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Copyright © 2023 D. An.

Morgan

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são produtos de
imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Revisão: Rachel Siciliano


Revisão Final: Guiomary Lopes
Leitura Crítica: Paula Daiane
Capa e diagramação: Layce Design

Todos os direitos reservados.


Esta obra segue as regras da nova ortografia da língua portuguesa.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
Edição Digital | Criado no Brasil.
Sinopse

Theodore Rockefeller é o dono de um império da tecnologia. Só


vive para trabalhar e por isso perde um relacionamento de anos.
Acostumado a conseguir tudo aquilo que quer. Se mete em uma confusão e
precisa de uma noiva com urgência.
Sophia Clarck tem uma lista de decepções na vida, criou um muro
em volta do seu coração, prometendo nunca mais se apaixonar.
Desempregada, morando de favor e com o pai doente.
O que mais poderia dar errado?
Ele propõe um contrato.
Ela pede para que ele não se apaixone.
Eles conseguirão cumprir as regras desse contrato?
Ou vão descobrir que o amor segue suas próprias regras?
Nota da Autora

Olá, querido(a) leitor(a)!


Um Irresistível contrato é uma comédia romântica, que aborda
alguns temas sensíveis como assédio e tentativa de abuso, não ocorrendo de
forma descritiva, que talvez possa causar algum gatilho durante a leitura.
Gostaria de ressaltar que este livro é recomendado para maiores de
18 anos, pois contém cenas de sexo explícitas.
Obrigada por escolher Um Irresistível Contrato para ler! Espero que
se apaixone por Theodore e Sophia, da mesma forma que eu me apaixonei
escrevendo. Boa Leitura!

Com todo meu amor,


D. An. Morgan.
Playlist

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Sumário

Sinopse
Nota da Autora
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Contato
Para todas aquelas pessoas que tiveram traumas no seu passado, que
construíram um muro em volta do coração.
Vocês são fortes, e não estão sozinhas!
Prólogo

Theodore Rockefeller

Assim que entramos no avião para esperar o momento de decolar,


David e Karen me olharam esperando por uma explicação.
— O que foi? Por que estão me olhando? — Fingi não ter ideia do
que eles queriam.
— Ah, então você está noivo e nós a conhecemos, será que ela é
irmã do Gasparzinho e está aqui no avião conosco? — Karen foi a primeira
a se manifestar, não escondendo o sarcasmo.
— Não exagera, ok? Você sabe muito bem que eu perco a cabeça
quando Joshua me provoca.
— Ah, claro! Aí, inventar uma noiva foi a coisa mais inteligente que
você poderia ter feito, né? De onde você vai tirar alguém agora para fazer
isso? — Minha amiga estava indignada com a situação. Ela sempre foi a
voz da razão entre nós três.
— Não sei ainda, mas vou resolver, como eu sempre faço. Sabe bem
disso.
— Por que você não contrata alguém para ser sua noiva durante um
período só? Sei lá, alguma atriz. Faz um contrato de confidencialidade.
Eu e Karen viramos pra ele na mesma hora, sem acreditar. David
quando ficava muito quieto sempre vinha com algumas histórias meio
loucas.
— De onde você tira essas coisas? Não é possível que pense nisso
sozinho. — Karen falou caindo na risada.
— Pois eu estou falando muito sério. Tive um amigo que precisou
fazer isso devido à herança da família. Precisava de um relacionamento, e
pra ele deu tudo certo. — Deu de ombros como se fosse algo simples.
E eu passei a olhar com outra perspectiva, que talvez a ideia do meu
amigo não fosse tão absurda assim. Rapidamente pensei em uma pessoa, ela
precisava de ajuda e eu também. Por que não tentar? Minha cabeça já
arquitetou todo o plano, pensei em todos os prós e contras.
— Que cara é essa, Theo? Você está considerando a ideia do David?
Sabe que isso pode te trazer problemas se vazar, né?
— Já considerei. Eu tenho uma pessoa em mente. Ela está
precisando de ajuda e eu também, então não seria um problema. E quanto a
vazar eu sei que não vai, porque ela é de confiança. — Era uma afirmação
que eu queria acreditar.
— E quem seria esse ser iluminado que vai te ajudar? — Karen
questionou.
— No momento certo você vai saber.
Capítulo 1

Sophia Clarck

E não me diga que está arrependido,


porque você não está
Querido, quando eu sei que você só se
arrepende de ter sido flagrado
Mas foi uma ótima apresentação
Você quase me convenceu
Mas agora é hora de ir
As cortinas finalmente estão se fechando
Foi uma ótima apresentação
Muito interessante
Mas agora acabou (mas agora acabou)
Take a Bow - Rihanna
Carolina do Norte

Não tem nada mais relaxante pra mim do que a sensação do vento
no rosto, seja pilotando uma moto ou correndo nos 100 metros rasos. Por
isso que eu não me importo de, mesmo estando atrasada, ter que voltar ao
apartamento do meu namorado Gary para buscar o livro que eu fiz o favor
de esquecer, e preciso para a prova de hoje.
Meu namorado com certeza o levaria para mim, porém como nesse
horário ele está treinando com o time de beisebol, eu tive que sair correndo
para buscar.
Depois de deixar a moto na garagem, meu telefone tocou mostrando
o nome de Sarah no visor. Minha irmã é a melhor coisa que me aconteceu.
Mesmo sendo apenas três anos mais nova do que eu, nós temos uma ligação
muito forte e sempre sabemos quando a outra está precisando de algo.
Parece aquelas conexões que irmãos gêmeos possuem.
Atendi enquanto subia os lances de escada para o apartamento.
— Oi, Sarah! – Falei animada.
— Oi, irmã! Você vem hoje para o nosso jantar?
— Claro, assim que sair da faculdade, encontrarei o Gary e vamos
até vocês.
— Você está ofegante, o que houve? — Perguntou preocupada.
— Subi da garagem para o apartamento pelas escadas, esqueci um
livro na casa dele. — falei abrindo a porta da sala.
Escutei um gemido estranho vindo do quarto.
— Entendi. Aproveitando, deu tudo certo com a bolsa? — ela me
perguntou curiosa, porém não consegui nem prestar atenção direito, porque
me concentrei no barulho que ficava cada vez mais alto à medida que me
aproximava.
— Sarah, estou ouvindo um barulho estranho, acho que tem alguém
aqui. — falei sussurrando.
— Fica comigo na linha então, por favor. — falou, parecendo um
pouco nervosa.
Andei até o quarto para me deparar com a pior cena da minha vida.
Meu namorado pelado e minha prima, que além de tudo sempre foi minha
melhor amiga, Cheryl, quicando em cima dele. Nunca achei que isso
poderia acontecer.
Agora me pergunto quão inocente eu sou?!
Fiquei tão chocada, que tropecei no taco de basebol de Gary
encostado na escrivaninha, aproveitei que isso me tirou do meu estupor e o
peguei, batendo com toda força no espelho que ficava ao lado da porta. Os
dois filhos da puta se assustaram com o barulho.
Gary jogou Cher de cima dele e me olhou com o mais puro
desespero, como se eu fosse capaz de machucá-los.
Vontade eu tinha porque estava espumando de ódio, mas nunca faria
isso e ele não precisava saber.
— Amor, por favor, não é nada disso que você está pensando. —
falou de forma descarada.
— Não é mesmo, eu estou olhando para as duas pessoas que eu
confiava a vida, me traindo em cima da cama que compartilhávamos.
Imagino o quanto vocês já não devem ter rido de mim. — falo com tanto
desprezo que eu mal reconheço minha voz.
— Soph, por favor, tente entender... — Cheryl tentou falar com os
olhos arregalados.
— O caralho que eu tenho que entender! Some da minha frente
agora! — Não deixo nem que termine de falar, e ela já saiu pegando as
roupas espalhadas, se vestindo e olhando para o Gary como se pedisse
ajuda.
Lembro da minha irmã no telefone, e volto a falar com ela.
— Sarah, desculpa, você deve ter ouvido tudo — falei com pesar. —
Preciso desligar para juntar algumas coisas antes de sair daqui. — Desliguei
sem nem dar tempo para ela responder.
— Se você não quiser entender, tudo bem, mas saiba que eu nunca
esqueci o Gary, ele sempre foi meu.
— Cher, chega! Vai embora, por favor. — Gary, falou empurrando-a
para fora do quarto, e eu nem fiz questão de olhá-los.
Abri o guarda-roupa e peguei uma bolsa, já começando a arrumar
minhas coisas mais importantes. Depois penso em como vou fazer para
buscar o restante.
Gary, tentou se aproximar, eu só levantei o taco na direção dele, e
ele já se afastou com medo de mim. Ótimo, que ele permanecesse assim.
Mas a boca grande dele não parava de falar.
— Amor, por favor, me perdoa! A Cher veio para cima de mim, me
cercou de todas as formas, eu fiquei perdido.
Eu fiquei incrédula com a tamanha falta de noção dele, como se ele
tivesse feito algo forçado.
— Pelo amor de Deus, não seja ridículo a esse ponto, em colocar a
culpa nela. Eu não vi em nenhum momento ela com uma arma na sua
cabeça, mandando você fode-la. Eu achei até que tinha alguém morrendo
aqui dentro com os gemidos esganiçados que ela dava, era possível ouvir
desde a porta. — falei me lembrando do momento em que eu entrei no
apartamento.
— Não, Sophia, ela não colocou uma arma na minha cabeça, mas
tenta me entender. Você estava extremamente focada nas suas provas e
treinando todo dia por conta daquela bolsa ridícula de corrida. Sabe que eu
poderia pagar a faculdade para você.
Eu não acredito que ele ainda teve coragem de colocar a culpa em
mim. Eu devia estar muito cega pra não ter enxergado durante esses cinco
anos, o verdadeiro Gary.
Ele sempre soube o quanto a bolsa era importante para mim, e o
quanto eu queria entrar para o grupo de atletismo. Correr é minha vida, o
meu sonho sempre foi competir profissionalmente e um dia conseguir
defender meu país em uma Olimpíada.
— Gary, nem continue. Você sabe que eu nunca aceitaria que você
pagasse a faculdade para mim — agora eu entendo porque meu sexto
sentido sempre gritava quando ele me fazia a oferta —, e eu tenho um
excelente motivo para isso. Você pretendia pagar minha faculdade e jogar
isso na minha cara, para que eu aceitasse as traições? Queria que eu
desistisse do meu sonho com o atletismo? Você nem se importou em
perguntar como foi a minha prova para entrar no time. — Demonstrei toda a
minha decepção.
Ele me encarou, ficando vermelho, porque não tem o que justificar.
Ele me conhece o suficiente para saber que nada que falar vai fazer
diferença para mim agora. Então tentou apelar.
— Amor, eu te amo! Por favor, não me deixe aqui sozinho. Eu errei,
agi como um moleque, mas eu nunca vou deixar de te amar. Me perdoa.
Lembra de tudo que passamos nesses anos, no quanto nós fomos felizes,
tudo de bom que eu já te proporcionei. — ele fez uma cara de cachorrinho
que caiu da mudança.
Essa tática, alguns minutos atrás, até poderia fazer efeito em mim.
Gary é um homem de uma beleza incrível, isso é indiscutível. Com os seus
1,80m de altura, loiro e de olhos azuis, porte atlético devido ao basebol,
chamava a atenção por onde passava, mas agora eu só enxergo a casca
vazia.
Eu nem me presto a responder. Depois de ter pego tudo que eu
julguei mais importante, saí de perto ainda segurando o taco, para o caso
dele tentar se aproximar. Ele me olhou como se dissesse “você vai mesmo
sair sem me responder?”.
E foi exatamente isso que eu fiz.
Arrastei tudo que eu conseguia carregar, entrei no elevador sentindo
o pânico me consumir, e fui diretamente para a garagem. Assim que saí
daquela caixa metálica, que eu só usava em casos de extrema necessidade,
olhei para minha moto e não segurei mais. Chorei sentindo toda a dor da
traição.
Nesse momento senti os braços de Sarah ao meu redor, e me permiti
cair, porque sabia que ela me ampararia sempre, ali ela não era a irmã mais
nova, nesse momento era tudo que eu precisava para não surtar.
— Obrigada por vir. — Sussurrei no meio de um soluço.
— Eu nunca te abandonarei.

Mesmo sem ânimo, fui à faculdade fazer a prova, porque a essa


altura não poderia me dar ao luxo de não fazê-la, e eu tinha estudado muito
para perdê-la por conta de dois idiotas.
Minha melhor amiga Claire, ficou me aguardando finalizar, ao lado
da porta. Quando ela me abraçou minha vontade foi de chorar novamente,
porém não faria isso no corredor onde todos podiam me ver, ainda tinha um
pouco de orgulho correndo nas veias.
Andei com ela até o estacionamento, sem conversar. Claire e Sarah
sempre foram pessoas que me entendiam pelo olhar. Claire foi alguém com
quem eu me identifiquei muito rápido na época em que ela se mudou de
Nova Iorque para a Carolina do Norte com a mãe. Ela estava deslocada com
a mudança, mas logo me aproximei, e desenvolvemos uma amizade que se
mostrava mais forte a cada dia.
— Soph, como você está se sentindo? Quando a Sarah me falou, a
minha vontade foi de ir lá e acabar com a raça dos dois. — Minha amiga
falava inconformada, daquele jeito dela de defender o mundo. Ela é
extremamente protetora com quem ama, e isso já fez com que fosse parar
na Diretoria algumas vezes durante a nossa época da escola.
— Acho que estou assimilando ainda, não tive tempo para pensar
muito sobre o que aconteceu, nós saímos de lá e a Sarah me deixou aqui
para fazer a prova, e eu foquei exclusivamente em me sair bem nela. Agora
a sensação que eu tenho é que um pedaço de mim ficou lá naquele
apartamento, que algo se quebrou aqui e eu não sei se terá conserto um dia.
— Você não precisa pensar nisso agora. Vamos para a casa dos seus
pais, lá a gente toma sorvete, vê filme, chora tudo que tem para chorar. Só
depois pensaremos no que fazer em seguida, porque você não está sozinha
nisso, e sabe que pode contar comigo. — ela me falou, enquanto nós
entramos no seu carro e seguimos para casa.
— Eu ainda nem sei o que meus pais vão pensar sobre isso. Eles
nunca concordaram que eu fosse morar com o Gary antes de nos casarmos.
Acho que vou ouvir um belo “eu te avisei que isso não era certo”. — Me
encolhi no banco pensando em como isso pode ser embaraçoso.
— Você sabe que, se quiser, podemos pegar tudo aqui, jogar para o
alto e ir morar em Nova Iorque. Nós conseguimos a bolsa para a NYU e a
gente pode pedir a transferência, lembra que lá tem um dos melhores
programas de atletismo do país.
Eu não tinha pensado em me mudar, mas quando eu fui aceita na
NYU, fiquei muito tentada a aceitar, só não fui porque o Gary queria ficar.
Ele não foi aceito lá, seu pai teria que pedir muitos favores para reverter
isso, e o meu ex-sogro não queria queimar suas cartas com um “capricho”
meu, ou pelo menos foi isso que o meu ex-namorado me falou.
— É uma possibilidade também, Claire. Eu preciso pensar se
realmente é necessário sair daqui, e em todos os pontos para irmos morar lá.
Agora, com o semestre finalizando, seria fácil pedir a transferência. Nossas
notas estão acima da média, o que também ajuda. — falei, imaginando as
possibilidades, meu cérebro foi criando todos os cenários possíveis, em
alguns eu fiquei muito animada, em outros querendo sair correndo, mas, por
hora, vou me apegar ao melhor cenário.
Capítulo 2

Sophia Clarck

Me ajude
É como se as paredes estivessem desmoronando
Às vezes, sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
Não está no meu sangue
In My Blood - Shawn Mendes

Assim que entrei na sala, mamãe veio correndo ao meu encontro.


Me perguntei se foi Sarah quem contou o que aconteceu, porque a forma
como ela me abraçou já dizia que sabia exatamente o que havia ocorrido.
— Minha filha, eu sinto tanto que você tenha passado por isso.
Ninguém merece descobrir que alguém não vale nada dessa forma, mas
ainda bem que se livrou daquele menino. Nunca gostei dele. — mamãe
disse enquanto me mantinha nos seus braços, contudo fiquei intrigada pela
forma como falou.
— Realmente, foi a pior maneira de descobrir a traição, e pior ainda
por ser com a Cher, que cresceu comigo, e em quem eu sempre confiei. Mas
como você ficou sabendo? — indaguei, querendo saber qual a proporção
que a informação já tinha na minha família.
— Foi a sua tia Cintia que ligou para me dizer que agora a Cher e o
Gary estavam juntos e não era para você atrapalhar o relacionamento deles.
Que a filha dela que deveria ter ficado com ele e não você. Acho que ela
nunca superou que eles “namoraram” — minha mãe faz aspas para falar o
namoraram —, quando eram basicamente crianças. A irmã do seu pai só
olha as cifras quando vê o Gary e acredita que eles ficando juntos, ela vai
sair de onde eles estão.
Agora fez sentido a minha mãe saber da história antes mesmo de eu
chegar aqui. E se eles estão juntos, agora não me importa. Só me incomoda
pensar que todos esses anos a Cher gostava dele. Eu só soube que eles
tiveram algo quando eram mais novos, depois de ter aceitado namorar o
Gary. Quando conversei com ela na época, ela estava ficando com outro
garoto e falou que era coisa de criança e que nunca sentiu nada por ele, o
que agora eu não sei se é verdade...
— Entendi, não pretendo ter mais nada com ele mesmo, e se estão
juntos que sejam muitos felizes, bem longe de mim. — falei me soltando do
abraço, já me virando para ir para o quarto que dividia com Sarah.
— Oh, meu amor, sei que você não voltaria mais para ele, mas eu
sei também, como você gosta da Cher. Imagino o quanto está doendo por
essa quebra de confiança, você sabe que sempre vai ter o nosso apoio. O
que quiser fazer, nós estaremos aqui por você. — ela disse, num tom
carinhoso que aqueceu meu coração.
— Obrigada por isso, dona Margaret, eu te amo muito!
Depois da minha conversa com a mamãe, subi com Claire no meu
encalço para o quarto, e lá junto com Sarah, tivemos uma noite regada a
pipoca, sorvete, filmes românticos e muitas lágrimas.
Ali eu prometi a mim mesma que nunca mais confiaria dessa forma
em um homem, nem deixaria que eles me magoassem, ou aceitaria mudar
nada em mim por eles.

De manhã, nós deixamos a Sarah na escola e fomos para a aula.


Meu humor é péssimo quando acordo, então não sou a mais sorridente nas
primeiras horas do dia. Quem me conhece nem se importa mais com os
meus “bom dia” sussurrados e a cara fechada que eu costumo andar por aí,
mas, hoje em especial, está pior.
Parecia que meu chifre virou notícia da faculdade porque, por onde
eu passei, teve alguma conversinha, alguns me olhando com pena, outras
meninas me olhando e disfarçando sorrisinhos. Era realmente tudo que eu
precisava para começar o dia.
Na minha última aula recebi uma mensagem de Claire, desesperada,
me pedindo ajuda para a matéria que ela precisava fazer hoje, porque a
dupla dela adoeceu e não conseguiria acompanhá-la, e isso poderia
prejudicar o projeto delas, que valia a nota do semestre. Ela surtava nas
mensagens, e eu a acalmei, falando que poderia sim, só precisaríamos pegar
as minhas últimas coisas que ficaram no apartamento de Gary e depois
estaríamos livres. Ficamos de acertar toda a logística no horário do almoço,
no refeitório.
Não prestei muita atenção no restante da aula, com a minha cabeça
já voando para os compromissos da tarde, em ter que entrar de novo no
lugar em que passei vários momentos com alguém que eu imaginei que
seria o meu para sempre. Agora, me sinto uma tola por pensar nele dessa
forma, por não enxergar os pequenos sinais que ele sempre deu e eu nunca
reparei.
Encontrei com a Claire na porta do refeitório, começamos a planejar
como faríamos, e incluímos a Sarah na organização, para que desse tempo
de fazer tudo. Quando pisamos no refeitório, senti como se todo mundo me
olhasse. No mesmo instante busquei a mesa que Gary sempre se sentava
com o pessoal do time, e o vi lá, mas não sozinho, a Cher estava sentada no
colo dele, para a minha surpresa. Não imaginei que eles se assumiriam
assim, tão rápido. Aparentemente, titia não mentiu quando disse para minha
mãe que eles estavam juntos.
— Soph, você quer ir comer em outro lugar? — Claire sussurrou
perto do meu ouvido.
— Não, podemos ficar aqui, logo eu deixo de ser a novidade, surge
uma corna nova para o meu lugar. — falei em tom de brincadeira.
Pegamos o nosso almoço e enquanto comíamos, senti o tempo todo
as minhas costas queimando por todos os olhares que recebia. Da mesa que
me sentei, conseguia ver perfeitamente os dois, e percebi que a toda hora o
Gary me encarava. Era só eu levantar os olhos para vê-lo disfarçar e olhar
em outra direção. Aproveitei o momento para enviar uma mensagem
avisando que as meninas iriam lá buscar as minhas coisas, e que se ele
pudesse não estar em casa, seria ótimo.
Inclusive, iria bem no seu horário de treino, que era para não
arrumar desculpa. Ele olhou o celular e depois para mim, e com isso a Cher
também me encarou, e parecia que poderia me matar só com a fuzilada que
me deu. Parecia até que eu tinha escrito que queria ele lá e não o contrário.
Eu só fitei os dois, me levantando para sair do refeitório e agi feito uma
adolescente, dando dedo do meio para a cara feia que a minha prima fazia.
Passamos na casa da Claire e pegamos todos os equipamentos
necessários para que pudesse fazer a entrevista, me inteirei sobre com quem
seria a entrevista, e ela falou que era um seminário sobre tecnologia, e a
faculdade conseguiu com a organização três momentos com alguns dos
principais palestrantes. A minha amiga estava eufórica, porque teria a
chance de conhecer três grandes personalidades, e eu como iria ajudá-la,
aproveitaria para assistir algumas palestras, sempre gostei muito desse
universo de tecnologia.

Passamos no apartamento de Gary e fiquei feliz por ele realmente


não ter aparecido. Morei por quase um ano naquele lugar, então as
lembranças espalhavam-se por todos os cômodos, e doeu demais pensar que
o que vivemos foi uma grande mentira. As meninas estavam uma em cada
parte, juntando tudo, e eu não consegui segurar as lágrimas quando cheguei
no quarto. Tinha a sensação de que algo se quebrava cada vez que eu
guardava mais alguma coisa. Elas ouviram o meu choro e vieram me dar
suporte.
— Não fique assim, Sophia, pensa que essa é só uma porta que você
está fechando, e que o futuro vai te trazer pessoas melhores. — Sarah falou
enquanto me abraçava.
— Pensa no tanto de pau novo que você vai conhecer, amiga.
Imagina que triste só ter conhecido um pau por toda a vida! Vai que ele nem
transa tão bem assim, nossa me dá urticária só de pensar. — Claire
desandou a falar, e começou a se coçar como se tivesse alergia a
relacionamentos fixos.
Isso foi o bastante para que Sarah e eu entrássemos em uma crise de
risos, daquelas que doem a barriga de tanto sorrir.
— Claire, só você para conseguir me tirar do choro de tristeza, para
rir da barriga doer. — falei terminando de fechar minha última mala, e
secando as lágrimas.
— Eu sei que sou incrível — me deu uma piscadinha safada —, mas
nós temos que ir agora, senão chegaremos atrasadas no seminário.
— Claro, vamos colocar tudo no carro da Sarah, que ela vai levar
para a casa dos meus pais, e eu te sigo com a minha moto. — falei,
enquanto colocávamos tudo no elevador. As meninas desceram para a
garagem com as malas, e eu desci de escada, pois sempre me sentia prestes
a ter um ataque quando era obrigada a usar aquela caixa metálica.
Depois de distribuir tudo no carro com Sarah, deixei a chave do
apartamento na recepção, porque não queria falar novamente com meu ex,
peguei a minha moto e segui até o prédio onde seria o evento. Tentaria ao
máximo me manter nos bastidores, porque ainda estava com o rosto
vermelho e os olhos inchados devido ao choro.
Depois de ajudar Claire com todas as suas coisas, montamos os
equipamentos na sala onde seriam feitas as entrevistas. Ela conferia o
checklist quando de repente me olhou com os olhos arregalados.
— Sophia, cadê o microfone? — me perguntou, já desesperada.
— A gente pegou na sua casa, porque está com OK na lista, então se
não está aqui, só pode estar no carro.
— Eu vou lá procurar então. — ela disse, se mexendo pra sair da
sala. Nesse momento houve uma batida na porta e uma das organizadoras
entrou, falando que em dez minutos seria a primeira entrevista, mas que o
entrevistado queria conversar com a Claire antes. Respondi que ela ia
encontrá-lo, e minha amiga não entendeu nada.
— Claire, pode ir lá enquanto eu desço para procurar. — falei para
tranquilizá-la.
— Obrigada, meu anjo!! Mas será que vai dar tempo?
— Vai sim, vou descer de elevador, vou respirando fundo e vai dar
tudo certo. — Saí, deixando minha amiga com um sorriso de orelha a
orelha.
Apertei o botão para chamar o elevador e me concentrei no celular
para não pensar em mais nada. E não sei se foi a melhor escolha, porque
quando entrei no Instagram me deparei com várias publicações nas páginas
de fofoca da faculdade, falando sobre o meu término, as portas se abriram e
eu só me movi para dentro no automático, reparei que tinha uma pessoa ao
fundo, mas não tirei os meus olhos das postagens, até montagem eles
fizeram.
Mesmo com tudo o que eu estava passando, ainda teria que lidar
com esse tipo de coisa?
Não teria paz?
A cada minuto me convencia de que ir para Nova Iorque era a
melhor coisa, me afastar de tudo isso.
Comecei a sentir minhas costas queimando devido ao olhar que
estava recebendo, então levantei os olhos para as portas do elevador e para
minha sorte elas refletiam o homem atrás de mim. Ele aparentava ser alto,
forte, cabelos escuros, só não conseguia ver direito o seu rosto. No meio da
minha inspeção, o elevador deu um tranco e apagou as luzes. Eu dei um
grito, meu telefone foi parar no chão, fiquei completamente desesperada.
Minha respiração ficou descompassada, parecia que o ar não entrava
nos meus pulmões, eu senti mãos fortes me virando de frente.
— Você precisa respirar — o desconhecido disse colocando as mãos
no meu rosto —, foca em mim, na minha respiração.
Mas não pareceu adiantar muito, ainda me sentia como se as paredes
do lugar fossem se fechar a qualquer momento sobre mim. Coloquei minhas
mãos sobre o seu peito, tentando focar em qualquer outra coisa, ele pareceu
perceber minha tentativa de contato. Em um momento louco, ele me beijou,
não entendi nada, mas eu consegui definitivamente focar nele, na sensação
que a boca macia me trazia, foi um beijo simples, mas assim que ele
descolou nossos lábios, consegui respirar novamente.
— Desculpa te beijar assim, mas ouvi algumas teorias dizendo que
ajuda a aplacar a crise — ele falou de maneira forte, mas ao mesmo tempo
se justificando.
— Imagina, eu que preciso agradecer, eu tenho um pouco de pânico
de ficar presa no elevador, e foi justamente o que aconteceu. — Ele me
olhava como se enxergasse a minha alma, não sei como mas isso me
acalmou um pouco. — Como a gente ainda tá aqui preso no escuro, você
pode me dar um beijo de verdade, pois acho que posso acabar tendo outra
crise enquanto espero — falei, meio ofegante, porque não teria chance de
eu não desfrutar o beijo dele de verdade. Já estava fodida mesmo, então
porque não aproveitar e beijar um estranho, pensei e ri da minha loucura.
— Bom, se é assim, eu não vou deixar você passar mal, não é
mesmo?! — Ele falou se aproximando.
Aproveitei para sentir o seu perfume, era um cheiro marcante,
amadeirado, que dominava todo o ambiente. Subi as mãos por cima da sua
blusa, pelo tanquinho, peito, os braços, até parar no pescoço, ele era forte,
com certeza devia passar um bom tempo na academia.
Sem pensar em mais nada, ele me beijou, começou calmo, ele
pedindo passagem pelos meus lábios, e ao encontrar minha língua o beijo
foi ficando mais urgente, suas mãos grandes apertavam minha cintura como
se eu fosse fugir a qualquer momento. Senti algo totalmente diferente
beijando-o. Um frio na barriga que eu não sentia há tempos.
Me perdi totalmente naquela boca macia, que me tomava como se
eu fosse sumir a qualquer instante. Só parávamos para respirar e
voltávamos como se a nossa vida dependesse disso. Quando finalmente nos
separamos, não consegui falar nada e, para o meu puro desespero, o
elevador deu um tranco novamente, voltando a funcionar.
Pisquei, um pouco atordoada, enquanto tentava me acostumar à
claridade, mirei os olhos azuis e profundos do meu estranho do elevador, e
nessa hora eu pensei em tudo que aconteceu. Morrendo de vergonha, virei
rápido para frente, procurei o meu celular no chão, assim que o peguei, vi
que íamos chegar ao térreo.
— Obrigada pela ajuda, se estivesse sozinha não sei o que teria
acontecido. — Terminei de falar assim que as portas se abriram, eu saí às
pressas, sem nem dar tempo dele me responder e corri para o carro de
Claire, me lembrando que eu precisava ajudar minha amiga.
Depois de rodar o carro todo procurando o bendito microfone, achei
e não arrisquei subir naquela caixa de metal novamente. Corri pelas escadas
e consegui chegar na hora certa para a entrevista.
Deu quase tudo certo, somente um dos entrevistados, Theodore
Rockefeller, acabou pedindo para desmarcar porque teve um imprevisto.
Claire ficou desapontada porque ele seria o ponto alto. Mas no fim ficaram
ótimas as entrevistas e eu tinha certeza de que ela teria nota máxima no seu
trabalho.
— Eu decidi que vou tentar a transferência para Nova Iorque. Não
sei se vou ter paciência para ver o casalzinho a toda hora, e ainda nos
encontros de família. Lá é uma excelente faculdade, então acho que vai ser
melhor ir embora. — Joguei a minha decisão de uma vez em cima da minha
amiga.
— Ótimo, amanhã já começamos a ver todo o processo para pedir a
transferência, e tenho certeza de que seremos felizes em Nova Iorque.
— Você sabe que não precisa ir comigo, se quiser ficar aqui, eu
sempre irei te visitar quando vier para a casa dos meus pais. — falei, para
que ela não sentisse qualquer obrigação.
— Sophia, eu só não fui embora para Nova Iorque por você, sabia
que você precisaria da minha amizade. — ela falou rindo.
— Ainda bem então que você ficou, e agora vamos começar um
novo capítulo, longe daqui. — Senti que a minha vida teria uma grande
mudança.
Capítulo 3

Theodore Rockefeller

Me diga uma coisa, garoto


Você não está cansado, tentando preencher esse vazio?
Ou você precisa de mais?
Não é difícil manter toda essa energia?
Shallow (feat. Bradley Cooper) - Lady Gaga

Cinco anos depois


Saí daquela reunião com a sensação de que poderia cometer um
assassinato a qualquer momento. Nessas horas entendia porque meu pai
teve um infarto, e eu tive que assumir a empresa sendo tão novo. Estava
sozinho à frente da empresa há três anos, e não pretendia ter virado CEO
tão cedo. Meus planos eram outros, eu gostava muito mais da parte criativa,
e também de algumas partes que não eram consideradas muito legais
perante a lei, mas esse era o bônus de ter nascido em meio a uma empresa
de tecnologia e ter me apaixonado por tudo que é tecnológico desde as
fraldas.
O Sr. Robert Rockefeller me criou, ensinando tudo sobre esse
mundo. Ele passava muito tempo com isso e não me queria longe. Esse foi
um jeito de me ter por perto, e eu me apaixonei.
Cada criação, um projeto novo, ou quando simplesmente me pedia
para testar os mecanismos de proteção que usávamos, ele me queria em
todas as pontas, porque eu conseguia indicar as falhas que os
programadores não viam no momento que finalizavam os processos. Eu
pegava cada uma delas, sempre fui muito minucioso nesses aspectos. Nós
lidávamos com muitas informações sigilosas e que não poderiam, de
maneira nenhuma, vazar. Nossa prioridade sempre foi a segurança dos
dados, tanto que nossa empresa era referência nesse aspecto há muitos anos,
e era algo que eu me orgulhava de continuar mantendo. O nosso nome era
muito importante para nós.
Com isso, meu pai sempre andou por todos os mundos, e deixou
esse legado para mim. Nós tínhamos contatos desde a Casa Branca até o
submundo, e eu precisava lidar com tudo isso, poucas eram as pessoas à
minha volta que sabiam de todas as nossas ligações. No meu mundo,
informação era algo extremamente importante e caro.
Voltei minha atenção para o meu diretor de criação e melhor amigo,
que me olhava como quem aguardava uma resposta, e eu não sabia nem o
que ele havia falado, porque me perdi em pensamentos.
— Theo, você prestou atenção no que eu disse? — me perguntou,
mas já sabia a resposta, por me conhecer muito bem.
— Você sabe que não, David, fale novamente. Depois dessa reunião
que tivemos, a minha vontade é mandar metade dessa empresa embora,
parece que todos eles tiram o dia para me irritar e ver quanto tempo suporto
sem mandar alguém embora. — disse me lembrando da reunião que
tivemos com alguns diretores, e que não me agradou em nada os números
que me apresentaram.
— Eu estava falando que você precisa ver as propostas do Zachary.
O pessoal do marketing teve muitas baixas nesses últimos meses, e como
nós estávamos discutindo algumas estratégias sobre produtos que iremos
lançar, ele reclamou sobre a equipe defasada, mas que não conseguia
conversar com você sobre as contratações.
— Sei que preciso dar atenção a isso, nesses últimos meses eu mal
consegui dormir, quem dirá saber sobre novas contratações. De qualquer
forma, ele poderia muito bem ter solicitado ao RH, se tem vagas na equipe,
não precisava do meu aval para contratação. É sobre isso que falo, alguns
aqui parecem que precisam de mim para respirar, eu tô de saco cheio disso.
— sentia peso de todos os acontecimentos nas minhas costas.
— Sabe que muito disso vem desde a época do seu pai, ele era
centralizador até em decisões. E sei que esses últimos meses foram muito
difíceis, o Joshua tem aproveitado esses momentos que você passou só
resolvendo problemas, para promover as ações dele, e com isso pegou bons
contratos que seriam nossos. — David falou demonstrando revolta por ver
Josh, que foi nosso amigo de infância, aproveitar cada oportunidade que
tem para nos passar a perna.
— Eu vou resolver isso agora mesmo — disse enquanto abria meu
notebook e pedia para Athena, que era a assistente que eu havia criado
muitos anos atrás, sempre dizia que ela era o meu Jarvis[1] —, Athena,
organize nas minhas pendências tudo sobre contratações e demissões e
coloque como prioridade para ser visto hoje, e chame a Dorothy aqui por
favor.
— Claro, estou organizando agora e estará na sua tela, e já avisei a
Dorothy sua solicitação. — Athena respondeu ao meu comando.
— Eu achava que a Athena nunca daria em nada quando você criou
o protótipo dela assim que entramos na faculdade, e aí temos a prova que
pagamos com a língua. — meu amigo disse rindo.
Não tive nem tempo de responder, porque Dorothy bateu na porta e
entrou, como sempre, sem nem me dar tempo de abrir a boca.
— Não sei nem porque você ainda bate na porta, sempre entra como
um furacão aqui. — falei rindo, Dorothy era um patrimônio dessa empresa.
Ela foi secretária do meu pai, e eu me recusava a liberá-la para a
aposentadoria, era a melhor pessoa dessa empresa, sem sombra de dúvidas.
— Theodore, você pediu para a coisinha me chamar, não poderia
esperar que fosse outra pessoa que não eu, então desembucha o que você
precisa, porque eu tenho muita coisa para fazer. — Ela chamava Athena de
coisinha, mas adorava usá-la para me perturbar quando eu não a respondia.
— Nesses últimos meses em que eu passei mais tempo na Califórnia
do que aqui, percebi que algumas coisas não andaram. Estamos com alguns
gargalos de contratação, que não eram para estar acontecendo, não posso
deixar a empresa parar, o que houve? — perguntei, porque sabia que ela
seria a única que conseguiria me responder.
— Com relação às contratações, você deve estar olhando aí pela
coisinha, que temos somente algumas pendentes ainda, mas já com
entrevistas marcadas para amanhã. Eu pessoalmente estava dando
andamento, mas parece que algumas coisas nessa empresa ficam empacadas
sem você aqui. Então nesse último mês eu peguei no pé de alguns diretores
para que eles agilizassem as suas gerências para reparar as últimas
contratações, e nós conseguimos fazer isso. Inclusive sugiro que você
converse sério com a direção, para que eles tomem mais pulso, precisam se
acostumar em definitivo com você. Seu pai tinha outra forma de liderança,
ele gostava de olhar tudo, o que definitivamente tem culpa no infarto dele...
— ela falou com pesar, e parecendo pensar nele.
Enquanto ela falava eu pude realmente confirmar que ela agilizou as
últimas contratações. Eu precisava focar nisso, porque nosso turnover[2] está
alto, pedi para a Athena me passar todos os dados, para que pudesse avaliar
o quanto antes.
— Certo, Dorothy, eu vou colocar isso como tópico na próxima
reunião dessa semana com a diretoria. Preciso que eles tomem as rédeas das
suas áreas, eu não sou o meu pai, e nem tenho tempo para acompanhar
todos os funcionários como ele fazia. Nunca consegui entender na verdade
como ele conseguia isso. — falei pensando em como meu pai tinha tudo nas
suas mãos, e em como absorvia todos os problemas dos funcionários. Eu
tento não me aproximar tanto deles, porque eu acabei incorporando um
pouco disso com o meu pai, mas aprendi que não dá para salvar o mundo
todo.
— Ok, meu filho, amanhã será a última parte de entrevistas e
acredito que conseguiremos finalizar essa pendência. Eu vou terminar as
coisas que foram solicitadas na reunião, você precisa de algo a mais?
— Não Dorothy, pode ir, obrigado por ter resolvido essas
pendências.
Ela resmungou enquanto saía da sala um ‘por nada’, e que sempre
resolve tudo mesmo, não sabia como eu ainda me surpreendia com ela. Eu
acabei rindo porque ela sempre resmungava dizendo que não sou nada sem
aquela velha atrevida.
— Bom, acabou que Zachary, estava reclamando pelo setor dele ser
o último nas contratações. É um exagerado mesmo, mas ele sempre foi
excêntrico, então não dá para esperar menos dele. — David falou como se
lembrasse das situações que passou com o Zachary. Ele realmente criou
campanhas bem extravagantes para a empresa, e já tive que dar bons freios
nele para nunca perder a essência do que meu pai criou, mas como era
excelente no trabalho dele, eu sempre relevava algumas loucuras que
apresentava.
— Realmente, devia ter uma boa dose de drama na hora em que ele
foi reclamar com você. — Imaginei a cena.
— Sempre tem, né? Me pegou um dia no café e chorou sobre o
quanto sofria sem os funcionários. E falando em funcionários, por onde
anda a Lauren? — perguntou, muito curioso sobre minha namorada.
— Foi para uma conferência, eu acho, me lembro dela comentar
algo sobre tirar férias, não sei muito bem. — falei, começando a ver alguns
documentos que precisava aprovar.
— Você não sabe da sua namorada? Que porra de namoro é esse? —
Ele sempre implicou com a Lauren, nunca gostou dela, então me
perturbava.
— Você me conhece o suficiente para saber que a minha família e
empresa vem sempre em primeiro lugar, falei com ela ontem por
mensagem, só não tive tempo suficiente para saber detalhes sobre o que está
fazendo por lá. — falei, não dando muita importância.
— Eu nem vou mais falar o que eu acho sobre vocês dois, mas uma
hora Lauren vai cansar de toda essa situação que vocês vivem. — Me
alertou.
— Ela entende o quanto as coisas podem ficar malucas da noite para
o dia aqui na empresa, e quando preciso me ausentar para resolver os
problemas.
— Espero que sim, amigo... Vou indo, preciso acompanhar alguns
projetos que não estou gostando do desenrolar, e quero ver algumas
alterações que pedi, vamos mais tarde tomar alguma coisa? — foi em
direção à porta.
— Vamos sim, se precisar de alguma coisa com os
desenvolvimentos, me avisa. — Me animei, sentia falta de acompanhar
mais de perto todo esse processo.
— Pode deixar. Até mais tarde.
Depois que David saiu, me enfiei nos arquivos que precisava
analisar e não vi o dia passando. Essas últimas semanas eu só apaguei
incêndios entre as minhas filiais. Com isso, estava com diversos
documentos para analisar, desde novos clientes que devido à complexidade
passavam diretamente por mim, até antigos que precisavam de alguns
serviços específicos. Esses clientes, em especial, eram atendidos apenas por
mim e por Karen, que era a minha outra melhor amiga e também braço
direito, me ajudava com os clientes especiais que tínhamos. Alguns
simplesmente não poderiam ter as informações expostas para toda a
empresa, e ela que cuidava disso.
Eu, Karen e David nos conhecíamos desde crianças, e graças a
papai, todos nós nos apaixonamos pela tecnologia, por isso sempre fomos
conhecidos como trio nerd na escola. Vivíamos enfiados na empresa ou
então no laboratório de tecnologia que meu pai tinha em casa. Isso fez com
que meus amigos seguissem o mesmo caminho na faculdade e,
naturalmente, trouxe eles para a empresa comigo. Hoje não consigo me
imaginar sem os dois. Eles completaram o que meu pai criou, e me
ajudaram a segurar tudo aqui quando ele saiu de licença médica e a minha
mãe nunca mais o deixou voltar.
Eu olho a foto na minha mesa, de um dos meus aniversários, onde
estão meus pais e meus dois amigos junto a mim, estamos fazendo uma
pose mostrando os músculos, éramos muito jovens. Dona Susan sempre
pegou no nosso pé por conta da saúde. Desde novos ela nos obrigava a nos
exercitarmos, dizia que o que o meu pai não a obedecia, e que mudaria a
nossa vida, e com isso, fez com que nós três simplesmente nos
acostumássemos a malhar todos os dias. Mesmo depois que eu saí da casa
dos meus pais, nunca perdi o hábito de malhar, virou uma válvula de escape
para mim, um momento de extravasar toda a tensão do trabalho.
Observei a bela vista que eu tinha pelas janelas que iam do chão ao
teto, me possibilitando ver Manhattan. Eu estava no andar mais alto do
prédio, e via de cima a cidade que nunca parava. Olhei em volta, faltando
muito pouco para dar o meu dia como encerrado. Minha sala era cercada
por tecnologia, acredito que tirando os móveis e alguns quadros que meu
pai tinha deixado — e eu não tive coragem de tirar —, o restante era tudo
tecnológico. Não podia perder nenhum detalhe, tinha painéis com dados
financeiros, estatísticos e com informações da empresa em tempo real.
Athena acompanhava tudo e me avisava quando alguma coisa saía dos
padrões, o que acabava me deixando um pouco maluco, porque estava
acontecendo com frequência. Mas vou resolver isso o quanto antes, nem
que tenha que atropelar o Josh no meio do caminho para que entenda que
não estou mais na faculdade e nem de brincadeira. Iria acabar com essa
palhaçada dele me roubar clientes e funcionários.
Capítulo 4

Sophia Clarck

Quando éramos jovens


Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre colorido
Lembra como tudo era tão bonito?
Woah, quando éramos jovens
Parecia que a vida era tão simples então
Tão inocente, infinito
Olhe para nós agora, está tão diferente, não está?
When We Were Young (The Logical Song)
(feat. Kim Petras) - David Guetta
Meu despertador berrou para que eu soubesse que precisaria
levantar. Nessas horas eu sentia saudades da casa dos meus pais, de não ter
responsabilidades fixas. Desde que me mudei para Nova Iorque, minha vida
nunca mais foi a mesma. Passei a ver menos a minha família e a ter que me
virar sozinha por ter escolhido fazer faculdade aqui e esquecer boa parte do
meu passado.
Gemi, pensando que dormi apenas umas três horas, pois havia
passado muito tempo terminando um dos projetos que eu peguei como
freelancer. Precisava urgentemente de um emprego fixo. Estava
desempregada há mais de um ano, só fazendo bicos e com sérias
dificuldades de conseguir ser contratada, devido ao que meu ex-chefe fez, e
a ameaça dele ao me demitir. Mas aquele filho da puta ainda ia me pagar, o
mundo é redondo, o que é dele vai chegar.
Se não dividisse o apartamento com Mary, minha melhor amiga da
faculdade, não sei o que teria feito quando fiquei desempregada. Não quero
voltar para a Carolina do Norte, mas se as coisas não melhorarem eu
precisarei ir embora, não é justo a sobrecarregar tanto assim. Ela conseguiu
uma entrevista para mim na empresa em que trabalha, me deu algumas
dicas para que eu possa ficar mais tranquila, porém estou uma pilha de
nervos. Enquanto ainda estou criando coragem para levantar e tomar café,
meu telefone toca e eu vejo que é Sarah. Atendo imediatamente.
— Oi, Sarah, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — perguntei
preocupada. Desde que papai adoeceu, há seis meses, cada ligação era um
medo diferente.
— Oi, Soph! Não aconteceu nada, só liguei porque precisava ouvir
você um pouquinho, hoje só uma mensagem não seria suficiente. — Ela
falou fungando, estava obviamente chorando.
— Eu tô aqui por você. Pode me ligar sempre, sabe disso, mesmo
que seja só para chorar. Você tem aguentado muito desde que papai ficou
doente, não vive mais sua vida. — falei com pesar, porque me sentia
péssima por ela estar com uma carga tão pesada, porém o dinheiro que eu
ganhava em Nova Iorque ainda era a nossa melhor opção para ajudar no
tratamento, desde que descobrimos a doença dele no intestino.
— Sei que sim. Escolhi ajudar nossa mãe, não me arrependo, mas
ele está tão debilitado e isso tem me deixado muito mal, não tenho
aguentado ver mamãe fingindo que está tudo bem, e depois desabando em
lágrimas quando pensa que não estou vendo. Não posso perder os dois,
Soph. É demais pra mim. — falou e não aguentou mais segurar o choro.
— Não vamos perder os dois. Papai vai se recuperar, tenho muita fé
nisso. Hoje eu tenho uma entrevista de emprego e se eu for contratada, vou
conseguir ajudar mais. O salário lá é melhor do que o do meu antigo
emprego. Nós vamos sair dessa, irmã. Você vai poder voltar a estudar, te
prometo. Vou tirar essa responsabilidade que está com você e que não é sua.
— falei com toda a determinação que eu tinha.
Não vai ser fácil, e nem tenho ideia de como vou conseguir tudo
isso, mas nem que eu tenha que virar noites trabalhando, vou ajudar Sarah e
a minha família. O tratamento para o meu pai está ficando totalmente fora
do nosso controle financeiro, estamos gastando muito mais do que temos, e
isso é algo que me preocupa demais.
— Sei que você vai tentar o impossível, mas também não pode se
matar. É você que ainda me mantém firme diante de toda essa loucura que
estamos vivendo. Nós estamos dando o nosso melhor de maneiras
diferentes, e sei que você tem se matado de trabalhar também. Hoje vai dar
tudo certo na sua entrevista, estou com um pressentimento bom sobre você,
irmã. — Sarah sempre foi muito sensível, parecia que sentia quando algo
estava para acontecer, ou sabia que tinha acontecido, nunca conseguia
esconder nada dela.
Conversamos mais um pouco sobre algumas coisas aleatórias, até
que eu tive que me mexer para não me atrasar. Minha irmã me deu um
ânimo a mais para essa entrevista.
Depois que tomei uma enorme xícara de café, me senti mais
preparada para enfrentar aquele dia. Tomei um banho e caprichei na
maquiagem para disfarçar as olheiras das noites mal dormidas, mas deixei
todo o restante bem leve, apenas para dar aquela aparência de: já acordo
assim, linda e saudável. Ri, pensando em como a gente consegue enganar
com uma maquiagem bem-feita. Ninguém diria que estou a meses sem
dormir direito.
Escolhi meu melhor conjunto social. Eu era fã número um de bazar,
então sempre tinha peças muito boas e que paguei muito pouco para tê-las.
O que me matava era colocar um par de saltos para andar até a estação de
metrô, ela não era tão próxima ao nosso apartamento, e isso me fazia pensar
se eu realmente queria usar saltos. Mas como a imagem conta muito para
uma entrevista, eu peguei meus scarpins, já sentindo meus dedos
espremidos em antecipação e fui, porque ainda teria um longo caminho pela
frente, e não queria me atrasar.
Eu pesquisei bastante sobre a empresa. Precisava muito desse
emprego e estava começando a ficar nervosa. A cada estação que passava,
minha ansiedade aumentava, porém respirava e me lembrava de cada
resposta para as dúvidas que tirei com Mary. Ela sempre me falou que lá era
um bom lugar para trabalhar, e dificilmente o pessoal pedia demissão. Mas
com a chegada de uma empresa de tecnologia que despontou no mercado,
eles acabaram perdendo alguns funcionários. Ruim para eles, bom para
mim que tive a oportunidade de entrar.
Caminhei até a frente do edifício em que se localizava a empresa e
tive um bom pressentimento. Era enorme e lindo, todo espelhado, com
andares a perder de vista. Fiquei até arrepiada só de pensar em ter que subir
de elevador, porém me concentrei em observar todo o ambiente. Por fora
tinham muitas árvores e algumas mesinhas com cadeiras para sentar à
sombra, bem aconchegante. Lembrei de ter lido que eles eram uma empresa
super sustentável, e que valorizavam muito toda essa questão de meio
ambiente.
Entrei na primeira recepção, que era onde deixávamos os dados para
poder entrar e tive um choque. Por dentro era ainda mais bonito do que por
fora. O saguão tinha lindas flores naturais que traziam um cheiro de jardim,
de algo fresco, e contrastava com as janelas de vidro que iam do chão ao
teto, dando a sensação de ser uma extensão do jardim que ficava do lado de
fora. Me acalmei só de ficar nesse ambiente. Peguei um crachá e fui para a
recepção principal aguardar que me chamassem. Fiquei observando o lugar
que era interligado ao primeiro e tinha a mesma essência, com a diferença
apenas nos móveis luxuosos que adornavam o lugar. Me senti bem, apesar
de ver a gritante diferença da recepção com os lugares com os quais eu era
acostumada.
A recepcionista chamou o meu nome, me tirando dos meus
devaneios, e informou que a entrevista seria no sexto andar, onde ficava o
setor de recursos humanos. Nessa hora eu pensei que Deus realmente
gostava de mim, porque do jeito que eu estava nervosa, se subisse de
elevador com certeza teria uma crise. Agradeci e perguntei onde eram as
escadas, ela me olhou como se eu fosse doida, mas me guiou até a porta.
Cheguei no andar, respirei fundo e fui ao encontro das pessoas que
me entrevistariam.
Conheci Tyler que é o gerente do marketing e a Vanessa, do RH, a
entrevista foi muito boa, me trataram bem, me deixando à vontade e assim
eu pude contar todas as coisas que já fiz, minha formação, e eles pareceram
se interessar muito por alguns dos meus trabalhos. Falaram que me dariam
um retorno em breve.
Sai de lá confiante de que daria certo, mas precisava voltar logo para
casa, pois tinha mais trabalhos para entregar ainda hoje e não poderia me
dar ao luxo de perder, porque todo o pagamento já estava comprometido.
Respondi uma mensagem de Mary, que permanecia ansiosa,
querendo detalhes de como havia sido a entrevista. Contei tudo para ela, e
falei que fiquei bem otimista. A minha amiga estava eufórica nas
mensagens, falando que o gerente chegou rindo na sala e isso era um
excelente sinal. Eu me acabava de rir com as comparações que ela fazia do
coitado do gerente.
Falei com a Claire também, que se encontrava no Egito cobrindo
uma matéria. Depois que ela começou a trabalhar na CNN, vivia em
viagens para gravar uma infinidade de matérias, ficando pouco nos Estados
Unidos. Eu morria de saudades, mas vê-la tão feliz realizando seus sonhos
era a minha felicidade. Nos falávamos com frequência mesmo com o fuso
louco que ela sempre estava. A nossa amizade permanecia à distância e ela
sempre me dava forças para não desistir dos meus sonhos.
Conversamos um pouco por mensagem, e ela já tinha certeza de
que a vaga era minha, que dessa vez o meu ex-chefe não iria atrapalhar
minha contratação. Eu queria ter essa mesma confiança. Ele já tinha
atrapalhado muitas outras chances que eu tive, mas como dessa vez eu tinha
a referência da Mary também, esperava que isso bastasse para que ele não
tivesse tanta influência.

A sexta nunca demorou tanto para chegar. Eu estava tão cansada,


dormindo poucas horas e trabalhando muitas. Surgiram vários serviços
extras de uma vez e como eram empresas que eu costumava atender, não
pude rejeitar, porque isso poderia me atrapalhar. Como eram todas coisas
simples de fazer, aceitei e corri contra o tempo, mas consegui entregar tudo.
Havia acabado de chegar no centro, onde ficava o projeto social que eu
ajudava. Geralmente eu só ia nos fins de semana, mas Michele, que era uma
das coordenadoras do lugar, me pediu ajuda hoje, e claro que não neguei.
Amava estar ali com aqueles jovens e logo fui para a sala dela, entender o
que aconteceu. Bati na porta e ela me pediu para entrar.
— Boa tarde, Michele! — ela me olhava com uma cara assustada,
até mesmo triste, o que me preocupou imediatamente. — Está tudo bem?
Aconteceu alguma coisa? — perguntei enquanto me sentava à sua frente.
— Oi, Sophia, infelizmente não. O dono daqui disse que vendeu
esse prédio e eles vão construir um shopping aqui! Como ele sabe da nossa
condição e as obras não começam agora, ele nos deu seis meses para
encontrar um novo lugar, mas eu estou desesperada. O valor que nós
pagamos de aluguel é muito abaixo do preço de mercado. Tenho plena
consciência de que vai ser quase impossível conseguir algo nesse valor. O
que eu vou fazer com todas essas pessoas que contam conosco? — Ela
despejou tudo de uma vez e me olhava como se eu tivesse alguma solução
mágica para dar, mas eu sabia que era só o desespero falando mais alto.
Michele era uma das pessoas mais centradas que eu conhecia.
Apesar de ter uns cinquenta e poucos anos, parece que essa notícia a fez
envelhecer uma década. Ela estava abatida, o que contrastava com a mulher
sempre alegre e animada que era.
O projeto que ela tinha ali, ajudava a tirar diversas crianças e
adolescentes das ruas e de lares abusivos. Eu era voluntária dando aulas de
atletismo, o que era o ponto alto da minha semana, com certeza.
— Agora, a gente precisa colocar a mão na massa e procurar um
lugar. Tenho certeza de que vamos encontrar. O que você faz por essas
crianças é algo único. Você vê através do que elas sentem. Não vamos
perder o que temos aqui. Vai aparecer algum lugar até melhor do que esse.
— falei passando uma confiança que no fundo eu não sentia, mas era o que
Michele precisava escutar.
— Obrigada, Sophia, o que você faz com esses pequenos, dando
uma chance através do esporte, é algo único. Depois de tudo o que você
passou, poderia querer ficar longe disso, mas faz questão de ensinar a eles,
e faz tudo isso com amor. Você é única, querida! Eu fico agradecida por
você me apoiar. Agora chega de ficar nesse clima ruim! As crianças estão
empolgadas por uma aula com você hoje. — disse voltando ao seu estado
normal: sorrindo e brincando com todos em volta.
— Claro, vou indo lá. Vamos conversando e vou ajudar com o que
puder na busca. — disse e fui em direção ao espaço que usava para treinar
com as crianças.
Elas brincavam todas espalhadas enquanto me esperavam.
Cumprimentei uma das monitoras que me aguardava chegar para sair.
— Olá, crianças! — Chamei a atenção deles, que vieram correndo
em minha direção me abraçando e falando o quanto estavam felizes de
termos mais uma aula essa semana.
— Que bom! Agora vamos aquecer que eu quero ver quem vai
correr mais rápido hoje! Logo será a nossa maratona e sei que vocês irão
arrasar! — Eles foram para as posições e começaram os aquecimentos.
Aqueles pequenos faziam a minha vida ter sentido e eu amava estar com
eles ali. A empolgação para a maratona que nós montamos era incrível.
Os separei em equipes e começamos os treinos. Eu os acompanhava
quando o meu telefone tocou. Me afastei um pouco para atender e mal pude
acreditar quando me falaram que era da Rockefeller. Eu tinha passado na
entrevista e queriam o meu início imediato.
Agradeci, combinamos que eu começaria na semana seguinte e eles
passariam as demais instruções por e-mail.
Comecei a pular igual a uma doida, tamanha a minha felicidade, e as
crianças, sem entender nada, vieram comemorar comigo. Quando contei
que tinha conseguido um emprego que eu queria muito, aí que eles gritaram
e comemoraram mais ainda.
— Uhul! Agora a tia Sophia vai poder pagar sorvete pra gente! —
falou a Olivia, uma das meninas mais novinhas que eu tinha na turma.
— Claro que sim, meu amor, depois vou pagar sorvete para vocês,
mas quero todo mundo dedicado aqui. — falei rindo para eles, e apertando a
pequena em um abraço.
— Fechado, tia. Minha mãe disse que só quando ela estiver
trabalhando que vai ter dinheiro pra gente tomar sorvete. — E ali o meu
coração partiu mais um pouquinho quando entendi a referência dela.
Provavelmente ela pediu sorvete para a mãe que disse que só poderia dar
quando estivesse trabalhando. Às vezes, quando eu achava que estava
passando por alguma situação ruim, a vida sempre me dava um tapa para eu
ver que tinha muito mais em volta. E agora eu daria um jeito de pagar
sorvete para essa criançada toda.
— Então vamos voltar a treinar, porque senão, nada de sorvete. —
falei rindo, observando eles correrem para treinar e ajudando em alguns
movimentos, para que não se machucassem na hora que corressem.
Eles eram um pedacinho do meu sonho, e eu sempre daria o meu
melhor para eles. E agora, eu começaria mais uma página, e faria o possível
para dar certo.
No fim, todas estavam com os pressentimentos corretos.
Capítulo 5

Theodore Rockefeller

Eu sei que eu posso encontrar alguém


Você nunca vai encontrar ninguém como eu!
Nós éramos como foguetes de garrafa
Agora eu sei que tenho que parar com isso
Por favor, acredite em mim, isso não é fácil
Eu só preciso dizer adeus
Adeus
Goodbye - Who Is Fancy
Cinco meses depois

Estava na sala de reunião a ponto de matar um dos meus diretores.


Detestava reuniões que poderiam ser resolvidas por e-mail. Éramos uma
empresa de tecnologia, e parecia que, às vezes, tinham medo de usá-la.
— Senhores, essa reunião está indo para lugar nenhum. Tivemos
algumas péssimas ideias apresentadas hoje, então espero que vocês
melhorem esses projetos. Não podemos perder mercado e somos muito bem
consolidados para ter alguma falha tão primária. Eu espero o melhor da
minha equipe e, apesar de alguns estarem aqui desde a época do meu pai,
não tenho problemas em atualização de pessoas. — falei sem paciência.
— Enviem para Dorothy até amanhã, no horário do almoço, essas
apresentações para que possamos validar. Zachary, a sua foi uma das
decentes, podemos já agendar para apresentação do resultado final. Tenho
certeza de que a sua equipe vai apresentar uma boa campanha para o novo
produto. — completei, me levantando para sair.
— Nós dedicamos muito tempo para fazer essas apresentações, você
não pode simplesmente descartar como se o nosso trabalho não valesse
nada. — falou Harold, o Diretor de Controladoria. Eu não simpatizava com
ele de maneira nenhuma, e só não o tinha mandado embora porque meu pai
tinha me pedido para segurar, pelo tempo que tinha de empresa, porém
havia chegado no meu limite há algum tempo.
— Harold, você nem sabia direito o que estava apresentando, a todo
momento tinha que ler, e não soube nem ao menos responder as minhas
perguntas. Dessa forma, eu tenho pena de quem montou a apresentação,
pois vai acabar tendo que refazer todo o trabalho, porque você não fez o
seu, que era no mínimo saber o assunto que você me apresentaria. Não sou
mais a criança que andava atrás do pai pela empresa. Eu sou o dono de tudo
isso agora, então não ache que sou idiota. Sei exatamente todos os assuntos
que nos cercam. Agora pegue a sua equipe, entenda o que deveria ser
demonstrado com relação a toda a parte contábil e fiscal ainda hoje, e
mande até amanhã todos os pontos errados e os que faltaram. — Ele
engoliu em seco, sabia que era inútil discutir comigo sobre isso.
Apesar da minha formação ser voltada à área de tecnologia, eu
estudei muito sobre administração de empresas, sabia gerir esses pontos
muito bem. Cada vez que esses diretores achavam que poderiam me fazer
de idiota, meu sangue fervia.
Fui para a minha sala com David, e Dorothy veio logo atrás,
avisando que iria separar algumas coisas na mesa dela que precisavam da
minha análise, e logo viria aqui. Entramos e Karen nos esperava.
— Pela cara dos dois, a reunião foi animada, né? — ela falou
debochando.
— Se dependesse do nosso amigo aqui, com certeza sim. Ele
mandou basicamente todos os diretores refazerem as apresentações,
contestou números, fez questionamentos que eles só gaguejavam para
responder. Somente eu e o Zachary saímos impunes. — David falou rindo.
— Nossa! Que animado! Pena que eu não consegui participar,
adoraria ver alguns embaraçados ali. Uns senhores que não apreciam a
minha presença, com certeza ficariam mais felizes se eu estivesse na sala.
— Fez referência a algumas vezes que participou das reuniões e teve
diretores reclamando que ela não era ninguém para estar lá. Claro que tive
que intervir, porque Karen era uma profissional muito importante na
empresa, e por vezes tinha grandes contribuições para as reuniões, por lidar
diretamente com o sistema e com alguns clientes muito valiosos para nós.
— Com certeza você fez falta. Harold adoraria levar uma chamada
na sua frente. — falei rindo, só os meus amigos para tirar um pouco do meu
mau humor.
— Não acredito que aquele abençoado saiu de lá com a bunda
quente e eu não ouvi. David me conte as fofocas direito. — riu mais ainda.
David, como o bom fofoqueiro que era, contou em detalhes o que
havia acontecido.
Enquanto eles fofocavam, eu analisei alguns números, e pedi para
Dorothy separar um horário na minha agenda com o jurídico e financeiro,
para que verificássemos a aquisição de uma empresa. Que eu tinha um
grande interesse, era um bom ponto, e tinha uma boa base de clientes, mas
como o dono não era um bom administrador, passaram por grandes
problemas financeiros, que não eram de conhecimento geral. Como eu
sempre monitorava as empresas que me interessavam, e permanecia de
olhos abertos para quando surgissem oportunidades, essa eu aproveitaria.
Dorothy entrou na sala depois da sua usual batidinha, sem me
esperar responder.
— Agendei para daqui a vinte minutos a reunião que você pediu.
Subi para o sistema os documentos que preciso que revise e assine. Tem três
marcados como urgente, as minhas considerações estão neles. — falou se
aproximando da mesa para me entregar um envelope.
— Okay, vou revisar assim que voltarmos da reunião. O que é esse
envelope? — perguntei, porque não parecia ser algo da empresa.
— É o convite de noivado da Lauren, ela queria entregar
pessoalmente, mas como você não estava aqui quando veio, deixou comigo
e pediu que eu te entregasse em mãos. — ela falou e revirou os olhos.
Dorothy não gostava da minha ex-namorada, e sempre deixou isso muito
claro, tanto para mim quanto para a própria Lauren. Eu ficava no meio das
duas, pois nenhuma delas era fácil de lidar.
O que me deixou surpreso, foi receber o convite para o noivado
dela.
Só tinha um mês que nós terminamos e ela ia noivar?
Como para ela as coisas passaram rápido?
Eu ainda estava me acostumando com o meu novo status de
relacionamento, será que eu estava tão lento assim?
Minha vida nesses últimos meses era a mais pura loucura, mas não a
esse ponto.
Me perguntava se ela foi certa em terminar porque eu trabalhava
demais, tanto que nesse último mês só tive alguns casos de uma noite,
quando David me arrastava para algum pub.
Abri o convite e eu nem conhecia o noivo. Ia fazer uma pesquisa
para ver com quem ela escolheu se relacionar.
— Certo, pode colocar na minha agenda que irei ao noivado — eu
nem terminei de falar e tive três pares de olhos arregalados virando em
minha direção —, e avise à secretaria dos dois que eles irão comigo. —
apontei para Karen e David, deixando eles mais surpresos.
— Por que você vai fazer isso? E pior, por que vai nos obrigar a ir
junto? — Karen disse como se eu a estivesse levando para tortura. Minha
amiga era o drama em pessoa.
— Porque vocês são meus melhores amigos, e tenho certeza de que
esse casamento não vai acontecer. — falei sem demonstrar emoção.
— E quando é esse super evento ao qual nós não fomos convidados,
mas iremos obrigados? — David debochou.
— No próximo fim de semana, e vocês não foram obrigados, apenas
convidados sem possibilidade de recusa, sabe que é muito diferente, não é?
— Pisquei para o meu amigo.
— Meu filho, tem certeza de que você ir nesse noivado é a melhor
opção? — Dorothy questionou, e quando ela me tratava por meu filho é
porque estava preocupada comigo.
— Tenho, sim. Eu tenho muito carinho pela Lauren, ela fez parte de
vários momentos da minha vida, então mesmo que o casamento aconteça,
quero que ela seja feliz. — falei, mas tinha plena confiança de que esse
casamento não se concretizaria.
— Tudo bem, só não faz nenhuma besteira. Vou voltar para minha
mesa, te espero para a reunião daqui a pouco. — ela disse e depois que eu
assenti, saiu da sala.
— A Dorothy está certa, tenta não cometer nenhuma loucura, okay?
Não queremos te ver sofrer, mas você sabe que o relacionamento de vocês
já nasceu fadado ao fracasso, né? — Karen disse me olhando bem séria, o
que não era o normal dela.
— Não vou fazer besteira, vocês não confiam em mim? — falei de
modo firme, para eles entenderem que era verdade.
— Você ainda está sentindo que falhou com ela, e eu sei bem disso,
porque quando ela terminou, você ficou desnorteado por alguns dias
tentando entender o que você não fez, mas sabe que a maior reclamação
dela é com relação ao tempo que não era dedicado ao relacionamento, então
pensa bem se está disposto a mudar isso, antes de querer pagar de ex-
namorado bem resolvido, e dar alguma esperança para ela. — David falou,
por me conhecer tão bem quanto eu mesmo, mas estava confiante no que
iria fazer, então mantive minha resposta.
— Estou muito bem resolvido com o nosso término, e não vou no
noivado por isso. E vocês dois não têm trabalho a fazer? Vamos que tempo
é dinheiro, e vocês estão deixando dinheiro parado aqui. — encerrei o
assunto, para tirar os dois da sala de uma vez.
Eles não se convenceram com a minha resposta, mas por enquanto
era o que tinha para eles.
Me concentrei nas coisas que precisava resolver, e fui finalmente
para a minha reunião com o jurídico e financeiro, avaliei todas as nossas
possibilidades, para ir com uma proposta certa para o CEO. Não tinha
tempo a perder, e com todos os aspectos avaliados, nós poderíamos fazer a
compra e não teríamos prejuízos.
Já sai da sala e pedi para Dorothy agendar um horário para o mais
rápido possível com a empresa, porque quanto menos pessoas soubessem da
condição dele, mais fácil seria efetuar a compra.
— Você vai se desfazer do espaço físico dele se comprar realmente?
— Dorothy me perguntou.
— Não, eu vou manter. É um bom espaço e as tecnologias que ele
está trabalhando me interessam. Dessa forma, o que eu devo fazer é só
trocar algumas coisas de lugar, vou manter quase intacta a estrutura, só
cortar alguns frutos podres. Se não tivesse algumas coisas ruins, ele não
estaria falindo. — falei, e Dorothy apenas concordou.
Essa aquisição me deixou empolgado, era algo que meu pai sempre
quis, mas o dono sempre foi turrão e nunca quis vender, ficou esquecido por
anos, mas agora eu tinha um bom argumento para a compra, e ele tinha
tecnologias que eu estava muito interessado. E quando queria algo, fazia
acontecer.
Capítulo 6

Sophia Clarck

Derrotada, apenas chorarei agora quando estiver sozinha


Você nunca verá o que está escondido
Escondido lá no fundo, sim, sim
Eu sei, já ouvi que mostrar os sentimentos
É a única maneira de fazer as amizades crescerem
Mas eu estou com muito medo agora, sim, sim
Eu coloco minha armadura, te mostro o quão forte sou
Eu coloco minha armadura, vou te mostrar que eu sou
Sou imparável
Unstoppable - Sia
Eu ainda não acreditava que já haviam se passado cinco meses
desde a minha contratação. Foi tudo tão rápido e eu só pensava em como
estava gostando da minha função e em como Lili, que era minha
coordenadora, me ensinou o que precisava sobre a empresa e fazíamos uma
ótima dupla.
No caminho para a empresa com Mary, nós conversávamos sobre o
trabalho. Ela atuava no marketing também, porém numa divisão diferente.
O setor era todo departamentalizado para cuidar de cada coisa. Enquanto eu
trabalhava na criação de novas campanhas, Mary cuidava das já existentes,
verificando se estava alcançando o público e os números desejados.
— Eu estou adorando participar dessa nova campanha, e o melhor é
que a equipe é muito aberta para as novas ideias. Eu pude dar todo o meu
jeito para esse projeto, já que estamos somente eu e a Lili, o restante está
voltado a um projeto grande que requer mais pessoas. — contei como me
sentia.
— Que bom Soph, sei que a sua ideia vai ser um sucesso pelo que
você já me falou, e Lili é excelente também. Eu tenho só acompanhado
algumas movimentações, porque eles sempre querem os resultados das
campanhas antigas e das que estão em andamento para não cometer os
mesmos erros.
— Isso foi algo que eu gostei muito quando entrei na empresa, eles
sempre pontuam o que deu errado em outros projetos, para que possamos
aperfeiçoar e não acontecer novamente. — Foi algo que realmente achei
maravilhoso. Nós tínhamos vários gráficos e algumas Inteligências
Artificiais voltadas exclusivamente para isso, esse é o bônus em trabalhar
em uma empresa de tecnologia.
— Sim, trabalhar aqui é muito bom. — ela falou rindo — E como
está seu pai? Ele já fez os exames para ver se vai precisar da cirurgia? —
Mary perguntou alterando totalmente o tom da conversa.
— Ele vai fazer os exames hoje, me custou todas as economias que
eu tinha conseguido nesses últimos meses, o seguro saúde dele não cobria.
Mas estou tentando confiar que ele não vai precisar da cirurgia, porque não
sei de onde vou tirar dinheiro para isso. — Tentei não demonstrar o quanto
aquilo estava me incomodando.
—Vamos confiar, vai dar tudo certo, qualquer coisa nós daremos um
jeito. — Minha amiga tentou passar confiança, ela tinha um otimismo de
dar inveja em qualquer um.
Mudamos o assunto para algo mais leve e não paramos de falar até
chegarmos na empresa. Eu só subia de elevador se estivesse com Mary,
porque ela sabia da minha fobia e me ajudava, segurando minha mão e me
fazia olhar para ela, respirando devagar para me acalmar e conseguir subir
sem maiores problemas e ter uma crise de pânico.
Assim que pisamos no andar que fica o marketing, Tyler me chamou
com urgência, o que me deixou alarmada.
— Sophia, hoje nós dois vamos ter que resolver um belo problema,
mas também com uma ótima notícia. — ele me encarava com expectativa, e
eu nem sabia do que se tratava.
— Que bom que temos uma boa notícia pelo menos, né? — falei
preocupada com o que poderia ser o problema e a parte boa.
— Zachary conversou comigo no fim do dia, porque apresentou o
nosso projeto do novo produto para a diretoria e foi aprovado. Essa é a boa
notícia, a ruim é que temos que apresentar hoje para ele tudo que temos.
Ontem, eu e Lili ficamos até mais tarde acertando alguns pontos e para
completar o marido dela me ligou agora há pouco falando que ela sofreu um
acidente e está internada no hospital — nesse momento eu me preocupei
muito com Lili, e acredito que ficou evidente no meu rosto —, está estável,
mas parece que quebrou uma perna e um braço e saiu de cirurgia pouco
antes dele me ligar. Eu já acionei o RH e vamos dar o suporte que eles
precisarem, com isso não podemos contar com ela. — Foi evidente o pesar
na sua voz. Sei o quanto eles se dão bem, então imaginei que ele estava se
retorcendo com a notícia.
Ele me bombardeou de informações, fiquei um pouco nervosa, mas
sabia que precisaria resolver tudo e dar o meu melhor, por Lili,
principalmente. Nos dedicamos muito para que ficasse tudo perfeito.
— Okay, vamos resolver isso, para depois podermos visitá-la no
hospital. Me atualize, o que vocês fizeram ontem e vamos apresentar o
melhor projeto que essa empresa já viu. — falei com confiança, o que fez o
rosto de Tyler suavizar.
Passamos as horas seguintes finalizando os detalhes que estavam
pendentes e que Zachary havia apontado que deveriam ser modificados.
Assim que concluímos, fomos até a sala dele e apresentamos, Tyler deixou
que eu conduzisse a apresentação, porque eu que havia montado o projeto
todo com Lili.
— Ficou incrível. O que eu apontei, vocês conseguiram deixar
melhor do que eu imaginei. — ele falou nos deixando em êxtase.
— Que bom que você gostou, a Lilian e a Sophia fizeram realmente
um excelente trabalho com essa campanha. — Tyler agradeceu e nos
elogiou ao mesmo tempo.
— Sim, sem dúvida elas fizeram e a Srta. Clarck apresentou muito
bem. Vendeu a ideia de forma que você fica extasiado e quer ver essa
campanha amanhã na Times Square. Vou pedir para a minha secretária
confirmar o nosso horário com o Theo daqui a duas horas para
apresentarmos para ele.
— Obrigada, Sr. Zachary. — Agradeci, me sentindo já nervosa em
apresentar para o CEO, sempre me falaram que Theodore era difícil de lidar
quando queria, e extremamente exigente. Deixava a equipe inteira em
pânico com seus questionamentos e respostas ácidas.
Eu saí da sala, deixando os dois para trás, porque eles ainda tinham
mais coisas para discutir.
Desci para o nosso andar e me organizei nas horas certinhas, para
poder almoçar e conseguir subir para o andar da presidência com calma,
tenho certeza de que se entrasse no elevador eu surtaria.
Mandei uma mensagem para Claire enquanto descia para o
refeitório que ficava alguns andares abaixo do meu.

Eu: Claire, meu dia hoje foi de 0 a 100 muito rápido. Minha
coordenadora sofreu um acidente e eu precisei substitui-la em
uma apresentação para nosso diretor.

Claire: Nossa, amiga, que loucura! Deu tudo certo?


Eu: Sim! E agora eu vou conhecer pessoalmente o nosso CEO!
Nem estou acreditando nisso. Tô tendo pequenos surtos. Me
fala como estão as coisas por aí, preciso distrair minha cabeça.

Claire: Respira fundo que vai dar tudo certo.

A matéria está indo super bem, agora o problema foi um cara que
encontramos aqui que, aparentemente, está de férias. Nós acabamos
brigando feio porque ele acha que é o rei do mundo e estava atrapalhando a
nossa gravação.
Que ódio que eu fiquei.

Eu: Que cara doido, logo ele para e não vai perturbar mais
você. E tenho certeza de que a matéria vai ficar perfeita.

Claire: Tomara que sim, porque descobri que, além de tudo, a


benção está no mesmo hotel que eu.

Conversamos mais um pouco, enquanto eu almoçava, ela reclamava


do rapaz e eu tentava remediar. Claire quando colocava alguma coisa na
cabeça era difícil de tirar.
Hoje Mary não conseguiu descer para almoçar comigo, então me
concentrei no almoço e na minha conversa. Peguei algo bem leve para
comer, só uma salada e um frango grelhado, e assim que comecei a comer
tive a certeza de que se fosse algo mais pesado, passaria mal.
Sempre tive muita confiança no meu trabalho, mas nunca havia
trabalhado em uma multinacional, ou feito um projeto tão grande quanto
esse. Por isso estava nervosa e com medo de falhar.
Voltei para minha sala, me arrumei e vi que Tyler deixou uma
mensagem avisando que me encontraria direto na sala onde nós faríamos a
apresentação.
Eu só não sabia qual era a sala, então enviei uma mensagem
perguntando pra onde deveria ir. Peguei minhas coisas e fui subindo as
escadas devagar para tentar acalmar meu coração.
Cheguei no andar da diretoria que, para meu desespero, era o último
do prédio. Eu já havia me acostumado a subir vários lances de escada sem
me importar, mas sempre tinha medo de me atrasar.
Aqui em cima não era diferente do restante do prédio. Cada lugar
que eu olhava era luxuoso, desde o piso de mármore às janelas que iam do
chão ao teto. Reparei que em todos os andares as janelas eram nesse padrão,
o que nos fazia ter uma visão linda dos arredores da empresa.
Mas eram os pequenos detalhes que impressionavam. Desde lustres,
que pareciam caríssimos, à portas e móveis que pareciam todos feitos por
encomenda.
Antes de entrar para a apresentação, vi que tinha alguns minutos,
então fui ao banheiro, que seguia o mesmo padrão, me ajeitei e agradeci aos
céus por ter vestido uma das minhas melhores roupas sociais. Estava
usando um conjunto azul marinho de saia lápis e blazer sobre a blusa social
branca. Respirei fundo, retoquei o batom e fui localizar a sala que Tyler
havia indicado. Encontrei uma moça, que eu imaginei ser a secretária do Sr.
Theodore, no caminho.
— Olá, você é a Sophia, do Marketing? — ela me perguntou quando
cheguei perto.
— Sim, sou eu mesma.
— Maravilha, vamos que estão todos esperando por você. A
propósito, eu sou a Dorothy, às vezes esqueço de me apresentar, péssima
mania adquirida depois de alguns anos trabalhando com o Theo. — ela
disse sacudindo a cabeça, eu olhei no relógio para ver se estava atrasada e
ela reparou.
— Querida, você não está atrasada, só esses meninos que estão
adiantados. Como Tyler não te encontrou no setor, imaginou que você já
estivesse aqui, então todos estão aguardando. Pode ficar tranquila. — ela
tinha um jeito sereno de falar, que me fez ficar à vontade e me senti calma,
parecia até coisa de vó.
Se ela imaginasse que eu estou comparando-a com uma avó, acho
que ficaria muito brava.
Só eu para me perder nesses tipos de pensamentos.
— Certo, obrigada! Só não gosto de chegar em uma reunião depois
de todo mundo, porque parece que me atrasei. — falei enquanto entrávamos
na sala.
Dei um cumprimento geral, deixei minhas coisas na cadeira vazia e
fui logo para frente fazer a apresentação conforme orientação de Zachary,
não foquei em ninguém em específico, só dei o meu melhor, sem pensar em
quem me assistia.
Me sentia confortável assim, apenas prestando atenção no que tinha
que fazer e no que era perguntado. Usava toda a minha concentração para
fazer o meu melhor, porque quando não conhecia as pessoas, eu acabava
ficando com vergonha e virava um pimentão.
Assim que finalizei, Zachary complementou com mais alguns
aspectos, e eu finalmente olhei em volta, meus olhos cruzaram com os de
Theodore Rockefeller. Me perdi naquelas piscinas azuis por alguns
segundos e tive a sensação de que conhecia aquele olhar de algum lugar.
Capítulo 7

Theodore Rockefeller

Então saia, saia, saia da minha cabeça


E em vez disso caia nos meus braços
Eu não, eu não, não sei o que é isso
Mas eu preciso daquela coisa
Você tem aquela coisa
One Thing- One Direction

Conversava com Zachary e David enquanto aguardávamos a


funcionária que faria a apresentação. Era uma contratação relativamente
nova e não tinha ideia de quem era até o momento em que entrou na sala,
deu um boa tarde geral e se posicionou diretamente para a apresentação por
Zachary já ter feito a introdução. Eu olhei para ela e sabia que aquela voz,
um pouco nervosa, me era familiar.
Pensei de onde eu me recordava, mas foi no momento em que eu
respirei fundo e senti seu cheiro de lírios, que invadiu a sala e quando ela
virou e eu encarei o rosto, lembrei exatamente de onde eu a conhecia.
O cheiro era o mesmo que eu senti da última vez e que me
assombrava sempre que entrava na estufa da minha mãe.
O corpo havia mudado, ganhou mais curvas. O cabelo castanho
estava maior e mais claro do que da última vez e a bunda, que eu reparei
bem quando ela saiu correndo do nosso primeiro encontro, ficou maior
ainda, não sei como era possível, mas encontrei a garota que eu beijei no
elevador seis anos atrás.
Procurei por ela de todas as formas naquela época, mas a queda de
energia deu uma merda tão grande nas câmeras do lugar que eu não tinha
uma imagem para procurar. Com o tempo, eu deixei de lado, e agora ela
estava aqui, trabalhando na minha empresa.
Eu prestei atenção na apresentação de Sophia e, apesar de disfarçar
bem, consegui captar o seu nervosismo. Eu era um bom observador, e pouca
coisa me passava despercebido. Ela fez uma excelente apresentação,
realmente era um projeto ousado e que tinha tudo para dar certo e ser bem
aceito.
Enquanto Zachary fez algumas considerações, ela parecia que
finalmente havia relaxado e absorvia as pessoas em volta. No momento em
que me olhou, senti o reconhecimento que passou muito rápido por seus
olhos, como se perguntasse de onde ela me conhecia.
Quando eu fiz algumas perguntas bem técnicas, ela rapidamente me
respondeu, não me encarando novamente após, mas demonstrando um
conhecimento perfeito sobre o assunto.
— Parabéns pela apresentação, Srta. Clarck. — ela abriu um sorriso
tímido, e deu um leve corar com a minha congratulação, acredito que ela
esperava o meu pior lado — Zachary, veja com o restante da equipe os
ajustes necessários, quero uma pré-campanha para antes do lançamento do
produto e a oficial assim que ele for disponibilizado no mercado, que de
acordo com David, será em 30 dias. — falei para que eles começassem a se
movimentar para entregar no prazo.
— Claro, iremos fazer tudo para colocar no ar em pouco tempo.
— Outra coisa, quero que a Srta. Clarck continue à frente do projeto
e faça as duas partes que eu solicitei. Fora as coisas que eu pontuei, não
quero nenhuma alteração. Há bastante tempo que não vejo uma ideia tão
boa, é o que nós precisamos para fazer esse produto ter mais destaque no
mercado. — falei calmamente.
— Sim, vai permanecer, não tinha planos de tirá-la desse projeto.
Sei da importância dele e ela vai ser a pessoa certa para finalizar e colocar
no ar. — Zachary falou, como se ele já não tivesse alterado outras vezes a
equipe pelo que achava melhor.
Fechamos esse assunto e eu fui para minha sala. Tinha que pegar
meu blazer e encontrar o dono da empresa que eu queria comprar, já tinha
todas as informações que eu precisava para as negociações.
Enquanto fui para o elevador, me lembrei que Sophia tinha pavor
deles, e pensava se ela encarava as escadas do enorme prédio em que
estávamos. Depois eu olharia isso. Aproveitei para pedir que Athena
levantasse toda a sua vida, queria saber tudo agora que eu a tinha tão perto.
Desci até a garagem e peguei meu carro indo encontrar Avelar na
sua empresa que, em breve, seria minha.

