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Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações mencionadas são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
CAPA
Larissa Chagas
DIAGRAMAÇÃO
Milena Seyfild
REVISÃO
Gabrielle Andrade
ILUSTRAÇÃO
Gabriela (Olhos de Tinta)
ANGEL DOLL
[Recurso Digital] / Milena Seyfild
— 1ª Edição; 2023
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira
3. Jovens Adultos
4. Ficção I. Título
Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico.
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
CAPÍTULO 1 — Angel
CAPÍTULO 2 — Highway to Hell
CAPÍTULO 3 — Rag Doll
CAPÍTULO 4 — Back in Black
CAPÍTULO 5 — You Shook Me All Night Long
CAPÍTULO 6 — Civil War
CAPÍTULO 7 — Wish You Were Here
CAPÍTULO 8 — Burnin’ Up
CAPÍTULO 9 — Snow On The Beach
CAPÍTULO 10 — Dream On
CAPÍTULO 11 — The Great War
CAPÍTULO 12 — I Put A Spell On You
CAPÍTULO 13 — Jaded
CAPÍTULO 14 — Wicked Game
CAPÍTULO 15 — Crazy
CAPÍTULO 16 — Iris
CAPÍTULO 17 — Sucker
CAPÍTULO 18 — The Story of Us
CAPÍTULO 19 — Estranged
CAPÍTULO 20 — Right Where You Left Me
CAPÍTULO 21 — Salvatore
CAPÍTULO 22 — Burning Desire
CAPÍTULO 23 — Bejeweled
CAPÍTULO 24 — Sparks Fly
CAPÍTULO 25 — Drops of Jupiter
CAPÍTULO 26 — Mariners Apartment Complex
CAPÍTULO 27 — The Blackest Day
CAPÍTULO 28 — Vigilante Shit
CAPÍTULO 29 — Mastermind
CAPÍTULO 30 — Anti-hero
CAPÍTULO 31 — Karma
CAPÍTULO 32 — Carry On Wayward Son
CAPÍTULO 33 — Until I Found You
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Grumpy x Sunshine. Beisebol. Fake Dating. Enemies to lovers.
Quando Leslie Reese saiu da pequena cidade de Barlow, no interior do
Kansas, para estudar em uma das maiores universidades da Califórnia com
a sua irmã gêmea, Landon, ela achou que sua vida finalmente tinha entrado
nos trilhos.
Com o sonho de se tornar roteirista, as coisas estão seguindo o plano, até
que… Não mais.
Depois de uma festa regada a bebida em uma das maiores fraternidades
de Granville, ela acorda na cama de um completo estranho. Tudo parece
estar indo bem, quando de repente ela descobre que o dito cujo é o
namorado de uma das suas irmãs da sororidade Theta Rho Beta, Sophie - e
que o relacionamento dos dois não é o mais saudável.
Para piorar tudo de vez, Leslie passa a receber ameaças dele e, sem saber
para onde correr, acaba aceitando se enfiar em um namoro falso com o filho
do prefeito de sua antiga cidade, e que atualmente é o rei do home run do
time de baseball da faculdade: Nate O’Connel.
Eles não se suportam.
Mas mesmo com o ranço, decidem trabalhar juntos para destruir o
namorado traidor de Sophie.
No entanto, mal sabem eles que vão acabar presos em um plano muito
maior — o do destino.
Querido leitor, Angel Doll vai contar a história de uma pessoa que está
vivendo um relacionamento abusivo, e se isso for um gatilho para você, não
recomendo a leitura.
Um dos temas que é também levemente abordado é a questão do luto, e
por eu ter perdido meu pai há quatro anos, acabou se tornando algo muito
particular. Se isso também for difícil pra você, acredito que seja melhor
escolher outra leitura.
Ademais, só gostaria de deixar registrado que, assim como a Leslie, eu
também tenho um gatinho preto chamado Salém — e eu também o resgatei.
AD se tornou um livro muito pessoal pra mim, e é uma honra poder
compartilhar com vocês.
Boa leitura!
À todas as mulheres que já se culparam por escolhas que homens
conscientemente fizeram contra elas e seus corpos. Não é a sua roupa, seu
estilo de vida, a bebida que você escolheu e nem o fato de você não
perguntar o estado civil de um cara que chega em você na balada. A culpa
não é sua. A culpa NÃO foi sua.
E para minha tia Cláudia, cuja a história infelizmente foi a minha inspiração
para Sophie. Tia, tenho muito orgulho de você ter conseguido sair disso.
Te amo.
Estou sozinho, sim, e não sei se consigo encarar a luz
Estou chorando e o meu choro é por você
Angel | Aerosmith
Sabe quando você sabe que fez merda e que precisa confessar, mas
também sabe que as consequências serão brutais e então você prefere
pensar em um plano elaborado para sair da enrascada que você mesma se
colocou?
Não? Nenhuma vez?
Que bom.
Porque eu estou a ponto de surtar.
Nem mesmo a minha aula sobre roteiro foi o suficiente para me deixar
animada. O trabalho principal do semestre vai ser sobre um curta-metragem
em que teremos que formar duplas para um de nós escrever e o outro dirigir,
e mais da metade da turma não conseguiu se conter de empolgação por
finalmente começarem a usar a mente criativa para contar suas histórias.
Bom, todos menos eu.
Porque a minha vida agora está digna daqueles filmes de comédia
romântica ruins, onde você torce com todas as forças contra a protagonista
por ela ser tão estabanada e idiota.
Ela merece sofrer por tomar decisões tão horríveis.
Nem prestei atenção quando Cameron, um garoto fofo que costuma
sentar atrás de mim toda maldita aula, sugeriu para trabalharmos em dupla.
Concordei meio às pressas, querendo desesperadamente que aquela aula
acabasse para que eu pudesse finalmente encontrar a solução de todos os
meus problemas.
Landon.
Ela vai saber o que fazer, não vai? Quero dizer, ela sempre foi uma
espécie de gênia na nossa família e, inclusive, teve uma vez que ela ganhou
uma medalha por vencer as olimpíadas de matemática. Não lembro com
detalhes de como aconteceu, mas sei que a minha família não parou de falar
a respeito por semanas.
Uma pessoa com um QI desse vai saber o que fazer.
Com toda a certeza.
— Eu não sei o que fazer — balbucia ela, tomando um gole do café que
pediu para acompanhar o almoço.
Abro a boca, ultrajada.
— Como assim você não sabe o que fazer, Land?
— Eu não sou uma espécie de mestre dos magos. Sabe disso, não sabe?
Eu ignoro seu olhar inquisidor e dou de ombros, forçando um sorriso
sem graça.
— Claro que eu sei, irmãzinha.
Landon suspira.
— Olha, eu gostei bastante dessa ideia de roteiro. Parece aquele tipo de
comédia romântica barata dos anos noventa… — murmura. — Mas essa
ideia da protagonista ter dormido com um cara que nunca tinha visto na
vida apenas para descobrir que ele é o namorado de uma das melhores
amigas no dia seguinte tem muito potencial para ser possivelmente
problemático. Por que ela não conta pra menina de uma vez?
— É… Complicado. A amiga dela vai ser uma pessoa bem insegura, por
assim dizer.
— Bom, eu acho que ela deve confrontar o namorado traidor. A
protagonista não sabia que ele era comprometido, mas o canalha não tinha
como esquecer, né? Acho que os dois devem contar a verdade.
Estou tentando não esboçar nenhuma reação para a minha irmã gêmea,
porque Landon é perspicaz. Se eu der mais um indício, talvez ela consiga
perceber que a protagonista dessa trama horrível na verdade sou eu, e então
com certeza vai ligar os pontinhos e chegará em Sophie.
Limpo a garganta, abrindo um sorriso.
— É, você tem razão. Ela tem que conversar com ele sobre isso e…
Aceitar as consequências. O que você acha que a amiga vai fazer?
Land volta a beber mais um pouco do seu café, usando o garfo para
mexer no bife com molho barbecue e espiga de milho que pediu para o
almoço. Você pode sair do interior do sul, mas ele não sai de você.
Ela dá de ombros antes de responder:
— Eu não faço a mínima ideia, mas se for uma garota sensata, vai
perceber que a amiga dela fez a coisa certa em contar. E, bom, talvez as
duas juntas possam dar uma surra bem dada nesse idiota. Eu sei que seria
um filme que eu gostaria muito de assistir.
Respiro fundo, meio irritada com as possibilidades que se passam na
minha cabeça. Porque caso Sophie não veja as coisas dessa maneira, a
pessoa que vai levar uma surra provavelmente serei eu.
E eu não gosto muito de apanhar, a não ser que esteja com um cara bem
gostoso em cima de mim.
— Leslie, você está bem? — questiona minha irmã, com a sobrancelha
erguida.
Forço um sorriso em sua direção, assentindo rapidamente.
— Sim, só estou com um pouco de fome. Acho que aquela salada não foi
o suficiente pra mim. Vou pedir alguma massa… Será que eles têm versão
sem carne?
— Eu vi uma galera recomendando muito um macarrão ao molho de
pimentão. Você deveria experimentar.
Eu concordo rapidamente com a cabeça, chamando o garçom do
restaurante com o olhar. Ele não demora muito a chegar à nossa mesa e eu
faço o meu pedido, dessa vez com um café gelado para acompanhar.
Não consigo me lembrar exatamente quando a carne passou a ser algo
nada atrativo para mim, só sei que nunca gostei de consumir peixe e por um
bom tempo aceitava apenas frango. Um dia eu só parei de forçar a carne na
minha vida e me assumi vegetariana, embora ainda consumisse queijo e
leite. Meu plano é cortar o consumo animal completamente com o passar do
tempo, embora não me incomode ver Landon consumir na minha frente.
Estou acostumada com isso a vida inteira, de qualquer forma.
— Ah, aí está você. — Uma voz grossa soa atrás de nós e eu me viro
apenas para dar de cara com ele.
Nate O’Connel.
O rebatedor principal dos Angry Sharks, o time da liga de beisebol da
nossa universidade.
O cara com uma expressão difícil de decifrar, mal-humorado na maior
parte do tempo, viciado em jogar xadrez, filho do prefeito da nossa antiga
cidade e… Ah, claro, o melhor amigo nerd da minha irmã.
Ele tem cachos pretos que, confesso, de vez em quando dá vontade de
passar as mãos para sentir se são tão macios quanto parecem. O corpo dele
cresceu bastante, por assim dizer, desde que começou a focar no beisebol
ainda na minúscula cidade que costumamos chamar de casa.
Não posso dizer que fiquei exatamente feliz ao descobrir que Nate
O’Connel tinha conseguido bolsa integral para a Universidade de Granville
também. Fiquei animada por causa da Landon, mas ele e eu nunca fomos o
que se pode chamar de amigos.
Eu não costumo acreditar que as pessoas têm almas gêmeas, mas se eu
realmente considerasse a possibilidade, poderia afirmar com certeza que
Nate e Landon são a prova viva disso.
Os dois são facilmente irritáveis, sérios, focados e encaram a vida como
uma série de desafios a serem superados. Nunca saem para se divertir e
vivem um estilo saudável que eu não considero certo para ninguém que
ainda não chegou aos cinquenta anos de idade.
— Oi, Nate. — Acena Landon, convidando-o para se sentar com a gente.
Que maravilha.
— Por que você está tão incomunicável durante essa semana?
— Estou muito concentrada nas aulas. Preciso terminar esse primeiro
semestre em primeiro lugar.
— Por que eu não estou surpreso? — brinca, roubando um pouco da
comida dela na cara de pau.
Os dois estão prestes a entrar nessa bolha que só os melhores amigos de
anos conseguem ter. Eu os invejo de vez em quando por isso, porque
embora eu seja o que as pessoas chamam de extrovertida, às vezes sinto que
não consigo manter relações duradouras o suficiente.
Eu fiz amigos no ensino médio e também já criei o meu próprio
grupinho aqui na faculdade, mas essa conexão de anos, confiar totalmente
em outra pessoa? Jamais. A única que conseguiu ultrapassar a minha
camada superficial é a minha irmã gêmea, a minha toxic twin, a garota que
parece um poço de gelo por fora, mas tem o maior coração do mundo
escondido dentro de si mesma.
— Vocês já pediram? — pergunta Nate, dando uma olhada no cardápio.
Esse é um dos poucos restaurantes que têm uma comida sulista
realmente boa, com temperos que nos lembram de casa, então passou a ser
uma espécie de ponto de encontro regular nosso toda segunda-feira.
Nós sempre escolhemos as mesas que ficam do lado de fora para poder
desfrutarmos do ar livre. Há muitas árvores em volta e hoje é um dos raros
dias em que não vemos uma nuvem no céu.
— Sim, já pedimos. Mas, pra ser sincera, eu já terminei de comer e
preciso correr para a minha próxima aula. A Leslie pediu um macarrão e
deve ficar aqui por mais um tempo, vocês podem fazer companhia um para
o outro.
Arregalo os olhos, me dando conta de que estarei na presença do
certinho Nate. Ele também vira o rosto rapidamente na direção dela,
alarmado, mas Landon já está recolhendo todas as suas coisas e arrumando-
as dentro de sua mochila.
Abro a boca para protestar, mas eu me seguro ao perceber o quanto ela
parece alheia ao que está acontecendo.
— Encontro você mais tarde, Leslie. Nate, eu prometo que vou ao jogo
na próxima semana. Até mais, galera.
Nós dois observamos, quase em câmera lenta, enquanto Landon corre na
direção do carro estacionado há poucos metros daqui. O restaurante fica
perto da universidade, mas em dia de aula não arriscamos vir a pé, então
sempre pedimos o serviço de táxi da Universidade.
— Você não precisa ficar se não quiser — diz Nate, com uma expressão
entediada. — Na verdade, eu tenho certeza que você deve ter alguma coisa
melhor pra fazer, né?
Eu poderia aceitar a sua oferta e vazar daqui o mais rápido possível, mas
a forma como Nate indica que eu posso ir embora me deixa irritada. Eu sei
que ele não é o meu maior fã e, acredite, é recíproco. Mas acho que ele não
precisa deixar tão óbvio o quanto prefere comer sozinho à minha presença,
precisa?
— Eu não tenho nenhum lugar melhor para estar, Nate. E estou
morrendo de fome, então vou continuar bem aqui.
Ele ergue a sobrancelha na minha direção, balançando a cabeça antes de
voltar o olhar para o cardápio nas próprias mãos.
— Se você tem certeza…
— Eu tenho certeza, sim.
— Ah é? Porque eu fiquei sabendo que todos os caras da liga vão para
uma festa daqui a pouco.
Isso chama a minha atenção, então eu me inclino involuntariamente em
sua direção.
— Uma festa? Onde?
Nate abre um sorriso convencido.
— Não sei com certeza, mas eles comentaram sobre um concurso de
camiseta molhada. Ah, e mojitos.
— Meu Deus, será que fica muito longe? Sabe se eles podem me dar
uma carona?
— Claro, Leslie. Eles vão abandonar o treino e fugir para uma festa
misteriosa no meio da tarde. Soa como algo que eu incentivaria, não é?
Eu encaro seu olhar zombeteiro e minha ficha cai na mesma hora. Não
tem festa nenhuma acontecendo, ele só está tentando provar seu ponto.
— Você é um idiota — murmuro, jogando um canudo em sua direção.
Nate mantém a expressão tediosa, colocando o cardápio fechado de
qualquer jeito em cima da mesa.
— E você deveria focar mais na sua vida acadêmica. Jura que você
faltaria todas as aulas de hoje só para mostrar os peitos para um bando de
desconhecidos em uma competição de camiseta molhada?
Inclino a cabeça para o lado, abrindo um sorrisinho malicioso pra ele.
— Andou pensando muito nos meus peitos ultimamente, Natezinho?
Ele pisca várias vezes, pego de surpresa.
— Você endoidou?
— Bom, não sou eu que citou as partes íntimas de alguém na conversa,
foi?
— Eu não citei… Não foi isso que eu… Quero dizer… — gagueja ele,
começando a ficar vermelho. Não entendo o porquê, mas sei que adoro
implicar com ele. — Você me entendeu, Leslie.
— Sim, eu entendo você. Acredite, Nate, não é o único que quer ver os
meus peitos, ou outras partes de mim.
— Leslie!
— O que foi? Você está pensando em tocá-los também?
— Podemos encerrar essa conversa, por favor?
— Mas foi você que citou os meus peitos. Embora eu ache que não
sejam a melhor parte do meu corpo, se é que você me entende…
Nate abre bem os olhos, arfando. Ele olha para os lados
desesperadamente, com medo de que alguém possa estar escutando a nossa
conversa.
— Leslie, me desculpe. Podemos, por favor, parar com essa conversa
inconveniente?
— Mas eu nem comentei qual a parte sua que eu mais quero ver…
— Leslie!
— Posso dizer que começa com p…
— LESLIE!
Jogo a cabeça para trás, caindo na gargalhada. Nate parece desesperado,
o rosto mais vermelho do que um tomate, enquanto tenta manter a
compostura. É tão fácil tirá-lo do sério, mas é incrível como nunca perde a
graça.
— É incrível como você parece que não cresce nunca — resmunga,
mantendo o mau humor de sempre.
Dou de ombros, depois de recuperar da minha crise de riso, limpando o
canto dos olhos que se encheram de lágrimas. Literalmente chorei de tanto
rir.
— Você precisa parar de levar as coisas tão a sério, Nate.
Mas ele não responde mais nada, porque vira o rosto para pedir a
tradicional omelete com batata e molho barbecue que pede desde que nos
mudamos para a Califórnia.
É o mesmo prato que sua mãe costumava fazer para nós três antes de
falecer, há muitos anos.
Crescer em Barlow, uma cidade tão pequena que quase todo mundo se
conhecia, criou esse sentimento de “pertencimento” que eu infelizmente
sinto quando estou na presença dele. Porque, embora Nate não me suporte
desde que me viu dando uns amassos em seu primo de terceiro grau no
banheiro da escola no ensino médio, nunca deixamos de conviver.
Os pais dele eram e ainda são importantes na cidade. A mãe era uma das
poucas médicas que tínhamos naquele fim de mundo, e o pai, bom, é o
prefeito desde que me entendo por gente. Como Landon e Nate sempre
foram próximos, íamos muito para a casa dele depois das aulas, e a comida
de Jenny, sua mãe, é uma das memórias mais marcantes da minha infância,
além de dançar as músicas do Aerosmith com Landon no tapete da sala da
nossa casa.
— Como anda no time, aliás? Já repararam como você é um chato e
começaram a te excluir de todos os eventos legais?
Nate revira os olhos, colocando um boné que ele tirou do bolso para
cobrir seus olhos do sol. Ele é azul e tem a logo dos Angry Sharks.
— Não que seja da sua conta, Leslie, mas não. Os caras me convidam
para todos os lugares que eles vão, eu só não sinto vontade de acompanhar.
— Porque você é um chato.
— Eu não sou chato. Na verdade, você que é.
Me finjo de ofendida, abrindo um sorriso em choque. Depois coloco a
mão dramaticamente sobre o rosto, fingindo soluçar.
— Nate O’Connel, o rebatedor da liga de beisebol, estrela dos Angry
Sharks, me acha chata? Meu Deus, acho que vou me atirar da primeira
ponte que eu encontrar.
Ele estreita os olhos na minha direção.
— Promete?
Abro um sorriso maquiavélico de volta.
— Só se você prometer que vai se atirar na frente de um carro em
movimento primeiro.
