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Copyright © 2023 Re Figueiredo

Todos os direitos reservados


 
Projeto editorial: Kreativ Editorial
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
 
É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer
forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem autorização por escrito dos editores.
 
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
 
TEXTO REVISADO CONFORME NOVO ACORDO
ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.
 
Neste texto você vai encontrar alguns neologismos e várias
expressões como “tá”, “tava” “pra”, entre outros, que foram usados
propositalmente para deixar a leitura gostosa e mais próxima à forma como
falamos.
 
1ª Edição
 
2023
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA
5
SINOPSE
6
NOTA
AUTORA 7
GLOSSÁRIO
8
PRÓLOGO
11
CAPÍTULO
01 15
CAPÍTULO
02 22
CAPÍTULO
03 25
CAPÍTULO
04 29
CAPÍTULO
05 35
CAPÍTULO
06 39
CAPÍTULO
07 43
CAPÍTULO
08 48
CAPÍTULO
09 53
CAPÍTULO
10 55
CAPÍTULO
11 62
CAPÍTULO
12 68
CAPITULO
13 73
CAPÍTULO
14 77
CAPÍTULO
15 85
CAPÍTULO
16 91
CAPÍTULO
17 98
CAPÍTULO
18 104
CAPÍTULO
19 116
CAPÍTULO
20 123
CAPÍTULO
21 129
CAPÍTULO
22 132
CAPÍTULO
23 136
CAPÍTULO
24 138
CAPÍTULO
25 140
CAPÍTULO
26 144
CAPÍTULO
27 150
CAPÍTULO
28 152
CAPÍTULO
29 161
CAPITULO
30 166
CAPÍTULO
31 171
CAPÍTULO
32 173
CAPÍTULO
33 179
CAPÍTULO
34 182
CAPÍTULO
35 186
CAPÍTULO
36 187
CAPÍTULO
37 189
CAPÍTULO
38 195
CAPÍTULO
39 197
EPÍLOGO
200
BÔNUS
209
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos que se apaixonam por personagens literários e os defendem
com unhas e dentes. 
Eu te entendo perfeitamente.
Esse livro é para você.
 

 
Heitor Santiago é um piloto profissional de corridas de moto,
conhecido mundialmente e vencedor do último Moto GP. Ele está em sua
melhor fase na carreira, vivendo a vida que sempre sonhou, tendo qualquer
mulher que quiser na sua cama, sendo um homem muito desejado entre as
mulheres.
Elena Taylor é uma garota inocente e sonhadora, que sempre
viveu no interior, mas há alguns anos mora na capital, após ganhar uma
bolsa de estudos. Passa metade de seu dia estudando, e o restante do tempo
trabalhando para sustentar a si e a sua irmã mais nova, que cria desde o
falecimento da avó. As duas são muito unidas, já que são a única família
uma da outra. A única preocupação de Elena é a criação de sua irmã já
adolescente e concluir seus estudos para começar a carreira de arquiteta que
tanto almeja.
 
Eles eram opostos;
Ele a salva de um assalto;
Ela é tímida, ele é Badboy;
Ela é invisível, ele é famoso e desejado;
Ela é inexperiente, ele tem uma mulher por noite em sua cama;
 
Os dois sempre acharam que o AMOR era uma história para fazer
criança dormir, mas quando o sentimento entre eles aumenta, o que mais
pode ser? Eles irão lutar contra ou a favor desse sentimento? Irão se
entregar ao desejo? Irão viver esse amor?
 
Este livro contém uma história única.
 
Não recomendado para menores de 18 anos.
 
 

 
Caro leitor (a), seja bem-vindo (a),
Este é um livro para maiores de 18 anos.
O livro contém descrições eróticas explícitas, cenas gráficas de
violência e linguajar indevido. Se você é sensível a algum desses temas,
infelizmente (com dor no coração) indico que não continue sua leitura.
Se desejar continuar, seja muito bem-vindo a mergulhar na estória
da Elena e do Heitor, que são opostos, mas se completam.
Os personagens foram criados em um local que não é narrado para
dar ao leitor o direito de imaginação do mesmo.
 
Com meu amor e carinho;
Re Figueiredo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Cheshire: Gato de Alice no País das Maravilhas.
Airfence: Colchão de ar ou outro material maleável colocado na
frente dos muros ou guard — rails para amenizar os efeitos de impactos
(softwall)
Ângulo de Inclinação: Grau de inclinação da moto em uma
curva. Não é incomum os pilotos tocarem a pista com joelhos e/ou
cotovelos em inclinação máxima
Apex: Também chamado de Clipping point, vértice ou ponto de
tangência da curva. Ponto imaginário da trajetória de uma curva que
habilita a fazer o contorno mais rápido, normalmente onde o piloto deixa de
frear e aciona o acelerador. Não necessariamente o ponto central da curva,
pode ser mais próximo da entrada (early Apex) ou da saída (late Apex)
dependendo da técnica utilizada pelo piloto
Barreira de pneus: Pneus empilhados utilizados para reduzir
donos e ferimentos em caso de impacto
Box: Garage com acesso ao pit lane designada individualmente
para as equipes participantes das três categorias do Mundial de MotoGP
Braço Oscilante: Seção onde a roda traseira (motriz) é montada.
O movimento vertical de acordo com o torque aplicado é a origem do termo
(Swingarm)
Braking Marker: Sinalizador físico utilizado para indicar a
proximidade de uma curva.
Carenagem: Proteção externa da maquinaria da moto e do piloto.
Usualmente utilizadas como outdoors de publicidade e para indicar o piloto
(número), também exerce papel importante na aerodinâmica
Chicane: Seção da pista com curvas muito próximas e em
direções contrárias, recurso utilizado para forçar a redução de velocidade
Cilindrada: Capacidade volumétrica das câmaras de combustão
do motor, especificada em centímetros cúbicos (cc). A MotoGP utiliza
motores de 1000cc
Compostos: Tipos de borracha, ou composição da mistura
utilizada para variar a aderência e durabilidade dos pneus
Cone de Vento: Utilizar o cone de vento de outro piloto implica
em seguir atrás utilizando o fluxo de ar criado para obter menor arrasto
aerodinâmico (Vácuo ou Slipstream)
Direção de Prova: Equipe formada por representantes da Dorna,
FIM e IRTA em cada GP para decidir sobre situações de corrida como
definir as condições da pista (Dry ou Wet) e outras não contempladas
especificamente no Regulamento Geral da Competição
Dirt Traking: Provas realizadas em superfície de terra, não
asfalto
Dorna: Entidade que detém os direitos comerciais e participa da
organização/administração do Mundial de MotoGP
Dry Race: Corrida em piso seco, adequada para pneus slick
ECU: Unidade de controle eletrônico padronizada, uso coercitivo
a partir da temporada de 2016
Endo: Manobra que envolve parar a moto de modo a levantar a
roda traseira do solo (também chamada de “Stoppie”)
Equipe do Pit: Direção da equipe, mecânicos e seus assistentes
Esses: Referência fonética a uma chicane, curvas em sentidos
opostos muito próximas, atribuído a semelhança com a letra “S”
FIM: Fédération Internationale de Motorcyclisme, entidade que
regula o motociclismo esportivo a nível mundial. Um dos organizadores do
Mundial de MotoGP
Flat — toFlag: Regra pela qual as provas não são mais
interrompidas por mudanças de clima e permite a troca de motos durante a
competição
Gás: Acelerador ou aceleração. Abrir o gás significa acionar o
acelerador.
GP (Grand Prix): Evento de três dias em um fim de semana que
envolve as três classes do MotoGP ™, MotoGP ™, Moto2 ™ e Moto3 ™.
Consiste em dois dias de treinos e qualificação e um com os warm — ups e
competições. A temporada de 2016 tem programados 18 GPs
Grid: Posições de partida sinalizadas na pista para indicar a
ordem de partida dos pilotos de acordo com a sua qualificação (Grelha)
Grip: Aderência entre pneus e piso da pista
Guard — rail: Barreira metálica de proteção (em desuso)
Hairpin: Curva muito fechada que deve ser tomada a baixa
velocidade. Formato semelhante a um “U” ou um “V”
Hat Trick: Prova perfeita, pole, melhor volta e vitória
High Side: Acidente onde o piloto é projetado do assento
enquanto a moto mantém a direção correta. Normalmente a moto recupera a
aderência e o piloto retoma o controle
Hole Shot: Liderar a corrida na primeira curva
Homologação: Processo de aprovação das pistas e das motos
utilizadas na MotoGP, conduzido pelos comitês associados
Homologação: Termo para designar verificações e inspeções na
MotoGP para comprovar a adequação ao regulamento técnico
IRTA: International Road — Racing Teams Association,
representa as equipes, fornecedores e patrocinadores da MotoGP
Left — hander: Curva para a esquerda
Low Side: Acidente onde a roda traseira ou ambas as rodas
perdem aderência, a tração não é recuperada e a moto “descola” do piloto
(escorregadela)
MSMA: Motorcycle Sports Manufacturers’ Association,
representa todos os fabricantes envolvidos na construção de protótipos da
MotoGP
OnBoard: Câmara de televisão fixa em uma máquina da MotoGP
™ (pode ser abreviado para "OB")
Paddock: Área atrás dos boxes onde equipes e pilotos estacionam
seus motorhomes e equipamentos durante um GP
Parque Fechado: Área do pit lane onde os três primeiros
colocados (em cada categoria) são entrevistados por equipes de TV
imediatamente após cada prova (Parc Fermé)
Pit Lane: Via de acesso aos boxes, adjacente à pista
Pódio: Local para a cerimônia de premiação dos três melhores
classificados em um Grand Prix
Pole: Primeiro lugar no grid de largada. Na véspera do GP são
realizadas seções em todas as classes da MotoGP para posicionar os pilotos
no grid de acordo com a sua qualificação
Ride Through: Penalização definida pela direção de prova que
implica em uma passagem obrigatória pelo pit lane
Right — hander: Curva à direita
Rookie: Novato. Piloto no primeiro ano de competição em cada
categoria
Rostrum: Outra denominação para o pódio (Tribuna)
Seamless: Embreagem ultrarrápida (sem costura)
Slicks: Pneus lisos projetados especificamente para obter maior
aderência em pista seca
Software Padrão: Pacote de software desenvolvido pela Magneti
Marelli, uso obrigatório
Telemetria: Métricas do comportamento da moto transmitidas
por rádio
Topping the timesheet: Melhor tempo de uma seção de treinos
ou qualificação
Volta de Aquecimento: Volta que antecede a largada, para
apresentação dos pilotos e aquecimento dos pneus
Warm Up: Treino que antecede o GP, realizado no mesmo dia da
prova
Wet Race: Treino que antecede o GP, realizado no mesmo dia da
prova
Whellie: Manobra realizada por pilotos em comemorações,
consiste em levantar a roda dianteira como resultado de uma forte
aceleração e rápida liberação da embreagem
Wild Cards: Corredores de provas eventuais, que não competem
regularmente no campeonato
Zebra: Meio fio, normalmente pintado em duas cores para
demarcar a pista e auxiliar a orientação dos pilotos (Curbs/Rumble Strips)
Corazón: Coração
Mi Diosa: Minha deusa
 

 
Cresci em uma casa humilde do interior, rodeada do amor da minha
avó e mãe. Quando eu ainda era criança, minha mãe faleceu no parto da
minha irmã, e então ficamos apenas eu, minha avó e minha irmã, ainda
bebê.
Minha mãe era uma mulher maravilhosa, éramos nós três contra o
mundo.
Eu nunca conheci o meu pai, mas… sinceramente? Nunca me fez
falta, pois eu sempre tive amor de sobra. Minha mãe, Fabiana, disse que
meu pai foi embora assim que soube que ela estava grávida, que era muito
jovem quando me teve, mas nunca me abandonou ou deixou faltar amor;
minha avó sempre nos ajudou em tudo que estava ao seu alcance, e mesmo
que nossa situação financeira não fosse das melhores, ela sempre usava
aquele ditado antigo: “onde come um, comem dois.”
Infelizmente, minha mãe não aprendeu a lição a respeito dos
homens lixo, para não se envolver com qualquer um, e mesmo com a
história do meu pai para servir de aprendizado, caiu em outra ilusão com o
pai de Alice, minha irmã.
Ela estava saindo com ele há alguns meses, mas o cara nunca
demonstrou querer nada sério, como, por exemplo, conhecer sua filha, eu,
ou se apresentar para a minha avó,  demonstrando assim estar à procura de
um relacionamento sério. Vivia dizendo pra ela que, no momento certo, o
faria, se apresentaria para sua família e a assumiria para o mundo, mas esse
momento nunca chegava, sempre havia uma desculpa, sempre surgia um
imprevisto, nunca dava certo, e minha mãe acreditava, fingia ou queria
acreditar. Sinceramente, não sei.
Acho que Fabiana era uma romântica e estava sempre em busca de
um amor. A cada novo namorado, me recordo que ela ficava extremamente
feliz e sempre dizia para minha avó que aquele era o amor da vida dela. Ah,
e ela teve muitos amores, mas, infelizmente, acho que o amor verdadeiro
não nasceu para ela, pois, novamente, quando descobriu que estava grávida,
esse fez igual ao meu pai e sumiu no mundo.
Como morávamos em uma cidadezinha muito pequena, seria difícil
de o traste se esconder, então ele simplesmente “partiu” sem dar nenhuma
satisfação, arrumou suas coisas e se mudou, sem ao menos se despedir dela.
E, novamente, ela enfrentou tudo sozinha, contudo, dessa vez, tendo
a mim ao seu lado.
Minha mãe trabalhava em uma cafeteria da cidade, mas, com o
avançar da sua gestação, ela começou a ficar debilitada e tinha picos de
pressão muito altos, precisando então se afastar do serviço muito cedo, e
por esse motivo, a renda de casa acabou ficando apenas com a minha vó,
que trabalhava com costura, tendo um ganho muito baixo, mas que
precisava ser o suficiente.
No final da gestação, minha mãe já nem levantava mais da cama,
precisou ficar em repouso absoluto, porém, nem isso evitou que o pior
acontecesse. No dia do parto, saímos correndo com ela para o hospital e
pedimos ajuda a um vizinho para nos levar, no entanto, no caminho mesmo
ela acabou desmaiando e já chegou desacordada, e ali foi a última vez que a
vi com vida. Precisaram fazer uma cesariana de emergência para salvar
minha irmã, mas minha mãe não resistiu, acabou sofrendo uma eclampsia[1].
Minha avó ficou devastada com a perda da filha, mas se fez de forte
para ser o meu apoio, já que eu tinha apenas sete anos e sentia muita falta
dela.
Não tivemos muito tempo para lidar com o luto, pois precisávamos
cuidar de um bebezinho, Alice.
Graças a Deus, minha irmã chegou com uma saúde de ferro e minha
avó, apesar da dor de perder a sua única filha, deixou tudo de lado para criar
e dar tudo o que uma criança recém-nascida precisava, pois, além de amor,
ela demandava muita atenção, e eu, mesmo pequena, a ajudava com tudo o
que estivesse ao meu alcance, como trocar uma fralda, esquentar a
mamadeira, dar banho, papinha, enfim… absolutamente tudo, já que agora
só tínhamos sua renda de costureira e ela precisou aumentar ainda mais o
seu trabalho para conseguir criar duas crianças.
Às vezes, minha avó precisava fazer algum exame de saúde que não
havia em nossa cidade, e por isso, necessitava ir até a capital para realizar, e
foi assim que descobri qual seria a carreira que eu queria seguir.
Lembro-me de, certa vez, ser bem pequenininha e estar
acompanhando-a na cidade, e eu ficava olhando pela janela do ônibus,
maravilhada com toda a paisagem de tantos arranha-céus, e como eu era
muito novinha, jurava que alguns realmente tocavam o céu. Dou risada com
esse pensamento. Como é maravilhoso ser criança. 
Como já disse, nas poucas vezes em que acompanhei minha avó em
seus exames, sempre fiquei deslumbrada com a arquitetura da grande
metrópole e, com o passar dos anos, decidi que aquela seria a minha
profissão. Me dediquei muito aos estudos e me candidatei para as
universidades em busca de uma bolsa, pois, claro, sabia que a minha avó
não teria como custear uma faculdade para mim.
Quando completei quinze anos, além de ajudar na criação da minha
irmã, eu também ajudava minha avó com o serviço de costura; o trabalho
não era muito, mas qualquer mãozinha a mais a ajudava muito, pois, apesar
de se fazer de durona, eu sabia que ela precisava descansar.
Então, quando recebi o retorno de uma das melhores universidades
da capital, informando que fui contemplada com uma bolsa de estudos de
100%, eu fiquei muito, muito feliz, mas também extremamente preocupada
com a minha avó e  minha irmã, pois Alice ainda era muito novinha e a
minha avó já estava com sua idade avançada, então, como eu poderia ir
embora e deixá-las? Mas também, como eu poderia ignorar essa
oportunidade? Eu havia me esforçado tanto, mas nunca havia parado para
pensar que eu precisaria abandonar tudo para buscar o meu futuro.
Mas, no final, eu não precisei me perguntar muito o que fazer, já
que o destino se encarregou de me dar a resposta da maneira mais dolorosa
possível.
Minha avó, aquela que acordava com as galinhas e só ia dormir
depois de todos os afazeres prontos, que tinha uma saúde de ferro, pois
nunca a vi dar nem mesmo um espirro, a minha base, o nosso alicerce, meu
e da minha irmã, em uma manhã comum, me deparei com ela desmaiada na
cozinha de casa.
Sinceramente? Não me lembro muito bem de todo o acontecido, só
sei que saí correndo para chamar a vizinha para me ajudar e com a gritaria,
minha irmã saiu do quarto para tentar entender o que estava acontecendo, e
quando viu nossa avó no chão, travou e começou a chorar, Eu só me lembro
de abraçá-la e tirá-la da cozinha para não ver aquela cena.
A vizinha entrou, juntamente com o seu esposo, que era enfermeiro,
e iniciou os primeiros socorros; não me lembro muito bem dos detalhes, só
sei que fiquei agarrada à minha irmã, com o rosto dela enfiada no meu
peito, soluçando de tanto chorar, enquanto eu chorava com meu rosto sobre
o seu cabelo.
Tudo é muito confuso na minha mente sobre aquele dia; me lembro
de um policial vir falar comigo, da vizinha me trazer um copo de água e
conversar, mas não me  recordo sobre o que ela falava, pois eu só conseguia
abraçar a minha irmã cada vez mais forte, e sentia ela retribuir com a
mesma intensidade.
Naquele dia, minha avó sofreu um infarto fulminante, e quando eu a
encontrei, já não havia mais o que fazer, ela tinha falecido, já tinha nos
deixado.
Minha irmã ficou desolada quando recebemos a notícia, então
precisei ser forte por nós duas, mesmo em meu estado catatônico, agi no
modo automático e segui com as providências para o velório e enterro da
nossa amada avó.
Somente depois do sepultamento, e de ter colocado a minha irmã
para dormir no seu quarto, é que me dei o direito de me trancar no meu
quarto e deitar na cama para chorar. Chorar por tudo o que eu perdi, e
chorar de medo do futuro que me esperava.
Após uma noite em claro, chorando e pensando qual seria o nosso
próximo passo, na manhã seguinte, comecei a arrumar as nossas malas para
seguir para a capital.
Nossa casinha era simples, mas, ainda assim, a coloquei à venda.
Me surpreendendo, consegui vendê-la por um preço razoável, e foi com
esse dinheiro que seguimos viagem.
Se sacrificar é uma das bases do amor; quando se ama, se preciso
for, você abre mão dos seus sonhos, renega suas vontades e se torna tudo
aquilo que a outra pessoa precisar. E, no momento, minha irmã precisava de
um apoio, um braço para lhe levantar quando se sentisse fraca, um porto
seguro, e eu seria o que ela precisasse.
Quando chegamos, imediatamente seguimos para um apartamento
que eu já havia visto na internet. Era um lugar simples, mas que o aluguel
caberia no nosso bolso.
Como as aulas ainda não tinham começado, então eu teria tempo
para correr atrás de tudo.
Escola para a Alice;
Documentação para a faculdade;
Procurar um emprego;
E me adaptar a vida nova.
Assim que cheguei na cidade, comecei a distribuir currículos para
todo lado, mas pelejei durante mais de um mês e ainda não havia
conseguido nada, até porque, quem teria interesse em contratar uma garota
com dezoito anos recém-completados, que nunca trabalhou, e ainda estaria
disponível por apenas meio período? Pois é, ninguém. 
Após mais um dia exaustivo de busca por uma vaga de emprego,
avistei uma lanchonete, onde decidi parar. Entrei e me acomodei no balcão
mesmo, pedindo por uma água e, logo, a senhora que estava atendendo
perguntou o porquê de eu estar tão “amoadinha”. Eu deveria estar com cara
de derrotada mesmo, mas ela foi muito simpática em minimizar os danos.
Sem me conter, desabafei com aquela desconhecida e despejei nela
todas as minhas preocupações e inseguranças, o medo de não conseguir
encontrar um emprego, de não dar conta da criação da minha irmã mais
nova, que na época tinha apenas onze anos, pois dali em diante seríamos
apenas eu e ela. Além de tudo isso, ainda temia não conseguir conciliar
estudo e trabalho. Enfim, eram tantos medos, que eu me sentia afundando
em um abismo.
E foi assim que eu consegui o meu primeiro emprego.
A senhora atrás do balcão era a dona do estabelecimento, e pediu
para eu fazer um teste naquele dia mesmo, e no final do expediente, ela me
contratou. Lembro que chorei de felicidade e prometi que ela não iria se
arrepender.
Assim, os anos foram passando, e graças ao meu emprego de meio
período, pude conciliar os meus estudos e trabalho.
Minhas aulas na faculdade são na parte da manhã, eu estudo
arquitetura, e agora estou no último ano. Eu ouvi um AMÉM? Glória a
Deus! Eu amo o curso que escolhi, mas, olha, vou te contar um segredo: é
MUITO cansativo trabalhar, estudar, cuidar de uma casa e de uma irmã na
fase da adolescência. E eu nem posso reclamar da Alice, tadinha, graças a
Deus ela é um amor, e quase não me dá trabalho, mas ela está com quinze
anos e, nessa idade, não me causar algum tipo de preocupação é quase uma
missão impossível, não é mesmo? 
Meu sonho é abrir meu próprio escritório e fazer o meu trabalho
com a máxima excelência e dedicação que a função exige, mas primeiro
preciso de um emprego na área para me especializar, pois nada melhor do
que a prática para aperfeiçoar tudo o que aprendi com esses quase quatro
anos de teoria com estudo.
Mas, até eu conseguir realizar esse sonho, tenho um emprego para
chamar de meu e pagar as contas no final do mês.
 
Pulo da cama quando sinto o sol no meu rosto. Nem preciso
checar o horário no meu celular, pois tenho absoluta certeza que estou
atrasadíssima. Que maravilha! Atrasada DE NOVO.
Tenho que acordar antes do sol nascer, para levantar com calma,
tomar um banho e me arrumar para mais um dia de faculdade, e depois
seguir para meu turno na lanchonete em que trabalho há quase quatro anos.
Saio correndo para o banheiro, para fazer minha higiene matinal,
me olho no espelho depois de escovar os dentes e dá até tristeza de chamar
o que está em cima da minha cabeça de cabelo. Está tudo amassado,
embaraçado. Socorro! Não vai dar tempo de pentear isso, então o jeito é
fazer um coque no topo da cabeça mesmo, bem desajeitado, pois é o
máximo que consigo no momento. Pego a primeira roupa jogada em um
canto do meu quarto, que é um jeans desgastado e um moletom largo, e
começo a me vestir, já indo em direção ao quarto da dorminhoca da minha
irmã para acordá-la, pois hoje ela vai ter que se arrumar na velocidade da
luz, justo ela que adora enrolar de manhã.
—  Aliiiiceee!! — grito do corredor — Aliiiicee!!
—  Por que você tá gritando? — Aparece, esfregando os olhos com a
cara amassada de sono.
— Corre, criatura! Eu estou super atrasada, então se eu estou atrasada,
você está atrasada... Por isso, corre, corre, corre — digo, batendo
palma pra ver se ela desperta e se arruma depressa.
Ela olha para a minha cara como se eu fosse o ser mais odioso da
face da terra, se vira e vai em direção ao banheiro para começar a se
arrumar. Ao menos, assim eu espero.
Enquanto a espero, começo a arrumar minha bolsa para mais um
dia. 
Minha rotina é muito corrida, mas não posso reclamar, é graças a
essa correria que conseguimos nos manter dentro de um apartamento
quentinho e nos alimentar.
Nosso apartamento é humilde, mas atende as nossas necessidades,
com sala e cozinha conjugadas, dois quartos e um banheiro.
Apesar dos apertos, minha irmã nunca reclamou de nada, nós
sempre fomos muito unidas e sempre demos um jeito em tudo. 
Alice é um amor de menina, ela já tem quinze anos, mas pra mim
sempre será o meu bebezinho, meu xodózinho.
Dou risada com o meu pensamento. Deus me livre se ela me ouvir a
chamando de bebezinho, seria o fim dos tempos, já que, como ela costuma
dizer: “Já é adulta”.
Saio dos meus devaneios e corro para a cozinha para pegar alguma
coisa para comermos no caminho, pois nem pensar em tomar café antes de
sairmos hoje.
Separo algumas bolachas para mim e para ela, pego algumas frutas
também.
Confiro se tem comida para a Alice almoçar quando voltar da
escola, e vejo que está tudo certo.
— Aliceeee!!! — grito da cozinha.
— Já voooouu!!!!
Poucos minutos depois, minha irmã aparece na minha frente, com a
cara inchada e emburrada, mas pronta. Isso que importa.
— Bom dia, xuxuzinho! — digo com um sorriso que ela odeia por ser
de manhã. Pensa em uma criança mal-humorada pela manhã. Alice.
— Não começa, Elena. — responde quase rosnando, o que me provoca
uma gargalhada.
— Tá, tá... Vamos, criança. — Entrego a ela as coisas que separei para
ir comendo no caminho, enquanto as minhas enfio na minha mochila
para comer outra hora.
Alice nem se digna a me responder, só resmunga e me segue,
quase se arrastando.              
Descemos o prédio correndo e seguimos para o ponto de ônibus.
Alice pega um ônibus diferente do meu para ir para a escola, mas
o ponto é o mesmo.
O ônibus dela estaciona assim que chegamos, o que é bom, pelo
menos uma de nós não vai se atrasar para aula.
O meu chega logo em seguida e sigo para mais uma aula da
faculdade.
Após a aula, sigo para pegar o transporte e seguir até o trabalho.
E a minha rotina é assim, o tempo cronometrado para correr para o
ponto de ônibus quando já está dando a hora de ele chegar.
Quando estou andando para o ponto vejo que o ônibus já está vindo.
Mas que merda!!! Xingo mentalmente e começo a correr para não o perder,
pois se não pegar esse, vou chegar atrasada. Como hoje não deve ser o meu
dia de sorte, piso numa poça d’água suja próximo ao ônibus, que encharca
todo o meu tênis e mancha a única calça que posso chamar de “decente”.
— Que merda! — digo, ainda correndo.
Consigo pegar o ônibus que parou e entro. Já disse que hoje não é o
meu dia? Pois é. Para melhorar tudo, está lotado, então estou em pé, sendo
esmagada pelas pessoas que, assim como eu, procuram um espaço para
ficar até chegar ao seu destino.
Quando finalmente chego ao meu trabalho, desço do ônibus e vou
andando até a lanchonete, e assim que entro na rua do meu serviço, percebo
que já está bem movimentado.
Entro e cumprimento Dona Carminha e a Clara.
— Boa tarde, pessoal!
— Oi, Lena!
— Boa tarde, menina! Vai almoçar — diz Dona Carminha
Dou uma risadinha com o seu jeito mandão e vou direto para a
salinha dos fundos, onde deixo a mochila, troco a camiseta pela camisa do
uniforme, arrumo meu cabelo em um rabo de cavalo e coloco o avental.
Vou para a cozinha e cumprimento Dona Rita, que é a cozinheira da
lanchonete.
— Oi, Ritinha — digo, a abraçando por trás e dando um beijo estalado
na sua bochecha gordinha.
— Oi, menina — responde rindo.
Vou direto para as panelas e faço um prato de comida para almoçar
rapidinho, antes que inicie meu horário de trabalho.
Quando Dona Carminha me contratou, insistiu para que eu viesse
direto da faculdade e almoçasse aqui, sem custo algum, o que é uma
maravilha, pois é um gasto a menos que tenho nas minhas despesas.
Termino minha refeição, lavo a louça que sujei e me despeço da
Dona Rita:
— Estava uma delícia, como sempre! — digo da porta, mandando um
beijo de longe, já que ela está preparando as porções para o decorrer
do dia.
Chego no salão, retiro meu bloquinho de notas do bolso do meu
avental e começo o atendimento com os clientes que estão aguardando.
Devagar a lanchonete vai enchendo e as pessoas vão ocupando as
mesas e cadeiras mais ao fundo. Já passou da hora da Dona Carminha
contratar alguém para ajudar a atender os clientes, mas enquanto isso não
acontece, aproveito para ir recebendo todas as gorjetas, mesmo que em
alguns dias eu não me aguente em pé no final do dia.
Além de mim, Clara também trabalha aqui e é garçonete como eu e,
geralmente, revezamos entre balcão e mesas em dias mais normais e
tranquilos, mas devido a movimentação agitada de hoje, estamos as duas
cuidando das mesas; em dias como esse, Dona Carminha cuida do balcão
para preparar os sucos e lanches rápidos e também do caixa, para que nós
duas possamos dar conta de atender a todos, enquanto isso, na cozinha,
temos a nossa magnífica cozinheira, Dona Rita, também sócia/proprietária
da lanchonete, e melhor amiga da Dona Carminha. Inclusive, acho que as
duas são amigas, tipo, desde sempre, e é até engraçada a interação das duas,
pois parece que uma lê o pensamento da outra. Acho linda essa conexão,
elas parecem irmãs de outras vidas.
Escuto a campainha da cozinha tocando, sinalizando que tem
pedido pronto, e sigo até o passa-prato, pego a porção de fritas, verifico a
mesa e levo até os clientes que estavam aguardando.
— Prontinho — digo, sorrindo educadamente. — Desejam mais
alguma coisa?
— Por enquanto é só, obrigado.
Assinto e sigo para o atendimento das outras mesas; chego até uma
onde estão duas meninas, aparentemente da minha idade, que acabaram de
se sentar, entrego o cardápio e pergunto:
— Boa tarde, o que gostariam de pedir?
— Boa tarde. Me vê uma água e um sanduíche de peito de peru, por
favor — uma delas diz.
— Quero o mesmo, por favor.
— Ok. Já trago.
Levo o pedido para o balcão e retiro outro que também estava
pronto.
Assim segue o dia, com o mesmo ritmo frenético.
Por ser um dia de semana, não demora muito e começa a esvaziar.
GLÓRIA A DEUS! Estou acabada.
Chego no balcão com a bandeja cheia de louça suja, e enquanto
estou esvaziando-a, vejo que Clara chega ao meu lado também com a
bandeja dela lotada.
Olho para ela e percebo que a garota está só o pó. Eu não devo estar
muito diferente. Socorro.
— Menina, que dia foi esse? Tô acabada.
— Percebi — digo sem resistir e começo a gargalhar.
Clara faz cara de chocada, mas não aguenta e ri também.
— Haha... Engraçadinha! Você acha que tá melhor que eu? Não tá,
não... Tá até descabelada, viu!? — fala rindo da minha cara e puxando
os fios que escaparam do meu rabo de cavalo.
Continuo gargalhando do mesmo jeito, porque o que ela disse não é
nada que eu já não soubesse. Devo realmente estar pior do que ela.
É nesse momento que a Dona Carminha chega com o pano de prato
no ombro e a mão na cintura.
— As madames já terminaram? — pergunta com a sobrancelha
arqueada.
Cessamos com o riso na mesma hora e abaixamos a cabeça.
— Desculpe, Dona Carminha — pedimos em uníssono.
Pensam que é medo? Não é, não! É respeito.  Nossa chefe é
maravilhosa com a gente; acredito que quão boa ela é para mim, também é
para a Clara.
Volto meu foco para a bandeja na minha frente e continuo o
trabalho de tirar a louça suja para colocar no balcão para lavar, Clara faz a
mesma coisa do meu lado.
— Vamos, vamos, crianças, o trabalho já está acabando — diz,
batendo palma para nos acelerar
Rapidinho voltamos para as mesas para atender os poucos que
ficaram, e assim encerrar o expediente.
Quando o último cliente sai, começamos a limpar as mesas e a
levantar as cadeiras para limpeza do chão.
Vejo Dona Rita sair da cozinha, o que significa que o local deve
estar todo limpo, pois a fechamos alguns minutos antes.
— Tchau, meninas. Boa noite e se cuidem, hein! — diz já da porta,
indo embora.
Encerramos a limpeza, e eu e Clara vamos até uma salinha nos
fundos da lanchonete, que é onde descansamos no nosso horário e deixamos
as mochilas.
— Ai, menina, meus pés estão me matando.
— Nem me fale, até minhas pernas estão dormentes.
— Aff... e pensar que ainda temos que pegar ônibus para ir pra casa…
Dá até tristeza.
— Aaah — resmungo por lembrar.
Coloco a blusa por cima do uniforme, nem me dando ao trabalho de
me trocar, solto o cabelo e jogo a mochila nas costas.
Quando chegamos ao salão, encontramos Dona Carminha já
fechando o caixa depois de conferir tudo e pronta para ir embora também.
Nunca a deixamos sozinha para fechar tudo, pois por mais que o
bairro seja tecnicamente tranquilo e que as ruas ainda estejam
movimentadas, infelizmente, não dá pra confiar e bobear com a segurança
nos dias de hoje. 
— Vamos, meninas?
— Bora.
Depois de tudo apagado, fecho a porta da lanchonete e aguardo
Dona Carminha trancar tudo.
— Tchau, meninas, se cuidem, e vão com Deus! — se despede, indo
em direção ao seu carro, que fica bem em frente a lanchonete.
— Tchau, Dona Carminha, até amanhã — digo, caminhando até a rua.
—Tchau, Dona Carminha, até amanhã — Clara também se despede.
Vamos andando juntas e em silêncio até o ponto de ônibus, que fica
a um quarteirão de distância da lanchonete, mas pegamos conduções
diferentes, pois eu vou em uma direção, e ela vai para a direção oposta.
Quando chego na faixa de pedestres, paro e lhe dou um abraço de
despedida.
— Tchau, Clarinha — Beijo seu rosto —, até amanhã, e se cuida,
doida.
— Tchau, Leninha — retribui o meu cumprimento e vai andando.
Atravesso a rua, e fico aguardando o ônibus no ponto.
Tem um grupinho de adolescentes ali também, mas o ônibus deles
logo chega, me deixando sozinha. Odeio ficar no ponto sozinha.
Não demora muito e o meu ônibus chega e, por sorte, não está
muito cheio, por isso consigo ir sentada.
Desço em frente ao meu prédio, o que é ótimo.
Entro no saguão e cumprimento o porteiro da noite.
— Boa noite, Senhor Francisco.
— Boa noite, Dona Elena — responde, desviando o olhar da
televisãozinha onde está assistindo a um jogo de futebol para me
cumprimentar.
Sigo direto para o elevador, rumo ao meu apartamento.
Abro a porta de casa, doida para finalmente descansar. 
Estou exausta, morta de vontade de tomar um banho e cair na cama.
Tranco a porta, penduro a chave e vou tirando minha blusa, já que
aqui dentro de casa está bem quentinho.
— Alice?
Ouço o som da televisão ligada, mas não escuto ela me responder.
Vou em direção à sala e a encontro adormecida no sofá, assistindo a
algum tipo de série.
Desligo a TV, vou até o seu quarto, pego o cobertor e a cubro, já
que acho melhor ela dormir aqui mesmo, do que acordar para ir para a
cama.
A deixo o mais confortável possível e vou direto até o banheiro para
tomar um banho relaxante e depois dormir, já que nem estou com fome,
afinal, se tiver que escolher entre comer e dormir, com toda a certeza prefiro
DORMIR.
Após um bom banho, saio do banheiro enrolada na toalha, pego o
pijama que ficou em cima da minha cama e me visto rapidamente.
Coloco o meu celular para carregar na mesinha de cabeceira, deito e
me cubro, e quando já estou quase dormindo, escuto uma batida na porta e
falo para entrar. Alice abre apenas uma frestinha, fazendo a iluminação do
corredor entrar no quarto e me olha.
— O que você está fazendo acordada, mocinha? — indago,
fazendo cara de má. Ela ri e entra no cômodo me olhando com cara de
pidona, não resisto e dou risada, sabendo o que ela vai pedir, por isso, já me
espremo mais para o lado da cama, encostando na parede, e bato a mão no
colchão, chamando-a para vir se deitar comigo, e mesmo sendo uma cama
de solteiro, ela vem e se aconchega nos meus braços.
— Acordei quando você estava tomando banho e não consegui
dormir de novo — diz com a voz de sono. — Posso dormir aqui com você?
Claro que pode, meu amor.
Esse pedido não é novidade para mim; desde que nossas vidas
mudaram, ela vem para o meu quarto com frequência e pede para dormir
comigo. Minha irmã sempre lida com tudo com muita maturidade, aguentou
e aguenta todas as nossas limitações sem nunca reclamar, sempre se faz de
durona, mas quando estamos apenas nós duas, Alice demonstra que ainda é
uma menina que precisa de carinho e atenção.
Não me importa o cansaço que sinto agora ou depois, sempre vou
recebê-la de braços abertos e me sinto muito feliz por saber que ela se sente
segura, por pedir carinho em seus momentos de carência, e que me
enxergue como seu alicerce, pois ela também é o meu.
Ela se acomoda melhor na cama, de uma forma que fique de
costas para mim, meu braço está embaixo da sua cabeça e com a outra mão
começo a acariciar seus cabelos, fazendo um carinho.
Alice tem os fios tão longos quanto os meus, mas enquanto os
meus são escuros, quase pretos, os dela são claros, quase dourados.
Afago sua cabeça com cuidado para fazê-la dormir, e quando acho
que já adormeceu, escuto-a sussurrar.
— Sinto falta dela. — Quase não escuto, de tão baixo que ela falou.
Me dói o coração saber que ela sofre, imagino que para ela deve ser
muito mais difícil tudo o que aconteceu, pois não tínhamos nada além de
nós três e, de uma hora para outra, perdemos nossa base de vida, perdemos
nossa casa, precisamos nos mudar de cidade; eu, apesar de ter perdido junto
com ela, já estava me preparando para fazer a mudança da cidade devido a
minha faculdade, mas ela ainda era tão novinha.
— Também sinto falta dela, meu amor — confesso. — Todos os
dias. Mas ela nos fez fortes, nos preparou para a vida, e iremos orgulhá-la,
onde ela estiver, e também vamos vencer as dificuldades que passamos
hoje. Você sempre vai ter a mim! — digo, a apertando mais no meu peito,
sentindo o meu coração apertar com esse assunto.
Eu te amo.
Eu também te amo, meu amor.
Beijo sua nuca, e assim adormecemos.
 
 

 
A semana passou voando e já é sexta-feira.
Estou exausta.
Chego na faculdade em cima do horário. Quase atrasada.
— Elena! — Ouço um grito de longe, olho para trás e vejo Maya
a alguns passos atrás de mim.
Ela vem correndo em minha direção, com os cabelos coloridos
voando e sorrindo tanto que parece o Gato de Cheshire[2]. Dou risada, e já
até imagino que ela deve ter muitas novidades para me contar.
— Hei, maluca. — Dou-lhe um abraço assim que chega ao meu
lado. — Atrasada de novo, hein?
— Ai, menina — sorri sonhadora —, quase que eu não venho.
Queria ter ficado na cama com o meu gato. — Começa a piscar os cílios
para mim. — Eu tô apaixonada.
Gargalho da cara de pau dela.
Conheço Maya desde o primeiro semestre, e nos demos bem
instantaneamente. Mesmo que sejamos totalmente opostas.
Maya é toda alto-astral e totalmente maluca. 
Conheci ela no campus da faculdade, andando, dançando e
cantando totalmente sozinha, com fones de ouvido tão grandes que
pareciam uma segunda cabeça, alheia a qualquer coisa ao seu redor. A
bonita estava tão distraída, que trombou em mim enquanto eu saía de uma
das aulas e me apressava para pegar o ônibus para ir ao trabalho, derrubou
minha mochila, que claro, o zíper estourou e derrubou tudo o que tinha
dentro. E o que a Maya fez? Me ajudou? Não. Começou a rir
histericamente, e só depois que sua crise de riso passou é que resolveu me
oferecer ajuda.
Juro. No início da nossa amizade eu jurava que ela usava alguma
substância ilícita. Drogas. Porque não era possível um ser humano ser tão
Be Happy igual ela. Mas aí descobri que sim. Existe. Maya Rodrigues.
— Para de ser safada, Maya. — Dou um tapa no seu ombro, rindo
da sua cara. — E de quem você está falando? Do Matheus ou do Carlos? —
pergunto confusa.
— Do Felipe. — Olho para a cara de pau da minha amiga. Essa
não tem jeito.
— Meu Deus, Maya! — Balanço a cabeça. — Quem é esse?
Ela ignora o meu questionamento.
— Elena — segura o meu rosto com as duas mãos —, é com ele
que eu vou casar. Certeza.
Retiro as mãos dela do meu rosto e volto a andar em direção à
sala da nossa primeira aula, pois já estamos em cima da hora.
— Tá bom. Tá bom. — Começo a empurrar ela. — Me conta
sobre o seu recém-futuro marido. ANDANDO — dou ênfase no “andando”,
para ela se mexer —, pois estamos atrasadas. E hoje é dia de quê? Dia de
quê? — Fico arqueando a minha sobrancelha para fazer um suspense. —
Aula do Professor Albuquerque — digo sorrindo, apenas para provocá-la.
E toda a alegria que ela estava demonstrando evapora assim que
termino de falar. Chega até a ser engraçado o seu desânimo instantâneo.
Não resisto e acabo gargalhando novamente da sua atitude.
As primeiras aulas de sexta-feira são do professor Albuquerque e,
nesse último semestre, ele decidiu que em todas elas serão aplicados testes
surpresa.
Surpresa essa que todos os alunos já sabem, então, sempre
chegamos preparados para a tortura.
— Nossa, Elena! — Faz cara de triste. — Você sabe como
desanimar uma garota.
Sorrindo, vou andando até a sala, com Maya me acompanhando, e
no caminho me conta que conheceu esse Felipe em uma cafeteria próximo à
sua casa.
Entramos na aula e vamos direto para os nossos lugares; Maya se
senta ao meu lado, e com um sorriso gigante continua a contar como tem
sido esses últimos dias ao lado do seu príncipe encantado.
Pouco tempo se passa e o Professor Albuquerque logo entra. 
As conversas animadas logo se transformam em sussurros, e em
instantes todos cessam os assuntos paralelos e ficamos em silêncio
enquanto ele começa a distribuir as folhas de mesa em mesa para aplicar o
teste.
Nem mesmo nos cumprimentou. Um lorde. Só que não.
Após entregar a folha do teste para todos, ele se dirige a nós.
— Bom dia, pessoal — diz com a voz afiada. — Como todos já
estão acostumados, hoje é dia de teste. Quando terminarem, por favor,
virem as folhas para baixo e mantenham silêncio.
Após as instruções, o professor se senta em sua mesa e nos ignora
totalmente.
As aulas transcorrem normalmente, uma após a outra.
 
 
Caminho sozinha até o ponto de ônibus e sinto o sol forte em
minha cabeça.
Estou cansada, mas não posso reclamar, sei que logo conseguirei
um estágio — assim espero — , mas tenho que admitir que o emprego
que tenho hoje me ajudou muito nesses últimos anos, e não sei o que teria
feito sem que a Dona Carminha não tivesse aparecido em minha vida.
Além de ela ser uma chefa maravilhosa e super compreensiva,
meu horário de trabalho me permite assistir a última aula na faculdade, o
que, infelizmente, outras pessoas não têm a mesma sorte, pois vejo muitos
alunos terem que sair antes do término para conseguir chegar a tempo em
seus respectivos serviços. Sem falar que sempre quando sobra algo, a chefa
permite que levemos marmitas pra casa. Não é maravilhoso?
Chego ao ponto e o ônibus aparece poucos minutos depois. Assim
que entro, consigo me sentar e coloco meus fones de ouvido, fecho os olhos
e tento relaxar, já que a viagem dura mais ou menos uns trinta minutos.
 

 
Acordo com um barulho estridente no meu ouvido. 
É a merda do meu celular. Abro os olhos e fecho imediatamente.
Porra! Esqueci as cortinas abertas de novo. 
A claridade arde meus olhos. 
Graças a Deus o aparelho já parou de tocar, viro e o pego na mesa
da cabeceira. Com um olho aberto e outro fechado, vejo três ligações
perdidas da minha mãe. Merda!
Olho a hora e constato que ainda estou no horário para tomar uma
ducha e seguir direto para meu treino e, com sorte, ainda consigo tomar um
café da manhã decente.
Me levanto da cama num pulo e sinto uma tontura, que faz eu me
apoiar no aparador que fica no meu quarto. Porra! Acho que abusei da
bebida noite passada.
Respiro fundo e caminho direto para o banheiro. Nada que uma
ducha gelada não resolva.
Após um banho rápido, coloco uma roupa qualquer que separei do
meu guarda-roupa, desço as escadas, pego minha carteira e a chave da
minha Ducati Superleggera V4 que já estava em cima do balcão da cozinha
e vou direto para o elevador.
Chego no estacionamento,e caminho em direção a minha área,
pego o capacete que sempre deixo em cima da moto.
Reservei um bom espaço do estacionamento, pois gosto de
proteger os meus bebês.
Além da Ducati, tenho ainda mais duas motos, uma SUV e uma
picape.
Uma BMW HP4 Race.
Uma Ecosse Titanium Series Fe Ti XX.
Uma Picape Mitsubishi L200 Triton.
E uma SUV da Porshe Cayenne Turbo GT.
Apesar de ter essas opções, a minha predileta é a Ducati, e
raramente vario com as outras.
Só uso a SUV em dias de evento, e quando é assim, prefiro nem
dirigir, então é quando chamo Marcos, que é meu segurança/motorista, para
levar o carro pra mim, pois geralmente nessas ocasiões não tem como não
consumir álcool, por isso, ele fica com a função de me levar e trazer em
segurança, como se eu fosse a merda de um pacote. Odeio parecer assim,
mas às vezes se faz necessário, além de ser melhor do que depender de táxi,
pois dessa forma tenho mais comodidade.
Como na noite anterior, em que tive um evento para ir, de um
bilionário que é dono da maior parte da escuderia para a qual piloto,
resolveu dar uma festa para todos os patrocinadores, e eu, como piloto
principal, não poderia faltar. Sendo assim, fui, fiz meu papel de bom moço,
e ainda saí acompanhado de gêmeas maravilhosas, e Marcos precisou nos
levar ao hotel para onde sempre levo minhas fodas. Uma foda casual,
aconteceu…
Já a picape, uso apenas em dias de chuva ou muito frio para se
estar em cima de uma moto. Por mais que eu goste de dirigir, que é pouco,
mas gosto, prefiro sempre pilotar. Há algo de libertador em estar sobre duas
rodas. E foi essa sensação de liberdade que me levou a escolher a profissão
que eu tenho hoje, a de piloto de Moto GP.
Sentir o vento batendo no rosto, me dando liberdade e, ao mesmo
tempo, a adrenalina de estar sobre uma máquina potente, em que é você a
dominá-la, estar sempre alerta e com atenção redobrada para não cometer
erros; são essas coisas que me fazem preferir sempre uma moto ao invés de
um carro.
Meu apartamento fica a menos de dez minutos de distância do
maior autódromo[3] da cidade, que é também onde treino, e onde minha
equipe fica para fazer toda a avaliação de check-up da corrida.
Monto a Ducati e sigo para o autódromo.
O trânsito cooperou hoje, e cheguei bem mais rápido que o
normal.
Estaciono minha moto na minha vaga privativa, no
estacionamento do autódromo.
Desço, arrumo meu cabelo pelo retrovisor da moto após retirar o
capacete, e ajeito minha roupa.
De onde estou já consigo ouvir os treinamentos na pista.
Acabei de sair do lugar onde durmo todas as noites, mas é aqui
onde realmente me sinto em casa.
Amo minha vida, as viagens, as mulheres, os amigos que
conquistei, mas, principalmente, de viver o meu sonho, que é correr nas
pistas.
Vou direto para a lanchonete perto do estacionamento para tomar
um café, afinal, ainda estou em uma ressaca fodida, e preciso da ajuda da
cafeína para seguir com o meu dia.
Digamos que ontem eu rendi mais algumas matérias para as
revistas de fofoca.
Arrisco dizer que eles têm conteúdo para trabalhar por mais de
uma semana, pois, sinceramente? Não me lembro de muita coisa, então, é
bem provável que eu tenha exagerado nas bebidas, e dado bandeira ao sair
com as duas gostosas para o hotel para nos divertirmos um pouco.
Ontem foi só mais um evento chato da alta sociedade, onde eu
deveria comparecer, a convite do tal bilionário. Até aí tudo bem, ok.
Compareci, fiz minha parte.
O que eu posso fazer se as mulheres caem em cima?
Não posso deixar elas na mão.
Fico feliz em deixá-las felizes. E bem fodidas.
Sendo assim, depois de cumprir a minha parte e fazer uma social
no evento, peguei duas gatas maravilhosas que ficaram me secando a noite
inteira e seguimos para uma festinha particular.
Seguimos para o Village Hotel, pois não gosto de levar mulheres
para a minha casa. É intimidade demais e elas sempre confundem as coisas,
já que não conseguem entender o conceito de sexo casual: uma foda e
tchau. Nada mais!
Nessas situações, Marcos sempre faz também o trabalho sujo de
despachar as mulheres, chamar um táxi e pagar a hospedagem. Nunca tenho
paciência para o pós-sexo.
Saio dos meus devaneios e me sento em um dos bancos altos do
balcão e peço um café e ovos mexidos.
— A noite ontem foi boa? — A voz do meu empresário, Jeff
Hestting, me faz olhar sobre meu ombro, apenas para encontrá-lo atrás de
mim. Porra! Tô fodido!
Jeff me conheceu quando eu tinha vinte anos e me aventurava em
corridas clandestinas para conseguir uma grana e ainda fazer o que gostava.
Eu não passava de um jovem rebelde em busca de adrenalina para viver a
vida do jeito que queria: sobre cima de duas rodas.
Me apaixonei por isso quando ainda estava no colégio e tinha
quinze anos.
Na saída das aulas, vi um grupo de caras com motos que pareciam
monstros de tão gigantes. Ao menos eram gigantes para mim naquela
época. Lembro que havia um garoto da minha turma junto com eles, o
Pedro, e no dia seguinte, me aproximei dele e perguntei quem eram aquelas
pessoas, ele me disse que era o irmão e alguns amigos, e que participavam
de corridas clandestinas e ganhavam uma grana. Fiz ele me levar em uma, e
daí em diante nunca mais consegui ficar longe de uma moto.
Contudo, como eu não tinha uma moto, o irmão desse menino me
emprestou a dele, pois sabia que meus pais tinham dinheiro, e se eu sequer
a arranhasse, pagaria em dobro. Ele fez questão de deixar isso bem claro
antes de permitir que eu subisse na moto.
Naquela primeira noite eu não corri, apenas dei algumas voltas e
conheci a moto.
Na segunda noite, pedi para participar da corrida e consegui
chegar em segundo lugar, sendo assim, pegava toda a minha mesada e
pagava ao irmão do Pedro um aluguel da moto dele, para que me deixasse
usá-la nas corridas, já que, apesar de ter a mesada que meus pais me davam,
era um valor insignificante para a compra de uma moto, e meus pais jamais
me dariam uma, eles infartariam se sonhassem que participava daquele tipo
de coisa.
E, realmente, quase tiveram quando descobriram.
Quando tomei coragem para contar que não iria prestar vestibular,
pois queria ser piloto de corrida, os dois quase me deserdaram. Eles sempre
foram pais presentes e carinhosos, mas essa minha época de “descoberta”
nos afastou demais.
Sem o apoio deles, comecei a trabalhar em uma mecânica de um
conhecido, e guardava cada centavo que entrava, junto com o dinheiro que
ganhava com as corridas — já que eu continuava alugando a moto do
irmão do Pedro.
Assim que completei dezoito anos, consegui alugar uma kitnet e
ter o meu espaço, para parar de ouvir o meu pai reclamando no meu ouvido,
dizendo o quanto eu era irresponsável e ingrato por ter tido o melhor dos
estudos e estar desperdiçando tudo.
Em um ano, consegui juntar dinheiro para comprar a minha
primeira moto. Usada, com documentação atrasada e com mecânica para
fazer, mas era minha, e eu tinha um orgulho do cacete por isso.
O dono da oficina mecânica era de boa, então, quando eu não
tinha serviço, ele me deixava mexer na minha moto, e era isso que eu
sempre fazia no meu tempo livre.
Com a minha moto pronta, continuei participando das corridas,
mas finalmente com algo meu, sem depender dos outros.
Conheci o Jeff no meu trabalho. O meu chefe da época comentou
com ele que eu participava de corridas e o homem se interessou, então o
convidei para assistir uma das minhas corridas, e no mesmo dia ele pediu
para me empresariar, mas com a promessa de que eu nunca mais pisaria em
uma pista clandestina, pois senão ele estaria fora.
A rapidez que tudo aconteceu em seguida foi surpreendente.
Simplesmente pareceu que Jeff Hestting caiu do céu para me dar
um rumo na vida, e eu sempre serei eternamente grato a ele por isso.
Jeff viu em mim um futuro, acreditou no meu potencial e investiu
em mim quando ninguém mais o fez. Tudo o que conquistei até hoje com a
minha carreira foi graças a ele e, por isso, o tenho em alta estima, e ele sabe
disso.
Saio dos meus devaneios e respondo ao questionamento que meu
empresário fez:
— Foi, sim. Agradeço sua preocupação — digo quando ele se
acomoda no banco ao meu lado.
Jeff me encara com cara de poucos amigos.
— Porra, Heitor! Custa se comportar em público, caralho? —
começa a falar logo o que pensa. — Faz as merdas que você quiser, mas
longe das câmeras. Fazendo merda diante dos paparazzi eu não consigo
limpar a sua imagem. Como você quer manter os patrocinadores desse jeito,
porra?
E é assim que começa o primeiro sermão do dia.
 

 
Estou exausta.
Essa semana está se arrastando. Hoje ainda é quinta-feira e eu já
estou um caco.
Suspiro cansada.
Saio do elevador, entro no corredor do meu apartamento e me
deparo com Dona Vilma vindo em minha direção, provavelmente para
pegar o elevador, pois vejo que está segurando sacolas que devem ser de
lixo.
— Boa noite, menina — cumprimenta. — Chegando tarde hoje,
hein?
Conheço Dona Vilma desde que me mudei para cá.
Ela é uma senhora de uns setenta anos, baixinha e rechonchuda, e
muito, muito amorosa, que me ajudou tanto quando cheguei aqui, que não
tenho nem como agradecer.
Ela foi como um anjo na minha vida, pois no começo estava
perdida no cuidado com minha irmã, e era ela que me auxiliava nesse
quesito, sempre ficando com Alice na casa dela quando era mais nova, já
que hoje não é mais necessário, e sempre nos mimava com suas refeições
maravilhosas também, mesmo eu nunca pedindo e falando para ela não se
preocupar. Até hoje ela ignora os meus pedidos e vira e mexe aparece com
um pote gigante de comida para um batalhão.
Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que ela nos adotou. Sempre
cuidou de nós muito bem, sem nunca pedir nada em troca; foi meu alicerce
nos primeiros meses, pois eu ficava muito preocupada em deixar Alice
sozinha, e ela estava lá para me auxiliar e me acalmar quando necessário.
Dou alguns passos para chegar até ela, lhe dou um abraço e um
beijo estalado na bochecha rechonchuda.
— Trabalhando, Dona Vilma. — Suspiro cansada. — Hoje foi um
dia daqueles.
— Tem que descansar, menina. — Afaga meus braços de um jeito
carinhoso.
— Sim. Sim. — Sorrio. — Eu vou, em breve.
Me despeço dela, e sigo para o meu apartamento.
— Oiee! — grito da porta, ainda tirando o sapato na soleira.
— Oi, Lena. — responde Alice da cozinha.
Geralmente revezamos em nossas refeições.
Às vezes eu faço de noite e deixo o suficiente para ela almoçar no
dia seguinte, ou trago da lanchonete quando sobra algo, ou então Alice
prepara alguma coisa pra gente comer.
Hoje mesmo é um dia onde tem comida suficiente para nós duas,
pois sobrou de ontem, e eu ainda trouxe algumas coisas da lanchonete.
Sigo para a cozinha e vejo Alice em frente ao fogão,
aparentemente esquentando o nosso jantar.
Coloco a comida que eu trouxe no balcão da cozinha, e vou
separando tudo para esquentar também.
Me aproximo até parar ao seu lado e lhe dou um beijo na testa;
apesar de ser seis anos mais velha e ela ainda ser uma adolescente, já está
do meu tamanho e tenho certeza que irá me passar na altura logo, logo. Não
que isso seja muito difícil, já que tenho nem um e sessenta.
— Dá tempo de eu tomar um banho? — pergunto, enrugando o
nariz.
Alice bufa antes de me responder. Oh, menina mal-humorada,
Senhor!
— Não demora, Lena — resmunga.
— Sim, general! — Finjo uma continência e ela acaba rindo. —
Volto em cinco minutos.
— É sério! Eu estou com fome.
— Você está sempre com fome, Alice! — Olho para trás por cima
do ombro e ela me mostra a língua, me fazendo rir novamente.
Alice e eu só temos uma à outra, então, sempre fazemos de tudo
para conseguirmos jantar juntas sempre que possível.
Tomo um banho super rápido e quando volto, a mesa já está
pronta.
Essa noite comemos macarrão, salada e frango grelhado. 
Como Alice ainda precisa terminar um trabalho para o colégio,
comemos rapidamente e conversamos um pouco à mesa, durante uma
garfada e outra.
Ela me conta o quanto está animada com a aproximação das
férias, e reclama de algumas meninas da sua sala, de como são exibidas e
oferecidas. 
Óbvio que ela está com ciúmes de alguém!
— Uhnn... — Sondo, rindo da sua raiva. — E por acaso essas
meninas estão se oferecendo para alguém específico?
Alice fica parecendo um pimentão na mesma hora.
— Nada a ver, Lena. — Termina de comer e rapidamente se
levanta.
Resolvo não pressionar, pois sei que quando ela estiver pronta, vai
compartilhar comigo o que está passando.
Dou risada e me levanto também, pois já terminei de comer.
— Então tá bom — digo, balançando o ombro e sorrindo, e vou
até a cozinha.
Enquanto Alice faz o seu trabalho, vou cuidar da louça de hoje.
Porém, antes de entrar no seu quarto, minha irmã para no corredor
a e se vira para mim.
— Ah, Lena! Posso dormir na casa da Dani amanhã?
— Não preferem vir pra cá?
— Não! — responde de imediato, quase gritando. Olho para ela
intrigada.
— Tem certeza? Faço pipoca pra vocês e deixo a sala livre para
aproveitarem, relaxa. Vou ser super discreta. — Levanto minha mão, como
se estivesse dando minha palavra.
Alice limpa a garganta antes de me responder.
— Sério, Lena. Prefiro ir pra lá. Pode ser?
— Uhn… Então tudo bem. — Ergo os ombros. — Tudo bem pela
mãe dela?
— Sim — responde de imediato.
— Ok, então. — concordo com a cabeça e ela sorri, agradece e
segue para o seu quarto.
Daniela, ou Dani, como gosta de ser chamada, tem a idade da
minha irmã, e se conhecem desde que Alice entrou na escola e se tornaram
inseparáveis.
Quase todo final de semana uma dorme na casa da outra, parecem
grudadas, então, por esse motivo, não estranho o pedido.
Termino de lavar a louça rápido, e como estarei sozinha amanhã,
não preciso me preocupar com a comida, como qualquer salgadinho antes
de dormir.
Passo no quarto da Alice para lhe dar boa noite e finalmente sigo
para o meu, e  mal deito minha cabeça no travesseiro, já estou desmaiada.
 

