.
— Vou contratar a mesma decoradora para que você tenha seu banheiro-
palácio em nossa casa – ele prometeu.
— Mas posso fazer uma pequena exigência? – Ela o mordeu no queixo.
— Até uma bem grande... Só vou cobrar alguns beijos em troca.
— Seu safado – ela entrou na brincadeira —, eu penso que uma
banheira maior vai ser mais confortável para você, Zyan... – ele roubou mais
um beijo, porque mesmo ali, quando ele só queria que ela se sentisse
confortável, ainda conseguia pensar no bem-estar dele —, você é tão
grande...
— Mas eu gosto do aperto – ele estava insinuando que gostava de outro
tipo de aperto e ela se derreteu quando ele passou a ponta dos dedos pela
calcinha —, do seu aperto então, sou doido! Não há melhor lugar para estar
do que dentro de você, meu amor.
— O tamanho da banheira não chega a ser um problema, presumo – ela
o provocava com beijos e toques que o incendiavam.
— Corina... – Ele a procurou com os olhos, mas sempre falando, porque
era assim que Corina o sentia perto dela; além dos toques, eram as palavras
que ela precisava ouvir para ter certeza de que ele a amava.
— O que foi? – Ela começou a beijá-lo no pescoço, ansiosa para algo
mais, talvez ele a deixasse retribuir um pouco daquilo que a fazia sentir e
que a deixava plena de amor.
— Eu sempre vou dar para você o melhor – prometeu ele —, mas não
importa onde vamos viver, desde que você esteja comigo, ao meu lado, me
fazendo o homem mais feliz do mundo, me tornando um homem melhor.
— Eu amo você, Zyan! Amo tanto, mas tanto, que nosso amor cresce
dentro de mim.
Ele a beijou na barriga, levantando-se em seguida com ela no colo, para
que pudessem se perder no amor que um sentia pelo outro.
— Você me provou, Corina, que é possível encontrar o amor em uma
carícia. E isso é muito para alguém que acreditava que não merecia sequer
um carinho. – Zyan se sentou com ela dentro da banheira e jurou que jamais
se perderiam novamente.
Alguns meses depois.

