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Copyright © 2023. 一 Diana Novak 一 Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Semelhanças como nomes, datas ou


acontecimentos reais é mera coincidência. É proibido
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PIRATARIA (PDF) É CRIME!
ESSE LIVRO SÓ ESTÁ DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON E
KINDLE UNLIMITED

Revisão: Zilanda Cardoso


Leitura Crítica: Danielle Oliveira
Ilustrador: Carlos Miguel Artes
Betagem: Pamela Furjala
Capa/Diagramação: Diana Novak
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA I
DEDICATÓRIA II
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
GATILHOS
SINOPSE
CARTA ABERTA
SÉRIE FAMÍLIA BOURBON
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
DEDICATÓRIA I
Para todas as pessoas que já lutaram contra uma doença e
que sentiram suas vidas por um fio, saibam que vocês não
estão sozinhos, o amor pode não curar, mas o torna mais
forte para viver e nunca desistir.
DEDICATÓRIA II
Para as minhas leitoras maravilhosas que seguidamente
foram ao meu direct do Instagram pedir essa história
completa. Sem vocês ela não estaria aqui, obrigada por
serem as minhas maiores incentivadoras, faço por mim, mas
principalmente por vocês, sempre!
NOTA DA AUTORA
Meu Padrasto Ordinário é um romance proibido.
NÃO GOSTA DE HISTÓRIAS TABUS? NÃO LEIA
NÃO GOSTA DE DRAMA EXTREMO? NÃO LEIA.
NÃO GOSTA DE CENAS HOT? NÃO LEIA.
NÃO GOSTA DE PERSONAGENS QUE PECAM? NÃO LEIA.
NÃO GOSTA DE HISTÓRIAS CHEIAS DE DETALHES E A FOGO
LENTO? NÃO LEIA.
NÃO GOSTOU DOS MEUS LIVROS ANTERIORES? NÃO LEIA.
GOSTA DE TUDO ISSO? COMPREENDE QUE É FICÇÃO E QUE
SIM, QUER ENTRAR NESSE MUNDO CAÓTICO E NESSA
FAMÍLIA DISFUNCIONAL? PROSSIGA NA LEITURA.
Jack Bourbon é um herdeiro bilionário no ramo de bebidas que vive
uma relação estável com Liana Stuart.
Clayre Stuart Freburg foi abandonada pela mãe aos dois meses de
vida e morar novamente com ela era o seu novo grande fardo.
O que parecia o início da recuperação de uma relação perdida, se
torna a grande mudança na vida da família. A paixão avassaladora
que Clayre desenvolve por seu padrasto resulta em perdas, rejeição
e revelações de grandes segredos do passado.
PLAYLIST
Que tal curtir a playlist de Meu Padrasto Ordinário? Essa playlist foi
criada com muito carinho e totalmente baseada na vida e na
personalidade dos personagens. As músicas proporcionarão uma
experiência intensa, permitindo entrar no clima do livro e se conectar
ainda mais com a história.
Para ouvir, abra o aplicativo do Spotify e escaneie o código com a
sua câmera ou clique aqui para acessar e comece a desfrutar das
músicas que inspiraram a nossa história.
GATILHOS
Este livro contém: romance tabu, abandono afetivo, relação
familiar tóxica, depressão, comportamento narcisista,
profanidade, violência física descritiva, sexo explícito.
SINOPSE
Ela queria o amor de sua mãe, mas ganhou o coração do
padrasto porque, afinal, o amor não segue regras, ele
simplesmente acontece.

Jack Bourbon, o mais novo magnata no ramo de bebidas, um


mestre cervejeiro, jovem e enigmático, viu sua vida tomar um rumo
inesperado quando se preparava para casar com Liana Stuart, uma
mulher madura e ambiciosa, proprietária de uma popular cafeteria
em Miami, na Flórida. Sempre viveu uma vida de aventuras e era
completamente averso à ideia de um dia ser pai. O destino, no
entanto, lhe reservou uma surpresa inigualável: a chegada de
Clayre, a enteada que nunca conheceu.
Clayre Freburg, uma doce e meiga jovem de 18 anos, voltou a
Miami determinada a começar na faculdade, mas sempre sonhou
em conquistar o amor de sua mãe, Liana, que a abandonou quando
ainda era uma criança. No entanto, o que ela não esperava era que
seu coração encontraria um novo rumo, batendo
descompassadamente por seu padrasto, Jack. Um homem de
presença marcante, com olhos que prometem mistérios e sorrisos
que escondem desejos.
Enquanto Jack e Clayre lutam contra uma paixão avassaladora e
proibida, o destino implacavelmente lança um desafio ainda maior.
Clayre enfrenta uma doença genética e depende da mãe para ser
sua possível doadora de medula óssea. Entre segredos, medos e o
peso do preconceito da sociedade, eles precisarão lutar para
viverem esse amor.
Poderia existir um futuro para essa paixão proibida?
CARTA ABERTA
Eu, Clayre Freburg, nunca pensei muito sobre o amor. Nem
como seria ter todos os sentimentos controlados e concentrados em
uma única pessoa, até conhecê-lo.
Cresci sem uma mãe, fiquei reclusa e adquiri poucos amigos.
O motivo? Todas as festinhas infantis, onde vislumbrava todos com
uma mãe, menos eu. Quando passei na universidade de Miami fui
obrigada a viver com ela, Liana, que me abandonou há 18 anos.
Porém, quando a porta se abriu encontrei o meu pecado,
Jack Bourbon, o meu padrasto.
O que você faria se vivesse um romance secreto e proibido?
Se um sentimento novo chegasse aplacando tudo dentro de
você e te fizesse cometer loucuras? Você ouviria a sua razão ou se
deixaria levar pela emoção?
E se você se apaixonasse pelo novo “marido” da sua mãe?
Posso dizer que falhei na missão de racionalizar o que eu
sentia e as consequências disso foram desastrosas. Escolhi o pior
caminho, o do pecado. Entrei em uma enorme teia de aranha e
fiquei totalmente atada ao que sentia. Presa nas mãos grandes, nos
olhos sedentos de desejo, no corpo perfeito e sensual daquele
ordinário. Viver um romance secreto é gostoso, tem um cheiro e um
sabor de malícia.
A paixão proibida se tornou o fogo que aquecia nossas almas
e alimentava nossas fantasias. O que fazer quando esse romance
deixa de ser secreto? Quando a verdade e os segredos do passado
chegam aplacando e destruindo tudo? Poderíamos ter uma chance
de viver esse amor?
Questionei-me todos os dias, mas a verdade é que tudo se
tornou um caos, e a culpa foi minha.
SÉRIE FAMÍLIA BOURBON
A Série Família Bourbon contará histórias que poderão ser
lidas separadamente, mas que ao final se complementam por se
tratar de membros da mesma família.

Aviso: Esse livro é um volume único.


PRÓLOGO
18 ANOS ANTES
“Há muito tempo
Assim como em um carro funerário que você morre para entrar novamente
Estamos
Tão distantes de você”
(Helena, My Chemical Romance)

Movimento meu corpo dolorido na cama do hospital após


horas de um parto terrível e estressante. Escuto a minha bebê
chorar e com as mãos tapo os meus ouvidos.
O som é agudo.
Estressante!
Perturbador!
一 Faz ela parar Gerald! 一 esbravejo furiosa enquanto
movimento a cabeça continuamente de um lado a outro, agitada.
一 Meu amor, a Clayre acabou de nascer, é natural chorar. 一
diz ele enquanto tenta amenizar embalando-a em seus braços.
Elevo o rosto e inclino para o lado. Vejo por meio de uma
fresta na cortina que separa os leitos uma mulher dormindo
pacificamente, enquanto o marido chora copiosamente ao seu lado.
一 O que aconteceu com a mulher ao lado? Perdeu o bebê?
Não escuto chorar e o parto também foi durante a madrugada. 一
sussurro curiosa.
一 Não, a bebê está bem, embora um pouco debilitada, a
mãe teve uma gravidez difícil, segundo as palavras do próprio
marido. É uma menina como a nossa. 一 Gerald admira nossa filha
enquanto fala. 一 Infelizmente houve complicações no parto,
precisou de uma cesárea e a anestesia causou algum efeito
inesperado. Eles esperam que a mulher acorde em breve, mas o
prognóstico é ruim. O marido está cuidando da criança, mas está
abalado e confuso. 一 Ele se aproxima lentamente e senta ao meu
lado.
Com cautela e cuidado entrega a Clayre. Seguro-a em meus
braços e admiro o quanto é encantadora. Porém, desde que
descobri a gravidez passei a ficar deprimida. Todos os dias era um
martírio e a gravidez tornou-se um fardo.
一 Ela é linda, mas chorona. 一 Ele sorri e passa a mão com
cuidado em seu rostinho delicado, suspirando fascinado.
一 Tente alimentá-la, tenho certeza que ficará mais calma e
você conseguirá dormir um pouco.
一 Pode ir tomar um café, qualquer coisa chamo a
enfermeira, não comeu nada hoje. 一 Ele concorda com a cabeça e
se levanta depositando um beijo em minha testa.
一 Volto rápido! 一 Gerald caminha a passos lentos, sorri e
fecha as cortinas.
Posiciono a bebê no meu corpo para amamentá-la. Eu não
queria ter filhos e quando minha barriga começou a crescer entrei
em uma profunda tristeza. Estou no ápice dos 32 anos e queria ter
aproveitado mais da vida, mais do Gerald, antes de começarmos
uma família.
O fim do dia está chegando, o sol começa a perder sua força
e ela continua chorando. Não aguento mais ouvir esse tom agudo e
minha cabeça está a ponto de explodir. Clayre tem tido dificuldades
em se adaptar ao meu corpo, tentei oferecer o seio, mas uma
sensação ruim não me deixa ir adiante.
Estou cansada, o parto normal foi intenso e vê-la gritar em
meus braços me tira do sério. Irritada, a encaixo em minhas pernas
e a cubro completamente com o travesseiro.
一 Pare de chorar, por favor, só um pouco, não consegui
dormir até agora. 一 sussurro desesperada.
Sem pensar, dominada pelo estresse, pressiono o travesseiro
sobre ela para abafar o seu choro irritante.
Ela não para.
Debate-se aumentando o volume.
Pressiono mais.
Internamente suplico que pare enquanto sinto a angústia
corroer meu ser. Após alguns minutos o choro cessa e finalmente
respiro aliviada abraçando-a contra o meu peito.
一 Obrigada filha, por dormir um pouquinho.
CAPÍTULO 1
DIAS ATUAIS
“Essas feridas parecem não curar
Essa dor é muito real
Existe tanta coisa que o tempo não pode apagar”
(My Immortal, Evanescence)

Arrumo as malas enquanto bufo de raiva. Coloco as peças de


tecido uma ao lado da outra, mas é evidente a minha impaciência
porque as pressiono com força no pequeno espaço da bagagem. O
motivo de estar assim? É que precisarei morar com a minha mãe.
Papai arqueia uma sobrancelha e solta um sorriso ridículo
sentindo-se completamente vitorioso.
一 Não faz essa cara… 一 provoca com ironia. 一 Filha, será
importante morar com a sua mãe. Ela está disposta a recuperar o
tempo perdido e principalmente a conquistar o seu amor. 一 Solto as
roupas com tudo e cruzo os braços enquanto olho fixamente para
ele.
Em meu peito predomina angústia. Aflição. Medo.
Insegurança.
一 Acha que é simples? Você realmente acha que é fácil
apagar uma mágoa tão profunda? Ela engravidou aos 32 anos, não
era tão nova e inconsequente. 一 Meu tom se eleva por pura
indignação. 一 Tenho plena consciência de que jamais abandonaria
uma filha, isso que só tenho 18 anos. 一 completo movimentando
em sincronia as mãos no ar e meu pai abaixa a cabeça.
Assim que nasci, Liana percebeu que não estava pronta para
a maternidade e simplesmente foi embora, pareceu uma escolha
nada dolorosa, afinal, demorou anos para tentar novamente uma
aproximação.
一 Realmente acha que será fácil esquecer? 一 Papai passa
a mão na barba, nervoso e anda de um lado para o outro frustrado.
No fundo, ele sabe que estou certa.
一 Filha, ela tentou alguns contatos, em sua maioria
fracassados, porém dessa vez ela está empenhada. 一 justifica
receoso.
Começo na faculdade de Publicidade (advertising deree) na
Flórida, em Miami[1], após o verão. A Faculdade Florida International
University [2](FIU) é bem conhecida e de excelente qualidade. Por
sorte ou azar, Liana mora lá e fez questão de convencer o meu pai
que está arrependida. Por fim, ofereceu sua casa como moradia
durante o período de estudo. Eu concordei, porém a verdade é que
estou com medo.
Nunca convivi com ela, o maior tempo que passamos juntas
foi em média duas horas, quando me buscava para passear.
Durante um período descobri tudo sobre ela, seja nas conversas
com papai sobre o passado ou com as pesquisas em suas redes
sociais. Espero que ela tenha feito o mesmo, para conhecer os
meus gostos e finalmente recomeçarmos.
一 Não chegarei fingindo que ela é a mãe do ano. 一 aviso e
os ombros dele tensionam.
一 Filha, dê uma chance a ela, faça isso por mim, por favor!
一 suplica com uma fisionomia triste. 一 Sinto que dessa vez ela
quer realmente recomeçar. 一 Um suspiro longo escapa dos meus
lábios e papai se aproxima para me abraçar com carinho. 一 Preciso
contar algo importante, é sobre a sua mãe.
“Ah, só pelo tom do importante, sinto que não vou gostar”.
一 Não quero saber… 一 aviso enquanto seus braços me
apertam contra o seu corpo.
一 Seja vulnerável, não dificulte as coisas para mim.
一 Tudo bem Pai, pode falar. 一 Ele passa as mãos nos meus
cabelos e sorri.
一 Filha, mesmo que você tente se fazer de durona, conheço
o seu coraçãozinho. Você sempre quis ter sua mãe por perto e não
precisa ter receio de admitir, é natural. Não pense que desejo que
vá porque tem algo relacionado com a sua doença, não é isso, não
disse nada a ela. 一 ele pigarreia recuperando a voz e se afasta
para ver a minha reação. 一 O que tenho para contar é que ela está
casada. 一 Ele fez aspas no ar enquanto expressava a palavra
“casada”.
一 Como assim? 一 interrogo surpresa.
一 Ela conheceu um cara, eles se apaixonaram e estão
morando juntos. Provavelmente marcarão a data do casamento,
mas fique ciente que irá para a casa dele. Não perguntei muitos
detalhes, mas ela afirmou que ele é flexível e tranquilo. Fique
avisada que terá um novo “papai”. 一 Levo as mãos a cintura
indignada com a notícia.
一 E você achou importante avisar só agora Gerald Freburg?
Quando faltam minutos para começar a viagem? 一 retruco e
imagino mil surpresas novas. 一 Uma família feliz. Além de morar
com um velho que nem é o meu pai, encontrarei também uma irmã
que eu nem sabia que existia?
一 Não exagera Clayre. 一 Ele me envolve novamente em
seus braços me abraçando forte.
Ele inspira profundamente triste e nesse hora meu coração
aperta de saudade. Papai foi muito mais que apenas um pai, ele é
meu porto seguro, meu motivo de não desistir e continuar
acreditando na vida. Sofreu sozinho, foi um pai solo e se dividiu em
dois para suprir a falta que a mamãe fazia em minha vida.
一 Use camisinha, se fizer, sabe… 一 Começamos a sorrir
dominados pelo efeito da saudade que nos cerca.
一 É sério pai? Não precisamos falar sobre isso, você sabe
que sou virgem.
一 Não mesmo, tivemos essa conversa quando você fez 15
anos. Espero que permaneça assim até o seu casamento, os
homens não prestam Clayre, não para você, meu anjo celestial. 一
Reviro os olhos. Meu pai sempre foi superprotetor e só tive um
namorado, mas nunca fizemos sexo.
一 Vamos, ajudo com a mala. 一 Ele prontamente fecha o
zíper da bagagem perplexo com o estufamento do tecido. 一 Para
que levar tantas roupas? 一 questiona fazendo força com os braços
para colocá-la no chão.
一 Eu sou mulher pai, nós gostamos de ter várias opções de
roupa. 一 Ele sai pela porta e admiro uma última vez o quarto.
Nasci em Miami, onde Liana vive hoje. Mas, a Carolina do
Sul sempre foi minha casa, e sair de Charleston[4] para ir à Flórida
[3]

é empolgante. Meu pai coloca a mala no carro e travo sabendo que


chegou o momento mais difícil desde que passei na faculdade, a
despedida.
Abraço-o forte e seu perfume me traz tanta paz. Ele é o
melhor pai do mundo e sempre fez de tudo por mim. Sentirei falta de
ouvir a voz e a risada dele todos os dias no café da manhã.
一 Até daqui a pouco, papai! 一 amenizo e ele concorda. 一
Te amo, se cuida e me liga, por favor!
一 Pode deixar, se cuida você mocinha. Eu te amo muito,
aproveita a faculdade e esse período com a sua mãe. 一 Ele beija
minha bochecha e depois desvia o rosto escondendo as lágrimas
que se formaram em seus olhos.
Ele é alto, forte, possui 60 anos, mas não aparenta a idade
que tem. Arrumou algumas namoradas ao longo da vida, mas
nenhuma se tornou sua esposa. Talvez a ferida adquirida com a
minha mãe nunca tenha se curado. O que mais quero é que seja
feliz e que possa amar de novo um dia. Fixo o olhar no rosto dele e
aceno.
一 Tudo bem, até daqui a pouco. 一 Entro no carro e assim
que dou partida percebo que tudo mudará em minha vida.
Ir dirigindo, ter essa independência é algo motivador, afinal,
pela primeira vez ficarei longe das asas do papai. Entro na rodovia e
ligo o som. Admiro o Sol que brilha e aquece minha pele, ele tem
um tom amarelado, suave, os típicos raios da manhã. Estou
animada por começar na faculdade, mas receosa por morar com a
Liana. Hoje ela é dona de uma cafeteria. O gosto pelo café herdei
dela. Quero muito conseguir recuperar a nossa relação de mãe e
filha, afinal, ela me deu a vida.
O restante do caminho é tranquilo e depois de quase nove
horas estou entrando em Miami na Flórida. No relógio de pulso
marca 16h e o coração acelera brevemente ansioso. Por longos
anos, todas as vezes que ela aparecia, a esperança de ter o seu
afeto ressurgia, mas agora estou calejada, aprendi a não criar falsas
expectativas e mesmo assim consigo sentir a ansiedade crescer em
meu peito. Estaciono no endereço marcado e admiro o enorme
prédio residencial de alto padrão.
“Adorei, certo, vamos lá”.
Pego a mala, passo pelo hall principal e sou atendida pela
recepcionista. Ela pede os dados e interfona para avisar da minha
chegada, porém ninguém atende.
一 Pode subir, provavelmente o Sr. Bourbon não escutou o
telefone, mas com as suas informações está tudo certo.
“Meu Deus, ela se casou com um velho que é surdo? Só pelo
apartamento luxuoso em frente ao mar sei que é rico. Uma
verdadeira garantia de futuro”.
Disperso os pensamentos julgadores e entro no elevador.
“Certo, ela falou no último andar! Lá vou eu”.
O elevador se abre e caminho pelo grande corredor e paro
em frente a porta. O ambiente é extremamente elegante. As
paredes são claras, o teto é de vidro revelando uma imagem linda
do céu azul e logo à frente está a porta de madeira. Analiso
completamente o corredor e noto que o apartamento se estende por
toda cobertura.
“É aqui! Tomara que esse velho que minha mãe arrumou não
seja insuportável”.
Aperto o interfone e após um minuto um homem destranca a
porta. Meus olhos piscam assustados à medida que desço o olhar
pelo seu corpo sarado, basicamente nu. Ele está com um short
samba canção curto e uma camisa aberta de seda azul. As pernas
são grossas e lembram as de um jogador de futebol. O peitoral
sarado está com infinitas gotículas de água tornando a visão
irresistível.
As engrenagens da minha mente parecem travar no
abdômen torneado e musculoso. Meus olhos correm novamente por
todo corpo, hipnotizada, até retornar ao seu rosto atraente.
Os olhos são verdes, profundos, os cabelos castanhos claros
estão molhados e jogados para trás. A barba cerrada evidencia a
mandíbula quadrada perfeita. Estudo o restante do seu rosto
sentindo um calor novo subir pelas minhas pernas e parar no meu
estômago. Os lábios volumosos e sedutores ilustram um meio
sorriso, o que aumenta excessivamente meu nervosismo. Desvio a
visão para a parede branca, atônita.
“Com toda certeza é o apartamento errado”.
一 Ah, me desculpe, acho que estou no apartamento errado.
一 O olhar dele parece atravessar minha alma e os lábios sorriem
ainda mais com a minha voz extremamente aguda de nervosismo.
一 Quem você está procurando? 一 interroga enquanto minha
mente é preenchida por fantasias.
Pareço me perder nele, algo com o seu olhar faz minhas
mãos suarem e o meu estômago ser invadido por borboletas.
一 Deixe-me ver. 一 balbucio descendo o olhar até o papel
com o endereço em minhas mãos enquanto o enrolo nos dedos,
claramente perdida.
Estou completamente abalada e me sinto uma boba por isso.
O homem retira o pequeno papel da minha mão enquanto ainda
busco as palavras para respondê-lo. Ele é lindo, marcante, seu
cheiro é intimidador e seu olhar intenso.
一 O endereço é esse, está certo. Quem é você? 一 A voz
dele soa quase como um sussurro me deixando completamente
sem chão.
As minhas bochechas queimam de vergonha e respondo
tímida.
一 Sou a Clayre Freburg, estou procurando a Liana Stuart,
sabe qual é o apartamento que ela mora? Com certeza não é
esse… 一 O homem passa a mão direita nos cabelos que levemente
caí novamente nos cantos dos seus olhos.
一 Está no lugar certo, é esse mesmo, é alguma amiga dela
ou algo assim?
一 Sou a filha dela.
一 Filha? 一 questiona com um semblante intrigado, juntando
as sobrancelhas.
一 Quem é você? 一 interrogo, e tenho certeza que deve ser
o filho do marido novo da Liana.
一 Eu sou o Jack Bourbon, a Liana está morando comigo.
一 Você é o meu padrasto? 一 grito com os olhos
arregalados.
一 Sim, eu sou!
CAPÍTULO 2
“Estive procurando por você
Eu ouvi um grito dentro da minha alma
Nunca tinha sentido uma ansiedade como essa antes
Agora, aqui está você entrando pela minha porta”
(Again, Lenny Kravitz)

O interfone tocou e fui até a porta. Esperava encontrar


qualquer pessoa menos uma linda garota que nunca vi antes.
Estudei seu rosto delicado e ela se assemelha a uma estrela
brilhante. Seus olhos grandes possuem o tom esverdeado, seus
lábios são bem desenhados e os cabelos são da cor do sol. Ela
sorriu tímida e meu coração acelerou. A cada frase que ela falava,
meus olhos só conseguiam acompanhar o movimento dos seus
lábios e sentir desejo. Nunca experimentei uma sensação como
essa, de olhar uma pessoa e tudo literalmente desaparecer. Tem
algo enigmático, um encanto em sua voz e por um segundo esqueci
de tudo ao meu redor. Volto a realidade como se tivesse levado um
chute no saco. A garota acaba de me dizer que procura pela Liana e
que é sua filha.
一 Você é o meu padrasto? 一 Os olhos arregalados estão
fixos nos meus esperando uma resposta.
一 Sim, eu sou!
“Não acredito que a Liana não me avisou que sua filha é uma
mulher formada. Uma mulher linda, doce e porra, tem algo mais”.
Fico parado que nem um imbecil olhando para ela, enquanto
internamente luto contra os instintos carnais para não admirá-la
além do aceitável. Eu e a Liana temos um relacionamento estável e
uma amizade incrível, é a mulher que quero ter do meu lado. Afinal,
é madura e mesmo que tenha seus defeitos, é uma pessoa
carinhosa. Nunca mencionou muito a filha, e durante esses seis
meses que estamos juntos, esqueci que tinha uma. Quando vi uma
mensagem em seu celular com o ex-marido citando que a garota se
mudaria para Miami, apenas disse que por mim, tudo bem ela morar
em meu apartamento. Liana não revelou sua idade e nem os
motivos.
Não penso em ter filhos, mas se tivesse com toda certeza
forneceria todo suporte. Segundo o que me disse, precisou se
afastar da filha por desavenças familiares, mas nunca toquei no
assunto, por ver sua hesitação. A escolhi como noiva principalmente
porque não deseja ter filhos, o que nos proporcionaria um
relacionamento com infinitas viagens e nada monótono. Nossa
relação funciona bem e temos muito carinho.
一 Bem-vinda a sua nova casa. 一 Escancaro a porta e a
garota entra acanhada, com passos suaves, puxando a mala com
toda delicadeza do mundo. 一 Achei que você fosse uma criança,
aliás, quantos anos você tem? 一 Ela sorri tímida e desvia o olhar.
一 Tenho 18 anos…
“Já dá para brincar de fazer neném… Porra, olha o que estou
pensando”.
Passo as mãos nos meus cabelos tentando disfarçar.
Uma corrente de vento atravessa os vidros abertos da sala,
trazendo até mim um cheiro único e marcante. Inclino o rosto,
sendo seduzido pelo perfume, e admiro esse ser humano em minha
frente, e constato que o perfume é dela. Uma mistura delicada e
aveludada de champanhe rosé, flor de pêssego com um leve acorde
amadeirado e sensual. Sou um cervejeiro, produtor de destilados e
cheiros e gostos nunca passam despercebidos. No entanto, o que
essa garota exala é afrodisíaco e humanamente inexplicável.
A garota não é baixa, parece ter 1,65m, mas o rosto é fino e o
corpo é desenhado em curvaturas chamativas. Ela coloca, sem
graça, uma mecha dos cabelos dourados atrás da orelha e evita me
olhar. Retorno minha atenção ao corredor e a conduzo pela casa.
Faz exatamente um mês que Liana está ficando de maneira fixa em
meu apartamento.
Jack me conduz pela casa e meus olhos caem direto em sua
bunda. É impossível não admirá-lo. Quando estava atrás daquela
porta de madeira imaginei que fosse um idoso surdo e, agora, tudo
que constato é que se parece mais com um modelo de calendário
sensual.
“Ah, Liana é contraditória! Como ela nunca quis cuidar de
mim, mas arruma um noivo extremamente novo? Esse cara tem
idade para ser filho dela. Embora tenha bom gosto, isso não faz o
mínimo sentido, é revoltante. A verdade é simples, um homem para
criar ela quis, mas a filha não!”.
A maneira como ele joga os pés ao andar faz um movimento
perfeito no quadril. O short curto me enche de dúvidas, afinal, acho
que nem se deu conta da roupa que usa ao me atender! Os
músculos da perna se contraem a cada passo pesado e acredito
que se pudesse olhar para o meu próprio rosto estaria de boca
aberta. Jack para em frente a uma porta e entramos juntos no
quarto.
一 Bom, separei esse quarto, fique à vontade, é todo seu. 一
Coloco a mala no chão enquanto ando até a sacada com vista para
a praia. 一 Gostou? 一 A pergunta dele me pega desprevenida.
Volto a atenção ao quarto e analiso o ambiente com atenção.
As paredes são brancas, o lustre central preto, os móveis em
madeira nobre natural e a cama de casal parece extremamente
confortável.
一 Ele é perfeito, adorei! Achei bem rústico, é do tamanho
certo. 一 Saio na sacada e admiro o oceano e suspiro encantada. 一
Uau, olha esse lugar, é incrível! 一 elogio fascinada.
Jack se aproxima parando ao meu lado e apoia as mãos nas
grades de ferro. Instantaneamente fico nervosa, estar ao lado dele
me deixa estranha. Como posso sentir isso por alguém que acabei
de conhecer?
“Jamais posso pensar besteiras sobre ele”.
Meus olhos instintivamente vão até o seu corpo. A camisa de
seda azul está contrastando perfeitamente com os seus olhos
verdes. Os pelos em seu peitoral se movimentam com o vento, o
abdômen reto é marcado pelo formato dos músculos firmes e
torneados. Meu coração mostra que está vivo dentro da caixa
torácica e algo mais, como uma pequena chama queimando, surge
onde não deveria.
Poderia babar então fecho a boca engolindo a saliva que se
acumulou.
Nervosa!
Emocionada!
Quando vira o rosto em minha direção percebe o meu olhar
safado preso em seu corpo.
一 Gosta do que vê?
“Ah, cacete, ele percebeu…”.
一 Você é lindo, claro que gosto! Não faz meu tipo, mas é
impossível não ver tudo isso. 一 Declaro sem pensar, enquanto Jack
sorri.
一 Eu estava me referindo a cidade e ao mar lá fora.
一 Ah, sim… 一 murmuro sem graça, sentindo minhas
bochechas ganharem calor e cor de vergonha. 一 Bem, é… azul,
bem azul. 一 analiso perdida.
一 A cidade ou o mar é azul? 一 questiona confuso.
一 Não... é forte, muito forte… 一 balbucio concluindo que
meus pensamentos estão revirados e desconexos. 一 Pode me dar
licença, preciso tomar um banho. 一 Ele abre um sorriso genuíno
que move toda sua face.
一 Você é engraçada!
“Engraçada? Ok, certo, que ótimo. Por que estou desejando
que ele me ache muito mais do que somente engraçada? Preciso
orar!”.
一 Com licença, deixarei você sozinha. 一 Jack entra
novamente no quarto e caminha em direção à porta.
“Nossa, até esqueci da minha mãe”.
一 Espera, onde está minha mãe? 一 Pergunto seguindo
atrás dele e Jack trava o passo, inclinando o corpo para me olhar
novamente.
一 Ah, sim, claro, esqueci de falar. Ela está trabalhando, hoje
ficará até mais tarde.
一 A cafeteria fica muito longe daqui?
一 Não, fica há uns vinte minutos, se quiser sairei às 19h para
trabalhar e te dou uma carona. Poderá conhecer o lugar e depois
vocês saem juntas.
一 Sim, seria ótimo, eu aceito sua carona. 一 Jack apoia o
corpo na parede ao lado da porta e cruza os braços imensos e
musculosos.
一 Quer perguntar mais alguma coisa? 一 Não respiro e tento
pensar em vão, deixo que minha mente fale por mim, sem calcular
nada.
一 Sim… 一 respondo imediatamente. 一 Quem é você? 一
Jack estreita os olhos em minha direção.
一 Bom, me chamo Jack Bourbon, meus pais se chamam
Kurt e Alexia Bourbon. Possuo uma irmã gêmea, a Barbie. Tenho 27
anos e minha ficha está limpa. 一 conclui com ironia ajeitando o
short na cintura.
Meus olhos descem novamente em seu corpo.
一 Há quanto tempo estão juntos?
一 Estamos juntos há cerca de seis meses!
一 Por que decidiram morar juntos? 一 Ele sorri com a minha
pergunta e responde calmamente.
一 Porque sua mãe é uma pessoa estável, madura, tranquila
e perfeita para um relacionamento. 一 Ele apoia as mãos uma na
outra. 一 O interrogatório acabou ou deseja saber também os meus
segredos? 一 indaga adotando uma expressão de flerte.
一 Não tenho mais nenhuma pergunta, você parece ser um
homem bom! 一 digo tímida.
Um sorriso perverso escapa dos lábios carnudos dele
enquanto o olhar devasso me censura.
一 Não sou nada bonzinho. Não se engane Clayre, sou um
homem mau. 一 Meu corpo estremece com sua afirmação e
continuo presa ao seu olhar incisivo.
Jack se move, quebrando o clima tenso, sai pela porta
levando com ele todo o ar do quarto. Fico paralisada por longos
cinco minutos. Senti uma atração muito forte ao vê-lo.
Inexplicável. Absoluta e Ardente.
Mas, não posso cruzar essa linha, não teria mais volta. Evito
os pensamentos libertinos e abro minha mala.
“Certo, preciso tomar um banho e estar pronta antes das
19h”.
Deito brevemente na cama e envio mensagem para minha
melhor amiga.
“Acabei de chegar, sentirei sua falta aqui”. 一 Rebeca
responde no mesmo instante.
“Como é o velho? Não me diz que é um ranzinza? Ninguém
merece”. 一 Ela é minha amiga de infância. Crescemos juntas em
todos os aspectos e como nunca tive uma irmã de sangue, adotei
uma de alma.
“Ele não é um velho, tem 27 anos e parece um modelo que
facilmente posaria para os calendários sensuais. Ele é perfeito e
meus pensamentos foram sórdidos”.
“O quê? Amiga, ele é seu padrasto, é uma área perigosa,
zona proibida”.
“Eu sei, me sinto mal por tê-lo olhado diferente, sou uma má
pessoa”, confesso triste.
“Não se sinta assim, às vezes não temos controle por quem
sentimos atração, não pira. Apenas faça de tudo para evitá-lo e logo
você se acostuma a ter um padrasto gostoso”.
“Descansarei agora porque mais tarde vou ao serviço da
minha mãe. Quero conhecer a cafeteria. À noite te mando
mensagem!”.
“Tudo bem! Aproveita, e lembre-se, temos encontro todo dia
às 21h!”.
“Combinado! Amo você!”.
“Amo você!” 一 Apago a tela do celular e aconchego a cabeça
nos travesseiros.
“Não olharei mais para o Jack, vou evitá-lo a todo custo. Essa
atração é passageira, amanhã tudo estará normal. Quando se evita
algo, você para de pensar sobre aquilo. Pronto, o problema está
resolvido e tudo ficará bem. Isso é apenas a surpresa do momento,
até porque imaginei que fosse um idoso rico. Não posso e nem devo
desenvolver sentimentos safados por ele, apenas fui surpreendida
pela beleza daquele homem”.
CAPÍTULO 3
“É temporada de caça e os cordeiros estão correndo
Procurando por um significado
Mas será que somos todos estrelas perdidas
Tentando iluminar a escuridão?”
(Lost Stars, Adam Lavine)

Após a conversa com a Rebeca, fecho os olhos e adormeço


cansada da viagem. Acordo um tempo depois atordoada e olho
para o relógio que marca 18h30. Uma batida suave na porta me faz
acordar totalmente.
一 Sim, pode entrar. 一 Jack abre a porta e coloca metade do
corpo para dentro.
一 Se arrume, saio em 15 minutos e deixo você na cafeteria.
一 Tudo bem! Um minuto! 一 Ele sorri, fecha a porta e pulo da
cama.
Entro no banheiro e tomo um banho rápido. Acabei perdendo
completamente a hora. Retorno ao quarto e os raios de sol
alaranjados refletidos na cama chamam minha atenção. Admiro o
céu através dos vidros da sacada e o pôr do sol produz uma
imagem magnífica. Concentro em me arrumar e escolho
rapidamente um vestido curto preto. Passo perfume e penteio os
cabelos. Assim que estou pronta encontro o Jack na sala. Ele está
focado no celular e quando me olha fica surpreso.
一 Uau, está bem arrumada. 一 Ele passa a mão direita pelos
cabelos e a impressão é que ficou nervoso.
Jack usa uma jaqueta preta de couro. O perfume é picante,
sensual, com notas amadeiradas fazendo um contraste absoluto
com toda a masculinidade que exala. A curiosidade e o desejo de
saber mais sobre ele começa a me corroer.
一 Com o que você trabalha?
一 Sou cervejeiro e produtor de destilados. Minhas empresas
produzem cervejas artesanais, vinhos, champanhes e whiskies.
Atualmente, cada uma possui o seu gerente e concentro minhas
atividades no meu bar principal e particular, chamado “Drink in Hell”.
一 Isso é incrível!
“E totalmente sexy também! Droga!”.
一 Conheceu minha mãe no seu bar ou na cafeteria dela?
一 Bom, na verdade ela frequentou sim algumas vezes o meu
bar, assim como frequentei sua cafeteria, mas foi em um evento que
trabalhei onde finalmente conversamos. Ela foi minha garçonete por
uma noite e as coisas aconteceram.
一 Entendi…
一 Podemos ir? 一 pergunta pegando as chaves do carro
sobre o aparador da sala.
一 Claro, vamos. 一 Seguimos até a garagem no subsolo e
entramos no carro.
Minutos depois estamos nas ruas e em cada lugar que
passamos admiro as pessoas se divertindo. Basta apenas alguns
minutos para virar o meu rosto e admirar o Jack. É fim do inverno e
a brisa suave da noite está gélida. Com os vidros fechados, o ar não
circula e sou inundada pelo perfume dele.
Inspiro calmamente e concluo que nunca conheci um homem
assim, extremamente cheiroso. Ficar ao seu lado me deixa sem
graça, perdida e com a boceta excitada. Internamente me pergunto
o porquê? Desvio o olhar, que estava cravado em seu rosto para o
vidro do carro. Vejo os enormes prédios da cidade tentando fingir
que essa tensão sexual não existe. Talvez seja somente eu que me
sinto assim e isso é errado.
Jack estica o braço para abrir o porta luvas. Sua mão grande
roça levemente nas minhas pernas e uma sensação explosiva
acaba de acontecer dentro de mim. Tranco a respiração e nosso
olhar se encontra. O admiro suficientemente para fazer infinitas
sensações serem produzidas pelo meu corpo. Meu coração acelera,
minhas bochechas esquentam e meu abdômen se contrai em
tensão.
一 Me desculpe… 一 Jack diz imediatamente.
一 Tudo bem! 一 Olho para os seus lábios carnudos e depois
para a sua mão grande que segura uma chave.
一 Fique com essa reserva do apartamento, caso precise
qualquer dia. 一 avisa sorrindo.
Jack segura no ar esperando que eu a pegue e permaneço
atônita apenas olhando.
一 Pegue a chave Clayre. 一 ordena retirando-me do transe.
Recobro a consciência e estico o braço para pegá-la. Ele
deposita na palma da minha mão e seus dedos roçam nos meus.
Um arrepio me castiga e rapidamente a afasto impedindo a
continuação do nosso contato físico. Jack volta a atenção para a rua
e suas mãos apertam o volante enquanto acelera ansioso. Os
minutos até chegar na cafeteria são totalmente sufocantes. Sinto
que estou encrencada por sentir coisas diferentes perto dele.
“Isso passará, eu sei que vai”.
O carro para em frente a cafeteria e desço com rapidez.
Quero fugir do Jack, da sua presença intimidante que tem deixado
meus sentimentos bagunçados. Hoje é o primeiro dia na Flórida e
nem no início do colegial senti algo parecido com as borboletas
gigantes douradas que ganharam vida em meu estômago.
Aceno para ele que acena de volta e vai embora. Respiro
profundamente recuperando a postura, puxo o vestido para baixo e
vislumbro a placa neon azul da cafeteria. Sei que chegou o
momento de encarar minha mãe, a última vez que nos vimos foi há
10 anos durante uma visita dela, e internamente nem a considero
como mãe, porque nunca existiu um sentimento maternal.
“Seja legal Clayre, nós recuperaremos o tempo perdido!”
Entro no local e ela está atrás do balcão. O lugar é imenso,
as paredes são todas brancas, as mesas de madeira, os móveis e
utensílios todos cromados e luxuosos. Ela sorri enquanto conversa
com sua funcionária e a abraça com carinho. Não sei se sinto
ciúmes ou fico triste com a cena. Ver outras pessoas tendo o afeto
dela faz uma angústia crescer dentro de mim. Sempre quis ter o seu
amor, o seu carinho e crescer longe dela foi difícil. Assim que me vê,
paralisa completamente.
一 Filha? Ah, meu Deus! 一 Liana corre em minha direção e
me abraça forte.
Seu cheiro é de baunilha com um misto de chocolate. Seus
cabelos loiros acobreados estão abaixo dos ombros, os olhos azuis
apresentam olheiras, a pele está hidratada e continua com uma
aparência jovial e sexy. Consigo entender porque no auge dos 50
anos fisgou o Jack.
一 Oi mãe, como você está? Esqueceu que hoje eu chegaria
na Flórida? 一 questiono.
一 Melhor agora, finalmente terei minha bebê comigo. 一
Liana me chamar de bebê irrita profundamente.
“Há muito tempo deixei de ser uma criança e ela perdeu tudo
isso”.
一 Esqueci filhinha, me desculpe, tanto serviço, entregas,
mas agora estou feliz. Gostou da casa, gostou do Jack?
“É óbvio que sim… Droga”.
一 Sim, a casa é incrível e o Jack é um cara legal. Descansei
um pouco e ele me deixou aqui antes de ir trabalhar!
一 Espero que vocês se deem bem, meu sonho é ter vocês
comigo. Finalmente uma família de verdade!
Pisco os olhos sem saber bem o que dizer. É incrível como
ela sempre esquece do papai ou da família que tínhamos. Uma
verdadeira distorção da realidade, dos fatos, do passado. Era uma
família de mentira? O que eu não sei do passado? Respiro tentando
relaxar e reduzir as defesas. Sempre soube que um recomeço não
seria fácil e preciso engolir esse desejo de retrucar e esbravejar
verdades. Finjo não ouvir seu comentário e vou até o balcão
cumprimentar a atendente.
一 Olá, eu sou a Clayre Freburg! 一 A mulher aparenta ter em
torno de 25 anos, é baixa, possui os cabelos castanhos chanel, os
olhos azuis e veste o uniforme preto e marrom da cafeteria.
一 Clayre Stuart Freburg! 一 corrige minha mãe.
一 Isso! 一 confirmo.
一 Prazer, sou a Dora! Trabalho há um ano com a sua mãe,
que fala o tempo todo sobre você. Fico feliz que esteja aqui.
一 Até que horas a cafeteria funciona? 一 Olho para o relógio
na parede que marca 19:30h.
一 Fechamos agora. 一 avisa Liana. 一 Guardarei tudo e
podemos ir. Proponho jantarmos juntas e conversar um pouco, o
que acha? 一 concordo sorrindo empolgada.
一 Claro, espero você, me sentarei naquela mesa. 一 Aponto
para a última, próxima à porta de saída.
一 Quer um café enquanto espera?
一 Com certeza! Um cappuccino. 一 Liana prepara o café
toda sorridente e depois me entrega.
Sento na mesa e estou feliz por me dar essa chance, de
tentar de novo. Olho para a xícara de vidro, coberta com chantilly.
Passo o dedo na borda quente enquanto meus pensamentos voam
longe. Antes de mudar terminei com o Rangel e não foi nada fácil.
Rangel é um empresário bem-sucedido em Charleston e possui uma
rede de conveniências. Vivemos um relacionamento de seis meses,
não durou muito, mas eu gostava dele. Recordo do momento em
que terminei tudo e hoje dou graças à Deus por não ter cedido as
suas investidas sexuais.

Sento no sofá da casa do Rangel enquanto o escuto em uma


ligação ao meu lado. Rangel vive assim, apenas focado no celular.
Mesmo que tenhamos um relacionamento gostoso, ele não me dá a
atenção que eu gostaria. Com a mudança de cidade, será inviável
manter esse relacionamento à distância. Não me nota nem de perto,
imagina longe!
一 Rangel… eu… 一 Tentei estupidamente chamar sua
atenção, mas ele levantou a mão enquanto fazia careta.
一 Espera, estou falando com um cliente importante. 一
Passo as mãos em meu rosto nervosa.
Todas as vezes que tento falar é sempre assim, ele está em
uma chamada ou em troca de mensagens importantes. Com o
passar dos dias, semanas e meses fui ficando para depois. Até diria
que esse afastamento é por falta de sexo, mas não é só isso, ele
realmente só se importa com os negócios. Espero intermináveis 30
minutos até que me dê atenção!
一 Desculpe minha princesa, era importante, agora podemos
conversar! O que você quer falar? 一 Avisa sentando ao meu lado.
一 Bom, eu quero…
一 Espera, pegarei uma bebida para nós. 一 interrompe
novamente.
Rangel vai até a geladeira e cinco minutos depois retorna
com um suco.
一 Aqui, para você! 一 pego de sua mão impaciente.
一 Precisamos conversar, você sabe que mudarei de cidade
e…
一 Amor, fica tranquila, dará certo! 一 interrompe e mordo os
lábios frustrada. 一 Sentirei saudades e não se preocupe, pois falei
com a minha secretária que comprará passagem e nos veremos
certinho todo mês.
一 Rangel, eu sei.. mas eu estava pensando, sabe, nosso
relacionamento está… 一 o celular dele começa a tocar.
Ele para de prestar atenção em mim e olha para a tela.
一 Meu amor, é importante, preciso atender! 一 Rangel sai do
cômodo com o celular na mão sem ao menos me dar uma chance
de resposta.
“Estou cansada de não ser ouvida por ele! Sempre sou
deixada em segundo plano. Não dá mais!”.
Meu coração se esmaga com a decisão que preciso tomar
nesse instante. Rangel sempre foi o homem que imaginava ser o
dos meus sonhos. É bem-sucedido, calmo na maioria das vezes,
tem um bom coração, porém não me ama de verdade. Não prioriza
o nosso relacionamento e sou sempre a que está em segundo
plano. Primeiro vem o trabalho, os clientes importantes e os
negócios lucrativos e, lá em último, quase esquecida, “eu”.
“Não posso mais viver assim, são seis meses lutando por
atenção. Chegou a hora de encerrar nossa história! Não tem como
consertar isso de longe. Ficaríamos dando murros em ponta de faca
e só acabaríamos machucados”.
Olhei para o meu anel de namoro. Definitivamente era o fim,
eu não conseguia mais. Antes de sair pela porta, o retirei do meu
dedo e deixei em cima do sofá. Foi assim que encerrei nosso
relacionamento, nem isso consegui conversar com ele. Volto a
realidade com minha mãe chamando.

一 Clayre! Vamos! Jack pediu para jantarmos em seu bar.


Tenho certeza que amará o ambiente. A vibe é rock and roll e fazem
as melhores porções. Ele disse que não aceita “não” como
resposta…
“Jack Bourbon, jamais esquecerei esse nome”.
CAPÍTULO 4
“Quando amanhã chegar eu estarei por conta própria
Sentindo-me assustada com coisas que eu não conheço
Quando amanhã chegar, amanhã chegar”
(Flashlight, Jessie J)

Mamãe acabou de avisar que Jack nos convidou para jantar


em seu bar.
一 Eles fazem porções deliciosas. Você segue algum tipo de
dieta, come carne normal?
Olho para ela e tento não demonstrar tristeza, porém é
decepcionante ver que não sabe nada sobre mim. Concluo que não
vasculhou minhas redes sociais já que possuem infinitas postagens
com a Rebeca no McDonald’s[5], nosso programa preferido.
一 Vamos! Como carne sim e adoro porções! 一 Levanto da
mesa e aceno para a Dora enquanto saímos.
一 Fica a cinco quarteirões daqui!
Caminhamos pela calçada ampla em silêncio. Estar ao lado
dela é sempre uma incógnita porque nunca questiona sobre nada.
Desde criança sempre foi assim. Não tem curiosidade em saber os
meus gostos, como foi o meu dia e quais os meus sonhos. Sei que
papai deseja que finalmente possamos nos amar, mas quando
estamos juntas, sinto desconforto. Pouco tempo depois estamos na
frente do bar do Jack.
一 Uau! 一 exclamo surpresa.
Admiro a fachada do local. As paredes são vermelhas
lembrando uma grande galeria de shows. Vislumbro o interior
através dos vidros da porta e o ambiente é espetacular. É todo
revestido em madeira natural com uma decoração moderna. A área
de drinks possui uma adega climatizada, as prateleiras de bebidas
são imensas, as mesas de jogos luxuosas enquanto as de refeição
são amplas com assentos de couro marrom.
一 É legal aqui! Você vai adorar, tem vários gatinhos e o Jack
possui funcionários lindos! 一 elogia Liana abrindo a porta.
Apenas concordo com a cabeça e entramos juntas. O
ambiente é vibrante e realmente possui uma vibe rock and roll. A
música que toca é AC/DC e meu olhar encontra o Jack. Ele está ao
lado da mesa de sinuca, segurando um taco na mão esquerda
enquanto com a outra vira uma garrafa de whisky na boca.
“Droga, um padrasto diferenciado”.
O olhar dele encontra o meu.
Sinto as infinitas borboletas.
Tensão e euforia.
“Droga, cada vez pior”. Jack se aproxima sorrindo.
一 Boa noite, bem-vinda Clayre, esse é o meu bar! 一 Liana
pula em seus braços.
Os dois se beijam loucamente e ao se afastarem Jack está
sem graça.
一 Levarei vocês até uma mesa.
一 Não precisa Jack, nós temos pernas. 一 retruco irritada e
minha mãe começa a rir do meu temperamento alterado.
一 Quero que vocês se deem bem, moraremos todos juntos.
一 Liana fala nos encarando fixamente.
一 Infelizmente… 一 concluo.
Afasto-me sentando na primeira mesa vazia que encontro.
Não sei porquê fiquei tão irritada de repente. Apenas esfrego uma
mão na outra nervosa, sem motivo aparente. Um homem me olha
com curiosidade, ele é novo, usa roupas de couro com um avental
preto, a pele é parda, os cabelos são castanhos, é alto e forte.
一 Alguém precisa de um drink.
一 Dois, por favor… 一 Liana se aproxima e senta na minha
frente.
一 Está tudo bem?
一 Estou bem, é a TPM e também a saudade do meu pai. 一
Ela sorri brevemente e começa a falar sem parar.
一 Estava pensando, suas aulas começam daqui a alguns
meses, poderíamos acampar, fazer uma fogueira na floresta. Às
vezes eu e o Jack viajamos, poderíamos passar um final de semana
em família. Uma comemoração pela sua entrada na faculdade,
minha futura publicitária! 一 Ela está empolgada e o homem que
falou comigo recolhe os copos vazios na mesa ao lado. 一 O ano
passado estivemos nas montanhas, é incrível e perfeito para
esquiar. Viajou no inverno passado?
一 Não, no ano passado passei o inverno todo internada. 一
Liana adota uma expressão de surpresa.
一 O inverno todo?
一 Sim.
“É claro que ela não sabe, nunca cuidou de mim”.
一 Que triste filha, mas esse ano nós aproveitaremos muito
juntas. 一 Assinto triste por confirmar que ela nem se deu ao
trabalho de perguntar o que aconteceu no ano passado para que eu
ficasse tanto tempo no hospital.
一 Sim, vamos curtir muito. 一 Admiro as mesas até chegar
ao Jack que está me olhando fixamente do bar.
Os drinks que pedi chegam e o mesmo homem de antes
coloca sobre a mesa. Liana sorri e toca a mão no braço dele
chamando sua atenção.
一 Oi Kal, tudo bem? Já conheceu minha filha?
一 Sua filha? Uau, muito linda. 一 Sua fisionomia é de
surpresa e concluo que ela nunca deve ter falado sobre mim.
一 Obrigada! 一 Agradeço sem jeito.
Viro os drinks de uma vez e ele arqueia a sobrancelha.
一 Estava precisando em garota…
一 Você não tem ideia.
一 Está gostando da Flórida?
一 Cheguei hoje, mas tenho certeza que amarei, é difícil não
gostar de um lugar que tenha praia com pôr do sol e céu estrelado.
一 O homem sorri com a minha resposta.
一 Kal, queremos pedir algo. 一 avisa Liana pegando o
cardápio.
一 Claro, o que desejam? 一 Minha mãe pede os pratos mais
apetitosos e de longe assisto o Jack.
Ele é um homem alto, os ombros são largos e nesse
momento ele conversa com os clientes enquanto retira a jaqueta de
couro. Os braços musculosos e definidos ficam à mostra enquanto
sua mão direita agarra a garrafa de whisky virando em sua boca.
Impossível não admirá-lo e olhando ao meu redor percebo que
todas as outras mulheres também suspiram ao vê-lo.
Retorno a atenção à mesa e converso com a mamãe. Porém,
a cada cinco minutos os meus olhos o procuram. O restante da noite
é tranquilo, nossas conversas são superficiais, a comida é magnífica
e Jack se manteve distante apenas nos observando. Quando já são
quase 2h da madrugada ele fecha tudo e esperamos no carro.
Encosto a cabeça no vidro, estou acomodada no banco
traseiro e assisto de longe todos se despedirem. Estive tão focada
em olhá-lo que nem reparei nos outros funcionários e daqui não
consigo identificar perfeitamente os rostos deles. Liana falou a noite
toda sobre ela, dos passeios que os dois fizeram nesses últimos
seis meses, no casamento e nem me dei ao trabalho de questioná-
la sobre nada, apenas ouvi.
Quando entramos no apartamento sigo para o quarto sem
dizer nada. Após tomar um banho quente e os meus remédios
diários, finalmente adormeço.

Amanhece e levanto calmamente. Coloco uma roupa


apresentável e paro na porta do quarto encostando o ouvido na
madeira. O ambiente está silencioso e concluo que não há ninguém
no apartamento.
“Agora será assim, evitarei o Jack, pronto”.
Saio do cômodo e sigo até a cozinha. O lugar é imenso, os
armários são brancos, as bancadas e a mesa são de mármore
enquanto as janelas de vidro ocupam a parede toda. Quase todos
os cômodos são com vista para o mar e estou fascinada,
definitivamente é o ambiente dos sonhos de qualquer pessoa.
Aproximo do aparador de bebidas e vejo uma caixa de chá de
maçã com canela. Suspiro aliviada, é o meu preferido e imagino que
deva ter herdado esse gosto da minha mãe. Esquento a água na
chaleira elétrica. Pego uma xícara e deposito o sachê e um cubo de
açúcar. Quando o chá fica pronto, degusto com cuidado enquanto
admiro a imagem magnífica do mar. As águas azuis estão agitadas,
o céu está repleto de nuvens brancas e poucas pessoas caminham
pelas areias.
Instantaneamente penso na noite anterior, na imagem do
Jack sorrindo e bebendo com seus clientes. Meu corpo ganha vida
sendo profundamente dominado pela euforia, pela sensação de ter
alguém comprimindo o meu ar. Lembrar do Jack distorce minhas
verdades e aflora os meus desejos desconhecidos.
Saio da cozinha e caminho até uma porta localizada no final
do corredor com a placa de “não entre”. Imagino que seja o
escritório particular do Jack. Quero saber mais sobre ele, dos seus
gostos e do seu passado. Entro no cômodo e o seu cheiro magnífico
está impregnado totalmente no ambiente.
Inspiro completamente rendida e me aproximo de sua mesa
que fica no centro. As paredes são brancas, as janelas grandes, os
móveis preto e a decoração me surpreende. Há vários quadros de
drinks, quadros dele com seus funcionários, outros produzindo
vinhos e me sinto em seu mundo particular.
Em cima de sua mesa possui um porta retrato de família e
outro dele em cima de uma moto estilo bad boy. Um sorriso escapa
dos meus lábios e assusto quando a voz grave dele surge atrás de
mim.
一 Esse dia foi louco. 一 Os passos pesados param em minha
frente e ele senta no canto da mesa cruzando os braços. 一 Dirigi
essa moto por toda cidade, neste dia o vento estava feroz e a noite
tomei whisky com os meus amigos no meio do mato. 一 Ele suspira
nostálgico.
一 Não imaginei que você fosse um bad boy. 一 provoco.
一 Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, Clayre!
一 Meu coração acelera quando ele levanta e se aproxima, perto
demais.
一 Me contará seus segredos? 一 sussurro.
一 Quais você quer ouvir? Os bons ou os proibidos? 一 Seu
rosto fica a milímetros do meu, sendo necessário que ele incline
brevemente o tronco para ficar do meu tamanho.
Perco o controle do meu próprio corpo. Meus olhos piscam
rapidamente.
Queria ser capaz de desviar o meu olhar do seu, mas
permaneço presa fixamente em seus olhos verdes. Sua respiração
quente toca os meus lábios e seu perfume me deixa extasiada. Não
tenho mais dúvidas de que precisarei ficar longe dele, porque nesse
momento tudo que eu mais queria era provar os seus lábios.
Não consigo emitir nenhum som e de uma vez saio do
cômodo, fugindo para o meu quarto. Sei que ele sente a minha
hesitação, o meu nervosismo e principalmente, a minha total
incapacidade de raciocinar nos breves momentos que fiquei ao seu
lado.
Jack Bourbon é diferenciado. O jeito largado, a paixão pelas
bebidas, a maneira como se comporta demonstrando sua sede de
aventura. Prová-lo causaria um dano muito pior que o álcool, algo
singular e irreversível.
CAPÍTULO 5
“Quando você esteve aqui
Não conseguia te olhar nos olhos
Você é como um anjo
Sua pele me faz chorar”
(Creep, Radiohead)

As duas primeiras semanas foram de adaptação na casa da


minha mãe. Aproveitei para verificar a matrícula, conhecer o mar,
alguns pontos da cidade e ficar o mais distante possível do Jack.
Liana tem sido reservada, é uma mulher de poucas palavras e o
muro que sempre nos separou permanece intacto em minha mente.
Admiro o mar sentindo a textura da areia fina nos meus pés
descalços. Sento e inspiro o cheiro da praia. Fecho os olhos com o
vento tocando o meu rosto trazendo junto milhares de partículas da
água salgada. As gaivotas sobrevoam o céu deixando o seu canto
se transformar em uma linda trilha sonora.
Nesse momento a saudades do meu pai aperta em meu peito
e queria tê-lo ao meu lado admirando essa vista incrível do pôr do
sol. Quando as primeiras estrelas surgem no céu suspiro encantada,
mas também fico triste por voltar para o apartamento. Recolho
minha bolsa e em poucos minutos estou entrando na sala. Paraliso
ao encontrar o Jack sentado no sofá, afinal retornei sabendo que
não o encontraria mais aqui. Ele sorri e seu olhar desce até os meus
pés que ainda permanecem com alguns grãos de areia.
一 Imaginei que estivesse na praia.
一 Desculpe, meus pés estão sujos, mas limparei o chão
após o banho. 一 Jack levanta aproximando-se de mim e para em
minha frente.
Meu corpo tensiona e nos entreolhamos fixamente em
silêncio. O evitei nesses últimos quinze dias com tanto afinco que
revê-lo assim parece piorar tudo que já estava sentindo. Uma
sensação de queimação borbulha em meu estômago e meu coração
acelera. Sua mão direita se eleva e com delicadeza toca em meus
cabelos deslizando a mecha loira nos seus dedos.
一 Seus cabelos são dourados como o sol enquanto os seus
olhos parecem brilhar como as estrelas… 一 Ele toca em minha
mandíbula e meu corpo paralisa em tensão. 一 Alguém já te disse
que você é linda? 一 questiona com os olhos cravados nos meus
lábios. 一 Por que tem me evitado? Moramos no mesmo
apartamento e só te vi duas vezes nos últimos quinze dias. 一
Abaixo a cabeça sem graça, porém sua mão eleva o meu rosto
mantendo nosso contato visual.
一 Não quero atrapalhar vocês, nem que sintam que não
possuem mais privacidade porque estou aqui! 一 afirmo enquanto
ele nega com a cabeça.
一 Não nos atrapalha, vamos, estava te esperando, se
arrume, sua mãe jantará no bar hoje e quero que vá também, o que
acha? 一 concordo tímida pelo seu olhar incisivo e apressadamente
me afasto.
一 Sim, será ótimo, retorno rapidinho! 一 Abandono o cômodo
com passos rápidos tentando impedir meu coração de parar de
bater por exaustão.
Fecho a porta do quarto apressada e aliviada por estar
novamente longe de sua presença notável. Poderia martelar os
meus sentimentos confusos, mas apenas foco em me arrumar,
afinal, sei que ele está atrasado, apenas estava me esperando.
Após o banho escolho um vestido curto decotado de cetim rosa e
passo um perfume adocicado.
Quando termino sigo até a sala e Jack se levanta para
sairmos. Seus olhos verdes vibrantes não me abandonam e até
mesmo a presença dele ao meu lado no elevador me abala. É
estranha as sensações opostas se fundindo em meu coração.
Queria conversar com ele, sorrir, ouvir sobre os seus gostos, como
foi sua vida até aqui, porém sei que tudo isso viria com um preço, o
do desejo proibido que tem aparecido nos momentos inoportunos e
tirado a minha paz.