 
Finalmente a sexta-feira chegou. Aleluia, Senhor!
Agora estou dentro do ônibus. Em pé. Sendo espremida, e com a
cabeça embaixo de um sovaco peludo, no qual o desodorante já venceu.
Mas é sexta-feira. Nem esse sovaco peludo vai tirar a minha paz hoje. Nem
a pau.
Finalmente o meu ponto chega e desço do ônibus, aliviada por
sentir ar puro no coitadinho do meu nariz. Ufa.
Ando até o meu prédio, e quando estou atravessando a recepção,
vejo o porteiro da noite com a cabeça abaixada, provavelmente assistindo a
novela, nunca prestando atenção em quem entra ou sai daqui. Bela
segurança! Solto o ar pela boca.
— Boa noite, Senhor Francisco — cumprimento.
O homem levanta a cabeça preguiçosamente e sorri quando me
vê.
— Boa noite, menina.
Sigo para o elevador e jogo a cabeça para trás, encostando na
parede, então o elevador sobe e fecho os olhos. Minha vontade é dormir o
final de semana inteiro, levantar só para as necessidades básicas: comer e
dormir. Mas é impossível, estou em época de prova e preciso estudar igual a
uma doida para não bombar.
Abro a porta do apartamento e vejo que está tudo apagado.
— Alice? — Estranho o silêncio, até que me lembro que minha
irmã está na casa da Dani. — Puts. Esqueci. — Bato a mão na minha testa e
balanço a cabeça. — Eu tô ficando doida.
Tiro o meu celular da bolsa e sigo para o meu quarto, enquanto
digito uma mensagem para a Alice. Após enviar, penduro minha bolsa no
cabideiro e jogo meu celular na cama, então pego a toalha para tomar um
banho, pois meu cabelo deve estar super fedido depois de um dia inteiro no
meio de frituras, e ainda finalizar com um sovaco suado em cima dele.
Ergh! Faço uma careta só de lembrar, meu nariz chega a pinicar com a
lembrança. Eca.
Caminho até o banheiro, e quando já estou na porta, escuto meu
celular tocar e volto correndo, pensando que é a Alice.
Olho o visor e vejo que é a mãe da Dani.
Alô.
— Oi, Elena! Boa noite. Tudo bem?
— Está sim, e por aí?
— Sim, tudo ótimo — responde agitada, e percebo que enquanto
ela fala comigo, está fazendo alguma coisa. — Desculpa te ligar tão tarde,
era para eu ter te ligado antes, mas não consegui.
— Imagina, sem problemas.
— Só estou te ligando para perguntar se está tudo bem com as
meninas.
Fico alguns segundos muda, tentando entender o que está
acontecendo.
— Oi?
Aparentemente ela não me escuta, pois continua falando agitada.
— A Dani me avisou em cima da hora que iria dormir aí, estou
na rua agora, e só queria saber se está tudo bem.
— Ahn…. — Tento fazer meu cérebro trabalhar. Será que as
meninas mudaram de ideia porque a mãe da Dani não estava lá, e agora
estavam vindo para cá? Eu, sinceramente, espero que sim.
— Desculpa. Vou precisar desligar agora! — Percebo que ela
está quase correndo, pois começa a gritar no telefone. — Manda um beijo
para as meninas, e qualquer coisa me liga. Beijo. — E assim, desliga
praticamente na minha cara.
Fico parada encarando o telefone.
Mas que merda está acontecendo?
Percebo que já estou começando a suar.
— Não surta, Elena. A Alice provavelmente está a caminho de
casa — digo para mim mesma para tentar me acalmar.
Meu celular vibra ainda na minha mão, e vejo que é uma
notificação de mensagem da minha irmã.
— Está vendo? Ela deve estar mandando uma mensagem para
dizer que está vindo. — Forço um sorriso no rosto.
Abro o aplicativo e vejo a última mensagem que mandei para ela,
e embaixo a sua resposta.
 
 
 
Oi, Xuxu
Está tudo bem por aí?
 
 
 
Oi, Lena
Está sim.
 
Boa noite!
 
 
 
— Puta que pariu! — Esfrego o meu rosto, enquanto encaro a sua
resposta. — Mas que PORRA!
Onde essa menina está? Aliás… Onde essas meninas estão?
Sinto minha espinha gelar.
Merda. Eu sei que adolescente só faz cagada. Mas, porra! Eu
realmente tinha esperança de Alice não me dar trabalho.
Com a mão tremendo, começo a ligar para ela, que não me atende
nas duas primeiras ligações, mas eu sou insistente, e na terceira chamada
ela me atende.
— Oi, Lena. — Percebo apreensão na sua voz.
— Alice, onde você tá?
Ela limpa a garganta antes de me responder.
— Na casa da Dani — responde rápido, mas percebo que está
com a voz tremendo. — Eu te falei ontem de noite, esqueceu?
— Alice, onde você está? — repito a pergunta e solto lufadas de
ar, tentando me acalmar.
— Elena… — choraminga e fica muda na linha. Pouco tempo se
passa, e percebo que alguma porta se abre, então um som alto invade a
ligação, uma música de fundo.
Porra! Essa menina foi para a balada? Está em alguma festa?
— Não, Alice! Não mente para mim. Eu já sei que você não está
na casa da Dani. Me fala onde vocês estão, agora!
— Desculpa — responde com a voz chorosa.
— Merda, Alice. — Esfrego o meu rosto e me sento para colocar
o meu sapato novamente. — Vocês estão em alguma balada?
— Não! — diz rápido. — Em uma balada não. Em um barzinho
— fala baixinho, quase miando.
— Barzinho? — Bufo. — Em que merda de barzinho vocês
estão? Quem está com vocês?
— Um barzinho novo aqui no centro, a gente veio encontrar
alguns amigos.
— Vocês só tem quinze anos! QUINZE ANOS! Não é para vocês
ENTRAREM na merda de um barzinho, Alice! Me passa a porra do
endereço e me espera chegar aí.
Assim que ela faz o que eu mandei, desligo a ligação, sentindo
minhas mãos tremerem de nervoso.
Abro a aplicativo para pedir um carro para me levar, porque nem
fodendo eu vou esperar um ônibus para buscar essas crianças.
Mas que merda!
Elas têm noção do perigo que estão correndo? Com certeza não.
 
 

 
Assim que entro no bar, percebo que está cheio.
Entro olhando para todos os lados, mas não consigo ver Alice e
nem a Dani.
Avisto uma mesa na lateral do bar com alguns homens
barulhentos, mas não aprofundo o meu olhar, e sigo buscando as meninas.
Desisto de ficar esticando o pescoço igual uma girafa bêbada, e
sigo para o balcão para falar com o barman.
Percebo que ele está correndo para preparar os drinks, mas vem
em minha direção para me atender.
— Oi, gatinha. Vai querer o quê?
— Desculpa. Nada. Na verdade, eu preciso da sua ajuda. Você viu
duas meninas por aqui? Uma de cabelo longo e claro, e a outra de cabelo
cacheado?
— Ah, sim! — concorda imediatamente, sorrindo. — Menores de
idade, né? Tentaram pedir um drink, mas não entreguei e mandei elas
embora. Saíram daqui há quinze minutos.
Não é possível! Eu mandei essa garota me esperar aqui. O que
está acontecendo com ela hoje? Solto um exaspero e apoio minha cabeça no
balcão, cansada.
— Eu juro que vou presa hoje, pois eu vou matar essas duas —
falo para mim mesma e escuto a risada do barman, ainda parado na minha
frente.
— Parente?
—Irmã — respondo, me recompondo e ficando ereta na banqueta
que estou sentada. — Desculpa, eu sei que você está ocupado, mas pode me
dizer se elas estavam sozinhas ou acompanhadas? — pergunto apreensiva.
Não sei nem o que se passa na minha cabeça nesse momento.
— Sozinhas, moça. Só estavam as duas.
Menos mal.
Ele concorda com a cabeça e volta pro seu trabalho.
— Obrigada — digo antes que se afaste totalmente e ele só acena
com a cabeça.
Pego meu celular na bolsa e ligo para a minha amada irmã, para
saber onde ela está agora. É hoje que eu a esgano.
Alice me atende no segundo toque.
— Eu não mandei você me esperar aqui? Onde vocês estão agora?
— Calma. Eu estou indo pra casa.
— Como?
— A gente pediu um carro de aplicativo e já estou quase
chegando, Lena — diz baixinho.
— Não é possível! Você só pode estar tentando me fazer enfartar.
Primeiro vocês vêm para um bar, e agora me pegam um carro de aplicativo,
a essa hora da noite, SOZINHAS — acabo gritando e chamando a atenção
das pessoas que estavam sentadas ao meu lado.
— Calma… — pede chorosa, como se eu estivesse errada em
brigar com ela. Seguro a ponte do meu nariz e fecho os olhos, tentando me
acalmar. É hoje, Deus!
— Alice.. — digo, rangendo os dentes para não gritar e não surtar.
— Você vai chegar, sentar a bunda no sofá e me esperar chegar. Não vai sair
da merda do sofá até eu chegar pra gente conversar. Você está me
entendendo?
— Aham.
— E compartilha a viagem comigo, para eu acompanhar.
— Tá bom.
Desligo e logo recebo a mensagem de compartilhamento de
viagem.
Vejo que ela realmente está quase do lado de casa, e tento me
acalmar.
Aproveito para pedir um carro para mim também.
Olho ao redor e percebo todos animados, sorrindo, comemorando,
dançando e parece que eu estou em uma bolha de stress. Solto o ar dos
pulmões, percebendo que fiquei triste.
Agora não é o momento, Elena.
Olho o meu celular, e noto que dois motoristas já cancelaram a
viagem.
Não resisto e começo a rir. Hoje realmente não é o meu dia. É tão
trágico, que chega a ser engraçado.
Continuo sentada, olhando para o celular, vendo o aplicativo ficar
calculando e procurando motorista, pois, pelo jeito, nenhum quer me levar
pra casa.
Já se passaram mais de quinze minutos e nada. Desisto.
Vou de ônibus mesmo.
Tomara que ainda passe ônibus por aqui esse horário.
Faço uma pesquisa rápida e vejo que na rua de trás tem um ponto
onde passa ônibus para o meu bairro; menos mal. Talvez eu não esteja tão
azarada assim, não é mesmo?
Levanto e dou um aceno me despedindo do barman, que responde
ao gesto.
Enquanto sigo para a porta de saída, olho novamente para a mesa
cheia de homens no canto do bar, que continuam gritando e rindo animados,
mas, mais uma vez, não olho diretamente e passo direto.
Na porta, já na calçada, ajeito a bolsa no meu ombro e olho de um
lado para o outro, puxando um pouco de ar para os meus pulmões.
Ok. Bora pra casa.
Endireito minha postura, e ando em direção ao ponto de ônibus.
Caminho para o fim da rua, pois preciso dar a volta no quarteirão,
já que o ponto fica na rua de trás. Assim que chego à esquina, percebo que a
rua é estreita e está sem iluminação.
Merda! Vamos lá.
Sigo o caminho e, pouco tempo depois, sem chegar nem na
metade da rua, ouço um barulho de passos atrás de mim. Espio por cima
dos ombros e vejo dois homens logo atrás, em uma distância “segura”,
mesmo assim, sinto minha espinha gelar de medo e aperto os passos para
sair daquele lugar o quanto antes, mas, para o meu desespero, percebo que
quanto mais rápido eu ando, mais parece que eles se aproximam.
Em certo momento, o desespero fala mais alto e começo a correr,
aflita, para me manter longe deles, mas não adianta, pois, em um
movimento rápido, sinto o meu braço ser puxado para trás.
Enquanto um segura o meu braço, o outro puxa o meu cabelo, tira
a minha bolsa e me imobiliza ao mesmo tempo; me desesperei e comecei a
gritar e gritar, o mais alto que as minhas cordas vocais permitem, contudo,
sinto meu rosto arder pelo tapa que tomei.
— Cala a boca, vadia — um deles sussurra com aquele bafo fétido
na minha cara, me causando ânsia.
Continuo tentando me desvencilhar do agarre dos homens, que
tentam me puxar para um canto ainda mais escuro daquele lugar.
— Rápido, segura direito essa vadia — um deles fala nervoso
para o outro, mas eu continuo lutando bravamente. Não posso desistir.
Luto como consigo, com chutes e arranhões, mas eles são muito
mais fortes do que eu e conseguem me arrastar. Céus, eu não posso perder
nem mesmo um segundo pensando no que eles podem fazer comigo ali, eu
não posso pensar, eu… não aguentaria, e não posso deixar a minha irmã
sozinha. Que Deus me ajude a sair dessa situação.
Em um movimento rápido, vejo um vulto ao longe na esquina
daquela rua estreita, então ouço uma voz alta e grossa que me faz tremer
ainda mais, mas, dessa vez, de alívio por alguém vir ao meu socorro.
— Soltem ela! — ordena com uma voz forte que parece um
trovão.
A voz rouca me deixa arrepiada e com um frio sinistro na barriga.
— Sai daqui, playboyzinho, antes que você se machuque — Não
consigo olhar para ele, pois, além de estar muito escuro, já estou perdendo
as minhas forças, não sei se pelo desespero da situação, ou pelo esforço de
tentar escapar, mas sinto meu corpo já se entregando, porém, posso jurar
que o ouvi rosnar igual a uma fera como resposta.
— Vocês é que vão se machucar, mas antes, eu gostaria que
soltassem a moça, para que possamos nos resolver como homens.
Eles dão risada, e me jogam no canto, me fazendo cair em uma
poça. Sinto meus joelhos e braços rasgando pelo atrito com o chão, então
levanto e ao olhar para o final do beco, visualizo uma silhueta de um
homem forte caminhando lentamente na direção dos meus agressores; como
um animal caminhando lentamente em direção à sua presa. 
Tento me levantar para me afastar e fugir desse lugar, mas nem
mesmo tenho tempo de processar os acontecimentos, pois logo a escuridão
me abraça, e não vejo nem ouço mais nada.
 
 
 
 

 
Depois de um dia cansativo de treino e revisão com toda minha
equipe, a galera está animada para espairecer e curtir um pouco em alguma
balada, antes de toda a correria para a próxima corrida começar
oficialmente.
Me lembro do convite que um amigo meu havia feito para ir na
inauguração do seu barzinho, isso já faz umas três semanas, e eu,
infelizmente, não consegui comparecer, e, sinceramente… Nem me lembro
o motivo da mancada, então, hoje é uma boa oportunidade para ir, e ainda
compenso o meu furo na inauguração, levando novos clientes.
Sugiro para o pessoal irmos até lá para fazermos um esquenta
antes da balada, e a galera topa na hora.
Conheci Fred, o dono do bar, na época em que trabalhava como
mecânico, e mesmo após tantos anos, acabamos mantendo contato.
Combinei com o pessoal de nos encontrarmos direto lá, e depois
seguirmos para alguma boate que costumamos ir.
Vou direto para casa para tomar um banho e após me arrumar,
pego minha moto e sigo para o bar do meu amigo.
Assim que entro, percebo que o lugar está lotado e animado.
É fácil encontrar o pessoal, pois a mesa deles está bem barulhenta
e percebo que, pelo jeito, fui o último a chegar, mas antes de seguir até eles,
vou até o balcão, onde vejo Fred fazendo alguns drinks.
Assim que me vê, ele dá a volta e vem ao meu encontro.
— Santiago! Quanto tempo. — Me dá um abraço apertado e uns
tapas nas costas.
— Verdade. — Retribuo o abraço. — Desculpa não ter vindo na
inauguração, cara. — Me afasto e olho em volta, admirando o lugar. —
Parabéns! O lugar é lindo e a galera é animada.
— Sim. Não posso reclamar. — Sorri, visivelmente feliz. — Está
quase sempre lotado aqui.
— Que bom. Você merece, cara” — Meu amigo balança a cabeça
concordando e agradece.
Fred sempre trabalhou como barman ou garçom em casas
noturnas, eventos, bares, enfim, qualquer coisa que aparecesse, ele
agarrava, tudo para juntar dinheiro e conseguir ter o seu próprio negócio, e
finalmente conseguiu. Estou realmente feliz por ele.
— Vem, deixa eu te apresentar pra galera.
Fred avisa aos outros dois funcionários que estão atrás do balcão
que já volta e me acompanha.
Quando me aproximo dos rapazes, já vejo a mesa cheia de
bebidas e preciso me lembrar que vim de moto, então não posso abusar.
Se necessário, sei que posso chamar o Marcos, mas prefiro não
precisar, gosto de manter os serviços dele apenas para os eventos, no meu
dia a dia gosto de ser um cara normal.
Apresento Fred para todos, que logo se enturma, mas fica pouco
tempo e logo volta para o bar e continua o seu trabalho de preparar os
drinks.
Gosto de ter esse momento com a minha equipe, pois, além do
stress diário do trabalho, ainda tem o stress pré-corrida, quando ficamos
loucos com os preparativos e treinamentos, então, esse é nosso momento de
festejar e extravasar entre amigos.
— Eu só quero ver a cara de merda do Bill quando você ganhar
dele de novo esse ano. — Conney Adams, meu assistente de equipe fala e
todos da mesa caem na gargalhada, inclusive eu.
Bill Anderson é piloto de uma das equipes adversárias, e por ele
não ser tão ruim assim, logo a mídia nos “pintou” como inimigos diretos; eu
resolvi ignorar o marketing, já o Bill resolveu interpretar o papel à risca,
sempre soltando alguma piadinha ou tentando me provocar de alguma
forma. Na maioria das vezes eu ignoro, mas em muitas outras ele voltou
com o olho roxo pra casa, o que só piorou a sua inimizade por mim. Para
mim, o idiota é indiferente. Só mais um idiota.
— Ele vai superar — digo ainda rindo.
— Essa vitória é nossa — Giovanni, chefe de equipe, diz e
levanta o copo em forma de comemoração. — Mais uma para a coleção —
fala mais alto, visivelmente alterado.
Percebo que não é só ele, boa parte da mesa já está animada
demais, acho que chegaram bem cedo, ou eu que cheguei mais tarde do que
o esperado.
Vamos brindar a nossa vitória — grita Mike, um dos nossos
mecânicos.
Levantamos a caneca com chopp e fazemos um brinde caloroso,
comemorando nossa futura vitória.
Muitas pessoas nos enxergariam como arrogantes ou prepotentes.
No entanto, estão errados. Somos conscientes da nossa capacidade de
vencer, e estamos sempre em busca de melhorar, de nos atualizar, de estudar
o adversário; estamos sempre atentos e nos dedicando, por isso somos os
melhores. Foda-se quem pensa o contrário. Não cheguei onde estou com
medo ou dúvida, e a minha equipe pensa da mesma forma, por isso nos
completamos.
Após um tempo de conversa e muita zoação, olho para a porta de
entrada e sou atraído por uma garota que entra de modo rápido e quase
desesperado, olhando para todos os lados, como se estivesse procurando por
alguém; seus olhos esquadrinham todo o bar, inclusive nossa mesa, mas não
prende o olhar em ninguém em específico, até que olha para frente e segue
até o balcão, e começa a conversar com o Fred, que parou para lhe atender.
Eu, particularmente, gosto de mulheres ousadas e mais velhas,
aquelas de parar o quarteirão, mas me pego com o olhar preso nessa garota
pequena, que sequer me olhou nos olhos. Ela não deve ter mais de vinte
anos, cabelos longos e castanhos que chegam quase até sua cintura, e de
longe parece uma chiquita de tão pequenina, com certeza não deve ter mais
de um e sessenta de altura.
Percebo que após trocar algumas palavras com o meu amigo, a
garota começa a falar no celular e está nitidamente alterada. Para ser mais
específico: puta da vida.
Será que tomou um bolo de algum idiota? Penso comigo mesmo.
Após poucos minutos na ligação, ela continua mexendo no celular
e nem olha para os lados ou pede alguma bebida.
Analisando melhor, ela não está com roupas comuns de quem vai
a um bar, pois está usando camiseta simples, calça jeans e tênis. O que essa
garota veio fazer aqui? Quem ela veio encontrar?
Todo o pessoal da minha mesa continua rindo e conversando
animado, mas nem consigo mais prestar atenção no que estão falando.
Minha atenção está toda voltada para a garota misteriosa que não consigo
desviar o olhar.
Após um tempo, ela se levanta e, com um aceno, se despede de
Fred, que retribui, e vai direto para a saída.
Sinto vontade de me levantar e ir atrás dela para oferecer um
drink, já que a pessoa que ela veio encontrar não está aqui, mas me
mantenho no meu lugar, ainda sem desviar o olhar.
Assim que sai na calçada, ainda consigo visualizá-la, pois boa
parte da parede é de vidro, nos dando uma boa visão da rua, e é por isso que
imediatamente percebo dois caras que estavam ali a observando de longe e
conversando entre si, apontando discretamente para ela. A garota ainda
mantém o olhar abaixado e segue para o lado oposto de onde os caras estão,
me causando um certo alívio por ela não precisar passar perto deles, mas a
sensação evapora rápido, já que eles decidem começar a andar na mesma
direção que ela.
Esses imbecis não tentariam nada contra a garota, certo?
Sinto um aperto no peito com tal possibilidade e imediatamente
me levanto, sem me dar o trabalho de falar alguma coisa para o pessoal da
mesa.
Saio cedo do bar e sigo na mesma direção que foram.
Perto da esquina, já consigo ouvir os gritos da garota, o que me
faz acelerar os passos.
Assim que viro a rua, percebo que é um beco com pouca
claridade, e a garota está sendo arrastada pelos dois homens.
— Rápido, segura direito essa vadia. — Escuto um deles dizer ao
outro, e percebo que a garota luta bravamente para se livrar deles, mas ela é
pequena demais.
Meu sangue ferve e vejo vermelho.
— Soltem ela! — rosno furioso.
Sinto tanto ódio com o que presencio, que minha vontade é de
matar esses filhos da puta.
— Sai daqui, playboyzinho, antes que você se machuque — o
desgraçado que está segurando-a pelos cabelos diz, e continua a forçando a
andar para um canto mais escuro.
Sinto minhas veias queimarem de ódio.
— Quem vai se machucar aqui são vocês — digo, indo em passos
lentos em direção a eles. — Mas antes, eu gostaria que soltassem a moça
para que possamos nos resolver como homens. 
Assim eu consigo a atenção desses merdas, que finalmente olham
para mim e começam a gargalhar, em seguida jogam a garota no chão, que
aparentemente cai desmaiada.
Tento demonstrar frieza, pois sei que vou acabar com esses bostas
facilmente, mas minha vontade é de estourar a cabeça desses putos no
asfalto.
Não preciso esperar muito, e logo o idiota avança em cima de
mim, tentando socar o meu rosto. Seguro seu braço facilmente, o travando,
e soco com força suas costelas, o fazendo urrar de dor.
— Aaah! — grita e se afasta, segurando as costelas.
O segundo homem vem em minha direção e tenta me golpear na
região do abdômen, mas desvio facilmente e lhe dou uma rasteira,
aproveitando para chutar a suas costelas também. 
Me sento sobre a barriga do homem que está no chão e começo a
desferir socos no seu rosto, embora minha vontade seja agarrar o seu crânio
e estourar no asfalto. Ele até tenta se defender, mas não é páreo para mim,
estou cego de ódio.
O outro homem que estava afastado retorna e vem para cima de
mim, desfere um soco no meu peito com força, fazendo com que eu solte
seu amigo que está embaixo de mim e já não se mexe mais, aparentemente
inconsciente.
Sinto o meu peito arder pelo golpe, mas não há tempo de sentir
dor.
Rapidamente me levanto e avanço para cima dele, lhe desferindo
socos na cara e na barriga.
— Haaaa! — grita.
O empurro até a parede e agarro sua traqueia, começando a
apertar.
— Eu vou matar você, Hijo da puta[4]. — Cuspo na cara do
infeliz.
Ele tenta me fazer soltar seu pescoço, apertando o meu braço, mas
não solto e percebo que já começa a esbugalhar os olhos e a ficar roxo.
— Calma, cara. — O homem que estava no chão recobra a
consciência, se levanta, e estende as mãos, se rendendo. Sua cara está cheia
de sangue, e mesmo na penumbra desse beco, consigo ver que um olho já
começa a inchar. — Não sabíamos que ela era sua. — Começa a andar para
trás, se afastando devagar.
Solto o homem que já estava começando a desfalecer nos meus
braços, e ele cai no chão, tossindo e massageando o pescoço.
— Nós já estamos indo embora, cara. — Se arrasta pelo asfalto e
vai em direção ao amigo, que tenta o ajudar a se levantar. — Nós já vamos,
cara. Deixa a gente ir. 
Começo a avançar na direção dos desgraçados para pegá-los
novamente, mas ouço um gemido de dor da garota que ainda está no chão.
Mierda[5]. Preciso tirá-la daqui.
— Se eu encontrar vocês de novo... — digo calmamente — Eu
mato. 
— Desculpa, cara. Desculpa — pedem sem parar. — Nunca mais.
Nunca mais.
Se atrapalham e saem rápido de perto de mim, indo embora.
Sinto uma vontade louca de ir atrás desses merdas e matá-los, mas
agora, minha prioridade é tirar essa garota desse beco imundo e cuidar dela.
A vejo no chão, tão pequena e indefesa, o que só faz o meu ódio
aumentar por aqueles infelizes.
A garota continua desmaiada.
Me abaixo, pego sua bolsa que está ao seu lado e a coloco nos
meus braços.
 

 
Com ela no colo, me direciono a porta dos fundos do bar e entro,
o segurança me vê e não questiona, então peço para ele abrir o escritório do
Fred para mim e o chamar.
Assim que entro, deito-a no sofá que fica no canto.
Tiro os cabelos que estão no seu rosto e percebo que sua face está
avermelhada. Com certeza deve ter levado algum tapa daqueles filhos da
puta. Fico furioso, mas respiro fundo, pois nesse momento só preciso de
calma.
Observo também que sua calça rasgou nos joelhos, e os braços
estão arranhados, provavelmente ralou quando caiu desmaiada.
Me afasto bufando.
Pouco tempo depois, Fred chega e se depara com a moça deitada
em seu sofá e me lança um olhar questionador.
— Desculpe invadir seu espaço. — Passo a mão no rosto, em uma
tentativa vã de me acalmar, e começo a andar pelo local. — Não tinha como
eu levar ela para outro lugar em cima da minha moto — tento me explicar.
— Que porra é essa, Santiago? — pergunta, apontando para a
moça.
— A encontrei sendo agredida por dois homens aqui ao lado do
seu bar. — Me encara surpreso, e percebo que também fica nervoso. —
Cheguei a tempo de evitar que acontecesse o pior, mas ela acabou
desmaiando — resumo a história. — Porém, como eu acabei de te explicar,
estou de moto, não tinha onde levar ela assim.
— Puta que pariu! — Fred passa as mãos pelos cabelos, e percebo
que ficou transtornado com a história. — E os filhos da puta?
— Minha vontade era de matar os merdas. — Fervo de ódio. —
Dei uma surra nos infelizes, mas eu precisava tirar a garota de lá — digo o
suficiente para que ele entenda.
— Mas que porra — repete, ainda esfregando os cabelos. —
Merda! Vou pegar água pra ela.
— Obrigado, cara. 
Assim que ele sai pela porta, volto a observar a garota no sofá.
Não sei o que me deu para segui-la quando saiu do bar, eu só fui
movido pelo instinto de que ela precisava de mim. Fui atraído para ir atrás
dela e ver o que ela estava passando. Mierda! E se eu não tivesse ido, o que
seria dessa garota?
Fred retorna e me entrega duas garrafas de água, e informa que
precisa voltar, mas diz que se eu precisar de qualquer coisa é só chamar.
— Fica à vontade, Santiago. — Aperta meu ombro. — Ela vai
ficar bem, graças a você.
— Não sou a porra de um herói — digo nervoso. — Só fiz o que
qualquer um faria.
— Mas era você que estava lá e fez. — Se vira e sai, me deixando
sozinho com ela de novo.
Pego a cadeira que estava na mesa e puxo para sentar do lado dela
no sofá, para esperá-la acordar.
Sem conseguir me conter, começo a alisar seus cabelos, e percebo
que começa a abrir os olhos. Imediatamente me afasto e aguardo.
— Hummm — geme e leva a mão à cabeça.
— Que bom que acordou — digo suavemente para não a assustar,
o que não surte muito efeito, já que dá um pulo do sofá, se sentando
imediatamente.
— Quem é você? — Começa a olhar para todos os lados,
completamente apavorada.
— Calma, garota — falo baixinho e continuo sentado, tentando
não a espantar mais com o meu tamanho. — Meu nome é Heitor. Se lembra
do que aconteceu?
Ela continua me olhando, alarmada e confusa, e a vejo arregalar
os olhos e leva as mãos aos lábios que formam um O.
— Meu Deus! — Vejo seus olhos se encherem d’água. —
Aqueles homens... — Abaixa o olhar e começa a analisar seu corpo,
passando a mão por ele em busca de algum indício de que tenham feito algo
pior a ela.
— Fica calma. — Estendo minha mão e pego a sua, que é tão
pequena que some dentro da minha. Percebo que a garota fica um pouco
tensa com o contato, mas não se esquiva — Eles não fizeram nada com
você.
Encaro os seus olhos castanhos que ainda estão úmidos e me fitam
de volta.
— Era você — sussurra. — Foi você que apareceu naquele beco e
me salvou.
— Não sou herói, garota — a corto.
— Mesmo assim, me salvou. — Ignora a minha rudeza e coloca a
sua outra mão sobre a minha. — Obrigada.
Observo as nossas mãos unidas em uma diferença enorme de
tamanho; as dela, tão pequenas e delicadas, e as minhas tão grandes e
calejadas por cima.
Levanto o olhar e me deparo com a garota me observando.
Percebo que, apesar de tudo, ela aparenta estar mais calma.
Afasto nossas mãos e pego a garrafa de água, lhe entregando.
— Beba um pouco.
Observo enquanto ela leva o bico aos lábios e começa a beber.
Não consigo desviar o olhar e… porra! A garota acabou de passar por uma
situação fodida, e meu pau resolve se animar. Arranho a garganta,
incomodado com a atitude do meu corpo.
— Qual o seu nome? — Desvio o foco dos meus pensamentos.
Ela retira a garrafa da boca, mas, com o movimento, uma gota de
água acaba deslizando dos seus lábios e ela a pega com o polegar.
— Elena. Elena Taylor — responde, totalmente alheia à situação
que o pau se encontra.
Mas que caralho!
Esfrego o meu rosto e me levanto, ficando de costas para essa
tentação, afinal, meu pau precisa se comportar. Agora não é a porra do
momento. E, muito menos, é a porra da garota pra isso.
— Elena. — Me viro para observá-la. — Sou Heitor Santiago.
Você está se sentindo bem? Bateu com a cabeça? Precisa ir ao hospital?
— Não. Não. — Se levanta devagar. — Eu estou bem. Mesmo.
Acho que eu desmaiei pelo nervoso da situação mesmo. Eu estou bem.
Onde estamos? — Olha novamente ao redor, com a sobrancelha franzida.
— No escritório do bar de um amigo meu. — Indico ao redor. —
Aqui é o bar onde você passou antes de sair para aquele beco.
Percebo que ela fica tensa com a menção do lugar, e me xingo
mentalmente pela falta de tato.
Após um momento, Elena se levanta e caminha até mim, parando
à minha frente.
— De verdade, Heitor, muito obrigada — diz, me olhando nos
olhos, e eu não consigo desviar o olhar, até que me surpreende e me abraça
de repente.
Fico parado. Sem reação.
Elena se afasta devagar, meio constrangida pelo abraço não
correspondido, e eu continuo parecendo uma estátua.
— Não me agradeça. O importante é que você está bem agora. —
Ela assente. — Você mora aqui perto?
— Ah não! Moro longe. — Balança a cabeça. — Oh, merda!
Cadê minha bolsa?
— Ali. — Aponto para o canto do sofá, onde deixei a bolsa que
trouxe junto com ela.
Corre para pegá-la e começa a procurar algo desesperadamente.
Percebo quando pega o celular, começa a mexer e faz uma ligação.
— Alice? Graças a Deus! Você já está em casa? Sim. Garota, eu
vou matar você... — Começa a andar pelo escritório e passar a mão no
cabelo e no rosto. Percebo que é uma atitude para tentar se acalmar. — Sim,
eu sei... Eu já estou indo pra casa... Aconteceu um... imprevisto — suspira
pesado -, mas eu já estou indo pra casa. Fica aí, Alice, quando eu chegar
nós vamos conversar sério. Não. Não quero ouvir suas desculpas agora.
Quando eu chegar a gente conversa. Tchau. Também te amo, mas agora eu
estou nervosa com você. Tchau. — Desliga e guarda o celular na bolsa
novamente.
Continuo parado no canto do escritório e escuto toda sua conversa
no telefone. Seria alguma amiga? Observo quando ela volta a se sentar no
sofá.
— Huuuff... — Bufa, aparentemente cansada. — Desculpe por
isso. — Sorri amarelo. 
— Não tem por que se desculpar.
— Eu preciso ir agora. — Esfrega as mãos na coxa. — Minha
irmã está me esperando.
— Era com ela que você estava falando?
—Sim. — Assente. — Eu vim até aqui para buscá-la, mas quando
cheguei, ela já tinha ido embora. — Balança a cabeça. — Ela é uma boa
garota. Nunca me deu dor de cabeça, mas hoje resolveu ir a um bar. Você
acredita? Ela só tem quinze anos. QUINZE. — Dá ênfase na idade e levanta
as mãos pro alto.
— Entendi. — Seguro o riso. — E você está aqui para acobertar
ela dos seus pais?
Percebo que fica tensa e sorri amarelo.
Não. Não. Somos só nós duas. — Sorri amarelo novamente.
Desculpe, não quis ser indelicado.
— Não. Imagina. Não teria como você adivinhar. — Faz um
movimento com as mãos para deixar pra lá.
— E como soube que ela estava em um bar?
— A espertinha me falou que iria dormir na casa de uma amiga.
— Bufa. — Aí, quando eu cheguei do trabalho, a mãe da tal amiga me ligou
para perguntar se as meninas estavam bem e se estava tudo bem por mim,
da amiga da minha irmã dormir lá em casa. E adivinhe a minha surpresa?
— Olha para minha cara, vermelha, e percebo que é de raiva. — As
espertinhas mentiram para nós duas, contando que iriam dormir uma na
casa da outra para aprontar.
Acabo dando risada do seu relato, ela levanta o olhar e me encara
de cara feia, com uma clara vontade de me bater, e imediatamente seguro a
vontade de gargalhar e fico calado.
— Enfim... Mal tive tempo de dizer alguma coisa, pois ela
desligou super rápido a ligação, acho que fiquei meio atônita também. Na
mesma hora liguei para Alice, e quando ela me atendeu, me perguntou se
EU estava bem. Acredita? — Bufa novamente, se levanta e começa a andar
pelo escritório. — Eu respondi que já sabia que ela não estava na Dani, e
perguntei onde elas estavam, e aí ela me disse que estava aqui nesse bar e
pediu para eu não surtar, pois ela estava bem. Não pensei duas vezes, e vim
atrás. — Cruza os braços. — Quando cheguei aqui, procurei ela pelo bar, e
perguntei ao barman se tinha visto duas meninas. O homem imediatamente
falou que havia duas meninas nitidamente menores de idade no bar, mas
que já haviam ido embora há algum tempo. Liguei para a Alice de novo, e a
bonita me disse que estava em um carro de aplicativo indo para casa.
Acredita nisso? EM UM CARRO DE APLICATIVO, SOZINHAS, A
ESSA HORA DA NOITE! — Se altera, jogando os braços pro ar, como se
estivesse falando com Deus e esperasse uma resposta. Me controlo para não
rir, enquanto ela continua seu relato. — O que deu nessa menina? Sério. Eu
sei que sou suspeita de falar, mas ela é tranquila. De verdade. E de uma
hora para outra: mentiu pra mim, veio para um bar, e entrou em um carro de
estranho essa hora da noite? Ok, eu sei que carro de aplicativo é meio de
transporte, mas elas são MENINAS. É perigoso demais, elas não têm
noção? — Franze a testa, e nem me direciona o olhar, como se estivesse
falando com ela mesma agora. — Enfim… Mandei ela compartilhar a
viagem comigo para eu acompanhar o trajeto delas e pedi um carro para
mim também, já que seria mais rápido do que ônibus, mas vários carros
cancelaram a corrida e sem outra opção, eu iria pegar um ônibus. Mas para
ir para o ponto, eu precisaria passar por aquela merda de rua escura, e tudo
aconteceu. — Percebo que ela estremece com a lembrança e passa as mãos
nos braços em uma tentativa de se acalmar. — Bom, a história é essa. —
Balança o ombro.
— É.... — Balanço a cabeça. — Sua noite foi realmente agitada,
linda.
— Nem me fale — diz cabisbaixa.
Analiso Elena e percebo que ela está visivelmente cansada e
abalada com todos os acontecimentos de hoje.
— Vem — digo, estendendo a mão para ela. — Vou te levar pra
casa. Vamos. Você está precisando descansar.
— Você vai me levar? — pergunta surpresa.
— Sim.
— Não. Não precisa. — Começa a negar. — E eu também não te
conheço. Não vou aceitar.
Sei que ela está certa, mas me incomoda o fato de não confiar em
mim. Porra, nem nos conhecemos, porém, ainda assim me incomoda.
Me aproximo e seguro seu rosto para ela olhar em meus olhos.
— Eu jamais te machucaria — digo com toda a sinceridade que
existe em mim. — Só vou te levar pra casa, pois vejo que você está
cansada, e de forma alguma vou permitir que vá pegar um ônibus nesse
estado, e muito menos entrar em carro de estranho, como você mesma
disse.
— Você também é estranho — diz, mas percebo que segura o riso
disfarçadamente.
— Negativo, você já sabe o meu nome, eu sei o seu, e ainda sei
como foi o seu dia. Já temos muita informação um do outro.
Elena encara os meus olhos, sem desviar em nenhum momento, e
ficamos assim por um tempo, até que ela assente devagar.
— Ok. Obrigada.
Sorrio e assinto.
— Bom. Então vamos, linda.
Pego sua mão e a levo até o estacionamento, saindo também pela
porta dos fundos.
 

 
Desperto em cima de um sofá, completamente perdida e sem
saber onde estou.
E é quando conheço Heitor Santiago.
Ele é alto, do tipo realmente alto. Embora a maioria das pessoas
seja mais alta do que os meus um metro e sessenta, ele vai além, chegando
fácil a mais de um e noventa. Além disso, ainda possui ombros largos, que
marcam muito bem a camiseta branca que está usando, veste uma calça
preta e botas que parecem coturnos, também pretos, mas o que mais me
chama atenção é o seu olhar; um olhar profundo, como se estivesse pronto
para desvendar todos os meus segredos, e, de alguma forma, me sinto
intimidada, mas não de um jeito ruim, pois não sinto medo como senti
naquela rua escura, só me sinto intimidada com a profundidade do seu
olhar, um verde-claro que me faz lembrar esmeraldas.
Sinto um frio na espinha conforme analiso o rosto másculo dele,
que tem uma barba por fazer, o que deixa sua expressão mais severa.
Fico assustada em um primeiro momento, mas, após ele me
explicar o que realmente aconteceu e eu me lembrar dos fatos, olho para o
meu corpo e percebo que minha calça está rasgada no joelho, que
aparentemente sangrou e agora já está seco, sinto meu rosto arder também,
provavelmente do tapa que o infeliz me deu, e meus braços estão
arranhados. Apesar do caos em que me encontro, só posso agradecer, pois
tenho consciência de que estaria muito pior se Heitor não tivesse me
encontrado.
Após relatar ao Heitor os acontecimentos das minhas últimas
horas, ele se prontificou em me levar para casa, o que imediatamente
neguei, mas ele me passou tanta confiança, e estou tão cansada, que me vi
aceitando sua oferta.
Ao sairmos do escritório, Heitor segura a minha mão durante todo
o caminho.
Assim que chegamos no estacionamento, Heitor passa pelos
carros e para ao chegar em uma moto vermelha que chega a brilhar.
Fico boquiaberta com o tamanho daquela máquina, e vejo que está
escrito Ducati sobre o tanque.
Heitor pega o capacete e estende para mim. Fico encarando o
objeto, paralisada.
— Não, não. Não vou subir aí não — digo negando com a cabeça
e me afastando. — Eu nunca andei de moto na minha vida, e nem ferrando
que vou subir nesse monstro.
— Monstro? — pergunta, rindo da minha cara. — Para com isso.
Prometo te levar em segurança. — Me estende a mão, esperando eu me
aproximar.
Só balanço a cabeça em negação. Sério, essa moto é MUITO
grande.
— Vem, você está segura comigo. Eu piloto há quase dezoito
anos, não vou te deixar cair. — Volta a me estender a mão, e eu finalmente
aceito.
— Não me deixa cair, por favor. — peço, apertando sua mão e
fechando os olhos ao me aproximar.
— Não vou, linda. — Sinto que passa a mão pela minha bochecha
e põe o meu cabelo atrás da minha orelha. 
Quando abro os olhos, percebo que está me encarando, mas logo
pega o capacete e coloca na minha cabeça, fechando a fivela na parte do
meu pescoço, o que me faz engolir em seco ao constatar que eu realmente
vou fazer essa loucura.
— É bem simples, linda — avisa, subindo na moto e me
estendendo a mão para montar atrás dele. — Você vai se segurar em mim
com os seus braços e apertar o meu quadril com as suas pernas. Te garanto
que ficará segura. — diz, me lançando uma piscadinha. Se, eu disse SE, eu
não estivesse uma pilha de nervos, até acharia sexy. Ah, merda. A quem eu
estou tentando enganar? Mesmo nervosa pra uma porra, eu ainda achei
essa piscadinha muito sexy. 
Eu realmente devo ter batido a cabeça quando desmaiei, porque só
posso ter enlouquecido. Isso é hora de achar alguém sexy, Elena? Socorro,
hein!?
Seguro sua mão estendida e coloco o pé no apoio de metal, com a
outra mão seguro em seu ombro e consigo montar a moto, passando a perna
para o outro lado.
Quando ele dá a partida e escuto o ronco do motor,
automaticamente o aperto contra mim; o aperto com minhas pernas e meus
braços em volta dele. Eu devo estar parecendo um polvo o esmagando, pois
ele começa a rir.
— Relaxa — diz, fazendo carinho na minha mão que está
apertando sua barriga contra mim. — Já disse que você vai chegar em
segurança à sua casa. Fica tranquila.
Como já havia explicado onde era o meu apartamento enquanto
íamos para o estacionamento, ele pilota para a saída e segue o caminho que
disse já conhecer.
É a primeira vez que eu ando de moto, e estou me cagando de
medo de cair e me arrebentar, mas tento relaxar ao pensar que estou na
garupa do Heitor, o homem que me salvou de uma agressão e um possível
trauma terrível que poderia ter acontecido essa noite. Isso, considerando
que eu saísse daquele beco viva.
Céus! Só de pensar nisso sinto subir um frio na minha espinha, me
fazendo arrepiar inteira.
Tentando conter minhas emoções, aperto ainda mais a cintura de
Heitor com os meus braços e não sei se ele percebe, mas se sim, não
comenta nada.
Acabo não afrouxando o agarre, e mantenho assim.
Pode ser idiotice, mas me sinto segura com Heitor, além do
motivo óbvio, que é ele ter me salvado daqueles cretinos, senti confiança
quando ele me olhou nos olhos e me disse que jamais me machucaria.
Então, me chamem de louca, ou até mesmo de irresponsável por
aceitar sua carona para minha casa, mas não me arrependo.
No momento, não tenho condições psicológicas de pegar um
ônibus, e muito menos condição financeira de me dar ao luxo de pedir um
táxi, já que não consegui um carro por aplicativo, que seria mais em conta,
o que também estava me dando ao luxo, pois não poderia ter esse gasto no
momento.
Observo Heitor pilotar, e percebo que ele pilota muito bem e com
responsabilidade, e assim eu consigo relaxar um pouco.
Sinto o vento gelado bater nos meus joelhos machucados, e isso
causa alívio na área que está quente e dolorida.
Seguimos o trajeto em silêncio, já que com o barulho da moto e
do trânsito fica impossível manter um diálogo, e alguns minutos depois,
consigo avistar o meu prédio.
— Você está realmente bem? — pergunta Heitor assim que para a
moto em frente ao meu prédio.
Ele estende a mão para me auxiliar a descer com cuidado, me
puxa para ficar à sua frente, desafivela meu capacete e o coloca debaixo do
braço, enquanto começo a ajeitar os meus cabelos que ficaram um
emaranhado de fios.
— Sim, estou sim — digo olhando para baixo, sem coragem de o
encarar. — Eu não tenho nem como te agradecer. Sério, Heitor, muito
obrigada mesmo — digo, ainda de cabeça baixa, sentindo os meus olhos
lacrimejarem.
Sinto que ele toca meu queixo com o indicador e polegar, e então
levanta o meu rosto para o encarar.
— Não precisa me agradecer, linda! — responde, com os olhos
fixos nos meus. Sinto que uma lágrima escapa e acaba deslizando pela
minha bochecha, a qual ele captura com o polegar, logo a limpando.
Heitor continua da mesma forma em cima da moto, em uma
posição aparentemente relaxada, mas consigo sentir a tensão no seu corpo
do momento que o agradeci, mas não desviou o seu olhar do meu em
nenhum momento desde que paramos.
— Ok. — Continuo parada, olhando-o quase hipnotizada por seu
escrutínio sobre mim.
— Só me prometa que nunca mais vai andar sozinha em uma rua
escura, mocinha — pede com um bufo de riso, descontraindo um pouco o
assunto tenso.
— Ah, isso você pode ter certeza. Capaz de eu nem sair mais de
casa de noite. Deus me livre passar por isso de novo.
— Não, Elena! — Ele volta a ficar sério. — Você não pode deixar
o que aconteceu te privar de ter sua vida. Entendo que foi traumático,
apesar de nada mais grave ter acontecido e ter ficado só o “susto”, mas você
não pode deixar de viver por causa do acontecido. Me promete que isso não
vai mudar a sua vida? — praticamente implora, me olhando com
intensidade.
— Heitor, eu não sei se....
— Promete? — Me olha firme.
— Ok, ok! — confirmo, levantando as mãos para deixar claro que
estou me rendendo. — Eu prometo que não vou deixar isso brecar a minha
vida, e de brinde, ainda prometo tomar MUITO — enfatizo —, MUITO
mais cuidado onde eu me enfio.
— É assim que se fala, linda — diz, levantando a mão para
fazermos um “high five”
Acabo gargalhando com a sua atitude de fazer o toque, pois a
julgar pela sua aparência, o imaginava mais fechado e sério.
Quando o encaro de volta, percebo que ele está me olhando
enquanto eu rio, e, céus, eu sou muito escandalosa. Socorro! Eu não posso
ver uma vergonha que já quero passar. Ele deve me achar uma louca, uma
hora estou chorando, e no momento seguinte estou aqui, gargalhando.
Heitor é o tipo de homem que causa medo em qualquer outro
homem, e cobiça em qualquer mulher ou ser humano apreciador do sexo
masculino. 
— Bom, meu salvador, eu preciso subir agora. Preciso ver se
minha irmã está bem e viva, para que eu mesma possa matar ela agora —
brinco, mas com a raiva já voltando à superfície.
— Me dá seu aparelho celular — pede, já estendendo a mão e
aguardando que eu o entregue.
— Para quê? — pergunto, erguendo a sobrancelha.
Heitor não me responde e continua com a mão estendida,
deixando claro que não vai me responder.
Desisto de uma discussão e procuro o telefone na minha bolsa, e
assim que encontro, entrego a ele, que rapidamente o pega, apenas para me
estender de volta com um olhar inquisidor, pedindo para desbloquear a tela;
mantenho a sobrancelha arqueada olhando pra ele, mas resolvo fazer o que
ele pede em silêncio, e isso tudo sem trocarmos uma palavra sequer.
Enquanto ele ainda está mexendo no meu celular, o dele começa a
tocar no seu bolso da calça, mas dá apenas um toque e para, e assim ele
devolve o meu.
— Pronto! Salvei meu número na sua agenda e liguei do seu para
o meu, assim tenho o seu número também — avisa simplesmente, me
lançando uma piscadinha.
— Pra quê?
— Para eu te ligar outro dia, para marcarmos um jantar. 
Confesso que não esperava ouvir aquilo e acabo ficando
paralisada. Heitor aparenta ter tudo o que quiser ao seu dispor. Não sei em
que ele trabalha, mas, com certeza, é em alguma coisa que dá dinheiro, pois
posso não entender nada de moto, mas, sem dúvida alguma, a sua é de um
modelo muito, muito caro, sem contar a aparência de matar que o sacana
tem o rosto quadrado, o olhar sexy, a boca carnuda… E que corpo é esse,
gente? Mesmo assustada, consegui sentir os gominhos em seu abdômen
quando o segurei na moto.
Acho que fiquei um bom tempo com “cara de tacho”, porque
Heitor começa a rir.
— Sim, Elena, eu gostaria que a gente marcasse de jantar um
outro dia, o que você acha? Nós poderíamos nos conhecer melhor.
— É.... — Céus, destrava, Elena, que isso? Parece até que eu
desaprendi a falar — Claro, a gente combina — assinto rápido.
Ele sorri, e percebo que tem uma covinha na bochecha esquerda.
Safado! Tem como ficar mais lindo? Impossível.
— Combinado então, eu te chamo — diz, me dando uma
piscadinha
— Ok, agora eu preciso mesmo subir — explico, já me afastando.
— Tchau, Elena — diz baixo, quase sussurrando.
Me viro e vou andando para entrar no meu prédio.
Quando chego ao saguão, viro a cabeça para trás para poder olhá-
lo uma última vez, e Heitor já colocou o capacete, mas continua parado,
como se estivesse realmente me aguardando entrar em meu apartamento,
para ter certeza de que estarei segura. Esse pensamento me causa um
friozinho na barriga. Um friozinho bom. Heitor percebe que estou olhando e
me lança uma piscadinha, sinto o meu rosto queimar de vergonha por ter
sido pega no flagra, então dou um tchauzinho com a mão, super desajeitada,
e saio correndo para o elevador, dessa vez, sem olhar para trás.
 

 
Fico uns bons minutos observando o prédio onde Elena entrou;
primeiro fiquei aguardando-a entrar em segurança, e depois só acabei
ficando.
Quando ela me informou onde mora, percebi que já conhecia esse
bairro, pois um dos rapazes da minha equipe morou por aqui e cheguei a dar
carona para ele uma vez. Lembro-me que ele disse estar guardando uma
grana para conseguir se mudar daqui, pois pretendia se casar, e aqui não era
um bairro apropriado para se “construir uma família”, então estava em
busca de um lugar melhor e mais seguro. Palavras dele, não minhas.
E ele não estava errado, o bairro é realmente horrível. 
Parado onde estou, consigo ver que o porteiro, que era para estar
alerta com a segurança do prédio, está tão abaixado no balcão, que mal
consigo visualizar a sua cabeça, provavelmente deve estar assistindo
televisão, mexendo no celular ou até mesmo dormindo, pois Elena entrou
pelo saguão e sequer se mexeu para ver quem estava entrando. Percebo que
não há câmeras de segurança também.
Olhando ao redor, observo que tem um ponto de venda de drogas
no fim da rua; um grupinho de meninos, aparentemente ainda sem
completar a maioridade, trocando pacotinhos por algumas notas, para quem
para e pede, nem mesmo se dão o trabalho de disfarçar.
Então, estou aqui, em cima dessa moto, pensando que, além da
garota passar por todos esses problemas diariamente, ainda teve que lidar
com o ocorrido de hoje, e se o destino não tivesse me colocado no caminho
dela, o pior poderia ter acontecido essa noite.
Lembro que ela mencionou que os pais são falecidos, mas será
que ela está sozinha cuidando da irmã? Não perguntei sua idade, mas,
aparentemente, não deve ter muito mais do que vinte anos, e já ser
responsável legal por uma garota de quinze deve ser uma merda, pois
adolescência é sempre difícil de lidar.
Elena parece ser tão frágil, mas, mesmo sem a conhecer melhor,
sei que é forte e que suporta muito mais do que as pessoas possam
imaginar, e mesmo sem entender o porquê, sinto vontade de conhecer essa
garota melhor.
Não de uma forma romântica, e nem nada.
Não nasci para essas merdas. Muito menos com garotas, como eu
já disse, gosto de mulheres.
Deixo meus pensamentos de lado e ligo a moto, decidido a voltar
para o meu apartamento, não estou com cabeça para balada hoje.
 
 

 
Assim que passo pela porta do apartamento, vejo Alice sentada no
sofá, com cara de cachorro que caiu da mudança.
Respiro fundo, para controlar minha respiração, pois apesar de
puta da vida, também estou aliviada por ela estar bem.
— Cadê a Dani? — Olho em volta do nosso “enorme”
apartamento, e vejo que estamos sozinhas.
— Foi para a casa dela — responde de cabeça baixa.
— Foi mesmo, Alice?
— Sim, Lena, eu juro. — Me lança um olhar envergonhado. —
Me desculpa.
Bufo e nem me dou o trabalho de lhe responder.
Sigo direto para a cozinha, encho um copo de água e começo a
tomar, pois estou com a garganta seca e nervosa demais, preciso me
acalmar antes de ter essa conversa com ela, pois sei que não vai adiantar em
nada uma discussão.
Após três copos de água, coloco minha bolsa em cima da mesa e
sento na mesinha de centro que é de madeira e fica diante do sofá, para ficar
de frente a Alice, para que possamos conversar.
Quando ela me olha melhor, percebo que acaba arregalando o
olho, pois vê os meus machucados nos braços e minha calça rasgada no
joelho.
— O que aconteceu com você? — pergunta assustada.
— Falamos sobre isso depois — desconverso. — O que aconteceu
com você, Alice?
Ela abaixa a cabeça e não me responde.
— Não adianta fazer a tímida agora — bufo irritada, e tento me
acalmar. — O que deu na sua cabeça para fazer isso? Você já fez isso outras
vezes?
— Não! — responde imediatamente.
— É? Jura? — Ela concorda com a cabeça, desesperadamente. —
E como eu acredito em você agora?
Ela começa a chorar e soluçar baixinho, de cabeça abaixada.
Respiro fundo e esfrego o rosto.
— Alice, olha para mim. — Espero até que ela pare de chorar e
me olhe para continuar a falar. — Eu sempre fui sua amiga. Não estou aqui
para ocupar o lugar da nossa mãe ou da nossa avó. Eu sou sua irmã, estarei
do seu lado sempre e vou te apoiar em tudo, mas o que você fez hoje é
errado. Tem ideia do perigo que correu hoje?
— Desculpa. Eu sei que fiz errado em não ter te contado a
verdade, mas não aconteceria e não aconteceu nada demais. Eu e a Dani só
queríamos sair e nos divertir um pouco.
Abaixo a cabeça, e solto um riso fraco.
— Não aconteceria nada de mais, né? Certo. — Balanço a cabeça.
— Sabe esses machucados? — Estendo os braços para ela ver melhor e lhe
mostro meu joelho também. — Sabe como eu me machuquei desse jeito?
— Ela balança a cabeça negando. — Eu estou machucada assim porque,
quando eu estava saindo do bar onde você e a Dani estavam, esse mesmo
lugar onde você acabou de dizer que não te aconteceria nada, pois vocês só
queriam se divertir, não é mesmo? Então, eu fui atacada por dois homens,
fui arrastada em um beco escuro, e eles me bateram, e fariam coisa pior se
alguém não tivesse aparecido e me salvado, Alice! Então, eu vou te
perguntar de novo: você tem ideia do perigo que correu hoje? — Sinto uma
lágrima escorrer pela minha bochecha e trato logo de limpá-la.
Alice está com o rosto assustado e chorando, sem dizer nada.
— Me desculpa. — É a única coisa que diz entre soluços.
— Não, Alice! O que me aconteceu hoje não tem nada a ver com
você. Isso é o que acontece com muitas mulheres, e o que poderia ter
acontecido com você e com a Dani também. E é isso que eu preciso que
você entenda.
Minha irmã fica de cabeça abaixada, e eu respiro fundo para
continuarmos essa conversa.
— Como eu disse, Alice, não estou aqui para ocupar o lugar da
nossa mãe ou avó. Mas eu preciso que você entenda que somos só nós duas
no mundo. — Faço um movimento com as mãos, apontando entre nós. —
Se eu não puder confiar em você, e vice e versa, como vamos fazer isso dar
certo?
— Desculpa, Lena. Eu só queria me divertir, não calculei os
riscos.
— Não, Alice. Não calculou, não pensou — bufo. — Eu não
estou proibindo você de se divertir, eu sei que está na idade de ser curiosa e
se descobrir, mas para tudo tem o seu tempo. Você tem quinze anos. A sua
diversão não é em um bar. Você quer se divertir? Vai para um shopping, um
parque, uma praça, sei lá… Mas um bar não, né? Eu não precisaria nem
estar aqui te falando isso. Você é uma garota esperta. — Bato meu dedo
indicador de leve na sua testa. — Usa essa cabecinha para pensar. Você não
é boba, então não comece a agir como uma.
— Sim. Você está certa. — Funga e limpa o rosto. — Mas você
está bem, Lena? — indaga, apontando para os meus machucados. —
Desculpa por isso.
— Estou sim, e não tem por que pedir desculpas, eu já te falei que
o que aconteceu hoje não tem nada a ver com você, e também, o pior foi
evitado. — Dou uma piscadinha em sua direção e me levanto, lhe dando um
abraço apertado.
pós o abraço, me afasto e começo a ir para o meu quarto, e
quando já estou na porta, dou um grito olhando sobre o ombro, com o olhar
fixo nela.
— Ah, e claro! A senhorita está de castigo! — Vejo que seus
ombros caem. — Da escola, direto para casa, nada de passar em lugar
nenhum no caminho, e nada de casa da Dani ou qualquer outra pessoa por
um bom tempo, mocinha.
— Tá bom — responde cabisbaixa.
Entro no meu quarto, tiro meus tênis, separo um pijama e vou
tomar banho. Se eu já estava exausta antes, nem sei dizer a sensação no
meu corpo agora.
Após um banho não tão relaxante assim, graças aos meus novos
machucados que arderam debaixo do chuveiro, volto para a sala para pegar
minha bolsa que havia deixado lá, e vejo que Alice ainda está assistindo TV,
lhe dou boa noite, beijo sua testa e sigo para o meu quarto.
Quando tiro meu celular na bolsa, percebo que tem mensagens de
um número desconhecido.
 
 
Oi, Linda.
Como você está?
Sua irmã está bem?
 
 
Pela foto, vejo que é o Heitor. Puta merda! Ele me mandou
mensagem. Puts, acabei de sair do banho e já tô sentindo uma linha fina de
suor na minha coluna de nervoso.
 
Oii
Estou bem, sim.
Já limpei meus machucados, foram só uns arranhões.
E minha irmã está bem, Graças a Deus.
Conversei com ela, e já está de castigo por tempo
indeterminado.
 
 
 
Fico feliz que vocês estejam bem.
E sobre a sua irmã, dê um desconto, adolescência é foda.
Vai me dizer que você não aprontava na sua adolescência?
 
 
Eu? Jamais.
 
 
Haha.
Vou fingir que acredito.
 
 
Eu juro.
 
 
Sei.
Boa noite, linda.
 
 
Boa noite.
 
 
Me pego sorrindo para a tela do celular.
Não esperava que ele fosse realmente me mandar alguma
mensagem, apesar das merdas que aconteceram nesse dia, ao menos teve
algo bom, que foi conhecê-lo.
Deito na cama e, como sempre, mal encosto minha cabeça no
travesseiro e já estou sonhando.
 

