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Basta usar o código abaixo para acessar a playlist que montei com carinho
pra você! Se preferir, também pode acessar pelo meu Instagram!
Antes do jogo começar
Meu cenho se franze. Ainda não está bom, mas é o melhor que
consigo. Sei que posso simplesmente assistir o jogo com um torcedor
normal, mas quero mostrar ao técnico que tenho interesse no time. Eu
poderia perguntar ao meu irmão, mas não sei se ele vai ficar feliz quando
descobrir que estou planejando invadir seu ambiente de trabalho.
Uma notificação aparece no canto da minha tela. Por um momento,
penso que é uma resposta de Stevie, mas percebo que me inscrevi na
newsletter da UCLA sem querer. Estou pronto para jogar o e-mail no lixo
quando o assunto me chama atenção.
FESTA DE BOAS-VINDAS DA FRATERNIDADE ALPHA DELTA
HOJE À NOITE
Considero por um instante. Seria uma boa oportunidade para explorar
o território e ver os jogadores dos Bruins mais de perto, mas não quero ir
para uma festa de fraternidade sozinho. Se tem uma coisa que eu sei, é que
universitários são caóticos. Os jogos vorazes são brincadeira de criança
perto de uma festa da Alpha Delta.
Mando uma mensagem para Noah.
ATLAS: ainda tá em santa mônica?
∞∞∞
Eu não sabia que os Pythons eram tão famosos fora de San Diego.
Quer dizer, sim, meu cérebro tinha essa informação, mas é sempre
estranho ver na prática. Estamos dentro do campus da UCLA há menos de
dez minutos e já fomos reconhecidos pelo menos cinco vezes, o que me faz
repensar todo plano de treinar os Bruins. Ok, foi precipitado — e burro? —
da minha parte presumir que um jogador nacionalmente famoso conseguiria
treinar um time universitário sem atrair todos os holofotes possíveis para
cima da universidade e do time, principalmente quando esse jogador em
questão acabou de sofrer uma lesão. Jornalistas esportivos amam fazer
terrorismo em cima desse tipo de tragédia: será que ele vai se recuperar?
Vai voltar a jogar como antes? Eu já vi umas quinze manchetes desse tipo
na última semana.
— Vai — Noah começa, quando estamos na frente da mansão Alpha
Delta. Música alta e luzes coloridas escapam pelas janelas. — Me conta os
seus motivos totalmente profissionais.
— A curiosidade foi a única coisa que fez você vir?
— Obviamente. Eu poderia estar no Airbnb que eu e Sabrina
alugamos agora.
Reviro os olhos.
— Sinto muito por atrapalhar sua foda, você vai sobreviver — eu
observo o movimento dentro da casa, tentando encontrar algum dos rostos
que vi na página dos Bruins. Nada, por enquanto. — Eu estive pensando…
— Por que eu sinto que não vou gostar disso?
— Deixa eu falar! — corto. — Olha só. Eu não quero ficar os
próximos três meses olhando pro teto.
— O doutor Carter disse que…
— Esquece o doutor Carter. Eu estive pesquisando sobre os Bruins
desde a festa na casa dos pais da Sabrina e eu acho que é o projeto perfeito.
Noah não entende minha linha de raciocínio.
— Os Bruins?
— Quero trabalhar com eles — explico. — Eu vi alguns vídeos dos
caras na internet e eles não são péssimos.
— Também não são bons — Noah complementa.
Não me deixo abalar pelo comentário.
— Eu consigo fazer eles ganharem a NCAA[3].
Noah fica em silêncio por um instante, me encarando. Ele franze o
cenho. Talvez ache que eu estou brincando.
— Você bateu a cabeça?
— Fala sério, Noah.
— Eu estou falando muito sério — ele ri de nervoso. — Você não é
técnico.
Meu gesto automático é uma tentativa de dar de ombros, mas a tala
dentro da minha tipoia me impede.
— E mesmo não sendo, tenho mais experiência do que todos os caras
que já treinaram esse time. E eu não vou ser o técnico deles, eu só quero…
sei lá. Posso dar dicas, apontar o que eles estão fazendo de errado.
— E pra que?
— Pra não morrer de tédio — respondo, como se fosse óbvio. O
complemento à minha primeira frase vem um pouco mais baixo: — E
porque ninguém bota fé em mim.
— Você está num dos maiores times da NFL, é claro que botam fé em
você.
Reviro os olhos.
— Não, é diferente. Todo mundo acha que eu sou um festeiro
irresponsável incapaz de levar as coisas à sério.
Eu não preciso que as pessoas digam isso na minha cara para saber
que é isso que pensam, embora algumas já tenham feito.
Noah hesita em me responder.
— Bom…
— Viu? Até você!
— Ai, cala a boca. Você é um ótimo left tackle — ele dá uma longa
pausa, alternando o peso do corpo de um pé para o outro. — E também é
festeiro. E um pouco irresponsável às vezes…
Solto o ar pelo nariz, irritado.
— Mas a gente te ama mesmo assim! — Noah completa.
— Eu vou mostrar pra vocês.
— Conversa com o Zade antes — pede. — E com o Terry. Você sabe
que ele já não gosta muito de voc…
— Ele vai gostar depois que eu colocar um time de merda no topo do
campeonato universitário — interrompo. — Você vai ver. Vai ser ótimo pra
minha carreira.
Noah ainda não está convencido.
— Eu não colocaria minha carreira nas mãos de um timeco qualquer
só pra provar um ponto — diz. — Se não der certo, sua imagem vai ficar
eternamente atrelada a de um time derrotado. Tem outras formas de se
mostrar maduro, se é isso que você quer. Aliás, por que essa neura agora?
Você parecia estar de boa com a sua imagem de festeiro até duas semanas
atrás. Você é tipo o mascotinho do time, as garotas gostam, todo mundo está
feliz.
— Mascotinho?
Noah dá um sorriso irônico.
— Eu vou fazer o papel do seu terapeuta agora. Me diz de onde veio
essa noia.
— Tive uma conversa ruim com meu pai.
Noah suspira.
— Ah.
Chad e Noah são os únicos que sabem que a minha relação com meu
pai é péssima. William Campbell é dono da maior empresa transportadora
de carga fracionada dos Estados Unidos. Ele se casou com uma atriz hippie
viciada em mitologia grega — popularmente conhecida como minha mãe
— e nunca superou que nem eu nem Orion quisemos adentrar o seu
mundinho de negócios. Mesmo assim, ele lida infinitamente melhor com o
fato de Orion dar aulas na UCLA do que comigo. William pensa que
futebol não é um emprego de verdade e é por isso que evito falar com ele na
maioria dos dias do ano.
— Você não precisa provar nada pra ele — Noah diz, simples.
Essa é a parte engraçada de ser um homem de 23 anos com problemas
familiares. Eu sei que não devo nada ao meu pai, mas sinto a necessidade
de provar que ele está errado sempre que posso. É um ciclo viciante porque,
na verdade, ele nunca muda de opinião sobre mim, por mais que eu me
esforce. Não mudou de opinião quando entrei nos Pythons, não mudou de
opinião quando vencemos o Super Bowl no ano retrasado e não vai mudar
de opinião quando eu transformar os Bruins. Mesmo assim, eu continuo
tentando.
— É, tanto faz — é tudo que eu digo, apontando para a mansão Alpha
Delta com a cabeça. — Vamos entrar. Tá frio aqui fora.
Noah dá uma risada complacente, porque não tem frio nenhum.
Estamos na porra da Califórnia e ele sabe que essa é só a minha forma de
encerrar um assunto desconfortável.
De forma quase instantânea, eu me sinto melhor dentro da mansão.
Está tocando uma versão remixada de Famous do Kanye West que eu tenho
certeza que já ouvi no TikTok antes. Qual o problema dos jovens de hoje
em dia com músicas que não estão na velocidade 2x?
— Tá bom — murmuro para Noah. — Meu plano é dar uma olhada
nos caras do time.
— E você sabe quem eles são?
— Sei quem é o quarterback — passo os olhos pela sala lotada da
mansão, mas não encontro nenhum sinal do rapaz que vi no centro das fotos
da UCLA. — Hunter Simmons. Tenho certeza que ele veio. Você sabe,
quarterbacks são populares.
— E o seu plano é?
— Sei lá, Noah, só estou observando a vida selvagem.
— Beleza — ele dá de ombros, descrente. — Vou buscar uma cerveja
pra mim. Quer um suco?
Assinto com a cabeça e me sinto como uma criança de oito anos de
idade. Felizmente, só tenho mais cinco dias de antibiótico pela frente.
A música muda e o ambiente parece cada vez mais caótico. Tem
gente fumando, gente dançando, gente se pegando e gente passando mal, o
que é um clássico da vida universitária. Isso tudo é embalado pelo som de
Deja Vu da Olivia Rodrigo, também numa versão remix esquisita que deixa
tudo com cara de barulho. Antes que Noah volte, meus olhos caem na
entrada na mansão e eu vejo o quarterback dos Bruins subindo as escadas. É
uma decepção imediata, porque ele parece um pouquinho maior nas fotos.
Ele tem quanto de altura? Um e oitenta?
Ótimo, um quarterback meio baixinho.
Os olhos do lugar caem nele quando ele entra, acompanhado de uma
garota de cabelo curto e olhos bicolores. Burburinhos se espalham pela
festa e eu deduzo que é a primeira vez que os dois aparecem juntos
publicamente, um clássico da vida universitária. Ele não está com a mão na
sua cintura e nem de mãos dadas, então eu apostaria o meu ombro bom que
se trata de um primeiro encontro. Estão juntos, mas não estão juntos.
— Oi! — uma voz estridente chama minha atenção. É de uma garota
loira e minúscula, vestida de vermelho dos pés à cabeça. Ela tem um copo
de bebida na mão e um sorriso de orelha a orelha. Eu deveria responder
alguma coisa, mas é como se uma nuvem passasse pelo meu cérebro. Tenho
certeza que ela é a mulher mais bonita que já vi na minha vida inteira. —
Você me faz um favor?
— Que favor? — pergunto, já esperando que ela peça uma foto ou um
autógrafo. As pessoas ficariam impressionadas se eu catalogasse quantos
peitos já assinei na vida e com certeza eu não me importaria de assinar os
dela.
— Vai parecer meio estranho — ela avisa. — Mas eu preciso que
você me beije.
Eu a encaro, sem entender, sem certeza do que acabo de ouvir.
É assim que os jovens flertam hoje em dia?
— Pode fazer isso? — pergunta, e eu percebo que está ansiosa por
algum motivo, mas sinto que não sou a razão dessa ansiedade.
Eu quero questionar, mas engulo as palavras para o fundo da
garganta. Ao invés de dizer qualquer coisa eu apoio a minha mão boa na
sua cintura e a empurro até a parede da sala, com cuidado. Se essa mulher
quer me beijar, eu sinto que estou saindo em vantagem, independente do
contexto. Se ela fosse uma assassina procurada em mais de cinquenta países
eu ainda consideraria uma vantagem.
Ela está de salto, mas precisa ficar na ponta dos pés por conta da
diferença de altura. Sua mão sobe até minha nuca e percebo que ela está
evitando tocar no meu ombro, por motivos óbvios. Meus lábios encontram
os dela e sua boca tem gosto de refrigerante, energético e álcool, numa
mistura de parar corações, no sentido mais literal da frase.
A ansiedade que vi em seu corpo segundos atrás desaparece. Seus
dedos se infiltram entre os meus cachos e ela me puxa para mais perto,
soltando um suspiro contra a minha boca. Minha mão aperta sua cintura
com mais força e eu percebo que esse beijo não é mais apropriado para uma
sala lotada.
Ela também percebe, porque se afasta, apoiando a cabeça na parede.
Ela tira os olhos de mim e procura por alguém no meio da multidão, mas
não tenho certeza se encontra.
— Obrigada — diz. — Você beija bem — ela abre um sorriso para
mim e então desaparece no mar de universitários que ocupam a mansão
Alpha Delta.
Eu não tenho tempo de perguntar o seu nome e também não tenho
interesse em saber, mas o destino me prega uma peça. Assim que olho pro
chão, encontro uma pulseira de miçangas coloridas que ela deixou cair do
pulso. Bolinhas coloridas formam o seu nome e a sigla da sua fraternidade.
TAYLOR. KKG.
Penso em ir atrás dela para devolver, mas não acompanhei em que
direção ela foi. Antes que eu possa tomar uma decisão, meu celular vibra
com um novo email.
De: stevieparker@ucla.com.br
Para: atlascampbell@pythons.com.br
RE: (Sem Assunto)
Boa noite, Atlas. Me perdoe pela hora.
É impressionante saber que os Bruins chamaram sua atenção
(impressionante mesmo, considerando nossos resultados rs).
Temos um jogo nesse domingo na UCLA. Se quiser vir, será
muito bem vindo.
— Eu quero me enterrar.
É a primeira coisa que Taylor diz quando joga uma canga do meu
lado e se senta na areia da praia. Ela acabou de sair do treino das líderes de
torcida, eu percebo, julgando pelo seu uniforme azul e amarelo. Eu tento
não reparar o quanto ela fica gostosa dentro dele, mas é uma batalha
perdida.
— Com toda certeza, foi um elogio inesquecível.
Taylor suspira, dramática.
— Ele deve achar que sou uma maluca com fetiche em mãos.
— Melhor do que ser uma maluca com fetiche em pés.
— Você tem um ponto — Taylor junta as pernas na frente do corpo,
encarando as ondas que quebram na sua frente. — Eu fiquei a aula inteira
me policiando e falei merda no final. Inacreditável.
— Precisa ser mais suave quando quiser fazer um elogio. Assim
como as mulheres não gostam que fiquem o tempo inteiro falando sobre
suas características físicas, homens também não gostam. Vai. Cita dez
coisas que você gosta nele.
A expressão de Taylor se transforma em uma interrogação.
— Ele é bonito.
— Nada físico.
Taylor demora ainda mais para responder. Caralho, ela consegue ser
pior que eu.
— Ah! — ela estala os dedos. — Ele joga futebol super bem.
Não consigo conter uma risada.
— Eu estava no jogo ontem, bem é uma palavra fortíssima.
— Estou fingindo que não entendo nada de futebol — Taylor dá de
ombros. — Vou deixar essa responsabilidade pro meu pai. Quando o Hunter
for o meu marido, ele pode usar as reuniões de família no natal pra dizer
que ele é um jogador de merda, mas eu vou ficar quietinha por enquanto.
— O seu pai?
— Elijah Lynch. Você sabe. Acionista majoritário dos Chargers.
Eu cerro os olhos, demorando alguns segundos para absorver a
informação. Não faz dois meses que tivemos uma treta em campo com esse
time e agora estou aqui ajudando a filha de um dos donos dele. O que
poderia dar errado? Taylor não espera, como a metralhadora ambulante de
palavras de sempre:
— É engraçado, porque meu pai cortaria minha língua fora se
soubesse que eu estava beijando um jogador dos Pythons — ela brinca. —
Mas eu gosto de dar emoção pra vida do velho — e o jeito que ela fala é
carinhoso. — Então tudo bem.
— Ele vai ficar super feliz quando você estiver namorando um
jogador de futebol fracassado.
— Não, nada disso. Você vai treiná-lo, não vai?
— Ah, você ficou sabendo.
— As fofocas na UCLA voam, principalmente quando envolvem um
jogador com fama internacional.
— Sabe o que o Hunter acha disso?
— Não. Não falamos sobre você, mas… Bom, ele parece desanimado
com o time. Acho que vai aceitar bem a ideia.
Movo a cabeça em afirmativa.
— Você tá procrastinando — reclamo. — Não disse dez coisas que
gosta nele.
— Dez é um número muito grande! — Taylor protesta, cruzando os
braços.
— Ok, cinco.
— Ele está cursando a disciplina de linguagem de sinais porque quer
aprender a falar com o namorado surdo da mãe — diz, animada. — Ele…
— Taylor para. Ela fica em silêncio por quase um minuto inteiro, e isso é
praticamente o maior tempo que já a vi calada, se excluirmos o momento
que sua língua estava ocupada se esfregando na minha. — Ele é Hunter
Simmons e isso deveria ser um elogio por si só.
— Tem certeza que tá apaixonada por ele?
— Sim! — Taylor não hesita, como se qualquer opção contrária fosse
um absurdo completo. — Eu sou uma especialista em paixão, Atlas.
— Uma especialista em paixão que não sabe flertar.
— Paixão é sobre amor, não é sobre flerte. Eu tinha dez anos de idade
quando me apaixonei pela primeira vez, pode confiar em mim quando digo
que sei do que estou falando.
— Dez anos de idade?
Taylor assente.
— Pelo meu coleguinha da escola. Ele me deixava comer as
bisnaguinhas dele.
A imagem que vem na minha cabeça é engraçada: Uma Taylor com
bochechas infinitamente maiores e bracinhos gordos comendo uma dezena
de bisnaguinhas no jardim de infância.
— E você?
— Eu o que?
— Quando se apaixonou pela primeira vez?
Eu a encaro, e é a minha vez de demorar para responder. Parece
estranho dizer que nunca aconteceu, embora seja verdade. Eu já gostei de
algumas garotas, mas nada muito intenso. Aquela coisa que os filmes e
livros de romance falam, sobre o coração acelerado, as mãos suando, o frio
na barriga… nunca senti nenhuma dessas coisas.
— Não sou do tipo que se apaixona — digo, simples. — Nunca
aconteceu.
Os olhos de Taylor se arregalam como se eu tivesse acabado de dizer
que como filhotes de cachorro no café da manhã.
— E como você vive?! — ela pergunta, incrédula. — A vida é muito
entediante quando não estamos obcecados por ninguém.
— Acho que tenho outras obsessões — é tudo que eu digo, porque
não quero me aprofundar nesse assunto. — Mas não vamos falar sobre
mim. É você que precisa de ajuda pra conquistar alguém, não eu.
— Certo. Os elogios.
— Tente ser genérica na próxima. Diz que ele é inteligente, por
exemplo.
Ela assente, como se estivesse tomando notas.
— E não elogia demais — alerto. — Vivemos numa sociedade
patriarcal, machista e todo aquele blá blá blá envolvendo sociologia básica.
Homens são ensinados que precisam conquistar as mulheres, então, se você
parecer fácil…
— Ele não vai me querer — Taylor completa.
— Isso. Precisa mostrar pra ele que tem muitas opções. Ele precisa se
sentir… escolhido.
Taylor solta um suspiro dramático, talvez o terceiro daquele dia.
— Homens são mais complicados que matemática — reclama. — E
olha que eu quase repeti essa matéria no colegial, várias vezes.
— Você está complicando as coisas porque está apaixonada, ou pelo
menos acha que está — eu ergo uma das mãos na direção dela. — Me dá
seu celular.
Taylor tira o celular da bolsa e eu noto que ela está usando
pulseirinhas novas. Ela fez uma pro time dos Bruins e uma dizendo que
ama linguagem de sinais. Ela realmente faz pulseiras pra tudo.
— O que vai fazer?
— Tentar resolver sua situação constrangedora com as mãos. Encosta
a cabeça no meu ombro — ela cerra os olhos, mas segue minha sugestão,
botando a cabeça no meu ombro saudável. Eu abro a câmera do Instagram e
passo o celular de volta para ela. — Tira uma foto. De cima, sem aparecer
meu rosto.
Taylor não entende o que estou tentando fazer, mas ela se aconchega
mais contra o meu corpo e levanta um dos braços para tirar a foto. São
quase cinco da tarde e a praia está pintada por tons bonitos de amarelo e
laranja: a famosa golden hour que as blogueiras tanto falam. Nossa foto fica
perfeita.
Pego o celular de volta da sua mão e ajusto a fotografia na tela,
mostrando apenas o suficiente para conseguirem perceber que é um homem
ao seu lado. Coloco um coração discreto no canto inferior da tela e posto.
— O que você…
— Vem cá, a gente precisa comprar alguma comida — digo enquanto
me levanto, sem mais explicações.
Taylor faz uma careta, mas me segue. Ela embola as duas cangas que
usávamos e enfia dentro da minha ecobag — não acredito que estou usando
a porra de uma ecobag, mas foi o que achei mais rápido na hora de sair de
casa —, e me acompanha até uma das barraquinhas de cachorro-quente da
praia.
— Sou vegetariana — ela avisa.
Eu demoro alguns minutos, mas encontro a opção vegetariana do
cardápio e entrego nas suas mãos.
— Segura na direção da praia.
Taylor faz o que eu peço e eu me coloco atrás dela, tirando uma foto
do cachorro-quente de carne vegetal em suas mãos, enquadrando uma boa
fatia do mar e da areia da praia atrás. Enquanto eu escrevo uma legenda, ela
se senta em um dos bancos próximos à barraquinha.
— Olha só — mostro a tela. Eu escrevi “espero que todo mundo
concorde que o cachorro-quente vegetariano de Venice Beach é o melhor
do mundo”. — Se ele tiver interesse, vai responder seu story.
Taylor arqueia uma sobrancelha.
— Por que ele responderia meu story se acabei de postar foto com
outro cara?
— Não tem nada naquela foto que indica que o cara em questão é seu
namorado. Só postamos pra incentivar a boa e velha rivalidade masculina.
— Ele vai ficar com ciúmes?
— Depende de quão dodói da cabeça ele é — eu me sento na frente
dela. — Mas não estamos trabalhando com ciúmes, estamos trabalhando
com… Disputa de território.
— Eu duvido que ele responda depois que elogiei as mãos dele.
Taylor dá uma mordida no cachorro-quente, frustrada. Eu coloco o
telefone na mesa entre nós.
— Confia em mim — aponto o celular com a cabeça. — Espera cinco
minutos.
Taylor não parece convencida. Ela continua comendo seu cachorro-
quente e balançando as pernas para frente e para trás num ritmo vicioso,
incapaz de ficar parada por mais de um segundo completo. Uma gota de
molho de tomate escorre por seu queixo e num movimento automático eu
levo meu dedo até a mancha, limpando-a.
Ela me encara.
Tem uma grande chance que eu tenha perdido tempo demais
encarando sua boca, mas Taylor ri. Felizmente, sou salvo pelo gongo
quando o celular dela vibra.
Ela me encara de novo antes de ver a notificação, incrédula.
Eu pego o celular antes, aproveitando a deixa perfeita para me afastar
dela.
@HUNTER: O do Pacific Park é melhor (não sei sobre o
vegetariano, mas o de carne com certeza) :P
— Viu? Eu disse.
Taylor tira o celular da minha mão e encara a tela, boquiaberta.
— E agora?
— E agora nada.
— Como assim? É a oportunidade perfeita pra eu dizer pra ele me
levar até lá.
— Não, tá maluca? — movo a cabeça em negativa. — Tem que se
fazer de difícil, principalmente depois de elogiar as mãos dele.
Taylor solta um muxoxo, irritada.
— Você vai curtir a mensagem, só isso.
— Ai, que ódio — ela curte a mensagem e coloca o telefone em cima
da mesa. — Quero pular pra parte que somos namorados e eu não preciso
ficar fazendo joguinho de desinteresse.
— Você vai chegar lá — incentivo. — Graças a mim, mas vai chegar
lá.
— Você é muito convencido, Atlas-não-o-Corrigan.
— Tá me comparando com um personagem da Colleen Hoover?
Taylor tomba a cabeça ligeiramente para o lado.
— Não esperava que você fosse pegar a referência.
— Entendo alguma coisa de livros de romance.
— O homem que nunca se apaixonou entende de livros de romance?
— Taylor ri. — Parece meio fora do personagem pra mim.
— E é, mas estou lendo os da Elle Kennedy agora.
— Você não está.
Aponto a ecobag no seu colo com a cabeça.
— Tem um exemplar aí.
Taylor cerra os olhos para mim. Ela enfia uma das mãos dentro da
bolsa e tira o exemplar de “A conquista” que enfiei dentro dela antes de sair
de casa.
— Eu duvido que você leu isso — diz, descrente. — Colocou isso na
bolsa pra parecer mais interessante pra mim.
Eu a encaro, incrédulo.
— Olha se não é a garota que acabou de me chamar de convencido
sendo mais convencida ainda. Por que eu ia querer parecer interessante pra
você?
— Posso não saber flertar, mas eu conheço o seu tipo.
— O tipo que finge ler livros de romance pra levar garotas virgens e
inocentes pra cama?
A palavra virgem parece deixá-la desconfortável, mas eu finjo que
não notei.
— Exatamente esse tipo — ela guarda o livro de volta na bolsa. — Se
você leu mesmo, qual personagem morreu?
Eu sussurro o nome para ela, evitando que qualquer outra pessoa
ouça.
Taylor solta uma risada, ainda em choque.
— E como ele morreu?
— Num acidente.
Ela pensa por um segundo.
— Caralho, você leu mesmo.
— Sim, mas isso vai ser segredo nosso. Arruinaria a minha reputação
se as pessoas soubessem que eu leio livros de romance.
Taylor revira os olhos para mim. Seus lábios se movem suavemente e
ela está prestes a soltar um xingamento quando alguma outra coisa chama
sua atenção, atrás de mim.
— Aquilo é um paparazzi? — pergunta, apontando para um homem
com uma câmera em punho, alguns metros distante.
— Sim — uma onda de preocupação passa pelo meu corpo. Se os
jornais apontarem que estou saindo com a filha do maior investidor do time
rival, estou fodido. — Que merda.
— Eu estacionei o meu carro aqui perto — ela desce do banco com
um pulo, sem esperar que eu faça qualquer outro comentário. Eu tento
prever que tipo de foto o homem tirou pelo ângulo que ele se encontra, mas
Taylor pega minha mão e me puxa antes que eu possa chegar a uma
conclusão. — Anda logo! Você é péssimo com fugas rápidas.
Não consigo evitar rir da forma que ela fala e deixo que ela me arraste
até o seu carro a poucos metros da praia. É uma cena engraçada pra quem
estiver vendo, porque eu sou grande demais e ela é pequena demais. É
como se um pinscher estivesse puxando um golden pela coleira. Vou contar
com a sorte e rezar para os santos que acredito e os que não acredito para
que o fotógrafo não tenha conseguido nenhuma foto boa, ou o Zade vai
surtar.
Tudo que eu menos preciso é que ele surte, principalmente quando
ainda não contei a ele sobre os Bruins.
Taylor entra no carro primeiro e abre a porta para mim. Seu carro é
um Jeep azul berrante e dá pra ver que ela gosta muito das cores da própria
universidade.
— Você não pode dirigir também, né?
Movo a cabeça em negativa.
— Não. Sou completamente inútil pelos próximos três meses.
Eu afundo o corpo no banco do carona. Sempre tive uma paixão por
velocidade e não tinha percebido o quanto vou sentir falta de dirigir até
agora.
— Mas você vai ficar bem — Taylor dá um sorriso consolador. Eu
não vou contar pra ela que, talvez, eu não fique. — Onde fica a sua casa?
Passo o endereço da casa de Orion, que por acaso é bem perto de
onde estamos. Se não fosse pelo paparazzi, eu não me importaria em voltar
a pé.
Taylor coloca o endereço no GPS e entra no aplicativo do Spotify em
seguida, selecionando a playlist de músicas mais tocadas nos Estados
Unidos. Ela gira a chave do carro e começamos a contornar a orla da praia
enquanto ela canta todas as letras a plenos pulmões, como se eu não
estivesse do seu lado.
Taylor Lynch não dá a mínima para a minha presença e eu não sei se
isso me conforta ou me incomoda, mas vou ter tempo de descobrir.
— Bom, tá entregue — ela diz, assim que para na frente da casa de
Orion, depois de dez minutos de música ininterruptos. Sua voz está até um
pouquinho mais rouca do que antes. — Obrigada pela intervenção de
emergência.
— É um prazer te ajudar a conquistar seu futuro marido — zombo,
totalmente ciente de quão estranha essa frase soa.
Taylor sorri e eu saio do carro, arrastando minha ecobag para fora.
Tiro o celular e confiro que — ainda — não saiu nenhuma fofoca sobre
mim nos jornais. Bem que o universo podia me dar uma forcinha e cortar
essa, porque os últimos dias não foram nada fáceis.
— E aí — Orion me cumprimenta, num tom animado demais, assim
que me vê entrando pela porta. — Quem era a garota?
— Meu deus, deixa de ser fofoqueiro — reclamo. — Tava espionando
da janela?
— Sim — ele dá de ombros. — Fiquei esperando um beijaço
acontecer e não rolou nada. Você já foi melhor, irmãozinho.
— Vai se foder — e se eu não estivesse com a minha mão boa
ocupada, eu teria mostrado o dedo do meio. — Ela é minha… — não tenho
uma boa palavra para usar, então vou na mais óbvia: — amiga, eu acho.
— Caralho, uma semana fora dos campos e você já foi rebaixado pra
friendzone.
— Você não tem alguma prova pra corrigir? Um noivo pra encher o
saco?
— Já acabei de corrigir todas as provas — ele abre um sorriso
convencido. — E o Carlos viajou a negócios, então estou por sua conta. Se
quiser me atualizar das fofocas da sua vida…
— Não tem fofoca nenhuma. Estou ajudando essa garota a sair com
um cara, só isso.
Orion deixa uma gargalhada escapar.
— Meu Deus, você tá vivendo um filme de comédia romântica ruim
— debocha. — Esse tipo de coisa nunca dá certo. Vai acabar se
apaixonando por ela no lugar do cara.
É a minha vez de rir.
— Porra, você bateu a cabeça?
— Não — Orion dá de ombros. — É o que sempre acontece.
— Tá bom, você com certeza bateu a cabeça, então eu vou te
relembrar cinco coisas básicas. Meu nome é Atlas, 23 anos, solteiro
convicto, nunca me apaixonei e nem pretendo.
— Se quer minha opinião…
— Não quero.
— Eu acho que faria bem pra você.
— Sabe o que me faria bem? Noite da pizza — e essa é a minha
forma nada discreta de mudar de assunto. — Na falta do seu noivo, nós
temos alguns vídeo games pra zerar.
Orion balança a cabeça em negativa, repreendendo meu
comportamento.
— Eu vou te dar uma surra no Mortal Kombat.
Me viro para deixar a bolsa no quarto.
— Até parece — grito lá de dentro. — Vou ganhar de você mesmo
com uma mão só.
Eu deixo a ecobag de Orion em cima da cama do quarto de hóspedes
e meus olhos caem na pulseira com o número de Taylor ainda no meu
pulso. Solto o ar pela boca, descrente de tudo que Orion acabou de falar.
Eu nunca me apaixono.
Muito menos por uma garota emocionada como Taylor Lynch. Nós
não poderíamos ser mais diferentes.
Capítulo 7 - Taylor Lynch
∞∞∞
Saio da sala de aula empolgada, ainda sem acreditar na oportunidade
que acabamos de ouvir. Gravo um áudio explicando o que aconteceu para
Mindy: foi um péssimo dia para ela matar aula. Nos últimos minutos, o
professor de dramaturgia trouxe a notícia de que tinha conseguido alguns
convites para a premiére de Água para Elefantes, um filme que amei assistir
e agora terei a chance de ver a adaptação para o teatro. O professor ainda
não deixou claro se será um sorteio, mas estou muito empolgada com a
possibilidade. Se ele decidir fazer alguma atividade para selecionar os
felizardos, me dedicarei a ela como se minha vida dependesse disso.
Porque quando eu decido que quero algo, nada consegue me parar.
Sigo pelo corredor na direção da próxima aula, minha cabeça
continua viajando em um cenário futuro que envolve a minha presença em
uma premiére da Broadway Hollywood, cercada de gente importante e
fazendo contatos que serão muito úteis para minha futura carreira de atriz.
Estou caminhando no segundo andar do prédio, ainda distraída,
quando reparo os cabelos castanhos do amor da minha vida passando pelo
térreo. De onde estou, tenho uma vista privilegiada e sei que ele não me viu
ainda. Não sei o que ele poderia estar fazendo no prédio de artes. Por mais
que eu queira pensar que está me procurando, não sou iludida. Posso ser
obcecada, mas meus métodos se baseiam em observação. E sei que Hunter
ainda não percebeu que está apaixonado por mim. Tudo questão de tempo,
claro.
Mas o que sei também é que não sou mulher de desperdiçar as
oportunidades que a vida me dá.
Desço as escadas correndo, aproveitando que tenho o fator surpresa a
meu favor. Confiro as horas no celular e sei que esse pequeno desvio vai me
fazer perder os primeiros minutos da próxima aula, mas não me importo.
Meu futuro casamento está em jogo.
Diminuo o passo a ponto de parecer uma caminhada normal e sigo
meu caminho a poucos metros de onde Hunter está. Ele parece perdido e,
por um segundo, cogito se realmente está ali por minha causa. Conto até
cinco em voz baixa e tento manter a calma. Encarno a atriz que habita em
mim e levanto a cabeça, olhar sempre fixo em algum ponto à frente, e
atravesso o hall do prédio sem olhar para o quarterback.
Quando estou perto de entrar no prédio, escuto a voz atrás de mim e
preciso de uma energia capaz de levar um foguete para o espaço para conter
o sorriso que ameaça aparecer nos meus lábios.
— Taylor! Ei, Taylor!
Olho para trás, a expressão confusa sem saber quem poderia ter me
chamado. Assim que vejo Hunter correndo na minha direção, finalmente
relaxo o rosto permitindo um sorriso discreto.
— Oi, Hunter! — Ele se aproxima e me cumprimenta com um beijo
no rosto. Isso é uma novidade para mim. — Não sabia que você vinha aqui
nas artes. Não me diga que tem aula aqui também?
Ele solta uma pequena risada. É um som tão lindo que me dá vontade
de pedir ele pra repetir para eu gravar. Colocaria para tocar todas as noites
antes de eu dormir.
— Eu tava só passando, marquei com um amigo de pegar uma coisa
com ele.
Eu realmente tento manter os dois pés na realidade, mas o Hunter
também não me ajuda. Uma resposta vaga dessa alimenta muito a fic na
minha cabeça.
Ele veio por minha causa.
Me recordo das dicas de Atlas e tento não despejar um balde de
elogios logo de cara. Então percebo que estou encarando ele sem dizer
nada. Preciso agir rápido.
— Ah, entendi. Bom, eu tenho uma aula agora, então…
Sinto meu corpo odiar minha boca por deixar aquelas palavras saírem.
Sei que o Atlas disse que eu precisava mostrar que sou interessante e que o
mundo não gira ao redor de Hunter, mas como fazer isso com essa
gravidade tão grande que ele tem sobre mim?
— Claro, sim… — ele parece um pouco chateado e meu coração
aperta. Estou prestes a desmentir e dizer que aceito matar aula para fazer
algo com ele, mas ele é mais rápido. — Eu vi você no jornal hoje. Tá
ficando famosa.
Como estudante de artes cênicas, a gente aprende muitas coisas que
são extremamente úteis no dia a dia. Perceber as emoções escondidas por
trás de cada fala é uma delas. E o Hunter é uma bagunça nesse momento.
Há nervosismo, expectativa e medo, tudo misturado atrás do sorriso que ele
sustenta no rosto perfeito.
Finjo indignação.
— Ah, você viu? — Cruzo os braços. — Hoje a gente não pode nem
ir mais na praia sem aparecer esses abutres, como o meu pai diz, querendo
fofocas.
Sinto o coração apertar como se uma mão metálica o comprimisse ao
extremo. É muito difícil não gritar para o meu amor que não existe nada
entre mim e o Atlas.
— Entendi — ele solta uma risada nervosa. — Então você e ele não
estão… juntos?
Um mini sorriso aparece no meu lábio, foi mais forte que eu. Tento
disfarçar transformando ele em uma risada.
— Eu e o Atlas? Não — reparo o alívio estampado no rosto dele. —
Somos só amigos, ele tá me ajudando em um projeto.
Hunter está fofo com um sorriso no rosto e sinto que se ele me pedir
em casamento nesse instante, eu jogaria a mochila para o alto enquanto
gritava o SIM para o prédio todo ouvir.
— Entendi. Bom, vou deixar você ir pra aula agora. A gente se
esbarra por aí.
Ele levanta a mão em um aceno e abro um sorriso. Giro o corpo pra
entrar para o prédio e saio a passos apressados e mecânicos. Repito um
mantra na minha cabeça: não posso pular, não posso pular, não posso pular.
Sigo para a minha aula, mais um capítulo da minha fic foi escrito com
sucesso.
Capítulo 8 - Atlas Campbell
∞∞∞
— Atlas Campbell vai acompanhar nossos treinos a partir de hoje —
é a primeira frase que Stevie solta no meio da quadra lotada de jogadores
universitários.
Eu fico de pé ao lado dele, observando cada rosto que me encara. Não
estão me ovacionando por estar aqui, mas também não parecem infelizes
com a minha presença. Acho que é um bom meio termo para começarmos o
trabalho: se gostarem demais de mim, vão ser um bando de puxa-saco. Se
gostarem de menos, não vão me respeitar. Uma relação morna é suficiente
para o trabalho que teremos pela frente.
— O cara dos Pythons? — o rapaz no centro da quadra me encara,
como se duvidasse das minhas boas intenções. Se não me falha a memória,
ele é o middle linebacker. Acho que vi o seu nome marcado em uma
legenda no site de fotos da UCLA. Daniel Mishra, se meu cérebro não tiver
inventado esse nome. — Quanto estão pagando pra ele fazer caridade?
Alguns dos rapazes soltam risadas espaçadas.
— Foi o Altas quem se ofereceu — Stevie explica. — Ele enxerga
potencial em vocês.
— Nem nossos pais enxergam potencial na gente — Hunter brinca,
arrancando mais algumas risadas dos jogadores. Isso é bom. Dá pra ver que
o quarterback tem alguma moral com os companheiros de time, embora isso
não esteja sendo mostrado em campo.
— A flor que desabrocha na adversidade é a mais rara e mais bela de
todas — e eu me sinto um coach resgatando essa frase. — Nunca assistiram
Mulan na vida? — o silêncio deles diz muito. — Tudo bem, vocês não
tiveram infância — zombo, e dessa vez consigo algumas risadinhas em
resposta. Como Orion consegue ser professor? Lidar com jovens é um saco,
não que eu não seja um. — A primeira fase da temporada da NCAA já
começou e vocês perderam os três primeiros jogos, então vão precisar
ganhar seis dos próximos nove para se classificarem para os playoffs.
Acham que conseguem?
Não recebo uma resposta verbal. Stevie me encara com uma
expressão de “eu avisei” e Hunter move a cabeça em negativa.
— Bom, eu estou aqui pra fazer vocês conseguirem, então não me
envergonhem. Eu vi o jogo de vocês no último final de semana e não são
ruins — eu dou uma pausa, porque não vou fazê-los vencer mentindo. —
Bom, alguns de vocês são péssimos. Mas o Hunter, por exemplo, é muito
bom na corrida. A defesa do Daniel também é boa. Precisa melhorar em
alguns pontos, mas é boa.
Daniel não está convencido.
Talvez Hunter seja minha melhor forma de conquistar a confiança
deles.
Stevie percebe a resistência do time, então intervém.
— Atlas quis propor uma coisa diferente hoje — ele começa. —
Dinâmicas de grupo.
Hunter franze o cenho.
— Dinâmicas de grupo?
— Vocês até funcionam bem como atletas individuais, mas são
horríveis enquanto time. Precisam se conhecer, aprender mais um do outro.
Futebol também é sobre sinergia. Aposto que não sabem o nome completo
de todos os colegas de time.
— E você sabe? — eu não consigo ver qual deles perguntou, mas
movo a cabeça em afirmativa.
— Eu seria um perdedor se não soubesse. Mais do que meus colegas
de trabalho, são meus amigos, não são? Vencer com eles, perder com eles.
Ok, talvez amizade não seja a palavra certa, mas empatia e confiança são os
princípios de todo esporte em grupo. Como o quarterback vai fazer um bom
lançamento se não conhece os seus recebedores? E como eles vão se sentir
preparados para receber a bola se não confiam no trabalho do quarterback?