— Não sei como você consegue ser tão irritante, Leslie.
— É um dom, na verdade. Eu me esforço bastante para não perder essa
habilidade.
— Posso te assegurar que você parece ter desenvolvido isso muito bem.
Eu diria que a cada vez que eu te encontro, você parece ainda mais irritante.
Coloco a mão na frente do peito, abrindo um sorriso complacente para
ele.
— Obrigada, Nate. Isso significa muito pra mim.
— É por isso que eu não te convido para nenhum dos jogos. — Aponta
para mim, se endireitando na cadeira. — Não conseguimos manter nem
uma conversa decente. Eu sinceramente não consigo entender como a
Landon pode ser a sua irmã.
— Eu não espero que você entenda a biologia, Nate. Se fosse o caso,
tenho certeza que você saberia que esse corte de cabelo repele a maior parte
das mulheres.
Nate fica sem graça com o comentário, mas eu não o retiro, embora seja
totalmente mentira. O cabelo dele é uma das coisas mais lindas que eu já vi,
principalmente quando está molhado e ele precisa tirar alguns fios que estão
grudando no rosto. Já perdi as contas de quantas vezes eu mesma quase fiz
isso por ele.
— Não preciso de conselhos vindos de você, mas obrigado. Posso te
garantir que mulher não vem sendo um problema para mim.
— Esqueci do lance de atleta gostoso e tal. É, isso também funciona. Só
não esquece de usar camisinha por aí, odiaria ver a minha irmã contraindo
alguma doença venérea por sua causa.
Nate fica incrédulo, balançando a cabeça em negação.
— Primeiro, acho que já tínhamos combinado de parar com o papo
constrangedor. Segundo, que porra foi essa sobre a Landon que você acabou
de dizer?
Reviro os olhos, abrindo um rápido sorriso para os garçons que vieram
trazer a nossa comida. Meu macarrão está com uma aparência ótima, então
dou uma garfada com vontade antes de responder o irritado Nate:
— Eu sei que você tem uma quedinha pela Landon, Nate. Não precisa
ficar com essa cara de surpresa, é algo bem óbvio.
— Landon e eu não temos nada além de amizade.
— Isso porque ela ainda não percebeu o quanto você gosta dela.
— Não é verdade, Leslie.
Estreito os olhos na direção dele, com meio macarrão ainda sendo
sugado pelos meus lábios. Não me passa despercebido como o olhar dele se
demora nos meus lábios agora sujos de molho.
— Você não gosta da Landon então?
— Eu gosto dela, mas não assim. Ela é a minha melhor amiga e tenho
certeza que ela também não me vê desse jeito.
— Você não acha ela bonita? É isso?
Nate revira os olhos novamente, parecendo sem paciência para nenhuma
das minhas perguntas. Se ele soubesse o quanto isso só me instiga a
continuá-las, aprenderia a camuflar melhor as suas emoções.
— Eu acho ela linda, mas Landon e eu somos quase irmãos. Eu sei que
pra você é difícil manter uma relação com alguém sem levar a pessoa para a
cama, mas às vezes é só amizade mesmo.
Inclino a cabeça para o lado, estudando-o de cima a baixo. Nate seria
com certeza uma opção para mim, caso não fosse tão chato.
— Tem razão, Nate. Se você fosse meu amigo, já teria ido pra cama
comigo há tempos.
Ele cruza os braços na frente do peito, travando o maxilar.
— Não seria tão fácil assim.
— Ah, não? E todos aqueles acampamentos que fazíamos na época da
escola? Eu facilmente entraria na sua barraca. Seríamos aquele tipo de
amigos que iriam assistir a filmes juntos enquanto aprendiam para o que
funcionava as partes que não deixamos ninguém tocar. Eu te ensinaria como
eu gosto de ser tocada e você provavelmente ia gozar na minha mão por um
bom tempo — sussurro, vendo-o ficar ofegante com a imagem que estou
colocando em sua cabeça. Sorrio. — Mas ninguém ia desconfiar do que nós
dois costumávamos fazer quando estávamos sozinhos, então, um dia, eu ia
pedir para dormir na sua casa. O seu pai ia colocar um colchonete do lado
da sua cama para você dormir, mas eu levantaria de fininho no meio da
noite para deitar ao seu lado. As coisas iam ficar tão quentes que a gente
não iria se aguentar, Nate… — Percebo que ele engole em seco, sem
conseguir desviar o olhar da minha boca. Estou gostando disso. — E você
ia tirar a minha virgindade ali, precisando abafar seus gemidos no
travesseiro para o seu pai não acordar. Eu ia gostar muito, então precisaria
de você o tempo todo. Na escola, depois dos seus jogos, na sua casa,
enquanto nós assistíamos filmes, no chuveiro do vestiário, no meu quarto…
Landon ia ficar chateada porque o melhor amigo dela não ia mais querer
jogar xadrez com ela. Não, porque ele teria achado um jogo melhor para
entretê-lo, não é? E você adoraria brincar com o que eu tenho no meio das
pernas, Nate. Ficaria até obcecado por ela, se eu pudesse chutar.
Passo a língua lentamente pelos meus lábios, fazendo questão de desviar
o olhar para voltar a minha atenção ao meu macarrão de novo. Eu como em
silêncio, adorando saber que eu o tirei do eixo completamente. Nate parece
transtornado, comendo devagar, quase como se quisesse desesperadamente
se teletransportar daqui.
Depois que termino de engolir a comida de uma vez só, jogo meus
cabelos ruivos para trás, passando a bolsa pelo meu ombro.
— Valeu pelo almoço, Nate. — Deixo trinta dólares em cima da mesa,
me inclinando rapidamente para dar um beijo em sua bochecha. — E
embora não sejamos amigos, fica aqui o meu conselho pra você: quando
chegar em casa, tome um banho frio. Garanto que você vai precisar.
Estou me sentindo como um garoto mau
Como um garoto mau
Estou rasgando uma boneca de trapo
Rag Doll | Aerosmith
Quando decidimos dar essa festa para arrecadar fundos para uma
pequena reforma na nossa cozinha, não sabíamos se colocar uma taxa para
entrar seria algo efetivo. Estamos falando de universitários, para início de
conversa. E o que não falta numa quarta à noite são festas pelo campus da
faculdade.
E é isso que me choca, de forma positiva, ao ver quanta gente já está
espalhada pela sororidade. Várias pessoas já estão fazendo fila para
participar do Beer Pong ou mesmo para tentar alguns Jelly shots.
— Meu Deus — murmuro, percebendo que a ideia de fazer cada uma
das meninas vir acompanhada foi bastante efetiva.
E como cada um daqui está pagando cerca de dez dólares para conseguir
entrar, posso assegurar que com certeza já batemos a nossa meta.
— Reese. — Sinto uma respiração contra o meu pescoço, o que me
causa arrepios por toda a parte.
Me viro lentamente, apenas para dar de cara com Nate.
Nós dois já nos encontramos em muitas festas e eventos conforme
crescemos juntos, mas acho que em nenhuma dessas vezes eu o vi tão…
Gostoso. O cheiro exalando de sua jaqueta do time, sua fiel escudeira desde
que chegou na Universidade de Granville, entorpece os meus sentidos
imediatamente.
Será que eu nunca notei como os olhos castanhos dele ficam lindos
quando a luz pega exatamente em suas íris?
Nate estreita os olhos para mim, ajeitando melhor o boné do time que
está usando.
De repente me bateu um calor aqui…
— Está tudo bem, Leslie? — pergunta ele, cruzando os braços fortes
sobre o peito.
— Hã… — Respiro fundo, balançando a cabeça. — Está. Está tudo
ótimo por aqui.
Ele faz um aceno com a cabeça e se vira por alguns segundos e eu
aproveito esse momento para me dar dois tapas no rosto, furiosa com a
forma como meu corpo pareceu, do nada, perceber os atrativos físicos de
Nate O’Connel.
É o Nate, afinal. O NATE! O mesmo cara que tirava sarro de mim com
os amigos do time de beisebol do colegial quando eu não conseguia
completar a corrida na aula de ginástica. O mesmo cara que me pegou
dando uns beijos em seu primo de terceiro grau no banheiro dos meninos e
me dedurou para a diretora!
Eu só posso estar ficando maluca.
Quando ele vira para mim, o rosto parece confuso.
— Por que você se bateu?
Eu arregalo os olhos, colocando meus braços para trás.
— Eu não fiz isso.
— Eu escutei, Leslie. E suas bochechas estão bem vermelhas…
— Tinha algum bicho voando aqui perto… — improviso, apontando
com o meu dedo no ar. — Ah, olha ele aqui… Pera, vou pegar e… —
Acabando com o resto da minha dignidade, eu dou mais um tapa na minha
bochecha, me fazendo de idiota ao vê-lo arregalar os olhos. — Tá vendo?
Foi isso que aconteceu. Acho que me confundi, fiquei tonta de tanto ver
ele… rodando.
— Leslie, você tem certeza de que está bem? Eu posso te levar em um
hospital se for o caso.
Trinco os dentes, começando a me irritar com a sua insistência. Ele com
certeza tem razão, mas poxa, será que custa me dar um voto de confiança
pelo menos uma vez na vida?!
— Tenho certeza, Nate. — Abro um sorriso forçado. — Mas e aí,
chegou há muito tempo?
Ele me encara, estupefato, mas logo em seguida parece ignorar toda a
loucura que acabou de presenciar.
— Não, cheguei há uns cinco minutos. E eu vi que vocês estão querendo
arrecadar dinheiro, então tomei a liberdade para chamar alguns dos caras do
time para virem também. Espero que isso ajude. — Franze a sobrancelha,
colocando a mão dentro dos bolsos.
Eu engulo em seco, me odiando por subitamente estar sentindo tanto
calor.
— Isso foi muito legal da sua parte, Nate. Tem certeza de que está bem?
Será que não bateu a cabeça em algum momento vindo pra cá?
Ele me encara.
— Que engraçado, Leslie. Devo dizer que seu repertório tem decaído
muito.
Jogo meu cabelo por cima do ombro, abrindo um sorriso malicioso para
ele. Acho que voltamos ao nosso habitat natural.
— Ei, eu não disse que sempre vou achar boas formas de te irritar, só
disse que nunca vou parar.
— É, eu percebi. — Nate estala o pescoço, parecendo desconfortável por
estar em um lugar com tantas pessoas. É meio estranho pensar que um
atleta se sente assim, principalmente porque ele se tornou uma espécie de
estrela por causa do beisebol desde que chegamos aqui, mas ele e Landon
têm isso em comum. Eles não gostam muito de festas. — A sua irmã está
por aqui?
Estico o pescoço para vasculhar entre a multidão, mas faço que sim com
a cabeça, apontando para o andar de cima.
— Acho que ela ainda não desceu. Vai enrolar lá em cima pelo máximo
de tempo que conseguir — respondo.
— É, faz sentido. Vou falar com ela bem rápido, tudo bem?
Dou de ombros, sem conseguir entender o porquê de me incomodar com
Nate saindo de perto de mim quando mal chegou. Nós dois nunca nos
demos bem, mas ele prometeu que seria o meu acompanhante hoje.
Mas ele só vai falar com a melhor amiga dele um pouco, a voz da minha
cabeça tenta me tranquilizar.
Por fim, abro um sorriso sincero para ele e aviso:
— Vou buscar bebidas para gente. Você quer alguma?
Nate estreita os olhos na minha direção.
— Você jura pela sua vida que não vai colocar nenhum tipo de veneno
no meu copo?
— Olha, eu não prometo nada…
— Acho que vou dizer que não, então — murmura, resignado. — Mas
caso mude de ideia e não tente me assassinar, eu gosto de vodka. Se for
pura, melhor.
— Vodka? Será que ainda não te apresentaram a tequila? — questiono,
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Nate cruza os braços na frente do corpo.
— Tequila é ruim, Leslie. Todo mundo sabe disso. Vodka também não é
a melhor opção, mas acho que vocês não trouxeram Whisky pra essa festa.
— Bom, eu acho tequila muito melhor do que vodka. Acho que você só
bebeu errado…
— Misturar sal e limão é profanação — ele me interrompe, irredutível.
— E não existe forma certa ou errada de beber nada. Eu só não acho bom.
Estreito os olhos para ele, inclinando a minha cabeça poucos centímetros
para o lado. Nate me examina com muito cuidado, quase temendo o que
está prestes a sair da minha boca.
E ele está coberto de razão por sentir isso.
— Você definitivamente bebeu errado, meu amigo. — Coloco a mão
cuidadosamente sobre seu ombro, vendo-o acompanhar os meus
movimentos com muita cautela. — Um dia desses, Nate, vou te apresentar
como se bebe tequila da forma certa. Vou tirar minha blusa pra você,
derramar um filete generoso entre os meus peitos e deixar esse seu rostinho
beber diretamente de mim.
Ele abre a boca, quase soltando um gemido. Isso me pega de surpresa,
porque normalmente Nate só fica vermelho e tenta desesperadamente me
fazer calar a boca. Aparentemente a imagem que coloquei em sua cabeça
hoje o atraiu.
Ai, merda. Isso não deveria estar me excitando tanto, deveria?
Nate está com a respiração ofegante, o rosto ainda virado para o lado, os
olhos fixos na minha mão, que ainda está segurando seu ombro.
Meu coração está acelerado e é como se todas as pessoas à nossa volta
subitamente tivessem sumido.
Não penso muito quando, de repente, mexo o meu dedo levemente sobre
a camada grossa da jaqueta do time. Nate ainda não desvia o olhar quando,
um pouco mais ousada, desvio a minha mão alguns centímetros para a
esquerda, chegando perto, tão perto, de sua clavícula.
É só mexer alguns centímetros que…
— Leslie! — A voz açucarada de Sophie nos interrompe, fazendo com
que Nate e eu déssemos um pulo, quebrando a bolha que de alguma forma
nós dois acabamos de construir. — Ah, eu não sabia que… Ai, meu Deus,
você não é o rebatedor dos Angry Sharks? Leslie, sua piranha sortuda! Não
acredito que você veio aqui com Nate O’Connel! Estamos acompanhando
todos os jogos desde que a temporada começou! O meu namorado, Adam, é
muito fã dos Angry Sharks, ele vai surtar quando souber que você está aqui!
Meu olhar, que ainda estava fixo em Nate, muda completamente o foco
quando o nome do anticristo é mencionado.
Adam está aqui?
— Você disse Adam, Sophie? — murmuro, sentindo o meu coração
acelerar.
A minha amiga ruboriza, mas concorda com a cabeça mesmo assim.
Lanço um olhar cauteloso para Nate, que observa tudo com o olhar
examinador que ele usa para ler as pessoas tão bem.
— Ele está aqui sim. Pensei que seria uma forma melhor de apresentar
vocês dois, já que a impressão que eu devo ter passado dele para você não
foi das melhores, Leslie, e isso não é justo.
Ah, mas você não faz ideia, amiga…
Eu engulo em seco, piscando rapidamente para afastar o sentimento de
culpa que me invade de uma vez.
— Não precisa nos apresentar, Sophie. O Nate na verdade está com
muita pressa, infelizmente não vai conseguir ficar muito.
Minha amiga solta um muxoxo, encarando-o com o cenho franzido.
— Poxa vida, Nate, que pena! Ele realmente adoraria conversar com
você…
Nate abre a boca para responder de volta, mas eu me coloco à sua frente,
bloqueando sua visão de Sophie e interrompendo qualquer possível
resposta.
— Pois é, eu falei pra ele que não deveria ter vindo para início de
conversa. Sábado é dia de jogo, né? Ele precisa começar a se concentrar
nisso desde agora…
— Bom, é realmente uma pena. — Suspira ela, com os ombros caídos.
— Mas quem sabe nós não podemos nos reencontrar por aí, não é?
Faço que sim repetidamente com a cabeça, concordando, embora por
dentro eu repita para mim mesma que jamais vou me colocar nessa situação
novamente. Não até eu conseguir fazer Adam pagar por tudo o que está
fazendo com ela.
Sophie se despede de nós e está quase se virando para ir embora quando,
de repente, solta um gritinho estridente e acena freneticamente para alguém.
Sinto o sangue das minhas veias congelar quando o vejo abrir caminho em
meio às risadas e danças das pessoas à nossa volta, como se estivesse em
câmera lenta.
Não.
Não, não, não.
Porra.
Viro o rosto rapidamente para trás e o desespero deve estar estampado
nele, porque Nate imediatamente se retesa e enruga a testa, confuso. Eu vou
ficar devendo muitas explicações para ele depois dessa noite.
Ah, se vou.
— Amor! — Sophie acena freneticamente, apontando para Nate atrás de
mim, que está completamente perdido. — Olha quem está aqui!
Adam semicerra os olhos, parecendo tentar reconhecer quem a namorada
dele aponta tão incisivamente. Eu engulo em seco, virando o rosto o
suficiente para que alguns dos fios ruivos cubram a minha expressão de
nojo.
— Ei, cara — diz Nate atrás de mim, colocando a mão cuidadosamente
na minha cintura apenas para desviar para o lado.
— Ah, eu estava doido pra te conhecer, bro — responde Adam,
animado.
Eu escuto o cumprimento dos dois e o que seria uma conversa superficial
sobre as estatísticas de Nate para a temporada que vai começar em poucas
semanas. Me mantenho estática, parada, com o rosto virado e os olhos
fechados, rezando para o universo não deixar que ele me reconheça.
Por favor.
Por favor, não.
— Ah, eu vim acompanhado da… Leslie? Por que você está escondida
aí? — Nate me chama, acabando completamente com o meu disfarce.
Não podia esperar só mais um pouquinho antes de me atirar na cova
dos leões, universo? Será que é pedir demais uma ajuda para variar?
E pensar que eu estava cogitando a possibilidade de deixar Nate beber
tequila em mim.
Traidor.
Eu me viro lentamente, sentindo como se a minha vida estivesse prestes
a passar como um filme diante dos meus olhos. Sophie aproveita a deixa
para me puxar pela mão, fazendo questão de me apresentar “decentemente”
para o seu namorado.
Encaro seus olhos frios, me esforçando ao máximo para que nem a
repulsa que eu sinto por ele seja perceptível.
— Muito prazer, Leslie — diz o infeliz, abrindo um sorriso simpático
para mim.
Eu engulo em seco, fazendo um meneio de cabeça em sua direção. Não
vou repetir as mesmas palavras para ele. Eu não vou conseguir.
Sophie nos encara com uma expressão culpada. Provavelmente ela pensa
que eu estou tão relutante em cumprimentar seu namorado pela cena que
presenciei há dias atrás, com ela soluçando e se achando insuficiente por
esse babaca não conseguir manter o pau dentro das calças, para variar.
— É, bom, acho que Leslie e eu precisamos mesmo ir — murmura Nate,
entrelaçando seus dedos nos meus.
O gesto me pega completamente desprevenida e eu encaro nossas mãos
unidas com certa confusão. Depois, observo como Nate está me encarando
sem piscar, obstinado, e aperto seus dedos com mais força.
Eu não me importo quando ele me arrasta para longe de Adam e Sophie
sem fazer nenhuma pergunta, nem quando me leva para a cozinha e se
oferece para tomar shots de tequila comigo.
Não ligo nem um pouco de estar escorada em Nate O’Connel, o garoto
mais insuportável que eu conheci em Barlow e que se tornou o meu
tormento pessoal aqui em Granville, porque só o que eu quero fazer agora é
esquecer.
E farei isso aos moldes de quem não quer lidar com os próprios
problemas.
Vou beber.