 
A semana está sendo agitada, como sempre.
A faculdade está uma loucura devido ao encerramento do curso,
com as provas, a galera preocupada com as festas, enquanto eu estou
preocupada com um novo emprego.
Preciso conseguir uma vaga na minha área o quanto antes.
Mandei tantos currículos nos últimos meses, que eu já perdi as
contas, cheguei até a fazer algumas entrevistas, mas, infelizmente, não fui
selecionada. O que tem de errado comigo?             
Tenho que admitir que estou desapontada por ainda não ter
conseguido nada.
Maya já me ofereceu emprego no escritório do pai dela, mas eu
gostaria de conquistar algo pelos meus próprios meios, sabe? Por mérito
próprio.
Mas, admito que, a cada dia que passa, a proposta dela parece
mais tentadora.
Alice está cumprindo o seu castigo maravilhosamente bem. Sai
comigo todas as manhãs, como sempre, e volta direto para casa, sem
atrasos, sem reclamações.
Como eu sei? Simples: videochamada. Não estou feliz com essa
situação, mas não tem outro jeito, comigo estando fora de casa o dia inteiro,
essa é a única forma de acompanhar seu comportamento.
Minha vizinha/anjo/avó postiça, vulgo Dona Vilma, sempre dá
uma passadinha no meu apartamento para ficar com ela um pouco, seja para
lhe fazer um bolo, um pão caseiro, ou para fofocar da vizinhança mesmo,
ela é um amor.
Conversei com ela no domingo, enquanto voltava do mercado, e
contei-lhe tudo o que Alice aprontou, e ela também ficou surpresa com a
atitude da minha irmã, pois  ela sempre se comportou muito bem e é uma
boa menina, mas também, como eu, associou sua atitude à adolescência, e
mesmo sem eu lhe pedir, falou para eu ficar tranquila, que estaria de olho na
pequena encrenqueira. Admito que me senti mais segura. Não que eu
desconfiasse que Alice aprontaria novamente, sei que foi apenas uma
atitude impensada, mas, ainda assim, a preocupação permanece. Então, só
tenho a agradecer à minha vizinha por poder me ajudar nessa questão.
Durante a semana, troquei algumas mensagens com o Heitor, falei
um pouco para ele sobre a minha vida, e ele me falou sobre a sua, me
contou que é piloto de moto GP, e eu admito que me surpreendeu, porque
não é uma profissão que a gente encontra em qualquer esquina, não é
mesmo, produção?
Contou-me também, que é espanhol, e se ele não fala, eu jamais
teria percebido, pois no pouco que nos falamos, não notei nenhum sotaque,
ou talvez eu estivesse nervosa demais para perceber alguma coisa.
Além de falarmos de forma resumida sobre nós, conversamos
amenidades do dia a dia, e confesso que sempre me pego sorrindo quando
vejo uma nova mensagem dele.
Hoje é sexta-feira novamente, e já estou na lanchonete, louca para
ir pra casa descansar, e passar o final de semana estudando para as provas
finais.
Respiro fundo e desperto dos meus pensamentos quando ouço o
sino da porta tocando novamente com a entrada de mais um casal na
lanchonete; geralmente o dia mais movimentado é a sexta-feira e hoje não é
diferente.
Arrumo o meu avental e sigo para a mesa deles, lhes entregando o
cardápio.
— Boa noite, meu nome é Elena e irei atendê-los. O que vão
pedir? — cumprimento, e anoto o pedido, seguindo com a minha rotina.
As horas passam rápido enquanto estou atendendo as pessoas, e a
cada passo que dou no salão entregando os pedidos, sinto que estou sendo
observada, porém, quando olho em volta, não reconheço ninguém que
esteja no salão, e os outros funcionários estão tão ou mais ocupados que eu,
ou seja, devo estar ficando louca, isso sim.
Enquanto espero um pedido, aproveito para me sentar na banqueta
que fica em frente ao balcão, já que não tem nenhuma mesa para atender
nesse momento, então, aproveito e inspiro profundamente, olho para o
relógio que fica na parede e agradeço por já estar perto do fim do
expediente.
Passo a mão pela minha nuca e percebo que alguns fios se
soltaram, por isso levanto as mãos e arrumo o meu rabo de cavalo, e é nesse
instante que sinto mãos no meu ombro e dou um pulo da banqueta, mas, ao
olhar para trás, me deparo com a minha chefe.
— Vá para casa, minha filha — diz, sorrindo gentilmente.
— Não, Dona Carminha — nego imediatamente. — Eu fecho
com a senhora.
— Não precisa, querida. — Passa a mão pelas minhas costas. —
Você fechou todos esses dias, sei que está cansada, e faltam poucos minutos
para a gente encerrar. A Clara fecha comigo hoje. — Me dá uns tapinhas
nas costas. — Vamos, levanta e vai pra casa.
— Tem certeza? — confirmo.
— Vai, menina. — Fica impaciente e me empurra para o fundo da
lanchonete, para pegar minhas coisas.
Vou até a salinha dos funcionários, me troco rapidinho, solto meu
cabelo e pego minha bolsa.
Ao sair de lá, me despeço de todos, mandando um beijinho pelo
ar, saindo da lanchonete.
Assim que atravesso a porta, dou de cara com uma moto gigante,
a qual eu já conheço.
Heitor.
Sinto um friozinho na espinha e congelo no lugar, inclusive, devo
estar com cara de doida, pois ele me olha e dá um sorrisinho de lado.
Lembra que eu falei que ele era gato? Pois é, menti! Ele não é
gato, não, gente, esse homem é um deus grego. O que é isso, mulherada?
Ele realmente existe ou é só fruto da minha imaginação?
Respiro fundo e forço minhas pernas a se moverem.
— O-oi — digo, tentando parar de tremer e falhando
miseravelmente.
Heitor ainda está me encarando encostado em sua moto e, sem
dizer nada, encerra a distância entre nós, ficando muito, muito, perto de
mim. Ele é uma cabeça mais alto do que eu, mas abaixa um pouco para que
possamos nos encarar e me forço a encará-lo de volta.
Sinto seu hálito quente com cheiro de menta no meu rosto, e meu
ventre contrai só em expectativa. Aperto minhas coxas, em um ato
automático para aplacar um pouco o calor no meio das pernas.
Que isso, hein, Elena? O homem nem abriu a boca, e você já está
aqui se derretendo por ele? Sou uma vergonha para a nação. Socorro!
O safado bufa um riso e põe a mão na minha nuca, sem apertar,
sem me puxar, simplesmente coloca a mão ali e se aproxima devagar, muito
devagar… devagar demais para a minha sanidade. Acabo fechando meus
olhos, apenas para esperar, e então sinto seus lábios na minha bochecha.
Sou tomada por uma pontinha de decepção, mas empurro-a pra lá.
Eu queria o quê? Que ele aparecesse aqui no meu serviço, do nada, e me
agarrasse? A resposta é um enorme SIM! Mil vezes sim.
Acho que eu tô ficando louca. Só pode.
Heitor afasta seus lábios da minha pele, rápido demais para o meu
gosto, e me encara, dando um sorrisinho.
— Oi, linda.
— Oi — repito, dessa vez sem gaguejar, mais ainda parecendo
uma tonta.
— Vim te buscar para aquele jantar. O que o você acha?
— Sério? Agora?
— Sim. — Passa o braço pelo meu ombro e me leva de lado até
sua moto. — Pensei em te mandar uma mensagem e marcarmos para outro
dia, mas como eu sabia o horário do fim do seu expediente, resolvi fazer
uma surpresa e te levar agora. Pra que esperar até amanhã? Vamos?
O convite é realmente tentador, mas não posso.
— Não posso — digo simplesmente.
— Não pode, ou não quer? — Levanta a sobrancelha em
questionamento.
Acabo rindo da sua pergunta e fico com vergonha de responder,
mas opto por ser sincera.
— Realmente não posso, Heitor. — Acabo rindo com o sorriso
malicioso que ele me lança.
— Por causa da sua irmã?
— Exatamente! — confirmo. — Ela está sozinha em casa, não
posso voltar tão tarde.
Heitor balança a cabeça, concordando com o que eu digo.
— Certo. Então, vamos para a minha casa, e eu preparo alguma
coisa pra gente comer, nós conversamos um pouco e prometo não te levar
tarde pra casa.
— Aahn… Pra sua casa?
— Sim. Juro te devolver em segurança para a sua irmã, palavra de
escoteiro — concorda, erguendo a mão.
— E você já foi escoteiro? — pergunto, arqueando a sobrancelha
em desconfiança.
— Não, mas você não sabia disso — brinca e me dá uma
piscadinha que me derrete toda. — Prometo te levar em segurança pra sua
casa.
— Ok. — Me vejo concordando rápido demais, mas também não
me arrependo. — Me deixe só avisar a Alice que vou chegar um pouco
mais tarde.
Após mandar uma mensagem avisando minha irmã, Heitor me
ajuda a subir na sua moto e logo sinto o vento gelado no meu rosto quando
estamos em movimento.
 

 
Uma semana se passou desde que deixei Elena em sua casa e,
desde então, nunca mais a vi. Mesmo com o número dela no meu celular,
trocamos poucas mensagens, mas, ainda assim, não tive coragem de chamá-
la para um jantar. Admito que peguei o celular várias vezes pensando em
lhe fazer uma ligação, mas não liguei, porque, porra, a menina passou por
uma puta situação traumática, e tudo o que ela menos precisa é de um cara
em cima dela igual a um urubu, lhe chamando pra sair.
Escolhi lhe dar um tempo, mas me vejo cogitando que esse tempo
já foi o suficiente.
— O que você está esperando? —  Antonio, meu irmão, me olha
espantado.
— O quê? — Bufo, irritado e arrependido ao mesmo tempo, por
ter contado o que aconteceu semana passada no bar. — Eu só estou dando
um tempo para a menina se recuperar do acontecido.
Estamos ambos jogados um em cada sofá da minha casa, após ele
aparecer de surpresa.
Antonio é o irmão do meio de nós três. Somos: Miguel, o irmão
mais velho, com trinta e sete anos, Antonio, o irmão do meio, com trinta e
cinco, e eu, com trinta e três.
Nós três nos damos muito bem, mas posso dizer que hoje tenho
mais proximidade com Antonio, já que o puto vive enfiado dentro da minha
casa para me encher o saco, já Miguel é casado e tem a sua família.
— E desde quando Heitor Santiago se preocupa com as suas
fodas?
— Ela não é uma foda — respondo rude, incomodado com a
forma que ele se refere à Elena. 
Não é segredo para ninguém que as mulheres passam na minha
vida apenas para ter uma foda gratificante para ambas as partes, mas ouvir
meu irmão falar assim de Elena não me agradou nem um pouco. Mas a
quem estou querendo enganar? Também não sou nenhum santo, e talvez
seja por saber disso que, inconscientemente, ainda não tenha entrado em
contato com ela.
— E ela é o que então, Heitor? — Arqueia a sobrancelha, me
questionando, mas percebo também um ar de riso do hijo de puta.
— Vai se fuder, Antonio — Me levanto do sofá, irritado, e vou até
a cozinha, para me afastar um pouco do meu irmão irritante. — O que você
veio fazer aqui? — Resolvo mudar o centro da conversa, assim é mais
seguro para mim. 
Antonio nem se abala com o meu rompante, e como minha
cozinha é americana, consigo ver perfeitamente meu queridíssimo irmão rir
abertamente e jogar as costas no encosto do sofá que já estava sentado,
abrindo os braços e os apoiando, como se estivesse em sua casa. 
Folgado.
— Só vim te perguntar se você vai na casa dos nossos pais para
almoçar neste domingo. 
— Vou sim. — Me sirvo um copo de suco, e devolvo a jarra para
a geladeira. — Já perguntou para o Miguel?
— Sim. Ele também confirmou.
— E veio aqui só para isso? Não podia ter perguntado por
mensagem? 
Antonio leva a mão ao peito, fingindo dor.
— Poxa, irmãozinho, assim você magoa os meus sentimentos. Eu
vim até aqui porque estava com saudades — diz de forma dramática. Se ele
não fosse um ótimo médico, poderia recorrer à carreira de ator.
— Aham. — Bebo o meu suco, e aguardo a próxima pérola do
meu irmão.
Antonio é como eu, mulherengo, mas, diferente de mim, ele ainda
tenta ter alguns relacionamentos, mas nunca duram mais de um mês. Já eu,
prefiro evitar um. Pra que ter uma, se eu posso ter todas? Também não fujo
de um relacionamento, só nunca tive vontade de entrar em um. Acho uma
coisinha desnecessária, para dizer o mínimo.
Encaro a cara lavada dele, esperando o que há por vir.
Cruzo os braços e me escoro na bancada, arqueando a sobrancelha
em uma forma clara de dizer que estou esperando.
— Ok Ok. — Levanta as mãos em sinal de rendição. — Na
verdade, eu vim pedir uma das suas motos emprestada. — Arreganha os
dentes na minha direção, em uma tentativa fajuta de um sorriso.
— NEM FODENDO! — exclamo alto, descruzando os braços e
sentando novamente no sofá. — Cadê a sua?
— Precisei levar para uma revisão, e hoje vou encontrar uma gata
— explica. — Qual é, Heitor, eu vou cuidar direitinho. Eu juro — diz,
fazendo cara de coitado.
— Aham! — Balanço a cabeça. — Igual você cuidou da última
vez?
— EU JÁ FALEI QUE FOI UM ACIDENTE! — fala alto,
passando a mão pelos cabelos, bagunçando tudo. — Foi só um
arranhãozinho.
— Arranhãozinho? — urro irritado. — Porra, Antonio, precisei
refazer a carenagem da BMW porque você simplesmente a destruiu, e agora
vem me dizer que foi um arranhãozinho? — Cerro os pulsos, irritado.
— Tá legal, tá legal — assente, desanimado. — Eu já pedi
desculpas — Vejo que seus ombros caem devido ao desânimo. — Eu tenho
um encontro hoje e queria impressionar a gata. Empresta? — Os olhos do
puto chegam a brilhar, como os do Gato de botas.
— A resposta continua sendo um sonoro NÃO — dou ênfase. —
Vai com o seu carro, e se esse namoro da vez durar até sua moto sair da
revisão, você a leva na SUA.
— Porra! — Levanta de supetão. — Chato pra caralho — bufa
irritado e vai em direção à saída. — Pelo menos eu tentei. — Balança os
ombros. — Tchau, irmãozinho — grita, já do elevador.
Nem mesmo tenho tempo de responder, pois a caixa metálica logo
se fecha, então só me acomodo melhor.
— Folgado — digo rindo para mim mesmo.
Sempre fui muito egoísta com as minhas coisas, mas com as
minhas motos? Aaaah... As minhas motos são o meu xodó, por isso eu sou
muito pior.
E aí, um dia, um único dia, no qual eu só poderia estar muito
bêbado, deixei meu querido irmão, dar uma volta. Só uma volta. E, para o
meu desespero, ele conseguiu cair com a minha moto. Foi uma queda besta,
pois ele já havia reduzido a velocidade para estacionar, então ele nem
mesmo se arranhou, mas em compensação a minha BM…
Humpf... Não gosto nem de lembrar. 
Eu realmente estava muito bêbado naquela noite para ter deixado.
Fico sentado, olhando as luzes da cidade pela janela do meu
apartamento, e meu pensamento retorna para Elena, como tem sido nos
últimos dias.
Que porra estou esperando?
Normalmente, se me sinto atraído por uma mulher, eu
simplesmente vou pra cima. Mas essa é a questão: Elena é apenas uma
menina.
Delicada.
Indefesa.
Frágil.
Até eu tenho meus limites. Ela não aparenta em nada ser como as
mulheres com que estou acostumado, e só isso deveria me repelir. Mas é
exatamente o contrário que acontece.
Saber que ela é tão diferente das que eu tenho em meu convívio
parece um ímã que me atrai ainda mais.
Foda-se!
Eu não sou nenhum moleque.
O que pode acontecer? Tô parecendo a porra de um garotinho
assustado.
Me levanto em um pulo da poltrona onde eu estava e pego a chave
da moto.
Nos últimos dias, não liguei para Elena, mas trocamos poucas
mensagens, e em alguma delas ela acabou me falando sobre sua rotina e,
consequentemente, seu horário de trabalho, então sei que está perto do fim
do seu expediente.
Olho a hora e constato que daqui a pouco Elena estará saindo da
lanchonete, e é para lá que eu vou.
Consigo chegar no local uns vinte minutos antes do fim do seu
expediente, então resolvo aguardar no estacionamento mesmo, encostado na
moto.
Graças às vidraças do estabelecimento, consigo visualizar o seu
interior e admirar a pequena Elena, ainda trabalhando, atendendo as mesas.
Por incrível que pareça, me pego ansioso para ter o meu momento a sós
com ela.
Há muito tempo não me vejo assim, talvez nunca tenha me
sentido dessa forma. Porra! Tenho certeza que, após transarmos, essa fissura
toda irá passar. Tem que passar.
Percebo que uma senhora troca poucas palavras com ela, e logo a
perco de vista. Confiro o horário e presumo que deve ter ido se trocar para
ir embora, já que faltam poucos minutos para encerrar, e percebo que
acertei quando a vejo se despedir das pessoas de longe e passar pela porta
para ir embora.
Sinto meu ego inflar quando a vejo paralisada olhando para mim.
Não que eu precise, é claro. Quer dizer que não sou o único interessado,
então?
Acabo não resistindo e me vejo sorrindo de lado para ela.
Após um pouco de esforço por parte dela, a vejo caminhar
lentamente para mim, mas não aguento a espera e encurto a distância entre
nós.
Sinto uma vontade quase incontrolável de agarrá-la aqui mesmo e
devorar a sua boca, mas me controlo e apenas pouso minha mão em sua
nuca e lhe dou um beijo demorado na bochecha, sentindo o seu aroma doce,
que me deixa de pau duro instantaneamente.
Como Elena não pode chegar tarde em casa, devido a
preocupação com sua irmã, resolvo mudar os planos e a convidar para a
minha casa, mas imediatamente me pergunto se realmente é uma boa ideia.
Se eu mal me controlo com ela em lugares “neutros”, como será
com ela à disposição na minha casa?
Que Dios[6] me ajude.
Elena não questiona sobre ter que andar de moto novamente, o
que me alivia, pois esqueci do seu receio e lembro que poderia ter vindo de
carro, mas jogo esse pensamento de lado, já que ela aparenta estar bem com
isso.
Assim que seus braços envolvem minha cintura, sinto meu corpo
arrepiar, e tenho a sensação que as coisas finalmente estão onde deveriam
estar, e essa constatação me deixa confuso.
Seguimos o caminho em silêncio, e a cada parada no trânsito,
ouso pousar minha mão em seu joelho, fazendo um leve carinho, sentindo-a
relaxada. Seguimos o caminho em silêncio, e em poucos minutos chegamos
ao meu prédio.
Estaciono na minha parte da garagem, e nos direciono até o
elevador.
Enquanto subimos, conversamos sobre as amenidades do nosso
dia, e logo chegamos ao meu andar.
Assim que ela passa pela porta, vejo que fica admirada com o que
vê, e isso me agrada, e então me lembro da minha regra: nada de mulheres
no meu apartamento.
Porra! Como eu me esqueci disso?
Bom… Regras podem ter exceções, não é mesmo? Foda-se.
— Sua casa é linda. Parabéns.
Acordo dos meus pensamentos com a voz de Elena atrás de mim,
e percebo que fiquei disperso, então arranho minha garganta antes de lhe
agradecer.
— Obrigado! Fico feliz que gostou. — Olho para trás, sobre o
ombro, e pisco o olho, fazendo-a corar.
Essa garota ainda vai me deixar louco. Certeza.
Estendo minha mão para segurar a sua, e a puxo para irmos juntos
até a cozinha.
Elena me acompanha até a bancada, onde arrasto uma banqueta
para ela se sentar, e quando está acomodada, começo a separar as coisas no
armário e geladeira.
Monto uma tábua de petiscos com um pouco de tudo, já que
preparar um jantar está fora de questão por dois motivos: tempo e
habilidades.
Sento-me ao lado dela em frente a bancada e ficamos em silêncio.
Pego um pedaço de queijo e lhe ofereço, que pega da minha mão
e direciona a boca.
— Bom?
— Humm... — Mastiga. — Uma delícia.
Tento não pensar no som do seu gemido, pego uma torrada e
passo geleia.
— Experimenta essa. — Não dou tempo de ela tirar da minha
mão, como havia feito com o queijo, e eu mesmo levo até seus lábios.
Percebo que fica surpresa, mas logo passa, quando entreabre os lábios e
morde a torrada.
A observo igual um tarado, seus lábios carnudos mordendo o
alimento delicadamente. 
Limpo a garganta para dispersar meus pensamentos, ou vou
realmente parecer um tarado na frente dela.
— E como está sendo o término da faculdade? Ansiosa? 
Elena sorri docemente e me responde animada.
Começa a me contar que não vê a hora de terminar os estudos e
conseguir um bom emprego, para que possa exercer a profissão que
escolheu.
Vejo o quanto fica feliz em contar os seus planos, e seus olhos
brilham quando fala que pretende dar uma vida melhor para sua irmã.
Fico muito feliz em ver que está em uma fase de crescimento, e
vejo que ainda voará muito alto, pois tem garra para o alcançar o que
almeja.
— Fico muito feliz por você, Elena! — digo com sinceridade. —
Com certeza você realizará todos os seus sonhos.
Elena cora e assente, envergonhada.
Sorrio da sua atitude, e inicio um outro assunto.
A conversa entre nós flui de maneira natural. Elena me conta
sobre sua vida antes de vir para a faculdade, o quanto amava sua avó e
também sua mãe, que havia falecido no parto de sua irmã, e percebo que
fica feliz e nostálgica com as lembranças.
Também falo sobre a minha criação e lhe conto sobre a minha
família.
Em dado momento, Elena olha para o relógio e arregala os olhos.
— Nossa. Olha a hora. — Se levanta imediatamente. — Eu
preciso mesmo ir.
— Claro. — Também me levanto, mesmo insatisfeito que o tempo
tenha passado tão rápido, mas eu entendo. — Vamos.
Vou até a cozinha apenas para levar algumas coisas que precisam
ser guardadas na geladeira, pois o restante eu guardarei quando voltar, e
quando retorno, vejo Elena de costas, mexendo na sua bolsa, e me
aproximo.
Quando estou muito perto, ela se vira e ficamos colados.
Faminto, observo sua boca carnuda e sua língua deslizar pelo seu
lábio inferior, como se estivesse seco.
— Eu preciso te beijar....
Percebo Elena ofegar, mas ela não se afasta, me encarando
hipnotizada, e assim eu não espero mais nada, não peço permissão, apenas
seguro sua nuca e mergulho em seus lábios.
 
 

 
Ele toma a minha boca como se fosse dono dela.
Seus lábios se apossam dos meus, devorando-os, me submetendo
a sensações novas e indescritíveis. Heitor sorve o meu lábio inferior,
agarrando-o entre os dentes, me arrancando gemidos. Passo as unhas na sua
nuca, agarrando os seus cabelos e sentindo a maciez dos fios, que me faz
delirar.
Sua língua brinca com a minha, explorando, pedindo passagem,
faminta, alucinada. Retribuo cada toque seu, experimentando o seu hálito
quente e gosto viciante.
Heitor desce a mão que estava em meu cabelo e agarra a minha
bunda, apertando os dedos na minha pele sob o jeans da calça,
provavelmente me deixando marcada. Sinto o seu pau duro na minha
barriga e, alucinada de desejo, me esfrego contra sua extensão para
aumentar o atrito entre nós e a sensação maravilhosa que isso me causa;
choramingo nos seus lábios, implorando por mais, porém,  ele vai
diminuindo a intensidade, e se afasta.
Abro os olhos e Heitor está um caos. Lábios vermelhos e
inchados, cabelos bagunçados e os olhos dilatados e negros, exalando
excitação. Sexy demais. Tenho certeza que estou idêntica a ele, tirando a
cara sexy e substituindo pela cara de boba, babando por ele.
Ele fica ali, parado, me encarando e esperando uma resposta para
a pergunta silenciosa que nós dois sabemos qual é. Estou disposta a seguir?
Meu corpo pede mais. Muito mais.
Mas eu estou pronta para me entregar a ele assim, sabendo que
serei apenas mais uma na sua lista?
Eu já sei a minha resposta, então dou um passo para trás,
encarando-o.
— Até mais, Heitor — digo, tentando manter a voz firme.
Ele não diz nada e permanece parado no mesmo lugar, me
encarando com os olhos faiscando desejo, apesar de poder notar uma
pontinha de decepção em suas írises.
Dou mais um passo, controlando a vontade de ficar e terminar o
que começamos, mas me controlo e continuo seguindo, dando um passo e
depois outro.
— Espera! — Ouço e paraliso.
Ele vem até mim, coloca meu cabelo atrás da orelha e beija a
minha testa.
— Vou te levar em casa.
— Não precisa, Heitor, eu chego rap... — Ele não me deixa
terminar de falar.
— Isso não está em discussão.
Pega minha mão e entrelaça nossos dedos, guiando-nos até o
elevador.
Ficamos em silêncio, mas a tensão está palpável no ar, tanto que,
se passar uma faca, é capaz de cortar, de tão densa. Parece que por estarmos
em um espaço tão fechado após o beijo, o tesão só aumentou, mas tenho a
sensação que, se voltarmos a nos tocar assim, nenhum dos dois terá forças
para parar novamente.
Juro que se ele não tivesse tomado a iniciativa de encerrar o beijo
e se afastar, não sei o que eu teria feito. Mentira. Sei muito bem. Teria o
agarrado ali mesmo, na sala, rasgado sua roupa e transado a noite inteira...
mas, e na manhã seguinte? Com certeza acordaria arrependida de ter
tomado uma atitude no calor da emoção e não pensado nas consequências,
que eu sei que haveriam, e ainda bem que Heitor sabia disso. Ainda bem
que ele tomou a iniciativa de se afastar para me dar espaço, para pensar com
clareza e me decidir, sem a boca dele em cima de mim. E que boca,
Senhor... Que boca!
Quando chegamos no estacionamento, ele tira a chave da moto do
bolso, pega um dos capacetes que estão em cima da moto, e me entrega;
coloco e ele se aproxima de mim, passando a mão no meu pescoço bem
suavemente.
Eu paraliso e fico olhando pro rosto dele, e ele continua olhando
para o meu pescoço, se abaixa um pouco e prende o capacete, depois
desliza os dedos pela minha pele, como se estivesse fazendo carinho, e sinto
como se estivesse recebendo choques na região.
Ele se afasta, senta na moto, coloca o capacete e estende a mão,
para me ajudar a montar.
Não dissemos nenhuma palavra durante todo o caminho até o meu
prédio.
Quando chegamos, Heitor me ajuda a descer, destrava o meu
capacete e o tira pra mim, retirando o dele também.
Fico parada ao seu lado, sem saber o que fazer.
Céus... Qual é o meu problema?
— Bom... Obrigada, pela carona, não precisava mesmo ter se
preocupado.
Heitor passa o braço na minha cintura, fazendo eu me aconchegar
contra o seu corpo e a moto, que ainda está montado.
— Eu jamais te deixaria vir sozinha pra casa, linda! — diz, me
dando um selinho demorado, e eu juro que sinto as pernas moles com esse
simples gesto. UM SELINHO!
Heitor me dá mais um selinho, em seguida um beijo no canto da
boca, e vai descendo para o meu pescoço, onde para de beijar e cheira bem
forte, me fazendo estremecer, e acabo soltando um gemido rouco.
— Acho melhor você subir, antes que eu te sequestre de volta
para o meu apartamento, Elena — fala rouco no meu ouvido.
— Sim — assinto, me afastando um pouco para recobrar o
mínimo de consciência.
Dou um beijo no canto da sua boca, e me afasto.
— Lena?
— Alice? O que você tá fazendo aqui embaixo?
A vejo se aproximar de mim e percebo a mão do Heitor ainda na
minha cintura, e tiro disfarçadamente, mas os olhos de águia da minha irmã
captam meu movimento e ela sorri.
— Calma, eu não estava fugindo. Só desci o lixo. — Aponta para
a lixeira, como se para provar que está falando a verdade.
— Oi. Você deve ser a famosa Alice.
Ela se vira para encarar Heitor e arregala os olhos.
— PUTA MERDA! Santiago? Heitor Santiago? Puta que pariu…
— ALICE! — repreendo a atitude da minha irmã. O que tá
acontecendo com essa garota?
— Por que você não me disse que o conhecia, Lena? Santiago, oi,
prazer… — Estende a mão para cumprimentá-lo, e percebo que Heitor está
segurando o riso. — Você arrasa nas corridas… Você é o melhor. O cara.
Sério… — a garota continua falando sem parar, elogiando Heitor de todas
as formas possíveis e balançando freneticamente a mão dele.
Fico parada, encarando a cena.
— Obrigado, Alice. Já que tenho aqui uma fã de corridas, convido
você e a sua irmã para a próxima corrida, o que acha?
— Put…
— Alice Taylor! Se você soltar mais um palavrão, o seu castigo
vai ser estendido por tempo indeterminado! — exclamo rápido.
— Ops. Desculpe, acho que me empolguei. — Tem a decência de
parecer envergonhada. — Mas é sério? — Se volta para o Heitor, que
continua tentando segurar o riso. — Tipo, sério mesmo?
— Claro. A próxima corrida já está marcada, e assim que
conseguir os ingressos, eu envio para a sua irmã.
— Heitor, não precisa — tento negar a folga da minha irmã.
— Eu já iria te chamar, linda. Gostaria muito que você estivesse
lá.
Sinto meu rosto corar e não respondo.
— Uhn…  E de onde vocês se conhecem?
Limpo a garganta antes de responder.
— Heitor é o homem que me ajudou na semana passada, na saída
do bar onde eu fui te buscar.
— Ah! — Percebo que Alice se retrai imediatamente quando
menciono o episódio.
— Fui buscar a sua irmã hoje no serviço para jantar.
Com essa informação, Alice tem um sorriso enorme no rosto. Fico
até com medo do que deve estar passando nessa cabecinha.
— Sim. É… Vamos subir, mocinha?
Escuto Heitor rindo, pois tenho certeza que percebeu que fiquei
com vergonha e devo estar parecendo um pimentão, pois sinto o meu rosto
pegar fogo. Que merda!
— Claro. Boa noite, linda. — Puxa minha cintura novamente e dá
um beijo no cantinho da minha boca. — Boa noite, Alice. — Acena para
minha irmã que está logo atrás de mim.
— Boa noite, Santiago — ela diz imediatamente.
—Boa noite — sussurro com o meu rosto ainda colado ao seu, e
me forço a me afastar.
Nos despedimos, e abraço minha irmã pelo ombro, indo até o
elevador para subirmos até o nosso apartamento.
Antes de chegar no elevador, olho para trás e vejo Heitor me
encarando, antes de acelerar a moto e partir. 
Sinto meu corpo arrepiar com seu olhar.
Céus, esse homem vai me deixar louca!
— Pelo amor de Deus, me conta tudo! — Alice fala afobada,
assim que entramos no apartamento. — Como assim, o cara que te salvou é
o Heitor Santiago?
— É, pois é... Como você conhece ele? Não sabia que era fã de
corridas. — Tento entender.
— Elena, socorro! — Levanta as mãos para o ar, como forma de
mostrar a sua indignação. — Você não precisa ser fã de corrida para
conhecer o famoso SANTIAGO. — Dá ênfase no nome.
Não aguento seu drama e começo a gargalhar.
— Exagerada — falo, ainda rindo. — Ele me contou mesmo que é
piloto de corrida e tal, mas como você já percebeu, eu não fazia ideia. —
Balanço o ombro.
— Sério. Eu só posso ter uma irmã alien — bufa indignada.
— Ei. — Dou um tapa de brincadeira na sua cabeça.
Alice começa a gargalhar e se joga no sofá, e eu acabo fazendo o
mesmo.
— Ai, Elena. Só você mesmo — diz, ainda rindo. — Mas, fala
sério, ele é um gato, não é? E tá tão na sua. — Dá gritinhos de alegria.
— Sai daí, Greg[7]! Tá maluca, garota? — falo rindo, e jogo uma
almofada na sua cara, para ver se ela para de gritar.
— Maluca? Tá brincando comigo? — Me olha como se eu fosse
louca, ou realmente um alien. — O cara foi atrás de você no seu serviço!
Dou de ombros.
— E desde quando isso quer dizer que ele está a fim de mim,
maluca? — pergunto e dou risada da sua animação/indignação.
— Eleninha, meu amor. — Se endireita no sofá para ficar de
frente pra mim, como se o assunto que estamos conversando fosse o mais
sério do mundo. — O cara é um deus grego, um deus das pistas, um deus
das revistas, enfim, dá pra entender? — Espera a minha confirmação, e eu
continuo parada, me segurando para não rir novamente, e deixar ela brava,
porque está realmente engraçado essa animação dela. — Céus! Presta
atenção: — Abaixa a cabeça e segura a ponte do nariz, como se estivesse se
concentrando para o que vai me dizer. — O cara pode ter a mulher que ele
quiser. Quiser. Entendeu? E o que ele fez? Veio atrás de você, doida. — Me
joga de volta a almofada que lhe acertei nela. 
— Isso não quer dizer nada, Alice. — Abraço a almofada. —
Como você disse, Heitor pode ter quem ele quiser, e eu não estou a fim de
ser mais uma na lista. Não tenho tempo para isso.
— Elena? — Olho para ela. — Você gosta de homem?
— AAAAAAAAAAAAAA...... — Coloco a almofada na cara
para abafar o meu grito e começo a rir.
— Não, sério. Porque, de duas uma: ou você é lésbica, o que está
tudo bem, eu vou amar ter uma cunhada, só pra deixar claro, ou você é
realmente um E.T. 
— Ele nem é tudo isso — minto descaradamente.
— Haha... Acha mesmo que me engana? — Mira nos meus olhos.
— Você também está caidinha por ele. — E se acomoda ao meu lado.
— Ok. Tá legal! Ele até que é gato — confesso rindo.
— Sabia! — Alice se levanta em um pulo e fica na minha frente,
apontando o dedo indicador pra mim.
— O quê? — pergunto, tentando entender o que vem agora.
— Agora para de se fazer de doida e desentendida e vai viver! —
diz séria. — Eu sei que você é mais velha que eu, mas leva a vida de uma
senhora de sessenta anos, só falta tempo pra jogar bingo e fazer tricô —
debocha. — Você por acaso já namorou?
— ALICE! — Levanto do sofá em um pulo, querendo fugir desse
tipo de conversa com a minha irmã mais nova. Era só o que me faltava.
— É sério, Elena — continua, enquanto ando até o meu quarto. —
Eu sei que você ficou com muitas responsabilidades depois que ficamos
sozinhas, mas tendo que  cuidar de tudo, você acabou se deixando de lado.
— Sua voz soa triste atrás de mim, me fazendo virar para encará-la. — Eu
te amo, Nena. E sou muito grata pela irmã maravilhosa que tenho, por você
cuidar tão bem de mim e de todo o resto, mas fico triste por também não se
priorizar. — Sorri na minha direção, e sinto o meu peito afundar. — A vida
está te dando uma oportunidade pra você viver. Viva. Não deixa o que
aconteceu com a gente atrapalhar as coisas.
— Vou pensar no seu conselho, tá bom? — Sorrio de volta para
ela. — Quem é você e o que fez com a minha irmã? Você está muito sábia
hoje.
Alice gargalha e me mostra a língua.
— Alguém tem que ser a sábia da família, né. — Balança os
ombros, se virando para voltar para o sofá. — E não esquece de me levar
em todas as corridas — grita.
— Ah tá. Agora está explicado o conselho. — Dou risada. —
Engraçadinha. 
Entro no meu quarto, fechando a porta.
Acabo sorrindo e balanço a cabeça. Eu realmente tenho uma irmã
maluca.
Fico pensativa e caminho até minha cama, me sento e começo a
tirar meu tênis para deixar ao lado, e me pego pensando nas palavras da
Alice. 
Será?
Eu não me acho feia, mas, fala sério. As mulheres que o Heitor
está acostumado são do tipo Top Model. Isso é muito longe da minha
alçada.
Contudo, ele me faz me sentir tão bem ao seu lado. Tão quente
também. Deus! Alguém chame os bombeiros, por favor!
Melhor eu ir logo tomar o meu banho, e gelado, pra ver se apaga
esse fogo.
 
 

 
Assim que passo pelos portões da casa dos meus pais, visualizo o
jardim de rosas que minha mãe passava boa parte do seu tempo cuidando.
Lembro-me que, quando era criança, meu pai costumava se
oferecer para contratar um jardineiro, ao menos para ajudá-la na tarefa, já
que o jardim é razoavelmente grande, mas ela sempre se negava, até
chegava a ficar brava com a insinuação de outra pessoa cuidando de seu
jardim a não ser ela. Dou risada com a lembrança. Só mesmo a Senhora
Dulce Santiago poderia ficar brava com a sugestão de uma ajuda.
O jardim, como sempre, está impecável, com rosas de variadas
cores.
Fui muito feliz nessa casa, sempre tive uma família unida e
amável, mas, infelizmente, meus últimos anos de moradia aqui não foram
os mais agradáveis.
 
 
AOS 18 ANOS
 
— Estou na mesa para o café da manhã e pulo de susto ao sentir
o barulho e o impacto na mesa com os pratos e talheres batendo.
Meu pai esmurrou a mesa.
— Você vai para a faculdade! — Aponta o dedo em riste para o
meu rosto. — Te criei para ser homem! Estudar e virar alguém na vida!
— Amor, calma... — minha mãe fala baixinho, tentando
apaziguar as coisas.
— Agora não, amor — diz um pouco mais suave, mas ainda
enfurecido.
— Mais um dia de sermão. Bufo impaciente.
Levanto a mão até o meio da mesa e busco mais um pedaço de
bolo para encher a barriga e ocupar minha boca para não discutir com o
meu pai novamente.
De canto de olho, percebo minha mãe olhando para nós dois
apreensiva, pois sabe que nossas discussões nunca terminam com frases
bonitas um para o outro.
— Chega, Heitor! — Meu pai continua, impaciente. — Você vai
parar com essa brincadeirinha de moto e vai voltar a estudar para entrar
em uma boa faculdade e ter um bom emprego.
— Eu já disse que não vou — respondo simplesmente, sem me
dignar a olhar para ele.
Meu pai esmurra a mesa novamente.
— Porra nenhuma! — brada
Ele se levanta da mesa e começa a andar pela sala, passando as
mãos pelo rosto, em uma tentativa vã de se acalmar.
Eu continuo comendo o meu café da manhã.
Já estou saturado dessas discussões sem fim. Porra. Qual a
dificuldade de eles entenderem?
— Filho — olho para minha mãe, esperando-a concluir -, chega
disso. Já te demos tempo para você curtir com os seus amigos. Agora está
na hora de encarar as suas responsabilidades.
— Eu vou encarar minhas responsabilidades, mãe — digo
cansado. — Eu só não quero seguir a carreira que VOCÊS — friso,
apontando o dedo para os dois — querem para mim. Para a carreira que
EU vou seguir, não preciso entrar em uma faculdade renomada. Eu preciso
de treinamento.
Vejo os ombros da minha mãe caírem e ouço uma gargalhada
sarcástica do meu pai.
Estou tão cansado quanto eles dessas discussões sem fim.
Me levanto da mesa e digo o que eu já havia me decidido há
tempos, eu só estava esperando o momento certo.
— Chega. — Me afasto e encaro minha mãe, que ainda está
sentada, e ao meu pai, que está logo atrás dela, em pé. — Eu estou cansado
dessa situação, e acredito que vocês também. Ainda hoje estou saindo de
casa.
Minha mãe ofega, e meu pai bufa.
— E com que dinheiro? Vai viver onde? Nas ruas?
— Não, pai. Você acreditando ou não, eu recebo pelas corridas
que participo. Ainda não é um dinheiro justo, mas juntei uma grana e
consigo pagar um aluguel. E também vou trabalhar até chegar onde eu
almejo.
— Filho... — minha mãe tenta falar, mas a interrompo.
— Não, mãe. Chega. Olha pra gente. — Levanto os braços e
mostro ao redor. — Nós éramos unidos. — Vejo tristeza no olhar da minha
mãe, e um pouco de vergonha no olhar do meu pai, mas ainda mantém sua
postura ereta. — Eu já entendi que vocês não me apoiam na minha escolha
e já aceitei isso. Mas vocês não vão me impedir de seguir o meu sonho.
Assim que termino de dizer o que quero, sigo para o meu quarto e
não espero que me respondam. Não há mais nada a ser dito. É melhor
assim.
 
 
TEMPOS ATUAIS
 
Afasto as lembranças que me tomaram e estaciono o carro em
frente a casa, e me direciono à entrada principal.
Assim que abro a porta, me deparo com meu pai e minha mãe
degustando um vinho, imersos em algum assunto que parece ser divertido,
já que bebem e riem muito do que falam.
Após os anos que passamos brigando dentro de casa, também
perdemos alguns anos depois disso, mas, com esforço de ambas as partes,
conseguimos retomar o nosso companheirismo.
Eles enxergam que faço o que eu amo, e que por isso tenho
sucesso, e eu enxergo que, do jeito deles, queriam o que acreditavam ser
melhor para mim, mesmo não sendo o que eu queria.
Assim que me veem passar pela porta, param de falar e se
levantam imediatamente.
Minha mãe vem em minha direção de braços abertos.
Eu a amo demais. Ela sempre foi uma mãe e mulher maravilhosa.
Me aproximo e a abraço apertado.
— Oi, madre[8]. — Dou um beijo estalado em sua bochecha.
Ela é uma mulher de aparência jovem para a sua idade. Tem
cinquenta e oito anos, mas muito bem conservados. Seus cabelos são
negros, e a pele bronzeada, assim como a minha e dos meus irmãos, seus
olhos verdes, que apenas eu fui o privilegiado em ter.
— Que bom que já chegou, mi amor[9]. — Segura meu rosto, e me
dá dois beijos, um em cada lado do rosto.
Dou risada do seu jeito exagerado e lhe abraço o ombro, me
virando para o meu pai, que está parado à nossa frente.
— Desculpe te fazer esperar, Senhora Dulce Santiago — digo
para irritá-la, pois sei que não gosta quando lhe chamo pelo nome, mas lhe
dou um beijo na testa, que sei que ela se derrete. — O trânsito estava
infernal.
— Fala direito dentro dessa casa — diz, me dando um tapa no
peito.
— Aiii!! — digo, fazendo careta para fingir que doeu. — É assim
que recebe seu filho amado? Depois me liga dizendo que está com
saudade. 
— Para de ser dramático, menino. — Balança a mão na nossa
frente. — Bom, deixa eu ver como está a cozinha — avisa, saindo na nossa
frente, indo em direção a cozinha.
Caminho até o meu pai para lhe cumprimentar devidamente.
— E aí, meu velho. — O abraço, dando tapinhas em suas costas.
— O Viagra ainda está funcionando?
O velho gargalha e me devolve o abraço com tapinhas.
— Meu estoque está sempre abastecido — responde com um
sorriso no rosto que mostra todos os seus dentes. — Não posso deixar sua
mãe na mão, não é mesmo?
— Aaarrgh!!! — digo, fazendo som de vômito. — Me poupe
dessa safadeza de vocês, eu ainda sou um rapaz puro.
— Foi você que perguntou — diz, se fazendo de desinteressado, e
toma sua taça de vinho.
Me viro e sento no sofá de frente ao meu pai, e ele faz o mesmo,
ainda rindo.
O senhor Carlos Santiago sempre foi um cara brincalhão dentro
de casa, um pai e marido amoroso, mas, posso garantir, que quem não tem
intimidade com ele, jamais imaginaria esse tipo de conversa que temos, pois
é um médico cirurgião cardiovascular referência em nosso país, então, fora
de casa sempre tratou tudo com muita seriedade.
Apesar de termos tido nossas desavenças na minha juventude, não
posso negar que nunca me faltou nada por parte dos meus pais. Sempre me
deram amor e estudos para um futuro promissor.
Nossa única desavença foi justamente a escolha que tive do meu
caminho.
Eles me queriam como um renomado doutor.
Eu queria ser um conhecido Piloto. 
E, nessa fase, quando nos desentendemos, eu quase me perdi.
Revoltei-me com tudo e todos, pois, na minha cabeça de menino mimado e
jovem, eles deveriam simplesmente me apoiar cegamente, sem eu lhes
provar nada.
Meus irmãos já não estavam morando na casa dos meus pais
naquela época; Antonio havia se mudado para uma república, para ficar
perto da faculdade que estava cursando, e Miguel já morava sozinho, e
trabalhava em um grande hospital, então, me vi sozinho, tendo que dizer
aos meus pais que não iria estudar para o vestibular, pois não queria cursar
nenhuma faculdade. O resultado? Um apocalipse dentro dessa casa.
Imagine o desapontamento em ter uma família inteira de médicos.
O tataravô, o bisavô, o avô, o pai, os dois irmãos, e aí eu simplesmente viro
para eles e informo que quero ser piloto de Moto GP, sendo que na época
nem moto tínhamos, pois eles jamais me dariam uma.
Após uma breve conversa com o meu pai, escuto o barulho dos
carros passando pelo cascalho do lado de fora e as vozes dos meus irmãos.
Logo Antonio passa pela porta, e atrás dele Miguel, com a sua
esposa Maria, e a filha.
— Titiiiiooooo. — Vejo a pequena Laura, minha sobrinha,
correndo em minha direção.
Agacho-me para pegá-la no colo, e a pequena arteira se joga em
meus braços.
— Nossa! Como você cresceu, princesa. — Começo a fazer
cosquinha na barriguinha dela, que gargalha e se remexe no meu colo.
— Para, tio. Eu já sou grande!
— Claro que é, princesa — assinto rindo, e ouço a família rindo
em volta também.
Cumprimento meus irmãos e minha cunhada, com a princesinha
no colo, que brinca com a minha corrente do pescoço.
— Venham, família — minha mãe chama. — A mesa está pronta.
E assim, passo uma tarde agitada com a minha família.
 

 
Já se passaram duas semanas desde que Heitor me buscou no
serviço, temos nos falado com frequência, mas, infelizmente, não nos
encontramos mais, pois a data da próxima corrida será neste final de
semana, então ele está sempre treinando e treinando.
Confesso que fiquei decepcionada por não nos vermos mais,
principalmente com as lembranças do nosso beijo no seu apartamento
inundando minha mente, mas também entendo que deve ser uma loucura
treinar e se preparar, ainda mais com a chegada da temporada logo aí.
Heitor me explicou que eles têm que avaliar o motor, conhecer a
pista, assistir as últimas corridas dos concorrentes, avaliar o desempenho e
mais um milhão de coisas. Inclusive, nesta última semana ele tem me
chamado com frequência para assistir aos seus treinos, mas como? 
Trabalhando e estudando é realmente impossível, porém confesso que
fiquei com vontade de aceitar.
Quem amou o convite foi minha irmã, quando acidentalmente
acabei comentando com ela em um dos nossos jantares sobre o convite de
Heitor, ela só faltou implorar para que eu faltasse no trabalho e deixasse ela
faltar no colégio para que pudéssemos acompanhar e conhecer o seu treino.
Claro que eu disse o óbvio: não. Ela ficou chateada, mas não surpresa.
Apesar da vontade que tenho de ir até ele, preciso admitir que
tenho medo de parecer uma boba e acabar grudando no homem, e a
qualquer estalar de dedos estar no seu pé igual uma cadela bem treinada.
Deus me livre! E com isso em mente, fui firme na decisão de não ir até ele,
mesmo nos finais de semana, quando me enviou fotos e vídeos do seu dia,
me atiçando e reforçando o convite, contudo, inventei uma desculpa e
preferi não ir.
Não sou boba, sei que Heitor não é nenhum santo, está bem longe
disso, então, preciso ter os meus dois pés no chão em relação a ele, para que
se caso, talvez, quem sabe, a gente se envolva, eu saiba entender que ele
não será o meu príncipe encantado. Não que eu esteja esperando por um,
claro, pois também não sou nenhuma princesa esperando para ser resgatada.
Já fiquei com alguns caras, e preciso admitir que nunca senti o
que eu senti com o Heitor, então, tenho que ser realista e confessar que
estou com saudades dele, por mais bobo que isso possa parecer, pois não o
conheço há tanto tempo assim para ter me apegado, e isso me deixa
intimidada.
Desperto dos meus devaneios com os gritos que a mulher sentada
ao meu lado no ônibus dá ao telefone; aparentemente, está na linha com
alguma colega de trabalho, e as duas estão falando sobre sua rotina, e o
quanto as pessoas são folgadas. É, ela não me parece muito feliz com o seu
emprego.
Observo a rua através da janela, e percebo que estou perto da
minha casa.
Solto o ar pela boca em sinal de desânimo.
Hoje pedi despensa da lanchonete, pois fui chamada para uma
entrevista, como Dona Carminha já está ciente da minha procura, não se
surpreendeu e logo me dispensou, desejando boa sorte. Eu estava muito
animada para essa oportunidade, a empresa é relativamente pequena, ao
menos o escritório, mas não me intimidei por isso, o que realmente me
desanimou foi a remuneração salarial, uma vergonha, impossível viver com
a renda proposta.
A entrevista transcorreu muito bem, acredito que me saí bem, e a
moça do RH ficou de me ligar em uma semana para me dar uma posição,
mas sei que se a resposta for positiva, vou precisar negar e esperar que uma
oportunidade realmente boa apareça.
Não estou esperando um emprego com um salário alto, não, longe
disso, e ganhando até menos do que eu ganho hoje, consigo viver, mas com
metade do que eu ganho, o que já é pouco, é totalmente impossível pagar
condomínio, despesas da casa e do dia a dia para mim e Alice.
Bufo em descontentamento e encosto a cabeça na janela do
ônibus.
Abraço minha bolsa que está no meu colo, e logo sinto o celular
vibrar.
 
 
Oi, Linda.
Como foi a entrevista?
 
 
Acabo sorrindo ao ler sua mensagem.
Comentei com ele ontem à noite, em meio a nossa troca de
mensagens, sobre a minha entrevista de hoje, e fico feliz por ele ter se
lembrado e estar me perguntando.
 
 
Foi ótima.
Já estou voltando para casa.
E você? Ainda no treino?
 
 
A mensagem fica azul imediatamente, aguardo ele me responder,
mas, me surpreendendo, meu celular começa a tocar e o nome do Heitor
aparece no visor.
— Oi, linda.
— Oi, tudo bem?
— Está sim. Então, onde você está?
— Estou no ônibus, voltando para casa.
— Entendi. E vai fazer alguma coisa agora?
— Não. Por quê?
— Ótimo, espera na porta do seu prédio então, eu estou pedindo
para o meu motorista ir te buscar e te trazer aqui. Assim você não foge de
mim e vem conhecer o meu trabalho. O que acha?
— Motorista?
— É! Motorista/segurança. Não posso ir te buscar, mas também
não vou te deixar vir pra cá de ônibus, e não gosto da ideia de você
andando de carro de aplicativo sem necessidade, então o Marcos vai
buscar você, já que ele é de minha total confiança — responde
simplesmente, como se fosse tudo muito óbvio e já estivesse resolvido. —
Inclusive, ele já está a caminho.
— Quê? Tá maluco, Heitor? Não. Não precisa.
— Isso não está em discussão, Elena. Quero você aqui, você está
livre agora, então está sem desculpas para não vir.
— Eu não sou de dar desculpas — respondo quase sussurrando, e
sinto meu rosto corar. Fico aliviada por ele não poder ver.
— Aham, claro. — Percebo, pelo tom da sua voz, que está
sorrindo. Palhaço. — Ele está em um SUV preto, você logo vai identificá-lo
parado na sua porta.
— Não acredito nisso, Heitor, você é muito mandão — bufo
irritada.
— Vai se acostumando, Corazón. — Escuto pessoas falando com
ele ao fundo, e ele responde de volta. — Preciso desligar agora. Te espero
aqui. Até daqui a pouco.
Nos despedimos, e eu continuo encarando o celular sem acreditar
nisso.
Logo percebo que estou próxima ao ponto onde desço, e dou o
sinal, me dirigindo a porta para sair.
Desço do ônibus e caminho até o meu prédio, que é na rua do lado
do ponto, e assim que viro a esquina, percebo um carro preto enorme.
Como chegou aqui tão rápido, gente?
Conforme vou me aproximando, a porta do lado do motorista se
abre e um homem na faixa dos cinquenta anos sai e se dirige a mim.
— Senhorita Taylor?
Quanta formalidade.
— Marcos?
— Sim. O Santiago me pediu para levar a senhorita até o
autódromo — avisa simplesmente, abrindo a porta do banco traseiro para
mim.
— Claro. Pode me chamar só de Elena, por favor.
Marcos sequer me responde, apenas acena com a cabeça e fecha a
porta. Não foi grosseiro, apenas profissional.
Após quase quarenta minutos de viagem, já que o autódromo fica
do outro lado da cidade, chegamos.
Marcos me indica o caminho que devo seguir, e não é difícil achar
o Heitor, que está no meio de um grupo de homens muito concentrados em
uma moto na pista, fazendo bastante barulho, tenho que admitir, alguns,
inclusive, estão usando protetor auricular. Acho justo, pois se eu trabalhasse
aqui, garanto que em poucos meses teria a audição de uma senhora de
oitenta anos.
Assim que me aproximo um pouco mais, Heitor se vira na minha
direção, e quando me vê, vem me encontrar no meio do caminho.
Eu já babava nesse homem antes, mas agora? Ele está um pecado.
Vestido com uma roupa de couro, estilo macacão, mas a parte de cima está
aberta, mostrando uma regata branca por baixo, que agarra todo o seu
corpo, evidenciando ainda mais seus músculos e corpo sarado. Certeza que
se eu abrir a boca, a baba vai escorrer. Deus me ajude a não passar
vergonha.
Heitor pousa a mão na minha cintura e se abaixa, penso que ele
vai me beijar na boca, mas me dá um beijo casto no cantinho dela, só para
me deixar com vontade, tenho certeza. Que audácia!
— Oi, linda — sussurra com a voz rouca na minha frente, ainda
segurando minha cintura.
— Oi. — Acabo sorrindo.
— Estou feliz por você estar aqui.
— Eu também. — Sinto o meu rosto esquentar.
Heitor sorri, provavelmente notando a vermelhidão da minha pele,
e beija minha testa.
— Vem. Vou te apresentar a equipe.
Conheci toda a equipe, e todos foram muito atenciosos comigo.
Heitor ficou a todo momento do meu lado, e quando precisou ir
fazer testes com a moto na pista, colocou um fone com microfone na minha
cabeça, para que eu pudesse ouvir ele e toda a equipe se comunicando
durante o teste, e mesmo não entendendo nada do que diziam um para o
outro, gostei de participar de tudo isso, e, principalmente, da sua
preocupação em me incluir.
É tudo muito surreal! Um mundo totalmente diferente, já que
nunca me imaginei assistindo uma corrida, quem dirá assistir a um treino,
ver toda a preocupação e preparação que eles têm… É fascinante, para dizer
o mínimo.
O resto do dia passa rapidamente, e logo Heitor me puxa para o
seu escritório/sala de descanso, como ele mesmo denominou.
A sala é pequena, mas aconchegante. Possui um sofá no canto,
uma mesa com computador do outro lado, tem uma arara com alguns
macacões também, e uma portinha no fundo, que acredito ser um banheiro.
Me dirijo diretamente ao sofá, e Heitor vai em direção ao frigobar,
que está ao lado, que eu nem tinha reparado que estava ali.
— Suco, água ou refrigerante? — oferece, me virando as costas e
se abaixando para pegar.
— Água, por favor. — Estou com a boca seca e percebo que nem
mesmo me hidratei durante o dia. Heitor pega minha água para mim e uma
para ele, e logo me entrega.
— E sua entrevista?
— Foi boa. Quer dizer, acho que foi realmente boa, mas o salário
não era o que eu esperava, então, vou continuar procurando. — Dou de
ombros, como se não me importasse, e bebo minha água.
——Sério? Que pena. —  Parece sinceramente chateado por eu
não ter conseguido. — Mas tenho certeza que logo vai aparecer algo muito
bom para você. Fica tranquila.
— Deus te ouça. — Levanto minha garrafa, como se estivesse
brindando.
Heitor sorri e se encosta na mesa, que fica de frente ao sofá em
que estou sentada.
E como estão as coisas na sua casa? Sua irmã está bem?
Está bem. Não aprontou mais nada, ainda bem, e ela está
loooouca — dou ênfase — para te ver. Acabei comentando sobre o seu
convite de vir assistir ao treino, e ela quase me bateu por não termos vindo,
e provavelmente vai ficar muito irritada por eu estar aqui sem ela.
E por que não a trouxe também?
— Porque ela está na escola. Que irmã eu seria se não cobrasse
seus estudos?
— Uma irmã legal — diz, dando risada. Faço cara de brava e ele
percebe, levantando as mãos em sinal de rendição — Brincadeira,
brincadeira. Estou só brincando, você é ótima para a sua irmã e sabe disso,
é lógico que tem que colocar limites, mas saiba que as portas estão abertas
para ela. APÓS as aulas, é claro — responde, me lançando um risinho.
— Vai sonhando, se eu falar isso pra ela, Alice nunca mais sai
daqui de dentro — falo, e me recosto no sofá.
— Sua irmã é ótima, Lenita, realmente não teria problema —
comenta, se sentando do meu lado.
— Você me chamou do quê?
— Lenita. Elena é muito formal — explica na maior naturalidade,
como se fôssemos amigos há anos — Já passamos das formalidades, Lenita,
eu te salvei — diz, abrindo os braços, como se fosse o Senhor Fodão.
— Eu já agradeci por ter “me salvado”, meu herói — rebato,
imitando uma vozinha fofa, e batendo os cílios.
— Para de fingimento... Eu mereço um apelido só meu como
agradecimento, pelo menos — comenta, levando o bico da garrafa de água
até a boca e bebendo; o ato de engolir, faz o seu pomo de adão subir e
descer, me fazendo engolir em seco. Acho que fiquei babando na cena por
um tempo, porque ele abaixa a garrafa e me encara. Para disfarçar, levo
minha própria garrafinha à boca e bebo uma bela golada.
— E o que te faz pensar que ninguém me chama de Lenita? —
pergunto, para tentar entender sua ousadia repentina.
— E quem mais te chama com tanta intimidade? — retruca,
levantando a sobrancelha, em questionamento.
— Você sabe que eu tenho uma irmã e amigos, né?
Ele suspira, parecendo quase até aliviado. Eu devo estar ficando
maluca.
— Pois avise a eles que esse apelido é exclusivamente meu! 
— Haha... Vai sonhando, Senhor Fodão — brinco, rindo da cara
lavada dele
— Bom... Então, vou ter que pensar em algum apelido que apenas
eu possa te chamar — avisa, olhando nos meus olhos.
É impressão minha, ou aqui ficou quente de repente?
Levo minha garrafa à boca e dou uma boa golada, para ver se
refresca um pouco desse calor repentino.
Ficamos conversando mais um tempo sobre amenidades, e o
clima entre nós volta a ficar leve novamente.
— Você vai vir na próxima corrida, né?
— Você sabe que eu trabalho quase todos os dias, né? Só estou
aqui agora, nesse horário, por um milagre divino — brinco.
— Eu sei, eu sei, mas pede para a sua amiga te cobrir, só dessa
vez.
— Não posso te garantir nada, mas prometo que vou tentar. 
— Eu vou ficar muito feliz em saber que você estará lá torcendo
por mim, linda — diz, me puxando para um abraço.
Nos afastamos um pouco, apenas o suficiente para nos
encararmos, mas ficamos tão próximos que nossos narizes se tocam.
Minha respiração fica acelerada e sinto o meu corpo quente.
Antes que eu possa raciocinar, a mão de Heitor vem para a minha
nuca, me puxando em sua direção, me fazendo sentir sua respiração no meu
rosto. Encaro seus olhos verdes, me fazendo mergulhar neles, sinto minha
boca seca e passo a língua nos lábios, percebendo seus olhos desviarem dos
meus para acompanhar o movimento, e assim, ele avança na minha boca e
sinto  seus lábios nos meus, conforme  um arrepio desce por minha coluna,
e sua outra mão desliza para o meu quadril, me apertando. Sua língua
invade minha boca, me dando um sabor de menta, provavelmente de
alguma bala ou chiclete que ele havia chupado há pouco. Minha mão vai
para sua nuca, trazendo-o ainda mais para mim, se é que isso é fisicamente
possível, e com a outra aperto seu braço.
Sua língua continua acariciando a minha, e ficamos numa dança
sensual com elas, entretanto, não resisto e mordo o lábio do Heitor,
provocando nele um gemido no meio do beijo; me aproximo mais, colando
o meu peito no dele, enquanto ele me aperta mais para si.
— Porra, Corazón[10]... — geme baixo entre o beijo, agarrando e
puxando o meu cabelo.
Continuamos nos amassando, até que o calor sobe num nível que
não dá mais para aguentar. Heitor desce as duas mãos para a minha bunda,
aperta e me puxa para sentar no seu colo. Assim que me acomodo sobre
suas coxas e sinto seu pau duro embaixo de mim, solto um gemido baixo e
rebolo por puro instinto, me esfregando na sua ereção me apoiando nos seus
ombros. Confesso que nem me reconheço nesse momento, só quero me
aliviar dessa tensão que sinto no meio das minhas pernas.
Heitor me dá uma palmada na bunda, me fazendo assustar e soltar
um gritinho, mas não dói, a sensação é maravilhosa, aumenta ainda mais o
prazer que eu estou sentindo; ele passa a mão onde bateu, como se estivesse
me fazendo uma massagem pelo tapa, depois levanta a mão e bate de novo,
dessa vez com mais força, e sinto meu ventre se contrair na mesma hora, e
ele volta a massagear a região. Em um movimento rápido, Heitor inverte
nossas posições, me deitando no sofá e ficando por cima, no meio das
minhas pernas. Sem tempo para pensar, volta a me beijar, devorando minha
boca e lambendo minha língua, mordendo meus lábios e se esfregando em
mim, me fazendo sentir cada pedaço do seu corpo no meu. 
Suas mãos invadem minha blusa, roçando na lateral do meu seio,
como se estivesse esperando alguma autorização. Agarro seus cabelos e o
puxo mais para mim, para mostrar o quanto estou louca por aquela sensação
e isso é o suficiente para ele encher a mão com o meu seio, massageando e
manipulando o mamilo, apertando e pinçando, me deixando cada vez mais
molhada. Eu me sinto pingar, se isso for possível.
Notando o meu desespero, Heitor roça seu pau na minha boceta,
fazendo movimentos de sobe e desce bem devagar, me torturando,
aumentando cada vez mais o meu tesão. Em um movimento rápido, ele
ergue minha blusa, juntamente com o sutiã e expõe os meus seios para si,
enquanto distribui beijos pela minha mandíbula, lambendo meu pescoço,
beijando o vão dos meus seios, me deixando ofegante apenas pela
expectativa de sentir sua boca me chupando. 
— Deliciosa — diz rouco amassando, juntando-os e caindo de
boca, chupando os bicos intumescidos e os deixando cada vez maiores com
cada chupada e mordida, me levando à loucura; sou apenas gemidos e
palavras incoerentes.
Enquanto ele segue me chupando, intercalando de um seio ao
outro, continuo tentando rebolar embaixo dele para aumentar a fricção, ao
mesmo tempo em que ele segue arremetendo contra mim de uma forma
lenta e tortuosa. Acredito que, sentindo o meu desespero, ele desce sua mão
esquerda, enfiando dentro da minha calça que é bem folgadinha, como uma
pantalona, e quando sente em seus dedos minha calcinha de renda, para seu
avanço e ficou massageando o tecido de um lado para o outro.
Heitor para de chupar meu mamilo e desce beijinhos do meu seio
até meu umbigo, retornando até meu seio, fazendo o caminho inverso mais
uma vez. Não resisto e elevo meu tronco, me oferecendo para ele, que olha
para mim com um sorrisinho cínico nos lábios, sabendo que ganhou a luta
que eu não faço a menor vontade de ganhar contra ele. Nesse momento, eu
entregaria tudo que ele quisesse.
Heitor avança sua mão e invade minha calcinha, encontrando-a
encharcada, em seguida, massageia os meus grandes lábios.
— Maravilhosa, Corazón! Prontinha pra mim — diz rouco,
mordendo o lóbulo da minha orelha e avançando contra a minha boca,
chupando minha língua.
Enquanto me beija, seus dedos seguem fazendo mágica na minha
boceta, com movimentos circulares no meu clitóris, me deixando cada vez
mais molhada, até que afasta a mão e dá um tapa oco na minha intimidade,
me assustando e provocando um prazer absurdo. Ergo meu tronco, me
oferecendo involuntariamente, pois já não penso mais de maneira coerente,
sou apenas sensações, e enquanto meu corpo toma suas próprias atitudes, eu
só consigo gemer, aguardando a minha libertação.
Heitor é todo homem e sabe o que estava fazendo, tanto que,
quando meu ventre se contrai, ele para de me beijar e agarra meus cabelos,
erguendo minha cabeça e me olhando com uma expressão de puro prazer,
com os olhos dilatados, quase negros, sem parar seus movimentos na minha
boceta. Quando tudo se torna intenso demais para mim, não resisto e fecho
os olhos.
— Abra os olhos — ordena rouco, me fazendo obedecer ao
morder meu queixo — Olhos em mim, Corazón! Olhe para o homem que
vai te fazer gozar agora! — E assim, Heitor intensifica os movimentos,
fazendo meus olhos lacrimejarem e meu corpo se curvar, me oferecendo
toda pra ele, e quando seu dedo médio me invade, ainda massageando meu
clitóris com o polegar, não resisto e me entrego ao clímax, me
despedaçando em mil partes.
Relaxo meu corpo no sofá, enquanto ele segue massageando meu
clitóris agora sensível bem devagar para não me machucar, e me dá um
beijo terno, o qual eu jamais imaginei que ele fosse capaz.
Assim que volto do torpor, sei que preciso ser sincera com Heitor.
— Heitor — chamo, segurando seu rosto. — Droga! Desculpa,
mas eu preciso te contar uma coisa, antes de irmos adiante com isso, mas... 
é complicado.
— Não que eu seja super romântica, e nem nada do tipo, mas é
que... — Droga... como eu falo pra ele que eu sou virgem com vinte e dois
anos?
— O quê? — pergunta, confusão estampada em seu rosto.
— Então... É que... Droga... Dane-se! Eu nunca tive isso — digo,
apontando para nós dois ainda deitados
— Como assim? — Ele ainda está sem entender o que estou
tentando dizer.
— Merda, Heitor, eu sou virgem — solto de uma vez e sinto seu
corpo todo retesar. Ele está paralisado.
 