— Nós ganhamos uma sessão de terapia em grupo? — Daniel
pergunta. Odeio ter que ser maduro e não poder revirar os olhos para ele.
— Sim — respondo, simples. — E é ótimo, porque estão precisando
— aponto para as pranchetas em cima do banco onde os reservas costumam
sentar. Tem uma para cada jogador. — Vocês vão fazer duplas e responder
as cinco perguntas da lista um para o outro. Depois vão trocar de dupla. A
ideia é que no final do exercício todo mundo saiba a resposta um do outro.
São perguntas sobre a vida, sobre amizades, sobre filmes… não tenham
vergonha de responder.
Nenhum deles se move até Stevie soprar seu apito.
Obrigado, caralho, é tão difícil assim mostrar um pouquinho de
respeito?
— Isso não vai funcionar — Stevie murmura.
— Conversamos quando eles estiverem classificados para a NCAA
— respondo.
Eu deixo os jogadores se organizarem e me afasto, sentando na
arquibancada. Mesmo longe, vou ficar de olho neles o tempo inteiro. Fiz
esse tipo de dinâmica um milhão de vezes no meu primeiro mês dentro dos
Pythons e sei que o mínimo para jogar bem é conhecer as pessoas que estão
do seu lado.
— Atlas — a voz de Hunter chama minha atenção. Passo os olhos por
seu uniforme azul e amarelo e de imediato quero xingá-lo por não ter ido
fazer o exercício. — Acha que isso vai dar certo?
— Não se você ignorar os exercícios que estou propondo.
Hunter solta o ar pela boca.
— Não me sinto confortável com a ideia de responder essas cinco
perguntas. São pessoais demais.
— Nesse caso você precisa mesmo de uma sessão de terapia — eu me
viro na direção dele. — Responde pra mim.
Hunter faz uma careta.
— Não é o que eu quero que você faça, mas vai ser um começo —
explico, apontando a prancheta na sua mão. — Fica mais fácil se você
pensar que eu não estou nem aí pra qualquer coisa que você me fale, o que é
verdade. Só não confesse nenhum crime, por favor.
Hunter se senta do meu lado. Ele dá um longo suspiro antes de
começar.
— Vai ter que responder as perguntas também.
Eu o encaro, incrédulo.
— Não preciso responder, diferente de vocês eu tenho uma carreira.
Ele se levanta e ameaça ir embora.
— Tá bom, inferno — reviro os olhos. O profissionalismo foi pro
caralho. — Me dá essas perguntas.
Hunter dá um sorriso, satisfeito. Ele se senta de novo e lê a primeira
pergunta:
— Se você pudesse viajar no tempo, para qual época iria? — ele
pensa por um instante — Fácil. 1910.
— Que específico. Por quê?
— Foram quando surgiram os cabarés de luxo nos Estados Unidos.
— Se pudesse voltar no tempo, iria comer uma puta de luxo?
Hunter dá de ombros.
Faço uma careta. Ao mesmo tempo que é uma resposta que eu daria,
também acho absurdo que Taylor Lynch esteja apaixonada por esse cara.
— Acho que eu escolheria algum momento histórico. A queda do
muro de Berlim, por exemplo.
— Só tá dizendo isso pra parecer cultzinho.
— Você nunca vai saber.
Hunter revira os olhos.
— Ok, próxima. Se tivesse que escolher viver sem um dos cinco
sentidos, qual seria?
— Paladar ou olfato. São os mais dispensáveis.
Hunter concorda. Ele lê a próxima pergunta:
— Se soubesse que vai morrer amanhã, o que faria hoje?
— Acho que testaria formas de morrer — digo, e Hunter franze o
cenho. — Andaria de carro em alta velocidade, jogaria roleta russa, essas
coisas de gente viciada em adrenalina.
— Você se considera viciado em adrenalina?
— Essa pergunta não está no questionário — corto. — Sua resposta?
— Faria um super banquete com todas as minhas comidas favoritas.
Assinto. Hunter está pronto para ler a próxima pergunta quando o
time das líderes de torcida entra no ginásio, a caminho do vestiário. Meus
olhos caem em Taylor e, de novo, aquela saia cheia de babados amarelos e
azuis me assombra. É curta demais e brinca com a minha imaginação de um
jeito que não deveria acontecer depois da minha reunião com Zade.
Decido ignorar a presença dela. Percebo que os olhos de Hunter
também acompanharam a loira por um minuto e aproveito a deixa para
fazer o meu papel de cupido.
— O que acha dela? — pergunto, direto.
— Taylor Len…
Eu percebo que ele está perto de errar o nome, então corrijo antes que
ele o faça.
— Lynch.
— Taylor Lynch — ele repete. — Acho ela legal.
— Só legal?
Hunter me encara, sem saber qual resposta eu estava esperando.
— Devia chamar ela pra sair — comento. — Ela é gostosa.
Os olhos dele caem em Taylor de novo. Ela está conversando com
Daniel na quadra e parece mil vezes mais relaxada do que quando conversa
com Hunter. Provavelmente porque a frase meu futuro namorado, marido
ou o que quer que seja não está brilhando em tons neon dentro da sua
cabeça.
— Acha que ela ia querer sair comigo?
— Ah, entendi, você tem problemas de autoestima.
— Não é problema de autoestima — ele bufa. — É só que… Ela é
bonita. E filha de um cara super rico. Não sei se é o tipo de garota que
olharia pra mim.
— Você é o quarterback — relembro. — Não é o casal perfeito? A
líder de torcida e o capitão do time de futebol, todo mundo sabe disso,
nunca assistiu um filme de romance? Confia em mim, chama ela pra sair.
Eu me responsabilizo se você levar um fora.
Hunter ri. Ele não confirma e nem nega minha sugestão quando passa
para a próxima pergunta.
Capítulo 9 - Taylor Lynch
— E a cena escolhida é…
O professor de dramaturgia coloca a mão dentro de um pequeno pote
transparente. Do meu lugar, consigo ver os vários pedaços de papel
embolados sendo misturados.
Ele tinha decidido que a forma mais justa de escolher os alunos que
ganhariam os ingressos era através de um miniconcurso. É justo,
considerando que uma premiére da Broadway in Hollywood pode render
muitos contatos para um estudante de artes cênicas. Hollywood já está
lotado de nepobabys e nós não precisamos de mais gente sem talento
recebendo atenção.
Ok, teoricamente, eu sou uma nepobaby, mas não do ramo de
Hollywood, então não conta.
Volto a encarar o pote. Ali dentro estão dezenas de cenas famosas do
cinema, desde Star Wars até Uma linda mulher. Eu adorei a escolha da
atividade. Por mais que possa cair uma cena difícil, é algo sobre o qual
tenho controle. Basta eu ensaiar até a exaustão e vou acabar conseguindo os
ingressos.
— A cena do beijo na chuva de Diário de uma paixão.
Escuto alguns suspiros, gritos abafados e até alguns xingamentos. E
consigo entender todas as três. Por mais que não seja um filme
tecnicamente difícil no quesito atuação, essa cena tem grandes flutuações de
humor: primeiro o casal está rindo, depois gritando e por fim, é, se
beijando.
Eu não acredito que o Mr. Ford colocou cenas de beijo nas opções.
— Eu não sei se todos estão familiarizados com esse filme, — ele
retoma — mas garanto que é uma oportunidade de ouro para vocês
treinarem um pouco do que já vimos em aula. Vocês estão no segundo
semestre, está na hora de começarem a testar coisas mais ousadas, aquelas
que vão exigir que vocês não saibam o que as personagens querem, mas
sim sintam os sentimentos delas. Sofram as suas angústias, se deleitem com
suas vitórias. Alguma pergunta?
Várias mãos se levantam pela sala, inclusive a de Mindy.
É ela que o professor escolhe primeiro.
— A cena é um beijo entre um homem e uma mulher. No caso, para
essa apresentação, precisa ser assim também?
Mr. Ford abre um pequeno sorriso.
— Adorei a pergunta. — Ele se levanta e caminha pela sala. — Eu
vou sortear os pares aleatoriamente no dia da apresentação, então não
precisa. A ideia é ver como vocês trabalham no improviso — vários alunos
reclamam daquela decisão, mas por um lado, eu fico feliz. Não tem
ninguém na sala por quem eu me sinta atraída a ponto de ter uma química
que poderia ajudar na atuação. Agora estamos todos em pé de igualdade —
Podem ser duas mulheres ou dois caras, tanto faz. Porém, e isso agora eu
digo em um espectro mais amplo, já comecem a se acostumar com a ideia
de fazer cenas românticas com qualquer pessoa. Claro, você pode sempre
dizer no seu currículo que você não beija homem, mulher ou ninguém, mas
saiba que isso fecha portas.
— Todos precisam participar?
A pergunta vem de algum ponto do fundo da sala, mas não percebo
quem a faz.
— Não. Apenas quem quiser concorrer aos ingressos. Como
professor, obviamente vou recomendar que vocês participem,
principalmente porque essas premiéres podem acabar gerando contatos
importantes em Hollywood. Mesmo assim, vai de vocês.
Os minutos restantes da aula passam voando em meio às perguntas e
conversas sobre a tarefa. Surpreendendo até mesmo o Mr. Ford, a sala
inteira decide participar.
— Eu vou abrir uma ficha no sistema e vocês marquem qual papel
cada um vai fazer: Noah ou Allie — ele avisa, assim que o sinal anunciando
o fim da aula toca.
— Eu não acredito que a nossa primeira apresentação pública vai ser
uma cena de beijo. Uma cena de beijo hetero. — reclama Mindy, enquanto
saímos do prédio da artes. Eu duvido que alguma garota escolha fazer o
papel do Ryan Gosling, então é provável que a maioria dos casais formados
sejam entre homens e mulheres. — Tanta coisa melhor pra escolher. Eu tava
torcendo pela cena do Jack Torrance em O iluminado.
— Pelo menos não foi uma de choro.
Mindy arregala os olhos.
— Credo, imagina chorar no meio da faculdade inteira? Deixa essa
parte só pros banheiros fechados depois da liberação de notas.
Abro um sorriso nervoso. Felizmente, no semestre passado fui
aprovada com notas altas em todas as matérias. Eu realmente amo atuar e
não consigo me imaginar fazendo outra coisa. A Taylor de 5 anos que fingia
ser a Alice no país das maravilhas estaria muito orgulhosa ao ver aonde
chegamos.
Mesmo assim, a ideia de fazer nossa primeira apresentação curta me
assusta um pouco.
— Olha, eu sei que o professor disse que a ideia era fazer um
improviso — ela retoma —, mas assim, até parece. Ninguém vai seguir
isso. O que você acha da gente ensaiar? Eu pensei em fazer o papel do
Noah.
Sempre que escuto o nome Noah, me lembro do fora que levei em
Vegas quase um mês atrás para o jogador dos Pythons. Será que vai ser
sempre assim agora, universo? Nem um segundo de paz?
— Foda-se o patriarcado — brinco. — Acho uma ótima ideia.
Seguimos para a Kappa House e no caminho assistimos à cena do
beijo pelo menos 5 vezes no YouTube. Pausamos em algumas partes,
voltamos em outras, a ideia é pegar não apenas as falas, mas também as
emoções e expressões.
Quando chegamos na irmandade, já temos boa parte das falas
decoradas.
Entramos animadas e já corremos para a sala. Algumas meninas estão
espalhadas pelo lugar. Entre elas, Cleo, que parece a única prestando
atenção no filme preto e branco que se arrasta pela TV.
— Cleo, podemos usar a TV? — Pergunto, já pegando o controle no
sofá. — Você vai adorar, prometo.
A caloura me encara, curiosa.
— Claro. Esse filme tá esperando para que eu o veja há mais de 70
anos, não vai ligar de esperar mais uns minutos — ela gira o corpo no sofá,
os olhos como duas bolas de ping-pong ricocheteando entre eu e a Mindy.
— O que você duas tão inventando?
Abro um sorriso e olho para Mindy. Me sinto bem ao ver que ela
também está empolgada com a ideia de finalmente encenar uma cena de
verdade.
— Você já vai descobrir.
Digito Diário de uma paixão cena do beijo no YouTube e clico em
um dos vídeos que aparecem. As meninas da irmandade param o que
estavam fazendo um segundo para olhar para a gente.
— Se alguém ainda não assistiu esse filme — Mindy começa. —
Melhor vazar.
Ninguém se moveu. Cleo parece ter começado a entender o que
estava para acontecer.
— Algum projeto?
Eu me aproximo do rosto dela e sussurro:
— Sim. Minha futura carreira em ascensão.
Ela solta uma risada baixa e ajeita a postura no sofá, pronta para
assistir a cena.
Mindy e eu tomamos nossas posições.
Estamos sentadas no chão para fazer a parte da conversa dentro do
barco. Finjo alimentar os patos imaginários, o que para mim é uma tarefa
fácil. Essa parte transcorre sem problemas, mas a parte das risadas na chuva
não sai muito boa. Precisamos tentar várias vezes e, ainda assim, o
resultado não é satisfatório. Há algo faltando entre a gente, mas decidimos
avançar. Quando chegamos na discussão antes do beijo, estamos
completamente fora de sintonia.
Não há a menor fagulha entre a gente, nem uma emoçãozinha para
apimentar a cena. É como se estivéssemos ensaiando para a parede. Talvez,
de forma inconsciente, eu esteja desconfortável com a ideia de beijar a
namorada da minha colega de irmandade. Eu me recuso a ser talarica.
As meninas tentam ajudar dando palpites e até chegam a trocar de
lugares, ora comigo, ora com a Mindy, mas o resultado não melhora muito.
— Quer saber, desisto — digo, me sentando no chão depois de mais
de uma hora de tentativas fracassadas. — A gente tentou de várias formas,
mas não tá dando certo — eu solto uma risada derrotada. — Nós não temos
química.
Mindy solta o ar pela boca e se senta ao meu lado.
— Que saco. Pelo menos a gente já decorou as falas.
Concordo em silêncio, a mente divagando. Eu precisava mesmo era
treinar com alguém que eu quisesse beijar, alguém pelo qual meu coração
acelerasse assim que o vejo. Mas ainda é cedo para eu pedir isso para
Hunter. Se a gente já estivesse namorando, minha vida seria muito mais
fácil.
Sei que parte do conceito de atuar é fingir, mas todo mundo sabe que
ficção e realidade se misturam um pouquinho nessas horas — mas nunca
diga isso a um ator, ele vai negar até a morte.
Como se o universo quisesse me mostrar que não está nem aí para o
que penso, Julia acaba de entrar pela porta. Está suada e traz o cabelo ruivo
amarrado em um coque alto, o que me faz deduzir que estava ensaiando a
nova coreografia do time das líderes de torcida.
— Nossa, que aglomeração é essa aqui?
Antes de receber alguma resposta, Mindy se levanta e a puxa pela
mão.
— Vem, você precisa me ajudar em uma coisa.
Sinto um misto de emoções dentro de mim. Por um lado, estou feliz
que Mindy tenha alguém com quem treinar, por outro, sinto a injustiça da
situação me invadir. Não quero ir na premiére só pelo espetáculo, mas
também porque será um evento muito importante para o meu futuro
profissional.
Eu preciso encontrar um jeito de ensaiar. Nem que seja sozinha.
Pego minha mochila e me preparo para sair.
— Aonde você vai?
— Vou pro anfiteatro. Eu preciso ensaiar esse texto.
Cleo faz que sim. Ela olha alguma mensagem no celular antes de me
responder. Ouvi dizer que ela está saindo com um dos caras do time de
hóquei — ou era de basquete? — mas não sei se isso é verdade.
— Não quer que eu vá com você?
— Não precisa, pode voltar pro seu filme super interessante de 3
horas — zombo. — Talvez Erik me encontre pelas coxias do teatro e salve a
minha apresentação.
Cleo demora alguns segundos, mas abre um sorriso, pegando minha
referência. O fantasma da Ópera. Eu aceno para ela e saio da casa, pronta
para passar as próximas três horas vivendo como Allie Hamilton.
Capítulo 10 - Atlas Campbell
O segundo dia de treino dos Bruins sob a minha supervisão não foi
perfeito. Estudei a estratégia dos Roosters, time que vão enfrentar daqui a
uma semana e, honestamente, eles ainda precisam melhorar muito se
quiserem vencer. Mesmo assim, não posso ser injusto. Houve uma melhora
do que eu vi no dia da partida e o que vi hoje. Daniel está entrosando
melhor com os outros jogadores na hora de impedir o avanço dos rivais e
Hunter parece mais confiante. Não é nenhum milagre. Como atleta, sei que
essas coisas demoram. Acho que Stevie vai ter um ataque cardíaco quando
os Bruins ganharem uma partida, porque ele definitivamente não espera por
isso, mas eu sei que vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
Meu telefone toca assim que saio do ginásio e sigo meu caminho pelo
campus. É impressionante ver o nome da minha mãe na tela, porque tem um
bom tempo que não conversamos. Quando foi a última vez? Natal do ano
passado? Ao menos, diferente do meu pai, posso dizer que temos uma
relação razoável. Em outras palavras, significa que ela não questiona minha
carreira sempre que tem a chance.
O mínimo, eu acho.
— As fofocas em Los Angeles não param, hein? — a voz de Ashley
Jones preenche meus ouvidos enquanto ela dá uma risadinha e pede café
pra alguém do outro lado da chamada. — Fiquei sabendo.
Minha mãe sempre fica esperançosa quando as notícias sobre um
possível namoro entre mim e qualquer garota que pareça decente surgem.
Ela ainda acha que vou ser como Orion: encontrar alguém, noivar e tudo
mais. Ela quer tanto ter netos que já se ofereceu para pagar uma barriga de
aluguel para o meu irmão.
— Os jornais aumentam as coisas — explico, minando suas
expectativas. — É só uma amiga — e tenho a impressão que falei isso pelo
menos umas quinze vezes nos últimos dois dias. Se mais alguém me
perguntar sobre Taylor Lynch, eu juro que vou pular de lugares muito altos.
— Odeio essa sua mania de sair com garotas bonitas e chamá-las de
amigas — reclama. — O café era sem açúcar! — esse comentário não é pra
mim. — Você deveria aproveitar que não está jogando pra dar mais atenção
a sua vida amorosa.
— Minha vida amorosa vai bem, mãe, obrigado.
— Sei. Estou vendo — ela grita com mais alguém do outro lado,
provavelmente algum dos seus agentes. — Não foi por isso que eu liguei. Já
que está em Los Angeles, quero que vá na estreia da minha peça no
próximo final de semana. Seu pai desmarcou uma viagem de negócios pra
assistir à apresentação — isso é realmente digno de nota, considerando que
William Campbell gosta mais de trabalho do que da própria esposa. — Vai
ser um momento legal em família.
— Momento legal em família é uma frase que só faz sentido se não
estivermos nos referindo aos Campbell.
— Vai ser bom pra você passar um tempo com seu pai.
— Sim. Tenho certeza que ele está super animado pra passar tempo
comigo.
— Atlas…
— O que? Eu não debochei, você quem viu maldade no meu tom de
voz.
Ashley suspira.
— Certo, ótimo. Eu coloquei seu nome na lista, não precisa de
ingresso. Quer levar alguém?
— Não — murmuro. — To safe.
— Tem certeza? Nenhuma candidata a futura senhora Campbell
disponível?
Reviro os olhos.
— Vai ficar feliz se eu levar uma garota?
— Sim.
— Tá. Eu vou tentar, não garanto nada.
— Obrigada, querido — tenho a impressão que Ashley está sorrindo
do outro lado. Alguém grita “cinco minutos” e ela solta um suspiro. —
Tenho que desligar. Vamos começar os ensaios. Me liga se precisar de
alguma coisa e… ah! O traje é esporte fino. Nada de aparecer com aquelas
porcarias da balenciaga.
Uma risada escapa dos meus lábios antes que eu desligue o telefone.
Encontrar companhia para esse evento não vai ser nenhum sacrifício,
considerando a quantidade de vezes que uma foto minha apareceu no
spotted da faculdade na última semana. Vou atrás de uma garota bonita,
deixo Ashley Campbell feliz e de bônus garanto a foda do final de semana.
Parece um ótimo plano.
— Hunter falou comigo! — a voz de Taylor arrasta meus
pensamentos para longe. Não faço ideia de onde ela surgiu, mas já aceitei o
fato de que as palavras “oi” e “tudo bem?” não existem no vocabulário dela.
— Eu esqueci de te contar. Foi há uns dois dias, na verdade. Ele perguntou
se eu e você estávamos juntos.
Dou um sorriso, porque Hunter Simmons é previsível como eu achei
que seria.
— Eu disse — eu me sinto o próprio Hitch agora. — Disputa por
território. Ele se sentiu intimidado por causa de mim e decidiu fazer alguma
coisa a respeito. Te chamou pra sair?
Taylor faz uma careta.
— Não.
Prefiro não contar para Taylor que eu disse que ele deveria chamá-la,
com todas as letras.
— Que caralho. O cara é lento.
— Tudo bem, tenho preocupações maiores hoje.
— Por exemplo?
Taylor balança um maço de folhas de texto em sua mão. Hoje ela está
usando uma pulseira escrito “GO BRUINS” e outra escrito “FUTURE
OSCAR WINNER”. Me pergunto quantas pulseiras com coisas escritas ela
tem, mas já sei que são muitas.
— Preciso ensaiar essa cena — ela começa, e de repente parece
estressada. — Meu professor de dramaturgia vai avaliar nossa atuação e
quem representar melhor vai ganhar um par de ingressos pra… Espera! —
seu rosto se ilumina. — Você pode me ajudar com isso.
— To ansioso pra saber quando você vai me contratar como seu
assistente pessoal. Eu tenho te ajudado com muitas coisas nos últimos dias.
— Você devia me agradecer por estar livrando os seus dias de licença
do tédio completo — ela dá de ombros, apontando o caminho para o
anfiteatro da UCLA com a cabeça. — Vamos — tenho certeza que sua
expressão é praticamente a mesma do gato de botas que aparece em Shrek,
seus olhos azuis me encarando como se fosse um ser indefeso precisando
urgentemente de ajuda. Porque sou um idiota completo, aceito acompanhá-
la. — Você só precisa fazer o papel do Ryan Gosling em Diário de uma
Paixão. Já assistiu?
Movo a cabeça em afirmativa, mas não tenho certeza. Filmes de
romance são praticamente todos iguais e desde que Barbie estreou, eu só
consigo pensar no Ryan Gosling como Ken. Ele fez muito pela vida dos
homens loiros naquele filme.
— Vamos ensaiar a cena do beijo na chuva — solta, enquanto
seguimos o caminho até o anfiteatro. As pessoas estão olhando para nós
duas vezes mais depois das fotos que saíram na mídia e eu não tirei um
tempo para pensar o que acho disso. Só espero que as garotas não pensem
que eu estou namorando com ela, porque isso seria péssimo para minha
reputação. Não por causa da Taylor, mas porque a solteirice é um dos meus
pilares de vida. — Tudo bem?
— Não precisa inventar motivos pra me beijar, quando quiser é só
pedir.
— Ai — Taylor revira os olhos. — Você é tão convencido.
— É você quem inventa motivos pra me beijar desde a primeira vez
que pisei os pés no campus.
— Sim, eu não consigo evitar. Passo as vinte quatro horas do meu dia
pensando na sua boca — ironiza. — Se eu não estivesse desesperada,
encontraria outra pessoa pra ensaiar comigo.
— E outra pessoa pra te dar aulas de flerte? Eu duvido. Agora que os
jornais decidiram que estamos vivendo um romance proibido é tarde demais
pra abandonar o barco — brinco. — Inclusive, fiquei sabendo que o seu pai
me odeia.
Taylor me encara. Percebo que essa informação não é uma novidade
pra ela.
— Ele falou com você?
— Com o meu agente.
— Não é nada pessoal — diz, passando as folhas de uma mão para
outra. — Ele odeia quase todos os caras que se aproximam de mim. E
considerando que você é do time rival…
— Ele acha que tenho as piores intenções do mundo.
— É.
— Imagina quando ele descobrir que é você quem está se
aproveitando de mim desde o começo.
— Cala a boca — Taylor revira os olhos de novo, mas tem um sorriso
despontando em seus lábios enquanto ela fala. — Vai dando uma olhada no
texto até a gente chegar lá.
Taylor me entrega uma das folhas que está carregando. Não entendo
nada de teatro, mas a cena é simples. Uma sequência de dois diálogos e
então um beijo. Infelizmente eu não herdei os talentos de atuação da minha
mãe, mas posso dar conta do resto.
O principal teatro do campus fica no Royce Hall, um dos prédios
originais da UCLA. Também é o primeiro que aparece quando você busca
pelo nome da universidade no Google, motivo pelo qual os funcionários
costumam apelidá-lo de cartão de visitas.
— Já veio nesse teatro antes?
Movo a cabeça em negativa.
— É velho e feio — murmura Taylor, como se estivesse me contando
um segredo —, mas é consenso entre os estudantes dizer que é vintage.
Eu acho graça da forma como ela fala. Só de sentir o cheiro de papel
velho, tenho certeza que esse é um dos lugares favoritos do meu irmão,
dentro de todo campus.
Taylor me guia até o teatro em passos rápidos. É engraçado vê-la
correndo quando tem as pernas tão curtas. De novo, ela me lembra a
imagem da boneca Polly, com suas roupas em tons pastéis e cabelo loiro.
Não existe melhor palavra para descrever o interior do teatro se não
majestoso. É enorme, com cadeiras de veludo vermelho na frente e nas
laterais do palco. O teto lembra muito o de igrejas antigas, com pinturas
douradas e azuis que cobrem toda a extensão. As luzes do palco estão
apagadas, mas logo Taylor as acende. Tem um piano no canto esquerdo,
meio fora de lugar.
— Eu vou pular a primeira cena — Taylor explica, subindo as escadas
que dão acesso ao palco. — Já ensaiei ela umas cinco vezes com a Mindy
— não sei quem é Mindy, mas ela não explica. — Só preciso que dê a sua
fala e me beije depois.
— Não vai nem tentar fingir que isso é um beijo técnico?
Taylor ri.
— Não existe beijo técnico. Isso é só um termo socialmente aceito pra
fazer as pessoas que se relacionam com atores não se sentirem cornas — ela
me encara enquanto subo as escadas até o palco. Taylor aponta onde eu
devo ficar.
— Acho importante avisar que sou um péssimo ator.
Taylor dá de ombros.
— Vai servir. Três, dois, um… — Taylor fecha os olhos e respira
fundo enquanto sua expressão se altera aos poucos. A serenidade escorre
por seu rosto, dando lugar a angústia. Quando ela abre os olhos de novo,
eles estão úmidos — Por que você não me escreveu? — sua voz também é
diferente. Embargada, como se ela estivesse perto de ter uma crise de
nervos. — Por quê? Ainda não tinha acabado pra mim! Eu esperei por sete
anos e agora é tarde demais.
Por um segundo, eu esqueço de dar o meu texto, porque estou
compenetrado demais analisando sua atuação. Não preciso ser um
especialista no assunto para saber que ela é boa.
Eu dou um sorriso para Taylor, como se pedisse desculpas, então leio
o trecho que dá continuidade à cena:
— Escrevi 365 cartas — dou a pausa indicada no roteiro. — Eu
escrevi todos os dias por um ano.
Taylor fica em silêncio por um instante. A angústia ainda colore sua
expressão, mas consigo enxergar o novo sentimento que ela quer transmitir:
esperança.
— Você escreveu?
— Não tinha acabado — dou um passo à frente. — E ainda não
acabou.
Eu deixo o roteiro no chão do palco para seguir o resto da cena. Me
aproximo de Taylor e minha mão boa sobe até o seu rosto enquanto seus
olhos azuis me encaram. Eu sei que ela está atuando, mas o seu olhar é tão
intenso que sinto como se todos os meus pensamentos estivessem sendo
lidos, dos mais constrangedores aos mais idiotas. Ainda bem que isso não é
verdade, ou ela saberia que estou pensando em como sua boca é linda
agora.
Eu avanço contra seus lábios, me esforçando para não perder o timing
da cena. E como foi no dia da festa, os nossos movimentos simplesmente se
encaixam. É como se minha boca conhecesse a sua desde sempre. Os seus
dedos se embrenham no meu cabelo — eu não tenho certeza se isso estava
no roteiro — e Taylor me beija como se estivesse faminta. Faminta por
mim, e pensar nisso me transforma no ator menos profissional do mundo,
porque meu pau endurece quase de imediato dentro da calça.
Ainda bem que não penso em seguir essa carreira.
Ainda bem que não prometi profissionalismo nenhum e, ao que
parece, Taylor também não. Uma das suas mãos ainda está acariciando
minha nuca mas a outra desceu até a barra da minha camisa dos Pythons.
Ela dedilha o tecido numa indecisão ansiosa, hesitando em tomar o próximo
passo. Depois de alguns segundos, Taylor avança, seus dedos encontrando a
pele do meu abdômen. Não demora muito até ela sair do transe e se dar
conta do que está fazendo.
— Desculpa — Taylor se afasta, mas não por completo. Minha mão
ainda está no seu rosto, nossos lábios a menos de um centímetro de
distância, ambas as respirações descompassadas. — Eu acabei me
empolgando — diz, e seus olhos acabam pousando na minha boca de uma
forma nada discreta. Imagino que esteja tão vermelha quanto a dela.
Eu sei qual é a escolha responsável a se fazer. Respirar fundo, dar um
passo para trás e seguir em frente, mas quando foi a última vez que eu fiz
uma escolha responsável?
Ok, foda-se. Tenho certeza que Zade passaria todos os panos do
mundo pra mim se soubesse como meu pau ficou duro só com a porra de
um beijo. Eles disseram que nós não poderíamos ter um relacionamento,
mas ninguém mencionou nada sobre uma foda casual. Taylor está
apaixonada pelo Hunter, nós sentimos tesão um pelo outro, não tem como
isso dar merda.
Eu desisto de tentar me convencer de qualquer coisa, porque já tomei
uma decisão. Minha mão desce até a sua cintura e eu puxo seu corpo para
ainda mais perto do meu, apertando sua pele.
Taylor ri.
— Isso não está no roteiro — murmura, mas não é uma reclamação.
— Quer seguir o roteiro?
Ela não hesita em mover a cabeça em negativa.
Nossos lábios voltam a se encontrar e é ainda mais caótico e intenso
que segundos atrás. Tem alguma coisa inexplicável na forma como Taylor
Lynch me beija, como se nossas línguas se esfregando fossem uma
necessidade física tão importante quanto respirar.
Sem afastar sua boca nem por um segundo, Taylor me empurra
suavemente para trás. Eu sigo seus comandos e sinto a banqueta fria do
piano tocar minha panturrilha. Me sentar ali é a coisa mais intuitiva que já
fiz na vida, porque não estou olhando para o banco e meu raciocínio lógico
agora é o mesmo de uma batata. No thoughts head empty[6].
Taylor se senta no meu colo, suas pernas ao redor do meu quadril.
Minha mão agarra sua bunda por cima da calça enquanto sinto vontade de
xingar essa pequena peste apocalíptica por ter me chamado para um ensaio
quando as suas intenções eram, claramente, as piores — e melhores —
possíveis.
O tecido da sua calça é fino o suficiente para que ela me sinta duro
embaixo dela. Taylor solta um suspiro desajeitado contra a minha boca e se
afasta um milímetro, um sorriso malicioso tomando conta dos lábios.
— Eu disse que beijo técnico não existia.
— E foda técnica, existe?
Taylor ri, movendo a cabeça em negativa.
— Tenho certeza que não tem nada técnico nisso aqui — ela
completa, movendo o quadril de leve no meu colo para provar o seu ponto,
deixando claro que sabe o quanto eu estou duro. Seria impossível que não
tivesse notado.
— Espero que não me expulse do ensaio por isso.
— Não seria justo — ela sussurra. — Eu também fiquei molhada.
Sinto o resto de sanidade que ainda existia no meu corpo esvair por
completo.
— Caralho, Taylor, você não pode falar uma coisa dessas.
— Por quê?
Eu a encaro. Ela sabe muito bem porque e a sua pergunta não tem
nada de inocente.
— Porque agora estou imaginando como seria foder você em cima do
piano — minha boca sobe até o seu pescoço e eu observo sua pele arrepiar
diante do toque. — Estou pensando na minha língua na sua boceta e você
gozando na minha boca — ela retoma o movimento dos quadris contra mim
e agora tenho certeza que não tem como isso não acabar bem. — Na
verdade estou pensando em muitas coisas no momento e todas elas são
obscenas. O seu pai tinha razão, talvez minhas intenções com você sejam
mesmo as piores.
Taylor ri, os olhos azuis presos ao meu rosto. Ela tem uma expressão
contemplativa agora e eu não consigo ler com perfeição. Por um segundo
penso que ela pode ser do tipo que só transa quando está apaixonada, mas
então Taylor morde o lábio e eu tenho certeza que os seus pensamentos são
tão sujos quanto os meus.
Infelizmente, não temos tempo de realizar nenhum deles.
— Ei, tem alguém aí? — a voz de uma terceira pessoa embala o
palco. Está vindo dos fundos do teatro e, graças a isso, Taylor tem tempo de
pular do meu colo e ajeitar o cabelo que eu baguncei. Eu me levanto, sem
deixar de perceber o quão desnorteada ela parece. Engulo uma risada. — Eu
reservei o horário das 11h.
— Nós já estamos saindo! — Taylor grita, pegando os seus roteiros e
enfiando dentro da bolsa. Ela pega minha mão e me puxa para fora do palco
e, aparentemente, me arrastar por aí como se eu fosse um cachorrinho é sua
nova atividade favorita. — Da próxima vez, vamos ensaiar em público.
— Por quê?
— Porque — ela abre a porta do teatro. O corredor do Royce Hall
nunca fica completamente vazio: sempre tem um estudante de cinema ou
artes cênicas tentando decorar um texto pelos cantos — nós dois sozinhos
entre quatro paredes não se mostrou uma combinação muito segura.
— Por quê? — insisto, soltando uma risada quando ela larga minha
mão.
Taylor se vira para mim, irritada. Eu não consigo levar a sua raiva à
sério. Ela é muito pequena, tem olhos de boneca e a franja loira que cobre
sua testa a deixa ainda mais parecida com um desenho animado. É como se
um funko criasse vida durante à noite e tentasse te matar.
— Imagina se o meu futuro namorado descobre o que estávamos
fazendo — ela pensa por um segundo, então abre um sorriso diabólico. —
Na verdade, seria interessante. Com certeza ele te daria um soco pra
defender a minha honra.
— Primeiro, você tá assistindo Bridgerton demais; segundo, você é
uma peste, e terceiro, você já reparou que ele é baixinho?
— Ele não é baixinho! Você que é muito alto — ela cruza os braços,
como se fosse um grande argumento. — Nem todos os homens do mundo
podem ter mais de um e noventa, só nos livros da Ali Hazelwood.
— Tudo bem, você ama o seu futuro namorado mirrado do jeitinho
que ele é.
Taylor cerra os olhos.
— Eu vou te desconvidar do casamento.
— Já disse que sou alérgico a casamentos. Olha só, eu poderia ficar
aqui o dia inteiro discutindo com você, mas prometi que ia almoçar com o
meu irmão. Aliás, onde fica o prédio de ciências?
— Seu irmão cursa ciências?
— Ele é professor. Química Orgânica Avançada.
— Química org… meu deus! Orion — ela estala os dedos. — É
óbvio. Eu devia ter notado a semelhança. As nerds de ciência ficaram em
luto quando descobriram que ele estava noivo no semestre passado.
— Ainda bem que eu estou aqui pra suavizar essa grande perda.
— Cala a boca — Taylor aponta para a porta do Royce Hall. — É só
andar na direção da fraternidade Alpha Gamma Gamma e virar à esquerda.
É o prédio mais novo do campus, não tem como errar.
Eu agradeço com um aceno e sigo na direção da saída. Antes que eu
possa sair dos corredores do Royce, Taylor me interrompe.
— Atlas!
Me viro na direção dela.
— O que?
— Obrigada pela ajuda com o texto — ela diz, embora eu tenha a
impressão que não ajudei em nada. Talvez eu tenha ajudado, com outras
coisas.
— Sempre que precisar, peste.
Capítulo 11 - Taylor Lynch
∞∞∞
Depois de quase uma hora de conversa, pedimos a conta e saímos do
restaurante. Até que foi uma conversa gostosa, nada de extraordinário, mas
agradável. Tento a todo custo afastar a palavra morna da minha mente. É
normal que as coisas não encaixem 100% em um primeiro encontro. É um
período de se conhecer e explorar um território novo.
Mesmo tendo essa ciência, confesso que senti as borboletas no
estômago um pouco preguiçosas. Onde estava a bagunça que elas faziam
sempre que eu pensava no Hunter? Agora, ele está aqui, ao meu lado,
enquanto me acompanha até o carro. Uma cena que eu sonhei várias vezes,
e o que recebo dessas ingratas borboletas?
Quietude.
Calmaria.
Silêncio.
Chegamos no local onde meu Jeep está e paramos ao lado dele.
Hunter percebe que a despedida se aproxima.
— Eu me diverti muito com você hoje.
Abro um sorriso sincero. Também me diverti bastante.
— Eu também, apesar do seu mal gosto para filmes.
Consigo arrancar uma risada dele. Durante a conversa, descobri que
ele só assiste filmes de terror, e a maioria, de baixo orçamento. O ataque
dos donuts assassinos, sofá assassino, pneu assassino, Terrifier e coisas
parecidas.
— Vou adorar repetir a dose com você qualquer dia desses.
Ele dá um passo à frente encurtando a distância entre nós. Eu sei o
que acontece agora: o beijo pelo qual eu passei o primeiro semestre inteiro
esperando. Meu coração acelera e meu corpo parece acender. Algumas
borboletas acordam e começam a bagunça no meu estômago, mas ainda não
sinto que é suficiente. É como se meus sentimentos estivessem dormentes
hoje.
— Eu mal posso esperar.
Uma de suas mãos sobe até meu rosto e ele acaricia minha bochecha
antes de se aproximar devagar. Sinto o cheiro do saquê nos seus lábios e
então fecho os olhos quando nossas bocas se encontram. O movimento
começa descoordenado, mas rapidamente pegamos o ritmo um do outro.
Apoio minhas mãos na cintura dele e me deixo guiar pelos movimentos da
sua língua.
Infelizmente, meu cérebro não parece tão empolgado com a presença
de Hunter Simmons, ao menos não tanto quanto meu coração. Lembranças
do meu beijo com Atlas no auditório voltam com tudo, a forma como ele
apertou minha bunda e disse que queria me foder em cima do piano.
Pelo amor de deus, Taylor, que hora de merda pra lembrar disso.
Ele se afasta apenas o suficiente para olhar para o meu rosto. Vejo o
sorriso sincero dele e logo retribuo. Seus olhos escaneiam os meus em
busca de sinais mostrando o que estou pensando.
— Obrigada pela noite.
Ele acena, ainda com um sorriso no rosto.
— Eu que agradeço. — Lança um olhar para a rua vazia. — A gente
se fala, Taylor Lynch.
Levanto a mão em um aceno enquanto ele se afasta devagar. Subo no
Jeep e reparo pelo retrovisor que ele ainda olha duas vezes para trás, para
ter certeza que entrei no carro em segurança. Não consigo deixar de pensar
que é fofo da parte dele.
Apesar disso, me sinto estranha.
Eu tive o tão sonhado encontro com o homem da minha vida, mas não
foi exatamente do jeito que eu imaginava. Esse deve ser o lado ruim de
idealizar demais alguma coisa. A realidade nunca consegue chegar aos pés
do que imaginamos.
Capítulo 14 - Atlas Campbell
∞∞∞
Após um longo dia indo de loja em loja pelo Westfield Century Field,
finalmente podemos descansar. Estamos sentadas em uma mesa da
sorveteria ao lado da gigantesca praça de alimentação gourmet.