Chegamos no bar alguns minutos depois e me aconchego em


uma das mesas no canto enquanto espero pela Liana. Jack deposita
um copo de cerveja em minha frente e o encaro assustada. Ele se
acomoda ao meu lado e desço o olhar pelo seu corpo. Hoje ele
veste um terno esportivo preto aberto e uma camisa verde musgo.
一 O que é isso? 一 questiono confusa.
一 Experimenta, eu que produzi. 一 enfatiza orgulhoso.
Seguro o copo de vidro de 500 ml que está trincando de
gelado e levo aos lábios. Provo e sinto um delicioso sabor de maçã.
Inclino o meu rosto para ele abrindo um sorriso.
一 Uau, é de maçã? 一 Jack sorri com a minha empolgação.
一 Sim, algo novo que estou testando, o que achou? 一
Encaro novamente o copo e saboreio um pouco mais.
Quando afasto do meu rosto compartilho a minha opinião.
一 Simplesmente incrível, você é um artista dos sabores. 一
Elogio enquanto sou devorada pelo seu olhar intenso.
Seus dedos tocam os meus lábios retirando a espuma ao
redor deles. Um toque firme, quente, e ele faz questão de deslizar
lentamente para sentir a textura da pele. Minhas bochechas
esquentam tímidas.
一 Percebi que você gosta de maçãs! As que eu comprava
sempre duravam dias na geladeira e sei que sua mãe odeia essa
fruta. Achei que iria gostar de beber uma cerveja com esse sabor. É
apenas experimental, lembra a sidra, no entanto, é mais elaborada.
一 Achei que nem estivessem percebendo a minha presença.
一 comento sem graça.
一 Posso não estar te vendo fisicamente Clayre, mas a sua
presença é impossível de não ser notada, afinal, tem o seu cheiro
em cada canto daquele apartamento. Observo o seu jeito de
organizar as xícaras após fazer o seu chá de maçã com canela e
até mesmo algumas músicas que sempre ouço quando passo em
frente ao seu quarto, qual foi a última que ouvi… 一 Jack inclina a
cabeça tentando se recordar. 一 Ah, lembrei, Creep, do Radiohead.
一 Minhas mãos começam a suar e travo sem reação.
Nunca ninguém reparou tanto em mim quanto o Jack.
一 Por que aquela música está sempre se repetindo? Queria
entender porque você e sua mãe se afastaram. 一 Paraliso com o
seu questionamento e antes que minha mente encaixe os pontos
Liana chega e senta no assento a nossa frente.
一 Cheguei! Está tudo bem Clayre? Parece um pouco pálida?
一 Levo minhas mãos ao rosto e levanto apressadamente.
一 Estou ótima só preciso ir ao banheiro.
Saio da mesa e sigo em direção ao reservado. Passo pela
porta afobada e levo à mão a testa nervosa. Desde que descobri
que sou doente, algumas vezes tenho tonturas e dores no corpo.
Faz exatamente um ano que descobri que tenho Aplasia Medular,
devido à Anemia de Fanconi, uma doença hereditária, que se
manifestou quando fiz 10 anos, mas ainda é um mistério do porquê
tenho se não há histórico familiar. As suspeitas são que minha mãe
possui o gene, mas não desenvolveu a doença. Nunca confirmamos
porque ela nunca apareceu quando meu pai pediu, então decidimos
tratar e seguir a vida. Diariamente convivo com a sensação de que
um dia tudo irá mudar para pior.
Apoio as mãos na pia, respiro profundamente e passo uma
água no rosto. Permaneço alguns minutos assim até que esteja bem
para retornar. Quando chego à mesa, encontro o Kal, o garçom que
me atendeu no primeiro dia.
一 Boa noite, Clayre, agora já consegue responder o que está
achando da Flórida? 一 Meus olhos procuram pelo Jack, quase
como um vício, mas ele não está mais aqui e me sento animada.
一 Estou amando Miami, a praia definitivamente me
conquistou. Amanhã mesmo procurarei um emprego. Estarei na
faculdade no período da manhã, preciso arrumar algo noturno.
一 Tem um shopping pertinho de casa. 一 Liana avisa
sorrindo.
一 Calma, tenho o emprego perfeito! 一 Menciona Kal abrindo
os braços para evidenciar o ambiente. 一 Estamos com um
funcionário a menos, você poderia trabalhar conosco.
一 Trabalhar aqui? Com o Jack? 一 pergunto exaltada. 一
Não acho uma boa ideia. Ele parece ser chato. Não… 一 respondo
apressadamente.
一 Nossa, excelente ideia, isso aproximará vocês dois. 一
concorda minha mãe 一 , Além disso, você aqui irá encorajá-lo a
participar das reuniões.
一 Que reuniões? 一 questiono perdida.
一 Eu e o Jack vamos nos casar, marcamos a data, é daqui
dois meses.
“Muita informação”.
一 Terei prova do vestido, escolha do convite, além da prova
dos doces e dos bolos. Jack tem a prova do terno, as reuniões com
os caras do som, do salão. Com você aqui facilitaria tudo. Poderá
pegar no pé dele para cumprir os agendamentos.
一 Está empenhada mesmo em amarrar o homem Liana?
Quer acabar mesmo com a vida livre do nosso bad boy? 一 brinca
Kal.
一 Eu o amo demais.
“Ah, Deus, por que quero gritar neste momento?”.
Jack se aproxima enquanto degusto a cerveja.
一 O que tanto falam?
一 A sua enteada precisa de um emprego, então chamei ela
para trabalhar aqui no bar.
一 Aqui? No bar? 一 Meu padrasto retruca surpreso.
一 Viu? Jack não gostou! É uma péssima ideia! Não se
preocupe Kal, arrumarei algo no shopping!
一 Filha, Jack é um bom patrão. 一 As palavras do Jack me
dizendo “sou um homem mau” surgem na minha mente.
一 Por mim não tem problema, pode trabalhar aqui! 一 Jack
concorda para o meu completo desespero. 一 Será bom ter uma
presença feminina. 一 Fico muda.
Os meus planos eram permanecer distante dele e trabalhar
aqui foge um pouco do que planejei!
“Isso não vai dar certo!”.
一 Façamos um teste. 一 anima-se Kal.
一 O quê? 一 questiono confusa.
一 Está com medo pequena garotinha? 一 Provoca em um
tom de deboche.
一 Não tenho medo de nada.
一 Ótimo, vá até o bar e sirva aqueles homens. 一 Jack o
encara imediatamente. 一 Veremos como se sairá.
“Kal está me desafiando. Vou lá e arrasarei”.
一 O bar ficará lotado, observe e aprenda. Só uma mulher é
capaz de tamanho poder. Aumentarei seus ganhos Jack. 一 afirmo,
pronta para mostrar que uma mulher pode sim trabalhar em um bar
e fazer diferença.
一 Quero ver! 一 confronta Jack arqueando a sobrancelha.
Clayre Freburg tem um sorriso tímido, os olhos piscam mais
rápido quando está confusa e sempre que a vejo parece que alguém
chutou o meu saco. Algo como se deixar afogar lentamente, mas
querer lutar pela vida. Definitivamente a garota desperta o meu lado
mau e particularmente, adoro libertá-lo. Toda vez que estamos
próximos meu corpo parece reagir ao seu cheiro, ao seu sorriso. Kal
acaba de lascar com a minha vida ao sugerir que ela trabalhe aqui.
Hoje mais cedo quando a vi entrar com os pés sujos de areia
trouxe uma sensação de peripécia, casualidade, associado ao
desejo que se exteriorizou através do meu corpo porque
implacavelmente toquei o seu rosto delicado. Por longos segundos
eu quis beijá-la, quis provar a textura de sua pele e sentir suas mãos
pequenas e finas passearem pelo meu corpo. Estou tentado a
pecar, algo sobre a sua constante teimosia em se esconder, em não
me encontrar nos corredores do apartamento ou de estar presa em
meu olhar causam todo esse desejo ordinário. É claro que toda essa
porra fode a minha mente, mas estive observando em silêncio.
Notei o seu gosto pelas maçãs e quis produzir uma cerveja
exclusiva com esse sabor, algo que me lembra o pecado ou as
sensações que despertam de forma proibida toda vez que estamos
assim, encurralados, sem ter para onde fugir. Quero saber mais
sobre ela, entender porque sente tristeza e o quanto a deixa
transparecer em seus olhos. Clayre pula da cadeira enfiando a mão
dentro do vestido de cetim rosa que evidencia as curvas do seu
corpo e expõe ainda mais os seus seios fartos. Eles ficam a ponto
de explodir e na minha mente já imagino como devem ser os seus
mamilos. Meu pau começa a ganhar vida e coloco a mão na frente
para disfarçar minha excitação.
“Droga, isso não pode acontecer”.
Clayre começa a andar eroticamente até o bar, mas
inesperadamente para e muda o trajeto. Seu quadril rebola em cada
passo que dá até a área de sinuca repleta de homens jogando. Meu
coração acelera assim que ela se aproxima da pequena mesa
lateral e inclina lentamente o corpo para frente. Ela eleva a bunda e
todos param o jogo para admirá-la. Não é só o meu pau que se
agitou, aposto que aqueles filhos da puta também se excitaram. Fico
furioso ao ver os olhares deles nas suas pernas longas e na sua
bunda desenhada por Deus. Ela puxa a bandeja depositada na
mesa e enche com copos vazios. Sensualmente passa ao lado
deles que a seguem com o olhar.
一 Quem quiser bebida estarei no bar. 一 avisa e suas
palavras são suficientes para começar a formar uma fila de homens
apenas para ver os seus belos seios.
一 Não dará certo ela trabalhando aqui. 一 esbravejo
cruzando os braços.
一 O quê? Está brincando? Ela renderá lucros altos meu
amigo. Isso que chamo de uma mulher confiante. 一 retruca Kal.
Liana ri e bate palmas para a fila de macho que espera para
admirá-la. Internamente minha vontade é de ir lá e encerrar a
putaria. Em outros tempos, com outra garota qualquer, eu não
ligaria, nunca fui ciumento, mas com a Clayre é diferente. Algo
sobre querer socar a cara de cada homem que a admira essa noite,
inclusive o Kal.
一 Quanto mais dinheiro, melhor o casamento. 一 empolga-se
Liana.
一 Por mim bastava um churrasco, cerveja e carne. 一 aviso
sem qualquer interesse em ter ostentação, afinal, sempre disse que
queria algo simples.
一 Pelo amor de Deus, cruzes, nosso casamento precisa ser
o mais chic da cidade! 一 Retruca, mas minha atenção está em sua
filha.
Clayre me lança um sorriso desafiador.
“Ela está fazendo isso para me provocar? Você está
brincando com fogo gatinha”.
Caminho lentamente até o bar e paro ao seu lado. Meus
olhos recaem nos seus seios e não consigo evitar não olhá-los. São
perfeitos.
Estou confuso. Irritado. Fodido. Falo qualquer coisa que vem
em minha mente.
一 Mamilos… 一 Levo a mão à boca e percebo que pensei
alto.
Rapidamente Clayre cobre os seios pensando que está com
os mamilos à mostra.
一 Que susto. 一 menciona relaxando os ombros.
一 Eu quis dizer, daqui a pouco está com os mamilos de fora.
“Sou um Idiota”.
CAPÍTULO 6
“Dois corações, uma válvula
Bombeando o sangue, nós fomos a inundação
Nós éramos o corpo e
Duas pessoas, uma vida
Colocando pra fora, te deixando pra baixo
Fazendo o certo”
(Birds, Imagine Dragons)

Jack tenta disfarçar sua vergonha, mas meu corpo safado


ficou feliz quando sentiu os olhos dele queimando cada centímetro
da minha pele. Sei que é errado e me mantive afastada, mas
quando estamos perto cada minuto se torna maior e incontrolável
esse sentimento. As porções ficam prontas no balcão e Jack pega
uma coxa de frango frita e um copo de chopp. Nesse momento tudo
nele é perfeito. O jeito largado, o sorriso, a forma como morde
aquela coxa de frango me faz desejar ser uma maldita galinha
assada. Passo a mão nas minhas coxas desejando que fosse os
dentes dele em mim.
一 Onde tem uma igreja? 一 questiono.
Jack me olha confuso enquanto chupa os dedos sujos de
molho sem se importar de estar na minha presença.
一 Igreja? 一 franze o cenho confuso.
一 Sim, sabe… onde se encontra Deus e pede perdão pelos
pecados?
一 Tem uma no final da rua.
一 Vou visitá-la todos os dias! 一 Ele ri, arqueia a sobrancelha
e suspira profundamente antes de responder.
一 Amanhã você começa, entraremos e sairemos todos os
dias juntos. Está pronta para trabalhar comigo?
一 Nenhum pouco. 一 sussurro tímida.
一 Então comece a rezar, o seu padrasto aqui, pecador, Jack
Bourbon não pegará leve com você. 一 O rosto dele se aproxima do
meu e paraliso aflita. 一 Cubra esses seios, não quero nenhum
idiota bêbado olhando para você, primeira regra, Clayre, ninguém
pode te olhar! 一 Assinto balançando a cabeça hipnotizada pelo seu
olhar profano e pela sua voz pecaminosa.
一 Sim, senhor! 一 balbucio estremecida.
Jack inclina a cabeça enquanto me encara fixamente. Sei que
seu desejo é de me responder, de me tocar e ele não precisa dizer
em palavras, é nítido através do seu olhar a chama de safadeza que
começou a queimar. Afasto-me abruptamente lutando contra os
meus desejos carnais. Jamais me senti tão idiota perto de um
homem, por que tinha que ser logo com o meu padrasto?
Inspiro profundamente sem a resposta que tanto queria para
aliviar a mente e ao olhar para o lado visualizo minha mãe andando
em nossa direção com o Kal. Arrumo minha roupa e apoio os braços
no balcão sorrindo.
一 Viram, provei ao Jack que os ganhos dele serão dobrados.
一 Está contratada então filha? 一 questiona Liana.
一 Sim, o que posso dizer, possuo os requisitos mínimos
necessários. 一 Kal gargalha da minha brincadeira e Jack pigarreia
para falar.
一 As porções estão prontas, vamos jantar.
Seguimos até a mesa levando os pratos de petiscos e nos
sentamos. O jantar é tranquilo e as conversas básicas são sobre a
faculdade. Os dois decidem que o passeio para acamparmos em um
parque próximo será em duas semanas, o que me faz ficar animada.
Assim que saio do bar as palavras do Jack ainda rodeiam a minha
cabeça… “Está pronta para trabalhar comigo?”. Na hora respondi
“nenhum pouco” que foi cuspido sem pensar, apenas dito em um
momento de nervosismo. A verdade é que por dentro estou
morrendo de medo e realmente não estou nem um pouco preparada
para viver sob seu olhar todas as noites.
Quando entro no apartamento, sigo rapidamente para o
quarto. As aulas começam após o verão e resolvi me mudar um
pouco antes a pedido do meu pai. Ele queria que pela primeira vez
eu tivesse a chance de passar muito mais que só algumas horas
com a Liana. Foco minha atenção neste momento e paro de pensar
e sigo até o banheiro para tomar um banho. Após relaxar com a
água quente, coloco o pijama e deito na cama. Fixo a visão no teto
que parece se movimentar acima de mim. Jack não sai da minha
cabeça.
Lembro do seus dedos tocando o meu rosto e no arrepio que
percorreu o meu corpo quando me admirava com persistência.
Desesperadamente tento não pensar nele, porém fico horas rolando
na cama. Levanto no meio da noite e o relógio marca 2h da
madrugada. Saio no corredor e escuto gemidos assim que passo
pela porta do quarto dos dois.
一 Isso Jack! Adoro quando você faz isso com a língua! 一
Liana geme sem parar e o barulho alto é facilmente audível.
“O que será que ele faz com a língua?”.
Meu corpo se aquece ao imaginar e rapidamente fujo para a
cozinha. Aproximo-me da bancada e sento. Eles estão transando e
meu peito se aperta ao pensar nisso. “Por que ouvi-los transando
incomoda? Por que imaginar o Jack e minha mãe se beijando
também incomoda?”. Esses pensamentos não deveriam rodear a
minha mente, não de maneira incomodativa. A verdade é que
quando olhei para o Jack senti algo inexplicável e totalmente novo.
Olho para os vinhos na adega, sigo até eles e escolho uma
garrafa. Só quero relaxar e parar de pensar bobeiras. Abro a
garrafa, pego uma taça, me sirvo e vou até o terraço. Sento no
enorme sofá de veludo roxo e admiro o mar enquanto bebo o vinho
tranquilamente. Pela primeira vez não penso em nada, apenas no
sabor doce que desce pela minha garganta. O céu apresenta uma
coloração azul petróleo, as estrelas cintilam excessivamente e os
prédios mesmo de longe complementam a vista espetacular.
Permaneço minutos, talvez horas assim, não consigo definir,
apenas desfruto de uma infinita sensação de paz. A brisa fria da
noite passa pelo meu corpo e fecho os olhos. O vento dança ao
redor de mim e inspiro calmamente. Um delicioso perfume invade o
ambiente. Uma fragrância marcante, amadeirada, sensual e
afrodisíaca. Abro os olhos e vejo o Jack parado em minha frente.
Assusto, levo a mão ao peito e grito.
一 Aaaah!
一 Me desculpe, não queria te assustar. O que faz aqui fora?
Está se sentindo bem? 一 Jack está sem camisa e Deus, ele é
perfeito.
Os músculos do seu abdômen são firmes e exuberantes. Os
braços são largos, definidos e admiro algumas tatuagens pelo seu
corpo. Um desenho chama minha atenção no seu peitoral esquerdo.
É um meio sol interligado a uma lua e ao lado possui uma estrela.
Retorno meu foco em seu rosto para enfim respondê-lo.
一 Perdi o sono, precisava relaxar e aproveitei para tomar um
ar. Não imaginei que a cidade e a praia ficassem tão lindas vistas
daqui.
一 Quase sempre eu também perco o sono. Gosto também
de vir aqui e olhar o mar, parece que me acalma. O vento que bate
aqui é gostoso. 一 Jack olha para a cidade e depois sorri virando o
rosto em minha direção novamente.
Calmamente ele se aproxima e senta ao meu lado. Em um
movimento rápido pega a garrafa de vinho e a leva aos lábios,
dando um longo gole.
一 Quando visitei esse apartamento para decidir se
compraria, foi a vista que tive daqui que me fez fechar o negócio. 一
confessa retirando os olhos do mar lá fora para fixá-los em mim. 一
Pronta para continuar nossa conversa que começamos mais cedo
no bar? 一 Inspiro profundamente receosa.
一 Não falo muito sobre a minha mãe, acostumei assim. 一
Jack concorda e fico aliviada.
一 Tudo bem, fale quando se sentir à vontade! Como era sua
vida antes daqui? Sem a parte difícil e incompreendida. 一 sorrio
das suas palavras e degusto o vinho antes de respondê-lo.
一 Bom, eu saia às vezes, gostava de ir até o campo mais
longe da cidade para deitar na grama e ver as estrelas. Quanto mais
distante, menor era a luminosidade e mais magnífico era o céu.
一 Isso que você chama de sair? Interessante, um conceito
único de diversão. 一 analisa em tom de brincadeira pegando a
garrafa para beber de novo.
一 Esse era o meu passeio preferido. Muita coisa mudou na
minha vida nos últimos meses. Sempre fui um pouco solitária. Está
vendo aquela estrela? 一 Coloco a taça no chão, levanto o braço e
aponto para uma luz brilhante afastada de todas as outras.
一 Sim! Estou vendo… 一 sussurra.
一 Sou eu, mas de fato pode confirmar que não estou
sozinha, mas ali, no meu canto, consigo brilhar mais e ser eu
mesma. 一 Jack me olha e não consigo decifrar o que pode estar
pensando, mas a presença dele traz conforto e pela primeira vez me
permito falar o que permanece guardado. 一 Ser abandonada pela
Liana ainda bebê acabou comigo! Sabe como é crescer e ver todos
os seus amigos elogiando suas mães sem nem ao menos saber o
rosto da minha? 一 A expressão dele se torna de surpresa. 一 Ela foi
embora eu tinha dois meses de vida, só retornou quando eu tinha 09
anos, a conheci por fotos e por telefone. Ainda me lembro das
ligações e das promessas de me visitar, mas nos vimos no máximo
três vezes em 18 anos. Eu não sei o que fiz para que ela não
quisesse mais ser a minha mãe e durante todos esses anos só
queria que me amasse. 一 Jack segura minha mão apertando com
carinho.
一 Clayre, você é a estrela mais linda que já vi. 一 Sorrimos
juntos e com delicadeza ele envolve minhas duas mãos nas suas.
一 Sua mãe nunca tocou muito no assunto, mas disse que
teve uma briga em família e, por isso, precisou se afastar. 一 A
confissão do Jack só me prova que ela mentiu, papai sofreu tanto ao
constatar que Liana havia ido embora e nunca teve vergonha de
assumir.
一 Não houve brigas, ela disse que não estava pronta para
ser mãe, mas sinto que é tarde demais, não consigo amá-la. Sou
um monstro Jack. Guardo uma mágoa dentro do meu peito que não
consigo mensurar e me sinto mal por não perdoá-la.
一 Não se sinta mal, seus sentimentos importam, entendo
você se sentir assim, mas jamais repita que é um monstro,
entendeu?
一 Sim! 一 concordo virando o rosto para olhá-lo.
Passamos minutos nos admirando fixamente sem dizer nada.
Ele desce o olhar pelo meu corpo e a cada centímetro que ele
admira vai gerando uma pequena chama interna. Jack parece
pensar em algo porque vejo suas pupilas se dilatarem enquanto me
estuda.
一 O que foi? 一 Minha voz sai baixa e ele mira os meus
lábios.
一 Seu cheiro, eu não sei, parece despertar algo em mim. 一
confessa.
一 Como assim? 一 Jack se aproxima grudando seu corpo ao
meu e afunda o nariz no meu pescoço.
Neste momento meu coração parece falhar. Sinto que não
tenho mais ar e minhas mãos ficam frias e suadas. A respiração
dele me paralisa e escuto quando ele inspira lentamente o perfume
da minha pele. Antes que eu consiga ter qualquer reação escuto
seus lábios sussurrarem e seu hálito quente provoca um arrepio que
domina o meu corpo.
一 Tenho pensado muito em você, sei que é errado, mas o
seu cheiro é irresistível. 一 Sua confissão me desmonta por
completo.
Quero dizer que também tenho pensado nele, mas não
consigo, apenas fico em silêncio sentindo seu nariz roçar em mim.
Sua mão grande inesperadamente toca o meu rosto e fecho os
meus olhos. Ele esfrega suavemente sua barba em minha
mandíbula aproximando nossos rostos e estremeço. Recobro minha
consciência e me afasto abruptamente, fugindo do sofá.
一 O que está fazendo? Jack, você não pode me cheirar
assim. 一 esbravejo.
一 Me desculpe, não sei porque fiz isso.
Fujo rapidamente e volto para o quarto. Assim que fecho a
porta minhas mãos estão tremendo e minhas pernas fracas. Jack
mexe com todo o meu corpo e está dominando completamente
meus pensamentos e desejos. Fico com a sensação ardente que
queima no meio das minhas pernas. Estou totalmente excitada,
somente por ter me cheirado. Instintivamente levo a minha mão aos
meus mamilos. Deslizo os meus dedos sobre eles que estão
endurecidos e apontam na seda fina.
Queria sentir os toques do Jack no meu corpo e com
sensualidade levo a mão à minha boceta. Incerta afasto minha
calcinha e uma sensação extraordinária me castiga. Círculo o meu
clitóris com os meus dedos e calmamente os penetro dentro de mim
ansiando por mais. Sigo até a cama e sento abrindo as pernas.
Deslizo a calcinha retirando-a para ficar com o acesso livre. Eu
mesma me dei prazer algumas vezes, porém evito penetrar os meus
dedos tão fundo por conta da virgindade. Com sensualidade espalho
minha lubrificação por toda extensão. É insanamente gostoso me
tocar e a sensação queima o meu corpo quando imagino ser os
dedos do Jack.
Sei que é errado pensar nele, mas a tentação é maior do que
a minha racionalidade nesse momento. Aumento as esfregadas
enquanto fico excessivamente molhada de desejo. Lembro do seu
cheiro avassalador e fecho os olhos. Inclino a cabeça para trás
sendo consumida pelo prazer, mas escuto inesperadamente a porta
ranger e ao abrir os olhos vejo o Jack entrando de uma vez no
quarto.
一 Aaaah. 一 grito paralisada.
Seus olhos instintivamente recaem no meio das minhas
pernas vendo os meus próprios dedos me dando prazer.
一 Puta que pariu, não faz isso comigo. 一 Ele leva a mão ao
pau e aperta enquanto fecho minhas pernas morrendo de
vergonha.
一 Me desculpe, eu sinto muito. 一 Jack fica constrangido e
desvia o olhar para o chão.
Ele dá um passo para trás e pigarreia antes de dizer o que
exatamente faz aqui.
一 Só queria te pedir desculpas e dizer que o que aconteceu
lá fora não vai se repetir. 一 declara sem fazer contato visual.
一 Tudo bem Jack, sem problemas. Fingiremos que nada
disso aconteceu. 一 aviso saltando da cama nervosa enquanto
arrumo minha roupa.
一 Ótimo! Bom, vou indo! 一 Jack sai rapidamente e
desaparece.
Levo as mãos aos lábios tentando controlar essa vontade de
correr atrás dele e agarrá-lo. Corro até a porta e fecho afobada.
Jamais imaginei que o Jack entraria sem bater. Sempre que nossos
olhares se encontram uma agonia invade meu estômago e perco o
ar. Uma grande culpa agora será o meu martírio. Será que ele
desconfiou que estava me tocando devido ao nosso contato? Será
que as coisas ficarão ainda mais difíceis? Definitivamente, a partir
de hoje passarei a chave toda vez que minha mente safada decidir
pecar.
“Droga, está se tornando impossível ficar longe dele”.
CAPÍTULO 7
“Quando você entrou, o ar saiu
E cada sombra se encheu de dúvida
Não sei quem você pensa que é
Mas antes que a noite acabe
Quero fazer coisas picantes com você”
(Bad Things, Jace Everett)

Quando coloquei a mão suavemente no rosto da Clayre senti


necessidade de protegê-la da dor que predominava em seu peito ao
falar do passado. Havia sinceridade em seu olhar e naquele instante
descobri que Liana talvez fosse alguém que nunca conheci de
verdade. Por que abandonaria sua própria filha? Não encontro
justificativas positivas para isso. A textura de sua pele era macia e
tinha um cheiro doce que me deixou inebriado. Desde a primeira vez
que a vi parece que um sol nasceu dentro de mim e vem queimando
tudo por dentro.
Hoje fiz sexo com a Liana, mas enquanto fechava os olhos
era o rosto da Clayre que eu via. Estou confuso e perdido. Nunca
estive nessa posição, onde uma mulher predomina em minha mente
com tamanha solidez. Seu cheiro era estimulante e fez meu corpo
reagir. Afundei meu nariz no seu pescoço sentindo a sensação
gostosa que me corroía de dentro para fora. Queria beijá-la, queria
ter segurado forte o seu corpo em meus braços. Quando me
aproximei, sua pele estava quente e um desejo insano me
perturbou.
Queria ter puxado seus cabelos loiros e a debruçado no sofá
com força para explorar sua boceta com o meu pau. Não poderia
fazer isso, ela é apenas uma garota, um desejo proibido. Não
entende nada da vida e tudo que sentia naquele momento era
carnal. O meu pau queria comê-la, era somente isso. Fecho agora a
porta do quarto da Clayre sentindo minha ereção querendo fugir do
meu short. A verdade é que quero fodidamente agarrá-la. Encontrá-
la se tocando fez o meu corpo despertar.
“Queria apenas me desculpar por tê-la cheirado e sai pior do
que entrei”.
Entro no meu quarto e Liana logo fala comigo.
一 A Clayre estava acordada? 一 Sigo para o banheiro
evitando que veja que estou de pau duro.
一 Sim, ela estava tomando um ar lá fora. Usarei o banheiro,
já saio.
Encosto a porta querendo impedi-la de ficar falando sem
parar. Passo a mão no meu rosto e encosto na pia enquanto olho no
espelho. Abro a torneira e jogo água fria em minha face querendo
fugir desse desejo atormentador. Enxugo-o e me encaro novamente
brigando mentalmente com o meu próprio reflexo dizendo que “essa
porra é errada, mas eu quero mesmo assim”. Fecho os olhos e tudo
que recordo é do cheiro da Clayre e da sua boceta que agora, não
sai da minha cabeça. Coloco a mão instintivamente no meu pau e
aperto contornando meu comprimento que está duro. Lembro do
seu cheiro doce, lembro dos seus mamilos excitados que
apontavam na lingerie fina.
Eles tinham um aspecto arredondado, sendo evidente uma
breve coloração rosada que fazia contraste com o tecido branco.
Sou tomado por uma sensação louca de querer tê-la em meus
braços e enfio a mão dentro do meu short. Seguro na base do meu
pau expondo-o para fora da roupa. Lentamente deslizo minha mão
ao redor imaginando ser aquela boceta. Com movimentos suaves
começo a me masturbar. Acaricio a glande e inicio os movimentos
rápidos e forte. Imagino a Clayre aqui na minha frente enquanto
abro suas pernas e enfio meu pau profundamente dentro dela.
Assusto quando sinto a mão da Liana por trás de mim
envolvendo a minha ereção e me ajudando na masturbação. Ela
segura junto comigo enquanto faço movimentos frenéticos. Com
rapidez ela gira o meu corpo e se joelha. Sua boca grande começa
a me chupar e seguro sua cabeça entrelaçando minhas mãos em
seus cabelos. Imagino ser a boquinha da Clayre. Começo a socar
em sua garganta com intensidade. Ela engasga e neste momento
não é a Liana que vejo é sua filha, com seus olhos grandes e
sensuais. Com suas bochechas coradas e com seus lábios
carnudos.
Sinto que é na sua boquinha que estou fodendo gostoso.
Liana captura minha ereção enquanto masturba e chupa com
apetite. Quando estou louco de desejo gozo imaginando estar
depositando meu líquido em outro lugar. Afasto-me atordoado pelo
que acabei de fazer. Não é o ato em si que me culpa, mas o quanto
fui pecador em pensar em sua filha.
“Há droga, estou fodido”.
Liana rapidamente cospe o meu gozo e depois me olha com
curiosidade.
一 Hoje você está cheio de tesão?
Transamos cerca de uma hora antes, já tinha tomado banho
e me preparado para dormir quando fui tomar água e encontrei a
Clayre. Ficar duro de novo não é o que normalmente acontece.
一 Apenas estou animado hoje e às vezes o pau sobe
sozinho!
一 Hum, quer fazer amor de novo? Estou louca para sentir
você em mim.
一 Era apenas um desejo passageiro, estou cansado, vamos
dormir. 一 A verdade é que não quero comê-la novamente.
Não quando estupidamente imagino outra pessoa em seu
lugar.
一 Não sei como agir com ela Jack…
一 Como assim? 一 questiono me limpando.
一 A Clayre! 一 Liana segue para o quarto e assim que
termino vou até a cama.
Acomodo-me embaixo das cobertas e nos travesseiros.
一 Por que não sabe como agir com ela? Clayre é bem
tranquila! 一 Liana gruda o corpo ao meu encostando a cabeça no
meu peitoral.
一 Quando Gerald me falou para recebê-la aqui em casa eu
achei que era a oportunidade perfeita de recomeçar. O problema é
que eu não sei como fazer isso.
一 Comece conhecendo sua filha. Ela é doce, inteligente, tem
um jeitinho meigo inconfundível e o olhar sempre parece dizer
muitas coisas.
一 Percebeu tudo isso ao olhar para ela?
“Ah, droga, falei demais”.
一 Sim, ela é bem transparente. Conseguiu ter uma conversa
sincera com ela? Nesses quinze dias que ela está aqui senti que
tem se afastado. Acho que é importante começar falando sobre o
passado, sobre essa grande lacuna que existe entre vocês! Para
cicatrizar as mágoas existentes.
一 Não quero ter essa conversa com ela.
一 Sem essa conversa vocês nunca conseguirão seguir em
frente. Por que abandonou a Clayre quando bebê? 一 Liana se
remexe incomodada com a minha pergunta.
一 Não quero falar sobre isso. Tive depressão pós-parto,
ponto.
一 Entendo, mas ela tem 18 anos. Por que demorou tanto a
querer recomeçar? 一 Liana se afasta virando de costas.
一 Boa noite Jack! Um dia falarei sobre isso, mas não é hoje.
Isso é passado.
Jack falar com tanta devoção as característica da Clayre me
deixou intrigada. Seus questionamentos trazem junto uma grande
dúvida. Por que ele quer saber sobre o passado? Clayre disse algo
a ele? Falou mal de mim? Há 18 anos saí de Charleston para fugir
de tudo que me relacionava à maternidade. Olhava para aquela
pequena criança e sentia repulsa. Não conseguia pensar porque o
choro dela era intenso. Estava depressiva, fora de mim, passei por
muitos momentos de surtos e quando a segurava em meus braços
queria machucá-la. A largava sozinha para ficar em outro cômodo,
longe do seu rosto e do choro que trazia desespero. Atualmente,
quando meus pensamentos começam a me levar ao passado, mudo
totalmente o foco.
A verdade é que fiquei com o Gerald porque estava
apaixonada, fui burra, não pensava direito e deixei o sentimento me
levar. Sempre quis um homem que me desse uma vida de luxo
enquanto ele não tinha onde cair morto. Minha depressão piorou
porque engravidei e percebi que estava fadada a uma vida
miserável e os meus desejos e sonhos eram grandes demais para
aquela família pobre. Nutro muita dor, raiva e ódio ao longo dos
anos. Quero apagar essa parte da minha vida e olhar para a Clayre
não ajuda.
O casamento é a única coisa que me importa e hoje é a
minha prioridade. Jack é um homem rico, extremamente lindo e
atraente e conhecê-lo já estava nos meus planos. Eu tentei ser mãe
e algumas vezes até cogitei uma aproximação. Porém quando
estava diante dela, daquela criança que suplicava atenção, me
sentia sufocada. Seus olhos clamavam por carinho e não conseguia
suprir essa necessidade. Gerald me ligou há dois meses
perguntando se poderia receber a Clayre e que ela começaria na
faculdade aqui de Miami no verão. Não sei qual o motivo que a fez
justamente querer estudar aqui. Talvez me perseguir? Querer uma
aproximação forçada? O grande problema é que nunca a quis perto.
Eu e o Jack estamos em uma fase pré-casamento, onde precisamos
escolher todos os detalhes e de primeiro momento fiz questão de
recusar o pedido dele. Mas precisei abdicar da minha paz e aceitá-
la, afinal, o Jack acabou vendo sem querer a mensagem do Gerald.
Não poderia deixá-lo com a impressão errada de que não sou
uma boa mãe, porque em breve será a nossa união. Então, voltei
atrás, e mesmo que ele tenha a ideia de não querer filhos,
compreendeu que se tivesse um o ajudaria. Não quis parecer
maldosa e até inventei uma desculpa boba de que o apartamento
era dele, mas não se importou e fui obrigada a ceder. Nunca quis
ser a mãe dela e agora que é adulta não faz sentido querer
recuperar algo. Kal ofereceu trabalho no bar e isso é algo que usarei
ao meu favor. Jack por muitas vezes é disperso, tem um jeito
largado de viver a vida, não gosta de compromissos, nem horas
marcadas, nem pressão e muito menos de luxo. Conquistá-lo não foi
difícil porque eu soube exatamente como alcançá-lo.
Estamos em uma relação em que ele almeja liberdade e sabe
que não quero ter filhos, ou pensa que não, e claro, tenho os meus
objetivos que consistem em concretizar esse casamento. Receber a
Clayre atrapalharia todos eles, mas ela será uma grande aliada em
fazer esse casamento acontecer, poderá pegar no pé dele por mim
e com isso demonstro ao Jack que sou responsável, sem que
imprevistos aconteçam para me atrapalhar. Um sacrifício em prol de
um bem maior. Após o casamento os meus planos serão outros,
Clayre precisará se virar porque o meu futuro já está definido e não
inclui tê-la em minha vida.
Passei as duas primeiras semanas de adaptação dela
indisponível. Sei que irá me questionar com infinitas dúvidas como
“por que me abandonou e blah blah blah”, e não quero esse drama
familiar. Nunca fui uma mulher paciente, que queria viver uma vida
simples com um monte de filhos pendurado nas minhas pernas.
Engravidar naquela época foi um martírio, é claro que me
encheu de amor, mas naquela noite depois de estar tão imersa na
depressão, ganhei uma dor interminável que nunca me deixou amá-
la. Aparentemente os dois se deram bem e isso é mais um ponto
positivo para mim, embora os seus questionamentos de agora
tenham me deixado preocupada.
CAPÍTULO 8
“Ei, Satanás!
Paguei minhas dívidas
Tocando em uma banda de rock
Ei, mamãe! Olhe para mim
Estou a caminho da terra prometida”
(Highway To Hell, AC/DC)

Depois de muito racionalizar o que estou sentindo e buscar


motivos para me afastar do Jack, finalmente adormeço. Amanhece e
abro lentamente os olhos.
“Droga, preciso mesmo ir tomar café da manhã?”.
Faço minha higiene e após trocar desço até a sala de jantar.
Encontro uma mesa farta e Jack está sentado tomando café. Meu
coração acelera assim que ele me olha.
一 Bom dia. 一 cumprimenta envergonhado.
一 Bom dia. 一 respondo tímida.
Ele não precisa dizer, mas a imagem da noite passada, do
constrangimento retorna. Evito encará-lo e sigo até a cadeira mais
longe, na ponta oposta e sento. Em meio aos pães e bolos pego o
café e me sirvo. Minutos depois Liana entra no cômodo sorrindo.
一 Bom dia! 一 O ambiente parece se tornar pesado e
esmagador.
Queria não sentir essa sensação, mas é incontrolável.
Sempre que analiso seu rosto percebo o quanto possui frieza e
indiferença quando se trata de mim.
一 Bom dia mãe! 一 Liana senta no colo do Jack e
imediatamente nos entreolhamos em um misto de culpa e angústia.
一 Filha, estou muito feliz de tê-la aqui. Semana que vem
tenho a prova dos doces e bolos no período da manhã e quero que
me acompanhe.
一 Claro, mãe.
一 Ótimo, os dias passaram voando. Ah, e no mesmo dia à
tarde o Jack precisará visitar o salão, não podemos fechar de última
hora, afinal dois meses passam rápido. Acompanhe o Jack, por
favor, não posso deixar a Dora sozinha na cafeteria. 一 Jack fica
envergonhado e tenta disfarçar o incômodo que de repente se
formou.
一 Acompanho, sem problemas.
Permaneço em silêncio e faço minha refeição evitando olhar
para os dois. Tudo que quero é fugir de tudo isso, da bagunça que
começa a crescer em meu coração. Além de ser totalmente
perturbador vê-la sentada no colo dele se esfregando
ocasionalmente.
“Faltam poucos dias para vê-los se casando, isso só piora”.
Sinto o olhar do Jack queimar o meu rosto e viro para o lado,
evitando cair em tentação, afinal, ele com o peitoral à mostra me
deixa balançada. Assim que termino corro para o quarto e
permaneço o resto do dia lá.
Passo a tarde conhecendo as matérias da faculdade e
conversando com a Rebeca. Aproveitei para avisá-la que agora
trabalharei todas as noites. Não conto nada sobre o Jack, a verdade
é que me sinto confusa e estou decidida a encerrar esses
sentimentos imorais. Quando a noite chega, tomo um banho e vou
me arrumar para o meu primeiro dia de trabalho no bar. Escolho um
vestido curto preto colado, afinal, o lugar é lotado e quero estar
bonita. Passo um batom leve avermelhado nos lábios e sigo até a
sala para encontrar o Jack.
— Uau, você está incrível. 一 A voz sai com entusiasmo e
seus olhos verdes percorrem o meu corpo.
Jack veste um terno social esportivo entreaberto e está
completamente irresistível. Ignoro-o totalmente e caminho para fora
do apartamento. Fica estampada em sua face uma expressão de
desapontamento e finjo não ver. A partir de hoje estou decidida a
não conversar mais nada com ele, nosso contato será apenas sobre
bebidas. O trajeto é silencioso e o tempo todo nos olhamos
disfarçadamente. Assim que chegamos no bar, um homem está
parado no balcão esperando. Ele é alto, a pele parda, os cabelos
acobreados e veste roupa social. O olhar do desconhecido recai
sobre mim e retribuo.
一 Já trocou de namorada Jack? 一 questiona com zombaria.
一 Essa é a filha da Liana, tenha respeito. 一 retruca furioso.
一 Me desculpe. 一 A fala dele desperta minha imaginação e
me fantasio sendo namorada do Jack.
“Já pensou esse homem ao meu lado? Jamais dormiríamos”
O homem me tira dos meus devaneios quando estica a mão
com educação para me cumprimentar. Aceito sorrindo e pela
maneira firme do aperto demonstra ser confiante.
一 Boa noite, eu sou o Ferri Brookstein, amigo e fornecedor
de produtos para a produção de cervejas do Jack.
一 Boa noite! É um prazer conhecê-lo!
一 O prazer é todo meu!
一 Clayre pode falar com o Kal, ele mostrará o bar, preciso
falar com o Ferri. 一 concordo e sigo em direção ao Kal.

Ferri me acompanha até o escritório e já sei que alguma


besteira sairá de sua boca. Atravessamos a porta e rapidamente ele
caminha até o pequeno bar no canto esquerdo da mesa central e
serve-se com um drink de rum.
一 Então quer dizer que aquela gostosa é filha da Liana? O
que exatamente ela faz aqui com você? 一 questiona com ironia.
一 Não é isso que você está pensando, seu animal. 一 Ele ri e
cruza os braços olhando fixamente para mim. 一 Ela trabalhará aqui
no bar. 一 finalizo.
一 Fingirei que não vi seus olhos queimando a bunda dela,
enquanto caminhava em direção ao Kal.
一 Nada a ver! Casarei com a mãe dela em poucos dias. Amo
a Liana, tenho certeza disso.
一 Ótimo, então não está sentindo nada por aquela garota,
certo? Porque quando você ama alguém acho que não fica
interessado em outras mulheres. 一 Ignoro seus comentários e vou
até a gaveta pegar os documentos assinados que veio buscar.
Entrego os papéis e não consigo esquecer o que acabou de
dizer.
一 Todo homem ficaria animado olhando para ela, afinal, é
gostosa, tem os seios e o bumbum extremamente perfeitos. 一
analiso cruamente tentando me justificar.
一 Achar bonito é uma coisa Jack, desejar e comer com os
olhos é diferente. 一 Ferri pega os papéis e começa a andar
enquanto fala. 一 Resolva isso! Já pensou transar com uma mulher
pensando em outra?
“Droga, isso aconteceu ontem”.
一 Como eu resolveria isso? 一 questiono curioso.
一 É só comer a garota, e pronto, já era, as pessoas se
comem escondido o tempo todo, não finja ser o santo Jack.
一 Que conselho de merda. 一 retruco irado.
一 O único disponível! Pense comigo. Ela é nova, você é
novo, Liana é uma mulher experiente e todo mundo sabe porque a
escolheu.
一 Por que a escolhi? 一 pergunto intrigado.
一 Você tem medo de amar de verdade, de viver uma vida de
casado, por isso, escolheu uma mulher que apenas suporta e não
quer ter filhos. 一 ele caminha em direção à porta. 一 Mate esse
sentimento pela garota, antes que ele te domine. O olhar que lançou
nela eu nunca vi antes para qualquer outra mulher. Cuidado Jack!
Está se enganando. Até mais… 一 Ferri vai embora me deixando
completamente frustrado e irritado com a sugestão e o seu
comentário.
Conheço-o desde que iniciei o bar “Drink in Hell” e isso faz
três anos. Antes nosso contato era nas fábricas e assim nos
tornamos amigos. Realmente admirei os atributos da Clayre e fico
preocupado se mais alguém notou esse desejo persistente. Kal não
fez errado em oferecer emprego, ele está comigo desde o início e
nessa história toda eu sou o total culpado por ter pensamentos
impuros e libertinos.
Alguém bate suavemente na porta e entra.
一 Com licença Jack… 一 Clayre fala com o olhar fixo ao
chão. 一 Kal pediu para você mostrar a parte dos barris de vinho e
whisky.
一 Claro, vamos lá, é acesso privado, mas é importante que
você conheça tudo, caso qualquer coisa aconteça estará apta a se
localizar.
一 Ninguém pode descer nesse lugar?
一 Normalmente só eu acesso o local, por quê?
一 Ficaria só eu e você lá dentro? 一 questiona enquanto
finalmente levanta o rosto para me encarar.
一 Está com medo de ficar sozinha comigo Clayre?
Ela não diz nada, mas percebo seu rosto lentamente adquirir
uma coloração avermelhada nas bochechas. Com vergonha, morde
os lábios e sei que algo mais está acontecendo entre nós dois, o
que acaba de foder minha mente e relembrar as palavras do Ferri.
Ele está certo ao dizer que se eu amasse a Liana não sentiria nada
diferente por outra pessoa. Por mais que meu desejo seja carnal,
não consigo negar o óbvio e principalmente essa excitação que me
corrói toda vez que olho para essa garota.

Sem perceber deixei que as palavras saíssem da minha


boca. É óbvio que só de imaginar em ficar sozinha com o Jack meu
estômago começa a torcer. Ele olha profundamente nos meus olhos
enquanto me questiona se estou com medo de ficarmos sozinhos.
Recupero a postura e mentalmente me xingo por ter deixado o
medo escapar em palavras.
“Burra, você disse em voz alta”.
Ficar próxima ao Jack me deixa desconcertada e com falas
desconexas.
一 Não tenho medo de ficar sozinha com você e também não
precisamos ir lá embaixo.
一 Não? — Arqueia a sobrancelha sorrindo.
一 Não, já que é uma área que só você tem acesso, acho que
não tem necessidade. 一 retruco incerta.
Jack apenas me analisa sem piscar enquanto seu olhar
incisivo sobe e desce no meu rosto. Minhas bochechas começam a
queimar e meu coração acelera quando ele dá um passo em minha
direção. Ele coloca com doçura a mão no meu queixo, elevando o
meu rosto. Nesse momento, se eu tinha alguma noção de espaço e
tempo, acabou de ser completamente perdida. Nos admiramos
vidrados e presos por uma conexão que é impossível de ser
explicada.
一 Não morderei você Clayre, a menos que você queira e
peça.
Suas palavras fazem o meu corpo todo ser tomado por um
tsunami de arrepio. Alguém bate na porta e Jack se afasta de mim.
Internamente agradeço por isso, afinal, eu já não tinha mais nenhum
controle dos meus atos.
一 Entra… 一 Kal abre a porta.
一 Jack, os caras chegaram, é bom apresentar a Clayre.
一 Claro, mostrarei onde ficam os barris e já voltamos.
一 Tudo bem! 一 Kal desaparece no corredor e Jack indica
com o braço para sairmos.
一 Vamos, te mostrarei o ambiente de armazenamento.
Normalmente eu que acesso o local porque os caras estão sempre
ocupados, mas caso precise pegar alguma bebida, podem entrar e
retirar, sem problema.
Sigo ao lado do Jack pelos corredores e minutos depois
estamos na área subterrânea. O bar é imenso, ocupa um quarteirão
todo e a estrutura é magnífica. As paredes de tijolos mantêm o
ambiente com temperatura quente diferente do andar de cima que
está em torno dos 15° C. Admiro encantada vários barris dispostos
em prateleiras.
一 Uau, por que eles ficam guardados aqui?
一 Os tonéis ficam aqui por conta da temperatura.
一 Por que os whiskies e vinhos precisam ficar dentro deles?
一 Jack sorri enquanto admira sua criação.
一 As barricas de carvalho onde estão armazenadas as
bebidas são responsáveis por garantir aromas e sabores
inesquecíveis. É um recurso que nós chamamos de vinificação para
vinhos e maturação para os whiskies. Os meus clientes gostam das
bebidas que produzo, então mantenho um estoque pequeno aqui. 一
A voz entusiasmada e sensual do Jack reverbera pelas paredes e
me deixa fascinada. 一 No fim, teremos vinhos aromáticos, suaves,
aveludados, cremosos e whiskies com envelhecimento de
qualidade. 一 A maneira que fala demonstra toda sua paixão pela
produção de bebidas. 一 Todas essas características me lembram
você… 一 recobro minha atenção em seu rosto surpresa com a sua
fala.
一 Eu? 一 Automaticamente começo a suar frio.
一 Sim! você. As características principais são: suave,
aveludada e um sabor inesquecível. O que me lembra da sua pele,
do seu cheiro e do seu gosto. 一 Meu corpo reage à sua fala ficando
totalmente aquecido.
一 Você não sabe o meu sabor Jack… 一 balbucio nervosa.
Ele se aproxima interrompendo os meus passos e me prende
contra a parede de pedra. Seu corpo encosta no meu e sua boca
fica a centímetros da minha.
一 Aposto que o seu sabor é melhor do que qualquer vinho
ou whisky que eu tenha produzido. Doce e proibido como uma sidra
de maçã! 一 Fecho os meus olhos enquanto uma sensação de
tremor passa pelas minhas pernas.
Os lábios do Jack roçam nos meus e é inexplicável como me
sinto nesse momento. Seu hálito quente e mentolado me excita e
coloco a mão direita no seu peitoral. Meu lado racional quer
empurrá-lo, porém o meu desejo faz com que eu apenas a deposite
ao lado do seu coração.
一 Jack, você é rústico como um drink alcoólico forte. É capaz
de aquecer todo o meu corpo, mas me causaria uma baita ressaca
moral! 一 confesso contra sua boca e ele sorri.
O ordinário cola seus lábios nos meus enquanto bate
novamente meu corpo contra a parede. Estou presa a ele, envolvida
e espremida contra o seu corpo forte e imenso. Minha mão sente
seu coração acelerar no peito e sua respiração se tornar profunda.
Sua língua desliza contornando minha boca entreaberta de
desejo. Seu lábios se movimentam sobre os meus e sua língua
pede passagem para saborear a minha. Meu coração falha, meu
corpo amolece e uma onda de desejo e descontrole sobe pelo meu
corpo. O cheiro inconfundível do Jack, o ambiente em meia-luz e a
adrenalina de ter nossos corpos conectados um ao outro me
impedem de pensar. Nossos lábios se enroscam e nossas línguas
se devoram completamente desesperadas. Suas mãos deslizam
pela lateral do meu corpo puxando-me contra o seu quadril.
Minhas mãos entram em seus cabelos pressionando os
nossos rostos para aumentar a intensidade do nosso beijo. Os
lábios são macios, carnudos, quentes e capturam os meus com
maestria. Nossas línguas diminuem o ritmo para curtir o sabor e se
entrelaçam lentamente enquanto meu corpo quer
desesperadamente o dele. Afastamos por um segundo, sua
respiração desalinhada contrasta com a minha respiração ofegante
enquanto o nosso olhar se encontra fixamente.
一 Jack… 一 balbucio ansiosa.
一 Diga de novo o meu nome… 一 Ordena com a voz grossa
e potente.
Meu corpo queima com seu pedido e o nome dele sai de
forma sensual e pausada dos meus lábios.
一 Jack… não faça isso comigo Jack. 一 Minha voz baixa,
mansa e doce o faz morder os meus lábios e pressionar seu
membro duro contra minha virilha.
一 Você não tem pena de mim, Clayre? 一 Ele afunda seu
nariz no meu pescoço e deposita pequenos beijos na minha pele.
Suas mãos puxam lentamente o meu vestido enquanto o seu
quadril invade o meio das minhas pernas levantando-me do chão.
一 Está sem calcinha, droga, isso é irresistível.
Inclino levemente minha cabeça para a lateral sentindo seus
lábios percorrerem a minha pele. Minha boceta toca em sua
protuberância notável e estou completamente excitada. Abro
levemente os olhos e dou conta do que estamos fazendo. Um
vislumbre de sanidade parece me castigar e volto à realidade.
一 Oh Jack. Ah, meu Deus… 一 Empurro o seu corpo que
está preso ao meu e o encaro assustada. 一 Por que estamos
fazendo isso? Fique longe de mim! 一 Antes que me responda
começo a caminhar arrumando o vestido e corro para o bar.
Esse ser acaba de destruir o pouco de controle que existia
em mim. Meu corpo, minha mente e minha boceta queimam de
desejo por ele, somente ele. Sou apenas uma virgem descobrindo
que meu corpo quer ser explorado proibidamente pelo meu
padrasto.
CAPÍTULO 9
“Você flutua como uma pena
Em um belo mundo
Eu gostaria de ser especial
Você é especial pra caralho
Mas eu sou uma aberração
Eu sou um esquisitão”
(Creep, Radiohead)

A Clayre fugiu de mim e com toda certeza não falará mais


comigo. Me deixei levar pelo que estava sentindo e sem perceber a
beijei. Não entendo exatamente porque fiz isso. Minha vida sempre
esteve sob controle, jamais gostei dessa porra de lances fora de um
relacionamento. Mas, desde que a vi parece que perdi a sanidade.
Quando a razão fala dentro de mim, sei que estou errando, mas
diante dela, do efeito causado pela nossa aproximação, viro um
idiota inconsequente.
Quando conheci a Liana senti segurança. Uma relação com
uma pessoa mais velha, que possui experiência de vida, sempre me
pareceu a escolha perfeita. Hoje questiono, é realmente a escolha
perfeita? Coloco a mão no meu pau e vejo uma pequena mancha de
excitação da Clayre na minha calça social. É o suficiente para me
deixar louco de tesão. Seu beijo é insanamente delicioso e o desejo
de ter os meus dedos e o meu pau dentro dela me deixou maluco.
Arrumo-o na calça e depois retorno para o bar.
Chego no balcão e ela está sorrindo para os caras
ocasionando um terrível desconforto em meu peito. Percebo os
olhares maliciosos em seu corpo e sabendo que está sem calcinha
por baixo daquele vestido curto me causa irritação.
一 Bom, apresentarei os funcionários. Esse é o Rubens. 一
falo disfarçando a minha insatisfação.
一 Olá! 一 Responde docemente e meus homens se
apresentam.
一 Prazer, Rubens.
一 Sou o Jason. É bom ter uma mulher aqui.
一 Thomas, seja bem-vinda ao bar. Qualquer dúvida ou
problema estaremos aqui para ajudar.
Clayre aperta a mão deles animada e segundos depois se
posiciona ao lado do balcão. Seus olhos encontram os meus e seu
rosto está vermelho de vergonha. Sei que deveria estar arrependido,
mas a única coisa que consigo pensar é em beijá-la novamente.
O primeiro cliente entra pela porta e para em sua frente.
一 Boa noite, gatinha, me vê um copo de chopp.
Meus homens prestam atenção para ver como ela se
comportará. Respiro fundo, tentando controlar meu desconforto em
ouvir o cara chamá-la de “gatinha”.
一 Pegarei para você… 一 Clayre se aproxima da chopeira,
pega uma caneca de vidro e preenche com chopp. 一 Sabe o que
iria super bem com esse chopp?
一 O que gatinha?
一 A porção incrível de frango empanado que eles fazem…
一 O homem sorri e arqueia uma sobrancelha.
Clayre inclina o corpo para frente no balcão expondo os seios
e entrega a caneca.
一 Prontinho.
一 Quero a porção.
一 Você não vai se arrepender. 一 Garante enquanto os caras
sussurram elogios.
一 Gostei dela…
一 Nossos clientes vão comprar o que ela pedir. Acertou na
contratação Jack. 一 brinca Jason.
Bufo baixo e a única coisa que tenho certeza é que estou
furioso. Quero tê-la perto de mim, mas ver todos os caras a
rodeando não me agrada.
“Droga, tenho que lutar contra esse desejo incontrolável que
tem dominado as minhas ações”.
O restante da noite no bar é repleto de trabalho. O bar ficou
extremamente lotado e ao final do expediente todos estão mortos.
Guardo tudo e assim que termino Clayre está encostada na parede
ao lado da porta de saída. Sempre que admiro o seu rosto os
flashes do beijo retornam à minha memória.
Seguimos para o carro, entramos e iniciamos o caminho de
volta para o apartamento. O silêncio é ensurdecedor, traz junto uma
sensação estranha de que erramos e, ao mesmo tempo, precisamos
ou não falar sobre isso. Inspiro profundamente e inclino o meu rosto
para admirá-la. Clayre está encolhida no banco, com os olhos fixos
na cidade lá fora. Sou o total culpado desse clima de culpa, dúvidas,
desejo e melancolia.
“Talvez deva dizer algo, pedir desculpas por tê-la beijado,
afinal, me mata sentir essa parede invisível e pesada”.
O perfume que o Jack exala parece me tirar a sanidade. Abro
o vidro do carro esperando que o vento possa levar seu cheiro e
esse desejo louco. Queria desfocar dos pensamentos que retornam
o tempo todo para confundir os meus sentidos. Inesperadamente ele
fala comigo e sua voz baixa é o suficiente para estremecer o corpo.
一 Me desculpa, Clayre. 一 Fico em silêncio.
Sua expressão é triste por não ter uma resposta, mas não
consigo formular ou externar a confusão que estou nesse momento.
O restante do caminho é silencioso e tenso. Quando entramos no
apartamento corro para o quarto.
O banho quente faz meu corpo se excitar lembrando do toque
suave do Jack nas minhas coxas. Recordo também do seu beijo
intenso e inesquecível. A maneira como prensou o meu corpo, o
quanto as infinitas sensações que nunca senti dominaram cada
parte do meu ser. Sou preenchida com o mesmo desejo que senti
naqueles minutos pecaminosos. Culpada decido parar de me
martirizar e finalizo o banho. Após colocar o pijama, tomo os
remédios diários e deito na cama decidida.
“Isso jamais poderá acontecer de novo, não conseguiria
parar”.
Quero negar, porém, eu sei que internamente minha vontade
é outra, mas sou adulta, responsável e posso muito bem controlar
esse sentimento intruso. Isso é errado e não posso magoar minha
mãe. Inesperadamente alguém bate na porta e abre.
一 Oi, filha, como foi o primeiro dia no bar? 一 Liana entra no
quarto e senta ao meu lado na cama.
一 Foi uma noite intensa.
一 Intensa? Como assim?
一 Não quero falar disso. 一 corto o assunto.
一 Aconteceu alguma coisa? Gostou pelo menos? Jack foi
legal com você? 一 Desvio levemente o rosto do seu olhar e
disfarçadamente encaro o teto.
一 Nunca trabalhei em um bar, foi diferente e quanto ao Jack,
não se preocupe, ele foi legal comigo. 一 Ela me encara friamente.
一 Não faz essa cara filha. 一 Tento segurar minhas
expressões, porém ela percebeu que estou triste. 一 Sei que não
gosta muito do Jack, mas gradualmente vocês se acostumam um
com o outro.
一 Espero que sim. Mãe, gostaria de conversar com você!
一 Comigo? 一 indaga, surpresa.
一 Sim, bom, queria falar sobre o passado, acho que será
importante para recomeçarmos. 一 Liana me interrompe levantando
a mão.
一 Não, isso são coisas que seu pai colocou na sua cabeça.
Não temos nada para falar. Aposto que todos esses anos Gerard
ficou te dizendo o quanto foi difícil te criar sozinho, mas ele é o seu
pai, era obrigação dele cuidar de você na minha ausência. 一 A
raiva começa a borbulhar em meu peito e desde que cheguei aqui
tenho tentado ser legal, mas as falas dela sempre me magoam.
一 Era obrigação dele e sua. Diferente do que você pensa,
meu pai jamais falou mal de você ou reclamou do quanto foi difícil
cumprir os dois papéis. Se não quer falar do passado, se não deseja
recomeçar pode sair do quarto, estou cansada, preciso dormir. 一
Liana se levanta irritada.
一 Amanhã estará tudo bem, é o cansaço e toda essa
mudança na sua vida falando por você. Descansa filha! Não faz
sentido falar disso, o que importa é o presente e não o passado.
Jack conseguiu uma folga, acamparemos no próximo final de
semana. 一 Reviro os olhos enquanto observo ela caminhar até a
porta.
Odeio a dor que invade o meu peito todas as vezes que tento
uma aproximação e ela faz isso. A vida toda foi assim e meu pai
estava errado ao dizer que, agora, seria diferente. Liana nunca
enxergará que me causou sofrimento, que a sua ausência deixou
cicatrizes. Ela é fria, mecânica e age como se não fosse nada a
distância que vivemos todos esses anos.
一 O jantar está servido.
一 Estou sem fome, amanhã às 7h encontro vocês na sala.
一 Tudo bem! Boa noite!
一 Boa noite! 一 Liana sai do quarto e aconchego a cabeça
nos travesseiros.
Queria conversar, desabafar, mas agora está tarde para
enviar mensagem para a Rebeca. Instintivamente lembro do Jack,
da madrugada que conversamos e pareceu compreender os meus
sentimentos de tristeza. Analiso o teto, descendo o olhar nas
paredes brancas à procura de um pensamento ruim. De qualquer
faísca de mágoa que me faça ficar com raiva dele. Seria tão fácil
odiá-lo, porém não encontro nada… apenas as memórias
torturantes do nosso momento no bar.
CAPÍTULO 10
“Deitada aqui com você tão perto de mim
É difícil lutar contra esses sentimentos
Quando parece tão difícil de respirar
Estou presa neste momento
Presa no seu sorriso”
(Just A Kiss, Lady A)

