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COPYRIGHT © 2022 MILENA SEYFILD

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Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações mencionadas são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

CAPA
Larissa Chagas

DIAGRAMAÇÃO
Milena Seyfild

REVISÃO
Gabrielle Andrade

ILUSTRAÇÃO
Gabriela (Olhos de Tinta)

ANGEL DOLL
[Recurso Digital] / Milena Seyfild
— 1ª Edição; 2023
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira
3. Jovens Adultos
4. Ficção I. Título
Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico.
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
CAPÍTULO 1 — Angel
CAPÍTULO 2 — Highway to Hell
CAPÍTULO 3 — Rag Doll
CAPÍTULO 4 — Back in Black
CAPÍTULO 5 — You Shook Me All Night Long
CAPÍTULO 6 — Civil War
CAPÍTULO 7 — Wish You Were Here
CAPÍTULO 8 — Burnin’ Up
CAPÍTULO 9 — Snow On The Beach
CAPÍTULO 10 — Dream On
CAPÍTULO 11 — The Great War
CAPÍTULO 12 — I Put A Spell On You
CAPÍTULO 13 — Jaded
CAPÍTULO 14 — Wicked Game
CAPÍTULO 15 — Crazy
CAPÍTULO 16 — Iris
CAPÍTULO 17 — Sucker
CAPÍTULO 18 — The Story of Us
CAPÍTULO 19 — Estranged
CAPÍTULO 20 — Right Where You Left Me
CAPÍTULO 21 — Salvatore
CAPÍTULO 22 — Burning Desire
CAPÍTULO 23 — Bejeweled
CAPÍTULO 24 — Sparks Fly
CAPÍTULO 25 — Drops of Jupiter
CAPÍTULO 26 — Mariners Apartment Complex
CAPÍTULO 27 — The Blackest Day
CAPÍTULO 28 — Vigilante Shit
CAPÍTULO 29 — Mastermind
CAPÍTULO 30 — Anti-hero
CAPÍTULO 31 — Karma
CAPÍTULO 32 — Carry On Wayward Son
CAPÍTULO 33 — Until I Found You
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Grumpy x Sunshine. Beisebol. Fake Dating. Enemies to lovers.
Quando Leslie Reese saiu da pequena cidade de Barlow, no interior do
Kansas, para estudar em uma das maiores universidades da Califórnia com
a sua irmã gêmea, Landon, ela achou que sua vida finalmente tinha entrado
nos trilhos.
Com o sonho de se tornar roteirista, as coisas estão seguindo o plano, até
que… Não mais.
Depois de uma festa regada a bebida em uma das maiores fraternidades
de Granville, ela acorda na cama de um completo estranho. Tudo parece
estar indo bem, quando de repente ela descobre que o dito cujo é o
namorado de uma das suas irmãs da sororidade Theta Rho Beta, Sophie - e
que o relacionamento dos dois não é o mais saudável.
Para piorar tudo de vez, Leslie passa a receber ameaças dele e, sem saber
para onde correr, acaba aceitando se enfiar em um namoro falso com o filho
do prefeito de sua antiga cidade, e que atualmente é o rei do home run do
time de baseball da faculdade: Nate O’Connel.
Eles não se suportam.
Mas mesmo com o ranço, decidem trabalhar juntos para destruir o
namorado traidor de Sophie.
No entanto, mal sabem eles que vão acabar presos em um plano muito
maior — o do destino.
Querido leitor, Angel Doll vai contar a história de uma pessoa que está
vivendo um relacionamento abusivo, e se isso for um gatilho para você, não
recomendo a leitura.
Um dos temas que é também levemente abordado é a questão do luto, e
por eu ter perdido meu pai há quatro anos, acabou se tornando algo muito
particular. Se isso também for difícil pra você, acredito que seja melhor
escolher outra leitura.
Ademais, só gostaria de deixar registrado que, assim como a Leslie, eu
também tenho um gatinho preto chamado Salém — e eu também o resgatei.
AD se tornou um livro muito pessoal pra mim, e é uma honra poder
compartilhar com vocês.
Boa leitura!
À todas as mulheres que já se culparam por escolhas que homens
conscientemente fizeram contra elas e seus corpos. Não é a sua roupa, seu
estilo de vida, a bebida que você escolheu e nem o fato de você não
perguntar o estado civil de um cara que chega em você na balada. A culpa
não é sua. A culpa NÃO foi sua.
E para minha tia Cláudia, cuja a história infelizmente foi a minha inspiração
para Sophie. Tia, tenho muito orgulho de você ter conseguido sair disso.
Te amo.
Estou sozinho, sim, e não sei se consigo encarar a luz
Estou chorando e o meu choro é por você
Angel | Aerosmith

Abro os olhos bem devagar.


Pisco várias vezes, tentando acostumar o meu olhar com a claridade.
Depois, com cuidado, retiro alguns dos fios ruivos que cobrem o meu
rosto e me sento lentamente, passando a mão pelo meu pescoço, confusa.
Que porra está acontecendo? Onde eu estou? Que quarto é esse e por
que eu não estou reconhecendo nada?
Puta merda. Landon vai me matar.
E quando eu digo matar, estou falando literalmente. A minha irmã gêmea
não gosta muito de saber que eu me jogo em festas sem pensar nas
consequências, mas devo frisar que acordar na cama de um estranho é algo
que eu mesma evito.
Não tenho problema em transar com alguém que eu conheci numa festa,
mas ir para a casa de um desconhecido? Ah, isso com certeza me colocaria
na lista de Landon de “problemas a serem resolvidos”.
Respiro fundo antes de dar uma espiada no homem que dorme
profundamente do meu lado da cama. Ele tem cabelos claros, quase loiros, e
apesar de estar com o braço por cima do rosto enquanto dorme, tenho uma
ligeira impressão de que ele é muito gostoso. Mordisco o lábio antes de,
cuidadosamente, levantar um pouco o edredom que nos cobria para conferir
o material debaixo dele.
Então o estranho, além de tudo, tem um corpo de matar.
Eu me lembro bem da nossa noite, mas os detalhes do seu porte físico
me passaram despercebidos quando nós… É, você já sabe.
Vasculho o quarto com o olhar rapidamente, buscando onde eu enfiei a
minha calcinha ontem à noite. O tesão desenfreado às vezes pode te colocar
em uma enrascada.
Tentando fazer o mínimo de barulho possível, me visto em tempo
recorde. Em seguida, encontro a minha bolsa jogada no caminho e dou uma
breve olhada no espelho antes de arrumar alguns fios despenteados do meu
cabelo.
Mas é aí que uma dor de cabeça chata começa a aparecer.
Ah, que ótimo! Agora, ainda por cima, estou de ressaca.
Puta que pariu.
Será que tem como esse dia piorar?
Ah, tem sim. Porque agora eu tenho que passar pela “caminhada da
vergonha” e, especialmente neste momento, não estou com disposição para
escutar nenhuma gracinha. Só preciso me localizar para chegar em casa e,
claro, receber todos os sermões de Landon em silêncio.
E tomar analgésico.
E, depois, quem sabe um banho.
Ok, esse lembrete me faz sorrir.
Desço os degraus na ponta dos pés, segurando meus saltos na mão,
tentando ao máximo não chamar atenção de ninguém.
Funciona.
Reconheço vagamente a casa enquanto tento cair fora de lá e
imediatamente vem a constatação de que eu tinha acabado de passar a noite
em uma fraternidade.
Que ótimo.
Não que eu tenha alguma coisa contra qualquer um deles, mas eu
normalmente evito me envolver com caras de fraternidade. Como eu mesma
faço parte de uma sororidade, nós nos encontramos com bastante frequência
e eu gosto da ideia de transar com um cara e não precisar olhar para a cara
dele nunca mais.
Existe uma coisa engraçada com os homens. Eles normalmente chegam
com aquele papo de “ah, mas eu não quero nada sério, vai ser só uma
noite…” e eu me animo porque é exatamente o que eu também estou
buscando. Isso até eu sumir sem deixar rastros e no dia seguinte bloqueá-los
de todas as redes sociais possíveis.
Aí, de repente, eu sou o amor da vida deles e uma vadia fria por não
corresponder o sentimento.
Eles dizem que não querem se apaixonar, mas esperam que você se
apaixone por eles. E quando você não o faz, sentem que o ego deles foi
ferido. E com isso precisam provar para si mesmos que conseguem fazer
você ceder.
Afinal, como você ousa? Você é uma mulher! A sua função é ficar
apegada, ainda mais depois do sexo. Você precisa querer algo mais.
Me desculpa, mas não.
Quero curtir muito a vida antes de conseguir vender um dos meus
roteiros para uma grande produtora de filmes. Depois de três Globo de
Ouros, dois Emmys e um Oscar, aí sim eu posso pensar em me apaixonar e
casar.
Landon, minha irmã gêmea, pensa ao contrário. Não no que diz respeito
à vida profissional, porque embora tenhamos vindo de uma cidade no
interior do Kansas chamada Barlow e crescido por lá com uma vida
simples, sempre sonhamos grande. Sempre quisemos mais.
Ela só não acha que a paixão precisa necessariamente fazer parte da vida
de alguém. Prefere as coisas práticas e simples, sem muita complicação.
Ainda mais depois do desastre que foi o seu último namorado, um com o
qual ela foi se deixando levar, acreditando que daria certo, mas no fim…
Quebrou a cara.
Eu não vou comentar sobre como eu fiquei aliviada quando finalmente
aquela relação acabou. Não que eu torcesse contra os dois ou quisesse ver a
minha irmã chorando noite após noite como eu vi, mas sim porque Landon
era areia demais para o caminhãozinho dele. A minha irmã ainda tem a vida
toda pela frente e quando conseguimos ingressar na mesma universidade,
percebi que aquilo talvez fosse um sinal.
As duas irmãs gêmeas na Universidade de Granville, na Califórnia,
morando na mesma sororidade e com uma disposição enorme de festas e
caras gatos universitários? Alô, é comigo mesma. E com a Landon de vez
em quando, nos momentos em que consigo convencê-la.
Eu só peço ao universo que possamos continuar unidas mesmo com essa
mudança drástica de rotina. Sabe aquela velha história de se sentir engolida
quando algo é maior do que você? Bom, a vida adulta às vezes causa essa
sensação na gente.
Mas somos Landon e Leslie.
Somos como a lua e o sol.
Yin e Yang.
Nós somos fortes.
E vamos conseguir superar quaisquer obstáculos que forem jogados em
cima da gente.
Nisso eu posso apostar.

É meio estranho caminhar pelo campus descalça, segurando meus saltos


caríssimos nas mãos como se fossem o meu bem mais precioso enquanto
assisto as pessoas saírem cambaleando de dentro de outras fraternidades e
sororidades em um estado até pior que o meu.
As festas normalmente acontecem nas quarta-feiras, e embora eu tenha
ficado desanimada quando descobri isso, logo percebi que não fazia a
menor diferença. Mesmo mortos e de ressaca na manhã seguinte na sala de
aula, a maioria de nós fazia o esforço pela chance de encher a cara e trepar
com alguém até o sol nascer.
Parece o paraíso, não?
— Ah, ela finalmente chegou — anuncia uma das minhas irmãs da Theta
Rho Beta, a sororidade que Landon e eu fazemos parte.
— É, eu discordo disso aí. Meu corpo está presente, mas acho que a
minha alma está perdida em algum lugar entre a cama do cara que eu
acordei e o resto da dignidade que me resta.
— Você é sempre tão engraçada — diz Sophie, a menina responsável por
tomar conta do lugar. Ela é a nossa espécie de líder. — Estávamos
preocupadas com você, Leslie. Normalmente você avisa quando vai dormir
fora.
— É, bem, eu vacilei — respondo, retirando alguns dos fios que caem
sobre o meu rosto. — A Landon já foi pra aula?
Sophie abre um sorrisinho de canto, revirando os olhos.
— É óbvio que sim. Ela já deve estar na terceira tarefa do dia.
— Merda — resmungo, recostando meu corpo na porta atrás de mim. —
Bom, é isso. Talvez os meus restos mortais sejam encontrados em breve.
Diga aos meus pais no meu enterro que eu sinto muito pela tragédia, mas
que, mesmo assim, se puderem, não acusem a Landon formalmente na
corte. Ela tem a vida inteira pela frente.
— Leslie! — Sophie balança a cabeça, segurando a risada. — Tenho
certeza que a sua irmã só está preocupada com você. Mas e aí, como foi a
noite?
Respiro fundo, me dando conta de que não vou conseguir escapar do
interrogatório essa manhã. O lado bom de ter uma irmã metódica como a
Landon é que quando estou chegando em casa pela manhã, ela já está tendo
suas aulas. Raras são as vezes em que ela tem a oportunidade de me
questionar sobre as noitadas que eu orgulhosamente adoro.
Mas esse é o lado ruim de ter ganhado tantas novas “irmãs” nesta casa.
Eu preciso passar por isso toda maldita vez.
Toda.
Maldita.
Vez.
— Por onde você quer que eu comece? — questiono, abrindo um sorriso
forçado para ela.
Sophie solta um gritinho animado e o barulho me faz estremecer. Cacete.
Minha cabeça está me matando e acho que meu rosto transparece isso muito
bem, já que Sophie faz uma cara de arrependida e morde o lábio inferior.
— Ah, me desculpe! Você está de ressaca?
De olhos fechados, eu assinto com a cabeça, usando as pontas dos dedos
para massagear a minha têmpora.
— Infelizmente, acho que ontem à noite eu passei um pouco do ponto.
Será que você tem uma aspirina em algum lugar? Se não tiver, uma arma
serve.
— Leslie, é óbvio que nós temos… — responde ela, com o tom de voz
um pouco mais suave. — Vou pegar pra você enquanto te preparo um café,
pode ser? E assim que você estiver um pouco melhor, vai me contar tudo
sobre ontem à noite. Até os detalhes mais sórdidos.
— Sophie, eu por acaso já te disse o quanto eu te amo hoje? Porque se
não, estou dizendo agora. Você é o amor da minha vida e quando perceber
isso, vai acabar me pedindo em casamento. Eu te amo tanto que nem acho
estranho a sua fixação por saber os detalhes quentes das noites de sexo que
eu tenho.
Ela segura a risada, mas estreita o olhar na minha direção.
— Eu posso não gostar tanto assim de festa, mas não estou morta. Além
do mais, é muito bom viver através dos seus olhos. Você é simplesmente a
garota mais louca que eu conheço.
Faço um biquinho, fingindo uma careta magoada.
— Vou levar isso como um elogio, tá bom?
— E é pra levar mesmo. Adoro a sua liberdade. Só acho injusto que você
pareça uma supermodelo mesmo quando está obviamente de ressaca, com o
cabelo de sexo, cheirando a bebida e ainda por cima descalça. A vida às
vezes é tão injusta, sabe?
Eu não consigo segurar a risada ao encará-la em choque. Porque, cacete,
Sophie é simplesmente uma das mulheres mais lindas que eu já vi! A pele
bronzeada e os cabelos loiros a deixam com uma aparência sexy que eu
mataria para ter.
— Injusto é você se achar menos do que estonteante. Sério, Sophie, eu
literalmente cometeria crimes para ter um cabelo cacheado igual ao seu!
— E eu para ter a cor ruiva do seu.
Nós duas abrimos um sorriso tímido uma para a outra. Depois, eu sigo
em direção à cozinha para tomar uma aspirina e esperar Sophie terminar de
preparar um café para mim.
Já mencionei que eu a amo hoje?
Assim que Sophie finaliza o café, ela coloca uma quantidade
considerável em duas canecas e estende uma na minha direção. Eu aspiro o
aroma forte ao qual talvez eu seja mesmo viciada, antes de dar um gole com
direito a gemido e tudo. Em breve a minha dor de cabeça vai passar e vai
restar apenas a sede incessante que já é característica do dia seguinte após
uma festa comigo.
— Tá bom, agora me conta tudo sobre a festa que você foi ontem!
Eu termino de engolir a bebida de uma vez só, curtindo a sensação do
líquido quente descendo pela minha garganta. Eu sou uma garota meio
estranha às vezes, mas eu realmente tento prestar atenção até nos míseros
detalhes do que acontece no meu dia a dia.
Martin Scorsese disse uma vez que “o mais pessoal é também o mais
criativo”. Como uma futura cineasta, eu tento captar esses pequenos
detalhes, mesmo quando estou apenas vivendo no meu cotidiano.
— O que você quer saber exatamente? — questiono, erguendo a
sobrancelha na direção dela.
Sophie abre um sorriso tímido.
— Vamos começar do começo. Qual era a fraternidade que você foi
convidada para ir?
— Hã… Eu não lembro exatamente, mas acho que foi a Zeta Omega
Tau. Pelo menos acho que foi isso que eu vi quando saía de fininho daquela
casa. O lugar está completamente revirado.
Sophie pisca os olhos rapidamente, dando um gritinho ensurdecedor em
seguida. Eu me encolho, porque a dor de cabeça ainda não foi embora
completamente e a encaro com a expressão confusa.
— Isso é incrível! Você foi para a festa da fraternidade do Adam!
— Quem é Adam?
— Adam Kennedy! O meu namorado.
Isso me pega completamente desprevenida, mas eu não consigo evitar o
sorrisinho de canto que surge ao saber da novidade.
— A doce e boazinha Sophie, que adora ouvir as minhas histórias
sórdidas depois de uma noitada, tem um namorado? Desde quando?
Ela fica completamente corada e morde o lábio inferior. Depois, ergue o
olhar para mim e o brilho de excitação contido neles já me diz tudo o que
eu preciso saber. A garota está completamente rendida pelo tal do Adam.
— Não acredito que você não me contou nada, Sophie!
— Estamos namorando há anos, Les. Desde o colegial. Acontece que às
vezes ele fica tão distante, sabe? É meio complicada a nossa situação. E daí
eu fico insegura e sinto que ele não me ama da mesma forma, entende?
Eu suspiro.
— Se os garotos do colegial são ruins, os homens universitários são os
piores. Os que fazem parte de uma fraternidade são ainda mais, com todo o
respeito. Se quiser me mostrar uma foto do canalha, eu juro que quando eu
o vir, vou falar umas poucas e boas pra ele.
— Não precisa falar nada pra ele, Leslie. Já me acostumei. Acho que só
não somos o tipo de casal que posta foto em redes sociais e anda por aí de
mãos dadas, entende? Mas eu acho que tenho uma foto aqui em algum
lugar…
— Posso ser sincera se achar ele meio estranho?
Ela vira a cabeça para trás e assente rapidamente, sem conseguir
esconder a risada.
— Fique à vontade.
Sophie traz o celular pra perto de mim e mostra a foto de um garoto
loiro, alto e forte. Pelos músculos posso deduzir que talvez ele seja um
atleta, mas é difícil de distingui-los pelo campus. Todos parecem tão…
Iguais.
Aproximo um pouco mais o rosto do celular, sentindo um déjà vu nublar
meus pensamentos. Esse garoto por alguma razão me parece muito familiar.
— E então? — questiona Sophie, parecendo apreensiva.
É aí que me dou conta de que estou analisando a foto do dito cujo há
muito mais tempo do que é considerado normal ou aceitável. Eu pigarreio,
estendendo o celular de volta para ela.
— Ele é bem bonito, Sophie. De verdade.
— Mas…?
Desvio o rosto antes de voltar a minha atenção de volta para ela.
— Mas acho que eu já o vi em algum lugar. E, sendo sincera, do jeito
que eu sou e dado aos lugares que eu frequento, isso não é um bom sinal.
Mas a minha sinceridade não parece abalá-la, porque Sophie só abre
mais um sorriso fofo para mim e retira alguns dos fios loiros que cobrem
seu rosto com toda a delicadeza do mundo.
— É claro que você já deve ter visto ele, Leslie. Você foi ontem para
uma festa na fraternidade do Adam. Não acha que podem ter se esbarrado
em um dos corredores?
Isso não me convence totalmente, mas prefiro concordar com a cabeça,
abrindo um sorriso sincero para ela.
— Você tem razão, Sophie. Deve ter sido isso. Olha, eu tenho aula daqui
uma hora, preciso tomar um banho e colocar uma roupa mais apresentável.
Você quer que eu te espere?
Ela balança a cabeça.
— Não, Les, não precisa. Eu vou sair com o Adam agora, na verdade…
Ele não atendeu o telefone pela manhã e eu estava ficando preocupada. Até
cogitei aparecer na fraternidade para saber se estava tudo bem, sabe? Mas
acho que isso talvez seja coisa de garota pegajosa…
— Ou talvez seja só o que uma namorada preocupada faria, né?
Ela desvia o olhar do meu e isso dispara vários sinais de alerta para mim.
Preciso conhecer esse cara e ver a dinâmica do relacionamento deles.
Embora Sophie tenha dito que não nos apresentou ainda porque acha que o
relacionamento de anos não é recíproco, estou tendo outras teorias sobre o
assunto e não gosto nada disso.
— Bom, de qualquer forma, acho que preciso ir agora. Nos encontramos
hoje à noite?
Eu assinto com a cabeça, assistindo-a acenar para mim enquanto passa
pela porta da frente. Eu a acompanho com o olhar até Sophie sumir
completamente de vista, com esse sentimento estranho ainda apertando as
minhas entranhas.
Preciso investigar essa história mais a fundo.
Vou subindo os degraus de dois em dois até o quarto em que eu divido
com a minha irmã Landon. Ele é simples, embora nossos pais tenham
mandado um dinheiro extra para a decoração. Tem duas camas que ficam
em lados opostos do quarto para que possamos ter nem que seja um pouco
de privacidade, e nem preciso comentar que o lado da Land é simplesmente
uma perfeição de tão organizado, preciso?
Eu, em contrapartida, vou largando minhas roupas e objetos por onde
passo, sem prestar muita atenção na bagunça que eu faço. A minha irmã de
vez em quando pira e começa a limpar o meu lado do quarto, embora eu
sempre repita a mesma coisa: eu sou uma artista, a bagunça reflete a minha
mente criativa.
Bom, é, a Landon também não cai muito nessa.
Depois que fico completamente nua, pego meu telefone para colocar na
playlist especial do Aerosmith para a hora do banho. Vou cantarolando a
letra de “Angel” quando decido dar uma olhada na minha galeria.
Normalmente eu tiro fotos de todas as festas em que eu vou porque depois
elas podem ser úteis para algum projeto da faculdade, além de normalmente
serem engraçadas.
Eu sempre fico bem louca.
Vou passando as fotos e nem percebo quando um sorriso aparece em
meus lábios. Um sorriso que começa a desfalecer quando eu clico em um
vídeo de quinze segundos, meio escuro, que começa comigo gritando
“TOXIC TWINS!” enquanto um cara sorridente agarra a minha cintura e dá
um beijo no meu pescoço.
Ele tem cabelos loiros, porte atlético, olhos azuis e exibe um sorriso de
“quem vai se dar bem hoje à noite”. Meu estômago imediatamente
embrulha e eu sinto vontade de arremessar o meu celular na parede.
O problema? É que esse cara é o motivo de eu ter achado o namorado de
Sophie tão familiar.
Ele é Adam Kennedy.
E eu dormi com ele.
Ontem à noite.
E esse vídeo é a prova disso.
Puta merda.
Hey, mãe, olhe pra mim
Eu estou no caminho para a terra prometida
Eu estou na estrada para o inferno
Highway to Hell | AC/DC

Sabe quando você sabe que fez merda e que precisa confessar, mas
também sabe que as consequências serão brutais e então você prefere
pensar em um plano elaborado para sair da enrascada que você mesma se
colocou?
Não? Nenhuma vez?
Que bom.
Porque eu estou a ponto de surtar.
Nem mesmo a minha aula sobre roteiro foi o suficiente para me deixar
animada. O trabalho principal do semestre vai ser sobre um curta-metragem
em que teremos que formar duplas para um de nós escrever e o outro dirigir,
e mais da metade da turma não conseguiu se conter de empolgação por
finalmente começarem a usar a mente criativa para contar suas histórias.
Bom, todos menos eu.
Porque a minha vida agora está digna daqueles filmes de comédia
romântica ruins, onde você torce com todas as forças contra a protagonista
por ela ser tão estabanada e idiota.
Ela merece sofrer por tomar decisões tão horríveis.
Nem prestei atenção quando Cameron, um garoto fofo que costuma
sentar atrás de mim toda maldita aula, sugeriu para trabalharmos em dupla.
Concordei meio às pressas, querendo desesperadamente que aquela aula
acabasse para que eu pudesse finalmente encontrar a solução de todos os
meus problemas.
Landon.
Ela vai saber o que fazer, não vai? Quero dizer, ela sempre foi uma
espécie de gênia na nossa família e, inclusive, teve uma vez que ela ganhou
uma medalha por vencer as olimpíadas de matemática. Não lembro com
detalhes de como aconteceu, mas sei que a minha família não parou de falar
a respeito por semanas.
Uma pessoa com um QI desse vai saber o que fazer.
Com toda a certeza.

— Eu não sei o que fazer — balbucia ela, tomando um gole do café que
pediu para acompanhar o almoço.
Abro a boca, ultrajada.
— Como assim você não sabe o que fazer, Land?
— Eu não sou uma espécie de mestre dos magos. Sabe disso, não sabe?
Eu ignoro seu olhar inquisidor e dou de ombros, forçando um sorriso
sem graça.
— Claro que eu sei, irmãzinha.
Landon suspira.
— Olha, eu gostei bastante dessa ideia de roteiro. Parece aquele tipo de
comédia romântica barata dos anos noventa… — murmura. — Mas essa
ideia da protagonista ter dormido com um cara que nunca tinha visto na
vida apenas para descobrir que ele é o namorado de uma das melhores
amigas no dia seguinte tem muito potencial para ser possivelmente
problemático. Por que ela não conta pra menina de uma vez?
— É… Complicado. A amiga dela vai ser uma pessoa bem insegura, por
assim dizer.
— Bom, eu acho que ela deve confrontar o namorado traidor. A
protagonista não sabia que ele era comprometido, mas o canalha não tinha
como esquecer, né? Acho que os dois devem contar a verdade.
Estou tentando não esboçar nenhuma reação para a minha irmã gêmea,
porque Landon é perspicaz. Se eu der mais um indício, talvez ela consiga
perceber que a protagonista dessa trama horrível na verdade sou eu, e então
com certeza vai ligar os pontinhos e chegará em Sophie.
Limpo a garganta, abrindo um sorriso.
— É, você tem razão. Ela tem que conversar com ele sobre isso e…
Aceitar as consequências. O que você acha que a amiga vai fazer?
Land volta a beber mais um pouco do seu café, usando o garfo para
mexer no bife com molho barbecue e espiga de milho que pediu para o
almoço. Você pode sair do interior do sul, mas ele não sai de você.
Ela dá de ombros antes de responder:
— Eu não faço a mínima ideia, mas se for uma garota sensata, vai
perceber que a amiga dela fez a coisa certa em contar. E, bom, talvez as
duas juntas possam dar uma surra bem dada nesse idiota. Eu sei que seria
um filme que eu gostaria muito de assistir.
Respiro fundo, meio irritada com as possibilidades que se passam na
minha cabeça. Porque caso Sophie não veja as coisas dessa maneira, a
pessoa que vai levar uma surra provavelmente serei eu.
E eu não gosto muito de apanhar, a não ser que esteja com um cara bem
gostoso em cima de mim.
— Leslie, você está bem? — questiona minha irmã, com a sobrancelha
erguida.
Forço um sorriso em sua direção, assentindo rapidamente.
— Sim, só estou com um pouco de fome. Acho que aquela salada não foi
o suficiente pra mim. Vou pedir alguma massa… Será que eles têm versão
sem carne?
— Eu vi uma galera recomendando muito um macarrão ao molho de
pimentão. Você deveria experimentar.
Eu concordo rapidamente com a cabeça, chamando o garçom do
restaurante com o olhar. Ele não demora muito a chegar à nossa mesa e eu
faço o meu pedido, dessa vez com um café gelado para acompanhar.
Não consigo me lembrar exatamente quando a carne passou a ser algo
nada atrativo para mim, só sei que nunca gostei de consumir peixe e por um
bom tempo aceitava apenas frango. Um dia eu só parei de forçar a carne na
minha vida e me assumi vegetariana, embora ainda consumisse queijo e
leite. Meu plano é cortar o consumo animal completamente com o passar do
tempo, embora não me incomode ver Landon consumir na minha frente.
Estou acostumada com isso a vida inteira, de qualquer forma.
— Ah, aí está você. — Uma voz grossa soa atrás de nós e eu me viro
apenas para dar de cara com ele.
Nate O’Connel.
O rebatedor principal dos Angry Sharks, o time da liga de beisebol da
nossa universidade.
O cara com uma expressão difícil de decifrar, mal-humorado na maior
parte do tempo, viciado em jogar xadrez, filho do prefeito da nossa antiga
cidade e… Ah, claro, o melhor amigo nerd da minha irmã.
Ele tem cachos pretos que, confesso, de vez em quando dá vontade de
passar as mãos para sentir se são tão macios quanto parecem. O corpo dele
cresceu bastante, por assim dizer, desde que começou a focar no beisebol
ainda na minúscula cidade que costumamos chamar de casa.
Não posso dizer que fiquei exatamente feliz ao descobrir que Nate
O’Connel tinha conseguido bolsa integral para a Universidade de Granville
também. Fiquei animada por causa da Landon, mas ele e eu nunca fomos o
que se pode chamar de amigos.
Eu não costumo acreditar que as pessoas têm almas gêmeas, mas se eu
realmente considerasse a possibilidade, poderia afirmar com certeza que
Nate e Landon são a prova viva disso.
Os dois são facilmente irritáveis, sérios, focados e encaram a vida como
uma série de desafios a serem superados. Nunca saem para se divertir e
vivem um estilo saudável que eu não considero certo para ninguém que
ainda não chegou aos cinquenta anos de idade.
— Oi, Nate. — Acena Landon, convidando-o para se sentar com a gente.
Que maravilha.
— Por que você está tão incomunicável durante essa semana?
— Estou muito concentrada nas aulas. Preciso terminar esse primeiro
semestre em primeiro lugar.
— Por que eu não estou surpreso? — brinca, roubando um pouco da
comida dela na cara de pau.
Os dois estão prestes a entrar nessa bolha que só os melhores amigos de
anos conseguem ter. Eu os invejo de vez em quando por isso, porque
embora eu seja o que as pessoas chamam de extrovertida, às vezes sinto que
não consigo manter relações duradouras o suficiente.
Eu fiz amigos no ensino médio e também já criei o meu próprio
grupinho aqui na faculdade, mas essa conexão de anos, confiar totalmente
em outra pessoa? Jamais. A única que conseguiu ultrapassar a minha
camada superficial é a minha irmã gêmea, a minha toxic twin, a garota que
parece um poço de gelo por fora, mas tem o maior coração do mundo
escondido dentro de si mesma.
— Vocês já pediram? — pergunta Nate, dando uma olhada no cardápio.
Esse é um dos poucos restaurantes que têm uma comida sulista
realmente boa, com temperos que nos lembram de casa, então passou a ser
uma espécie de ponto de encontro regular nosso toda segunda-feira.
Nós sempre escolhemos as mesas que ficam do lado de fora para poder
desfrutarmos do ar livre. Há muitas árvores em volta e hoje é um dos raros
dias em que não vemos uma nuvem no céu.
— Sim, já pedimos. Mas, pra ser sincera, eu já terminei de comer e
preciso correr para a minha próxima aula. A Leslie pediu um macarrão e
deve ficar aqui por mais um tempo, vocês podem fazer companhia um para
o outro.
Arregalo os olhos, me dando conta de que estarei na presença do
certinho Nate. Ele também vira o rosto rapidamente na direção dela,
alarmado, mas Landon já está recolhendo todas as suas coisas e arrumando-
as dentro de sua mochila.
Abro a boca para protestar, mas eu me seguro ao perceber o quanto ela
parece alheia ao que está acontecendo.
— Encontro você mais tarde, Leslie. Nate, eu prometo que vou ao jogo
na próxima semana. Até mais, galera.
Nós dois observamos, quase em câmera lenta, enquanto Landon corre na
direção do carro estacionado há poucos metros daqui. O restaurante fica
perto da universidade, mas em dia de aula não arriscamos vir a pé, então
sempre pedimos o serviço de táxi da Universidade.
— Você não precisa ficar se não quiser — diz Nate, com uma expressão
entediada. — Na verdade, eu tenho certeza que você deve ter alguma coisa
melhor pra fazer, né?
Eu poderia aceitar a sua oferta e vazar daqui o mais rápido possível, mas
a forma como Nate indica que eu posso ir embora me deixa irritada. Eu sei
que ele não é o meu maior fã e, acredite, é recíproco. Mas acho que ele não
precisa deixar tão óbvio o quanto prefere comer sozinho à minha presença,
precisa?
— Eu não tenho nenhum lugar melhor para estar, Nate. E estou
morrendo de fome, então vou continuar bem aqui.
Ele ergue a sobrancelha na minha direção, balançando a cabeça antes de
voltar o olhar para o cardápio nas próprias mãos.
— Se você tem certeza…
— Eu tenho certeza, sim.
— Ah é? Porque eu fiquei sabendo que todos os caras da liga vão para
uma festa daqui a pouco.
Isso chama a minha atenção, então eu me inclino involuntariamente em
sua direção.
— Uma festa? Onde?
Nate abre um sorriso convencido.
— Não sei com certeza, mas eles comentaram sobre um concurso de
camiseta molhada. Ah, e mojitos.
— Meu Deus, será que fica muito longe? Sabe se eles podem me dar
uma carona?
— Claro, Leslie. Eles vão abandonar o treino e fugir para uma festa
misteriosa no meio da tarde. Soa como algo que eu incentivaria, não é?
Eu encaro seu olhar zombeteiro e minha ficha cai na mesma hora. Não
tem festa nenhuma acontecendo, ele só está tentando provar seu ponto.
— Você é um idiota — murmuro, jogando um canudo em sua direção.
Nate mantém a expressão tediosa, colocando o cardápio fechado de
qualquer jeito em cima da mesa.
— E você deveria focar mais na sua vida acadêmica. Jura que você
faltaria todas as aulas de hoje só para mostrar os peitos para um bando de
desconhecidos em uma competição de camiseta molhada?
Inclino a cabeça para o lado, abrindo um sorrisinho malicioso pra ele.
— Andou pensando muito nos meus peitos ultimamente, Natezinho?
Ele pisca várias vezes, pego de surpresa.
— Você endoidou?
— Bom, não sou eu que citou as partes íntimas de alguém na conversa,
foi?
— Eu não citei… Não foi isso que eu… Quero dizer… — gagueja ele,
começando a ficar vermelho. Não entendo o porquê, mas sei que adoro
implicar com ele. — Você me entendeu, Leslie.
— Sim, eu entendo você. Acredite, Nate, não é o único que quer ver os
meus peitos, ou outras partes de mim.
— Leslie!
— O que foi? Você está pensando em tocá-los também?
— Podemos encerrar essa conversa, por favor?
— Mas foi você que citou os meus peitos. Embora eu ache que não
sejam a melhor parte do meu corpo, se é que você me entende…
Nate abre bem os olhos, arfando. Ele olha para os lados
desesperadamente, com medo de que alguém possa estar escutando a nossa
conversa.
— Leslie, me desculpe. Podemos, por favor, parar com essa conversa
inconveniente?
— Mas eu nem comentei qual a parte sua que eu mais quero ver…
— Leslie!
— Posso dizer que começa com p…
— LESLIE!
Jogo a cabeça para trás, caindo na gargalhada. Nate parece desesperado,
o rosto mais vermelho do que um tomate, enquanto tenta manter a
compostura. É tão fácil tirá-lo do sério, mas é incrível como nunca perde a
graça.
— É incrível como você parece que não cresce nunca — resmunga,
mantendo o mau humor de sempre.
Dou de ombros, depois de recuperar da minha crise de riso, limpando o
canto dos olhos que se encheram de lágrimas. Literalmente chorei de tanto
rir.
— Você precisa parar de levar as coisas tão a sério, Nate.
Mas ele não responde mais nada, porque vira o rosto para pedir a
tradicional omelete com batata e molho barbecue que pede desde que nos
mudamos para a Califórnia.
É o mesmo prato que sua mãe costumava fazer para nós três antes de
falecer, há muitos anos.
Crescer em Barlow, uma cidade tão pequena que quase todo mundo se
conhecia, criou esse sentimento de “pertencimento” que eu infelizmente
sinto quando estou na presença dele. Porque, embora Nate não me suporte
desde que me viu dando uns amassos em seu primo de terceiro grau no
banheiro da escola no ensino médio, nunca deixamos de conviver.
Os pais dele eram e ainda são importantes na cidade. A mãe era uma das
poucas médicas que tínhamos naquele fim de mundo, e o pai, bom, é o
prefeito desde que me entendo por gente. Como Landon e Nate sempre
foram próximos, íamos muito para a casa dele depois das aulas, e a comida
de Jenny, sua mãe, é uma das memórias mais marcantes da minha infância,
além de dançar as músicas do Aerosmith com Landon no tapete da sala da
nossa casa.
— Como anda no time, aliás? Já repararam como você é um chato e
começaram a te excluir de todos os eventos legais?
Nate revira os olhos, colocando um boné que ele tirou do bolso para
cobrir seus olhos do sol. Ele é azul e tem a logo dos Angry Sharks.
— Não que seja da sua conta, Leslie, mas não. Os caras me convidam
para todos os lugares que eles vão, eu só não sinto vontade de acompanhar.
— Porque você é um chato.
— Eu não sou chato. Na verdade, você que é.
Me finjo de ofendida, abrindo um sorriso em choque. Depois coloco a
mão dramaticamente sobre o rosto, fingindo soluçar.
— Nate O’Connel, o rebatedor da liga de beisebol, estrela dos Angry
Sharks, me acha chata? Meu Deus, acho que vou me atirar da primeira
ponte que eu encontrar.
Ele estreita os olhos na minha direção.
— Promete?
Abro um sorriso maquiavélico de volta.
— Só se você prometer que vai se atirar na frente de um carro em
movimento primeiro.
— Não sei como você consegue ser tão irritante, Leslie.
— É um dom, na verdade. Eu me esforço bastante para não perder essa
habilidade.
— Posso te assegurar que você parece ter desenvolvido isso muito bem.
Eu diria que a cada vez que eu te encontro, você parece ainda mais irritante.
Coloco a mão na frente do peito, abrindo um sorriso complacente para
ele.
— Obrigada, Nate. Isso significa muito pra mim.
— É por isso que eu não te convido para nenhum dos jogos. — Aponta
para mim, se endireitando na cadeira. — Não conseguimos manter nem
uma conversa decente. Eu sinceramente não consigo entender como a
Landon pode ser a sua irmã.
— Eu não espero que você entenda a biologia, Nate. Se fosse o caso,
tenho certeza que você saberia que esse corte de cabelo repele a maior parte
das mulheres.
Nate fica sem graça com o comentário, mas eu não o retiro, embora seja
totalmente mentira. O cabelo dele é uma das coisas mais lindas que eu já vi,
principalmente quando está molhado e ele precisa tirar alguns fios que estão
grudando no rosto. Já perdi as contas de quantas vezes eu mesma quase fiz
isso por ele.
— Não preciso de conselhos vindos de você, mas obrigado. Posso te
garantir que mulher não vem sendo um problema para mim.
— Esqueci do lance de atleta gostoso e tal. É, isso também funciona. Só
não esquece de usar camisinha por aí, odiaria ver a minha irmã contraindo
alguma doença venérea por sua causa.
Nate fica incrédulo, balançando a cabeça em negação.
— Primeiro, acho que já tínhamos combinado de parar com o papo
constrangedor. Segundo, que porra foi essa sobre a Landon que você acabou
de dizer?
Reviro os olhos, abrindo um rápido sorriso para os garçons que vieram
trazer a nossa comida. Meu macarrão está com uma aparência ótima, então
dou uma garfada com vontade antes de responder o irritado Nate:
— Eu sei que você tem uma quedinha pela Landon, Nate. Não precisa
ficar com essa cara de surpresa, é algo bem óbvio.
— Landon e eu não temos nada além de amizade.
— Isso porque ela ainda não percebeu o quanto você gosta dela.
— Não é verdade, Leslie.
Estreito os olhos na direção dele, com meio macarrão ainda sendo
sugado pelos meus lábios. Não me passa despercebido como o olhar dele se
demora nos meus lábios agora sujos de molho.
— Você não gosta da Landon então?
— Eu gosto dela, mas não assim. Ela é a minha melhor amiga e tenho
certeza que ela também não me vê desse jeito.
— Você não acha ela bonita? É isso?
Nate revira os olhos novamente, parecendo sem paciência para nenhuma
das minhas perguntas. Se ele soubesse o quanto isso só me instiga a
continuá-las, aprenderia a camuflar melhor as suas emoções.
— Eu acho ela linda, mas Landon e eu somos quase irmãos. Eu sei que
pra você é difícil manter uma relação com alguém sem levar a pessoa para a
cama, mas às vezes é só amizade mesmo.
Inclino a cabeça para o lado, estudando-o de cima a baixo. Nate seria
com certeza uma opção para mim, caso não fosse tão chato.
— Tem razão, Nate. Se você fosse meu amigo, já teria ido pra cama
comigo há tempos.
Ele cruza os braços na frente do peito, travando o maxilar.
— Não seria tão fácil assim.
— Ah, não? E todos aqueles acampamentos que fazíamos na época da
escola? Eu facilmente entraria na sua barraca. Seríamos aquele tipo de
amigos que iriam assistir a filmes juntos enquanto aprendiam para o que
funcionava as partes que não deixamos ninguém tocar. Eu te ensinaria como
eu gosto de ser tocada e você provavelmente ia gozar na minha mão por um
bom tempo — sussurro, vendo-o ficar ofegante com a imagem que estou
colocando em sua cabeça. Sorrio. — Mas ninguém ia desconfiar do que nós
dois costumávamos fazer quando estávamos sozinhos, então, um dia, eu ia
pedir para dormir na sua casa. O seu pai ia colocar um colchonete do lado
da sua cama para você dormir, mas eu levantaria de fininho no meio da
noite para deitar ao seu lado. As coisas iam ficar tão quentes que a gente
não iria se aguentar, Nate… — Percebo que ele engole em seco, sem
conseguir desviar o olhar da minha boca. Estou gostando disso. — E você
ia tirar a minha virgindade ali, precisando abafar seus gemidos no
travesseiro para o seu pai não acordar. Eu ia gostar muito, então precisaria
de você o tempo todo. Na escola, depois dos seus jogos, na sua casa,
enquanto nós assistíamos filmes, no chuveiro do vestiário, no meu quarto…
Landon ia ficar chateada porque o melhor amigo dela não ia mais querer
jogar xadrez com ela. Não, porque ele teria achado um jogo melhor para
entretê-lo, não é? E você adoraria brincar com o que eu tenho no meio das
pernas, Nate. Ficaria até obcecado por ela, se eu pudesse chutar.
Passo a língua lentamente pelos meus lábios, fazendo questão de desviar
o olhar para voltar a minha atenção ao meu macarrão de novo. Eu como em
silêncio, adorando saber que eu o tirei do eixo completamente. Nate parece
transtornado, comendo devagar, quase como se quisesse desesperadamente
se teletransportar daqui.
Depois que termino de engolir a comida de uma vez só, jogo meus
cabelos ruivos para trás, passando a bolsa pelo meu ombro.
— Valeu pelo almoço, Nate. — Deixo trinta dólares em cima da mesa,
me inclinando rapidamente para dar um beijo em sua bochecha. — E
embora não sejamos amigos, fica aqui o meu conselho pra você: quando
chegar em casa, tome um banho frio. Garanto que você vai precisar.
Estou me sentindo como um garoto mau
Como um garoto mau
Estou rasgando uma boneca de trapo
Rag Doll | Aerosmith

Respiro fundo antes de bater na porta do quarto de Sophie. Ela não me


responde de imediato e isso piora a ansiedade latente que eu estou sentindo
me consumir.
Porra, será que dentre todos os caras naquela festa, eu tinha que escolher
justamente o otário que namora uma das minhas amigas mais próximas?
Eu jamais vou me perdoar por fazê-la passar por isso, mas é preciso. É a
Sophie, afinal. Ela vai entender o motivo de eu não ter falado com ela assim
que descobri, vai dar um pé na bunda do otário e finalmente vai topar sair
comigo para uma das festas que eu sempre a chamo.
Sim, isso vai funcionar.
— Sophie? — chamo, batendo mais uma vez na porta escura que fica de
frente para a do quarto que divido com Landon.
Ainda não há nenhum som do outro lado, então decido testar a maçaneta.
Giro devagar, sentindo meu coração martelar ao perceber que a porta não
está trancada.
Abro uma fresta pequena para dar uma espiada dentro do cômodo. Não
consigo esconder a cara de surpresa ao ver Sophie sentada na cama, com o
rosto escondido entre as pernas, fungando baixinho.
Puta merda.
Duplo puta merda.
Puta que pariu!
Sophie descobriu.
Ela sabe.
E agora eu não sei como agir, porque a minha melhor amiga parece
arrasada. Mais do que arrasada! Ela está destruída.
— Sophie… — murmuro, caminhando a passos lentos até onde ela está.
Mas a garota loira, cheia de vida e que normalmente está sempre me
analisando com olhares curiosos, mal parece reparar que alguém acaba de
entrar em seu quarto sem o seu consentimento. Eu me sento ao seu lado na
cama, retirando alguns dos fios de cabelo, agora molhados, da frente do seu
rosto.
— Eu não sou boa o bastante, sou? — choraminga ela, com a voz
embargada.
Eu fecho os olhos, respirando fundo. Queria poder abraçá-la até a dor ir
embora de uma vez, mas nada parece fazer essa sensação ruim sumir.
Preciso contar e ser completamente honesta com ela.
— Não tem ninguém que seja melhor do que você, Sophie.
Absolutamente ninguém — digo, incisiva. Aproveito que ela ainda não
gritou comigo ou pediu que eu fosse embora para continuar a passar os
dedos despretensiosamente por seu cabelo, fazendo um cafuné suave em
seu couro cabeludo.
— Isso não é verdade. Se eu fosse boa o bastante, o Adam não estaria
tendo um caso.
Suas palavras me tiram completamente do eixo e eu franzo a testa, sem
saber exatamente do que ela está falando. Tudo bem, talvez eu tenha ficado
com ele naquela noite, mas caso? Eu jamais teria um caso com Adam.
Além de não manter relacionamentos duradouros, o babaca é
comprometido.
— Como assim ‘tendo um caso’, Sophie? — questiono, sentindo meu
coração acelerar.
Ela finalmente se levanta para me encarar. Seu rosto está banhado pelas
lágrimas e os olhos refletem uma tristeza que parte o meu coração. Nunca a
vi tão devastada antes e me mata o fato de ter parte nisso.
Eu causei essa destruição.
Eu.
— Nós dois fomos a um restaurante e o Adam precisou usar o banheiro.
Eu estava mexendo no celular dele… Tá, eu sei que isso não é certo. Mas
eu fiz mesmo assim, e na hora que eu coloquei ele de volta em cima da
mesa do restaurante em que nós estávamos, eu vi a notificação. Stella é o
nome que apareceu. Eu juro que não queria, mas… — Sophie morde o lábio
inferior, quase como se a lembrança fosse dolorosa demais para ela. — Ela
estava agradecendo pelo jantar e pela ótima noite que tiveram. Depois ainda
disse que ele esqueceu uma cueca com ela. Não tem como ser outra coisa,
tem?
Sophie pisca os olhos rapidamente, talvez tentando controlar o fluxo de
lágrimas que começa a descer em cascatas por seu rosto.
Engulo em seco, segurando a vontade que eu mesma sinto de chorar com
ela. Não posso demonstrar fraqueza assim ou talvez as coisas fiquem piores.
Adam é um escroto. Ele é o pior espécime de homem que existe e só me
dá mais certeza de escutar mais a minha intuição. Quando ouvi Sophie falar
sobre ele, imediatamente eu soube que o canalha não prestava. Uma pena
que a minha versão bêbada por alguma razão achou que seria uma ótima
ideia levar o crápula para o andar de cima.
Se eu pudesse voltar no tempo…
— Eu vou terminar com ele — diz Sophie, determinada. — E espero
nunca conhecer a tal Stella. Não quero vê-la nunca, Leslie. E não é porque
eu a odeio ou desejo mal a ela, não. Isso não. — Nega com a cabeça
veementemente, como se estivesse em transe. — Não quero vê-la porque se
eu a vir, vou me sentir inferior. Vou me comparar em tudo e isso vai acabar
com o resto do orgulho que eu ainda tenho. Não sei se… Se conseguiria me
recuperar depois de ver a garota que Adam achou que era mais bonita do
que eu…
— Sophie — eu a interrompo, colocando uma mão sobre o seu ombro.
— Isso não tem absolutamente nada a ver com você. Pessoas sem caráter
não traem pela beleza. Você poderia ser uma supermodelo considerada a
mais linda do planeta, poderia ter a personalidade mais vibrante de toda a
universidade e o QI maior do que o de Newton. Nada disso importa para um
traidor. E você sabe por quê? — Ela inclina a cabeça para o lado, fazendo
que não lentamente. — Porque o problema está nele. É ele que sente um
prazer sádico em enganar alguém. É ele que dorme com a consciência
tranquila sabendo que está mentindo e, às vezes, para mais de uma pessoa.
Não deixe esse idiota acabar com a sua autoestima. Eu posso apostar que
ele não merece.
Ela não responde nada, mas continua com o olhar perdido, como se não
soubesse bem o que dizer. Eu fico ali por mais um tempo, fazendo carinho
em seus cabelos e observando a sua respiração normalizar.
Preciso contar, mas, ao mesmo tempo, como posso dizer isso sem
dizimar a confiança dela? Como posso confortá-la sabendo que eu fui
apenas mais uma no que provavelmente é uma longa lista de mulheres do
Adam?
Eu vou contar pra ela.
Mas antes de fazer isso, eu preciso saber se há outras.
Preciso saber se Sophie é a única namorada ou se existem meninas como
ela, que agora choram em seus travesseiros por um filhinho de papai que
acha que quebrar o coração delas é apenas um jogo.
E quando desmascará-lo, vou contar para Sophie o que aconteceu.
Vou contar tudo.

Subir os degraus da Zeta Omega Tau novamente faz o meu coração


acelerar e não é porque já se passaram das onze horas da noite. O motivo de
eu estar à beira de uma crise de pânico? Bom, talvez porque eu vá enfrentar
o idiota número um.
Eu bato na porta, chacoalhando a mão sem parar. Repetir esses
movimentos quando estou ansiosa ajuda a aliviar um pouco da tensão que
está se formando em meu peito, embora eu esteja ciente de que me enfiei
numa enrascada grande demais dessa vez.
— Ei, Leslie — cumprimenta um dos caras da fraternidade, com um
sorriso brilhante para mim. Eu não me lembro dele, mas pelo sorriso que o
mesmo está me lançando, acho que ele sabe bem quem eu sou.
— Hã… Oi. Eu estou procurando o Adam. Adam Kennedy. Ele está por
aí?
O sorriso dele vai desfalecendo conforme coloca uma mão sobre o
próprio cabelo. Depois dá uma olhada para trás, parecendo confirmar se
ninguém está nos ouvindo, antes de virar para mim novamente.
— Leslie, o Adam não é de compromisso. Normalmente ele pede o
telefone das meninas que o interessam para mais uma rodada, mas não
gosta que elas venham aqui. Você mais do que ninguém deveria saber disso,
né?
Eu reviro os olhos para ele, nada surpresa com o tom malicioso no final
da sua frase. Estou acostumada por ser julgada pelos mesmos caras que
gritam o quanto “eu sou foda e diferente das outras garotas”, quando estou
dançando sem pudores ou indo embora na manhã seguinte sem nenhum tipo
de drama.
Mas eu aprendi também a não ligar. Nenhum homem precisa ter opinião
sobre o que mulheres decidem sobre a própria vida.
A não ser que ele seja o seu pai e ainda por cima presente.
— Olha, eu não estou aqui porque quero uma segunda rodada com o seu
amigo, pode apostar. Preciso conversar com ele sobre uma coisa realmente
urgente. Será que pode chamar ele pra mim?
— Ah, merda. Ele gozou sem camisinha, foi? Você está grávida?
Eu o encaro, sem esboçar nenhuma reação. Acho que se eu abrir a boca,
posso acabar falando algo que vou me arrepender profundamente.
— Não, seu idiota. Não tem nada a ver com o pau do Adam, para ser
mais precisa. Agora será que você pode chamar ele de uma vez, porra? —
repito, controlando a minha respiração em pequenas lufadas de ar.
Estou prestes a socar alguém e não vai ser nada bonito.
— Ei, tudo bem. Não precisa ficar tão agressiva. — Ele levanta as mãos
em sinal de rendição, desaparecendo dentro da casa.
Graças aos céus.
Mais uma insinuação sexual entre Adam e eu e, talvez, eu saísse daqui
direto para a prisão. E dado ao meu emocional no momento, a sentença
acabaria sendo perpétua.
Adam surge poucos instantes depois, terminando de vestir uma camiseta
de qualquer jeito pelo torso nu. Depois que ele a ajeita sobre o corpo, vejo
que seu rosto está corado e os cabelos uma bagunça total, o que me envia
um sinal de alerta imediatamente.
Que merda é essa?
— Ah, oi, Leslie — diz ele, depois de se ajeitar. — Eu não acreditei
quando o Brian disse que era você. Leslie Reese não costuma repetir, é o
que todos os caras me disseram…
— E eu não costumo mesmo — eu o corto, sentindo uma fúria
descomunal me tomar dos pés à cabeça.
A expressão arrogante, a postura relaxada, o sorriso malicioso de alguém
que não está nem aí por ferir os sentimentos de uma garota legal como a
Sophie.
Adam Kennedy é a personificação do idiota que garotas como eu
aprendem a identificar desde o colegial. É sempre o bonitinho que gosta de
esconder as inseguranças exibindo uma fachada de “macho alfa”. Ele trai e
se orgulha disso, porque na verdade precisa de validação por ser um merda.
E eu me rebaixei nesse nível.
Céus.
— Se não quer ficar comigo outra vez, por que está aqui? — pergunta
ele, cruzando os braços em frente ao peito.
Sem hesitação, dou um passo à frente, estufando o peito e empertigando
os ombros.
— Eu sei que você tem uma namorada, Adam.
Ele pisca lentamente, confuso.
— E daí?
— Como assim ‘e daí’?
— É isso mesmo que você ouviu. O que tem a minha namorada?
Eu abro a boca, em choque. Não sei porque exatamente me sinto tão
surpresa, mas acho que no fundo eu estava esperando que ele ao menos se
justificasse. Queria que ele se importasse o suficiente para tentar lutar por
ela.
— Você não merece uma menina como a Sophie e pode ter certeza de
que ela vai ficar sabendo sobre a sua traição.
Mas nem isso o abala, porque Adam, ao contrário do que eu estava
pensando, abre um sorriso predador em minha direção. Depois passa a
língua suavemente pelos lábios.
— É a sua amiguinha Sophie que não merece mais nenhum segundo da
minha atenção — atira de volta, com uma expressão enraivecida. — E na
boa, eu até gostava de você, Leslie. Sem drama, sem complicação. Mas vir
aqui só pra me dizer isso foi desnecessário. Eu vou aparecer na Theta Rho
Beta mais tarde, levar umas flores e chocolates, pedir perdão e ela ainda vai
me cavalgar pela madrugada inteira. Da mesma maneira que você fez,
lembra?
Dou um passo para trás, cambaleante.
— Você é um porco! — grito, furiosa.
Ele estreita os olhos para mim.
— E você é uma vadia! Estamos quites então, não é mesmo?
Não me sinto nada abalada com a suposição que ele faz sobre mim. Na
verdade, isso só me dá mais combustível para encará-lo de cima, sem
perder a postura.
— Eu posso ser uma vadia, mas pelo menos não sou mau caráter. E você
que além de ser um tremendo filho da puta, ainda é um escroto?
Adam me lança um olhar furioso, abrindo um sorriso maquiavélico que
me causa arrepios logo em seguida.
— Pode dizer o que quiser pra Sophie, Leslie. Eu te desafio. Diz pra ela
como você não sabia quem eu era e sobre como me confrontou quando
descobriu. Eu posso te assegurar que não é a primeira vez que eu faço isso e
saio impune. — Ele solta uma risada repleta de escárnio, como se o
pensamento o entretesse. — Ela não pode me largar, Leslie. Não seja
ingênua.
— Ela vai te dar um pé na bunda quando soube o que você anda
fazendo…
— Engraçado você mencionar isso. — Ele sorri, mordaz. — Porque eu
aposto que ela não te contou sobre mim quando se conheceram. Contou?
Você é caloura, Leslie, mas Sophie e eu estamos juntos há mais tempo do
que consigo me lembrar. Ela já me perdoou diversas vezes, pelas mais
diferentes razões, e tenho certeza que continuará assim. É conveniente pra
ela e principalmente para a família dela que o nosso namoro dure por muito
tempo.
Franzo a testa, confusa.
— Como assim?
Isso faz com que Adam abra um sorriso imenso, daqueles que mostram
os dentes e tudo. Eu sinto um arrepio varrer sobre a minha espinha, mas
tento ignorar isso.
— Então você e ela não são tão amigas assim, são? Porque acho que ela
teria te contado sobre o irmão mais velho dela. Ele trabalha pra minha
família e tem ascendido muito rapidamente. Algo bem difícil para alguém
que acabou de se formar na faculdade, não acha? E o melhor de tudo é que
o dinheiro que ele ganha é alto o suficiente para a Sophie conseguir se
manter na universidade pelo segundo ano, porque se fosse depender dos
pais, ela precisaria pegar um empréstimo. Você não iria querer que ela
perdesse tudo, não é, Leslie?
Engulo em seco, as engrenagens na minha cabeça começando a girar.
Sinto vontade de gritar a plenos pulmões, agarrar o pescoço de Adam e
torcer até que o sorriso convencido se esvaia de seu rosto cínico. Quero
tanto socá-lo que posso quase sentir o nó dos meus dedos doerem.
Porra.
— Você não pode obrigá-la a ficar com você — cuspo, cheia de raiva.
Adam passa a mão pelos cabelos despenteados com uma expressão que
grita “eu venci!”.
Ele me desarmou completamente.
— É verdade, eu não posso obrigar a Sophie a nada. Mas… Eu posso
obrigar você.
— Só nos seus sonhos — retruco, rangendo os dentes.
— Eu não teria tanta certeza se fosse você, Leslie. A sua irmã faz
engenharia, não faz? Aposto que ela vai tentar conseguir um estágio na
empresa da minha família. É a maior empreiteira dessa cidade e uma das
maiores do estado. Posso fechar tantas portas pra ela que vai ser
praticamente impossível se manter aqui. Além de, claro, mandar o
irmãozinho de Sophie embora. Você não vai ser só a vagabunda que dormiu
com o namorado da sua amiga, mas também a responsável por acabar com
os sonhos dela e da sua irmã. Que tipo de monstro faria algo assim, Leslie?
Eu desvio o olhar do seu, me sentindo como o ser humano mais burro da
face da Terra. Isso não pode ser verdade, pode? A Sophie teria me
contado… Mas nós duas só falamos sobre a minha vida. Sobre as festas que
eu costumo frequentar, os caras que eu costumo sair… Ela nunca me contou
muito sobre a sua vida.
E Landon… Eu sei que a Land quer muito começar a trabalhar na área
em que escolheu. Minha irmã possui tatuagens por todo o corpo e apesar de
ser uma forma dela expressar tudo que guarda dentro de si e dela amar as
artes que desenhou em seu corpo com toda a força, eu também sei que, no
fundo, ela se preocupa que isso possa colocar a credibilidade dela em
cheque quando for atrás do primeiro estágio.
Eu destruiria as suas chances em uma empresa de renome.
A das duas.
O que foi que eu fiz?
Adam solta uma risada sem humor, com um ar convencido.
— Foi uma ótima conversa, Leslie. Espero que agora você entenda em
que pé estamos. Ah… E mande notícias para a Sophie. Diga a ela que eu
apareço por lá mais tarde. — Pisca, sem nenhum remorso, antes de bater a
porta na minha cara.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao encarar a fachada da
fraternidade que antes costumava ser uma parada obrigatória nas festas de
quarta. E com uma convicção que não entendo como continuo sentindo,
murmuro para mim mesma:
— Isso não acabou aqui, Adam. E eu posso te prometer que vou achar
uma forma de desarmar você e libertar a Sophie. Nem que seja a última
coisa que eu faça.
Estou só olhando para o céu porque ele está me deixando feliz
Esqueça o velório porque nunca morrerei
Tenho nove vidas, olhos de gato
Back in Black | AC/DC

Uma semana se passou desde que descobri a trama macabra envolvendo


Adam e Sophie. Quando voltei para casa naquela mesma noite, por um
segundo cogitei jogar tudo para o alto, mandar todos para o inferno e contar
tudo para ela de uma vez.
Mas então refleti que, na verdade, a minha amiga estava presa numa
armadilha. Uma que ela não conseguiria sair sozinha, pelo visto. Eu
contaria para Sophie tudo no tempo certo, quando ela já não estivesse mais
nas garras daquele idiota.
E quando ele não tivesse mais poder nenhum sobre ela.
O problema? Eu não fazia ideia de como começar. Não sabia como fazer
para achar algo comprometedor dele ou se o certo seria pesquisar sobre seus
pais.
Com o passar dos dias, cheguei a conclusão que Landon com certeza
seria a pessoa mais habilitada para traçar um plano. O empecilho,
obviamente, é que a minha irmã mais velha por apenas cinco minutos não
faz a menor ideia de nada. E, sendo franca, não pretendo abrir o jogo tão
cedo.
O canalha do Adam estava certo, no final das contas. Ele apareceu na
nossa casa no dia seguinte, usando uma roupa que provavelmente custa
mais do que todos os nossos móveis juntos, cheirando ao último perfume da
Versace lançado na Europa. Ele estava segurando um buquê de rosas
vermelhas e uma caixa de chocolate suíço que um dia eu mesma comprei
para subornar o Nate. Eu precisava muito que ele deixasse que eu colasse
na prova de matemática no último ano do ensino médio.
Sophie, de início, resistiu e eu me senti aliviada. Mas ele não precisou
insistir muito para que ela cedesse, se derretendo contra os braços do idiota.
Quando ele a abraçou, pude jurar que os olhos frios se fixaram nos meus.
Ele ostentava um sorriso de “eu venci!”, que me deu nos nervos.
Eu quero tanto socar aquele rostinho…
E agora aqui estou, procurando desesperadamente uma solução para o
pior problema em que entrei. Há dias que não vou a uma festa e, sendo
sincera, tenho evitado Sophie a cada dia que passa. Ela com certeza reparou
o meu afastamento, mas, sendo a pessoa pacífica que é, não fez nenhum
comentário a respeito.
Melhor assim.
Não posso lidar com os questionamentos dela agora, porque eu acabaria
abrindo o bico e o Adam iria descontar tudo em pessoas inocentes. Duas
meninas que não merecem sofrer as consequências dos meus atos.
Eu me enfiei nessa e eu vou tirar.

— Leslie, será que você tem alguma roupa pra me emprestar? —


pergunta Landon, torcendo o nariz para a pilha de roupa suja que eu deixei
amontoar no chão.
Eu desvio o olhar do meu caderno de anotações cujo título está
destacado diversas vezes e diz: “ACABAR COM A RAÇA DE ADAM
KENNEDY ATÉ QUE NÃO SOBRE NADA!”, e olho para ela.
— Roupa pra quê?
Landon revira os olhos, abrindo o meu armário sem cerimônia alguma,
impaciente.
— A festa que vamos dar hoje à noite. Lembra? Você só falava dela
algumas semanas atrás… E me encheu tanto o saco que eu acabei topando
participar disso. Já estou começando a me arrepender.
Ai, merda.
Merda, merda, merda!
Eu não acredito que esqueci da festa de hoje. Estamos cobrando entradas
de pessoas de todo o campus para conseguirmos custear mais alguns itens
de cozinha e eu ajudei em boa parte da organização.
— Eu esqueci completamente disso — confesso, dando um pulo para
fora da cama.
Landon enruga a testa para mim.
— Você esqueceu de uma festa? Alguém morreu e eu não estou
sabendo?
Eu a empurro para o lado gentilmente, vasculhando todos os meus
vestidos com certa pressa. Eu adoro roupas verdes porque contrastam muito
bem com meu cabelo ruivo, então vou dando prioridade para todas as peças
que tem esse tom.
— Ninguém morreu, eu só estava com outras prioridades essa semana.
Ai, puta que pariu! A gente tem que vir acompanhada, né?
— Sim, Leslie. A propósito, isso foi ideia sua, para que eu interagisse
mais com as pessoas.
Eu a encaro, completamente estática.
— É em momentos como esse, Land, que você pega essa fita aqui —
seguro o esparadrapo que deixo dentro da minha gaveta para casos de
emergência, sacudindo-o na frente do rosto dela — e coloca na minha boca
várias vezes. Depois você procura uma corda e enrola nos meus pulsos e aí,
SOMENTE aí, você liga para um hospital e manda me internar, PORQUE
EU SÓ POSSO TER ENLOUQUECIDO DE VEZ!
— Ei, para com isso. — Landon já está acostumada com meus
comentários sarcásticos desesperados, então mantém sua expressão neutra.
— Isso com certeza não é problema pra você. Só encontre um cara aleatório
no seu telefone e convide-o para vir à festa, Leslie. Opção para você é o que
não falta.
— Não é assim tão simples, Landon! Eu não posso repetir encontros
assim… Ele vai se sentir especial porque eu repeti a dose. Eu estou
construindo uma reputação e preciso mantê-la.
Landon revira os olhos mais uma vez, pegando uma saia de couro curta e
uma das minhas inúmeras blusas do Aerosmith, nossa banda favorita. Nós
duas nos apelidamos de “Toxic Twins” por causa do Steven Tyler e Joe
Perry. Mas a nossa toxicidade provavelmente vem do fato de gostarmos
muito de molho barbecue, que embora me remeta à época em que eu comia
carne, não deixa de ser uma dádiva dos deuses. Não usamos drogas como os
membros da banda.
— Eu vou usar isso — diz ela, me mostrando a roupa.
— É legal porque suas tatuagens vão ficar à mostra — respondo, em
meio a um suspiro. — O que eu faço?
Ela simplesmente dá de ombros, como se eu não estivesse no meio de
uma CRISE.
— É só você não ir com ninguém, ué. Você não vai ser barrada só por
não ter um acompanhante. Você foi uma das que votou para essa regra
idiota valer, acho que estaria tudo bem se fôssemos simplesmente
desacompanhadas.
— Você vai sozinha?
Landon me encara.
— Ainda não sei. Estou pensando se vale a pena gastar a minha bateria
social com algum cara desta universidade.
Eu abro um sorriso malicioso.
— Você não precisa gastar a sua bateria social, você pode chamar o Nate
ou o…
— Não.
— Mas ele…
— Não, Leslie. Nem se atreva a repetir essa frase — avisa, com um
olhar ameaçador.
Um fato sobre a minha irmã gêmea: ela realmente consegue ser
assustadora quando quer. Uma vez eu me recusei a abaixar o som quando
ela estava tentando se concentrar em uma redação para a escola e eu acordei
com uma franja. Depois desse dia, sempre que ela me pedia para desligar a
música, eu desligava.
Eu ergo minhas mãos em sinal de rendição, me fazendo de inocente.
— É só uma sugestão. Ele está muito mais gato do que eu me lembrava,
sabia? Esbarrei com ele esses dias. Eu posso jurar que agora ele também faz
parte de uma banda, o que só o deixa ainda mais gostoso…
— Leslie, se você for começar a falar sobre ele, vou embora.
— Ah, qual é, Land? É engraçada essa relação entre vocês dois…
— Não tem relação entre o Jessie e eu, Leslie!
— AH! — Aponto o dedo para ela, fazendo uma dancinha da vitória. —
Você disse o nome dele, não eu. E há controvérsias. Competição e ódio
também são considerados uma relação, sabia?
Ela bufa alto, quase como se estivesse por um fio de usar o esparadrapo
em mim de verdade.
— Jessie é tão insignificante pra mim que nem odiar ele eu consigo.
Agora para de se concentrar em mim e pense em você. Já decidiu o que vai
fazer?
Eu agarro um vestidinho verde que fica um escândalo no meu corpo,
com alcinhas finas, e seguro contra o meu peito. Depois me jogo
dramaticamente sobre a minha cama bagunçada e solto um grito sofrido.
— Vou considerar isso um não — murmura Landon, ainda de pé. —
Você sabe que tem uma coisa que é bem eficaz e consegue te arranjar um
encontro inédito em poucos minutos, não sabe?
Eu tiro o vestido do rosto, me sentando de supetão na cama.
Caralho, se ela tem essa solução, por que diabos Landon não me disse
de uma vez?
— E o que seria isso?
Landon balança a cabeça e me encara de forma irônica.
— Tinder, Leslie. Pelo amor de Deus, essa tava fácil.
— Ai, desculpa se eu não consigo pensar tão rápido como você —
resmungo, procurando o meu celular pela bagunça. — Mas, obrigada,
irmãzinha! Você é a melhor das melhores! O que seria de mim sem a sua
infinita sabedoria?
— Eu não sou sábia, Leslie, só não entro em desespero antes de tudo dar
errado. — Landon abre um sorriso de quem sabe das coisas, me encarando
sem piscar. — Mas apesar de ter dado a ideia, pense bem se a melhor opção
pra você é o Tinder…
— Não se preocupe com isso — a interrompo, já concentrada em baixar
o aplicativo de namoros. — Estou com um pressentimento bom. Algo me
diz que isso vai dar muito certo.

— AI, PUTA QUE PARIU! — resmungo depois de desfazer o match do


terceiro cara seguido.
O primeiro era gatinho e disse estar disponível para hoje à noite, mas
pediu para eu enviar uma “foto de agora” e eu achei cafona demais.
O segundo até tinha um papo maneiro e tal, estava começando a me
interessar, mas então ele soltou uma frase que achei familiar demais.
Quando fui olhar a foto do sujeito, percebi que saí com aquele umas duas
semanas atrás.
E o terceiro, que apesar de parecer muito mais velho do que eu
normalmente costumo sair, até estava interessante. E existe uma primeira
vez para tudo, não é mesmo? Bom, era isso que eu pensava, até ele me
oferecer trezentos dólares para mandar “uma sequência de fotos dos meus
pés, em poses variadas, acariciando as coisas e com uma tornozeleira de
brilhantes em volta, que, claro, ele faria questão de me enviar”.
Desculpa, mas não. NEM PENSAR.
Eu ainda não cheguei nesse nível de loucura, muito obrigada.
Dou uma olhada no horário do meu celular, apressando os passos para
chegar o mais rápido possível na minha próxima aula. Eu não gostava muito
de teoria, mas o professor em questão é um carrasco que dá um ponto extra
para quem é pontual (na boa, que tipo de SÁDICO faz isso?) e eu não estou
descartando nenhuma possibilidade de conseguir ir bem nas matérias.
É com isso em mente que continuo andando, distraída com as
possibilidades que aparecem no Tinder, sem conseguir desgrudar o olhar do
meu celular. Isso até sentir a minha testa colidir contra algo mais duro do
que uma pedra.
Que porra é essa?!
— Ei! — resmungo, dando um passo para trás.
Tinha que ser ele.
Nate O’Connel.
Todo suado, para variar, usando a roupa oficial dos Angry Sharks e
ostentando uma expressão que me faz respirar fundo várias vezes.
— Eu espero que exista um motivo muito bom pra você não estar
olhando por onde anda, Reese do mal.
Ah, que gracinha. Ele voltou com o apelido idiota que colocou em mim
depois de eu ter, acidentalmente, colocado fogo em um dos bonés favoritos
dele na nossa aula de química no colegial. A partir desse dia eu me tornei a
“Reese do mal”, enquanto Landon é a “Reese do bem”.
Se ele souber do que eu o chamo na minha cabeça…
— É claro que tem uma razão muito plausível para eu não estar
prestando atenção, Nate. Francamente, você pensa que eu sou o quê?
— Eu penso que você é completamente maluca, Leslie. E não acho que
seja o único. Desembucha.
Respiro fundo, me dando por vencida. Mostro o meu celular para ele,
que está exibindo a foto de um cara sem camisa e forçando os músculos
mais do que o aceitável.
Nate enruga a testa, sem conseguir disfarçar o julgamento em seus olhos
escuros. Eu arqueio a sobrancelha em sua direção, acostumada com esse
olhar dele direcionado a mim.
— Você não precisa ir por esse caminho, Leslie. Está tão sem opções
assim? Se for o caso, eu consigo te apresentar a um dos caras do time.
Pisco os olhos para ele, subitamente animada.
— Isso seria a minha salvação, Nate! Eu preciso desesperadamente de
um acompanhante para a festa da Theta Rho Beta essa noite. Em outras
ocasiões, eu escolheria com cuidado, mas tempos desesperados exigem
atitudes desesperadas.
— E você jura que levando o senhor músculo ali seu problema seria
resolvido?
Dou de ombros, bloqueando a tela do celular e guardando-o na minha
mochila de Keeping Up With The Kardashians de qualquer jeito.
— Era isso ou o que queria ser o meu sugar daddy. Se você visse as
posições em que ele pediu foto dos meus pés…
— Meu Deus, Leslie.
— É, meu parceiro… — Dou um tapinha nos ombros de Nate, sem
conseguir deixar de notar como ele parece mais forte a cada vez que eu o
vejo. — O mundo dos encontros é uma selva aqui fora, Nate. Difícil.
Ele me encara por longos segundos com sua expressão de tédio habitual.
Eu não sei porque às vezes eu me pegava acariciando seu rosto, talvez para
dispersar sua irritação de sempre. Porque não importa o que aconteça, Nate
O’Connel está sempre puto.
É uma vida meio chata, eu imagino.
E, tá, talvez ele esteja assim sempre que eu o vejo porque o principal
motivo da sua irritação seja eu.
— Você não precisa se humilhar nesse aplicativo e nem precisamos
escolher um dos caras às pressas — diz ele, trincando os dentes. — Eu
quebro esse galho pra você e você fica me devendo uma.
Franzo a testa, sem saber se eu escutei direito mesmo. Ele só pode estar
brincando com a minha cara!
— A Landon não te chamou para fazer companhia a ela?
Nate estala o pescoço, me encarando.
— A sua irmã sabe que festas não são o meu forte e, aliás, nem quero
saber como você convenceu a Land a ir em uma bem no meio da semana.
Não sei se você se lembra, mas como filho do prefeito, o que eu mais fiz na
vida foi participar de festas e eventos beneficentes. Uma a mais ou uma a
menos, qual a diferença?
— Esse não é um momento propício para gracinhas, Nate. É questão de
vida ou morte aqui!
— Ninguém vai morrer se você aparecer desacompanhada em uma festa,
Leslie — resmunga ele, revirando os olhos. Estão vendo? Irritadinho como
sempre! — E a minha proposta é séria. Quer que eu vá com você?
Eu o encaro por longos segundos, semicerrando os olhos em sua direção.
Seria esse um pedido de trégua? Ah, mas veio fácil demais… E além do
mais, eu quero aceitar essa sua oferta. Nate O’Connel é um dos caras mais
gatos da nossa universidade, além de ser o atleta com mais chance de ir para
a Major Baseball League, a MBL.
— Isso parece bom demais pra ser verdade… — murmuro, encarando-o
dos pés à cabeça. — O que você vai querer em troca? Que eu coloque uma
dessas roupas engraçadas e vá para a próxima festinha do time como a
piñata?
Por um segundo, posso jurar que quase arranco uma risada dos lábios
espertinhos de Nate. Meu coração acelera com a possibilidade, porque vejo
aquele canto de sua boca subir poucos centímetros, mas ele logo trata de
voltar à carranca habitual.
— Não seria uma má ideia. Com certeza vou deixar como uma das
opções na hora de cobrar o favor, mas estou falando sério. Posso ir com
você.
— E vai aparecer mesmo? Não é um plano maquiavélico para que eu vá
sozinha no final das contas, né? Você promete aparecer por lá?
Nate torce o canto da boca e, se eu não o conhecesse, poderia jurar que
ele parece um pouco ofendido por eu ter sugerido que ele faria uma coisa
dessas.
— Eu prometo que vou aparecer por lá, Leslie. É só isso que você
precisa?
— Sim, só isso.
— Então para de mexer no celular e presta atenção por onde você anda.
Tem malucos espalhados por todos os lugares e cuidado nunca é demais.
— Ah, eu sempre esqueço de como você é um chato. — Faço uma
careta, batendo continência para ele em seguida. — Não se preocupe,
capitão Nate. Estou indo para a aula como a garota obediente que eu sou…
Ele grunhe.
— Obediência nunca fez parte do seu dicionário, garota.
Não posso perder a chance de deixá-lo sem graça, então abro um sorriso
malicioso antes de retrucar:
— Isso é porque você nunca transou comigo. Eu consigo ser obediente,
submissa e até aceito uma surra para aprender a me comportar. Você pode
usar até um cinto se eu for muito má… Mas só se você deixar eu colocar
você todo na minha boca como recompensa.
Nate aprofunda mais a carranca, olhando para os lados para ter certeza
que estamos sozinhos. Eu caio na gargalhada ao observar suas bochechas
ficarem rosadas, acenando rapidamente ao correr em direção à minha aula.
No entanto, posso jurar que o ouvi resmungando um “vai ser uma longa
noite” antes que eu me afastasse completamente.
Ela me disse pra vir, mas eu já estava lá
Porque as paredes começaram a balançar, a Terra estava tremendo
Minha cabeça estava doendo e nós estávamos fazendo amor
E você me sacudiu a noite inteira
You Shook me All Night Long | AC/DC

Termino de aplicar o rímel nos meus olhos conforme Landon se encara


no espelho. A blusa do Aerosmith está dobrada nas mangas, o que deixa à
mostra a sua tatuagem da arte de “a criação do homem”, de Michelangelo,
além de um livro e flores que ela quis eternizar na pele para expressar
quem ela é por dentro.
Landon também tem um piercing no septo e quando ela veste esse look
mais “bad girl” fica mais evidente ainda como nós duas somos diferentes.
No rosto? Praticamente nenhuma maquiagem. Eu insisti muito para aplicar
um pouco de rímel e, com muita relutância, ela topou. Não costumo pedir
que ela abra mão do seu estilo por mim, de qualquer forma.
Dou uma encarada no espelho, conferindo se o vestido verde que eu
escolhi cuidadosamente para hoje à noite está perfeito. Eu tenho o costume
de fazer isso sempre porque uma vez, ainda na pequena cidade de Barlow,
eu saí de casa para uma festa com um fio solto da minha blusa. O que eu
não sabia é que a costura estava praticamente se desfazendo e… Bom,
digamos apenas que eu costumava chocar os habitantes daquele lugar.
Por coincidência ou não, o anfitrião dessa festa foi o pai do Nate, o
prefeito Andrew. Ele fez o filho tirar a própria blusa para me cobrir e nem
preciso comentar sobre o sermão que precisei escutar do dito cujo, preciso?
— Você ainda vai demorar muito, Leslie? — questiona a minha irmã,
impaciente.
Eu sei que estou abusando muito da boa vontade dela, mas está sendo
mais forte do que eu. Parece que tem alguma coisa faltando… Algo que não
se encaixa perfeitamente.
— Não sei, estou achando que está tudo muito simples.
Landon cruza os braços na frente do corpo, arqueando a sobrancelha
para mim.
— Muito simples? Você está parecendo uma estrela de cinema.
Apesar de considerar isso um exagero, eu sei que estou bonita. Meus
cabelos ruivos estão com pequenos cachos nas pontas e o meu delineado
gatinho nunca esteve tão perfeito. Eu gosto de como o vestido verde
contrasta bem com o meu cabelo vermelho e nunca tive problemas com o
meu corpo. Sou uma menina magra, com peitos de um tamanho pequeno,
coxas um pouco maiores por causa da academia que comecei a frequentar
há alguns meses e, bem, olhos azuis claros.
— Eu não sei… Acho que o vestido é simples demais. Talvez eu deva
procurar um com mais babados e rendas. É, acho que isso vai servir.
— Você não precisa trocar nada, é só colocar um acessório. Na verdade,
acho que sei um ideal pra você — comenta Landon, antes de se virar para o
seu lado do quarto.
Eu enrugo a testa, curiosa para ver o que ela vai me trazer.
Depois de alguns segundos vasculhando algo em sua gaveta, Land se
vira de volta para mim segurando um colar prateado, uma correntinha fina o
suficiente para passar despercebida pelo pescoço, portando asas de anjo no
fundo.
Arregalo os olhos e arfo ao observar a peça mais atentamente. Em
seguida, levanto o rosto para encarar a minha irmã, em choque.
— Onde você conseguiu isso?
Landon simplesmente dá de ombros, como se não fosse nada demais.
— O Nate viu isso em uma loja na época do meu aniversário. Bom… Do
nosso. E achou que seria uma boa ideia me dar de presente, mas não faz
muito o meu estilo. Acho que ele não vai se importar se você usar hoje.
Eu nem dou tempo dela mudar de ideia, porque arranco a peça de suas
mãos imediatamente.
— Nate deveria saber que o que é seu, é meu — balbucio, tentando
passar o colar pelo meu pescoço, mas sem sucesso. — Me ajuda aqui,
Landon.
Minha irmã se coloca atrás de mim na mesma hora e, com muita
delicadeza, coloca todo o meu cabelo por cima do ombro. Suas mãos firmes
não demoram mais do que poucos segundos para fechar o colar no meu
pescoço e quando me vejo na frente do espelho, perco o fôlego.
É isso.
Finalmente estou pronta.