— O que Hunter disse quando você chamou? — Cleo lança a
pergunta na minha direção como se fosse um tiro. — Ai, estou tão
empolgada por vocês dois! Ele deve ter adorado.
Sinto um ligeiro desconforto no peito. Faltam três dias para a
premiére e ainda não falei nada com Hunter. O primeiro encontro ainda
ronda minha mente e, por mais que Atlas tenha concordado que era algo
normal, fiquei com a sensação que ele estava escondendo algo. Sei que é
ridículo, Atlas é o tipo de cara que fala o que quer, quando quer. Por que
esconderia algo de mim?
— Eu ainda não chamei.
Desvio o olhar do grupo que espera que eu desenvolva a resposta,
mas não tenho mais o que dizer. Eu não sei ainda porque não chamei, mas
me sinto desconfortável com a ideia. Acho que o pouco caso que ele teve ao
me ver apresentando, de alguma forma, me faz pensar que ele não merece o
convite.
É estranho eu pensar isso do homem por quem estou apaixonada,
enquanto com Atlas eu me sinto confortável até quando estou…
Deus, eu preciso parar de pensar nisso! Principalmente porque,
depois do meu banho, Atlas comentou vagamente sobre sua regra pessoal
estúpida de não tirar a virgindade de ninguém. Acho que é mais uma das
suas estratégias para se manter distante e emocionalmente inacessível para
qualquer mulher que se aproxime.
— Amiga, você precisa convidar logo! — Cleo estica a mão e a apoia
no meu braço. — Ele também precisa se preparar para um evento desse
tamanho.
— Até porque, ele é um jogador de futebol. — Adiciona Mindy. — O
Bruins pode até não ser grandes coisas na liga, mas ainda é o time da
UCLA. Conheço várias mulheres que dariam um dedo para ter um date com
ele.
— Vocês estão certas — puxo o iPhone e, não sei explicar muito bem,
mas ele parece um pouco mais pesado que o normal. Abro o Instagram dele.
Apesar de ter pegado o meu número, ele nunca me chamou. — Vou mandar
uma mensagem antes que eu acabe esquecendo de novo.
Há um silêncio na mesa quando termino de falar e levanto o olhar
para perceber as expressões de estranhamento no rosto das minhas amigas.
— O que foi?
Elas desviam os olhos. Julia e Mindy trocam um olhar cúmplice, mas
não dizem nada. É Cleo quem toma a iniciativa.
— Taylor, a primeira vez que te vi, você estava toda animada e
movendo o céu e a terra pra fazer o Hunter te notar. E agora você esqueceu
de convidá-lo? Não parece você.
Engulo em seco. Colocado daquele jeito, realmente parece que tem
algo errado, mas repito para mim mesma que está tudo bem. Estamos
passando por um período de nos conhecermos. Nada mais do que isso. Eu
sou avoada e esqueci, só mais um dia na vida de Taylor Lynch.
Bebo um pouco do meu milkshake para não precisar comentar.
Depois volto minha atenção para o telefone e digito enquanto respondo a
primeira desculpa que me vem à mente.
— Não tem nada de errado. Eu tava preocupada com o ensaio. É só
isso. — Aperto o enviar e viro o celular rápido para elas. — Viram?
Mensagem enviada. — Sinto o aparelho vibrar na minha mão e um sorriso
no rosto da Cleo me faz imaginar que recebi uma mensagem que ela não
deveria ter lido.
— Quem é essa tal de francesa? — ela pergunta. Tenta pegar o celular
da minha mão, mas sou mais rápida e olho para a tela.
ATLAS: a francesa topou
Controlo o meu rosto para não sorrir. Não preciso que minhas amigas
pensem que há algo além de amizade entre nós dois. Quer dizer, chupar o
amigo de vez em quando faz parte. Ele estava me fazendo um favor no fim
das contas.
— É a acompanhante do Atlas. Ele também vai na premiére. —
Aproveito a fofoca para desviar o rumo daquela conversa. — Vocês não
imaginam minha cara de espanto quando descobri que ele é filho da Ashley
Jones.
Cleo e Julia ficam tão surpresas quanto eu ao receber a notícia, mas
Mindy nos olha decepcionada.
— Ah, não, gente. Sério isso? Os dois são idênticos. Além do mais,
tem o mesmo sobrenome. Pensei que todo mundo soubesse.
Eu rio ao ver que ela diz exatamente o mesmo que o Atlas.
— Inclusive, não curto caras, mas se eu curtisse, ele ser filho de uma
atriz famosa seria muito mais interessante do que todo esse tesão que vocês
sentem por ele ser jogador.
Ela aponta para mim e para a Cleo. Lanço um olhar indignado para
minha amiga, mas a estudante de cinema apenas levanta os ombros.
— Não vou negar as minhas raízes de maria chuteira. Falou que joga
futebol, já me deixa excitada.
Começamos a rir do modo espontâneo com o qual a Cleo lida com a
situação.
— Tá vendo, Taylor, você tem que ser igual a Cleo — Julia comenta.
— Não adianta fingir, você tem um fraco por jogadores.
Balanço a cabeça.
— Isso não é verdade. É só o Hunter.
As três se entreolham e começam a rir. Me sinto uma estrangeira que
perdeu a conversa por não conhecer o idioma.
— O que foi agora?
— Não é só o Hunter, amiga — Mindy começa.
— Na verdade, acho que a gente nem tava pensando nele — continua
Julia.
— Seu negócio mesmo é com o Atlas, assume — Cleo finaliza, como
se fossem um trio sincronizado e determinado a me fazer raiva naquela
tarde.
— Olha, eu não sei de onde vocês estão tirando essas ideias idiotas,
mas não estou gostando disso.
Bebo mais um pouco do milkshake. Minha mente começa a buscar
por algum assunto diferente para ter um pouco de paz, mas essa é uma
palavra que parece distante naquela tarde.
— Então você quer dizer que não sente nada pelo Atlas? — Julia
pergunta e, por um momento, desejo que ela tenha vários pesadelos essa
noite com festas de Halloween. Ou melhor, com uma centena de pequenas
Taylors Swifts zumbis correndo atrás dela.
— Não. Atlas é meu amigo. — Pau amigo, minha mente completa,
mas esse é um detalhe que elas não precisam saber. — Gosto dele como
amigo, só isso.
— Situação hipotética, — Cleo começa e reviro os olhos. — Se
estivéssemos numa festa, e sei lá, eu ficasse com o Atlas — arregalo os
olhos ao ouvir a sugestão, mas logo me recomponho. — Você não ficaria
chateada?
— Não consigo entender por que eu ficaria.
As palavras soam vazias. Meu cérebro sabe o que elas significam,
mas é como se eu tivesse falado da boca para fora. Como quando você
cumprimenta um conhecido na rua e pergunta se está tudo bem mesmo sem
se importar com a resposta.
— Espera, que papo é esse, Cleo Evans? — Mindy se inclina na
direção da estudante de cinema. — Tem algo que você não está nos
contando?
Cleo sorri e balança a cabeça.
— Quem me dera tivesse. É só uma situação hipotética. Nada mais.
Até porque, minha irmã me mataria se soubesse. Ainda mais com o Atlas.
— Ela faz uma pausa antes de concluir. — Mas na hora que ele quiser, eu
quero.
Mindy e Julia começam a rir. Abro um sorriso tímido ao ouvir aquilo.
Não sei exatamente o que pensar sobre o assunto. Ambos são meus amigos.
Talvez eu esteja com medo que um relacionamento entre eles pudesse
atrapalhar o que temos. É isso. Só pode ser isso.
Termino o meu milkshake, mas ele já perdeu completamente o sabor.
Capítulo 16 - Atlas Campbell
A primeira vez que fui a uma premiére importante foi antes que eu
soubesse andar.
Ashley Jones tinha uma carreira em ascensão e apenas vinte anos de
idade quando engravidou do meu irmão. A maioria dos jornais de fofoca
dizia que ela nunca chegaria até a elite de Hollywood sendo mãe e ela
encarou tais comentários como um desafio pessoal. Ela não só chegou lá,
como também se tornou um ícone para várias mães que se dividiam entre os
filhos e o trabalho. Quando Orion completou oito anos de idade e eu nasci,
ela nos levava em quase todas as premiéres, como se fossemos bolsas de
palha de cinco dólares compondo seus looks. Era divertido para duas
crianças receber toda aquela atenção, milhares de flashes apontando para
nós enquanto todos os funcionários do espaço estavam prontos para fazer
qualquer coisa que quiséssemos. É impressionante que nenhum de nós dois
tenha seguido os caminhos dela, o que meu pai acharia uma perda de tempo
ainda maior que futebol.
— E quando você volta para os campos? — o repórter da ESPN me
pergunta, e eu tenho certeza que ele só foi chamado para cobrir esse tapete
vermelho porque eu estou aqui. Candice-esqueci-o-sobrenome-dela está de
pé do meu lado, sorrindo para as câmeras, tão perfeita que parece estar
encenando o papel de esposa troféu. Sei que a sua presença aqui não vai
render nenhuma fofoca, porque é normal que jogadores apareçam com
modelos nesse tipo de evento e nem sempre elas são suas namoradas.
— Ainda não temos uma previsão — respondo, escondendo que a
pergunta me deixa desconfortável. Meu médico ainda não me liberou para
ficar sem tipoia e por mais que eu esteja sentindo menos dor do que antes,
não tenho certeza se alguma coisa melhorou. — Mas minha equipe espera
que eu já esteja jogando durante o Super Bowl. Estamos bem otimistas
quanto a isso.
Não é verdade, mas ele não precisa saber. Eu não faço ideia de
quando vou voltar e os médicos também não sabem, mas não preciso
desesperar os torcedores. Felizmente, os Pythons tem tido uma ótima
temporada mesmo sem mim e só perderam um jogo desde a minha lesão.
O repórter abre um sorriso pra mim e se afasta depois de agradecer a
entrevista. Eu e Candice estamos sozinhos de novo, uma dezena de flashes
sendo disparados contra nós em busca do clique perfeito. Eu conversei com
Zade umas três horas atrás, e ele achou maravilhoso que eu estivesse
trazendo uma garota para abafar os rumores de namoro com Taylor Lynch.
Não me lembro da última vez que deixei tantas pessoas satisfeitas ao
mesmo tempo: minha mãe, Zade, e até Taylor, que adorou a ideia de um
encontro triplo. Eu também saio ganhando, porque Candice é ainda mais
bonita pessoalmente do que nas fotos. Depois de uma sequência de
desastres, o universo parece estar colaborando a meu favor.
Finalmente.
É um alívio para as minhas pupilas quando os fotógrafos encerram os
flashes por um momento. Isso significa que o próximo convidado relevante
está prestes a entrar, mas eu não fico para saber quem é. Ofereço um dos
braços para Candice e nós entramos no teatro Pantages, um dos mais
antigos de Hollywood. Somos recebidos pela equipe da minha mãe, que nos
leva até o elevador. O camarote fica no último andar.
— Seis anos morando em Los Angeles e nunca vim no Pantages —
Candice comenta, com um intenso sotaque francês. — Sou uma fraude?
Movo a cabeça em afirmativa.
— Esse teatro é passeio incluso de praticamente todos os pacotes de
turismo de L.A — murmuro, enquanto o elevador antigo sobe aos poucos.
O Pantages é considerado um marco da arquitetura, por causa do teto cheio
de detalhes de cada um dos seus andares, além de ser o único lugar de Los
Angeles onde você pode assistir aos espetáculos oficiais da Broadway. —
Eu nem moro aqui e já vim três vezes. Uma farsa, com certeza.
— Muitos anos frequentando as casas de ópera parisienses me
fizeram virar a cara para os espetáculos de Hollywood — Candice brinca.
Quem diz que os Estados Unidos se acham o centro do mundo, não conhece
a Europa. Bom, alguns países da Europa. — Mas estou dando uma chance
hoje. Adoro o trabalho da sua mãe no cinema.
Toda a comoção em torno dos ingressos para assistir à peça na
UCLA, os comentários de Taylor e agora os de Candice me fazem perceber
que minha mãe é o Adam Sandler na sua versão feminina. Todo mundo ama
o Adam Sandler.
A porta do elevador se abre no camarote no último andar. Aqui vai
uma verdade sobre as premiéres de filmes e peças de teatro: é muito mais
sobre comida boa, bebida de graça e contatos do que sobre arte de fato. A
primeira pessoa que vejo é meu pai, numa conversa animada com Carlos,
noivo de Orion. Tem um terceiro homem na roda e eu não o reconheço, mas
sei que não é um cara da bolha das estrelas de Hollywood. Os convidados
que não tinham relevância o bastante para o tapete vermelho entraram
primeiro, o que significa que o camarote está infestado de pessoas ricas,
mas não famosas.
É ótimo que Candice tenha vindo comigo, ou eu teria que aguentar
longas horas de conversa passivo-agressiva com meu pai e não tenho
certeza se conseguiria evitar mandá-lo para a casa do caralho depois de
umas quatro doses de whisky.
— Você quer beber alguma coisa? — Candice pergunta, prestativa,
quando um dos garçons para ao nosso lado. Ela tira uma taça de vinho de
cima da bandeja e sorri para mim, como se propusesse um brinde. Eu pego
a taça restante e agradeço o garçom com um aceno.
— Obrigado por ter aceitado o convite tão em cima da hora — eu
aproximo a minha taça da dela, encostando-as por um instante. — A sua
rotina como modelo deve ser uma loucura.
Candice assente.
— Eu vou pra Milão amanhã à noite — ela dá um gole no vinho. —
Deveria estar arrumando minhas malas agora, mas não é todo dia que um
astro do futebol aparece no meu direct com um convite tão adorável.
Dou um sorriso, imaginando o que a francesa pensaria se soubesse
que eu não fui o responsável pelo convite. Mais do que isso, se soubesse
que vinte minutos depois de a convidar eu estava gozando na boca de
Taylor Lynch.
Que falta de tato, Atlas.
E falando no diabo, meus olhos caem logo nela quando levo a taça até
os lábios. Taylor está encostada na sacada do camarote, ao lado de Hunter e
suas amigas da UCLA. Está usando um vestido preto, longo e brilhante, tão
colado no corpo que começo a duvidar se ela consegue respirar dentro dele.
Olhar para Taylor me irrita, porque ela parece mais bonita a cada vez que
pisco. É uma tortura saber que ela está bem ali, gostosa daquele jeito, e que
nunca vai ser minha.
Essa peste loira dos infernos.
Taylor está explicando alguma coisa para Hunter. Sei que é sobre
teatro, porque seus olhos brilham de um jeito muito intenso e ela gesticula
como uma maluca para provar o seu ponto. Hunter concorda com o que
quer que Taylor tenha dito e apoia uma das mãos na sua cintura, puxando-a
para um abraço. Eu não consigo entender, mas tem alguma coisa que me
incomoda naquela cena. Na proximidade entre eles, na forma como ela
coloca as mãos ao redor do seu ombro e ri.
Não é ciúmes.
É claro que não é ciúmes.
Um estalo me traz de volta para a realidade e eu demoro um segundo
para entender que apertei a taça de vinho com tanta força que ela se
quebrou entre os meus dedos. Um garçom se apressa para limpar a bagunça
que eu fiz e eu encaro a palma da minha mão, notando pequenos arranhões
superficiais.
— Desculpa, que desastre — eu foco minha atenção em Candice e sei
que isso é o que preciso fazer para sobreviver a essa noite. Não preciso
pensar em Taylor ou em Hunter. Mais umas três horas e eu vou estar em um
quarto de hotel com vista pra praia fodendo essa modelo tantas vezes que
passar horas sentada na sua viagem para Milão vai ser a coisa mais
desconfortável que ela já fez na vida.
— Por favor, Atlas — escuto a voz de Orion enquanto ele se
aproxima. — Não perca o resto dos dedos — ele brinca e dá uma olhada em
Taylor por cima dos ombros, como se soubesse exatamente o que acabou de
acontecer. — Não vai apresentar a sua acompanhante? — se vira para
Candice. — Não ligue pro Atlas, ele é mal-educado assim mesmo.
— Para de implicar com seu irmão, mi amor — Carlos comenta, de
longe, sem sair da rodinha com meu pai. Tenho certeza que ele vai passar a
noite inteira ouvindo William Campbell dar palestrinha sobre os negócios
da família. Eu adoro o Carlos, mas ele é um puxa saco profissional.
— Meu nome é Candice — ela vai um pouco mais rápido que eu,
oferecendo uma das mãos para Orion.
— Ela é modelo — completo, apoiando minha mão na sua cintura. —
Esse é meu irmão. Professor da UCLA.
— Minha irmã mais nova estuda lá — Candice comenta. — No
departamento de ciências exatas.
Candice e Orion engatam uma conversa sobre a universidade e eu me
sinto imediatamente grato pelos minutos em que não preciso puxar assunto
com ela, me limitando ao silêncio e acenos de cabeça. É por isso que não
vou em encontros como esse. Envolve conversa de mais e sexo de menos.
Ainda na sacada, Taylor nota minha presença. Ela acena de longe e
sorri, fazendo um sinal discreto de “joia” com os dedos, como se dissesse
que aprova a presença de Candice ali. É claro que aprova. Foi ela que
escolheu, para começo de conversa.
Antes que Orion e Candice possam entrar em uma nova rodada de
assuntos — aparentemente, eles são muito fãs da UCLA — meu pai se
aproxima, apoiando uma das mãos no meu ombro saudável. William dá um
sorriso e diz que vai me roubar por uns minutinhos, o que significa que ele
encontrou alguma coisa em mim sobre a qual pode reclamar.
— O que foi? — pergunto, assim que nos afastamos. Ele pega dois
copos de whisky com o garçom e me entrega um. Sei que é uma péssima
ideia misturar whisky com vinho, mas ele vai torrar ainda mais minha
paciência se eu recusar.
— Uma modelo de lingerie, Atlas? — ele murmura, baixo. — Sério?
— Você se casou com uma atriz — não é como se fosse a mesma
coisa, mas trinta anos atrás Hollywood ainda tratava atrizes como se fossem
putas. — Minha mãe queria que eu trouxesse alguém e eu trouxe, pode não
bancar o chato por uma noite?
— Não estou bancando o chato — diz ele, depois de fazer exatamente
isso. — Me preocupo com você. O noivo do Orion é um cara incrível,
trabalha com investimentos e…
— Pai — corto. — Eu sei que você adoraria, mas eu não sou o Orion.
Não sou professor e não vou me casar com alguém que usa terno e gravata
todo dia. Na verdade, nem vou me casar, ponto.
William suspira. Ele muda de abordagem, apontando para o meu
ombro lesionado:
— Como está?
— Indo bem. Volto a jogar antes do Super Bowl — minto. Talvez não
seja mentira, seja lei da atração.
— Tem certeza que quer voltar pros campos depois disso? — ele
toma um gole de whisky. — Você pode se machucar de novo e pode ser pior
do que foi dessa vez. Sempre achei que você era magro demais para ser left
tackle…
Eu me seguro para não revirar os olhos. Não acredito que ele está me
chamando de magrelo quando nem os nutricionistas do Pythons fazem isso.
Pelo menos não na minha cara.
— Magro demais para ser left tackle, mas com o peso ideal para
passar um dia inteiro dentro dos escritórios Campbell, não é? — eu viro o
copo de whisky contra os lábios e bebo o suficiente para afogar minha
raiva. — Admita, pai, você não suporta o fato da minha carreira ser um
sucesso.
William balança o líquido dentro do seu copo.
— Você bebe demais, vai em festas demais e sai com garotas demais.
Eu não chamaria isso de sucesso — ele suspira. — Se precisar fazer uma
cirurgia…
— Eu não vou precisar.
— Se precisar — recapitula. — O que vai fazer? Se nunca mais jogar
como antes, o que você vai fazer?
— Nada disso vai acontecer.
— Bom, eu espero que não aconteça — William responde, sério. —
Seu rostinho bonito não vai te levar em muitos lugares se estiver fora da
NFL. E quando precisar de mim, sabe que as portas da empresa estão
sempre abertas.
Eu não respondo, porque aquela conversa é absurda. Ele realmente
acha que entrei nos Pythons por causa de um rostinho bonito? Até onde eu
sei, nenhum dos executivos dos times da NFL estavam interessados em
transar comigo. Eu termino de beber o whisky na força do ódio e sinto um
alívio enorme quando as luzes do camarote se apagam, indicando o início
da peça.
∞∞∞
Como leitor de romances, preciso dizer que Água para Elefantes tem
uma história tediosa. Apesar disso, minha mãe brilha no palco, como a
estrela que ela é e sempre foi. Do camarote não consigo ver com precisão a
reação das pessoas sentadas na plateia, mas pelo menos aqui em cima, todos
vibram, torcem e se comovem com a história de Malena, não pela
personagem em si, mas pela vida que Ashley Jones dá a ela. Sempre achei
incrível a forma como minha mãe se entrega aos seus papéis. Não importa o
que seja, tudo nas mãos dela se transforma em algo grande.
É basicamente o que estou tentando fazer com os Bruins. Transformá-
los em algo grande.
— Valeu a pena ter dado uma chance pra um espetáculo de
Hollywood? — pergunto Candice, quando as cortinas do palco se fecham
para a primeira pausa de dez minutos. É o momento dos atores trocarem de
figurino e ajeitarem o cenário enquanto o público pega mais bebidas e vai
ao banheiro.
Candice move a cabeça em afirmativa, seu cabelo castanho e
brilhante caindo pelos ombros. Seus olhos azuis estão cobertos por uma
maquiagem dourada que combina com a ocasião.
— É impressionante — diz. — Acho que preciso aprender mais sobre
os espetáculos americanos.
— Eu vou ser seu guia nessa jornada — brinco, mas é totalmente da
boca para fora.
Nós dois sabemos que nunca mais vamos nos ver.
Quer dizer, pelo menos eu espero que ela saiba.
Um burburinho nos fundos do camarote chama minha atenção. Eu
vejo pelo canto dos olhos quando Taylor se levanta com Hunter e eles saem
para fora, apressados. O movimento me deixa curioso, mas eu não vou atrás
dos dois para entender o que está acontecendo. Talvez estejam planejando
se pegar no banheiro antes da segunda parte da peça começar. Franzo o
cenho, porque isso não parece a cara da Taylor. Ela deixou bem claro que
queria estar aqui por motivos profissionais.
Um dos garçons oferece uma taça de espumante para mim e uma de
vinho para Candice. Eu aceito simplesmente para ter alguma coisa com o
que ocupar a minha mão. As luzes do camarote se apagam de novo e as
cortinas lá embaixo se abrem, recomeçando a peça. Eu engulo um gole de
espumante e olho de novo para a porta, esperando que Taylor volte. Cinco
minutos se passam, então dez, então quinze. Eu termino de beber o
espumante e sussurro para Candice:
— Eu já volto.
Ela assente. Deixo a taça com um dos garçons e caminho pela extensa
área do camarote, chegando nos banheiros. Não há qualquer sinal de Taylor
ou Hunter por aqui, então eu desço até o andar principal do teatro. Preciso
admitir que os corredores vazios e escuros do Pantages são um pouco
assustadores, principalmente quando uma cena tensa acontece no palco e a
música dramática reverbera por todo espaço.
Eu vou até a entrada do teatro, sem resultado. Começo a considerar
que talvez eles tenham ido embora, mas… Ugh, isso seria tão indelicado.
Pego o celular do bolso do meu terno e penso em mandar uma mensagem
para Taylor, mas desisto. Ela teria dito alguma coisa se quisesse.
Me viro para voltar até o camarote, mas um barulho vindo do
banheiro feminino do primeiro andar chama minha atenção. É um choro,
misturado com uma respiração desordenada e exagerada. Eu olho para a
porta e, de onde estou, não consigo enxergar ninguém lá dentro.
— Tem alguém aí? — pergunto, me aproximando um passo. Não
tenho nenhuma resposta, mas agora mais perto tenho certeza que se trata de
um choro. — Oi? — falo um pouco mais alto dessa vez, mas o resultado é o
mesmo.
Será que eu vou ser preso por invadir o banheiro feminino?
Confirmo mais uma vez que não tem ninguém por perto. A pessoa lá
dentro pode estar passando mal ou algo parecido, então, mesmo que eu seja
preso, decido que vale a pena correr o risco.
Eu entro, e meus olhos encontram Taylor encostada no extremo do
banheiro, do lado de uma das latas de lixo. Seus braços envolvem seus
joelhos por cima do vestido e seu rosto está apoiado nas pernas, abafando
seu choro e o descompasso da respiração.
O que o Hunter fez?
Meu primeiro pensamento é que vou ter que matá-lo e o plano de
ajudar os Bruins vai ficar para alguma outra alma caridosa. Sinto muito,
treinador Stevie, mas vai ser muito mais difícil reerguer o time com um
quarterback morto na conta.
A preocupação me congela na porta do banheiro e eu demoro alguns
segundos para me aproximar dela. Não sei se ela me ignorou de forma
consciente da primeira vez. Já li em algum lugar que nossa audição piora
quando estamos chorando, mas considerando a quantidade de vídeos do
TikTok que eu consumo diariamente, isso pode muito bem ser mentira.
Eu me sento do lado dela no chão. É uma cena patética, considerando
nossas roupas chiques. Taylor respira fundo e levanta o rosto. Seu rímel
borrou e fez uma trilha de lágrimas pretas pelas bochechas. Ela não diz
nada, então sou obrigado a perguntar:
— O que aconteceu?
A respiração de Taylor continua descompassada por mais que ela
esteja tentando se acalmar. Ela pega minha mão e aperta e eu sinto meu
estômago gelar ao perceber como sua pele está fria. Taylor continua
apertando meus dedos sem dizer nada, como se fossem uma bolinha
antiestresse. Eu demoro, mas entendo o que ela está fazendo: é uma técnica
para controlar crises de ansiedade.
Longos minutos se passam assim. As lágrimas continuam escorrendo
pelo rosto de Taylor e eu me sinto cada vez mais agoniado em assistir sem
poder fazer nada. Sei que não devo, mas minha vontade é de sacudir seu
corpo um milhão de vezes até que esteja sorrindo de novo. Por favor, sorria
de novo.
— Hunter foi pro hospital — finalmente, Taylor consegue dizer, num
fio de voz. — O namorado da mãe dele sofreu um acidente de carro num
Uber.
Eu assinto, indicando que continue. A mão dela ainda aperta a minha.
Não consigo entender porque ela está assim pelo que aconteceu com o
namorado da mãe do Hunter. Até onde eu sei, eles nem se conhecem.
— E ele…
— Não, está bem — Taylor explica, a voz embargada. — Estável.
Quebrou as duas pernas.
Bem, com certeza, não é a palavra.
— E você…
— Eu lembrei da minha mãe — Taylor aperta minha mão com mais
força. — Ela morreu em um acidente de carro quatro anos atrás. Quando
ligaram do hospital… — as lágrimas se intensificam. — Foi como um déjà
vu do pior dia da minha vida. Eu passo a maior parte do meu tempo
fingindo que isso nunca aconteceu, então… — Taylor funga. — Toda vez
que eu lembro, é como se estivesse acontecendo de novo.
A sua respiração piora. Com cuidado, eu puxo seu corpo para mais
perto do meu, aninhando-a no meu peito. Suas lágrimas mancham a camisa
por baixo do meu smoking, mas não me importo com isso agora.
— Já aconteceu alguma coisa assim com você? — ela pergunta, entre
uma sequência de lágrimas e outra. Ela chora um pouco, para, respira e
então volta, como se tivesse se lembrado de mais um motivo para escorrer
toda água do corpo para fora.
— Já, mas foi com um tio.
— Me conta.
— Ele teve câncer — sussurro, e eu entendo Taylor totalmente,
porque lembrar disso também é doloroso. — Nunca o conheci quando
estava saudável, na verdade. Ele fumava desde os dezesseis anos, por isso
tinha uma saúde delicada. Quando eu tinha nove anos de idade ele precisou
fazer a sua primeira grande cirurgia pra tirar um tumor. A previsão dos
médicos era que, se fosse um sucesso, ele viveria mais uns quinze ou vinte
anos.
— E foi?
— Sim. Ele viveu mais treze anos. Além da minha mãe, era a única
pessoa da minha família que apoiava a minha carreira de jogador de futebol
— dou uma pausa, porque minha voz embarga. — Fui aprovado nos
Pythons uma semana depois que ele morreu. Ele nunca soube.
Taylor levanta a cabeça e me encara. Ela força um sorriso para tentar
me consolar, mas é ela quem precisa de consolo.
— Sinto muito — diz.
Eu assinto. Nós ficamos em silêncio por um bom tempo até que
Taylor se acalma.
— Bom — ela murmura, baixo, como se tivesse acabado de acordar
de um transe. — Eu vou comprar uma garrafa de vodka numa loja de
conveniência e ir pra praia.
Não consigo segurar uma risada, por mais horrível que o clima esteja.
— O que?
— O mar me acalma.
— Ótimo, mas não sei se é muito indicado beber pra fingir que não tá
triste.
— Eu não deveria — Taylor concorda. — Mas nós não lidamos com
a dor da forma que devemos, lidamos da forma que conseguimos.
Não tenho um argumento bom o suficiente para rebatê-la, então fico
em silêncio. Eu seguro sua cintura quando ela ameaça se levantar,
mantendo-a do meu lado.
— Vou com você.
— Não — ela balança a cabeça. — Volta pro seu encontro. Foder uma
modelo de lingerie, lembra? Seu objetivo dessa noite.
Não entendo como Taylor quer que eu transe com alguém sabendo
que ela está bêbada, triste e sozinha numa praia de Los Angeles, pensando
na sua mãe morta depois de ter uma crise de ansiedade fodida.
— Vou com você — repito, sem dar margem para que ela negue. —
Somos amigos, não somos?
Taylor dá uma risada triste.
— Pensei que isso era só uma coisa que escolhemos dizer pra não ter
a responsabilidade de classificar nossa relação esquisita.
— Também, mas… — eu hesito. As palavras estão na ponta da minha
língua, mas é difícil dizer em voz alta. Eu as forço para fora. — Eu
realmente me importo com você, Taylor Lynch.
Mais lágrimas ameaçam cair do rosto de Taylor, mas ela passa os
dedos pelo rosto e engole o choro.
— Também me importo com você, Atlas.
∞∞∞
Dispensar uma modelo de lingerie está na lista de coisas que eu nunca
imaginei que faria na vida, mas aqui estou eu. Como Taylor queria,
compramos uma garrafa de bebida e viemos para a praia de Santa Mônica.
O parque de diversões do píer ainda está funcionando nesse horário e a
areia conta com uma quantidade considerável de casais e famílias. Mesmo
tendo muita gente, eu e Taylor nos destacamos, porque somos os únicos
com trajes de gala. É engraçado observar a expressão confusa no rosto de
cada pessoa que passa o olho por nós, como se fossemos a tripulação de
uma nave alienígena que acabou de pousar na terra.
— A Candice ficou de boa com você? — Taylor pergunta, dando um
gole na garrafa de vodka. Ela limpou o rosto na pia do banheiro e tirou toda
maquiagem borrada, mas seus olhos ainda estão um pouco inchados.
— Ela me xingou em francês — conto, e uma risada meio bêbada
escapa dos meus lábios. — Parece que não vamos ter um segundo encontro.
Taylor ri, mas logo uma expressão triste toma conta do seu rosto.
— Ai, desculpa. Eu te arranjei o date e depois estraguei tudo.
— Tudo bem, não vai ser difícil encontrar outra modelo de lingerie
pra transar comigo. Talvez eu até faça um anúncio nos jornais.
— Vai aparecer uma fila de mulheres na sua porta. Tipo quando o
Shane Gray fez uma audição pra tentar encontrar a garota que ele ouviu
tocar piano e o Camp Rock inteiro apareceu.
— E era a filha da cozinheira o tempo todo.
Taylor arregala os olhos.
— Não imaginei que fosse pegar a referência — ela bebe mais um
gole, então passa a garrafa pra mim. — Livros de romance, musicais da
Disney… Quem é você quando ninguém está olhando, Atlas Campbell?
Eu faço uma careta quando sinto a vodka descer pela minha garganta.
— Um cara legal, aparentemente.
— E por que não deixa todo mundo saber que você é esse cara?
Eu bebo mais um gole de vodka, porque essa é uma pergunta
delicada.
— Porque não quero — respondo, como se fosse simples assim.
Taylor ri enquanto balança a cabeça, descrente da minha resposta. Ela
toma a garrafa da minha mão e bebe dois goles seguidos, enquanto se
abaixa para pegar uma concha que viu na areia.
— Estou juntando — ela comenta, numa mudança brusca de assunto.
A sua voz já está mais fina que o normal, por causa da bebida. — Pra fazer
pulseiras.
— Se nada der certo, pode abrir uma loja de pulseiras.
Taylor assente, então balança um dos braços, mostrando as pulseiras
do dia.
— Fiz uma pra sua mãe — Taylor aponta para a pulseira verde. Está
escrito: ASHLEY JONES #1 FAN. — Dá pra ela depois.
Eu tiro a pulseira do seu pulso, colocando no meu. Se conheço bem
Ashley Jones, ela vai achar isso tão incrível que vai perguntar quando peço
Taylor em casamento. Por um instante, penso que elas seriam boas amigas,
considerando o quanto são emocionadas. Vou entregar a pulseira quando for
explicar para minha mãe porque eu desapareci da sua peça do nada.
Taylor bebe mais um gole da bebida e limpa a boca com as costas da
mão.
— Chega — ela murmura. — Pode ficar com o resto.
Eu pego a garrafa quando ela me oferece, mas não bebo. Depois de
beber vinho, whisky, espumante e vodka numa mesma noite, tenho a
impressão que meu estômago está puto comigo.
Nós chegamos em um ponto mais afastado do píer. As conversas,
risadas e a música do parque agora estão baixas, como se estivéssemos
ouvindo por cima de um abafador de ruídos de baixa qualidade. Taylor se
senta na beira do mar, dando um sorriso ao sentir a água tocar seus pés. Ela
aponta com a cabeça para a areia molhada ao seu lado e eu me sento, sem
pensar quanto esse terno custou e o que a água salgada vai fazer com ele.
Taylor encara o mar, contemplativa.
— Atlas — ela chama, de repente. — O que você acha que o amor é?
— Uma mentira inventada pelo capitalismo pra vender o estoque de
presentes que sobraram do natal no Valentine’s Day.
Taylor ri.
— Vai se foder — ela enfia uma das mãos na areia, cavando um
pequeno buraco. — Tô falando sério.
— Eu não entendo nada de amor.
— Acho que você entende, sim.
Taylor me encara e nós ficamos em silêncio, não pela primeira vez na
noite. Não sei se entendo o que ela quer dizer, não sei se quero entender,
mas o olhar dela é suficiente para me fazer beber tudo que resta na garrafa.
— Cuidado — ela debocha. — Eu não vou cuidar de bêbado.
— É claro que não vai, você é uma peste.
— Para de me chamar de peste.
— O que você prefere? — pergunto, fingindo seriedade. — Peste,
Polly Pocket, Barbie falsificada…
— Caralho, fala logo que você me odeia.
— Sou obrigado a manter as aparências — explico. — Se eu fosse
seguir minha vontade, só te chamaria de linda.
Taylor balança a cabeça em negativa, mas ela tem um sorriso no rosto
quando o faz.
— Só tá dizendo isso porque tá bêbado.
— Sim, mas não deixa de ser verdade.
— E que outras verdades você anda escondendo de mim enquanto
está sóbrio?
— Eu não vou cair no seu jogo, peste. Minha boca é um túmulo.
Os dedos de Taylor continuam cavando. Ela tira um pouco de areia
molhada e começa a fazer um castelo. Falta coordenação motora, muito
provavelmente pela quantidade de vodka que ela bebeu.
— Prefiro quando me chama de linda — diz, observando o seu
castelo torto.
— Tudo bem, linda.
— Obrigada.
— Pelo apelido novo?
Taylor move a cabeça em negativa.
— Por ter me beijado na festa, por ter me ajudado com o Hunter, por
ter treinado a cena comigo, por ter aparecido no banheiro, por estar aqui —
ela dá uma pausa. — Talvez eu esteja fazendo uma dívida com o diabo e a
lista só aumenta.
— Não acredito que acabou de me chamar de diabo — eu espirro
água nela. — É por isso que eu te chamo de peste.
— Você entendeu o que eu quis dizer — ela ri, como quem pede
desculpas. — Eu vou ter que pedir mais um favor — e me encara, agora
séria. — Posso dormir na sua casa hoje? Cleo foi passar o final de semana
com os pais e eu não quero ficar a noite inteira sozinha…
Eu assinto e Taylor agradece com um sorriso, apoiando a cabeça no
meu ombro bom.
— Sabe outra coisa que é verdade? — pergunta, sem olhar para mim,
depois de alguns minutos quieta. Ela não me espera responder para
continuar. — Você deixa os meus sentimentos confusos — solta, como se a
confissão fosse uma bomba. Dado o contexto, realmente é. — Eu pensei
que eu entendia muito de amor, mas estou começando a achar que não
entendo nada.
Eu dou um suspiro, mas não respondo. Taylor não espera uma
resposta. Nós continuamos observando o mar, aproveitando a brisa da praia
e sentindo a água nos nossos pés. Não vou dizer pra ela, mas no meio desse
turbilhão de emoções, é reconfortante saber que não estou confuso sozinho.
Capítulo 17 - Taylor Lynch
A luz fraca que entra pela janela do quarto faz minha cabeça doer
como se alguém estivesse batendo um martelo na minha testa. Giro o corpo,
ficando de costas para a claridade. Meus olhos encontram uma mesa de
cabeceira diferente da que tem no meu quarto. Uma a uma, as lembranças
da noite anterior voltam à minha mente. Sinto a minha língua áspera e a
garganta mais seca do que a areia de praia em uma tarde quente.
Eu dormi com Atlas.
Sem fazer um movimento brusco, levanto o edredom que nos cobre
apenas para conferir que não estou pelada. Apesar de ter recuperado as
memórias das últimas horas, tenho ciência de que não posso confiar tanto
assim nelas, visto a quantidade de álcool que ingeri. As lembranças vieram,
mas alguns detalhes estão embaçados como se eu os observasse através de
um vidro sujo.
O que vejo não me tranquiliza completamente. Estou usando uma
camisa de uniforme gigantesca do Atlas. Aos poucos me recordo que ele me
ofereceu a camisa quando eu disse que não tinha nenhuma roupa comigo
além do vestido colado que usei na premiére. Ele é uma peça linda, mas
definitivamente não foi criado pensando em conforto, muito menos para
uma boa noite de sono.
Tomando cuidado para não fazer nenhum movimento que possa
despertar o jogador, me levanto. Atlas está apagado. Está deitado de barriga
para cima, o braço lesionado ao lado do corpo e a cabeça inclinada para a
esquerda. Quem o vê com o cabelo esparramado na cama, até pensaria que
se trata de um anjo, mas na verdade parece mais um demônio.
Um Incubus, pra ser mais exata.
Balanço a cabeça. Não gosto do caminho que os meus pensamentos
estão seguindo. Sigo na direção da janela e ajusto a posição da cortina,
bloqueando o feixe de luz que incidia sobre a cama. Agora, a escuridão
bem-vinda volta a dominar o quarto. Penso em retomar meu lugar ao lado
de Atlas, mas não acho que é uma boa ideia.
Tem coisas demais acontecendo.
Sigo para onde o meu vestido está pendurado perto da minha bolsa e
sapatos. O quarto está escuro, Atlas está dormindo, por isso não ligo de
trocar de roupa aqui mesmo. Retiro a camisa do left tackle que parece quase
um vestido no meu corpo, e a jogo em cima da cama. Antes de pegar o
vestido, olho para o meu anfitrião. É uma cena, no mínimo, inusitada. Eu,
uma universitária virgem, em pé usando apenas meu conjunto de lingerie
preta observando um dos jogadores de futebol com a maior fama de
mulherengo do país.