Elon estava agitado porque iria conduzir Corina até o altar. Ela o havia
escolhido dentre os amigos e isso o enchia de orgulho. Dimas pajearia
Juliana até o noivo, enquanto Arlo seria o par de Dona Francisca na primeira
fila, a avó das noivas, porque naquelas alturas dos acontecimentos, a senhora
de sorriso gentil havia adotado Corina como neta. A família postiça estava
crescendo e isso, ao mesmo tempo que assustava um pouco, era realizador.
A propósito, as noivas estavam encantadoras e os noivos, muito
elegantes e ansiosos, as esperavam no altar, principalmente Zyan, cuja
barriga da noiva o fazia lembrar que viver com fé sempre valia a pena.
— Você está mais nervoso que os noivos, Elon – constatou Dimas, que
estava parado ao lado de Juliana, dentro de um fraque preto impecável. Eles
eram os padrinhos e precisavam fazer jus à posição tão privilegiada na
cerimônia que marcaria a vida dos amigos.
— Claro que estou, nunca pajeei uma noiva antes. E Corina é uma noiva
especial, minha responsabilidade aumenta porque ela está grávida –
explicou Elon. — Sem falar que quero ficar bonitão nas fotos.
— Vai dar tudo certo! – Corina o apoiou.
Juliana sorriu ao constatar que Elon e Dimas não precisavam se
preocupar com a aparência, eram dois homens cuja beleza arrancava
suspiros das mulheres.
Milena pulava na frente deles, parecendo um grão de milho dentro da
panela prestes a explodir e se transformar em uma pipoca suculenta. Seu
vestido era uma versão infantil do de Juliana e Alex iria derramar algumas
lágrimas quando as enxergasse tão lindas.
As portas da capela do Mosteiro de São Bento foram abertas e os
acordes que vinham do órgão com mais de seis mil tubos chegaram até eles
para que a emoção do momento se tornasse uma realidade festiva.
Havia chegado a hora.
Milena entrou antes deles espalhando pétalas de rosas e à medida que
avançavam pelo tapete, tantas coisas passavam pela cabeça de quem os
assistiam, impressionando-os.
Elon também sentiu uma comoção impressionante quando entregou a
noiva a Zyan e se esforçou muito para desfazer o nó que se formou na
garganta. Finalmente os amigos trocariam alianças e juras de amor diante
daqueles que estimavam e dariam início à família que eles tanto mereciam.
Arlo piscou quando ele se acomodou do outro lado de Dona Francisca.
Mil e uma coisas passavam pela mente do publicitário, ideias incríveis
para um comercial que poderia ser feito no prédio do Mosteiro de São
Bento, cujas paredes escondiam segredos de muitas pessoas que por ali
haviam passado. O que mais o impressionou foi o imenso órgão que se
encontrava do lado esquerdo da igreja, sustentado por duas grandes colunas
talhadas em carvalho e que diziam muito sobre a devoção dos muitos monges
que ali decidiram viver. Simplesmente, ele não conseguia desgrudar os olhos
do instrumento, razão que o levou a notar a fotógrafa que estava no alto para
capturar belíssimas imagens dos noivos.
Mas não se tratava de uma mulher qualquer. Era uma ruiva e o reflexo
dos cabelos o deixou agitado e impaciente para encontrá-la. Todos sabiam
de sua obsessão com mulheres cujos cabelos lembravam a cor do fogo. E
apesar do tempo estar sendo implacável para convencê-lo de que deveria se
conformar que não encontraria a ruiva certa, a fotógrafa foi como um sopro
que bateu lá no fundo da alma para reacender a esperança. O que não era
aconselhável, ele sabia que não. As desilusões costumavam ser amargas
demais quando se deixava empolgar em excesso.
E assim, entre divagações de um futuro não vivido, que aos poucos
estava se tornando um passado de frustrações, Elon se despediu do mosteiro,
sem realmente ter conseguido prestar atenção à cerimônia. O que importava,
no entanto, era que os amigos estavam felizes ao lado das noivas e isso lhe
bastava. Não era o momento de refletir sobre o amor perdido, por mais que
o clima romântico e o surgimento da ruiva o tivessem despertado para
sentimentos que ele não queria mais sentir.
Como ele precisava chegar antes dos convidados para preparar a
surpresa aos noivos, partiu em sua Ferrari vermelha antes de todo mundo.
Ao chegar na boate de Arlo, vinte minutos depois, se apressou para
encontrar sua equipe. A ideia era organizar uma pequena cerimônia em que
os noivos e os convidados escreveriam mensagens e as guardariam dentro de
uma caixa, que serviria de cápsula do tempo, a ser aberta em um futuro, de
preferência bem distante. E logicamente que ele iria usar algumas cenas para
promover os patrocinadores de Alex, que aliados à imagem de Corina,
tornariam o evento um sucesso. A ideia era evitar os paparazzi dando à
imprensa imagens exclusivas do casamento do ano.
Elon era assim: não conseguia parar de trabalhar. Mas ele sabia que era
nos acontecimentos do dia a dia que saíam as ideias mais brilhantes. Sim,
ele tinha o melhor dos trabalhos.
E tudo corria dentro do planejado. A promoter que Juliana e Corina
escolheram era uma das melhores de São Paulo, e a equipe que ela contratou
transformou a boate em um ambiente ao mesmo tempo sofisticado e
aconchegante. O lugar havia sido escolhido porque Corina amava dançar e o
tema acabou agradando Juliana.
Elon se encostou na parede e ficou observando a agitação pré-festa.
Logo os noivos chegariam e os brindes não terminariam antes do amanhecer.
Novamente ele foi fisgado pelo brilho dos cabelos ruivos. Era a
fotógrafa que capturava a decoração com as lentes de uma poderosa Canon
de última geração. Ele a teria abordado se não tivesse sido interrompido por
Dimas, que o avisou que logo os convidados e os noivos chegariam. Por isso