Deitado aqui na cama relembro o que senti quando beijei a


Clayre. Tudo nela é convidativo, os olhos amendoados verdes
profundos, os lábios rosados carnudos, o sorriso arrebatador, mas o
que mais corrói a minha alma é a sensação de que jamais irei tocá-
la. Como matar esse desejo de tomá-la para mim? Sou um maldito
azarado. Levo meu olhar até o relógio na parede em minha frente e
são 3h da manhã. Liana dorme, mas não consigo nem fechar os
olhos. Preciso me abrir, dizer e confessar a porra que tem
acontecido no meu corpo. Levanto devagar, coloco um short e sigo
até o quarto da Clayre. Com passos suaves paro em frente a porta e
abro lentamente. Ela está deitada de costas, mas vira o rosto para
verificar.
一 Jack? O que faz aqui? 一 Em silêncio caminho até sua
cama e sento ao seu lado.
Clayre faz menção de se levantar, mas impeço levantando a
mão.
一 É rápido, só queria falar com você. 一 Com calma ela vira
o corpo para o meu lado e me olha intensamente.
Vê-la assim, com os cabelos bagunçados, os olhos
levemente inchados e a voz mansa e rouca acelera o meu coração.
Ela segura o meu braço puxando-me para o seu corpo. Aconchego
ao seu lado e nos abraçamos com força. Um abraço de carinho, de
confusão e de total culpa por tudo que estamos sentindo. Clayre
roça o rosto no meu peitoral e a aperto em meus braços.
一 Queria dizer que sinto muito. Nunca fui esse tipo de cara,
extremamente ordinário e inconsequente, mas toda vez que
estamos perto, perco o controle. Prometo não passar mais dos
limites! Cuidarei disso. 一 Ela não diz nada, apenas eleva o rosto
aproximando-se do meu. 一 Clayre, eu preciso que você diga que
me perdoa.
一 Jack, o beijo, essa sensação de paz que sinto ao estar do
seu lado são muito viciantes. Porém, você está certo, não podemos
mais fazer isso e sim eu te perdoo por ter perdido o controle. 一
Seguro seu rosto em minhas mãos e paro os meus lábios a
milímetros do seu.
Minha respiração aprofunda, meu peito se contrai e meu
coração bate fortemente pedindo que consuma mais uma vez o
pecado. Engulo em seco e apenas beijo a maçã do seu rosto. Sua
pele tem uma textura macia, aveludada e um leve aroma doce.
Completamente mexido, enfeitiçado por essa garota, luto com todas
as minhas forças e levanto bruscamente. Abandono o quarto sem
dizer nada, sem olhar para trás, engolindo toda a frustração que me
domina.
Amanhece depois de uma longa noite sem dormir direito.
Coloco uma roupa e estou decidido a entender o que está
acontecendo comigo e por que estou fora de controle. Saio do
quarto e sigo até a mesa para tomar o café da manhã. Liana sorri ao
me ver e fico preocupado por não avistar a Clayre. Ela tem se
alimentado pouco, ontem não jantou. Sento e sirvo uma xícara de
café sob o olhar curioso da Liana.
一 O que aconteceu? Está tudo bem meu amor? Parece
cansado. 一 Engulo o líquido de uma vez e me levanto.
一 Esqueci que tenho uma carga para receber, preciso ir, nos
vemos a noite. 一 Com carinho beijo o seu rosto e abandono o
apartamento seguindo direto para o carro.
Quero fugir de toda essa bagunça. Cada hora perto da Liana
passou a ser sem graça e superficial. Talvez não percebi antes, até
que a Clayre chegou e mostrou o quanto estava conformado. Ando
pelas ruas da cidade e em poucos minutos estaciono em frente a
um hospital. O lugar é grande, sofisticado e quando chego na
recepção a atendente coleta os meus dados para atendimento.
一 Certo, senhor Jack pode contar quais os sintomas que
está sentindo?
一 Bom, confusão mental, palpitação cardíaca e insônia. 一 A
mulher estuda o meu rosto desinteressada na minha aflição, mas
anota tudo.
一 Só aguardar, o Doutor Will irá chamar daqui a pouco. 一
concordo e sigo até as poltronas para me sentar.
Alguns instantes depois sou chamado para entrar na sala do
médico psiquiatra. O homem cumprimenta sorrindo, ele aparenta ter
uns 60 anos, os cabelos são grisalhos e indica com a mão para que
me sente. Acomodo-me na cadeira enquanto abre a ficha de
consulta.
一 Muito bem, o que está acontecendo Jack? Aqui
escreveram que está com confusão mental, que tipo?
一 Bom Dr. há uns quinze dias atrás minha vida mudou, na
verdade, continua a mesma, mas tenho agido diferente do que
normalmente faço.
一 Como assim senhor Bourbon?
一 Minha noiva é uma mulher mais velha, experiente e trouxe
a filha de 18 anos para morar com nós dois. Porém, desde que ela
chegou tenho agido como um idiota. A beijei mesmo sabendo que
era errado, passo a noite em claro pensando nela e toda vez por
menor que seja nossa aproximação perco a noção e faço coisas que
jamais faria. 一 O médico sorri, levanta-se de trás da mesa e para
ao meu lado.
一 O senhor está perfeitamente bem, não há nada de errado
com você, apenas possui um coração e está apaixonado.
一 Dr. não posso estar apaixonado por ela, sou noivo, da mãe
dela.
一 Quanto a isso desejo sorte, mas não se engane Jack,
esses são sinais clássicos de uma paixão avassaladora, aquelas
que não podemos controlar. Os principais sintomas: aumento da
pressão arterial e dos batimentos cardíacos, insônia, falta de apetite,
além da serotonina, que é uma das enzimas neuro-transmissoras
que são liberadas e pode levar a essa insanidade momentânea. Não
há nada que eu possa fazer, pense e defina a sua vida. 一
Aconselha e apenas concordo.
一 Obrigado doutor! Passarei os próximos dias empenhado a
não estar mais apaixonado.
一 Boa sorte senhor Bourbon.
Após uma manhã desfocada, decidi sair e caminhar um
pouco. As ruas são amplas, as arquiteturas são esplêndidas e o céu
está azul-celeste com poucas nuvens. Não tenho dúvidas de que
teria adorado crescer aqui, no entanto, quando nasci minha mãe
quis mudar imediatamente de cidade e papai nunca entendeu bem o
motivo. Admiro os jovens conversando, aparentam ter a minha
idade, mas nunca fui uma garota rodeada de amigos. Pelo contrário,
evitava por ser difícil ouvir a maioria falando sobre suas famílias,
principalmente de suas mães. Desenvolvi certa resistência, mas
cultivei ótimas amizades em Charleston.
Com a faculdade espero conhecer novas pessoas e viver o
tempo que ainda tenho sendo feliz. Minha doença progrediu muito
nos últimos meses e sei que em breve não terei opções a não ser o
transplante. Hoje a única pessoa que pode ser compatível mais
facilmente comigo é a minha mãe. Não quero pedir sua ajuda,
queria recuperar e sentir o amor que nunca tive por ela, mas a cada
dia fica evidente que isso nunca acontecerá. Não serei a filha que
voltou para ser salva, a menos que ela queira por sua própria
vontade, mas o orgulho não me permite suplicar que prolongue a
minha vida.
Ninguém sabe e não quero que tenham pena de mim. Avisto
a poucos metros a igreja Gesu Catholic Church[6]. Sigo até ela e
entro admirando a incrível arquitetura romana. Todo o altar possui
infinitas decorações douradas e sento em um dos bancos de
madeira. Papai é muito religioso e sempre íamos à igreja, hoje ele
está ainda mais conectado ao mundo espiritual. Segundo suas
palavras “você será curada”, mas, no fundo, eu sei que não é tão
simples assim, mesmo que quase sempre mantenha a confiança.
“Deus hoje não estou aqui para pedir pela minha vida, mas
sim para dizer que tenho tido medo. Dentro de mim cresce um
sentimento novo que está me tirando o sono. Eu juro que meu único
pensamento ao chegar aqui era me conectar com a mamãe, mas
olhar para o Jack, sentir o perfume dele, o calor que domina os
nossos corpos toda vez que estamos próximos tem sido o meu
único desejo agora. Diz o que preciso tanto saber. Deveria abrir mão
de tudo isso e recuperar a relação com a Liana ou viver esse
sentimento intenso e aproveitar cada momento antes que seja o
último?”.
Uma lágrima intrusa escorre no meu rosto e assusto quando
um vulto senta ao meu lado. Inclino o rosto e noto que é o padre
preocupado.
一 Está tudo bem? Tenho visto poucos jovens na igreja. 一
Inspiro profundamente antes de recuperar as forças para respondê-
lo.
一 Mais ou menos. O senhor é um homem de Deus, teria
como dizer o que ele me aconselharia? 一 O padre sorri e concorda.
一 Sim, posso te aconselhar segundo os mandamentos da
bíblia. O que está te afligindo?
一 Eu pequei padre, beijei o meu padrasto e estou
apaixonada por ele. 一 O homem faz o sinal da cruz e nega com a
cabeça.
一 Isso é errado, peça perdão para Deus. 一 Abaixo minha
cabeça assentindo e junto minhas mãos para rezar.
一 É o Diabo atentando você, te levando para o caminho do
pecado. Reze bastante que Deus tirará essa mancha do seu
coração. 一 concordo e ele se levanta.
Mesmo que eu saiba que é moralmente errado, dentro de
mim essa paixão parece começar a criar raízes. Sinto quando seus
ramos de atração penetram em meu coração, suas folhas de
profanação ganham verdes vívidos, intensos. E principalmente
quando sua essência de pecado forma o fruto avassalador que
pulsa junto às batidas do meu coração. Concluo que precisarei de
um exorcismo para me livrar desse sentimento.

Uma semana se passa entre conflitos internos. Eu e Jack


passamos a desviar os olhares todas as vezes que esbarrávamos
nos corredores. Fiquei reclusa, apenas focada nos passeios até a
praia e durante à noite, no bar eu mal o via, afinal, não saia mais do
escritório. Tudo para não ter que ver o meu rosto.
Cada hora que tentava evitá-lo sentia esse desejo crescer e a
insônia passou a ser uma companheira fixa nas noites. Amanhã é o
dia da escolha dos bolos e doces do casamento. Adormeço em
meio aos pensamentos de conflito e acordo assustada quando a
claridade invade a janela.
Com dor nos músculos levanto e me arrumo. Sempre que fico
tensa e nervosa o corpo reage. A água do chuveiro cai em minha
pele causando uma leve sensação dolorosa. Assim que termino
escolho uma roupa. Não queria mais acompanhá-los, entretanto,
havia aceitado, agora cumprirei com o que prometi.
Coloco um vestido azul bebê de seda curto, um salto scarpin
e deixo os cabelos soltos. Quando termino, vou até à sala e minha
mãe e o Jack esperam. Ele se levanta do sofá preocupado.
一 Está tudo bem, Clayre? Não apareceu para o jantar e nem
para o café da manhã! 一 Seus olhos estão suplicantes de tristeza e
desvio o rosto.
一 Sim. 一 Jack fica triste com a resposta ríspida e curta.
Liana se aproxima envolvendo meu corpo em um abraço
breve.
一 Está linda com esse vestido, parece uma boneca. Vamos,
temos vários bolos e doces para comermos! 一 concordo e saímos
juntos.
Pouco tempo depois estamos entrando em uma das maiores
docerias da Flórida. O ambiente é excepcional. As paredes são
todas texturizadas na cor branca, os detalhes, lustres e decorações
são dourados. Diversas vitrines com doces tornam o cheiro divino e
adocicado. Um homem elegante se aproxima para nos atender e no
mesmo instante os dois ficam sérios.
一 Bom dia, sejam bem vindos a Sapore Dolce.
一 Harry, o que faz aqui? 一 esbraveja Liana enquanto o
desconhecido sorri ironicamente.
O questionamento repentino revela que esse homem não é
muito amigável.
一 Estou gerenciando essa empresa. 一 Jack adota uma
expressão de fúria.
Harry estende a mão em minha direção e aperto com firmeza.
一 Bom dia! Quem é essa bela moça com você Liana? 一
Imediatamente Jack entra em minha frente como um segurança
querendo me proteger de um ataque.
一 Essa é a filha da Liana. Não ouse falar com ela. Vamos
embora, agora mesmo! 一 afirma o meu padrasto dominado pela
irritação.
CAPÍTULO 11
“Que jogo cruel de se jogar
Fazer eu me sentir assim
Que coisa cruel de se fazer
Me deixar sonhar com você
Que coisa cruel de se dizer
Que você nunca se sentiu assim”
(Wicked Game, Chris Isaak)

Pelas expressões sérias estampadas no rosto deles, sinto


que há algo doloroso do passado. Encosto na minha mãe e falo
baixo em seu ouvido.
一 Quem é esse homem? Por que estão todos tensos?
一 É o antigo sócio do Jack, eles possuem algum conflito. 一
justifica sussurrando.
Afasto-me dela quando o homem começa a andar e mostrar
o belo lugar.
一 Bom, esqueçam o passado, aqui sou apenas o Harry,
gerente da Sapore Dolce. Chamarei uma das nossas atendentes
que fará a degustação para vocês. 一 Jack fica em silêncio.
O homem ignora e se afasta para buscar uma mulher para
nos atender.
一 Vamos embora! 一 avisa furioso. 一 Esse cara é um ladrão
safado. Com tantos lugares para estar trabalhando tinha que ser
justo aqui? Onde provaríamos os doces? Vontade de socar a cara
dele. 一 esbraveja incontido.
一 Não, por favor, nenhum lugar faz doces perfeitos como a
sapore, outra pessoa irá nos atender, pronto. Nem precisaremos vê-
lo mais. 一 Antes que Jack consiga respondê-la, o tal Harry retorna
com uma mulher.
一 Essa é a Veruska, ela levará vocês para uma das salas,
fiquem à vontade. 一 O homem acena e depois some nos
corredores.
Pela impaciência do Jack e o semblante repleto de rancor e
raiva evidencia que o Harry fez algo grave. Quando tiver a chance
perguntarei o motivo, mas pelo que entendi ele o roubou.
一 Bom dia, me acompanhem, apresentarei todos os nossos
bolos exclusivos e os melhores doces, vocês vão amar.
Deixo os dois irem à frente e com passos lentos sigo atrás.
Os corredores são amplos, nas paredes possui luminárias de
cristais luxuosas e um cheiro suave de chocolate paira no ar. Jack
segura a cintura da minha mãe e isso me deixa entristecida. Esse
casamento, essa coisa de escolher bolos e doces parece não fazer
sentido para mim. Um pouco desse sentimento vem pelo fato de
estar inteiramente afim do Jack. Sinto-me uma vadia e,
simultaneamente, me martirizo por não saber como lutar contra algo
incontrolável.
Entramos na sala e sentamos no sofá elegante e confortável.
O ambiente é exuberante, as paredes são cor-de-rosa, no lado
direito possui uma lareira grande entalhada, no centro uma mesa
que receberá os bolos e do lado esquerdo um aparador repleto de
flores. O cheiro é doce e remete a infância e inocência. Eu e Jack
nos admiramos e Liana que está entre nós começa a sorrir sem
parar.
一 Filha, estou muito feliz, finalmente seremos uma família. 一
Ela ficar repetindo isso me assusta, até porque eu sempre fui sua
família e ela escolheu abandonar o meu pai.
A primeira rodada de bolos chega e a atendente coloca a
bandeja em cima da pequena mesa de vidro. Os bolos são lindos,
decorados e fazem minha boca salivar de vontade. O aroma suave
de baunilha contrasta com o cheiro adocicado das flores de jasmim
do cômodo, parecendo um sonho.
一 Esse é o primeiro bolo, o sabor é morango com raspas de
coco hidratadas na baunilha. 一 Veruska entrega uma fatia em um
prato de porcelana desenhado com flores azuis e douradas.
A sofisticação e a decoração dos doces impressionam. Liana
prova, depois o Jack e por último me delicio com um pedaço grande.
Uma explosão de sabores dissolve na minha língua e solto um
gemido baixo de satisfação. Jack admira os meus lábios sujos de
bolo e quando me dou conta está com os dedos na minha boca.
Paraliso sentindo o seu toque que com carinho limpa o canto dos
meus lábios. Uma onda de excitação ativa esse desejo ardente que
me prende a ele.
一 Pronto, estava sujo… eu… 一 Jack trava, sem graça, ao
perceber o que fez.
一 Você parece uma criança Clayre. 一 zomba Liana alegre.
Um sorriso forçado e sem graça é tudo que consigo dar neste
momento constrangedor. Veruska disfarça e prontamente entrega o
próximo pedaço.
一 Esse é de chocolate amargo com creme de pistache.
一 Amo pistache… 一 elogiei empolgada. 一 Jack dá uma
garfada no bolo e aproxima o talher da minha boca.
一 Experimente. 一 A colher está a milímetros de distância e
os segundos parecem horas intermináveis.
“Como devo agir nesse momento? Deixar o Jack dar o bolo
na minha boca?”.
As engrenagens da minha mente parecem não girar porque
sozinho o meu corpo reage. Abro os lábios e ele desliza a colher
para dentro da minha boca. O sabor do chocolate com o pistache é
magnífico, porém nada é mais genuíno do que o olhar do Jack. Ele
me observa em detalhes e a tensão parece exalar ao nosso redor.
Minha mãe nos analisa e rapidamente adota a sua expressão de
robô “sorrindo” novamente.
一 Vou ao banheiro. 一 Ela se levanta de uma vez, quase nos
atropelando e sai apressadamente pela porta.
A atendente se levanta recolhendo a bandeja. Acopla os
pratos de porcelana com cuidado e sorri.
一 Buscarei a próxima rodada de bolos e já retorno, fiquem à
vontade. 一 Ela passa pela porta e Jack instantaneamente encosta o
corpo no meu.
一 Não sei porque agi assim. 一 avisa triste.
Recosto no sofá bufando baixo e lentamente o seu rosto se
aproxima do meu.
一 Quero sentir o sabor do bolo pelos seus lábios e não me
pergunte o por quê. 一 sussurra.
一 Jack… 一 Seus braços me prendem no sofá e antes que
eu possa argumentar algo, ele me beija.
Jack é absurdamente ordinário e sua língua safada invade a
minha boca com maestria. Seu sabor irresistível se mistura ao sabor
doce do chocolate e com apetite nos devoramos mutualmente. As
mãos puxam minha cintura para o seu colo e meus seios roçam em
seu peitoral forte, fazendo meus mamilos se excitarem. Acabo de
perceber que provavelmente cometeremos uma loucura. Encaixo
meu quadril sobre o dele e suas mãos grandes lentamente sobem
pelas minhas pernas. Um arrepio inexplicável me domina e seu
toque é ardente. Jack morde meu lábio inferior e apalpa com tesão a
minha bunda pressionando minha boceta contra o seu membro
duro. É insano querer senti-lo dentro de mim e luto mentalmente
contra essa explosão de sentimentos que cresce no meu peito.
一 Clayre, não sei porque estou fazendo isso, serei
provavelmente internado por perder a sanidade, mas você causa
algo em mim, extremamente perturbador. 一 Ele confessa enquanto
esfrega o rosto no meu e solta uma respiração quente que me
arrebata.
一 Jack… você não pode fazer isso comigo, ficar assim…
com suas mãos no meu corpo. É errado. 一 As mãos dele sobem
lentamente pelas minhas costas conforme falo contra os seus
lábios.
一 Não há nada que eu não faria por você, inclusive pecar! 一
Inflo os meus pulmões, sentindo parte do meu corpo arrepiar.
Os dedos dedilham sobre a minha pele e uma de suas mãos
param na minha nuca me puxando para um beijo devorador. Sua
língua molhada dança eroticamente sobre a minha, causando uma
verdadeira combustão interna. O beijo é intenso, pecaminoso com
um sabor diferente de tudo que já provei. Jack levanta o meu
vestido desesperado e passa o dedo indicador na alça lateral da
minha calcinha fio dental. Minha entrada arde em desejo e o
ordinário escorrega os dedos para entrar na minha boceta. Antes
que de fato essa loucura se concretize, escutamos passos vindo do
corredor e imediatamente salto de seu colo.
一 Por favor, eu já disse Jack, não faça mais isso 一
Repreendo com o semblante triste, mesmo que estejamos loucos de
desejo um pelo outro, eu não posso ficar nesse papel, no meio de
um casamento.
Ele me olha triste e abre a boca para falar, porém, a porta se
abre e a Veruska entra com a bandeja cheia de bolos e doces.
一 Voltei, tem vários sabores incríveis, vocês precisam provar
o de abacaxi com amêndoa. 一 recomenda empolgada.
Tento evitar pensar, mas o conflito que se forma começa a
tirar minha paz. Levanto rapidamente e sem falar nada saio da sala.
Passo pelos corredores e no canto esquerdo, quase escondida, vejo
minha mãe conversando com o tal Harry. Eles se entreolham de
maneira intensa. As bochechas dela estão rosadas e ri de algo que
ele fala.
“O que exatamente está acontecendo entre eles? Isso é
estranho.”
Liana inclina o rosto e a fisionomia torna-se séria ao me ver.
Em um impulso ela corre em minha direção e segura o meu braço.
一 Filha, o que aconteceu?
一 Porque não está lá dentro provando os bolos e doces do
seu casamento? O que faz aqui conversando com o ex-sócio que
possui um problema com o Jack? 一 Liana me olha em choque e
gagueja tentando falar.
一 Filha… eu… e… bom.
一 Estou indo embora, não tenho nada para fazer aqui. 一
finalizo, começando a andar em direção à saída e ela retorna até o
homem para conversar.
“O que ela tanto fala com esse homem? Eles são amigos?
Estou confusa”.
CAPÍTULO 12
“E eu quero beijar você, fazer você se sentir bem
Estou simplesmente tão cansado de dividir minhas noites
Eu quero chorar e eu quero amar”
(Another Love, Tom Odell)

Quando chego à porta, sinto as mãos do Jack segurar o meu


quadril.
一 Clayre, espere por favor, eu sou um maldito idiota. Nunca
mais encostarei as mãos, o corpo ou a minha boca na sua. 一
Revela, parecendo culpado por passar dos limites mais uma vez.
Jack solta o meu corpo enquanto permaneço estática. Minha
mãe nos alcança com uma fisionomia preocupada, querendo
entender o que está acontecendo.
一 Deixaremos para provar os doces em outro lugar, vamos.
一 avisa.
Ela segura na mão do Jack e o puxa em direção ao carro.
Queria não sentir a raiva que cresce em meu coração nesse
momento, porém é humanamente impossível. Há alguns segundos
Jack estava me agarrando e, agora, os dois estão de mãos dadas
enquanto sou deixada para trás. Eles vão até o carro e entram.
“Me recuso a ir com eles, hoje não, não consigo fazer isso”.
Nesse momento, dou conta de que não quero mais morar
com eles.
“Não faz sentido dividir a casa com a minha mãe e estar
perdidamente apaixonada pelo mesmo homem que ela. Vou me
mudar”.
Desvio do carro e sigo caminho pelas ruas. Jack chama o
meu nome incansavelmente enquanto a Liana apenas observa. A
verdade é que ela nunca foi uma mãe de verdade e não dá para
fingir mais. Eu disse ao meu pai que tentaria, que eu faria dar certo,
realmente queria ser uma boa garota. Achei que pela primeira vez
fosse conseguir aproveitar alguns momentos com ela.
“Doce Ilusão Clayre, ela só liga para o Jack… e eu também,
que desastre”.
Após ignorar os chamados e continuar caminhando,
finalmente me aproximo do apartamento dele. Olho para o prédio e
o medo de entrar e de vê-lo me angustia. Somos dois seres
humanos completamente fora de controle. Ele tem a minha mãe, vai
se casar e continuar insistindo nessa tentação por algo proibido só
acabaria nos machucando. Sinto que a melhor saída será realmente
mudar de casa e manter distância permanente. Pego o celular e ligo
para o meu pai antes de entrar. Após alguns toques ele atende.
一 Pai, como você está?
一 Estou bem filha, morrendo de saudades, como está a
relação com a sua mãe? Estão se dando bem?
一 Que relação? Nunca houve uma, você sabe, estou aqui
porque você me pediu, esqueceu?
一 Pelo amor de Deus, Clayre, ela é sua mãe! Converse com
ela, tente resolver as coisas. 一 inspiro profundamente tentando
controlar a vontade de brigar e soltar umas verdades duras. 一 Você
prometeu filha, estou falando isso pelo seu bem!
一 Se você quisesse o meu bem, não me deixaria ficar
obrigada aqui.
一 Como assim filha? 一 pergunta assustado.
一 Você disse que a minha mãe havia oferecido a casa
quando soube que eu estaria aqui na Flórida. Liana realmente
ofereceu a casa? Ou foi você que sugeriu isso? 一 Ele fica em
silêncio e posso ouvir ao fundo as melodias das músicas de jazz
que sempre coloca em sua sala no escritório.
Ele pode até achar que me engana, mas percebi que tudo
não passou de mentiras. Um plano meramente calculado com o
intuito de uma aproximação forçada e no fim, um pedido para ela
testar uma possível compatibilidade de medula óssea.
一 Quando cheguei na cidade, ela me olhou surpresa, afinal,
não lembrava da data que a filha estaria aqui! Achou que eu estava
tão desesperada por uma mãe? 一 esbravejo aumentando o tom de
voz.
一 Eu só achei que seria bom, finalmente vê-la como alguém
importante na sua vida. 一 justifica abatido.
一 Você mentiu, ela nunca me quis aqui, você queria se livrar
de mim. 一 declaro, sem pensar que posso magoá-lo.
一 Clayre, jamais diga isso! 一 tento me acalmar para não
exceder.
一 Pai, amor e carinho não se força, apenas acontece. Eu
não quero apenas uma doadora, se fosse isso, eu mesma teria
pedido ajuda para ela, pelo contrário, eu queria uma mãe. Amor.
Afeto. Laços. Liana não está disposta a me dar.
一 Não é isso filha. Lembro-me dos dias que estava doente
no ano passado, no momento agressivo da doença, o quanto sofreu
internada e queria que esse ano fosse especial para você. 一 A
confissão do meu pai mexe comigo, realmente quando estive
internada descobrimos a fase inicial da aplasia.
Ele segurou minha mão e se manteve ao meu lado até nos
piores momentos. Até mesmo quando gritava e o expulsava do
quarto. Ele nunca saiu, nunca me deixou. Isso é amor, ele foi um pai
solo e aprendeu cuidando e trabalhando para me manter bem e
saudável.
一 Desculpa pai, é que tem sido difíceis as coisas aqui, meu
coração parece bagunçado e com essa novidade de casamento,
estou apreensiva. Sei que você quer o melhor para mim e amo
muito você por isso. 一 Ele pigarreia interrompendo minha fala.
一 O que mais aconteceu aí? O marido da sua mãe é muito
complicado? Por acaso maltratou você? 一 A entonação de sua voz
é áspera. Seca.
Expressar em palavras o que sinto pelo Jack só o deixaria
indignado.
一 Não, ele é legal, mas precisarei me mudar.
一 Mudar? Como assim?
一 Eles vão se casar, vão formar uma família, não estou me
sentindo bem no meio disso, sinto muito. 一 Meu pai bufa do outro
lado da linha. Ele me conhece muito bem e sabe que algo está me
magoando nisso tudo.
一 Use o cartão e alugue um lugar para você, espero que
seja temporário até se acertarem. Filha, eu amo você, só quero que
faça as pazes com o seu passado para então entender o seu futuro.
一 Fazer as pazes têm que ser algo recíproco, pai, Liana não
quer falar sobre o passado, não quer recomeçar. Ela finge que os
anos distantes não significaram nada. Prometo que continuarei
tentando. Preciso desligar, amo você, assim que estiver em um
lugar novo, aviso. 一 Posso não vê-lo, mas o breve som de sua
respiração entrega que está frustrado e apenas irá concordar.
一 Tudo bem filha, te amo, se cuida! 一 Desligo a ligação
sentindo um gosto amargo surgir em minha boca.
Estou com a garganta seca, os músculos tensos e sempre
que fico triste o corpo parece sentir o estresse e a adrenalina ao
extremo. Agarro minhas forças com um fechar de punhos firmes e
sigo para o apartamento do Jack. Quando saio do elevador a porta
principal está aberta e posso ouvir os gritos escandalosos da Liana
ecoarem por toda cobertura.
一 Eu não aceito isso Jack… você não pode fazer isso
comigo! Nada justifica isso… entendeu? Nada.
Minha respiração acelera e meu peito se expande atordoado.
Passa na mente infinitas possibilidades do que possa estar
acontecendo. “Será que Jack contou algo sobre nós?”. Meus passos
freiam no chão de mármore, com receio de atravessar a porta.
Recobro a consciência e ignoro o fato de estar quase entrando em
um colapso nervoso. A voz da minha mãe me deixa impactada com
tamanha revolta. Quando entro no apartamento, um vaso de
porcelana passa a milímetros do meu rosto e se estilhaça na
parede. Os pequenos cacos fluem no ar antes de tocarem o chão se
espalhando pelo piso. Meu coração que já batia descompassado
está a ponto de pular pela boca.
一 Clayre, acertou você? 一 Jack se aproxima e segura
minhas mãos geladas, preocupado.
Abro a boca para tentar respondê-lo, mas a voz da Liana
transpõe a minha.
一 Clayre, saia daqui, agora. 一 ordena movendo as mãos no
ar irritada.
一 O quê? 一 indago confusa enquanto um formigamento
começa a ascender pelas minhas pernas.
Antes que eu possa pedir ajuda, tudo fica escuro.
DEZ MINUTOS ANTES…
Assim que a Clayre saiu andando pelas ruas e desapareceu,
a sensação era de que um trem havia passado por cima do meu
corpo e triturasse lentamente os meus ossos.
Parte por parte, pedaço por pedaço.
Me senti um idiota com o coração esmagado, mas não era só
isso, fiquei devastado, como se o Diabo tirasse a minha alma
lentamente causando uma onda de calafrios. Era como se meu
corpo vagasse perdido e solitário. Quando chegamos no
apartamento sem a Clayre tudo parecia pequeno demais. Olhei ao
redor e ver a Liana ao meu lado não fazia mais sentido.
“Que porra eu faço aqui? Quero perdidamente agarrar a
Clayre enquanto finjo não estar completamente jogado aos pés
daquela garota? Chega! Não faz mais sentido”.
Quando percebi, as palavras já tinham saído. Palavras que
queria ter falado, mas estava guardando, com medo de machucá-la.
一 Cancelaremos esse casamento! 一 Liana trava o passo, os
lábios tremem suavemente, as pernas fixam no chão e as mãos
pousam na cintura.
一 O quê? Cancelar? Do quê está falando Jack?
一 Liana, sinto muito, mas não podemos continuar com isso,
aliás, eu não posso. 一 aviso andando de um lado a outro
atordoado.
一 Preciso de um motivo para estar cancelando o nosso
casamento. 一 A voz dela se torna agressiva e impaciente.
一 Não estou preparado e somos incompatíveis.
一 Mentira! Você está mentindo para mim. 一 Liana jamais
entenderia os motivos que estão me levando a dar um basta nessa
relação.
O que sinto pela Clayre está gravado em mim como uma
tatuagem e não consigo apagá-la, não sem arrancar algo de mim.
一 Estamos fazendo as coisas muito rápidas. 一 justifico
sabendo que até mesmo para mim, essa era a desculpa mais
ridícula que poderia inventar.
Liana arregala os olhos e leva a mão à boca com surpresa.
一 Eu já entendi, quem é a piranha? Quem é a vagabunda
com quem está trepando? 一 Vê-la xingar e imaginar que chame a
Clayre, mesmo inconsciente, de vagabunda me deixa furioso.
一 Acabou, só isso… não dá. 一 finalizei.
一 Foi a Clayre. 一 Suas palavras comprimem o meu peito.
Dúvidas. Incertezas. Uma breve dor aguda e um misto de
revelação.
一 O quê? Não, a nossa relação já não estava boa. Você
parece desesperada para casar. 一 Falo qualquer coisa que vem à
mente.
一 Eu não aceito Jack… você não pode fazer isso comigo!
Nada justifica cancelar o nosso casamento, assim, do nada,
entendeu. Nada. 一 Liana pega um vaso de flor e faz menção de
jogá-lo em mim.

PRESENTE…
Clayre entra no apartamento ao mesmo tempo que Liana
lança o vaso. A porcelana passa a milímetros de seu rosto e se
estilhaça na parede. Ela trava surpresa, fica totalmente pálida e
corro até ela.
一 Clayre, acertou você? 一 Seguro suas mãos pequenas,
macias e estão completamente geladas.
A voz estridente da Liana grita pelas minhas costas e vejo os
olhos da Clayre lentamente se fecharem. Seguro o seu corpo em
meus braços e ela perde a consciência. Com desespero, apoio seu
rosto no meu peitoral. Passo a mão em sua testa suada.
一 Clayre, droga, porra. Liana, chama uma ambulância. 一
aviso desesperado abraçando-a forte.
一 Não precisa, ela ficou nervosa, isso é culpa sua Jack.
Leve-a até a cama, agora mesmo e nos deixe em paz.
Pego o corpo da Clayre nos braços e com cuidado sigo até o
quarto e a deito na cama. Sua fisionomia está mais serena e seus
lábios começam a recuperar a cor e imediatamente ligo o ar
condicionado. Liana permanece parada na porta, apenas olhando,
sem dizer nada. Como ela consegue ser tão indiferente à filha que
acabou de desmaiar? Passo a mão nos meus cabelos, nervoso,
jogando-os para trás e me aproximo da cama. Sento ao lado dela e
suavemente passo as mãos em seus cabelos loiros. Meu peito está
angustiado, meus nervos à flor da pele, mas nada é mais marcante
do que o desespero que senti quando vi seus olhos se fecharem.
一 Saia Jack. 一 ordena Liana puxando-me pelo braço. 一
Não vê que tudo isso é culpa sua? Minha filha ficou assustada com
a cena. Ela ficará bem, é apenas nervosismo.
一 Pegarei um copo de água com açúcar. 一 caminho para
fora do quarto abalado.
Tudo acaba de mudar dentro de mim. Nunca me senti tão
impotente, destruído, como agora. E toda essa sensação se resume
à Clayre, em vê-la machucada, inconsciente. Percebi que quando se
trata daquela garota, serei levado do céu ao inferno. Não posso
negar que a desejo intensamente e que cancelar o casamento é o
mínimo que poderia fazer. Eu a quero, eu a proclamo, eu a venero,
mas principalmente exijo que seja minha. Quero cada parte do seu
corpo, do seu coração e nunca senti isso por nenhuma pessoa no
mundo.
CAPÍTULO 13
“Olhos tristes me acompanham
Mas continuo acreditando que tem algo esperando por mim
Então, por favor venha ficar comigo
Porque continuo acreditando que tem algo esperando
Por você e eu”
(One Last Breath, Creed)

Abro os olhos e sinto uma mão passar delicadamente em


meus cabelos. Inclino o rosto para o lado e vejo minha mãe com um
semblante triste.
一 O que aconteceu? 一 questiono enquanto uma dor aguda
e massiva, percorre o meu corpo.
一 Você desmaiou filha. Como se sente? 一 Levo a mão
direita até a minha testa e fecho brevemente os olhos, tornando a
abri-los em seguida.
一 Minha cabeça está doendo.
一 Culpa do Jack que transformou esse dia em sofrimento. 一
Recordo os últimos acontecimentos e meu corpo estremece ao
lembrar que não sei o motivo da discussão deles.
一 Mãe, eu estou bem… 一 Com certa dificuldade sento na
cama, ao mesmo tempo que o Jack entra no quarto.
Preocupado entrega o copo de água que segura nas mãos.
一 Beba um pouco, Clayre, se sentirá melhor. 一 concordo e
engulo um pouco do líquido.
一 O que aconteceu, por que estavam brigando? 一 Os dois
se entreolham fixamente e Jack entreabre os lábios para falar, no
entanto, minha mãe interrompe.
一 Jack, nos deixe sozinhas, por favor.
一 Liana…
一 Agora! Quero falar com a minha filha. 一 contrariado
concorda e sai pela porta em silêncio.
一 Clayre! Teremos uma conversa agora. 一 fico nervosa no
mesmo instante.
Será que ela percebeu algo?
Os olhares que eu e o Jack trocamos, foram tão nítidos ao
ponto de fazê-la notar que estamos balançados um pelo outro?
Minhas dúvidas cessam brevemente quando ela começa a
falar.
一 Filha, eu estou tentando, mas eu não sei como alcançar o
seu coração. 一 Fico sem reação apenas esperando que ela termine
de concluir suas falas. 一 Você morar aqui bagunçou tudo…
一 Como assim? 一 retruco confusa.
一 Jack está assustado e com a sua chegada se sentiu
pressionado. Não posso perdê-lo, mas também não posso perder
você. 一 Liana começa a chorar perdida e eu fico sem saber como
ajudá-la!
一 Mãe, seja clara, estou confusa. 一 Ela enxuga as lágrimas
e tenta engolir o soluço. 一 Está triste comigo?
一 Não filha, pelo contrário, estou feliz que esteja aqui.
一 Jack disse alguma coisa? 一 questiono receosa.
一 Sim, ele disse. Bom, nossos dias sempre foram tranquilos
e, agora, tudo mudou. Ele disse para adiarmos o casamento. 一
Com certo nervosismo ela evita me olhar e mantém a visão no chão.
一 Sinto que isso aconteceu porque você veio morar aqui! Acho que
Jack se sente pressionado a ter uma família agora. 一 Estreito o
meu olhar em seu rosto ainda confusa, mas começo a compreender
seus argumentos.
Ela está dizendo que atrapalhei tudo?
“Se pararmos para analisar, ela não está errada! Porém,
nunca pedi ao Jack para adiar o casamento, pelo contrário, sempre
insisto para que mantenha distância”.
一 Mãe, eu falei com o papai quando estava chegando aqui!
一 O quê? Com o seu pai? Por quê? 一 Suas mãos elevam
acima da cintura entrelaçando uma a outra, aflita.
一 Precisarei me mudar! Sei que vocês formarão uma família
e necessito ter o meu cantinho. Meu objetivo aqui na Flórida é
estudar e focarei nisso. 一 Internamente quero que ela me impeça,
que diga que me ama e que enfim quer recuperar o tempo perdido.
一 Filha, eu ia mesmo te pedir isso. 一 afirma e uma
sensação gélida transpassa em cada poro do meu corpo.
A impressão é que cai em um rio durante o inverno e a água
perfura gradativamente cada parte de mim.
一 O quê? Você ia me expulsar?
一 Não é expulsar Clayre, apenas iria te pedir para passar
alguns dias no hotel até que resolva tudo com o Jack. Em breve
estaremos embarcando em um voo para a Suíça[7], temos uma
viagem marcada para as montanhas.
一 Quando? Por que não me disseram?
一 Filha, era surpresa, foi ideia do Jack. Comprarei sua
passagem amanhã. Ele é minha única esperança de ter uma família,
preciso que entenda que necessitamos ficar a sós. 一 Liana renegar
a família que tinha me irrita e perco a paciência.
一 Você tinha a mim, sua filha… você tinha o meu pai! 一 Ela
nega com a cabeça. 一 Não venha me dizer que nunca teve uma
família. A sua escolha anos atrás foi a de ir embora! Você poderia
ter voltado e optou por partir de vez.
“Como Liana pode ser tão cega? Como pode não conseguir
despertar o seu lado materno? A minha vontade por muitas vezes é
de não chamá-la de mãe. Esse título é precioso e diante dela, me
sinto um nada”.
一 Nunca falei, mas adquiri depressão pós-parto! Por isso,
não conseguia cuidar de você. 一 confessa cobrindo o rosto com as
mãos.
一 Entendi, a depressão durou 18 anos? 一 indago irônica,
mas me repreendo mentalmente. 一 Eu entendo que teve
depressão, meu pai falou que começou durante a gravidez e que
optou por não fazer o tratamento, sei que não deve ter sido fácil,
mas foram tantos anos. O que aconteceu?
一 Eu escolhi esquecer e não voltar mais. Porém, não me
orgulho disso. 一 assume enquanto tenta capturar minhas mãos.
Salto imediatamente da cama e pego a mala desnorteada.
一 Filha, não entenda errado, eu errei, eu assumo. Fui
péssima e juro que queria ter sido a mãe que você merecia. Você é
tão doce, determinada e seu pai cuidou tão bem de você sozinho e,
no fundo, achei que não precisava de mim. 一 Sigo até o guarda-
roupa.
Recolho as roupas e enfio enraivecida na mala.
一 Precisei muito de você Liana, e quando fiquei doente
deixei que o orgulho me impedisse de te pedir ajuda. Em meu
coração, sempre soube que jamais poderia contar com você. 一 Um
silêncio ensurdecedor domina o ambiente, permitindo que as
rajadas de vento que batem no vidro sejam ouvidas.
Jogo o restante das peças todas bagunçadas e fecho o zíper
com força.
一 Aproveitem o tempo sozinhos, sem uma filha que
atrapalhe a sua vida! Escolhi me mudar e por um instante achei que
impediria. 一 Liana se levanta da cama com as mãos na cintura e
abaixa a cabeça.
“Ela nem ao menos tentará, sempre foi assim”.
Arrasto a mala pelo apartamento indo em direção à porta
principal. Escuto os passos pesados do Jack pararem ao meu lado e
sua mão direita segura abruptamente os meus pertences. Nossos
olhares se encontram, sua expressão de susto aumenta ao se dar
conta que estou indo embora.
一 O quê? O que faz com essa mala? Para onde você vai?
Clayre, por favor, não faça isso comigo. 一 Jack captura minha mão
direita no ar e influenciada pelo descontrole, abraço ele.
Afundo o meu rosto em seu peitoral forte e o perfume que
exala de seu corpo é tão magnífico que me deixa desajuizada.
Queria dizer tantas coisas.
Queria falar que ele despertou em mim desejos que nunca
senti antes. Dizer que a cada toque áspero sinto que perco o meu
ar. Se Jack soubesse como eu o queria, talvez entendesse a
dimensão da dificuldade que é me afastar dele.
Um sentimento repentino, como o passar de uma estrela-
cadente pelo céu.
Não posso mais fazer isso.
Não assim.
一 Sinto muito Jack, não queria atrapalhar a vida de vocês. 一
Falo contra o seu peito, sentindo os seus braços musculosos me
agarrarem fortemente.
一 Clayre… 一 Antes que ele diga algo que me deixe confusa
e afete a minha decisão, me afasto.
一 Vou para um hotel até encontrar um apartamento. 一 Tento
pegar a mala, porém ele impede.
一 De jeito nenhum… 一 Liana sai do quarto com os olhos
marejados.
一 Jack, ela precisa ir, porque precisamos resolver nossa
situação. 一 A fisionomia dele endurece em perplexidade, a mesma
indignação que estampou o meu rosto segundos atrás.
一 Clayre, não precisa alugar nada! 一 Ele solta a mala e
captura o meu rosto com suas mãos. 一 Minha irmã está indo para o
interior cuidar da nossa avó que está doente. Ela pediu que eu
cuidasse das plantas e do gato, enfim, não tenho paciência para
isso. Barbie ficará um bom tempo fora, pode ficar no apartamento.
一 Saio do seu toque inclinando o rosto e pego a mala ofegante.
O choro está na porta, ardendo os olhos, ansioso por sair.
Engulo. Tranco. Inflo os pulmões me impedindo de sentir.
一 Não Jack… 一 balbucio e Liana responde por mim.
一 Isso é perfeito Clayre, é só até tudo voltar ao normal.
Daqui a poucos dias teremos uma viagem em família, precisamos
estar felizes e resolvidos. Sei que era surpresa Jack, mas a essa
altura, com as passagens compradas não tem muito o que fazer, a
não ser ir. 一 Jack bufa alterado e pega a mala.
一 Vamos Clayre, levarei você. 一 Liana desaparece no
corredor e ficamos em completo silêncio, mas com a mente
atordoada. 一 Avisarei minha irmã, já volto.
一 Tudo bem! 一 Jack segue até a cozinha discando no
celular.
Permaneço com as pernas travadas, o peito comprimido, a
ponto de explodir em dor. Os olhos ardendo com as lágrimas
salgadas insistindo para saírem. Engulo em seco, aflita, com a
garganta raspando e as mãos suadas de ansiedade. Jack faz a
ligação para a irmã e explica a situação. Quando ele termina retorna
para o hall de entrada e seus olhar crava em meu rosto.
一 Está tudo certo, vamos! 一 Aproximo e deposito um beijo
em sua face direita e seus ombros tensionam.
一 Obrigada Jack, isso significa muito para mim.
一 Eu faria qualquer coisa para não te ver triste Clayre. 一
respiro estremecida e para não perder a compostura me afasto dele.
Jack dá um meio-sorriso, pega a mala e saímos pela porta.
O caminho até o apartamento é taciturno e cheio de olhares
notáveis. Não ouso dizer nada. Porque sentimos tudo. Cada
respiração frustrada. O som suave das músicas de rock do rádio. As
ruas movimentadas. A hora interminável. Os segundos infinitos.
Quando Jack estaciona desço do carro encantada com o
lugar. O prédio é deslumbrante, com adornos de madeiras de lei em
um tom enegrecido que dão total destaque ao estilo vitoriano.
Entramos e em poucos segundos estamos no último andar. Jack
pega as chaves no bolso e abre a porta. O apartamento é amplo e
fico o mais longe possível dele. Admiro o ambiente ao redor e o
lugar é incrível.
A sala principal é imensa, possui as paredes azuis, com sofás
brancos de veludo, móveis planejados e lustres de cristais.
一 Onde está sua irmã? Não ficarei sozinha aqui com você
Jack. 一 confesso sabendo que não seria controlável os nossos
desejos.
Uma voz feminina domina o ambiente e imediatamente
procuro com o olhar.
一 Estou aqui, o lobo mau do Jack Bourbon, quer te comer?
一 brinca enquanto surge do corredor lateral.
一 É tão nítido assim? 一 questiono levando a mão direita aos
lábios em punição.
一 O quê? Era apenas uma metáfora, você não é a filha da
Liana? 一 A fisionomia dela é de espanto. 一 Liana não é sua
namorada Jack? 一 O silêncio domina o ambiente e ele dá um
passo à frente se aproximando da irmã.
Barbie possui os cabelos acobreados, a pele clara, olhos
grandes castanhos e veste uma roupa que a faz parecer uma fada.
Jack passa as mãos nos próprios cabelos, um típico gesto de
quando está nervoso. Frustrado.
Ele coloca as mãos no bolso da calça jeans e deixa os
ombros caírem aliviando a tensão.
一 Não, cancelei. Não casarei mais com a Liana. 一 Meu
corpo arrepia, ao passo que o coração acelera.
Esse foi o motivo da discussão? Jack tomou essa decisão por
minha causa? Por dentro sinto um misto de angústia e culpa, mas,
ao mesmo tempo, remissão. Talvez seja errado a sensação de
alívio, mas não tem como não senti-la. Tenho lutado internamente
contra todos os meus sentidos, crucificado os meus pensamentos e
me escondido pelos cantos como punição para não desejá-lo.
一 Cancelou? Ela disse que vocês adiaram. 一 respondo
imediatamente.
一 Cancelei, percebi que cometeria um grande erro me
casando com ela.
CAPÍTULO 14
“Os melhores planos
Às vezes são apenas uma noite sem compromisso
Eu serei condenado
O cupido está exigindo sua flecha de volta
Então vamos ficar bêbados em nossas lágrimas”
(Lost Stars, Adam Lavine)

Barbie nos olha intrigada e rapidamente me aproximo dela e


estico a mão para cumprimentá-la. Uma forma desesperada de
fazê-la esquecer a minha gafe.
一 Boa tarde, eu sou a Clayre Freburg, filha da Liana.
一 Boa tarde, eu sou a Barbie, irmã gêmea do Jack. 一
Analiso os dois e realmente possuem traços semelhantes, porém
ainda distintos.
一 Espero que não seja um problema para você que eu fique
aqui. 一 Ela sorri, coloca uma mão direita na cintura animada
enquanto aponta com a esquerda para a sacada, repleta de plantas.
一 De forma alguma, será ótimo ter uma garota cuidando das
minhas plantas e da Dior. 一 Imediatamente uma gatinha mia se
apresentando e passo a mão em seu dorso com carinho.
A pelagem é preta, curta, com a textura aveludada e os olhos
possuem uma tonalidade amarelada.

一 Oi! Dior, você é muito linda… 一 Ela começa a se esfregar


contra as minhas pernas, demonstrando que gostou da sua nova
cuidadora temporária.
一 Jack não tem muita paciência com casa, o negócio dele é
produzir bebidas.
一 Estou trabalhando no bar, realmente as bebidas são
incríveis.
一 Só as bebidas, Clayre? 一 provoca o Jack e sinto minhas
bochechas queimarem de vergonha.
一 Jack Bourbon, não incorpore nosso pai, não seja um bad
boy. 一 Ele começa a gargalhar e abraça a irmã com carinho.
一 Saudades do meu velho. 一 Barbie passa a mão nos
cabelos dele e ajeita o colarinho da jaqueta de couro.
一 Hoje conversei com ele e nosso pai pediu que enviasse
umas garrafas de cerveja artesanal, o estoque dele secou.
一 Ele disse quando planeja vir passear aqui na Flórida?
一 Ano que vem, mamãe tem alguns desfiles para
acompanhar. 一 Ela se afasta parando ao lado da mala. 一 Bom,
preciso ir, por favor Clayre, não destruam muito o apartamento
quando forem, sabe… 一 Fico envergonhada, querendo me
esconder atrás de qualquer coisa, mas inesperadamente Barbie se
aproxima e me abraça com carinho.
一 Seremos ótimas amigas, já percebi que meu irmão te olha
que nem um idiota, está apaixonado. Quando a paixão acontece,
não temos controle para escolher por quem nosso coração baterá
mais forte. 一 retribuo seu abraço aliviada. 一 Espero que tudo se
resolva, aproveitem crianças. 一 concordo com um balançar de
cabeça, sem saber o que responder.
Barbie segue até o irmão e os dois se abraçam
calorosamente. Jack beija sua testa com ternura.
一 Amo você Barbie, quando chegar avise! 一 Ela concorda
abraçando-o novamente.
一 Também te amo!
Após o momento de carinho ela acena puxando a mala de
rodinha e sai pela porta.
一 Mande um abraço para o Buck. 一 Ordena Jack com ironia
e ela volta brevemente mostrando o dedo do meio, nervosa.
一 Aquele cowboy safado, não quero vê-lo nem pintado de
ouro. 一 Barbie desaparece xingando pelo corredor enquanto ele ri
satisfeito por irritar a irmã.
Jack analisa o apartamento e depois o meu rosto. Ele adquire
uma expressão curiosa fazendo o meu corpo arrepiar. Lentamente
para ao lado da porta, encostando na parede e acabo de perceber
que, agora, sim, estamos sozinhos.
“Ah, isso não acontecerá aqui e nem agora. Preciso que tudo
esteja resolvido entre ele e minha mãe”.
一 O apartamento é seu, prometo resolver tudo com a Liana.
一 revela aparentando ler os meus pensamentos. 一 Preciso fazê-la
perceber que não existe mais chance para o nosso relacionamento.
一 Você tem certeza da sua escolha? Pense bem, Jack. Não
se precipite. Não sei como ela lidará com isso. 一 Ele dá um passo
em minha direção e dou outro para trás.
一 Não posso nos enganar mais, Liana era muito conveniente
para mim. Uma mulher mais velha, que me passava segurança,
porém percebi que quero me arriscar. 一 Lentamente nos movemos,
ele avança enquanto afasto.
Topo com a porta de vidro da varanda e Jack encosta o corpo
troncudo no meu. Um misto de ansiedade e desejo faz as minhas
pernas fraquejarem. Imaginei pecaminosamente várias vezes estar
na presença dele, apenas nós dois e o desejo louco que sentimos.
Os raios de sol refletem através do vidro em seus olhos verdes e
fico presa, arrebatada, em uma conexão inexplicável. O rosto do
ordinário vem ao encontro do meu, fazendo meu coração ficar
desgovernado. Com a mão direita eleva o meu rosto para olhá-lo.
一 Clayre, não podemos ficar assim, com esse fogo nos
queimando, sem termos certeza do que queremos.
Jack não está errado, essa vontade louca que estamos
guardando, pode não ser amor. Podemos estar nos enganando
também.
一 Sim, você está certo! Quando está assim grudado em
mim, esqueço o meu nome e o raciocínio. Estou ficando imune,
porque agora consegui pensar. 一 Os lábios dele roçam nos meus e
fecho os olhos.
一 Não quero que se torne imune a mim, ao efeito que causo
em você. Gosto de ouvir suas falas desconexas, de ver o seu corpo
implorando pelos meus toques. Hoje, sei que não dá certo ficar com
a Liana. Precisamos saber o que sentimos, certo? 一 Abro os olhos
enfeitiçada concordando fielmente. 一 Quero que passe o final de
semana comigo. Já preparei tudo para acamparmos, esqueceu?
一 Como assim Jack? Só nós dois?
一 Sim, somente nós dois, com a noite, as estrelas, uma
fogueira e muito sexo. 一 Desvio o rosto sem graça e ele nota minha
hesitação. 一 O que aconteceu? Disse algo errado? 一 Encaro-o
novamente e nego com a cabeça. 一 Clayre, fala comigo. Quero
ouvir sua voz.
Jack encosta os lábios nos meus, apreciando-os com
suavidade. Levo meus braços ao seu pescoço e imediatamente ele
captura minha cintura pressionando ainda mais nossos corpos.
一 A tal viagem que sua mãe falou, que era uma surpresa.
Quero também que vá comigo para a Suíça, só nós dois, para
entendermos nossos sentimentos e passarmos um tempo juntos.
一 Jack, você está exigindo demais de nós dois. 一 sorrimos
juntos, com os lábios colados enquanto me equilibro nas pontas dos
pés para alcançá-lo. 一 Liana jamais entenderá. Não podemos fazer
isso. Impossível viajarmos e ela ficar aqui. 一 Ele impulsiona o meu
quadril e entrelaço minhas pernas em sua cintura.
一 Arrumarei essa bagunça que transformei a minha vida. 一
Jack beija o meu rosto e não sei o que dizer, eu quero viajar com
ele, é óbvio que sim, mas acho que Liana não lidará bem com isso.
Nossos corpos grudados começam a gerar um calor novo,
intenso, sem precedentes. Nossos olhares estão fixos, conectados.
Estamos ferozes. Famintos. Nossos lábios entreabertos proclamam
um pelo outro enquanto sinto o desejo de prová-lo me corromper.
Nossa respiração se torna ofegante, meu corpo se excita, suas
mãos passeiam em minha bunda enquanto aperto os seus cabelos
entre os dedos.
Não há como negar esse apetite, essa fome insaciável de
querer. Mas como querer algo que nunca tive? Sexo!
Como dizer a ele que não sei como é a sensação de ter um
corpo conectado ao meu. Penso na melhor forma de falar, mas com
seu olhar de predador apenas expulso as palavras.
一 Eu sou virgem. 一 A respiração do Jack trava.
O olhar abandona o meu e seus braços me colocam
novamente no chão. Engulo em seco, nervosa, perdida, com a sua
reação inesperada. Jack se afasta, em silêncio, em agonia e
aparenta estar em punição consigo mesmo.
一 Deixarei você agora, preciso voltar e encarar a Liana para
uma conversa franca. 一 Seguro o rosto do Jack, fico nas pontas
dos pés e beijo os lábios dele.
Estou tentando não deixar isso me afetar, mas não consigo ir
contra o que eu sinto. Seus braços me prendem em seu corpo
novamente. Nossos lábios se provocam em um beijo lento, com
mordidas suaves e completamente apaixonados.
一 Não quero te machucar, Clayre, você ser virgem, muda
tudo! 一 confessa.
一 Não muda o desejo que sinto por você agora, Jack.
O ordinário desliza as mãos pelo meu corpo invadindo a
roupa para capturar os meus seios. Jack apalpa com força ao passo
que roça os seus lábios carnudos nos meus. Seu polegar circula os
meus mamilos enrijecidos e em seguida contornam minha auréola.
Ele esfrega progressivamente o membro duro no meu abdômen,
minha estatura é pequena e ele é um homem alto. Inesperadamente
se afasta, se dando conta do nosso descontrole.
一 A noite voltarei, vamos trabalhar no bar, depois beberemos
um vinho e aproveitaremos cada minuto, mas com calma. Não
quero que se arrependa do que faremos. 一 Jack mordisca os meus
lábios e nos olhamos com intensidade ansiosos para estarmos
agarrados.
一 Estarei esperando você… 一 sussurro excitada. 一 Oh!
Jack, eu quero muito você. 一 Ele me abraça forte e dá um último
beijo antes de sair pela porta e me deixar louca para reencontrá-lo.
Sei que lutou bravamente contra todos os seus instintos para
ir embora. Olho para a Dior que mia e corre em direção ao pote de
ração. Inflo meus pulmões recuperando o ar.
一 Você quer comer Dior? Venha sua fofa… pelo menos a
sua fome podemos saciar, a minha ficará para mais tarde!
Entro no carro e seguro firme no volante. Não posso negar
que estou preocupado. Estava com um casamento marcado e tudo
parecia definido, até que bati os meus olhos na Clayre. Com apenas
um olhar ela mudou todo o meu destino. Esse sentimento e todas as
dúvidas começaram a surgir tão rapidamente que não tivemos
tempo para pensar, apenas sentir. Sei que não posso revelar a
verdade, pelo que conheço da Liana ela jamais aceitará minha
relação com sua filha.
Ainda não sei como farei para resolver tudo isso, então, darei
um passo de cada vez. Pensei por várias noites que só queria
comer a Clayre, que era tudo carnal, mas a nossa absurda conexão,
a sua confissão em ser virgem, mudou tudo. Não que tenha gerado
um sentimento novo, mas me fez enxergar o que estava oculto.
Quero protegê-la, quero muito mais que só tê-la em meus braços.
Talvez essa paixão louca passe, mas o que vem depois não tenho
dúvidas que será amor. Hoje preciso da Clayre, do seu toque, da
sua boca gostosa e do seu coração.
Inspiro profundamente e ligo o carro, seguindo em direção ao
apartamento. Precisarei voltar mais tarde e quero ter encerrado em
definitivo a minha história com a Liana. Tento encontrar a melhor
forma de começar uma conversa com ela, mas acredito que tudo
sairá do controle. Assim que estaciono, apressadamente subo e ao
passar pela porta, escuto-a chorar. Não queria machucá-la, mas
também não posso manter uma relação com uma mulher, sendo
que estou pensando loucamente na filha dela. Vou até a sala e a
encontro deitada no sofá em lágrimas. Liana rapidamente se levanta
e senta me olhando triste.
一 Por que disse a Clayre que adiamos o casamento se, na
verdade, cancelamos? 一 Essa não era a maneira certa de começar
a conversar, porém, as palavras saíram de uma vez.
一 O quê? Como assim Jack? Você estava falando sério
quando disse que deseja cancelar o nosso casamento? 一 Solto
uma respiração frustrada e sento ao seu lado segurando sua mão
direita.
一 Liana, as coisas foram rápidas demais, não tive tempo de
analisar nossa relação, de imaginar um futuro. 一 Ela estreia o olhar
e puxa a mão furiosa, ao mesmo tempo que se levanta.
一 Chega, Jack Bourbon… Até há poucos dias você não tinha
dúvidas da sua escolha.
Ela anda de um lado para o outro pensativa. Seus cabelos
estão bagunçados, os olhos fundos e apáticos.
一 Só uma mulher é capaz de causar um estrago desse
tamanho. Não adianta negar, sou mais velha, experiente, não tente
me fazer de idiota. 一 conclui parando em minha frente, fixando os
pés no chão com arrogância.
一 Liana, por favor, não vamos deixar as coisas mais difíceis.
一 Difíceis? 一 Sua voz sai tenebrosa e seu olhar desafiador.
一 Você não faz ideia de como me sinto. Há dias estava preparando
um casamento, escolhendo cada detalhe… Ansiosa, nervosa,
preocupada e sonhando em formar uma família e você de um dia
para o outro decide encerrar tudo? Eu não aceito… 一 Mantenho a
calma, já esperava que Liana pudesse ter essa reação e apenas
escuto. 一 Temos uma viagem marcada para o início do mês, quer
me abandonar agora?
一 O que você queria? Que eu esperasse a viagem passar?
Que eu continuasse com esse casamento?
一 Sim, Jack, eu preferia. Minha filha está aqui e eu quero
recuperar o tempo perdido. Você sabia que no inverno passado ela
esteve internada? A sua decisão está acabando com a minha paz,
como estarei bem para ela? 一 Suas palavras me deixam
assustado.
一 A Clayre esteve internada? Por quê? 一 Liana inclina o
corpo evitando me olhar e movimenta a mão no ar demonstrando
incerteza.
Ela passa os dedos nos cabelos confusa, e acabo de
perceber que de fato, não sabe o motivo. Como pode Liana me
parecer tão madura, mas tratar a filha com tanta indiferença? Se
tivéssemos um filho, ela seria assim também com a criança?
一 Ela ainda não se abriu totalmente para me contar o motivo.
一 justifica com um tom ressabiado. 一 Estou me esforçando, Jack.
Queria que viajássemos, nós três, uma família.
一 Você só havia comprado duas passagens, quando iria
comprar a da Clayre? 一 questiono puto da vida tentando derrubar
seu argumento.
一 Eu estava esperando, afinal, você não me deu o
dinheiro… 一 Liana tentar me enganar é injustificável e a verdade é
que ela não liga para a filha.
Quando compartilhei a ideia de viajarmos para as montanhas
era para nos divertirmos, antes das aulas começarem. De imediato
ela concordou e comprou as passagens com o meu cartão, como
diz que estava esperando o dinheiro? Um dia depois conferi e notei
que não havia comprado a passagem da Clayre e então, comprei.
Liana está tentando me persuadir, porque na realidade, não
queria a presença da filha na viagem, nunca quis. Não acho que a
Clayre não se abriria, pelo contrário, tudo que mais desejava era
contato e recuperar a relação de mãe e filha. Uma angústia
comprime o meu peito e lembro-me do desmaio dela ao ficar
nervosa.
“Clayre passou por algo muito difícil? Ela se recuperou cem
por cento?”.
Saio dos meus pensamentos e encaro a Liana novamente.
一 Levarei a Clayre para a Suíça comigo.
一 O quê? 一 grita e deveria ter preparado o terreno, ter
pensado melhor, mas quando se trata da Clayre fico totalmente
impulsivo. 一 Sim, como você disse, ela precisa sair um pouco
dessa bagunça. A garota não te vê há anos e não ponderou dar
mais atenção a ela? 一 Liana fecha os punhos e morde os lábios
enraivecida.
一 O quê? Está querendo me dizer como ser mãe? Desde
quando isso tudo se trata da Clayre? 一 Ela aponta o dedo para o
meu rosto se aproximando, pronta para transformar tudo em um
inferno. 一 Fique longe dela, Jack! Clayre mal pisou nessa casa e
você quis adotá-la! Não se engane! Ela não teve nem tempo de te
considerar um padrasto e acha que tem algum dever sobre a minha
filha? Ela já tem um pai e não precisa que você aja como se
ocupasse essa posição. 一 esbraveja.
一 Não quero ser o pai dela, não seja ridícula Liana. Clayre
não é nenhuma criança. 一 Ela ergue a sobrancelha.
一 O que você quer ser dela então?
Falei demais e talvez tenha deixado a Liana desconfiada.
一 Vejo a tristeza no olhos dela. Todo filho precisa da mãe. É
nítido que ela quer sua aprovação. Apenas consigo compreender
sua dor. 一 Liana concorda.
一 Estou tentando Jack, mas depois que ela chegou, você
mudou. Talvez ter aceitado o pedido do pai dela foi errado. Ela
precisará ter o próprio apartamento sem interferir na nossa relação.
一 Fico em silêncio, estou furioso e posso acabar dizendo palavras
irreversíveis.
Estou louco pela Clayre e nesse momento Liana seria minha
sogra? Tenho total culpa do beijo que roubei dela. Agi sem calcular
os danos, mas agora tenho consciência de que não posso continuar
um casamento sem amor, e o certo para entendermos tudo isso, é
estarmos livres, sem machucar ninguém. Liana começa a andar
irritada pela sala e diz algo que eu não esperava.
一 Tudo bem, leve a Clayre para a Suíça com você, minha
filha precisa se divertir. Enfim, quero que vocês tenham uma boa
relação, ela ficará os próximos anos aqui enquanto estuda.
一 Sim, Liana, mas nosso casamento está cancelado e não
quero falar mais sobre isso.
一 Tirarei minhas coisas, voltarei para o meu apartamento,
apenas peço que não diga ainda às pessoas que cancelamos. Não
quero ninguém com pena de mim. Quando voltar, tenho certeza que
enxergará que me ama e voltará atrás nessa decisão. 一 Liana sai
com raiva indo direto para o quarto.
“Por que ela teria aceitado minha viagem com a Clayre?
Provavelmente quer algo ou finalmente está pensando no bem da
filha?”.
CAPÍTULO 15
“Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer seu coração bater melhor?
Se ao menos eu soubesse que você tinha uma tempestade para enfrentar”
(Before You Go, Lewis Capaldi)