Dou um passo na direção da cama.
Atlas continua dormindo. O edredom não cobre o seu corpo inteiro,
deixando a cintura pra cima descoberta. Na luminosidade reduzida, consigo
ver parte dos seus músculos cobertos por tatuagens e minha imaginação
completa o restante, me dando uma visão deliciosa do jogador.
Não tem como negar, Atlas é muito gostoso. Gostoso até demais para
o nosso próprio bem.
Sinto um arrepio se espalhar pelo meu corpo ao imaginar minhas
mãos percorrendo aquele abdômen definido. Só olhar para Atlas me deixa
completamente molhada.
Dois milhões de pensamentos atravessam a minha mente em uma
disputa sem trégua. Eu deveria acordá-lo? Por um lado, ali está a chance
que sempre quis: perder minha virgindade de uma forma memorável. Por
mais que não estejamos apaixonados um pelo outro, é sexo, não é? No fim
das contas, deve dar na mesma se tem ou não sentimento envolvido.
Por outro lado, seria humilhante tentar convencer Atlas a abrir mão da
sua regra da virgindade. Mesmo assim, eu preciso me aliviar de alguma
forma.
Não, Taylor. Você precisa parar de pensar com a boceta e voltar a
pensar com o cérebro.
Eu saio do quarto com a camisa de Atlas nas mãos e vou até o
banheiro no fim do corredor, observando meu reflexo no espelho antes de
encostar a porta. Meu cabelo está uma bagunça e eu não vejo a hora de
chegar na Kappa House, me jogar na cama e fingir que não existo pelo final
de semana inteiro.
A ideia de me jogar na cama me faz pensar em Atlas de novo.
Imagino ele acordando e me carregando para a cama sem dizer uma palavra
sequer. Ele me jogaria e abriria as minhas pernas. Sem pedir licença,
posicionaria o seu pau na minha entrada e me penetraria enquanto olha nos
meus olhos.
Ai, caralho.
Eu desisto, porque claramente perdi a guerra contra a minha própria
boceta. Mesmo assim, acordar Atlas e pedir para ele me foder parece
drástico, principalmente quando não sei se Orion e Carlos estão em casa. Eu
passo os dedos pela sua camiseta e aproximo o tecido do meu rosto,
sentindo o seu perfume se misturando com o meu. Dou um impulso e me
sento na pia do banheiro. Desligo meu senso crítico por um instante e enfio
a mão dentro da calcinha, massageando meu clitóris com a pressão ideal.
Fecho os olhos e contenho os gemidos que estão querendo subir pela minha
garganta.
Meus pensamentos voam até aquele dia na sala, seu pau entrando e
saindo da minha boca. A vontade de voltar para o quarto e acordar Atlas
aumenta, mas eu ignoro, movendo meus dedos mais rápido. Imaginar seu
pau entrando na minha boceta me deixa maluca, principalmente quando
penso em quão grande ele é. Eu nunca mais seria a mesma depois desse
evento.
Sinto o corpo tremer com o orgasmo que me atravessa como um raio.
Levo uma das mãos à boca e mordo um dedo para não soltar um gemido
alto demais. Minhas pernas relaxam e demora alguns segundos para minha
respiração voltar ao normal.
— Tava se masturbando com a minha camiseta?
Levo um susto ao ouvir a voz de Atlas. Abro os olhos e o encontro na
porta do banheiro, agora recém-aberta.
— Não! — tiro a mão de dentro da minha calcinha e desço da pia,
tentando disfarçar o indisfarçável. Ele me pegou no ato, não tenho o que
fazer além de fingir que não aconteceu e torcer para que ele finja junto
comigo. — Eu já vou indo, tá? Obrigada de novo — eu dou um passo para
frente, mas Atlas não sai da porta.
— Eu vou perguntar de novo — ele insiste. — Tava se masturbando
pensando em mim?
Admitir em voz alta parece humilhante, então eu não respondo. Atlas
avança um passo e me encara, esperando que eu diga alguma coisa, mas me
mantenho em silêncio. Tudo que eu disser pode e vai ser usado contra mim
no tribunal, então eu tenho o direito de permanecer calada. Ele não pergunta
de novo, ao invés disso apoia sua única mão boa na minha cintura e me
coloca de volta em cima da pia.
Nós dois ficamos em silêncio, encarando um ao outro. Eu acabei de
gozar, mas só de olhar para o seu cabelo bagunçado e a forma como seus
olhos me devoram, tenho vontade de enfiar os dedos dentro da calcinha de
novo.
Céus, Taylor.
Se controle.
— Parece que o gato comeu sua língua — Atlas ri. — Vou tentar
outra pergunta — sua mão aperta minha cintura e ele desce os dedos até
minhas coxas, fazendo um arrepio percorrer meu corpo. — Você quer que
eu te foda, linda?
Dessa vez, eu não hesito. Minha cabeça se move em afirmativa e eu
me sinto ainda mais patética, mas não tenho tempo de pensar nas
consequências do meu gesto.
Meu coração dispara e eu me levanto em sobressalto. Fico
desnorteada por alguns segundos, então percebo que ainda estou com a
camisa dos Pythons no corpo. Atlas Campbell dorme tranquilamente do
meu lado, seu perfume me envolve e meu vestido ainda está apoiado na
maçaneta, bem onde eu deixei ontem à noite. Caralho. Não acredito que
acabei de ter um sonho erótico com o Atlas.
Eu me levanto mas, diferente do meu sonho, não tiro a camiseta. Abro
o armário de Atlas com cuidado e roubo um par de tênis que fica
absurdamente enorme nos meus pés, mas não quero ter que colocar um
salto antes das onze da manhã, ou sei lá que horas são. Pego minha bolsa e
os sapatos e saio o mais rápido possível do quarto, temendo que qualquer
minuto a mais na presença daquele deus grego possa me fazer perder a
cabeça e terminar como no meu sonho. Ainda não acredito que isso
aconteceu. Ou melhor, não aconteceu. Porra, que ridículo.
Cruzo o corredor que leva até a sala, mas paro quando ouço o barulho
de copos e talheres. A sala da casa de Orion se divide com a cozinha, numa
montagem que não envolve portas ou paredes, típica das cozinhas
americanas. Não tem como eu chegar até a porta sem passar pela sala.
Encaro a porta do quarto de Atlas no fim do corredor. Penso em
voltar, mas é tentador demais. Que droga. Eu definitivamente não queria ter
que encontrar Carlos ou Orion e ter que explicar que estou indo embora
enquanto Atlas ainda dorme. Que tipo de pessoa faria uma coisa dessas?
Bom, o próprio Atlas.
O pensamento me arranca um sorriso. É fácil imaginar o left tackle
dos Pythons fazendo algo do gênero. Não foi ele mesmo quem disse que
não gostava de encontros com muita conversa? Nada mais lógico que ele
mantivesse o mesmo pensamento para o momento pós sexo.
Ok, foda-se.
Vai ser constrangedor, mas eu vou sobreviver.
Tomo impulso e sigo até a sala. Orion e Carlos estão na cozinha,
fazendo ovos com bacon como o casal fofinho de alguma sitcom genérica.
A situação fica um pouco mais humilhante quando penso que Orion é
professor de muitos dos meus colegas da UCLA.
Taylor Lynch, você não tem nenhum respeito próprio.
— Bom dia — Carlos abre um sorriso pra mim, notando minha
presença. Nem ele nem Orion parecem surpresos, o que me faz pensar em
quantas mulheres já estiveram em situações parecidas com as minhas. Ele já
trouxe alguma garota aqui depois que me conheceu? Bom, não importa. —
Estamos fazendo ovos Benedict — ele aponta para a frigideira e os pães de
forma dispostos na bancada. — Com bacon.
Orion confirma com a cabeça.
— Quer tomar café?
— Não, obrigada — eu sorrio para eles. — Vou tomar café em casa
— sinto necessidade de explicar. — Não quis acordar o Atlas — para de se
explicar, caralho!
Os olhos de Orion passam por meu corpo, analisando a camiseta dos
Pythons que visto. Sei que um quadro muito distante da realidade — e
muito parecido com meu sonho — passa pela sua cabeça agora.
— Sou amiga dele — explícito. Eles me viram com Hunter na
premiére devem estar achando que sou a maior das vagabundas agora. —
Não é o que vocês estão pensando.
Carlos ri.
— Não estamos pensando nada, mi amor.
— Enfim — eu respiro fundo. — Obrigada pelo convite, mesmo —
dou mais um sorriso. — A gente se vê pela UCLA, eu acho.
Orion sorri para mim. Como Atlas, ele parece se divertir com o meu
constrangimento. Os Campbell são todos endiabrados assim?
Eu dou um passo em direção aos jardins e o cheiro dos ovos atiça
meu estômago, mas eu ignoro. Pego meu celular para chamar um Uber e
vejo uma mensagem de Hunter.
Meu coração afunda no peito ao me lembrar do acidente.
HUNTER: ele está estabilizado agora. Os médicos preferiram fazer
a cirurgia amanhã de manhã.
HUNTER: disseram que ele vai ficar bem, não vai ser um
procedimento complicado.
HUNTER: desculpa ter saído daquele jeito.
Não sei explicar como não me lembrei disso assim que acordei. Ali
estava o homem por quem sou apaixonada, o homem com o qual tenho
sonhado por meses! E, no momento que ele precisava de mim, eu fui com
outro para a praia encher a cara. E ainda tive um sonho erótico com ele.
Você é patética, Taylor Lynch.
Digito uma resposta para Hunter desejando melhoras e dizendo que
tudo vai ficar bem. Digo que não há nada o que desculpar, que podemos
assistir a peça depois, numa sessão normal.
Em seguida, peço um Uber. Quando o carro chega, encosto minha
cabeça no vidro e me entrego aos pensamentos conflituosos que me
assolam. Eu não estava lá quando Hunter precisou de mim, mas Atlas
sempre aparece quando eu sinto necessidade. O beijo, o ensaio para a peça,
o falso date e agora, uma crise de ansiedade. Sinto que isso quer dizer algo
que ainda não consigo entender.
As palavras que eu disse ontem na praia me voltam e parecem fazer
ainda mais sentido.
Eu realmente não entendo nada sobre amor.
Capítulo 18 - Atlas Campbell
∞∞∞
Eu prometo que vou seguir todas as recomendações do Doutor Carter,
começando a partir de amanhã. Dou um gole no meu mojito fingindo que
não fui intimado a moderar na bebida e sorrio para Chad, que se sentou do
meu lado no bar do Hotel. Os Pythons se hospedaram no Shutters on the
Beach, por acaso, meu hotel favorito em Los Angeles. Fica dentro da praia,
literalmente, e sempre penso que se eu tivesse um hotel, ele seria desse
jeito.
— Algum motivo especial pra ter me mandado uma mensagem
dizendo que o Noah vai te matar? — ele pergunta, pedindo uma água para o
barman. Está usando um durag nas cores dos Pythons essa noite, o que
deixa sua camiseta larga com um ar muito mais estiloso.
Eu solto o ar pela boca. Meus olhos correm pelo salão e eu encontro
Noah e Sabrina na pista, dançando uma música fora de ritmo. Eles são fofos
juntos e é óbvio que ele faria qualquer coisa para deixá-la feliz. Só que, no
momento, deixá-la feliz inclui me exterminar.
— Ela já terminou o livro novo? — pergunto, adiando o assunto.
— Acho que já — Chad dá de ombros. — Para de enrolar, o que você
fez dessa vez?
— Que tom acusatório horrível — reclamo. — Até parece que eu sou
tão apocalíptico assim.
— Na verdade, eu estou surpreso que você não fez nenhuma merda
irreparável ainda.
Dou uma risada e bebo mais mojito.
— Então, sobre isso…
— Ai, meu Deus. Sabia que tava bom demais pra ser verdade.
— Olha, eu vou ser direto.
Chad assente, mas eu não digo nada.
— Vai, porra! — ele reclama. — Desembucha.
— Transei com a Cleo — solto, de uma vez só.
Chad me encara. Ele demora alguns segundos para entender o que eu
acabei de dizer, como se fosse uma equação matemática de difícil
compreensão. Então ele ri, como se eu tivesse contado uma piada.
— Cleo — ele murmura, os traços de um sorriso ainda no seu rosto.
— Cleo Evans?
— É.
A expressão de Chad se fecha quando eu confirmo. Por um segundo,
penso que é ele quem vai me dar um soco.
— Caralho, Atlas — resmunga Chad. — Não acredito que fez isso.
De todas as mulheres dos Estados Unidos ela era a única que…
— Eu sei, tá? O Noah não quer a gente perto dela — bebo mais um
gole. — Não foi uma coisa que eu planejei, só aconteceu.
— O que aconteceu? — eu quase derrubo meu copo quando ouço a
voz de Sabrina, como se ela fosse um fantasma. Ela franze o cenho para
mim e se estica para pegar a garrafa de água de Chad, pedindo licença. —
Credo, Atlas. Parece que viu uma assombração.
— Só estou cansado — minto. — Me desacostumei com a emoção
dos jogos.
— Ah, normal — ela sorri pra mim, embora eu saiba que não estou
no topo da sua lista de afeições. — Você se acostuma. Vai estar de volta
antes do Super Bowl — Sabrina se esforça para ser simpática mesmo não
gostando de mim e eu sinto um pouco mais de culpa.
— Sim, com certeza. Valeu.
Sabrina dá mais um sorriso e se afasta com a garrafa de água. Chad de
vira para mim.
— Como isso aconteceu?
— Quer a resposta honesta ou a resposta falsa?
— De qual delas eu vou gostar mais?
— A falsa — murmuro. — Eu estava numa festa da Kappa Kappa
Gamma e por acaso acabei transando com a Cleo na despensa.
— Por acaso acabei transando? — ele revira os olhos. — Desse jeito
parece que você tropeçou e caiu na boceta dela. Agora a resposta honesta.
— FiqueicomciúmesdaTaylor — digo, propositalmente sem pausas,
engolindo mais bebida. — E transei com a primeira pessoa que apareceu,
que por acaso foi a Cleo.
Como previsto, Chad não está nada satisfeito com a minha resposta
honesta.
— Em outras palavras, você usou ela como válvula de escape pra não
ter que lidar com seus próprios sentimentos.
— Não — eu corto. — Eu não colocaria o termo usou… — Chad me
encara, descrente. — Não colocaria mesmo, tá? Não é como se a Cleo
estivesse procurando por matrimônio e filhos. Ela sabe como eu sou.
Chad aperta as têmporas como um pai estressado com os filhos.
— Não vai acontecer de novo — ressalto.
— Nós não vamos contar pro Noah — ele decreta. — Pelo menos por
enquanto, mas entenda isso como um voto de confiança, tá bom? Se fizer de
novo, eu mesmo conto.
Em uma situação normal, meus olhos estariam revirando, mas eu não
sou idiota. Sei que estou errado e não esperava qualquer outra atitude de
Chad, que nunca quebra as regras. Diferente de mim, tenho certeza que ele
nunca se aproximaria da Cleo. Nunca quebraria a confiança do Noah dessa
forma.
— A questão com a Taylor — Chad recapitula. — Já chega, né?
Eu peço outro drink pro barman e ergo as sobrancelhas.
— Você gosta dela — ele solta. Estou pronto para negar, mas Chad
continua. — Não sei porque está com tanto medo assim de assumir.
— Não é medo.
— É o que então?
— Eu não gosto dela — rebato. — Nós temos uma coisa, só isso.
— Pelo amor de Deus, você precisa urgentemente de terapia — Chad
reclama, revirando os olhos escuros.
— Ela tá apaixonada por outro cara — digo, simples. — Ela é filha
do acionista do time rival. Tenho todos os motivos do mundo pra não
investir nisso. E quando eu voltar a jogar vou ter que correr atrás do tempo
perdido. Não é como se eu fosse ter tempo pra mulher.
— Ok, você tem bons argumentos — ele cruza os braços. — Mas…
— Mas?
Chad suspira.
— Sei lá, a minha opinião não é o que você quer ouvir. Sou um
romântico incurável de merda — o rapaz no bar coloca outro drink na
minha frente. Dessa vez, é maracujack. — Mas acho que quando você
encontra uma pessoa que faz seu coração bater mais forte precisa lutar por
ela.
Não é nenhuma surpresa que Chad esteja certo, de novo.
— Obrigado pelo conselho — digo. — Vou ignorar.
Ele solta o ar pela boca, mas dá o braço a torcer e ri.
— Eu não esperava nada diferente.
Observo Chad se afastar para falar com algum dos patrocinadores dos
Pythons. Eu deveria focar em fazer networking também, mas minha bateria
social hoje é menos dez. Ficar aqui sentado é o mais inteligente a ser feito,
porque não tem como eu fazer nenhuma besteira. Meu celular vibra e vejo
uma nova mensagem de Cleo brilhar na tela. Eu devo ter pego o telefone
dela em algum momento da noite do qual não me lembro.
CLEO: Não conta pro Noah o que rolou. Ele vai contar pra Sabrina.
CLEO: Não conta pro Chad também.
Taylor não demora a responder. Eu sou louco por ter mandado essa
mensagem, mas ela é mais louca ainda pela sua resposta:
@taylorlynch: me manda o endereço
∞∞∞
Decido não contar para Taylor o que aconteceu com a Cleo.
Não é como se eu estivesse escondendo dela, afinal, eu não pedi para
que Cleo não contasse, mas eu não vou contar. Essa é a minha forma de
entregar nas mãos do destino: se for pra ela saber, vai chegar até os ouvidos
dela de uma forma ou de outra. Além disso, não é como se eu tivesse
alguma obrigação moral de listar todas as minhas relações sexuais para
Taylor Lynch.
Não somos namorados.
Meu celular vibra na bancada do bar. Percebo tarde demais que foi
uma péssima ideia chamar a filha do adversário para uma festa de
comemoração dos Pythons, mas o que está feito está feito.
TAYLOR: Acabei de chegar.
TAYLOR: Sabe tirar mancha de vinho?
TAYLOR: Um dos garçons derrubou uma taça em mim. To no
banheiro da recepção do hotel.
∞∞∞
Atlas estacionou o carro alguns metros à frente da Kappa House. Ele
alugou uma picape dessa vez, o que me deixa extremamente curiosa. Não
consigo pensar que tipo de passeio exige uma picape, mas a lista de lugares
onde ele pretende me levar diminui bruscamente com um carro daquele
tamanho.
Eu me aproximo do banco do carona e ele destrava a porta. Não é tão
fácil entrar em um carro tão alto sendo baixinha, mas eu me viro bem.
Assim que fecho a porta, Atlas me encara, como se alguma coisa estivesse
errada. Na verdade, a sua expressão me faz pensar que coloquei a calcinha
por cima da saia ou algo parecido.
— O que foi? — pergunto, me ajeitando no banco do carona.
— Você está usando azul.
Ah.
Não foi uma escolha inconsciente, mas eu não achei que Atlas fosse
lembrar do que significa. Por um segundo tenho medo que ele pense que
sou uma emocionada maluca, mas… Bom, ele acabou de me fazer
pulseirinhas. Um cara de quase dois metros, também conhecido como o
maior mulherengo do futebol americano, fazendo pulseiras da amizade. Não
é possível que esse homem não esteja pelo menos um pouquinho
emocionado por mim também, embora nosso acordo envolva passar longe
de sentimentos.
Acho que já quebramos nosso acordo, só não assumimos isso ainda.
Eu respiro fundo e decido ser honesta.
— Sim, Atlas — eu sei que nenhuma pergunta foi feita, mas isso
responde muitas delas. Talvez por isso eu esteja com as mãos geladas ao
dizer uma coisa tão simples. — Estou usando azul.
Atlas acha graça da forma robotizada que eu falo.
— E por que está tão nervosa?
— Porque estou usando azul por sua causa — digo, com um pouco
mais de naturalidade.
— Eu já tinha entendido essa parte, mas obrigado por verbalizar — eu
mostro o dedo do meio enquanto ele arranca a picape. — Você me arranjou
um problema.
Eu coloco o cinto de segurança, me ajeitando no banco.
— Por quê? — é minha vez de perguntar.
— Porque agora não quero te ver vestindo azul com nenhum outro
cara.
Uma risada escapa dos meus lábios.
— Então quer dizer que eu deixei Atlas Campbell com ciúmes?
— Não — e ele nem se esforça para soar convincente. — Não sinto
essas coisas.
— Também não sinto essas coisas — comento, rodando minhas novas
pulseiras no braço. — Mas posso fazer uma pergunta? Como uma pessoa
que não sente ciúmes…
Atlas assente. Eu tento acompanhar para onde estamos indo, mas a
verdade é que não sou a maior especialista em ruas e bairros de Los
Angeles. Moro aqui desde sempre, mas os motoristas do meu pai sempre
me levavam nos lugares. Agora que tenho um carro, o GPS me salva de
ficar perdida. Sem ter um guia, não sou capaz de chegar nem na UCLA.
Meu senso de direção é péssimo.
Eu encaro Atlas e passo a língua pelos lábios. Não sei se eu deveria
perguntar, não sei se quero a resposta.
— Você… — começo, hesitante. — Não entenda isso como uma
cobrança, tá? Eu não sou maluca…
— Você é maluca — ele zomba.
— Sou curiosa — corrijo.
A picape para em um sinal e eu observo o cabelo loiro de Atlas se
transformar em vermelho por causa da luz. Solto a pergunta, porque sinto
que estou prestes a morrer engasgada, principalmente depois da conversa
que tive com a Cleo. Percebo agora que fui burra. Era melhor ter
perguntado diretamente pra ela.
— Você tem saído com outras pessoas?
Atlas franze o cenho. Ele demora um instante para responder.
— Tive um ótimo encontro na praia outro dia.
Ok, eu não devia ter perguntado. Considero inventar uma desculpa e
cancelar esse passeio, mas não quero ser ridícula. Será que ele faz
pulseirinhas pra todas?
Deixa de ser maluca, Taylor. Você sempre soube que Atlas era um
galinha, porque você está surpresa com ele sendo um galinha? Sinto que
“Foolish One” está tocando nos fundos do meu cérebro e me dá vontade de
pegar um espelho e gritar: YOU ARE NOT THE EXCEPTION, YOU WILL
NEVER LEARN YOUR LESSON.[11]
Ao invés disso eu abro um sorriso forçado pra ele.
— Nós saímos da premiére da minha mãe e fomos beber vodka na
praia — ele completa, então ri. — Você precisava ver sua cara.
— Vai se foder — reclamo. — É meu aniversário, para de me
estressar.
— Só respondi a sua pergunta — a cor vermelha se torna amarela e
então verde. Ele acelera o carro. Eu não insisto na questão, mas ele o faz. —
Não. Candice foi a última.
Eu não entendo porque, mas o comentário de Atlas me tira uma
angústia que eu nem sabia que estava sentindo. Quase solto uma risada da
minha situação patética. Atlas deveria me mandar para a casa do caralho no
instante que fiz a pergunta. Como eu tenho coragem de perguntar isso
quando eu estou saindo com o Hunter?
Bom, eu me recuso a pensar nisso hoje. Me viro na direção da estrada
ao nosso redor e percebo que saímos da parte habitada de Los Angeles.
— Então é isso — zombo. — Sua surpresa pra mim é um remake de
sexta-feira 13?
— Uma pena que você descobriu cedo demais — Atlas brinca.
Eu entendo qual é a surpresa quando chegamos na entrada do Lake
Hollywood Park. Me lembro do nosso encontro de treino comendo ramen e
ainda não acredito que Atlas fez isso. Está recriando o meu encontro ideal.
Tudo bem, eu vou me permitir ser iludida por uma noite. Vou cair no
conto que todas caem: ele até pode ser um babaca, mas não comigo. Vou
fingir que sou a exceção da regra, vou fingir que o cara que nunca se
apaixona se apaixonou por mim.
Me desculpa, Taylor Swift, eu sei que você escreveu Foolish One pra
evitar situações como essa.
Eu não digo a Atlas que entendi, porque meu cérebro ainda não saiu
do estado de choque. As borboletas no estômago estão fazendo uma festa e
eu sinto que elas estão em um lugar ao qual não pertencem. Ou talvez
pertençam e eu não tenha percebido até agora.
— Sabia que o letreiro foi construído pra ser propaganda de um
condomínio? — comento, incomodada com o silêncio. — Se chamava
Hollywoodland. Perdeu as últimas quatro letras em uma tempestade e
ninguém nunca as colocou de volta. Com o crescimento do cinema em Los
Angeles, acabou ficando famoso.
— Não — Atlas responde, concentrado na estrada. O Lake
Hollywood Park é um lugar cheio de curvas. — Não sou um especialista em
Hollywood como você. Na verdade, eu nunca nem tinha vindo aqui.
— Uma vergonha para o filho de uma atriz.
Ele ri.
— E você já tinha?
— Meu pai me trouxe uma vez, quando eu tinha oito anos de idade —
conto. — Eu quase não me lembro desse dia, mas sei que ele estava
tentando ser legal porque eu vivia correndo pela casa fingindo que estava
recebendo um grande prêmio pela minha atuação. Hoje em dia ele diz que a
faculdade é bobeira, então não entendo porque os pais são assim — paro
por um segundo, observando a vegetação do parque. — Mas meu pai é um
cara legal, ele só não aceita muito bem quando as pessoas não fazem as
coisas que ele quer. E quando ele decide algo, acabou, ninguém consegue
tirar da sua cabeça.
— Um clássico dos pais empresários, eu acho.
— É — concordo. — Você sabe bem.
— Melhor do que eu gostaria.
Finalmente, Atlas estaciona, e eu abaixo um pouco meu corpo para
enxergar o letreiro com mais clareza. Está escuro e algumas poucas luzes
iluminam cada letra, mas não deixa de ser belo e imponente.
Amo esse lugar.
Penso que, um dia, meu nome vai estar na calçada da fama de
Hollywood e eu vou amar mais ainda.
Atlas sai da picape e abre a porta pra mim. Dessa vez, eu tenho menos
dificuldade em descer do carro, graças ao apoio da sua mão. Nós
contornamos o veículo e ele abre a porta traseira da picape, revelando o
porta-malas cheio de travesseiros e cobertores. Tem uma garrafa de vinho
que, legalmente falando, eu ainda não posso beber e o notebook onde
vamos assistir ao filme.
Um lugar chamado Notting Hill, meu favorito, como eu bem disse no
nosso encontro de mentirinha.
— Nossa — eu ainda estou em choque. — Você pensou em tudo.
— Eu descobri que também sou muito bom em organizar encontros.
— De nada — murmuro, convencida e amarga, porque não quero que
ele organize encontros para outras garotas. — Por fazer você descobrir esse
seu traço de personalidade.
Atlas acha graça do meu tom. Nós tiramos nossos sapatos antes de
subir na picape e eu me sinto imediatamente abraçada pelas cobertas macias
com cheiro de algum perfume doce que não consigo identificar.
— Já viu esse filme?
Atlas move a cabeça em negativa.
— Livros de romance são o meu máximo.
— Gosto desse tipo de história — comento, enquanto ele liga o
notebook. — Ela é uma atriz famosa e ele o cara que trabalha numa livraria
prestes a decretar falência. Parece impossível que eles fiquem juntos, até
que eles ficam. É bobo, mas me dá esperança. De que as pessoas que somos
destinados a amar vão entrar na nossa vida de algum modo, por mais
inalcançável e distante que nossas realidades sejam.
— É engraçado.
Eu o encaro, sem entender.
— O que? Ainda acha que o amor é uma invenção capitalista pra
vender presentes?
— Sim — Atlas assente. — Mas gosto de te ouvir porque no seu tom
de voz não parece tão falso. Eu não acredito em amor, mas acredito em
você. Poderia passar horas te ouvindo falar sobre isso.
A tela do notebook acende e ele coloca o filme. A cena inicial tão
conhecida passa pelos meus olhos, mas não estou prestando atenção. A fala
de Atlas reverbera no fundo do meu cérebro como se fosse uma musiquinha
de elevador.
Eu me arrasto pelos cobertores e apoio a cabeça no seu ombro. De
onde estou, consigo sentir o seu cheiro de shampoo e o perfume forte
grudado na sua pele e no seu moletom. Uma brisa suave vem do lado de
fora do carro e de onde estamos ainda consigo ver as três primeiras letras do
letreiro se destacando entre a escuridão: HOL.
— Atlas — chamo, mas não tenho nada pra dizer.
Ele se vira pra mim e eu levo uma das mãos até sua nuca, puxando
seu rosto para perto do meu. Nós ficamos assim por um tempo: sua testa
encostada na minha, nossos olhares mergulhados um no outro enquanto a
Julia Roberts dá suas falas. Sou eu quem acabo com a distância primeiro,
meus lábios tocando os seus. É um beijo calmo, uma coisa que nunca tinha
tido com Atlas antes.
— Obrigada — murmuro, e percebo que é uma palavra que tenho dito
muito nas últimas semanas, sempre para ele.
Atlas não responde diretamente. Ao invés disso, me puxa para o seu
colo e volta a me beijar de um jeito doce que, de alguma forma, parece
diferente de todos os nossos outros beijos. Mas nossa calmaria dura pouco,
o que é tão típico de nós dois que não estou surpresa. Sinto sua mão
subindo por debaixo da minha blusa, os dedos frios pela brisa noturna
tocando minha pele. Um arrepio percorre todo meu corpo e eu acho incrível
a sua capacidade de me fazer derreter com tão pouco.
— Aquilo que eu disse no banheiro do hotel — me afasto da sua boca
para conseguir falar. — Eu ainda quero. Quebra a sua regra estúpida da
virgindade por mim.
— Quebrei a regra dos encontros e agora você quer que eu quebre a
regra da virgindade? — seus dedos traçam minha pele até chegar na renda
do meu sutiã. — Eu tenho quebrado muitas regras por você ultimamente,
Taylor Lynch.
— Se você já quebrou várias, mais uma não vai fazer diferença —
seus dedos adentram o tecido do meu sutiã. — Aliás, isso deve significar
alguma coisa.
— O que?
— Suas regras quebradas, mas eu não vou dizer. Você não acredita
nessas coisas.
Atlas me dá um sorriso ladino irônico. Ele volta a me beijar e aperta o
bico de um dos meus seios com força, como se o que eu tivesse acabado de
dizer fosse digno de punição. Quero xingá-lo, mas tudo que sai da minha
boca é um gemido baixo enquanto sinto minha boceta reagindo aos seus
estímulos. Inferno de homem.
Minhas mãos se infiltram debaixo do seu moletom e eu puxo a peça
para cima, com cuidado para não machucar o seu ombro lesionado. Eu não
ligo se está uns doze graus lá fora, o corpo dele está tão quente quanto o
meu e isso é suficiente para descartar qualquer hipótese de hipotermia.
Jogo seu moletom em um canto do banco da frente e gasto um
momento para apreciar seu corpo. Eu gosto das tatuagens que contornam
seu peito, seus braços e seu abdômen definido. São muitas e não consigo
focar em todas ao mesmo tempo enquanto desço meus dedos por sua pele.
Uma em específico chama minha atenção.
— Ignite — leio a palavra desenhada no centro da sua barriga.
Acenda. — É a mesma tatuagem do Aaron Warner — comento —, mas
acho que personagens de livros de fantasia estão muito fora da sua alçada.
— Você já leu?
Nego.
— Não, mas sei que o livro é famoso por uma cena específica — eu
rio ao me lembrar, porque falar isso em voz alta é estranho. — Quando
Aaron Warner diz pra protagonista: erga seu quadril para mim, amor.
— E aí?
— Nada — eu arranho seu abdômen, de leve. Ele está duro embaixo
de mim e preciso me segurar para não me esfregar nele. — Essa autora não
escreve cenas de sexo, então nos resta imaginar o que aconteceu depois.
Atlas acha graça.
— Eu te mostro o que aconteceu depois.
Sua boca encontra a minha de novo e dessa vez é mais rápido, mais
quente, mais desesperado. Sua mão sobe e desce por minhas costas e ele
luta contra o fecho do sutiã por alguns segundos. Ele suspira contra meus
lábios quando finalmente consegue livrar-se dele. Atlas puxa minha blusa
para cima e joga tudo no banco da frente, como eu fiz minutos antes.
Sua mão se fixa na minha cintura e ele me empurra para o lado,
invertendo nossas posições. Minhas costas são pressionadas contra as
cobertas e eu ainda consigo ouvir a voz da Julia Roberts, mas não faço ideia
de onde está o notebook. Ter Atlas em cima de mim é suficiente para fazer
minha boceta pulsar ainda mais. Não que eu já não tivesse reparado quão
grande ele é, mas naquela posição é impossível não pensar que eu seria
esmagada se Atlas não tivesse cuidado. Estranhamente, ser esmagada nunca
pareceu tão sexy.
Os seus lábios descem, da minha boca para o meu queixo e para o
meu pescoço. Meu corpo inteiro se arrepia quando ele lambe a minha pele,
mas ele não se demora ali. Atlas beija meus seios e chupa o bico de um
deles, me fazendo arfar. Sinto que estou vendo estrelas e ele ainda nem
começou.
Eu abro as pernas e minha saia sobe alguns centímetros. Envolvo o
quadril de Atlas, minha calcinha roçando contra o tecido da sua calça. Sua
língua continua contornando meu bico duro, num ritmo lento que me faz
pensar que ele está tentando me torturar. Eu rebolo contra ele ao mesmo
tempo que um gemido me escapa.
— Controla essa ansiedade, linda — ele murmura, e sua mão invade
minha calcinha. Atlas dá o sorriso mais descarado que eu já vi quando
percebe o quanto estou molhada. — Quanto tempo ficou guardando essa
vontade de dar pra mim?
— Desde o dia que dormimos juntos — é uma meia verdade. A
vontade veio primeiro, esse dia foi só uma comprovação do óbvio. — Tive
um sonho… — Atlas coloca um dedo dentro de mim e eu preciso dar uma
pausa para recuperar o fôlego. — Um sonho erótico com você. Foi por isso
que fui embora tão rápido. Estava com medo de ficar te observando dormir
e fazer besteira.
— Que tipo de besteira?
Seu dedo se move dentro de mim, devagar. Ele está fazendo de
propósito. É um movimento bom, mas não é suficiente e estou perto de
implorar por mais.
— Pensei em te acordar — conto. — E te pedir pra…
— Foder você?
Eu assinto. Ele enfia mais um dedo e se movimenta mais rápido. Seu
polegar encontra meu clitóris e eu deixo um gemido alto escapar quando ele
começa a esfregá-lo. Eu rebolo com mais rapidez contra os seus dedos, mas
então ele diminui o ritmo.
— Você quer gozar agora?
— Sim — e minha voz é um gemido frustrado. — Por favor.
— Me conta mais dessa sua cabecinha pervertida.
— Eu gozei no seu banheiro — solto. Isso era pra ser um segredo,
mas ele começa a me masturbar mais rápido e acho uma troca justa. —
Depois de te chupar.
— Bem que eles dizem que as santinhas são as piores — Atlas brinca,
e nós dois sabemos que estou longe de me encaixar nessa categoria. —
Você é muito safada, Taylor Lynch.
Ele tira os dedos de dentro de mim e foca sua atenção em masturbar o
meu clitóris enquanto sua língua contorna meu seio. São vários estímulos
vindos de lugares diferentes e meu corpo parece uma bomba relógio perto
de explodir. É como se o mundo ficasse em silêncio por um segundo. Toda
tensão no meu corpo se esvai e eu estou tremendo, rindo e gemendo o nome
dele, tudo ao mesmo tempo, numa confusão deliciosa.
Suor escorre pelas minhas costas. A minha impressão é que, se
alguém pedisse para eu repetir meu nome completo, meu endereço e a data
do dia de hoje eu não saberia responder.
Atlas não espera eu me recuperar. Ele tira minha calcinha, sua língua
desce por minha barriga e encontra a minha boceta, sensível pelo primeiro
orgasmo. A hipersensibilidade intensifica seus toques e é incômodo na
mesma medida em que é a melhor coisa que já experimentei.
— Atlas — choramingo. — Desse jeito eu não vou aguentar.
Ele para de me chupar apenas por um instante, o suficiente para me
responder:
— Vai sim — sussurra. — Vai aguentar muito, porque eu nem
comecei a te foder ainda.
Caralho.
Eu sinto que poderia gozar só ouvindo essa frase.
A língua de Atlas volta a me tocar e, como previsto, eu não duro
muito. Meu corpo derrete contra a sua boca, minhas pernas bambas
pressionando suas orelhas. O seu nome escapa da minha garganta e é tão
alto que sou grata por estarmos no meio do nada. Minha cabeça está leve e
não acredito que acabei de ter dois orgasmos. Se eu estava atrás de uma
primeira vez memorável, encontrei uma, porque esse homem vai acabar
comigo e eu ainda vou agradecer no final.
— Disse que iria pedir pra eu te foder — Atlas murmura, beijando
minhas coxas. — Então peça.
— Eu não me humilhei o suficiente no banheiro do hotel?
Ele move a cabeça em negativa.
— Eu não usaria a palavra suficiente — seus lábios sobem até minha
barriga. — Porque é uma delícia te ouvir implorando e saber que eu te
deixo tão doida de tesão que faria qualquer coisa pra me ter dentro de você
— ele deixa uma mordida na minha pele. — Se soubesse o quanto precisei
me controlar pra não te foder naquele banheiro, saberia que não foi
humilhação nenhuma.
Ótimo, isso reconstrói o meu orgulho em mais ou menos um por
cento.
A ponta do dedo indicador de Atlas passa pelo meu clitóris, tão de
leve que quase não me encosta. Ainda estou sensível demais e isso é
suficiente para que uma nova onda de arrepios percorra o meu corpo. Seu
rosto se aproxima do meu e ele me encara de um jeito que faz parecer que
todos os meus pensamentos estão sendo lidos. Eu me sinto devorada e o
sentimento se intensifica quando sua língua invade a minha boca.
Meus dedos passeiam por suas costas e eu arranho sua pele com força
o suficiente para deixar uma marca. Estou sendo uma garotinha mimada
brincando de marcar território, mas não me importo. Dentro da calça, o seu
pau roça contra a minha boceta, fazendo uma pressão gostosa no meu
clitóris. Eu desisto de tentar preservar a minha dignidade, porque ela parece
muito pouco importante agora. Prioridades.
— Atlas — eu me afasto dos lábios dele apenas o suficiente para
murmurar. — Por favor…
Ele acha graça da minha tentativa.
— Por favor o que?
— Eu quero deixar registrado que odeio você — reclamo.
— Não é isso que eu estava querendo ouvir, linda — seus dedos
passeiam pelas minhas pernas, como se tivesse todo tempo do mundo. —
Tenta de novo.
Eu não hesito, porque tudo que ele disse é verdade.
— Me fode, Atlas.
Ele dá um sorriso convencido na minha direção.
— Finalmente.
Sinto um frio agradável na barriga quando ele tira a calça e a cueca.
Não consigo evitar o pensamento de que fui muito ambiciosa quando decidi
perder a virgindade com um cara que tem um pau desse tamanho. Talvez a
palavra certa não seja ambiciosa, mas doida. Preciso confiar que um órgão
que foi feito para aguentar a passagem da cabeça de um bebê vai dar conta
do recado. Eu percebo pelo ritmo dos meus pensamentos que estou
começando a ficar ansiosa, e dessa vez não é uma ansiedade boa.
Atlas percebe a minha hesitação.
— Não se preocupa — ele murmura, acariciando a minha bochecha.
— Eu vou devagar.
Confio nele o suficiente para respirar fundo e assentir. Atlas se
posiciona na minha entrada e um arrepio desce por minha espinha quando
sinto o piercing gelado me tocar. A cabeça do seu pau me preenche
minimamente e eu sinto um pequeno ardor.