Alguns homens você simplesmente não consegue alcançar
Então acontece o que tivemos aqui semana passada
Que é como ele quer, bem, ele consegue
Civil War | Guns N’ Roses
Voando em um sonho
Nós estamos em uma van, praticamente saindo da cidade, para irmos até a
locação escolhida para filmar um curta para a nossa aula de Introdução ao
Audiovisual. É uma espécie de rito de passagem na Universidade de
Granville; no primeiro semestre, formamos grupos e apresentamos curta-
metragens sobre algum assunto que consideramos relevantes.
Confesso que fiquei um pouco baqueada ao dar de cara com a garota. Ela é
linda pra caramba e tem um magnetismo que faz com que todos ao redor
queiram se ajoelhar e beijar seus pés.
Seus namorados são sortudos, pelo que eu ouvi dizer. E sim, você leu certo.
Pelas poucas horas que passamos no carro, já descobri que Sav tem quatro
namorados e eu não quis saber a logística de como ela consegue fazer tudo
caber.
— Não tinha lugar melhor pra você arranjar essa locação não, Savannah?
— questiona Edward, um dos namorados da Sav, que veio meio arrastado
hoje.
— Mil desculpas se o Clarke não conseguiu uma casa mais perto, ele fez o
que pôde. O lado bom é que vamos poder explodir as coisas e não vamos
precisar pagar nada…
Mas fala sério, quem não derreteria? Se essa garota me lançar um olhar
como esse, eu provavelmente ficaria de quatro e começaria a latir. Tem
gente que nasce com toda a sorte do mundo, aparentemente.
— Eu não tinha visto que tinha um beijo. Adam não vai gostar muito
disso…
Argh.
Toda vez que ela cita o nome desse pau no cu, a minha vontade de contar
tudo de uma vez e vê-la dando um pé na bunda do mesmo aumenta.
Só que, se eu fizer isso, ela não vai terminar. Só vai continuar refém nesse
relacionamento de merda, agora sabendo que uma das suas irmãs na
sororidade já dormiu com seu namorado.
Okay…
— Você não faz ideia, Leslie. Não faz ideia… — responde Cameron, com
os olhos vidrados e focados na estrada.
O hotel que Clarke emprestou para que gravássemos é muito maior do que
eu poderia imaginar. Não consigo conter a minha surpresa ao pular da van,
com Sophie em meu encalço, ambas boquiabertas com o tamanho da
locação que vamos usar durante o dia.
Bom, eu admiro Savannah por isso e tenho certeza que ter os quatro na
cama não deve ser nada mal. Sabe, se sentir adorada quando quatro homens
querem te dar prazer deve ser um presente dos deuses, mas aguentá-los fora
do quarto com todos os dramas que um namoro exige…
Estremeço.
— Você só está dizendo isso porque não conseguiu liberar a casa de praia
da sua família pra mim — responde Savannah, mostrando a língua para
Edward.
Quero matá-la.
Além da desgraçada ser a garota mais linda que eu já vi, dona de curvas
que deixariam qualquer um de quatro e literalmente babando, ainda tem
dois namorados gostosos e que querem bancá-la pelo resto da vida para que
nunca mais precise trabalhar?
— Eu imagino que deva ser muito chato mesmo — sorrio, irônica —, mas
agradeça ao Clarke por emprestar o hotel pra gente de qualquer forma. Mal
posso esperar para ver o corte final depois que terminarmos as filmagens…
Vamos conseguir a nota máxima nessa matéria com certeza.
Sophie interpretará “Suzy”, uma garota que morreu há muito tempo e que
vaga pelos corredores do hotel em busca de um amor. Edward será “Orfeu”,
um homem que precisa se hospedar durante uma noite por causa da
tempestade iminente na cidade, que promete derrubar árvores e devastar os
moradores locais.
Quem é que está me atrapalhando uma hora dessas, pelo amor de Deus?
Nate O’Connel.
Argh.
Só poderia ser.
— Você não me avisou que iria para tão longe hoje! Porra, Leslie —
grunhe, muito irritado. — Não acredito que você esqueceu de me contar
sobre isso.
— Não é como se você se importasse, não é, Nate? Você vive dizendo que
nós não somos namorados de verdade, oras. Por que eu deveria te avisar
sobre algo que pretendo fazer?
— Não, a mentir para a Landon. É meio chato no começo, mas depois você
vai entender que é para um bem maior.
— Tudo bem, pode continuar com a sua gravação, mas nós vamos nessa
festa.
— Não quero te desanimar, mas alugamos uma van e ela não é a coisa mais
veloz do mundo. Além do mais, se você ver como o Cameron parece dirigir
a vinte quilômetros por hora, eu não teria tanta certeza…
Nate grunhe.
Não discuto mais quando passo o nome do hotel em que estamos, Nate não
consegue esconder a surpresa ao descobrir que a nossa locação fica em um
hotel de luxo que foi inaugurado há pouco tempo na cidade. Adorei contar
sobre a Savannah e seus quatro namorados e aposto que o pescoço de Nate
deveria estar mais vermelho do que um tomate quando contei o que Sav e
Edward pareciam estar fazendo no banco de trás da van.
É tão fácil deixá-lo sem graça que se tornou uma espécie de brincadeira
particular nossa. No fundo, eu tenho certeza que ele adora os meus
comentários picantes.
Será que seria assim também na cama?
Será que ele me daria uns tapas com aquelas mãos fortes? Ou será que Nate
ficaria com dó de me causar dor?
Igual uma semana atrás, quando nós dois saímos para jantar com o pai dele.
O prefeito Andrew parecia desconfiado de que havia algo entre nós e
durante a noite inteira, Nate fez questão de me tratar como uma…
Desconhecida.
Ele deixou claro para o pai que a Landon sempre estava presente em seus
jogos e que provavelmente ela tinha me mandado em seu lugar porque não
conseguiria comparecer durante aquela semana, mesmo sabendo da
importância dos jogos para a classificação da universidade no campeonato
estadual.
Eu abri um sorriso falso e concordei com cada mentira que aqueles lábios
perfeitos soltavam, mesmo quando ele disse que não estava vendo
ninguém!
Tá, tudo bem que nós dois não estamos namorando oficialmente, mas eu
acho que merecia um pouco mais de crédito, caramba.
Nate está completamente louco se pensa que seu pai jamais vai saber do
nosso envolvimento. Mesmo que seja de mentira…
Depois que Nate desliga o telefone, volto a minha atenção para o trabalho
que Cameron fez na cena em que vamos filmar o primeiro take. O trabalho
não está ruim, mas não está exatamente da forma que eu imaginei quando
eu o escrevi.
Respiro fundo e lembro a mim mesma que é por isso que roteirista
normalmente não é bem-vindo em dia de gravação: ele não aceita muito
bem as mudanças do texto original.
Ela desvia o olhar do meu, sem graça, mas ainda assim consigo perceber o
sorriso que ela abre no canto da boca. Sophie também está muito feliz com
a própria aparência.
— Sophie, sei que nós duas não nos conhecemos antes de hoje, mas… Você
sabe que o seu namorado não pode controlar a sua maquiagem, não sabe?
— questiona Savannah, com cuidado.
— Eu sei que pode parecer errado para algumas pessoas, mas essa é a
forma que Adam mostra que se importa comigo. Ele é muito fofo, de
verdade. Uma vez eu usei um short praticamente indecente e ele chorou
quando foi me buscar, disse que ficava com o coração partido ao imaginar
outros caras vendo algo que deveria ser só dele. Eu me sinto tão desejada…
Como se ele não conseguisse viver sem mim. Tenho certeza que vocês duas
entendem como é a sensação.
O sorriso bobo em seus lábios não me deixa dúvidas de que a minha amiga
realmente acredita que esse tipo de manipulação é amor.
Sav e eu nos olhamos mais uma vez, mas agora posso observar
incredulidade no olhar dela.
Dream On | Aerosmith
Tá, talvez eu esteja sendo muito otimista. Mas ei, eu confio na capacidade
de Jude em editar um vídeo, então estou acreditando que ele vai conseguir
realizar um bom trabalho.
Ela até relutou por um tempo quando sugeri-lhe que estrelasse o meu curta,
mas não demorou muito para ela se soltar e curtir muito todo o nosso
momento no set juntas. Se eu não a conhecesse, diria até que ela pensou em
atuar por mais um tempo…
Sophie dá de ombros.
— Hã… Nós ainda não conversamos direito sobre essa possibilidade, mas
se depender de mim, por que não? — Dou de ombros, agradecendo aos
céus pela habilidade de mentir tão bem.
Sophie abre a boca e eu tenho certeza que passaria uma meia hora me
interrogando sobre o meu namoro de mentira com o cara que eu menos
suporto no mundo, mas graças ao universo somos interrompidas por uma
Savannah animada.
— Isso foi tão divertido! — exclama ela, nos abraçando ao mesmo tempo.
— Eu acho que deveríamos abrir uma produtora juntas para começar a
trabalhar com filmes indie.
— Eu estarei cem por cento livre para ser a atriz na maioria deles. Bom, se
não houver cenas de sexo…
Sophie nos encara sem graça, desviando o olhar para o chão. É engraçado
que quando ela bebe, normalmente conta todas as aventuras sexuais que já
viveu, mesmo que a gente saiba que foram realizadas com o mesmo cara.
Mas, no dia a dia, ela costuma ser bastante tímida.
— Se vocês estão dizendo… — Dá de ombros, com as bochechas
começando a corar lentamente.
E é nesse instante que uma buzina ensurdecedora começa a ecoar por todo
o ambiente. Olho para trás só para ter certeza que o Jeep preto de Nate está
com os faróis ligados, estacionado na frente do hotel.
Reviro os olhos.
Ele não poderia ter chegado de uma maneira mais discreta, poderia?
Não, claro que não. É de Nate O’Connel que estamos falando, afinal de
contas. O irritante, chato e petulante Nate O’Connel.
— Ele não é bem um astro… É atleta universitário, sabe como é? Ele joga e
as pessoas vão assistir. Fim.
— Ele joga futebol pelos Angry Sharks? — pergunta Sav, recebendo por
trás um abraço de seu namorado Edward. — Eles são bem legais.
Abro um sorriso falso, rangendo os dentes por dentro sem que ninguém
perceba.
Mas que CACETE! Nate precisava ser tão bom em tudo como sempre?
— Ai, cara, mentira! Nate O’Connel está dentro daquele carro? Será que a
gente pode falar com ele? Talvez… Sabe… Tirar uma foto?
Todos os olhos dos meus mais recentes amigos brilham com a possibilidade
de sair em uma foto com o garoto que eu costumava achar insuportável e
que, sempre que podia, me dedurava para os nossos professores no ensino
médio.
Quer dizer que o cara legal não é tão legal assim, não é?
— Parece que você nunca está com humor para nada relacionado a mim…
— Não precisa exagerar, Nate. Não foi bem uma viagem, foi? Eu só
precisava entregar um curta-metragem para a minha aula de roteiro.
Conheci a Savannah, que é minha veterana, e ela conseguiu convencer um
dos namorados dela a nos emprestar o hotel da família dele como locação.
Tem noção disso? A maioria dos nossos colegas vai conseguir ir, no
máximo, para a praia. A gente conseguiu o melhor lugar do mundo para
rodar o curta e desculpa se eu esqueci de te avisar sobre isso, mas foi você
mesmo que cansou de me lembrar que nós dois estamos em um namoro
falso.
— Sim, assim como tinha uma garota assistindo a você jogar, lembra?
— Você prometeu que ia dar uma pausa com outras pessoas enquanto a
gente continua fingindo um relacionamento.
Graças ao cinto de segurança não sou arremessada com tudo para frente,
mas mesmo assim sinto o impacto de sua freada brusca. Respiro fundo,
passando a mão por todo o meu corpo para ter certeza de que ainda estou
com todas as partes nos devidos lugares.
— LESLIE! VEM AQUI! — grita ele, acenando de onde está, sem nem ao
menos desviar o olhar para o carro novamente.
Tento não prestar atenção ao fato de que está um verdadeiro breu essa hora
da noite, com nada mais do que a iluminação das estrelas em uma estrada
que parece verdadeiramente assustadora. O que tem ao redor? Nada além
de uma pequena floresta.
Uma pausa dramática para afirmar que temos todas as características para
um perfeito filme de terror.
— Ele está vivo, não está? — questiona Nate agora olhando para mim, um
brilho preocupado estampado em seu olhar.
— Com certeza ele está vivo. Nós não fomos os responsáveis por isso,
fomos?
— Nós não o atropelamos, mas foi quase. Não vejo sinais de machucado ou
sangue, o que significa que ele não sofreu nenhum acidente. Provavelmente
só está dormindo.
— Ele parece muito magro, Nate. Não podemos deixá-lo aqui!
Mas Nate, como sempre, parece me ignorar completamente. Ele anda até o
carro e antes que possa abrir a porta do motorista, franze a testa para mim.
Nate bate a porta do carro com força, depois arranca o boné de beisebol dos
cabelos e começa a bater com ele na própria cara. Em seguida, passa os
dedos furiosamente em seus cachos escuros.
— Leslie, é sério. Não temos tempo para isso — diz ele, já sem nenhuma
paciência.
— Leslie! Meu Deus! Você não sabe se esse animal tem alguma doença ou
se a mãe dele ainda está por aí.
— Você acha que esse animal aqui é um tigre, Nate? — questiono, irônica.
— O pequeno Salém vai pra casa comigo hoje.
Mas isso não é suficiente pra mim. Suspirando, eu nego com a cabeça.
— Eu vou adotá-lo. Esse bebê vai ficar tão lindo depois que engordar mais
um pouquinho…
— Mas você não pode levar esse gato para a faculdade, Leslie. Já parou
para pensar no que a Landon vai dizer? Você ao menos sabe se as suas
irmãs da sororidade vão se incomodar com a presença dele? — ele continua
falando, mas estou completamente hipnotizada pelos olhinhos brilhantes do
gato que parecem implorar para ir embora comigo.
Ele abre a boca, em choque, e depois vira o boné para a frente do rosto,
abaixando-o até que o mesmo cubra toda a sua cara. Nate solta um gemido
sofrível e eu encaro isso como um bom sinal.
— A Landon vai amar, eu tenho certeza! Agora nós somos pais — continuo
tagarelando, mas dessa vez me apressando o suficiente para sair desse
cenário digno de um thriller.
Nate não diz mais nenhuma palavra enquanto entramos no carro, parecendo
resignado. Ele solta um grunhido, como se não estivesse acreditando que
iríamos mesmo levar o felino pra casa.
Eu esfrego o rostinho do gato no meu e abro um sorriso para ele, tentando
fazer o melhor olhar de “gato de botas” para amolecer seu coração.
Ele respira fundo, incrédulo, embora eu possa jurar que um canto da sua
boca quase se ergueu com a cena.
— Sua heroína era uma bruxa. Por que será que isso não me surpreende?
— Eu sempre tenho cuidado com ela, Leslie — retruca, sem desviar o olhar
da estrada.
— Não deveria tomar cuidado com ela sempre, sabia? Consigo pensar em
uma coisa ou duas que a sua boca pode fazer para me agradar. Quando
estiver afim…
Eu mudei.
A porra de um gato.
Lá vem.
Leslie ergue o gato até a altura da câmera, gritando “surpresa! Ele não é
lindo?”, enquanto eu seguro a risada.
— Sim! Nate encontrou ele no meio da estrada e senti no coração que ele
tinha que ser meu. Bom, nosso, já que vai dividir o quarto com a gente.
Não é a coisa mais linda que você já viu?
Landon suspira.
— Leslie, ele realmente é fofo, mas acho que não é uma boa ideia manter
um gatinho aqui. Podemos procurar um abrigo pra ele.
— Mas eu quero muito que ele seja meu. Eu prometo que troco a caixa de
areia, compro a ração e coloco ele pra dormir todas as noites! Também vou
castrá-lo essa semana. Você não vai ter nenhum trabalho com ele, Land, eu
prometo.
Sinto meu maxilar travar ao pensar no que preciso avisar para ela sobre a
festa que estamos indo hoje à noite. Não é só uma comemoração do último
jogo que ganhamos, mas também uma parte do plano que começamos a pôr
em prática.
— Leslie — chamo.
— Hm?
— Só quero saber se está tudo bem. Nós estamos indo para uma festa na
fraternidade do Adam, afinal.
Convivi com Leslie a vida inteira e acho que nunca a vi tão triste como
nessas últimas semanas. Ela sempre está celebrando a vida, rindo alto o
suficiente para acordar os mortos, dançando ao som de Aerosmith sempre
que tem a chance. Ela é assim.
Deus, eu nunca pensei que sentiria falta das insinuações sexuais irritantes
que Leslie constantemente — mais do que o usual — atira contra mim, mas
aqui estamos.
— Você achou que seria uma boa ideia para conseguirmos alguma coisa
dele e eu concordo — ela diz, com uma expressão séria. — Mas a Sophie
não comentou sobre nada disso comigo hoje…
— Ah, claro. Ele quer transar com outra garota — constata ela, com uma
expressão de desgosto no rosto perfeito. — Agora eu entendi porque ele
deixou a Sophie vir gravar comigo sem tanta resistência. Ele é um porco.
Eu não digo mais nada quando volto a minha atenção para a estrada escura,
embora possa jurar que escutei um fungar baixinho de Leslie ao meu lado.
Faço questão de não virar o rosto para conferir porque, caso a veja
chorando, posso sair de mim.
E eu preciso estar cem por cento bem quando encontrar o filho da puta que
não perde por esperar.
Vou matá-lo.
— Você não pode matá-lo — murmura Leslie no meu ouvido, tão perto que
sinto pequenos calafrios ao sentir a sua respiração quente contra a minha
pele.
Meus dentes rangem quando meu olhar foca no desgraçado que agora está
se agarrando com uma garota de cabelos loiros curtos. Ele a beija na frente
de todos os presentes na festa, pouco se importando com os que sabem que
ele na verdade tem uma namorada.
Quanta ironia. A garota que está comigo hoje, segurando meu braço com
força, também já esteve nessa posição.
— Eu tento.
— Eu preciso ligar para a Landon. Você pode cuidar disso aí, se quiser…
— Como assim?
— Quando ele sair, tenta falar com a garota. Pelo menos diz que ele é
comprometido. Se ela não se importar, então tudo bem. Ela vai estar ciente
do que está acontecendo e será consensual. O que me tira do sério é saber
que ele não sente remorso por enganar mulheres assim…
Ela assente.
— Vou fazer uma chamada de vídeo para ter certeza que o Salém se
acostumou com a nova casa.
— E por “nova casa” você quer dizer o quarto que vocês duas dividem?
— Ei, é uma ótima casa para um gato. Ele vai ser mimado e acariciado por
várias garotas todos os dias. Tem vida melhor?
Eu mostro meus dentes para ela, sentindo que ela vai aproveitar essa deixa
para insinuar algo que vai me deixar com o pescoço vermelho e as bolas
doendo. Leslie não pega leve comigo nunca.
— Olha, ele acabou de sair. Deve ter ido buscar uma cerveja. — Ela faz um
meneio de cabeça na direção da garota que agora ostenta lábios vermelhos
inchados e uma roupa completamente fora do lugar. — Esse é o momento
em que você…
Ela está tão distraída e sonhando acordada que leva um susto quando eu me
aproximo. Seus olhos me examinam de cima a baixo e ela parece gostar do
que vê, porque morde o lábio inferior e os olhos brilham, animados.