— Sr. Rockefeller, pode entrar. O Sr. Avelar está o aguardando. — a


secretária falou sorridente, apenas acenei, depois de me deixar plantado
aqui por mais de uma hora, espero que ele no mínimo não me faça perder
mais tempo.
— Boa tarde, Avelar! Muito ocupado para me atender no horário?
— Como ele sabia muito bem que eu odiava atrasos, não duvidei que ele
tenha feito de propósito.
— Boa tarde, Theodore! Jamais faria algo assim com você. — usou
um tom de deboche que eu ia tirar dele em poucos minutos.
— Que bom, assim podemos ir logo ao motivo da minha visita.
Quero comprar a sua empresa, acho que você já chegou na idade de se
aposentar. — não enrolei mais, e ele esbugalhou os olhos de surpresa.
— Você sabe que a minha empresa não está à venda. — falou após
se recompor do choque inicial.
— Mas ela estará muito em breve. Sei como está a sua condição
financeira e imagino que você não vai esperar falir, para ter que demitir
milhares de pessoas, não estou certo?
— Como você sabe da saúde financeira da minha empresa? —
perguntou já um pouco vermelho, e afrouxando a gravata.
— Sei de tudo aquilo que me interessa. E a sua empresa sempre me
interessou, sabe bem disso. — disse aproximando dele a pasta de
documentos, ele apesar de trabalhar com tecnologia, ainda era voltado ao
papel — Aqui está o dossiê com as informações que eu estou me referindo,
e o documento de compra, para você analisar.
— Eu não posso fazer isso, Theodore, essa empresa é a minha vida.
— pareceu derrotado, enquanto folheava os documentos.
— Você sabe que eu tenho o dinheiro para recuperá-la e, quando
você chegar no documento de compra, vai ver que eu não vou acabar com a
empresa. Lógico que algumas pessoas teriam que sair, se você faliu é
porque algumas pontas estão soltas, mas vou manter a empresa e os
empregos. Podemos fazer uma transição mais leve, assim você tem mais
tempo para se acostumar com a ideia e com a pessoa que eu deixarei aqui
tomando conta. — falei de forma mais compassiva, não imaginei que
encontraria o homem tão abalado assim.
— Eu vou olhar tudo com calma e lhe darei uma resposta. —
retomou sua postura.
— Em uma semana eu quero o seu retorno, o que eu te ofereci por
essa empresa não é o que ela está valendo. Você sabe que eu só fiz isso por
respeito ao meu pai e à consideração que ele tem por você. — usei um tom
sério.
Ele apenas acenou, parecia completamente perdido, não imaginava
que alguém de fora já sabia da situação. Ficou claro pelo seu olhar que ele
ficou balançado com a proposta, mas ainda tinha muito orgulho nele.
Porém, quando analisasse tudo, ficaria óbvio que era a melhor solução.
Saí da sala porque já tinha feito tudo que poderia no primeiro
momento, agora era esperar para ver se ele seria esperto em aceitar, ou se ia
me dar trabalho.
Decidi que seria mais proveitoso ir para casa porque já não
aguentava mais aquele dia.
Enfrentar o trânsito de Manhattan à tarde, perto do horário de pico,
era insuportável. Eu estava sem motorista hoje, então teria que dirigir e não
poderia trabalhar. A minha vontade era de andar só de helicóptero, ou, às
vezes, de nem sair de casa.
Trabalhar com máquinas e tecnologia fazia com que você ficasse o
mais antissocial possível, que passasse a detestar estar entre desconhecidos
e, para minha infelicidade, era o que eu mais precisava fazer sendo CEO.
Já pensei algumas vezes em focar somente na parte produtiva e
deixar outra pessoa à frente, porém nunca tive coragem. Era o legado do
meu pai, o sonho da vida dele e eu me dediquei muito para que a empresa
continuasse no topo. E ainda a melhorei no que era possível.
Não desistiria por conta de pessoas que me irritavam, mesmo que
fossem muitas.
Finalmente havia chegado em casa. Avisei a Dorothy que não
voltaria à empresa, e em caso de necessidade, que me acionassem on-line.
Ela me lembrou que eu lhe devia algumas assinaturas, então me concentrei
no resto da tarde em ler, assinar e não concordar com alguns contratos.
Quando finalmente parei, tomei um banho para relaxar e voltei meus
pensamentos para Sophia, pensando em quanto o destino brincava com a
nossa cara. Eu a procurei por meses, em qualquer câmera de segurança nas
redondezas que me desse um vislumbre dela e não encontrei nada.
Como estava com várias coisas na cabeça, por meu pai ter me
colocado à frente de vários projetos na empresa, ter que lidar com pessoas e
eventos, parecia que ele pressentia que ficaria doente, acreditei que nunca
mais a veria e não poderia ter me enganado mais.
Depois do banho só coloquei uma calça de pijama e desci para a
cozinha. Verifiquei o que havia para comer, para minha completa alegria,
minha mãe havia deixado a lasanha congelada para mim.
Eu tinha uma senhora que tomava conta da cobertura e uma equipe
de limpeza que vinha duas vezes na semana, ela cozinhava e deixava a
comida congelada para mim. Às vezes, mamãe passava por aqui e deixava
algumas coisas também, o que eu confesso que adorava, porque a comida
dela era sem igual, e pra mim, que passava muito tempo fora, ter um
gostinho de comida caseira, mesmo que congelada era a melhor coisa do
mundo.
Descongelei e montei meu prato, sendo a pessoa mais feliz do
mundo ao ingerir carboidratos depois de um dia tão longo. Amanhã eu
penso em me matar na academia para queimar tudo.
Depois de colocar tudo na lava-louças, me atualizei com algumas
matérias que ficavam na minha lista de prioridade para serem vistas com
urgência, vi o que impactava a empresa, já deixei encaminhado para quem
seria responsável por analisar, e dei meu dia por encerrado.
No meu quarto acionei todos os controles, baixando todas as
persianas, para não entrar nenhum feixe de luz. A minha casa era o mais
tecnológica possível, aqui o ditado “casa de ferreiro, espeto de pau” não
valia, sempre buscava tudo para otimizar o meu tempo.
Adorava as minhas janelas que iam do chão ao teto, tanto que todo o
meu apartamento era adornado por elas, assim como o meu escritório,
porém para dormir eu preferia a total escuridão. Ajustei a temperatura no
mínimo, caí na minha cama e peguei no sono logo em seguida.
Capítulo 8

Theodore Rockefeller

Um perseguidor
Você quer observar cada movimento meu
Você é um perseguidor
Você me segue para casa depois da escola
Você ativou suas notificações
Você assiste minhas histórias para te excitar
Você é um perseguidor
Sim, você é um
P-e-r-s-e-g-u-i-d-o-r
Stalker- Jake Daniels
Estava desde cedo malhando, foi uma rotina que adquiri e nunca
mais parei. Quando não treinava, tinha a sensação de que faltava um pedaço
do meu dia e, por isso, montei uma academia em casa, para não precisar me
preocupar em sair e ter que dividir equipamentos, espaço e tempo, que para
mim eram coisas sagradas.
Como todo o meu apartamento era à prova de som, eu malhava
sempre com a música no mais alto volume, e isso era como uma terapia
para mim. Assim que finalizei os exercícios, peguei meu celular e ele tocou
mostrando minha mãe na ligação, ela sempre tinha o timing perfeito.
— Oi, meu filho! — ela falou animada.
— Oi, mãe, tudo bem? Meu pai anda se comportando? — Ele às
vezes esquecia que já tinha sofrido o ataque do coração e resolvia aprontar,
fazendo algumas coisas que os médicos proibiam. As últimas ligações
giraram em torno dela reclamando dele.
— Tudo sim, ele está comportado essa semana. A briga que eu tive
com ele da última vez que peguei ele fumando escondido, valeu para ele ter
medo de respirar errado — minha mãe sabia ser bem assustadora quando
precisava, e fazia com que eu e papai tivéssemos medo dela —, mas eu
estou ligando porque quero que venha jantar conosco hoje. Você com essas
viagens têm esquecido que tem família. — Ela finalizou de forma
dramática, juntava ela e Karen e eu tinha metade do drama do planeta,
nunca vi mais exagerada do que as duas.
— Eu sempre vou aí quando volto das viagens, e a senhora sabe
muito bem disso. Porém, eu não me nego a um convite para encontrar vocês
fora dos nossos domingos. — Os domingos que eu ficava na cidade sempre
eram voltados para passar um tempo com meus pais.
— Maravilha, querido. Te espero mais tarde, então. — ela disse, e
nos despedimos.
Saí da academia e subi para o meu quarto. Depois de tomar um
banho, me senti preparado para enfrentar o trânsito de Nova Iorque e chegar
à empresa para iniciar aquele dia de trabalho.
Para a minha completa felicidade, Gerald, meu motorista, havia
voltado da viagem que fez e hoje eu poderia ir mais “tranquilo” no carro.
Depois de pronto, com meu terno de três peças cinza, desci
colocando as abotoaduras e indo em direção ao elevador. Assim como tudo
ao meu redor, ele tinha a parede de vidro, o que me permitia ter uma bela
vista de Manhattan logo cedo. Com toda a minha correria, era nesses
momentos que eu parava para observar a cidade, que eu finalmente
desligava um pouco minha mente e respirava.
Chegando na garagem, cumprimentei Gerald e seguimos para o
escritório. Eu aproveitei para abrir meu notebook e notei que Athena havia
concluído a pesquisa sobre Sophia. Comecei a ler todo o material que ela
levantou, primeiro nas informações básicas, sobre a família, vi que ainda
moravam na Carolina do Norte.
Ela tinha uma irmã mais nova que se parecia muito com ela. Pude
ver uma foto dos quatro juntos, e vi que formavam uma bela família. Fui
lendo todos os mínimos detalhes e olhei com o que eles trabalhavam. O que
me chamou atenção foi que a casa da família havia sido hipotecada, e o pai
dela internado. Imagino que isso possa ter algo a ver com a hipoteca. Tinha
um arquivo em separado sobre o estado de saúde dele, depois daria uma
olhada.
Fiquei tão absorto nas informações que nem reparei que já
estávamos na empresa. Todo o percurso passou como um borrão. Fechei o
notebook e fui em direção ao elevador privativo que usava. Precisava
terminar de analisar essas informações com urgência, tudo sobre a Sophia
parecia extremamente interessante.
Chegando ao meu andar, notei que estava completamente vazio. Era
a vantagem de ser o primeiro a chegar: não ter que lidar com ninguém.
Segui direto para minha mesa, e continuei a leitura. Olhei o histórico
escolar dela, fui vendo toda a evolução e desde o primário ela sempre se
destacou, então não foi nenhuma surpresa quando cheguei na faculdade e
tinha a informação que entrou através de uma bolsa, o que me espantou foi
ter sido uma bolsa para atletismo, como velocista.
Então percebi que tinha fotos dela em vários pódios desde nova.
Parecia que correr era uma paixão, o que explicava o corpo impecável que
ela possuía. Estava com mais curvas agora do que quando a conheci, mas
naquele dia o pouco tempo que tivemos no elevador me fez ter uma boa
noção do corpo que devia possuir, e isso foi suficiente para me fazer
lembrar dos beijos que trocamos. Passei tanto tempo pensando neles... Foi
só a merda de um beijo, mas parece que nenhum outro foi tão bom e de tirar
o fôlego como o dela. Agora eu a tenho tão perto, mas não posso jogá-la na
droga da parede e a beijar de verdade.
— Nossa, você está com uma expressão que eu não vejo há muito
tempo. O que aconteceu? — Dorothy me deu um susto.
— Eu nem vi você entrar.
— Bati e entrei como sempre faço, e você aí, com uma cara de
quem se lembrava de algo como se estivesse vendo na sua frente.
— Eu me distraí lembrando de uma pessoa e de uma determinada
situação que passamos. — falei, porque com Dorothy não dava para
esconder nada, mas ela sabia também até onde eu queria falar, só pela
minha resposta.
— Deve ser alguém importante, porque não é um jeito que te vejo
com frequência. Parecia sonhador. Seja quem for, que você encontre de
novo. Pode ser o que você está precisando. — disse com um sorrisinho no
rosto.
— Não estou pensando em nada disso agora, e tenho muito com que
me preocupar. Você veio repassar alguma coisa da agenda? — Mudei de
assunto porque não sabia o que pensar quanto àquilo tudo.
— Isso, tem algumas reuniões que eu preciso reorganizar, mas
queria fazer com você ciente. — Se sentou na minha frente para que
começássemos.
Organizamos tudo que Dorothy precisava e antes de entrar nos meus
compromissos de trabalho, terminei de olhar as informações da vida de
Sophia que Athena levantou. Pedi que avançasse mais um nível e trouxesse
maiores informações. Eu separava as informações em níveis para as buscas
que fazíamos, e o que eu descobri sobre ela não era suficiente, ainda tinha
curiosidade sobre algumas lacunas que ficaram.
Era um péssimo hábito que eu possuía: sempre cavar a vida das
pessoas que me cercavam. Depois do que passei com o Joshua não deixava
mais qualquer pessoa entrar sem eu saber tudo à sua volta. Mesmo sabendo
que caráter não ficava exposto nas pesquisas, eu conseguia ter mais
informações sobre as pessoas baseado nas atitudes que elas têm quando
acreditam que ninguém está vendo, e aí deixam rastros que eu sempre
descubro nessas pesquisas. Isso sim diz muito sobre elas.
O dia passou e eu nem senti. Foi particularmente estressante: muito
problema e pouca solução. Entendia completamente o meu pai ter tido um
infarto, ele era o tipo de pessoa que falava pouco sobre os problemas e aqui
ele acumulava muitos deles.
Se não fosse por Dorothy, eu nem teria comido nada no horário do
almoço. Simplesmente, impossível de parar, mas tinha plena consciência de
que precisava acabar tudo até às sete da noite, porque se não chegasse na
casa da minha mãe antes das oito, ela falaria até cair minhas orelhas.
Deixei algumas coisas para ver em casa, ainda teria algumas
reuniões com filiais que eram em outros países e devido ao fuso horário
acabava sendo a altas horas da noite.
Quando vestia meu terno para sair, David entrou na minha sala.
— Que bom que você já está pronto para sairmos. — disse me
esperando na porta.
— David, hoje eu não consigo. Estou indo para a casa da minha
mãe.
— Mas é pra lá mesmo que eu vou. Você achou que iria aproveitar a
comida dela sozinho? Você é um péssimo amigo. — falou colocando a mão
no peito e se fingindo ofendido.
— Deixa ela saber que só a comida dela é importante para você. Eu
achei que poderia aproveitar meus pais sozinho. Mas pelo visto não vou
conseguir, porque ela adotou você e a Karen. E cadê ela, que não está aqui
perturbando junto com você?
— Ela estava terminando um trabalho e disse que encontraria a
gente na garagem. E você nunca conseguiria viver sem a nossa companhia.
— me deu uma piscadinha.
Peguei as minhas coisas e nós fomos para o elevador. Chegamos na
garagem, e Karen estava encostada no carro de David.
— Achei que as princesas não desceriam mais. Susan já me enviou
uma mensagem perguntando se nós chegaríamos hoje. — falou dramática,
como só ela conseguia.
— Eu não sabia que teria companhia para o jantar, mas também não
sei como ainda esqueço que vocês são grudados na minha família. —
brinquei, porque eles eram o que eu tinha de mais importante, junto com
meus pais, os dois eram o meu alicerce.
Capítulo 9

Sophia Clarck

É a minha vida, é agora ou nunca


Eu não vou viver para sempre
Eu só quero viver enquanto eu estou vivo
(É a minha vida) meu coração é como uma rodovia aberta
Como Frank Sinatra disse: Eu fiz do meu jeito
Eu só quero viver enquanto eu estou vivo
Porque é a minha vida
Continue confiante quando estiverem te criticando
Não se curve, não desmorone, amor, não recue
It's My Life - Bon Jovi
Finalmente havia chegado o fim de semana. Eu tinha muitas coisas
para fazer, pois ainda fazia alguns trabalhos extras para ajudar a pagar as
despesas da minha família. Papai não apresentava melhoras e isso me
deixava em pânico. Estava ansiosa pelos resultados dos exames que ele fez,
e demorariam um pouco, porque não tínhamos dinheiro para pagar pelo que
seria entregue mais rápido.
Acabei de sair da casa de Lili e fiquei feliz ao ver que ela se
encontrava bem melhor, fora o braço e a perna quebrados, logo estaria
recuperada. Já tinha visitado ela rapidamente no hospital, e hoje pude passar
um tempo a mais dando apoio, e acalmando-a sobre o trabalho. Ela era
extremamente preocupada com a empresa, e por isso ficou em surto, por
ficar afastada enquanto se recuperava, porém reforcei que sua saúde era o
mais importante no momento.
Andei da casa dela até a estação do metrô e fui para o centro social.
Estávamos muito preocupadas, pois o tempo chegava quase ao fim e não
encontrávamos nenhum lugar que pudesse substituir o que usávamos hoje.
Mas não nos cansávamos de procurar. Michele tinha algumas visitas
para fazer na semana que vem e torcia para que desse certo.
Cheguei e fui direto trocar de roupa para encontrar meus alunos.
Havia diversas turmas, separadas por idade, os pequenos queriam só
brincadeiras, mas os maiores e os adolescentes gostavam das aulas e se
empolgavam para competir. Nos fins de semana eu tinha mais algumas
voluntárias que ajudavam por serem muitas crianças. Meus momentos de
paz eram ali, aquelas crianças me transportavam para o que eu mais amava
fazer na vida.
— Você reparou que Billy está mais quieto hoje, e com o
rendimento bem abaixo do que ele costuma apresentar? — uma das
voluntárias que sempre me ajudava falou, eu reparei nele e realmente ele
não tinha conseguido finalizar alguns exercícios que passamos, o que era
raro, porque Billy era o melhor dessa turma, tinha um enorme potencial.
— Sim, vou conversar com ele no final das atividades, obrigada por
me avisar.
Prestei atenção nas crianças, mas sempre voltava meu olhar ao que
Billy fazia, e era perceptível que algo o incomodava. Era como se estivesse
em um dilema a cada movimento que executava.
No fim da tarde liberei todos e avisei a Billy que queria conversar
com ele, que ficou desconfiado. Quanto mais velhos, mais desconfiados
eles ficavam, o centro ajudava muito, mas sabia que não era fácil a vida que
levavam.
— Oi, tia Sophia.
— Oi, Billy, está tudo bem com você? — perguntei, de forma leve
para iniciar o assunto. Ele parecia muito desconfortável.
— Tá sim. — Ele nem olhou nos meus olhos, e parecia distante,
pensativo.
Percebi pela sua postura que eu teria que ser direta, porque senão,
não chegaria em lugar nenhum.
— Que bom, querido. Percebemos que hoje você não focou nos
exercícios, parecia em conflito na hora de executá-los. — falei de forma
direta. Billy já tinha doze anos, em breve poderia competir em campeonatos
estaduais, e tinha muito talento para se tornar um atleta.
— Está tão nítido assim? Eu não queria atrapalhar o treino hoje, me
desculpa. — ele disse parecendo estar muito sentido.
— Para nós que te conhecemos é perceptível. Mas não quero que
pense que estava atrapalhando, só me preocupei. — toquei sua mão, para
que ele me olhasse. — Porque você sempre é muito focado e hoje parecia
que queria sair correndo a qualquer minuto. Sabe que pode contar com
todos aqui, e se algo não estiver certo, pode nos avisar.
— Eu sei que sim, mas minha mãe disse que o centro vai fechar, e
eu vou ter que acabar com os treinos. Ela disse que era uma palhaçada que
não me levaria a lugar nenhum, e se o centro fechar eu vou ter de começar a
trabalhar para ajudar em casa. — conforme ele foi falando, os olhinhos
foram ficando marejados.
— Billy, o centro não vai fechar. — eu falei, e era algo que eu não
poderia prometer, mas no momento era o que eu tinha para ele — Nós
estamos resolvendo alguns problemas, mas não vamos desamparar vocês. E
sobre o atletismo, se você gosta, não é uma palhaçada. Não vou te dizer que
será fácil, mas você tem muito talento. Me lembra muito o Noah Lyles[3]. —
Era algo muito real, ele levaria algum tempo, mas poderia se tornar um
excelente velocista.
Ele me olhou parecendo não acreditar nas minhas palavras, como se
tivesse medo do que eu dizia.
— Tia, eu não sou igual ao meu irmão, Michael. Ele já está
encaminhado pra conseguir entrar na faculdade só pela bolsa, pra minha
mãe a única coisa que conta como esporte é o futebol americano ou
basquete. — Ele estava visivelmente frustrado, parecia tentado a desistir
pelas coisas que sua mãe havia falado.
— Vou te contar o que aconteceu comigo. Vocês sabem que eu
comecei a correr na adolescência, meus pais nem sempre foram muito
favoráveis também, e nós não tínhamos dinheiro para que tivesse bons
treinamentos, então corri atrás de bolsas, patrocínios e assim, eu fui
competindo até entrar na faculdade e ter um destaque maior. Meu sonho
sempre foi competir nas Olimpíadas, eu treinei duro e ganhamos várias
competições. — Tive que tomar algumas respirações, para conseguir contar,
eram muitas lembranças — Com o destaque fui selecionada para participar
do time que representaria nosso país, e aí eu tive que me dividir entre as
matérias da faculdade e os treinos, que eram pesados.
— Quando finalmente pude competir, e estava na última etapa em
que eu poderia ganhar o ouro, me lesionei e não participei da última prova.
E quando fiz os exames e descobri que nunca mais poderia ser uma atleta
de alto rendimento, quis morrer, achei que minha vida acabaria ali. — nessa
parte eu já me sentia vivendo novamente o momento da descoberta — Tive
acompanhamento, hoje consigo ao menos correr e penso pelo lado positivo:
pude participar das Olimpíadas, vestir as cores do nosso país, e essa foi uma
experiência incrível para mim. — Terminei de falar fungando um pouco,
sempre que lembrava dessa época da minha vida tinha uma pequena tristeza
porque o esporte sempre foi a minha meta e meu sonho.
— Meu Deus, tia Sophia, eu não poderia imaginar o que você
passou. Mesmo com tudo isso, você nunca quis se afastar do esporte e ainda
por cima dá aulas aqui. — Ele parecia em choque pelo que eu contei.
— Sim, porque quando a gente ama algo, por mais que as coisas
mudem o foco, nós sempre vamos estar conectados a isso, e estar aqui com
vocês é a melhor parte de mim. É onde encontro meu propósito. E por isso,
eu te digo que não iremos deixar fechar, nós vamos continuar. — falei com
toda a fé que eu tinha.
— Obrigado por isso, eu não vou desistir. Vou me inspirar na sua
trajetória, e vou conseguir uma medalha de ouro só pra te dar.
Quando terminou de falar, eu não aguentei e chorei o abraçando
apertado.

Domingo era o único dia em que meu despertador tocava e eu não


tinha vontade de tacar ele na parede.
Já havia levantado e me arrumado para correr. Desde que me
recuperei da lesão fui voltando de forma gradual e hoje fazia vários
quilômetros de forma tranquila. Devido ao meu pouco tempo livre, só tinha
esse dia para isso, então passava boa parte dele aproveitando para
desestressar e liberar toda a minha tensão.
Coloquei os meus fones e me perdi em pensamentos. Correr para
mim era sobre sensações: o vento batendo no meu rosto, os meus pés
tocando o chão, os cheiros em volta. Sempre gostei de correr perto da
natureza. Me fazia bem, adorava o aroma das flores, me trazia conforto,
eram tantas coisas que eu nem conseguia pensar em mais nada, era tudo
sobre sentir.
Eu senti como se estivesse sendo observada. Olhei em volta
procurando por alguém, porém não reconheci e não consegui ver ninguém
olhando para mim diretamente.
Tentei afastar a sensação e aproveitei para parar um pouco na praça
e tomar uma água. O vento do outono já começava a soprar, contudo ainda
era muito gostoso sentar e ter os primeiros raios de sol da manhã sobre a
minha pele.
Eu estava distraída olhando as pessoas passarem, quando percebi
que alguém se sentou próximo a mim no banco. Logo o cheiro gostoso,
amadeirado, me atingiu, fui disfarçadamente olhar para o lado e vi
Theodore. Como eu tomava água, me engasguei.
Foi uma cena lamentável de ser vista. O dono da empresa veio ao
meu encontro tentar me socorrer, eu fui ficando vermelha de vergonha e ele
todo solícito.
— Sophia, por favor, respire. — Ele deu leve batidinhas nas
minhas costas, para tentar me desafogar.
Eu fui me acalmando e tentando respirar devagar, como ele fazia,
mas ainda estava morta de vergonha.
— Obrigada pela ajuda, eu me engasguei com a água. Desculpa
pelo susto. — falei ainda sentindo o meu rosto pegando fogo. Será que não
ia voltar ao normal?
— Não foi nada, você parece que tem o costume de ficar sem ar. —
disse balançando a cabeça.
— Como assim? Não entendi. — Fiquei confusa com a fala, será
que fiz algo errado na minha apresentação? O pensamento me deixou
inquieta.
— Foi apenas um modo de falar, tenho certeza de que não deve ter
sido a primeira vez que aconteceu isso.
— Realmente, eu sou um pouquinho desastrada, então, às vezes
tenho alguns acidentes domésticos ou, como aconteceu agora, acabo me
afogando. — falei meio sem jeito, mas rindo para disfarçar.
— Eu não costumo me enganar com as pessoas. — piscou para mim
com um sorriso sacana no rosto.
Ele me encarou de cima a baixo, sem disfarçar, antes de falar
novamente.
— Você sempre corre por aqui?
Devolvi a encarada e era uma visão e tanto. Meu chefe em roupas
informais, mostrando os braços fortes, foi algo surpreendente, não diria que
debaixo dos ternos caros teriam tantos músculos.
— Sim, sempre pelas redondezas, o domingo é meu dia dedicado à
corrida.
Conversamos mais algumas amenidades, ele perguntou um pouco
sobre corridas para mim, e aí, como era o meu assunto favorito, eu comecei
a falar sem parar.
Soltei meus cabelos para poder refazer o rabo de cavalo, e minha
liga caiu no chão, nós abaixamos ao mesmo tempo, e lógico que foi o caos.
Eu bati com a cabeça no meu chefe, que teve a mesma ideia de pegar a liga.
Segunda-feira eu seria demitida com certeza. Como eu conseguia ser tão
desajeitada quando estava nervosa?
— Me desculpa, não achei que você fosse abaixar também.
— Não tem problema, você se machucou? — falou enquanto tocava
a minha testa, onde nós batemos, e no mesmo instante senti todo o meu
corpo se arrepiar ao toque de sua mão.
— Não, está tudo bem. Foi só uma trombada mesmo, devo acordar
amanhã com um galo. — Fiquei sem jeito enquanto encarava aquelas duas
piscinas azuis. Eu tinha a sensação de que já as tinha visto antes.
Deu uma rajada de vento e o meu cabelo solto foi todo para o meu
rosto, ele ajeitou uma mecha atrás da minha orelha, e o seu toque
reverberou por todo o meu corpo, e era como se não fosse a primeira vez.
— Que bom, eu preciso ir, sinto muito pela cabeçada. — tirou a mão
de mim rapidamente como se tivesse levado um choque. Levantou e saiu
como se a situação o tivesse atordoado
Eu só esperava que não fosse demitida, porque meu chefe poderia
achar que eu era maluca.
Foi uma sucessão de coisas estranhas hoje, nunca imaginei que
encontraria o dono da empresa no parque...
Prendi meu cabelo e resolvi correr de volta pra casa, mas agora
pensando que poderia ficar desempregada por conta de uma cabeçada.
Capítulo 10

Theodore Rockefeller

Toda vez que me olho no espelho


Todas estas rugas no meu rosto ficam mais aparentes
O passado se foi
Passou como do crepúsculo ao amanhecer
Não é assim?
Todo mundo tem suas dívidas na vida para pagar
Dream On – Aerosmith
A semana passou tão rápido, eu não vi Sophia depois do nosso
encontro no parque. Eu sabia que ela corria todos os domingos perto da sua
casa, então fui até lá. A intenção era só olhar de longe, como um maldito
stalker, porém, não sei o que deu na minha cabeça que me aproximei.
Tivemos uma conversa tranquila, mas quando fui ver se ela havia se
machucado e encostei nela, precisei me lembrar de que era a minha
funcionária, e não alguém com quem eu poderia ter um caso de uma noite e
depois nunca mais ver ou me importar.
Sentir sua pele contra a minha foi algo muito além do que me
lembrava. Trouxe todas as memórias como uma avalanche e se eu não
tivesse me afastado não sei o que faria com aquela pequena desastrada.
Hoje eu não conseguiria mais evitar vê-la porque teremos a
apresentação da campanha que irá para os meios de comunicação. Depois
disso, David e Karen irão comigo a Miami para o noivado de Lauren. Ela,
excêntrica como sempre, teve que fazer o noivado em outro estado.
Estava no horário, então segui para a sala onde seria a apresentação
e, antes de entrar, escutei uma voz conhecida, parei porque a percebi um
pouco embargada enquanto falava.
“Eu sei, Sarah, não temos o valor para essa cirurgia. Minha última
reserva foi para todos os exames que ele teve que fazer novamente.”
Ela ficou quieta escutando provavelmente a irmã, Sarah, se eu não
me engano esse era o nome dela.
“Eu vou tentar um empréstimo no banco, não sei se eles vão liberar
outro, eu já estou devendo um, e com a casa hipotecada não consigo mais
pensar no que fazer. Eu já estou pegando trabalhos extras, mas as dívidas
estão se acumulando em cima da mesa.”
“Eu sei, você não tem culpa. Nenhuma de nós duas tem. Vou dar um
jeito de conseguir o dinheiro.”
“Não, ainda tem isso também — pude ouvir o suspiro pesado que
ela deu —, não conseguimos o prédio para mudar o centro, e o prazo está
acabando, o que está me deixando desesperada.”
Percebi que as demais pessoas que participariam da reunião estavam
chegando, então dei um passo para trás e fiz barulho para que ela
conseguisse se recompor para receber todos e entrei na sala.
— Boa tarde, Srta. Clarck.
Ela estava de costas, e eu confesso que era uma excelente visão a
que eu tinha. A imagem dela em roupas sociais ou em uma malha de treino
ficaria na minha cabeça.
Havia acabado de desligar, imagino que respirava fundo para
responder.
— Boa tarde, Sr. Rockefeller. — Virou para mim e disse, forçando
um sorriso.
O restante do pessoal entrou e ela fez a apresentação, a campanha
ficou excepcional. Tenho certeza de que atingiremos todas as metas
estabelecidas.
Ela não parecia a mesma pessoa indefesa e desesperada de minutos
atrás, quando apresentou, o que só mostrava o quanto era uma excelente
profissional. Mas dava para ver que o olhar dela parecia perdido e
preocupado e fiquei pensando em tudo o que estava passando. Tinha visto
por alto que a doença do pai dela tinha o tratamento chato e caro,
dependendo do estágio em que a doença se encontrava, e pelo que pude
perceber, com certeza não estava na parte leve dela. Veria se conseguiria
fazer algo por ela.
— Pessoal, ficou muito bom o trabalho para a campanha de pré-
lançamento, espero que para a oficial consigamos entregar um ainda
melhor. Parabéns aos envolvidos, principalmente pelo pouco tempo. —
falei assim que finalizamos.
Fui buscar minhas coisas em minha sala para encontrar David e
Karen e pegarmos o voo. O tempo era curto, porque o trânsito à tarde em
Nova Iorque ficava caótico demais, e por mais que o voo fosse particular eu
ainda não mandava no tráfego aéreo.
Encontrei meus amigos na garagem, Gerald nos levaria ao aeroporto
particular onde ficava o meu avião. Com tantas viagens minha família
acabou comprando um, pois, além de ser mais seguro, era mais rápido do
que enfrentar aeroportos e voos comerciais. Desde que meu pai começou a
navegar entre o submundo e a superfície, ele precisava de segurança, porque
as ameaças passaram a ser constantes.
— Vamos logo, princesas, já viram a hora? Como vocês sempre
conseguem se atrasar? No dia que casarem não vai ser a noiva que vai
atrasar, vão ser vocês. — Karen reclamou, fazendo com que eu e meu
amigo nos apressássemos.
— Não fala em casar não, vai que atrai... Eu estou muito feliz
solteiro, já não basta ter que comparecer nos eventos como penetra, você
ainda fica me agourando. — David murmurou, ele era um solteiro convicto,
falava como se tivesse certeza de que jamais se casaria.
Nós entramos no carro e meu motorista partiu para o aeroporto
andando um pouco mais rápido do que de costume, porque sabia que seria
difícil chegar no horário se não se apressasse.
— David, escute o que eu estou te falando, você vai encontrar uma
mulher que vai te deixar caidinho, não vai nem saber o que te atropelou. E
eu vou ser a madrinha do casamento. — Karen falou com convicção
enquanto eu só observava os dois.
— Para com isso, sua bruxa, tudo que você fala acontece. Por que
você não agoura o nosso amigo aqui? — David apontou pra mim.
— Vocês não me envolvam com isso.
— Ele vai se casar antes de você, pode ficar tranquilo, David. E será
com quem ele menos espera. — disse piscando pra mim.
— Ok, acho que podemos parar por aqui com esse assunto. Fiquei
anos namorando com a Lauren e não nos casamos, então não imagino que
irei me casar tão rápido. Talvez em alguns anos a gente possa ter essa
conversa novamente. E você? Quando vai achar sua prometida, Karen? —
sei que casamento é renúncia, não estou pronto para isso ainda, quando for
a hora quero me dedicar da mesma forma que sempre vi meus pais e avós
fazendo.
— Verdade, eu sendo um solteiro que não nega uma festa, e que
sempre que possível termino a noite acompanhado, sei que pego metade das
mulheres que você pega. Então, por que você não vai se casar primeiro do
que eu? — David tocou na ferida dela.
— Eu não vou casar porque a minha metade da laranja foi embora e
achou outra metade para ela. E por isso eu decidi que não tenho vocação
para relacionamentos sérios. É fato que não vou me casar, e você sabe bem
disso.
Quando estávamos no último ano da escola, Karen se apaixonou
perdidamente por uma colega da nossa classe. Elas entraram em um
relacionamento e passaram o último ano juntas em tudo, mas quando
chegaram as cartas de aprovação da faculdade, a sua namorada resolveu ir
para uma do outro lado do país. Ela já se sentiu apunhalada, mas falava que
tentaria mesmo assim. Porém no baile de formatura, a filha da puta
terminou com Karen e disse que não conseguiria namorar à distância.
Nunca vi minha amiga tão mal.
Minto.
Ela ficou pior quando, alguns anos depois, viu que a ex-namorada
iria se casar.
Ela não gostava de falar sobre, mas acredito que isso a machucou
demais, e nunca foi superado. Com isso ela tinha mais casos do que eu e
meu amigo juntos, e jurou que nunca se casaria.
— Sei sim, mas ainda acho que não vou me casar. Porém, se um dia,
repito SE UM DIA, que não vai acontecer, mas caso chegue, com certeza
você seria a minha dama de honra. Você é o que eu tenho de mais
importante. — falou enquanto a abraçou, porque sabia que esse era um
tópico sensível para a nossa amiga.
— Descanse, amigo, vai ser antes do que você imagina. — disse e
entrou em uma risada porque sentiu a tensão de David. Era palpável o medo
que ele tinha de relacionamentos.
Chegamos na pista e fomos direto para o avião que estava somente
nos esperando para a decolagem. Caso tivéssemos atrasado mais cinco
minutos, teria atrapalhado toda a programação do voo e nós estávamos com
o tempo contado, pois já chegaríamos em Miami no horário do evento.
Aproveitei as horas de voo para colocar alguns trabalhos em ordem,
Athena toda hora me chamava com alguma pendência que ela identificava,
ou algo que a própria Dorothy pedia para que me fosse passado. Eu às vezes
achava que poderia enlouquecer com tanta coisa para cuidar.
Cada vez mais precisava contar com meus amigos para me ajudar.
As empresas não paravam de crescer e tomar conta de todos os detalhes era
enlouquecedor.
Analisei o relatório de turnover, e, apesar de agora ele estar um
pouco mais controlado, não gostei dos números e fiquei puto porque a porra
do RH não me alertou sobre isso antes.
Pedi que Athena levantasse para qual empresa eles foram. Por mais
que não tivesse saído ninguém que tratasse com informações sigilosas, essa
rotatividade muito alta me acendeu vários alertas, e eu não costumava me
enganar.
Faltando pouco mais de 40 minutos para chegarmos, Karen veio
pronta do fundo do avião. Linda com um vestido preto que ia até um pouco
abaixo do meio das suas coxas. Sabia que fez aquilo para provocar Lauren,
pois ela dizia que usar preto em eventos de casamento não era de bom tom,
ainda mais uma peça mais curta como a que a minha amiga usava.
— Você está maravilhosa, Karen, e imagino que escolheu preto por
acaso, né? — falei com sarcasmo.
— Nossa, foi totalmente por acaso! Peguei o primeiro que eu vi no
meu guarda-roupas. Sabe que eu adoro essa cor, né? Então é o que mais
existe de opção no meu armário. — fingiu uma inocência que ela nunca
possuía.
Realmente era a cor preferida da minha amiga, ela tinha
basicamente uma paleta de tons pretos e algumas pouquíssimas peças
coloridas, mas sempre em tons mais sóbrios.
— Eu vou me trocar. Acorda a Bela Adormecida, por favor, porque
senão ainda é capaz de falar que o deixamos ir sem nem tomar banho.
Falei enquanto ia para os fundos do avião, onde havia banheiro e
duas suítes. Como sempre fazíamos viagens longas, meus pais preferiram
comprar um avião que tivesse a comodidade de uma cama para conseguir
descansar.
Tomei banho tentando não pensar muito no que seria o meu
encontro com Lauren. Eu tinha certeza de que ela não se casaria. Vesti um
dos meus ternos de três peças, cinza, arrumei meu cabelo e me encarei no
espelho, relembrando tudo que passamos nos anos em que namoramos, e
pensando se eu realmente a tinha negligenciado como ela me acusou
quando terminamos. Pra mim era algo muito tranquilo pois ainda não tinha
pensado em casamento e achava que ela estava bem com tudo isso. Mas
posso realmente ter deixado passar o nosso relacionamento sem perceber.
Saí do quarto, encontrando David já pronto. Nesse momento o
piloto avisou que pousaríamos em breve e que deveríamos voltar aos nossos
assentos.
Assim que desembarquei, senti aquele forno que era Miami. Não era
meu lugar favorito dos Estados Unidos, mas fazia um esforço sempre que
Lauren queria vir pra cá. Como ela nasceu aqui, tinha apego emocional pela
cidade.
Fomos direto para a recepção onde seria o noivado. A noiva nos viu
logo que entramos, e foi rápido, porém perceptível o desgosto dela ao ver
meus amigos. Ela veio ao nosso encontro e nos cumprimentou.
— Obrigada por terem vindo. Não imaginei que vocês fossem vir.
— disse olhando para Karen e David.
— Imagina se perderíamos esse dia tão importante para você.
Estamos torcendo para que se case o mais breve possível. — Karen falou
com um sorriso falso.
Antes que Lauren pudesse responder, seu noivo apareceu.
— Nós nos casaremos sim, será em quatro meses, no máximo. —
disse se metendo na conversa.
Lauren o apresentou depois da sua chegada tão intrusiva.
— Nossa, que rápido! Vocês estão juntos há o que, um mês? E já
vão se casar? — perguntei, não entendendo como eles poderiam estar tão
apaixonados assim.
— Sim, foi tudo muito rápido mesmo...
— Mas isso é porque você é o amor da minha vida, e eu não poderia
deixar passar uma raridade como você, meu amor. Então quando eu a
conheci e soube que estava solteira, nós ficamos juntos algumas vezes e eu
logo a pedi em casamento. — ele a olhava segurando o seu rosto, e de
repente virou pra mim. — Desculpe, mas você que foi besta em ter deixado
passar. Mas sabe como é... a sorte de uns é o azar de outros. — ele falou
interrompendo a fala de Lauren, que parecia um pouco desconfortável.
— Que bom para vocês, com licença, eu vou dar uma volta. — Não
suportava mais ficar olhando pra cara de vitória que o noivo dela ostentava,
ele a tratava como se fosse um troféu.
Saí de perto com David e Karen no meu encalço, ficamos
conversando sobre coisas diversas, algumas pessoas vieram falar comigo,
falavam que não imaginavam que Lauren se casaria com outra pessoa que
não fosse eu. Só desconversava, porque não achava que era o momento e o
lugar para falar esse tipo de coisa.
Depois de algumas horas, decidimos que já havíamos feito social
demais, e estávamos indo embora, quando Lauren apareceu. Meus amigos
ficaram alguns passos para trás.
— Como você está? Não conversamos muito nessas últimas
semanas, fiquei preocupada com você.
— Estou bem, trabalhando muito, como sempre. — Não entrei
muito em detalhes.
Ela ia começar a falar alguma coisa, quando seu noivo chegou com
Joshua a tiracolo.
— Desculpe, Theo, eu não imaginei que você fosse vir. — Lauren
tentou explicar a presença dele ali, porque ela sabia do nosso desafeto.
— Não sabia que vocês não eram amigos. Trabalham no mesmo
ramo, poderia jurar que trabalhavam juntos em alguma coisa. Ele faz alguns
dos sistemas que uso na empresa. Não é tudo a mesma coisa? Por isso que o
chamei aqui. — O sonso do noivo dela teve coragem de falar isso, sendo
que era de conhecimento geral que nossas empresas eram concorrentes.
— Claro, imagina! A festa é de vocês, não me importo com os
convidados. Contudo, eu preciso ir agora. Obrigado pelo convite.
Eu ia sair de perto, até Joshua abrir a boca.
— Nossa, deve estar sendo difícil pra você, ver a única mulher que
te aguentou, estar prestes a se casar com outro homem, né?
— Não, na verdade estou muito feliz por Lauren, até porque estou
em um outro relacionamento. Ficamos noivos a pouco tempo, mas não
anunciamos ainda. A minha noiva não gosta muito de exposição. — falei,
porque Josh sempre conseguia me tirar do sério.
Lauren se engasgou com o vento, como se não acreditasse nisso.
— Como assim? Você não me falou nada. — Lauren arregalou os
olhos em completo choque.
— Desculpe, é porque não era algo a ser anunciado aos quatro
cantos, você saberia no momento em que fosse anunciado formalmente na
imprensa.
— E desde quando você virou um mentiroso, Theodore? — Josh
falou ácido.
— Não preciso te dar satisfação, mas David e Karen podem
confirmar que estou noivo. E eles conhecem a minha noiva, somente os
mais íntimos sabem da informação.
Meus amigos no mesmo instante confirmaram a história.
— Sim, ela é uma mulher incrível, Theodore tirou a sorte grande.
Não é mesmo, Karen?
— Claro, além de linda, é simpática, a melhor pessoa que ele
poderia ter encontrado para se casar. — Karen alfinetou Lauren que ficou
sem palavras. Aproveitei o momento para sair antes que piorasse minha
situação.
— Ok, eu já vou indo, ainda temos um voo para pegar. Até mais.
Nós saímos do evento e eu estava muito puto, pensando o que iria
fazer agora, depois de inventar que tinha uma noiva, sem nem ao menos
estar saindo com alguém.
Capítulo 11

Theodore Rockefeller

Não, você não me julga


Porque se você julgasse, amor, eu também te julgaria
Porque tenho problemas, mas você também tem
Então me dê todos eles e eu te darei todos os meus
Aproveite a glória de todos os nossos problemas
Issues – Julia Michaels
Assim que entramos no avião para esperar o momento de decolar,
David e Karen me olharam esperando por uma explicação.
— O que foi? Por que estão me olhando? — Fingi não ter ideia do
que eles queriam.
— Ah, então você está noivo e nós a conhecemos, será que ela é
irmã do Gasparzinho e está aqui no avião conosco? — Karen foi a primeira
a se manifestar, não escondendo o sarcasmo.
— Não exagera, ok? Você sabe muito bem que eu perco a cabeça
quando Joshua me provoca.
— Ah, claro! Aí, inventar uma noiva foi a coisa mais inteligente que
você poderia ter feito, né? De onde você vai tirar alguém agora para fazer
isso? — Minha amiga estava indignada com a situação. Ela sempre foi a
voz da razão entre nós três.
— Não sei ainda, mas vou resolver, como eu sempre faço. Sabe bem
disso.
— Por que você não contrata alguém para ser sua noiva durante um
período só? Sei lá, alguma atriz. Faz um contrato de confidencialidade.
Eu e Karen viramos pra ele na mesma hora, sem acreditar. David
quando ficava muito quieto sempre vinha com algumas histórias meio
loucas.
— De onde você tira essas coisas? Não é possível que pense nisso
sozinho. — Karen falou caindo na risada.
— Pois eu estou falando muito sério. Tive um amigo que precisou
fazer isso devido à herança da família. Precisava de um relacionamento, e
pra ele deu tudo certo. — Deu de ombros como se fosse algo simples.
E eu passei a olhar com outra perspectiva, que talvez a ideia do meu
amigo não fosse tão absurda assim. Rapidamente pensei em uma pessoa, ela
precisava de ajuda e eu também. Por que não tentar? Minha cabeça já
arquitetou todo o plano, pensei em todos os prós e contras.
— Que cara é essa, Theo? Você está considerando a ideia do David?
Sabe que isso pode te trazer problemas se vazar, né?
— Já considerei. Eu tenho uma pessoa em mente. Ela está
precisando de ajuda e eu também, então não seria um problema. E quanto a
vazar eu sei que não vai, porque ela é de confiança. — Era uma afirmação
que eu queria acreditar, não conhecia Sophia tão bem para ter certeza.
— E quem seria esse ser iluminado que vai te ajudar? — Karen
questionou.
— No momento certo você vai saber.
Nos acomodamos melhor porque o piloto avisou que o avião iria
decolar.
Mandei uma mensagem para o meu advogado pessoal pedindo que
ele redigisse o contrato. Informei todas as cláusulas que precisaria e, em
paralelo, pedi que Athena levantasse as dívidas dela, para que eu tivesse
noção de todos os valores, para que quando conversássemos eu já desse
todas as informações, inclusive sobre o centro social que ela ajudava.
Meu advogado falou que amanhã no meio do dia ele me enviaria
tudo pronto.
Acessei os dados que tinha de Sophia, peguei seu número de
telefone e amanhã já enviaria uma mensagem pedindo que me encontrasse.
Queria fazer a proposta o mais rápido possível.
Aproveitei para tentar dormir um pouco no voo. O dia hoje deu uma
volta que eu não imaginei que daria, porém terminava de uma forma que
me agradou.
Josh achava que conseguiria vantagem de alguma forma em cima de
mim, o que ele não tinha ideia era de que eu sempre dava um jeito de
converter a meu favor qualquer situação que ele me enfiava.
Me deixei dormir porque amanhã seria um grande dia.
Sophia Clarck

Meu dia começou com o puro desespero. Não dormi direito à noite
pois eu precisaria ir ao banco na segunda-feira, tentar pegar algum
empréstimo. Não tinha confiança de que conseguiria porque, apesar de
pagar em dia o último que eu pedi, estava com a casa hipotecada e com
vários empréstimos em andamento.
Desde que papai ficou doente, Sarah precisou abandonar a
faculdade, porque o dinheiro que sustentava a casa era todo do trabalho
dele. O patrão, por “gostar” do meu pai, o deixou afastado para que
continuasse tendo direito ao seguro saúde. Porém, como não tinha mais
renda e mamãe não trabalhava, somente eu e Sarah que estávamos tentando
dar conta de tudo.
E eu me sentia cada vez mais incapaz por não conseguir ajudar com
tudo. Via minha irmã se matar de trabalhar e ganhar uma mixaria, e minha
mãe sem poder trabalhar porque precisava cuidar do meu pai.
Os remédios que tomava, por alguns serem biológicos[4], custavam
uma pequena fortuna. Quando tentamos diminuir as doses por não estarmos
mais conseguindo pagar, ele piorou e os exames mostraram que agora
precisaria fazer uma cirurgia para a retirada de um pedaço do intestino.
Eu orava todos os dias, para que aparecesse um anjo no meu
caminho para me ajudar, porque não sei por quanto tempo mais eu vou
conseguir e não quero perder ninguém da minha família.
Quando finalmente me levantei, percebi que Mary não estava no
apartamento, mas tinha deixado uma mensagem avisando que tinha ido
mais cedo para a casa dos pais, porque ia ter um evento. Ela até tinha me
chamado para ir junto, mas não aceitei pois não tinha cabeça para qualquer
coisa.
Terminei mais um trabalho extra que eu precisava entregar hoje e
pegar logo o dinheiro.
Cheguei um pouco atrasada no centro social, e as crianças já haviam
começado o treinamento com as demais voluntárias. Fiquei acompanhando-
os, porém, minha cabeça não focava ali.
Meu celular vibrou indicando uma mensagem de um número
desconhecido. Abri para ver quem era.

Desconhecido: Bom dia, Sophia!


Consegui o seu número na empresa, pois preciso tratar um
assunto importante com você. Poderia vir ao meu apartamento?

Eu: Desculpa, mas eu não tenho ideia de quem seja.

Desconhecido: Desculpe, não me apresentei. É o Theodore.

Eu fiquei em choque. Achei que só poderia ser alguma brincadeira


de mau gosto. Se ele quisesse falar sobre trabalho, ele procuraria o Tyler.
Achei melhor não responder, porque não estava com tempo para
brincadeiras.
Após uns dez minutos meu telefone começou a tocar numa chamada
do FaceTime. Quando vi que era o mesmo número do desconhecido me
assustei mas atendi e, para a minha surpresa, era o meu chefe.
— Oi, Sophia.
— Oi, Sr. Rockefeller. — falei, sentindo todo o meu rosto pegar
fogo.
— Você não me retornou depois que disse que era eu na mensagem.
Você tem algum problema em vir aqui?
— Não... claro que não... — respirei fundo e me apressei em dizer,
fiquei morrendo de vergonha — eu só achei que poderia ser algum trote,
não imaginei que o senhor quisesse falar algo comigo.
— Bom, agora você sabe que não é trote. Vou pedir que meu
motorista te busque na sua casa. Às oito está bem pra você?
— Tá, sim. Mas não precisa do motorista, eu pego o metrô.
— Não foi uma pergunta quanto ao motorista. Te vejo às oito.
E assim ele desligou na minha cara.
Ótimo, além de tudo ele era presunçoso. Achava que mandava em
mim fora da empresa? Era tudo que eu precisava.
E agora, para melhorar minha vida, o meu chefe queria falar
comigo. Eu nem tinha ideia do assunto. Será que depois de uma semana ele
resolveu me mandar embora? Não fazia sentido ele me chamar para sua
casa.
Fiquei a tarde inteira pensando em todos os cenários possíveis, e
nenhum parecia certo.
Assim que terminei as aulas fui correndo para casa porque estava
faltando pouco tempo para o horário que ele combinou comigo. Tomei um
banho, me perfumei e fiquei na indecisão sobre o que vestir. Não sabia qual
era o assunto que ele queria falar, então achei melhor ir arrumada, mas não
tão formal. Coloquei uma calça jeans, uma blusa social e um scarpin, e fiz
uma maquiagem bem básica. Me olhei no espelho e gostei do resultado.
Olhei o relógio e eram oito horas em ponto. Era um verdadeiro
milagre conseguir me arrumar a tempo sem planejamento. Desci porque
achei melhor esperar pelo motorista na portaria, e lembrei que não tinha
ideia da aparência de quem me buscaria. Ia mandar uma mensagem para
Theodore, mas ele foi mais rápido.

Theodore: Gerald está te esperando em um Rolls-Royce preto.

Eu: Boa noite! Ok. Obrigada por avisar.

E fiquei sem resposta. Agora sabia o que deveria procurar. Cheguei


na recepção e vi o carro lá fora, ele destoava de tudo à sua volta. Me
apressei para ir ao seu encontro pois não queria deixar o motorista ali,
parado.
— Boa noite, Sr. Gerald!
— Boa noite, Srta. Clarck! — disse enquanto abria a porta do carro
para que eu pudesse entrar.
O carro era incrível por dentro. Reparei melhor em Gerald e ele
parecia que havia servido às Forças Armadas. O corte militar, a postura,
tudo deixava bem evidente. Nós tivemos um vizinho que serviu, que era
muito amigo de papai, e ele exalava a mesma aura do motorista do meu
chefe, só não era tão bonito quanto ele. Apesar de aparentar já ter mais de
cinquenta anos, pelo cabelo e barba possuírem algumas mechas brancas,
ainda eram evidentes os músculos, mesmo sob a roupa. Fiquei
impressionada.
— Não precisa me chamar de Srta. Clarck. Pode ser somente
Sophia. — Ele me olhou pelo retrovisor e assentiu.
Percebi que ele não seria de falar muito, então me concentrei em
observar Nova Iorque. Achava a cidade incrível, mesmo com seu trânsito
caótico.
Depois de uma hora nós chegamos ao que eu imaginei ser o prédio
onde Theodore morava. Era muito alto, e eu senti um leve desespero
pensando em ter que subir de elevador.
O carro entrou na garagem, Gerald abriu a porta para mim e avisou
que me levaria ao apartamento. Eu me sentia nervosa.
— Nós conseguimos subir de escada?
— Desculpe, Senhorita, mas são quarenta andares. Acredito que seja
melhor subirmos de elevador.
— Ok, eu não gosto muito deles. — Preferi ser sincera, porque se
sentisse algo, ele pelo menos estaria ciente.
— Fique tranquila, subiremos pelo privativo.
Lógico que ele teria um privativo, né? Não sei porque não pensei
nisso antes.
Gerald chamou o elevador e quando ele abriu as portas, vi que o
fundo era de vidro, isso me chamou atenção. Era o tipo de caixa em que eu
me sentia menos claustrofóbica dentro. Por ele ser grande e também
conseguir ver fora, não me dava a sensação de que estava presa. Me senti
mais aliviada conforme começou a subir e eu pude enxergar tudo do lado de
fora. Imagino que pra quem tem medo de altura deva ser péssimo, mas a
vista era tão maravilhosa que me fez até esquecer de onde me encontrava.
Não passava a sensação de que era uma caixa de metal prestes a te engolir.
Quando apitou, informando que havíamos chegado, eu só respirei
fundo e percebi que estávamos na cobertura. As portas se abriram dentro do
apartamento e entendi porque o elevador era privativo. Mas antes de entrar
no apartamento, havia o que parecia uma antessala, para que não fosse visto
o apartamento logo de cara.
— Obrigada por me acompanhar, Gerald.
Antes que ele pudesse responder, Theodore apareceu na sala.
Gerald acenou pra mim e saiu, voltando ao elevador. A troca de
olhares entre ele e Theodore foi impressionante. Eles pareciam se entender
sem precisar falar nada. Deviam ser muitos anos trabalhando juntos.
Observei o meu chefe e tinha algo que eu apreciava muito nele: o
cheiro. Cada vez que chegava perto, aquele aroma amadeirado, forte,
chegava antes e era um cheiro que me remetia a algo, mas não me lembrava
ainda o que era. Ele usava calça jeans e uma blusa social dobrada nas
mangas.
— Entre, por favor, Sophia. Precisamos conversar. — ele falou em
um tom autoritário, mas sem ser rude. Não sei como ele conseguia, mas
fazia com que você o obedecesse sem ter vontade de estrangulá-lo pelo tom
usado.
— Boa noite, Sr. Rockefeller. — falei passando por ele.
— Pode me chamar de Theodore.
Acenei, e ele me guiou pela sala, que era simplesmente absurda de
tão grande. Deveria caber uns dois apartamentos do que eu morava somente
ali e tinha a vista mais linda que eu já vi de Nova Iorque. Eram janelas de
vidro que iam do chão ao teto possibilitando ver tudo em volta. Era perfeito
demais. A decoração era toda em tons claros, passando uma sensação de
paz, o que não combinava muito com o dono. Aqueles olhos azuis me
passavam a sensação de tempestade.
Entramos em um corredor que deu no escritório dele. Quando abriu
a porta, vi certamente ele que escolheu as cores daquele cômodo, que era
mais sóbrio, com cores mais escuras, e tinha as enormes janelas como na
sala.
Ele me indicou a cadeira para eu me sentar e deu a volta na mesa,
sentando-se de frente pra mim.
— Sophia, eu vou ser bem direto com você. — acenei, ansiosa para
saber o motivo de estar ali. — Preciso de sua ajuda com uma situação e sei
que você precisa da minha, então acredito que podemos nos ajudar. — Ele
foi realmente direto, mas não entendia como eu poderia ter algo que ele
quisesse.
— Me desculpe, mas sobre o que você está falando? Não consigo
pensar no que você pode estar precisando de mim.
— Eu preciso que você finja ser minha noiva por quatro meses. E
em troca eu pago as suas dívidas e assumo o tratamento do seu pai. — ele
falou de forma calma, mas eu fiquei em choque.
Ele me olhava em expectativa e eu não sabia o que responder.
— Como você sabe das minhas dívidas? E por que precisa que eu
finja ser sua noiva? — Sentia meu rosto ardendo, devia estar com os olhos
quase saltando, tamanho choque que eu fiquei.
— Escutei você falando no telefone sobre precisar de dinheiro,
então levantei as informações sobre o que você devia e sobre o seu pai. E
preciso disso porque minha ex-namorada ficou noiva ontem e eu sei que o
relacionamento dela não irá durar os quatro meses, o que seria a data do
casamento. Eu acabei falando que fiquei noivo e, no momento, você é a
melhor escolha. — Ele jogou as informações em cima de mim de uma vez.
Lembrei de ter visto em alguns sites de fofoca sobre eles terem
acabado o relacionamento e ela já ter começado outro e ficado noiva em um
mês.
Então ele gostava dela e estava com o ego ferido.
Capítulo 12

Theodore Rockefeller

E eu acho que vai demorar


muito, muito tempo
Até que a aterrissagem me traga de volta mais uma
vez para descobrir
Que eu não sou o homem que eles pensam que eu sou
em casa
Cold Heart (PNAU Remix)
(feat. Dua Lipa) - Elton John
Sophia me olhava com surpresa e o que parecia ser um pouco de
vergonha também. Sei que a sua situação não é algo que as pessoas gostem
de anunciar ao mundo, mas para mim realmente foi uma vantagem.
E esse sou eu, sempre conseguindo alguma vantagem graças às
informações.
— Aqui está o contrato para que você possa analisar. Tem todas as
cláusulas que eu achei pertinentes, porém, se você não concordar com
alguma coisa ou quiser acrescentar, é só me avisar. Nele também tem sobre
a confidencialidade, ninguém pode saber que não é real, senão podemos ter
sérios problemas caso isso vaze para a imprensa.
Entreguei o contrato na mão dela, ela só pegou em silêncio e abriu,
olhando por cima as informações. Até que, em um determinado momento,
ela arregalou os olhos.
— Você vai pagar tudo isso que está aqui e ainda pagar o tratamento
do meu pai pra sempre, mesmo após os quatro meses? São valores
indecentes! — falou, incrédula. — É algum tipo de piada de mau gosto? Por
que toda essa caridade?
— Não sou o tipo piadista, só não acho justo pagar para seu pai ter
um bom tratamento durante quatro meses e depois jogar vocês no mesmo
lugar que estão agora. Isso eu estou fazendo porque acho certo, não é por
caridade. — Ela me olhava sem esboçar reação.
— Você vai fazer um favor pra mim. Pra você não tem vantagem
nenhuma, são só ônus porque eu não sou a pessoa mais fácil de lidar, tem a
mídia, tem a empresa... Então, eu preciso lhe dar bons motivos para aceitar,
não concorda? — Sempre sou muito sincero com as coisas que me cercam e
com ela não seria diferente.
Parecia que ela ainda absorvia as informações. Acredito que ela não
tinha pensado ainda nessas questões.
— Não sei se será bom eu aceitar. Posso ter problemas na empresa
ou até ser taxada que só entrei porque estávamos tendo um caso, o que seria
péssimo pois você namorava na época. — Ela foi ficando vermelha.
Acredito que estava visualizando todos os cenários na cabeça e eles não
eram nada bons.
— Você pode ler o contrato com calma. Tem todas as informações e
aí vai entender que não tem com o que se preocupar em relação ao seu
trabalho. E quanto ao que vão falar, não se preocupe também, daremos um
jeito em qualquer coisa que venha a acontecer.
Era possível ver as engrenagens da cabeça dela girando, ela possuía
um dilema e isso era certo.
— Vamos fazer assim: podemos jantar hoje, aqui mesmo, depois eu
te levo para casa e você pensa com calma e me dá uma resposta na segunda-
feira no fim do dia. O que você acha? — falei com calma para que ela se
sentisse confortável. Precisava que ela aceitasse porque agora necessito
anunciar o quanto antes o meu “noivado”.
— Tudo bem, podemos fazer dessa forma, então.
Ela parecia aérea. Imagino que não esperava por essa proposta. Nós
fomos para a sala de jantar, a mesa estava posta. Eu já ia pedir para que ela
ficasse, então deixei tudo preparado e só peguei a comida que eu havia
deixado no forno para que não esfriasse.
— Espero que goste de comida italiana. — falei enquanto colocava
a lasanha em cima da mesa.
— Sim, é uma das minhas preferidas, obrigada.
Servi a nós dois, e esperei que ela provasse, para ver se havia
realmente gostado.
— Nossa, está uma delícia. — ela disse depois de provar o primeiro
pedaço. — Foi você mesmo que fez?
— Não, apesar de saber cozinhar, eu pedi em uma cantina italiana
que tem aqui por perto. É, sem dúvidas, a melhor de Nova Iorque.
— Pelo menos já é alguma coisa que eu sei sobre você, imagina
noivar e nem saber quantos anos você tem. — Ela exalou sarcasmo ao falar
isso.
— Realmente, tem muitas coisas que não sabemos, mas arrumar
uma história e saber coisas básicas é muito fácil. E, a propósito, eu tenho
trinta e três. Se o problema todo for esse, está resolvido. — Dei uma
piscada para ela, e continuei a comer.
— Queria que o problema fosse só esse realmente. — ela falou bem
baixinho, mas eu consegui entender.
Permanecemos quietos durante todo o jantar. Achei melhor que
tivesse esse momento, ao invés de pressionar demais e ela acabar saindo
correndo.
— Você gostaria de uma sobremesa? — questionei, enquanto tirava
a mesa.
— Não precisa, obrigada.
— Tem certeza? É uma mousse de chocolate. — Sabia pelas
informações que Athena levantou, que era a preferida dela. Então eu ia
jogar com as armas que eu tinha.
Ela mudou a feição na hora. Sophia era uma pessoa muito
transparente com relação aos seus sentimentos. Ela mostrava tudo através
do seu rosto. O que pra mim era muito bom, seria mais fácil entendê-la.
— Acho que vou aceitar um pouquinho, só pra não estragar, né? Já
está aqui mesmo, então acho melhor comer. — disse, com um sorrisinho de
criança sapeca.
— Claro, não podemos desperdiçar de maneira nenhuma. — disse
rindo, enquanto colocava a sobremesa na taça para servir.
Comemos e ela estava visivelmente desconfortável. Imagino que
essa situação em que ela se encontrava não era fácil, mas era o que eu
precisava e no momento era o que importava.
— Eu vou embora. Irei olhar tudo com calma e te dou uma resposta
na segunda-feira.
— Certo, te levo em casa. Vamos?
— Não precisa, eu posso pegar um metrô.
— Vamos, Sophia. Eu não perguntei se você queria.
Vi que ela respirou fundo, acredito que a resposta deve ter ficado
atravessada na sua garganta. Ela não tem cara de quem leva desaforo pra
casa, porém ainda me vê como o dono da empresa em que trabalha. Quando
ela assinar o contrato, vou avisar que ela poderá me considerar como
qualquer um e não o chefe do seu chefe. Assim ela vai ficar mais à vontade
e nosso relacionamento não vai parecer tão artificial quando estivermos
juntos, mas, por enquanto, vou aproveitar.
Fomos para o elevador e ela parecia ansiosa. Achei melhor puxar
assunto para que se sentisse mais tranquila.
— Você está bem em usarmos o elevador?
— Sim, eu particularmente não gosto deles, mas aqui com a parede
de vidro é mais fácil. — ela disse entrando.
Imediatamente ela se virou e começou a observar a vista. Segurava
firme na barra de metal que ficava no fundo do elevador, tentando manter a
respiração calma. O cheiro do seu perfume logo inundou todo o elevador e
minha vontade era de me aproximar e sentir diretamente na sua pele. Eu
preciso me controlar quando ela estiver tão próxima assim, porque não
posso esquecer que nosso relacionamento é apenas um contrato, e ela não é
alguém descartável.
— Sim, eu escolhi esse prédio justamente por esses detalhes. Tanto
a vista do elevador, quanto do meu apartamento são calmantes. Eu sempre
tiro um tempo do meu dia para olhar a cidade e me esquecer que eu tenho
problemas.
— Com certeza deve ser uma sensação magnífica. Esquecer todos
os problemas.
Ela respirou fundo, chegamos na garagem, indiquei para ela seguir
para um dos meus carros esportivos e a cara de espanto dela quando viu foi
ótima. Eu tinha paixão por carros e velocidade. Sempre que tinha um tempo
livre, aproveitava para correr, o que acontecia cada vez menos nos últimos
tempos. Preciso voltar a conseguir fazer as coisas que eu gosto, antes que eu
infarte igual ao papai.
— Essas motos no fundo também são suas? — ela perguntou,
mostrando muito interesse nelas, enquanto passávamos na frente ao sair da
garagem.
— Sim, eu gosto de pilotar tanto quanto de dirigir. Você gosta de
moto?
— Eu amo! Pilotar sempre foi a minha maior diversão. Era o meu
momento de esquecer os problemas. — Seus olhos brilharam ao falar, mas
depois ela perdeu um pouco do brilho como se lembrasse de algo.
— Você não pilota mais? Tem moto aqui?
— Não. Quando vim morar aqui acabei vendendo a que eu tinha e
não tive oportunidade de comprar outra. — ela parecia sentir realmente
falta pelo seu olhar.
Enquanto dirigia pelas ruas de Manhattan, observei seu perfil. Dava
para notar que estava perdida em pensamentos, e imaginei serem
lembranças, pelo assunto levantado.
Ficamos em silêncio com apenas a música tocando baixo no carro.
Ela olhava pela janela, mas às vezes sentia seus olhos em mim, e quando
me virava para olhar, rapidamente ela disfarçava e voltava a observar a
vista.
— Chegamos. — disse, parando em frente ao seu prédio. — Se você
tiver dúvida de alguma coisa, pode me mandar mensagem ou ligar. Fico à
disposição para te esclarecer qualquer coisa.
— Certo, obrigada por me trazer aqui. Conversamos na segunda-
feira. — Ela nem me deu tempo de responder e saiu do carro.
Espero que aceite e eu não precise fazer nada para que ela veja que
eu sou sua melhor escolha.
Aproveitei para ligar para minha mãe, antes que a notícia chegasse a
ela de outra maneira.
— Oi, meu filho! A que devo a honra de sua ligação a uma hora
dessas?
— Desculpe o horário, mamãe, mas preciso de um favor seu.
— Claro que sim, qualquer coisa.
— Pode preparar uma festa de noivado pra mim, para semana que
vem, por favor?
Ela não respondeu nada, ficou em silêncio. Esperei para ver qual
seria o surto dela.
— Você está brincando comigo, Theodore? Você estava solteiro até
onde eu sabia. Roubou Lauren do noivo e resolveu se casar? — ela falou
séria, porque na cabeça dela isso poderia fazer total sentido.
— Não roubei noiva de ninguém e o relacionamento é recente, mas
sei que ela é a pessoa certa para mim, por isso decidi me casar. — minto
descaradamente.
— E isso não tem nada a ver com o noivado que aconteceu ontem,
não é?
— Nada a ver, mamãe. — respondi, soltando um suspiro, porque
minha mãe me conhecia muito bem. Isso, às vezes, era irritante.
— Certo, então quando vou poder conhecer a sua querida noiva? Ela
vem amanhã para o almoço?
— Não, amanhã eu não vou conseguir ir, mas combino com você de
ir no meio da semana. Podemos fazer assim? — Se eu fosse lá amanhã, ela
me encheria tanto de perguntas, que tenho certeza de que eu acabaria lhe
contando a verdade.
— Pode ser, sim, mas se você não a trouxer aqui até o meio da
semana, eu vou descobrir quem é e você não vai poder reclamar depois. —
Dona Susan me ameaçou sutilmente.
— Claro, vou fazer isso. Você não vai precisar usar seus meios
investigativos, não. Pode ficar tranquila.
— Tudo bem, então, querido. Nos vemos no meio da semana. Te
amo.
— Até, mamãe. Te amo.
Às vezes ela tinha uns surtos emocionais. Se estivéssemos
pessoalmente ela com certeza teria me agarrado e abraçado apertado. Eu fui
criado com muito amor e vendo meus pais demonstrarem muito carinho em
casa, apesar do meu jeito frio com as pessoas, com quem eu amo sempre fui
mais carinhoso.
Cheguei em casa e tudo o que eu queria era que a segunda-feira
chegasse o mais rápido possível, para ter a resposta de Sophia. Tinha
certeza de que minha vida se transformaria na mais pura confusão, mas
sentia ao mesmo tempo uma sensação boa quanto a tudo isso.
Capítulo 13

Sophia Clarck

As lutas que estou enfrentando


As oportunidades que eu estou tendo
Às vezes podem me derrubar, mas
Não, eu não estou quebrando
Eu posso não saber disso
Mas estes são os momentos que
Eu vou mais me lembrar, sim
Só tenho que continuar
E eu, eu tenho que ser forte
Apenas seguir em frente
The Climb – Miley Cyrus
Amanheceu e eu olhava para aquele contrato na minha frente como
se ele fosse começar a conversar comigo a qualquer momento.
Estava sozinha no apartamento, pois Mary só voltaria amanhã, indo
direto para empresa. Eu ainda não tinha ideia do que faria da minha vida.
Não podia negar que a proposta dele era tentadora, mas ao mesmo tempo,
não gostava da situação em que eu estaria. Nunca gostei de depender da
ajuda de ninguém, era muito orgulhosa para ter que ouvir que só cheguei
em algum lugar por conta de alguém.
Eu vou esperar até amanhã cedo, para tentar conseguir o empréstimo
com o banco, mesmo que essa não seja a melhor decisão.
Saí para correr e tentar limpar minha mente de todos esses
pensamentos. Detestava me sentir pressionada e não estava mais suportando
a minha indecisão.
Corri até não sentir mais nada, minhas coxas ardiam pelo esforço.
Voltei para casa, tomei banho e me joguei na cama. Decidi tirar o restante
do dia para dormir, o cansaço era tanto que não pensava em mais nada para
fazer.
Acordei no meio da tarde, dei mais uma olhada no contrato, agora
mais calma e com a mente limpa, e marquei algumas coisas que achava
desnecessário caso eu hipoteticamente resolvesse aceitar.
Na minha cabeça eu sempre gostei de considerar todos os cenários
possíveis.
Não poderia descartar esse como um cenário provável.
Depois que já havia analisado tudo que achava importante, decidi
que iria comer e assistir aos meus filmes favoritos. Preparei um lanche,
liguei a TV e comecei a maratonar os filmes do Harry Potter, nesses
momentos de ansiedade era o que dava conforto, depois da corrida.
Às segundas-feiras na empresa eram de muita correria. Nós sempre
verificávamos as mudanças e acompanhávamos o que tinha sido lançado
para ver se estava da forma certa e alcançando os resultados esperados.
Estava com a equipe de Mary, trabalhando na campanha de pré-
lançamento que fizemos, verificando se tudo fluía bem, para poder entregar
os meus relatórios, e Mary me chamou para tomar um café.
Fomos para a copa que ficava no nosso andar, e começamos a
conversar sobre o fim de semana, Mary começou a me contar como havia
sido divertido.
— Sophia, você tinha que ter ido com a gente! À noite fomos a
baladas incríveis, cada gato que tinha naquele lugar... — Mary disse se
abanando, como se lembrasse dos caras que viu, e ficou.
— Amiga, você sabe que eu não conseguiria ir, e eu não estou com
cabeça para festa, estou realmente preocupada com as coisas em casa.
— Eu sei que essa situação com o seu pai não está fácil, mas você
precisa desestressar, transar um pouco, arrumar um namorado talvez?
Mary, era a pessoa mais romântica que eu conhecia, e ela sempre
estava em relacionamentos, e acabava quebrando a cara porque os homens
eram quase sempre uns filhos da puta.
— Eu não vou nem comentar com você sobre isso... Você sabe
muito bem o que eu penso sobre relacionamentos fixos. Concordo que estou
precisando transar sim, mas no momento só estou com tempo de me
desestressar na corrida — e com meus brinquedos, mas até para eles faltava
tempo —, as minhas noites estão sendo divididas entre dormir e fazer
trabalhos extra. Quando conseguir me acalmar financeiramente a gente
volta a sair, pode ser? — O que não parecia que aconteceria tão breve.
— Sei que é um tópico sensível, mas você ainda vai encontrar
alguém que vai te fazer acreditar no amor de novo. Alguém que vai fazer
por merecer, porque você é uma mulher incrível e merece um homem que
saiba reconhecer isso. — Ela segurava minha mão, e me olhava nos olhos
enquanto falava, parecia até que fazia uma previsão, ou rogava uma praga,
fiquei na dúvida.
— Obrigada por isso! Espero que um dia realmente isso aconteça,
mas caso não ocorra, eu fico para titia. Tenho certeza de que Sarah, você e
Claire me darão lindos sobrinhos para mimar. — falei rindo, porque ela
ficava louca quando eu falava isso.
Voltamos para as nossas mesas e continuamos com o trabalho.
Mandei mensagem para a minha gerente sobre o empréstimo e ela disse que
me retornaria no horário do almoço, o que me deu um pouco de esperança.

Ria de alguma besteira que Mary falou enquanto almoçávamos,


quando meu telefone tocou com o nome da gerente do banco no visor.
Atendi depressa.
— Oi, Karla, tudo bem?
— Oi, Sophia, tudo sim. Estou te ligando sobre a proposta do
empréstimo. Consegui para você metade do valor que você solicitou,
devido ao outro que ainda está em aberto e por não ter mais nada que você
possa dar em garantia. Ainda consegui essa quantia, porque você está
pagando em dia as parcelas do outro, e o banco entendeu que você é uma
boa devedora, mas com dois empréstimos vai ficar com uma parcela alta
para pagar. — ela disse, e pude sentir o pesar na sua voz.
— Entendi. Esse valor já é alguma coisa, vai ajudar, quando eles vão
liberar? — Estava pensando em tentar com alguém a diferença.
— Devido às condições que eu te disse, eles só vão liberar em três
dias. Te envio os documentos para assinar ainda hoje. Sinto muito por não
conseguir o valor todo. — Karla sabia que meu pai estava doente, então
acreditava quando ela dizia que sentia muito.
— Certo, obrigada de qualquer forma. Nos falamos depois.
Desliguei o telefone e me desesperei porque além do valor do
empréstimo não ser suficiente para a cirurgia, não sei se papai aguentaria
esperar mais três dias. De qualquer forma aguardaria Sarah me enviar o
boletim médico dele que era liberado agora no horário do almoço e aí
tomaria uma decisão sobre o que fazer.
— Não deu certo, Sophia? — Minha cara devia estar denunciando o
que foi a ligação, porque Mary estava quase chorando na minha frente.
— Eles só liberaram metade do valor.
— Sabe que se eu tivesse eu te emprestaria, não é?
— Mary, você já faz muito em me deixar morar no seu apartamento
sem pagar aluguel.
Eu me sentia péssima por isso, só ajudava com a alimentação e com
os custos, porque Mary quase não deixava, mas sentia como se fosse um
peso para a minha amiga.
— É o mínimo, e tenho certeza de que se fosse ao contrário, faria o
mesmo por mim.
Eu tinha os melhores amigos e disso não tinha dúvidas. Antes de
falar qualquer coisa, meu telefone vibrou com uma mensagem de Sarah. E
eu só pedia a Deus que fossem boas notícias.

Sarah: Sophia, eu não consigo nem te ligar, estou consolando


mamãe aqui. A médica nos chamou para conversar e disse que
precisamos aumentar a medicação para o papai e fazer a cirurgia
no mais tardar amanhã, porque a cada dia que passa corre o risco
de aumentar o tamanho do pedaço que ele vai precisar retirar. Se
for muito grande, ele precisará colocar a bolsinha e isso é o pavor
dele.
Como nós vamos resolver isso? De onde tiraremos dinheiro?

Eu: Vou resolver, mais tarde te dou uma resposta.

Enviei uma mensagem para Theodore, porque agora, mais do que


nunca, eu precisava resolver todos os nossos pontos para que ele me
ajudasse.
Eu: Já tenho uma resposta, podemos conversar que horas?

Ele não demorou para responder.

Theodore: Em uma hora você pode vir à minha sala. Já avisei a


Dorothy que irei te receber. Te aguardo.

Eu: Ok, obrigada.

Agora só precisava esperar passar essa uma hora, tenho certeza de


que será a mais longa da minha vida.
Eu não consegui comer mais nada, então só esperei Mary terminar e
voltamos para o nosso andar. Eu estava completamente sem cabeça. Li
alguns e-mails e, quando finalmente faltavam quinze minutos, eu subi de
escada para o andar onde ficava a sala de Theodore.
Fui com calma, chegando lá fui ao banheiro, e me olhei no espelho.
Estava com um blazer preto, com uma calça na mesma cor, e pensava se
aquela pessoa refletida no espelho ainda seria eu após aceitar o contrato.
Meu maior medo era me perder de mim, estando em um mundo tão
diferente do que estava acostumada.
Me acalmei, saí do banheiro e fui até a sala onde Dorothy ficava.
— Olá, Dorothy, tenho um horário com o Sr. Rockefeller agora.
— Sim. Pode entrar, Sophia. Ele já está te aguardando.
Acenei, e fui em direção à porta dele. Bati e aguardei que ele
liberasse a entrada. Assim que ele respondeu, percebi que a minha mão que
segurava o contrato estava tremendo. Afastei o meu medo e mentalizei que
essa era a decisão correta.
— Com licença. Boa tarde, Sr. Rockefeller. — falei enquanto
entrava.
— Oi, Sophia. Sente aqui e vamos conversar — ele apontou para a
cadeira na sua frente. — Você ficou com dúvida em alguma coisa?
Andei com calma até a cadeira, porque o estado de nervos em que
me encontrava, se andasse mais rápido era capaz de cair com esses saltos.
— Marquei alguns pontos que eu gostaria de deixar claro.
— Perfeito. Vamos conversar, ajustar e assim podemos assinar. —
Ele disse com toda confiança. Acho que se eu tivesse subido para falar
“não”, talvez até pudesse mudar de ideia, tamanha era a confiança desse
homem.
— Como você sabe que eu vim disposta a assinar?
— Porque se não estivesse, tenho certeza de que enviaria uma
mensagem dizendo que a sua resposta seria não. Você não parece ser o tipo
de pessoa que enrola por uma resposta. — ele disse, olhando diretamente
em meus olhos.
— É bem essa a minha realidade, mas, talvez, por você ser o dono
da empresa, eu viesse aqui te dizer “não” pessoalmente. Vai que você fica
ofendido, né? Não quero perder meu emprego por conta do seu ego. — falei
dando de ombros.
— Meu ego não é maior do que a minha empresa, Sophia. Você é
uma excelente profissional, não arriscaria te perder por conta do ego ferido.
Mesmo que doa.
— Que bom, pois esse é um ponto que eu quero que você deixe bem
claro no contrato.
— Ok, o que mais você tem dúvidas?
— Aqui fala que você vai disponibilizar um prédio para o projeto
social, é verdade? Seria ainda esse mês?
— Sim, eu soube que o prazo termina no final do mês, então o
prédio já está sendo visto e será doado para o projeto. Não será mais
necessário pagar aluguel.
Eu não esperava por isso. Eu olhei o endereço que estava no
contrato, era a duas ruas do atual, e o prédio, pelas fotos que eu vi na
internet, parecia incrível. Michele vai ficar em êxtase.
— Certo, obrigada por isso. O projeto não é uma responsabilidade
sua, mas com certeza é um ótimo bônus. Outra coisa que eu não entendi é
porquê eu receberia uma mesada todos os meses e teria um cartão sem
limites. Eu vou continuar trabalhando e, com você assumindo as minhas
dívidas e as despesas do meu pai, meu dinheiro seria mais do que suficiente
para mim. — Pontuei, porque achava absurdo receber dinheiro.
— Sophia, você vai ser minha noiva, isso quer dizer que
precisaremos comparecer a alguns eventos. Eu, como CEO, infelizmente
preciso estar em alguns lugares que eu não gosto, mas que são necessários.
E não quero que você gaste seu salário inteiro comprando vestidos e com
salões. Eu estou te trazendo para esse mundo, o mínimo que eu posso fazer
é te dar tudo que você precisa para sobreviver nele e sem se desgastar.
Parei por um momento, absorvendo as suas palavras e foi algo que
eu realmente não pensei, teria que estar à altura dele nos eventos. E eu
definitivamente não tinha roupas para isso.
— Entendi. Realmente, faz sentido, não tinha pensado que teríamos
todos esses eventos para participar. — falei, indo pro próximo tópico. —
Mais um ponto, é sobre toques. Não ficou claro o que você considera sobre
eles. — Ele me olhou quando terminei de falar, como se estudasse minha
reação quanto a esse tema. Confesso que não vou achar ruim tirar umas
casquinhas dele, ele é um homem muito gostoso e só sendo cega para não
percebê-lo no ambiente.
— Em público, teremos que ter demonstrações de afeto, não
precisará ser nada muito exagerado. Algo como mãos dadas e alguns beijos
acredito que serão suficientes. Isso é um problema para você?
— Não, contanto que no final dos quatro meses você não se
apaixone por mim e queira se casar de verdade, estaremos bem com isso. —
falei rindo.
— Pode ficar tranquila que não estou com tempo para isso. — ele
disse sério. O senso de humor dele ficou em casa hoje.
Discutimos mais alguns pontos do contrato que achei relevantes e
por fim, ele disse que me enviaria em meia hora com as alterações.
— Sophia, só mais um detalhe. No sábado será nosso noivado e a
minha mãe quer te conhecer antes da festa, na quarta-feira é bom para
você? — olhei em choque para ele.
— Desculpe? Sua mãe já sabe sobre nós? Você estava tão convicto
assim que eu aceitaria? — pergunto, totalmente incrédula.
— Minha mãe sabe que estamos juntos, mas não que é apenas um
contrato, e quero que permaneça assim. E, sim, eu tinha certeza de que
aceitaria. — falou, com um sorriso presunçoso na cara.
Se eu não precisasse tanto, eu juro que iria embora agora sem aceitar
nada.
— Tudo bem, então, Sr. Previsão do futuro. Podemos ir na quarta-
feira, sim. Só precisamos acertar a história que iremos contar sobre como
estamos juntos e se tiver mais algum ajuste, me avise.
— Certo. Acertaremos os detalhes durante a semana. Quanto às suas
dívidas e o tratamento do seu pai, daqui a algumas horas já estará tudo
certo.
— Ok, obrigada. Vou voltar pro meu trabalho, porque senão meu
chefe pode achar que estou à toa por aí.
— Caso ele ache isso, eu mesmo falo que solicitei sua presença aqui
para tirar dúvidas sobre a campanha. Inclusive, gostaria de aproveitar para
te dar parabéns pelos resultados do primeiro dia.
— Claro, esqueço que ninguém te contraria. Obrigada, mas a equipe
inteira se esforçou para que ficasse muito bom. — falei pronta para sair, ele
apenas acenou para mim.
Voltei para a minha sala, e torci para que tenha sido a melhor
escolha.
E tive certeza de que foi quando eu recebi, depois de algumas horas,
a mensagem de Sarah.

Sarah: Irmã, papai vai ser transferido para o hospital mais caro
da cidade e vai operar amanhã de manhã! Não sei o que você fez,
mas deu certo! Mais tarde nos falamos e eu quero detalhes. Para
entender o seu milagre! Obrigada por isso, e espero que você não
tenha assaltado nenhum banco.

Mesmo com todo desespero, Sarah ainda conseguia fazer graça.


Imagino que tirei um peso de suas costas. Mais tarde me preocuparia em
como explicaria toda aquela confusão.
Capítulo 14

Theodore Rockefeller

Oh, minha vida está mudando todos os dias


De todas as maneiras possíveis
E, oh, meus sonhos nunca são exatamente como parecem
Nunca são exatamente como parecem
Dreams - The Cranberries

Assim que Sophia saiu da minha sala, liberei os pagamentos


programados e a transferência do pai dela, que havia pedido para ser feita
desde cedo. Meu advogado que cuidou desses detalhes, pagando todas as
custas do hospital em que ele estava e dando um dinheiro a mais para o
outro que ele seria transferido, garantindo que tudo aconteceria rápido. Fiz
questão de pesquisar e me certifiquei de que era o melhor da Carolina do
Norte.
Quando se tem dinheiro envolvido, as coisas fluem de uma maneira
sem igual e isso foi uma das coisas que eu aprendi muito cedo na vida, que
o dinheiro sempre tira o melhor e o pior do ser humano. E que informação é
ouro. Então, se você tem informação, você tem basicamente tudo na sua
mão.
Espertos são os que sabem trabalhar isso, como papai me ensinou,
que é o que mantém o nosso império.
Tentei me concentrar no trabalho, porém Sophia e o seu jeito
atrevido não saíam da minha cabeça. Ela estava se soltando aos poucos.
Agora, com o contrato, ela já não deve me ver como o chefe do chefe do
seu chefe, mas como alguém próximo, e eu quero muito conhecer essa
Sophia.
Resolvi ver se tudo correu bem e pedi a Athena que me informasse
se todas as transações financeiras já estavam processadas. Logo apareceu no
monitor todas as contas quitadas no nome dela, e isso me trouxe um pouco
mais de tranquilidade. Aproveitei para mandar uma mensagem a Sophia,
para que verificasse sobre seu pai.

Eu: Sophia, sobre as suas dívidas, todas já estão quitadas, como


nós combinamos. Deu certo a transferência, eles já agendaram a
cirurgia?

Eu sabia que sobre a transferência estava tudo certo, mas não falei
mais com o meu advogado para saber sobre que dia eles marcariam a
cirurgia, então aproveitei o momento para puxar assunto com a minha
futura noiva por contrato.
Passados dez minutos ela me enviou uma resposta. Queria saber em
que momento eu passei a ficar ansioso para olhar uma mensagem!
Porém não gostava de esperar e esses míseros minutos me deixaram
impaciente.

Sophia: Oi, querido noivo de mentirinha!


Obrigada pela sua agilidade em me deixar livre das dívidas! Meu
pai vai operar amanhã de manhã. Minha irmã me confirmou
agora há pouco que está tudo certo para a cirurgia.

Eu: Excelente notícia! Tenho certeza de que vai correr tudo


bem.
Você vai até lá para acompanhar?

Sophia: Por mais que eu esteja a meses sem vê-los, Theodore,


você sabe que meus pais estão na Carolina do Norte, né? Não ali
no Queens, onde eu pego um táxi e chego em pouco tempo.

Eu: Sei exatamente onde eles estão. Para isso que servem os
aviões, em uma hora e meia você está lá.

São coisas tão simples, eu não entendo por que complicar algo que
pode ser resolvido com facilidade, como pegar um voo, e estar rapidamente
nos lugares.

Sophia: Sim, eu sei pra que servem os aviões, porém uma


passagem em cima da hora não é barata, e eu tenho que trabalhar.
Não sei se você sabe, mas eu não posso sair simplesmente
faltando, eu preciso do meu salário no fim do mês.

Eu: Se o seu problema todo estiver em ter que estar aqui, nossa
empresa aceita totalmente o home office. Somos uma empresa
de tecnologia, bem flexível, e tenho certeza de que Tyler não
vai se importar de você trabalhar da Carolina do Norte. E
acredito que até te dar folga seria algo muito tranquilo, porque
tenho certeza de que você deve ter feito horas extras nessas
últimas semanas devido ao projeto.
Nesse instante eu puxo o banco de horas do setor dela no sistema, e
é exatamente o que eu imaginei, ela tinha várias horas para tirar.
Ela estava digitando, porém nem esperei que terminasse e enviei
outra mensagem.

Eu: Já estou avisando ao meu piloto que você irá para a


Carolina do Norte hoje mesmo, no meu avião, assim você não
tem que se preocupar com passagem.

Ela parou de digitar na mesma hora, e eu fiquei por um minuto


inteiro aguardando sua reação. Quando eu ia enviar outra mensagem, meu
telefone tocou mostrando que ela estava me ligando.
— Theodore, você está maluco? Como eu posso aceitar uma coisa
dessas? — ela estava ofegante, diria que até um pouco indignada.
— Aceitando, não é nada demais.
— Como não? Não fale como se fosse algo natural e simples.
— Pra mim é. Eu já iria à Carolina do Norte amanhã, resolver
algumas pendências na filial, então te dar uma “carona” é algo muito
natural e simples. E você mesmo disse que tem meses que não os vê. Acho
que é um momento importante para que esteja presente. — Eu não tinha
nada programado amanhã lá, mas aproveitaria para fazer algumas reuniões.
Estava adiando essa ida e agora seria um bom momento. Sempre é
interessante aparecer de surpresa.
Enquanto falava com ela, avisei ao meu piloto da viagem, e ele me
confirmaria o horário que poderíamos voar, em breve.
— Ok, você tem bons pontos. Eu vou conversar com Tyler sobre o
meu dia de trabalho e se estiver tudo bem para ele, eu vou com você. Te
aviso em alguns minutos.
— Caso ele implique com alguma coisa você pode me falar, mas sei
que não será necessário. Mando por mensagem o horário que irei passar
para te pegar.
Encerramos a ligação e eu já pedi para Dorothy vir na minha sala.
— O que aconteceu de urgente que você pediu que eu corresse até
aqui, Theodore? — falou querendo me matar, ela detestava que eu a
chamasse correndo.
— Aconteceu que eu tive uma mudança de planos. Preciso que você
altere a minha agenda de amanhã. Vou para a Carolina do Norte fazer uma
visita surpresa, então separe na minha agenda uma reunião principal com o
gerente da filial e as minhas reuniões aqui, reprograme as que não puderem
ser feitas online. Cobre também um retorno do Avelar, ele me pediu mais
uma semana e ela já está se esgotando, não darei mais tempo a ele.
Aquele velho não ia me enrolar. Já lhe dei mais tempo apenas por
consideração, mas minha consideração tinha um limite muito baixo, para ter
abusos.
— Preciso também que você reserve uma diária de hotel com
entrada hoje ainda, para mim e Sophia Clarck. Peça a suíte presidencial
daquele hotel que você sempre pega que tem dois quartos juntos.
— Por que a Sophia irá com você? E vai ficar no mesmo quarto? O
que eu perdi? — Ela estava atônita, poucas eram as vezes que eu conseguia
surpreender Dorothy.
— De tudo que eu falei, você só focou nisso? — provoco ela, mas
explico o que ela precisava saber — Porque no fim de semana iremos
anunciar nosso noivado e não quero nenhuma especulação de que não
estamos juntos. Se alguém nos ver no hotel, melhor que saibam que
estamos na mesma suíte.
— Meu filho, até ontem você não estava namorando, como assim
você vai ficar noivo dessa moça? Você nem a conhecia!
— Eu conheço Sophia há anos, antes mesmo de estar com a Lauren.
Mas o assunto do meu noivado surgiu na festa dela, foi algo impulsivo. Josh
me tirou do sério e acabei falando que estou noivo, eu sei que esse noivado
da Lauren não vai durar, então manterei um contrato com Sophia por alguns
meses, fingindo que estamos noivos. Resumindo, é essa a história.
— Não acredito que caiu na pilha daquele menino de novo! Precisa
parar de agir por impulso perto dele! Você parece que se esquece de tudo
quando ele te provoca. E mais ainda, ficar noivo para fazer ciúmes na
Lauren agora não é a coisa mais madura que pode fazer. — Ela me
repreendeu do seu jeito de sempre.
— Sim, não é maduro, mas é algo temporário. — Finalizei o
assunto.
— Espero que realmente seja, e que você não se machuque e nem a
essa menina. Ela parece ser uma boa moça, diferente de certas pessoas que
você já esteve junto.
— Ninguém vai se machucar, somos dois adultos com regras claras.
Está tudo sob controle.
— Espero que sim. Vou fazer o que me pediu, e veja se não arruma
muita confusão na filial amanhã, sempre que você chega de surpresa nos
lugares, meu dia é um caos. — ela disse rindo enquanto saía da sala, e nem
me deixou responder que eu gosto do caos.
Recebi a confirmação do horário do voo e avisei a Sophia que
Gerald iria levá-la em casa para que pegasse suas coisas e depois para o
hangar, onde nos encontraremos. Agora eu posso finalmente prestar atenção
no meu trabalho que estava acumulado na minha mesa.