— Quer que eu pare? — ele pergunta, e eu devo ter feito uma careta
de dor, porque Atlas parece preocupado.
— Não — abro mais as pernas. — Eu aguento — eu puxo seu rosto
em direção ao meu e nossos lábios se encontram de novo. Atlas se move
contra mim, devagar, me preenchendo aos poucos. Lágrimas de reflexo
surgem nos meus olhos, mas a dor inicial não demora a se transformar em
prazer. Eu afasto minha boca apenas o suficiente para sussurrar: — pode ir
mais rápido.
Atlas aumenta o ritmo das investidas. Ele beija meu pescoço e
gemidos escapam dos meus lábios, extasiada com a sensação de tê-lo dentro
de mim. Meus quadris passam a se mover contra ele e eu percebo que a dor
se foi por completo.
Uma de suas mãos contorna minha cintura enquanto a outra aperta
meus seios e é como se cada centímetro de pele do meu corpo queimasse
por ele. Quanto mais contato temos, mais contato eu preciso e a forma
como Atlas se move cada vez mais rápido dentro de mim me mostra que ele
sente o mesmo. Transar com Atlas foi minha melhor e pior decisão porque
agora sinto que nada vai ser tão intenso quanto isso.
— Atlas — eu murmuro, mas meu raciocínio é tão lento agora que
nem sei se vou conseguir completar minha frase. Ele me encara, ainda se
movendo contra mim, um filete de suor escorrendo por sua testa. Seus
cachos loiros e desordenados caem por seus olhos e eu sinto que poderia
ficar aqui pelos próximos vinte anos, só olhando pra ele. Minha fala sai
como um sussurro, minha respiração cansada interferindo na forma como as
palavras saem — Nós estamos ferrados, não estamos?
Atlas ri da minha constatação.
— Estamos sim.
Minhas mãos exploram seu abdômen e agora nós dois estamos
fingindo que não sabemos o que essa frase tão simples significa. Seus lábios
encontram meus seios e meu quadril se move cada vez mais rápido contra o
seu pau enquanto ele lambe, morde e chupa minha pele, de uma forma que
deixa meu corpo quente e fora de órbita.
— Eu vou gozar fora — ele murmura, e eu demoro alguns segundos
para entender, totalmente envolvida pelos seus movimentos.
— Não — minhas pernas se apertam ao redor dos seus quadris. —
Dentro — peço, e não estou sendo totalmente irresponsável, porque tomo
anticoncepcionais há anos. — Eu quero sentir… — minha fala se
interrompe porque não dá pra segurar um gemido. — Quero sentir tudo.
Atlas concorda com a cabeça.
Eu sinto o momento que ele explode dentro de mim, sua porra
escorrendo por entre as minhas coxas enquanto ele geme o meu nome. O
meu corpo reage a sua voz e minhas pernas estão trêmulas ao redor de Atlas
quando me dou conta. Eu me sinto aérea, cansada e satisfeita, o que sem
dúvida é uma combinação esquisita.
Atlas sai de dentro de mim e eu imediatamente sinto falta do calor e
do seu toque. Ele se senta nas cobertas e me encara, como se eu fosse uma
pintura a ser estudada.
— Estamos muito ferrados mesmo — ele recapitula.
Eu solto uma risada. Meu corpo está tão leve que sinto que estou
chapada e me recuso a estragar o momento pensando nos pormenores dessa
relação. Eu o puxo para um abraço e murmuro:
— Acho que tudo bem, desde que a gente não se mate no final —
brinco, fazendo uma referência a Romeu e Julieta e as matérias nos jornais.
É o tipo de piada horrível que você não faz com qualquer pessoa, mas Atlas
ri, porque ele tem o mesmo humor quebrado que o meu. Eu me sinto tão
bem perto dele, mas não consigo colocar em palavras.
É como se meu coração estivesse finalmente em casa.
Capítulo 24 - Atlas Campbell
Taylor manda uma risada e um emoji de dedo do meio. Faz cinco dias
desde que transamos no letreiro de Hollywood e sinto que não fazemos
outra coisa desde então: fodemos no meu quarto, no jardim de Orion, na
biblioteca da UCLA e na sala de troféus dos Bruins. Eu costumo perder o
interesse em uma mulher depois que transo com ela, mas com Taylor as
coisas só ficaram mais intensas.
Nós dois sabemos que não é só sexo.
Nós dois sabemos que isso não vai acabar bem.
— Acha mesmo que nós temos alguma chance? — Hunter murmura
pra mim, assim que Stevie libera o time. O jogo é amanhã no período da
tarde, mas a UCLA fez questão de trazer os jogadores um dia antes, para
que eles pudessem relaxar antes do grande dia. É a primeira vez que o
Bruins recebe um investimento — mínimo — em anos. — Os Miami
Hurricanes são bons. Assisti alguns vídeos dos últimos jogos no YouTube.
— Não fica fissurado com isso, jogos antigos são importantes para te
dar uma noção, mas não vão definir o resultado — movo a cabeça em
negativa. — Os erros deles te dão confiança, os acertos te deixam inseguro.
Não importa se eles são bons, só precisa ser melhor que eles.
Hunter suspira.
— Só.
— Um time de futebol não é nada sem um quarterback confiante —
eu apoio uma das mãos no seu ombro. — Se não estiver se sentindo
confiante, finja. Isso também vai ser importante quando estiver no draft.
Hunter concorda.
— Certo. Fingir.
— Por hoje você só precisa relaxar. Esquece do jogo de amanhã, bebe
muita água e fica longe de álcool. E se serve de consolo, os Hurricanes nem
são tão fodas assim.
Ele respira fundo.
— Tudo bem, consigo fazer isso.
— É claro que consegue — dou um sorriso simpático. — Stevie te
escolheu como quarterback por algum motivo. Deve ter alguma coisa aí
dentro que as outras pessoas não enxergam.
Hunter ri, depois de revirar os olhos pra mim.
Eu gosto e não gosto dele.
Sinto que somos bons amigos em uma realidade paralela onde o fator
Taylor Lynch não existe. Mas nesse universo aqui, eu me divido entre dar
conselhos e querer quebrar seus dedos sempre que ele toca nela. E o
sentimento seria recíproco se ele soubesse de tudo que tem acontecido nas
últimas semanas.
É melhor que ele não saiba até o fim da temporada. Já tive que lidar
com um quarterback de coração partido antes e foi uma péssima
experiência.
Meus sentimentos conflitantes por Hunter Simmons não mudam o
fato de que quero ver os Bruins chegando longe. Quando comecei isso,
sabia que não estava lidando apenas com um time de futebol americano
universitário. Estava lidando com sonhos, visitando um lugar onde eu já
estive, acreditando no que as pessoas não acreditam.
Meu celular toca e eu arqueio uma sobrancelha ao ver o nome de
Zade brilhar na tela. Em silêncio, torço para que a terceira guerra mundial
da publicidade não tenha estourado e vou atendê-lo no corredor do hotel.
— Está em Miami pro jogo dos Bruins? — ele pergunta, assim que
atendo.
Zade já sabe da resposta.
— Sim — murmuro. — Por quê?
— E Taylor Lynch também está?
— Ela ainda não chegou.
— Cuidado — Zade pede. — Atraiu muita publicidade positiva e
gratuita pro seu nome com a última vitória dos Bruins. Foi uma grande
jogada — nem parece que ele estava me chamando de doido três semanas
atrás. — Mas não queremos que burburinhos sobre você e a Taylor
apareçam na mídia de novo em uma “viagem de casal” — conheço Zade o
suficiente para saber que ele está fazendo aspas com os dedos. — É o
cenário perfeito pra construir uma fofoca.
— Ninguém noticiou o beijo da filha do grande Elijah Lynch com o
quarterback dos Bruins no último jogo? — reviro os olhos. — Deveria ser
suficiente para abafar esses boatos.
— Ninguém liga pro quarterback dos Bruins — Zade explica, no seu
tom de sabe tudo de sempre. — Ninguém ligava pros Bruins até você
aparecer. Então, por favor, a única notícia que quero ver nos jornais
segunda-feira é sobre a vitória do time.
— Relaxa, Zade, quando foi a última vez que eu te causei problema?
— Você quer mesmo que eu responda?
— Não, foi uma pergunta retórica.
— Que bom que você tem consciência — alguém está chamando
Zade do outro lado, mas eu não reconheço a voz. Deve ser a estagiária que
entrou na All Stars depois que Hellena foi demitida — Não esquece da sua
participação no Sporticast na segunda. Esteja em San Diego antes das dez.
— É nessa segunda?
— Tinha esquecido?
— Não, só queria confirmar.
— É, Atlas, pelo amor de Deus.
— Relaxa Zaaaaade — eu repito, alongando a segunda letra do seu
nome de propósito. Sinto que ele ainda vai me matar. — Vou estar lá.
— Ótimo — Zade suspira. — Mandei um email pra você, pro Chad e
pro Noah listando as perguntas que devem evitar. Rebecca, você enviou os
e-mails? — ele pergunta, afastando-se do telefone. — Estamos cada dia
mais perto do Super Bowl — ressalta, como se eu pudesse ter me
esquecido. — Fique longe da herdeira dos Lynch e vamos estar à salvo.
Ele desliga o telefone antes que eu possa responder. Eu entendo
porque Zade está tão estressado. A confusão com o Noah causou um baque
na imagem dos Pythons na mídia e agora que as coisas estão se ajeitando
ele não quer correr o risco de se inflamarem de novo. Essa é a coisa de ser
atleta em um esporte de time: se alguém faz merda, todos pagam o pato.
Ganhar o Super Bowl depois de uma temporada cheia de polêmicas e um
jogador lesionado é o mínimo que os Pythons podem fazer.
Encaro a tela do telefone quando ele vibra, anunciando uma nova
mensagem.
TAYLOR: indo pro aeroporto
TAYLOR: estou levando os doissss
∞∞∞
— Vai ser uma bola de blue ice — na ponta dos pés para enxergar
todos os sabores de sorvete, Taylor Lynch parece uma criança espevitada —
uma bola de creme e mais uma de blue ice — ela espera a atendente
entregar seu pequeno pote de sorvete e o ergue na minha direção, como se
fosse um brinde. Também está carregando o sorvete da Julia. — Nas cores
da UCLA — pega uma colher do sorvete azul. — Pra dar sorte.
Encaro meu sorvete de chocolate amargo sem graça e penso que não
tenho quase nenhum espírito esportivo perto de Taylor. Bom, quase
ninguém tem. Ela fez pulseirinhas para todos os rapazes do time no voo de
Los Angeles até aqui, o que é mais que suficiente para garantir o prêmio de
líder de torcida do ano — supondo que ele existisse.
— Acha que eles vão ganhar? — ela pergunta, enquanto caminhamos
para o lado de fora da sorveteria.
As mesinhas para os clientes ficam na areia e pode ser pura paranoia
por causa da conversa com Zade, mas estou com medo que algum
paparazzi desocupado nos veja aqui. Eu não quero que Taylor pense que
tenho vergonha de sair publicamente com ela, por isso vou fingir que essa
possibilidade não existe. Percebo tarde demais o quanto não gosto de vê-la
chateada.
— Tem chance — respondo, satisfeito em ter um assunto no qual me
agarrar. Desse jeito não preciso pensar demais. — Mas o Hunter anda meio
pilhado.
— Também era assim nos seus primeiros jogos?
— Não — acho graça, mas as coisas eram mais fáceis para mim do
que para Hunter. Os Pythons nunca foram um time fracassado. —
Confiança nunca foi um problema.
— Talvez o excesso dela… — Taylor zomba.
Eu rio, mas não é verdade. Se eu não tivesse tanta confiança, talvez
tivesse aceitado um emprego na empresa da família quando meu pai
ofereceu. Isso é uma coisa que sempre passa pela minha cabeça: pequenos
detalhes que mudam vidas inteiras.
— Com licença — uma senhora baixinha nos interrompe quando
colocamos nossos pés na areia. Na mesa, alguns metros distante, Julia
arqueia uma sobrancelha. — Vocês podem me ajudar a chamar um Uber?
— ela dá um sorriso constrangido. — Perdi o meu óculos.
Taylor abre um sorriso enorme, como se esse fosse um grande
acontecimento. Ela é sempre tão bem-humorada, e sorridente, e… deixa pra
lá. Taylor assente na direção da mulher de cabelos brancos e me entrega os
sorvetes para pegar o celular dela.
— Claro! — responde, agora verbalmente. — Pra onde você vai?
— No Bayside — diz a senhora, sem dar mais explicações. Como
todos os idosos, ela é muito falante. — Vou ajudar minha filha a escolher as
roupas do batizado da minha neta. E comprar um óculos novo antes que um
desastre aconteça — ela acha graça. — Vocês já têm filhos?
Eu quase engasgo com o meu sorvete. Acho engraçado que ela não
faça ideia de quem eu sou.
— Não — Taylor responde, rindo da minha reação. Ela está
procurando pelo nome que a senhora indicou no GPS.
— Ah, que pena — sua expressão faz parecer uma grande tragédia.
Outra coisa sobre idosos é que eles são obcecados pelo conceito de se casar
e ter filhos. — Estão fazendo uma viagem de casal? Vocês não parecem ser
daqui.
Taylor assente, sem conter uma risada.
— Sim — ela brinca. — Uma viagem de noivado. — Taylor ergue o
celular na minha direção, mostrando que conseguiu encontrar o dito
Bayside. — Namoramos por três anos, já estava na hora de juntar os trapos.
Eu a encaro, incrédulo.
— Três anos?
A mulher abre um sorriso.
— E como vocês se conheceram?
— Num casamento — Taylor continua elaborando sua história, com
riqueza de detalhes. — Eu era a noiva — eu a encaro, sem conseguir
engolir uma risada. — Mas esse homem me convenceu de que fugir com
ele era uma boa ideia e aqui nós estamos.
A senhora enruga o canto dos olhos, então ri.
— Sei que está brincando — diz. — Já vi coisas assim acontecerem,
mas sou cartomante, mocinha, então sei que esse não é o caso — o seu tom
é alegre, como se conversasse com duas crianças. — Mas consigo ver que
realmente estão apaixonados um pelo outro.
É a vez de Taylor engasgar.
— Estamos, é?
Ela sorri
— É claro que estão.
— O carro chegou! — Taylor exclama, apontando para o veículo
vermelho que acabou de estacionar — Quer que a gente te leve até lá?
— Não precisa, mocinha, obrigada. Vocês são muito gentis.
Ela dá um último sorriso antes de se afastar. Nós ficamos observando
seus passos por um tempo, para garantir que ela entrou mesmo no carro.
— Então agora você mente pra idosos? — zombo, assim que o
motorista parte.
— Eu deixei o dia daquela mulher muito mais interessante com a
minha fanfic — Taylor dá de ombros. — Além disso, não seria muito
educado dizer a verdade pra uma idosa. Não, nós não estamos namorando,
só fodendo de vez em quando.
— Dez vez em quando com certeza não é a palavra certa.
— E aquilo que ela disse no final? — Taylor questiona, pegando seu
sorvete de volta. — Loucura.
— Sim — eu não sei quem estamos tentando enganar a essa altura. —
Não acredito nessas coisas de cartomante.
— Nem eu — e, considerando a sua fama de jovem mística, ela está
mentindo.
— Deve ser uma daquelas idosas trambiqueiras.
— Chega de histórias de velhos fofinhos, precisamos de mais velhos
trambiqueiros — ela leva uma colher de sorvete até a boca enquanto move a
cabeça em um aceno para Julia. O sorvete dela vai derreter em breve. — Se
ela tivesse mesmo algum poder ia saber que estou apaixonada pelo Hunter.
— É claro que ia.
Taylor força uma risada.
— Mas foi muito engraçado.
— Sim — concordo, enquanto apressamos o passo até a mesa.
Estamos sendo ridículos e sabemos que estamos sendo ridículos. —
Cômico.
— Caralho, finalmente — Julia reclama quando nos aproximamos da
mesa. — Qual foi a da idosa? Achei que ia ficar sem meu sorvete.
— Ela pediu ajuda pra chamar um Uber — Taylor se senta. — E
achou que a gente era um casal.
— Ah — Julia tira uma colher do sorvete. — Mas isso não é novidade
nenhuma.
Franzo o cenho, sentando em uma das cadeiras na areia.
— O que?
— Que vocês dois parecem um casal — ela ajeita as mangas do
uniforme das líderes de torcida. Tem um ensaio em vinte minutos, motivo
pelo qual as duas estão uniformizadas. — Todo mundo na UCLA fala sobre
isso.
— Ei! — Taylor protesta. — Todo mundo quem?
— Todo mundo tipo todo mundo. E se quer minha opinião — ela
aponta para Taylor com a colher. — Você combina mais com ele — então
aponta pra mim. — Do que com o Hunter.
Taylor revira os olhos claros.
— Ai, cala a boca.
— É uma pena que a Taylor não me queira como namorado troféu —
debocho. — Todas as garotas da UCLA iam morrer de inveja.
— Eu concordo — Julia ri. Taylor faz uma careta na direção da
amiga. — O que foi? Boa parte da população feminina da UCLA quer dar
pra ele.
— Menos a Taylor — completo, sem desviar os olhos dela. — Não é,
linda?
— Ela é diferente das outras — Julia zomba.
Taylor move a cabeça em negativa. Eu percebo um tom de malícia no
seu olhar, mas só entendo o motivo quando sinto seu pé deslizar pela minha
calça embaixo da mesa, esfregando meu pau.
Ela devolve meu comentário com os olhos fixos em mim:
— Não, não, eu sou igualzinha às outras.
— Parem de flertar na minha frente, casalzinho da UCLA — Julia
reclama, se levantando da mesa. — Vamos. A gente vai se atrasar pro
treino.
— Ah, é mesmo, temos treino. — Taylor força uma expressão de
tristeza, afastando os pés. — Que pena.
— Podem ir — murmuro, porque não tem a menor condição de eu me
levantar com o pau duro desse jeito. — Eu vou ficar aqui mais um pouco,
observando a vida selvagem.
Taylor ri, porque ela sabe o motivo de eu não querer me levantar.
— Tem certeza? — pergunta, levantando-se da cadeira. Julia já se
afastou alguns metros. — Você pode precisar ir no banheiro resolver algum
problema…
— Aparentemente você é a causa de todos os meus problemas.
Taylor dá um sorriso, como se “problema” fosse um grande elogio.
Com cuidado, ela apoia os dois braços nos meus ombros, como se me
abraçasse por trás.
— Hoje à noite eu prometo ser a solução de todos eles — sussurra,
antes de dar uma corrida para encontrar Julia no meio do caminho até a
calçada.
Eu solto um longo suspiro e deixo uma risada escapar, incrédulo.
Taylor Lynch, o que eu faço com você?
∞∞∞
O hotel onde estamos hospedados não é a coisa mais luxuosa do
mundo, mas também não é uma espelunca. Com certeza a UCLA não
estava pensando em conforto quando escolheu em qual hotel de Miami os
Bruins ficariam: isso é um benefício de jogadores consolidados e eles
estavam fazendo muito em bancar toda a viagem.
São uma da manhã quando saio do meu quarto. Os corredores do
hotel são silenciosos e a maior parte dos hóspedes já está dormindo, o que é
um pouco irônico para uma cidade como Miami.
Recebo o cumprimento de um concierge sonolento quando chego na
recepção. Tem umas cinco ou seis pessoas no bar do hotel, bêbadas, rindo e
cantando uma música do ABBA da forma mais desafinada possível. Sem
reparar muito em cada uma delas, cumprimento o homem e sigo para a
piscina na área de convivência. Taylor está esperando por mim sentada em
uma das espreguiçadeiras brancas, dentro de um roupão amarelo da UCLA.
Duas coisas são engraçadas: como ela veste a camisa de tudo que se propõe
e a quantidade absurda de merchandising que uma faculdade é capaz de
fornecer.
— Você tem uma torcida pra animar amanhã — eu sento na beirada
da sua espreguiçadeira. Ela está bebendo alguma coisa num copo colorido
do hotel e tenho a impressão que é alcoólico, o que me faz perguntar como
Taylor conseguiu. Não consigo deixar de pensar que, talvez, o barman tenha
a achado atraente o bastante para não pedir uma identidade. Não gosto da
raiva que vem junto com o pensamento. Odeio sentir ciúmes. — Um
encontro de madrugada foi uma péssima ideia.
— Memória corporal — ela dá de ombros, como se sua resposta fosse
óbvia. — Já ensaiei os passos tantas vezes que faço no automático.
— Quero ver a memória corporal quando você cair do topo da
pirâmide.
— Tá torcendo pra eu cair? — Taylor zomba. — Que insensível.
— Relaxa, sei primeiros socorros se precisar.
— Meu herói — ela ironiza, dando um longo gole no seu copo. — Já
tinha vindo em Miami antes?
— Umas três vezes — não tenho certeza sobre esse número. Em
época de temporada, viajamos tantas vezes que é difícil lembrar
detalhadamente de todas. — Mas eu não conheço a cidade. Não é como se a
gente tivesse tempo pra turistar.
— Que sem graça — Taylor faz uma careta, então muda de assunto.
— Eu queria ir pra Grécia.
— Grécia?
— Era o país favorito da minha mãe. Essa coisa toda de berço da
civilização deixava ela maluca — ela ri. — Minha mãe era nerd e meio
jovem mística. Uma combinação estranha, mas funcionava bem nela.
— E por que você não vai?
— É uma viagem especial — Taylor dá de ombros. — Preciso ir com
uma pessoa especial.
— O seu futuro namorado, por exemplo.
Ela me encara. As luzes brancas da piscina estão refletindo seu rosto,
fazendo parecer que existe um sol atrás dela. De repente, Taylor ri.
— Você tá falando do Hunter de um jeito cada vez mais amargo.
Reviro os olhos. Ela pode até estar certa, mas não vou dar o braço a
torcer.
— Você acabou de inventar isso na sua cabeça, meu amor.
— Meu amor — ela repete, rindo. — Esse é novo. Gostei.
Um arrepio percorre a minha pele quando a ficha cai. Percebo o
quanto preciso da aprovação de Taylor. Nunca liguei pro que a maioria das
mulheres pensa de mim, mas Taylor Lynch? Eu quero que ela pense que sou
o cara mais legal dos Estados Unidos. Quero que seus olhos estejam em
mim o tempo todo, quero ser o único nome dentro dos seus pensamentos.
Agora é patético lembrar de todas as vezes que eu discursei sobre amor
livre.
Eu estava errado e a monogamia é uma dádiva.
— Acha que tem câmeras aqui?
A pergunta de Taylor não pode ser considerada inocente em hipótese
alguma. Tem um sorriso malicioso despontando no seu rosto e ela sabe que
eu sei porque está fazendo essa pergunta.
Dou uma olhada para o prédio principal do Hotel. Todas as câmeras
que consigo enxergar estão apontadas na direção da entrada.
— Não tem como ter certeza — respondo, por fim. — Depende do
que a sua mente depravada está pensando em fazer.
Taylor termina sua bebida em um gole só.
— Strip poker — diz, com a expressão séria, como se estivesse
falando sobre comprar um livro ou faltar a uma aula da faculdade.
— Você é muito criativa na hora de dizer que quer me ver pelado —
zombo, arrancando uma risada de Taylor. — Mas nós nem temos um
baralho.
— Tá bom, eu calculei mal — ela pensa por um instante. — Verdade
ou consequência. Quando não quiser responder uma verdade, precisa tirar
uma peça.
Movo a cabeça em afirmativa, mas tenho medo de que tipo de
pergunta ela vai fazer. Me lembro do encontro falso no restaurante e como
as suas colocações foram certeiras. Nós dois só temos três peças pra tirar —
porque Taylor está de biquíni por baixo do roupão — então o massacre não
vai durar muito tempo.
— Eu vou começar sendo boazinha — Taylor zomba. — O que você
pensou quando me viu pela primeira vez?
— Que você era a garota mais bonita do campus.
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Sério? Não pensou nada como “Meu Deus, quem é essa doida
querendo me beijar?”
— Esse foi meu segundo pensamento.
Taylor ergue o dedo do meio.
— Eu não estava interessado em saber porque você precisava que eu
te beijasse — explico. — Se uma garota bonita pede pra te beijar, você
beija.
— O seu instinto fofoqueiro tá quebrado — ela cruza os braços. —
Sua vez.
— Vou devolver a pergunta.
Taylor pensa por um instante.
— Não me lembro exatamente o que eu pensei, mas lembro de ter
comentado com a Cleo — a menção ao nome me deixa desconfortável, mas
não deixo Taylor perceber — que a sua pegada era boa mesmo com a tipoia.
Eu já estava prevendo a sua capacidade de fazer um puta estrago.
Nós dois rimos. Não duvido, porque esse comentário é a cara dela.
Taylor brinca com o laço do roupão por alguns segundos antes de
soltar a sua segunda pergunta:
— Tem certeza que não está apaixonado por mim? — solta, como um
tiro à queima-roupa.
Eu a encaro.
Sinto que ainda não estou pronto para dar essa resposta para Taylor,
então me levanto e tiro a camisa.
— Sem graça — Taylor reclama.
— Aproveite a vista — eu jogo a camisa na sua espreguiçadeira. Ela
perde alguns segundos encarando meu abdômen, mas logo se recompõe. —
Tem certeza que está apaixonada pelo Hunter?
— Golpe baixo — ela reclama, mas também se recusa a responder.
Taylor se levanta e tira o roupão, revelando o biquíni minúsculo que
está vestindo por baixo. Eu tenho certeza que ela não usaria uma coisa tão
pequena para ir à praia, o que me faz pensar que escolheu esse
especialmente para hoje.
Eu sinto meu pau endurecer dentro da bermuda.
Caralho.
— Parece que não vamos falar sobre sentimentos essa noite — Taylor
conclui, agora de pé, bem na minha frente.
— Prefiro falar sobre o quanto você tá gostosa — eu subo as mãos
pelas suas coxas, dedilhando a sua pele até chegar no tecido do biquíni.
Puxo seu corpo pra mais perto e ela apoia as mãos no meu ombro bem
quando eu aperto sua bunda.
Nós dois sabemos que essa situação é insustentável a longo prazo. Em
algum momento vamos ter que ter uma conversa de verdade, mas Taylor
parece ter tanto medo de arruinar seus planos quanto eu tenho de assumir
meus sentimentos por ela. Por enquanto, fingir que não perdemos o controle
da situação é nossa única alternativa. Não a mais responsável, não a mais
madura, a única opção, enquanto não quisermos complicar ainda mais as
coisas. É um acordo silencioso.
Os olhos de Taylor estão no prédio da recepção do hotel, como se
esperasse alguém sair de lá e notar a minha mão no lugar errado. Duvido
que isso vá acontecer. O concierge estava caindo de sono quando eu passei,
já deve estar no mundo dos sonhos à essa altura. Os hóspedes bêbados no
bar estavam… Bom, bêbados. Não acho que dariam importância para um
casal se pegando na área das piscinas. Dependendo do que tiverem usado,
podem até achar que é uma alucinação.
Taylor deixa o prédio de lado e sua atenção volta pra mim. Ela se
abaixa alguns centímetros e me beija, o sabor de álcool da sua língua
invadindo minha boca. Taylor morde meu lábio inferior como se fosse
minha dona e então se afasta, os olhos encarando os meus.
— A gente deveria entrar na piscina — ela sugere.
— Entrar na piscina ou foder na piscina?
Ela dá um tapa leve no meu ombro, como se não estivesse pensando
nisso desde o início.
— Você não tem um pensamento decente dentro dessa sua cabeça?
— Não depois que você esfregou o seu pé no meu pau no meio de
uma sorveteria lotada.
Taylor ri.
— Não estava tão lotada assim.
— Essa é sua única defesa? — eu me levanto da espreguiçadeira
enquanto Taylor me observa. Junto o roupão dela e a minha camisa os
escondo embaixo da espreguiçadeira, só por precaução.
Antes que ela tenha tempo para raciocinar, apoio as mãos na sua
cintura e impulsiono seu corpo pra cima, apoiando-a no meu ombro bom.
Ela solta um grito assustado.
— Você vai foder seu ombro de novo! — Taylor protesta, deixando
uma risada nervosa escapar.
— Precisa de mais que uma garota com menos de 1.60m pra foder o
meu ombro, Polly Pocket.
Ela ri do apelido e segura no meu pescoço, com medo de cair. Eu
desço a escada da piscina e um arrepio percorre minha espinha quando sinto
a água gelada cobrir minha pele.
— Tá indo muito pro fundo — Taylor reclama. — Eu não dou pé.
— Primeiros socorros, lembra?
— Se eu me afogar, volto dos mortos pra te assombrar.
— Você não sabe nadar?
— Sei, mas sou medrosa.
Eu paro no meio da piscina e coloco Taylor no chão. A água que bate
na altura do meu peito quase cobre o seu queixo. Ela precisa ficar na ponta
dos pés para não molhar o rosto, o que é uma cena engraçada.
— Nós não terminamos o jogo — ela se lembra, de repente.
— Não precisamos terminar — minha mão desce até sua cintura
debaixo da água. Puxo seu corpo pra mais perto e meus dedos deslizam por
suas costas, procurando pelo laço do biquíni. — Eu mesmo tiro as peças
que faltam.
Eu desfaço os dois laços do biquíni de Taylor e ela termina de se
livrar da peça, nadando até um dos extremos da piscina para deixá-la
apoiada na borda. Por causa da água tampando seu corpo, não consigo ver
seus seios com clareza, mas saber que ela está praticamente nua dentro
dessa piscina é o suficiente para me endurecer ainda mais.
— Já fez isso antes?
— Sexo na piscina?
Taylor assente. Quando se aproxima de mim de novo, apoia as mãos
no meu pescoço e deixa que seus seios toquem meu peito. Eu perco minha
linha de raciocínio por um segundo e ela ri quando se dá conta.
— Não — respondo, finalmente. — Sou um rapaz direito.
Taylor revira os olhos, mas tem um sorriso nos seus lábios.
— Falando sério — ela insiste.
— Não — repito, achando graça da pergunta. — Nunca fiz.
— Nesse caso, estou tirando a sua virgindade de piscina.
— Você tirou minha virgindade de virgindades.
Ela pensa por um instante, então faz mais uma das suas perguntas que
podem matar.
— O que te fez mudar de ideia?
— Eu prefiro tirar mais uma peça de roupa do que responder.
Taylor faz que não.
— Não estamos mais jogando.
Eu a encaro. Nossas testas estão quase coladas e mesmo na
iluminação baixa eu consigo ver cada detalhe do seu rosto. Ela é bonita de
um jeito que me intimida. Tenho certeza que a última vez que fiquei
nervoso na frente de uma mulher foi aos doze anos de idade, no meu
primeiro beijo. Isso, é claro, antes de Taylor Lynch aparecer e mandar todas
as minhas convicções pra casa do caralho.
Eu sei a resposta que ela quer ouvir.
Eu tenho a resposta que ela quer ouvir, mas não vou dizer, porque a
ideia ainda me assombra demais para ser dita em voz alta.
— Não vamos falar sobre isso hoje — peço, meus lábios tocando os
dela repetidas vezes, muito de leve.
Taylor me encara. Ela fica em silêncio por alguns segundos e eu
espero por um protesto que nunca vem. Seus dedos contornam minha boca
e ela avança nos meus lábios de forma lasciva, no que parece ser a sua
forma de demonstrar frustração.
Ótimo.
Com isso eu sei lidar.
Minhas mãos apertam sua cintura e eu a empurro até um dos
extremos da piscina, nossos corpos deslizando pela água. Taylor continua a
me beijar e eu consigo sentir a mistura de raiva e tesão que seus lábios
emanam. É como se ela estivesse na dúvida entre foder ou brigar, mas eu
sei que vai escolher a primeira opção.
Eu puxo o laço da calcinha do seu biquini e ela se desfaz ao redor das
coxas de Taylor, deixando-a completamente nua dentro da água. Ela desliza
as mãos pelas minhas costas e faz questão de deixar uma sequência de
arranhões, o que me faz ter certeza que estou sendo punido pela minha falta
de resposta. Punido entre uma centena de aspas, porque o ardor das suas
unhas só me deixa com mais vontade de estar dentro dela.
Minha mão se infiltra no meio das suas pernas, meu dedo médio
acariciando sua entrada, sem nem chegar perto de ameaçar preenchê-la.
Minha outra mão explora seus seios e Taylor geme contra minha boca
quando aperto os bicos, num som tão gostoso de ouvir que eu gostaria que
ela repetisse mais uma centena de vezes.
— Taylor?
Nós interrompemos o beijo, assustados com o som da voz de Hunter.
— Como ele sabe que você…
— Ai, merda — Taylor sussurra. Nós nos abaixamos o máximo
possível. Felizmente, estamos na parte menos iluminada da água. — Eu
postei uma foto da piscina uns vinte minutos atrás — eu a encaro,
incrédulo. — O que? Eu estava tentando ser aesthetic.
— Primeira regra do sexo em público, você não posta foto de onde
pretende foder.
— Você é um péssimo professor, porque não me contou dessa regra
— ela protesta, ainda falando baixo. — Acho que consigo pegar o meu
roupão se…
— Nem pensa nisso — eu seguro uma das suas mãos e levo até o meu
pau duro dentro da bermuda — Você tem um problemasso pra resolver.
Taylor se esforça para engolir uma risada.
— Ele vai ver a gente aqui.
— Estamos em um ponto cego — julgando pela direção do som, ele
está vindo do bar. Hunter teria que chegar na beirada ou dar a volta na
piscina para entrarmos no seu campo de visão.
— Taylor? — Hunter repete, e acho que ele se aproximou do bar de
novo. Se esse filho da puta estiver bebendo antes de um jogo importante, eu
juro que vou trucidá-lo. Já era pra ele estar dormindo.
Os passos dele se aproximam, mas ainda não é suficiente para causar
preocupação. Opto por ignorar sua presença. Posso resolver qualquer coisa
a respeito dos Bruins na manhã seguinte.
Taylor ainda está tentando localizar Hunter pelos sons que
conseguimos ouvir, mas não estou disposto a deixá-la preocupada por muito
mais tempo. Meus lábios tocam os seus por um segundo, então eu beijo sua
bochecha, seu maxilar e seu pescoço. Sua pele tem gosto de cloro, mas essa
é a menor das minhas preocupações. Meu pau fica ainda mais duro vendo
sua pele se arrepiando diante dos meus toques.
— Atlas — Taylor murmura, a linha de raciocínio se perdendo
quando eu aperto seus seios. — Se ele ver a gente…
— Seria uma grande catástrofe — minha língua explora sua pele e sei
que Taylor percebeu meu tom irônico. — Seu futuro namorado não pode
saber que está dando pra mim — eu continuo beijando seu pescoço
enquanto meus dedos brincam com o bico dos seus seios. — Gozando pra
mim, gemendo pra mim e — dou uma pausa — depois de tudo, sonhando
comigo.
— Ele não precisa saber — Taylor corrige, como se, de alguma
forma, isso melhorasse as coisas. Dentro do seu raciocínio ébrio, deve fazer
algum sentido.
Uma das minhas mãos desliza por seu corpo, voltando a se enfiar no
meio das suas pernas. Dessa vez eu não hesito em meter um dedo dentro
dela e Taylor morde o lábio inferior, esforçando-se para não deixar escapar
nenhum som.
— Será que você aguenta dois sem fazer barulho? — provoco.
Taylor me encara enquanto rebola suavemente contra o meu dedo.
Seus olhos azuis estão divididos entre o desejo e a ansiedade. Ela está com
medo de ser pega, mas também está excitada o suficiente para deixar o
senso crítico de lado. Taylor assente, mas eu já mudei de ideia:
— Ou melhor — eu mantenho um dedo, meu polegar dando voltas
pelo seu clitóris — Será que você me aguenta sem fazer barulho?
Um sorriso malicioso desperta nos lábios de Taylor e ela assente de
novo. Suas mãos descem e ela mesmo puxa a minha bermuda para fora,
prendendo-a atrás do próprio corpo para não boiar na água. Sua mão
contorna meu pau e Taylor gasta algum tempo me masturbando, o que me
faz perceber que, no fundo, ela não liga se Hunter vai ou não nos ver aqui.
É só mais um joguinho da sua mente terrivelmente pervertida e deliciosa.
Eu aperto o seu corpo contra a parede da piscina e a impulsiono um
pouco para cima, com cuidado para que sua cabeça não fique visível para
quem passa do outro lado. Entro dentro dela de uma só vez e sei que esse é
um golpe muito baixo, porque os lábios de Taylor se abrem em um “O”
mudo, o gemido não vindo por pouco.
Eu tampo a sua boca.
— Cuidado, linda — eu me movo dentro dela devagar, evitando que a
água forme redemoinhos muito evidentes. — Se você gemer muito alto, o
homem da sua vida vai ouvir.
Taylor morde a minha mão, e sei que essa é a sua forma de mandar eu
me foder sem precisar dizer nenhuma palavra. A mordida não é forte o
suficiente, então continuo com a palma em seus lábios, sentindo sua boca
contra meus dedos. Ela se aproveita disso, deixando que alguns gemidos
escapem, sendo abafados pela minha mão.
Não ouço mais os passos de Hunter, o que me faz pensar que ele
voltou pro quarto. Escolha sábia. Eu preciso que esse homem esteja inteiro
amanhã, física e emocionalmente.
As pernas de Taylor me apertam com mais força. Seu quadril se move
mais rápido e nós desistimos da tarefa de não causar ondas na água da
piscina. Eu espero mesmo que o concierge esteja dormindo ou ao menos
com preguiça o bastante para não vir verificar o que acontece aqui fora.
Eu tiro a mão da boca de Taylor e impulsiono seu corpo mais um
pouco para cima. Meus lábios descem até os seus seios e ela arranha minhas
costas com mais força quando minha língua toca sua pele. Uma marca
avermelhada se forma automaticamente quando eu chupo o bico de um dos
peitos e preciso me segurar para não a marcar inteira, embora eu goste
muito da ideia. Quase consigo imaginar Taylor no banheiro no dia seguinte,
tendo que maquiar sua pele para esconder a marca dos meus dentes.
As primeiras gotas de uma chuva de inverno começam a cair, mas
nenhum de nós faz questão de se mover. Eu invisto contra ela mais rápido,
agora que temos uma explicação lógica para a água da piscina estar se
mexendo tanto. Taylor deixa um gemido alto escapar, mas ela está protegida
pelo barulho da chuva se arrebentando no chão. Consigo sentir sua boceta
pulsando contra mim, quente, molhada, apertada.
Taylor apoia as mãos no meu rosto, puxando minha boca em direção a
sua. Ela me encara por um momento e eu sei que a pergunta que fez antes
ainda está ali. Eu quase sinto vontade de responder que tirei a virgindade
dela porque nenhuma outra pessoa deveria fazer isso. Porque ninguém
deveria conhecer Taylor Lynch da forma que eu conheço.
Não respondo, no entanto, e Taylor me beija. O gosto da chuva se
mistura com o gosto de bebida e eu sinto o corpo de Taylor se arrepiar de
frio. Sua mão sobe por minha nuca e ela puxa o meu cabelo com força
enquanto geme contra minha boca, o aperto das suas pernas diminuindo aos
poucos. Eu a observo enquanto o seu orgasmo chega, os olhos apertados,
seus dedos perdendo a força no aperto. Uma risada escapa dos seus lábios e
eu penso que ela fica linda assim: com o cabelo bagunçado, a expressão
área, molhada de chuva e toda minha.
Caralho, eu tenho que parar de pensar nessas coisas.
Taylor puxa o ar, suspirando. Seus lábios descem por meu pescoço e
ela beija minha pele enquanto se recupera, a respiração ainda
descompassada.
— Sua vez de gozar pra mim, meu amor.
Filha da puta. Eu consigo sentir o meu saco doendo de tesão agora.
— Não acredito que está usando minhas próprias palavras contra
mim.