Quando decidimos dar essa festa para arrecadar fundos para uma
pequena reforma na nossa cozinha, não sabíamos se colocar uma taxa para
entrar seria algo efetivo. Estamos falando de universitários, para início de
conversa. E o que não falta numa quarta à noite são festas pelo campus da
faculdade.
E é isso que me choca, de forma positiva, ao ver quanta gente já está
espalhada pela sororidade. Várias pessoas já estão fazendo fila para
participar do Beer Pong ou mesmo para tentar alguns Jelly shots.
— Meu Deus — murmuro, percebendo que a ideia de fazer cada uma
das meninas vir acompanhada foi bastante efetiva.
E como cada um daqui está pagando cerca de dez dólares para conseguir
entrar, posso assegurar que com certeza já batemos a nossa meta.
— Reese. — Sinto uma respiração contra o meu pescoço, o que me
causa arrepios por toda a parte.
Me viro lentamente, apenas para dar de cara com Nate.
Nós dois já nos encontramos em muitas festas e eventos conforme
crescemos juntos, mas acho que em nenhuma dessas vezes eu o vi tão…
Gostoso. O cheiro exalando de sua jaqueta do time, sua fiel escudeira desde
que chegou na Universidade de Granville, entorpece os meus sentidos
imediatamente.
Será que eu nunca notei como os olhos castanhos dele ficam lindos
quando a luz pega exatamente em suas íris?
Nate estreita os olhos para mim, ajeitando melhor o boné do time que
está usando.
De repente me bateu um calor aqui…
— Está tudo bem, Leslie? — pergunta ele, cruzando os braços fortes
sobre o peito.
— Hã… — Respiro fundo, balançando a cabeça. — Está. Está tudo
ótimo por aqui.
Ele faz um aceno com a cabeça e se vira por alguns segundos e eu
aproveito esse momento para me dar dois tapas no rosto, furiosa com a
forma como meu corpo pareceu, do nada, perceber os atrativos físicos de
Nate O’Connel.
É o Nate, afinal. O NATE! O mesmo cara que tirava sarro de mim com
os amigos do time de beisebol do colegial quando eu não conseguia
completar a corrida na aula de ginástica. O mesmo cara que me pegou
dando uns beijos em seu primo de terceiro grau no banheiro dos meninos e
me dedurou para a diretora!
Eu só posso estar ficando maluca.
Quando ele vira para mim, o rosto parece confuso.
— Por que você se bateu?
Eu arregalo os olhos, colocando meus braços para trás.
— Eu não fiz isso.
— Eu escutei, Leslie. E suas bochechas estão bem vermelhas…
— Tinha algum bicho voando aqui perto… — improviso, apontando
com o meu dedo no ar. — Ah, olha ele aqui… Pera, vou pegar e… —
Acabando com o resto da minha dignidade, eu dou mais um tapa na minha
bochecha, me fazendo de idiota ao vê-lo arregalar os olhos. — Tá vendo?
Foi isso que aconteceu. Acho que me confundi, fiquei tonta de tanto ver
ele… rodando.
— Leslie, você tem certeza de que está bem? Eu posso te levar em um
hospital se for o caso.
Trinco os dentes, começando a me irritar com a sua insistência. Ele com
certeza tem razão, mas poxa, será que custa me dar um voto de confiança
pelo menos uma vez na vida?!
— Tenho certeza, Nate. — Abro um sorriso forçado. — Mas e aí,
chegou há muito tempo?
Ele me encara, estupefato, mas logo em seguida parece ignorar toda a
loucura que acabou de presenciar.
— Não, cheguei há uns cinco minutos. E eu vi que vocês estão querendo
arrecadar dinheiro, então tomei a liberdade para chamar alguns dos caras do
time para virem também. Espero que isso ajude. — Franze a sobrancelha,
colocando a mão dentro dos bolsos.
Eu engulo em seco, me odiando por subitamente estar sentindo tanto
calor.
— Isso foi muito legal da sua parte, Nate. Tem certeza de que está bem?
Será que não bateu a cabeça em algum momento vindo pra cá?
Ele me encara.
— Que engraçado, Leslie. Devo dizer que seu repertório tem decaído
muito.
Jogo meu cabelo por cima do ombro, abrindo um sorriso malicioso para
ele. Acho que voltamos ao nosso habitat natural.
— Ei, eu não disse que sempre vou achar boas formas de te irritar, só
disse que nunca vou parar.
— É, eu percebi. — Nate estala o pescoço, parecendo desconfortável por
estar em um lugar com tantas pessoas. É meio estranho pensar que um
atleta se sente assim, principalmente porque ele se tornou uma espécie de
estrela por causa do beisebol desde que chegamos aqui, mas ele e Landon
têm isso em comum. Eles não gostam muito de festas. — A sua irmã está
por aqui?
Estico o pescoço para vasculhar entre a multidão, mas faço que sim com
a cabeça, apontando para o andar de cima.
— Acho que ela ainda não desceu. Vai enrolar lá em cima pelo máximo
de tempo que conseguir — respondo.
— É, faz sentido. Vou falar com ela bem rápido, tudo bem?
Dou de ombros, sem conseguir entender o porquê de me incomodar com
Nate saindo de perto de mim quando mal chegou. Nós dois nunca nos
demos bem, mas ele prometeu que seria o meu acompanhante hoje.
Mas ele só vai falar com a melhor amiga dele um pouco, a voz da minha
cabeça tenta me tranquilizar.
Por fim, abro um sorriso sincero para ele e aviso:
— Vou buscar bebidas para gente. Você quer alguma?
Nate estreita os olhos na minha direção.
— Você jura pela sua vida que não vai colocar nenhum tipo de veneno
no meu copo?
— Olha, eu não prometo nada…
— Acho que vou dizer que não, então — murmura, resignado. — Mas
caso mude de ideia e não tente me assassinar, eu gosto de vodka. Se for
pura, melhor.
— Vodka? Será que ainda não te apresentaram a tequila? — questiono,
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Nate cruza os braços na frente do corpo.
— Tequila é ruim, Leslie. Todo mundo sabe disso. Vodka também não é
a melhor opção, mas acho que vocês não trouxeram Whisky pra essa festa.
— Bom, eu acho tequila muito melhor do que vodka. Acho que você só
bebeu errado…
— Misturar sal e limão é profanação — ele me interrompe, irredutível.
— E não existe forma certa ou errada de beber nada. Eu só não acho bom.
Estreito os olhos para ele, inclinando a minha cabeça poucos centímetros
para o lado. Nate me examina com muito cuidado, quase temendo o que
está prestes a sair da minha boca.
E ele está coberto de razão por sentir isso.
— Você definitivamente bebeu errado, meu amigo. — Coloco a mão
cuidadosamente sobre seu ombro, vendo-o acompanhar os meus
movimentos com muita cautela. — Um dia desses, Nate, vou te apresentar
como se bebe tequila da forma certa. Vou tirar minha blusa pra você,
derramar um filete generoso entre os meus peitos e deixar esse seu rostinho
beber diretamente de mim.
Ele abre a boca, quase soltando um gemido. Isso me pega de surpresa,
porque normalmente Nate só fica vermelho e tenta desesperadamente me
fazer calar a boca. Aparentemente a imagem que coloquei em sua cabeça
hoje o atraiu.
Ai, merda. Isso não deveria estar me excitando tanto, deveria?
Nate está com a respiração ofegante, o rosto ainda virado para o lado, os
olhos fixos na minha mão, que ainda está segurando seu ombro.
Meu coração está acelerado e é como se todas as pessoas à nossa volta
subitamente tivessem sumido.
Não penso muito quando, de repente, mexo o meu dedo levemente sobre
a camada grossa da jaqueta do time. Nate ainda não desvia o olhar quando,
um pouco mais ousada, desvio a minha mão alguns centímetros para a
esquerda, chegando perto, tão perto, de sua clavícula.
É só mexer alguns centímetros que…
— Leslie! — A voz açucarada de Sophie nos interrompe, fazendo com
que Nate e eu déssemos um pulo, quebrando a bolha que de alguma forma
nós dois acabamos de construir. — Ah, eu não sabia que… Ai, meu Deus,
você não é o rebatedor dos Angry Sharks? Leslie, sua piranha sortuda! Não
acredito que você veio aqui com Nate O’Connel! Estamos acompanhando
todos os jogos desde que a temporada começou! O meu namorado, Adam, é
muito fã dos Angry Sharks, ele vai surtar quando souber que você está aqui!
Meu olhar, que ainda estava fixo em Nate, muda completamente o foco
quando o nome do anticristo é mencionado.
Adam está aqui?
— Você disse Adam, Sophie? — murmuro, sentindo o meu coração
acelerar.
A minha amiga ruboriza, mas concorda com a cabeça mesmo assim.
Lanço um olhar cauteloso para Nate, que observa tudo com o olhar
examinador que ele usa para ler as pessoas tão bem.
— Ele está aqui sim. Pensei que seria uma forma melhor de apresentar
vocês dois, já que a impressão que eu devo ter passado dele para você não
foi das melhores, Leslie, e isso não é justo.
Ah, mas você não faz ideia, amiga…
Eu engulo em seco, piscando rapidamente para afastar o sentimento de
culpa que me invade de uma vez.
— Não precisa nos apresentar, Sophie. O Nate na verdade está com
muita pressa, infelizmente não vai conseguir ficar muito.
Minha amiga solta um muxoxo, encarando-o com o cenho franzido.
— Poxa vida, Nate, que pena! Ele realmente adoraria conversar com
você…
Nate abre a boca para responder de volta, mas eu me coloco à sua frente,
bloqueando sua visão de Sophie e interrompendo qualquer possível
resposta.
— Pois é, eu falei pra ele que não deveria ter vindo para início de
conversa. Sábado é dia de jogo, né? Ele precisa começar a se concentrar
nisso desde agora…
— Bom, é realmente uma pena. — Suspira ela, com os ombros caídos.
— Mas quem sabe nós não podemos nos reencontrar por aí, não é?
Faço que sim repetidamente com a cabeça, concordando, embora por
dentro eu repita para mim mesma que jamais vou me colocar nessa situação
novamente. Não até eu conseguir fazer Adam pagar por tudo o que está
fazendo com ela.
Sophie se despede de nós e está quase se virando para ir embora quando,
de repente, solta um gritinho estridente e acena freneticamente para alguém.
Sinto o sangue das minhas veias congelar quando o vejo abrir caminho em
meio às risadas e danças das pessoas à nossa volta, como se estivesse em
câmera lenta.
Não.
Não, não, não.
Porra.
Viro o rosto rapidamente para trás e o desespero deve estar estampado
nele, porque Nate imediatamente se retesa e enruga a testa, confuso. Eu vou
ficar devendo muitas explicações para ele depois dessa noite.
Ah, se vou.
— Amor! — Sophie acena freneticamente, apontando para Nate atrás de
mim, que está completamente perdido. — Olha quem está aqui!
Adam semicerra os olhos, parecendo tentar reconhecer quem a namorada
dele aponta tão incisivamente. Eu engulo em seco, virando o rosto o
suficiente para que alguns dos fios ruivos cubram a minha expressão de
nojo.
— Ei, cara — diz Nate atrás de mim, colocando a mão cuidadosamente
na minha cintura apenas para desviar para o lado.
— Ah, eu estava doido pra te conhecer, bro — responde Adam,
animado.
Eu escuto o cumprimento dos dois e o que seria uma conversa superficial
sobre as estatísticas de Nate para a temporada que vai começar em poucas
semanas. Me mantenho estática, parada, com o rosto virado e os olhos
fechados, rezando para o universo não deixar que ele me reconheça.
Por favor.
Por favor, não.
— Ah, eu vim acompanhado da… Leslie? Por que você está escondida
aí? — Nate me chama, acabando completamente com o meu disfarce.
Não podia esperar só mais um pouquinho antes de me atirar na cova
dos leões, universo? Será que é pedir demais uma ajuda para variar?
E pensar que eu estava cogitando a possibilidade de deixar Nate beber
tequila em mim.
Traidor.
Eu me viro lentamente, sentindo como se a minha vida estivesse prestes
a passar como um filme diante dos meus olhos. Sophie aproveita a deixa
para me puxar pela mão, fazendo questão de me apresentar “decentemente”
para o seu namorado.
Encaro seus olhos frios, me esforçando ao máximo para que nem a
repulsa que eu sinto por ele seja perceptível.
— Muito prazer, Leslie — diz o infeliz, abrindo um sorriso simpático
para mim.
Eu engulo em seco, fazendo um meneio de cabeça em sua direção. Não
vou repetir as mesmas palavras para ele. Eu não vou conseguir.
Sophie nos encara com uma expressão culpada. Provavelmente ela pensa
que eu estou tão relutante em cumprimentar seu namorado pela cena que
presenciei há dias atrás, com ela soluçando e se achando insuficiente por
esse babaca não conseguir manter o pau dentro das calças, para variar.
— É, bom, acho que Leslie e eu precisamos mesmo ir — murmura Nate,
entrelaçando seus dedos nos meus.
O gesto me pega completamente desprevenida e eu encaro nossas mãos
unidas com certa confusão. Depois, observo como Nate está me encarando
sem piscar, obstinado, e aperto seus dedos com mais força.
Eu não me importo quando ele me arrasta para longe de Adam e Sophie
sem fazer nenhuma pergunta, nem quando me leva para a cozinha e se
oferece para tomar shots de tequila comigo.
Não ligo nem um pouco de estar escorada em Nate O’Connel, o garoto
mais insuportável que eu conheci em Barlow e que se tornou o meu
tormento pessoal aqui em Granville, porque só o que eu quero fazer agora é
esquecer.
E farei isso aos moldes de quem não quer lidar com os próprios
problemas.
Vou beber.
Alguns homens você simplesmente não consegue alcançar
Então acontece o que tivemos aqui semana passada
Que é como ele quer, bem, ele consegue
Civil War | Guns N’ Roses

— N-NATE, EU ACHO QUE EU TE AMO! — grito, enquanto pulo


feito uma maluca no meio de um bando de gente que… Eu acho… Que…
Eu não conheço.
A sala inteira está girando, o que é bem legal, porque eu sinto como se
meu corpo estivesse quase flutuando.
— Leslie, acho que você precisa parar de beber. — Escuto a voz do
chato ressoar perto de mim, mas eu conscientemente prefiro ignorar.
Eu continuo pulando, sentindo a vibração do som alto penetrar cada poro
do meu ser. É inebriante me sentir conectada com as pessoas dessa forma e,
por um instante, eu até mesmo esqueço do motivo de ter começado a beber
tanto.
Acho que eu estava chateada por alguma coisa, mas não consigo me
lembrar o porquê.
— Vo-cê dever-ia deixar seu capelo assim, Nate — me embolo, irritada
por não conseguir fazer as palavras saírem da minha boca da forma como
eu as imaginei na mente.
— Assim como? — pergunta ele, olhando para os lados freneticamente,
com certeza me odiando por tê-lo feito vir para essa festa hoje.
Eu suspiro, me jogando para frente. Não tenho medo de cair, porque
Nate imediatamente me apoia em seus braços fortes. Em seguida, eu
levanto minhas mãos até o seu rosto e arranco o boné dos Angry Sharks de
sua cabeça, deixando os cachos escuros livres.
Respiro fundo antes de finalmente afundar meus dedos pelos fios
sedosos, quase tremendo ao encostar em seu cabelo depois de tanto
fantasiar sobre isso. Nate me observa, atento, sem desviar o olhar do que
estou fazendo por um segundo sequer, enquanto eu, com cuidado, uso
minhas mãos para bagunçar suas madeixas completamente.
Ele engole em seco e eu franzo o cenho para me concentrar no que estou
fazendo.
— Assim… — suspiro, admirando o meu trabalho no fim.
Nate O’Connel com o cabelo despenteado deveria ser considerado um
crime. Não é justo que um cara fique tão gostoso dessa forma e eu quase me
sinto idiota por ter deixado-o passar despercebido por tanto tempo.
— Leslie… O que estamos fazendo? — murmura ele e eu posso jurar
que sinto sua respiração entrecortada contra os meus lábios.
Não sei quando Nate e eu ficamos tão colados assim. Sinceramente não
consigo me recordar de ter me aproximado tanto.
Ou será que foi ele?
— E-eu… não xei — respondo, genuinamente confusa.
Ele estala a língua, soltando um gemido frustrado. Nate parece um
borrão na minha frente, eu não estou conseguindo distinguir todas as suas
expressões direcionadas a mim.
— Acho que você está bêbada, Leslie. Está na hora de você ir pra cama
— diz ele, por fim.
Nate dizendo as palavras “cama” e “Leslie” na mesma frase me deixam
imediatamente animada, mas logo percebo que não é exatamente o que eu
gostaria que fosse. Ele está me arrastando entre as escadas, o que significa
que vai me colocar no quarto com a Landon que, como eu deveria
desconfiar, passou a festa toda dentro do quarto e deve estar com os fones
no volume máximo ouvindo alguma banda de rock pesado que ela adora.
Sempre um chato.
— Nate! — chamo, mas ele parece concentrado em me arrastar para
longe da multidão de pessoas. — N-Nate! Aloooô! Nate! Eu p-preciso fazê
xixi!
Sabe aquela cena de filme onde, de repente, faz um silêncio descomunal
e você não entende como todas as pessoas te encaram com expressões de
julgamento já que, na sua cabeça, você falou muito baixo?
É, bem… Acho que isso está acontecendo comigo.
A música provavelmente foi pausada para preparar os convidados para
um dos nossos tradicionais jogos, o que significa que todos me escutaram
falar sobre a minha necessidade de ir ao banheiro.
Bom, que merda.
— Acho que o mundo todo não precisava saber disso, né? — questiona
Nate, com um brilho divertido em seus olhos.
Esse cara é um sádico. Anos convivendo com o “senhor perfeito” e na
primeira vez que cometo uma gafe desse tamanho é quando ele parece
menos como uma máquina e mais como um cara normal?
— Isso é cul-pa sua! — respondo, cambaleando em sua direção ao
apontar o dedo em seu rosto.
As pessoas começam a cochichar à nossa volta e eu posso jurar que
escutei Sophie gritar ao fundo “tomem conta das suas vidas!” enquanto
Nate continua com a expressão irônica direcionada a mim.
Ele ainda vai me pagar por hoje.
— Culpa minha? — Arqueia a sobrancelha na minha direção, sarcástico.
— Acho que foi você que bebeu mais do que deveria. Eu vou te colocar na
cama com a sua irmã e depois vou cair fora.
Eu faço um biquinho, me apoiando um pouco mais no seu ombro.
— Não pecisa, Nate. E-eu juro que se-i o caminho daqui até o meu
quarto.
Mas ele está irredutível, porque até me acompanhar até o banheiro ele
sugere. Depois de muito argumentar, Nate concorda em me esperar perto da
escada enquanto eu vou me aliviar.
Dá para ser mais humilhante? Eu literalmente estou discutindo a
possibilidade dele me escutar fazendo as minhas necessidades fisiológicas!
Depois de deixá-lo em nosso ponto de encontro, vou em direção ao
banheiro. Não sei como consegui me manter em pé enquanto levanto o meu
vestido até a altura da cintura.
Estou terminando de lavar as minhas mãos quando escuto uma batida
incessante na porta.
Reviro os olhos.
Nate realmente acha que eu não sou capaz de fazer xixi sozinha?
— Espera… — balbucio, olhando no espelho para conferir se a minha
aparência realmente parece uma bagunça tal qual minha mente está agora.
Os cabelos ruivos estão espetados para todos os lados, o vestido
completamente torto e ah… Talvez os meus sapatos não estejam tão
perfeitamente encaixados como deveriam.
Mas Nate vai saber lidar com isso.
Ele recomeça a bater na porta e eu me irrito.
— Calma! — peço, terminando de ajeitar a minha calcinha por baixo do
vestido.
Eu disse para Landon que era melhor não ter vindo com uma! Na hora de
arrumar isso com o tecido da roupa fica marcando e se eu não conseguir
camuflar bem, o resultado fica um horror.
Depois de lançar uma última olhada no espelho, vou até a porta e a abro,
com um sorriso malicioso no rosto e uma piadinha pronta para sair.
Mas eu sinto a cor lentamente sumir do meu rosto quando abro a porta e
vejo que quem está parado ali, com um sorriso malicioso no rosto, não é
Nate.
É o Adam.
Minha boca de repente fica seca e eu tenho dificuldade de me manter de
pé, então uso a maçaneta do lado de dentro da porta para me apoiar. Seus
olhos brilham com divertimento e ele me observa atentamente, como se
tivesse acabado de capturar a sua presa.
— O-o que voxê está fa-zendo aqui?
Ela mostra os dentes para mim, usando o cotovelo para abrir um pouco
mais a porta. Eu cambaleio para trás, sentindo meu coração acelerar.
— Isso não importa, gata. A questão aqui é o que você disse pra Sophie.
— E-eu não disse nada…
— Você fez ela duvidar de mim e agora ela acha que pode vigiar todos
os meus passos. Eu preciso que você tenha uma conversinha com ela o
quanto antes e a convença de que tudo não passou de um engano.
— Não!
Ele comprime os lábios em uma linha fina, se inclinando para a frente.
Ainda sinto a minha visão um pouco turva, mas mesmo assim tento me
manter firme.
— Pelo visto você está querendo mesmo arruinar a sua amiga. Um fato
curioso é que ontem o pai dela me ligou… — Ele abre um sorriso para
mim, mordaz. — E se você souber a quantia em dinheiro que ele me pediu
emprestado… A Sophie vai ficar arrasada quando eu decidir que preciso
dele de volta mais rápido do que sua família falida pode pagar.
Engulo em seco, sentindo como se estivesse prestes a chorar. Não ajuda
o fato de estar sendo difícil pensar em uma saída…
— Por favor, não — suplico, me odiando por dentro.
Adam me encara com uma expressão vitoriosa e levanta a mão para
alcançar o meu cabelo. Eu me esquivo de seu toque, sentindo repulsa por
sua tentativa de se aproximar de mim.
Isso, no entanto, parece diverti-lo.
— Eu adoro quando as minhas mulheres ficam selvagens… — murmura,
malicioso. — Todo o nosso joguinho é muito mais interessante.
Eu endireito os ombros, encarando-o no fundo dos olhos.
— E-eu não sou su-a — respondo, ainda irritada por não conseguir falar
uma frase sequer sem gaguejar.
Eu juro que nunca mais vou colocar uma gota de álcool na boca.
— Tem certeza, princesa? Porque você nem consegue dizer isso sem
travar. — Seus olhos me percorrem da cabeça aos pés, como se ele estivesse
me despindo em sua mente depravada, e isso me causa nojo. — Você é uma
das mulheres mais gostosas que tem nesse lugar, sabia? E eu tenho certeza
que você colocou esse vestidinho colado para me provocar… Seus peitos
estão praticamente implorando por atenção. Isso te excita, gata? Saber que o
namorado da sua amiga está de pau duro por você?
Sinto meu estômago embrulhar e acho que posso vomitar em Adam a
qualquer instante. Ele é o homem mais repulsivo, nojento e escroto que eu
já conheci e toda vez que eu me recordo que fomos para a cama juntos, eu
tenho vontade de voltar no tempo e me dar um grande tapa na cara.
— V-você é nojento! — grito, tentando empurrá-lo para longe de mim.
O resultado, no entanto, é bem longe do que eu esperava. Adam não
move um músculo, parecendo achar graça da minha vulnerabilidade. Eu o
empurro mais uma vez, perdendo o equilíbrio completamente e quase dando
de cara no chão.
Ele me segura, soltando uma risada cheia de segundas intenções. Tento
me desvencilhar do seu aperto, mas não surte nenhum efeito quando, de
repente, vejo que estou pressionada contra seu corpo.
— Me-me solta! — Faço força contra seus braços, o que o faz apertá-los
mais ainda contra mim. — Socorro!
Ele solta uma risada alta, mas por incrível que pareça, me obedece. Eu
tento recuperar a minha compostura, mesmo não conseguindo me manter
em pé.
— Acho que você precisa de uma ajudinha, hein? — sibila Adam,
parecendo se divertir com o meu estado lastimável.
Mas eu não preciso responder mais nada para ele, porque Nate surge do
meu lado, o semblante preocupado e o corpo em uma posição defensiva.
— Ela não precisa da sua ajuda — retruca Nate, lançando um olhar
mortal para Adam. — Vem, Leslie.
— Ah, qual é, cara? Só porque você está no time principal de beisebol
acha que pode ficar com as mais gostosas?
Nate cerra os punhos, partindo para cima dele com uma expressão feroz
no rosto. Eu coloco minhas mãos na minha boca para tentar controlar o
grito de susto que sai de mim, mas acho que não tem o efeito esperado.
— Primeiro, olha a forma como você fala da minha namorada! — diz ele
em um tom ameaçador. — Você vai pedir desculpas pra ela agora mesmo ou
eu não vou me importar de ficar no banco para modelar esse seu rosto. Você
deveria respeitar a sua namorada em primeiro lugar, cara. Isso é escroto pra
caralho.
Adam ergue as mãos em sinal de rendição, parecendo achar graça de
toda a situação que causou.
— Ah, cara, foi mal! Eu não sabia que ela é sua namorada… — diz em
tom irônico. — Vocês já estão juntos há muito tempo?
— E-ele me pediu em namoro o-ontem e eu a-aceitei — respondo, antes
que Nate possa dizer algo que faça Adam pensar que eu também sou uma
traidora.
Adam balança a cabeça, ainda sorrindo ironicamente. Consigo ver pela
veia saltando no pescoço do Nate que ele está a um passo de socá-lo, mas
eu decido intervir. Não posso deixar que mais uma pessoa se dê mal por
causa de uma péssima escolha minha.
— N-Nate!
Mas ele não move um músculo sequer. Pelo contrário, pressiona Adam
com mais força contra a parede, fazendo com que ele bata a cabeça. Mesmo
assim, o cretino continua com um sorriso cruel no rosto.
— Nã-não vale a p-pena, Nate. P-por favor — suplico, me arrastando a
passos cambaleantes para alcançá-lo.
Nunca pensei que iria implorar para que Nate O’Connel não acabe de
fora de um jogo por socar um cara enquanto me defende.
O que está acontecendo com o mundo?
— Você ouviu ela, cara. Tem certeza que quer fazer isso? — provoca
Adam, arqueando uma sobrancelha para ele.
Nate intensifica o aperto no colarinho dele e eu consigo finalmente
alcançá-lo. Me apoio em seu ombro, respirando fundo para controlar a
náusea que me acomete de uma vez. Preciso urgentemente deitar ou então
vou acabar colocando tudo para fora.
— A-acho que nã-não estou m-muito bem… — murmuro, desabando
contra ele.
Nate larga Adam de qualquer jeito, que se ajeita na nossa frente antes de
lançar um olhar debochado para nós dois e ir embora como se nada tivesse
acontecido.
— Leslie… — sussurra Nate, antes de passar o braço por trás das minhas
coxas e me segurar em seu colo. — Eu não devia ter deixado você beber
tanto. Se aquele idiota tivesse feito alguma coisa com você, eu juro…
— Calma… — peço, fechando os olhos. Sinto que a qualquer momento
posso acabar vomitando. — E-eu preciso da Landon. P-por favor.
Nate assente, me levando para longe dali. E por um segundo, enquanto
ele me carrega em direção ao meu quarto, eu me permito fechar os olhos.
E flutuo para bem longe daqui.
Você consegue distinguir um campo verde
De um trilho de aço frio?
Um sorriso de uma máscara?
Você acha que consegue distinguir?
Wish You Were Here | Pink Floyd

Eu acordo com um raio de sol no rosto, piscando os olhos bem devagar.


A sensação de dejá vù vem com força, então eu levanto de supetão e tiro
alguns dos fios cobres do meu rosto, desesperada.
Ao bater a mão do meu lado, sinto o corpo de alguém. Pela visão
periférica, posso atestar que é de um… Homem.
Ai, merda.
Cacete.
Eu não posso ter feito tudo aquilo de novo.
Por favor, Deus, não.
Levanto o meu cobertor com uma mão só, agradecendo aos céus por
pelo menos estar no meu quarto. A festa de ontem ter sido aqui teve uma
vantagem, ao menos.
Procuro meu sapato por todo o lugar e ao dar uma olhada na cama de
Landon, vejo-a perfeitamente arrumada.
Bom, que droga. Ela com certeza viu o garoto dormindo profundamente
comigo hoje pela manhã.
— Que saco… — bufo, procurando o meu telefone por todo o cômodo
sem parar.
Preciso ligar para a minha irmã.
Reunindo coragem, volto até a cama para finalmente ver quem é o cara
nela. Silenciosamente, rezo para que não seja algum cara com quem eu já
estive… É bem mais difícil fazer esses desapegarem.
Mas assim que eu reconheço o garoto esparramado sobre os meus
lençóis, uma sensação de alívio e medo me enchem ao mesmo tempo.
O que Nate O’Connel está fazendo aqui?
— Mas que porra? — Enrugo a testa, sacudindo o ombro de Nate com
toda a força até ele abrir os olhos. — O que você está fazendo aqui?!
Ele pisca lentamente, como se estivesse esperando a alma voltar para o
corpo. Depois, respira fundo e se remexe preguiçosamente na cama.
— Bom dia pra você também, Leslie.
— O que você está fazendo aqui? — repito, sentindo meu coração
acelerar. — O que nós fizemos ontem?
Nate imediatamente fecha a cara, jogando o edredom de qualquer jeito
para o lado ao se levantar da cama. O corpo grande parece muito maior
agora confinado no meu quarto e acho que posso começar a babar quando
ele decide espreguiçar os músculos.
Porra, Leslie.
— Eu jamais tocaria em você bêbada — enfatiza ele, enrijecendo o
maxilar. — Na verdade, eu não tocaria em você por nada no mundo, Leslie.
Pode ficar tranquila.
Eu respiro fundo, jogando um punhado do meu cabelo para trás do
ombro.
— Então o que aconteceu?
Nate estala o pescoço e eu estaria mentindo se dissesse que a visão
matinal dele, com os cabelos em uma bagunça de cachos e o corpo torneado
se espreguiçando, não é quente como o inferno.
— Bom, eu que deveria perguntar isso, não é mesmo? Você começou a
beber desenfreadamente ontem à noite… Tentei te colocar na cama, mas
você disse que precisava usar o banheiro. Fiquei te esperando na escada e
quando percebi que você estava demorando mais do que o normal, fui até lá
ver se estava tudo bem. Foi quando eu vi o babaca do namorado da sua
amiga em cima de você… — A lembrança parece perturbar Nate, porque
seus punhos ficam cerrados. — Eu… Eu fui pra cima dele. Não bati no
cuzão, pelo menos não da forma como eu gostaria, porque você pediu.
Mas… — Ele engole em seco, desviando o olhar do meu.
Tem alguma coisa aí.
Dou um passo na sua direção, tentando ler nas entrelinhas o que pode ter
deixado Nate O’Connel sem graça.
— ‘Mas’ o quê, Nate? — questiono, sentindo o meu coração acelerar.
Ele levanta o olhar para encontrar o meu, sério.
— Falei pra ele que era seu namorado, Leslie. E… Aquela sua amiga
uma hora dessas deve estar sabendo disso. A Landon… — Nate fecha os
olhos, como se estivesse se protegendo das memórias de ontem. — Ela não
disse nada quando me viu trazendo você inconsciente pra cá. Te coloquei na
cama e estava me levantando para ir embora quando você acordou. Segurou
o meu pescoço, se aconchegou em mim e disse que eu deveria te abraçar até
você dormir, porque eu era o seu namorado. A Landon ficou me encarando
meio confusa, mas eu não consegui dizer não pra você. Ela se virou para
dormir e agora não está mais aqui para eu explicar que tudo não passou de
um engano.
Eu abro a boca, completamente em choque.
Como a minha irmã OUSA pensar que eu tenho um namorado?! Será
que a Landon se esqueceu de que sou EU?
— Não acredito que ela acreditou nisso — falo, incrédula. — Como a
Landon pode pensar que a gente é um casal, Nate? Será que ela
enlouqueceu?
Ele revira os olhos, passando os dedos de qualquer jeito pelos cabelos
emaranhados.
— Eu sinceramente acho que ela não acreditou nisso, mas deve estar
confusa. Quando formos almoçar mais tarde, eu explico tudo. O que nos
leva à outra questão… — Ele arqueia a sobrancelha, me encarando bem no
fundo dos meus olhos. — O que aconteceu ontem entre você e o Adam?
Merda.
Sinto minhas bochechas esquentarem e desvio o olhar do seu, pensando
rapidamente em uma resposta que vai despistar toda a verdade.
— Nada, Nate. Não sei do que você está falando…
Ele bufa, parecendo irritado.
— Será que dá pra você cortar o papo furado e ser sincera comigo,
Leslie? Tem alguma coisa rolando e eu preciso saber o que é.
Eu cruzo os braços sobre o peito, começando a me aborrecer.
— Eu acho que isso não é da sua conta.
— É aí que você se engana. Isso agora é da minha conta sim, já que eu
menti ontem pra te proteger.
— Eu não pedi pra você fazer isso!
— Mas eu fiz, Leslie! — explode ele, respirando fundo. — Eu fiz. E
agora preciso que você me conte o que está acontecendo.
— Eu não entendo o porquê disso, Nate. Você não se importa comigo,
lembra? É só mais uma situação que a Leslie inconsequente causou. Eu me
enfiei nessa e eu vou me tirar.
Ele pisca várias vezes.
— Quem disse que eu não me importo com você, Leslie? Hein?
Eu recuo, pega de surpresa pela sua pergunta.
— Ninguém precisou me dizer nada. É só ver a forma como você me
trata…
— E como eu te trato?
Ah, ele não está querendo ir por esse caminho uma hora dessas da
manhã, quer? Porque se eu começar a despejar tudo o que está entalado há
tantos anos…
Respiro fundo.
— Você me trata como se eu fosse a pedra no seu sapato, Nate. Sempre
foi assim, desde que éramos crianças. A Landon é a inteligente, é a garota
que você convidava para jogar videogame com você depois da aula. Eu sou
só a irmã gêmea dela que precisava ir junto ou então meus pais não
deixavam ela ir. Sou só a inconveniência que você não precisa mais lidar
agora que estamos na faculdade. Olha… — suspiro, amarrando o meu
cabelo em um coque no topo da cabeça. — Obrigada por tudo o que você
fez por mim ontem. Por ter vindo como o meu par, por ter trazido os caras
do time e também por ter me defendido. Não precisava, mas você fez
mesmo assim. Agora eu mesma vou resolver os meus problemas e você
pode ir pro seu apartamento. Já atrapalhei o seu dia mais do que o aceitável.
Nate não mexe um músculo depois de me ouvir falar, o maxilar travado
e os punhos cerrados.
Ele me encara, estático, e pouco a pouco o silêncio vai ficando cada vez
mais constrangedor.
— Eu me importo com você, Leslie, embora não pareça. E eu quero te
ajudar. Nós temos nossas diferenças, isso é verdade, mas eu jamais
desejaria que alguma coisa ruim acontecesse com você. Nós nos
conhecemos desde… Sempre. Eu quero te ajudar. Me deixa te ajudar, por
favor.
Eu me viro para encará-lo e a visão obstinada de Nate quase me tira o
fôlego. Reprimo a vontade de me jogar em seus braços e abraçá-lo apertado
como fiz ontem à noite, porque isso só iria complicar as coisas.
Não sei se estou pronta para contar tudo o que aconteceu nessa última
semana, muito menos para confessar as chantagens que Adam tem feito
contra mim. Por algum motivo, estou me sentindo a mulher mais burra do
mundo e acho que estou precisando provar para mim mesma que consigo
sair dessa sozinha.
Só que… Como você luta com alguém que tem mais poder que você?
Alguém que tem mais credibilidade?
Adam é um homem comprometido que trai a namorada sem pensar duas
vezes e que usa do próprio dinheiro para mantê-la presa. Ele a manipula,
controla e parece gostar muito do poder que tem sobre ela. E mesmo assim,
ele continua sendo mais respeitado do que uma mulher que sai com vários
caras sem saber se eles têm namoradas, que beija desconhecidos e que
também vai para cama no primeiro encontro.
Eu sou a vagabunda.
A vadia.
A piranha destruidora de lares.
Ninguém nunca vai acreditar em mim.
Sophie não vai acreditar em mim.
Sinto meus olhos marejarem ao me dar conta de que, no fim, não vou
conseguir sair dessa sozinha.
Preciso de ajuda.
Preciso do Nate.
Engolindo todo o meu orgulho, me viro para o garoto de olhos castanhos
que espera pacientemente sentado na minha cama. Eu nem penso muito no
que estou fazendo quando começo a contar tudo o que aconteceu para ele,
sem rodeios, sem enfeites.
Só a parte crua de toda a história.
E a parte mais doida disso tudo é que ele não só parece me ouvir.
Ele me escuta. E a cada palavra que solto sobre Adam e suas mentiras e
manipulações, vejo a veia do pescoço de Nate saltar. Os punhos ficam
cerrados, as narinas inflam, seu rosto pálido fica cada vez mais vermelho e
posso jurar que se Adam estivesse aqui, não teria a mínima chance contra
ele.
— Eu vou matá-lo — diz Nate, sem piscar, e com um olhar que poderia
dizimar cidades inteiras.
— Nate…
— Estou falando sério, Leslie. — Seu pescoço tensiona quando ele vira a
cabeça para mim, lentamente. Acho que, mesmo conhecendo Nate
O’Connel a vida inteira, nunca o vi tão… Puto.
É, acho que essa palavra descreve bem como ele está agora.
Engulo em seco, sem saber muito o que dizer. Nunca o vi agir tão
protetoramente comigo antes. Essa é uma parte do Nate que ele sempre
reservou apenas para a minha irmã.
— Ele não vale a pena, Nate… — respondo em meio a um suspiro. —
Eu preciso descobrir uma forma de tirar a Sophie dessa situação.
Inicialmente, tudo se tratava de como eu ia contar pra ela que,
acidentalmente, eu dormi com o seu namorado. Mas agora eu só consigo
pensar… — hesito por um segundo, sem saber como me expressar
corretamente. — Só consigo pensar em como tirar ela dessa teia macabra. A
família dela está praticamente mantida refém pela família do Adam, Nate…
O que vou fazer?
— A família da Sophie é adulta, Leslie. Eles sabem o que fazem e com
certeza podiam ir até o banco pedir um empréstimo. Será que nenhum deles
sequer percebeu, em primeiro lugar, como a situação deixa a Sophie?
— É mais complicado do que parece.
— Não, Leslie. Não é. Você precisa contar tudo para a Sophie e acabar
com isso tudo de uma vez.
Bufo alto, revirando os olhos. Eu sabia que ele não entenderia.
Eu sabia.
— Nossa, Nate, como será que eu não pensei nisso antes? Mil desculpas
por não raciocinar tão rápido como vossa majestade.
— Pode cortar o sarcasmo, Leslie. Isso não vai funcionar dessa vez.
— Eu não espero que nada funcione, eu só quero ajudar a minha amiga!
Você esqueceu a parte em que ele ameaçou fechar as portas até para a
Landon? Eu me recuso a ficar sentada e fingir que nada aconteceu, mas
também não posso colocar a Sophie em uma situação mais merda do que
ela já está. Eu vou contar pra ela quando eu tiver certeza de que ela terá
algum poder com aquela informação. Se eu contar agora, ela vai me odiar,
odiar o Adam e, mesmo assim, não vai conseguir sair dessa…
— E o que você planeja, Leslie? Hein? Pagar a dívida da família da
Sophie com ele? Isso não faz sentido.
Tomo uma longa respiração, sabendo que, no fundo, ele tem razão.
— Eu ainda não pensei nessa parte… — murmuro, cabisbaixa. — Eu
preciso entender melhor o que aconteceu, Nate. Me dê alguns meses… Três
meses! Eu vou investigar o Adam, vou conversar com a Sophie para tentar
entender melhor sobre como o relacionamento dos dois começou. Quando
eu tiver uma ideia sólida de toda a narrativa, eu penso em como agir.
Nate estreita os olhos na minha direção, a postura ficando ainda mais
rígida. Deus, ele é tão estressado! Para um atleta na flor da idade, ele está
precisando urgentemente relaxar.
— Isso não é como um dos seus roteiros, Leslie — diz Nate, entredentes.
— Estamos falando de pessoas reais, com problemas reais.
— Eu sei que são pessoas reais, Nate. Você pode parar de ser tão
certinho? Meu Deus, eu esqueço que falar com você é como falar com a
Landon, mas a minha irmã pelo menos se importa comigo de verdade.
— Não vamos entrar nesse assunto de novo.
— Você que manda, senhor — respondo, sarcástica, fingindo um bocejo.
— Será que esse papo já acabou? Eu preciso ir pra aula.
— Como se você fizesse questão de chegar no horário…
— Pontualidade é superestimada, sabe? E é tão anos noventa. — Sorrio,
mordaz. — Preciso mesmo ir. Você já conhece a porta, certo?
Mas mesmo com a minha expulsão nada sutil, Nate continua com os
braços cruzados na frente do peito, o maxilar travado e a postura rígida.
Algo me diz que ele não pretende sair daqui tão cedo e isso está começando
a me irritar de verdade.
Quer saber? Se está no inferno, abrace o diabo.
— Você tem certeza que não vai embora? Porque eu preciso de
privacidade, Nate. Conhece essa palavra?
Ele pisca os olhos para mim.
— Nossa conversa ainda não acabou.
Dou de ombros.
— Bom, você que sabe.
E sem esperar mais nenhum segundo, começo a descer o zíper do meu
vestido de ontem à noite, sem desviar meu olhar de um Nate agora muito
corado. Sorrio.
Entretanto, antes que eu consiga terminar de abaixar o tecido que abraça
meu corpo, ele se vira de costas, sem conseguir ver mais nada. Eu não
consigo segurar a risada alta que sai de mim quando começo a vestir meu
short de cintura alta com a minha blusa de guerra do Aerosmith.
— Isso não tem graça, Leslie. Estávamos conversando sobre uma coisa
séria — grunhe Nate, ainda de costas.
Eu busco o meu pente de cabelo em cima da penteadeira, gritando um
“pode se virar” antes de começar a desembaraçar o meu cabelo com
cuidado. Nate ainda demora alguns segundos antes de finalmente voltar a
ficar de frente para mim, o que me faz revirar os olhos.
— Do jeito que você é, era bem capaz de estar me mandando virar
estando completamente pelada.
Abro um sorriso malicioso.
— Você bem que ia gostar, hein? Ainda mais que já estamos em um
ambiente propício para…
— Chega, Leslie. Precisamos terminar esse assunto agora e tenho certeza
de que você também não tem o dia todo.
— Eu não entendo você, Nate. Eu já disse que não tem mais nada a ser
conversado. Vou começar a investigar essa história por conta própria e dar
um jeito de tirar a Sophie dessa furada. Já te expliquei.
— Ah, é, Sherlock? E como você pretende fazer isso? É bem óbvio que
o Adam provavelmente está de olho em você e é bem capaz de você acabar
piorando as coisas.
Suspiro.
— Olha, isso é tudo o que eu tenho, Nate. Não posso ficar de braços
cruzados e permitir que esse canalha continue enganando garotas inocentes
por aí.
— E eu concordo nessa parte, só acho furada a forma como você está
tentando atingi-lo. Escuta… — Ele dá um passo na minha direção, a
expressão séria. — Para atingirmos o Adam, precisamos chegar na fraqueza
dele e, acredite em mim, não é a Sophie. Vamos ter que conhecer as pessoas
que ele confia, entender a relação familiar que ele tem. E aí, só aí, vamos
poder traçar um plano para contar para a Sophie sem colocá-la em apuros.
— É, isso faz sentido… — Mordo o lábio inferior, pensando melhor na
possibilidade. — Mas você mesmo disse que ele está de olho em mim,
Nate. Como vou conseguir me aproximar?
E é então que a coisa mais engraçada acontece.
Nate dá um passo à frente, a expressão resignada pouco a pouco
tomando conta de seu rosto. Ele respira fundo e começa a corar quando diz,
sem desviar o olhar de mim:
— Comigo.
Eu só posso estar ficando louca…
Sem entender nada, eu começo a gargalhar. Nate franze o cenho,
confuso, ao me assistir curvar para frente e segurar a barriga conforme as
minhas risadas aumentam ainda mais.
Ele só pode estar delirando.
— Qual a graça, Leslie? — questiona ele, irritado.
— Não, desculpa… — Respiro fundo, tentando recuperar o fôlego. — É
que eu acho que escutei errado. Só pode ter sido isso…
— Para de drama.
— Não, é sério, Nate. — Enxugo uma lágrima que escorreu no cantinho
do meu olho, ainda sorrindo. — Caso contrário, o louco dessa história é
você se eu escutei certo. Por um acaso a sua resposta foi “comigo”?
Ele torce o canto da boca.
— Foi exatamente isso que você ouviu.
— É, você está bem maluco mesmo. — Sorrio. — Mas vou deixar essa
sugestão… Anotada, Nate. Obrigada, tá?
— Será que você pode parar de tagarelar por um segundo e me escutar,
Leslie? — Ele respira fundo, impaciente. — Adam não confia em você e ele
obviamente quer manter a Sophie. Você sequer se perguntou o motivo? Por
que a Sophie parece tão importante assim pra ele manter?
— Talvez por que ele seja um abusador de merda que só acha legal pra
caralho ter uma menina completamente à mercê dele? — sugiro, irônica.
— Pode ser isso, mas talvez haja mais algum motivo por trás. A questão
é que ela confia em você, mas ele não. Por sorte, eu soube que Adam é um
grande fã de beisebol…
Reviro os olhos, cruzando os braços.
— Como se ele fosse se abrir pra você depois da quase surra que você
deu nele ontem.
Nate dá de ombros.
— Eu posso dizer que sou um namorado ciumento, que fiquei louco
vendo ele tão perto de você. Vou pedir desculpas, dar uns ingressos para os
jogos oficiais da temporada que vai começar, tentar me enturmar com os
caras da fraternidade dele. E enquanto eu cuido do Adam…
— Eu cuido da Sophie — completo, finalmente sentindo algumas peças
encaixarem. — Brilhante, Nate!
— Mas tem uma condição — impõe ele e o sorriso que eu estava
começando a abrir morre imediatamente.
Ai, não.
— O que você quer?
Nate passa a mão pelos cachos escuros, parecendo meio…
Desconfortável. Depois, mira seus olhos castanhos em mim e eu sinto o
meu coração acelerar.
— Primeiro de tudo, vamos colocar o máximo de dois meses. Se em dois
meses não obtivermos nenhum resultado, você vai contar tudo pra Sophie e
torcer pelo melhor. É sério, Leslie. Ou então eu mesmo conto. — Ele
respira fundo. — A segunda coisa é ter consciência de que estamos fingindo
ser um… Casal. — A palavra parece quase amarga na boca dele, o que me
embrulha o estômago. — O que significa que você vai precisar ser discreta
caso queira sair com alguém. E isso principalmente durante as festas,
Leslie. Se vamos fazer isso, quero evitar o máximo de fofoca sobre a nossa
relação.
Eu faço que sim com a cabeça.
— Acho que tudo isso tem sentido. Mas acho que essa última regra
também vai valer para você, eu imagino? — Arqueio a sobrancelha,
sugestiva.
— Você não tem com o que se preocupar, Leslie. Sempre fui discreto.
Abro um sorriso malicioso.
— E isso significa também que terei passe livre para ir em todos os seus
jogos e torcer pra você como uma namorada tiete?
— Não exagera…
— Ah, qual é?! Vou mandar fazer uma blusinha especial dos Angry
Sharks e atrás vai estar escrito “garota do O’Connel”. O que você acha?
— Eu acho que você só pode ter enlouquecido.
— Vão ser longos dias, Natezinho — brinco, passando a mão levemente
sobre seu ombro. Um arrepio me sobe da cabeça aos pés ao pensar em
como ficamos próximos assim ontem e, como num flash, todos os
pensamentos pecaminosos que tive comigo e Nate em uma cama voltam
com força total.
Cambaleio para trás.
— Mas, de verdade… — continuo, deixando meu sorriso morrer
lentamente. — Obrigada por isso, Nate. Prometo que um dia eu vou
retribuir tudo isso.
Ele não esboça uma reação sequer, mas posso jurar que um cantinho de
sua boca quase subiu o suficiente para ser considerado um sorriso.
E isso me deixa satisfeita.
Por enquanto.
Eu sou quente, você é fria
Você anda por aí como se você soubesse
Quem eu sou, mas você não sabe
Você me deixa tenso
Burnin’ Up | Jonas Brothers
É tarde da noite quando eu finalmente volto para a Theta Rho Beta,
acabada depois de um dia cansativo. E ainda há quem ouse dizer que
estudante não sofre. Imagina se sofresse então, hein?
Nem me dou ao trabalho de tomar um banho antes de desabar na minha
cama macia, repassando todos os acontecimentos malucos do meu dia.
Nate e eu estamos fingindo um namoro.
Será que a Terra parou de girar?
— Que cara é essa, Leslie? — Questiona Landon, com a voz sonolenta.
Solto um grunhido.
— Acho que cometi uma loucura.
— Isso não é novidade.
Coloco a mão sobre o rosto, desesperada.
— É sério, Landon. É uma loucura das grandes. E pode envolver o seu
melhor amigo.
Isso parece chamar a atenção da minha irmã, pois seus olhos azuis se
abrem em choque. Depois, ela balança a cabeça, como se estivesse
absorvendo a informação.
— Você e o Nate? O que aconteceu, a Terra parou de girar?
Minha irmã e eu às vezes pensamos iguais e isso é assustador pra cacete.
— Eu também acredito nessa possibilidade — desconverso como quem
não quer nada. — Acho que já vou dormir. Hoje foi cansativo.
Landon não diz mais nada, apenas concorda com a cabeça. Quando não
estou a fim de conversar, minha irmã nunca me força.
Em seguida, balanço a cabeça, tateando a minha cama lentamente para
encontrar o meu telefone perdido. Eu escutei alguns caras comentarem
durante a minha aula de introdução a roteiro que iriam assistir ao jogo dos
Angry Sharks amanhã e mencionaram estar ansiosos porque o time de
Michigan é um grande rival da nossa universidade no beisebol.
Alguma coisa me diz que é um lugar propício para Adam resolver dar as
caras. Pelo pouco que descobri sobre ele nessa última semana, posso
assegurar que o cara é meio viciado em esportes. Ele tem fotos com quase
todos os atletas de Granville no próprio quarto, além de arrastar Sophie para
todos os jogos que temos no campus.
Que conveniente o meu namorado ser um jogador, não é mesmo?
Pegando meu telefone, entro de fininho no banheiro que Landon e eu
compartilhamos na casa e disco o número de Nate.
— A resposta é não — diz Nate, sem papas na língua, assim que explico
detalhadamente o meu plano brilhante no telefone, escutando-o resmungar
do outro lado da linha.
— Ah! — solto um muxoxo, me recostando contra a parede fria do
banheiro. — Por que não?
— Porque isso é irrelevante, Leslie. Nós combinamos que seria eu a me
aproximar, lembra? Eu vou estar no meio do campo, não vou ter como me
aproximar do Adam. E além do mais, o jogo de amanhã é muito importante.
Precisamos ir bem para continuarmos na primeira divisão antes do College
World Series começar e…
— Blá, blá, blá — resmungo, cortando-o. — A questão não é essa, Nate.
E se Adam estiver lá e desconfiar de mim?
— Isso não faz sentido.
— Claro que faz! Se eu sou a sua namorada, eu preciso ir aos jogos. Eu
sei que você é quase um celibatário e não costuma sair com muitos seres
humanos além da minha irmã, mas é assim que funciona o mundo dos
encontros. Ou dos namorados. Tanto faz.
— Isso ainda continua sendo irrelevante, Leslie — diz ele, impaciente.
— Eu continuo achando que é muito importante sim, Nate — rebato,
escutando-o resmungar mais uma vez. — Bom, eu vou de qualquer jeito,
então se acostume.
— Leslie, pelo amor de Deus — sussurra ele do outro lado da linha e eu
daria tudo para ver a cara dele nesse momento. — Você precisa parar com
isso agora.
— Olha, se nós estamos fingindo que estamos namorando, você não
pode me impedir de ir em um dos seus jogos. Qual a vantagem de namorar
um atleta se você nunca pode vê-lo jogar?
— Leslie — suspira ele, quase bufando. — Você não é minha namorada
de verdade.
— É, mas todo mundo pensa que eu sou — retruco. — Sophie pode ter
espalhado o boato por aí.
— Como assim?
— Bom, depois da festa que rolou aqui ontem à noite, ela acabou me
emboscando. Sim, nesse sentido mesmo da palavra. Quis saber todos os
detalhes do nosso namoro… Aparentemente o Adam acabou comentando
sobre você ter dito isso. Eu precisei ser criativa na hora de inventar como
tudo começou.
A linha fica muda por alguns segundos, mas logo escuto Nate gemer do
outro lado. E não é um gemido sexy, mas sim o gemido de alguém que
acabou de levar um chute nas bolas.
Tão dramático.
— Que merda — suspira, por fim. — Tá bom, Leslie, você pode ir. Vou
reservar um lugar perto do meu pai, mas, por favor, segura a onda. Ainda
não explicamos direito para a Landon e espero que isso não seja
necessário.
— Não se preocupe, Nate. Eu sei ser boazinha… — Sorrio, ignorando
deliberadamente as borboletas no meu estômago. — Saudades do prefeito
O’Connel. Ele já pegou o avião até aqui?
Mais alguns segundos de silêncio.
— Sim — responde Nate. — Leslie, por favor… Só… Vamos manter isso
em segredo, tudo bem? Meu pai não precisa se envolver nessa história. E
além do mais, eu disse recentemente que não estava saindo com ninguém…
Ah, é com isso que ele anda preocupado? Ele acha que o pai dele pode
desaprovar o nosso relacionamento?
Um gosto amargo invade a minha boca e a percepção de que Nate talvez
esteja com vergonha de mim me faz ter vontade de vomitar.
O pai dele é um bom homem e sempre que eu o encontrei, me senti
acolhida por suas palavras gentis. Nunca entendi muito bem como alguém
que tinha uma família tão unida como Nate podia crescer tão amargo — ou
ser tão babaca às vezes —, mas talvez isso apenas seja um reflexo de como
sua família verdadeiramente é.
Segura a onda, Leslie, me repreendo mentalmente.
Não precisa provar nada para ninguém.
— Você não tem com o que se preocupar, Nate — respondo, antes de
desligar o telefone na cara dele.
Depois dessas últimas vinte e quatro horas, eu daria qualquer coisa por
um copo bem generoso de tequila.
Com MUITO gelo.
Eu nunca fui uma garota dos esportes.
Mesmo antes do colegial, eu tive amigas que tentavam me convencer a
assistir aos jogos de futebol americano, que era uma verdadeira febre na
nossa cidade natal, Barlow. Principalmente porque o ex-namorado da minha
irmã, o maior otário que já conheci, era running back na nossa escola.
E eu sempre neguei.
Não me entenda mal, eu frequento a academia e acho exercícios físicos
muito importantes para manter a sua saúde (inclusive a mental) em dia. E
também não posso negar que o tanquinho que esses garotos adquiriram na
nossa época do ensino médio não era nada mal…
Mas sendo uma pessoa ansiosa e nem um pouco paciente, assistir a
longas partidas de um jogo sem tanto movimento era praticamente uma
tortura.
E isso não mudou quando Nate O’Connel começou a treinar beisebol,
consequentemente se tornando o grande nome de Barlow. Landon, como a
boa amiga que sempre foi, ia a todos os jogos do melhor amigo e já havia
tentado me arrastar para uma partida ou duas.
Sem sucesso.
É por isso que eu me recrimino mentalmente, contando os minutos para
que essa partida finalmente acabe.
Um fato curioso sobre esse jogo em questão: o beisebol não é sobre
força física, mas sim sobre estratégia. É quase como um jogo de xadrez. Os
técnicos calculam os pontos fortes e fracos dos jogadores e eles
permanecem nas bases pelo tempo necessário para conseguir um home run.
Outra coisa importante de se destacar: não existe um tempo certo no
beisebol. Enquanto os três rebatedores não forem eliminados, o jogo
continua. E ele pode ser longo… E lento.
Me diz se isso não é completamente a cara do Nate? Fala sério, até
mesmo na hora de escolher um esporte para jogar, ele precisa ir para o que
exige mais do seu raciocínio do que sua força.
— Ele está indo muito bem — diz o prefeito Andrew, olhando de relance
para mim. — Não é?
Pisco várias vezes, encarando-o como se ele fosse de outro mundo.
Me desculpe, mas o quê?
O prefeito Andrew não pode me fazer perguntas sobre o desempenho de
seu filho em campo porque… Bom, sou eu. Leslie Reese, a garota anti
esportes e que quando vê o filho dele segurando um taco de beisebol só
pensa em uma coisa.
E não tem a ver com rebater uma bola.
Abro um sorriso sem graça, pensando em todas as desculpas plausíveis
para eu vir até aqui assistir a um jogo de beisebol quando eu claramente não
entendo nada do esporte.
— Hã… É. É sim. Eu acho que ele tem tido uma… Evolução… Bastante
satisfatória.
— Com certeza. Ele está fantástico na defesa, embora o ataque seja seu
ponto forte. Nate com um taco de beisebol é infalível! Perde poucas bolas.
E como apanhador tem melhorado muito. Há quantos jogos você vem
assistir ele, Leslie?
Engulo em seco, mostrando os dentes em um sorriso cínico que não
chega aos meus olhos.
Porra.
Quando cheguei mais cedo no estádio, fui recebida por um abraço
caloroso do prefeito Andrew, junto com o recado de que meus pais tinham
enviado algumas frutas de casa para Landon e eu.
Tão típico de quem vem de cidade do interior.
Mas demorou poucos segundos para ele estranhar o fato de eu ter vindo
aqui ao invés da Landon. Precisei reunir toda a coragem e a cara de pau que
eu nem sabia possuir para mentir e dizer que eu era muito fã de beisebol,
principalmente dos Angry Sharks.
Ele não comprou muito essa mentira e posso assegurar isso porque é
visível em seus olhos.
— Sim, sim… Eu mesma disse isso pra ele. Estou assistindo aos jogos
há mais de um mês — minto, desviando o olhar do seu. — Mas e aí…
Como anda a prefeitura de Barlow?
O prefeito Andrew solta uma risada que faz seus ombros balançarem.
— Continua a mesma coisa de sempre. Mas agora a escola que vocês
estudaram está com uma pintura completamente nova. Nate chegou a
comentar que seus pais ajudaram na reforma daquele parquinho velho que
vocês três costumavam brincar quando crianças?
— Não… Ele não falou nada. Pelo menos, não pra mim. Você sabe como
ele e a Landon sempre foram mais próximos.
Ele abre um sorriso para mim, evidenciando um pouco as rugas e linhas
de expressão que ele carrega em seus olhos.
— Sim, a mais velha, não é? Fico feliz que os dois continuem próximos
mesmo aqui na faculdade.
— Eles são inseparáveis — concordo, balançando a cabeça.
Nós dois voltamos a nossa atenção para o que está acontecendo em
campo e posso jurar que Nate parecia nos observar por alguns segundos.
Isso não dura muito.
O arremessador joga a pequena bola na direção dele, que a golpeia com
uma força que honestamente me arranca o fôlego. A bola passa voando
sobre nossas cabeças e eu dou um grito quando percebo que ele agora está
correndo pelas quatro bases com um sorriso no rosto.
Home run.
Ele é mesmo bom nisso.
As pessoas à nossa volta enlouquecem, mostrando os dentes e rosnando
as palavras “Angry Sharks” enquanto o prefeito Andrew assobia alto ao
meu lado, desfrutando da vitória do filho.
Não consigo esconder meu sorriso, satisfeita por estar aqui hoje e fazer
parte desse momento.
Acho que esportes não são tão ruins assim, afinal.

Depois que o último rebatedor é eliminado, o jogo finalmente se encerra.


O prefeito Andrew faz um meneio com a cabeça para descermos os degraus
para encontrarmos Nate e eu vou de bom grado, com um sorriso no rosto
igual uma boba apaixonada.
Eu posso não ter entendido muito sobre o que acabou de acontecer aqui,
mas de algo eu tive certeza: Nate O’Connel tem talento e sabe muito bem
manusear aquele taco de beisebol.
Me perguntei várias vezes se tem mais algum esporte que ele domina
assim. Nate sempre pareceu tão bonzinho e sem graça que eu nunca me
permiti ver mais do que a sua camada ranzinza. Pode ser o uniforme azul
claro dos Angry Sharks ou a forma como a sua postura muda quando ele
está em campo, mas o fato é que fiquei completamente hipnotizada por ele
durante essas últimas horas.
Acho que estou começando a me atrair por ele.
E isso não é nada bom.
— Veja, acho que vamos conseguir falar com ele — diz o sr. O’Connel,
com um sorriso bobo nos lábios.
Nate está perto da grade que separa a arquibancada do campo, assinando
papéis e bonés de beisebol enquanto sorri largamente para todos os fãs. Isso
me faz parar, admirando a forma como seu rosto parece mudar ao exibir o
sorriso.
Poucas vezes na vida eu o vi dessa maneira. Tão relaxado, confortável, à
vontade… Feliz. Acho que ele finalmente se encontrou aqui.
Ao dar um passo em sua direção, acabo percebendo que agora Nate
conversa muito perto de uma garota usando a jaqueta de couro mais legal de
todos os tempos. Ela joga o cabelo cacheado para o lado e consigo perceber
que o papel que ela acabou de entregar para o meu namorado falso está
escrito o seu número.
E Nate pega.
Suas bochechas ficam vermelhas, igual ficam toda santa vez que eu digo
algo que o deixa constrangido. E, sem remorso algum, ele guarda o bilhete
no bolso. Os dois continuam conversando e ele mantém o sorriso nos
lábios, concentrado demais no que a garota está dizendo para sequer subir o
olhar e perceber que seu pai e eu estamos parados aqui, observando-os.
Droga, Leslie. Não tem motivo nenhum para uma cena dessas te causar
desconforto. Semana passada você foi para a cama com o capitão do time
de basquete, pelo amor de Deus.
Que, inclusive, teve uma performance muito boa. Estou até considerando
chamá-lo para uma segunda rodada quando todo esse inferno em que eu me
meti passar.
— Acho que ele está ocupado — murmura o pai do Nate. Depois de
mais alguns segundos assistindo ao flerte do pós-jogo como se fosse um
acidente de trem, finalmente a garota se vira para ir embora. — Ah, parece
que agora ele está sozinho. Vamos até lá, querida?
Ele estende a mão para mim, mas eu recuo.
O que eu estou fazendo?
Foi uma péssima ideia ter vindo aqui hoje. Adam não veio, o que acabou
sendo em vão a minha presença, e Nate obviamente está querendo passar
mais tempo com a garota que o abordou depois do jogo.
Eu só iria atrapalhar.
— Na verdade… Acho melhor eu ir. Agora que o jogo acabou, imagino
que o senhor queira passar um tempo a mais com o seu filho. Diz pra ele
que eu achei a partida incrível — respondo, fazendo uma careta ao ver
como eu soei.
O prefeito Andrew enruga a testa, olhando de Nate para mim como se
estivesse montando um quebra-cabeça.
— Eu não me importaria de dividir a atenção do Nate com você, Leslie
— responde, com um olhar de quem sabe das coisas. — E aposto que
significaria muito pra ele ter você conosco no jantar, já que a Landon não
pôde vir.
Ah, merda.
Fico sem palavras por alguns segundos, meus pensamentos a milhares de
quilômetros por hora. O prefeito Andrew continua me encarando, seu olhar
buscando algo que nem eu mesma saberia lhe dizer o quê.
Não tenho nem tempo para negar quando Nate, todo suado, por sinal,
surge ao lado do pai, com o cenho franzido.
— Oi pra vocês também, pessoal. Sabe, eu fiquei esperando as pessoas
que vieram me assistir aparecerem lá embaixo…
— Estávamos indo — o pai dele responde, dando um tapinha nas costas
do filho —, mas você parecia ocupado com os seus fãs. Você não deveria
deixar a Leslie esperando aqui, Nate. Não foi assim que eu eduquei você.
Nate desvia o olhar rapidamente em minha direção, o pescoço
começando a ficar vermelho. Ele coloca o braço por trás das costas,
acanhado, e eu não sei explicar o motivo de sentir uma queimação
incômoda na garganta.
— Pai! — repreende ele, olhando de relance para mim. — Leslie.
— Oi. — Levanto a mão na altura do queixo, cumprimentando-o.
Nate e eu não conseguimos nos encarar enquanto o prefeito Andrew
parece nos examinar minuciosamente. Acho que nunca quis tanto que um
buraco abrisse e nos engolisse, e olha que sou uma pessoa que não tem
medo de passar vergonha.
— Bom, eu estou preso essa noite em uma cidade universitária e não
tenho companhia. O que acham de sair pra jantar?
— Você não está sozinho…
— Eu não acho que eu precise…
Nate e eu respondemos na mesma hora, trocando breves olhares
enquanto o pai dele abre um sorriso. Ele parece estar se divertindo pela
forma como nós dois nos embolamos e eu sinceramente não sei como isso
poderia piorar.
Eu limpo a garganta antes de responder:
— Eu agradeço o convite, prefeito Andrew, mas acho que é melhor eu ir.
Você e o Nate devem ter muito o que conversar.
Ele franze o cenho, lançando um olhar questionador para o filho. Nate,
por sua vez, deixa os ombros caírem e me encara brevemente.
— Eu também gostaria que você fosse com a gente, Leslie — diz ele,
simplesmente. — Acho que seria legal.
O prefeito Andrew junta as mãos, dando um tapa no ar com tanta força
que me faz dar um pulo.
Que porra é essa?
— Bom, se todos nós concordamos com isso, acho que é melhor irmos.
Fiquei sabendo de um restaurante que vende uma comida sulista famosa,
Nate me contou tudo sobre o local.
Enquanto ele sai tagarelando para fora da arquibancada, eu me aproximo
de Nate e lhe dou um murro no ombro. Ele olha para mim de soslaio com
uma expressão feroz.
— Não acredito que você vai me arrastar pra sua reunião de família —
murmuro, sem abrir os lábios.
— Não acredito que você veio mesmo aqui — responde ele, entredentes.
— Eu te avisei que meu pai estaria aqui. O que você esperava, Leslie?
— Eu não sei! Só sei que não esperava isso. Desde quando ele conversa
tanto?
Nate suspira alto, como se estivesse tentando evitar o impacto do que
está prestes a dizer. Isso deixa a minha pele pinicando, porque coisa boa não
deve ser.
— Desde quando ele acha que você e eu temos alguma coisa —
responde.
Nós dois paramos no meio do caminho e eu coloco a minha mão sobre
seu peito, impedindo-o de dar mais um passo.
— Nate — eu digo, respirando fundo e contando até dez mentalmente
para me acalmar. — Isso não é algo para se brincar.
O cretino simplesmente me olha com a calma mais irritante do mundo.
Em seguida, dá de ombros, como se estivesse falando com uma criança.
— Não estou brincando. Você acha que ele insistiu tanto pra você ir com
a gente por quê?
Parecendo sentir que era o assunto da conversa, o prefeito Andrew para a
poucos metros da gente e se vira, acenando. Eu abro um sorriso, mostrando
os dentes, sem ter certeza do que preciso fazer em seguida. Como você trata
alguém que acha que você está pegando o filho dele?
Eu vou esganar o Nate.
— Você só pode estar querendo morrer — murmuro, entredentes. — A
gente começou esse acordo ontem! Pensei que o plano era não contar pra
ninguém além do necessário.
— E esse é o plano. Mas vamos combinar, não é muito comum ver você
em um dos meus jogos, né? Meu pai pode ser mais velho, mas não é idiota.
Você nunca apareceu em jogo nenhum enquanto estávamos na escola, por
qual motivo você viria até aqui hoje?
Arqueio a sobrancelha na direção dele, cruzando os braços na frente do
meu peito.
— Você quer dizer que o único motivo de eu ter vindo aqui hoje é
porque estou sentando em você, Nate?
Ele abre a boca, mas as palavras não saem. Acho que nem ele estava
esperando por essa.
— Se você quer usar essas palavras, podemos deixar assim — retruca,
me puxando na direção onde seu pai acabou de entrar para buscar o carro.
— O fato é que vamos precisar explicar bastante coisa.
Eu solto uma risada irônica.
— Ah, com certeza. Como por exemplo, o porquê do meu namorado
estar flertando com uma garota na frente de todo mundo.
Nate vira a cabeça rapidamente para trás, com uma expressão…
Envergonhada?
— Nós dois não namoramos de verdade, Leslie — frisa.
— É, eu sei. Você já disse um milhão de vezes. Mas já que eu vou
precisar pegar leve, acho que nada mais justo que você faça o mesmo, não
é?
Ele suspira alto, deixando seus ombros fortes caírem. Fico pensando se
ele conseguiria me erguer entre eles…
Acorda, Leslie.
— É, acho que você tem razão — responde Nate. — Vamos precisar
manter a farsa até Adam estar fora da jogada.
Eu limpo a garganta, desviando o olhar de seu corpo suado.
— Sim… Mas acho que você precisa tomar um banho primeiro —
respondo. — Você está… Todo…
Nate enruga a testa para mim, confuso.
— Estou fedendo?
— Não, Nate! Você está suado…
— É o que acontece quando se joga beisebol por duas horas. Mas não se
preocupe, vou passar no vestiário antes de sairmos para jantar. Durante esse
tempo, você pode continuar colocando a conversa em dia com o meu pai.
Abro um sorriso forçado, preparada para assassinar alguém.
— Ah, claro. Vai ser uma longa noite…
E é como neve na praia

Estranho, mas lindo pra caralho

Voando em um sonho

Um bolso cheio de estrelas

Snow On The Beach | Taylor Swift ft. Lana Del Rey

— Será que falta muito para chegarmos? — questiona Sophie do banco de


trás da van, usando aqueles protetores para olhos que eu jurava que só a
Cher de As Patricinhas de Beverly Hills usava.

— Ainda falta meia hora olhando aqui no GPS — responde Cameron, o


garoto da minha aula de direção.

Nós estamos em uma van, praticamente saindo da cidade, para irmos até a
locação escolhida para filmar um curta para a nossa aula de Introdução ao
Audiovisual. É uma espécie de rito de passagem na Universidade de
Granville; no primeiro semestre, formamos grupos e apresentamos curta-
metragens sobre algum assunto que consideramos relevantes.

Ou que somos apaixonados.

Eu escrevi o roteiro e, contrariando o ditado que diz que “roteirista não


deve ir ao set de filmagem porque sempre tem embate com o diretor”, eu
decidi fazer os dois. Não apenas escrever, mas dirigir. Cameron topou na
mesma hora fazer parte da produção e chamou também uma garota
chamada Savannah para ajudar.

Confesso que fiquei um pouco baqueada ao dar de cara com a garota. Ela é
linda pra caramba e tem um magnetismo que faz com que todos ao redor
queiram se ajoelhar e beijar seus pés.
Seus namorados são sortudos, pelo que eu ouvi dizer. E sim, você leu certo.
Pelas poucas horas que passamos no carro, já descobri que Sav tem quatro
namorados e eu não quis saber a logística de como ela consegue fazer tudo
caber.

Tem coisas que é melhor deixar na imaginação.

— Não tinha lugar melhor pra você arranjar essa locação não, Savannah?
— questiona Edward, um dos namorados da Sav, que veio meio arrastado
hoje.

— Mil desculpas se o Clarke não conseguiu uma casa mais perto, ele fez o
que pôde. O lado bom é que vamos poder explodir as coisas e não vamos
precisar pagar nada…

— Fale por você — responde Ed, em meio a um bocejo. — Ele com


certeza me culparia e eu precisaria desembolsar uma grana para resolver.