Jack e Clayre demonstraram na doceria que algo estava


errado. Os olhos dele não a deixaram desde que havíamos entrado
na sala privada de degustação. Senti a tensão no ar e quando a
funcionária nos deu o bolo parecia que eu não existia. A sensação é
que ela era a noiva e eu apenas a mãe que decidiu acompanhar os
pombinhos. Essa atitude de evidenciarem que estão atraídos um
pelo outro não havia acontecido antes. Talvez essa safadeza tenha
começado no bar, durante o horário que eles estão “sozinhos”.
Custo a acreditar que os dois estejam me traindo, mas agora com o
casamento cancelado tudo parece fazer sentido.
Essa garota voltou para acabar com tudo que eu estava
construindo? Chegou de mansinho com seu jeito doce, fingindo
querer o meu amor e agora roubou o meu noivo? Não a queria aqui,
fiz isso para manter minha pose de mulher madura, responsável e
ao invés dela agradecer fez o Jack cancelar o casamento? Não
posso acreditar que caí nisso. Clayre voltou para roubar a vida que
sempre sonhei ter. Ela quer o meu homem rico, ocupar o meu lugar
na viagem e Jack confirmar que a levará para a Suíça é o fim da
linha. Está realmente querendo me substituir? Isso tudo é culpa do
Gerald que não soube criá-la e provavelmente encheu a cabeça da
garota com mentiras.
“Não deixarei os dois ficarem juntos! Nunca, eu não aceito!”.
Expulsá-la daqui foi apenas o início, agora preciso tirá-la do
meu caminho para sempre. Não me importo se já esteve doente, se
queria uma mãe, o fato é que eu nunca a amei e agora pensarei em
uma forma de cortar 100% o contato. Preciso fazer o Jack reatar o
nosso relacionamento e enfim, nos casarmos.
Caminho de um lado a outro no quarto e com raiva lanço tudo
de cima da penteadeira no chão. Levo as mãos aos cabelos e puxo
com força. Tomada pela fúria de ver todos os dias que me dediquei
a esse relacionamento ruírem. Lentamente sento na beirada da
cama e fecho os olhos para acalmar os nervos. Preciso ser
assertiva e todos os próximos passos serão calculados. Saí da rota
ao recebê-la e tudo começou a desmoronar.
Estou cansada de fingir que me importo, de demonstrar um
sentimento inexistente. A partir de hoje ela conhecerá o meu lado
mal já que fez questão de voltar para atrapalhar a minha vida. Isso
seria uma vingança pelo passado? Pelo que fiz? Castigo?
Bufo enquanto levo as mãos ao rosto. Concordei em deixá-la
ir à Suíça com ele porque irei junto. Não ficarei esperando ele me
trocar, farei a nossa relação ser a única possível. Pego o celular
atordoada e disco o número do Gerald.
Após alguns toques ele atende.
一 Bela educação você deu para a sua filha. 一 O silêncio
predomina do outro lado da linha, até que finalmente fala com o tom
de voz alterado.
一 Criei sozinho, não ajudou porque não quis. Clayre é uma
garota muito educada e tenho muito orgulho dela. 一 Pigarreio
discordando.
一 Estou fazendo de tudo, já tentei me aproximar. Chamo
todos os dias para um programa de mãe e filha e ela prefere ficar no
bar com o meu marido.
一 No bar? 一 questiona confuso.
一 Sim, ela pediu emprego para ele e os dois estão muito
próximos, na verdade, diria que até demais. Simplesmente passou a
me desprezar.
一 Liana, não faz sentido. Clayre mesmo sendo durona
sempre quis ter você na vida dela. Falei com ela hoje e me garantiu
que está tentando.
一 Ela mentiu, sua filha é uma mentirosa.
一 Não diga isso, até parece que eu pari sozinho. Foi você
que carregou nove meses. Fizemos a filha juntos. Clayre não é de
magoar ninguém e se está acontecendo alguma coisa preciso que
me fale. 一 suspiro com um sorriso de canto.
一 Sim, está, mas pedirei sua ajuda no momento certo. 一
Gerald será o meu principal ajudante em afastar esses dois mesmo
que não saiba ainda.
一 Ligarei para ela, quero saber o que fez. Além disso,
preciso avisar que o ex-namorado está querendo contato, embora
sei que irá recusar.
一 Ex-namorado?
一 Sim, ela namorou alguns meses um empresário aqui da
cidade. O relacionamento não era bom e a Clayre terminou quando
foi morar aí.
“Entendi, então ela terminou com esse cara para vir roubar o
meu? Talvez se ele voltasse para a sua vida Jack seria obrigado a
voltar para mim”.
一 Passe o telefone dele, não precisa falar com a Clayre, eu
sou a mãe e vou tentar resolver tudo e me aproximar. Talvez falando
sobre esse tal namorado possamos ganhar conexão. 一 Gerald solta
uma respiração profunda que escuto ressoar alto em meu ouvido.
一 Tudo bem, bom, pode dar certo. Vou desligar e envio o
contato por mensagem.
一 Ótimo e outra coisa… 一 ele apenas escuta. 一 Se precisar
te chamarei para vir aqui, a sua filha só respeita você.
一 Seja a mãe dela, dê atenção, carinho e aposto que tudo
dará certo. Tenho que desligar. 一 Não me dou ao trabalho de
responder e encerro também.
Abro nas mensagens e em segundos ele envia o contato com
o nome Rangel. Inesperadamente uma mensagem do Harry
aparece. “Liana, foram meses para preparar tudo, não pise na
bola”.
“Droga, precisarei ser mais incisiva agora. Vou até a Clayre e
farei ela me ajudar, se hesitar é um sinal de que estão se
relacionando e precisarei acabar com a palhaçada dos dois”.
Passo a tarde arrumando algumas coisas e deixando tudo
limpo no apartamento da Barbie. O quarto de hóspedes é grande e
a Dior ficou o tempo todo comigo. Isso afastou a sensação de estar
sozinha. Pego o celular e decido avisar o meu pai que está tudo
bem. Após alguns toques ele atende.
一 Papai, estou no apartamento da irmã do Jack, o ex-noivo
da mamãe. 一 Ele pigarreia, fica em silêncio processando e sei que
dará um sermão.
一 Oi! Filha, espera… 一 ele pausa a fala, em seguida dá
uma respiração profunda e finalmente solta um tom mais elevado de
susto. 一 Deus, ex-noivo? Como assim?
一 Eles cancelaram o casamento.
一 Clayre, o que faz aí então? Filha, não quero que tome
partido, acabou de encontrar sua mãe de novo. Como está a relação
de vocês agora? Aconteceu algo? 一 Uma pontada de advertência
surge no peito e queria explicar tudo para ele, porém não consigo.
Como explicar exatamente que estou apaixonada pelo meu
padrasto? Respiro profundamente buscando equilíbrio emocional e
respondo.
一 Mamãe concordou que eu fique aqui, eles precisavam
conversar e de espaço nesse momento. Estão passando por uma
fase e, pai, ela está distante, mas agora também precisa resolver
tudo com o Jack. Por ora, está tudo bem.
一 Que susto filha, tudo bem, se ela está de acordo, fico
menos apreensivo. Não esqueça de me manter informado sobre
qualquer problema. Outra coisa, 一 Sua voz adquire um tom mais
baixo, calmo e afetuoso. 一 Tome os seus remédios, por favor. 一
avisa preocupado e a saudade aperta.
一 Claro pai, eu queria dizer que estou com saudades! 一 Ele
sorri.
一 Também estou, mas em breve estaremos juntos! Aproveite
bastante. Chega, vá dormir. 一 Papai sempre corta o assunto
quando não sabe lidar com a conversa, confirmando minhas
suspeitas, que está sendo difícil ficar longe. 一 Boa noite, filha, te
amo muito.
一 Boa noite! Te amo! 一 Desligo o celular e daqui da cama
consigo ver as estrelas brilharem.
Percebo que mesmo tomando os remédios me sinto fraca e
rapidamente corro até a bolsa para pegá-los. Nesses últimos dias
tive bastante dores e sinto que o sistema imunológico está em
conflito. O tratamento tem sido eficiente. No entanto, com o passar
dos meses precisarei de um transplante de medula óssea. Meu pai
não é compatível e, por isso, fez de tudo para que eu me
aproximasse da minha mãe. Não quis pedir a ajuda dela e, agora,
as coisas se complicaram ainda mais. Sou tirada das minhas
incertezas quando a campainha toca. Confiro o relógio e falta
poucos minutos para o Jack passar aqui para irmos trabalhar.
Arrumo o meu vestido cinza no corpo e imagino que seja ele.
Rapidamente cruzo o apartamento e abro a porta. Para minha
surpresa, encontro a minha mãe.
一 Oi, filha, preciso conversar com você. 一 Ela usa o
uniforme da cafeteria e está apática.
一 Claro mãe, entra. 一 Liana passa pela porta olhando ao
redor.
一 Onde fica a cozinha? Preciso beber algo.
一 Por aqui. 一 Indico com a mão e seguimos juntas até o
cômodo.
O apartamento da Barbie é delicado e a cozinha é toda
decorada em tom rosa.
一 Que horas Jack passará aqui para te pegar?
一 Acho que a qualquer minuto, está quase no horário. Por
quê? 一 Liana pega um copo de água e senta na cadeira apoiando
os braços na mesa de vidro.
一 Filha, é o seguinte, Jack levará você para a Suíça. A
viagem é daqui a 10 dias, para não ficar muito próxima do verão e
do início letivo, além de claro, aproveitar a neve. Estamos passando
por uma fase difícil, mas em breve tudo se resolverá. Percebo que
ele está confuso, talvez por perceber que estou distante de você.
Preciso que demonstre e diga a ele durante essa viagem que
estamos bem. Que sou uma boa mãe e que tenho me esforçado.
“Ela não é uma boa mãe, nunca foi. Não posso acreditar que
ela está me pedindo para mentir”.
一 Como assim? Seja mais específica. 一 Ela vira o copo nos
lábios e quando termina de deglutir me olha impaciente.
一 Clayre você é minha única esperança. Filha, eu amo você,
sei que temos nossos conflitos, mas te recebi de braços abertos.
Nessa viagem você dirá ao Jack que ele está sendo idiota em
terminar comigo. 一 Liana levanta da cadeira e para em minha
frente.
一 Está querendo que eu peça para ele se casar com você?
一 Ela revira os olhos com a minha pergunta.
一 Sim, isso mesmo. 一 confirma me encarando fixamente. 一
Aposto que tem mulher nessa história e adorarei arrancar cada
maldito fio de cabelo dessa vagabunda. 一 Sua voz é maléfica e
causa arrepios.
一 Por que acha isso? 一 questiono com certo nervosismo.
一 Por que o Jack estava seguro da sua escolha e de repente
resolveu cancelar tudo. Não faz sentido.
Fico angustiada e pensativa. Não posso ir nessa viagem com
o Jack, podemos arrumar uma grande confusão. A impressão é que
substituirei minha mãe. Será que um dia conseguirá aceitar o meu
envolvimento com ele? Ou que o Jack fique com outra pessoa?
一 E se ele se apaixonou por outra mulher? 一 Levo a mão
direita aos lábios em punição por ter deixado escapar minha dúvida.
一 Ouviu algo Clayre? Viu ele falando com alguma
vagabunda no bar?
一 Não, de jeito nenhum. Você precisa se acalmar, está
nervosa. 一 Liana segura os cabelos descontrolada e vira
brevemente o corpo para o lado.
一 Estou furiosa, pronta para explodir o mundo. Até ontem
estava feliz, pronta para formar a minha família.
一 Talvez ele precise pensar um pouco. 一 amenizo sem
acreditar nas palavras que acabo de dizer.
一 Não, ele não precisa! Jack está sendo manipulado. Aposto
que alguma piranha por aí está tentando tomá-lo de mim. A única
coisa que trará minha paz de volta é saber que o Jack voltou atrás
na sua escolha e que iremos nos casar.
一 Você o ama? 一 A pergunta sai da minha boca sem
perceber.
一 Não interessa, Clayre faça o que estou mandando. 一
ordena.
一 Mas, eu… 一 Antes que possa concluir minhas falas, sinto
um tapa ardido no meu rosto e instintivamente coloco a mão no
local, assustada.
“Isso é real? Ela fez isso? Por quê?”.
一 Ouviu Clayre, não retruque a ordem da sua mãe! 一 Liana
tem um olhar venenoso e estou indignada com o seu gesto.
一 O quê? Você me bateu? Ficou louca? 一 Meu corpo
imediatamente começa a tremer de nervosismo. 一 Você não tem o
direito de encostar a mão em mim, entendeu? 一 Minha voz torna-se
feroz e estou perplexa. 一 Não vou em porra de viagem nenhuma,
não adianta tentar me usar! 一 Liana tenta tocar em mim com
tristeza e estapeio sua mão.
Uma dor latente cresce nesse momento em meu peito. Como
passamos de recuperar o amor para agressão? Essas atitudes
minam completamente as esperanças. Acaricio o local do golpe e
me afasto.
一 Desculpe filha, estou nervosa, preciso que você releve, por
favor. Jamais quis te bater forte, eu… bem… 一 Fico de costas para
ela, incapaz de conseguir olhar novamente para o seu rosto.
Saio furiosa do cômodo e sigo até o quarto. Não posso
acreditar que ela relou em mim, que me bateu. Imagina se soubesse
que o Jack está confuso por minha causa? Sigo até o espelho e
analiso a marca avermelhada. 一 Expilo o ar de minha boca,
frustrada por saber que ficará uma marca roxa. Minha pele é muito
branca e sensível e devido à doença, cada pequeno machucado,
parece imenso.
Passo uma base no rosto, recuperando a coloração normal e
quando saio do quarto paro no corredor e vejo de longe que ela está
sentada no sofá com as mãos no rosto. Jack aparece na porta
segurando uma garrafa de vinho e o sorriso que estampava seus
lábios desaparece ao vê-la. Meu coração bate descompensado,
mas nenhum dos dois percebeu que estou aqui. Distante, apenas
criando coragem para encará-la de novo. Ele veste um terno
esportivo preto, uma blusa branca por baixo e calça jeans.
一 Por que trouxe vinho? 一 Liana questiona olhando a
garrafa.
一 Talvez porque produzo e quis deixar um para a Clayre
experimentar.
Jack parece profundamente irritado, os planos dele hoje
provavelmente não incluíam encontrá-la aqui. Ele queria conversar,
beber um pouco, no entanto, ao vê-la ficou receoso. Mesmo
escondida consigo ouvir nitidamente a conversa deles.
一 Jack, minha filha só ficará aqui até o fim da semana
porque morará comigo agora.
一 Já falou com a Clayre sobre isso?
一 Ainda não, mas sou a mãe. Ela fará o que eu mandar. 一
inspiro profundamente tentando me acalmar e vou até a sala.
一 Podemos ir Jack. 一 Ele me admira brevemente e
concorda com a cabeça.
一 Claro, vamos.
Saímos todos juntos do apartamento e ao chegar no
estacionamento minha mãe tenta se aproximar segurando o meu
braço.
一 Filha, eu… 一 Empurro com força sua mão.
一 Por favor, não toque em mim. 一 repreendo e Jack
paralisa, confuso.
一 O que aconteceu? 一 pergunta com agressividade, sem a
mínima paciência.
一 Nada, assunto de família, você não é mais o meu noivo
Jack, não tem que saber o que acontece na nossa relação. 一 Liana
coloca a bolsa no ombro esquerdo. 一 Agora está contra mim Jack?
一 indaga erguendo a sobrancelha.
CAPÍTULO 16
“Não há religião que possa me salvar
Não importa quanto tempo meus joelhos estejam no chão
Então mantenha na mente todos os sacrifícios que estou fazendo
Pra te manter ao meu lado
E evitar que você saia pela porta”
(It Will Rain, Bruno Maars)

Nunca estive mais de 24 horas com minha mãe, sempre dá


um jeito de se afastar, mas mesmo assim consigo perceber que está
descontrolada. Talvez terminar tudo com o Jack tenha sido demais,
e constatar isso só faz com que a culpa que eu sentia ganhe
proporções maiores e mais profundas em meu coração. Cansada
dessa confusão, sigo até o carro e sento no banco do passageiro.
Jack demora alguns segundos para entrar também e bater a porta
com força.
Ele liga o veículo e seguimos pelas ruas em silêncio. Não
preciso ser vidente para sentir que está atormentado.
Seu olhar de lado.
A respiração extenuada.
O aperto das mãos no volante.
Jack é transparente ou eu o observo demais? Quebrando
minhas reflexões, Jack aproxima a mão da minha perna e aperta
com carinho.
一 Clayre… 一 suspiro frustrada.
一 Jack, não vou para a Suíça com você, não quero descobrir
o que eu sinto. Fique longe de mim. 一 Empurro imediatamente sua
mão sob o seu olhar surpreso.
Sua fisionomia se torna triste e apenas balança a cabeça
confirmando.
一 Tudo bem, ficarei longe de você!
Mesmo sendo um pedido meu, suas palavras de
concordância me quebram em mil pedaços. Fico angustiada por
afastá-lo, ainda não compreendo muito bem o que está
acontecendo, se é atração ou paixão. Jack desperta em mim um
forte desejo de agarrá-lo, talvez seja pelo seu jeito desprendido e
atencioso. Porém, a imagem da minha mãe acertando o meu rosto,
ainda está vívida e levo a mão até a bochecha.
A quebrei tanto que isso provocou a agressão?
Ficar sem o Jack trará algum impacto na vida dela?
Sei que nunca se importou comigo, mas não consigo ser
indiferente ao que possa estar sentindo. Preciso pensar um pouco,
aliviar o estresse do meu corpo. Pedirei ao Jack o restante da
semana afastada, sem contato direto com ele. Será o primeiro
passo para identificar o que está acontecendo.
O restante do caminho é silencioso e entramos no bar como
dois estranhos que nunca se falaram antes.
一 Boa noite, Clayre! 一 cumprimenta o Kal.
一 Boa noite! Hora de trabalhar…
Preciso enganar minha própria mente, mostrar que está tudo
bem.
O expediente foi lotado, servimos muitas porções e canecas
de chopp. Jack se manteve distante, mas seus olhos não. Passou
quase todos os minutos da noite me observando. Quando o bar
finalmente esvazia, encosto no balcão cansada. Fico feliz por ter
estado totalmente ocupada e não sobrar tempo para lamentar.
Jason aproxima-se cruzando os braços e encosta o corpo ao lado
do meu.
Não tinha reparado, mas ele é um homem atraente, aparenta
ter uns 37 anos, é alto, a pele é parda, os cabelos acobreados e
olhos castanhos claros.
一 Parece chateada, aconteceu algo?
一 Ficou muito evidente? Comecei a trabalhar aqui
recentemente, mas tentei disfarçar ao máximo a tristeza. 一 Jason ri
e inesperadamente segura minha mão, ao mesmo tempo que me
fita intensamente.
一 Não, não ficou evidente, mas em alguns momentos te
peguei olhando para as bebidas parecendo que queria tomar todas.
一 Solto uma risada longa e ao inclinar a cabeça encontro o Jack
nos encarando de longe.
Retorno a atenção ao Jason e o respondo, afinal, talvez seja
bom ouvir conselhos de alguém diferente.
一 Jack me convidou para ir à Suíça com ele, mas estou
incerta. 一 confesso.
Sua mão quente segura a minha com delicadeza e aperta.
一 Qual o problema? Sua mãe havia comentado mesmo
sobre essa viagem.
一 O problema é que ela não vai mais e eles vivem um
momento conturbado.
一 Entendi, bom, a meu ver, os dois nunca combinaram. 一
confessa sorrindo e acopla cuidadosamente uma mecha dos meus
cabelos atrás da minha orelha.
一 Como assim? 一 Fico tímida, sem graça com o seu jeito
atencioso.
一 Bom, Liana é mais velha, está em uma fase que quer ter
filhos, aquela vida mais pacata e sossegada. Embora ela diga ao
Jack que não, dá para perceber quando uma mulher está louca para
casar e formar uma família. No entanto, quando olho para o meu
amigo, ele está em outra vibe. Jack quer algo mais do que fazer
compras, se deitar no sofá, dormir cedo, 一 sorrimos juntos e ele
continua. 一 Ele quer aproveitar a vida viajando com alguém, viver
momentos quentes, beber, acampar. Não que ele não queira uma
família, mas precisa ter aqueles momentos em que o casal curte a
vida juntos antes de começarem a parte mais complicada. 一 Jason
suspira. 一 Pior que eu o entendo. Realmente se eu fosse casar
agora gostaria de aproveitar antes de ter filhos. 一 avalia enquanto
meu olhar segue até o Jack.
Ele está de perfil, arrumando alguns papéis no balcão do
caixa e pela maneira que joga no canto demonstra irritação.
“Ele estaria assim por me ver ao lado do Jason?”.
一 Acho que precisam se resolver! 一 afirmo me afastando e
sigo em direção a chopeira para servir um copo. 一 Não conheço
minha mãe direito, para mim ela é como o Jack, dois estranhos que
acabaram de entrar em minha vida. Soa bizarro dizer isso?
一 Sim, mas eu entendo o que está dizendo. Sua mãe nunca
foi presente, falta essa conexão, talvez com o tempo, com atenção e
carinho isso pode ser refeito. 一 deduz arqueando a sobrancelha,
esperando que eu concorde com seus pensamentos.
一 Acredito que sim. Estou fazendo a minha parte, mas Liana
precisa se aceitar como mãe. Ela nunca esteve presente, não
conhece nada sobre mim e cheguei em um momento difícil. Ir viajar
seria revigorante. 一 Termino de preencher o copo e viro nos lábios.
一 Por que está com receio de ir? 一 Jason abandona o
balcão e para ao meu lado ajeitando as canecas sobre a prateleira.
“Não sei bem o que responder, enfim, como dizer que vivo
uma tensão sexual absurda com meu ex-padrasto?”.
一 As pessoas falam demais e não sabem de nada. 一
respondo e viro novamente o copo, ansiando por mais álcool no
meu corpo.
一 Chame a Liana para ir, é só ficarem em lugares
separados, problema resolvido. Todos aproveitam sem nenhum
afetar o outro.
一 Verdade, falarei com o Jack sobre isso, estamos todos
tensos.
一 Imagino… 一 Jason encara o amigo e depois se aproxima
de mim beijando o meu rosto.
Paraliso. Tranco a respiração e apenas percebo a mão dele
trazer um guardanapo aos meus lábios para enxugá-los.
一 Opa, preciso ir, mas antes, deixa eu te ajudar. Está com
espuma de chopp na boca. 一 avisa e de repente seu braço é
bruscamente afastado de mim pelo Jack que o empurra com força.
一 Vai embora! 一 esbraveja seco, furioso e puto.
Seus olhos são fogo puro, mas possuem amargura e uma
pitada de ciúmes.
一 Que isso? 一 Jason movimenta o braço incomodado e
recupera a postura.
一 Não vou repetir! Vaza. 一 Jason o encara brevemente,
sem entender, mas vira o rosto e saí.
A atitude do Jack faz uma onda de raiva dominar o meu
corpo. Visualizo sua face irritada, ele arfa exausto enquanto fecha
rapidamente os olhos e abre novamente. Jason era o último
funcionário e Jack recupera o foco, olhando fixamente em meu
rosto.
一 É sério Clayre? Está de papo com o Jason? 一 Irrita-me
profundamente o seu questionamento.
一 Por que o empurrou? Qual o seu problema? O que você
pensa que sou? Não seja um idiota, por favor. A maldade está nos
seus olhos. 一 Ele faz careta, serrando os dentes, furioso. 一 Não
pense que pode reivindicar algo, não temos nada, não vê que isso
nem deveria estar acontecendo entre nós. 一 justifico e
internamente estou pronta para explodir e agarrá-lo.
一 Tarde demais, Clayre… 一 O timbre que era alterado
torna-se suave, baixo e rendido. 一 Você não sai da minha cabeça.
一 Confessa passando as mãos nos meus cabelos, aflito, admirando
incisivamente minha boca.
Nossas testas se colam e os ombros dele relaxam. Sinto meu
corpo vibrar enquanto o coração acelera drasticamente. A
respiração quente do Jack se espalha no meu rosto e seus lábios
pausadamente encostam nos meus.
Uma pequena faísca.
Uma grande explosão.
Com safadeza Jack me puxa para o seu corpo e desliza a
língua em minha boca. Suas mãos me apertam e descem
centímetro por centímetro, percorrendo lentamente minhas costas
até parar na minha bunda. Com brutalidade prensa os nossos
corpos provando com uma fome violenta o nosso beijo. Inclino o
rosto, de lado, aumentando a conexão dos nossos lábios, permitindo
que nossa troca seja ardente, intensa e deliciosa.
Sempre que o Jack me observa e particularmente, agora, me
sinto a garota mais linda do mundo. Desde quando disse que eu era
a estrela mais linda que já tinha visto, me senti especial. Minha boca
não quer deixá-lo e suspiro sugando sua língua loucamente. O
contato é insano, perigoso e sinto seu pau endurecer no meu
abdômen.
Jack me lança no balcão, de bruços, inclinando o meu tronco
para frente enquanto encaixa possessivamente o quadril atrás do
meu. Ele começa a movimentá-lo, esfregando sua protuberância na
minha bunda. Suas mãos apertam as laterais da minha cintura e ele
ofega.
一 Jack… 一 sussurro sentindo parte do meu corpo formigar.
一 Foda-se, Clayre. 一 Jack coloca as mãos na barra do
vestido, ao mesmo tempo que toca minha pele para subi-lo de uma
vez.
Fico exposta, nua. Ele para, afasta o quadril do meu e inclino
o rosto para ver o que aconteceu. Jack morde o lábio inferior, rosna
e sua expressão poderia virar um quadro. Sua visão está fixa na
minha bunda sem calcinha e com a pequena abertura das minhas
pernas acredito que esteja assim por vislumbrar minha boceta. Com
a palma da mão ele estapeia minha nádega direita.
Pulo de susto.
Empino a bunda querendo mais e ele dá um sorriso safado.
Jack cobre com a mão a minha boceta e faz um movimento
quente, pesado e impactante. Sinto a palma toda deslizar,
finalizando com os dedos pressionando a minha abertura.
一 Caralho! Sem calcinha! Molhada, completamente rendida
a mim. Clayre… 一 ele paralisa, leva a mão que me tocou ao rosto
inebriado com o meu cheiro e aperta os punhos lutando contra si
mesmo. 一 Porra, como vou me segurar? Eu quero você, mas não
assim, porém estou quase te fodendo com força. 一 confessa
colocando as mãos no cinto de couro.
Desmancho o tronco sobre a madeira envernizada, meu rosto
cola na superfície, ao mesmo tempo que abro um pouco mais as
pernas, como um convite, e acabo de terminar de corrompê-lo. Com
força ele apalpa minha bunda, um toque áspero, violento e sinto o
calor se dissipar por todo o meu corpo.
一 Me prova Jack… 一 Seduzo-o com a voz mansa e ele
pisca os olhos lentamente.
一 Quero você, agora. 一 Confessa, sem pudor. 一 Não ligo
se pode ser passageiro, se isso é errado, Clayre, não podemos fugir
dessa tensão. 一 Jack se aproxima depositando um beijo no fim das
minhas costas. Com um olhar sedutor leva os dedos grandes até o
meu clitóris e murmuro sentindo uma sensação gostosa. 一 Alguém
já te tocou assim? 一 sussurra sensual.
一 Ninguém nunca me tocou Jack, não assim. 一 Jack cai de
joelhos atrás de mim, entregue, todo meu, enfiando o rosto na
minha bunda.
Seu nariz ordinário inspira tão profundamente o aroma da
minha boceta que um arrepio corre por toda a espinha. Sua língua
molhada toca as bordas seguindo até o centro e em seguida
envolve o meu clitóris com uma sugada firme, única. Um caminho
de fogo, tremor, que desperta infinitas sensações misturadas. A
mais notável delas é a enorme agonia que perpetua seguindo até o
meu estômago que se contrai.
“Que sensação é essa? Por que quero correr e ficar ao
mesmo tempo?”.
Busco um fio de sanidade perdido na minha mente. Deveria
me entregar a um momento picante de prazer? Posso me permitir
tentar entender o que está acontecendo no meu coração? Tento
raciocinar, mas com a língua do Jack prestes a entrar em mim, é
impossível. Ele afasta as minhas pernas cuidadosamente enquanto
apalpa minhas coxas.
一 Hoje provarei o seu sabor, Clayre, só pela degustação
você está muito fodida. 一 Provoca e ilustro um sorriso tímido.
Sua atenção volta ao seu novo fascínio e lentamente Jack
desliza a língua molhada por toda extensão da minha área proibida.
Estremeço.
Arrepio.
Pressiono minhas mãos no balcão de madeira e entreabro os
lábios gemendo. A textura molhada me excita e suavemente ele
introduz, chupando minha boceta enquanto suas mãos abrem as
bandas da minha bunda.
Com total liberdade.
Livre acesso para pecarmos.
CAPÍTULO 17
“Chamas acendem as árvores
Se espelha para folhas caindo
E agora elas estão bem em cima de mim
Espere, se eu estou pegando fogo
Como eu estou tão apaixonado?”
(Trampoline, feat. ZAYN, Shaed)

Inspiro o cheiro de boceta, mas não é qualquer uma, é a da


Clayre, porra, sim, sou um maldito sortudo. A sua textura é macia,
aveludada, o cheiro é um misto de fruta-doce, exclusivo dela, com
algo mais, aquele cheiro típico que fascina todo homem, de
safadeza. Mas, de repente, entre tudo isso tem o sentimento que se
manifestou em meu peito e da satisfação que é deslizar a língua
pelo seu canal quente.
“Puta que pariu…”.
Quero provocá-la, quero que sinta prazer de uma forma única
e intensa, como nunca imaginou sentir. Abocanho ensandecido,
endurecendo a língua para chupá-la cheio de tesão. Sigo um
caminho provocativo, por toda sua extensão e a escuto murmurar
manhosa. O seu aroma lascivo, combinado a textura e o sabor
agridoce, me deixam enlouquecido para fodê-la.
É apertada.
Extremamente apertada.
Recordar que nenhum pau esteve aqui antes faz o meu
pulsar. Passo os dedos em seu clitóris fazendo movimentos
circulares. A textura é aveludada, o aspecto é de um botão
pequeno, liso e rosado. Fricciono com certa pressão e suas pernas
estremecem. Sua boceta é de tamanho pequeno, até demais, nesse
instante só imagino meu pau deslizando dentro dela, sendo
esmagado. Seus gemidos começam a ficar intensos. Sensuais. Uma
verdadeira música erótica que me enche ainda mais de tesão. Levo
o toque até sua abertura e penetro apenas as pontas dos dedos,
lentamente, com um movimento suave de vai e vem. Não tiraria
jamais a virgindade dela aqui nesse lugar, não nesse momento, e
luto contra o desejo que vem em picos fortes, implorando que enfie
a ereção com força na sua boceta quente e gostosa. Com pequenas
sucções chupo o seu botão rosado úmido, fazendo-a arquear
levemente as costas.
Aplico movimentos progressivos e Clayre aperta os próprios
punhos com força. O seu quadril eleva-se do balcão em desespero
se projetando contra minha boca, dominada pelo prazer.
一 Meu Deus, Jack, acho que vou morrer, a sua língua é
pecaminosa. 一 fala, ao mesmo tempo que tenta conter os gemidos,
mas falha, tornando a gemer em desespero.
Sinto em minha língua quando seu clitóris se dilata, sua
boceta se lubrifica ficando avermelhada, pronta para gozar. A visão
que tenho daqui de trás é arrebatadora e inesquecível. Aproveito
esses últimos segundos de puro desespero do seu corpo e como
uma lança deslizo progressivamente enquanto suas pernas tremem
em agonia.
Clayre geme alto e debate-se aflita, e em meu peito sinto
satisfação por saber que está assim pelos meus toques, pela minha
boca. Ela é tomada pela euforia porque constato seu corpo
pulsando. Penetro ansioso minha língua enquanto ela goza, me
permitindo sentir quando os espasmos acontecem em suas paredes
quentes. Fascinado com o seu gosto, não deixo nenhuma gota. Ela
se desmancha no balcão, mole, com as pernas fracas. Afasto rosto
ansiando prová-la de novo.
一 Quero que seja minha, Clayre, quero que só eu possa
provar o seu néctar proibido e quero mais ainda ser o total dono dos
seus desejos. 一 Ela movimenta o corpo, firma os pés no chão, e me
levanto para ajudá-la.
一 Jack, não quero conhecer outro pau ou outra língua. 一
Abro um meio sorriso safado, com o ego massageado.
Seguro sua cintura deixando-a novamente em pé e viro o seu
corpo trêmulo de frente para mim. Suas mãos envolvem e
pressionam o meu pescoço contra o seu rosto e deslizo minha boca
por sua pele, desde o pescoço até o início dos seus seios fartos.
Clayre se encaixa perfeitamente em mim, o seu corpo foi feito
para estar conectado ao meu, o seu gosto é o único que quero
sentir, seu cheiro é o único que quero inalar e sua boceta será a
única que vou querer foder para o resto da vida.
Estou rendido, entregue e quando passarmos o final de
semana juntos, só nós dois, nunca mais ficarei sem a Clayre. O que
sinto é novo, arrebatador e nunca conhecido antes, o que me faz
concluir que farei o impossível para resolver toda bagunça que
estamos e roubá-la para mim. A possibilidade de ter Liana como
sogra, nesse momento, é insignificante.
O fato é, acabo de ter certeza que pertencemos um ao outro
e nem ao menos senti como é estar dentro dela.
一 Ah, Jack… isso foi incrível, eu quero mais. 一 confessa
com a boca rente ao meu ouvido.
Levo os dedos novamente ao seu clitóris inchado, sensível e
a provoco com um toque discreto. Brando. Calmo, feito brasa
recém-acesa.
一 Ah, Jack… 一 Cada vez que ela diz o meu nome, quero
tocá-la ainda mais.
Clayre troca de lugar comigo me empurrando para sentar
sobre o balcão. Sua cintura fina entra no meio das minhas pernas e
seus braços me envolvem em um abraço carinhoso. Afundo o nariz
em seus cabelos, sentindo o cheiro frutal dos seus fios loiros.
Deposito um beijo suave na maçã do seu rosto e nos afastamos
para ficarmos presos em uma admiração profunda.
一 Clayre… 一 Com um movimento rápido ela coloca o
indicador nos meus lábios, me silenciando e acaricio sua bunda
subindo as mãos pelo seu corpo.
一 Jack, mesmo que eu queira ficar com você… 一 ela
suspira, pausa e continua, 一 jamais aceitarão esse nosso
envolvimento, e não falo só da minha mãe, tem o meu pai. 一
Coloco meu indicador devolvendo a reação anterior dela,
silenciando-a e ela sorri.
Esse desejo que tenho, tem me feito refém dos meus
próprios sentimentos. Passo grande parte do dia com sua imagem
em minha mente e estar assim, com ela em meus braços, só
aumenta a minha coragem de reivindicá-la, independente do que
digam.
一 Não pensaremos nisso agora! Vamos nos manter distante
essa semana, é recente o meu termino com sua a mãe, mas Clayre,
eu te juro, no sábado, quando sairmos daqui, iremos direto para o
meio da floresta e porra, farei a melhor noite das nossas vidas
acontecer. 一 Ela toca o meu rosto com suas mãos pequenas,
macias e com um olhar apaixonado que não estava ali antes.
一 Jack, não imaginei que fosse tão romântico. 一
Bruscamente puxo seu quadril, batendo sua virilha no meu pau e
seus seios saltam dentro do vestido ao tocar meu peitoral.
一 Não sou romântico, não sou bonzinho, essa é uma parte
que só você tem acesso. 一 Clayre esfrega a mandíbula em minha
barba e sussurra.
一 Posso acessar o seu pau também? Quero tentar te tocar.
一 Travo com seu pedido, é claro que quero sentir sua boca me
chupando, imaginei isso de forma errada há dias e sem hesitar abro
o meu cinto de couro enquanto seus olhos assistem ansiosos.
一 Serei um ótimo professor! 一 sussurro.
一 Serei uma aluna aplicada e muito devota. 一 provoca com
uma voz tão meiga e sensual que me faz ficar duro.
Empurro o Jack e ele se senta sobre o balcão. Sua calça
social está aberta, seu pau duro a ponto de explodir. Coloco a mão
na coxa direita e deslizo lentamente até a borda da cueca branca.
Ele ofega ansioso, semicerrando os olhos enquanto visualiza os
meus lábios. Acredito que deva estar agoniado para que minha boca
lhe dê prazer. Posso nunca ter feito isso, mas não sou inocente, já vi
vários vídeos, por curiosidade. Não queria parecer inexperiente ou
burra quando acontecesse. Imaginei várias vezes quando faria sexo,
mas nenhum deles foi com o Jack.
Aproximo o rosto da sua cueca e com os dentes puxo o
tecido do seu corpo, expondo o seu órgão. Fico espantada em ver o
tamanho, é encorpado, comprido, levemente rosado e
extremamente grosso. Talvez seja errado, mas cálculo mentalmente
em centímetros.
“Talvez 20, não espera, 23, hum, incerto, mas porra, parece
25 cm”.
一 Você é realmente um ser humano? Nunca vi algo tão
grosso. Isso normalmente cabe nas mulheres? Não vai caber em
mim… 一 Pergunto e afirmo sem pensar e Jack dá um sorriso largo.
一 Clayre, com jeitinho cabe até minhas bolas. 一 Abro os
meus lábios em choque, imaginando.
Incerta.
Talvez, com medo.
Seria possível?
Jack encosta o polegar nos meus lábios, contornando-os
suavemente, me trazendo de volta à realidade. Levo as mãos aos
cabelos jogando-os para trás. Poderia ficar de joelhos, no entanto,
Jack é alto e mesmo sentado no balcão, é quase da minha altura.
Inclino a cabeça e aproximo minha boca da sua ereção. Admiro o
formato bem desenhado, a glande robusta que está úmida pela
excitação. Jack segura na base do pau, firme, ansioso.
一 Não tem segredo, imagine que comerá algo que você
ama, mas pelo amor de Deus, não morda Clayre, só chupe. 一
Admiro o seu órgão tão reto, apetitoso e minha boca saliva de
desejo.
一 Como um picolé ou um pirulito bem grande? 一 questiono
com sensualidade e ele concorda.
一 Meu pau é todo seu! Prove e… 一 Antes que Jack possa
dizer mais alguma coisa, abocanho de uma vez e o vejo gemer
agarrando os meus cabelos.
Sua ereção preenche minha boca, impossível de caber
totalmente, mas sinto quando bate em minha garganta e suas
pernas enrijecem. Afasto a boca para provocá-lo e seu olhar é
devorador, com uma fome incalculável.
一 Droga Clayre, está testando os meus limites? 一 Ignoro-o
e toco na pele sensível de sua glande, envolvendo-a completamente
em minha mão.
Sua mão transpõe a minha e juntos iniciamos movimentos
lentos de cima para baixo. Ele arfa movendo o quadril para frente e
abrindo mais as pernas. Seus testículos são grandes, lisos,
simétricos e com delicadeza utilizo a outra mão para tocá-los. Sigo
meus instintos, e mantenho os movimentos, lentos, progressivos,
porém gradativamente aperto mais a mão ao redor. Jack muda sua
expressão, seus lábios entreabrem, a respiração acelera e o
abdômen se contrai. Encosto a boca na glande, e ele me deixa livre
para fazer sozinha.
Passo a língua por todo comprimento ereto enquanto acaricio
suas bolas. Começo novamente os estímulos contínuos e chupo seu
pau com desejo. Jack afofa os meus cabelos em seus dedos e abre
mais as pernas eufórico. Aumento as engolidas com selvageria e ele
rapidamente pressiona minha cabeça batendo o pau grande na
minha garganta. Sinto uma breve ardência e engasgo soltando um
gemido sensual que o atiça.
一 Clayre, não faz isso comigo, estou louco para socar meu
pau em você. 一 Encaro-o perversamente, mas noto que está se
contendo, provavelmente não quer machucar minha boca e muito
menos que nossa primeira vez seja no bar.
Chupo a cabeça do pau com gulodice, pressiono os lábios,
contorno com a língua, acelero os movimentos na base. Quando
percebo estou emitindo pequenos barulhos de sucções que Jack
assiste fascinado, ofegante. Abro minha boca e acelero, batendo a
glande parruda no céu da minha boca. Sua ereção glamourosa
brilha reluzente enquanto sinto suas pernas estremecerem, seu
abdômen se contrair e ele pressionar o pau na minha garganta sem
calcular mais.
Os músculos de suas pernas retraem, seus gemidos que
eram baixos se tornam rugidos intensos e estou completamente
excitada por vê-lo assim, quase gozando. Solto um gemido
manhoso e aperto a mão ao redor do órgão e estimulo com força,
batendo nos meus lábios.
Voraz.
Intenso.
Incansável.
Jack murmura, aflito, o corpo tensiona, a respiração trava e
com vigor segura minha cabeça pressionando e gozando no fundo
da minha garganta. Seu rugido é devorador, repleto de satisfação e
avidez. O líquido preenche minha boca e incerta apenas engulo,
sentindo seu sabor levemente doce. Ele perde as forças e solta a
tensão do corpo, livrando meus cabelos de suas mãos.
一 Puta que pariu… 一 brada e continuo estimulando seus
desejos, sugando a cabeça robusta avermelhada da sua ereção.
Mas, vejo Jack encher a boca de ar, ofegante. Tentando recobrar os
sentidos.
Ele sorri, me puxando para ele, e beija os meus lábios
desesperado. Seus braços musculosos esfregam o meu corpo
contra o dele, contra o seu pau majestoso e estamos sedentos para
fazer um sexo bruto. Sempre tive curiosidade em saber como
seriam as sensações e me sentia deslocada por ser virgem.
Quando ele tocou minha boceta e me fez gozar, senti todas
as sensações do mundo dentro do meu peito e anseio por mais. Eu
queria sorrir e, ao mesmo tempo, chorar. Eu queria gritar e, ao
mesmo tempo, apenas ouvir. Eu queria beijá-lo e, ao mesmo tempo,
bater em seu corpo. Por tamanha aflição que borbulhava por todo
meu ser. Mas, a explosão que veio em seguida, tornou tudo intenso,
colorido e viciante.
一 Esse momento quente me deixou ainda mais louco para
ter você, mas acontecerá em um colchão macio, não aqui! 一
confessa e carinhosamente Jack encosta os lábios nos meus e
permanece assim.
Boca com boca.
Textura com textura.
Respiração contra respiração.
Ele fecha os olhos e nossos corpos se abraçam ainda mais
forte, quase se fundindo. Esfregamos nossos rostos, mantendo a
visão escura, apenas apreciando o toque de nossas peles. O roçar
de sua barba, arranhando a maçã do meu rosto, me arrepia. Seus
braços musculosos sustentam meu corpo pela cintura, me elevam
do chão e me encaixa sentada em seu colo.
Minha bunda está parcialmente nua.
Seu pau continua exposto.
A fricção é inevitável e a sensação é intensa.
O fogo sobe lentamente do meio das minhas pernas e se
transforma em uma onda de arrepio endurecendo meus mamilos,
deixando-os evidente no vestido. Jack percebe e leva o polegar até
o meu seio direito e com delicadeza, sutilmente, desliza o dedo
causando um atrito delicioso. Nos olhamos, nos desejamos, nos
conectamos através dos toques por longos minutos.
Passamos um tempo assim, nos agarrando e explorando com
as mãos o corpo um do outro. Quando recobramos a consciência,
arrumamos nossas roupas, trancamos tudo e saímos do bar.
Seguimos até o estacionamento e encosto no carro, pensativa. Jack
deixa o rosto a centímetros do meu e toca a minha bochecha com
ternura. Agarro seu terno puxando seu corpo contra o meu.
一 Conte-me, o que está pensando agora? 一 indaga Jack
passando os dedos em cada parte do meu rosto.
Ele circula os olhos, segue o formato da sobrancelha, o
contorno do meu nariz e por último, o desenho dos meus lábios.
Jack realmente me deseja. Seu olhar entrega, a sua voz também
quando muda a entonação para falar comigo.
“Vale a pena todos os riscos? Compensa enfrentar minha
mãe e decepcionar o meu pai? Sei que ele me queria aqui pelo
transplante, para que Liana me ajudasse, afinal o tratamento não
será eficiente por tantos anos. Eu não sei o que fazer, e aqui, presa
ao Jack, eu não consigo decidir, porque meu coração está sempre
chamando por ele”.
一 Preciso desses quatro dias, antes do final de semana para
pensar. Eu sei que não consigo resistir a você, mas não é só essa
bagunça que está pesando aqui dentro. 一 Coloco a mão direita
sobre o meu coração e ele suspira, abaixando o rosto, triste. 一
Jack, não deu nem vinte quatro horas que cancelou o casamento
com a minha mãe. Não posso dormir com você essa noite, como se
nada existisse. 一 Jack pega minha mão, que estava apoiada ainda
em meu peito e leva aos seus lábios, beijando-a.
一 Tudo bem! Eu farei isso! Prometo não te tocar, apenas
observar você no bar, afinal, meus olhos não conseguem te deixar.
一 Balanço a cabeça concordando, mas queria beijá-lo, entretanto,
desvio o olhar e me solto de seu corpo.
“Preciso processar o que aconteceu essa noite. Foi intenso.
Inesperado. Abrupto. E, estou com medo de me arrepender
amanhã”.
CAPÍTULO 18
“Quando estou longe de você, sinto falta do seu toque
Você é a razão pela qual eu acredito no amor
Tem sido difícil para mim confiar
E eu tenho medo de estragar tudo”
(Stay, feat. Justin Bieber, The Kid LAROI)

Mantenho os olhos vidrados, hipnotizados na xícara dourada


de chá de maçã com canela que seguro nas mãos. As pequenas
ervas tingem a água de marrom cristalino e o aroma adocicado
alcança o meu rosto transmitindo paz. Dior está enrolada como um
caramujo sobre o tapete, grudada ao lado do meu corpo.
Puxo o cobertor atrás de mim, que está sobre o sofá e o jogo
nas minhas pernas e na Dior. Poderia ouvir uma música e fugir da
realidade, mas não seria o suficiente para distrair os pensamentos.
Ligo a televisão em busca de algo que prenda a atenção. Paro em
um filme, Titanic, um clássico que deveria me entreter, entretanto, a
primeira frase que ouço é Rose Bukater dizendo “Olá Jack”.
Na cena ela usa um vestido azul com detalhes brancos,
longo, os cabelos ruivos estão semi-presos, o vento é feroz e Jack
Dawson se vira para olhá-la. O pôr do sol deixa o céu amarelado, o
barulho do mar é fascinante e a trilha sonora emociona. Rose diz
“Eu mudei de ideia” ele sorri, parado no mesmo lugar. Com passos
lentos ela anda até estar em sua frente, “me disseram que
estaria…”, Jack a interrompe levando os dedos aos lábios fazendo
um “shiii” para silenciá-la.
“Me dê sua mão”, diz ele estendendo o braço e Rose aceita
enquanto sorri. “Agora fecha os olhos. Anda.”, ordena, mas os
olhares que os dois trocam antes, são de admiração. Ela obedece.
Jack a conduz, subindo na proa do navio, Rose segura na
balaustrada, em seguida pisa no corrimão, ficando no alto. Jack
safadinho sobe atrás dela, juntando os corpos deles. E, então, ele
fez a pergunta chave que enche os meus olhos de lágrimas.
“Você confia em mim?”, ela não hesita, “Eu confio”. Os braços
dos dois se elevam e juntos admiram o oceano, com a sensação de
que podem voar. O vento é intenso, o mar calmo e o amarelo-ouro
do sol torna a cena perfeita. Desvio minha visão da tela, chorando,
sensível, tocada e por um segundo cheguei a me distrair com os
dois, mas lembro do Jack, do meu Jack, é errado dizer meu?
Deveria dizer, o Jack da minha mãe ou o meu padrasto que agora
não é mais padrasto?
“Assim fica difícil, Deus, eu estou vivendo uma guerra dentro
de mim”.
Suspiro e por alguns segundos sinto falta de ouvir a voz dele,
e frustrada, desligo a televisão. Deposito com cuidado a xícara
longe do tapete sobre o piso branco, sem nem ao menos ter
provado. Encolho-me embaixo do cobertor, deitando junto a Dior. A
gata lança um olhar irritado, mas logo os fecha de novo me fazendo
sorrir.
一 Desculpa, princesa, ficarei quietinha! Prometo. 一 ela
ronrona e acredito que tenha compreendido.
Penso sem parar, sem conter meus desejos, meus medos,
minhas frustrações. Primeiro, admito a mim mesma que sim, estou
atraída e completamente apaixonada pelo Jack. Segundo, percebo
que posso magoar minha mãe, mas que encontrarei um momento
para dizer a ela ou explicar que surgiram sentimentos por ele,
incontroláveis. Terceiro, aceitei em meu coração viver o final de
semana com o Jack, para acampar, conversar e enfim,
confirmarmos que pecamos, sim, mas por algo muito maior, talvez, o
amor?
“Esse tal, amor, assusta pra caralho”.
Tenho medo de acabar amando ele e mesmo sendo errado,
por que parece certo?
Fixo meu olhar no vidro da varanda, admirando as estrelas e
adormeço um tempo depois.