— Só queria ver se você fica desconcertado quando eu te chamo
assim.
— Com você rebolando no meu pau desse jeito, eu não vou ficar
desconcertado mesmo que você me chame de Jesus Cristo.
Taylor ri.
Sua língua continua percorrendo meu pescoço e ela geme o meu
nome quando chega perto da minha orelha, o que, nesse ponto, é suficiente
para que eu não consiga me conter. Suas pernas me apertam com mais força
e o meu orgasmo vem, tão avassalador quanto em todas as outras vezes. A
chuva aumenta, eu gozo dentro dela e a impressão é que estamos dentro de
uma bolha só nossa. Nada mais importa.
Eu pisco, observando as gotas de chuva escorrerem pelo rosto de
Taylor enquanto minha respiração volta ao normal.
— A gente precisa usar camisinha mais vezes — murmuro, e meu
comentário sai junto com uma risada, não porque acho graça, mas porque
meu corpo ainda está relaxado ao extremo.
Eu não sou tão irresponsável assim. Taylor foi a única com quem eu
transei sem camisinha esse ano.
— E funciona com isso aí?
A forma como ela se refere ao meu piercing é engraçada.
— Dizem que funciona. Eu não tive nenhum filho até agora, então…
Taylor ri.
— Ai, credo. Bate na madeira.
Eu bato no ladrilho da piscina nas costas dela, num gesto simbólico.
A chuva engrossa, mas nenhum de nós se move. Eu saio de dentro de
Taylor, mas meus olhos ainda estão nela. Ela não diz nada, mas nós dois
sabemos que tem alguma coisa diferente acontecendo aqui. Alguma coisa
que não estava nos planos.
Ficamos em silêncio por mais um tempo, ouvindo a chuva cair na
piscina. Existe um “você não vai falar nada?” pairando entre nós, como um
fantasma.
É Taylor quem termina com a guerra de olhares silenciosa.
— Vamos — ela murmura. — A gente vai acabar pegando uma gripe
se continuar embaixo da chuva.
Capítulo 25 - Taylor Lynch
(ou: futura atriz que já não sabe mais ler os sinais do universo)
∞∞∞
Eu sei que sou uma mulher de sorte. Já cansei de ver nos filmes
personagens que chegam aos vinte anos e não sabem o que querem fazer da
vida. Não tem ideia do que gostam, ou pior, de quem são. Eu sabia desde
criança que queria ser atriz, que gosto de lutar por aquilo que mereço e que,
sempre que houver a possibilidade, vou planejar para que tudo saia do jeito
que eu sempre quis.
E claro, sempre soube que meu futuro era ao lado de um jogador de
futebol. O que, é claro, não quer dizer que sou uma maria chuteira. Nunca
me imaginei ficando com vários jogadores até encontrar o homem da minha
vida. Desde que cheguei na UCLA e vi Hunter, sabia que ele seria o
escolhido. Eu só não imaginava que teria a questão Atlas no meio do
caminho.
Mesmo que eu quisesse fugir disso, o universo sempre me leva de
volta. Amo ser líder de torcida, amo esse clima de excitação antes das
partidas, amo ver a entrega dos atletas em campo. Tem pessoas que não
gostam muito de viajar, eu já sou o oposto. Se eu pudesse passaria a vida
viajando. Quer uma característica melhor que essa para uma futura esposa
de um atleta famoso?
O único problema agora é pensar no marido.
Acabo de me despedir de Hunter antes de ele seguir para a
concentração antes do jogo. Trocamos um beijo tranquilo, desejei toda a
sorte do mundo para ele e disse que tudo ficaria bem. Ele não me disse o
que queria na noite anterior e eu não perguntei, porque era palpável o seu
nervosismo — e eu também não queria pensar que Atlas estava me fodendo
enquanto ele procurava por mim. Todo mundo vai acompanhar essa partida
de perto. Por mais que os Bruins não sejam os favoritos, há uma atmosfera
de expectativa no ar. Se ganharmos pode significar uma arrancada positiva
do time da UCLA, se perdermos, fica bem mais difícil conseguir avançar
para os play-offs.
— Ei, você desapareceu ontem — Julia comenta, apoiando as mãos
no meu ombro. — Você não tava no quarto quando eu acordei — ela cerra
os olhos pra mim. — Onde você foi?
Eu dou um sorriso constrangido pra ela, porque de jeito nenhum vou
dizer que dormi com o Atlas. Não vou dizer que ele disse o meu nome uma
vez, dormindo, e não vou dizer que estou ficando doida e perto de surtar
com a confusão onde eu me enfiei por livre e espontânea vontade.
— Você foi dormir com o Hunter? — Julia conclui, então abre um
sorriso. — Você perdeu a vir…
— Não! — eu corto. — Esquece, depois eu te explico. A gente vai
perder o início do aquecimento se não correr.
Julia assente, mas ainda tem um sorrisinho malicioso contornando sua
boca. Eu ignoro e acelero meus passos, desejando esquecer Atlas e Hunter
por pelo menos alguns segundos.
Estou prestes a mostrar minha credencial me dando acesso ao estádio
— como se o meu uniforme de torcida não fosse mais do que necessário —
quando sinto meu celular tocando.
Por mais que as pessoas não pensem tanto nisso, há uma relação de
poder em chamadas telefônicas. Tem gente que te liga por qualquer coisa:
uma dor de cotovelo, uma nova promoção no shopping, uma música que
achou a sua cara. Não atender uma ligação dessa pessoa é perdoável, no
máximo, ela irá mandar por texto uma versão resumida da ligação que
demoraria minutos. Nesse caso, você tem o poder de escolha.
No entanto, há certas pessoas que você sabe que não pode recusar
uma chamada.
E infelizmente, a única pessoa no planeta que eu não posso recusar
atender, decidiu me ligar no pior momento possível.
— Oi, pai — me afasto da entrada do estádio em busca de um pouco
de privacidade, o que é impossível, pois a multidão começa a chegar para a
partida. Faço um gesto para Julia seguir sem mim, não sei quanto tempo
essa chamada vai demorar. — Desculpa, mas agora não é uma boa hora.
— Taylor Lynch.
Não há muitas coisas nessa vida que conseguem me tirar do sério.
Apesar de preferir as coisas do meu jeito, consigo me enturmar e aceitar
opiniões diferentes. Sou uma pessoa flexível e compreensível na maior
parte das vezes. Mas uma coisa que nunca vou conseguir entender é porque
caralhos alguém não diz logo o que quer sem fazer rodeios.
Sinto o celular vibrar no meu rosto e o afasto para ver as mensagens.
Três fotos aparecem na minha conversa com meu pai e sinto que meu
coração para por alguns segundos. Quando ele retoma os batimentos, parece
que está pulsando na minha garganta.
Respiro fundo e clico nas imagens. Graças aos deuses do futebol, não
vejo nada demais. Algum paparazzi filho da puta me viu com Atlas na
sorveteria ontem, bem quando eu me abaixei para abraçá-lo na cadeira.
Apesar de ser uma foto inocente, o fotógrafo conseguiu capturar um close
nos nossos rostos.
E pode ser algo da minha cabeça, mas parece muito um casal
apaixonado. A voz da Julia dizendo que todo mundo pensa que eu e Atlas
somos um casal volta à minha mente, mas dessa vez, não tem mais o tom
engraçado de antes.
— Estou esperando uma explicação, Taylor.
A voz vem distante, pois estou com o celular na frente do rosto.
Fecho a imagem e volto a posicionar o aparelho na orelha.
— Não sei o que você espera que eu diga, pai.
Uso essa estratégia para ganhar tempo. Eu nunca minto para Elijah
Lynch, sei que essa é uma péssima ideia. Mesmo assim, a verdade agora
seria tão destrutiva quanto uma mentira. Preciso, antes de mais nada, ter
consciência do quanto ele sabe.
— Como assim, não sabe? Você acha que isso é uma brincadeira?
Que o time que tenho que gerenciar é apenas um capricho?
— Claro que não. Eu sei muito bem o quanto você se dedica ao seu
trabalho e sei dos riscos de eu sair com um jogador do time rival. Você já
cansou de deixar isso claro.
Sei que provocar o meu pai não é uma boa escolha, mas tente ter
alguém limitando quem você pode ou não gostar o tempo inteiro. É difícil
bancar a boa moça sempre.
— E mesmo deixando as coisas transparentes, você me faz isso?
— Isso o quê? É só uma foto de dois amigos na praia, como eu te
disse na última vez que conversamos.
O silêncio na ligação faz o meu coração acelerar ainda mais. Foi um
tiro no escuro. E se meu pai tiver alguma outra foto nossa? E se ele tiver
esperando para me dar a chance de confessar tudo antes de ser acuada
contra a parede?
— Você está me dizendo que nada entre vocês mudou?
Pressiono os olhos com força e solto um palavrão sem fazer som. Ali
está a pergunta crucial, a que me obrigará a soltar uma mentira se eu não for
extremamente cuidadosa. Mil respostas passam pela minha cabeça, uma
pior que a outra.
Pai, eu e Atlas estamos transando todo dia, mas eu só comecei a
transar com ele pra conquistar outro cara, então tudo bem.
— Pai, eu já te disse, eu e Atlas somos amigos. — Essa me parece
boa o suficiente, porque não é uma mentira. Está incompleta, mas é o
melhor que consigo.
Escuto o suspiro do outro lado da linha e aproveito a deixa.
— Inclusive, não pretendo parar de vê-lo — sinto o coração acelerar.
Há uma dupla camada de significado na frase, mas não tem como meu pai
captá-la. — Ele me faz bem, pai. Se a imprensa quer fotografar a gente,
paciência.
Mesmo com a distância, posso imaginar ele andando de um lado para
o outro com minha resposta. Certamente é algo que vai tirar o sono dele
essa noite, mas não posso fazer nada. Eu não vou deixar de ver o Atlas por
causa de fotos inocentes como aquela. Elijah Lynch que se acostume com
isso.
— Você está brincando com fogo, Taylor. Se acontecer alguma coisa
entre vocês… — Ele solta outro suspiro e um arrepio percorre os meus
braços. — Tive que comprar essas fotos antes que vazassem — Elijah dá
uma longa pausa. — Sabe que um cara como o Atlas não é o que eu quero
pra você, filha. Ele anda pra cima e pra baixo com uma centena de garotas
diferentes por semana.
Fico em silêncio para não me complicar mais. Em outras ocasiões eu
poderia dizer que não vai acontecer nada, mas eu realmente prefiro não
mentir para Elijah. Além disso, tenho medo de soltar, sem querer, que ele
não conhece o Atlas de verdade.
— Sei que você tá com pressa, a gente conversa direito no jantar. O
motorista te busca às 21h.
A mudança de assunto me pega desprevenida. Com tudo o que estava
acontecendo na minha vida eu tinha esquecido completamente que o
aniversário da minha mãe estava chegando. Desde o acidente, eu e meu pai
sempre nos reunimos nesta data para lembrar dela.
— Tudo bem.
— Acha que vamos ter duas vitórias seguidas do underdog da
competição?
Ver o leve humor voltando à voz do meu pai me faz ficar, ao mesmo
tempo, aliviada e culpada.
— Estou confiante! O Atlas tem feito um bom trabalho de motivação
no time.
— Vamos ver.
Ele encerra a ligação sem se despedir. Confiro as horas no celular e
corro para a entrada do estádio, sabendo que perdi boa parte do
aquecimento. Mostro minha credencial e, antes de guardar o celular na
bolsa, encaminho a foto onde estou com a cabeça no colo de Atlas para ele.
TAYLOR: precisamos tomar mais cuidado na próxima vez
TAYLOR: meu pai me mandou isso
TAYLOR: acho que você consegue imaginar o quanto ele estava
feliz k
∞∞∞
Sinto os músculos do meu corpo gritando por socorro na medida que
o jogo se aproxima do final. Não sei se é por conta da viagem — cinco
horas dentro de um avião cansa, sim — e junte a isso o fato de que não
aqueci o suficiente e teremos um corpo pedindo clemência.
O jogo também não está ajudando.
Os Bruins estão fazendo uma partida espetacular. Poucas vezes vi o
time jogando com tanto empenho e dedicação. A defesa batalha em cada
jogada como se estivesse em jogo muito mais do que apenas a vitória, mas
também a honra dos jogadores. Já o ataque, percorre o campo a uma
velocidade surpreendente. Hunter acertou pelo menos três lançamentos
difíceis durante a partida. Seria uma partida dos sonhos se não fosse um
pequeno problema.
Os Hurricanes decidiram jogar tudo o que não jogaram durante o
campeonato.
Para um espectador neutro, o jogo está sendo um espetáculo digno
das partidas da NFL. Para o torcedor de um dos dois times, no entanto, a
tensão dentro das quatro linhas passa para as arquibancadas e afeta até
mesmo as líderes de torcida. Já vi nosso time cometer alguns erros bobos
que tenho certeza que foram gerados por nervosismo.
Falta apenas um minuto para o fim da partida.
No telão, uma imagem indigesta para os Bruins:
HURRICANES 38 x 36 BRUINS
O time visitante começa a jogada. Hunter está com a bola e olha para
a distribuição dos seus colegas de equipe. Há dois marcadores adversários
correndo na sua direção, mas a linha ofensiva detém um deles. Hunter corre
apostando corrida com o marcador e consegue uma pequena vantagem.
O estádio fica em silêncio, a torcida do time da casa percebe a
gravidade da situação.
Eu esqueço a série de movimentos que preciso fazer e apenas olho
para o jogo.
Hunter percebe a movimentação na endzone e faz o lançamento.
A bola faz um arco e segue até o local onde o wide receiver dos
Bruins a espera.
É um lançamento quase perfeito.
E esse quase faz toda a diferença.
O jogador pula para segurar a bola, mas ela chega com um pouco
mais de força que o necessário. Ela toca os dedos do wide receiver, que não
consegue dominá-la.
O apito soa encerrando a partida. A torcida explode comemorando
aquela vitória suada e apertada, porém, para os Bruins, resta o gosto amargo
na garganta.
Um quase deixou a vitória escapar pelos nossos dedos.
Olho para o campo, mas dessa vez Hunter não vem até mim. Vejo
Stevie e Atlas entrarem aplaudindo os jogadores. Stevie segue na direção do
wide receiver e Atlas caminha para Hunter. Não quero nem pensar na culpa
que deve estar corroendo os dois jogadores. Um pensando que fez um
lançamento forte, o outro que deveria estar um passo à frente.
Futebol é um esporte injusto às vezes.
Para minha surpresa, no entanto, ao ver o gesto da equipe técnica, a
torcida imitou os aplausos e as arquibancadas tremem com o barulho das
palmas. Apesar da derrota, ficou o reconhecimento que ambos os times
tinham entregado um jogo brilhante, a ponto de a torcida rival fazer a
homenagem.
Não sei se será o bastante para os jogadores. Mas com certeza o jogo
ainda vai repercutir muito durante a semana.
— Taylor, vai ficar aí?
Julia para ao meu lado enquanto olho para as arquibancadas. Só então
percebo que o resto das líderes já entravam para o vestiário, mas a imagem
da festa que a torcida faz me paralisa.
Tem algo a ser aprendido hoje. Nem sempre as coisas saem da forma
como a gente planeja. Minha relação entre os dois jogadores é um exemplo
claro disso. Estou começando a sentir que as coisas estão fugindo do
controle. Será que esse é mais um sinal do universo para mim?
O pior de tudo, é que acho que não haverá pessoas aplaudindo o meu
desempenho se eu vier a perder esse jogo.
Por isso preciso ganhar.
Capítulo 26 - Atlas Campbell
∞∞∞
O Sporticast é uma daquelas empresas que tem como lema fazer seus
funcionários não perceberem que estão trabalhando. O prédio é cheio de
pontos de lazer: sinucas, almofadas coloridas espalhadas pelo chão, totó,
videogames, televisão e máquinas de expresso em cada esquina, com
direitos a piadinhas sobre ser um jovem adulto viciado em café.
— Tenho a impressão que a Sabrina ia adorar trabalhar aqui — Noah
comenta, assim que entramos no elevador, com destino ao estúdio de
gravação.
O meu primeiro pensamento é de que Taylor não gostaria. Mesmo
que eles estejam se esforçando para parecerem descolados, um escritório
ainda é um escritório, o inimigo número um do artista.
O meu segundo pensamento é que preciso tirar Taylor Lynch da
cabeça, mas ela parece cada vez mais emaranhada no fundo do meu
cérebro, tomando conta de cada neurônio. Caralho, peste, me deixa em paz.
— Ela ia esgotar a cota de café dos funcionários — Chad zomba.
Eu me sinto um pouco aliviado ao notar que Chad está mais tranquilo
em relação ao que aconteceu entre mim e Cleo. Ele é um cara que cumpre
suas promessas, então eu sabia desde o começo que ele não contaria para o
Noah ou para a Sabrina, por mais que eles sejam amigos. A Cleo também
não parece estar interessada em que saibam, o que me faz pensar que, por
trás da camada de festa e rebeldia, é uma pessoa legal. Conheço muita gente
que teria vendido a fofoca pros jornais na primeira oportunidade.
Noah estala os dedos na minha direção.
— Você tá em outro mundo, hein?
— To amargando o sabor da derrota — respondo, porque é mais
simples falar sobre os Bruins do que falar sobre Taylor Lynch.
Chad me dá um sorriso.
— Os caras ainda vão se classificar — ele tenta, mas eu sou o cara da
positividade e não o contrário. Eu sei que tem chance, não estou
preocupado com isso.
— Ei, que isso? — Noah aponta para as pulseiras de miçanga no meu
pulso. Elas simplesmente vivem aqui o tempo inteiro, porque esqueço de
tirá-las. Tem a que Taylor perdeu na festa, a do seu número, a de Halloween
e a que tem meu nome — É da…
— Taylor — respondo, observando os andares subirem no visor,
torcendo para as portas abrirem logo.
— Meu Deus — Noah ri, incrédulo. — Quando vão assumir esse
relacionamento?
— Que relacionamento?
— Todo mundo percebeu que você sumiu da festa no hotel — Chad
comenta. — Bem depois que a Taylor chegou…
— A gente tava conversando — dou de ombros. — E eu não queria
que ninguém visse a filha do dono dos Charges numa festa dos Pythons, por
motivos óbvios. Perdão por ter o mínimo de bom senso.
Chad move a cabeça em negativa.
— Você e bom senso na mesma frase? Fala sério.
— Eu só estou curioso pra saber como as coisas vão funcionar
quando vocês assumirem o que sentem um pelo outro — Noah diz. —
Contratos de cinquenta páginas de confidencialidade ou…
— Elijah Lynch cometendo seu primeiro assassinato — Chad
completa.
— Ninguém vai cometer assassinato nenhum porque a Taylor e o
Hunter…
— Chega de Taylor e Hunter — Noah me corta. — Ninguém cai
nesse papinho.
Reviro os olhos para ele bem no momento que as portas se abrem.
Charlie e Annie, os hosts mais famosos do mundo dos esportes, já estão
esperando por nós na porta do estúdio, com sorrisos plastificados. Estou
curioso para saber que tipo de perguntas eles prepararam para essa
entrevista. Em teoria, o podcast é sobre esportes, mas eles sempre se
esforçam para conseguir arrancar fofocas dos atletas.
Não sei porque Zade achou que era uma boa ideia conceder uma
entrevista a eles, mas faça do limão uma limonada.
— Boa tarde, meninos — Annie cumprimenta e Charlie assente ao
lado dela, numa espécie de apoio moral. — Repassando um pouquinho a
nossa conversa de hoje.
— Vamos falar sobre o andamento da temporada — Charlie completa
a fala dela, sem muito tempo para conversa fiada. — Expectativas pro
Super Bowl, carreira e tudo mais.
— E vamos dar uma pinceladinha — nunca entendi porque Annie fala
tudo no diminutivo — na vida pessoal de vocês.
Bom, aí está.
A oportunidade que eu queria para fazer Elijah Lynch me odiar um
pouco menos.
— Estamos muito animados pra ter essa conversa — Noah dá um
sorriso simpático, fazendo o seu papel de jogador das relações públicas. Eu
e Chad nos limitamos a sorrir e assentir, seguindo para dentro do estúdio
quando eles abrem a porta.
A primeira coisa que noto quando a porta é fechada atrás de nós é o
silêncio.
Noah, Chad e eu sentamos lado a lado na lateral da mesa grande que
ocupa boa parte do estúdio. Logo em seguida, um técnico de som ajeita os
microfones na nossa frente e observamos Charlie e Annie finalizando os
últimos ajustes para o início da entrevista. Vejo uma câmera no lado
esquerdo da mesa e me lembro de xingar o Zade por não ter me avisado que
o programa seria filmado também.
Os primeiros minutos são gastos com apresentações e anúncios dos
patrocinadores do programa. As apresentações são breves, já que nós três
somos figuras bem conhecidas nos Estados Unidos.
— 8 vitórias e apenas uma derrota — Charlie começa. — Essa é uma
marca e tanto para 9 jogos disputados. Vocês já consideram que estão nos
playoffs com esses resultados?
— De forma alguma — Chad começa, contido como de costume. —
Temos muitos jogos pela frente e só vamos comemorar a chegada nos
playoffs quando ela realmente acontecer. Cada jogo precisa ser jogado com
a mesma garra.
— A gente tá satisfeito com os resultados — Noah continua. — Mas
é o que Chad falou. Tem muita água pra rolar ainda, não vamos descuidar.
Esse é um assunto que não tenho como comentar, já que participei só
dos cinco primeiros jogos da temporada. Não sei se Annie percebe, mas a
próxima pergunta é direcionada a mim.
— Deve ser difícil seguirem na temporada com um jogador tão
importante lesionado por tanto tempo. — Ela faz uma pausa, como uma
cobra prestes a dar seu bote — Como é essa dinâmica de ver o time
ganhando sem você, Atlas?
Abro um sorriso, mas por dentro estou quebrando a mesa de madeira
à nossa frente. Eu pensei que eles pegariam leve dessa vez. Me controlo,
porque sei que Zade está ouvindo e já dei muita dor de cabeça para ele.
Vou ficar na linha dessa vez.
Quer dizer, mais ou menos.
— Não é fácil, mas faz parte. — Levanto a parte da frente do
uniforme amarelo dos Pythons que não só eu, mas Noah e Chad também
usam. — Deixa eu te dar um exemplo. Tá vendo aqui na frente o nome do
time? — Aponto para o escudo onde as letras SDP se entrelaçam como se
fossem serpentes. — E agora repara aqui atrás. — Giro o corpo mostrando
o nome Atlas Campbell no alto. — Tem um motivo pra essa ordem. San
Diego Pythons vem antes do Atlas. Somos um coletivo, não um bando de
jogadores individuais. E o time está indo bem sem mim, é isso que importa.
— Lanço um olhar brincalhão para Noah. — E é bom que esteja mesmo,
porque se ficarmos fora do Super Bowl eu vou quebrar a cara desses dois.
O clima volta a ficar leve com as risadas que ecoam no estúdio.
Charlie, aproveitando a deixa, faz a mesma pergunta que todos os
jornalistas cospem na minha cara assim que me veem.
— Então você volta a tempo pro final da temporada?
— Difícil dar certeza, mas eu quero voltar. Não perco esse jogo por
nada.
— Eu não duvido que ele entraria em campo até de braço engessado
— completa Noah.
A conversa muda de foco em seguida. Não sei se foi a resposta que
estavam esperando, mas é suficiente para não causar um apocalipse
midiático, como o Zade diria.
— Noah, você teve um começo de temporada agitado depois do seu
cancelamento na internet — Annie começa, rodando na sua cadeira com um
sorriso presunçoso que é típico de todos os jornalistas. — Como você se
sente agora? Quer dizer, como ficou sua relação com a ideia de expor coisas
da sua vida privada?
— Eu nunca quis expor nada — Noah ri, e Annie o acompanha.
Charlie complementa:
— Ele foi exposto, o que é muito diferente.
Noah assente.
— Gosto de pensar que as coisas acontecem por um motivo. Talvez
eu estivesse precisando de um chacoalhão para colocar as ideias no lugar —
brinca. — Mas eu e Sabrina estamos bem…
— Ninguém acreditava que vocês iam durar, né? — Annie pergunta.
— Eu não vinha de um histórico de relacionamentos muito bom, mas
é sempre prazeroso provar às pessoas que elas estão erradas — ele dá uma
pausa. — Nosso relacionamento é bom, estamos felizes. E gostamos de
dividir algumas coisas com os fãs do casal, assim como gostamos de deixar
algumas coisas em privado.
— E como é a dinâmica do time quando alguém se apaixona? —
Charlie levanta a pergunta. — Porque vocês passam muito tempo juntos,
então imagino que saibam tudo que se passa na vida pessoal um do outro.
— Infelizmente sim — zombo.
Chad ri, mas sua resposta é quase oposta à minha.
— Os Pythons são como uma grande família. Dá pra dizer que
ficamos felizes quando vemos um dos nossos encontrar alguém
interessante.
— Mas isso nem sempre acontece, né? — Annie continua. — No
meio de vocês, deve ser complicado encontrar pessoas que realmente se
importam com o relacionamento e não com fama e dinheiro.
— Sempre tem uma maçã podre ou outra, mas chega num ponto que
nós aprendemos a lidar com essa galera também — Chad responde.
— Todo mundo sabe que o coração do quarterback foi fisgado pela
melhor amiga de infância nos últimos meses — Annie dá um sorriso,
olhando para Noah. Depois, seus olhos caem em mim — Mas e quanto a
vocês dois? Chad?
— Tenho passado tempo demais focado no futebol, acaba não
sobrando muito tempo pra pensar em uma namorada — assume. — Não
que eu esteja fugindo disso…
— Ele está fugindo — eu corto e Chad dá uma risada pra mim. Um
dos objetivos desse tipo de programa, indiretamente, é monetizar a amizade
entre as estrelas dos Pythons. A torcida gosta de ver como somos unidos
dentro e fora dos campos. — Totalmente.
— Atenção, solteiras da América! Chad Jacobs não tem tempo para
vocês — Charlie brinca, num tom de locutor de rádio.
— E você, Atlas? — Annie se vira para mim, depois de risadas
gerais. — Você sempre foi visto acompanhado por muitas mulheres, mas
isso diminuiu nos últimos meses. No seu caso, não dá pra dizer que é por
causa do foco no trabalho, hein!
— Na verdade, eu estou passando muito tempo com os Bruins, como
vocês já sabem. De resto, acho que o título de solteiro invicto perde um
pouco da graça à medida que vamos amadurecendo.
— Eita! — Charlie exclama. — Temos uma revelação aqui?
— Não — eu me corrijo, antes que distorçam as coisas. — Estou
completamente solteiro.
— Mas está procurando uma namorada? — Annie insiste, mas eu
nego. — Está apaixonado?
— Eu não sei se essa é a palavra certa…
Noah e Chad se entreolham. Eles sabem exatamente o motivo das
minhas respostas e não sei se fico feliz ou irritado por não conseguir mentir
para eles.
— Mais uma grande perda pras solteiras dos Estados Unidos! —
Charlie brada no microfone. — Atlas Campbell está apaixonado.
Annie não consegue conter a sua empolgação.
— Qual o nome da felizarda? — ela faz suspense. — Será que ela
está nos ouvindo agora?
— Ah, não, eu prefiro não citar nomes — dou um sorriso sem graça
enquanto penso se Zade vai ou não me matar por isso. É como se eu tivesse
que escolher entre levar uma facada do Zade ou do Elijah. — Na verdade,
ela não sabe.
— A garota não sabe?! — Charlie move a cabeça em negativa,
indignado. — Nesse caso, ainda existe esperança pras solteiras da
Califórnia. Você mesma, ouvinte, pode ser que esse homem esteja
apaixonado por você e você nem faz ideia.
— Eu não quero ser advogada do diabo aqui, mas acho que é uma
ótima oportunidade de se declarar — Annie sugere.
Chad ri da situação terrível que eu mesmo me meti.
— Vai, Atlas. A garota merece saber.
Noah concorda, mas um sorriso nervoso dança nos seus lábios.
Nós três vamos levar um esporro do Zade, mas como diz aquele
ditado…
Quem tá na chuva é pra se molhar.
— É azul — murmuro, depois de respirar fundo — A cor favorita da
garota por quem estou apaixonado é azul. Se você estiver ouvindo… Bom,
agora você sabe.
Capítulo 27 - Taylor Lynch
∞∞∞
Paro o carro no estacionamento atrás da Kappa House e saio do
veículo sem prestar atenção direito no meu caminho. Ter feito aquele trajeto
centenas de vezes desenvolveu uma memória muscular que já me ajudou
algumas vezes a entrar em casa depois de beber demais, mas é a primeira
vez que preciso ir no piloto automático estando sóbria.
O jantar da noite anterior ainda estava em processo de digestão, não
no meu estômago, mas na minha mente.
Por que não inventaram ainda um sal de frutas pra resolver nossos
problemas do coração?
Sendo 100% racional, não tenho um problema propriamente dito.
Amo o Atlas — ainda é difícil pensar nisso —, sou uma pessoa livre e ele
também. O grande empecilho que poderia se colocar entre nós se chama
Elijah Lynch, mas até isso foi contornado. Quer dizer, em partes.
Ele não ficou pulando de alegria quando descobriu que eu estava
apaixonada, mas também não surtou, o que é um bom começo. Disse que
seria um relacionamento complicado, mas que se era o que eu queria, eu
deveria lutar por ele.
Meu pai, o homem que “não acredita” em amor falando uma coisa
dessas.
Claro que me deu mil e uma advertências sobre os cuidados que eu
teria que tomar para proteger a privacidade dos Chargers, mas
rigorosamente falando, não foi contra o relacionamento.
Ok, Elijah está fora da equação.
E quanto ao Hunter?
E quanto a carreira do Atlas?
E quanto aos sentimentos dele?
Eu não quero fazer o que fiz com o Hunter de novo. Planejar todo um
futuro juntos sem fazer ideia de como ele se sente ao meu respeito.
Entro na Kappa House e vejo uma movimentação vinda da sala. A
minha vontade é subir para o meu quarto. Por mais que San Diego esteja a
apenas 2h de viagem de Los Angeles, ainda são duas horas atrás do volante
e eu me desacostumei a dormir na casa do meu pai. É tudo tão preto,
grande, metálico e sem vida que tenho a impressão de estar dentro de um
necrotério. De luxo, mas ainda sim… é uma atmosfera muito diferente dos
quartos coloridos e bagunçados da Kappa.
Além disso, tenho tanta coisa para processar que não sei se quero
companhia tão cedo.
— Ah, você chegou!
Não sei se estou muito alheia ao que acontece ao meu redor ou se
Mindy se materializou do nada ao meu lado. Ela coloca um braço na minha
cintura e me puxa na direção da sala.
— O calouro do jornalismo finalmente liberou o drive com as fotos
do Halloween. Ele tava enrolando, veio com um papo de cobrar pelo
trabalho, mas a Julia deu um chega pra lá nele. Decidiu cobrar pela entrada
na festa daquele jeitinho meigo que minha namorada tem, você sabe. Aí ele
mudou de ideia.
A Júlia realmente não é o tipo de pessoa que escuta algo e fica calada.
Imagino ela invadindo as salas no prédio de publicidade pra tirar aquela
história à limpo.
— Mindy, acho que vou deixar pra depois. Preciso ficar um tempo
sozinha.
Minha amiga olha para mim.
— Aconteceu alguma coisa no jantar?
— Sim, mas nada tão terrível. Foi bom, na verdade. Só tô com muita
coisa na cabeça.
Mindy balança os cachos de um lado para o outro, como se negasse
minha resposta.
— Então vem comigo que tenho algo pra te distrair. Até porque se eu
falar, você não vai acreditar.
Não importa o quão cansada eu esteja, nada como uma fofoca para
dar início a uma nova fanfic na minha cabeça e me animar.
Me deixo ser arrastada até a sala e vejo várias das minhas irmãs da
fraternidade perto da TV. As fotos passam em um slide enquanto elas dão
risadas e soltam comentários. Olho ao redor, mas não vejo a Cleo. Talvez
esteja em aula.
Paro mais atrás do grupo e vejo as meninas fofocando sobre algo que
eu perdi. Várias delas estão com o celular na mão e não faço ideia do que
fazem, mas apostaria minha vaga no time das líderes de torcida que tem a
ver com a fofoca que Mindy mencionou.
— Meu amor, pode voltar naquela foto?
Mindy coloca a mão no ombro da Julia, que só então eu percebo que
está sentada no meio do grupo das meninas com um Macbook no colo.
— Ah, olha quem chegou! Você não vai acreditar, Taylor!
Ok, agora posso dizer que estou muito curiosa. Será que foi alguma
coisa com o Hunter? Por incrível que possa parecer, o pensamento me vem
com uma dose grande de indiferença. Será que é isso? Foi só mudar a
chavinha no meu cérebro e não me importo mais com quarterback? Se sim,
o que isso diz sobre mim?
A foto do slide muda e fica parada em uma outra mostrando algumas
meninas dançando perto da cozinha. Não percebo nada de diferente. Olho
para Mindy sem entender o motivo daquele alvoroço.
— Dá zoom, meu bem. A gata tá cega.
Julia ergue o controle da televisão, mas um movimento na entrada da
casa chama nossa atenção antes que ela possa seguir o pedido da namorada.
A porta se abre e, por algum motivo desconhecido, ficamos em silêncio
esperando que a pessoa recém-chegada se pronuncie. Vejo os cabelos de
Cleo passarem como um vulto pela porta da sala. Ela teria subido as
escadas se não fosse o grito da Julia:
— Cleo Evans, volta aqui!
Ela dá meia volta.
— O que foi? Tô atrasada pra aula de… — seus olhos escuros caem
na televisão — Ah, você conseguiu as fotos?
— Não só conseguimos as fotos — Mindy abre um sorriso que diz
coisas demais e eu não consigo interpretar nenhuma delas. — Conseguimos
fofocas.
Cleo parece um pouco mais interessada.
— Que fofoca?
Eu continuo observando a foto na tela, sem entender onde elas estão
querendo chegar. Só percebo o que está acontecendo quando Julia dá zoom
no canto da fotografia. A imagem perde boa parte da qualidade, mas
consigo reconhecer quem é o casal se beijando na frente da despensa da
Kappa House.
Todo mundo consegue.
Eu sinto um frio desconfortável na barriga. Quero tomar o controle
das mãos de Julia, deletar a foto e fingir que nunca a vi, mas sinto que ela já
está impressa no fundo de cada neurônio meu: Cleo Evans com as pernas ao
redor do quadril de Atlas Campbell enquanto eles se beijam furiosamente,
2023, óleo sobre tela.
O meu Atlas.
A minha colega de quarto.
— Quando você ia contar que tava pegando o Atlas? — Mindy
provoca.
Meus olhos caem em Cleo.
— É, Cleo, quando você ia contar? — meu tom é um pouco mais
agressivo do que eu pretendia. Eu não sou maluca — ok, depende do
referencial — e sei que ela não tem culpa de nada, mas estou tão chateada
que não consigo me conter.
— A gente não tá se pegando — ela explica, sem se importar com a
quantidade de olhares curiosos em cima dela. Como eu, Cleo adora uma
boa dose de atenção. — Foi uma vez só.
Eu sou uma idiota por ter sentido uma pontada de alívio?
Talvez eu não tenha o direito de ficar puta com o Atlas. Eu beijei o
Hunter uma centena de vezes naquela noite. Além disso, beijar é muito
diferente de…
— Uma vez só? — Julia insiste, buscando mais detalhes. — Anda,
Cleo, explica direito o que aconteceu!
— Não acredito que você pegou um gostoso desses e não contou nada
pra gente — uma das garotas da irmandade protesta.
— Já dizia o ditado — Mindy ri. — Quem come quieto come duas
vezes mais.
Cleo mostra o dedo do meio para ela.
— Eu não contei porque isso não pode sair daqui — ela murmura, de
repente adquirindo um tom sério. — É sério, viu? Se a minha irmã sabe
disso, vai acabar com a minha vida.
— Tudo bem, nossa boca é um túmulo — Julia se ajeita no sofá. —
Mas agora que todo mundo já sabe, fala! Vocês transaram?
— Como eu disse — Cleo recapitula. — Foi só uma vez. Mas sim,
transamos na despensa.
— Na despensa?! — Mindy tem uma crise de riso. — Right in front
of my salad?[14]
Eu observo as garotas rindo sem dizer nada. Meu cérebro está
ocupado fazendo contas.
A festa de Halloween da Kappa foi uma semana antes do meu
aniversário. Não acredito que ele estava comendo outra garota na despensa
dias antes de me levar para o encontro mais romântico que tive na vida.
Dias antes de tirar minha virgindade. E o pior: dias antes de mentir para
mim.
Sempre soube que Atlas Campbell era um galinha problemático, uma
red flag ambulante, mas isso aqui é demais até pro nível dele. Encaro as
pulseiras no meu braço, num misto de incredulidade e irritação. Não
consigo colocar em palavras o que estou sentindo, mas é tão incômodo que
me falta ar.
Eu me levanto do sofá, porque não tenho mais estômago pra isso. Não
quero me estressar com a Cleo porque, se tem uma pessoa inocente nessa
história, é justamente ela.
— Que foi?
A pergunta vem de Julia, mas eu não respondo. Estou sentindo meus
olhos se encherem de lágrimas e minha respiração ficar estranha. Não quero
fazer uma cena na frente das meninas, então me limito a sair da sala e bater
a porta quando saio da Kappa House.
Ok, eu meio que fiz uma cena.
Eu entro de volta no meu carro e vejo uma Mindy confusa vir atrás de
mim. Eu movo a cabeça em negativa pra ela, indicando que preciso de um
tempo sozinha. Antes que ela possa tentar me parar, dou partida no carro e
saio do nosso estacionamento.
No final das contas, o maior problema em me apaixonar pelo Atlas
não era meu pai, os Chargers ou o Hunter.
O problema tinha dois metros de altura, tatuagens pelo corpo e a porra
de um beijo maravilhoso que eu gostaria de nunca ter experimentado.
Capítulo 28 - Atlas Campbell
Como pode a nossa vida mudar tanto em tão pouco tempo? Ontem,
antes da viagem para San Diego, eu tinha a fanfic do meu futuro pronta: ia
concluir a faculdade, trabalhar como atriz o resto da minha vida, me casar
com Hunter e seríamos felizes juntos. Ok, meus sentimentos pelo Hunter
também estavam confusos, mas nós daríamos um jeito nisso.
A primeira pedrada veio na conversa com meu pai.
Perceber que ele tinha sido uma espécie de Atlas no passado e ainda
se transformado no último romântico acendeu em mim esperanças perigosas
que me fizeram querer algo que não era pra mim. Me fizeram perceber que
eu estava apaixonada por alguém que não queria um relacionamento, por
alguém que, nas palavras de Elijah Lynch, não acreditava no amor. Era
óbvio que eu ia me machucar.
Mas precisava ser tão rápido?
— Eu sinto muito amiga — a mão de Mindy acaricia o meu cabelo
enquanto Julia está sentada do outro lado da cama, segurando minha mão. É
quase uma comitiva fúnebre.
Eu desisti de fingir que não estava chateada com tudo o que
aconteceu, até porque nem se eu fosse a melhor atriz do mundo conseguiria
disfarçar o estado no qual cheguei em casa depois do encontro trágico com
o Atlas. Contei tudo para as três e aqui elas estão, me velando.
— Ele foi um grande desgraçado. Você tá mais do que certa em ficar
com raiva dele — Julia comenta. Cleo olha para mim da sua cama, meio
área. — Isso não vai ficar assim. — Ela leva uma mão ao queixo. — Será
que conseguimos escrever ATLAS ESCROTO com as líderes de torcida no
próximo jogo dos Bruins?
No meio do choro, sinto uma risada engasgada subir até os lábios.