— Eu já comentei o quanto eu amo vocês? — Savannah sorri e eu posso


jurar que vejo Edward derreter no banco de trás.

Mas fala sério, quem não derreteria? Se essa garota me lançar um olhar
como esse, eu provavelmente ficaria de quatro e começaria a latir. Tem
gente que nasce com toda a sorte do mundo, aparentemente.

E falando em sorte, eu precisei usar toda a minha para convencer Sophie a


participar desse curta. Ela e Edward vão ser os atores principais do nosso
filme enquanto Savannah e Cameron ficarão na produção e eu, na direção.
Depois que tudo estiver pronto, vamos enviar o material para Jude, um
garoto introvertido da nossa turma que topou na hora ficar na pós-
produção. O lado bom de querer ser editor é esse: poder trabalhar sozinho.

Savannah está quase terminando o curso de Comunicação em Granville e


quer ter alguns trabalhos extras antes de deixar a faculdade. Cameron a
conheceu em uma das aulas de Publicidade que os dois têm em comum e eu
topei na hora levá-la comigo.
Principalmente quando ela disse que o namorado rico dela, Clarke,
emprestaria um dos hotéis da família de bom grado para a gente filmar o
curta.

— Sobre esse roteiro… — Edward limpa a garganta, passando as mãos


pelos cabelos loiros. Esse garoto é de tirar o fôlego. — Aqui está escrito
que Sophie e eu… Bem… Vamos precisar nos beijar. É isso mesmo?

— Se chama beijo técnico — respondo, procurando meu gloss perdido


dentro da minha bolsa. — E qualquer coisa, a gente pode substituir a
Sophie pela Sav na última cena, daí o Jude só vai precisar ajustar tudo na
edição.

Sophie tira o protetor de seus olhos, piscando na minha direção.

— Eu não tinha visto que tinha um beijo. Adam não vai gostar muito
disso…

Argh.

Toda vez que ela cita o nome desse pau no cu, a minha vontade de contar
tudo de uma vez e vê-la dando um pé na bunda do mesmo aumenta.

Só que, se eu fizer isso, ela não vai terminar. Só vai continuar refém nesse
relacionamento de merda, agora sabendo que uma das suas irmãs na
sororidade já dormiu com seu namorado.

— Não se preocupe com isso — é o que eu respondo, condescendente. —


A Savannah assume o seu lugar na última cena. Pode ser, Sav?

A morena deslumbrante acena positivamente que sim, antes de voltar para


o colo de Edward. Os dois começam a se pegar como se estivessem
sozinhos ali e eu juro que a mão dele uma hora dessas provavelmente já
deve ter ultrapassado todas as suas camadas de roupa.

Okay…

Sophie, no banco de trás com o casal, volta a colocar o protetor sobre os


olhos e finge dormir. Cameron continua concentrado na estrada e o silêncio
sepulcral só é cortado pelo barulho de beijos e gemidos protagonizados
pelo casal atrás de nós.

— Falta muito pra chegarmos? — dessa vez sou eu que pergunto,


desejando secretamente que um buraco apareça para nos engolir de vez.

— Você não faz ideia, Leslie. Não faz ideia… — responde Cameron, com
os olhos vidrados e focados na estrada.

O hotel que Clarke emprestou para que gravássemos é muito maior do que
eu poderia imaginar. Não consigo conter a minha surpresa ao pular da van,
com Sophie em meu encalço, ambas boquiabertas com o tamanho da
locação que vamos usar durante o dia.

Essa garota é muito mais rica do que eu imaginei.

— Clarke precisa se exibir sempre — murmura Edward, pegando a bolsa


da mão da Savannah para colocar sobre seus próprios ombros. Não posso
deixar de achar fofo a forma como ele parece cuidar dela.

Será que isso resolveria todos os meus problemas?

Ter quatro namorados?

Bom, eu admiro Savannah por isso e tenho certeza que ter os quatro na
cama não deve ser nada mal. Sabe, se sentir adorada quando quatro homens
querem te dar prazer deve ser um presente dos deuses, mas aguentá-los fora
do quarto com todos os dramas que um namoro exige…

Estremeço.

Tenho calafrios só de pensar.

— Você só está dizendo isso porque não conseguiu liberar a casa de praia
da sua família pra mim — responde Savannah, mostrando a língua para
Edward.

Eu limpo a garganta, abrindo um sorriso sem graça para ambos.


— Só para eu entender melhor essa dinâmica… Todos os seus namorados
são incrivelmente ricos, Sav? Desculpa se eu estiver sendo um pouco
invasiva, mas… É que não tem tantos caras ricos dando sopa por aí, né?

Sav gargalha alto, jogando a cabeça para trás com vontade.

— Relaxa, Leslie, eu não me importo de responder. E não, nem todos os


meus namorados são incrivelmente ricos. Eu tenho dois que têm bastante
grana, mas Max e Thomas são rapazes normais, trabalhadores como
qualquer um de nós.

— Porra nenhuma — resmunga Edward, parecendo muito sério. — Você


sabe que se dependesse do Clarke e de mim, você nem precisava mais
trabalhar. Não é?

Savannah revira os olhos, voltando sua atenção para mim.

— Como você pode ver, eu tenho namorados que gostam de me mimar e


que de vez em quando dizem esse tipo de coisa. É muito irritante.

Quero matá-la.

Além da desgraçada ser a garota mais linda que eu já vi, dona de curvas
que deixariam qualquer um de quatro e literalmente babando, ainda tem
dois namorados gostosos e que querem bancá-la pelo resto da vida para que
nunca mais precise trabalhar?

Eu vou esganar essa garota até o fim do dia.

— Eu imagino que deva ser muito chato mesmo — sorrio, irônica —, mas
agradeça ao Clarke por emprestar o hotel pra gente de qualquer forma. Mal
posso esperar para ver o corte final depois que terminarmos as filmagens…
Vamos conseguir a nota máxima nessa matéria com certeza.

— Quero ver aquele grupo de nerds com o robô superarem a gente —


concorda Cameron, parecendo uma criança em um parque de diversões.

Definitivamente, não há nada melhor do que trabalhar com pessoas


apaixonadas. O seu trabalho passa a ser feito com muito mais vontade.
Nós nos apressamos para entrar na recepção do hotel e eu fico boquiaberta
ao ver como todos os funcionários parecem parar todas as suas funções
para nos ajudar com a decoração e o deslocamento do equipamento da
filmagem.

Savannah leva Sophie e Edward para um dos quartos em uma espécie de


camarim improvisado e enquanto ela faz a maquiagem de ambos e cuida
também dos figurinos, Cameron e eu terminamos de ajeitar a decoração da
primeira tomada como pudemos.

A ideia do curta é ser uma paródia do filme “O Iluminado”, de Stanley


Kubrick, um dos meus diretores favoritos de todos os tempos. Embora na
minha versão, a única parte semelhante seja o hotel amaldiçoado.

Sophie interpretará “Suzy”, uma garota que morreu há muito tempo e que
vaga pelos corredores do hotel em busca de um amor. Edward será “Orfeu”,
um homem que precisa se hospedar durante uma noite por causa da
tempestade iminente na cidade, que promete derrubar árvores e devastar os
moradores locais.

Digamos que ambos se encontram e a atração é inevitável. Pode ser que


haja uma cena de sexo ou outra, porque acho que isso nunca é demais. A
vida é muito curta para não aproveitar as oportunidades que temos para
transar, não é mesmo?

Cameron e eu estamos quase finalizando o andar de baixo quando meu


telefone começa a tocar sem parar. Eu ignoro algumas vezes, concentrada
em deixar o cenário da melhor maneira possível. Eu definitivamente odeio
cuidar da decupagem do roteiro e me arrependo imediatamente de não ter
trazido mais alguém para cuidar especialmente dessa parte.

O toque irritante do meu celular volta a ressoar no ambiente e Cameron me


lança um olhar condescendente, o que me faz largar o bule de chá de
qualquer jeito em cima da mesa da recepção.

Quem é que está me atrapalhando uma hora dessas, pelo amor de Deus?

Nate O’Connel.
Argh.

Só poderia ser.

— O que você quer, Nate? — questiono, sem muita paciência.

Eu o escuto rosnar do outro lado da linha e chego a afastar o aparelho do


meu ouvido. Algo me diz que ele está prestes a gritar como quase nunca
faz.

— Onde você se meteu, Leslie?!

— Eu estou a duas horas de Granville, em uma cidade vizinha. Estou aqui


para a filmagem de um curta para a minha aula de direção e tenho quase
certeza de que te avisei sobre isso.

Mais um rosnado do outro lado. É sério, talvez isso seja um problema de


garganta. Preciso me lembrar de indicar um bom médico para Nate mais
tarde.

— Você não me avisou que iria para tão longe hoje! Porra, Leslie —
grunhe, muito irritado. — Não acredito que você esqueceu de me contar
sobre isso.

— Não é como se você se importasse, não é, Nate? Você vive dizendo que
nós não somos namorados de verdade, oras. Por que eu deveria te avisar
sobre algo que pretendo fazer?

Ele respira fundo.

— Porque você e eu estamos fingindo um namoro por um objetivo em


comum, cacete. Hoje a fraternidade do Adam vai dar uma festa e o time dos
Angry Sharks inteiro foi convidado. Eu confirmei a nossa presença como
uma forma de finalmente darmos início ao nosso plano, mas quando fui na
sua sororidade, adivinha? Você não estava lá e ninguém sabia me dizer
quando você voltava. Precisei mentir para a Landon, aliás. Feliz?

Reviro os olhos dramaticamente, mesmo sabendo que Nate não pode me


ver.
— Você vai se acostumar com isso.

— Me acostumar com o quê? Com você nunca me dando satisfação?

— Não, a mentir para a Landon. É meio chato no começo, mas depois você
vai entender que é para um bem maior.

— Você é muito irritante, Leslie.

— Idem, Nate. E você está atrapalhando o meu dia de gravação. Ninguém


nunca te disse que dia de set é impossível de se perder? É dinheiro que eu
não tenho indo parar no ralo. Não consigo ir embora daqui tão cedo.

Ele parece tomar fôlego do outro lado da linha.

— Tudo bem, pode continuar com a sua gravação, mas nós vamos nessa
festa.

— Não quero te desanimar, mas alugamos uma van e ela não é a coisa mais
veloz do mundo. Além do mais, se você ver como o Cameron parece dirigir
a vinte quilômetros por hora, eu não teria tanta certeza…

Nate grunhe.

— Eu vou aí te buscar. Me passa todos os dados e a sua localização, eu não


quero escutar mais nenhuma palavra, Leslie. Só quero me livrar dessa
história o quanto antes.

Não discuto mais quando passo o nome do hotel em que estamos, Nate não
consegue esconder a surpresa ao descobrir que a nossa locação fica em um
hotel de luxo que foi inaugurado há pouco tempo na cidade. Adorei contar
sobre a Savannah e seus quatro namorados e aposto que o pescoço de Nate
deveria estar mais vermelho do que um tomate quando contei o que Sav e
Edward pareciam estar fazendo no banco de trás da van.

É tão fácil deixá-lo sem graça que se tornou uma espécie de brincadeira
particular nossa. No fundo, eu tenho certeza que ele adora os meus
comentários picantes.
Será que seria assim também na cama?

Balanço a cabeça, tirando a imagem de Nate e eu, nus, no meio de uma


cama enorme e bagunçada. Principalmente depois que eu assisti a um jogo
de beisebol dele, agarrando aquele bastão com força e rebatendo a bola até
que a mesma passasse voando sobre nossas cabeças.

Será que ele me daria uns tapas com aquelas mãos fortes? Ou será que Nate
ficaria com dó de me causar dor?

Está aí algo que eu provavelmente jamais saberei e que me deixa meio


triste por dentro. O cara pode ser mal-humorado, um estraga prazeres e na
maioria das vezes parece que foi possuído por um senhor de sessenta anos,
mas o fato é que ele é gostoso demais.

Da cabeça aos pés.

Dos cabelos escuros ondulados aos ombros inegavelmente fortes. Aos


braços gigantes e as veias que parecem saltar quando ele fica muito
irritado. Dos olhos castanhos que sempre me olham com reprovação aos
lábios rosados que, porra, de vez em quando dá muita vontade de beijar
para calar a boca dele de uma vez.

Igual uma semana atrás, quando nós dois saímos para jantar com o pai dele.
O prefeito Andrew parecia desconfiado de que havia algo entre nós e
durante a noite inteira, Nate fez questão de me tratar como uma…
Desconhecida.

É, não posso negar que isso me irritou até os ossos.

Ele deixou claro para o pai que a Landon sempre estava presente em seus
jogos e que provavelmente ela tinha me mandado em seu lugar porque não
conseguiria comparecer durante aquela semana, mesmo sabendo da
importância dos jogos para a classificação da universidade no campeonato
estadual.

Eu abri um sorriso falso e concordei com cada mentira que aqueles lábios
perfeitos soltavam, mesmo quando ele disse que não estava vendo
ninguém!

Tá, tudo bem que nós dois não estamos namorando oficialmente, mas eu
acho que merecia um pouco mais de crédito, caramba.

Nate está completamente louco se pensa que seu pai jamais vai saber do
nosso envolvimento. Mesmo que seja de mentira…

— Eu vou passar aí no final do dia, Leslie. Esteja pronta — ele finaliza,


todo mandão, e eu nem me esforço para discordar.

Depois que Nate desliga o telefone, volto a minha atenção para o trabalho
que Cameron fez na cena em que vamos filmar o primeiro take. O trabalho
não está ruim, mas não está exatamente da forma que eu imaginei quando
eu o escrevi.

Respiro fundo e lembro a mim mesma que é por isso que roteirista
normalmente não é bem-vindo em dia de gravação: ele não aceita muito
bem as mudanças do texto original.

Sutilmente, vou indicando a melhor disposição dos objetos em cena quando


Sophie aparece, com um sorriso tímido brincando em seus lábios. Savannah
a maquiou perfeitamente e o vestido florido que ela usa realça muito bem
seus olhos doces.

Ela está deslumbrante.

— Caralho — suspira Cameron, medindo-a da cabeça aos pés.

Acho que ele pode estar babando e, francamente, eu também.

— Meu Deus, Sophie… — murmuro, embasbacada. — Você está linda!

Ela desvia o olhar do meu, sem graça, mas ainda assim consigo perceber o
sorriso que ela abre no canto da boca. Sophie também está muito feliz com
a própria aparência.

— A Savannah fez um ótimo trabalho mesmo — concorda, ainda


cabisbaixa. — Confesso que inicialmente eu estava um pouco nervosa,
sabe? O Adam sempre disse que eu não fico tão bonita de maquiagem
como eu fico quando estou natural. Eu evito até usar batom para não
manchá-lo quando nós nos beijamos… Mas isso… Nem eu sabia que eu
poderia me parecer com isso.

Savannah e eu nos entreolhamos rapidamente, incomodadas. A cada


segundo que passa eu só tenho mais raiva daquele desgraçado.

— Sophie, sei que nós duas não nos conhecemos antes de hoje, mas… Você
sabe que o seu namorado não pode controlar a sua maquiagem, não sabe?
— questiona Savannah, com cuidado.

Sophie abre um sorriso, apenas dando de ombros.

— Eu sei que pode parecer errado para algumas pessoas, mas essa é a
forma que Adam mostra que se importa comigo. Ele é muito fofo, de
verdade. Uma vez eu usei um short praticamente indecente e ele chorou
quando foi me buscar, disse que ficava com o coração partido ao imaginar
outros caras vendo algo que deveria ser só dele. Eu me sinto tão desejada…
Como se ele não conseguisse viver sem mim. Tenho certeza que vocês duas
entendem como é a sensação.

O sorriso bobo em seus lábios não me deixa dúvidas de que a minha amiga
realmente acredita que esse tipo de manipulação é amor.

Sav e eu nos olhamos mais uma vez, mas agora posso observar
incredulidade no olhar dela.

Vai ser mais difícil ajudá-la do que eu pensei.

— Nós sabemos bem como isso funciona, Sophie — é o que eu respondo,


com um sorriso triste esboçando meus lábios. — Pode ter certeza que
sabemos, sim.
Cante comigo, cante pelo ano

Cante pelo riso e cante pelas lágrimas

Cante comigo, mesmo se for apenas hoje

Dream On | Aerosmith

Todo o processo de gravação dura aproximadamente seis horas e eu não


poderia estar mais orgulhosa.

Savannah fez um excelente trabalho como produtora, diretora de arte e,


tecnicamente, dublê. Na cena de sexo que Edward supostamente deveria
contracenar com Sophie, não deu muito certo na prática, então optamos por
prender o cabelo de Sav em um coque e fazer Ed prensá-la contra a parede,
assim a mudança da cor dos fios e a fisionomia diferente de ambas não
seria percebido na edição final.

Tá, talvez eu esteja sendo muito otimista. Mas ei, eu confio na capacidade
de Jude em editar um vídeo, então estou acreditando que ele vai conseguir
realizar um bom trabalho.

Ou é isso ou vamos acabar perdendo bons pontos pela falta de um


continuísta. Sabe, ele é a pessoa responsável no set de filmagens para se
assegurar de que um objeto ou alguém não esteja diferente de uma cena
para outra.

Sabe quando você está assistindo um filme e em determinado momento


percebe que o celular da protagonista mudou da escrivaninha para o meio
da cama? Bom, é trabalho do continuísta perceber esses detalhes e se
assegurar de que não existam momentos assim no corte final. É o que
quebra a suspensão de descrença de qualquer um.
— Está pronta pra ir pra casa, Leslie? — questiona Sophie, com um sorriso
satisfeito.

Ela até relutou por um tempo quando sugeri-lhe que estrelasse o meu curta,
mas não demorou muito para ela se soltar e curtir muito todo o nosso
momento no set juntas. Se eu não a conhecesse, diria até que ela pensou em
atuar por mais um tempo…

— Na verdade, Sophie, a minha carona vai chegar a qualquer momento.


Vocês podem ir sem mim.

Ela inclina a cabeça para o lado, com um sorrisinho brincando em seus


lábios.

— O seu namorado vem te buscar? O rei do home run, o Nate?

Eu balanço a cabeça, mostrando a língua para o apelido.

— Rei do home run?

Sophie dá de ombros.

— É como Adam o chama de vez em quando. Ele disse que o Nate


simplesmente está acima da média de qualquer outro atleta universitário.
Eu não deveria te contar isso… Mas a família do Adam também tem boas
ações em alguns dos principais times da liga de beisebol. Eles são meio
obcecados com o esporte por causa disso. — Pisca para mim, parecendo
animada. — Eu acho tão fofo que ele tenha vindo de longe só pra te
buscar…

Engulo em seco, tentando processar o bombardeio de informações que


acabei de receber. Então quer dizer que além de uma grande empreiteira e
de aparentemente ter mais dinheiro do que qualquer outra família da região,
o desgraçado também era poderoso no mundo dos esportes?

Onde eu fui me enfiar, meu Deus?

— É, esse é o Nate… Fofo.


— Quero muito sair pra jantar com vocês dois qualquer dia desses. Eu sei
que o Adam vai adorar poder conversar com o Nate sobre a College World
Series, que deve acontecer daqui alguns meses em Nebraska. Os Angry
Sharks com certeza serão classificados para competirem lá e eu aposto que
Nate vai como titular. Você vai acompanhá-lo durante esse período, Leslie?

Eu pisco várias vezes, sem saber ao certo o que responder.

— Hã… Nós ainda não conversamos direito sobre essa possibilidade, mas
se depender de mim, por que não? — Dou de ombros, agradecendo aos
céus pela habilidade de mentir tão bem.

Sophie abre a boca e eu tenho certeza que passaria uma meia hora me
interrogando sobre o meu namoro de mentira com o cara que eu menos
suporto no mundo, mas graças ao universo somos interrompidas por uma
Savannah animada.

— Isso foi tão divertido! — exclama ela, nos abraçando ao mesmo tempo.
— Eu acho que deveríamos abrir uma produtora juntas para começar a
trabalhar com filmes indie.

— Eu estarei cem por cento livre para ser a atriz na maioria deles. Bom, se
não houver cenas de sexo…

Sav solta um gritinho ultrajado, nos soltando como se estivéssemos


pegando fogo.

— Que absurdo, é claro que faríamos filmes com cenas de sexo! Na


verdade, acho que poderíamos nos tornar uma referência nisso. Mulheres
sabem como excitar outras mulheres.

— Isso é verdade — concordo, apontando para ela.

Sophie nos encara sem graça, desviando o olhar para o chão. É engraçado
que quando ela bebe, normalmente conta todas as aventuras sexuais que já
viveu, mesmo que a gente saiba que foram realizadas com o mesmo cara.
Mas, no dia a dia, ela costuma ser bastante tímida.
— Se vocês estão dizendo… — Dá de ombros, com as bochechas
começando a corar lentamente.

E é nesse instante que uma buzina ensurdecedora começa a ecoar por todo
o ambiente. Olho para trás só para ter certeza que o Jeep preto de Nate está
com os faróis ligados, estacionado na frente do hotel.

Reviro os olhos.

Ele não poderia ter chegado de uma maneira mais discreta, poderia?

Não, claro que não. É de Nate O’Connel que estamos falando, afinal de
contas. O irritante, chato e petulante Nate O’Connel.

— Acho que minha carona chegou — anuncio com a voz um pouco


amuada.

— É seu namorado? — questiona Savannah, com um brilho de excitação


no olhar.

— É sim, e o namorado dela é um superastro da faculdade — diz Sophie,


antes que eu tenha chance de responder alguma coisa.

Savannah desvia o olhar para mim, chocada, e eu dou de ombros.

— Ele não é bem um astro… É atleta universitário, sabe como é? Ele joga e
as pessoas vão assistir. Fim.

— Ele joga futebol pelos Angry Sharks? — pergunta Sav, recebendo por
trás um abraço de seu namorado Edward. — Eles são bem legais.

Tento não prestar muita atenção em como as mãos de Ed vagueiam até a


cintura da Sav, quando ele obviamente a pressiona contra ele mesmo. Esses
dois só estão esperando uma oportunidade para se trancar em algum canto e
arrancar as roupas um do outro.

Não vou deixá-los esperando por muito tempo.


— Na verdade, o Nate joga beisebol. Não entendo muito sobre o que ele
faz lá, mas…

— Espera um pouco aí — me interrompe Edward, parecendo genuinamente


chocado. — Nate O'Connel, o rei do home run? Esse Nate?

Abro um sorriso falso, rangendo os dentes por dentro sem que ninguém
perceba.

Mas que CACETE! Nate precisava ser tão bom em tudo como sempre?

— É. Esse mesmo… O rei do home run. — Continuo com meu sorriso


forçado, sentindo que deixei de gostar de Edward um pouco.

Ele abre a boca, surpreso.

— Ai, cara, mentira! Nate O’Connel está dentro daquele carro? Será que a
gente pode falar com ele? Talvez… Sabe… Tirar uma foto?

Todos os olhos dos meus mais recentes amigos brilham com a possibilidade
de sair em uma foto com o garoto que eu costumava achar insuportável e
que, sempre que podia, me dedurava para os nossos professores no ensino
médio.

Hoje ele é um atleta e uma espécie de celebridade para todos os


universitários de Granville — e se bobear, de toda a Califórnia.

O karma não podia vir um pouco mais leve comigo, não?

— Eu adoraria apresentar o Nate pra vocês, mas na verdade nós dois


estamos atrasados para uma festa. Sabem como é, ele precisou vir em uma
outra cidade me buscar, então…

— Ah, claro, sem problemas — responde Edward, parecendo conformado.


— Mas será que ele não poderia autografar o meu boné dos Angry Sharks
quando voltarmos para Granville? Eu prometo que não vou tomar muito do
tempo dele…
Estou rangendo tanto os dentes que provavelmente vou precisar arrumar
isso no dentista mais tarde.

— Claro, Ed. A Savannah fica de me ligar.

Depois de me despedir de todos eles rapidamente, vou até o carro encontrar


um grande mal-humorado Nate.

Ele destrava as portas enquanto eu entro no banco do carona, arrumando


meus cabelos ruivos em um coque no topo da cabeça. Nate não vira na
minha direção ou sequer murmura uma palavra quando dá a partida no
carro, fazendo uma manobra que com certeza é ilegal para que não
precisemos fazer o retorno.

Quer dizer que o cara legal não é tão legal assim, não é?

Os braços se flexionam sempre que ele segura o volante com um pouco


mais de força e eu sei que isso não deveria me deixar tão excitada, mas é
inevitável ao perceber como seus braços parecem ainda maiores do que da
última vez que eu os vi.

Depois de longos dez minutos no mais insuportável silêncio, finalmente


decido puxar assunto.

— Que tipo de festa é essa que estamos indo?

Mas Nate parece focado em me ignorar.

— Estamos sem nos falar agora? — insisto, me recostando melhor no


banco.

Ele permanece em silêncio.

— Que maduro da sua parte, hein? Eu não estou vestida adequadamente


para uma festa, sabia? Essas coisas a gente costuma avisar com
antecedência.

— Igual a você me avisando que planejava deixar a cidade? — rebate ele,


com a cara fechada.
— Acabou de falar comigo! — Não resisto, embora eu tenha consciência
de que isso só vai irritá-lo ainda mais.

Nate grunhe, irritado.

— Leslie, eu não estou com humor para as suas gracinhas hoje.

Dou de ombros, amuada.

— Parece que você nunca está com humor para nada relacionado a mim…

— Eu só gostaria de ter sido avisado sobre essa viagem. Apenas isso.

— Não precisa exagerar, Nate. Não foi bem uma viagem, foi? Eu só
precisava entregar um curta-metragem para a minha aula de roteiro.
Conheci a Savannah, que é minha veterana, e ela conseguiu convencer um
dos namorados dela a nos emprestar o hotel da família dele como locação.
Tem noção disso? A maioria dos nossos colegas vai conseguir ir, no
máximo, para a praia. A gente conseguiu o melhor lugar do mundo para
rodar o curta e desculpa se eu esqueci de te avisar sobre isso, mas foi você
mesmo que cansou de me lembrar que nós dois estamos em um namoro
falso.

Nate solta um barulho que estranhamente me lembra um rosnado, mas eu


decido ignorar deliberadamente.

— Tinha um cara lá com você — murmura ele, entredentes.

Meu coração acelera uma batida ao me virar rapidamente na direção dele,


confusa demais com o que ele acabou de me dizer.

— Sim, assim como tinha uma garota assistindo a você jogar, lembra?

— Você prometeu que ia dar uma pausa com outras pessoas enquanto a
gente continua fingindo um relacionamento.

— E é o que eu estou fazendo, Nate. Não posso dizer o mesmo de você, no


entanto, embora eu não tenha te cobrado como uma namorada igual você
está fazendo comigo agora.
— Não estou te cobrando nada!

— Imagina se estivesse… — Reviro os olhos, abrindo um sorriso malicioso


de canto. — Mas eu não ligo. Até acho sexy essa possessividade que você
está demonstrando sentir por mim.

Nate bufa alto, desviando a atenção momentaneamente da estrada e


focando diretamente em mim. Arqueio a sobrancelha, convencida,
adorando saber que uma frase o desestabilizou tanto.

— Eu acho melhor você prestar atenção na estrada, Natezinho… —


murmuro, sarcástica, antes de sentir o carro frear bruscamente.

Graças ao cinto de segurança não sou arremessada com tudo para frente,
mas mesmo assim sinto o impacto de sua freada brusca. Respiro fundo,
passando a mão por todo o meu corpo para ter certeza de que ainda estou
com todas as partes nos devidos lugares.

Mas que porra?

— Você por um acaso enlouqueceu?! — esbravejo, puta de verdade com o


show que ele acaba de dar.

Mas Nate me ignora completamente quando abre a porta do carro, quase


em transe, correndo para a rua iluminada apenas pela lua e as estrelas.
Franzo o cenho, confusa pra caralho e sem nenhuma piadinha pronta na
ponta da língua para nos distrair dessa situação estranha.

É, definitivamente cheguei ao fundo do poço.

— TÁ, NATE, EU JÁ APRENDI A LIÇÃO, TUDO BEM? — grito através


da janela, observando-o se agachar para inspecionar alguma coisa. Isso
aguça a minha curiosidade, mas ainda assim me mantenho onde estou. —
VOCÊ ESTÁ ME ASSUSTANDO!

— LESLIE! VEM AQUI! — grita ele, acenando de onde está, sem nem ao
menos desviar o olhar para o carro novamente.

Merda, merda, merda, merda…


Tomo uma longa respiração, desafivelando o cinto antes de pular do carro
irritantemente alto de Nate.

Tento não prestar atenção ao fato de que está um verdadeiro breu essa hora
da noite, com nada mais do que a iluminação das estrelas em uma estrada
que parece verdadeiramente assustadora. O que tem ao redor? Nada além
de uma pequena floresta.

Uma pausa dramática para afirmar que temos todas as características para
um perfeito filme de terror.

— Nate? — chamo, engolindo em seco. — Será que a gente pode dar o


fora daqui o mais rápido possível?

— Acho que ele ainda está respirando… — murmura Nate, concentrado


em… Alguma coisa.

Na verdade, não é qualquer coisa.

É uma bola de pelos.

Me agacho ao seu lado, inspecionando o gatinho preto jogado no meio da


estrada. Ele respira fundo, com os olhos fechados, e aposto que não tem
nem um ano ainda.

— Ele está vivo, não está? — questiona Nate agora olhando para mim, um
brilho preocupado estampado em seu olhar.

Desvio minha atenção dele, prestando atenção no felino desnutrido.

— Com certeza ele está vivo. Nós não fomos os responsáveis por isso,
fomos?

Nate nega lentamente com a cabeça e isso me faz soltar um suspiro de


alívio.

— Nós não o atropelamos, mas foi quase. Não vejo sinais de machucado ou
sangue, o que significa que ele não sofreu nenhum acidente. Provavelmente
só está dormindo.
— Ele parece muito magro, Nate. Não podemos deixá-lo aqui!

Mas Nate, como sempre, parece me ignorar completamente. Ele anda até o
carro e antes que possa abrir a porta do motorista, franze a testa para mim.

— O que você ainda está fazendo aí, Leslie?

Reviro os olhos, voltando a encarar o animal indefeso que obviamente não


consegue falar, mas que se pudesse, com certeza diria algo do tipo “por
favor, Leslie, seja a minha mamãe!”.

— Eu não vou abandonar ele aqui.

Nate bate a porta do carro com força, depois arranca o boné de beisebol dos
cabelos e começa a bater com ele na própria cara. Em seguida, passa os
dedos furiosamente em seus cachos escuros.

— Leslie, é sério. Não temos tempo para isso — diz ele, já sem nenhuma
paciência.

Azar o dele, porque eu não saio mais daqui sem o…

— Salém! — anuncio, colocando a minha mão delicadamente por baixo do


corpinho do gato preto.

Os olhos de Nate saltam do rosto ao me verem segurar o gato contra o


peito. Ele parece exasperado conforme o felino se espreguiça no meu colo,
abrindo os olhos e piscando devagar.

— Leslie! Meu Deus! Você não sabe se esse animal tem alguma doença ou
se a mãe dele ainda está por aí.

— Você acha que esse animal aqui é um tigre, Nate? — questiono, irônica.
— O pequeno Salém vai pra casa comigo hoje.

Nate se recosta no próprio carro, cruzando os braços na frente do peito. O


boné foi colocado para trás de qualquer jeito por cima de seus cabelos
agora bagunçados. Se não fosse a carranca direcionada a mim, eu até
poderia dizer que ele fica fofo assim.
— Tudo bem, podemos levá-lo. Acho que conheço um abrigo que vai poder
ficar com ele — Nate cede, por fim.

Mas isso não é suficiente pra mim. Suspirando, eu nego com a cabeça.

— Eu vou adotá-lo. Esse bebê vai ficar tão lindo depois que engordar mais
um pouquinho…

— Mas você não pode levar esse gato para a faculdade, Leslie. Já parou
para pensar no que a Landon vai dizer? Você ao menos sabe se as suas
irmãs da sororidade vão se incomodar com a presença dele? — ele continua
falando, mas estou completamente hipnotizada pelos olhinhos brilhantes do
gato que parecem implorar para ir embora comigo.

Eu passo o dedo suavemente sobre seu queixo, sentindo-o ronronar contra


mim. Ai. Meu. Deus.

Acho que agora eu sou mãe!

— Dê boas-vindas para o nosso filho, Nate — murmuro, mostrando-o


alegremente para o emburrado, que me encara sem conseguir acreditar.

Ele abre a boca, em choque, e depois vira o boné para a frente do rosto,
abaixando-o até que o mesmo cubra toda a sua cara. Nate solta um gemido
sofrível e eu encaro isso como um bom sinal.

Ele está cedendo.

— Vou me arrepender tanto disso quando a Landon descobrir… —


sentencia, já parecendo desanimado com o que estamos prestes a fazer.

— A Landon vai amar, eu tenho certeza! Agora nós somos pais — continuo
tagarelando, mas dessa vez me apressando o suficiente para sair desse
cenário digno de um thriller.

Nate não diz mais nenhuma palavra enquanto entramos no carro, parecendo
resignado. Ele solta um grunhido, como se não estivesse acreditando que
iríamos mesmo levar o felino pra casa.
Eu esfrego o rostinho do gato no meu e abro um sorriso para ele, tentando
fazer o melhor olhar de “gato de botas” para amolecer seu coração.

Ele respira fundo, incrédulo, embora eu possa jurar que um canto da sua
boca quase se ergueu com a cena.

— Salém é um nome estranho — é o que ele responde, simplesmente.

— Salém é o nome do gato de Sabrina, a bruxinha. Ela era a minha heroína


quando eu era criança, Nate. Agora eu também tenho um gatinho chamado
Salém como companheiro.

Ele balança a cabeça, soltando uma risada irônica pelo nariz.

— Sua heroína era uma bruxa. Por que será que isso não me surpreende?

Estreito os olhos em sua direção.

— Cuidado com essa boca, Nate. Muito cuidado.

— Eu sempre tenho cuidado com ela, Leslie — retruca, sem desviar o olhar
da estrada.

Dou de ombros, sem conseguir deixar de aproveitar essa deixa.

— Não deveria tomar cuidado com ela sempre, sabia? Consigo pensar em
uma coisa ou duas que a sua boca pode fazer para me agradar. Quando
estiver afim…

Observo suas bochechas começarem a ficar vermelhas e solto uma


gargalhada, adorando constatar que, no final das contas, continuamos os
mesmos.

Não mudamos nada.


Se nós sobrevivermos à Grande Guerra

Você elaborou alguns tratados de boa fé

Eu fechei as cortinas, bebi meu veneno sozinha

Você disse que eu tenho que confiar mais livremente

Mas diesel é desejo, você estava brincando com fogo

The Great War | Taylor Swift

Eu mudei.

Eu me conformo com essa constatação ao observar, de soslaio, como Leslie


afaga e brinca com o gato maltrapilho que acabou de resgatar da estrada
deserta que deixamos para trás.

Meu coração acelera quando vejo-a encostar o nariz no rosto do animal,


afagando-o enquanto escuta seu ronronar para ela. Eu engulo em seco,
pensando em quão irônico é sentir ciúmes de um gato.

A porra de um gato.

Leslie puxa o celular do bolso e começa uma chamada de vídeo com a


Landon. Ela solta um gritinho quando o rosto da irmã aparece, meio
sonolento, na câmera.

— Estou levando um presente pra você! — Exclama ela, empolgada, e eu


sinto a garganta fechar.

Lá vem.

— Um presente? — questiona Landon, cética.


— Sim, mas é surpresa!

— Se é surpresa, por que você me ligou?

— Porque eu preciso da sua permissão — explica, como quem não quer


nada.

— Como assim permissão?

Leslie ergue o gato até a altura da câmera, gritando “surpresa! Ele não é
lindo?”, enquanto eu seguro a risada.

— Um gato? — pergunta Landon.

— Sim! Nate encontrou ele no meio da estrada e senti no coração que ele
tinha que ser meu. Bom, nosso, já que vai dividir o quarto com a gente.
Não é a coisa mais linda que você já viu?

Landon suspira.

— Leslie, ele realmente é fofo, mas acho que não é uma boa ideia manter
um gatinho aqui. Podemos procurar um abrigo pra ele.

— Foi exatamente isso que sugeri — intervenho, inclinando o corpo para o


lado.

Leslie balança a cabeça.

— Mas eu quero muito que ele seja meu. Eu prometo que troco a caixa de
areia, compro a ração e coloco ele pra dormir todas as noites! Também vou
castrá-lo essa semana. Você não vai ter nenhum trabalho com ele, Land, eu
prometo.

Landon fica em silêncio do outro lado da linha, mas se eu conheço bem a


minha melhor amiga, ela vai ceder. Nunca conseguiu dizer não para Leslie
antes.

— Tudo bem — cede ela, suspirando. — Vai trazê-lo para cá agora?


Não falei?

Leslie solta um gritinho feliz e então as duas se despedem na chamada.

Sinto meu maxilar travar ao pensar no que preciso avisar para ela sobre a
festa que estamos indo hoje à noite. Não é só uma comemoração do último
jogo que ganhamos, mas também uma parte do plano que começamos a pôr
em prática.

O plano de destruição de Adam.

— Leslie — chamo.

— Hm?

Bom, lá vamos nós.

— Só quero saber se está tudo bem. Nós estamos indo para uma festa na
fraternidade do Adam, afinal.

O rosto dela murcha lentamente com a constatação e isso causa um aperto


no meu peito difícil de decifrar.

Convivi com Leslie a vida inteira e acho que nunca a vi tão triste como
nessas últimas semanas. Ela sempre está celebrando a vida, rindo alto o
suficiente para acordar os mortos, dançando ao som de Aerosmith sempre
que tem a chance. Ela é assim.

Como um raio de sol.

Quero esmagar o rosto de Adam com toda a força que eu tenho só de


pensar no que ele tem causado a ela. No sono que ele tem roubado, nos
sorrisos que estão sendo cada vez mais falsos, na risada que eu já não
escuto com muita sinceridade.

Deus, eu nunca pensei que sentiria falta das insinuações sexuais irritantes
que Leslie constantemente — mais do que o usual — atira contra mim, mas
aqui estamos.
— Você achou que seria uma boa ideia para conseguirmos alguma coisa
dele e eu concordo — ela diz, com uma expressão séria. — Mas a Sophie
não comentou sobre nada disso comigo hoje…

Não é necessário responder nada a ela. Um olhar meu e Leslie já


compreende o motivo de Adam não ter contado para a namorada que está
dando uma festa na fraternidade hoje.

Leslie solta uma risada sarcástica.

— Ah, claro. Ele quer transar com outra garota — constata ela, com uma
expressão de desgosto no rosto perfeito. — Agora eu entendi porque ele
deixou a Sophie vir gravar comigo sem tanta resistência. Ele é um porco.

— É sim — concordo, apertando ainda mais minhas mãos ao redor do


volante. — Mas nós vamos tirar a Sophie dessa.

— Sim, nós vamos.

Eu não digo mais nada quando volto a minha atenção para a estrada escura,
embora possa jurar que escutei um fungar baixinho de Leslie ao meu lado.
Faço questão de não virar o rosto para conferir porque, caso a veja
chorando, posso sair de mim.

E eu preciso estar cem por cento bem quando encontrar o filho da puta que
não perde por esperar.

Vou matá-lo.

— Você não pode matá-lo — murmura Leslie no meu ouvido, tão perto que
sinto pequenos calafrios ao sentir a sua respiração quente contra a minha
pele.

Meus dentes rangem quando meu olhar foca no desgraçado que agora está
se agarrando com uma garota de cabelos loiros curtos. Ele a beija na frente
de todos os presentes na festa, pouco se importando com os que sabem que
ele na verdade tem uma namorada.
Quanta ironia. A garota que está comigo hoje, segurando meu braço com
força, também já esteve nessa posição.

— Eu posso tentar — é o que eu respondo para ela, enquanto continuo


assistindo-o sussurrar alguma coisa contra os lábios da menina que
provavelmente não faz ideia de quem é esse filho da puta.

— Não vamos conseguir vencê-lo assim, Nate. Se você bater no Adam


agora, tudo o que vai conseguir é uma advertência do time e os Angry
Sharks não podem perder o rei do home run — responde ela, com uma
pitada de diversão na voz.

Isso chama a minha atenção. Desvio o meu olhar momentaneamente da


cena deplorável que estava assistindo e ergo meu rosto para ela com o
cenho franzido.

— Como você sabe disso?

Leslie revira os olhos.

— Como eu sei que meu suposto namorado é uma espécie de celebridade


para todos os amantes de beisebol aqui de Granville? Fala sério, Nate, as
pessoas só sabem falar isso a respeito de você. Não fazia ideia de que você
era tão bom.

Dou de ombros, sentindo meus músculos começarem a relaxar.

— Eu tento.

— Pode ir parando de falsa modéstia, tá bom?

Aperto minhas mãos em punho antes de desviar o rosto novamente para o


Adam. Leslie acompanha o meu olhar, mordendo o lábio inferior.

— Eu preciso ligar para a Landon. Você pode cuidar disso aí, se quiser…

— Como assim?
— Quando ele sair, tenta falar com a garota. Pelo menos diz que ele é
comprometido. Se ela não se importar, então tudo bem. Ela vai estar ciente
do que está acontecendo e será consensual. O que me tira do sério é saber
que ele não sente remorso por enganar mulheres assim…

Engulo em seco, sentindo uma descarga de adrenalina invadir meu corpo.


Leslie é esperta pra caralho e não sei como essa ideia ainda não tinha
passado pela minha cabeça.

— Você vai ligar pra Landon agora?

Ela assente.

— Vou fazer uma chamada de vídeo para ter certeza que o Salém se
acostumou com a nova casa.

— E por “nova casa” você quer dizer o quarto que vocês duas dividem?

— Ei, é uma ótima casa para um gato. Ele vai ser mimado e acariciado por
várias garotas todos os dias. Tem vida melhor?

Eu mostro meus dentes para ela, sentindo que ela vai aproveitar essa deixa
para insinuar algo que vai me deixar com o pescoço vermelho e as bolas
doendo. Leslie não pega leve comigo nunca.

— Olha, ele acabou de sair. Deve ter ido buscar uma cerveja. — Ela faz um
meneio de cabeça na direção da garota que agora ostenta lábios vermelhos
inchados e uma roupa completamente fora do lugar. — Esse é o momento
em que você…

— Estou indo lá — interrompo-a, caminhando decidido na direção da


garota.

Ela está tão distraída e sonhando acordada que leva um susto quando eu me
aproximo. Seus olhos me examinam de cima a baixo e ela parece gostar do
que vê, porque morde o lábio inferior e os olhos brilham, animados.

Não posso negar que isso faz maravilhas pelo meu ego.
— Meu Deus, Nate O’Connel vindo falar comigo! Você simplesmente é o
rei…

— É, eu sei — corto, torcendo para que ela não ache que estou sendo
grosso de propósito. — Eu preciso te avisar sobre uma coisa e tem que ser
rápido, então peço desculpas se não conseguir conversar muito contigo
agora. O cara que saiu daqui e que você estava beijando, o Adam. Você o
conhece?

A menina desvia o rosto para o lado, como se o buscasse pelo ambiente.


Suas bochechas ficam da cor de um tomate e o olhar subitamente defensivo
me faz pensar que talvez ela pense que eu estou julgando o fato de ela estar
beijando alguém que ela não conhece.

Ela morde o lábio inferior, desconfortável.

— Acho que isso não é da sua conta.

Passo os dedos pelo meu cabelo, conferindo mais uma vez se Adam está
voltando. Sinto alívio ao constatar que não.

— Olha, eu sei que isso não é da minha conta, e acredite em mim, isso não
é um julgamento. Você tem o direito de escolher com quem quiser ficar,
onde quiser e isso não é da conta de ninguém. Está vendo esses idiotas com
a jaqueta do time? — Eu aponto para todos os meus colegas de time e a
garota acompanha com o olhar, assentindo. — Eles dormem com uma
garota desconhecida por dia e eu não acho nada demais. Se é consensual,
não é da conta de ninguém. E da mesma forma que eles podem fazer isso
sem se preocupar com julgamento, você também pode. Eu só não gosto de
ver mulheres sendo enganadas.

Seu olhar captura o meu, muito confuso.

— Como assim enganada?

Respiro fundo.
— Adam não é um cara solteiro. Ele tem uma namorada, uma garota muito
legal, que ele aprisiona nesse relacionamento porque a família dela deve
dinheiro para a família dele. Esse cara dormiu com a garota que hoje eu
namoro… — Engulo em seco. — E ela descobriu depois sobre a namorada
dele. Quando ela disse pra ele que planejava contar sobre a traição, Adam
ameaçou destruir a vida das duas. Olha, você parece ser uma menina
incrível, eu só acho que é meu dever te deixar ciente disso. Boa noite.

A menina arregala os olhos e abre a boca para me responder alguma coisa,


mas não fico tempo o suficiente para escutar. Já tive muita sorte que o
desgraçado está demorando tempo demais na cozinha, não posso arriscar
que ele me veja nem remotamente perto do que seria sua transa da noite.

Leslie aparece poucos segundos depois, com o celular desligado na mão.


Eu aceno para ela, que vem até mim com um olhar questionador.

— Você contou…?

— Sim. Pelo menos agora ela sabe quem ele é.

— Isso me deixa mais aliviada — responde ela, com o olhar triste. — O


Salém está amando a Landon, embora eu ache que talvez não seja tão
recíproco assim. Vamos precisar de tempo até que ela se acostume com ele.

Eu coloco minhas mãos nos bolsos, me aproximando um pouco mais dela.

— Isso é peculiar. Você e a Landon são tão iguais, mas ao mesmo tempo
tão diferentes…

Leslie dá de ombros.

— Gêmeas não são clones, sabia?

— Eu sei, Leslie. Mas é que chega a ser engraçado como vocês duas
discordam em tantas coisas.

— Nisso você tem razão. A Landon acha você uma pessoa legal e eu não.

Estreito meus olhos na direção dela.


— Você finge que não me acha legal, essa é a diferença.

Ela solta uma risada sarcástica.

— Como se você se importasse com a minha opinião, Nate. Todo mundo


sabe que você me odeia e nunca me suportou. Você é o melhor amigo da
minha irmã e a nossa relação se restringe a isso.

Sinto um gosto amargo na boca ao escutar suas palavras tão duras, embora
eu não possa negar que elas sejam, em parte, verdade. Não é que eu a
odeie, mas Leslie sempre me causou sentimentos fortes.

Quando eu a vi na pré-escola, achei que ela fosse uma dessas princesas de


filmes da Disney que minha mãe às vezes assistia comigo. Ela tinha
cabelos ruivos que chegavam na metade das costas, tão brilhantes que era
impossível desviar o olhar. E o sorriso de Leslie era tão contagiante que
fazia todas as pessoas ao redor dela sorrirem também.

Quero dizer, é assim que as princesas são, não é?

Elas simplesmente roubam o ar das pessoas. Conseguem dominar


completamente o ambiente em que estão. Elas… Elas são as coisas mais
lindas que você já viu.

Elas fazem seu coração acelerar.

A sua boca secar.

As suas mãos suarem frio.

A sua barriga se encher de borboletas.

Eu só queria ficar cada vez mais perto de Leslie, mas a minha


personalidade não permitia isso. Enquanto ela era extrovertida, brincalhona
e sem papas na língua, eu era reservado, tímido e me limitava a conversar
apenas o necessário.

Acho que foi por isso que Landon e eu nos demos tão bem. E embora ela
fosse tão linda quanto a irmã e me entendesse de uma forma que parecia
que ninguém mais no mundo o fazia, eu não sentia meu coração acelerar
quando olhava para ela.

Esse sentimento era reservado exclusivamente para Leslie Reese.

E foi por isso que doeu tanto vê-la no banheiro com outro. E não qualquer
um, mas a porra do meu primo de segundo grau, cujo hobby era me
atormentar em todos os lugares possíveis. Eu costumava ter pesadelos com
a cena que eu presenciei e depois de sentir como se meu coração tivesse
sido arrancado do peito, eu prometi para mim mesmo que não a deixaria se
infiltrar na minha cabeça novamente.

Não deixaria Leslie ter novas armas contra mim.

— Eu nunca te odiei — respondo, limpando a garganta. — Nós somos


diferentes, isso é verdade. Eu não gosto muito de interagir com as pessoas e
você às vezes não consegue calar a boca…

— Ei!

— Mas eu jamais te odiei, Leslie. Eu nunca poderia.

Ela franze o cenho, os olhos brilhando com confusão. Acho que nunca fui
tão franco com ela antes e aposto que sua cabecinha está fritando com um
milhão de pensamentos diferentes.

Tão característico dela…

Mas antes que eu possa desenvolver esse nosso breve momento de trégua,
somos interrompidos por Liam, o arremessador dos Angry Sharks e o meu
pé no saco pessoal. Ele berra, como se fôssemos adolescentes, e passa os
dois braços por cima do meu ombro.

— Vamos jogar! Vocês dois estão parecendo um casal de velhos!

A palavra “casal” faz com que Leslie e eu nos entreolhemos rapidamente e


eu me pergunto se ela também sentiu um arrepio subir por sua espinha ao
escutá-lo.
De repente, pareço ter dez anos de novo.

— Que tipo de jogo você está pensando? — é o que Leslie pergunta,


quebrando totalmente a bolha que criamos nos últimos minutos.

Coço o meu queixo, ajeitando melhor a minha postura. Liam não vai
sossegar até nos arrastar para algum dos jogos universitários mais infantis
já inventados. Estou torcendo para ser o beer pong, porque se a escolha
deles for…

— Body shot! — grita, parecendo um pinscher de tão animado.

… Estaremos ferrados.

Leslie abre um sorriso brilhante, dando pulinhos e batendo palmas


enquanto o olhar de Liam a devora com os olhos. Acho que o imbecil nem
tinha reparado no quanto a garota em questão é gata, mas pode ter certeza
que não restam mais dúvidas.

Preciso marcar território.

— Será que você pode parar de olhar pra minha namorada, porra? —
mando, vendo-o abrir um sorriso brincalhão para mim, erguendo as mãos
em sinal de rendição.

— Foi mal, Nate. Me disseram que você estava namorando uma ruiva, mas
achei difícil de acreditar. Você mal sai do seu apartamento e quando não
está tendo aulas, está enfurnado no treino do time. Quando você teve tempo
para conquistar uma garota como ela?

Leslie parece renovada com os elogios e eu reviro os olhos por saber todos
os tipos de piadas e provocações que ela provavelmente está preparando
com base nas palavras do meu futuro morto colega de time.

— Nós nos conhecemos da nossa antiga cidade — responde ela, com um


sorriso convencido. — Ele é o melhor amigo da minha irmã gêmea, e
depois que viemos pra cá e eu vi o quanto ele fica gostoso de uniforme, foi
impossível resistir.
Sinto minhas bochechas pegarem fogo quando Liam joga a cabeça para
trás, gargalhando.

— Bom, gata, é uma pena que você não viu como eu fico de uniforme.
Tenho certeza que a minha bunda fica muito mais bonita do que a desse aí.
E desculpa a pergunta, mas eu ouvi você dizer que tem uma irmã gêmea…?

Essa é a minha deixa para intervir.

— A irmã dela te comeria vivo, Liam. Você não tem a mínima chance com
uma garota como ela.

Leslie suspira.

— Eu preciso concordar. A minha irmã é do tipo durona, sabe? Ela


provavelmente já teria feito você sair correndo.

Liam solta um muxoxo triste.

— Acho que cheguei tarde demais para conseguir algo com você, mas isso
não significa que aceito um não como resposta para o body shot que está
prestes a começar.

Eu encaro Leslie, vendo-a morder o lábio inferior. Depois, ela balança a


cabeça, dando de ombros.

— Acho que isso pode ser divertido. Quero dizer, como o jogo está
funcionando?

— Da forma mais respeitosa possível, eu juro — responde Liam. — Tem


um grupo que está doido para ficar bêbado e nós não podemos negar para o
povo o que o povo quer.

— Quanta generosidade… — murmuro, irônico.

— Não liga pra ele — diz Leslie, segurando um sorriso. — Eu quero beber
e acho que pode ser divertido. É só escolher a bebida e a pessoa, não é?
— Isso mesmo. Já peço desculpas de antemão para o meu amigo Nate, mas
acho que não posso deixar a oportunidade passar, Leslie. Será uma honra
beber whisky direto da sua pele…

Essa afirmação me deixa com o rosto pegando fogo e a vontade de amassar


a cara de Liam contra a parede vem com toda a força.

— De jeito nenhum. Se tem alguém que vai beber direto da Leslie, esse
alguém sou eu — respondo firme, reparando apenas no final como essa
frase soou.

Merda.

Olho de relance para Leslie, que arqueia a sobrancelha na minha direção.


Sei que provavelmente estou enviando um milhão de sinais confusos, mas,
porra, é exatamente assim que estou me sentindo esses últimos dias.

— Namorado possessivo, hein? — comenta Liam, com uma expressão de


cachorrinho que caiu da mudança. — Mas eu entendo ele. Se eu tivesse
uma namorada como você, não deixaria ninguém chegar muito perto.

Leslie gargalha, dando um tapa no braço do arremessador. Ele parece


satisfeito com isso e logo se despedem para que Liam possa recrutar mais
pessoas para o jogo.

— Será que podemos ir pra casa? — questiono, agora mais mal-humorado


do que quando fui buscá-la em uma cidade vizinha.

Mas Leslie, sendo a diaba que é, apenas balança a cabeça lentamente, com
um sorriso convencido brincando em seus lábios perfeitos.

— Como assim, Leslie? — insisto, sentindo um formigamento começar na


boca do meu estômago.

Ela simplesmente dá de ombros.

— Não podemos ir embora agora, Nate. As pessoas podem comentar… E


além do mais, somos um casal, não somos? Qual seria o problema de você
me chupar… Opa, quero dizer, beber diretamente de mim? Tenho certeza
que nós dois podemos agir como os adultos que somos e passar por isso,
não podemos?

Ela passa por mim, esbarrando propositalmente no meu ombro e eu engulo


em seco, sentindo a minha calça apertar com a imagem que ela acabou de
colocar na minha cabeça.

Que Deus me ajude.


Eu coloquei um feitiço em você
Porque você é meu
É melhor você parar as coisas que você faz
Eu te digo, não estou mentindo
I Put A Spell On You | Annie Lennox

Nate está com os braços cruzados na frente do corpo, a expressão


carregando a carranca tão característica dele. Eu abro um sorriso para ele,
mas não surte o efeito desejado.
Ele está puto.
Não consigo evitar o quanto isso me diverte, porque de fato é inevitável.
Nate parece prestes a explodir e isso porque ainda nem chegou a nossa vez.
A atmosfera fica cada vez mais pesada, o ar rarefeito e eu, com certeza,
estou ansiando por isso.
Quando Nate entrou no time de beisebol do colégio, magrelo como uma
vassoura e com a habilidade social praticamente nula, confesso que eu
duvidava um pouco da sua capacidade. Talvez fosse apenas um pouco de
ressentimento por ter recebido tantos olhares reprovadores dele enquanto
crescíamos ou por ele achar que a Landon era a “gêmea boa” e eu a “má”,
mas o fato é que não perdi tempo ao implicar com ele durante nossos anos
naquela cidade esquecida por Deus.
Entretanto, quanto mais ele se destacava no time e principalmente depois
que começou a frequentar a pequena academia de Barlow para ajudar com
sua preparação física, mais gostoso ele ia se tornando.
E foi aí que nossa relação esquisita começou.
Não me lembro se foi em um dos dias que Nate foi até a minha casa
maratonar De Volta Para o Futuro com a Landon, mas quando nos
esbarramos na cozinha, foi impossível não reparar no tamanho dos seus
braços. Não é à toa que o cara era tão habilidoso com aquele taco de
beisebol! E esses pensamentos tomaram conta da adolescente cheia de
hormônios e quando dei por mim… Escapou.
Saiu.
Eu tinha dado uma cantada muito sem vergonha em Nate O’Connel e, ao
invés de me encarar com certa hostilidade ou mesmo desprezo, ele fez algo
que eu realmente não estava esperando.
Corou.
Desviou o olhar.
E não tocou mais no assunto.
Isso me encheu de confiança na época para continuar provocando-o, sem
nenhuma intenção real por trás. Sempre achei que Nate acabaria se
tornando o marido de Landon e então nossa relação se resumiria a cunhado
e cunhada.
Bom, isso até testemunhar mais de perto a relação dos dois desde que
nos mudamos para Granville, na Califórnia. Eu realmente cheguei a pensar
que eles poderiam se distanciar por irem para uma cidade grande e tal, mas
a verdade é que esses dois acabaram se tornando mais unidos do que nunca.
— Leslie! — um Liam muito bêbado chama, cambaleando entre as
pessoas que provavelmente não deveriam ingerir mais nenhuma gota de
álcool. — Sua vez!
Eu não desvio meu olhar de Nate quando escolho a minha bebida
favorita: tequila. Puxo a garrafa e sirvo um shot generoso, fazendo questão
de segurar o saleiro com minha mão livre.
— Você, rei do home run. — Aponto para Nate, sem esconder meu
sorriso satisfeito. As pessoas à nossa volta começam a gritar e ele cora.
Ai, Nate…
O’Connel vem caminhando lentamente até a mesa que estava sendo
usada anteriormente pela mesma garota que felizmente conseguimos
desviar do caminho de Adam.
— Não precisa ter medo — murmuro, mesmo sabendo que ninguém
conseguiria nos ouvir com tanto barulho ao nosso redor.
— Não estou com medo — rebate Nate, com o cenho franzido.
Dou de ombros, fazendo um meneio na direção da mesa novamente.
Nate faz menção de ir deitar, mas eu o paro, colocando meu cotovelo em
seu peito. Ele me encara sem entender nada e eu dou um puxão de leve em
sua camiseta.
Onde eu posso beber a minha tequila se não for em seu tanquinho?
Nate revira os olhos e eu arqueio a sobrancelha ao ver o que esse garoto
tem escondido por tantos anos.
Puta. Que. Pariu.
Isso deveria ser um crime.
Percebo que todas as pessoas à nossa volta encaram o corpo de Nate em
choque. Acho que finalmente entendi o porquê de o Super-Homem ser o
seu herói favorito de todos os tempos. Nate O’Connel é uma espécie de
Clark Kent que esconde um corpo escultural e gigante embaixo dos casacos
do time de beisebol.
Acho que estou encarando seu abdômen definido por tempo demais,
porque ele limpa a garganta umas duas vezes, tentando chamar a minha
atenção.
Levanto meu rosto até encontrar o seu, boquiaberta.
— Que pecado você tem cometido contra mim, Nate O’Connel.
Ele arqueia a sobrancelha para mim, o rosto tão vermelho que me sinto
tentada a passar um pouquinho de gelo em sua pele quente…
Foco, Leslie.
— Pecado?
— Eu não sabia que você era assim. — Aponto para seu corpo seminu,
genuinamente sem palavras.
Ele cruza os braços fortes na frente do peito e eu sinto que posso
começar a gemer a qualquer momento.
— A minha aparência sempre foi a mesma, Leslie.
— Ah, mas não foi mesmo…
— Será que podemos terminar logo com isso para eu poder me vestir?
Concordo rapidamente com a cabeça, lembrando a mim mesma que Nate
é um pouco tímido. Só o fato de ter concordado participar desse tipo de
jogo, pelo bem da nossa missão ou não, já diz muito sobre ele.
Engulo em seco ao vê-lo se deitar delicadamente sobre a mesa fria,
franzindo o rosto e deixando uma careta escapar ao sentir o contato da
madeira com a sua pele nua.
Estou praticamente salivando ao perceber que esse homem enorme,
gostoso e incrivelmente definido está esparramado para mim.
Esperando que eu beba meu shot diretamente de sua pele.
Tento ignorar a fisgada que sinto no meio das pernas, me concentrando
em ser o mais profissional possível.
— Não temos a noite toda. Você sabe disso, não é, Leslie? — ele me
provoca, cerrando os olhos para mim.
Se é assim que você quer, Nate O’Connel, é assim que você vai ter,
penso.
As pessoas começam a gritar “vira, vira!” como uma espécie de coro ao
nosso redor, mas nem isso consegue quebrar a troca de olhares que estou
tendo com Nate nesse momento.
Ele não desvia o rosto quando eu, delicadamente, despejo todo o
conteúdo do meu copo em seu corpo sarado. Faço questão de continuar
encarando-o quando uso a boca para sugar a bebida de sua pele quente,
sentindo meu corpo arrepiar ao me dar conta do que estou fazendo.
Nate prende a respiração ao me ver limpando a sua pele com os lábios e
não consigo evitar a pressão gostosa que começo a sentir no meio das
pernas. Essa posição me deixa tão perto de seu pau que é inevitável pensar
em como seria abaixar suas calças e descer a boca só mais um pouco…
Uso a língua para capturar um filete que escorreu para o lado e Nate não
se controla. Ele solta um gemido rouco que me faz levantar a cabeça em sua
direção, chocada demais com a forma que ele se deixou levar.
Seu olhar lânguido recai sobre meu rosto e acho que a qualquer
momento posso parar de respirar. Meu corpo inteiro está arrepiado, ligado,
como se eu tivesse acabado de ser ligada na tomada.
Elétrica.
Estática.
E desejando mais contato contra sua pele.
Precisando de mais contato.
— Isso foi sexy — sussurro, sem conseguir me controlar, vendo-o fechar
os olhos em resposta.
Aposto que ele não está se aguentando de tanta vergonha.
— Tá bom, pombinhos, isso foi quase como assistir pornô — intervém
uma garota de cabelos pretos e repleta de tatuagens. Pela forma que sua voz
sai um pouco embolada, aposto que também não está totalmente consciente
do que está falando. — Agora é sua vez!
Aponto para mim mesma, questionando-a com o olhar.
— Eu?
— Sim! Acho… Acho que só falta você. A não ser que o seu namorado
queira usar uma outra pessoa…
— Nem pensar — retruco, rangendo os dentes.
Não faço a mínima questão de desviar o olhar para Nate, porque tenho
medo de sua reação. Estamos sendo tão confusos um com o outro esses
últimos dias que é estranho estar perto dele.
— Ele já escolheu a bebida que vai usar em você? — questiona a
menina, lançando um olhar na direção de Nate, que agora está sentado na
mesa de madeira.
Eu não consigo afastar meus olhos dele quando, lentamente, Nate veste
novamente sua roupa. É quase um atentado contra a natureza que
obviamente criou um monumento desses para ser admirado…
Não é?
— Whisky. Pode ser da marca que tiver aqui — responde ele, com a
expressão fechada.
A garota acena com a cabeça e sai em busca da garrafa.
Eu o encaro.
Ele ergue o olhar até o meu.
Nós dois prendemos a respiração, nossos corpos completamente imóveis.
É quase como um feitiço e no menor sinal de movimento brusco, ele terá
um fim.
Nate pigarreia alto, o que me faz dar um pulo inconsciente.
Ele arqueia a sobrancelha na minha direção e eu abro um dos sorrisos
cínicos que guardo especialmente para ele.
— No que você está pensando? — pergunta, rouco.
Lentamente, caminho até alcançá-lo.
— Estou pensando em qual parte minha você vai escolher pra chupar.
Pessoalmente, a ideia da sua boca em mim é algo bem excitante…
— Você não muda nunca, não é?
Balanço a cabeça lentamente.
— Faz parte do meu charme, Nate. Não posso perder a chance de dar em
cima de você.
— Sabe que agora que estamos fingindo ser namorados, tecnicamente
você não precisa mais dar em cima de mim, não é?
— Mas então como eu poderia deixar você com essas bochechas
vermelhas do jeito que eu amo tanto? — Mordo o lábio inferior, secando-o
da cabeça aos pés mesmo que ele já esteja vestido. — Além do mais, não
escutei uma resposta para a minha pergunta…
Nate respira fundo, murmurando algo tão baixinho que eu não consigo
escutar.
— Mais alto, Nate. Não escutei nada.
A mandíbula dele contrai e suas mãos apertam a mesa onde ele ainda
permanece sentado. Seu rosto está mais vermelho do que um pimentão
quando, lentamente, ergue o olhar até encontrar o meu.
Arqueio a sobrancelha e ele finalmente diz:
— Seus peitos, Leslie.
Tá bom, eu não estava esperando por essa.
Talvez seja por isso que minha boca se abre em choque e eu arfo
audivelmente quando Nate mal consegue levantar o rosto para me encarar.
Engulo em seco ao vê-lo se remexer desconfortavelmente ainda em cima
da mesa, dando um pulo para que eu possa me aproximar e tomar o seu
lugar.
Porra.
Nate disse mesmo que quer beber o shot dele dos meus peitos?
Estamos evoluindo bastante rápido, não é?
— Aqui está. — A garota desconhecida volta com a garrafa de whisky já
aberta, estendendo-a na direção de Nate.
Ele a segura e eu arranco a minha blusa pela cabeça.
Seus olhos castanhos se fixam em mim e Nate nem ao menos pisca
enquanto eu fico apenas de sutiã para que ele possa beber o whisky de mim.
— Está nervoso? — provoco, mesmo sabendo que a pessoa prestes a
entrar em combustão sou eu.
Nate pigarreia alto, desviando o olhar rapidamente do meu corpo
seminu. Sua timidez só me deixa ainda mais… Animada.
— Por que eu estaria nervoso? — Ele dá de ombros, estalando o
pescoço. — Você é minha namorada, não é?
Estreito os olhos pra ele.
— Claro que sim, anjo. Por isso mesmo que você pode se aproximar de
mim sem nenhum receio…
As pessoas bêbadas à nossa volta não parecem prestar atenção na
conversa bizarra que estou tentando desenvolver com Nate e agradeço aos
céus por isso. Se Adam estivesse por perto, com certeza já teria adivinhado
toda a farsa. Preciso urgentemente conversar com Nate mais tarde sobre o
nervosismo aparente que ele mostra sempre que temos que demonstrar
algum tipo de proximidade.
Ele precisa agir como se eu fosse dele.
— É claro — responde, meio hesitante.
Eu me deito sobre a mesa cuidadosamente, fechando os olhos e fingindo
relaxar quando a presença imponente de Nate preenche a minha noção de
espaço. Sinto o líquido gelado sobre a minha pele antes que eu possa me
preparar e esse contato faz com que eu solte um grito de surpresa.
Arregalo os olhos para Nate, que está observando o líquido escorrer bem
entre meus seios, cobertos apenas com um sutiã de renda que, por sorte,
escolhi antes de sair hoje de manhã. Seus olhos parecem fascinados pelo
percurso que a bebida traça até quase o meio da minha barriga e vê-lo
engolir em seco quase me faz gemer novamente.
Que tipo de jogo ele pensa que está fazendo?
— Nate…
Mas antes que eu possa concluir a minha frase, ele abaixa a cabeça o
suficiente para ficar na altura dos meus peitos. Ouço vozes animadas,
provavelmente das pessoas que nos incentivaram a jogar, mas é como se o
mundo à nossa volta desaparecesse completamente.
Agora só existe Nate e eu.
Sinto sua língua quente traçar a minha pele com cuidado enquanto ele
sorve o líquido com uma calma que me faz segurar a respiração. Não
consigo evitar revirar os olhos ao sentir suas mãos cheias de calos me
segurarem com força contra a mesa e assisto sua cabeça ir seguindo o
mesmo trajeto que a bebida fez.
Nate passa os lábios delicadamente sobre a pele da minha barriga e eu
prendo a respiração. Ele levanta a cabeça apenas o suficiente para que
nossos olhos se encontrem e o desejo que encontro exposto ali praticamente
me mata.
Estou muito excitada.
E a causa disso é culpa do… Nate.
Meu Deus do céu, será que o mundo definitivamente enlouqueceu?
Ele sorve o restante da bebida e a sucção quente contra a minha pele me
arranca um suspiro. Desesperada, coloco a mão sobre a boca, mas já é tarde
demais. Nate ouviu o quanto achei bom sentir sua boca em mim e a prova
disso é o olhar cheio de lascívia que me lança assim que desgruda seus
lábios da minha pele.
Nós estamos nos encarando, mas nenhuma palavra sai de nossas bocas.
Com cuidado, Nate passa o dedo lentamente sobre a minha pele
molhada. Meus olhos caem imediatamente para onde sua mão está e é quase
hipnotizante observar o trajeto que seu indicador faz pela minha barriga.
Quero puxá-lo na minha direção e beijá-lo.
Na verdade, não é só questão de querer… É o que o meu corpo precisa.
O que ele está implorando.
— Leslie… — sua voz rouca murmura, causando arrepios por todo o
meu corpo. Engulo em seco. — Eu…
— Nate… — incentivo, sentindo a minha pele esquentar com o olhar
faminto que ele me lança.
— Eu quero…
— Você quer…?
Ele respira fundo.
— Leslie…
Mas, como sempre, somos interrompidos. Dessa vez por um Liam muito
bêbado que tropeça sem querer no carpete da cozinha e cai por cima de
Nate, que o segura com um braço só.
— AAAAAAAAAAH! — berra ele, como se tivesse acabado de cair no
chão. — Te-te amo, cara.
Liam começa a soluçar e essa é a minha deixa para levantar da mesa e
vestir a minha blusa de qualquer jeito.
Nate ajuda o amigo a ficar de pé, mas consigo perceber que sua pele está
mais vermelha do que o normal. Sorrio. Mesmo quando estou seminua e
praticamente gemendo por causa dele, o cara não consegue evitar se sentir
tímido.
É meio fofo.
Arregalo os olhos, colocando as mãos sobre o meu rosto.
Caralho, quando foi que Nate O’Connel passou a ser um cara fofo?
Eu preciso definitivamente transar.
Sei que nós dois combinamos de não ficarmos com outras pessoas
enquanto fingimos esse namoro, mas se for escondido e ninguém descobrir,
não tem problema nenhum, não é?
Quero dizer… Não é como se estivéssemos em uma relação de verdade,
Nate mesmo já fez questão de frisar uma dúzia de vezes.
Acho que ele vai entender.
Não vai?
— Leslie! — Nate me chama, tentando equilibrar um Liam praticamente
desmaiado em um ombro só. — Vou precisar levar ele pra casa. Ele mal
está conseguindo se colocar de pé e amanhã cedo temos que ir até o centro
de treinamento.
— Vocês não estão no meio de uma temporada importante? —
questiono, franzindo o cenho.
Nate balança a cabeça.
— Sim, mas aparentemente nem todo mundo pratica o autocontrole —
suspira, sem muita paciência. — Acho que vou precisar ficar de olho nele
esta noite.
Eita… Ainda bem que eu não sou o Liam. Do jeito que Nate é mal-
humorado, o garoto vai precisar escutar o maior sermão da vida amanhã.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu entendo completamente, Nate. Posso pedir pra Landon chamar um
táxi pra mim.
Ele desvia o rosto para mim.
— Você tem certeza? Eu posso te dar uma carona…
— Não, é melhor você tomar conta desse cara aí. Eu dou um jeito de ir
pra casa.
Nate não parece totalmente convencido, a expressão de seu rosto está
fechada. No entanto, ele desvia a atenção para Liam e parece compreender
que é a melhor escolha a ser feita.
— Tudo bem, Leslie. Mas não esquece de me avisar quando chegar em
casa, por favor.
Sorrio.
— Pode deixar.
Você acha que é lá onde está
Mas será que lá é onde deveria estar?
Você está prestando atenção em mim
Jaded | Aerosmith