Sofia Clarck

Ainda estou abalada pelo que Theodore fez. Ele é igual aquelas
crianças mimadas que fazem o que querem, o que me preocupou um pouco
pelo tipo de relação que nós teremos nesses meses que passaremos juntos.
Ao mesmo tempo em que ele parece ser mimado, também aparenta ter um
bom coração, me deixando confusa.
Tyler foi super tranquilo quando falei com ele sobre a cirurgia do
meu pai, me liberando para folgar amanhã. Fiquei mais calma com isso, e
feliz por poder estar perto deles em um momento tão delicado. Vou
aproveitar para chegar de surpresa, para que minha mãe e irmã não me
questionem sobre como irei para lá.
Na saída do expediente, fui conversando com Mary e avisei a ela
que tenho algumas coisas acontecendo na minha vida e que explicarei
melhor quando voltar da Carolina do Norte, fazendo com que ela quase
morra de curiosidade. Mas ao ver o motorista de Theodore nos aguardando,
parece que tudo faz sentido na cabeça dela, pela cara que me olhou e eu não
tenho a mínima ideia de que tipo de associação ela fez, porém como ela é
uma pessoa apaixonada, imagino que deve ter sido a pior possível.
— Você não vai escapar de me explicar direitinho o que está
acontecendo, tá bem?! — ela falou baixinho enquanto entramos no carro.
Passamos todo o caminho de casa conversando coisas aleatórias, ela
tentou vez ou outra tirar alguma coisa, e eu permaneci quieta, não falaria
nada na frente de Gerald.
Assim que chegamos em frente ao nosso apartamento, avisei a ele
que eu arrumaria as coisas rapidinho e em meia hora, no máximo, iria
descer. Recebi apenas um acenar de cabeça. Ele era um homem realmente
calado, ou ainda não confiava o suficiente em mim para querer conversar
qualquer coisa.
— Fala logo pra mim o que está acontecendo entre você e o
Theodore. — Mary nem esperou entrarmos no prédio direito e já disparou a
falar.
— Eu prometo que vou te explicar tudo, amiga, mas por enquanto
você só precisa saber que estamos em um relacionamento. Agora
precisamos correr, porque tenho que me arrumar e a bolsa com as coisas
que preciso levar e você vai me ajudar. — falei enquanto subíamos as
escadas para o nosso apartamento.
— Você é uma safada! Ficou falando que não queria
relacionamentos, que eu que sou a apaixonadinha, não é mesmo... — ela
me encarou, cerrando os olhos, me julgando, mas ela não sustentou por
mais que cinco segundos e caiu na risada.
— Você é impossível, Mary! E ainda vai continuar sendo a
apaixonadinha. Eu e o Theodore estamos vivendo e vendo no que vai dar.
— desconversei, até que eu pensasse melhor no que falaríamos.
Não quero nem pensar sobre como será quando tiver que anunciar o
noivado. Elas vão achar muito estranho, porque eu sempre falei que não
queria nenhum relacionamento sério por agora.
Aproveitei que tinha pouco tempo para fugir dos questionamentos
da minha amiga. Ela me ajudou a separar tudo, tomei um banho e vesti uma
calça legging com uma camiseta de alças e peguei um casaquinho para usar
caso sentisse frio. Sempre gostei de viajar confortável.
Fui com Gerald até o hangar onde o avião de Theodore estava. Eu
imaginei que fosse um jatinho, porém era um avião grande e quando
entramos, eu fiquei boquiaberta. Era lindo e muito luxuoso. Nunca tinha
visto um avião particular por dentro. Ele era todo decorado em tons creme e
marrom, as poltronas pareciam aquelas que ficam no shopping em que você
coloca dinheiro e elas fazem massagem. Me sentia como uma criança no
parquinho pela primeira vez. O cheiro me envolveu de uma maneira que eu
não conseguia explicar, a sensação era de que transmitia tranquilidade. Me
pergunto se isso era possível...
A comissária me indicou onde Theodore me aguardava. Ele estava
sentado com o notebook na sua frente e antes que eu pudesse falar qualquer
coisa, ele me viu. Me olhou de cima a baixo, sem disfarçar.
— Boa noite, futura noiva!
— Boa noite, noivo de mentirinha! — já que ele estava nesse ritmo,
eu entraria na brincadeira também. Antes de me sentar à sua frente
conforme ele indicou, dei uma boa olhada nele, direitos iguais certo?!
— Vamos sair em alguns minutos, pode ficar à vontade no avião. Se
quiser, pode ficar aqui comigo, ou pode escolher alguma poltrona, ou se
preferir descansar, tem cama lá nos fundos. — ele disse, como quem fala
que tem uma bala no bolso.
Mas não era de se esperar menos, todo o avião gritava luxo, desde as
poltronas aos sofás grandes que pareciam muito confortáveis.
— Eu vou me sentar aqui na frente então, para não te atrapalhar. —
me levantei e sentei em uma poltrona que ficava no lado oposto à sua mesa,
assim poderia observá-lo discretamente.
Nós levantamos voo e eu acabei pegando no sono. Senti uma mão
me tocando de forma suave, abri meus olhos devagar, vendo Theodore me
acordando. Percebi que tinha um cobertor em cima de mim, mas não senti
ninguém me cobrindo. Fiquei me perguntando se foi ele ou a comissária.
— Sophia, vamos jantar. Acredito que você não teve tempo para
comer e deve estar com fome.
— Sim, não consegui comer, estava em cima da hora quando
cheguei em casa. — fui em direção à mesa e me sentei na sua frente.
A aeromoça me passou as opções disponíveis, eu preferi pegar uma
salada e frango grelhado, não comeria nada muito pesado àquela hora da
noite, senão depois não conseguiria dormir direito.
Ela trouxe os nossos pratos e reparei que Theodore estava comendo
massa.
— Como você não passa mal comendo massa a essa hora?
— Porque já me acostumei e até que a gente vá dormir ainda tem
algumas horas, então não me faz mal.
— Entendi — aproveitei para perguntar sobre a coberta. — Foi você
quem me cobriu? Eu acabei pegando no sono.
— Sim, você estava toda encolhida na poltrona, imaginei que
poderia estar com frio. Algum problema com isso?
— Não, foi só para saber mesmo. — Ele me intrigava com algumas
atitudes.
Jantamos enquanto falávamos algumas amenidades e estávamos
discutindo sobre que história contaríamos para justificar nosso noivado tão
repentino.
Por fim, decidimos que contaríamos que nos conhecemos fora da
empresa, nos apaixonamos perdidamente e por isso o noivado seria tão
rápido. Eu estava um pouco desconfortável, pois sabia que poderia haver
muita desconfiança.
— Lógico que essa história vai convencer, olha pra mim! Quantas
mulheres não gostariam de se casar comigo? — ele apontou pro próprio
corpo e finalizou com uma piscadinha.
— Posso imaginar que tenham muitas, sim, afinal, você não é de se
jogar fora, mas vai ser difícil convencer a minha família de que eu estou
perdidamente apaixonada por você.
— Acho que eu sou um pacote completo, sua família vai se
convencer fácil. Não precisa bancar a difícil comigo. — Ele era muito
convencido, já estou vendo que vou sofrer sem poder esganá-lo.
— Elas vão pensar que você tem um pau de ouro, só assim para que
eu aceitasse me casar com você tão rápido. — falei sem paciência, e me
arrependi no segundo seguinte ao que as palavras saíram da minha boca.
— Nossa, você é tão difícil assim? A ponto de pensarem que eu te
prendi porque o sexo comigo seria o melhor da sua vida? — ele ergueu a
sobrancelha em questionamento.
— Digamos que eu não tenho planos de me casar, ou sequer de ter
um relacionamento sério. E todos eles sabem disso, então é bem provável
que pensem algo do tipo, sim. — falei um pouco mais baixo, não queria me
expor tanto.
— Eles vão pensar certo. Com certeza, eu seria o melhor sexo da
sua vida. — disse, e eu não tive como não cair na risada.
— Cuidado que eu posso dizer que você me pediu em casamento
justamente por não aguentar ficar longe de mim. De repente, eu é que posso
ser o melhor sexo da sua vida. Afinal, o pedido de casamento foi seu. —
Dei o meu melhor sorriso sacana e voltei para a poltrona que estava antes,
deixando que ele continuasse a trabalhar.
Percebi que ele sempre me dava algumas olhadas de canto de olho,
mas nunca parava o que estava fazendo. Lembrei de ter lido algo sobre ele
ter se separado da namorada por trabalhar demais e eu não duvidei que seria
verdade.
Em determinado momento, ele começou a me olhar diretamente e eu
não desviei meu. Ficamos assim por algum tempo até que ele pareceu
avaliar cada pedaço do meu corpo, como se imaginasse o que tem por baixo
das roupas.
— Está pensando que eu posso ser realmente o melhor sexo da sua
vida? — falei com um meio sorriso.
— Com certeza eu posso chegar a essa conclusão, mas digamos que
eu preciso provar, eu trabalho com fatos apenas. — ele disse com a voz
mais rouca, que trouxe um arrepio à minha pele.
Ele se levantou e veio na minha direção, me estendeu a mão como
se me pedisse permissão e eu apenas me levantei e a toquei. No mesmo
instante, me puxou para perto, colando nossos corpos, aproveitei para subir
a mão lentamente por seu peito até chegar no seu pescoço. Então olhei em
seus olhos e encontrei um desejo que não esperava, imagino que estava
transmitindo o mesmo desejo nos meus.
Encurtando a nossa distância, ele me beijou. Começou de forma
calma, sua língua foi pedindo passagem, aprofundando o beijo, que foi
ficando cada vez mais urgente. Me segurando pela cintura, aquelas mãos
grandes me apertaram de um jeito firme como se eu pudesse fugir a
qualquer momento, e eu arranhei seu pescoço, querendo aumentar o nosso
contato.
Só paramos quando o ar nos faltou, e ele desceu por meu pescoço
distribuindo beijos até em cima dos meus seios, que já pesavam de desejo.
Ele olhou nos meus olhos como se pedindo permissão, eu só assenti. Com
isso ele abaixou as alças da minha camiseta e chupou o meu peito com
desejo, enquanto pinçava o outro. Eu, que já me sentia completamente
desejosa, desci minha mão até a sua calça e ele estava totalmente duro sob o
tecido, me fazendo ansiar por ele dentro de mim agora.
Puxei seu cabelo, voltando a beijá-lo enquanto tentava desabotoar os
botões da sua blusa. Ele me puxou para o sofá, sentei em cima dele. Mesmo
com ele ainda vestido, conseguia sentir toda a sua extensão. Eu arranhei
aquele peito malhado, terminei de tirar a minha blusa e sentir sua pele
contra a minha estava me arrepiando e me excitando ainda mais.
— Se eu enfiar minha mão dentro da sua calcinha agora, ela vai
estar totalmente encharcada pra mim, Sophia? — ele sussurrou no meu
ouvido.
— Sim, eu agora só quero que você arranque a minha calça e entre
em mim.
— Nossa, pedindo desse jeito não tem como negar, mas primeiro eu
quero te provar, imagino que o seu sabor deve ser sem igual.
Ele me tirou de cima dele, me deitando no sofá, e foi me beijando e
chupando em cada pedacinho do meu corpo, e eu gemia sem me importar
que não estávamos sozinhos naquele avião.
Só queria ter sua boca e língua em mim, estava me sentindo chorar
pela antecipação... E não era pelos olhos.
— Sophia, você está bem?
Abri meus olhos, confusa. Havia um Theodore na minha frente,
totalmente vestido, e com um olhar tão confuso quanto eu.
Não acredito que eu estava sonhando com o meu chefe!
E pior ainda, que ele estava pronto para me chupar, e eu me sentia
molhada com a possibilidade.
Capítulo 15

Sophia Clarck

Sentindo o meu caminho em meio à escuridão


Guiado pela batida de um coração
Não sei dizer onde a jornada vai acabar
Mas sei por onde começar
Wake Me Up (feat. Aloe Blacc) - Avicii

Preciso dar um jeito de gozar urgentemente, não posso ficar


fantasiando com Theodore dessa forma.
— Está tudo bem, sim. Desculpe, devo ter tido algum pesadelo. —
desconversei, sentindo meu rosto queimar. Olhei para ele e imaginei se ele
seria como no meu sonho.
— Tem certeza? Você parecia estar gemendo no sonho. Me
assustei, achei que poderia estar sentindo alguma coisa.
— Sim, não era nada. Obrigada por se preocupar.
Realmente estava sentindo alguma coisa, inclusive cruzei minhas
pernas, pois necessitava sentir o atrito. Quando tirei a coberta de cima de
mim, os olhos de Theodore foram direto para os meus seios. Como a blusa
era fina e sem sutiã, eles claramente denunciaram a minha excitação, e ali
eu tive a certeza de que ele sabia que os meus gemidos não eram um
pesadelo.
O piloto informou que iríamos pousar, para que nos
posicionássemos. Me sentei na poltrona para que pudesse afivelar o cinto e
evitei olhar para meu chefe. Até porque, só conseguia imaginar ele em cima
de mim.
Aquela visão do meu sonho, com ele descendo me beijando e
chupando, não saía da minha mente.
Quando pousamos na Carolina do Norte, só queria descer daquele
avião o mais rápido possível e ir para longe desse homem, antes que eu
fizesse alguma loucura.
Percebi que estávamos em algum hangar. Havia me esquecido que
não pararia no aeroporto, estava caminhando com eles em direção a um
carro.
— Pode me dar uma carona até um ponto de táxi?
— Por que eu te deixaria em um ponto de táxi?
— Pra que eu possa ir para a casa da minha mãe? — respondi o
óbvio, às vezes parece que ele não pensa as coisas normais.
— Não, você vai comigo para o hotel. — disse abrindo a porta para
que eu entrasse no carro.
— Eu prefiro ir para a casa da minha mãe mesmo.
— Você não vai a essa hora pra lá, e nós precisamos passar a
impressão de casal apaixonado. Sempre tem algum paparazzi ou
desocupado para tirar uma foto, e quanto mais formos vistos juntos, melhor.
— Certo, faz sentido. Precisamos de algumas aparições para a nossa
narrativa ter sentido quando anunciar o noivado. — Concordei, porque
necessitaríamos passar a impressão de loucos de amor para que
comprassem a nossa história.
Ficamos o caminho todo em silêncio. Theodore permaneceu
trabalhando, enquanto eu apenas apreciava o caminho. Sempre me sentia
melancólica quando voltava para casa. Eram muitas lembranças que me
inundavam, e eu tentava focar somente nas boas.
— Chegamos, Sophia.
Eu estava tão perdida nas minhas lembranças, que não reparei que
nós paramos na frente do hotel.
Saí do carro, peguei minha mala, como estava um vento um pouco
mais gelado, coloquei meu casaco sobre os ombros.
Theodore veio ao meu lado e apoiou a mão na base das minhas
costas por baixo do casaco para me guiar à recepção.
O calor da sua mão me causou arrepios, me fazendo lembrar do meu
sonho. Afastei esses pensamentos na mesma hora. Tinha que lembrar que
ele estava fazendo todo esse teatro para ter a ex-namorada de volta.
Apenas apresentamos os documentos e pegamos o cartão do quarto.
Reparei que eles indicaram apenas um número de suíte e minha
preocupação cresceu na mesma hora. Só esqueci dela quando paramos na
frente do elevador.
— Sophia, são vinte e cinco andares, você quer subir de escada? O
elevador é privado, só vamos nós dois.
— Não, tudo bem. Podemos subir de elevador. — disse me sentindo
um pouco nervosa.
Entrei já apreensiva, e fui sentindo o pânico querer me tomar
quando as portas se fecharam, me fazendo sentir presa naquela caixa
metálica.
Estava olhando para os meus pés, tentando não sufocar, quando
senti Theodore se aproximar e tocar o meu rosto, para que o olhasse.
— Olha nos meus olhos, respira com calma. Você está se sentindo
mal? — ele falou suavemente, mas sem deixar o tom de comando.
— Só um pouco desconfortável. — Diminuo um pouco o que eu
sinto, e faço o que ele pede.
— Ok, como você faz na empresa? Você sobe pela escada todos os
dias?
— Não, sempre que Mary sobe comigo, ela segura a minha mão e
me faz olhar em seus olhos, assim eu me sinto mais calma. Nós geralmente
chegamos cedo e conseguimos pegar o elevador mais vazio. — nem
terminei de falar e ele segurou minhas mãos.
Permanecemos assim até que o elevador apitou, informando que
chegamos no nosso andar e eu desvio os olhos daquelas duas piscinas azuis
que me trazem pensamentos conflitantes.
— Obrigada por isso. — disse saindo do elevador.
— Não é nada demais, você não estava confortável. Eu te trouxe
aqui, então o mínimo que vou fazer é sempre te deixar bem. — disse como
se fosse algo muito natural para ele, preciso realmente passar a enxergar
dessa forma.
Ele desbloqueou a porta e percebi que estávamos na cobertura. Logo
na entrada, havia uma sala comum, com uma decoração em cores neutras,
mas muitos detalhes em madeira e dourado, com sofás de cor clara, mesa
para refeições e uma porta de vidro enorme no fundo que dava para a
sacada. De manhã a vista deve ser maravilhosa. Na lateral, havia duas
portas e imagino que seja onde ficam o quarto e o banheiro.
— Você não me disse como faremos para dormir. — falei sem saber
o que ele planejou.
— Vamos dormir juntos, é claro. Quero saber se você me convenceu
a te pedir em noivado pelo ótimo sexo mesmo. — ele falou sério, e eu
fiquei em choque.
— Co-com-como é? — não consegui evitar a gagueira.
— É brincadeira, Sophia — falou rindo da minha cara. — Você está
igual a um tomate. Eu não faria isso assim com você. Pedi para minha
secretária pegar uma suíte que tem dois quartos, sempre pego essa quando
venho, porque Gerald geralmente me acompanha.
— Entendi. Aproveitando a sua brincadeira, tem uma coisa que eu
preciso confirmar com você, eu esqueci de mencionar quando assinamos o
contrato, mas eu não quero de maneira nenhuma ser associada a traição.
Então, no período em que estivermos juntos, espero que você não fique com
ninguém, eu também não ficarei. Caso você queira voltar antes do prazo
com a sua ex, vamos expor muito bem que estaremos separados, porque não
quero fama de chifruda na internet.
— Vamos permanecer em celibato por quatro meses? — ele pareceu
incrédulo.
— Eu não me importo. Tenho muitos brinquedos para me distrair.
Imagino que a sua mão pode te ajudar com isso. — falei e fiquei vermelha
na mesma hora, por me lembrar que ele ainda era o meu chefe.
Mas, tinha horas que eu simplesmente não controlava minha boca
grande.
— Claro. — Bufou e foi andando para a sua suíte e me apontando a
minha, o que me fez entender que as duas portas na verdade eram dois
quartos.
— Seu pai vai operar que horas amanhã?
— Às nove horas. Quero sair daqui do hotel umas sete e meia.
Minha irmã falou que às sete elas já estarão lá.
— Ok, vou pedir que Gerald te leve até o hospital. Boa noite,
Sophia.
— Boa noite, Theodore.
Desisti de discutir com ele, sabia que se falasse que não era
necessário que me levasse, ele iria insistir. Como o hospital era próximo
daqui, não ocuparia Gerald por muito tempo.
Entrei no quarto, que seguia o mesmo padrão de luxo da sala, cores
claras, uma cama enorme no centro, o banheiro no fundo e a mesma vista
que o outro cômodo. E entendi Theodore falar sobre a paz que dá quando
observamos à vista dessa forma. Tudo parece tão pequeno perto da
imensidão lá fora.
Aproveitei para tomar um banho. Se não estivesse tão cansada,
encheria a banheira, mas fiquei apenas no chuveiro, que também é
magnífico, daqueles que saem jatos de água por toda uma coluna na parede,
massageando as costas. Passei alguns minutos apenas relaxando. Fiz minha
rotina de skincare e me deitei naquela cama que era tão macia que dava a
sensação de estar em uma nuvem, o sono veio rapidamente.
Quando meu telefone despertou, me senti completamente renovada,
me arrumei rapidamente pois precisava descer para tomar café. Como
estava indo para o hospital, vesti uma calça jeans, uma blusa, a minha
jaqueta e calcei um tênis, não tinha ideia de quantas horas passaria no
hospital. Me sentia tensa e com medo do que poderia acontecer na cirurgia.
Assim que saí do quarto, encontrei meu chefe na mesa, com um belo
café da manhã.
— Bom dia. Senta aqui para tomar café. — falou sem tirar os olhos
de algo que lia no seu telefone.
— Bom dia. — falei me sentando na sua frente e tomando o café em
silêncio.
Assim que terminei, me levantei, pois queria estar com a minha
família o mais rápido possível.
— Eu já vou para o hospital, que horas iremos embora hoje? —
pergunto, para que possa me programar.
— Depois que você já estiver com tudo resolvido no hospital e seu
pai estiver bem, podemos ir. Qualquer coisa passamos mais um dia aqui.
Isso não é problema.
— Eu preciso voltar ao trabalho. Minhas responsabilidades são
importantes para mim. — falei, para que ele não pensasse que a minha vida
é uma brincadeira.
— Sei que sim. Temos uma filial aqui. Se o problema for esse, pode
trabalhar lá comigo.
— Ok, conversamos mais tarde, então. — falei indo para a porta.
— Gerald está te esperando lá embaixo. Qualquer problema me
avise.
Apenas acenei para ele, e fui em direção às escadas. Desci até a
recepção do hotel, e assim que saí encontrei Gerald na frente de um Rolls-
Royce preto. Será que ele tem um desses em cada cidade?
— Bom dia, Srta. Sophia. O Sr. Rockefeller me informou que devo
te deixar no hospital, correto? — ele disse enquanto abria a porta pra mim.
— Bom dia. Isso mesmo, Gerald.
Percorremos o caminho em silêncio. O hospital era perto, não
levamos muito tempo para chegar. Ele parou e imediatamente saiu para
abrir a porta pra mim, não estava acostumada com essas coisas.
— Obrigada, Gerald.
— Por nada, Senhorita Clarck. Caso seja necessário buscá-la antes,
é só me avisar.
— Ok, mas acredito que passarei o dia aqui, e novamente, me
chame apenas de Sophia. — falei, ele acenou apenas confirmando.
Entrei no hospital, e percebi que não tinha o telefone dele caso fosse
necessário entrar em contato. Se precisasse de algo falaria com Theodore.
Fiz meu cadastro na recepção, me informaram qual quarto meu pai
estava. Quando cheguei lá, notei a porta aberta, então entrei bem devagar.
Quando minha mãe e minha irmã me viram, acabaram gritando e
vindo em minha direção.
Sarah pulou em mim, me abraçando apertado, logo mamãe me
abraçou também e seus olhos ficaram marejados.
— Oh, minha filha! Por que não avisou que viria?
— Porque eu quis fazer uma surpresa. Sei que é uma operação
simples, mas quis estar aqui com vocês. — falei indo em direção a papai
que parecia abatido e mais magro, em nada lembrava aquele homem forte
que sempre foi.
Papai sempre foi lindo. Era alto, forte, tinha os olhos cor de mel e
falava que conquistou a mamãe pelo seu charme. Ele detestava estar doente,
era vaidoso demais. Então, vê-lo assim, me deixava com o coração
apertado.
— Oi, papai! — falei, o abraçando meio desengonçada para não
atrapalhar e nem o machucar devido aos fios que estavam ligados a ele.
— Oi, meu lírio! Eu senti tantas saudades, achei que ia morrer e não
te ver mais.
— Ninguém vai morrer aqui! Vejo que o senhor está doente, mas
continua dramático, não é mesmo? — brinquei com ele, e suavizei minha
voz, que estava querendo embargar. — Eu também senti muita saudade.
Solto ele no mesmo momento em que uma enfermeira entra,
avisando que o levaria para os preparativos da cirurgia. Nos despedimos
dele e fomos para a recepção aguardar. E só pelo olhar de Sarah, sabia que
ela estava cheia de perguntas.
Mamãe avisou que iria tomar café. Ela era viciada e ficava nervosa
sem as suas doses diárias.
Sarah me olhou na mesma hora, como quem dizia “desembucha
tudo”. Nossa conexão era absurda, nos entendíamos pelo olhar, nem
adiantava eu tentar esconder as coisas dela.
— Então... — comecei a procurar palavras — Eu estou namorando.
E foi o meu namorado que ajudou com as coisas do papai.
— E você aceitou assim, fácil? Você não é do tipo que aceita ajuda
sem espernear. — Ela me olhava inquisitiva, como se não acreditasse.
— Ei, olha lá, não é bem assim. Não foi fácil, mas eu não tinha mais
a quem recorrer, e para ele digamos que não irá fazer diferen... — Ela não
me deixou terminar de falar, e me interrompeu.
— Pera aí! Você está namorando? Como isso foi acontecer, e por
que você não me contou? — Minha irmã pareceu alarmada, estive a ponto
de chamar um médico.
— Tem pouco tempo. Queria ter um pouco mais de certeza antes de
contar.
— Entendi. De qualquer forma seu namorado misterioso e
poderoso, conseguiu salvar o papai. A médica disse que se ele não operasse
essa semana, ele poderia perder mais do intestino e não ser reversível. Essa
doença não é das piores quando se tem dinheiro para cuidar, mas no nosso
caso, ela estava sendo um maldito calcanhar de Aquiles.
— Eu sei. Eu vou ser sempre grata a ele por isso, acho que ele viu o
meu desespero e se compadeceu. — falei com bastante jeito para que ela
não desconfiasse — Agora, papai terá o melhor tratamento possível,
poderemos controlar essa doença e ele vai voltar a ter sua vida. Inclusive,
você pode voltar para a faculdade no semestre que vem. — falei mudando o
assunto.
— Como assim? O que minha faculdade tem a ver com isso? E
como teremos dinheiro para bancar as despesas em casa, se eu parar de
trabalhar?
— Eu recebi uma promoção devido a uma campanha que eu fiz, vou
poder assumir os gastos de casa para você voltar para a faculdade. Falta tão
pouco para você se formar, não é justo que você não termine.
— Tudo bem, vamos ver isso com calma. Ainda faltam alguns
meses para o próximo semestre começar, então não vou me preocupar com
isso por agora.
Sei que Sarah achou tudo isso estranho, mas como mamãe voltou
para a recepção, a minha irmã terminou o assunto.
Conversamos algumas coisas e oramos para que desse tudo certo.
Parecia que qualquer assunto era indiferente agora, então nós nos
concentramos em aguardar e torcer para que a cirurgia de papai corra bem e
que tudo isso que eu fiz tenha valido a pena.
Capítulo 16

Theodore Rockefeller

Onde houver desejo, haverá uma chama


Onde há uma chama, alguém está fadado a se queimar
Mas só porque queima não significa que você vai morrer
Try - Pink

Sophia havia saído e era perceptível que ela estava tensa. Pedi que
Gerald a levasse e após viesse me buscar, enquanto isso eu adiantava
algumas pendências. Parecia que nunca conseguiria parar de trabalhar,
quando fechava uma lista de pendências já havia mais duas me esperando.
Preciso melhorar isso com urgência.
Assim que Gerald voltou, nós fomos direto para a filial da Carolina
do Norte, e é impressionante como os funcionários, quando me vêem, se
assustam por não saberem que estaria ali hoje. Sempre gostei dessa
sensação, a correria e eles perdidos sem saber o que fazer. São nesses
momentos que eu mais pegava coisas erradas.
Subi para a sala da gerência e a secretária me cumprimentou e
avisou que o Tedd já estava me aguardando. Aqui, eu confesso que não
tinha muitos problemas, inclusive ele era cotado para uma futura gerência
regional.
— Bom dia, Theodore! Não te esperava por aqui hoje.
— Bom dia, Tedd, eu tinha algumas coisas para resolver na cidade e
aproveitei para fazer uma visita, sabe que eu sempre gosto de ver como as
coisas estão indo.
— Sei bem disso. Podemos fazer uma reunião que eu te atualizo de
tudo.
— Claro, vou ver como Dorothy deixou minha agenda e nós nos
organizamos.
Era óbvio que ela tinha deixado o primeiro horário para que eu
conversasse com ele. Eu não sei o que farei quando Dorothy resolver se
aposentar.
Estava na reunião, mas minha cabeça sempre voltava para Sophia,
me perguntando se ela estava bem. Me preocupava se a cirurgia iria dar
certo e, se não desse, como ela ficaria. Eu sei o quanto é difícil. Eu e
mamãe passamos por isso quando papai adoeceu e precisou operar o
coração, nós achamos que o perderíamos.
Tedd teve que me chamar atenção umas duas vezes durante a
reunião. Chegou a me perguntar se eu estava bem, porque não era o meu
normal, então me forcei a prestar atenção no que fazia.
Mais tarde, meus amigos me enviaram mensagens no nosso grupo.
Estavam curiosos sobre o que eu tinha feito, pois ainda não tinha contado
quem era a pessoa com quem eu firmei o contrato. Decidi que era melhor
que eles soubessem logo e fizemos uma chamada de vídeo.
— Escolhi a pessoa sim, e inclusive, já assinamos o contrato. — abri
a chamada falando, para que eles parassem de me encher.
— Não acredito nisso. Você não iria nos contar? Que péssimo amigo
você é! — Karen parecia ofendida, mas era puro fingimento.
— Isso porque a minha ideia era péssima, não é mesmo? — David
se gabou.
Já mencionei que tenho dois amigos extremamente dramáticos?
— Claro que eu iria contar, assinamos ontem o contrato, porém em
contrapartida, dei a ela algo que era urgente.
— O que era? Comprar o carro do ano, ou um guarda-roupa novo?
— Karen debochou.
— Karen você nem sabe quem é, como pode julgar isso? Logo
você? A pessoa que eu escolhi é a Sophia Clarck. — falei, porque Karen
sempre defendia que não deveríamos julgar as pessoas sem conhecer.
Falávamos que ela era defensora das minorias, porque sempre estava metida
com alguma causa ou projeto social, eu inclusive a deixava à frente dos
projetos que a minha família tinha e cujos os recursos saíam da empresa ou
minha fortuna pessoal.
— Do marketing? Que fez a última campanha que nós lançamos? —
David pareceu um pouco incrédulo.
— Ela mesmo.
— Pelo menos ela é mais bonita que a Lauren. Ela vai morrer de
ciúmes de você quando souber. — ele riu enquanto parecia se lembrar de
Sophia — E parece ser uma excelente profissional. A campanha dela é um
sucesso. Mas também, eu que criei o produto, então não é pra menos, não
é? — David sempre dava um jeitinho de exaltar o seu trabalho, não tinha
como não rir.
— Sim, ela é linda, mas nosso contrato é puramente profissional. Só
vocês dois sabem da existência dele, então permaneçam quietos, nem
mamãe vai saber. — avisei, porque os dois eram fofoqueiros quando se
juntavam com a minha mãe — Karen, você ficou quieta, no que está
pensando?
— Me desculpa, eu realmente não posso julgar a garota sem
conhecer, mas a sua última escolha não foi das melhores, né? Vou dar uma
olhadinha sobre quem é. E o que foi de tão urgente que fez ela aceitar sua
proposta maluca?
— Foi uma questão familiar, o pai está doente. Por isso a urgência,
ele precisou fazer uma cirurgia.
— Por isso você foi para a Carolina do Norte? Acabei de ver que ela
é nascida aí. — Karen falou.
— Sim, por isso estamos aqui. Você está puxando o histórico dela,
Karen?
— Caramba! Nem deixou tempo para nada, Karen você é
impossível. — David disse, soltando um assobio.
— Claro, eu era a única que não a conhecia. E vamos combinar,
puxei fotos dela, e ela é gostosa pra caralho, hein. — ela estava fazendo
uma cara de apreciação para a tela do note — Que pena pra você que o
contrato é só profissional. Acho que precisamos ser apresentadas o mais
rápido possível, vai que ela curte uma morena ao invés do gatinho do olho
azul aí? — ela disse e piscou para mim.
— Eu não vou nem te falar nada. — Fechei minha cara, porque não
estava gostando do rumo da conversa — Preciso trabalhar. Nós vamos
jantar com a minha mãe essa semana e imagino que ela vá chamar vocês.
Acho que ter vocês lá vai ser bom pra minha mãe não assustá-la com um
monte de perguntas.
— Vamos, sim. — meus amigos responderam em uníssono.
— Perfeito, nos falamos depois. — Terminei a chamada e tentei
focar no trabalho.
Não sei o porquê de ter ficado incomodado com a última fala da
Karen. Sabia que Sophia era muito gostosa, realmente, e beijava muito bem.
Pensar nela com a minha amiga não me dava uma sensação boa, era algo
como uma perda. Mas como poderia ter sentimento de perda sobre alguém
que não era nada minha?!
Pensando em tudo isso, lembrei que eu precisava comprar uma
aliança com urgência para ela. Mandei uma mensagem no grupo e pedi pros
meus amigos desocupados comprarem pra mim. Sempre contava com o
bom gosto deles quando precisava comprar algo para Lauren. Sempre fui
péssimo em escolher presentes.
O restante do dia passou como um borrão, em que me forcei a
prestar atenção no que estava fazendo. Sophia havia me falado que o pai já
tinha saído da cirurgia e que tinha corrido tudo bem. Decidi terminar o meu
dia e ir ao hospital buscá-la para que pudéssemos resolver se era necessário
ficar mais um dia aqui ou se poderíamos ir embora.
Cheguei com Gerald na recepção do hospital e procurei por Sophia,
mas só vi sua irmã e mãe. Sentia todos os olhos em mim, como se fosse um
alienígena. Sei que minha altura geralmente chama atenção e olhando em
volta, eu era a única pessoa com roupas formais, acho que isso acabou
atraindo mais olhares ainda.
Peguei meu telefone para mandar uma mensagem a Sophia avisando
que estava ali, mas antes mesmo de terminar, levantei meus olhos e tinha
uma Sophia muito sorridente vindo correndo na minha direção. Ela se jogou
nos meus braços e, se não tivesse força, poderíamos ter ido os dois parar no
chão.
Ela me abraçou apertado enquanto a segurava, não entendi muito
bem o que estava acontecendo.
— Está tudo bem com seu pai?
— Sim, desculpa pular assim em você, mas é que eu estou tão feliz
que ele está bem e que a cirurgia foi um sucesso. Eu só queria te agradecer
pelo que fez. — ela disse, ainda me abraçando.
Me afastei um pouco para olhar nos seus olhos, uma mistura de mel
e verde, mesmo com lágrimas se formando estavam transmitindo muita
felicidade.
— Tudo bem, não precisa me agradecer. Você também está me
ajudando, fico feliz que seu pai está bem.
Ela se soltou e percebi que ficou um pouco sem jeito. Mas aquela
mulher que pulou empolgada em cima de mim, era definitivamente a
Sophia de verdade.
Sua mãe e irmã nos olhavam sem entender nada. Notei que ela
estava nervosa com a situação, então segurei sua mão e nos aproximamos
delas.
— Minha filha, está tudo bem? Me assustei com você pulando em
cima desse moço assim.
— Tá sim, mãe! Só me empolguei pela cirurgia ter corrido bem e
por papai estar bem agora, aí acabei pulando em Theodore. Quero
apresentar para vocês meu namorado, Theodore Rockefeller.
— Theodore, essas são minha mãe, Margareth, e minha irmã, Sarah.
Nos cumprimentamos.
— É um prazer finalmente conhecê-las. Sophia sempre fala de
vocês. É uma pena que não estamos em uma situação melhor, gostaria de
conhecer a família toda. — falei, tentando soar como se ela realmente já
tivesse falado muito deles.
— É uma pena que nós não tínhamos ouvido falar de você até hoje,
não é mesmo, irmã? — Sarah ainda parecia desconfiada do nosso
envolvimento.
— Você sabe que a sua irmã não é a mais falante quando o assunto é
relacionamento. — A mãe defendeu, e eu pensei que ela pode ter tido
algum relacionamento no passado que a traumatizou.
Quando Sophia ia responder, apareceu uma mulher meio
espalhafatosa, falando alto.
— NOSSA! POR QUE NÃO ME AVISARAM MAIS CEDO QUE
PAUL JÁ TINHA FEITO A CIRURGIA? — ela gritava tanto que nem
parecia que estava no hospital, e só baixou o tom quando Margareth a
encarou — Fiquei sabendo por terceiros. — finalizou diminuindo bons
decibéis.
— Nós só pudemos entrar agora para vê-lo, Cintia, ainda não
tivemos tempo de falar com ninguém. Estamos aqui o dia todo, se você
quisesse ser a primeira a saber, estaria aqui esperando. — a mãe de Sophia
respondeu, eu fiquei sem entender nada.
— Ah, claro! Porque eu sou uma desocupada para ficar o dia todo
aqui, né? Inclusive de onde veio o dinheiro para pagar por esse hospital
para o meu irmão? Uma das suas filhas está rodando bolsinha, Margareth?
— a mulher amarga era tia da Sophia, não permitiria que ela falasse dessa
forma, era notável que nenhuma delas estava confortável com a tia.
— Olha como você fala das minhas filhas. Você está no hospital,
acho melhor ir embora. — Margareth respondeu baixo e polida.
— A senhora não pode vir aqui e falar assim de Sophia ou Sarah.
Tenha o mínimo de respeito. O que foi ou deixou de ser feito não lhe diz
respeito. Se o dinheiro não está saindo da sua conta, você não tem que dar
palpite. Acho melhor seguir o que minha sogra falou e ir embora, para não
passar mais vergonha. — falei baixo e sério, para que entendesse que não
estava para brincadeiras ali. Ela que, até então, não tinha me dado atenção,
virou em minha direção me medindo de cima a baixo.
— Eu vou, porque sei quando não sou bem-vinda. — ela falou se
virando para ir embora e depois sussurrou, mas eu escutei: — Claro que
uma dessas putas tá dando pro bacana.
— Não liga pra ela. Sabe que ela sempre tem que causar com
alguma coisa. — Sarah falou.
— Você acabou conhecendo mais uma parte da minha família,
querido. — Sophia disse, parecendo sem jeito.
— Família nem sempre é fácil de lidar. Você já viu se vai querer
ficar mais, ou se quer ir hoje? — questiono, mudando o assunto, para que
ela não fique desconfortável.
— Podemos ir hoje. Papai está bem. Agora são só os cuidados do
pós-operatório e como eu não poderei fazer muito daqui, prefiro não me
afastar do trabalho.
— Ok, vou avisar ao piloto para ver a disponibilidade do voo. —
Elas me olharam achando estranho, acredito que Sophia não tenha falado
sobre a minha condição financeira. Avisei ao piloto e ele já estava
verificando para que pudéssemos ir.
Nos despedimos das duas, Sophia parecia querer sair correndo dali.
Voltamos para o hotel para nos arrumarmos e pegar as nossas coisas.
Sophia fez todo o caminho em silêncio. Na hora em que paramos na
frente do elevador percebi que ela deu uma leve encolhida nos ombros.
Antes de entrarmos eu segurei sua mão. As portas abriram e fiz o mesmo
que da última vez.
— Olhe pra mim, Sophia, e respire. — ela só assentiu, fazendo
exatamente o que pedi.
Eu sempre me perdia olhando os seus olhos, eles transmitiam um
sentimento que eu não conseguia entender.
Capítulo 17

Sophia Clarck

Nós descobrimos do que somos feitos


Quando somos chamados para ajudar
nossos amigos em necessidade
Você pode contar comigo como
um, dois, três, eu estarei lá
E sei que quando eu precisar
Posso contar com você como
quatro, três, dois, e você estará lá
Porque é isso que os amigos
devem fazer, oh, sim
Count On Me - Bruno Mars
Estávamos no avião, e depois do que aconteceu no hospital, e no
elevador de novo, eu não abri mais a boca. Minha tia sempre fazia questão
de tentar humilhar a mim e a Sarah. Somente sua filha era perfeita. Eu ainda
me perguntava como passei tanto tempo perto da Cheryl, e se ela era igual à
mãe o tempo todo, ou se em algum momento ela mudou...
— Sophia, você pode depois passar para minha mãe quem irá querer
chamar para o nosso noivado? Se quiser que alguém venha da Carolina do
Norte, eu providencio o transporte.
— Vou verificar. Só vou querer minha família mais próxima, porém
imagino que papai não poderá ir, então acho que deve ser somente Sarah
daqui. Com relação às minhas amigas são só duas. Vai ser uma festa
enorme, ou somente algo íntimo?
— Ok, me avise quanto à sua irmã. Vou pedir que seja feito algo
mais íntimo, somente as pessoas que são necessárias.
— Podemos fazer na semana que vem? Porque eu não me sinto
muito bem em fazer esse fim de semana com meu pai ainda internado.
— Claro, estou avisando a minha mãe agora sobre isso. E avisei que
iremos somente na quinta-feira para o jantar, tudo bem pra você?
— Sim, sem problemas.
— Gostaria que você conhecesse meus amigos também, eles irão
ajudar com tudo isso.
— Tudo bem. Toda ajuda é bem-vinda. Porque estou realmente com
medo de não conseguirmos passar a veracidade que você precisa.
— Quanto a isso, estou tranquilo. Sei que iremos conseguir. — A
confiança de Theodore era impressionante, ele conseguia me convencer
facilmente.
Passei o restante da viagem lendo, precisava distrair um pouco a
minha mente. No período em que passei desempregada, fiz tantos bicos que
não tive tempo para absolutamente nada, estava com saudade de ler os meus
romances.
Antes dessa loucura toda de doença, quando tinha tempo livre,
minha vida era dividida entre correr, ler, assistir séries e sair com as
meninas. Eram bons tempos e eu sentia muita falta, tinha certeza de que
logo tudo estaria no lugar.
Chegamos em Nova Iorque às nove da noite e Theodore me levou
para casa. Disse que amanhã Gerald me levaria para a empresa de manhã,
não me deixando discutir porque afirmou que nos relacionarmos era algo
que me deixava exposta. O que me fazia lembrar que ele era bilionário e
dono da maior empresa de tecnologia do país.
Estava subindo para o meu apartamento quando Claire me mandou
uma mensagem, perguntando se poderíamos sair juntas amanhã pois estava
na cidade. Eu simplesmente respondi assim:

Eu: Vou ficar noiva semana que vem, te aguardo.

Claire: Você tá de sacanagem comigo? Tô indo pra sua casa


agora! Chego em 20 minutos e você vai me explicar essa mentira.

Era bom que eu falaria de uma vez para as duas, sem precisar
explicar mais vezes.
Entrei em casa e encontrei Mary jogada no sofá.
— Amiga, como está seu pai? Como foi a cirurgia? Você não
respondeu às minhas mensagens.
— Desculpa, eu estava sem cabeça. Somente agora que eu respondi
a Claire também, inclusive ela está vindo pra cá. E sobre papai, ele está
bem, a cirurgia foi um sucesso, a médica acredita que em três dias ele
poderá ter alta e ir se recuperar em casa. Só precisará fazer o
acompanhamento no hospital, com ele tomando os remédios corretos vai
ficar bem em alguns meses.
— Que notícia incrível, temos que brindar! — Mary, era a pessoa
mais alto astral que eu conhecia, ela queria sempre comemorar tudo, e
acabava contagiando a gente!
— Sim, Claire deve estar chegando, aí brindaremos nós três! Vou
tomar um banho e já volto. — falei correndo para o banheiro, antes que ela
começasse a perguntar demais.
Tomei um banho e relaxei. Theodore sempre me deixava à vontade e
ao mesmo tempo tensa com a sua presença. Entrar naquele avião depois do
meu sonho foi uma tortura. Preciso mesmo aliviar minha tensão, mas não
com um banho...
Vesti um pijama e quando entrei na sala minhas amigas fofocavam,
eu escutei meu nome.
— Ok, o assunto chegou, então podem desembuchar o que está
acontecendo.
Claire pulou em mim me abraçando apertado e depois enfiou seu
telefone na minha cara mostrando minha foto e de Theodore no hotel de
mãos dadas, com uma matéria que perguntava se o bilionário da tecnologia
estava apaixonado.
— Então seu noivo é o dono da empresa? — Claire perguntou.
— Oi? Noivo, como assim? — Mary estava surpresa.
— Vamos sentar que eu explico tudo para as duas de uma vez só.
Contei pra elas a história que combinei com Theodore e elas
pareciam um misto de “acredito” e ao mesmo tempo “isso tá muito mal
contado”.
— Resumindo, o cara deve ter um pau de ouro, né? Porque até
alguns meses atrás você nem queria saber de namorar e agora vai casar, isso
é surreal! — Claire era totalmente previsível.
Sabia que ela acharia que o sexo com Theodore era incrível.
— Sim, esse foi o único motivo que me fez aceitar a proposta dele.
O super pau do meu noivo. Fala sério, né? Ele é mais do que sexo.
— Isso mesmo, não pode resumir ele a só isso, apesar de não ter
muito contato, sempre ouvi que o Sr. Theodore era um homem de bom
coração, com quem ele gosta, claro. — Mary falou, rindo. — Mas ele ter se
apaixonado pela nossa amiga é algo muito fácil de acontecer, vamos
combinar.
— E eu estava olhando fotos dele aqui na internet e continuo com a
minha tese que ele te prendeu pelo sexo, Soph! O homem é um deus!
Caramba, ele não tem um irmão para me apresentar?
— Para de babar no meu homem — peguei o telefone da mão dela,
olhei quais fotos dele ela estava vendo e acabei babando junto. Puta que
pariu! Precisa ser tão gostoso assim? — Ele é gostoso mesmo, não posso
nem esconder ele em uma caixinha só pra mim.
— Não faça isso, seria uma tragédia para o mundo! — Claire falou
fingindo ofensa, o que fez nós três rirmos. — Sabe o que eu lembrei agora
olhando as fotos? Ele ficou me devendo uma entrevista.
— Que entrevista? Não sabia que você conhecia ele.
— Foi aquela da faculdade, que você me ajudou, na verdade ele não
compareceu, por isso ficou me devendo. Se eu tivesse trabalhando com isso
hoje, eu aproveitaria de você pra conseguir.
— Só você mesmo. Mas sabe que se precisar de ajuda eu tô aqui. —
Claire me abraçou de lado, porque sabia que sempre nos apoiaremos. —
Vamos fazer uma festa de noivado na semana que vem e vocês vão comigo.
Inclusive no fim de semana preciso de ajuda para comprar uma roupa, estou
nervosa.
— Claro que vamos! Ah, eu estou tão feliz por você, querida!
Espero que ele seja o seu príncipe. Vou pegar a bebida para nós brindarmos.
— Mary foi em direção à cozinha saltitando.
— Eu ainda me pergunto em que momento nós a encontramos, e ela
se encaixou junto comigo e você — Claire estava olhando Mary e rindo. —
Mas você não me escapa, tá? Essa história de príncipe convence a ela, a
mim não. Sei que tem mais coisa aí. E eu só espero que você esteja certa do
que está fazendo. — ela disse mais baixo para que somente eu escutasse.
— Estou sim, por enquanto tudo que você precisa saber é o que eu
contei. — sussurrei.
— Ah, eu esqueci de contar para vocês, conseguimos um prédio
novo para o projeto social! Estou tão feliz, meninas! — digo mais alto, elas
sabem o quanto o projeto é importante pra mim, então pularam em mim, me
abraçando.
Brindei ao meu “noivado”, à vida do meu pai e ao novo espaço do
projeto com as minhas amigas. Elas eram o que eu tinha de mais
importante. Esperava que agora, finalmente, a minha vida virasse a chave
para as coisas boas.

Ficamos até tarde conversando. Claire acabou dormindo aqui para


nos atualizar de sua vida. Pela manhã, eu precisei caprichar na maquiagem
pra esconder minha cara de sono.
Descemos e Gerald já estava nos aguardando, Claire iria conosco até
metade do caminho.
— Eu acho que posso me acostumar com você apaixonada. — ela
sussurrou pra mim.
Eu só neguei com a cabeça rindo, enquanto entrávamos no carro.

Theodore me enviou uma mensagem para que eu almoçasse com ele


no seu escritório.
Quando deu o horário que combinamos, subi de escadas para sua
sala.
— Boa tarde, Dorothy!
— Boa tarde, Sophia. Pode entrar, que eles estão te aguardando. —
Fiquei confusa com o “eles estão”.
Bati na porta e aguardei que liberassem a entrada. Na sala vi David
e mais uma mulher junto com Theodore, e aí entendi o eles.
— Boa tarde!
— Meu Deus, Theo! Ela é ainda mais linda pessoalmente! Juro que
se ela for bi ou homossexual, você a perdeu agora mesmo. Oi, sou a Karen.
— ela esticou a mão para me cumprimentar, e me puxou em um abraço,
percebi que ela estava rindo.
— Prazer, Karen. Até uns minutos atrás eu era hétero, mas posso
mudar de opinião de repente. — falei entrando na brincadeira, avaliando a
mulher na minha frente, igual ela fez comigo. Era linda, tinha belas curvas,
com certeza passava boas horas na academia. Seu cabelo preto era curto, na
altura dos ombros e tinha olhos hipnotizantes da mesma cor. Era um pouco
mais baixa que eu, tinha certeza que devia levar algumas multidões de
homens e mulheres por onde passava.
Percebi que Theodore não gostou do comentário, estava um pouco
vermelho.
— Acho bom ninguém mudar de opinião nenhuma por aqui. Karen,
se resolveu que quer se casar, é bom arrumar outra mulher para você,
porque Sophia já é minha.
Esse tom possessivo que ele usou para me tratar, preciso confessar
que me deixou um tanto quanto desconcertada.
— Sim, Theo, eu sei. Por quatro meses! Vamos comer que eu estou
com fome. — Percebi que ela falava para provocá-lo.
Nos sentamos e eles me deixaram à vontade, me contando algumas
coisas da amizade deles e o que esperar de algumas pessoas da sua família.
Gostei dos dois de cara e tenho certeza de que eles vão se dar bem com as
meninas também.
Depois de comer, eles saíram da sala porque tinham compromissos,
ficamos apenas Theodore e eu.
— Eu já vou voltar pra minha sala. O almoço estava ótimo, gostei
muito de conhecer seus amigos.
— Espera, eu tenho uma coisa para você. — ele foi para sua mesa e
voltou com uma caixinha.
Ele me entregou o pequeno invólucro.
— Antes que comecem a falar, achei melhor que você usasse.
Abri a caixinha e tinha um anel com uma pedra quadrada, azul clara,
dentro, rodeada de diamantes por toda a sua volta.
— É lindo, pode deixar que eu vou cuidar bem dele e no fim do
contrato eu te devolvo.
— Não é necessário, pode ficar pra você. É um presente.
— Fico impressionada com os seus presentes, age como se não
custasse uma pequena fortuna. — Coloquei no dedo e encaixou
perfeitamente.
— Pra mim é dinheiro de perfumaria, Sophia, então não faz
realmente diferença.
— Ok, fico com ele então. Eu vou indo, obrigada pelo presente. —
Reforço a palavra, falando com um pouco de desdém como ele fez, e saí da
sala sem esperar que dissesse mais nada.
Sei que terei que exercitar a paciência que eu não tenho com meu
noivo. Ele gosta de me tirar do sério com as suas demonstrações de
dinheiro, como se ter dinheiro assim fosse a coisa mais simples do mundo.
Só eu sei o quanto eu dou valor a todas as coisas, porque nunca
tivemos nada sobrando e ultimamente me vi mais apertada do que em toda
minha vida. Então, não mudaria meus pensamentos sobre isso só porque
meu noivo de mentira era bilionário.
Ele precisa entender que em quatro meses minha vida volta ao
normal e eu não posso me iludir, achando que será tudo mais fácil se eu me
acostumar ao mundo dele. Muito pelo contrário, eu posso me machucar
com isso.
O dia passou num borrão, eu conversei com Sarah o tempo todo
para ter notícias do meu pai e fiquei muito feliz que ele estava bem.
Eu estava tão nervosa por conhecer os pais do Theodore, que mal
dormi à noite. Para me vestir de manhã foi um parto. Parecia que nada
estava bom. Peguei o melhor vestido social que eu tinha, porque iríamos
direto do trabalho. Ele era branco, com as mangas mais soltinhas e todo
colado ao meu corpo. Mary teve que me ajudar com os botões atrás, eu me
esquecia do porquê quase não o usava, era justamente por ele ser muito
difícil de abotoar.
Fiquei com medo de estar colado demais ao corpo, chamando muita
atenção às minhas curvas, mas Mary me acalmou quanto a isso, e,
realmente, na empresa as meninas sempre usavam modelos colados assim.
Não gostava de chamar atenção pelo meu corpo. Preferia evitar.
O dia passou e eu percebi que algumas pessoas na empresa estavam
olhando pra mim e cochichando. Apesar de não estar preparada para isso,
eu sabia que aconteceria, então levantei minha cabeça. Não ia deixar
ninguém falar nada sobre o meu trabalho.
Fui até a copa com Mary à tarde e falei sobre como estavam
comentando do meu relacionamento.
— Soph, não se importe com isso. Infelizmente, namorar um figurão
como o dono da empresa, sempre vai levantar essas especulações. Você é
maravilhosa, então é claro que essas meninas estão com inveja. Queriam
estar no seu lugar, isso sim.
— Sei que com certeza tem inveja, mas detesto que pensem que sou
favorecida por transar com o chefe. — O que, para o meu desespero, nem
estava acontecendo. Poderia ter, no mínimo, ele na minha cama para fazer
jus aos boatos que elas inventavam.
— Você sabe que não é verdade, então não foque seus esforços
nisso. Deixa isso de lado e só continue mostrando o excelente trabalho que
você faz, elas não terão o que falar.
— Obrigada! Você sempre sabe como fazer a gente se sentir
melhor!
Voltei ao meu trabalho e fiz justamente como Mary disse. Dei o meu
melhor, eu era boa no que fazia e elas nunca poderiam contestar meus
resultados. Principalmente por ele ser um resultado externo, que não
dependia de Theodore para aparecer.
O fim do dia chegou, e meu telefone vibrou com uma mensagem do
meu noivo de mentirinha.

Theodore: Te espero na garagem em dez minutos.

Eu: Ok, estou descendo.

Peguei minhas coisas e saí para encontrá-lo. Desci pelas escadas, o


lado bom disso era que eu não precisava ficar sorrindo para ninguém no
elevador.
Cheguei na garagem junto com Theodore, nem se
cronometrássemos daria tão certo.
Ele estava em uma ligação, parecia falar em francês, então só dei
um aceno para ele e um sorriso, enquanto ele abriu a porta para que eu
entrasse no carro.
Ele levou quase o caminho inteiro na ligação, eu estava mexendo
nas minhas redes sociais. Como trabalhava com marketing, sempre fui
muito ativa nas redes, era um dos meios em que eu mais recebia contatos
para trabalhos, então sempre me mantinha atualizada. Notei que recebi
muitos seguidores desde que minha foto com Theodore foi vazada, já que
meu perfil era aberto. Olhando os comentários, percebi que tinha desde
aqueles que gostavam de nós juntos, até aqueles que criticavam e falavam
que ele fazia um casal melhor com a ex. Ainda bem que pra mim não fazia
diferença.
Ele desligou a ligação e virou pra mim.
— Desculpe, mas tivemos um problema em uma filial na França e
estava tentando contornar. — O seu olhar passava cansaço e eu imaginei
que o problema não era algo simples.
— Tudo bem, não me importo — ele tinha que saber que eu não iria
surtar porque ele estava trabalhando, eu não era nada sua. — Pensei que nós
poderíamos postar uma foto juntos. O que acha? Já divulgaram nossa foto
no hotel, podemos aproveitar a onda e fazer um marketing positivo sobre
isso.
— Claro, o que você pensou? Afinal, nisso você é profissional.
Muito boa inclusive.
Expliquei o que eu pensei e ele concordou com a ideia. Primeiro
passo foi postar uma foto nossa sem mostrar o rosto nos stories, mas
aparecendo o anel de noivado. E amanhã postaremos uma foto nossa no
feed.
Chegamos na casa da sua mãe e logo que eu saí do carro passou um
vento forte por nós, daqueles que precedem a chuva. Senti um arrepio pelo
corpo, como se fosse acontecer algo.
Theodore tocou a base das minhas costas e me conduziu para a porta
da casa da sua família. Sua mãe imediatamente apareceu para nos
recepcionar.
— Olá, Sophia, que prazer em te conhecer! — ela disse e me puxou
para um abraço apertado. Fiquei um pouco sem reação, mas retribuí.
— Mamãe, não espante a Sophia antes mesmo dela entrar em casa.
Meu amor, essa aqui é a minha mãe, Susan.
Dei uma pequena travada por ele me chamar de forma carinhosa
assim na frente da sua mãe.
— Oi, Susan! O prazer é meu. Theo me falou muito sobre vocês. —
ele havia falado por alto sobre os pais, Karen e David também falaram
algumas coisas, então estava confiante.
— Espero que só coisas boas. — falou rindo. — Querido, você falou
sobre a beleza dela, mas achei que era exagero de um menino apaixonado.
Me enganei. Sophia é muito linda! — ela disse enquanto entrávamos.
— O que te falei foram só verdades, mãe. Sophia é maravilhosa —
ele falou e me abraçou pela cintura, depositando um beijo em meus cabelos.
— Cadê o meu pai?
— Ele já está descendo, imagino que Karen e David devem estar
chegando também.
— Sim, saíram um pouco depois de nós.
Eu estava perdida nas sensações que eram ter esse homem tão
próximo e o seu cheiro amadeirado, que me trazia lembranças que eu não
conseguia distinguir ainda. Mas era algo muito bom e eu só queria mais
dele.
Me aproximei um pouco mais, sentindo o seu calor, parecia que ele
se espalhava por todo o meu corpo.
Capítulo 18

Theodore Rockefeller

Algo deve ter dado errado no meu cérebro


Estou com toda a sua química nas minhas veias
Sentindo toda a alegria, sentindo toda a dor
Solte o volante, estamos na faixa de alta velocidade
Agora estou nervosa, não estou pensando direito
Ultrapassando todos os limites, você me intoxica
Never Be The Same - Camila Cabello
Meu pai desceu as escadas, estava se aproximando de nós e eu não
queria soltar Sophia. Tê-la tão perto, me fazia sentir o seu cheiro, a minha
vontade era me afundar no seu pescoço, aspirar aquele delicioso aroma
direto da fonte. Na hora em que eu abaixei e beijei seu cabelo e pude senti-
lo realmente, eu me lembrei do elevador e dos nossos beijos. De imediato
me deu vontade de beijá-la, o seu aroma de lírios me fazia sempre voltar
àquele fatídico dia.
— Boa noite, Sr. Rockefeller. — Sophia se soltou de mim para falar
com meu pai.
— Apenas Robert, minha filha, não precisa dessas formalidades.
Meu filho, achei que não soltaria a moça para que ela falasse comigo. Está
com medo de perdê-la? — dise rindo.
— Lógico que eu tenho medo de perdê-la. Sophia é única, não
acharei outra pessoa como ela por aí, assim tão fácil. — falei
desconversando, não poderia esquecer que meus pais eram excelentes em
saber quando eu não falava a verdade, então me esforçaria ao máximo para
que parecesse apaixonado.
Não era difícil desejar Sophia. Quando a vi hoje, com esse vestido
que desenhou suas curvas, me senti totalmente atraído por ela. Ao mesmo
tempo em que pensava que preferiria vê-la sem o vestido, tentava afastar
esses pensamentos porque ela era minha funcionária e não posso me deixar
levar pelo meu pau.
— Então tudo bem não querer soltar. — disse dando uma
piscadinha.
Mamãe nos chamou para a sala de jantar, porque os meus amigos
haviam chegado e o jantar seria servido.
Fui caminhando com Sophia, não resisti em conduzi-la tocando suas
costas. O vestido tinha uma abertura atrás, eu fiz questão de acariciar ali e
pude sentir sua pele se arrepiar. Abaixei e falei perto do seu ouvido — Está
tudo bem? Se sentindo confortável?
Ela se assustou e virou, ficando a poucos centímetros de mim.
Percebi ela prendendo os lábios antes de me responder.
— Sim, seus pais estão sendo muito receptivos comigo. — ela
terminou de falar e mordeu o cantinho do lábio, precisei me afastar, ou
acabaria beijando aquela boca ali mesmo. Então, só acenei para ela.
— Achei que vocês não viriam para a mesa. Eu estou morrendo de
fome. — David foi exagerado como sempre.
— Ah, claro, a gente estava se escondendo só para ver você morrer
de fome.
Puxei a cadeira para Sophia se sentar entre mim e Karen.
Ela aparentava estar à vontade ali, eu fiquei feliz por isso. Facilitaria
a nossa vida.
Minha mãe fez vários tipos de massa depois que eu comentei que
minha noiva também gostava.
— Sophia, está gostando do jantar? — ela perguntou.
— Sim, Susan. Está tudo delicioso! Eu sou apaixonada por massas,
mas não como muito por conta do esporte, gosto de me manter sempre em
forma.
— Você é atleta profissional? — minha mãe se interessou em saber,
já que ela apoiava diversas instituições que trabalham com esportes.
— Hoje em dia não mais. Corria profissionalmente quando mais
nova, então nunca deixei de praticar, inclusive sou orientadora em um
programa para crianças e jovens carentes, tem vários com potencial. —
Sophia foi de um olhar triste quando comentou sobre já ter competido, para
a mais pura satisfação ao falar do programa.
— Ah, que incrível! Depois você pode me falar mais? Eu me
envolvo em alguns projetos, quem sabe não podemos ajudar em algo.
— Claro, depois falamos mais. Tenho algumas fotos e vídeos deles.
É maravilhoso!
— Imagino que sim. E sobre as massas, aqui em casa nós amamos,
mas eu tenho que regular esses meninos.
— Sim, eu percebi. Theo está sempre comendo. Me perguntei pra
onde vai essa massa toda que ele come. — ela falou rindo. E eu me peguei
surpreso por ela me chamar de Theo.
— Meu filho, você não contou a história da Vovó pra ela? — dessa
vez foi meu pai quem falou.
— Não, acabei esquecendo.
— Sua avó não pode sonhar com isso. Vou te contar, Sophia, de
onde vem a história da massa.
Dona Susan contou sobre a minha avó paterna ter conhecido, na
juventude, uma imigrante italiana que virou sua melhor amiga, tanto que ela
a considerava como irmã. Papai até a chamava de tia.
Minha avó acabou virando a americana mais italiana que eu
conhecia, pois aprendeu tudo com essa amiga. Comer a comida da vovó era
igual comer uma comida feita na Itália.
Quando meus pais se casaram, ela ensinou tudo à minha mãe
também, e quando vovô se aposentou, ele fez a vontade dela de morar na
Itália. Agora os vemos com menos frequência, mas os costumes Italianos
nós assumimos como se tivéssemos uma verdadeira descendência italiana.
Entrando nesse assunto, mamãe acabou falando também sobre as
flores que ela tinha na estufa, o que cresceu os olhos de Sophia.
— Sou apaixonada por flores! Minha mãe plantava em volta de
casa, e ela tinha tanto cuidado, que a nossa casa era a referência na
vizinhança pelo quintal florido. — Senti ela nostálgica ao contar, como se
não fosse mais algo que tivesse.
— Ela desistiu de cuidar das flores? — perguntei, curioso por saber
se era somente saudades ou se havia acontecido algo.
— Depois que meu pai ficou doente, minha mãe ficou sem tempo
para cuidar. Já passou quase um ano, então você pode imaginar, acabou
deteriorando...
— Sinto muito, Sophia. Theo, por que você não a leva na estufa
para ver as flores? E em outra oportunidade que vocês vierem de dia, tenho
certeza de que ela vai adorar ver o jardim todo.
— Vamos lá? — levantei e estendi minha mão pra ela.
— Claro, deve ser lindo.
Saímos pela cozinha para ir até a estufa. Fizemos o caminho
observando como o tempo estava virando. Um vento forte soprava, com
certeza traria chuva em breve.
— Ali embaixo é o jardim que a minha mãe comentou com você
que de dia é lindo de ver — falei apontando, não dava para ver muito bem,
devido à distância. — Quando éramos crianças, eu, Karen e David
deixávamos a mamãe doida. Certa vez, a gente cismou que iria plantar as
flores em outro lugar, porque não gostávamos de onde estava. Arrancamos
um monte de muda e quando ela viu, quase nos matou. — falei rindo pela
lembrança doce que eu tive.
— Eu imagino que ela devia passar um dobrado com vocês. Os três
tem cara de que eram pequenos pestinhas.
— Sim, já comemos algumas plantas aqui na estufa. Minha mãe
plantava de tudo e David uma vez achou que seria gostoso comer flor,
porque viu em um restaurante. Ele quase morreu porque era alérgico. Hoje
eu conto rindo, mas no dia nós quase morremos juntos. Eu e Karen nos
assustamos tanto, que passamos algum tempo sem aprontar depois disso.
Sentia saudades de quando tinha mais tempo com meus amigos,
para fazer simplesmente nada.
Fui mostrando algumas mudas raras que tinha na estufa e vi o
quanto ela ficou encantada.
Um trovão cortou o céu com um estrondo muito forte. Sophia deu
um gritinho e um pulo, se desequilibrando. Tive que segurá-la por trás para
que não caísse no chão.
— Me desculpa, eu estava tão concentrada nas flores, que me
assustei. Tenho essa péssima mania de gritar quando me assusto. — ela
disse se recompondo, mas ainda nos meus braços.
— Não tem problema. Está começando a chover, acho melhor irmos
embora antes que piore.
— Claro, vamos sim. — eu finalmente soltei sua cintura.
Nos encaminhamos para fora da estufa e a cada passo que dava, a
chuva aumentava.
— Sophia, consegue andar com esses saltos no piso molhado? Não
tem risco?
— Consigo sim, sem problemas — ela falou e escorregou na mesma
hora, a segurei novamente.
— Melhor não arriscar. — falei, e a peguei no colo, fazendo com
que ela soltasse outro gritinho.
— Meu Deus, Theo! Não pode fazer essas coisas sem avisar. — ela
falou e me deu um tapa no peito.
— Nós vamos ficar completamente encharcados. Chegando lá
dentro nos secamos e vemos a possibilidade de ir embora.
Não sei se seria seguro dirigir com essa chuva torrencial que caia.
Apertei o passo e cheguei à parte coberta, minha mãe já estava nos
esperando na porta da cozinha com toalhas.
— Meu Deus, vocês estão parecendo dois pintos molhados. Se
sequem e subam para tomar um banho quente, senão podem ficar doentes.
— Mamãe estava realmente preocupada.
Coloquei Sophia no chão e o vestido dela molhado estava deixando
evidente a sua lingerie. Se eu não estivesse todo molhado e gelado pelo
vento cortante, com certeza seria difícil evitar a ereção que começava a se
formar, ela abaixou para tirar os sapatos e eu me obriguei a desviar o olhar.
— Podem tomar banho no seu quarto, tem toalha lá para vocês dois.
E nada de querer ir embora com essa chuva. Karen e David já foram para os
quartos deles, vão todos ficar. — Ela não abriu chance nem para discussão.
Sophia deu um espirro.
— Ok, vamos subir, antes que você fique doente.
— Tudo bem. Preciso de um banho quente mesmo.
Fomos para a escada sozinhos, e Sophia sussurrou pra mim: —
Vamos ficar no mesmo quarto?
— Sim, meus pais sabem que não teria porque não dormirmos
juntos. Mas é espaçoso, nós daremos um jeito.
Chegamos no meu quarto e percebi os olhos dela vagando pelas
minhas fotos e pelas coisas que minha mãe guardava. Peguei no closet uma
blusa minha e uma cueca para que ela pudesse usar.
— Aqui — entreguei as roupas —, as toalhas ficam no banheiro,
pode ficar à vontade.
— Obrigada. — ela nem terminou de falar e o telefone dela
começou a tocar. Ela apoiou a roupa na cama e foi para o banheiro atender.
Eu fui para o quarto de David tomar banho, para que ela se sentisse
confortável.
— Vim tomar banho aqui. — falei entrando no cômodo que o meu
amigo estava.
— Nossa, você não sabe bater na porta, filho da puta? Se eu
estivesse aqui em um momento íntimo? — ele falou rindo.
— Eu, com certeza, teria pesadelos por anos. Só de te ver deitado de
cueca, eu já vou ter longas noites assombradas. — falei e fui para o
banheiro.
Tomei um banho quente, não me demorei muito, porque a minha
mãe poderia voltar a qualquer momento e resolver bater na porta do quarto.
Saí do quarto de David com a toalha no pescoço, estava vestindo
apenas uma bermuda.
Quando cheguei na porta para entrar, mamãe me parou, pedindo que
lhe entregasse as roupas que ela já ia pedir que lavassem e colocassem na
secadora, para Sophia ter o que vestir de manhã.
— Claro mãe, vou pegar o vestido dela, só um momento. — disse e
entrei, eu não poderia nem bater na porta, porque minha mãe desconfiaria.
Assim que passei pelo batente, tive a melhor visão da minha vida,
Sophia estava completamente nua. Ela se assustou comigo e pra variar
soltou um gritinho. Estava me acostumando com isso.
Ela era a própria visão do paraíso, tinha seios médios, que eu sei que
caberiam perfeitamente na minha mão, pareciam ser feitos para mamar. A
barriga era chapada, o que eu imagino ser pelos anos de exercícios, as coxas
grossas também denunciavam isso, eu me imaginei no meio delas,
chupando sua boceta.
— Você está me olhando como se fosse arrancar um pedaço meu a
qualquer momento. — ela falou e levantou uma sobrancelha.
Mamãe bateu na porta.
— Theo, a roupa, estou esperando. — falou do outro lado da porta.
Ela pareceu sair de um transe e foi ao banheiro, se enrolou numa
toalha e me entregou o vestido molhado.
— Acredito que seja essa que a sua mãe está pedindo.
Abri a porta e entreguei as roupas molhadas. Ela só sacudiu a cabeça
em negação e desceu.
Entrei e Sophia me encarava com aqueles olhos transbordando
desejo, tanto quanto os meus.
— Você precisa parar de me olhar assim, se não for me jogar nessa
cama agora e me comer.
Sophia me surpreendia com sua ousadia e eu estava travando uma
guerra interna como se tivesse um anjinho e um diabinho no meu ombro,
um que falava “vai lá, ninguém precisa saber, você sonha com isso há
quase seis anos”, o outro me falava todos os contras que poderiam ter. Eu
realmente não sabia qual ouvir.
Capítulo 19

Sophia Clarck

Já posso ver o fim quando tudo começa


Minha única condição é
Diga que você se lembrará de mim
Diga que você me verá de novo
Mesmo que seja apenas em seus
Sonhos mais selvagens, ah, ah, aah
Wildest Dreams - Taylor Swift
Eu estava a uma curta distância de Theo e vi como ele me comia
com os olhos. Quando ele entrou no quarto, eu havia acabado de tirar a
toalha para me vestir, não pude resistir em provocá-lo.
Desde o meu sonho no avião, não parava de pensar se ele era igual
ao que imaginei. O seu tamanho, pelo que estava marcando na bermuda, eu
pude perceber que deveria ser melhor ainda...
Ele não vestia uma camisa, então pude notar os braços fortes, o
peito malhado e o abdômen tanquinho. Minha vontade era de passar a unha
em cada um daqueles gominhos, sentir a textura da sua pele, me arrepiei só
com o pensamento.
Notei que parecia indeciso sobre o que fazer ou não, os olhos dele
me diziam que ele queria se entregar, mas a mente o estava sabotando. E eu
não queria perder essa oportunidade.
— Você vai ficar realmente só olhando? Acho que vou me vestir,
então — falei indo em direção à roupa, diminuí um pouco mais o tom da
minha voz, me afastando dele —, mas eu queria mesmo saber se tudo isso
que está marcando na bermuda corresponde com o meu sonho.
— Você anda sonhando comigo, Sophia?
— Faz diferença dizer que sim? Você não está parecendo muito
disposto a sanar as minhas dúvidas. — falei, mordendo o meu lábio.
Theo foi se aproximando, estávamos em uma distância que eu podia
sentir sua respiração se misturar com a minha. Olhei nos seus olhos e eles
transbordavam luxúria.
— Faz sim, porque eu posso querer saber o seu sonho. Você não está
colaborando comigo desse jeito.
— Theo, não pense muito, eu não estou te pedindo em casamento.
Somos adultos, estamos visivelmente atraídos fisicamente, não precisamos
mudar em nada, só aproveitar esse tempo que temos de uma forma mais
divertida. — falei pontuando o básico, sei que ele deve estar com medo,
pela relação que estabelecemos, mas ele precisa entender que isso é só
físico. — Se não quiser, tudo bem, mas você vai precisar parar de me olhar
dessa forma.
— O problema é que eu quero, mas não quero mudar o que temos.
Você foi a minha única salvação, então não posso perder o nosso acordo
simplesmente porque não consigo segurar o pau nas calças.
— Não vai perder, pau de ouro, não sei se você lembra, mas eu
realmente não estou inclinada a relacionamentos sérios. Então, é só você
não se apaixonar por mim. — falei e cheguei mais perto da sua boca, estava
a poucos centímetros de encostar nela.
— O seu medo de que alguém se apaixone por você é palpável, mas
podemos combinar sem paixão. Acho que nós vamos conseguir passar fácil.
— disse enquanto segurava a minha cabeça no lugar e finalmente me
beijava, não me dando oportunidade de resposta.
Começou com um beijo de reconhecimento, que logo passou a ser
urgente, como se quisesse começar a foder minha boca. Levou uma mão
para o meu cabelo, puxando-o, me mantendo à sua mercê, a outra soltou a
toalha que me cobria. Começou a me explorar, apertando firme meu seio,
depois pinçando o mamilo, o que me fez soltar um gemido.
Ele continuou seu caminho, descendo, enquanto ia explorando
minhas curvas como se estivesse me medindo, apertando por onde passava,
até finalmente chegar na minha bunda. Deu um aperto de mão cheia, que eu
sei que vai me deixar marcada. Em seguida me deu um tapa. Eu não
consegui segurar os gemidos.
— Você gosta assim, Sophia? Prefere um sexo mais bruto? — ele
parou de me beijar e puxou meu cabelo para que olhasse em seus olhos.
— Digamos que tudo depende do momento — eu estava ofegante,
já imaginando tudo que aquelas mãos grandes, que me mantinham imóvel,
poderiam fazer comigo —, o de hoje eu deixo a seu critério, me
surpreenda.
E isso parece que foi um gatilho, porque ele levou a outra mão
também à minha bunda e me apertou de forma rude, me trazendo mais perto
do seu corpo. Seu pau na altura da minha barriga me mostrava que ele
estava tão necessitado quanto eu, e eu me sentia molhar cada vez mais só
por senti-lo assim.
Sem que eu esperasse, ele me levantou, enrosquei minhas pernas na
sua cintura, ficando com meu centro bem em cima do seu pau sobre a
bermuda, encostei nele em busca de alívio.
Mas Theo me subiu um pouco mais, me encostou na parede e eu
resmunguei.
— Calma, minha delícia, você não queria sexo? — ele disse
enquanto mordia o lóbulo da minha orelha — Você vai ter, mas nos meus
termos. E eu vou te surpreender. Vou te deixar pingando e implorando para
ter meu pau dentro de você. — falou enquanto descia pelo meu pescoço
arranhando com os dentes sobre a minha pele.
Eu só joguei a minha cabeça pro lado, lhe dando mais espaço, e ele
aproveitou para me morder e chupar. Eu sei que amanhã vou estar
ostentando algumas marcas pelo meu corpo.
Eu gemia com suas carícias e percebi que, o preço de ficar alguns
meses sem uma boa transa, era ficar na borda do êxtase muito rápido.
Quando ele chegou no meu peito, chupou com vontade, me fez ver
estrelas. Ele alternava entre chupadas, mordidas e assopros, eu estava
chegando no meu limite só com ele me mamando. Eu estava rebolando no
seu colo em busca de qualquer atrito para me aliviar.
— Você é gostosa pra caralho, Sophia. Tô louco pra sentir o seu
sabor, mas primeiro vou te fazer gozar chupando essas duas delícias. —
disse e me voltou à sua boca continuando o processo de me levar à
insanidade. Uma de suas mãos, que segurava a minha bunda, foi de
encontro ao meu clitóris aumentando os estímulos.
— Aaah, Theo! — eu estava ofegante. — Eu vou... ah... vou...
Theo! Puta que pariu. — Senti todo o meu corpo estremecer nas suas mãos,
que me seguravam firme.
Ele me levou pra cama, me jogando de costas no colchão. Meu
corpo ainda estava mole sentindo as ondas do orgasmo.
Theo voltou no meu rosto e me beijou arrancando suspiros. Quando
estava sem ar, ele parou, foi descendo os beijos molhados pelo pescoço,
busto, passou a língua, lambendo meus mamilos sensíveis, me fazendo
gemer. Continuou seu caminho pela minha barriga, sem tirar os olhos de
mim. Chegando na minha virilha, seguiu distribuindo beijos e mordidas
leves, me deixando louca pela antecipação. Ele admirou minha boceta e
quando passou os dedos pela minha fenda, abrindo-a, subiu o olhar pra
mim.
— Nossa, Sophia, você está encharcada — ele disse rouco, enfiando
um dedo em mim —, minha vontade é meter em você agora mesmo. —
Colocou mais um, fazendo um vai e vem gostoso.
— Pode meter, quero você dentro de mim nesse instante. — falei
arquejando só pelos seus movimentos.
— Ainda não, eu quero te provar primeiro.
Ele terminou de falar e começou a me chupar, passando a língua
pela minha extensão e parando no clitóris onde ele sugava, enquanto
continuava entrando e saindo com os dedos de mim. Eu estava tão sensível
pelo primeiro orgasmo, que já estava rebolando na sua cara. E gemendo
horrores.
— Theo, por favor... aaahh... me diz que a-quii aaah… aaah —
tentei me concentrar para formar a frase —, as paredes são revestidas —
consegui falar, em meio aos gemidos, ia morrer de vergonha dos pais dele
amanhã, caso não fossem.
Ele parou por um segundo, me olhando, deu uma lambida nos
lábios.
— A última coisa com que eu estou me preocupando é com as
paredes, quero mais é que o bairro inteiro te ouça gemer e chamar meu
nome. — disse, voltando a se enfiar no meio das minhas pernas e me
fodendo com a língua.
Eu ia chamar sua atenção — Theo! — mas ao invés da minha voz
sair em um tom de repreensão, saiu mais como um gemido rouco.
Ele continuou me fodendo, e eu podia sentir um novo orgasmo se
formando. Puxei seu cabelo sem saber se queria ele ali ou se queria arrancá-
lo de lá. Ele voltou com os dedos para minha boceta, enquanto fazia
movimentos circulares com a língua no meu clitóris, seu dedo parecia estar
num formato de alavanca, alcançando o ponto certo em mim, me fazendo
não aguentar muito tempo e estourar em um orgasmo ainda maior que o
primeiro.
— Caralho, Sophia, eu quero te sentir apertando meu pau, igual
você tá fazendo com meus dedos. Você tem o melhor gosto. — disse,
tirando o dedo de mim e levando à boca. Voltando a me chupar e sugando
todo o meu gozo.
Eu estava tentando controlar a minha respiração, sentindo ainda
todo o meu corpo ter pequenos espasmos.
— Tá tudo bem? Quer parar? — perguntou, acenei e ele me beijou
fazendo provar o meu próprio gosto.
— Nunca estive melhor, eu te mato se você não entrar em mim no
próximo minuto.
— Que bom, porque eu estou dolorido aqui de tão duro, não teria
punheta que resolveria. — disse, levantando-se. Tirou a bermuda junto com
a cueca e o pau dele saltou, e era ainda maior do que eu imaginei. Se ele já
não tivesse me feito gozar duas vezes, eu teria minhas dúvidas se entraria
com facilidade.
Ele pegou na gaveta do criado mudo algumas camisinhas e me
olhou, agora eu tinha certeza de que me devoraria e era tudo que eu queria.
Me ajoelhei na cama, porque queria prová-lo também. Theo chegou
perto de mim e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele colocou a
camisinha e com habilidade me jogou de volta na cama.
— Eu quero te ter na minha boca também. — falei, enquanto ele se
posicionava sobre mim.
— Você vai, mas não agora. Tudo a seu tempo — ele começou a
pincelar o pau na minha entrada, me fazendo ir a seu encontro. — Está
apressada, Sophia?
— Eu quero você dentro de mim, agora. — mal terminei de falar e
ele entrou com tudo em mim, me fazendo dar um gritinho pelo susto.
— Até no sexo você grita quando se assusta? — disse rindo. —
Você não queria tudo? Vou dar o melhor sexo da sua vida!
Percebi que ele estava parado, aguardando que eu me acostumasse
com o seu tamanho, confesso que não esperava por tanto. Ele começou a se
mexer, devagar primeiro, sempre me olhando, notando minhas expressões,
que eu imagino que só demonstravam o prazer que eu estava sentindo.
Começou a aumentar o ritmo, conforme meus gemidos
aumentavam, ele abaixou me beijando com volúpia, me deixando sem ar,
enquanto metia com força em mim.
— Sua safada, era isso que você queria? Você gosta que te coma
com força? — ele rosnou, enquanto estocava cada vez mais fundo.
— Sim, quanto mais forte, melhor. — falei em meio aos gemidos.
Theo me virou na mesma hora, me colocando de quatro na cama,
continuou estocando de forma firme, mas agora alternando com tapas na
minha bunda, que me deixavam cada vez mais excitada, comecei a rebolar
contra ele, que agarrou meu cabelo em um rabo.
— Se você continuar me apertando assim, não vou durar muito
mais.
— Ninguém manda você me deixar maluca, meu corpo só está
reagindo a todos os estímulos. — disse, olhando para ele por cima do
ombro.
— Mas se for muito pra você, não tem problema. — falei
provocando, porque sabia que o ego dele era de milhões.
— Você jamais vai ser muito, não me cansaria de ficar enterrado na
sua boceta por um dia inteiro. Amanhã, você ainda vai sentir tudo que nós
vamos fazer essa noite! — disse, e voltou a dar tapas na minha bunda,
seguidos de apertões.
Sentia minha pele arder e toda a conexão dos nossos corpos. De
todas as experiências de sexo que tive na vida, nenhuma chegou perto do
jeito que nós nos misturamos e encaixamos. Eu gostava de um sexo duro e
ele também, estava demonstrando isso a cada encontro da sua pélvis com a
minha bunda.
Ouvia seus gemidos que ecoavam pelo quarto, assim como os
barulhos do encontro das nossas peles, isso só me deixava mais perto e com
mais desejo.
Ele reclinou e enfiou um dedo na minha boca, que eu chupei
avidamente, sem parar o vai e vem gostoso que fazia em mim. Tirou o dedo
e eu reclamei. Estava ansiosa por senti-lo na minha língua, então ele
começou a rodear com cuidado meu outro buraco, me surpreendendo, não
demorando a aumentar ainda mais meu tesão.
— Você gosta de ser fodida nos dois buracos ao mesmo tempo? Que
gulosa!
— Caralho, Theodore! — ele enfiou mais um dedo e eu não
aguentei — Eu vou gozar! Puta que pariu, não para, me fode mais!
E esse foi o gatilho para ele meter com mais força, uma das suas
mãos grandes me segurava firme pela cintura, enquanto a outra estava
estocando no meu cu.
Jamais poderia imaginar que esse homem me faria ter um dos
melhores orgasmos da minha vida.
Não aguentei mais, explodindo em espasmos fortes, que me fizeram
ver estrelas. Theo permaneceu indo com força até que atingiu o próprio
prazer.
Ele saiu de mim, me deitando na cama com cuidado. Levantou para
descartar a camisinha e deitou ao meu lado. Estava me recuperando de
todas as sensações que ele me provocou.
— Então, te surpreendi? — sussurrou no meu ouvido.
Filho da mãe, se cada vez que eu o desafiasse ele me recompensasse
assim, viveria de desafios.
— Quem sabe? — Ri da cara que ele fez, mas não admitiria assim
fácil para ele que, talvez, o pau dele fosse de ouro mesmo.
— Vamos tomar um banho? Só preciso de uns minutos para
conseguir me manter de pé. — falei, mudando de assunto e olhei aqueles
olhos que eram tão expressivos.
— Se é por isso, eu te carrego. — Ele levantou e me pegou no colo,
me levando para a banheira que já estava enchendo.
— Não foi só eu que pensei em tomar um banho juntos então, não
é?
— Eu não perderia a oportunidade de te foder na água também.
Guarde o que eu te falei, amanhã você vai andar pela empresa ainda me
sentindo.
— Sem problemas. Estarei ansiosa por isso. — disse enquanto
entrava na banheira.
— Você também já está pronto para outra. — Apontei para o seu
pau, que já estava batendo no umbigo novamente.
— Olhando para você assim, eu sou capaz de ficar pronto a cada
cinco minutos. — falou piscando pra mim, com a sua melhor cara de
safado.
E eu mal poderia esperar para ver se era verdade.
Capítulo 20

Theodore Rockefeller

Ela tem um sorriso que parece


Me lembrar de memórias de infância
Onde tudo era fresco
Como o brilhante céu azul
Às vezes, quando eu vejo seu rosto
Ela me leva para aquele lugar especial
Sweet Child O' Mine - Guns N' Roses
Nunca imaginei que uma tempestade poderia trazer tanta emoção
para uma noite. Sexo com Sophia foi, definitivamente, muito melhor do que
eu poderia prever. Entramos em uma disputa de quem iria cansar primeiro,
com isso, parecíamos dois coelhos no cio, só paramos quando nossos
corpos se esgotaram totalmente. Dormimos apenas umas duas horas.
Precisava acordá-la, mas ela parecia tão pacífica no seu sono, que
não tinha vontade de tirar ela desse momento. Observei um pouco mais, ela
com seu corpo encaixado no meu, e nem acredito que dormi tão bem com
ela. Sempre tive problemas para dormir com outra pessoa, mas com Sophia
foi diferente, senti como se completasse o meu espaço ao invés de tirá-lo.
Tento não pensar muito nisso.
Dou uma última fungada nos seus cabelos e pescoço. Esse cheiro
que ela tem de lírios, me transmite paz, me lembra dos meus momentos na
estufa, quando eu passava um tempo lá, sozinho, ou com a minha mãe
enquanto plantávamos.
A tirei com cuidado do meu peito, ela deu uma leve resmungada,
mas não acordou, me levantei para tomar banho e deixei que descansasse
um pouco mais.
Entrei no banheiro, e cada pedaço dele me lembrava da noite
anterior. Meu quarto aqui não vai ter outra memória mais marcante, que não
seja os gemidos dela. Sophia era um furacão no sexo, sempre desejosa e
querendo mais, gostava de um sexo rude, uma pena que não foi possível
explorar tudo aqui, ou a casa inteira ouviria.
Terminei de me arrumar e vi que ela permanecia do mesmo jeito que
eu deixei.
— Bom dia, Bela Adormecida! — falei com calma, tirando seu
cabelo do rosto — Você precisa levantar, se quiser passar na sua casa antes
de ir trabalhar.
— Oi! Não posso ficar aqui hoje? Diz pro dono da empresa que eu
tô muito cansada, dei a noite inteira — ela falou escondendo o rosto no
travesseiro.
— Eu até te libero, mas vou ter que passar o recado pro Tyler
também. — falei rindo dela, que já levantou na mesma hora.
— Muito sem graça você... Meu Deus, você já está pronto, eu estou
atrasada? Não sei nem onde está meu telefone.
Ela estava desnorteada, provavelmente não conseguiu nem retornar
a alma pro corpo.
— Não está atrasada, ainda, mas vai ficar se não for se arrumar
agora. Eu vou lá embaixo buscar seu vestido, já volto pra você se vestir.
— Tudo bem, vou tomar banho. — disse entrando no banheiro.
Saí do quarto e fui em direção à lavanderia, minha mãe deve ter
deixado a roupa dela lá. Encontrei meus dois amigos no caminho.
— As paredes aqui são reforçadas, mas mesmo assim eu digo que a
noite foi boa, hein... — Karen falou, porque seu quarto fica ao lado do meu.
— Eu ouvi bem pouco, mas ouvi algumas coisas. No contrato não
tinha algo como ter contato físico além do desejado? — David me
provocou.
— Bom dia pra vocês também, a minha vida sexual não é do
interesse de vocês.
— Ah, é sim! Mas pelo tanto que vocês transaram, deve ser muito
boa mesmo. Quando acabar esse período, acho que vou chamar a Sophia
pra sair.
Eu não deixo nem que ele fale mais alguma coisa, e agarro o
colarinho da sua camisa social.
— Abre a porra da boca pra falar mais uma merda dessas, que eu
quebro seu narizinho bonito.
— Era só brincadeira! — falou rindo — Mas o que é isso, já se
apaixonou por ela na primeira noite juntos?
— Brincadeira de mau gosto. Independente de ser um contrato ou
não, eu respeito Sophia como pessoa. Espero que você faça o mesmo, chega
desse assunto, antes que alguém escute.
Terminamos de descer as escadas em silêncio. Eles perceberam que
ali, qualquer um poderia ouvir sobre o contrato.
— Bom dia, querido! — minha mãe diz já me abraçando.
— Bom dia, mãe! Preciso da roupa da Sophia. Está na lavanderia?
— Sim, pedi que as meninas deixassem passada lá, não sabia que
horas vocês levantariam, a noite foi agitada, pedi até para prepararem um
café reforçado.
— Obrigado, mãe, só peço que não fale nada disso perto dela, pra
ela não ficar constrangida, e desculpa se nós incomodamos vocês. — eu me
sentir constrangido por conta de sexo era novidade, mas a minha mãe era
mestre em fazer a gente passar vergonha.
— Pode deixar, que não vou deixá-la se sentir desconfortável! Eu
gostei muito dela e sinto no meu coração que será a pessoa que ficará ao seu
lado pra vida toda. — disse segurando a minha mão.
Eu tinha medo quando a minha mãe fazia profecias assim, porque
não costumava errar. Mas sabia que o que eu tinha com Sophia era algo
com prazo de validade, então não pensaria muito sobre isso.
Eu só a abracei e fui pegar a roupa. O vestido estava no cabide com
uma calcinha minúscula. E só de imaginá-la naquela calcinha, eu já
comecei a sentir meu pau querer criar vida própria e agora não era a hora.
Voltei para o quarto, e tive a mesma visão de ontem, quando entrei.
— Isso não se faz — falei assustando ela, que deu um pulo,
segurando o gritinho com a mão. — Você não pode ficar assim cada vez
que eu entrar no quarto, porque senão, vou querer te foder e não temos
tempo.
— Você me assustou novamente. E bem que eu queria que você me
colocasse de quatro aqui — apontou para a cama, se inclinando um pouco
—, e me comesse novamente, mas realmente não temos tempo agora.
Preciso me vestir.
Ela veio pegar a roupa da minha mão, porque eu simplesmente
congelei na porta, olhando sem acreditar no que essa safada acabou de fazer
comigo.
— Você me paga, Sophia. Essa sua bunda não perde por esperar. Eu
vou descer, antes que eu faça toda a minha agenda atrasar. Te espero para
tomarmos café, todos já estão lá embaixo.
— Espera, eu preciso de ajuda com esse vestido. Não consigo
abotoar as costas dele.
Ela vestiu a calcinha pequena e ficou uma verdadeira tentação com
aquele pedacinho de pano. Colocou o vestido e virou de costas pra mim,
que não resisti em beijar e morder aquele pescoço dela, e claro, dar um tapa
naquela bunda.
Ajudei ela com os botões e nós descemos para tomar café.