 
— Merda, Heitor, eu sou virgem. — É com essas palavras que eu
paraliso.
Juro que por essa eu não esperava.
Mas que porra! Virgem?
Solto seus seios e elevo o olhar, encarando diretamente seus
olhos.
— Você sonha com a sua primeira vez? Que seja alguém especial,
por isso esperou?
Despejo um monte de perguntas em cima dela, incrédulo.
— Não, não é nada disso. Eu só te contei porque achei melhor
você estar preparado, né, até porque você notaria e tal.
— É claro que eu notaria — digo, saindo de cima dela.
— Mas eu não te contei isso pra fazer você parar — explica,
segurando o meu braço, mas logo solta. — Eu só achei melhor contar, só
isso. — Arruma a roupa no lugar e morde o lábio, ficando com as
bochechas coradas, o que eu imagino agora que não seja de tesão, e sim, de
vergonha por termos esse tipo de diálogo.
— Porra, Elena! Eu estava prestes a foder você em cima de um
sofá. Mierda! Eu iria acabar te machucando — esbravejo, levantando do
sofá e começo a andar de um lado para o outro da sala.
Porra! Virgem? O problema não é a porra do hímen, mas sim, a
maneira que eu estava prestes a foder ela com força.
— Calma, Heitor! Não é para surtar também — diz, se
levantando, e percebo que ela tenta se recompor, mas quem olhar para sua
cara vai saber que gozou muito gostoso. Elena está com cara de quem foi
bem comida. Sexy pra caralho. E eu ainda nem comi.
— Mas que porra! — digo, rindo da minha situação caótica, ainda
sentindo meu pau doer.
— Você está surtando à toa. É só um hímen. Mas ok. Se você não
consegue lidar com isso, outro vai lidar — afronta, levantando os ombros e
indo em direção à porta.
Fecho a cara na hora. Porra nenhuma! A puxo de volta para ela
me olhar.
— Por quê? Existe um motivo? — Será que Elena é do tipo de
garota que está à espera de um príncipe encantado? Porque eu estou bem
longe disso. 
— Heitor, não viaja. Eu consigo ver daqui as engrenagens da sua
cabeça trabalhando. Vou repetir: NÃO. SURTA — diz pausadamente, como
se eu estivesse com alguma dificuldade de entender o que ela diz. A única
dificuldade que estou tendo é entender o porquê uma garota maravilhosa
como ela ainda é virgem. Elena é linda, carismática, gostosa... Enfim, eu
posso passar o dia inteiro enumerando as qualidades dela, então, porque ela
nunca transou? Eu duvido muito que nenhum moleque da sua faculdade não
tenha tentado.
— Gata — chamo, segurando o seu rosto para olhar em seus olhos
-, você tem vinte e um anos, está no seu último ano da faculdade. DA.
FACULDADE — digo pausadamente igual ela fez comigo para ver se
entende. — Eu tenho certeza que oportunidade você teve de perder a sua
virgindade antes de mim. Então a pergunta aqui é: POR QUÊ?
— É claro que tive oportunidade, Heitor. — Revira os olhos. —
Sou virgem, não santa. Pelo amor de Deus! — reclama, levantando os
braços.
Céus... Acho que essa é a conversa mais louca que eu já tive com
uma mulher.
— Então? — Arqueio a sobrancelha, esperando ela continuar.
Elena se afasta, e começa a andar pela sala, mexendo no cabelo.
Fico parado no canto, esperando-a me explicar. Porque eu preciso tentar
entender o que se passa na cabeça dessa garota. 
Ela para abruptamente, me olha, e percebo raiva no seu olhar, e se
eu não estiver enganado, um pouco de mágoa também.
— Eu não estou aqui para implorar, Heitor. — Aponta o dedo pra
mim.
— Eu sei que não — digo de pronto. — Eu só quero te entender,
Elena. Só isso. Pois na minha cabeça, isso não faz o menor sentido.
Vejo que ela relaxa a postura com a minha resposta, mas se
mantém séria, me encarando, consigo enxergar ela se blindando e se
protegendo, como se estivesse pronta para ser atacada. Ah, se ela soubesse
que o meu ataque não tem nada a ver com o que ela está pensando. Mas
sim, em terminar o que começamos, mas o que me impede é a explicação
que ela tem a me dar.
— Ok! — responde, levantando o ombro, como se fosse algo
simples. — Você quer entender? — Aceno com a cabeça. — Ok.
Elena se dirige até o frigobar, pega uma cerveja, abre e dá uma
boa golada. Depois, senta no sofá e olha pra mim.
— Você já sabe que fui criada pela minha mãe e avó. Meu pai foi
embora quando soube que minha mãe estava grávida, sendo assim, me criou
junto com a minha avó. — Vejo que ela balança o ombro como se não se
importasse, mas vejo no seu olhar o quanto isso a machuca. — Mesmo
sofrendo essa desilusão com o meu pai, ela meio que não desistiu de
encontrar o “amor” — explica, fazendo aspas com os dedos. — E bom...
Minha mãe, infelizmente, não tinha um faro muito bom para homens. Não
me entenda mal. Ela sempre foi uma ótima mãe, mas acho que
independente do amor da minha avó e o meu, nunca foi o suficiente. Ela
não conseguia ficar sozinha, sabe? Cansei de ver homens se aproveitando
dela. — Acho que fiz uma cara irritadiça com o que passou pela minha
cabeça, pois ela logo explica. — Não desse jeito. Heitor. Não surta. —
Revira os olhos. — Me refiro a se aproveitar do seu dinheiro, que já era
pouco, vale ressaltar — diz, levantando o dedo —, ou se aproveitar da sua
bondade, se da sua carência. Todos que passaram pela vida dela a fizeram
sofrer. Seja no quesito carinho, fidelidade, estabilidade emocional, ou
qualquer outra coisa que precise ter em um relacionamento saudável. Ela
nunca teve isso. Enfim... O pai da Alice foi um desses, igual a todos os
outros, igual ao meu pai também, pois logo quando soube da gravidez da
minha mãe, rapidamente sumiu das nossas vidas e foi mais um que nunca
mais ouvimos falar.
— Mas que merda, hein?! — digo por impulso. — Desculpa, falei
sem pensar — peço.
Elena ri, quando percebe que fiquei sem graça.
— Não se desculpe. É uma merda mesmo que minha mãe não
teve sorte no amor em toda sua vida. — Bebe mais um pouco de cerveja em
goles generosos. — Minha mãe morreu esperando viver um amor que
nunca aconteceu. E eu jurei que nunca seria igual a ela, sabe? Na
adolescência, enquanto as outras meninas tentavam se mostrar para os
atletas, ou conseguir ser a rainha do baile, eu meti a cara nos livros para
conseguir uma bolsa de estudos em uma das melhores faculdades da cidade,
pois sabia que só assim conseguiria dar uma vida melhor para a minha
família.
— Entendo.
Elena ignora o que eu digo e continua a história, enquanto eu
permaneço em pé no mesmo canto da sala, sem me mover, dando espaço
para ela terminar.
— E quando eu consegui a bolsa, perdi a minha avó. — Ela baixa
o olhar, e vejo que se segura para não chorar. Minha vontade é de me
aproximar e acalentá-la, mas opto por esperar. — E aí ficamos apenas eu e a
Alice. Precisei refazer os meus planos, pois iria ficar em uma república, e
com minha irmã seria totalmente inviável. Corri para conseguir um
emprego de imediato, que desse ao menos para pagar por uma moradia
minimamente decente para a gente, e no fim, deu tudo certo. — Elena volta
a me encarar e ensaia um sorriso, apenas para me mostrar o quanto ela é
forte e não gosta de demonstrar suas fraquezas.
Dou um sorrisinho de lado, e resolvo brincar um pouco para
descontrair.
— Espera. Vai me dizer que o seu primeiro beijo foi comigo? —
Finjo cara de assustado, me segurando para não gargalhar da cara que ela
faz de pura indignação pelo meu questionamento.
— Aaaah, Heitor — resmunga, se levantando do sofá, erguendo
as mãos para o alto. — Eu não sou uma freira. Vai se ferrar!
Não resisto e solto a gargalhada que estava prendendo. Ela olha
para a minha cara e também começa a rir.
— Palhaço — diz, colocando as mãos no rosto, se escondendo.
Caminho até ela e retiro suas mãos, deixando seu rosto livre,
levanto seu queixo, para que ela me olhe, e quando seus olhos castanhos
estão em mim, acaricio sua bochecha.
— Sinto muito pela sua mãe e sua avó. Sinto muito por você ter
presenciado e passado por tudo isso — declaro com sinceridade, pois sei o
quanto toda essa situação a machucou, mesmo ela escondendo bem.
— Não tem problema. Eu tenho a Alice. Ela me basta — diz com
firmeza.
— Tenho certeza que sim. Vocês são muito unidas. Ela tem muita
sorte de ter você.
— Eu que tenho em ter ela — admite sorrindo e se afasta. —
Enfim, voltando ao assunto que interessa. Com todos esses acontecimentos,
acabou que uma vida amorosa para mim ficou em segundo plano, e depois
em terceiro, quarto, e bla bla bla. Eu tinha e tenho outras prioridades. É
claro que já fiquei com alguns carinhas na faculdade, mas sei lá... — Me
olha, e percebo que suas bochechas começam a ficar coradas novamente. —
Como eu posso te explicar... Nenhum nunca me fez querer mais, entende?
— Dou um sorrisinho. — Merda, você vai ficar se achando. — Joga as
mãos para o alto.
— Pode admitir que eu sou foda pra caralho — brinco, com um
sorriso que, provavelmente, deve estar mostrando todos os dentes, pois
saber disso me deixa feliz demais.
— Céus! Eu sabia. Você é um idiota.
Ficamos em silêncio, um encarando o outro, até pararmos de rir e
eu sentir que o clima na sala mudou, então tomo a iniciativa e a trago para
os meus braços novamente, a abraçando pela cintura. Acaricio sua
bochecha, e Elena me encara nos olhos, estamos tão próximos, e percebo
que gosto de ter ela assim, grudada em mim.
— Eu não sou um príncipe, Elena.
— Nunca esperei por um — diz firme. — Talvez,
inconscientemente, eu estivesse esperando por você — responde, me
encarando com os olhos dilatados, ofegante.
— Você não pode me dizer isso e esperar que eu não reaja.
— Eu quero, Heitor. — Levanta a mão e acaricia minha barba. —
Eu quero que seja você  o meu primeiro homem.
Sem conseguir esperar mais, encaixo a minha mão no seu
pescoço, e seus olhos me fitam, mas ela não me manda parar. Pressiono os
dedos com mais força, e Elena entreabre os lábios, e isso é o suficiente para
mim.
Tomo seus lábios, que me correspondem de imediato, se abrindo
para mim, para a minha ânsia por ela. Minha língua invade a sua boca,
buscando-a e a lambendo assim que a encontra. Sugo e mordo seu lábio
inferior enquanto a aperto ainda mais contra mim.
Pressiono Elena contra a parede ao lado da porta e aproveito para
trancá-la, para não corrermos o risco de sermos surpreendidos. Levanto seu
joelho para que  sinta o quanto o meu pau está duro por ela, diretamente em
sua boceta já gozada, e que irá gozar novamente. Fricciono meu pau ainda
mais, esfregando-o.
Solto o seu pescoço e me afasto um pouco para ver sua reação, e
noto que os olhos de Elena são puro fogo.
Ela joga os braços em meu pescoço, se pendurando, e atacando a
minha boca novamente. Agarro com firmeza suas coxas e a levanto,
apoiando-a na parede. Elena rapidamente enrola as pernas na minha cintura,
nos dando um encaixe perfeito.
Nos guio de volta para o sofá, e sento com ela no meu colo,
montada em mim. Pauso o beijo, apenas o suficiente para puxar sua blusa
pela cabeça rapidamente, e o sutiã segue o mesmo destino.
Seguro com firmeza seus seios livres agora, um em cada mão, e
os aperto e belisco seus mamilos rosados já intumescidos. Elena joga a
cabeça para trás apenas com esse gesto, e não resisto, levo um até a boca e
começo a chupar e morder, enquanto massageio o outro com a mão.
Ela se remexe no meu colo, se esfregando na minha ereção.
Lambo o vão entre seus seios, deixando um rastro molhado até alcançar sua
mandíbula, e volto a beijá-la com tesão.
Agarro sua cintura, guiando seu rebolado para que ela consiga se
esfregar no ponto certo do meu pau, e agarro o cabelo da sua nuca para ela
me olhar.
Elena está com os olhos dilatados e a boca inchada pelos nossos
beijos, a porra da visão do paraíso. Linda demais!
— Eu não vou te comer hoje, Elena — revelo, beijando sua
mandíbula, e vou descendo para o seu pescoço e mordo seu lóbulo. — Você
merece mais do que perder sua virgindade em cima de um sofá sujo —
explico rouco no seu ouvido. — Você já foi chupada?
— Não — diz manhosa, ainda se esfregando em mim.
Sinto meu pau contrair com essa informação. Porra, essa garota
vai ser minha ruína.
— Pois então eu vou te chupar hoje, Corazón. — Chupo seu
pescoço. — Mas não se engane, pois sua virgindade é minha. Agora você é
minha.
Levanto do sofá com suas pernas na minha cintura, me viro e a
coloco sentada no estofado, me ajoelho de frente para ela, tendo a visão dos
seus seios diante de mim, e volto a chupá-los. Me agacho um pouco mais e
vou intercalando beijinhos com chupões em sua barriga, até chegar ao cós
da sua calça; olho para cima e aguardo que ela entenda o meu pedido
silencioso.
Elena se levanta o suficiente para que eu consiga retirar sua calça,
então puxo a peça para baixo e vejo que ela está com uma calcinha de renda
preta, o contraste da sua pele com a peça preta, deixa tudo ainda mais sexy.
Ela é toda maravilhosa.
Chupo a parte interna da sua coxa, intercalando lambidas e
chupadas, a ouvindo ofegar quando chego até sua virilha, passo a língua na
sua vulva, ainda com sua peça de renda nos separando, mas ainda a sinto
extremamente molhada.
Passo o dedo indicado pela sua virilha e a vejo estremecer.
— Não consigo acreditar que serei o primeiro a sentir o seu sabor.
Espalmo a mão em sua coxa, e continuo a passar suavemente o
indicador em sua virilha, mas nunca invadindo o espaço que tanto desejo.
Quero vê-la implorando pelo meu toque.
— Heitor... — Levanta o quadril para intensificar as sensações e
começa a rebolar, tentando chegar até onde meu dedo está.
— O que você quer, Corazón? — pergunto, sorrindo com o seu
desespero.
— Por favor... — Continua rebolando e começa a tocar os seus
seios, procurando por um alívio. — Eu preciso que você me toque.
Passo o dedo suavemente pelo seu clitóris por cima do tecido, o
sentindo encharcado pelo seu tesão e o último orgasmo.
— Quer que eu te chupe?
— Sim... Siim... — assente, choramingando.
Puxo sua calcinha pelas suas pernas, a deixando totalmente nua
para a minha apreciação.
— Abra as pernas, Elena.
Com o olhar fixo nos meus, ela obedece lentamente, me dando a
visão da sua boceta melada. Sinto minha boca encher d'água, de tanta
vontade que estou de sentir o seu sabor.
Sob seu olhar desejoso, endireito minha coluna e retiro a camiseta
que estou vestindo.
Vejo que Elena demora me analisando, e gosta do que vê.
Me abaixo novamente em frente suas pernas, posiciono seus pés
no sofá e a abro o máximo que consigo. A quero arreganhada para mim.
— Você está pingando, Corazón — comento, excitado demais.
Abaixo o rosto e inalo o seu cheiro, esfregando meu nariz em sua
pele e Elena ergue os quadris querendo mais.
Encosto meus lábios em sua boceta e deixo minha língua provar o
seu gosto, então provoco sua abertura lambendo de baixo para cima, e sinto
Elena ofegar; recuo.
Levanto o tronco e pairo sobre ela, apoiando meus braços no
encosto do sofá, vendo que está de olhos fechados. Lambo sua boca
lentamente.
— Olhos abertos, Corazón. — Passo a ponta da língua no
contorno dos seus lábios. — Não desvie o olhar enquanto goza — ordeno.
Seguro sua mandíbula e a beijo com urgência, enfiando minha
língua em sua boca, aprofundando o beijo.
Vou descendo meus lábios pelo seu queixo, pescoço, até chegar
novamente em seu mamilo pontudo e lhe dou a devida atenção, sugando
com força, dando mordidinhas de leve, provocando o máximo, e Elena vai
rebolando embaixo de mim, desesperada por mais.
Continuo descendo pelo seu corpo, distribuindo lambidas e
chupadas pelo caminho, até retornar para sua boceta sedenta por atenção.
Mordisco seus grandes lábios e os separo, apenas para admirar o
quanto ela é linda, molhadinha e está babando por mim. Coloco minha
língua para fora e dou uma longa lambida, e a sinto estremecer.
Dou-lhe um beijo suave, como se estivesse beijando sua boca,
sentindo o seu gosto. Mordisco a pele dos grandes lábios e volto a lamber
seu clitóris.
Levo dois dedos para sua entrada e entro apenas o suficiente para
que ela sinta prazer. Acaricio sua coxa com uma mão, enquanto com a outra
estoco suavemente sua entrada.
Intercalo entre chupar o seu montinho e lamber sua entrada, indo
de um lado para o outro; Elena eleva o quadril, demonstrando o quanto está
perto de atingir o ápice do seu prazer.
Continuo lambendo e chupando, e aproveito para esfregar a minha
barba em sua boceta melada, para aumentar o seu prazer.
Ergo o olhar e vejo o quanto ela está vermelha e ofegante, com os
olhos vidrados no que estou fazendo com sua boceta; seu olhar é desejo
puro.
Aumento o ritmo das chupadas e lambidas, e sinto suas coxas
estremecerem. Elena eleva o quadril e estica uma das pernas. A seguro no
lugar e ela apoia um dos pés no meu ombro, para lhe dar apoio. Não
diminuo o ritmo, pois sei que ela está quase lá. Aumento as estocadas,
enquanto lambo e esfregando meu queixo para aumentar seu prazer.
— Goza pra mim, Corazón — digo, encarando seus olhos. E
como se estivesse apenas esperando minha ordem para se libertar, sinto
Elena apertar os meus dedos com sua boceta, e gritar.
— Heitooooorrr — grita se esticando, quando consegue alcançar
o seu clímax.
Continuo lambendo até sugar todo seu sabor.
Quando sinto que Elena se acalmou, me afasto para admirá-la.
 

 
O que foi isso?
Senhor! Acho que eu fui até o céu e voltei.
O orgasmo que Heitor havia me dado com os dedos tinha sido
maravilhoso. Mas com a boca? Genteeeeeeee... Ainda estou aqui, jogada no
sofá, tentando recuperar o fôlego, toda mole. Inclusive, deve estar
parecendo que fui atropelada, pois me sinto assim, por um caminhão que na
placa estava escrito HEITOR SANTIAGO.
Quando volto meu olhar para o meio das minhas pernas, vejo-o se
afastando da minha boceta, agora sensível devido a intensidade dos
orgasmos que acabei de ter; Heitor se levanta lambendo os lábios, como se
tivesse acabado de comer a sua sobremesa predileta. Percebo sua barba
molhada e, puta merda, isso é muito sexy.
Heitor fica em pé na minha frente, e noto que está duro. MUITO
duro. Sua calça está totalmente marcada por sua ereção. Quando ergo o
olhar, percebo que ele viu para onde eu estava olhando.
— Gostou? — Ergue as sobrancelhas.
— Até que não foi ruim — digo sorrindo, para provocar.
Ele dá uma risadinha, mostrando suas covinhas, e afunila o olhar.
— É mesmo? Pela sua reação há pouco, pensei que tinha sido um
pouquinho melhor do que: “até que não foi ruim” — Afina a voz, numa
tentativa boba de me imitar.
— Haha. Eu não falo assim, engraçadinho. — Sorrio, mas volto a
ficar séria — Mas, sério... — levanto e me aproximo dele bem devagar, fico
na ponta dos pés e beijo sua mandíbula, sentindo o meu cheiro em sua
barba, enquanto acaricio seu peito nu — até que não foi ruim, porque ainda
não terminamos aqui.
Continuo acariciando o seu peito e vou beijando seu pescoço,
descendo para seu mamilo, onde lambo e sugo, como ele fez comigo. Acho
que fiz certo, pois Heitor geme rouco, demonstrando que gostou da minha
atitude. Desço a mão pelos seus gominhos e paro no cós da sua calça.
— Posso? — Levanto o olhar, encarando sua íris verde.
— Tem certeza? — Segura minha nuca com força, me dando um
beijo duro, chupando meu lábio inferior. — Não precisa fazer isso se não
quiser. Eu não sou nenhum moleque, Elena, posso lidar com isso sozinho.
— Eu quero. — Abaixo mais a mão e esfrego em sua ereção.
— Então fique à vontade, Corazón — diz, me lançando uma
piscadinha.
Me ajoelho na sua frente e abaixo sua calça. Heitor está usando
uma cueca boxer preta e o seu pau está tão duro que a ponta escapa pelo
elástico. Puxo a cueca para baixo, libertando-o, e o seu pau salta na minha
frente. Grande, grosso, cheio de veias. A visão me faz salivar, mas também
me preocupa. Puta que pariu, eu tinha que ter escolhido um pauzudo pra
perder a virgindade? Quando ele decidir me comer, precisarei fazer um
estoque de pomada de assadura, e ainda andar uma semana de cadeira de
rodas. Certeza! 
Percebo que Heitor não tem nenhum pelo ali e gosto da visão.
Levanto a mão e acaricio sua coxa até chegar eu seu pau, que
pulsa na minha frente. Envolvo minha mão em sua base e noto que sua
ponta está brilhante.
— Me chupa, Elena. — Seu tom é tão rouco e autoritário, que me
faz pulsar.
Coloco a língua para fora e dou uma lambida na cabeça, sentindo
o gosto salgado do seu líquido. Não é um gosto ruim, apenas diferente.
Levanto meu olhar e percebo que ele está me encarando,
esperando que eu comece a chupá-lo. Abro os lábios e o coloco na boca,
chupando apenas a cabeça, sem desviar o olhar, e percebo que de imediato
ele franze o cenho, mas não emite nenhum som.
Tento levá-lo um pouco mais longe, e chego até a metade do seu
pau na boca, e então começo a sincronizar as chupadas com a mão onde não
o alcanço, com um vai e vem.
Heitor geme, joga a cabeça para trás e segura meu cabelo, mas
não me força, apenas acompanha os meus movimentos.
Enfio o seu pau mais fundo e o sinto bater na minha garganta,
meus olhos ficam cheios de lágrimas, mas não paro, continuo o chupando,
controlando minha respiração e o levando até a garganta, mas, ainda assim,
fica um pouco para fora e eu sincronizo com a minha mão.
— Porra, Elena! — diz rouco. — Que boquinha deliciosa —
elogia, acariciando minha bochecha. — Continua assim. Me leva fundo. —
Sua mão volta a segurar meu cabelo, me incentivando a continuar.
Heitor começa a fazer movimentos de vai e vem, fodendo minha
boca, combinado com as minhas chupadas; tento levá-lo o mais fundo que
consigo, mas intercalo entre chupadas e lambidas no entorno do seu pau.
Lambo seu pau inteiro e desço até as bolas, passo a língua entre
elas e Heitor geme, apertando ainda mais meu cabelo. Sugo uma de suas
bolas dentro da bola, e faço o mesmo com a outra em seguida. Continuo
chupando, enquanto minha mão o masturba.
Subo de volta para seu pau e volto a levar ele até a garganta,
aumentando a sucção, enquanto massageio suas bolas. Heitor aumenta a
pressão no meu cabelo e  o ritmo das suas investidas.
— Eu vou gozar, Elena — diz entre gemidos, me olhando nos
olhos — Se não quiser engolir, é melhor sair.
Não me afasto, seguro seu olhar no meu e aumento as chupadas.
Heitor geme alto e sinto seu gozo jorrar na minha garganta. Não desvio o
olhar nem por um segundo, na dúvida entre o que fazer com o gozo na
boca, decido engolir, sentindo um gosto meio salgado descer pela minha
garganta.
Heitor me puxa pelo cabelo e, sem esperar nada, toma minha boca
para si e me devora em um beijo delicioso, misturando nossos sabores,
pouco se importando que a pouco estava com o seu pau na minha boca.
— Você foi maravilhosa — diz, sorrindo contra os meus lábios.
Ficamos em pé no meio da sala nos beijando um tempo, apenas
nos sentindo. 
— Vou me limpar — falo, sorrindo amarelo. Droga! Depois de
tudo o que a gente fez, agora eu vou ficar envergonhada? Ah, faça-me o
favor, né!
— Claro. — Me dá uma piscadinha e se abaixa para pegar as
minhas roupas espalhadas pelo chão e as entrega para mim.
Pego tudo da sua mão e corro até o banheiro, fechando a porta
atrás de mim. Ainda bem que tem um banheiro privado aqui dentro. Puta
merda, será que tem alguém perto lá do lado de fora? Se tiver, com toda
certeza escutaram o que fizemos aqui dentro. Ai, que vergonha, Senhor!,
penso, colocando a mão na cabeça.
Agora é tarde pra pensar nisso, Elena. Bora lá!
Coloco minha roupa em cima do assento fechado do vaso e sigo
para a pia para me lavar. Me encaro no espelho e só constato o que eu já
imaginava: parece que fui atropelada.
Estou com o cabelo totalmente desgrenhado, com o lápis de olho
borrado pelas lágrimas que derramei quando estava chupando o Heitor, e
por falar em chupar, estou com os lábios parecendo os da Angelina Jolie de
tão inchados e vermelhos que estão. Mas é o meu olhar que me prende no
espelho; estou com os olhos brilhando. Estou feliz. Desejo faz isso?
Deixo o pensamento de lado e ligo a torneira, encho as mãos e
lavo o meu rosto para tirar o suor, maquiagem e fluídos dele do meu rosto.
Pego o sabonete líquido que estava do lado, e o uso para lavar também.
Abro o armário e vejo que tem lenços umedecidos. Ufa. Pego-os e
faço a minha higiene íntima também. Vai servir até eu chegar em casa para
tomar um banho.
Após me limpar, visto minha roupa novamente e saio do banheiro,
me deparando com o Heitor no meio sala, passando a camisa pela cabeça,
totalmente recomposto, ao contrário de mim, que pareço ter sofrido um
acidente de trânsito.
Ando em sua direção e quando fico na sua frente, Heitor desce seu
rosto para ficar na altura do meu e sem pedir, toma a minha boca com
vontade. Sua língua domina todo o espaço na minha boca, e eu sinto meu
corpo derretendo sob seu domínio. Vamos diminuindo o ritmo, até que ele
encosta sua testa na minha, me dando beijinhos de leve pelo rosto e um
último na testa.
— Vem. Eu te levo pra casa.
— Não precisa, Heitor, você tem suas coisas pra fazer.
— Vem. — Já percebi que com ele não tem discussão, então nem
tento.
Heitor me estende a mão, a qual eu pego sem questionar, e assim
saímos da sala em direção ao estacionamento. Percebo que no caminho ele
não soltou a minha mão, e gostei disso.
O trajeto de moto é rápido.
Assim que chegamos, desço da moto, e Heitor me ajuda a retirar o
capacete, em seguida, enlaça minha cintura e me beija ferozmente, e sinto
todo o tesão voltar com força total, deixando minhas pernas bambas e
fazendo meu centro pulsar, o querendo.
Acredito que sou capaz de me entregar aqui mesmo, na rua, pouco
me importando com quem esteja ao nosso redor.
Aos poucos, vamos diminuindo a intensidade do nosso beijo, e
encosto minha testa na sua.
— Você está querendo me enlouquecer — choramingo.
O safado ri e roça seus lábios nos meus.
— Boa noite, Elena — diz, com um sorrisinho de canto.
Suspiro, e me afasto.
Boa noite, Heitor.
— Me viro e entro no saguão do prédio, ainda o vendo em cima
da moto, parado, me olhando. Dou um tchauzinho de longe e sigo para o
elevador, aproveitando que já está com a porta aberta e vazio.
Assim que passo pela porta do apartamento, sinto o cheiro de
comida no ar.
— Alice? — chamo, enquanto tranco a porta e penduro a bolsa e
as chaves.
— Aqui! — Alice grita, e eu sigo até a cozinha, que é de onde
veio o grito.
Fico até assustada quando vejo minha irmã cozinhando. Seu
cabelo está preso em um rabo de cavalo, e ela está com um avental na
cintura. É a própria “Dona de casa”, mas não parece nem um pouco
incomodada com isso. Pelo contrário, assim que me vê na bancada da
cozinha, ela me dá um sorriso.
— O que você está aprontando? — pergunto, me aproximando
para ver o que tem na panela, e percebo que tem molho e já está fervendo.
— Resolvi fazer o macarrão da vovó hoje pra gente comer. Você
vai comer comigo, né? — questiona, me olhando com carinha de “cachorro
que caiu da mudança”.
— Lógico, bebê. — Mesmo sem fome alguma, respondo.
Abraço-a, dou um beijo na sua testa e me viro para a pia, e quase
caio dura no chão.
— Nossa, Alice... Que tanto de louça é esse?? — pergunto
indignada.
— Ué, fazer comida suja. — Dá de ombros, como se todo o nosso
armário não estivesse na pia. Senhor! Como ela conseguiu sujar tanto para
fazer um macarrão?
Mesmo impressionada com a quantidade de louça suja, começo a
lavar e vou colocando tudo no “escorredor”, para tentar arrumar um pouco
aquela bagunça.
— E a escola, hoje foi tranquilo?
— Foi sim, estamos nos preparando para as provas de
fechamento, nada que eu não dê conta — diz, me dando uma piscadinha.
Abaixo a cabeça e dou risada do jeito convencido dela, porque,
realmente, estudo é uma coisa que não preciso cobrar da minha irmã, pois
ela sempre foi muito esforçada.
Com a massa já cozida, ela finaliza o molho e faz a mistura.
Ainda estou lavando a louça, quando ela diz que terminou tudo.
Olho pra ela, agora de frente, e vejo que não foi só a louça que ela
sujou, a bonita está toda suja.
— Alice? O molho explodiu em você? — indago, gargalhando.
— Haha... engraçadinha. — Dá risada e me mostra a língua.
— Vai, vai... Enquanto eu termino por aqui, vai lá tomar um
banho.
— É rapidinho, eu jurooo... — diz, tirando o avental para ir pro
banheiro.
— Ah, pode levar esse avental e jogar no cesto... Isso daí está sem
condições de uso. Se torcer dá pra fazer outra macarronada.
— Nossa, como você é exagerada. — Ri, indo pro banheiro e
levando o avental junto.
— Exagerada não! Sou realista — rebato, só pra provocar.
Termino de lavar a louça, e sigo para arrumar a mesa do jantar.
Monto a mesa, colocando os pratos, talheres e copos, e Alice sai
do banheiro, já pronta para comer e dormir.
— Bora comer? Eu nem estava com fome quando cheguei, mas o
cheirinho está me torturando aqui.
— Aham. Bora.
Solto um suspiro e pego os pratos, para nos servir.
Após servir, me sento à mesa para começarmos a comer.
— Hummm.;. — gemo assim que dou uma garfada.
— Pelo visto, você já está craque na receita da vovó, hein!? Está
uma delícia, bebê!
— Lena, para de me chamar de bebê — Me olha com uma cara de
brava que dura meio segundo, e depois dá um sorrisinho. — Está uma
delícia mesmo, né!? — afirma, com seus olhos brilhando.
— Você sabe que sempre vai ser o meu bebê, independente da sua
idade, mocinha. E, sim, está maravilhoso esse macarrão, o molho está
divino.
Nós duas começamos a comer e seguimos em um silêncio
gostoso.
— Eu espero que esse macarrão delicioso, não tenha sido feito na
intenção de diminuir o seu castigo — sondo o que parece óbvio.
— Claro que não — responde rápido demais, me dando uma
vontade enorme de rir.
— Claro que não. Ah... Você sabe que, por mais ele esteja
gostoso, eu não sou tão, tão fácil assim, não é mesmo?
— Jura? Nem um pouco?
Acabo gargalhando com a sua cara lavada.
— Não. Nem um pouquinho fácil. Sou muito difícil, mocinha.
— Poxa! Não custava nada tentar... — Balança os ombros, como
se não se importasse.
— E a senhorita sabe que merece o castigo, certo?
— Sei… Sei — responde desanimada.
Acabo rindo um pouco mais e continuamos comendo.
Após um tempo, resolvo aliviar um pouco para ela e tenho uma
ideia.
Mas, como você sabe que eu sou a irmã mais velha, a mais legal
de todas, vamos para a corrida do Heitor esse final de semana.
— Jura? — Dá um pulo da cadeira.
Acabo rindo da sua euforia.
— Juro. Mas o seu castigo continua, mocinha, isso é só uma
trégua.
— Está ótimo. Caramba, eu nem acredito que vamos mesmo!
— Sim. Imaginei que você iria gostar.
— Eu vou amar. Tá maluca?
Gargalho, e conto para ela como foi o meu dia hoje no treino do
Heitor; ela fica fascinada com tudo o que ouve e pede cada detalhe.
Prosseguimos com nosso jantar, e decido contar meus planos para
nós, sei que minha irmã merece. Mesmo tendo feito o que fez, ela não
deixou de ser uma ótima garota.
— Quando essa fase de provas passar, pra nós duas, o que acha de
passarmos um final de semana na praia? — pergunto sorrindo e balançando
as sobrancelhas.
— Você tá me zuando?
— Claro que não. Nós não vamos ficar em nenhum hotel cinco
estrelas, tá mais pra um hostel... — comento pensativa. — Mas dá pra gente
aproveitar dois dias na praia. O que acha? Posso pedir folga para a Dona
Carminha por um dia.
— Mentiraaaa! — grita, levantando da sua cadeira e pulando no
meu colo.
Acabo dando risada da sua empolgação e a abraço.
— Calma, mocinha, esse passeio, infelizmente, não é pra
AGORA, é daqui algumas semanas ainda, porq... — Ela me interrompe,
antes que eu termine
— Sim, sim.... Claro que eu entendo, Lena, se não der pra gente
ir, não tem problema, ou se a gente precisar fazer um bate-e-volta também,
tá tudo bem — diz, ainda animadíssima.
— Então tá bom. Fica combinado que, assim que nós duas
terminarmos as provas, vamos salgar a bunda — falo rindo, e ela gargalha,
se levantando do meu colo.
Seguimos conversando animadas, compartilhando os
acontecimentos do nosso dia-a-dia, e fui atualizada sobre um novo
“gatinho” (palavras da Alice, não minhas), que entrou na sua sala essa
semana, o que a deixou muito feliz.
Fico ouvindo toda a sua animação com a escola e as amigas, é
bom saber que ela está feliz, apesar de toda limitação e das perdas que
tivemos.
Nós terminamos o jantar em uma conversa animada.
Vou até o freezer e pego um pote de sorvete esquecido por lá.
Depois de levarmos a louça até a pia, e eu dizer que a louça ficará
para ela lavar amanhã, vamos para o sofá, e nos sentamos com o pote de
sorvete no colo e duas colheres.
Apesar de estar cansada do dia de hoje, e saber que terei que
acordar cedo amanhã para estudar, não abro mão desses momentos com ela.
Sei que devido a correria das nossas rotinas, com faculdade e
trabalho, acabo não tendo muito tempo para compartilhar com a Alice, e
isso é uma coisa que não posso fazer. Ela só tem a mim, e eu só tenho ela.
Vejo a alegria no rosto da minha irmã, provavelmente por estar
pensando o mesmo que eu; faz muito tempo que não tiramos um tempo
assim para nós.
Mesmo sendo um momento “simples”, um simples jantar, ou uma
simples sentada no sofá para assistir um programa qualquer de televisão,
tem muito significado para nós.
— Ah, a Dona Vilma trouxe bolo pra gente hoje — Alice diz
depois de colocar uma colher generosa de sorvete na boca.
— Hummm... que delícia! Será nosso café amanhã, então — digo,
feliz pela atenção que temos da nossa vizinha, que nos ajudou tanto quando
chegamos na cidade.
— Imaginei que você iria gostar mesmo.
— Tá maluca? É Bolo! Bolooo! — Dou risada e enfio uma
colherada cheia de sorvete na boca também.
Terminamos a sobremesa e ela se aconchega no sofá, com a
coberta.
Me levanto, jogo o pote vazio no lixo e corro até o banheiro para
tomar um banho rápido e ir descansar.
Assim que termino, vou até a sala com uma toalha enrolada no
cabelo e outra o corpo, só para confirmar o que eu já desconfiava: Alice
dormiu no sofá, assistindo TV.
Desligo a televisão e arrumo a coberta em cima dela.
Vou para o meu quarto, coloco o meu pijama e seco o meu cabelo
rapidinho.
Deito na cama e o sono não demora a chegar, e meu último
pensamento se direciona ao único que está o tomando para si.
Heitor.
 

 
Hoje foi o último dia de treino, a corrida será amanhã, e sinto meu
corpo tenso, mas satisfeito com todas as melhorias que eu e minha equipe
fizemos.
Finalizei meu treinamento e agora estou na minha sala de
descanso.
A correria dos últimos dias foi intensa, pois a moto apresentou
alguns problemas que precisavam ser ajustados com urgência e não há
espaço para erros, mas, no final, deu tudo certo, e sei que o troféu já é
nosso, assim como nos últimos anos.
Em dias assim, eu curto ficar sozinho e aproveitar o silêncio para
colocar minha mente no lugar. Mas meus pensamentos não estão mais
comigo, mas sim, apenas em Elena.
Nunca fiquei assim por nenhuma outra.
Sempre fiquei com mulheres que procuravam o mesmo que eu:
uma foda rápida e proveitosa para os dois, nada mais que isso.
E por mais que ela não diga, eu sei que Elena quer mais que isso.
Ela merece ser mais que uma foda. Porra. Eu estou fodido! 
Me levanto, passo as mãos pelo cabelo e começo a andar pela
sala, para tentar colocar os pensamentos em ordem.
Aqui, nessa sala, consigo reviver cada momento que tive com ela.
Porra! Quase posso sentir seu cheiro e ouvir os seus gemidos, consigo me
lembrar de como seu corpo implorava por mim, e sei que eu preciso de mais
disso. Mas o que eu não consigo responder é: uma vez será o suficiente? Eu
sei que não. E é isso que está me deixando maluco. Porra, eu nunca quis ter
um relacionamento com nenhuma outra mulher, pois nenhuma nunca me
atraiu além da cama.
Elena é o oposto de mim. Enquanto eu aproveito a vida como se
não houvesse amanhã, vivendo intensamente e pouco me fodendo para a
opinião dos fofoqueiros de plantão, Elena vive única e exclusivamente para
a irmã. Mesmo estudando e trabalhando, procurando ter um futuro melhor,
ela busca isso para dar uma vida melhor à irmã. 
Elena é luz, encantadora, alegre, inocente e fodidamente gostosa. 
Esfrego o meu rosto e solto um bufo para acalmar minha mente.
Resolvo que preciso ir para casa descansar; um banho gelado e
uma boa noite de sono terão que ser o suficiente para me deixar pronto para
amanhã.
Apanho minhas chaves e vou para casa.
 

 
Elena veio assistir ao último dia de competição junto com sua
irmã, então providenciei para que Marcos fosse buscar as duas e as
acomodasse em um dos camarotes para ficar à vontade.
Infelizmente, é provável que não a veja, pois após a corrida
preciso me encontrar com a IRTA[11], e seguir todos os protocolos
necessários junto à federação.
Após a volta de aquecimento para apresentação dos pilotos e
aquecimento dos pneus, vou para o Paddock[12] aguardar o horário da
corrida.
Coloco meus fones de ouvido e me isolo, pois não quero e não
posso ficar nervoso. Preciso de concentração.
Após um tempo, confiro o relógio na parede e constato que está
na hora de ir ao box[13], e aguardar. Atravesso o Paddock, e sigo para lá.
Chegando ao local, olho em volta e vejo toda minha equipe do
Pit[14] preocupada em fazer suas funções para que a corrida ocorra bem.
Me direciono ao meu box, e avisto minha KTM RC16, que possui
um motor V4 de quatro tempos com mais de 250 cavalos de potência, ou
seja, um monstro em duas rodas, que nunca me abandona, e que, mais uma
vez, vai me levar ao pódio.
Já uniformizado, sigo até um canto do box, e aguardo.
Minha equipe já está acostumada, e sabem que, neste momento
pré-corrida, eu não gosto de conversa, então ninguém se aproxima, me
deixando sozinho, do jeito que eu gosto.
Preciso ficar tranquilo, sereno e confiante de que essa corrida é
minha.
Confiro meu capacete, arrumo minhas luvas e uniforme, e deixo
tudo do meu jeito, para que nada me incomode durante a corrida.
— 5 minutos — um FIM[15] vem me avisar dentro do box.
Não respondo, continuo no meu canto, encarando minha moto.
— Essa corrida é minha! — digo para mim mesmo, e passo a mão
pela carenagem e pelo meu número. Dezenove.
Vamos até o grid[16] de largada, e é o meu momento de ajustar o
capacete na cabeça e montar. Dou uma última conferida nas botas e luvas, e
encontro minha posição para encaixar meus pés.
Todos mantêm sua concentração e fazem seu ritual pessoal para
início da corrida. Já eu? Prefiro me manter imóvel em cima da minha KTM,
apenas aguardando para dar o meu show e subir no pódio[17], que já é meu.
Um minuto.
Meu coração se encontra assustadoramente calmo, pois, por mais
nervoso que a corrida me deixe, quando monto, sinto que todos os
problemas e ansiedades ficam longe. Aqui em cima?  Me sinto em paz. Me
sinto invencível. Me sinto eu mesmo.
Levanto os olhos e avisto a arquibancada lotada, as pessoas
eufóricas para a largada.
Essa euforia me estabiliza. A loucura me acalma.
Três. Dois. Um.
Quando é dada a largada, instintivamente acelero e me jogo como
um foguete, seguido por todos os outros pilotos.
Meu coração segue calmo na corrida. Minha mão segura firme no
acelerador, me inclino sobre a moto, me estico e coloco o pescoço pra
frente.
Preciso ser leve. Preciso ser rápido.
Realizo um Clipping point, pois agora não é o momento de
reduzir a velocidade, e sim, de acelerar.
Observo que o piloto número vinte e seis encosta do meu lado,
mas isso não me abala, pois estou focado na minha chegada.
Avisto um Braking Marker[18] e preciso desacelerar um pouco
quando chego ao Chicane[19] junto com outro piloto para não colidirmos, e
nós dois perdemos velocidade, mas continuamos no páreo.
Assim que saio dos Esses, volto a acelerar e pedir tudo da
cilindrada[20].
Faço um Left-Hander[21] em um ângulo de inclinação onde sinto o
joelho tocar a pista em uma inclinação máxima, e sigo a toda velocidade.
Quanto mais me afasto, mais sinto que estou quase flutuando na
pista, e isso me dá a sensação de liberdade que tanto amo. O chão continua
ali, feroz, mas só consigo sentir paz aqui em cima. Me sinto em casa.
Vou ultrapassando os pilotos e seguindo na frente, guiando a
corrida, junto a poucos outros.
Já estou a 361 km/h e sigo tentando alcançar o primeiro lugar,
quando um dos pilotos que estava ao meu lado sofre um Low Side[22],
causando então a queda de mais três que estavam lado a lado. Espero que
todos estejam bem, mas sigo na disputa.
Estou brigando pelo primeiro lugar com o piloto número noventa
e um, meu adversário, Bill Anderson. Geralmente, ficamos os dois
disputando o primeiro lugar, e sempre acabo vencendo. E hoje? Não será
diferente. De novo, Bill terá que se contentar com o segundo lugar.
Como um raio, atravesso a linha de chegada.
O som de gritos da torcida da arquibancada toma o autódromo.
Escuto a comemoração da minha equipe através do fone no
capacete, o que só me deixa ainda mais feliz.
— Isso, porra! — grito em plenos pulmões.
Em comemoração, faço um Whellie[23], e a arquibancada vai à
loucura.
Sigo com a moto para o meu box, para comemorar com toda a
minha equipe, pois a minha vitória não seria possível se eu não os tivesse
do meu lado em todo o processo.
Chegando lá, estão todos pulando como uns loucos, desço da
moto de qualquer jeito e pulo neles, comemorando e gritando junto.
— É CAMPEÃO!!! SANTIAGO É CAMPEÃO!!! — Me pegam,
me colocando em seus ombros e ficam me jogando para o alto.
E é nessa comemoração alucinante que seguimos todos para a
área do pódio.
Ao chegar, observo que todos já estão em seus lugares, os pilotos
de segundo e terceiro lugar e suas respectivas equipes, junto com toda
imprensa devidamente posicionada.
Recebo alguns cumprimentos no caminho para o pódio, mas não
me demoro, pois estão me esperando e não posso desrespeitá-los.
Chegando lá, faço questão de cumprimentar e parabenizar os
outros pilotos.
Primeiro cumprimento o piloto que está ocupando o terceiro lugar,
é um Rookie[24] que não conheço, mas tenho certeza que terá será um grande
piloto.
— Parabéns! Você tem um grande caminho pela frente. Parabéns!
— Lhe dou um abraço rápido de felicitações.
— Obrigado, Santiago — Me devolve o abraço com uns tapinhas
nas costas. — Parabéns a você também, campeão.
Sigo para cumprimentar o segundo lugar, que é o meu adversário
mais conhecido, pois ultimamente ele está em busca do primeiro lugar, e eu
estou dificultando sua conquista. O que eu pretendo continuar fazendo, mas
reconheço que é um grande piloto.
— Parabéns, Bill — Estico a mão para lhe cumprimentar, e fico
aguardando-o me devolver o cumprimento, o que demora alguns segundos,
mas o faz.
— Obrigado, Santiago! — diz sisudo
Não faço questão de “esticar o chiclete”, pois eu tenho mais o que
fazer.
Finalmente subo para a minha posição. O PRIMEIRO LUGAR,
PORRA!
Assim que ocupo o meu lugar, os flashes pipocam em nossa
direção e me entregam uma garrafa de espumante de três litros para
estourar.
Pego-a e abro, chacoalhando e espalhando a bebida em todo o
pódio e na minha equipe que está ao redor.
Estou em êxtase. 
Feliz pra caralho.
Por mais que eu já soubesse que conseguiria conquistar
novamente o primeiro lugar, é gratificante pra um caralho concretizar.
Após acabar com a garrafa, entrego para uma das assistentes
abaixo de mim, e me entregam o tão aguardado troféu.
Assim que sinto o peso dele nas mãos, o levanto acima da minha
cabeça para que todos possam vê-lo, e comemoro ainda mais, agora com o
troféu em mãos.
Após muita comemoração e gritaria da minha equipe, desço do
pódio para seguir ao Parque Fechado[25], para iniciar com as entrevistas.
Já nos corredores internos, avisto o meu assistente, Conny Adams,
se aproximando.
— Parabéns, chefe! — diz, me cumprimentando.
— Já falei pra parar com essa merda de chefe, moleque! — digo
fingindo irritação, pois hoje não tem nada que me irrite, mas deixando claro
que não gosto de ser chamado assim, coisa que toda a minha equipe já sabe,
mas o filho de uma boa mãe gargalha.
— Sabia que iria dizer isso — responde ainda rindo.
— Vai à merda e me entrega a porra do meu celular logo, vai —
resmungo, rindo e esticando a mão, aguardando-o me entregar, pois ele fica
responsável por isso quando estou em corrida.
Nunca me importei se alguém iria vir ou não para me ver correr,
pois desde o início da minha carreira não tive apoio das pessoas que mais
amava. 
No início, é lógico que isso me abalava, pois gostaria de ter com
quem comemorar as minhas conquistas após descer do pódio. Sei que tenho
minha equipe que comemora comigo, mas ter “realmente alguém” não é a
mesma coisa.
Após alguns anos, meus irmãos aceitaram minha decisão de não
cursar alguma faculdade glamourosa e nem seguir com uma “carreira
brilhante” (palavras deles, não minhas, é claro), e quando podem, estão aqui
comigo. Mas isso é bem raro.
Com o tempo, isso deixou de me fazer falta.
Saber que a Elena está aqui hoje, que veio torcer por mim, me
deixa, de alguma forma, feliz para caralho.
Assim que pego o celular, vou direto para o aplicativo de
mensagens e vejo que tem várias, mas vou direto para a pessoa que me
interessa: Elena.
Tem duas mensagens dela, leio a mais antiga, que foi enviada hoje
bem cedo.
 
 
“Eu tenho certeza que você vai arrasar hoje, lindo.
Mantenha a mente tranquila, pois esse pódio já é seu!
Toda sorte do mundo para você!!!!”
 
 
Eu sou um cara que sabe da própria capacidade, mas saber que a
minha garota também sabe, me deixa feliz pra caralho.
Vou para a próxima mensagem.
 
 
“PARABÉEENSS!!!!!
Eu queria muito estar aí do seu lado agora para te dar um
beijo da vitória, mas hoje à noite eu te recompenso!!!
Parabéns, Campeão!”
 
 
Após as competições, sempre comemoro em alguma balada, e
dessa vez não será diferente. Bom, a diferença é que não vou em busca de
companhia, pois já estarei muito bem acompanhado da Elena, que é tudo o
que eu preciso.
Infelizmente, aqui no autódromo não conseguirei vê-la, pois irei
seguir com todos os protocolos com a imprensa e os patrocinadores, o que
demora demais, então só a verei mais tarde , mas já estou muito feliz por ela
ter estado aqui.
Mal percebo que estou olhando para o celular e sorrindo como um
adolescente idiota. Tinha me esquecido que Conny ainda estava aqui
comigo, e só me dou conta quando o escuto limpar a garganta para me
chamar a atenção.
— Humm... Pelo jeito, alguém importante te mandou mensagem,
né? Porque você tá com a maior cara de bobo.
— Moleque, você não tem nada pra fazer, não? — pergunto,
arqueando a sobrancelha.
— Foi mal. Foi mal. Já estou indo — diz, indo embora.
Volto minha atenção para o celular e respondo à minha garota.
 
 
“Eu mereço UM beijo?
Sério?
Você pode melhorar essa oferta, né, linda?
kkkkk
Estou louco para te ver! Aí sim, vamos comemorar!
Saudades. Beijos”
 
 
Guardo o celular na minha jaqueta, e sigo para a área do Pit Lane,
onde está toda a imprensa.
 