— Isso é uma péssima ideia — diz Landon olhando para mim, sem
piscar.
Solto um resmungo, rangendo os dentes.
— Péssima ideia foi você ter deixado a Leslie manter esse gato. —
Indico o felino preto desnutrido que agora está dormindo nos braços da
minha melhor amiga.
Landon afaga o gatinho, que começa a ronronar.
— Se você achou essa ideia péssima, era só não ter deixado ela resgatá-
lo da estrada, não acha?
Eu estreito meus olhos na direção dela.
— Você por acaso conhece a sua irmã, Landon? Acha que é tão simples
assim convencer a Leslie de alguma coisa?
Landon balança a cabeça, soltando um suspiro.
— Você tem razão. Mas mesmo assim, isso continua sendo uma péssima
ideia.
— O que é uma péssima ideia? — pergunta Leslie, carregando vários
petiscos nos braços.
Salém, como se sentisse a presença dela, começa a se remexer no colo da
Landon, miando sem parar. Leslie vai até ele e começa a lhe oferecer
comida, o que o gato aceita de bom grado.
Era só o que estava faltando.
Depois de dias evitando a minha melhor amiga, finalmente precisei
aceitar o meu destino e lhe contar sobre a enrascada que me enfiei graças a
sua irmã mais nova. Não dei todos os detalhes da história porque ela não é
minha para contar, mas acabei abrindo o jogo sobre estar em um
relacionamento falso com Leslie.
Não parecia justo ela continuar pensando que Leslie e eu éramos um
casal de verdade porque… Bom, somos Leslie e eu. Não tem como isso dar
certo.
Landon reagiu da forma como eu imaginei que ela o faria: incredulidade,
surpresa e, talvez, um pouco do famoso olhar de quem já sabe das coisas. É
difícil esconder as coisas da pessoa que mais te conhece.
E eu tenho certeza que Landon sabe. Sobre tudo.
— A péssima ideia é você e o Nate estarem fingindo que estão
namorando — responde Landon, simplesmente.
Leslie vira o rosto para mim, os olhos arregalados e boquiaberta. Ela
ofega quando começa a olhar de sua irmã para mim e eu fecho os olhos,
preparado para o que está por vir.
— COMO VOCÊ OUSOU? — esbraveja ela, com uma expressão
assassina em seu rosto. — SEU… SEU… TRAIDOR!
— Leslie, se acalme — pede Landon, sem se exaltar. É como se ela já
estivesse acostumada a lidar com a irmã desse jeito.
— CALMA? COMO EU POSSO TER CALMA SE O MEU
NAMORADO FALSO É UM TRAIDOR?
— Essa frase ficou muito estranha — respondo, enrugando a testa. — Se
eu sou o seu namorado falso, tecnicamente, não te devo nada. Então não
tem como eu te trair.
Ela semicerra os cílios para mim e eu faço uma careta, percebendo tarde
demais que acabei de deixá-la mais brava.
— Cala a boca, Nate! Não acredito que você contou pra Landon!
— Ela precisava saber, Leslie. Além do mais, precisamos de aliados, de
álibis. Acho que não tem ninguém mais confiável do que ela.
— Você contou sobre tudo? — Seu olhar preocupado recai sobre mim e
eu sinto meu coração apertar. Lentamente, faço que não com a cabeça, o
que arranca um suspiro aliviado de Leslie.
Eu jamais seria capaz de contar sobre essa parte para alguém. É uma
história que só pertence à Leslie, Sophie e, infelizmente, ao Adam.
Cerro meus punhos, sentindo um fio de irritação percorrer a minha
espinha. Queria muito poder socar o rosto dele até que o sorrisinho
presunçoso saia de sua cara permanentemente, mas Leslie tem razão.
Precisamos ser mais inteligentes do que Adam.
— Tem mais coisa além do namoro de mentira? — questiona Landon,
arqueando uma sobrancelha para a irmã.
Leslie respira fundo, balançando a cabeça em sinal de afirmação.
Não consigo evitar me sentir um pouco culpado quando, ainda que
receosa, Leslie decide contar sobre tudo o que aconteceu nesse último mês
para a irmã. Landon não interrompe nenhuma vez enquanto escuta todos os
detalhes do que Adam disse para ela, inclusive sobre sabotar o início da
carreira dela.
Os olhos de Landon estão brilhando de fúria e aposto que se Adam
estivesse aqui, ela mesma se encarregaria de deixá-lo de boca fechada.
No entanto, quando Leslie finalmente termina de contar sobre tudo o que
aconteceu, Landon é um poço de calma e sensatez. Ela não perde a
compostura nem quando descobre a respeito do relacionamento de Sophie
e, infelizmente, eu tenho ideia do porquê.
Landon infelizmente enfrentou um relacionamento complicado a algum
tempo.
Eu não entendi muito bem quando ela começou a namorar o babaca do
seu ex-namorado, mas como eu era o melhor amigo, só fiquei na minha.
Apesar de ambos serem diferentes, eu só torcia pela felicidade de Landon e
realmente cheguei a pensar que ele faria bem para ela.
Bom, não fez.
E toda a aura de “paixão adolescente e amor da vida” foi gradualmente
substituída por frases como “Você não pode ser normal? Será que não
consegue interagir com as pessoas?”, ou mesmo do tipo “Você precisa se
soltar, Landon. Ser toda séria assim faz com que ninguém entenda porque
estamos juntos”. Não consigo esquecer de quando ela mencionou para mim
uma dessas “sugestões” que o seu até então namorado fez. Quis matá-lo,
mas sabia que isso não cabia a mim.
Eu realmente não conseguia entender como a mulher mais foda que eu já
tinha conhecido namorava um imbecil como o Kevin.
Não posso negar que fiquei imensamente feliz quando descobri que o
namoro deles finalmente tinha chegado ao fim. E, talvez, naquele último
final de semana que passamos em Barlow antes de virmos definitivamente
para Granville, eu possa ter me vingado por ela.
Digamos apenas que por um bom tempo Kevin aprendeu a ficar com a
boca fechada.
— Você precisa contar pra Sophie, Leslie — é o que Landon diz, com
uma expressão séria.
Leslie está com os olhos marejados, o olhar lânguido passando por todas
as direções, menos na da irmã. Ela parece quase… Envergonhada.
— Eu sei que eu preciso, Land. Mas como vou fazer isso se ele ameaçou
destruir a vida da família dela?
— Eu entendo que parece uma situação complicada, Leslie, e que você
se culpa. Eu entendo isso. Mas essa decisão não está nas suas mãos e sim
nas dela. Enquanto você não a libertar, Sophie continuará refém do Adam e
aposto que não é isso que você quer. — Ela segura a mão da irmã, que
agora está olhando para baixo, visivelmente abatida. — Você sabe que eu já
passei por isso, Leslie. E estou dando esse conselho como alguém que
gostaria de ter recebido um aviso. Você precisa contar.
— Mas e se ele decidir colocar tudo o que falou em prática? Como eu
fico sabendo que a culpa é minha? É a sua carreira, Landon. Você é a
pessoa mais focada que eu conheço e não deveria sair prejudicada só
porque eu não consigo evitar uma festa!
— A culpa não é sua, caramba! Como a culpa pode ser sua? O idiota
comprometido que foi pra cama com outra foi ele. Quem decidiu usar o
relacionamento da filha para conseguir empréstimo foram os pais dela.
Sinceramente, se existem duas inocentes nessa história, essas são você e
Sophie. Eu realmente entendo onde você quer chegar… Você não quer
contar pra ela sem ter um plano para tirá-la da situação por completo e eu
respeito isso, mas já parou para pensar que isso pode durar meses? Anos?
Ou que pode, simplesmente, não funcionar? Será que algum de vocês dois
já parou para pensar em um plano B?
Eu ergo meu dedo lentamente, limpando a garganta para que ambas
possam me escutar. Landon é uma das pessoas mais inteligentes que eu já
conheci e com certeza foi uma boa ideia deixá-la ciente do que estava
acontecendo.
Entretanto, como a conheço há anos, já imaginava qual seria sua linha de
raciocínio.
— Eu tenho uma ideia, Landon.
As duas viram a cabeça para mim ao mesmo tempo, o que seria
assustador se eu já não estivesse acostumado com os movimentos
sincronizados de ambas. Acho que pode ser uma coisa de gêmeas.
— Você tem um plano B? — questiona Leslie com uma expressão
sarcástica. — E por que você não tinha me contado ainda?
Dou de ombros, pegando a minha garrafa de água e levando lentamente
até a boca. Depois de sorver generosos goles e dar de cara com Leslie
tentando me fuzilar com os olhos, finalmente limpo o canto dos meus lábios
e prossigo:
— Eu teria te contado se você me escutasse, Leslie. Mas da última vez
que estivemos juntos as coisas saíram do controle…
É involuntário sentir minhas bochechas queimarem com a memória da
pele quente de Leslie sendo servida junto com a melhor dose de whisky que
já bebi. E não tenho certeza se era mérito da bebida a causa disso.
Leslie arregala os olhos, arfando ao desviar o olhar para irmã, que nos
encara sem entender absolutamente nada.
A verdade é que nem eu entendi o que aconteceu na festa do pós-jogo
ontem.
Eu estava puto porque descobri que Leslie tinha ido para uma outra
cidade sem me avisar. E, tá bom, talvez eu também estivesse irritado com a
possibilidade dela ter ido se encontrar com alguém. Nós prometemos um
para o outro a discrição, não a exclusividade, e embora esse namoro seja
uma farsa, não consigo evitar sentir esse aperto no peito sempre que penso
nela com outra pessoa.
É um inferno.
Eu pensei que já tinha superado essa queda insuportável que eu sentia
por ela quando éramos adolescentes. Eu não sou um cara santo e tive
algumas namoradas na época do ensino médio. Eu andava de mãos dadas
com elas, beijava-as em público, mandava flores no dia dos namorados e
nem assim parecia que Leslie sabia que eu existia.
Eu era apenas o melhor amigo da irmã dela.
Por outro lado, sempre que Leslie estava saindo com algum cara, era
impossível que eu não notasse. Sentia minha garganta fechar com o ciúmes
quando a via caminhando de mãos dadas com algum idiota que fazia
questão de tocá-la para que todos soubessem que estava ficando com a
garota mais linda daquela cidade de merda.
Leslie sempre iluminou o ambiente com seu sorriso contagiante. Não
importava que por morarmos em uma cidade tão pequena, na maioria das
vezes nos sentíamos como seres invisíveis. Parecia que o mundo lá fora
estava acontecendo enquanto estávamos apenas assistindo, congelados em
um lugar onde absolutamente nada acontecia.
Mas não era assim para ela.
Ela estava sempre dando um jeito de se destacar. Sempre se mantinha
positiva, com o melhor astral, assistindo a milhares de filmes considerados
ruins e os defendendo para quem quisesse ouvir. Leslie chegou a convencer
Landon e eu a assistirmos True Blood — e depois dos dois primeiros
episódios de pura vergonha alheia, preciso admitir que a série ficou
divertida.
De todas as pessoas da nossa cidade, Leslie também era a única que
sonhava com a arte. Ela não queria se tornar uma empresária, atleta ou
muito menos acadêmica. O sonho dela era ser escritora e poder criar os
mesmos personagens de caráter duvidoso que ela aprendeu a amar na
ficção.
Por isso não fiquei nada surpreso quando vi sua aprovação para o curso
de Comunicação na Universidade de Granville, aqui na Califórnia.
Não existe nada que seja mais a cara da Leslie do que isso.
— A gente não precisa lembrar desses detalhes… — desconversa ela. —
Bom, nos diga aí. Qual é o nosso plano B?
Suspirando, eu me aproximo um pouco mais das gêmeas.
— A Landon tem razão. Precisamos colocar uma data limite para essa
história acabar, Leslie. A Sophie não pode continuar sendo enganada
enquanto Adam trepa com outras garotas por aí. E é por isso que eu tracei
um plano um pouco mais elaborado.
— Que seria…? — insiste ela, cruzando os braços. Se eu não a
conhecesse, poderia até dizer que Leslie Reese está um pouco emburrada.
O que eu não deveria achar fofo, mas é o que é.
— Nós vamos ter o jogo mais importante desta temporada daqui duas
semanas. Vai acontecer em Los Angeles e o time está combinando de passar
a noite por lá.
— E o que isso tem a ver com o Adam?
— Calma, estressadinha. Você lembra que a família dele tem grandes
conexões com a MLB? — Ela assente com a cabeça, como se estivesse
juntando as peças. — Bom, como essa noite vai ser uma das mais
importantes para o beisebol universitário, é normal que olheiros e
executivos da liga estejam lá. Sem contar que a chance dos Angry Sharks se
tornarem o principal time da primeira divisão é grande e acho que Adam
não perderia a chance de prestigiar o time da própria universidade, já que
ele é um grande fã.
— E estaríamos nós dois lá? — pergunta Leslie.
Eu assinto com a cabeça.
— Sim. Eu provavelmente vou com o ônibus da universidade, o que
significa que meu carro ficará livre. Você pode ir dirigindo ele, talvez
chamar alguma amiga para fazer companhia. Eu vou aproveitar o momento
em que ele estiver com a guarda baixa para perguntar sobre a família de
Sophie e a relação deles.
— Isso ainda está um pouco vago — rebate Landon, franzindo o cenho.
— E se ele não tiver nada? E se a família dela realmente estiver nas mãos
da família dele e não tiver outra opção?
Dou de ombros, sério.
— Então não temos mais o que fazer. Leslie conta tudo para Sophie e
vamos torcer para que ela finalmente se livre desse idiota.
Leslie se levanta em um pulo, soltando um grito.
— Não posso deixar as coisas acabarem assim! Esse idiota vai prejudicar
a carreira da Landon, pode dificultar as coisas pra você no beisebol, Nate.
Sem contar no que ele provavelmente fará com a Sophie e a família dela.
— A outra opção é não contar nada, Leslie — diz Landon, friamente. —
Você prefere deixar a sua amiga no escuro ao invés de enfrentar esse
babaca?
— Não é bem enfrentar quando nosso adversário é tão poderoso. Isso
está mais para um massacre.
Leslie caminha de volta para onde Landon e eu estamos sentados,
agachando-se entre nós dois. Sua expressão derrotada está acabando
comigo e, por instinto, coloco minha mão por cima da sua.
Seus olhos ficam esbugalhados quando ela me fita intensamente. O
choque de seu rosto não me desencoraja a continuar passando o dedo
lentamente por sua mão, que está fria graças ao seu nervosismo.
— Homens como Adam fazem o que fazem justamente por serem tão
poderosos — diz Landon. — Você acha que Harvey Weinstein passou
tantos anos impune porque nenhuma das mulheres que ele assediava, coagia
e ameaçava não queriam contar todos os podres da Miramax? Elas só
tinham consciência de que não tinham ninguém. Perderiam tudo, como
aconteceu com várias que se recusaram a dormir com ele. Harvey só foi
pego quando um veículo grande o suficiente deu assistência para o dossiê
que estava sendo montado contra ele.
Como se fosse um estalo, vejo as engrenagens do cérebro da Leslie
começarem a funcionar. Ela encara a irmã, incrédula, e abre um sorriso
grande o bastante para que se torne assustador.
Eu seguro sua mão com um pouco mais de força, tentando chamar a sua
atenção, mas é em vão.
— Puta merda, Landon! Você é um grande gênio!
Landon e eu nos entreolhamos, em completo estado de choque.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta ela, confusa.
Mas Leslie já está de pé, fazendo uma espécie de dancinha da vitória que
me deixa ainda mais preocupado.
— Vocês não conseguem entender? — Ela ainda está sorrindo, como se
todos os seus problemas tivessem acabado de desaparecer. — Eu vou
destruir o Adam da mesma forma que ele ameaçou acabar comigo. Vou
expor ele.
— Leslie, como isso pode ser a melhor opção? Você nem sequer contou
para a Sophie ainda… — argumenta Landon.
— Eu sei, Land, mas presta atenção. Eu não pretendo expor o Adam para
meia dúzia de pessoas. Eu quero que todos saibam o que ele faz, todas as
pessoas que ele ameaça. Todos precisam saber sobre o relacionamento
abusivo em que ele aprisionou Sophie e tudo isso em nome da própria
família. Eu quero que isso saia nos jornais e que ele pague por tudo o que
fez.
De repente é como se minha mente estivesse com tantos pensamentos
que é difícil me concentrar em apenas um.
Isso poderia funcionar, mas…
— Precisamos de provas — balbucio, pensativo. — Não podemos só
acusá-lo. Se você planeja criar um dossiê, temos que ter respaldo.
Ela abre um sorriso animado, os olhos brilhando com fúria.
— É por isso que essa viagem vai ser importante. Posso conseguir
microfones e câmeras de vídeo. Eu preciso que você faça ele confessar,
Nate. Homens normalmente agem diferente quando estão perto de outros
homens. Tente tirar fotos, gravar o máximo de coisas possíveis, quanto mais
sujo, melhor.
Eu assinto com a cabeça.
— Se tratando do Adam, não vai ser muito difícil. O cara é um otário.
— É com isso que estou contando…
— Gente, espera aí — interrompe Landon, alternando o olhar entre
Leslie e eu. — A ideia é realmente ótima, mas vocês sabem que não é tão
fácil assim conseguir um veículo jornalístico disposto a nos ajudar, não
sabem? E qualquer jornal local provavelmente ligaria para a família do
Adam e pediria um suborno ao invés de publicar a matéria, o que só
deixaria ele mais irritado. Vamos precisar de uma mídia grande o suficiente
para que o dinheiro e o poder dessa família não os intimide.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, sentindo como se a última
esperança tivesse sido retirada de nós.
Porra.
— Acho que conheço pessoas poderosas o suficiente para fazer essa
matéria rodar — murmura Leslie, após alguns segundos.
Viro para ela na mesma hora.
— Eles são donos de jornais?
— Não, mas eles também são de uma família muito importante. Aposto
que eles devem ter contato com veículos grandes. Sem contar que há uma
futura jornalista envolvida nisso.
Franzo o cenho, completamente confuso.
— Do que você está falando?
Leslie revira os olhos.
— Da Savannah. Ela é uma estudante de Comunicação que está se
formando em jornalismo, foi ela que conseguiu a locação do hotel para
gravarmos o curta. A garota tem quatro namorados e dois deles são
incrivelmente ricos.
— Eu ainda não entendo isso. — Balanço a cabeça, incrédulo.
— O quão rico eles são? — pergunta Landon, séria.
Leslie abre um sorriso convencido.
— Eles são ricos o suficiente para conseguir que todos os veículos
grandes deste país publiquem sobre o Adam. Eu só preciso conversar com a
Sav antes, mas aposto que ela vai querer nos ajudar.
Landon e Leslie se entreolham, um brilho feroz no olhar.
Ergo minha garrafa de água como se estivéssemos prestes a fazer um
brinde.
E, simples assim, nós temos um plano.
Que jogo doentio de se jogar
Para me fazer sentir assim
Que coisa doentia de se fazer
Me permitir sonhar contigo
Wicked Game | Chris Isaak

Quando eu decidi fazer parte de uma sororidade assim que cheguei em


Granville, coloquei na cabeça de que não seria igual aos filmes.
Eu não iria para uma festa por noite, beberia até cair e terminaria a noite
indo para a cama com um estranho gostoso que me faria ver estrelas.
Tinha medo de me frustrar.
Acontece que, para mim, a ficção fez jus sim à realidade. Eu estava
vivendo o sonho americano de qualquer adolescente com tesão.
E é por isso que não consigo resistir ao ser chamada para uma festa com
a premissa de ser igual a American Pie. As meninas da Theta Rho Beta
contrataram inclusive uma banda para tocar na festa de hoje à noite e os
caras dos times de hockey, futebol e beisebol já confirmaram presença.
Os Angry Sharks de Granville não entram em uma disputa para perder e
a prova disso é o fato de quase todos os nossos atletas estarem na primeira
divisão depois do término das temporadas. Como eu sei sobre isso? Bom,
digamos apenas que Nate tem estado mais falante do que o habitual.
É por isso que os banheiros estão lotados com meninas andando pelos
corredores enquanto terminam de se arrumar.
Hoje é o dia de vivermos o sonho americano.
Uma festa igual a dos filmes de besteirol que normalmente assistíamos
escondidos dos nossos pais durante a madrugada. Landon sempre os achou
sem graça, mas eu tenho gostos peculiares.
— Você sabe quem vem tocar essa noite? — pergunto à Landon, como
quem não quer nada, e ela apenas balança a cabeça, sem desgrudar os olhos
do livro que devora tão desesperadamente. Solto uma risadinha. — A banda
se chama Fake Affairs.
Ela levanta o olhar do livro e o fixa em mim, sem esboçar nenhuma
reação. Por isso, decido continuar.
— O guitarrista é um gato, definitivamente o meu número. Acho que
você deve conhecê-lo…
— Não se atreva, Leslie…
— Como ele se chama mesmo? Eu às vezes me esqueço…
— Leslie…
— Ah, já sei! Jessie! Jessie Sanders, não é? Eu quase não acreditei
quando soube que ele faz parte de uma banda. Se bem que isso é totalmente
a cara dele.
— Você não consegue deixar passar uma, não é? — resmunga minha
irmã. — Você já sabia que ele estava numa banda, só falou isso pra me
provocar. Eu não sou obrigada a ver aquele idiota.
— É um idiota que adora quebrar as regras, toca guitarra, tem um corpo
de morrer e usa uma jaqueta de couro. Ele é o tipo certo de idiota,
irmãzinha.
— Não existe o tipo certo de idiota.
— Ah, mas existe sim — murmuro, dando uma conferida no vestido
tubinho preto no espelho, amando o que estou vendo. Agora só falta um
batom vermelho. — E existe o tipo errado também. Infelizmente eu acabei
atraindo muito desse último tipo. Adam é um perfeito exemplo do idiota
errado, o cara que se acha o maioral por conquistas que não vieram dele.
Sabe o herdeiro cujo a única função é ir para a academia e mesmo assim ele
se acha superior a todos os outros reles mortais simplesmente porque não
nasceram ricos? Bom, fuja desses. São o tipo de idiota que não vale a pena.
— Um idiota é um idiota. Fim de conversa.
Suspiro.
— O idiota certo é o cara que não presta, normalmente tem um
comportamento meio neandertal. Mas consegue te fazer gozar em menos de
dez minutos, e confie em mim, isso é uma característica forte o suficiente
para fazer você aturar o restante da babaquice pelo máximo de tempo que
suportar.
— Essa sua teoria não tem nenhuma base, Leslie. Além do mais, existem
caras decentes e que são bons de cama. Você não precisa aturar todo o resto
por causa de sexo.
Abro a boca, me fingindo de surpresa. Landon revira os olhos.
— Landon Reese, você por acaso está dormindo com alguém por aí e
não me contou?
— É óbvio que eu não estou dormindo por aí, Leslie. São só fatos. Olha
o Nate, por exemplo. Ele obviamente é afim de você e não é um idiota.
Você só precisa aprender a olhar pro cara certo.
Arregalo os olhos, pega de surpresa por suas palavras. Encaro o espelho
mais uma vez, juntando as sobrancelhas antes de lançar um olhar
questionador para Landon, que agora voltou a prestar atenção em seu livro.
Engulo em seco.
— Esse não é um assunto pra você brincar, Landon.
— Eu não estou brincando, Leslie. Eu estou apenas constatando fatos.
Nate sempre teve uma quedinha por você quando éramos mais novos, mas
achei que ele tinha superado isso. Bom, aparentemente não, já que ele topou
essa maluquice de namoro falso. Você acha mesmo que se ele não gostasse
de você, o Nate toparia uma coisa dessas?
— O que você quer dizer com isso?
É a vez dela suspirar.
Estou prestes a arrancar meus cabelos, meu coração está acelerando
como se quisesse sair do meu peito e minha irmã gêmea está
SUSPIRANDO.
Vou acabar cometendo uma LOUCURA.
— Ele sempre foi afim de você e tentava esconder. Era nítido como ele
corava sempre que você aparecia no dia que estávamos assistindo filmes ou
como ele gaguejava quando precisava te responder. É sério que você nunca
notou isso?
— Oi? Eu estou com cara de quem tinha reparado nisso? — Aponto para
o meu rosto, fazendo uma careta de raiva.
Landon solta uma risadinha.
— Eu sempre esqueço desse seu lado. Mas enfim, eu percebi ontem o
quanto Nate ainda continua na sua.
— O que você percebeu? Landon, é melhor você dizer de uma vez.
— Ele pegou na sua mão, Leslie. Eu preferi fingir que não vi porque é
isso que eu faço desde que o conheço. Finjo que não sei como ele tem uma
quedinha por você, mas ficou óbvio.
— Ele só estava me consolando… — argumento.
Landon dá de ombros.
— Ele poderia te consolar de outras maneiras também, não acha? Mas
ele quis te tocar. E olha, vocês não me contaram tudo o que aconteceu na
festa que foram depois da gravação do seu curta, mas pela forma como ele
corou…
— Ah, tá, não é necessário relembrarmos isso.
Ela arqueia a sobrancelha para mim.
— Vocês transaram?
Cubro a minha boca com a mão, em choque.
— Landon!
— O que foi?
— É óbvio que eu não transei com ele! É o Nate, pelo amor de Deus. O
filho do prefeito Andrew!
— Leslie, ele é um adulto. E tudo bem se você não sente o mesmo por
ele, tenho certeza que ele vai entender. E opções não faltam… — cantarola
ela, sugestivamente.
Eu estreito os olhos na direção dela, odiando o fato de ter sentido um
incômodo desconhecido bem no centro do peito ao ouvi-la dizer que Nate
tem mais opções.
Tento com todas as forças segurar a pergunta para mim, mas acontece
que o nó na minha garganta está se tornando insuportável. Olho mais uma
vez para o espelho, ajeitando meus fios ruivos ao questionar, como quem
não quer nada:
— Como assim “opções não faltam”?
— Foram quarenta e cinco segundos.
Junto as sobrancelhas, confusa.
— Como assim, Landon?
Ela levanta o olhar do livro mais uma vez, com uma expressão
convencida em seu rosto.
— Você aguentou quarenta e cinco segundos antes de me perguntar
sobre isso. Eu vejo uma melhora.
Fecho a cara na mesma hora.
— Não é hora para gracinha, Landon. Preciso de respostas!
Ela arqueia a sobrancelha para mim.
— Mas não foi você que acabou de me dizer que jamais ficaria com o
Nate, filho do prefeito Andrew?
Filha. Da. Mãe.
Essa é a forma como a Landon aprendeu a extrair informações casuais de
mim sempre que eu tentava esconder alguma coisa dela. Ela sempre foi
mais inteligente do que eu, então sempre tentei desviar de seus truques
conforme fomos crescendo.
Uma vez eu fugi pela janela do nosso quarto para poder ir a uma festa
mesmo estando de castigo. Voltei pouco antes das quatro da manhã,
fedendo a álcool barato e fui parar no chuveiro com a ajuda de uma Landon
muito brava. Quando eu terminei de me vestir, ela já sabia até com quem eu
tinha flertado durante a noite.
Essa é a minha irmã gêmea, senhoras e senhores.
Eu tenho um pouco de pena de Jessie Sanders, um dos garotos de Barlow
que também foi aceito aqui em Granville. Landon e ele sempre viveram
uma espécie de guerra fria, muito pelo fato de Jessie ter uma memória
fotográfica e conseguir ir tão bem como a minha irmã, que sempre se matou
de estudar. E pelo fato dele provocá-la com tudo, bem no estilo briga de
criança.
Conviver com os dois juntos em uma sala de aula era, no mínimo,
interessante. Eles sempre competiam para ver quem era o melhor, mas tinha
um adendo.
Jessie Sanders era MUITO legal.
Ele era um dos poucos caras de Barlow que realmente curtia uma farra,
como eu. Vivia encontrando-o nas festas clandestinas que costumava
frequentar e vez ou outra acabávamos indo para a escola no dia seguinte de
ressaca.
O que, obviamente, enfurecia ainda mais a Landon. Era difícil para ela
virar a noite estudando e tirar a mesma nota que o cara usando óculos
escuros dentro da sala de aula.
Mal posso esperar para reencontrá-lo hoje. Vamos relembrar os velhos
tempos e, quem sabe, posso tirar a pendência do preciso-transar do
caminho.
Porque, caralho, eu preciso muito transar.
— ESSA É A MELHOR BANDA UNIVERSITÁRIA QUE EU JÁ
OUVI! — uma garota grita ao meu lado enquanto nós duas pulamos feito
loucas ao som do cover de Angel do Aerosmith.
— EU CONCORDO! — respondo para ela, ansiosa para cantar o refrão
junto com eles. — BABY, YOU’RE MY ANGEEEL! COME AND SAVE ME
TONIGHT!
As luzes oscilam de vermelho para azul e então verde e tenho quase
certeza de que nunca vi nossa casa tão lotada. Tem pessoas pulando por
toda a parte e vários casais praticamente transando em cima dos móveis.
Preciso me lembrar de desinfectar tudo isso amanhã pela manhã.
Enquanto pulo ao som da música, não deixo de prestar atenção nos caras
que apareceram por aqui. Volto a repetir que nunca fui muito fã de esportes,
mas, porra, atletas são gostosos demais. Eles têm o corpo e a estamina no
ponto para conseguirem dar mais de uma sem virar para o lado porque “pô,
gata, sabe como é né? Você é gostosa demais e eu estou cansado”.
O paraíso de Leslie Reese é aqui mesmo.
— Nós somos a Fake Affairs, pessoal. Nossos folhetos estão espalhados
por toda a parte. Valeu! — grita Zach no microfone, o vocalista da banda,
fazendo todos nós gritarmos de volta para ele.
O cara tem totalmente a vibe de um deus do rock.
Mas isso até sair dos palcos, porque o cabelo comprido e toda essa aura
de “rockstar” não faz jus ao rostinho bobo que ele tem. É como se ele se
transformasse com um microfone na mão.
Jules, o baixista, em contrapartida, parece o gato da Alice. Ele tem
aquele sorriso malicioso e o olhar de quem sabe das coisas que deixa
qualquer uma arrepiada. Para a minha sorte ou não, há rumores de que sua
preferência são as mulheres mais velhas. As docentes, então, nem se fala.
E também tem a baterista, Kiara, que é a mulher mais atraente que eu já
vi e quando está usando aquelas baquetas... Meu Deus. Eu daria tudo para
estar no lugar daquela bateria.
Inclino a cabeça para o lado, pensando por alguns segundos o porque
diabos eu nunca transei com Jessie. Ele sempre foi legal, inteligente e sexy.
Nós dois temos uma personalidade parecida e muita vontade de curtir.
Tudo seria tão mais fácil se eu simplesmente arranjasse alguém fixo
como ele. Ainda mais na minha atual situação, onde estou presa em um
namoro de mentira com Nate O’Connel.
Acho que nem eu acreditaria se eu contasse isso para mim mesma
algumas semanas atrás.
Imediatamente as palavras de Landon voltam com tudo na minha cabeça
e eu balanço a cabeça, me impedindo de pensar sobre como Nate costumava
ter uma espécie de queda por mim.
Ele sempre foi tão frio comigo. Mal me encarava nos olhos, parecia
quase desesperado para que eu fosse embora sempre que me aproximava
dele e da Landon. Acho que eu só internalizei em mim que Nate me achava
irritante, insuportável e um pouquinho insuportável.
Mesmo sem entender o motivo de todo o ódio gratuito.
Mas e se… E se o ódio na verdade fosse uma raiva que sentia por gostar
de mim?
Uou.
Uou.
Caramba.
De repente, por que tudo começou a girar?
Nate não pode estar afim de mim.
Ele pode?
Meu coração acelera e me dou conta de que estou parada no meio da
multidão de pessoas que querem dançar.
Vou me afastando das pessoas, empurrando-as da forma mais delicada
que posso, sentindo a minha garganta apertar com o turbilhão de
sentimentos que me engolfa de uma só vez.
É como se a minha vida inteira fosse uma mentira.
— Ei! — Uma mão me apara da queda iminente que eu nem sequer me
toquei que estava prestes a sofrer. — Está tudo bem?
Balanço a cabeça apressadamente, só querendo sair daqui o mais rápido
possível.
— Não acredito! Leslie?
A menção ao meu nome me faz erguer a cabeça, dando de cara com
Jessie Sanders. Ele está todo suado, usando roupas pretas que só lhe
conferem um visual ainda mais bad boy.
Eu sorrio, apesar da epifania que está acontecendo dentro da minha
cabeça.
— Jessie! Meu Deus, a sua banda é demais. Mas espera… Você não
precisava estar lá em cima? — Aponto para o palco, onde a banda dele
continua tocando.
Ele dá de ombros, com o sorrisinho arrogante tão característico dele.
Deus, como eu ainda sinto falta das pessoas de Barlow. Quando eu
encontro alguém de lá, sempre parece que estou de volta em casa.
— Eu preciso ir ao banheiro. E também beber água. Não
necessariamente nessa ordem.
Solto uma risada alta, dando um tapa em seu braço de brincadeira.
— Senti sua falta, sabia? Estou feliz em saber que a sua banda é tão boa
assim. Aquele cover de Angel foi simplesmente insano. Vocês
definitivamente têm futuro.
— Nah, nem tudo nessa vida a gente faz com propósito de grandeza.
Você está até parecendo com o restante da banda. Todos acham que a gente
tem futuro, mas, pra mim, a Fake Affairs é o que ela é. Não temos grandes
expectativas além de continuar entretendo jovens universitários bêbados.
— Bom, se essa é a missão de vocês, posso assegurar que já cumpriram.
Ele sorri.
— Valeu. Hein, Leslie, por onde anda a sua irmã?
Não consigo esconder o sorriso.
— A Landon faz parte da sororidade também, mas ela não costuma
descer quando tem festa. Ela prefere estudar e dormir cedo, você conhece a
minha irmã.
Ele solta uma risada anasalada, olhando fixamente para um ponto da
sala. É quase como se tivesse perdido em pensamentos.
— É, eu conheço a Landon. Isso é bem a cara dela mesmo. — Seu olhar
encontra o meu novamente. — E quem diria que Nate O’Connel, filho do
prefeito Andrew, acabaria se tornando o rei do home run universitário?
Juro, as pessoas piram quando tem jogo de beisebol, por causa dele.
Loucura.
— EU SEI! — Arregalo os olhos para ele, subitamente animada por ter
alguém que me entende. — Como aquele garoto certinho que vivia
dedurando para o pai dele as poucas festas em que a gente contrabandeava
bebida acabou se tornando esse astro?
— Eu não faço a mínima ideia. — Ele sorri, balançando a cabeça. — A
vida tem umas coisas meio loucas. Eu me lembro vagamente da paixão que
ele nutria por você, mas fora isso, ele não costumava participar muito dos
lugares que a gente gostava de frequentar.
Fecho os olhos, sentindo como se tivesse acabado de levar mais um tapa
essa noite. O primeiro foi dado pela minha própria irmã.
— Espera aí, Jessie, o que você acabou de dizer?
Ele dá de ombros.
— O Nate não costumava ir para o mesmo lug…
— Não estou falando disso. A frase antes dessa.
Jessie abre um sorriso.
— Ele sempre teve uma queda por você, Leslie. Era muito óbvio. O
garoto ia até mal nos dias que você ia assistir aos jogos dele, pelo amor de
Deus.
De repente, tudo faz sentido.
— Foi por ISSO que a Landon me fez parar de ir aos jogos! Tudo bem
que eu não gosto muito de esportes e não ia com frequência, mas de vez em
quando era legal saber se algum jogador era gato. Sabe, eu realmente
acreditava que o Nate me odiava. Quando ela deu a entender que eu
precisava parar de ir aos jogos de beisebol, pensei que ele tinha pedido pra
ela me dizer isso…
— Bom, se tem uma coisa que Nate não sentia por você era ódio. Tenho
quase certeza que a Landon também sabe disso.
Solto um muxoxo, mordendo meu lábio inferior.
— Ela meio que acabou de soltar essa informação, quando eu estava me
arrumando pra festa. E agora estou muito confusa. Quero dizer, ele é muito
gostoso e eu estou passando por um período de seca, sabe como é.
— Gostoso como?
— Gostoso nível esses caras do TikTok que postam vídeos sem camisa.
Ele está um espetáculo, Jessie. Aparentemente essa coisa de fazer
exercícios realmente te traz resultado.
— E eles também ficam melhores na cama. — Pisca para mim, sorrindo.
— Meu ex-namorado podia ser um canalha, mas fodia bem. Acho que você
pode aproveitar que descobriu isso sobre o Nate e resolver esse seu
problema.
Suspiro, em dúvida. Por um lado, Jessie definitivamente tem razão: eu
preciso resolver o meu problema da falta de sexo.
ESTOU QUASE ENLOUQUECENDO.
E como se o universo estivesse querendo me dar um sinal, meu celular
começa a tocar. Peço um segundo para Jessie com o dedo indicador e ele
faz um meneio com a cabeça, me liberando.
Nate está me ligando.
Com o coração acelerado, atendo a ligação. O som à minha volta ainda
está um pouco alto, então preciso gritar algumas vezes até que finalmente
consigo escutá-lo. E pelo seu tom de voz, Nate não está nada feliz.
— Leslie? Onde você está?
Coloco uma mão sobre um ouvido enquanto pressiono meu celular no
outro. Vou andando até a entrada da casa para conseguir escutá-lo melhor.
— Eu estou em casa, sóbria e segura. Hoje é dia de festa aqui na Theta
Rho Beta. Você não vai acreditar em quem eu acabei de…
Mas ele não deixa eu terminar.
— Você está numa festa?
— Tecnicamente, a festa veio até mim. Eu moro aqui, né, Nate?
— Você poderia ter me convidado.
Meu coração começa a acelerar.
— E por que eu faria isso?
Ele resmunga do outro lado da linha, a respiração ofegante. Posso jurar
que escutei Nate chutar alguma coisa, mas é apenas um palpite.
— Talvez porque eu seja seu namorado, Leslie.
— Nós não somos namorados de verdade, Nate. Lembra?
De repente, a linha do outro lado fica muda. Decido conferir a chamada
para saber se ele desligou, mas ela continua ativa. Nate só está em silêncio.
E isso me deixa imediatamente nervosa. O que será que ele está
pensando? Será que ele também tem estado tão confuso como eu?
— Você tem razão, Leslie. Divirta-se na sua festa.
E, sem me dar chance de uma resposta, Nate desliga o telefone.
Na minha cara.
Você sabe que me faz subir pelas paredes
Com o seu jeito de fazer essas maldades parecerem boas
Parece que estamos mais fingindo do que fazendo amor
E sempre parece que você tem alguém além de mim nos seus pensamentos
Crazy | Aerosmith

Bebo mais um gole da minha garrafa de água enquanto permaneço


jogado sobre o sofá do meu apartamento, curtindo a sensação de cansaço
depois de descarregar a tensão por horas na academia.
Sim, à noite. Nunca agradeci tanto por morar em um prédio com
academia vinte e quatro horas.
Liam me perguntou algumas vezes o porquê de eu esmurrar o saco de
boxe com tanta força, mas preferi guardar para mim mesmo. É óbvio que
nem mesmo o treino mais pesado poderia me fazer lutar contra a onda de
irritação que me engolfou ao saber que Leslie estava em uma festa.
Sozinha.
Sem mim.
E ok, talvez eu tenha dito para ela algumas vezes que não tínhamos nada
e também posso odiar ir a festas universitárias. Isso não muda o fato de que
estou puto. Ultimamente não tenho me reconhecido e eu sabia que era uma
péssima ideia ficar tão próximo dela.
Sentimentos antigos estão voltando com tudo.
Não consigo evitar o pensamento de que talvez ela esteja escolhendo um
cara para passar a noite. Aposto que ela mal pode esperar para o nosso
plano funcionar e assim ela ficar livre.
Solto uma risada amarga, resignado.
Que merda.
É isso que dá, Nate. É culpa sua se iludir com uma garota que já deixou
claro várias vezes que você não faz o tipo dela.
A minha mente está começando a me sabotar, então decido tomar um
banho para cair logo na cama. Tiro a camisa branca e a dobro
cuidadosamente, colocando-a em cima do sofá e ajeito a minha calça de
moletom.
É então que a campainha toca.
Franzo o cenho. Normalmente eu não costumo receber visitas no meu
apartamento, principalmente porque ele não fica dentro da universidade.
Decidi alugar ele porque sou um cara chato e viver em um alojamento seria
o meu pesadelo.
Ao abrir a porta, dou de cara com Leslie usando o vestido preto mais
indecente e colado que meus olhos já viram. Seus cabelos ruivos estão
impecáveis apesar dos cachos nas pontas estarem se desfazendo e ela está
segurando uma garrafa de vodka em uma das mãos.
Cruzo os braços na frente do peito, confuso.
Ela abre um sorriso para mim.
— Será que você vai deixar eu entrar, Nate?
Aperto meus olhos em sua direção.
— Depende. O que você está fazendo aqui, Leslie?
Ela solta um muxoxo, como se fosse uma criança sendo pega fazendo
alguma coisa errada. Eu luto contra a vontade de abrir espaço para que ela
preencha cada canto da minha casa, porque preciso tomar cuidado com ela.
Leslie tem o poder de devastar qualquer coisa em seu caminho.
Eu já passei por isso uma vez.
— Eu não sei, Nate. Não sei o que estou fazendo aqui… — Ela passa o
pulso contra a testa, parecendo perdida. — Eu só sei que estava em uma
festa incrível, cheia de pessoas pulando comigo, mas eu sentia que alguma
coisa estava faltando. Eu não sabia dizer o que era e aí você me ligou. Acho
que eu estou me acostumando com a sua companhia.
— Não parecia isso quando você não me convidou — rebato.
Leslie suspira.
— Eu sei que vacilei, Nate. Mas, porra, confesso que estou um pouco
confusa com tudo que aconteceu entre a gente na última festa que fomos
juntos. Eu não queria me sentir atraída por você porque isso estragaria tudo.
Eu só faço besteira, Nate. Não consigo me manter na linha, erro mais do
que acerto, não sou focada igual você ou a Landon. E de vez em quando eu
entro em problemas. Eu só… Só não sinto que nos encaixamos.
Levanto meu rosto para encarar seus olhos azuis. Engulo em seco ao ver
como Leslie parece tentar resistir a visão do meu peito à mostra e a
memória dela me vendo sem camisa pela primeira vez surge com tudo na
minha mente.
Sinto meu rosto esquentar.
— Nós nunca vamos saber se nos encaixamos se não tentarmos, Leslie.
Ela abre um sorriso malicioso para mim.
— Tenho certeza que tem uma parte sua que se encaixaria perfeitamente
em mim, se é que você me entende.
Balanço a cabeça, sem conseguir segurar a risada. Leslie continua sendo
a Leslie, afinal. E isso é ótimo.
Decido então dar passagem para que ela possa entrar no meu
apartamento. Leslie não esconde a careta ao ver as cores monocromáticas
da minha casa, tudo meticulosamente arrumado.
— É bem a sua cara.
Bato a porta atrás de mim, levantando a sobrancelha.
— Espero que isso seja um elogio.
— É sim! Meu Deus, deve ser tão legal ter uma casa só pra você.
Imagina só poder assistir o que quiser na televisão sem precisar pedir
permissão pra ninguém ou então poder transar loucamente por horas e não
precisar fazer silêncio. Sério, isso é um sonho.
Vou caminhando na direção dela.
— Não é como se eu pudesse fazer tanto barulho aqui também, Leslie.
Eu tenho vizinhos.
— É melhor ter vizinhos do que dividir uma casa com tantas garotas,
acredite. Não me leve a mal, eu adoro morar em uma sororidade e dividir
um quarto com a Landon, mas acho que todo mundo precisa de um tempo
sozinho. Sabe?
Balanço a cabeça.
— É, sei sim.
— Ai, meu Deus! Aquele é o seu uniforme? — pergunta Leslie,
caminhando na direção do meu quarto. — Isso é muito sexy.
— Leslie, você já me viu de uniforme antes — resmungo, em seu
encalço.
Não quero parecer desesperado, mas estou com medo de que ela bagunce
as roupas que demorei tanto para lavar e dobrar. Gosto das minhas coisas
organizadas e pelo que a Landon me diz, Leslie pensa exatamente o
contrário.
— É, mas você estava dando atenção para outra garota. Não pense que
eu esqueci, tá?
Engulo em seco.
Amanda é uma garota linda que não perde um jogo dos Angry Sharks
desde que eu me tornei rebatedor oficial do time. Ela sempre está gritando e
torcendo por mim e já tinha algum tempo que eu queria pegar o número
dela.
Fazia sentido na época, mas não agora. Não quando um furacão
chamado Leslie Reese decidiu invadir a minha cabeça novamente.
— Não tenho nada com mais ninguém. Desde que começamos com
isso… Com o namoro falso, eu digo. Prefiro não colocar mais ninguém
nessa situação.
Leslie engole em seco.
— É, eu também não.
Meu coração não deveria disparar com essa informação, mas é o que
acontece. Leslie não saiu com ninguém desde que começamos a nossa farsa
e isso me traz uma onda de alívio.
Nós dois ficamos em silêncio, ambos com a cabeça perdida em
pensamentos. Limpo a garganta, chamando sua atenção de volta para mim.
— O que você acha de ir assistir alguma coisa enquanto eu tomo banho?
Eu fui a um restaurante vegano pela manhã que é muito bom e eu trouxe o
suficiente para jantar. Está afim?
Os olhos de Leslie brilham de animação. Ela dá alguns pulinhos e me
agarra em um abraço que faz meu pulso acelerar. Seu cheiro de morango
está impregnado em mim e acho que nem depois do banho serei capaz de
erradicá-lo.
— Não acredito que você foi a um restaurante vegano, Nate! Estou
tentando virar vegana desde que parei de consumir carne, mas é difícil.
É, eu sei. Leslie não come mais nenhum tipo de carne desde que fomos
visitar uma fazenda no segundo ano do ensino médio. Ela se apegou a cada
animal que viu e eu me lembro de vê-la chorando no ônibus sem parar, com
a Landon consolando-a durante todo o trajeto até Barlow.
Todos achavam que seria apenas uma fase. Era impossível resistir à
costelinha com barbecue ou frango ao molho que estávamos acostumados a
comer, mas Leslie continuou firme e forte. E depois de um tempo, os
restaurantes locais começaram a colocar opções sem carne para que ela
pudesse frequentar.
Essa é uma vantagem de morar em uma cidade pequena.
— Vou te levar lá qualquer dia desses — respondo, acanhado. Ainda não
me acostumei a ter Leslie me tocando desse jeito. — Agora eu vou pro
chuveiro e você vai escolher um filme pra gente.
Ela abre um sorriso malicioso para mim.
— Tem certeza que não quer que eu vá inspecionar se o seu chuveiro
está realmente bom?
— Leslie…
— Sabe, eu poderia te ajudar com o sabonete. Eu esfrego e você
enxagua.
— Leslie!
— Tá bom, não está mais aqui quem falou — diz ela, erguendo as mãos
em sinal de rendição. — Só quis ser prestativa…
Estreito meus olhos em sua direção.
— Claro que queria.
Ela está voltando para a sala quando, de repente, vira de volta para mim
e me lança uma piscadinha.
— O seu problema é achar que tudo o que eu falo com você é
brincadeira, Nate.
E então volta saltitando na direção da sala.
Sinto uma fisgada no meu pau, que se contrai com a imagem de Leslie
molhada em meu chuveiro. Mesmo que ela me queira em sua cama, preciso
resistir. Não quero que Leslie pense que eu a desejo só sexualmente, porque
meu fascínio por essa garota ultrapassa o físico.
Mas aparentemente ela não vai facilitar as coisas para mim.
Não penso duas vezes ao mudar a temperatura da água de morna para
fria. Preciso de toda a ajuda possível.
Depois que termino de me vestir, vou caminhando até a sala enquanto
seco meus cabelos molhados com uma toalha. Leslie está jogada no sofá, os
cabelos ruivos estão presos em um coque no topo da cabeça e ela não
desgruda o olhar da televisão.
Parece até mesmo hipnotizada com o que assiste. Ela nem ao menos
pisca.
— O que é isso? — pergunto, sem rodeios.
Ela nem sequer me encara quando responde:
— Keeping up with the Kardashians.
Meu queixo cai.
— Nem a pau, Leslie.
— Pau é algo que eu não tenho visto com frequência, então você vai
aceitar o que eu quiser assistir.
E, simples assim, ela tem um ponto. Até abro a boca para rebater, mas
percebo que estou sem argumentos.
Me dando por vencido, vou caminhando a passos lentos pela cozinha.
Consigo pescar algumas informações sobre o que está passando na televisão
e aparentemente uma tal de Khloe acabou de descobrir que foi traída pelo
marido com a melhor amiga de sua irmã mais nova.
Eu termino de arrumar a salada caesar vegana — ou seja, sem anchovas
ou queijo parmesão —, com tofus defumados em uma vasilha enquanto o
macarrão ao molho de castanhas está terminando de esquentar. Eu não
costumo ingerir tanto carboidrato à noite, mas hoje estou abrindo uma
exceção por uma boa causa.
Quando volto para a sala, Leslie senta no sofá. Eu agradeço e me junto a
ela, servindo a comida enquanto peço explicações sobre o que estamos
vendo.
— O reality show das Kardashians é um entretenimento de qualidade,
confie em mim. Essa é a Khloe Kardashian e ela é a minha preferida. Acho
ela muito engraçada! O único problema é que ela vive se humilhando por
homens que não a merecem. Esse Tristan é um traste.
— Que interessante. Então o conceito dessa série é basicamente
assistirmos a vida dessa família e julgarmos?
Leslie termina de mastigar seu macarrão.
— Exatamente. Tem coisa melhor?
E de fato a série parece muito boa. Leslie e eu assistimos alguns
episódios enquanto comemos e eu preciso admitir que me peguei
interessado nos dilemas que elas vivem. É tão fútil que parece quase
inacreditável.
Depois que Leslie e eu terminamos de jantar, deixo-a curtindo o restante
do episódio enquanto vou cuidar da louça suja. Ela se oferece para ir
comigo, mas não deixo. Sou o anfitrião e é assim que a minha mãe me
educou para cuidar das minhas visitas.
— Tudo bem então. — Ela dá de ombros, voltando sua atenção para as
Kardashians.
É inevitável pensar em nós dois como um casal de verdade. Ela viria pra
minha casa depois dos jogos e a gente cozinharia juntos. Eu sempre deixaria
ela escolher os programas duvidosos que ela sempre gostou de assistir e a
gente trocaria alguns beijos no sofá. Depois disso iríamos pra cama e então
ela me cavalgaria até cansar e…
— Nate!
Desvio minha atenção para Leslie, que está me encarando do sofá. A
melhor decisão que eu tomei foi alugar um apartamento com conceito
aberto. Posso ver a pessoa da minha sala enquanto estou cozinhando, então
não sinto que estou realmente sozinho.
Isso quando tenho companhia, claro.
— O que você acha de assistirmos True Blood?
Balanço a cabeça.
— De novo, Leslie? A gente assistia isso quando era adolescente.
— É, mas deu saudade. O Eric é gostoso demais para não assistirmos
pelo menos mais uma vez.
Enrugou a testa.
— Você sabe que o par romântico da Sookie é o Bill, não sabe?
Ela revira os olhos.
— É claro que eu sei, mas não significa que o bad boy não seja o melhor.
Os roteiristas estavam malucos por não terem feito Eric ficar com a Sookie
no final das contas. Eles eram o par perfeito.
— Ele era mau.
— Os melhores são.
— Leslie!
— Na ficção, Nate. Eu não sou uma maluca que não consegue separar
ficção da realidade. Nos livros, filmes e séries? Eu prefiro o vampiro
assassino sem escrúpulos que colocaria uma cidade abaixo por minha causa.
Se for ciumento e possessivo, melhor ainda. Mas na vida real? Eu prefiro os
bonzinhos que me obedecem. Esses são os melhores.
Engulo em seco. Pensando por esse lado, talvez eu fosse mesmo o cara
certo para ela. Aposto que não teria problemas em seguir suas ordens.
— E se na vida real o cara também for um pouco malvado? Isso seria um
problema?
Leslie me encara intensamente, sem piscar. Depois de alguns segundos,
ela dá de ombros.
— Depende de qual parte você estiver falando.
Eu termino de colocar o restante dos pratos na lava-louças e enxáguo as
mãos, andando com calma para perto de Leslie. Ela não consegue desviar o
olhar do meu enquanto eu me sento ao seu lado.
— Estou falando da parte do ciumento e possessivo.
Leslie parece pensativa, como se estivesse refletindo sobre as minhas
palavras. Por fim, suspira antes de me responder:
— Acho que um cara demonstrar ciúmes é bem sexy. Só seria
problemático se isso tirasse a minha liberdade. Se ele me pedisse para trocar
de roupa ou quisesse escolher as pessoas que eu mantenho na minha vida, aí
seria um não definitivamente.
— Entendi.
Leslie esbarra seu ombro no meu e meus olhos encontram os seus. Ela
está sorrindo de uma forma conspiratória, como se soubesse de algo que eu
ainda não sei. Sempre foi difícil ler essa garota. Ao contrário da Landon,
que sempre diz exatamente o que pensa, às vezes tenho a impressão de que
Leslie é o tipo de garota que precisa ser lida nas entrelinhas.
Ela é indecifrável.
— Eu sempre achei que você me odiava — murmura ela, após alguns
segundos em silêncio.
Sinto meu coração errar uma batida. Desvio o rosto para não encontrar
seu olhar lânguido, embora toda a minha força de vontade esteja indo pelo
ralo. É estranho ter Leslie tão perto assim. A minha pele está arrepiada, meu
pulso está acelerado e sinto como se anos sendo um atleta bem-sucedido
não fosse o suficiente para controlar a minha respiração rarefeita.
Se ela se aproximar mais, estou perdido.
— Eu jamais odiei você, Leslie. Você pode não acreditar em mim, mas
vou repetir quantas vezes você precisar ouvir.
— Você sempre saía correndo quando eu aparecia — argumenta ela, com
a cara emburrada. — Até pediu pra Landon me dizer que eu não deveria ir
aos jogos do colégio. O que eu deveria pensar?
Merda. Leslie tem todos os motivos para achar que eu a odeio, embora
isso esteja longe de ser verdade.
E a verdade é que…
Eu sempre quis essa garota. Leslie me desestabilizava demais quando
éramos adolescentes e evitar a sua presença para manter a minha sanidade
foi a maneira que eu encontrei naquela época. Não conseguia me concentrar
no jogo quando a via flertando na arquibancada com um dos meus colegas
de time. Eu só pensava em pegar o meu taco de beisebol e refazer a arcada
dentária do babaca o tempo inteiro.
Respiro fundo.
— Você me distraía demais, Leslie. Eu sei que não era justo o que eu
fazia, mas era muito difícil ter sempre você por perto quando eu…
Travo sem conseguir prosseguir.
Os olhos de Leslie arregalam e ela prende a respiração. Seu rosto me
encara com expectativa, quase como se me implorasse por algo e eu sinto a
minha garganta fechar.
— Você…? — insiste ela, se aproximando mais de mim.
Nós dois estamos tão próximos que consigo sentir seu hálito quente
contra meu rosto. Nossas respirações estão se mesclando e eu a encaro,
hipnotizado pelos olhos azuis mais lindos que eu já vi.
Ela é inteiramente linda.
— Eu… — Engulo em seco, deixando que meus olhos encarem a boca
rosada de Leslie. Ela passa a língua pelos lábios lentamente e eu quase
deixo um gemido escapar.
— Eu preciso saber, Nate — murmura, soando quase como uma súplica.
Fecho os olhos. Leslie não precisa me implorar por nada. Tudo o que ela
quiser, sempre vou lhe dar de bom grado.
Juntando toda a coragem que eu sinto, confesso baixinho:
— Sempre gostei de você, Leslie. E quando percebi que não tinha como
ser recíproco, tentei me afastar. Era difícil porque a sua irmã gêmea é a
minha melhor amiga, mas eu precisava tentar.
Fico esperando uma resposta dela com o coração acelerado, mas ela não
vem. Leslie está calada, sem se mover um centímetro. Me sinto um idiota.
Estávamos começando a nos dar bem e eu estraguei tudo confessando meus
sentimentos de adolescente.
Sou muito imbecil.
Mas quando eu finalmente abro a boca para dizer para ela esquecer sobre
isso, Leslie faz algo que me pega completamente desprevenido.
Ela me beija.
E eu desistiria da eternidade para te tocar
Porque eu sei que você me sente de alguma forma
Você é o mais próximo que estarei do paraíso
E eu não quero ir pra casa agora
Iris | Goo Goo Dolls

Estou beijando Nate O’Connel.


Poderia facilmente culpar o desespero por ter escutado da boca dele
sobre seus sentimentos por mim, mas eu estaria mentindo. Beijei Nate
porque ele topou ir na festa comigo, quando eu não tinha ninguém.
Beijei porque quando ele viu Adam indo para cima de mim, não pensou
duas vezes antes de se colocar na minha frente. O beijei por todas as vezes
em que eu me metia em alguma enrascada na pacata cidade de Barlow e ele
pedia para o pai “pegar leve comigo”.
O beijei porque ele aceitou assistir True Blood comigo quando éramos
adolescentes e não reclamou quando eu coloquei as Kardashians hoje.
Estou beijando ele nesse exato instante porque Nate foi em um
restaurante vegano por mim. Ele pode não ter me confessado isso, mas eu
simplesmente sei.
De repente, tudo faz sentido na minha cabeça.
Todo o mau humor dele perto de mim, principalmente quando eu estava
contando para Landon sobre algum cara que saí. Ou então quando ele
revirou os olhos quando dei a entender que ele sentia algo pela minha irmã
gêmea.
É como se todas as peças finalmente se encaixassem.
— Leslie — murmura ele contra os meus lábios, mas eu continuo
beijando sua boca. Nate suspira, cedendo, usando a mão livre para agarrar o
meu cabelo com força.
Meu queixo cai.
Gostei disso. Gostei muito disso.
Passo meus braços por seu pescoço, me jogando sobre ele. Nate se
desequilibra e cai no sofá, comigo por cima dele. Não dou tempo para que
nenhum de nós pense muito sobre isso e me encaixo em seu colo, adorando
sentir sua ereção por cima da calça.
Onde ele estava escondendo isso por tanto tempo?
— Leslie, precisamos conversar — diz ele, apoiando as mãos no meu
quadril.
O ignoro completamente, voltando a atacar seus lábios com os meus. O
gosto de Nate vai ficar guardado na minha memória por muito tempo, e se
for honesta comigo mesma, acho que posso estar me viciando em tê-lo
assim agora mesmo.
Ele é delicado ao mesmo tempo que é firme.
É carinhoso, mas também parece gostar das coisas do jeito dele.
Honestamente? Acho que encontrei o cara perfeito.
— É sério, Leslie. — Nate segura meu rosto, roçando o polegar na
minha bochecha. Não quero arruinar nosso momento com uma conversa
sobre sentimentos, então tento beijá-lo novamente.
Ele se esquiva.
Franzo a testa. Ele não acabou de dizer que sempre gostou de mim? Não
entendo porque quer conversar ao invés de me beijar.
— Qual o problema? — questiono, confusa.
Ele se inclina para frente e me rouba um beijo, dessa vez mais calmo.
Quando nossas bocas se separam, ele se ajeita melhor no sofá e eu faço o
mesmo. Com certeza a minha expressão aparenta o quanto estou confusa.
E ele percebe.
— Não me leve a mal, Leslie, você é a garota mais linda que eu já
conheci. E eu nem preciso comentar sobre o seu jeito. Sempre te admirei
por conseguir falar o que pensa, fazer o que quiser e não se importar com o
que as outras pessoas pensam. Você é uma pessoa que consegue iluminar o
ambiente em que entra e é impossível tirar os olhos de você.
Isso não parece bom.
— Mas…? — insisto, engolindo em seco.
Nate suspira.
— Mas acho que se formos começar com alguma coisa de verdade,
precisa ser pra valer. Eu sei que você se sente atraída por mim. Você já
deixou óbvio algumas vezes. — Ele sorri, mesmo que não aparente
felicidade. — Eu sou o melhor amigo da sua irmã e estamos na vida um do
outro desde crianças. Conheço toda a sua história e você a minha. Se a
gente começar a ficar… — Ele fecha os olhos. — Sei que vou me apegar a
você, Leslie. Vou acabar me apaixonando e não vou conseguir superar
quando ver você com outro cara. Sei que não é justo dizer que gosto de
você quando você não tem interesse em um relacionamento sério. Só… —
Engole em seco. — Só achei importante te contar, sabe? Por estarmos
fingindo um namoro.
Uau.
Nate sabe mesmo como estragar o clima, mas eu não o culpo. Sei que ele
tem razão. Eu não estou buscando um relacionamento sério, não estava
quando éramos adolescentes e nem agora. Gosto de liberdade. Gosto de
poder fazer o que quero sem precisar dar satisfação para ninguém.
Gosto de pertencer a mim mesma.
Mas, por outro lado, ultimamente estive contando com Nate. Foi nele
que pensei quando me senti sozinha na festa hoje. Não sei como
gradualmente o garoto mais chato que conheço começou a criar raízes
dentro de mim, mas não posso negar que aconteceu.
Porque eu simplesmente não consigo imaginar como a minha vida será
daqui para frente sem ter Nate enchendo o meu saco. Sem vê-lo todo mal-
humorado quando eu faço algum comentário engraçadinho. Sem sentir seu
cheiro, hoje tão familiar, ou sem ouvir os conselhos que eu acabo
deliberadamente ignorando.
Nunca disse que sou perfeita, disse?
— Isso é… Muita coisa a se pensar — respondo, séria.
Nate deixa seus ombros caírem. Seu semblante parece conformado,
como se ele já soubesse qual seria a minha resposta.
— Eu já estava imaginando isso. Podemos esquecer isso, Leslie. Vamos
focar em desmascarar o Adam, ajudar a Sophie e então tudo será como
antes. Não vou passar de ser o amigo irritante da Landon — diz ele, com
um tom amargo na voz.
Acho que nunca vi Nate tão resignado. Seu olhar lânguido se fixa no
meu e não sei porque sinto uma vontade tão desesperadora de lhe dar um
abraço.
— Você não vai ser só o amigo chato da minha irmã, bobão. Você
também vai ser o meu chato — rebato, tentando aliviar o clima. — Nós dois
criamos uma conexão nesses últimos tempos, Nate. Isso não vai sumir só
porque nós dois vamos ter, teoricamente, terminado.
Ele passa as mãos furiosamente sobre o rosto, como se estivesse
tentando pensar. Depois suspira, virando o rosto para me encarar.
Eu prendo a respiração.
— Eu me conheço, Leslie. Sei que não vou conseguir fingir que está
tudo bem quando você estiver saindo com alguém. Eu também sei que não
é justo, mas é assim que eu me sinto.
— Nate, você não acha que está pensando um pouco longe demais?
Ele franze a testa.
— Como assim?
Respiro fundo, ajeitando melhor o meu vestido. Pelo visto ele não terá
nenhuma função importante hoje.
Uma pena.
— Olha, a gente nunca vai saber se não tentar. Não estou dizendo que
somos almas gêmeas ou que podemos ser namorados de verdade. Eu nunca
tive um relacionamento sério…
— Eu sei.
— No entanto, acho que poderíamos tentar.
Ele se vira para mim, parecendo em choque.
— O que foi? — pergunto, confusa.
— Você está dizendo que quer um relacionamento? Comigo?
Dou de ombros.
— Praticamente já estamos em um, Nate. Acho que não tem problema
se, enquanto estivermos precisando fingir, tentássemos. De verdade.
Ele junta as sobrancelhas.
— E isso significa que você não ficaria com mais ninguém?
Reviro os olhos.
— Óbvio. Eu já não estou saindo com ninguém de qualquer forma. Acho
que, sem querer, você acabou me emboscando em um relacionamento
monogâmico. — Abro a boca, fingindo ultraje.
Nate, pela primeira vez que consigo me lembrar, abre um sorriso. E não
qualquer sorriso, mas um que faz duas covinhas em suas bochechas
aparecerem. Meu coração acelera e o tempo parece parar. Eu nunca tinha
reparado em como os olhos dele sorriem junto com seus lábios.
É lindo demais.
Meu estômago parece abrigar milhares de borboletas. E elas querem
alçar voo, porque mal consigo prestar atenção em qualquer coisa além desse
frio na barriga.
O sorriso de Nate tem o poder de devastar cidades inteiras. Tem o poder
de me desarmar. É uma arma perigosa.
Engulo em seco.
— Você deveria fazer mais isso, Nate. Seu sorriso é lindo — elogio.
Ele me encara intensamente.
— Agora tenho motivos pra isso.
Ok, de repente todo mundo ficou com calor por aí? Porque aqui, vou te
contar…
— Agora que já resolvemos todas essas burocracias, será que eu posso
voltar a te beijar?
Seus olhos escurecem com o desejo e essa é toda a resposta que eu
preciso.
Sem esperar mais nenhum segundo, me atiro em Nate, que dessa vez me
segura com força contra seu corpo. Não consigo segurar o gemido que
escapa quando sinto seu corpo musculoso contra o meu.
Ele gruda seus lábios nos meus e então estamos nos beijando.
Nate passa os dedos suavemente contra o meu rosto enquanto eu passo
as minhas pernas ao redor de sua cintura. Nos beijamos por vários minutos,
mal parando para tomar fôlego, e eu me sinto como uma adolescente dando
uns amassos pela primeira vez.
É gostoso sentir o peso de Nate contra mim e por mais que eu esteja com
tesão e precisando sentir as mãos dele em mim, esse momento não é sobre
isso. Consigo sentir a conexão física se fundindo com todos os sentimentos
confusos que estávamos tendo durante essa semana.
Quero só sentir a pele dele contra a minha. Sentir seu coração batendo
contra o meu. Sentir seus braços ao meu redor. Sentir seus suspiros contra a
minha boca.
— Eu só fico pensando… — murmuro contra seus lábios.
Nate desce seus beijos até o meu pescoço, lambendo um ponto
específico que me faz revirar os olhos e morder os lábios. Meu pescoço
sempre foi um lugar sensível para mim, e como se soubesse disso, ele usa a
boca para me torturar.
Ele beija, chupa, lambe e deixa um rastro pelo meu pescoço enquanto eu
aperto minhas pernas com mais força contra seus quadris. Bom, parece que
o plano de “não tornar isso uma coisa sexual” acabou não dando tão certo
assim.
Mas quem é que está reclamando?
— Não pense — diz ele, ainda com a boca no meu pescoço.
Isso me faz sorrir.
— É uma coisa boa, Nate. Eu fico pensando se você tivesse me contando
sobre isso quando nós dois éramos adolescentes.
Ele imediatamente para o que está fazendo. Com calma, levanta o rosto
para encarar o meu. Eu abro um sorriso convencido.
— Não sei se isso teria sido uma boa ideia — responde ele.
— Qual é, Nate? Teria sido muito melhor.
Ele franze a testa.
— Você não gostava de mim naquela época, Leslie. Eu mal falava com
você, suava sempre que estávamos no mesmo cômodo. Eu era um
esquisitão.
— Que mentira, O’Connel. Eu sei que você teve uma namorada no
colégio e além do mais, você jogava beisebol. Você era popular.
Ele revira os olhos um segundo antes de afundar o rosto no meu pescoço
novamente. Nate inspira profundamente a minha pele, soltando um muxoxo
contra mim.
— Essa não é uma boa hora para conversar sobre ex — murmura.
Passo minhas mãos carinhosamente pelos seus cabelos enrolados,
acariciando seu couro cabeludo. Nate geme novamente, dessa vez perto da
minha orelha, e eu sinto meu corpo inteirinho arrepiar.
— Não quero conversar sobre as suas ex. Queria só te dizer o que eu
acho que aconteceria se estivéssemos juntos desde aquela época.
— O que quer dizer com isso? — Sua voz sai abafada, mas mesmo
assim consigo escutar.
Passo meus dedos entre seus cabelos novamente.
— Sei lá. Só acho que se estivéssemos juntos, ia ser legal. A garota
rebelde de Barlow com o filho certinho do prefeito. Já pensou em todas as
enrascadas que eu ia acabar te enfiando?
— Não me subestime, Reese do mal. Eu não sou tão manipulável assim.
Solto uma risada.
— Não é agora, mas aposto que você me obedeceria quando nós dois
éramos adolescentes.
— Você poderia ter tentado.
— É mesmo uma pena que você decidiu não me contar. Porque… —
suspiro ao sentir Nate me inspirando com força. Solto o ar lentamente pela
boca.
— Por que…? Pode continuar falando, Leslie. Sou todo ouvidos.
— Cretino. Eu não conhecia esse seu lado…
— Tem muitas coisas sobre mim que você ainda não conhece.
— Você não acha que está muito confiante, não, Nate?
— Não. Sou bom no que eu faço. O melhor, na verdade. Não é à toa que
me chamam de rei pelo campus, não é?
Solto uma risada contra seu rosto.
— É, definitivamente não conheço esse seu lado confiante. Entrar para
os Angry Sharks fez bem pra você.
— É, fez sim. Eu amo fazer parte desse time e não me vejo jogando para
outra universidade a não ser Granville — diz, confiante. — Mas agora eu
quero saber o que mais faríamos se eu tivesse confessado minha paixão pra
você na época do colégio.
Mordo meu lábio inferior para segurar uma risada, mas é em vão. Nate
com certeza vai ficar mais vermelho do que um pimentão.
— Nada demais… Mas acho que o prefeito ficaria horrorizado em me ter
como nora. Imagine só, a inauguração de alguma loja virando um escândalo
porque eu não conseguiria manter minhas mãos longe de você.
Ele congela contra mim. A respiração de Nate fica rarefeita contra o meu
pescoço e percebo que ele está com os músculos tensos.
— Sério? — pergunta, imóvel.
Abro um sorriso.
— Aham. Quando eu entrei na adolescência, quase sempre tinha um
ficante fixo. Gostava de beijar. Acho que eu não conseguiria manter minhas
mãos longe de você nem por um instante. Consegue imaginar? Eu indo pra
sua casa durante a tarde ao invés da Landon, pedindo ajuda com o dever de
casa, nós dois deixando a porta aberta… Mas mesmo assim não
conseguiríamos nos controlar. Como é que vocês no beisebol dizem? Ah,
sim, segunda base. Com certeza estaríamos nessa, podendo ser
interrompidos a qualquer momento. Você fez bem em não me contar, Nate.
Eu acabaria com a sua reputação de menino de ouro.
Ele grunhe contra a minha pele.
— Leslie…
— Só estou te dizendo como seriam as coisas. Tenho certeza que você
odiaria. Seríamos o clichê dos clichês. Perdendo a virgindade na noite do
baile, eu indo a todos os seus jogos na escola usando seu uniforme do ano
interior. Iríamos em todas as obrigações do seu pai na prefeitura como um
casal e você assistiria a todos os meus filmes trashs sem reclamar. Depois
das aulas, eu levaria você para baixo das arquibancadas e aí… — me calo,
esperando sua reação.
Nate se levanta abruptamente, me encarando nos olhos. Seu rosto está
corado, o que não me surpreende em nada. Sua voz soa quase desesperada
quando ele diz, rouco:
— E aí o quê, Leslie? O que você faria?
Engulo em seco.
— Eu iria começar te beijando, igual fizemos aqui. Eu te beijaria até que
nenhum de nós estivesse aguentando de tanto tesão. Em seguida,
provavelmente acabaria por cima de você. Nós estaríamos tão envolvidos
no momento que você nem ligaria por estar sujando todo o seu uniforme no
chão. Depois, eu iria beijar seu pescoço, igual você estava fazendo
comigo… — Me apoio nos cotovelos, me inclinando o suficiente para
roubar um beijo dos lábios dele. — E quando você estivesse completamente
entregue, sem conseguir prestar atenção em mais nada, eu ficaria mais
ousada. Abaixaria suas calças e colocaria seu pau todinho na minha boca
antes que você pudesse pensar se seríamos pegos. E eu só pararia quando
você gozasse na minha boca, Nate. Imagina só ter uma garota assim atrás de
você o tempo todo em Barlow? Ainda bem que você manteve o seu
segredo.
Nate solta um grunhido baixinho, fechando os olhos. Parece
inconformado, balançando a cabeça de um lado para o outro.
Meus olhos descem até a sua calça de moletom e eu não resisto a visão.
Ele está completamente duro para mim e tenho quase certeza que a sua
ereção está apontada para os meus peitos. É só esticar a mão que eu posso
senti-lo.
Estou quase salivando de vontade. Já faz tanto tempo desde que transei
pela última vez que sinto uma fisgada no meio das pernas. Preciso de um
alívio desesperadamente e a visão dos braços enormes de Nate apoiados um
de cada lado da minha cabeça não está ajudando em nada.
— Porra, Leslie — grunhe ele, com os olhos escuros de tanto desejo. —
Você não pode fazer isso comigo.
— Eu quero você, Nate. Eu estou com tanta vontade que não estou
conseguindo aguentar mais.
Ele fecha os olhos novamente.
— Caralho. Não quero transformar isso em sexo — diz ele,
inconformado. — Não é só sexo o que eu quero com você.
— Eu sei — digo, ofegante. — Mas eu preciso de sexo, Nate. E eu estou
com tanto tesão agora que acho que tudo o que bastaria é você pressionar a
sua perna contra mim.
Ele junta as sobrancelhas.
— É sério?
Fecho os olhos.
— É, é sim. Eu não transo desde… Bem, você sabe. E eu tenho a vida
sexual ativa, o que significa que estou quase subindo pelas paredes. Preciso
me aliviar.
— Caralho, Leslie. Se você continuar falando assim eu não vou resistir.
Eu inclino a cabeça para roubar mais um beijo de Nate, que suspira
contra meus lábios. Ele deixa um grunhido escapar quando nos separamos,
ambos sem fôlego.
— Então não resista — respondo.
Nós combinamos
Mais do que farinha do mesmo saco, você e eu
Nós mudamos o clima, sim
Sinto calor em pleno inverno quando você está perto de mim
Sucker | Jonas Brothers