Cheguei no trabalho e voltei a imergir no caos que estava


acontecendo na filial da França. Como matriz, nós sempre dávamos suporte
às filiais e quando acontecia algo que pudesse atrapalhar a reputação da
empresa, todas as decisões eram tomadas por aqui.
Estive o dia todo em reunião com os diversos envolvidos, agora
teria uma reunião com Lauren, porque precisávamos alinhar a imagem da
empresa.
— Oi, Theo! — ela chegou me abraçando. — Faz tempo que não
temos um momento juntos.
— Oi, Lauren, é verdade. Desde que terminamos e você ficou noiva,
nós não tínhamos nos visto mais. Você estava conseguindo fazer o seu
trabalho sem vir à minha sala. Mostra como você consegue ser excelente no
que faz.
— Sim, estava tendo trabalhos mais simples com as outras filiais.
— Precisamos conter a mídia sobre o vazamento de dados que
tivemos na França, foi algo em nível baixo, mas vi que saíram alguns
rumores.
— Sim, estou acompanhando e já estamos criando algumas
estratégias para abafar as especulações. — Uma coisa que eu não negava,
era que Lauren era boa no seu trabalho, sempre conseguia contornar as
situações.
Conversamos mais um pouco sobre alguns pontos que precisaríamos
fazer para resolver sem abalar a imagem da empresa.
— Recebi o convite do seu noivado, achei que não era sério essa
história de que você tinha conhecido uma pessoa.
— É muito sério, Sophia é alguém importante.
— Imagino que seja mesmo, porque ficamos juntos por anos e você
não me pediu em casamento. — falou de forma rancorosa.
— Lauren, você sabe que o que nós tivemos foi especial, mas
estávamos em páginas diferentes. Não trate o meu sentimento por você
como algo leviano. E lembre-se que quem terminou foi você, por algo que
eu não poderia te dar naquele momento.
— Eu sei, e talvez eu me arrependa disso. Só me pergunto como
você e ela podem estar na mesma página tão rápido.
Antes que eu pudesse responder, Dorothy entrou na sala, rindo com
Sophia.
— Oh, me desculpe. Atrapalhei alguma coisa? — ela falou, de
forma cínica. Dorothy nunca gostou da minha ex-namorada.
— Não, tudo bem. Já deu o horário da nossa próxima reunião, certo?
— Isso, Sophia estava esperando aqui fora. Tyler está subindo com
o Zachary, então entramos para começar a adiantar.
— Óbvio que a velha iria se dar bem com a noivinha. — Lauren
sussurrou, contudo eu consegui ouvir e lancei um olhar de questionamento
para ela.
— Lauren, você falou alguma coisa? — Dorothy questionou.
— Nossa, pela sua idade, está com a audição em dia, né?
— Minha idade não atrapalha em nada minha audição, muito menos
meu julgamento de pessoas. Por isso eu digo que eu acho Sophia uma
pessoa incrível.
— Ah, óbvio que deve achar mesmo. Uma pobre querendo dar o
golpe, com certeza. Não duvido que tenha feito o teste do sofá para entrar
na empresa, inclusive a gente ainda estava junto quando ela entrou, né? —
direcionou o questionamento para mim, que não acreditei que ela estava se
descontrolando assim.
— Lauren, menos. Respeite a Sophia, você não tem noção do que
está falando. Está se excedendo. — falei firme com ela.
Ainda gostava muito dela, mas não permitiria que ela destratasse
Sophia dessa forma.
— Me desculpe, o meu profissionalismo não deve estar em jogo
aqui. Você pode não gostar de mim, mas não fale o que você não sabe.
Quando me envolvi com o Theodore, ele estava solteiro. — Sophia falou de
forma calma e controlada, coisa que ela não estava, percebi pela sua postura
que, se pudesse, teria pulado no pescoço de Lauren.
— Ok, sinto muito, acabei me exaltando. — Lauren finalizou.
Ela terminou de falar e os dois que estavam faltando apareceram na
porta, e não entenderam o clima. Para amenizar, comecei logo falando dos
nossos problemas.
— Chamei vocês porque vamos precisar de todo o apoio do
marketing com as relações públicas, para que possamos reverter a imagem
negativa que possa vir a se instalar.
— E porque Sophia está aqui, somente o Tyler e o Zachary não
seriam suficientes? — Lauren questionou.
— Sophia está cobrindo o afastamento da Lilian, ela que nos ajuda
quando temos problemas nas outras filiais.
— Certo. — falou a contragosto.
Ter Lauren no mesmo ambiente que Sophia seria um caos a ser
administrado.
Depois de horas em reuniões e discutindo estratégias, conseguimos
chegar a algumas soluções, que começaríamos a aplicar o mais breve
possível. Adiantaríamos algumas ações de marketing para abafar a situação.
— Obrigado a todos pela dedicação.
Finalizei e pedi para que Sophia esperasse.
— Dorothy não libere ninguém para entrar na minha sala, Ok?
— Claro, você vai participar da próxima reunião, em alguns
minutos?
— Não, pode cancelar, eu vou ver algumas coisas com a Karen, liga
pra ela por favor e avisa que eu vou precisar da ajuda dela.
Ela acenou e saiu da sala, me deixando a sós com Sophia.
— A sua ex-namorada estava pronta para me matar a qualquer
momento hoje. — falou se sentando a minha frente.
— Sim, ela não é a pessoa mais fácil de lidar, tive que usar muito da
minha paciência. Mas gosto muito dela.
— Me desculpe se fui rude, mas não vou permitir que ninguém me
menospreze ou fale do meu trabalho. Eu sei o quanto lutei para conseguir
uma vaga aqui, então não vou deixar que qualquer pessoa fale besteiras a
meu respeito.
Esse jeito de se impor da Sophia era algo que eu admirei nela desde
a primeira vez em que a vi falando. Ela sabia o que queria e mostrava para o
mundo sem dó.
— Claro, não espero menos de você.
Levantei da cadeira, parando na sua frente, ela fez o mesmo, me
olhando nos olhos.
— Hoje nós tínhamos combinado aquele jantar, para a aparição
pública, mas com essa confusão que está aqui, não vou conseguir sair cedo.
— Tudo bem, a gente se organiza para dar certo depois que passar
essa confusão.
— Sim. — A puxei pela cintura, colando seu corpo ao meu. — Mas
eu posso aproveitar pelo menos um pouco de você, antes de ter que voltar a
me estressar? — falei, me aproximando do seu rosto.
Ela me puxou pela gravata e sussurrou bem próximo do meu
ouvido: — Óbvio que sim. E para quem estava em dúvida ontem, se deveria
ou não me foder, parece que está bem decidido agora. — Finalizou me
dando uma mordida.
— Era por isso mesmo que eu não queria, porque sabia que depois
que eu te provasse, não me controlaria mais, ia querer sempre você.
— Então, aproveita bem, porque temos data de validade. Logo sua
vida volta ao normal e quem sabe até você não terá sua ex de volta? — não
queria pensar em nada disso agora, e só percebi o quanto eu estava evitando
pensar em várias coisas, depois da noite de ontem.
Eu a encostei na mesa e beijei seus lábios de forma ávida, mordi
eles, descontando minhas frustrações do dia, apertei aquela bunda gostosa
dela e tudo que eu queria agora, era jogá-la em cima da mesa e foder com
vontade, principalmente por ela me lembrar que temos data de validade. E
me fazer não ter mais certeza do que eu quero.
Capítulo 21

Sophia Clarck

Você é tão hipnotizante


Poderia ser o diabo?
Poderia ser um anjo?
Seu toque, magnetizante
Parece que estou flutuando
Você faz meu corpo irradiar
E.T. - Katy Perry
Finalmente iria conhecer a nova sede do centro social, fiquei tão
feliz por Theo ter feito isso. Esses últimos dias foram loucos, não tive nem
tempo de dar atenção à minha irmã e amigas.
Só falava todos os dias com Sarah para saber sobre papai, e a sua
recuperação estava indo bem, isso era tudo que me importava no momento.
Fui mais cedo encontrar Michele, para que conversássemos antes
das aulas. Os alunos estavam muito empolgados para estrear o treinamento
hoje.
Entrei na sala e ela veio correndo me abraçar. Nós acabamos
chorando, porque só nós duas sabemos o quanto foi difícil chegar até aqui, e
o medo que passamos, achando que perderíamos o espaço. Isso tudo é cem
por cento a vida dela, eu gostaria de ter mais tempo e me dedicar ainda mais
aqui.
— Sophia, eu fiquei tão feliz com o espaço novo, aqui é muito
maior do que o anterior, poderemos ajudar ainda mais crianças e jovens.
Estou tão animada com tudo que faremos, ainda mais agora com o novo
patrocínio.
— Sim, minha esperança é poder ajudar muitas pessoas com esse
novo espaço. Que patrocínio?
— O da Sra. Rockefeller. Ela me procurou ontem e já fechamos.
Esse valor irá ajudar a desenvolver muitas coisas novas aqui. Estamos
procurando novos voluntários para nos ajudar aqui também.
— Nossa, eu não sabia! Fiquei muito feliz agora. Depois vou
mandar uma mensagem agradecendo a ela.
Essa notícia me pegou completamente desprevenida, eu não
imaginei que ela poderia fazer algo assim, mas ao mesmo tempo, me deixou
muito feliz também. A família do Theo é realmente incrível, e mostra que o
coração bom dele vem de casa.
— Sim, é incrível. Ela é uma pessoa maravilhosa, excelente sogra
você arrumou, Sophia.
Ri, sem graça, porque ainda não me acostumei com a ideia de que
estou noiva.
— Sim, a Susan é uma mulher muito boa mesmo, inclusive vou
querer que você vá no noivado.
— Claro que eu irei! Espero que você seja muito feliz com ele,
querida. Você é uma pessoa muito boa, merece o melhor e alguém que
possa te completar. — ela disse com carinho.
Michele já me conhecia há muito tempo e sempre soube de toda
minha história de vida, por tudo que eu passei na época da faculdade, com o
meu ex-namorado e a lesão.
Agradeci a ela em meio a um abraço, distante de casa eu a tinha
como uma segunda mãe.
— Eu estava pensando em nós conseguirmos mais alguém para te
ajudar com as aulas, porque teremos mais crianças e só as meninas do
apoio, eu não acho que será suficiente. Prefiro que nós tenhamos alguém
com experiência, como você, para evitar alguma lesão com os pequenos.
— Vou ver se alguém da minha equipe da época da faculdade topa
ajudar. Ainda tenho contato com algumas pessoas.
— Maravilha, obrigada mais uma vez pela ajuda! E agora, vai lá,
antes que eles apareçam aqui na porta pra te buscar.
— Eu não duvido. Ah, eu pedi que entregassem aqui, no fim da
aula, o sorvete que eu fiquei devendo para eles, você pode ver, por favor,
alguém para receber?
Ela acenou e eu fui encontrar os meus pequenos. Ia finalmente
conseguir pagar minha promessa do sorvete. Cheguei no espaço de
treinamento e vi que era muito maior. Tinha um lugar dedicado à corrida, as
crianças estavam pulando e eu estava quase fazendo a mesma coisa,
tamanho êxtase que sentia.
— Olá, pessoal!! — chamei a atenção deles, que vieram correndo
ao meu encontro. — Hoje, se vocês forem muito bem no treino, nós
teremos uma surpresa.
Eles quase me enlouqueceram perguntando o que era, mas consegui
me manter firme e não contar.
Acho que faria surpresas mais vezes para essas crianças, elas nunca
fizeram tantos exercícios bem-feitos em um único dia.
No fim da tarde, quando vieram me informar que havia chegado o
sorvete, levei todos eles para a cozinha e mostrei todos os potes de sorvete e
as casquinhas que comprei, eles fizeram a festa.
— Obrigada, tia Sophia. Espero que você fique muito tempo no seu
emprego, para poder trazer sorvete sempre. — uma das minhas alunas mais
novas falou. Esses momentos aqueciam o meu coração.
Eles se sujaram todos com o sorvete e de quebra me deixaram toda
suja também. Estava grudando e não tinha trazido minhas coisas para tomar
banho, só tinha um short extra no armário. Ia me limpar na pia e em casa
tomaria um banho.
Quando liberei todas as crianças para ir embora, e arrumei a
bagunça que elas fizeram, peguei meu telefone que acabou ficando na
minha bolsa e me assustei com as ligações perdidas de Tyler, Theodore e
Mary.
Quando ia retornar para Mary, chegou uma nova ligação de
Theodore.
— Oi, Theodore. Aconteceu alguma coisa?
— Sim, eu acabei de chegar aqui fora e preciso de você
imediatamente aqui.
— O que houve pra você ter vindo até aqui? — Me preocupei na
mesma hora.
— Você não atendia ninguém, e Mary disse que poderia te encontrar
aqui quando eu estava indo pra sua casa. Tivemos um contratempo com
relação à situação na França e eu estou indo com uma parte da equipe pra
lá, isso inclui você.
— Ok, eu só preciso de um minuto para me limpar e saio pra gente
passar no meu apartamento, então.
— Não, eu preciso de você aqui fora agora. Nós temos uma hora
para chegar no aeroporto. O tráfego aéreo ainda não é meu, então tenho que
respeitar os horários.
— Theo, eu estou imunda, não tenho condições de sair assim.
— Não importa, no avião você se limpa. Preciso de você aqui fora
agora, Sophia. — ele repetiu, impaciente.
— Ok, estou a caminho. — falei e desliguei na cara dele, porque
estava espumando, detestava me sentir suja.
Fui correndo pra saída e vi o carro dele parado, Gerald saiu e abriu
para mim a porta de trás, onde tinha um Theodore furioso digitando no
notebook.
— Obrigada, Gerald. E desculpa o estado.
— Imagina, srta. Clarck, não tem problema.
Entrei no carro e meu noivo de mentira finalmente olhou pra mim.
— Meu Deus, Sophia! O que aconteceu com você? — ele estava de
olhos arregalados.
— Bom, eu avisei que precisava me limpar. As crianças me sujaram
de sorvete. Mas imagino que, pelo menos em casa, eu vou poder me limpar,
né?
— Não, nós vamos direto para o aeroporto. — Ele fechou o
notebook e veio em minha direção.
Antes que eu pudesse responder, ele falou no meu ouvido, — Você
deve estar uma delícia. Posso imaginar todo esse sorvete quando ele foi
jogado em você, queria poder ter lambido ele todo na sua pele.
— Caralho, esse não é o momento para você me falar essas coisas.
Eu nem consegui terminar meu raciocínio, porque ele me agarrou e
me beijou, me deixando completamente sem fôlego.
— Esse sabor de sorvete em você, me deixou com vontade de te
jogar nesse banco e ir te lambendo daqui — ele apontou para minha boca,
descendo a mão pelo meu corpo até chegar na minha boceta — até aqui.
Você me fez esquecer que tenho quinhentos problemas para resolver. —
fiquei completamente arrepiada, só de pensar nele fazendo isso.
— Que bom, porque eu quase me esqueci também de um problema
bem grande. Como você pretende me levar para outro continente, sem
roupa? E melhor, sem meu passaporte?
— Roupa é o de menos, eu já pedi que providenciem para você, e
com relação ao seu passaporte, David pegou na sua casa, já deve estar com
Karen a uma hora dessas. — ele falou pleno, como se não fosse nada.
— Por que ele pegou o passaporte e não pegou roupa para mim?
— Porque ele não mexeria nas suas coisas, nem por um decreto.
— Ué, ele não entrou lá para pegar o passaporte? Aliás, como ele
entrou lá?
— Mary deixou liberado para ele entrar, porque ela não estava em
casa, e falou onde ele acharia os seus documentos. Foi o máximo que ele
fez, jamais permitiria que ele mexesse nas suas roupas ou calcinhas.
Agora fez sentido as ligações dela, devia ser para me perguntar se
poderia entregar minhas coisas.
— Ok, eu só quero chegar no avião e me limpar.
— Assim que o piloto liberar a circulação, você poderá tomar
banho, pode ficar tranquila. Agora, vem aqui, que eu limpo pelo menos o
seu rosto.
Ele pegou uma garrafinha de água e molhou o seu lenço e com
cuidado limpou meu rosto, pescoço e os braços. Me senti um pouco melhor,
mas ainda estava nervosa de ter que entrar assim no avião.
Gerald dirigiu em tempo recorde. Ele conhecia atalhos para fugir
desse trânsito caótico. Ele estacionou na pista ao lado do avião e reparei que
entregou o carro para outra pessoa e nos seguiu para a aeronave.
— Ele é só seu motorista?
— Não, ele é o meu chefe de segurança e faz minha segurança
pessoal também, mas para todos os efeitos é só um motorista.
— Como se ele conseguisse esconder essa cara dele de que acabou
de sair do exército, né?
Theo deu de ombros. Nós entramos na aeronave, e dei de cara com
Karen, Taylor, Lauren e mais algumas pessoas de outros setores.
Imediatamente, me senti mal pelas roupas que estava, porque todos eles
estavam vestidos formalmente. Mas, ao mesmo tempo, era meu dia de folga
e eu nem tive tempo de fazer nada.
A aeromoça avisou que eles estavam prontos e a decolagem seria
em cinco minutos. Nós chegamos bem a tempo.
— Meu Deus, menina! Onde você estava? Foi brincar de rolar no
lixo? Olha essa roupa. Precisa de ajuda, querida? — Lauren falou com
desdém, a minha vontade foi de dar na cara dela.
— Não, querida, eu só não esperava viajar hoje e como não tive
tempo de pegar nada, é assim que você terá que me ver, se não estiver
confortável, feche os olhos. — falei e fui me sentar perto de Karen.
— Não liga pra essa aí, ela é insuportável. Ela faz com que seja
difícil ter sororidade.
— Sim, não consigo entender o prazer que ela tem em querer me
diminuir. Fala como se eu tivesse escolhido vir pra cá com roupa de
ginástica e suja de sorvete. Será que eu tenho cara de maluca?
— Ah, Soph, tem um pouquinho — ela disse rindo. — Mas nada
que justifique a implicância. Ela terminou com o Theo porque quis. Hoje,
eu acho que entendo ele nunca ter pedido ela em casamento. — Karen
pareceu pensativa ao dizer isso.
— E por quê?
— Porque acho que o subconsciente dele já sabia que ela não era a
pessoa certa. Acredito que era só conveniente ter ela por perto.
— Faz sentido.
O piloto avisou que estávamos liberados e começou a decolagem.
Olhei para Theodore, que já estava trabalhando durante o voo.
— Putz, eu preciso mandar mensagem para Claire, avisando que não
vamos poder sair para comprar o vestido. — Na mesma hora que eu
terminei de falar, congelei, porque lembrei que não conseguiria comprar um
vestido e durante a semana é quase impossível. Puta que pariu, será que eu
posso ser mais azarada que isso?
— Que cara é essa? — Karen questionou.
Expliquei para ela o que eu ia fazer e como as coisas mudaram e
atrapalharam os meus planos.
— Ah, isso é simples de resolver, pode ficar tranquila, esqueceu que
estaremos em Paris? Faremos compras antes de vir embora, acalma seu
coração.
— Obrigada, pelo menos alguma coisa resolvida, porque eu ainda
estou com receio com relação à roupa. Estou viajando sem nem uma
calcinha limpa, Theodore é louco.
— Isso é a mais pura verdade, mas vi ele comentar que pediu para
arranjarem roupas para você lá, com certeza vai ter tudo pronto quando
você chegar.
— Fico mais tranquila. Karen, você é o meu anjo hoje, me deixou
mais calma com as minhas preocupações. Agora só queria tomar banho e
não precisar usar essa roupa... — falei apontando para o estado em que eu
estava.
— Usa o quarto do Theo, ele sempre tem roupa lá, pega algo dele,
assim você vai se sentir melhor. Só não te empresto algo porque minhas
roupas nunca caberiam nessa beleza de bunda que você tem. — ela falou
rindo.
Nós caímos na risada e atraímos todos os olhares do avião, inclusive
de uma Lauren mal humorada. Só revirei meus olhos. Decidi que não vou
me deixar abalar por ela.
Antes de ir tomar banho avisei a Theo, porque não iria invadir sua
privacidade dessa forma.

Eu: Querido noivo de mentira, vou tomar um banho na sua


suíte, e como fui sequestrada e estou sem roupas, irei sequestrar
algo seu para vestir. Tudo bem pra você?

Vi que ele viu minha mensagem, e só levantou a sobrancelha pra


mim, antes de começar a digitar.
Theodore: Apesar de preferir você sem roupa, pode pegar o que
quiser lá. Fique à vontade.
Obs. Quando eu te sequestrar, vai ser pra te levar a um lugar onde
você não vai precisar de roupas durante toda a viagem.

Nossa, despertei o monstro do sexo nesse homem, meu Deus! Mas


eu não posso falar nada, porque eu só consigo pensar em repetir o que nós
fizemos da última vez.

Eu: Acho que no chuveiro, a gente costuma ficar sem roupa.


Não sei se seus banhos são diferentes...

Esse era um jogo que dois poderiam jogar, e eu não gosto de perder.
Capítulo 22

Theodore Rockefeller

Oh, amor, olhe o que você começou


A temperatura está subindo aqui
Isso vai mesmo acontecer?
Estive esperando e esperando você
tomar uma iniciativa
Antes que eu tomasse uma iniciativa
Into You - Ariana Grande
Eu parei, olhando para a mensagem na tela do meu telefone, sem
acreditar no que essa mulher estava fazendo comigo. Ela conseguia me
deixar completamente louco. O que me fazia agir sem pensar em qualquer
consequência, a única coisa que eu conseguia imaginar, era tomá-la de todas
as maneiras possíveis.

Eu: Isso é um convite? Posso te ajudar a tirar o sorvete do seu


corpo.

A minha vontade era de sujar ela toda de sorvete e lamber cada


pedacinho. Sophia estava me deixando como um viciado, que só consegue
pensar na próxima foda.
Caralho!
Preciso voltar minha cabeça para o lugar e lembrar que tudo isso é
só um contrato, e que está ficando totalmente irresistível.

Sophia: Era uma brincadeira, mas você sabe que toda


brincadeira tem um fundo de verdade. Se não atrapalhar seu
trabalho, eu quero sua ajuda, sim. Pode ter sorvete em lugares
que eu não consigo alcançar para limpar sozinha.

Eu olhei imediatamente para Sophia, que estava fazendo sua melhor


cara de safada, e mordendo o lábio. Ela com certeza será minha ruína.
Minha vontade era de levantar imediatamente, jogar ela nas minhas costas e
levá-la pra cama.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ela foi para o quarto
que eu uso, Karen deve ter avisado a ela qual deveria seria. Fico feliz que as
duas se deram bem, minha amiga sempre adorou implicar com Lauren, e ela
gostar de Sophia já me ajuda a manter a farsa.
Eu terminei um e-mail que o envio era urgente e resolvi que não
deixaria minha noiva esperando por mim. No momento em que me levantei
para ir atrás dela, Lauren imediatamente me olhou de um jeito questionador,
eu sabia que ela queria falar algo, já conhecia suas manias.
— O que foi, Lauren? — questionei, sem muita paciência.
— Oh, nada... Você está indo para o quarto?
— Sim. — respondi, sem dar mais assunto.
— Eu gostaria de descansar também.
Lauren ainda me faz questionar suas atitudes, sei que ela está nesse
noivado, porém, ao mesmo tempo, ela parece ainda orbitar à minha volta.
Isso me deixa confuso e reafirma minha teoria de que ela não irá
permanecer nesse noivado por muito tempo.
— Pode ficar à vontade — ela ameaçou se levantar, e concluí. —
Tem sofás que são bem grandes, acho que não tem ninguém usando a outra
suíte, qualquer coisa pode pedir ajuda a comissária, mas você sabe disso,
né?
Ela caiu sentada no assento que ela estava e acenou.
— Claro, sei sim.
Fiquei pensando se Lauren achou que eu a levaria pra dormir
comigo, com a minha noiva no avião. E mesmo que ela não estivesse aqui,
eu não sou homem que trai, ela sabia bem disso.
Entrei na minha suíte e tranquei a porta atrás de mim. Escutei o
barulho do chuveiro e fui em direção a ele, onde encontrei Sophia, de
costas, lavando o cabelo.
Tirei minhas roupas e fui ao seu encontro. Achei que ela daria um
dos seus gritinhos, mas ela me surpreendeu ao virar e me beijar. Nosso beijo
era calmo, sem pressa para aprofundar, como se tivéssemos o resto da vida
para explorar um ao outro.
Parecia que os beijos com Sophia encaixavam bem, desde o
elevador, nunca tinha encontrado outro assim, e ter ela ao meu alcance
agora, mexia com algo que eu não conseguia explicar.
— Nossa, que milagre! Sem gritinhos hoje? Você me ouviu chegar?
— falei, enquanto acariciava o seu rosto, tirando uma mecha de cabelo
molhada.
— Eu não me assustei, por isso não teve gritinho, não deboche do
meu gritinho. — ela falou revirando os olhos e me dando um tapa leve no
peito. — Senti seu cheiro, por isso estava tranquila. Seu perfume chegou
antes de você aqui.
— Estou impressionado que você já me conhece pelo perfume.
— Ele me traz boas lembranças. — Será que ela se lembrou do
nosso encontro no elevador?
— Sério? Que lembranças seriam essas? — perguntei, enquanto
pegava a esponja e passava pelo seu corpo, fazendo espuma.
— Sim, não sei, só me traz uma sensação muito boa. — ela falou já
fechando os olhos, e de costas, encostou o corpo no meu. Aproveitei para
passar a esponja nos seus seios, fazendo uma fricção nos seus mamilos que
a fez arquear.
— Será que ainda sobrou um pouco de sorvete na sua pele? — falei,
passando seu cabelo para o lado e lambendo seu pescoço, sem deixar de
estimular seus seios, ela já gemia e se contorcia, ela desceu a mão para se
acariciar.
— Talvez já tenha saído tudo, mas a gente pode passar mais depois
— desci minha mão até onde estava a sua e encontrei sua boceta molhada, e
não era pela água do chuveiro. Enfiei um dedo nela, que entrou com
facilidade. — Eu quero você agora, Theo.
— Mas eu ainda quero dar mais a você. — falei, arrancando um
gemido dela enquanto meti dois dedos nela e circulei seu clitóris.
— Pode me dar depois, agora eu preciso de você dentro de mim. —
ela disse ofegante e virou de frente para mim.
Sophia atacou minha boca, com fome. Ela ainda me surpreendia
com a sua postura de não negar o que quer, e ir firme em direção ao seu
objetivo. Mesmo que fosse algo como o seu prazer, ela era determinada em
mostrar o que queria. Por mais que se submetesse na cama, ela deixava
claro qual era o seu desejo.
Se ela queria sexo sem preliminar, então era isso que ela teria, até
porque, o lugar em que estávamos não era o mais adequado para dar a ela
tudo o que merecia.
Não tirei os dedos dela e continuei a estimulando. Eu já a sentia
pulsando, ela desceu as unhas pelas minhas costas me arranhando, enquanto
gemia em meio aos beijos, se agarrando mais a mim, me fazendo sentir seus
mamilos enrijecidos.
A fodi com mais intensidade e ela se contraiu em volta dos meus
dedos, os tirei dela que reclamou na mesma hora. Ignorei e a levantei, ela
fechou as pernas ao meu redor, encostei-a na parede e meti de uma só vez,
enterrando até o talo nela.
— Ah, Theo. Caralho! — falou em meio a gemidos. — Isso mesmo,
me fode com força.
Continuei metendo nela daquele jeito, com suas costas batendo
contra a parede, e intercalando alguns tapas naquela bunda deliciosa, que
era definitivamente meu ponto fraco. Comecei a beijá-la, porque o volume
dos seus gemidos estava subindo, tenho certeza de que depois, ela ficaria
com vergonha.
— É desse jeito que você queria, minha gostosa? — sussurrei no seu
ouvido, desci, dando mordidas pelo seu pescoço, até chegar no seu seio e
abocanhar um mamilo, o que a fez gemer alto. — Desse jeito até o piloto
vai te ouvir, eu não sei se quero compartilhar os seus gemidos com toda a
tripulação.
— Oh, céus! Que vergonha, ah, Theo, porra! Como eu não gemo se
você está me acertando em todos os lugares? — falou e suprimiu um
gemido. Magicamente, ela descobriu no meu ombro um bom lugar para
morder e assim não gritar.
E quando eu senti todo o seu corpo convulsionar, sabia que ela
estava alcançando o clímax. Acelerei ainda mais os movimentos, os peitos
de Sophia pulavam na minha cara, ela tentava rebolar, procurando a maior
quantidade de atrito possível.
— Goza pra mim, minha gostosa! — falei no seu ouvido e ela se
desmanchou, e eu me deixei ir junto.
A beijei com intensidade para abafar meus próprios gemidos. Nós
éramos uma mistura de beijos ardentes, com gemidos contidos, continuei
metendo nela, até que estava sem forças e ela sem fôlego.
Recuperamos o ar e eu a coloquei no chão. Precisava de espaço para
aproveitar mais aquele corpo. Com a minha altura, mesmo um banheiro
“normal”, ainda parecia pequeno.
Olhei pra cada pedacinho de Sophia, reparando nas marcas do que
acabamos de fazer. Ela tinha uma pele delicada e clara, então qualquer
aperto mais forte que eu desse, já aparecia. Estava com alguns arroxeados
da nossa primeira vez juntos e eu me sentia um maldito homem das
cavernas por gostar de vê-la marcada e saber que fui eu.
Vi a água escorrendo sobre seu corpo, junto com a minha porra que
escorria por suas pernas. Imediatamente, me lembrei que transamos sem
camisinha.
— Sophia, me desculpe! Acabei não lembrando de pegar uma
camisinha, porque o meu plano era te levar para a cama, mas a porra do mal
de pensar com o pau, dá nisso. Sinto muito, eu tô limpo, não faço sexo sem
camisinha. — falei, acabando de fazer, me preocupei dela achar que
poderia ter sido de caso pensado.
— Theo, respira. Tudo bem, eu tomo pílula e meus exames estão em
dia. Então acredito que estamos bem. — Ela tocou meu rosto, me puxando
para perto dela. — Nunca tinha feito sem camisinha, mas preciso confessar
que te sentir assim... foi muito bom. — ela sussurrou no meu ouvido e, puta
que pariu, que homem não gosta de deixar a camisinha bem longe do pau?
— Você deveria ser proibida de falar essas coisas. Porque, te sentir
na pele, foi uma sensação única.
Ela me beijou de forma calma, nem parecia a mesma que pediu por
sexo rude alguns minutos atrás. Sophia era complexa, e eu estava disposto a
desvendar tudo dela.
Tomamos um banho de verdade e vê-la passando a toalha pelo corpo
era uma tentação, mesmo sendo algo simples, já estava ficando excitado
novamente. Ela olhou em minha direção e percebi para onde seus olhos
viajaram, ela mordeu os lábios, deixou a toalha no suporte e se aproximou
lentamente.
— Você tem algo que eu quero. — falou baixo, passando as unhas
na minha pele, descendo, desde o meu peito, até o meu abdômen.
— É só você me pedir, que eu te dou o que quiser.
Sophia olhou nos meus olhos e eu vi a mais pura luxúria. Ela era
sexy pra caralho, parecia uma deusa, tamanha a perfeição que tudo nela
exalava. E, no momento, eu seria capaz de enfrentar o Olimpo inteiro para
dar o que ela quisesse.
— Gostei muito da proposta — ela falou e começou a me guiar para
o quarto —, vou começar por aqui. — disse, descendo a mão e
massageando o meu pau enquanto começou a me beijar, com intensidade,
chupando e mordendo meus lábios, eu já estava pronto novamente, não
parecendo que tinha gozado a pouco tempo. Sentir o seu corpo nu contra o
meu já me fazia querer jogá-la na cama e me enterrar nela profundamente.
Seus lábios quentes desceram para o meu pescoço, ela mordiscou e
lambeu em cima da minha pulsação, me trazendo um arrepio no corpo. Ela
ia descendo, passando pelos meus pontos sensíveis, eu já sentia a
lubrificação lambuzando a cabeça do meu membro. Em nenhum momento
ela me soltou ou parou de mover aquela mão deliciosa, que ao mesmo
tempo em que era delicada, estava decidida a me levar à loucura.
Gemi quando ela parou na altura dele, respirou profundamente perto
e sentir o ar quente tocá-lo foi o meu fim, agarrei seu cabelo e ela me enfiou
na boca.
E sentir a sua boca macia e quente, era como ir ao céu.
Será que eu, um maldito pecador, merecia o céu?
Sabia que ela não seria capaz de engolir inteiro, mas Sophia queria
me enlouquecer. Ela começou com chupadas lentas, lambia a cabeça,
enfiava até a metade e voltava. Ver meu pau sair todo babado da sua boca,
era a porra da minha perdição.
Estava me segurando, não queria machucá-la. E ela estava me
provocando, me olhando com uma cara de quem sabia exatamente o que
fazia comigo.
Segurei firmemente seu cabelo e ela finalmente aprofundou, indo
mais rápido e cada vez mais fundo. Eu ainda tentava me conter, mas ela
percebeu, parou na mesma hora e me encarou.
— Não precisa se conter comigo, Theo.
Nesse momento eu perdi tudo e quando ela voltou a me enfiar cada
vez mais para dentro, eu fodi sua boca indo mais rápido. Ver seus lábios se
esticando para tentar me acomodar todo e ela forçando a cada momento, era
o paraíso.
Eu travava minha mandíbula para me conter, só que Sophia não
queria contenção. Tudo nela era sobre o máximo, e ela pedia cada vez mais.
Então, parei de me controlar, e dei a ela tudo que queria, estoquei até sentir
meu pau bater na sua garganta e vê-la engasgar, ela segurava firme minha
coxa, cravando as unhas, para ir cada vez mais fundo.
E puta que pariu, era a cena mais bonita que eu já tinha visto na
vida.
Os movimentos de vai e vem curtos que eu fazia, vendo ela receber
tudo que aguentava, o meu pau todo babado, ela de joelhos e fazendo
questão de me olhar nos olhos, era a porra de uma perdição.
Diminuí o ritmo e deixei que ela voltasse a controlar, minhas bolas
pesavam pelo tesão que era a cena. Sophia me levava ao fundo e voltava,
chupando minha cabeça inchada. Ela seguia o seu ritmo e foi aumentando
novamente, e passou a me punhetar na base, enquanto mamava o restante
que cabia em sua boca. Nesse momento, eu já estava no meu fim.
— Sophia, é melhor você parar agora, antes que eu não consiga me
segurar mais — disse, tentando me desviar, mas ela me segurou mais firme
e aumentou a velocidade.
Joguei minha cabeça para trás, porque não estava mais aguentando
de tesão, e sabia que estava próximo de gozar, mas ao mesmo tempo, não
queria deixar de vê-la.
As minhas bolas pesaram, o orgasmo veio com tudo e foi forte,
chegando a escorrer pelo canto da sua boca. A cena dela chupando até a
última gota iria ficar na minha cabeça para sempre. Não sei se seria capaz
de esquecer esse olhar de Sophia.
Quando ela finalmente parou de me chupar, limpou o canto da boca
e chupou o dedo, eu só a levantei e beijei com intensidade.
Ainda sentia no meu corpo todo os espasmos pós-orgasmo, mas
daria a Sophia o mesmo prazer que ela me deu. A joguei na cama e fui
completar a minha felicidade.

Estávamos deitados na cama, ela estava com a cabeça no meu peito


e parecia perdida em pensamentos. Eu só pensava que nunca queria parar
isso que a gente tinha, minha vontade era de estar dentro dela o dia inteiro.
Nunca fiquei tão viciado em sexo assim.
— Theo, você já tinha transado aqui antes? — ela jogou a pergunta
do nada.
Me ajeitei melhor e olhei para ela.
— Não, foi a minha primeira vez, e você, já tinha tido orgasmos no
céu?
— Primeira vez também, realmente foi uma viagem no céu — ela
falou rindo. — Foi uma primeira vez muito boa, imaginei que poderia ser
ruim pela altura, sei lá.
— Espero poder lhe proporcionar só coisas boas. E, quem sabe,
algumas primeiras vezes?
— Quem sabe? — ela me olhou e percebi uma dúvida passar por
seus olhos. — Tem mais uma primeira vez pra hoje também.
— Qual seria? — Fiquei confuso, pensando o que poderia ser.
— Viajar sem roupas, Theodore Rockefeller!
— Ah, isso? Tranquilo para mim, já aconteceu algumas vezes e pra
você já está resolvido também, chegando na França você terá roupas.
Ela não consegue me responder, mas vejo o seu revirar de olhos,
Karen bateu na porta nos chamando para jantar.
— Ok, senhor Espertinho, terei roupa na França, e aqui, eu saio
pelada para jantar? — imaginar ela desfilando nua no avião me deixou
desconfortável.
— Lógico que não, tenho camisas sociais aqui. — Levantei-me,
indo até um armário onde sempre tenho peças de roupa, e tiro uma camisa
para ela.
— Maravilha, porque eu não colocaria minha roupa de sorvete de
jeito nenhum. — Lembrar dela lambuzada de sorvete, foi um péssimo
caminho para a minha cabeça. Porém fiz uma anotação mental de quando
tudo isso acalmar, comprar alguns potes de sorvete e levá-la para a minha
casa.
— Que cara é essa? O que essa mente pervertida tá imaginando para
você estar me olhando desse jeito? — ela disse rindo.
— Tava pensando em você e sorvete, na minha casa, em cima da
minha bancada da cozinha, para ser mais exato. — Falei indo na sua
direção.
— Gostei disso, quem sabe a gente não combina? — a safada piscou
e desviou de mim, indo até sua bolsa e pegou o que parecia ser um short de
corrida, bem pequeno.
Ela o vestiu e a minha camisa, que ficou quase um vestido nela,
nesse momento fiquei feliz pela minha altura. Me vesti também e saímos do
quarto.
Chegando na parte social do avião, todos já estavam comendo e
Lauren me fuzilou com o olhar. Só balancei minha cabeça e fui me sentar
junto com Karen. Pelo menos, todos ali teriam certeza de que o meu
relacionamento com Sophia era real.
Pedimos o que iríamos comer e minha noiva de mentirinha falou
que tinha esquecido a bolsa no quarto e ia pegar.
Comecei a falar com Karen sobre o vazamento.
— Descobrimos que foi vazado de dentro, agora só precisamos ir
fundo e descobrir quem foi. O dano foi razoável, mas controlável, se fosse
algo maior, não sei se conseguiríamos contornar tão fácil. — falei
preocupado, porque nós tínhamos informações de muitas pessoas
importantes e não poderia me dar ao luxo de deixá-los “chateados” comigo.
— Fica tranquilo, que vamos descobrir. E eu já estou reforçando
nossos mecanismos para evitar até os ataques internos.
Karen terminou de falar, mas eu só conseguia prestar atenção em
Sophia, voltando na nossa direção, e nos caras, que estavam comendo com
os olhos aquelas pernas torneadas.
Nessa hora, eu queria que ela estivesse com roupas e que não tivesse
tanta gente nesse avião. Com a merda toda que aconteceu, achamos melhor
fazer uma auditoria interna em todos os setores, então estava com diversas
pessoas no avião, porque esse trabalho mais minucioso, era sempre feito por
pessoas de confiança da matriz.
E agora, as pessoas de confiança, estavam babando as pernas da
minha mulher.
Não importava que fosse só um contrato, eles não sabiam disso,
então para todos os efeitos, ela era MINHA!
— Acho bom você tentar disfarçar melhor. — Karen me tirou do
transe em que estava.
— Do que você está falando?
— Nada não, querido, se engane um pouco mais, mas eu te entendo
perfeitamente. É difícil não reparar.
Não pude responder porque ela chegou e a comida também, eu
fiquei pensando no que eu estava sentindo e porque me incomodou tanto
ver as pessoas que estavam no avião secando ela e o sentimento de posse
que gritava no meu peito.
Capítulo 23

Sophia Clarck

Um suspiro de alívio e eu percebi


Não, o amanhã não nos é prometido
Então eu vou te amar como se eu fosse te perder
Eu vou te abraçar como se eu estivesse dizendo adeus
Onde quer que estejamos, eu vou te valorizar
Pois nunca sabemos quando
Quando o nosso tempo irá acabar
Like I’m Gonna Lose You
(feat. John Legend) - Meghan Trainor
Voltei para onde Theo e Karen estavam, um tanto incomodada com
os olhares que recebi. A blusa que estou vestindo, apesar de grande, ainda
me faz ficar desconfortável, acho que por saber que estou sem lingerie. O
short na minha bolsa me salvou um pouco nesse sentido. Parece que estou
fazendo algo para chamar atenção, mas é justamente o contrário, quero ter o
mínimo possível de atenção.
— Pegou o que você precisava? — Theo me pergunta, parecendo
um pouco puto e não faço ideia do porquê.
— Sim, acabou a bateria do meu telefone e, como alguém me trouxe
sem ter chance de fazer uma mala, eu não tenho nada, nem um mísero
carregador.
Os dois falaram ao mesmo tempo que me emprestariam.
— Maravilha! Saí de nenhum, para dois. — falei exalando
sarcasmo, mas me lembrei que Karen não tinha culpa. — Obrigada Karen,
vou usar o do Theo, tudo que eu puder usar dele nessa viagem, eu vou. Ele
vai aprender a nunca mais me tirar de casa sem roupas. — finalizei, Karen
caiu na gargalhada, no mesmo instante, percebi que o que havia falado
poderia ter outra interpretação, que também não estaria errada.
— Essa viagem é para resolver problemas, mas eu não me importo
nem um pouco em ser usado por você, principalmente se envolver você sem
roupas. — Piscou pra mim, com uma cara safada que me aqueceu.
— Theo! — tentei chamar sua atenção, o avião tinha gente demais
para ele falar essas coisas. Não gostava de me expor dessa maneira.
Caramba, eu precisava me controlar, não fazia nem uma hora que
tínhamos transado e eu já estava pensando em mais. Theo estava me
viciando em sexo.
— Quanto a te tirar de casa sem roupas, eu aprendi a lição. — Olhei
para ele sem acreditar que ele havia dado o braço a torcer. — Vou sempre
andar com uma mala sua junto comigo agora. — Fui precoce demais, aí
estava ele.
Percebi que Lauren estava acompanhando a nossa conversa, como
se fôssemos uma série e ela não pudesse perder nada, estava começando a
me incomodar.
Focamos em nosso jantar e conversamos algumas amenidades,
gostava dos momentos simples que tinha com os dois, eles me faziam sentir
à vontade, como amigos de verdade. Esperava poder continuar esse contato,
mesmo depois que nosso tempo acabasse.
— Nossa, estou tão cansada, hoje foi puxado. — falei depois que
terminamos de comer.
— Não é pra menos, gata. Você estava no centro social, participou
de uma guerra de sorvete e ainda levou o bonitão aqui — ela apontou para
Theodore — para a lona. Está conseguindo fazer ele esquecer um
pouquinho do trabalho — ela falou mais baixo.
— Foi quase isso mesmo — Karen arregalou os olhos por eu
concordar com ela —, com relação ao sorvete. Quanto ao seu amigo, eu não
tenho nada a declarar — finalizei rindo.
— Muito bom, né, Karen? Mas ela é minha noiva, é importante para
mim, sem gracinhas sobre isso. — ele sabia que ela estava falando para
alfinetar Lauren. — Eu fiquei curioso sobre o que aconteceu com o sorvete.
Karen olhava para ele, como quem dizia que não fez nada de errado.
— Eu havia prometido pagar sorvete para eles depois que fui
contratada, como não sabia que seria um dia atípico, marquei hoje para
pagar a promessa. Porém, as coisas saíram um pouco do controle, como
vocês puderam notar.
— É normal você sair fazendo essas promessas? — Theo
questionou.
Expliquei para eles com detalhes o que havia acontecido para que eu
pudesse prometer e como me marcou o que Olivia falou aquele dia.
— Mesmo com toda a bagunça, foi tão gratificante vê-los felizes
com algo tão simples como sorvete, sabe? Pretendo fazer mais vezes.
— Nossa, Soph, cada vez que você fala, só me faz ter mais vontade
de conhecê-los. — Karen parecia um pouquinho emocionada. — Eles têm
aulas de algo relacionado a informática?
Imaginei que ela perguntou querendo se voluntariar, mas os
computadores que tínhamos lá, mal abriam programas simples.
— Não, digamos que os computadores lá não são os mais novos.
Então resolvi explicar a dinâmica do centro para eles, lá nós
recebíamos tudo em doações, havia até uma quantidade boa de voluntários,
mas era mais para prestação de serviço do que para doação de dinheiro.
Com isso, Michele sempre administrava contando com as doações
financeiras para as necessidades e quando queríamos algo mais superficial,
organizamos alguns eventos com as crianças, mas não era sempre que
conseguíamos.
Theodore só observou o que eu contei, parecia que não sabia como
reagir.
— Tá combinado! Eu vou lá com você no próximo final de semana
em que você for dar aula, inclusive quero assistir você correr. — ela disse
rindo.
— Você é impossível, Karen! O noivado é no próximo fim de
semana, podemos ir no seguinte, faço uma corrida especial para você. —
Pisquei para ela, e não aguentei segurar o riso.
— Não sei se estou gostando disso, não — meu noivo colocou a
mão no queixo como se pensasse —, acho que vou junto, não vou deixar
Karen sozinha com você.
— Falta confiança no seu taco, bonitão?
Eu estava rindo a ponto da barriga doer. Karen implicava demais
com Theo e ele entrava na pilha dela.
— Se tem uma coisa que eu tenho certeza, é que eu dou conta.
Acredito que você já escutou algumas coisas, né, Karen? — nesse
momento, eu tive vergonha de ser escandalosa — Acho que você está há
tempo demais sem encontrar alguém.
Aproveitei para provocá-lo um pouco mais. Sussurrei para ele um
“Será?” E percebi a postura dele mudar na mesma hora.
— Isso é a falta de David aqui. Sem ele, só me sobra você para
perturbar. Estou muito bem sozinha, não preciso encontrar ninguém.
Aproveitando, me deem licença que eu preciso ir ao banheiro. — Ela foi em
direção ao banheiro e percebi que não era um assunto que ela gostava de
falar.
— Será? Você está mesmo duvidando de mim? Vou precisar te jogar
naquela cama, lá no fundo e te fazer gritar até o piloto ouvir? — falou
baixo, contido, mas de um jeito que me arrepiou inteira, porque tenho
certeza de que ele faria, e nessa hora eu me lembrei de onde estávamos.
— Não, por hora você já me mostrou do que é capaz, as marcas no
seu ombro provam isso. Prefiro que, em um lugar mais reservado, nós
voltemos a essa conversa. Quem sabe não pode me fazer acordar um prédio
inteiro?
Mordi meu lábio, porque esperava poder ter uma noite com Theo
em um lugar onde não tivessem tantas orelhas a postos.
— Ah, Sophia, você não sabe o que está alimentando.
— Tenho que ter certeza de que — falei bem baixinho para que
somente ele escutasse —, o seu pau é de ouro mesmo.
— Vou te mostrar que ele pode ser o elemento químico que você
quiser, principalmente aquele que te tira do chão.
Eu estava começando a cruzar as pernas, por imaginar esse homem
de várias maneiras, que Deus me ajude. Achei melhor ir deitar um pouco,
antes que fizesse alguma loucura.
— Vou cobrar tudo isso. Mas agora, eu vou deitar lá dentro, tudo
bem?
— Não vou deixar você cobrar, antes do que você imagina, vai
descobrir. — Ele me olhava com tanta intensidade, que tinha certeza de que
ele faria qualquer coisa para me mostrar isso, engoli em seco, imaginando.
— Pode ir, eu vou trabalhar um pouco.
— Tente descansar também, para o jet leg não te derrubar.
Ele acenou para mim, eu fui em direção ao quarto, mas não passei
imune por Lauren.
— Esse é o Theo, que deixa a mulher sozinha, para trabalhar.
Acostume-se, querida. — Ela riu enquanto falava.
— Ele está gerenciando um problema no momento, então não me
importo que ele trabalhe. Não sei se você percebeu, mas ele me deu uma
atenção muito especial hoje. É tudo sobre equilíbrio, querida. — falei e fui
pro quarto antes que me estressasse e falasse demais.
Uma coisa era certa, ele não estava trabalhando menos. Antes do
jantar, ele foi para o quarto pra transar, o que me leva a pensar, se ele a
trocava tanto por trabalho, será que ele só parava de trabalhar pra transar
com ela? Ou será que nem isso?
Maldita curiosidade.
O dia havia sido pesado para mim, deitei-me naquela cama macia e
apaguei.
Não sabia se estava sonhando, mas senti o cheiro de Theodore
inundar o espaço e ele me abraçar. Se fosse só um sonho, não queria
acordar tão cedo, me sentia bem naquele casulo com ele.

Não era sonho, realmente ele deitou comigo, não sei que horas, mas
ficou até a hora de pousarmos. Quando saímos do quarto para o pouso, o
avião estava silencioso, acredito que o voo, por mais confortável que fosse,
ainda tenha deixado todos cansados.
Logo que desembarcamos, tinha alguns Rolls-Royce a postos, nos
esperando, o que não me surpreendeu. Depois questionaria se ele era sócio
da marca, para só usar carros deles, apesar de que na sua garagem haviam
outras marcas, pelo que eu observei rapidamente quando estive lá.
Fui em um com Karen, Theo e Gerald dirigindo. Seguimos o
caminho em silêncio, observando a paisagem, e fiquei feliz porque sempre
quis conhecer Paris.
— Já tinha vindo à França antes? — Karen me perguntou.
— Não, na verdade era um sonho. Posso riscar da minha listinha
agora, mesmo que tenha vindo a trabalho.
— Listinha de sonhos? — Karen sempre arrumava algo para
implicar, e nem havia percebido que falei sobre minha lista, acho que todo
mundo tem uma.
— Isso, tipo o que eu quero fazer antes de morrer. Todo mundo tem
uma, não? — Tentei normalizar.
— Eu não tenho. — Theo se intrometeu.
— Você é chato, Theodore. Eu tenho algumas coisinhas que quero
fazer também.
— Você não tem uma listinha porque trabalha demais, não tem
tempo pra mais nada, e outro ponto, tem dinheiro suficiente pra fazer o que
quiser, na hora que bem entender. — falei para ele.
— Faz sentido. Nunca pensei nisso, sempre que quis algo, eu
simplesmente tive. — Ele era arrogante sem fazer esforço, percebi que ele
nem notava o quanto isso soava prepotente.
Percebi que Karen revirou os olhos para ele.
— Maravilha, Senhor Bilionário. Esquece ele, Soph. Me diz o que
você gostaria de conhecer, de repente a gente consegue fugir um pouquinho.
— Me sinto até besta, porque são alguns lugares simples como a
Galerie Vivienne, Parc des Buttes-Chaumont, La Promenade Plantée, entre
outros, e claro que os clássicos também a Torre, o Louvre, enfim. — Fiquei
um pouco sem graça, pela cara que a Karen me olhou, alternando entre me
olhar e mexer no celular.
— Nossa, alguns eu não conhecia, as imagens são lindas, podemos
tentar ir em alguns com certeza. — ela terminou de falar, assim que
chegamos no hotel.
— Obrigada por isso, Karen, significa muito para mim.
Ter alguém que se importa com seus sonhos, por mais simples que
sejam, é algo muito importante para mim. Até hoje, só tive as meninas que
faziam de tudo por mim, assim como também fazia por elas.
Saímos do carro e Theo colocou seu terno sobre meus ombros, acho
que ele não quer ninguém olhando para minhas roupas, ou a falta delas, no
caso.
Na recepção, pegamos o cartão e fomos para o elevador, pelo que
entendi, era um dos hotéis que meu noivo de mentirinha sempre ficava,
então ele já tinha os seus contatos lá. Estava tão cansada que, quando
entramos no elevador, só me encostei nele e fechei os olhos.
Quando entramos na suíte luxuosa, percebi que era somente uma,
não era separado como na Carolina do Norte, mas acho que à essa altura já
estamos confortáveis em dividir a mesma cama.
— Sophia, vamos tomar um café e depois descansar um pouco,
porque ainda precisamos ir à empresa hoje.
É impressionante como para ele era tudo normal, dividir a mesma
cama era algo simples, tanto que ele nem fez questão de comentar nada.
— Claro, na minha cabeça ainda estou programada para dormir, mas
a mesa com café está bonita, acho que me deu fome sentir o cheiro.
A mesa realmente estava bela, havia pães, waffles, croissants, frios,
frutas, café, leite, suco, fatias de bolo e alguns docinhos.
Comi waffles com frutas e mascarpone e um suco, se tomasse café
agora não dormiria. Aproveitei também os doces, parecia criança quando o
assunto era doce, simplesmente amava.
Estava na minha última travessura adocicada, uma fatia suculenta de
bolo de chocolate e para o meu deleite tinha uma calda de chocolate, para
colocar por cima. Só que acabei exagerando no chocolate, quando fui levar
à boca acabei fazendo o que eu faço de melhor: trapalhadas!
— Droga! — falei percebendo que havia me sujado e também a
camisa do Theo!
— Precisando de ajuda aí, Senhorita Chocolate?
Tentei limpar a camisa, mas percebi que só estava piorando a
situação. Céus, como posso fazer essas coisas assim?
— Me desculpe pela camisa, vou ver se aqui no hotel eles limpam.
— Devia custar uma pequena fortuna aquele pano que eu estava vestida.
— Não tem problema, acho que se você tirar pode ser melhor para
tentar limpar o excesso de chocolate. — ele falou sério, fazia sentido.
Levantei-me e tirei a blusa, me esquecendo que por baixo eu só
estava com um short.
Merda, esse filho da mãe me enganou!
— Bem melhor agora!
— Theodore, você é péssimo, sabia? — estava pronta para vestir a
blusa de volta, quando ele parou na minha frente, segurou minha cabeça,
me fazendo olhar naqueles olhos, que sempre me levavam à perdição.
Achei que ele me beijaria, mas ele lambeu o canto da minha boca.
— Chocolate na sua pele tem um sabor melhor do que eu poderia
imaginar. — Ele me beijou e pude sentir o gosto adocicado. Parecia querer
sentir tudo de mim pela minha boca, foi aumentando a intensidade enquanto
aprofundava o beijo e dava mordidas nos meus lábios.
Diminuímos o ritmo até parar e finalmente ele me olhar. Eu
enxerguei naquele mar azul o mais puro desejo.
Theo me fazia sentir a mulher mais bonita e desejada do mundo, eu
não precisava fazer nenhum esforço. Não me sentia vulgar ou que estava o
instigando a isso, ele simplesmente me olhava e eu me sentia assim, mesmo
quando não era um olhar sexual, era diferente de tudo que eu já vivi.
— Eu tive uma ideia pra terminar o café. — Ele pegou na mesa o
chocolate e derramou um pouco em cima do meu peito, senti escorrer até
quase o bico que já estava intumescido. Quando sua língua me tocou, minha
pele se arrepiou inteira, ele subiu lambendo o caminho que ele fez. Nesse
momento minha vontade era que fizesse isso no meu corpo inteiro.
Porra, ele estava me viciando na sua boca e em todas as sensações
que ela me trazia.
— Eu acho que gostei muito da sua ideia.
Ele me olhou, me pegando pela mão e levando para o quarto com o
chocolate a tira colo, acredito que não vamos dormir nos próximos minutos.
Capítulo 24

Sophia Clarck

Se em algum momento eu me
apaixonar, sei que será por você
É você, é sempre você
Conheci muitas pessoas, mas
ninguém é como você
Então, por favor, não quebre meu coração
Não me destrua
Eu sei como isso começa, confie em mim,
já me machuquei antes
Não me quebre de novo, sou delicado
It’s You - Ali Gatie
Acordei um pouco desnorteada com o despertador de Theodore
tocando. Fizemos uma verdadeira bagunça, eu nunca mais vou conseguir
comer chocolate sem pensar em tudo que esse homem fez comigo há
algumas horas.
Por Deus, tinha que ser justamente no sabor da minha sobremesa
favorita? É carma, só pode ser, para que eu me lembre dele para o resto da
minha vida, maldito!
Ele desligou o barulho e me olhou como se estivesse lembrando da
mesma coisa que eu.
— Minha boca ainda tem gosto de chocolate. — sussurrou no meu
ouvido, finalizando com uma mordida e se levantou. — O que você está
fazendo comigo? — ele falou mais baixo, porém consegui entender.
— O que você disse? — instiguei, porque eu também tinha o mesmo
questionamento na minha cabeça, ele estava estragando o sexo para mim, ia
ser tão difícil encontrar alguém como ele.
— Que as suas roupas estão no closet, pode ficar à vontade, no
banheiro tem itens de higiene. — ele disse e sumiu rapidamente no
banheiro.
Esse filho da mãe não vai me escapar.
Levantei e fui escolher alguma coisa para vestir, tinha muita coisa
ali. Esse homem é completamente louco. Não tenho ideia de como vou
levar tudo isso para Nova Iorque e menos ainda de onde vou guardar.
Vou viver um problema de cada vez. Esse seria para a Sophia do
futuro, nem sei ainda quando iremos voltar.
Separei um conjunto de blazer e calça social preto, com uma blusa
branca por baixo. Estava um clima fresco em Paris nessa época do ano.
Fiquei impressionada como ele soube passar minhas medidas certas,
tudo ali parecia ter o meu tamanho. Até os sapatos eram o meu número e eu
agradeci mentalmente por isso.
Fui para o banheiro e Theodore estava saindo com a toalha enrolada
na cintura, a água escorrendo pelo seu dorso era algo que quase me fazia
babar, aquele homem era uma tentação.
Precisava ser tão gostoso assim?
Preciso me controlar!
Olhei onde ele disse que estavam os produtos de higiene e era até
um pecado falar isso, porque tinha absolutamente TUDO ali. Todo tipo de
item de higiene, de skincare, as melhores marcas, exatamente tudo pro meu
tipo de pele. Eu estava em choque, o mais completo choque.
— Sophia, o que foi? Não era o que você precisava? — Percebi ele
preocupado.
— Não, é justamente o contrário. Tem tudo que eu preciso e mais
um pouco. Como você soube pedir os produtos pro meu tipo de pele e
cabelo? — quis saber como ele pôde acertar tanto.
— Simples, pedi que a personal shopper comprasse tudo que fosse
preciso para uma pessoa que tem uma pele de pêssego e um cabelo lindo e
cheiroso.
— É sério!
— Ok, talvez tenha tido alguma ajuda, mas isso são detalhes. — ele
deu de ombros. — Não dá pra entender de tudo, não é mesmo? Melhor você
se arrumar, se não nos atrasaremos para o horário que combinamos.
— Tudo bem! Seja lá quem te ajudou, agradeça por mim, e obrigada
a você também. Por mais que tenha me trazido basicamente pelada para a
França, não precisava comprar tanta coisa. — Precisei realmente agradecer
porque ali tinha muito mais coisa do que eu usava. Sempre gostei de cuidar
de mim, mas fazia somente o básico que meu orçamento permitia.
— Já te disse que vou te dar tudo, Sophia. Não precisa se preocupar.
Vou pedir algo para comermos enquanto você se arruma. — disse e saiu.
Corri para me arrumar e não nos atrasarmos, sabia que ele detestava
atrasos.
Me aproximei de Theodore, que tinha uma cara não muito amigável.
Olhei no relógio e eu estava em tempo, então não era comigo.
— O que houve? — perguntei me sentando à mesa, que estava com
alguns lanches e saladas. Pelo horário seria para almoçarmos, mas o jet lag
estava me deixando meio confusa ainda.
— Olhe o que vamos ter que enfrentar. — Ele virou o telefone em
minha direção mostrando uma matéria com título sensacionalista sobre nós
dois e o vazamento de dados, como se uma coisa pudesse estar relacionada
com a outra. — Como se tudo que nós já estivéssemos fazendo fosse pouco,
mas vou descobrir quem inventou isso e acabar com a pessoa.
— Ok, nós sabíamos que nosso relacionamento entraria em pauta
em algum momento. Nós só precisamos pensar com calma, tentar fazer a
imprensa jogar do nosso lado.
Percebi que ele estava tomado pelo ódio. Se quem escreveu a
matéria aparecesse na sua frente, com certeza ele mataria. Esse era um lado
dele que eu não fazia questão de presenciar.
— Por isso que eu prefiro máquinas a pessoas.

Chegamos na empresa, me juntei a Tyler e Zachary para


encontrarmos a melhor estratégia para o nosso lançamento.
Passamos quase a tarde toda definindo como usaríamos as
especulações do novo produto, que é muito aguardado, para abafar o caso.
Porém Lauren não concordou e veio se meter. Me perguntava se ela
realmente estava trabalhando em prol da empresa.
— Está bem, Lauren. A sua sugestão é que façamos o quê então?
Porque até o momento eu só estou vendo você criticar e não dar nenhuma
solução. — Ela queria me irritar, isso era muito óbvio.
— Oh, me desculpe — fez a melhor cara de inocência, mas que não
me convencia em nada —, eu quero ajudar, porém acredito que temos que
fazer algo imediatamente.
— Sabemos que quer ajudar, mas agora precisamos de soluções,
Lauren. — Zachary falou, percebi que ele também estava incomodado.
Theodore entrou na sala nesse momento junto com Emma, a gerente
do time de Lauren, das poucas vezes que a vi falando, gostei dela. Era
absolutamente melhor que a chefe.
Definimos por fim todo o trabalho que seria feito ali, e os próximos
passos que daremos. Seriam dias cheios, mas conseguiríamos em pouco
tempo arrumar a bagunça.
— Obrigado, pessoal, pelo engajamento em resolver as coisas, sei
que vir para outro país e ainda ter que trabalhar no fim de semana é ruim,
mas foi necessário e no final seremos recompensados.
Gostaria de saber qual seria a recompensa. Ele não havia comentado
nada, então não sabia se seria algo como um tapinha nas costas e aquela
frase clichê “não fez mais do que sua obrigação”. Como isso não fazia
muito o estilo dele, pensei em questionar Tyler depois.
Eu ia saindo da sala junto com os demais quando ele me chamou.
— Sophia, fique mais um pouco, por favor.
Voltei e me sentei à sua frente. — Oi!
— Conversei com Emma e ajustamos a melhor estratégia para
aplacar as matérias sensacionalistas sobre o nosso noivado. Preferi que ela
estivesse envolvida ao invés da Lauren.
— Tudo bem, acho melhor que seja ela mesmo, porque é uma
situação chata essa com a sua ex. O que precisaremos fazer?
— Vamos seguir a ideia que você havia dado. Ela achou excelente.
Iremos usar alguns contatos que temos para vender as matérias do nosso
jeito, tirar fotos nossas, pra mostrar o quanto estamos apaixonados, fazer o
público comprar a nossa história.
— Perfeito, vou postar mais coisas aleatórias do nosso dia a dia.
Sempre fui ativa nas redes sociais por conta do meu trabalho, então vai
fazer sentido.
— Ótimo, podemos jantar e na quarta temos um evento beneficente.
Eu tinha recusado o convite, mas como estamos aqui, Emma achou que
seria uma boa jogada aparecermos juntos. — Nesse momento eu congelo
porque penso que não tenho roupa, não tinha vestido de festa no closet. —
Fique tranquila, se essa sua cara assustada for pela roupa. Karen disse que
vocês tinham que comprar o vestido do noivado, aí você aproveita e compra
os dois. Não se preocupe com valor, já está com o cartão de crédito? — eu
ainda me surpreendia com ele simplificando tudo.
— Percebi o quanto eu sou transparente para você, né? A Dorothy
me entregou, sim.
— Maravilha. Pode ir para o hotel descansar. Gerald irá te levar
agora, o restante da equipe já deve ter saído.
— Você vai ficar? Precisa de ajuda com algo? — Tentei ser solícita
pois sei que ele estava no limite com tudo isso.
— Vou sim. Eu e Karen ainda temos algumas coisas para resolver.
No momento não, pode descansar.
Deixei-o lá e voltei para o hotel com Gerald. Pedi algo para comer e
depois de tomar banho usei todos os produtos que tinha disponíveis para
fazer skincare. Hidratei meu corpo, cabelo, e acho que nunca passei tanta
coisa cara de uma única vez no dia, por fim me deitei para ler um pouco.
Acordei desnorteada com meu telefone despertando e percebi que
Theo não havia voltado.
Será que ele passou a noite toda trabalhando?
O homem parecia uma máquina. Por Deus, era possível isso?
Quando olhei as mensagens no meu telefone, Karen havia mandado
uma foto dele emburrado, falando que estava com sono e cansada de olhar
para a cara dele. Bem típico dela fazer isso.
Me arrumei e achei melhor descer para tomar café no restaurante do
hotel.
Por um momento pensei em desistir ao ver que tinha lugar na mesa
do Tyler, mas a benção da Lauren estava junto. Tive que fazer a fina e me
sentar com eles.
— Bom dia! — falei e me sentei para comer.
— Theo não irá tomar café conosco? — ela não esperou nem que eu
comesse para começar a me perturbar. Ótimo!
— Não, ele está na empresa. — fui sucinta.
— Entendi. Nossa! Ele passou a noite lá! — ela pareceu perceber
isso, como se tivesse descoberto a lâmpada. — E como não estou vendo
Karen por aqui, ela deve ter ficado com ele.
Eu só acenei, não querendo dar assunto às loucuras dela.
— Bem típico dele se matar de trabalhar. Como já te disse, se
acostume a dormir sozinha. Ele passa mais tempo com Karen, do que com
qualquer outra pessoa. Cuidado, qualquer dia ... — não deixei que ela
terminasse de falar.
— Lauren, não fale o que você não sabe. Eles estavam trabalhando
para controlar um problema. Estão fazendo muito mais do que você. E
quanto a ele e Karen, confio plenamente nos dois, então só pare de ser
amarga. E seu noivo está bem? Imagino que seja da vida dele que você
tenha que cuidar.
Ela me olhava atônita. Não acreditou que eu a responderia dessa
forma, mas já estava ficando irritada com a sua petulância.
— Com licença, já vou indo. — Me levantei e fui em direção à
saída, onde Gerald já me aguardava.
— Bom dia, Gerald!
— Bom dia, Sophia! — Tivemos um avanço, consegui que ele me
chamasse pelo nome, pelo menos isso me tirou um sorriso.
— Podemos passar em alguma cafeteria?
— Claro, tem uma no caminho, paro lá para você.
— Obrigada. — Respiro fundo e tento esquecer aquela filha da mãe.
Nem consegui tomar meu café. Queria tanto um bolo de chocolate.
Droga, Theo! O que você fez comigo?!
Capítulo 25

Theodore Rockefeller

Eu fico tão perdido nos seus olhos


Você acreditaria nisso?
Você não precisa dizer que me ama
Você não precisa dizer nada
Você não precisa dizer que é minha
Amor
Eu andaria no fogo por você
Apenas me deixe te adorar
Adore You - Harry Styles
Não acredito que finalmente achamos quem efetuou o ataque. Eu e
Karen concluímos que isso foi só uma peça de um quebra-cabeça maior.
Quem fez isso era inteligente e provavelmente imaginava que nós
chegaríamos em quem plantou, talvez não tão rápido, mas quando se tratava
de Karen e eu era quase impossível que não achássemos algo. Nesse
aspecto éramos uma dupla imbatível. Papai falava quando éramos mais
novos, que se ele não cuidasse de nós, poderíamos virar dois criminosos.
Sempre ria ao me lembrar disso.
— Me conta a piada também. Tô com muito sono, preciso rir para
acordar.
— Lembrei de quando papai falava que se ele não ficasse de olho
em nós dois, poderíamos virar dois gênios do crime.
— O Rockefeller velho sempre manteve os dois olhos em cima da
gente e, mesmo assim, olha onde estamos — apontou para o computador
que estava rodando as informações sigilosas que precisávamos —, ele
mesmo nos trouxe pro submundo.
Karen riu, porque realmente nós não viramos gênios do crime, mas
acabamos nos envolvendo com todo tipo de gente.
— Você sabe que o tipo de serviço que ele se referia não fazemos
por aí pra quem paga mais. Geralmente usamos nós mesmos ou em
situações muito específicas. E se ele ficar sabendo que o chamou de velho,
vai querer te matar.
Tínhamos softwares e ferramentas à nossa disposição que nos
permitiam encontrar pessoas e obter informações de toda a vida de alguém.
Era algo só nosso pois sabíamos que se caísse em mãos erradas poderia ser
uma tragédia. Mas nós desenvolvemos tudo de modo que se não
conhecessem nossa linguagem de programação não saberiam acessar. Para
hackear era necessário passar por uma criptografia única que criamos
exclusivamente para esse projeto.
Uma das especialidades da nossa empresa era a criação de
criptografia. Desenvolvemos inclusive as do governo americano. Nesses
casos era necessário criar uma do zero, para que sempre tivessem essências
diferentes. Era uma política nossa.
No TI as pessoas sempre tinham a sua “assinatura” na programação,
que era algo como o DNA de quem fez, que nos permitia descobrir sempre
quem estava por trás. Karen e eu aprendemos a mascarar a nossa quando
passamos a ter que criar coisas que deveriam ser ultrassecretas. Nada nosso
nunca era igual.
Dava trabalho, mas era algo que sempre fazíamos de forma
minuciosa. O meu trabalho era algo que eu levava muito a sério, sempre
fazia o meu melhor e queria que as coisas saíssem perfeitas.
— Nunca ouse abrir sua boca para falar isso pra ele. Eu nego até
minha morte, você gravou por acaso? — Ela olhou no fundo dos meus
olhos, considerando a possibilidade — Tenho certeza de que não, então
você perdeu, futuro velho Rockefeller.
— Você é insuportável. — Nesse momento Athena me avisou que
havia terminado de gerar o relatório sobre toda a vida do funcionário. —
Presta atenção aí que finalizou as informações que precisávamos.
— Theodore, ele parece ser uma pessoa muito simples. Pelas
informações que estão aqui eu não diria que ele fez isso sozinho, nunca. Só
precisamos descobrir a motivação dele.
— Verdade. Apesar de ter a vida revirada, ele realmente parece
inocente. Se nós não víssemos tudo que aconteceu, poderíamos
definitivamente descartar ele desse circo que criaram. — falei enquanto
olhava toda a vida simples do rapaz — Logo teremos ele em uma sala e
vamos esclarecer tudo.
— Quem fez isso escolheu bem quem usar. Porque se não
tivéssemos os backups locais, inclusive parabéns por nunca ter contado para
ninguém sobre isso, nós nunca desconfiaríamos dele.
— Vamos manter em segredo a nossa descoberta por enquanto. Não
temos noção de quem pode ter ajudado ou se tem mais algum funcionário
envolvido. Se você já puder, comece a desconstruir esse programa para
achar quem desenvolveu essa merda. Esse foi algo pequeno, não foi usado
para causar tanto estrago, mas algo me diz que eles vão tentar algo maior.
— Sentia que quem começou isso não pararia tão cedo e que ainda tentaria
de novo.
— Eu acredito na mesma coisa. Vou começar a mexer nisso já,
quanto antes descobrirmos, melhor.
Quando Karen entrava no modo hacker era difícil pará-la. Em
algumas coisas ela me dava um banho e por isso éramos uma boa equipe.
Além disso não poderia esquecer de David, ele nos ajudava em muitas
coisas também. Para criação, aquele cabeção dele funcionava como o de
ninguém.
— Deram certo os reforços que você fez nas informações sigilosas?
— Sim, estão protegidíssimas. — Piscou pra mim e deu um sorriso.
Karen era o tipo de pessoa que você não precisava dizer o que ela
tinha que fazer, ela simplesmente estava sempre um passo à frente.
— Ok. Temos dados muito sensíveis aqui, sabe que se vazar
qualquer desses dados sigilosos, a nossa chance de sair vivo para contar a
história é mínima, né?
— Theodore, nem se vier de dentro eles conseguem passar por todas
essas camadas de proteção para pegar essas informações. Até porque para
todos os efeitos elas nem existem! — ela piscou para mim.
Nesse ponto eu confiava a minha vida, literalmente, à Karen, porque
sabia que ela era a melhor.
Cortamos o assunto, porque a empresa já estava dando sinal de vida.
Logo alguém bateu à porta, pedi que entrasse e para o meu deleite
era Sophia.
— Bom dia, querido noivo! Bom dia, querida ladra de noivo! —
Sophia entrou na sala fechando a porta atrás de si, percebi que trazia alguns
pacotes em sua mão e fui ajudá-la.
— Ei! Não roubei o noivo de ninguém! Pra falar a verdade, eu nem
queria ter passado a noite com ele, chato pra caralho! — Karen logo se
defendeu e eu nem entendi o porquê daquilo.
Antes que pudesse questionar o que havia acontecido, ela
respondeu.
— De acordo com a nossa amiga Lauren, eu preciso abrir meus
olhos, porque posso estar prestes a ficar sem noivo, ou não passar debaixo
de alguma porta. — ela disse revirando os olhos.
Ah, tinha que ter o dedo de Lauren nisso, a implicância dela estava
ultrapassando os limites já.
— Deus me livre! Nem se eu fosse hétero. Desculpe, Sophia, não sei
o que você viu nele. — ela disse fingindo vomitar — Se bem que o branco
do olho dele é bonito, né? — Fingiu me analisar. — Mas não,
definitivamente não. — não segurou mais, caindo na risada.
— Eu vou falar com ela, pode ficar tranquila, Srta. Chocolate. —
Sophia ficou vermelha na mesma hora.
— Obrigada, não quero ir parar na sala do meu chefe, por acabar
ofendendo algum funcionário. Trouxe café para vocês. — ela falou
desembalando as coisas e colocando na mesa.
Karen pulou da cadeira na mesma hora e agarrou Sophia em um
abraço.
— Obrigada! Obrigada! Já te falei que você é a melhor pessoa do
mundo? Com você eu caso! É sim, definitivamente, sim!
Sophia caiu na gargalhada, e era tão sincera que acabei rindo
também. Nem parecia que há alguns minutos atrás eu estava intragável pela
falta de sono.
— Ok, Karen, pode largar já, ela é MINHA noiva! Esquece que você
não vai se casar com ela. — falei e puxei Sophia para mim. — Obrigado
por isso. — disse e dei um beijo no seu cabelo.
Inspirar aquele cheiro de lírios dela me trazia uma paz sem igual. Eu
fiz questão de pedir que comprassem o mesmo shampoo que ela usava pois
adorava o perfume de lírios. Mesmo sem produto nenhum no corpo ela
exalava um cheiro só dela. Era como uma flor que me embebedava com o
seu perfume. O meu pequeno lírio.
— Nossa, até bolo de chocolate você trouxe, Sophia. — Karen falou
enquanto abria as embalagens que ela trouxe.
— A Srta. Chocolate, trouxe bolo de chocolate, que novidade, não?
— falei e ela corou, aquelas bochechas vermelhas eram a minha perdição.
— Agora você é a Srta. Chocolate? O que eu perdi?
— É melhor você nem saber. — Karen levantou as mãos em
rendição. — Espero que gostem, Gerald me ajudou a escolher algumas
coisas. É óbvio que não faltaria o bolo. — Ela finalizou e piscou para mim.
— Soph, depois que eu dormir um pouco podemos sair para
comprar os vestidos. Conheço o lugar ideal para te levar. — Karen estava
saltitando, ela adorava fazer compras.
— Tá bem, me avise só onde te encontrar, mas descanse, porque
isso é o mais importante. Como vocês estão?
— Eu estou morta, precisando daquela caminha de hotel, mas ainda
tenho algo a terminar antes de poder descansar.
Ela ainda estava nos meus braços, então levantou a cabeça para me
olhar, aguardando uma resposta.
— Eu estou bem. Não é a primeira vez que faço isso, com o tempo
você se acostuma. — Quando ela baixou o olhar, eu cheguei perto da sua
orelha e falei baixinho. — Mas poderia estar melhor se estivesse com as
suas pernas nas minhas orelhas.
— Porra, Theo! Aqui não é lugar. Ainda mais sabendo que você
habita os meus sonhos.
Quando eu ia responder, Lauren entrou na sala. Ela tinha o péssimo
hábito de não bater na porta.
— Bom dia, Theo! Soube que ficou aqui a noite toda. Aconteceu
alguma coisa? Descobriram quem foi? — Ela parecia um pouco afoita.
— Bom dia! Sim, ficamos. Ainda não temos informação para passar.
— Entendi. É, eu perguntei para saber se teríamos que montar
alguma coletiva, sabe como é. — ela falou tentando se justificar.
Eu só acenei para ela.
— Precisa de alguma coisa? Café? Ou... — parou de falar, quando
Karen fingiu coçar a garganta e ela finalmente olhou para a minha amiga.
— Ah, vocês já têm café, então eu vou indo. Se precisar de alguma coisa,
ou decidir algo, me avise.
Ela saiu rapidamente da sala, parecia até que um bicho a tinha
mordido.
— Eu vou indo também, porque o meu trabalho não se faz sozinho.
— Sophia me soltou e saiu rápido, a safada sabia que o que ela fez não era
certo.
Mandei uma mensagem falando isso com ela e que mais tarde eu
iria realizar todos os seus sonhos. A filha da mãe só me mandou uma
figurinha com cara de safada.
Avisaram a Karen que o funcionário com quem queríamos falar
havia chegado. Nós mudamos a sua agenda de trabalho, para que fosse para
uma sala separada sem desconfiar.
Como não sabíamos em quem confiar, estávamos monitorando as
câmeras, assim por onde passávamos as imagens das câmaras eram
apagadas para que não soubessem que conversamos com o Sr. Hugo.
Quando entramos no local que ele estava limpando, fechamos a
porta, o homem ficou completamente pálido.
— Pelo amor de Deus, senhor Rockefeller, eu não fiz nada!
— Hugo, já sabemos exatamente o que você fez, agora só queremos
entender o por quê você fez. Pode ser simples, ou podemos te entregar para
a polícia. — Não faríamos isso, mas ele não precisava saber.
— Ah, meu Deus! Por favor a polícia não! Eu não posso ser preso,
tenho uma família que depende de mim. — O homem era apegado a Deus
mesmo.
— Então vamos fazer assim, sente-se aqui e explica pra gente
exatamente o que aconteceu, do começo. Quem foi que falou com você? —
Karen falou de maneira calma, ela queria agora tranquilizá-lo para que ele
falasse tudo que precisávamos saber.
— Ok — ele disse se sentando —, mas como você sabe que eu não
agi sozinho?
— Tem coisas que a gente simplesmente sabe, Hugo. Agora confie
na gente e conte o que aconteceu.
Ele respirou fundo.
— Tudo bem, realmente não fui eu. Não tenho nem ideia do que foi
feito. Só segui orientações, e só fiz isso porque ameaçaram minha família.
Olhei para Karen, para ver se ela acreditava. Ele percebeu que ainda
estávamos definindo se aquilo era verdade ou não.
— É verdade, posso provar. Eu tenho algumas mensagens ainda, e
tirei foto de tudo que me enviaram, porque sabia que se desse algum
problema eu teria que me defender.
Então ele nos mostrou o que tinha no celular, todas as fotos e
mensagens, Karen tentou rastrear quem mandou, mas era um celular
descartável. O homem realmente foi ameaçado.
Ficou mais calmo quando percebeu que nós não iríamos denunciá-
lo, então contou em detalhes como tudo aconteceu e nós fomos anotando
para tentar chegar à alguma conclusão.
Prometi que ele e a família estariam seguros e passei um contato que
ele deveria usar caso falassem com ele novamente.
— O mais importante, Hugo, é que ninguém saiba o que aconteceu
aqui, ou que chegamos até você, ok?
— Sim, senhor. Fica tudo entre nós.
O homem estava aliviado, era visível no seu semblante. Mas sei que
se tivesse uma ameaça diretamente à minha família, eu também teria agido
assim.
Saí com Karen da sala e voltamos para onde estávamos.
— Vamos usar as informações que temos com o que descobrimos
agora. Quando você quebrar o código do programa que nos invadiu,
acredito que encontraremos o suicida que resolveu mexer com a minha
empresa.
Ela confirmou. Karen estava caindo de sono.
— Só mais um detalhe, quando for com Sophia hoje comprar o
vestido, não deixe que ela tenha dó de escolher o melhor por causa do
preço, gaste o que for necessário. Quero que ela se sinta perfeita e sem se
preocupar com nada.
— Meu amigo, você está falando comigo para não olhar preço?
Você deu asas à cobra, Theodore. — Ela abriu um sorriso igual ao do Gato
de Cheshire.
— Sim, confio em você. E você sabe que dinheiro não é problema
para mim.
— Oh, se eu sei disso. Vejo seu faturamento, querido! E vi também
o que comprou para ela usar aqui. Mas pode confiar que ela vai ter só o
melhor! — Perfeito, eu sabia que poderia confiar nela. Ela era a louca das
compras, gastava sem dó, ainda bem que era muito rica para comportar os
seus gostos caros.
Confirmei o que precisava com Karen e a liberei para ir embora
descansar. Era perto do horário do almoço, nossa conversa demorou um
pouco mais do que o previsto, e eu ainda tinha muito trabalho a fazer.
Inclusive acalmar alguns clientes, que ficaram extremamente
apavorados devido às matérias que saíram nos jornais. Mas depois de
algumas conversas, deixei tudo esclarecido e calmo com eles.
Entre uma chamada e outra, bateram na porta e, para minha
surpresa, Sophia apareceu trazendo o almoço para nós dois.
— Ei, desse jeito você vai me acostumar mal, Chocolate. — disse e
dei um beijo nela.
— Eu sabia que se não trouxesse aqui você não pararia para
almoçar, Dorothy me ligou pedindo que não te deixasse passar fome. Não
poderia recusar um pedido dela. — disse e deu de ombros.
— Claro, tudo por Dorothy!
— Você precisa se lembrar de parar um pouquinho, às vezes. A vida
não se resume só ao trabalho.
— Eu sei, a minha ultimamente está dividida entre trabalho, família
e Chocolate. — disse e mordi aquela boquinha rosada.
Essa mulher estava acabando com a minha sanidade.
E eu estava deixando?
Capítulo 26