a fotógrafa já estava ali, pensou.
No meio do tumulto acabou perdendo-a de vista e decidiu que uma vez
na vida tinha que lutar contra a obsessão que sempre o perturbou desde a
adolescência. Mas como conseguir esquecer quando seu coração exigia
justamente o contrário? Que ele fosse ao encontro dela. O problema era que
não queria se decepcionar mais uma vez. Embora sempre costumasse render
uma boa transa de final de noite, ele estava cansado de se sentir vazio;
principalmente agora que vinha assistindo aos amigos se completarem ao
lado de mulheres maravilhosas. Não seria hipócrita para dizer que não
queria algo assim para ele. Sim, ele queria, e muito. O problema era que
nenhuma mulher com que tentou algo conseguiu preencher o vazio que sentia.
Conversou com alguns conhecidos, bebeu com os amigos e até dançou
com Dona Francisca na tentativa de fazer de conta que não tinha sido fisgado
por mais uma ruiva. Pouco adiantou, no entanto. De vez em quando ela
aparecia e aquele sentimento de reconhecimento o invadia para fazer os
pelos do corpo se arrepiarem. Mas ele não estava com febre para que
sentisse o corpo esquentar daquele jeito estranho.
Juliana o arrastou para a pista de dança quando o encontrou comendo
um docinho. Era sua vez de dançar a valsa.
— Estava tão tensa que esqueci de dizer que você está um charme de
padrinho – ela o elogiou e ele sorriu em resposta.
— Eu nasci assim, charmoso. – Deu de ombros.
— Pouco modesto você – ela riu —, mas se alguém merece não ser
modesto é você, Elon. Preparado para nossa valsa?
— Claro! Ensaiamos para fazer sucesso, não foi? – Corina e Juliana
queriam que todos dançassem com elas e contrataram uma professora para
que ninguém passasse vergonha na grande noite.
Elon se curvou para uma reverência à moda antiga e quando ergueu a
cabeça encontrou um par de olhos castanhos claros e um sorriso largo que o
enfeitiçaram.
— Uma foto com o padrinho – ela disse com um sotaque francês bem
discreto, embalando as frases em um português muito perfeito.
Elon não conseguiu responder, ficou estático, além de mudo. Juliana
teve que o cutucar com o dedo para tirá-lo do transe. A ruiva bateu a foto e
agradeceu em francês. O coração de Elon parecia que tinha recebido uma
injeção de adrenalina, cujas batidas rivalizavam com a bateria de uma
escola de samba.
— Algum problema, Elon? – Juliana notou a confusão em que ele
estava, o que era muito incomum quando se tratava de um homem seguro e
assertivo como Elon Valente.
— É ela – ele conseguiu dizer.
— Ela quem? – Juliana o encarou com os olhos estreitos.
Alex se aproximou. Em seguida, veio Zyan e Corina. Não tardou muito
para que Arlo e Dimas chegassem perto deles também. Todos haviam ficado
curiosos com a catatonia de Elon no meio da pista de dança.
— Algum problema, meu amor? – Alex perguntou.
— Ele olhou para a fotógrafa e ficou assim, com o olhar parado, como
se tivesse visto um fantasma – explicou Juliana.
— Ela era ruiva? – perguntou Arlo e Juliana confirmou com a cabeça.
— Sempre tem que ter uma ruiva – comentou Dimas, com um certo
desdém por já conhecer a história de cor e salteado.
— Não, vocês não entenderam! – Elon finalmente conseguiu falar. —
Não é qualquer ruiva. É ela, Desirée!
— A ruiva, filha do embaixador francês? – perguntou Alex, surpreso.
— Eu sei que é ela dessa vez – ele confirmou.
— Então vá atrás dela, Elon! – Corina colocou a mão no braço dele
para encorajá-lo e isso foi tão importante que Elon saiu em disparada para
seguir o rastro da ruiva.
— Eu danço com Juliana e Corina duas vezes – gritou Arlo, mas Elon
não o escutou, já estava longe de tão afoito que estava em encontrá-la para
tirar a prova dos nove.
Depois de alguns conhecidos o interceptarem para falarem qualquer
banalidade, a encontrou escorada no balcão do bar bebendo água.
Elon estava se sentindo como um adolescente prestes a conversar pela
primeira vez com a menina mais linda da escola. Tudo estava confuso em sua
mente. Mas ele sabia que era ela, era a mulher que sempre esteve com ele,
tão viva e perfumada quanto sua memória conseguia lembrar.
— Desirée – ele a chamou. Estavam tão próximos que bastava estender
o braço para tocá-la.
— Você me conhece, padrinho? – ela perguntou, o sorriso com duas
covinhas o impressionou.
Ela não havia mudado muito em doze anos. O brilho dos cabelos
vermelhos continuava impecável, mesmo que o rabo de cavalo tentasse
esconder. Mas precisava reconhecer que ela estava diferente, talvez mais
sedutora, com traços mais marcantes, e muito elegante. A maquiagem
ajudava a conferir um ar de mulher fatal. Talvez fosse a roupa discreta que
usava, uma calça preta justa e um blazer bem acinturado.
Elon precisava explicar quem era, mas a emoção era tão forte que
apenas avançou na direção dela e a segurou pela cintura com as duas mãos,
de modo que a trouxe para perto dele, permitindo que se fartasse com a
visão do paraíso perdido.
— Não tenha medo, Desirée – o nome dela era música para os ouvidos
—, me deixe beijá-la e depois eu explico.
Desirée engoliu em seco, mas não conseguia sentir medo. E isso a
assustou em um nível quase desesperador, talvez ainda mais do que se
tivesse o temido de verdade. Era como se ela o conhecesse, e a constatação
se tornava uma certeza conforme os olhos azuis dele lhe transmitiam paz.
Sim, ela o conhecia. Como? Quando? Ela ainda não sabia.
Elon curvou a cabeça um pouco, não muito, porque ela era alta e usava
saltos, e tocou os lábios dela com os seus, revivendo a emoção do melhor
beijo de sua vida.