 

 
Após cumprir com todo o compromisso do pódio, ficou mais tarde
do que eu esperava, então combinei com Elena de Marcos buscá-la em sua
casa, já que vou ter que ir direto daqui.
A casa já está lotada, e o DJ está empolgado essa noite, tocando
apenas as melhores músicas, enquanto a galera se acaba de dançar na pista. 
Estou no camarote que costumo usar, com Antonio sentado ao
meu lado no sofá, e não para de mexer no celular, que para ele parece muito
mais importante do que qualquer coisa à nossa volta. 
Meu irmão não conseguiu assistir a corrida, mas chegou no fim da
tarde e me esperou para me acompanhar. É bem difícil conciliarmos nossas
agendas, devido às minhas viagens e o seus plantões, mas sempre que
“bate”, saímos para curtir.
Enquanto Antonio se distrai com seu telefone, eu estou aqui,
olhando as pessoas dançando e se divertindo na pista abaixo de nós, e não
estou com nenhuma vontade de me juntar a elas, ao menos não enquanto ela
não chegar. Porra, estou na boate mais badalada da cidade, cheia de mulher
gostosa ao meu redor, e só consigo pensar nela, onde ela está, como está,
quando vai chegar, quando vou colocar as mãos nela... Céus, eu estou muito
fodido! 
Passo as mãos no meu cabelo, jogando-o pra trás, esfrego meu
rosto para afastar os pensamentos que não me abandonam e me levanto do
sofá, deixando Antonio para trás, junto com o seu celular inseparável; o
estúpido[26] nem se deu conta que me levantei. 
Me aproximo da grade de segurança para esfriar a cabeça e olhar
o movimento da boate, e uma garçonete se aproxima de mim com um copo
de whisky, o qual eu aceito de bom grado, bebendo tudo, em um único gole,
e já deposito o copo em sua bandeja novamente, pegando um outro cheio.
— Obrigado, linda — agradeço a moça, que ainda está parada ao
meu lado.
Imagina, se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. — Ela me
lança um sorrisinho, junto com uma piscadinha, e sai rebolando.
Mais à frente, ela para e olha para trás por cima do ombro, me
encarando, e provavelmente esperando que eu vá até ela e dê uma rapidinha
em algum escritório vazio ou no estoque. Não que eu já tenha feito isso
alguma vez. Eu? Jamais! Sou um rapaz puro e inocente, e se alguém disser
o contrário, nego veementemente. Hahaha.
Até parece, afinal, conheço cada salinha vazia e cada cantinho
escuro desse lugar. Mas, hoje? Hoje eu não quero nenhuma mulher para me
dar prazer por alguns minutos, preciso mais do que uma trepada rápida com
alguém que eu nem me lembrarei depois que fechar o zíper da minha calça. 
Lanço um sorrisinho pra ela e dou um tchauzinho com a mão,
enquanto ela me encara com um olhar surpreso e parece até desapontada,
mas entende que hoje não vai conseguir nada comigo e sai andando
envergonhada. 
Olho para o sofá e meu irmão está me encarando como se eu
tivesse três cabeças; juro, o celular está quase caindo da mão dele, e olha
que, para ele se descuidar do telefone, é porque o negócio está sério, até eu
fico preocupado e olho para trás de mim, vai que tem algum monstro com
sete cabeças pronto para me devorar, mas é óbvio que não tem nada, além
de um vão imenso da pista que está abaixo de nós, pois estamos no segundo
andar da boate. Volto a encará-lo, cruzo os braços no peito. 
— O que foi, Antonio? — pergunto sem paciência. 
— Você acabou de dispensar uma gostosa? Uma trepada fácil?
Cadê o meu irmão? O que você fez com ele?
— Haha… que engraçado. — Levanto a mão e mostro o dedo do
meio. 
Ele levanta os braços, fingindo que está se rendendo. Payaso[27].
— Só estou surpreso — insiste. — Cara, eu nunca vi você
dispensar uma gata. — Ele olha pra onde a moça foi e se levanta do sofá,
vindo em minha direção, põe a mão no meu ombro e aperta.
— Só não estou a fim.
Ele ri, desce a mão do meu ombro e dá umas batidinhas nas
minhas costas, como se eu tivesse contado uma piada.
— Claro, claro, hermano[28]. Claro que é isso. — Continua rindo
contido. — Mas aposto que se aquela garçonete fosse a Elena, você não
teria dispensado. 
— Vai pra puta que pariu — respondo, tirando a mão dele das
minhas costas.
O idiota não ri mais, agora ele gargalha olhando pra minha cara,
chega até a jogar a cabeça para trás, o que só aumenta minha vontade de
encher ele de soco. 
— Respeita nossa mãe — diz quando consegue se controlar
melhor e recuperar o fôlego. 
— Você me entendeu, porra!
— Fala sério, hermanito[29], está na cara que você está caidinho
por ela. O que você está esperando? Ela desistir de te esperar tomar uma
atitude e ir embora? — Quando estou prestes a responder, ele continua —
Ela parece ser uma moça boa, não perca essa oportunidade, estúpido. — O
filho de uma boa mãe (minha, inclusive) dá um tapa atrás da minha cabeça,
que dói pra porra, me fazendo esfregar a área e olhar pra ele incrédulo com
a audácia do puto — Toma logo uma atitude, seu molenga! 
O puto simplesmente me vira as costas e volta a sentar no sofá e a
mexer no celular, como se nunca tivesse se levantado de lá, e eu, como o
idiota que aparentemente virei, continuo parado no mesmo lugar, olhando
pra ele, incrédulo.
Resolvo mudar de assunto e fingir que nada do que aconteceu nos
últimos minutos realmente aconteceu, pois é o melhor da minha sanidade. 
— Bom, viemos aqui para você ser o meu conselheiro amoroso?
Para você continuar mexendo nesse celular? Ou para dançar? — Pego meu
copo de whisky que havia deixado em uma mesinha ao lado, que já havia
até me esquecido, e bebo um pouco. 
— Vou só resolver umas coisas aqui e já desço, pode ir na frente
— responde sem ao menos me olhar. Sério, não sei o que me deu na cabeça
para chamar o Antonio para a balada, ele parece que vive dentro daquele
celular, quando está fora do consultório dele, é claro. 
— Foda-se, eu vou dançar. — Saio andando, mas nem sei se ele
me ouviu. 
Bebo o restante do copo e coloco em outra mesinha, no caminho
para as escadas, onde tem um segurança. Sinto meu celular vibrar no bolso
da minha calça, e vejo a mensagem que eu estava esperando: “já estou a
caminho.” Finalmente, até sinto o meu corpo na expectativa. Ah.. Hoje eu
ensino ela como dançar um reggaeton.
Quando vou passar pelo segurança, encontro Jose, um dos
seguranças que eu conheci em uma das primeiras vezes que vim para cá,
então paro e o cumprimento. 
— E aê, Jose, não te vi quando cheguei. — Aperto sua mão e bato
em suas costas. 
— Estava em outro camarote, campeão, acabei de chegar aqui.
Vai descer pra pista agora? 
— Sim. Hoje eu trouxe o meu irmão comigo, mas ele acha mais
importante mexer no celular do que descer e dançar um pouco. Já eu? Vou
descer e dançar até cansar, para comemorar minha última vitória.
— Fiquei sabendo, parabéns, inclusive. — Me dá uns tapinhas no
ombro, animado. — Você não perde nunca, campeão. Vai lá curtir a noite
então, eu tenho que manter a ordem por aqui e controlar os bêbados.
— Boa sorte com isso. — Digo já descendo as escadas. 
Quando estou no andar debaixo, me dirijo ao bar para pegar outra
bebida, e começa a tocar um reggaeton, me deixando animado. Amo
dançar, me faz sentir vivo quando não estou em cima da minha moto. 
Faço sinal ao barman, ele já me conhece de outras vezes que vim,
e sabe que eu só bebo whisky, então prepara e me entrega. Pego minha
bebida, agradeço com um sinal, já que o bar está lotado e som alto, e sigo
para a pista de dança. No caminho, percebo muitas mulheres me olhando, e
algumas mais ousadas vão passando a mão no meu peito e costas conforme
o espaço vai ficando mais apertado, mas nem me dou ao trabalho de olhar,
pois meu corpo nem se anima com a foda fácil, meu corpo e mente quer
outra, apenas uma, e estou animado para a chegada dela. 
Começo a dançar um pouco na pista, e vou me movimentando
conforme o DJ vai mixando os ritmos latinos. Modéstia à parte, eu danço
muito bem e gosto disso, de ser o centro da pista. Conforme danço, sinto o
suor escorrer nas minhas costas e abdômen, passo a mão no pescoço, jogo a
cabeça para trás, e olho para o teto da boate, com as luzes piscando sobre a
pista. 
Olho o meu celular e vejo que acabei de receber uma mensagem
de Elena, avisando que já chegou e que está entrando, por isso, saio da pista
e vou em direção ao bar para aguardar ela entrar, e aproveitar para beber
uma água para me hidratar.
Olho para a porta, e ela ainda não entrou, chego ao balcão e peço
uma água e, enquanto bebo, vou olhando para a entrada, à espera da minha
Elena. 
Merda, preciso colocar minha cabeça no lugar. Ela não é mulher
para uma noite só. Caralho, ela sequer havia sido tocada por outro cara, e eu
sou incapaz de dar a ela o que precisa. Chacoalho a cabeça, como se para
espantar esses pensamentos, e olho para frente, a encontrando no meio da
multidão, me encarando, como se estivesse ali o tempo todo, só esperando
para eu encontrá-la, e assim que nossos olhares se cruzam, mesmo com a
baixa luz, sinto a tensão do momento.
Vou em sua direção e mordo o lábio ao ver como ela está
maravilhosa, de vestido vermelho em um tecido brilhante no meio da coxa,
o que a faz brilhar mais do que o natural, principalmente com a luz do
ambiente reluzindo sobre ela, e com um salto alto que a faz ficar um pouco
menos baixa do que o normal.
Assim que chego à sua frente, enlaço sua cintura, seguro seu
queixo e uno nossos lábios em um selinho demorado, depois vou beijando o
canto da sua boca e descendo para o seu pescoço, sentindo o seu
característico cheiro de morango que me deixa viciado. 
— Você está maravilhosa — sussurro no seu ouvido. — Mais do
que nos dias normais. — Mordo o lóbulo da sua orelha e sinto-a se arrepiar
nos meus braços e dar uma risadinha. 
— Você é muito galanteador, campeão. — Me afasta, colocando
as mãos no meu peito, como se me empurrasse, mas não me afasta
completamente, permitindo que eu fique com as mãos na sua cintura, e
como ela está de salto, ficamos frente a frente, sem ela precisar erguer a
cabeça, e nem eu precisar me abaixar para ficar na sua altura. 
Seguro seu queixo novamente e lhe dou outro selinho, só porque
não consigo ficar sem beijar essa mulher.
— Só estou dizendo a verdade, você é maravilha, mas está divina
com essa roupa e, com certeza, vai me deixar com vontade de matar muitos
homens que irão olhar pra você essa noite. 
Ela passa os braços no meu pescoço, encosta nossos narizes e diz
bem baixinho: 
— Você está exagerando, campeão. — Balanço a cabeça,
negando. — Mas, se eles olharem, que olhem, por que eu sou só sua, toda
sua. 
Sinto o meu peito vibrar e meu pau pulsar com o que ela diz.
— Mulher, não fala isso, você não sabe o que provoca dizendo
uma coisa dessa. — Esfrego o meu pau já duro por ela, e a safada dá uma
risadinha.
— Ah, eu sei, sim.
Subo uma mão e passo por trás de seu pescoço, agarro o seu
cabelo e a puxo para mim, olhando nos seus olhos.
— Você é minha. Elena! 
— Eu s... — Não a deixo terminar de falar o que já sei, ela é
minha, toda minha, por isso, ataco seus lábios com ferocidade, estocando a
minha língua na sua boca quente, sentindo o seu gosto maravilhoso; a
prenso mais contra mim, enquanto puxo o seu cabelo e aperto sua cintura,
para ela sentir ainda mais a minha dureza por ela. Eu estou louco por essa
mulher. 
Aos poucos, vamos diminuindo o ritmo, encosto nossas testas e
faço um carinho na sua bochecha.
— Vem, vamos pegar um drink para você. 
Seguro sua mão, a viro para ficar de costas para mim, e vou
conduzindo-a até o bar com a outra mão na sua cintura. 
Quando chegamos ao balcão, ajudo-a a sentar em uma das
banquetas, pergunto o que quer beber, e ela escolhe uma bebida doce, já eu
opto por não beber mais nada, pois vim de carro.
Me aproximo do seu ouvido para dizer:
— Vamos dançar um pouco e depois subimos para o camarote,
pode ser? Ou quer subir agora? O Antonio ainda deve estar lá cima, já que o
anciano[30] não sai do celular. 
—Seu irmão? — Balanço a cabeça, confirmando. — Podemos
subir depois?
— Você pode tudo, linda. — Dou-lhe um beijo nos lábios, só
porque não consigo ficar longe dessa mulher.
— Então, vamos dançar um pouco, faz tempo que não venho à
uma boate. Só fui uma vez, no primeiro ano da faculdade, e não aproveitei
muito. — Balança os ombros, como se não se importasse. — Depois nos
juntamos ao seu irmão — responde, dando risada. 
— Então, vou tornar sua noite memorável. — Sorrio convencido.
Elena gargalha.
— Convencido.
Sua bebida chega e ela começa a beber.
— Parabéns por hoje
— Obrigado. — Dou um beijo em sua testa, e ela me abraça na
cintura, já que está sentada. 
Ela continua bebendo seu drink, e quando termina, não perco
tempo. 
Vem dançar comigo, linda.
Pego sua mão, ajudo-a a se levantar, devido à altura da banqueta e
ao salto que está usando, e assim que desce, vou puxando-a para o meio da
pista de dança e, por sorte, volta a tocar uma música latina que eu adoro. 
— Heitor, não... Eu não sei dançar esse estilo de música.
Seguro em sua cintura e vou rebolando junto com ela, a
encoxando por trás, e desço para responder ao pé do seu ouvido.
— Sabe sim, linda, mas me deixe te mostrar como fazer.
Desço minhas mãos para suas coxas, subo para sua cintura
novamente, a viro e deixo minhas mãos vagarem por suas costas nuas, e
desço até sua bunda deliciosa, a apalpando com vontade e a apertando
contra mim; sinto Elena estremecer, ela me encara com as mãos no meu
ombro, mas continuamos dançando conforme o ritmo da música. 
Ela se deixa levar pelo ritmo e me deixa guiá-la. 
Ela é tão linda, tão pura, tão deliciosa, eu estou fascinado por essa
mulher. 
Ela me tem de joelhos, e nem sabe disso. Tenho a sensação que,
se ela me pedir qualquer coisa, eu darei. 
Porra, eu não posso me apaixonar por essa mulher, ela merece
mais, muito mais do que eu posso oferecer, pois sou fodido demais para ser
bom. Ela merece mais. Mas, porra, eu sou egoísta demais para abrir mão
dela. O quão fodido isso é? 
Após um tempo dançando na pista, seguro seu queixo e me
aproximo do seu rosto, roçando nossos lábios,  passo a língua no seu lábio
inferior e sinto ela gemer contra minha boca. 
Sinto seu corpo pequeno e feminino contra o meu, mordo seu
lábio, saboreando-o, e ela geme. 
Elena entreabre os lábios e seus braços fecham-se ao redor da
minha nuca, enquanto inclina em minha direção. Minha língua contorna sua
boca, e Elena desmancha-se contra meu corpo. Tento recuperar o mínimo
que seja de controle, e recuo para olhar em seus olhos. 
Quando olho para os olhos de Elena, vejo faíscas de desejo. Um
espelho dos meus. Não resisto e tomo sua boca novamente, tendo a certeza
de que entramos em um caminho sem volta, pois vou querer tudo dela. 
Elena me devora com a mesma fome, enquanto sugo sua língua,
sinto-a retribuir. Caralho, ela é tão gostosa!
Elena fica na ponta dos pés e, sem nenhuma timidez, se esfrega
em mim, sinto seus mamilos protegidos pelo vestido fino roçando em meu
peitoral. Meu pau está tão duro que chega a doer de tanto tesão. 
— Você vai me enlouquecer — murmuro e me afasto um pouco,
para ver seus olhos bêbados de tesão pelo nosso beijo. — Chega, Corazón.
Não vamos dar um show para esses filhos da puta que estão te cobiçando
desde que entrou aqui. Vou te levar pra casa. 
— Já estamos indo? 
— Você quer ir? 
— E o seu irmão? — pergunta com uma carinha preocupada, não
resisto e acabo dando risada. — Você endoidou? Por que tá rindo? — Faz
cara de brava. 
— Amor...- digo, enlaçando sua cintura e dando um beijinho no
seu nariz arrebitado. — Meu irmão ainda está com a cara enfiada no celular,
ou já encontrou alguma doida pra passar a noite com ele. 
— Hummm... Então tá bom — assente, passando os braços pelo
meu pescoço e beijando o meu queixo, o que me causa um arrepio. — Mas
preciso usar o banheiro antes de irmos.
Entrelaço a mão na dela e sigo na direção que sei que ficam os
banheiros.
— Vai lá. Te espero aqui.
Elena acena e entra.
Me recosto na parede do corredor e aguardo. Esse é o momento
em que tenho que colocar a cabeça certa para funcionar. 
O corredor está relativamente vazio, e o som da pista um pouco
abafado por aqui. 
Pego o celular no bolso da minha calça, para fazer o tempo passar
enquanto espero Elena voltar, e quando estou distraído olhando minhas
mensagens, sinto alguém se aproximar do meu braço, roçando as unhas na
minha pele, e quando levanto os olhos, vejo que é uma morena, sorrindo. 
— Oi, Santiago! — cumprimenta, sorrindo maliciosa. — Há
quanto tempo eu não te vejo, estava com saudades — diz ronronando, se
aproximando ainda mais. 
— Desculpa. Eu te conheço? — pergunto, arqueando a
sobrancelha. 
— Ah, para! Não se lembra de mim? — reclama, com cara de
desagrado, mas logo disfarça, dando um sorriso amarelo. — Tudo bem, eu
posso fazer você se lembrar — diz, se aproximando ainda mais.
— Hei, linda. Desculpa, mas realmente não me lembro de você, e
não estou a fim de lembrar. Estou acompanhado. — Ela arregala os olhos, e
eu aproveito para colocar a mão nos ombros dela, para afastá-la de mim.
E é nesse momento que Elena resolve sair do banheiro e dar de
cara com essa cena, e não leva nem meio segundo para ver que está muito
puta e que interpretou tudo errado. Mas que porra! 
Elena não diz nada, e simplesmente passa na minha frente, como
se não me conhecesse, parecendo possuída.
— Ops... — a morena diz rindo. — Ela era sua companhia? 
— Vaza!!! — digo entredentes, e não espero para ver sua reação,
pois vou atrás da Elena para explicar. 
Acelero os passos para alcançar uma Elena puta da vida, e penso
que essa é a primeira vez que corro atrás de uma mulher. E quer saber?
Nem me importo. 
Alcanço-a e seguro seu braço, a virando pra mim. 
— Elena! 
— Não encosta em mim, Heitor. 
— Espera! Não é nada disso.... — Ela não me deixa concluir. 
— É sério?? — brada, irritada. — Você vai mesmo me dizer: “não
é nada disso que você está pensando, Elena”. Sério, Heitor? Sério? —
pergunta quase gritando, bastante alterada. 
— Na verdade, era exatamente isso que eu iria dizer sim —
admito, levantando os ombros, sem saber o que falar. 
— Ah, vai à merda, seu idiota! Volta lá para a GRANDONA! —
Se solta e vai em direção à saída da boate. 
Não a seguro novamente, mas a acompanho de perto. Já entendi
que não adianta querer conversar com ela aqui e nem agora. 
Quando saímos, vejo — a pegar o celular, provavelmente para
pedir um carro por aplicativo. É sério? Passo a mão pelo celular dela, e o
guardo no meu bolso. 
— Você pode ficar brava o quanto quiser, mas vai embora junto
comigo. E isso não está em discussão. 
— Vai se ferrar, Heitor! — diz irritada, apontando o dedo pra
mim. — Eu mal virei as costas e você já estava de gracinha com outra
mulher. Volta lá e termina o que começou, porque comigo, você não vai
conseguir nada. — Vira de costas pra mim. 
Eu quase dou risada da sua atitude. Sim, quase, porque sei que ela
já está brava o suficiente, e não preciso piorar ainda mais as coisas rindo
agora. 
— Então, você está com ciúmes? — pergunto, rindo
internamente, mas fazendo cara séria para ela olhar pra mim. 
Elena fica tão, tão puta, que vira o pescoço muito rápido pra me
olhar agora, e parece que realmente tá possuída. Acho que me precipitei em
querer brincar. 
— É sério? — diz entredentes. — É sério que você acha que eu
estou com ciúmes? — inquire, apontando para si. — Eu estou com raiva de
mim mesma por ter vindo até aqui, ficado com você, e feito papel de
palhaça, em ter te beijado lá dentro igual uma idiota, pra minutos depois
você dar em cima de outra. 
Ela está vermelha, e pode me chamar de bastardo, mas fica ainda
mais linda, bravinha desse jeito. 
Faço um movimento rápido e prendo — a contra a parede da
boate, ergo os meus braços para segurá — la com cuidado, abaixo a cabeça
e fico rente ao seu rosto, encostando nossos narizes; olho em seus olhos,
percebendo que sua respiração acelera. 
— Eu não sou nenhum moleque, Elena — rosno baixo, encarando
— a. — Eu quero você! Já deixei isso claro há muito tempo. Mas se você
ainda não entendeu, eu te explico agora. Eu quero VOCÊ, Elena. E só você
— declaro, descendo pelo seu pescoço, e sinto que sua pele arrepia. 
— Heitor... 
— Se vamos fazer isso, eu preciso que você confie em mim —
digo, voltando a olhar em seus olhos. — Eu jamais te desrespeitaria. Não
preciso disso. Eu não sou assim — digo com firmeza, para que ela enxergue
a verdade em mim. Nunca precisei me explicar para ninguém, muito menos
para alguma mulher, mas preciso que ela entenda as minhas reais intenções.
— Se eu te chamei para ficar aqui, ao meu lado, é porque só quero você.
Você é minha, Elena. E se você me quiser, eu também vou ser seu. 
— E o que foi aquilo lá dentro? — pergunta, um pouco mais
calma. 
— Aquela mulher se aproximou de mim, e eu estava dizendo que
já estava acompanhado. Ela chegou perto demais, e quando coloquei a mão
no ombro dela para afastá — la, você chegou e interpretou tudo errado —
explico, sem desviar o olhar. 
Elena me encara, procurando a verdade E encontra. 
— Tudo bem — bufa — Desculpe se exagerei. E desculpe por ter
te chamado de idiota. — pede, desviando o olhar, e vejo que suas bochechas
coram de vergonha. 
— Eu sou meio idiota as vezes. Então tá perdoada — digo, dando
uma piscadinha. 
Elena soca o meu peito para me afastar e sair da parede; me afasto
e a deixo sair. 
— Quase sempre! — diz rindo. 
Puxo ela novamente para os meus braços, e seguro o seu rosto
com as duas mãos. 
— É sério, Elena. Eu estou fascinado por você — confesso,
acariciando o seu rosto. 
Elena me encara de volta, e percebo que está em uma batalha
interna para me dizer o que quer. 
— Eu não deveria falar isso, mas... — Levanta as mãos e acaricia
minha barba por fazer — Eu também, Heitor, eu também estou louca por
você — assume, sussurrando. 
Não resisto e lhe dou um beijo molhado e profundo, como se para
deixá — la marcada por mim, mas logo me afasto. 
— Vem. Vou te levar pra casa. 
Opto por não chamar o manobrista, já que o estacionamento da
boate é do lado. 
— Hoje optei por vir de carro, e escolhi a picape. 
Escuto Elena assobiando, e a olho quando ela começa a sorrir. 
— Esse carro tem a sua cara mesmo — diz, me olhando quando
aciono o alarme para destravar as portas. 
Estamos nos fundos do estacionamento e percebo que está vazio.
Estamos sozinhos. Não resisto, faço um movimento rápido e a surpreendo
imprensando — a contra a porta do carro. 
Então quer dizer que você está louca por mim, hum? — digo,
mordiscando o seu pescoço, e sinto sua respiração acelerar. 
— Merda. Você já é tão convencido... Eu não deveria ter dito nada
— responde, fingindo estar brava. 
— Que boquinha suja você tem. — Mordo com mais força seu
pescoço. — Não fique brava, Corazón. Eu também estou louco por você.
Louco para te foder por dias, e deixar a sua pele branquinha cheia de
marcas. Louco para sentir o gosto da sua boceta, e ouvir você gritando o
meu nome enquanto goza. 
— Heitor... 
Sinto — a estremecer em meus braços, louca de tesão. 
Seguro Elena pela bunda, e cavo os dedos na sua carne,
suspendendo o seu corpo contra o meu, presa contra a picape. 
Elena joga a cabeça para trás, gemendo enquanto eu chupo e
mordo seu pescoço. 
Enquanto a seguro, Elena se esfrega contra o meu eixo por cima
do jeans, seu vestido já subiu, e como a estou suspendendo — a pela bunda,
consigo sentir o calor da sua boceta melada, o que me faz soltar um gemido
de puro prazer. 
Agarro seu cabelo para olhá — la. 
— Você vai me deixar louco. 
Elena me dá um sorriso safado, e me beija com luxúria. 
Abro a porta do carro e entro com ela no meu colo, sentado no
banco do motorista. 
Elena toma a iniciativa e espalma as mãos no meu peito, beija o
meu pescoço e vai descendo para o meu peito. Assisto, fascinado, quando a
vejo brincar com os botões da minha camisa. 
— Posso abrir? 
— Você pode fazer o que quiser, Corazón. 
Assim que ouve, abre os meus primeiros botões e seguro a
respiração quando sinto seus dedos deslizarem pelo meu peito e abdômen
suavemente, como se estivesse com medo. 
— Não tenha medo. Faça o que tem vontade. Eu sou seu — digo,
passando o dedo pelo seu lábio inferior. 
Sem eu esperar, Elena lambe o dedo que eu estava passando pelo
seu lábio e logo em seguida o chupa. Fico hipnotizado com a visão erótica
pra caralho. 
Sua boca gostosa se aproxima e me dá um beijo, vai descendo
pelo meu queixo e mordendo o meu pescoço, até chegar ao meu peito e
lamber o meu mamilo. Eu ainda a seguro pela bunda e a esfrego no meu
pau, fazendo-a sentir o quanto estou duro e louco por ela. 
Elena chupa o meu mamilo e morde, me deixando louco. 
— Faça de novo — peço, agarrando sua bunda, e Elena se
contorce em cima do meu pau e, obediente, volta a me chupar e morder. 
Tenta tirar minha camisa, mas não deixo; seguro suas mãos, pois
ainda estamos no estacionamento, e por mais deserto que esteja, a qualquer
momento pode aparecer alguém. 
— Não. Não vamos ficar pelados aqui. Mas antes de ir pra casa,
eu preciso te fazer gozar. 
Aproveitando que seu vestido está embolado em sua cintura,
escorrego a mão e toco a renda da sua calcinha, sentindo — a úmida, em
seguida acaricio sua boceta através do tecido. 
Ao invés de se afastar, Elena geme e rebola nos meus dedos, me
deixando alucinado. 
Subo uma das mãos para estimular o seu mamilo durinho através
do tecido fino do vestido, enquanto continuo massageando sua boceta por
cima da calcinha. 
Elena geme gostoso no meu ouvido, me deixando ainda mais
viciado nela. 
— Gosta assim, Corazón? 
— Heitor... — Ela parece perdida no próprio desejo. 
— Diz pra mim... diz o que você quer. 
— Eu quero você — responde apaixonada, quase sem fôlego. 
Com um movimento rápido, desço a alça do seu vestido,
libertando o seu seio, e o abocanho, sugando e alternando com mordidas. 
— Heitor... Heitor... Eu acho...
Aumento a fricção em seu clitóris e continuo sugando com força
seu seio, arrisco jogar a sua calcinha um pouco para o lado e empurro o
dedo médio em sua abertura, e é nesse momento que sinto seu corpo
estremecer e Elena gozar no meu colo. Gostosa demais! Fico hipnotizado
com sua entrega ao prazer. Comigo. Apenas comigo. 
Elena joga a cabeça no meu ombro, enquanto se recupera do
orgasmo, e quando sua respiração está normalizando, me encara com os
olhos brilhando. 
— Heitor... Nossa... Uau! Ainda tô sentindo a minha coxa tremer.
Isso é normal? — diz, sorrindo pra mim. 
— Isso foi só o começo, Corazón — revelo, acariciando sua
bochecha. — Na próxima vez em que estivermos sozinhos, eu vou te
chupar gostoso. Eu preciso sentir o seu sabor, de novo. 
— Céus... — arfa, saindo do meu colo e ajeitando o vestido. —
Você é muito safado — diz rindo. 
Passo a mão na sua coxa e escolho não responder a sua afirmativa,
pois ela já sabe que eu sou mesmo e não nego. 
A ajudo a entrar no carro e dou partida para sairmos do
estacionamento. 
— Você precisa mesmo ir pra sua casa? Não quer ir lá para a
minha? 
— Desculpa, hoje eu não posso mesmo. Falei para Alice que iria
pra casa, não gosto de deixar ela dormir sozinha. 
Sei do amor que Elena tem pela irmã e não vou pressioná — la a
fazer nada. Entendo que são apenas as duas, então, logo demonstro que está
tudo bem. 
— Está certo. Vamos ter outras oportunidades — concordo,
apertando sua coxa e lhe lançando uma piscadinha. 
Dirijo em silêncio, e logo percebo que Elena caiu no sono. 
Tento manter o foco na direção e não a olhar muito, pois estou
hipnotizado por essa mulher. Como isso é possível, em tão pouco tempo?
Estou muito fodido mesmo. 
O jeito que se entregou pra mim hoje, só me colocou ainda mais
de joelhos por ela. 
Sei que Elena vem com a bagagem de cuidar da irmã adolescente,
e não me importo, a menina é o máximo, e admiro o seu amor e cuidado
com Alice. Estarei aqui por elas. 
Como eu disse para ela mais cedo, eu não sou moleque. Já percebi
que o que eu sinto por Elena é mais do que sexo, e foda-se. Não vou fugir
desse sentimento. 
Elena merece ser tratada como uma princesa, e é assim que será,
se resolver se entregar para mim. Ela me tem de joelhos, e suspeito que já
deva saber disso. 
Talvez seja uma boa ideia fazer um passeio a três, incluir a irmã
dela em alguma coisa. Talvez levar ela a um parque de diversões?
Adolescentes gostam dessas coisas, certo? É isso. Vou perguntar para Elena
se é uma boa ideia e vamos fazer isso. Juntos. 
Olho de relance para a garota dormindo no banco do passageiro e
me sinto fascinado. 
Ao chegar ao seu apartamento, preciso acordá — la. 
— Mi amor — chamo, fazendo carinho no seu cabelo. 
— Hummm — resmunga. 
— Mi amor. Acorda. — A balanço um pouco — Chegamos. 
Elena vai abrindo os olhos aos poucos e olha ao redor, como se
tentasse se encontrar. 
— Nossa, eu dormi o caminho inteiro — diz, esfregando os
olhos. 
— Digamos que você ficou meio cansada depois de eu te fazer
gozar com os dedos. 
Elena arregala os olhos e fica vermelha igual a um pimentão. 
— Heitoooorr — reclama, tampando a minha boca, eu não resisto
e gargalho da sua atitude. 
— O quê? — Me faço de desentendido — Mas não foi? 
— Aff... Você não vale nada — diz, colocando a mão na testa e
balançando a cabeça em sinal de negação, me fazendo rir ainda mais. 
Pego sua mão e dou um beijo na sua palma. 
— Relaxa, não tem ninguém ouvindo. — Segurando sua mão a
puxo para beijar seus lábios carnudos. 
Elena não questiona e me devolve o beijo de forma doce. 
Encerro o beijo, beijando sua testa em seguida e me afastando. 
— Bom, eu preciso entrar. — Me olha e sorri. — Boa noite. 
Desço do carro e dou a volta, abrindo a porta pra ela e a ajudando
a descer. 
Percebo que Elena está com a sandália na mão e descalça. Acabo
dando risada da cena. Gosto que ela seja assim, ela mesma. 
— Agora sim — digo, segurando sua nuca. — Boa noite,
Corazón.
Dou-lhe um beijo demorado e ela fica na ponta dos pés,
abraçando meu pescoço, para devolver a pressão do beijo que lhe dou. 
Assim que encerramos, ela vai em direção ao seu condomínio. 
Quando entra no saguão do prédio, olha para trás e me lança um
beijo de despedida, e é só quando ela entra no elevador e não consigo mais
visualizá-la, que volto ao carro e vou para minha casa. 
 
 
 

 
Estou prestes a me jogar no sofá e procurar alguma coisa na
Netflix para assistir, quando escuto a campainha tocando. 
Quando cheguei em casa noite passada, Alice já estava dormindo,
e hoje de manhã, me pediu para ir ao parque com suas amigas, então estou
com a casa inteira para mim.
A campainha toca novamente e imagino que seja a dona Vilma,
pois ela é a única que costuma vir aqui, então vou logo abrindo a porta e
acabo ficando imóvel ao dar de cara com o homem mais sexy do mundo:
Heitor Santiago. 
Que homem é esse, Senhor? 
Heitor está usando uma calça preta e camiseta branca por baixo da
sua jaqueta de couro,  sua costumeira corrente de prata está evidente em
cima da camiseta e está usando óculos escuros. 
Ele se aproxima, quase colando seu corpo no meu. 
— Oi, Mi amor — sussurra, esfregando seus lábios nos meus, mas
sem me beijar. Se afasta um pouco e tira os óculos, me fitando com os olhos
verdes que eu amo. — Acho que você tá babando. — Passa o dedo
indicador no canto da minha boca para limpar, e percebo que está se
segurando para não rir. 
Acordo pra vida e me afasto para recobrar a consciência e os
movimentos do meu corpo. 
O palhaço começa a gargalhar atrás de mim. 
— Babei nada! — trato de esclarecer e passo a mão no canto da
boca para confirmar se eu realmente não passei essa vergonha. 
— Posso entrar? — pergunta levantando a sobrancelha. 
— Eeerr... Claro. Desculpe... Fiquei meio surpresa com a sua
aparição — digo desajeitada, então ele entra e fecha a porta atrás de si. —
Como sabia qual o número do meu apartamento? 
— Você sabe que segurança não é o forte desse condomínio, né?
— Vai em direção ao meu sofá e se senta, como se já tivesse vindo aqui
várias vezes e estivesse familiarizado com o ambiente. — Eu simplesmente
perguntei qual era o seu apartamento e ele respondeu. — Percebo que o
Heitor está nervoso por isso. — Será que ele tem noção que eu poderia ser
um psicopata atrás de você? 
— Bom.... Ainda bem que não é, né. — Dou um sorrisinho
amarelo, pois sei que a segurança aqui é realmente precária. 
Heitor bufa com a minha resposta e esfrega a cabeça, como se
procurasse se acalmar, pois sabe que esse assunto não vai levar a nada. Aqui
é onde eu moro e no momento não tenho dinheiro para algo melhor.
Olha para os lados e ergue a sobrancelha. 
— Está sozinha?  
— Sim. Alice saiu com algumas amigas. Quando você chegou eu
estava prestes a me afundar no sofá e maratonar qualquer coisa na Netflix
— conto, levantando os ombros. 
— Então eu vim aqui para ser o seu salvador de um dia cheio de
tédio — diz, batendo as mãos na perna, fazendo um barulho alto. — Vai
trocar de roupa. Vamos tomar um café, um sorvete. Sei lá. 
— Sério? — digo animada. — Eu não vou esperar você me
chamar uma segunda vez. Tchau. — Saio correndo para o meu quarto e
começo a me trocar na velocidade da luz. 
Coloco uma calça jeans, camiseta, calço o tênis e pego uma
blusinha de lã, pois provavelmente ele está de moto.
Volto para a sala e Heitor ainda está sentado no sofá, mexendo no
celular. 
— Prontinho. Vamos? — Paro ao seu lado, e consigo ver que
estava navegando em suas redes sociais.
Heitor me olha e guarda o aparelho no bolso, em seguida me
estende a mão, que aceito e ele me puxa de uma vez ao seu encontro, me
fazendo cair em seu colo. Acabo caindo de lado e agarro o seu pescoço,
com medo de me estatelar no chão, mas sei que Heitor nunca me deixaria
cair, e estou justamente onde ele queria.
Acho engraçada sua atitude e começo a dar risada, mas logo paro
quando percebo a intensidade com que os seus olhos verdes estão me
encarando. 
Sinto que ele começa a acariciar minha cintura e minha pele se
arrepia, o safado sabe o que me causa e dá um sorrisinho de lado, fazendo
aparecer a covinha que eu tenho vontade de lamber. 
— Eu fiquei aqui, sentado no seu sofá, me controlando para não
invadir aquele quarto, mesmo sabendo que você estava peladinha lá dentro
— fala rouco, esfregando sua barba no meu pescoço, em um movimento de
sobe e desce. — Eu sou ou não sou um bom rapaz? 
— Uhum... — Não tenho condições de lhe dar uma resposta
decente, pois já estou encharcada. 
Heitor começa a lamber todo o meu pescoço, subindo até a minha
mandíbula, onde ataca minha boca com fome.
De olhos fechados, sinto que agarra os meus cabelos por trás, me
deixando totalmente à sua mercê.
Sinto sua barba arranhar gostoso minha pele e suspiro com a
sensação que isso provoca, me deixando totalmente entregue. 
Heitor volta a atacar minha boca e me beija com tanta ganância,
que sua língua está praticamente me devorando. 
Sua mão, que antes estava agarrada em meus cabelos, suavemente
os solta, e começa a massagear minha bochecha e maxilar. 
Ainda segurando meu rosto, Heitor chupa meus lábios
vagarosamente e passa a língua em meu lábio inferior, vou abrindo os olhos
aos poucos e vejo que ele está com os olhos cravados em mim, e tudo o que
vejo é gula, o mais puro fogo direcionado a mim. 
Remexo — me em seu colo e percebo o quanto está duro. 
— Corazón — suspira rouco  — , não me torture tanto. — Me dá
um sorrisinho. 
— Foi você que começou.  
— Ah! — geme e coloca a cabeça em meu ombro. Após um
tempo, levanta e me dá um beijo demorado no pescoço. 
— Vem. Vamos logo sair daqui — chama, se levantando comigo
ainda em seu colo, e me ajuda a ficar em pé  — , antes que eu resolva fazer
você de sobremesa e esqueça que te prometi um café. 
Gargalho da sua cara de triste e lhe dou um tapa no braço. 
— Para de drama, Heitor — digo rindo, passo na sua frente e vou
andando até a porta.
— Drama? — questiona indignado atrás de mim, o que só me faz
dar mais risada. — Mulher... Eu estou em um caso sério de bolas roxas.
Quando eu te pegar, você vai ficar uma semana na minha cama. — Me dá
um tapa na bunda. 
Saímos do meu apartamento em um clima descontraído, em meio
a beijinhos e carícias até o elevador. Me sinto até uma adolescente, de tão
gostosinho que está sendo. 
No elevador, envio uma mensagem breve para a Alice, avisando
que estou dando uma saída rápida com o Heitor, mas que logo estarei em
casa. Mesmo sabendo que ela não voltará agora, é melhor prevenir. Gosto
de mantê-la avisada de tudo. 
Saímos de mãos dadas, e ele me leva até sua moto, que ficou
estacionada em frente ao prédio, no mesmo lugar onde ele costuma parar
quando vem me deixar. 
Como sempre, Heitor me ajuda a afivelar o capacete e a montar na
moto. 
Como ainda é cedo, as ruas estão um pouquinho movimentadas, o
que o obriga a pegar alguns corredores, e isso me faz apertar ainda mais sua
cintura. Sinto que ele ri contra o meu aperto, mas não faz nenhum
comentário sarcástico, mas sei que ele está se controlando para não tirar
sarro da minha cara por ainda não ter me acostumado. 
Logo chegamos a uma cafeteria fina, muito linda. Daqui de onde
estou, consigo perceber que é bem iluminada do lado de dentro, parecendo
uma casinha de boneca, com mesas e cadeiras de madeira, uma decoração
branca e rosa, e as paredes possuem espelhos e quadros decorativos,
enquanto o teto tem lustres de cristais para fechar com chave de ouro.
Do lado de fora há algumas mesas com guarda — sóis, também
muito bem decoradas. 
O lugar, apesar de aparentar ser fino, é aconchegante e intimista.
Eu amei. 
— Vai querer sentar lá dentro ou aqui do lado de fora? — Heitor
pega a minha mão e nos direcionamos à cafeteria após estacionarmos. 
— Acho que aqui fora — respondo. — Lá dentro é lindo, mas
hoje vou querer ficar por aqui mesmo. 
— Você que manda. — Beija o dorso da minha mão que estava
segurando. — Na próxima, sentamos lá dentro. 
Sinto o meu coração palpitar com a sua atitude de carinho,
principalmente levando em consideração que estamos em um lugar público,
pois é a primeira vez que saímos juntos, e ele não demonstra se preocupar
nem um pouco com o que os outros vão pensar se nos verem juntos. 
Não sou idiota, sei que Heitor é safado, cachorro, não vale nada, e
todos os outros adjetivos que se dá a um homem que só pensa em trepar
sem compromisso. Não que ele esteja errado, afinal, era solteiro. Ou
melhor, é solteiro. Ele pode fazer o que quiser da vida dele. Merda! Por que
meus pensamentos foram para esse lado? E se ele ainda estiver saindo com
outras? Ele ainda é solteiro, né? Nós não temos nada. Ele poderia... Não
poderia? 
Sinto meu estômago apertar e começo a suar frio com esse
pensamento. 
— Aconteceu alguma coisa? — Aperta a minha mão ao me
questionar.  — Ficou gelada de repente. — Arqueia a sobrancelha. 
— Você está saindo com outras além de mim? — Solto de uma
vez. 
Boa, Elena. Agora ele foge de vez. Me dou um tapa mentalmente. 
Heitor começa a rir baixinho, então me abraça de lado ainda
andando e me dá um beijo na têmpora. 
— Só você mesmo. De onde tirou isso agora? — Não me espera
responder e me puxa até a mesa mais próxima do lado de fora, conforme eu
tinha falado. — Vem, senta. 
Assim que nos sentamos, o garçom vem se apresentar, entrega o
cardápio e se afasta para escolhermos com calma. Aproveito para me
explicar. 
— Eu não estou te cobrando, Heitor. Longe disso. Até porque, nós
não temos nada — digo rápido. — Só perguntei por que você me chamou
pra cá — explico, apontando para o lugar onde estamos. — Segurou a
minha mão, me abraçou e… enfim... — Merda! Já estou perdendo o fio da
meada. — Enfim... Tô perguntando para me preparar para ver você com
outra, é isso. Sei que você não é chegado a relacionamentos e nós não
temos um. Ai, merda! — Coloco as minhas duas mãos no rosto, sinto que
estou pegando fogo, provavelmente devo estar parecendo um pimentão. —
Eu não estou sabendo explicar, mas com certeza você está entendendo o que
eu estou querendo te dizer. 
— Humm... Não. Não estou conseguindo entender, Elena. —
Cínico. Percebo que está se segurando para não rir. 
Que bom que um de nós está se divertindo, porque eu estou
começando a ficar estressada. 
Respiro fundo e disfarço o meu estresse, tentando soar fria, já que
o palhaço quer bancar o engraçadinho, eu também sei. 
— O que eu estou querendo dizer, senhor Heitor Santiago — dou
ênfase no seu nome completo  — , é que eu quero saber se somos
exclusivos, pelo menos enquanto estivermos juntos, ou eu posso sair com
outros? — indago, batendo os cílios em sua direção. — Claro. Assim como
você poderá sair com outras mulheres. — Lanço um sorriso frio em sua
direção. 
Percebo que o ar de riso some do seu rosto e Heitor fica com a
cara fechada, trincando o maxilar.
Quando vai me responder, o garçom se aproxima para anotar os
nossos pedidos. 
Salva pelo gongo. Aleluia.  
Aproveito para esfregar as mãos nas minhas coxas para disfarçar a
tremedeira, enquanto Heitor fala o seu pedido.
Peço um sanduíche de salame e um suco de laranja. 
Assim que anota, o garçom se retira. 
Assim que olho para Heitor, me arrependo na hora. É como se eu
estivesse encarando um touro, prestes a atacar. Me fodi.
Ele se aproxima de mim bem devagar, com uma calma que os
seus olhos estão me dizendo que não existe. Puxa minha cadeira, me
fazendo grudar com a sua, conseguindo assim passar o seu braço ao meu
redor, enquanto a outra mão segura a lateral do meu rosto, me fazendo
encarar o seu olhar. 
Sinto o seu corpo quente grudado no meu. Sinto o quanto está
tenso, e sinto que já estou amolecendo. Céus... Como eu sou fraca quando
estou com esse homem.
— Preste atenção em uma coisa, Corazón — sussurra contra os
meus lábios, roçando sua barba na minha bochecha. — Você é minha! — Se
afasta, me fazendo encarar os seus olhos, e tudo o que eu enxergo é o que
ele acabou de dizer. Eu sou dele. E gosto disso. — Eu só quero você. Passo
a porra do meu tempo te desejando. — Lambe meus lábios e morde meu
queixo, quase me fazendo gemer em público. — Estou louco de saudade de
sentir o gosto da sua boceta novamente. O meu pau baba toda vez que eu
fico assim, tão perto de você — continua sussurrando contra meus lábios,
rouco, exalando tesão puro. — Então, Elena. Sim. Somos. Exclusivos —
diz pausadamente. — Porque filho da puta nenhum chega perto do que é
meu.
Quando vou responder, Heitor ataca minha boca, não me restando
alternativa a não ser corresponder ao seu beijo afoito.
Escuto um arranhar de garganta ao nosso lado, e logo encerro o
beijo e tento me afastar, mas Heitor me aperta mais contra si e olha para o
lado, encontrando o garçom visivelmente constrangido por estar ali. Que
vergonha, nós provavelmente estávamos dando um show e tanto.
— Desculpe atrapalhar, senhores. Os seus pedidos. — Serve nossa
mesa, com tudo o que pedimos, e assim que termina, se afasta quase
correndo. Se eu não estivesse com tanta vergonha, provavelmente estaria
rindo da cena.
Aproveito que ficamos sozinhos novamente, me aproximo outra
vez do Heitor e agarro o seu cabelo, fazendo-o me encarar.
— Então, Heitor — digo, escovando os meus lábios nos seus, mas
sem realmente o beijar. — Se eu sou sua, deixa eu te esclarecer uma coisa.
— Dou um beijinho no canto da sua boca e lambo sua covinha que eu tanto
amo. Me aproximo do seu ouvido, e digo bem baixinho: — Você é meu,
Heitor Santiago. — Mordo seu lóbulo e puxo seu cabelo, o afastando um
pouco para olhar em seus olhos de novo.
Heitor está com os olhos tão dilatados que estão quase totalmente
negros, percebo que sua respiração está pesada, e sei que está se
controlando para não me atacar novamente, pois eu estou me controlando
para não sentar no seu colo e jogar tudo para os ares.
— Sim, Corazón. — Me encara nos olhos. — Eu sou fodidamente
seu. — Me beija e morde o meu lábio inferior. — Fodidamente seu —
repete e pisca para mim.
Nos afastamos e começamos a comer nossas refeições que
chegaram.
Entramos em assuntos triviais sobre as nossas rotinas, e Heitor
menciona que visitou os seus pais há pouco tempo.
— Que bom — digo, realmente feliz. — Chega ser um pecado
que você vá visita-los tão pouco, sendo que moram tão perto.
— Eu sei. Eu sei. Tive alguns problemas com os meus pais na
minha juventude, e admito que o afastamento partiu de mim, mas estou
mudando isso nos últimos tempos.
— Fico feliz. — Sorrio para ele. — Pode apostar que é a melhor
decisão que você está tomando. No final, a família é tudo o que nos resta.
— E como estão os preparativos para o encerramento da
faculdade? — Percebo sua intenção de mudar de assunto e agradeço por
isso. Tudo o que eu não quero é ficar triste hoje.
— Ah, estou animadíssima. — Dou uma mordida no meu lanche
enquanto falo, pois estou faminta. Termino de mastigar e continuo
respondendo: — Estou distribuindo alguns currículos, e espero que em
breve consiga um retorno. Não vejo a hora de conseguir alguma coisa
realmente na minha área.
— Logo você vai conseguir, é só esperar. — Heitor segura a
minha mão que estava em cima da mesa e aperta, me fazendo um carinho, o
qual eu devolvo.
— Obrigada. — Sorrio pra ele. — Mas, antes disso, quando eu
encerrar as provas, prometi levar Alice para a praia. Ela está louca pra ir. —
Dou risada com a lembrança de como ela ficou empolgada com a ideia.
— E porque esperar? Vamos esse final de semana, ué? — diz,
levantando os ombros.
— Não é assim, não, Heitor. — Dou risada. — Eu trabalho de
sábado, esqueceu? E também preciso procurar uma pousada, me programar
e tudo mais. — Não quero entrar no assunto “dinheiro” com ele.
— Você trabalha no sábado quando é feriado também?
— Não. Por quê?
— Porque esse sábado é feriado, princesa. — Pisca para mim,
com um sorriso descarado no rosto. — Pronto — Se recosta na cadeira que
está sentado e cruza os braços, me olhando. —, vamos para a minha casa.
Faz tempo que não vou para lá mesmo. Preciso ir dar uma olhada em tudo.
— Gente — coloco a mão na boca. —, esqueci totalmente que
esse final de semana eu estava de folga por causa do feriado. Espera. Você
tem casa na praia? — pergunto, voltando à realidade.
— Tenho. Eu comprei do conhecido de um amigo. Enfim...
Comprei no calor do momento, e acabou que fica lá, meio que esquecida —
diz pensativo. — Assim que comprei, fiz algumas festas e tal... Mas acabou
ficando em segundo plano, e depois acabou caindo em esquecimento
mesmo. — Limpa a mão no guardanapo e pega o suco que está na sua
frente. — Mas, o que importa é que vamos para lá esse final semana.
— Heitor, não. Você não precisa fazer isso — digo, tanto
agradecida, quanto constrangida. — Eu posso ver uma pousada para mim e
a Alice mais para frente, não precisa se preocupar com isso agora. E você,
com certeza, tem seus planos para esse final de semana também.
— Claro que eu tenho meus planos. Me bronzear na areia e dar
um bom mergulho naquelas águas salgadas. — Me abraça e beija minha
cabeça. — Isso não está em discussão, Corazón. Deixa esse orgulho de lado
quando estiver comigo. Vai ser bom pra você descansar, e a Alice vai se
divertir bastante.
— Você tá jogando baixo. — Faço cara de brava.
— Eu só jogo pra ganhar — o safado responde.
—Ok OK. É claro que eu aceito. Não tenho dúvidas de que a
Alice vai amar antecipar os planos.
Heitor me dá um beijo estalado na boca e sorri.
— Decidido então.
 

 
O restinho da semana passou rápido, e claro, como eu suspeitei,
Alice não achou nada mau anteciparmos nossa ida para a praia, ainda mais
estando com o Heitor ao nosso lado.
Heitor veio nos buscar no sábado bem cedinho, e em mais ou
menos duas horas, chegamos em sua casa no litoral.
A casa fica dentro de um condomínio fechado, e é bem grande.
Possui uma sala ampla e mesmo com uma vibe mais rústica, é  moderna e
bem iluminada, mas o que me encantou mesmo foi a porta de vidro nos
fundos da sala que dá direto para a praia, tornando tudo perfeito.
Quando chegamos, somos recebidos pela senhora que cuida da
casa, Maria; ela é responsável pela casa do Heitor e mais algumas aqui do
mesmo condomínio, pois a maioria são casas de veraneio, necessitando de
alguém para cuidar, e ela é a pessoa certa para isso, deixando tudo limpo e
arejado, para quando os proprietários decidirem vir, estar sempre pronto.
Heitor trocou algumas palavras com ela, e logo levou Alice e eu
para os nossos quartos, aproveitando para nos mostrar a casa pelo caminho.
Os quartos ficam no andar superior, acredito que tenha uns cinco
aqui, mas não me atrevi a perguntar para ter certeza.
Após colocarmos nossas malas nos devidos quartos e nos
trocarmos para ir à praia, Heitor nos mostra melhor o andar debaixo,
mostrando a sala de jogos, a área da churrasqueira com piscina e a sauna.
Sauna! Pra quê sauna? Eu mantenho minha boca fechada, mas Alice não se
dá ao trabalho de mostrar indiferença, e questiona, dando risada.
— Já estava aí quando comprei a casa — é a resposta do Heitor,
acompanhada de um levantar de ombros.
Minha mente me trai, e me mostra uma imagem de Heitor suado,
só de toalha, e como se escutasse meus pensamentos, ele olha por sobre o
ombro diretamente para mim, e sinto meu rosto queimar na mesma hora; o
safado sorri e pisca para mim, como se soubesse o que se passa na minha
mente.
Após o breve tour pela residência, vamos direto para a praia e me
acomodo em uma espreguiçadeira ao lado do guarda-sol.
Opto por ficar na areia para me bronzear, enquanto Heitor
mergulha, parecendo uma criança. É fascinante.
Agora, ele está correndo atrás de Alice, que corre, fugindo dele e
gritando para ele parar. Claro que ela não é páreo para ele, que logo a
alcança e a joga na água de qualquer jeito, me fazendo gargalhar de onde
estou. Não sou muito chegada a ficar dentro do mar, pois sempre que sinto
alguma coisa passando pela minha perna, me bate um desespero de ser um
tubarão. Me julguem! Não gosto. Prefiro ficar aqui, paradinha, debaixo do
guarda- sol, protegida de tubarões malignos, e ainda por cima pegando um
bom bronzeado.
— Não vai mesmo entrar na água? — Heitor grita, emergindo.
Delicioso demais. Merda. Acho que eu realmente babei dessa vez. Limpo
discretamente o canto da boca.
— Prefiro ficar aqui, longe dos tubarões — grito de volta, dando
risada, fazendo-o gargalhar.
Heitor me enche tanto o saco para entrar na água, que quando
entro, começo a saltitar igual a um sapo. É impossível não contar a ele o
motivo da minha agonia e medo de tubarões. Óbvio que ele ri tanto da
minha cara, que só falta se mijar. Alice também não fica para trás, e o
acompanha, me zoando. Esses dois juntos vão ser o meu fim.
Alice está muito feliz. Fazia bastante tempo que eu não a via
desse jeito, deixando todas as suas preocupações e dores de lado para se
divertir. Sei o quanto ela se faz de durona, e também sei que estava
sofrendo com toda a mudança dos últimos anos, e mesmo assim, se
demonstrava forte.
Após um tempo, Heitor para de nadar, e começa a caminhar para
fora d’água, revelando o seu corpo escultural. Céus! Sinto meu coração
disparar só com a visão que estou tendo. Olho para o seu peito todo
musculoso, com a água escorrendo pelos seus oito gominhos... OITO.
GOMINHOS. Gotinhas sortudas!
Heitor já tem uma pele bronzeada naturalmente, mas apenas com
essas horinhas de sol, ele ficou ainda mais moreno, deixando as tatuagens
do seu peito e braços em evidência, assim como as curvas dos músculos. 
Estou olhando suas coxas musculosas enquanto vem na minha
direção. Como pode ser tão gostoso? Percorro o olhar por todo o seu corpo
maravilhoso, e quando percebo, Heitor já está ao meu lado, passando as
mãos no rosto para limpar a água que ainda escorre por ali, e balança os
cabelos fazendo respingar água em mim. Começo a dar risada e ele me
puxa para ficar em pé, me abraçando, e espalmo as mãos em seu peito duro
e molhado.
— Heitor!
— Vou te deixar molhada — Faz uma cara de safado.
Levanto as mãos e tampo a boca dele com as duas mãos, e olho
por cima do ombro procurando pela Alice, para saber se ela ouviu. Vejo-a
ainda na água, mergulhando, distraída.
Heitor gargalha e morde a mão com que eu estava tapando sua
boca.
— Olha que pervertida. — Beija a mão que ele mordeu. — Eu
estou falando de te deixar molhada da água do mar. — Continua com cara
de safado, me olhando. — Porque sei que sua bocetinha já está bem
molhadinha por mim. — Sinto meu rosto queimar e sei que não é pelo sol.
— Acha que eu não percebi que você estava me secando todo esse tempo?
— Me aperta contra si e sorri, mostrando a covinha.
— Larga de ser convencido. Nem te olhei tanto assim. — Levanto
os ombros, tentando mostrar indiferença.
— Claro. Claro — diz rindo, e me beija.
Nos separamos e sentamos novamente embaixo do guarda-sol, e
vejo agora que Alice está acompanhada de uma outra menina. Olho para
ela, e noto que ela não me é estranha, mas não consigo me lembrar de onde
a vi.
Elas saem da água, e se sentam um pouco longe de nós, em outra
canga, provavelmente da menina. Percebo que ela deve ser um pouco mais
nova que minha irmã, mas não deve ser muita coisa.
— Eu conheço essa menina que está com a Alice, mas não
consigo me lembrar de onde.
— Ela é a neta da Dona Maria. Você deve ter visto ela quando
chegamos.
— Ah, é verdade. — Agora que ele falou, me lembrei. — Que
bom que a Alice vai ter uma companhia da idade dela.
— Sim. Acredito que ela deve ser um pouco mais nova, não deve
ser muita coisa — esclarece o que eu já imaginava, e percebo que a
diferença mínima de idade das duas não vai ser um problema, já que as
ambas estão em uma conversa animada, pois consigo ouvir a gargalhada
delas daqui.
As horas passam rápido.
Comemos no quiosque da praia mesmo, e passamos a tarde ali.
Heitor até mesmo me convenceu a andar de jet ski, e confesso que
no começo eu estava morrendo de medo, mas depois dos primeiros minutos,
me soltei e amei a experiência.
Ao final da tarde, o tempo começa a fechar e decidimos por bem
voltarmos para casa.
Pedimos uma pizza, e jantamos na área de lazer, ao lado da piscina.
A paisagem é magnífica, pois a piscina tem vista para a praia.
Apesar do tempo fechado, por sorte não chega a chover, mas nos
proporciona uma brisa gostosa. Nós três ainda estamos sujos do dia na
areia, então logo após comermos, subimos para nossos quartos.
Alice passou o dia tão animada, que agora está visivelmente feliz e
cansada.
Vejo-a bocejar durante todo o nosso jantar improvisado.
— Boa noite.
Seu quarto é o primeiro do corredor, então logo foi entrando.
— Boa noite, Alice — Heitor e eu respondemos em uníssono.
Meu quarto fica ao lado do dela, e o do Heitor, ao final do
corredor.
Assim que chego na porta do meu quarto, ele segura minha mão e
me puxa para continuarmos andando.
— Hei, meu quarto é aqui, senhor — aviso, brincando.
— Nossa noite ainda não acabou, senhora.
Dou risada, mas não discuto, me deixando ser levada por ele.
Ainda não havia entrado no seu quarto, e vejo que é maior do que
o meu e de Alice, e possui uma varanda bem espaçosa, mesmo olhando de
longe consigo ter essa noção.
— Bem-vinda, linda.
— Haha, engraçadinho.
Heitor sorri de lado e continua me conduzindo até a varanda,
abrindo as portas de vidro e me levando até o lado de fora, onde a vista é
maravilhosa, como toda a casa.
Temos a visão da piscina daqui, e do horizonte do mar, como
estamos no andar superior, nossa visão alcança uma parte maior.
— Uau — suspiro.
— Foi essa vista que arrematou o meu desejo de comprar essa
casa.
— Uma ótima aquisição.
— Preciso concordar.
Nos sentamos na espreguiçadeira, com Heitor atrás de mim e eu
acomodada no meio das suas pernas, encostando minha cabeça no seu peito
musculoso.
Ficamos assim durante alguns minutos, sem precisar trocar
nenhuma palavra, apenas curtindo o momento.
— Obrigada por esse final de semana — me pego dizendo.
— Não é para me agradecer, linda. — Heitor me aperta em seus
braços. — O que eu puder fazer por vocês, eu farei.
Sei que não deveria, mas suas palavras aquecem meu coração, e
me aconchego mais em seu abraço, me sentindo segura.
Conversamos sobre trivialidades, mas logo fico louca por um
banho.
— Toma aqui.
— Você sabe que o meu quarto também é suíte, né? — Sorrio.
— E porque você tomaria lá, e não aqui?
— Por que lá é o meu quarto?
— Você sabe que vai dormir aqui, comigo, né?
— Sei, é? — Me viro para encarar seus olhos.
— Sabe sim. — Sobe sua mão que estava na minha barriga e
segura meu queixo, me fazendo encarar seus olhos, e após poucos
segundos, ataca minha boca, a tomando para si.
Sua língua quente desliza pelos meus lábios, tomando posse de
tudo, e lhe entrego tudo sem culpa.
Gemo baixinho e reúno todo meu autocontrole para pular da
espreguiçadeira em que estamos.
— Banho — digo ofegante.
— É um convite? — Levanta, me puxando pela cintura, me
fazendo sentir seu pau super duro na minha barriga.
— Haha, boa tentativa, campeão. — Dou-lhe um beijo no queixo
e o empurro pelo peito nu, já que ele não veste nada além de uma bermuda
desde que estávamos na praia, e me viro em direção ao quarto, para entrar
no banheiro.
— Ninguém pode dizer que não tentei — grita da varanda,
enquanto entro no banheiro.
Assim que fecho a porta atrás de mim, me viro para o espelho à
minha frente, e o que vejo é novo.
Estou muito corada, e não é só do sol; lábios inchados do beijo há
pouco trocado, cabelo bagunçado e olhos brilhando. Estou insanamente
feliz.
Feliz por dar um final de semana na praia para minha irmã.
Feliz por ter um final de semana sem preocupações.
Feliz por ter esse tempo para mim.
Feliz por ter Heitor na minha vida.
Tiro minha roupa, que se resume em shorts e biquíni, e deixo no
chão ao lado do cesto para levar para minha mala quando sair daqui.
Vou para o box e entro embaixo do chuveiro, olho ao redor e vejo
que no nicho tem os itens pessoais de Heitor, e me pego esticando as mãos
para pegar, pois preciso lavar meus cabelos e por sorte as coisas dele já
estão aqui, e terão que servir.
Tomo um banho demorado e merecido.
Após desligar o chuveiro, percebo que não peguei meu pijama.
Merda! Olho ao redor, e vejo o roupão. Terá que servir.
Me seco, enrolo uma toalha na nos meus cabelos e visto o roupão,
que por ser do Heitor, chega até a minha canela.
Saio do banheiro e o vejo apoiado no parapeito da varanda, mas
assim que escuta o barulho da porta, se vira para me olhar, e um sorriso
sedutor brota em seus lábios.
— Esqueci de pegar uma roupa para vestir. — Sinto meu rosto
esquentar com o olhar que dá para mim.
— Peguei uma camisa minha para isso. — Aponta para a cama,
onde vejo uma camisa dele esticada.
Heitor vem andando em minha direção, e tudo é tão sedutor, a
visão dele, seminu caminhando até mim, que faz minhas pernas tremerem.
Céus! Eu vi esse homem seminu o dia inteiro, já era para estar, no mínimo,
conseguindo fingir indiferença, certo? ERRADO, meu corpo grita, louco
para pular no seu colo.
— Tsc. Tsc. Elena. Elena — diz rouco na minha frente, segurando
firme minha nuca para olhar para cima e encarar seus olhos. — Não me
olha assim, estou tentando ser um cavalheiro aqui.
— Eu não fiz nada — respondo quase sem fôlego, apenas por sua
proximidade.
Ele não se dá o trabalho de me responder, e roça sua barba na
minha bochecha, do jeito que eu adoro, causando um pulsar no meio das
minhas pernas, me obrigando a apertá-las.
Em seguida, roça seus lábios nos meus, mas sem me beijar,
apenas me provocando, prende meu lábio inferior com seus dentes e depois
os lambe, descendo, depois morde meu queixo e passa seu nariz pelo meu
pescoço, aspirando forte, e passando os dentes de leve pela minha jugular.
— Amo o seu cheiro. — Passa o nariz atrás da minha orelha,
cheirando todo o meu pescoço. — Mas o meu cheiro em você fica
maravilhoso — diz rouco no meu ouvido, sugando o meu lóbulo.
Levanta a cabeça rápido e me dá um beijo bruto e duro, sinto que
é como se fosse uma punição silenciosa, mas a recebo de bom grado.
— Você vai me deixar louco, Helena. — Roça seus lábios nos
meus, e encosta sua testa na minha. — Vou tomar um banho.
— Tá bom — sussurro de volta.
Heitor beija minha testa e se afasta, entrando no banheiro atrás de
mim.
Respiro fundo para estabilizar meu coração que bate frenético, e
após me acalmar, ando até o que acredito ser um closet.
Lá dentro, vejo que tem tudo o que eu preciso: espelho, escova
para cabelo, e os itens pessoais de Heitor, que não irei precisar, mas, ainda
assim, me vejo curiando em algumas coisas, como cremes, loções,
perfumes, roupas, tênis, entre outras coisas.
Após o breve tour por suas coisas, me concentro na tarefa de
pentear meus cabelos, e o deixar levemente apresentável, e após uma
batalha árdua, consigo.
Volto para o quarto e ainda consigo ouvir o barulho do chuveiro
ligado, então resolvo tirar o roupão aqui mesmo e colocar a camisa que ele
deixou para mim.
Desamarro-o e o deixo estirado aos pés da cama, pego a camiseta
e a estico na minha frente, vendo que ela é grande, com certeza ficará
imensa em mim.
Sem me importar, a visto no mesmo momento que escuto a porta
se abrir atrás de mim.
 
 

 
— EI! Eu estava me trocando. E se eu ainda estivesse pelada?
Porra! seria muita sorte... E quando olho para ela, está vestida
com a minha camisa, que bate no meio das suas coxas, a sua pele linda, que
é tão macia. O que eu não daria para estar no meio daquelas coxas agora
mesmo?
— Eu não sou tão sortudo, linda — comento rápido.
Ainda olhando para ela, admirando, sonhando acordado, percebo
que ela começa a torcer os dedos na barra da camisa de um jeito nervoso e
tímido.
— Para de me olhar assim, Heitor, você está me deixando com
vergonha. Eu estou horrível com essa camisa. — Desvia o olhar, olhando
para baixo.
— Linda, você está maravilhosa. — Me aproximo, colocando
minha mão na sua cintura, e a outra erguendo o seu queixo para me olhar.
— Você, vestindo a minha camisa, no meio do meu quarto, só aumenta
minha vontade de te jogar na cama e te foder a noite inteira. — Passo o meu
dedo no seu lábio inferior, sentindo sua pele rosada macia, o que me dá
vontade de mordê-la.
Elena ofega, deixando sua respiração desregulada.
Puxo o ar com força, e fico a admirando seus olhos, sua boca
carnuda, e percebo que ela está com tanto tesão quanto eu. 
Não me seguro mais um segundo e a beijo.
Sinto quando ela estende os braços e toca os meus ombros com
suas mãos pequenas, e sentir ela corresponder ao beijo só me dá mais tesão.
A puxo com mais força, sentindo os seus seios eriçados sendo
esmagados contra o meu peito, subo minha mão, emaranhando os seus fios
nos meus dedos e puxo com força e delicadeza para não a machucar.
Quando ela abre a boca, a invado com a minha língua, louco para sentir o
seu sabor e quando eu sinto... Céus! Não aguento e gemo como um
adolescente.
Sinto ela corresponder ao beijo com o mesmo desespero que o
meu e isso só me incentiva a continuar. Ela sobe sua mão para a minha
nuca, e sinto quando puxa o meu cabelo, isso faz com o que eu a aperte
mais contra mim, mordo seu lábio e continuo beijando-a, passando a minha
mão na lateral do seu corpo e sentindo suas curvas.
Desço os meus beijos para o seu queixo e lambo gostoso aquela
parte pequena do seu rosto, vou lambendo seu maxilar e chupo seu lóbulo,
ouvindo-a gemer meu nome, quase miando.
— Porra, Corazón!
Desço meus beijos para o seu pescoço, chupando gostoso aquela
pele alva, louco para deixar uma marca, vou subindo os beijos e volto a
beijá-la.
— Heitor — ela geme no meio do beijo
— Eu vou te foder, Corazón, tão forte... e quero ouvir você gemer
o meu nome assim, com o meu pau todo atolado nessa boceta.
Sinto-a ofegar com o que eu disse, mas, rapidamente, avança na
minha boca, com a mesma selvageria com que a ataquei. Ficamos nos
beijando um tempo, mas não resisto e coloco a mão embaixo da minha
camisa que ela está vestindo, e aperto sua bunda deliciosa e redonda.
Impulsiono-a para cima, e ela entende o recado para enrolar as
suas pernas na minha cintura. Quando sinto aquela boceta quente em cima
do meu pau, mesmo ainda vestindo uma toalha na cintura, ele pulsa e ela
sente, ficando dengosa no meu colo.
Deito-a na minha cama, sem interromper o beijo sedento que
trocamos, mas interrompo o beijo apenas para olhar ela esparramada nos
meus lençóis, comigo ajoelhado no meio das suas pernas; observo a sua
boca avermelhada pelos nossos beijos, o olhar lânguido que ela me
direciona, as bochechas rosadas... Porra, se eu já não estivesse de joelhos,
eu me ajoelhava diante dessa visão. Ela parece uma Diosa. Mi Diosa[31].
— Corazón, você assim... Essa visão é maravilhosa. — Acaricio a
sua coxa ainda enrolada na minha cintura.
— Heitor, me faça sua — pede ofegante, e cada vez mais rubra,
misturando a timidez com o tesão. — Eu quero ser sua, me faça sua.
Caralho, acho que eu vi tudo rodar de tanto tesão ao escutar ela
dizer essas palavras. Eu vou enlouquecer, ou passar vergonha e gozar, antes
do meu pau chegar perto dela. Que Dios me ajude!
Ela agarra a minha nuca e me beija novamente, esfregando sua
língua na minha, enquanto me deito sobre ela, pressionando o meu pau na
sua boceta quente, e passando a mão nas suas coxas carnudas.
Agarro a barra da camisa e vou subindo para tirar dela; Elena
levanta os braços para me ajudar e quando tiro, a jogo para fora da cama, e
fico hipnotizado demais com aqueles seios fartos e rijos, apontados para
mim. Solto um urro animalesco de tesão, subo as mãos e os agarro,
juntando os dois e caindo de boca neles, sugando, lambendo e mordiscando
aqueles bicos rosados, com eles ficando cada vez mais duros na minha
boca, e meu pau já está a ponto de furar a toalha que visto a qualquer
momento.
Seguro um seio com uma mão, ora massageando, ora beliscando o
seu mamilo, o outro seio sigo chupando gostoso, enquanto ela arqueia as
costas, gemendo e ofegando, arranhando as minhas costas, se oferendo e
pedindo por mais.
Eu poderia ficar chupando seus seios eternamente, mas preciso
sentir o seu gosto delicioso, preciso do seu mel na minha língua.
Subo meus beijos pelo seu peito, pescoço e volto a enfiar minha
língua na sua boca, buscando por mais, tentando acalmar aquele tesão
desenfreado que sinto por ela, algo impossível.
Enquanto a beijo, fico esfregando meu pau diretamente na sua
boceta, a única coisa me impedindo de penetrá-la com força é a porra da
toalha enrolada na cintura.
Com meus braços um de cada lado da sua cabeça, e suas pernas
abraçando minha cintura, suas mãos arranhando minhas costas, vou fazendo
movimentos como se eu à estivesse comendo com força, e cada vez que
meu pau bate no seu clítoris, ela geme e grita, me deixando cada vez mais
ensandecido. Diminuo o ritmo e coloco a minha mão no meio de nós dois,
apertando seu mamilo rijo, desço pela sua barriga plana e paro para
observar suas reações a mim, ao meu toque.
Continuo descendo a mão devagar, até sentir a pele quente da sua
boceta, e vou descendo até seus grandes lábios, e ao chegar lá, sinto-a
molhada. Porra!
— Caralho! Corazón ... — Meus dedos encontram seus clitóris
inchado e encharcado. — Tão molhadinha para mim... que delícia!
Vou esfregando sua boceta, espalhando seus fluídos por toda ela,
pressiono meu polegar no seu clitóris, e com o dedo médio vou
pressionando sua entrada bem devagar, vejo ela ofegar e gemer, fechando
os olhos.
— Olhe para mim! — ordeno, rouco pelo tesão — Olhos em mim,
quero você olhando para mim, enquanto eu te como. — Dou-lhe um beijo
bruto enquanto meu dedo vai entrando em seu buraquinho apertado,
sentindo-a piscando e espremendo o meu dedo, só consigo imaginar o meu
pau naquele lugar. Dios! Ela vai esfolar o meu pau, e estou louco por isso.
 