Sophia Clarck

Seu coração bate forte, mas ela


não quer que isso pare
Se movendo rápido demais, a
Lua iluminando sua pele
Ela está se apaixonando, nem
sabe disso ainda
Não ter arrependimentos é
tudo o que ela quer
Night Changes - One Direction
Durante nosso almoço aproveitei para tirar algumas fotos de coisas
“simples” da nossa rotina, para que soasse como: eles são fofos almoçando
juntos. Faria com que as pessoas se cativassem pelas coisas mais básicas.
Percebi no decorrer do dia que o resultado estava sendo positivo.
Várias páginas de fofoca estavam comentando e era essa a intenção. Queria
contar a Theodore, mas como ele havia ido para o hotel há pouco tempo,
deixei que finalmente descansasse.
Quase no fim do dia, Karen me mandou mensagem, avisando que
estava chegando para me buscar. Avisei a Tyler que iria embora. Como
nosso trabalho estava em ordem, dentro do cronograma, sair uma hora mais
cedo não atrapalharia.
Cheguei na portaria e ela estava encostada do lado de fora do carro.
— Te fiz esperar muito?
— Não, chegamos há poucos minutos — Percebi Gerald atrás do
volante —, saí do carro para ver as francesas passando aqui na frente. Sabe
como é, eu encostada em um Rolls-Royce chamo muita atenção.
Realmente ela era perfeita e com certeza se destacava por onde
passava, encostada em um carro daqueles, estava atraindo tanto atenção
feminina quanto masculina.
— Acho que acabei com a sua graça então. Se soubesse teria
demorado um pouco mais.
— Nada disso! Vamos logo, estou ansiosa para gastar dinheiro. —
Karen era uma pessoa totalmente leve e divertida, me lembrava muito
Mary. Tenho certeza de que elas se darão bem quando se conhecerem.
— Já sabe onde nós iremos?
Karen me olhou igual a uma criança sapeca.
— Siiiiim!!! — E foi pulando abrir a porta do carro.
— Percebi que você gosta muito de ir às compras. — disse rindo
enquanto entrava no carro. — Olá, Gerald! — ele acenou para mim e
percebi um meio sorriso dele pela cena da Karen.
— Muito! Você sabe o quanto é triste ter dois melhores amigos
homens? — Ela cruzou os braços igual uma criança mimada. — David
ainda sai comigo às vezes, mas Theodore não é fã de compras. Ele detesta,
para falar a verdade. Agora eu vou arrastar você sempre que precisar fazer
compras.
— Imagino que sair com eles não deva ser muito divertido para esse
tipo de programa. Agora eu vou ficar muito feliz em te acompanhar.
Quando voltarmos à Nova Iorque vou te apresentar minhas amigas, tenho
certeza de que poderemos sair juntas.
— Fico tão feliz por isso. — Percebi que ela murchou um pouco —
Os meninos são a minha vida, mas às vezes sinto falta dessa companhia
feminina. De vez em quando Susan vai comigo também, ela adora fazer
compras, inclusive vamos tirar uma foto que eu vou mandar para ela.
Tiramos algumas fotos no carro, ela enviou a Susan e eu aproveitei
para postar e marcá-la. Mesmo que minha amizade com ela fosse sincera,
usaria isso também para mostrar nas redes sociais que eu me dava bem com
os amigos de Theodore, já que todos sabiam que Lauren não se dava bem
com eles.
— Agora você sabe que terá a nossa companhia, pelo menos para
não se sentir só, porque temos noção de que nosso bolso não tem pique para
te acompanhar. — falei rindo.
Ela me olhou também rindo.
— Sabe que você vai continuar nessa vida, né? Theodore abriu a
caixa de Pandora para você.
— Do que você está falando?
— O noivado de vocês vai ser divulgado oficialmente no fim de
semana. Você vai começar a receber várias ofertas e “presentes” de marcas
famosas, apenas por isso. Você já é uma pessoa ativa nas redes, está
ganhando seguidores todos os dias. Sim, eu estou acompanhando todos
vocês online. Então vai ser algo natural, ou quase isso.
— Stalker, que chama? — brinquei com ela. — Mas depois de um
tempo, quando nós terminarmos eu não vou ser mais interessante.
— Não sou stalker, talvez um pouquinho. No caso é um programa
que acompanha as atividades. Pra ver ameaças, essas coisas. Faço isso com
a minha família, os meninos e agora você. Só pessoas importantes.
Karen me tocava do mesmo jeito que as minhas amigas e Sarah. Era
como se nos conhecêssemos há tempos, era sentimento de irmandade.
— Obrigada por isso. Não consigo entender como a Lauren não se
dá bem com você. Aliás, acho que consigo sim, porque ela é insuportável.
— Aí você acertou exatamente o ponto.
— Ela é implicante demais! Me tirou para Cristo. Tem prazer em me
alfinetar sempre que me vê. O pior é que não posso fazer muito, nosso
relacionamento é só um contrato. É safado, promíscuo e indecente? Sim!
Mas que ao mesmo tempo sei que tem hora para acabar. Não quero arruinar
as chances deles voltarem.
— Soph, de verdade, você acredita mesmo que eles vão voltar?
Parei para pensar no que achava, se era possível mesmo eles não
voltarem. E não sabia a que conclusão chegar. Theodore já não parecia tão
envolvido assim e os nossos momentos juntos eram muito bons, mas era só
sexo, então não poderia me iludir e abrir o meu coração achando que
teríamos um futuro. Tenho certeza de que sairia mais quebrada do que
quando entrei nesse contrato se fizesse isso.
Ele estava com o ego ferido por ela, não poderia esquecer isso
também.
Não consegui responder, porque chegamos na Avenue Montaigne e,
por Deus, aquele lugar era o centro de marcas de luxo. Não sei nem se
poderia respirar por ali sem pagar.
Os olhos de Karen brilharam.
Ela me arrastou do carro para diversas lojas. Ela só me olhava e
falava para não me preocupar com o preço pois Theodore mandou gastar.
Toda vez que tentava ver uma etiqueta, ou no mínimo perguntar o preço ela
falava que era irrelevante.
Mas quando eu chegava para passar o cartão tinha belíssimos sustos.
Quando experimentei um Valentino vermelho, que seria para o
evento beneficente que iríamos, eu simplesmente me apaixonei. Ele tinha
um decote em v profundo, que acomodou meus seios perfeitamente, era
longo e com a saia solta, ficou perfeito no meu corpo. Me senti à vontade
nele. Só quase morri pensando em pagar, custava alguns milhares de euros,
era o mais lindo que havia vestido.
— Karen, é caro demais! Posso ver outro, tinha um preto ali... — ela
não deixou que eu terminasse de falar.
— Nada disso! Você ficou simplesmente maravilhosa! Tem que ser
esse, tenho certeza de que o Theo vai concordar quando te ver pronta. E
outra coisa, ele mandou gastar tudo e mais um pouco com você, que era pra
você comprar tudo e se sentir linda como você é.
Realmente me senti linda naquela roupa, mesmo sendo um decote
muito revelador, não parecia vulgar ou que queria chamar atenção, era na
medida certa.
— Ok, tudo bem então. Levamos ele. — dizendo isso eu fiz uma
menina ficar saltitante na loja. Ela ficou feliz em comprar mesmo que não
fosse para ela.
Compramos na Dior o vestido para o noivado. Ele era bege, tomara
que caia, tinha um corpete acentuado e uma saia solta, ficou perfeito, tinha
cara de noiva.
Depois compramos sapatos, alguns acessórios e mais alguns
vestidos que ela fez questão que eu já tivesse. Eu achava tudo aquilo muito,
era um exagero aos meus olhos. Para mim que sempre comprei roupa em
bazar ou lojas de departamento era tudo muito obsceno. Imaginava que o
guarda-roupa de Karen poderia alimentar um pequeno país.
O que me confortava era que ela gastava na mesma proporção com
ações filantrópicas. Ela cuidava das organizações de Theodore e das dela.
Sabia que ela era muito rica também.
Merda, eu deveria ter ido para a área da tecnologia da informação.
Onde eu achei que o marketing valeria a pena?
Nós voltamos para o carro porque ela falou que ainda tínhamos mais
um lugar para ir.
— Karen, você não cansa? — perguntei rindo enquanto Gerald
dirigia.
— Jamais, Soph.
Conversamos por alguns minutos, eu estava exausta, porque meus
sapatos não eram apropriados para o tanto que ela me fez andar entre as
lojas.
Quando paramos, finalmente olhei para fora e vi a Galerie Vivienne,
e não acreditei que ela havia feito isso por mim.
Nesse momento esqueci qualquer dor que poderia estar sentindo e
caminhei na galeria. Ela tinha uma beleza única, era do século XIX, tinha
uma arquitetura elegante e uma atmosfera histórica.
Me senti totalmente admirada com aquele lugar. Mesmo que não
estivesse rodeada de lojas chiques, ali me senti à vontade conhecendo cada
pedacinho. Paramos em uma confeitaria aconchegante e tomamos um café.
Aproveitamos que estávamos do lado e conhecemos a Basílica de
Notre-Dame-des-Victoires.
Eu estava completamente encantada. Paris parecia mais bonita a
cada minuto.
Recebi uma mensagem de Theodore nos chamando para jantar. Eu
confirmei mas Karen disse que não iria porque estava cansada. Resolvemos
voltar para o hotel porque senão ficaria muito tarde para ir para algum
restaurante.
— Karen, muito obrigada por tudo hoje! Foi realmente maravilhoso!
— Imagina, eu que tenho que te agradecer por suportar meus surtos
nas lojas. Eu fiquei feliz, não conhecia esses lugares que visitamos, são
lindos. Estou mais feliz por você poder riscar mais alguns itens da sua
listinha.
A preocupação dela comigo era linda, me fazia sentir acolhida!
Chegamos ao hotel e como estava com várias bolsas subi no
elevador com Karen. Eram poucos andares e como estava tranquila não ia
entrar em surto e ela fez questão de ficar falando palhaçadas para me
distrair.
Chegamos no andar que estávamos e encontramos um Theodore
impaciente parado na porta me aguardando.
— Até que enfim as madames voltaram. Achei que precisaria
mandar a polícia atrás de vocês. — ele disse sério, eu quase acreditei que
era verdade. Até ele e Karen começarem a rir igual duas hienas.
— Eu já estava aqui pronta para nos defender, porque Karen me deu
uma tarde maravilhosa, mas esqueço que quando vocês estão juntos não
falam nada sério.
— É, talvez seja verdade. Mas que história é essa de que foi
maravilhosa?
— Theodore, eu preciso me arrumar, caso você queira que a gente
saia hoje ainda.
Ele me olhou percebendo que eu falava sério.
— Claro, vamos entrar. — ele me indicou o quarto pra entrar,
enquanto virou pra Karen — Tem certeza de que não vai?
— Absoluta. Soph me cansou. Srta. Chocolate é terrível. — Ei,
virou bagunça isso?! Mas a cara do Theo foi impagável.
— Chega, estou entrando. Tchau pra vocês. — Saí de lá e deixei no
closet as sacolas que eu estava carregando. Fiquei feliz por Karen ter me
feito comprar mais vestido, caso contrário teria que usar uma roupa social.
Tirei minhas roupas para tomar um banho, e senti meu noivo de
mentirinha me abraçar por trás.
— Então quer dizer que você é terrível, Srta. Chocolate? —
sussurrou no meu ouvido, trazendo um arrepio ao meu corpo.
— Ninguém mandou você compartilhar por aí o meu apelido, não é
mesmo?
— Sophia, eu não compartilho o que é meu! E caso não esteja claro
o suficiente, você é minha!
— Eu sei, Sr. Possessivo. Enquanto durar o contrato sou somente
sua! — Senti ele retesar — Vou me arrumar, porque senão, não sairemos
hoje.
— Claro. Você tem uma hora para que não nos atrasemos. Te
aguardo. — Percebi que ele ficou estranho.
Mas era isso que tínhamos. Não poderia me enganar achando que no
final de tudo isso eu teria um homem para me amar de verdade.
A minha vida nunca foi um conto de fadas em que o príncipe
encantado aparecia em um cavalo branco para me salvar.
Eu nem queria um cavalo mesmo, preferia uma moto.
Afastei isso da minha mente e fui me arrumar.
Coloquei um vestido preto de uma alça só que se ajustava
perfeitamente no meu corpo, indo até abaixo do joelho com uma pequena
fenda que ia até metade da minha coxa. Meus pés me pediam socorro, mas
mantive a postura e coloquei uma sandália de salto compondo o look.
Devido ao pouco tempo, fiz uma maquiagem básica e estava pronta.
Encontrei Theodore me aguardando sentado na mesa trabalhando,
sem novidades até aqui.
— Estou pronta, a hora que você quiser ir. — Ele me olhou de cima
a baixo, depois para o relógio. Eu estava exatamente no horário, corri muito
para me arrumar.
— Perfeito — ele fechou o seu notebook —, você está maravilhosa.
— ele disse me puxando para perto de si e cheirou meu pescoço antes de
dar uma mordida.
— Você deve me ver como um pedaço de chocolate mesmo, não
pode me ver que me morde. — falei rindo.
— Um pedacinho, né? Porque você é pequena.
— Então já que eu sou pequena você não pode comer, porque pode
acabar. — Me soltei dele e comecei a caminhar para a porta.
— Engano seu — ele segurou meu braço, me virando para ele e
falou com um tom de voz rouco —, eu vou comer e vai ser bem lentamente,
para não acabar tão cedo.
— Vamos comer a comida no restaurante, depois você pensa em
sobremesa, querido noivo.
Puxei ele para a porta antes que me jogasse na cama e não víssemos
nem a cor do jantar.
Conversamos durante o caminho todo. Ele me explicou que eles
contrataram um fotógrafo para tirar algumas fotos nossas “distraídos” em
alguns momentos, para que fossem plantadas algumas matérias. Então
deveríamos parecer mais apaixonados do que nunca.
Gerald parou o carro, Theodore fez questão de abrir a porta para
mim, quando saí, notei onde estávamos. Pulei em cima dele não
acreditando.
— Não acredito que me trouxe para conhecer a Torre Eiffel, à noite
ainda por cima — ele me segurava em um abraço. — Ela é tão linda
iluminada.
— Não mais que os seus olhos brilhando. — ele disse bem
baixinho.
Por favor, Theodore, não faça isso!
— Vamos jantar aqui por perto? Deve ser maravilhoso jantar
olhando a vista. — falei me soltando dele.
— Digamos que vai ser mais perto do que você imagina.
Ele foi me conduzindo para a Torre e quando chegamos na porta do
elevador entendi o que ele havia feito.
— Vamos jantar aqui? — Estava em choque porque foi em cima da
hora, e sabia que não era algo simples de conseguir sem planejamento.
— Sim, você vai ter uma experiência completa.
Imaginei visitar a Torre várias vezes, mas sempre pensei que apenas
viria aqui, sentaria no gramado e a admiraria. Não passava pela minha
cabeça que subiria e ainda iria até o topo.
Eu nunca fui tão feliz andando de elevador.
Capítulo 27

Theodore Rockefeller

Você tem o controle sobre mim


Nem sabe o tamanho do seu poder
Eu estou a centenas de metros do chão
Mas eu caio quando estou perto de você
Mercy - Shawn Mendes

Os olhos de Sophia brilhavam conforme o elevador subia, e íamos


tendo a mais bela visão de Paris. À noite, a Torre era muito bonita. Era algo
que nunca tinha me chamado atenção. Já havia perdido as contas de quantas
vezes estive aqui e nunca me interessei em conhecer. Porém era algo que eu
sabia que ela gostaria, dessa forma fiz questão de conversar com alguns
conhecidos, cobrar uns favores e consegui os ingressos hoje à tarde, e uma
reserva no melhor restaurante, que ficava no segundo andar.
— É perfeito, Theo! Obrigada por me trazer. Imagino que não deve
ter sido fácil conseguir os ingressos para subir, em cima da hora.
— Que bom que você gostou. — Abraço ela por trás e ficamos ali
pelo restante do tempo que temos. Nunca um silêncio foi tão bom. Sinto a
respiração de Sophia ficar completamente tranquila. Como ela é sempre
acelerada, está sempre correndo, é difícil vê-la assim tão plena. Como se
realmente estivesse em paz.
— Precisamos descer agora para a nossa reserva no restaurante. —
falei baixo para que ela não se assustasse ao sair da pequena bolha em que
estava.
Ela anuiu e nós descemos. Ela não tirava o olho do horizonte e eu
daria tudo para saber seus pensamentos.
Chegamos no segundo andar, a recepcionista verificou a nossa
reserva nos levando à mesa, que ficava na janela e tinha uma vista incrível
de Paris.
Começamos a conversar e pedi que me contasse como foi seu dia
com Karen. Ela ficou empolgada com os lugares que conheceu e por Karen
tê-la levado a um dos lugares da sua listinha.
Depois tentaria descobrir mais coisas dessa listinha dela. Sempre
achei isso bobeira, até Karen chamar minha atenção que nem todo mundo
nasceu com os mesmos privilégios que eu. Acho que, às vezes, preciso
pensar um pouco fora da minha bolha. Sophia teve uma vida muito mais
simples, então esses detalhes são importantes para ela.
Karen me mandou uma foto dela hoje à tarde e era possível ver no
semblante dela o quanto ela estava realizada em conhecer o que pra mim
seria uma simples galeria, mas pra ela era história.
Hoje estava enxergando um pouco mais da vida pelos olhos de
Sophia, e valorizei esse momento que pude proporcionar a ela. Vi, pelo
brilho dela nas fotos e aqui pessoalmente, que algo pequeno pra mim, pode
ser grande, que tudo é questão de importância.
Eu nunca mais veria Paris da mesma forma, agora esse lugar sempre
vai ter um gosto diferente porque vai me fazer lembrar dela.
Nós jantamos em um clima gostoso, Sophia me contou algumas
histórias dela com a irmã na infância e como elas aprontavam com os pais.
Elas pareciam ter sido crianças felizes. Tiveram que mudar muito a vida de
uma hora para outra. Inclusive conversaria com a sua irmã no final de
semana, para ver se ela não gostaria de uma bolsa na NYU. Nós temos
diversos projetos de bolsas e pelo histórico dela, ela era tão boa aluna
quanto Sophia.
— Vou postar uma das nossas fotos no topo da Torre, seguindo
nosso plano com Emma.
— Sim, coloca na legenda “Eu e o Pau de Ouro na cidade Luz!” —
brinco com ela, porque sei que ela deve se arrepender de ter me falado isso.
— Eu só não coloco porque meu perfil é profissional. Quer que te
chame assim? Imagina eu chegando na mesa de Dorothy e falando: “O Pau
de Ouro está me aguardando para uma reunião”.
— Sabe o que é pior? Que essa frase serve para muitas maneiras que
eu poderia estar te esperando, Srta. Chocolate.
— Céus, Theodore! Sossegue homem. Nunca dá para ganhar de
você quando é sobre putaria. Essa sua mente pervertida não pensa em mais
nada.
Realmente, minha mente era impura, porém piorava quando o
assunto era Sophia. Ela conseguia fazer com que eu sempre estivesse pronto
para imaginar as piores coisas. Ou seriam melhores?
Considerando eu e ela em um quarto, no meu ponto de vista, com
certeza são as melhores.
Depois de terminar o jantar, descemos para encontrar Gerald. Sophia
estava exausta e a falta de uma noite de sono também estava cobrando seu
preço para mim.
Percebi que, involuntariamente, enquanto percorríamos o caminho
para o hotel, pousei minha mão na sua coxa que estava desnuda enquanto
ela estava distraída mexendo no seu telefone.
Mesmo com o pouco tempo juntos, a nossa convivência forçada
estava fazendo com que ficássemos bem na presença um do outro. Nós
tínhamos sempre assunto e escutá-la falar era algo que nunca me cansava.
No hotel, nem precisei de esforço para subirmos o elevador, ela
estava tão cansada que só me abraçou e fechou os olhos, e se não fosse uma
subida tão rápida ela dormiria ali mesmo.
Assim que entramos no quarto ela pediu ajuda com o vestido,
arrancou ele do corpo, a sandália dos pés e se jogou na cama. Eu não fiquei
para trás. Tirei meu terno e me deitei ao seu lado. Ela veio e encostou a
cabeça no meu peito, a abracei e formamos um casulo.
— É tão gostoso deitar assim com você. Tanto tempo que não
passava uma noite dormindo com alguém, que já nem sabia como era isso.
— O nosso encaixe é muito bom mesmo. Eu nunca soube o que é
isso. Antes de namorar Lauren não costumava dormir com ninguém e, bem,
ela não mudou muito isso, ela não gostava de dormir assim. — falei
lembrando que nunca dormíamos juntos.
Minha ex-namorada tinha um problema muito sério sobre dormir
com alguém, ela falava que se debatia na cama, então preferia dormir
sozinha. Até tentei algumas vezes, mas ela arrumou um escândalo que não
valia a minha paz.

— Theo, acorda! Olha isso!! — Tinha uma Sophia muito saltitante


em cima de mim, que ainda estava esperando a alma voltar para o corpo.
Peguei o telefone da sua mão e vi os vários sites que postaram a
nossa foto. O fotógrafo pegou o momento em que Sophia pulou em mim
quando descobriu que iríamos à Torre, ela tinha um sorriso tão espontâneo e
eu, um olhar bobo, que fez a foto ficar maravilhosa.
Juntaram isso à foto que ela postou nossa e aí mudaram toda a
narrativa, nós éramos agora o casal apaixonado. Já passaram até a especular
a data do nosso casamento, fazendo menção a Lauren que se casaria dentro
de três meses.
— Juntar você, sua ideia, e da Emma foi a melhor coisa.
Conseguimos mudar totalmente a narrativa a nosso favor.
— Sim, e as fotos estão ótimas. Lógico que alguns sites falaram
abobrinha, mas foi efeito manada. Os que nós pagamos postaram as
matérias favoráveis e aí os outros foram atrás. — Ela empolgada era
engraçado, parecia uma criança que tomou café, pulando cheia de energia.
Depois de acalmá-la, nos arrumamos para aquele dia, depois de uma
excelente noite bem dormida eu era um novo homem.
Hoje à tarde levaria ela no Louvre. Consegui organizar na minha
agenda um tempo para que pudéssemos fazer algo junto. Mostraremos o
quanto estávamos apaixonados e fazendo coisas normais.

O meu dia passou de maneira normal, ainda estava empenhado em


acalmar alguns clientes e ajudar Karen a tentar descobrir quem era a pessoa
por trás do vazamento de dados.
Estava quase no nosso horário de sair para ir conhecer o museu
quando bateram na porta. Pensando que fosse Sophia mandei entrar, mas
para minha surpresa era Lauren.
— Que milagre, você me esperou responder antes de entrar igual a
um foguete.
— Nem pensei nisso. — Ela parecia desnorteada. — Você havia me
falado que não ia no evento beneficente que vai acontecer amanhã, como
assim você mudou de ideia e agora irá?
— Lauren, me desculpe, mas por que isso é relevante? — não estava
entendendo esse surto porque decidi ir ao evento.
— Porque ninguém me avisou, eu não me preparei para ir. — ela
falava enquanto andava de um lado a outro.
— Mas eu irei com Sophia, não estou entendendo o seu ponto.
— Ah — ela abriu a boca como se tivesse esquecido da minha noiva
—, a Sophia irá com você?
— Claro, ela é minha noiva, quem mais eu levaria?
— É porque esse convite era antigo, quando você recebeu e recusou
estávamos juntos. Você tinha falado que não era relevante.
— Sim, não era realmente algo que valesse eu sair de Nova Iorque
para vir, porém já estou aqui, então faz sentido que eu vá.
— Claro — percebi ela respirando fundo —, vou correr atrás de
alguma roupa para ir. Também irei.
— Tudo bem, veja com Emma como está em relação aos convites.
Ela me disse que estava escasso, quase que ela não conseguiu para mim
novamente porque eu tinha recusado.
— Não acredito! — ela falou mais alto — Emma sabia? Não me
falou nada.
— Ela me ajudou com isso, mas estou indo lá como representante
das instituições filantrópicas que tenho e não como CEO da Rockefeller.
Ela não tem que te dar satisfação de cada passo da minha vida.
Lauren ficou completamente vermelha, sei que estava na iminência
de explodir, porém ela escolheu esse caminho terminando comigo.
Ela respirou fundo e colocou um sorriso no rosto.
— Você está certo, sinto muito. Com licença. — Não esperou nem
que eu respondesse e saiu apressada da minha sala.
Mulheres são seres completamente difíceis de serem
compreendidos. Lauren parece totalmente perdida no que quer.
Finalmente chegou a hora de levar Sophia ao museu e depois para
jantar novamente. Eu estava empolgado com nossa programação, me sentia
ansioso em saber o que ela acharia da surpresa.
Me perguntava:
Em que momento eu comecei a me preocupar com uma coisa tão
simples?
Em que momento ver Sophia feliz virou o ponto alto do meu dia?
Em que momento eu passei a ansiar ver os seus olhos brilhando por
ver uma maldita torre?
Capítulo 28

Theodore Rockefeller

Você tem estado em minha mente


Me afeiçoo mais a cada dia
Me perco no tempo
Só pensando no seu rosto
One And Only - Adele

Finalmente chegou o dia do evento, amanhã iríamos embora. Estava


com tantas coisas para resolver pessoalmente, que já não suportava mais a
diferença do fuso horário e as pessoas mandando mensagens ou ligando em
horários aleatórios. Ontem, durante o jantar com Sophia, tive que atender
uma ligação que tomou um bom tempo, me deixando insatisfeito em deixá-
la sozinha para trabalhar.
Eu estava me arrumando no hotel, enquanto minha noiva e Karen
estavam no salão. Passaria por lá com Zachary para pegá-las.
Recebi uma mensagem de Karen quando já estávamos quase
chegando, ela dizia que Sophia estava um pouco nervosa por não estar
acostumada a esse tipo de evento, até com a roupa ela parecia insegura. Não
sei o que fizeram com ela, mas em algumas situações, aparentava ser uma
menina indefesa, o total oposto da sua postura no dia a dia, a mulher forte
que buscava se posicionar, que eu via lutar por um projeto social e por sua
família.
Eu ainda vou descobrir o que fizeram com você, Srta. Chocolate.
Saí do carro para recebê-las na porta do salão e quando vi Sophia
caminhando devagar em minha direção, vestida naquele vestido vermelho,
fiquei sem palavras. Ela esbanjava beleza.
— Ei, garanhão, seca a baba que está escorrendo. — Karen me tirou
do transe em que eu entrei.
— Muito engraçadinha! — Dei a mão a Sophia para ajudá-la a
entrar no carro. — Você está divina. Uma verdadeira deusa.
— Você também não está de se jogar fora. — disse, passando a mão
pela lapela do meu smoking.
Partimos em direção ao evento, Karen acompanharia Zachary.
— Só faltou o David aqui, não tem nem uma semana que não o vejo
e já estou com saudades, credo! — Karen reclamava demais do nosso
amigo, mas simplesmente não conseguia viver sem aquela peste implicante.
— Claro, ele estaria falando que você está linda e que arrasaria o
coração de metade da festa.
— Ele falou isso. Mandei no nosso grupo a foto que tirei com Soph
no salão, e ele estava se lamuriando, dizendo que viemos a Paris apenas
para festejar.
— Claro, a empresa pegando fogo e a gente só em festas. — Revirei
os olhos, porque apesar de saber exatamente o que faríamos ali, era bem
provável que ele pensasse isso mesmo. David era totalmente dramático.
Sophia ria do que falávamos, mas permanecia quieta, percebi ela
retorcendo os dedos, então segurei sua mão, para que soubesse que estava
ali por ela.
Era um grande baile beneficente, acontecia todos os anos, devido à
importância, sempre era muito badalado. Vinham muitas pessoas influentes,
como celebridades famosas e grandes empresários. A porta do evento
estava tomada por fotógrafos.
Gerald e mais alguns seguranças que estavam nos acompanhando
nos ajudaram a sair do carro e passar pela imprensa. Chegava a ficar cego
com a quantidade de flashes. Abracei Sophia e andamos até o lugar onde
estavam tirando fotos. Zachary e Karen foram primeiro e enquanto
aguardávamos a nossa vez, falei com ela para tentar fazê-la se sentir
melhor.
— Srta. Chocolate? Tudo bem? — Ela me olhou e riu, um sorriso
sincero.
— Sim, só me acostumando. Nada disso é o meu mundo. — ela
disse pertinho de mim para que ninguém escutasse.
— Fica tranquila, com o tempo você se acostuma. — Envolvi sua
cintura e a trouxe para mais perto. — Você vai ficar perto de mim a noite
inteira, assim te passo toda a tranquilidade que você precisa.
— Claro, Sr. Convencido. — ela disse rindo, e me pareceu um
pouco mais relaxada.
Passamos pelas fotos que, em alguns minutos, estariam estampadas
em todos os sites de fofoca.
Sophia estava chamando atenção por onde andava, com certeza o
vermelho naquela pele branca se destacava.
Ela era a personificação do pecado e da luxúria e não parecia se dar
conta do efeito que causava.
Por onde passávamos, eu a apresentava àqueles velhos babões, e
eles não tiravam os olhos dela.
Minha vontade era de arrancar olho por olho ali.
Estávamos em uma roda cheia de CEOs que se achavam os donos
do mundo.
Como se eu fosse muito diferente disso. Enfim, a hipocrisia.
Sophia conversava sobre diversos assuntos e me impressionei ao
perceber o quanto ela conhecia do mercado financeiro.
Ela atraía involuntariamente a atenção, fosse por admiração ou
desejo. Mas percebi um maldito que estava ao meu lado e simplesmente não
tirava os olhos dela. Ele imaginou que eu não veria, ou era tão patético a
ponto de achar que poderia fazer isso sem consequências?
Apertei seu ombro e como ele era mais baixo do que eu, me inclinei
e falei calmamente, próximo ao seu ouvido.
— Se não tirar esses olhos dela, você pode amanhecer sem.
Vi eles se arregalarem de uma forma que parecia que saltariam. Ele
deu uma tossida, pediu licença e se afastou.
— Acho que você vai precisar fazer isso com metade da festa, meu
amigo. — Zachary disse rindo.
— Não vai ser necessário. — falei para ele. — Sophia, vamos
dançar? — a pista de dança estava tocando várias músicas lentas e
aproveitei para tirá-la de perto daqueles abutres, mas depois que o outro
saiu correndo, eles desviaram dela por me conhecerem bem e não terem
noção do que falei.
— Claro, eu adoraria. Com licença. — ela disse me dando a mão e
caminhamos para a pista.
Coloquei uma mão nas suas costas e a outra segurando sua palma,
colei nossos corpos e dançamos no ritmo da melodia.
— Bem melhor assim — sussurrei no seu ouvido.
— Sim, e agora você vai mijar em mim para marcar território? —
Ela riu.
— Ninguém mandou ele colocar os olhos no que é meu. — Senti ela
retesar nos meus braços. — Mas isso é normal, você é maravilhosa, só um
louco não olharia para você. — Ela respirou mais fundo e relaxou
novamente.
— Então por que você colocou o cara para correr?
— Digamos que eu tenho ciúmes do que é meu.
Ela ia responder quando a música acabou, paramos de dançar para
bater palmas.
Eles anunciaram que começariam a servir o jantar, então nos
dirigimos à mesa.
Aproveitamos o momento para postar uma foto nossa, com uma
legenda romântica, como um casal apaixonado faria, e estava surtindo o
efeito desejado.
Nos sentamos com Karen e Zachary. Pedi a Emma que conseguisse
uma mesa somente para nós quatro e ela foi perfeita nisso.
Sophia estava conversando animada com minha amiga, até que ela
mudou quando viu algo no telefone.
— O que aconteceu?
Percebi que ela estava travando uma batalha sem saber se
responderia ou não.
— Sophia, pode me falar, se for algo que eu possa resolver, faço
imediatamente.
— Nem tudo se resume a dinheiro, Theodore. — Suspirou antes de
continuar. — Sarah está desconfiando da gente e eu estou sendo
bombardeada pela minha família.
— Sinto muito por isso, mas você sabe que qualquer coisa que eu
puder fazer para que se sinta melhor, eu vou fazer, nem tudo é sobre
dinheiro, Sophia.
— Sei disso, obrigada. Só é ruim mentir para Sarah, ela me conhece
muito bem. Com o resto, estou acostumada. — Mas percebi que era algo
que a incomodava — Vamos mudar de assunto.
Acenei para ela, e aproveitei para avisar aos demais na mesa que
iríamos embora amanhã.
— Maravilha, preciso voltar ao meu normal para o noivado no
sábado. — Karen falou.
— E por acaso você está diferente? Para mim, parece doida como
sempre. — Zachary brincou, ele era outro que adorava implicar com Karen.
— Claro, noites sem dormir e um jet lag na conta, você acreditou
que eu estaria normal? Para ser doida eu não preciso estar normal.
— Todos estamos cansados. Foram dias intensos, mas amanhã à
tarde já retornamos. Com as coisas mais calmas aqui, fico tranquilo para ir.
— Ninguém além de Karen sabia que o que nós viemos fazer havia sido
resolvido, então, para todos os efeitos, só viemos conter danos.
Nós jantamos tranquilamente, Sophia se distraiu e não parecia mais
preocupada com sua irmã.
Anunciaram que começaria o leilão. Havia muitas peças bonitas, eu
tinha tido acesso ao portfólio que seria leiloado e fiz minhas escolhas.
Começaram com as joias e eu estava aguardando apregoarem o
colar que eu arremataria.
— Eu nunca participei de um leilão. Estou impressionada com o
quanto eles gastam nas peças. — Sophia estava admirada que os lances
estavam passando de quinhentos mil dólares.
— É tudo por uma boa causa, tudo pela caridade.
— Sei que sim. Nem se trata de ego em alguns casos, né?
Não tive tempo de responder pois começaram a anunciar a peça que
eu queria.
— Como última peça, temos o colar Acanthus Emerald. É um
belíssimo Bulgari, exclusivo, inspirado no Ara Pacis. — ela detalhou toda a
história para a inspiração da criação — São sete esmeraldas marcantes, em
lapidação pera, uma para cada colina de Roma. Somam 33,57 quilates e
brilham com a luz das eras. Elas são dispostas entre 60 esmeraldas
lapidação buff-top, inseridas magistralmente com 68 diamantes lapidação
step e 53 diamantes redondos lapidação brilhante e pavê de diamantes[5].
— Imagino que essa vai ser a peça mais cara do leilão. Mas, pela
foto, ele parece lindo, e pelo cuidado de ser feito à mão, deve ser isso
mesmo. — Sophia falava impressionada.
— Sim, imagino que o lance inicial vai ser por volta de seiscentos
mil dólares. — Ela arregalou os olhos. E, no mesmo momento, anunciaram
exatamente esse valor.
E no instante seguinte, os lances foram subindo de vinte em vinte
mil dólares. Não imaginei que fosse ser uma peça tão concorrida. Eu estava
aguardando para dar o meu lance.
— Novecentos mil, para o cavalheiro da mesa dez, alguém dá mais?
— anunciou a leiloeira.
— Um milhão. — Levantei minha plaquinha.
Todos na mesa me olharam surpresos. Esperei até o final, mas o Sr.
da mesa dez resolveu me atrapalhar.
— Um e cem. — disse e me olhou.
A leiloeira me olhou como se esperasse para ver minha reação.
— Um e quinhentos. — Olhei em desafio.
Quando ela percebeu que o cavalheiro não rebateria mais, finalizou.
— Alguém dá mais? — olhou diretamente para ele, mas ele havia
desistido. — Um milhão e quinhentos dou-lhe uma, um milhão e
quinhentos dou-lhe duas, por um milhão e quinhentos, parabéns ao
cavalheiro da mesa sete, o colar é seu.
— Meu amigo, você é doido! Nunca te vi gastar tanto em uma peça.
— Karen estava surpresa. Geralmente, ela e David me acompanhavam
nesses eventos, então era acostumada a me ver arrematar algumas coisas.
Sempre pegava alguma peça de arte para os meus pais, eles tinham
várias coleções, então aproveitava as oportunidades para lhes presentear. E,
algumas vezes, peguei joias para Lauren, mas dessa vez, me superei no
valor.
Eu não imaginei que a peça seria tão aguardada. Mas, para o
propósito que tinha, pagaria até mais caro.
— É porque essa peça será um presente de noivado para Sophia. Ela
merece, independentemente do valor.
— Theodore, pelo amor de Deus, você ficou louco? Eu não tenho
nem lugar para usar uma peça dessas. — Ela ficou completamente
atordoada.
— Você tem, só não sabe ainda. — finalizei.
Ela ficou me olhando como se eu tivesse duas cabeças, cheguei a rir
dela.
Depois de mais algumas aquisições, o leilão foi finalizado e nós
demos a nossa participação como encerrada.
Na saída nós tivemos o mesmo esquema de segurança até o carro.
Já estávamos a caminho do hotel, eu estava respondendo algumas
mensagens importantes, quando parei para prestar atenção no que Sophia
falava para Karen.
— Os meus pés estão me matando, nunca em tão pouco tempo andei
tanto em sapatos de salto, estou quase colocando tênis na bolsa. — disse
rindo.
Então peguei suas pernas, desafivelei as sandálias e vi que seus pés
estavam marcados.
— Sophia, olha como está isso. Eles estão inchados.
— Sim, coloco eles para cima no hotel e voltam ao normal. Pode
ficar tranquilo, estou acostumada.
— Você precisa se cuidar. Sua saúde não é brincadeira.
— É só cansaço e um pé inchado, Theo, fique em paz. — Ela deu
um tapinha no meu braço, como se não fosse nada demais.
— Sua saúde é importante, aliás você é importante, então mesmo
que seja apenas um pé inchado, vou cuidar de você.
Ela ficou da cor do vestido.
— Vocês apaixonados são a coisa mais linda. — Karen provocou, e
como Zachary estava no carro, não poderia rebater.
Chegando ao hotel, pedi que fôssemos direto para a garagem.
— Theo, solte meus pés por favor, preciso calçar a sandália para
subir.
— Não, você não vai voltar a colocar isso.
— Quer que eu suba descalça?
O motorista parou perto dos elevadores.
— Não, eu te levo. — disse, enquanto saía do carro e quando a
peguei no colo, para variar, deu um gritinho.
— Já estava com saudades dos seus gritinhos, preciso te assustar
mais.
Ela riu, e essas risadas sinceras dela eram tão gostosas de ouvir, que
dava vontade de rir junto.
Entramos no elevador e ela apoiou a cabeça no meu peito.
— Respira com calma. Não vou te deixar cair.
— Não estou com medo disso. — Ela respirou fundo. — Só é muito
bom subir assim, no seu colo. — ela disse baixinho, escondendo o rosto.
— Maravilha, posso sempre subir assim com você. Não é um
problema. — Realmente, ter Sophia no meu colo era muito bom. Sentir seu
corpo quente junto ao meu, seu cheiro tão perto, era algo que me fazia bem.
Chegamos no quarto e eu finalmente coloquei-a no chão.
— Pronto, Srta. Chocolate. Está entregue.
— Theodore, precisamos conversar sobre o colar, eu não posso
aceitar. Não tenho lugar para usar, nem para guardar. — ela pareceu pensar
— Você é completamente louco, só pode.
— Todo mundo é um pouco louco. E sobre usar, eu tenho um
momento perfeito. — Puxei ela para perto de mim. — Você vai colocá-lo, e
eu vou te foder usando somente ele.
Ela deu um tapa forte no meu peito, que mão pesada.
— Por Deus! Olha o tanto de coisa séria que eu te falei e você de
sacanagem.
— Sophia, eu não estou brincando. Aguarde eles entregarem e você
vai ver o que eu vou fazer com você. Meu amor, você é uma deusa, e
merece o mundo aos seus pés. — falei enquanto beijava seu pescoço que
estava desnudo devido ao penteado que ela fez.
— Não sei se é uma boa coisa você começar a ir por esse caminho.
— não deixei que ela terminasse, eu iria sim por esse caminho. Mas não era
uma discussão para agora, nesse momento eu só queria tirá-la desse vestido.
Beijei sua boca, mostrando todo o ardor do meu sentimento por ela.
Capítulo 29

Sophia Clarck

Não quero quebrar seu coração


Quero dar um tempo ao seu coração
Eu sei que você está com medo de ser errado
Como se você fosse cometer um erro
Há apenas uma vida para viver
E não há tempo para perder, perder
Give Your Heart a Break - Demi Lovato

Esse homem, definitivamente, queria me matar com essa história de


me foder só usando a porra de um colar, que lhe custou mais de um milhão
de dólares.
Eu não vou me preocupar com as suas loucuras, se ele quer ser
egocêntrico e transar assim, tudo bem. Só preciso sempre manter em minha
mente que nós temos um contrato.
Isso, eu preciso focar nisso! Lembrar que o que temos é somente
sexo.
Foquei no que ele acabou de fazer, seus beijos intensos e a suas
mãos me apertando por toda a parte, estavam fazendo com que eu me
sentisse pegando fogo.
Ele deu beijos, descendo por meu pescoço, me mordendo e
lambendo, fazendo-me arrepiar.
— Você está com roupas demais, baby. — disse bem perto do meu
ouvido, fazendo com que eu sentisse seu hálito quente bater na minha pele.
Toda essa antecipação em tê-lo me dominando, estava me fazendo
ofegar.
Virei de costas.
— Pode fazer as honras. — Ele desceu o fecho do vestido
lentamente e sua mão resvalando na minha pele foi deixando um rastro
quente.
Beijou novamente meu pescoço, fazendo uma trilha até chegar na
alça, deslizando devagar pelos meus braços, descendo-a junto com seus
dedos me acariciando.
— Você quer me matar vestindo só essa calcinha, Sophia? — por
baixo do vestido, estava apenas com uma pequena lingerie vermelha.
— Não, prefiro você muito vivo.
Ele deu um tapa estalado na minha bunda.
— Você está brincando com fogo, Chocolate. Você pode derreter...
— Quem sabe eu não queira derreter? — Eu estava em chamas por
sentir a mão de Theo passear por todo o meu corpo. Parecia que entraria em
combustão a qualquer momento.
Virei para ele novamente.
— Sua vez, bonitão. Estou em desvantagem aqui.
O ajudei a tirar as peças, e a cada botão da sua camisa que eu abria,
passava as unhas arranhando o seu peito. Tirei as mangas da sua camisa da
mesma forma que ele fez comigo, lentamente, passando a mão e traçando
um caminho com a ponta dos dedos em seus braços. Quando não aguentei
mais, distribuí alguns beijos e mordidas pelo seu peito.
— Chega, Sophia. Preciso de você.
Ele me pegou no colo e me levou para a cama. Me deitou e veio por
cima de mim, segurou meu pescoço com uma leve pressão e me beijou de
forma feroz. Podia sentir que ele estava se segurando.
— Não se segure comigo, quero tudo de você na cama, Theodore.
— Sophia, você não sabe o que está pedindo.
A partir desse momento, percebi que ele se libertou um pouco, mas
não totalmente. Éramos uma confusão de línguas brigando por espaço,
castigava sua boca, assim como ele fazia comigo.
Manteve a sua mão me segurando pelo pescoço, me deixando
imóvel, enquanto descia me lambendo até chegar no meu seio, que ele
abocanhou com toda vontade, mordendo, chupando e me levando a loucura.
Poderia gozar apenas assim.
A sua outra mão desceu até a minha calcinha, e nesse momento ele
subiu o olhar para o meu.
— Você já está derretendo, Chocolate? — ele afastou minha
calcinha e enfiou um dedo em mim, me fazendo arfar com a invasão. Em
seguida tirou e o chupou. — Você é doce, baby, o melhor sabor que eu
provei na vida. Deixa eu me afogar na sua boceta, meu Chocolate? — ele
falou com a voz rouca.
— Porra, sim!
Theo abriu bem minhas pernas e simplesmente rasgou a calcinha.
— Ei, eu tinha gostado dela.
— Compro um caminhão delas para você. Agora eu só quero
escutar seus gemidos.
Dizendo isso, ele assoprou minha entrada e lambeu toda a extensão,
me fazendo ansiar por senti-lo mais. Queria ele dentro de mim.
Quando ele começou a chupar meu ponto inchado, quase me desfiz.
A onda de excitação me fazia gemer, puxar seu cabelo e gritar seu nome.
Ele alternava entre chupar e dar leves mordidas no meu clitóris que me
levavam à loucura.
— Caralho, Theo! Isso, por favor, não para... Aaaah. — Eu estava
ofegante, sentia o orgasmo se formando quando ele diminuiu o ritmo.
— Nãooo! Não para, estou quase lá.
Ele levantou o olhar para mim, e pude ver a maldade naqueles olhos
azuis, ele fez de propósito.
Maldito!
Quando eu estava pronta para reclamar, ao invés de sair da minha
boca uma reclamação, saiu um gemido, ao senti-lo me invadir com dois
dedos, enquanto voltava a me chupar com toda vontade.
Ele seguiu nessa tortura por vários minutos, quando eu estava quase
chegando ele diminuía e voltava com tudo novamente.
— Theo, por favor...
Ele parou de me chupar, mas não de mexer com os dedos em mim.
— Por favor, o que Sophia? O que você quer? Me fala. — ele
ordenou.
— Me faz gozar, caralho.
Ele me deu um sorriso safado.
— Agora mesmo, princesa.
E voltou a me devorar, se afogando no meu sexo, como se eu fosse a
sua última garrafinha de água no deserto, e ele estivesse passando sede há
muitos anos.
Eu finalmente alcancei meu ápice e foi tão forte que fiquei sem ar.
Meu corpo convulsionava e Theodore não parava de me chupar, me fazendo
sentir em uma espiral de prazer.
Sentia tudo contrair dentro de mim, até ter orgasmos múltiplos.
Nunca havia sentido nada igual. Tive um leve apagão, com certeza
foi o melhor orgasmo da minha vida.
Ele veio em minha direção sem nunca tirar os olhos de mim, me
beijando com fúria. Sentir meu gosto na sua boca me levava ao êxtase, eu
queria mais.
Parei de beijá-lo, apenas para sussurrar em seu ouvido, enquanto
arranhava as suas costas.
— Theo, você está com roupas demais. Preciso de você dentro de
mim. — Minha voz estava rouca pelo tesão, e não resisti em morder aquele
homem.
— Seu pedido é uma ordem, meu Chocolate.
Ele se levantou da cama me olhando sempre. Puta que pariu, nunca
vi um homem tão lindo quanto Theodore, aqueles músculos esculpidos, ele
parecia uma criação divina. Desafivelou o cinto, soltou a calça e desceu
junto a cueca, seu pau saltou, batendo naquele tanquinho. Não tinha um
pedaço dele que não fosse perfeito.
Me sentia uma sortuda por ter esses momentos com ele, ao mesmo
tempo em que sabia que tínhamos um prazo, eu agora não queria que
acabasse. Queria só continuar assim, aproveitando-o.
Sou uma vadia sem coração por isso?
Seria pedir demais, ter sempre esse sexo com Theodore, sem
quebrar meu coração?

Theodore Rockefeller
O dia estava uma correria, como sempre. O que não fazia com que
eu me esquecesse da noite que tive com Sophia ontem. Quase não
dormimos. Foi uma ótima despedida de Paris.
Se eu fechasse meus olhos, ainda seria capaz de me lembrar dela
quicando em cima de mim. Sophia parecia uma amazona cavalgando.
Preciso parar de pensar nisso, antes que fique duro, já que não posso fodê-la
em uma dessas salas.
— Theodore, está ouvindo o que estou falando? — Karen estava na
minha frente, e não, não havia ouvido sequer uma palavra.
— Não, estava pensando em outra coisa, pode repetir?
Ela me olhou de cara feia.
— Ótimo! Sophia, está te fazendo esquecer do trabalho.
— Quem te disse... — ela me cortou antes que eu acabasse.
— Você não é meu melhor amigo à toa, não precisa negar. Sei que
você estava pensando nela, e na noite quente, de repente? — Ela colocou a
mão no queixo como se fingisse pensar. — Mas, como nada disso me
importa, porque passei minha noite sozinha, estava perguntando como
estavam as coisas no mundo que só a gente conhece.
— Ainda bem que a minha vida sexual não te importa, você e David
são dois fofoqueiros. Ele nem precisa estar aqui para saber de tudo que
acontece. — Ele me mandava mensagens o tempo todo, sabendo de tudo o
que acontecia por aqui — E sobre o que importa para você no momento,
eles ficaram desconfortáveis e recebi algumas ameaças indiretas.
Karen arregalou os olhos. Ela sabia que eu conhecia pessoalmente
Pietro, que era o irmão de Tiziano, que comandava o submundo de Nova
Iorque. Estudei com ele no tempo em que fiz alguns cursos de
administração.
E mesmo que papai tenha nos deixado essa bucha porque na época
ele negociava com o pai deles, agora o meu contato mais forte era ele.
— Não precisa ficar assim. Eles sabem que nós temos informação,
inclusive as que eles usam, e até sobre eles mesmos. Às vezes, eu só preciso
lembrar que, a hora que eu quiser, posso ser a porra de um hacker e saber
até a cor da cueca deles. — Não gostava nem um pouco de fazer isso, mas
também não viveria sob ameaças. — Ele sabe bem que essas informações
não ficam no mesmo servidor da empresa. Foi só um susto que eles
passaram. Afinal quem deve, teme, não é mesmo?
— Vou morrer sendo sua amiga, até porque você não ia me querer
como inimiga, não é mesmo? — ela me olhou de canto de olho, rindo.
Recebi uma mensagem de Dorothy sobre a obra na matriz. Essa era
outra coisa que estava me deixando estressado, eles tinham que terminar
tudo hoje.
— Que cara é essa? Ficou com medo de eu te deixar sozinho com
David?
— Não, apesar de isso ser um pesadelo terrível. A merda da obra na
matriz, aqueles inconsequentes estão demorando demais.
— Theo, você tem noção de que eles tiveram somente cinco dias
para fazer o trabalho?
— Não era para ter demorado mais do que dois. Eles me ofereceram
um serviço, o mínimo que eu espero é que saia conforme o pago e o
combinado. E convenhamos, não foi nada barato, justamente pela pressa.
— Relaxa, Theo. Vai dar certo, eles vão entregar hoje.
— Eu só acredito que sim, porque é a Dorothy que está lá.
Nós nos concentramos nos demais afazeres, até Gerald me mandar
mensagem, avisando que teríamos que sair, para não atrasarmos a
decolagem. Nossas malas foram levadas mais cedo. Sophia estava maluca,
falando que não teria onde enfiar tudo aquilo de roupa, e por fim disse que
poderia deixar na minha casa até que se organizasse.
Estava trabalhando com Sophia sentada do meu lado, assistindo um
dos filmes do Harry Potter no iPad. Ela estava concentrada e
completamente alheia ao seu redor. Observá-la assim era único, porque ali
ela parecia só uma menina sem preocupações, vendo sua série de filmes
favoritos — é, eu descobri que eram os favoritos dela —, e agora já pensava
em tudo que poderia fazer para ela que envolvesse o bruxinho.
— Quer assistir também?
— Mais tarde vejo um com você, tudo bem? — ela acenou.
Depois de trabalhar mais um pouco, assisti um com ela, que se
aconchegou no meu peito, enquanto eu a abraçava.
Acabou o filme e eu percebi que ela tinha dormido. Desliguei a tela
e aproveitei para descansar um pouco com ela, no sofá mesmo.
Acordei com o piloto avisando que pousaríamos em poucos
minutos, para nos prepararmos.
Todos no voo pareciam cansados. Felizmente, em Nova Iorque
agora seria por volta das dez da noite, então teríamos uma noite inteira para
nos recuperarmos.
Mas eu não poderia ter me enganado mais sobre isso.
Assim que pousamos e ligamos os telefones, o de Sophia parecia
enlouquecer com as mensagens chegando. Ela arregalou os olhos.
— Meu Deus, o que houve? — ela perguntou a ninguém em
específico. E antes que ela pudesse entender, seu telefone tocou.
Eu conseguia ouvir a pessoa gritando desesperada do outro lado da
linha, e minha noiva só falando, calma, respira, mas percebi sua voz
trêmula.
— Teve um vazamento onde? — escutei algo por cima, em meio aos
gritos que imaginei serem de Mary.
— No nosso apartamento, pode pedir que me levem direto para lá,
por favor?
— Claro que sim, mas vocês vão conseguir ficar lá?
— Pelo jeito que Mary gritou e pelas fotos que estou vendo aqui,
não. — Seus olhos estavam demonstrando um desespero que ela não
transparecia na fala.
Ela me mostrou algumas fotos que, pelo que eu entendi, foi antes de
os bombeiros chegarem. A situação não estava bonita.
— Onde eu vou ficar? Meu Deus, não tenho paz. — ela falou
sozinha, baixinho, mas ouvi. E, para mim, era muito óbvio que ela ficaria
na minha casa.
Não sei nem como ela não considerou isso de cara.
Capítulo 30

Sophia Clarck

A vida estava me amarrando


Então você veio e me libertou
Estava cantando sozinha
Agora eu não consigo encontrar uma nota sem você
E agora sua música está em repetição
E eu estou dançando na batida do seu coração
E quando você se vai
Me sinto incompleta
Symphony (feat. Zara Larsson) - Clean Bandit

Me sinto completamente desesperada. Acho que só não surtei


porque ainda estava dentro do avião e todos já me olhavam, provavelmente
porque escutaram Mary gritando enlouquecida do outro lado da linha.
Eu estava pensando nas minhas coisinhas, se conseguiria recuperar
tudo, era só água, então não teria problema, era só lavar, certo?
— Fique tranquila, vai dar tudo certo.
— Theo, não é só sobre dar certo, são minhas coisas. Não quero
perder o que tenho.
Mal terminei e Lauren começou a falar, ela estava sentada perto de
nós.
— Nossa, querida, sinto muito! Deve ser triste não ter nada e ainda
perder tudo. Ah, mas agora nosso querido Theo pode comprar tudo para
você, afinal ele tem muito dinheiro. — ela falava como se sentisse muito,
mas no final você tinha certeza que era só destilação de veneno, ainda
fazendo parecer que eu estava com Theodore por interesse.
— Estar com Theodore não muda quem eu sou e o valor que eu dou
para as coisas, muitas delas são algo que o dinheiro não compra. São sobre
memórias e bons momentos, agora se você é fútil, não me compare a você,
por favor. — Nesse momento a comissária avisou que poderíamos
desembarcar e eu fui a primeira a levantar e sair do avião.
Vi que Theodore respondeu algo para ela, mas não ouvi, logo ele me
alcançou e fomos com Gerald para o carro.
Assim que entrei, não segurei mais, deixei que as lágrimas caíssem.
O que Lauren falou foi a gota d’água. Meu noivo me abraçou, me
confortando.
— Acalme-se, vai ficar tudo bem, o importante é que você e Mary
estão seguras.
— Theo, eu não tenho nem para onde ir hoje, o que eu vou fazer da
minha vida? Vou ter que ir para algum hotel, não sei...
— Lógico que você tem um lugar para ir, vai ficar lá em casa até
resolvermos tudo.
— Sem condições de morarmos juntos. Estaríamos indo muito além.
— Sophia, sem discussão. Você vai ficar comigo e ponto.
— Theodore, não! Morar junto é um pouco demais para mim.
Minha última experiência morando com alguém não era a melhor
e... caramba, não queria chegar nem perto de equiparar Theodore a Gary.
Até porque, não haveria como comparar, mas me sentia insegura em fazer
isso.
— Não faz sentido você ir morar em um hotel sendo minha noiva.
Vai levantar muita fofoca e especulação, e no momento é o que não
queremos. Concorda?
Ele estava certo. Droga! Eu não poderia refutar esse argumento dele.
— Tá bem, mas vai ser provisório, ok?
Ele acenou e me voltou para os seus braços, que me traziam
tranquilidade.
Chegamos na rua do apartamento, e vários vizinhos encontravam-se
do lado de fora.
Saltei do carro e corri em direção a Mary, ela estava muito abalada.
A abracei apertado, ela se desfez em lágrimas e não tive como não chorar
junto.
— Ei, respira. Me explica o que houve. — Soltei ela do abraço e
esperei que se acalmasse.
— Eles me ligaram no fim da tarde, avisando que estava vazando
água do nosso apartamento. Vim correndo, mas, quando cheguei, haviam
desligado a luz, pois inundou tudo. Os bombeiros viram que escorreu para o
elevador, dando um curto na energia. — que caos que virou isso — Parece
que foi do andar de cima. Como alagou tudo, caiu também no de baixo, sem
contar que entrou nos outros do mesmo andar pelo que vazou por baixo da
nossa porta.
— E como ninguém viu isso antes? — eu estava alarmada. Como
chegou a esse nível sem ninguém ver?
— Foi muito rápido, e em um horário em que todos estavam
trabalhando.
— Podemos entrar lá? — perguntei, queria ter noção de como
estava.
— Acho que não, mas vamos tentar. Vou ver se consigo uma
lanterna.
Mary foi até o bombeiro que nos deu cinco minutos, falando que
poderíamos ver se tinha algo de importante para pegar, mas que teria que
ser rápido. Theodore insistiu em subir conosco.
Subimos as escadas correndo, e ao chegar no apartamento e ver
ainda um monte de água no chão, nossos móveis todos molhados, foi
horrível.
— Vem, Sophia, não podemos demorar. — Theo me tirou do transe.
O primeiro lugar que fomos, era onde guardávamos nossos
documentos, e como era uma caixinha de metal, não tinha molhado.
Nossas roupas estavam ensopadas, meu notebook estava em cima da
mesa cheio de água. Na estante, nossas fotos todas arruinadas, mas o que
partiu meu coração foi ver todos os meus livros acabados.
O bombeiro pediu que saíssemos e nós descemos. Ficamos
completamente desoladas. Ele pediu que só voltássemos no dia seguinte,
que seria quando eles avaliariam e liberariam a energia e limpeza.
— Mary, você tem onde ficar?
— Sim, vou para casa do meu pai. Você vai ficar com Theodore?
Acenei para ela. Theodore havia ido conversar com os bombeiros e
quando voltou, me abraçou novamente. Percebi junto a ele, Karen e Tyler.
— Meninas, sinto muito. Tem algo que possa fazer por vocês? —
Tyler questionou.
— Obrigada, Tyler. Por enquanto não temos o que fazer. Só amanhã
que poderemos entrar para limpar e ver o que sobrou.
— Bom, então, posso pelo menos liberar vocês do trabalho amanhã.
Tirem o dia de folga para resolverem tudo. E se precisarem de algo, não
hesitem em me chamar.
Agradecemos em conjunto.
Karen também se colocou à disposição. O pai de Mary chegou para
buscá-la e acertarmos de nos encontrar no dia seguinte.
Fui com Theo e Gerald para a casa dele. Fiz todo o caminho em
silêncio, pensando em todos os acontecimentos dos últimos dias, e em como
minha vida mudou. Eu não sabia se conseguia acompanhar todas as
mudanças.
Chegamos à garagem, eu segurava meus sapatos na mão porque eles
molharam na hora que entramos no apartamento. Ao alcançarmos a porta
do elevador, minha respiração ficou pesada. Não estava bem para entrar ali.
Me preparei para subir de escada, seriam quarenta andares, mas tudo bem.
Quando ia me virar para a porta da escada, Theodore me pegou no
colo. Eu dei um gritinho, não estava esperando que ele fizesse isso.
Entramos na caixa de metal, eu só olhava naqueles olhos profundos e
percebia a sua preocupação naquele momento.
— Vai ficar tudo bem, só respira, ok?
E assim eu fiz. Não tirei meus olhos dele e me concentrei em
respirar, e esperar que realmente tudo ficasse bem.
Chegamos ao seu apartamento e ele só me colocou no chão quando
já estávamos na sala. Eu ainda me surpreendia com a beleza do lugar.
Agora, depois de conhecer Susan, tinha certeza de que foi ela quem
decorou.
— Pode ficar à vontade, vou preparar um banho para você. Quer
comer alguma coisa?
— Não, estou sem fome. O banho eu aceito.
Subimos para o seu quarto. Vi que tinham várias malas no closet.
— São as suas roupas da França. — Ele reparou no meu olhar.
Pelo menos pelada eu não vou ficar.
Ele foi para o banheiro, eu ouvi o barulho da água. Aproveitei para
responder minha irmã e Claire sobre o alagamento no apartamento. Elas
ficaram preocupadas e as tranquilizei, dizendo que estava bem, junto com o
Theo.
Tirei minhas roupas e fui encontrá-lo.
— Nossa, que cheiro gostoso. — comentei com ele na hora em que
entrei no banheiro.
— São sais de banho e essência que minha mãe deixou aqui, eu
nunca havia usado. Vem, entra aqui. — Ele apontou para a banheira.
Entrei na água, ele se sentou atrás de mim, e me deu um banho com
toda atenção. Nunca me senti tão cuidada como nesse momento. Theodore
foi carinhoso em cada detalhe comigo. Deitei minha cabeça no seu peito,
ele me envolveu, fazendo eu me sentir acolhida nos seus braços.
Saímos quando já estava esfriando, ele me secou e colocou na cama,
ajustou a temperatura, baixou as persianas e deitou comigo. Ficou fazendo
cafuné na minha cabeça até que eu peguei no sono. O dia havia sido pesado
demais para mim, e Theo veio com calma, foi pouco a pouco tirando a
carga de mim e me deixou cair nos braços de Morfeu.
Acordei me sentindo desnorteada, até me lembrar onde estava e
porque estava ali.
Sozinha na cama, olhei o horário e tinha dormido demais. Me
levantei e então pensei que não tinha roupas simples ali, droga! Ia mandar
uma mensagem para Mary, quando vi que tinha uma mensagem de
Theodore.

Theodore: Bom dia, Chocolate!


Espero que tenha dormido bem. Tem café para você na cozinha e
deixei a combinação da porta anotada na geladeira. Tem umas
sacolas no hall para você. Qualquer coisa que precisar, me avise.
Gerald está aguardando para te levar ao apartamento.

Esse homem não existia. Vesti uma blusa sua e desci para ver o que
ele tinha deixado e comer algo, estava faminta.
Passei pela cozinha primeiro, minha barriga estava roncando. Tinha
pão, biscoitos, croissant, sanduíches e um bilhete falando que os frios
estavam na geladeira. Abri e tinha uma torta de chocolate com outro
bilhete, escrito em letras garrafais “Para Srta Chocolate”. Acho que ele
nunca iria parar de me chamar assim. Tomei o café e fui ver o que tinha no
hall.
Para minha surpresa, eram várias bolsas. Quando olhei, havia
roupas, tênis, sandálias, coisas básicas, melhor dizendo, coisas para o dia a
dia, porque era tudo de marca, nada básico. Esse homem é completamente
louco.

Eu: Bom dia!


Obrigada pelo café, adorei o bolo.
Quanto às roupas, irei separar apenas uma para usar hoje,
porque não tem como ir naquele apartamento de roupa social,
quanto ao restante é DEMAIS!!!

Ele respondeu quase imediatamente.

Theodore: Srta. Chocolate, que bom que gostou do bolo, escolhi


pessoalmente. Quanto às roupas, não têm nem o que discutir.
Pode ficar tranquila, à tarde a minha personal shopper vai
arrumar o closet para você .

Ele não sabe o que significa a palavra limites, socorro!

Eu: Minha vontade é de te bater. Não quero saber sobre


ninguém arrumar nada no seu closet. Não pretendo passar
muito tempo aqui. Mas, de qualquer jeito, tenho minhas coisas,
então não é necessário um guarda-roupa novo.

Se eu não colocar limites nesse homem eu não sei o que ele poderá
fazer.
Theodore: Não tem discussão, já te falei que essas coisas são o
mínimo para mim.
Aproveite as roupas e não teime mais sobre isso. Te vejo mais
tarde.

Maldito teimoso.
Pior que eu nem poderia devolver as roupas, mas também não as
levaria quando fosse embora, e sobre isso ele não poderia fazer nada.
Peguei todas as sacolas e levei para o quarto. Separei uma calça
legging, um top e camiseta. Peguei um tênis e um chinelo, me arrumei e fui
encontrar Mary.
— Olá, Gerald. Tudo bem?
— Oi, Sophia, sim. Sinto muito pelo seu apartamento e suas coisas.
Se precisar de mim para ajudar com algo estarei a sua disposição.
Ele foi solícito, talvez precisasse de ajuda mesmo.
— Obrigada! Com certeza, se precisar, nós vamos pedir.
Conversei com a minha irmã, além de tudo, ainda tinha o noivado
amanhã. Precisava falar com Susan também, não sabia se ela queria ajuda
com alguma coisa. Tampei meus olhos, pensando em quanta coisa tinha
para fazer.
Distribuí mensagens para quem eu precisava falar, e iria lidar com
uma coisa de cada vez.
Cheguei ao apartamento e Mary me esperava na rua para entrarmos
juntas.
Os bombeiros avaliaram e devido aos estragos causados, não
poderíamos retornar ao apartamento até que o morador de cima consertasse
a tubulação. Parece que tinha um vazamento há algum tempo, que foi
arruinando tudo entre um andar e outro. O cano que estourou ontem só
piorou a situação, e com isso o teto não estava seguro para morarmos,
apesar de não haver risco iminente de desabamento.
Para entrarmos no apartamento, colocamos um capacete e tínhamos
algum tempo para vermos como iríamos tirar as coisas dali.
— Sophia, o Sr. Rockefeller já está sabendo da situação e pediu que
vocês avaliem o que vão querer tirar, pois ele contratou uma equipe
especializada para vir retirar as coisas e limpar o apartamento. Então, peço
que fiquem o mínimo possível.
— Tudo bem, Gerald! Vamos ver o que conseguiremos fazer.
Olhar de dia como as coisas estavam era surreal, quase não tive
forças para aquilo tudo.
— Mary, todas as nossas memórias estão destruídas! — falei me
sentindo fraca de repente.
— Não, querida, elas estão aqui. — Ela colocou a mão no meu
coração. — Nada pode tirá-las daqui.
Ela estava certa. Nós iríamos nos reconstruir mais uma vez.
Fomos olhando todos os cômodos, e como a água entrou pelos
pontos de energia, não havia um lugar que não estivesse molhado. Todas as
nossas roupas precisariam ser lavadas, pois estavam fedendo. Pegamos
algumas coisas que não estragaram, limpamos e guardamos para levar.
Meus sapatos ficaram boiando, alguns eu sabia que, mesmo se lavasse, não
voltariam ao normal.
Parecia o apocalipse e não que havia entrado água no apartamento.
A equipe que Theo contratou chegou e nós indicamos as roupas que
seriam recuperadas e as que teríamos que jogar fora. Em alguns lugares, a
água que caiu tinha um cheiro forte e como não sabíamos o que era,
preferimos nos desfazer. Minha amiga perdeu tanto quanto eu. Dividíamos
uma cômoda e um pequeno closet, e nele a água que entrou foi a podre,
então nos desfizemos de tudo ali.
Os móveis também iriam quase todos para o lixo, pouca coisa daria
para aproveitar. Depois de explicar tudo a eles, nós saímos do apartamento.
Eu e Mary estávamos esgotadas psicologicamente.
— Ainda bem que Tyler nos deu folga hoje. Não sei o que faria se
tivesse que ir para a empresa, vou precisar comprar roupas novas. — Ela
parecia pensativa, nessa hora nós estávamos avaliando tudo que ainda
teríamos que fazer.
— Posso te emprestar algumas coisas por enquanto. Theo comprou
muita coisa para mim em Paris.
— Agradeço, amiga. Estou sem cabeça para pensar nisso, mas logo
me organizo.
— Sim, vamos conseguir voltar ao normal.
— SOPHIA! — Eu não entendi nada, por que ela estava gritando?
— Se eu não tivesse levado meu vestido à lavanderia para lavar e passar,
não teria o que vestir amanhã.
— Meu Deus, você quase me matou de susto por isso? Vou falar
igual ao Theo, isso seria o menor dos nossos problemas, qualquer coisa a
gente compraria outro. — Estava rindo, porque aquele safado estava
fazendo com que eu pensasse como ele, que tudo era simples de resolver. —
O importante para mim é ter vocês lá.
— Eu não perderia por nada! Iria até esfarrapada. Vou andando,
porque preciso pegar o vestido, para voltar para casa de papai.
— Está tudo bem por lá? — O pai dela tinha a mesma vibe de Mary.
Como era viúvo, ele morria de saudades dela, e vivia falando que ela o
visitava pouco.
— Sim, ele está insistindo que eu fique mais tempo com ele. Com
você noiva, logo vai se casar. Talvez eu fique um pouco mais com ele
mesmo, não quero morar sozinha por enquanto.
— É, amiga. Tem que pensar em tudo. — Droga! Teria que morar
com Theodore até que nós nos separássemos. Vou torcer para Mary mudar
de ideia.
Nos despedimos e estava voltando para o apartamento do meu
noivo, quando Sarah me avisou que havia chegado e estava vindo me
encontrar. Eu fiquei sem entender nada.
— Gerald, Sarah me falou que acabou de pousar e está indo ao meu
encontro, consegue me explicar o que está acontecendo?
— O Sr. Rockefeller mandou o avião buscá-la. Ela ficará hospedada
com vocês no apartamento.
— Entendi. Ele disse que faria isso, mas como não confirmou, achei
que tinha desistido.
— Ele nunca desiste de nada, Sophia. Ele é extremamente insistente
naquilo que quer.
— Sei muito bem disso. — Gerald apenas sorriu de lado pra mim.
Avisei a Sarah que logo encontraria com ela.
Gerald parou na garagem, peguei a bolsa que tinha as coisas que
salvei do apartamento, e fui para o elevador.
Apertei para a cobertura e me lembrei que nas duas últimas vezes
em que subi com Theo, ele me pegou no colo. Essa espontaneidade dele era
algo que me fascinava.
Cheguei no apartamento e para minha surpresa, Sarah já estava na
sala, e veio correndo em minha direção.
Ela pulou em mim, me abraçando apertado. Que saudade que eu
estava dela. Queria tanto poder tê-la mais perto de mim.
— Oi, meu amor! — eu estava toda suja por conta do apartamento
— Sarah, eu vou subir e tomar um banho, já volto aqui. — Theo apareceu
na sala.
— Oi! Não sabia que já estava aqui. — falei e ele me deu um
selinho.
— Sim, cheguei junto com Sarah. Não deixaria minha cunhada
sozinha aqui.
— Certo, faça mais um pouco de companhia para ela então, eu já
volto.
Corri para tomar banho, tinha medo do que poderia acontecer com
esses dois sozinhos. Sarah era terrível para tirar a verdade das pessoas.
Quando fui ao closet procurar algo para vestir, vi que estava tudo
arrumado e tinha muito mais roupas ali. Theodore é completamente
imparável.
Peguei um pijama de calça e blusa de cetim. Estava exausta, só
queria comer, fofocar um pouco com Sarah e dormir.
Cheguei na sala de jantar e o cheiro estava ótimo.
— Está muito cheiroso, qual o menu? — perguntei enquanto me
sentava.
— Minha mãe mandou entregar lasanha e macarronada aqui, ela
falou que você precisava de conforto.
— Sua mãe é maravilhosa, mas eu preciso entrar no vestido amanhã
também. — falei rindo, depois agradeceria a Susan.
Começamos a comer, e eu aproveitei para encher Sarah de
perguntas.
— Papai está muito bem, a enfermeira fica em cima dele com os
horários e está ajudando no tratamento, assim fica bem mais fácil. — Sarah
sorria ao falar, e percebi que ela estava bem mais leve do que da última vez
em que nos vimos.
— Que bom! Fico tão feliz de saber que ele está bem. Triste só
porque eles não puderam vir.
— A médica achou melhor evitar viagens, por enquanto. Mamãe
ficou triste, mas prometi ligar para que eles possam ver um pouquinho da
festa. Ela está tão feliz com o jardim novo que acho que compensou um
pouco.
— Ela aproveitou para plantar as flores novamente?
— Não, Theodore mandou uma empresa lá que refez todo o jardim,
plantou exatamente do jeito que ela sonhou, ela está em êxtase.
Fiquei de boca aberta.
— Por que você não me falou nada? — perguntei ao Theo.
— Não foi nada demais. Você comentou que sua mãe gostava, que
era importante. — Ele deu de ombros.
Mary me ligou.
— Licença, vou atender, porque pode ser algo importante.
— Sophia, pelo amor de Deus, você disse que ia me emprestar
roupas, não mandar um guarda-roupa novo para mim. Eu estou sem
palavras, amiga. — Ela estava chorando do outro lado da linha e eu nem
sabia o que estava acontecendo.
— Amiga, se acalma. Agora me explica do que você está falando?
— Ah, desculpa, é do bilhete! Sei que não foi você que escreveu,
porque não é sua letra, mas eu amei! Não precisava.
Meu telefone vibrou e eu vi que ela mandou a foto das sacolas e do
bilhete, que estava assinado com meu nome.
Pelas marcas na sacola, sabia que era de Theodore.
Ele ajudou meus pais, com coisas além do que eu pedi, fez um
jardim para minha mãe, deu roupas para Mary em meu nome, comprou um
guarda-roupa novo para mim.
Por que eu não me sentia mal por tudo isso?
Porque quando eram outras pessoas, eu sabia que não era de
coração.
Só conseguia ter gratidão por ele fazer essas coisas.
O que mais ele estava fazendo sem me falar?
Capítulo 31

Theodore Rockefeller

Não consigo segurar, eu estou me apaixonando


Está bem na ponta da minha língua
Então aqui vou eu, falando sinceramente
Eu acho que isso é pra sempre pra mim
4 EVER 4 ME - Demi Lovato

Sophia voltou diferente da ligação com Mary. Imagino que a amiga


tenha ligado para agradecer as roupas, espero que ela não tenha se chateado.
Logo depois, ela engatou em uma conversa com a irmã. As duas juntas era
um evento, falavam mais que eu e meus dois amigos, e olha que David e
Karen eram dois tagarelas.
Quando ela me avisou que iria se deitar, eu parei o meu trabalho e
fui ao seu encontro. Percebi que essa situação do apartamento mexeu
bastante com ela, e queria poder lhe confortar, pelo menos um pouco.
— Ei, Chocolate! Tudo bem? — falei levantando seu rosto, ela
estava com um semblante difícil de definir.
— Sim. Queria mesmo falar com você. — Ela me encarou e aqueles
olhos eram tão expressivos, eu parecia conseguir ver sua alma através deles.
— Pode falar, sou todo ouvidos. — Me sentei ao seu lado na cama.
— Por que não me contou todas essas coisas que você andou
fazendo?
Ah, então essa era a questão.
— Porque, pra mim são coisas simples, só estou fazendo coisas que
eu acho necessário.
— Theo, nada disso era sua responsabilidade.
— Não disse que era. Mesmo assim eu fiz, já falei, nada demais, o
jardim por exemplo, era algo importante para vocês. As roupas, hoje Gerald
me falou que você iria emprestar para Mary. Pra mim, dar algumas peças
para ela não é nada, e ela é importante para você. — Dei de ombros.
Realmente não era algo que me importasse, ou que afetasse minha
vida em fazer.
— Ok, mas pode me falar quando fizer suas boas ações, fiquei sem
ter ideia do que Mary estava falando enquanto me agradecia eufórica.
— Talvez? — Que equivale a um belo não.
— Você vai continuar não falando, mas, pelo menos quando você
colocar meu nome no cartão, me avise. — ela falou rindo e me deu um tapa
no braço.
— Já te falei que seu tapa é pesado?
— Não. — Ela estreitou o olhar em minha direção, como se tivesse
um plano — Maravilha! Assim quando você fizer essas coisas, posso te
bater. — Ao menos valeu a pena fazer tudo isso porque ela estava rindo. —
Obrigada. Você fazer tudo isso por eles, é mais importante que arrematar
um colar de um milhão de dólares para mim.
— Falando em colar, ele deve chegar na semana que vem. Estou
louco para te ver usando-o — cheguei bem perto do seu ouvido e sussurrei
—, e mais nada.
Ela ficou completamente vermelha. E soltou um bocejo.
— Alguém está cansada. Vamos dormir, pois amanhã seremos
noivos oficialmente para o mundo.
— Estou mesmo, o dia foi exaustivo.
Acertei a climatização do quarto, abracei Sophia e entrei no mundo
dos sonhos sentindo o seu cheiro. Era melhor que chá de camomila para
dormir.
O despertador tocou e eu o desliguei, meio desnorteado. Não dormia
tão bem assim há anos. Sempre tive o sono leve e dormia pouco, mas desde
que Sophia chegou, isso mudou totalmente, minhas noites estavam sendo
completas.
Saí de fininho da cama e fui malhar. Nesses dias em que ficamos na
França não consegui treinar, e meu corpo estava pedindo socorro. Fiz todo o
meu exercício, voltei para o quarto e Sophia ainda dormia do mesmo
jeitinho.
Depois do banho, precisei acordá-la, porque o café já havia sido
entregue e estava montado lá embaixo, pedi que uma confeitaria preparasse
um café completo e entregasse aqui.
— Bom dia, dorminhoca, vamos tomar café?
— Não posso ficar só mais um pouco na cama?
— Não, senão tudo vai esfriar. Vamos lá, sua irmã já deve estar te
esperando.
Esse foi o gatilho para ela se levantar. Correu para o banheiro, lavou
o rosto, fez sua higiene e nós descemos.
— Eu já estava pronta para te tirar da cama, Sophia.
— Desculpe, estava cansada, teve jet lag, apartamento inundado, dá
um descontinho? — ela falou fazendo bico para a irmã.
A relação das duas era muito bonita de ver.
Nós tomamos café conversando sobre estudos e Sophia comentou
que a irmã iria retomá-los.
— Qual sua área de atuação, Sarah?
— Eu fazia ciência da computação, mas sempre voltada para a área
de criação de softwares.
— Temos algumas bolsas que nós provemos aqui na NYU, não te
interessa terminar de estudar aqui?
Ela ficou um pouco atônita.
— Essa bolsa garante vaga de estágio na Rockefeller, pode pensar e
me falar, posso conseguir que você entre ainda esse ano, se quiser.
— Sarah, tudo bem? É uma proposta incrível essa do Theo, eu
adoraria ter você aqui pertinho.
— Sim, é incrível! Só não sei se poderia deixar nossos pais lá
sozinhos.
— Irmã, você fez muito por eles, e eles estão totalmente assistidos
lá. Pode ficar em paz. — Sophia falou segurando as mãos dela.
— Vou pensar e te dou uma resposta, Theo. Obrigada pela proposta.
— Imagina. Só preciso que seja logo, devido ao início do semestre.
— Tinha contatos na universidade e conseguiria que ela entrasse agora, se
quisesse. — Sophia, não vai se arrumar? Gerald vem buscar vocês daqui a
pouco.
— Para levar para onde? Eu combinei com a sua mãe de me arrumar
lá mais tarde.
— Mudança de planos. Você vai com as meninas para o SPA.
— Você combinou com elas? — Ela me olhava sem entender.
— Sim. Marquei lá e pedi que Mary avisasse a Claire, avisei a
Karen e Sarah, como estaria aqui, seria avisada.
— Você é maravilhoso! Vou me arrumar e já volto. — Ela saiu
correndo e se batendo pelo caminho, ela definitivamente não poderia correr
se não fosse em um lugar aberto.
Sarah confirmou que Sophia tinha ido, e virou para falar comigo.
— Theodore, eu quero ser muito sincera com você, e vou fazer isso
porque amo a minha irmã.
— Sim, pode falar.
— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês para esse noivado
repentino. Não acredito nesse amor surpreendente do dia pra noite. Vocês
têm algo, é inegável, mas não se tratam como um casal super apaixonado.
Acredito que ela esteja falando sobre o jeito que nos falamos.
Realmente, pra quem quer se casar do dia para a noite, nós precisamos
parecer mais apaixonados.
— Eu não vou interferir, mas só te peço que não magoe mais a
minha irmã. Ela já sofreu demais e não merece ter o coração partido mais
uma vez.
Preciso entender com Sophia o que aconteceu no passado dela que a
fez ficar tão traumatizada a ponto de não querer entregar mais seu coração.
— Pode ficar sossegada, o que eu sinto por sua irmã é de verdade e
não irei magoá-la.
— Muito bem, porque não me importa quanto você seja rico, se a
fizer sofre, eu vou te caçar e arrancar suas bolas.
Eu arregalei os olhos! Como uma coisinha tão pequena poderia soar
tão ameaçadora? Minhas mãos foram automaticamente para minhas bolas,
com medo.
Eu precisava pensar em como soar mais apaixonado pela minha
noiva na frente das outras pessoas.
Sophia apareceu e elas foram para o SPA. Eu precisava finalizar a
compra da empresa de Avelar, aquele velho me deu mais trabalho do que
calculei, Josh se meteu no meio me dando dor de cabeça, mas no fim, como
sempre, passei por ele sem maiores problemas. Não poderia esquecer que
depois ainda iria cortar meu cabelo e fazer a barba, queria estar à altura da
personagem principal daquela noite.