*A história de Desirée e Elon continua no próximo livro.*


Dizem os sábios que a gratidão é a memória do coração e, por essa
razão, quando agradecemos o fazemos de coração para coração.
Sou grata a Deus, antes de tudo, por ter sido agraciada com o dom de
contar histórias e tocar corações com palavras.
Sou grata à minha família, que sempre me apoiou incondicionalmente,
sem julgamentos ou preconceitos, dando-me a confiança de que eu podia ser
o que quisesse, até mesmo uma escritora.
Sou grata às minhas parceiras por aceitarem o desafio de tornar
realidade o sonho de contar histórias. Às queridas Laizy Shayne, Camille
Chiquetti e Julia Lollo, profissionais talentosas, cuja dedicação e empenho
apenas enaltecem meu texto, minha admiração e carinho.
Ao meu querido leitor, os meus mais sinceros agradecimentos.
Diane Bergher é gaúcha de nascimento. Adotou
Florianópolis como lugar para viver com o marido e filho. É
advogada com duas especializações na área e formação em
coaching e mentoring. Uma leitora compulsiva e escritora por
vocação, acredita que sonhar acordada, fantasiar mundos e
transformar realidades é a vocação da sua alma. Quando Ela
Chegou, sua primeira obra, foi lançada na internet e com um
texto delicado e sensível, conquistou o público feminino do site
em que está hospedada. Com a Série Belle Époque, Diane
despontou rapidamente entre as autoras mais vendidas no gênero
romance histórico na Amazon, consolidando-a como uma das
romancistas mais lidas na atualidade.
Série Belle Époque
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Spin-off’s da série Belle Époque

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TRILOGIA AMORES IMPERFEITOS
Prequel de Belle Époque

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TRILOGIA ELA

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SEMPRE FOI VOCÊ

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Sinopse

DEPOIS DE UMA década e de escolhas erradas, Pedro


reencontra a mulher de sua vida. Pedro e Melissa foram
namorados na juventude, mas o destino os impediu de ficar
juntos. Melissa casou-se com o melhor amigo de Pedro após ter
fugido para o exterior. Pedro, por sua vez, casou-se com a irmã
mais nova de Melissa. Com o retorno de Melissa ao Brasil, agora
viúva, a paixão adormecida entre os dois renasce ainda mais
forte.
Preso a um casamento fracassado, Pedro precisará lutar para
reconquistar o amor e a confiança de Melissa. Em meio a
segredos e intrigas familiares, poderá o amor ser capaz de
vencer?
AO SR. L, COM AMOR