Não posso negar que isso faz maravilhas pelo meu ego.
— Meu Deus, Nate O’Connel vindo falar comigo! Você simplesmente é o
rei…
— É, eu sei — corto, torcendo para que ela não ache que estou sendo
grosso de propósito. — Eu preciso te avisar sobre uma coisa e tem que ser
rápido, então peço desculpas se não conseguir conversar muito contigo
agora. O cara que saiu daqui e que você estava beijando, o Adam. Você o
conhece?
Passo os dedos pelo meu cabelo, conferindo mais uma vez se Adam está
voltando. Sinto alívio ao constatar que não.
— Olha, eu sei que isso não é da minha conta, e acredite em mim, isso não
é um julgamento. Você tem o direito de escolher com quem quiser ficar,
onde quiser e isso não é da conta de ninguém. Está vendo esses idiotas com
a jaqueta do time? — Eu aponto para todos os meus colegas de time e a
garota acompanha com o olhar, assentindo. — Eles dormem com uma
garota desconhecida por dia e eu não acho nada demais. Se é consensual,
não é da conta de ninguém. E da mesma forma que eles podem fazer isso
sem se preocupar com julgamento, você também pode. Eu só não gosto de
ver mulheres sendo enganadas.
Respiro fundo.
— Adam não é um cara solteiro. Ele tem uma namorada, uma garota muito
legal, que ele aprisiona nesse relacionamento porque a família dela deve
dinheiro para a família dele. Esse cara dormiu com a garota que hoje eu
namoro… — Engulo em seco. — E ela descobriu depois sobre a namorada
dele. Quando ela disse pra ele que planejava contar sobre a traição, Adam
ameaçou destruir a vida das duas. Olha, você parece ser uma menina
incrível, eu só acho que é meu dever te deixar ciente disso. Boa noite.
— Você contou…?
— Isso é peculiar. Você e a Landon são tão iguais, mas ao mesmo tempo
tão diferentes…
Leslie dá de ombros.
— Eu sei, Leslie. Mas é que chega a ser engraçado como vocês duas
discordam em tantas coisas.
— Nisso você tem razão. A Landon acha você uma pessoa legal e eu não.
Sinto um gosto amargo na boca ao escutar suas palavras tão duras, embora
eu não possa negar que elas sejam, em parte, verdade. Não é que eu a
odeie, mas Leslie sempre me causou sentimentos fortes.
Acho que foi por isso que Landon e eu nos demos tão bem. E embora ela
fosse tão linda quanto a irmã e me entendesse de uma forma que parecia
que ninguém mais no mundo o fazia, eu não sentia meu coração acelerar
quando olhava para ela.
E foi por isso que doeu tanto vê-la no banheiro com outro. E não qualquer
um, mas a porra do meu primo de segundo grau, cujo hobby era me
atormentar em todos os lugares possíveis. Eu costumava ter pesadelos com
a cena que eu presenciei e depois de sentir como se meu coração tivesse
sido arrancado do peito, eu prometi para mim mesmo que não a deixaria se
infiltrar na minha cabeça novamente.
— Ei!
Ela franze o cenho, os olhos brilhando com confusão. Acho que nunca fui
tão franco com ela antes e aposto que sua cabecinha está fritando com um
milhão de pensamentos diferentes.
Mas antes que eu possa desenvolver esse nosso breve momento de trégua,
somos interrompidos por Liam, o arremessador dos Angry Sharks e o meu
pé no saco pessoal. Ele berra, como se fôssemos adolescentes, e passa os
dois braços por cima do meu ombro.
Coço o meu queixo, ajeitando melhor a minha postura. Liam não vai
sossegar até nos arrastar para algum dos jogos universitários mais infantis
já inventados. Estou torcendo para ser o beer pong, porque se a escolha
deles for…
… Estaremos ferrados.
— Será que você pode parar de olhar pra minha namorada, porra? —
mando, vendo-o abrir um sorriso brincalhão para mim, erguendo as mãos
em sinal de rendição.
— Foi mal, Nate. Me disseram que você estava namorando uma ruiva, mas
achei difícil de acreditar. Você mal sai do seu apartamento e quando não
está tendo aulas, está enfurnado no treino do time. Quando você teve tempo
para conquistar uma garota como ela?
Leslie parece renovada com os elogios e eu reviro os olhos por saber todos
os tipos de piadas e provocações que ela provavelmente está preparando
com base nas palavras do meu futuro morto colega de time.
— Bom, gata, é uma pena que você não viu como eu fico de uniforme.
Tenho certeza que a minha bunda fica muito mais bonita do que a desse aí.
E desculpa a pergunta, mas eu ouvi você dizer que tem uma irmã gêmea…?
— A irmã dela te comeria vivo, Liam. Você não tem a mínima chance com
uma garota como ela.
Leslie suspira.
— Acho que cheguei tarde demais para conseguir algo com você, mas isso
não significa que aceito um não como resposta para o body shot que está
prestes a começar.
— Acho que isso pode ser divertido. Quero dizer, como o jogo está
funcionando?
— Não liga pra ele — diz Leslie, segurando um sorriso. — Eu quero beber
e acho que pode ser divertido. É só escolher a bebida e a pessoa, não é?
— Isso mesmo. Já peço desculpas de antemão para o meu amigo Nate, mas
acho que não posso deixar a oportunidade passar, Leslie. Será uma honra
beber whisky direto da sua pele…
— De jeito nenhum. Se tem alguém que vai beber direto da Leslie, esse
alguém sou eu — respondo firme, reparando apenas no final como essa
frase soou.
Merda.
Mas Leslie, sendo a diaba que é, apenas balança a cabeça lentamente, com
um sorriso convencido brincando em seus lábios perfeitos.
— Isso é uma péssima ideia — diz Landon olhando para mim, sem
piscar.
Solto um resmungo, rangendo os dentes.
— Péssima ideia foi você ter deixado a Leslie manter esse gato. —
Indico o felino preto desnutrido que agora está dormindo nos braços da
minha melhor amiga.
Landon afaga o gatinho, que começa a ronronar.
— Se você achou essa ideia péssima, era só não ter deixado ela resgatá-
lo da estrada, não acha?
Eu estreito meus olhos na direção dela.
— Você por acaso conhece a sua irmã, Landon? Acha que é tão simples
assim convencer a Leslie de alguma coisa?
Landon balança a cabeça, soltando um suspiro.
— Você tem razão. Mas mesmo assim, isso continua sendo uma péssima
ideia.
— O que é uma péssima ideia? — pergunta Leslie, carregando vários
petiscos nos braços.
Salém, como se sentisse a presença dela, começa a se remexer no colo da
Landon, miando sem parar. Leslie vai até ele e começa a lhe oferecer
comida, o que o gato aceita de bom grado.
Era só o que estava faltando.
Depois de dias evitando a minha melhor amiga, finalmente precisei
aceitar o meu destino e lhe contar sobre a enrascada que me enfiei graças a
sua irmã mais nova. Não dei todos os detalhes da história porque ela não é
minha para contar, mas acabei abrindo o jogo sobre estar em um
relacionamento falso com Leslie.
Não parecia justo ela continuar pensando que Leslie e eu éramos um
casal de verdade porque… Bom, somos Leslie e eu. Não tem como isso dar
certo.
Landon reagiu da forma como eu imaginei que ela o faria: incredulidade,
surpresa e, talvez, um pouco do famoso olhar de quem já sabe das coisas. É
difícil esconder as coisas da pessoa que mais te conhece.
E eu tenho certeza que Landon sabe. Sobre tudo.
— A péssima ideia é você e o Nate estarem fingindo que estão
namorando — responde Landon, simplesmente.
Leslie vira o rosto para mim, os olhos arregalados e boquiaberta. Ela
ofega quando começa a olhar de sua irmã para mim e eu fecho os olhos,
preparado para o que está por vir.
— COMO VOCÊ OUSOU? — esbraveja ela, com uma expressão
assassina em seu rosto. — SEU… SEU… TRAIDOR!
— Leslie, se acalme — pede Landon, sem se exaltar. É como se ela já
estivesse acostumada a lidar com a irmã desse jeito.
— CALMA? COMO EU POSSO TER CALMA SE O MEU
NAMORADO FALSO É UM TRAIDOR?
— Essa frase ficou muito estranha — respondo, enrugando a testa. — Se
eu sou o seu namorado falso, tecnicamente, não te devo nada. Então não
tem como eu te trair.
Ela semicerra os cílios para mim e eu faço uma careta, percebendo tarde
demais que acabei de deixá-la mais brava.
— Cala a boca, Nate! Não acredito que você contou pra Landon!
— Ela precisava saber, Leslie. Além do mais, precisamos de aliados, de
álibis. Acho que não tem ninguém mais confiável do que ela.
— Você contou sobre tudo? — Seu olhar preocupado recai sobre mim e
eu sinto meu coração apertar. Lentamente, faço que não com a cabeça, o
que arranca um suspiro aliviado de Leslie.
Eu jamais seria capaz de contar sobre essa parte para alguém. É uma
história que só pertence à Leslie, Sophie e, infelizmente, ao Adam.
Cerro meus punhos, sentindo um fio de irritação percorrer a minha
espinha. Queria muito poder socar o rosto dele até que o sorrisinho
presunçoso saia de sua cara permanentemente, mas Leslie tem razão.
Precisamos ser mais inteligentes do que Adam.
— Tem mais coisa além do namoro de mentira? — questiona Landon,
arqueando uma sobrancelha para a irmã.
Leslie respira fundo, balançando a cabeça em sinal de afirmação.
Não consigo evitar me sentir um pouco culpado quando, ainda que
receosa, Leslie decide contar sobre tudo o que aconteceu nesse último mês
para a irmã. Landon não interrompe nenhuma vez enquanto escuta todos os
detalhes do que Adam disse para ela, inclusive sobre sabotar o início da
carreira dela.
Os olhos de Landon estão brilhando de fúria e aposto que se Adam
estivesse aqui, ela mesma se encarregaria de deixá-lo de boca fechada.
No entanto, quando Leslie finalmente termina de contar sobre tudo o que
aconteceu, Landon é um poço de calma e sensatez. Ela não perde a
compostura nem quando descobre a respeito do relacionamento de Sophie
e, infelizmente, eu tenho ideia do porquê.
Landon infelizmente enfrentou um relacionamento complicado a algum
tempo.
Eu não entendi muito bem quando ela começou a namorar o babaca do
seu ex-namorado, mas como eu era o melhor amigo, só fiquei na minha.
Apesar de ambos serem diferentes, eu só torcia pela felicidade de Landon e
realmente cheguei a pensar que ele faria bem para ela.
Bom, não fez.
E toda a aura de “paixão adolescente e amor da vida” foi gradualmente
substituída por frases como “Você não pode ser normal? Será que não
consegue interagir com as pessoas?”, ou mesmo do tipo “Você precisa se
soltar, Landon. Ser toda séria assim faz com que ninguém entenda porque
estamos juntos”. Não consigo esquecer de quando ela mencionou para mim
uma dessas “sugestões” que o seu até então namorado fez. Quis matá-lo,
mas sabia que isso não cabia a mim.
Eu realmente não conseguia entender como a mulher mais foda que eu já
tinha conhecido namorava um imbecil como o Kevin.
Não posso negar que fiquei imensamente feliz quando descobri que o
namoro deles finalmente tinha chegado ao fim. E, talvez, naquele último
final de semana que passamos em Barlow antes de virmos definitivamente
para Granville, eu possa ter me vingado por ela.
Digamos apenas que por um bom tempo Kevin aprendeu a ficar com a
boca fechada.
— Você precisa contar pra Sophie, Leslie — é o que Landon diz, com
uma expressão séria.
Leslie está com os olhos marejados, o olhar lânguido passando por todas
as direções, menos na da irmã. Ela parece quase… Envergonhada.
— Eu sei que eu preciso, Land. Mas como vou fazer isso se ele ameaçou
destruir a vida da família dela?
— Eu entendo que parece uma situação complicada, Leslie, e que você
se culpa. Eu entendo isso. Mas essa decisão não está nas suas mãos e sim
nas dela. Enquanto você não a libertar, Sophie continuará refém do Adam e
aposto que não é isso que você quer. — Ela segura a mão da irmã, que
agora está olhando para baixo, visivelmente abatida. — Você sabe que eu já
passei por isso, Leslie. E estou dando esse conselho como alguém que
gostaria de ter recebido um aviso. Você precisa contar.
— Mas e se ele decidir colocar tudo o que falou em prática? Como eu
fico sabendo que a culpa é minha? É a sua carreira, Landon. Você é a
pessoa mais focada que eu conheço e não deveria sair prejudicada só
porque eu não consigo evitar uma festa!
— A culpa não é sua, caramba! Como a culpa pode ser sua? O idiota
comprometido que foi pra cama com outra foi ele. Quem decidiu usar o
relacionamento da filha para conseguir empréstimo foram os pais dela.
Sinceramente, se existem duas inocentes nessa história, essas são você e
Sophie. Eu realmente entendo onde você quer chegar… Você não quer
contar pra ela sem ter um plano para tirá-la da situação por completo e eu
respeito isso, mas já parou para pensar que isso pode durar meses? Anos?
Ou que pode, simplesmente, não funcionar? Será que algum de vocês dois
já parou para pensar em um plano B?
Eu ergo meu dedo lentamente, limpando a garganta para que ambas
possam me escutar. Landon é uma das pessoas mais inteligentes que eu já
conheci e com certeza foi uma boa ideia deixá-la ciente do que estava
acontecendo.
Entretanto, como a conheço há anos, já imaginava qual seria sua linha de
raciocínio.
— Eu tenho uma ideia, Landon.
As duas viram a cabeça para mim ao mesmo tempo, o que seria
assustador se eu já não estivesse acostumado com os movimentos
sincronizados de ambas. Acho que pode ser uma coisa de gêmeas.
— Você tem um plano B? — questiona Leslie com uma expressão
sarcástica. — E por que você não tinha me contado ainda?
Dou de ombros, pegando a minha garrafa de água e levando lentamente
até a boca. Depois de sorver generosos goles e dar de cara com Leslie
tentando me fuzilar com os olhos, finalmente limpo o canto dos meus lábios
e prossigo:
— Eu teria te contado se você me escutasse, Leslie. Mas da última vez
que estivemos juntos as coisas saíram do controle…
É involuntário sentir minhas bochechas queimarem com a memória da
pele quente de Leslie sendo servida junto com a melhor dose de whisky que
já bebi. E não tenho certeza se era mérito da bebida a causa disso.
Leslie arregala os olhos, arfando ao desviar o olhar para irmã, que nos
encara sem entender absolutamente nada.
A verdade é que nem eu entendi o que aconteceu na festa do pós-jogo
ontem.
Eu estava puto porque descobri que Leslie tinha ido para uma outra
cidade sem me avisar. E, tá bom, talvez eu também estivesse irritado com a
possibilidade dela ter ido se encontrar com alguém. Nós prometemos um
para o outro a discrição, não a exclusividade, e embora esse namoro seja
uma farsa, não consigo evitar sentir esse aperto no peito sempre que penso
nela com outra pessoa.
É um inferno.
Eu pensei que já tinha superado essa queda insuportável que eu sentia
por ela quando éramos adolescentes. Eu não sou um cara santo e tive
algumas namoradas na época do ensino médio. Eu andava de mãos dadas
com elas, beijava-as em público, mandava flores no dia dos namorados e
nem assim parecia que Leslie sabia que eu existia.
Eu era apenas o melhor amigo da irmã dela.
Por outro lado, sempre que Leslie estava saindo com algum cara, era
impossível que eu não notasse. Sentia minha garganta fechar com o ciúmes
quando a via caminhando de mãos dadas com algum idiota que fazia
questão de tocá-la para que todos soubessem que estava ficando com a
garota mais linda daquela cidade de merda.
Leslie sempre iluminou o ambiente com seu sorriso contagiante. Não
importava que por morarmos em uma cidade tão pequena, na maioria das
vezes nos sentíamos como seres invisíveis. Parecia que o mundo lá fora
estava acontecendo enquanto estávamos apenas assistindo, congelados em
um lugar onde absolutamente nada acontecia.
Mas não era assim para ela.
Ela estava sempre dando um jeito de se destacar. Sempre se mantinha
positiva, com o melhor astral, assistindo a milhares de filmes considerados
ruins e os defendendo para quem quisesse ouvir. Leslie chegou a convencer
Landon e eu a assistirmos True Blood — e depois dos dois primeiros
episódios de pura vergonha alheia, preciso admitir que a série ficou
divertida.
De todas as pessoas da nossa cidade, Leslie também era a única que
sonhava com a arte. Ela não queria se tornar uma empresária, atleta ou
muito menos acadêmica. O sonho dela era ser escritora e poder criar os
mesmos personagens de caráter duvidoso que ela aprendeu a amar na
ficção.
Por isso não fiquei nada surpreso quando vi sua aprovação para o curso
de Comunicação na Universidade de Granville, aqui na Califórnia.
Não existe nada que seja mais a cara da Leslie do que isso.
— A gente não precisa lembrar desses detalhes… — desconversa ela. —
Bom, nos diga aí. Qual é o nosso plano B?
Suspirando, eu me aproximo um pouco mais das gêmeas.
— A Landon tem razão. Precisamos colocar uma data limite para essa
história acabar, Leslie. A Sophie não pode continuar sendo enganada
enquanto Adam trepa com outras garotas por aí. E é por isso que eu tracei
um plano um pouco mais elaborado.
— Que seria…? — insiste ela, cruzando os braços. Se eu não a
conhecesse, poderia até dizer que Leslie Reese está um pouco emburrada.
O que eu não deveria achar fofo, mas é o que é.
— Nós vamos ter o jogo mais importante desta temporada daqui duas
semanas. Vai acontecer em Los Angeles e o time está combinando de passar
a noite por lá.
— E o que isso tem a ver com o Adam?
— Calma, estressadinha. Você lembra que a família dele tem grandes
conexões com a MLB? — Ela assente com a cabeça, como se estivesse
juntando as peças. — Bom, como essa noite vai ser uma das mais
importantes para o beisebol universitário, é normal que olheiros e
executivos da liga estejam lá. Sem contar que a chance dos Angry Sharks se
tornarem o principal time da primeira divisão é grande e acho que Adam
não perderia a chance de prestigiar o time da própria universidade, já que
ele é um grande fã.
— E estaríamos nós dois lá? — pergunta Leslie.
Eu assinto com a cabeça.
— Sim. Eu provavelmente vou com o ônibus da universidade, o que
significa que meu carro ficará livre. Você pode ir dirigindo ele, talvez
chamar alguma amiga para fazer companhia. Eu vou aproveitar o momento
em que ele estiver com a guarda baixa para perguntar sobre a família de
Sophie e a relação deles.
— Isso ainda está um pouco vago — rebate Landon, franzindo o cenho.
— E se ele não tiver nada? E se a família dela realmente estiver nas mãos
da família dele e não tiver outra opção?
Dou de ombros, sério.
— Então não temos mais o que fazer. Leslie conta tudo para Sophie e
vamos torcer para que ela finalmente se livre desse idiota.
Leslie se levanta em um pulo, soltando um grito.
— Não posso deixar as coisas acabarem assim! Esse idiota vai prejudicar
a carreira da Landon, pode dificultar as coisas pra você no beisebol, Nate.
Sem contar no que ele provavelmente fará com a Sophie e a família dela.
— A outra opção é não contar nada, Leslie — diz Landon, friamente. —
Você prefere deixar a sua amiga no escuro ao invés de enfrentar esse
babaca?