Os quatro dias que pedi ao Jack passaram voando. Em um


dia estava servindo e ele jogando sinuca com os clientes. No outro,
eu conversava com os clientes e ele servia de cara fechada,
enciumado. Quase o tempo todo seus olhos não me abandonaram,
ele observava, me estudava, me desejava, e se eu fosse uma
oração, Jack seria a boca que a rezaria todas as noites.
Fui à igreja, ele foi atrás de mim.
O padre o chamou de demônio e rimos juntos, mas depois eu
chorei.
Liguei para minha mãe e não tive resposta, ela sumiu. Jack
também tentou e se frustrou com a negação dela em aceitar que
eles terminaram.
Foram míseros quatro dias, que pareceram um mês todo.
Paro em frente ao espelho do banheiro do meu quarto e hoje,
eu e o Jack acamparemos. Não sei como será, mas o coração
palpita e o estômago revira com as expectativas. Meu celular vibra
sobre a bancada de mármore e pego rapidamente para olhar a
mensagem.
“O fim do dia está quase chegando, Clayre, eu esperei tanto
por hoje. Não esqueça as botas e seu chá de maçã, estarei aí em
meia hora”.
Um sorriso bobo invade os meus lábios e corro para me
arrumar. Tomei o banho mais longo da minha vida, hidratei a pele,
escolhi o melhor perfume e pareço uma adolescente iludida ansiosa
para escolher o conjunto mais bonito do guarda-roupa. Caminho nua
pelo tapete de pelos rosa do quarto e mesmo de costas vejo através
do espelho do closet algumas marcas roxas na região da cintura.
Inspiro profundamente e sempre que vejo minha própria imagem
recordo da doença, do quanto pode ser agressiva.
Viro-me e noto que há mais algumas próximas aos meus
seios e da virilha. Fecho os olhos apreensiva, mas caso Jack
perceba, direi que cai da cama. Ignorando as incertezas, pego as
roupas que deixei separadas em uma pequena mochila sobre a
cama. Diferente dos vestidos curtos que costumo usar todos os dias
no bar, escolhi um conjunto de moletom preto, largo e botas pretas,
de cano curto. Estaremos no meio do mato e não quero ser comida
pelos mosquitos, somente pelo Jack.
“Controle-se Clayre”.
Penteio os cabelos longos e passo blush e um brilho labial.
Dior se aproxima e esfrega o corpo peludo contra os meus pés.
Abaixo e faço carícias em seu pescoço.
一 Não se preocupe, deixei bastante ração para a senhorita,
e amanhã a noite estarei de volta. São apenas vinte quatro horas. 一
Ela mia e cai no chão, rolando sobre o tapete e paralisa com a
barriga para cima. 一 Você é uma fofa mesmo. 一 Faço carinho em
sua barriga e depois termino de arrumar a mochila.
Assim que estou pronta, sigo até a sala para esperar.
“Acho melhor descer e esperar na recepção”.
Olho pela porta da varanda e o sol está começando a adquirir
a coloração amarelada e a ficar menos quente e intenso. Ontem, ao
sairmos do bar, Jack disse algo sobre estarmos no local antes de
anoitecer. Normalmente aos finais de semana o bar é mais lotado,
porém, ele contratou funcionários temporários para suprir a
demanda e estamos totalmente livres.
Essa liberdade me assusta, porque traz a sensação de que
podemos fazer o que quisermos.
Coloco a mochila nas costas, despeço da Dior, tranco o
apartamento e desço até o hall de entrada. Ao pisar na recepção
visualizo o carro do Jack estacionar. Hoje ele veio com um modelo
de caminhonete esportivo e desce com óculos escuros. Meu
coração acelera e toda vez que o vejo, é como se fosse a primeira
vez. Ele usa uma camisa de flanela vermelha aberta, blusa de
malha preta por baixo e calças jeans. A cada passo que dá em
minha direção suspiro mais. O vento está contra o seu corpo
balançando sua camisa aberta, a boca ilustra um meio sorriso
sedutor, os coturnos pretos batem com força no chão avisando que
agora está em minha frente.
一 Pronta para esquecermos tudo e focarmos em nós dois?
一 Balanço a cabeça rapidamente em concordância, demonstrando
nervosismo.
A minha voz não sai e pareço aérea, constatando que é real.
Eu e Jack.
Jack e eu.
Sinto quando as mãos dele captura a mochila das minhas
costas e a nécessaire. Recobro a atenção e Jack abre a porta para
que eu entre no carro. Nossos olhares se fixam até que ele a feche
e contorne o veículo para entrar.
一 Está tudo bem, Clayre? 一 A voz grossa fala comigo
enquanto coloca o meu cinto e em seguida o dele.
一 Estou sim, só um pouco ansiosa! 一 Ele sorri e liga o
carro.
一 Eu também, certo, vamos nos distrair, pergunte qualquer
coisa! 一 Penso por alguns segundos e automaticamente lembro da
minha mãe e suspiro triste. 一 Trouxe bolo de pistache com
chocolate, lembrei que é um dos seus sabores favoritos. 一 Jack
está tentando amenizar a tensão e minhas bochechas esquentam
por lembrar da prova de bolos.
No entanto, a imagem da minha mãe com o ex-sócio do Jack
retorna em minha mente.
一 Eu queria ter perguntado antes, mas não tive
oportunidade. Quem é o Harry? Por que a minha mãe estava
conversando com ele aquele dia? 一 Jack retira uma das mãos do
volante e passa nos cabelos jogando-os para trás.
一 Aquele cara é meu antigo sócio. Quando comecei a
expandir as cervejas e os vinhos que produzia acabamos nos
conhecendo em uma das viagens. Harry produzia bebidas também,
no entanto, a minha marca “Drink in Hell” dominou totalmente as
vendas na cidade onde o produto dele era mais forte. Com os
meses a marca alavancou totalmente e se expandiu por todo estado
do Texas. Após um ano, Harry decidiu vender sua fábrica para mim
e por ser um lugar bem localizado facilitaria a distribuição. Aceitei a
proposta. Ele trabalhou lá como supervisor por quase dois anos e
após mostrar sua qualidade em liderar, o trouxe para ajudar aqui em
Miami. Foi justamente através dele que conheci sua mãe. Ele
contratava as garçonetes nos eventos. Certo dia, misteriosamente,
um grande carregamento de bebidas, avaliados em mais de um
milhão, desapareceu sem deixar rastros. Quem definiu toda rota foi
ele, mas a que foi passada para o motorista era outra, e para ajudar
todos os documentos e notas também foram roubados.
一 Nossa, e a polícia não descobriu nada?
一 Infelizmente não, sem nota de produção, sem a
localização designada ficou quase impossível chegar em alguém. E
no final concluíram que as rotas e entrega foram alteradas, ou seja,
um trabalho bem pensado. Os motoristas apenas seguem o que é
passado na escala e fariam a entrega sem perceberem nada, mas
foram abordados no caminho e saqueados. 一 Coloco minha mão
esquerda em sua perna e acaricio. 一 Descobri que foi o Harry
porque após vinte dias do sumiço passou a mudar o comportamento
e do nada, três meses depois, abriu uma nova empresa de bebidas
avaliada quase no mesmo valor roubado. Obviamente o demiti e
furioso jurou se vingar. Fiz questão de acabar com a carreira dele e
passei a todos os fornecedores de produtos a sua safadeza. Ele me
fodeu e eu fodi ele que ficou sem suporte na nova produção e
quebrou novamente.
一 Ele fez de propósito, trabalhar para você, conseguir sua
confiança e depois te roubar. Isso explica porque ficou furioso ao vê-
lo.
一 Hoje ele trabalha com doces pelo jeito, mas ficou seis
meses na falência total. O que me espanta é a sua mãe ter qualquer
tipo de amizade com ele sabendo disso.
一 Sim, então ele já conhecia minha mãe, mas não entendo
porque ela estava falando com ele. O homem não vale nada. Será
que eles são amigos mesmo? Não é possível.
一 Bom, cada um faz suas escolhas, mas eu também fiquei
surpreso com isso.
一 Sinto muito que ele tenha saído impune.
一 Alguns sempre se darão bem enganando outras pessoas.
Mas a vida sempre cobra, Clayre e no final ele ficou sem nada.
Pode demorar, mas a conta vem.
一 Sim, eu acredito nisso. 一 Aperto a mão em sua coxa e
apenas admiramos o caminho.
Não dizemos mais nada, apenas mantenho a visão fixa nas
ruas, em cada esquina que ele vira, em cada prédio que passa, até
observar as árvores e constatar que chegamos e passei meia hora
submersa, como se estivesse apagada. Jack para o carro e inclina o
rosto para me olhar.
一 Está tudo bem? Pronta para ficar sozinha comigo? 一
Mordo meu lábio inferior abalada.
一 Não tenho certeza. Quando estiver tudo pronto,
conversamos. 一 Ele paralisa, apertando as mãos no volante.
Escuto o ranger dos dentes e o seu maxilar tensionar
enquanto seu olhar se mantém fixo ao meu. Jack inspira
profundamente soltando o ar pela boca e apenas desliga o carro.
Paramos na beira da praia do Biscayne National Park[8] e um
homem nos espera com um pequeno barco. Ansioso, Jack
apressadamente leva tudo para a embarcação. Ajudo-o com uma
caixa térmica, minha mochila e alguns cobertores. Quando está tudo
encaixado somos levados até a ilha de Boca Chita Key[9].
Sentamos e encosto meu corpo no do Jack sorrindo. Os raios
de sol fracos iluminam os olhos verdes dele que brilham parecendo
dois grandes cristais.
一 Esse lugar é incrível. 一 Os braços musculosos envolvem
minha cintura puxando meu quadril para sentar em seu colo.
Admiramos juntos as águas azuis que adquirem
gradativamente um tom mais escuro. O sol começa a se pôr
preenchendo o céu com um laranja intenso. O farol do parque dá o
seu primeiro sinal de luz e a brisa quente torna-se mais gelada à
medida que nos aproximamos da parte não povoada pelos
campistas. Jack beija com carinho a parte de trás do meu pescoço e
arrepio. Suas mãos dançam no meu abdômen, subindo e descendo
com carinho. Pisco os olhos com força e disfarçadamente belisco o
meu pulso para confirmar que não é um sonho.
Ouço a risada rouca do Jack na lateral do meu ouvido e seus
dentes mordem o lóbulo da minha orelha direita.
一 Você não está sonhando, Clayre. Realmente está em
meus braços, sentada na porra do meu colo e passaremos uma
longa noite juntos, dentro de uma única barraca. Você será obrigada
a dormir comigo hoje, no mesmo colchão, embaixo das mesmas
cobertas. 一 Entrelaço meus dedos nos dele e inclino o rosto de lado
para respondê-lo.
一 Para sua sorte, hoje não cogito fugir de você. 一 Sinto o
aperto de seus músculos torneados ao redor do meu corpo.
Sou inundada pelo seu perfume masculino sensual e quando
o homem para a embarcação fico triste por me afastar dele. Jack
desce do barco, me pega em seu colo e me coloca no gramado
verde.
一 Sente-se nessa cadeira, montarei tudo bem rápido. Estou
acostumado a acampar. Apenas admire a paisagem. 一 Ele pega
uma estrutura de ferro que vira um acento e apenas obedeço.
“Minha paisagem será o Jack”.
Assisto enquanto tira tudo do barco, as malas, as pequenas
caixas térmicas, a barraca e alguns outros utensílios que não sei
identificar. O homem vai embora e Jack arranca a camisa ficando
seminu. Seu olhar cai direto no meu e fico vermelha de vergonha.
Ele pisca com safadeza e começa a armar a barraca. Ele é ágil,
experiente e admiro seus braços repletos de tatuagens juntar as
peças e montar com maestria.
Em seus músculos do braço direito identifico uma tribal, o
desenho é todo preto e inicia em seu peitoral e se estende até o
pulso. No esquerdo são várias tatuagens diferentes, coloridas, uma
aparenta ser as escamas de um peixe, com uma coloração azul-
turquesa.
O céu começa a ficar escuro e as primeiras estrelas brilham
intensamente. Levanto e decido ajudar, mesmo que tenha dito que
não precisa. Pego as toras de madeira cortadas e monto a fogueira.
Ele arqueia a sobrancelha, sorri e aceita a minha ajuda
tranquilamente. Em quinze minutos Jack terminou tudo e ainda
estou tentando acender o fogo, sem sucesso.
Ele lentamente se aproxima e pega o isqueiro em minha mão.
Admiro o seu corpo e confiro em seu peitoral algumas gotículas de
suor. A luz clara da Lua evidencia a corpulência escultural. Passo a
mão em sua pele enfeitiçada e a brisa gelada faz meu corpo
estremecer enquanto o dele se mantém robusto, reluzente e maciço.
Deslizo o toque, dando pequenos passos para me aproximar e com
um movimento rápido Jack me prensa contra o seu peito.
As borboletas em meu estômago parecem iniciar um voo alto
porque posso jurar que estão na minha garganta. O rosto do Jack
fica a centímetros do meu e seu hálito quente possui um aroma
mentolado.
一 Eu esquento você, eu protejo você e eu amarei você essa
noite e todas as outras que desejar. 一 Minhas pernas amolecem e
fraquejo.
Jack me puxa pela cintura impulsionando meu quadril para o
seu colo. Envolvo minhas pernas ao redor do seu corpo e seus
lábios me beijam. Nossas línguas se provocam sensualmente até se
envolverem em uma dança lenta, profunda e gostosa. Seu gosto é
viciante e suas mãos apertam minha bunda pressionando minha
boceta no seu pau. Uma chama ganha vida dentro de mim e parece
correr por todo meu ser.
Jack contorna suavemente minha boca com sua língua
molhada e a textura macia me faz capturá-la com os dentes e
mordê-la. Sorrimos colados e ele retorna a mordida em meus lábios.
Uma provocação gostosa, intensa e que excita. Quando afastamos
nossos rostos, nos admiramos na claridade pálida da lua.
Jack me mantém em seu colo sem esforço nenhum e se
aproxima da fogueira. Com a mão direita ele adiciona papel ao
centro e usa o isqueiro para colocar fogo. As chamas lentamente
começam a ganhar vida e as pequenas brasas vermelhas começam
a subir com o vento. Permaneço agarrada a ele que senta na grama
fofa.
Movimento meu quadril encaixando perfeitamente nossos
corpos. Seus dedos grandes tocam o meu rosto com ternura.
一 Jack, passei a noite em claro, imaginando esse momento.
一 Não faremos nada que você não queira, entendeu? O que
importa para mim é estar assim. 一 Seus braços me esmagam com
força e abro um sorriso. 一 O que quero dizer é que só de você
aceitar ficar comigo hoje, mesmo sem sexo, é o que mais desejei.
Foram tantos dias com dúvidas. Confesso que você me afastar
causou uma aflição nada agradável em meu peito e confirmar que
quer estar aqui, comigo, é tudo que importa.
Antes que Jack continue falando, tiro minha blusa ficando
seminua. Meus seios ficam expostos e estou ansiosa para receber
os seus toques. Ele paralisa, suspira e desce o olhar com desejo na
minha pele. Suas mãos colocam os meus cabelos loiros para trás e
retornam até o meu abdômen, subindo pausadamente até os meus
mamilos endurecidos.
一 Jack, eu quero perder minha virgindade com você, hoje! 一
Seus olhos sobem até os meus e ele ofega.
CAPÍTULO 19
“Olhe para as estrelas
Olhe como elas brilham para você
E para tudo o que você faz
Sim, elas eram todas amarelas”
(Yellow, Coldplay)

Clayre está com o corpo por cima do meu, sentada de frente,


encaixada em meu colo e acaba de tirar a blusa deixando seus
seios perfeitos à mostra. Quase todas as noites desde que passei a
pensar sexualmente nela, imaginei como seriam. Parecia tão óbvio,
afinal, são apenas peitos, certo?
“Não, porra, não é. São os seios da Clayre, é o corpo dela
misturado ao desejo incontrolavelmente ordinário que sinto por ela
inteira”.
Afasto seus cabelos loiros colocando-os para trás e admiro
seu corpo. Percebo algumas manchas roxas em sua pele e um fio
de preocupação surge, no entanto, esperarei o momento certo para
questioná-la. Seus mamilos estão endurecidos e ficam ainda mais
rígidos quando uma brisa gelada passa por nós. Os seios são
redondos, médios, as aréolas grandes, os mamilos bem delimitados
e a coloração é um salmão-rosado. Subo lentamente minhas mãos
em seu abdômen, sedento para tocá-los.
一 Jack, eu quero perder minha virgindade com você, hoje! 一
confessa e meu corpo vibra, endurece, não mais que o meu pau
dentro da calça.
Encaro o seu rosto e solto uma respiração extensa, de tesão.
Suas palavras me causam euforia e, ao mesmo tempo, medo.
Dormir com a Clayre mudará tudo, afinal, estou louco por ela, pelos
seus beijos, pelo seu cheiro, pelo seu jeito delicado. Como ficarei
após ser o seu primeiro homem? Um stalker, provavelmente.
Deslizo meus polegares em seus mamilos enrijecidos,
desenhando círculos e os sinto endurecer e se evidenciarem ainda
mais. Ela joga a cabeça para trás e entreabre os lábios soltando um
pequeno gemido sensual. Meus olhos queimam de desejo e não
abandonam o seu rosto, quero assistir cada expressão, cada som
que sairá dos seus lábios e o quanto se derreterá enquanto lhe dou
prazer. Não preciso me olhar para saber que estou perdidamente
apaixonado.
一 Clayre, você tem certeza? Não tem volta, só perderá a
virgindade uma vez. 一 Ela alinha o rosto na altura do meu e abre
um sorriso reluzente e inesperadamente coloca as mãos pequenas
sobre as minhas, induzindo que eu aperte os seus seios com força.
Faço, sem hesitar, adorando a textura macia, firme, que
preenche toda a palma da minha mão. Clayre movimenta o quadril
em minha ereção e aproxima os lábios do meu ouvido direito para
sussurrar.
一 Sim, Jack, eu tenho certeza. Eu quero que você seja o
meu primeiro em tudo. 一 Uma corrente elétrica, intensa e
escaldante percorre todo meu corpo.
Em um impulso inesperado, agarro seus cabelos dourados,
lançando-a sobre a grama fofa e fico por cima do seu corpo miúdo.
Seu tórax se eleva ofegante, seu olhar está cravado no meu e a
claridade do fogo dançando com o vento me deixa com um visão
irresistível das suas tetas. Aproximo minha boca da sua barriga reta
e lentamente deposito beijos, subindo gradativamente.
Minha boca para ao lado do seu mamilo esquerdo e sua
respiração acelera e seu coração bate com força. Sinto-o pulsar
contra o meu rosto. Capturo seu mamilo sugando delicadamente e
ela geme. Afasto meus lábios, passo a língua suavemente fazendo-
a fechar os olhos com uma expressão de prazer.
一 Abra os olhos Clayre, olhe as estrelas enquanto provo o
quanto você me pertence! 一 Seus olhos verdes se abrem olhando
fixamente para o céu, aumentando os gemidos.
Passo a língua contornando toda sua auréola, beijo, sugo,
mordo e sentir a textura da sua pele em meus dentes faz o meu pau
pulsar. Alterno os seios, provando-os e vejo quando em uma
mordida mais forte Clayre aperta as gramas verdes entre seus
dedos. Um grito mais alto sai de seus lábios avermelhados de
desejo e beijo seu corpo subindo até o seu pescoço.
Deixo um rastro de marcas até chegar em seus lábios. Posso
sentir no ar, no calor do fogo que fica mais forte, no som das árvores
com o vento e no estalar das brasas que escapam e viram cinzas
antes de tocarem o verde do chão. A maior chama, a mais potente
está dentro do meu peito, flamejando alto, quase queimando minha
mente. Somos nós dois, nessa parte da ilha, sem ninguém ao nosso
redor. É apenas a minha pele pronta para se fundir a dela. Estou
pronto para prová-la, senti-la em minhas mãos e esse desejo latente
escapar em forma de suor dos nossos corpos conectados.
Seus lábios sorriem e me encaixo por cima do seu corpo
capturando sua língua com a minha. Não me canso de beijá-la.
Suas mãos macias sobem pelo meu peitoral em direção ao meu
pescoço e seus braços me abraçam. Nosso beijo é violento, quente,
intenso, provocativo e sua saliva tem um sabor próprio de inocência.
Capturo o corpo da Clayre e a levanto do chão segurando em meu
colo.
Sigo até a barraca e a coloco sobre o colchão macio que
trouxe. Seus olhos analisam tudo.
一 Jack, ficou enorme e confortável. 一 Suas mãos deslizam
pelo cobertor branco peludo debaixo do seu corpo e notando a
claridade da lua levanta o rosto encontrando uma parte de plástico
transparente que pode ser aberta, sendo possível ver as estrelas.
Seu olhar recai em mim.
Feliz.
Reluzente.
一 É perfeito! Não me deixe esperando…
Sinto a textura felpuda, aveludada, do cobertor que Jack usou
para cobrir a cama improvisada e levanto o rosto notando a
claridade da lua iluminando a barraca. As estrelas cintilam no céu
noturno e não poderia imaginar estar em outro lugar, se não aqui,
com o Jack.
一 É perfeito! Não me deixe esperando… 一 Minhas palavras
fazem ele se aproximar lentamente e sentar ao meu lado.
Jack não precisa responder em palavras, porque o calor
trocado pelos nossos corpos, a vibração e a ansiedade de estarem
juntos é visível. Estou toda arrepiada e ele também. Com carinho
deposita a mão grande sobre a minha e nos admiramos, sedentos,
aflitos. Entreabro a boca para falar novamente, mas sou impedida
pelos seus lábios carnudos, quentes e ávidos. Jack me puxa para
cima do seu corpo e me encaixo enquanto nossas línguas se
devoram mutuamente. Desse momento em diante, tudo que mais
quero é senti-lo.
Eu preciso dele, eu preciso me sentir desejada, sentir que
tenho esse momento e o restante não importando se é passageiro,
médio ou longo. Só quero olhá-lo intensamente enquanto me mostra
como é sentir prazer. Suas mãos passeiam no meu corpo e sua
boca suga estupidamente a minha. Seu pau endurece debaixo de
mim, cutucando minha virilha e ansiosa afasto segurando o botão da
sua calça jeans, pronta para abri-la.
Ele deita, assistindo enquanto desabotoo e abro o zíper
lentamente. Sua respiração fica desalinhada, suas pupilas se
dilatam e ele se apoia nos cotovelos levantando o quadril para que
eu possa retirar a calça e a cueca de uma vez. Jack fica
completamente nu e tento disfarçar, mas minha visão estuda seu
corpo com persistência, e sim, é ainda mais lindo do que imaginei.
Havia o visto sem camisa, já provei seu pau, mas o conjunto
completo é de tirar o fôlego. Começo a análise pelo seu rosto
quadrado, com a barba semicerrada e os cabelos castanhos caídos
na lateral dos olhos verdes, brilhantes. Os lábios pecaminosos
ilustram um meio sorriso atraente, os ombros são largos, os braços
fortes, com os bíceps torneados. O peitoral é trincado, com o
abdômen definido, amplo, nada exagerado, na proporção certa que
causa um frenesi em qualquer mulher. Abaixo está o quadril, largo,
com a ereção no último estágio, robusto, grosso, com a cabeça
úmida pela excitação.
Engulo em seco imaginando todo esse volume colossal
dentro de mim, mas agora, estou excitada demais para me importar.
Talvez me arrependa no momento em que sentir a invasão, mas
continuo minha admiração em suas pernas musculosas até chegar
nos seus pés.
“Porra, tudo nele é bonito, até os malditos dedos do pé”.
Saio do meu transe e com timidez começo tirar a calça
moletom. Sei que o Jack já viu minha área proibida, mas ficar
totalmente nua em sua frente faz meu peito sufocar. Notando meu
jeito desajustado, ele fica de joelhos, se aproxima, e toca as laterais
do meu quadril, passando os dedos nas bordas da calcinha preta.
Ele sorri, sinto minhas bochechas queimarem e as mãos tremerem
quando pausadamente ele desce o tecido fino pelas minhas pernas
admirando cada centímetro de mim.
A peça cai nos meus pés, mas o olhar do Jack está na minha
boceta e um calor começa a dominar a região e sinto-a umedecer.
Seus dedos tocam minhas coxas e deslizam até a minha virilha.
Suspiro, meu estômago se contrai e ele acaricia meu clitóris com um
movimento sutil, sensual e, hipnotizada pela sensação, abro um
pouco mais as pernas.
一 Prometo não te machucar, você está tão molhada, será
insanamente gostoso. 一 Sua boca morde minha coxa direita e suas
mãos seguem até o meu quadril puxando-me para o colchão.
Caio quase por cima do seu corpo e uma imensa vergonha
faz eu me encolher, sem jeito. Jack me envolve em seus braços,
nossas peles estão em atrito, nossa respiração segue o mesmo
ritmo e meu coração quer fugir de mim, descompassado.
一 Apenas relaxe, não tenha vergonha de mim, Clayre, como
disse dias atrás… você é a estrela mais linda que já vi. 一 Relaxo o
corpo e nossos rostos se esfregam, nossas mãos passeiam um no
outro, nossos cheiros se misturam e lentamente nos entregamos ao
beijo.
Sua pele está quente e aqui preso ao meu corpo traz uma
sensação de proteção. A mão direita do Jack segue até minha
virilha e fecho os olhos ao sentir seus dedos estimular o meu botão
pulsante. Ele se afasta, mas mantém o toque preciso, calmo e
arrebatador. Sua boca segue até os meus mamilos e arqueio o
corpo inundada por uma sensação de exaltação.
Seus dentes raspam em minha auréola, sua língua circula e
molha a região sensível. Ofego, rendida ao prazer gostoso que sua
boca proporciona. Seus dedos penetram com cuidado minha
boceta, despertando todo o meu ser, porque uma luz parece
acender dentro de mim, tamanha satisfação. Cada segundo fico
mais molhada, ansiosa e pronta para sentir seu pau me preencher.
Jack se projeta até o meio das minhas pernas, seu pau duro,
ereto e grosso bate na minha entrada enquanto se posiciona para
consumir nosso pecado. Minhas mãos ficam geladas, minhas
pernas amolecem e meu coração acelera. Seu olhar encontra o meu
e sua mão captura a própria ereção, e se masturba me deixando
totalmente seduzida. Seu abdômen infla, ele solta o ar pela boca, e
segurando na base do pau posicionando a cabeça robusta na minha
entrada, deslizando-a por toda extensão.
一 Clayre você não sabe como me deixou todos esses dias,
sonhando com a sua boceta e em experimentá-la. 一 Ele pressiona
na minha abertura e um gemido escapa de mim.
Quando penso que ele penetrará, Jack curva o corpo e
abocanha a região experimentando meu sabor.
一 Ácido, agridoce, viciante e definitivamente o melhor gosto
que provarei na vida. 一 Sua língua descontrolada percorre cada
centímetro com um apetite voraz.
Sua boca suga os grandes lábios, os dentes prensam meu
clitóris.
Minhas pernas tremem. Nesse momento fico completamente
encharcada, afobada e tranco a respiração. Sua boca retorna
sugando minha excitação. Sua língua grande, como uma lança
invade minha boceta, fazendo meu sangue querer borbulhar nas
veias. Como pode apenas a língua dele causar todo esse conflito
em meu corpo? O que seu pau irá fazer comigo?
CAPÍTULO 20
“O mundo estava em chamas e ninguém além de você poderia me salvar
É estranho como o desejo manipula os tolos
Nunca sonhei que encontraria alguém como você”
(Wicked Game, Chris Isaak)

Jack posiciona novamente sua ereção majestosa na minha


entrada e acaricia a parte interna das minhas coxas. A sutileza dos
seus toques, o carinho dos seus beijos e a maneira como consegue
ativar toda a minha sensibilidade é magnética.
Seu quadril se movimenta lento, para trás e para frente e
gradativamente seu pau me invade centímetro por centímetro.
Aperto com as mãos apertam o cobertor felpudo e ele para.
一 Está doendo? Você é muito apertada. 一 comenta
preocupado e inclina o corpo beijando minha barriga.
一 Acho que o certo seria dizer que você é muito grande,
concorda? 一 Sorrimos juntos e percebo que ele está tenso só pela
passada de mão nos próprios cabelos. 一 Não está me
machucando, não se preocupe, eu quero você! 一 Seus ombros
relaxam e suavemente recupera o ritmo.
Seu quadril se projeta para frente e seu pau me invade,
ardendo ao passar, comprimindo minhas paredes, aumentando os
batimentos cardíacos e o desejo que sinto. As mãos do Jack
seguram firmes nas laterais da minha cintura e seus olhos se
fecham e sua respiração aprofunda. Meu corpo vibra, a boceta
começa a se acostumar com o volume e a cada centímetro que
entra, me faz arquear o corpo e gemer alto.
Jack para, com a ereção enterrada na metade, e espera até
que minha respiração se acalme, sei que agora é o momento que
vai doer, é o que dizem, certo? A pressão na região é grande e toco
o peitoral do Jack que inclina o corpo sobre o meu, olhando nos
meus olhos fixamente.
一 É agora, Clayre, você está terrivelmente molhada, talvez
doa um pouco, mas eu quero que saiba que essa noite faremos
amor e não sexo. 一 Enfio minha mão direta em seus cabelos e
puxo seu rosto para o meu.
Beijo seus lábios, a textura deles é macia e mordisco a pele
fina fazendo-o gemer. Jack começa a estocar lento, e nos
admiramos, com a boca entreaberta, ansiosos, sentindo.
Um movimento único.
Uma pressão lacerante.
Uma dor aguda, finita, que cessa e arde.
Contraio meu abdômen querendo não senti-la e fecho os
olhos apertando-os com força. Os lábios dele tocam os meus, de
novo, e de novo. Seu quadril, que estava parado, começa a se
mover. A dor diminui, os gemidos ganham vida dentro de mim,
assim como uma sensação nova, gostosa. Abro os meus olhos e ele
está aqui, me admirando, olhando os gemidos incontidos escaparem
e meu corpo vibrar junto ao seu.
Nos agarramos, com força, com desejo. Eu sou do Jack e ele
é meu.
Meu pau supera o limite de elasticidade do hímen da Clayre e
o rompe. Para ela, sei que é dor, porque vejo seus olhos se
fecharem com força. Mas, para mim, é uma sensação única e não
porque a fiz perder a virgindade, mas sim porque sei o quanto
confiou nos meus sentimentos para me deixar corrompê-la.
Elevo um pouco o tronco e vejo sua boceta rosada, pequena,
preenchida e agora acostumada com o meu tamanho.
Gradativamente continuo a penetrá-la, com movimentos mais
suaves. Segundos depois, mais intensos e vejo seus olhos se
abrirem e encontrarem os meus.
Seus gemidos atiçam o meu corpo e sem me conter mais,
acelero as batidas das nossas extremidades, sua boceta se contrai
apertando o meu comprimento todo. Ofego, alucinado. As bolas
pesam e me contenho para não gozar. Sua textura é macia,
molhada para caralho e quente, causando euforia pelo corpo.
Suas mãos delicadas passeiam pelas minhas costas até
pararem na bunda e pressioná-la para cravar mais fundo, com força.
Clayre grita, seu corpo treme e sua boca morde meu peitoral com
impulso.
一 Jack… 一 sua voz é baixa, ofegante. 一 Não se contenha,
a dor passou, eu sou sua. 一 A minha vontade é de mordê-la e
seguro seu rosto com arrogância, devorando seus lábios.
Quando paro estamos ofegantes, seus cabelos bagunçados e
suas mãos suadas em minhas costas.
一 Fique de quatro, Clayre. Comerei você como sempre
desejei, com força. 一 Clayre faz o que mando, e meu pau sai dela
para poder se posicionar.
Admiro seu corpo, sua pele branca levemente suada, os
seios pendurados para baixo, com os mamilos endurecidos, a bunda
redonda, perfeita e a vejo abrir lentamente as pernas, o suficiente
para ter o vislumbre da sua boceta estupidamente avermelhada e
lambuzada pela lubrificação excessiva. Passo a mão em sua bunda
e deslizo até o seu pecado para tocá-la, ansioso.
Penetro os dedos e ela arqueia, empinando mais. Espalho a
lubrificação por toda sua extensão até o ânus.
一 Droga, Clayre, você é muito gostosa. 一 Ela rebola me
provocando e seguro na base do meu pau posicionando em sua
abertura.
Firmo as mãos nas laterais do seu quadril e de uma vez
penetro bem fundo, sendo esmagado. Meu corpo tensiona e ela
geme alto apertando o cobertor nas mãos. Sem dó, começo a me
mover forte, batendo meu corpo contra o seu. O barulho das
estocadas, o seus gemidos gostosos, o aperto e a umidade me
fazem enlouquecer de tesão. Retiro-o de dentro e o bato em sua
bunda ao mesmo tempo que estapeio com força.
Clayre pula, mas sorri e deita mais o tronco na cama, para
ficar com o rosto no colchão e a bunda bem elevada. A visão que
tenho do seu corpo, a pele quente, o olhar penetrante cheio de
desejo é a minha nova religião. Enterro o meu pau novamente,
agarro seus cabelos e o puxo para trás.
Seus gemidos aumentam e enfio com força, sem parar,
estocando violentamente. O jogo corpo a corpo, o som do nosso
pecado, o cheiro viciante de sexo, o calor que nos domina. Tudo é
intenso, devorador e meu apetite é voraz. Solto seus fios loiros e
levo a mão direita ao seu clitóris inchado, e com intensidade
fricciono os meus dedos com movimentos progressivos enquanto
mantenho o ritmo do nosso confronto, com arrogância e urgência.
一 Ah Jack, droga, eu vou gozar, isso é muito bom. 一 avisa e
sinto seu clitóris dilatar, sua boceta se retrair ao redor do meu pau e
ficar encharcada.
Meu coração acelera, minhas pernas tensionam, meu
abdômen infla de oxigênio, trancando minha respiração, e estou
pronto, louco, fissurado e rendido por sua textura e aperto. Minhas
bolas pesam, e vibro ao sentir ela gozar, com força, dando
espasmos. Cheio de tesão me entrego a sensação de prazer, de
êxtase que ferve o meu corpo todo e gozo, lutando para tirar meu
pau de dentro dela. Meu gozo extravasa e o deposito em sua bunda.
Clayre se desmancha por completo terminando de agarrar o
cobertor ao seu lado e deito por cima, grudando nossos corpos e
acoplando novamente minha ereção em sua abertura, para senti-la.
一 Jack, isso é intenso. 一 confessa, sem fôlego.
一 É apenas o começo, temos a noite toda!
一 Achei que o seu órgão mutante diminuísse após gozar. 一
As bochechas dela ficam vermelhas de vergonha. 一 É o que ouvi
das minhas amigas, que morrem. 一 Pressiono mais fundo, ela
geme e beijo com ternura sua nuca.
一 Sim, mas o desejo que tenho por você não me deixa
morrer. 一 Sorrimos e subo a mão pela lateral do seu corpo,
sentindo suas curvas.
CAPÍTULO 21
“Não consigo conter meu coração quando você brilha diante dos meus olhos
Não posso mentir, é uma vida boa
Estou presa no escuro, mas você é minha lanterna
Você me guia, me guia através da noite
Porque você é minha lanterna”
(Flashlight, Jessie J)

Jack para os movimentos, nossas respirações desalinhadas,


o suor escapando de nossa pele, e o seu pau grande está preso
dentro de mim. Seus braços musculosos me abraçam por trás e seu
nariz entra em meus cabelos. Ele inspira profundamente e beija meu
ombro. Movo meu corpo nos desconectando para ficar de frente
para ele. Nos admiramos, extasiados, apaixonados.
Quando Jack estava dentro de mim, havia uma linha invisível,
distorcida, canalizada, como um corrente elétrica e perfurava meu
coração, pulsando,
levando
sinapses de paixão até o dele. Acabei de cair
de um abismo, a queda parecia longa, mas foi prazerosa e atingi o
fundo de corpo inteiro, sentindo minha alma atravessar o véu que
me mantinha na borda, com medo, paralisada. E agora, não tem
mais volta.
Admiro o rosto perfeito do Jack e seus lábios beijam os meus.
Seus dedos fazem carinho nas minhas bochechas e mudo a visão
para a parte transparente do teto da barraca, onde encontro as
estrelas brilhando demasiadamente. Suspiro, e pela primeira vez
desde que descobri a doença e aceitei sem questionar o destino que
viesse, mudei de ideia. Eu quero ficar mais, eu quero saber como
seria viver um amor. Poderia amar o Jack? Viver? Me curar?
一 O que aconteceu? Seus olhos que eram verdes vibrantes
ficaram foscos. 一 Fixo meu olhar nele e balançada, abraço-o,
aconchegando o rosto em seu peitoral.
一 Só queria ter uma vida toda para sentir isso de novo. 一
Ele fica em silêncio, pensativo e me aperta em seu corpo.
Seu perfume masculino, amadeirado, me fascina e beijo seu
peitoral. Levanto com as pernas ainda mole e pego alguns papéis
toalhas para me limpar. Faço uma higiene básica, coloco a calcinha
e depois saio da barraca sentando em frente a fogueira. Jack não
hesita, e em apenas alguns segundos sai de cueca e com a camisa
na mão. Ele inclina o corpo e puxa duas caixas, uma térmica e outra
com utensílios.
一 Vamos beber algo. Trouxe cerveja, vinho, tem também
whisky ou claro, podemos tomar o seu chá de maçã, mas garanto
que uma taça de vinho cairá melhor. 一 Ele pega a camisa de flanela
vermelha de suas mãos e cobre o meu corpo, deixando-a aberta,
apenas como precaução por conta do frio.
Penso nas opções que tenho e só consigo escolher o vinho.
Preciso sentir algo doce, suave e que esquente essa noite fria e
longa.
一 Quero o vinho! 一 Ele pega a garrafa e arranca a rolha.
Capturo uma taça dentro da caixa e estico na direção dele
que sorri.
一 Esse é o último que produzi 一 conta orgulhoso. 一
Experimente e depois me deixe prová-lo através dos seus lábios.
一 Quer uma pitada de proibido? 一 provoco e sua boca
encosta na minha.
一 Não existe proibido quando se está no pecado, Clayre. 一
Jack senta atrás de mim e me encaixa no meio de suas pernas.
Degusto o vinho sentindo um sabor diferente, adocicado, mas
com notas mais intensas. Jack prova em seguida e quando termina
de beber explora minha pele. Ele deposita beijos no pescoço e
depois na orelha. Sou pequena e meu corpo encaixa perfeitamente
no dele.
一 Nós ficaremos juntos, Clayre, não consigo imaginar um
futuro sem você. 一 Confessa em um sussurro de arrepiar.
Os desejos mais íntimos se manifestam toda vez que o
timbre de voz do Jack penetra em meus ouvidos.
一 Clayre, não negue mais que você é minha. 一 Inclino meu
corpo para olhá-lo.
As mãos grandes, quentes, se entrelaçam nos meus fios de
cabelos e um sorriso malicioso se forma nos lábios dele.
一 Jack, o que você mais deseja no mundo?
一 Você, Clayre, minha pequena estrela dourada.
一 Hoje eu escolhi ser sua e sabe, não apenas hoje. 一
Inspiramos ao mesmo tempo, no mesmo ritmo e diria que nossos
corações até batem em sincronia. 一 Jack, você vive em tons pretos,
cinzas com um pouco de couro e álcool. 一 ele suspira. 一 E mesmo
que eu viva no amarelo, quase alcançando as estrelas, sinto que
posso trazer um pouco de brilho para esse seu tom fosco e um
pouco abatido. 一 Sua boca encosta na minha, lábio com lábio, em
um meio sorriso quebrado.
一 Eu gosto do seu tom dourado, esse reluzente, que às
vezes ofusca minha visão e ainda assim é dominante o suficiente
para me fazer não querer ver mais nada, somente você. 一 Seu
hálito quente tem aroma de vinho. 一 Clayre, você me transformou
em um maldito doente, um pecador, um demônio e em breve serei o
pior cara do mundo aos olhos de todos e porra, eu não ligo, se eu
ainda tiver você. Se ainda conseguir sentir seu cheiro… assim… 一
Jack inclina o rosto e encosta o nariz no meu pescoço inalando o
perfume. 一 ou se ainda também conseguir provar seu beijo,
assim… 一 Suavemente beija meus lábios. 一 Definitivamente eu,
Jack Bourbon, encontrei uma nova paixão além das bebidas, você
inteira! Com você eu não ligaria de casar, ter filhos, me jogar no
sofá, frustrado, domingo à noite, porque estaria satisfeito por ter a
garota mais linda ao meu lado, assistindo programas repetidos. E
não, não é meu pau falando, sou eu, o seu Jack. 一 Agarro-o
enfiando minha língua em sua boca e a taça cai enquanto
desesperada me sento em seu colo.
Jack não me impede, apenas permite que abaixe sua cueca e
afaste minha calcinha sentando lentamente sobre seu pau. Ele
ofega à medida que o sente entrar, rasgando tudo dentro de mim,
queimando como brasa, grosso, potente e grande, muito grande.
Minhas pernas tremem, mas tudo que quero é estar 100%
conectada. Quando sua ereção está me preenchendo por completo,
seguro seu rosto, e sussurro em seu ouvido.
一 Repete, Jack Bourbon… o quanto me quer? 一 Com as
mãos ele arranca a camisa que estava em meu corpo.
一 Clayre Freburg, por você eu deixaria toda aventura de
lado, só para passar cada minuto do meu dia te sentindo, vendo seu
sorriso, tocando seu corpo, fodendo a sua boceta, porra de boceta.
一 Ele tranca os dentes puxando o ar, com tesão inclina meu corpo
para trás e abaixa o rosto, aproximando a boca do meu mamilo. 一
Você é como uma estrela-cadente, a que realiza desejos e que só
temos a sorte de apreciar poucas vezes na vida. 一 Seu hálito
quente acaricia o bico. 一 Eu sou um filha da puta de sorte. Te
provarei o quanto te desejo. 一 Com a boca captura o meu seio,
sugando meu mamilo faminto.
Jogo mais o meu corpo para trás enquanto me sustenta e os
devora de maneira sexy e excitante. Jack possui um toque áspero e,
ao mesmo tempo, preciso e quente. A língua se move de forma
fantástica, contornando cada ponto sensível da minha pele. Os
lábios chupam na intensidade certa, parando, mordendo e
instigando uma onda de arrepio que corrói o meu âmago.
Elevo o quadril e inicio uma sequência de movimentos,
cavalgando, rebolando e adquirindo um tipo novo de prazer. Jack
eleva o rosto, fecha os olhos e ofega. Estar por cima, no comando é
arrebatador. A fricção do meu clitóris contra a pele dele é
insanamente gostosa e me seguro para não gozar. Ansioso, Jack
coloca as mãos por baixo do meu quadril e o eleva facilmente
soltando de uma vez contra o seu pau robusto. Um gemido agudo
escapa de mim, capturo seu rosto em minhas mãos, mantenho a
boca aberta, tamanho prazer.
Eufórica.
Tentando captar o ar.
A sensação é destruidora, não sinto dor, mas uma forte
agonia e tesão que faz o coração palpitar. Ele faz novamente, mais
uma vez, e de novo, e quando percebo minha boceta inflama, suas
bolas quase são capazes de entrarem espremidas, tamanha força e
profundidade, e o barulho da umidade batendo nossas extremidades
é perturbadoramente viciante. A fisionomia dele muda, a mandíbula
se contrai, cerra os dentes e mantém o ritmo, socando fundo, e
posso sentir o pau quase sair em minha boca. A sensação selvagem
intensifica, minha boceta começa a pulsar, Jack começa a grunhir,
seus peito infla, minhas veias parecem pegar fogo e mordo meu
lábio inferior, gemendo, suando, quase gritando.
一 Jack, oh Jack, eu vou…. ah meu Deus. 一 Minhas súplicas
manhosas o fazem chegar no limite.
Uma última cavalgada.
Um jato potente.
Espasmos, fogo e delírio.
Gozo gritando, sentindo a boceta dilatar e inchar por tamanha
violência. Jack enterra bem fundo e me abraça, mordendo com força
meus lábios, urrando como um tigre faminto, preenchendo meu
corpo com seu drink ordinário.
一 Caralho, Clayre… 一 Suas pernas rígidas tremem debaixo
de mim e não tenho dúvidas que Jack foi do céu ao inferno, da
mesma forma que eu.
Colamos nossos rostos, com o peito se movendo em aflição,
procurando por ar. Um leve zunido ecoa em meus ouvidos e apoio o
rosto em seu peitoral amplo, suado. Ficamos assim, alucinados por
longos minutos até nos recuperarmos. Quando recobramos a
consciência ficamos entre carícias, por horas, talvez, não há como
calcular, apenas sentindo o vento cortante, no entanto, estamos
pegando fogo e nos beijamos, sem cansar, até nossos lábios
formigarem. Cometemos uma loucura, o gozo dele está dentro de
mim, quase secando, mas não tenho forças para sair do seu colo.

A fogueira começa a diminuir gradativamente e Jack


finalmente levanta, me coloca sentada sobre a grama fofa para
colocar mais lenha. Sua bunda é perfeita, as costas larga,
musculosa e quando termina de aumentar as chamas veste a
cueca. Ele se aproxima, segura minha mão e me conduz até o meio
das árvores.
Jack pega uma toalha pequena, separa uma bacia com água
e limpa todo o meu corpo. Quando chega na minha região íntima
lava com cuidado, notando a sensibilidade e o inchaço. Sua
expressão endurece, demonstra estar irritado e toco seu rosto
enquanto coloca um roupão de banho em meu corpo.
一 O que foi Jack? 一 Seus ombros caem, ele franze o cenho,
ao mesmo tempo que passa a mão na testa, se punindo. 一 Está
assim porque gozou dentro de mim? 一 Imediatamente ele me
abraça e nega com um balançar de cabeça.
一 Não, estou assim porque não queria te machucar. Hoje foi
sua primeira vez e deveríamos ter ido com calma. 一 Um sorriso
escapa de mim, deixando-o confuso.
一 Jack, foi a melhor noite da minha vida, senti que eu era a
mesa de sinuca que você nunca abandona no bar, com o buraco
aberto, como dizem, sentindo o “taco entrar com bola e tudo”. 一
Sua expressão muda para surpresa, seguido de meio sorriso
sedutor.
一 Foi uma bela tacada, inclusive, isso eu garanto. 一 Com
carinho me pega nos braços, enquanto sorrimos e caminha até a
barraca.
Após entrarmos desço do seu colo e deito sobre o colchão.
一 Tomarei um banho também, não temos chuveiro, mas
damos um jeito.
一 Achei seus serviços excelentes, estou sem suor nenhum.
一 Já volto. 一 Ele beija meus lábios com ternura.
Antes de sair, Jack passa um spray com cheiro de planta no
local, espantando os mosquitos. Fico nua, aconchego a cabeça nos
travesseiros e entro embaixo das cobertas. Em seguida, fixo o olhar
nas estrelas. Posso ouvir o barulho do vento nas árvores, o som das
brasas estalando no fogo e da água suave do mar, batendo contra a
areia. Talvez o paraíso seja assim, calmo, sereno, porque sinto paz
e concluo que não me importaria em ficar a noite toda com a ereção
do Jack presa em mim.
CAPÍTULO 22
“Se eu desistir de você, eu desisto de mim
Se lutarmos pela verdade ficaremos juntos
Mesmo Deus e a fé que eu conheço
Não deveriam me prender aqui, não deveriam me manter longe de você”
(Stigmatized, The Calling)

Jack retorna após alguns minutos, limpo, vestido com o


roupão e sorrindo. Ele fecha a barraca, apaga a luminária e somos
agraciados com a luz da lua. Com rapidez se livra da vestimenta e
entra embaixo das cobertas, grudando o corpo ao meu. Ficamos de
frente, nos admirando em silêncio. A luz branca reflete parcialmente
o rosto dele. Adoro analisar os seus detalhes, a curvatura dos olhos
grandes, que sempre demonstram safadeza e autoconfiança. O
nariz reto, os lábios bem delineados e a barba por fazer, que sempre
causa um arrepio ao tocar minha pele. Ele rompe o silêncio
limpando a garganta.
一 Nada mais nos impede de finalmente nos conhecermos
Clayre Freburg. 一 Sua mão toca o meu rosto e seu polegar acaricia
minha bochecha. 一 Sei que lutamos contra tudo isso. Que se
afastou por vezes demais tentando não sentir. Em muitas dessas
ocasiões o único interesse era perguntar e nos conhecer de
verdade. Queria saber tudo, até as coisas mais bobas como,
quando foi a última vez que sua barriga doeu de tanto sorrir ou
simplesmente qual é o seu maior medo 一 ele suspira
profundamente e continua, 一 conta qualquer coisa idiota, que me
deixará mais perto do seu coração.
一 Odeio meu aniversário. 一 Digo a primeira coisa sem
sentido que vem na mente e ele franze o cenho. 一 Meu pai todo
ano, no dia, deixava um bolo médio, sempre de chocolate, morango
e chantilly em cima do meu criado, que ficava ao lado da cama. Ele
entrava em silêncio, sem emitir um único ruído e quando abria os
meus olhos encontrava o presente. Ele sumia o dia todo para que
eu sentasse na cama e comesse sozinha. 一 Os olhos do Jack ficam
vidrados em mim, confuso, tentando buscar uma explicação lógica
para isso. 一 Eu odiava o fato de completar mais um ano sem ter a
minha mãe, e pensava que um dia ela chegaria e eu teria o melhor
aniversário e sim, seria inesquecível. 一 sorrio e levo o olhar até as
estrelas. 一 Eu sei que é trágico, mas no ano passado foi diferente,
pedi que meu pai ficasse e sentamos na cama para comer juntos.
Percebi que ela nunca apareceria e que estava deixando de ser
uma adolescente sonhadora para traçar o meu próprio destino. 一 A
expressão do Jack muda evidenciando tristeza.
一 Esse ano deixarei ao seu lado na cama um bolo dourado,
repleto de estrelas e brilho. Para te mostrar que encontrou o seu
destino, você mesma e as pessoas que te fazem feliz. Eu prometo.
一 volto meu olhar para ele que me puxa para mais perto.
一 Não prometa, Jack, nunca prometa nada, porque eu odeio
promessas. 一 Ele encosta os lábios nos meus para sussurrar.
一 Você odeia porque quem prometia não cumpria, eu sou
diferente Clayre, cumprirei todas.
Aconchego-me no seu peitoral forte, e roço meu rosto em sua
pele cheirosa.
一 E você Jack? Por que quis ser produtor de bebidas? 一
Sua mão percorre minhas costas, subindo e descendo suavemente.
一 Foi culpa do meu pai eu gostar tanto de beber.
一 Como assim? Fale um pouco deles. 一 questiono sorrindo.
一 Bom, minha mãe, Alexia, engravidou dele em um encontro
às cegas em Nova York, quando foi assistir um desfile de moda. Ela
era nova, como você, tinha o sonho de virar uma estrela das
passarelas, enquanto meu pai era um bad boy com uma empresa
de milhões, mas não se importava com nada, só em beber.
Resumindo, eles se encantaram pela voz um do outro e se
entregaram há um momento de prazer, no escuro, sem se verem.
Ela demorou para tomar a pílula e a gravidez aconteceu. Voltou para
a capital com a intenção de conhecer o homem que a engravidou e
se deparou com Kurt Bourbon, que ofereceu moradia, mas deixou
explícito que jamais ficaria com ela. 一 Levanto o meu rosto curiosa,
querendo saber o restante da história dos seus progenitores. 一
Enfim, no primeiro amanhecer no apartamento ela foi até a cozinha
e o encontrou bebendo. Quando perguntou o que tinha de café da
manhã, ele disse “cerveja” e para provocá-lo tentou beber, mas ele
não deixou. 一 sorrimos juntos e ele continua, 一 Porém, ficou com
desejo de tomar o álcool e assim eu nasci. Louco por produzir
bebidas enquanto a Barbie odeia. Fui inteligente e fiz fortuna com
isso. Virei cervejeiro e depois decidi expandir e comecei a produzir
destilados, quando dei conta tinha uma fábrica e várias filiais
espalhadas por toda América. Com tudo estruturado, mudei para
Miami, para ter o meu bar particular. 一 Beijo o corpo dele subindo
até o seu rosto.
一 Uau, realmente o álcool faz parte de você. 一 Jack sorri. 一
É por isso que fala com tanto orgulho das suas bebidas e vejo seus
olhos brilharem de satisfação quando está dentro daquelas paredes
de pedras.
一 Meu bar é a minha casa.
一 Sabe do que mais gosto? 一 Ele arqueia a sobrancelha.
一 Do quê? 一 Passo a perna esquerda por cima de seu
quadril e escorrego meu corpo para cima do seu. Jack arfa e suas
pupilas dilatam.
一 Adoro quando caminha lentamente até a mesa de sinuca,
com o olhar preso ao meu. Você sempre segura o taco de madeira
na mão esquerda apoiando a base no chão enquanto passa o giz
com a mão direita na ponta. Logo em seguida, com seu jeito
largado, com os lábios úmidos de cerveja, você posiciona o taco
sobre a mesa encontrando o melhor ângulo para acertar, e sempre,
Jack, você sempre olha para mim. Após achar o ponto certo e com
um meio sorriso quebrado realiza a jogada, com força e precisão.
Com toda sua masculinidade, você eleva as sobrancelhas e sorri de
lado me desejando, mostrando o que você faria comigo, se me
tivesse em seus braços. 一 Jack leva uma das mãos ao pau e
encaixa na minha boceta e com a outra pressiona o meu quadril
penetrando sua ereção grossa com precisão dentro de mim. 一 Ah,
isso… assim. 一 sussurro com os nossos olhares fixos e com o
corpo em chamas.
Nesse instante, me sinto como uma floresta e estou
queimando.
Jack é o oxigênio que não deixa a chama morrer.
Com força ele faz um jogo corpo a corpo ficando por cima de
mim. Tudo que sinto é sua invasão poderosa, profunda, enquanto
faminto me deseja com o olhar. Vibro, os impulsos correm por todas
as áreas sensíveis e inflamáveis da minha pele. A garganta fica
seca, minhas pernas estremecem e sinto, apenas sinto, sua jogada
audaciosa, que ateia descontrole e apetite.
一 Minha nova casa é você, Clayre. 一 Ele se move, como um
animal selvagem e flexiono minhas pernas, ao mesmo tempo que a
escancaro para sentir seu pau entrar com autoridade e suas bolas
baterem vigorosas contra a região.
Cada expressão que fazemos, cada movimento autoritário do
seu corpo, cada metida, cada gemido, Jack a cada segundo rouba
mais de mim, da minha sanidade, dos meus desejos, causando uma
dor nociva por querê-lo tanto. Por desejar cada respiração ofegante,
cada vibração. Os seus rugidos, a sua forma de segurar o meu
corpo com arrogância e devorá-lo como se eu fosse o melhor doce
do mundo destrói qualquer raciocínio.
Pura intensidade.
Pele contra pele.
Suor misturado e salivas trocadas.
Paixão e fogo.
Um incêndio todo que só termina quando tudo se torna
pequenas cinzas que flutuam no ar semelhante à neve fina. Até não
restar nada, só as milhares de fuligens sobre o chão.

Os raios de sol penetram a parte transparente da barraca e


tocam meu rosto. Lentamente abro os olhos e inclino a cabeça para
ver o Jack dormindo com o braço ao redor da minha cintura e o
nariz grudado em minhas costas. Suavemente me arrasto no
colchão sem acordá-lo, coloco o roupão e saio da barraca, descalça,
querendo apenas ver o sol que acabou de nascer. Meus pés tocam
o chão, sentindo a textura fina e macia da terra. Puxo o ar inflando
os meus pulmões e sinto o perfume que me abraçou a noite toda,
sim, o cheiro dele.
Puro.
Intenso.
Nostálgico.
“Porra Jack, porra”.
Fico furiosa ao constatar que a fragrância não está no ar, mas
sim em mim. Cravada em minha pele. Como se fizesse parte do
meu corpo. Toco os meus cabelos levando uma mecha ao nariz e
sim, também está aqui! Fecho os olhos e os raios suaves
amarelados do sol me aquece. Quando me senti assim antes?
Nunca.
Meu coração parece estar em minhas mãos, batendo,
pulsando sangue.
Enquanto minha alma traz a sensação de aperto, de dor, de
amor, de pecado.
“Consumamos o proibido e Deus me perdoe, mas foi tão
bom”.
Faço uma careta de choro, querendo me arrepender, mas
não, só quero sentir de novo aquelas malditas borboletas douradas
batendo as asas com tanta força em meu estômago, que pareciam
me destruir como milhares de fogos de artifícios. A sensação dos
movimentos do Jack contra o meu corpo estão frescas e tenho a
impressão de estar com seu pau ainda enterrado dentro de mim.
Grande, duro, profundo.
Me arrepio.
Toco o centro do meu peito, na direção do coração, sendo
acertada pela flecha do cúpido safado que adora plantar o caos no
mundo. Encho a boca de ar, de satisfação ao dizer isso em voz alta,
jogando as palavras contra o vento.
一 Jack é meu e eu sou dele. Assim, possessivos, sem
dúvidas. 一 sorrio de mim mesma, por ser tão boba, mas as mãos
do Jack rastejam pela minha cintura e fecho os olhos sentindo seu
nariz roçar em minha nuca descendo pelo meu pescoço, até que
seus lábios depositem um beijo.
一 Sim, Clayre, eu te provei o quanto você me pertence e
agora viveremos essa paixão… 一 interrompo.
一 Secreta… ninguém precisa saber, não agora. Já contei ao
universo através do vento. 一 ele sorri e sua respiração faz cócegas
em minha pele. 一 Seus dedos contornam minha clavícula e um
novo beijo é selado em meu pescoço e depois no ombro esquerdo.
一 Não quero magoá-la Jack, me permita tentar contar e explicar o
que sentimos, por favor? 一 Com força seu braços me envolvem e
meu tórax é engolido pelo dele, que é duas vezes o meu tamanho.
一 Tudo bem, acabo de perceber outra característica sua,
fascinante. 一 brinca enquanto sentimos o sol em nossa pele.
一 É mesmo, e qual seria?
一 A sua incrível capacidade de ter fé nas pessoas.
一 A vida é curta, Jack, curta demais. 一 Suspiro atingida
pelas minhas próprias palavras e percebendo certa mudança, ele
desconversa.
一 Vamos assar carne, tomar cerveja e fazer amor mais
algumas vezes. Quer um dia melhor que esse? 一 Viro o corpo
ficando de frente ao dele e pulo em seu colo.
一 Sério? Você trouxe carne? Jack, não quero mais sair
daqui, vamos morar em uma ilha? Só eu e você?
一 Ilha dos Bourbon’s, onde estrelas brilham como fogo.
Claro, colocarei na minha lista de aquisições futuras. 一 Jack me
sustenta em seu corpo e segue até a fogueira apagada. 一 Hora de
transformar em uma churrasqueira improvisada.

Trocamos de roupas, Jack acende o fogo enquanto forro o


chão com um tapete, e nos sentamos. O barulho da carne sendo
assada, o cheiro delicioso e os lábios dele gelados de cerveja contra
o meu rosto é agora o meu programa favorito. Na caixinha de som
toca os clássicos do rock, no céu os pássaros fazem sua própria
melodia, nas águas alguns barcos surgem com pessoas visitando
essa parte da ilha e permaneço sentada no meio das pernas
grossas do Jack enquanto bebemos e comemos à vontade.
Suas mãos sempre procuram as minhas, os seus lábios
sempre anseiam pelos meus, o nariz persegue o meu cheiro e
nossos corações aparentam bater em sincronia. Questiono
internamente se é possível a cada minuto se apaixonar mais por
uma pessoa. Concluo que sim, afinal, a vontade de estar perto dele,
respirando com ele, é maior e crescente.
Passamos parte do dia comendo e bebendo, depois fizemos
amor e tomamos banho de mar agarrados. Quando o fim do dia
chega guardamos tudo e carregamos até o barco que nos espera.
Jack, nesse momento, leva a barraca desmontada enquanto enfio o
pé na areia e vejo o buraco se encher com a água salgada. O pôr do
sol está acontecendo e dentro de mim só quero gritar, triste, pelo
final de semana ter chegado ao fim.
Foram vinte quatro horas intensas em que deixei de ser uma
garota inocente e amei cada minuto do sexo que fizemos. Jack para
ao meu lado e assiste comigo o sol ficar alaranjado, pronto para
sumir no horizonte. Entrelaçamos nossas mãos e seguimos até o
barco, prontos para voltar ao caos. Sentamos e admiramos as
estrelas e as águas brilhantes pela luz da lua. A travessia é rápida e
quando paramos ajudo levar tudo para o carro.
一 Muito obrigado Barton, até a próxima. 一 Jack aperta a
mão do homem e aceno me despedindo.
Entramos no carro e ao fecharmos a porta Jack paralisa, com
a chave na ignição e fica em silêncio, sem dizer nada. Fico
angustiada e suspiro profundamente antes de falar.
一 O que houve? Está tudo bem? 一 Minhas mão ficam frias
em aflição, por que ele parou? 一 Se arrependeu de ficar comigo.
Jack? 一 Minha pergunta faz ele sorrir e me encarar fixamente.
一 Jamais me arrependerei, e se isso acontecer é apenas
arrependimento de não conseguir voltar no tempo para viver tudo de
novo.
CAPÍTULO 23
“Eu costumava flutuar, agora só caio
Eu costumava saber, mas agora não tenho certeza
Para que fui criada
Para que fui criada?”
(What Was I Made For?, Billie Eilish)

Jack segura meu rosto e beija com ternura minha testa.


一 Ficarei com você hoje, no apartamento da Barbie.
一 Tem certeza? Acho que não é uma boa ideia. 一 aviso
triste.
一 Tenho certeza! Clayre… 一 Jack para, pensa por alguns
segundos e provavelmente me perguntará algo confuso. 一 Por que
seu corpo está com marcas roxas? O que aconteceu? Quem fez
isso com você? Por favor, seja sincera.
Inspiro frustrada, porque jurei que ele não havia percebido e
que não precisaria mentir. Não quero confessar sobre a doença e
mudar todo sentimento que está desenvolvendo por mim. Não quero
que sinta pena ou que passe a me tratar como o meu pai, como se
eu fosse um pequeno frasco de vidro que a qualquer momento pode
se quebrar.
Foi assim a vida toda, quando as coisas pioraram de um ano
para cá, me senti sufocada, limitada e ele só me soltou da gaiola
porque estava voando para encontrar minha mãe. Um pássaro com
uma asa deformada, implorando por amor, mas pena, jamais.
一 Caí da cama. Achei que não tivesse machucado, mas sou
subdesenvolvida Jack, digamos que meu corpo é sensível e como
minha pele é branca, qualquer batida deixa uma marca.
Como explicar que passei metade da vida anêmica, que até
por isso pareço miúda? Não agora, não depois dos momentos que
tivemos, não quando o que ele sente pode causar a extinção do
mundo dentro de mim e despertar dúvidas. Jack olha
profundamente em meus olhos, focado, buscando a verdade e
permaneço sólida.
一 Clayre… 一 Levo os dedos aos seus lábios, silenciando-o,
ele sabe que estou mentindo, mas precisa ser indiferente.
一 Jack, vamos, eu quero muito tomar um banho quente e
dormir abraçada com você. 一 Ele se rende com o pedido e mesmo
contrariado concorda.
一 Tudo bem, quando quiser falar, estarei aqui. Não sei o que
aconteceu, mas fiquei preocupado, não faça de novo, não quero que
se machuque, entendeu? 一 Sorrio e beijo o rosto dele, sentindo os
fios grossos de sua barba rala arranhar meus lábios.
Jack pensa que fiz alguma coisa perigosa, e me alivia saber
que não desconfia de nada. Ele volta a atenção ao volante, liga o
carro e seguimos para a cidade. O caminho não é longo e após
alguns minutos ouvindo mais da sua playlist de rock, estacionamos
na frente do prédio. As luzes esverdeadas do jardim o deixam
encantador e bonito e quando olho para o hall de entrada assusto
por ver a Liana sentada em uma das poltronas, esperando.
Jack está pronto para sair e apressadamente seguro sua
mão, que me encara perdido.
一 Espera! Minha mãe está na recepção, acho que está me
aguardando. 一 Ele inclina o rosto olhando por trás de mim e
suspira.
一 Droga, ela está! Certo, vamos lá! Fique calma, deve querer
se aproximar de você novamente.
一 Não queria vê-la, não hoje. Eu… 一 Solto a mão dele
deixando meu corpo topar no banco, abatida. 一 Não consigo
esquecer a última conversa que tivemos, não acabou nada bem!
Jack cruza os braços, franze o cenho, aperta a mandíbula e
sei que irá perguntar sobre aquele dia.
一 O que aconteceu aquele dia? O que ela falou para que
ficasse tão triste, querendo se afastar? 一 Olho novamente para a
recepção e ela continua no celular, sem notar que chegamos.
一 Ela veio falar sobre a viagem à Suíça, que eu poderia ir
com você e amenizar as coisas, dizer que ela é uma boa mãe,
porque estava sentindo que a nossa relação fria afetou a de vocês.
一 Jack não pisca, mantendo-se vidrado em cada palavra que sai da
minha boca. 一 Questionei sem pensar se ela te amava e em
segundos se transformou e deu um tapa no meu rosto. 一 Escuto o
ranger dos dentes e o olhar se tornar sombrio, carregado.
一 Ela ficou louca? Bater em você é inaceitável. 一 O timbre
de voz é grave, autoritário e com receio da atitude dele, levo a mão
ao seu rosto.
A fisionomia não muda. Permanece dura. Furiosa e selo os
seus lábios com um beijo, derretendo suas barreiras. O rosto relaxa
e sua expressão suaviza.
一 Está tudo bem, Jack, já passou. Ela pediu desculpas e
percebi que o término de vocês a desestruturou, mas deve estar
mais calma agora. Por favor, não diga nada.
一 Tudo bem, mas estou engolindo forçado tudo isso. Ela não
pode agir assim, te agredir, mas relevarei porque está me pedindo.
Vamos entrar, verificar o que ela quer e acabar logo com isso. 一
Concordo com um balançar de cabeça e descemos do veículo.
Jack pega meus pertences no banco traseiro e vejo quando
Liana se levanta confirmando que nos viu. Meu corpo fica tenso,
minha cabeça começa a doer e levo os polegares as têmporas
massageando. Minha mãe atravessa a porta de vidro e para em
nossa frente. Não consigo decifrar sua fisionomia, ela sempre
parece não estar sentindo nada.
一 Graças à Deus, Clayre, onde você estava? Eu e seu pai
estávamos preocupados. 一 Travo, meu corpo amolece. “Ela disse
meu pai?”. 一 Tentei te ligar desde ontem, onde vocês estavam?
一 Você ligou para o meu pai? Por quê? 一 Meu semblante se
fecha, incrédula e ela começa a gaguejar formulando as palavras.
一 Bom, eu, filha, não consegui falar com você e apenas
perguntei a ele se havia avisado algo? 一 Bufo baixo e Jack percebe
minha raiva e hesitação.
一 Liana… 一 ele fala ríspido. 一 Lembra que acamparíamos?
Já havia preparado tudo e fomos. 一 Jack começa a caminhar para
entrar no prédio e o sigo com ela ao meu lado.
一 Ah, meu Deus, verdade! Havia esquecido disso. Como foi?
Aproveitaram? 一 Paro de andar e os dois me encaram confusos.
一 Jack, dê as minhas coisas. 一 Contrariado ele entrega a
mochila e a nécessaire e antes que possa questionar decido
encerrar essa situação estranha. 一 Obrigada Jack, eu adorei
acampar, amei comer carne assada e dormir em uma barraca pela
primeira vez na vida. Pode ir, nos vemos amanhã no trabalho,
agradeço a carona. 一 Seu olhar perdido sobre o meu, causa
angústia, mas sei que irá embora, mesmo que não queira.
Jack aperta os lábios, abaixa a cabeça por alguns segundos
e sorri, sem vontade, apenas por sorrir.
一 Claro, pelo menos fugimos da loucura do bar por algumas
horas. Até amanhã, Clayre. 一 Ele encara minha mãe por alguns
segundos. 一 Até mais, Liana. 一 Jack vai embora, sem olhar para
trás e sigo com ela para o elevador.
Duas estranhas em um cubículo de ferro fechado, sem
proferir nenhuma palavra, apenas o som da nossa respiração.
Quando entramos no apartamento, ela finalmente quebra o silêncio.
一 Clayre, me desculpe, sei que tentou falar comigo, mas
estava processando as coisas. 一 Coloco a mala no chão e a
nécessaire sobre o sofá enquanto Dior corre em minha direção,
miando feliz.
一 Oi Dior, sentiu minha falta? 一 Pego a gata preta em meu
colo, faço carinho em sua face peluda e ela ronrona.
一 O que acha de comermos uma sopa? Está frio e seu pai
me contou que sempre faz porque tem muitos nutrientes.
一 Claro, preciso tomar um banho, mas antes vou trocar a
água da Dior e dar um petisco. 一 Minha mãe sorri e talvez seja bom
passar uma noite com ela e conversar.