 
Eu me sinto flutuando e, ao mesmo tempo, sinto que vou explodir
em mil pedaços a qualquer momento; o jeito que Heitor me beijou e me
agarrou jogou para longe qualquer dúvida que eu tinha sobre nós, e
qualquer medo e receio sobre mim. Tudo o que eu quero é que ele não pare
nunca de me dar prazer; o jeito que está comigo nessa cama, parece que
suas mãos e boca estão em todas as minhas partes, em todo o meu corpo, e
eu estou queimando por ele, e para ele. 
Enquanto uma mão agarra meus cabelos com força, a outra me dá
prazer de uma forma absurda, com seu polegar circulando meu clítoris e seu
dedo médio me invadindo e fazendo movimentos de vai e vem.
Heitor para de me beijar, vai lambendo meu pescoço e descendo
pelos meus seios e barriga, a mão que estava no meu cabelo, vai descendo e
agarra meu pescoço, apertando um pouco, e essa pressão me faz ficar cada
vez mais molhada e me fazendo gemer. Ele percebe, parando seu beijo
molhado no meu umbigo e me olha com um olhar animal e um sorrisinho
cínico.
— Eu sabia que você era uma safada, Corazón. — Volta a chupar
minha barriga — Minha safada. — E me dá uma piscadinha.
Juro que eu poderia gozar só com a cara de safado dele.
Ele para de me lamber, põe as mãos na parte interna das minhas
coxas e escancara as minhas pernas, deixando minha boceta livre para ser
apreciada, e a cara que ele faz ao me ver encharcada por ele, uma cara de
deleite e prazer, me deixa louca... Eu estou louca para sentir ele em mim...
dentro de mim.
— Por favor... — peço gemendo, apenas com o olhar dele
— Por favor, amor? O que você quer? Me pede — diz, alisando a
parte interna das minhas coxas, apenas olhando minha boceta encharcada.
— Por favor... faça alguma coisa...
— Você me quer aqui, Corazón? — pergunta ao passar o dedo
para cima e para baixo na minha boceta
— Uhum — Já não consigo mais responder em palavras, tamanha
é a minha vontade dele.
Ele levanta minha perna, para meu pé ficar na altura da sua
cabeça, e vai beijando meu calcanhar, descendo os beijos pela minha
panturrilha, atrás do joelho, coxa, virilha... Céus, que tortura! É isso, ele
está me torturando, e eu estou amando cada detalhe. Quando finalmente
passa a língua na minha boceta... Céus... eu grito.
— Ah, Corazón, que boceta deliciosa você tem... Você ... vai ser
minha refeição todos os dias, eu vou ficar viciado em você — diz,
esfregando os dedos na minha boceta, e lambendo do meu clitóris até minha
entrada. 
Fico hipnotizada com a visão da sua cabeça enfiada no meio das
minhas pernas e o seu olhar em mim, para não perder nenhuma reação
minha enquanto me lambe e me chupa; o seu rosto de prazer, só aumenta o
meu, sua língua me lambe inteira, enquanto seu dedo me fode, com um
entra e sai delicioso. Chega ser humilhante o estado desesperador em que
me encontro nesse momento, nunca senti tanto prazer em toda minha vida,
estou desesperada para sentir ele todo em mim.
Quando seus movimentos vão ficando cada vez mais rápidos,
sinto meu ventre se contrair e meus olhos lacrimejarem, tamanho o prazer
que eu sinto, ele continua me olhando, analisando cada reação minha, mas
sem nunca parar seus movimentos da língua e dedos, a minha respiração
começa a acelerar, e uma camada de suor cobre a minha pele, ele intensifica
os movimentos e eu não aguento, arqueando o corpo.
— Goza pra mim, Corazón!
E como se meu corpo reconhecesse a ordem, goza, conforme eu
grito seu nome e me desfaço em mil pedaços de Elena. Juro que vi estrelas.
Não sei quanto tempo fico inerte, mas quando volto a raciocinar, ele já está
em cima de mim, nu, maravilhoso, lindo como nunca e todo meu. Seu pau
pousa na minha barriga, longo e quente. Maravilhoso!
— Você está preparada para mim? Porque eu estou louco para te
comer, mi amor, louco para foder você, mas se você quiser esperar, eu
espero o tempo que for — diz, beijando o meu pescoço e meu queixo.
— Eu só estava esperando você — declaro e o puxo para um
beijo; um beijo gostoso, apaixonante, diferente de qualquer outro que já
trocamos, e ao sentir o meu sabor nos seus lábios e língua, só faz aumentar
o meu tesão, saber que ele foi o primeiro ao me dar prazer desse jeito e vai
ser o meu primeiro homem, só me faz ter certeza de que eu estou tomando a
decisão certa.
Passo as mãos nas suas costas, descendo até sua bunda, desço
minha mão e agarro seu pênis, que é grosso e mal consigo fechar minha
mão em volta dele, sinto que a cabeça já tem o pré-gozo e o uso para fazer
os movimentos de sobe e desce, o masturbando, até que ele tira a minha
mão e a coloca em cima da minha cabeça, me prendendo.
— Corazón eu preciso entrar em você — diz, ao se esticar e pegar
uma camisinha que estava na gaveta da cabeceira da cama, ele rasga a
embalagem com o dente e desenrola no seu pênis numa agilidade
impressionante, que eu não quero pensar agora em como ele adquiriu.
Ele desce o seu pau e começa a me masturbar, em um vai e vem
delicioso no meu clitóris, e quando eu não aguento mais, eu digo:
— Por favor, me fode... me fode.
— Ah porra! — Ele me beija com paixão, com brutalidade, sinto
quando encaixa o seu pau na minha entrada, abro mais minhas pernas para
que ele tenha livre acesso, e quando sinto a cabeça do seu pau entrar,
circulo minhas pernas na sua cintura e ele continua me penetrando devagar,
ainda me beijando, engolindo os meus gemidos, esperando até que eu me
acostume com o seu tamanho.
Sinto-o tremendo sob as minhas mãos que estão nas suas costas,
percebo que a vontade dele é de entrar de uma vez e me comer com força,
mas Heitor está sendo paciente para não me machucar, mas eu não resisto e
levanto o quadril, me oferecendo mais, ele me encara e entende o meu sinal,
então entra mais e sentimos juntos a minha barreira, o meu hímen, ele
segura o meu queixo com força e volta a me beijar com paixão, rápido,
forte, e entra todo em mim. Heitor fica parado até eu me acostumar com o
seu tamanho, depois de alguns segundos eu mesma vou movimentando os
meus quadris devagar.
— Vem, me dá tudo, eu quero tudo de você!
E então ele vem, volta a me beijar, a chupar minha língua, desce
seus lábios até meu pescoço, sem parar com o vai e vem do seu pau na
minha boceta, me empalando, urrando no meu pescoço, o que só vai me
dando mais prazer.
Com uma mão ele aperta o meu pescoço, quase me sufocando,
enquanto desce para chupar o meu mamilo carente de atenção; ele chupa e
morde, metendo o seu pau gostoso em mim cada vez mais forte e rápido, o
atrito da sua pélvis com o meu clitóris faz o meu ventre se contrair, e eu
sinto que vou gozar de novo, ele também sente, sobe o rosto para me olhar e
aumenta o ritmo, e eu não aguento e me desfaço, gozo forte, com o pau dele
atolado em mim, e ele urra e sai de dentro de mim, fazendo eu me sentir
vazia, sentindo falta dele.
— Porra, você vai me destruir” Fica de quatro Corazón! —
ordena, me dando uma palmada estalada na bunda.
Ele me vira de costas pra si e se enfia no meio das minhas pernas,
me fazendo elevar o quadril, e esfrego a minha bunda no seu pau.
— Safada — diz, puxando meu cabelo, sussurrando no meu
ouvido com a voz rouca, a ponto de eu encostar minhas costas no seu peito
suado. — Segura firme na cabeceira, porque eu vou te comer de um jeito
que você vai me sentir na sua boceta por dias. — E me dá outra palmada na
bunda, que dói, mas também faz minha boceta piscar.
Quando coloco as mãos na cabeceira, ele entra em mim, me
fazendo arquejar de dor e prazer, ele começa com os movimentos de vai e
vem, e eu seguro firme, enquanto Heitor vai me comendo forte, com as
duas mãos no meu quadril para me segurar no lugar, e ele me segura com
tanta força, que me faz imaginar que a marca dos seus dedos ficará na
minha pele amanhã, e isso só aumenta meu tesão.
Ele aumenta o ritmo, fazendo os meus gemidos virarem gritos, e o
barulho dele gemendo, com os nossos corpos se batendo, me faz pensar que
vou desmaiar tamanho é o prazer que sinto. Ele embrenha os dedos no meu
cabelo, puxando minha cabeça para o seu peito, chupando meu lóbulo, meu
pescoço, mordendo.
— Goza no meu pau, Corazón.... vem junto comigo! — fala rouco
no meu ouvido, e desce a mão até o meu clitóris, pincelando-o. Eu não
aguento e urro de prazer, me desmanchando, e sinto que ele também não
aguenta e gozamos juntos.
Não aguento me nem me manter firme e caio na cama, e ele vem
junto, ainda dentro de mim, mas não solta todo o seu peso sobre o meu
corpo, sinto sua respiração ofegante e descompassada, igual a minha, no
meu pescoço, e após alguns segundos, ele rola para o meu lado e se retira de
dentro de mim; sinto minha boceta pulsar, já sentindo sua falta.
Me sinto sonolenta, mas ainda percebo que ele se desfaz da
camisinha, jogando-a do lado da cama, e me puxando para deitar no seu
peito.
— Você é maravilhosa! Isso foi perfeito, Corazón! —diz ao
acariciar o meu cabelo — Agora descansa, Mi Diosa.
E alguns instantes depois, eu durmo.
 

 
— O que está fazendo? 
Apoio os cotovelos na cama e levanto o tronco ao sentir o toque
molhado que reconheço imediatamente como sendo uma lambida.
Vejo os cabelos castanhos entre minhas pernas, e os olhos
amendoados me encarando com um olhar malicioso.
Elena não se dá ao trabalho de responder, apenas repete o gesto,
como se estivesse lambendo um picolé. Os seus olhos castanhos estão
presos aos meus.
— Puta merda, Corazón — gemo rouco.
Para minha satisfação, Elena entreabre os lábios e suga a cabeça
do meu pau, me transportando para outro universo. Chamo seu nome, como
um aviso de que está me deixando louco, mas a safada não se importa.
Apesar de a minha gostosa ter a boca pequena, consegue
abocanhar metade do meu pau, e não deixa a desejar, cobrindo o restante
com as mãos para massageá-lo.
Sei que sou acima da média, cerca de vinte e um centímetros de
uma rola grossa. É normal que não consigam me receber até a garganta.
Jogo meu corpo para trás, relaxando, e levo a mão aos cabelos da
Elena e puxo com vontade.
Ela acelera os movimentos com a boca, intercalando com sugadas,
lambidas e uma masturbação constante. Queria durar mais alguns minutos,
mas o tesão que sinto por essa mulher é surreal, e já é um milagre eu não ter
gozado na primeira lambida.
— Vou gozar Corazón — aviso, pois não são todas que gostam de
engolir e o que a danada me responde?
— Goza na minha boca, Heitor.
Engasgo com a resposta dela, e puxo forte seus cabelos para que
ela me encare.
— Então me chupa gostoso, minha putinha — falo rouco, sem
conseguir conter o comentário, e penso em me desculpar pelo xingamento.
— Me chama de putinha de novo — pede, sorrindo safada.
— Porra, Corazón, você vai me arruinar.
Sua risada preenche o quarto, e afrouxo o perto no seu cabelo para
que volte a me chupar, e ela não perde tempo.
Seu olhar é puro fogo. Elena abaixa a cabeça e me recebe dentro
da sua boca mais uma vez, me sugando com vontade e rapidez.
Meu pau lateja à medida que sino o gozo vindo.
— Minha putinha — urro — Engole toda a minha porra, Corazón.
Gozo tão forte, que sinto minhas pernas tremerem. Quando
termino de bombear todo o meu gozo, Elena se levanta entre minhas pernas
e consigo visualizar o momento em que sua garganta se move, engolindo.
Porra! Quase gozo de novo só em presenciar.
Deixa apenas um fio de porra escorrer pelo canto da boca, mas
minha gata leva o dedo indicador até o local e o limpa, lambendo o dedo a
seguir.
— Gostou? — pergunta, com um grande sorriso no rosto.
— Você é maravilhosa.
A puxo na minha direção e mordo seu lábio inferior, saboreando o
seu sabor misturado com o meu em sua boca.
Eu a respiro primeiro, e depois a beijo profundamente, deitando seu
corpo em cima do meu, e logo invertendo as nossas posições, ficando por
cima dela, sentindo seu corpo quente embaixo do meu.
— Nada disso, safado. — diz, empurrando o meu peito e pulando
da cama, correndo para o banheiro.  — Já está tarde e daqui a pouco a Alice
acorda. — Só agora me lembro que irmã dela está aqui conosco. — Agora
eu vou tomar um bom banho, e o senhor — diz apontando pra mim — vai
preparar o nosso café da manhã, porque você me deixou faminta — grita, já
dentro do banheiro.
E eu fico aqui, paralisado em cima da cama. Mas... se ela está
faminta, não vou deixa-la com vontade, não é? Bora para a cozinha, ver se a
dona Maria já arrumou tudo para nós.
Pulo da cama, pego a cueca que estava jogada do lado da cama, e
quando estou saindo do quarto, escuto o chuveiro ser ligado, e por mais
vontade que eu esteja de invadir o box e terminar o que começamos, sei que
ela deve estar dolorida da noite passada, e vou dar esse momento para se
recuperar.
 

 
Estamos em pé na areia, observando a maré, enquanto Alice está
dormindo em uma espreguiçadeira embaixo do guarda-sol.
Sinto o peito de Heitor nas minhas costas, seu calor, as batidas do
seu coração.
Após o café da manhã, caminhamos um pouco, os três juntos, e
Heitor nos mostrou algumas feirinhas de artesanato que tem aqui perto,
mimou a Alice com vários presentes, e é lógico que ela amou. Após a
caminhada, Alice foi direto para a espreguiçadeira e dormiu minutos
depois.
O som das ondas e o cheirinho de brisa do mar é maravilhoso.
Muito relaxante.
Sentir os braços do Heitor ao meu redor é incrível, me prendendo
contra ele. Neste momento, seu queixo repousa na minha cabeça, e percebo
que não há outro lugar onde eu gostaria de estar.
— Precisamos mesmo voltar? — Sua voz rouca faz os meus pelos
se arrepiarem.
— Infelizmente — digo, realmente triste com a partida. Tudo tem
sido maravilhoso. Tão maravilhoso que dá até medo de quebrar.
— Posso te sequestrar e te manter aqui pra sempre. — Morde meu
pescoço, e me aperta mais contra si.
Dou risada, não achando nada ruim a sua ideia.
— Até que não é uma ideia ruim. 
— Bom saber.
Me viro e abraço o seu pescoço, ficando de frente para ele.
— O final de semana foi perfeito, Heitor. Obrigada. — Deixo um
selinho em seus lábios.
— Para mim também foi perfeito, Elena. — Abaixa a cabeça e me
beija, me apertando contra seu peito, descendo a mão pela minha cintura.
Quando está prestes a chegar na minha bunda, me afasto.
— Não, senhor. Nada disso. — Balanço o dedo no seu rosto,
sinalizando não. — Tá pensando que tá fácil agora? Se você quer, tem que
vir buscar — digo, me afastando devagar.
— Elena... — avisa com a voz rouca e um olhar predador.
— Vamos lá, campeão. — Continuo me afastando, andando de
costas, e de frente para ele. — Você é rápido sem as duas rodas também? —
atiço sorrindo.
Pulo e saio correndo.
— Elena, quando eu te pegar... — rosna atrás de mim.
Começo a correr pela areia, pois sei que não vai demorar muito e
serei agarrada por ele, mas espero lhe dar uma canseira antes, para não ser
tão humilhada.
Continuo correndo, e vou em direção a água, para me afastar dele.
— Tão devagar — grito correndo. — Deve ser a idade....
AAAAHH.
Sinto os braços do Heitor na minha cintura, enquanto ele me gira,
segurando o meu corpo contra si.
— A idade é? — Agarra o cabelo da minha nuca, me fazendo
levantar a cabeça, e começa a morder o meu queixo e pescoço. — Vou te
mostrar o que eu faço na minha idade.
Começo a gargalhar, e implorar:
— Não. Por favor — imploro, ainda gargalhando.
Heitor me beija com sede, com posse, e eu correspondo na mesma
medida.
Quando estou entregue aos seus beijos, ele se abaixa, agarra
minhas pernas e joga meu corpo sobre seu ombro.
— Heitor! — grito
Ele me ignora, enquanto continuo gritando, e começa a correr em
direção a água. Quando a água chega na sua cintura, ele me joga nela,
gargalhando.
Levanto e avanço nele, e começo a tentar afoga-lo, o que, é claro,
eu não consigo devido a sua altura.
Ficamos brincando igual duas crianças, e estou tão feliz, como há
muito tempo não me sentia.
Entre brincadeiras e muitos beijos, ficamos na água um bom
tempo, fazendo o momento todo muito especial.
Saímos da praia, e vou em direção à Alice para acordá-la.
Vamos direto para a casa, e começamos a nos arrumar para ir
embora.
 

 
— Estão entregues. 
Desligo o carro e destravo o meu cinto de segurança.
— Obrigada, Heitor. Você é o máximo! — Alice diz animada, e se
joga pra frente, para me dar um beijo no rosto, me fazendo rir pela sua
animação. — Agora eu vou subir e deixar vocês a sós. — Pega sua mochila
que estava ao seu lado, e abre a porta do carro para descer. — Se comporte,
mocinha. — diz para Elena, e sai do carro, correndo para dentro do prédio.
Elena começa a rir, e põe a mão no rosto.
— Sua irmã é uma figura — digo rindo, e me inclino na sua
direção.
— E eu não sei? — Elena ri, e destrava o seu cinto de segurança
também, se inclinando na minha direção, como fiz com ela.
Seguro seu rosto entre minhas mãos, e olho nos seus olhos.
— O final de semana foi incrível, queria que pudéssemos ter
ficado mais tempo. — Não escondo a verdade.
Elena sorri, e roça seu nariz no meu.
— Foi sim — concorda. — Eu amei.
Roço meus lábios nos dela e não resisto, colocando minha língua na
sua boca, explorando cada centímetro, sugando com voracidade. Meu pau já
começa a dar sinal de vida novamente. Acho que nunca vou me cansar de
beijar Elena, e muito menos de apreciar o seu corpo.
Desço a mão pela lateral do seu corpo, e pressiono sua cintura.
Sinto que ela agarra minha nuca, me fazendo soltar um gemido rouco que
escapou da minha garganta. Essa mulher me deixa louco.
A aperto mais contra mim, da forma que dá, pois com o console do
carro atrapalhando, fica tudo muito difícil, mas me lembro que ainda
estamos durante o dia, e mesmo com os vidros do carro sendo
insulfilmados, prefiro não arriscar dar um show para as pessoas que passam
na rua.
Mesmo contra a vontade, começo a diminuir a intensidade do nosso
beijo, até que o cessamos. Junto nossas testas, a segurando pela nuca, até
que nossas respirações voltem ao normal, e assim nos afastamos.
— Obrigada. O final de semana foi incrível, e você foi
maravilhoso comigo e com a Alice — declara demonstrando sinceridade e
alegria.
— Não tem o que me agradecer. — Seguro sua mão. — Podemos
repetir mais vezes — sugiro.
— Adorei a ideia — garante sorridente, e acabo sorrindo de volta
pela sua animação.
A admirando, não resisto e acabo lhe beijando novamente, mas
suavemente desta vez. Meu coração dispara tanto, que sinto que é capaz de
ela escutar e pensar que estou sofrendo um ataque cardíaco. Porra. Eu, sem
dúvidas, estou apaixonado por essa mulher.
Desço do carro e ajudo Elena a descer também. Nos despedimos
com mais uma sessão de beijos, e a assisto entrar no prédio, aguardando até
perdê-la de vista para entrar no elevador, e só assim, sigo para o meu
apartamento, com o coração disparado e apaixonado por essa mulher.
 

 
— Santiago! Boa tarde. — Giro na cadeira para olhar o homem
entrando na minha sala.
Eddie Stoner, é um dos chefes e quase todos os dias passa pelas
salas da escuderia, inclusive a minha, após os treinos.
— Boa tarde, Eddie — cumprimento de volta.
O meu dia de hoje foi de treinamento físico, crossfit, e após tomar
um banho e almoçar, vim para a minha sala e estou estudando as corridas
dos pilotos das outras escuderias.
— Você deveria dar uma olhada nos novos modelos de jaquetas
que o patrocinador nos enviou para essa temporada — Eddie diz, entrando
mais no cômodo, vindo para próximo de mim.
— Daqui a pouco eu vou — aviso o que ele quer ouvir. —  Estão
na oficina? Passo lá mais tarde. Só estou assistindo a última temporada.
Aliás, era para ter feito isso neste final de semana, mas tive
programa melhor do que do que ficar em frente à TV estudando manobras e
estilo de corrida dos pilotos adversários.
Depois de conhecer Elena, minha vida já mudou, minha rotina,
apesar de não ser monótona, era organizada, e hoje está diferente. Agora me
vejo sempre à procura de encaixar ela no meu dia, e procurando me
encaixar no dela para termos um tempo para nós.
Apesar da nossa última vitória, já temos uma viagem marcada
para daqui a poucas semanas, mas antes disso, pretendo passar cada tempo
livre ao lado da mulher que preenche meus pensamentos. Preciso admitir
que ter essa gana por Elena ainda me surpreende, mas já aceitei, e vou me
render a esse sentimento que só cresce a cada dia dentro de mim.
— Sei que eles não são páreo para você, campeão.
— Também sei, mas é sempre bom me manter atento. — O
homem de calça social e com uma blusa de lã, gola V, se encosta na borda
do rack que fica no canto da minha sala, sem tirar as mãos do bolso e
concorda, esboçando um sorriso.
— Estou muito satisfeito com o seu trabalho, Santiago.
A AMJ Factory Racing é a escuderia de uma grande marca, mas
não ficávamos na fábrica.
Quando comecei a pilotar com eles, anos atrás, fui como piloto
reserva, e depois de algum tempo mostrei a minha capacidade, e desejo de
me tornar o piloto principal, após surgir a oportunidade certa, consegui
vencer, e desde então estou onde sempre sonhei.
— Agradeço a confiança, Eddie.
— E como estão as coisas? Soube que viajou neste final de
semana?
Posso apostar que quem falou algo para o Eddie foi o linguarudo
do Jeff, pois comentei apenas com ele e com o meu irmão, Antonio, e como
meu irmão trocou apenas algumas palavras nas poucas vezes que cruzou
com Eddie, só me resta o empresário mais língua solta que existe. Capaz do
prédio saber que viajei com Elena. Nunca vi alguém mais fofoqueiro do que
Jeff Hestting.
— Sim. Viajei. Foi bom para descansar, ela é uma garota especial.
Eddie é um homem perspicaz, e com certeza já percebeu que a
mulher com a qual viajei se trata de alguém importante para mim, pois
nunca me afastei do meu trabalho para ficar algum tempo com alguma
mulher.
— Que bom. Traga ela para a corrida que teremos antes da
viagem. — O homem desencosta do rack, e bate a mão em meu ombro. —
Deixe-a conosco no box. Acredito que ela vai gostar de acompanhar tudo
por lá.
— Pode deixar. Obrigado.
Sim. Elena irá gostar. Ela já assistiu minha última corrida, mas
assistir pelo camarote é totalmente diferente de acompanhar tudo pelo box;
eu já estava com essa ideia em mente, e ter o convite de um dos donos só
facilitou.
Eddie deixa minha sala e posso voltar a estudar meus adversários.
Procuro repetições, estilo e erros onde eu possa trabalhar.
Durante o restante do dia, fiquei na minha sala, e ao final da tarde
desci até a oficina para ver as novas jaquetas.
A oficina fica no andar abaixo da minha sala e assim que desço as
escadas, já consigo visualizar o enorme salão que possui uma parede inteira
de vidro, possibilitando enxergar toda a parte de dentro.
Já do lado de fora consigo enxergar algumas motos que estão
cobertas e outras descobertas, com cabos ligados e enormes monitores
rodando códigos e mais códigos, onde os engenheiros estão monitorando.
No canto há peças, pneus, carenagens, entre outras coisas, mas
tudo devidamente protegido e organizado.
Esse local é uma réplica fiel de um box comum.
Vejo Garry Spencer analisando um dos monitores, concentrado,
me aproximo
— Espero que esteja cuidando muito bem dos meus bebês, Garry.
Garry Spencer é nosso engenheiro mecânico mais antigo, e
sempre deixa as máquinas impecáveis.
— E aí, Santiago. — Se vira para me cumprimentar. — Pode
deixar que estou cuidando muito bem dessa belezinha aqui.
Garry volta sua atenção para os monitores, e dá um comando
fazendo a moto acelerar, escuto o ronco acelerando como se fosse sair para
a pista, fazendo os números da tela de monitoramento aumentarem.
Eu não entendo nada, mas pela feição de satisfação no rosto dele,
tudo está do seu agrado.
— O Eddie me falou sobre as novas jaquetas que chegaram, desci
para ver.
— Sim. Chegou o novo uniforme da equipe também. O pessoal
gostou. Os patrocinadores capricharam para essa temporada.
— Ainda bem. Vou lá ver.
Me despeço de Garry, e vou em direção onde estão os novos
uniformes. No caminho, troco algumas palavras com o restante da equipe
que está espalhada pelo salão, e finalmente vejo as peças.
Tem um amontoado de roupas em cima de uma mesa nos fundos.
Realmente são muito bonitas, o material tem uma qualidade
melhor e chamará a devida atenção para o patrocinador.
Me despeço de todos, encerro meu dia, e não demoro mais que
vinte minutos para chegar na minha casa.
 
 

 
Após o final de semana espetacular que tivemos na praia, a
semana passou bem devagar.
Infelizmente, não consegui me encontrar com Heitor durante a
semana, já que nossos horários são bem ruins, e o treinamento dele estar
mais intensivo, mas, apesar de não nos vermos pessoalmente, conversamos
o dia inteiro, todos os dias. Não é a mesma coisa, mas é melhor que nada.
O final de semana finalmente chegou e Heitor me buscou cedinho
em casa, para tomarmos café em uma cafeteria renomada, chiquérrima, e
com deliciosos croissants. Devo ter engordado um quilo, no mínimo.
Após o café, viemos para o seu apartamento e após uma sessão
maravilhosa de sexo quente e um bom banho, decidimos assistir a um filme.
Ando em direção ao sofá e me jogo, fechando os olhos, e escuto
os passos do Heitor vindo em minha direção.
— Vamos assistir a um filme comigo? Se não tiver problemas pra
você, é claro.
Fico olhando pra cara dele, é impressão minha ou ele parece “sem
graça” e em expectativa? Eu devo estar ficando doida.
— Vamos sim. Já mandei mensagem pra Alice, e está tudo bem
por lá. Avisei que chegaria mais tarde — digo, sorrindo feito boba.
Heitor parece contente com a minha resposta, e sorri pra mim de
volta.
— Ótimo! — exclama. — Vou estourar a pipoca pra gente então.
Pode ir escolhendo o filme — pede Heitor, me lançando uma piscadinha, e
voltando para a cozinha.
Dou um pulo do sofá em busca do controle da TV e já coloco na
Netflix, sentando confortavelmente de volta, e escuto um grito de Heitor lá
da cozinha.
— Só não vai escolher um filme cheio de drama, hein! — pede.
Mordo o lábio, dando risada, pois ele errou feio.
— Errooou! Eu iria escolher um filme de ação, com muito tiro e
porrada — respondo, dando risada. — Pode ser?
— Assim eu vou casar com você! — grita de volta.
Dou risada da sua resposta, e escolho não responder nada.
Vejo-o vindo em minha direção com o balde de pipoca nas mãos, e
o acompanho com os olhos até ele se sentar ao meu lado no sofá, todo
relaxado.
— Resgate? Sério? — pergunta, arqueando a sobrancelha e o
queixo na minha direção.
— O que foi? O filme é muito bom, e tem muita ação, tá! — digo,
defendendo o filme que escolhi, e que eu particularmente amo, já que assisti
umas três vezes.
— Claro, claro — diz debochado. — E isso não tem nada a ver
com o Chris Hemsworth, não é mesmo?
— Com certeza não! — digo sorrindo, fingindo inocência,
batendo os cílios.
Heitor gargalha da minha cara de pau e começa a comer pipoca do
balde que está no seu colo. Me aconchego para mais perto e roubo um
pouco de pipoca.
— Hum... Você colocou manteiga?
— Eu sou um chef — responde com cara de convencido, me
lançando uma piscadinha safada. — Pode admitir que você amou.
— Aff... Esquece, nem tá tudo isso — digo de boca cheia.
O safado gargalha da minha tentativa fajuta de desmerecer a
pipoca maravilhosa que ele fez.
— Aham... Tô percebendo que você nem gostou tanto assim.
— Shiiiu — Estapeio seu peito. — O filme começou. Calado.
— Vem cá, mi amor. — Me puxa para ele, e a minha resposta é
praticamente deitar em cima do seu corpo, encostando minha cabeça no seu
peito, e ele começa a acariciar o meu cabelo.
Heitor me abraça e sinto sua respiração profunda no meu pescoço.
Continuamos abraçados por um tempo, e ficamos assim,
assistindo o filme.
Quando filme acaba, ajudo-o a levar as coisas até a pia.
— Esse final de semana terei uma corrida no circuito e gostaria
que você estivesse lá, mas dessa vez não no camarote, e sim, junto à minha
equipe. O que acha?
— Sério? E pode?
— Claro que sim, linda — diz, me puxando para seus braços.
— Então eu vou adorar!
— Que bom! E claro, Alice está inclusa no convite também.
— Obrigada, lindo.
Abraço seu pescoço, e me estico para selar nossos lábios.
 
 
Conforme combinado, Marcos foi buscar eu e Alice para irmos
até o autódromo, já que, obviamente, Heitor não conseguiria.
Diferente da outra vez que viemos e ficamos acomodadas em um
camarote, hoje ficaremos junto à equipe no box. Alice está eufórica com a
expectativa de acompanhar tudo tão detalhadamente, e preciso admitir que
eu também, pois mesmo tendo vindo outra vez, treinamento é diferente do
vamo ver, né?
Assim que saímos do carro, Conney, assistente do Heitor, nos
recebe e nos direciona onde vamos ficar. O seguimos em silêncio,
atravessando todo o box e o pit stop até o pit lane[32].
Heitor está em sua posição, então não o vejo, mas toda a equipe é
muito calorosa conosco e nos dão fones para acompanharmos tudo nos
mínimos detalhes, e assim podemos ouvir as instruções e comandos da
equipe.
Céus! Que sensação maravilhosa ver todas as motos posicionadas
uma na sequência da outra.
Cada pelo do meu corpo se arrepia com o bandeira verde[33] e os
motores “gritam”, aguardando as luzes apagarem para saírem em disparada.
Estou um pouco atrás de onde Alice está, mas consigo ver que ela
está tão tensa ou mais do que eu.
Assim que é dada a largada, vibro com a saída incrível de Heitor.
A equipe comemora o bom começo.
É uma emoção indescritível acompanhar tudo tão de perto assim,
não chega nem perto do camarote. Camarote é fichinha, se comparado aos
bastidores.
Ali, acompanhando tudo tão de perto, começo a entender o que
ele sente a cada corrida, essa mistura da emoção com a adrenalina, isso
porque não sou eu que estou pilotando, imagina ele ali.
Alice vira o rosto para me olhar, e vejo que está com os olhos
marejados.
— Está gostando? — pergunto apenas mexendo os lábios, já que
aqui o barulho é muito alto, e não conseguiríamos nos entender de outra
forma.
— Amando! — responde da mesma forma e logo se vira para
frente novamente, prestando atenção em toda a corrida.
O engenheiro, Garry, fala com Heitor pelo comunicador por boa
parte do trajeto, atento a tudo.
Nas corridas de Moto GP, é raro os pilotos fazerem o famoso pit
stop[34], diferente da Fórmula 1, por exemplo, que é tradicional e necessário.
A equipe comemora a primeira volta realizada com maestria por
Heitor.
Todo o box segue assistindo, atento e apreensivo.
Quando dou por mim, só está faltando uma volta para o fim.
Heitor está a uma distância considerável dos outros pilotos, então
todos deixam seu posto e vem para a grade do pit lane, só para vê-lo
passando em primeiro lugar pela bandeira quadriculada.
A arquibancada já está gritando eufórica pelo nome de Santiago,
agitados e felizes com a vitória iminente.
Assim que passa pela linha de chegada, garantindo seu pódio em
primeiro lugar, Heitor realiza sua tradicional manobra, ficando com a moto
empinada sobre apenas uma roda.
Toda a equipe pula, grita e comemora, abraçando uns aos outros,
inclusive a mim e Alice.
Assim que Heitor salta da moto e corre para o box, todos o cercam
e o parabenizam pela vitória, e quando caminha até mim, não resisto e pulo
no seu colo com minhas pernas na sua cintura, e os braços no seu ombro,
pouco me importando com quem esteja assistindo, enchendo-o de beijinhos
por todo o rosto, enquanto ele dá risada do meu descontrole.
— Parabéns! Parabéns! Você arrasou... Acho que você se
superou... Estava maravilhoso, como sempre, mas hoje tinha um “Q” a
mais.
Ele gargalha.
— Então quer dizer que eu sou maravilhoso é?
— Hahaha! Nada disso, senhor Heitor Santiago. Eu disse que
você ESTAVA maravilhoso, uma coisa não tem nada a ver com a outra —
digo, apontando um dedo para o peito dele, fingindo indiferença, por estar
escalada no seu colo, enquanto ele anda para os fundos do box.
Ele está dando risada, fingindo acreditar no que eu digo, me
segurando pelo bumbum com as duas mãos, percebo que está andando até
os fundos do box, enquanto toda equipe continua comemorando,
completamente dispersos de nós.
Ficamos nos encarando, como se só existíssemos nós dois no
mundo.
Até que ele enfia a mão na minha nuca e agarra firme os meus
cabelos, me girando e apoiando minhas costas na parede, em um lugar
escuro e vazio.
— Me deixa te comer aqui? Hum? — ele sussurra no meu ouvido,
mordendo o meu lóbulo, e lambendo meu pescoço; sinto seus dedos na
minha boceta, me acariciando por trás, ainda por cima da minha calcinha, já
que estou de vestido, o que facilitaria e muito nossa vida, caso seguíssemos
adiante, fazendo movimentos circulares. — Deixa?
Minha respiração acelera, e meu coração palpita em expectativa
de fazer uma coisa daquela, transar em um lugar daquele. E se alguém nos
visse? Enquanto isso, sinto seu membro roçar em mim, enquanto ele beija e
lambe meus seios expostos pelo decote do meu vestido.
— Hei... aaah... E se alguém aparecer aqui? — pergunto, ofegante
pelas suas caricias.
— Corazón, esquece todo o resto, pensa só em mim, só em nós...
hum? — Sobe suas carícias pelo meu pescoço e me beija com força,
puxando o meu cabelo, misturando tesão com dor, o que torna tudo ainda
mais sexy, e faz minha boceta pulsar.
Eu estou me sentindo tão molhada para ele, que não penso em
mais nada, enfio a minha língua em sua boca, gemendo o seu nome e me
esfregando nele como uma louca, e Heitor me corresponde na mesma
medida.
Um dos seus dedos coloca minha calcinha para o lado e me
penetra.
— Aahh... porra.. Você vai me enlouquecer! — geme rouco. —
Tão molhadinha.
Eu gemo e ele volta a me beija, para engolir os meus gemidos, e
os dele também.
Heitor soca os dedos em mim, em um movimento de entra e sai
maravilhoso, fazendo círculos, e quando meu ventre contrai, sinalizando
que estou prestes a gozar, ele para. Acho que devo ter olhado para ele brava,
pois ele olha pra mim e ri, mostrando aquela covinha dos deuses. Que ódio.
Nem consigo ficar brava.
— Calma, Mi Diosa, você vai gozar, mas vai gozar no meu pau —
diz, já posicionando o seu pau, que eu nem sei quando ele tirou para fora,
na minha entrada.
Ele esfrega o seu pau no meu clitóris, fazendo uma massagem
deliciosa nele, me levando ao paraíso. Jogo minha cabeça para trás, não me
aguentando mais de tanto tesão.
Heitor agarra meu cabelo e me faz levantar a cabeça e encarar os
seus olhos, e sinto como se tivesse mergulhado naquele mar verde.
— Você quer? — questiona, mordendo meus lábios, e esfregando
o seu pau já lambuzado dos meus fluídos na minha boceta. — Diz pra mim,
Corazón Você quer meu pau enfiado em você? Hum?
Eu já estou suando, e quase gozando só em ouvir ele me chamar
de Corazón com essa voz rouca no meu ouvido.
— Me come, Heitor... — imploro, me esfregando nele, louca para
enfiar de uma vez o pau grosso em mim. — Me come — peço gemendo,
quase miando de necessidade
Ele me encara com o sorrisinho safado no rosto e me beija com
sofreguidão, me deixando sem ar.
— Não precisa pedir duas vezes, amor.
Eu nem tenho  tempo de pensar no que ele me chamou, porque ele
me penetra devagar, quase me torturando, empurrando os quadris contra
mim, que sigo apoiada contra a parede.
— Caralho, Corazón — geme, mordendo meu pescoço —, sua
boceta tá estrangulando o meu pau.
Ele leva seus dedos para a minha boca, enquanto me come
devagar, me torturando.
— Chupa! 
Eu nem penso, chupo como se minha vida dependesse disso,
enquanto ele aumenta o ritmo das suas estocadas, me causando um frenesi
maravilhoso, e meu ventre vai se contraindo.
Com uma mão ele segura a minha cintura com força, quase para
me deixar marcada, me causando ainda mais tesão, a junção da dor e o
prazer que ele me proporciona me levam à lua.
Com o dedo babado que eu chupei, ele desce para o meu clitóris,
esfregando-o enquanto me come forte, metendo uma, duas, repetidas vezes,
me fazendo bater as costas na parede atrás de mim.
Ele segue arremetendo contra mim e fazendo movimentos
circulares no meu clitóris com os dedos, e quando intensifica os
movimentos do quadril, me comendo com força, não aguento e finco
minhas unhas nos seus ombros suados.
— Heitor — gemo e ele me beija, enfiando sua língua em minha
boca, para calar meu grito do orgasmo que me atingiu.
— Delícia — geme, metendo fundo e rápido, até chegar ao
próprio ápice, gozando dentro de mim.
Ficamos um tempo parados, com as testas coladas uma na outra,
esperando nossas respirações normalizarem, pois ambos estávamos
ofegantes. Após um tempo, ele levanta a cabeça e me encara sorrindo, e eu
sorrio de volta, como uma boba apaixonada.
NÃO, espera... apaixonada? Será? Oh, merda!
Ele me segura pela nuca, e me beija, um beijo calmo e terno, me
fazendo desmanchar no seu colo.
Com calma, ele me coloca no chão, eu ainda estou com as pernas
um pouco bambas, mas consigo me firmar, evitando passar vergonha na
frente dele.
Heitor me ajuda a arrumar o meu vestido, e ajeito minha calcinha
no seu devido lugar, sentindo-a toda melada dos meus fluídos e do Heitor
misturados.
Heitor já estava recomposto e com o seu pau dentro da calça
quando segurou o meu rosto com as duas mãos.
— Desculpa, Corazón, eu deveria ter pegado a camisinha, mas eu
não coloco uma na roupa que subo no palco, né? —  Dá risada, parecendo
sem graça — E não resisti em te arrastar até aqui, para sentir você, as coisas
esquentaram... Não que eu não tivesse uma leve esperança que você topasse
essa loucura comigo, claro que eu queria que nós fizéssemos esse sexo
louco que fizemos, mas sobre a camisinha, eu realmente esqueci... Droga...
desculpa... mas se você quiser, eu vou agora na farmácia e...
Não resisto e caio na gargalhada, afinal, é muito engraçado ver o
famoso e cheio de si senhor Hector Fodão, sem graça por ter transado sem
caminha comigo. Eu ri tanto, que eu me curvei com a mão na barriga
— Por que você tá rindo?
— De você — respondo ofegante por causa da gargalhada,
limpando os cantos dos olhos pelas lágrimas. — Eu tô rindo de você, sem
graça desse jeito. — Apoio minhas mãos nos braços dele. — Eu tô aqui
imaginando o famoso Heitor Fodão indo à farmácia para comprar pílulas.
— Caio na risada de novo.
— Droga! É verdade. Mas se você quiser, eu peço para alguém,
ou a gente pede por delivery. É verdade!! Isso... é só pedir.
— Hei, hei... Calma, respira — digo, me acalmando da
gargalhada e respirando fundo para acalmar aquele grandalhão. — Relaxa,
eu tomo remédio desde os meus 17 anos para controlar o meu ciclo e tal,
então fica tranquilinho, pode voltar a respirar.
E foi só dizer isso, que parece que ele voltou a respirar mesmo.
Parece até que ficou mais corado. Juro que segurei a gargalhada de novo,
porque é muito engraçado essa situação toda.
— Poxa, amor — resmunga, fazendo massagem no peito, me
fazendo ter vontade de rir de novo. — Poderia ter me avisado antes, você
quase ficou viúva antes da hora, não pode me assustar desse jeito. — Ele
para de se massagear e passa o braço sobre o meu pescoço, fazendo o meu
corpo grudar no dele. — Apesar de que um mini Heitor não seria ruim, né?
— Me olha com a maior cara de pidão, como se não tivesse quase surtado
com a mínima hipótese disso há pouco.
— Haha... Quem é que estava sofrendo de um ataque de pânico
há pouco com a mera hipótese disso, hein, senhor Heitor? — pergunto,
rindo da cara lavada dele. — Aliás... O assunto aqui é essa loucura que a
gente fez... A gente só pode estar louco... e se aparece alguém aqui e  nos
pega no vuco-vuco?
— Vuco o quê? — questiona, gargalhando alto.
— Xiiiiu, menino!
— Calma, Corazón.. Eu não seria louco de expor você a uma
situação dessa. Eu só te trouxe aqui, e deixei que rolasse esse sexo gostoso
que a gente fez — explica, me deixando ainda mais vermelha —, porque
tenho certeza de que aqui não passa ninguém. — Segura meu rosto com as
duas mãos. — Só eu posso te fazer gozar, te ver gozar, e te ouvir gozar. Eu
nunca vou te expor — avisa, me olhando nos olhos e me beija, fazendo meu
coração falhar uma batida.
 

 
As semanas passaram depressa.
Tivemos um final de semana maravilhoso, mas Heitor precisou
viajar para Inglaterra essa semana e ficará longe por quinze dias.
Namorar um piloto tem suas desvantagens, principalmente
quando se está em época de competição.
Mas, mesmo à distância, estou torcendo pelo meu campeão, pois
sei que essa é só mais uma corrida que já é dele.
— E esse sorriso aí, hein? — Maya fala ao meu lado.
— O quê?
— Você está com um sorriso de boba apaixonada na cara, Elena.
— diz gargalhando.
— Vai à merda, Maya — Empurro minha amiga pro lado, de
brincadeira. A palhaça só gargalha mais alto, não dando a mínima para o
meu empurrão.
— Tá sim!
— Você tem cinco anos? — Não me seguro e começo a rir
também.
— Ué — levanta as mãos —, eu só estou expondo fatos, amiga.
— Haha... Você não pode falar nada. — Aponto o dedo em sua
direção. — Está sempre apaixonada também.
— Isso é verdade — concorda imediatamente, me olhando séria.
Olho séria para ela de volta, e logo caímos na gargalhada
novamente.
— Palhaça — digo rindo, e seguro seu braço para andarmos
juntas em direção à saída da faculdade.
Seguimos em direção ao estacionamento da faculdade, já que hoje
Maya irá me dar uma carona até a lanchonete, pois falou que iria resolver
algumas coisas lá perto. Aceitei imediatamente sua carona, claro.
Assim que entramos no carro, envio uma mensagem para Alice,
perguntando como estão as coisas, pois, pelo horário, ela deve estar
chegando em casa, e envio uma mensagem para o Heitor também,
perguntando como estão as coisas por lá.
A viagem é rápida, em meio a conversas e gargalhadas com a
minha amiga, e logo me vejo em frente ao meu trabalho.
— Obrigada, amiga. Me salvou de um ônibus lotado — digo,
pegando minha bolsa do banco de trás.
Eu sou o máximo. 
Sim, amiga, você é. — concordo sorrindo, e lhe dou um beijo na
bochecha em despedida. — Até amanhã.
Maya buzina se despedindo, e vejo o seu carro se afastar.
Entro na lanchonete e cumprimento a todos, seguindo para os
fundos. Almoço e começo meu turno.
O salão está movimentado, e logo eu e Clara estamos correndo de
um lado para o outro, para dar conta do atendimento de todos.
A hora voa, e no final do dia, meus pés estão só o pó.
— Que dia, hein!
— Nem fale, menina!
— Meninas, podem ir. — Dona Carminha diz atrás de nós.
— E a senhora vai fechar sozinha? — Arqueio a sobrancelha.
— Claro que não, menina, Rita vai ficar comigo.
— Corre, Leninha, antes que ela mude de ideia — Clara diz,
praticamente correndo em direção à salinha dos fundos, onde ficam nossas
coisas.
A cena é tão engraçada, que não resisto e começo a gargalhar alto.
— Menina atentada — Dona Carminha resmunga atrás de mim. 
Ainda rindo, me levanto e vou até a sala, para pegar minhas coisas
também.
— Você é maluca! — digo assim que chego na porta, vendo uma
Clara prontíssima para ir embora.
— Eu sei! E você adora! — Sorri.
Concordo e começo a me arrumar para ir embora também.
Após nós duas estarmos prontas, saímos juntas, assim como
fazemos na maioria das vezes, e cada uma segue para o seu ponto de
ônibus.
Não demoro para chegar na minha casa, e encontro uma Alice
desmaiada no sofá. Oh! Garota que dorme. Que inveja! Sorrio com o meu
pensamento.
Arrumo seu cobertor, desligo a televisão e sigo para o meu quarto,
para pegar minhas coisas e tomar um banho.
 
 

 
Acordo com a luz entrando pela janela do quarto e logo me
levanto para tomar um banho, e me vestir. Como meu treino é apenas no
período da tarde, vou aproveitar para correr um pouco, pois sei que tem um
parque bem conhecido perto do hotel.
Após minha higiene matinal, sigo para o parque, e apesar do sol, o
tempo está um pouco frio, o que não me impede de suar.
Sigo minha corrida, e vejo algumas pessoas correndo,
caminhando e outras simplesmente passeando pelo parque.
Depois de quase uma hora de corrida, paro um pouco para
descansar, e aproveito para apreciar a vista.
Vejo as pessoas fazendo os seus exercícios, mas muitas também
estão passeando com seus pets, outras fazendo piquenique com suas
famílias. A cena me faz lembrar imediatamente da Elena, e minha saudade
por ela aumenta. Gostaria muito que estivesse aqui comigo, mas entendo
que não é possível.
Aproveito para enviar uma mensagem para minha gatinha.
Abro o aplicativo, tiro uma selfie e lhe envio.
 
 
Bom dia, Gatinha!
Como estão as coisas por aí?
 
 
Após enviar a mensagem, guardo o celular e retomo minha
corrida em direção ao hotel, para iniciar meus compromissos do dia.
 

 
Ontem o dia foi relativamente tranquilo, pois tive apenas um treino
para conhecimento de pista, além de a equipe e eu nos familiarizarmos com
o local onde iremos trabalhar nesta temporada.
Confesso que já estava sentindo falta dessas viagens e a rotina que
vinha com ela, mas também estou insatisfeito por precisar passar essas
semanas longe da minha mulher.
Eu gosto de chegar no circuito cedo, mas, principalmente hoje, pois
é dia de descarregar as motos e todos os equipamentos.
O navio que carregava tudo aportou no porto da cidade essa
semana, e o caminhão chegaria hoje ao autódromo para descarregar no
nosso box.
Não havia necessidade de acompanhar o descarregamento, mas
gostava de acompanhar tudo de perto ao lado de Garry, que já estava
acostumado com o meu hábito.
Ele checava, catalogava, e fazia o seu trabalho com maestria,
enquanto eu acompanhava, geralmente de longe, pois não havia nada
realmente útil que eu pudesse fazer.
As horas voam, e logo estamos no final do dia.
Chego ao meu quarto cansado pra cacete.
Hoje, além do treinamento já esperado, tivemos uma reunião com
toda a equipe, que levou mais tempo do que o esperado. Estou exausto.
Durante o dia, recebi e troquei algumas mensagens com a Elena, e
combinamos de fazer uma videochamada quando chegasse ao hotel, mas,
pelo horário, duvido que ainda esteja acordada. Que merda!
Ando pelo quarto e vejo o display ao lado da cama: 23hs.
Vou em direção ao frigobar e pego uma água, retiro o celular do
meu bolso e abro o contato dela pelo aplicativo, para ver se está online. Não
está.
Solto um bufo frustrado.
Arrisco enviar uma mensagem, vai que hoje é o meu dia de sorte.
 
 
Oi Gatinha.
Cheguei agora.
Ainda está acordada?
 
 
Termino minha água, tiro a roupa e me deito na cama.
Fico deitado, e resolvo esperar alguns instantes antes de seguir
para o banheiro para tomar o meu banho.
Passo alguns minutos olhando para o teto, esperando o celular
tocar.
Não demora muito, e o ouço o aparelho tocar.
Pego-o e vejo no visor a foto da minha gatinha.
Atendo.
— Oi, Gatinha — digo, sorrindo igual a um adolescente. Tô
fodido.
— Oi, Amor — responde com a voz grogue. — Eu estava
esperando você chegar.
Mal consigo visualizar o rosto dela, pois está muito escuro,
deduzo que esteja deitada no seu quarto, mas resolvo perguntar.
— Você tá deitada? Desculpa, cheguei mais tarde do que previa.
— Sim. — Esfrega os olhos. — Mas não tem problema. Eu queria
muito ver você. Estou com saudades.
— Eu também estou, amor. Amanhã já é a competição. Logo,
logo eu estarei aí com você — digo e dou uma piscadinha para a câmera.
— Acho bom. Estou muito abandonada por aqui — responde,
fazendo bico.
Dou risada da sua cara fazendo charme.
— Vou te compensar quando chegar aí. Prometo — garanto.
Elena ri e boceja ao mesmo tempo. Sei que ela está cansada, mas
quero conversar só mais um pouco, pois amanhã, com certeza, não
conseguirei falar com ela, e sou egoísta pra caralho.
— Como foi seu dia?
— Uhnn... — Faz um muxoxo. — O mesmo de sempre.
Faculdade, trabalho e casa.
— Uhn... E você conseguiu enviar seu currículo para os
escritórios que queria?
— Sim! — diz animada, mas logo vejo apreensão no seu olhar,
apesar da pouca luz. — Não quero ficar muito esperançosa, mas tomara
que eles me chamem ao menos para uma entrevista, né. — A vejo
balançando o ombro.
— Logo vão te chamar, amor. Logo você vai estar trabalhando no
que deseja.
— Sim. Deus te ouça. — Sorri apreensiva. — Mas e você?
Nervoso para amanhã?
— Eu sempre fico um pouco nervoso antes de alguma corrida,
mas você sabe que eu vou ganhar, né? — Dou um sorriso convencido para
garantir que a classificação é minha.
Elena revira os olhos com a minha fala, e logo dá risada.
— Claro. Esqueci que eu estava falando com o Sr. Modesto. —
Dá risada.
— Eu sou modesto — garanto. — E realista também.
Dá risada e boceja novamente.
— Tá bom, gatinha. Vai lá descansar.
Boceja de novo.
— Ah, eu gostaria de conversar com você mais um pouco, mas é
que hoje estou realmente um pouquinho cansada, amor — diz, quase
fechando os olhos.
— Eu sei. Vai dormir. Infelizmente amanhã provavelmente nós
não vamos conseguir conversar, pois com certeza vou chegar mais tarde do
que hoje.
— Aham. Eu sei. Vai descansar você também. Descansa bastante,
e por mais que você não precise ouvir... Vai lá que essa corrida já é sua. —
Dá um sorrisinho e me lança um beijinho pela câmera.
Sorrio pra ela, e devolvo o beijo.
— Obrigado, amor. Vai lá. Boa noite.
— Boa noite.
Quando eu já estava quase desligando, ela chama:
— Heitor.
— Oi.
— Nada de safadeza por aí — diz séria, afinando o olhar pela
câmera. — Eu tô de olho.
Não consigo me controlar e gargalho.
— Para de ser doida.
— Doida é? Ham. — diz, já segurando o riso.
— Não tem ninguém que eu queira além de você, gatinha —
garanto.
— Acho Bom! Hum. — Se aconchega no travesseiro novamente.
— Boa noite, doida.
— Boa noite, meu campeão. — Boceja de novo. 
Desligamos.
Passo o braço na cabeça, cubro os olhos e dou risada de mim
mesmo.
Porra! Por mais que o final da nossa conversa fosse brincadeira, o
que eu disse não passa da mais pura verdade. Não tem mais nenhuma
mulher que eu queira além de Elena.
Heitor, você está fodido.
 

 
Acordo cedo e, diferente do dia anterior, hoje não haverá corrida
matinal.
Ligo para a recepção e peço meu café da manhã no quarto.
Faço meu pedido e vou para o banheiro, tomar um banho rápido.
Saio de lá já escutando a campainha.
Recebo meu café, e faço meu desjejum. Troco de roupa, e sigo
para o autódromo.
Quando chego, já encontro a maior parte da minha equipe
trabalhando a todo vapor, todos ansiosos e concentrados para a corrida de
hoje. Cumprimento a todos, e sigo para o box para fazer minha troca de
roupa, e colocar o macacão.
Após fazer a Volta de Aquecimento, iniciamos a corrida, e aqui me
sinto no controle de tudo.
 

 
Como esperado, fiquei em primeiro lugar na corrida.
Foi foda! Consegui ganhar com folga, e isso me deixa feliz pra
caralho.
Comemoro a vitória no pódio com a minha equipe, festejamos, e
ainda atendo toda a imprensa.
Agora na boate, com o som alto, sequer sei por que estou aqui.
Minha vontade é de pegar o primeiro avião disponível e voltar
para a minha garota, mas como todo final de corrida sempre nos reunimos
com toda a equipe para comemorar, acabei só seguindo a rotina. E isso só
me faz encher o copo e me recriminar por estar aqui, e não onde realmente
gostaria.
Minha vontade era de estar lá, e comemorar minha conquista ao
lado dela.
Tento me conformar e me envolver na empolgação da minha
equipe.
Até parece que estavam com a certeza de que a vitória estava
garantida. E não duvido que pensassem assim, pois eu estava pensando da
mesma forma.
Estamos em uma balada exclusiva da cidade, a organização é boa,
os DJs são exclusivos, e as mulheres são excelentes, isso não dá pra negar,
mas nem isso me interessa.
Porra! O que está acontecendo comigo?
Nunca fui de dispensar uma boa festa.
Dou um gole na minha bebida, e fico encostado no parapeito do
camarote, vendo todo mundo dançar e se divertir, e não sinto nenhuma
vontade de me juntar a eles, então continuo com o meu copo de whisky na
mão, na minha.
Vejo todo o pessoal tirando fotos e selfies, todos compartilhando o
momento de curtição e comemoração.
Ao longe, vejo uma mulher me olhar e percebo que ela é gata.
Vestido grudado no corpo, curto, cabelo longo. Do tipo que
sempre me atraiu, mas hoje não. Meu corpo não reage, e nem quero.
Só tem uma mulher que eu quero do meu lado agora.
Chega. Pra mim, já deu.
Estou há mais de quinze dias longe da minha mulher, e não vou
passar nem um a mais.
 