— Não é bem enfrentar quando nosso adversário é tão poderoso. Isso
está mais para um massacre.
Leslie caminha de volta para onde Landon e eu estamos sentados,
agachando-se entre nós dois. Sua expressão derrotada está acabando
comigo e, por instinto, coloco minha mão por cima da sua.
Seus olhos ficam esbugalhados quando ela me fita intensamente. O
choque de seu rosto não me desencoraja a continuar passando o dedo
lentamente por sua mão, que está fria graças ao seu nervosismo.
— Homens como Adam fazem o que fazem justamente por serem tão
poderosos — diz Landon. — Você acha que Harvey Weinstein passou
tantos anos impune porque nenhuma das mulheres que ele assediava, coagia
e ameaçava não queriam contar todos os podres da Miramax? Elas só
tinham consciência de que não tinham ninguém. Perderiam tudo, como
aconteceu com várias que se recusaram a dormir com ele. Harvey só foi
pego quando um veículo grande o suficiente deu assistência para o dossiê
que estava sendo montado contra ele.
Como se fosse um estalo, vejo as engrenagens do cérebro da Leslie
começarem a funcionar. Ela encara a irmã, incrédula, e abre um sorriso
grande o bastante para que se torne assustador.
Eu seguro sua mão com um pouco mais de força, tentando chamar a sua
atenção, mas é em vão.
— Puta merda, Landon! Você é um grande gênio!
Landon e eu nos entreolhamos, em completo estado de choque.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta ela, confusa.
Mas Leslie já está de pé, fazendo uma espécie de dancinha da vitória que
me deixa ainda mais preocupado.
— Vocês não conseguem entender? — Ela ainda está sorrindo, como se
todos os seus problemas tivessem acabado de desaparecer. — Eu vou
destruir o Adam da mesma forma que ele ameaçou acabar comigo. Vou
expor ele.
— Leslie, como isso pode ser a melhor opção? Você nem sequer contou
para a Sophie ainda… — argumenta Landon.
— Eu sei, Land, mas presta atenção. Eu não pretendo expor o Adam para
meia dúzia de pessoas. Eu quero que todos saibam o que ele faz, todas as
pessoas que ele ameaça. Todos precisam saber sobre o relacionamento
abusivo em que ele aprisionou Sophie e tudo isso em nome da própria
família. Eu quero que isso saia nos jornais e que ele pague por tudo o que
fez.
De repente é como se minha mente estivesse com tantos pensamentos
que é difícil me concentrar em apenas um.
Isso poderia funcionar, mas…
— Precisamos de provas — balbucio, pensativo. — Não podemos só
acusá-lo. Se você planeja criar um dossiê, temos que ter respaldo.
Ela abre um sorriso animado, os olhos brilhando com fúria.
— É por isso que essa viagem vai ser importante. Posso conseguir
microfones e câmeras de vídeo. Eu preciso que você faça ele confessar,
Nate. Homens normalmente agem diferente quando estão perto de outros
homens. Tente tirar fotos, gravar o máximo de coisas possíveis, quanto mais
sujo, melhor.
Eu assinto com a cabeça.
— Se tratando do Adam, não vai ser muito difícil. O cara é um otário.
— É com isso que estou contando…
— Gente, espera aí — interrompe Landon, alternando o olhar entre
Leslie e eu. — A ideia é realmente ótima, mas vocês sabem que não é tão
fácil assim conseguir um veículo jornalístico disposto a nos ajudar, não
sabem? E qualquer jornal local provavelmente ligaria para a família do
Adam e pediria um suborno ao invés de publicar a matéria, o que só
deixaria ele mais irritado. Vamos precisar de uma mídia grande o suficiente
para que o dinheiro e o poder dessa família não os intimide.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, sentindo como se a última
esperança tivesse sido retirada de nós.
Porra.
— Acho que conheço pessoas poderosas o suficiente para fazer essa
matéria rodar — murmura Leslie, após alguns segundos.
Viro para ela na mesma hora.
— Eles são donos de jornais?
— Não, mas eles também são de uma família muito importante. Aposto
que eles devem ter contato com veículos grandes. Sem contar que há uma
futura jornalista envolvida nisso.
Franzo o cenho, completamente confuso.
— Do que você está falando?
Leslie revira os olhos.
— Da Savannah. Ela é uma estudante de Comunicação que está se
formando em jornalismo, foi ela que conseguiu a locação do hotel para
gravarmos o curta. A garota tem quatro namorados e dois deles são
incrivelmente ricos.
— Eu ainda não entendo isso. — Balanço a cabeça, incrédulo.
— O quão rico eles são? — pergunta Landon, séria.
Leslie abre um sorriso convencido.
— Eles são ricos o suficiente para conseguir que todos os veículos
grandes deste país publiquem sobre o Adam. Eu só preciso conversar com a
Sav antes, mas aposto que ela vai querer nos ajudar.
Landon e Leslie se entreolham, um brilho feroz no olhar.
Ergo minha garrafa de água como se estivéssemos prestes a fazer um
brinde.
E, simples assim, nós temos um plano.
Que jogo doentio de se jogar
Para me fazer sentir assim
Que coisa doentia de se fazer
Me permitir sonhar contigo
Wicked Game | Chris Isaak
Engulo em seco.
Leslie está corada e ofegante, e praticamente sinto meu saco se contrair
ao ver como ela parece desesperada.
Desesperada por mim.
Porra, isso é demais para qualquer homem aguentar. Leslie Reese é a
mulher mais linda que meus olhos já viram e fazê-la implorar pelo meu pau
é algo que jamais pensei que aconteceria.
Acompanho com o olhar lentamente a tentativa de Leslie de arrancar a
minha camisa. Ela tenta puxar pela minha cabeça, mas não me movo um
centímetro sequer e ela fica sem espaço. Minha ruivinha solta um resmungo
irritado, como se a minha blusa fosse seu inimigo número um.
Eu rio, segurando sua mão com delicadeza. Depois levo sua mão até a
minha boca e beijo seus dedos sem pressa alguma, sem quebrar nosso
contato visual. Quero que ela veja quem está beijando seu corpo hoje.
Quem deveria estar beijando-a durante todo esse tempo.
— Nate… Você vai perceber que eu não costumo ser uma garota muito
paciente. Você não quer me ver chateada, quer? — desafia, arqueando uma
sobrancelha perfeita.
Mostro os dentes, me sentindo o cara mais sortudo do mundo.
— Linda, eu posso garantir que vai valer a pena a espera.
— Não sei se consigo acreditar em você.
— Ah, mas deveria… — Respiro fundo. — Estou esperando por isso
praticamente a minha vida inteira. E, caramba, nem entrei em você ainda…
Mas já sinto que toda a espera valeu a pena. Esperaria por mais dez anos
pra ter você assim, Leslie. Completamente entregue a mim.
Leslie parece sem fôlego, chocada demais com a minha confissão, mas
eu sinceramente não me importo. Sei que gosto dessa garota há tantos anos
que não consigo me lembrar de algum momento em que não estivesse
completamente louco por ela.
E agora que ela sabe disso é como se eu pudesse finalmente esvaziar os
pulmões e respirar em paz.
— Quero você, Nate — diz ela com a voz trêmula.
Não posso negar mais nada para essa garota. Se Leslie me pedisse para
largar os Angry Sharks para nos mudarmos para a Patagônia, eu iria feliz.
Esse é o tanto que sou apaixonado por essa garota.
E nunca, jamais, deixaria ela esperando por nada.
Cuidadosamente, eu passo a blusa por cima da minha cabeça, deixando
meu torso nu à mostra. Leslie se sobressalta, olhando descaradamente para
o meu corpo.
Sorrio.
Isso aconteceu com certa frequência durante esses anos. Nunca fui de
ficar com muitas meninas, porque não sinto que o sexo casual me satisfaça
de verdade. Preciso do depois. Do abraço, dos beijos, dos segredos
sussurrados no meio da madrugada.
Da intimidade.
Para mim é parte crucial para me sentir saciado.
Dito isso, sempre namorei. Quando não, normalmente tinha uma
amizade colorida ou uma ficante fixa. E todas pareciam espantadas quando
me viam sem roupa pela primeira vez.
Não é querendo me gabar, mas eu treino praticamente todos os dias,
tirando terça e quinta, onde passo horas do meu dia pegando peso na
academia. Não me permito descanso e é óbvio que isso reflete no meu
corpo.
E assistir a menina na minha frente lamber os lábios lentamente por não
conseguir desviar os olhos de mim me deixa satisfeito pra caralho.
— Está gostando do que vê, gostosa? — pergunto, com um sorriso nos
lábios.
Leslie arregala os olhos.
— Sim. Não sabia que você…
— Que eu…?
Ela engole em seco.
— Que você gosta de fazer perguntas safadas durante o sexo. Isso vai ser
interessante.
Solto uma risada.
— Interessante mesmo seria ver os seus peitos. Acho que estou um
pouco em desvantagem, não é?
Leslie não perde um segundo antes de abaixar as alças do vestido que
estava me enlouquecendo. Eu acompanho seus dedos habilidosos descerem
delicadamente as duas tiras que estavam impedindo a visão mais excitante
que já vi.
Seus mamilos avermelhados me encaram como um desafio e mal posso
conter a vontade de colocá-los na boca. Os bicos estão duros, prontos para
mim, e isso faz meu saco apertar mais uma vez.
Porra, pareço um adolescente virgem. Só com a mera visão dos peitos de
Leslie Reese e eu já estou quase gozando nas calças.
— E aí? Vai ficar só olhando, Nate? — pergunta ela, inclinando a cabeça
para o lado em um desafio mudo.
Ela ainda está com um sorriso brincando em seus lábios quando eu
capturo sua boca com a minha. Mas isso graças a Deus não dura muito
tempo, porque logo Leslie está suspirando contra mim. Ela passa os braços
ao redor da minha nuca e me puxa em sua direção e, caramba, talvez isso
tenha sido uma má ideia, considerando como seus peitos estão pressionando
o meu peitoral nu.
Aperto seus seios com certa força, sentindo suas pernas se encaixarem ao
redor dos meus quadris. Ela solta um gemido quando deslizo para baixo,
fazendo com que nossos sexos se choquem pela primeira vez.
— Nate… — sussurra com a voz trêmula.
Ignorando sua súplica, eu abaixo meu rosto até capturar um mamilo
intumescido na boca. Eu chupo com delicadeza, tão devagar que sinto o
grito estrangulado de Leslie antes de seus dedos agarrarem meus cabelos.
Mas não tenho pressa. Quero aproveitar cada segundo disso, então passo
um bom tempo lambendo ao redor da carne vermelha, passando a língua em
seus mamilos deliberadamente devagar. Faço isso com o esquerdo e logo
em seguida passo para o direito, admirando como ambos parecem inchados
depois que mamei neles.
Depois de um tempo, sopro com força a sua pele, vendo-a ficar toda
arrepiada. Abro um sorriso. Quero que Leslie saiba que sempre serei
suficiente para ela, inclusive no que diz respeito ao sexo.
Ela não vai precisar de mais ninguém enquanto estiver comigo.
— Eu juro por tudo o que é mais sagrado, Nate, se você não me comer
de uma vez… — ameaça, irritada.
Solto uma risada.
— Alguém precisa aprender a ser paciente. Eu vou entrar em você,
Leslie, mas acontece que se eu fizer isso agora, vamos acabar com a
diversão em dois segundos.
Ela franze o cenho.
— Você já fez isso antes, certo? Não está sendo sua primeira vez, está?
Sei que não deveria, mas fecho a cara mesmo assim. Depois desvio o
rosto, o que faz Leslie arregalar os olhos e se levantar de uma vez, berrando
“Ai, meu Deus!” sem parar. A visão de vê-la fazendo isso seminua é demais
para que eu continue com a farsa, então começo a rir, caindo no sofá com as
mãos na barriga.
Ela para no meio da sala, a expressão ainda chocada.
— Do que você está rindo, Nate O’Connel?
— É claro que eu não sou virgem, Leslie. Só não vou aguentar por muito
tempo porque você é gostosa demais e eu sonho comer você desde que eu
descobri para que o meu pau serve. Sabe os caras que fantasiam com a
vizinha gostosa ou uma atriz pornô qualquer durante toda a vida? — Ela
assente lentamente. Dou de ombros. — Você é a minha. E acontece que a
fantasia não estava fazendo jus à realidade. Você é ainda mais incrível
pessoalmente.
Ela abre a boca, arfando. Não consigo distinguir se ela está surpresa ou
muito chocada, mas espero que seja de uma maneira positiva.
Leslie vem marchando na minha direção, brava. Ela ergue os punhos
para me dar um soco no peito e eu solto um grito, agarrando seus pulsos
com certa força.
Nós dois estamos rindo, ofegantes, enquanto nos encaramos.
Lentamente, sinto o clima mudar de forma gradual. Leslie desce o olhar até
a minha boca e eu passo a língua pelo meu lábio inferior, umedecendo-o.
Ela engole em seco.
Preciso da boca dela na minha de novo.
O ar divertido é substituído pela luxúria que toma conta do ambiente. De
repente, os lábios de Leslie estão sobre os meus e nossas línguas estão
enroscadas. Solto um ruído ao sentir sua boca se movimentar contra a
minha e Leslie levanta a perna para se encaixar no meu colo.
Porra.
Melhor. Sensação. Do. Mundo.
Os seios dela continuam pressionados contra mim e eu abaixo a cabeça o
suficiente para colocar o mamilo na boca novamente.
— Acho que eles já tiveram atenção demais, Nate. Preciso de você em
outro lugar.
Solto seu mamilo da boca, arqueando a sobrancelha na direção dela. Os
seios de Leslie estão molhados dos meus beijos e o rosto dela está mais
vermelho do que um tomate.
Sorrio.
Finalmente estou fazendo-a provar do próprio veneno. Foram
incontáveis vezes que ela me deixou na mesma situação.
Só na vontade.
— Em que lugar você precisa de mim, Reese do mal?
— Você sabe.
Solto um grunhido.
— Eu não sei de nada, lembra? Sou praticamente virgem aqui. Você vai
precisar me dizer.
Ela passa a língua pelos lábios, parecendo pensativa.
— Você não é virgem, Nate. E você sabe muito bem o que eu quero
dizer. Preciso da sua mão aqui… — Ela pega meu pulso com delicadeza,
levando meus dedos diretamente até a sua calcinha. Eu a toco devagar,
sentindo a umidade. Nós dois gememos com o contato. — Viu? Eu já não
estou aguentando mais, Nate. Preciso de você aqui dentro.
Ah, caralho. Caralho, caralho, caralho…
Não vou conseguir aguentar muito tempo se ela continuar me
provocando assim.
Sem perder tempo, jogo Leslie em cima do sofá. Ela solta um gritinho
divertido e eu ignoro todos os meus pensamentos quando levanto seu
vestido o suficiente para ver a sua calcinha
Gemo alto o suficiente para acordar os mortos e ela parece gostar da
reação. Leslie abre mais as pernas para mim, deixando sua boceta
praticamente à mostra, e isso é o meu fim.
Afasto sua calcinha delicadamente, passando os dedos lentamente por
toda a sua extensão. Sua pele febril fica cada vez mais vermelha, quase que
do mesmo tom dos seus cabelos ruivos.
Estou adorando isso.
Leslie fecha os olhos quando eu me abaixo o suficiente para pincelar a
minha língua em sua boceta. Escuto-a gemer quando lambo com certa
pressão e, de repente, ela está agarrando meus cabelos com certa força.
— Você precisa parar de brincar, Nate — sussurra, ofegante.
Mas eu ignoro deliberadamente seu pedido para que eu vá mais rápido.
Estou saboreando a boceta de Leslie e quero aproveitar cada segundo. Todo
o resto pode ir à merda agora.
Abro mais as pernas dela, segurando suas coxas com possessividade.
Afundo meu rosto contra a boceta de Leslie, usando a língua em seu
clitórios enquanto escuto-a implorar por mais. Chupo com força e depois
uso um dos dedos para aumentar a pressão.
— Nate… — geme, segurando meu cabelo com mais força ainda. É
quase como se me implorasse para nunca mais tirar a minha cara de sua
boceta novamente.
Mal ela sabe que isso é tudo o que eu mais quero. Se eu pudesse,
comeria Leslie todos os dias pelo resto da minha vida.
Continuo lambendo sua carne inchada por mais alguns minutos, usando
meus dentes, rosto e língua por todo o lugar. As pernas de Leslie me
apertam cada vez mais e consigo observar como a sua pele está arrepiada.
Uma delícia.
Uso minha língua em seu clitóris enquanto continuo masturbando-a com
os dedos e isso parece ser o suficiente para ela se desmontar contra o meu
rosto. Leslie goza com um grito estrangulado e eu preciso me concentrar
para não gozar nas calças como um adolescente.
Depois que seus tremores passam, eu ergo a cabeça o suficiente para vê-
la depois do êxtase. Leslie está ofegante, respirando com certa dificuldade e
seus olhos brilham com tesão. Ela abre um sorriso para mim e eu
definitivamente nunca estive tão excitado como agora.
— É, você com certeza não é virgem — murmura ela entre um suspiro e
outro.
Uma risada alta escapa da minha garganta e abro um sorriso convencido
para ela.
— Sou atleta, Leslie. Gosto de ser o melhor em tudo o que eu faço. E
caso haja algo que você sinta que eu preciso melhorar, é só me avisar.
Podemos fazer disso um treino diário.
Ela levanta uma sobrancelha.
— Adoro que você seja tão disciplinado, Nate. Tudo em nome da
excelência, não é? — provoca, abrindo lentamente suas pernas para mim.
Eu engulo em seco ao ver sua boceta exposta. — Agora, o que acha de
encaixar seu pau aqui?
Não consigo mais resistir. Arranco sua calcinha por suas pernas
torneadas sem nenhuma delicadeza e tenho quase certeza de que posso ter
rasgado sua peça íntima.
Bom, foda-se. Essa garota está me enlouquecendo.
Busco o preservativo que fica estrategicamente escondido atrás do sofá e
Leslie arqueia a sobrancelha para mim com um sorriso divertido brincando
em seus lábios.
Dou de ombros.
— Nunca se sabe quando uma gostosa vai acabar parando no meu sofá.
Preciso estar preparado.
— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, não é, Nate O’Connel?
— Não mais do que você, Leslie Reese. Você é ainda melhor do que
qualquer fantasia que eu possa ter tido enquanto crescíamos.
Ela solta um grunhido.
— É meio sexy saber que você me desejou por tantos anos. Agora eu
preciso que você me faça gozar mais uma vez. Por favor, Nate? — pede,
manhosa, e acho que não é necessário muito mais para que eu acabe
passando vergonha na frente dela.
Leslie não consegue reprimir o suspiro que escapa de seus lábios quando
eu forço meu quadril para frente, fazendo com que a fricção entre nossos
sexos fique ainda mais forte. Ela geme sem controle quando eu começo a
me esfregar entre suas pernas, desesperado por mais contato.
Ela não perde tempo e desce minha calça até que meu pau salte livre. Ela
está boquiaberta, com os olhos brilhando de tesão.
— Sem cueca?
Dou de ombros.
— Eu durmo pelado, Leslie. Não achei que algo aconteceria entre nós
dois essa noite, se é isso que está pensando.
Ela morde o lábio inferior.
— Eu bem que queria que fosse premeditado.
— Você é a mulher dos meus sonhos, já te disse isso?