Engulo em seco.
Leslie está corada e ofegante, e praticamente sinto meu saco se contrair
ao ver como ela parece desesperada.
Desesperada por mim.
Porra, isso é demais para qualquer homem aguentar. Leslie Reese é a
mulher mais linda que meus olhos já viram e fazê-la implorar pelo meu pau
é algo que jamais pensei que aconteceria.
Acompanho com o olhar lentamente a tentativa de Leslie de arrancar a
minha camisa. Ela tenta puxar pela minha cabeça, mas não me movo um
centímetro sequer e ela fica sem espaço. Minha ruivinha solta um resmungo
irritado, como se a minha blusa fosse seu inimigo número um.
Eu rio, segurando sua mão com delicadeza. Depois levo sua mão até a
minha boca e beijo seus dedos sem pressa alguma, sem quebrar nosso
contato visual. Quero que ela veja quem está beijando seu corpo hoje.
Quem deveria estar beijando-a durante todo esse tempo.
— Nate… Você vai perceber que eu não costumo ser uma garota muito
paciente. Você não quer me ver chateada, quer? — desafia, arqueando uma
sobrancelha perfeita.
Mostro os dentes, me sentindo o cara mais sortudo do mundo.
— Linda, eu posso garantir que vai valer a pena a espera.
— Não sei se consigo acreditar em você.
— Ah, mas deveria… — Respiro fundo. — Estou esperando por isso
praticamente a minha vida inteira. E, caramba, nem entrei em você ainda…
Mas já sinto que toda a espera valeu a pena. Esperaria por mais dez anos
pra ter você assim, Leslie. Completamente entregue a mim.
Leslie parece sem fôlego, chocada demais com a minha confissão, mas
eu sinceramente não me importo. Sei que gosto dessa garota há tantos anos
que não consigo me lembrar de algum momento em que não estivesse
completamente louco por ela.
E agora que ela sabe disso é como se eu pudesse finalmente esvaziar os
pulmões e respirar em paz.
— Quero você, Nate — diz ela com a voz trêmula.
Não posso negar mais nada para essa garota. Se Leslie me pedisse para
largar os Angry Sharks para nos mudarmos para a Patagônia, eu iria feliz.
Esse é o tanto que sou apaixonado por essa garota.
E nunca, jamais, deixaria ela esperando por nada.
Cuidadosamente, eu passo a blusa por cima da minha cabeça, deixando
meu torso nu à mostra. Leslie se sobressalta, olhando descaradamente para
o meu corpo.
Sorrio.
Isso aconteceu com certa frequência durante esses anos. Nunca fui de
ficar com muitas meninas, porque não sinto que o sexo casual me satisfaça
de verdade. Preciso do depois. Do abraço, dos beijos, dos segredos
sussurrados no meio da madrugada.
Da intimidade.
Para mim é parte crucial para me sentir saciado.
Dito isso, sempre namorei. Quando não, normalmente tinha uma
amizade colorida ou uma ficante fixa. E todas pareciam espantadas quando
me viam sem roupa pela primeira vez.
Não é querendo me gabar, mas eu treino praticamente todos os dias,
tirando terça e quinta, onde passo horas do meu dia pegando peso na
academia. Não me permito descanso e é óbvio que isso reflete no meu
corpo.
E assistir a menina na minha frente lamber os lábios lentamente por não
conseguir desviar os olhos de mim me deixa satisfeito pra caralho.
— Está gostando do que vê, gostosa? — pergunto, com um sorriso nos
lábios.
Leslie arregala os olhos.
— Sim. Não sabia que você…
— Que eu…?
Ela engole em seco.
— Que você gosta de fazer perguntas safadas durante o sexo. Isso vai ser
interessante.
Solto uma risada.
— Interessante mesmo seria ver os seus peitos. Acho que estou um
pouco em desvantagem, não é?
Leslie não perde um segundo antes de abaixar as alças do vestido que
estava me enlouquecendo. Eu acompanho seus dedos habilidosos descerem
delicadamente as duas tiras que estavam impedindo a visão mais excitante
que já vi.
Seus mamilos avermelhados me encaram como um desafio e mal posso
conter a vontade de colocá-los na boca. Os bicos estão duros, prontos para
mim, e isso faz meu saco apertar mais uma vez.
Porra, pareço um adolescente virgem. Só com a mera visão dos peitos de
Leslie Reese e eu já estou quase gozando nas calças.
— E aí? Vai ficar só olhando, Nate? — pergunta ela, inclinando a cabeça
para o lado em um desafio mudo.
Ela ainda está com um sorriso brincando em seus lábios quando eu
capturo sua boca com a minha. Mas isso graças a Deus não dura muito
tempo, porque logo Leslie está suspirando contra mim. Ela passa os braços
ao redor da minha nuca e me puxa em sua direção e, caramba, talvez isso
tenha sido uma má ideia, considerando como seus peitos estão pressionando
o meu peitoral nu.
Aperto seus seios com certa força, sentindo suas pernas se encaixarem ao
redor dos meus quadris. Ela solta um gemido quando deslizo para baixo,
fazendo com que nossos sexos se choquem pela primeira vez.
— Nate… — sussurra com a voz trêmula.
Ignorando sua súplica, eu abaixo meu rosto até capturar um mamilo
intumescido na boca. Eu chupo com delicadeza, tão devagar que sinto o
grito estrangulado de Leslie antes de seus dedos agarrarem meus cabelos.
Mas não tenho pressa. Quero aproveitar cada segundo disso, então passo
um bom tempo lambendo ao redor da carne vermelha, passando a língua em
seus mamilos deliberadamente devagar. Faço isso com o esquerdo e logo
em seguida passo para o direito, admirando como ambos parecem inchados
depois que mamei neles.
Depois de um tempo, sopro com força a sua pele, vendo-a ficar toda
arrepiada. Abro um sorriso. Quero que Leslie saiba que sempre serei
suficiente para ela, inclusive no que diz respeito ao sexo.
Ela não vai precisar de mais ninguém enquanto estiver comigo.
— Eu juro por tudo o que é mais sagrado, Nate, se você não me comer
de uma vez… — ameaça, irritada.
Solto uma risada.
— Alguém precisa aprender a ser paciente. Eu vou entrar em você,
Leslie, mas acontece que se eu fizer isso agora, vamos acabar com a
diversão em dois segundos.
Ela franze o cenho.
— Você já fez isso antes, certo? Não está sendo sua primeira vez, está?
Sei que não deveria, mas fecho a cara mesmo assim. Depois desvio o
rosto, o que faz Leslie arregalar os olhos e se levantar de uma vez, berrando
“Ai, meu Deus!” sem parar. A visão de vê-la fazendo isso seminua é demais
para que eu continue com a farsa, então começo a rir, caindo no sofá com as
mãos na barriga.
Ela para no meio da sala, a expressão ainda chocada.
— Do que você está rindo, Nate O’Connel?
— É claro que eu não sou virgem, Leslie. Só não vou aguentar por muito
tempo porque você é gostosa demais e eu sonho comer você desde que eu
descobri para que o meu pau serve. Sabe os caras que fantasiam com a
vizinha gostosa ou uma atriz pornô qualquer durante toda a vida? — Ela
assente lentamente. Dou de ombros. — Você é a minha. E acontece que a
fantasia não estava fazendo jus à realidade. Você é ainda mais incrível
pessoalmente.
Ela abre a boca, arfando. Não consigo distinguir se ela está surpresa ou
muito chocada, mas espero que seja de uma maneira positiva.
Leslie vem marchando na minha direção, brava. Ela ergue os punhos
para me dar um soco no peito e eu solto um grito, agarrando seus pulsos
com certa força.
Nós dois estamos rindo, ofegantes, enquanto nos encaramos.
Lentamente, sinto o clima mudar de forma gradual. Leslie desce o olhar até
a minha boca e eu passo a língua pelo meu lábio inferior, umedecendo-o.
Ela engole em seco.
Preciso da boca dela na minha de novo.
O ar divertido é substituído pela luxúria que toma conta do ambiente. De
repente, os lábios de Leslie estão sobre os meus e nossas línguas estão
enroscadas. Solto um ruído ao sentir sua boca se movimentar contra a
minha e Leslie levanta a perna para se encaixar no meu colo.
Porra.
Melhor. Sensação. Do. Mundo.
Os seios dela continuam pressionados contra mim e eu abaixo a cabeça o
suficiente para colocar o mamilo na boca novamente.
— Acho que eles já tiveram atenção demais, Nate. Preciso de você em
outro lugar.
Solto seu mamilo da boca, arqueando a sobrancelha na direção dela. Os
seios de Leslie estão molhados dos meus beijos e o rosto dela está mais
vermelho do que um tomate.
Sorrio.
Finalmente estou fazendo-a provar do próprio veneno. Foram
incontáveis vezes que ela me deixou na mesma situação.
Só na vontade.
— Em que lugar você precisa de mim, Reese do mal?
— Você sabe.
Solto um grunhido.
— Eu não sei de nada, lembra? Sou praticamente virgem aqui. Você vai
precisar me dizer.
Ela passa a língua pelos lábios, parecendo pensativa.
— Você não é virgem, Nate. E você sabe muito bem o que eu quero
dizer. Preciso da sua mão aqui… — Ela pega meu pulso com delicadeza,
levando meus dedos diretamente até a sua calcinha. Eu a toco devagar,
sentindo a umidade. Nós dois gememos com o contato. — Viu? Eu já não
estou aguentando mais, Nate. Preciso de você aqui dentro.
Ah, caralho. Caralho, caralho, caralho…
Não vou conseguir aguentar muito tempo se ela continuar me
provocando assim.
Sem perder tempo, jogo Leslie em cima do sofá. Ela solta um gritinho
divertido e eu ignoro todos os meus pensamentos quando levanto seu
vestido o suficiente para ver a sua calcinha
Gemo alto o suficiente para acordar os mortos e ela parece gostar da
reação. Leslie abre mais as pernas para mim, deixando sua boceta
praticamente à mostra, e isso é o meu fim.
Afasto sua calcinha delicadamente, passando os dedos lentamente por
toda a sua extensão. Sua pele febril fica cada vez mais vermelha, quase que
do mesmo tom dos seus cabelos ruivos.
Estou adorando isso.
Leslie fecha os olhos quando eu me abaixo o suficiente para pincelar a
minha língua em sua boceta. Escuto-a gemer quando lambo com certa
pressão e, de repente, ela está agarrando meus cabelos com certa força.
— Você precisa parar de brincar, Nate — sussurra, ofegante.
Mas eu ignoro deliberadamente seu pedido para que eu vá mais rápido.
Estou saboreando a boceta de Leslie e quero aproveitar cada segundo. Todo
o resto pode ir à merda agora.
Abro mais as pernas dela, segurando suas coxas com possessividade.
Afundo meu rosto contra a boceta de Leslie, usando a língua em seu
clitórios enquanto escuto-a implorar por mais. Chupo com força e depois
uso um dos dedos para aumentar a pressão.
— Nate… — geme, segurando meu cabelo com mais força ainda. É
quase como se me implorasse para nunca mais tirar a minha cara de sua
boceta novamente.
Mal ela sabe que isso é tudo o que eu mais quero. Se eu pudesse,
comeria Leslie todos os dias pelo resto da minha vida.
Continuo lambendo sua carne inchada por mais alguns minutos, usando
meus dentes, rosto e língua por todo o lugar. As pernas de Leslie me
apertam cada vez mais e consigo observar como a sua pele está arrepiada.
Uma delícia.
Uso minha língua em seu clitóris enquanto continuo masturbando-a com
os dedos e isso parece ser o suficiente para ela se desmontar contra o meu
rosto. Leslie goza com um grito estrangulado e eu preciso me concentrar
para não gozar nas calças como um adolescente.
Depois que seus tremores passam, eu ergo a cabeça o suficiente para vê-
la depois do êxtase. Leslie está ofegante, respirando com certa dificuldade e
seus olhos brilham com tesão. Ela abre um sorriso para mim e eu
definitivamente nunca estive tão excitado como agora.
— É, você com certeza não é virgem — murmura ela entre um suspiro e
outro.
Uma risada alta escapa da minha garganta e abro um sorriso convencido
para ela.
— Sou atleta, Leslie. Gosto de ser o melhor em tudo o que eu faço. E
caso haja algo que você sinta que eu preciso melhorar, é só me avisar.
Podemos fazer disso um treino diário.
Ela levanta uma sobrancelha.
— Adoro que você seja tão disciplinado, Nate. Tudo em nome da
excelência, não é? — provoca, abrindo lentamente suas pernas para mim.
Eu engulo em seco ao ver sua boceta exposta. — Agora, o que acha de
encaixar seu pau aqui?
Não consigo mais resistir. Arranco sua calcinha por suas pernas
torneadas sem nenhuma delicadeza e tenho quase certeza de que posso ter
rasgado sua peça íntima.
Bom, foda-se. Essa garota está me enlouquecendo.
Busco o preservativo que fica estrategicamente escondido atrás do sofá e
Leslie arqueia a sobrancelha para mim com um sorriso divertido brincando
em seus lábios.
Dou de ombros.
— Nunca se sabe quando uma gostosa vai acabar parando no meu sofá.
Preciso estar preparado.
— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, não é, Nate O’Connel?
— Não mais do que você, Leslie Reese. Você é ainda melhor do que
qualquer fantasia que eu possa ter tido enquanto crescíamos.
Ela solta um grunhido.
— É meio sexy saber que você me desejou por tantos anos. Agora eu
preciso que você me faça gozar mais uma vez. Por favor, Nate? — pede,
manhosa, e acho que não é necessário muito mais para que eu acabe
passando vergonha na frente dela.
Leslie não consegue reprimir o suspiro que escapa de seus lábios quando
eu forço meu quadril para frente, fazendo com que a fricção entre nossos
sexos fique ainda mais forte. Ela geme sem controle quando eu começo a
me esfregar entre suas pernas, desesperado por mais contato.
Ela não perde tempo e desce minha calça até que meu pau salte livre. Ela
está boquiaberta, com os olhos brilhando de tesão.
— Sem cueca?
Dou de ombros.
— Eu durmo pelado, Leslie. Não achei que algo aconteceria entre nós
dois essa noite, se é isso que está pensando.
Ela morde o lábio inferior.
— Eu bem que queria que fosse premeditado.
— Você é a mulher dos meus sonhos, já te disse isso?
Leslie solta uma risada.
— Só um milhão de vezes — responde, ainda sorrindo.
Coloco o preservativo com cuidado, tudo isso sob o olhar observador de
Leslie Reese. Minha pele arrepia quando sinto o toque de seus dedos, e
como se não aguentasse mais esperar, Leslie me ajuda a colocar a camisinha
no meu pau. Abro um sorriso malicioso quando ela desliza a mão pela
minha extensão, me masturbando por deliciosos minutos.
Jogo a cabeça para trás, gemendo ao sentir sua pele contra a minha. Em
seguida, Leslie fica de quatro no meu sofá e me chupa por cima do
preservativo por alguns minutos excruciantes. A visão de sua bunda
empinada é o suficiente para que eu veja estrelas e não seguro o grunhido
que escapa da minha garganta. Minhas bolas estão formigando, a minha
pele está arrepiada e se essa garota não tirar a boca do meu pau agora, não
vou conseguir satisfazê-la da maneira correta.
Sem nenhuma delicadeza, seguro o pescoço de Leslie para que ela se
levante. A Reese do mal está com um sorriso safado em seus lábios e eu
não resisto. Roubo um beijo de seus lábios carnudos e aproveito nossa
posição para retirar o vestido por completo de seu corpo.
— Muito melhor — grunho, apalpando seus peitos com força.
Ela não perde tempo ao agarrar minha nuca e me puxar novamente
contra o seu corpo.
E eu não resisto.
Entro nela numa arremetida só, fechando os olhos ao sentir sua boceta
quente me apertando. Ela geme contra a minha orelha, ofegante, e eu
contraio a mandíbula. Preciso pensar em qualquer coisa menos nesse
momento. Se eu me concentrar em como Leslie é gostosa, estou perdido.
— Nate… — geme com a cabeça jogada para trás. Seu pescoço lindo
fica exposto para mim e não demoro mais nem um segundo antes de abaixar
a cabeça para beijar sua pele macia.
Ela volta a agarrar meus cabelos e eu começo a meter devagar. Vejo o
desejo nos olhos dela quando, lentamente, abaixa o olhar para assistir o meu
pau entrando nela. A sensação mais maravilhosa me invade quando a vejo
prender a respiração, alternando o olhar entre meu rosto e…
— Seu pau é a coisa mais incrível do mundo, Nate — diz ela com a voz
trêmula e ofegante. — Acho que não vou conseguir durar muito tempo.
— Será que o crédito é só dele, Leslie? Não esqueça que eu passei um
bom tempo chupando você antes disso.
Ela grunhe, agarrando meu cabelo com força.
— Você inteiro é maravilhoso, Nate. Sem discussão. Mas seu pau… Meu
Deus. Chega a ser um crime esconder isso de mim todos esses anos.
— Agora você tem ele todinho pra você, linda. E essa boceta agora é
minha também — digo com convicção. Na verdade, me sinto tão seguro do
que estou dizendo que fico assustado por alguns segundos.
Mas Leslie não parece achar nada estranho, pois abre um sorriso meigo e
me rouba mais um beijo doce. Nossas línguas estão enroscadas quando eu
volto a enterrar meu pau dentro dela. Meus quadris começam a se mover
cada vez mais rápido e sei que se continuar nesse ritmo, Leslie não vai
resistir por mais tempo.
Engulo em seco quando ela fecha os olhos, contraindo o rosto para evitar
um gemido alto. Leslie cruza as pernas por cima da minha bunda, me
apertando até que eu esteja enterrado bem fundo nela.
Gemo, completamente imóvel.
— Leslie!
Mas a diaba não diz nada quando, com habilidade, me empurra o
suficiente para que eu acabe me desequilibrando. Solto um gemido quando
sinto o impacto do chão contra as minhas costas, mas não tenho tempo para
digerir o que acabou de acontecer.
Não, porque agora ela está cavalgando no meu pau como a porra de uma
amazona. Seus peitos balançam conforme ela sobe e desce sobre mim e eu
engulo em seco ao assistir a cena mais erótica que já presenciei.
— Quero te fazer gozar, Nate. Só aproveita — diz ela em meio a um
suspiro.
Como posso negar algo a ela? Como posso dizer não para isso?
Seguro a cintura de Leslie com força, ajudando seus movimentos.
Arremeto para cima para encontrar suas investidas contra mim e uma súbita
onda de calor vem subindo através do meu corpo.
Leslie, por sua vez, está com a cabeça jogada para trás, os cabelos ruivos
saltando livres conforme ela me cavalga cada vez mais rápido. Eu me
levanto para colocar um de seus mamilos na boca e ficamos assim por um
bom tempo, eu mamando em seus seios enquanto ela continua quicando
sobre mim.
— Vou gozar — avisa ela, arquejando.
— Eu também — respondo, arfando.
Nós dois continuamos nessa dança até que escuto o seu grito de prazer.
As coxas de Leslie tremem ao meu redor enquanto ela revira os olhos e
choraminga baixinho. Eu observo a cena como se fosse a minha obra de
arte particular.
Porra, juro que se fosse um pintor, retrataria esse momento e colocaria o
quadro como um troféu no meu quarto. Porque, caralho, fazer essa garota
gozar me faz sentir como o cara mais poderoso do mundo.
E é o suficiente para que meu mundo se estilhace de uma vez. O mundo
ao meu redor desmorona conforme o prazer aumenta cada vez mais e eu
gozo com um rosnado nos lábios. Afundo meus dentes na pele de Leslie
enquanto continuo metendo fundo em sua boceta, aproveitando cada
resquício de prazer que ela ainda pode me dar.
Leslie afunda o rosto no meu pescoço conforme nossas respirações vão
se acalmando. Beijo seu braço, enroscando meus dedos em seu cabelo
sedoso.
E então somos só nós dois.
Leslie Reese e Nate O’Connel.
Ambos perdidos em um abraço.
Os dois tentando entender o que acabou de acontecer. Tentando decifrar
as reações de nossos corpos quando tocaram um ao outro.
Estamos prestes a cair de um abismo.
Mas, ao invés de sentir medo e dar alguns passos para trás, abro um
sorriso ao constatar que pularei feliz.
Com essa garota, não me importo de quebrar.
Eu costumava pensar que um dia ia contar a nossa história
Como nos conhecemos e tudo aconteceu instantaneamente
As pessoas diriam: Eles são os sortudos
The Story of Us | Taylor Swift

No dia seguinte, acordo com um cheiro gostoso permeando o ar. Abro os


olhos, piscando devagar. Meus cabelos ruivos estão espalhados pelo
travesseiro de Nate e eu inspiro o cheiro gostoso de seus lençóis.
Afasto a roupa de cama quando me coloco de pé. Ainda estou usando a
camiseta dele e isso me faz abrir um sorriso.
Quem diria que eu me sentiria a mulher mais sortuda do mundo depois
de acordar na cama de Nate O’Connel?
Depois que transamos pela primeira vez, ficamos um bom tempo só
curtindo o momento. Isso até Nate sugerir um banho em conjunto e eu
acabar ajoelhada debaixo do seu chuveiro. Ele quis retribuir e me levou
para cama e, quando percebi, já tínhamos feito mais três vezes. Nem quis
olhar o relógio quando finalmente pegamos no sono.
Dou uma passada no banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes e,
em seguida, vou saltitando até a cozinha. Nate está com os fones sem fio,
completamente concentrado em algum podcast enquanto vira uma
panqueca na frigideira.
Sem camisa. Com seus músculos torneados completamente à mostra. O
pescoço vermelho provavelmente por causa da ducha que tomou pela
manhã, o cheiro doce de café permeando o ambiente.
Delícia.
Decido surpreendê-lo passando os meus braços ao redor de sua barriga.
Nate se retesa por um segundo antes de relaxar. Depois, tira os fones do
ouvido e abre um sorriso de canto preguiçoso para mim.
— Fiz nosso café da manhã — avisa, apontando para as frutas picadas
em uma grande travessa em cima da mesa. — Você gosta de café, né?
— Eu amo café. Não sobrevivo sem pelo menos uma xícara pela manhã.
Nate assente, se virando apenas para desligar o fogão.
Nós dois não trocamos mais nenhuma palavra enquanto nos sentamos na
mesa modesta da cozinha de Nate e eu faço questão de me servir de uma
grande porção de mirtilo e morango antes de provar as panquecas.
— Mais um talento de Nate O’Connel: cozinhar. Não sabia que você
conseguia se sair tão bem na cozinha.
Ele dá de ombros com os olhos fixos em seu prato.
— Aprendi com a minha mãe.
Faço um meneio de cabeça, com o restante das palavras presas na
garganta.
A mãe de Nate, Jenny, era uma das poucas médicas na cidade de Barlow.
E apesar de nós dois nunca termos sido os melhores amigos, ela sempre se
mostrou gentil quando eu acabava aparecendo em sua casa por causa da
Landon.
Ela fazia a melhor lasanha no desfile anual dos fundadores, um evento
que era o auge da nossa cidade minúscula. Eu costumava me empanturrar
com grandes pedaços porque sabia que levaria mais um ano inteiro para ter
a oportunidade de comer de novo.
E, no fundo, sempre pensava em como Nate era sortudo por ter uma mãe
que cozinhava tão bem. Ela sempre podia fazer a melhor lasanha do mundo
para ele e eu não achava justo.
Tínhamos quinze anos quando ela partiu. Foi um choque para todos da
cidade porque não acompanhamos a batalha que Jenny travava sozinha com
a sua família, dentro de casa. Acabamos descobrindo depois que o
diagnóstico tinha aparecido há quase dois anos e que foi um verdadeiro
milagre ela ter sobrevivido por tanto tempo. Ele já estava muito avançado e
ela não teve chances.
Nem consigo imaginar como deve ter sido para Nate testemunhar a
batalha da mãe por tantos anos. A Landon nunca comentou muito sobre
como ele reagiu à perda dela, mas nem precisava. Nate ficou
completamente obcecado por beisebol, chegando a treinar tacadas
incessantemente por mais de doze horas. Quando eu roubava o carro dos
meus pais para beber escondido dentro do estádio da escola, às vezes o via
lá.
Sozinho.
Às duas da manhã.
O treinador Morris ficava lá pelo tempo que ele precisasse,
arremessando bolas para que Nate acertasse com seu taco. Eu me lembro de
achar melancólico toda aquela cena; como se ele quisesse descarregar as
frustrações em todas aquelas bolas jogadas em sua direção.
Como se elas fossem os problemas que surgiram em sua vida sem avisar.
Sem pedir permissão para entrar e devastar tudo. Por tirarem a pessoa mais
importante da sua vida sem ligar para como as pessoas que a amavam iriam
se sentir.
Como se elas fossem o próprio câncer.
— A comida da sua mãe realmente era a melhor — respondo em um fio
de voz. — Estamos bem?
Nate ergue seu rosto, piscando várias vezes para mim. Depois faz que
sim lentamente com a cabeça.
— Claro que estamos, Leslie. Por que não estaríamos?
Dou de ombros.
— Estou te achando meio distante essa manhã. Fiz alguma coisa de
errado ontem? Amassei a sua roupa? Deixei algo espalhado por aí? Eu
prometo que guardo tudo que…
— Leslie, você não fez nada de errado. Eu só estou tentando ser um
pouco cauteloso.
Franzo o cenho.
— Cauteloso por quê?
Nate respira fundo.
— Eu gosto muito de você, Leslie, e o que aconteceu ontem entre nós foi
além de qualquer sonho que já tive com você. Mas ainda estou tentando me
acostumar com o que aconteceu durante essas últimas semanas.
— É, eu também — concordo, balançando a cabeça. — Mas estou cem
por cento nisso, Nate. Eu te prometo.
Ele solta um grunhido, parecendo desconfortável. É como se ele quisesse
me dizer algo, mas não soubesse exatamente como.
Respirando fundo, eu estendo a minha mão em sua direção. Nate parece
um pouco hesitante antes de pegá-la, mas o faz mesmo assim.
Isso é um bom sinal.
— Pode falar qualquer coisa pra mim. Eu sou muito boa lidando com
críticas. Pode perguntar pra Landon — brinco, me sentindo satisfeita ao ver
um pequeno sorriso brincar em seus lábios.
Nunca vou me cansar de ver as covinhas surgindo em sua bochecha
quando ele sorri.
— Eu só fico receoso sobre como isso vai acabar, Leslie. Estamos
tentando algo enquanto buscamos desmascarar o Adam, mas e depois? Eu
não acho que posso desligar meus sentimentos por você quando tudo isso
acabar. Era confortável gostar de você em silêncio porque eu só precisava
lidar comigo mesmo, mas a Landon é a minha melhor amiga. Se isso não
der certo, vou continuar vendo você e eventualmente saber de algum cara
que esteja saindo. Não sei se vou aguentar. Não depois de nós…
Engulo em seco, finalmente compreendendo.
— É, eu sei — suspiro, me ajeitando um pouco melhor na cadeira. —
Mas eu acho que você está se precipitando, Nate. E pelo que fizemos
ontem, posso te garantir que temos química. Eu posso ser um pouco
espalhafatosa, tagarela e, admito, um pouco sem noção. Você é sério,
organizado, focado e tem metas e objetivos que precisam ser cumpridos. Eu
te conheço a vida toda e vice-versa. Nós somos opostos, mas temos muitas
coisas em comum. Não sei você, mas eu diria que isso parece promissor.
Ele cruza os braços na frente do peito e eu juro que estou considerando
ligar para a polícia para denunciá-lo pelo crime de tortura. Como ele ousa
flexionar os braços quando estamos obviamente em uma espécie de DR
aqui?
Injusto.
— Temos muito em comum, hein?
Pego uma garfada generosa de panqueca e coloco na boca, mastigando
bem antes de dar mais um gole no meu café com creme.
— É evidente que sim. Posso citar vários exemplos.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Ah é?
— Óbvio, Nate. Exemplos — levanto meu dedo indicador —, você
adorou as Kardashians e até me perguntou sobre a história da Khloe. —
Mais um dedo. — Você adorava True Blood e, acredite, isso é uma raridade.
As pessoas não entendem a complexidade desse programa brilhante sobre
vampiros caipiras. Só quem saiu de uma cidade como Barlow poderia se
identificar com os dramas da Sookie. — Nate não consegue segurar a risada
e eu me deixo levar, levantando mais um dedo para continuar enumerando
nossos pontos em comum. — Nós dois concordamos que Jenny O’Connel
fazia a melhor comida do mundo. Também achamos que os Angry Sharks
vão terminar em primeiro lugar na divisão e você vai pra Oklahoma
disputar o College World Series. Você pode até não admitir, mas nós dois
gostamos do Salém. Ele é um gato muito esperto. Ah, e claro, nós amamos
a Landon mais do que tudo.
Nate está balançando a cabeça, o sorriso brilhante de orelha a orelha. Ele
respira fundo, com um brilho diferente no olhar. Eu também não consigo
deixar de reparar como a sua postura parece mais relaxada.
Abro um sorriso satisfeito.
— Relaxa, Nate. Vamos curtir o momento. E quando eu digo isso, não é
que eu não esteja levando isso a sério, porque eu estou. Vou tentar com
todas as forças manter você.
— É meio louco pensar que há poucos dias a gente mal conversava. Hoje
eu estou aqui, morrendo de medo de você decidir que não sou o bastante e
sumir assim que os seus problemas com o Adam desaparecerem.
Estou boquiaberta. Arquejo, fingindo uma expressão ultrajada enquanto
Nate enruga a testa.
— O que foi, Leslie? — pergunta.
Balanço a cabeça.
— Como você se atreve a pensar que não seria o bastante pra mim? Por
acaso enlouqueceu? Você assistiu a vários episódios do meu reality show
favorito e até chegou a pesquisar na internet sobre a vida das Kardashians
para fazer comentários pontuais sobre os dramas que elas estavam vivendo
naqueles episódios, o que, aliás, eu aprecio muito. Isso sem contar no
cuidado de tentar cortar o máximo de alimentos de origem animal enquanto
estou aqui. — Inclino a cabeça para o lado, vendo Nate começar a corar.
Adoro como ele fica sem graça quando recebe algum elogio, o que,
convenhamos, é meio irônico, já que o apelido dele no campus é
literalmente rei. — E isso é porque eu nem cheguei a comentar sobre seu
desempenho sexual. Que temos química sempre foi óbvio, mas, caramba,
três orgasmos em uma mesma noite não é algo que acontece com tanta
frequência. Essa língua tem um dom, Nate. E pode apostar que vou usá-la
pelo máximo de tempo que eu puder.
— Acho que já entendi, Leslie — resmunga ele, desviando o olhar do
meu.
Não consigo evitar a risada alta que me escapa.
— Mesmo depois de ter me comido no sofá, no chuveiro e na sua cama
você continua tímido assim quando eu menciono sexo?
— Leslie!
Começo a gargalhar, segurando a minha barriga com força. Nate me
observa, espantado, enquanto balança a cabeça lentamente.
— Nossa dinâmica não vai mudar mesmo, hein?
Respiro fundo, tentando parar meu ataque de riso. Depois, lentamente
nego com a cabeça.
— Não vamos, Natezinho. E é por isso que eu digo pra você ficar
despreocupado. Você não vai se livrar de mim tão cedo.

Depois de terminarmos o café da manhã e nos pegarmos por algum


tempo, Nate finalmente diz que precisa ir ao vestiário pela manhã e eu
aceito a carona para a minha casa.
Não estava com pretensão de encontrar a Landon por lá, mas fico feliz
que isso acontece. Ela não quis comentar muito sobre o fato do Jessie ter
aparecido por aqui ontem, tampouco a respeito da Fake Affairs, embora eu
tenha dito o quanto acho que eles têm potencial.
Os caras são incríveis.
É óbvio que isso não me poupa de Landon me questionando sobre onde
eu estive na noite passada.
— Você acha que pode estar se apaixonando por ele? — questiona ela
com o cenho franzido.
Suspiro, me jogando em cima dos meus lençóis bagunçados.
— Acho que Nate e eu somos bons juntos. Ele parece preocupado com o
rumo em que as coisas estão indo, mas acho que é besteira se precipitar.
Ainda temos bastante tempo — respondo com convicção.
— Hm, sei. E o jogo que vai acontecer em Los Angeles?
— O que tem o jogo?
Landon respira fundo.
— Você vai com ele, não vai?
— Vou sim. O time combinou de passar a noite por lá e temos certeza de
que Adam estará sentado no melhor camarote. É uma boa oportunidade
para tentarmos descobrir mais coisas sobre ele.
Landon fica em silêncio por alguns segundos antes de dizer:
— A Sophie acabou comentando durante o café da manhã que ela
também vai. Aparentemente Adam a convidou também.
Fecho os olhos, segurando o grito na garganta. Mas que merda?!
— Por que ele levaria ela? O cretino não iria querer aproveitar a
distância pra continuar agindo como se fosse solteiro?
Landon dá de ombros, a expressão séria.
— Sinceramente? Você acha mesmo que ele tenta esconder a
infidelidade dela? Adam não está nem aí pra isso, Leslie. E posso apostar
que quando chegarem lá, ele provavelmente vai sumir e deixar ela sozinha.
Esfrego meu rosto furiosamente, depois passo minhas mãos sobre o meu
cabelo. Eu o seguro com tanta força que quase arranco grandes tufos do
meu couro cabeludo.
Definitivamente não estava esperando por essa, mas Adam Kennedy
sempre arranja uma forma de foder com tudo.
— Ele provavelmente só está levando Sophie porque tem medo que a
ausência dele permita que ela experimente a liberdade — continua Landon
com o tom de voz rouco. — Caras como ele não querem abrir mão do
controle. Pra ele, Sophie não passa de um brinquedinho. Não vai querer que
ela perceba o quanto a vida dela é melhor sem ele por perto.
— Ele é um grande filho da puta, não é?
— É sim. E um filho da puta manipulador e poderoso. Preciso que você
me prometa que vai se cuidar em Los Angeles, Leslie.
Viro meu rosto lentamente para encarar o seu. Landon está vestida para a
faculdade com suas roupas de costume: calça jeans, tênis e uma das blusas
do Aerosmith que mais gostamos de vestir. Os cabelos ruivos estão soltos e
as tatuagens estão à mostra. Mas, acima de tudo isso, seu rosto demonstra
uma preocupação genuína.
Ela está com receio por mim.
— Eu vou me cuidar, Land. Além do mais, não é como se eu estivesse
indo sozinha. Vou dirigindo o carro do Nate e provavelmente vou dar
carona para alguma outra namorada de jogador dos Angry Sharks. Vai ser
uma viagem desconfortável e cansativa, mas assim que eu chegar lá, vou
arranjar internet. Vou deixar o rastreador ligado, tá? Assim você pode ficar
de olho em mim.
Ela assente com a cabeça.
— Isso me deixa mais tranquila, não vou negar.
Eu aceno de volta.
Landon e eu costumamos checar durante o dia onde a outra está através
do rastreador do celular. Como viemos de uma cidade pequena onde o
maior crime cometido foi o furto de uma bicicleta no estacionamento na
escola, nos mudar para uma cidade grande foi um pouco aterrorizante no
início.
Prometemos que ficaríamos sempre de olho uma na outra e até então
funcionou. Estamos ambas a salvo e nunca fomos sequestradas. Ou mortas
por serial killers.
— Vai dar tudo certo, Landon. Palavra de escoteira — respondo, com
um sorriso brincalhão nos lábios.
Ela estreita os olhos para mim.
— Você nunca foi escoteira.
— Você entendeu o que eu quis dizer — rebato.
Ela dá mais uma checada no espelho antes de sair do quarto murmurando
um “é, infelizmente eu entendi, sim”. Minha irmã me ama.
Jovem de coração e se torna tão difícil esperar
Quando ninguém que conheço parece poder me ajudar agora
Velho de coração, mas eu não devo hesitar
Se eu quiser encontrar minha própria saída
Estranged | Guns N’ Roses

Ainda estou irritado quando chegamos em Los Angeles. Embora eu


estivesse ciente de que não poderia vir com Leslie porque precisava estar no
ônibus com o time, não consigo evitar o bolo na garganta ao pensar nela
dirigindo pela estrada.
Não que Leslie não seja capaz de chegar sozinha e bem, mas é que o
trajeto leva quase três horas e se eu conheço bem a Reese do mal, com
certeza deve ter parado em um posto de gasolina na beira da estrada para
comer alguma coisa.
E é aí que pessoas má intencionadas atacam.
Leslie Reese confia muito na bondade dos outros. Isso por um lado é
bom, mas por outro a coloca em tantos riscos que é quase impossível de
enumerar. Quero encontrá-la o mais rápido possível para me assegurar de
que ela está bem e é isso que faço assim que nos hospedamos no hotel.
Normalmente quando jogamos em outra cidade o esperado é chegarmos
uma hora antes do jogo. Entretanto, como estamos na final da primeira
temporada e disputando uma vaga para jogar o College World Series em
Oklahoma, conseguimos convencer o treinador de que chegar com um dia
de antecedência seria bom. O plano inicial é termos o mesmo tempo de
preparo que os nossos adversários, mas a realidade é que estou no meio de
um plano.
E isso tem tudo a ver com o cara loiro musculoso parado bem na minha
frente. Ele lança um sorriso malicioso para uma garota que passa na frente
do hotel e eu tento esconder a repulsa no meu rosto.
— Adam — cumprimento, lançando um aceno de cabeça em sua
direção.
Ele vira para mim, piscando os olhos.
— Nate! Era você mesmo quem eu estava procurando…
Isso chama a minha atenção.
— Ah é? E por quê?
— Quero sair essa noite e acho que você é a companhia perfeita. Tem
uma balada que começa à meia-noite e é a preferida da maioria das
celebridades por aqui. Pensa na quantidade de meninas gostosas cujo sonho
é ser atriz. Podemos nos divertir.
Não sei se ele está me convidando para isso apenas para me provocar,
mas o ponto é que estou ficando cada vez mais irritado.
Lentamente, nego com a cabeça.
— Foi mal, cara, mas na verdade já tenho planos. A Leslie também veio
comigo.
Adam não esboça nenhuma reação, mas dá de ombros, como se essa
informação não fosse nada demais.
— A Sophie também veio comigo, mas vou deixá-la no hotel. Aposto
que Leslie pode fazer companhia pra ela enquanto nós dois nos divertimos.
— Não sei, não…
— Ah, qual é? Estamos na cidade dos anjos, Nate. Você vai ser campeão
estadual de beisebol amanhã e não estou sendo muito modesto agora, mas
aposto que o nacional também será nosso. Será que a Leslie seria tão
egoísta assim em te prender na sua única noite livre na cidade?
Engulo em seco, fechando minhas mãos em punho. Não posso socar
Adam agora porque isso arruinaria nossos planos, mas, porra, como estou
com vontade de fazer isso. A visão nojenta dele a respeito do que constitui
um relacionamento não me espanta, na verdade. É até esperado dado ao
caráter desse babaca.
E se por um lado quero esbravejar com ele sobre como trata a Sophie,
também sei que essa oportunidade pode ser uma grande chance de termos
algo substancial contra ele. É exatamente o que estávamos querendo.
Respirando fundo, me forço a abrir um sorriso na direção dele.
— Que horas você está pensando em ir?

— Não acredito nisso! Quem ele pensa que é? Eu vou chutar as bolas
dele, Nate. Juro que Adam não perde por esperar.
— É, eu também não acreditei quando ele disse aquelas coisas —
respondo, deitado na cama de hotel. Leslie está passando de um lado para o
outro, completamente revoltada, em um pijaminha que está deixando a
minha cueca apertada.
— Egoísta? Eu? Quem ele pensa que eu sou, afinal?
— A gente não liga para o que aquele babaca pensa, linda. Lembra?
Estamos fingindo que nos importamos, mas a opinião dele não quer dizer
nada.
Leslie suspira, passando os dedos pelos cabelos ruivos.
— É, eu sei. Mas isso não me deixa mais animada. Sophie chegou a
contar até para a Landon sobre a viagem que faria com o namorado e o
cretino está planejando aproveitar nossa única noite livre para traí-la. Que
tipo de pessoa faz uma coisa dessa?
Respiro fundo.
— Sabemos bem que Adam é capaz de qualquer coisa, Leslie. Não estou
necessariamente surpreso, embora entenda a sua raiva. Mas pense pelo lado
positivo: essa pode ser a chance que precisávamos. O que você quer que eu
fique de olho?
Ela assente com a cabeça, se sentando ao meu lado na cama. Gostaria de
dizer que a proximidade dela não me causa calafrios, mas estaria mentindo.
Na verdade, estou com tanta vontade de abraçá-la que não resisto. Puxo seu
corpo quente contra o meu e Leslie solta um arquejo ao sentir meus braços
ao seu redor.
Nossas respirações estão se mesclando enquanto eu a abraço com força e
o encaixe é tão perfeito que eu sinto como se pudesse ficar assim para
sempre.
— Nate? — chama, depois de alguns segundos em silêncio.
— Hm?
— Só fica de olho em tudo, tudo bem? Fotos dele com outra podem nos
ajudar, mas homem traindo não é necessariamente uma novidade. Além do
mais, as pessoas costumam relevar erros quando são os caras que cometem.
Só não demora muito, por favor.
Engulo em seco, embora Leslie esteja completamente certa. A régua que
mede os erros de homens e mulheres não é a mais proporcional de todas e
quando o dito cujo pertence a uma família tão abastada como o Adam, fica
ainda mais difícil fazer com que ele pague por seus erros.
— Tudo bem — respondo, deixando um beijo carinhoso em seu ombro.

São quinze para meia-noite quando Adam Kennedy me envia uma


mensagem avisando que chegou. Respiro fundo, me preparando para ser o
melhor ator do mundo agora.
E acredite em mim, fingir que gosto desse babaca não será tarefa fácil.
Leslie sobe para a suíte presidencial para ficar de olho em Sophie e eu
solto a respiração que não percebi estar prendendo quando a vejo apertar o
botão do elevador. Minha garota pisca para mim uma vez, tentando me
passar confiança e me sinto um idiota por não conseguir esconder meus
verdadeiros sentimentos por ela.
Antes mesmo de entrar nos Angry Sharks eu já me considerava um cara
confiante. Meus pais fizeram um bom trabalho a não deixar que eu pensasse
menos de mim mesmo e o beisebol desempenhou um papel importante
nisso tudo. Depois que aprendi a descarregar minhas frustrações em campo,
raramente eu me pegava irritado com alguma coisa.
O que nos traz diretamente a como me sinto agora. Preciso engolir em
seco todas as vezes que sinto o impulso de arrancar a cabeça de Adam fora.
Ele nos levou em seu carro esportivo até uma balada subterrânea e todas as
merdas que falou durante o trajeto quase me fizeram vomitar.
Ele chamou outros caras do time, mas ninguém quis sair com a gente.
Eles estão preocupados com esse último jogo, porque o time de Los
Angeles tem uma base sólida e também estão vindo de uma série de
vitórias. Todos eles estão certos em manterem a cabeça focada, o que não
pode ser dito de mim.
Mas é por uma boa causa.
— Você vai adorar esse lugar, cara. Aqui podemos fazer o que quisermos
que ninguém vai se importar. Além do mais, as mulheres de Los Angeles
são outro nível. Todas são gatas pra caralho — diz ele ao estacionar de
qualquer jeito na frente da festa.
A fachada do lugar me faz ter calafrios. Não tem nada escrito, apenas um
esboço do que acredito ser um tridente. O segurança está parado na porta
com uma carranca no rosto e assim que nos vê, dá um passo para o lado,
deixando à mostra a festa exclusiva.
Franzo o cenho.
— Uma escada? — Desvio o olhar para Adam, querendo confirmar se
entendi certo.
O babaca solta uma risada sarcástica, balançando a cabeça algumas
vezes.
— Foi mal, Nate. Às vezes eu esqueço de que você é um caipira. Na
cidade grande existem lugares que você só acessa através de uma escada.
Calma aí, vou te ensinar como se faz — debocha, andando na minha frente.
Em seguida, o imbecil começa a descer as escadas.
O segurança lança um olhar mortal para as costas de Adam, desviando o
rosto com uma expressão questionadora na minha direção. Ergo a mão,
como quem diz que está tudo bem, e sigo na mesma direção que Adam
acabou de ir.
Preciso engolir todo o meu orgulho para não acertar um soco em suas
costas quando finalmente chegamos à festa.
Eu tenho muito orgulho de ter vindo de uma cidade pequena, de ter
crescido no interior. Nunca me importei em ser chamado de "caipira" ou
coisa parecida, mas a forma com que Adam pronunciou a palavra me
encheu de fúria. A intenção por trás não me deixou dúvidas de que ele
queria me humilhar.
— Seja bem-vindo à cidade grande, irmão — ironiza, movendo os
braços como se fosse um guia turístico. — Esse lugar é surreal. É uma pena
que seja tão longe de Granville, se não eu viria sempre aqui.
A música está tão alta que quase não consigo escutar suas palavras. Não
que isso seja algo ruim, afinal. Não escutar o que esse idiota tem a dizer é,
na verdade, a única sorte que tive durante esse dia de merda.
— Você não é de falar muito, hein? — debocha Adam, desviando o rosto
para secar uma morena que passa rebolando por nós dois. — Puta merda…
Argh.
O que eu não daria para estar no meu quarto de hotel com Leslie nesse
momento… Iríamos tomar banho juntos e depois de transarmos até deixá-la
saciada, eu iria abraçá-la durante a noite toda enquanto começamos mais
uma temporada das Kardashians.
Meu coração aperta com esse pensamento, mas preciso me lembrar de
que estou fazendo tudo isso por ela. Leslie precisa da minha ajuda e Adam
vai aprender da pior forma possível que não se deve mexer com a minha
garota.
— VEM! — Adam me chama por cima da música eletrônica
ensurdecedora, caminhando entre as pessoas com um sorriso repulsivo no
rosto.
O lugar é muito maior do que eu tinha reparado e conforme vamos
andando pelos corredores, mais perdido me sinto. É quase um labirinto,
com uma luz baixa que me faz piscar várias vezes para acostumar a minha
visão.
Nós andamos por vários minutos até que finalmente entramos em uma
área mais reservada. Alguns puffs estão espalhados pelo chão e tem uma
pequena mesa de bar no canto. As pessoas nos encaram de cima a baixo e é
possível ouvir os sussurros animados de algumas garotas já que aqui a
acústica é mais isolada.
— Aproveite. — Adam pisca para mim um segundo antes de entrar
completamente na sala, erguendo o dedo para o barman.
Não pretendo beber hoje por causa do jogo decisivo de amanhã, então
decido ficar onde estou. Entretanto, para o meu azar, Adam parece não ficar
feliz com isso. Ele franze o cenho e faz um aceno com a cabeça, me
chamando para ficar ao seu lado.
Puta que pariu. Vou precisar de um mês inteiro de terapia para superar o
fato de que Adam Kennedy um dia me considerou uma espécie de amigo.
Abro e fecho meus punhos por alguns segundos, focando na minha
respiração para não perder o controle. Já tive problemas de raiva depois que
perdi a minha mãe e até hoje uso as técnicas que a minha psicóloga me
ensinou.
O problema? É que hoje não parece estar funcionando tão bem.
— Vou querer whisky puro. Pode colocar gelo também — informa
Adam para o barman, mostrando os dentes. — E o meu parceiro aqui vai
querer…
— Nada — eu o interrompo, fazendo um aceno de cabeça.
— Como assim nada, cara?
— Tenho jogo amanhã, esqueceu? Não posso aparecer de ressaca —
relembro-o, sem muita paciência.
Adam arregala os olhos, batendo com a mão na própria testa. Depois
abre um sorriso cheio de dentes para mim.
— Eu esqueci totalmente, mas você tem razão. Minha família toda vai
estar lá e eu disse pra eles que você é a futura promessa do beisebol. Alguns
olheiros estarão lá amanhã.
Engulo em seco.
Eu já sabia que existia essa possibilidade, mas a certeza me deixa com o
coração acelerado. Minhas mãos estão suando frio e minha boca de repente
fica seca. A ansiedade já está se alastrando por todo o meu corpo e eu pisco
os olhos algumas vezes, além de respirar fundo, para voltar para a realidade.
Porra, essa é a oportunidade que estive esperando a minha vida inteira. E
graças ao idiota parado bem na minha frente, estou em uma balada qualquer
um dia antes de um jogo decisivo.
— Eu sei — respondo, frio.
Depois que ele me lança um olhar questionador, decido lhe dar as costas.
Estou perdendo a paciência com ele e isso não é bom. Posso acabar
metendo os pés pelas mãos e perdendo a razão.
Não estou fazendo isso por mim. É pela Leslie.
Afinal, o que eu não faria por essa garota?
Respiro fundo ao me dar conta de que nada me impediria de correr atrás
da felicidade dela.
Estou fodido.

Acho que não se passaram nem duas horas quando Adam me chamou no
canto da sala VIP para murmurar que infelizmente eu precisaria achar uma
forma de voltar para o hotel sozinho. Aparentemente uma “ruivinha” estava
dando muito mole para ele e o desgraçado disse, com um sorriso sacana,
que jamais diria não para uma ruiva natural.
Precisei juntar todo o meu autocontrole para não socá-lo até vê-lo perder
a consciência.
Uma tarefa que foi muito, muito difícil.
— Você não se importa, né? Quero dizer, com certeza você entende…
Estreito os olhos.
— É, eu entendo.
— Mas o lado bom é que a Leslie e a Sophie devem estar dormindo uma
hora dessas. Não precisa voltar pra casa agora. Olha, acho que a gostosa
que vai me levar embora veio com uma amiga mais gostosa ainda. Posso
falar com ela se você quiser…
Engulo em seco.
Respira fundo, Nate.
— Não quero. Eu tenho namorada.
Adam solta uma risada sarcástica. Depois balança a cabeça para mim
como se eu fosse um garotinho ingênuo. Eu lanço um olhar confuso em sua
direção, como se não entendesse a sua reação.
O infeliz dá de ombros.
— É engraçado ver um futuro jogador de beisebol profissional agir
assim. Já parou pra pensar nos dias que vocês ficarão separados? Você vai
viajar o país todo, cara. Provavelmente vai disputar em Oklahoma no início
do ano que vem pelo título nacional. Vai me dizer que pretende passar todos
esses dias sem dar umazinha? Mesmo quando milhares de garotas se
jogarem aos seus pés implorando pelo seu pau? — Ele estala a língua, como
se o pensamento o divertisse. — Impossível.
Ergo meu queixo, confiante. O brilho em seu olhar me diz que ele não
esperava uma reação minha, mas foda-se. Não posso ficar calado enquanto
o idiota faz suposições sobre o meu futuro.
Adam Kennedy não me conhece.
Mas esse é o problema com caras como ele, no entanto. Eles acham que
todos os outros homens pensam da mesma forma. Que veem as mulheres
como um “buraco” para enfiar o pau e se aliviar. E que as “escolhidas” para
casar precisam ficar em casa e aceitar as traições.
— Leslie e eu estamos apaixonados — respondo simplesmente. — Não
consigo olhar pra mais nenhuma mulher. Acho que isso não vai ser um
problema.
Ele lança um olhar divertido para mim.
— Você pode até acabar aguentando. Mas a Leslie… Acho que ela não
passaria tantos dias sem sexo sem acabar se jogando na cama de alguém —
diz, dando de ombros.
Preciso piscar várias vezes para processar o que acabei de ouvir. Minha
respiração acelera, meu rosto esquenta, meus punhos estão cerrados quando
a fúria mais implacável que já senti toma conta de cada pedaço meu.
Ele não disse isso…
— O quê? — Ranjo os dentes, travando o maxilar.
Adam me analisa atentamente antes de abrir um sorriso irônico cheio de
dentes. Em seguida, ergue as mãos em sinal de rendição.
— Ela é uma garota que gosta de se divertir, cara. Só isso. Alguns
amigos meus tiveram aventuras bem interessantes com ela. Leslie Reese
não perdia uma festa na nossa fraternidade e não estou contando uma
mentira. Pergunte pra ela você mesmo.
— Eu não me importo com o passado dela, Adam. Leslie era uma
mulher solteira e se gostava de sexo casual, qual o problema? — respondo
entredentes.
— Você é um cara diferente, não é? — rebate ele, ainda com o sorriso
sarcástico no rosto que está me tirando do sério. — Que bom que você não
se importa com quantos caras ela dormiu antes de você. Felizmente pra
mim, Sophie ainda era virgem quando começamos a namorar. Nenhum
homem enfiou o pau nela antes de mim e vai continuar assim — responde,
convicto.
Não se pudermos evitar.
A forma maliciosa com a qual ele está conduzindo essa conversa deixa
implícita uma provocação pelo fato dele mesmo ter dormido com Leslie
antes dela e eu fingirmos um namoro. É claro que esse acordo durou pouco
tempo porque ela acabou descobrindo sobre meus sentimentos de anos a
respeito dela, mas mesmo assim, ele não tem o direito de usar isso contra
ela.
Contra mim.
Abrindo o sorriso mais falso e reunindo toda a paciência que me resta,
dou um tapinha em suas costas com muita força.
— Boa noite, Adam.
Fósforos queimam um após o outro
As páginas viram e grudam umas nas outras
Salários ganhos e lições aprendidas
Mas eu estou exatamente onde você me deixou
Right Where You Left Me | Taylor Swift

Sophie está terminando de pentear o cabelo molhado quando entro no


luxuoso quarto de hotel. Não consigo esconder o quanto estou embasbacada
porque, caramba, esse quarto é maior do que a sala da minha casa no
interior do Kansas.
Adam Kennedy é absurdamente rico.
Minha amiga abre um sorriso quando me vê encostar a porta e eu sinto o
meu coração apertar. Estou aqui para distraí-la quando sei que seu
namorado abusador está traindo-a por aí.
Será que isso não me torna um pouco parecida com ele?
Engulo em seco com esse pensamento.
Não.
Adam é um babaca que está conscientemente abusando de sua própria
namorada. Eu e ele não temos nada em comum além do gosto por festas e,
infelizmente, pelo sexo casual.
Foi assim que me enfiei nessa confusão para começo de conversa.
— A gente pode alugar um filme — diz ela, com um sorriso meigo nos
lábios. — Estou tão feliz que viemos juntas.
Dou um passo à frente, hesitante.
— Também estou feliz. Se a Landon estivesse aqui seria melhor ainda.
Sophie ri.
— É verdade, mas ela precisou ficar com o Salém. Esses dias eu escutei
um grito vindo do quarto de vocês e posso jurar que ele a arranhou. Landon
saiu resmungando, mas depois eu a vi com ele no colo. Esses dois são
hilários.
Sorrio de volta.
— Eles têm uma relação de amor e ódio, mas eu adoro. Nem consigo
acreditar que a convenci a ficar com ele durante esses dois dias.
— Quando voltarmos é capaz dele achar que ela é a verdadeira dona —
Sophie me avisa, apertando os olhos.
Me jogo na cama ao seu lado.
— A Landon jamais faria isso. Ela sabe que eu sou louca. Ei, sabia que
um dia eu ameacei cortar os cabelos de todas as Barbies da Landon se ela
não deixasse eu escolher qual filme iríamos assistir antes de dormir?
Sophie arregala os olhos, boquiaberta.
— Ah não! Sério?
— Sério — respondo.
— E o que aconteceu?
Suspiro.
— Bom, ela não me deixou escolher e eu acabei cumprindo o que eu
disse. Você precisava ver. Eu parecia uma psicopata mirim, gritando e
esperneando enquanto picotava os cabelos daquelas pobres Barbies.
— E a Landon não disse nada?
Dou de ombros, colocando uma mecha do meu cabelo ruivo atrás da
orelha.
— Ela estava assistindo tudo com aquela expressão entediada de sempre.
Depois que terminei de acabar com o visual das bonecas, achei que ela
poderia chorar. Mas ela fez algo que nem mesmo eu poderia imaginar.
— O que ela fez?
— Ela amou o novo estilo das bonecas. Acabou pedindo tinta para os
meus pais e todas elas ficaram com essa espécie de moicano colorido.
Depois usou as canetinhas permanentes para desenhar tatuagens nas
Barbies e quem acabou chorando foi eu.
Sophie joga a cabeça para trás, morrendo de rir. Ela coloca as mãos
sobre a barriga enquanto gargalha com a minha história boba de infância e
eu não resisto. Acabo acompanhando suas risadas e deito na enorme cama
ao seu lado.
Depois que se acalma, ela limpa uma lágrima no canto do olho e vira
para mim, admirada.
— Eu daria tudo pra ter crescido com vocês duas em Barlow. Minha vida
com certeza seria menos tediosa.
Isso imediatamente desperta a minha curiosidade.
Como quem não quer nada, pergunto:
— A sua infância foi tediosa?
Sophie lentamente deixa a risada morrer, dando de ombros em seguida.
Por um momento chego a pensar que ela não vai me responder mais, mas
sou surpreendida por sua voz doce:
— Elec e eu temos uma diferença de idade considerável. Ele é quase dez
anos mais velho do que eu, sabe? Não é como se tivéssemos passado muitos
anos juntos. Quando eu fiz oito anos, ele foi pra faculdade e depois que se
formou, acabou comprando um apartamento perto da casa em que
crescemos, no Colorado. A gente praticamente só se encontra nas festas de
fim de ano.
Arqueio a sobrancelha em sua direção. Me lembro de Adam jogando na
minha cara sobre a suposta “dívida” que o irmão de Sophie tem com a
família dele e tenho quase certeza de que tem algo a ver com o trabalho
dele.
Mordendo o lábio inferior, mal tenho tempo para processar meus
pensamentos quando as palavras escapam da minha boca:
— Você sabe com o que ele trabalha, Sophie?
Ela desvia o olhar para o meu tão rapidamente que minha boca fica seca.
Tenho quase certeza que falei algo de errado.
— Eu não tenho tanta certeza sobre o que é, mas eu sei que a família do
Adam foi muito importante pra carreira dele.
Na mosca.
— Você conhece o Adam há muitos anos, né? — pergunto, tentando não
esboçar nenhuma reação. — Estão juntos desde a época do colegial?
Ela abre um sorriso tímido.
— Ele era o garoto mais popular do colégio e jogava futebol. Clichê, não
é? Eu era aquela menina que se sentava no fundo da sala e mal conseguia
olhar nos olhos de alguém. Acho que se tivéssemos nos conhecido nessa
época, provavelmente você me acharia uma chata — diz ela, mostrando a
língua para mim. — Mas o Adam… Ele me viu. Foi no baile de boas-
vindas, quase uma semana depois de termos iniciado aquele primeiro ano.
Ele era… Magnético. Não sei explicar. Quando meus olhos encontraram os
dele, era quase como se eu estivesse pegando fogo. Eu só sabia que
precisava continuar sentindo isso — suspira, com um olhar sonhador. —
Ele acabou me convidando pra sair, mas meus pais eram muito
superprotetores. Adam não pensou duas vezes antes de bater na porta deles
e pedir formalmente para que eu saísse com ele. Me lembro de ter achado
isso a coisa mais romântica que um cara poderia fazer por mim.
— E eles deixaram? — questiono, mesmo sabendo a resposta.
Sophie balança a cabeça afirmativamente.
— Deixaram. Ele é um Kennedy, afinal. Difícil negar algo pra uma
família que é dona de praticamente todas as empreiteiras do Colorado, além
de investidores da NFL e da MLB. Os meus pais sempre foram apaixonados
por beisebol e futebol e Adam sempre tinha ingressos nos melhores lugares.
Lentamente começou a fazer parte da minha família, sabe? E no último ano
do colegial, nós dois… Transamos. Eu era virgem e ele foi o meu primeiro.
É difícil não criar um vínculo, entende?
— Entendo — minto.
Na verdade, não é que eu nunca tenha dado a importância devida ao
sexo, mas acho que não pensava nele como o “ápice” da minha vida de
conto de fadas como a maioria das pessoas. Eu não estava esperando uma
cama com pétalas de rosas ou chocolates embaixo do travesseiro para
quando eu acordasse no dia seguinte.
Eu só queria a conexão.
E por muito tempo foi difícil conseguir até mesmo isso. As pessoas
costumam normalizar tanto esses gestos grandiosos que não se atentam aos
detalhes. Os pequenos gestos sempre significaram mais para mim.
— E como foi? — pergunto, como quem não quer nada.
Sophie levanta uma sobrancelha para mim, confusa.
— A minha primeira vez? — questiona, tentando processar a
informação.
Provavelmente vou acabar queimando no inferno por me fingir de
interessada quando só quero arrancar informações dela, mas vou sobreviver.
Abrindo um sorriso de falsa empolgação, balanço a cabeça várias vezes
para sinalizar que sim.
— É óbvio! Quero saber de tudo!
Sophie retribui o sorriso, mas percebo como ela se retrai na cama. Ela
morde o lábio inferior e desvia o olhar, envergonhada. Estou prestes a dizer
para ela esquecer tudo isso quando sua voz sai rouca, porém firme:
— Acho que a primeira vez nunca é boa pras mulheres, né? Doeu. E
sangrou um pouco no final — explica, gesticulando com as mãos.
Eu assinto lentamente.
— Normalmente é bem doloroso mesmo — concordo. — Nada do que
os filmes adolescentes e os livros costumam dizer. Às vezes nem
conseguimos perder em um dia só e aí é aquela sucessão de dias tentando
fazer o pau entrar e ultrapassar a barreira. Constrangedor e doloroso. —
Arregalo os olhos, fazendo uma careta. — Preciso confessar que comigo foi
assim. Eu tinha dezesseis anos e estava ficando com frequência com o
fullback do time de futebol. Ele chegou a pensar que tinha algum problema
com o próprio pau, porque não entrava de jeito nenhum. Nós tentamos por
vários dias e sinceramente? Não tinha nada de prazer ali. Estávamos
tentando apenas romper o hímen. Depois da quinta vez eu comecei a sentir
algum prazer, mas mesmo assim, demorou para entender como meu corpo
funcionava.
Sophie parece relaxar, concordando rapidamente com a cabeça.
— Sim! Acho que só perdi a virgindade de verdade depois da terceira
vez — confessa com a voz baixa. — Adam é muito viril, se é que você me
entende. Foi muito legal da parte dele ter se segurado tanto na minha
primeira vez.
Respira fundo, Leslie, ou você vai acabar cometendo um assassinato.
Inspiro.
Expiro.
— É, bem legal mesmo — concordo a contragosto. — E como foi a
vinda de vocês dois pra faculdade?
Ela desvia o olhar novamente.
— Foi fácil, acho. Adam sempre quis vir pra Granville, principalmente
porque os pais dele estavam começando a expandir os negócios nessa
região. Fazia sentido. Ele pediu pra que eu aplicasse pra lá e eu não via
motivos para não fazer. Minha primeira opção era Yale. Queria estudar
História antes de tentar a faculdade de Medicina, mas Adam me lembrou de
como seria a minha vida. Uma médica não teria tempo para formar uma
família e isso é o que eu mais quero com ele. Foi por isso que quando passei
para Marketing em Granville não pensei duas vezes. Vou poder usar a
minha profissão para ajudar nos negócios da família quando Adam assumir
a presidência da empresa. Acho que tudo está se encaixando como deve ser.
Engulo em seco, sentindo meus olhos começarem a marejar. Não
entendo essa queimação na garganta ou porque quero tanto dar um abraço
apertado em Sophie. O brilho esperançoso em seu olhar me diz que ela quer
se convencer mais do que quer que eu acredite em suas palavras.
E isso me quebra em um milhão de pedaços.
É quase como assistir alguém preso dentro de uma caixa de vidro. A
pessoa está gritando, chutando e implorando por ajuda, mas você não
consegue alcançá-la.
Você está de mãos atadas.
E além de tudo isso, andando em um campo minado. Um passo em falso
e a bomba pode explodir. Ela pode achar que você está torcendo contra a
felicidade dela, que está com inveja do amor que eles têm.
Eu vi isso acontecer com a pessoa que eu mais amo no mundo. Landon
sempre foi uma pessoa fechada, mas depois de tentar agradar Kevin, ela
ficou ainda mais retraída. Hoje em dia, eu me esforço para tentar ajudar
minha irmã.
Pisco os olhos rapidamente para evitar que uma lágrima solitária caia.
Sophie não precisa ver isso agora.
— Acho que está na hora daquele filme que você comentou — mudo de
assunto, arqueando uma sobrancelha na direção dela. — Você tem alguma
sugestão?
Sophie simplesmente dá de ombros.
— Eu só quero assistir alguma coisa que não me faça pensar, sabe? Um
entretenimento de verdade, sem roteiros complexos ou plot twist de
explodir a cabeça.
Viro a cabeça na sua direção tão rápido que tenho certeza que acabei de
reproduzir a cena de O Exorcista. Sophie dá um pulo por causa do susto,
mas eu começo a bater palmas, empolgada.
— Sophie… Você já assistiu Keeping Up With The Kardashians?

— Eles estão demorando, né? — questiono, dando uma olhada no


horário do meu celular.
Porra, duas da manhã?!
Franzo o cenho. Nate nunca foi de ficar tão tarde na rua assim.
Sophie solta um muxoxo depois que dou pause no episódio que
estávamos assistindo. Khloe acabou de descobrir que foi traída grávida pelo
namorado babaca Tristan e acho que eu só estava torcendo para que ela
percebesse certa semelhança com o que está vivendo.
Sei que foi ambicioso, mas uma garota pode sonhar, não pode?
— Eu quero saber o que vai acontecer — resmunga como uma garotinha
mimada.
— Ela vai acabar perdoando ele e depois os dois terão mais um filho. —
Sophie abre a boca em um formato de “O”, completamente sem palavras.
Eu sorrio. — Você não ficaria tão surpresa se assistisse a série desde o
começo. Eu ainda tenho calafrios de lembrar tudo o que ela perdoou do
primeiro marido dela, Lamar. Nossa pequena Khloe precisa de uma boa
dose de amor próprio.
— Já sei que esse reality vai acabar virando a minha nova obsessão —
declara, com uma expressão travessa.
— É, acho que você vai gostar. Eu vou tentar ligar para o Nate. Estou
preocupada.
Sophie suspira alto.
— Ainda está cedo. Adam costuma voltar para casa só depois das quatro
da manhã quando sai só com os caras. Eles estão fazendo coisas de homens.
Juro que se eu não soubesse a verdadeira mente por trás dessas palavras,
provavelmente usaria o travesseiro para sufocá-la.
Abro um sorriso forçado, rezando para que ela não perceba o quanto
estou irritada agora.
— Eu prefiro me certificar — respondo, seca.
Sophie dá de ombros, como se estivesse me recriminando mentalmente,
mas não ligo. Disco o número que nos últimos dias aprendi a decorar e
espero pacientemente a chamada completar.
Mas cai direto na caixa de mensagens.
Tento novamente mais algumas vezes, mas o resultado é sempre o
mesmo. Não sei porque Nate decidiu desligar o celular, mas isso me causa
arrepios da mesma maneira. Se foi contra a sua vontade, ele pode até estar
correndo perigo de vida! Mas, por outro lado, se foi uma escolha
consciente…
Engulo em seco.
Nate pode estar saindo com outra garota.
Balanço a cabeça algumas vezes, tentando dispersar esse pensamento de
mim. Nate jamais faria isso comigo.
Ele não é assim.
E eu aposto que tem uma explicação bastante razoável para o celular
dele não estar realizando chamadas.
— Ele não te atendeu, não é? — Sophie me lança um olhar de quem sabe
das coisas, abrindo um sorriso conformado. — É quase sempre assim.
Quando a gente acordar, eles já estarão aqui…
— Nate não pode ficar fora até tão tarde, Sophie. Ele tem jogo amanhã.
Se o treinador descobrir, ele pode acabar parando no banco.
Ela arregala os olhos.
— Ai, não! Amanhã vários olheiros estarão assistindo. Nate precisa
muito jogar.
Eu a encaro, inexpressiva. Estudo seu rosto assustado por longos
segundos antes de chegar à conclusão possivelmente mais problemática de
toda noite.
Mas, foda-se, é o futuro de Nate que está em jogo.
— Acho que nós vamos pra uma balada — anuncio em estado
catatônico.

— Essa foi uma péssima ideia! — esbraveja Sophie ao sairmos do táxi,


com uma carranca permanente em seu rosto.
Sequer chego a olhar para trás quando chego no que parece uma espécie
de loja, só que sem fachada nenhuma. Tenho quase certeza de que o
endereço está correto porque Nate compartilhou a localização comigo
quando estava vindo com Adam. A conexão acabou se perdendo, mas o
último local que ele esteve foi aqui.
— Com licença, moças, mas preciso ver a identidade de vocês — diz o
segurança mal-encarado, nos avaliando de cima a baixo.
Sophie e eu só tivemos tempo de trocar nossos pijamas pelos vestidos
mais arrumados que trouxemos para essa viagem e isso não é muita coisa.
Los Angeles é a cidade das celebridades e também dos aspirantes. As
pessoas andam impecáveis porque podem ser “descobertas” a qualquer
momento.
É por isso que ele deve estar achando tão engraçado o fato de Sophie e
eu estarmos com nossos cabelos soltos de qualquer jeito, sem babyliss e
nada mais do que um gloss nos lábios. Eu passei apressadamente enquanto
estávamos no táxi e Sophie reclamou de cada gota de maquiagem que tentei
usar em seu rostinho perfeito.
— Falei que era uma péssima ideia — resmunga ela no meu ouvido,
irritada. — Esse cara vai querer saber se estamos em uma lista VIP, Leslie.
É melhor irmos embora para evitarmos humilhação.
Reviro os olhos, ignorando todo o seu discurso. Ao invés disso, estendo
a mão em sua direção.
— O que foi? — pergunta ela.
— Seu celular. Me empresta.
Sophie franze o cenho.
— O que você quer com o meu celular?
Respiro fundo, dando uma olhada para trás. O segurança ainda está com
os braços cruzados, nos encarando. Nesse meio tempo um casal aparece e
mostra uma espécie de carteirinha para ele. O segurança dá um passo para o
lado e então surge uma… Escada?
Que porra é essa?!
— A balada fica lá embaixo — chego à conclusão, fazendo um meneio
de cabeça na direção de Sophie. — É por isso que Nate está sem sinal.
Ela respira aliviada.
— Ótimo, agora que você já descobriu isso, podemos ir embora?
— Nem pensar. Eu ainda preciso arrastar ele para o quarto de hotel o
mais rápido possível. Pode me emprestar seu celular, por favor? — insisto,
sem deixar de conferir o segurança.
Ele não tira o olhar desconfiado da gente, então decido abrir um sorriso
amigável. O segurança estreita os olhos na nossa direção, usando dois dedos
para apontar para seus olhos e em seguida apontar para os nossos, como
quem diz “estou de olho em vocês!”.
Sophie e eu estremecemos.
— Ele é meio assustador — ela diz e eu concordo.
— Vamos ver se ele é assustador agora… — murmuro, abrindo a galeria
de fotos dela.
Passo por várias fotos aleatórias, incluindo selfies e pratos que parecem
realmente uma delícia, até encontrar o que eu estou procurando. Abro um
sorriso de canto ao me virar na direção da entrada. O segurança se
empertiga, como se estivesse se preparando para uma possível discussão.
Tão, tão ingênuo…
— Nós precisamos entrar — anuncio, direta.
Ele arqueia a sobrancelha.
— E eu preciso de um milhão de dólares, princesa. Aparentemente
nenhum de nós dois vai conseguir o que quer — responde, irônico.
E lá vamos nós.
Uso toda a minha habilidade de atriz para fingir um choro. Coloco as
minhas mãos sobre a minha boca, como se estivesse tentando parar um
soluço, e limpo uma falsa lágrima no canto do meu olho.
O segurança faz uma careta para mim.
— Essa festa é exclusiva, moça, mas o que não falta em L.A são festas
legais. Não precisa chorar.
— N-não é isso. É que… A minha amiga — aponto para Sophie, que
está encarando a cena em choque — precisa muito falar com o namorado.
Ele está na festa e ela acabou de descobrir que está grávida! Os dois tinham
brigado e é por isso que ele veio parar aqui. A gente precisa mesmo entrar,
moço.
Ele cruza os braços na frente do peito, sem esboçar nenhuma reação.
Insensível.
— Quem é esse cara? — questiona, descrente.
Puxo o celular de Sophie do bolso e mostro a sequência de fotos dela
com Adam Kennedy. Ambos parecem um casal digno de uma comédia
romântica de filme adolescente. É uma pena que o roteiro desse filme esteja
mais para terror.
O segurança pisca várias vezes ao encarar as fotos. Ele alterna o olhar
entre elas e Sophie, como se estivesse querendo se certificar de que ela e a
garota da imagem são a mesma pessoa.
— Você namora Adam Kennedy? O herdeiro das indústrias Kennedy?
Minha amiga me lança um olhar furioso antes de balançar a cabeça para
o segurança várias vezes, fazendo que sim.
Ele parece alarmado e se apressa para abrir a porta para nós duas.
— Mil desculpas, se eu soubesse quem…
— Tudo bem. — Ergo a mão, como se não fosse nada. — A gente
deveria ter falado de primeira. É que estávamos tão nervosas que acabamos
esquecendo.
— É — murmura Sophie, irritada.
O segurança balança a cabeça algumas vezes, em concordância. Nós
acenamos para ele antes de começarmos a descer as escadas para o que
parece ser uma festa muito exclusiva.
— Não estou gostando disso, Leslie… — resmunga Sophie atrás de
mim. — Adam pode ficar chateado.
Suspiro.
— É o que dizem, Sophie. Se está descendo ao inferno, é melhor abraçar
o diabo. E é exatamente o que vamos fazer — respondo, sentindo um tipo
diferente de excitação tomar conta de mim. — Agora vem.
Ela bufa atrás de mim.
— Ir pra onde?
Lanço uma olhada para trás, piscando um olho para ela. Lembro de todas
as vezes que voltei de uma noitada e contei detalhadamente sobre minha
experiência. Sempre me questionei internamente o motivo de Sophie nunca
ir para as festas, embora parecesse tão interessada.
Hoje eu sei o porquê.
— Nós vamos para uma festa, Sophie. — Sorrio, mergulhando ainda
mais na escuridão do corredor.
E pelos passos hesitantes que estou ouvindo, sei que ela está bem atrás
de mim.
Pegue-me se for capaz
Estou cuidando do meu bronzeado, Salvatore
Morrendo alegremente nas mãos de um homem estrangeiro
Chamando meu nome na chuva de verão
Salvatore | Lana Del Rey

Não espero para escutar o que Adam tem a dizer depois que lhe desejo
boa noite, apenas lhe dou as costas, rezando para que eu consiga achar a
saída desse labirinto infernal sozinho.
Porra.
Vou refazendo meus passos, evitando manter contato visual com as
pessoas enquanto busco a visão da maldita escada. O som ensurdecedor da
música eletrônica que está tocando não ajuda em nada no meu mau humor.
Quando tenho um vislumbre da pista de dança, quase solto um suspiro
de alívio. É a mesma que eu vi assim que desci até aqui e o reconhecimento
me faz abrir um sorriso. Vou ligar para um dos caras e torcer para que
algum deles esteja acordado. Provavelmente vou escutar um sermão
daqueles por estar em uma festa às duas da manhã na véspera de um dos
jogos mais importantes da nossa breve carreira no beisebol universitário,
mas logo vou poder revelar tudo. E eu sei que eles vão me apoiar.
Ou pelo menos, estou torcendo por isso.
Estou atravessando o mar de pessoas sem olhar para trás quando algo me
chama atenção.
Algo não.
Um som.
É uma risada que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo. Giro nos
calcanhares para procurar por um vislumbre de Leslie Reese, embora isso
seja impossível. Eu a deixei em um quarto de hotel sã e salva e acho que ela
não conseguiria entrar aqui sem uma espécie de convite.
Não é?
Mas o som volta, dessa vez um pouco mais alto, e meu coração acelera.
Posso estar ficando maluco, mas tenho quase certeza de que essa risada
pertence a ela. Se não for, existe uma sósia de Leslie aprontando pelas
baladas de Los Angeles.
Estou quase me convencendo de que não tem como ela estar aqui quando
meus olhos captam um montinho ruivo no meio da multidão. Pisco os olhos
várias vezes a fim de verificar se estou enxergando direito, mas, caralho,
tenho certeza que não desenvolvi miopia de uma hora para outra.
Leslie Reese está aqui.
E, para piorar tudo, está dançando.
E não está sozinha. Tem um cara com as mãos em sua cintura enquanto
ela e… Sophie? Puta que pariu. As duas estão com bebidas nas mãos e há
dois idiotas encarando-as como se fossem a melhor visão que têm em dias.
Não posso culpá-los, porque as duas estão realmente lindas.
Isso não impede a fúria cega que toma conta de mim, no entanto. Preciso
respirar fundo uma dúzia de vezes para não chegar rugindo como um
verdadeiro homem das cavernas. Minhas mãos estão cerradas quando eu
caminho, sem parar, na direção das duas.
O cara usando a blusa polo mais engomadinha que eu já vi nem sabe o
que o atingiu quando eu o seguro pela gola da camisa e o empurro para trás.
Leslie solta um gritinho que faz meus tímpanos doerem enquanto Sophie
abre um sorriso satisfeito. Acho que posso considerar isso um ponto
positivo.
O amigo do que eu empurrei, no entanto, pensa diferente.
— Que foi, cara? — questiona ele, usando as duas mãos para me
empurrar.
Quando eu tinha seis anos, meus pais me levaram em um rancho que
pertencia aos meus avós maternos. Eles criavam cavalos e eu adorava
admirá-los galopando, embora meus pais nunca permitissem que eu
montasse em nenhum deles.
“É perigoso demais”, repetiam.
Eu achava que tudo isso não passava de conversa fiada, até que um dia
eu presenciei a cena que me deixou um tanto quanto traumatizado. Um dos
funcionários da fazenda se irritou com um dos garanhões e acabou
penteando o pelo do cavalo com certa brutalidade.
Ele relinchava, reclamando, mas nada parecia fazer o funcionário tratá-lo
com mais gentileza.
Isso até o cavalo se irritar de vez.
Só me lembro dos gritos dos meus avós quando o animal, sem dó, o
atacou. Escutei também os gemidos do cara e senti um embrulho no
estômago. Quero dizer, ele estava provocando o animal, não estava?
Ele tinha o direito de ficar irritado.
De se vingar.
Era assim que eu estava me sentindo agora. Eu era o cavalo que estava
sendo levado ao seu limite.
— Nate, não — murmura Leslie, colocando a mão delicada sobre o meu
braço.
Mas nem o seu toque foi capaz de me distrair do meu objetivo.
Ou melhor, do meu alvo.
— Escuta a garota, cara — avisa o babaca, com uma expressão
sarcástica no rosto. — Não vai querer se meter comigo.
— Ah é? — provoco, dando um passo à frente. — O seu amigo ali não
parece ter a mesma opinião.
O homem que estava dançando com a Leslie antes de eu aparecer surge
do lado do amigo, com uma expressão furiosa no rosto. Ergo o queixo, em
um claro desafio, sem me importar se precisarei lutar com os dois para
controlar a raiva que eu estou sentindo.
Raiva, não.
Ciúmes.
Puta que pariu.
É isso que está acontecendo comigo, não é? Estou com tanto ciúme de
Leslie Reese que minhas mãos estão tremendo.
Porra.
Pisco algumas vezes, desviando meu olhar brevemente para o rosto
suplicante dela. Não consigo ler mentes, mas se pudesse, poderia jurar que
ela está implorando para irmos apenas embora.
— Vamos agora — resmungo entredentes, segurando o pulso de Leslie
como se minha vida dependesse disso.
— Sophie! — grita ela, acenando para que a amiga nos siga.
Nem consigo notar o caminho que estamos fazendo. É como se eu
estivesse no piloto automático e odeio me sentir assim. Eu não perco o
controle com facilidade. Não me importo com outros caras estarem
dançando com alguém que nem minha namorada é. Não vou a baladas um
dia antes de um jogo decisivo.
Esse cara não sou eu.
Leslie está resmungando alguma coisa para mim, mas não tenho certeza
do que é. Pela expressão furiosa no rosto e a postura corporal, sei que está
com raiva de mim.
Mas não ligo.
Também estou furioso com ela por me fazer sentir assim. Por sempre ter
me deixado no limite.
Estou cansado de ser tão desesperadamente louco por essa garota.
— Não podemos fazer mais isso — digo, sem me importar com as
consequências. — Temos que acabar por aqui.
Leslie fica em silêncio imediatamente. Depois abre a boca em choque.
Por um segundo até penso que ela vai começar a argumentar comigo, mas
seja lá o que passou por seus olhos surpresos, simplesmente se vai.
Ela endurece a expressão e desvia o olhar do meu. Sophie está parada
bem ao nosso lado, mordendo o lábio inferior. É quase como se estivesse
implorando para ser levada para qualquer lugar longe de nós.
Cacete.
— Nós conversamos no quarto de hotel. Que tal, O’Connel? — pergunta
Leslie, com a sobrancelha arqueada.
Não tenho outra escolha a não ser assentir.
Mas haja o que houver, não posso voltar atrás. Minha decisão já está
tomada e a partir de agora, Leslie e eu seremos só amigos.
Só isso.

Não posso ser apenas amigo de Leslie Reese.