 

 
Após toda a correria, finalmente consegui embarcar.
Depois de me despedir de todos brevemente e dar uma desculpa
qualquer, corri para o hotel, enfiei tudo em uma mala, e corri para o
aeroporto para pegar o primeiro avião disponível. Nem ferrando que iria
esperar o voo amanhã para ir embora com todo mundo.
Quando o avião aterrissa, estou exausto.
Peguei o primeiro voo disponível, em um horário péssimo, mas
não me arrependo.
Nunca fiquei tão ansioso para retornar para casa.
Sigo pelo saguão do aeroporto para a saída, pois como não
despachei nenhuma bagagem, então não preciso esperar.
Assim que passo pelos portões, avisto os táxis e pego o primeiro.
Dou o endereço da minha casa, e olho meu relógio de pulso. Com sorte,
consigo chegar em casa, pegar minha moto e pegar a Elena na saída do
trabalho ainda.
Quando o táxi começa a se movimentar, aproveito para deitar a
cabeça no encosto para descansar um pouco.
Acordo com o motorista me chamando, avisando que chegou.
Agradeço e faço o pagamento da corrida.
Subo para o meu apartamento, confiro as horas e constato que não
vai dar tempo de tomar um banho.
Deixo minha mala de viagem na sala mesmo, e pego a chave do
meu carro, pois estou cansado demais para pilotar minha moto agora.
Desço até o estacionamento, e vou direto até o serviço da minha
gatinha.
Por sorte, não peguei nenhum trânsito, então, quando chego na
lanchonete, percebo que elas ainda estão fechando, então tenho tempo de
estacionar o carro e aguardar até ela sair.
Desço do veículo, e encosto na lataria.
Cruzo os braços e a espero.
Porra! Estou louco de saudades dela.
Vejo as luzes se apagando e uma senhora baixinha sai primeiro.
Se eu não me engano, é a dona da lanchonete, Elena está logo atrás dela.
Assim que a vejo, meu coração acelera igual ao de um
adolescente.
Não demora muito para ela olhar em minha direção e vejo seus
olhos se arregalarem de surpresa, e logo um sorriso lindo toma conta do seu
rosto; não controlo e me vejo sorrindo de volta pra ela.
Elena diz alguma coisa para a senhora que estava fechando a
lanchonete, e logo vem ao meu encontro, praticamente correndo.
Sigo até ela também, e quando estamos perto um do outro, Elena
se joga nos meus braços, enrolando suas pernas no meu quadril, e seus
braços no meu pescoço.
Ergo-a, passando meu braço na sua bunda, e com a outra mão,
seguro sua nuca para colar nossos lábios, lhe dando um beijo cheio de gana,
saudade, desejo, e tudo que está preso em mim. Como se o mundo fosse
acabar e só existíssemos nós dois. 
Ficamos assim, grudados, nos beijando por minutos, até que
precisamos nos afastar atrás de fôlego.
Quando nos separamos, a mantenho no meu colo, e colo minha
testa na sua, com nossas respirações ainda descompassadas.
— Porra! Que saudade que eu estava de você — assumo rouco.
— Você veio antes! — diz, encarando meus olhos.  — Você tinha
me dito que viria amanhã. — Me dá vários beijinhos pelo rosto.
— Adiantei em algumas horas o meu voo. — A aperto mais
contra mim. — Cheguei do aeroporto e só peguei meu carro e vim pra cá.
— Eu também — responde manhosa — estava morrendo de
saudades de você.
— Dorme comigo hoje? — Vou beijando seu rosto enquanto falo.
— Vem? Eu preciso matar a saudade que eu tô sentindo de você. Vamos?
— Heitor... Eu tenho a Alice, não posso deixá-la sozinha. E
amanhã cedo eu ainda tenho faculdade, eu estou sem roupa.
— Eu te levo até sua casa, você conversa com a Alice, pega uma
muda de roupas, e problema resolvido. E aí? O que me diz?
Elena gargalha ainda no meu colo.
— Você já tem tudo de caso pensado, não é mesmo? — Arqueia a
sobrancelha.
— Pode apostar que sim — digo. já indo em direção ao carro. —
Eu até poderia sugerir para dormirmos na sua casa, mas eu acho que hoje é
bem provável que façamos alguns barulhos impróprios para sua irmã —
comento, chupando o seu pescoço.
Elena ri, e balança a cabeça.
— Então vamos — responde ainda rindo, e me aperta mais contra
si.
Coloco-a no chão e abro a porta do carro para ela entrar. Dou a
volta e assumo o volante.
A viagem até seu prédio é recheada de vários assuntos, a minha
viagem e o seu dia-a-dia são o centro de tudo, pois mesmo que tenhamos
conversado diariamente, não é a mesma coisa que pessoalmente.
Durante todo o percurso, repouso minhas mãos na sua coxa, com
a sua mão delicada por cima da minha, fazendo um leve carinho.
E assim eu confirmo que ter vindo para cá, para ela,
imediatamente, foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.
Subo com Elena ao seu apartamento, e encontramos Alice
acordada; a cumprimento, e Elena avisa que irá dormir na minha casa.
Alice dá de ombros, e diz que irá sair amanhã cedo, conforme
ambas já haviam combinado, não me envolvo e aguardo Elena arrumar sua
mochila com algumas peças de roupa.
Logo estamos nos despedindo, e indo até minha casa para
ficarmos a sós.
Chegamos à minha casa em poucos minutos, já que está tarde, e o
trânsito flui normalmente, sem engarrafamento.
Aviso que vou tomar um banho, e me direciono até o banheiro,
deixando-a arrumando suas coisas no meu guarda-roupa.
Gosto da ideia de ter suas peças ali.
Já havia algumas, das outras vezes em que dormiu aqui, mas são
poucas.
Estou embaixo do chuveiro, sentindo o jato quente nas minhas
costas, e olho sobre o ombro quando ouço a porta do box se abrindo. 
Vejo Elena entrar, nua, maravilhosa, com um sorriso safado no
rosto, e já sinto o meu pau pulsar. Eu sou louco por essa mulher. 
Elena me abraça por trás, e suas mãos passeiam entre meu peito e
barriga, me massageando, me acariciando.
— Me fode agora, campeão! — Elena sussurra às minhas costas,
me mordendo logo em seguida.
Não consigo controlar o som que sai da minha garganta. Porra!
Essa mulher vai me infartar qualquer dia.
Me viro, e a pego no colo, fazendo-a abraçar minha cintura com
as suas pernas, e apoio suas costas no azulejo gelado do banheiro. 
Sinto que ela arqueia e geme com o contato frio do azulejo com o
seu corpo quente, mas não a deixo reclamar, e logo tomo seus lábios nos
meus. 
Sinto que meu pau já está todo babado, doido para se apossar do
que é dele. 
Sugo sua língua, mordo seus lábios carnudos, enquanto posiciono
meu pau na sua entrada, assim que encaixo, não espero, e me afundo nela
em um único golpe, Elena ofega, com seus lábios ainda grudados nos meus,
e eu fico parado, esperando-a se acostumar com o meu tamanho. 
Quando a sinto contrair ao meu redor, começo a investir rápido e
duro, seguro sua nuca, enquanto a outra mão segura forte na sua cintura, e
encaro seus olhos, que emanam todo o tesão que sentimos agora. 
— Mais... Mais — geme gostoso, contra os meus lábios. 
Tomo sua boca em um beijo alucinado, e a fodo sem pena, e sinto
o quanto ela está excitada, apertando meu pau dentro de si, fazendo minhas
bolas contraírem de tesão. 
A prenso mais contra o azulejo, a golpeando sem descanso. 
— Porra de boceta apertada do caralho, Corazón — digo rouco, e
mordo seu ombro. Sinto sua boceta me apertar ainda mais, e não aguento,
gozando forte dentro dela, sem cessar as investidas. — Goza pra mim,
Corazón. Goza no meu pau — exijo.
— Oooh Heitor — geme meu nome e sinto seu corpo tremer, ela
joga a cabeça para trás, gemendo palavras desconexas. 
Fecho meus olhos e encosto nossas testas, esperando até
controlarmos nossas respirações, e quando o fôlego me volta um pouco,
grudo nossas bocas novamente, pois não consigo ficar longe dessa mulher,
mesmo meu pau ainda estando dentro dela à meia bomba, eu sempre quero
mais. Quero tudo. 
Encerro o beijo e afasto um pouco a cabeça para olhá-la melhor,
Elena abre os olhos, e me encara com um sorriso sapeca no rosto. 
Ainda com seus braços em volta do meu pescoço, se aproxima e
me dá beijinhos no rosto, maxilar e pescoço. 
— Oi — diz, dando risada. 
— Oi, safada. — Aperto sua bunda. 
Ainda com Elena em meus braços, me movimento dentro do box,
e nos levo para debaixo do jato d’água do chuveiro, para nos lavar. 
— Então quer dizer que você está se aproveitando de ter as
chaves, para entrar sorrateiramente durante o meu banho e abusar de mim? 
Elena gargalha, jogando a cabeça para trás. 
Desce as pernas que estavam ao redor da minha cintura, fazendo o
meu pau deslizar pela sua boceta, saindo dela, me fazendo sentir falta do
seu calor. Nem por isso tiro minhas mãos da sua cintura, e continuo
abraçado com ela. 
— Abusado, é? Aham... Eu não vi o senhor reclamando. 
— Ah, porque eu não sou doido. — Pego o sabonete líquido e
despejo na esponja, então começo a ensaboar o corpo maravilhoso da
mulher que eu tenho em meus braços. — Por favor, sempre abuse assim de
mim. 
Elena finge me dar um soquinho no ombro, mas dá risada. 
— Engraçadinho. Nada disso — diz se virando de costas para
mim, e eu aproveito para ensaboar a sua bunda redonda, maravilhosa. — O
senhor vai me levar agora mesmo para a banheira e me fazer uma
massagem. —  Vira a cabeça, e me olha por sobre o ombro. — Eu estou
cansada, e hoje é um bom dia.
— Seu desejo é uma ordem princesa. — Largo a esponja no chão
e a pego no colo novamente, apoiando minhas mãos na sua bunda, fazendo-
a abraçar minha cintura com as suas pernas. Elena se assusta, e dá um
gritinho de surpresa, e logo começa a rir. 
Abro a porta do box e atravesso o banheiro com Elena montada
em mim, até chegar na banheira, pouco me importando em estar molhando
todo o percurso. 
Deixo-a sentada na bancada, enquanto ligo a banheira, e pego os
sais para o banho. 
Quando a banheira já está cheia, fecho a torneira e vejo se a
temperatura está boa, depois volto para a bancada para pegar Elena, que me
olha com os olhos brilhando, com fogo, e algo mais. 
Fico de frente pra ela, bem no meio das suas pernas, e enlaço sua
cintura, a pegando no colo novamente. Adoro ter seu corpo colado no meu. 
— Vem, princesa. — Beijo seu pescoço. — Vou massagear esse
seu corpo todo e te deixar bem relaxada. 
Entro junto com ela na banheira, e assim, seguimos para o
segundo round. 
 
 

Após mais uma rodada de sexo, dessa vez dentro da banheira,


enfim, estamos descansando. 
Imersa na água morna, finalmente sinto o meu corpo relaxado
depois de uma semana cansativa. Me aconchego ao abraço de Heitor e a
sensação é gostosa de estarmos assim. 
Ele está sentado atrás de mim, seu corpo me aconchega, sua mão
percorre levemente o meu seio. Seguro suas mãos, acaricio seus dedos e
observo seu dorso com a tatuagem. 
Não resisto, levo sua mão até meus lábios e beijo.
Heitor faz o mesmo nos meus cabelos, e depois no pescoço, me
causando arrepios. 
Ainda em silêncio, leva as mãos até os meus ombros e começa a
massagear. Na mesma hora, não consigo controlar, e acabo soltando um
gemido de satisfação. 
— Humm... Assim eu vou ficar mal-acostumada. — Jogo a
cabeça para trás, encostando em seu tórax.
Sinto seu peito vibrar com a risada que ele solta e beija minha
testa com carinho, sem parar a massagem nos meus ombros. 
— Eu ainda vou te mimar muito, Corazón. — Me olha nos olhos,
e ficamos assim, sem dizer mais nada um para o outro, mas com um olhar
cheio de promessas, até que Heitor toma a minha boca na sua, com gula e
sede, o que eu, claro, correspondo. 
 

 
 
Após nossa sessão de sexo no banheiro, viemos para o quarto e
dormimos a noite inteira. 
— Suas aulas já estão encerrando, né? — Heitor pergunta,
enquanto veste sua calça de moletom. 
Fico feliz com a menção ao encerramento das minhas aulas. 
— Sim! — Sinto o sorriso rasgar as minhas bochechas de tanta
felicidade. — É sério, eu amo minha faculdade, meu curso, mas preciso
desse fim. 
Heitor ri. 
— Sim, sim! Tô vendo — diz ainda rindo e se aproxima de mim
quando eu termino de me vestir. — Fico muito feliz que você estudar o que
tanto sonhou. — Me dá um beijinho casto nos lábios antes de continuar. —
Isso é só o começo das suas próximas conquistas. Você ainda vai conquistar
o mundo, mi amor. 
Sinto o meu coração quentinho com as suas palavras. 
Mas, para acabar totalmente com o clima, meu estômago resolve
fazer um barulho estrondoso, justamente nesse momento fofo. 
Na mesma hora, sinto meu rosto queimar de vergonha. 
Sério? Que vergonha, Senhor! 
Olho pra cara do Heitor, e o palhaço está comprimindo os lábios
para tentar não rir, mas ele está se segurando tanto, que acaba ficando
vermelho, até que não aguenta, e se acaba em uma gargalhada. 
Bufo de nervoso, e me viro pra ir descer pra cozinha. 
Quando já estou na escada, escuto o engraçadinho correr atrás de
mim, ainda rindo. 
— Calma, calma. Vamos lá alimentar esse leão aí dentro, vamos. 
— Haha... Engraçadinho. — Cruzo os braços, e ele me puxa pelo
ombro, e vamos andando até a cozinha. 
Assim que chegamos lá, começamos a tirar tudo da geladeira e
dos armários, para que a gente possa comer. 
Enquanto arrumamos as coisas, separando, frutas, ovos, bolo, pão,
suco, Heitor vai me contando sobre os seus treinos, e o quanto está
empolgado com a nova moto que está testando para a próxima corrida. 
Quando a mesa já está posta, vejo que a gente exagerou. 
— Eita! Tudo bem que eu estou, sim, com fome, mas acho que a
gente pegou pesado, hein? — digo rindo — A gente separou comida para
um batalhão.
— Ah, mas será que para o leão que rugiu aí vai ser suficiente? —
pergunta, segurando o riso.
Afino o olhar na direção dele e aponto o garfo que está na minha
mão, pois estava arrumando a mesa.
— Haha... Muito engraçado. — Heitor não liga para minha
ameaça explícita e gargalha. 
— Sério, então... Eu estava esperando pra te contar. Minha mãe
me ligou ontem, e falou que passaria aqui pela manhã. — Olha para o
relógio de pulso. — Inclusive, ela já deve estar pra chegar. 
— QUÊ? — acabo gritando. 
Heitor arregala os olhos com o meu grito. 
— O quê?
— Heitor! Sua mãe vai vir aqui e você me avisa agora? 
— Qual o problema? Já passou da hora de você conhecer a
sogrinha. — diz de modo safado. 
— Como eu vou conhecer a minha sogra assim? Eu nem fiz nada
pra ela. Olha a minha roupa? Meu cabelo? Merda... Ela não vai gostar de
mim. 
— Amor! — Heitor contorna a mesa, e segura meu rosto com as
duas mãos. — Primeiro: quem tem que gostar de você sou eu. Segundo: não
existe ninguém no mundo que não vá gostar de você. Terceiro: você mesma
acabou de falar que tem muita comida nessa mesa, e em quarto e último
lugar: você está linda. Sempre está linda. — Me dá um beijo lento,
passando sua língua para dentro da minha boca, me sugando, sentindo o
meu sabor e me fazendo sentir o dele. 
Começo a sentir o meu corpo mole e correspondendo aos seus
estímulos.
— Hummm... — Não resisto e acabo gemendo, mas de imediato
coloco as mãos no seu peito e o empurro. 
— Não, não, não... Nem pensar que eu vou conhecer minha sogra
assim. — Saio correndo para o andar de cima, mas antes de sumir de vista,
grito sobre o ombro. — Heitor, você me paga!
A resposta dele? Uma sonora gargalhada. E no fim, juro que
escuto ele me chamando de doida. 
Deixo-o lá embaixo terminando de arrumar a mesa e o corro para
o quarto.
A minha sorte é que acabei deixando algumas peças de roupa
minhas aqui na casa dele. Até parece que eu iria me apresentar para a mãe
dele de short e regata. O que ela iria achar de mim? Ai, que vergonha!
Corro para o closet do Heitor e encontro as roupas que eu deixei.
Escolho um vestido soltinho que vai até o joelho, e resolvo prender o meu
cabelo em um rabo de cavalo. 
Desço as escadas e ando até o sofá, arrumo uma almofada
milimetricamente, sinto que minhas mãos estão suadas e geladas, então
escuto passos e me viro, vendo Heitor vindo na minha direção, ele se
aproxima, segura o meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo, apenas
pressiona os seus lábios no meu, mas sinto que foi o suficiente para o meu
nervosismo aplacar um pouco. Quando separa os nossos lábios, eu solto a
respiração. 
— Por isso eu não te avisei antes. Sabia que você ficaria nervosa,
e não tem porquê. Fica calma, ela vai amar você — diz, ainda segurando o
meu rosto, e me dá um selinho. 
Apenas aceno, tentando me acalmar um pouco. 
Ouço a campainha tocar e prendo a respiração. Heitor sorri, me dá
outro selinho e vai atender. 
Vejo quando abre a porta e recepciona a mãe com um abraço e um
beijo no rosto. 
Após se cumprimentarem, Heitor fecha a porta atrás de si e traz
sua mãe para me apresentar, enquanto continuo parada. 
Sua mãe é linda, tem uma postura elegante, mas não esnobe, ela é
aquelas senhoras que marcam presença em qualquer lugar que estiverem.
Reparo que os olhos verdes, Heitor herdou dela. 
Ele vem em minha direção, e enlaça a minha cintura. 
— Mãe, essa é a Elena — apresenta. — Elena, essa é a Dona
Dulce. 
— Prazer em te conhecer. — Sorrio para ela. 
— Ah, deixe-me olhar você. — Dá alguns passos para se
aproximar mais de mim, e corre os olhos pelo meu corpo, fico ainda mais
nervosa. — Você é linda. — Sorri carinhosamente. 
Suspiro aliviada, sinto que ao menos na primeira impressão eu
passei. Ufa. 
— Ah, muito obrigada. — Fico envergonhada. — A senhora
também é linda. 
— Ah, por favor. — Faz um gesto com a mão. — Apenas Dulce.
Vem. Vamos nos sentar, eu quero saber tudo sobre você. 
Me tira dos braços do Heitor, e me arrasta até o sofá, onde
sentamos lado a lado. 
Heitor sorri com a atitude da mãe, mas não comenta nada.
— Bom, senhoras... Eu vou deixar vocês uns minutinhos
sozinhas, porque preciso fazer algumas ligações, mas volto em breve. — Dá
uma piscadinha e vai saindo em direção ao seu escritório. 
Dulce acena para Heitor, e rapidamente se vira em minha direção. 
— Me conte sobre você, querida — pede sorrindo. 
A conversa com ela flui naturalmente, e todo aquele nervosismo
que eu estava antes da sua chegada simplesmente evapora.
Dulce é naturalmente cativante, me deixando à vontade para
conversarmos. Tive medo de nossa classe social ser um empecilho para
dialogarmos, mas em momento algum fiquei desconfortável. 
Contei sobre minha situação familiar, e de como acabei ficando
responsável pela criação da Alice. Falei sobre a conclusão da minha
faculdade. Dos meus projetos para o meu novo emprego. 
Dulce foi gentil comigo em toda a nossa conversa, sempre
dizendo o quanto fui corajosa com o falecimento da minha avó, e do quanto
ficou orgulhosa por estar criando a minha irmã. 
— Fico feliz que meu filho tenha dado a sorte de conhecer uma
mulher tão maravilhosa quanto você, querida. — Segura minha mão e dá
uns tapinhas no dorso. 
— Seu filho também é maravilhoso. — Me aproximo mais dela,
como se fosse lhe contar um segredo. — Só não conta isso pra ele, pois ele
já é convencido o suficiente. 
Dulce gargalha. 
— Ah, você é maravilhosa, querida. — Me encara por um tempo,
e percebo o quanto suas feições estão suaves. — Você gosta mesmo dele,
não é? 
Fico surpresa com o questionamento tão direto, mas logo me
recomponho e respondo com toda a sinceridade. 
— Sim. — Sorrio e aperto sua mão. — Gosto muito do seu filho. 
Dulce sorri, anui e me olha com devoção. 
— Meu filho sempre foi um bom rapaz. — Olha para um canto
qualquer da sala, parecendo nostálgica. — Sempre tivemos a família muito
unida, sabe? Mas, infelizmente, eu e meu marido erramos muito. Não
soubemos lidar com a juventude do Heitor. Não soubemos separar os
nossos sonhos de pais, para o sonho e o caminho que o Heitor gostaria de
percorrer. E isso nos afastou demais. — Abaixa o olhar, e percebo que se
controla para não chorar. Respira fundo e retoma — Nesses últimos anos,
estamos retomando a nossa proximidade, e isso tem me deixado muito
feliz.  
— Te garanto que o Heitor também está muito feliz com a
reaproximação de vocês.  
Sorrimos juntas, e logo Heitor aparece de volta na sala. 
— Vamos tomar um café? 
— Sim, vamos. — Dulce se levanta, e vamos até a cozinha,
enquanto nós três conversamos sobre assuntos triviais. 
A manhã foi maravilhosa, conseguimos conversar bastante, e
Dulce aproveitou para me contar o quanto Heitor era uma criança arteira, e
decreta que não tem dúvidas que foi culpa dele o nascimento de cabelos
brancos em sua cabeça, o que me faz rir muito.
Algum tempo depois, Dulce se despede e vai embora, me fazendo
prometer que em breve a visitaria.
 

 
Após essa última viagem, terei algumas semanas de descanso, até
as próximas competições, então, consegui convencer Elena a passar essa
curta temporada na minha casa.
Não me vejo mais longe dessa mulher.
Listei inúmeros motivos para vir para cá, e após dias de
discussões, acabou cedendo. Os principais foram: Segurança; Comodidade;
Localidade e claro… Sexo maravilhoso todos os dias. Tenho certeza que foi
isso que a arrematou. Sorrio internamente.
Sendo assim, Elena e Alice estão na minha casa por uma breve
temporada. Palavras dela.
O sentimento que habita meu peito, só cresce cada dia mais, e sei
que não estou nessa sozinho.
Eu a ensinarei a ser minha. Darei tanto prazer à Elena, que ela
esquecerá o próprio nome. 
Estou na cama e Elena está em meus braços, ressonando baixinho.
Me forço a me levantar e com delicadeza a retiro dos meus braços, para não
acordá-la.
Vou para o banheiro, faço minha higiene matinal, e quanto retorno
vejo uma deusa nos meus lençóis, totalmente desperta e com um olhar no
meu corpo que me deixa quente instantaneamente.
Essa mulher é uma feiticeira.
Praguejo baixinho e, movido por puro instinto, me aproximo dela,
quase pulando para atacar, como um verdadeiro animal selvagem, do jeito
que eu estou me sentindo, por isso, tomo sua cintura com força, com posse.
Um urro sai da minha garganta ao senti-la encaixada no meu braço. Elena
não aguentou e soltou um gemido, me olhando com desejo, me convidando
com aqueles olhos cor de mel que me deixam de joelhos.
Seu cheiro de morango, do seu shampoo, junto ao seu cheiro
feminino de mulher, que me deixa louco, o seu calor me abraçando, seu
corpo colado no meu; em um gesto possessivo, a aperto mais contra mim,
para que ela sinta como me deixa alucinado, duro e babando por ela. 
Desço minha mão de sua cintura e começo a acariciar sua bunda
redonda, que me deixa cada vez mais duro, vou subindo minha camisa que
ela está usando, liberando sua bunda para a minha apreciação, enquanto
uma mão está na sua cintura, a outra continua a acariciar e apertar a sua
bunda, deixando Elena cada vez mais excitada, quente e pronta para mim. 
Eu a quero agora para mim. Embaixo de mim. Gemendo meu
nome enquanto goza loucamente no meu pau. 
Eu a quero enlouquecida por mim e para mim. Se não conseguir
fazer ela enlouquecer por mim, eu acabarei enlouquecendo, querendo cada
dia mais o seu corpo. 
Em um urro animalesco, começo a morder, lamber e chupar seu
pescoço delgado, a provocando, e ouvindo seus gemidos deliciosos. 
Ela está rendida e entregue em meus braços, me correspondendo
com a mesma fome que eu sinto por ela. Meu corpo está fervendo e duro na
expectativa por ela, louco para lhe dar e sentir prazer. 
Lambo seu lóbulo e arranho seu pescoço com a minha barba. 
— Minha! — sussurro em seu ouvido com a voz rouca, e volto a
morder o seu pescoço, pois eu a quero marcada por mim.
Eu a sinto tremer e gemer contra mim. Ela me olha e tenho
certeza de que consegue ver o fogo nos meus olhos, a selvageria e o perigo
que a aguardam. 
As mãos de Elena me buscam por todos os lados, ela agarra o meu
bíceps, meu quadril, minha nuca, eu a sinto tão enlouquecida e quente
quanto eu. Ela está tão receptiva, mas também possessiva e exigente, o que
me deixa mais louco para lhe oferecer tudo o que ela quer, tudo o que
deseja, tudo o que nós desejamos. 
Seus lábios ávidos buscam os meus, desço minha boca com
selvageria e a tomo para mim. Elena sufoca e geme em meus braços,
enquanto busco sua língua com a minha, sentindo o seu sabor, e a lambo
por dentro, buscando cada vez mais. 
Me sinto louco pelo desejo descabido que tenho por ela. Agarro
seus cabelos, a puxando para olhar para mim. 
— Seja minha! — exijo, roçando meus lábios nos seus, vermelhos
pelos nossos beijos. 
Elena levanta seus braços, enrolando no meu pescoço, enquanto
morde meus lábios para me provocar. Essa provocação vai diretamente para
o meu pau, o deixando mais sedento para entrar nela. 
— Eu já sou sua!
Porra!! Eu vou enlouquecer de tesão por essa mulher. Meu
coração parece querer sair do peito, de tão acelerado que está, eu sinto que
ela consegue ouvir o barulho dele batendo, de tão alto que ressoa.
Então volto a esmagar sua boca na minha, voltando a sentir o seu
gosto doce, movendo minha língua com sensualidade e desejo, como se eu
a estivesse fodendo com ela, deixando Elena lânguida e desejosa por mais,
gemendo chorosa por mais.
Num gesto rápido, a puxo para cima e a deito novamente, ela
parece surpresa, mas não lhe dou tempo para pensar, a puxo contra mim,
esmagando seus seios no meu peito, a apertando nos meus braços. Me
distancio um pouco, apenas para apreciar como ela é maravilhosa. Mi
diosa!
Acaricio suas coxas que estão ao redor da minha cintura, ora
apertando, ora lhe fazendo carinho, até chegar ao cós de sua calcinha; Elena
ofega com as minhas caricias, arquejando e me oferecendo mais, tocando
por cima da sua calcinha já posso sentir sua boceta encharcada por mim.
— Tão molhada para mim, Corazón — sussurro no seu ouvido, já
enlouquecendo.
Sem mais conseguir me controlar, a puxo com força contra mim,
encaixando-a perfeitamente no meu pau, me esfregando naquela boceta
quente e melada, protegida apenas por uma calcinha fina de renda, que eu
estou louco para arrancar com os dentes. 
Começo a pressionar e movimentar minha pélvis contra ela, para
que sinta o quanto estou duro e louco por ela, sem parar de encará-la, pois
não quero perder nenhuma reação sua. Quando vejo seus olhos nublados de
desejo por mim, quase jogo todo o meu autocontrole para os ares. Meu pau
clama por liberação, apertado na minha calça de moletom; ainda bem que
estou sem cueca agora, pois ele agora estaria estrangulado.
Sem mais me segurar, termino de subir a minha camiseta que ela
está usando, e ela me ajuda levantando os braços; assim que a retiro e jogo
em qualquer canto da cozinha, me distancio um pouco, ainda colando
minha pélvis na dela, meu corpo não aguenta manter uma distância maior
nesse momento. Aprecio a visão do paraíso. Elena é deliciosamente
perfeita. Juro que eu devo estar com a maior cara de babão, e,
sinceramente? Não dou a mínima, pois ela é maravilhosa! A mulher mais
linda, que eu já vi em toda a minha vida. 
Aqueles bicos rijos e rosados, apontando na minha direção, me
dava água na boca, se eu não estava babando, com toda a certeza o meu pau
estava. Porra! Eu estava tendo um teste para cardíaco, precisava me
controlar para não a atacar feito um animal. 
Ainda apreciando seu corpo maravilhoso enroscado ao meu, não
paro de acariciar suas coxas delgadas em volta do meu corpo, ela está
apoiada com as duas mãos em cima da mesa, deixando seus seios ainda
mais empinados para mim, e aquele rostinho de santa, já não está mais ali,
ela me olha com uma cara de safada que só me dá vontade de virá-la de
quatro e arremeter fundo nela, fazê-la gritar meu nome até esquecer o
próprio. 
— Você é maravilhosa, baby... Nunca vou conseguir te dizer o
quanto você é maravilhosa! 
Desço o rosto e passo a língua no cós da sua calcinha bem
lentamente, e sinto-a ofegar, e sua pele arrepiar pelo contato. Sopro em sua
boceta, mas a quero ainda mais louca para mim, eu a quero implorando pelo
meu pau dentro dela, e eu terei. Subo lambendo sua barriga, lambo em volta
do seu umbigo, e vou deixando um rastro de beijos e lambidas, ainda
acariciando suas coxas, até chegar ao seu bico, que implora por atenção, e o
ataco com selvageria, beijando, lambendo, sugando. Subo uma das minhas
mãos para dar atenção ao outro seio, enquanto Elena já não consegue mais
se controlar, ela geme loucamente, se esfregando cada vez mais no meu
pau, se oferecendo, e louca para conseguir sua libertação. Estamos os dois à
beira do precipício, sem nos importarmos com mais nada. 
Intercalo de um seio ao outro, e junto as mãos nos dois, então
começo a chupá-los avidamente, louco, pois a quero inteira.
— Quero te lamber inteira, te quero inteira — gemo rouco, a
olhando de baixo, enquanto ela quase grita de prazer apenas por me ter ali,
lambendo seus seios. Ah, Corazón, eu farei muito mais. Muito mais.
— Amor, me come... — geme, se esfregando no meu pau e
puxando meu cabelo. — Me come agora, eu já não aguento mais, quero
sentir o seu pau agora. Me come — pede chorosa. 
Era isso que eu queria, ela me implorando, e se eu já estava louco
antes, agora eu juro que vi tudo negro na minha frente. 
Desço minha calça, sem me preocupar em tirá-la totalmente,
liberando o meu pau. 
Deslizo minhas mãos para a lateral do seu corpo e seguro a lateral
da sua calcinha, e a rasgo em uma velocidade absurda, fazendo-a gritar de
susto, mas ainda volta a se esfregar, se oferecendo para mim. Com a sua
boceta e o meu pau livre, encosto meu pau em sua boceta piscando e
melada e começo a fazer um sobe e desce da sua entrada para o seu clítoris
com ele. 
— Você me quer? — Ela já não tem forças para me responder,
então só geme um “uhum”, mordendo seus lábios maravilhosos. — Quer
ser minha? 
— S-siim — Mal deixo-a terminar de me responder, e arremeto
fundo, sentindo sua boceta me apertando em espasmos; me movo para
prolongar o seu prazer, e a observo fascinado, sentindo-a gozar contra o
meu pau. Sinto sua boceta me sugando, e preciso de todo esforço do mundo
para não gozar igual a um garotinho, só vendo seu rosto de prazer. 
— Heitor — choraminga, enquanto goza em apenas uma
arremetida. 
Sentindo o seu corpo abatido pelo gozo forte, começo a arremeter
lentamente contra ela, em um movimento de entra e sai bem devagar, para
lhe dar um tempo de se recompor, desço minha boca para seu pescoço
avermelhado e suado pelo gozo, e começo a lhe dar mordidinhas e lamber
sua pele. 
— Isso amor, goze no meu pau.... Você fica ainda mais linda
gozando para mim.
Sentindo sua respiração se acalmando, começo a movimentar
minha pélvis. Elena então procura minha boca e seus lábios carnudos e
doces se moldam aos meus, e entramos em um beijo louco de tesão e
necessidade, com sua língua procurando a minha, e as duas dançando em
uma dança erótica.
— Você me deixa louco, Mi Diosa — confesso, com a minha testa
colada na sua. 
Começo as estocadas profundas que me deixam pegando fogo, e
senti-la tão entregue a mim está me levando à loucura. Porra! Ela é muito
gostosa, sua boceta me aperta de uma forma que só falta me estrangular.
Meu pau inchado vai e vem em seu interior, tomando tudo dela. 
— Mais rápido, você é muito gostoso — geme.
Seu jeito safado me deixa louco e começo a arremeter mais
rápido, ela me acompanha institivamente, e entramos em um movimento
ritmado dos nossos quadris.  
Seu rosto está totalmente corado e seu corpo coberto por uma fina
camada de suor pelo prazer que está sentindo; eu não estou muito diferente
dela. Me sinto em brasa. 
Elena geme e grita a cada estocada.  
— Rebola, gostosa. Rebola no meu pau. Me dá tudo — rujo
contra ela, arremetendo fundo contra sua bocetinha apertada. 
Ela rebola de um jeito delicioso contra mim, enquanto continuo
com as estocadas firmes. Ergo seu quadril para me aprofundar ainda mais
nela. Passo a bater forte e selvagem contra sua boceta melada, Elena está
enlouquecida de tesão, gritando coisas incoerentes, agarrada ao meu
pescoço, puxando meu cabelo da nuca. 
— Você vai gozar mais uma vez no meu pau, delícia — murmuro
com a voz rouca de tesão, trincando o maxilar para me segurar, e fazê-la
gozar mais uma vez antes de mim. 
Meto cada vez mais forte em sua carne, movimentando o meu
quadril para que minha pélvis esfregue seu clitóris, estocando com
intensidade, sinto suas unhas na minha nuca e costas, sua boceta se
contraindo e me sugando.
Quando a sinto gozando contra o meu pau novamente, o efeito é
imediato, fecho meus olhos e meu pau jorra forte contra seu interior,
pulsando; a aperto mais contra mim, para que me sinta bem fundo,
recebendo toda a minha porra. 
— Você é minha... apenas minha —sussurro rouco em seu ouvido,
enquanto ainda gozo em seu interior, sentindo os espasmos do gozo pelo
meu corpo. 
Com meu corpo trêmulo pelo gozo forte, a sinto deitar a cabeça
no meu peito, e meu coração trepida com uma sensação gostosa dentro dele.
Céus! Eu estou perdido. 
Senti-la assim, tão tranquila contra mim, descansando em meu
peito, me dá uma sensação de estar completo, algo que nunca senti antes.
Um sentimento novo para mim. Não consigo mais me ver sem ela ao meu
lado, não consigo mais me imaginar sem ela nos meus braços. Posso dizer
que esse sentimento é amor? Eu estou apaixonado? Eu amo Elena? Jogo
esses pensamentos de lado, ao menos por agora.
Afago seu cabelo, fazendo carícias até nós dois nos acalmarmos. 
Beijo sua cabeça, sentindo seu cheiro de mulher misturado com
morango, um cheiro doce que me deixa de joelhos. 
Ela levanta a cabeça, encostando seu queixo em meu peito. 
— Bom dia, gostosa — digo, lhe dando um beijinho na ponta do
nariz e descendo para sua boca já avermelhada pelos nossos beijos
trocados. 
 

O som da risada da mãe do Heitor é divertido e parece contagiar a


todos, pois logo toda a mesa está sorrindo. Um clima leve e sincero de
felicidade se instala no ambiente, e julgo ser frequente quando estão juntos.
Me pego olhando para Heitor, que está gargalhando alto de algo
que seu irmão lhe diz. Percebo que aqui, com sua família, ele é um homem
diferente do que aparenta do lado de fora. Não é o homem durão e de cara
fechada que demonstra para as pessoas ao seu redor. Seu olhar deixa claro o
amor que tem pela sua família, e eu só consigo me apaixonar ainda mais por
esse homem amoroso que é. 
Olho para minha irmã, e ela parece imensamente feliz com toda a
falação que estamos presenciando na mesa, pois ficamos muitos anos
apenas eu e ela, e antes disso ainda tínhamos apenas a nossa avó para nos
fazer companhia, o que não se compara a toda essa família. 
Durante todo o almoço e a sobremesa, constato que todos eles são
uma bagunça de falação, a mesa não fica em silêncio um único minuto, os
irmãos estão sempre de zoação e implicância um com o outro, e quando não
estão assim, a mãe sempre aproveita para recordar dos momentos de
quando eram crianças, causando assim mais zoação entre eles, o que
provoca ainda mais risadas em todos, até mesmo minha irmã já está
sentindo a liberdade de participar da zoação, e está rindo de todas as
histórias e implicâncias. 
Sua sobrinha, Laura, é um amor, uma garotinha muito esperta e
ciumenta com o seu tio predileto. Antonio não gosta nada disso,
nitidamente em competição direta com Heitor, o que faz toda a família se
acabar de rir.
A tarde voa, e quando olho através das janelas da sala de estar
onde estamos, vejo que já escureceu, demonstrando que devemos ir embora.
Heitor, que passou o tempo todo ao meu lado, sempre com suas
mãos em mim, ora segurando minha mão, ora apertando minha cintura, ou
envolvendo meus ombros, e também me fazendo sentar em seu colo, o que
claro me deixou vermelha igual a um pimentão, causando assim um
alvoroço de gargalhadas entre todos.
Eu e Heitor nos comunicamos apenas com o olhar, e logo nos
levantamos, nos despedindo de todos, e seu irmão Miguel aproveita e faz o
mesmo.
— Mas vocês já vão? — minha sogra pergunta quando estou lhe
dando um abraço de despedida.
O dia passou voando, e já está tarde. 
— Mãe, amanhã temos que trabalhar, e já está tarde. — Heitor se
justifica, antes que eu consiga lhe responder. — Mas não se preocupe, assim
que puder, voltaremos — promete. 
— E eu também — minha irmã avisa de imediato. 
Minha sogra gargalha da resposta rápida de Alice, e eu sinto o
meu rosto pegar fogo. 
— Alice! — repreendo baixinho. 
— Elena — Dulce pega minha mão acariciando —, deixe a
menina. — Me dá uma piscadinha e se vira para falar com minha irmã. — E
a mocinha é pra vir, sim, o quanto antes, pois estarei te esperando. 
Minha irmã se joga nos braços de Dulce, que a recebe de pronto. 
Sinto os braços de Heitor em volta da minha cintura, enquanto
esperamos minha irmã se despedir. 
 
 
 

 
Os dias na casa do Heitor tem sido maravilhosos, mas preciso
admitir que me sinto receosa em continuar.
A minha mudança que começou sendo para passar os dias de
folga junto com ele, acabou se tornando dois meses, e sim, ele já voltou a
trabalhar.
Sabe quando tudo está tão perfeito, que você tem medo de
estragar? Pois é!
Para completar minha extrema felicidade, finalmente fui chamada
para uma entrevista de emprego.
Estou super ansiosa para essa oportunidade, pois é uma empresa
grande, e a proposta salarial aparenta ser muito boa, e mesmo sem saber os
detalhes que serão tratados somente durante a entrevista, sei que a proposta
será o que busco, senão mais.
Agora só me resta ser aprovada. Detalhes.
Como passei a noite na casa do Heitor, assim como nas últimas
noites, das últimas semanas, dos últimos meses — gargalho mentalmente
—, ele me leva até o escritório.
Conheço a empresa que estou indo. 
É um grande escritório de arquitetura, já conhecida no mercado
em que atua, e ficarei muito feliz em fazer parte do quadro de funcionários. 
Heitor estaciona e sai do carro para abrir minha porta.
Toda vez que ele faz isso me sinto uma princesa da era vitoriana.
Adoro. Depois ele diz que não é um príncipe.
— Boa sorte, Corazón. — Beija meus lábios. — Essa vaga já é
sua. — Beija minha testa também.
— Obrigada, amor. — Fico na ponta dos pés e lhe dou um
beijinho rápido nos lábios, e saio apressada, pois se deixar, ficamos de
beijinhos e vou acabar perdendo a hora.
Lanço um beijinho de longe, fazendo um Heitor safado sorrir de
canto de boca. Sexy. Ai! que vontade de voltar e agarrar esse homem.
Senhor! Apaga esse fogo.
Entro no prédio, e a recepção é espaçosa e moderna, contendo
duas recepcionistas, me identifico com uma delas, que me indica o andar. 
Assim que chego ao andar correto, uma funcionária me entrega
uma ficha, que preencho e devolvo, a mesma me pede para aguarda, pois
logo serei chamada para iniciar a entrevista. 
Me direciona até um sofá, onde eu posso esperar. 
Se passam alguns minutos, e logo sou chamada para conversar
com uma funcionária do RH. 
Sou levada até uma sala de reuniões, e nos sentamos de frente
uma para a outra. 
— Elena. Prazer, meu nome é Fabiana. 
— Prazer, Fabiana — digo, balançando a cabeça. Não sei o que
fazer com as minhas mãos. Tô suando bicas. Ai, que nervoso!
— Não fique nervosa. — Sorri educada. — Eu sou a responsável
por realizar a sua entrevista. Vamos começar? 
— Claro. — Respiro fundo e me preparo para dar o melhor de
mim. 
Fabiana abre alguns projetos na mesa, e assim inicia a entrevista.
Apesar do meu nervosismo, consigo me apresentar e mostrar todo
o meu conhecimento e objetivos para a vaga que estou me candidatando. 
A entrevista transcorre normalmente, com ela me fazendo
perguntas de conhecimento sobre a área, e eu respondendo tudo o que
conheço, apesar de não ter atuado, pois sou muito dedicada nos estudos, e
estou sempre pesquisando para me atualizar. 
Quando terminamos, respiro um pouco mais aliviada, pois
consegui responder todas as perguntas, e acredito que fui clara e objetiva
em todas. 
— Gostei muito de você Elena — afirma sorrindo. — Você é
jovem, mas é muito clara no seu objetivo. Você me surpreendeu. — Recosta
na sua cadeira sorrindo. 
— Ufa, Que bom. — Sorrio de volta. — Espero que isso me
ajude. — Suspiro um mais calma. 
— Claro que sim. — Organiza os projetos que foram abertos na
entrevista e ajeita os papéis na mesa. — Bom, ainda temos alguns
candidatos para entrevistar, então, no final da seleção eu ligo para você,
ok? 
— Ok. Eu aguardo o seu contato. — Me levanto da cadeira para
me retirar. — Muito obrigada pela atenção, Fabiana. — Seco minha mão na
calça, e estendo para lhe cumprimentar. 
— Imagina. — Me cumprimenta de volta. — Boa sorte, Elena!
Agradeço e me retiro. 
Já na rua, suspiro aliviada por ter conseguido passar por tudo sem
desmaiar de nervoso. 
Ufa. 
Esfrego um pouco o peito para dispersar o friozinho que ainda
persiste, mas estou confiante que vai dar tudo certo. Se Deus quiser. Tem
que dar certo.
Deixo meus pensamentos de lado, e sigo para o ponto de ônibus,
pois até ser chamada, ainda preciso trabalhar na lanchonete. Bora para a
luta, Elena. 
 

 
CONSEGUI A VAGA!!!
No dia seguinte à minha entrevista, o escritório me ligou e
informou que a vaga era minha.
Estou em êxtase, pois, finalmente, após tantas tentativas, tantos
“Infelizmente você não é qualificada para a vaga”, ou “assim que surgir
uma vaga no seu perfil, entraremos em contato”, e assim nunca mais ouvi
falar na empresa, fui chamada.
Graças a Maya, consegui cumprir com o as horas de estágio, pois
me arranjou a vaga na empresa de seu pai, mas mesmo com toda sua
insistência, não aceitei ser efetivada lá, pois sempre carregaria a
“autocobrança” por não ter sido capaz de conseguir um emprego por conta
própria, e mesmo desesperada para arranjar um emprego na minha área,
sabia que estava tomando a atitude certa.
Quando recebi o telefonema, estava trabalhando e comecei a pular
tanto de alegria, que acabei chamando atenção de alguns clientes, mas,
principalmente, da minha amiga e antiga chefe, Dona Carminha. Sim, eu
não falei errado, agora ela é minha EX-chefe, pois assim que soube da
aprovação do meu novo emprego, a minha eterna amiga tratou de me
demitir e me mandou pra casa, pois eu deveria descansar para a nova fase
da minha vida. Palavras dela.
Carminha é um anjo, sempre tão compreensiva em vários
momentos da minha vida, ao longo desses últimos anos desde que nos
conhecemos, e sua atitude ao me dispensar foi simplesmente maravilhosa,
insisti para trabalhar até ela arrumar outra pessoa para o meu lugar, mas ela
tratou de me tranquilizar, falando que vivia recebendo novos currículos para
a vaga que ocupava, o que eu não duvido.
A despedida foi um chororô só, principalmente por mim.
Clarinha chorou bastante, e claro que eu ri em meio ao choro,
falando que ela só estava chorando, pois sobraria mais serviço pra ela.
Tenho vontade de rir com a lembrança.
Fiz um acordo informal com Dona Carminha e lhe devolvi a
multa pela minha dispensa, assim conseguiria sacar todos os meus direitos,
dessa forma, não prejudicaria minha amiga amada, e ainda ficaria rica.
Estou RICA! Só que não.
Com o dinheiro que recebi, vou conseguir ter um “respiro”, já que
vivíamos com a corda no pescoço, então nada de Maldivas por enquanto.
Alice ficou muito feliz por mim, assim como Heitor também, que
logo tratou de me levar para jantar em um restaurante maravilhoso.
Posso dizer de boca cheia que estou em uma das melhores fases
da minha vida.
Consegui o emprego que tanto almejava.
Minha irmã é maravilhosa.
E tenho o homem dos sonhos ao meu lado.
Como preciso esperar todos os trâmites de documentação ser
concluído para começar a trabalhar, então consegui os meus preciosos dias
de descanso.
Heitor, claro, aproveitou a oportunidade para me ter ao seu lado, o
que lógico, eu amei, então, quase todos os dias ele me pega em casa,
quando não durmo na sua, e vamos juntos ao seu treino.
Estou até me sentindo parte da equipe, já que todos são sempre
muito amáveis e atenciosos comigo.
Hoje mesmo tive o prazer de conhecer o empresário e amigo de
Heitor, Jeff Hestting, que passou os últimos meses em uma viagem.
Jeff é um amor, e foi uma espécie de “guia” quando Heitor estava
perdido em sua juventude, conquistando então a minha eterna gratidão.
Conversamos durante algumas horas essa tarde, e ri muito com as histórias
que me contou sobre diversas situações em que passou ao lado de Heitor.
Boa parte do dia fiquei apenas fofocando com Jeff, enquanto
Heitor treinava e conversava com toda a equipe. Ora dando voltas, ora
treinando seu reflexo, em uma espécie de pega-solta, sem olhar o objetivo
diretamente. Uma loucura.
O autódromo hoje está um pouco mais movimentado, já que
existem outras equipes treinando também. Pelo o que eu entendi, isso é
raro, mas acontece, porém, não é um problema, já que todos estão
realizando apenas reconhecimento de pista.
Estou nos fundos do box, sentada, olhando para um Heitor super
concentrado, encarando os monitores, sendo detalhista e profissional;
confesso que estou adorando vê-lo sempre uniformizado, hoje está usando
boné e camisa com o logo da escuderia, e para acompanhar, óculos escuros,
deixando seus olhos verdes escondidos. Toda a sua pose de piloto malvadão
o deixa imponente.
Aqui tudo faz parte do Heitor.
Até mesmo a música que toca de fundo é característica dele.
Nunca existiu a possibilidade de não me apaixonar por Heitor
Santiago.
Acompanhar a sua rotina com o trabalho que ele tanto ama.
Presenciar o afeto e carinho de sua família.
Sem contar o homem maravilhoso que é comigo.
Nunca tive chances contra o sentimento que sinto por ele.
Heitor caminha na minha direção e se abaixa para me selar nossos
lábios.
— Vou dar a última volta e já vamos embora, tá bom?
— Tá bom — sussurro de volta.
— Você vai dormir lá em casa hoje, né?
— Sim. Você combinou com o Marcos o horário de pegar a
Alice?
Sempre que eu durmo na casa do Heitor, levo Alice junto, pois
não gosto da ideia de ela ficar sozinha no nosso apartamento, e ele concorda
plenamente comigo, já que é bem insatisfeito com a super segurança do
nosso prédio.
Alice fica em um dos quartos de hóspedes que há no apartamento,
e ela ama, já que possui uma televisão master para ela maratonar suas
séries.
— Sim. Amanhã vamos sair cedo, quero te levar em um lugar.
— Onde?
— Surpresa — diz simplesmente, sorrindo e se virando e voltando
para junto a equipe.
Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça e o pego, vejo
que é Maya e atendo imediatamente.
— Amiga! Estamos livres! — ela grita assim que eu atendo. —
Juro pra você que estou com vontade de cantar: Livre estou! Livre estou!
Gargalho alto, e vejo que algumas pessoas me olham estranho. Ai
que vergonha.
— Maya sua louca, você consegue me fazer passar vergonha
mesmo de longe. Como pode?
A palhaça ri da minha cara, enquanto eu me levanto e me retiro do
box para não atrapalhar o povo com a minha risada escandalosa.
— É um dom amiga.
— Haha. Engraçadinha.
Essa alegria toda da Maya, e minha também, é pelo fato de termos
terminado a faculdade essa semana. Pois é. Não falei que estava na minha
melhor fase? Boy maravilhoso. Irmã maravilhosa. Emprego maravilhoso e
fim da faculdade. Quero mais o quê, produção?
— Sério. Precisamos comemorar o fim da tortura, amiga — diz
eufórica. — Finalmente chegou a hora de ficarmos ricas.
— Amém.
Conversamos mais alguns minutos sobre amenidades, e logo me
despeço.
Estou prestes a voltar para o box, para ver se Heitor já finalizou
sua volta, quando vejo um homem que parece ser de outra escuderia se
aproximando de mim com um sorrisinho galanteador, e passando a mão no
queixo pela barba por fazer. 
— Oi, lindinha, nunca te vi por aqui. — Se aproxima tão rápido
que fico sem reação, e logo toca minha cintura repentinamente. 
Sinto tanto ódio pela sua ousadia, que sinto o meu rosto queimar
de nervoso, mas antes que eu consiga abrir a boca para xingar esse folgado,
percebo que ele me solta com brusquidão, e o vejo grudado na parede à
minha frente. 
Heitor está com a mão ao redor do pescoço do homem, e vejo
seus dedos apertarem sua garganta, fazendo o homem ficar roxo. 
— Tá maluco, filho da puta? — Heitor rosna enfurecido na cara
do homem. 
Imediatamente, várias pessoas nos rodeiam para tentar separar
uma briga iminente. 
— Solta ele, Santiago — Jeff grita se aproximando do Heitor. 
Recuo alguns passos, pois não quero me machucar no meio dessa
correria, pois mesmo sabendo que Heitor nunca me machucaria, também sei
que em um provável tumulto, me machucar acabaria sendo inevitável. 
Vejo Heitor vermelho e com um olhar assassino em cima do
homem que me agarrou, ainda pressionando o seu pescoço, alguns homens
se juntam em volta dele para tentar fazer Heitor soltar, mas não conseguem. 
— Encosta a mão na minha mulher de novo, filho da puta —
cospe as palavras, fervendo de ódio. — Encosta de novo, que eu arranco a
sua mão, caralho!
— Heitor, se acalma, porra. — Jeff se aproxima e põe a mão no
ombro de Heitor, o apertando. 
Percebo que a tensão do seu corpo suaviza levemente, e ele
afrouxa um pouco o aperto no pescoço do homem, mas ainda sem soltar. 
Tomo coragem e me aproximo devagar, parando do lado do
Heitor, fazendo com que ele me veja, e diante dele, consigo ver o quanto
está nervoso e cheio de ódio; seus olhos estão vermelhos, e a mandíbula
trincada. 
Aproximo-me um pouco mais e toco o seu braço, o braço que
ainda está estendido mantendo o homem preso contra a parede. 
— Heitor... — chamo suavemente, apenas mantendo a minha mão
em seu braço. 
Sua expressão abranda, e finalmente retira a mão do pescoço do
homem que já estava ficando roxo e com os olhos esbugalhados, mesmo
Heitor tendo afrouxado o aperto um pouco antes. 
Heitor imediatamente passa o braço pelo meu pescoço, me
fazendo grudar no seu corpo. Escuto o homem tossindo loucamente,
tentando se recuperar do acontecido. 
— Está avisado, Anderson — diz, com a voz rouca e com a
mandíbula travada em sua direção. 
O tal de Anderson apenas tenta normalizar sua respiração, ainda
tossindo, endireita sua coluna para ficar ereto, mas não responde. Percebo
que sua equipe logo fica em volta dele e o retira daqui às pressas. Ele sai
sem olhar para trás. 
Sinto os dedos de Heitor na minha nuca, agarrando os fios dos
meus cabelos e me puxando para um selinho demorado. 
— Desculpe por isso, Corazón. — Abraça minha cintura, e
começamos a andar para nos afastar da multidão que se formou devido a
confusão. — Ninguém toca no que é meu. — Beija minha cabeça enquanto
estamos andando. 
Mordo o meu lábio para evitar rir nesse momento tenso. 
— Então eu sou sua mulher, é? — Arqueio a sobrancelha. — Não
sabia disso. 
Heitor para de andar e me encara, percebo um sorriso perverso
surgir em seus lábios e seu olhar em mim possui tanta intensidade que me
deixa nervosa. Sinto o meio das minhas pernas pulsar e minha calcinha
molhar. O safado com certeza deve ter percebido minha situação, pois
levanta a mão e fecha os dedos ao redor do meu pescoço, exatamente como
fez com o tal de Anderson, mas sem apertar, obviamente; desliza o polegar
suavemente pela minha garganta, fazendo minha pele queimar por onde o
seu dedo passa, força o meu queixo para cima delicadamente, apenas para
me fazer inclinar a cabeça para trás, me fazendo encarar os seus olhos que
faíscam em minha direção. 
Seus lábios roçam nos meus com cuidado, mas sem desviar
nossos olhares. 
— Você é minha, Elena — sussurra contra meus lábios. — Você é
minha — repete, arrastando seus lábios nos meus. — O seu corpo é meu. —
Passa a língua no meu lábio inferior. — E a sua boceta é minha. — Morde
meu lábio e o chupa em seguida. 
É isso. É o fim da minha calcinha. 
Não consigo controlar o gemido que escapa pelos meus lábios, e o
safado dá um sorriso convencido antes de atacar minha boca, chupando
minha língua, me devorando por dentro e me mostrando que realmente eu
sou dele. Meu corpo é dele. E foda-se. É mesmo. 
Provavelmente ainda tinha pessoas ao nosso redor, e com certeza
estávamos dando um belo show, mas não me importei com a exposição,
nem mesmo quando Heitor me apertou ainda mais contra si, me fazendo
sentir o seu pau duro contra minha barriga, me fazendo soltar um gemido
rouco contra seus lábios. 
— Vamos embora — sussurra rouco, roçando sua barba na minha
bochecha, me fazendo arrepiar e levando sua boca até meu ouvido. — Eu
preciso te foder a noite inteira, Corazón. 
Céus! Minhas pernas estão bambas, e quando Heitor chupa o
lóbulo da minha orelha, fazendo todo o meu corpo arrepiar, eu não tenho
mais forças para responder. Apenas me deixo ser levada embora, e vamos
direto para a sua casa, onde tenho certeza que irá cumprir com maestria a
sua promessa.
 

 
Acordo com o sol batendo em meu rosto, me viro para o lado e
vejo a cabeleira castanha da Elena no meu braço, enquanto ela ressona no
meu peito. 
Com certa dificuldade, consigo me levantar sem acordá-la. 
Levanto e encaro a cama, vejo-a em um sono tranquilo, e tudo o
que passa na minha cabeça é que eu não consigo mais viver sem essa
mulher na minha vida. Meu peito se aperta apenas em pensar nessa
possibilidade. Ela se tornou meu anjo. Minha inspiração. Mi Diosa. 
Ontem foi um dia atípico no circuito, com várias escuderias no
mesmo ambiente, foi quase como se estivéssemos em dia de corrida, para
mim não tem problema, nunca me apeguei a rixas com outras marcas, pois
todos estamos ali para darmos o melhor, mas o imbecil do Bill Anderson
gosta de me testar.
A mídia já nos taxou de rivais das pistas, já que ele é um piloto
não tão ruim assim, e consegue entrar em uma disputa comigo na corrida
para o pódio. Sempre perdendo. Mas sempre está lá.
Como eu já disse, não me importo com esses rótulos para vender
revista, e sempre tentei manter ao menos o respeito, já que amigos, não há
necessidade, mas o idiota do Anderson, deve ter muito tempo livre e ser
sadomasoquista, pois a cada oportunidade, gosta de levar um murro na cara.
Apesar disso, ele nunca realmente me tirou do sério, no máximo
eu apenas perdia a paciência, isso até ontem.
Quando terminei minha volta, busquei por Elena atrás do box, e a
vi de longe no telefone, então estava esperando terminar sua ligação para
me aproximar, então quando vi o peso morto do Anderson colocando as
mãos nela, vi vermelho.
Posso jurar que eu mataria aquele hijo da puta ali mesmo.
Apenas me acalmei quando senti as mãos de Elena sobre mim.
Empurro meu meus pensamentos para longe, para não me
arrepender de não ter enchido a cara do idiota de porrada, e em pé ao lado
da cama, vejo Elena se ajeitar e se aninhar ao meu travesseiro, como se
estivesse em meu peito novamente, sorrio fraco com a cena que aquece meu
coração. 
Vou ao banheiro para fazer minha higiene matinal, e depois
coloco uma calça de moletom, partindo para a cozinha preparar o nosso
café da manhã. 
Quando chego lá, sei que a Dona Lídia já deve ter deixado um
bom banquete para o café da manhã, então só vou retirando tudo da
geladeira para montar a mesa para nós. 
Pego suco, pão, bolo, frios, manteiga, requeijão, geleia e preparo
um café e ovos mexidos. 
Levo tudo para a mesa, e deixo pronto. Admiro meu trabalho, e
até que ficou bonito.  
Vou até o quarto e a vejo adormecida ainda. Como sei que ela está
cansada, prefiro não chama-la agora, e opto por espera-la acordar por conta.
Passo pela porta do quarto onde Alice está dormindo, e também
está fechada.
Pelo jeito, essas mulheres vão dormir até tarde hoje.
Alice troca fácil o dia pela noite, e só sai do quarto quando Elena
a tira de lá.
Com tudo pronto, chego até a sala de estar e vejo que o tempo
hoje está maravilhoso. 
Quando decidi ter uma moradia fixa nessa cidade, visitei vários
apartamentos, mas todos me pareciam “os mesmos”, sempre todo fechado,
“apertado”, sempre sem vida. Cheguei até em cogitar comprar uma casa,
mas por ser apenas eu, achei um exagero, então continuei na busca e me
decepcionei a cada visita e tempo perdido. Quando estava quase desistindo,
o corretor me ligou avisando sobre um apartamento que tinha certeza que
eu iria gostar, e ele não errou.
O prédio é de um apartamento por andar, o que eu já gostei, pois
gosto da minha liberdade e não gosto de ficar encontrando vizinhos
curiosos no corredor, ou ter que ficar fingindo uma simpatia apenas para
manter “os bons modos”. Porra nenhuma! Gosto da minha liberdade, e da
minha privacidade.
O meu apartamento fica no 41º andar, e assim que passei pela
porta de entrada, sabia ele seria meu. Porra! Ele é maravilhoso demais.
Possui uma sala ampla, com uma cozinha americana, mezanino que leva até
os quartos, que são três, o que eu achei um exagero, mas mais é melhor que
menos, não é mesmo? Os quartos sempre ficavam desocupados, pois como
eu disse, gosto de privacidade, e nunca gostei de ninguém aqui tirando a
minha. Mas hoje vejo que fiz a coisa certa, pois assim Alice pode dormir
aqui sempre que a Elena topar. 
 E o que me fez “bater o martelo” na compra, foi a vista que tenho
da cidade pela minha sala de estar. Tendo toda a parede de vidro, me dá
uma visão privilegiada da cidade e isso me encantou assim que passei pela
porta, e fechei sem pestanejar o valor que o corretor passou. Eu só queria
esse apartamento para mim. E cada dia que olho essa vista, sei que tomei a
porra da decisão certa. 
Eu sempre deixo uma poltrona virada para a vista e de costas para
a sala de estar. 
Caminho até a poltrona e sento, olhando para a cidade, e
admirando o quanto estou feliz com a vida que tenho. 
Em todos esses anos, nunca percebi o quanto eu era solitário.
Espera, não me julgue. Não estou reclamando da vida que eu levava, pois
bem sabemos que aproveitei, e muito. Mas, hoje, olhando para o meu
passado, vejo o quanto eu era vazio. O que eu tinha? Mulheres por uma
noite? Qualquer uma que eu quisesse? Sim. Mas hoje eu tenho a absoluta
certeza de que trocaria todas por apenas uma. Trocaria todas para manter
Elena comigo. Saber que ela está aqui na minha casa, no meu quarto
dormindo, me acalma, e isso é fodido pra caralho. Sei que esse sentimento
que cresce no meu peito a cada dia mais não é apenas paixão. Sei que eu
estou fodido, e foda-se, pois afastá-la não é uma opção.
Fico divagando aqui, admirando a paisagem, até que escuto
passos na escada.
— Heitor? — Olho sobre o ombro vejo Elena apoiada no
corrimão da escada, vestida com a minha camisa, que chega até o meio das
suas coxas, e com uma carinha de sono. 
— Vem cá — Estendo a mão para ela. 
Ela não perde tempo, vem até mim e senta no meu colo, escalando
o meu corpo, e essa sensação de ter ela no meu colo, em um lugar que me
traz tanta paz, me deixa muito feliz. 
Passo a mão pela sua coxa, subindo até a sua bunda durinha, e
percebo que está nua embaixo da minha camisa que está usando; sinto sua
pele aquecer, e isso desperta o meu pau esfomeado por ela. 
— Acho que dormi demais — diz com a voz risonha. Sua cabeça
está virada para o vidro, também admirando a paisagem diante de nós.
Também percebo sua voz sonolenta. 
— Sei que estava cansada, preferi te deixar descansar um pouco. 
— Você sendo bonzinho? — pergunta com cara de sapeca, e beija
a minha mandíbula. 
— Eu posso ser muito bonzinho com quem merece. — A aperto
mais contra meu peito. 
— Meu bem, eu sempre mereço sua bondade — responde,
deitando sua cabeça pro lado e cheirando o ar, o que é engraçado pra
caramba. — Que cheirinho de café. Me deu fome — diz, fazendo cara de
pidona. — Alice já levantou?
— Não, Alice ainda não saiu do quarto, e a mesa está pronta pra
gente comer, dramática — digo, fazendo cócegas nela, pela sua cara de pau
em fazer drama. — Mas acho que o os ovos mexidos já esfriaram faz
tempo, já que eu tinha uma bela adormecida no meu quarto. 
— Sério? — Arregala os olhos — Mesa pronta? Então quer dizer
que tem mais coisa além de café e ovo? 
Não resisto e acabo gargalhando da sua surpresa. 
— Nossa, Elena! Do jeito que você fala, até parece que eu te
deixo a base de pau e água. 
Agora quem começa a gargalhar é ela. Ela ri tanto que os olhos
começam a lacrimejar. 
— Pau e água? — questiona, ainda rindo e limpando os olhos das
lágrimas que escaparam de tanto rir. 
— É o que você tá dando a entender. Eu sempre te alimento —
digo indignado pela sua cara de pau. 
— Não é isso amor. — Me dá mais beijinhos na mandíbula e
pescoço, e começa a acariciar o meu peito. — É que eu estou com fome.
Muita fome. 
— Então levanta, preguiçosa. Vamos comer — digo, pronto para
me levantar. 
— Não, não. — Continua beijando meu pescoço, e agora começa
a descer pelo meu peito. 
— Elena! — digo, já com a voz rouca, em sinal de alerta. 
— Estou com outro tipo de fome — Me olha com o olhar cheio de
tesão. 
— Eu criei um monstro — digo, acariciando sua mandíbula e
descendo até o seu pescoço esguio. 
— Que você vai ter que cuidar e amar. 
— Com muito prazer, safada! — assinto, a puxando para um beijo
cheio de tesão e saudade.  
Sinto seu corpo se remexer em cima do meu, e meu pau pulsa
dentro da calça. 
Deixo tudo de lado, todas as minhas preocupações e todos os
problemas, e me preocupo apenas em satisfazer essa mulher maravilhosa
que está no meu colo, clamando por mim. Apenas por mim. E me perco no
seu corpo maravilhoso. 
 