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Sinopse

ATRAVÉS DE CARTAS não enviadas ao Senhor L., o amor


idealizado da Senhorita S., conheceremos a transformação de
uma menina tímida em uma mulher realizada e segura de suas
escolhas. A primeira carta foi escrita no aniversário de 15 anos e,
a partir de então, a cada 5 anos, a Senhorita S. escreveu uma
nova carta, onde relatou os principais fatos, conquistas e
sentimentos dos últimos anos de sua vida e as marcas que um
amor não correspondido deixou em sua alma. A última e
derradeira carta foi escrita, após um encontro dos dois, 20 anos
depois da primeira carta. Na última carta, a senhorita S. despede-
se definitivamente da menina que um dia foi e dá boas-vindas à
mulher madura e feliz que se tornou.
VIDAS ENTRELAÇADAS

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Sinopse

FREDERICO E JOÃO PEDRO, dois irmãos que cometem o


pecado de amar a mesma mulher. Olívia é essa mulher, uma
jornalista talentosa e uma mãe solteira dedicada, que desde os 15
anos é atormentada por pesadelos.
O destino trama um reencontro decidido por suas almas há
longa data, no qual um acerto de contas é imprescindível para o
resgaste dos pecados dos três. Paixão e desejo. Intrigas e
amarguras. Ódio e amor. Vida e morte. Sentimentos que os
macularam além da vida, entrelaçando-os numa ciranda
interminável em busca da redenção.
Um enredo instigante, onde o passado interfere no presente
de forma tão intensa que pode gerar consequências no futuro.
Traumas e medos que marcam o presente de uma mulher,
fazendo-a cometer os mesmos erros do passado.
Para corações fortes e apreciadores de um romance
dramático, Vidas Entrelaçadas. Suspense, mistérios e um amor
mais forte que tudo. Poderá, Olívia, superar as marcas do
passado para, enfim, encontrar paz para sua alma atormentada?
Dinastia Brienne
A DAMA DA FLORESTA, livro 1 -> Compre aqui!

A PRINCESA DA ROSA, livro 2 -> Compre aqui!

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O BEIJO DO SERTANEJO

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Sinopse

FERNANDA É UMA advogada dedicada, apesar de frustrada


com o que o destino lhe trouxe. Desejava ter se tornado uma
delegada, mas se viu às voltas com a guarda dos filhos do irmão
quando ficaram órfãos. Noiva de um juiz por mais tempo do que
acredita ser o certo, conformou-se com sua vida entediante e sem
graça. Christian Daniel é o sucesso da música sertaneja no
momento. Lindo, atraente e talentoso, pode ter a mulher que
deseja em sua cama e as dispensa no dia seguinte com toda a
segurança que somente um astro pode fazer. Uma noite qualquer
e uma confusão sem precedentes coloca Christian Daniel no
caminho de Fernanda. Ela é designada pelo chefe para tirá-lo da
prisão e ele se encanta pela mulher misteriosa e segura que é
Fernanda. Despeitado por ter sido dispensado por Fernanda,
Christian Daniel a persegue sem dó nem piedade, enredando-a
para dentro de um jogo de sedução e luxúria do qual ambos
podem sair chamuscados e apaixonados.
OUTRA VEZ O AMOR