O noivado era na casa da minha mãe. Optamos por algo à tarde, para
pegar uma boa iluminação. Coisas da Sra Susan. Estava lá, conversando
com David e Zachary, quando as meninas chegaram, Sophia estava linda.
— Theo, você precisa me apresentar essas meninas. Acho que vou
noivar também. — Ri de David, emocionado demais.
— Com certeza! Pelo que me lembro Karen falou que você se
casaria em pouco tempo, ou estou equivocado?
— Quem sabe não me caso com a sua cunhada? — Olhei querendo
matá-lo. Se ele se envolvesse com Sarah e a magoasse, Sophia o mataria.
— Sabe que minha noiva te mata se você fizer isso.
— Por que eu mataria o David? — Sophia chegou perguntando.
— Melhor você nem saber, amor. — Ela me olhou um pouco sem
entender, mas o que Sarah falou era real, precisamos nos tratar de forma
ainda mais carinhosa.
— Você está maravilhosa. — falei e lhe dei um beijo simples.
Ela usava um vestido claro, com um corpete bem marcado, que
deixou seus seios perfeitos, minha vontade era de beijar os dois montes que
estavam elevados pelo vestido, da cintura para baixo ele era solto, e
realmente me passava uma aparência de noiva.
— Você também está maravilhoso, meu amor. — ela embarcou na
minha. O bom de Sophia era que ela entendia as coisas muito rápido e isso
fazia toda a diferença.
Fui apresentado à sua outra amiga, e apresentei todas à David e
Zachary. O meu amigo não tirava os olhos da minha cunhada.
— Vou ali apresentar Sarah aos seus pais, já volto. — Sophia foi
com suas amigas e eu fiquei sozinho com Karen e David.
— David, você pode pelo menos disfarçar? — ela falou dando uma
cotovelada nele.
— Ai! O que eu fiz? — Ele passava a mão na barriga como se
Karen o tivesse acertado com toda a força.
— Você não para de secar a cunhada do nosso amigo.
Ele voltou a olhar na direção em que as meninas foram. De onde
estávamos era possível vê-las bem.
— O que tem de mais olhar? Ela tem namorado? — Ele pareceu
preocupado de verdade.
— Não, pelo que comentou no SPA, está solteira. Desde que o pai
ficou doente, ela acabou parando toda a vida e só vivendo em função de
ajudar a família. Fiquei tão triste com elas contando as suas histórias. As
duas são muito fortes, merecem ser felizes. — Karen parecia pensativa,
acho que essas horas no SPA foram reveladoras.
— E quem disse que eu não posso fazê-la feliz? — David deu seu
melhor sorriso cafajeste para Karen.
— Porque ela não é para o seu bico. Esqueça ela. Ok?
Ele deu de ombros, mas não me convenceu nem um pouco.
— Fez novas amizades, Karen? Já está pronta para nos largar? —
David mudou de assunto.
— Fiz sim, as meninas são incríveis! Mas infelizmente não consigo
deixar vocês, o que é péssimo para mim.
Esses dois juntos eram só drama, mas não via a minha vida sem
eles.
Mamãe acenou para que fôssemos até ela.
Estávamos conversando, minha mãe lembrando de travessuras
minha e dos meus amigos, quando Lauren chegou com o seu noivo.
Ela falou com todos, e nos parabenizou pelo noivado, mas percebi
que ela não estava nem um pouco animada.
— Espero que vocês sejam felizes.
— Obrigada, querida. — Sophia falou, abrindo o seu sorriso mais
falso. — Amor, o fotógrafo nos chamou para tirarmos umas fotos ali.
Vamos?
— Sim, com licença. — falei e saímos.
— Desculpe, mas não estou conseguindo ficar no mesmo ambiente
que a Lauren. Estou cansada das implicâncias dela, mesmo sabendo que é
só ciúmes de você. — ela chegou mais perto e falou mais baixo. — Se seu
plano era voltar, acredito que não vai demorar muito tempo.
Não pensava em voltar com Lauren. Na verdade, acho que depois
que terminamos, eu entendi que ela não era a pessoa certa para mim, e no
fundo sempre soube disso. Eu só tinha a certeza de que ela não se casaria
com o noivo.
Não consegui responder, porque apareceram convidados nos
felicitando e depois os fotógrafos tirando várias fotos nossas.
Aproveitei e pedi que ele tirasse algumas no meu telefone, porque
queria postar ainda hoje.
— Ficaram ótimas. — Ele disse quando encerrou as fotos.
— Claro, somos um belo casal. Já imaginou nossos filhos? Vão ser
perfeitos.
Sophia me olhou surpresa.
— Está pensando em filhos, meu amor?
— Lógico! Já tenho nossa vida toda planejada, meu Chocolate! —
disse abraçando-a pela cintura e olhando nos seus olhos. — Vamos nos
casar, ter três filhos e um cachorro, viver juntos até ficarmos velhinhos. —
terminei de falar e a beijei.
Não tinha percebido que tinha algumas pessoas em volta até ouvi-
los aplaudindo o nosso beijo.
— Temos torcida. — falei e ela sorriu, corada.
Estávamos voltando para onde nossos amigos estavam, quando
avistei Josh. Não entendi o que ele fazia aqui.
— Não sabia que você conhecia o Joshua Atkins. — Sophia falou
quando o avistou.
— Sim, nós estudamos juntos.
— Que coincidência. Quase trabalhei para a empresa dele. Cheguei
longe no processo, mas acabei sendo dispensada. — ela falou com pesar.
— Bom para mim, porque assim pude te contratar, e azar o dele.
Josh chegou perto, achei que ele seria no mínimo educado, mas
como sempre, estava enganado.
— Olá, Theodore.
— Oi, Joshua, poderia me dizer o que está fazendo aqui sem ter sido
convidado?
— Olha, quando você falou que estava noivo, achei que fosse
mentira, mas quando descobri com quem era, tudo fez sentido, então tive
que vir aqui pessoalmente. — Fiquei surpreso com o desprezo na sua voz.
— Desculpe, não entendi o que você quis dizer. — Será que esse
filho da mãe desconfiava de alguma coisa?
— Você pegou uma puta, que para subir na vida, primeiro sobe no
colo do chefe. Eu não a contratei justamente por isso, agora você caiu no
conto e dessa vez ela foi esperta indo subir direto no dono da empresa.
Esse filho da puta não ia falar assim de Sophia. Eu o agarrei pelo
colarinho, e na mesma hora Sophia me segurou.
— É isso que ele quer, lembre-se que aqui está cheio de fotógrafos.
— Sophia sussurrou e segurou minha mão. — Quanto a você, pode se
retirar da nossa festa. Não é bem-vindo. Em quem eu subo no colo ou não,
não lhe diz respeito. Meu trabalho fala por mim, não preciso de mais nada
além disso para provar quem eu sou, com licença.
Ela saiu e me levou junto.
Nossos amigos chegaram perto e eu pedi que David e Zachary
dessem um jeito de tirar Josh daqui.
Sophia mantinha um sorriso no rosto, mas percebi que o que ele
falou a afetou. Eu descobriria o que aconteceu e porque ele falou isso. Se
ele falou que não a contratou por isso, é porque essa história não saiu da
cabeça dele.
Voltei meu olhar a Sophia. Dorothy a estava abraçando. Imaginei
que ela tivesse visto a cena e como conhecia bem Josh, estava confortando-
a do seu jeito.
Eu a observava e pensava no quanto ela era forte, acabou de ser
insultada, deu uma resposta a altura e ainda estava plena, sorrindo e
conversando com outras pessoas.
Quatro meses era pouco, talvez eu pudesse querer um pouco mais de
tempo com ela.
Capítulo 32

Sophia Clarck

Quando alguém me dizia que eu iria mudar


Eu costumava me esconder atrás de um sorriso
Quando alguém me dizia que eu iria mudar
Eu tinha medo, não sei porquê
Porque o mundo lá fora também muda, eu percebi
Bigger Than Me - Louis Tomlinson

Mantive o sorriso no rosto, mas por dentro eu fervia de raiva. Meu


ex-chefe, o grande Donald Casey, como ele gostava de se intitular, não só
quase acabou com a minha vida profissional, como ainda falava mal de
mim e inventava histórias para onde quer que eu tentasse entrar para
trabalhar.
Agora o meu medo era que usassem o meu relacionamento com
Theo para expor um passado distorcido na internet, e o prejudicassem.
Toda a leveza do dia que estávamos tendo se foi junto com Joshua.
Nunca imaginei que ele pudesse fazer uma cena dessas. Ele parecia ser um
empresário tão focado, era muito bonito, cabelos e olhos negros profundos,
corpo atlético, devia malhar tanto quanto meu noivo. Lembro de sempre vê-
lo em matérias na internet, falando como a sua empresa estava em ascensão
no mercado. Tinha até babado um pouco nas fotos dele, mas agora, eu só
tinha repulsa.
Todos os convidados foram embora, ficando somente nossos
amigos. Estávamos sentados no jardim conversando coisas bobas, e rindo,
quando Theodore me puxou de lado e sussurrou.
— Você está bem? Percebi que depois do comentário de Josh você
ficou diferente. — Era impressionante como ele conseguia me ler com
facilidade.
— Estou sim, só me pegou de surpresa o ataque. Mas já estou
acostumada a receber ataques gratuitos. Ele não foi o primeiro e nem vai ser
o último.
Era algo que já não me afetava tanto. Lógico que eu não seria
hipócrita em dizer que não me machucava. Com certeza magoava, mas eu
sabia que o que era falado não refletia quem eu sou.
O que mais me deixou chateada nesse momento, foi que poderiam
prejudicar o meu noivo por uma mentira a meu respeito.
Ele me analisava como se buscasse me entender, como se eu fosse
uma caixinha de surpresas.
— De verdade, está tudo bem. — Ele acenou, como se dissesse que
não iria me pressionar agora, mas depois continuaríamos essa conversa.
As meninas estavam muito empolgadas, elas se deram super bem
com Karen e David, mas não poderia esperar menos deles.
— Sophia, por que você estava escondendo os amigos de Theodore
só pra você? — Claire disse rindo de algo que David tinha falado, era óbvio
que ela se juntaria a ele.
— Porque eu sabia que ia perder vocês para esses dois aí. — disse
fingindo estar com ciúmes.
— É desse jeito mesmo, eu perdi Sophia para Karen lá em Paris.
Minha melhor amiga conquistou minha noiva de maneira irreversível. —
Theodore falou rindo.
— Desculpe, meu amor — ainda ficava meio engasgada para
chamá-lo assim —, mas realmente, Karen tem meu coração. — Ela, como
uma boa implicante, me mandou um beijinho.
— Ok, ok, mas antes de qualquer coisa, eu sou a irmã. Tenho Sophia
há mais tempo na minha vida, então ela é mais minha que de todos vocês.
— Sarah me abraçou de lado.
Ficamos do lado de fora até que ficou frio demais e Susan colocou
todo mundo para dentro. A mim, ela convenceu a entrar só falando que
tinha sobrado bolo de chocolate e Theo não perdeu a oportunidade de me
chamar de srta. Chocolate.
Fui com Sarah até o quarto em que ela ia ficar, pois Susan não
deixou que voltássemos para casa hoje. Percebi que ela estava
desconfortável.
— Você está assim por ter que dormir aqui? Podemos falar com
Susan e ir embora. Tenho certeza de que ela vai entender.
— Não. Eu estou me sentindo uma péssima irmã, mas preciso falar
a verdade para você. — Ela respirou fundo e se sentou na cama. — Fiquei
desconfortável com o relacionamento de vocês e conversei com o Theo hoje
de manhã. Então percebi que ele passou a te chamar de amor, e afins.
Sabia que chegaria o momento em que Sarah iria falar alguma coisa,
ela sempre foi muito transparente no seu jeito e me conhecia como
ninguém. Então deixei que ela falasse.
— Eu fico preocupada com você, de ter se metido em algum
problema por conta de dinheiro. Theodore parece ser uma pessoa
maravilhosa e arrisco até em dizer que sente algo por você, pelo jeito que te
olha. — eu tentava não pensar nisso — Mas eu te conheço bem demais para
saber que você não está totalmente à vontade.
Eu comecei a chorar, e não vi mais motivos para esconder dela o
que estava acontecendo.
— Por Deus, Soph. O que está acontecendo? Ele está te
chantageando? Fala alguma coisa, por favor. — ela disse desesperada
pegando o meu rosto.
— Não, Theodore não está fazendo nada além de ser incrível
comigo. Mas você está certa, nosso relacionamento não é real. Ele
precisava de uma noiva de mentira e eu precisava de dinheiro para o
tratamento do papai, então ele me fez a proposta, me ofereceu um contrato e
no momento que aconteceu, foi irresistível, eu não tinha para onde correr.
Contei à minha irmã como tudo aconteceu, como ele me abordou, o
que prometeu e como estava nosso relacionamento até o momento.
— Você acha que eu sou uma vadia por estar transando com ele? —
perguntei, porque sabia que Sarah era o tipo de pessoa que falava as
verdades por mais dolorosas que elas pudessem ser.
— Lógico que não, para de loucura. Por mais que tenha um
contrato, vocês são adultos e escolheram isso. Só tenha cuidado com o seu
coração e com o de Theodore também, ele me parece envolvido demais
nesse “contrato”.
— Imagina, ele só é excêntrico. Não tem com o que gastar dinheiro
e aí resolveu gastar comigo. Ele tem um coração muito grande, isso com
certeza pesa. Tenho certeza de que quando acabar os quatro meses, vamos
seguir nossas vidas, mas permaneceremos amigos.
Mesmo que em pouco tempo, ele tenha se tornado importante para
mim, isso é algo que eu jamais vou poder negar.
— Tudo bem, só não se perde por conta de uma muralha que você
criou em volta do seu coração. — Ela me abraçou e finalizou — E fica
tranquila, eu faria o mesmo pela nossa família.
Essa semana passou como um borrão. Eu acho que trabalhei mais
que Theodore, ficando até tarde diversos dias e, às vezes, levando trabalho
para casa.
O lançamento oficial do novo produto seria na próxima terça-feira,
então toda a equipe do marketing estava empenhada em finalizar os últimos
detalhes. Estávamos promovendo muitas chamadas e em contato com
muitos influencers que divulgavam a marca. Mesmo tendo uma empresa
que faz essa intermediação, Theo gostava que nós acompanhássemos tudo
para ter certeza de que a mensagem que eles passariam realmente trazia a
essência do produto.
Hoje, eu finalmente voltaria ao centro social depois de duas semanas
fora e, como prometido, estava levando Karen e meu noivo comigo. Tinha
conseguido mais um voluntário para o projeto, como Michele havia pedido.
Charles era da minha equipe de atletismo na faculdade e alguém por quem
eu tinha uma consideração enorme, que me deu um apoio único quando me
lesionei.
— Eu estou tão empolgada para conhecer as crianças, você sabe que
eu participo de vários projetos, mas com a falta de tempo não sou tão
atuante na ponta, faço mais a administração. Mas ver os seus olhos
brilhando ao falar deles me deixou louca para conhecer tudo que você faz.
— Karen comentou, me deixando feliz por saber que conseguia transmitir o
que eu sentia em palavras.
— Então, se prepare, porque eles vão te deixar doida. Sempre que
chega alguém novo eles enlouquecem.
Gerald nos deixou no centro e como já estava na hora de começar
minha aula, eu deixei Karen e Theo com Michele, que apresentaria o lugar
para eles. Eu fui correndo trocar de roupa.
Cheguei na quadra e já tinha um Charles muito empolgado
conversando com as crianças.
Quando ele me viu, me abraçou apertado.
— Que saudade que eu estava de você. Obrigado por ter me
chamado para participar, sempre quis fazer parte de algo assim. — ele falou
depois de me soltar.
— Também estava com saudades, ficamos muito tempo sem nos ver.
Eu que agradeço por você ter vindo, eu não estava mais dando conta. Você
já conheceu as meninas que auxiliam aqui e os pequenos também, então
agora podemos separar melhor as turmas e começar.
— Claro, é só me passar como você faz que eu sigo o mesmo
método que eles estão habituados.
Expliquei para ele como funcionava o meu método de ensino, o que
eles faziam para aprender e qual era a maior dificuldade.
Começamos as aulas e percebi que eles estavam adorando o Charles,
e me deixando louca.
Fizemos um intervalo para eles se recuperarem, e as crianças
insistiram que queriam nos ver correndo.
— Vocês sabem que eu ganho do tio Charles de olhos fechados, né?
— provoquei, eles adoravam que nós fizéssemos algumas implicâncias.
— Sophia, eu ia te deixar ganhar, agora você vai perder para mim.
— ele disse prendendo o riso.
Corremos os cem metros rasos. Pelo tamanho de Charles, suas
passadas eram muito maiores que as minhas, então ele chegaria na minha
frente com certeza. Mas chegamos juntos e sabia que ele fez isso pelas
crianças.
Ele me abraçou de lado enquanto todos estavam eufóricos pela
nossa velocidade e por termos chegado juntos.
— Você fez de propósito, não é mesmo? — falei baixo para ele.
— Imagina, você corre tanto quanto eu, talvez até mais. — ele
sussurrou perto do meu ouvido.
Ouvi um arranhar de garganta e pelo cheiro sabia que era o meu
noivo. Virei para ele e sua expressão não era das melhores.
O que será que aconteceu para ele estar com essa cara de quem
chupou limão?
— Vi você e seu amigo correndo — Karen veio na minha direção.
— Você é maravilhosa! Aliás, os dois são.
Theodore me puxou para si e me deu um beijo, que fez todas as
crianças gritarem.
— Você é incrível correndo, meu amor. — Ah, pronto! Ele estava
com ciúmes?
— Obrigada, amor. — Lancei um olhar cortante para ele. —
Charles, esses aqui são Theodore e Karen. Theodore, Karen, esse é o
Charles, ele é o novo instrutor. Fazíamos parte da mesma equipe de
atletismo na faculdade. — Eles se cumprimentaram, e o meu querido noivo
não me largou.
— Precisamos voltar para a aula, vocês vão ficar aqui me
aguardando?
— Sim. — a resposta veio em uníssono.
— Theo, você pode me soltar agora, preciso ir.
— Desculpe, não gosto de ficar afastado da minha noiva. — ele fez
questão de falar alto para que Charles ouvisse.
— Não quer mijar em mim para marcar território também? — falei
baixo para que só ele escutasse.
— Se com isso ninguém mais te olhasse, talvez eu fizesse sim. —
Me soltei dele e só balancei a cabeça.
— Sou sua noiva. Não precisa se preocupar, já falei que enquanto
estivermos juntos, somos só nós dois.
Saímos de perto dos dois e voltamos para onde eram feitas as
corridas.
— Seu noivo é ciumento, não? — Charles falou rindo.
— Um pouquinho só.
— Ele não tem a mínima ideia de que você não é o tipo de pessoa
que trai, né? Nem sequer olha para o lado quando está com alguém. — Ele
falou, porque sabia do meu passado.
— Ele não sabe de tudo ainda, mas logo vai saber. E vamos lá, você
não é de se jogar fora, não é mesmo? — dei uma empurrada lateral nele, e
voltei meu olhar para Theodore que nem mesmo piscava me olhando.
O restante do dia passou rápido, Theo e Karen se divertiram com a
gente no final da aula, quando para minha surpresa, meu noivo mandou
entregar vários potes de sorvete fazendo a alegria geral.
— Agora vocês entenderam por que eu cheguei imunda no avião
aquele dia? — estava limpando a última mesa que os pestinhas sujaram de
sorvete e mais uma vez estava toda suja.
A cara de Theodore no meio da bagunça foi impagável. Ele parecia
tão descontraído e divertido com as crianças que eu fiquei completamente
encantada. Tenho certeza de que ele será um ótimo pai.
— Eu ainda prefiro você suja de sorvete. — Theo lambeu minha
bochecha que estava suja. — Huuum, sorvete de chocolate, meu sabor
preferido.
Corei na mesma hora, pensando em muitas coisas que ele poderia
fazer com aquele sorvete.
Michele entrou na sala e eu despertei do transe.
— Queridos, a sala de informática ficou pronta. — Ela estava
sorrindo de orelha a orelha.
Eu me perguntei por que seria.
A minha dúvida foi logo sanada quando nós fomos ver o local e,
meu Deus, fizeram um mega laboratório tecnológico, cheio de
equipamentos de ponta.
— Foram vocês? — perguntei para Theo e Karen.
— Sim, nós queríamos que eles tivessem todo o acesso à tecnologia.
— Theodore respondeu.
— Eles terão aulas de software, hardware, robótica, aprenderão a
criar sistemas, essas coisas. — Karen me explicou.
— Que incrível! Eles vão ficar muito felizes, tenho certeza disso.
Quem vai dar as aulas?
— Contratamos professores especializados em cada área, e como
são muitos alunos, eles vão se dividir para conseguir atender a todos.
— Obrigada por investirem aqui. Sei que vocês têm as instituições
que já ajudam, mas esse lugar é o único apoio para muitos desses jovens,
então não tenho palavras para descrever a importância desse gesto.
Michele estava chorando. Eu abracei a minha amiga porque sabia
que para ela era algo com um valor maior ainda.
Capítulo 33

Theodore Rockefeller

Posso dizer que não há lugar aonde não podemos ir


Basta colocar sua mão no vidro
Eu estou aqui para te puxar
Você só tem de ser forte
Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
Mirrors - Justin Timberlake

Passei a última semana tentando descobrir porque Josh falou aquelas


coisas na festa. Queria entender o que havia acontecido com Sophia porque
estava esperando o momento em que colocariam alguma coisa na mídia.
Quando descobri que quem falou da minha noiva foi o Donald, resolvi
cavar mais fundo. Percebi vários processos seletivos que ela iniciou e
acabou descartada, o que não fazia sentido, considerando o seu talento e
currículo, que incluía algum tempo trabalhando na empresa de marketing
onde Donald era diretor.
Ainda não sabia o que aconteceu de verdade, só que ele falava mal
dela nas empresas, mas, com certeza, tinha muito mais por trás. Eles
fizeram questão de deixar tudo muito bem escondido. Hoje eu falaria com
Sophia para entender de uma vez por todas o que aconteceu.
Estávamos voltando para casa depois de passar quase o dia todo no
projeto social. Aquele lugar tinha realmente a magia que Sophia passava no
olhar quando falava dele. Todos lá adoravam a minha noiva, era
impressionante o olhar de admiração que ela arrancava por onde passava.
Até o tal do Charles falava com ela cheio de brilho nos olhos e muitos
dedos em cima dela.
Segurei muitas vezes durante o dia a vontade de gritar SOLTA QUE
ELA É MINHA! Mas se eu fizesse isso, era capaz dela me bater na frente
de todo mundo.
— Charles é seu amigo há muito tempo? — Aproveitei meus
pensamentos para sanar a curiosidade.
— Sim, desde a época da faculdade. Estivemos afastados porque ele
estava morando em Indianápolis no último ano, mas ainda conversávamos.
— ela parou de falar e me analisou por alguns segundos. — Eu percebi que
você estava olhando para ele como se quisesse matá-lo a qualquer
momento.
— Ele estava colocando dedos demais no que é meu.
— Oh, Sr. Possessivo, ninguém pode encostar em mim? — ela falou
arqueando uma sobrancelha.
— Alguém que te olha como Charles? Não. Definitivamente, não.
Sophia não me respondeu e mudou a expressão do seu rosto.
— Vocês tiveram algo? — Ela parecia pensar, como se puxasse na
memória algo. — Se não quiser falar, tudo bem. — Não estaria tudo bem,
mas não queria pressioná-la agora.
— Não tivemos nada sério. — ela parou de falar, tomando uma
respiração mais profunda. — Logo no começo da faculdade ficamos em
uma festa, nada demais. Quando ele quis mais, eu não quis e ele
compreendeu. Com o passar do tempo viramos amigos e ele entendeu o
meu passado e a minha aversão a relacionamentos.
Sophia era transparente para mim, provavelmente não via em
Charles o que eu vi, e agora com o meu comentário ela estava repassando
tudo naquela cabecinha.
— Ele pode até ter entendido, mas, com certeza, nunca superou. E
agora, deve estar se perguntando o que eu tenho que ele não tem para te
fazer aceitar meu pedido de casamento.
— Theo, não é pra tanto. Ele nunca me pediu em casamento, para de
aumentar algo que não teve importância. — Ela me olhou como se quisesse
que isso fosse a verdade, eu que não insistiria para dizer que teve
importância.
Nesse momento, Gerald parou na garagem e ela me olhava em
expectativa, esperando que eu retrucasse sua última fala. Porém,
aproveitaria que ela estava falando sobre o passado para saber o que me
importava de verdade.
Entramos no elevador e ela estava distraída observando a vista que
as paredes de vidro nos proporcionavam. Parecia imersa em um mundo só
dela.
— Soph, queria te perguntar uma coisa. — falei assim que entramos
na sala. — Senta aqui comigo um pouquinho. — Apontei para o sofá, ela
me seguiu, me medindo atentamente.
— Pode falar, agora eu estou curiosa.
— Sobre o que aconteceu na festa, a atitude de Josh foi
inapropriada, falando algo que não é verdade — era importante que ela
soubesse que eu acreditava que tudo aquilo era uma mentira —, porém,
percebi que te afetou mais do que uma simples mentira, e eu queria
entender de onde ele tirou isso. — Queria que ela me falasse do seu ponto
de vista para encaixar as peças do quebra-cabeça que eu tinha na mão.
— Não é algo que eu goste de falar, porém se eles resolverem expor
alguma coisa, pode te prejudicar, e eu não quero isso de maneira nenhuma.
Percebi o quanto isso a afetava, mas eu precisava entender, até para
conseguir ajudar.
— Eu comecei a trabalhar na Digitas ainda na faculdade, com um
estágio. Fui me desenvolvendo rápido e alcançando posições até virar
coordenadora da área em que eu atuava. Donald sempre me elogiava muito,
e às vezes, fazia piadinhas sobre como eu cresci rápido na empresa. Ele não
costumava ir muito ao meu setor, mas, de repente, ele passou a aparecer
mais, a me chamar para reuniões, pedir que eu participasse de projetos
importantes. — Ela engoliu em seco. — Eu fiquei empolgada no começo,
porque imaginei que o meu esforço estava sendo reconhecido. Eu
trabalhava muito, Theo. Chegava cedo e não tinha hora para sair. Até que
eu comecei a perceber ele me lançando olhares que não eram pertinentes, a
fazer algumas brincadeiras sem graça, ficar encostando mãos bobas demais.
— Ela tomou fôlego.
— Ei, tudo bem, respira. Vai com calma. Vou pegar uma água para
você. — Eu já imaginava aonde essa história chegaria. Fui até a cozinha,
respirei fundo algumas vezes, bebi a água, estava a ponto de quebrar o copo
na minha mão, tamanha a força com que eu o segurei. Voltei à sala e
entreguei a água a ela, percebi suas mãos tremendo.
Ela tomou com cuidado e segurei a sua mão, para que soubesse que
não estava mais sozinha.
Ela tinha a mim, e eu faria qualquer coisa por ela, para vê-la feliz.
Ela sorriu fraco pra mim e continuou.
— Então, depois de alguns meses dele fazendo essas coisas, eu já
estava desconfortável. Quando decidi que conversaria com o meu gerente,
ele pediu as contas e foi para outra empresa. Foi tudo muito rápido e eu
nem consegui conversar com ele. Eu queria acreditar que as coisas
melhorariam, dava alguns cortes sutis. Ele parava e depois voltava. Donald
me chamou para conversar e disse que eu tinha o perfil da vaga de gerência,
mas teria que me esforçar um pouco mais. — ela respirou fundo, parecendo
irritada ao lembrar — Na semana seguinte, eu fiquei mais tempo ainda na
empresa, porque estava com muitas demandas e queria provar que eu era
capaz. Até que, em uma determinada noite, eu estava fechando tudo para ir
embora, já era tarde, todos tinham saído, ele me chamou na sua sala e... —
percebi que os seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu esperava pelo
pior e pensava em todas as maneiras que eu destruiria o Donald.
Puxei Sophia para o meu colo e a abracei apertado.
— Já passou, ele não pode mais fazer nada com você. — Puxei seu
queixo para que me olhasse. — Se você quiser parar, eu vou entender.
Ela negou com a cabeça, eu dei um beijo nela e esperei que
continuasse.
— Eu preciso terminar, colocar isso para fora. — Assenti e ela
continuou de onde havia parado. — Ele disse que eu ainda precisava de um
a mais, então eu perguntei o que queria que eu fizesse, porque não sabia
mais o que era. — ela foi diminuindo o tom de voz, até que estava apenas
sussurrando. — E aí me disse que era só passar algumas noites com ele e
teria a ascensão que quisesse. Na mesma hora neguei. Ele me encurralou na
porta e falou que entendia o meu joguinho, que eu primeiro provocava, indo
com roupas apertadas e decotadas, e depois fingia a boa moça. — Nesse
momento ela me olhou e percebi o desespero nos seus olhos. — Eu nunca
provoquei ele ou ninguém na empresa. Pelo amor de Deus, usava roupas
normais, saias sociais, blusas com decotes que não eram vulgares, mas nada
além! Você acredita em mim, né?
— Claro que sim, meu amor — falei enquanto colocava uma mecha
de cabelo atrás da sua orelha, e secava algumas lágrimas que teimavam em
descer. — Você é uma profissional impecável, Sophia. Tenho certeza de que
não se vestia para provocar ninguém.
Ela respirou mais aliviada e comecei a entender um pouco melhor a
preocupação dela com as roupas que usava, em como às vezes ela vestia
uma roupa e cinco minutos depois trocava.
— Eu disse que nunca fiz nada, e você conhece o Donald, né? —
acenei que sim, infelizmente, o maldito era conhecido no meio do
marketing, ele era mais alto que Sophia, poderia imobilizá-la sem muita
dificuldade, e isso fez meu sangue ferver. — Quando tentei empurrá-lo,
porque comecei a ter ideia do que poderia fazer comigo, ele segurou meu
braço e tentou abrir a minha blusa, mas como só estava com uma mão,
acabou rasgando. Ele tentava me beijar, eu me sacudia tentando me livrar
dele, porém, devido ao seu tamanho era difícil, ele me mordia, lambia —
ela falou parecendo sentir nojo, a apertei mais no meu colo, lhe confortando
—, achei que não conseguiria escapar, até que o telefone dele tocou na
mesa, me dando um segundo de vantagem. Com isso consegui dar um chute
no saco dele e sair correndo. Eu desci rápido e entrei no primeiro táxi que
vi. O coitado do taxista primeiro achou que eu era doida, mas depois me
ajudou. Como eu saí correndo sem nada, fui para casa de Mary. Ela me
acolheu e no dia seguinte foi comigo na empresa, para que denunciasse o
que ele fez no RH. Para minha surpresa, ele me esperava lá, acho que já
imaginava o que eu faria. Eu o acusei sem medo nenhum, para receber uma
resposta que eles sabiam a verdade, que eu que tinha dado em cima dele
para conseguir a vaga de gerência. Eu fiquei sem reação.
E não seria para menos, em que empresa uma acusação de assédio é
tratada desse jeito?
— Ele pediu um minuto para falar comigo e simplesmente me
ameaçou, falando que eu tinha uma escolha muito simples, ficar ali
continuando na mesma vaga, mas fazer sexo com ele sem abrir a boca para
reclamar, ou poderia sair e nunca mais conseguir emprego, porque ele faria
da minha vida um inferno e não deixaria que ninguém me contratasse,
porque o seu nome tinha peso e ninguém nunca duvidaria dele. Acho que
você sabe o que eu escolhi.
— Sim, você escolheu o correto, porque é íntegra e não merecia
isso. — Segurei o rosto dela, olhando no fundo dos seus olhos — Nada
disso é culpa sua, aquele bastardo que não é um ser humano correto e não
tinha o direito de fazer isso com você.
Mas ele não perde por esperar, eu vou acabar com a vida dele, e ele
vai se arrepender de ter feito isso com a Sophia.
Ela ficou mexida depois de contar tudo isso, e não era para menos,
ela foi abusada e ainda levou a culpa por ser bonita. Sophia poderia andar
de burca que, ainda assim, ela chamaria atenção. Suas roupas não fazem
diferença, pois ela é simplesmente linda e sexy em sua essência. Por onde
passa ela arranca olhares e suspiros.
E eu deveria aprender a controlar meu ciúme. Quem mandou me
envolver com uma mulher linda?
A levei pro quarto e tomamos um banho relaxante. O tempo todo eu
a mantive por perto e percebi que ela me buscava. Fiquei feliz por saber que
ela me via como seu porto seguro nesse momento de vulnerabilidade.
Apesar de ainda ser cedo, ela estava esgotada, então a trouxe para
cama comigo, a beijei com calma, passando toda tranquilidade que ela
precisava. Ainda que não fosse isso que eu estivesse sentindo, só queria
tentar transmitir à Sophia os sentimentos que eu sabia que ela precisava.
Cada dia que passava, eu percebia que a forma com que eu a via
estava mudando, assim como o que sentia, e isso me assustava. Era algo
que me intrigava por ser diferente de tudo que eu já vivi antes, um
sentimento nasceu em mim seis anos atrás, naquele elevador. Eu havia
conseguido colocá-lo na gaveta por todo esse tempo, mas agora, a cada
momento que passava, ele aumentava, e eu só me pergunto para onde isso
iria me levar.
Fiz cafuné até ela pegar no sono, toda embolada em cima de mim.
Parecia ter medo de que a qualquer instante eu fosse fugir.
Deixei que ela descansasse e fui fazer algo para que pudéssemos
comer. Preparei a sala de cinema com os seus filmes favoritos, pedi que
entregassem um bolo de chocolate, barras de chocolate, sorvete e mais um
monte de coisas doces que aumentam a serotonina de uma pequena
formiga.
Decidi que deixaria ela feliz, nem que eu tivesse que apelar para
todas as suas coisas favoritas. Agora era a parte ruim: acordá-la.
Fiz um carinho no seu rosto, e ela se remexeu na cama.
— Srta. Chocolate, está na hora de levantar — ela resmungou
alguma coisa inaudível —, você não vai levantar nem se eu falar que tem
bolo de chocolate?
Capítulo 34

Sophia Clarck

Oh, eu quase vi o que está realmente por dentro?


Todas as suas inseguranças
Toda a roupa suja
Nunca me fizeram piscar uma vez
Incondicional, incondicionalmente
Eu te amarei incondicionalmente
Não há medo agora
Solte-se e apenas seja livre
Unconditionally - Katy Perry

Não queria sair daquela cama e do conforto que Theodore havia me


dado, falar sobre o meu passado foi doloroso, fazia eu me sentir culpada,
mesmo sabendo que não tive culpa. Minhas amigas sempre me apoiaram.
Claire, na época, queria denunciá-lo, mas como não tinha nenhuma prova
do acontecido e com a empresa contra mim, acabei deixando de lado. Essa
situação deixou uma ferida que não cicatrizou. Era uma marca que eu trazia
e que não me deixava confiar nas pessoas.
O que me convenceu a sair da cama, foi meu querido noivo falar em
chocolate.
— Não pode trazer aqui para mim? — pedi fazendo um beicinho.
— Não, você tem que vir.
— Acho que vou ficar por aqui, então. — Fiz um pouquinho de
charme para tentar convencê-lo.
O que não adiantou, pois ele jogou a coberta de lado e me pegou no
colo.
— Ok, entendi que era para eu descer. — falei me segurando nele.
Ele beijou minha cabeça e continuou indo comigo até a sala de TV que
havia no apartamento.
Quando olhei na tela, estava pausado em Harry Potter e a Ordem da
Fênix, que seria a sequência do que nós assistimos no avião.
Ele prestou atenção no último que nós vimos?
Não parecia ser seu estilo preferido de filmes.
Ele me colocou no sofá, que estava mais para uma cama, e puxou
um carrinho cheio de guloseimas, tinha pipoca, salgadinho, pizza, milk
shake, coca, barras de chocolate — muitas delas — e um bolo de chocolate
que me fez salivar.
Theodore me surpreendeu com todo o cuidado que teve comigo,
para fazer com que eu ficasse bem. Foi extremamente carinhoso e me senti
muito acolhida em seus braços, e agora isso. Era a cereja do bolo.
— Obrigada por ter feito tudo isso por mim. Por ter ficado comigo e
por ter me dado apoio durante o dia todo.
Ele havia se sentado novamente e eu pulei no seu colo, lhe dei um
beijo cheio de significado, calmo, que demonstrava toda a gratidão e
carinho que eu sentia por ele.
Theo a cada dia se tornava mais especial para mim, ocupando cada
vez mais espaço na minha vida.
— Não foi nada. — Ele colou nossas testas, e falava baixinho. — Só
quero te ver bem. Você é uma mulher forte e incrível. Merece o mundo.
Ele me beijou de novo até que ficamos sem fôlego. Paramos antes
que a sessão de cinema virasse um filme adulto.
Assistimos dois filmes, comemos um monte de coisas e eu acabei
dormindo novamente nos braços de Theodore, me sentindo extremamente
confortável e segura.

Havia finalmente chegado o dia do lançamento, eu estava na


academia com Theodore, desde que passei a morar com ele, nós
treinávamos juntos todos os dias de manhã. Às vezes, corríamos no Central
Parque, sempre apostando quem chegaria primeiro em algum lugar, o que
geralmente eu ganhava, porque apesar do tamanho e ter as pernas maiores,
eu tinha a técnica que ele não possuía.
Desde o fim de semana, percebi que ele estava me tratando de modo
mais carinhoso, sempre preocupado comigo.
— Terminei aqui, estou subindo para o banho.
— É um convite, Srta. Chocolate?
Coloquei minha mão no queixo como se pensasse se aquilo era
realmente um convite, considerando as possibilidades.
— É, pode ser que sim. Talvez te ver assim sem camisa, com o suor
escorrendo pela sua pele tenha me deixado excitada. — falei mordendo o
meu lábio. Estava brincando com ele, mas não mentindo. Ver aquele
homem todo dia de manhã malhando era tortura.
Por Deus, como podia ser tão perfeito?
— Eu acabei aqui, nesse minuto. — ele disse, vindo na minha
direção e me pegando no colo. Cruzei as pernas na sua cintura e subimos
para o banheiro, nos beijando com ferocidade.
Uma rapidinha durante o banho era a melhor forma de começar o
dia.
Estava me secando e ele parou atrás de mim, me encoxando,
abaixou para minha altura e sussurrou no meu ouvido.
— Essa rapidinha não saciou nem dez por cento da minha vontade
de você. Mais tarde você não me escapa.
— Quem disse que eu quero escapar? — falei saindo do banheiro e
deixando ele me olhando e sacudindo a cabeça.
Separei duas opções de roupa. Provei primeiro um terninho bege
que ficou bom, mas tinha um vestido preto que parecia que também iria
vestir bem. Quando experimentei e me olhei com aquela peça que ia até a
altura do joelho e desenhava meu corpo, ficando ajustado nas minhas
curvas, com as alças ombro a ombro, apesar de achar perfeito imaginei que
poderia chamar uma atenção indesejada. Achei melhor voltar ao terninho.
— Não ouse tirar esse vestido, Sophia. — A voz de Theodore veio
de trás de mim. Não havia reparado que ele estava no closet.
— Mas eu prefiro o terninho, e você não manda em mim, ok?
— Não mando em você, mesmo assim, você não vai tirar. — ele
chegou mais perto parando às minhas costas, me olhando pelo espelho —
Você só está com medo, e eu não vou mais deixar que o medo te domine.
Você é forte e maior do que isso, o vestido está maravilhoso em você.
Ele deu um beijo no meu ombro desnudo.
— Não tem nada demais na sua roupa, você chama atenção por onde
passa, simplesmente por ser você. Não precisa ter medo de nada disso. Pode
usar uma burca que ainda chamaria atenção pelos seus lindos olhos. Você
exala poder, magnetismo, sensualidade. É involuntário. É seu, você é única!
Cada pedacinho seu. — disse, distribuindo beijos pelos meus ombros. —
Eu sou um filho da puta sortudo por ter você pra mim. E quanto aos demais,
eles só podem olhar.
Theo me deixou sem palavras. Ele pegou no ponto certo. Eu
realmente era insegura, mas seguiria as suas palavras, faria o que as minhas
amigas sempre me deram forças para fazer, que era não deixar a
insegurança me dominar.
E vou ignorar ele falando que me tem.
Combinamos exclusividade, era por isso que ele falava isso, né?
Terminei de me arrumar e no carro, a caminho para a Rockefeller,
eu já estava trabalhando, ajustando os últimos detalhes, pois queria tudo
perfeito. Primeiro, teríamos o lançamento oficial na empresa e mais tarde,
para o mundo.
— Sophia, chegamos. Você vai ficar no carro?
Eu estava mais preocupada do que o Theo para esse evento. Para ele
era só mais um produto no portfólio, para mim o meu primeiro na empresa.
Entramos na lata de metal e eu observava a vista de Manhattan
enquanto subíamos. Me sentia bem mais confortável subindo nesse
elevador e lembrei que não tinha perguntado para ele o que aconteceu para
mudarem o equipamento.
— O que aconteceu com o último elevador para terem trocado?
— Nada. — ele respondeu no automático. Parecia que não havia
processado a pergunta.
— Então por que foi trocado? — Ele me olhou, prestando atenção
de verdade na minha pergunta.
— Porque... — ele pensou antes de continuar — Porque eu prefiro
vidro, acho que você sabe disso, né? Cansei do outro e pedi que trocassem,
simples assim.
— Eu não vou comentar, porém, não me convenceu. — Sorri para
ele e saí no meu andar.
Ele era excêntrico, mas não extrapolava assim. As coisas que ele
fazia tinham sentido.
O dia passou na mais pura loucura. No fim do dia, estávamos na
festa de apresentação do produto, totalmente extasiados pelo sucesso do
lançamento, e eu nem podia acreditar que era o assunto mais comentado das
redes sociais e o que havia acontecido em Paris havia ficado no passado.
Estar ali com Karen, David e Mary me apoiando dava um sabor
melhor ainda. David estava envaidecido por seu produto ser alvo de boas
críticas.
Chegamos em casa rindo e Theo fez questão de abrir uma garrafa do
seu melhor espumante para comemorarmos.
— Um brinde ao seu sucesso, meu Chocolate! — Ele ergueu a taça.
— Um brinde ao sucesso do nosso produto! — Bati a minha na dele.
Bebemos, apesar de já estar alegre pelo tanto que nós bebemos na
festa.
— Sabe, eu acho que me lembro de alguém ter me prometido algo
sobre hoje à noite. Talvez eu possa precisar de algo para relaxar. —
Coloquei a mão no queixo, como se estivesse pensando.
— Eu acho que me lembro de alguma coisa também.
Ele se sentou no sofá, me puxando para o seu colo, agarrou o meu
cabelo e me deu um beijo profundo. Aos poucos nos transformando em uma
mistura de bocas, línguas, mordidas e gemidos.
Não tinha jeito melhor de terminar o dia do que nos braços dele.

Theodore Rockefeller

Estava na minha sala, conferindo os números, com um mês de


lançamento o nosso novo produto era um sucesso. Uma das melhores
campanhas que já fizemos e estávamos colhendo os frutos disso todos os
dias.
Ouvi uma batida na porta e para Dorothy não ter avisado, só poderia
ser David ou Karen. Mandei que entrasse.
— Olha, quem é vivo sempre aparece. — falei com David.
— Eu estava empenhado em criar um novo produto, se você quiser
posso largar meu trabalho e viver aqui.
— Não, você já tem saído muito comigo, Sophia e Sarah. — Ele
sempre estava dando um jeito de estar presente conosco — Karen, tenho
sentido sua falta nas nossas saídas, sei que essas últimas semanas foram
corridas.
— Tenho ficado tempo demais tentando desvendar aquela merda de
código. Quem fez isso nos conhece bem, mas eu tenho algumas suspeitas.
— Que seriam? — Eu não estava conseguindo acompanhar tudo que
Karen estava fazendo, mas sabia que estaria bem-feito.
— Ainda não quero comentar, preciso ter um pouco mais de certeza
antes de falar. E o tanto de ataque que estamos sofrendo por dia está
absurdamente acima da média. Se as nossas proteções não fossem tão boas,
eu não sei o que teria sido da empresa. Certamente já teriam invadido.
— Por isso que eu não trabalho com amadores. Posso tentar te
ajudar com esse código. Mas, por enquanto, por mais que não saibamos
quem é, temos mais material para nos reforçarmos. — Eles concordaram.
David se sentou na minha frente e me olhou sério.
— Você não comentou como está sendo morar com a Sophia
durante esse tempo. Você está diferente. — Ele mudou radicalmente o
assunto.
— Que mudança drástica de assunto, não? — Ele era fofoqueiro
demais para não querer saber tudo — Está sendo muito bom, conseguimos
criar uma boa rotina. Mesmo com o trabalho corrido, as festas obrigatórias
que temos que comparecer, conseguimos assistir filmes, malhamos,
cozinhamos, nos divertimos. Sophia é uma excelente companhia. — falei
pensando em como acordar ao lado dela todos os dias me faz bem.
— Você já reparou em como o Theo fica quando fala da Sophia? —
Karen perguntou para David.
— Sim, ele me parece apaixonado, o que você acha?
— Concordo plenamente.
— Vocês podem não falar como se eu não estivesse aqui? — Que
droga, eu estava confuso, não queria admitir os meus sentimentos.
— Theo, pelo amor de Deus, você não vai negar, né? — Karen
falou, colocando uma mão na cintura como se estivesse a ponto de voar no
meu pescoço.
— Ok, não posso nem ficar confuso?
— Não! Você falta deitar no chão para ela passar, o que eu concordo
totalmente porque ela é incrível. Bem melhor que a última, mas isso não
vem ao caso. O ponto aqui é, você já parou para pensar o porquê de você
fazer tudo pela Sophia?
Eu sempre achei que fazia de tudo por ela, porque ela merecia, é
uma mulher batalhadora e eu tinha recursos para fazer qualquer coisa, mas
no fundo, eu sabia que não era só isso, só relutava para admitir.
— Porque eu quero ver a felicidade dela, ela merece o mundo.
— E você não se perguntou por que acha isso? Fala sério, não é só
pela história de vida dela, senão você faria isso com todo mundo. Mas, com
ela tem um sabor diferente. — David falou e eu fiquei surpreso.
— É desse jeito mesmo. Comprei um presente para ela essa semana
e entregaram em casa hoje.
— É algo que ela precisa? Ou é somente algo que vai deixá-la feliz?
Pensei e eu comprei só porque queria vê-la feliz, e droga era isso
mesmo.
— Só para deixá-la feliz. — admiti baixo.
— Então, meu amigo, sinto lhe informar, mas você tá muito
apaixonado. — David disse.
— Maravilha, e vocês sugerem que eu faça o que? Conte para ela?
Sophia sairia correndo, ela me falou desde o primeiro dia que não era para
eu me apaixonar.
— Meu amigo, ela gosta de você, é possível perceber pelos olhos
dela. Você só precisa mostrar que é diferente do passado dela, e que vai
fazê-la feliz. Faça ela se apaixonar por você. — Karen olhava para mim
determinada.
— Merda, eu não sei como fazer isso.
— Continue com o que você está fazendo, só intensifique um pouco
mais. Você sabe o que sente, então vá fazendo ela se sentir confortável com
o seu sentimento, assim ela vai se acostumar com o dela. E eu estava certa,
falei que você ia encontrar alguém. David você está bem próximo também.
— Sai de mim, Karen. O propósito aqui é o Theo conquistar o amor
da Sophia!
Eu a tinha na minha vida e não queria perdê-la de maneira nenhuma.
Demorei a admitir o meu sentimento, mas falar isso para alguém é algo
renovador.
Vou fazer de tudo para que ela perceba que ao meu lado é o seu
lugar.
Conversamos mais sobre o meu plano de ataque, com eles me dando
dicas. Eu pensava que seria doido em seguir todas, considerando que
nenhum dos dois era exemplo de relacionamentos.
— Aproveitando, consegui aquelas últimas informações do passado
de Donald Casey. Desenterrei até os ossos do armário dele e eles não são
nada bonitos de serem vistos. Que homem asqueroso. — Karen falou com
uma expressão que me fazia ter medo dela.
— Era ele que estava prejudicando a entrada de Sophia nas
empresas? — David perguntou.
— Sim, só que ela não foi a primeira com quem ele fez isso, o
problema é que nem todas tiveram a coragem de Sophia em sair de lá. —
Karen falava com um visível orgulho da minha noiva.
— O que você está fazendo para resolver isso, Theo?
— Bem simples, David. Estou comprando a Digitas. Conhecia o
dono e com o valor certo, consegui adiantar todo o processo, deve sair ainda
essa semana o resultado da compra. — Me virei de lado, observando a vista
de Manhattan. — Na segunda ele não estará mais na empresa, e depois de
uma semana será publicada uma matéria com todos os podres dele.
Consegui uma ajuda de Claire para isso. Mas vou entregar para as
autoridades todo o material. De repente, ele também pode ser assaltado
nesse meio tempo, e aí, como ele é esquentado, vai reagir e talvez apanhar
um pouco? Ou muito? Quem sabe?
— Meu amigo, nós permaneceremos nesse status até o túmulo.
Tenho que me lembrar de nunca chatear você e Karen.
— Nem Sophia ou a Sarah, nenhuma das meninas, todas são
importantes para minha noiva.
— Céus, eu só aumento a lista de pessoas que eu tenho que andar
sem olhar para o lado.
— É só você manter esse pau bem guardado que não teremos
problema. — Vi David engolir em seco. — Você não está aprontando, né?
— Eu avisei, desculpe, mas eu não erro nas minhas previsões. —
Karen disse.
Meu amigo ficou vermelho e eu sabia que era tarde.
Capítulo 35

Sophia Clarck

Eu acho que você é único para mim


Porque fica tão difícil respirar
Quando você está olhando para mim
Eu nunca me senti tão viva e livre
Quando você está olhando para mim
Eu nunca me senti tão feliz
Dandelions - Ruth B.

Cheguei na recepção da sala de Theo, para que pudéssemos ir para


casa — era impressionante como eu já considerava aquele lugar o meu lar,
como se fizesse parte da vida do meu noivo de verdade —, voltei minha
atenção para Dorothy.
— Oi, minha filha, você está sumida. — Eu geralmente só vinha
aqui para reuniões ou quando Theo me pedia algo, às vezes para almoçar,
mas nesses horários, ela nunca estava aqui e com a correria do dia a dia e os
novos projetos, normalmente nos encontrávamos na garagem.
— Oi, Dorothy, as coisas estão corridas. Prometo que vou aparecer
mais, para tomarmos um café.
— Por favor, gosto de te ver aqui, Theodore fica muito mais calmo
quando você sai daquela sala. — Sorri sem graça, porque algumas vezes
que eu subia para almoçar com ele, eu que saía feliz daquela sala.
Se o sofá falasse, com certeza, teria muita história para contar.
— Pode entrar, ele está lá com Karen e David. — Assenti e fui para
a sala. Depois de ser liberada, entrei e David estava vermelho.
— Oi! — Acenei enquanto chegava perto deles — David, o que
aconteceu? Está se sentindo bem?
— Melhor você nem saber, meu amor. — Theo chegou perto de
mim e me deu um beijo rápido. Já estava me acostumando com ele
demonstrando carinho na frente dos nossos amigos. No começo eu achava
estranho, depois ele me convenceu que era pra não ficar com dois jeitos
diferentes e deixar tudo natural.
— Sei, espero que vocês não estejam aprontando. — falei cerrando
os olhos para eles que negaram prontamente. Com isso tive a certeza de que
eles estavam aprontando.
— Vamos embora? Tenho algo em casa que quero te mostrar. —
Theo me disse, aguçando minha curiosidade.
Concordei, ele pegou suas coisas e nós descemos para a garagem.
Fiquei ansiosa pensando no que poderia ser. Ele sempre inventava alguma
coisa diferente para nós fazermos, fosse em casa ou andar de carro por aí
sem rumo, nunca pensei que me divertiria tanto com alguém.
No caminho, fomos conversando coisas amenas do nosso dia, ele
sempre perguntava sobre a minha família e minhas amigas. Me incentivava
a sempre ter momentos com elas e essas coisas simples me faziam muito
bem.
Paramos no piso superior da garagem, onde ficavam suas coleções
de carros estacionados, imaginei que ele tivesse comprado algum novo e
quisesse me mostrar, ele sabia que amava a velocidade.
— Vem aqui, por favor, Sophia. — Ele pegou minha mão e me
levou até o canto onde ficavam as motos e eu percebi que tinha uma nova
na ponta.
— Que linda, Theo, você comprou hoje? Quando poderemos andar?
— falei empolgada, era uma Kawasaki Ninja linda, até então juntos, eu só
havia saído de garupa com ele, mas quando precisava sair sozinha, eu
sempre pegava uma das motos. Theo sempre me deixava à vontade para
escolher qualquer uma, estava animada para estrearmos essa.
— Sim, estrearemos ela agora. — Ele tirou do bolso uma chave e
entregou na minha mão.
— Você vai me deixar pilotar? — falei pulando no lugar.
— Claro, ela é sua! — Parei, olhando para ele sem acreditar.
— Theo, pelo amor de Deus, isso não é brincadeira.
— Não é mesmo, é um presente para você. — Ele e o seu jeito de
achar que uma moto cara é uma lembrancinha de banca.
— Não é meu aniversário, você não tem nem motivos para isso.
— Foi nosso aniversário de um mês de noivado, então estou te
dando de presente. Agora chega de papo, quero ver se você sabe pilotar de
verdade.
Ele só pode estar brincando. Ele eleva demais o nível de presente,
eu ainda nem sei o que dar no aniversário dele que é em uma semana. Mas
se ele queria me ver pilotando, eu não iria negar.
Liguei aquela belezinha e ele subiu na garupa comigo.
— Com ou sem emoção? — questionei, enquanto colocava o
capacete.
— Com você, tudo é com emoção.
— Ainda bem que você sabe.
Acelerei, sentindo todo o meu sangue pulsar nas veias, não me
sentia tão viva em anos. O vento batendo contra meu corpo, me fazia ter
vontade de gritar. Naquele momento, nada me importava. Eu era somente
uma garota numa moto, sem problemas, sem preocupações.
Parei quando chegamos no Brooklyn Heights Promenade, um
mirante que gostava de vir. Tinha uma vista bonita à noite e me trazia paz.
Quando estava nos meus piores momentos, vinha aqui olhar as luzes do
outro lado do rio e pensar se aquelas pessoas estavam felizes, se todo
mundo estava enfiado em problemas também e se eu conseguiria superá-
los.
E hoje, eu estava ali, mostrando que era possível sim superá-los e
ainda conseguir ser mais forte que eles.
Desci da moto, tirando o capacete e me jogando no colo de Theo.
— Obrigada por isso, não me sentia tão bem assim há muito tempo.
— falei com a voz embargada.
— Você merece. Inclusive você gosta de correr hein, ainda bem que
meus exames cardíacos estão em dia. Tenho certeza de que deve ter
ultrapassado alguns limites de velocidade. — ele me falou em tom de
brincadeira.
Lhe dou um tapa no peito, aproveitando o clima.
— Para com isso, não posso fazer nada se a velocidade é o que me
move. Nunca encontrei nada que me desse tanto prazer quanto correr, seja
com as minhas pernas ou em cima de uma moto.
Ele ainda me segurava nos braços, nesse momento inclina e sussurra
perto do meu ouvido.
— Tem certeza de que nunca encontrou nada que te desse tanto
prazer? — sua fala arrepia os pelos da minha nuca. Maldito conquistador.
— Talvez minhas pernas em volta de outra coisa possam me dar
muito prazer também. — falei mordendo o lábio.
Ele me beija ali, no meio daquele lugar, sem se importar com as
pessoas que estão passando. É como se só existíssemos nós dois. Theo me
faz esquecer que existe um mundo para o qual eu tenho que voltar.
Paramos a sessão de beijos e eu virei para observar a cidade toda
iluminada. Ele me abraçou por trás, pousando a cabeça no meu ombro e
permanecemos em silêncio assim por algum tempo.
— Às vezes, eu acho que você não existe. Se eu não visse você com
seus amigos, iria achar que era tudo coisa da minha cabeça. — falei com ele
ponderando meus pensamentos — Você faz aniversário em alguns dias e
quem ganha presente sou eu?
Eu ainda me pergunto o que farei depois que terminar o contrato,
não sei se terei coragem de ficar com todos os presentes que ele me deu.
— Eu já tenho tudo que preciso, você não tem necessidade de
comprar nada para mim. — Isso era algo que estava me assombrando.
Preciso pensar no que lhe darei.
— A gente nunca tem tudo, sempre tem algo que você pode querer.
— Tento arrancar dele qualquer coisa.
Ele murmura algo sobre mim e presente, mas eu não entendo.
— Pode falar mais alto?
— Não, vamos embora que está frio e não estamos com roupas
adequadas para andar de moto com a temperatura abaixando tanto. —
Novembro estava chegando e trazendo suas baixas temperaturas.
— Você tem razão, já comecei a sentir um pouquinho de frio
mesmo, mas estava gostoso ficar aqui. — Ele me pega pela mão e me guia
de volta para a moto.
— É gostoso estar com você em qualquer lugar, Sophia. — ele falou
e me deu um último beijo antes de voltarmos ao apartamento.
Depois desse presente, eu tenho que fazer esse aniversário dele ser
inesquecível. Ele merece, por todo cuidado que tem comigo.
A mãe dele havia me falado que queria fazer uma festa surpresa, e
agora tinha certeza de que faríamos a melhor para ele.
Assim que cheguei no quarto, mandei mensagem no grupo que eu
tinha com as meninas para pedir ajuda.
Eu: Socorrooooooo! Preciso de uma chamada de vídeo de
emergência.

Elas visualizam e me ligam na mesma hora!


— O que aconteceu? — Sarah foi a primeira a perguntar.
— No fim de semana é aniversário do Theo, preciso de ajuda com a
festa surpresa que faremos e com o presente dele. — fiz minha melhor cara
de cachorrinho que caiu da mudança.
Todas toparam a ajuda com relação a festa, combinamos de fazer na
casa da mãe de Theo para ser mais fácil de enganá-lo.
— Presente para ele eu não tenho a mínima ideia. — Mary parecia
perdida. — Ele tem tudo!
— Se eu fosse você, colocaria um laço vermelho no corpo e me
daria de presente. — Claire disse séria. Todas as meninas pararam para
olhar para ela. — O que, gente? Quer um presente melhor do que eu? No
caso dele, a Sophia é o melhor presente que ele poderia querer na vida. —
Ela deu de ombros, e nós caímos na risada.
— Olha, eu não acho ruim a ideia. O que dar pra quem tem tudo? A
única coisa que ele não pode comprar. — Karen falou me olhando
diretamente, me causando um arrepio.
— Mas eles não são noivos? Ela já é dele. — Mary parecia confusa.
— Mary, tem muitas coisas que ela pode dar pra ele de forma
especial. — Karen balançou as sobrancelhas e eu morri de rir, porque
minha amiga ficou sem jeito entendendo o que Karen quis dizer.
— Mary, pelo amor de Deus, você até parece aquelas meninas
virgens. — Claire fez a coitada ficar mais sem jeito ainda.
— Chega disso. Claire, você já vai ficar em definitivo aqui em Nova
Iorque? — Mudei de assunto, antes que Mary explodisse de vergonha.
Claire havia sido promovida esse mês e ia ficar fixa no escritório aqui. —
Vai parar com essa vida nômade?
— Finalmente! Agora vou poder encher o saco de vocês mais vezes,
semanalmente inclusive. Meu chefe falou que vai precisar de mim em uma
outra área para substituir uma falta que eles estão. Preciso entender tudo
ainda, mas estou empolgada, são novos desafios.
Todas comentamos sobre como estávamos felizes por ela e ficamos
de comemorar que ela voltou. Finalizamos a ligação porque Theo poderia
vir para o quarto a qualquer momento.
Fiquei pensando nas ideias das meninas e comecei a cogitar as
possibilidades de presentes que poderia dar para ele. A ideia de Claire me
parecia muito atraente, até porque não seria somente ele que sairia
presenteado, e eu tive uma excelente lembrança de algo que eu posso usar.
Tenho certeza de que vai ser o melhor presente da vida dele.
Capítulo 36

Sophia Clarck

Quanto tempo vou te querer?


Enquanto você me quiser
E com certeza mais que isso
Quanto tempo dedicarei a você?
Enquanto eu viver com você
o quanto você ditar
How Long Will I Love You - Ellie Goulding

Estava com a cara mais cínica do mundo, fingindo que havia


esquecido do aniversário de Theo. Ontem nós passamos o dia no centro
social. Ele, Karen e até David têm me acompanhado e estão fazendo
algumas oficinas. À noite, as coisas foram bem agitadas entre nós dois,
então, estava passando a imagem de cansada que não sabe que dia da
semana é. Sua mãe desmarcou o almoço, trocando pelo jantar. Ele ficou
sem entender porque quase sempre passávamos o domingo com eles, mais
ainda por ser seu aniversário.
— Bom dia, bonitão! — ele me olhava e fazia carinho no meu rosto
com tanta ternura que me partiu o coração fingir não lembrar.
— Bom dia, meu Chocolate! — Ele me deu um beijo na testa e
nessa hora meu telefone tocou.
Atendi Sarah e ela fingiu me chamar para comprar algumas coisas
da faculdade.
— Eu vou com a Sarah ao shopping. A gente se encontra para o
jantar na sua mãe? — Sabia que se não ficasse longe dele, não conseguiria
manter o meu fingimento.
— Tudo bem, tenho algumas coisas para revisar, vou aproveitar. —
ele disse, mas senti que ele ficou chateado.
Droga! Me senti péssima por fazer isso com ele.
Segurei seu rosto e dei um beijo cheio de segundas intenções,
passando a unha de leve pelo seu peito.
— Melhor parar, antes que eu não saia dessa cama hoje.
— Seria um excelente presente para o dia.
— Você quer presentes todos os dias, né? Se eu deixar, a gente
nunca sai da cama. Está me acostumando muito mal. — dei mais um beijo
nele. — Preciso ir, porque Sarah está me esperando, nós dormimos demais
hoje.
Levantei da cama e estava indo a caminho do banheiro.
— Não seria uma má ideia ter você de presente todos os dias. Só
estou te acostumando com o melhor, que é o que você merece! — ele deu
de ombros, como se não fosse nada demais, mas para mim tinha muito
significado.
Fiz minha rotina de skincare, amava usar os produtos que Theo
havia me dado, nem se comparava com os que eu tinha antes. Agora com a
linha completa, eu me esforçava para fazer tudo perfeitinho, voltei a ser
vaidosa.
Desde que papai ficou doente eu perdi todo o meu tempo de cuidar
de mim e tinha também o fator dinheiro. Papai se recuperava a cada dia e eu
estava muito feliz por isso.
Me arrumei, colocando uma calça jeans, blusa de seda, uma jaqueta
mais grossinha e uma bota, a roupa que eu usaria à noite deixei com Susan.
— Já estou saindo. — avisei a Theo e peguei a chave da moto.
— Ok, um segurança vai te acompanhando. — Acenei para ele,
àquela altura eu já não discutia mais sobre os seguranças. Eu havia
combinado com Gerald o que iria acontecer, para que ninguém contasse a
Theo.
Chegava a me arrepiar toda vez que subia na minha Kawasaki e
sentia a antecipação pela sensação do vento gelado no meu corpo. Estava
ficando triste pois logo chegaria a época de neve e aí, adeus andar de moto.
Cheguei a NYU e Sarah correu até mim e me abraçou. Vê-la feliz de
novo me deixava em êxtase. Por mais forte que ela fosse, pra mim ela seria
sempre a minha irmãzinha mais nova, quem eu protegeria de tudo e todos.
Ela subiu na garupa e fomos para a casa da minha sogra, era
estranho pensar que eu estava me acostumando a tê-los na minha vida. Os
pais e os amigos de Theodore eram pessoas incríveis. Sabia que quando
acabasse o nosso contrato, eu sofreria, porque era impossível não me apegar
a todos eles, que acolheram a mim e minha família tão bem.
Assim que estacionei a moto, Susan veio em nossa direção. Era
possível ver toda a agitação das equipes montando as coisas em um salão no
fundo.
— Que bom que chegaram. — ela disse abraçando a mim e a Sarah
— Minha filha, Theo me ligou desolado, fiquei com pena dele falando que
você não se lembrou do aniversário e saiu com Sarah. Quase contei a
verdade, mas me mantive firme, disse que era normal esquecer. — Ela riu,
mas senti que ela ficou dividida.
— Ele vai ficar feliz com a surpresa. — Tenho certeza de que
quando ele visse o seu presente de aniversário ele mudaria de ideia sobre
estar chateado. — Susan, não ia ser algo simples? — falei enquanto via a
agitação.
— Mas vai ser. Só vão vir alguns amigos, os tios e primos de
Theodore e os meus sogros conseguiram vir também. Tenho certeza de que
ele ficará em êxtase.
— Eu tenho medo do que é uma superfesta para você, então. — falei
meio assustada.
Ela riu e me puxou para o salão. As meninas já estavam lá. Karen
havia trazido Claire e Mary, e David ficou de distrair o Theo e não deixar
que ele aparecesse antes do combinado.
Ficamos a tarde toda nisso, ajudando com a arrumação, dando
palpite e nos divertindo. Susan adorava a bagunça que fazíamos. Deixamos
a festa com a cara de Theodore, acredito que por isso que minha sogra nos
queria ali. Ela desejava que o filho se sentisse representado, tanto nas cores
como nos detalhes.
Me pergunto como ele nunca trocou as cores no apartamento,
porque tudo que ele decorava eram em cores escuras, com alguns sutis
toques claros.
A decoração em preto e prata ficou magnífica.
— Vamos nos arrumar meninas, que logo chega o horário que
marcamos e nós precisamos estar prontas. — Subimos e nos dividimos
entre os quartos disponíveis para nos arrumar, Sarah ficou comigo no quarto
de Theo.
— Como estão as aulas? Está gostando da faculdade?
— Está uma correria muito grande, em janeiro irei começar o
estágio na Rockefeller e estou super empolgada para isso. Esse seu contrato
trouxe benefícios para a família inteira, como você se sente com isso?
Era uma excelente pergunta. Eu me questionava todos os dias sobre
o que sentia por esse homem. Eu estava confusa, minha cabeça não
conversava a mesma língua que o meu coração falava.
— Às vezes, parece que eu estou explorando a boa vontade dele. Me
sinto péssima, mas aí eu lembro o quanto é terrível ficar sorrindo o tempo
todo nesses eventos em que somos obrigados a ir, e me sinto menos mal. —
falei rindo, porque eram realmente péssimos.
— Entendi, espero só que você não demore para perceber as coisas à
sua volta.
Antes que eu pudesse responder, as meninas entraram no quarto.
— Viemos nos arrumar como nos velhos tempos. — Claire disse,
mostrando as maquiagens a tiracolo.
Quando éramos jovens, sempre fazíamos isso. Era nosso ritual pré
festa e poder reviver essas memórias era maravilhoso.
Nos espalhamos, uma maquiando a outra, ajudando com o cabelo,
foi um falatório e brincadeiras sem fim.
Eu tinha as melhores amigas do mundo.
— Theo vai adorar a surpresa! É engraçado que por mais que Susan
adore um evento, nunca tinha feito uma festa assim. — Karen pareceu
pensativa, enquanto fazia a pintura no meu olho — Acho que ela tinha
medo porque, apesar de tudo, ele foge das pessoas. Ele só vai em eventos
corporativos porque é obrigado.
— Eu sempre gostei de comemorar aniversários, pra mim é um
momento de celebrar a vida. A gente nunca sabe quando pode ser o último
dia.
— Você está certa, eu também penso assim. Não tenho aversão a
festa nem a pessoas. — Ela ria ao falar, acho que pensava em como eles
eram um trio totalmente diferente. — Às vezes me pergunto como me juntei
a esses dois. — ela falou sacudindo a cabeça em negação — Acabei aqui.
Você está simplesmente perfeita. Gostosa pra caralho.
— Theo está feito! Só vai desembrulhar o presente — Claire falou
rindo. Eu neguei com a cabeça, rindo das suas loucuras. — É sério, olha seu
vestido. Você levou quase que literalmente o que eu disse sobre colocar um
laço vermelho e se dar de presente.
— Vocês não valem um centavo.
Nessa hora todas nós nos acabamos em risadas, porque ela falava
normalmente isso. Claire é muito básica nos seus pensamentos, para ela as
coisas são simples e minha amiga levava a vida de forma leve e divertida.
Me encarei no espelho e ver os detalhes do meu vestido, fizeram-me
entendê-la. Ele era vermelho, amarrado com laços nos ombros, tinha um ar
vintage, um corpete bem marcado e uma saia solta e armada. Eu me senti
muito bonita naquela roupa. Theo estava conseguindo que eu me libertasse
do medo de usar roupas que destacavam mais o meu corpo. Era uma ferida
que aos poucos cicatrizava.
Minhas amigas me ajudaram a começar a curar o trauma e ele estava
finalizando, me desprendendo de vez do passado.
— Meninas, vamos descer. David acabou de me avisar que eles
estão chegando. — Karen disse olhando seu telefone.
Descemos na nossa bagunça de sempre, fomos direto para onde
seria a festa e percebi os olhares dos familiares de Theo que eu não
conhecia ainda. No nosso noivado, a maioria não conseguiu comparecer,
devido à pouca antecedência do convite. Levantei meu olhar e distribuí
sorrisos. Ele já tinha me falado de alguns dos seus primos, que eram todos
tão ocupados quanto ele, mas que tinham uma boa relação.
Ficamos com tudo apagado. David inventou uma desculpa para o
meu noivo, falando qualquer coisa sobre ele precisar ir na estufa. O salão
ficava antes, então, ele conseguiria arrastá-lo para lá.

Theodore Rockefeller

David estava me tirando do sério desde que me encontrou à tarde.


Achou que eu tinha cara de psicólogo e resolveu contar toda sua vida —
como se eu não soubesse —, eu só queria vir para a casa da minha mãe e
encontrar Sophia, mas ele não me deixou sair até eu estourar e quase ter que
arrancá-lo da minha cobertura.
— David, sério, o que você quer pegar na estufa? — perguntei,
porque ele estava me irritando para que fôssemos lá. Disse que queria pegar
algo, mas só eu saberia cortar. Minha mãe iria matá-lo, com certeza.
— Já te disse, quero uma flor específica que tem lá. Eu só tenho
medo de cortar errado e a sua mãe brigar, como você sabe tirar direitinho
você pega, entendeu? Aproveita e pega algo para Sophia, tenho certeza de
que ela vai gostar. — Sophia amava flores e nisso ele tinha razão, mas ela
preferia as plantadas e isso era inegável.
Estávamos chegando no salão que mamãe mantinha na propriedade
quando David, sem eu esperar, me puxou e empurrou a porta, eu estava
pronto para lhe bater, quando a luz acendeu e gritaram: SURPRESA!
Realmente foi uma surpresa! Eu estava assimilando aquilo tudo
quando David me abraçou de lado e eu vi Sophia vindo na minha direção.
Ela estava deslumbrante. Não imaginei nem por um minuto que
eles poderiam estar preparando uma festa, fiquei tão chateado por ela ter
esquecido o meu aniversário, que não pensei em mais nada.
Mas se tratando de Sophia, ela não dava ponto sem nó. Era mestre
em criar cenários e deixar tudo perfeito como ela.
— Parabéns, meu amor! — ela disse me abraçando apertado
naqueles bracinhos curtos. O que ela tinha de pequena, tinha de forte.
Retribui o carinho, aconchegando-a no meu corpo, percebi que as pessoas
se aproximavam para me cumprimentar, mas não tinha vontade de soltá-la.
— Você achou mesmo que eu esqueceria?
Me soltei dela para ver a sua expressão. Tinha um sorriso contido, e
um olhar de criança sapeca, que tinha acabado de aprontar.
— Eu passei o dia todo acreditando que sim. — Fui sincero, porque
foi algo que me pegou desprevenido. Eu não imaginei que sentiria tanta
falta de receber um parabéns, nem mesmo gostava desses eventos, mas
tinha tudo a ver com ela, e com o sentimento que ela despertou em mim.
— Desculpe por isso, era necessário pra poder organizar a festa. —
ela estava rindo. — Eu vou deixar as outras pessoas falarem com você.
Antes que saísse dos meus braços de vez, abaixei e falei pertinho da
sua orelha.
— Você é uma safada, tripudiando de mim, mais tarde lidarei com
você. Quero ver se você vai manter esse sorrisinho entre quatro paredes. —
Finalizei com uma mordida no seu lóbulo, quando olhei para o seu rosto,
estava quase da mesma cor do vestido e prendia os lábios. Sabia o que a
aguardava e ansiava tanto quanto eu.
— Vou aguardar por isso. — disse abrindo seu sorriso mais
debochado saindo dos meus braços.
Depois disso, recebi felicitações de todos, até finalmente ver meus
avós, mal acreditando que eles vieram da Itália para meu aniversário.
— Vovó, não acredito que veio. — Eles estavam vindo menos aos
Estados Unidos, nós que íamos mais à Europa para vê-los.
— Não perderia seu aniversário, sei que é raro você comemorar essa
data. Mas o principal motivo foi conhecer sua noiva, queria ter certeza de
que dessa vez você havia acertado na escolha.
Vovó não era a fã número um de Lauren, isso era facilmente visto
em como ela tratava minha ex-namorada, que fazia de tudo para agradá-la e
ela fingia que não era com ela.
— Sabia que não era só por mim, tinha um interesse por trás. —
brinquei com ela.
— Sua mãe estava rasgando elogios a ela, tive que ver com meus
próprios olhos. Mas sempre será por você, meu querido. — Ela apertou
minha bochecha igual fazia quando era criança.
A abracei apertado, porque sabia que cada dia que passava era um a
menos que teria com ela. Mesmo nos falando com constância, nada
superava um colo de vó e o acolhimento do seu abraço.
Capítulo 37

Theodore Rockefeller

Então vou cuidar de você, você, você


Vou cuidar de você, você, você, você, sim
Porque, garota, você é perfeita
Você sempre vale a pena
E você merece
Earned It - The Weeknd

Fui com meus avós até Sophia, que estava em uma mesa com nossos
amigos.
— Meu filho, pelo menos linda ela é, terei bisnetos maravilhosos.
— ela disse quando já estávamos perto o suficiente para Sophia escutar,
mesmo estando de costas. Ela virou e nos encarou com um pouco de receio,
ela sabia o quanto vovó era importante para a nossa família.
— Vovó, vovô, essa é a minha noiva. Sophia, meu amor, esses são
os meus avós, Janet e Harold. — apresentei as amigas da minha noiva
também.
Quando Sophia foi cumprimentá-la, vovó a puxou para um abraço.
— É um prazer finalmente conhecê-los, nessa casa todos sempre
falam muito de vocês.
— Espero que só coisas boas — meu avô falou em tom de
brincadeira.
— Claro que sim, estava ansiosa para vê-los pessoalmente. Theo
fala muito da sua comida, aliás, todos falam.
— Minha filha, meu sangue é americano, mas meu coração é
totalmente italiano, inclusive, quero muito te receber lá. — Tomei um tapa
sem entender o porquê.
— Posso saber por que estou apanhando?
— Porque você ainda não levou minha netinha para conhecer nossa
casa na Itália.
— Foi só falta de tempo vovó, logo irei levá-la com calma para
conhecer sua casa.
— Espero que sim. Vocês já marcaram a data do casamento?
Sophia deu uma leve arregalada nos olhos, se recompondo
rapidamente.
— Estamos analisando, mas vai ser em breve. — Puxei Sophia para
meus braços e dei um beijo em seus cabelos, dando uma inspirada no seu
perfume. — Não vou deixar que essa mulher saia da minha vida nunca
mais.
— Ótimo, porque ela parece ser incrível pelo que sua mãe falou.
Inclusive, preciso falar com ela, mais tarde conversamos mais.
E assim ela saiu de perto de nós, sem nem aguardar uma resposta.
Vovó era desse jeito, sem mais nem menos, saía para ir atrás de alguém.
— Adorei seus avós, são exatamente do jeitinho que você falou.
— Sim, eles sempre cativam as pessoas. Tenho certeza de que ela
vai te adorar, do mesmo jeito que é com Karen e David.
— Quem não adora os dois, né? Eles estão no meu ranking de
melhores pessoas do mundo. — disse sorrindo.
— Verdade, é difícil alguém não gostar deles. Posso saber em que
posição eu estou nesse ranking?
— Talvez pode estar ali entre os cinquenta primeiros? — Ela fingiu
uma cara de pensamento.
— Ah, ótimo! Cinquenta? — Sophia tinha a primeira posição no
meu ranking, que eu nunca nem fiz, e pra ela eu estava no quinquagésimo
lugar? — Quero só saber quem são os primeiros. Porque se eu estou em
quinquagésimo no seu ranking, os primeiros devem ser incríveis demais.
— Você fazendo bico é a coisa mais fofa do mundo. — Ela apertou
minha bochecha. — Mas em momento nenhum eu disse que você estava
nessa posição, só disse que estava entre os cinquenta. Pra mim, na verdade,
você está no topo, junto com as pessoas especiais para mim.
Meu corpo relaxou no mesmo instante, eu nem havia percebido que
estava tenso.
Dei um beijo carinhoso nela e nos juntamos aos nossos amigos em
uma conversa animada, até minha mãe nos chamar para cantar parabéns.
Nunca acreditei nessas coisas, mas assoprei aquela vela desejando
que Sophia permanecesse na minha vida.
— Você está gostando da festa? — Sophia me perguntou depois que
eu a tirei para dançar.
— Claro, tenho você aqui para me distrair de ter que socializar com
todos.
— Que bom! Mas sua família é legal, todos me trataram bem e são
divertidos de conversar. — Passamos uma parte do tempo conversando com
alguns dos meus primos e tios.
— Sim, eles não ousariam te tratar mal e você é maravilhosa, não
tem por que alguém te tratar de forma diferente. — Até porque, se
tratassem, teriam um problema comigo e eles evitam isso.
— Acho que não estou acostumada a famílias que se dão bem. —
ela deu de ombros e sabia que a sua relação com tias e primas não era das
melhores.
Resolvi mudar de assunto, porque sabia que era algo que ela não
gostava de falar e sempre a deixava pra baixo.
— Preciso dizer que estou maluco vendo você nesse vestido. Estou
quase fugindo da minha própria festa de aniversário e te levando para o meu
quarto.
— E se eu quiser fugir com você?
— Vamos agora mesmo, então. — Parei de dançar e comecei a
puxá-la para fora do salão.
— Mas quero ir para casa. Tenho um presente que quero te dar de
aniversário. — Travei meus passos e olhei naqueles olhos que estavam
transmitindo desejo.
— Agora fiquei curioso, vamos para casa. Vou pedir para Gerald
nos levar.
Fomos até o carro, parecendo dois adolescentes fugindo dos pais.
Saímos sem sermos percebidos e só quando entramos no veículo, que
Sophia avisou às amigas que nós fomos embora.
Pedi que Gerald pegasse um dos automóveis que tinha divisória
entre o motorista e os assentos traseiros. Não aguentaria esperar até chegar
no apartamento para ter minha noiva como desejava desde o momento em
que bati os olhos nela hoje.
Assim que começamos a nos movimentar na rua, a agarrei. Comecei
a beijá-la com urgência, sua boca batia contra a minha, me sugando,
travamos uma batalha com as nossas línguas, aprofundando aquele beijo,
até ficarmos sem fôlego.
— Você não vai esperar chegarmos em casa? — ela me perguntou,
ofegante.
— Para que esperar, se posso te ter aqui e em casa?
— Perfeito. — ela disse e se sentou no meu colo, e eu nunca estive
tão feliz em vê-la de vestido. Minhas mãos foram imediatamente para sua
bunda por baixo daquele pano vermelho. — Hoje vou ser seu presente!
— Eu não pediria nada além de você. — sussurrei no seu ouvido.
Joguei seu cabelo de lado e comecei a beijar a pele arrepiada, ela
deitou a cabeça para trás, me dando mais espaço para que eu lhe desse
mordidas, suguei acima da sua pulsação, ouvindo seus gemidos.
Minhas mãos foram até sua calcinha e era possível sentir sua
umidade.
— Já está molhadinha pra mim, meu Chocolate? — falei, afastando
o tecido fino e enfiando um dedo nela.
Sophia pareceu se perder na sua nuvem de prazer, gemendo
baixinho meu nome e outras palavras que não identifiquei, enquanto
movimentava minha mão, alcançando seu ponto de prazer e com o polegar
massageava o seu clitóris.
Com a outra mão, segurei seu cabelo, tomando aqueles lábios
rosados. Ela estava rebolando no meu colo, procurando por mais, querendo
alcançar seu prazer. Retirei meus dedos dela e recebi protestos.
— Theo — ela falou em tom de lamentação —, não para, eu estava
quase lá.
— Quero você gozando no meu pau, Sophia.
Ela levou a mão imediatamente ao cinto, desafivelando-o. Estava
tão ansiosa que reclamou quando não conseguiu desabotoar a calça.
— Calma, minha apressadinha. Deixe-me ajudar. — falei e soltei o
botão, colocando meu pau para fora. No mesmo momento ela o segurou e
se sentou com tudo.
— Por Deus, Sophia! — falei ofegante. Os olhos dela
transbordavam luxúria.
— Precisava de você dentro de mim, sem tempo para esperar. — ela
falou suspirando enquanto cavalgava em mim.
— Sou todo seu. Use e abuse, meu amor.
Ela começou a buscar seu prazer, quicando e rebolando no meu pau.
Podia sentir o cheiro da excitação dela, e estar preso naquele carro,
sem espaço para fodê-la com a vontade que eu necessitava, estava me
matando. Sophia estava ofegando em cima de mim, gemendo meu nome,
beijei seus lábios, engolindo seus murmúrios, segurei sua bunda a abrindo
mais e ajudei nos movimentos.
Estocando cada vez mais fundo, podia sentir aquela boceta apertada
estrangulando meu pau, me levando à loucura. Aumentei a velocidade,
vendo minha noiva finalmente se entregar ao orgasmo, chamando meu
nome e convulsionando no meu colo. Meti mais um pouco, alcançando o
meu prazer e me libertando dentro dela.
— Você é uma delícia. Queria morar em você.
— Acho que não me importaria.
Ela manteve a cabeça na curva do meu pescoço, acalmando sua
respiração.
— Chegamos. Vamos subir porque eu ainda quero muito mais de
você essa noite.
Ela me fitou antes de rir, me fazendo não entender nada.
— Eu devo estar uma bagunça. Você atrapalhou meus planos. —
Estava com o cabelo um pouco bagunçado e cara de pós sexo.
— Desculpe atrapalhar seus planos, mas para mim você está
perfeita.
Saiu de cima de mim, fazendo meu pau sentir sua falta
instantaneamente. Nos arrumamos minimamente para subir no elevador.
Não consigo me desgrudar dela, a mantenho nos meus braços por
toda a subida até a cobertura.
Assim que entramos em casa, eu volto a devorá-la, agarrando-a pela
cintura e a sentando sobre a mesa.
— Você me pegou de surpresa. — disse encostando a testa na
minha. — Preciso pegar o seu presente.
— Achei que você fosse ele — falei, soltando os laços das alças do
seu vestido. — Tem até lacinhos embalando.
Procuro o fecho atrás do seu vestido. Abrindo para finalmente ver
seus seios saltarem para mim.
Ela começou a rir muito.
— Droga, Claire tinha razão! Você é terrível! Tem os mesmos
pensamentos sacanas que ela. Espera, você já desembalou o presente, mas
ainda não está pronto para você. — Ela saltou da mesa e seu vestido foi
parar no chão. — Vem comigo.
— Você só de calcinha e salto me chamando? Vou até o inferno,
meu amor.
Ela me levou até o quarto, pediu que eu me despisse, me sentou na
cama e falou que era para que a aguardasse. Ela foi lá embaixo, voltou e a
ouvi entrar no chuveiro. A espera estava aumentando o meu tesão.
Já havia decidido ir atrás dela, quando apareceu na porta do closet,
usando nada além de um Louboutin e o maldito colar de um milhão e meio,
e segurando um bolinho com uma vela em cima.
— Parabéns, Theodore Rockefeller.
Ela veio em minha direção e eu a encontrei na metade do caminho.
— Caralho, meu Chocolate, eu falei que queria te foder usando
somente esse colar, mas não imaginei que te ver assim seria tão sexy. Eu te
dei o presente, mas quem ganhou a melhor visão da vida fui eu.
— Você desembalou o presente, aqui está o conteúdo para você. —
Ela me olhava com um sorriso safado, como se estivesse pronta para me
devorar.
— Você é perfeita em cada pedacinho, todo esse corpo — falei
molhando os lábios —, é tudo na medida pra mim.
Tirei o bolo da sua mão e apoiei na mesa de cabeceira. Passei um
dedo na cobertura, provando.
— Nossa, o bolo está gostoso, talvez fique melhor na sua pele. —
Me sentei na cama e puxei Sophia para o meio das minhas pernas.
Passei meu dedo novamente na cobertura, e fiz uma trilha do colar
aos seios dela. Eles eram maravilhosos, cabiam certinho na minha boca. Os
suguei com vontade, limpando todo o chocolate que eu passei por ali,
alternando entre eles, mordendo seu biquinho intumescido e tive Sophia
gemendo meu nome, puxando meu cabelo e começando a esfregar uma
perna na outra em busca de fricção.
— Se continuar assim, irei gozar. — falou em meio a gemidos
sôfregos.
— Tenho certeza de que sim, meu amor, olha como você está
molhada — falei enfiando dois dedos nela que deslizaram fácil pelo tanto
que ela já estava preparada —, goza pra mim, meu chocolate.
Voltei a chupar seu seio e continuei o movimento na sua boceta,
enquanto Sophia falava palavras desconexas e rebolava nos meus dedos.
Ela começou a me apertar e minha vontade nesse momento era de jogá-la
na cama e fodê-la até minhas bolas baterem contra sua bunda e tê-la
implorando por mais.
Aumentei a pressão nos seus seios e no seu ponto de prazer. Sophia
se desmanchou e precisei segurá-la para que não caísse no chão.
Deitei ela na cama, puxando-a para o meu peito enquanto acalmava
sua respiração, sua mão desceu pelo meu peito indo ao encontro do meu
membro.
— Já está pronta para mais?
— Essa noite você é todo meu, Theodore.
— Engano seu. Você que será minha a noite inteira, Chocolate,
benefícios de aniversário.
Posicionei ela no centro da cama, ficando no meio das suas pernas.
Ver Sophia deitada nos lençóis brancos, nua, apenas com o colar que se
destacava na sua pele clara, me deixou louco. Não imaginei que ele ficaria
tão bem no seu pescoço, ou que faria o contraste perfeito com ela. Ele
parecia ter sido desenhado exclusivamente pra ela, nunca pensei que a ver
assim me excitaria tanto.
Abri suas coxas, me enfiando entre elas para sugá-la. Circulei seu
clitóris que já está sensível devido ao seu último orgasmo, e ela gritava de
prazer, enquanto me embriagava no cheiro da sua excitação.
Ter o seu sabor na minha boca é melhor que qualquer banquete.
Uma delícia poder me alimentar dela.
Sophia tentou fechar suas pernas no meio do seu clímax, segurei
elas no lugar e aumentei meu ataque contra aquela boceta deliciosa,
fodendo-a com a minha língua.
Ela gemia e gritava palavras desconexas se entregando a mais um
orgasmo forte. Eu tomei todo seu prazer, saboreando-a.
Subo sobre ela, me apoiando nos braços, e beijo sua boca, fazendo
com que ela sinta seu sabor, enquanto minha mão passa por todo o seu
corpo. Não consigo ficar afastado dela por nem um momento.
Ela separa nossas bocas e me olha cheia de desejo.
— Quero fazer uma coisa. — aceno para ela, que vai até o seu lado
da cama e pega na mesinha de cabeceira uma camisinha e um vidro de
lubrificante.
— O que você quer fazer, minha safada? — perguntei chegando
perto dela.
— Quero tentar algo que nunca fiz, mas que você sempre tenta e
parece ser bom. — Ela estava me dando um cuzinho virgem de presente de
aniversário?
— É o que eu estou pensando, mesmo? — Cheguei sobre ela e
sussurrei. — Você quer me dar o cu, meu amor? — Mordi seu lóbulo.
— Quero. — Ela respondeu de maneira sôfrega.
— Vou fazer com que seja delicioso para você. — Teria cuidado por
ser sua primeira vez, mas sabia qual era o tipo de sexo que Sophia gostava.
A deitei de lado, lambuzei meu dedo e seu buraco, e comecei um vai
e vem gostoso, enquanto a masturbava, ela estava sensível depois dos dois
orgasmos, mas eu precisaria acostumá-la para que conseguisse me receber
por trás, meu tamanho poderia machucá-la se eu não a preparasse.
Fui aumentando a quantidade de dedos até ter três dedos nela,
enquanto Sophia gemia e pedia por mais, rebolando na minha mão.
Peguei a camisinha, desenrolando-a no meu membro, pronto para ter
um pouco mais dessa mulher que já não saía mais de mim.
— Está preparada, meu Chocolate?
— Sim, por favor, vem logo, Theo. — ela disse em meio a gemidos.
Passei um pouco mais de lubrificante e me encaixei no seu
buraquinho, passei a cabeça e ela deu um gritinho, esperei um pouco para
que ela se acostumasse com a invasão.
— Tudo bem? Se te machucar, ou for demais, me avise que eu paro.
— Tudo bem, só continue. — Ela disse com a voz rouca de prazer.
Voltei a circular seu clitóris e pude sentir ela relaxar um pouquinho.
Continuei a me mexer, entrando um pouco mais. Me sentia estrangulado ali,
era muito apertado, estava sendo uma tortura não me enfiar nela de uma
vez. Porém queria que ela fosse se adaptando.
Sophia gemia e começou a rebolar querendo mais, empinando
aquela bunda gostosa para o meu lado. Com isso, eu me enterrei de vez
nela, que soltou um som abafado, me fazendo esperar um pouco.
— Posso me mexer, meu amor? — estava torturado ali, mas não
queria machucá-la.
— Sim, por favor.
Essa foi a minha deixa para me mexer e começar um entra e sai
lento, até ter Sophia vindo ao meu encontro, querendo que eu aumentasse a
velocidade.
Estava indo à loucura com Sophia batendo a bunda contra mim.
Sentia, mesmo com a camisinha, o quanto ela era quente e apertada e como
ela se contraia ao meu redor. Precisei me concentrar para durar mais tempo
comendo-a.
Sophia pediu que trocássemos de posição, ficando de quatro para
mim. Desse jeito eu ia ainda mais fundo nela e conseguia desferir tapas
naquela bunda deliciosa.
Segurei firme sua cintura e aumentei meus movimentos, sentindo
minhas bolas batendo contra ela.
— Theo, caralho, caralho... — ela falou divagando no seu prazer e
aumentando as reboladas.
— Goza pra mim, Sophia, vem que eu quero te encher de porra.
Eu poderia comer esse cuzinho todos os dias.
Ela grita novamente se perdendo e gozando forte. Saio de dentro
dela e tiro rapidamente a camisinha, gozando nela.
Marcando Sophia inteira como minha, como um maldito homem das
cavernas.
Capítulo 38

Sophia Clarck

Ei, você aí
Podemos ir para o próximo nível?
Querida, você se atreveria?
Não tenha medo
Porque se você pode dizer as palavras
Eu não sei por que eu deveria me importar
Naked - James Arthur

O aniversário de Theodore foi perfeito. Deu tudo certo, como


planejamos e o seu presente foi algo muito além do que eu esperava. Eu mal
consegui me levantar da cama no dia seguinte.
Aquele colar nunca mais teria o mesmo significado para mim.
Cada semana que passava ao lado de Theo, mais as coisas pareciam
confortáveis entre nós.
Mais ele me tratava bem.
Mais ele era incrível em pequenos detalhes comigo.
Mais difícil era não me envolver e não querer que ele permanecesse
na minha vida.
Pensava em todas essas mudanças que pareciam sutis na minha vida
enquanto ia encontrar com Claire e Sarah para o almoço. Porém eu
precisava tentar colocar os meus pés no chão, porque parecia que estava
cada dia mais longe dele e o medo de cair e me quebrar só aumentava.
Cheguei ao restaurante que era perto da empresa onde as duas me
aguardavam.
— Oi, meninas!
Elas me cumprimentaram e nós nos sentamos para pedir o almoço.
— Soph, papai me ligou pedindo que a gente passe o Dia de Ação
de Graças lá em casa. — Sarah me pegou de surpresa, e achei estranho que
ele não tivesse falado comigo.
— Ele te disse por que não falou comigo? Nós conversamos ontem
também.
— Ele pode ter ficado sem graça por conta do seu noivo. Sabe que a
nossa casa é simples e ele ainda não se acostumou com você aparecendo
estampada nos sites de fofoca e nas capas de revista de luxo. — Eu e Theo
demos uma entrevista e acabamos sendo capa da revista. — Sabe como são
as coisas.
Sim, eu sabia. Papai era ótimo, mas orgulhoso, e ainda tinha as
minhas tias que não eram fáceis de lidar.
— Sei, vamos sim. Vou avisar ao Theo. Imagino que ele tenha
combinado de passar com os pais, mas talvez ele possa querer ir conosco.
— Claro, só me avise quando nós iremos, se será no dia ou na
semana anterior.
Concordei com ela e mandei uma mensagem para Dorothy,
perguntando se Theo tinha alguma janela porque precisava falar com ele, a
resposta veio imediatamente.

Dorothy: Para você ele sempre vai ter uma janela, porta, uma
casa inteira para te receber. Kkkk
Pode vir às 14:30, que ele tem um intervalo entre as reuniões.

Agradeci a ela dando risadas. Dorothy era maravilhosa comigo,


sempre me ajudava quando precisava.
— Claire, você irá conosco? — Sarah perguntou porque sabia que
essas datas eram difíceis para a nossa amiga. Desde que seu pai morreu, ela
sempre passou conosco os dias comemorativos.
— Vou sim. Imagina se eu perco passar esse dia com vocês. Vocês
são os motivos que eu tenho para dar graças.
Esse ano eu tinha muitos motivos para dar graças. Foram tantas
mudanças boas que eu nem sabia por onde começar.
Conversamos sobre como estava a vida de cada uma de nós. Ter
Sarah e Claire junto comigo novamente me fazia lembrar de um passado
sem dores ou sofrimento.
— Soph, você viu que o Donald sofreu um acidente essa semana e
saiu do hospital preso? — Claire disse, me olhando como se testasse minha
reação.
— Vi hoje de manhã. Tomara que ele finalmente pague por seus
pecados, li a matéria que falava sobre os casos de abuso sexual que ele
cometeu.
— Como você está se sentindo sobre tudo isso? — Sarah perguntou.
— Estou bem, é como se finalmente estivesse em paz. Saber que ele
foi desacreditado e nunca mais vai machucar ninguém, me deixa tranquila.
Vi que a matéria foi feita pelo jornal onde você trabalha, sabe me dizer
como foram as denúncias? — Quando vi a notícia tive uma leve suspeita de
que o Theo estaria envolvido com tudo isso.
— Levantaram todos os esqueletos do armário dele e ele mesmo
tinha provas que o incriminavam, coisas que ele usava para chantagear
algumas das vítimas que, com o apoio da polícia, o denunciaram. O resto da
história você conheceu pela matéria. — pelo que Claire contou, poderia ver
todos os dedos dele ou de Karen nisso.
— Imagino o tanto de mulheres que ele não deve ter difamado no
mercado de trabalho, da mesma forma que fez comigo. Se for necessário, eu
mesma posso depor. Só o tanto de entrevista de emprego que eu perdi já
deve servir como prova. — Tinha nojo dele e de tudo que fez comigo.
Imagino até que ponto não deve ter chegado com outras vítimas.
— Sim, você é incrível e nunca teve culpa de nada. Está se
recuperando de tudo isso e logo não vai nem mais lembrar da existência
dele.
Esse era o meu plano, que logo tudo isso não passasse de uma
lembrança ruim, que não me afetaria mais.
Depois do almoço, voltei para a empresa e subi para encontrar meu
noivo na cobertura.
Dorothy me orientou a entrar e ir com calma porque o humor dele
tinha sido estragado cedo hoje. Bati na porta e entrei depois dele murmurar
um “Pode entrar” entre dentes.
— Oi! Se você quiser, podemos conversar em casa. — Me apressei
a dizer, para que ele soubesse que tudo bem, só queria aproveitar um
momento do dia para nos vermos.
Essas últimas semanas foram corridas. Com o feriado se
aproximando, estávamos nos organizando e adiantando tudo para que não
trabalhássemos e assim fosse possível aproveitar.
— Não. Pode falar. Eu não vi pela hora que já seria você quando
ouvi a porta. — Ele parou de mexer no seu computador e se levantou, vindo
até mim. — É sempre bom te ver durante o dia.
Ele segurou meu rosto, me dando um beijo calmo e carinhoso.
— Eu poderia ter enviado uma mensagem, mas confesso que queria
te ver. — falei entre os selinhos que dava nele.
— Se você quisesse passar o dia aqui, eu não me importaria. Só não
sei se eu trabalharia. — Com certeza não. Theodore resistiu em transarmos
no começo porque simplesmente não consegue ficar sem transar. O homem
é quase uma máquina de sexo, para a minha sorte. — Agora me fale, a que
devo a honra da visita.
— Meu pai quer que a gente vá para a Carolina do Norte passar o
dia de ação de graças. Ele ligou para Sarah nos convocando. — Percebi que
ele mudou a postura.
— E você vai passar o dia lá? — não consegui decifrar o que ele
estava sentindo, mas com certeza não parecia felicidade.
— Sim. E eu vim aqui justamente para ver se você gostaria de nos
acompanhar. Imagino que você já tenha combinado algo com os seus pais,
mas gostaria que você fosse, se você quiser, é claro.
Sua expressão mudou no mesmo instante.
— Eu te acompanho, sem problema nenhum. Meus pais falaram que
a minha avó queria que eles fossem para a Itália. Eu até ia ver se você
queria ir, mas imagino que a prioridade seja passar com os seus pais.
— Sim, nós passamos por muita coisa esse ano. Então eu realmente
prefiro dar graças junto com eles.
Ele me abraçou pela cintura com uma mão e a outra colocou uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha. Quando fitei seus olhos, eles
estavam profundos e pareciam querer me falar muito mais do que seus
lábios.
Me perdia nas sensações que eles transmitiam. Ele sempre me
olhava como se tivesse muito a dizer e como se não soubesse como fazer.
— Você vai querer passar todo o feriado lá? — ele falou enquanto
fazia um carinho no meu rosto.
Eu odiava o quanto ele era perfeito às vezes — quase sempre —, só
de me olhar e me tocar, me acalmava.
— Sim, não os vejo há alguns meses, então eu gostaria, sim.
— Perfeito, vou avisar ao piloto. Nós saímos daqui na quarta-feira à
noite.
— Quero te perguntar mais uma coisa. — Ele acenou para que eu
falasse. — Você está envolvido no que aconteceu com Donald? — Ele
pareceu surpreso com a minha pergunta.
— Eu não tenho motivos para mentir. Ele mexeu com algo que é
meu e a resposta foi à altura. Só ajudei a colocá-lo no lugar dele.
— Você sabe que quando ele fez aquelas coisas comigo, nós nem
sonhávamos em nos conhecer, né?
— Sophia, não importa quando foi. Para mim, o que importa é que
você sofria com isso. E ele é um grande filho da puta, que fez isso com
outras mulheres, então merece passar por tudo o que está acontecendo.
— Obrigada por isso. Pra mim foi importante saber que ele
finalmente está pagando por tudo.
Theodore respirou aliviado.
— Acreditei que você pudesse achar ruim eu me meter com algumas
coisas do seu passado, porém faria tudo de novo para te proteger.
— Não, o passado está no lugar dele. Você só ajudou a fechar uma
porta.
Ele me beijou, começando calmo e aos poucos foi aumentando a
velocidade, colando mais nossos corpos, eu pude sentir o volume que já se
formava na sua calça.
Fomos interrompidos pela entrada brusca de alguém que não bateu
na porta, e que me fez pular no lugar.
— Oh, desculpe interromper. — Eu estava de costas, mas reconheci
a voz de Lauren, que me olhava de cima a baixo quando me virei.
— Ela não me ouviu quando falei que você não poderia recebê-la
agora. — Dorothy falou entrando logo atrás dela.
— É porque o que eu tenho para tratar com Theodore é importante.
Aparentemente ele não estava ocupado com nada demais, né? — ela disse
apontando para mim.
Theo estava pronto para responder, percebi ele cerrando os lábios.
— Tudo bem — toquei seu braço e balancei a cabeça em sinal de
negação —, eu preciso voltar, deu meu horário. Nos falamos mais tarde. —
falei e saí rápido, sem esperar uma resposta, desviando da querida que
estava parada perto da porta.
— Ainda bem que você sabe quando se retirar. — Ela falou baixo
para que só eu ouvisse.
Fingi que não era comigo e desci de escada porque necessitava me
acalmar. Precisava me lembrar que ali era meu local de trabalho. Theo
estava dificultando minha vida, eu já não sabia o que era real e o que fazia
parte do contrato.