Essa é a Julia, ninguém mexe com as amigas dela e sai impune.
— Não precisa. Vai desviar a atenção da partida.
Mesmo em meio a todo aquele furacão, sei que o time da UCLA está
em uma situação complicada e precisa de toda a concentração possível.
— Então a gente pode riscar o carro dele — Mindy sugere. —
Escrever MENTIROSO de todo tamanho na lataria. Vi isso no TikTok outro
dia e adorei a ideia. Também dá pra jogar glitter no armário, vazar o
telefone dele na internet ou…
— Meu Deus, com quem estou namorando? — Julia parece assustada
e não consigo deixar de sorrir.
— É simples, meu amor, só não minta para mim que estaremos bem.
— Não vai adiantar — retomo o assunto. — Ele pode trocar de carro
com um estalar de dedos. Não faria a menor diferença. Não dá pra apagar a
mentira com uma camada de tinta.
Dói pensar no quanto me entreguei ao Atlas. Não apenas na parte
física, mas eu me abri com ele, me permiti ser vulnerável, e ele pisou em
mim transando com minha amiga.
Eu fiz isso porque estava com ciúmes.
A voz dele volta à minha mente me deixando com ainda mais raiva.
Então era assim? Ciúmes justificava mentira? Se estivéssemos juntos, ele
transaria com uma mulher nova a cada vez que esse sentimento aparecesse?
Não é o que quero para minha vida amorosa, obrigada.
Percebo o olhar de Cleo desviar para o celular. Ela começa a digitar
alguma coisa e coloca apenas um fone de ouvido, deixando a outra orelha
vaga para continuar nos ouvindo.
— Anda, senta aí. — Julia segura meu braço e me faz apoiar as costas
na parede. — Você ainda nem encostou no sorvete. Qualquer pessoa que se
preze sabe que bad só se cura com doses gigantescas de sorvete.
Recebo o pote de sorvete de passas ao rum. Não é o primeiro sabor
que eu escolheria, mas não reclamo. Coloco a primeira colher na boca e
sinto o gelado se espalhar pelo meu rosto, abraçando o frio no estômago.
Agora sim me sinto completamente fria, abandonada, depressiva e sozinha.
As lágrimas voltam a subir pelo meu rosto.
— Sabe o que é o pior disso? — começo, a voz embargada. — Como
vou acreditar nas coisas que ele me disse? E se foi tudo mentira? — Dou
uma pausa, engolindo mais sorvete. — Acredita que ele teve a cara de pau
de me falar hoje que estava apaixonado por mim? Muito fácil dizer isso
quando a bomba explodiu. Por que ele não disse antes?
Sinto o peito apertar. Eram várias perguntas que minhas amigas não
podiam responder. Eu sabia disso, mas precisava colocar pra fora.
— Na verdade — Cleo interrompe a minha sequência furiosa. — Ele
disse antes, sim.
Eu, Julia e Mindy olhamos para Cleo sem acreditar no que está
acontecendo.
Eu sei que minha colega de quarto não tem nenhuma culpa no que
aconteceu, mas se ela vier defender o Atlas, eu não vou responder por mim.
— Calma, não é o que vocês estão pensando. — Ela se levanta e vem
pro meu lado na cama. — Antes, eu queria pedir desculpas. Sei lá, não foi
algo legal da minha parte também.
Balanço a cabeça.
— Você não tem que pedir desculpas de nada, Cleo. — Aponto para o
casal ao nosso lado. — Nós três vimos que você me perguntou se tinha algo
entre mim e ele, e eu disse que não. Era uma situação muito confusa, eu não
sabia que rótulo deveria dar pra isso e… enfim, eu também menti pra vocês.
Omiti — me corrijo. — Você não fez nada de errado, foi ele quem fez.
Ela abre um sorriso tímido.
— Mesmo assim, desculpa. Se desse pra voltar no tempo, eu não
ficaria com ele sabendo que isso ia te magoar.
Julia, que nunca deixa nada passar despercebido, pergunta:
— Anda, desembucha. O que você tá escondendo da gente?
Todos os olhares estão em Cleo. Eu odeio ver nascer de novo a
expectativa no meu peito. Eu não quero passar por tudo o que passei de
novo. Não mereço isso. Se Atlas foi capaz de me machucar dessa forma, o
que garante que não vai fazer de novo?
Ainda assim, espero o que Cleo tem a dizer com o coração batendo na
garganta.
Ela pega o celular e mostra um vídeo pausado.
— Eles gravaram um podcast sobre esportes ontem, não sei direito
porque não acompanho tanto, mas a Sabrina me mandou agora perguntando
se tenho alguma ideia de quem o Atlas tá falando. Parece que o Noah sabe,
mas não quis contar pra ela. E assim, depois que você passa boa parte da
vida sob o mesmo teto que uma escritora, você aprende que eles são as
criaturas mais fofoqueiras que existem. Gostam de encher a boca pra falar
que são curiosos, mas são fofoqueiros, isso sim.
— Ai, mulher, mostra logo isso — Mindy põe em palavras o que está
todo mundo pensando e leva o dedo até a tela do celular dando play no
vídeo.
— Todo mundo sabe que o coração do quarterback foi fisgado pela
melhor amiga de infância nos últimos meses. Mas e quanto a vocês dois?
Chad?
Chad responde que está focado no trabalho e percebo que os lábios de
Cleo se estreitam em uma linha fina. Não tenho tempo de me aprofundar
nas suspeitas, porque logo a entrevistadora do podcast direciona a pergunta
para Atlas.
— Na verdade, eu estou passando muito tempo com os Bruins, como
vocês já sabem. De resto, acho que o título de solteiro invicto perde um
pouco da graça à medida que vamos amadurecendo.
— Mais uma grande perda pras solteiras dos Estados Unidos! Atlas
Campbell está apaixonado.
— Qual o nome da felizarda? Será que ela está nos ouvindo agora?
Sinto o sangue pulsar na minha garganta e acho que vou ter um
colapso. Não posso acreditar que Atlas fez o que estou imaginando que fez.
Isso seria um escândalo que afetaria a carreira dele.
— Ah, não, eu prefiro não citar nomes. Na verdade, ela não sabe.
Os entrevistadores começam a pressionar o jogador em busca da
informação completa, e quando ele responde, sinto minha visão embaçar, as
lágrimas voltando até meus olhos.
— É azul. A cor favorita da garota por quem estou apaixonado é
azul. Se você estiver ouvindo… Bom, agora você sabe.
Julia, Mindy e Cleo olham para mim em silêncio. O mundo parece ter
ficado sem os seus sons por vários segundos enquanto as frases de Atlas
ecoam na minha cabeça.
Enfio mais uma colherada de sorvete na boca. Não sei mais se minhas
lágrimas são de raiva, de tristeza ou de felicidade.
Ele se declarou para mim em rede nacional.
Eu teria ficado muito feliz ouvindo isso ontem, mas agora?
Agora não muda o fato de que Atlas Campbell é um mentiroso.
E agora eu não faço a menor ideia do que fazer com a informação que
acabo de ouvir.
— Isso não muda as coisas — declaro, por fim. — Não quero ver
Atlas Campbell na minha frente nem pintado de ouro.
Capítulo 30 - Atlas Campbell
Uma das teorias da física que eu mais acredito que não tem a menor
possibilidade de estar errada é a que fala que o tempo é relativo. Faz três
dias desde que saí da casa do Atlas com o psicológico destruído, mas parece
que tem um mês que não saio do meu quarto. Ir na aula de ASL foi a única
coisa útil que consegui fazer e mesmo isso me trouxe mais problemas.
Pego o meu celular e observo o contato do quarterback na minha tela.
Encaro a foto dele por vários segundos. Por mais que o jogador tenha se
mostrado um grande babaca, ainda é difícil deletar todo o trabalho que levei
meses para construir. Deletar seria a prova definitiva de que eu estava
errada e vivendo uma mentira.
— Tá olhando pro contato do babaca de novo?
A voz da Cleo atravessa o quarto e me pega de surpresa. Às vezes eu
esqueço que estou dividindo o quarto com alguém, porque Cleo Evans é
uma presença quieta. Ela passa boa parte do seu tempo fora de sala de aula
assistindo filmes no celular ou no notebook e tem um encontro quase toda
noite. É um contraste muito grande com a Violet que costumava trazer vida
por onde passava.
Pensar na minha ex-colega de quarto me faz lembrar que marquei
uma ligação com ela. Olho para o relógio no celular e faltam 20 minutos
para o horário que combinamos. É tempo mais que suficiente para eu me
arrumar e não passar a impressão que a civilização americana ruiu e
voltamos para a era pré-histórica.
— Qual deles? Tem tanto jogador babaca na minha vida que é até
difícil escolher.
Cleo revira os olhos e se levanta. Caminha até a minha cama e senta
ao meu lado.
— Me dá o celular.
Ela estende a mão, mas tenho medo de entregar o aparelho e ela fazer
algo definitivo.
— Não.
Ela cruza os braços e me lança um olhar feroz. Por um segundo,
penso que ela vai me atacar e roubar o iPhone da minha mão.
— Então você vai, agora mesmo, apagar o contato do Hunter na
minha frente.
Levanto uma das sobrancelhas.
— Quem te disse que eu tava olhando pro contato dele e não o do
Atlas?
— Quando é o Atlas você fica agitada e frustrada por ele ter estragado
tudo.
— E com o Hunter não?
— Não — ela continua com sua psicologia barata. — Com o Hunter
você só fica com um olhar de quem quer decapitar alguém.
Não consigo evitar sorrir. Se isso é verdade, talvez queira dizer
alguma coisa que ainda não sou capaz de entender.
— Anda. Apaga o contato do Hunter.
— Você tá sendo cruel — resmungo, mas desbloqueio o aparelho. A
foto do quarterback volta a preencher a tela. Preciso reunir uma força de
vontade gigantesca para clicar em editar. Rolo a tela até o final e deixo o
polegar pairar sobre o apagar contato.
— Você consegue, Taylor.
Respiro fundo e deleto Hunter do meu sistema.
— Aaaah! Eu não acredito que fiz isso!
Cleo me puxa para um abraço.
— Ele não te merece, amiga. Você tá muito melhor sem ele.
Me deixo demorar um pouco no abraço. Um pensamento aparece na
minha mente e sinto medo do que vem a seguir.
Espero, mas Cleo não diz nada.
Não consigo aguentar a tensão, por isso decido acabar logo com o
sofrimento.
— E agora é a vez de deletar o Atlas?
Cleo se afasta e me olha. Seu cabelo castanho liso cai como duas
cortinas ao redor do rosto.
— Isso é com você. Você queria apagar o Hunter. — Ela se levanta.
— Só precisava de um empurrão.
— E eu não quero apagar o Atlas? É isso que você tá querendo me
dizer?
— Eu não sei de nada, Taylor. É você que tem que responder isso.
Fico em silêncio por alguns segundos. Não quero tomar aquela
decisão agora. Já fiz muito deletando o Hunter.
Baby steps.
— Vou pensar um pouco mais.
Cleo abre um sorriso, mas não diz nada. Apenas se afasta na direção
da cama onde deixou o seu celular com o filme pausado.
O som do facetime atrai a minha atenção.
Vejo a foto de uma mulher negra de pele clara cobrir a tela.
— Que ódio, não deu tempo de me arrumar.
— Já conseguiu um date tão rápido?
Balanço a cabeça.
— Não quero saber de date nunca mais na minha vida. Vou raspar a
cabeça e entrar num mosteiro. — Faço uma careta ao imaginar a cena que
acabo de descrever. — Não, é só a Violet, minha melhor amiga. Eu te falei
dela, a que foi pro México. — Olho para Cleo e junto as mãos perto do
peito. — Posso te pedir uns minutos sozinha?
Cleo assente, me deixando sozinha no quarto.
Pego o celular e atendo a ligação, mas só quando a minha imagem
aparece pela câmera frontal que percebo meu erro. Parece que o time inteiro
de futebol da UCLA passou pelo meu quarto marchando e pisoteando a
minha cara no caminho.
— Eu sabia que não devia ter te deixado sozinha, Taytay —
obviamente, Violet percebe a minha cara de desânimo. Eu já adiantei um
pouco da história pra ela em longos áudios de três minutos no app de
mensagens, mas isso é diferente de ter uma conversa de verdade. — Vou
encerrar meu intercâmbio e voltar no próximo voo pra Los Angeles.
Ouvir o apelido que minha melhor amiga tem para mim faz o meu
peito esquentar. Violet é alguns anos mais velha que eu — ela acabou de
completar 24 — e é como uma irmã que nunca tive.
Tento arrumar meu cabelo pra minimizar os danos, mas ele está tão
sujo, que só um milagre pra resolver. Ou, na hipótese mais simples, um
banho.
— Ai, Vivi, queria tanto que você estivesse aqui.
Sinto as lágrimas subirem, mas eu prometi a mim mesma que não
choraria mais por quem não merece.
— Vaiiii. — Ela se senta com as pernas cruzadas. Ao que tudo indica,
ela também está no quarto, porque posso ver um pedaço do pôster de Noah
Chomsky que antes ficava pendurado aqui na Kappa House. Agora, ele
enfeita uma parede vermelha. — Me fala os nomes de quem vou ter que
bater quando eu voltar.
Abro um sorriso.
— Eu realmente consigo ver você e a Julia fazendo isso.
Ela joga os dreads do cabelo para o lado e abre um sorriso.
— Deixa com a gente, agora, anda. Quero nomes.
Começo a recapitular tudo que aconteceu nos últimos dias, agora com
o adicional da última conversa tenebrosa com o Hunter. Violet é a ouvinte
perfeita. Não me interrompe em momento nenhum, apenas solta
xingamentos e ameaças aos jogadores nos momentos certos. Contar os
eventos mais uma vez faz eu me sentir como uma espectadora assistindo
um filme triste de um casal com um potencial gigantesco.
— Ai, Taytay. Sem nem o que dizer. — O celular dela se move
enquanto minha amiga muda a postura na cama, deitando e apoiando o
aparelho na frente do travesseiro. Copio o gesto e ficamos as duas na
mesma posição. — E como você tá se sentindo em relação ao Atlas?
— Estou com raiva, chateada, frustrada e querendo dar vários tapas
nele até ficar cansada. Ao mesmo tempo, não quero mais olhar na cara dele.
— Mas…?
Não entendo o que minha amiga quer dizer.
— Como assim? Não tem mas.
Violet abre um sorriso que eu não vejo há alguns meses. É um sorriso
lateral que passa a impressão que ela sabe de alguma coisa que eu não sei.
Ela chama isso de sabedoria da amiga mais velha.
— Você tá apaixonada por ele — Violet ressalta, como se não fosse
óbvio.
— Não sei porque todo mundo me diz isso nas últimas semanas —
reclamo. — Não é como se mudasse alguma coisa. Não foi você que disse,
no semestre passado, que nem todo amor faz bem?
Violet concorda com a cabeça.
— É, nem todo amor faz bem — ela morde o lábio, pensando no que
dizer a seguir. — Mas…
— Não vem defender o Atlas!
Minha amiga ri.
— Tá maluca? Eu prefiro arrancar a minha língua do que defender
um jogador de futebol branco, cis, hetero e padrãozinho ainda por cima.
Eles são a praga da humanidade. Inclusive, se eu estivesse aí, nunca teria
deixado um tipo desses se aproximar de você — zomba. — Eu só acho que
nem sempre as coisas são tão claras assim. Você romantiza demais a sua
vida e às vezes tem dificuldade de fugir dos extremos, sabe?
— Acha que eu to exagerando?
— Não, o Atlas foi um otário — Violet diz outra coisa que eu já sei.
— Mas — ela dá uma pausa. — Ai, meu Deus, não acredito que vou dizer
isso, mas consigo enxergar o lado dele. Você disse o tempo todo que tava
apaixonada pelo Hunter e não pode culpá-lo por ter acreditado nisso. Sobre
ele ter mentido, não tenho o que dizer, foi uma merda gigante. No final das
contas, o que eu quero dizer é que não tem vilão ou mocinho nessa história,
entende? Você devia ter contado o que sentia quando teve oportunidade e
ele devia fazer terapia — apesar da situação péssima, não consigo conter
uma risada. — Acho que vocês dois — ela me encara enquanto cerra os
olhos e eu sei que vou levar um sermão. — Foram imaturos, mas tiveram
seus erros e acertos nessa história toda. Agora é ver o que dá pra fazer com
isso.
Eu não entendo o que Violet quer dizer. Sempre que conversamos,
sinto que ela é muito mais entendida das coisas do que eu.
— Ver o que dá pra fazer?
— É. Eu lembro de ver os seus stories no close friends enquanto
estava com o Atlas e você sempre pareceu muito feliz. Precisa se decidir se
vale a pena passar por cima disso e se o Atlas te faz bem ou mal — ela dá
um suspiro. — Mas essa resposta só você pode dar, Taytay.
Afundo meu corpo na cama enquanto um longo suspiro escapa da
minha boca.
— De toda forma — Violet recapitula, percebendo que perdeu minha
atenção. — As coisas vão se acertar, você vai ver. Se escolher mandar o
Atlas pra casa do caralho, saiba que você é um mulherão, Taylor Lynch. Vai
encontrar um cara que valoriza isso.
Um pensamento que odeio passa pela minha mente.
O Atlas valoriza isso. O problema é que, na tentativa de não me
machucar, só piora as coisas.
E claro, sair transando com as minhas amigas também não ajuda em
nada.
Eu assinto para Violet e seguimos conversando sobre outros assuntos.
Violet me conta sobre a vida no México e todas as diferenças entre os dois
países. Ela pegou várias cadeiras de direito desportivo na faculdade e já
sabe que quer estagiar nesse ramo ano que vem, quando voltar pra Los
Angeles.
Só volto a olhar para o relógio quando são quatro horas da tarde. Me
despeço da minha amiga, animada com a possibilidade de vê-la daqui a
alguns meses.
Mas enquanto o dia termina, uma das frases de Violet não sai da
minha cabeça.
Agora é ver o que dá pra fazer com isso.
Capítulo 34 - Atlas Campbell
A última semana foi estranha. Sinto que estou levando os dias sem
focar no que está acontecendo ao meu redor enquanto minha mente anseia
pelo recesso do fim do ano para eu poder voltar pra casa do meu pai —
nunca pensei que fosse pensar nisso — em San Diego e esquecer da UCLA
e de todos os jogadores de futebol que a orbitam.
Ano que vem vou ser uma nova Taylor. Sem planos mirabolantes,
sem dor de cabeça e, principalmente, sem amores mal resolvidos.
O problema é que ainda falta quase um mês para 2024 e o universo já
deixou bem claro que vai fazer de dezembro um inferno.
No início, pensei que era apenas uma coincidência. Apesar de raro,
pode, sim, acontecer de alguém ter deixado uma rosa azul caída na entrada
do prédio das Artes. Uma entrega para uma peça, um pedaço de figurino ou
cenário, enfim, há várias justificativas razoáveis para eu ter encontrado a
flor no primeiro dia.
Inocente, a peguei e a guardei na mochila. Na minha mente, era uma
forma do mundo dizer que queria fazer as pazes comigo, que nosso
desentendimento tinha ficado no passado.
Eu tinha acertado, parcialmente.
No dia seguinte, encontrei outra rosa no prédio de linguagens, pouco
antes de eu ir para a aula de ASL. Olhei ao redor procurando alguém que
poderia tê-la deixado ali de propósito, mas não vi nenhum rosto conhecido.
Meu primeiro pensamento foi que Hunter poderia estar tentando pedir
desculpas pelo que aconteceu, mas assim que entrei na sala, o vi sentado
com uma outra garota para a aula — também loira, também baixa, também
linda. Na minha cabeça, a voz da Olivia Rodrigo soou, nítida como se
estivesse saindo pelos AirPods.
I hate to think that I was just your type.[16]
Agora, saindo da aula e indo na direção da minha scooter, percebo
outra rosa azul apoiada no banco do veículo e então tenho certeza de duas
coisas: definitivamente elas são para mim e não são o universo pedindo
desculpas, mas sim um certo left tackle que eu conheço.
Retiro a rosa de cima da moto e a arremesso longe. De repente, as
flores perdem a graça. É claro que elas não têm nenhuma culpa de estarem
sendo usadas como uma desculpa barata, mas não consigo mais ver beleza
nelas.
Elas estavam em todos os lugares na última semana.
Foram 46 delas — sim, eu contei — espalhadas pelo campus em
locais que o jogador dos Pythons sabe que eu frequento. Me sinto tentada a
fazer uma reclamação em algum conselho estudantil. Isso não seria uma
forma de perseguição? Me sinto a própria Beck sendo stalkeada pelo Joe.
Um arrepio passa pela minha cabeça ao me lembrar do que acontece com
ela.
Não, ele tem vários defeitos, mas psicopatia não é um deles.
Ainda assim, isso precisa parar.
Volto para a Kappa House e, assim que desço da moto, sinto o celular
vibrando.
ELIJAH: Te mandei um e-mail com os ingressos pro próximo jogo,
filha.
ELIJAH: Desculpa mandar de última hora, mas as coisas estão
corridas aqui.
ELIJAH: Vamos comemorar no estádio esse ano. Espero você.
Fico alguns segundos encarando a tela do celular sem entender de que
comemoração meu pai está falando, então me lembro que o aniversário dele
está chegando. Com a bagunça que minha vida virou, eu tinha esquecido
completamente.
TAYLOR: claro! estarei lá. obrigada pelos ingressos.
Ainda com a mente no inferno que vai ser assistir a um jogo quando
tudo o que mais quero é ficar quieta no meu quarto, quase não percebo que
há algo diferente no estacionamento. Alguns pontos azuis no meu Jeep me
chamam a atenção. Me aproximo e, para minha surpresa, três ursos de
pelúcia carregam corações azuis escritos “DESCULPA”.
Por mais que eu odeie ver aquilo — invasão de propriedade?
Perseguição? — um sorriso estúpido começa a aparecer nos meus lábios,
mas sou rápida o suficiente para sufocá-lo. Mantenho minha posição, não
vou voltar a vê-lo tão cedo, que ele me envie uma floricultura inteira, se
quiser.
Coloco o capacete dentro do baú da scooter e sigo para a irmandade.
Quero só tomar um banho, deitar na minha cama e ficar em paz. Abro a
porta e quase sou soterrada pela Julia e Mindy.
— Você precisa dar um jeito nisso — começa Julia — ou vou gastar
meu réu primário com esse cara.
— Você já pensou em conversar com ele? — Mindy emenda antes de
eu entender o que está acontecendo. — Sei lá, só escuta o que ele tem a
dizer pra ver se ele para de encher o saco.
Olho ao redor sem entender do que elas estão falando, mas não há
nada de estranho no hall. É óbvio que, assim como a Cleo, o casal sabe das
rosas azuis que tenho recebido ao longo da semana. Não há a menor dúvida
que elas vêm do Atlas. Mas não entendo por que aquela comoção repentina
para que eu fale com ele. As duas estão parecendo a minha colega de
quarto. Apesar de tentar não se meter nesse assunto, sei que a Cleo é
#TeamAtlas.
— O que deu em vocês hoje, hein?
Julia, sem me responder, segura minha mão e me puxa para a sala de
estar da Kappa House.
— Sério, isso tem que parar.
A sensação é que todo o ar da casa foi removido de uma vez e que
não dá mais para respirar ali dentro com a cena que se estende na minha
frente.
Dezenas dos mesmos ursos que encontrei no Jeep estão espalhados
pela sala como se fosse uma epidemia de fofura. Uma praga que fugiu ao
controle. Uma cena de uma comédia romântica barata.
Eu sinto vontade de rir, de chorar e de socar o Atlas, tudo ao mesmo
tempo. Em vez de fazer qualquer uma dessas coisas, apenas encaro os
presentes. Bem no meio da sala tem um urso maior do que eu. Não sei
como passaram com ele pela porta, mas sei que eu não consigo carregá-lo.
Algo nele me chama a atenção e caminho para dentro da sala.
— Isso tem que parar, Taylor, conversa com esse homem, pelo amor
de Deus! A cada dez minutos um entregador aperta o interfone com um
maldito urso.
Ignoro a voz da Julia e sigo na direção do ursão. Tem algo colorido no
braço dele e, assim que me aproximo, percebo que há um enfeite que eu
conheço bem.
Uma pulseira feita com miçangas azuis e douradas escrito: EU FUI
UM IDIOTA.
Sinto um leve calor no peito no momento que o interfone ecoa pela
casa. E a Julia solta um palavrão em voz alta.
Corro para a porta e olho para o entregador. Ele tem uma cara de
cansado e não consigo nem imaginar no inferno que está sendo o dia dele.
— Quem mandou entregar isso? — pergunto, recebendo três ursos de
pelúcia com corações azuis com o pedido de desculpa.
— Pela milésima vez, moça, os pedidos são anônimos.
Ele parece tão cansado que nem reparou que não fui eu quem tinha
atendido das outras vezes. Antes que ele saísse, ele ainda virou para trás e
soltou um suspiro.
— Não sei o que tá acontecendo, mas se você conseguir fazer isso
parar, eu vou te agradecer demais.
Ele se afasta e sobe na moto estacionada em frente à Kappa House.
Sinto pena dele. Olho para minhas amigas que estão de braços cruzados
esperando que eu faça alguma coisa.
Solto um suspiro, derrotada. Pego o celular e clico na conversa com o
Atlas. Começo a digitar a mensagem várias vezes, mas nenhuma delas
parece a correta. Por fim, decido deixar claro que as coisas entre a gente
não estão bem.
TAYLOR: ok, você já provou o seu ponto
TAYLOR: agora, dá pra parar de mandar essas merdas?
Olho para o celular pela décima vez nos últimos cinco minutos sem
acreditar que ele realmente não me mandou uma mísera mensagem.
— Da última vez que a gente se encontrou, você não parecia tão
ansiosa. — Meu pai diz, enquanto mantém os olhos fixos no campo. —
Você ainda não me contou o que aconteceu no dia que aquelas fotos saíram
no jornal.
Enfio o iPhone na minha bolsa no banco ao lado. Por causa do
aniversário de Elijah Lynch, todo o camarote foi reservado apenas para nós
dois. Apesar de ter achado uma medida exagerada no início, agora estou
aliviada por não ter ninguém por perto que pudesse ouvir nossa conversa.
— Não foi nada.
Ele desvia os olhos do campo quando um dos juízes marca uma falta.
— Você tá olhando mais pro celular do que pro jogo, minha filha.
Solto o ar de uma vez. Por mais que minha relação com meu pai seja
boa e ele não tenha surtado quando eu disse que gostava do Atlas, ainda
assim não me sinto confortável em dizer detalhes da minha vida amorosa
para ele.
— O Atlas fez uma burrada — solto de uma vez, como se falar rápido
fizesse eu me livrar logo daquela situação. — Agora ele tá tentando
consertar, mas tá fazendo tudo errado. De novo.
O jogo retoma e meu pai fica em silêncio. É como se ele já soubesse.
Chego a pensar que Elijah não escutou nada do que eu disse quando
ele solta:
— E você disse o que te incomodava? Pra ele ter uma direção do que
fazer?
Fico em silêncio ao notar a expectativa no ar. O quarterback faz um
lançamento pro wide receiver e, por mais que o jogador tenha sido
interceptado, ainda assim foi uma jogada que rendeu um bom avanço para o
time da casa. Os Chargers estão ganhando de 21 a 11 dos Falcons. Um
excelente presente de aniversário para o meu pai.
— Eu não precisava dizer como ele deveria pedir desculpas. — Cruzo
os braços. — É o mínimo que qualquer pessoa deve saber fazer.
Elijah ri do comentário e passa uma mão nos cabelos, ajustando o
corte casualmente despenteado.
— Não precisa mesmo, mas dependendo do que você disse quando
brigaram, pode dificultar um pouco as coisas. — Ele olha na minha direção.
— Foi uma briga muito feia?
— Foi. — Faço uma careta. — Ele mentiu pra mim. Então eu deixei
claro pra todo mundo que não queria ver ele nem pintado de ouro. O que
foi?
Meu pai começa a rir e me encara como se eu tivesse feito a piada do
ano.
— Isso faz tanto sentido, que idiota.
A cena que se desenrola na minha frente é inusitada. Desde o acidente
da minha mãe, não vejo meu pai rindo daquele jeito. Não sei se é o efeito da
garrafa de champagne que ele bebeu sozinho, se é a vitória fácil dos
Chargers ou se é algo que eu desconheço. Mas não é do feito de Elijah
Lynch rir tanto.
— Olha, se não for muito incômodo, eu adoraria saber porque as
minhas desgraças são tão engraçadas assim. — Espero ele se recompor e no
rosto há uma expressão de desculpas. — Eu pensei que você estava bem
com a ideia de me ver namorando o Atlas. Não precisava ficar tão feliz
agora que deu errado.
Ele balança as mãos se desculpando.
— Juro que não é nada disso, minha filha. Você vai entender depois.
— Ele dá um longo suspiro. — Mas olha só o que você acabou de me
contar. Você disse que não queria ver ele de jeito nenhum. Claro que ele não
vai aparecer.
— Não, você não conhece o Atlas. Ele não liga muito para o que as
pessoas falam. Faz as coisas do jeito dele independentemente do que o
mundo vai achar.
— É mesmo? Então por que você quer ficar com alguém que não se
importa com o que você fala ou pensa?
Meu pai volta a olhar para o campo a tempo de ver o touchdown.
27 a 11.
Olho os jogadores comemorando no telão, mas a minha mente está na
pergunta que ainda ecoa na minha mente. Aquilo não era verdade. Atlas
sempre ouve o que tenho para contar, guarda até os detalhes mais bobos do
que eu digo. A surpresa no meu aniversário, por exemplo, só podia ter sido
feita por alguém que se importa, sim, com o que digo e gosto.
Será que era por isso que ele ainda não tinha mandado nenhuma
mensagem? Estava respeitando o que eu disse mesmo quando eu queria que
ele não respeitasse?
— Olha, eu não sei exatamente o que aconteceu entre vocês que
gerou essa briga. — Ele volta a olhar para mim. — E se ele tiver sido um
canalha, serei o primeiro a querer aquele jogador mulherengo longe de
você. Mas sempre sou a favor do diálogo. Acho importante vocês
conversarem. Escute o que ele tem a dizer antes de tomar uma decisão
definitiva.
— Quem te disse que eu não ouvi ele?
Não sei se é impressão minha, mas os olhos do meu pai se abrem um
pouco ao ouvir a minha pergunta. Tem algo de estranho aqui.
— Ninguém precisa me dizer nada, Taylor. — Ele balança a cabeça e
abre um sorriso. — Vocês acham que a gente nunca foi jovem também, não
é? Deixa eu te contar um segredo: eu tinha uma vida antes de você nascer,
sabia?
Eu abro um sorriso e cutuco o peito dele com o indicador.
— Eu fiquei sabendo mesmo! Inclusive era o maior galinha!
— Ei, também não é pra tanto. Mais respeito.
Apesar da reprimenda, o sorriso ainda está estampado no rosto dele.
— Inclusive, teve uma vez que eu e sua mãe tivemos uma discussão
feia, por uma coisa tão boba!
Me inclino na direção dele. Adoro saber mais do passado dos dois. Já
que não tem como minha mãe me contar, essa tarefa fica toda a cargo do
meu pai.
— A gente tinha saído pra beber em um bar novo que tinha aberto em
Los Angeles. Hoje ele nem existe mais. Ainda era no início do nosso
namoro, estávamos nos conhecendo. Acabou que em um momento da noite,
eu me levantei para ir pegar uma nova rodada de bebida, mas a fila estava
muito grande. Quando voltei, uma mulher estava sentada no meu lugar e
conversava com Marine. De longe percebi que não tinha sido algo muito
legal, porque sua mãe estava cuspindo fogo pelos olhos. Você lembra como
ela ficava quando estava com raiva.
Assinto mais para fazer a história seguir em frente do que por me
lembrar exatamente do que meu pai quer dizer. Eu não me lembro de ter
visto minha mãe brava muitas vezes. Acho que meu pai percebe minha
indecisão e completa.
— Ela foi amenizando com o tempo, mas no início, eu andava na
linha pra não enfrentar a raiva dela. — Ele solta uma risada curta antes de
continuar. — Mas voltando, nessa noite, assim que me aproximei da mesa,
vi a mulher estranha se levantar e correr para fora do bar. Antes que eu me
sentasse, Marine já estava gritando comigo. Na hora, eu não entendi o que
estava acontecendo. Ela estava com raiva dizendo que eu a estava traindo
com aquela mulher desconhecida.
Prendo a respiração ao ouvir aquilo. Não fazia ideia que a história iria
para aquele caminho.
— E aí? Você tava?
— Claro que não! Nunca traí sua mãe. Eu tinha, sim, uma fama não
muito boa, mas no momento que começamos a sair sério, nunca mais beijei
nenhuma outra mulher. Até hoje.
Levo minhas mãos e seguro as dele.
— Você sabe que não tem nenhum problema você sair com outras
pessoas, né, pai? Já faz muito tempo.
Ele balança a cabeça.
— Não é sobre isso que estamos falando. Voltando à noite do bar.
Marine não me deu tempo de explicar nada. Saiu do bar e foi embora. Não
atendia minhas ligações. Antigamente não era fácil igual hoje para mandar
mensagens assim. Demorou mais de uma semana pra ela me ouvir.
— E o que aconteceu?
— Bom, aquela mulher, depois eu fui descobrir, era a mesma que
tinha me chantageado várias vezes nos meses anteriores. Queria dinheiro ou
diria para todo mundo que eu tinha um caso com ela. Eu tinha ligações
gravadas, mostrando as ameaças dela. Eu só não sabia que ela realmente
iria até o fim com aquela história.
Olho para o meu pai sem acreditar no que estou ouvindo. Ele percebe
minha surpresa e solta um suspiro.
— É mais comum do que você pensa nesse meio, minha filha.
Homens e mulheres aproveitadores. Essa foi só uma das pessoas. Por que
você acha que ela fugiu quando me aproximei no bar? Mesmo assim, o
estrago foi feito. Precisei mostrar a gravação da mulher, sua mãe
reconheceu a voz dela. Só assim para as coisas voltarem ao normal entre a
gente.
Fico em silêncio sem saber o que dizer. É estranho pensar que se
aquela briga não tivesse se resolvido eu não estaria aqui agora.
— É por isso que eu acho que você deveria dar uma chance pra ele se
explicar.
Balanço a cabeça.
— Não é a mesma coisa, pai. Ele mentiu pra mim.
Ele levantou os ombros.
— Quanto a isso, não sei o que dizer. O que eu sei é que você não
para de olhar para o celular esperando uma mensagem dele. Mas o que você
decidir, eu respeitarei e estarei do seu lado. — Ele empurra de leve o meu
ombro com o braço. — Até porque prefiro mil vezes alguém que não jogue
no time rival.
Solto um riso forçado.
— Nem vem, você já disse que estava de acordo. Não adianta mudar
de opinião agora.
— Isso quer dizer que vai conversar com ele?
Solto um suspiro. Não sei o que está acontecendo, meu pai nunca foi
de insistir tanto assim em algum assunto pessoal meu.
— Vou, pai. Acho que não vai fazer nenhum mal ouvir ele.
Como se fosse combinado, ouço o apito no campo. O jogo termina
com um placar elástico a favor dos Chargers. Meu pai comemora e me puxa
para um abraço. Logo depois, se levanta apressado.
— Espera aqui, tem uma coisa que você precisa ver. — Ele caminha
na direção da porta. — Não vai embora, eu já volto.
Encaro ele sem entender o que está acontecendo. Grito o nome dele,
mas Elijah já tem o celular na orelha e grita ordens no meio da torcida que
começa a esvaziar o estádio.
Frustrada, me jogo de volta no banco macio do camarote e olho para
o campo. Os jogadores já deixaram o gramado e os torcedores estão
subindo na direção das saídas do estádio.
Espero por dez minutos.
Vinte.
Quarenta.
Nada do meu pai aparecer. O que restava da luz do dia foi logo
substituído pela iluminação artificial do estádio. Está ficando tarde e ainda
preciso voltar para a universidade. Ligo para o meu pai várias vezes, mas
sempre cai na caixa postal. Olho para os contatos e vejo o nome de Atlas
Campbell.
Abro a conversa e a última mensagem que vejo é a que mandei
pedindo para ele parar de mandar os presentes.
Tá, talvez eu tenha sido um pouco rude demais.
Começo a digitar uma mensagem, mas a apago mil vezes. Por fim,
acho que chego a uma boa opção.
TAYLOR: acho que a gente precisa conversar
Toda vez que olho para Atlas com esse cabelo azul me vem uma
vontade gigantesca de rir. Ainda é difícil acreditar que meu namorado —
preciso me acostumar com essa palavra — teve tamanha coragem ou falta
de noção.
— Você acha que isso vai funcionar? — ele olha na minha direção e,
por mais que pareça tranquilo, sei que não quer ficar com o cabelo daquela
cor por muito tempo.
— Não sei, nunca fiz isso. — Apoio o celular na mesa e olho para o
homem de quase dois metros sentado em uma cadeira no meio do jardim.
Decidimos tentar aquele procedimento do lado de fora da casa do Orion,
para evitar manchar os móveis de azul.
— Tem uma coisa que eu não entendi até agora — começa Carlos.
Ele e Orion estão sentados em uma cadeira de jardim larga de dois lugares e
olham para a tela plana que foi instalada sobre o gramado. O jogo entre os
Golden Bears e os Wildcats segue disputado. Não são times que
acompanho, mas uma vitória dos Wildcats tiraria qualquer chance de
classificação dos Bruins. — Por que você pintou o cabelo de azul com uma
tinta permanente?
Tento conter a risada, mas um início dela escapa pelos meus lábios.
Atlas me olha ofendido.
— Eu não acredito que até você.
Me recomponho. Enquanto misturo a solução de shampoo e
bicarbonato, lanço um olhar de censura para o casal.
— Vocês podem parar de implicar com ele. Foi um gesto muito fofo.
Duvido que já tenham feito algo assim um para o outro.
Orion começa a rir.
— Olha, pois você está mais do que certa. Não fizemos, nem faremos.
— Ele segura a mão de Carlos. — Não é assim que nosso relacionamento
funciona. A gente prefere evitar fazer as cagadas em vez de tentar consertar
depois.
Atlas levanta a mão mostrando o dedo do meio para o irmão.
— Se bem que…
Todas as cabeças giram para Carlos. Orion tem as sobrancelhas
levantadas, um misto de preocupação e surpresa com o que o companheiro
quer dizer.
— Acho que não faria mal você aprender uma coisa ou outra com o
seu irmão, mi amor.
A gargalhada de Atlas ecoa no fim de tarde de Los Angeles. O
comentário pega todos de surpresa.
— Com meu irmão? O cara que pega mulheres uma atrás da outra e
deixa para que eu me despeça delas na manhã seguinte?
— Ei! — digo apontando o pincel sujo de bicarbonato. — Senti que
isso foi uma indireta.
— Você é a exceção, Taylor. — Meu cunhado responde. — Contra
todas as expectativas, Atlas parece ter um coração e você achou o caminho
até ele.
— E mesmo com esse histórico depondo contra ele — Carlos
continuou, determinado a provar o seu ponto. — Ele ainda se mostrou o
último romântico da Califórnia. Onde você me mandaria dezenas de ursos
só pra me pedir desculpas?
— Meu amor, eu não preciso te pedir desculpas. Qual foi a última vez
que pisei na bola com você? Eu não sou o Atlas.
Peço meu namorado para inclinar a cabeça azul para trás. Ele olha
para o alto e abre um sorriso ao me ver.
— Será que vocês podem me deixar de fora da DR? — ele reclama.
— Estou querendo ouvir o jogo.
Assim que ele termina de falar, soa o apito vindo da televisão. Os
Wildcats ganham por apenas dois pontos de diferença, acabando de vez
com qualquer chance de classificação para os Bruins.