Leslie solta uma risada.
— Só um milhão de vezes — responde, ainda sorrindo.
Coloco o preservativo com cuidado, tudo isso sob o olhar observador de
Leslie Reese. Minha pele arrepia quando sinto o toque de seus dedos, e
como se não aguentasse mais esperar, Leslie me ajuda a colocar a camisinha
no meu pau. Abro um sorriso malicioso quando ela desliza a mão pela
minha extensão, me masturbando por deliciosos minutos.
Jogo a cabeça para trás, gemendo ao sentir sua pele contra a minha. Em
seguida, Leslie fica de quatro no meu sofá e me chupa por cima do
preservativo por alguns minutos excruciantes. A visão de sua bunda
empinada é o suficiente para que eu veja estrelas e não seguro o grunhido
que escapa da minha garganta. Minhas bolas estão formigando, a minha
pele está arrepiada e se essa garota não tirar a boca do meu pau agora, não
vou conseguir satisfazê-la da maneira correta.
Sem nenhuma delicadeza, seguro o pescoço de Leslie para que ela se
levante. A Reese do mal está com um sorriso safado em seus lábios e eu
não resisto. Roubo um beijo de seus lábios carnudos e aproveito nossa
posição para retirar o vestido por completo de seu corpo.
— Muito melhor — grunho, apalpando seus peitos com força.
Ela não perde tempo ao agarrar minha nuca e me puxar novamente
contra o seu corpo.
E eu não resisto.
Entro nela numa arremetida só, fechando os olhos ao sentir sua boceta
quente me apertando. Ela geme contra a minha orelha, ofegante, e eu
contraio a mandíbula. Preciso pensar em qualquer coisa menos nesse
momento. Se eu me concentrar em como Leslie é gostosa, estou perdido.
— Nate… — geme com a cabeça jogada para trás. Seu pescoço lindo
fica exposto para mim e não demoro mais nem um segundo antes de abaixar
a cabeça para beijar sua pele macia.
Ela volta a agarrar meus cabelos e eu começo a meter devagar. Vejo o
desejo nos olhos dela quando, lentamente, abaixa o olhar para assistir o meu
pau entrando nela. A sensação mais maravilhosa me invade quando a vejo
prender a respiração, alternando o olhar entre meu rosto e…
— Seu pau é a coisa mais incrível do mundo, Nate — diz ela com a voz
trêmula e ofegante. — Acho que não vou conseguir durar muito tempo.
— Será que o crédito é só dele, Leslie? Não esqueça que eu passei um
bom tempo chupando você antes disso.
Ela grunhe, agarrando meu cabelo com força.
— Você inteiro é maravilhoso, Nate. Sem discussão. Mas seu pau… Meu
Deus. Chega a ser um crime esconder isso de mim todos esses anos.
— Agora você tem ele todinho pra você, linda. E essa boceta agora é
minha também — digo com convicção. Na verdade, me sinto tão seguro do
que estou dizendo que fico assustado por alguns segundos.
Mas Leslie não parece achar nada estranho, pois abre um sorriso meigo e
me rouba mais um beijo doce. Nossas línguas estão enroscadas quando eu
volto a enterrar meu pau dentro dela. Meus quadris começam a se mover
cada vez mais rápido e sei que se continuar nesse ritmo, Leslie não vai
resistir por mais tempo.
Engulo em seco quando ela fecha os olhos, contraindo o rosto para evitar
um gemido alto. Leslie cruza as pernas por cima da minha bunda, me
apertando até que eu esteja enterrado bem fundo nela.
Gemo, completamente imóvel.
— Leslie!
Mas a diaba não diz nada quando, com habilidade, me empurra o
suficiente para que eu acabe me desequilibrando. Solto um gemido quando
sinto o impacto do chão contra as minhas costas, mas não tenho tempo para
digerir o que acabou de acontecer.
Não, porque agora ela está cavalgando no meu pau como a porra de uma
amazona. Seus peitos balançam conforme ela sobe e desce sobre mim e eu
engulo em seco ao assistir a cena mais erótica que já presenciei.
— Quero te fazer gozar, Nate. Só aproveita — diz ela em meio a um
suspiro.
Como posso negar algo a ela? Como posso dizer não para isso?
Seguro a cintura de Leslie com força, ajudando seus movimentos.
Arremeto para cima para encontrar suas investidas contra mim e uma súbita
onda de calor vem subindo através do meu corpo.
Leslie, por sua vez, está com a cabeça jogada para trás, os cabelos ruivos
saltando livres conforme ela me cavalga cada vez mais rápido. Eu me
levanto para colocar um de seus mamilos na boca e ficamos assim por um
bom tempo, eu mamando em seus seios enquanto ela continua quicando
sobre mim.
— Vou gozar — avisa ela, arquejando.
— Eu também — respondo, arfando.
Nós dois continuamos nessa dança até que escuto o seu grito de prazer.
As coxas de Leslie tremem ao meu redor enquanto ela revira os olhos e
choraminga baixinho. Eu observo a cena como se fosse a minha obra de
arte particular.
Porra, juro que se fosse um pintor, retrataria esse momento e colocaria o
quadro como um troféu no meu quarto. Porque, caralho, fazer essa garota
gozar me faz sentir como o cara mais poderoso do mundo.
E é o suficiente para que meu mundo se estilhace de uma vez. O mundo
ao meu redor desmorona conforme o prazer aumenta cada vez mais e eu
gozo com um rosnado nos lábios. Afundo meus dentes na pele de Leslie
enquanto continuo metendo fundo em sua boceta, aproveitando cada
resquício de prazer que ela ainda pode me dar.
Leslie afunda o rosto no meu pescoço conforme nossas respirações vão
se acalmando. Beijo seu braço, enroscando meus dedos em seu cabelo
sedoso.
E então somos só nós dois.
Leslie Reese e Nate O’Connel.
Ambos perdidos em um abraço.
Os dois tentando entender o que acabou de acontecer. Tentando decifrar
as reações de nossos corpos quando tocaram um ao outro.
Estamos prestes a cair de um abismo.
Mas, ao invés de sentir medo e dar alguns passos para trás, abro um
sorriso ao constatar que pularei feliz.
Com essa garota, não me importo de quebrar.
Eu costumava pensar que um dia ia contar a nossa história
Como nos conhecemos e tudo aconteceu instantaneamente
As pessoas diriam: Eles são os sortudos
The Story of Us | Taylor Swift
— Não acredito nisso! Quem ele pensa que é? Eu vou chutar as bolas
dele, Nate. Juro que Adam não perde por esperar.
— É, eu também não acreditei quando ele disse aquelas coisas —
respondo, deitado na cama de hotel. Leslie está passando de um lado para o
outro, completamente revoltada, em um pijaminha que está deixando a
minha cueca apertada.
— Egoísta? Eu? Quem ele pensa que eu sou, afinal?
— A gente não liga para o que aquele babaca pensa, linda. Lembra?
Estamos fingindo que nos importamos, mas a opinião dele não quer dizer
nada.
Leslie suspira, passando os dedos pelos cabelos ruivos.
— É, eu sei. Mas isso não me deixa mais animada. Sophie chegou a
contar até para a Landon sobre a viagem que faria com o namorado e o
cretino está planejando aproveitar nossa única noite livre para traí-la. Que
tipo de pessoa faz uma coisa dessa?
Respiro fundo.
— Sabemos bem que Adam é capaz de qualquer coisa, Leslie. Não estou
necessariamente surpreso, embora entenda a sua raiva. Mas pense pelo lado
positivo: essa pode ser a chance que precisávamos. O que você quer que eu
fique de olho?
Ela assente com a cabeça, se sentando ao meu lado na cama. Gostaria de
dizer que a proximidade dela não me causa calafrios, mas estaria mentindo.
Na verdade, estou com tanta vontade de abraçá-la que não resisto. Puxo seu
corpo quente contra o meu e Leslie solta um arquejo ao sentir meus braços
ao seu redor.
Nossas respirações estão se mesclando enquanto eu a abraço com força e
o encaixe é tão perfeito que eu sinto como se pudesse ficar assim para
sempre.
— Nate? — chama, depois de alguns segundos em silêncio.
— Hm?
— Só fica de olho em tudo, tudo bem? Fotos dele com outra podem nos
ajudar, mas homem traindo não é necessariamente uma novidade. Além do
mais, as pessoas costumam relevar erros quando são os caras que cometem.
Só não demora muito, por favor.
Engulo em seco, embora Leslie esteja completamente certa. A régua que
mede os erros de homens e mulheres não é a mais proporcional de todas e
quando o dito cujo pertence a uma família tão abastada como o Adam, fica
ainda mais difícil fazer com que ele pague por seus erros.
— Tudo bem — respondo, deixando um beijo carinhoso em seu ombro.
Acho que não se passaram nem duas horas quando Adam me chamou no
canto da sala VIP para murmurar que infelizmente eu precisaria achar uma
forma de voltar para o hotel sozinho. Aparentemente uma “ruivinha” estava
dando muito mole para ele e o desgraçado disse, com um sorriso sacana,
que jamais diria não para uma ruiva natural.
Precisei juntar todo o meu autocontrole para não socá-lo até vê-lo perder
a consciência.
Uma tarefa que foi muito, muito difícil.
— Você não se importa, né? Quero dizer, com certeza você entende…
Estreito os olhos.
— É, eu entendo.
— Mas o lado bom é que a Leslie e a Sophie devem estar dormindo uma
hora dessas. Não precisa voltar pra casa agora. Olha, acho que a gostosa
que vai me levar embora veio com uma amiga mais gostosa ainda. Posso
falar com ela se você quiser…
Engulo em seco.
Respira fundo, Nate.
— Não quero. Eu tenho namorada.
Adam solta uma risada sarcástica. Depois balança a cabeça para mim
como se eu fosse um garotinho ingênuo. Eu lanço um olhar confuso em sua
direção, como se não entendesse a sua reação.
O infeliz dá de ombros.
— É engraçado ver um futuro jogador de beisebol profissional agir
assim. Já parou pra pensar nos dias que vocês ficarão separados? Você vai
viajar o país todo, cara. Provavelmente vai disputar em Oklahoma no início
do ano que vem pelo título nacional. Vai me dizer que pretende passar todos
esses dias sem dar umazinha? Mesmo quando milhares de garotas se
jogarem aos seus pés implorando pelo seu pau? — Ele estala a língua, como
se o pensamento o divertisse. — Impossível.
Ergo meu queixo, confiante. O brilho em seu olhar me diz que ele não
esperava uma reação minha, mas foda-se. Não posso ficar calado enquanto
o idiota faz suposições sobre o meu futuro.
Adam Kennedy não me conhece.
Mas esse é o problema com caras como ele, no entanto. Eles acham que
todos os outros homens pensam da mesma forma. Que veem as mulheres
como um “buraco” para enfiar o pau e se aliviar. E que as “escolhidas” para
casar precisam ficar em casa e aceitar as traições.
— Leslie e eu estamos apaixonados — respondo simplesmente. — Não
consigo olhar pra mais nenhuma mulher. Acho que isso não vai ser um
problema.
Ele lança um olhar divertido para mim.
— Você pode até acabar aguentando. Mas a Leslie… Acho que ela não
passaria tantos dias sem sexo sem acabar se jogando na cama de alguém —
diz, dando de ombros.
Preciso piscar várias vezes para processar o que acabei de ouvir. Minha
respiração acelera, meu rosto esquenta, meus punhos estão cerrados quando
a fúria mais implacável que já senti toma conta de cada pedaço meu.
Ele não disse isso…
— O quê? — Ranjo os dentes, travando o maxilar.
Adam me analisa atentamente antes de abrir um sorriso irônico cheio de
dentes. Em seguida, ergue as mãos em sinal de rendição.
— Ela é uma garota que gosta de se divertir, cara. Só isso. Alguns
amigos meus tiveram aventuras bem interessantes com ela. Leslie Reese
não perdia uma festa na nossa fraternidade e não estou contando uma
mentira. Pergunte pra ela você mesmo.
— Eu não me importo com o passado dela, Adam. Leslie era uma
mulher solteira e se gostava de sexo casual, qual o problema? — respondo
entredentes.
— Você é um cara diferente, não é? — rebate ele, ainda com o sorriso
sarcástico no rosto que está me tirando do sério. — Que bom que você não
se importa com quantos caras ela dormiu antes de você. Felizmente pra
mim, Sophie ainda era virgem quando começamos a namorar. Nenhum
homem enfiou o pau nela antes de mim e vai continuar assim — responde,
convicto.
Não se pudermos evitar.
A forma maliciosa com a qual ele está conduzindo essa conversa deixa
implícita uma provocação pelo fato dele mesmo ter dormido com Leslie
antes dela e eu fingirmos um namoro. É claro que esse acordo durou pouco
tempo porque ela acabou descobrindo sobre meus sentimentos de anos a
respeito dela, mas mesmo assim, ele não tem o direito de usar isso contra
ela.
Contra mim.
Abrindo o sorriso mais falso e reunindo toda a paciência que me resta,
dou um tapinha em suas costas com muita força.
— Boa noite, Adam.
Fósforos queimam um após o outro
As páginas viram e grudam umas nas outras
Salários ganhos e lições aprendidas
Mas eu estou exatamente onde você me deixou
Right Where You Left Me | Taylor Swift
Não espero para escutar o que Adam tem a dizer depois que lhe desejo
boa noite, apenas lhe dou as costas, rezando para que eu consiga achar a
saída desse labirinto infernal sozinho.
Porra.
Vou refazendo meus passos, evitando manter contato visual com as
pessoas enquanto busco a visão da maldita escada. O som ensurdecedor da
música eletrônica que está tocando não ajuda em nada no meu mau humor.
Quando tenho um vislumbre da pista de dança, quase solto um suspiro
de alívio. É a mesma que eu vi assim que desci até aqui e o reconhecimento
me faz abrir um sorriso. Vou ligar para um dos caras e torcer para que
algum deles esteja acordado. Provavelmente vou escutar um sermão
daqueles por estar em uma festa às duas da manhã na véspera de um dos
jogos mais importantes da nossa breve carreira no beisebol universitário,
mas logo vou poder revelar tudo. E eu sei que eles vão me apoiar.
Ou pelo menos, estou torcendo por isso.
Estou atravessando o mar de pessoas sem olhar para trás quando algo me
chama atenção.
Algo não.
Um som.
É uma risada que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo. Giro nos
calcanhares para procurar por um vislumbre de Leslie Reese, embora isso
seja impossível. Eu a deixei em um quarto de hotel sã e salva e acho que ela
não conseguiria entrar aqui sem uma espécie de convite.
Não é?
Mas o som volta, dessa vez um pouco mais alto, e meu coração acelera.
Posso estar ficando maluco, mas tenho quase certeza de que essa risada
pertence a ela. Se não for, existe uma sósia de Leslie aprontando pelas
baladas de Los Angeles.
Estou quase me convencendo de que não tem como ela estar aqui quando
meus olhos captam um montinho ruivo no meio da multidão. Pisco os olhos
várias vezes a fim de verificar se estou enxergando direito, mas, caralho,
tenho certeza que não desenvolvi miopia de uma hora para outra.
Leslie Reese está aqui.
E, para piorar tudo, está dançando.
E não está sozinha. Tem um cara com as mãos em sua cintura enquanto
ela e… Sophie? Puta que pariu. As duas estão com bebidas nas mãos e há
dois idiotas encarando-as como se fossem a melhor visão que têm em dias.
Não posso culpá-los, porque as duas estão realmente lindas.
Isso não impede a fúria cega que toma conta de mim, no entanto. Preciso
respirar fundo uma dúzia de vezes para não chegar rugindo como um
verdadeiro homem das cavernas. Minhas mãos estão cerradas quando eu
caminho, sem parar, na direção das duas.
O cara usando a blusa polo mais engomadinha que eu já vi nem sabe o
que o atingiu quando eu o seguro pela gola da camisa e o empurro para trás.
Leslie solta um gritinho que faz meus tímpanos doerem enquanto Sophie
abre um sorriso satisfeito. Acho que posso considerar isso um ponto
positivo.
O amigo do que eu empurrei, no entanto, pensa diferente.
— Que foi, cara? — questiona ele, usando as duas mãos para me
empurrar.
Quando eu tinha seis anos, meus pais me levaram em um rancho que
pertencia aos meus avós maternos. Eles criavam cavalos e eu adorava
admirá-los galopando, embora meus pais nunca permitissem que eu
montasse em nenhum deles.
“É perigoso demais”, repetiam.
Eu achava que tudo isso não passava de conversa fiada, até que um dia
eu presenciei a cena que me deixou um tanto quanto traumatizado. Um dos
funcionários da fazenda se irritou com um dos garanhões e acabou
penteando o pelo do cavalo com certa brutalidade.
Ele relinchava, reclamando, mas nada parecia fazer o funcionário tratá-lo
com mais gentileza.
Isso até o cavalo se irritar de vez.
Só me lembro dos gritos dos meus avós quando o animal, sem dó, o
atacou. Escutei também os gemidos do cara e senti um embrulho no
estômago. Quero dizer, ele estava provocando o animal, não estava?
Ele tinha o direito de ficar irritado.
De se vingar.
Era assim que eu estava me sentindo agora. Eu era o cavalo que estava
sendo levado ao seu limite.
— Nate, não — murmura Leslie, colocando a mão delicada sobre o meu
braço.
Mas nem o seu toque foi capaz de me distrair do meu objetivo.
Ou melhor, do meu alvo.
— Escuta a garota, cara — avisa o babaca, com uma expressão
sarcástica no rosto. — Não vai querer se meter comigo.
— Ah é? — provoco, dando um passo à frente. — O seu amigo ali não
parece ter a mesma opinião.
O homem que estava dançando com a Leslie antes de eu aparecer surge
do lado do amigo, com uma expressão furiosa no rosto. Ergo o queixo, em
um claro desafio, sem me importar se precisarei lutar com os dois para
controlar a raiva que eu estou sentindo.
Raiva, não.
Ciúmes.
Puta que pariu.
É isso que está acontecendo comigo, não é? Estou com tanto ciúme de
Leslie Reese que minhas mãos estão tremendo.
Porra.
Pisco algumas vezes, desviando meu olhar brevemente para o rosto
suplicante dela. Não consigo ler mentes, mas se pudesse, poderia jurar que
ela está implorando para irmos apenas embora.
— Vamos agora — resmungo entredentes, segurando o pulso de Leslie
como se minha vida dependesse disso.
— Sophie! — grita ela, acenando para que a amiga nos siga.
Nem consigo notar o caminho que estamos fazendo. É como se eu
estivesse no piloto automático e odeio me sentir assim. Eu não perco o
controle com facilidade. Não me importo com outros caras estarem
dançando com alguém que nem minha namorada é. Não vou a baladas um
dia antes de um jogo decisivo.
Esse cara não sou eu.
Leslie está resmungando alguma coisa para mim, mas não tenho certeza
do que é. Pela expressão furiosa no rosto e a postura corporal, sei que está
com raiva de mim.
Mas não ligo.
Também estou furioso com ela por me fazer sentir assim. Por sempre ter
me deixado no limite.
Estou cansado de ser tão desesperadamente louco por essa garota.
— Não podemos fazer mais isso — digo, sem me importar com as
consequências. — Temos que acabar por aqui.
Leslie fica em silêncio imediatamente. Depois abre a boca em choque.
Por um segundo até penso que ela vai começar a argumentar comigo, mas
seja lá o que passou por seus olhos surpresos, simplesmente se vai.