 
Após Elena ir ao quarto de Alice e a puxar da cama para
tomarmos todos um café da manhã, peço para se arrumar para sairmos.
Alice fica na minha casa, enquanto levo sua irmã para sair.
Já estou acostumado em ter as duas na minha casa. Gosto de tê-las
lá.
Os últimos dias estão quentes, então quero levar Elena para um
passeio pela orla da praia mais próxima, e depois vou levá-la para um
restaurante que possui um mirante com uma vista incrível.
Já estamos há uma hora e pouco de viagem, mas estamos
chegando. 
Quando entro na cidadezinha, reduzo um pouco a velocidade, e
assim consigo apreciar um pouco mais Elena na minha garupa. 
Seguro sua mão que está na minha cintura, e coloco em minha
coxa, e começo a acariciar os seus dedos finos. 
Pouco tempo depois, chegamos ao nosso destino. 
Desligo o motor e apoio o meu pé no chão. 
Trouxe Elena ao litoral mais próximo de nossas casas 
Aperto o seu joelho que está na minha cintura e deslizo um pouco
a mão para cima, alisando a sua coxa macia, vou fazendo movimentos
circulares e apertando conforme vou subindo a mão. 
— Aqui é lindo —murmura Elena, passando as mãos embaixo da
minha camisa, tocando o meu peito nu. 
Retiro a mão da sua coxa e me inclino um pouco, ficando de lado
pra ela, e passo o braço em sua cintura, puxando Elena para ficar na minha
frente. 
— Que maravilha que você está de vestido hoje, mi amor — digo
sussurrando no seu ouvido. 
Curvo o corpo de Elena sobre o tanque da moto e seguro sua
nuca, fazendo-a ficar com a bunda empinada na minha direção. 
Enquanto uma mão está na sua nuca, passo a minha outra mão na
sua bunda, subindo o seu vestido, e deixando sua polpa à vista para o meu
deleite. 
Faço Elena erguer o corpo, apenas o suficiente para enganchar a
mão na lateral da sua calcinha e estourar a renda na sua pele, fazendo ela se
assustar. 
— Hei — ronrona, se levantando. 
— Calma, amor — peço, guardando a calcinha no bolso da minha
calça e passando a mão na sua pele macia da sua bunda redondinha,
mantenho o vestido enrolado na sua cintura, e vou passando a mão ali,
sentindo sua respiração ficar acelerada, entregando sua excitação. 
Toco sua boceta e não me surpreendo ao encontrar ela
encharcada; vou beijando sua nuca, subindo até seu lóbulo. 
—  Você é maravilhosa — digo no seu ouvido e dedilhando seu
clitóris. 
Elena põe sua mão para trás e enfia dentro da minha cueca, me
masturbando com maestria. 
Se inclina um pouco mais, possibilitando nos beijarmos, enquanto
ambos nos masturbamos, como dois desesperados pelo corpo um do outro.
Fico ainda mais louco de tesão quando a sinto ficar ainda mais molhada, e
sua buceta piscar nos meus dedos. Elena me fascina com a forma de entrega
dela comigo. 
Continuo chupando sua língua, e alternando entre o seu pescoço. 
— Empina essa bunda gostosa pra mim, amor — sussurro,
mordendo sua nuca. 
Puxo meu pau duro pra fora, assim que eu vejo a bunda branca
direcionada pra mim, esperando. 
Pincelo meu pau na sua bocetinha meladinha, enquanto a Elena
vai gemendo baixinho, abaixando a cabeça e rebolando contra mim, toda
safadinha. 
— Ai, que delicia, Heitor — murmura manhosa. 
Mantenho as mãos no seu quadril, e vou estocando o meu pau
bem lentamente, possuindo seu interior em um ritmo lento. 
Olho ao redor, pois mesmo sabendo que estamos em uma praia
deserta, preciso me preocupar com a integridade de Elena, jamais a exporia
dessa forma. 
Sinto Elena rebolar, ondulando o corpo contra mim, enquanto vou
metendo cada vez mais fundo. A gostosa geme enquanto esfrega seu clitóris
na curvatura do tanque da moto, se aproveitando. 
Agarro seus peitos durinhos por cima do tecido do vestido
mesmo, pois não podemos ficar nus em cima da moto, infelizmente. Mas
consigo sentir seu mamilo intumescido de tesão. 
Vou aumentando o ritmo das estocadas, sentindo-a me espremer,
mostrando que está cada vez mais próxima de alcançar o seu orgasmo. 
— Goza no meu pau, gostosa — sussurro rouco no seu ouvido,
enquanto com uma mão aperto seu quadril, e com a outra aperto o seu
mamilo. 
Elena geme baixinho, se contorcendo e se esfregando na moto,
enquanto soco na sua bocetinha gulosa. 
Aumento as estocadas e sinto quando ela estrangula meu pau e
convulsiona, se entregando ao orgasmo. Não me seguro mais, e também me
entrego ao meu prazer, gozando dentro dela, junto com ela. 
Encosto minha testa nas suas costas, a fim de acalmar minha
respiração, e conforme vou me acalmando, vou dando beijinhos nas suas
costas, pois também está ofegante. 
Assim que nossas respirações se normalizam, arrumo o vestido da
Elena o melhor possível, e guardo meu pau dentro da calça novamente. 
Ajudo-a a descer da moto e desço também, abraçando sua cintura
e ficando de frente. 
Dou um beijo na sua testa e um no seu nariz, e quando ela enruga
a testa, acabo dando risada da sua caretinha linda. 
— Que loucura, Heitor ... — fala baixinho, abaixando a cabeça.
— Eu nem me lembrei de tomar cuidado, e se alguém nos visse? 
— Hei, linda — chamo, levantando o seu queixo para ela me
olhar. — Eu jamais te exporia dessa forma. Eu tinha tudo sob controle. Não
vem ninguém pra esse lado da praia, e eu fiquei esperto a todo momento. 
Elena fica me encarando um tempo, olhando nos meus olhos, até
que coloca a cabeça no meu peito e sussurra:
— Eu confio em você Heitor. 
A aperto mais contra mim, e sentindo a brisa do mar contra nós, e
ficamos assim, abraçados, escorados na moto, admirando o pôr do sol em
uma praia deserta. 
E assim, com ela nos meus braços, nesse lugar paradisíaco eu
percebi o quanto eu estou fodido, porque com essa garota nos meus braços,
eu sou capaz de qualquer coisa. Qualquer coisa para mantê-la assim, sempre
comigo. 
 

 
Resolvo levar Elena em um restaurante conhecido no litoral. Fica
em um mirante, que nos deixa com uma vista linda do mar. Simplesmente
perfeito. 
Após estacionar a moto, sigo de mãos dadas com Elena para a
entrada do local, onde já dá para ter um vislumbre da vista que teremos. 
— Nossa! Aqui é lindo! — Elena diz, com os olhos brilhando
virados para a vista. 
Abraço sua cintura, e a trago para mim, beijando sua testa. 
— Você é mais. — Aperto-a mais contra mim. 
Elena dá um tapa de brincadeira no meu peito e sorri. 
— Essa cantada é muito brega, Heitor. — diz ainda rindo. 
Levo minha mão no peito, fingindo sofrimento. 
— Não me maltrata, amor. 
Ela gargalha. Seguro seu rosto e beijo seus lábios, apenas para
sentir seu sabor novamente. Não me canso nunca de senti-la em mim. 
— Vamos almoçar? — digo, quando nos separamos. 
— Sim. — Sorri animada, e volta a olhar a vista. — Estou
morrendo de fome. 
— Então vem minha, draguinha — falo, dando risada da sua cara
de brava quando a chamo assim. 
Seguro sua mão e seguimos até a entrada do restaurante, onde
somos recepcionados pela hostess, que nos direciona para uma das mesas
que fica virado para a parede de vidro, onde temos uma visão privilegiada
do mirante, o que deixa Elena muito feliz. 
E assim, curtimos o nosso almoço.  
 

 
Entro no quarto e escuto um zumbido elétrico, vejo que a porta do
banheiro está aberta e o barulho vem de lá, por isso, vou naquela direção e
me deparo com a visão do paraíso.  
Heitor está em frente ao espelho, e fico observando seus braços
fechados com tatuagem, o peitoral também, e suas costas cheias de
músculos, com marca das minhas unhas das nossas últimas noites; ele está
usando apenas de cueca boxer preta, fazendo a barba com o barbeador
elétrico. Sorrio com a visão, e vou até ele, o abraçando por trás, e encosto o
meu rosto em suas costas. 
— Não tira tudo — peço. — Amo quando sua barba arranha
minhas pernas. 
— Seu pedido é uma ordem. — Sorri e se vira, me aninhando em
seus braços. 
— Meu Deus. — Dou um tapa no seu peito firme e musculoso. —
Você já tá duro? — Dou risada. 
— Eu estou sempre duro por você, Corazón. — Passa o nariz em
meu pescoço, me fazendo arrepiar. 
— Vai pra onde? — Me afasto um pouco para poder olhar para
ele. 
— Tenho treinamento hoje. 
— Hum... Bom treino. — Dou um beijinho nos seus lábios. 
— Vem comigo?  
— Não posso. Hoje tenho que passar lá no meu apartamento.
Tenho algumas coisas pra resolver lá em casa. 
— Não pode ficar aqui? Gosto de chegar em casa e te ver aqui. —
diz sorrindo. 
— Hoje não posso mesmo. — Abraço seu pescoço. — Mas acho
que consigo resolver tudo lá em casa rapidinho, e assim que terminar eu
venho pra cá, pode ser? 
— Ótimo. Te levo agora pra casa então, e peço para o Marcos te
buscar depois, já que hoje provavelmente vou acabar saindo mais tarde.
— Você sabe que não precisa, Heitor. Posso muito bem pegar um
ônibus.
— E você sabe que isso não está em discussão, Mi amor. — Pisca
pra mim através do espelho. 
— Sim, senhor mandão. 
Saio do banheiro para deixar que ele termine de fazer a sua barba,
e logo ele retorna de banho tomado e começa a se arrumar para sairmos. 
 

 
Saio do meu prédio com o celular na mão, e já avisto Marcos me
aguardando na calçada do prédio. 
— Bom dia, Marcos — digo sorrindo 
— Bom dia, o Heitor pediu para levar a senhora até o
apartamento. 
— Sim, ele me avisou. Obrigada — agradeço quando ele abre a
porta traseira do carro para que eu entre. Ele apenas acena com a cabeça e
fecha a porta, dá a volta no veículo, e se acomoda no seu lugar. 
Marcos coloca o carro em movimento e assim seguimos o
caminho até a casa de Heitor. 
Fico mexendo no celular, conversando com a Maya, que nem
percebo o tempo passar.  
Percebo que o carro está em alta velocidade e levanto o olhar,
constatando que realmente estamos muito rápido. Olho para o Marcos e
percebo que ele está tenso, olhando a todo o momento para o retrovisor. 
Marcos faz uma manobra para desviar dos carros na nossa frente,
e fica cada vez mais rápido, me assustando. 
— Marcos? — chamo. 
— Fique calma, senhora — diz, sem olhar para mim, dirigindo
feito louco, e olhando pelo retrovisor. 
— O que está acontecendo? Algum problema? 
— Não precisa ficar preocupada, senhora, mas no momento
estamos sendo seguidos.
Na mesma hora viro a cabeça, e vejo um carro correndo tanto
quanto nós, ultrapassando vários veículos para nos alcançar; todo o meu
corpo gela com um medo desconhecido. — Vai ficar tudo bem, senhora. 
— Mas porque estão seguindo a gente? É loucura! 
O carro que estava nos seguindo consegue ficar muito, muito
perto de nós, e quase bate na nossa traseira. 
Marcos acelera ainda mais, forçando o motor da SUV a ficar cada
vez mais distante, mas, infelizmente, não é o suficiente, porque batem no
nosso carro, e capotamos. 
 

 
 
O meu treino de hoje foi mais breve do que o esperado, então se
eu correr consigo buscar Elena no seu antigo apartamento. Sim ANTIGO.
Porque sua casa é a minha.
Desde que a conheci sabia que ela era diferente das outras, então
porque esperar? Vou pedi-la em casamento.
Se as pessoas acharem muito rápido? Sou piloto. Velocidade é a
minha vida. Ótima desculpa, para quem não entender que o sentimento que
sinto por essa mulher é inexplicável.
Pego meu celular e vejo uma notificação de mensagem do
Marcos, avisando que já pegou Elena na casa dela, e a está levando para o
meu apartamento. 
Como estou de moto, se eu for rápido, consigo pegar eles no
caminho, e pego minha garota do carro para levar ela na minha garupa. 
Apanho a jaqueta que estava jogada no meio do alojamento e vou
direto para a garagem, já que o alojamento já está totalmente vazio. 
Chegando na garagem, pulo na minha moto, coloco o capacete
que estava lá e dou partida. 
Estou em alta velocidade na rodovia, fazendo o mesmo caminho
que o Marcos provavelmente faria, após pegar a Elena.
Não sei explicar o motivo, mas sinto um aperto no peito que me
faz ter a necessidade de estar perto dela nesse momento, um aperto sem
motivo ou explicação, porque sei que ela está no carro com Marcos agora,
mas quero ela comigo. Aqui. Na minha garupa, com os braços ao redor da
minha cintura. Em segurança. 
Acelero a moto, fazendo ela chegar a quase 200km por hora, o
que é perfeitamente normal a velocidade pra mim, mas que, com certeza,
vai atrair a atenção dos poucos carros que eu ultrapasso. 
Quase no final da rodovia, consigo avistar a SUV onde está Elena,
mas logo percebo que Marcos está em alta velocidade, e que tem uma
caminhonete preta os perseguindo; estou a uma distância considerável,
então acelero ainda mais, para chegar mais perto e tentar fazer alguma
coisa, pois percebo que a caminhonete bate na traseira da SUV novamente. 
Para o meu desespero, não consigo chegar rápido o suficiente e
vejo o momento exato em que a caminhonete acelera um pouco mais, e
consegue bater na quina da traseira da SUV, fazendo-os perder o controle.
Ouço o pneu cantar e vejo o carro capotar. 
Uma, duas, três, quatro. 
QUATRO vezes. 
Sinto todo o meu corpo gelar, sem acreditar no que estou vendo. 
A caminhonete que causou todo o acidente volta a acelerar e ir
embora pela rodovia, e eu não entendo porra nenhuma, mas toda a minha
preocupação está em como Elena está. 
Preciso dela. 
Preciso ver como ela está. 
Céus, que ela esteja bem. Sã e Salva. 
Preciso protegê-la. 
Não posso perdê-la. 
Não posso!
Sem me importar com porra nenhuma, salto da moto assim que
me aproximo da SUV que está com os pneus pra cima, ainda girando. 
Corro até o carro e forço a porta até abrir. 
— Elenaa! Elena — berro, para que ela me responda. 
Mas não ouço nada. 
Forço a porta para abrir, mas não consigo, deve estar travada. 
Ouço um barulho, quase um gemido, e me abaixo para tentar ver
pela janela. 
Vejo que Marcos está consciente, abaixando o airbag de seu rosto,
e percebo que ele está tentando tirar o cinto de segurança. 
— Calma! Eu vou tirar vocês daí — grito e me levanto. 
Continuo tentando abrir a porra da porta, mas não consigo. 
Vejo um carro se aproximar, o motorista salta e vem correndo. 
— Eu vi o acidente de longe, deixa eu te ajudar. 
Não digo nada, e só continuo puxando. 
Com a força de nós dois, conseguimos abrir. 
Me agacho, desesperado para encontrar Elena. Ela precisa estar
bem. 
Então vejo o amor da minha vida... Ela está presa e bastante
ferida, sangue escorre de sua testa e há escoriações pelo seu rosto, pescoço
e braços, devido a sua janela, que está estourada. Pendurada de cabeça para
baixo, eu a escuto soltar alguns gemidos de dor. 
— Elena — digo, engatinhando até ela, e seguro sua cabeça, mas
ela não me responde. — Elena, amor, fica comigo. Eu vou te tirar daqui, tá
bom? 
Ela não me responde, apenas continua gemendo de dor. 
— Eu preciso de uma faca, um canivete, qualquer coisa — grito
para o cara que me ajudou a abrir a porta, e que estava lá fora. 
Continuo segurando sua cabeça, e ouço um barulho na parte da
frente do carro; percebo que tem outra pessoa ajudando Marcos, tentando
soltar o seu cinto de segurança. 
— Você está bem? — pergunto ao meu amigo. 
— Estou sim, chefe. — Percebo a voz falhada, mas, ainda assim,
fico aliviado por ao menos ele estar consciente. 
A pessoa consegue o ajudar com o cinto de segurança e ele
finalmente se solta, e como está consciente, ele consegue apoiar as mãos no
teto do carro e descer sem brusquidão. 
Fico aliviado por ele estar bem, e quero que ele saia o quanto
antes de dentro desse carro. Essa porra pode começar a vazar gasolina.
— Então sai da porra do carro. Alguém já deve ter chamado uma
ambulância para atender vocês. 
Vejo ele se arrastando pela janela aberta e escuto o cara do lado de
fora. 
— Aqui! — grita e joga o canivete na minha perna, para que eu
possa pegar. 
Pego e começo a cortar o cinto. 
— Elena, amor, fala comigo. 
Coloco o meu corpo embaixo do seu, para que ela caia em cima
de mim. 
Conforme vou cortando o cinto, coloco a outra mão em sua
cintura, para ela não cair bruscamente e se machucar ainda mais.  
Assim que consigo cortar o tira de tecido, ela cai em cima de
mim, mas consigo fazer com que desça o mais suave que a situação
permite; seguro sua nuca, para evitar que aconteça algum movimento
brusco e piore as coisas. 
Escuto ela gemer de dor e se mexer em cima de mim. 
— Heitor — sussurra. 
— Calma, amor, eu vou te tirar daqui. Aguenta só mais um
pouquinho. 
Tento ter o maior cuidado do mundo para manter o seu pescoço
imobilizado. 
Saio do carro com ela nos meus braços, e vejo o Marcos sentado
na guia da calçada, percebo que ele está visivelmente tonto. 
Olho para os lados e não vejo nenhuma ambulância. 
Mas que caralho! Porque a demora? 
Ainda com Elena nos meus braços, olho para o cara que me
ajudou com a porta, e decido. Porra nenhuma que vou esperar ambulância. 
— Cara, me ajuda? Me ajuda a levar minha mulher pro hospital
mais próximo, por favor. 
— Claro. Entrem no carro. 
— Marcos! — grito. O Cara que está do lado dela, que é de outro
carro que parou para ajudar, também olha pra mim.  
— Ajuda ele a entrar no carro, por favor? — peço, olhando para o
cara que eu não conheço. — Vamos para o hospital agora, Marcos, não
podemos esperar. Vem. 
Rapidamente o cara apoia meu motorista até o carro e o coloca no
banco do carona. 
Me acomodo com Elena no banco de trás e apoio o seu pescoço,
tentando imobilizar o máximo que posso. 
— Amor, fala comigo — sussurro.
— Dói muito... 
— Eu sei, amor, já vai passar, mas tenta se manter acordada, tá
bom? Fica comigo. Não me deixa, amor. Fica comigo. Fica comigo... —
falo como se fosse uma prece. — Já estamos indo pro hospital. Vai ficar
tudo bem — digo, beijando sua cabeça, que está no meu peito. 
O carro consegue chegar rápido ao hospital. 
Assim que chegamos, o motorista salta, gritando e pedindo por
socorro, dizendo que tinha duas pessoas acidentadas no carro. 
Abro a porta do veículo e peço duas macas urgente. 
Vários médicos e enfermeiros vêm correndo em nossa direção, e
abrem também a porta do Marcos, que parece estar piorando. 
— Aqui! — Alguém vem trazendo uma maca. 
Vem outro médico até mim e me pede para deitar Elena na maca
que trouxeram, e vejo que tem uma para Marcos também. 
— Vai ficar tudo bem meu, amor. Vai ficar tudo bem — vou
sussurrando, enquanto a deito na maca. 
Assim que consigo colocá-la completamente na maca, os médicos
saem a empurrando para dentro do hospital, fazendo os procedimentos
necessários também. 
— Ela... elaa... — arfo, porra! Mal consigo raciocinar. Respiro
fundo e começo a falar novamente. — Ela sofreu um acidente. Por favor,
cuidem dela. 
— Certo. — O médico pendura o estetoscópio no pescoço e
começa a orientar a equipe, ainda a empurrando. — Vamos, rápido! 
Eu vou acompanhando a maca, até que eles passam por uma porta
dupla e sou proibido de passar. 
Antes de as portas se fecharem, vejo uma mecha dos seus cabelos,
tão vivos, pendendo para o lado de fora da maca, e assim, de repente, me
sinto sozinho, infeliz. 
Meus pés pesam uma tonelada. 
Meu coração bate tão forte no peito, que sinto que vai sair pelo
meu tórax. 
Não consigo respirar! 
Minhas pernas fraquejam e eu caio, engasgando enquanto tento
puxar oxigênio. 
— Senhor. — Sinto uma mão no meu ombro, mas não consigo
olhar a quem pertence. — Senhor, se acalme! Sua mulher vai ficar bem, por
favor, espere por notícias na sala de espera. — Continuo em silêncio, de
cabeça baixa, ainda tentando colocar ar nos meus pulmões. — Tem alguém
que o senhor quer que eu chame para vir até aqui? — A voz da pessoa soa
apreensiva. 
Tombo a cabeça para trás, tentando recuperar um pouco o controle
da minha respiração. 
— Eu... Preciso .... Vê-la — falo entre arfadas. 
Vejo que quem está ao meu lado, ainda apoiando a mão no meu
ombro, trata-se de uma senhora, provavelmente enfermeira do hospital, que
me olha com um olhar gentil. 
— Agora ela sendo cuidada pelos nossos médicos, e logo você
poderá vê-la. — Afaga minhas costas, pois permaneço de joelhos em frente
a porta, por onde a maca de Elena passou. — Preciso que o senhor tenha fé
e aguarde na sala de espera. 
Sinto meu corpo todo tremer, mas forço meu corpo a me
obedecer, e me ergo, com a ajuda da senhora ao meu lado. 
— Isso aí, meu jovem. — Ela sorri calorosa. 
— Eu preciso que ela fique bem. — Ofego, os meus olhos
queimando pra caralho. 
— Ela vai ficar. Agora se acalme, quando ela acordar, vai precisar
que você esteja bem ao lado dela. 
Assinto, e sou encaminhado até a sala de espera 
 

 
Fico na sala de espera, com um misto de sensações de medo e
apreensão, com Elena ainda dentro daquela sala de emergência, sem ter
nenhuma notícia sobre seu estado. 
O motorista que nos trouxe até o hospital veio falar comigo assim
que cheguei até a sala de espera, e nem consegui lhe dar muita atenção,
apenas lhe agradeci muito, e ele já foi embora. 
Um médico veio falar comigo sobre a situação de Marcos, e
informou que ele está bem e que logo estará no quarto. 
Agora estou com o celular na mão, pensando em quem ligar, pois
ainda preciso de alguém para falar com Alice. Porra! Ela vai ficar
desesperada. 
Estou prestes a furar o chão de tanto andar de um lado para o
outro e sem ter mais o que fazer, faço a ligação para alguém que vai me
ajudar. 
Assim que ele atende a chamada, percebe a urgência na minha
voz. 
— Papa.... — minha voz embarga. — Necesito ayuda[35]. 
— Heitor? O que aconteceu? 
 
 
Meu pai veio correndo para o hospital, acompanhado da minha
mãe. 
Ambos me abraçam, e ficam dizendo que estava tudo bem. 
Sem muita demora, meu pai entrou no hospital, pois é amigo do
dono, e está se inteirando do assunto para me informar, e pedi para a minha
mãe ir até o apartamento da Elena, para ficar com a Alice. 
Meus irmãos já estão cientes do acontecido, e falaram que estão a
caminho também. 
Estou apenas seguindo no automático, com todos ao meu redor,
pois meu único foco é o estado de saúde da Elena. 
Um médico já veio falar comigo sobre o estado de saúde do
Marcos, e graças a Deus ele está bem. Apesar do susto, teve apenas
algumas escoriações e luxações, mas nada grave, vai ficar no hospital
apenas por vinte e quatro horas, só para observação, e após isso será
liberado. 
Infelizmente, não estou com cabeça para ir visitá-lo agora, mas
pedi para todas as despesas dele serem encaminhadas para mim, pois vou
arcar com tudo. 
Porém, é Elena quem não sai do meu pensamento por nem um
minuto. Lembrar o quanto ela estava machucada rasga o meu coração. 
Ela vai ficar bem! Ela tem que ficar bem! 
Eu não vivo sem essa mulher do meu lado. 
Vejo meu pai virar o corredor, e vir na minha direção. 
Levanto do banco na mesma hora, e sinto o meu coração disparar,
e o corpo gelar de medo. 
— Calma, hijo! — Se aproxima e põe a mão no meu ombro. —
Elena está fora de perigo! 
No mesmo instante, solto o ar que não percebi que estava
prendendo nos meus pulmões. 
Sinto um peso enorme sair dos meus ombros, e meus olhos
molharem de emoção. 
Não resisto e puxo o meu pai para um abraço. 
— Posso vê-la? 
— Não, filho, ainda não. Apesar de Elena estar fora de perigo, os
machucados dela ainda são graves. Ela bateu forte com a cabeça, e isso fez
com que tivesse traumatismo craniano, e também teve duas costelas
fraturadas. — Meu pai aponta o banco onde eu estava sentado, em um
pedido silencioso, para que eu volte a me sentar, o qual eu obedeço, e ele se
senta ao meu lado. — Ela foi colocada em coma induzido para ajudar no
processo de recuperação. Filho, Elena é uma mulher forte, e logo estará
aqui com você novamente. O corpo dela agora só precisa de um descanso, e
com todo o cuidado necessário, logo ela estará novinha em folha
novamente. 
— Certo! — concordo. — Obrigado, pai. Obrigado por vir até
aqui correndo. Por se informar de todo acontecido, e por estar aqui comigo.
Obrigado mesmo. 
— Para com isso! Eu sou seu pai. Onde mais eu estaria? 
Meneio a cabeça e encosto na parede, fechando um pouco os
olhos, apenas para agradecer a Deus por ela estar bem. 
Senti uma paz enorme no meu coração, com as informações que o
meu pai me deu. Apesar de ter se machucado gravemente, está fora de
perigo, e na situação em que estamos, só isso me basta. 
Escuto passos se aproximando, e vejo meus irmãos vindo ao
nosso encontro. 
Ambos me abraçam, e perguntam sobre o estado de saúde de
Elena e Marcos. 
Após atualizar os dois, peço a ajuda deles para outro assunto
envolvendo esse acidente. 
— Eu vi a batida! — digo puto. — Eu vi o carro batendo neles e
fugindo. Aquilo não foi um acidente! Jogaram o carro pra cima deles de
propósito, sequer diminuíram a velocidade depois do ocorrido. Eu preciso
entender o que aconteceu. Preciso da ajuda de vocês pra isso. Miguel, você
ainda tem o contato daquele seu amigo delegado? 
— Sim — confirma de imediato. — Sou o médico das filhas dele. 
— Ótimo. Pode pedir a ajuda dele com esse assunto? Quero quem
causou isso atrás das grades ainda hoje. — Sinto o meu sangue ferver. 
— Deixa comigo, irmão. Vou ligar pra ele agora. — Me dá um
abraço, e sai com o celular no ouvido. 
— Vou ligar pro nosso advogado também, para agilizar todo o
processo — Antonio fala, e confirmo com a cabeça. 
Após esse assunto alinhado, preciso ligar para a minha mãe, para
falar com a Alice. 
Apesar de tudo, sinto que vai ficar tudo bem.
 
 

 
1 SEMANA DEPOIS 
 
Sinto o meu corpo pesado, extremamente dolorido. 
Respirar dói. 
Minha garganta arde, e a sensação que tenho é a de que tem algo
dentro dela. 
Tento abrir os meus olhos, mas só enxergo a escuridão, e isso faz
o meu coração acelerar, mas ainda não consigo sair dessa escuridão. 
Ouço vozes ao meu redor, mas não consigo responder. 
Uma voz deixa meu coração aquecido. É ele. Heitor. 
— Amor... Acorda... Volta pra mim. Eu estou aqui com você. 
Tento acordar, olhar em seus olhos, mas não consigo.  
Meu corpo não responde aos meus comandos. 
Sinto-o pesado. Parece que tem uma tonelada em cima de mim, e
acabo gemendo de dor. 
Escuto uma movimentação próxima a mim, mas não consigo abrir
os olhos. 
Em alguns momentos, tenho a sensação de que não vou conseguir
voltar, mas quando escuto a voz dele, tenho forças para continuar tentando. 
— Hei, Corazón... Está dormindo demais. Volta pra mim, meu
amor. 
Continuo a tentativa, e quando consigo abrir os olhos, os sinto
queimarem com a iluminação que está sobre mim. 
Onde estou? 
Quando meus olhos já estão acostumados com a claridade ao meu
redor, começo a observar o local, e percebo o barulho de bip-bip do meu
lado,  
Estou em um hospital? 
Ao lado do aparelho, está o homem da minha vida. Heitor está
encolhido na poltrona, dormindo. 
— H-Heitor. — Tento chamar seu nome, mas sinto minha
garganta extremamente seca e minha voz sai falhada e rouca, mas, mesmo
assim, ele desperta e pula da poltrona, vindo até mim. 
— Corazón! Você acordou! — Se abaixa, e começa a beijar todo
o meu rosto. — Obrigado, meu Deus! 
— Está tudo b-bem! — tento dizer, mas minha voz continua
saindo rouca e falhada. 
— Está sim, amor, agora está! — Heitor afaga meu cabelo e
acaricia minha bochecha, em um carinho leve. — Vou chamar o médico.
Aperta o botão em cima da minha cabeça, e volta a me fazer
carinho.
Sinto os meus olhos pesados, mas não quero voltar a dormir. 
— O que aconteceu? 
— Você sofreu um acidente amor. — Vejo que está tenso. — Qual
a sua última lembrança? 
Fico um pouco parada, tentando organizar minhas memórias, e a
recordação me assusta. Heitor percebe, pois aperta sua mão na minha. 
— Eu me lembro. — Ofego. — O carro bateu na gente. — Heitor
confirma com a cabeça, mas não diz nada. — Por quê?  
Heitor me conta que a  pessoa que estava dirigindo o carro que
bateu em nós era o homem que me assediou naquele dia no paddock, um tal
de Bill Anderson, o rival de Heitor nas corridas.
O motivo? Apenas uma tentativa para desestabilizá-lo. Absurdo!
Como pode existir tantas pessoas doentes nesse mundo?
— E Marcos? Está bem?
— Está sim, linda. — Responde suave, me dando um beijo na
testa. — Ele sofreu apenas escoriações leves, e recebeu alta no dia seguinte
ao acidente.
— Que bom. — Suspiro aliviada.
— Você me assustou muito, mi amor — seus olhos estão
marejados, fazendo os meus ficarem iguais. — Nunca mais me dê um susto
desses! — Beija meus lábios de uma forma sofrida, apenas os selando, mas
transmitindo tanta emoção que nossas lágrimas descem pelas bochechas. —
Eu não vivo mais sem você ao meu lado.
— Eu te amo Heitor! Eu te amo muito. — Solto entre soluços.
— Eu te amo Elena! Sempre vou te amar. — Me abraça
suavemente.
 

 
O dia que despertei no hospital foi recheado de exames, passei o
tempo todo sendo levada de uma sala a outra para exames mais detalhados,
e quando estava no meu quarto recebendo visita dos médicos para
avaliação.
Heitor não saiu do meu lado em nenhum momento, e mesmo
visivelmente cansado, segurou minha mão o tempo todo.
Alice passou esses dias que estive em coma na casa dos pais do
Heitor, já que o próprio estava aqui comigo, e meu amor por seus pais só
aumentou ainda mais.
Hoje receberei visitas da família de Heitor e da minha irmã, e
estou ansiosa para ver a todos, sei que o acidente que tive foi sério, e quero
estar perto de todos para minha felicidade estar completa.
— Lena! — Alice entra no quarto do hospital me procurando, e
percebo seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, e quando me vê,
seus lábios tremem e ela corre em minha direção. 
— Oi, meu amor! — Abraço seu corpo e seguro um gemido de
dor, mas vejo que Heitor, que estava logo atrás da Alice, percebe, mas,
assim como eu, não fala nada, e agradeço por isso. — Eu estou bem, meu
amor. 
— Eu fiquei com tanto medo, Lena. — Alice soluça no meu
pescoço, e eu afago suas costas, tentando lhe acalmar. 
— Eu estou bem, meu amor. Foi só um susto. Tudo terminou bem.
— Beijo seus cabelos. 
Pelo canto do olho, vejo que que passa pela porta os pais de
Heitor junto com seus irmãos, todos sem mantém em silêncio, respeitando
meu momento com Alice.
Fico abraçada com Alice mais alguns minutos, esperando que se
acalme, e quando se afasta um pouco, ainda agarrada a mim, consigo dar
atenção aos outros na minha volta.
— Que susto que nos deu, hein cunhadinha! - Antonio é o
primeiro a falar sorrindo. — Fico feliz que esteja bem. — se aproxima e
afaga minhas mãos. — Logo logo estará cem por cento recuperada, nos
certificamos disso.
Heitor me contou que seus irmãos o ajudaram a encontrar o
culpado pelo meu acidente, já que conheciam um delegado, e graças a esse
contato que o processo foi acelerado, e as investigações foram rápidas.
Contou-me também que foi seus irmãos que o impediram de ir
atrás de Bill antes que a polícia o prende-se.
— Eu só tenho a agradecer à vocês. — Olho ao redor do quarto,
dirigindo o meu olhar a todos. — Muito obrigada mesmo, por tudo.
Heitor se aproxima do outro lado da cama, e beija meus cabelos.
—  Não há o que agradecer, linda. Eu te amo!
— Carajo! Elena só precisou quase morrer pro Heitor falar que a
ama. — Diz fingindo surpresa, causando risadas em todos, menos em mim
que ao tentar rir, senti uma dor agoniante nas costelas.
— Gilipolas! Eu já tinha falado antes.
A gargalhada no quarto aumenta, e eu só acaricio o rosto de
Heitor, dizendo que o amo também.
O momento apesar da situação é de descontração, e me sinto feliz,
apesar do corpo doendo.
 

 
Já se passou três meses desde o acidente.
Elena teve uma recuperação tranquila, e graças a Deus já está
totalmente recuperada.
Bill Anderson continua preso pela tentativa de homicídio contra
Elena, e me certificarei para que ele continue assim.
Nunca imaginei que o seu ódio contra mim fosse tão grande.
Acreditava fielmente que ele apenas exercia o papel que lhe foi
dado pela mídia, e no máximo não se afeiçoava por mim, assim como eu
não ia com a cara dele.
Nunca vou me perdoar por não ter enxergado quem ele realmente
era.
Quando o delegado me informou o nome do motorista que causou
o acidente de Elena, eu custei a acreditar que tinha ouvido direto, e após a
ficha cair, queria eu mesmo ter ido buscá-lo para o levar para a delegacia.
Custou para meus irmãos me segurarem, e ainda assim me
deixaram trancado em uma das salas da delegacia para que eu não saísse,
me liberando apenas quando Anderson já estava sendo interrogado.
Graças a  amizade que meus irmãos tinham com o delegado, fui
liberado para assistir ao interrogatório através do vidro.
O filho da puta confessou o crime, e ainda teve a cara de pau de
falar que seu único interesse pelo crime era me desestabilizar para a
próxima corrida.
Quero que esse Cabrón apodreça na cadeia, já que não pude eu
mesmo acabar com sua vida.
 

 
Hoje é a primeira competição que participo desde o ocorrido e
estou muito feliz que tudo terminou bem.
A adrenalina de estar sobre uma moto, em curvas arriscadas,
dentro de uma competição que vale todo o empenho de uma vida, onde eu
sei que darei o meu melhor, e alcançarei o pódio.
Eu amo a euforia da corrida. 
Sempre que chego ao Paddock e escuto as pessoas gritando o meu
nome, me sinto realizado por ter o meu trabalho, que tanto me dediquei,
sendo reconhecido e valorizado. 
Entro de mãos dadas com Elena no Paddock para mais um dia de
corrida. 
Chego ao boxe e já encontro os mecânicos fazendo os últimos
ajustes na minha moto. 
Sinto os dedos da Elena me apertarem e fazerem um carinho nos
meus dedos ao mesmo tempo, essa é sua forma de dizer para eu me
acalmar, e só preciso disso e olhar nos seus olhos para sentir a minha
adrenalina ser controlada o suficiente. 
Cumprimento a todos, e logo subo com Elena ao meu lado para a
suíte que me foi disponibilizada para aguardar o horário da corrida. 
Ficamos apenas eu e ela na suíte, enquanto ouço minha playlist
para me acalmar, e quando dá o horário, Elena me ajuda a colocar o meu
macacão e me abraça, como sempre faz. 
— Essa corrida é sua, campeão! — Segura o meu rosto com as
duas mãos, me olhando nos olhos. 
Seguro firme sua cintura, e a aperto contra mim, lhe dando um
beijo demorado, para sentir o seu sabor.  
— Para dar sorte. — Sorrio e pisco, fazendo ela rir. 
Descemos e os mecânicos me ajudam com o restante dos
equipamentos. 
Assim que subo na moto, olho para trás e vejo Elena sorrindo para
mim, e noto seus lábios dizendo silenciosamente. 
— Eu te amo. 
— Eu te amo — retribuo da mesma forma, sem ter certeza que ela
conseguiu entender, pois já estou de capacete. 
Ela não sabe. Mas hoje eu irei provar para ela, e pra todos aqui
presentes, o quanto eu amo essa mulher. 
Minha localização não é das melhores, mas isso não será
problema, pois essa corrida é minha. 
As luzes acendem, e como sempre acontece, sinto o meu coração
começar a se acalmar, me sentindo incrivelmente calmo e controlado.
Acelero, e ouço o ronco do motor.
Meu corpo treme em cima da moto com a força do motor. 
Rapidamente consigo ultrapassar algumas motos, mas não estou
na liderança, ainda assim, consigo avistar que quem ocupa a primeira
posição da corrida é o piloto 48. 
— Sua distância é de quatro segundos do 48 — Giovanni, meu
chefe de equipe, fala pelo bluetooth. 
— Entendido. 
A corrida continua, e consigo me manter em segundo lugar. 
Essa corrida é minha, o 48 só não sabe ainda. 
Realizo a volta do circuito e consigo me aproximar ainda mais. 
— Dois segundos de distância, Santiago. — Ouço meu chefe de
equipe novamente. 
— Esse pódio é meu — respondo calmo.
Essa vitória é minha, por um motivo especial.
Sempre fui muito competitivo, e nunca me contentei com um
pódio em que eu não estivesse no topo, e hoje não será diferente. 
Sinto meus pneus queimando no asfalto, e consigo parear minha
posição com o primeiro colocado. 
Meu coração acelera, e quase parece tão acelerado quanto a moto
que estou pilotando. 
Faço o contorno da última curva e vejo a bandeira quadriculada. 
Já consigo ouvir a multidão enlouquecida gritando o meu nome, e
balançando as bandeiras da minha escuderia. 
Acelero pedindo ainda mais da minha moto, e ela não me
decepciona, me fazendo atravessar a linha de chegada em primeiro lugar. 
A multidão começa a pular na arquibancada, e balançar as
bandeiras loucamente. 
— Venci, Porra! 
Em comemoração, realizo Whellie, e, como sempre, a
arquibancada vai a loucura. 
Paro a moto, desço e tiro meu capacete, deixando em cima do
banco, e ergo os braços para a multidão, em forma de agradecer toda a
torcida. 
Olho em volta e vejo a minha equipe chegando, mas a pessoa que
detém de toda a minha atenção está no meio deles, vindo com um sorriso
enorme na minha direção para me abraçar. 
Antes que ela chegue ainda mais perto, eu me ajoelho, e percebo
que ela paralisa de olhos arregalados. 
— Vem aqui, amor — chamo, com a mão estendida, esperando
para ela se aproximar. 
A multidão está ensandecida, e consigo ver que já tem repórteres
se aproximando para captar melhor o momento, mas nada disso importa,
pois toda a minha atenção está na mulher à minha frente. 
— Heitor.... — diz baixinho, se aproximando. 
— Amor... — Limpo a garganta, e aproveito para retirar a aliança
dela que havia colocado no bolso da frente do meu macacão, já que a
caixinha ficou inviável. 
Espero Elena ficar na minha frente, seguro o anel na minha mão e
a escuto ofegar 
— Elena, antes de conhecer você, eu achava que meu lar era em
cima da minha moto e estar aqui no autódromo. Eu não tinha ideia do
quanto eu estava errado! — Solto um riso frouxo, e tento me acalmar.
Respiro fundo, e continuo — Quando eu te conheci, entendi que você é o
meu lar. Meu lar é onde você estiver. Eu te amo, Elena, e quero acordar
todos os dias com você ao meu lado. Casa comigo? 
Elena está com as mãos na frente do rosco, tentando conter as
lágrimas que deslizam pela sua bochecha, em vão, e sorri com o meu
pedido. 
— S-Siim! — Vem rindo na minha direção e se joga no meu colo,
comigo ainda de joelhos. A agarro assim mesmo, e a beijo
apaixonadamente, deslizando minha língua pelo seu interior, sentindo o
sabor da minha garota.
 
 

 
— Você é a noiva mais linda do mundo! — Alice fala,
emocionada ao me ver vestida de noiva. 
Decidimos fazer um casamento intimista, e por mim tudo bem,
pois a minha parte é super pequena, já que não tenho família além da minha
irmã, e apenas alguns amigos queridos, agora, já da parte de Heitor, meu
Deus, pensei que precisaríamos reservar um campo de futebol para
celebrarmos a nossa festa de casamento, mas, me surpreendendo, ele optou
por fazermos algo pequeno, para termos ao nosso lado apenas para pessoas
que realmente nos importam, que amamos e nos amam. 
Mas, mesmo sendo uma cerimônia “pequena”, minha sogra me
instruiu a contratar uma cerimonialista para que pudesse me ajudar, e assim
eu não ficasse sobrecarregada com nada. 
Fui surpreendida com uma cerimonialista rosnando ordens no
jardim dos meus sogros, para que toda a decoração ficasse perfeita. E vou te
falar uma coisa, cada rosnado que eu a ouvi dando aos quatro ventos valeu a
pena. Está tudo perfeito. 
Minha sogra insistiu para que fizéssemos o nosso casamento em
seu jardim, e não aceitou não como resposta. E como poderíamos negar? O
lugar já é lindo no dia a dia, mas hoje? Está parecendo uma coisa de outro
mundo. 
Conseguiram fazer uma reprodução de um deck, com flores da
estação e brancos de madeira, deixando tudo com um ar muito romântico, o
que só me deixa ainda mais emocionada em ter um casamento tão perfeito,
com o homem que eu amo, e saber que a família dele se preocupou tanto
em deixar tudo perfeito. 
— Eu te amo! — Abraço minha irmã, sem me importar em
amassar o meu vestido, só quero sentir minha irmãzinha nos meus braços. 
— Para, não vai chorar que é cafona. — Funga, secando os olhos. 
Acabo soltando uma gargalhada da sua hipocrisia, e seco o canto
dos meus olhos também. 
— Noivinha — a cerimonialista vem até mim —, chegou a hora.
Estão prontas? 
Seguro firme a mão da minha irmã e sinto meu coração acelerar
de ansiedade. 
— Sim. — Sinto um sorriso enorme rasgar o meu rosto, tamanha
minha felicidade. 
— Perfeito. — Sorri. — Vou pedir para colocarem a música para
vocês entrarem. — E do mesmo jeito que ela veio correndo, ela retorna. 
Heitor e eu não escolhemos padrinhos, e optei por colocar apenas
Alice como minha dama de honra, entrando alguns passos antes de mim. 
Eu sei que em alguns casamentos colocam crianças para entrar
junto com a noiva, daminhas e pajens, mas, eu não consigo ver ninguém
mais além da minha irmã entrando comigo. 
Alice está usando um vestido longo em um tom de rosa-bebê, um
tom único, mas barra do seu vestido parece ter flores coladas; flores na
mesma cor do vestido. Ela está linda, parecendo uma princesa. 
Seguro minhas flores com força em minhas mãos quando escuto a
música de entrada começar a tocar. 
As portas se abrem, e antes de entrar, Alice olha por cima do
ombro e me manda um beijo. 
Fico parada um tempo, antes de começar o caminho até o amor da
minha vida. 
Respiro fundo, tentando acalmar a ansiedade do meu coração, e
quando me sinto pronta, inicio minha caminhada. 
O caminho está repleto de flores que minha irmã jogou. 
Alice já está lá na frente, no primeiro banco, sorrindo e com os
olhos brilhando de emoção, está se segurando para não chorar, mas sei que
não vai aguentar por muito tempo. 
Meus sogros e os irmãos de Heitor estão ao seu lado também, tão
felizes quanto minha irmã. 
Miro meu olhar no altar e lá está ele... Perfeito! Céus, como um
homem desses pode existir? Meu coração, que estava acelerado, parece
paralisar quando meu olhar se prende ao dele. Seus olhos brilham na minha
direção, e mesmo de longe, parece que o verde está mais claro, mais
cristalino. 
Heitor está absolutamente lindo, com um smoking azul-escuro,
refinado, que moldou e evidenciou todos os seus músculos; o safado
conseguiu ficar ainda mais gostoso.
Meu rosto esquenta com o olhar dele sobre mim, sinto que
enxerga a minha alma. Ele me olha com tanta admiração, com tanto amor,
que sinto meus olhos marejarem, pois o amor que tenho por esse homem é
tão grande, e consigo sentir que o sentimento dele por mim é do mesmo
tamanho. 
O caminho até o juiz de paz não é longo, mas meu maravilhoso
noivo pelo jeito está mais ansioso do que eu, pois quebra as regras e não
espera até que eu chegue a ele, me encontrando na metade do caminho,
segurando minha cintura e encostando sua testa na minha, respirando
fundo. 
Escuto ao fundo nossos convidados rirem, e alguns soltarem
piadinhas sobre Heitor ser mesmo corredor, pois não aguentou esperar pela
noiva, mas nem me concentro nas vozes, eu só consigo sentir o corpo dele
grudado ao meu, suas mãos em mim, e o som da sua respiração tão
acelerada quanto a minha. 
— Você está perfeita! — Olha nos meus olhos e procura minha
boca para um beijo profundo, quebrando mais uma tradição, da qual eu não
me importo. 
Quando nos separamos, eu só consigo sorrir por sua intensidade, e
ele me dá o seu braço para que eu possa entrelaçar o meu, e seguirmos até o
juiz para iniciarmos então a cerimônia. 
Quando chegamos até o juiz, que está com um sorriso feliz em
nossa direção, pouco se importando com as regras que foram quebradas, eu
olho para o meu vestido, um vestido com o qual eu nunca sonhei, pois
achava impossível encontrar um homem que eu me permitisse amar, e que
me amasse de volta, que me respeitasse e que estivesse ao meu lado em
todo momento, e o mais importante, um homem que amasse minha irmã
como sua irmã também, e aqui estou eu, ao lado de um homem que possui
tudo o que eu sempre desacreditei existir e muito mais. 
Mal presto atenção nas palavras do juiz de paz, pois só consigo
admirar o homem ao meu lado, que também não tira os olhos de mim. 
Quando chega a hora de trocarmos as alianças, Heitor me
surpreende, pois não tínhamos combinado votos, e enquanto desliza a
aliança no meu dedo, começa a dizer. 
— Você é meu tudo, Elena. Não me vejo nesse mundo sem você.
Você é meu ponto de partida e chegada, e eu prometo te amar, te respeitar,
te proteger, e ser leal a você todos os dias da minha vida. — Heitor me
beija, como seu eu fosse o seu fôlego. — Eu te amo, Corazón. — Olha nos
meus olhos, com os seus brilhando de lágrimas não derramadas. 
Escutamos o juiz de paz arranhar a garganta para chamar nossa
atenção, já que quebramos mais uma regra, e acabo sorrindo, ainda olhando
em seus olhos. 
Pego a aliança para colocar no dedo do Heitor e seguro sua mão,
deslizando a aliança. 
— Você apareceu na minha vida como um herói, e se transformou
no homem da minha vida. No meu amor. Eu sou pra sempre sua, Heitor. —
Sinto uma lágrima teimosa deslizar pela minha bochecha. — Eu te amo, pra
sempre.  
Assinamos e finalmente somos declarados marido e mulher. 
— Eu vos declaro, marido e mulher. — Sorri para nós. — Agora
sim, pode beijar a noiva. 
Todos riem e aplaudem, enquanto Heitor me puxa para um beijo
avassalador de tirar o fôlego.
Me afasto sorrindo, imensamente feliz, e vejo agora nossa família
se aproximando para nos cumprimentar e felicitar. 
 
8 ANOS DEPOIS
 
 
Administrar a própria empresa não é fácil, mas faço com muito
prazer.
Após cinco anos trabalhando com escritório  Buarque & Fonseca,
consegui experiência e caixa suficiente para arriscar abrir o meu próprio
negócio, e posso dizer sem sombra de dúvida, que tomei a melhor atitude e
no melhor momento possível.
Heitor me apoiou e ajudou em tudo.
Comecei com um escritório simples, que praticamente cabia
apenas a minha mesa, mas caprichei em todos os detalhes, querendo
mostrar que mesmo em um espaço tão pequeno, é possível deixar do seu
jeito. O que deu super certo.
Iniciei com uma cartela de clientes bem pequena, investi em
mídias sociais para expansão, e hoje já ocupo dois andares em um prédio
comercial.
Meu marido continua com suas viagens em época de temporada
com a escuderia, e quando era funcionária ia apenas em finais de semana,
ou feriados prolongados, agora com meu próprio escritório, tenho mais
“regalias”, pois posso fazer o meu trabalho a distância, cuidando apenas da
parte administrativa, já que a parte prática, visitas, deixo para os meus
arquitetos contratados.
Alice se mudou para uma república assim que entrou para a
faculdade, dois anos após meu casamento. Fui contra, mas respeitei sua
escolha, nossa união e amizade continua a mesma, quase todos os finais de
semana ela vem pra casa, pois disso eu faço mão, e ela ama também.
— Oiiii! - Grito assim que passo pela porta de casa.
Estranho o silêncio, pois mesmo quando Heitor está sozinho em
casa, ele faz questão de deixar o som ligado.
Retiro meu salto na soleira da porta, ainda com o presente que
trouxe para Heitor em mãos e deposito meus sapatos no chão, e vou
caminhando até o escritório, para verificar se Heitor está por lá.
Com o escritório vazio, sigo para o nosso quarto, e assim que
passo pela porta já escuto o som do chuveiro ligado. Na cama está a calça
de moletom que provavelmente estava usando antes de se dirigir ao
banheiro.
Não perco meu tempo, retiro a minha roupa rapidamente para lhe
fazer uma surpresa e escondo a caixa do presente embaixo da cama.
Entro no banheiro e o encaro do outro lado do box embaçado.
Heitor ainda não me viu, seus olhos estão fechados enquanto jatos de água
fortes retiram a espuma de seu cabelo.
Vê-lo inteiro nu sempre me deixará com borboletas no estômago.
Seu peito e braços musculosos cheios de tatuagens, ombros
largos, e até a bunda desse homem é durinha. 8 anos de casada e eu
continuo louca de amor por Heitor.
O tempo que demorei o encarando, foi o suficiente para ele se
virar e me fitar de volta com olhos ardendo fogo puro, vidrados na minha
boca, seios e vulva.
— Oi, Mi amor! Passa o olhar vagarosamente pelo meu corpo. —
Vem aqui. Me deixa cuidar de você. — Sua voz grave praticamente ordena.
Heitor leva sua mão até sua glande molhada, apertando a si
mesmo para cima e para baixo, em uma exibição áspera que me arranca o
fôlego.
Não importava se já o tinha levado à boca centenas de vezes
antes, e traçado cada veia inchada e proeminente do seu membro, eu sempre
irei salivar de desejo para chupá-lo.
Sem palavras. Excitada e com vontade de me ajoelhar, caminho
devagar até ele, enquanto presencio seus dedos grandes em envolto de seu
membro grosso.
— Meus olhos estão aqui em cima, esposa. — libera sua ereção e
seu pau se curva para o alto, ficando entre nós dois.
Envolvo seu pescoço, ficando na ponta dos pés.
— Oi, esposo. —  sussurro em sua boca, sentindo seu pau latejar
contra meu ventre. — Estava com saudades.
Com uma das mãos cobertas por espuma, Heitor enfia a mão entre
minhas pernas e me ensaboa, para cima e para baixo, limpando a minha
boceta enquanto mordo o lábio com força.
— Eu também, Corazón. — Diz rouco contra meus lábios. —
Agora vire-se.
Antes que eu responda, Heitor me vira rápido, e pressiona meu
corpo contra o azulejo frio, sinto meus seios rasparem contra a parede dura,
enquando me força a ficar na ponta dos pés, passando a mão entre minhas
pernas, por trás.
Estremeço em expectativa, e meu hálito embaça o azulejo
enquanto Heitor continua com sua tortura no meio das minhas pernas.
Sinto Heitor por inteiro, desde a ereção grossa que lateja na minha
bunda, até o seu peitoral largo nas minhas costas.
Heitor se afasta um pouco, apenas o suficiente para sua outra mão
deslizar pelas minhas costas, e descendo até o meio da minha bunda,
acariciando meu ânus.
Já fizemos sexo anal outras vezes, e admito que senti muito
prazer. Tudo com Heitor me dá prazer.
Seu dedo começa a circular o meu buraquinho enrugado, fazendo
um leve carinho, enquanto a outra mão continua com seus movimentos
controlados.
Devagar, Heitor começa a me penetrar com seu dedo por trás, e
vai gemendo rouco no meu ouvido, lambendo meu lóbulo e chupando meu
pescoço.
Após alguns segundos, também me penetra na frente, e arfo com a
sensação de ser duplamente penetrada.
— Heitor….
— Quieta! — Exige rouco. — Quero que goze nos meus dedos.
O encaro sobre o ombro e o sinto esfregar o nariz contra a minha
bochecha.
Heitor me deixa presa entre seu corpo e a parede, para que eu não
caia já que percebe o fraquejar das minhas pernas, o que acontece todas
vezes e que afunda seus dedos profundamente na minha boceta, e mantém
um ritmo controlado no meu ânus.
Gemo ensandecida, louca para alcançar o clímax.
— Caralho! — Grunhi contra meu cabelo, com a respiração
pesada e violenta. — Você me deixa louco quando geme assim.
Meu corpo começa a se mover no ritmo dos seus dedos, enquanto,
por trás, o sinto deslizar um pouco mais a cada segundo.
Com a boca entreaberta e sem fôlego, eu me encolho ao sentir o
primeiro espasmo do orgasmo formando-se dentro de mim.
Gemo alto enquanto me contorço em seus braços e ainda bamba
pelo orgasmo, não perco meu tempo me ajoelhando e pegando seu membro
em minhas mãos.
— Minha vez. — Sorrio, olhando para cima, vendo um Heitor
sarado, com a respiração pesada, me encarando com olhos de fogo.
Lambo languidamente sua glande, passo minha língua por todo
seu membro descendo até suas bolas.
Heitor geme rouco e segura meu cabelo, fazendo uma espécie de
rabo de cavalo.
Brinco com seu pau, não o colocando inteiro na boca, apenas
deslizando minha língua por ele, ora passando por sua glande, ora
lambuzando toda sua grossura e por fim chupando suas bolas, faço e refaço
os movimentos, apenas para tortura-lo.
— Me tome de uma vez, Elena. — Geme rouco. — Me chupa,
bem gostoso.
— Seu pedido é uma ordem, marido. — Pisco, e o tomo na
mesma hora, o engolindo imediatamente.
Heitor joga a cabeça para trás e geme alto, e impulsiona seu
quadril para frente, como se estivesse me fodendo, o que só aumenta meu
prazer, e o chupo com mais avidez.
Deslizo minhas unhas por suas coxas grossas, sem parar de
mamá-lo.
Logo Heitor está se derramando na minha garganta, enquanto
tomo tudo.
Mal termina de gozar, Heitor me puxa para cima, e toma meus
lábios em um beijo alucinado.
— Eu te amo!
— Eu também te amo.
Beijo-o de volta, e voltamos para debaixo do chuveiro, onde ele
cuida de mim, e dando banho com muito carinho.
Me enrolo com o roupão, assim como Heitor também o faz, e me
dirijo direto para nossa cama.
— Tenho uma surpresa para você. — Digo sentindo um friozinho
na barriga se espalhar.
— É? Cadê?
Me abaixo pegando a caixinha que havia escondido debaixo da
nossa cama e lhe entrego.
Heitor senta ao meu lado e começa a desamarrar o laço.
Assim que abre a caixa, o vejo paralisado, e já consigo sentir os
meus olhos marejados.
Parei de tomar remédio a poucos meses, após decidirmos que
havia chegado a hora de aumentarmos nossa família, já fazia uma semana
que estava desconfiada, e resolvi fazer um teste de farmácia hoje apenas
para confirmar minhas suspeitas.
— Sério? — Levanta os sapatinhos de neném que estavam na
caixa.
— Aham. — Digo já emocionada, sentindo as lágrimas
deslizarem pela minha bochecha. Poxa! Já posso colocar a culpa nos
hormônios da gravidez pelo chororô?
Heitor me puxa para seu colo, colocando uma perna de cada lado,
e abre meu roupão tão rápido que não consigo nem reagir.
Faz uma carícia tão leve pelo meu ventre ainda plano, que me
deixa ainda mais emocionada, se curva, e beija delicadamente meu ventre.
Após muitos beijos pela minha barriga, ele se levanta, segura
minha nuca, e toma meus lábios com urgência.
— Eu te amo tanto Elena! Você é a mulher da minha vida! A
mulher que eu sempre vou amar! A mãe dos meus filhos! Você é minha!
Mas eu sou seu! Completamente seu!
 
 
 

FIM
 
 
 
 

[1]
Afecção grave que ocorre no final da gravidez, caracterizada por convulsões
associadas à hipertensão arterial.
[2]
Gato de Alice no País das Maravilhas.
[3]
Local destinado a corridas automobilísticas, composto de pistas e instalações diversas
(arquibancadas, oficinas de reparos etc.)
[4]
Filho da puta
[5]
Merda
[6]
Deus
[7]
Citação ao seriado americano: “Todo Mundo Odeia o Cris”
[8]
Mãe
[9]
Meu amor
[10]
Coração
International Road-Racing Teams Association, representa as
[11]

equipes, fornecedores e patrocinadores da MotoGP


[12]
Área atrás dos boxes onde equipes e pilotos estacionam seus
motorhomes e equipamentos durante um GP
[13]
Garage com acesso ao pit lane designada individualmente para
as equipes participantes das três categorias do Mundial de MotoGP
[14]
Direção da equipe, mecânicos e seus assistentes
[15]
Fédération Internationale de Motorcyclisme, entidade que
regula o motociclismo esportivo a nível mundial. Um dos organizadores do
Mundial de MotoGP
[16]
Posições de partida sinalizadas na pista para indicar a ordem de
partida dos pilotos de acordo com a sua qualificação (Grelha)
 
[17]
Local para a cerimônia de premiação dos três melhores
classificados em um Grand Prix
 
[18]
Sinalizador físico utilizado para indicar a proximidade de uma
curva.
[19]
Seção da pista com curvas muito próximas e em direções
contrárias, recurso utilizado para forçar a redução de velocidade
 
[20]
Capacidade volumétrica das câmaras de combustão do motor,
especificada em centímetros cúbicos (cc). A MotoGP utiliza motores de
1000cc
[21]
Curva para a esquerda
[22]
Acidente onde a roda traseira ou ambas as rodas perdem
aderência, a tração não é recuperada e a moto “descola” do piloto
(escorregadela)
[23]
Manobra realizada por pilotos em comemorações, consiste em
levantar a roda dianteira como resultado de uma forte aceleração e rápida
liberação da embreagem
[24]
Novato. Piloto no primeiro ano de competição em cada
categoria
[25]
Área do pit lane onde os três primeiros colocados (em cada
categoria) são entrevistados por equipes de TV imediatamente após cada
prova (Parc Fermé)
[26]
Idiota
[27]
Palhaço
[28]
Irmão
[29]
Irmãozinho
[30]
Velhote
[31]
Minha deusa
[32]
Via de acesso aos boxes, adjacente à pista
[33]
Significa que a pista está livre e segura
[34]
Parada
[35]
Preciso de ajuda.

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