Após Dior estar satisfeita e eu de banho tomado, me jogo no


sofá enquanto Liana liga em um restaurante e faz os pedidos. O fato
é que estou enjoada de comer sopa, mas será a chance de ter um
momento com ela. Enquanto aguardamos seu olhar me analisa
misteriosamente.
一 Como está o bar? Como está sua relação com o Jack e
como foi acampar com ele?
Como dizer que foram as melhores horas que já vivi na vida?
Ganhando disparado até mesmo da noite pós-formatura, onde eu e
a Rebeca tomamos sorvete com confete até entupirmos e depois
passei uma semana sem poder ingerir nenhuma colher de açúcar.
一 Foi bom, nunca acampei antes. O lugar é lindo, e não
imaginei que fosse gostar tanto.
一 Esse é o programa preferido do Jack, um eterno
aventureiro. Amará a Suíça, poderemos participar de vários
passeios, correr na neve, tomar chocolate quente em frente a
lareira. Nosso programa familiar será recheado de atividades. Vai
adorar tê-lo como um segundo pai, é atencioso, eu prometo.
Suas palavras fazem um gelo se apoderar do meu coração,
meus olhos começam a arder pelas lágrimas que querem brotar.
Sento no sofá, respirando profundamente, de novo, mais uma vez e
novamente evitando sentir e permitir que a vontade de chorar
aconteça.
一 Jack jamais substituirá o Gerald, não é isso, mas ele será
ótimo.
“Ela disse programa familiar e segundo pai? Sim, ela disse. O
que eu fiz? Ela jamais aceitará o que sinto pelo Jack, nunca tive de
fato uma mãe, perderei o pouco que me resta?”.
Liana fala comigo em vão, não escuto nada, apenas um som
abafado, e com calma me levanto seguindo até o banheiro. Fecho a
porta com as mãos trêmulas e ao me ver refletida no espelho não
consigo segurar. Cada lágrima sai pesada, sem que eu emita som,
apenas elas, salgadas, queimando o meu rosto. Deixei a emoção
falar por mim? Perdi a razão? Nesse momento pareço perder o
chão, porque não quero deixá-lo.
É errado querer mais ele do que minha própria mãe? Um
gosto amargo invade minha boca e lembro que não tomei o remédio
para evitar que o Jack visse. Tudo parece tão insignificante, só
consigo acessar as memórias da noite passada. Flashes e flashes.
Suas mãos sobre as minhas.
O toque no meu corpo.
A invasão física e a paixão queimando tudo.
Meu peito dói, as lágrimas parecem de sangue porque
perfuram minha mente com dúvidas demais. Com angústia, medo e
incertezas. Minha mãe bate na porta e limpo a garganta.
一 Está tudo bem? Ficou pálida. 一 Engulo o choro, enxugo
os olhos e com a voz firme respondo.
一 Sim, acho que tomei sol demais. Daqui a pouco estarei lá.
一 Certo, as sopas devem estar chegando. Farei uma ligação
lá fora.
一 Tomarei um remédio para o estômago, já te encontro. 一
Escuto os passos dela se afastarem e apoio as mãos na pia.
Uma nova lágrima escorre e abro a torneira para jogar água
no rosto. Meus olhos estão avermelhados, ardem e a vontade de
continuar chorando pulsa forte, quase sem controle. Acerto um tapa
na bochecha, furiosa.
“Para com isso, tudo é culpa sua, não seja estúpida”.
A água fria escorre enquanto engulo tudo que sinto junto com
a saliva amarga. A dor ameniza, minha aflição diminui e mais calma
enxugo o rosto. Quando meus olhos estão menos inchados, saio do
banheiro e sigo até o quarto e abro a nécessaire pegando os
comprimidos.
Enfio na boca e engulo sem água, sentindo raspar em minha
garganta. Minha mãe Liana entra no quarto e senta na cama
olhando fixamente para mim. Pela sua expressão, pelo sorriso na
boca, ela dirá algo que talvez mude tudo e não sei porquê minha
voz interna começa a gritar.
一 Filha, sei que me acha seca, mas eu me importo com
você. Sempre me importei. Só tinha medo de formar uma família.
Com o Jack não sinto medo e mesmo que seja um homem mais
novo, possui um coração de ouro. A viagem será importante para
ele enxergar que me ama. Só está confuso. 一 Será que ela planeja
fazer algum tipo de declaração? Isso está cada vez pior.
一 Ele sabe que iremos todos juntos para a Suíça?
一 Filha, é meio óbvio, temos três passagens e não
reembolsam.
O interfone toca nos interrompendo. Saio do quarto e verifico
que as sopas chegaram. Minha mãe desce até a recepção para
buscá-las enquanto tento assimilar tudo. A viagem acontecerá e
preciso encontrar uma maneira de conversar com ela. Suspiro
profundamente e a verdade é que não sei como começar a revelar
algo que transformará tudo.
“Minha mãe entenderá essa paixão? Cada dia tenho mais
certeza que não”.
CAPÍTULO 24
“Cê vai pra sempre estar em mim
Diz que a história não acabou
Que depois do universo ainda existe o nosso amor”
(Depois do Universo, Giulia Be)

Abro a geladeira e pego uma garrafa de cerveja. O vento


noturno que passa pelas janelas automaticamente faz pensar na
Clayre. Nas horas que compartilhamos, na sensação que senti
quando me movia dentro dela, quando beijava seus lábios e luto
com essa vontade louca de ir correndo encontrá-la.
Retiro a tampa e inclino a garrafa nos meus lábios ingerindo
todo líquido, gole atrás de gole. Estou frustrado porque tinha o meu
próprio planejamento, todavia, Liana surgiu e mudou tudo. Coloco a
garrafa vazia sobre a ilha e fecho os olhos.
Visualizo o meu pecado em forma humana. O momento exato
que segurava seu corpo em meus braços, sentados, próximo ao
fogo que começava a estalar. Seus seios estavam expostos, sua
pele brilhava ao ser iluminada pelas chamas e o desejo que me
consumia despedaçava minha alma, e ao mesmo tempo juntava em
uma única definição: paixão.
Eu a quis, eu a provei e naquele sentimento todo que nos
conectava havia algo pior, uma sede ordinária pelo seu coração. Eu
desejei que me quisesse e me amasse para sempre.
Abro os olhos e topo com a realidade.
Eu sou livre, não estou mais em um relacionamento e a
Clayre pode ser toda minha. Não há nada que me fará recuar ou
desistir de tê-la. Sem me importar de estar de chinelo, com um short
batido, sem camisa e com os cabelos ainda molhados, pego uma
muda de roupa e a chave do carro.
Dirijo pelas ruas até parar no McDonald’s. Passei tempo
demais focado em suas redes sociais e ficou evidente que ela ama
esse lugar. Faço vários pedidos, tudo que quero é vê-la sorrir e
esquecer que um dia esteve triste ou que se sentiu sozinha. Compro
desde lanches até sorvete, que é bem mais fácil de conseguir nesse
fim de inverno, as batatas fritas e os milk-shakes.
A foto que vi ela estava sentada com uma amiga e as duas
sorriam alegres segurando as batatas enfiadas no milk-shake de
morango. Ela estava feliz, não tenho dúvidas e por algum obséquio
do destino sinto que Liana pode tê-la deprimido com sua visita.
Estaciono em frente ao prédio e peço ajuda de uma das
recepcionistas para subir com tudo.
Entro no apartamento e não há sinal de nenhuma das duas.
A moça coloca tudo em cima da mesa e sorri.
一 Obrigado! 一 Ela acena e desce para a recepção.
Procuro pela Clayre em cada cômodo e não a encontro.
“Só existe um lugar que ela estaria para se sentir melhor”.
Sem qualquer dúvida sigo até a varanda, a cortina está
fechada, mas ao puxá-la vejo minha estrela dourada sentada com o
rosto enfiado nas pernas e os braços abraçando os joelhos.
Encolhida. Chorando.
Volto até a mesa e pego as batatas fritas e os milk-shakes e
quando atravesso a porta de vidro seu rosto se eleva, assustada.
一 Jack… 一 Seus olhos arregalados me fitam sem acreditar.
Sento ao seu lado e deposito a comida sobre o chão. Clayre
pula em meu colo e me abraça forte. Puxo seu quadril encaixando
no meu e suas pernas passam ao redor da minha cintura, quase
querendo invadir meu ser.
Seu rosto afunda em meu pescoço e sinto as lágrimas
escorrerem pelo meu peito.
一 Clayre, estou aqui! Não vou te deixar sozinha, não depois
de descobrir que você é tudo que mais quero no mundo. 一 Ela
soluça, as lágrimas não param e sua respiração é pesada. 一 Não
precisa dizer nada! 一 Clayre limpa a garganta e com a boca
tocando minha pele suspira querendo falar.
一 Jack, você acredita que o amor pode sobreviver a tudo,
até mesmo a morte? 一 Passo a mão em seus cabelos e mesmo
confuso com sua pergunta, eu não tenho dúvidas da resposta que
acredito.
一 Sim, o amor nunca morre Clayre. Duas almas podem se
reencontrar no infinito! 一 A mão delicada dela toca o meu maxilar e
os dedos percorrem minha barba.
Ela eleva o rosto ficando na altura do meu. Seu olhar transita
entre minha boca e os olhos. Sua atenção genuína está totalmente
em mim e consigo sentir um vínculo íntimo e especial.
Seus lábios suavemente tocam os meus em uma pressão
gostosa e quente. A língua molhada desliza encontrando a minha e
juntas se misturam em movimentos lentos, intensos e prazerosos.
Clayre inclina o rosto e nossas bocas aumentam o ritmo se
devorando, experimentando. Meu ar é sugado, fico sem fôlego, mas
não a solto. Deslizo as mãos pelo seu corpo e suas curvas atiçam
os meus desejos.
Quando nos afastamos sorrimos com as bocas coladas.
Inesperadamente ela pega o milk-shake empolgada. Seus lábios
avermelhados capturam o canudo e sugam o líquido cor de rosa.
Seus olhos se fecham em satisfação e quando para de beber, me
beija, com a língua gelada e o sabor doce de morango.
Clayre sabe me deixar louco, faminto por ela.
Com a boca oferece uma batata frita entre os dentes e aceito,
como dois adolescentes apaixonados. Realmente nunca senti algo
tão violento e dominante antes. Clayre senta ao meu lado para
comermos com calma e seu cheiro está incrivelmente magnífico
misturado ao doce e salgado da comida.
一 Não acredito que comprou isso para nós. Eu amo isso. 一
Sua voz meiga estupidamente me deixa excitado.
Com força a empurro contra o chão com a barriga para cima.
Com as mãos levanto a parte de cima do seu pijama de seda branco
e capturo seu mamilo direito. Ela geme.
一 Ah, seus lábios estão gelados, que delícia. 一 Pego o
canudo do copo melado de morango e passo em seus mamilos.
Clayre arrepia e seus bicos endurecem. Minha boca saliva
para chupá-los, mas pego uma batata frita e passo sobre o doce e
depois provo.
一 Simplesmente delicioso, batata com milk-shake e uma
pitada de Clayre Freburg. 一 Ela sorri, feliz e meu coração aquece.
Abocanho seus mamilos, sedento, ansioso, e os chupo com
sensualidade, limpando-os com a língua. Ela murmura em prazer e
suas mãos deslizam em meus cabelos.
一 Jack, eu estou apaixonada por você. 一 Sua confissão faz
meu coração acelerar e solto o mamilo que estava entre os meus
dentes e subo meu rosto até o seu.
一 Clayre, eu também estou fodidamente apaixonado por
você. 一 Nos admiramos intensamente e desesperados nos
beijamos.
Deito meu corpo por cima do seu enquanto nossos lábios se
provam. Suas pernas se abrem permitindo o meu quadril encaixar
perfeitamente no seu. Pressiono nossos corpos quentes, suas mãos
pequenas sobem pelas minhas costas e seus dentes mordem meus
lábios com meiguice. Afasto o rosto para olhá-la.
Adoro cada expressão que faz quando sente prazer.
Suas bochechas ruborizam e sei que falará algo embaraçoso.
一 Jack, eu sei que isso um dia acabará… 一 afirma com a
voz doce. 一 mas, quero que cada minuto seja inesquecível. 一
suspiro amistoso.
Clayre é perfeita, e não só a beleza, mas o coração.
一 Eu prometo cuidar de você, isso não acabará.
一 Senhor Bourbon, o homem das promessas. 一 Calo sua
boca com um beijo.
Queria brutalmente fazer amor com ela, mas apenas apalpo
seu corpo, cada parte adorável e que faz nossa conexão aumentar.
Afasto-me dela e recuperamos a postura. Clayre arruma o pijama e
senta encostando na parede.
一 Pegarei os lanches, espero que esteja com fome. 一 Ela
sorri balançando a cabeça positivamente.
一 Estou faminta!
Levanto e sigo até a mesa para pegá-los. Quando retorno
sento ao seu lado e comemos. Analiso a Clayre, como um vício.
Adoro como suas mãos pequenas seguram o lanche, os olhos
seguem até o céu e seguidamente para mim. Ela alterna e prova o
milk-shake e depois a batata, fazendo uma verdadeira mistura
estranha e ainda assim consegue ser delicada e admirável. Pego-
me sorrindo ao contemplá-la. Um alerta vermelho pisca em minha
mente e não me restam dúvidas que ela é o meu caminho para o
inferno.
Quando terminamos os lanches, limpamos tudo e seguimos
até o quarto. Pulo na cama, acomodo a cabeça em uma pilha de
travesseiros e a Clayre se aproxima deitando ao meu lado. Agarro
seu corpo encaixando ao meu. Ficamos de lado, de frente para o
outro, dividindo os mesmos travesseiros.
一 Se não tivéssemos comido tanto até iria sugerir safadezas.
一 brinco e Clayre aconchega a cabeça em meu peito.
一 A noite é longa, eu quero você. 一 Sua mão desliza pelo
meu braço, apalpando os músculos. 一 Jack podemos falar da
viagem?
一 Claro, o que quer saber?
一 Minha mãe disse que nos acompanhará. 一 Fecho os
meus olhos, elevo o queixo e bufo baixo.
一 Ela disse hoje?
一 Sim. 一 Não vejo seu rosto, mas sinto sua respiração
contra minha pele.
一 Reservarei três quartos separados. Clayre olhe para mim.
一 Com calma ela arruma a postura e fica novamente com o rosto
de frente ao meu. 一 Conversaremos com ela e direi que estamos
juntos. 一 Ela balança a cabeça em negação, franze o nariz e
mostra os dentes com o olhar fixo ao meu.
一 Jack, eu estou com medo. 一 Passo a mão em seu rosto e
sua expressão suaviza.
一 É normal ter medo, pode ser que ninguém entenda o que
sentimos, talvez julguem quando ficamos a primeira vez, até digam
que seduzi você, mas nós sabemos o que aconteceu e não
viveremos uma paixão secreta por muito tempo, ainda mais com sua
mãe negando o fim da nossa relação. Nos próximos seis dias que
faltam para a viagem, estaremos presos secretamente, na mesma
cama, no mesmo ritmo e conexão, mas não podemos deixar
descobrirem de outra forma. Foda-se o que irão dizer, eu não ligo.
Só me importo com você.
Clayre fica com os olhos marejados e assisto quando a
primeira lágrima escorre na lateral do seu rosto se desmanchando
no tecido. Puxo-a para mim e a prenso em meus braços, tocando
nossas bocas.
一 Não quero que digam mentiras, Jack, nós tentamos ficar
longe, Deus sabe, nós tentamos. Não é como se pudéssemos
controlar mais. Sabe, é inexplicável, parece que somos escravos do
que sentimos, sim, talvez, mas se fosse ruim não ficaria tão feliz
perto de você. Você se sente assim também?
一 Clayre a única vez que tive tanta certeza de algo foi
quando decidi abrir minha primeira cervejaria porque amava aquilo
que estava fazendo. A segunda certeza que tenho agora é que
quero você. Me sinto muito mais que feliz quando estou com você.
Beberia todo meu estoque de bebidas, tamanha felicidade. 一 Ela
sorri e deposita animada infinitos beijos em minha boca.
Seu cheiro me enfeitiça e com desejo agarro seus cabelos
puxando-os para trás. Seu pescoço fica exposto e mordo sua pele,
com agressividade e ela murmura. Clayre me empurra e sobe por
cima do meu corpo, deitando sobre mim. Minha mão acaricia sua
coxa e seu olhar fica preso ao meu. Quase o tempo todo, estamos
nos olhando, nos tocando, é automático.
一 Quero que fique no meu apartamento, Clayre!
一 O quê? 一 Sua expressão é de surpresa e ela paralisa.
一 Sim, levarei a Dior, as plantas, suas coisas e você. Morará
comigo, não deixarei você aqui sozinha.
CAPÍTULO 25
“Cada vez que eu olho para você, amor, eu vejo algo novo
Que me deixa mais animado do que antes e me faz te querer mais
Eu não quero dormir esta noite, sonhar é apenas uma perda de tempo
Quando olho para o que a vida vem se tornando
Tudo se resume a amar você”
(All About Lovin' You, Bon Jovi)

Jack acabou de revelar que deseja me levar para o seu


apartamento.
一 Não Jack, isso não dará certo! 一 confesso.
一 Então pronto, eu ficarei aqui! 一 avisa confiante.
一 Está falando sério? 一 Ele arqueia a sobrancelha e lança
um meio-sorriso provocativo.
一 Sim, tudo que preciso é de algumas roupas, meu estoque
de bebidas e você. 一 Começo a sorrir e beijo sua tatuagem de sol e
lua no peitoral esquerdo.
Seus olhos descem para a minha boca e mordo novamente o
desenho, marcando sua pele. Ele fica impassível como se não
sentisse dor e passo a língua molhada, fazendo um suspiro pesado
escapar entre os seus lábios.
一 O que significa essa tatuagem? Achei a mais linda de
todas porque possui os astros que amo: sol, lua e estrela.
一 Bom… 一 Jack dá um toque sútil em meu queixo. 一 O sol
representa a luz, a bondade, a lua representa a escuridão, os
momentos pesados, difíceis. A junção deles é para me lembrar de
sempre manter o equilíbrio. A estrela é o que me mantém no
caminho, iluminando e clareando a minha mente. Duas forças
opostas, luz e escuridão, trazendo equilíbrio e evolução.
Passo meu polegar sobre a pequena estrela, contornando o
seu formato.
一 Sempre fui fascinada pelas estrelas, não sei exatamente o
porquê, mas quando era criança sentava com o meu pai no parque
e olhávamos elas brilharem no céu. Lembro de dizer que o meu
maior sonho era um dia provar um pedacinho da nuvem e conseguir
guardar uma estrela no pote. 一 Ele arqueia a sobrancelha e agarra
o meu corpo invertendo nossas posições.
一 Cada coisa nova que descubro sobre você só me faz
querer te morder.
一 Eu sou sua Jack, pode me morder a hora que quiser. 一
provoco e suas pupilas dilatam fixas em meu rosto.
Jack me beija tempo demais, até que nossos pulmões
estejam sem ar e paramos brevemente para recuperá-lo.
Quero usufruir de cada chance ao seu lado. De cada noite de
amor.
Em meu coração martela os desejos que sentimos, como se
o mantivesse vivo, pulsando. Sendo o combustível que meus ossos
e carne necessitam para continuar lutando.

Acordo sentindo o cheiro de café que domina o ambiente.


Meus olhos semiabertos se adaptam com a claridade da janela e
viro de lado apalpando o colchão à procura do Jack. Ele não está e
deduzo que o causador do cheiro magnífico é o senhor Bourbon.
Levanto e sigo até o banheiro para fazer a higiene matinal.
Após um banho rápido, escolho um vestido de malha amarelo
simples e saio do quarto para encontrá-lo. Entro no cômodo e
visualizo o causador dos meus desejos proibidos. Jack está apoiado
na ilha bebendo uma cerveja ao lado da cafeteira enquanto espera o
café ficar pronto. Com a clássica camisa de flanela vermelha que
adora usar, sua calça jeans e coturnos pretos.
Suspiro apaixonada.
Seu olhar encontra o meu e desajeitado apruma o corpo,
abandonando sobre o mármore a long neck. Jack limpa a garganta
e sorri.
一 Até eu descobrir como funcionava essa coisa, tive que
beber algo, estava morrendo de sede. 一 Me aproximo cruzando os
braços e ele vacila, nervoso, passando as mãos nos cabelos.
一 Jack seja você mesmo, não me importo se bebe cerveja
para matar a sede ao invés de água. 一 Os ombros dele relaxam e
em um segundo está me agarrando sorrindo. 一 Bom dia! 一 digo
tímida e ele responde ajustando o tom de voz para suave e calmo.
一 Bom dia, tenho uma surpresa.
一 Sério? O quê é? 一 questiono empolgada.
一 Fui até um mercadinho aqui do lado e comprei isso. 一
Com a mão ele aponta para a mesa sorrindo, orgulhoso de si
mesmo.
Analiso incerta franzindo o cenho.
一 Isso é farinha de trigo? Ovo? Maçã? 一 Vou até à mesa e
pego uma maçã com o aspecto delicioso e encosto em meu nariz
para cheirá-la.
一 Surpresa, é para fazer uma torta. 一 O analiso séria e
começo a gargalhar, sem controle.
一 Jack, eu não sei fazer uma torta, você sabe? 一 Ele
comprime os lábios formando uma linha única e coça a cabeça, em
negativa.
一 Não, droga, temos um problema! 一 Pulo em seus braços
e beijo seus lábios.
Sinto-o me envolver com força, juntando amorosamente os
nossos corpos.
一 Surpresa do dia, aprenderemos a fazer uma torta juntos.
一 declaro feliz.
一 A vantagem de trabalharmos a noite é termos o dia todo
para tentar. 一 Concordo balançando a cabeça e escapo dos seus
braços para desligar a cafeteira.
Jack estapeia minha bunda quando viro de costas e retorno
meu olhar ao seu, mordendo o lábio inferior. Sua expressão torna-se
sexy, sedutora e me seguro para não começarmos o dia com sexo.
Sirvo duas xícaras e minutos depois estamos diante da ilha com os
ingredientes e uma receita aberta na tela do celular.
Analiso incerta as instruções e Jack despeja a manteiga e a
farinha em uma tigela de inox. Dior entra no cômodo e pula na pia
para nos assistir.
一 Aí diz, misture tudo! Não tem segredo, até a Dior faz isso
se quiser. 一 Começo a sorrir intensamente, sentindo minhas
bochechas doerem.
一 Parece simples demais! 一 suspeito, depositando as
maçãs sobre a tábua de vidro e fatiando-as em camadas finas.
Jack amassa os dois ingredientes formando uma farofa e
pela expressão não está gostando do aspecto.
一 Nossa, a textura é estranha. 一 Ajudo-o colocando a água
e em poucos minutos a massa está pronta.
一 Agora Jack, precisamos abrir a massa. 一 aviso limpando
as mãos no guardanapo.
一 Pega a garrafinha de cerveja, abriremos com ela mesmo.
一 sugere e retiro o rótulo, lavo e entrego para ele.
Adoro o seu jeito autêntico, simples e prático. Ele não é um
cara cheio de frescuras, mesmo sendo estupidamente rico, gosta de
momentos tórridos e de contato. Com cuidado vejo-o abrir a massa
enquanto misturo as maçãs com canela nos açúcares e ao
terminarmos suspiramos animados.
一 Uau, adorei isso. Adotaremos a segunda como “o dia da
torta”. 一 confessa Jack lavando as mãos com um sorriso no rosto.
Colocamos juntos no micro-ondas por 18 minutos e depois
passamos para o forno. Jack me encoxa por trás e fecho os meus
olhos, sentindo a junção perfeita dos nossos corpos. Seus lábios
percorrem meu pescoço, finalizando com um beijo carinhoso.
一 Hum, está com o cheiro de canela. Delicioso! 一 As mãos
grandes exploram meu abdômen e demora apenas alguns
segundos até que sinta em minhas costas o seu volume. 一 Vem,
vamos tomar um café.
Seguimos até a mesa e ele senta na cadeira, deixando as
costas topar com força na madeira. Fico ao seu lado, parada,
analisando-o. Sua mão direita toca minha coxa esquerda subindo
em minha pele levantando o vestido. Ele suspira ao confirmar que
estou sem calcinha. Seu olhar examina cada parte proibida com
desejo até ficar fixo em minha face.
Falamos pelo olhar, sem abrir a boca.
Transpasso minha perna sobre a cadeira e sento em seu
colo. Nossos corpos ficam conectados de frente, grudados, e suas
mãos com sutileza se fixam na lateral da minha cintura. Jack é
poderoso, e de uma forma ardilosa. O som de sua respiração é
nocivo. Ordinário.
Como exatamente consegui resistir e fugir dele por tantos
dias?
Não sei!
Com sedução ele encosta o polegar nos meus lábios,
contornando-os com apetite. Usufruindo da sensação que emana
toda vez que estamos assim, juntos. Perto demais. Obstinado, enfia
o dedo em minha boca assistindo meus lábios fecharem sobre ele.
Chupo-o e transpasso a língua ao redor em provocação. Seus olhos
não piscam, consolidados na cena, na excitação que isso traz.
Entreabro a boca para senti-lo me provocar enfiando junto, agora, o
indicador.
Chupo-os.
Ele sorri discreto, quase imperceptível e com delicadeza abro
o botão de sua calça jeans e o zíper. A cabeça robusta do seu pau
está escapando da cueca, com a ereção dura, pronta. Elevo meu
quadril apoiando os pés no chão e o encaixo na minha entrada.
Nosso foco está um no outro, olhares fixos e conectados.
Apenas nos assistimos enquanto penetro sua ereção dentro
de mim e abandono o apoio dos pés, permitindo uma introdução
profunda, ávida. Ele arfa enquanto um gemido escapa da minha
boca. Jack passa a mão em meu rosto, fecho brevemente os olhos
e inicio lentamente alguns movimentos sincronizados com o quadril.
Rebolo. Subo e desço. Travo e repito tudo novamente, cada
vez mais suave, profundo e sensual.
Estou aprendendo e pela sua expressão estou no caminho
certo.
Meu coração palpita, a sensação de prazer é deliciosa e seus
lábios procuram os meus para um beijo ardente. Acelero, batendo
minha boceta mais forte contra sua ereção. Ansiosos por mais, por
aumentar esse desejo e esse fogo que queima urgente. Seus dedos
recaem em meus mamilos duros, marcando o tecido e ele os
contorna, fazendo a agonia crescer em meu peito.
一 Jack, eu faria amor com você o tempo todo. 一 sussurro
sentindo o prazer infame querendo me devorar e mordo meu lábio
inferior com força.
一 Clayre, goza gostoso que estou louco para socar meu pau
com força em você. 一 Entrego-me ao desejo, meu clitóris fricciona
em sua pele e estremeço.
A palpitação em meu peito, os espasmos, a fraqueza que
sobe pelas minhas pernas e a explosão inexplicavelmente delirante
dentro de mim. Isso é corrosivo, flamejante e obsessivo. Eu sempre
quero mais, muito mais do que sei que posso aguentar.
Termino de gozar eufórica e seus braços musculosos me
levantam com rapidez e me debruçam sobre a mesa. Jack é bruto,
arrogante e mete o quadril contra o meu esfomeado. Sua mão
direita agarra os meus cabelos, pressionando o meu rosto com força
na superfície. Sua invasão é devassa, profana e as suas estocadas
movimentam o meu corpo.
一 Clayre, estou tentado a te amar, mas seria deletério o
suficiente para nos destruir. 一 declara, ofegante, entredentes, com
a respiração cortada.
一 Jack, apenas me ame, não ligo de ser destruída por esse
sentimento. 一 Meu corpo vibra e o pau dele bate tão fundo,
fenomenal, arrepiando todos os meus poros.
Ouço-o grunhir, as mãos apertarem o meu quadril, o pau
pulsar e enfim, gozar, forte, potente. O corpo do Jack cai por cima
do meu, com seu gemido ainda notável e relaxo, satisfeita.
Recuperando-se ele levanta, sai de dentro de mim, mas com a mão
toca em minha boceta estimulando meu clitóris. Seu líquido escorre
e ele o espalha em toda extensão com movimentos circulares.
Afasto minhas pernas, afobada e engulo em seco com as
ondas de prazer pulsando. Jack assiste enquanto me debato,
sensível e deixo novamente o desejo me engolir gozando em seus
dedos. Definitivamente, adoro ser fodida por ele.
CAPÍTULO 26
“De um jeito ou de outro, eu vou te achar
Vou te pegar, te pegar, te pegar, te pegar
De um jeito ou de outro, vou ganhar você”
(One Way or Another, Blondie)

Clayre se desmancha na mesa, recuperando as forças


enquanto arrumo minhas calças. Pego alguns guardanapos de
papel para limpá-la e quando termino agarro sua cintura e a ajudo
ficar de pé. Seu rosto está corado, os lábios possuem marcas de
mordidas próprias e os cabelos bagunçados. Aliso os fios e a beijo,
eu sempre quero beijá-la. Quando afastamos os nossos rostos, ela
umedece os lábios com a língua e acopla os cabelos atrás da
orelha.
一 Jack, antes de entrarmos no bar podemos passar na
farmácia?
一 Claro, quer comprar a pílula? 一 Clayre desvia o olhar e
balança a cabeça concordando.
一 Sim, pois se engravidasse acho que meu pai me mataria.
一 O forno apita e desliga chamando nossa atenção. 一 O que acha
de comer uma torta agora? 一 sorrimos juntos.
一 Estou ansioso por isso!
Após nos limparmos, pegamos uma fatia de torta e sentamos
na mesa para experimentar. O sabor adocicado da maçã em
contraste com a canela é completamente delicioso.
一 Isso ficou incrível. 一 elogio com a boca cheia.
一 Meu Deus, somos bons nisso. 一 concorda Clayre
mordendo o garfo, ao passo que adota uma expressão de desejo. 一
Aliás, somos bons em tudo. 一 Essa garota é irresistível e aqui, ao
seu lado, estou feliz, como nunca me senti antes.

Após uma tarde de conversas, beijos, amassos e um banho


quente, fico pronto para ir ao bar. Por sorte a minha mala ainda
estava no carro. Coloco a jaqueta de couro e enfio a carteira no
bolso da frente. Clayre coloca um vestido azul jeans curto e se
aproxima virando de costas para que eu possa fechar o zíper.
一 Jack, fecha para mim. Prometo que só faltam os sapatos.
一 Deslizo os meus dedos em sua pele e analiso uma mancha roxa
que não estava aqui antes.
Inspiro profundamente e fecho o zíper, frustrado e
preocupado.
“Será que minha pegada mais forte pode ter deixado essa
marca? Preciso ir com calma, afinal, não quero machucá-la”.
Minutos depois Clayre está arrumada e seguimos até a
farmácia mais próxima do bar. Entramos no local e envergonhada
ela trava na hora de fazer o pedido para a atendente. Seguro sua
mão pequena e levo aos lábios para beijar.
一 Não fique com vergonha, para você isso é novo, mas para
as pessoas é algo comum. 一 Ela relaxa os ombros e respira mais
aliviada.
一 Acostumarei com isso. 一 Ela faz o pedido, pegamos a
medicação e pago no caixa.
Viramos para retornar ao estacionamento e damos de cara
com a Liana.
一 Boa noite filha. 一 Clayre aperta a caixa nas mãos nervosa
e sorri.
一 Boa noite mãe. O que faz aqui?
一 Eu que pergunto? Está tudo bem? Ficou doente? 一 Liana
estica a mão para pegar a medicação e Clayre enfia na bolsa com
rapidez.
一 Estou bem sim, é apenas algo para dor de cabeça.
一 Estava passando para ir ao bar e vi o carro do Jack. 一
Liana olha para mim e continua. 一 Preciso falar com você sobre a
viagem, enfim, a hospedagem e tudo mais. 一 Enfio as mãos no
bolso da calça e caminho para fora do estabelecimento.
一 Claro, sem problemas. 一 pigarreio e aperto o alarme. 一
Vamos para o bar e conversamos no escritório.
Liana concorda e se move até o próprio veículo. Eu e a
Clayre fazemos o mesmo. Seguindo para o bar, que fica a uma
quadra de distância.
一 Ela não viu nada, pode ficar tranquila! 一 aviso e Clayre
suspira profundamente aliviada enquanto acaricia minha perna.
一 Quase tive um infarto Jack. Melhor tomar o remédio antes
que me esqueça. 一 Ela abre a bolsa, pega a caixa, retira o
comprimido e engole. 一 Pronto. Agora usaremos camisinha. 一
avisa com firmeza.
一 Você foi a única pessoa na vida que fui descuidado e não
me preocupei em usar. Sempre morri de medo de ser pai. 一 Volto
minha atenção na vaga para estacionar.
Clayre fixa o olhar nas mãos, entrelaçando os próprios dedos.
Provavelmente queria me perguntar algo, mas será impossível
agora que chegamos. Desligo o carro e descemos. Liana segue em
direção a área de drinks e abraça o Kal. Discretamente seguro o
braço fino da Clayre que trava os passos e me olha.
一 Lembre-se sempre de ficar perto de algum dos caras, vou
falar com sua mãe no escritório e não conseguirei cuidar de você. 一
Ela sorri encarando os meus lábios e adoro quando faz essa
expressão doce e meiga.
一 Não se preocupe, nenhum idiota dará em cima de mim. 一
Rosno baixo. Todos os dias sou obrigado a vê-los secando o corpo
dela.
一 Acho bom, já basta olharem, espero que não precise
quebrar a cara de nenhum deles. 一 Clayre morde os lábios e
sempre tenho vontade de agarrá-la quando faz isso.
Solto discretamente o seu braço e nos aproximamos do
balcão.
一 Estou indo, te espero no escritório. 一 avisa Liana
desviando de nós dois, reviro os meus olhos, impaciente, mas não
tenho como fugir, ainda precisaremos fazer essa viagem juntos.
Vou atrás dela e ao fechar a porta trombo em seu corpo.
Suas mãos agarram minha cintura e com desespero pula nos meus
braços.
一 Sinto falta de você Jack. 一 declara roçando o rosto em
meu peitoral e com rapidez a afasto.
一 Falaremos sobre a viagem. 一 Liana bufa fechando e
abrindo os olhos brevemente.
Irritada, caminha até a poltrona para sentar.
一 Antes de falarmos sobre a viagem, queria agradecer por
ter oferecido o apartamento da sua irmã para a Clayre, mas hoje
mesmo pegarei as coisas dela para ficar comigo. A relação de vocês
é profissional, não estamos mais juntos, não faz sentido ela
continuar lá. 一 Engulo minha saliva com dificuldade, me movo até o
aparador e sirvo um copo de whisky que viro de uma vez na boca.
O que eu poderia dizer? Nada. Afinal, com o fim da nossa
relação realmente essa situação se torna questionável. Por mim
revelaria agora mesmo que estou apaixonado. Encerraria toda essa
porra estranha, mas respeitarei o último pedido que a Clayre me fez
quando acampamos, de falar com a mãe e tentar não perder essa
reconciliação.
一 Claro, ela é sua filha, só conversarem. Sobre a viagem
amanhã mesmo reservarei três chalés e cada um terá privacidade.
一 Isso é ótimo, mas não precisa pagar por um chalé a mais,
podemos ficar no mesmo, sem problemas. 一 Liana cada dia me
deixa mais hostil.
Essa negação em aceitar o óbvio me faz questionar o porquê
não se empenhou da mesma forma para manter uma relação com a
filha.
一 Não somos um casal, não temos mais nada, então não
vejo necessidade de ficarmos juntos. 一 Sua fisionomia endurece e
em um salto levanta esticando o braço.
一 Poderia dar a chave do apartamento da Barbie? Pedirei
para uma empresa pegar as coisas da Clayre, ela sairá hoje daqui
comigo, direto para o meu apartamento. 一 Vacilo com sua
afirmação, meu peito comprimi em angústia e tento não demonstrar
que estou puto.
Encho o copo de whisky novamente, desviando o olhar para
a parede.
一 Fale com a Clayre primeiro, aí te dou a chave. 一 Furiosa
Liana caminha até a porta e sai.
Agora falará com a filha e seremos obrigados a ficar
distantes, dormindo em camas separadas, fingindo que não
acontece nada entre nós. Essa situação toda é uma merda, uma
grande tortura. Por outro lado, será um momento em que a Clayre
poderá finalmente conversar com a mãe e se abrir, contar seus
medos, sobre a nossa paixão. Se algo acontecer, serei o primeiro a
resgatá-la, sem me importar com a opinião ou em machucar
alguém.
Após alguns minutos no escritório, vejo a Liana se aproximar
do balcão e parar em minha frente. Os olhos estão avermelhados, a
expressão carrancuda e percebo que a conversa não foi agradável.
一 Já conversaram? 一 questiono e ela bate o indicador no
balcão progressivamente evidenciando seu estresse.
一 É difícil conversar quando não se tem abertura. Jack está
irredutível. 一 “Engraçado, é assim que me sinto quando tento me
aproximar dela”. 一 Filha, avisei para ele que pegarei suas coisas no
apartamento da Barbie, hoje mesmo irá morar comigo. Seu pai me
ligou, perguntou como estão as coisas e o fato é… 一 Liana raspa a
garganta e continua, 一 não faz sentido estar mais próxima do Jack,
do que de mim. A relação de vocês por agora é profissional, afinal,
não temos mais nada, ele não é mais o seu padrasto.
一 Eu gosto do apartamento da Barbie, e tem a Dior, fiquei de
cuidar dela e… 一 Minha mãe bate a palma da mão no balcão com
força, assusto levando a mão ao peito, e todos ao redor nos olham.
一 Não seja ridícula, é apenas uma gata nojenta, Jack se vira. 一
Fico perplexa e parecendo arrependida da fala, ela suspira e
reformula as palavras. 一 Pode levar o animal se quiser, mas hoje
você sai de lá. A escolha de me obedecer é sua ou então posso
pedir que o Gerald saia de Charleston e venha te levar até o meu
apartamento. 一 Meu corpo enrijece e não tenho escolha.
一 Mãe, acalme-se, se quer que eu fique com você, tudo
bem! 一 Jack aparece, pega uma das canecas de chopp no balcão e
toma.
Liana vira o rosto, e nos entreolhamos assiduamente. Queria
ser capaz de não olhá-lo, mas em silêncio dissemos tantas coisas
um ao outro e suspiramos pesado, ao mesmo tempo.
一 Jack, agradeço por oferecer o apartamento da sua irmã,
mas agora irei morar com a minha mãe. Gostaria de saber se posso
levar a Dior, prometo devolvê-la. 一 Ele não diz nada, permanece
sério, meu coração acelera e o nervosismo começa a crescer
fazendo minhas mãos gelarem.
Essa é a primeira vez que conheço o seu lado furioso. Um
cliente para no balcão e corro para atender, obviamente quero fugir
da tensão matadora entre nós três. O expediente será tenso,
sufocante e todos os acontecimentos só me provam que não tenho
escapatória, precisarei falar com a minha mãe e contar sobre o
Jack, o quanto estamos apaixonados e principalmente, que
queremos ficar juntos.

Quando o bar está vazio, termino de guardar as canecas de


vidro nas prateleiras e minha mãe está sentada em uma das mesas
com a atenção no celular, me esperando para irmos embora. Jack
passa ao meu lado e faz um sinal com a cabeça indicando que o
siga, escondido. Confiro novamente e confirmo que ninguém viu.
Disfarçadamente sigo atrás dele até o andar de baixo, onde ficam os
tonéis de bebidas.
Atravesso a última passagem e os braços do Jack me puxam
com força para o seu corpo. Sua testa encosta na minha e
fechamos os nossos olhos, nos sentindo.
一 Eu… 一 Ele me cala beijando minha boca.
Sua língua macia e molhada envolve a minha com
movimentos suaves e lentos para cima e para baixo. Jack faz cada
parte do meu corpo desejá-lo intensamente. Minhas mãos passeiam
em seus cabelos enquanto as dele deslizam por todo meu corpo nos
prensando ardentemente.
Nosso beijo dura minutos e afastamos os lábios para respirar,
ofegantes. As sensações conflitantes ganham vida dentro de mim.
Não queria deixá-lo porque eu queria mais de nós dois.
CAPÍTULO 27
“Esta é a nossa casa, nós fazemos as regras
E há uma aura deslumbrante, um tom misterioso em você, querido
Eu te conheço há 20 segundos ou 20 anos?
Posso ir aonde você vai?
Podemos ser próximos assim para todo o sempre?”
(Lover, Taylor Swift)

Jack mantém o olhar fixo ao meu. Seu polegar percorre


minha mandíbula e seus lábios roçam nos meus com doçura.
一 Droga, Clayre, como ficarei sem te tocar? Sem te beijar ou
fazer amor com você? 一 indaga derrotado.
一 Será por poucos dias, assim que voltarmos da viagem
tudo estará resolvido.
一 Nos encontraremos aqui todas as noites, entendeu?
Preciso ao menos sentir o seu cheiro. 一 Inclino minha cabeça
liberando o pescoço para que ele afunde o nariz.
Jack o faz, e escuto seu nariz cheirar minha pele como se o
meu perfume fosse essencial para que vivesse. Acaricio seus
cabelos aproveitando os seus gestos carinhosos. Sua mão direita
sobe o meu vestido com audácia apertando a minha bunda com
vontade enquanto desfruto da sensação de tremor que percorre
minhas pernas com sua pegada sedutora.
Escuto um barulho e me afasto rapidamente assustada.
一 Melhor voltarmos, minha mãe está extremamente nervosa
hoje. 一 Ele concorda chateado e me dá um último beijo
apaixonado.
Jack está com gosto de álcool, a saliva tem um aroma de
whisky que contrasta com o seu perfume magnífico apimentado.
Sem dúvidas, é o que me faz perder a compostura e desejá-lo com
veemência. O vínculo que temos é profundo, definitivo, e ficar sem
nossos toques será um desafio dos mais difíceis.
Terminando nosso último beijo retornamos ao bar com
cautela, sem que ninguém percebesse que estávamos juntos. Pego
minha bolsa e despeço de todos. Saio do bar ao lado da Liana, sem
olhar novamente para o Jack, com uma sensação estranha, um
misto de medo e adrenalina por ver que, enfim, seremos nós duas.
Durante todo trajeto minha visão permaneceu fixa nas ruas.
Essa é a primeira vez que estarei em sua casa e esperei tanto por
esse momento, que agora, acontecendo, não me traz nenhum tipo
de empolgação. Entramos por um portão de ferro grande, o prédio é
bonito, não é luxuoso como o do Jack, mas ainda assim possui uma
arquitetura moderna, agradável e bem construída. Descemos do
carro e ela me conduz até o elevador.
一 Moro no terceiro andar. O apartamento não é gigantesco,
mas é aconchegante. Preparei o quarto e tenho certeza que o
amará. 一 Ilustro um sorriso fraco e quando as portas se abrem
saímos juntas.
Liana destranca a porta e entro sem enxergar nada, tudo está
escuro. Ela acende as luzes e analiso o local. A sala possui em
torno de 5 m², encostado na parede tem um sofá azul-marinho
grande retrátil, na parede acima dele tem um lindo quadro da minha
mãe ao lado do Jack. Desvio o olhar mexida e na parede oposta
visualizo uma televisão. O ambiente contém um aroma de cera
recém-passada.
一 É muito bonito. 一 Elogio tentando demonstrar alegria.
一 Vem, te mostrarei o quarto. 一 A sigo pelo corredor
pequeno e ela para na segunda porta e abre. 一 Aqui! Olha que fofo!
一 Puxa-me entusiasmada e quase caio ao entrar.
Meus olhos percorrem o ambiente e fico confusa. Todas as
paredes são rosa com infinitos ursos desenhados. Sinto-me como
uma criança entrando em um mundo de fantasias. Encaro-a sem
reação, o que poderia dizer? Que não gostarei de dormir com esse
monte de desenho ao meu redor?
一 Tenho 18 anos, esse quarto era de alguma criança? 一
interrogo sem hesitar.
Liana gesticula a mão no ar em repreensão.
一 Não filha, mandei colocarem para receber você, são
papéis de parede.
一 O que te fez pensar que eu gostaria de me sentir criança
de novo? 一 Ela paralisa, sem piscar e desvio de seu corpo
colocando a bolsa sobre a cama de solteiro forrada com lençóis de
arco-íris. 一 Esquece! Eu adorei! 一 amenizo e ela volta a sorrir.
一 Bom, normalmente não cozinho, se quiser comer algo
pode fazer e no fim do corredor fica o banheiro. Tome um banho que
quero contar uma super novidade.
一 Tudo bem, daqui a pouco te encontro na sala. 一 Minha
mãe sai fechando a porta e sento na cama pensativa.
Lembro das noites que imaginei estar em sua casa, como
mãe e filha. Porém nenhuma dessas vezes fantasiei um quarto
assim, tão infantil. Gargalho sozinha e pego meu celular e tiro uma
foto da parede e envio para o meu pai. Depois de alguns segundos
ele responde com a seguinte frase “Ok? Isso é engraçado, ela está
parada no tempo?”. Respondo com um “te amo” e decido lembrar o
Jack de cuidar da Dior. Abro a nossa conversa vazia e escrevo “Dior
é minha protegida, cuide dela, por favor ou jamais te perdoarei”. Ele
demora apenas um segundo para responder “Cuidarei com a minha
vida”. Abro um sorriso satisfeita e decido ir banhar.
Assim que levanto da cama percebo que estou sem roupas
limpas, mas ao olhar perto da cabeceira tem duas peças. Confiro
que é um pijama e usarei esse mesmo. Vou ao banheiro que é
extremamente arrumadinho, delicado e após o banho me visto e
penteio os cabelos. Antes de seguir até a sala respiro
profundamente recuperando o equilíbrio emocional para manter a
confiança de que finalmente conhecerei minha mãe.
Liana está no sofá, com os olhos semicerrados por baixo do
óculos, segurando um livro na mão, lendo com atenção.
一 O que está lendo? 一 Ela fecha o livro de uma vez e lança-
o do outro lado do sofá franzindo o nariz.
一 A porcaria de um livro de autoajuda, mas não ajudou em
nada. Sente-se.
一 Qual é a novidade? Tem algo haver com a viagem? 一 Ela
se remexe cruzando as pernas enquanto retira o óculos de leitura do
rosto.
一 Sim, bom, seu pai me deu uma tarefa difícil, confesso que
não sabia bem como conduzir, mas acho que me sai bem. 一 Engulo
em seco apreensiva. 一 Ele queria te ligar, mas eu disse que estou
pronta para assumir o meu papel de mãe. O fato é que um tal de
Rangel, seu ex-namorado, certo? 一 Arregalo os olhos sentindo meu
coração gelar.
一 Sim, terminamos dias antes da minha mudança.
一 Ele quer muito conversar com você, se desculpar por algo,
não sei como foi o término de vocês e me pediu permissão para te
visitar.
一 Não. Eu não quero. Quando isso aconteceu?
一 O quê? No final de semana que acampou com o Jack.
一 Não quero vê-lo. 一 Minha mãe leva a mão direita a boca,
abalada.
一 Droga. 一 Seu xingamento demonstra que ela fez algo que
não deveria.
一 O que você fez? Não me diga que deu o seu endereço? 一
indago frustrada.
一 Sim, mas, além disso, contei que viajaremos para a Suíça
e ele preferiu te encontrar lá. Disse que seria perfeito porque precisa
mesmo de férias, mas principalmente, precisa dizer o quanto te
ama e deseja tê-la de volta. 一 Levanto-me furiosa. 一 Filha, me
desculpe, achei a atitude dele tão romântica e como estarei com o
Jack achei que seria incrível não se sentir sozinha.
Uma onda de revolta me domina e descontrolada cuspo as
palavras.
一 Você não tinha esse direito, de escolher por mim. Eu não
queria vê-lo, não queria durante um passeio feliz ter que perder o
meu tempo com alguém que nunca me deu atenção. Você não pode
responder por mim, nunca esteve presente, por que acha que pode
fazer isso? 一 Liana levanta furiosa e o olhar torna-se venenoso.
一 Seu pai foi tão péssimo em sua criação, estava querendo
ajudar, como pode me responder assim? Pediu que eu tentasse ser
sua mãe e agora está brava porque agi como uma.
一 Não. Ser minha mãe está longe de fazer escolhas por
mim. Você não sabe o que é ser mãe porque nunca foi uma. Não
conhece o Rangel e não me conhece. Meu pai foi muito mais mãe
do que você poderia ser alguma vez para mim. Isso é perda de
tempo.
一 O que Clayre? O que é perda de tempo?
一 Esse fingimento fracassado de esquecer um passado que
ainda está tão vivo e dói esmagadoramente dentro do meu coração.
Você não reconhece que falhou comigo ao ponto de curar as feridas
profundas.
一 Você é mimada, seu pai estragou você. 一 Suas palavras
me atingem como um soco no estômago, deixando-me tonta. 一 O
meu único arrependimento é não ter te trazido comigo e lhe
ensinado boas maneiras, por acaso responde o seu pai assim
também? 一 Perco meu último fio de paciência.
一 Não, porque foi um pai de verdade, ele me ama e fez de
tudo por mim. O que você fez? 一 Tudo fica silencioso e Liana
mantém o olhar preso ao meu, fria, impenetrável. 一 Nada. Você não
fez nada! 一 Nos encaramos por minutos, as lágrimas de dor
escapam dos meus olhos e as deixo rolar, livres, desejando que
limpem a dor que sinto.
Minha mãe não diz nada. Ela nunca diz.
Abandono o cômodo indo até o quarto. Liana é egoísta,
egocêntrica e não consigo perdoá-la porque cada vez demonstra
que não me ama. Ela só pensa nela, em ter toda a viagem livre para
reconquistar o Jack enquanto me larga com o Rangel sem se
importar se quero ou não. Choro triste, cansada por sempre ter
esperanças e ser destruída. Eu só queria ter uma mãe, de verdade,
com sentimentos, mas agora sei que quando revelar que quero o
Jack talvez eu perca tudo. Inclusive a minha chance de viver.

Os dias que faltam até a viagem passam lentamente. Vivi


fases como a lua, tentando não sentir, tentando não pirar e ser
devorada pelos meus pensamentos. Após a discussão com minha
mãe tudo piorou. Ficamos distantes, quase não a vi e sinto falta do
meu pai, da Dior, mas principalmente do Jack. Os beijos intensos
que troco com ele escondido todas as noites tem um efeito
calmante, como uma medicação e ameniza as coisas.
Não consegui a abertura que queria para confessar a Liana
sobre nós dois. Amanhã é a viagem, bem cedo e preciso dizer ao
Jack sobre o Rangel, mas nem isso consegui. Encho uma caneca
de chopp e bebo enquanto olho incansavelmente para as luzes
amareladas do bar, aérea, pensativa. Não preciso procurar, mas
sinto o olhar dele em mim, queimando minha pele, arrancando os
meus pedaços, triste, cada dia mais puto, por não saber como
amenizar a dor que sinto.
Em meu coração eu sei que quando assumir a paixão que
devora meu ser, dores novas nasceram e espero que o amor do
meu pai seja o suficiente para fazê-lo não me desprezar, como sei
que minha mãe fará.
Fecho brevemente os olhos para ver a escuridão e ao abri-los
encontro o rosto do Jack, parado em minha frente.
一 Tenho uma proposta! 一 diz arqueando a sobrancelha.
一 Qual? 一 Um sorriso bobo se forma em meus lábios.
一 Uma rodada de doses de whisky. Em cada uma que
tomarmos dizemos o que está nos frustrando. 一 Mordo meu lábio
inferior e mesmo incerta concordo.
一 Tudo bem! 一 Jack esfrega uma mão na outra feliz e
levanta a mão fazendo sinal para o Kal.
一 Kal, faz aquela tábua de drinks que hoje eu e a Clayre
vamos beber.
一 Santo Deus, tudo isso é animação para a tal viagem
amanhã? Jack ela só tem 18 anos, nem deveria beber, está
burlando as leis. 一 questiona gargalhando.
一 Não fode Kal, só sirva! 一 Os dois riem.
Queria que esse realmente fosse o motivo, mas tudo que o
Jack quer é que me abra com ele e liberte a dor interna. Se os
médicos me vissem bebendo tanto, talvez infartariam, mas de vez
em quando é bom ser apenas uma garota normal.
一 Isso, uma comemoração. 一 Mente Jack.
一 Pronto! 一 Avisa Kal enchendo a última dose.
一 Sentaremos lá na parte mais reservada, não encham o
saco. 一 Ele levanta os braços em rendição e concorda. 一 Vamos
Clayre! 一 Passo pelo Kal que pisca para mim e sigo o Jack até a
última mesa, quase escondida, no final da área de sinuca.
O bar está quase vazio, o relógio marca uma hora da manhã.
Nesses últimos dias estive em silêncio, e as únicas confissões que
escapavam de mim era que estava com saudades dele.
Jack coloca a tábua no centro e são 10 doses prontas para
falar por nós dois. Acomodo-me na cadeira de couro macia e
sorrimos, só de olhá-lo me sinto melhor, feliz, quase sem qualquer
conflito. A expressão irreverente e provocativa do Jack domina sua
face e ele captura o primeiro drink.
一 Eu começo. 一 Ele pigarreia limpando a garganta. 一 Não
consigo dormir sem você. 一 Confessa e vira de uma vez, sem fazer
careta. Inabalado.
Pego o pequeno copo de vidro e umedeço os lábios antes de
falar.
一 Estou cansada de tentar me aproximar da minha mãe. 一
Engulo de uma vez e ele sorri por constatar que sua ideia deu certo.
一 Estou com saudades de chupar os seus mamilos, porra,
demais! 一 Confessa triste e depois bebe.
Gargalho da sua fala ainda sentindo o gosto forte do whisky
na minha garganta. Seguro a segunda dose e pisco os olhos
pensativa.
一 Hum, tenho tido sonhos eróticos com você, sabe, estou
deitada em cima da mesa de sinuca, nua, com as pernas abertas…
一 Jack adquire uma fisionomia sedutora e sei que em sua mente
está imaginando e apenas continuo. 一 Você se aproxima, desliza a
mão pelo meu corpo e posiciona o seu “taco”. 一 Suspiro mordendo
os lábios. 一 Saudades. Cuidado se não babará de boca aberta. 一
Provoco e ele recobra a postura, excitado.
Viro a dose satisfeita por torturá-lo. Jack dá um meio-sorriso,
captura o copo e pensa antes de dizer.
一 Essa próxima frustração está me incomodando para
caralho, então preciso dizer. 一 Nos olhamos intensamente. 一 Eu
acho que amo você, Clayre! 一 Abro meus lábios surpresa enquanto
os olhos do Jack ficam marejados.
Minha boca seca, ele vira a dose e seguro a minha,
mantendo nossa conexão visual.
一 Eu também acho que amo você, Jack.
CAPÍTULO 28
“O único paraíso para onde serei enviado
Vai ser quando eu estiver sozinho com você
Eu nasci doente, mas adoro isso
Ordene-me que eu me cure
Ah, amém, amém, amém”
(Take Me To Church, Hozier)