Isso é simplesmente impossível para mim.
Não quando ela tem o cabelo mais cheiroso do mundo, menos ainda
quando está vestindo um vestido tão revelador como esse.
Mas, principalmente, não quando ela está com um olhar de quem acabou
de perder o cobertor favorito da infância.
Não consigo me sentir menos do que um lixo quando nós dois estamos
de volta em nosso quarto de hotel. Ela diz que eu posso usar o banheiro
primeiro, já que preciso ir para o centro de treinamento em
aproximadamente quatro horas e, bom, estou fodido.
Fodido no maldito jogo mais importante da minha carreira.
Mas tento não pensar muito sobre isso. Na época do colegial, eu dormia
poucas horas por noite. Às vezes chegavam a três. Eu acordava às cinco da
manhã para começar a correr em volta da minha casa e às seis eu costumava
ir para a escola. O treinamento começava cedo.
Mas eu ainda era um adolescente.
Sendo assim, muitas vezes eu deixava para estudar para uma prova ou
mesmo terminar um trabalho em cima da hora. Isso significava passar a
madrugada acordado mesmo com jogos decisivos no dia seguinte.
Não quero dizer que isso seja a coisa mais responsável que já fiz na vida,
mas, porra, todo mundo erra. Quem nunca foi trabalhar de porre depois de
uma noitada que atire a primeira pedra.
Depois que termino de tomar banho e me vestir, espero pacientemente
para que Leslie faça o mesmo. Não sei se ela vai querer dormir na mesma
cama que eu depois da nossa conversa, mas eu não me importo de deixá-la
para ela. Posso facilmente ligar para um dos caras que também estão
hospedados aqui.
Quando a porta do banheiro se abre, eu dou um pulo da cama.
Preciso de explicações.
Mas a expressão cansada de Leslie me impede de dizer qualquer coisa.
Ela desfaz o coque no topo da cabeça e seus fios ruivos caem como cascatas
por suas costas. Eu reprimo um suspiro que quer escapar e retraio meus
dedos que querem tão desesperadamente agarrar suas madeixas.
Esse não é o momento para isso.
— Acho que é melhor deixarmos essa conversa pra amanhã, Nate. Você
precisa dormir para o jogo de amanhã — diz ela, evitando me encarar.
Engulo em seco.
— Foda-se o jogo de amanhã, Leslie — suspiro, deixando meus ombros
caírem. Estou cansado disso. — Não é com isso que eu estou preocupado.
Ela abre um sorriso sem humor. É a coisa mais triste que eu já vi Leslie
fazer em todos os anos que nos conhecemos. Ela não é cínica assim e eu
odeio pensar que está colocando essa máscara por minha causa.
Que não exibe seu sorriso brilhante por algo que eu fiz.
Porra. Sou um merda mesmo.
— Então com o que você está preocupado, Nate? Acha que eu vou para
uma balada qualquer em Los Angeles para pegar o primeiro cara que me
chama pra dançar?
A memória volta furiosamente e eu preciso me acalmar.
Respira fundo, Nate.
Meu olhar encontra o dela e, caralho, sou um misto de emoções. Leslie
está chateada e isso é visível, mas eu também não estou muito feliz.
É uma situação de merda.
— Por que você me seguiu? — questiono em um fio de voz.
Ela não me responde nada, no entanto. Só balança a cabeça algumas
vezes e resmunga um “boa noite, Nate” antes de se jogar ao meu lado na
cama.
Sendo a boa provocadora que ela é, Leslie está usando um pijama que
basicamente consiste em uma blusa de alça fina e um short tão colado que
deixa o contorno de sua bunda perfeitamente à mostra.
E mostrando que não tem medo de me torturar, ela deita de costas para
mim. Posso estar delirando agora, mas acho que ela chega a empinar um
pouco sua bunda na minha direção.
Acho que estou suando frio. Meu pau não entende que Leslie está com
raiva de nós dois agora e tudo o que quer fazer é se enterrar fundo dentro
dela.
— Leslie — murmuro, tirando um punhado de seus cabelos ruivos da
frente de seu rosto. Ela continua imóvel e sem dizer uma palavra. — Eu
sinto muito.
Ela se retesa.
— Pelo quê? — questiona, fria.
Respiro fundo algumas vezes. Bom, vamos nessa.
— Sinto muito por ter sido um babaca neandertal e por ter arrancado
aquele cara de você. Embora nós tenhamos esse acordo de namoro de
mentirinha que envolve sexo e compromisso real, não tenho o direito de me
meter com quem você… Dança — praticamente me forço a cuspir a última
palavra.
Isso parece surtir efeito, no entanto. Porque Leslie finalmente vira para
me encarar, se sentando logo em seguida. Estamos os dois nos encarando
agora e eu não consigo desviar o olhar da expressão irritada que ela carrega.
— É, você não tem esse direito.
Passo as mãos furiosamente sobre o meu cabelo.
— Eu sei que fiz besteira, ok? Mas não consegui me controlar. Passei a
vida toda sufocando esse sentimento, Leslie. Todas as vezes que você
aparecia na escola com algum ficante novo e eu precisava fingir que não me
importava, quando eu estava queimando de ciúmes, deveria ser passado.
Ela me encara atentamente.
— Mesmo assim, Nate. Você precisa aprender a confiar em mim — diz,
parecendo cansada. — Eu disse pra você que não ficaria com mais ninguém
e estou cumprindo. Estávamos apenas dançando.
— Você pode parar de repetir isso? Não gosto de ter essa imagem na
minha cabeça.
— Não acredito que você está com ciúmes de mim — bufa, incrédula.
— Isso é… Novo.
Arqueio a sobrancelha na direção dela.
— Novo só se for pra você, Leslie. Nunca teve um momento desde que
éramos crianças que eu não sentisse ciúmes de você. Eu só sou bom em
esconder.
E pela primeira vez durante todos esses anos, o jogo virou. Porque quem
está corada da cabeça aos pés e sem me encarar nesse momento é Leslie
Reese, que de repente começou a achar as próprias unhas a coisa mais
interessante do universo.
Eu seguro seu queixo com delicadeza e a faço olhar para mim.
Ela está com vergonha.
— Quer dizer que falar todas as coisas safadas que gostaria de fazer
comigo não te deixam nada desconfortável, mas eu assumir que tenho
ciúmes de você, sim? — questiono, levantando uma sobrancelha.
Ela bufa, dando um tapa no meu braço.
— Isso não muda o fato de você ter dito que não poderíamos mais fazer
isso. Aparentemente não somos mais nada, Nate.
Travo a mandíbula, voltando a ficar irritado.
— Eu estava me sentindo péssimo depois de ter quase arranjado
confusão, Leslie. Não sei direito no que estava pensando. Adam estava a
poucos metros de nós, convencendo alguma garota a levá-lo pra casa. Não
queria que Sophie os visse, mas também queria muito ir pra cima daqueles
caras.
Ela respira fundo, parecendo compreender.
— Eu sei que não deve ter sido uma visão tranquila, de qualquer forma
— responde. — Mas talvez…
Leslie para de falar e eu prendo a respiração.
— Talvez…? — instigo.
Ela suspira.
— Talvez eu não devesse ter saído ou deixado aqueles caras chegarem
perto. Eu estava irritada, Nate. Sei que a ideia do plano é minha e que você
não queria estar ali, mas o seu celular só dava caixa postal e várias coisas
idiotas passaram pela minha cabeça. Também fiquei preocupada com o seu
desempenho no jogo de amanhã, porque sei que é uma coisa importante pra
você. Acho que no fim de tudo… — Ela morde o lábio, com as bochechas
começando a corar. — Eu também estava com ciúmes.
Meu coração para e o mundo de repente parece certo novamente. Quase
consigo escutar a porra dos passarinhos cantando enquanto a garota mais
incrível que já conheci desvia o olhar porque está muito constrangida para
me encarar.
E eu? Caralho, estou nas nuvens.
Porque Leslie Reese acabou de admitir que sente ciúmes de mim.
De mim.
Nate O’Connel, filho do prefeito Andrew e rebatedor oficial dos Angry
Sharks da Universidade de Granville.
— Por que você está sorrindo assim, Nate? — questiona ela, insegura.
— Acho que nunca vi você com um sorriso desse. Tem certeza que está
bem?
Ela tem razão quanto ao sorriso. E nem precisa me perguntar se estou
bem porque, nesse momento, eu sou o homem mais feliz do mundo.
Você me pergunta onde estive
Estive em todo lugar
Mas eu não quero estar em outro lugar além daqui
Tenho um desejo ardente por você, baby
Burning Desire | Lana Del Rey

— Nate, é sério, você está me assustando — repito, um pouco mais


enfática.
Mas ele não parece dar bola quando continua me encarando, sem piscar,
tal qual um psicopata observando sua próxima vítima. O sorriso de orelha a
orelha continua intacto em seu rosto e é até estranho observar isso, já que
Nate é conhecido justamente por manter uma carranca permanente em seu
rosto.
Pelo menos era assim até agora.
— Será que você bateu a cabeça lá na festa e não se lembra? — insisto,
arqueando a sobrancelha.
Mas ele balança a cabeça lentamente como um idiota.
Homens.
— Se está tudo bem, então estou indo dormir. Sugiro a você fazer o
mesmo, já que amanhã você tem jogo — digo, por fim, me preparando para
virar de costas novamente.
Mas Nate impede o meu movimento com sua mão forte. Não consigo
evitar o arrepio que corre sobre mim de uma vez, e mesmo se eu pudesse,
não o faria. É muito gostoso sentir o contato de sua pele contra a minha e
verdade seja dita, nenhum outro homem conseguiu me fazer sentir assim.
Ele é especial demais.
— Você precisa falar alguma coisa — digo novamente.
Nate continua me encarando com um brilho de animação no olhar. É
quase como observar uma criança ganhando dos pais o brinquedo que
desejou durante todo o ano. Ele parece em êxtase, como se estivesse
vivendo a fantasia que sonhou por anos.
E isso me deixa com borboletas no estômago.
— Diz de novo — pede em um tom de voz rouco.
O meu corpo corresponde ao som da sua voz imediatamente. É como se
Nate de repente tivesse uma chavinha e que facilmente conseguisse
despertar as mais diferentes sensações em mim.
— O quê? — questiono, estudando seu rosto com cuidado.
Ele dá de ombros com um sorriso bobo nos lábios.
— Diz de novo que estava com ciúmes de mim.
Ah, isso.
Mordo o lábio inferior antes de virar meu rosto. Consigo ouvir seu
resmungo ao fundo e sei que ele não está feliz com a minha reação depois
de declarar a minha possessividade sobre ele.
Juntando coragem, ergo meu queixo na direção dele. Sou Leslie Reese,
afinal, e não fujo de um confronto. Pelo menos, não antes.
— Eu senti ciúmes de você, Nate. Não me orgulho disso e nem de ter
dançado com outro cara, mas é isso aí. Você não pode ficar chateado
comigo porque você mesmo acabou de confessar que quase bateu naqueles
caras por estar com ciúmes de mim — atiro de volta, na defensiva.
Mas o bobão continua sorrindo para mim. Preciso juntar toda a minha
força de vontade para não pegar o meu celular e filmar isso. Não sei quando
Nate O’Connel distribuirá sorrisos assim novamente e eu só queria ter um
registro disso. Mesmo se eu contar, aposto que Landon não vai acreditar, e
provas desse acontecimento seriam bem úteis.
— Você acha que eu estou irritado por você ter se sentido possessiva
sobre mim? — questiona, incrédulo. Depois balança o rosto algumas vezes
e seus cachos caem sobre os olhos.
É tão lindo.
Dou de ombros, me sentindo estranhamente acanhada.
— Você está agindo estranho… — murmuro.
Ele solta um grunhido.
— Porque estou feliz pra caralho, Leslie. Você não tem noção de como
eu me sinto bem por saber que você sente o mesmo por mim.
Estreito meus olhos na direção dele.
— Nada disso importa, Nate. Você disse que nós dois acabamos, lembra?
— Porra nenhuma, Leslie. Nós dois definitivamente não acabamos.
— Acho que nunca te vi assim antes, sabia? — Arqueio a sobrancelha
em um tom de desafio. — Mas não sou mulher de correr atrás. Se você
disse que acabou, acabou.
— Não acabou — enfatiza, confiante.
Inclino a cabeça para o lado, apertando os olhos.
— É bem estranho você dizer isso agora quando praticamente me
dispensou na frente da Sophie. Vai precisar lidar com as consequências.
— Ah, é mesmo?
Balanço a cabeça.
— É mesmo, Nate.
Ele dá de ombros.
— Mesmo se eu fizer isso? — Ele se inclina perto o suficiente para
conseguir encaixar um beijo em meu ombro nu.
A pressão quente de seus lábios contra a minha pele fria e recém-saída
do banho me causa os mais deliciosos arrepios, mas me mantenho firme.
— Mesmo se fizer isso — resmungo com a voz trêmula.
O filho da mãe sorri contra a minha pele, como se adorasse saber que
minha fraqueza é seu corpo gostoso.
Tão injusto.
— E se eu fizer isso aqui então? — sussurra, descendo a alça do meu
pijama com muita delicadeza.
Ele abaixa uma e depois a outra e, de repente, meus seios saltam livres
na frente do seu rosto. Nate resmunga algo inaudível quando literalmente
cai de boca em mim.
Não consigo segurar o suspiro de prazer quando sinto sua língua quente
no meu mamilo dolorido. Ele raspa os dentes delicadamente sobre a minha
carne e eu aperto as minhas pernas juntas para aliviar a pressão que estou
sentindo na minha boceta.
Uso toda a minha força de vontade para não usar minhas mãos e agarrar
seus cabelos. Ao contrário disso, fecho os olhos com força e aperto meus
lábios o máximo que consigo para não gemer.
Nate parece usar isso de incentivo, já que começa a sugar meus peitos de
forma alternada. Depois de mamar bastante no meu mamilo, ele assopra
sobre a minha pele e a sensação quase me faz gritar. Sentir o frio na minha
carne sensível é incrível.
— Nem mesmo assim — respondo, mesmo sem ter tanta certeza assim.
Nate solta uma risada, como se nem ele acreditasse mesmo nisso.
— Eu concordo com você, Leslie. Fui mesmo um babaca, não posso ser
perdoado com tanta facilidade — murmura e sou obrigada a abrir os olhos e
encará-lo.
Os lábios inchados e úmidos estão tão irresistíveis que preciso reprimir o
impulso de roubar um beijo dele.
E o sorriso.
O maldito sorriso de Nate continua, só que em uma versão mais…
Maliciosa? Sinceramente, não sei responder. Mas sei que ele me deixa
quente e necessitada e isso está tornando muito difícil a minha birra com
ele.
— Concorda? — questiono, desconfiada.
Ele finge tão bem a expressão de cachorrinho que caiu da mudança que
eu quase acabo cedendo agora mesmo. Mas, ao invés de continuar com a
conversa, Nate tem uma ideia melhor.
Decide continuar me provocando.
— Concordo. É por isso que acho que fazer isso… — Ele segura meus
quadris com firmeza e nem se eu estivesse esperando pelo que vem a seguir
me impediria de soltar um gritinho assustado.
Ele me puxa com força em sua direção, o que me desequilibra
totalmente. Caio de costas na cama, com as pernas abertas, e Nate não
perde tempo. Ele arranca o short do pijama pelas minhas pernas e solta um
lamúrio que poderia ser facilmente confundido com um choro.
— Sem calcinha? É sério isso? — pergunta, rouco, sem conseguir
desviar os olhos da minha boceta.
Estou pegando fogo. Com certeza ele consegue ver o quanto estou
molhada, mas mesmo assim dou de ombros, como se isso não fosse nada
demais.
— Eu gosto de dormir sem nada.
Nate solta um choramingo, como se saber essa informação o fizesse
sofrer.
Bom mesmo.
— Agora você está ferrada, Leslie Reese.
— Ah é? E por quê? — desafio, mesmo que eu sinta minha intimidade
latejar por ele.
Nate delicadamente passa o dedo em mim. Me sobressaio por não estar
esperando e ele parece hipnotizado pela minha boceta nua enquanto desliza
o indicador lentamente por ela. Eu suspiro, sem conseguir me conter, ao
senti-lo pressionar o polegar um pouco para baixo.
Se for um pouquinho mais para frente…
Mas Nate tira a mão de mim, o que me faz chiar em protesto.
— Porque eu vou manter você na minha cama todas as noites, Leslie. E
não me importo se estarei cansado depois de uma partida de oito horas de
beisebol, mas vou chegar em casa e ver você dormindo sem nada na minha
cama. E então eu vou…
— Você vai…?
Ele sorri. Mas, ao contrário dos sorrisos bobos que estava lançando para
mim antes, esse é diferente. É quase diabólico. Como se estivesse pensando
em todas as coisas pecaminosas que pretende fazer comigo.
E eu estou adorando isso.
— Primeiro vou começar chupando você todinha, Leslie. Vai ser uma
delícia comemorar cada home run sentindo você gozar na minha língua.
Depois vou entrar em você de uma vez e ficar aqui dentro… — Ele passa o
dedo sobre mim novamente e é o meu fim. — A noite toda. Ou até você
cansar de tantos orgasmos. Só vou parar quando você estiver satisfeita e não
me chamam de rei à toa. Eu sou bastante resistente.
Ah, merda, merda, merda…
Esse é o cara dos meus sonhos. E ele é o Nate O’Connel, o melhor
amigo irritante da minha irmã. Esteve ao meu lado durante toda a nossa
vida e eu nunca o vi de outra forma a não ser como o “filho irritante do
prefeito Andrew”.
E agora ele está me deixando louca.
— Nate…
— Hm?
— Você não vai fazer?
Ele se faz de desentendido, virando o rosto algumas vezes. Depois
aponta para si mesmo, como se me perguntasse se estou falando com ele.
Que ódio.
Me apoio nos cotovelos, sentindo a minha respiração acelerar. Em
seguida, lanço um olhar irritado e aponto o dedo diretamente para o seu
peitoral forte.
— Estou falando com você mesmo, Nate. Me provocou à toa?
Ele dá de ombros.
— Você mesma disse que eu precisaria enfrentar as consequências,
Leslie.
Miserável e cruel. Jamais pensei que essas duas palavras poderiam
descrever tanto uma pessoa, mas Nate O’Connel faz jus a ambas. Ele não
consegue esconder o sorriso satisfeito enquanto estou praticamente
rangendo os dentes.
— Tudo bem, Nate. Você tem razão — suspiro, me dando por vencida.
Mas isso não parece ser o suficiente, já que ele não se move um
centímetro sequer. Eu o encaro, confusa, enquanto ele abre um sorriso
malicioso para mim.
— Quero ouvir você dizer.
Novamente: miserável e cruel.
Com os dentes trincados, murmuro, dando adeus ao pouco do orgulho
que me resta. Entre ele e meu orgasmos, eu fico sem sombra de dúvidas
com os orgasmos.
— Não acabou, Nate.
Isso é o suficiente para fazê-lo perder o controle.
Nate agarra minhas coxas com força antes de abri-las ainda mais para
ele. Prendo a respiração em expectativa quando, lentamente, Nate começa
uma trilha de beijos do início da minha coxa até as minhas panturrilhas.
Ele refaz o trajeto pela perna esquerda e em seguida pela direita.
Consigo sentir sua respiração contra a minha pele e os beijos molhados que
ele vai deixando pelo caminho e isso me faz jogar a cabeça para trás em
êxtase. Sequer consigo me lembrar porque estive irritada com Nate. Tudo o
que me vem à cabeça agora é a necessidade de tê-lo dentro de mim.
— Não aguento você me torturando assim pra sempre… — resmungo,
imersa na onda de tesão que seus lábios nas minhas coxas estão me
causando.
Ele solta uma risadinha contra mim e a vibração reverbera por todo o
meu corpo.
— Eu vou ensinar você a ser paciente, Leslie. Você vai acabar
percebendo que a expectativa faz tudo valer a pena.
Não consigo argumentar porque, de repente, Nate ajeita um pouco
melhor a posição das minhas pernas e se coloca bem no meio delas. Sei
exatamente o que está por vir, mas nem mesmo esse pensamento me
prepara para a sensação de seus lábios habilidosos bem no centro da minha
boceta latejante.
Puta que pariu.
— Nate! — arfo, agarrando um punhado de seus cabelos macios quando
sinto as pinceladas de sua língua contra mim.
Ele me segura com força enquanto usa os lábios para aumentar ainda
mais o meu prazer. Lentamente, começa a esfregar o polegar no meu clitóris
enquanto usa a língua para me estimular ainda mais.
— Você tem a boceta mais gostosa do planeta, Leslie — diz, rouco, um
segundo antes de começar a chupar sem parar.
Sinto que posso derreter nessa cama a qualquer momento quando Nate
começa a sugar e a lamber minha boceta como se precisasse disso para
viver. Não consigo mais segurar os gemidos quando seu polegar aumenta
ainda mais o ritmo, construindo o meu prazer lentamente, sem pressa
alguma.
Nate O’Connel é metódico e faz tudo com calma. É por isso que por
mais que eu use seus cabelos para pressionar sua cara contra minha boceta,
ele não cede. Não aumenta a velocidade. Pelo contrário, continua me
torturando com a sua língua talentosa.
Estou suando, ciente de cada mísera célula do meu corpo enquanto sinto
aquela dorzinha conhecida na boca do estômago. Ele me leva ao limite e
quando estou sentindo que vou me desfazer a qualquer momento, ele para.
ELE SIMPLESMENTE PARA!
Em determinado momento, começo a me irritar. Nate está me chupando
por quase meia hora e ainda não deixou que eu tivesse algum orgasmo.
E eu preciso gozar.
Sempre escutei de amigas que às vezes fingem orgasmos para não ferir o
ego do namorado, mas eu infelizmente jamais seria capaz disso. Preciso
mesmo sentir o ápice do prazer ou posso ficar louca.
É sério.
— Nate! — reclamo, quando ele mais uma vez recomeça o processo de
me levar à loucura.
— Hmmm? — murmura contra mim e sinto a vibração pelo corpo.
Porra.
Ele não precisava ser bom em tudo, precisava?
— Nate, me faça gozar — suplico, terminando a frase com um gemido
sofrido. Ele agora está usando a própria língua para estimular meu clitóris e
a pressão me faz ver estrelas.
Agarro seus cabelos como se fossem rédeas enquanto ele continua
beijando, lambendo e sugando minha boceta sem parar. É quase como se ele
não se cansasse ou sentisse dor.
Ele bem que me avisou que era bastante resistente.
— Tenho uma ideia melhor — responde ele, levantando o rosto de
dentro das minhas pernas para me encarar. Os lábios rosados estão úmidos e
é atraente pra cacete saber que o líquido é a minha excitação. — Que tal
você mesma se fazer gozar?
Não consigo evitar a cara de decepção. Eu adoro me mastubar e sentir o
controle quando gozo, mas porra, se tem um cara me chupando tão bem
como agora, a ideia não soa tão atrativa assim.
— Sério? — pergunto, fazendo uma careta.
Nate parece satisfeito com a minha reação e eu não entendo porque.
— Não quero que você se masturbe pra mim, Leslie. Pelo menos, não
hoje. Eu tenho uma ideia melhor do que essa.
— E o que seria?
Ele abre um sorriso digno do gato da Alice e eu sei que suas próximas
palavras terão o poder de me desarmar por completo.
— Quero que você sente na minha cara.
Não consigo esconder o choque quando Nate repete as palavras mais
uma vez. De primeira não consegui assimilar que o garoto do “não gosto de
sexo casual” e que mal sorria para mim sugeriu mesmo o que eu acabei de
ouvir.
Pisco os olhos algumas vezes, ainda sem acreditar.
— Agora?
Ele sorri.
— É, agora. Ou será que você tem planos mais importantes do que
esfregar a sua bocetinha na minha cara até gozar?
Puta.
Que.
Pariu.
Estou boquiaberta. Pela primeira vez na vida não tenho palavras para
retrucar e isso é por causa de Nate. Tá bom, definitivamente o mundo acaba
de enlouquecer.
— Hm… — murmuro, sentindo todo o meu corpo formigar de
ansiedade.
Nate, por outro lado, decide agir. Ele deita na cama de uma vez,
erguendo o queixo e lançando um olhar provocativo para mim. Sinto
borboletas no estômago ao pensar no que estou prestes a fazer, mas decido
ignorar todos esses pensamentos. Com cuidado, apoio minhas mãos na
cabeceira da cama do hotel. Nate arqueia a sobrancelha quando me percebe
hesitante, então me sinto desafiada.
Desço sobre seu rosto com cuidado e ele não demora para assumir o
controle. Segura meus quadris com força, mantendo-me presa quando volta
a me atacar com seus lábios. Ainda estou segurando a cabeceira da cama
quando ele começa a usar o polegar para me estimular e eu sinto a
construção do prazer vindo em ondas sobre mim.
É uma delícia.
— Pode se esfregar em mim, Leslie. Não precisa ter medo — murmura
ele contra a minha carne e eu me esforço para ouvir porque seus lábios me
chupando abafam o som.
Como uma marionete, obedeço ao seu comando. Me movimento sobre a
boca de Nate em busca do meu orgasmo e ele usa a língua para acompanhar
os meus movimentos. De início, ainda fico um pouco hesitante por ter medo
de machucá-lo. Mas logo ele usa as mãos para apertar a minha bunda com
força, fincando as unhas curtas na minha pele ao ponto de eu pensar em
como essas marcas ficarão na manhã seguinte.
— Que gostoso — suspiro, descendo o olhar para encontrar a visão mais
erótica da minha vida.
O rosto de Nate está entre as minhas pernas e só seus olhos estão à vista.
Não consigo segurar o gemido de prazer quando ele me encara, sem piscar.
Sua língua úmida continua me lambendo sem parar, sem me dar um
segundo para respirar ou pensar.
Estou em uma crescente e não quero descer jamais.
Minhas coxas apertam seu rosto enquanto eu começo a cavalgar sua
boca em busca do meu orgasmo. Nate usa a mão livre para me desferir um
tapa na bunda e eu jogo o cabelo para trás, gemendo sem conseguir parar.
Estou tão perto, tão perto…
Ele usa o polegar novamente para me estimular e esse é o meu fim. Me
estilhaço em um milhão de pedaços, gritando o nome dele enquanto me
embebedo do orgasmo mais intenso que já tive na vida. Sinto minhas pernas
tremerem e desfaleço sobre o corpo de Nate, imersa na sensação gostosa.
Estou flutuando e ele é tudo que me ancora aqui.
Familiaridade gera desdém, não me coloque no porão
Quando eu quero a cobertura do seu coração
Diamante nos meus olhos, estou bem brilhante, eu estou bem brilhante
Bejeweled | Taylor Swift

— Você parece um lixo — murmura Liam para mim quando chegamos


ao vestiário.
Embora eu realmente me sinta esgotado depois da noite de ontem e por
obviamente não ter conseguido dormir muitas horas, nunca me senti tão
bem. Acho que Leslie e eu finalmente vamos nos entender.
— Foi uma noite difícil — respondo, sem querer entrar em muitos
detalhes.
Meu companheiro de equipe, por outro lado, parece querer o contrário.
Liam solta um assobio enquanto eu termino de vestir o uniforme azul claro
dos Angry Sharks.
Viro o rosto rapidamente para encará-lo.
— O que foi?
Ele solta uma risadinha sem graça.
— Não é nada não, cara, mas… Dava pra ouvir a sua namorada gritando
a noite toda. Alguns dos caras ficaram bem irritados com isso. Eu entendo
que você goste dela e não posso negar que Leslie é muito gostosa… —
Faço uma carranca para ele e Liam ergue as mãos em sinal de rendição. —
Não estou querendo ofender você, de verdade. Mas acho que namorada em
jogos decisivos não é uma boa decisão. Precisamos de você concentrado
nesse jogo, tudo bem?
Engulo em seco, assentindo rapidamente com a cabeça.
Ele tem razão.
Não fiz isso de propósito. Se não fosse pela situação do Adam,
provavelmente Leslie e eu jamais teríamos vindo juntos, tampouco faríamos
o que fizemos.
Mesmo preocupado com o meu desempenho em campo hoje, não me
arrependo de nenhum minuto de sono perdido.
E esse pensamento me assusta um pouco.
Balanço a cabeça, me forçando a deixar esses pensamentos para lá. Não
é hora de encher a cabeça com preocupações infundadas, porque preciso dar
tudo de mim nesse jogo.
Quero disputar o College World Series em Oklahoma daqui a alguns
meses e isso só será possível se conseguirmos vencer o jogo de hoje e nos
classificar como campeões estaduais.
— Você não tem com o que se preocupar, Liam — respondo, sucinto,
sem querer estender muito o assunto.
Meu amigo balança a cabeça e por um segundo chego a pensar que ele
não acredita em uma palavra sequer. No entanto, ele faz um pequeno
meneio de cabeça na minha direção e vai caminhando para fora do vestiário
enquanto assobia uma música pop qualquer.
Então tá bom.
Meu celular vibra no meu bolso e eu não consigo me segurar.
Normalmente não gosto de ficar mexendo nele quando preciso começar
meu trabalho mental pré-jogo, mas é mais forte do que eu.
Sorrio ao receber uma foto da Leslie. Ela está usando um dos meus
bonés dos Angry Sharks e a mão direita está coberta por uma luva.
Leslie: “Vê se joga uma bola na arquibancada pra mim, tá? Eu vim
preparada para agarrar todas”.
Não consigo frear meus dedos e quando percebo já estou digitando:
Nate: “Tem uma bola muito mais importante que preciso que você
agarre mais tarde”.
Ela fica em silêncio por alguns segundos, mas logo me responde:
Leslie: “MEU DEUS DO CÉU, NATE! Eu te ensinei bem! Que orgulho
<3”
Nate: “É, eu tive a melhor professora de safadeza mesmo. Como estão
as coisas por aí?”
Leslie: “Chegamos cedo para conseguir os ingressos e a fila está
enorme, sério. A maioria das pessoas está usando laranja por causa dos
Tigers Ink. Eca. Prefiro muito mais o nosso azul.”
Nate: “É, eu também. Mas então quer dizer que a casa está cheia, né?
Você conseguiu bons lugares?”.
Leslie: “Relaxa, gato. Sophie conseguiu bons lugares pra gente.
Felizmente Adam não voltou pro hotel, então provavelmente não vai assistir
você jogar. Não vai ter toda aquela energia ruim.”
Nate: “Tem razão. Agora eu preciso desligar porque entramos daqui
uma hora. Toma cuidado, ok? Nos vemos depois do jogo.”
Leslie: “Beleza.”
Bloqueio a tela do meu celular e o guardo dentro de algum dos armários,
sentindo o familiar e incômodo embrulho no estômago em dia de jogo. É
meio estranho imaginar a minha vida sem me sentir assim, porque é o que
me faz sentir vivo.
A adrenalina do campo. O posicionamento do corpo para acertar uma
jogada que vai te fazer marcar mais um ponto. A energia dos torcedores nas
arquibancadas. A celebração de uma vitória.
É com isso em mente que eu respiro fundo algumas vezes, me
convencendo de que hoje não será impossível. Os Tigers realmente fizeram
uma ótima temporada e, assim como nós, não tiveram uma derrota
expressiva.
Eles são bons.
Mas, modéstia à parte, nós somos melhores.
E vamos conseguir a vitória hoje.

Estou suando.
O sol da Califórnia parece ficar mais intenso a cada segundo e a partida
já dura mais de três horas. Aperto os olhos, tentando espantar o cansaço que
cada vez mais fica aparente.
Meu corpo precisa de descanso.
Consigo enxergar pelo telão a nossa vantagem de pontos e isso me
acalma. Começamos defendendo e agora estamos no ataque, com os Angry
Sharks vencendo por três pontos.
É, não é uma grande vantagem e existe uma grande chance dos Tigers
Ink virarem, mas tento me manter positivo.
A última jogada começa e eu olho de soslaio para Liam. No beisebol,
temos nove chances de pontuar e cada uma delas nós chamamos de
“jogadas”. Cada time é composto por nove jogadores e ambos revezam
entre atacar e defender.
É como um jogo de xadrez.
O que eu mais adoro no beisebol é o fato de a força não ser o mais
importante. É um esporte sobre estratégia, sobre utilizar as jogadas e tentar
as pontuações que podem te fazer vencer. É por isso que não existe um
limite de tempo durante uma partida e o meu recorde foi de oito horas em
campo.
Algumas pessoas podem achar chato ou até mesmo parado, mas não eu.
Consigo observar nas entrelinhas. Sei que os Tigers Ink podem empatar e
desse jeito teremos que começar mais uma jogada, mas estou confiante.
Poderia fazer isso o dia todo.
O rebatedor do time rival tem feito um bom trabalho hoje, no entanto.
Chegamos a empatar uma vez durante a partida porque ele conseguiu um
home run para os Tigers Ink, e mesmo sabendo que o mérito é todo dele,
não consegui me sentir menos responsável por isso.
Poderia estar melhor se não tivesse dormido apenas três míseras horas.
E por mais que eu me esforce, não consigo parar de pensar nos olheiros
que estão espalhados por toda a arquibancada. Eles estão medindo cada
arremesso e rebatida, usando aparelhos para saber a velocidade que
corremos e a nossa capacidade total em cada rodada.
Nenhuma pressão, certo?
Respiro fundo.
Sempre gosto de jogar mais na posição de ataque, mas isso não significa
que sou um mal arremessador. Na verdade, foi por causa da velocidade na
hora de jogar nessa posição que consegui a bolsa de estudos para entrar nos
Angry Sharks.
Mas acontece que o rebatedor do time rival também é muito bom. Só
precisamos que o rebatedor dos Tigers Ink perca três bolas válidas e somos
oficialmente campeões estaduais.
O juiz grita para iniciar formalmente a última rodada e eu prendo a
respiração. Se os Tigers conseguirem três malditos pontos e empatarem,
porra… Acho que não vou ter coragem de voltar à universidade hoje.
— Vamos, Nate! — Escuto a voz de Liam em algum lugar do estádio,
mas decido deliberadamente ignorar.
Estou tentando me manter calmo. Alongo meu corpo por poucos
segundos e flexiono os tendões, sentindo a familiar adrenalina tomar conta
do meu corpo. O rebatedor está com um sorriso brincando em seus lábios,
mas eu permaneço sério. Posso acabar com tudo agora mesmo e é o que
tentarei fazer.
Me ajeito enquanto lentamente curvo o corpo para trás. Já usei essa
técnica milhares de vezes e sei que se conseguir um bom ângulo, posso
arremessar a bola direto para o nosso receptor.
Prendo a respiração antes de finalmente jogá-la com toda a força que
tenho, acompanhando cada movimento que ela faz depois que sai do meu
controle.
E ela passa direto para o nosso receptor.
— Strike um! — grita o juiz e eu sinto o ar voltando lentamente para os
meus pulmões.
Isso aí, caramba.
Mas não podemos cantar vitória ainda. E é por isso que mal consigo
piscar quando o rebatedor se ajeita em cima da sua caixa, estreita os olhos
para mim. Ignorando sua provocação, inclino todo o corpo para trás antes
de arremessar a segunda bola.
E a perco de vista quase instantaneamente.
Por um segundo me desespero ao pensar que ele pode ter conseguido
rebatê-la. Não escutei o barulho familiar do taco batendo na bola, mas estou
tão exausto que deixar de notar algo não seria uma surpresa.
— Strike dois! — anuncia o juiz, me fazendo girar o pescoço para
encará-lo.
Nem vi a bola passar, caralho.
Mas, assim como eu, o rebatedor dos Tigers mal consegue acompanhar
os meus arremessos. Ele não consegue esconder a própria frustração quando
perde a última chance de marcar um ponto para o seu time.
— Strike três! — Apita o juiz e posso ouvir os gritos de comemoração
nas arquibancadas. — Eliminado!
— MEU NAMORADO É O MELHOR! — cantarola Leslie um segundo
antes de se jogar no meu colo. Eu a agarro, perdendo um pouco do
equilíbrio enquanto ela cruza as pernas ao redor da minha cintura. — Você
foi incrível, baby.
Nem tenho tempo para processar o fato dela ter acabado de me chamar
por um apelido carinhoso porque, de repente, os lábios macios de Leslie
estão sobre os meus e todo o mundo desaparece do nosso redor.
Só existe nós dois.
Quando nos afastamos, ambos ofegantes, é como se todo o cansaço do
meu corpo sumisse. Quero carregá-la assim até o meu carro e voltar para o
quarto de hotel o mais rápido possível.
— Gostou de todas as jogadas? — pergunto, arqueando a sobrancelha.
Leslie balança a cabeça freneticamente para cima e para baixo.
— Adorei! — responde, animada. Mas logo em seguida morde o lábio
inferior e se inclina para mais perto do meu rosto, sussurrando: — Mas
confesso que acabei tirando um cochilo depois que você conseguiu o seu
segundo home run.
Eu a encaro, fingindo uma falsa expressão de choque.
— Você dormiu no meio do meu jogo?
Leslie suspira.
— Desculpa, tá legal? Mas beisebol é um esporte para poucos e eu não
acho que faça parte desse grupo. Vocês ficam um tempão parados, precisa
mesmo ser tão longo assim?
Balanço a cabeça, por algum motivo me sentindo sortudo pra caralho por
segurar no colo uma garota que abertamente diz não gostar do esporte que é
a minha vida. Amo a espontaneidade de Leslie, a forma sincera e ao mesmo
tempo carinhosa que consegue expor todas as suas opiniões.
Amo essa garota.
Espera, o quê?
— Nate? — ela me chama, roubando um beijo rápido dos meus lábios.
Eu a encaro, ainda perplexo com meus próprios pensamentos. Será que
eu a amo de verdade? A paixão muitas vezes é confundida com amor.
Mas se eu estivesse apenas apaixonado por Leslie, talvez não sentisse
essa necessidade de agradá-la toda hora. Tampouco me sentiria tão eufórico
por saber que mesmo odiando o esporte, ela permaneceu na arquibancada
por quase quatro horas de jogo. Nem meus pais ficavam a partidas inteiras
às vezes. Assistiam ao primeiro tempo e só voltavam para me buscar, na
época do colegial.
— A Sophie me convidou para uma festa em comemoração a vitória dos
Angry Sharks e acho que pode ser uma boa ideia para coletarmos
evidências. — Ela ergue e desce as sobrancelhas de forma sugestiva várias
vezes e eu solto uma risada.
Ela é tão boba. Eu a adoro.
— Achei que tínhamos superado a busca de provas nessa viagem. As
fotos que eu consegui de Adam com a garota da balada de ontem não foram
o suficiente? — lembro, me referindo às poucas “provas” que consegui sem
que ele percebesse a câmera do celular.
Leslie balança a cabeça.
— É, mas acho que pode ser diferente na festa de hoje. Além do mais…
Pode ser uma desculpa.
— Uma desculpa para o quê?
Ela dá de ombros.
— Uma desculpa para comemorarmos a sua vitória, Nate. Você vai
começar a se preparar para o nacional e vai ficar cada vez mais difícil de
nos vermos — relembra ela e eu sinto um nó na garganta.
Ela tem razão. Vamos nos ver praticamente duas vezes na semana
quando a preparação para o College World Series começar.
— Acho que tenho uma ideia melhor para comemorarmos… — sugiro,
malicioso.
Mas Leslie parece irredutível e usa de artimanhas maquiavélicas para me
convencer. Bate os cílios algumas vezes, joga o cabelo ruivo por cima do
ombro e começa a beijar todo o meu rosto minuciosamente.
Não esquece um maldito lugar e de repente sinto que estou pegando
fogo. Preciso das mãos dela sobre mim.
Meu pau parece concordar bastante com esse fato, porque ele contrai e
endurece em questão de segundos. Leslie está se esfregando em mim como
uma gatinha.
— Tudo bem — murmuro, por fim. — Podemos ir pra festa. Mas eu
estou realmente cansado, Leslie. Preciso dormir. Vamos ficar pouco tempo,
ok?
Ela solta um gritinho ensurdecedor e pula algumas vezes no meu colo.
Eu a coloco no chão e ela continua me agarrando e enchendo de beijos, tudo
isso ao som de “eu tenho mesmo o melhor namorado de todos!”.
Como eu poderia dizer não a ela?
— Ah, tem mais uma coisa! — exclama ela, se pendurando no meu
ombro.
— O quê? — questiono, ajeitando o boné do time melhor sobre a minha
cabeça.
Ela pisca os cílios para mim várias vezes.
— Precisamos de uma foto juntos, Nate. Não temos nenhuma! — Ela
ergue o rosto para encarar a multidão de pessoas saindo do estádio e avista
Liam conversando com os pais. Ela o chama e meu companheiro de time
vem trotando em nossa direção. — Oi! Será que você pode tirar uma foto
nossa?
Liam pisca lentamente na direção de Leslie. Por um segundo chego a
pensar que ele pode estar um pouco irritado, mas ao contrário disso, ele
apenas dá de ombros e murmura um “claro”.
Mal tenho tempo de registrar suas palavras quando Leslie se ajeita do
meu lado. Ela está usando uma saia preta de couro e uma blusa da mesma
cor da banda de rock favorita dela, Aerosmith. Eu coloco minha mão sobre
sua cintura e a puxo para perto, abrindo um sorriso sem graça.
— O casal do ano — brinca Liam, estendendo o celular na nossa
direção. — Vocês ficam bem juntos.
Eu o agradeço com um aceno de cabeça e ele se despede com um aceno.
— AI, MEU DEUS, NATE! Olha como nós dois somos gostosos juntos
— suspira Leslie, me mostrando a foto.
Não posso discordar dela.
Puxo o celular da sua mão e me encaminho a tal foto, pensando em
como ela ficará linda como tela de fundo do meu celular.
— Você tem razão — concordo, cerrando os cílios para ela. — Mas
agora eu preciso mesmo tomar um banho. Você me espera aqui ou quer ir
logo para a festa sozinha?
Ela dá de ombros, tirando uma mecha ruiva da frente do rosto.
— Eu te espero, claro. Ainda preciso confirmar com a Sophie sobre onde
será a tal festa, mas tudo indica que vai ser na casa de um dos irmãos de
Adam. Ela disse que ele é um cara legal e que é um dos investidores dos
Yankees, algo assim.
— Uau.
Ela suspira.
— Pois é. A cada nova informação sobre a família desse cara, mais eu
sinto que não temos como vencê-lo, Nate. Eles estão espalhados em todas
as áreas de poder desse país.
— Ei, não pense assim. Ninguém é invencível, Leslie.
Ela desvia o rosto, abrindo um sorriso que não chega aos olhos. Leslie
muda de assunto com maestria e eu permito, porque provavelmente pensar
no assunto está deixando-a mais machucada do que quer me contar.
Mas não acho que Adam ficará impune para sempre.
Ele não pode ficar.

O apartamento do irmão de Adam não fica necessariamente em Los


Angeles, mas sim em San Diego. A maioria dos caras do time decidiram ir
direto para Granville, já que estavam muito cansados e só queriam relaxar.
A parte mais difícil, no entanto, foi arranjar um jeito de não precisar
voltar no mesmo ônibus que todos os caras do time.
Conversei brevemente com o técnico sobre a possibilidade de ir um
pouco mais tarde e ele concordou. Acho que a jogada final me fez cair nas
graças dele, porque até um tapinha nas costas eu recebi.
— Aproveite a noite de hoje, Nate. Você merece. Mas eu prefiro que
você não beba se for voltar dirigindo.
Eu concordo na mesma hora e depois de arrumar minhas malas no quarto
que estou compartilhando com Leslie, nós dois pegamos a estrada. O trajeto
leva em torno de duas horas e passamos esse tempo conversando sobre os
planos para o feriado de Ação de Graças que já é na semana que vem.
— Vou voltar pra Barlow com a Landon — diz ela, olhando para as
unhas. — Também vamos acabar voltando para o Natal e o Ano Novo.
— É, eu também. A gente pode acabar voltando juntos, se não for
problema.
Ela abre um sorriso malicioso para mim.
— Não vai ser problema nenhum, Nate. Mas será que o filho de ouro do
prefeito vai segurar minha mão em público? Fique você sabendo que o
reverendo não é o meu maior fã.
— Ele provavelmente não é o maior fã de ninguém — rebato, me
lembrando do senhor de idade que comanda a igreja local da nossa cidade.
Ele é um homem de coração enorme, mas que costuma ser duro com os
indisciplinados.
— Ele é o seu maior fã — acusa ela, mostrando a língua.
— Nunca foi.
— Ah, é? E por que ele aparecia em todos os seus jogos então?
Limpo a garganta.
— Talvez porque eu era um garoto que tinha acabado de perder a mãe
para um câncer. Ele só estava fazendo seu papel como cristão.
Ela estreita os olhos para mim, suspirando ao se dar por vencida.
— É, você pode ter razão. Mesmo assim não sei se ele gosta muito de
mim…
Eu tiro uma das mãos do volante e busco a dela, entrelaçando nossos
dedos. Lentamente, eu levo sua mão até a minha boca e deixo um beijo ali.
Leslie me encara com os olhos brilhando de admiração e eu me sinto
satisfeito.
— Quem precisa gostar de você sou eu, Leslie.
Continuamos com as mãos entrelaçadas até chegarmos em San Diego.
Assim que estaciono o carro na frente do prédio luxuoso, engulo em seco.
Meu lugar não é aqui.
— Ainda podemos pegar a estrada e ir pra casa — sugiro, sem conseguir
desviar o olhar das luzes ofuscantes.
Minha namorada falsa, no entanto, está digitando furiosamente em seu
celular. Ela ergue o rosto para mim, franzindo o cenho.
— Sophie já está descendo. Ela disse que a maioria dos convidados já
chegou.
Cruzo os braços, impassível.
— Eu não me importo com isso, Leslie. Sei que acabar com a vida do
Adam é a coisa mais importante da nossa vida agora, mas eu realmente
preciso descansar.
— Deveria se importar, Nate — avisa, com a expressão cansada.
Isso me chama a atenção.
— Por que eu deveria me importar?
— Porque nesse apartamento estão os homens responsáveis por mudar a
sua vida. Sophie disse que caça-talentos, investidores e inclusive membros
importantes da comissão técnica de times grandes estão te esperando hoje.
Nosso plano continua de pé, mas não precisa ignorar o seu futuro. Você
quer ser um jogador profissional, não quer?
Porra.
É claro que eu quero ser jogador profissional. Isso é o que eu desejo
desde que perdi a minha mãe.
Mas a segurança de Leslie jamais será posta em risco para que eu
consiga isso. Simplesmente não dá.
Sem nenhuma hesitação, a seguro pelos ombros, forçando-a a me
encarar.
— O beisebol é o meu maior sonho, Leslie. Você mais do que ninguém
sabe disso. Mas eu jamais, em hipótese alguma, colocaria você em risco
para alcançar nenhum sonho. Não vou a festinha do irmão desse idiota —
cuspo, agora um pouco irritado — só pra me dar bem. Quero que ele se
foda. Eu sei que você me trouxe aqui com a melhor das intenções, mas não
vou conseguir entrar lá e fingir que está tudo bem. Não quando todos esses
babacas podem estar sendo coniventes com um abusador de merda como o
Adam. Prefiro voltar para Barlow e viver na fazenda pelo resto dos meus
dias do que virar jogador profissional sabendo que tive a ajuda de qualquer
um desses cuzões. Entendido?
Seus olhos azuis estão arregalados e por um segundo penso que ela pode
ter se ofendido com meu tom mais duro. Entretanto, Leslie solta um
muxoxo e se joga contra mim, me abraçando o mais apertado que consegue.
Eu retribuo o aperto, afundando meu nariz em seus cabelos ruivos. O
cheiro de morango invade minhas narinas e eu me sinto em paz.
Não trocaria isso por nada no mundo.
Porque eu vejo, faíscas voam toda vez que você sorri
Conquiste-me com seus olhos verdes, baby
Conforme as luzes se apagam
Algo que me assombrará quando você não estiver por perto
Sparks Fly | Taylor Swift

— Está levando protetor? — Landon me pergunta enquanto nós duas


terminamos de arrumar as malas para passarmos o feriado no Kansas.
Eu a encaro, confusa.
— Por que eu levaria protetor se a temperatura máxima não vai chegar a
treze graus?
Ela estreita os olhos para mim.
— Você sabe que precisa passar protetor solar todos os dias
independente da temperatura, não é?
Droga, ela tem razão. Mas não deixa de ser engraçado como ela sempre
coloca a “capa da irmã superprotetora” quando estamos fazendo algo juntas.
— Eu esqueci desse pequeno detalhe, mas vou colocar na minha
necessaire depois — respondo, terminando de dobrar as últimas peças de
roupa.
— Bom. E o Salém?
— A Sophie já o levou. Não consigo acreditar que o primeiro feriado de
Ação de Graças do meu gatinho vai ser longe de mim.
Landon abre um sorrisinho.
— Ainda bem. Não me leve a mal, mas aquele gato é um pouco
estranho.
— Ei! Ele foi resgatado de uma rua deserta, Landon. Dá um desconto
pra ele.
— Tá bom, não está mais aqui quem falou. De qualquer forma, da
próxima vez a gente pesquisa como levar animais de estimação no avião
com antecedência. Acho que ele gostaria da mamãe e do papai.
Sorrio.
— É, com certeza eles também vão adorar. A Sophie disse que a família
dela adora gatos e prometeu fazer duas chamadas de vídeo comigo por dia
para eu me certificar de que ela está dando a comida especial que eu
comprei pra ele. Quero que o Salém também tenha uma refeição digna de
um banquete.
Landon balança a cabeça.
— Você não existe, Leslie. Mas fico feliz que ele estará bem durante
esses dias. — Ela termina de fechar sua mala e depois me ajuda com a
minha.
— Finalmente acabou. Nem parece que vamos ficar só quatro dias.
— Fale por você, já que colocou quase todo o seu lado do guarda-roupa
aqui — me lembra Landon, colocando nossas malas no canto do quarto.
— Ei! Não podemos chegar de qualquer jeito na nossa cidade natal,
irmãzinha. As pessoas de lá nos enxergam como uma espécie de
celebridade. Lembra como a gente ficava empolgada quando alguns turistas
passavam por lá? — Ela assente rapidamente, como se não estivesse
prestando muita atenção no que estou tagarelando. — Era como se
estivéssemos vendo um pedaço do mundo por alguns segundos.
— É, eu me lembro.
— Nós vamos ser essas pessoas dessa vez, Land. Já consigo imaginar os
rostos felizes das criancinhas quando nos virem usando o moletom de
Granville. Já pensou em que pose vai fazer?
Ela para tudo o que está fazendo e se vira para mim, alarmada. Landon
respira fundo e me pergunta com calma:
— Como assim pose, Leslie?
Dou de ombros.
— Pose, irmãzinha! Mandei uma mensagem para o antigo redator do
jornal local e adivinha? Ele continua no mesmo cargo! Perguntei se ele teria
interesse em cobrir o tempo em que as irmãs Reese estariam de volta no
Kansas e ele topou na hora. Acho que o coitadinho sente a minha falta. As
matérias com maiores acessos sempre eram sobre mim — resmungo a
última frase, me lembrando dos velhos tempos.
Landon balança a cabeça, com um brilho de terror nos olhos.
— Nem pensar, Leslie. Não quero fotógrafo nenhum atrás da gente.
— Vai ser só algumas fotos. — Balanço minha mão, como se não fosse
nada demais. — Ele provavelmente também vai querer tirar uma com o
Nate. Principalmente agora que os Angry Sharks são campeões estaduais,
sabe como é.
— Não.
— Ah, por favorzinho! Só uma foto? — Ergo as mãos e as junto sobre o
meu rosto, como se estivesse implorando.
Mas a minha irmã mais velha por poucos minutos é irredutível. Ela bate
o pé, com convicção, e nega com a cabeça várias vezes.
Bom, eu tentei.
— Tudo bem, eu aviso pra ele não tirar fotos suas — suspiro, deixando
meus ombros caírem. — Será que nossos pais vão buscar a gente no
aeroporto?
— Acho que não. O prefeito Andrew vai buscar o Nate e com certeza
não se importará de nos dar uma carona.
Sinto um embrulho no estômago ao pensar no prefeito. Ele é
tecnicamente o meu sogro, não é? Quero dizer, Nate e eu não estamos
namorando de verdade, mas também estamos sim, juntos. É confuso pra
caramba e não acho que essa viagem vai nos ajudar a melhorar esse
aspecto.
— Você tem razão — concordo, apertando os lábios.
— E falando nele, acho que Nate deve passar para nos buscar agora. Ele
te mandou alguma mensagem?
Franzo o cenho.
— Por que ele mandaria uma mensagem pra mim se você é a melhor
amiga dele? — Minha irmã me encara, perplexa, e cruza os braços na frente
do corpo. Continuo sem entender até que me cai a ficha. — Ahhh, claro,
vou ver se ele mandou mensagem sim.
Ela balança a cabeça algumas vezes, incrédula.
— Você não existe.
— Ei, em minha defesa, é estranho pensar que Nate e eu estamos juntos.
Passei metade da minha vida achando que ele era o garoto mais irritante do
mundo. Você não pode me culpar por esquecer.
— Não culpo, só acho engraçado. O prefeito sabe que vocês são um
casal?
Mordo o lábio inferior, desviando meu olhar para o celular. Nate mandou
uma simples mensagem dizendo que em aproximadamente vinte minutos
chegaria aqui e isso foi há quinze minutos.
Droga.
— Não tenho certeza se o prefeito sabe, mas Nate deve chegar em
aproximadamente…
Uma buzina alta começa a tocar incessantemente.
— Agora — completo, abrindo um sorriso sem graça para a Landon.
Nós duas caminhamos em direção às malas e ela levanta a sobrancelha
para mim.
— Preparada para voltar pra casa? — pergunta, com um brilho…
Entediado no olhar. Não sei distinguir o que é, mas Landon parece perdida
em pensamentos. Como se algo a esperasse na nossa antiga cidade.
Ou pior: alguém. Eu entendo que a minha irmã esteja um pouco receosa
de voltar para Barlow, já que seu ex-namorado Kevin pode decidir aparecer
por lá também.
Assinto com a cabeça.
— Pode apostar.

Depois que descemos para encontrar Nate, o resto do nosso dia passa
como um furacão. Corremos com as malas pelo aeroporto para pegar o
nosso voo e eu mando uma mensagem para meus pais avisando que
estamos a caminho enquanto Landon permanece indiferente, com o rosto
enfiado dentro de um livro.
São mais de três horas de voo de Los Angeles para o Kansas, então
aproveito para assistir na pequena TV do avião alguns episódios de Friends.
É uma pena que eles não tenham as temporadas de Keeping Up With The
Kardashians disponíveis no catálogo. Preciso me lembrar de mandar um e-
mail para a companhia aérea depois.
Nate está sentado na cadeira do meio e em determinado momento pede
para assistir comigo. Nós dois dividimos o fone de ouvido enquanto Landon
tira um cochilo. Por alguma razão, essa cena simplesmente se encaixa. É
como se tudo estivesse no seu devido lugar.
Assim que chegamos no Kansas e começamos o desembarque, Nate
puxa o celular para mandar uma mensagem para o pai. No entanto, isso nem
seria necessário. Porque o prefeito Andrew nos espera com uma placa
enorme e um sorriso de orelha a orelha.
— Nate! — Puxo a manga de sua camisa, indicando seu pai com a
cabeça.
As bochechas de Nate coram quando as pessoas começam a encarar e eu
acho a coisa mais fofa. No cartaz do prefeito Andrew está escrito “campeão
da liga universitária de beisebol da Califórnia” e vários tubarõezinhos
bravos ao redor, que é o símbolo dos Angry Sharks.
— Isso não pode estar acontecendo — resmunga Nate, morrendo de
vergonha.
Eu sinceramente não consigo entender o porquê. O cartaz está lindo e dá
pra ver nos olhos enrugados do prefeito o quanto ele sente orgulho do filho.
— Espero que você esteja ciente do fotógrafo — Landon comenta,
deixando Nate horrorizado na mesma hora.
— Que história é essa de fotógrafo? — pergunta ele, em choque.
Encolho os ombros.
— É uma surpresa — brinca Landon e eu decido mudar de assunto.
— Oi, prefeito! — grito, segurando minha mala e correndo em sua
direção. Ele abre os braços para me dar um abraço e eu tento me convencer
de que não é estranho eu ir até ele primeiro que Nate quando nem somos tão
chegados assim.
— Leslie! Já faz um tempo, hein?
Assinto com um sorriso de canto nos lábios. Teoricamente não faz tanto
tempo assim, já que nos encontramos em um dos jogos do Nate em
Granville, mas eu estou usando a técnica dos pinguins de Madagascar.
“Sorrir e acenar”.
— Pai — cumprimenta Nate, sendo seguido por Landon.
Nós quatro ficamos conversando por alguns segundos antes de
decidirmos pegar a estrada. São mais três horas até chegarmos na cidade do
interior e quando finalmente avisto a placa de “bem-vindo a Barlow”, sinto
meu estômago contrair involuntariamente.
Nunca pensei que ficaria tão feliz por estar de volta, mas é como a
grande sábia Hannah Montana nos disse uma vez: você sempre encontra um
caminho de volta para casa.
O prefeito nos convida para comer no restaurante da cidade que
adoramos e que inclusive incluiu opções veganas por minha causa, mas
Landon e eu recusamos educadamente. Já são quase sete horas da noite e
passamos o dia inteiro viajando, o que significa que estamos mortas.
— Boa noite, meninas — diz o prefeito, alegre, quando estaciona o carro
em frente à casa de dois andares e com uma cerca branca.
A casa em que crescemos.
Landon e eu nos despedimos dos dois rapidamente e quando desço do
carro, Nate corre atrás de mim. Franzo o cenho, confusa, mas ele segura
meu rosto com as duas mãos e me rouba um beijo tímido. Eu o retribuo na
mesma hora, sentindo borboletas no estômago.
— Espero você na Ação de Graças amanhã — diz com o tom de voz
rouco.
Eu o beijo novamente, sem me importar se estamos dando um verdadeiro
show para o seu pai, que ainda está nos encarando do carro. Landon limpa a
garganta ao nosso lado algumas vezes, mas para mim só existe o Nate.
— Eu estarei lá — respondo com a voz trêmula.
Depois que nos separamos, eu vejo o prefeito levantar as sobrancelhas
para mim. Dou de ombros, com uma cara sem graça, enquanto assisto Nate
entrar no carro e depois os dois sumirem de vista.
Landon e eu pegamos nossas malas e finalmente batemos na porta de
casa. É engraçado estar de volta porque ao mesmo tempo em que meu
corpo reconhece esse lugar como familiar, não consigo pensar nessa casa
como meu lar novamente. A Theta Rho Beta acabou ocupando esse
sentimento dentro de mim.
Mas isso não muda o fato de sentir um arrepio gostoso ao sentir o cheiro
característico de Barlow. A quantidade de árvores deixa o ar muito mais
limpo e eu lembro dos projetos que o prefeito criou depois que a esposa
faleceu. Todos os cidadãos plantaram cerca de duas árvores em memória da
médica Jenny e hoje consigo ver como essa decisão mudou a qualidade de
vida das pessoas.
É o melhor legado que ela poderia ter deixado. Eu tenho certeza.
— Minhas filhas estão de volta! — Nossa mãe, Lailah, abre a porta com
um sorriso no rosto.
Nem precisamos entrar completamente para sentir o cheiro de milho
assado com bolinho de carne. Provavelmente nossa mãe passou o dia na
cozinha para deixar o jantar pronto para quando chegássemos.
— Vocês duas fazem tanta falta! — Ela agarra o meu rosto e enche de
beijos, fazendo o mesmo com Landon na sequência. — Ficamos com tanta
saudade que até tentamos fazer mais alguns irmãozinhos pra vocês!
— Mãe! — Landon e eu a repreendemos em uníssono.
— É verdade! Vocês duas nem parecem que têm telefone, já que não
conseguem atender uma ligação ou responder mensagens!
Tá bom, essa constatação faz a minha garganta apertar. Nossos pais
nunca foram carentes, mas gostam de receber notícias das filhas. Landon e
eu às vezes esquecemos de mantê-los informados, mas é algo que vou tentar
mudar daqui para frente.
Eu e minha irmã nos entreolhamos.
— Desculpa — pede Landon, acanhada.
— As coisas estão uma loucura na Califórnia — concordo, balançando a
cabeça. — Não que seja uma desculpa.
Nossa mãe aperta os olhos, nos analisando com uma expressão divertida.
Ela está com uma das blusas do AC/DC que eu já considerei roubar várias
vezes enquanto crescia e o short jeans de cintura alta combina perfeitamente
com seu estilo.
Landon e eu fomos criadas com música sempre ao redor e isso é
perceptível pela nossa sala de estar. Em cima do nosso sofá-cama estão
pendurados quadros de bandas de rock que somos fãs, além do icônico 1989
da Taylor Swift. Além dela, apenas a Lana del Rey é cultuada por todos nós
sem ser uma banda de rock.
Imediatamente as lembranças de Landon e eu dançando no tapete da sala
voltam com força total. Nosso pai é um dos únicos advogados da cidade,
mas mesmo com uma profissão tida como “séria” ele não deixava de nos
acompanhar. Temos vários vídeos caseiros de quando nós quatro
colocávamos “Paradise City” do Guns N’ Roses no último volume e
dançávamos até perdermos o fôlego.
— Cadê o papai? — pergunto, observando as sutis mudanças da nossa
casa.
Não é muita coisa, mas fico secretamente feliz por nossos pais não se
apegarem às nossas antigas lembranças. Agora que Landon e eu crescemos
e estamos em busca da nossa independência, quero que nossos pais possam
curtir a vida.
— Ele está lá em cima, querida. Foi tomar banho antes de vocês
chegarem. — Minha mãe faz uma careta. — Vocês sabem como ele é.
Ah sim, nós sabemos.
Norman Reese jamais aparece desarrumado. “Você precisa mostrar ao
mundo como quer ser visto”, é o que nos dizia sempre que eu queria sair
correndo para a escola sem nem pentear o cabelo.
— Eu terminei o jantar e só estava esperando vocês chegarem —
anuncia nossa mãe com um sorriso brilhante no rosto. — Querem comer?
— Por favor — confirma Landon e nós duas vamos até a cozinha.
Depois de lavarmos as mãos e nos sentarmos à mesa, mamãe começa a
nos servir. Não demora muito até que nosso pai apareça, usando uma calça
jeans e uma blusa do Guns N’ Roses. Seu cabelo está molhado e a blusa de
manga curta deixa suas tatuagens em evidência.
— Vocês duas cresceram mais dois centímetros na Califórnia, hein? —
brinca ele, se sentando ao nosso lado.
— Isso é impossível — retruco, balançando a cabeça. — Talvez você
tenha encolhido.
Ele sorri, o que deixa a ruga de seus olhos em evidência.
— É, faz sentido.
Nós começamos a conversar sobre a faculdade enquanto eu me sirvo de
milho assado com barbecue e uma lasanha bolonhesa vegana. Dou um beijo
na bochecha da minha mãe para agradecer o cuidado e então nós quatro
jantamos juntos.
Nossos pais nos contam sobre as fofocas da cidade e eu quase caio da
cadeira de tanto rir. De soslaio, percebo que Landon não consegue disfarçar
a alegria que sente por estar aqui também. Ficamos um bom tempo
conversando, comendo e gargalhando e eu me sinto protegida do mundo
novamente.
Que saudades daqui.
Cresci sonhando com o dia em que deixaria Barlow para trás e hoje
lembro da minha infância aqui com carinho. Bem que me diziam que,
depois que a gente cresce, todas as coisas que dizíamos odiar fazem falta.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo…
Me fale, você se apaixonou por uma estrela cadente?
Uma sem uma cicatriz permanente
E você sentiu minha falta
Enquanto estava buscando por si mesmo lá?
Drops of Jupiter | Train

— Só mais uma foto e então nós acabamos! — anuncia o fotógrafo pela


vigésima vez.
Honestamente? Vou parar de contar. Apenas vou aceitar que sempre
haverá mais uma pose interessante, um ângulo que não testamos ou um
lugar com “luz natural em abundância” enquanto eu continuo como uma
estátua ao lado de Leslie, que faz caras e bocas para a câmera.
— Vocês dois formam um belo casal — o tal jornalista conhecido de
Leslie diz, tirando centenas de fotos por segundo. Sinto como se o flash
pudesse me cegar a qualquer momento, mas continuo forçando o sorriso,
porque sei que a minha garota ficará feliz.
E de qualquer maneira preciso me acostumar com as fotos se quero
continuar jogando beisebol. São ossos do ofício.
Ficamos ainda algum tempo tirando fotos até que o jornalista faz um
positivo com o polegar e guarda seu equipamento. Agradeço
silenciosamente ao universo pela tortura ter um fim e guio Leslie para o
meu carro, que não está estacionado muito longe dali.
Meu pai e eu normalmente passamos a Ação de Graças juntos,
conversando sobre a minha mãe e em como sentimos falta dela. Convidei
Leslie para passar o dia conosco e o convite se entendeu à Landon e
também aos seus pais, que concordaram vir para o jantar.
Leslie, no entanto, apareceu na minha casa na hora do almoço. Fiquei
muito surpreso e obviamente feliz, mas não sabia que também era uma
emboscada para o que seria uma matéria sobre “os filhos pródigos” de
Barlow. Em qualquer outra circunstância eu sairia correndo, mas parece que
as coisas mudaram na minha vida.
E quer saber? Estou curtindo essas mudanças.
— Será que o seu pai precisa de ajuda com o jantar? — pergunta ela
enquanto eu ligo o carro.
— Podemos perguntar. Normalmente ele cozinha seguindo à risca as
receitas da minha mãe. Às vezes acaba se tornando pessoal.
— Entendi. Deve ser difícil pra ele dias como hoje. Sinto saudades da
lasanha da sua mãe todos os dias.
Engulo em seco, apertando os olhos para que Leslie não perceba o
quanto eles estão marejados. Eu não choro muito, e mesmo sentindo muita
falta da minha mãe, não costumo ser muito sentimental.
O dia de hoje, no entanto, é diferente. Porque são dias como a Ação de
Graças, o Natal e a Páscoa que fazem a minha garganta apertar. As
memórias com a minha mãe são mais fortes nessas épocas do ano.
Tem uma coisa sobre perder um dos pais que as pessoas não costumam
falar muito. A gente não sente só saudades da comida, do cheiro, da voz ou
de velhos hábitos que, de repente, passam a não existir.
Sinto falta de chamá-la de mãe. Sinto saudades de ser filho.
E são dias como esse que eu acabo sendo lembrado que não tenho mais
uma mãe. É doloroso, cruel e em diversos momentos questionei a justiça
desse mundo. Com tantas pessoas ruins no mundo, justo a minha mãe tinha
que ser levada pela doença?
Mas tanto penso que se não fosse isso, talvez a minha vida não estivesse
exatamente onde ela está. É uma forma de consolo, de acreditar que as
coisas foram escritas da forma como deveriam acontecer. E que até a morte
dela serviu como propósito para algo maior.
É melhor do que pensar que ela se foi em vão.
Quando chegamos na minha casa, vamos direto até a cozinha. As
bancadas estão cheias de vegetais e legumes picados e Leslie não hesita em
lavar as mãos, colocar um avental e começar a ajudar o meu pai com o
molho da lasanha.
— Pensei em usar proteína de soja ao invés de carne — confessa meu
pai, sorrindo. — Eu me lembrei da sua história de quando foi à fazenda.
Leslie coloca a língua para fora, fazendo uma careta.
— Isso é muito gentil da sua parte, prefeito. Desde que eu vi aquelas
pobres vaquinhas, não consigo me imaginar comendo carne. Me desculpa.
Meu pai balança a cabeça.
— Não precisa se desculpar por isso. Jamais se desculpe por ser quem é.
São pessoas como você, Leslie, que fazem a diferença. Não deixe que
ninguém te faça questionar os seus ideais. — Ele aponta um dedo para ela,
com o olhar sábio que já me direcionou várias vezes. — E por favor, não
me chame de prefeito. Andrew está bom.
Leslie desvia o olhar para mim, sorrindo. Em seguida, balança a cabeça
para o meu pai, concordando.
— Vocês dois juntos deixam o coração desse pobre velho feliz —
continua, agora concentrado na panela que está no fogo. — Sua mãe
também ficaria feliz em saber que você finalmente conquistou a garota,
filho. Já aceitei que vocês não voltarão para morar em Barlow, mas espero
que tragam meus netos com frequência.
Leslie me encara, os olhos arregalados, a boca entreaberta. Eu seguro
uma risada, porque sei que ela provavelmente está entrando em desespero.
Meu pai brinca que é um velho tradicional do sul, mas na verdade, ele
esperou se formar na faculdade antes de voltar para Barlow e propor
casamento para a minha mãe. Eles se casaram aos vinte e três anos e eu
nasci um ano depois.
— Acho que isso ainda vai demorar um pouco pra acontecer, pai —
brinco, caminhando na direção de Leslie para ajudá-la. — Leslie e eu temos
outros planos.
Ele solta uma risada, o tom de voz grave fazendo soar engraçado.
— Essa geração está se esquecendo do que verdadeiramente importa —
diz. — Mas também estão se preocupando com coisas que a gente só
acreditava que uma hora iria dar certo. Dinheiro é importante.
— Por isso que eu estou tentando fisgar seu filho — brinca Leslie, me
lançando um olhar sedutor. — Ele vai ser um jogador de beisebol famoso e
rico.
Decido entrar na brincadeira.
— Concordo. É por isso que estou com a Leslie. Roteiristas premiadas
fazem uma fortuna.
— Por isso os filhos ficarão fora dos planos, por enquanto — continua
ela, dando uma piscadinha para o meu pai.
Meu coração se enche de um sentimento que não consigo compreender.
Porque, veja bem, Leslie e eu não estamos namorando. Não estamos usando
essa palavra, a não ser que seja com as pessoas da faculdade. Mas, ainda
assim, eu sinto que é o que temos.
Já tivemos conversas sobre exclusividade e sobre ficarmos enquanto
estamos fingindo e acho que não é prepotência achar que ela talvez esteja se
apaixonando por mim da mesma maneira que sempre estive por ela.
Mas são momentos como esse que eu me pergunto se não está na hora de
arriscar um passo maior. Se eu não deveria tirar o “falso” do namoro e fazê-
la entender que nós já estamos em um relacionamento e que não tem nada
para temer.
Leslie me transformou numa confusão, mas a sorte dela é que eu estou
gostando dessa bagunça.
— Acho que vocês dois já fizeram o suficiente — diz meu pai, fazendo
um sinal com as mãos. — Podem subir e eu chamo quando precisar de
ajuda para colocar a mesa.
Junto a sobrancelha, trocando um olhar confuso com Leslie.
— Tem certeza, pai?
— Se eu não tivesse, não estaria te dizendo isso, não é? — rebate,
teimoso como sempre foi.
Eu escondo um sorrisinho, concordando com ele com um aceno de
cabeça. Leslie retira o avental e lava as mãos na pia rapidamente e eu a
acompanho. Depois de nos despedirmos do meu pai, eu a puxo pela mão e a
levo para o meu quarto.
Meu pai o deixou exatamente como estava desde que fui para a
faculdade. As paredes azuis estão repletas de fotos de jogadores de beisebol
famosos, além de post-its com anotações genéricas que eu costumava fazer
sobre o meu dia.
Leslie não perde tempo ao analisar cada centímetro do que costumava
ser o meu antigo santuário. Ela pega alguns dos porta-retratos da minha
mesinha de cabeceira e faz uma careta ao ver uma foto minha no baile com
Louise.
— Eu esqueci que você tinha namorado ela — murmura, fazendo uma
careta. — Lembro que ela estava lindíssima essa noite.
Forço um sorriso.
— Ela estava mesmo. E sim, namoramos por mais de seis meses. Ela era
muito legal. E gostosa — completo, vendo uma centelha de ciúmes acender
no olhar de Leslie.
Ela aperta os lábios.
— Vocês homens…
— Eu era um adolescente, Leslie. E além do mais, a garota que eu
gostava tinha ido ao baile com outro.
Ela balança a cabeça, sem esconder o sorriso.
— James era um cara legal, embora tenha passado a noite tentando me
apalpar. Não foi uma noite tão divertida assim.
— Eu vi que você acabou indo pra casa sem ele. Acho que a fofoca foi
que você tinha pego ele dando uns amassos na Lia, a antiga secretária do
diretor.
Leslie coloca a mão sobre a boca, abafando um grito.
— Meu Deus, como eu pude me esquecer disso? A Lia ficou se sentindo
mal por dias. Tudo não passou de fofoca. James torceu o pé enquanto
dançava e ela o levou à enfermaria, por isso não fomos embora juntos. —
Seu olhar está com um brilho nostálgico e eu entendo. É estranho lembrar
de coisas que antes pareciam enormes, mas que hoje são tão pequenas…
— Eu passei esses anos todos achando que James tinha se dado bem com
a antiga secretária à toa? — questiono, vendo-a colocar a foto de volta no
mesmo lugar.
Leslie dá de ombros, ainda com o sorriso aberto no rosto.
— Fofocas de cidade pequena sempre são aumentadas, Nate. Você
deveria estar imune a elas. E de qualquer forma, Lia tinha princípios. Ficou
se sentindo mal na época pelo boato e me pediu desculpas por ter estragado
o meu relacionamento com ele — responde, mordendo o lábio inferior. —
Mal sabia ela que eu quase dei graças a Deus por isso. James era muito
chato.
Caminho decidido até Leslie, abraçando-a apertado por trás. Coloco
minhas mãos sobre a sua barriga, puxando-a contra mim e dou um beijo em
seu pescoço. Ela solta um suspiro contra mim, acariciando meus braços
com delicadeza.
— Se você tivesse me dado uma chance naquela época, a noite do baile
de formatura seria diferente. Aposto que não teríamos desculpas para não
voltarmos pra casa juntos.
Ela solta uma risada anasalada.
— Como você é convencido, O’Connel…
Dou um beijo em seu pescoço, afundando o meu nariz em sua pele para
poder sentir seu cheiro gostoso. Leslie estremece contra mim.
— Sou apenas realista. Se tivéssemos começado isso naquela noite,
estaríamos profissionais.
Leslie vira o rosto para mim e o ângulo nos deixa a centímetros de
distância. Não resisto a tentação de deixar um beijo na boca dela.
— Ei, o que quer dizer com isso? — pergunta ela, desgrudando nossos
lábios.
É a minha vez de abrir um sorrisinho maquiavélico.
— Lembra quando eu encontrei você e a Landon no restaurante perto da
faculdade? O dia que você ficou irritada porque achou que eu tinha te
mandado embora?
Leslie bufa, fazendo um biquinho irritado.
— Você tinha me mandado embora.
— Você acabou dizendo que se eu tivesse virado seu amigo ao invés da
Land, teríamos perdido a virgindade juntos. E que eu não conseguiria te
esquecer.
Ela abre um sorriso malicioso.
— Eu não menti.
— Não mentiu mesmo — concordo, apertando seu corpinho contra o
meu. — Infelizmente não temos como recuperar o tempo perdido, mas
podemos tentar compensar.
Ela suspira contra mim.
— Tem razão. É melhor pararmos de falar do passado.
— Aham — concordo, deixando mais um beijo em seu pescoço. — Mas
tem uma coisa sobre o seu passado que eu gosto.
Ela vira o rosto novamente para mim, a sobrancelha arqueada.
— Ah é? E o que seria?
— Sempre amei o fato de você e a sua irmã gostarem do Aerosmith.
Meus pais só escutavam música country em casa — suspiro
dramaticamente, o que arranca uma gargalhada dela. Linda. — Teve uma
época em que você escutava Angel sem parar. E mesmo usando o fone, a
gente conseguia ouvir porque você só deixava no último volume.
— Eu ainda amo essa música! Escuto sempre que estou andando pelo
campus — diz ela, orgulhosa.
— Sempre soube que você tinha bom gosto. Não é à toa que está ficando
comigo agora.
— Convencido…
— Já falei, só sou realista. E além do mais, eu amava ver você
cantarolando a letra. Era sempre baixinho, como se estivesse com medo de
alguém escutar… Não me lembro muito bem. Mas sei que era lindo. Eu
costumava achar que você parecia uma boneca. Uma boneca cantando
Angel do Aerosmith.
— Angel Doll? — brinca ela, estreitando os olhos para mim.
Eu inclino meu rosto para trás, encarando-a. Depois puxo Leslie com
força contra mim e vou caminhando até a minha cama.
— Angel Doll… — murmuro, testando a sonoridade da palavra. —
Gostei disso. Acho que expressa exatamente como eu via você.
Leslie apoia os cotovelos na minha velha cama de solteiro, abrindo um
sorriso malicioso para mim.
— O que você pretende fazer, O’Connel?
— Criar memórias novas no meu antigo quarto. É bem sexy, na verdade.
Ela solta uma risada, deixando o corpo cair para trás.
— Você quer transar na sua cama de solteiro, Nate? Com a roupa de
cama do… Star Wars?
— Uma das maiores obras-primas do cinema.
— Isso até Avatar chegar — responde ela, sorridente.
— Nem pensar. Star Wars conquistou uma legião de fãs através de
décadas. Desculpa, mas não acho que aqueles caras azuis esquisitos vão
conseguir superar o que George Lucas criou.
— Caras azuis? — Leslie fecha a cara, parecendo brava. — James
Cameron revolucionou a história do cinema, Nate. Assistir Avatar em 3D
em um cinema pode mudar a sua vida.
— Detalhes técnicos não vencem um bom roteiro — respondo e Leslie
parece ficar pensativa.
Ela respira fundo e dá de ombros, se dando por vencida.
— É, não tem como argumentar com isso. Você está certo — concorda,
fingindo irritação. — É muito chato conviver com donos da razão, sabia?
Você e a Landon são terríveis.
Eu ignoro suas falsas reclamações e afundo meu rosto em seu pescoço,
me embriagando com o cheiro gostoso de Leslie. Ela se derrete abaixo de
mim, passando os braços imediatamente pelo meu pescoço e soltando os
ruídos mais deliciosos enquanto eu traço meu caminho do seu pescoço até o
início do busto.
Ela está vestindo um vestido florido, um dos que ela costumava usar
quando estava na cidade. Não sei porque, mas a visão de vê-la usando essa
roupa na minha cama da época da adolescência me deixa em chamas. É
quase como se estivéssemos voltando no tempo.
E vou fazer valer cada segundo.
— Nate… — murmura ela, ofegante, abrindo bem as pernas para que eu
possa me encaixar no meio delas.
Continuo beijando o início dos seus seios, descendo as alças do vestido
para que eles saltem livres na minha cara. Nunca vou me acostumar com a
visão dos mamilos de Leslie e não demoro para colocar um deles na boca.
Chupo com cuidado, sendo estimulado por seus gemidos e suspiros
enquanto ela afunda as unhas no meu cabelo.
— Seu pai está no andar de baixo — sussurra, meio exasperada. — Ele
pode entrar a qualquer momento…
— Então acho que é melhor sermos rápidos — respondo, lançando uma
piscadinha para ela.
Leslie morde o lábio inferior, parecendo receosa. Mas eu continuo
usando a língua nos seus seios e isso parece convencê-la, porque passa as
pernas ao redor dos meus quadris, fazendo com que eu me encaixe por
completo. Meu pau está roçando em sua boceta, e se não fosse a calcinha
que ela ainda está usando, tenho certeza que sentiria sua intimidade úmida.
— Temos que ser rápidos então — concorda, com os olhos nublados de
prazer.
Eu me levanto por um segundo, desabotoando a minha calça com
cuidado. Meu pau duro salta livre e Leslie umedece os lábios. Porra. Se ela
continuar me olhando com tanto desejo assim, não serei capaz de resistir
por muito tempo.
— Caralho — murmuro, me lembrando de uma coisa bem importante.
— Não tenho camisinha aqui.
Leslie deixa a cabeça tombar para trás, soltando um muxoxo frustrado.
Eu não a culpo. No estado que estou, poderia assassinar alguém para entrar
dentro dessa garota agora.
— Não acredito… — lamenta ela, com um olhar desesperado. — Por
que você não trouxe camisinhas pra cá?
— Acho que esqueci, Leslie. Não sei — suspiro, me sentindo o cara
mais idiota do mundo. — Desculpe.
Ela parece pensativa, como se estivesse refletindo a respeito de algo. Eu
espero, na expectativa, até que seus olhos azuis encontram os meus e eu
perco o fôlego.
— Eu faço exames todos os meses — diz ela, por fim. — E sempre uso
camisinha. Sempre. Nunca fiz sem… E estou tomando anticoncepcional.
Nunca esqueci uma pílula.
Porra, será que ela está sugerindo o que acho que está?
Estreito os olhos, sentindo meu coração acelerar. Leslie continua me
encarando com expectativa, esperando por uma resposta que está travada na
minha garganta.
— Eu também faço os exames regularmente — balbucio, nervoso. —
Precisamos estar com eles sempre em dia por causa do time. E eu não
transo há alguns meses antes de você, então…
— Acho que podemos seguir em frente — completa ela.
Me inclino para roubar um beijo dela e Leslie derrete embaixo de mim.
Levanto seu vestidinho florido até metade da barriga, arrancando a calcinha
por suas pernas em uma velocidade impressionante. Ela está ofegante e eu
abaixo o meu rosto o suficiente para ficar cara a cara com sua boceta.
Leslie já está mais do que pronta para mim, mas eu não posso deixar de
chupá-la por algum tempo. E, porra, a visão dela dentro desse vestido, se
retorcendo na minha cama da época da escola é quase o suficiente para eu
gozar nas calças como um garoto de treze anos.
Ela afunda seus dedos no meu cabelo e eu abro um sorriso contra a sua
intimidade. Leslie se contrai quando enfio um dedo nela e a sensação de
que podemos ser pegos a qualquer momento pelo meu pai deixa tudo mais
excitante.
— Entra em mim, Nate — implora com a voz trêmula. — Antes que o
prefeito pegue a gente assim…
Não consigo esconder o meu sorriso. Ela quer brincar, afinal.
Levanto meu rosto de sua boceta e encaixo a ponta do meu pau em sua
entrada. Deslizo para dentro dela com muita facilidade porque a garota já
está encharcada.
— Puta merda… — gemo, sentindo sua boceta apertada se contrair em
volta do meu pau.
— Meu Deus — ofega Leslie, fechando os olhos com força.
Sua boca rosada está entreaberta, o vestido com as alças para baixo,
expondo seus seios. Eu observo meu pau entrar e sair de dentro dela com
fascínio. Por um segundo, me permito fingir que voltamos um ano atrás.
Leslie e eu fomos ao baile juntos e acabamos de voltar para casa.
— Você estava linda hoje — sussurro em sua orelha, vendo-a soltar um
gemido delicioso para mim. — Quase ninguém percebeu como eu estava
enfiando a mão por dentro desse seu vestido.
Eu meto com mais força e isso arranca um gemido de nós dois. Coloco a
mão sobre a boca de Leslie, enfiando meu rosto no travesseiro. Precisamos
fazer silêncio. Mas, caralho, como podemos ficar quietos quando estamos
dando tanto prazer um para o outro?
— O prefeito vai acabar ouvindo a gente — diz ela com o rosto franzido
de tesão. — Ele acha que eu sou uma má influência. Imagina o que ele diria
se soubesse o que o filho dele está fazendo comigo nesse quarto…
Puta que pariu.
Preciso parar por alguns segundos antes de continuar comendo ela.
Porque, porra, Leslie falando putaria deveria ser um crime. Ela usa o
rostinho de boneca e o corpo de uma deusa para levar qualquer um à
loucura — e aí abre a boca perfeita e uma voz doce sai. É impossível
resistir.
— Ele não vai ouvir se você gozar agora — respondo, escutando alguns
passos na escada.
Caralho, ninguém pode entrar aqui agora.
Porra, porra, PORRA.
Não quando eu sinto que não vou conseguir parar. Não saio de dentro de
Leslie até vê-la perder a cabeça completamente.
Nós dois viramos para a porta e agora tenho certeza de que ela também
escutou os passos de alguém. Leslie me encara com os olhos arregalados e
o rosto fica ainda mais corado.
Eu coloco minha mão sobre a sua boca, entrando com força dentro dela.
Ela fecha os olhos e eu sinto minhas bolas formigarem. Vou gozar a
qualquer momento, mas preciso que ela vá comigo.
Minhas estocadas estão cada vez mais rápidas e violentas e a cama
começa a fazer barulho. Não ligo para isso, no entanto, porque nos dar
prazer é a minha prioridade no momento.
— Estou gozando — avisa ela, ofegante, com a voz falhando.
A boceta de Leslie me aperta quando sinto-a ficar ainda mais molhada.
Estou praticamente escorregando para dentro dela, até que não consigo
segurar mais. Eu gozo e preciso afundar meus dentes em seu pescoço para
não gritar.
Eu estremeço em cima dela, dizimado. Leslie passa as unhas suavemente
pela minha nuca e eu respiro fundo, absorvendo o cheiro de sexo que de
repente tomou conta do meu antigo quarto.
Estou dentro de Leslie, meu gozo escorrendo por suas pernas, ambos
deitados na minha cama com roupa de cama do Star Wars enquanto ela me
faz um cafuné. E, nesse momento, sinto que finalmente encontrei o meu
paraíso.
Eu sou a prancha, o raio, o trovão

O tipo de garota que vai te fazer pensar

Quem você é e quem você foi

Mariners Apartment Complex | Lana Del Rey

No dia seguinte, nós estamos de volta a Granville. Me despedir de Barlow


dessa última vez foi difícil, o que me deixou um pouco assustada. Jamais
pensei que ficaria com tantas saudades daquele fim de mundo.