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Sinopse

DEPOIS DE ALCANÇAR o estrelato como uma das mais


importantes bailarinas do Teatro Bolshoi, Betina é chamada pelo
tio adoentado, a única pessoa que lhe deu carinho, a voltar para
casa. Órfã de mãe e sem saber o paradeiro do pai, dependeu da
generosidade dos parentes para sobreviver. Tímida e retraída,
cresceu sem chamar a atenção de ninguém. Suas sapatilhas
sempre lhe serviram como único consolo.
De volta a Toledo, descobre que sua vida não passou de um
emaranhado de mentiras, cuja verdade a fará questionar suas
escolhas. No meio de recordações dolorosas e feridas não
cicatrizadas, reencontra Hugo, sua paixão da adolescência, agora
um pediatra bem-sucedido, mas tão ou mais sedutor do que fora
um dia e ainda mais bonito do que recordava.
Decidida a não deixar se afetar por Hugo, Betina tenta afastá-
lo, sufocando o amor que sempre sentiu. Mas Hugo não está
disposto a deixá-la partir sem saber a verdade que sempre
guardou consigo.
Entre encontros e desencontros, Betina e Hugo se entregam à
paixão e o desejo os conduz à descoberta do amor. Mas o destino
não facilita, exigindo que decisões sejam tomadas para que os
erros do passado não os afastem novamente.
Duologia Sentimentos

VINGANÇA & SEDUÇÃO, Livro 01 -> Compre aqui!

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Série HOMENS DO SUL
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SEGREDOS DO CORAÇÃO
Duologia Corações - 1

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Sinopse

DANIEL FERNSBY PREFERIU a solidão de uma


propriedade na Toscana a ter que assistir a mulher de sua vida se
tornar a esposa do primo, o excêntrico Marquês de Abbey. No
entanto, quis o destino que ele se tornasse o próximo marquês
após a morte do primo em uma emboscada. De volta à Inglaterra
e mais poderoso, Fernsby dedica sua vida a reconquistar a
mulher que sempre esteve em seu coração, além de tentar
consertar os estragos deixados pelo antigo marquês nas finanças
da família.
Susan Collemann casou-se com um nobre inglês para
agradar ao pai, um americano de posses, tornando-se a invejada
Marquesa de Abbey. Nas mãos de um marido cruel, acabou
enclausurada dentro de um casamento infeliz. A tristeza de sua
alma e segredos que guarda a sete chaves a tornaram desiludida e
desconfiada.
Será Daniel capaz de reconquistar a amada, fazendo-a
acreditar que merece ser feliz?
Segredos do Coração faz Crossover com Vingança e
Sedução e traz o epílogo de Florence e Ethan.
UM BARÃO APAIXONADO

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Sinopse

JONAS BARROS CABRAL, filho de um poderoso fidalgo


com uma escravizada alforriada, herdou o título e as propriedade
do pai por ocasião de sua morte, tornando-se Barão de Vilar.
Rico, charmoso e sedutor, pode ter a mulher que deseja como
amante, mas sua falta de berço e modos aristocráticos o impedem
de se casar com uma delas.
Eudora Rudson acompanha o pai, o prestigiado cientista Thomas
Rudson, em uma viagem de trabalho ao Brasil. Destacando-se
pela beleza exótica para os padrões locais e por ter uma língua
afiada, logo chama a atenção de Jonas, que propõe à dama que o
ensine a ser um perfeito cavalheiro e o ajude a encontrar uma
esposa ideal, que lhe traga prestígio e aceitação social. E é nessa
proposta que Jonas vê a oportunidade de seduzir a bela escocesa.
Entre provocações e beijos roubados que ultrapassam o
decoro, poderá o amor desabrochar e superar as barreiras ditadas
pelo nascimento? Jonas e Eudora terão que ouvir o chamado do
coração para encontrar o seu final feliz.
O AMOR EM UM SORRISO
Milionários & Apaixonados - 1

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Sinopse

CINCO GAROTOS QUE cresceram sozinhos dentro de um


orfanato, uma promessa de vencerem na vida a partir de seus
esforços, uma amizade para uni-los e torná-los homens de
sucesso, sendo mais ricos que Midas. Eles têm tudo, mas ainda
lhes falta o amor.
Alex Santos é um astro do futebol que encanta a todos por
onde passa. Pai de uma linda garotinha, quer dar à filha o que lhe
foi negado na infância: um lar e uma família amorosa. Apesar de
uma infância difícil e do dinheiro já não ser um problema em sua
vida, ainda lhe falta uma companheira que possa preencher o
vazio que ele sente. E será o sorriso de uma jovem mulher que o
despertará para sentimentos arrebatadores.
Juliana Boscolo luta para conquistar seu lugar no mundo,
empenhando-se ao máximo para se tornar uma excelente
pedagoga enquanto trabalha como monitora em festas infantis.
Um acidente com a filha da maior celebridade do futebol a coloca
de frente com seu pai, um homem que a provoca com sua
presença marcante.
Um encontro casual orquestrado pelas mãos do destino, uma
mulher de sorriso gentil e o desejo que se infiltra no coração de
um homem que quer apenas ser feliz.