Acabo de confessar ao Jack que também acho que o amo e


um turbilhão de emoções explode em meu peito. Nosso olhar preso,
sem piscar. Mesmo distantes, posso sentir ele me beijar
poderosamente só pela força do nosso vínculo íntimo e essencial.
Em nosso olhar estamos nos agarrando, no corpo físico o que
sentimos se assemelha a morrer afogados.
Devagar os dedos dele rastejam sobre a mesa em busca dos
meus. Eles se tocam, nossos olhos ficam marejados, meu rosto
esquenta e meu coração parece que levou um choque porque sinto
explodir dentro de mim. Viro de uma vez as duas doses que faltam e
ele faz o mesmo.
Lentamente levanto, do nosso lado esquerdo fica o banheiro
dos funcionários e caminho até lá. Demora um minuto para o Jack
passar atrás de mim e trancar a porta. Ele me empurra contra a
parede, ofegante e topo com o rosto na superfície fria enquanto me
encoxa por trás. Com movimentos picantes esfrega sua ereção
volumosa na minha bunda, ao mesmo tempo que sua boca roça na
lateral do meu queixo.
Escuto-o desafivelar o cinto e abrir o zíper da calça. Seu pau
cutuca o meio da minha bunda e suas mãos levantam o meu
vestido, deixando-me nua em baixo.
一 Clayre, eu… 一 sussurra acoplando a cabeça parruda na
minha abertura enquanto continua sua fala. 一 amo… 一 pressiona
um pouco mais, 一 você! 一 ele estoca de uma vez, sem piedade,
estremecendo todo meu corpo pela invasão justa e potente.
Sua boca ordinária morde a maçã do meu rosto, sua mão
direita captura meus cabelos enquanto seu quadril começa a se
mover com censura.
一 Jack, eu te amo. 一 confesso gemendo baixo enquanto
meu rosto bate com força contra a parede tamanha força de suas
metidas sexuais.
Os braços musculosos me abraçam e juntos ficamos
ofegantes, eufóricos e excitados. Com força me empurra, captura
minha cintura e me acomoda sentada sobre o lavabo abrindo
minhas pernas com arrogância. Jack penetra com brutalidade
jogando meu corpo contra o espelho atrás de mim que trinca com o
contato. Não paramos, só queremos mais.
Minha boca entreabre de desejo enquanto nos assistimos. As
mãos do Jack agarram a lateral da minha cintura impulsionando
meu quadril contra o seu pau, batendo nossos corpos. Extremidade
com extremidade.
Quero gritar, mas apenas sussurro seu nome.
一 Ah, Jack, me fode. 一 Imploro manhosa e seus dentes
mordem meus lábios enquanto seu pau arrebata os meus desejos.
Meu corpo vibra, minha boceta se dilata tamanha violência,
as pernas dele ficam rígidas, os rugidos baixos me atiçam e puxo
também seu quadril contra o meu, ansiosa, pronta para atingirmos o
tesão.
Extasiados, gozamos juntos, com nossas bocas coladas,
entreabertas, ofegantes e completamente apaixonados. Ele tira o
pau e deposita o gozo em minha virilha e quando termina esfrega
em minha pele antes de penetrar novamente.
一 Clayre, eu te amo, com todas as minhas forças. Eu te
amo.
Jack suga meus lábios e me beija perdidamente. Guloso.
Esfomeado. Tento sussurrar enquanto sua língua explora a minha
com urgência.
一 Sou sua Jack, somente sua. 一 Continuamos conectados,
ele se move suave, com saudade.
Escutamos conversas perto da porta e rapidamente salto
ficando em pé. Limpo-me, com as pernas fracas pela adrenalina.
Jack sorri, arruma as calças e sai primeiro. Passo uma água para
limpar minha pele, arrumo os cabelos e quanto termino puxo o
vestido para baixo e retorno para a mesa. Constato que estou um
pouco tonta pelo álcool e Jack está retornando do balcão com uma
nova dose.
一 A última para comemorar que mesmo rápido, matamos um
pouco da saudade.
一 Jamais recusaria. 一 Brindamos e de uma vez tomamos.
Queria agarrá-lo, mas engulo a vontade junto com o whisky
que desce amargando minha alma. Faço careta e Jack gargalha.
一 Chega, se não daqui a pouco esqueço o meu nome. 一
Levanto-me e desequilibro, mas ele me segura pela cintura.
一 Peguei você minha estrela dourada! 一 Kal nos olha e grita
de longe.
一 Liana vai te matar se deixá-la bêbada, Jack.
一 Eu já tenho 18 anos, não preciso de permissão para beber.
一 Brinco e me afasto do Jack para evitar problemas.
Caminhamos até o balcão para guardar tudo, afinal, o bar
esvaziou enquanto matávamos a saudade no banheiro. Limpamos
as mesas, o chão, a cozinha e são quase 3h da madrugada quando
finalizamos. Confiro e minha mãe não está me esperando. Essa
semana ela fez questão de aparecer. Todos se despedem e Jack
tranca as portas.
一 Eu levo você. 一 Concordo tímida e seguimos até o seu
carro.
Jack fecha a porta e antes de ligá-lo, impeço segurando sua
mão. Confuso ele me olha, e preciso contar sobre o Rangel, afinal,
daqui a algumas horas estaremos na Suíça.
一 Preciso te contar algo, confesso que mesmo na rodada de
drinks não consegui revelar, porque isso me deixou profundamente
chateada, mas não dá para esconder. 一 Encaro o relógio de pulso.
一 Faltam apenas algumas horas para a viagem e enfim, eu tive um
namorado quando morava em Charleston. 一 Jack franze o cenho,
apoia o braço esquerdo no volante e com a mão direita coça a
barba. 一 Ele se chama Rangel.
一 Quando tempo namorou com esse cara? 一 Interrompe
enciumado.
一 Seis meses, bom, como você sabe, eu era virgem e nunca
fizemos sexo. Nos víamos pouco, ele é empresário e estava sempre
focado nos negócios. Nunca tinha tempo para mim.
一 Um babaca! 一 xinga irritado.
一 Bom, eu estou frustrada essa semana toda porque logo no
primeiro dia na casa da minha mãe ela fez algo que não gostei. 一
Inspiro profundamente esfregando uma mão na outra antes de falar.
一 Segundo ela, o dia que acampamos Rangel entrou em contato
querendo permissão para me visitar e Liana simplesmente
concordou e não foi só isso… 一 Jack abaixa a cabeça, sério,
apenas ouvindo. 一 Ela contou da viagem e disse que ele poderia ir.
Eu a confrontei e sua explicação foi que estaria com você e não
queria que me sentisse sozinha. 一 Com raiva ele soca o volante e
cobre o rosto com as mãos.
一 Preciso beber! 一 diz impaciente. 一 Se esse cara encostar
em você, eu vou quebrar a cara dele, não posso acreditar que ela
nem ao menos te perguntou o porquê vocês terminaram. 一
Deposito minha mão esquerda no braço do Jack que suspira.
Abandono o meu banco passando pelo meio do carro até
estar em seu colo. Jack me abraça enfiando o rosto nos meus seios.
Ficamos assim por alguns minutos, em silêncio.
一 Desculpa por socar o volante, mas estou puto. A parte
mais difícil parecia ser aceitar que estávamos atraídos, que sim, eu
estava louco para ficar com a filha da minha noiva e agora, isso
parece tão menos pesado diante do que ainda enfrentaremos. 一
Passo os meus dedos no rosto dele, triste. 一 Clayre, não importa se
é errado, se todos estarão contra nós, eu continuarei escolhendo
você todos os dias da minha vida! Não me afastarei durante a
viagem e esse cara jamais vai te incomodar porque cuidarei de
você! 一 Beijo seus lábios amorosamente e seus braços me apertam
com rigor.
一 Jack eu sei que sempre cuidará de mim porque é nítido
que se preocupa. Ninguém nunca quis tanto me conhecer como
você. Desculpa por não ter dito antes, por ter ficado engolindo essa
chateação sozinha. 一 Ele encosta os lábios nos meus,
repreendendo minha fala e sorrimos juntos.
一 Clayre, não peça desculpa por nada, você não precisa
disso. Eu compreendo, quero tanto você que, droga, não sei
explicar. 一 Aconchego no seu pescoço sentindo seu calor e suas
mão sobem pelas minhas costas, com carícias suaves.
Não queria que esses pequenos momentos de conexão
acabassem, porque estar com o Jack me faz esquecer de todo o
resto, mas principalmente que estou doente, ao seu lado a
sensação é que a vida flui em meu corpo e me liberta do medo.
Passamos cinco minutos nos beijando e retorno ao banco colocando
o cinto.
Em outro horário eu jamais o teria agarrado dessa maneira,
mas agora só restou nós dois no estacionamento.
一 Vamos antes que a minha mãe apareça aqui! 一 asseguro.
一 Olha, diria que não é para tanto, mas na atual situação,
não duvido de nada! 一 Sorrimos e ele liga o carro saindo do
estacionamento.
O caminho é tranquilo, Jack dirige devagar e sei que essa
lentidão é uma maneira de estar mais tempo comigo.
一 Sinto-me uma destruidora de felicidades. 一 confesso
abrindo o meu coração.
Jack deposita o polegar em meus lábios docemente me
impedindo de continuar dizendo absurdos.
一 Clayre, não diga barbaridades! Acho que talvez não tenha
expressado direito como nossa aproximação foi para mim… 一
Seguimos pelas ruas e Jack enquanto dirige deposita a mão direita
na minha coxa esquerda. 一 Não quero que se sinta culpada por
algo, afinal, no meu relacionamento com sua mãe nunca houve
amor, por isso, chegou ao fim. Você não foi o motivo Clayre, mas
conhecer você me permitiu abrir os olhos, enxergar o quanto é
diferente sentir afeto por alguém e amar. Estou fazendo isso por
mim e sim, claro que tem a questão dos sentimentos bagunçados.
Porém, eu quero você, só você.
Jack confessa os seus pensamentos na tentativa de aliviar a
culpa que sinto. Sua voz é carregada de compreensão, deixando
evidente que me deseja. Deposito a mão carinhosamente sobre a
dele, que ainda repousa na minha coxa esquerda. Aperto
suavemente, desejando sentir esses dedos grandes me explorando.
É difícil não ter pensamentos ordinários quando o Jack toca o meu
corpo.
一 Também quero você, Jack. Talvez, estamos indo rápido
demais. Ainda me sinto um pouco confusa, embora tenha certeza
que te amo. Podemos estar nos enganando, confundindo esse
desejo, mas ficar longe de você dói. E não vejo como esse
sentimento não seja amor, porque mesmo sendo difícil eu só quero
te ver feliz.
一 Sim, é amor! Senti paixão outras vezes, e o que você
despertou aqui dentro é algo infinito e interminável. 一 Seguro a mão
do Jack e a beijo.
一 É que fico pensando na minha mãe, no quanto não foi
presente, porém prometi ao meu pai que tentaria. Essa nossa
relação, provavelmente, irá estremecer ainda mais as coisas. 一
Jack fica em silêncio pensativo.
Quando chegamos ao apartamento, ele estaciona e vira-se
para me encarar.
一 Certo, não se sinta mal, ver você triste, sofrendo, acaba
comigo! Prometo que não arrumarei confusão com seu ex na
viagem. 一 Estreito o olhar em seu rosto e ele ilustra um sorriso
largo mostrando todos os dentes brancos alinhados. 一 Talvez
depois de beber umas eu o leve até o banheiro e tenha uma
conversa séria de punhos fechados.
一 Jack! 一 sorrimos juntos e sei que ele não fará nada.
一 Clayre, posso te perguntar algo? 一 Ele segura minha mão
enquanto espera minha resposta.
一 Claro…
一 Já estava com sua mãe há uns meses e durante esse
período vocês nunca tiveram contato. Por que o seu pai pediu a ela
que aceitasse você em casa?
Não posso revelar o motivo ao Jack. Quando meu pai pediu
que viesse e morasse com a Liana, desconfiei. Ele está com medo,
aflito e sabe que precisarei de um transplante de medula. Essa
reaproximação que tanto queria é para que pudesse pedir a ajuda
dela, quando chegasse o momento. No entanto, não queria me
sentir forçada a algo. Sei que uma mãe deveria ajudar a filha, por
amor. Lembrar dos momentos no hospital me deixa triste, foram dias
difíceis. Não quero falar sobre isso, ainda não estou pronta.
一 Ele achava que seria bom para mim e queria que a
perdoasse. A verdade é que desde que cheguei aqui, tudo se tornou
uma bagunça. Tanto para mim, quanto para vocês. 一 Jack sorri e
segura meu rosto em suas mãos enquanto aproxima os lábios dos
meus.
一 Uma bagunça boa. Já prepare as roupas de frio Clayre,
logo estaremos na Suíça.
一 Tudo bem! Um beijo imaginário em sua boca. 一
seguramos o riso e abro a porta. 一 Nos vemos daqui a pouco no
aeroporto. 一 Pisco e desço do carro e quando passo pela entrada
principal encontro minha mãe que acaba de chegar.
一 O que faz aqui? Achei que estivesse dormindo. 一
questiono confusa.
一 Não, eu tinha saído um pouco, precisava espairecer e
esqueci de avisar. Ainda bem que o Jack te trouxe, perdi a noção da
hora. 一 Liana está séria, parece furiosa, mas não sei o porquê. 一
Vamos entrar! 一 Passamos pela porta e em poucos minutos
estamos no seu apartamento.
一 Clayre, lembre-se que sairemos bem cedo, preciso
descansar.
一 Claro, boa noite! 一 Ela nem se dá ao trabalho de se
despedir e desaparece indo para o quarto.
“Não sei o que pensar dessa viagem, mas confesso que
estou com medo”.
CAPÍTULO 29
“Oh, padre, me diga
Nós recebemos o que merecemos?
Oh, nós recebemos o que merecemos?
E ladeira abaixo nós vamos”
(Way Down We Go, Kaleo)

Amanhã é a nossa viagem e esta noite comecei a colocar o


meu plano em prática. Passei dias pensando no que fazer, em como
lidar com tudo isso e no fim, a raiva e o rancor falaram mais alto. A
primeira parte foi deixar os pombinhos livres, a segunda parte foi
não buscar a Clayre no bar hoje. De certa forma, se estavam juntos,
conseguiria finalmente vê-los para confirmar as minhas suspeitas.
Para não reconhecerem o meu veículo Harry fez questão de me
acompanhar e paramos distantes para observar tudo.
Era real e ficou nítido quando os vi entrarem no carro e
segundos depois se agarrarem. Naquele instante milhares de
possíveis outros momentos que possam ter me traído surgiram em
minha cabeça, mas junto, cresceu o ódio. Clayre está aqui para se
vingar, para roubar a minha vida por mágoas do passado. Harry
apenas abriu um sorriso e aproveitou a situação para repetir
seguidas vezes os motivos que o fizeram ter raiva do Jack.
一 O cara é presunçoso, infiel e um verdadeiro filho da puta.
Está vendo o porquê quis prejudicá-lo? Além de tomar os meus
clientes fiéis e se apoderar de todo comércio, é safado e imoral.
一 Compreendo sua raiva Harry, entrei nessa pelo dinheiro e
claro, só sairia ganhando. Você quer derrubá-lo para recuperar os
seus negócios e ter lucro e após tanto sacrifício não deixarei essa
putinha roubar o meu noivo.
一 Poderia tê-la criado, mas preferiu deixá-la com seu ex-
marido.
一 A minha vida e minhas escolhas só dizem respeito a mim.
Cuide da sua. 一 Harry estreitou o olhar em meu rosto e concordou.
一 Tudo bem, acalme-se, estava apenas… 一 interrompi sua
fala.
一 Estava querendo me criticar. Guarde sua língua, não
preciso da sua opinião.
一 O que fará agora? 一 Suspirei pesado, trazendo todas as
ideias que se passaram na minha imaginação, mas no fim só uma
de fato seria definitiva para arrancar o mal pela raiz.
一 Fazer o Gerald pegar os dois juntos. Sempre foi um
homem extremamente religioso, conservador, protetor e ficará
decepcionado com a filhinha cobrinha que educou. Já falei dias
atrás com ele, justamente para ir alimentando essa sensação de
traição no coração dele também.
一 Você é maligna. 一 afirma receoso.
一 Nunca agi como a mãe dela e não deveria ter vindo atrás
de mim para se vingar. Não há amor, nunca haverá, mas agora
estou rancorosa. Qual é mesmo o seu plano? Deixa que recapitulo
para você não esquecer… 一 Harry revirou os olhos impaciente. 一
Você precisa que eu me case com ele para garantir que algo muito
ruim aconteça na produção de bebidas.
一 Sim, voltaremos nesse assunto? Jack é um homem
esperto, já possui os homens de confiança e o acesso da produção
é restrito. Ele confia em você.
一 Eu farei. Você irá reascender, tomando o lugar de
destaque da “Drink in Hell” enquanto Jack lida com a merda toda e
perde a credibilidade. Por que aceitei? Você sabe muito bem. Ficarei
rica, feliz, com um homem bonito ao meu lado e o futuro garantido
porque o Jack jamais ficará pobre, vem de uma família rica.
一 Sei qual é o plano.
一 Sim, exato, mas para ser bom as duas partes precisam
sair ganhando, entendeu?
一 Está me ameaçando? 一 O semblante dele se fechou,
furioso.
一 Estou te lembrando Harry que se eu não me casar, não
tiver fortuna, não tem alterações em bebidas para te ajudar. Simples
assim. Torça por mim, agora me leve embora que preciso chegar
primeiro que esses traidores.
Quando cheguei, em questão de minutos os dois
apareceram. Encontrei a Clayre ainda no portão e a minha vontade
era de estapeá-la, mas segurei a fúria dentro do meu corpo.
Pego agora o celular e começarei a parte mais importante,
revelar ao Gerald a índole da própria filha. O farei ir até a Suíça para
deixá-lo mais furioso enquanto serei a melhor mãe possível para
recuperar o meu noivo. Serão dois aliados, o Rangel e o Gerald e
isso precisa dar certo ou terei que bolar um novo plano. Disco o
número dele que atende após alguns toques.
一 Por que está ligando esse horário? A Clayre está bem?
一 Sua filha é uma traidora. 一 Escutei um barulho de algo
caindo e sua voz tornou a falar.
一 Não entendi.
一 A Clayre está tendo um caso com meu noivo desde que
chegou aqui. Eu sabia que você tinha falhado na educação dela,
mas o que você fez é muito pior. Ela é uma garota ardilosa,
mesquinha que está querendo se vingar pelos anos que fiquei
distante.
一 Impossível. Ela jamais faria isso. Eu confio na filha que
criei e não teria jamais uma atitude imoral dessas. 一 Começo a
chorar, demonstrando aflição e escuto-o bufar.
一 Estamos embarcando para a Suíça, não sei como lidar
com isso. Estou devastada. Destruída. Preciso que seja o pai dela e
resolva isso. Eles não podem ficar juntos, é nojento, doentio. O que
as pessoas dirão quando souberem? 一 Gerald respira pesado
contra o aparelho.
一 Essa é a uma acusação grave Liana, tem noção do que
está dizendo? Isso acabará comigo.
Após um banho quente deito na cama e admiro as estrelas
da janela. Recordo das vezes que pedi a elas para desfrutar de um
momento como esse na casa da minha mãe e é inevitável não sorrir,
afinal, mesmo com todas as circunstâncias desfavoráveis,
aconteceu. Essa é a época do ano que mais gosto, o fim do inverno
que não é congelante porque logo começa a primavera.
Fecho os olhos tentando descansar, mas automaticamente
vem a imagem do Jack em minha mente. O momento exato que
virou a dose do whisky e disse que me amava. Nunca tive a
sensação de estar plenamente feliz antes. Ele me aceita por
completo, no entanto, meu coração gela ao pensar como reagirá
quando descobrir sobre a doença. O amor poderia se tornar pena?
Não, ele não faria isso e quando essa verdade surgir provará que
estou certa.
Adormeço tempos depois e acordo com o celular tocando.
Estico o braço e abro os olhos. Analiso o céu e está começando a
clarear. Movimento o corpo tampando o rosto com o travesseiro.
Estou dolorida e um pouco cansada, mesmo tendo acabado de
acordar. Tento manter a positividade e levanto. O voo saí em duas
horas e preciso me arrumar.
Após um longo banho quente, tenho que definir uma roupa. O
lugar estará repleto de neve, é importante que seja algo quente.
Escolho um casaco grande bege, uma calça e botas pretas. Termino
de arrumar a mala e a carrego até a sala. Busco a nécessaire com
os meus remédios e produtos de higiene quando escuto a
campainha tocar. Retorno rapidamente e abro a porta.
一 Oi, Jack, bom dia! 一 Ele veste uma jaqueta grossa verde-
militar combinando com seus olhos e me contenho para não abraçá-
lo.
一 Bom dia! Já aviso que Dior está no hotel cinco estrelas
que reservei para os próximos dias.
一 Estou com saudades. 一 confesso em duplo sentido.
一 Ela também! 一 Minha mãe aparece com um enorme
casaco peludo e a mala pronta.
一 Estou pronta! Aproveitaremos muito juntos. 一 Abro um
sorriso fraco. 一 Filhinha, estou tão empolgada, fiz vários planos
para nós três. Nos inscrevi em um curso de bebidas de inverno,
aposto que Jack vai amar. 一 Ele a analisa e desce os olhos até as
malas dela.
Jack vira o rosto em minha direção querendo dizer algo, mas
apenas entra e pega a mala que estava segurando.
一 Vamos, o voo saí em breve.
Minha mãe nos inscrever em um programa juntos me deixa
apreensiva. Seguimos até o carro e em poucos minutos estamos no
aeroporto. Passamos pelos procedimentos padrões e embarcamos.
Sento na poltrona sozinha e passo o cinto. Liana havia comprado o
assento deles juntos e após relaxar os ombros analiso os dois. Jack
inesperadamente levanta, se aproxima e para ao meu lado. Ele se
abaixa para sussurrar em meu ouvido.
一 Clayre, isso não atrapalhará os nossos planos. Não muda
o que eu sinto e nem o meu objetivo na viagem que é de
confirmarmos o nosso amor e contar para sua mãe. 一 concordo
com a cabeça enquanto a vejo nos observando atentamente.
一 Acho que talvez tenhamos algumas dificuldades, mas
aproveitaremos o máximo possível. 一 Jack toca o meu rosto com
carinho e sou inundada por uma sensação incandescente.
Meu coração acelera e ele acaricia a maçã do meu rosto, e
sorri voltando rapidamente para o seu lugar. O avião decola e
aconchego a cabeça na poltrona macia vislumbrando as nuvens.
Adoro sobrevoar os céus e sentir que estou mais perto do paraíso.
Há alguns meses essa possibilidade assustava. Hoje apenas
entendi que posso morrer jovem e está tudo bem.
Certo, não está tudo bem, mas não tenho controle sobre isso.
Não quando a minha própria salvação não está em minhas mãos.
Após um voo tranquilo desembarcamos no aeroporto de
Zurique[10], na Suíça, completamente nebuloso. Ao descer a brisa
gelada toca o meu rosto causando uma leve queimação. Minha mãe
desce toda sorridente abrindo os braços e cheirando o ar que possui
um leve aroma de gelo e folhas secas.
一 Oi, Suíça, chegamos e teremos uma viagem inesquecível.
一 As palavras dela fazem o meu estômago torcer e Jack apoia a
mão direita discretamente nas minhas costas tentando transmitir
acalmar.
Andamos pelo aeroporto e entramos em um táxi. O caminho
é silencioso e mantenho meu rosto preso nas infinitas camadas de
gelo pela cidade. Liana me fita sem parar e fico confusa pelo seu
olhar furioso. O táxi para em frente a uma enorme pousada e
descemos do carro rapidamente. O lugar é incrível e a neve fina cai
do céu. Caminhamos até a recepção e em poucos minutos somos
conduzidos aos pequenos chalés separados. Cada um terá o seu,
evitando qualquer problema e discussão.
Entro e fico encantada com o lugar, tem uma sala pequena
com lareira, ao lado uma cozinha compacta, no canto oposto o
banheiro e na parte de cima o quarto. O ambiente está quente e
confortável. Antes que possa retirar o casaco escuto uma batida na
porta.
“Certeza que Jack quer falar algo”.
Puxo a maçaneta ilustrando um sorriso que desfaço assim
que vejo o Rangel. Ele veste um sobretudo de marca, os cabelos
loiros balançam com o vento, os olhos castanhos estão fixos no meu
rosto e pigarreia sem graça.
一 Surpresa! 一 paraliso e não consigo respondê-lo,
permaneço estática, apenas o encarando. 一 Clayre, responda,
minha princesa, eu senti tanto sua falta. 一 Rangel agarra minha
cintura, forçando nossos lábios um contra o outro.
Reajo e tento empurrá-lo, ao mesmo tempo em que dou um
passo para trás. A mão dele toca o meu rosto e a estapeio. Minha
respiração aprofunda em agonia.
— Me solta, para! 一 suplico.
一 Minha princesa, sou eu, eu sei que sentiu minha falta. Sua
mãe disse que ficou triste sem mim. 一 Ele puxa novamente minha
cintura e me debato.
一 Para, por favor! Eu não quero!
一 Não toque nela. 一 Assusto-me com o tom grave e
autoritário e inclino o rosto encontrando o Jack furioso, com os olhos
avermelhados de raiva e os punhos fechados. 一 Se encostar nela
de novo quebro suas mãos.
一 Quem é você? 一 retruca Rangel assustado enquanto me
solta.
Poderia acalmar o Jack, mas estou um pouco tonta, com o
corpo pesado e apenas fico em silêncio. Ele para ao meu lado e o
abraço em busca de proteção.
一 Está tudo bem, Clayre, estou aqui! 一 ameniza e fico mais
calma.
Liana aparece e receosa saio dos braços dele.
一 Rangel, você não pode chegar forçando as coisas. 一 digo
furiosa.
一 Quem é esse cara? 一 questiona novamente e antes que
Jack responda, minha mãe fala.
一 Jack é o meu noivo, o padrasto da Clayre. Quem é você?
一 Não sou mais padrasto da Clayre e nem o seu noivo. 一
esclarece incomodado.
Minha mãe se irrita, fechando o semblante. Meu ex-namorado
relaxa os ombros e entrelaça uma mão na outra para se explicar.
一 Desculpe, sou o Rangel, estava ansioso para encontrá-la e
me excedi. 一 Seu olhar permaneço fixo ao meu. 一 Clayre, fui um
idiota durante o nosso namoro, não dei o valor que você merecia,
coloquei o trabalho acima de tudo e quando te perdi confirmei que
não consigo viver sem você. Preciso que me dê uma segunda
chance para que eu prove o quanto te amo.
一 O desespero de um homem apaixonado. 一 apoia Liana
sorrindo.
一 Acabamos de chegar, eu preciso descansar, foram 8h de
voo, mas eu não te amo Rangel, nunca te amei. 一 Todos fixam os
olhares no meu rosto e Jack disfarçadamente sorri. 一 Minha mãe
errou em dizer que poderia se aproximar, eu não quero, fiz minha
escolha quando terminamos.
一 Clayre, nós nem de fato conversamos sobre o término,
você apenas largou a aliança e sumiu.
一 Filha, que horror, você fez isso? 一 condena minha mãe
em desaprovação.
Uma forte tontura me faz segurar na porta para manter o
equilíbrio.
Jack me pega no colo, sem hesitar e se move até a sala. Com
cuidado me deita no sofá e inspira pesado, preocupado.
一 O que aconteceu? Está sentindo algo?
Minha mãe e o Rangel se aproximam e percebo que também
estão aflitos.
一 Estou há algumas horas sem comer nada. É fraqueza, eu
estou bem!
一 Você está pálida e não está bem, precisa comer. Pedirei
algo agora mesmo! 一 avisa Jack, levantando e ligando para a
recepção.
Sento no sofá e Rangel apressadamente se acomoda ao meu
lado.
一 Minha princesa, me perdoe, te deixei nervosa, apenas
queria conversar.
一 Não tenho nada para falar com você. As palavras se
perderam quando terminamos. Eu tentei várias vezes conversar
enquanto estávamos juntos, mas agora acabou. Tudo que posso te
oferecer é isso, apenas a confirmação de que não terá uma
segunda chance. 一 Rangel ergue a cabeça com os olhos
semiabertos em busca de processar e absorver a informação.
一 Consigo consertar isso? 一 encaro-o incrédula, afinal,
estou passando mal e tudo que ele se preocupa é em receber um
sinal verde?
Fecho os olhos, passo as minhas mãos suadas no meu
casaco para secá-las e bufo irritada.
一 Poderíamos almoçar no restaurante, aposto que eles
possuem algo quente, que ajudará a Clayre mais rápido. 一
aconselha Liana e Jack pela primeira vez concorda.
一 Sim, será mais rápido! Eu ajudo você Clayre! 一 Ele
desliga o telefone e estica a mão para que eu segure e levante.
Uma breve felicidade surge em meu peito. Estaria minha mãe
finalmente sentindo afeto por mim? Fico de pé, arrumo as roupas
amassadas e seguro no braço do Jack para segui-lo. Meu corpo
está reagindo ao álcool que consumi durante a semana e a falta de
alimentação balanceada. Fui descuidada, e agora preciso focar em
melhorar antes que todos concordem em me levar ao hospital.
Saímos todos do chalé em silêncio. O clima é o pior possível
e Rangel fica calado, porém, nos acompanha até o restaurante.
Quando estamos todos sentados na mesa, pedimos a refeição.
Devido ao frio possuem caldos prontos, facilitando que me alimente
mais rápido. Jack faz questão de pegar no mínimo quatro opções e
em poucos minutos sou servida.
Fico constrangida por todos focarem em mim até que eu leve
a primeira colher do caldo de legumes aos lábios. É impossível não
olhar para o Rangel, sua expressão é de tristeza profunda e suspiro
abalada, não porque ainda sinta algo por ele, mas odeio imaginar
que posso ter deixado alguém triste. Em rendição bato o talher no
prato de porcelana e quando percebo estou com a boca aberta para
falar.
一 Rangel, você me agarrar a força não foi legal, por mais que
tenhamos tido um relacionamento. Não precisamos deixar essa
viagem como um funeral, mas quero que entenda que não ficarei
com você.
Jack coça a barba exasperado, analisando-o friamente e em
seguida direciona o olhar ao meu rosto. Minha mãe come
pacificamente, sem participar.
一 Está namorando? É isso? Conheceu outro cara? 一 Fico
em silêncio. 一 Conheço você, não ficamos tanto tempo juntos, mas
você parecia não querer terminar, fez porque achou que não
teríamos conserto. Conheceu alguém? 一 Minha mãe parece
esperar essa resposta porque parou de comer para ouvir.
Jack tentando reverter a situação chama o garçom.
一 Estou louco para provar as cervejas daqui! 一 Ele sorri sem
graça, despertando minha vontade de sorrir também pelo seu jeito
estabanado e totalmente constrangedor.
Liana percebendo a receptividade do Jack acaba mudando o
assunto.
一 Vejam! O cartaz do curso de bebidas de inverno, é
amanhã! 一 Olhamos sincronizados e o papel está com fotos das
bebidas ilustradas repletas de chantilly e chocolate.
一 Isso será incrível. 一 confesso empolgada.
一 Talvez eu goste disso! 一 brinca Jack.
一 Como a Clayre comentou… 一 Diz minha mãe e fico
receosa. 一 Não precisamos transformar a viagem em um funeral.
Rangel poderia participar, assim vocês podem ser amigos, sem
mágoas e aposto que será divertido. 一 Jack leva a mão direita aos
lábios, abaixa a cabeça incomodado enquanto Rangel abre um
sorriso largo.
一 Ótima ideia Liana. Participarei com vocês.
CAPÍTULO 30
“Por favor, venha agora, eu acho que estou caindo
Estou me segurando em tudo que acho ser seguro
Parece que eu achei a estrada para lugar nenhum
E eu estou tentando escapar
Eu gritei quando ouvi o trovão
Mas o que me restou foi um último suspiro”
(One Last Breath, Creed)

Depois de um almoço tenso em que novamente Liana


escolheu por mim, finalmente dormi e saio do banho pronta para
nossa primeira noite aqui em Zurique, rezando para que seja leve e
agradável. Antes de escolher uma roupa, envio uma mensagem
para o meu pai avisando que está tudo bem, mas ele não recebe.
“Deve estar descobrindo a vida sem a filha, mas estou com
saudades dele”.
Foco em me arrumar e como está frio decido colocar um
vestido curto dourado, com as botas cano alto e um trench coat
acinturado preto aberto. Coloco um brinco, penteio os cabelos e
passo o perfume. A escolha da minha mãe foi o Plaza Club[11], uma
balada muito conhecida e elogiada. Não tenho dúvidas de que o
Rangel estará lá, afinal, percebi que possuem algum contato, até
porque, não teria descoberto meu chalé sozinho.
Ela ignorar o meu desconforto em tê-lo perto chateia. Escuto
uma batida na porta e ao abrir encontro justamente ela, sorrindo,
com um vestido incrível vermelho longo e no braço direito está
apoiado o casaco de frio.
一 O lugar estará com bastante pessoas. Calor humano. Não
passaremos frio!
一 Sim! Quer entrar?
一 Não precisa, o carro que nos levará deve estar chegando.
Está pronta?
一 Sim, pegarei a bolsa. 一 Deixo a porta aberta e sigo até o
quarto para pegar.
Quando retorno encontro o Jack de social, em um terno
aberto preto, irresistivelmente lindo e sedutor. Seu olhar percorre o
meu corpo, descendo lentamente do meu rosto até os meus pés.
Minhas bochechas esquentam e o admiro, ansiosa para beijá-lo. O
desejo que sinto já dominou completamente o meu coração e tem
sido insustentável fingir que não estamos loucos um pelo outro.
Aproximo sem desviar o olhar do dele, conectados, incapazes
de resistir à conexão fatal. Consigo sentir seu cheiro mesmo
estando a metros de distância. Paro em sua frente, ele engole em
seco, com a fisionomia provocante. A voz aguda da minha mãe nos
traz de volta à realidade.
一 Você está lindo Jack. 一 sem graça ele sorri.
一 Obrigado Liana, vocês estão lindas. 一 Elogia duplamente
ponderando as palavras.
O veículo chega e tranco a porta. Sento com minha mãe no
banco de trás e Jack se acomoda no banco da frente. O caminho é
silencioso e ao chegarmos fico encantada. As luzes coloridas, as
pessoas sorrindo, a música alta elevam o ânimo. Passamos pelos
atendentes e a pista de dança está lotada. Seguimos até o bar e
Jack escolhe uma cerveja.
一 O que vocês querem beber? 一 questiona.
一 Para mim pode ser um gin. 一 responde minha mãe.
一 Não quero nada Jack, obrigada! 一 Ele endurece o corpo,
me analisa, mas engole as dúvidas sem poder saná-las.
Quando as bebidas chegam seguimos até uma mesa, os dois
degustam, em um clima estranho, quietos e assisto às pessoas
dançarem. Após vários drinks, Liana começa a dançar
discretamente sentada. Não consigo evitar sorrir e ao elevar o rosto
encontro o Rangel, ao longe, segurando um copo enquanto me
admira. Desvio o olhar para o outro lado da pista sem estar surpresa
com a sua presença.
Jack discretamente dá um toque sútil com o pé na minha
panturrilha esquerda e levo o olhar até ele. Posso sentir a saudade
que demonstra na expressão de agonia, a mesma que sinto. Com a
música vibrante, as luzes intensas em seu rosto, o que eu queria de
fato era levá-lo até a pista e nos tornarmos parte do ambiente. Pego
a cerveja dele e viro em meus lábios, gole atrás de gole, sem
hesitar. Quero me sentir normal, sem essa sensação corrosiva que
reprime parte de mim.
É frustrante e decido neste instante que amanhã falarei com
minha mãe sobre o Jack. Abrirei meu coração sobre as feridas do
passado, sobre a conexão que sentimos e que queremos ficar
juntos. Não importo se vai me xingar, ferir ou destruir, mas viver com
esse sentimento de limitação emocional é doloroso, agoniante e
destrói a mente.
Sinto um toque no ombro e inclino o rosto percebendo que o
Rangel quer conversar comigo. Liana sorri para ele enquanto
levanto para ouvi-lo. Lentamente se aproxima enquanto de soslaio
vejo o Jack se contorcer em raiva, nos fuzilando. Ele é ciumento,
mas essa fúria é ainda maior pelo Rangel ter tocado em mim sem a
minha permissão.
一 Clayre, boa noite, que coincidência encontrar você aqui,
gostaria de dançar? 一 Ele grita para que o escute e reviro os meus
olhos.
Antes que possa recusar, minha mãe fala.
一 Eu aceito, o Jack não é muito de dançar e Clayre está
chateada. 一 Apressadamente ela se levanta e segura na mão dele,
puxando-o até a pista.
Ele até tenta negar, mas cede e os dois começam a dançar
animados. Encaro o chão e sinto a admiração incisiva do Jack. Não
queria ver o seu rosto, não quando estou lutando contra o impulso
de agarrá-lo e sentir a textura dos seus lábios. Fecho brevemente os
olhos, respirando fundo e abro novamente, virando o rosto até tê-lo
em minha visão. Suspiro e corro até a cadeira sentando ao seu lado.
Fixo minhas mãos no colo e sinto o toque dele lentamente pelo meu
braço até estar com a mão grande e quente sobre a minha. Me
arrepio e fico ofegante.
Sua boca se aproxima do meu ouvido e seu hálito quente me
excita.
一 Você está perfeita, uma verdadeira estrela com esse
vestido dourado. 一 Fecho os olhos permitindo que o som grave de
sua voz provoque um frenesi em meu corpo. 一 Estou louco para te
beijar, para sentir nossos corpos conectados e droga, os seus
gemidos que me matam de tesão. 一 Engulo em seco. 一 Clayre,
não consigo mais ficar assim, longe, tendo que te admirar em
segredo, lutando contra a porra do meu próprio corpo, impedindo
que meus braços te agarrem! 一 Meu coração acelera e sua mão
passa para a minha coxa apalpando com desejo. 一 Passaremos a
noite juntos, foda-se, não ficarei sem você. 一 Abro os olhos para
vê-lo.
一 Eu quero você na minha cama, eu quero você o tempo
todo, Jack, não consigo ficar longe. 一 Seus lábios encostam nos
meus, mas afasto nossas faces, lutando contra cada poro que se
arrepia e cada palpitação mais forte no peito.
Olho para a pista receosa por minha mãe ter visto, mas fico
aliviada ao ver pessoas em nossa frente, tapando os dois. Sem
controle, seguro o rosto do Jack e junto os nossos lábios,
pressionando-os com força. Sua mão direita captura minha cintura
querendo puxar meu corpo para o seu, mas travo recobrando os
sentidos.
Desiludida bufo baixo enquanto nos entreolhamos.
一 Amanhã contaremos, entendeu? 一 Jack dá um meio
sorriso quebrado.
一 Estava esperando me pedir isso. Quando formos almoçar
falaremos com ela. 一 Seu polegar contorna os meus lábios.
Jack fecha o cenho, juntando as sobrancelhas, mirando
minha boca.
Meticuloso. Com o olhar ácido e libertino.
一 Caralho, eu fico possuído de desejo toda vez que te olho.
一 suspiramos juntos.
As pessoas começam a se mover em nossa frente, liberando
a imagem da pista de dança e nos afastamos. Liana e o Rangel não
estão dançando e nervosa procuro os dois. Encontro-os no bar,
virando drinks e sorrindo.
一 Queria dançar. 一 confesso sem jeito e Jack arqueia a
sobrancelha.
Ele estica a mão me convidando e mordo meu lábio inferior,
com dúvida, se aceito ou não. Por fim, deposito a mão sobre a dele
que me puxa para a pista. Nunca imaginei vê-lo dançando e Deus,
ele é péssimo, mas fico feliz e abro um sorriso largo. Seu quadril se
move de maneira engraçada e deixo meu corpo seguir o ritmo da
música, animada, esquecendo tudo ao redor.
Minha mãe se aproxima ao lado do Rangel e juntos
dançamos. Após meia hora frenética seguimos ao bar e bebemos
animados. Liana olha para o celular por longos minutos e em
seguida passa a mão no rosto cansada.
一 Filha, para mim já deu, esses saltos estão me matando. 一
O garçom deposita as doses que pedimos sobre o balcão e eu e o
Jack paramos de sorrir.
一 Claro, bom, vamos, sem problemas.
一 Não precisa, fiquem, acabaram de pedir os drinks,
encontro vocês no café da manhã. 一 Jack limpa a garganta.
一 Não, vamos todos. 一 afirma.
一 Eu acompanho a Liana, sem problemas, também estou
indo. 一 sugere o Rangel.
一 Estou cansada também, é bom descansarmos. 一 declaro,
afinal, será estranho ficar aqui com o Jack.
Minha mãe levanta a mão e nega com a cabeça.
一 Eu que estou velha demais, vocês estão acostumados com
a vida de bar. Podem ficar. Amanhã nos falamos, vamos Rangel,
será um prazer ter sua companhia. 一 Ela acena e os dois saem
sem esperarem por uma resposta.
Acompanhamos com o olhar os dois até que saiam pela porta
principal. A atitude dela surpreende, mas não consigo mais pensar a
respeito sob o olhar sedutor do Jack que segura a primeira dose na
mão.
一 Vamos beber e depois voltamos para o hotel. 一 concordo
e viramos uma dose atrás da outra.
Levanto do banco tonta e Jack me segura pela cintura.
Ansiosos, nos beijamos, grudando nossos corpos eufóricos. As
mãos grandes apalpam meu corpo e sua língua explora a minha, em
um beijo lento, picante e longo. Seu cheiro poderoso rouba todos os
meus sentidos e sem controle permanecemos assim, em uma
conexão sexual intensa.
Sem fôlego, afastamos nossos rostos e seguimos para a pista
de dança. As batidas da música ecoam em nossos ouvidos e a
deixamos nos conduzir de forma incandescente. Esfregamos nossos
quadris, suas mãos descem e sobem pelas curvas do meu corpo
enquanto nos beijamos sob as luzes coloridas.
É real. Jack e eu.
Em cada batida mais lenta, nos grudamos, movendo juntos,
permitindo nossos toques sutis e apaixonados. Após perder a noção
do tempo, meus pés começam a doer e Jack me ajuda a sairmos
em direção ao caixa. Nossos lábios não param de sorrir e me sinto
viva, mais viva do que nunca. Cada toque da música parece vibrar
em baixo da minha pele. Concluo que de fato estou em um estágio
alterado.
Após pagar, Jack me abraça e seguimos até a entrada para
pegar um táxi. O caminho é rápido e apenas acomodo a cabeça no
peitoral dele sentindo seu perfume delicioso. Quando chegamos ao
chalé descemos, abro a porta e entramos. Não sinto mais frio,
apenas o calor de perceber que estamos só nós dois.
Encosto na porta cruzando os braços e um sorriso sedutor
invade a boca dele. As pupilas se dilatam e com indecência sua
mão toca meu rosto descendo pela lateral, passando no pescoço,
nos seios, até pousar na cintura. Ficamos em silêncio, nos
admirando. Jack arranca a bolsa e o casaco da minha mão jogando
no sofá.
一 Estou com saudades. 一 confessa se aproximando e
envolvendo meu corpo em seus braços.
Sua barba áspera roça em minha mandíbula até parar nos
lábios. Suspiro, sentindo parte do meu corpo estremecer e excitada
envolvo os braços ao redor do seu pescoço enquanto mordo sua
boca.
Jack bate meu quadril contra o seu e o impulsiona para o seu
colo. Entrelaço as pernas em sua cintura e seus braços me
sustentam. Devoro seus lábios faminta, desejando sentir seu pau
em minha boceta. Com nossas bocas conectadas Jack tenta
caminhar até o quarto topando contra os móveis e paredes. Arranco
seu terno fogosa deixando-o sem camisa. Sua mão levanta o
vestido deixando minha bunda exposta. Sorrimos e nos beijamos,
ensandecidos.
Ele passa pela porta e estou pronta para me entregar ao
Jack, mas uma voz grossa ecoa nas paredes do quarto me fazendo
estremecer.
一 Clayre Freburg, que porra é essa? 一 Paraliso, um gelo
infinito domina meu corpo. 一 Eu não quis acreditar quando sua mãe
disse. 一 Meu coração palpita forte e sinto-o bater em minha
garganta.
Jack coloca-me no chão assustado, puxando meu vestido
para baixo e viro para olhá-lo.
一 Pai, eu…
“Não pode ser real? O quê?”.
一 Cale a boca! 一 Ele grita me fazendo pular de susto.
Liana está sentada ao lado dele na cama e as lágrimas
começam a se formar em meus olhos.
CAPÍTULO 31
“Como eu queria
Como eu queria que você estivesse aqui
Nós somos apenas duas almas perdidas”
(Wish You Were Here, Pink Floyd)

一 Pai, não é o… 一 A expressão que vejo em seu rosto é de


decepção.
Meu peito dói como se uma grande faca afiada perfurasse
minha carne.
一 Eu disse para você calar a boca. 一 Engulo as palavras
sentindo as mãos tremerem em desespero e Jack entra em minha
frente, enfrentando-o.
一 Não fale assim com ela. 一 Com a visão embaçada pelas
lágrimas vejo o vulto do meu pai avançar sobre ele, acertando um
soco forte em seu rosto.
Jack cai no chão e tento segurar meu pai em vão que furioso
me empurra sobre a cama.
— Filho da puta. Você seduziu minha filha? Se aproveitou
dela, da sua ingenuidade? — Ele acerta outro soco forte e as
lágrimas escorrem sem controle e me aproximo novamente
segurando o braço dele, que para no ar.
一 Pai, é culpa minha. Por favor, não o machuque. 一 Ele
fecha os olhos e se levanta agarrando os meus braços.
一 Merda Clayre, como você foi capaz de fazer isso com a
sua mãe? 一 Levo o olhar até a Liana que está séria, sem
expressão alguma.
一 Você criou uma puta. 一 diz ela, inexpressiva. 一 Maldita
hora em que engravidei de uma putinha. Quantas vezes vocês
foram para a cama enquanto eu dormia? 一 Jack levanta com
dificuldade com o rosto marcado e a boca sangrando.
一 Nenhuma! 一 afirma ele passando o polegar no lábio
inferior para conter o sangramento.
一 Saiam, eu quero falar com a Clayre. 一 Grita meu pai com
raiva olhando para o Jack. 一 Acabarei com você. 一 Ameaça em
tom seco.
Jack nos observa por segundos demais e balanço a cabeça
positivamente tentando dizer que está tudo bem e mesmo relutante
acaba cedendo e sai. Liana se move em silêncio, sem olhar no meu
rosto. Quando estamos sozinhos, meu pai leva as mãos até a
cabeça e seus olhos ficam marejados.
一 Nunca imaginei uma decepção tão grande. Clayre, o que
aconteceu? Por que fez isso? Não me justifique dizendo que o ama,
você não sabe nada do amor. 一 Abraço meu próprio corpo com os
braços enquanto engulo o choro e os soluços incontroláveis. 一 Isso
é inaceitável. Porra, onde está a sua responsabilidade? Quando foi
que passou por cima de tudo que te ensinei para agarrar o noivo da
sua mãe? 一 Ele não alivia e meu peito comprime, querendo falar,
mas sem forças. 一 A única coisa que te pedi foi para recuperar a
relação, não destruir o pouco que tinha.
一 Pai… 一 Passo as mãos nos olhos tentando secar as
lágrimas e engulo a saliva para falar. 一 Eu o amo.
一 Não, não ama. Sabe o que caras safados como ele
querem? Sexo. Porra de sexo. Quando conseguisse o que queria,
sabe o que iria fazer? Ignorar você e continuar com sua mãe,
enquanto você sofria em silêncio. Porque a verdade é que só queria
se aproveitar da sua inocência. Dessa porcaria de ilusão de amor.
Respiro profundamente acalmando minhas angústias. Preciso
falar, esclarecer.
一 Não pai, ele me ama. Não é como você está pensando. 一
Fungo, tentando manter a calma. 一 Ele terminou com a minha mãe.
Nunca ficamos antes, só demos dois beijos e então lutamos contra o
que sentíamos, mas não dava mais. Jack terminou o casamento
porque não poderíamos fazer isso, magoar ninguém.
一 , Mas ainda assim magoaram. Pegar vocês se agarrando
causa o que Clayre? Acha que é menos pior do que ele ainda estar
com a Liana? Não. Porra. Não. Você foi insensível. Ele é um safado
e você uma idiota que caiu no papo dele.
一 Pai, por favor, me escuta. Eu nunca quis magoar minha
mãe, roubar o Jack, mas eu quero ficar com ele. 一 Impaciente ele
agarra meu pulso.
一 Nunca mais falará com esse cara, entendeu? Vamos
embora, arrume suas malas. Precisei vir à Suíça porque sua mãe
me ligou devastada, destruída porque disse que você a ignora e os
encontrou juntos ontem e não sabia lidar com isso. 一 As lágrimas
rolam novamente em minha face e reluto, puxando o braço.
一 Nunca a ignorei, ela que me evitava. Vou com você, mas
não deixarei de ficar com o Jack. Você não entende, fala que não
sei nada do amor, mas ele se preocupa comigo, não é um homem
ruim, muito menos aproveitador como você diz e não, não quer só
sexo, se fosse isso já teria me deixado.
Meu pai trava, arregala os olhos e me solta. Em silêncio ele
anda até a porta do quarto e nesse momento sei que a decepção
dele é maior. Liana surge de uma vez e entra. Ela para diante de
mim, face a face, os olhos estão em ebulição, cheios de ódio e com
força acerta um tapa em meu rosto. Caio no chão tamanho impacto
e meu pai se aproxima para me segurar.
一 Por isso nunca quis ter filhos, dentro de mim eu sabia que
você era uma maldição. 一 Meu peito sufoca com suas palavras, a
angústia lateja e a sensação de choro explode em lágrimas.
Dói ouvi-la dizer isso. Dói quase se igualando a dor do seu
abandono. Por isso sumiu? Nunca me quis em sua vida. Sem
conseguir conter os sentimentos choro incontrolavelmente nos
braços do meu pai, ainda que decepcionado, sempre quer me
proteger.
一 Nunca mais diga isso Liana. Clayre pode ter sido um fardo
para você, mas não para mim. Eu a amo, nunca mais diga isso. Não
é porque estou decepcionado que diria algo tão horrível. 一
Cansada de tudo isso, levanto e a encaro furiosa.
一 Você não é minha mãe, nunca foi. Eu jamais te perdoarei
por ter me abandonado, e a culpa de eu ser uma maldição é sua,
afinal, eu não pedi para nascer, você foi irresponsável. 一 Furiosa
ele agarra os meus cabelos, me batendo, frustrada, externando todo
ódio que sempre sentiu por mim, mostrando que jamais me amaria.
一 Eu odeio você, desde o dia que nasceu! 一 Suas mãos me
estapeiam, puxam com força os meus cabelos.
Meu pai a segura e se desespera. Jack surge preocupado e o
ajuda a fazê-la soltar meu corpo. Não revido, apenas deixo que me
puna pelo meu pecado. Quando a afastam de perto de mim, caio no
chão, fraca, com o corpo dolorido. Jack toca o meu rosto com uma
expressão que nunca vi antes, destruído, com os olhos cheios de
lágrimas.
一 Clayre, calma, respira! 一 Sinto as pernas formigarem.
一 Jack. 一 O som fica abafado, escuto Liana chorar ao longe
e meu pai me pega no colo.
Tudo escurece, tornando-se calmo, sereno, mas a dor
continua aqui.

Abro lentamente os olhos, confusa, acostumando com a


claridade. O ar gelado faz o corpo arrepiar e confirmo que estou
deitada na cama com o meu pai ao lado, aflito.
一 Filha, graças à Deus. 一 Suas mãos acariciam os meus
cabelos e beija meu rosto. 一 Vou te levar para casa. Arrumei suas
malas. 一 Apenas balanço a cabeça concordando e procuro o Jack
no quarto.
一 Eles foram arrumar as malas também, a viagem acabou.
一 avisa e fecho os olhos, triste.
一 Pai, sei que está decepcionado comigo, mas quando
chegarmos em Miami poderia me levar ao hospital? 一 Ele cobre o
rosto com as mãos e concorda.
Disfarçadamente enxuga algumas lágrimas intrusas e retoma
a expressão carrancuda.
一 Claro, está acontecendo de novo?
一 Sim, acho que precisarei de uma transfusão. Meu corpo
está fraco, as manchas roxas voltaram. 一 Ele se levanta
caminhando até a janela e se entrega ao choro que estava
guardando.
一 Clayre, você tem noção do impacto das suas escolhas? 一
questiona com a voz fraca. 一 Você não poderia ter feito isso. Era
para recuperar o amor, curar as feridas e não perder a sua chance
de pedir auxílio a sua mãe.
一 Eu não quero a ajuda dela. Você ouviu? 一 Frustrado deixa
os ombros caírem. 一 Pai, eu sei que sempre quis que eu engolisse
a tristeza que sentia e fingisse que poderia recomeçar, mas ela foi
ficando mais extensa a cada hora que passava com a minha mãe.
Ela é fria, seca, não me ama e não dá para recuperar algo que
nunca se teve, jamais me amou, você precisa aceitar isso, eu
aceitei, mesmo doendo, eu acabei de aceitar. 一 Ele fica de costas,
escondendo sua dor. 一 Eu não pedirei ajuda. Aceito o meu destino
e sei que um dia não serei mais um fardo para você também. Talvez
assim vocês possam ser felizes, sem maldição. 一 Meu pai abaixa o
rosto, engolindo os soluços e deixo que o choro preso em minha
garganta saia também, por vê-lo assim, desacreditado.
一 Eu não posso perder você, não importa se é daqui a
alguns anos, ainda assim, eu não perderei você. 一 Triste se
aproxima, senta na cama e pega minha mão. 一 O que você fez foi
errado, mas meu amor por você está acima dos seus erros. Filha,
eu sempre cuidarei de você. Sou seu pai e você só trouxe luz para a
minha vida. Nós daremos um jeito, procuraremos outras alternativas
e se precisar peço na justiça que sua mãe doe a medula. 一 Sem
esconder o que sente, vejo as lágrimas escaparem em seu rosto e o
abraço forte.
一 Não pensa nisso pai, sei que os dias estão passando, que
devemos correr contra o tempo, mas quero pelo menos nesses
próximos anos ser uma garota normal. Estudar, sair e trabalhar. 一
Ele me aperta forte.
一 Clayre, você não ficará com esse cara. 一 afirma seco.
Quero esbravejar, xingá-lo, dizer que ele não pode me privar
disso, mas engulo as palavras com a saliva amarga. Tudo é muito
recente e preciso dar um tempo a ele para digerir. Saio do seu
abraço e não respondo. Com calma levanto da cama e abro a mala
escolhendo uma roupa.
一 Preciso de um banho!
一 Coloque uma roupa quente, o voo é agora de madrugada.
Deixarei você aqui e pedirei algo para comermos. Não quero que
passe mal na viagem.
一 Tá bom! 一 Ele me encara por alguns segundos e
finalmente sai do quarto.
Corro até a cômoda e pego o celular. Há infinitas mensagens
do Jack pedindo que ligasse. Disco o número e no primeiro toque
ele atende.
一 Clayre? 一 Sua voz grossa ecoa em meu ouvido e a
vontade esmagadora de correr até ele borbulha dentro de mim.
一 Jack… 一 Ele suspira pesado e ficamos alguns segundos
em silêncio, remoendo a dor e os acontecimentos. 一 Eu amo você!
Sinto muito pelo meu pai ter te agredido! 一 Ele sorri.
一 Clayre, eu levaria todos os socos do mundo por você.
Droga, eu… 一 Ele para, o silêncio é penoso, escuto o som da sua
respiração e sua voz ficar embargada e aflita. 一 Eu não desistirei
de você, de nós dois, falarei com o seu pai!
一 Jack, também não desistirei, só precisamos esperar os
ânimos se acalmarem. Não queria que eles descobrissem dessa
forma! Conversou com a Liana?
一 Não e confesso que nem quero! O que ela fez, te agredir,
eu não consigo aceitar isso. Por que ela fez aquilo? 一 questiona em
desaprovação.
一 Machucamos ela Jack, mas descobri que nunca me amou,
doeu infinitamente compreender, mas aceitei que nunca teremos
uma relação de mãe e filha. Não precisamos mais ter medo de ficar
juntos! Estamos livres.
CAPÍTULO 32
“Existem mil mistérios que renovam os nossos planos
De seguir acreditando nesse nosso amor
E nada do que digam vai mudar o que pensamos, deixa estar”
(Só Nós Dois, Detonautas)

Após falar com o Jack e confirmar que estamos livres, tomei


um banho, me arrumei e algumas horas depois estávamos todos no
avião retornando para Miami. Troquei alguns olhares intensos com
ele, mas ficamos em poltronas distantes. Meu pai não conversou
mais, permaneceu em silêncio, pensativo e vê-lo assim causa
angústia. Talvez eu nunca consiga fazê-lo me perdoar pela
decepção e isso traz uma aflição profunda, que nunca senti antes. É
diferente a tristeza de querer o amor de alguém e decepcionar quem
ama incondicionalmente e que faz de tudo por você. A dor é maior, e
ver nos olhos transparecer a mágoa, é de congelar a alma.
Suspiro, abalada, olhando para as nuvens lá fora. O sol está
nascendo, os raios refletem entre as nuvens formando uma imagem
magnífica que acalenta o coração. Quando desembarcamos, todas
as dúvidas parecem pesar. Assisto cada um seguir um caminho
diferente. Minha mãe foi embora sem olhar para trás e o Jack nos
observou até entrarmos no táxi e sairmos do aeroporto. Seguimos
direto para o hospital e após coletarem os dados, falar sobre a
doença, fui finalmente internada e comecei a tomar o soro.
O médico entra na sala minutos depois. Ele é alto, magro, os
cabelos são grisalhos, a pele parda e aparenta ter em torno de 40
anos. Na identificação confiro o seu nome, Dr. Edward Sandler.
一 Muito bem Clayre Freburg, no seu histórico consta uma
transfusão de sangue feita há 11 meses. Correto?
一 Sim Doutor! 一 Ele analisa a prancheta, pensativo e me
olha em busca de respostas.
一 Ainda não deveria estar aqui para uma nova transfusão.
Seus últimos exames que constam no sistema estavam bons. 一
Mordo o canto da minha bochecha, triste e sei que a culpa é minha.
一 Como tem se alimentado? Como estão as atividades nesses
últimos dias? 一 Elevo o rosto, suspiro profundamente e decido ser
sincera.
一 Nesse último mês, desde que estou aqui em Miami, me
descuidei na alimentação. Estava emocionalmente abalada com
toda mudança e perdi completamente o apetite e os dias foram
passando. 一 Meu pai passa a mão na barba atento, apenas
ouvindo. 一 Estou trabalhando em um bar noturno e em alguns dias
extrapolei nos drinks e frituras. 一 confesso.
一 Ingeriu muita bebida alcoólica? Na sua condição não
deveria exagerar. Sei que é uma garota nova, está com 18 anos,
mas preciso que se mantenha firme até encontrar algum doador
compatível. Pense que depois poderá desfrutar de tudo isso! 一
Balanço a cabeça concordando.
一 Estava cansada de lembrar disso todos os dias! 一 O
médico expressa uma fisionomia de compreensão enquanto meu
pai não está nada feliz.
一 A enfermeira irá coletar o seu sangue para novos exames
e então, dependendo do resultado, solicitarei uma transfusão.
一 Tudo bem Doutor. 一 O homem saí do quarto e a
enfermeira entra com todo material para a coleta.
Estico o braço e com cuidado ela faz seu trabalho. Passei
muitos dias com essa rotina no inverno passado. Lembro dos braços
ficarem roxos pelo excesso de furadas com agulhas para os
diversos exames. Foram tantos dias em um quarto como esse,
sentindo esse cheiro característico de hospital e todas as incertezas
de saber quando voltaria a respirar fora das paredes brancas
carregadas de tristezas.
Após a retirada de sangue meus olhos pesam e adormeço um
pouco, cansada pela viagem.

Acordo confusa ouvindo vozes conversarem.