Ela endurece a expressão e desvia o olhar do meu. Sophie está parada
bem ao nosso lado, mordendo o lábio inferior. É quase como se estivesse
implorando para ser levada para qualquer lugar longe de nós.
Cacete.
— Nós conversamos no quarto de hotel. Que tal, O’Connel? — pergunta
Leslie, com a sobrancelha arqueada.
Não tenho outra escolha a não ser assentir.
Mas haja o que houver, não posso voltar atrás. Minha decisão já está
tomada e a partir de agora, Leslie e eu seremos só amigos.
Só isso.
Estou suando.
O sol da Califórnia parece ficar mais intenso a cada segundo e a partida
já dura mais de três horas. Aperto os olhos, tentando espantar o cansaço que
cada vez mais fica aparente.
Meu corpo precisa de descanso.
Consigo enxergar pelo telão a nossa vantagem de pontos e isso me
acalma. Começamos defendendo e agora estamos no ataque, com os Angry
Sharks vencendo por três pontos.
É, não é uma grande vantagem e existe uma grande chance dos Tigers
Ink virarem, mas tento me manter positivo.
A última jogada começa e eu olho de soslaio para Liam. No beisebol,
temos nove chances de pontuar e cada uma delas nós chamamos de
“jogadas”. Cada time é composto por nove jogadores e ambos revezam
entre atacar e defender.
É como um jogo de xadrez.
O que eu mais adoro no beisebol é o fato de a força não ser o mais
importante. É um esporte sobre estratégia, sobre utilizar as jogadas e tentar
as pontuações que podem te fazer vencer. É por isso que não existe um
limite de tempo durante uma partida e o meu recorde foi de oito horas em
campo.
Algumas pessoas podem achar chato ou até mesmo parado, mas não eu.
Consigo observar nas entrelinhas. Sei que os Tigers Ink podem empatar e
desse jeito teremos que começar mais uma jogada, mas estou confiante.
Poderia fazer isso o dia todo.
O rebatedor do time rival tem feito um bom trabalho hoje, no entanto.
Chegamos a empatar uma vez durante a partida porque ele conseguiu um
home run para os Tigers Ink, e mesmo sabendo que o mérito é todo dele,
não consegui me sentir menos responsável por isso.
Poderia estar melhor se não tivesse dormido apenas três míseras horas.
E por mais que eu me esforce, não consigo parar de pensar nos olheiros
que estão espalhados por toda a arquibancada. Eles estão medindo cada
arremesso e rebatida, usando aparelhos para saber a velocidade que
corremos e a nossa capacidade total em cada rodada.
Nenhuma pressão, certo?
Respiro fundo.
Sempre gosto de jogar mais na posição de ataque, mas isso não significa
que sou um mal arremessador. Na verdade, foi por causa da velocidade na
hora de jogar nessa posição que consegui a bolsa de estudos para entrar nos
Angry Sharks.
Mas acontece que o rebatedor do time rival também é muito bom. Só
precisamos que o rebatedor dos Tigers Ink perca três bolas válidas e somos
oficialmente campeões estaduais.
O juiz grita para iniciar formalmente a última rodada e eu prendo a
respiração. Se os Tigers conseguirem três malditos pontos e empatarem,
porra… Acho que não vou ter coragem de voltar à universidade hoje.
— Vamos, Nate! — Escuto a voz de Liam em algum lugar do estádio,
mas decido deliberadamente ignorar.
Estou tentando me manter calmo. Alongo meu corpo por poucos
segundos e flexiono os tendões, sentindo a familiar adrenalina tomar conta
do meu corpo. O rebatedor está com um sorriso brincando em seus lábios,
mas eu permaneço sério. Posso acabar com tudo agora mesmo e é o que
tentarei fazer.
Me ajeito enquanto lentamente curvo o corpo para trás. Já usei essa
técnica milhares de vezes e sei que se conseguir um bom ângulo, posso
arremessar a bola direto para o nosso receptor.
Prendo a respiração antes de finalmente jogá-la com toda a força que
tenho, acompanhando cada movimento que ela faz depois que sai do meu
controle.
E ela passa direto para o nosso receptor.
— Strike um! — grita o juiz e eu sinto o ar voltando lentamente para os
meus pulmões.
Isso aí, caramba.
Mas não podemos cantar vitória ainda. E é por isso que mal consigo
piscar quando o rebatedor se ajeita em cima da sua caixa, estreita os olhos
para mim. Ignorando sua provocação, inclino todo o corpo para trás antes
de arremessar a segunda bola.
E a perco de vista quase instantaneamente.
Por um segundo me desespero ao pensar que ele pode ter conseguido
rebatê-la. Não escutei o barulho familiar do taco batendo na bola, mas estou
tão exausto que deixar de notar algo não seria uma surpresa.
— Strike dois! — anuncia o juiz, me fazendo girar o pescoço para
encará-lo.
Nem vi a bola passar, caralho.
Mas, assim como eu, o rebatedor dos Tigers mal consegue acompanhar
os meus arremessos. Ele não consegue esconder a própria frustração quando
perde a última chance de marcar um ponto para o seu time.
— Strike três! — Apita o juiz e posso ouvir os gritos de comemoração
nas arquibancadas. — Eliminado!
— MEU NAMORADO É O MELHOR! — cantarola Leslie um segundo
antes de se jogar no meu colo. Eu a agarro, perdendo um pouco do
equilíbrio enquanto ela cruza as pernas ao redor da minha cintura. — Você
foi incrível, baby.
Nem tenho tempo para processar o fato dela ter acabado de me chamar
por um apelido carinhoso porque, de repente, os lábios macios de Leslie
estão sobre os meus e todo o mundo desaparece do nosso redor.
Só existe nós dois.
Quando nos afastamos, ambos ofegantes, é como se todo o cansaço do
meu corpo sumisse. Quero carregá-la assim até o meu carro e voltar para o
quarto de hotel o mais rápido possível.
— Gostou de todas as jogadas? — pergunto, arqueando a sobrancelha.
Leslie balança a cabeça freneticamente para cima e para baixo.
— Adorei! — responde, animada. Mas logo em seguida morde o lábio
inferior e se inclina para mais perto do meu rosto, sussurrando: — Mas
confesso que acabei tirando um cochilo depois que você conseguiu o seu
segundo home run.
Eu a encaro, fingindo uma falsa expressão de choque.
— Você dormiu no meio do meu jogo?
Leslie suspira.
— Desculpa, tá legal? Mas beisebol é um esporte para poucos e eu não
acho que faça parte desse grupo. Vocês ficam um tempão parados, precisa
mesmo ser tão longo assim?
Balanço a cabeça, por algum motivo me sentindo sortudo pra caralho por
segurar no colo uma garota que abertamente diz não gostar do esporte que é
a minha vida. Amo a espontaneidade de Leslie, a forma sincera e ao mesmo
tempo carinhosa que consegue expor todas as suas opiniões.
Amo essa garota.
Espera, o quê?
— Nate? — ela me chama, roubando um beijo rápido dos meus lábios.
Eu a encaro, ainda perplexo com meus próprios pensamentos. Será que
eu a amo de verdade? A paixão muitas vezes é confundida com amor.
Mas se eu estivesse apenas apaixonado por Leslie, talvez não sentisse
essa necessidade de agradá-la toda hora. Tampouco me sentiria tão eufórico
por saber que mesmo odiando o esporte, ela permaneceu na arquibancada
por quase quatro horas de jogo. Nem meus pais ficavam a partidas inteiras
às vezes. Assistiam ao primeiro tempo e só voltavam para me buscar, na
época do colegial.
— A Sophie me convidou para uma festa em comemoração a vitória dos
Angry Sharks e acho que pode ser uma boa ideia para coletarmos
evidências. — Ela ergue e desce as sobrancelhas de forma sugestiva várias
vezes e eu solto uma risada.
Ela é tão boba. Eu a adoro.
— Achei que tínhamos superado a busca de provas nessa viagem. As
fotos que eu consegui de Adam com a garota da balada de ontem não foram
o suficiente? — lembro, me referindo às poucas “provas” que consegui sem
que ele percebesse a câmera do celular.
Leslie balança a cabeça.
— É, mas acho que pode ser diferente na festa de hoje. Além do mais…
Pode ser uma desculpa.
— Uma desculpa para o quê?
Ela dá de ombros.
— Uma desculpa para comemorarmos a sua vitória, Nate. Você vai
começar a se preparar para o nacional e vai ficar cada vez mais difícil de
nos vermos — relembra ela e eu sinto um nó na garganta.
Ela tem razão. Vamos nos ver praticamente duas vezes na semana
quando a preparação para o College World Series começar.
— Acho que tenho uma ideia melhor para comemorarmos… — sugiro,
malicioso.
Mas Leslie parece irredutível e usa de artimanhas maquiavélicas para me
convencer. Bate os cílios algumas vezes, joga o cabelo ruivo por cima do
ombro e começa a beijar todo o meu rosto minuciosamente.
Não esquece um maldito lugar e de repente sinto que estou pegando
fogo. Preciso das mãos dela sobre mim.
Meu pau parece concordar bastante com esse fato, porque ele contrai e
endurece em questão de segundos. Leslie está se esfregando em mim como
uma gatinha.
— Tudo bem — murmuro, por fim. — Podemos ir pra festa. Mas eu
estou realmente cansado, Leslie. Preciso dormir. Vamos ficar pouco tempo,
ok?
Ela solta um gritinho ensurdecedor e pula algumas vezes no meu colo.
Eu a coloco no chão e ela continua me agarrando e enchendo de beijos, tudo
isso ao som de “eu tenho mesmo o melhor namorado de todos!”.
Como eu poderia dizer não a ela?
— Ah, tem mais uma coisa! — exclama ela, se pendurando no meu
ombro.
— O quê? — questiono, ajeitando o boné do time melhor sobre a minha
cabeça.
Ela pisca os cílios para mim várias vezes.
— Precisamos de uma foto juntos, Nate. Não temos nenhuma! — Ela
ergue o rosto para encarar a multidão de pessoas saindo do estádio e avista
Liam conversando com os pais. Ela o chama e meu companheiro de time
vem trotando em nossa direção. — Oi! Será que você pode tirar uma foto
nossa?
Liam pisca lentamente na direção de Leslie. Por um segundo chego a
pensar que ele pode estar um pouco irritado, mas ao contrário disso, ele
apenas dá de ombros e murmura um “claro”.
Mal tenho tempo de registrar suas palavras quando Leslie se ajeita do
meu lado. Ela está usando uma saia preta de couro e uma blusa da mesma
cor da banda de rock favorita dela, Aerosmith. Eu coloco minha mão sobre
sua cintura e a puxo para perto, abrindo um sorriso sem graça.
— O casal do ano — brinca Liam, estendendo o celular na nossa
direção. — Vocês ficam bem juntos.
Eu o agradeço com um aceno de cabeça e ele se despede com um aceno.
— AI, MEU DEUS, NATE! Olha como nós dois somos gostosos juntos
— suspira Leslie, me mostrando a foto.
Não posso discordar dela.
Puxo o celular da sua mão e me encaminho a tal foto, pensando em
como ela ficará linda como tela de fundo do meu celular.
— Você tem razão — concordo, cerrando os cílios para ela. — Mas
agora eu preciso mesmo tomar um banho. Você me espera aqui ou quer ir
logo para a festa sozinha?
Ela dá de ombros, tirando uma mecha ruiva da frente do rosto.
— Eu te espero, claro. Ainda preciso confirmar com a Sophie sobre onde
será a tal festa, mas tudo indica que vai ser na casa de um dos irmãos de
Adam. Ela disse que ele é um cara legal e que é um dos investidores dos
Yankees, algo assim.
— Uau.
Ela suspira.
— Pois é. A cada nova informação sobre a família desse cara, mais eu
sinto que não temos como vencê-lo, Nate. Eles estão espalhados em todas
as áreas de poder desse país.
— Ei, não pense assim. Ninguém é invencível, Leslie.
Ela desvia o rosto, abrindo um sorriso que não chega aos olhos. Leslie
muda de assunto com maestria e eu permito, porque provavelmente pensar
no assunto está deixando-a mais machucada do que quer me contar.
Mas não acho que Adam ficará impune para sempre.
Ele não pode ficar.
Depois que descemos para encontrar Nate, o resto do nosso dia passa
como um furacão. Corremos com as malas pelo aeroporto para pegar o
nosso voo e eu mando uma mensagem para meus pais avisando que
estamos a caminho enquanto Landon permanece indiferente, com o rosto
enfiado dentro de um livro.
São mais de três horas de voo de Los Angeles para o Kansas, então
aproveito para assistir na pequena TV do avião alguns episódios de Friends.
É uma pena que eles não tenham as temporadas de Keeping Up With The
Kardashians disponíveis no catálogo. Preciso me lembrar de mandar um e-
mail para a companhia aérea depois.
Nate está sentado na cadeira do meio e em determinado momento pede
para assistir comigo. Nós dois dividimos o fone de ouvido enquanto Landon
tira um cochilo. Por alguma razão, essa cena simplesmente se encaixa. É
como se tudo estivesse no seu devido lugar.
Assim que chegamos no Kansas e começamos o desembarque, Nate
puxa o celular para mandar uma mensagem para o pai. No entanto, isso nem
seria necessário. Porque o prefeito Andrew nos espera com uma placa
enorme e um sorriso de orelha a orelha.
— Nate! — Puxo a manga de sua camisa, indicando seu pai com a
cabeça.
As bochechas de Nate coram quando as pessoas começam a encarar e eu
acho a coisa mais fofa. No cartaz do prefeito Andrew está escrito “campeão
da liga universitária de beisebol da Califórnia” e vários tubarõezinhos
bravos ao redor, que é o símbolo dos Angry Sharks.
— Isso não pode estar acontecendo — resmunga Nate, morrendo de
vergonha.
Eu sinceramente não consigo entender o porquê. O cartaz está lindo e dá
pra ver nos olhos enrugados do prefeito o quanto ele sente orgulho do filho.
— Espero que você esteja ciente do fotógrafo — Landon comenta,
deixando Nate horrorizado na mesma hora.
— Que história é essa de fotógrafo? — pergunta ele, em choque.
Encolho os ombros.
— É uma surpresa — brinca Landon e eu decido mudar de assunto.
— Oi, prefeito! — grito, segurando minha mala e correndo em sua
direção. Ele abre os braços para me dar um abraço e eu tento me convencer
de que não é estranho eu ir até ele primeiro que Nate quando nem somos tão
chegados assim.
— Leslie! Já faz um tempo, hein?
Assinto com um sorriso de canto nos lábios. Teoricamente não faz tanto
tempo assim, já que nos encontramos em um dos jogos do Nate em
Granville, mas eu estou usando a técnica dos pinguins de Madagascar.
“Sorrir e acenar”.
— Pai — cumprimenta Nate, sendo seguido por Landon.
Nós quatro ficamos conversando por alguns segundos antes de
decidirmos pegar a estrada. São mais três horas até chegarmos na cidade do
interior e quando finalmente avisto a placa de “bem-vindo a Barlow”, sinto
meu estômago contrair involuntariamente.
Nunca pensei que ficaria tão feliz por estar de volta, mas é como a
grande sábia Hannah Montana nos disse uma vez: você sempre encontra um
caminho de volta para casa.
O prefeito nos convida para comer no restaurante da cidade que
adoramos e que inclusive incluiu opções veganas por minha causa, mas
Landon e eu recusamos educadamente. Já são quase sete horas da noite e
passamos o dia inteiro viajando, o que significa que estamos mortas.
— Boa noite, meninas — diz o prefeito, alegre, quando estaciona o carro
em frente à casa de dois andares e com uma cerca branca.
A casa em que crescemos.
Landon e eu nos despedimos dos dois rapidamente e quando desço do
carro, Nate corre atrás de mim. Franzo o cenho, confusa, mas ele segura
meu rosto com as duas mãos e me rouba um beijo tímido. Eu o retribuo na
mesma hora, sentindo borboletas no estômago.
— Espero você na Ação de Graças amanhã — diz com o tom de voz
rouco.
Eu o beijo novamente, sem me importar se estamos dando um verdadeiro
show para o seu pai, que ainda está nos encarando do carro. Landon limpa a
garganta ao nosso lado algumas vezes, mas para mim só existe o Nate.
— Eu estarei lá — respondo com a voz trêmula.
Depois que nos separamos, eu vejo o prefeito levantar as sobrancelhas
para mim. Dou de ombros, com uma cara sem graça, enquanto assisto Nate
entrar no carro e depois os dois sumirem de vista.
Landon e eu pegamos nossas malas e finalmente batemos na porta de
casa. É engraçado estar de volta porque ao mesmo tempo em que meu
corpo reconhece esse lugar como familiar, não consigo pensar nessa casa
como meu lar novamente. A Theta Rho Beta acabou ocupando esse
sentimento dentro de mim.
Mas isso não muda o fato de sentir um arrepio gostoso ao sentir o cheiro
característico de Barlow. A quantidade de árvores deixa o ar muito mais
limpo e eu lembro dos projetos que o prefeito criou depois que a esposa
faleceu. Todos os cidadãos plantaram cerca de duas árvores em memória da
médica Jenny e hoje consigo ver como essa decisão mudou a qualidade de
vida das pessoas.
É o melhor legado que ela poderia ter deixado. Eu tenho certeza.
— Minhas filhas estão de volta! — Nossa mãe, Lailah, abre a porta com
um sorriso no rosto.
Nem precisamos entrar completamente para sentir o cheiro de milho
assado com bolinho de carne. Provavelmente nossa mãe passou o dia na
cozinha para deixar o jantar pronto para quando chegássemos.
— Vocês duas fazem tanta falta! — Ela agarra o meu rosto e enche de
beijos, fazendo o mesmo com Landon na sequência. — Ficamos com tanta
saudade que até tentamos fazer mais alguns irmãozinhos pra vocês!
— Mãe! — Landon e eu a repreendemos em uníssono.
— É verdade! Vocês duas nem parecem que têm telefone, já que não
conseguem atender uma ligação ou responder mensagens!
Tá bom, essa constatação faz a minha garganta apertar. Nossos pais
nunca foram carentes, mas gostam de receber notícias das filhas. Landon e
eu às vezes esquecemos de mantê-los informados, mas é algo que vou tentar
mudar daqui para frente.
Eu e minha irmã nos entreolhamos.
— Desculpa — pede Landon, acanhada.
— As coisas estão uma loucura na Califórnia — concordo, balançando a
cabeça. — Não que seja uma desculpa.
Nossa mãe aperta os olhos, nos analisando com uma expressão divertida.
Ela está com uma das blusas do AC/DC que eu já considerei roubar várias
vezes enquanto crescia e o short jeans de cintura alta combina perfeitamente
com seu estilo.
Landon e eu fomos criadas com música sempre ao redor e isso é
perceptível pela nossa sala de estar. Em cima do nosso sofá-cama estão
pendurados quadros de bandas de rock que somos fãs, além do icônico 1989
da Taylor Swift. Além dela, apenas a Lana del Rey é cultuada por todos nós
sem ser uma banda de rock.
Imediatamente as lembranças de Landon e eu dançando no tapete da sala
voltam com força total. Nosso pai é um dos únicos advogados da cidade,
mas mesmo com uma profissão tida como “séria” ele não deixava de nos
acompanhar. Temos vários vídeos caseiros de quando nós quatro
colocávamos “Paradise City” do Guns N’ Roses no último volume e
dançávamos até perdermos o fôlego.