A noite de Ação de Graças foi melhor do que eu pensei, no entanto. Depois


de transar com Nate na antiga cama de solteiro dele, saímos do transe pós-
orgasmo com batidinhas suaves do prefeito Andrew na porta. Ele queria me
avisar que meus pais e Landon tinham acabado de chegar.

Ele não comentou nada sobre se havia escutado algo ou não, mas eu prefiro
desse jeito. Posso ser cara de pau e às vezes um pouco inconveniente, mas
não tanto assim. Ainda mais quando Nate e eu não estamos namorando
oficialmente.

Quero dizer, não posso chamar isso de “namoro falso” mais. Ele gozou
dentro de mim quando voltamos para a nossa cidade natal, pelo amor de
Deus.

Mas também não houve um pedido oficial ou uma conversa sobre o que
Nate e eu somos. E, confesso, isso me deixa um pouco insegura. Afinal, se
ele me pedisse em namoro, eu aceitaria? Eu estaria pronta para assumir um
compromisso não com data de validade, mas por tempo indeterminado?

Eu nunca vivi isso antes, mas para tudo existe a primeira vez. Certo?
— Vocês dois já conversaram sobre Oklahoma? — questiona Landon, do
seu lado do quarto, sem desviar o olhar do livro que está em seu colo.

Nós duas conversamos brevemente sobre os planos de Nate agora que os


Angry Sharks vão disputar o nacional. Ele vai apenas em junho e talvez eu
esteja me apressando, mas Nate também vai estar com foco total no
campeonato. Isso significa que seus treinos serão mais intensos e ele
acabará tendo cada vez menos tempo para o que quer que seja isso que nós
temos.

— Não. Acho que é melhor esperar — digo. — Não sei como estaremos até
lá.

— Você sabe que ele gosta de você. E você gosta dele. A resposta está aí —
conclui Landon, usando sua caneta para marcar algo no bloco de anotações
que ela está usando para estudar.

Eu sempre fico admirada em como minha irmã tem foco. Ela não
desperdiça o tempo procrastinando como eu normalmente faço.

Dou de ombros.

— É, mas as coisas às vezes não são tão simples. E nem tão óbvias — chio,
pensativa. — Vou esperar a situação com o Adam se resolver primeiro.
Depois eu chamo Nate para conversar. Eu prometo.

Landon fica em silêncio, concentrada no que está lendo. Por um segundo


chego a pensar que a conversa encerrou, mas minha irmã suspira alto,
soltando um grunhido.

— Às vezes as coisas são óbvias sim. Podem não ser fáceis, mas não torna
menos óbvio — reforça, juntando as sobrancelhas. — Você é a minha irmã
e eu te amo. Você sabe disso. Mas eu também amo o Nate e ele é muito
importante pra mim. Não quero ver nenhum dos dois magoados.

Eu respiro fundo, mordiscando o lábio inferior. Land está certa.

— É, eu também não — respondo com o olhar perdido.


Preciso resolver esse conflito interno o mais rápido possível.

Depois de sair da minha aula de roteiro percebo meu celular vibrando


dentro da minha mochila. Eu o pego e abro um sorriso ao perceber que a
chamada vem de Nate. Eu salvei seu contato como “rei do home run” com
a foto de um tubarãozinho bravo. É a coisa mais fofa.

— Diz que você vai estar livre hoje à noite — diz ele com a voz ofegante.
Algo me diz que pode ter acabado de sair do treino.

Eu solto um muxoxo.

— Gostaria de dizer que sim, mas eu preciso escrever dois argumentos para
a aula de roteiro e nem sei por onde começar. Além do mais, preciso
terminar dois livros para as matérias de teoria. Não posso me dar o luxo de
sair.

— Que merda.

— Pois é — concordo. — Você não tem aulas como o restante dos mortais?

Nate solta uma risada anasalada.

— Eu tenho, mas o curso de História é mais tranquilo. É um curso base,


né? Além do mais, o que me toma o tempo mesmo é o beisebol. Essa
semana vai ser insana.

— Eu imagino. Estão todos animados para disputar o nacional ano que


vem?

— Ah, estamos — diz e os ruídos à sua volta aumentam. — Mas é um saco


porque provavelmente não vamos conseguir nos ver muito nos próximos
meses.

Eu pigarreio, sem querer entrar nesse assunto agora.

— Verdade. Mas acho que posso lidar com o Adam sozinha por um tempo.
E além do mais, devo entrar em contato com a Savannah essa semana. Ela
com certeza vai pensar em alguma coisa.

Nate fica em silêncio por alguns segundos.

— Não quero que você fique sozinha com ele — resmunga, um pouco
irritado. — Esse cara é perigoso. Tenho quase certeza de que deve haver
algum grau de psicopatia ali.

Respiro fundo.

— Também não quero ter contato nenhum com ele, mas talvez seja
necessário. As fotos que você tirou dele com a outra garota na boate de Los
Angeles não causarão tanto impacto como um depoimento de Sophie. Mas,
para que ela fale a respeito, vamos precisar investigar um pouco mais a
fundo — digo. — Ela já perdoou traição uma vez. Para que ela chute a
bunda dele, vamos precisar de mais que isso.

— Se conseguirmos provar que ele está chantageando o irmão dela será o


suficiente? — questiona com certa ansiedade na voz.

— Não tenho certeza. Até podemos tentar, mas caras como Adam saberiam
contornar essa situação. Acho que precisamos de algo ainda mais grave.

— O problema é conseguir — resmunga ele baixinho. — Leslie, vou


precisar desligar agora porque vou dirigir. A gente se fala mais tarde?

— Claro — respondo, distraída.

Depois que Nate e eu terminamos de nos despedir e desligamos o telefone,


vou caminhando na direção do banheiro. Ele está vazio, então aproveito
para dar uma checada no meu cabelo e depois de atestar que ele está mais
oleoso do que o normal, decido fazer um coque despojado no topo da
cabeça.

Estou terminando de passar um protetor labial quando escuto um barulho


vindo da porta. Franzo o cenho, confusa, porque não parece uma batida
normal.
Recolho minhas coisas com certa pressa, agradecendo ao universo por não
ter tirado tudo de dentro da minha mochila. Meu coração dispara quando o
barulho volta e eu me apresso para ir embora.

No entanto, não é suficiente.

Um corpo alto e corpulento empurra a porta de qualquer jeito, se forçando


para dentro do banheiro. Levo apenas alguns segundos para perceber que o
cabelo loiro e os músculos sobressalentes me parecem familiares.

Familiares demais.

— Sabia que ia acabar te encontrando aqui — diz Adam com uma pontada
de alegria na voz.

Me empertigo, mesmo sentindo que meu coração quer saltar pela boca. Ele
continua bloqueando a passagem e eu me mantenho calada. Só preciso
manter a calma para achar uma forma de ir embora daqui.

— Estou atrasada — digo, por fim.

Adam arqueia a sobrancelha, sem se mover um centímetro. Ele cruza os


braços na frente do peito e eu sinto um arrepio ruim na minha coluna.

— Eu prometo que serei rápido — diz, abrindo um sorriso maquiavélico


para mim. — Não sei o que você anda aprontando por aí, mas quero que
você pare. Se eu souber que você colocou alguma coisa na cabeça da minha
namorada, as coisas não vão terminar bem pra você.

— Eu não disse nada pra Sophie.

Ele solta uma risada de escárnio.

— Não disse? E por que será que ela me seguiu até a balada quando
estávamos em Los Angeles então?

Respiro fundo, ajeitando a mochila nas minhas costas.


— Eu fui atrás do Nate. Ele tinha um jogo muito importante no dia seguinte
e eu não queria que ele passasse a noite acordado. Como o telefone estava
caindo na caixa postal, decidi ir atrás dele e Sophie foi comigo.

Ele flexiona a mandíbula.

— Presta atenção no que vou te dizer, Leslie, e acho bom você prestar
atenção direitinho. Quando eu sair, independente de ser com o seu
namorado ou não, você mantém a Sophie longe do meu caminho. Estamos
entendidos?

Sei que não deveria retrucar. Sei também que Adam é muito mais forte do
que eu e um combate físico entre nós dois me deixaria com mínimas
chances de sair dessa, mas não consigo controlar a minha língua quando ele
diz coisas assim.

— Eu não sou nada pra você, Adam. E a Sophie é minha amiga. Não vou
acobertar seus casos. — Aperto os olhos. — Estamos entendidos?

Por alguns segundos, realmente acredito que ele pode acabar partindo para
cima de mim. Mas o idiota abre um sorriso sarcástico, daqueles que causam
uma sensação ruim na boca do estômago, e dá um passo na minha direção.
Não tenho escolha a não ser andar para trás, sentindo meu coração martelar.

— Eu adoro como você mostra as suas garrinhas sempre que eu falo sobre
a minha namorada. Mas me diga, Leslie, já que vocês são tão amigas… Ela
sabe que você deu pro namorado dela? Duas vezes na mesma noite, pra ser
mais específico. — Ele mostra os dentes, orgulhoso.

Sinto a bile subir pela minha garganta e acho que nunca tive tanto nojo de
mim mesma. Ainda assim, eu ergo meu queixo, porque abaixar a cabeça
para ele jamais será uma opção para mim.

— Não me orgulho do que eu fiz — balanço a cabeça, firme —, mas você


não vai conseguir transferir essa culpa pra mim. Naquela noite, apenas um
de nós era comprometido. E além do mais, eu não fazia ideia de quem você
era. Sophie quase nunca falava desse namorado dela e acho que você nunca
colocou os pés na sororidade em que moramos. — Abro um sorriso de
volta, agora mais confiante. — Já parou para pensar no por quê? Talvez a
Sophie também não quisesse que as pessoas ficassem sabendo que ela é
comprometida. Talvez ela esteja conhecendo outras pessoas também —
atiro de volta, me arrependendo quase instantaneamente.

Os olhos de Adam brilham com fúria quando ele me segura pelo braço e
me aperta contra a parede. Eu sinto o calafrio de medo varrer o meu corpo e
começo a fazer uma prece silenciosa para que seja rápido.

— Ela não é louca de me trair, Leslie — sibila ele com raiva. — Ela sabe
que tem muito a perder. Os pais dela não têm dinheiro para bancar a
faculdade dela. O irmão vai perder tudo caso seja despedido. Não importa o
que a sua língua afiada diga, ela sabe que não tem chances sem mim.

— Isso é o que você quer que ela pense — retruco em um fio de voz —,
mas não é justo.

Adam tira um fio do meu cabelo do rosto, abrindo um sorriso nojento.

— A vida nem sempre é justa, Leslie. Pessoas como a Sophie são boas de
coração e caras como eu precisam de alguém como ela. A garota para casar.
Infelizmente, às vezes elas não são o suficiente. É aí que precisamos nos
aliviar com as garotas que só servem para foder, como você — diz,
passando o dedo pelo meu pescoço lentamente.

Eu me remexo, tentando sair da situação, mas ele me prende com mais


força contra a parede.

— Se você não me soltar agora, vou gritar — aviso, sentindo a minha


garganta se fechar.

Ele inclina a cabeça para o lado, como se isso o divertisse. Adam parece
um gato brincando com um rato e isso me apavora. É como se ele não
temesse absolutamente nada.

Como vamos parar alguém assim?


— Pode gritar o quanto quiser, lindinha — ironiza, aproximando o rosto
cada vez mais do meu. Com nojo, eu desvio, inclinando minha cabeça para
o lado. — Mesmo que alguém entre aqui, eu ainda poderia fazer o que
quisesse com você, Leslie. Tenho poder o suficiente pra manter essa
universidade inteira calada, se eu quiser. E estou te avisando: fique longe da
Sophie. Daqui a alguns anos, ela vai ser a futura mãe dos meus filhos
enquanto você vai continuar a mesma caipira fracassada de sempre. Talvez
você consiga convencer o otário do Nate a colocar um anel no seu dedo,
mas depois que ele se cansar de ser traído, vai perceber a piranha que você
é. A piranha que você sempre foi. Eu farei questão de apresentar uma
mulher de verdade pra ele e ninguém se lembrará de você. Você será apenas
uma lembrança ruim da época da faculdade. — Ele ri com escárnio. —
Estou te avisando como amigo, garota. Não se meta comigo ou com a
minha mulher.

Eu mantenho meu rosto longe do dele, piscando rapidamente para que não
perceba como suas palavras cruéis conseguiram me atingir. Minha garganta
está queimando com a vontade de chorar, mas eu engulo o choro. Não vou
dar o gostinho a ele.

— É isso que nós vamos ver — respondo em um sussurro.

Adam franze o cenho.

— O que disse?

Eu viro meu rosto lentamente para encarar o seu.

— Eu disse pra você me soltar — minto, fazendo força para que ele solte o
meu braço. Isso surte algum efeito, porque finalmente estou livre.

Ele caminha alguns passos para trás, analisando nossa distância. Ainda
sinto o medo queimando por dentro e não me atrevo a tentar nenhum
movimento. Não confio nele e estou apavorada de que ele tente fazer
alguma coisa comigo.

— Espero que a nossa conversa tenha sido o suficiente, Leslie. Odiaria ter
que colocar na prática tudo o que eu já te avisei. — Ele aponta o dedo para
mim, o olhar analisando cada centímetro do meu corpo. Sinto uma
necessidade absurda de me esconder, o nojo embolando a minha garganta.
— É mesmo uma pena, sabia? Você bem que poderia aquecer a minha
cama por um tempo… Pena que não sabe ficar de boca calada.

Eu não retruco e ele estala a língua. Adam vira as costas e finalmente vai
embora, então eu sinto o ar lentamente voltar para os meus pulmões. Não
sei quanto tempo se passa até que sinto as lágrimas quentes escorrerem pelo
meu rosto, mas sei que fico ali por muito, muito tempo depois.
“ Eu não quero realmente terminar, nós fazemos acontecer”
É o que você entendeu da minha conversa
Mas você estava errado
Não é fácil pra mim falar sobre isso
The Blackest Day | Lana del Rey

Já se passaram duas semanas desde que voltamos de Barlow e Leslie não


poderia estar mais estranha. Ela não atendeu nenhuma das minhas ligações
nos últimos dias, mas tentei ficar calmo. As coisas não têm sido fáceis para
mim também. Com a nossa classificação para disputar o nacional, a
preparação começou a ficar cada vez mais intensa. E, confesso, eu também
posso ter perdido uma chamada ou outra.
Mas quando Leslie parou de responder as minhas mensagens — e
Landon não soube me explicar o motivo —, decidi que estava na hora de
descobrir o que estava acontecendo com ela. Queria poder mandar tudo
para o inferno e trancá-la numa sala para que perceba que fugir de mim não
é a melhor ideia.
É meio irônico que a garota mais livre e corajosa que eu já conheci
também seja tragicamente tão avessa a compromisso. Não quero forçá-la a
abandonar seus ideais por mim, mas quero poder ser capaz de provar para
ela que jamais a deixaria presa.
Depois de passar duas horas na academia com alguns caras do time,
decido passar em um posto de gasolina para abastecer. Aproveito a loja de
conveniência para comprar alguns chocolates e doces. Quero surpreendê-la.
Quando chego em casa, tomo um banho rápido e me troco em tempo
recorde. Chego a cogitar se ligar para ela e convidá-la para vir ao meu
apartamento não seria a melhor opção. Queria conversar com privacidade.
No entanto, a realidade me bate com força. Ela mal responde as minhas
mensagens… Provavelmente deixaria a ligação cair na caixa postal.
Não paro muito para pensar no que estou fazendo quando coloco os
doces numa mochila e enfio tudo dentro do carro. Estaciono o carro na
frente da Theta Rho Beta de qualquer jeito, subindo os degraus de dois em
dois. Estou em uma missão.
— Nate? — atende Sophie, depois que eu comecei a bater
incessantemente. — O que você está fazendo aqui?
Grunho, impaciente.
— A Leslie está?
Sophie dá um passo para trás, deixando a passagem livre para que eu
entre.
— Ei, eu seria cuidadoso se fosse você. Ela está sensível esses últimos
dias… — suspira, deixando os ombros caírem. — Não tem conversado
muito com a gente. Nem com a Landon, para ser sincera. Estamos de mãos
atadas.
Isso dispara sinais de alerta por toda a minha cabeça. Leslie não se fecha
com as pessoas, isso não faz o estilo dela. A minha garota fez a nossa
pequena cidade do sul incluir opções veganas no cardápio, pelo amor de
Deus.
Só uma coisa — ou melhor, alguém — poderia deixá-la assim. Se
sentindo… Impotente. E Deus me ajude se eu estiver certo, porque não vou
responder por mim.
— Ela não falou com ninguém? — questiono, incisivo, tentando não
transparecer a raiva que sinto na minha voz.
Sophie balança a cabeça, tristonha.
— Não. Acho que alguma coisa séria aconteceu, Nate… A Leslie não é
desse jeito.
Desvio o olhar da garota cabisbaixa, abrindo e fechando minhas mãos
com força. Meus dedos estão coçando para ir atrás do responsável por isso,
porque eu tenho certeza de quem é o culpado.
Não respondo à Sophie quando subo os degraus, focado e sentindo um
bolo no estômago. Não estou com pressentimento bom sobre o que
aconteceu com Leslie e estou morrendo de medo.
Estou com medo de ser algo irreversível.
E se ele a estu…
Não.
Não sou sequer capaz de pensar isso. Porque se eu pensar, uma fúria
cega vai tomar conta de mim e provavelmente vou amanhecer na cadeia.
Bato na porta algumas vezes, dando de cara com a Landon. Minha amiga
não esconde a surpresa ao me ver parado em sua porta e eu arqueio a
sobrancelha.
— O que está fazendo aqui, Nate? — pergunta, bloqueando a passagem.
Passo os dedos furiosamente pelo meu cabelo, frustrado.
— Por que todas vocês estão me perguntando isso? Eu não sou
supostamente o namorado? — cuspo, agora irritado. — Onde mais eu
deveria estar?
Landon suspira, dando um passo à frente e fechando a porta
delicadamente atrás de si. A cada segundo que passa eu fico mais nervoso.
Todo esse suspense e essa proteção com a Leslie só estão me deixando
preocupado.
— Talvez hoje não seja uma boa hora — responde ela simplesmente.
— Landon, eu não vou embora daqui — retruco, rangendo os dentes. —
Quero saber o que está acontecendo.
Ela coloca a mão no meu peito, empurrando delicadamente.
— Nate, eu gosto de você. E amo a minha irmã. Vocês dois juntos por
alguma razão maluca funcionam. Mas… — ela olha para os lados antes de
continuar, sussurrando: — Isso começou da maneira errada. Vocês se
enfiaram nessa história com o Adam e ele não é uma pessoa fácil de
derrotar. A Leslie encontrou ele há algumas semanas e…
— O que ele fez? — interrompo-a, estalando o pescoço. Tenho estado
tão estressado esses últimos dias, adoraria descontar toda essa raiva no rosto
daquele idiota.
Landon respira fundo, parecendo impaciente.
— Ele a ameaçou. Ela não quis contar mais detalhes, mas eu desconfio
de que não tenha sido um encontro tranquilo.
— Vou matá-lo.
— Você não vai fazer nada. — Landon aponta o dedo para mim, séria.
— Não vamos piorar as coisas pra Leslie. Quando ela decidir fazer alguma
coisa, então faremos. Até lá, vamos respeitar o tempo dela. Estamos
entendidos?
Engulo em seco, me sentindo envergonhado pela forma como falei com
ela. Estou agindo como um homem das cavernas porque a garota pela qual
estou apaixonado se recusa a falar comigo.
Porra, só preciso saber que ela está bem.
— Landon, por favor — suplico, sentindo a minha garganta arranhar.
Não posso chorar. Não posso chorar. — Eu só preciso saber como ela está.
Não vou ficar muito tempo. Eu prometo.
Minha melhor amiga respira fundo, inclinando a cabeça para o lado.
Depois, Landon deixa os ombros caírem e faz um meneio de cabeça na
minha direção.
— Vou perguntar pra ela se tudo bem você entrar. Espere aqui — avisa,
abrindo a porta e entrando no quarto.
Encosto na parede, com os olhos fixos na porta de madeira que eu já vi
tantas vezes desde que viemos para Granville, mas que agora tem uma
importância enorme. Porque atrás dessa porta está a garota da minha vida.
Landon surge poucos segundos depois e balança a cabeça, abrindo a
porta para que eu entre. Não perco mais nenhum segundo ao entrar como
um furacão, os meus olhos buscando pela imagem de Leslie em algum
lugar.
E é quase irreconhecível quando a vejo.
Ela está deitada embaixo de uma pilha de cobertores, os cabelos presos
em um coque no topo da cabeça. Seu nariz está vermelho e eu sinto a
garganta fechar ao ver a expressão amuada dela.
Não parece em nada com a minha Leslie.
— Eu vou levar o Salém para dar uma volta — avisa Landon, pegando o
gato preto que dormia confortavelmente aos pés da irmã.
Lanço um olhar agradecido para ela e Land me direciona um breve
aceno de cabeça. Depois que ela sai, cuidadosamente me sento na cama de
Leslie. Ela não move um músculo sequer. Também não esboça reação
alguma quando eu passo meus dedos lentamente pelos fios soltos do cabelo
que estão cobrindo o seu rosto.
Na verdade, é como se eu não estivesse aqui.
— Leslie? — murmuro baixinho.
Ela continua em silêncio.
— Trouxe chocolate pra você. Pensei que talvez assistir alguns episódios
das Kardashians iria te animar… — continuo, mordendo a língua para não
ir direto ao assunto.
Mas Leslie não me responde. Eu continuo parado, em silêncio, me
sentindo impotente. Não consigo pensar em nada para fazê-la se abrir e isso
é desesperador. Leslie não se fecha. Algo muito sério aconteceu.
Suspirando, coloco a minha mochila no chão. Pisco várias vezes para
dispersar as lágrimas dos meus olhos marejados e retiro a caixa de
chocolates, colocando sobre a cama dela delicadamente. Depois me
aproximo o suficiente só para deixar um beijo carinhoso em sua testa.
— Vou embora, tá bom? Só queria ter certeza de que você estava bem,
Leslie. Não consigo nem imaginar o que você está sentindo, mas, por
favor… — suplico, segurando um soluço. Pressiono minha testa em seu
ombro, sentindo a minha respiração falhar. — Não se afaste. Sua irmã e eu
só queremos que você fique melhor. — Prendo a respiração, sentindo meu
coração acelerar. — A gente te ama.
Ela arregala os olhos e eu consigo perceber isso porque seu rosto vira
lentamente. Seguro a vontade de sair gritando pelas escadas como um
maldito idiota de tanta felicidade e a encaro com expectativa.
Os olhos parecem inchados e o cabelo continua preso em um coque
bagunçado, mas Leslie delicadamente senta. Não consegue me encarar, no
entanto, e isso ainda me deixa receoso. Quero poder esticar as mãos e puxá-
la para um abraço, mas não sei até que ponto isso pode fazê-la se afastar
ainda mais.
— Não era pra você me amar, Nate — murmura em um tom de voz
trêmulo. — Não foi isso que a gente combinou.
— É meio tarde demais pra isso, não é? — Engulo em seco, sentindo
uma súbita onda de coragem. — Estávamos fadados a isso desde o começo.
Eu sempre quis você, Leslie. Sempre.
Ela balança a cabeça violentamente, ainda sem conseguir me encarar.
Seu olhar está focado em um ponto fixo e sua cabeça parece estar perdida
em pensamentos.
— Não deveríamos ter começado isso, Nate. Não vamos chegar a lugar
algum.
Eu viro meu rosto para encarar o seu, me sentindo arrasado. Sei que
alguma coisa aconteceu a Leslie e ela provavelmente ainda não processou
completamente, mas vê-la falando assim do relacionamento que estamos
construindo… Doeu. É como receber uma facada bem no meio do peito.
— Eu sei exatamente onde vamos chegar, Leslie — digo com convicção.
— Eu quero você, independente de qualquer coisa.
Ela solta uma risada sem humor.
— Mesmo que eu não seja a garota perfeita pra casar? — Ela vira o rosto
para mim e só agora consigo perceber o brilho de desespero em seu olhar.
— E se eu não quiser casar, Nate? E se eu simplesmente não for a fim de
relacionamentos? Você vai aceitar me compartilhar numa boa?
Respiro fundo, me lembrando que não é Leslie que está falando comigo.
É a versão irritada e sombria dela.
— Podemos conversar sobre isso depois…
Ela salta da cama, imersa na própria cabeça.
— Não, vamos conversar agora! Não é isso que casais fazem? — ironiza
ela, soltando uma risada sem humor. — Eu não quero um relacionamento,
Nate. Olha o que a Sophie está passando. O namorado dela a trai com todas
as mulheres que cruzam o caminho dele e adivinha? Não conseguimos fazer
nada para pará-lo, porque o cretino é um filho da puta poderoso que poderia
acabar com as nossas vidas em um estalar de dedos.
— Você está me assustando, Leslie — respondo com calma. — Você
quer conversar sobre o que aconteceu?
Ela joga a cabeça para trás, gargalhando como se eu tivesse acabado de
contar a piada mais engraçada do mundo. Depois deixa a cabeça tombar
para frente e passa as mãos furiosamente sobre os cabelos, desfazendo o
coque. Seus fios ruivos saltam livres e quando ela levanta o rosto
novamente, vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto.
Preciso segurar o choro na garganta ao vê-la nesse estado de desespero.
E mesmo sentindo o ímpeto de levantar da cama para encontrá-la, sei que o
melhor é deixá-la se acalmar sozinha. Se eu tentar segurá-la, Leslie pode se
tornar agressiva e isso não seria bom para ninguém.
— Podemos conversar sobre o que aconteceu, sim, Nate — soluça,
mostrando os dentes para mim. — Posso começar dizendo como eu acabei
indo pra cama com o namorado de uma das pessoas mais doces que eu
conheço. A Sophie não merecia isso. — Ela parece tentar engolir, mas não
consegue. — Ou eu posso conversar sobre como eu vou precisar conviver
com isso pelo resto da minha vida em silêncio, porque Adam tem todos os
recursos necessários para sair impune. E tudo isso porque eu sou, sim, uma
caipira que saiu do interior e só queria saber de festas. Pulei na cama de
todos os caras que eu queria e me enfiei nessa situação de merda sozinha.
Não é justo que eu coloque você nisso. Nem você, nem a Landon e nem
ninguém — suspira, caminhando até o outro lado do quarto e se apoiando
na parede. Os ombros de Leslie estão caídos e sua expressão resignada me
faz querer levantar da cama. — Vou cuidar de tudo sozinha daqui pra frente.
Foi bom enquanto durou, Nate, mas acho que é melhor cada um seguir o
seu caminho. Espero de verdade que os Angry Sharks vençam o nacional…
Mas não posso continuar com isso.
Por mais que eu esteja tentando, ouvi-la desistir assim não me deixa
continuar sentado como eu estava. Atravesso o quarto, decidido, sem pensar
direito no que estou prestes a fazer. Leslie solta um soluço surpreso quando
eu a imprenso na parede, tomando o cuidado para não machucá-la, e seguro
seu rosto delicadamente com ambas as mãos.
— Não me importo com o que você esteja falando na hora da raiva,
Leslie, mas pode acreditar em uma coisa — murmuro baixinho. — Não vou
desistir de você. Não importa o quão difícil seja e, porra, se eu precisar
sacrificar a minha carreira para que você consiga se livrar desse cara, eu
faço. Não me importo com nada disso, Leslie. Me apaixonei por você assim
que coloquei os olhos nas sardas do seu nariz. Quando vi como o seu cabelo
ruivo fica quase laranja na luz do sol. Pelo som estridente da sua risada e
também pela forma em que você vê os animais. Eu te amei em silêncio por
todos esses anos e foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Precisei te assistir
com outros caras e ouvir as suas experiências quando você fingia que eu
não existia — grunho, completamente frustrado. — Então não importa o
quão impossível pareça ser. Não importa se esse cara quiser acabar com a
gente. Eu te amo. Não vou te deixar.
Leslie fecha os olhos com força e uma lágrima escorre por sua bochecha.
Ela limpa rapidamente com a mão e me encara, boquiaberta. O Nate de
poucos minutos atrás poderia achar que talvez tivesse exagerado na
declaração, mas o de agora só precisa que ela saiba que não venho aqui para
ser só mais um. E ele veio para ficar.
— Queria que eu tivesse percebido isso antes, Nate — responde ela com
a voz embargada. — Por que eu fui tão fútil, teimosa? Por que eu não
percebi que você sempre esteve ali? Se eu tivesse percebido antes, nada
disso teria acontecido.
Suspiro, frustrado. Continuo acariciando seu rosto como uma forma de
mostrar que estou aqui com ela independente de qualquer coisa.
— Eu acredito que as coisas acontecem como devem acontecer. Não
acho que nada seja por acaso — resmungo. — Talvez, se não fosse você
com Adam naquela noite, o futuro de Sophie fosse diferente. Já pensou? Ela
se casaria com ele e jamais saberia com quem ela vive de verdade. O azar
desse cara foi ter cruzado com a menina mais verdadeira e obstinada que
existe — brinco, vendo-a abrir um mini sorriso. — Ele está desesperado
porque está vendo que você não vai desistir, amor. Não sei o que ele te
disse, mas posso te garantir que nada daquilo é real. O babaca está com os
dias contados e sabe disso.
Ela desvia o olhar do meu, nervosa.
— Ele disse que um dia você perceberia a piranha que eu sou e me
largaria. E que, quando isso acontecesse, ele iria te apresentar uma mulher
de verdade. Ele também disse que Sophie é o tipo de mulher certa para
casar enquanto eu… — Seu olhar cruza o meu e o brilho da dor estampado
no dela me enche de raiva. — Eu sou a garota que os caras usam para se
divertir antes de casar.
Respiro fundo, me concentrando no ar entrando e saindo dos meus
pulmões. Preciso apertar meus punhos algumas vezes para controlar o ódio
que vem sobre mim em ondas.
Quero matá-lo.
Quero acabar com a existência dele por fazer Leslie pensar em algo
assim. Por ousar fazer a garota mais sorridente que conheço chorar. Quero
que ele se arrependa de ter olhado na direção dela.
Quero Adam dizimado.
— Leslie, olha pra mim — peço, erguendo seu queixo com cuidado. Seu
olhar me diz o quanto ela está ferida e isso me aperta o peito. — Um dia, eu
vou te levar no vestiário. Quero que você escute algumas das façanhas que
meus colegas de time vivem se gabando. Orgias, práticas de BDSM, um
deles transou com irmãs gêmeas. Ao mesmo tempo. E sabe o que eu tenho a
ver com isso? Absolutamente nada. Eles são solteiros, o sexo é consensual e
estão vivendo suas vidas. Você acha que Adam pensaria menos deles pelo
estilo de vida que levam? — questiono e Leslie nega lentamente com a
cabeça. — Exatamente. Ele não estaria nem aí. Porque pra ele os caras
podem fazer o que quiserem. E garotas como você, que não se importam
com a opinião de ninguém, o assustam. Ele gosta de manipular e estar no
controle, e isolar a Sophie é o que ele precisa para que ela esteja presa pra
sempre com ele. Sabe o que está impedindo Adam de ser bem sucedido? —
Leslie balança a cabeça novamente. Eu prendo a respiração. — Você, meu
amor. Então não pense um segundo que as palavras de Adam tem a ver com
você, porque ao contrário dele, você jamais enganou alguém. Isso é tudo
sobre ele e somente sobre ele, tudo bem?
Leslie começa a acenar freneticamente a cabeça, engolindo o choro.
Pressiono os lábios levemente nos dela e a minha menina se derrete nos
meus braços. Eu a embalo, sentindo minha garganta travar ao me dar conta
de que ela começou a soluçar em mim.
Eu a abraço com mais força.
Ficamos ambos assim por muito tempo. Eu segurando-a com força
contra mim enquanto Leslie me usa de apoio para se desmanchar. Quando
ela se recompor, vou querer saber detalhadamente sobre tudo o que
aconteceu. E dependendo da gravidade, vou querer cuidar disso sozinho.
Agora, no entanto, o mundo lá fora deixou de existir. E no meu universo
só existe ela.
Mulheres sempre dão a volta por cima
Mulheres sabem o que as pessoas querem
Alguém meigo, e gentil, e divertido
A mulher simplesmente estava farta
Vigilante Shit | Taylor Swift

— Você transou com o meu namorado? — grita Sophie com os olhos


vermelhos. A porta do quarto está aberta e ela está segurando uma travessa
de cookies recém-assados.
Nate enrije na hora e sinto seus braços me apertarem um pouco mais.
Meu coração parece querer saltar pela boca a qualquer momento e meus
olhos permanecem focados na cena que jamais sairá da minha memória.
Sophie está com os olhos marejados, a boca entreaberta e a respiração
saindo em lufadas rápidas. É como assistir alguém em estado de choque.
— Sophie… — começa Nate com um tom consternado na voz. No
entanto, nem mesmo ele tem palavras para consertar o estrago que já está
feito.
Ela sabe.
E vai me odiar pelo resto da vida.
— Como você pôde? — pergunta ela com a voz embargada.
Seu olhar acusador é como levar uma bofetada na cara. De repente é
como se não houvesse ar suficiente para nós duas e minha amiga deixa a
bandeja com os biscoitos caírem no chão.
O barulho me faz pular.
Sophie corre de volta para o seu quarto que, por ironia do destino ou não,
fica de frente para o meu. Ainda estou em choque e tentando processar o
que acabou de acontecer quando Nate solta um suspiro, os braços
começando a afrouxar ao meu redor.
— Quer que eu fale com ela? — questiona ele com pesar na voz.
Eu afundo meu rosto em seu pescoço cheiroso, fungando sua pele como
se fosse a última vez que eu pudesse fazer isso. Ele volta a me abraçar
apertado e ficamos assim por um bom tempo. Até eu tomar coragem para
me soltar da proteção dos seus braços e murmurar, resignada:
— Preciso falar com ela. Sophie precisa saber por mim o que está
acontecendo — respondo, cabisbaixa. — Se ela falar com o Adam, ele…
— Shhhh… — Nate afaga meu cabelo de maneira protetora. — Não se
preocupe com esse idiota, Leslie. Ele não pode fazer nada com você. A
prioridade agora é a Sophie e tenho certeza que ela vai entender. Ela é uma
menina incrível.
Será mesmo?, quero perguntar, mas a resposta de Nate não mudaria. Não
sei quando invertemos os papéis e ele passou a ser a pessoa que acredita
que tudo vai dar certo no fim enquanto eu duvido.
— Tenho medo… — murmuro, sem ter certeza de que quero que ele
escute.
Nate continua fazendo carinho no meu cabelo.
— Eu sei que você tem medo, amor. Mas eu também tenho certeza de
que tudo vai dar certo.
Suspiro.
— Não sei se falo com ela agora ou espero ela se acalmar — respondo,
sentindo meu coração acelerar. Estou me sentindo péssima.
Nate me afasta o suficiente para conseguir me encarar nos olhos e eu
esmoreço na mesma hora. A forma afetuosa que ele me encara, em um
misto de encorajamento e amor, me desarma.
— Eu entendo você se sentir assim, mas espero que saiba que só existe
um culpado nessa história. E não é nenhuma de vocês.
Abro um sorriso, embora não consiga fazer a angústia me deixar.
— Eu sei.
Nate faz um aceno positivo com a cabeça e então eu me afundo em seu
abraço novamente.
No dia seguinte, faço questão de acordar cedo. Depois que Sophie
descobriu sobre Adam e eu, Nate se ofereceu para me levar até seu
apartamento. Eu não estava muito afim de dormir longe da minha irmã, mas
achei que seria uma boa ideia para dar à Sophie mais privacidade e espaço.
Quando ele acordou para ir ao treino, eu já estava de pé. Nate estranhou
a princípio, porque eu costumo dormir até o último segundo. No entanto,
quando nos encaramos, ele pareceu entender.
Eu precisava encará-la.
A sororidade está tão silenciosa essa manhã que é estranho pensar que
várias meninas moram aqui. Não tenho contato com a maioria delas além de
um aceno educado pela manhã ou mesmo quando nos reunimos para decidir
as compras do supermercado.
Parece uma casa fantasma e isso me dá arrepios.
Ainda não são nem sete da manhã, mas eu tenho certeza que Sophie já
está acordada. Na ponta do pé, vou subindo as escadas. Não quero acordar
mais ninguém para testemunhar a conversa mais difícil que terei.
Quando paro em frente à porta marrom, respiro fundo. Jamais imaginei
que a minha “vizinha” de porta um dia estaria chorando do outro lado por
minha causa.
Bato na porta algumas vezes, mas nenhum som sai de lá. Não consigo
impedir a onda de frustração que vem sobre mim e tento mais algumas
vezes até finalmente desistir.
Viro as costas para entrar no meu quarto quando escuto uma voz
cansada, praticamente trêmula, perguntar:
— Quem é?
A voz inconfundível de Sophie me enche de alívio.
— Sou eu, Sophie — respondo, morrendo de medo.
Ela volta a ficar em silêncio enquanto eu espero do outro lado da porta,
com os dentes sobre os lábios, mordiscando minha própria boca. Por um
segundo chego a pensar que a sua resposta breve é tudo o que ela será capaz
de me dar quando, de repente, a porta se abre.
— O que pensa que está fazendo aqui? — minha amiga questiona, os
olhos vermelhos e as olheiras profundas não me deixam dúvidas de como
foi a sua madrugada.
Sei disso porque meu rosto está igual. Foi uma noite de merda e tudo o
que eu pensei era em como conversar com Sophie.
— Precisamos conversar — digo, deixando meus ombros caírem.
Sua expressão brava se intensifica e Sophie range os dentes. Depois
murmura um “não temos nada para conversar” e tenta bater a porta na
minha cara, mas eu a impeço com o braço. Seus olhos caem sobre a minha
mão e ela lança um olhar furioso na minha direção.
— Não basta ter trepado com o meu namorado, hein? Você precisa vir
até aqui para me humilhar?
Abro a boca, em choque.
— Como você pode pensar uma coisa dessa de mim? — arfo,
embasbacada.
Sophie, no entanto, me lança um olhar sarcástico.
— Como eu não pensaria, Leslie? Passei essas últimas semanas mais
próxima de você do que qualquer pessoa e agora eu finalmente descubro o
motivo. Você transou com o Adam e provavelmente se aproximou de mim
porque queria me envenenar contra ele. Achou que o meu namorado me
largaria para ficar com você? — O brilho triste em seu olhar lentamente é
substituído por um vitorioso. — Ele me ama e você não vai conseguir nos
separar.
Chega.
Não consigo passar mais um minuto escutando isso.
Rangendo os dentes, empurro a porta com tudo para frente. Sophie
cambaleia e dá um passo para trás e eu aproveito seu desequilíbrio para
entrar em seu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Ela me encara, nervosa.
— Dá o fora do meu quarto!
— Não antes de conversarmos — retruco, agora irritada. — Se você
acha que o seu namorado te ama, só posso sentir muito por você. Quem
ama não trai, Sophie. E não adianta achar que eu sou a culpada, porque
antes de mim você já havia descoberto uma traição. Stella era o nome dela,
não é?
Ela cruza os braços na frente do corpo, completamente brava.
— Como eu vou saber se a Stella não era você, Leslie? Você não passa
de uma mentirosa!
Respiro fundo.
— Mentir é diferente de omitir. Não estou me colocando no papel de
vítima porque eu sei que não sou. Mas quero que saiba que quando eu fui
pra cama com o seu namorado, eu não fazia ideia de quem ele era. Adam
vivia dando em cima de mim quando eu participava das festas na
fraternidade dele, embora eu sempre recusasse. Uma noite, uma maldita
noite, eu acabei me dando por vencida. Cheguei aqui pela manhã e
conversamos… — Desvio meu olhar do seu, envergonhada. — E foi
naquela conversa que você me contou sobre o seu namorado. Você nunca
nos disse que tinha um, como eu adivinharia quem ele era?
Seu olhar vacila por um segundo, mas ela logo o endurece novamente.
Não vai ser fácil reconquistar a confiança dela, mas eu não pretendo
desistir.
— Foi naquele dia? — pergunta.
Assinto lentamente, exausta.
— Sim, foi naquele dia. Eu só descobri quem ele era mais tarde. E aí
quando vim contar pra você a respeito, você estava chorando porque
descobriu outra traição. Foi ali que eu soube que esse cara é um canalha.
— Por que você não me contou? — questiona ela, o olhar decepcionado
ainda focado em mim. — Se tudo isso é verdade, não existia motivo para
você esconder essa história de mim.
— Eu queria te contar, Sophie. Mas depois que eu vi você chorando por
causa daquele traste, decidi acertar as contas com ele. Não sei porque… —
suspiro, me recostando na parede atrás de mim. — Acho que, no fundo,
pensei que talvez ele fosse uma pessoa mais decente. Mas a nossa conversa
não foi exatamente como eu esperava.
Minha amiga franze a testa, confusa.
— Como assim?
Eu vou escorregando lentamente até me sentar no chão. Acho que não
conseguiria esconder meu cansaço nem se tentasse e é por isso que parei.
Ela precisa ver como isso também está me destruindo.
— Ele achou que eu estava lá porque queria mais — começo,
envergonhada. — Depois que contei que sabia quem ele era e que pretendia
conversar com você, ele me ameaçou. Primeiro jogou na minha cara que a
sua família não tem condições de manter você em Granville e que a família
dele custeia tudo. Depois comentou sobre o seu irmão mais velho e como a
carreira dele só está deslanchando por intermédio dele… — Desvio o olhar
para o chão, sentindo meu rosto esquentar. — E, por último, ameaçou a
minha irmã. Disse que se eu contasse alguma coisa pra você, ele iria fechar
todas as portas pra ela. Você sabe que a Landon ama a engenharia de
paixão, não sabe? — Ela faz um pequeno aceno com a cabeça e eu
prossigo: — Eu não conseguiria destruir todas as oportunidades dela,
Sophie. Eu não conseguiria viver com isso.
Minha amiga abre um sorriso triste, daqueles que não chegam aos olhos,
e deixa os ombros caírem.
— Então você decidiu por mim. Não ia mesmo me contar? — pergunta
Sophie com a decepção latente na voz.
Eu me coloco de pé em um segundo, negando lentamente com a cabeça.
— Eu jamais faria isso com você. Só estava tentando resolver tudo por
outro caminho.
— O que você quer dizer?
Suspirando, tiro meu celular do bolso com rapidez, procurando nos meus
arquivos os vídeos que Nate me enviou depois da nossa viagem a Los
Angeles.
— Tínhamos um plano. Nate começou a fingir que era meu namorado
depois que Adam me emboscou em uma das festas que demos aqui —
explico, me sentindo aliviada por finalmente poder compartilhar com ela
tudo o que vinha acontecendo. — A gente começou o namoro falso porque
Adam é obcecado com o time de beisebol da universidade. Nosso objetivo
era conseguir achar algo que pudéssemos usar para chantageá-lo… —
Sophie arregala os olhos, boquiaberta. Eu dou de ombros. — Olha, eu
nunca disse que tínhamos um plano bom. Mas, de qualquer forma, isso não
funcionou. O seu namorado é realmente bom em esconder os próprios
podres. A única coisa que encontramos foi isso… — Mostro o celular para
ela e Sophie fica impassível ao assistir aos vídeos que Nate fez de Adam na
balada. Ele está flertando com uma garota realmente linda enquanto ela está
sorrindo para alguma coisa que ele acabou de sussurrar em seu ouvido. —
Não é bonito de se ver, mas esse é o motivo do Nate ter saído com ele um
dia antes da final. Queríamos pegá-lo fazendo algo ilegal, mas infelizmente
ele não passa de um canalha. Eu ia te contar, Sophie, eu juro. Mas…
Ela levanta o olhar para encontrar o meu.
— Ainda tem mais?
Mordo meu lábio inferior.
— Infelizmente sim. Na semana passada, ele me emboscou. Eu estava no
banheiro feminino e ele… — Minha voz embarga e eu pigarreio, tentando
soar firme. — Ele me ameaçou mais uma vez. Por um segundo, cheguei a
pensar que o pior iria acontecer.
Ela solta um soluço, colocando as mãos sobre a boca e dando alguns
passos para trás. Sophie está com os olhos cheios de lágrimas quando se
aproxima de mim novamente.
— É por isso que você ficou tão mal durante esses dias? Por causa…
Dele? — Eu confirmo com a cabeça e ela me encara, chocada. — Leslie,
ele fez alguma coisa com você?
— Fisicamente? Não. Mas o que importa nessa história não sou eu,
Sophie. E sim você.
— É claro que você importa, Leslie. Não acredito que você aguentou
tudo isso calada.
Dou de ombros, sentindo o peso das mentiras saírem de mim. Agora não
importa mais o que ele pode fazer, porque Sophie sabe de tudo.
— Eu estava planejando te contar depois que voltei de Barlow, mas acho
que estava esperançosa de conseguir uma vantagem contra ele. Não quero
que você arruine a sua vida — confesso.
Ela inclina a cabeça para o lado.
— Eu não vou arruinar a minha vida. Minha família não tem dinheiro
para me bancar aqui, é verdade. Sempre achei muito gentil a família de
Adam pagar a mensalidade pra mim… — Respira fundo, abrindo um
sorriso. — Mas ainda estou na fila de espera de Yale. Quando eu contei pra
você que ele disse que seria uma péssima ideia a tentativa de cursar
Medicina, eu também menti. A verdade é que eu apliquei com bolsa
integral, mas decidi vir para Granville porque queria tentar. Parecia errado
desistir de tudo que conquistei com ele por uma carreira, mas agora me
sinto melhor. Acho que estou livre.
Meus olhos estão começando a marejar, então decido limpar a garganta.
— E os seus pais? E o seu irmão?
— Meus pais com certeza vão ficar mais felizes se verem que estou
seguindo meu sonho. Vou cursar história em Yale e depois entrar para a
faculdade de Medicina. E o meu irmão é o cara mais competente desse
estado. Se ele for despedido, quem vai perder é a empresa. Todos os anos
ele recebe ofertas de empreiteiras concorrentes — diz, abrindo um sorriso
de canto.
— Eu me sinto tão idiota agora, Sophie — desabafo, balançando a
cabeça. — Eu só queria te proteger…
Ela me segura pelos ombros.
— Você fez bem. A chance de eu ter achado que você era uma grande
mentirosa há um tempo atrás seria grande. De certa forma, você foi
responsável para que eu sentisse vontade de ir embora daqui.
Franzo o cenho, virando-me para ela.
— Eu?
Sophie sorri novamente para mim.
— Adam nunca deixou que eu tivesse contato com muitas pessoas, então
basicamente era só eu, ele e os amigos dele. Nunca tive um casal de amigos,
por exemplo. Mas desde que você e o Nate começaram a namorar… Ou
começaram a fingir — ela mostra a língua, fazendo uma careta —, eu pude
começar a perceber coisas que eu não tinha. A forma carinhosa que o Nate
sempre olha pra você, a preocupação. E quando você fala dele, Leslie, seus
olhos brilham. Existe um respeito mútuo que é difícil de explicar. Isso ficou
ainda mais evidente quando fomos na balada. — Ela coloca uma mecha de
cabelo atrás da orelha. — Eu não queria ir porque sabia que o Adam ficaria
muito irritado por me ver lá, mas você foi. Sem medo, sem preocupação. E
quando vocês brigaram, ele não gritou com você ou chorou para te
manipular. Vocês voltaram para o hotel e se resolveram como adultos. E…
Eu quero isso.
Engulo a vontade de chorar quando encaro Sophie, que a cada palavra
dita parece tirar um enorme peso do peito.
É difícil de explicar o misto de sentimentos que me acomete de uma vez,
então faço a única coisa que consigo: a puxo para um abraço apertado. Não
há lágrimas, nem sussurros e nem o som de nossas vozes, mas o sentimento
de alívio está implícito no ar.
Estamos livres.
— Espera aí… — Sophie se afasta de mim, abrindo um sorriso travesso.
— Nós vamos deixar que ele escape dessa fácil assim?
Estreito os olhos em sua direção, confusa.
— Você quer se vingar?
— Ah, mas com certeza — responde ela, soltando uma risada. — Ele
não pode se safar dessa livremente. Além do mais, acho que não vai ser tão
fácil terminar com ele.
— Eu tinha um outro plano, seria a minha última tentativa — digo como
quem não quer nada. — Se esse plano falhasse, eu iria te contar sobre tudo.
Tive a ideia depois de conhecer a Savannah, lembra dela? A que tem quatro
namorados?
Sophie balança a cabeça.
— Minha heroína.
— De todas nós — concordo, sorrindo. — Ela está terminando a
faculdade e eu tive a ideia de chamá-la para montar um dossiê contra
Adam. Seria um ótimo trabalho para concluir o curso e um furo jornalístico
que garantiria a vaga em qualquer jornal do país. Na verdade, eu estava
pensando em encontrá-la na semana passada. Antes de… Você sabe.
Sophie engole em seco, os olhos brilhando com fúria.
— Adam vai se arrepender de ter se metido com a gente — diz ela
entredentes. — E eu adorei a ideia. Acho, inclusive, que posso contribuir
com algumas coisinhas nesse dossiê.
— O que você tem em mente?
A garota loira que fez cookies para eu me sentir melhor não parece estar
mais aqui na minha frente quando Sophie abre um sorriso maquiavélico.
Depois, se empertigando, ela diz:
— Eu acho que ainda tenho o número da Stella. Tá afim de começar uma
caçada?
Solto uma risada, concordando com a cabeça.
— Com certeza.
E se eu te dissesse que sou uma mestra da manipulação?
E agora você é meu
Foi tudo calculado
Porque eu sou uma mestra da manipulação
Mastermind | Taylor Swift

Eu espero a Landon terminar sua próxima jogada antes de decidir meu


próximo passo. Já faz um bom tempo que não jogamos uma partida de
xadrez e eu tenho sentido falta.
— Então… — começo, vendo-a erguer os olhos azuis para mim. Ela está
usando uma camiseta regata cortada, o que significa que suas tatuagens
estão completamente à mostra. — Como estão as coisas?
Ela dá de ombros, esperando pacientemente que eu mova uma das
minhas peças para que ela possa dar o seu contra-ataque.
— A faculdade vai bem. Algumas matérias são mais difíceis do que
outras, mas não é nada que eu não estivesse esperando. E como anda a
preparação para Oklahoma?
Era essa a deixa que eu precisava para entrar no assunto que eu queria.
Passo os dedos pelo meu cabelo, nervoso, e o olhar perspicaz de Landon
percebe na mesma hora.
— Tão ruim assim?
Suspiro.
— O treino vai bem. Vamos ter alguns jogos amistosos no início do ano
que vem, então acho que estaremos bem para disputar o nacional. A questão
não é essa.
— E qual é?
— A sua irmã é a questão — desabafo, me recostando na cadeira.
Estamos no restaurante que costumamos frequentar toda semana, acabamos
de comer a melhor costelinha de barbecue dessa cidade e nem isso
conseguiu melhorar o meu humor. — Não sei em que pé estamos, Landon.
Quero dizer, estávamos bem. Eu já estava considerando ela a minha
namorada…
— Eu também estava — diz ela, sem esboçar reação.
— Obrigado. Mas, como eu estava dizendo, pra mim já éramos um casal.
Só faltava a conversa, sabe?
— E agora ela se afastou? — arrisca Landon, com um olhar de quem
sabe das coisas. Eu concordo com a cabeça e ela suspira. — Nate, vocês
começaram isso com um objetivo, não foi? E pelo que eu ouvi da minha
irmã essa semana, ele está sendo cumprido. Ela e Sophie estão em uma
verdadeira missão. Quando tudo se acalmar, eu tenho certeza que vocês vão
conversar.
— Acho que estou com medo — confesso, desviando o meu olhar de
vergonha. — Talvez ela perceba que eu fui apenas um consolo quando ela
estava precisando e tudo bem. Só preciso me preparar, acho.
Landon me lança um olhar curioso antes de mover seu peão duas casas
para frente.
— Eu acho que você não deve ter passado tempo o suficiente com a
minha irmã se acha que ela seria capaz de algo assim. A questão com a
Leslie, Nate, é que agora ela está focada. Quando enfia algo na cabeça, não
tem como parar. E no momento ela só quer ver o Adam destruído. Depois
disso ela vai voltar a fugir para o seu apartamento no meio da noite — diz
ela, estreitando os olhos para mim.
Ops.
É, bom, de vez em quando Leslie e eu precisamos de privacidade. Ainda
mais quando ela veio comentar algumas das “experiências” que Savannah
contou que teve com os quatro namorados em um quarto de hotel.
Preciso manter a minha garota satisfeita, mas aposto que Landon não vai
querer escutar isso da própria irmã.
Limpo a garganta.
— Eu só estou preocupado. Não estamos passando tanto tempo juntos
por causa da minha nova rotina e agora que ela começou a ignorar as
minhas ligações, senti que algo pode estar errado.
Landon faz uma cara engraçada, como se não conseguisse acreditar no
que está ouvindo.
— É estranho ouvir você falar assim da Leslie. Eu lembro como vocês
dois pareciam desconfortáveis quando eu saia da sala e deixava os dois
sozinhos.
— Acontece que a sua irmã é o amor da minha vida, Land. Só preciso
lembrar a ela como eu sou gostoso de uniforme.
— É, aposto que isso iria funcionar… — murmura ela, irônica. — Mas é
sério, não precisa se preocupar, Nate. Você mesmo disse que também está
ocupado e a Leslie tem sido muito compreensiva. Acho que está na hora de
você fazer o mesmo.
Por mais que eu odeie admitir, Landon está certa. Não é justo eu me
preocupar com o futuro da nossa relação quando Leslie está focada em
acabar com o babaca mais desprezível que já conhecemos.
Só espero poder tê-la de volta quando tudo isso acabar.

No dia seguinte à minha conversa com a Landon, decido implorar para o


treinador para que eu saia um pouco mais cedo. Ele me fez prometer que eu
iria ficar duas horas a mais amanhã, mas valeria a pena.
Pesco meu celular do bolso e envio uma mensagem apressada para Land:
Nate: tem certeza que ela está em casa?
Minha melhor amiga não demora mais do que dois segundos para me
responder.
Landon: sim, decidiu matar aula.
Bato na porta da Theta Rho Beta e é como um dejá vù. A diferença é que
quem abre a porta agora não é Sophie, mas sim uma garota de cabelos
castanhos que eu ainda não conhecia. Ela me reconhece como “o namorado
da gêmea maluca” e me deixa subir.
Quando entro no quarto de Leslie, encontro-a dormindo profundamente.
Não consigo esconder o sorriso ao vê-la tão pequena na cama de solteiro
desarrumada, os cabelos ruivos uma bagunça entre os travesseiros.
Me aproximo devagar, me abaixando o suficiente para deixar um beijo
carinhoso em sua testa. Ela resmunga, sonolenta, e lentamente começa a
abrir os olhos azuis mais lindos para mim.
Como pode alguém ser tão linda assim? A visão dela literalmente me
deixa sem fôlego.
— Bom dia — murmura, coçando os olhos. — Que horas são? Eu acho
que avisei à Landon que eu iria matar aula. Eu sei, eu sei, não é legal. Mas
eu juro que a aula de hoje era só teoria e eu vou ter que ler os livros de
qualquer maneira, não é?
Prendendo a risada, começo a fazer um cafuné carinhoso no couro
cabeludo dela. Leslie se aproxima ainda mais da minha mão, como uma
gatinha, e eu abro um sorriso.
— Eu sei que você não vai pra aula, diabinha. Quero levar você para um
lugar.
Leslie pisca lentamente por alguns segundos. Depois faz uma careta.
— Diabinha?
Encolho os ombros.
— Não consegui pensar em mais nenhum apelido que se encaixasse. Nós
não temos apelidos fofos e bregas.
Ela finge pensar na questão por alguns segundos e a visão dela toda
preguiçosa embaixo de mim é quase tentadora demais para suportar.
— É verdade, precisamos pensar em um apelidinho fofo. Eu posso ser a
diabinha e você o tubarãozinho, se for pra ser tudo no diminutivo.
Eu procuro o travesseiro mais próximo e uso-o como uma arma nela, que
solta uma risada alta.
— Não tem nada de diminutivo aqui, Leslie — brinco, soprando perto do
seu rosto. — Eu aceito você me chamar de tubarãozão.
Ela empurra o travesseiro para o lado, abrindo um sorriso cheio de
dentes para mim.
— Você é tão cafona. Eu adoro.
Sinto meu coração palpitar. Passei os últimos dias angustiado e
morrendo de medo dela perceber que não está tão afim de mim quanto
pensava e agora o alívio vem como ondas.
Me aproximo para roubar um beijo rápido de seus lábios e ela segura a
gola da minha camiseta, me puxando para mais perto.
Porra, ainda bem.
— Ei, quero levar você em um lugar. Acha que pode se arrumar em
cinco minutos?
Leslie levanta a sobrancelha, curiosa.
— Depende do lugar. É casual, esportivo, de gala?
— Meu Deus, Leslie. De gala? Sério? Acho que você esqueceu que está
saindo com um caipira.
Ela finge um suspiro dramático.
— É verdade. Onde um caipira me levaria, então? Vamos comer milho
assado em um desses restaurantes temáticos?
Solto uma risada anasalada, bagunçando seus cabelos com as pontas dos
dedos.
— Também não precisa pegar pesado. Tem um lugar que fica a poucos
quilômetros daqui. Uma espécie de fazenda. Os caras do time já alugaram
algumas vezes para dar festas e eu entrei em contato com o proprietário se
não seria possível reservar uma tarde para nós dois. Tem muitas árvores, o
lugar é imenso. Achei que poderíamos fazer um piquenique.
Ela pisca os olhos azuis.
— Está falando sério?
— Sim. Eu sei que deveria ter mandado mensagem antes, mas conversei
com a Landon ontem e ela deixou escapar que você estava planejando
matar aula. Eu sei que estive ocupado com o meu novo horário dos treinos,
sem contar a faculdade. — Faço uma pausa por alguns segundos. — Eu
estava com saudades.
Leslie abre um sorriso carinhoso, se apoiando nos cotovelos para se
aproximar do meu rosto. Quando seus lábios resvalam nos meus, deixo um
gemido de prazer escapar. Acho que nunca vou me cansar de beijar essa
garota.
— Eu também — confessa e sinto meu coração amolecer. — Acho que
consigo me arrumar rápido. Você espera aqui?
Faço que sim, mesmo não prestando muita atenção no que ela está
falando. Os lábios tentadores de Leslie estão muito próximos e, quando
percebo, já estou me abaixando para mais um beijo.
Ela, no entanto, me empurra.
— Preciso tomar banho primeiro e escovar os dentes. Você consegue
esperar, não é, tubarãozão?
Solto um grunhido, me jogando ao seu lado na cama. Leslie agora está
gargalhando e eu não consigo esconder o meu sorriso também.
— Você nunca vai me deixar esquecer disso, vai? — pergunto, fingindo
uma cara de arrependimento.
— Não vou mesmo — responde, sorrindo.

Depois de quase uma hora, finalmente estamos no meu carro a caminho


da fazenda. Teríamos saído de lá mais cedo se Leslie não tivesse escolhido
uma roupa tão sexy. Ela está usando uma saia jeans colada, junto com uma
blusa de alcinha branca e uma camiseta xadrez que amarrou na altura do
umbigo. Ela saiu de dentro do banheiro brincando que era uma “cowgirl
sexy” e foi demais para mim.
Me ajoelhei em sua frente enquanto Leslie levantava aquelas pernas.
Depois de passar bons minutos com a minha cara entre suas pernas, fiz
questão de comê-la contra a parede. Tenho quase certeza que todas as
meninas da sororidade devem ter escutado os gemidos da minha garota,
mas sinceramente? Não me importo.
Quando chegamos na fazenda, abro um sorriso ao ver a expressão
maravilhada de Leslie. Mas, em sua defesa, o lugar é realmente
impressionante. Grama verde, muitas árvores e uma propriedade
impressionante. O sol está brilhando e não há uma nuvem no céu, o que faz
com que a vista se assemelhe a um desses filmes de romance em que a
mocinha vai para o interior e acaba se apaixonando por um cowboy.
— Meu Deus, Nate! Tem até uma piscina — exclama, passando os olhos
por todos os lugares. — A gente pode entrar?
Abro um sorriso, buscando sua mão. Entrelaço nossos dedos enquanto
continuo dirigindo pela propriedade.
— Claro que podemos. Esse lugar é nosso por hoje.
— Você é incrível. Como eu podia te achar insuportável há tão pouco
tempo?
Não consigo segurar a risada e ela me acompanha.
— Acho que eu realmente era um cara chato com você. Tesão reprimido
é uma droga. Mas acho que estou te compensando agora e isso é tudo que
importa.
— É mesmo. Está usando essa língua, esses dedos e esse pau direitinho
— brinca ela e eu sinto meu rosto esquentar. Merda. Achei que já tinha
superado as brincadeiras sexuais de Leslie. — Eu adoro como você sempre
fica vermelho quando eu falo safadeza pra você.
— Você é terrível, garota.
— Sou sim, mas só pra você.
— Acho bom. — Estreito os olhos, fazendo uma cara de bravo. — Vou
estacionar por aqui e arrumar o chão. Depois que a gente comer, podemos
explorar o lugar. Que tal?
Ela concorda rapidamente com a cabeça e eu faço como o combinado.
Depois de estendermos a toalha xadrez sobre a grama e despejar por cima a
comida que eu trouxe, nós dois nos sentamos.
Leslie está mesmo com fome, pois passa os primeiros dez minutos
concentrada em se alimentar. Ela murmura que não tomou café da manhã e
que às vezes pula uma ou outra refeição e eu me irrito.
— Você precisa se alimentar direito, Leslie — digo, balançando a
cabeça. — Não acredito que vou precisar casar com você para ter certeza de
que você está comendo.
Ela arregala os olhos para mim.
— Estamos falando de casamento agora, huh?
Merda.
A frase saiu tão facilmente pelos meus lábios que eu nem parei para
pensar em como soaria. Mas, como ela não parece abalada e até fez uma
gracinha a respeito, decido continuar no assunto.
Não aguento mais ficar no escuro.
— Sobre isso… — Limpo a garganta, me ajeitando melhor. Leslie está
devorando um pão com geleia de morango e eu me perco por alguns
segundos ao perceber como o doce escorre no cantinho de sua boca. —
Acho que precisamos conversar sobre nós.
Ela lambe a ponta do dedo, o que me faz engolir em seco. Estou me
coçando para limpar o maldito cantinho com a língua, mas me mantenho
onde estou.
— O que você quer dizer com isso?
Bom, lá vai.
— Quero namorar com você, Leslie. Sei que temos um relacionamento
exclusivo e que a princípio não iríamos rotular, mas eu preciso saber que
você é minha. Preciso ter certeza de que você não vai a lugar algum.
A mão que segura o pão com geleia que estava a centímetros de sua boca
para e ela trava completamente.
Porra.
— Não quero te pressionar — me apresso, sentindo a minha garganta
começar a arranhar. — Só acho que precisamos definir algumas coisas.
Leslie coloca a pizza novamente dentro da cesta do piquenique e eu a
encaro, ansioso. Em seguida, ela levanta os olhos azuis para me encarar, e
eu prendo a respiração.
— Achei que já tínhamos definido isso — responde ela, arqueando a
sobrancelha.
Eu congelo.
— Como assim?
Leslie dá de ombros.
— Eu já estava considerando você o meu namorado. Fala sério,
passamos o feriado de Ação de Graças juntos, Nate. Fui pra casa do seu pai
e você me comeu no seu quarto de quando era adolescente. Ligo pra você
sempre que tenho tempo e a gente assiste reality show juntos. Conto pra
você todos os meus medos, angústias e inseguranças e você me tem como
um apoio emocional antes dos jogos. Se tudo isso não significa que somos
namorados, o que mais somos então?
Nem sei o que responder depois disso, porque meu sorriso deve estar
falando por mim. Quero gritar. Quero sair correndo por essa fazenda e
colocar Leslie sobre o meu ombro como um maldito homem das cavernas.
Preciso que todos saibam que a garota mais incrível do mundo pertence a
mim.
— Eu sempre acho esquisito quando você sorri assim — diz ela,
mostrando a língua para mim. — É meio assustador.
— Ah é?
— É sim.
— Entendo.
Leslie franze o cenho.
— Se entende, por que ainda está fazendo isso?
Eu dou de ombros, ainda sorrindo como um bobo. A sensação de
borboletas no estômago sempre me pareceu uma hipérbole. Como eu era
idiota, no entanto. Porque o que eu estou sentindo agora definitivamente são
milhares delas querendo alçar voo de dentro para fora.
— Eu só estou feliz. Posso oficialmente chamar Leslie Reese de
namorada.
Ela inclina a cabeça para o lado, abrindo um sorrisinho de canto para
mim.
— Devo dizer que sou uma namorada exigente. Não vou facilitar as
coisas pra você.
— Eu não esperava menos, Leslie. Quero você com todas as
dificuldades.
— Espero mesmo, hein? Ainda mais quando eu precisar gravar algum
curta e decidir usar meu namorado gostoso como ator.
— Tá, acho melhor não exagerar.
Ela solta uma gargalhada e fica de quatro para engatinhar na minha
direção. Ainda estou sorrindo quando ela gruda os lábios nos meus,
faminta, e eu faço questão de passar a mão pela sua nuca. Enfio meus dedos
em seus cabelos macios e a puxo em minha direção, caindo com tudo por
cima da toalha.
Bom, foda-se.
Passo meus braços ao redor da cintura de Leslie, esmagando nossos
corpos um contra o outro. Ela geme na minha boca quando sente minha
ereção cutucar a sua barriga e eu sorrio. Adoro que ela goste tanto de sexo
porque acho que estou muito viciado nela.
— Você é tão gostoso… — murmura entre beijos, descendo os lábios
molhados até o meu pescoço. Não consigo segurar o gemido quando sinto
que suas mãos estão vagueando a caminho do meu pau. — Nem consigo
acreditar que isso é tudo meu.
Seguro sua nuca com possessividade, capturando seus lábios novamente.
Leslie suspira contra mim e eu a sinto derreter.
— Eu que não acredito que tudo isso finalmente é meu — retruco,
descendo as minhas mãos até a sua bunda. Agarro com força, puxando-a
contra mim e nós dois gememos. — Você é gostosa pra caralho.
— Eu sei — devolve ela, divertida.
— Sabe, é?
— Aham. Já me disseram isso muitas vezes… — eu sei que Leslie só
está brincando, mas mesmo assim me sinto desafiado.
— Nenhum deles vai saber o que é ter você por completo, Leslie. Não
me importo se eles já disseram o quão gostosa você é, porque só eu vou
poder usufruir disso pelo resto da vida.
Ela se desgruda de mim por um segundo apenas para me lançar um olhar
desafiador.
— Você não acha que está muito convencido, não, Nate O’Connel?
Eu coloco os dentes sobre a boca, avaliando seu corpo escultural em
cima do meu. Sorrindo, balanço a cabeça.
— Estou apenas constatando um fato. Agora vem cá e me deixe usar
essa boca gostosa — peço, puxando-a contra mim novamente.
Leslie, no entanto, se desvencilha do meu aperto. Eu a encaro sem
entender, mas a minha diabinha abre um sorriso maquiavélico e me lança
um olhar repleto de malícia.
— Vou usar a minha boca para algo que eu já estava querendo há muito
tempo — diz, como se suas palavras não tivessem impacto algum.
Sinto meus músculos se enrijecerem ao vê-la rastejando sobre mim,
esfregando os peitos em minha pele enquanto usa as mãos para passar a
unha suavemente pelo meu peitoral.
A visão de Leslie vestida de cowgirl enquanto se prepara para me chupar
deveria ser um crime. Ela desabotoa a minha calça com a maior paciência
do mundo enquanto eu a encaro em expectativa.
— Caramba, Nate — sussurra ela, deixando meu pau saltar livre. — Isso
tudo aqui é por minha causa?
Estou tão duro que meu pau está praticamente em pé. Leslie nem
precisaria fazer esforço se quisesse sentar em cima dele.
Ai, merda. Por que fui pensar nisso? Agora quero a boceta quente dela
em mim mais do que qualquer coisa.
— Ele sempre está assim por você, Leslie — sussurro, vendo-a erguer o
olhar. O brilho de excitação me causa arrepios e eu me preparo quando a
vejo descer o olhar novamente para o meu pau.
Leslie começa distribuindo beijos na minha virilha e eu fecho os olhos,
aproveitando a sensação de sua boca na minha pele. Em seguida, ela coloca
a língua na jogada e eu a encaro, fascinado.
Péssima ideia.
A diabinha está me encarando com uma expressão carregada de tesão e o
olhar safado dispara sensações em mim. Sinto minha visão embaçar quando
ela segura a base do meu pau com força, bombeando delicadamente para
cima e para baixo.
Para cima e para baixo.
Para cima e para baixo.
Meus olhos reviram quando ela aumenta o ritmo, mantendo a mão firme
contra mim. Eu não consigo segurar o gemido quando ela, lentamente,
passa a ponta da língua na cabeça do meu pau.
— Eu deveria ter feito isso quando você ganhou o estadual — confessa
ela, baixinho. — Deveria ter te arrastado de lá com uniforme e tudo. Eu
abaixaria as suas calças e faria você gozar. Você estava merecendo.
Grunhindo, eu seguro uma parte dos seus cabelos e jogo para o lado,
tendo mais acesso a visão do seu rosto. Ela coloca a língua para fora e
começa a passar por todo o meu pau, subindo e descendo tão delicadamente
que sinto minha bunda contrair.
Porra, estou arrepiado.
— Leslie, que tal parar de me provocar, huh? Eu preciso que você me
chupe.
— Não era você que me dizia que a pressa é inimiga da perfeição, Nate?
Acho melhor você relaxar e apreciar o show, porque eu ainda nem comecei
— responde ela, lançando mais um olhar safado para mim.
Deixo minha cabeça cair para trás, sentindo meus músculos se retesarem.
Leslie vem por cima de mim e continua usando sua língua habilidosa para
me torturar. Ela passa lentamente por toda a extensão do meu pau, como se
não tivesse a mínima pressa, e eu preciso agarrar a grama com força para
me impedir de segurar a sua cabeça e fazê-la me engolir.
— Você está todo vermelhinho… — constata a safada, abrindo um
sorriso devasso. — Eu sempre soube que você ficaria assim quando eu
finalmente conseguisse te levar pra cama. Diz pra mim, Nate.
Eu travo o gemido na garganta quando a vejo chupar só a pontinha do
meu pau, ainda usando a maldita língua apenas para me provocar.
— Dizer o quê? — questiono entredentes.
— Me diga como você ficava depois que eu dizia as coisas safadas que
queria fazer com você. Sempre que eu te fazia corar e você saía de perto de
mim como se não suportasse ficar ao meu lado… Me diga o que você
pensava de verdade.
Ai, merda.
Eu lanço um olhar sério para ela, sentindo meu coração acelerar. Leslie
segura meu pau com mais força e a pressão me arranca um gemido. Agora
sua mão está trabalhando junto com a sua língua e eu não me sinto muito
capacitado para manter uma conversa.
— É só me dizer e eu vou engolir você todinho… — cantarola ela, como
uma sereia, e eu não resisto.
Seguro sua nuca mais uma vez, erguendo seu olhar para mim. Preciso
que ela veja a minha sinceridade.
— Eu morria de vontade de ter você, Leslie. Quando você usava essa
língua afiada para me contar todas as coisas pervertidas que você pensava,
eu tinha munição pra semana inteira.
— Ah é? Você já gozou pensando em mim?
— Todo santo dia — confesso, vendo-a arregalar os olhos. — Quer saber
como eu batia uma pra você todos os dias quando eu ia pro banho? Bom,
foda-se, agora você sabe. Eu sonhava com o dia em que eu provaria a sua
boceta doce ou quando eu me enterraria em você. Me sentia mal por pensar
em você dessa forma, mas eu me consolava porque, às vezes, parecia que
era o que queria.
Ela engole em seco. Depois me lança um olhar indecifrável e que me faz
sentir como o único homem no mundo.
Me faz sentir como se eu fosse dela.
— Bom garoto — murmura, antes de me abocanhar com vontade.
Reviro os olhos quando a sinto engolir o meu pau por completo, sugando
a minha carne deliciosamente. Minha visão embaça com prazer quando ela
suga meu pau, como se estivesse tentando me ordenhar.
Os lábios perfeitos estão subindo e descendo sobre mim e eu ergo os
quadris para frente, ajudando-a com o ritmo. Começo a meter na boca de
Leslie devagar, apreciando o barulho da sucção que ela faz enquanto tenta
acompanhar as minhas estocadas.
Segurando seus cabelos, eu observo a minha garota empinar a bunda
perfeita enquanto usa a boca para me levar à loucura. Nunca senti um
prazer tão forte ou um sentimento tão avassalador quanto esse. Quero me
fundir a ela, fazer parte dela, para sempre.
Jamais conseguirei superar isso.
— Goza na minha boca, Nate — manda ela, sugando a cabeça do meu
pau com vontade. — Quero engolir até a última gota da sua porra, meu
amor. E depois disso você vai me comer com vontade contra esse chão, não
é?
Ai, caralho. Ela falando assim enquanto continua me chupando é demais
para qualquer um aguentar e eu explodo em seus lábios enquanto sinto meu
corpo inteiro tremer. Não seguro os gemidos enquanto continuo metendo
nela, sem parar, até sentir Leslie tomar até a última gota, como uma boa
garota.
Depois que terminamos e ela finalmente me liberta, eu abro um sorriso
para a minha namorada.
Porra, nunca vou me cansar de falar isso.
Leslie Reese é a minha namorada.
Eu não deveria ser deixada sozinha
Essas situações vêm com preços e vícios
Eu acabo em crise
(É uma história tão antiga quanto o tempo)
Anti-hero | Taylor Swift

No dia seguinte, estou parada na frente do prédio onde Savannah está


tendo a penúltima aula do dia. Não me orgulho de como obtive a
informação, mas estou feliz de ser uma verdadeira stalker e conseguir
descobrir coisas assim através de curtidas nas redes sociais.
É um dom, na verdade.
A garota mais deslumbrante que eu já vi caminha entre os alunos,
distribuindo sorrisos doces enquanto deixa o cabelo castanho flutuar ao seu
redor. Não consigo evitar encarar, porque ela realmente é linda. Consigo
entender o fato dela não ter apenas um namorado — é quase injusto que só
uma pessoa tenha esse privilégio.
— Sav! — grito, acenando, quando ela passa por mim.
Savannah olha para trás, semicerrando os olhos. A garota parece estar
procurando quem a chamou e quando nossos olhos se encontram, ela abre
um sorriso.
— Ei, Leslie. Quanto tempo — me cumprimenta. — Acho que
comentamos sobre tomar alguns drinques.
Abro um sorriso sem graça.
— É, sobre isso… Eu gostaria de conversar com você sobre um
assunto… E ele é bem sério — disparo, me embolando.
Ela franze o cenho, dando um passo à frente na minha direção.
— Aconteceu alguma coisa?
Desvio o olhar, dando uma olhada nos alunos que caminham apressados
para suas próximas aulas. Talvez eu esteja ainda mais receosa porque Adam
me emboscou à luz do dia, mas definitivamente não quero ser vista
conversando com Sav em público. Dois dos quatro namorados dela são
realmente muito importantes e eu odiaria prejudicá-la.
— Podemos conversar em particular? — questiono, mexendo no bolso
da minha calça por conta do nervosismo.
Um tique que não passa despercebido por Savannah, que desce o olhar
lentamente para onde minhas mãos inquietas estão.
— Claro que podemos. Que tal beber um café?