O Amor em um Sorriso é o primeiro livro da Série Milionários &


Apaixonados.

Ps: Este livro contém cenas de sexo.


ENSAIOS DE BORBOLETAS
A vida com fibromialgia

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Sinopse

ATRAVÉS DE PEQUENOS textos reflexivos e


emocionantes, a romancista Diane Bergher traz o comovente
relato, enquanto portadora da síndrome da fibromialgia; os
primeiros anos de convívio com a enfermidade, como a
enfrentou e como a escrita lhe confortou para superar a dor e a
perda de uma vida que jamais seria a mesma. São palavras de
força e incentivo que trazem luz e confortam a alma daqueles
que, como ela, passaram ou passam por aflições que os
atormentam.
Antologia Encantos de amor
O DUQUE E A BASTARDA, Livro 1 -> Compre aqui!

O CONDE E A DAMA DO CAMAFEU, Livro 2 -> Compre


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O MARQUÊS E A CORTESÃ, Livros 3 -> Compre aqui!

O VISCONDE E A PRECEPTORA, Livros 4 -> Compre


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Leia também o projeto “Coleção Damas do Romance”.

Série Irmãos Gallagher

Caçada de Mestre, Flávia Padula – Livro 1 -> Clique aqui!


Jogada de Mestre, Silvana Barbosa – Livro 2 -> Clique aqui!
Escolha de Mestre, Diane Bergher – Livro 3 -> Clique aqui!

Sinopse

BURKE GALLAGHER É um irlandês que partiu rumo aos


Estados Unidos com apenas dez dólares no bolso e se tornou o
dono da maior cervejaria do país, a Cervejaria Gallagher, ficando
conhecido no mundo todo pelo excelente produto e por sua
perspicácia nos negócios.
Preocupado com o futuro de seus três filhos, decide dar
um basta nas suas vidas boas e lhes dá uma ordem: cada um teria
que partir para o Oeste com apenas dez dólares no bolso e quem
conseguisse ser mais bem-sucedido, no prazo de um ano, ficaria
com a fábrica de cerveja. Os irmãos então partem dispostos a
vencer o desafio e viverem suas próprias aventuras.
Série Irmãs Winter

O Destino de Sarah, Flávia Padula – Livro 1 -> Clique aqui!


O Acaso de Delilah, Silvana Barbosa – Livro 2 -> Clique aqui!
A Aventura de Barbarah, Diane Bergher – Livro 3 -> Clique
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Sinopse

AO FICAR VIÚVO John Winter decide se livrar das filhas


e as vende em Londres para cavalheiros que não se importam em
comprar uma esposa. Solteiras e em idade para casar, as três
senhoritas veem seus caminhos mudados para sempre. Sarah é
vendida a um fazendeiro americano. Delilah é comprada por um
mercador indiano. E Barbarah parte ao encontro do dono de uma
misteriosa propriedade na Cornualha.
Série Mulheres Apaixonadas

Fascínio, Diane Bergher – Livro 1 -> Clique aqui!