Theodore Rockefeller

Chegou o dia de viajar para a casa dos pais de Sophia. Estávamos no


avião aguardando a liberação para o desembarque. Era uma viagem
relativamente rápida. Sophia conversava empolgada com Sarah, Claire e
Karen, enquanto David — sim eles se intrometeram na viagem e vieram
conosco — falava comigo, sem desviar os olhos das meninas.
— Perdeu alguma coisa ali, David? — ele me olhou assustado,
como se saísse do transe.
— Não. Não fiz nada. Não começa, ok?
— E por que você está com tantas palavras de negação, então? —
estava me segurando para não rir, porque quando ele ficava nervoso,
começava a falar um monte de não e desconversar.
Nesse momento nosso desembarque foi autorizado e ele se livrou de
me responder.
Entramos no carro que nos aguardava enquanto o da segurança nos
acompanharia logo atrás. Fomos diretamente para a casa que nós alugamos
para passar os dias ali. Era uma casa próxima à dos pais de Sophia, porém
maior para conseguir comportar todos nós. Iríamos para a casa deles
somente no dia seguinte, devido ao horário.
— O que nós vamos fazer hoje? — Karen questionou.
— Podemos deixar para amanhã? Eu estou exausta. — Sarah falou
bocejando.
— Por mim, pode ser, estou cansada também. — Sophia concordou.
— É, Karen. Parece que você mirou nas festas e encontrou senhoras
de idade cansadas. — Claire falou rindo.
— Podemos ver um filme, comer alguma coisa. Pedi que deixassem
tudo abastecido aqui. — falei, dando uma alternativa.
— Contanto que não seja Harry Potter. — Claire respondeu rápido.
— Ei! Qual o problema? — Sophia fez um bico que minha vontade
era morder.
— O problema é que nós já decoramos as falas de tanto que você
assistiu e nos obrigou a ver. — minha cunhada falou.
— Ok, escolham qualquer coisa, depois assisto sozinha. Eu vou
separar algo para comermos. — Sophia veio comigo para a cozinha.
— Se puder envolver chocolate e sorvete, assisto todos com você.
— falei a abraçando por trás.
— Com você, sempre pode envolver sorvete e chocolate. — Ela riu
e virou me beijando.
— Ei, casal, vamos deixar a agarração para o quarto. — David
entrou falando.
Nos separamos rindo da cara que ele fazia. Pegamos todas as
porcarias que queríamos comer e fomos para a sala.
Passamos boa parte da noite assistindo filmes idiotas, comendo e
rindo.
Sophia trouxe mais leveza à minha vida. Ela completava o meu
mundo de um jeito que eu não imaginava ser possível.
Capítulo 39

Sophia Clarck

Quando a noite chegar


E a terra estiver escura
E a Lua for a única luz que veremos
Não, eu não terei medo
Oh, eu não terei medo
Contanto que você fique, fique ao meu lado
Stand By Me - Ben E. King

Fomos para a casa dos meus pais depois do café. O jeito que meu
pai ainda parecia desconfiado de Theodore era engraçado.
— Está tudo bem, papai? — perguntei quando ficamos sozinhos.
— Sim, minha filha. Nunca estive melhor. — Escutar isso fazia tudo
valer a pena.
— Que bom! Mas não era sobre isso que eu estava falando. Você
entendeu o que eu quis dizer. — Ele estava se fazendo de bobo, porém, eu o
conhecia bem demais.
— Por mais que você esteja noiva há dois meses e ele tenha me
pedido sua mão — quando foi isso e por que eu não soube? —, eu ainda
tenho receio disso tudo. Foi rápido demais e em uma época em que eu não
estava bem. E olha tudo que ele tem feito por nós.
Entendia o ponto do meu pai e precisava acalmá-lo.
— Sei que foi inesperado, mas meu noivo não é nada menos do que
perfeito para mim. Ele sabe que vocês são importantes, então tudo que ele
faz é em função disso.
— Vocês se amam de verdade, Sophia? — Ele olhou no fundo dos
meus olhos ao me perguntar.
— Claro que sim, papai. — A resposta saiu tão rápido e fácil, que eu
me perguntei se eu me acostumei com a mentira, ou ela já não é mais uma
mentira.
— Ótimo. Você merece ser feliz, meu pequeno Lírio. — Ele achava
que Sarah e eu seríamos sempre suas pequenas flores.
— Obrigada! Tenho certeza de que seremos felizes.
— Queria te pedir um favor.
— Pode falar, qualquer coisa.
— Esse fim de semana é a festa de noivado da sua prima e Gary. —
Arregalei os olhos, porque estava imaginando onde ele queria chegar com
essa história. — Como agora eu tenho certeza de que você e o seu noivo são
de verdade, queria te pedir para comparecerem.
— Pai, me desculpe, não sei se é o ideal.
— Sophia, a sua tia está me perturbando há semanas. Por favor, vá.
Você está bem com o seu noivo, não há mal nenhum em ir.
— Ok, vou conversar com Theo.
Imagino o quanto minha tia Cintia não o estava enchendo o saco.
Ele não merecia o aborrecimento, por isso cedi.
Passamos o dia tranquilo, Theo se deu bem com meus pais, David e
Karen fizeram com que o ambiente ficasse leve e divertido.
— Sophia, você irá ao noivado? — Sarah me perguntou quando
chegamos na casa em que estávamos ficando.
— Sim, papai não me deu muitas escolhas. Quero evitar que ele se
aborreça por coisas simples, a gente vai lá e fica só um pouquinho. Você vai
também, né?
— Vou, não te deixaria nessa furada sozinha. — ela disse me
abraçando.
— Diga, onde nós vamos? — David se meteu no meio de nós duas
passando os braços por cima dos nossos ombros.
— Noivado do meu ex com minha prima.
— Maravilhoso, somos especialistas em comparecer em festas que
não fomos convidados.
— Se vocês não quiserem nos acompanhar, tudo bem.
— Tá vendo, Theo. Sua noiva não nos obriga a ir em eventos. —
Karen disse debochando dele.
— Por isso que eu estou com Sophia. Ela é a minha metade boa. E
como metade ruim, eu digo que todos irão ao noivado. Se eu vou ter que
olhar pro ex dela, vocês também vão.
— Eu já iria por Sophia, não por você. Até porque eu soube que o
ex dela é bonitão. — Karen falou deixando o Theo com raiva.
— Pensa pelo lado positivo. Sophia tem que olhar Lauren quase
sempre. — Claire deu um tapinha no braço de Theo. — E quem está com
Sophia agora é você. O máximo que vai acontecer é Gary olhar com cara de
arrependimento por ter perdido tudo isso. — Ela apontou na direção de todo
o meu corpo.
— Nisso eu concordo — ele me abraçou por trás, pousando a cabeça
no meu ombro —, ela é toda minha, azar o dele que não deu valor.
— Ok, Sr. Possessivo, sou só sua. Agora chega de falar do passado.
Meninas vocês têm roupa para ir? — Mudei de assunto, porque não gostava
das lembranças que esse passado me trazia.
— Não trouxe nada. Podemos sair para comprar amanhã cedo? —
Karen questionou.
— Sim, podemos tomar café em uma padaria que Sarah, Claire e eu
amamos, depois vamos às lojas.
Como estava tarde porque acabamos ficando na casa dos meus pais
mais tempo do que imaginamos, repetimos a mesma programação do dia
anterior.
— Eu nunca imaginei que em um feriado à noite eu estaria em casa,
assistindo Harry Potter — sim, dessa vez eu os convenci —, sem sair, ir
para alguma balada ou estar trabalhando. Mas sabe o que é melhor, eu
trocaria sempre tudo isso por vocês, facilmente. — Karen falou nos levando
às risadas.
— Eu só queria saber o que aconteceu, porque Theodore que
arrumou uma noiva e a gente que ficou amarrado. — David falou.
— Vocês que gostam de se enfiar aonde eu vou. Não é minha culpa
sempre fazer boas escolhas. — Theo falou me puxando para mais perto e
dando um beijo no meu cabelo.
— Nem sempre foi assim, né? — Ele abriu a boca para retrucar, mas
Karen não deu tempo. — Ainda bem que as pessoas evoluem e aprendem
com os erros. David, isso é sobre o que eu já te falei. Minhas previsões
estão se concretizando. — finalizou rindo e fazendo uma expressão para ele
de deboche.
— Você não esquece isso? Não vai acontecer, Karen. Pensando bem,
com Theo eu sei que vai acontecer logo, comigo não. Me esquece, sua
bruxa.
Eu e as meninas nos olhávamos perdidas.
— Tá bem, vocês ativaram a fofoqueira que existe em mim.
Desembucha logo, o que é? — Claire foi a primeira a falar.
— Nada demais. Só disse que eles dois iam se casar muito em
breve. — Karen falou dando de ombros.
Não entendia Karen falar isso com naturalidade se ela sabia que
nosso relacionamento era um contrato. Não fazia sentido. E só de pensar em
Theo casando com outra pessoa senti uma coisa estranha, uma sensação
ruim.
Melhor parar de pensar nisso.
— Ah, faz total sentido. Com o Theo você acertou em cheio, o jeito
que ele a olha, denuncia o quanto está amarrado na Sophia, inclusive estou
aguardando a data do casamento. — Fiquei vermelha na mesma hora.
Mentir para Claire era muito difícil.
— Nós estamos pensando em algumas, não quero esperar muito.
Talvez daqui a uns quatro meses. Logo avisaremos vocês. — Theo falou,
como se nós estivéssemos realmente cogitando nos casar.
— Certo, amiga, se precisar de ajuda com alguma coisa, me avisa. E
David, pelo que eu estou entendendo, se Karen sempre acerta, então você é
o próximo da lista, vou só aguardar você oficializar.
— Comigo não, não vou me casar, nem ter nada sério com ninguém.
Podem esquecer. — David parecia até um pouco revoltado.
— Espere e verá. — Karen deu de ombros.
— Eu vou subir para o quarto. Não estou me sentindo muito bem.
— Sarah falou comigo.
— Quer ir ao hospital? Algum remédio? O que você está sentindo?
— Me preocupei imediatamente.
— Nada demais. Acho só que a comida não caiu muito bem, vou
deitar que logo passa. Qualquer coisa te chamo. — ela disse já se
levantando e saindo.
Enquanto isso, Karen continuou provocando David com a ajuda de
Theo e Claire.
— Acho que já deu de implicarem comigo. Sarah está demorando a
voltar. Será que ela passou mal no banheiro?
— Ela subiu para deitar, estava um pouco indisposta. — respondi
para David.
— Entendi. Bom, eu acho que vou recolher meu corpinho bonito
também. Vocês cansaram demais a minha beleza com essas teorias de
casamento.
— Não são teorias, são fatos. Boa noite, bonitão. Lembre-se que eu
sei de tudo. — Karen falou.
Eles eram doidos e isso era algo irrefutável.

Sarah acordou melhor e nós fomos para o café. Era impressionante


como morar em uma cidade relativamente pequena, fazia com que todo
mundo te conhecesse. E andando com um grupo tão barulhento quanto o
meu, nós chamávamos a atenção, aí vinham os cochichos como se fôssemos
algum tipo de celebridade. Tudo bem que por um lado, Karen, David e
Theo eram conhecidos e vez ou outra estampavam capas de jornais.
Pedi para finalizar o café, uma fatia de bolo de chocolate e depois
disso começaram as brincadeiras.
— Se não tivesse bolo de chocolate não seria você. — Claire disse.
— Mas você sabe que aqui é o melhor bolo de chocolate que existe.
Não tinha como vir aqui e não comer.
— O melhor mesmo? Nesse tempo todo em Nova Iorque não teve
nenhum outro que você comeu que superasse? — Theo questionou.
— Sim, é o melhor mesmo.
— Ok. — Ele abaixou perto do meu ouvido e sussurrou. — Então
imagino que na sua pele ele deve ficar excepcional. — Arregalei os olhos,
não esperando que ele falasse isso.
— Você só tem como saber, se provar. — Já que ele queria seguir
essa linha eu também faria.
— Sophia, não me dê ideias.
Dei de ombros e comecei a comer o bolo que a garçonete acabou de
deixar na mesa. Theo não tirava os olhos de mim, parecia querer me
devorar da mesma forma que eu comia o bolo.
Minha temperatura subiu só de pensar.
— Vocês viram as manchetes do jornal local? — Sarah perguntou.
— Não, o que saiu? — Sarah me mostrou o celular, onde havia
várias matérias sobre a nossa chegada na cidade. E aí eu entendi todo o
cochicho.
— Cidade pequena é isso, qualquer movimentação gera burburinho.
— Saiu algo demais? Posso pedir a Emma para agir.
— Tudo bem Theo, não precisa incomodá-la, não saiu nada demais.
Só comentários da nossa chegada aqui. — Ele assentiu e relaxou.
Continuamos conversando até Claire nos arrastar à loja de vestidos a
pedido de Karen. Ela sempre parecia uma criança feliz quando entrava
nesses lugares. E tinha um olho clínico para comprar as peças, sempre me
impressionava com isso.
— Peguei esse para você e esse para Sarah.
— Não precisa, eu vou usar um dos que estão na casa dos meus
pais. — Sarah recusou imediatamente.
— Para com isso, experimenta o vestido. Não estou falando pra
comprar, só para provar. — Karen saiu levando Sarah para os provadores,
ela era ótima em nos fazer ceder. Eu fui junto ver o que ela tinha escolhido
para mim.
O vestido era lindo, num tom de rosa claro, a alça em um ombro só,
ele descia perfeitamente pelas minhas curvas, indo até os meus joelhos e
com um lascado que ia até o meio da minha coxa.
Saí do provador e Theo estava do lado de fora no telefone, no
instante em que me viu, ele parou, me olhando.
— Te ligo mais tarde — desligou na cara de alguém. — Você está
maravilhosa. Dá uma voltinha pra mim, por favor. — Fiz o que ele pediu.
— Deus, eu só posso agradecer. Sophia, meu amor, você olhou sua bunda
no espelho?
Me preocupei e na mesma hora eu olhei.
— O que tem minha bunda? — falei, olhando o meu reflexo e não
vendo nada demais.
— Têm que ela está ainda mais gostosa nesse vestido. Não sei se
serei capaz de manter minhas mãos afastadas de você. — disse, entrando no
provador e me apertando por trás.
— Theo, larga minha amiga que eu quero a opinião dela aqui. —
Claire falou do provador ao lado.
Saí rindo e vi como minhas amigas estavam lindas. Karen estava em
um vestido preto soltinho, Claire com um verde que destacava o quanto a
minha amiga ruiva era linda, e Sarah estava com um rosa escuro
simplesmente perfeito, que parecia feito para ela.
Escutei David soltar um “uau”.
— Vocês estão simplesmente maravilhosas. Theo, nós temos sorte,
meu amigo, todos os caras só vão olhar para as nossas meninas. — David
falou.
— Contanto que ninguém chegue perto de Sophia, podem olhar à
vontade.
Todas nós caímos na risada.
Sarah ficou relutante em levar o vestido, sabia que não estava
trabalhando e ela era extremamente controlada no quesito financeiro, eu a
ajudava com as coisas da faculdade e isso pra ela já era muito.
— É sério, Karen. Ficou lindo, mas não preciso. Eu já tenho roupa
para ir.
Ela falava com Karen, quando David chegou ao nosso lado, com
uma sacola da loja na mão, estendendo para ela.
— O que é isso?
— O vestido que você provou. É um presente e não aceito
devolução. Vamos embora, senão vamos nos atrasar. Não gosto de atrasos.
— David falou e simplesmente saiu da loja.
— Concordo com ele, vamos embora. — Karen saiu quase correndo
e arrastando Sarah com ela.
— Você entendeu alguma coisa? — Claire me perguntou.
— Nadinha. Mas tem horas que é melhor fingir demência. — Sabia
que estava acontecendo alguma coisa com Sarah, mas ainda não era o
momento de perguntar.
Capítulo 40

Theodore Rockefeller

Poxa vida, você é o meu melhor amigo


Eu grito para o vazio
Não há nada que eu necessite
Bem, torta de abóbora quente e pesada
Doce de chocolate, Jesus Cristo
Não há nada que me dê mais prazer do que você
Home – Edith Whiskers

Estava pronto, esperando que as meninas terminassem de se


arrumar. Aproveitei para verificar alguns contratos. Dois dias sem trabalhar
e a minha vida virou um caos, mesmo tendo me preparado para passar o
feriado fora.
Athena me passava as notificações com as urgências, e eu estava
focado nisso.
— Eu não tenho nem meu amigo para conversar, enquanto as
bonitas se arrumam. — David falou se sentando na minha frente.
— Isso se chama dois dias de folga, sabe o que significa?
— Que você resolveu viver sua vida? Que descobriu que ama uma
mulher e por ela vale a pena diminuir o ritmo de trabalho?
Eu sabia que sentia algo especial por Sophia, mas ao mesmo tempo,
não poderia deixar minha empresa de lado por amor. E ultimamente era
algo que eu estava fazendo mais vezes do que o esperado.
— Você sabe que não é assim que as coisas funcionam, não posso só
deixar a empresa de qualquer jeito.
— Então, meu amigo, arrume um equilíbrio. Você já perdeu uma
pessoa assim, se você quiser realmente que Sophia fique, você precisa saber
dividir o seu tempo, ou contratar alguém que te ajude nisso.
Nesse momento, Karen chegou nos chamando para sair. Eu passei o
curto caminho até o lugar onde aconteceria o noivado pensando em qual
seria a melhor solução, e tentando enxergar se eu realmente trabalhava tanto
assim.
Eu passei boa parte do meu tempo com Sophia, será que não seria o
suficiente?
Se isso não era, o que poderia ser então?

Estávamos sentados com os pais de Sophia, a festa era de uma


magnitude que não parecia um noivado, mas sim uma festa de casamento. E
tinha a sensação de que boa parte da cidade estava ali.
— Até que Cintia esperou um tempo razoável para fazer os dois
noivarem. Dois meses depois de Sophia. — Margareth falou, me fazendo
prestar atenção.
— É bem a cara dela. E só ter feito tudo isso para se mostrar, já que
a festa de Sophia foi divulgada em vários lugares, mesmo sendo mais
intimista. — Sarah completou o pensamento da mãe. Eu não tinha ideia de
que as relações ali eram de tanta competição.
— Eu conversei com alguns colegas da faculdade e parece que é por
aí mesmo. Que a relação dos dois pombinhos não está tão boa assim.
Alguns nem entenderam o noivado. — Claire contou.
Então, a situação estava pior do que eu imaginei. Fiz algumas
pesquisas sobre o noivo e vi algumas polêmicas em que ele se envolveu,
digamos que Sophia que se livrou com o que ele fez com ela.
Em seguida apareceu o casal. Eles vieram discutindo e percebi que
pararam quando a tia de Sophia cutucou os dois, mostrando a nossa mesa.
Minha noiva notou a aproximação. Até o momento, ela estava
indiferente a tudo.
— Está tudo bem? Se sentindo confortável com a situação? —
Imaginei que não, mas era algo que ela se propôs a fazer pelo pai. Segurei
sua mão, mostrando que permaneceria ali por ela.
— Está sim. Imaginei que esse noivado me afetaria, mas percebi,
vendo os dois, que é algo que superei. Estar com vocês é mais importante
que esse pedaço ruim do meu passado.
Não consegui responder porque sua mãe estava apresentando os
meus amigos e eu aos parentes de Sophia.
Notei os olhares do Gary para a minha noiva. Provavelmente iria se
arrepender a vida inteira do que perdeu. Abracei Sophia de lado.
Sim, eu era um maldito possessivo que não queria ninguém olhando
para o que era meu.
A única coisa que me acalmava era sentir o cheiro de lírios que ela
irradiava. Depositei um beijo em seus cabelos, respirando aquele aroma.
— Que bom que conseguiu tirar um tempo na sua agenda
compromissada para vir, Sr. Rockefeller. — Cintia falou rindo demais para
mim.
— Por Sophia, eu sempre arrumo tempo. Mesmo que seja para
lugares assim.
— Claro, minha sobrinha deve ter te prendido bem direitinho. —
disse cheia de sarcasmo.
— Sophia é realmente incrível, uma em um milhão. Uma mulher
que nunca vi igual, excelente filha, irmã, amiga, profissional, é doce, não
mede esforços para fazer tudo de forma perfeita, não tem uma área na sua
vida que ela não domine. Mas tenho certeza de que você sabe disso. Que
não é possível encontrar quem chegue à altura dela. — falei vendo-a ficar
vermelha.
— Sim, conheço bem as habilidades dessas duas. — Ela falou
forçando um sorriso quando alguém chamou por eles.
— Theo, não precisava ter falado tudo isso para inibir o veneno da
minha tia.
— Meu Chocolate, eu não menti, eu acho tudo isso de você.
Entenda que eu não preciso mentir para te agradar.
— Essa tia de vocês é péssima, com todo respeito ao senhor. —
Karen falou com Paul, sabia que ela devia estar se segurando pra não
responder.
— Vocês estão reparando na movimentação ali? — David apontou
onde os noivos estavam gesticulando com um pessoal que parecia ser do
buffet.
— Não tá parecendo nada bom. Queria conseguir ouvir, mas pelo
que eu li dos lábios parece algo com dinheiro. — Claire disse prestando
atenção em tudo. David arrumou uma dupla a altura para as fofocas.
— Você consegue ler lábios? — Meu amigo perguntou incrédulo.
— Um pouquinho, acabei aprendendo no decorrer dos anos na
profissão. — Ela deu de ombros.
Um dos primos de Sophia pediu que o pai dela e ela fossem até onde
sua tia estava.
Acompanhei eles, com Sarah e minha sogra logo atrás. E a
discussão estava um pouco mais acalorada do que eu esperava.
— Você não tinha esse direito. — Cintia falou para Gary. E nós
estávamos sem entender o contexto.
— E você não poderia achar que eu ia sustentar você e sua família a
vida inteira. Você estava apenas sugando meu dinheiro. Porém, a fonte
secou. — Gary respondeu.
— Não ouse, menino. Nós já estamos aqui, você precisa pagar o
buffet. Como faremos uma festa sem comida? — ela falou entre dentes.
— Não vai ser um problema meu. Aliás acho que eu e Cheryl já
chegamos num acordo. Não tem porque ficarmos juntos quando é óbvio que
não temos mais nada.
— Mãe, já chega. Você deveria ter me ouvido e cancelado tudo isso.
Eu já não suporto mais esse teatro que você criou. Acho que não sou capaz
de passar debaixo de uma porta. Eu ainda tenho amor-próprio.
— Não ouse fazer isso aqui. E que palhaçada é essa de porta?
— Você entendeu bem. Eu já sou basicamente a chacota da cidade
de tanto chifre que Gary me colocou. E não tem outro lugar pra fazer, senão
aqui.
Nós e a festa toda já tínhamos parado para observar o espetáculo.
Todos boquiabertos.
— Estamos entendidos, então. Eu vou embora. — Gary falou.
— Nada disso! Você precisa no mínimo quitar os gastos dessa
merda que fizemos. Vocês acham que eu sou palhaça?
Eu achava, mas acredito que não era o melhor momento para
responder.
— Eu e Cheryl te falamos inúmeras vezes que não queríamos isso e
eu avisei outras centenas de vezes que não tinha dinheiro. Você bateu no
peito dizendo que daria um jeito. Então dê, porque eu já não tenho de onde
tirar. Você conseguiu torrar todo o meu dinheiro.
— Você só pode estar brincando. Tudo isso aqui custou muito
dinheiro, precisamos pagar.
— Nós não, você precisa. É bom que aprende a não querer gastar o
dinheiro que não é seu.
— Meu irmão, por favor me ajude. Gastei milhares de dólares na
festa contando que Gary pagaria. Preciso que me ajude.
— Cintia, eu não tenho nem para mim. Já viu a situação em que eu
estou, como acha que eu vou ter milhares de dólares?
— Sophia, minha querida sobrinha, eu sei que você tem. Está quase
casada com um bilionário, eu vejo os eventos que vocês frequentam, que só
anda com roupa de luxo. Então, pode me ajudar.
Minha noiva, que até então estava parada só observando, ficou de
olhos arregalados.
— Tia, me desculpe, mas eu não tenho nada a ver com isso. E eu
estou noiva do Theo e não tenho qualquer poder sobre o dinheiro dele. Mas
mesmo que tivesse, você tem que aprender a se controlar e viver no seu
mundo.
Nesse momento, vi que ela foi ficando vermelha, parecia
completamente desesperada.
— Mamãe, o que você fez? Quanto gastou nessa festa? E melhor,
como conseguiu sem Gary te dar dinheiro?
— Eu fui prometendo, deixando o nome dele em garantia. Todos
sabem que ele tem, ou ao menos tinha, dinheiro. Só queria que você tivesse
uma festa digna de noivado.
Ela estava derrotada. Era visível.
— Já que não vai ter mais festa, acabe com tudo. Veja o que
consegue devolver e assim você diminui o prejuízo. Sobre a comida, eu vou
quitar e pago um valor a mais para que coloquem tudo em marmitas e
distribuam, aproveitando o dia de ação de graças. — Informei à pessoa que
estava responsável por isso e pedi que David cuidasse para mim.
— Quanto aos demais gastos sugiro que hipoteque a sua casa e
quite. É o melhor jeito de aprender a nunca mais querer ser algo que não é.
— Ela me olhava perplexa. Mas depois de tudo que ela fez com Sophia, se
achasse que eu ia resolver os problemas dela, estava muito enganada. —
Acredito que terminamos por aqui.
— Sim, vamos embora.
— Vocês não podem fazer isso comigo. Sophia, eu sou sua tia.
Precisa ter compaixão.
— Não, tia. Theo já foi generoso demais em pagar pela comida, que
imagino que deva ser pelo menos um terço de tudo que gastou. Você sempre
fez questão de humilhar a mim e a Sarah. Agora a cidade toda viu quem
você é de verdade. Faça um bazar com as suas roupas de marca e joias.
Tudo isso deve render um bom dinheiro.
— Margareth, por favor. Você é mãe, consegue me entender.
— Sim, e por isso mesmo eu concordo com a minha filha. Use esse
momento para evoluir espiritualmente. A vida é mais do que querer ser
superior aos outros.
Viramos as costas quando ela ia tentar falar mais, mas Cheryl pediu
que ela parasse.
— Já que estamos maquiadas e arrumadas, podemos ir em alguma
boate, o que acham? — Karen deu a ideia e todos concordamos.
David me informou que pagou o negociado e que o pessoal ia comer
bem hoje à noite. Um segurança ia acompanhar já que a minha sogra quis
ajudar na distribuição da comida, porque ela conhecia alguns lugares que
precisavam.
Fomos direto para a boate. Havia muito tempo que não me divertia
assim. Às vezes, acho que esquecia a idade que tinha, parecia que eu era
uma alma idosa num corpo novo.
Naquele momento, com todos ali dançando, esqueci que tinha
empresa, compromissos ou qualquer coisa que não envolvesse Sophia com
o corpo colado ao meu.
No auge da madrugada, a boate estava mais vazia. Com Sophia nos
meus braços procurei os demais com os olhos. Vi David dançando com
Sarah, Claire e Karen estavam numa rodinha com várias pessoas também
dançando. Com eles ali próximos eu sabia que tudo estava bem.
Chegamos em casa no comecinho da manhã e minha noiva começou
a falar.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu hoje. Você não tinha
obrigação nenhuma em ajudar.
— Sophia, eu paguei pela comida porque desperdício é algo que eu
não suporto ver. Mas em relação às outras coisas, ela precisava aprender.
Sua tia não pode falar com vocês daquele jeito e achar que sempre ia ficar
por isso mesmo. Comigo as coisas não funcionam assim.
Ela me abraçou apertado. Nesse momento o silêncio dela falava
muito mais do que qualquer palavra. Foram muitos anos precisando ser
forte e se defender sozinha.
Nunca mais deixaria que ninguém a machucasse ou a
menosprezasse.
Sophia era o que eu tinha de mais precioso na minha vida.
Capítulo 41

Sophia Clarck

Então me diga se você quer


Porque eu tenho esse sentimento
Eu quero ouvir você dizer isso
Porque eu não posso acreditar
Com cada toque seu
É como se eu tivesse começado a sonhar
Acho que o céu não está tão longe assim
Breaking Me (feat. A7S) - Topic

O tempo passava de um jeito que quase não sentíamos os dias.


Dezembro era um mês corrido e frio, tínhamos muitas coisas a resolver para
passar as festas de fim de ano com tranquilidade.
Theodore trabalhou mais do que o normal para atender as demandas.
Pelo que me falou, a empresa estava passando por muitas tentativas de
ataques e ele e Karen estavam atuando fortemente com a equipe de
segurança de dados para proteger as informações e evitar novos
vazamentos.
Mesmo com toda essa comoção, ele ainda arrumava tempo para
estarmos juntos, fazendo coisas simples em casa, e para os eventos que nós
tínhamos que comparecer. Infelizmente, via mais Lauren do que gostaria.
Parecia que ela fazia questão de estar nos mesmos lugares que nós. Não
respeitava nem o noivo, que ficava com cara de palhaço ao seu lado, com
ela se insinuando para Theodore, que sempre cortava as suas investidas de
forma polida para não gerar nenhuma manchete na internet.
Nesse momento ajudava minha sogra com os últimos detalhes para
o Natal. Ontem meus pais haviam chegado para passar as festas conosco,
fazendo a minha felicidade completa.
Minha mãe ficou louca com a estufa de Susan, as duas não saíram
de lá.
— Sophia, acredito que já acabamos por aqui. Se você quiser, pode
subir para se arrumar. Theodore ainda está na empresa?
— Ok, qualquer coisa, se precisar de ajuda, me chame. Da última
vez que falei com ele, sim. Não sei se está a caminho agora. — disse
pegando o meu telefone para consultar se havia alguma mensagem dele. —
Nada aqui.
— Acabei de falar com meu filho, ele está a caminho. — Robert
entrou na sala em que estávamos. — Conversaremos depois sobre o que ele
está fazendo da vida com essa rotina corrida.
Acenei e pedi licença, indo me arrumar.
Nossa noite de Natal foi maravilhosa! Os avós e alguns primos e
tios do Theo estavam presentes, fazendo com que o jantar fosse divertido e,
ao mesmo tempo, uma confusão de conversas. Meus pais se sentiram muito
à vontade e isso pra mim era o mais importante.
Descemos para o café da famosa manhã de Natal dos Rockefeller.
Theo me contou que sua família tem uma tradição forte quanto ao momento
divertido de distribuir os presentes. Me deixou um pouco nervosa devido ao
medo deles não gostarem de algo que eu comprei.
Quando chegamos na sala, todos nos aguardavam.
— Finalmente chegaram. Achei que teria que subir para tirá-los da
cama. — David falou assim que entramos.
— Feliz Natal para você também. — Theo falou — Sabe como me
encontraria se entrasse no meu quarto, certo? — Ele ergueu uma
sobrancelha fazendo um tom de deboche.
— Chega, vocês dois. Vamos agora para os presentes. — Susan
falou batendo as mãos, empolgada.
Nos sentamos e ela começou a distribuir os dela, depois Robert, e o
restante do pessoal até que chegou a vez de Theo. Ele deu o de todos, mas
não me deu nada. Achei que poderia ser porque simplesmente eu era um
contrato, então não tinha necessidade de gastar mais do que ele já gastava
sempre.
Me levantei para ir pegar os presentes que eu daria, e ele me parou
no meio do caminho.
— Achou que eu não compraria nada para você?
— Talvez? — senti meu rosto queimar, porque todos nos
observavam.
Ele foi até a árvore, pegando uma caixa grande e vindo na minha
direção.
— Espero que você goste.
Abri o pacote e conforme fui desembalando, percebi que era um box
de livros do Harry Potter. Ele se lembrou que eu perdi os meus no
alagamento do apartamento!
E não era qualquer box, eram originais da primeira edição e ainda
por cima autografados nominalmente pela J. K. Rowling! Eu quase surtei.
Pulei no colo de Theo o beijando.
Ele me pegou e finalizou nosso beijo sorrindo.
— Imagino que você tenha gostado. — disse entre selinhos.
— Eu amei! Foi o melhor presente que eu já recebi na vida, eu não
sei nem como te agradecer.
Ele me desceu ao chão. Encostando a cabeça perto do meu ouvido e
sussurrou.
— Eu sei como pode me agradecer. — Ele deu ênfase à última
palavra.
— Isso não faço por agradecimento. — Finalizei piscando quando
nos separamos.
Agora o meu presente parecia tão simples.
Fui até a árvore e entreguei os presentes para todos e o dele por
último, para observar todas as suas reações.
Ele parecia curioso no começo, depois percebi seus olhos irem
mudando conforme ele abria o pacote.
— Como conseguiu essa edição da camisa dos New York Giants? —
ele parecia surpreso com a camisa na mão.
— Digamos que eu tenho alguns contatos. Trabalhar com marketing
me faz conhecer pessoas que conhecem pessoas. — Dei de ombro.
Sabia que ele gostava e apoiava o time, apesar de não conseguir ir
aos jogos devido à rotina. E quando mais novo era torcedor fanático pelo
que Karen e David me falaram.
— Sophia, você conseguiu uma edição limitada, de um jogador da
época em que ia nos estádios com meu pai e meu avô. — Ele virou para os
dois e mostrou a camisa, notei a emoção que passou pelos olhos deles. Ele
me pegou nos braços me beijando com calma, um beijo cheio de
sentimentos. — Obrigado, de verdade, eu adorei. Mas hoje meu maior
presente de Natal é você.
Eu realmente sentia que eu era especial para Theodore.
Ele conseguiu derrubar cada tijolo que eu construí em volta do meu
coração.
No fim do dia nós fomos para o nosso apartamento. Meu estômago
não estava muito bom, então achamos melhor vir para casa.
Deitamos na cama abraçados depois dele ter cuidado de mim. Sua
mãe passou as recomendações sobre o que deveria ser feito e ele seguiu
certinho, a única parte boa em passar mal era o mimo que Theo tinha
comigo.
No outro dia acordei sentindo-o olhar para mim e minha vontade era
de pular em cima dele.
— Eu acho que eu quero tomar meu café na cama. — falei subindo
em cima dele.
— Ei, vamos com calma, Chocolate. Você estava muito mal ontem
para hoje já começarmos o dia com essa violência toda. — Ele me colocou
de volta na cama com cuidado.
— Estou com vontade de você — choraminguei —, acordei bem,
nem parece que senti alguma coisa. — Sorri com maldade, esse homem me
fazia salivar.
Tentei novamente subir no seu colo, mas ele me voltou para o
colchão, subindo em cima de mim e apoiando seu peso na cama para não
me machucar.
— Vamos fazer assim, hoje faremos amor — ele sussurrou no meu
ouvido —, calmo, lento e gostoso.
Droga, até ele falando em fazer sexo com calma era excitante.
Theo me beijou lentamente, saboreando meus lábios, como se
fossem a fruta mais doce que já provou, desejando prolongar o gosto em
sua boca, se deliciando aos poucos como se tivesse medo de acabar.
Fiquei envolvida facilmente pelo seu contato. Meu desejo, que já era
latente desde o momento em que eu acordei, só foi crescendo conforme
nossas respirações se misturavam. Sua mão descia pelo meu corpo fazendo
carinho e ao mesmo tempo me atiçando.
Sua boca desceu com suavidade pelo meu corpo causando arrepios
por onde passava. Não imaginava que sentiria tanto tesão em preliminares
tão “lentas”, porém Theo estava conseguindo transmitir mais sentimento do
que qualquer outra vez que nós transamos.
Em momento nenhum ele tirava os olhos dos meus. Seus dedos
passeando pelo meu corpo era quase demais para mim, estava ofegante e
gemendo seu nome.
— Theo — puxei seu rosto para minha altura novamente —, pode
parar de me torturar, quero você agora. Pode ser lento, mas tem que ser
agora!
— Claro, meu amor. — Senti seu dedo em mim, me fazendo gemer
— Você está tão pronta.
Me beijando, ele se posicionou na minha entrada, primeiro
pincelando seu pau de forma torturante e aí me penetrando devagar.
Manteve o ritmo assim, fazendo carícias leves, eu me sentia como se
estivesse sendo adorada por Theodore.
As suas estocadas eram ritmadas, alcançando um lugar perfeito
dentro de mim. Ele não fazia com força, mas sim com uma velocidade certa
de modo a construir o meu orgasmo.
A cada encontro da sua pelve com a minha boceta, me penetrando
profundamente, eu gemia mais.
Ele desceu uma mão, encontrando meu clitóris, o circulando e me
levando à loucura de vez.
— Era esse café que você queria, meu amor?
Murmurei que sim, não era capaz de formar uma frase inteira. Eram
apenas gemidos e o nome de Theodore que saíam dos meus lábios.
Meu corpo todo já estava pronto para o auge do meu prazer. Sentia
ele crescendo dentro de mim, me inundando de uma forma quase
avassaladora.
— Caralho, Soph, você me apertando assim não consigo segurar
mais. Goza comigo, minha delícia.
O comando de Theo veio como uma bomba, fazendo todo o meu
corpo reagir à sua vontade. Era uma onda elétrica que ia desde a pontinha
do meu dedo do pé até minha cabeça. Gritei me libertando de todas as
sensações, trazendo-o comigo.
Ele se deitou sobre mim, sem deixar seu peso me esmagar, enquanto
acalmava sua respiração e os espasmos do seu corpo.
Podia sentir seu coração batendo, o meu estava no mesmo ritmo. E
isso me acertou em cheio. Nunca fiz “amor” assim com ninguém, eu
preferia sempre um sexo mais bruto. Percebi que nunca me senti tão bem
em um pós orgasmo, tinha uma sensação de pertencimento.
O medo que tudo isso me causava me deixou paralisada. Não sei se
Theo percebeu, mas ele deitou na cama e me puxou para os seus braços, de
um jeito que aplacava minha angústia, sem que eu entendesse como ele
conseguia isso.

Depois do nosso dia de Natal, parecia que uma chave tinha virado.
Eu fiquei confusa com todos os cenários que a minha cabeça estava
montando.
Queria acreditar que nós poderíamos ter um futuro juntos, que eu
poderia ser feliz ao lado de alguém que me amasse de verdade. Mas a
minha cabeça me puxava para baixo, mandando que colocasse os pés no
chão.
Droga, por que era tão difícil deixar as emoções dominarem as
ações?
Essa era a primeira semana de Sarah na empresa, fazendo estágio.
Nós estávamos almoçando no refeitório. Mary estava de férias, tinha
viajado com seu pai para a casa de alguns parentes e eu já estava morrendo
de saudades dela.
— Irmã, que cara é essa? Eu tenho te percebido muito inquieta esses
dias.
— Nossa, está tão na cara assim?
— Não, eu que te conheço bem demais. Me diz, o que está
acontecendo? — ela pediu, segurando minhas mãos. Olhei em volta e como
não tinha ninguém por perto, resolvi falar.
— Meu tempo com Theo está acabando. Não sei muito bem o que
pensar sobre isso.
— Sophia, o que você sente por ele?
— Boa pergunta. Eu não sei responder.
— Como não? Pensa no que você gosta nele, quais as sensações que
você sente quando está com ele.
Era fácil pensar no que eu gostava, Theo era um homem lindo, que
fazia de tudo por sua família, amigos e por aquilo que ele acreditava. Era
honesto, um pouco excêntrico, tinha um coração enorme e não gostava de
levar o crédito pelo que fazia. Era implacável com tudo e não tinha medo de
ir atrás do que queria.
Agora as sensações que ele me trazia eram muitas, alegria, raiva,
prazer, pertencimento, frio na barriga. Droga!
— Você está se tocando que está apaixonada? Ou eu preciso
esfregar na sua cara?
— Você é só um pouquinho direta, né?
Sarah não media palavras para falar, principalmente se estivesse
certa, o que acontecia com muita frequência.
— Eu não estou mentindo, pare de se enganar. Não precisa ter medo
de ser feliz por conta do seu passado. Theodore não é nenhum deles. Ele
veio para você ver que pode ser feliz com alguém, sem se preocupar com a
sua sombra.
— Você sabe que o medo já foi mais forte do que eu em muitos
momentos.
— Sim, mas se estiver com medo, vai assim mesmo, se arrisque e
seja feliz. Tenha a mesma coragem pro amor que você tem para todas as
outras áreas da sua vida. Você é destemida em tudo, no amor não precisa ser
diferente. — Ela olhou diretamente nos meus olhos. — Eu sinto orgulho de
você e de quem se tornou. Você é o meu maior exemplo.
— Sarah, o refeitório não é o lugar ideal para você me fazer chorar.
— falei rindo e prendendo o choro.
— Você não costumava ser essa manteiga derretida. Mas agora
levanta essa cabeça e vai atrás do seu homem. Deixar tudo oficializado,
porque real já é a muito tempo.
Sarah tinha razão. Me sentindo confiante, mandei uma mensagem
para Theo.

Eu: Oi, Noivo de mentirinha!


Podemos ir embora juntos? Quero conversar...

Ele me respondeu imediatamente.

Theodore: Claro, também preciso falar com você. Estou em uma


reunião externa, assim que chegar te aviso e você poderá subir.

— Mais tarde eu te conto se deu certo.


— Vai dar sim.
Com essa energia positiva, passei o resto da tarde ansiosa para
conversar com meu noivo de mentira, pensando se ele poderia se tornar
real.
Faltando alguns minutos para o horário de saída, recebi uma
mensagem de Dorothy.
Dorothy: Você pode subir, Soph. Theo está à sua espera. Eu já
vou ter saído quando chegar aqui, então pode entrar direto.

Agradeci, juntei minhas coisas e subi para a sala de Theo. Cheguei


ao seu andar e estava tudo silencioso. Notei que a porta da sua sala estava
aberta, conforme cheguei mais perto, pude ouvir vozes.
“Eu te entendo, meu amor, mas eu já terminei com meu noivo.
Posso ser toda sua novamente. Foi um erro enorme termos terminado.”
Reconheci a voz de Lauren. Ia dar meia volta, porque aquela conversa não
me dizia respeito.
“Lauren, nosso tempo juntos foi muito bom, temos boas lembranças,
mas eu estou com Sophia”
“É só terminar, sem problemas quanto a isso, ela vai entender que
nosso amor é maior que tudo isso!”
“Lauren, o que nós vivemos foi importante, por isso eu quero que
nós possamos...”
Ela o interrompeu, não deixando com que terminasse de falar, na
posição que eu estava conseguia ver os dois, ele tinha um buquê nas mãos,
ela tocou no peito dele e continuou.
“Não precisa falar, eu sei que você me ama, comprou flores pra
mim, sabe que lírios não são minhas favoritas, mas eu não me importo,
pense em todos os bons momentos que nós vivemos”
“Sim, foram muitos, por isso que eu quero...”
Nesse momento uma das pastas que eu segurava escapou da minha
mão caindo no chão trazendo atenção para mim.
Caralho, ele ia dizer que queria ela de volta, óbvio!
Por isso ele queria conversar com você sua burra.
Saí correndo, largando as pastas para trás.
— Sophia, espera!
Escutei Theodore me chamar, porém as lágrimas nublavam minha
visão. Desci rápido pelas escadas. Arranquei os saltos e fiz jus às medalhas
que eu já tinha ganhado na vida. Fui até um andar qualquer onde entrei no
elevador e desci direto para a garagem. Saí daquela caixa respirando
pesado, dando de cara com David.
— Meu Deus, Sophia, o que houve?
— Me leva daqui agora, por favor.
— Claro, mas me fala o que aconteceu.
— Melhor não. Deixa, eu vou procurar outro jeito de ir. — óbvio
que ir embora com o amigo dele não daria certo.
— Não, vem comigo. Te levo para casa.
— NÃO!
— Ok, te levo para onde quiser.
Entramos no carro dele, eu desabei em um choro pior ainda.
Como poderia ser tão burra assim?
Tudo isso foi apenas uma ilusão da minha cabeça.
Lógico que chegaria no fim do contrato e ele voltaria para Lauren,
afinal quem eu era perto dela?
Sabia que eu não poderia ter deixado minhas barreiras caírem, no
fundo todos os homens eram iguais.
E eu, provavelmente, sofreria tudo outra vez.
O telefone do David tocou e eu vi na multimídia o nome de
Theodore.
— Por favor, não fale que estou com você, só te peço isso.
— Sophia, o que houve?
— Não quero falar sobre isso, me leve para a casa da Claire por
favor.
— Tudo bem. De qualquer forma, saiba que eu estou aqui com você,
independente de qualquer coisa. Você se tornou importante para mim, tanto
quanto Theodore.
— Obrigada.
Ao menos de tudo isso eu tirei bons amigos.
Capítulo 42

Theodore Rockefeller

Desde que você se foi, eu tenho


estado perdido, sem rumo
Eu sonho à noite e só consigo
ver o seu rosto
Eu olho em volta, mas é você,
não posso te substituir
Eu sinto tanto frio e anseio
pelo seu abraço
Eu continuo gritando:
Querida, querida, por favor
Every Breath You Take - The Police

Que inferno!
Sophia tinha que sair correndo sem me ouvir?
Mas que caralhos Lauren foi fazer justamente hoje na minha sala?
Eu já tinha planejado tudo para me declarar a Sophia, comprei um
buquê e tinha reservado um restaurante para jantarmos. Agora pensava no
que ela escutou da conversa com a minha ex-namorada, que estava
completamente perturbada se achava que eu voltaria com ela.
Que porra! A perdi nas escadas, ela me dava um baile quando a
questão era corrida.
Desci até a recepção e lá não a tinham visto. Mesmo assim, saí e
olhei tudo do lado de fora e como esperado, nenhum sinal dela.
Fui para a garagem, perguntei ao segurança sobre ela e Gerald se
aproximou de mim.
— Aconteceu alguma coisa, Sr. Rockefeller?
— Você viu Sophia por aqui?
— Sim, ela desceu muito abalada, não cheguei perto porque David a
acolheu, eles saíram de carro há alguns minutos.
Por um momento eu pensei que ela pudesse ter saído sozinha nessa
neve que estava começando a cair.
Liguei imediatamente para David, mas ele não atendeu.
— Ele pode tê-la levado para casa. Não acha melhor nós sairmos
antes que a tempestade piore? Recebi um alerta agora a pouco informando
que ela vai ser mais forte que o esperado.
Concordei com ele. Estava totalmente sem cabeça, mas tive que
voltar na minha sala para pegar minhas coisas.
Cheguei lá e ainda encontrei Lauren, perto da minha mesa.
— Meu amor, você dispensou a bonitinha?
— Lauren, já chega, ok? Primeiro, não fale assim de Sophia, exijo
que a respeite. Acho que se eu tivesse sido claro antes, teríamos evitado
tudo isso. Eu não ligo que você está solteira. Eu estou com Sophia — ou
pelo menos estava —, é somente ela que me importa, então por favor, me dê
licença e não volte a me procurar para qualquer coisa que não seja trabalho.
— Theo, você não pode fazer isso, eu te amo...
Não deixei que ela terminasse de falar.
— Posso sim, porque eu amo Sophia. É com ela que eu quero ficar.
Acredito que já está de bom tamanho o tanto que você tem se insinuado
para mim, sem nenhuma correspondência. Você é inteligente, então já
percebeu que eu não te amo. Me dê licença, por favor. — Insisti novamente
que ela saísse, porque no momento não queria vê-la.
— Você vai se arrepender dessa escolha, escute o que eu estou te
falando. — Me ameaçou e saiu pisando duro.
No momento, só me arrependia de ter esperado tanto para falar os
meus sentimentos. Tudo isso poderia ter sido evitado, se eu não tivesse me
deixado levar pelo medo.
A neve caía do lado de fora, dentro de algumas horas,
provavelmente, ficaria impossível sair, esperava que assim que eu chegasse
em casa, ela já estivesse lá, nem que fosse para me tacar um vaso na cabeça.
No caminho de casa mandei mensagem no meu grupo com Karen e
David, pedindo notícias de Sophia, fazendo minha amiga me ligar
imediatamente.
— O que aconteceu? — Nem um oi eu recebi.
Expliquei tudo, só escutando a respiração dela do outro lado.
— Espero que agora você aprenda, primeiro, quem é aquela mulher
que você namorou, e segundo, que já deveria ter conversado com Sophia há
muito tempo.
— Karen, não preciso de uma lição de moral, já estou me cobrando
o suficiente.
— O suficiente para você é pouco para mim. Assim que chegar, me
avise pelo menos se ela está bem.
Concordei e finalizei a ligação.
Porém, para o meu desespero, só encontrei um apartamento vazio
quando cheguei.
Comecei a perturbar David, mas ele não me atendia ou respondia às
mensagens. Em pouco tempo Karen veio ao meu encontro e em menos de
uma hora ele apareceu no meu apartamento.
— Me fala onde a Sophia está, eu preciso falar com ela.
Ele só esticou a mão, me entregando o anel de noivado e as chaves
dela.
— Não sei o que você fez, porque ela não quis me falar, mas ela
parecia muito machucada.
— Me fale onde você a deixou, eu preciso falar com ela.
— Você não vai sair para lugar nenhum agora, a nevasca piorou. —
Karen apontou para fora. — Ela também não vai sair de onde está, então se
acalma, ok?
A porra da minha vontade era de sair andando na neve. Não me
importava se congelaria ou não, mas meus amigos não me permitiram,
então eu deixei um monte de mensagens de texto e voz para ela, mas
parecia que nada adiantava.
Para me ajudar, David seguia irredutível sobre me falar para onde
ele a havia levado.
Decidi esperar, só que meu coração não concordou comigo, parecia
gritar a todo instante para que eu corresse até ela.
Me perguntava como fui tão idiota em deixar alguém como Sophia
escapar.
Devido ao mau tempo que permaneceu, nós trabalhamos de casa, eu
não estava conseguindo prestar atenção em nada. Pedi que Dorothy
desmarcasse algumas coisas porque minha cabeça parecia que ia explodir.
Foi mais um dia tentando conversar e sendo ignorado.
Deitar na nossa cama foi difícil. Tudo tinha o cheiro do meu
pequeno lírio. O que antes me acalmava, agora estava me fazendo ficar
completamente desesperado.
No dia seguinte, eu já havia mandado mensagem para todas as
meninas, pedindo ajuda e falando que eu precisava me comunicar com
Sophia.
Então eu recebi um áudio:
“Theodore, por favor, respeite o meu momento. Acredito que o
nosso contrato acabou. Então, fora algumas coisas que são minhas e estão
aí, eu não quero mais nada seu. Me desculpe pelo jeito que eu saí correndo
e por ouvir sua conversa, porém foi melhor assim.
Acho que criei algumas expectativas que não eram corretas. Nós
levamos esse contrato para outro nível, quando não deveríamos ter
ultrapassado as barreiras.
Obrigada pelo que fez por mim nesses últimos meses, mas se não
tiver nada que não seja de trabalho, por favor não me procure.
Eu fui quebrada de muitas maneiras na minha vida, mas nenhuma
doeu como essa. E eu sei que foi somente minha culpa isso, porque eu que
te deixei entrar, quando você ainda era de outro alguém.”
Ouvir sua voz embargada e fungando em alguns momentos acabou
comigo.
Saber que eu estava machucando-a era o que mais me doía.
Ela me pediu para eu não me apaixonar e foi a primeira coisa que
eu fiz.
Me rendi sem ela fazer qualquer esforço.
David e Karen pediram que eu desse um pouco de espaço para ela.
Que esperasse um mínimo para que ela se recuperasse e aí sim me ouvir.
E eu prometi que eu a deixaria respirar, mesmo que eu não
conseguisse.
Era como se faltasse um pedaço importante de mim.
A sensação que eu tinha era de que arrancaram o meu coração.
E sem ele minha vida não fazia o menor sentido.
Capítulo 43

Sophia Clarck

Diga a eles que eu era feliz


E que meu coração está partido
Todas as minhas cicatrizes estão abertas
Diga a eles que o que eu esperava
seria impossível
Impossível, impossível, impossível
Impossible - James Arthur

Esses dois dias de nevasca foram exatamente o que eu precisava.


Pude me deitar no colo de Claire e chorar todas as lágrimas da minha vida.
Sarah ficou revoltada por não conseguir vir ficar conosco. Ela ficou presa
na faculdade, mas o apoio virtual dela foi extremamente importante pra
mim, minha irmã me conhecia melhor do que ninguém.
Theodore insistia em falar comigo e eu sabia que se o visse ou
ouvisse sua voz agora, só iria me magoar mais.
Me sentia péssima, porque eu sempre falei que não queria me
apaixonar novamente, que eu não faria isso. Mas Theo conseguiu, aos
poucos, se infiltrar de maneira sorrateira, de modo que eu não percebi em
que momento eu cedi e me apaixonei.
E agora, só havia sobrado os caquinhos para eu recolher.
— Soph, você vai ao centro social hoje? — Claire me questionou.
— Sim, eles precisam de mim. Eu não vou deixá-los sozinhos
porque eu não sei administrar a minha vida.
— Não se cobre tanto. Nós somos humanos, estamos sujeitos a
erros. Eu acho que você precisa se acalmar um pouco e depois tentar
conversar com ele.
Eu contei toda a verdade a Claire e ela achava que eu poderia dar
uma chance para o Theo se explicar.
Meu lado maduro pensava o mesmo, porém o imaturo me dizia que
se eu fizesse isso, não sobraria nada de mim para contar a história, que eu
me destruiria ainda mais.
Eu tive que vê-lo com um buquê de flores para outra mulher, que
estava se jogando nos braços dele, para entender definitivamente que eu o
amava.
Eu me sentia uma burra. Se eu tivesse percebido antes o que estava
na minha cara, poderia ter evitado um coração partido.
— Eu preciso dar tempo ao tempo, Claire. Por enquanto só preciso
de paz.
Ela concordou e avisou que iria comigo.
Logo que saímos do seu apartamento me senti sendo observada, mas
não reconheci nenhum dos carros, nem vi ninguém me olhando
diretamente. Achei estranho, mas deixei para lá.
Meu dia passou sem que eu notasse. Consegui me distrair com
Charles me fazendo rir junto das crianças. Até o momento em que vi
Theodore pelo vidro que separava o espaço em que eu estava do corredor.
Ele fez menção de vir ao meu encontro, o que me fez automaticamente dar
um passo para trás.
Karen falou algo com ele e veio em minha direção, me abraçando
apertado.
Por um momento eu fiquei sem reação, mas logo me lembrei de
quem se tratava, sabia que ela jamais me deixaria só.
— Oi! Como você tá? Por favor, não fique sem me atender, me
preocupo com você.
— Estou bem. Claire está fazendo um bom trabalho. — Sorri sem
graça — Me desculpe, estou me entendendo ainda.
— Sem problemas, leve o tempo que precisar. Só saiba que ele está
sofrendo também. Quando se sentir preparada dê uma chance para que ele
converse com você.
— Karen, por favor...
— Eu não vou mais falar nada, porém, eu não vou sair da sua vida,
mesmo que você não me queira, ok? Não tenho devolução. — disse, me
abraçando.
— Nem queria devolver. Vocês são o que eu tenho de melhor.
Realmente, ela e David foram bons amigos que vieram para
completar meu mundo.
Ela voltou para onde Theo estava, indo embora com ele. Pelo menos
assim não encontrarei com ele na porta.
Saí com Claire para enfrentar o metrô, andar nesse frio era
torturante. Demos de cara com Gerald na porta.
— Olá, Sophia, Claire!
— Olá, Gerald. Achei que Theodore já havia ido embora.
— Ele foi sim, mas eu fiquei aguardando vocês duas, para levá-las.
— Não precisa. — Ele não tem mais nenhuma obrigação comigo. —
Eu irei para a estação com Claire.
— Sophia, por favor, não complique a minha vida, o Sr. Rockefeller
me pediu que a levasse, eu estou aqui por isso.
— Soph, ele já está aqui, então não fará diferença. Ele ficou nos
esperando mesmo, o clima não contribui para a caminhada que teríamos
que fazer também. — Claire está certa, mesmo usando algumas peças
térmicas dela, ainda sentia meus ossos congelando.
Com a minha saída repentina da casa de Theo, só fiquei com a roupa
do corpo, a sorte foi que meu número de roupa era o mesmo de Claire.
Precisava pensar em comprar algumas peças e pegar algumas coisas
que eram minhas, não iria ficar com aquele tanto de coisas que meu noivo
havia comprado — ex-noivo —, coloque isso na cabeça Sophia, ele não é
mais nada seu, aliás nunca foi!
Preciso reprimir esses pensamentos. Quando Gary me traiu eu não
sofri tanto assim.
Como um relacionamento que não foi real, me fez sofrer mais do
que um de anos?
Gerald nos levou até em casa. As ruas ainda mostravam o quanto a
neve havia castigado Nova Iorque.
— Sophia, — ele me chamou assim que desembarcamos do carro —
Theodore me pediu que te entregasse essa mala e isso. — ele disse,
retirando-a do porta-malas junto com um envelope.
Imaginei que ali estivessem as minhas coisas pessoais e fiquei
curiosa sobre o que estaria no papel.
— Obrigada.
Entramos no prédio e o porteiro veio em nossa direção com um
buquê de lírios brancos.
— Entregaram aqui para a Srta. Clarck.
— Obrigada. — disse, pegando dele.
Comecei a ficar nervosa com o que tudo isso significava.
— Soph, vamos entrar que eu estou curiosa.
Acenei e fomos para o seu apartamento, que para a minha felicidade
ficava no térreo.
Abri a mala assim que pisamos na sala. Havia combinação de
roupas para uma semana de trabalho, alguns produtos que usava para o
skincare.
Mas o que ele estava pensando? Achei que ele enviaria as minhas
coisas, não o que comprou.
— O que diz nos cartões? — Claire era uma fofoqueira nata.
— Ainda não vi. Vou ler agora.
Peguei primeiro o que veio com a mala.

“Meu Chocolate, como você não está vendo minhas mensagens ou


aceitando minhas ligações, voltei ao jeito primitivo.
Nessa mala há roupas para a próxima semana. Imagino que você
não queira voltar para casa ainda, então elas servirão para que você use
enquanto pensa com carinho em me ouvir.
Nós temos muito o que conversar. Acredito que temos alguns mal-
entendidos para esclarecer.
Estou sentindo sua falta.”

Como assim? Caralho, Theo!


Não tinha o direito de escrever essas coisas...
Ele não voltou com a Lauren?
Por que ainda estava fazendo isso comigo?
Sentia a necessidade de pôr um ponto final olhando nos meus olhos?
Sabia que traição era algo muito sério para ele.
Eram muitas perguntas e nada estava fazendo sentido na minha
cabeça.
Parecia que quanto mais eu pensava que sabia o que estava
acontecendo, menos eu entendia.
Fui olhar o cartão que veio com as flores.

“Espero que você me dê uma chance de conversarmos logo.


Enquanto isso, sinta o perfume que é a minha saudade diária.”

Alisei a caligrafia dele, ele fez questão de escrever os dois a mão. O


Sr. Tecnologia, foi para o papel por mim?
— Claire, por Deus, o que tudo isso significa?
— Amiga, você é inteligente demais para não perceber.
Simplesmente tire a venda dos seus olhos, pare de acreditar no que você
acha que pode ter acontecido.
— Não é só o que eu acho. Eu ouvi, Claire! Ouvi ele falar!
— Ok, você é cabeça dura demais. Mas só pense que se fosse
apenas ele querendo dar um ponto final, ele não se esforçaria para que você
o ouvisse, ou continuaria sendo carinhoso.
Fazia sentido o que ela falava, mas ao mesmo tempo, eu estava lá,
posso não ter escutado a conversa inteira, mas o cenário contribuiu.
— Minha cabeça está uma bagunça, eu não sei bem o que pensar.
Essas atitudes dele me fazem achar que estou errada, mas ao mesmo tempo
tenho medo de que seja meu coração criando coisas onde não existem. —
Eu estava chorando novamente porque tudo isso era uma merda.
Preciso voltar para a terapia. Todo o meu passado estava batendo na
minha cara e dizendo que Theo não ficaria comigo, que ele só seria mais
um na minha lista de decepções. Mas meu coração falava que ele era
diferente de tudo isso.
— Eu tenho uma opinião, e você sabe qual é. Agora você precisa se
entender, porque enquanto não encontrar a paz na sua cabeça, não vai
conseguir nada.
Os dias estavam passando, eu acalmando meu coração. Meu
estômago não colaborava comigo, tinha que viver medicada e estava
atribuindo ao estresse. Sentia falta de Theodore, de ficar em seus braços
enquanto a dor não passava.
Todos os dias Theo mandava flores, não tinha mais lugar no
apartamento de Claire. Ela já estava me olhando feio quando o porteiro
vinha entregar.
Uma coisa eu não poderia negar sobre ele, a insistência era algo
infiltrado no homem. Ele simplesmente não desistia de nada.
Todos ainda acreditavam que estávamos juntos já que eu ainda
andava com Gerald. Se a cidade não estivesse ainda tão coberta de neve,
com certeza o deixaria plantado lá — coisa que ele não merecia —, então
mantive as aparências.
Repassava na minha cabeça os cartões que vinham com as flores,
nunca reveladores demais. Imagino que ele tinha medo de vazarem alguma
coisa, porque, apesar de simples para quem via de fora, eram sempre cheios
de significados. Pequenos detalhes de coisas que vivemos nesses meses.
Calei meus pensamentos quando entrei no elevador da empresa
encontrando Karen.
A cumprimentei e, como ela sabia da minha fobia, me deixou à
vontade.
— Eu amo essa vista daqui. — falei enquanto olhava uma
Manhattan toda branquinha.
— Sim, Theo foi excepcional em ter feito isso por você.
Oi? Como assim? Do que Karen estava falando?
— Não entendi.
— Sophia, pelo amor de Deus, né? Você acha que Theo ia trocar um
elevador inteiro por puro capricho, sem motivo algum?
— Não, eu não sou idiota. Mas não passou pela minha cabeça, que
seria por minha causa.
— Vocês precisam mesmo conversar. E você enxergar o que está
pintado de rosa choque na sua cara.
Ele pensou na minha fobia, por isso mandou trocar o elevador?
Fazia sentido. Nessa hora várias coisas que ele simplesmente fez sem falar,
apenas para que eu me sentisse bem, inundaram a minha mente. Ele nunca
se vangloriou por nenhuma delas.
Será que eu fiquei tão cega assim, a ponto de não enxergar o óbvio
na minha frente?
— Estou começando a acreditar que precisamos, sim.
Ao menos eu poderia pôr um ponto final em todas as teorias que a
minha mente fértil estava criando, e começar a juntar os meus pedaços, que
se recusavam a acreditar que Theo havia sido tão terrível assim.
Meu coração apaixonado pedia que eu o escutasse. Já a minha
cabeça falava para me afastar, mas ao mesmo tempo fazia questão de me
lembrar dos bons momentos.
Quanto mais claras as coisas ficavam, mais eu pensava se estava
louca ou não. Será que realmente me apaixonei sozinha?
Capítulo 44

Theodore Rockefeller

Amando você como eu nunca amei antes


E precisando que você apenas abra a porta
Se te implorar pode de alguma forma mudar o rumo
Então me diga também, preciso tirar isso da minha cabeça
Eu nunca pensei que estaria dizendo estas palavras
Eu nunca pensei que precisaria dizer
Outro dia sozinho é mais do que posso suportar
Save me - Hanson

Olhava a vista da minha sala com um copo de uísque na mão, me


deixando entorpecer pelo sabor complexo e equilibrado que ele possuía.
Eu não tinha o costume de beber durante o trabalho, mas desde que
Sophia resolveu que não falaria comigo minha vida simplesmente
desandou. Queria dizer que tudo estava bem, mas não era a verdade.
A empresa estava recebendo muitos ataques todos os dias. O que
costumava acontecer em um mês, agora acontecia por dia.
Renovávamos as proteções diariamente, a fim de evitar que
conseguissem acessar os arquivos da empresa. Karen estava surtando junto
comigo, pronta para matar quem quer que estivesse por trás disso.
A única coisa boa em tudo isso, era que tive uma boa desculpa para
cancelar as reuniões e não precisar ver ninguém pessoalmente.
— É melhor você largar esse copo e sentar essa bunda aqui.
Eu não tinha reparado em Karen entrando na sala com David, e
Dorothy logo em seguida.
— Sabe que a bebida não afeta em nada meu discernimento. — Era
a realidade, só me anestesiava um pouco para toda essa merda.
Não sabia mais para onde dar atenção. Queria mais tempo para falar
com Sophia, na mesma proporção queria resolver logo esse problema na
empresa, mas algo me dizia que isso era só a ponta do iceberg.
— Você precisa focar em uma coisa só antes que enlouqueça.
— Eu queria, Karen, mas no momento não consigo. A empresa e
Sophia são minha vida.
— Então porque não fazemos assim, eu e Karen ficamos à frente
com a equipe de segurança, Dorothy pode nos auxiliar caso surja algo
administrativo, e você vai atrás de Sophia. Resolve tudo com ela e depois
focamos na empresa juntos. — David, quando queria, era ótimo em resolver
problemas.
— Sim, acho que você já deu bastante tempo para que ela se
acalmasse. Sophia tem traumas pesados que acabam a impedindo de ver o
óbvio às vezes. — Karen falou, parando em frente ao vidro observando o
nada.
— Sim, tenho medo de que ela duvide de mim por causa disso, ou
pela relação que eu tinha com Lauren. Não sei o que fazer.
Estava com medo de perder o amor da minha vida. Sophia trouxe
sentimentos que não imaginei sentir. Nada comparado ao que tive com
Lauren.
— Vamos montar um plano, então. Pense no que ela gosta, podemos
começar por aí. — David começou a anotar o “plano”.
— Chocolate, velocidade, corrida, Harry Potter. — Fui elencando as
principais coisas que ela gostava.
— Tive uma ideia, e eu conheço pessoas que podem ajudar. —
Karen disse.
Ela começou a fazer algumas ligações e nos explicar sua ideia.
Intercalamos nossa correria para preparar tudo em meio aos afazeres
da empresa. Agora, precisaria chamar Sophia para conversar e torcer para
dar certo. Mandei uma mensagem para ela.

Eu: Oi, Srta. Chocolate!


Podemos conversar hoje? Por favor, diga que sim.

Meu Chocolate: Sim.


Na sua casa?

Eu: Isso mesmo.


Gerald vai te levar saindo daqui.

Meu Chocolate: Ok.

Ela respondeu rápido, mas estava um pouco distante, me deixando


preocupado que não desse certo.
— Meu filho, respire fundo. Vai dar certo! Desde o primeiro
momento em que te vi com o pensamento longe, sorridente demais, e logo
depois aparecendo com ela, soube que seria ela que mudaria a sua vida. Só
precisa ser sincero, é possível ver nos seus olhos o quanto a ama. —
Dorothy me disse com carinho.
— Sim, seja você mesmo. Nós sabemos que você não é a pessoa que
mais deixa claro os sentimentos, mas é só ser transparente como a água que
vai dar certo! — Karen me incentivou.
— Obrigado por me apoiarem. Não sei o que teria sido de mim sem
vocês. — falei expressando um pouco do que eu sentia por eles. — Eu vou
buscar as coisas e preparar tudo para encontrar Sophia mais tarde. Espero
que em algumas horas eu tenha minha noiva de volta.
Saí da empresa com um segurança, resolvendo todas as pendências.
Chegando em casa comecei a arrumar todos os detalhes para esperar pela
Sophia.
Essa noite faria essa mulher entender o que eu sentia e que ela era
minha!

Sophia Clarck

Desde que saí daquele elevador hoje, tive a certeza de que precisava
conversar com Theo e acabar com as minhas dúvidas.
Só assim conseguiria seguir em frente. Depois que recebi sua
mensagem fiquei ansiosa para fechar esse capítulo da minha vida.
No final do dia, desci para encontrar Gerald na garagem. Quando já
estávamos no caminho perguntei o que me corroía para saber.
— Gerald, — chamei sua atenção, ele me olhou pelo retrovisor —
como ele está?
— De verdade? Não muito bem. Ele está passando por alguns
problemas e tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, o deixou mal. Eu
trabalho há bastante tempo com ele, então só espero que encontre a mesma
felicidade que ele viu a vida toda na sua família. — Foi a primeira conversa
mais profunda que nós tivemos. E foi perceptível o apreço dele.
— Também espero o mesmo. Theo é uma pessoa muito boa e
merece o melhor.
— Não se desmereça, você também é, Sophia. Tem muito a mostrar
ao mundo. E encontrar a sua felicidade faz parte disso. — Me surpreendi
com o nível da conversa. Não esperava isso, ele sempre tão sério e quieto,
quem diria que prestava tanta atenção em pequenos detalhes.
— Obrigada. — Ele acenou e voltamos ao silêncio costumeiro.
Meu estômago começou a revirar em antecipação, o medo querendo
me dominar. Porém não me deixaria mais abater.
Enfrentaria o que estivesse me esperando naquele apartamento.
A subida não foi fácil, tive que respirar com calma para não ter um
ataque de pânico no elevador.
Quando as portas se abriram, encontrei Theo me esperando, com o
cabelo um pouquinho maior e a barba por fazer, e o que Gerald me falou fez
total sentido. Ele era muito vaidoso. Vê-lo assim, sem se importar com a
aparência, dizia muito sobre o momento pelo qual ele estava passando.
— Oi, meu Chocolate! Entra, vamos conversar. — ele disse me
dando passagem.
Olhar a casa que em poucos meses havia se tornado um lar para
mim, foi estranho e, ao mesmo tempo, me deu saudades.
— Oi, Theodore! Sim, quero te ouvir para encerrarmos nosso ciclo.
Me sentei no sofá, a sala estava com as luzes mais baixas, passando
um clima de tranquilidade, os alto-falantes tocavam uma música baixinha.
— Eu gostaria que você escutasse tudo que eu tenho para te falar,
antes de dizer qualquer coisa, tudo bem?
— Ok.
Respirei fundo e aguardei que ele começasse.
— Quando começamos tudo isso, eu sabia que sentia algo por
Lauren, até porque tivemos anos de relacionamento. Nunca imaginei que
inventaria um noivado por isso, mas Josh me tira do sério. — Não sabia que
isso tinha começado por conta de Joshua, achava que era tudo sobre Lauren.
— Enxerguei em você a oportunidade de fazer tudo dar certo. Mas o
problema era que eu me sentia atraído por você.
— Isso até então não foi um problema. — Dei um sorriso de canto.
— Foi um problema a partir do momento em que eu tive você. Eu
sabia que quando você se tornasse minha, não teria mais como voltar atrás.
Você passou a ser o centro do meu mundo, me vi querendo fazer de tudo
por você. Queria te ver bem, feliz, realizada. — Ele engole em seco. — Eu
fui me apegando a você, me apaixonando por cada pedaço seu.
— Como assim, foi se apaixonando? — sussurrei a pergunta,
atônita. A minha cabeça ainda fazia questão de me lembrar que ele
começou isso por Lauren.
— Apaixonando, não sei muito bem quando foi, só sei que foi
avassalador, porque eu me peguei apreciando cada mínimo detalhe seu,
cada gritinho de surpresa, sua amizade, sua determinação, seu coração
enorme, seu apoio no centro social, sua dedicação com a empresa e, aos
poucos, sua entrega comigo.
Eu estava sem palavras, minha cabeça dando um nó.
— Quando eu me dei conta do que estava sentindo, eu fiquei com
medo de te perder. Você tinha medo de relacionamentos. Me disse
explicitamente que não deveria me apaixonar por você.
— E você fez exatamente isso, né? — Como eu pude ser tão cega
assim?
— Sim. Como eu te falaria a verdade sem você surtar e sair
correndo? Não tinha ideia. Então, Karen e David me falaram pra te
conquistar, para que você quisesse ficar, que soubesse que o que eu sinto é
verdadeiro. E eu fiz isso em cada dia que passamos juntos. Fiz questão de te
mostrar o quanto você é única na minha vida, que eu queria você para
sempre ao meu lado.
— Então o que aconteceu naquele dia na sua sala? Você estava se
declarando para Lauren, não entendo... — Não estava fazendo sentido na
minha cabeça.
— Eu tinha escolhido aquele dia para me declarar para você. Ia falar
toda a verdade e pedir que você ficasse comigo oficialmente, mas Lauren
entrou falando um monte de coisa, não me deixando responder. Acredito
que você não tenha escutado a conversa inteira e por isso não entendeu o
contexto do que eu falava.
— Não, na verdade eu achei que você estava se declarando para ela
e iria dar um ponto final no contrato. O que me quebrou completamente,
porque eu tinha escolhido aquele dia para te falar que eu havia me
apaixonado. — Uma lágrima escorre pelo meu rosto, pensando em como a
gente se desentendeu por conta de uma conversa mal-ouvida e pelo meu
medo. — Se eu não fosse uma medrosa, nada disso teria acontecido.
Theo segurou o meu rosto nas suas mãos, secando as minhas
lágrimas e olhando no fundo dos meus olhos.
— Tudo bem a nossa vida ter um pouquinho de drama. O principal
para mim é que você saiba que eu te amo e, se você permitir, eu nunca mais
quero sair da sua vida.
— Por Deus! Prefiro sem drama. — falei rindo e fungando devido
ao choro. — Eu te amo também, mas você sabe que para permanecer
comigo, tem que entender que eu sou difícil e que esses momentos assim
podem acontecer. No fundo eu sabia que você não era igual a nenhum deles.
— Eu vou estar do seu lado para que você cure qualquer trauma do
passado, as cicatrizes fazem parte de quem somos, mas elas não ditam o que
somos. E você é muito mais que tudo isso.
Eu selei nossas bocas. E o que era pra ser algo calmo, se
transformou em um beijo cheio de sentimentos, de saudade e de
reconhecimento.
Nos braços de Theo, eu estava em casa.
Capítulo 45

Sophia Clarck

Você é tudo que importa pra mim


Sim, sim
Não estou preocupado com mais ninguém
Se não estou com você, não sou eu mesmo
Você me completa
All That Matters - Justin Bieber

Me sentia mais tranquila por finalmente ter conseguido esclarecer


todos os nossos problemas. E pensando que uma conversa sincera teria
evitado o caos dos últimos dias. Porém, Theo me conhecia bem. Mesmo em
pouco tempo, ele sabia que as coisas não seriam fáceis.
Eu tive que ter certeza do meu sentimento antes de qualquer coisa.
Theodore se infiltrou em mim de uma maneira quase irreversível,
então eu achar que não era recíproco havia doído mais do que eu poderia
imaginar. Em compensação, agora, ouvindo tudo que ele me falou, fazia
com que eu me sentisse segura de que eu poderia finalmente confiar meu
coração a alguém.
— Vem comigo, Srta. Chocolate.
Ele segurou minha mão e me levou em direção à sala de jantar. Todo
o caminho estava iluminado por velas.
Quando entramos no cômodo, fiquei surpresa, havia velas
penduradas no teto que pareciam flutuar me lembrando do castelo de
Hogwarts. Arranjos de flores na mesa, no lugar da passadeira, era como se
fosse o mapa do maroto[6]. Cheguei pertinho para ver que tinha as pegadas
que levavam aos nossos lugares onde tinha escrito meu nome, como se eu
estivesse indo até o coração de Theo.
O filho da mãe pensou em tudo!
— Está tudo lindo. Meu Deus, você consegue se superar em tudo
que faz. — Fiquei deslumbrada com o cuidado em cada detalhe na mesa,
que fazia referência aos meus filmes favoritos.
— A noite ainda não acabou, aguarde que tem mais. — Ele puxou a
cadeira para que eu me sentasse e serviu o jantar.
— Estou ansiosa por tudo.
— Cada coisa ao seu tempo.
Ele havia preparado massa com frutos do mar. Nós comemos em
silêncio, como se ainda assimilássemos cada palavra dita a alguns minutos.
— Eu vou pegar a sobremesa. Já volto. — Foi em direção à cozinha,
voltando com o prato fechado por um cloche e colocou na minha frente.
— Não vai comer também?
— Agora não.
Achei estranho, mas resolvi não discutir. Destampei e me deparei
com uma taça de musse de chocolate e um pomo de ouro[7].
— Você colocou doce dentro? — disse enquanto pegava na mão.
Olhando com cuidado, as asas eram articuladas, passei o dedo sentindo o
relevo delicado em cada pequena linha. Até a letra bonita que dizia “Abro
no fecho”.
— Só pensa em doce, né? — Ele riu. Mas não mentiu. — Você
precisa abrir para descobrir. — Me estendeu uma chavinha.
A curiosidade me dominou.
Encaixei e consegui finalmente olhar o conteúdo. Fiquei em choque
ao ver o anel dentro, ele era perfeito.
— Aceita ser para sempre minha? Virar a Senhora Chocolate? —
Theo falou, ajoelhado ao lado da cadeira em que eu estava.
Me levantei e imediatamente me joguei nele, sem saber o que dizer.
— Theo, você é louco? Nós nem namoramos.
— Meu amor, eu não preciso namorar com você para saber que eu
quero viver pra sempre ao seu lado. Esses meses que passamos juntos,
foram os melhores da minha vida. E os dias que você não esteve aqui foram
os piores. Matemática básica. — Ele tinha razão nesses pontos, morar com
ele estava sendo natural, como se nos conhecêssemos a vida inteira.
— Eu te amo, mas acho que tenho medo de dar esse passo. — Fui
totalmente sincera, meu coração batia acelerado, minhas mãos suavam,
sentia que deveria aceitar a proposta dele, mas, ao mesmo tempo, uma
vozinha lá no fundo da minha mente me dizia que a qualquer momento as
coisas poderiam desandar.
— Eu entendo o seu medo, não quero que se sinta pressionada a
nada. Mas saiba que a única coisa que eu quero, é te fazer feliz. — disse,
enquanto segurava meu rosto com carinho olhando nos meus olhos.
Eu só enxerguei verdade em cada palavra.
Pensei em tudo que passamos. O que ele fez por mim nesses últimos
meses só demonstrava que ele me amava, então por que não dar uma
chance?
Soube no instante em que fiquei sem ele, que eu o amava. Acredito
que chegou a hora de ser forte e superar o medo. Não tinha motivos para tê-
los com Theo.
— Sim. — sussurrei.
— Sim para a proposta, ou sim que você sabe que é verdade? — Era
óbvio, mas acredito que ele queria ter certeza.
— Sim, sim, sim, sim... eu aceito me casar com você. Ser a Sra.
Chocolate, Rockefeller ou qualquer outra coisa que queira. — falei dando
beijinhos nele.
— Você está me fazendo o homem mais feliz do mundo. Você é
importante demais para mim, Sophia. Não consigo mais imaginar uma vida
sem te ter do meu lado.
— Ótimo, porque não pretendo mais ir embora. — falei rindo.
Estiquei minha mão para que ele colocasse o anel no meu dedo.
— Por que você comprou outro anel? Não me importaria de usar o
mesmo. — falei olhando para minha mão, era um anel delicado, com uma
pedra tão azul como os olhos de Theodore.
— Eu não comprei, esse anel era da minha bisavó. Minha avó tinha
guardado para que eu desse para a minha noiva. Quando ela te conheceu no
meu aniversário, teve a certeza de que você era a pessoa certa para usá-lo.
— ele finalizou, dando um beijo na minha mão.
Saber que eu era importante também para a família dele fez com que
eu sentisse mais ainda que estava fazendo a coisa certa.
— Que lindo! Fico tão feliz de saber que você me deu algo tão
valioso. Vou cuidar dele com carinho.
Voltamos a nos beijar e quando Theo me pegou no colo e subiu
comigo pro quarto, nossas bocas se buscavam com mais rapidez, como se
isso fosse aplacar a saudade que sentimos nesses dias que passamos
separados.
— Esses dias que você não dormiu aqui era como se faltasse um
pedaço de mim. Não consegui dormir bem em nenhuma noite. Você me
deixou viciado no seu cheiro — ele disse depositando um beijo nos meus
cabelos —, no seu corpo que encaixa perfeitamente ao meu. — Me colocou
de volta ao chão.
— O sofá de Claire não foi o meu melhor momento da vida, você
fez com que eu me acostumasse com você rápido demais. Pra mim que
sempre fui desconfiada, foi quase um milagre.
— É amor, Sophia, a gente não entende como ele chega ou o que faz
pra ficar. Mas eu só quero que ele nunca vá embora.
— Só depende de nós cultivá-lo, para aguentarmos os surtos um do
outro. — disse rindo. Ele me trouxe de volta para os seus braços, passando
a mão pelo meu corpo, até chegar na bunda, onde ele apertou mais forte.
— Minhas mãos estavam com saudades. — sussurrou, me fazendo
rir.
— Talvez eu também estivesse... Mas primeiro eu preciso de um
banho — me soltei do seu agarre e virei de costas. — Pode abrir o meu
vestido?
Ele desceu lentamente o fecho até minhas costas estarem nuas, onde
ele depositou beijos leves enquanto empurrava meu vestido devagar pelos
meus braços.
— Vai me acompanhar? — falei olhando nos seus olhos.
— Jamais recusaria um convite que envolva você molhada...
Estávamos no chuveiro, Theo me ensaboava suavemente e resolvi
que seria um bom momento para contar sobre uma leitura.
— Sabe, esses dias que passamos longe, eu tentei me distrair lendo
um pouco e teve um livro em que o personagem principal contava três
métodos muito bons para relaxar. — falei olhando em seus olhos.
— Humm, em que consistiam esses métodos? — perguntou
passando a mão pelo meu peito, apertando o mamilo.
— Um deles, que me interessou bastante, falava justamente sobre o
chuveiro, algo como foder no banho — fingi estar tentando lembrar os
detalhes —, com a água quente relaxando os músculos, sabe? — falei
enquanto ele aumentava a pressão nos meus seios. — Então o quadril dele
bateria contra a bunda dela, fazendo uma sinfonia tão boa quanto música
clássica. Fiquei curiosa, se essa batida pareceria mesmo música clássica...
— falei com a voz rouca, devido à excitação que sentia pelos seus toques.
— Eu vou sanar a sua dúvida agora mesmo. — Me virou de frente
para a parede.
Ele encostou a cabeça do seu pau na minha entrada, pincelando-a.
Estava sedenta por ele, conseguia sentir o quanto estava molhada, malditos
dias que ficamos longe. Ele entrou de uma só vez, não encontrando
resistência. Começou a me foder com força, no banheiro só era possível
escutar sua pelve batendo contra a minha bunda, exatamente como descrito
no livro.
Cada pedaço meu queimava de desejo. Minha mente não conseguia
focar em nada, mas com certeza o que eu ouvia era a melhor melodia que
eu poderia querer.
Segurando meu pescoço e quadril me mantendo no lugar enquanto
estocava cada vez mais fundo, sabia que não duraria muito tempo, os meus
gemidos saiam cada vez mais alto.
— Era essa sinfonia que você queria ouvir? A porra do barulho do
meu pau entrando e saindo dentro dessa sua boceta melada? Meu quadril
batendo nessa bunda gostosa? — ele falou rouco.
— Sim, ela mesmo... — tentei responder em meio aos sons altos que
saiam sem controle da minha boca.
Suguei o ar com força, conforme senti meu orgasmo se formar.
Theo me apertou cada vez mais forte, não parando em nenhum
momento de me foder a ponto do meu corpo sacudir.
— Goza pra mim, minha noiva. — Saber que agora era de verdade
me atingiu e eu me entreguei sem ressalvas.
Senti minha boceta contrair quando atingi o ápice, levando-o
comigo, que gritou ao se libertar dentro de mim. Perco minhas forças com
os espasmos que vem em seguida, sendo amparada por ele me abraçando
enquanto nos recuperamos.
— Você vai ficar marcada. — Theodore falou enquanto passava a
mão com cuidado na minha pele, nem parecendo que há poucos minutos
esmagava a minha carne com ela.
— Sabe que eu não me importo com isso, são as consequências de
gostar de sexo assim. — dei de ombros, saindo do banho e caminhando para
a cama.
Realmente era algo que eu gostava, e não seria um roxinho que faria
com que eu parasse.
— Você ativa o meu modo homem das cavernas assim. Tenho
vontade de te marcar toda como minha! — Ele me alcançou me segurando
por trás nos seus braços. — Aproveitando, quem é o autor do livro mesmo?
— Por que a pergunta? — rebati desconfiada.
— Porque vou descobrir onde mora e mandar um presente. Gostei
da inspiração que ele te deu. — finalizou e mordeu meu lóbulo.
— Livros sempre trazem boas inspirações. — Suspirei, porque já o
sentia pronto contra a minha bunda.
Essa noite seria deliciosamente longa.
Capítulo 46

Theodore Rockefeller

Oh, nós recebemos o que merecemos?