Depois que a garçonete coloca o cookie de amêndoas sobre a mesa e


meu café descafeinado, Sav abre um sorriso para agradecer. Ela decidiu
tomar só uma água com gás porque me explicou que estava planejando sair
para jantar com Max, o namorado que é um grande chef de cozinha. Sav
não me deu detalhes, mas pelo brilho malicioso no olhar quando mencionou
os pratos que ele costuma fazer, tive a ligeira impressão de que talvez eles
não utilizassem pratos e talheres como nós, meros mortais.
— Bom, Leslie, sou toda ouvidos. O que você queria me contar?
Bem direta ao ponto, do jeito que eu gosto.
Suspirando, dou um gole no café quentinho e me ajeito melhor na
cadeira. Não vai ser algo tranquilo de pedir, mas eu preciso tentar.
— Eu sei que vai parecer loucura e quero que saiba que eu entendo
totalmente caso você recuse. A história é longa e talvez você possa ter
opiniões sobre mim, mas eu só peço que você me escute com atenção. Tudo
bem?
Savannah assente lentamente com a cabeça, mas posso perceber como
ela fica desconfortável com o meu pedido. Provavelmente está achando que
eu sou uma possível assassina em série e quero contar para ela onde
escondo os corpos.
Limpo a garganta antes de desabafar como a minha vida se tornou uma
loucura nos últimos meses. Começo contando sobre como eu vim de uma
cidade do interior e que meu sonho era conhecer o mundo. Trocamos breves
experiências em relação à Comunicação em geral e ela chega a comentar a
respeito de como conheceu cada um dos seus namorados.
Nem preciso comentar que fiquei com calor ao ouvir a breve descrição
do que eles fizeram para convencê-la a ficar com os quatro, preciso?
Mas depois da conversa descontraída, decido abrir o jogo. Conto sobre
como eu aproveitei todas as festas de Granville nos primeiros dias e
também que acabei me aproximando de Sophie, a garota que tinha ido
filmar o curta com a gente na cidade vizinha. Preciso respirar fundo antes
de explicar que conhecia Adam de vista por causa das festas em que a gente
acabava se esbarrando, mas que ele nunca me chamou muita atenção.
Até uma noite.
Uma maldita noite.
Ela faz uma cara de pesar quando menciono que, no dia seguinte,
descobri que o canalha era o namorado de Sophie. Sav ficou ainda mais
arrasada quando expliquei como a encontrei chorando em seu quarto por
pegar outra traição do namorado e que cheguei a desconfiar que seria eu,
até ver o nome de Stella.
— E o que você fez? — pergunta Sav, roubando um pedaço do meu
cookie.
— Fui atrás dele, claro. Avisei que ia contar pra Sophie e disse pra ele se
preparar. No fundo, eu queria que ele se importasse. Foi um pouco da
minha alma vingativa, acho. Queria esfregar na cara dele o que eu sabia e
que eu contaria, mas não acabou como eu planejava…
Sav arqueia a sobrancelha, cruzando os braços. Esfriou um pouco desde
que chegamos e ela está usando uma jaqueta de couro que só a deixa ainda
mais sexy.
— Ele te chantageou? — sugere, inclinando a cabeça para o lado.
O constrangimento no meu olhar deve dizer tudo o que ela precisa saber,
porque Savannah suspira, fazendo um sinal com a mão para que eu
prossiga.
— Ele me disse que tinha a família dela toda na mão, além de jogar na
minha cara como a família dele era importante. Eu não fazia ideia que o
cara era herdeiro da maior empreiteira do país — confesso, balançando a
cabeça. — A minha irmã gêmea, Landon, estuda Engenharia e ele tem o
poder de queimá-la para sempre se quiser. Fiquei de mãos atadas.
— Eu imagino — Savannah suspira, me analisando com os olhos
expressivos cor de âmbar. — E você contou pra Sophie mesmo assim?
Suspiro.
— Não consegui. Fiquei com medo de que ele fizesse da vida dela um
inferno, além, óbvio, da minha. O problema é que esbarrei com ele numa
festa que demos na Theta Rho Beta, a sororidade em que eu moro, e o
desgraçado acabou se aproximando demais. O cara que foi me buscar…
— Que cara?
Pisco lentamente.
— Hein?
— É aquele Nate? — Sav sorri, puxando minha xícara de café para dar
um gole generoso. Não consigo evitar franzir o cenho para o gesto, já que
ela disse que não estava com fome. — Ele é o mesmo que foi te buscar no
hotel do Clarke? Aquele Nate? O tal do rei do home run?
Ranjo os dentes. Por um segundo cheguei mesmo a pensar que essa fama
seria algo passageiro, mas aparentemente não. E eu vou precisar lidar com
Nate sendo chamado de “rei” por aí.
— Esse mesmo. Começamos a fingir um namoro depois que Adam me
encurralou nessa festa. Eu acabei contando pra ele tudo o que aconteceu e
tivemos a ideia de nos aproximar para achar algo que nos desse vantagem
— continuo, concentrada.
Nos próximos vinte minutos conto minuciosamente sobre todos os
planos que tivemos e como todos eles falharam miseravelmente. Depois de
comentar sobre a final do campeonato estadual e nossa breve viagem a Los
Angeles, Savannah pisca os olhos com expectativa.
E é então que preciso entrar no assunto do que Adam fez comigo quando
me encontrou sozinha no banheiro do campus. Respiro fundo várias vezes
para ter coragem de desabafar sobre o momento mais humilhante que já
passei na vida e quando finalmente encontro os olhos de Savannah, eles
estão marejados.
— Filho da puta — murmura entredentes.
Eu prossigo com a história até que chegamos no dia em que Sophie
descobriu todo o drama que eu estava vivendo. Sav parecia receosa quando
contei que minha amiga não quis me ver a princípio, mas logo pareceu
relaxar quando eu contei sobre tudo o que falamos uma para outra.
Sobre como Sophie estava livre.
— Meu Deus, nem sei o que dizer. Estou tão feliz pela Sophie, Leslie.
Eu não queria comentar, mas a forma que ela falou sobre ele quando
estávamos filmando o curta me deu arrepios. Ele parece ser um
manipulador e tanto.
— E ele é — concordo, suspirando. — Mas o ponto aqui não é só sobre
isso. Precisamos de você a partir de agora.
Ela abre um sorriso cheio de dentes.
— Estou dentro. O que precisam de mim?
— Sei que você está terminando a faculdade de Jornalismo e talvez seja
muito corrido pra você, então adianto que entendo se você acabar
recusando. Mas é que pensamos… — Limpo a garganta, tentando espantar
o nervosismo. — Nós não queríamos que ele se livrasse dessa tão fácil.
Além do mais, a Sophie não se sente totalmente segura só terminando com
ele. Precisamos de algo que o mantenha longe.
— E o que vocês andaram pensando?
Dou de ombros, me preparando para falar.
— A princípio eu me inspirei no ex-produtor de cinema Harvey
Weinstein. Ele era um homem muito poderoso e coagiu mulheres durante
toda a vida sem ser punido. Tudo era varrido por debaixo dos panos por
causa de dinheiro e poder. Acho que nenhuma dessas atrizes realmente
acreditou que teria alguma chance contra ele, mas existem profissionais que
são capazes disso.
— Eu amo ser jornalista — conclui Savannah, sorrindo para mim. —
Conheço o caso dele e tiro o chapéu para o jornal que não quis abafar o
caso, como tantos outros antes dele. Estão pensando em fazer algo
parecido?
Mordo o lábio inferior.
— Na verdade, sim. Mas eu não sou boa escrevendo coisas sérias assim
e acho que a Sophie tem mais afinidade com números. Pensamos se você
não toparia fazer e, quem sabe, usar como trabalho final. Caso não, pode
vender para um jornal grande. Sei que você tem contatos e a família dele é
enorme. Oportunidades não vão faltar na sua carreira — arrisco.
Sav inclina a cabeça para mim.
— Gosto de como você pensa. É claro que para montarmos um
documento desse com o máximo de provas, vamos precisar mais do que as
imagens que você disse que o Nate conseguiu naquela boate em Los
Angeles. A Sophie também vai ajudar?
Balanço a cabeça várias vezes para afirmar que sim.
— Ela está focada em encontrar outras meninas com quem o Adam
possa ter se relacionado — respondo. — Acho que vão disponibilizar
algumas mensagens que ele já enviou.
— Isso vai ser bom… — Sorrindo, Savannah tira o celular do bolso e
procura um dos contatos salvos. Depois que a chamada começa, ela o
coloca no ouvido. — Boa noite, gatinho. Escuta, vou precisar de um favor
seu. — Há uma pausa. — Eu sempre compenso, Clarke. Não, vou sair com
o Max hoje. Ele anda muito carente e eu já prometi. Amanhã, então? Tudo
bem. Te amo.
Depois que desliga, Sav me encara com os olhos brilhando. Ela parece
genuinamente empolgada e isso me tranquiliza imediatamente.
— Você e Sophie provavelmente vão conseguir reunir material o
suficiente para acabar com a reputação do herdeiro mimado no estado da
Califórnia — me explica, terminando de comer o cookie que eu pedi —,
mas para colocar medo nessa família, vamos precisar de mais. Eu sei que a
família do Clarke é dona de uma grande rede de hotéis e que eles acabam
contratando várias empreiteiras. Muitas delas, às vezes, dão problemas —
continua, dando de ombros. — O sobrenome Kennedy não me é estranho e
eu espero estar certa. Pedi para encontrar com o Clarke amanhã e nós
vamos investigar isso mais a fundo. Caso tenhamos algo grande da família
para colocar no dossiê, é xeque-mate.
Eu a encaro, chocada.
— Está falando sério?
Savannah me lança um olhar curioso, como se estivesse achando graça
de como estou impressionada. Limpando o cantinho da boca com
guardanapo, ela diz:
— Sabe uma coisa curiosa sobre o meu estilo de vida, Leslie? É que eu
felizmente encontrei quatro homens que me respeitam e me amam acima de
qualquer coisa. Mas isso não significa que eu não consigo enxergar
mulheres que vivem realidades diferentes da minha. Eu vejo. E sinto
empatia por elas. — Abre um sorriso triste. — Homens como o Adam só
sabem amar outros homens. Ele faz tudo isso para impressioná-los. As
mulheres para ele são como acessórios. Como uma bolsa. Sophie é o pet
que ele escolheu para exibir para os outros homens e sabe qual a pior parte?
É que ele conseguiria mantê-la assim por muito mais tempo. Eu posso ter
quatro namorados e gostar de farra tanto quanto você, mas eu durmo muito
bem à noite sabendo que posso largar todos eles e ir morar no México a
qualquer momento sem precisar temer pela minha vida. Porque eu sou livre.
E isso é algo que eu jamais, jamais, abrirei mão. Nem pra mim e nem pra
nenhuma outra mulher. Sendo assim, eu já estou dentro e usarei até o último
recurso que eu tenho para fazê-lo pagar.
Você está falando merda por diversão
Viciado em traição, mas você é relevante
Está apavorado de olhar para baixo
Porque se você se atrever, verá os olhos
De todos que queimou para chegar ao topo
Está tudo voltando para você
Karma | Taylor Swift

As próximas semanas são intensas e, quando percebo, já estou


comentando com Nate como serão os preparativos para o Natal. Ambos
queremos voltar para Barlow, mas antes de bater o martelo, vamos precisar
saber se Landon se sente confortável com essa ideia.
Nate está disputando alguns amistosos antes do recesso do Natal e Ano-
Novo, o que me deixa com mais tempo livre para investigar a fundo a vida
de Adam Kennedy. Sophie tem mantido-o afastado, dizendo coisas como
“preciso me concentrar nos testes da semana que vem para conseguir pontos
extras”. A ironia é que ele é tão relapso com a namorada que sequer faz
ideia que ela não precisa de nenhum ponto a mais, porque é uma aluna
exemplar.
— A Savannah acabou de mandar mensagem — aviso, mostrando o
celular para Sophie. Ela está no quarto que eu divido com Landon,
brincando com o Salém em cima da minha cama.
— Boas notícias?
— Não sei. Ela disse que quer se encontrar com a gente mais tarde. —
Franzo o cenho, conferindo o celular mais uma vez. — Acho que podemos
ir depois da aula. Tá afim, Landon?
Minha irmã levanta o olhar do livro de matemática que tem sido seu
companheiro ultimamente e faz um aceno com a cabeça, negando. Ela está
tendo aula com um professor extremamente exigente e que tem um péssimo
hábito de passar testes surpresa durante o semestre, o que significa que
minha irmã precisa estar sempre preparada.
— Acho que ela vai nos dar uma notícia boa — comenta Sophie,
passando os dedos no pelo ralo do meu gato. — Quero dizer, ela não nos
chamaria para dizer que a família do Adam é exemplar, né?
Mordo o lábio inferior.
— Não tenho certeza, mas vou mandar uma mensagem para o Nate nos
encontrar por lá. Tem problema pra você?
— Problema nenhum. Eu adoro o Nate — diz ela, abrindo um sorriso. —
Fiquei muito feliz quando soube que vocês se acertaram.
— Já não era sem tempo… — murmura Landon enquanto termina
alguma equação no seu caderno preto.
Estreito os olhos, alternando o olhar entre as duas.
— A culpa não é minha se o meu namorado é um pouco lento, ok?
Precisamos lembrar que ele demorou mais de dez anos pra confessar o que
realmente sentia por mim? — questiono, cruzando os braços.
Landon solta uma risada irônica.
— Não discordo sobre ele ser lento, mas é preciso lembrar que
praticamente todo mundo sabia da paixão dele por você. Ele não era tão
bom em esconder e mesmo assim você não percebeu.
Me jogo na cama dramaticamente, vendo Sophie agarrar o Salém e
colocá-lo sobre seu peito. Meu gato preguiçoso começa a miar, pedindo
carinho, e quando minha amiga começa a acariciá-lo, ele ronrona.
— Vocês duas estão em um complô contra mim — digo dramaticamente.
— O importante é que agora vocês dois estão juntos — Sophie afirma,
sorrindo. — O que mais importa?
De certa forma, ela tem razão.
Nada mais importa agora que eu o tenho para mim.
Depois que minhas aulas do dia terminam, Sophie e eu marcamos de nos
encontrar na mesma cafeteria que fui com Savannah quando conversamos.
Ela avisou que o namorado herdeiro da rede de hotéis, Clarke, também
estaria lá. Isso me tranquiliza, já que Nate também está nos acompanhando.
Quando chegamos até o estabelecimento, vejo o carro do Nate
estacionado perto de um Rolls Royce preto.
— Acho que eles já chegaram — comenta Sophie, apontando para a
janela.
Os três estão sentados em uma mesa afastada do café e quando entramos,
eles percebem nossa presença na hora. Meu coração acelera quando Nate se
levanta, quase com pressa, e vem na minha direção.
— Oi — me cumprimenta, roubando um beijo rápido dos meus lábios.
— Estava com saudades…
— E eu vou me sentar ali — interrompe Sophie, me deixando sozinha
com ele.
Não impeço a risada que escapa de mim quando vejo Nate franzir o
cenho, confuso, enquanto assiste Sophie passar por nós.
— O que eu fiz? — pergunta ele, encolhendo os ombros.
Dou um tapinha em suas costas.
— Não fez nada, amor. Só estava sendo meloso, mas eu gosto.
— Ah, tenho certeza de que você ama — brinca ele, me dando um beijo
na testa.
Nós dois caminhamos abraçados até a mesa onde Savannah conversa
rapidamente com Sophie. O garoto sentado ao lado dela tem brilhantes e
intensos olhos castanhos. Ele tem uma aura intimidante, quase como se ele
fosse intocável. A única brecha em sua postura é o braço protetor que ele
mantém ao lado da namorada que, como sempre, está deslumbrante.
— Tenho boas notícias — diz Savannah, direta ao ponto como sempre.
Nate puxa a cadeira para eu sentar e eu abro um sorriso em
agradecimento para ele.
— E então? — questiono, lançando um aceno de cabeça na direção do
Clarke.
Ele retribui.
— Descobrimos uma coisa interessante… — começa Sav, desviando o
olhar para o namorado por breves segundos. Eles parecem se comunicar
através dele e chega até a ser desconfortável de presenciar. — Você se
lembra do hotel que usamos como locação para a filmagem do curta?
— Sim — Sophie e eu respondemos juntas.
Sav balança a cabeça.
— Esse hotel faz parte de uma rede que a família do Clarke queria abrir
aqui na Califórnia. Existem mais dois desses em Los Angeles — explica, se
aproximando um pouco mais. — Quando pensaram em construir um a
poucos quilômetros de Granville, o objetivo era manter uma opção para
quem prefere cidades mais calmas, sem toda a loucura da cidade grande.
Sendo assim, a família do Clarke optou por contratar uma empreiteira local.
— É o que normalmente fazemos — explica ele, limpando a garganta.
— Normalmente consultamos as melhores do estado. Em raras ocasiões,
algumas dizem que não conseguem trabalhar no ritmo que precisamos.
Nesse caso, cogitamos fazer com uma que atenda às nossas expectativas,
mesmo que saia mais caro.
— Resumindo… — completa Savannah, segurando a mão de Clarke
carinhosamente. — Às vezes eles acabam gastando com o transporte de
profissionais e até mesmo hospedagem. Isso se levarmos em consideração
locais em que tudo é meio deserto…
— Entendi — respondo. — Mas o que isso tem a ver com a família do
Adam?
Savannah e Clarke se entreolham.
— Nós contratamos a empreiteira da família dele para construir o hotel
que vocês usaram para filmar — me explica Clarke, sério. — Estávamos
apostando em um turismo para pessoas mais velhas. O local é mais deserto
e é uma ótima opção para férias em família. Acontece que, infelizmente,
também acaba sendo vazio demais.
— A empreiteira dos Kennedy aceitou o trabalho e em questão de seis
meses o hotel foi inaugurado — continua Savannah com um brilho no olhar.
— Mas acontece que a família do Clarke acabou percebendo uma coisinha.
Eu desvio meu olhar para ele, que agora nos encara de volta, cauteloso.
Clarke retira um envelope de baixo da mesa e o coloca com cuidado na
nossa frente.
Franzo o cenho.
— O que eles fizeram? — questiona Nate.
Clarke suspira.
— Eles nos roubaram. Não foi necessário muita investigação para
descobrirmos o superfaturamento na obra. Quero dizer, três mil em suco de
laranja? Quatro mil em refrigerante? — Ele balança a cabeça, como se
apenas a memória o irritasse. — Os desgraçados nem tentaram disfarçar.
Estávamos custeando toda a locação e alimentação porque era justo, mas
alguns valores eram altos demais e nossos contadores desconfiaram.
— E tem mais — sussurra Savannah. — Quando a família do Clarke
ameaçou processá-los por isso, eles praticamente imploraram por um
empréstimo. Eles não conseguiriam passar o dinheiro de volta porque as
empresas estavam passando por momentos ruins. Aparentemente não foi a
primeira vez que tiveram que usar do próprio dinheiro para lidar com as
babaquices do filho.
Arregalo os olhos, virando para Sophie. Os olhos dela se enchem de
lágrimas quando ela pergunta, séria:
— O que isso significa?
Savannah respira fundo, se inclinando na direção de Sophie. Ela toma
todo o cuidado do mundo para responder:
— Não foi fácil de descobrir, mas conversei com um dos meus
professores. Ele é um jornalista investigativo que trabalhou por muitos anos
no The New York Post. Ele se aposentou ano passado e decidiu dar aula —
explica, alternando o olhar entre eu e Sophie. — Conversei brevemente com
ele sobre o que sabia da família Kennedy da Califórnia. A princípio, parecia
meio desconfortável. Mas então eu decidi contar sobre o projeto que estou
trabalhando, que seria no caso o dossiê… E ele me mostrou isso.
Ela empurra o envelope com os papéis na nossa direção e Sophie e eu
nos entreolhamos, chocadas.
Não faço ideia do que tem dentro daquele envelope, mas algo me diz que
pode mudar o rumo de tudo.
— Podem abrir — diz Sav, forçando um sorriso. — Acho que vocês vão
querer ler.
Sophie mantém os braços para baixo, paralisada. Não a culpo. Ela
provavelmente está apavorada com o que está prestes a ler.
Suspirando, eu pego o envelope e o abro devagar. Nate e Savannah me
encaram com expectativa, Sophie só parece… Triste.
— O que diz aí? — pergunta o meu namorado impaciente enquanto eu
leio as primeiras linhas do texto.
Meu coração começa a disparar. Minha boca fica seca. Meu olhar sobe
para encarar o da Savannah em uma pergunta muda e ela abaixa a cabeça,
confirmando o que estou acabando de ler.
Não. Pode. Ser.
Porra.
— O que foi, Leslie? — murmura Sophie e o olhar preocupado dela é
tão triste que quase arranca um soluço de mim.
Adam Kennedy é um desgraçado.
Eu estendo o papel para ela, suspirando.
— Ele já foi preso uma vez por tentar… Forçar uma garota — cuspo
entredentes. — E aparentemente existem algumas ordens de restrições
contra ele.
— O quê? — arfa Sophie, em choque.
— E não é só isso — continua Savannah, cruzando os braços. — Essa
matéria diz que Adam já foi denunciado por coagir uma garota a namorá-lo.
É o modus operandi dele. Gosta de manter uma garota fixa e manipulá-la,
muito provavelmente usando a família dela como uma espécie de refém.
Quando a garota tenta deixá-lo, ele passa a persegui-la.
— Mas isso é impossível! — retruca Sophie, balançando a cabeça. —
Nós estamos juntos desde o ensino médio. Viemos para Califórnia juntos.
Ele não teve tempo para outras namoradas.
Engulo em seco.
— Você não tinha permissão para viajar com ele — relembro-lhe, me
recordando de como ela ficou feliz quando ele deixou que ela fosse com a
gente para Los Angeles. — Ele também não deixava você frequentar as
festas da fraternidade. Nem eu sabia que você tinha um namorado, Sophie.
Não é como se ele fosse exatamente presente.
— Ele tem uma namorada em três estados diferentes, ao que indica —
avisa Clarke, com um olhar de quem sabe das coisas.
— Meu Deus — arqueja Sophie, colocando as mãos sobre a boca. —
Esse… Esse filho da puta!
Se o momento permitisse, eu poderia rir. Sophie é sempre tão fofa que é
engraçado vê-la xingar alguém assim.
— Isso não é nenhuma novidade — murmura Nate, com o maxilar tenso.
— Mal posso esperar para ter uma conversinha com ele.
— Bom, mas não vamos por esse caminho. Tivemos uma ideia melhor
— responde Savannah, apaziguadora.
— O que vocês pensaram? — pergunto, ainda tentando processar todas
as informações que foram jogadas sobre nós.
Ela sorri.
— A família do Clarke decidiu não processá-los na época. Eles disseram
que pagariam com juros a quantia que embolsaram a mais em troca de
silêncio.
— Mas nunca pagaram — interrompe Clarke. — Poderíamos perdoar a
dívida, se não ficássemos sabendo do comportamento de Adam. Os
Kennedy sempre foram próximos da minha família e eu conheço esse cara
há anos. Apesar de nos roubarem, preferimos resolver isso de uma forma
mais discreta para não causar constrangimento.
— Mas eles não precisam mais agir dessa maneira, já que… A família
do Adam usa de todos os recursos que tem para encobrir as merdas do filho.
Um dos maiores jornais de Nova York estava prestes a publicar uma
matéria contando a história da garota que precisou de uma medida
protetiva. Sabe, a que ele perseguiu — nos informa Savannah, o olhar
brilhando de determinação. — Mas não conseguiram. Foram ameaçados e
subornados.
— Eles conhecem muita gente — nos explica Clarke, apertando
carinhosamente a mão da namorada. — São muito poderosos. Os grandes
figurões da Comunicação não querem prejudicá-lo diretamente. Não foi
muito difícil fazer a matéria cair.
— Usando uma quantidade absurda de dinheiro — completa Sav,
balançando a cabeça. — Os desgraçados preferem ir à falência ao invés de
fazer o filho arcar com as consequências de seus atos.
— E isso nos leva diretamente à ideia que tivemos — continua Clarke.
— Savannah e eu vamos para Nova York essa semana. Estamos planejando
encontrar as garotas que ele mantém como fixas e a nossa ideia é sondar.
Vamos investigar como a relação deles está e também pretendemos contar a
elas sobre a verdade se ainda não souberem. Se você puder enviar fotos,
vídeos e conversas que comprovem a sua relação com ele, Sophie, ajudaria
muito.
Minha amiga pisca os olhos rapidamente, como se estivesse saindo do
transe. Não consigo evitar o bolo que se forma na minha garganta e eu
coloco minha mão sobre a sua, tentando reconfortá-la.
— Claro, claro, eu envio — responde ela, balançando a cabeça.
Clarke assente.
— Isso é ótimo. Nós vamos tentar entrar em contato com as outras duas
e, se possível, tentar conseguir entrar em contato com a garota que o
denunciou. Precisamos que todas concordem em falar com a Savannah.
— Eu vou mesmo escrever um dossiê contra ele — diz Sav, abrindo um
sorriso fraco. — E se eles têm contato com grandes jornalistas, a família do
Clarke também tem. Eles também são donos de uma grande agência de
publicidade e, inclusive, a minha mãe trabalhava com eles. Foi assim que
nos reencontramos. — Ela sorri, trocando olhares com Clarke. É inegável a
química que esses dois têm. — Estamos conversando com o The New York
Times.
Puta. Merda.
Isso vai ser um escândalo nacional.
— Não acredito! — Dou um pulo, sem conseguir me conter.
Sophie está estática, sem conseguir acreditar.
Savannah e Clarke sorriem.
— Podem apostar — diz Sav, balançando a cabeça. — Eles concordaram
em publicar, principalmente depois que o Clarke decidiu expor o
superfaturamento da empresa. Também planejamos expor que outros jornais
tiveram a chance de fazer tudo isso antes e decidiram desistir da matéria. É
meio vergonhoso isso… Sabe, como uma jornalista, eu não consigo
acreditar que colegas sejam subornados tão facilmente. Não é tudo em
nome da verdade? Cadê a paixão pela porra da profissão, caramba?! —
Savannah reclama, se recostando na cadeira.
Clarke passa a mão carinhosamente pelo braço dela, acalmando-a. É
muito fofo de assistir.
— Esse é um assunto delicado pra ela — murmura ele, sorrindo. — Ela
quer ser jornalista investigativa.
— Vai ser a melhor de todas — digo, com um sorriso de canto. — Mas é
uma pena. Eu gostaria que você me entrevistasse depois que eu ganhasse o
meu primeiro Oscar por roteiro original.
Savannah gargalha, jogando a cabeça para trás.
— Infelizmente não vai rolar, gatinha. Mas eu também torço pra não
precisar investigar você. Do fundo do coração.
— Obrigada. Isso significa muito — brinco, feliz pelo clima estar mais
descontraído.
Sophie, entretanto, está com o olhar perdido. Ela está encarando
fixamente o bolinho de mirtilo que Savannah provavelmente pediu antes de
chegarmos e não esboça nenhuma reação.
Merda.
Deve estar sendo um baque descobrir que tudo o que viveu com alguém
é mentira. Porra, o cara a convenceu de que se fosse para Yale ela poderia
perder o amor de sua vida. Ele foi o primeiro dela e, tá bom, por mais que
eu não veja a virgindade da mesma forma que a maioria das pessoas,
reconheço que é um passo que exige, no mínimo, confiança.
E saber que ela confiou tanto nele deve estar sendo um martírio.
Como acreditar que alguma coisa dessa relação foi verdadeira quando se
descobre que estava vivendo uma mentira?
— Sophie — murmuro, me aproximando um pouco dela. — Você está
bem?
Minha amiga levanta o olhar triste para encarar o meu e, francamente, é
de partir o coração.
— Não. Não estou bem — responde ela, engolindo em seco. — Mas vou
ficar.
Fico em silêncio, observando a obstinação de seu olhar.
— Vamos fazê-lo pagar, Sophie — respondo, segura. — E ele nunca
mais vai fazer isso com mais ninguém. Eu sei que você provavelmente está
se culpando e pensando em um milhão de coisas que poderia ter feito para
evitar isso… — continuo, engolindo em seco. — Foi como eu me senti
quando descobri quem ele era. Mas nada disso vai ser em vão, amiga. Eu
prometo isso pra você. E por mais que a faculdade de Medicina tenha sido
adiada por causa dele, você vai se reerguer. Vai entrar pra Yale e, acima de
tudo isso, vai garantir que mais nenhuma garota tenha os sonhos
estilhaçados por aquele babaca. Não podemos fazer isso sozinhos — desvio
o foco para Savannah, Nate e Clarke, que estão nos encarando em silêncio.
Sophie segue o meu olhar e engole em seco. — Precisamos de você.
Ela ergue os olhos úmidos para me encarar. Eu prendo a respiração, com
medo da sua resposta.
— Podem contar comigo.
Siga em frente, filho rebelde
Haverá paz quando você tiver terminado
Repouse sua cabeça cansada
Não chore mais
Carry On Wayward Son | Kansas

É uma terça-feira e Nate e eu estamos terminando de assistir a mais uma


temporada de Keeping Up With The Kardashians quando meu telefone toca.
Inicialmente, preferimos ignorar e continuar nossa maratona de reality
show, mas a pessoa, quem quer que seja, é insistente.
— Acho que é melhor você atender, amor — diz Nate, levando um
punhado de pipoca à boca sem conseguir desviar o olhar da televisão.
Suspirando, eu levanto do sofá para ir até o meu celular.
Não o culpo por não querer ser incomodado, porque ultimamente passar
um tempo com Nate vem se tornando cada vez mais raro. Eu entendo que o
beisebol é importante e que ele tem que se concentrar para a disputa mais
importante da liga universitária até agora, mas isso não me impede de sentir
falta.
E a Landon concorda. Os encontros semanais dos dois para jogar xadrez
foram reduzidos a encontros mensais.
— Quem é? — pergunta ele, desinteressado, enquanto eu volto para o
sofá.
Meu coração acelera ao ver que é a Savannah.
Desde a fascinante descoberta de como Adam é um merda pior do que
imaginávamos, nossa vida tem sido recolher toda a evidência manipuladora
dele que pudemos. Chegamos, inclusive, a pedir para o reitor da faculdade
se era possível dar uma olhada nas câmeras de segurança no dia em que ele
me encurralou no banheiro.
Vamos fazê-lo pagar.
— É a Savannah — respondo, já clicando para retornar a chamada.
Ela não demora muito para me atender.
— Oi, Leslie — me cumprimenta ela com a voz ofegante. — Desculpa
os ruídos. Eu estou meio que correndo.
Me ajeito no sofá.
— Eu imagino. Está tudo bem?
— Hm, sim. Mas eu preciso que você e o Nate cheguem o mais rápido
possível no escritório dos Kennedy aqui em Granville. Vocês sabem onde
fica?
Arregalo os olhos para Nate, alarmada.
— Não sabemos, mas acho que a Sophie deve saber. Por quê?
Ela suspira do outro lado da linha e eu fico em alerta.
— Porque tudo está prestes a explodir, Leslie. Por isso.

Nate e eu estacionamos o carro de qualquer jeito perto do prédio em que


Sophie terá sua última aula. Não queremos assustá-la, mas pela forma com
que Savannah conversou com a gente pelo telefone, a nossa presença parece
bem importante.
Depois que a encontramos, não damos muito tempo para Sophie
raciocinar. Fico feliz ao notar seu olhar mudando lentamente de confuso
para obstinado quando contamos exatamente o que Sav nos disse.
— Eu sei onde fica — diz ela, antes de marchar na direção do carro.
Pensei que Sophie ficaria muito mais tempo triste, mas fico feliz que
não. Acho que, no fundo, ela estava se preparando lentamente para essa
separação. Como ela mesma me disse, ver o que eu tinha com Nate a fez
perceber que merecia muito mais.
Continuar fingindo que estava tudo bem para Adam é algo que a irritava,
no entanto. Ele nunca foi um namorado presente, então ela pôde enganá-lo
dizendo que estava muito ocupada com as atividades da faculdade.
O idiota nem sequer chegou a questionar.
Mas era doloroso assistir ao seu olhar ferido quando Adam a chamava de
amor, no entanto. Não tanto quanto era vê-la retribuir, mesmo com a raiva
em seu olhar.
— Estamos quase chegando — anuncia ela, encarando o pôr do sol.
Quando finalmente chegamos no prédio moderno que fica bem no centro
de Granville, já avistamos Savannah. Ela acena em nossa direção, linda
como sempre, e Clarke está ao seu lado, vestindo um terno que com certeza
custou mais do que o valor integral da minha faculdade.
— O que está acontecendo? — questiona Sophie, arqueando a
sobrancelha.
Sav abre um sorriso fraco.
— Clarke marcou uma reunião com todos da família Kennedy. O…
Adam está aqui também — avisa, receosa. — Não queremos que nenhuma
das duas se sintam desconfortáveis, então caso não queiram entrar, não
precisam. Só achamos que era importante dar as opções para vocês.
Eu engulo em seco, desviando o olhar para a minha amiga. Sophie, no
entanto, não desgruda o olhar de alguém que está parada bem atrás de Sav.
É uma garota de cabelos loiros e olhos azuis. Ela não é nem tão alta e
nem tão baixa, e está usando um vestido florido que me lembra muito a…
Sophie.
Merda.
— Quem é você? — pergunta ela, com o olhar fixo em seu “clone”.
A menina parece tão atordoada quanto ela. As duas estão se encarando e
é a cena mais bizarra que eu já presenciei.
— Eu sou a Agatha.
— Ela é a namorada do Adam de Nova York — nos explica Savannah,
com pesar. — Nós conseguimos o contato da garota que fez a denúncia,
mas ela pediu para continuar anônima. Ela tem medo de possíveis
retaliações porque a família dele é muito poderosa e, bem, eu não a culpo.
Ela aceitou me dar entrevista, no entanto, e também tive acesso ao
depoimento completo que ela deu para a delegacia. A terceira garota com
quem Adam mantém um relacionamento sério não quis se envolver.
Por mais que Savannah esteja explicando o que estava fazendo nesses
últimos dias, é impossível prestar atenção em suas palavras. Sophie e
Agatha continuam se encarando, como se estivessem assistindo a um filme
de terror.
— Adam tinha um padrão, como vocês podem perceber… — prossegue
Savannah, cautelosa. — A terceira garota mora na Flórida e lembra muito…
Vocês duas. Acho que ele tem um ideal de mulher e sempre busca o mesmo
padrão.
Bom, isso ficou óbvio.
Não respondo nada, no entanto. Deixo que Sophie e Agatha continuem
se olhando e é doloroso assistir como ambas parecem reconhecer a dor uma
na outra. Elas não falam nada, ficam apenas se encarando.
Todos continuamos em silêncio quando, de repente, Sophie decide falar:
— Eu não te conheço e nem sei sobre a história de vocês. Mas eu quero
muito acabar com a raça desse desgraçado e quero fazer isso olhando pra
ele.
Agatha, que também tem olhos doces como a minha amiga, sorri.
— Eu também.

Nós damos o tempo necessário para que Agatha e Sophie se sintam


confortáveis antes de entrarmos no prédio e irmos todos juntos até a sala de
reuniões.
Clarke nos explicou que conseguiu marcar esse horário com eles usando
o pretexto de um novo orçamento para uma espécie de parque aquático que
a família dele está planejando. Ele nos explicou que eles não pareciam tão
convencidos da motivação — e com razão —, mas concordaram em
encontrá-lo mesmo assim.
— Não desconfiaram nem quando você pediu para o Adam vir também?
— pergunta Agatha, ainda meio acanhada.
Clarke nos lança um olhar sério.
— Adam está cursando Engenharia Civil e eu sugeri que seria uma boa
ideia ter alguém novo na equipe. Como uma espécie de estágio —
desdenha, nos guiando por corredores enormes.
Savannah e Clarke vão na frente e, quando chegamos à sala de reunião, é
ele quem abre a porta.
Todos os presentes erguem os olhares para nos encarar. Não consigo
identificar a família de Adam, mas meu olhar cai direto no dito cujo. Ele
está usando um terno bem passado e os cabelos loiros estão penteados para
trás.
Como um bom menino.
Seus olhos se abrem em choque quando ele percebe quem está parada ao
meu lado.
Sophie não abaixa a cabeça e nem desvia o olhar do seu futuro ex-
namorado quando passa por todos nós e se senta em uma das cadeiras
vazias. Agatha, um pouco tímida, faz o mesmo.
Não é necessário entender muito de linguagem corporal para perceber
que Adam Kennedy está prestes a perder os cabelos. Ele começa a se
remexer, muito nervoso, enquanto Nate e eu caminhamos calmamente até
as cadeiras vagas ao lado de Sophie e Agatha.
— O que significa isso?! — questiona Adam, com o rosto vermelho.
— Eu não estou entendendo — diz uma mulher mais velha que se parece
muito com Adam.
Abro a boca para responder algo quando Clarke surge ao meu lado,
fazendo um aceno com a mão.
Tá bom então.
— Mas você vai entender, Marissa. Não chamei vocês aqui pra
conversar sobre orçamento, mas acho que já devem ter percebido. O que eu
vim fazer aqui é apenas comunicá-los.
— Você organizou uma falsa reunião de negócios apenas com o pretexto
de conversar? — zomba ela, lançando um olhar arrogante para Clarke. —
Vou conversar com os seus pais. Eu sempre soube que era uma idiotice eles
deixarem os negócios da família nas mãos de alguém tão inexperiente e
irresponsável.
Vejo Savannah praticamente rosnar para a senhora, mas Clarke coloca a
mão sobre o braço dela, acalmando-a.
Em seguida, com a maior paciência do mundo, ele abre um sorriso
sarcástico.
— Posso ser inexperiente e com certeza tenho muito a aprender quando
se diz respeito ao ramo que escolhi como profissão, mas, com todo respeito,
como você ousa me chamar de irresponsável quando você tem um filho
como ele? — alfineta, apontando diretamente para Adam. — Eu sei,
Marissa. Eu sei o motivo da sua empresa ter decidido roubar a minha
família e também sei o motivo de vocês estarem quase declarando falência.
É porque o seu grande e responsável herdeiro está cometendo crimes por aí.
— É melhor tomar cuidado com o que você vai falar, filho — é a vez de
um homem com cabelos brancos avisar, usando o tom de voz cortante.
Clarke, no entanto, não se abala. Ele não parece nada intimidado com
nenhum dos presentes nesta sala de reunião.
— Graças a Deus eu não sou seu filho — retruca ele entredentes. — E
não me importo com o que vocês pensam de mim. A única coisa que
importa é como meus pais me enxergam e podem ter certeza que não é
como assediador.
— Chega! — Marissa exclama, se levantando da mesa. — Você está
passando de todos os limites e não vamos tolerar a forma como você fala do
nosso filho.
Clarke a encara, inabalável. Ele não move um músculo enquanto se
levanta, nivelando o olhar com o dela.
— Eu me sentaria se fosse você. O que eu tenho para falar é do interesse
de vocês e estou avisando apenas como uma cortesia. Não devo nada pra
vocês. Nem eu e nem a minha família. Principalmente depois do que
fizeram com a gente.
O senhor bufa.
— Será que dá para cortar esse assunto? Pelo amor de Deus, nós já nos
resolvemos com os seus pais. Além do mais, aquele dinheiro não fez a
mínima diferença para o patrimônio da sua família.
Clarke estreita os olhos para ele.
— Fez diferença quando soubemos o destino dele. E não foi para ajudar
a família de vocês a se reerguer como mentiram para nós, mas sim para
subornar jornalistas e conseguir afundar uma matéria que revelaria os
podres do seu filho — cospe ele, alternando o olhar para Adam, que está
completamente cabisbaixo.
Marissa lentamente se senta novamente, o olhar desesperado alternando
entre o marido e o filho.
— Não sei do que você está falando — devolve o senhor, cruzando as
mãos por cima da mesa.
— Ah, não, Caleb? — ironiza Clarke, puxando um envelope de sua pasta
e o arremessando na mesa. — Porque eu estou falando disso aqui. Uma
matéria dessa poderia queimar seu herdeiro para sempre, não é? Quero
dizer, perseguição, tentativa de estupro, manipulação e chantagem são
muitas acusações para uma pessoa só. Além do mais, aqui consta que uma
das garotas pediu medida protetiva contra ele.
— Nenhuma delas conseguiu provar nada — retruca Marissa, cortante.
— Essas vagabundas não podem ver um homem bem-sucedido e com
dinheiro que já querem tentar a sorte. Quando não conseguem o que
querem, começam a inventar um bando de mentiras.
Preciso respirar fundo para não respondê-la à altura. Nate coloca a mão
protetora sobre o meu ombro e eu lhe dou um breve sorriso.
Sophie, no entanto, tem outro plano.
— Eu sou uma das vagabundas que seu filho mantinha, então — diz ela,
fria. — A diferença é que eu não queria ele por perto. Descobrir as traições
foi o de menos pra mim, senhora Kennedy. O que mais me incomodou foi
saber como ele coagiu a minha melhor amiga a mentir depois de ter
transado com ela. Sabe o que o seu querido disse pra ela? Que iria me
arrancar da faculdade e acabar com a carreira do meu irmão. Tudo isso para
me manter presa a ele. Tem certeza de que somos nós que estamos tão
desesperadas assim?
Marissa abre a boca, ultrajada, e se levanta mais uma vez.
— Você não passa de uma mentirosa! Sempre quis arrancar tudo do meu
filho e isso bem debaixo do nosso nariz! Você e a sua família aproveitadora
não terão o que querem dele.
Sophie também levanta, rangendo os dentes.
— Nós não queremos nada dele! Só quero que ele e todos vocês nos
deixem em paz!
— Faremos isso com prazer! — retruca ela, exaltada. — E meu filho
nunca mais vai lembrar da interesseira que cruzou o caminho dele e…
— Chega! — interrompe Savannah, levantando a voz. — Não viemos
aqui para ouvir ofensas ou ameaças, embora eu entenda de onde Adam
herdou esse péssimo hábito.
Marissa fuzila Savannah com o olhar, furiosa.
— Veja bem como você fala comigo, garota. Você pode ter arranjado um
idiota que não se importa de você abrir as pernas para outros caras, mas não
aceito que você me dirija a palavra! — reage a mulher, praticamente
gritando.
E eu achando que lidar com Adam seria o maior problema.
Clarke desvia o olhar para Marissa, o maxilar travado. Ele junta as mãos
com a maior calma do mundo e respira fundo.
— Se usar esse tom com a minha namorada outra vez vai se arrepender
— responde com uma calma mortal. — Não me importo quantas conexões
vocês têm ou o tamanho do círculo social de vocês. Estamos aqui para
conversar sobre a matéria que foi mantida nos blind items por mais um de
ano e avisar que uma muito pior está prestes a sair.
Adam, que até então se manteve de cabeça baixa, finalmente ergue o
olhar para encarar Sophie.
— O que vocês querem de mim?
Chega a ser engraçado a imagem que ele tem dele mesmo. Estamos
expondo um problema muito maior e Adam continua achando que estamos
em uma perseguição contra ele.
— Não queremos nada de você — atira Clarke, irritado. — Savannah
conseguiu encontrar duas namoradas que você mantém além de Sophie.
Nate tem gravações de você em uma balada em Los Angeles com outra
mulher e isso é apenas o começo. Existem acusações graves contra você,
um comportamento inaceitável que manteve com mulheres ao longo desses
anos. Tudo isso será exposto, Adam. Mas — ele faz uma pausa, desviando
o olhar para Marissa e Caleb —, podemos fazer um acordo.
Os três continuam em silêncio. Agatha e Sophie estão com os olhos fixos
em Adam e meu peito se enche de orgulho ao ver minha amiga tão segura
de si.
— Qual o acordo? — questiona Caleb, tenso.
Clarke, mais uma vez, insiste em empurrar os papéis sobre a mesa para
que eles possam ler.
— Queremos que o Adam confesse. Tudo. Não só pelo que fez com
essas meninas, mas também pelas ameaças que Leslie sofreu. Além, claro,
dos casos de assédio — diz, cortante. — Vocês vão pagar um bom dinheiro
para o irmão da Sophie antes de demiti-lo e não haverá retaliações. Em
troca, a Savannah vai tirar da matéria dela o caso de roubo à nossa empresa.
Eu perdoo a dívida de vocês.
Marissa arqueja, desviando o olhar para o marido. Caleb, em
contrapartida, flexiona a mandíbula. Nenhum deles estava esperando por
isso.
— E se eu não fizer? — questiona Adam, ainda com a pose arrogante.
— Vou acionar a justiça e pode ter certeza que não irei descansar até
reaver todo o dinheiro que nos foi roubado. E com juros — adverte Clarke.
— Savannah vai expor isso no dossiê e mesmo que consigam se reerguer,
vai ser muito difícil se manter nesse ramo. Mas, como eu disse, a escolha é
de vocês.
— Teremos tempo para pensar? — pergunta Caleb, receoso.
Clarke assente.
— Posso te dar três dias, mas o meu conselho é que vocês tomem uma
decisão o mais rápido possível. Adam não pensou em ninguém além dele
mesmo quando decidiu que suas vontades eram mais importantes do que as
dessas meninas. Tenham a mesma cortesia.
Marissa bate a mão na mesa, irritada.
— Ele é meu filho!
— Marissa — Caleb a reprime, lançando um olhar de advertência para a
esposa.
— Seu filho é um criminoso — retruca Clarke, sério. — Peço que leiam
os papéis com atenção. Em três dias ligarei para saber o que vocês
decidiram.
Savannah e Clarke se levantam da mesa, então todos nós fazemos o
mesmo. Caleb, Marissa e Adam continuam sentados, processando a
informação que foi atirada em seus colos.
Quando coloco o pé para fora do prédio, sinto o ar voltar lentamente para
os meus pulmões.
Finalmente posso respirar de novo.
— Ele vai confessar — murmura Sophie para todos nós. — Vejo isso no
rosto dele. Provavelmente não vai ficar preso por muito tempo e como vem
de uma família rica, logo estará fazendo novas vítimas.
Savannah suspira.
— Isso é verdade. Mas a imagem dele estará exposta com todas as coisas
que fez contra vocês. Espero que isso seja o suficiente para livrar outras
garotas das garras dele. Vocês duas são muito corajosas.
Sophie e Agatha se entreolham.
— Ele mal conseguia nos encarar — Agatha murmura baixinho. — Nem
parecia o meu… Namorado.
— É — concorda Sophie, abrindo um sorriso fraco para ela. —
Finalmente estamos livres. E, Leslie… — Ela se vira para mim, encolhendo
os ombros. — Obrigada por tudo o que fez por mim. A Savannah, o dossiê,
tudo isso… Obrigada por se importar o suficiente para não deixá-lo impune.
Jamais conseguirei agradecer o suficiente.
Sinto meus olhos marejarem e Nate aperta meus dedos com carinho.
Abro um sorriso fraco para as garotas à minha frente.
— Vou sentir a sua falta — murmuro, emocionada.
E parados ali, com uma garoa fina no ar, finalmente consigo imaginar
um futuro. Um futuro sem Adam, sem ameaças e recheado de coisas lindas.
Para todos nós.
Eu nunca mais me apaixonaria até que a encontrasse
Eu disse: eu nunca me apaixonaria, a menos que seja por você
Eu estava perdido na escuridão, mas então eu a encontrei
Eu te encontrei
Until I Found You | Stephen Sanchez

Seis meses depois

— Promete me ligar quando chegar lá? — pergunta Leslie, fazendo um


biquinho para mim.
Eu sorrio.
— Claro que sim. Vou te ligar tantas vezes por dia que você vai
provavelmente enjoar de mim.
Ela bufa, fingindo irritação.
— Nunca conseguiria enjoar de você, Nate. Você sabe disso.
— Todos nós sabemos — murmura Landon com o gato preto nos braços.
Ele virou uma espécie de bichinho de estimação para ambas. — Vocês dois
não são exatamente os mais silenciosos, sabiam disso?
Eu estreito os olhos.
— Também vou sentir sua falta, Land.
Ela se aproxima.
— Nós vamos para Oklahoma daqui uma semana para acompanhar
alguns dos seus jogos, Nate. Não é como se fôssemos ficar meses sem nos
ver.
— É, mas vai ser estranho. Como vou sobreviver sem as gêmeas Reese
por perto? — questiono, encarando-as.
Leslie e Landon são diferentes e isso é visível até mesmo na forma como
se vestem ou se expressam. Os olhos brilhantes de Leslie são diferentes dos
cautelosos de Landon. Mas, porra, essas garotas são as pessoas mais
especiais da minha vida.
— Você não vai sobreviver sem a gente — responde Leslie, como se
fosse óbvio. — É por isso que vamos estar sempre trocando mensagens ou
fazendo ligações. Não é, Land?
— Não tenho tanta certeza — responde Landon, fingindo desinteresse.
A verdade é que quando fui a Los Angeles disputar o estadual, a minha
melhor amiga não parou de me mandar mensagem. Ela pode ter a pose de
durona, mas se preocupa comigo de verdade.
— Enquanto você está ocupado sendo um atleta muito importante… —
murmura Leslie, dramática. Em seguida, passa os braços em volta do
pescoço da irmã. — Vou tentar convencer a Landon a ir em um show do
Fake Affairs. Eles são incríveis e o Jessie é um gostoso.
— Ei — eu brinco, estreitando os olhos para ela.
Leslie solta uma risadinha.
— Você definitivamente é o homem mais gostoso do mundo, amor, mas
eu não sou cega, né?
E é exatamente por isso que eu amo essa garota.
Ainda me incomoda pensar que foi necessário o babaca do Adam cruzar
nossos caminhos para que eu finalmente percebesse que jamais conseguiria
superar a minha paixão por Leslie. E, graças ao universo, é recíproco.
Savannah nos ligou dois dias depois da reunião que tivemos com a
família do Adam para avisar que ele confessou. Ele ficou preso cerca de
três meses antes de conseguir a liberdade em troca de se internar em uma
clínica de reabilitação.
Todos nós ficamos irritados em como ele conseguiu se livrar tão
facilmente de sua pena, mas não é como se não fosse esperado.
A matéria de Savannah foi publicada e rapidamente se tornou pauta em
praticamente todos os jornais do país. Depois que Sophie, Agatha e Leslie
se abriram a respeito de tudo o que passaram com Adam Kennedy, várias
outras garotas se sentiram motivadas a fazerem o mesmo.
E se tornou uma corrente maior do que pensávamos. Várias celebridades
apoiaram a causa e deram voz a essas meninas. Não demorou muito para se
tornar uma pauta mundial.
Embora tenha saído impune, não acho que a vida de Adam será a
mesma. Os contatos que eles tanto se gabavam que tinham foram os
primeiros a dar entrevistas repudiando todos os seus atos, a fim de
desvincularem suas imagens da dele.
Sophie conseguiu ir para Yale fazer um dos cursos preparatórios para
Medicina. Ela e Leslie ainda mantêm contato e temos a teoria de que ela e
Agatha estão saindo. As duas não se desgrudaram desde que descobriram
que estavam namorando Adam ao mesmo tempo.
E, lentamente, as coisas foram se ajeitando. Leslie e eu somos
oficialmente um casal e embora eu esteja indo para Oklahoma disputar o
College World durante onze dias, sinto que ficaremos bem.
— Vocês dois são enjoativos de tão melosos — resmunga Landon,
acariciando o pelo macio de Salém. — É irritante.
— Mas você ama a gente mesmo assim — retruco, o que faz Land
arquear a sobrancelha para mim.
Suspirando, ela deixa os ombros caírem.
— É verdade. Eu amo vocês dois.

Leslie veio dormir no meu apartamento porque vou viajar amanhã bem
cedo. Concordamos que Landon e ela ficarão cuidando dele para mim
enquanto eu estou disputando o nacional.
Confesso que estou um pouco apavorado ao pensar que a garota mais
bagunceira que eu conheço ficará responsável por cuidar do meu
apartamento. Já consigo imaginar como ela deixará as toalhas molhadas em
cima da cama ou até mesmo as roupas espalhadas pelo chão.
A minha esperança, no entanto, é que Landon consegue ser ainda mais
metódica do que eu. Vou comentar com ela mais uma vez sobre a
organização da casa.
— Preciso te mostrar uma coisa — anuncia Leslie, assim que abro a
porta do meu apartamento.
— Estou curioso.
— Calma aí. Preciso ir para o seu quarto.
Franzo a testa.
— É tão importante assim?
Ela faz uma careta.
— Aposto que você vai amar, Nate. Confia em mim.
Estreito os olhos em sua direção, fingindo não estar tão convencido.
Namorar Leslie é como entrar em uma montanha-russa e é um misto de
emoções todos os dias.
Amo essa garota.
— Vou ficar te esperando na sala — digo, me jogando sobre o sofá.
Ela solta um gritinho e faz uma dança da vitória, o que me arranca uma
gargalhada.
— Tá bom, mas você precisa ficar com os olhos fechados! — diz ela,
animada.
— Agora estou com medo.
— Confia em mim, O’Connel. Tenho certeza que você vai gostar.
Suspiro.
— Você vai acabar me matando, Leslie. Sabe disso, não sabe?
— Para de drama. Eu pelo menos estou trazendo emoção para a sua vida.
Agora fecha os olhos e fica quietinho aí.
Faço como ela manda, sentindo a ansiedade penetrar os meus poros.
Depois de alguns minutos, Leslie está de volta e sussurra que eu posso
abrir os olhos.
— O que você acha? — pergunta ela, sorrindo.
Eu estou sem palavras.
Leslie Reese está usando uma versão feminina do meu uniforme de
beisebol e a logo dos Angry Sharks está bem em evidência.
Ela me encara, em expectativa, usando nada além dessa maldita blusa.
Suas pernas torneadas estão desviando um pouco a minha atenção, mas eu
continuo com meus olhos fixos em seu rosto.
— Meu Deus, Leslie — murmuro, embasbacado. — Você está linda.
— E essa nem é a melhor parte — anuncia ela, antes de se virar.
E é aí que o meu mundo explode em milhões de pedaços e depois volta
ao seu encaixe perfeito. Porque assim que a minha namorada vira de costas,
eu vejo o que está escrito em sua roupa.
Namorada do rei do home run, logo acima do meu sobrenome.
Porra.
Nunca fui uma pessoa muito emotiva e não costumo chorar com muita
frequência. No entanto, vê-la orgulhosamente usando a minha roupa é um
jato a mais de amor que eu não sabia que precisava.
Quando ela vira para olhar novamente para mim, não consigo manter
meus olhos longe dela. Acho que posso estar com os olhos úmidos, porque
sua expressão vai murchando lentamente.
— Ai, não! Era pra ser uma coisa boa — diz ela, se apressando para
correr na minha direção.
Eu seguro suas mãos, beijando delicadamente seus dedos.
— Eu… Só estou feliz, Leslie. Você é muito mais do que eu mereço —
digo por fim. — Obrigado, amor. Isso significa muito.
Ela abre um sorriso convencido, me dando um beijinho na bochecha.
— Eu estava com medo de você não gostar, mas agora que está
aprovado, acho que vou usar isso aqui para torcer pra você em Oklahoma.
O que você acha?
Solto uma risada.
— Eu acho que os caras do time vão ficar com inveja. Nunca nenhum
deles teve uma fã assim.
— E não é incrível? — pergunta ela, animada. — Preciso manter meu
posto de fã número um.
— Ele já é seu.
E não estou mentindo. Leslie é dona dos meus sorrisos, dos meus dias
felizes, da minha paz. Não sei exatamente como aconteceu, mas, de uns
tempos para cá, quando penso em casa, me refiro a ela.
Vou casar com essa garota um dia.
Leslie O’Connel soa bem.
— Por que você está me olhando assim? — questiona ela, apertando os
olhos.
Dou de ombros, sorrindo como um bobo.
— Assim como?
— Com essa expressão estranha. É como se eu fosse um pote de
biscoitos na manhã de Natal.
Eu sorrio novamente. Leslie está se referindo à disputa que tivemos na
manhã de Natal na minha casa em Barlow pelos biscoitos amanteigados que
meu pai fez.
As receitas da minha mãe continuam fazendo sucesso.
— Talvez você seja o meu pote de biscoitos hoje, Leslie. Já parou para
pensar nisso?
— Ai, meu Deus, você é bem esquisito mesmo, não é? A sua sorte é que
eu gosto. Se não, acho que seria um sinal vermelho para eu sair correndo.
Eu puxo seu corpo contra mim, adorando sentir o impacto de nossas
peles. Acho que nunca vou me acostumar com isso. Toda vez que estou
perto dela desse jeito é como se milhares de fogos de artifício explodissem
à nossa volta.
— Não acho que você me deixaria por causa disso. Não queria te contar,
Leslie, mas você é bem esquisita também.
Ela abre a boca, fingindo estar em choque.
— Não sou!
— Ah, é sim. Mas eu até acho fofo.
— Diz uma coisa esquisita que eu já fiz — pede ela, cruzando os braços
e fazendo um biquinho irresistível.
Ela coloca os braços ao redor do meu pescoço e eu a acomodo melhor no
meu colo.
— Bom, teve aquela vez em que você contratou um fotógrafo para nos
recepcionar em Barlow.
— Ei, a nossa chegada foi um grande evento!
— Ou então quando me fez participar de um body shot em uma das
festas do pós-jogo…
— Estávamos em uma missão, Nate. Precisávamos nos enturmar!
— Também teve a vez em que você foi atrás de mim numa boate em Los
Angeles durante a madrugada.
— Você tinha um jogo super importante na noite seguinte e eu não
queria que você voltasse tão tarde! Além do mais, o seu celular não estava
pegando e nós dois sabemos que o Adam é maluco. Eu estava temendo pela
sua vida.
Encaro seu rostinho bravo, sem conseguir resistir a me aproximar e dar
um beijo em seu nariz. Leslie não suaviza a carranca, mas amolece um
pouco mais contra mim.
— Eu sei, e é por isso que eu te amo, Leslie Reese.
Ela ofega, encaixando o rosto no meu pescoço. Nunca vou me cansar de
deixá-la envergonhada assim.
— É engraçado — comento, passando a mão suavemente sobre suas
costas. — Eu sempre fico vermelho quando você faz algum comentário
sexual e você fica assim quando eu declaro o meu amor por você.
Ela levanta o rosto para me encarar, sem jeito.
— Eu te amo, Nate. Só fico com vergonha de ficar falando assim. Gosto
de mostrar.
Arqueio a sobrancelha, roubando um beijo casto de seus lábios. Embora
ela esteja sexy para caralho usando a versão feminina do meu uniforme,
estar com ela assim, encaixada em meus braços, é o que faz tudo valer a
pena.
— Ah é? E como você pretende mostrar isso pra mim?
Leslie abre um sorriso malicioso, chocando nossas bocas enquanto passa
a mão suavemente pelo meu peitoral.
A nossa linguagem de amor pode ser diferente, assim como as nossas
personalidades. Mas, porra, não existe mais nada tão perfeito como nós dois
somos quando estamos exatamente assim.
Juntos.
E, a partir de agora, espero que para sempre.
Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você
Can’t Help Falling In Love | Elvis Presley

quatro anos depois

Não consigo conter as lágrimas ao me olhar no espelho. A beca coube


perfeitamente em mim e fiz questão de fazer um delineado que deixa o meu
olhar marcante, juntamente com um batom vermelho.
Porque hoje estou me formando. Finalmente vou poder me mudar para
Los Angeles e correr atrás do sonho de me tornar roteirista.
— Leslie? — Landon me chama, surgindo atrás de mim com um sorriso
no rosto.
Somos como um espelho e vê-la com a roupa de formatura me deixa
ainda mais emocionada. Sinto meus olhos úmidos ao pensar em tudo que
passamos nesses anos como universitárias e como ambas precisamos
superar medos para conseguir chegar até aqui.
Tenho muito orgulho de nós.
— Nem consigo acreditar que já estamos formadas. Parece que foi
ontem que a carta de aceitação de Granville chegou lá em casa, em Barlow
— comento, tocando os fios de seu cabelo de forma carinhosa.
Landon funga baixinho, concordando com a cabeça.
— Lembra como ficamos felizes? A gente pediu para o papai dirigir até
a divisa e pulamos naquele lago esquisito — relembra ela, fazendo uma
careta.
Sorrio.
— Lembro. Depois desse dia nós pegamos uma virose por causa da água
contaminada e passamos o verão de cama antes de vir para Granville.
— A gente não perdeu nada na cidade, de qualquer forma — consola
Land, com um sorriso de quem sabe das coisas.
Nós terminamos de nos arrumar junto com os outros formandos
enquanto um filme passa pela minha cabeça. Mal consigo me lembrar do
primeiro ano e do que aconteceu com Adam, mas foi algo que mudou
completamente a minha vida.
Sophie está terminando a faculdade em Yale e já foi aceita em Medicina
por lá. Nunca vi minha amiga tão feliz, exceto por, talvez, quando ela está
com a sua namorada, Agatha.
Sim, as duas acabaram se aproximando depois que descobriram que
dividiam o mesmo namorado. Tudo começou como uma amizade até que
elas perceberam que tinham muito em comum e se davam muito bem.
Lentamente a amizade acabou se tornando outra coisa e elas decidiram
tentar. Elas continuam firmes e fortes, e agora planejam morar juntas.
Nate e eu vamos precisar ajeitar algumas coisas, principalmente depois
que o roteiro que eu finalizei no meu último ano na faculdade foi comprado
por uma grande produtora para se tornar um filme. Por causa disso, eu
preferi me mudar para Los Angeles e continuar trabalhando com isso por
um tempo.
Meu namorado, por outro lado, acabou sendo draftado para nada mais,
nada menos que os Red Sox. Ele vai se mudar para Boston e fez questão de
comprar um apartamento com mais de três quartos para que Landon e o
prefeito Andrew possam passar os feriados com a gente lá.
— Você não vai mesmo se mudar com o Nate? — pergunta Landon,
cruzando nossos braços enquanto vamos até o enorme ginásio.
Balanço a cabeça.
— Eu amo o Nate, mas sei que não estaria sendo justa comigo mesma se
eu não corresse atrás dos meus sonhos agora. Vou morar em Los Angeles
por alguns meses e tentar a carreira de roteirista por lá. Depois disso, vou
poder trabalhar de qualquer lugar do mundo, apenas escrevendo.
— Com certeza vocês vão fazer dar certo — diz Landon, otimista.
Afinal, de contas, ela entende bem de namoros a distância.
Nate e eu temos uma conexão que com o tempo só aumentou, então não
tenho dúvidas de que vamos continuar firmes e fortes sim.

Depois da formatura e da entrega dos diplomas, todos nós saímos para


jantar juntos. Nate, o prefeito Andrew e meus pais, que vieram diretamente
de Barlow para presenciar esse momento. Landon está segurando o celular
porque seu namorado está acompanhando tudo por chamada de vídeo. Ele
não conseguiu estar presente porque está em turnê com a sua banda.
Meu Deus, como eu os amo.
Nós comemos no restaurante que virou nosso ponto de encontro desde
que voltamos de Barlow e não poderia ser mais perfeito. Nós rimos,
conversamos, contamos histórias engraçadas da época que Barlow
significava tudo o que conhecemos e, claro, conversamos sobre o futuro
também.
— Leslie vai morar em Los Angeles por enquanto, pai — explica Nate,
sério. — Mas todas as vezes em que eu tiver folga pretendo vir a Los
Angeles visitá-la. Ela também planeja passar os finais de semana comigo
em Boston.
— Eu acho isso ótimo — comenta o meu pai, Norman. — Não é igual
aos nossos tempos onde as cartas demoravam dias para chegar. Com a
internet fica mais fácil manter um relacionamento à distância.
— Sem contar que eu estou recebendo bem — interrompe Nate, abrindo
um sorriso orgulhoso. — Posso comprar as passagens sempre que
precisarmos. E vai ser temporário também. Leslie vai se mudar depois que
conseguir contatos.
O prefeito Andrew desvia o olhar da sua costelinha para me encarar,
estarrecido.
— É verdade, querida?
Dou de ombros.
— Sim. Nate e eu não vamos nos separar, só estamos querendo correr
atrás de nossos sonhos.
O meu namorado entrelaça nossos dedos, levando a minha mão até seus
lábios para deixar um beijo entre meus dedos. Controlo o suspiro que quer
sair, porque quando ele é carinhoso desse jeito, tudo o que eu quero fazer é
arrancar suas roupas e tê-lo o mais perto possível de mim.
Depois que terminamos o jantar, Nate me convida para dormir em seu,
até então, apartamento. Ele vai entregar para o proprietário na semana que
vem, o que é bom, porque vamos poder passar esses últimos dias juntos
antes que ele precise ir para Boston.
— Mal podia esperar para poder fazer isso — murmura Nate assim que
passamos pela porta.
Eu o encaro, confusa.
— Fazer o quê?
E então eu encaro a sala de estar. A mesma sala em que transamos pela
primeira vez, onde eu soube que ele era o cara para mim. O mesmo lugar
em que terminamos de assistir todas as temporadas de Keeping Up With the
Kardashians e onde dormimos abraçados tantas vezes.
Está repleto de velas e rosas espalhadas pelo chão.
— Nate… — murmuro, arfando.
Mas quando me viro para encará-lo, encontro a cena mais linda e de tirar
o fôlego de todos os tempos.
Nate O'Connel, rebatedor recém-contratado dos Red Sox, está ajoelhado
na minha frente. Consigo perceber que ele está nervoso porque o pescoço
está vermelho e quando mexe no bolso da calça, meu coração para.
Lentamente, ele levanta uma caixinha azul-claro e abre com cuidado. O
anel de diamantes brilhando lá dentro é mais do que autoexplicativo.
— Leslie Reese — começa ele com a voz trêmula. — Pensei muitas
vezes antes de fazer esse pedido. Tive medo. Até hoje não consigo acreditar
que a garota mais incrível que eu já conheci, dona dos sorrisos mais
brilhantes e do coração mais puro é minha namorada há tantos anos. Me
apaixonei por você quando tínhamos oito anos, Leslie, e desde então não
existiu um único momento em que você não estivesse impregnada em mim.
Te amei em silêncio e continuaria assim pelo resto da vida, mas graças ao
universo conseguimos nos encontrar. Não há dúvidas pra mim. Você é a
mulher da minha vida. E embora o beisebol seja uma parte muito
importante da minha vida, eu largaria tudo em um piscar de olhos para ficar
com você. Eu te amo, princesa. E quero passar o resto dos meus dias com
você. Quer casar comigo?
Não consigo responder nada porque as lágrimas estão escorrendo pelo
meu rosto sem parar. Nem percebo quando estou soluçando porque,
caramba, não consigo reagir a isso.
Os olhos de Nate parecem inseguros e ele continua ajoelhado.
— Leslie? — pergunta, incerto.
Eu me agacho na mesma hora, segurando seu rosto com as minhas mãos
e capturando seus lábios com os meus.
— Sim, sim, sim, mil vezes sim! — respondo, dando vários beijos em
seu rosto. — Também não tenho dúvidas quanto a você, Nate.
Nós continuamos ali, parados, absorvendo a grandeza do momento. Nate
não demora a colocar o anel brilhante da Tiffany no meu dedo anelar,
beijando a palma da minha mão em seguida.
— Meu Deus, eu estou noiva! — exclamo, me jogando sobre ele. Nate ri
e me agarra.
— Um casamento com Leslie Reese sendo a noiva. Que os deuses nos
ajudem.
— Vai ser o evento do ano! Vou precisar que a Landon esteja disponível,
é claro, e quando você tiver um tempo também vou querer a sua ajuda! Será
que a gente faz uma festa em Barlow e outra por aqui ou vamos fazer aqui
mesmo e convidamos poucas pessoas? Eu nem sei por onde começar!
Nate abre um sorriso de canto, daqueles que me deixam louca, e me
puxa para mais um beijo.
— Não importa como seja, Leslie. Vai ser perfeito porque vou me casar
com você.
— Você não pode dizer coisas fofas pra mim assim, Nate… — murmuro,
rouca. — Você sabe que eu não consigo resistir.
Ele junta as sobrancelhas.
— Talvez eu não queira que você resista, amor. Já pensou nisso?
Mordo meu lábio inferior, agarrando a sua nuca para beijá-lo mais uma
vez. Meu Deus, como eu o amo. Amo que Nate conhece cada uma das
minhas sardas de cor, que assiste a todos os reality shows que eu gosto
comigo e que também sempre pesquisa opções de pratos vegetarianos e
veganos para me surpreender.
Amo que ele seja o namorado mais carinhoso e dedicado do mundo
durante o dia — mas que me come com força quando estamos em seu
quarto.
Eu amo o quanto ele é perfeito para mim.
— Eu sabia que você era o meu anjo… — ele cantarola a música Angel
do Aerosmith e eu solto uma risada contra os seus lábios.
— Agora eu sou seu anjo, hein? Porque eu me lembro de você dizendo
que eu era uma diabinha…
— Você é os dois. Minha diabinha e o meu anjo.
Ela sorri.
— Eu te amo, Nate.
— Eu te amo, Leslie.
E então eu grudo meus lábios nos seus, sentindo suas mãos descerem até
meus quadris e me puxarem com força. Quando estou em seus braços não
me importo com o futuro e como será manter um relacionamento à
distância, mesmo que por poucos meses. Também não ligo de ter que me
mudar para Boston, uma cidade fria, por causa dele.
Nate O’Connel é o meu cara.
E eu pretendo mantê-lo assim.
Para sempre.
Primeiro de tudo, preciso agradecer a Beatriz Garcia por ter topado criar
esse mundinho comigo. As gêmeas, Barlow, Granville, Fake Affairs e os
Angry Sharks. Tudo isso me deu conforto e me divertiu depois de um livro
tão complicado como foi meu último lançamento (meu ponto extra).
Obrigada, Bia, por ter embarcado nessa comigo! Quero ver esse mundo se
expandir cada vez mais daqui pra frente <3
À minha mãe e à minha irmã que sempre seguram as pontas aqui em
casa quando eu entro na reta final do livro. Não conseguiria trabalhar com o
que eu amo se não fosse por vocês.
Ao meu namorado, Matheus, por ser simplesmente melhor do que eu
imaginei. Obrigada por me arrastar pra sua casa sempre que eu estou com
prazo apertado para eu me concentrar, pelo apoio incondicional, e por tudo.
@buoliveira_ amiga, obrigada por absolutamente tudo. Por ser consolo,
minha rede de apoio, a minha pessoa. A que eu sei que posso contar pra
sempre, a minha de fé <3 Te amo amiga! Mais uma vez juntas.
E, também, a minha tia Cláudia. Eu me lembro de crescer escutando
sobre o relacionamento que te aprisionou por tantos anos e essas memórias
vieram com força enquanto eu criava a Sophie. Obrigada, tia, por ter se
escolhido. Nossa família é muito mais feliz porque temos você. Nunca se
esqueça disso. Eu te amo.

AGORA PASSE PARA O LADO! TEM SURPRESA <3


Eu estava chorando quando te encontrei
Agora estou tentando te esquecer
Seu amor é um doce sofrimento
Cryin’ | Aerosmith

Coloco minha mão direita perto da boca e finjo que estou segurando
um gravador. Inspirada em um dos personagens que eu mais amo no
mundo, eu simulo que estou falando com Diana, o gravador usando por
Dale Cooper em Twin Peaks.
— Diana, 14:34, cidade de Granville. Estou, neste exato momento,
ligando o timer de cinco minutos.
Bato na tela do celular que tenho apoiado na pia e ele começa a
rodar.
Cinco minutos.
Quatro minutos e cinquenta e nove segundos.
Cinquenta e oito.
Cinquenta e sete.
Cinquenta e seis.
E neste momento, eu começo a hiperventilar. Olho para o palito com
a ponta rosa e meu martírio ganha vida. O trajeto até a farmácia depois da
aula foi feito no automático. Chegar até meu quarto também. Responder às
perguntas da minha irmã dizendo que estava tudo bem? Automático. Fugir
de qualquer irmã da Sororidade que moro? Um desafio. As cinco
garrafinhas de água que tomei para sentir vontade de fazer xixi? Todas
engolidas rápido demais. Nunca tive problemas para ir ao banheiro, mas
justo hoje, não tinha uma gota dentro de mim para gerar um mísero xixi no
palito.
Na porcaria de um teste de gravidez.
Quatro minutos e trinta e dois segundos.
Como eu pude deixar isso acontecer? Que caminhos eu tomei para
chegar nesse ponto, onde eu não só desconfio de uma gravidez, como
também me apaixonei por Jessie Sanders?

SIGA @autorabeatrizg no IG para mais informações sobre o livro


da Landon!
E venha me seguir no instragram @mseyfild para surtar sobre a
Leslie <3

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