— Cadê o papai? — pergunto, observando as sutis mudanças da nossa
casa.
Não é muita coisa, mas fico secretamente feliz por nossos pais não se
apegarem às nossas antigas lembranças. Agora que Landon e eu crescemos
e estamos em busca da nossa independência, quero que nossos pais possam
curtir a vida.
— Ele está lá em cima, querida. Foi tomar banho antes de vocês
chegarem. — Minha mãe faz uma careta. — Vocês sabem como ele é.
Ah sim, nós sabemos.
Norman Reese jamais aparece desarrumado. “Você precisa mostrar ao
mundo como quer ser visto”, é o que nos dizia sempre que eu queria sair
correndo para a escola sem nem pentear o cabelo.
— Eu terminei o jantar e só estava esperando vocês chegarem —
anuncia nossa mãe com um sorriso brilhante no rosto. — Querem comer?
— Por favor — confirma Landon e nós duas vamos até a cozinha.
Depois de lavarmos as mãos e nos sentarmos à mesa, mamãe começa a
nos servir. Não demora muito até que nosso pai apareça, usando uma calça
jeans e uma blusa do Guns N’ Roses. Seu cabelo está molhado e a blusa de
manga curta deixa suas tatuagens em evidência.
— Vocês duas cresceram mais dois centímetros na Califórnia, hein? —
brinca ele, se sentando ao nosso lado.
— Isso é impossível — retruco, balançando a cabeça. — Talvez você
tenha encolhido.
Ele sorri, o que deixa a ruga de seus olhos em evidência.
— É, faz sentido.
Nós começamos a conversar sobre a faculdade enquanto eu me sirvo de
milho assado com barbecue e uma lasanha bolonhesa vegana. Dou um beijo
na bochecha da minha mãe para agradecer o cuidado e então nós quatro
jantamos juntos.
Nossos pais nos contam sobre as fofocas da cidade e eu quase caio da
cadeira de tanto rir. De soslaio, percebo que Landon não consegue disfarçar
a alegria que sente por estar aqui também. Ficamos um bom tempo
conversando, comendo e gargalhando e eu me sinto protegida do mundo
novamente.
Que saudades daqui.
Cresci sonhando com o dia em que deixaria Barlow para trás e hoje
lembro da minha infância aqui com carinho. Bem que me diziam que,
depois que a gente cresce, todas as coisas que dizíamos odiar fazem falta.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo…
Me fale, você se apaixonou por uma estrela cadente?
Uma sem uma cicatriz permanente
E você sentiu minha falta
Enquanto estava buscando por si mesmo lá?
Drops of Jupiter | Train
Ele não comentou nada sobre se havia escutado algo ou não, mas eu prefiro
desse jeito. Posso ser cara de pau e às vezes um pouco inconveniente, mas
não tanto assim. Ainda mais quando Nate e eu não estamos namorando
oficialmente.
Quero dizer, não posso chamar isso de “namoro falso” mais. Ele gozou
dentro de mim quando voltamos para a nossa cidade natal, pelo amor de
Deus.
Mas também não houve um pedido oficial ou uma conversa sobre o que
Nate e eu somos. E, confesso, isso me deixa um pouco insegura. Afinal, se
ele me pedisse em namoro, eu aceitaria? Eu estaria pronta para assumir um
compromisso não com data de validade, mas por tempo indeterminado?
Eu nunca vivi isso antes, mas para tudo existe a primeira vez. Certo?
— Vocês dois já conversaram sobre Oklahoma? — questiona Landon, do
seu lado do quarto, sem desviar o olhar do livro que está em seu colo.
— Não. Acho que é melhor esperar — digo. — Não sei como estaremos até
lá.
— Você sabe que ele gosta de você. E você gosta dele. A resposta está aí —
conclui Landon, usando sua caneta para marcar algo no bloco de anotações
que ela está usando para estudar.
Eu sempre fico admirada em como minha irmã tem foco. Ela não
desperdiça o tempo procrastinando como eu normalmente faço.
Dou de ombros.
— É, mas as coisas às vezes não são tão simples. E nem tão óbvias — chio,
pensativa. — Vou esperar a situação com o Adam se resolver primeiro.
Depois eu chamo Nate para conversar. Eu prometo.
— Às vezes as coisas são óbvias sim. Podem não ser fáceis, mas não torna
menos óbvio — reforça, juntando as sobrancelhas. — Você é a minha irmã
e eu te amo. Você sabe disso. Mas eu também amo o Nate e ele é muito
importante pra mim. Não quero ver nenhum dos dois magoados.
— Diz que você vai estar livre hoje à noite — diz ele com a voz ofegante.
Algo me diz que pode ter acabado de sair do treino.
Eu solto um muxoxo.
— Gostaria de dizer que sim, mas eu preciso escrever dois argumentos para
a aula de roteiro e nem sei por onde começar. Além do mais, preciso
terminar dois livros para as matérias de teoria. Não posso me dar o luxo de
sair.
— Que merda.
— Pois é — concordo. — Você não tem aulas como o restante dos mortais?
— Verdade. Mas acho que posso lidar com o Adam sozinha por um tempo.
E além do mais, devo entrar em contato com a Savannah essa semana. Ela
com certeza vai pensar em alguma coisa.
— Não quero que você fique sozinha com ele — resmunga, um pouco
irritado. — Esse cara é perigoso. Tenho quase certeza de que deve haver
algum grau de psicopatia ali.
Respiro fundo.
— Também não quero ter contato nenhum com ele, mas talvez seja
necessário. As fotos que você tirou dele com a outra garota na boate de Los
Angeles não causarão tanto impacto como um depoimento de Sophie. Mas,
para que ela fale a respeito, vamos precisar investigar um pouco mais a
fundo — digo. — Ela já perdoou traição uma vez. Para que ela chute a
bunda dele, vamos precisar de mais que isso.
— Não tenho certeza. Até podemos tentar, mas caras como Adam saberiam
contornar essa situação. Acho que precisamos de algo ainda mais grave.
Familiares demais.
— Sabia que ia acabar te encontrando aqui — diz Adam com uma pontada
de alegria na voz.
Me empertigo, mesmo sentindo que meu coração quer saltar pela boca. Ele
continua bloqueando a passagem e eu me mantenho calada. Só preciso
manter a calma para achar uma forma de ir embora daqui.
— Não disse? E por que será que ela me seguiu até a balada quando
estávamos em Los Angeles então?
— Presta atenção no que vou te dizer, Leslie, e acho bom você prestar
atenção direitinho. Quando eu sair, independente de ser com o seu
namorado ou não, você mantém a Sophie longe do meu caminho. Estamos
entendidos?
Sei que não deveria retrucar. Sei também que Adam é muito mais forte do
que eu e um combate físico entre nós dois me deixaria com mínimas
chances de sair dessa, mas não consigo controlar a minha língua quando ele
diz coisas assim.
— Eu não sou nada pra você, Adam. E a Sophie é minha amiga. Não vou
acobertar seus casos. — Aperto os olhos. — Estamos entendidos?
Por alguns segundos, realmente acredito que ele pode acabar partindo para
cima de mim. Mas o idiota abre um sorriso sarcástico, daqueles que causam
uma sensação ruim na boca do estômago, e dá um passo na minha direção.
Não tenho escolha a não ser andar para trás, sentindo meu coração martelar.
— Eu adoro como você mostra as suas garrinhas sempre que eu falo sobre
a minha namorada. Mas me diga, Leslie, já que vocês são tão amigas… Ela
sabe que você deu pro namorado dela? Duas vezes na mesma noite, pra ser
mais específico. — Ele mostra os dentes, orgulhoso.
Sinto a bile subir pela minha garganta e acho que nunca tive tanto nojo de
mim mesma. Ainda assim, eu ergo meu queixo, porque abaixar a cabeça
para ele jamais será uma opção para mim.
Os olhos de Adam brilham com fúria quando ele me segura pelo braço e
me aperta contra a parede. Eu sinto o calafrio de medo varrer o meu corpo e
começo a fazer uma prece silenciosa para que seja rápido.
— Ela não é louca de me trair, Leslie — sibila ele com raiva. — Ela sabe
que tem muito a perder. Os pais dela não têm dinheiro para bancar a
faculdade dela. O irmão vai perder tudo caso seja despedido. Não importa o
que a sua língua afiada diga, ela sabe que não tem chances sem mim.
— Isso é o que você quer que ela pense — retruco em um fio de voz —,
mas não é justo.
— A vida nem sempre é justa, Leslie. Pessoas como a Sophie são boas de
coração e caras como eu precisam de alguém como ela. A garota para casar.
Infelizmente, às vezes elas não são o suficiente. É aí que precisamos nos
aliviar com as garotas que só servem para foder, como você — diz,
passando o dedo pelo meu pescoço lentamente.
Ele inclina a cabeça para o lado, como se isso o divertisse. Adam parece
um gato brincando com um rato e isso me apavora. É como se ele não
temesse absolutamente nada.
Eu mantenho meu rosto longe do dele, piscando rapidamente para que não
perceba como suas palavras cruéis conseguiram me atingir. Minha garganta
está queimando com a vontade de chorar, mas eu engulo o choro. Não vou
dar o gostinho a ele.
— O que disse?
— Eu disse pra você me soltar — minto, fazendo força para que ele solte o
meu braço. Isso surte algum efeito, porque finalmente estou livre.
Ele caminha alguns passos para trás, analisando nossa distância. Ainda
sinto o medo queimando por dentro e não me atrevo a tentar nenhum
movimento. Não confio nele e estou apavorada de que ele tente fazer
alguma coisa comigo.
— Espero que a nossa conversa tenha sido o suficiente, Leslie. Odiaria ter
que colocar na prática tudo o que eu já te avisei. — Ele aponta o dedo para
mim, o olhar analisando cada centímetro do meu corpo. Sinto uma
necessidade absurda de me esconder, o nojo embolando a minha garganta.
— É mesmo uma pena, sabia? Você bem que poderia aquecer a minha
cama por um tempo… Pena que não sabe ficar de boca calada.
Eu não retruco e ele estala a língua. Adam vira as costas e finalmente vai
embora, então eu sinto o ar lentamente voltar para os meus pulmões. Não
sei quanto tempo se passa até que sinto as lágrimas quentes escorrerem pelo
meu rosto, mas sei que fico ali por muito, muito tempo depois.
“ Eu não quero realmente terminar, nós fazemos acontecer”
É o que você entendeu da minha conversa
Mas você estava errado
Não é fácil pra mim falar sobre isso
The Blackest Day | Lana del Rey
Leslie veio dormir no meu apartamento porque vou viajar amanhã bem
cedo. Concordamos que Landon e ela ficarão cuidando dele para mim
enquanto eu estou disputando o nacional.
Confesso que estou um pouco apavorado ao pensar que a garota mais
bagunceira que eu conheço ficará responsável por cuidar do meu
apartamento. Já consigo imaginar como ela deixará as toalhas molhadas em
cima da cama ou até mesmo as roupas espalhadas pelo chão.
A minha esperança, no entanto, é que Landon consegue ser ainda mais
metódica do que eu. Vou comentar com ela mais uma vez sobre a
organização da casa.
— Preciso te mostrar uma coisa — anuncia Leslie, assim que abro a
porta do meu apartamento.
— Estou curioso.
— Calma aí. Preciso ir para o seu quarto.
Franzo a testa.
— É tão importante assim?
Ela faz uma careta.
— Aposto que você vai amar, Nate. Confia em mim.
Estreito os olhos em sua direção, fingindo não estar tão convencido.
Namorar Leslie é como entrar em uma montanha-russa e é um misto de
emoções todos os dias.
Amo essa garota.
— Vou ficar te esperando na sala — digo, me jogando sobre o sofá.
Ela solta um gritinho e faz uma dança da vitória, o que me arranca uma
gargalhada.
— Tá bom, mas você precisa ficar com os olhos fechados! — diz ela,
animada.
— Agora estou com medo.
— Confia em mim, O’Connel. Tenho certeza que você vai gostar.
Suspiro.
— Você vai acabar me matando, Leslie. Sabe disso, não sabe?
— Para de drama. Eu pelo menos estou trazendo emoção para a sua vida.
Agora fecha os olhos e fica quietinho aí.
Faço como ela manda, sentindo a ansiedade penetrar os meus poros.
Depois de alguns minutos, Leslie está de volta e sussurra que eu posso
abrir os olhos.
— O que você acha? — pergunta ela, sorrindo.
Eu estou sem palavras.
Leslie Reese está usando uma versão feminina do meu uniforme de
beisebol e a logo dos Angry Sharks está bem em evidência.
Ela me encara, em expectativa, usando nada além dessa maldita blusa.
Suas pernas torneadas estão desviando um pouco a minha atenção, mas eu
continuo com meus olhos fixos em seu rosto.
— Meu Deus, Leslie — murmuro, embasbacado. — Você está linda.
— E essa nem é a melhor parte — anuncia ela, antes de se virar.
E é aí que o meu mundo explode em milhões de pedaços e depois volta
ao seu encaixe perfeito. Porque assim que a minha namorada vira de costas,
eu vejo o que está escrito em sua roupa.
Namorada do rei do home run, logo acima do meu sobrenome.
Porra.
Nunca fui uma pessoa muito emotiva e não costumo chorar com muita
frequência. No entanto, vê-la orgulhosamente usando a minha roupa é um
jato a mais de amor que eu não sabia que precisava.
Quando ela vira para olhar novamente para mim, não consigo manter
meus olhos longe dela. Acho que posso estar com os olhos úmidos, porque
sua expressão vai murchando lentamente.
— Ai, não! Era pra ser uma coisa boa — diz ela, se apressando para
correr na minha direção.
Eu seguro suas mãos, beijando delicadamente seus dedos.
— Eu… Só estou feliz, Leslie. Você é muito mais do que eu mereço —
digo por fim. — Obrigado, amor. Isso significa muito.
Ela abre um sorriso convencido, me dando um beijinho na bochecha.
— Eu estava com medo de você não gostar, mas agora que está
aprovado, acho que vou usar isso aqui para torcer pra você em Oklahoma.
O que você acha?
Solto uma risada.
— Eu acho que os caras do time vão ficar com inveja. Nunca nenhum
deles teve uma fã assim.
— E não é incrível? — pergunta ela, animada. — Preciso manter meu
posto de fã número um.
— Ele já é seu.
E não estou mentindo. Leslie é dona dos meus sorrisos, dos meus dias
felizes, da minha paz. Não sei exatamente como aconteceu, mas, de uns
tempos para cá, quando penso em casa, me refiro a ela.
Vou casar com essa garota um dia.
Leslie O’Connel soa bem.
— Por que você está me olhando assim? — questiona ela, apertando os
olhos.
Dou de ombros, sorrindo como um bobo.
— Assim como?
— Com essa expressão estranha. É como se eu fosse um pote de
biscoitos na manhã de Natal.
Eu sorrio novamente. Leslie está se referindo à disputa que tivemos na
manhã de Natal na minha casa em Barlow pelos biscoitos amanteigados que
meu pai fez.
As receitas da minha mãe continuam fazendo sucesso.
— Talvez você seja o meu pote de biscoitos hoje, Leslie. Já parou para
pensar nisso?
— Ai, meu Deus, você é bem esquisito mesmo, não é? A sua sorte é que
eu gosto. Se não, acho que seria um sinal vermelho para eu sair correndo.
Eu puxo seu corpo contra mim, adorando sentir o impacto de nossas
peles. Acho que nunca vou me acostumar com isso. Toda vez que estou
perto dela desse jeito é como se milhares de fogos de artifício explodissem
à nossa volta.
— Não acho que você me deixaria por causa disso. Não queria te contar,
Leslie, mas você é bem esquisita também.
Ela abre a boca, fingindo estar em choque.
— Não sou!
— Ah, é sim. Mas eu até acho fofo.
— Diz uma coisa esquisita que eu já fiz — pede ela, cruzando os braços
e fazendo um biquinho irresistível.
Ela coloca os braços ao redor do meu pescoço e eu a acomodo melhor no
meu colo.
— Bom, teve aquela vez em que você contratou um fotógrafo para nos
recepcionar em Barlow.
— Ei, a nossa chegada foi um grande evento!
— Ou então quando me fez participar de um body shot em uma das
festas do pós-jogo…
— Estávamos em uma missão, Nate. Precisávamos nos enturmar!
— Também teve a vez em que você foi atrás de mim numa boate em Los
Angeles durante a madrugada.
— Você tinha um jogo super importante na noite seguinte e eu não
queria que você voltasse tão tarde! Além do mais, o seu celular não estava
pegando e nós dois sabemos que o Adam é maluco. Eu estava temendo pela
sua vida.
Encaro seu rostinho bravo, sem conseguir resistir a me aproximar e dar
um beijo em seu nariz. Leslie não suaviza a carranca, mas amolece um
pouco mais contra mim.
— Eu sei, e é por isso que eu te amo, Leslie Reese.
Ela ofega, encaixando o rosto no meu pescoço. Nunca vou me cansar de
deixá-la envergonhada assim.
— É engraçado — comento, passando a mão suavemente sobre suas
costas. — Eu sempre fico vermelho quando você faz algum comentário
sexual e você fica assim quando eu declaro o meu amor por você.
Ela levanta o rosto para me encarar, sem jeito.
— Eu te amo, Nate. Só fico com vergonha de ficar falando assim. Gosto
de mostrar.
Arqueio a sobrancelha, roubando um beijo casto de seus lábios. Embora
ela esteja sexy para caralho usando a versão feminina do meu uniforme,
estar com ela assim, encaixada em meus braços, é o que faz tudo valer a
pena.
— Ah é? E como você pretende mostrar isso pra mim?
Leslie abre um sorriso malicioso, chocando nossas bocas enquanto passa
a mão suavemente pelo meu peitoral.
A nossa linguagem de amor pode ser diferente, assim como as nossas
personalidades. Mas, porra, não existe mais nada tão perfeito como nós dois
somos quando estamos exatamente assim.
Juntos.
E, a partir de agora, espero que para sempre.
Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você
Can’t Help Falling In Love | Elvis Presley
Coloco minha mão direita perto da boca e finjo que estou segurando
um gravador. Inspirada em um dos personagens que eu mais amo no
mundo, eu simulo que estou falando com Diana, o gravador usando por
Dale Cooper em Twin Peaks.
— Diana, 14:34, cidade de Granville. Estou, neste exato momento,
ligando o timer de cinco minutos.
Bato na tela do celular que tenho apoiado na pia e ele começa a
rodar.
Cinco minutos.
Quatro minutos e cinquenta e nove segundos.
Cinquenta e oito.
Cinquenta e sete.
Cinquenta e seis.
E neste momento, eu começo a hiperventilar. Olho para o palito com
a ponta rosa e meu martírio ganha vida. O trajeto até a farmácia depois da
aula foi feito no automático. Chegar até meu quarto também. Responder às
perguntas da minha irmã dizendo que estava tudo bem? Automático. Fugir
de qualquer irmã da Sororidade que moro? Um desafio. As cinco
garrafinhas de água que tomei para sentir vontade de fazer xixi? Todas
engolidas rápido demais. Nunca tive problemas para ir ao banheiro, mas
justo hoje, não tinha uma gota dentro de mim para gerar um mísero xixi no
palito.
Na porcaria de um teste de gravidez.
Quatro minutos e trinta e dois segundos.
Como eu pude deixar isso acontecer? Que caminhos eu tomei para
chegar nesse ponto, onde eu não só desconfio de uma gravidez, como
também me apaixonei por Jessie Sanders?