— Que merda. — A voz do meu namorado é fria e sem a animação
de segundos atrás. — Bom, eu tentei.
Não sei muito o que dizer, mas por sorte, Orion sabe.
— Tentou? Você fez muito, tá doido? Olha de onde você tirou o time.
Quase um ano sem ganhar um jogo. Você trouxe ele de volta para a briga de
classificação e isso em pouquíssimo tempo.
— E de que adianta se não conseguiram se classificar? Deu na
mesma.
Sinto o peso daquelas palavras e percebo que Atlas está
completamente enganado.
— Isso não é verdade, meu bem — ajeito as pulseiras que escorrem
para perto da minha mão segurando o pincel. Hoje estou usando duas
especiais: LOVE IS LIKE A RAINBOW e TAYLOR&ATLAS. — Vai ter
uma mudança na postura do time agora.
Os olhares giram na minha direção, então continuo.
— No início do semestre, parecia que estávamos torcendo pra um
time que não tinha interesse em jogar, isso afetava todo mundo, até as
líderes de torcida. Pra que aprender uma coreografia rebuscada se o time
iria entrar em campo só pra ser derrotado? Depois da primeira vitória,
alguma coisa mudou. Tem vontade, pelo menos. Claro que ainda tem um
longo caminho pela frente, mas agora os Bruins estão jogando futebol.
Tenho certeza que as pessoas vão notar isso.
Meu namorado fica em silêncio, mas abre um sorriso lateral. Seus
olhos fixam nos meus e eu sinto vontade de parar tudo para beijar sua boca.
Como se pudesse ouvir a nossa conversa, um dos comentaristas entra
no assunto que estamos discutindo.
— Você sabe que tem uma torcida além da dos Golden que também
está sofrendo hoje, não sabe, Roger?
— Você fala dos Bruins?
— Eles mesmos. Esse resultado elimina matematicamente o time da
UCLA de tentar avançar esse ano. Ainda falta um jogo pela frente. Acho
que vai ser uma daquelas partidas difíceis de assistir.
O silêncio no jardim é cortado apenas pelo som suave do pincel
espalhando a mistura pelos cachos de Atlas. Eu não concordo com o
comentarista e, felizmente, não sou a única a pensar desse jeito.
— Não acho. Os Bruins dessa temporada vieram com sangue nos
olhos. Muitos até acham que foi graças ao treino com o jogador
profissional da NFL. Imagina que você é um estudante universitário e de
repente tem um Atlas Campbell te dizendo como se portar durante a
partida. Isso dá uma motivação gigantesca. Claro que há um limite humano
ao que pode ser feito. Os Bruins não tinham uma equipe tão forte, mas isso
não quer dizer que não foi um trabalho bem feito. Aposto que a UCLA
voltou para a mira dos investidores com essa temporada. Eles jogaram
bem.
— Bom, nisso eu estou com você. Nada tira da minha cabeça que
aquela partida contra os Hurricanes foi o melhor jogo da NCAA. Eles
perderam, mas entregaram garra, empenho e técnica também. Não perdeu
em nada para as partidas da NFL. Certeza que tem um dedo do Atlas nisso
aí.
Abro um sorriso e encosto de leve o pincel na ponta do nariz do meu
namorado, que faz uma careta.
— Tá vendo? Eu entendo mais de futebol que você.
Me aproximo e encosto os meus lábios de leve nos dele no melhor
estilo beijo homem-aranha.
— Na próxima vez que eu for treinar um time, vou te levar junto
então.
Abro um sorriso. Terminei o meu trabalho e agora precisamos esperar
alguns minutos para o bicarbonato fazer efeito. Sei que não vai ser o
suficiente para remover toda a tinta, mas vai ajudar a diminuir a intensidade
da cor. Já é um começo.
Eu tinha insistido para ele pintar o cabelo de volta para o loiro, mas
Atlas foi irredutível. Com o pouco que entendo de colorimetria, também
acho que isso não daria certo.
— E falando em Atlas Campbell, — a tela da TV muda e mostra a
foto de um estádio escuro com apenas um telão mostrando o mascote dos
Chargers lendo o pedido de desculpas. — Parece que o left tackle dos
Pythons andou movimentando as redes de fofocas nos últimos dias.
— Que merda, o Zade vai me matar.
Orion se ajeita na cadeira. Por mais que eles soubessem que Atlas
tinha me pedido desculpas, ainda não sabiam como ele tinha feito. Claro
que eu sabia que uma hora ou outra aquilo ia vazar na mídia, mas não sabia
que seria tão rápido.
— Desliga a TV, Orion.
Atlas se levanta da cadeira e corre para pegar o controle, mas seu
irmão é mais rápido.
— Nem pensar. Agora que chegou a parte boa?
Atlas bufa, mas não oferece resistência. Volta a se sentar, os olhos
fixos na TV.
— Ninguém esperava por um pedido de desculpas desse. Não
bastasse se apaixonar pela filha de um time rival, o astro dos Pythons
ainda usou o estádio para uma declaração de amor. Imagine o trabalho que
a equipe de relações públicas dele vai ter agora.
Por mais que eu saiba que aquilo vai ter uma repercussão grande que
pode afetar a imagem do Atlas, não consigo deixar de me sentir
privilegiada. Agora o país inteiro sabe que o meu namorado fez aquilo por
mim.
Esqueça corte de cabelo, ou renovação de guarda-roupa, isso sim eu
chamo de injeção de autoestima.
Pelo menos não chegaram a mostrar a parte sobre o piercing. A
internet não está preparada para ter essa informação.
— Você tá gostando, né, peste?
Só então percebo que Atlas observava o enorme sorriso no meu rosto
enquanto vejo a TV.
— Um pouco. — Abro ainda mais o sorriso. — Mentira, eu tô
adorando isso.
Me aproximo e beijo os lábios dele.
— Agora todo mundo sabe que a gente tá junto — digo, e sinto o
peito aquecer. É como se nada mais existisse. Só Atlas Campbell e o cabelo
azul que ele pintou pra provar que me amava.
Orion faz uma careta pra gente.
— Vocês são nojentos — zomba, levantando-se da cadeira assim que
o programa de esportes termina. — Eu e o Carlos vamos buscar uma pizza
pro almoço, vocês querem?
Atlas assente, com cuidado para que a mistura no seu cabelo não
escorra.
— Não destruam minha casa enquanto isso — Orion pede. — Vocês
sabem muito bem fazendo o que.
Carlos ri da piada infame de Orion e eles dão as mãos, indo para
dentro e nos abandonando nos jardins.
Eu ouço a porta principal da casa se trancar e dou um tapinha na nuca
de Atlas.
— Tá na hora de lavar o cabelo — digo, já rindo, porque não faço
ideia de como isso vai ficar.
— Ainda vai namorar comigo se eu ficar careca?
— Sim, acho super sexy — eu brinco enquanto ele se levanta. —
Toda mulher ama um homem calvo.
— Careca é diferente de calvo.
— Se faz bem pro seu ego pensar assim — apoio as mãos nas suas
costas, empurrando seu corpo em direção ao chuveiro da piscina. Estou só
fingindo que meu apoio faz alguma diferença, porque Atlas é muito maior
que eu. — Mas, pensando bem, se você ficasse careca, teria bem menos
concorrência…
Ele ri.
— Olha só quem encarnou a namorada ciumenta.
— Nem vem, você me deu corda. Disse com todas as letras que era
meu, então agora você é.
— Quer que eu use uma coleira com seu nome também?
Eu aponto para as pulseiras no seu pulso.
— Você já usa — zombo. — Desde o dia que me conheceu. Foi um
sinal, né? Você tava destinado a se apaixonar por mim desde o começo —
murmuro, convencida.
— Ai, meu Deus, eu te dei corda demais mesmo.
Deixo uma risada escapar quando finalmente chegamos no chuveiro.
Eu ainda fico impressionada vendo como a casa de Orion é grande: embora
só tenha um andar, o jardim e a área das piscinas é enorme o suficiente para
fazer uma festa com mais de cem convidados. Me pergunto como ele paga
todo esse luxo sendo professor da UCLA. Sei que ele deve ganhar bem, mas
o salário não é nenhum absurdo. Não deixo de pensar que, talvez, Atlas
tenha uma parte nisso. Eu não tenho irmãos, mas se eu ganhasse tão bem
quanto um jogador de futebol — porque não gosto de esbanjar com o
dinheiro do meu pai — com certeza compraria uma casa de praia pra Violet.
Quer dizer, não sei se ela aceitaria. Talvez sim, depois de um longo discurso
sobre privilégios e capitalismo.
— No que você tá pensando? — ele pergunta, percebendo meu
silêncio repentino.
— Na Violet — comento, sem entrar em muitos detalhes — Foi… um
pensamento que veio na minha cabeça, só. Ela volta do México em janeiro
— é engraçado imaginar como vai ser ver Atlas e Violet juntos. Minha
melhor amiga é um doce de pessoa, mas tenho certeza que xingaria o Atlas
até a última geração na primeira das suas piadinhas ácidas, além de
problematizar todo o dinheiro que ele recebe. — Você vai adorar ela —
digo, e eu duvido, mas sei que ele vai se esforçar para fingir que sim. Por
via das dúvidas, vou jogar as cartas do tarot mais tarde e descobrir.
Atlas assente. Sua expressão é curiosa, mas ele não faz mais
perguntas. Entra embaixo do chuveiro e abre a torneira, fazendo uma careta
ao sentir a água gelada molhando a pele. Como é uma ducha de piscina, não
tem a opção de água quente.
A mistura que passei no seu cabelo escorre e um rastro de água
azulada desce por seu corpo. Faço uma careta ao notar que não foi
suficiente pra tirar a tinta, nem perto disso. O azul escuro se transformou
em um tom bonito de azul turquesa.
— É, parece que você vai continuar fazendo cosplay de avatar por um
tempo — declaro, sem conter uma risada. — Ainda bem que usam
capacetes nos jogos, você ia virar um ponto de referência azul no meio do
campo.
Atlas encara as mãos, agora sujas de azul.
— Na próxima eu faço uma tatuagem ao invés de pintar o cabelo.
O pior é que eu não duvido que ele faria. Atlas e Noção são palavras
que só andam juntas quando existe um “não tem” entre elas.
— E vai ter uma próxima, senhor Atlas Campbell?
— Não, não — ele se corrige, rindo. — Sem próximas.
— Eu até ia dizer que sinto um pouquinho de pena, mas não sinto.
— Peste — Atlas espirra um pouco da água azulada em mim. — Eu
vou pintar o seu cabelo de azul enquanto estiver dormindo.
— O tiro vai sair pela culatra — dou de ombros. — Eu vou virar uma
grande gostosa alternativa e todos os caras do curso de teatro vão querer
sair comigo.
— E aí eu vou bater em todos.
— E aí vão colocar uma foto sua na portaria da UCLA com uma
placa enorme de proibida a entrada.
— Eu devia ter arranjado uma namorada menos maquiavélica.
— Tá me chamando muito de namorada.
— Sim — Atlas me encara, um sorriso ladino nos lábios. O cabelo
molhado cai pela testa e um rastro azul escorre por suas bochechas. Eu sinto
meu coração disparar pela forma como ele me olha, tão intensamente. —
Eu gosto.
Antes que eu possa responder, Atlas me puxa para debaixo do
chuveiro, arrancando um grito meu. Apesar do sol e o céu azul, estamos no
inverno, e a água da ducha é bem mais fria do que eu esperava. É irônico
que a gente tenha vivido um amor de verão em plena estação mais fria do
ano.
— Caralho! — eu reclamo, suas mãos apoiadas na minha cintura. Em
segundos minha blusa e meu short estão completamente ensopados, minha
blusa branca num tom esquisito e cinzento de azul. — Tá fria pra caramba.
Atlas acha graça da minha reação.
— Eu posso te esquentar.
— Que cantada horrorosa — zombo, mas fico na ponta dos pés para
alcançar a sua boca, empurrando-o levemente contra a parede onde fica a
ducha. — Acha que seu irmão vai demorar? — pergunto, afastando o rosto
apenas alguns milímetros. Atlas sabe muito bem o motivo da minha
pergunta.
— Vamos torcer pra ter alguém comprando umas vinte pizzas na
frente dele.
Eu abro um sorriso para Atlas e acho que nunca fiquei tão feliz com o
caos que a simples chegada de dezembro causa no comércio. As mãos do
meu namorado — eu ainda não me acostumei com o termo e um arrepio
cruza meu corpo toda vez que penso nisso — encontram minha bunda e,
depois de um longo apertão, sobem até os meus quadris. Mesmo com o
ombro não estando cem por cento recuperado, ele me levanta do chão numa
facilidade assustadora, invertendo nossas posições, me prensando contra a
parede. A água gelada do chuveiro continua respingando em nossos corpos,
mas eu quase não sinto frio com Atlas tão perto. Minhas pernas envolvem o
seu quadril e eu consigo sentir seu pau latejando dentro da bermuda,
ansioso pra se libertar.
Meus dedos passam por seu tronco coberto de tatuagens e eu arranho
sua pele enquanto ele me beija, nossas línguas em um embate silencioso.
Ele se afasta por um momento, aproxima o corpo ainda mais do meu e
aperta minha cintura com mais força, me carregando para fora da ducha.
Uma risada escapa da minha garganta enquanto eu apoio as mãos ao redor
do seu pescoço com medo de despencar. Isso não tem nenhuma chance de
acontecer, considerando o quão insignificante é meu peso perto dos quase
dois metros de altura de Atlas.
— Eles disseram pra gente não destruir a casa — lembro, sem saber
pra onde ele pretende me levar. A água que escorre dos nossos corpos
forma uma trilha azulada no gramado bem cuidado.
— Tecnicamente, estamos fora da casa.
Eu rio da sua lógica sem lógica.
Atlas me senta em uma das mesinhas de ferro do jardim, empurrando
as duas cadeiras que a acompanham para longe. Estamos perto de um
canteiro de bromélias e, deitando o corpo na mesa, consigo ver a estátua de
algum deus grego que não lembro o nome, mas enfeita os jardins de Orion
desde a primeira vez que vim aqui. Antes que eu possa pensar nisso, uma
das mãos de Atlas se apoia na minha nuca e ele me beija mais uma vez,
puxando meu cabelo com força o bastante para arrancar um gemido meu.
O vento frio faz minha pele molhada arrepiar, mas eu não poderia me
sentir mais quente. É como se uma pequena combustão espontânea
acontecesse cada vez que o toque de Atlas passa pelo meu corpo. Uma de
suas mãos invade o tecido da minha camisa encharcada e seus dedos
brincam com os bicos duros dos meus seios, despertando meus suspiros. Ele
para de me beijar apenas tempo o suficiente para tirar a minha camiseta e
jogar em um canto qualquer do jardim. Sua boca desce, dos meus lábios
para o meu pescoço, do meu pescoço para as minhas clavículas e das
clavículas para os seios. Ele lambe, chupa e morde minha pele e eu sinto
minha boceta pulsar, cada vez mais molhada.
Sua boca chega até minha barriga. Atlas deixa uma trilha de mordidas
contornando minha pele, do umbigo até o início da virilha. Ele abre um
pouco mais minhas pernas e se ajoelha na frente da mesa, jogando o cabelo
molhado para trás, numa tentativa de se livrar dos fios azuis que caem nos
olhos. Se existe um paraíso, eu tenho certeza que a visão é parecida com
essa, porque eu poderia gozar só de olhar pra ele, ajoelhado pra mim.
Atlas puxa o meu short e a minha calcinha ao mesmo tempo e as
peças têm o mesmo destino da minha camiseta. Ele beija o interior das
minhas coxas sucessivas vezes enquanto seus dedos dedilham a minha
panturrilha. Atlas ameaça chegar perto da minha boceta mas nunca chega lá
de fato. A expectativa me faz querer gritar.
Eu não seguro um gemido quando sua língua, finalmente, toca meu
clitóris. É como se meu corpo estivesse derretendo aos poucos em cima
daquela mesa. Minha mão avança sob o seu cabelo molhado e eu puxo os
fios, fazendo-o suspirar contra a minha boceta. Eu rebolo suavemente
contra a sua boca, sem conseguir esconder a minha ansiedade em tê-lo
dentro de mim.
Atlas desliza uma das mãos pelo meu corpo e aperta meu seio com
força. Sua língua continua explorando meu clitóris enquanto ele enfia dois
dedos em mim. Meu corpo inteiro pulsa, o sol leve aquece a minha pele e
eu perco por completo qualquer linha de raciocínio, porque Atlas Campbell
me chupando é tudo que importa.
O primeiro orgasmo chega rápido. Minhas costas arqueiam contra a
mesa gelada de ferro e meu corpo treme contra a boca do meu namorado,
minha garganta arranhando quando gemidos altos me escapam. Eu torço
para que os vizinhos não estejam em casa ou estejam entretidos o suficiente
para nos ouvir. Atlas se levanta do chão. Seus joelhos estão sujos de grama
e ele me encara por um segundo antes de me beijar, preenchendo meus
lábios com meu próprio gosto.
Minhas mãos ansiosas correm por sua bermuda, puxando-a para
baixo, num gesto sem jeito pela minha posição. Ele percebe a minha
dificuldade e se afasta para retirar a peça, que cai sob os seus pés, junto com
a cueca.
Eu me perco por alguns segundos, observando seu pau. A argola
prateada do piercing Albert cintila no sol fraco do fim de tarde e minha
boceta escorre, denunciando que um orgasmo não chegou nem perto de ser
suficiente.
— Você tá quase babando, linda — Atlas me dá um sorriso muito
descarado.
Levanto as costas da mesa, me sentando mais na ponta.
— Eu tô babando — respondo, e meus dedos contornam seu pau,
colocando-o na minha entrada. — De outro jeito.
Atlas solta um suspiro quando sente minha boceta molhada contra ele.
Aperta minha cintura com as mãos e puxa meus quadris para frente mas,
diferente do que eu gostaria, não se coloca dentro de mim. Ele segura o pau
e esfrega meu clitóris com a cabeça, o piercing gelado fazendo a área
sensível pulsar ainda mais.
— Atlas — reclamo, e minha voz é quase um choramingo. — Não me
faça implorar.
— Por quê? — ele ri, e o som faz um arrepio cruzar minha nuca. —
Gosto quando você implora.
Ele continua me masturbando com movimentos lentos, com tanta
calma que nem parece que Orion e Carlos podem voltar a qualquer
segundo. Atlas desce um pouco, colocando o pau na minha entrada. Ele
avança pouquíssimo, me provocando.
— Vai, linda, me diz o que você quer.
Atlas ameaça entrar mais um pouco e um suspiro sai dos meus lábios.
— Deixa de ser sádico — protesto, mas não estou em condições de
reclamar. — Eu quero… — ele entra mais um pouco e eu perco o fôlego
por um instante. — Você. Por favor.
Ele afasta o pau da minha entrada mas eu não tenho tempo para
reclamar. Atlas coloca uma das mãos na minha boceta, sentindo toda a
lubrificação que escorre por entre as minhas pernas.
— Eu fico louco de saber que eu te deixo assim — ele murmura. —
Desce da mesa.
Eu o encaro, sem entender.
— O que?
— Desce da mesa — Atlas repete, sua boca encontrando meu
pescoço. Uma nova onda de arrepios percorre a minha pele. — Quero te
comer de quatro.
— No meio da grama?
Eu rio, porque a ideia me parece tão absurda quanto ótima. Eu saio da
mesa antes que ele possa responder e me abaixo, sentindo a grama quente
tocar minha pele. Torço para que Orion e Carlos realmente não cheguem,
porque seria impossível disfarçar o que estamos fazendo nessa posição.
Atlas passa a mão pela minha bunda, seu pau tocando levemente
minha pele. Ele dá um tapa na região e um gemido me escapa quando sinto
o ardor e a pele quente. Eu empino mais a bunda e me esfrego contra ele,
dando um sorriso satisfeito quando, finalmente, Atlas entra.
Sentir a pressão do seu pau enorme contra mim é sempre uma
experiência, principalmente quando seus dedos apertam a minha bunda com
força o bastante para deixar uma marca. Atlas embrenha uma das mãos no
meu cabelo, puxando-o para trás enquanto eu rebolo. Meu namorado
investe contra mim num ritmo cada vez mais rápido — e cada dia mais
tenho certeza que a melhor parte de namorar um atleta é que eles não
perdem o fôlego fácil — e eu sinto um filete de suor escorrer por minhas
costas, cada célula do meu corpo completamente entregue ao momento. Os
meus gemidos se misturam aos dele e eu não consigo entender quem se
entregou ao gozo primeiro, mas o meu orgasmo me derruba e Atlas precisa
segurar os meus quadris para que eu não despenque na grama.
Dizem que os casais perdem o interesse no sexo a medida que o
tempo passa, mas sinto que as coisas entre mim e Atlas só ficam mais
intensas.
— A gente precisa de outra ducha — Atlas comenta, me puxando
para cima. Eu sinto seu gozo quente escorrer pelas minhas pernas e isso me
dá tesão o suficiente para começar um segundo round, mas eu me controlo.
Eu tiro os pedaços de grama que grudaram no meu braço e nas
minhas pernas e nós voltamos para o chuveiro, a água gelada de antes agora
sendo muito bem-vinda. Meus braços contornam o corpo de Atlas e eu o
puxo para um abraço enquanto nossas peles molham. Ficando na ponta dos
pés, consigo ouvir as batidas do seu coração. É como se ele estivesse
pensando nisso também, porque dá um beijo na minha testa enquanto me
aninha em seus braços.
Sinto vontade de chorar, mas é um choro bom, porque nunca me senti
tão amada, tão pertencente, tão em casa e tão… sã? Essa última é a mais
irônica de todas.
— Eu te amo — murmuro, fechando os olhos e me limitando a sentir
o momento. A água fria, a brisa, seus batimentos cardíacos, sua pele quente.
— Eu também — Atlas responde, me apertando contra ele com mais
força, o que me faz rir. — Pra caralho.
Capítulo 40 - Atlas Campbell
(ou: jogador aprende que se você pinta um cabelo loiro de azul, ele
vai ser azul pra sempre)
∞∞∞
— Você vai mandar isso pra sua namorada — Zade balança um maço
de folhas na minha frente, enquanto caminhamos em direção à sala de
conferências do The Nest. — E eu quero todas as páginas assinadas até
amanhã. Tem uma cópia no seu e-mail.
Eu ergo uma das mãos para pegar o maço, mas ele não me entrega.
Solto um suspiro, curioso.
— O que é?
— Termos de confidencialidade — explica. — Elijah Lynch também
mandou um pra você e nossos advogados estão analisando — ele continua
andando num ritmo apressado, ajeitando os botões da camisa social
enquanto caminha. — É só pra garantir que vocês não vazem informações
de um time pro outro e vice-versa. A única forma que encontramos de
proteger os Pythons e os Chargers foi uma multa altíssima por quebra de
contrato.
Eu assinto, embora pense que isso não passa de uma grande besteira.
Mesmo que Taylor seja filha do maior acionista dos Chargers e torcedora
deles, ela nunca faria qualquer coisa pra me prejudicar. Sei que Zade vai
arrancar os meus dois rins fora se eu disser que não precisamos disso
usando como pretexto a minha confiança nela, então não digo. Reconheço
que esgotei a minha cota de gracinhas esse ano — felizmente, estamos em
dezembro.
A nova assistente de Zade — qual o nome dela? Renata, Roberta…
Rebecca! — está na porta da sala de conferências, com um sorriso, uma
prancheta e um boné dos Pythons nas mãos. Ela me entrega o boné assim
que eu passo e eu entendo de imediato que estão tentando esconder o meu
desastre capilar. Acho graça.
— Repassando — Rebecca passa os olhos por mim, depois por Zade.
— Só precisa dizer que você e Taylor se conheceram melhor enquanto
estava treinando os Bruins e que agora estão oficialmente namorando. Que
ambos os times estão traçando estratégias internas para evitar que isso seja
um problema dentro das equipes e que você volta para os campos em
janeiro. Se tiver alguma pergunta polêmica, tente responder com calma e
seriedade.
— Seriedade é meu segundo nome.
— Olha lá, garoto — Zade me repreende. No fundo, sei que ele está
feliz porque vou voltar a jogar — Nessa altura do campeonato, era pra eu
estar com 50% do seu salário.
Eu rio, lembrando que tinha prometido metade do meu salário caso
acontecesse alguma coisa entre eu e a Taylor.
— Confia, Zade, vou ficar na linha dessa vez.
— Acho bom.
Eu dou um último sorriso pra ele, visto o boné de cobra na cabeça e
entro na sala. Tem duas câmeras enormes nas extremidades e dez jornalistas
esperando por mim, sentados em pontos diferentes do espaço.
Eu me sento na mesa principal, ligando o microfone.
Rebecca entra logo em seguida. Normalmente, fazemos essas
coletivas de imprensa por conta própria, mas sei que depois de tudo que
aconteceu, todos estão com medo que eu fale uma coisa torta e piore ainda
mais uma situação delicada. Tenho certeza que os torcedores dos Pythons e
dos Chargers são os maiores haters do meu namoro no momento.
— Boa tarde — a primeira repórter para quem Rebecca aponta
começa. Eu respondo o cumprimento com um aceno de cabeça. — Bom,
Atlas, nas últimas semanas fomos bombardeados com muitas fotos suas
junto com a herdeira dos Chargers. Em um primeiro momento a sua agência
negou os boatos de um possível relacionamento, esse posicionamento se
manteve?
— Não — começo. — Minha agência tomou essa posição na tentativa
de preservar minha vida privada. Eu e Taylor nos conhecemos quando eu
estava treinando os Bruins da UCLA em Santa Mônica, mas realmente não
estávamos namorando quando os boatos começaram. Agora, sim, nós
somos um casal oficial.
Os repórteres tomam nota. No fundo da sala, Rebecca faz um joinha
pra mim, indicando que foi uma boa resposta.
— Vocês não têm medo que um relacionamento entre um jogador dos
Pythons e a filha do time rival cause um desconforto nas duas principais
equipes da Califórnia? — outro jornalista emenda.
— Sim, nós sabíamos que seria uma questão que teríamos que lidar
quando decidimos assumir o namoro. Os dois times estão traçando
estratégias internas para que isso não afete nossas vidas em campo.
Infelizmente não temos como escolher por quem vamos nos apaixonar,
então agora é lidar com isso.
— Taylor Lynch foi vista beijando o quarterback dos Bruins em um
dos jogos da liga universitária — o mesmo jornalista prossegue. — Acha
que esse conflito de interesses entre você e o QB pode ter interferido na
forma como auxiliou o treinador do time?
Rebecca sua frio nos fundos da sala.
— Não — respondo, sucinto. — Eu não deixo a minha vida pessoal
interferir na minha vida profissional, como tem que ser.
Eu torço para que ele não saiba que dei uma capacetada na cara do
Hunter, ou as coisas vão ficar estranhas.
Felizmente, ele não sabe.
— Certo — continua. — E você acha que os resultados com os
Bruins foram satisfatórios?
— Sim — assinto. — Eles não avançaram como eu desejava que
acontecesse, mas todos notaram a mudança no posicionamento do time nos
últimos meses — a minha resposta é só um copia e cola do que Taylor me
disse um dia antes, mas ninguém aqui vai saber. — Todos ali têm muito
potencial de fazer coisas grandes. Eu espero genuinamente que façam.
— E falando em coisas grandes — é outro jornalista quem toma a
dianteira. — Já temos uma resposta oficial de quando teremos Atlas
Campbell em campo de novo?
Eu assinto, um segundo de silêncio seguindo minha fala.
— Sim. O meu médico me liberou hoje. Vou estar de volta em
janeiro, durante os playoffs.
O jornalista assente, tomando nota.
— Dá pra dizer que você está entrando em uma nova fase da sua
carreira — uma outra repórter começa. — Imagino que esteja deixando a
sua personalidade festeira de lado agora que entrou em um relacionamento
— eu assinto, então ela continua. — E quais são os planos pro futuro agora?
— O meu foco no momento é terminar as últimas sessões de
fisioterapia e voltar com tudo pro Super Bowl. Os Pythons estão tendo uma
ótima temporada e não acho que o sonho de ganhar o troféu esteja tão
distante assim.
— Como a minha colega disse — o mesmo jornalista de antes
recapitula. — Você tem essa personalidade festeira. Não tem medo que o
relacionamento com a herdeira dos Chargers seja só coisa do momento?
Porque vocês estão dando muito trabalho pra assessoria dos dois times.
— A mídia nos apelidou de Romeu e Julieta, não é? — eu zombo. —
A única opção é ser pra sempre.
— Bom — Rebecca dá um sorriso nervoso, notando a minha falta de
paciência. — Muito obrigada por terem vindo, nós encerramos por hoje.
Eu sorrio para os repórteres e me levanto.
Zade está na porta, esperando por mim.
— Foi ótimo, Zade — digo, antes que ele me repreenda pela última
gracinha. Sua expressão não é de fúria completa, então não foi dessa vez
que eu consegui tirar esse homem do sério — Tenho certeza que as outras
equipes vão adorar saber que eu estou de volta.
Capítulo 41 - Taylor Lynch
— Ok, eu vou quebrar logo o gelo: essa é uma cena que eu não
esperava ver tão cedo — Atlas comenta e percebo uma leve nota de
nervosismo na voz dele.
Abro um sorriso nervoso e seguro a mão de Atlas por debaixo da
mesa. Estamos sentados no Sparrow Italia, um restaurante sofisticado que
tem por missão trazer um pedaço da Itália para o meio de Los Angeles.
Dessa vez, como meu pai deixou a meu critério a escolha do local, escolhi
um lugar com mais opções vegetarianas. Chega de ficar beliscando petiscos
em restaurantes focados em frutos do mar.
Olho para o meu pai. Ele está com um terno azul escuro quase preto,
a gravata cinza mantendo uma formalidade desnecessária para a ocasião.
Enquanto isso, Atlas usa uma calça jeans escura e um moletom. Parece uma
roupa simples, mas eu sei que esse pedaço de tecido não custou menos que
uns dez mil dólares. De toda forma, os dois não podiam ser mais diferentes
um do outro. Ou pelo menos, na aparência, já que o passado galinha do meu
pai mostra que os dois se parecem muito mais do que eu gostaria.
Freud explica.
— Eu não vejo nada demais. — Tento colocar uma tranquilidade que
não sinto por completo. — É apenas um jantar onde meu namorado conhece
o meu pai.
— Nós já nos conhecemos — Elijah é curto e diz com uma meia voz
enquanto lê o cardápio.
Encontro ali uma deixa para estender a conversa.
— Eu nunca entendi muito bem como foi isso — digo enquanto passo
os olhos pelas opções. Decido pedir focaccia de ervas de entrada e um
Sparrow Rigatoni, uma massa com o molho especial da casa. — Me contem
como aconteceu.
Há um olhar entre os dois homens da minha vida.
Meu pai não parece muito confortável em estar ali, mas depois de
muita chantagem emocional no telefone dizendo que ele não se importava
com a minha vida, consegui resolver a questão.
— Eu precisava de um jeito de alugar o estádio — Atlas começa. —
Não consegui fazer isso online, então a última opção que eu tive era
conversar direto com seu pai.
Eu sei que eu não deveria estar gostando disso, mas estou me
controlando para não rir ao ver o quanto Atlas está se policiando para não
falar nada de errado.
— O que não foi uma ideia inteligente — meu pai continua. Lanço
uma careta na direção dele, mas ele apenas levanta os ombros. — O que
foi? É a verdade. Sou o acionista majoritário do time, não tenho nenhuma
relação com a administração do estádio.
— Então como vocês conseguiram alugar o espaço?
— Seu pai me ajudou. Ele entrou em contato com as pessoas certas,
depois foi só acertar os valores.
— Eu cobrei uns favores, nada extraordinário. Acontece o tempo todo
no mundo dos negócios.
Abro um sorriso ao entender o que ele quer dizer.
— Deixa eu ver se eu entendi — começo. — Você saiu da sua zona
de conforto para ajudar o Atlas, alguém que você tinha me pedido para ficar
longe, a fazer uma surpresa pra mim?
Há um pequeno sorriso no rosto do Atlas e sei que ele está se
controlando para não soltar alguma gracinha. Imagino como será a relação
entre esses dois daqui a uns meses, quando eles se conhecerem melhor.
— Não é bem assim, filha. — Essa parece uma resposta suficiente
para ele, mas não para mim.
— Então me explica como é.
Sei que meu pai está desconfortável quando ele cruza os dedos das
duas mãos as apoiando em cima da mesa. Ele sempre faz esse gesto para
evitar batucar os dedos quando fica nervoso. Depois de um longo suspiro,
continua.
— Você estava triste e talvez ele — aponta a cabeça na direção do
meu namorado — pudesse ajudar. Não tem nada a ver com o Atlas. Tem a
ver com você. Fiz o que qualquer pai decente faria.
— Que fofo! Você podia sair mais vezes dessa skin de cara durão. —
Olho para Atlas. — Ele só tem essa pose, mas por dentro tem um coração
imenso.
— Taylor…
— É verdade! — Decido que esse jantar precisa de um pouco mais de
fofoca para fazer os dois se soltarem. — Isso, meu amor, porque você não
viu como ele ficou do seu lado quando conversamos no último jogo dos
Charges.
— Não fiquei do lado de ninguém. Taylor, eu já te falei dessa mania
de aumentar as coisas.
Começo a rir, e sou acompanhada pela risada baixa, ainda contida, de
Atlas.
— Tá, você não tomou nenhum partido, mas a conversa com você me
ajudou a entender muitas coisas. Então, indiretamente, você teve um papel,
sim, para estarmos aqui nesse jantar agora.
Meu pai ajeita a postura na cadeira. Não sei se ele gosta muito de
ouvir aquilo, mas acaba disfarçando bem.
A focaccia chega com um cheiro delicioso que faz minha boca
salivar. Um vinho seco é servido a meu pai enquanto Atlas toma uma
cerveja preta. Eu preciso me contentar com um suco de laranja sem graça.
Não vejo a hora de fazer 21 anos.
— O que eu quero dizer com isso tudo — decido concluir esse
assunto. Também não sou completamente sem noção, se eu insistir muito,
corro o risco de deixar meu pai com raiva e arruinar o jantar. — É que
vocês dois são muito mais parecidos do que imaginam. Com o tempo vão
perceber isso.
Fazendo uma leitura perfeita da situação, Atlas levanta o seu copo de
cerveja em um brinde.
— A uma boa convivência entre nós.
Meu pai lança um olhar de canto de olho para Atlas, mas não
responde. Levanta a taça em um brinde silencioso.
Há um silêncio que se estende por um tempo maior do que o normal.
Percebo então que o que eu imaginava se realiza: só vai ter conversa nessa
mesa se eu puxar assunto.
Por sorte eu tenho uma arma secreta. E chegou a hora de usá-la.
— Bela partida dos Charges contra os Falcons no último fim de
semana, hein?
Pronto. Era só isso que precisava. Meu pai desata a falar sobre a
vitória que garantiu o time dele nos playoffs da NFL. Atlas, que não é
segredo para ninguém o quanto ama aquele assunto, entra na conversa
falando de como o time de Atlanta não teve a menor chance contra o de Los
Angeles.
Os pratos principais são entregues enquanto o assunto se estende por
intermináveis minutos. Também participo dando as minhas opiniões, mas a
maior parte da conversa vem dos dois obcecados por futebol na minha
frente. Eles falam sobre os desempenhos de cada time na temporada, dos
possíveis wild cards[17] que podem oferecer mais perigo e do retorno de
Atlas ao time após a lesão. Percebo que aos poucos, meu pai começa a olhar
na direção do meu namorado com menos reserva. Finalmente consigo ficar
tranquila sem imaginar um desastre envolvendo os dois se atracando no
meio do restaurante.
A conversa segue para os playoffs e faço um comentário que eu
percebo que ambos estão evitando.
— Tanto os Charges quanto os Pythons estão cogitados como
favoritos em cada liga. Já pensou um Super Bowl entre os dois?
Atlas e Elijah se olham por vários segundos. Não sei se foi a longa
conversa sobre o esporte ou o álcool que ingeriram a noite inteira, mas um
sorriso aparece no rosto do meu pai e logo desperta uma reação parecida
nos lábios de Atlas.
— Mal posso esperar por esse momento — meu pai levanta o dedo e
aponta para meu namorado. — Dá um jeito de levar seu time até lá. Nada
de ficar com medo do meu time.
Sinto o peito aquecer e os olhos marejarem. Já cansei de ver aquele
gesto sendo direcionado a mim ao longo dos anos. É a forma de Elijah
mostrar que se importa. Em outras palavras. É o jeito durão dele de dizer
que Atlas é bem-vindo à nossa família.
Meu namorado leva a mão à testa no melhor estilo militar.
— Pode deixar, chefe. Mas saiba que não vamos pegar leve por
enfrentar o time do meu sogro.
— Assim que eu gosto — ele responde. — Desse jeito não vou sentir
culpa nenhuma quando os Chargers levantarem a taça em fevereiro.
Me junto às risadas na mesa enquanto revezo o olhar entre os dois
homens da minha vida em sua disputa de ego. Eu não poderia desejar que o
jantar terminasse de uma forma melhor.
Valeu a pena passar por todo o inferno que foi esse semestre para
chegar no ponto que estamos.
Capítulo 42 - Atlas Campbell
FIM
Agradecimentos
[1]
E até agora eu tinha jurado a mim mesma/ que estava satisfeita com a solidão/ Porque nada disso
nunca valeu o risco/ Bem, você é a única exceção
[2]
Vou descobrir o que você quer/ Ser essa garota por um mês
[3]
National Collegiate Athletic Association - Associação Atlética Universitária Nacional. É a
competição universitária de futebol americano.
[4]
Quem é Taylor Lynch de qualquer forma? Eca
[5]
American Sign Language – Linguagem americana de sinais. Equivalente à nossa LiBraS.
[6]
Nenhum pensamento, cabeça vazia.
[7]
“Quebre a perna” e “os dias de cão acabaram”
[8]
“Travessuras ou travessuras” e “eu sei que você gosta de doce”.
[9]
Nunca confie nos vivos.
[10]
A antiga Taylor não pode vir ao telefone nesse momento.
[11]
Você não é a exceção, você nunca vai aprender sua lição.
[12]
Romeu, me salve! Eles estão tentando me dizer como sentir
[13]
Dads I would like to fuck - Pais que eu gostaria de foder.
[14]
Logo na frente da minha salada?
[15]
Feeling blue é uma expressão na língua inglesa ligada à tristeza. Existe até a ”Blue Monday“
(segunda-feira azul) que é tida como o dia mais triste do ano.
[16]
Odeio pensar que eu era apenas o seu tipo.
[17]
Curingas. Na NFL, alguns times que não se classificaram em primeiro na sua própria divisão
ainda têm chances de passarem para as eliminatórias e, se ganharem os jogos, conquistarem o Super
Bowl.
[18]
Eu não quero olhar para nada mais agora que vi você/ Eu não quero pensar em nada mais agora
que pensei em você.
[19]
Wives And Girlfriends of Sports Stars – Esposas e namoradas de estrelas do esporte
Sobre a autora
Esther Moretti tem 22 anos e é apaixonada por livros de romance desde que
se entende por gente.
Wild Players
∞∞∞
O nerd virgem e a professora: um clichê invertido.
Aos 20 anos, a vida de Enzo se resume a games de computador e notas
boas na faculdade. Sendo um típico nerd, ele não costumava frequentar
festas e era só o aluno virgem e invisível do curso de computação.
Tudo muda com a chegada de Selena, a nova professora da faculdade
que, inexplicavelmente, se mostra incrivelmente atraída por Enzo.
Resta saber se ele está preparado pra tudo que esse semestre tem pra
oferecer.
Conto não indicado para menores de 18 anos.
∞∞∞
O vizinho do meu namorado