E ladeira abaixo nós vamos
Você deixou seus pés correrem livremente
A hora de todos cairmos chegou
Oh, mas antes da queda
Você teria coragem de olhá-los bem nos olhos?
Way Down We Go - Kaleo

Mal amanheceu e o meu telefone estava tocando desesperado. Eu


esperava que algum lugar estivesse pegando fogo para me tirar da melhor
noite de sono que eu tinha em dias.
— Theo, preciso de você agora. — Karen falou desesperada do
outro lado da linha.
— Karen, calma. Me explica o que aconteceu. — falei me
levantando, despertando completamente.
— Conseguiram acessar um dos servidores. Eu recebi o alerta e a
equipe me avisou também imediatamente quando perceberam. — Ela
estava ofegante.
— Caralho! Não acredito nisso! Estou indo para a empresa agora,
onde você está?
— Descendo para te esperar. — Karen morava a uma quadra de
distância.
— Estarei aí em cinco minutos. — disse desligando e avisando a
Gerald que sairia. Sophia estava em um sono profundo na cama. Deixei
uma mensagem avisando que fui resolver um problema, para que quando
ela acordasse ficasse tranquila.
Com certeza devo ter levado diversas multas por excesso de
velocidade, mas ao menos cheguei na empresa em tempo recorde.
Karen foi mexendo no notebook durante todo o caminho, tentando
entender os danos, que nós ainda não tínhamos noção de quais seriam, para
que conseguíssemos conter.
No caminho, havia solicitado a Athena que levantasse tudo sobre a
invasão.
— Theo, Athena me avisou que já tem informações preliminares.
— Excelente, vamos ver. — disse enquanto entrávamos na minha
sala.
Comecei a ver o que havia acontecido, como nós estávamos mais
espertos devido à quantidade de ataques, separamos as informações em
diversos servidores, para evitar que se qualquer ataque acontecesse,
conseguissem levar todos os arquivos.
E foi por isso que conseguiram somente roubar os dados em um
servidor. No momento em que atacaram, um mecanismo de defesa criado
por nós fez com que todos os outros fossem bloqueados, trocando as
diretrizes de segurança. Isso os impediu de acessar os demais.
— Karen, eu preciso entender o que aconteceu aqui. Não tá certo
isso, temos que ter deixado passar algo.
— Eu estou analisando o ataque. Por tudo que Athena levantou e eu
chequei, aparenta ser a mesma pessoa de Paris.
— Era o que já esperávamos mesmo. Só que uma coisa não faz
sentido, lá ele só conseguiu pegar as informações porque teve a ajuda de
dentro. Será que ele seria tão idiota de fazer a mesma coisa? Mas, mesmo
que fizesse, com o tanto de proteção que nós colocamos, ele não
conseguiria. — falei andando de um lado para o outro tentando encaixar
essas malditas peças.
O telefone da minha mesa tocou, fui imediatamente ver, a essa altura
já esperava qualquer contato.
— Olá, Sr. Rockefeller, parece que precisamos resolver uma
coisinha. — uma voz robótica soou do outro lado da linha.
— O que você quer? — perguntei sem um pingo de paciência.
— Considerando que tenho dados sigilosos da sua empresa, que se
forem parar na mídia você pode perder toda a sua credibilidade, eu quero
um bilhão de dólares em criptomoedas. Até amanhã, meio-dia. — Filho de
uma puta, só pode ser louco.
— Você está louco, só pode. Por que você acha que eu vou te pagar
tudo isso?
— Você não acha que a sua honra vale isso? Vou te dar algumas
horas para levantar o valor e aviso como você irá me pagar. — terminou de
falar e desligou na minha cara.
— Maldito! Foi um maldito filho da puta que acha que pode fazer
alguma coisa comigo. — bradei e com todo ódio que estava sentindo, taquei
meu celular que eu segurava em uma das TVs que ficam na parede, vendo
os dois se despedaçarem. — Athena, pede pra Dorothy me conseguir um
aparelho novo. — ela concordou, a essa altura já estava falando com a
minha secretária, que em pouco tempo estaria brigando comigo. Ótimo!
— Ei, se acalme e me explica o que houve. Não consegui ouvir
direito.
— Ele me pediu um bilhão de dólares em criptomoedas, deixando
subentendido que poderia divulgar as informações.
— Concordo com você, é um maldito filho da puta mesmo, mas o
que nós faremos sobre tudo isso? Você não vai dar esse dinheiro, né?
— Karen, eu poderia levantar isso com tranquilidade, não ia ficar
menos bilionário por causa disso. A questão toda é que eu sei que ele não
quer só o dinheiro. E se ele divulgar isso, a nossa credibilidade construída
por anos a fio, seria destruída. Eu não posso fazer isso com o meu pai. Ele
não merece e nem sei se aguentaria. — falei me sentando, segurando minha
cabeça entre as mãos e pensando na merda em que eu estava envolvido.
Se essas informações forem vazadas, não é só o nome da empresa
que pode ser destruído, mas sim a minha vida.
Ela pode literalmente acabar.
E agora que eu conquistei tantas coisas e tenho tantas pessoas
importantes na minha vida não ia voltar atrás, nem deixar que me
derrubassem.

Sophia Clarck

Tateei a cama e não encontrei Theo. Achei estranho ele não ter me
chamado. Peguei o telefone para olhar a hora e vi que tinha uma mensagem
dele, avisando que teve que sair mais cedo para resolver um problema, pelo
horário foi bem mais cedo.
Me arrumei para ir para a empresa. Sair nesse frio que fazia em
janeiro era uma tortura. Então o mínimo que eu fazia era me entupir de
café, porém acordei com o estômago revirado. Precisava ir ao médico e ver
o que estava acontecendo. Depois do que aconteceu com papai não poderia
me dar ao luxo de ficar me sentindo mal sem saber o que poderia ser.
Por enquanto continuaria atribuindo à avalanche de sentimentos que
me invadiram nos últimos dias.
Gerald me levou para a empresa comentando por alto que o
problema que aconteceu não era tão simples. Devido à segurança de Theo,
ele sempre sabia quando acontecia alguma coisa, para que estivesse atento e
reforçando a equipe que cuidava disso.
Antes mesmo de entrar, recebi uma mensagem de Lilian para que
subisse direto para a sala de reunião da presidência.
Cheguei no andar e notei uma movimentação muito maior do que de
costume. Entrei na sala, notando imediatamente um Theodore furioso,
gesticulando para todos os lados, parando somente quando me viu, vindo
imediatamente na minha direção.
— Oi! Bom dia, Sr. Estressadinho. O que houve?
— Bom dia, meu Chocolate. — disse me abraçando e respirando
fundo ao me dar um beijo no cabelo. — Você consegue me trazer paz. —
sussurrou encostando na minha cabeça. — O dia começou só com
problemas, mas logo você vai entender, sente-se que nós iremos começar a
reunião.
Assenti e fui me sentar ao lado de Lilian. Ela havia virado gerente
há algumas semanas, porque Tyler virou diretor de marketing da empresa
em que Donald trabalhava. Imagino que a empresa seria um lugar melhor
com ele lá.
Quando todos já estavam prontos pra começar, Lauren entrou
causando comoção. Era incrível como ela gostava de chamar atenção.
Theodore começou a explicar que sofremos um ataque essa
madrugada, e tivemos alguns dados roubados. Foi mais sério do que em
Paris, mas não tão grave, porque as proteções da empresa conseguiram
evitar o pior, que seriam todos os dados vazados.
Por fim, ele criou um comitê gestor de crise e pediu que nós
fizéssemos alguma estratégia parecida à que foi feita na última vez, que deu
certo desviando o foco do problema.
A equipe de Lauren estava totalmente mobilizada e Theo pediu que
eles ficassem extremamente atentos a tudo, porque até o momento não
tinham vazado nada.
Depois disso passamos a manhã elaborando a melhor maneira de
resolver, tentando enxergar soluções rápidas e que tirassem o foco, logo que
a informação estivesse na mídia.
Eu só vi Theodore de relance durante o dia, sempre parecendo
furioso com a situação que estava acontecendo.
O pior era nem conseguir falar com ele porque ele me disse que
quebrou o telefone.
Capítulo 47

Theodore Rockefeller

Eu tenho a sensação de que você percebeu


Sim, eu apenas comecei
Eu não vou parar até que seja feito
Até você estar quebrado
Então seja bem-vindo ao fogo
Eu sou o único que acendeu a noite
Veja-os correndo pelas chamas
Enquanto estamos andando pelas chamas
Welcome To The Fire - Willyecho

Karen e eu estávamos por um fio na sala de reunião, olhávamos um


quadro digital que ocupava toda a parede com as informações que
tínhamos. Parecia aquelas cenas de séries do FBI, cheio de marcações e
ligações que fizemos.
Passamos o dia todo montando as peças do que parecia um enorme
quebra-cabeças, que estava nos levando a um lugar que eu não havia
pensado antes. Na minha cabeça não fazia sentido, mas agora trabalhamos
com todas as possibilidades, inclusive as internas.
O telefone da sala toca e dessa vez nós estamos preparados para
tentar rastrear a ligação.
— E aí, Sr. Rockefeller, já tem o que eu quero? — a mesma voz
robótica de antes.
— Talvez não seja assim tão simples.
— Eu acho bem simples, Theodore. Ou você me dá o dinheiro, ou
eu libero tudo na mídia, o que você acha? — Percebi que sua paciência
estava curta. Isso poderia ser muito bom, porque ele poderia finalmente
falar algo que nos ajudasse, ou muito ruim, se resolvesse divulgar tudo.
— Acho que podemos conversar melhor, as coisas não são assim tão
simples. — reforcei — Me dê um pouco mais de tempo.
Karen fazia sinal para mim, pedindo que eu o enrolasse um pouco
mais.
— O que eu ganho com isso? Tenho mais vantagem tendo meu
dinheiro hoje ainda.
— Você sabe muito bem que não é fácil levantar essa quantia em
bitcoin tão rápido. Estamos falando em um bilhão de dólares, não cem. Me
diga quando você quer e como farei para lhe pagar. — Respirava fundo para
não xingar ele, tamanha a raiva que eu sentia.
— Sabe, você está muito calmo para quem está com a corda no
pescoço. Será que seu pai aguenta ver a empresinha que ele construiu
perder o prestígio? Ou será que ele infarta de novo e morre dessa vez?
Esse filho de uma mãe vai me pagar quando o pegar. Ele quer me
ver fraquejar, mas não vai conseguir.
— Vamos dizer que fui criado para ter um bom controle emocional.
Só preciso de um tempo para que consiga o que você pediu.
— Se você quer mais tempo, terá que contar com a sorte, porque eu
posso te ligar hoje à noite, amanhã de manhã ou liberar tudo que eu tenho
na internet a qualquer momento. Espere por qualquer um desses em breve.
— Desligou na minha cara, rindo.
— Esse idiota só quer fazer terror psicológico, Karen. Quer me ver
doido.
— Percebi isso desde a primeira ligação. Ele não vai liberar esses
dados na internet porque, além de querer o dinheiro, ele quer,
principalmente, te ver surtar.
— Não sei. A essa altura, pelo jeito que falou, não duvido de mais
nada. Tenho cada vez mais certeza de que estamos na pista certa.
— Consegui um ponto com essa ligação, vou só cruzar com os
dados que temos pra ver se essa certeza se confirma.
Logo conseguiríamos provar quem estava por trás disso e finalmente
acabar com essa palhaçada.

Depois de mais de duas horas, Karen e eu chegamos em uma


encruzilhada onde faltava apenas uma peça para fechar tudo isso.
— Precisamos tentar outra perspectiva. Tá faltando a gente ver
alguma coisa. — Karen estava revoltada, ela odiava se sentir sem saída.
— Sim, vamos dar um passo atrás, repassar tudo até aqui e tentar
ver o que estamos esquecendo.
Antes que fizéssemos qualquer coisa, Athena me enviou um link de
uma matéria que estava em um site na mídia.

“Rockefeller ameaçada?
Entenda o que são as ameaças que estão circulando nas redes e
como pode te afetar.”

Entrando no link, havia print de uma conta que falava sobre ter
roubado dados da Rockefeller facilmente e o quanto a empresa não era
segura, que se eu não o pagasse, liberaria tudo.
— Que inferno! Já tem mais de uma hora que isso foi postado! Por
que ninguém me falou nada? Espero que já estejam agindo para resolver
essa merda. Olha o tanto de comentário. Óbvio que tem um monte de bot
aqui, ele fez isso pra inflamar a porra da mídia.
— Sim, está em vários sites a notícia com as mesmas chamadas.
Vou tentar ver se consigo mais alguma coisa com essas postagens.
— Karen, ligue para minha mãe por favor e explique o que está
acontecendo, não quero que meu pai veja e passe mal. Eu volto já. Vou
resolver isso agora com a equipe da Lauren, entender por que eu soube por
Athena e não por eles. — Sentia a raiva correndo nas minhas veias. Se não
pudesse contar com a minha equipe, eu estaria ferrado. — Athena, peça
para Dorothy chamar a equipe de Lauren aqui. — disse enquanto ia para a
minha sala.
Dorothy deu sua usual batidinha e entrou na minha sala.
— Theodore, avisei a equipe de assessoria para vir aqui, conforme a
coisinha pediu. Gerald pediu que te avisasse que ele saiu ainda há pouco
para levar Sophia para casa. Como está sem telefone, agora sou seu pombo
correio. Você precisa que eu fique aqui?
— Não, as coisas que estamos resolvendo agora não te envolvem,
pode ir descansar, está tarde. Peça para Gerald qualquer coisa ligar no
telefone que fica na sala de reuniões que estamos usando, ou para Karen. —
Não ia prender ela ali à toa.
— Ok, eles chegando eu irei sair. Quanto ao seu telefone, tivemos
um pequeno problema. Essa coisa do chip ser virtual agora, malditas
modernidades, antes era só colocar no telefone e problema resolvido, mas
agora querem inventar moda para tudo. — falou revoltada — A operadora
disse que até amanhã de manhã eles conseguem liberar, aí você tenta não
quebrar mais nenhum telefone, ok?
— Não posso prometer muita coisa, não. — Dei de ombros,
sorrindo de lado. Ela sabia que eu era do time “quebre o celular na parede”
ao invés do “se segure e tenha um infarto”.
— Você só vai sossegar quando me deixar doida. Eu vou terminar
algumas coisas, enquanto o pessoal não chega aqui. Se precisar de mim é só
me avisar. Fique bem, meu filho, logo esses problemas vão se resolver. —
Me disse com carinho. Assenti, enquanto ela saía da sala.
Aproveitei esses minutos para ver algumas pendências fora dessa
confusão. Porque simplesmente não deixaria a empresa parar por conta
disso.
Depois de alguns minutos bateram na porta e liberei a entrada.
— Pediu que nos chamassem, Theo? — Lauren estava à frente da
sua equipe, não eram muitas pessoas, acredito que um total de sete.
— Sim, eu gostaria de saber por que eu fiquei sabendo o que estava
sendo falado na internet sobre a Rockefeller pela Athena, e não por vocês?
— Fui direto ao ponto, estava de saco cheio de tudo, sem tempo para mais
enrolação.
— Como assim, Theo? Que absurdo é esse? — Lauren pareceu
ofendida. — Vai querer dizer que esse robozinho faz o meu trabalho melhor
que eu?
— Pelo menos ela me avisou. Eu imagino que vocês já tenham uma
estratégia pronta, então pode me falar qual é.
Ela foi ficando vermelha.
— Não tenho ainda. Acredito que ninguém tenha olhado as redes e
visto a notícia. — Ela falou empinando o nariz.
— Lauren, vocês têm ferramentas que monitoram os sites! Como
assim não notou que estava em TODOS os lugares? Vocês estão sendo
pagos para ficar olhando pro teto, por acaso?
— Talvez possa ser isso. Devo precisar rever algumas pessoas da
equipe. — ela disse olhando para eles, que já estavam vermelhos. Emma
parecia prestes a explodir.
— Não sei o que você vai precisar fazer, porém como responsável e
na situação em que estamos, o mínimo que eu esperava era um serviço
bem-feito seu. Mas aparentemente, seu profissionalismo não é importante
para você hoje.
— É sim. Você não pode vir falar sobre o meu profissionalismo. É
um absurdo isso. Não posso fazer nada se tem pessoas inco…
— Lauren, chega! Pessoal, podem dar licença, por favor? Preciso
conversar com Theodore e Lauren — Emma a interrompeu e eu assenti para
que o restante da equipe saísse. — Theodore, me desculpe, mas não vou
engolir que Lauren fale assim da equipe. Se quiser me mandar embora
depois disso, eu não me importo. Mas assim que saiu a primeira mensagem
no Twitter fazendo menção à empresa, nós a avisamos — ela olhou dentro
dos olhos de Lauren enquanto falava —, e eu fui informada que ela estaria à
frente e que não era para nos metermos.
Emma estava respirando pesado, notei o quanto estava brava com
tudo isso. Nunca tinha visto ela perder a linha dessa forma, porém gostei do
que vi.
— Como ousa falar isso? Está louca? Você está DEMITIDA. —
Lauren estava revoltada. Cheguei mais perto porque fiquei com receio de
que ela pudesse avançar em Emma. — Theo, você não acredita nisso, né?
Ela perdeu o juízo, eu jamais faria isso.
— Eu tenho e-mails enviados para você que mostram exatamente a
hora que você soube. E se eu estou demitida, vou sair agora. Theodore a
equipe estava trabalhando em paralelo para soltarmos uma nota. — Ela não
me deu nem tempo de responder antes de falar.
— Emma, pode finalizar o trabalho e me passar o que será
repassado para a imprensa. — Quando ouvi um suspiro mais alto, como se
fosse me interromper, virei para Lauren. — Você pode ir para casa. Não sei
o que anda passando pela sua cabeça, mas o profissionalismo que você
tinha desceu pelo ralo. Amanhã o RH entra em contato com você. — Emma
assentiu e saiu da sala como se soubesse o show que viria em seguida.
— Você não pode fazer isso comigo! Nos conhecemos há anos, eu
fui sua namorada, tivemos uma história e agora por causa daquelazinha
você quer me expulsar da empresa? — ela falava, apontando o dedo no meu
rosto.
— Sophia não tem nada a ver com isso, você está sendo desligada
porque perdeu a noção de como trabalhar. Não conseguiu separar o pessoal
do profissional. Não posso ter comigo alguém que não tem estrutura para
saber o ponto final das coisas, e com isso prejudicar a minha empresa.
— Ah, claro, a sua empresa! Ela sempre é mais importante que
qualquer coisa. Quero ver só quanto tempo vai durar essa ceninha de vocês,
quando ela perceber que você ama a empresa acima de qualquer coisa. Mas
não vai durar muito. Talvez nem tenha uma empresa para contar a história
se vazar tudo isso. — ela falava rindo.
— Você sabe de alguma coisa, Lauren? Acho melhor me falar agora.
— Não sei de nada, e mesmo se soubesse, não diria. Quero que você
se foda com a sua empresa, seus amigos e aquela lá.
— Já chega, pode sair daqui. — Fui até minha mesa e pedi que um
segurança a acompanhasse até a saída, que entregassem somente sua bolsa e
outro dia voltasse para pegar as coisas pessoais.
— Vou acompanhar sua queda no meu camarote. Aquele dia ver
você correndo atrás da Sophia foi só o começo. — Ela não sabia que nós
havíamos voltado, então tratava como se eu estivesse realmente perdendo
tudo.
O segurança do andar bateu na porta.
— Você vai me fazer sair daqui como uma criminosa? Tem noção
do quão errado isso é? Vou te processar, Theodore Rockefeller. — Seu
maior medo era a humilhação pública, então sair acompanhada dos
seguranças era o cúmulo.
— Meus advogados vão aguardar. — Abri a porta e esperei que
passassem para fechar.
Nesse momento me perguntei como consegui ficar anos da minha
vida sem perceber quem era a Lauren de verdade, como fui idiota assim?
Acho que estava acomodado demais com tudo isso para perceber
algo além do meu umbigo.
Voltei para a sala com um pensamento que poderia nos ajudar a
fechar a ponta solta.
— Acredito que podemos ter uma pista.
— Fala então, porque eu estou perdida aqui.
— O dia que Sophia saiu correndo da minha sala, Lauren ficou
sozinha lá por alguns minutos. Meu computador tem um sistema de leitura
de retina, qualquer uma diferente da minha, ele automaticamente começa a
gravar a tela e liga a câmera, vou puxar o histórico desse dia.
Imediatamente busquei nos arquivos o dia e realmente tinha uma
gravação do horário.
— Não sei se eu fico feliz, ou me preocupo por você ter esse tipo de
software e eu não saber. — Karen levantou uma sobrancelha como se me
questionasse.
— São testes que eu faço.
Alguém bateu na porta e como estamos com muitas coisas
confidenciais, fui ver quem era antes de liberar a entrada.
— Vai ficar me olhando e não me deixar entrar? — David disse
quando abri a porta.
— Poderia te deixar lá fora mesmo.
— Você jamais faria isso. Agora me fale como estão as coisas, vim
ajudar.
Contei exatamente tudo que descobrimos, enquanto olhávamos o
que Lauren fez no meu computador.
— Aquela filha da mãe instalou um programa que passou batido por
nós, porque simplesmente tem os mesmos códigos que usamos. Foi criado
com base no nosso próprio sistema de segurança, por isso passamos a
receber tantos ataques. Acredito que quem fez isso não imaginou que
estávamos mudando todos os dias de forma automática as defesas. — Karen
parecia incrédula. — Eu já abri o código inteiro, como a base é nossa, achar
a diferença é fácil.
Ela mostrou na tela os pontos diferentes e explicou como o
programa atuou e a diferença com o de Paris. Se nós não tivéssemos ficado
tão espertos com o último ataque, a empresa teria sido completamente
destruída. Não sobraria uma informação que eles não tivessem pegado.
— Eu acho que conheço essa assinatura. Lembro de ter visto em um
projeto na faculdade. — David mostrou do que se tratava.
— Essa foi minha principal desconfiança. Só não tive cem por cento
de certeza, porque lembrava por alto de ter visto.
— Não entendo o motivo que ele tem para fazer isso. Mas uma
coisa é certa, nós vamos pegá-lo. Ele vai apodrecer na cadeia junto com a
Lauren.
— O que faremos para provar? — David perguntou.
— Vou fazer aquilo que eu faço de melhor. Hackear a vida dele,
fazendo ele cair em uma armadilha para que consigamos deixar claro o seu
envolvimento e chamar meu advogado aqui, porque amanhã quero que ele
seja acusado de muitas coisas.
Ninguém mexia na minha empresa, ridicularizava o meu trabalho e
saía impune.
Capítulo 48

Theodore Rockefeller

Eu não digo uma palavra


Mas ainda assim, você tira o meu fôlego
e rouba as coisas que eu sei
Lá vai você, me salvando do frio
O fogo em chamas normalmente nos mataria
Mas com todo esse desejo, juntos,
nós somos vencedores
Fire On Fire - Sam Smith

Emma conseguiu fazer um excelente trabalho acalmando um pouco


a comoção que se formou na internet. Sabia que quando conseguíssemos
pegar a pessoa por trás disso acabariam os burburinhos. Tudo não passaria
de uma fake news, que apenas nós saberíamos que era real.
O restante da noite e madrugada foi tomada por meus amigos e eu
tentando encontrar uma falha para conseguir entrar. Para a minha surpresa
ele se cobriu muito bem. Evoluiu muito da época em que estávamos na
faculdade para o que se tornou hoje, mas eu era melhor.
— CONSEGUI, PORRA! — Bati com a mão fechada na mesa,
assustando os outros dois. — Acessei todos os arquivos pessoais dele,
inclusive o burro deixou tudo aqui.
— Cacete, precisava gritar? Olha a hora que é.
— Sim, Karen tem razão. Daqui a pouco os seguranças vêm aqui
achando que você está morrendo. — David disse rindo e bocejando ao
mesmo tempo.
Olhei a hora, havia amanhecido e ficar sem falar com Sophia foi a
pior parte do dia. Nessa loucura toda e sem celular, eu mal consegui vê-la.
Fiquei com mais raiva daquele maldito. Não tive nem tempo de aproveitar
minha noiva.
Tinha um sabor tão bom chamá-la assim, sabendo que agora era
real, quero me casar com ela o mais rápido possível.
— Não tinha reparado que já amanheceu, daqui a pouco a empresa
já estará cheia. — Com isso veria Sophia.
— Ótimo. Vamos resolver tudo aqui, porque eu quero acabar com
isso e ir para a minha casa dormir. Cansei de olhar para a cara feia de vocês
dois. Inclusive acho que preciso de férias.
— Minha amiga, você merece muitas férias, mas no momento não
vai tirar nenhuma. A única coisa que vai fazer é ir dormir em algumas
horas. — falei implicando com Karen, que me deu língua em resposta.
Muito madura...
Fizemos uma armadilha, conforme meu advogado nos orientou. Ele
tinha bons contatos na polícia então, a essa altura já teria uma viatura indo
até a casa e o trabalho do infeliz.
Enquanto isso, fomos olhando todos os arquivos dele.
Quando me deparei com uma pasta que não fazia sentido para mim,
o telefone tocou.
— Karen, olhe aqui. — falei virando a tela para ela, enquanto
atendia o telefone, vendo-a arregalar os olhos. Eram diversas fotos de
Sophia, tiradas sem que ela estivesse notando.
— Olá, Theodore. — ele falou agora com a sua voz normal. Ele já
sabia que o tínhamos descoberto.
— Parece que o efeitinho de voz acabou, não é mesmo? Está pronto
para ir para a cadeia?
— Sabe, ela é tão linda. Me pergunto o que viu em você.
— Do que você está falando? Está delirando antes mesmo de ser
preso?
— Não, estou observando e pensando se ela é tão tarada quanto
Donald falou... Mesmo com roupas de inverno ela ainda mostra muito as
curvas. — ele não estaria perto de Sophia, estava blefando. — Deve ser
bom fodê-la.
— Não ouse abrir essa sua boca imunda para falar dela. Eu te mato
com as minhas próprias mãos.
Ele riu, debochando de mim. Coloquei o telefone no mudo e pedi
que Karen tentasse falar com Sophia.
— Essa eu pago para ver. Quem sabe eu te mande fotos.
— Você está blefando. Sabe que será preso e por isso está mentindo.
— Se estou mesmo, então confirme com ela. Ela fica gostosa de
vestido rosa e sobretudo preto. — falou desligando na minha cara.
— Porra! Karen, conseguiu falar com ela?
— Sim, ela está bem, me explica o que houve?
— Onde ela está? — perguntei, enquanto saía da sala em direção à
garagem, com os dois no meu encalço.
— Espera, ela está digitando.
— Liga pra ela, é sério isso.
— Em um café aqui perto, pronto. Disse que estava com vontade de
comer bolo de chocolate e ia comprar café pra nós.
— Merda, vamos lá então. Liga para Gerald para mim e fala o que
está acontecendo. David me empresta o telefone que eu vou ligar para esse
desgraçado. Ele não vai fazer nada com Sophia.
Ninguém encostaria em um fio de cabelo dela, eu faria questão de
ter certeza disso.

Sophia Clarck

Passar a noite sem ver Theo, ou ao menos conseguir falar com ele,
foi torturante. Ontem, com a correria, não consegui nem me despedir dele.
Agora daria um jeito de vê-lo assim que chegasse na empresa.
Me arrumei com calma, colocando um vestido rosa de lã por cima
das roupas térmicas para me ajudar com o frio, e separei um sobretudo
preto, para poder andar até a confeitaria que eu estava pensando desde o
momento que acordei.
Desci para a cozinha e novamente não consegui tomar café.
Aproveitaria para comprar para o trio ternura e comer um bolinho de
chocolate.
Encontrei Gerald na garagem.
— Bom dia, Gerald!
— Bom dia, Sophia. Iremos direto para a empresa?
— Não, quero passar naquela confeitaria que fica lá perto, aquela
que vende o bolinho que eu gosto.
Ele assentiu sorrindo, porque sabia exatamente qual era.
— Tem alguma notícia deles?
— Falei mais cedo com o Sr. Rockefeller. Aparentemente eles
tiveram bons resultados essa noite.
— Que bom. Espero que consigam resolver de vez essa questão.
— Sophia, iremos atrasar um pouco, porque tive que pegar uma rua
diferente devido à neve.
— Ok, contanto que a gente chegue lá, não tem problema. — disse
rindo.
Aproveitei o momento para combinar com Sarah um almoço. Não
tinha conseguido explicar a ela sobre como tinha sido minha conversa com
Theo.
Alguns minutos depois, Gerald parou em frente à porta.
— Não vou conseguir parar no estacionamento da frente, vou parar
na lateral.
— Ok, vou descer aqui mesmo, então.
— Cuidado com a neve que ainda está em alguns pontos. Já volto
para te encontrar. — Assenti e saí do carro, prestando atenção onde pisava.
Senti novamente a sensação de que estava sendo observada, Olhei em volta
e não vi ninguém me olhando diretamente, achei que pudesse ser impressão
minha. Voltei a prestar atenção no que fazia antes que congelasse naquele
frio ou escorregasse, reparei nos meninos que estavam limpando a calçada,
mas a neve que caía não ajudava na missão deles.
Entrei no quentinho, me sentando em um canto. Fiz o meu pedido e
recebi uma mensagem de Karen.

Karen: Oi! Está tudo bem?

Achei estranho que só mandou isso, mas respondi.


Eu: Oii.
Sim, e com vocês?
Aconteceu alguma coisa?

Aguardei a resposta e fiquei um pouco inquieta. Quando vi uma


figura conhecida se aproximando, não acreditei que ele estava vindo em
minha direção.

Karen: Nada, está tudo bem, só saudades.


Onde você está?

Eu: Naquela confeitaria perto da empresa, estava com vontade


de comer bolo de chocolate. E vim pegar café para vocês. Logo
vou chegar com um cafezinho.

Pousei o telefone na mesa, não acreditando que ele teria a cara de


pau de falar comigo.
— Olá, Sophia, tudo bem? — ele disse puxando uma cadeira.
— Oi, Joshua. Perfeito. Mas você não é bem-vindo para sentar
comigo. — falei mais baixo, para que somente ele escutasse.
— Ah, querida. É óbvio que eu tomo café com você. — ele disse
bem alto, chamando até um pouco de atenção.
— O que você quer? Não estou entendendo. — Fiquei confusa,
imaginando que ele iria querer causar alguma confusão.
— Quero só conversar, e você vai colaborar. — Ele puxou o casaco
para o lado me mostrando uma arma.
Ah, ótimo. Era tudo que eu precisava. Um maluco querendo me
matar logo cedo, sem eu saber o porquê.
Seu telefone tocou.
— Olá, Theodore, você não imagina com quem eu estou aqui.
Meu noivo respondeu algo de forma ríspida, porque escutei seus
gritos, mas não entendi do que se tratava.
— Acho bom você chegar aqui rápido então, porque em pouco
tempo ela pode não estar mais entre nós. Escute a voz dela e veja se eu
estou brincando.
Ele se levantou, se sentando do meu lado, colocou o telefone perto
do meu ouvido.
— Oi, Theo.
— Meu amor, eu estou chegando, nada vai te acontecer. — ele
parecia desesperado. Joshua tirou o telefone do meu ouvido, antes mesmo
que eu pudesse responder.
— Melhor não prometer aquilo que não pode cumprir, meu amigo.
Eu estava confusa com tudo isso. Quando vi Gerald de longe,
imaginando que ele já sabia o que estava acontecendo, movimentei meus
lábios falando a palavra arma, fazendo ele assentir.

Theodore Rockefeller

Estávamos a caminho, e escutar a voz de Sophia serviu para me


acalmar minimamente. Gerald estava falando com Karen, e tentamos
controlar a situação de alguma forma.
— O que você quer com Sophia?
— Sua família tirou algo precioso da minha, então o mínimo que eu
posso fazer é tirar de volta de você. — Do que ele estava falando? — Tentei
com a empresa, mas antes que eu fizesse o que planejei, você foi esperto em
me descobrir. Imagino que deve ter sido algo que a burra da Lauren falou.
Uma idiota apaixonada.
— Do que você está falando? — precisava saber, e manter o contato
dele comigo, para que não fizesse nada com Sophia.
— Sobre o que o seu pai fez com o meu. Depois daquilo, ele nunca
mais foi o mesmo. Sabe onde ele está agora?
Não fazia ideia, o pai dele também criou uma empresa de
informática, que não teve o mesmo crescimento que a Rockefeller, e acabou
sendo engolida pela nossa. Lembro que foi na época em que estávamos na
faculdade e foi justamente esse o motivo do rompimento da nossa amizade.
— Você está construindo um império maior que o do seu pai, está
bem no mercado, então, qual o problema? E não, eu não tenho ideia de onde
seu pai está.
— Óbvio que não tem! Você só se importa com o seu nariz. Um
maldito egoísta. E ter tudo isso não importa, porque eu nunca era o
suficiente. O Rockefeller sempre era mais famoso, mais rico, mais
importante. Então foi simples, eu precisava acabar com você para ser o
melhor.
Fiquei assustado com a loucura que ele estava falando. E com medo
de que ele fizesse algo com Sophia.
— Mas, você sabe que você é tudo isso.
— Não quando o seu pai não lembra mais de você. Então, já que
você não sabe onde ele está, eu digo. Meu pai está em uma clínica
psiquiátrica. Ficou completamente desequilibrado depois da falência. E
agora só lembra de como o Theodore Rockefeller era melhor do que eu.
Gozado, né? Meu pai lembra do filho do seu algoz, mas não do próprio
filho. — ele falava com rancor na voz.
Vi que só uma quadra nos separava, então precisei enrolar ele mais
um pouco.
— E por que você envolveu Lauren nisso?
— Porque precisava de alguém de dentro e ela foi a vítima perfeita.
Fácil de manipular. Estava com tanto ódio de você que pra convencê-la foi
bem simples. Ela queria tirar a sua noiva do caminho e acreditou que com
os problemas na empresa seria mais fácil. Inclusive, ela me pediu que
matasse Sophia, acredita nisso?
Respirei fundo quando cheguei lá. Gerald estava dentro da loja e a
polícia nos aguardava do lado de fora. Pediram que tentasse convencê-lo de
sair, enquanto colocaram um colete em mim, por me recusar a sair da frente
da porta.
— Acredito, sim. Lauren não sabe perder. Mas eu sei, eu estou aqui,
por que você não vem me encontrar? Posso te dar todo o controle da
Rockefeller, só deixe Sophia fora disso.
— Interessante sua proposta. Acho que vou fazer isso, sim. Mas vou
levar ela comigo. Soube que ela gosta dos chefes.
Maldito, minha vontade era de quebrar a cara dele.
Consegui ver de relance ele se levantando e puxando minha noiva
com ele. Se ele a machucasse, eu arrancaria as suas mãos.
— Sabe, Theodore, acho melhor você entrar aqui. — disse e
desligou o telefone.
— Preciso entrar. — avisei ao policial que estava do meu lado.
Como eles já tinham conseguido entrar pelos fundos e só queriam uma
distração, eles me liberaram.
Quando abri a porta para entrar, foi tudo muito rápido. Ele apontou a
arma para mim e Sophia gritou, o assustando, fazendo com que disparasse a
arma. Nesse momento Gerald e um policial o imobilizaram por trás.
Conferi se o tiro não pegou em ninguém, e para minha sorte ele era
ruim de mira e acertou só a parede. Corri até Sophia, que me abraçou
apertado.
— Meu Chocolate, você está bem? — Soltei apenas um pouco meu
agarre para ver seus olhos.
— Sim, amor. Só estava com medo de não te ver mais. — disse isso
e desmaiou nos meus braços.
— Alguém me ajude, por favor. — Logo um policial se aproximou
me indicando para levá-la até uma ambulância que estava ali perto.
Deus, por favor, que não tenha acontecido nada com Sophia.
Capítulo 49

Theodore Rockefeller

Porque tudo de mim


Ama tudo em você
Amo as suas curvas e seus contornos
Todas as suas imperfeições perfeitas
Dê tudo de si para mim
Eu vou dar tudo de mim para você
Você é o meu fim e o meu começo
All Of Me - John Legend

Fui todo o caminho do hospital com os paramédicos verificando os


batimentos e a pressão de Sophia. Para a minha sorte era perto, apenas três
quadras de onde saímos.
Assim que chegamos lá, eles entraram com ela e eu tive que esperar
na recepção com David e Karen que chegaram logo em seguida.
— Algum de vocês pode avisar as meninas, por favor? E se
puderem, avisem a Dorothy também.
Precisava do meu celular com urgência. Pedi a Gerald que um dos
seguranças fosse a Rockefeller buscar com a minha secretária.
A cada cinco minutos eu ia na recepção pedir alguma informação.
— Theodore, você precisa se acalmar, ok? — Karen me puxou para
sentar.
— Não consigo. Se não tiver informações dela nos próximos
minutos, ligo para a porra do dono do hospital.
Sarah, Claire e Mary chegaram no mesmo momento em que o
médico estava procurando pelos parentes de Sophia.
— Oi, sou Theodore, o noivo dela, pode falar comigo. Ela está bem?
— falei apressado.
— Sim, está estável. A pressão dela subiu demais, soube pelo
pessoal da ambulância que ela passou por um momento de tensão, então
isso provavelmente explique. Estamos aguardando somente sair os
resultados dos exames. Passamos uma medicação apenas para que ela
relaxasse porque ela acordou do desmaio um pouco agitada. Dentro de
alguns minutos alguém irá chamá-los para vê-la no quarto.
— Ela está fora de perigo? — Me sentia péssimo, tudo isso foi
minha culpa.
— Sim. Aparentemente foi apenas o estresse, mas assim que os
exames saírem teremos maiores informações.
Assenti e ele saiu.
Sarah, que escutou tudo que ele disse, me olhou em questionamento.
— O que aconteceu com Sophia? — Ela soou quase ameaçadora.
Era extremamente protetora com a irmã.
Contei por cima o que passamos e como viemos parar no hospital.
— Espero que você cuide bem dela, que não exponha a minha irmã
ao perigo.
— Não vai acontecer de novo, fique tranquila.
Voltamos para perto dos demais.
— A única coisa boa de tudo isso, é que Sophia já pode aproveitar e
fazer um exame para ver tudo. Esse mal-estar que ela estava tendo direto
não é normal.
— Como assim, Claire? Ela não me disse nada. — Fiquei
imediatamente preocupado.
— Ela estava reclamando há alguns dias que não acordava bem,
estava atribuindo ao estresse dos últimos dias. — Sarah quem me
respondeu, afiada na indireta.
— Ela passou mal algumas vezes entre a semana do Natal e ano
novo, mas acabamos achando que era a comida diferente. Assim que
entrarmos vou pedir para o médico verificar.
Gerald me entregou meu celular, finalmente. Precisava verificar
algumas coisas sobre a prisão de Josh e Lauren.
Porém, uma enfermeira informou que Soph já estava no quarto e
que poderíamos entrar.
Fui na frente, quase correndo na direção dela.
— Meu chocolate, como você está se sentindo? — cheguei perto, a
colocando nos meus braços. — Me perdoa por tudo isso. Te prometo que
nunca mais deixarei nada disso acontecer.
— Estou melhor, ainda com vontade de comer meu bolo, com essa
confusão toda, eu nem comi. — Todos caíram na risada, ficamos
preocupados e ela só lembrava do bolo. — É sério, viu? — Ela soltou um
pouco do meu agarre para olhar nos meus olhos — Theo, não precisa se
desculpar, não tinha como imaginar que o Joshua surtaria. Ninguém
esperava isso dele.
Realmente, eu só o via como alguém que sentia mágoa pelo
passado. Eu não tinha ideia de como foi o problema que o meu pai causou
na época. Depois tentaria entender.
— Independente, meu amor. Você não merecia passar por nada
disso. Não posso deixar que toda vez que alguém não gostar de algo que eu
fizer, venha descontar em você. — Era inadmissível. E eu ia reforçar mais a
nossa segurança.
— Fique tranquilo, você nunca me enganou. Sempre soube que o
seu mundo não era fácil, e mesmo assim aceitei entrar nele.
— Acho que eu seria capaz de desistir dele se você não aceitasse. —
falar isso em voz alta fez uma chave virar na minha mente. Porque eu nunca
pensei em desistir do meu trabalho por ninguém.
Meu celular tocou indicando ser Emma. Pedi licença para atender.
— Theodore, me desculpe por ligar, sei que está no hospital com
Sophia, mas precisava ter certeza de como agir. O seu advogado me
procurou explicando todos os detalhes e o que deveríamos divulgar. Com
relação a Lauren, é isso mesmo? Iremos expor tudo que ela fez?
— Sim, ela precisa ser penalizada. Mas faça de uma forma que a
credibilidade da empresa não seja abalada porque, nesse caso, ela foi
somente uma pessoa egoísta que não soube separar o pessoal do
profissional. Explore isso. Quero que ela perca todo o prestígio que tem no
mercado. Só desse jeito ela vai aprender.
Depois de tudo que fez, não merecia sair por cima como se estivesse
certa.
O médico pediu licença, entrando na sala com os resultados dos
exames. Me despedi de Emma, ficando de dar ok em breve nas informações
que soltaremos.
Voltei a ficar ao lado da minha noiva, enquanto o médico falava.
— Sophia, como você se sente?
— Ótima, doutor. Pronta para ir embora. — disse sorrindo. — Sabe
me informar o que houve?
— Que bom. Os exames estão todos bons. O bebê está bem, mas
achamos melhor te observar hoje durante o dia.
O médico percebeu a cara de susto de todo mundo. Bebê? Sophia
estava grávida?
— O bebê está bem? — Sophia perguntou, como se falasse: que
bebê?
— Sim, a ultrassom mostrou que tudo está bem com o bebê.
— Meu Deus, meu amor, um bebê! — A puxei em um abraço,
atropelando as palavras do médico, apesar do choque, estava me sentindo
no céu. Sophia iria me fazer ainda mais feliz.

Sophia Clarck

Fiquei atônita com a novidade.


— Sinto muito dar a notícia assim, não sabia que não era de
conhecimento de vocês. Quando vimos o Beta HCG positivo, fizemos a
ultra imediatamente. Você está de aproximadamente — ele procurou algo
no prontuário — oito semanas. Sugiro começar a fazer um
acompanhamento. Mais tarde a obstetra passará por aqui e poderá conversar
melhor com vocês.
— Tudo bem. — Respondi, ainda sem saber se realmente estava
tudo bem.
— Srta. Clarck está se sentindo bem?
— Sim, só fiquei surpresa, eu ia procurar um médico. Inclusive
preciso ver se os remédios que estava tomando, achando que o que eu tinha
era uma dor de estômago, não fazem mal ao bebê. — Instintivamente levei
a mão à minha barriga.
— Acredito que não, mas vamos ver com calma. Peço que você se
mantenha tranquila, para que sua pressão não volte a subir.
Assenti e reparei que todos me olhavam esperando uma reação, e
Theodore, que não me largava por um segundo sequer, tinha lágrimas nos
olhos.
Minha ficha estava caindo ainda.
— Você está bem? Quer que peça para o médico ver sua pressão?
Está tremendo um pouquinho. Não era bem desse jeito que imaginava
começar a nossa vida. — Respirei fundo. — Mas, tem um pedacinho nosso
aqui.
Coloquei a mão no meu ventre novamente e ele veio com a sua por
cima.
— Se eu estiver com você ao meu lado, qualquer começo será
maravilhoso. Meu Deus, precisamos nos mudar. Acho que vi uma casa à
venda no condomínio próximo do nosso apartamento.
— Se acalma, nós acabamos de descobrir a gravidez. Então, respira.
— Todos estavam rindo do desespero do meu noivo.
— Tô calmo, só quero me casar o mais rápido possível e já deixar
tudo preparado para o nascimento do bebê.
— Nem me surpreende mais. Esperava isso de você, já queria se
casar em alguns meses, terá seu pedido realizado. — Nós morávamos
juntos, não via motivos para adiar a celebração.
— Perfeito, você saindo daqui nós iremos fazer tudo isso.
— Até que enfim. Estava vendo a hora em que eu teria que resolver
a vida por vocês dois. Agora, Theodore, largue ela um pouquinho que eu
quero abraçar Sophia e o meu afilhado. — Karen chegou empurrando-o e
sussurrando pra mim: — Estou tão feliz por vocês, tenho certeza de que
serão muito felizes.
— Certo, só lembrando que a irmã ainda é minha, tá? A prioridade
para madrinha é minha. — Sarah chegou me abraçando pelo outro lado da
cama.
— Fiquem calmos que depois a gente decide isso. — disse a fim de
não deixar o hospital virar um caos.
— Sim, vamos ter três filhos, terá criança para todos serem
padrinhos. — Olhei atônita para Theo, que somente sorriu para mim.
Logo em seguida vieram Claire, David e Mary.
Tendo meus amigos comigo, sabia que conseguiria enfrentar
qualquer coisa. Principalmente ser mãe sem ter planejado. Porém era
natural quando se transava pra cacete, não sei porque ainda me surpreendi.

Estava na casa de Susan descansando, Theodore ainda precisava


resolver muitas coisas, então viemos para cá, para que eu não ficasse
sozinha. Ontem foi um dia de muitas emoções. Passamos com a obstetra e
ela nos explicou melhor os detalhes. Pediu que eu descansasse por alguns
dias, e começou a fazer um acompanhamento médico, porque esse aumento
de pressão durante a gravidez poderia ser perigoso.
Theo avisou aos meus pais sobre o que aconteceu, mas não sobre a
gravidez. Nós iríamos contar para os quatro avós juntos e aguardava eles
chegarem mais tarde.
Depois de passar o dia basicamente dormindo e com Susan me
mimando, tinha uma desconfiança de que ela já soubesse da gravidez pelo
jeito que estava me tratando.
Aproveitei o dia de tranquilidade e encomendei em uma loja
presentes para eles, que consistiam em uma caixinha escrito “Os melhores
Avós” e dentro nós colocamos uma foto da ultrassonografia que
conseguimos com o hospital.
Meus pais chegaram pouco antes do horário do jantar e foi uma
comoção.
— Minha filha, fiquei tão preocupada quando vi as notícias na
internet. Falaram tantos absurdos! Só sosseguei quando falei com seu noivo
e depois vi uma moça da empresa passando na TV, esclarecendo o que
aconteceu. — mamãe falava enquanto me abraçava.
— Sim, está tudo bem comigo. Foi só um susto.
— Theo chegou com Sarah, David e Karen. Vamos para a sala de
jantar, imagino que estejam famintos. — Susan avisou, nos direcionando
para o cômodo.
Como me sentia nervosa, quis logo acabar com a surpresa. Eu e
Theo entregamos as caixinhas, que estavam embrulhadas. Eles ficaram tão
felizes, que achei que minha mãe iria desmaiar e Susan infartar.
Aproveitamos e fizemos uma chamada com os avós de Theo e
contamos para eles. Janet e Harold já queriam vir para Nova Iorque ver o
bisneto.
Janet inclusive disse que seria um menino. Não entendi como ela
tinha tanta certeza, mas a sua confiança foi tão alta que eu acreditei.
Depois de todo o alvoroço, nos sentamos para jantar e o assunto foi
somente esse. Susan era exatamente como Theo e já estava cheia de planos.
— Papai, como está o tratamento? — aproveitei para saber como
estavam as coisas com ele.
— Estou ótimo, vou ser liberado na semana que vem do tratamento
intensivo que fazíamos. A partir de agora só irei manter o acompanhamento
e continuar cuidando, para não ter nenhuma crise. — Fiquei tão feliz de ver
meu pai recuperado, ficando quase cem por cento. Era uma coisa que eu
agradeceria a Theodore para sempre. Acho que se não fosse por ele, papai
teria morrido.
— Que bom! Assim vocês poderão vir para o meu casamento, sem
problemas.
— Claro que sim, vocês já marcaram a data?
— Será em dois meses. — Theo respondeu.
— Muito bem, achei que eu precisaria ameaçá-lo por ter
engravidado Sophia antes de se casar.
— Papai, era mais fácil você ameaçar Sophia para que ela se casasse
com Theo logo. Olha bem para ele. Acho que com um mês juntos ele já
pensava em arrastar ela pra Las Vegas em uma capela do Elvis. — Sarah
falou rindo.
— Muito engraçada você, Sarah. E a faculdade? Conheceu alguém?
— ela era muito mais decidida do que eu nesse ponto. Se queria alguma
coisa, corria atrás, porém, se desistia, também era difícil fazê-la voltar atrás.
— Minha turma tem muitos homens, escolhi uma profissão que é
dominada em grande parte pelo sexo masculino. Então digamos que sempre
tenho colírios para os meus olhos. — Ela deu de ombros e David se
engasgou.
— Tudo bem, querido? Esses assuntos de casamento te fazem
engasgar, né? — Karen o provocou.
— Não começa.
— Lembra-se do que eu disse no avião. Para o Theo só foram
alguns meses pra se concretizar, com você não será diferente.
— Vai sim, não tenho nenhuma parte com isso. Só esquece isso,
Karen! Já disse que não vou me casar.
— Veremos. Por enquanto temos um casamento para organizar.
Sophia, vamos começar urgente. Eu amo casamentos!
Entramos no assunto do meu casamento e da organização, mas
percebi o quanto David estava incomodado. Era melhor Karen parar de
brincar com essas coisas.
Se é que era brincadeira mesmo.
Capítulo 50

Theodore Rockefeller

Terei coragem
Não deixarei nada levar embora
O que está à minha frente
Cada suspiro
Cada momento nos trouxe aqui
Um pouco mais perto
Eu morri todos os dias esperando você
Querido, não tenha medo, eu te amei
Por mil anos
Eu te amarei por mais mil
A Thousand Years - Christina Perri

Depois de todas essas emoções, saber que seria pai fez algo muito
importante em mim, despertar. Eu olhava para a barriga ainda discreta de
Sophia e pensava como poderia amar tanto alguém que eu nem conhecia.
Era completamente louco imaginar isso. Queria passar o dia todo só
agarrado a ela, mas a minha vida não era tão simples.
Nós estávamos apagando incêndios devido a toda questão divulgada
na mídia. Emma e a equipe fizeram um excelente trabalho em parecer que
tudo foi uma grande mentira. Inclusive a promovi para o lugar de Lauren,
que ficou tão humilhada com a prisão, que depois de pagar uma fiança
milionária, não estava nem saindo de casa enquanto aguardava o
julgamento. Fiz questão de garantir que ela e Josh pagassem pelo que
fizeram. Ele passaria bons anos na cadeia, e o que ele queria que
acontecesse comigo, se virou contra ele. Sua empresa ficou completamente
desmoralizada.
Com tudo isso, eu precisei lidar com os clientes e acalmar as
empresas que ficaram com medo de um ataque de “verdade” acontecer.
Me senti péssimo por ter que trabalhar demais e ver um mês passar
correndo na minha frente, sem conseguir ficar completamente presente com
a minha noiva e ajudar nos preparativos do casamento. Alguns dias eu
chegava em casa e ela já estava dormindo.
Isso estava dominando meus pensamentos.
Olhava pela janela do escritório uma Manhattan que não parava.
Pensava em uma solução, mas não sabia se me sentia preparado para
entregar a empresa para outro CEO e ficar somente como presidente. Tinha
medo de que meu pai se sentisse traído.
Meu telefone da mesa tocou e era Dorothy avisando que Robert
Rockefeller estava aqui. Pedi que entrasse.
— Oi, meu filho. — Ele veio até mim.
— Desde quando você precisa ser anunciado? — abracei ele, e
continuei observando a vista.
— Desde que me aposentei. Você é quem manda aqui, preciso
respeitar. — falou e se virou para a mesma direção que eu. — Sabe uma
coisa? Eu sempre olhava essa vista por todos esses anos em que trabalhei
aqui. Me acalmava quando eu precisava pensar.
— Tenho a mesma sensação, pai. — Respirei fundo, voltando meu
olhar para ele. — Em que eu posso te ajudar?
— Na verdade, eu vim dar minha opinião não solicitada. — Papai
sempre gostou de se meter em tudo, só deu um passo para trás quando
mamãe o obrigou.
— Sabe que eu respeito as suas opiniões, mesmo que nem sempre
concorde. Pode falar. — Indiquei o sofá para que pudéssemos nos sentar
mais à vontade.
— Percebi que você está vivendo alguns dilemas e eu não quero que
você passe pelos mesmos estresses que eu. Está começando a sua família
agora, então o mínimo que você deve fazer é se dedicar a eles.
Assenti, tentando entender aonde ele chegaria com essa conversa.
— Você já pensou em contratar alguém para dividir essas
responsabilidades?
— Eu estava considerando isso agora há pouco. Não sei se consigo
mais seguir deixando Sophia em casa para viver trabalhando. Ela é muito
compreensiva, não me cobra em nada, mas quero estar mais presente nos
momentos da sua gestação e depois na criação do nosso bebê.
— Esse é o pensamento, meu filho. Um dia, quando você acordar,
vão ter passado dezoito anos e seu filho sairá de casa, aí você se perguntará:
será que eu fiz tudo que poderia? Fui o melhor pai que ele merecia?
— Se esse for o seu medo, pode ter certeza que sim. Sempre foi e
sempre será o melhor pai. — O abracei apertado. Tinha muito orgulho dele.
— Uma coisa que me deixou preocupado, foi se você não se chatearia caso
eu contratasse um CEO e ficasse apenas como presidente.
— Theodore, eu sei que mesmo você apenas como presidente não
vai abandonar a empresa. E se você falasse que ia vender tudo, eu
concordaria. Só quero que você seja feliz e não morra infartado. — Nós
rimos, hoje tinha virado piada, mas quando papai ficou doente, nós
achamos de verdade que o perderíamos.
— Você não sabe o peso que me tirou. Era uma situação que eu
estava remoendo há semanas.
— Fique em paz. Tenho certeza de que você será um ótimo pai.
Conversamos mais algumas coisas até ele ir embora. Avisei a
Dorothy para abrir a vaga de CEO e começar todos os trâmites. Antes do
meu casamento queria estar com isso resolvido. Faria uma surpresa para
Sophia.

Passei duas semanas em uma correria sem fim entre ajudar Sophia
com o casamento, e fazer entrevistas sigilosas. Finalmente consegui
contratar uma pessoa para o cargo, que começaria na próxima semana,
exatamente uma antes do nosso casamento.
Lembrar de toda a loucura que foi fazer essa contratação em tão
pouco tempo, me trazia alívio agora, ao saber que poderia viver momentos
como esse, que era estar em casa me arrumando para irmos em uma
consulta médica de rotina.
Eu estava passando dias de muita preocupação com Sophia. Não
estava sendo fácil controlar sua pressão, o que requisitava uma atenção
maior nossa em relação à sua saúde e do nosso bebê.
Parei, admirando-a andando de um lado ao outro do closet
separando suas roupas. Até não resistir mais e finalmente ir ao seu
encontro. Ela apoiou o pé em uma poltrona, enquanto passava creme pela
perna.
Sentei-me na pontinha fazendo o trabalho por ela.
— Sabia que eu adoro quando você faz isso?
— Isso o quê? Passar creme em você?
— Não só creme, eu adoro a sensação das suas mãos pelo meu
corpo.
— Que bom, meu amor, porque se depender de mim, elas nunca
estarão longe. — Abri o robe de seda que ela usava, passando creme na
barriguinha que já começava a aparecer. — Oi, bebê. O papai ama você e a
sua mamãe. Nós estamos indo te ver daqui a pouquinho. — Dei um beijo
ali.
— Nós também te amamos, meu amor. Tenho certeza de que nosso
bebê será grudado em você. Comentei isso com Megan ontem. — Sophia
decidiu que faria terapia um pouco depois de descobrir a gravidez.
Ela queria se sentir segura para o nascimento do neném, a evolução
dela nesses quase dois meses era perceptível. A sua confiança aumentou, e
ela já falava do seu passado sem medo de que aquilo pudesse voltar a
acontecer. Até porque, se dependesse de mim, jamais deixaria que alguém a
magoasse novamente.
Terminamos de nos vestir e fomos até a clínica. Como hoje teríamos
a possibilidade de descobrir o sexo do bebê, a consulta virou um evento.
Todos os nossos amigos, meus pais e sogros estavam presentes, meus avós
fizeram questão de vir da Itália antes do casamento para acompanhar.
Sophia sempre ficava ansiosa quando tinha consulta, e eu não era
nem um pouco diferente. Mas hoje estávamos mais ainda, porque era um
momento único para nós dois.
A enfermeira chamou Sophia para se preparar, aferir a pressão, peso,
essas coisas, enquanto nós aguardávamos na sala de exames.
Ter dinheiro nessas horas era algo muito vantajoso, porque
fechamos uma ala da clínica apenas para a nossa família. Como era algo
que não queríamos que fosse divulgado na internet, a clínica estava sendo
extremamente discreta quanto às nossas visitas. Mas hoje, com toda a
comitiva que viemos, se não isolássemos a área, alguém poderia ver a
comoção e divulgar antes da hora.
— Meu filho, cadê essa médica com a Sophia? Quero ver o meu
bisneto.
— Vovó fica tranquila, eles estão vindo, só estão fazendo a rotina
antes da ultra. E a senhora insiste que é um menino?
— Theo, desde que ela descobriu, ela não parou um minuto de falar
que seria um menino. É porque viemos da casa da sua mãe direto pra cá,
senão você teria visto a mala de coisas que ela já comprou e bordou com o
nome da criança. — meu avô falou, como se já tivesse desistido de tentar
contrariar a mulher.
— Mãe, a senhora não acha que se precipitou em fazer tudo isso
antes de ter certeza de que seria um menino? — Meu pai parecia em choque
com o que ouviu.
— Nada, meu filho. Eu tenho certeza! Nunca me enganei antes, nem
quando engravidei de você ou dos seus irmãos, ou quando vocês tiveram
filhos. — Isso era algo que sempre foi comentado na família, que ela jamais
errava o sexo dos bebês.
— Eu concordo com a Janet. Desde que descobrimos a gravidez já
sentia que seria um menino. Meu afilhado será perfeito. — Karen falou,
enquanto Sophia voltava para a sala em que estávamos.
Só isso evitou a terceira guerra estourar naquele quarto, porque
essas meninas estavam quase se estapeando para saber quem seriam os
padrinhos do nosso neném.
Quando a médica começava a fazer o ultrassom e eu via nosso
neném, meu coração explodia de emoção.
— Vocês estão preparados para descobrir o sexo?
Concordamos, esse negócio de surpresa não era conosco.
— Parabéns, papai e mamãe, é um menino. — disse mostrando na
tela.
— Meu amor, é o nosso Matthew. — Sophia falou chorando
emocionada.
— Sim, meu Chocolate. O nosso menininho. Obrigado por tudo
isso. Vocês completam a minha vida. — Dei um beijo nos seus cabelos e
acabei chorando também.
No final foi aquela confusão, de choros dos nossos pais, nossos
amigos brigando por quem havia errado ou acertado e eu só conseguia olhar
para Sophia e pensar no quanto estava feliz. Me sentia completo.
A médica acalmou a bagunça na sala e pediu que nós ficássemos
atentos à pressão de Sophia e que ela evitasse se estressar a todo custo.
Depois que saímos da clínica, levei minha noiva para jantar.
— Eu tenho uma novidade para você. — falei, pegando sua mão por
cima da mesa.
— Adoro novidades. Me diz, o que é?
— Contratei um CEO para a Rockefeller. — Sophia abriu a boca,
parecendo surpresa. — Te surpreendi muito?
— Sim, não imaginei que fosse fazer isso. A empresa é a sua vida.
— Não, vocês dois são a minha vida. A empresa é importante,
lógico. Eu ainda vou ser o presidente. Ter a última palavra em determinadas
situações, mas decidi que ter mais tempo ao seu lado era o que eu desejava
de verdade.
— Droga, Theo — ela falou fungando —, sabe que depois que eu
engravidei estou uma manteiga derretida. Não pode ficar me falando essas
coisas em público. Como eu pulo em você e te beijo do jeito que eu desejo?
— Sophia estava com um apetite sexual duas vezes maior do que o que ela
já tinha normalmente. Eu só agradecia.
— Sabe que todos os seus desejos são uma ordem. Quando
chegarmos em casa, irei realizar cada um.
Ela sorriu e mordeu o lábio, fazendo com que a minha vontade por
ela gritasse. Essa mulher me mataria ainda.
Capítulo 51

Theodore Rockefeller

Eu encontrei uma mulher, mais forte


que qualquer pessoa que conheço
Ela compartilha dos meus sonhos, eu espero
que um dia eu compartilhe seu lar
Eu encontrei um amor para carregar mais
do que apenas meus segredos
Para carregar amor, para carregar nossos filhos
Perfect - Ed Sheeran

Estava tomando todos os cuidados com Sophia para ela não se


estressar. Por mais que tivesse uma equipe imensa e nossos pais e amigos
ajudando, ainda era muito estressante fazer as coisas do casamento. Afastei
ela de tudo quando no meio da semana a pressão dela subiu por conta de
algo que não estava dando certo.
Ficava claro nessas horas que mesmo que você gastasse milhares de
dólares, contratasse as melhores empresas, não teria garantia de não passar
por aborrecimentos.
Como eu fiquei à frente dos preparativos, deixei a empresa nas mãos
de Nicholas, o novo CEO, assim descobriria se ele seria capaz de aguentar a
responsabilidade, e por enquanto ele estava se saindo bem.
Hoje de manhã, quando deixei Sophia no SPA em que iria se
arrumar com as meninas, pedi que, por favor, mantivesse a calma, para que
ela e nosso Matthew ficassem bem.
Me arrumei com David para a cerimônia.
— Está preparado, meu amigo?
— Nunca me senti tão pronto. Hoje é como ter um sonho se
tornando realidade.
— Você se apaixonou totalmente por Sophia. Quando lembro da
reação de vocês à minha ideia, acho engraçado, ninguém imaginou que
chegaríamos aqui.
— Não mesmo, achei que seria algo passageiro, não pensei que
conheceria o amor da minha vida. Vou ser eternamente grato a você por
isso. E você abra o seu olho para não fazer merda.
— Era pra eu saber sobre o que está falando? — Ele se fez de
desentendido.
— Depois você me conta a sensação de cair de cara no chão.
A cerimonialista nos chamou para descer, pois a cerimônia
começaria em breve. O meu amigo só me olhava com cara de tacho.
Quando fui sair do quarto em que estava, encontrei Pietro do lado de
fora.
— Podemos conversar antes de você encontrar sua noiva e não ter
tempo para mais ninguém? — disse me cumprimentando.
— Claro, tenho alguns minutos. — David saiu, nos deixando a sós.
— Fico feliz que você tenha vindo.
— Não perderia seu casamento por nada. — Nós não nos víamos
tanto devido à sua vida, mas procuramos manter um mínimo de contato
desde a época em que estudamos e eu comecei a ter que lidar com seu
irmão.
— Que bom, porque faço questão da sua presença. Agora me fale, o
que queria conversar?
— Tiziano ficou preocupado com a troca do CEO. Depois de toda
aquela confusão que saiu na mídia, a sua vontade era de cortar pontas
soltas. Tive que acalmá-lo.
Sabia que Tiziano tinha uma mentalidade muito fechada, ter
informações conosco e usar os nossos sistemas, fazia com que ele não se
sentisse feliz, mas era uma herança dos nossos pais, nós apenas a
mantemos, sem escolhas de mudanças.
— Você sabe muito bem que quem cuida dessas informações somos
Karen e eu, não ficam nem nos servidores da empresa. Pode falar para o seu
irmão que eu sou muito novo e pai, preciso de muitos anos de vida. — falei
rindo, mas no fundo tinha um receio.
— Nunca deixaria ele fazer nada com vocês. Você sempre deixou
claro que os dados estão seguros e separados, porém meu irmão é
complicado, por isso é importante esclarecer essa alteração na empresa.
Fiquei mais sossegado em saber que não teremos mudanças. Eu vou deixar
você encontrar sua noiva. Felicidades, meu amigo. — Ele me abraçou.
— Obrigado. E você, quando vai se casar? — Sabia que pela sua
posição ele teria que se casar, mesmo sem amor.
— Muito em breve. Minha última visita ao Brasil me trouxe boas
oportunidades.
A cerimonialista me chamou novamente, eu me despedi dele e fui
selar meu compromisso com o meu Chocolate.
A igreja que Sophia escolheu era linda. Apesar de pequena,
comportou tranquilamente os nossos convidados. Só chamamos os mais
íntimos e algumas figuras importantes do nosso meio, que por obrigação era
necessário que comparecessem.
A cerimônia começou, as damas entraram, todas usavam um vestido
rosa claro, estavam lindas, isso só aumentou a minha ânsia em ver minha
noiva.
Quando começou a tocar a marcha nupcial e as portas se abriram me
possibilitando vê-la com seu pai, não pude conter a emoção.
Ela parecia um anjo, tamanha a perfeição. O vestido rodado era
bordado com flores que subiam pelo seu busto, fechando a alça. Era tão
delicado quanto ela.
Não conseguia prestar atenção em nada que o padre falava, só
conseguia observar o quão perfeita ela estava de mais perto.
A única coisa que eu reparei depois que fizemos os nossos votos,
foi na parte em que ele falou “eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a
noiva”.
Selamos o nosso compromisso e mais uma fase da nossa vida.
Agora Sophia era minha esposa e eu me enchia de orgulho por isso.
Tê-la do meu lado me fazia extremamente feliz.

Depois de toda a agitação da festa, nos sentamos na mesa com os


nossos amigos e familiares. Pensava no quanto eu mudei nesses últimos
meses que passaram. Eu sempre quis me casar e ter uma família, porque
minha vida toda eu tive uma base muito boa. Mas nunca imaginei essa
família durante todo o tempo que passei com Lauren, e com Sophia foi algo
extremamente natural.
Olhava os meus pais e avós na mesa, e tive a certeza de que seria tão
feliz e abençoado quanto eles foram em todos esses anos.
— Theo — vovô me chamou de volta à realidade —, está perdido
em pensamentos, meu neto?
— Sim, estava pensando na família que eu estou formando agora.
Tenho bons exemplos a seguir.
— Com certeza, seu pai e eu sempre nos esforçamos para sermos os
melhores. Eu o criei assim, e ele passou a mesma coisa para você, que sei
que irá repassar ao Matthew. Você será um ótimo pai, meu neto, não duvido
disso nem por um minuto. Você tem um coração enorme, e um amor por
essa menina — ele olhou em direção a Sophia que conversava com as
amigas —, que é possível identificar à distância.
— Sim, eu a amo mais que qualquer coisa. Seria capaz de dar minha
vida por ela e pelo nosso filho. — Como se sentisse que estava sendo
assunto ela olhou para mim e sorriu, retribui no mesmo instante, porque ver
esse sorriso sincero nos seus lábios era uma realização para mim.
— Sei que sim. Continue sempre pensando assim que você irá
longe, e não contrarie a sua esposa. Lembre-se que ela sempre terá razão.
— Concordo com o seu avô. As mulheres sempre têm razão! —
Karen chegou por trás rindo e me abraçou. — Estou muito feliz por você!
Sempre tive a certeza de que vocês eram para sempre, desde o momento em
que coloquei os meus olhos sobre Sophia. Cuida bem dela.
— Tem algumas batalhas que são perdidas. Discutir sobre quem tem
razão é uma delas, já aceitei que ela sempre vai estar certa. Grávida então,
mais ainda! — falei rindo. — Obrigado por me ajudar com tudo, sei que
você ainda vai encontrar sua metade por aí e ser tão feliz quanto eu.
Ela só sacudiu a cabeça, porque havia desistido do amor há muito
tempo.
— Com licença, que eu irei levar minha esposa à pista de dança. —
disse enquanto me levantava e fui em direção aonde ela estava sentada.
— Me dá a honra de uma dança?
— Claro, meu marido. — disse rindo.
— Theodore? — Claire me chamou. — Se Sophia derramar uma
única lágrima por sua causa, você sabe o que acontece, né?
— Sim, recebi muitas ameaças desse tipo durante o dia de hoje. Fica
tranquila que ela vai chorar, mas vai ser por outro lugar.
— Theo, por favor. — Sophia ficou vermelha.
— Espero que sim, mas as minhas ameaças não são vazias. Eu
conheci muitas pessoas em todos esses anos que passei viajando a trabalho.
Sei muitos métodos de tortura, ok? — ela falou com um sorriso no rosto.
— Chega, vocês dois. Você não vai usar métodos de tortura em
ninguém, e Theo não vai me fazer chorar. Pronto, todos felizes. — Sophia
arrancou risadas de todos na mesa que prestavam atenção na nossa
conversa.
Ela me puxou para a pista, deixando-os para trás. Colou nossos
corpos que se mexeram instintivamente ao som da música que tocava no
fundo, ficamos assim por vários minutos.
— Olá, Sra. Rockefeller. — falei enquanto dançávamos a última
valsa antes de sairmos para pegar o voo.
— Olá, Sr. Rockefeller. Está feliz com o casamento, mesmo depois
de todas essas ameaças veladas? — ela riu enquanto falava.
— Se existe homem mais feliz do que eu nessa Terra, eu
desconheço. E você, foi do jeito que você sonhou? — Ela olhou em volta,
nossos pais, amigos e familiares dançavam em um clima tranquilo.
— Foi mais do que sonhei. Nunca imaginei que estaria aqui com
você. Que teria o meu “sonho de princesa” realizado, depois de passar
longos anos achando que não merecia. Hoje eu entendo que mereço ser
feliz, que nós dois temos nossas diferenças, mas somos exatamente aquilo
que o outro precisa. — Ela encostou a cabeça no meu peito. — Obrigada
por não desistir de mim, quando eu não entendia o que eu queria. Eu te amo
demais, meu amor.
— Você sempre mereceu, meu Chocolate. Você me fez enxergar a
vida novamente e eu sou muito grato por isso. Te amo muito.
Capítulo 52

Sophia Rockefeller

Você é a menina dos meus olhos


Garota, nunca amei ninguém como você
Poxa vida, você é a minha melhor amiga
Eu grito para o vazio
Não há nada que eu necessite
Bem, torta de abóbora quente e pesada
Doce de chocolate, Jesus Cristo
Não há nada que me dê mais prazer do que você
Home - Edith Whiskers

Fomos passar a lua de mel em Paris e depois iríamos até a Itália para
conhecer a casa dos avós de Theo.
— Meu amor, eu fiz um itinerário para esses dias que iremos passar
aqui. Quero evitar que você fique nervosa, então dê uma olhada se você
acha que tudo bem seguirmos assim. — Ele me estendeu o iPad enquanto
tomávamos o café da manhã no quarto.
Assenti e comecei a olhar os lugares e tinha exatamente cada um
dos que eu havia citado na última vez que estive aqui, Galerie Vivienne,
Parc des Buttes-Chaumont, La Promenade Plantée, Torre Eiffel e o Louvre.
— Você lembrou de todos os lugares que eu falei que queria
conhecer? — Fiquei emocionada por ele guardar cada detalhe.
— Claro! Era pra ser surpresa, mas como você anda muito sensível,
achei melhor evitá-las. Fiquei com medo da sua pressão subir.
— Theo, pelo amor de Deus!
— O que eu fiz de errado? — Ele esbugalhou os olhos na minha
direção.
— Você não fez nada de errado. Só queria agradecer a Deus por
você ser perfeito. — Um sorriso aliviado brotou nos seus lábios. —
Inclusive, acho que me lembro de um bolinho de chocolate que vinha com
calda, que experimentamos nesse mesmo quarto. Acredito que podemos
pedir para entregarem aqui. — falei me levantando.
— Você me assustou. — Ele ficou de pé, me levantando, fazendo
com que eu me assustasse e desse um gritinho. — Sempre fico com saudade
dos seus gritinhos. — Ri, enroscando minhas pernas nas suas costas. — Vou
pedir para entregarem um monte desse bolo com calda para nós dois. —
sussurrou, me arrepiando.
Ele me levou até a cama, me deitando com cuidado. A médica
recomendou que não fizéssemos sexo muito bruto. Theo era obediente aos
médicos, então nós estávamos sempre fazendo “amor”, como ele gostava de
falar. Mas com ele era sempre tudo tão intenso, que até o sexo mais simples
me deixava completamente em chamas.
— Sabe que eu adoro quando sou o seu café da manhã. — falei
baixo enquanto ele beijava o meu pescoço, passava a língua e deixava leves
mordidas.
— É o meu preferido. Quando você não acorda passando mal, com
certeza é a minha escolha. — Ele riu, porque eu quase sempre passava mal
de manhã.
— Aproveite que hoje é um excelente dia pra você. Estou me
sentindo muito bem. — falei desamarrando o meu robe, ficando
completamente nua.
— Não entendo como é possível, mas cada dia que passa você fica
mais gostosa.
Ele começou a me beijar de forma calma, aumentando lentamente o
ritmo. Nos deixando sem ar. Foi descendo os beijos pelo meu pescoço, até
alcançar meu peito.
Passando a língua pelos bicos intumescidos, rodando eles um por
vez, me deixando louca porque estava extremamente sensível. Ele passou a
mamar, alternando entre eles, enquanto a sua mão já contornava meu
clitóris me fazendo gemer.
— Oh, Theo... Por favor... — implorava por algo que eu nem sabia o
que era, só queria que ele não parasse.
— Quer mais, meu Chocolate? Nós mal começamos e você já está
pronta para gozar? — falou, enfiando um dedo em mim. — Uma delícia,
encharcada.
Ele estava em pé fora da cama, me puxou para a pontinha do
colchão, abaixou para a minha altura e caiu de boca em minha boceta, me
levando ao céu em questão de minutos.
Enquanto ele alternava entre lamber e chupar, eu gritava no quarto,
rebolando na sua cara.
Agarrei o cabelo de Theo, o pressionando ainda mais em mim,
quando ele segurou meu montinho de nervos entre seus dentes, aumentei a
velocidade do meu rebolar contra o seu rosto enquanto sentia meu orgasmo
me arrebatando, tamanha força que me atingiu.
Gritei tão alto, que provavelmente todo o hotel ouviu. Theo
continuou me chupando até o último espasmo do meu corpo.
Se levantou depois, me puxando ainda mais para a ponta da cama,
apoiou uma perna minha no seu ombro e entrou lentamente em mim.
Essa posição fazia com que ele acertasse os lugares corretos, mesmo
que meu marido não usasse força, ele aumentava a velocidade.
Entrava e saia de forma que eu sentia meu corpo pronto para outro
êxtase.
Theo pegou a minha outra perna, juntando as duas, alterando assim
o ângulo que me penetrava e continuou com estocadas rítmicas e profundas,
me levando à completa loucura.
Me fez gritar novamente quando meu corpo já não suportava mais,
me sentia contrair no seu pau. Meu marido urrou em resposta, a cada
estocada se libertando dentro de mim.
Vê-lo tão entregue assim me fazia sentir no céu.
Ele se deitou ao meu lado recuperando o fôlego, pousando a mão
na minha barriga.
— Ele se mexeu, você sentiu? — Theo se levantou em um pulo,
ficando em êxtase.
— Sim, você achou que cutucar a casinha dele não ia fazê-lo
protestar? — Ri da empolgação dele, porque ele ficava fascinado quando
nosso bebê mexia.
— Desculpa, filho, mas o papai não consegue ficar longe da boceta
gostosa da sua mãe. — Dei um tapa nele. — Ai, sua mão é pesada.
— É pra você aprender a não falar essas coisas. Agora você é pai,
tem que ser exemplo. — Ele caiu na risada.
Falei brincando, mas eu tinha certeza de que Theodore seria um
excelente pai.
Nossos dias na França foram maravilhosos. Meu marido fez questão
de fazer cada mínimo detalhe ser incrível.
Na Itália não foi diferente. Seus avós me mimaram demais. Janet
estava muito feliz por mais um bisneto, e principalmente por ser de Theo,
ela falava que não tinha preferidos, mas era perceptível o carinho diferente
com que ela tratava o meu marido.
Tinha certeza de que meu menino seria muito amado e adoraria
visitar os bisavós na Itália.
Havia um mês desde que nós voltamos e, conversando com Theo e a
minha médica, achamos melhor que eu me afastasse da empresa. Não teve
um dia que a minha pressão não subisse, a médica pediu que eu desse um
passo atrás pois poderia prejudicar o meu filho. E carreira nenhuma valeria
a vida dele.
— Theo, se eu ficar mais um dia trancada nessa casa, minha pressão
vai acabar subindo de nervoso. — Estava ficando entediada por passar tanto
tempo trancada aqui dentro.
— Eu tive uma ideia e inclusive conversei com Michele. O que você
acha de aumentar suas aulas no centro social para o meio da semana, de
segunda a sexta? Assim você terá o que fazer todos os dias, só não poderá
abusar dos exercícios.
— Meu marido, eu já disse o quanto te amo hoje? Você é tão
inteligente. — Abracei ele apertado.
— Disse, mas não me importo de ouvir diversas vezes. — Me deu
um beijo, me puxando para o seu colo. — Eu pensei em mais uma coisa
também. Nós podemos expandir um pouco mais o projeto. Eu vou
patrocinar algumas bolsas de estudos voltadas ao esporte. Como não dá pra
fazer um mega programa sozinho, porque essa não é a minha área de
atuação, você pode usar seus conhecimentos de marketing para promover a
ação e assim conseguirmos parceiros e instituições que estejam dispostas a
ajudar.
— Eu adorei a ideia! Vou conversar com Michele e começar a pôr
em prática amanhã mesmo. Você é maravilhoso, sabia?
— Nada demais, você precisava de algo que você gosta para passar
esse tempo. E quer algo que você goste mais do que o esporte? Sabia que
seria o ideal. E tenho certeza de que você vai conseguir fazer coisas
incríveis lá.
— Espero que sim. Obrigada por me ajudar a pensar em algo. Te
amo! E amo o tanto que você me conhece. — falei enchendo-o de beijinhos.

— Realmente, Theodore tinha razão quando me falou sobre você


ficar à frente desse projeto. Olha o tanto de pessoas que você está ajudando.
Está muito além dos jovens que temos aqui. São famílias inteiras. —
Michele falava comigo enquanto assistíamos aos treinos.
Eu, no auge dos meus nove meses, me recusava a ficar em casa.
Minha pressão melhorou muito quando passei a frequentar todos os dias o
centro social.
O projeto cresceu de uma maneira que nós não imaginávamos. E
isso estava me deixando muito feliz, porque ajudávamos cada vez mais
pessoas, não só com bolsas para a faculdade, mas para entrar em boas
equipes e começar a competir em campeonatos estaduais.
— Sim, é um ganho muito grande para essas famílias que estão
sendo empregadas aqui porque estamos expandindo. Eu estou realizada de
uma forma que nunca estive antes. Nunca imaginei que teríamos a
oportunidade de fazer tanto por eles.
— Isso somente foi possível porque você deu vida a isso. Mesmo
prestes a parir, está aqui supervisionando e tendo certeza de que está tudo
bem.
Não poderia negar, era o que eu gostava de fazer.
No fim do treino, Billy veio falar comigo.
— Tia Sophia, seu bebê está quase nascendo, né? — eu sempre
morria de rir, porque eles ficavam impressionados com a minha barriga.
— Sim, querido, ele pode chegar a qualquer momento. — Inclusive,
tinha começado a sentir algumas contrações, como era algo leve não me
preocupava. Estava tendo contrações de treinamento há alguns dias, o que
levou meu marido a quase surtar na primeira vez. Agora eu não comentava
mais quando sentia, para não o assustar.
— Tia, eu tô muito feliz. — Realmente ele parecia mesmo. Passou o
dia todo com um sorriso enorme.
— É? E o que aconteceu de bom?
— Meu irmão está na faculdade, conseguiu entrar pro time e tá
sendo destaque lá. — Tinha ouvido falar do irmão dele, que tinha tudo para
entrar na NFL. — A minha mãe depois que a Sra. conversou com ela, disse
que se eu me esforçar, posso ser um atleta correndo também. Vou conseguir
uma bolsa e ganhar uma medalha nas Olimpíadas para você.
O abracei apertado. Ele tinha muito talento e quando a mãe quis que
ele parasse as aulas, eu conversei com ela pessoalmente, e falei sobre o
potencial dele, ainda bem que deu certo.
— Você fez xixi nas calças? — ele falou baixinho para mim, quando
eu senti o líquido quente escorrer pelas minhas pernas.
— Não, minha bolsa estourou. Meu bebê está pronto para vir.
Michele, me ajude aqui, por favor.
Quando ela viu o que era, virou uma comoção naquele lugar.
Avisaram a Theodore e Gerald me levou para o hospital. Parecia que a cada
cinco minutos as contrações aumentavam.
Cheguei ao hospital e todos já me esperavam. Eu ainda pensava,
como que nós nunca fomos expulsos pelo tanto de gente que vinha conosco
para os lugares.
Meu marido estava mais desesperado do que eu.
— Se acalme! Senão você não poderá entrar e eu te quero na sala
de parto comigo. — soltei um grito que o assustou.
— Ok, tô calmo já. — Era perceptível que ele estava nervoso.
Depois de verificarem a dilatação e me prepararem para o parto,
Matthew nasceu em menos de duas horas.
Theo trouxe meu filho pertinho de mim, me dando um beijo.
— Obrigado, meu Chocolate, por me fazer um homem completo.
Com você e Matthew, eu tenho tudo que eu um dia pedi a Deus. Te amo.
— Amo muito vocês. — falei ainda me sentindo fraca pelo esforço.
Eu olhei para o meu marido com nosso filho no colo, e vendo-
o chorando, segurando o nosso pacotinho de amor, tive a plena certeza de
que era com esse homem que eu ficaria para o resto da vida.
Epílogo

Sophia Rockefeller

Estou tão apaixonado por você


e espero que você saiba
Querida, seu amor vale mais que
todo o ouro do mundo
Nós chegamos tão longe, meu bem,
veja como nós amadurecemos
E eu quero ficar com você até
ficarmos bem velhinhos
Say You Won't Let Go - James Arthur

Seis anos depois


Estávamos na Carolina do Norte para passar o Dia de Ação de
Graças, pois meu marido veio participar de uma palestra e eu o
acompanhei.
— Sarah, você tem certeza de que dá conta de olhar todos eles? —
Minha irmã me olhou de cara feia.
— Sophia, está todo mundo aqui. Tem muitos adultos para olhar
todas essas crianças.
— Sabe que deixar os gêmeos sozinhos é difícil.
— Sei sim, eu também sou mãe. Agora vai logo, antes que vocês se
atrasem. Theo está na garagem te esperando. Qualquer coisa eu ligo. — Ela
foi me empurrando para fora de casa.
Os gêmeos, Benjamin e Elizabeth, só tinham um ano. Eu não tinha
desapegado totalmente a ponto de me sentir à vontade os deixando
sozinhos.
— Amor, fique tranquila, vai ser rápida a palestra. Logo estaremos
de volta com eles. — Assenti para ele. Theo, sempre conseguia me passar
calma.
Quando subimos para o andar onde seria o evento, me recordei da
última vez que estive ali.
— Acredita que eu não venho aqui há mais de uma década? A
última vez que eu vim, foi para um evento desses também, ajudei Sarah em
uma entrevista para a faculdade.
— Acredito sim, quase todos os anos eu costumava participar. Só
parei por agora, por não conseguir conciliar com a minha agenda.
Não consegui nem responder, porque várias pessoas queriam falar
com o meu marido. Me acostumei a essa vida, só evitava expor os meus
filhos.
Assisti meu marido falando. Sempre tive muito orgulho de vê-lo
discursar.
Meu telefone tocou assim que ele saiu do palco, e eu fiquei
desesperada com a Sarah ligando falando que o Ben havia caído.
— Sophia, o que houve? Você está pálida, meu amor.
— Podemos ir? Benjamin caiu. Sarah disse que não foi nada, mas
quero ver com meus próprios olhos. — Me sentia ficando cada vez mais
nervosa.
— Claro, vem comigo. Vamos descer de elevador, para ser mais
rápido. — Várias pessoas estavam usando as escadas para ir de um andar
para o outro, o que nos faria ter que ficar desviando, e com isso levaríamos
mais tempo.
Entramos na caixa metálica quando recebi uma foto do raladinho do
meu filho e ver os olhinhos cheios de lágrimas me quebrou.
Mostrava a Theodore a foto, notando o quanto o elevador estava
preenchido com o seu perfume. Era o mesmo cheiro amadeirado desde que
o conheci, me fazia reconhecê-lo em qualquer lugar.
Respondia a mensagem quando o elevador deu um tranco e apagou
a luz. Eu dei um grito, deixando o meu celular cair. Minha respiração ficou
descompassada, parecia que o ar não chegava nos pulmões.
— Amor, você precisa respirar — Theo me virou de frente pra ele
segurando o meu rosto —, foca em mim, respira comigo.
Mesmo com a pouca luz eu o via respirando, mas não pareceu
adiantar. Sentia como se as paredes fossem me engolir. Segurei o terno dele,
como se aquilo fosse me fazer respirar, porém nada adiantava. Então ele me
puxou e beijou. Seu beijo pareceu trazer ar novamente aos meus pulmões.
Nós nos separamos, e eu encostei a cabeça no peito dele, tendo a
sensação de que isso já havia acontecido.
— Está melhor? Ouvi algumas teorias que ajuda a aplacar a crise.
Nesse momento, as memórias me atingiram em cheio.
— Meu Deus, foi você!
— Eu o quê, meu Chocolate?
— Que me beijou quando eu tive uma crise nesse mesmo elevador.
Como eu pude não me lembrar?
Claro! Tudo fez sentido. Por isso eu sempre tive a sensação de que
conhecia ele e o cheiro que sempre me marcou.
— É normal esquecer. Você estava sob grande estresse na época,
poderia acontecer com qualquer um. O importante foi que eu nunca te
esqueci, e hoje você é minha!
— Você sabia que era eu quando me viu naquela sala de reunião?
— Sim, nunca esqueci seu rosto ou seu cheiro de lírios.
Beijei Theo com toda a saudade, como se tivéssemos passado mais
de dez anos sem nos ver.
— Você sempre foi predestinado a mim. Salvando minha vida
mesmo sem me conhecer.
— Nós nascemos para ficar juntos, meu Chocolate. Você é minha
pra sempre!
— Pra sempre sua, Sr. Possessivo! — falei entre beijos.
Eu não poderia acreditar que o destino havia me trazido para perto
do homem que me salvou de um ataque de pânico, no fatídico dia que
resolvi mudar toda a minha vida.
Me ajudou na transformação que passei, para me tornar uma mulher
segura e realizada. Havia encontrado meu lugar no mundo e aprendido a
confiar nas pessoas novamente.

Fim.
Agradecimentos

Sophia e Theo vieram pra mim de maneira irresistível, eu achei que


seria um livro simples por ser o primeiro, mas eles me conquistaram e
contaram a história deles, do jeito que queriam.
Eles me emocionaram, me fizeram rir e me deixaram apaixonada.
E eu não poderia terminar mais feliz por isso.
Um agradecimento especial as minhas amigas “Renegadas” que
foram betas, por acreditarem em mim, sem vocês não seria possível chegar
até aqui, obrigada por aguentarem os surtos e por me acompanharem em
todos os momentos.
A Guiomary da minha assessoria e a Karen que além de beta é uma
profissional incrível com as minhas parceiras, obrigada por terem me
acolhido e por todo o suporte que vocês me deram.
Aos profissionais envolvidos no processo de criação do livro, como
a Rachel Siciliano e Guiomary Lopes responsáveis pelas revisões e cuidado
com este texto, Layce pela belíssima capa e diagramação, Junior Lopes por
aceitar entrar nessa loucura comigo e fazer criação da arte digital e ao meu
primeiro grupo de parceiras que abrilhantaram ainda mais a chegada de
Theo e Sophia.
A todas as meninas no nosso grupo de autoras, por me darem forças
e acreditarem em mim. Vocês são incríveis!
A minha família por sempre me apoiar. E ao meu marido, por
aguentar todos os surtos, empolgação, pela paciência e apoio incondicional.
Por último, mas não menos importante, obrigada a você leitor por
ter chegado até aqui, espero que tenha gostado e se apaixonado pelo Sr.
Possessivo e a Sra. Chocolate.
Sobre a autora

Carioca, mãe de pet e ama doces. Não vive sem ler e adora assistir
séries nas horas vagas.
Sua paixão por escrita começou ainda na infância quando sua mãe
lhe apresentava histórias de princesas. Desde então, ela nunca mais parou
com a leitura.
Em 2023, decidiu colocar no papel as histórias que trazia com ela,
transformando seu sonho em realidade, com a publicação de “Um
Irresistível Contrato” no ano seguinte.
Contato

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Facebook: D An Morgan
Instagram: @autoradanmorgan
d.an.morganautora@gmail.com

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[1]
J.A.R.V.I.S. é uma inteligência artificial criada por Tony Stark representado como uma interface
de computador altamente avançada que o ajuda em várias tarefas.
[2]
Turnover significa a rotatividade de pessoal, no contexto de gestão de pessoas, está relacionada
com o desligamento de alguns funcionários e entrada de outros para substituí-los, ou seja, a
rotatividade é caracterizada pelo fluxo de entradas e saídas de pessoas em uma organização.
[3]
Noah Lyles é um velocista norte-americano especializado nos 100 m e 200 m rasos, campeão
mundial e medalhista olímpico.
[4]
Os medicamentos biológicos, também conhecidos como biofármacos, são fabricados através da
engenharia genética e têm um modo de ação seletivo. Eles são projetados para bloquear e neutralizar
alvos específicos nos processos inflamatórios. Esses medicamentos são derivados de organismos
vivos, como células e bactérias, o que lhes permite agir de maneira direcionada. Em muitos casos,
esses medicamentos também têm o efeito de fortalecer a resposta imunológica do corpo.
[5]
Informações retiradas do site da marca https://www.bulgari.com/pt-br/acanthus-emerald-colar
[6]
O Mapa do Maroto é um objeto da série Harry Potter. Ele aparece pela primeira vez em Harry
Potter e o Prisioneiro de Azkaban. É um mapa mágico de Hogwarts, que exibe todos os corredores e
passagens secretas e o local exato das pessoas dentro da escola.
[7]
O Pomo de ouro é um objeto da série Harry Potter. Ele aparece pela primeira vez em Harry Potter
e a Pedra Filosofal. O Pomo de Ouro é a quarta e menor bola utilizada no Quadribol. É uma esfera
cor-de-ouro do tamanho de uma noz com asas de prata que voa em torno do campo de Quadribol em
altas velocidades, por vezes, parando e pairando em um lugar.

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