Desejo, Flávia Padula – Livro 2 -> Clique aqui!
Paixão, Diane Bergher & Flávia Padula – Livro 3 -> Clique
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Sinopse

ASHWORTH HANDESTON TORNOU-SE, aos trinta e


cinco anos, um dos homens mais ricos da Inglaterra investindo
na indústria têxtil. Infelizmente, Ashworth não pôde se casar com
a mulher que amou em segredo, Ondine Cohen, sua governanta,
e se uniu a uma rica herdeira escocesa, Jessamy Heylock.
Contudo, o coração daquele homem sedutor não se conteve
apenas com aquelas mulheres, ele conquistou o coração e a
devoção de Amabel Kershaw, uma jovem londrina que
abandonou tudo para tornar-se sua amante ao norte do país. No
final de uma tarde fatídica, parte da fábrica sofre um incêndio e
Ashworth e mais alguns empregados morrem queimados.
Três mulheres presas a um homem sem coração, livres
para guiar seus próprios destinos.
Duologia Mulheres de Honra

Bravura, Diane Bergher – Livro 1 -> Clique aqui!


Coragem, Flávia Padula – Livro 2 -> Clique aqui!

Sinopse

RALEIGH É UMA pequena cidade próspera da Cornualha,


onde as minas de Carvão movimentam a economia; até que uma
explosão acontece e vinte homens morrem soterrados. O
administrador John Monroe e o chefe das minas Marvin Hughes
são acusados de sumirem com todo o dinheiro da empresa, além
de explodirem a mina para se beneficiarem do dinheiro do
seguro. Caberá às viúvas Gladys Monroe e Alexia Hughes
provarem a inocência de seus maridos e ainda ajudarem as outras
dezoito viúvas a terem um pouco de dignidade, quando a única
coisa que o novo administrador da mina e o advogado por ele
contratado querem é se livrar delas.
Duologia Mulheres Feridas
Spin-off de Mulheres Apaixonadas

Solidão, Flávia Padula – Livro 1 -> Clique aqui!


Melancolia, Diane Bergher – Livro 2 -> Clique aqui!

Sinopse

Elas tiveram suas almas feridas e talvez nem o amor


consiga resgatá-las da melancolia e solidão a que foram
confinadas pela ambição de homens de pouco valor.
Duologia Noivas por Acaso

A Impostora, Diane Bergher – Livro 1 -> Clique aqui!


A Farsante, Flávia Padula – Livro 2 -> Clique aqui!

Sinopse

Beatrice e Gisele só queriam se ver livres de trágicos


destinos ao embarcarem em um navio que leva colonos para a
América e para isso adotam identidades falsas. Chegando lá, são
recebidas por homens que alegam serem seus noivos e são
obrigadas a sustentar a mentira para não serem enviadas de volta
à Inglaterra.
Entre mentiras e disfarces, poderá o amor desabrochar para
um novo recomeço?
Duologia Filhas do Trovão

Princesa de Taranis, Flávia Pádula – Livro 1 -> Clique aqui!

Sinopse

DRAKE MAEL, GENERAL de Cesis, foi enviado pelo


irmão, o Rei Asger, para conquistar Taranis, um reino distante ao
norte.
O que ele não esperava era deparar-se com a guerreira e
Princesa Enya de Taranis, uma mulher forte e acima de tudo
lindamente perversa.
Uma atitude impulsiva de Enya vai mudar seus destinos
para sempre e Drake terá que trair o próprio irmão em nome da
honra.
Um guerreiro indestrutível.
Uma princesa indomável.
Um conflito entre o desejo e a honra.

Princesa de Selúria, Diane Bergher – Livro 2 -> Clique aqui!

Sinopse
DE UM ACORDO firmado com os deuses nasceu Maeve, a
Princesa de Selúria. A filha da rainha das feiticeiras com o Rei de
Taranis foi treinada para se tornar a mais poderosa das feiticeiras.
Quando o reino de seu pai é conquistado por um exército
estrangeiro, ela não hesita em firmar um acordo para que o povo
de Selúria seja poupado e embarca para o Reino de Cesis com a
missão de curar seu rei, iniciando uma jornada que poderá mudar
seu destino para sempre.
Asger é o implacável Rei de Cesis que, ao ser ferido em
batalha, ficou impossibilitado de comandar seu exército e acabou
sendo traído pelo irmão mais novo. Para ganhar tempo, aceita os
cuidados da feiticeira que o irmão traidor enviou para curá-lo.
Mas Maeve não é o que ele imaginava e rapidamente uma atração
surge entre eles a ponto de fazê-lo titubear quanto ao desejo de
vingança.
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