一 Não enfermeira, ela não quer vê-lo. 一 Inclino o rosto
visualizando meu pai e o Jack se entreolharem agressivamente, a
ponto de quase se atacarem.
一 Ela é maior de idade, tenho certeza que poderá confirmar
para a enfermeira que sim, deseja me ver. 一 Rebate Jack e meu
corpo reage ao vê-lo.
Sinto as infinitas borboletas douradas baterem as asas em
meu estômago e um peso parece sair de cima do meu corpo,
aliviado. Nos entreolhamos, minhas bochechas esquentam, os
batimentos aceleram e a atração que nos domina é insuperável.
一 Jack, eu quero vê-lo. 一 Chamo-o e sua expressão
amansa.
Apressadamente me beija por longos segundos. A enfermeira
sai do quarto e Gerald bufa contrariado. A mão do Jack acaricia
meus cabelos e seu olhar melancólico vasculham o meu rosto, com
saudade.
一 Passei a tarde toda esperando uma resposta sua, como
não obtive resolvi te procurar. Como se sente? O que aconteceu? 一
Levo a mão ao rosto dele percorrendo sua barba, ao mesmo tempo
que o admiro.
一 Estou bem, apenas descuidei da alimentação, enfim, nada
que remédios não resolvam. 一 Afirmo positivamente torcendo para
que não pergunte mais nada.
Preciso falar sobre a doença e assim que receber alta abrirei
o coração. Jack aproxima os lábios do meu querendo me beijar, mas
somos interrompidos. Meu pai se aproxima cruzando os braços e
pela fisionomia ainda não aceitará a presença dele.
一 Seu nome é Jack Bourbon, certo? Está na hora de termos
uma conversa sincera.
一 Pai… não… 一 suplico, mas ele interrompe.
一 Clayre, se quer que eu entenda o que acontece entre
vocês preciso falar com ele. 一 Nego com a cabeça, mas ele
continua. 一 Não haverá brigas, filha, estamos em um hospital. 一
Considero suas palavras, no entanto Jack segura minha mão e sorri.
一 Em algum momento precisaremos conversar, não se
preocupe, é melhor que seja agora. 一 afirma. E mesmo incerta, sei
que é uma escolha dele e que aconteceria, não nestas
circunstâncias, mas não dá para mudar a maneira como tudo
desabou.
一 Tudo bem! 一 Jack beija minha testa e os dois seguem em
direção à porta.
Acompanho com o olhar até que desapareçam e estou com
medo. Não posso perder nenhum dos dois, eu não suportaria.
Encontrar a Clayre depois de passar a tarde toda aflito,
nervoso, esperando por uma notícia, trouxe calma para a minha
mente. Estava atordoado, com receio do Gerald levá-la de volta
para Charleston e ansiava por ouvir sua voz. A cada cinco minutos
olhava o celular em busca de qualquer resposta. Não focava em
nada e a cabeça estava a ponto de explodir. Precisava vê-la e tocá-
la. Fui atrás, sem freios, em cada canto, passei por cima da minha
raiva e perguntei à Liana, mas ela ignorou e desesperado cheguei
até aqui. Fiquei em desordem ao confirmarem seu nome na
internação. Meu peito comprimiu e agora ficou menos denso ao
ouvi-la dizer que está bem.
Sigo Gerald pelos corredores, talvez essa conversa seja
embaraçosa, mas preciso fazê-lo entender que quero ficar com sua
filha. Ele demonstra ser protetor e o maior problema que enfrentarei
será a sua aceitação por ser um homem conservador. Passamos
pela porta principal até a área externa. Está escurecendo e quando
avisto as estrelas, automaticamente lembro da Clayre e do
sentimento avassalador que nos tornou culpados pelas nossas
ações inconsequentes. Ele cruza os braços, a expressão endurece
e pigarreia antes de começar a falar.
一 O que você fez com a minha filha não tem justificativa. A
seduziu, enganou com palavras mentirosas, falando de amor, tudo
isso por quê? Para se aproveitar dela? Ouvir a própria mãe chamá-
la de puta me encheu de ódio de você. Ela era virgem, inocente e
você a fez pecar. Há anos estou esperando um milagre, indo de
igreja em igreja, para salvá-la e você chega destruindo tudo,
fazendo-a se entregar a uma mentira, um momento de perversão. 一
Pondero e digiro suas palavras.
一 Salvá-la? Gerald, quando vi sua filha tudo mudou. Eu me
apaixonei. Nunca quis induzi-la a nada, e optei por terminar o
noivado para descobrir o que estávamos sentindo. Não é como se
pudéssemos escolher, eu a amo e quero ficar com ela. 一 Ele ri
nervoso.
一 Não! Você é uma má influência. Por onde começo… 一 Ele
bufa pensativo e continua, 一 você ofereceu bebida alcoólica a ela.
Dormiu com a minha filha. Destruiu qualquer chance de
aproximação entre mãe e filha. Espera realmente que dirá algumas
palavras e passarei por cima de tudo isso? É culpa sua que agora
ela esteja nessa cama de hospital. 一 Travo com sua acusação,
estou confuso e uma parte do que fala não faz sentido.
“Salvá-la do quê? É culpa minha que ela esteja mal? Todo
mundo bebe de vez em quando, Clayre nunca passou do ponto,
ficou no máximo tonta”.
一 Não estou entendendo! Por que não acredita que amo a
sua filha e que seria capaz de mudar tudo por ela? Não vou
abandoná-la.
一 É fácil dizer isso agora, enquanto ela está saudável e não
precisa ficar dias internada. E quando a doença dela evoluir? Ah, já
sei. 一 declara em zombaria enquanto as engrenagens da minha
mente pifam de vez. 一 Acha que ela terá uma vida curta, e logo
poderá ser solteiro de novo?
一 Que porra você está falando? Que doença? 一 Abro os
braços, perdido, tentando compreender os seus julgamentos, mas
nenhum faz sentido.
一 Droga! 一 Abatido leva a mão ao rosto e abaixa a cabeça.
一 Clayre sempre achando que as pessoas terão pena dela. 一
Minha mente reproduz flash de imagens do seu corpo com as
marcas roxas, do seu olhar avulso ao tempo, os desmaios, o rosto
pálido, as falas sobre a vida ser concisa e amar além do infinito.
Uma dor aguda domina o meu tórax, semelhante a um soco
forte que tiraria o ar, aquele entre as entranhas, que mantém vivo.
Levo a mão à boca tentando evitar soltar o oxigênio que me resta,
impedindo que os sentimentos se extravasem. São tantas dúvidas,
pensamentos desconexos, uma pontada sem precedentes que
desconstrói qualquer entendimento sobre a realidade. Eu poderia
perdê-la? Como? Por quê? Meus olhos ficam marejados e engulo a
angústia, para não surtar.
“Não posso acreditar que a Clayre está doente e por que não
me contou?”.
一 O que ela tem? 一 indago tentando manter a voz firme.
Gerald dá alguns passos até um dos bancos de concreto e
senta. Ele entrelaça os dedos sobre as pernas, sério.
一 Minha filha tem Anemia de Fanconi, infelizmente com a
progressão desenvolveu aplasia medular e estamos a procura de
um doador. 一 Minhas pernas fraquejam e sento ao lado dele,
devastado. 一 Fiz questão de pedir a Liana para recebê-la porque
achei que a Clayre finalmente sentiria que a mãe a ama e por fim,
pediria ajuda. Ainda não sabemos se ela é compatível. Clayre queria
o amor verdadeiro da mãe, não pena, não a obrigação de salvá-la.
一 Minha mente pesa, as palavras dele machucam e sim, agora
entendo todo o seu conflito e a luta contra o que estávamos
sentindo, em não perder uma chance de recomeçar com a mãe.
Uma lágrima escapa dos meus olhos e seco rapidamente
tentando ser forte, mas me sinto um merda. Cubro o rosto apoiando
os cotovelos nas pernas e apenas deixo essa dor pulsar, corroer, me
castigar. Gerald não diz nada, apenas me deixa assimilar a
informação. Por fora estou atônito, por dentro tenho todos os
demônios despedaçando minha alma.
一 Não vou deixá-la! 一 Afirmo e ele me encara surpreso. 一
Nós vamos encontrar a porra de um doador, se precisar
arrastaremos a Liana até aqui, mas eu não vou perdê-la e não ligo
se você não aprova a nossa relação, farei de tudo por ela e você
não pode me impedir. 一 Levanto confuso e tudo que preciso é ouvir
a voz da Clayre, para acalmar as minhas dores.
Retorno ao quarto e ela está sentada, com uma enfermeira ao
seu lado coletando sangue. Ao me ver ela sorri e droga, como amo
vê-la sorrindo. Puxo o ar, tentando conter o meu choro de
frustração.
“Homem não chora, você irá dizer que a ama, independente
de qualquer coisa”.
Aproximo e a mulher de meia-idade acopla sobre o pequeno
furo o curativo.
一 Prontinho, é para mais exames, quando os resultados
ficarem prontos o doutor falará com você.
一 Tudo bem! 一 Ela assente docemente e a enfermeira sai
do quarto nos deixando sozinhos.
Com cuidado sento na cama e ela abre espaço para grudar o
meu corpo ao seu. Suspiro e não sei o que dizer. Seguro seu rosto e
seus olhos verdes intensos me admiram e seus lábios sorriem
sutilmente.
一 Não me importo se está doente, Clayre, eu te amo além de
qualquer dúvida. 一 O sorriso que estava ali desaparece.
As lágrimas se formam enquanto desvia o olhar, afastando o
rosto.
一 O quê?
CAPÍTULO 33
“Se um dia você me deixar, amor
Deixe um pouco de morfina na minha porta
Porque precisaria de muitos medicamentos
Para perceber que o que nós costumávamos ter
Nós não temos mais”
(It Will Rain, Bruno Mars)

Jack acaba de dizer as palavras que tanto me assustavam, as


que finalmente confirmam que sabe da minha doença. Desvio o
olhar para o teto em conflito, meu pai disse a ele, não era assim que
imaginei. Balanço a cabeça negando enfaticamente e Jack
novamente segura o meu rosto.
一 Clayre, ainda estarei aqui quando o dia amanhecer, e
depois, e na semana que vem e no próximo mês, enquanto você me
quiser. Por que não disse? Do que tem tanto medo? 一 Uma lágrima
escorre do canto dos meus olhos e ele enxuga passando o polegar
com cuidado.
Essa é a pergunta chave que faz todo o pânico sair das
profundezas. Sempre tive medo dos olhares de pena, das palavras
positivas disfarçadas de pensamentos negativos, das opiniões, da
projeção do meu futuro.
一 Jack, não queria que o sentimento que tem aí dentro… 一
Deposito a mão em seu peito, na altura do seu coração. 一 Se
transformasse em pena. Estava com medo de perder o amor que
está desenvolvendo por mim.
一 Besteira… 一 Retruca com um sorriso sedutor que me
quebra por completo. 一 Existem infinitas formas de amar Clayre e
te amarei com todas elas. 一 Emocionada beijo os seus lábios.
Nossos corpos se encostam e suas mãos possessivas
envolvem minha cintura. Sua boca tem gosto de álcool e seu cheiro
apimentado e amadeirado roubam minha sanidade. Com ímpeto
subo em seu colo, aconchego em seu peitoral enquanto sua boca
continua a me devorar. Lentamente. Ácido e Picante. Estamos com
saudades. No limite do controle.
Como o álcool, Jack causa efeitos e desejos que estão acima
da linha da razão e me perco no estilo bad boy e na paixão
pecaminosa que como uma árvore, já fincou raízes em meu
coração. Não querê-lo, é impossível, diferente do início, onde ainda
conseguia fugir do seu toque. Hoje, minha pele pertence a ele.
Nua e Crua.
Quando afastamos nossos lábios, afundo o rosto no seu
peitoral. Jack me abraça obstinado, reduzindo qualquer espaço
minúsculo que ainda exista entre nossos corpos. Fecho os olhos
ouvindo as batidas do seu coração e desfruto do conforto de estar
em sua proteção.
一 Nunca me importei em morrer cedo, até você chegar. 一
Ele suspira, pesado, reduzindo os movimentos do seu peitoral.
一 Me perdoe Clayre, eu preciso que me perdoe por ter
oferecido bebida a você. 一 Seu nariz roça em minha testa e se
afunda nos cabelos, inspirando o cheiro dos fios. 一 Estou me
sentindo culpado e não mentirei dizendo que estou bem, mas eu
ainda tenho você, ainda posso te tocar e não posso te perder. Se
soubesse, jamais teria te induzido a beber, você consegue me
perdoar? 一 Elevo o rosto para o alto, querendo vê-lo.
Seus olhos fervem em súplicas, consternação e amor. Fixo
nele, em sua expressão quase amargurada pela dor que absorve
seus sentimentos. Está sofrendo, lutando e ainda assim, é belo,
ardente e dono de todos os meus desejos. Mesmo que fosse
culpado de algo, eu não ligaria, mas não, Jack foi capaz de algo
muito maior, fez sensações inexploradas se marcarem em meu
âmago. Criarem conexões cáusticas, viciantes e que controlam
minha psique. Tenho esquecido de mim, mas dele, nunca esqueço.
一 A única culpa que você tem é… 一 Travo a fala enquanto
seu olhar indomado invade minha essência, quase me roubando
para si. 一 Jack. 一 Ele fecha os olhos com medo, angustiado e uma
lágrima inesperada escorre em sua face e prontamente a enxugo
com o meu polegar. 一 Quando estava ao seu lado, não me sentia
doente, apenas vivia. Sou totalmente culpada por te dar o meu
coração e às vezes esquecer de mim mesma. 一 Ele comprime os
lábios, solta uma respiração presa, nefasta, e deixa seu remorso
ganhar vida em forma de lágrimas que escapam irreprimíveis de
seus olhos.
Puxo-o, grudando nossos rostos, sentindo sua respiração
quente se desmanchar em minha bochecha. Esfrego os nossos
lábios, procurando carinho e sua boca para prová-la.
一 Clayre… 一 sussurra entre os meus lábios. 一 Eu amo
você e enquanto esquece que está doente ao meu lado, comigo é o
oposto. 一 Ele sorri e seu hálito quente faz cócegas. 一 Me sinto um
doente, um maldito drogado, e meu vício é você, seu cheiro, seu
corpo, sua voz, tudo, você toda é a minha droga definitiva! Ficar
sem seus toques, só me mataria lentamente até não restar mais
nada. 一 Seus dentes cravam no meu lábio inferior, com tesão,
possuído de desejo.
Uma voz nos tira do nosso momento apaixonado e viramos o
rosto para conferir.
一 Com licença. 一 diz o médico, e apressadamente recupero
a postura e saio do colo do Jack, arrumando-me na cama. 一
Clayre, ao invés de tomar outro soro, faremos uma transfusão com
uma bolsa de sangue. Suas hemácias estão baixas, e precisamos
aumentar esses números. 一 Concordo e nesse momento meu pai
passa pela porta e fica do lado oposto ao Jack e segura minha mão
com carinho. 一 Preciso que se alimente, que tome as medicações,
para prolongarmos a próxima, afinal, existem riscos e não podemos
perder a chance de encontrar um doador para você.
一 Sim, Doutor, eu prometo que ficarei mais atenta e serei
mais responsável.
一 Ótimo, ficará mais dois dias em observação, a enfermeira
irá preparar tudo.
一 Tudo bem, obrigada Doutor. 一 Ele sorri e abandona o
quarto.
Jack se afasta, puxa uma das poltronas e coloca ao lado da
cama. Meu pai senta também e me fita seriamente e odeio
relembrar como ele ficou na última vez que estive no hospital.
Praticamente deixou de viver e se pudesse trocaria de lugar comigo.
Sua voz grossa quebra o silêncio constrangedor.
一 Rangel está na cidade e quer te ver. 一 Reviro os olhos e
meu pai sorri. 一 Não imaginei que fosse querê-lo na viagem
enquanto vocês dois se agarravam escondido. Uma vergonha. Por
que disse ao Rangel para ir junto? Isso é absurdo. 一 Bufo irritada.
一 Pai, eu não pedi que ele fosse, foi minha mãe, ela nem ao
menos perguntou se eu o queria por perto. E outra coisa, se ela me
viu com o Jack, por que esperou irmos para Suíça para te ligar? 一
Ele espalma a testa incrédulo. 一 Ela achou que ser mãe era
escolher por mim?
一 Clayre, ela estava tentando, mesmo que tenha errado.
Quanto a vocês dois, ela me disse ter avistado no carro, vocês
estavam justamente se agarrando, isso foi na noite anterior à
viagem. 一 Ele faz uma pausa e continua. 一 Antes que brigue
comigo, eu só contei ao …. 一 Ele evita dizer o nome do Jack, isso
me entristece. 一 Porque achei que já havia feito isso, afinal, estão,
você sabe.
一 Planejava contar no momento certo, mas não estou brava
com isso. 一 Jack levanta e coloca as mãos no bolso da calça jeans.
一 Tomarei um café e volto em cinco minutos. Passarei a
noite aqui com você. 一 Meu pai abre a boca para retrucar, mas
respondo mais rápido.
一 Tudo bem, eu ficarei muito feliz de ter você ao meu lado.
一 Ele dá uma piscadela e sai do quarto.
No segundo em que estamos a sós, Gerald finalmente
evidencia suas frustrações.
一 Clayre, esse cara não ficará aqui com você. Eu não aceito.
Essa relação não é saudável, você não percebe? O único objetivo
dele foi te corromper. 一 Meu pai cerra os dentes, contraindo a
mandíbula, furioso. 一 Só de lembrar que tirou sua virgindade, quero
matá-lo.
一 Pai, não seja intolerante. Eu e o Jack aconteceu, nos
apaixonamos, terminou com a Liana e estamos nos conhecendo, ele
tem esse jeito bad boy, parece que só bebe, mas é muito mais que
isso.
一 Essas características já não me agradam. 一 rebate
evitando me olhar, chateado.
一 Está assim porque foi o meu primeiro homem e aos seus
olhos eu sempre serei uma criança, mas tenho 18 anos, pai eu
cresci, não ficaria virgem para sempre. E se está com medo dele ter
me machucado no dia, fique tranquilo. 一 Coloco minha mão sobre a
dele que franze o nariz. 一 Foi incrível, Jack me levou para acampar
e foi tão carinhoso, não senti tanta dor.
一 Não quero saber como foi.
一 Sempre conversamos sobre tudo. 一 argumento.
一 Não sobre isso, você sempre será a minha filha, uma
criança aos meus olhos, e esse cara veio para mudar tudo isso. Não
aceito.
一 Pai, eu cresci. Não pode me proibir de vê-lo, farei mesmo
assim.
一 Droga, Clayre, você está em uma adolescência tardia, é
isso?
一 Preciso conhecer o amor, aquele além do familiar, que faz
o meu estômago quase derreter, que quase arrebenta o meu tórax
tamanha força dos batimentos cardíacos, aquele que deitarei
acompanhada e não mais sozinha para ver as estrelas. Pai, o Jack
é esse amor e foi o meu coração que escolheu. Não me tire isso,
não quando o meu futuro é incerto e não sei quanto tempo terei. 一
Ele fica imóvel, engole em seco e concorda.
Talvez tenha sido insensível dizer que não sei mais quanto
tempo viverei, mas é a realidade e não posso fugir ou fingir que
serei curada. Não é tão simples. Após as palavras da minha mãe
que tanto me feriram, as esperanças foram massacradas, tiradas de
dentro de mim com tanta violência, restando apenas a morte para
abraçar.
Antes que ele possa reestruturar os pensamentos, uma visita
inesperada surge na porta.
一 Liana? Aconteceu algo? 一 Questiona o meu pai e desvio o
olhar, não querendo vê-la.
一 Sim, a minha filha fica internada e você não me avisa?
Esqueceu que ela está morando comigo? Que agora é a minha
responsabilidade? 一 arregalo os olhos com a visão fixa no chão e
essas palavras deixarão o senhor Gerald furioso.
一 Como é? 一 rebate perplexo. 一 Que porra de
responsabilidade? Ontem a chamou de puta, bateu nela e agora é
responsável?
一 Interessante, ficar sabendo da doença da minha filha pelo
médico. Nunca pensou em me ligar? Em falar sobre isso? Você
sabe que ela ter essas atitudes, ter se esfregado no padrasto que
nem uma vadia é culpa sua? 一 encaro os dois assustada.
Pela fisionomia fria do meu pai está engolindo cada fio de
nervosismo.
一 Chamei você, sim. Quando a Clayre fez 10 anos e
descobrimos a doença, uma das primeiras coisas que fiz foi te ligar.
Avisei que precisava de você e então? Apareceu? Não, porra. Não.
Fui pai sozinho. Não venha dar uma de vítima. O que você quer?
Vai ajudá-la? Se não for, pode ir embora.
Jack atravessa a porta e trava o passo ao vê-la.
一 Droga! 一 sussurra quase inaudível.
一 Isso só pode ser uma piada! 一 assegura ela, com um
sorriso cínico nos lábios. 一 Ela rouba o meu noivo e você apoia?
Aceitou tão rápido que sua filha não presta. 一 A expressão do Jack
se fecha.
一 Deixarei vocês conversarem! 一 faço um sinal positivo para
ele, que retorna, desaparecendo no corredor.
一 Quem não presta é esse cara, minha filha sempre foi
responsável, era virgem, nunca foi puta. Estou farto de você, Liana.
一 Ela merece aplausos, é isso? 一 cansada de toda
discussão decido falar.
一 Mãe. 一 Liana inclina o rosto, fixando o olhar amargurado
em mim. 一 Eu não me orgulho de ter te magoado, mas não posso
controlar o coração. Nunca fiz sexo com o Jack enquanto estavam
juntos e muito menos me ofereci para ele. O sentimento cresceu de
maneira intrusa, foi inesperado e eu não pedi que ele terminasse
com você, foi uma escolha dele. Sei que você me odeia e espero
que um dia possa entender que mesmo nunca tendo me dado amor,
eu te dei o meu, mesmo sem afeto eu te dei minhas esperanças e
você recusou. Não vou deixar o Jack, não posso perder ele também.
Sinto muito.
Ela começa a bater palmas e a sorrir e encaro o meu pai,
ambos estamos herméticos.
一 Parabéns Gerald, criou uma demônia manipuladora. Suas
palavras tinham o objetivo de me comover? Você falhou.
一 O quê? 一 murmuro perplexa.
CAPÍTULO 34
“Cada suspiro que você der
E cada movimento que você fizer
Cada laço que você quebrar
Cada passo que você der
Eu estarei te observando”
(Every Breath You Take, The Police)

Meu pai reage à fala de minha mãe, de me chamar de


demônia. Impetuoso, ele agarra o seu pulso direito levando-a em
direção à porta. Eles desaparecem rapidamente e levanto minhas
mãos trêmulas, geladas, pelo nervosismo. Uma enfermeira entra no
quarto e me olha triste.
一 Sua família é complicada. Fecharei a porta, precisamos
começar a transfusão. Terminou o turno da Louise, eu sou a Emma
e farei o acesso venoso.
A mulher é de meia-idade, os cabelos são loiros, a pele
branca e os olhos são amáveis e compreensíveis. Ela se aproxima e
prepara o material.
一 Estou cansada, é errado dizer que seria mais fácil morrer
logo? Acabaria com todos os conflitos. 一 Ela confirma com a
cabeça enquanto com cuidado pressiona a agulha em minha pele.
一 Sim, é errado, a morte não mudaria nada, posso te revelar
um segredo?
一 Sim! 一 afirmo com os olhos marejados.
一 Nenhuma família é perfeita! Apenas se permita viver, ser
feliz. As pessoas brigam o tempo todo, mas o que importa é o amor.
Escute sempre o seu coração. 一 Ela libera o equipo e as gotas de
sangue começam a seguir para dentro da minha veia. 一 Você é
uma menina linda, nova e eu acredito em milagre. Não deixe a dor
fazer você não enxergá-lo.
一 Eu seria a pessoa mais feliz do mundo se tivesse tido uma
mãe como você. 一 Ela sorri radiante.
一 Não podemos sentir pelos outros, mas no fundo, o que
importa são suas atitudes.
一 Obrigada pelas palavras. 一 Lanço um sorriso de gratidão.
Jack abre cuidadosamente a porta e se aproxima sentando
ao meu lado. Seus olhos me observam com atenção, e dissemos
tudo em silêncio. Com ternura segura a mão oposta e apenas
esperamos a transfusão terminar. Quero falar, mas tem tanta mágoa
dentro de mim que sufoca e a voz não sai, está presa, me
destruindo.
Quando termina, a enfermeira coloca o curativo e sorri antes
de sair. É incrível como o peso que estava sobre mim se tornou
mais leve, suportável.
一 Como se sente? 一 pergunta Jack, com preocupação.
一 Melhor, parece que recebi uma dose de força vital. 一
Sorrimos juntos. 一 Jack, você precisa descansar, tomar um banho e
trabalhar. Estou melhor e o clima está tão tenso, não quero que se
afete com tudo isso. 一 Ele se aconchega na cama e apoio minha
cabeça em seu peito.
一 Não, eu ficarei! Kal cuidará de tudo. Só saio daqui quando
você sair. No máximo um banho, mas meus olhos estarão em você,
não vou te deixar. Quanto a toda essa bagunça… 一 Ele movimenta
o indicador no ar, formando um círculo. 一 Eu seria um covarde se te
deixasse lidando com tudo sozinha. 一 Seus lábios param de falar
depositando um beijo em minha testa antes de continuar. 一 O que
posso dizer? O pecador Jack é o total culpado. 一 balanço a cabeça
em negação.
一 Eu também tenho culpa. 一 Ele me aperta contra seu
corpo.
一 Não, eu te beijei, eu não consegui te deixar. Clayre, eu
aceito toda a culpa, não quero que carregue esse peso. Se
quiserem condenar, que seja a mim, não a você.
一 Jack, eu amo você!
一 Eu te amo, Clayre, feche os olhos, descanse, estarei aqui
quando acordar! 一 Suspiro fazendo o que me pede, fascinada por
descansar no seu cheiro sedutor, o melhor do mundo.
Clayre adormeceu e apenas desfruto do seu corpo perfeito
grudado ao meu. A sensação de tê-la é poderosa, única e hoje é
minha maior satisfação. Minhas fibras musculares tensionam
quando sente seus lábios doces sobre os meus, quando escutam
sua risada gostosa ou quando inalo o seu perfume proibido. Deixá-la
está fora de cogitação.
Após mais de uma hora, Gerald retorna em silêncio,
pensativo e adormece na poltrona, abatido. Diferente de antes,
agora sua expressão é amargurada, como se estivesse lutando uma
guerra interna. A discussão entre ele e a Liana provavelmente seja o
motivo dos seus conflitos.
Não consigo fechar os olhos para dormir, porque tenho medo
de acordar e não encontrar a Clayre. Talvez eu esteja sendo
torturado pela culpa, mas não posso me entregar à escuridão, ela
precisa de mim.

O tempo passou devagar. Clayre precisou ficar cinco dias


internada. Os níveis baixos de hemácias e da produção de células
de defesa do seu corpo acabaram prolongando o recebimento da
alta. Assistimos a alguns filmes pela televisão, tentei uma
aproximação com Gerald em vão, ele está irredutível e cada dia
mais abatido, mesmo a filha estando melhor. Penso que algo o
incomoda. Rangel tentou visitar a Clayre, mas ela se recusou a
recebê-lo enquanto Liana não apareceu mais. A última madrugada
aqui no hospital foi tranquila e depois de muito ensaiar cochilo por
alguns minutos. Quando abro os olhos encontro o Gerald trazendo
um copo de água novo para a filha e deposita sobre o suporte
lateral.
Sei que ele quer me matar, e não é metaforicamente falando.
Destruí a recuperação de uma relação, embora eu pense que Liana
é culpada disso. A verdade é que ela não queria amar a Clayre,
enquanto eu estava disposto a entregar minha alma. Quando senta
na poltrona, finalmente fala.
一 Precisamos ter uma conversa, mas será complicada. Não
me orgulho do que pedirei a você, mas farei qualquer coisa para
salvar minha filha. 一 Suas palavras me atingem, forte e pungente.
Devagar seguro o corpo da Clayre e a arrumo na cama, com
cautela para não acordá-la. Cubro-a com o cobertor e estico minhas
pernas ficando de pé. Não queria falar com ele, porque sei que não
gostarei da conversa. O que tem em seus olhos é rancor e
desespero que misturados causam destruição, e sinto que os meus
sentimentos estarão em jogo.
Seguimos pelo hospital até a capela. Nunca fui um cara
religioso, não entrava em uma igreja há anos até que segui a Clayre
semanas atrás e ouvi o padre desaprovar nossos sentimentos. Fixo
a visão no altar questionando se realmente existe um Deus, por que
não a cura dessa doença? Por que deixá-la sofrer? E não falo só
dela, mas de tantos outros casos que vejo em cada quarto deste
hospital, por quê?
Suspiro frustrado enquanto Gerald senta no banco de
madeira. Faço o mesmo e apenas espero que diga o que tanto o
incomoda. Ele limpa a garganta, passa as mãos na roupa para
desamassá-la e por fim me encara com seriedade.
一 Preciso que rejeite a Clayre.
一 O quê? 一 retruco de imediato, sem dar tempo para os
pensamentos serem processados.
一 Preciso que saia da vida dela. Liana não me deu
alternativas durante a nossa conversa e Jack, ela pediu algo que
está longe do que eu seria capaz de fazer se minha filha não
estivesse doente e precisando da ajuda dela. 一 Passo a mão direita
nos cabelos transtornado.
Aquela mulher que um dia foi minha noiva, que jurei ser uma
pessoa amável e boa, na verdade tem se mostrado uma desalmada.
一 O que ela pediu? 一 questiono com medo, com a
sensação de que cada fragmento da minha força será quebrado.
一 Ela prometeu fazer a doação de medula se você rejeitasse
a Clayre. 一 Fecho os olhos com força, carrancudo, tentando conter
o ódio que devasta meu coração. 一 Liana não aceita que vocês
fiquem juntos, se sente trocada, enganada e não fará a doação
porque na cabeça de merda dela não deseja que minha filha viva
com você a vida que ela dará de presente.
Levanto furioso, pronto para agredir qualquer coisa em minha
frente, todavia, me tremo, mas reprimo a raiva.
一 Mas que porra, puta que pariu, essa mulher não deve ser
considerada mãe. 一 Soco o vento, e não consigo definir se estou
mais puto com a Liana ou com o Gerald que me pedirá para desistir
de sua filha.
一 É uma questão de escolha, eu disse que seria capaz de
fazer qualquer coisa para salvar minha filha, até mesmo viver com a
culpa de ser o responsável pelo seu coração partido.
Fico em silêncio, não consigo externar como me sinto, o
quanto essa porra está doendo dentro de mim. Ando de um lado a
outro quase indo esbravejar com Deus. Esse é o castigo por ter me
apaixonado por ela? Concluo que sim.
一 Se eu pudesse, respiraria pela Clayre, eu faria qualquer
coisa para salvá-la. 一 confesso desamparado.
一 Isso é doentio, você esteve aqui todos os dias, seus olhos
não saíram dela. O que vocês sentem não é amor, é errado. A
maneira como deseja minha filha, como a venera, como a tem
impedido de dar qualquer passo com medo que se machuque, isso
é extremo. 一 Encaro-o com ira, afinal, está me julgando por querer
protegê-la e ele está fazendo o mesmo. 一 Vocês não enxergam
porque estão cegos pelo pecado, pela satisfação que é fazer algo
que vai contra tudo. Jack, você seria o padrasto da Clayre e não o
namorado. Isso trouxe coisas ruins, destruição, mágoa, você é
culpado por ela estar aqui agora, nessa porcaria de cama.
一 Posso ser um doente obsessivo, posso não conseguir
respirar sem ela por perto e ainda assim, eu cuidaria dela, a
protegeria e jamais abandonaria como a própria mãe fez! Pode
parecer exagerado, sem controle, um maldito stalker, mas eu
morreria pela sua filha. 一 Gerald abaixa a cabeça, respira
profundamente e eleva novamente. 一 Eu daria todos os meus
fluidos dos ossos para vê-la viver e foda-se se você me acha
doente, eu a amo e pronto. 一 Aperto os olhos que ardem, a ponto
de querer se entregarem a dor que se alastra em meu estômago.
一 Pense nela, eu sei que vai doer, mas prefere ignorar e
privá-la de receber a doação da mãe? Jack, eu sei que ela dirá que
não aceita a ajuda da Liana se perguntássemos, porque está
magoada com tudo que ouviu, então… 一 Ele bufa, deixando os
ombros caírem. 一 Cabe a nós sermos fortes, engolirmos todo essa
merda para vê-la bem. 一 Pondero suas palavras travando uma luta
interna infernal.
Por mais que vá me destruir deixá-la, eu faria qualquer coisa
para vê-la viva, com saúde. Levo as mãos ao rosto, cobrindo-o por
longos minutos. Contendo a dor, o ódio e a angústia bem fundo para
tentar raciocinar. Não há o que escolher, só existe uma opção: o
bem da Clayre, independe do que sinto.
一 Eu a amo tanto que dói, e sim, farei a merda que você está
pedindo, mas não vou mentir e dizer que não estarei de longe
observando e serei o primeiro a segurar o seu corpo se ela cair. 一
Os olhos do Gerald se enchem d’água. 一 Eu serei infeliz por não
tocá-la mais, e ainda feliz, por vê-la viva. Eu aceito ser o vilão, o
filho da puta que você quer e tudo isso porque eu a amo. Espero
que um dia confesse o covarde mentiroso que você é. 一 As
lágrimas escapam dos meus olhos, mas as engulo, amargas,
ácidas, sem pensar muito sobre como fazer tudo isso, se não, nunca
farei. 一 Preciso ir lá agora para destruir o coração da sua filha. O
mínimo é que a conforte quando eu sair daqui e toda maldita noite
eu estarei amaldiçoando a Liana, porque isso é maldade pura,
espero que morra engasgada com o próprio veneno.
CAPÍTULO 35
“Eu não sei porque eu fujo
Eu farei você chorar quando eu fugir
Você poderia ter me perguntado por que eu parti seu coração
Você poderia ter me dito que desabou
Mas você passou por mim como se eu não estivesse ali
E simplesmente fingiu que não se importava”
(Save Your Tears, The Weeknd)

Abro lentamente os olhos e percebo que estou sozinha no


quarto. Meu corpo que estava dolorido ganhou força novamente e
estou feliz por finalmente receber alta e sair desse lugar. A
ansiedade maior é voltar à rotina do bar, aos braços do Jack e por
fim buscar a Dior no hotel de animais. Com toda revelação do nosso
romance secreto, não há nada que nos impeça de ficarmos juntos.
Saio da cama e sigo até o banheiro, faço a higiene e escuto
passos pesados no quarto e apressadamente saio para conferir.
Encontrei o Jack, inexpressivo, guardando suas roupas na mochila
que havia trazido para não sair do meu lado. Ele inclina o rosto
ficando de frente, seus olhos estão vermelhos, apáticos e
atribulados. Ela solta o ar pela boca ao me ver, franze o cenho e
comprime os lábios.
Conheço o Jack, nossa conexão é tão profunda e urgente
que pareço sentir os seus medos em cada poro da minha pele. O
que me transmite dói a alma e travo, engolindo em seco. Por que
seus olhos estão me deixando? Por que meu coração começou a
acelerar e não é de felicidade? Ele pisca várias vezes, contendo
algumas lágrimas e uma sensação gélida sopra, surge no
estômago.
一 Jack, o que aconteceu? 一 Desço minha atenção para
suas mãos fechadas, o corpo rígido.
一 Estou indo embora! 一 O tom de sua voz é ríspido, como
nunca esteve antes para mim.
一 Recebi alta? 一 Forço um sorriso sem graça e sua
expressão continua dura, fria.
一 Não. Eu, estou indo embora. Não me peça explicações
porque eu não tenho que te dizer nada. 一 Uma angústia começa a
borbulhar formando um nó em minha garganta.
一 Não me deixe, Jack. 一 Meus olhos se enchem de
lágrimas e ele desvia o olhar, para não ver.
As lágrimas escorrem em minha face e se o coração pudesse
doer, essa seria a sensação, porque me sinto sufocar. Ele suspira
profundamente antes de dizer algo.
一 Clayre, eu não amo você, nunca amei. Isso foi longe
demais, estava gostoso ser o pecador, mas não posso me
comprometer em cuidar de você e sabe, eu tenho uma vida para
viver. 一 Suas palavras acertam mais forte que um tapa.
一 Não, não, espera. 一 Dou um passo em sua direção, mas
ele se afasta, terminando de enfiar a última blusa que estava sobre
a poltrona.
Jack vira de costas e queria vê-lo, e sei que olhando em seus
olhos jamais esconderia a verdade, no entanto ele caminha até a
porta e para brevemente.
一 Estou te dispensando do bar, não é mais minha
funcionária e nem nada minha. 一 Uma dor lacerante ferve e
começo a chorar, incontrolável.
一 Fica Jack, eu te amo. 一 Ele faz menção de me olhar, mas
fecha os punhos e sai.
Meu coração acaba de ser destruído e toda a dor que estava
antes se torna ainda pior, insuportável e corro para a cama cobrindo
o rosto, tentando não sentir essa mão que esmaga todos os meus
sentimentos. Jack vai embora, levando tudo de mim, minha
sanidade, meus desejos, minha vontade de viver. Sinto-me fraca,
lutando uma batalha perdida, sem propósito.
Meu pai entra no quarto e se aproxima me abraçando
fortemente. Deixo que os soluços escapem e que as lágrimas
tentem amenizar a aflição, mas cada minuto tudo é amplificado e
massivo. Ele descobre o meu rosto e beija minha face.
一 Ele se foi Clayre, é um covarde. Falei da sua doença,
sobre os cuidados futuros, as possibilidades se não for curada e ele
não quis ficar.
一 Não quis? 一 Balbucio desacreditada.
一 Filha, eu sei que vai doer, mas o Jack nunca te amou, só
queria te usar.
一 Tem razão dói muito, mas por que parece que tudo perdeu
o sentido? De repente não tenho mais nada pelo que lutar, não
tenho mãe, não tenho o amor da minha vida. 一 Engasgo, soluço e
as palavras saem atropeladas, junto com o nó que me impede de
continuar falando.
一 Filha, você tem a mim, não diga isso! Você tem a si
mesma, sua vida é tudo que importa. 一 Afundo o rosto em seu
peitoral e meu pai aperta os braços ao meu redor, tentando
desesperadamente trazer conforto. 一 Sua vida está começando
agora Clayre, ainda conhecerá muitas pessoas, será incrível, eu
garanto! 一 Balanço a cabeça negando enfaticamente.
Engulo a saliva, tentando respirar.
一 Você não sabe se terei um futuro, pai…. 一 Entrego-me ao
choro pesado, fungando aflita e, ao mesmo tempo quero falar. 一
Ele voltará, o Jack me ama, ele me ama sim, eu sei… 一 Soluço
novamente, sem conseguir controlar. 一 Eu o amo. 一 Desisto de
tentar e apenas deixo a dor me dominar, em forma de consternação,
desilusão e tristeza.
Passo horas chorando, devastada, com o cobertor até a
cabeça, tentando esconder o sofrimento. Quando não tenho mais
forças, apenas fico em silêncio, atônita, olhando para a parede
branca. Meu pai guarda as peças de roupa na pequena mala e só
consigo pensar no porquê Jack me deixou.
“Ontem ele disse que me queria, o que mudou?”.
一 Filha, aluguei um apartamento para você, no entanto, acho
que deveria voltar para Charleston comigo, quando passar o verão
retorna para as aulas. 一 Poderia realmente voltar, mas não consigo
ficar longe do Jack, preciso de respostas.
一 Mesmo dilacerada, continuarei aqui. Gostei da cidade e
preciso aprender a viver sozinha. A faculdade logo começa e não
tem escapatória.
一 Sim, você está certa. Ficarei 15 dias com você. 一 apenas
concordo e os próximos minutos são intermináveis.
Recebo alta, orientação médica, despeço das enfermeiras e
quando estou no banco do carro, de vidro fechado em silêncio,
agradeço a Deus por me dar forças mais uma vez para continuar
lutando, apesar de tudo. Papai dirige devagar, preocupado com a
minha falta de reação, mas é difícil falar quando tudo que quero é
me esconder para chorar. Pouco tempo depois estacionamos em
frente a um prédio sofisticado no centro.
一 Sua mãe já enviou suas coisas.
一 Ótimo, assim não preciso olhar na cara dela. 一 Decreto
cruelmente machucada enquanto entramos juntos no local.
O ambiente é amplo, de alto padrão e era a escolha que fiz
antes do papai pedir que ficasse no apartamento da Liana. Suspiro
aliviada, com a sensação de que retornei a música do início. Onde
deveria ter ficado e evitaria todo um transtorno em nossas vidas.
Passamos pela recepção e estou inerte, não vi rostos, não emiti
nenhuma palavra, apenas olhei tudo, para me familiarizar com a
minha nova realidade. Quando o elevador abre no vigésimo andar,
finalmente estou livre para externar meus sentimentos.
一 Não sairei desse lugar por um mês.
一 Clayre! … 一 repreende com uma expressão triste. 一 O
que achou? Me diz. 一 Ele sorri e estica o braço mostrando o
apartamento.
一 É como nas fotos, porém mais lindo. 一 confesso.
Analiso a sala compacta, com móveis de qualidade, paredes
brancas emolduradas, lustre de cristal e o que me fez amar pelas
imagens foi a sacada com vista para o mar e instantaneamente
lembro do Jack, dos dias que estive morando com ele.
“Não consigo aceitar as palavras que me disse, a
insensibilidade em explicar o que estava sentindo, em dizer que não
me ama, porra, como doeu, como ainda lateja e ativa uma angústia
que nunca experimentei”.
一 Tomarei um banho para tirar esse cheiro de hospital que
parece impregnado em mim.
一 Claro, descansa, farei compras, precisará comer bem! As
suas malas estão no quarto. 一 concordo e sigo no pequeno
corredor.
Nem consigo ficar animada ao vislumbrar o lugar perfeito,
com uma cama de casal confortável que possui uma cabeceira
capitonê de veludo verde e um guarda-roupa branco no lado oposto
que se estende até o teto. Aproximo da mala, retiro o pijama e uma
calcinha. Abraço as peças feliz por usá-las em casa e não mais a
roupa de hospital.
Desfruto de um banho longo bem quente, a fumaça se
espalha pelo banheiro e a água até deveria queimar minha pele, no
entanto, a dor que sinto queima mais. Nunca imaginei que ser
rejeitada por um homem fosse doer mais do que as dores que às
vezes sinto no corpo fraco. O que dizem é que todos sofreremos por
amor, certo?
“Que castigo, isso é desumano”.
Terminando deito na cama e fecho os olhos. Queria abraçar a
escuridão, mas a imagem do Jack surge para atormentar a mente.
Desistindo de tentar, pego o celular e abro na conversa dele. Digo
algumas palavras e fico alguns segundos pensando se deveria
realmente enviá-las. Sem remorsos, envio e as mensagens não
chegam, a foto não aparece e concluo que me bloqueou. Um desejo
louco de xingá-lo entala na minha garganta. Em que momento
passamos de um “faço qualquer coisa por você” para um “eu nunca
te amei”?
Jogo o celular longe e bufo com decepção. Jack está
enganado em pensar que não irei em busca de resposta, o que mais
ele poderia dizer que me magoasse? Acho que nada, já estou
completamente despedaçada. Precisará ser verdadeiro comigo e
assim que meu pai retornar para Charleston ficarei frente a frente
com ele, sem escapatória.

Duas semanas se passaram e me sinto recuperada. Os


remédios devolveram energia para o meu corpo e a sopa nutritiva
que papai fez todos os dias reestruturou o sistema imunológico.
Inesperadamente disse que jantaremos algo especial esta noite.
Hoje é seu último dia em Miami e a sensação de solidão começa a
ganhar espaço dentro de mim. As suas palavras foram “use algo
bonito, teremos uma visita”. Confesso que não sei quais as
possibilidades, e cheguei a pensar na Rebeca. Conversamos todos
os dias, mas a sua falta tem apertado, principalmente nas horas em
que gostaria de me distrair.
Pego um vestido curto preto e um colar de estrela-do-mar em
ouro que ganhei quando fiz 16 anos. Termino de trocar, sento na
cama e fecho brevemente os olhos lembrando da Rebeca que para
mim, sempre foi uma irmã.

8 MESES ATRÁS
Desci as escadas do colégio sentindo meus pés doerem
miseravelmente. As luzes da festa pintavam o céu e a música era
estridente. Arranquei os saltos dourados e lancei na grama com
força. Rebeca desceu logo atrás de mim e me puxou pelo pulso
tentando me acalmar.
一 Minha mãe não apareceu, nem na formatura ela apareceu!
一 Passei as mãos no vestido longo rosa que escolhi com tanto
carinho. 一 Meu pai disse que ela estaria aqui!
一 Amiga, sério? Olha para mim. 一 encarei fixamente seu
rosto.
Rebeca é uma ruiva de cabelos longos, olhos verdes como
os meus, corpo malhado, fez parte das líderes de torcida e neste dia
usava um vestido vermelho matador.
一 Quando foi que sua mãe cumpriu algo? 一 vasculhei a
minha mente procurando a resposta.
一 Hum, nunca?
一 Exatamente e por que você achou que ela viria? Sua mãe
é um fantasma, faz de conta que morreu. 一 Ela começou a
gargalhar e poderia até ter ficado frustrada, mas esse era o poder
dela, me fazer rir com seu humor ácido.
一 Rebeca, você não tem limites.
一 Nenhum pouco, chorar por quem não se importa com você
é gostar de sofrer! Tenho algo muito melhor em mente!
一 Ah é, o que seria? 一 questionei ficando animada.
一 Que tal comermos lanche e sorvete?
一 Droga, eu topo, mas se meu pai perguntar falaremos que
foi os doces da festa que fizeram mal.
一 Combinado!

Hoje, relembrando, a Rebeca é como o Jack, a parte divertida


da vida, que me faz viver inconsequentemente e esquecer de tudo.
Papai sempre foi rígido, não deixava comer açúcar, nem tomar
bebidas alcoólicas e obrigava ir à igreja três vezes na semana para
suplicar a Deus por um milagre. Claro, que acredito em Deus, mas
por que Ele me salvaria com tantas outras pessoas sofrendo? Não
sinto que sou mais importante que os outros, então aceitei o destino,
mas quando encontrei o Jack, senti que queria mais dias, mais
horas, tudo para não deixá-lo.
Escuto o interfone tocar e alguns minutos depois a porta abrir.
Seja quem for, chegou! Saio do quarto, seguindo em direção à sala.
Entro no cômodo e estremeço, esperei encontrar até o Jack aqui,
mas quem está diante de mim é minha mãe.
一 Oi filha, boa noite! Preciso muito conversar com você e
sabe, eu aceito ser sua doadora, mesmo que você não tenha me
pedido, eu sempre te amei!
CAPÍTULO 36
“Será que você saberia o meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Será que as coisas seriam iguais
Se eu te visse no Paraíso?”
(Tears In Heaven, Eric Clapton)

Liana afirma que será doadora de medula, que deseja me


salvar, por vontade própria. Meu coração acelera e levo a mão
direita aos lábios tentando conter a sensação de emoção que surge
no peito. Contenho as lágrimas para não chorar, foram tantas dores,
palavras amarguradas e vê-la mesmo depois de tudo aqui querendo
ajudar retira uma parcela de culpa do meu coração.
一 Você será doadora? Por quê? 一 questiono incrédula.
Liana desvia o olhar e encara o meu pai, sorrindo.
一 Seu pai conversou comigo, fez com que finalmente eu
entendesse que você não teve culpa de nada. Jack foi o destruidor
da nossa relação e o que fez com você é imperdoável. Saindo daqui
passarei no bar, mas por ora, esqueçamos isso. 一 Sugere sorrindo
novamente como um robô e segue até a mesa de jantar, sentando-
se na cadeira. 一 Temos um jantar em família.
Por mais grata que esteja, não consigo fingir que está tudo
bem. Talvez, no fundo, eu seja mal agradecida e reprimo os
pensamentos de dúvidas e sigo até uma das cadeiras para sentar. O
jantar é uma deliciosa carne assada com legumes e sirvo um prato.
Meu pai, diferente da maioria dos dias, fica em silêncio e o ambiente
se torna absurdamente sufocante.
一 Bom, como recebeu a transfusão não tem muitos dias, irei
daqui um mês fazer o teste de compatibilidade. 一 avisa Liana.
一 Tudo bem, quando sair o resultado o médico ligará. Eles
aproveitarão para fazer uma pesquisa genética para determinar se
você possui o gene da doença. O papai fez e deu negativo, então
será apenas para confirmação da origem.
Minha mãe para o garfo em frente aos lábios e desiste de
colocar o legume em sua boca. Ela bate o talher no prato com uma
expressão pálida e apressadamente captura o copo de água para
beber. Após engolir todo líquido, sorri e se levanta.
一 Perfeito, então, nos veremos em breve, sempre que quiser
pode me visitar.
一 Está indo embora? 一 questiona meu pai confuso. 一
Começamos a comer agora.
一 Sim, preciso falar com aquele ordinário do meu ex-noivo,
infelizmente temos um negócio financeiro não resolvido e além
disso, preciso que as pessoas saibam o cafajeste, safado que ele é.
一 Não, mãe! 一 exclamo exaltada e Liana fica atônita.
Engulo as palavras que descem rasgando minha garganta.
一 Ainda defende aquele crápula? Após ter tirado sua
virgindade? De ter se aproveitado de você e virado as costas no
hospital?
一 Não. 一 rebato frustrada. 一 É que não vale a pena,
palavras não mudam caráter. 一 Disfarço, mas sim, eu não consigo
odiá-lo, só amá-lo, mesmo em cada minuto de seu desprezo.
Sou uma trouxa por isso. Papai enfia mais legumes no prato
e enche a boca com carne, nervoso, sem falar nada que o
comprometa, mas sei que concorda com minha mãe, ele odeia o
Jack.
一 Você está certa filha, mas sou uma mulher vingativa e
como sua mãe irei te defender. 一 Suspiro derrotada e apenas faço
o mesmo que meu pai, coloco alimento na boca.
Liana segue até o sofá, pega a bolsa e nos olha brevemente
antes de sair. Gerald suaviza a expressão e a tensão que estava
evidente em seu corpo no instante em que ela desaparece. Engulo a
comida e preciso ser sincera com ele.
一 Pai, nunca terei uma relação com ela, serei eternamente
grata pela doação, mas não consigo amá-la, posso até perdoá-la,
mas não mais que isso. Sinto muito. 一 Com carinho deposita a mão
sobre a minha.
一 Tudo bem filha, o que importa é que ela te salvará e tem
um bom coração.
Duas semanas que vivo na merda. Perdido pelos cantos,
sentindo o sabor do álcool nos meus lábios em todas as horas do
dia, se antes eu era arrogante, agora, sou insuportável. Desde que
rejeitei a Clayre um buraco negro se formou em meu coração e
sugou minha alma. Não vejo nada, não me interesso por nada, os
caras do bar nem se atrevem a falar comigo. Até mesmo a sinuca
abandonei, afinal, quando segurava no maldito taco de bilhar me
lembrava dela, de todas as olhadas, do cheiro do seu perfume, de
sua pele, dos seus cabelos e porra, como eu sinto falta dela inteira.
Viro a garrafa de whisky na boca e assisto de longe os caras
beberem. Estou sentado na mesma mesa que divide a rodada de
drinks com a Clayre, neste mesmo lugar onde confessamos o amor
que estávamos sentindo. Inclino o rosto olhando para o reservado, e
foi naquelas paredes estreitas a última vez que estivesse dentro
dela, foi intenso, urgente, tórrido e só queria tê-la novamente.
Faz 15 dias que tirei a poeira da moto, que ando perdido
todas as noites nas ruas e paro em frente ao seu novo apartamento
lutando contra a dor e o desejo de chamar o seu nome e confessar
tudo. Kal se aproxima desconfiado e senta em minha frente tapando
a visão da jogatina. Ele afasta a garrafa de whisky e tento capturá-la
em vão, contraio a mandíbula furioso com a sua atitude.
一 Cara, você se olhou no espelho nesses últimos dias? Está
péssimo. Porra, não tem um dia que está sóbrio. 一 encaro-o
impaciente.
一 Devolve a garrafa, porra! 一 ordeno e ele ignora.
一 Pode socar minha cara, vem! É nítido que está reprimindo
uma raiva absurda dentro de você. Uma hora explodirá. 一 avisa
preocupado. 一 Que porra aconteceu? Por que terminou com a
Liana?
Estreito os lábios, com um semblante severo e sinto quando
as pálpebras inferiores tensionam.
一 Não quero falar disso, o noivado acabou, não tem mais
casamento.
一 Percebi, todos perceberam, afinal, está bem nítido na sua
cara. Ninguém aqui estava com coragem de falar, mas está
parecendo um mendigo. Olha suas roupas, sua barba está enorme,
quando foi a última vez que se cuidou? 一 Levo as mãos a barba e
abaixo o rosto conferindo a camisa.
Provavelmente esse é o terceiro dia que uso a mesma roupa,
talvez, nem tenho certeza.
一 Tomei banho, só estava sem coragem de colocar outra
camisa. 一 Tento amenizar, mas ele balança a cabeça em
discordância.
一 Jack, não sabíamos que gostava tanto assim da Liana.
Você é fechado, não fala dos seus sentimentos, mas não
imaginávamos que isso acabaria tanto com você. 一 Ele faz uma
pausa encarando a garrafa de whisky em sua mão. 一 Porém todos
concordamos que não precisava ter demitido a Clayre. Ela não tinha
nada a ver com isso e sentimos sua falta, querendo ou não deixava
as nossas noites mais leves. 一 Inflo os meus pulmões e deixo o
corpo desmanchar na cadeira.
一 Não estou assim pela Liana. 一 A expressão dele se torna
confusa.
一 Quê? 一 indaga.
一 Antes da viagem já fazia uma semana que não estávamos
mais juntos. 一 Ele junta as sobrancelhas enquanto pensa. 一
Droga, eu… 一 Travo, querendo me abrir com alguém sobre essa
merda toda que tem tirado a minha sanidade.
一 Isso é grave! 一 retruca devolvendo a garrafa. 一 Vocês
estavam juntos, certo? Eu sempre desconfiei. 一 revela enquanto
agarro o vidro e engulo o whisky sedento para esquecer a dor que
ressurge ao falar da minha estrela dourada. 一 Liana descobriu? O
que aconteceu para a Clayre ficar no hospital?
一 Sim, mas é muito maior que isso. Ela contou para o pai da
Clayre que me abrigou a ficar distante. 一 Faço uma pausa para dar
outro gole. 一 Descobri também que a Clayre está doente e para se
curar precisa da ajuda da mãe.
一 Porra Jack, mas que porra! Não sei nem o que dizer. 一
Ficamos em silêncio, inertes.
Ele pega a garrafa e dá um gole, processando a informação.
一 A única coisa que tenho certeza Kal é que nunca mais
quero olhar na cara da Liana. Aquela mulher é um monstro! Agrediu
a própria filha, é insensível e manipuladora.
Minhas palavras parecem ter chamado o demônio através do
vento porque a vejo entrar procurando por mim entre os rostos
bebendo no balcão.
“Mas que porra, o que ela faz aqui?”.
一 Caralho! 一 esbravejo.
Liana segue o olhar até me encontrar e arqueia uma
sobrancelha. Sua fisionomia amargurada se transforma
maleficamente e posso jurar que os olhos escureceram de maldade.
Passamos segundos em uma luta visual absurda e demonstro todo
meu desprezo, sem reprimir o ódio que exala de todos os meus
poros. Inesperadamente ela dá um meio sorriso e analisa ao redor.
Essa mulher está aqui para me destruir, isso é fato.
一 Onde está Jack Bourbon? 一 vocifera em um grito agudo,
capturando a atenção de todos que assustados cessam a conversa.
一 Aquele ordinário, safado, que enquanto estava noivo de mim foi
capaz de seduzir a minha filha e tirar sua virgindade. 一 As palavras
ressoam por todo bar, ecoando nas paredes e cego de fúria avanço
em sua direção.
一 Jack… 一 alerta Kal, preocupado.
Agarro com força o braço dela sob o olhar de todos.
一 Chega, ficou louca? 一 comprimo meus dedos em sua pele
descontrolado e a arrasto até o meu escritório.
Passamos pela porta e a empurro na poltrona ouvindo sua
risada satisfeita por todos saberem o que aconteceu entre eu e a
Clayre. Claro, a versão dela dos fatos. Bufo irritado e passo as mãos
nos cabelos jogando os fios para trás. Ela limpa a garganta para
falar e não consigo achar um motivo plausível para estar aqui.
一 Meu Deus, você está péssimo. Tudo isso porque precisou
se afastar da minha filha? Está realmente apaixonado por ela?
一 Sim, porra, não estou só apaixonado, eu a amo, como
nunca fui capaz de te amar. 一 Ela desvia o olhar furiosa
ponderando as palavras.
一 Eu até diria que estou triste por separar vocês, mas não,
sinceramente, não aceito que fiquem juntos. Você teve uma escolha,
poderia ter ficado com ela, mas preferiu salvá-la, então não tenho
culpa nenhuma nisso. 一 Debocha sorrindo e posso sentir meus
nervos palpitarem embaixo da pele.
一 Vai embora. 一 ordeno a ponto de perder o controle.
一 Passei para lembrá-lo que só doarei a medula se cumprir
sua palavra e claro, para compartilhar uma novidade. 一 Liana abre
a bolsa e retira um papel protegido por um plástico transparente. 一
Pegue e leia! 一 Ela estica o braço e movimenta no ar e me
aproximo pegando-o.
Retiro o lacre e abro analisando com atenção.
一 Jack, esse é o outro motivo pelo qual vocês não podem
ficar juntos. Espero que agora compreenda minha atitude.
CAPÍTULO 37
“Eu fico bêbado, acordo, ainda estou bêbado
Eu percebo o tempo que perdi aqui
Eu sinto que você não pode sentir o que eu sinto
Oh, eu vou estar fodido se você não puder estar aqui”
(Stay, feat. Justin Bieber, The Kid LAROI)

Após o jantar meu pai recolhe a mala e despe-se desolado.


Meus olhos ardem excessivamente e inspiro o ar tentando conter as
lágrimas de tristeza. Pisco algumas vezes e finalmente me
contenho.
一 Pai, pode ir tranquilo, eu juro que estou bem e que me
cuidarei. 一 forço um sorriso feliz.
一 Eu sei filha, mas por favor, me avise qualquer problema. 一
Beijo amavelmente o seu rosto.
一 Você será o primeiro a saber caso algo mude! 一 Ele fica
menos aflito e me puxa para um abraço caloroso.
一 Ótimo, irei à igreja e conversarei bastante com Deus, sua
mãe será compatível e finalmente você terá uma vida livre e feliz.
一 Eu acredito pai, amo você! 一 Ele aperta com tanta força
que me sinto sufocar.
一 Amo você filha! 一 Ele beija meu rosto, arruma a postura e
segue para o táxi que espera na entrada.
Poderia acompanhá-lo, mas devido à imunidade baixa,
preferiu ir sozinho, evitando o meu contato com outras pessoas. Ao
entrar no carro, acena e fecha a porta. A realidade bate em minha
face e agora estou sozinha. A ficha cai com uma tonelada de
angústia e dor. Assisto o veículo desaparecer na rua e lamento
mentalmente por voltar e ser a minha própria companhia. Em outras
circunstâncias eu não ligaria, mas estou destruída, com o coração
remendado que pode se desfazer a qualquer momento.
Retorno para o apartamento e minutos depois estou embaixo
das cobertas. Não desisti da ideia de falar com o Jack e amanhã irei
até o apartamento dele. Ainda possuo as chaves reservas que me
entregou e sei que talvez seja uma péssima escolha, mas preciso
vê-lo, preciso que diga olhando nos meus olhos que nunca me
amou e então finalmente seguirei em frente. Aperto os olhos
procurando pelo sono e adormeço.

Acordo confusa, com a claridade acinzentada pela


nebulosidade atravessando a sacada de vidro. Tateio a cama
procurando pelo celular e ao achá-lo verifico as horas. São
exatamente 10h e estou ansiosa para engolir as frustrações diante
do Senhor Bourbon.
Levanto em um salto, arranco o pijama do corpo e me movo
até o banheiro. Desfruto de um banho longo, deixando a água
quente relaxar os meus músculos. Ao terminar escolho uma roupa
e paro em frente ao espelho. Nenhuma marca roxa pinta mais a pele
e agradeço a Deus por isso.
Aliso o vestido preto curto e finalizo com um casaco longo,
que fica um pouco abaixo do quadril. Após colocar o coturno desço
ao estacionamento. Poderia ir de carro, mas não gosto de dirigir
quando estou em recuperação. Chamo um táxi e poucos minutos
depois estou em frente ao prédio do Jack.
Relembro da minha chegada a Miami, de como ao vê-lo
abrindo a porta tudo mudou. Inspiro profundamente e sigo até o
elevador. Não ouso olhar na recepção e acabar sendo barrada,
apenas finjo que continuo morando aqui, afinal tenho as chaves.
Quando chego na cobertura, posso sentir minhas mãos tornarem-se
gélidas e o coração aumentar o ritmo das batidas.
Minhas pernas fraquejam e com a mão trêmula coloco a
chave na fechadura. Giro a maçaneta com uma sensação de
desconforto dominando o estômago. Invado o hall principal e sou
inundada pelo perfume do Jack. E, para minha completa surpresa,
Dior surge miando e esfregando-se contra as minhas botas.
Capturo-a nos braços, beijando sua face peluda e sua língua áspera
passa na maçã do meu rosto. Meu coração recupera o ritmo pela
satisfação em vê-la bem e saudável.
一 Oi minha Dior, posso roubar você para mim? 一 Sorrio e a
beijo enquanto ouço-a ronronar. 一 Ele está cuidando bem de você,
isso me acalma.
Analiso o ambiente em meia luz e silencioso. Com passos
suaves sigo até a sala, mas está vazia. Continuo o caminho com a
gata no colo, até estar diante do quarto que o Jack dividia com a
Liana. Abro a porta balançada e encontro o lugar perfeitamente
arrumado. O cheiro é de limpeza e percebo que mais nenhum dos
seus pertences está aqui dentro.
Saio do cômodo e sigo até o meu antigo quarto e assusto ao
constatar que se mudou e está dormindo aqui. Suas roupas estão
em uma mala semiaberta, os perfumes e cremes sobre a cômoda e
na cama os cobertores que usei estão bagunçados. Uma evidência
irrefutável de que Jack está dormindo sob o meu cheiro.
“Como ele pode dizer que nunca me amou?”.
Uma angústia se apodera do meu âmago. Queria respostas,
uma pista do que está acontecendo para sair totalmente do escuro.
Dior se remexe querendo descer e a solto no chão.
Apressadamente ela pula sobre a cama e se aninha aos cobertores.
一 Ele está dormindo com você? 一 Ela mia e acabo sorrindo.
Sigo até a cama e pego uma de suas camisas afundando em
meu nariz. Mergulho na imensidão de dor que insiste em martelar
em minha mente, horas ela me faz desacreditar de tudo, minutos
depois me faz ter medo, ter saudade, mas ela é intensa,
aniquiladora e preciso lutar para voltar a superfície e não morrer
afogada.
Abraço a peça contra o rosto e a levarei comigo, para os
instantes que a saudade se tornar quase insuportável. Recobrando
os sentidos, acaricio a Dior e saio do cômodo. Com passos suaves
sigo em direção ao escritório. Não há indícios de que esteja aqui. A
porta está aberta e confiro o local totalmente escuro. Acendo a luz,
pego meu celular e visualizo a página do bar que informa que hoje
estarão fechados.
“Ele nunca fecha, a vida e a casa dele são aquelas paredes.
O que aconteceu? Provavelmente o encontrarei lá”.
Coloco a camisa na bolsa e noto o quadro do Jack, a mesma
foto que vi logo que cheguei aqui, ele está em cima da moto,
sorrindo. Preciso ter uma lembrança do seu rosto para nunca
esquecê-lo. Sem me alongar para não sofrer mais, despeço da Dior
e saio do apartamento. Quando o elevador se abre na recepção,
ando apressadamente para a saída. O bar fica a algumas quadras e
irei caminhando.
Confiro o relógio de pulso e continuo de estômago vazio. Não
posso ir por esse caminho e retornar para o hospital. Aproveito a
vista da cidade, o ar fresco e a sensação de liberdade por
finalmente voltar a viver normalmente. Após algumas quadras
chego na esquina e ao longe avisto um caminhão descarregando
bebidas. O céu está nublado, as nuvens carregadas e há dias não
chove.
“Droga, preciso esperar eles irem embora, pelo menos sei
que o Jack está aqui”.
Frustrada opto por comer algo enquanto espero. Atravesso a
rua e entro em uma cafeteria minúscula que encontro perdida entre
as lojas. Faço o pedido de um suco e um croissant de frango. Sento
na pequena mesa de madeira e daqui consigo assistir tudo. Degusto
enquanto escuto a música pop que ecoa da televisão simples fixada
na parede.
Passo minutos intermináveis, que parecem se arrastar pela
minha ansiedade elevada. O tempo de espera é suficiente para me
permitir pensar sobre tudo, desde a viagem, do momento que minha
mãe aceitou fazer o teste de compatibilidade, na saudade que
estava da Dior e no quanto estou machucada.
A claridade desaparece dando início à noite. Tudo se torna
cinza e os pingos de chuva começam a cair. Suspiro frustrada e a
pancada de água torna-se mais rigorosa e intensa. Os trovões
ganham força no céu e os relâmpagos são como flashes iluminando
brevemente as ruas. Foram 3h esperando e em nenhum segundo
considerei desistir. Finalmente os caminhões começam a partir e
meu coração acelera.
O atendente sem jeito se aproxima sorrindo. Ele usa um
uniforme azul, está de boné, os olhos são castanhos, a pele branca
e aparenta ter uns 20 anos.
一 Moça, desculpe, mas precisaremos fechar! 一 Levanto
apressada e retiro a carteira da bolsa para pagar.
一 Desculpe. Passei por uns dias difíceis e ficar aqui trouxe
um pouco de paz, acabei perdendo a noção do tempo.
一 Sem problemas. Você precisa de um guarda-chuva?
Tenho um reserva. 一 Oferece simpaticamente e nego com a
cabeça.
一 Muito obrigada, não precisa.
O homem recebe o dinheiro, seguimos ao caixa e espero o
troco. Quando me entrega, aceno ao sair. Os pingos grossos tocam
o meu rosto e para minha surpresa o bar está deserto, sem qualquer
letreiro aceso. Mesmo desapontada sigo lentamente até ele. Foram
apenas alguns minutos de distração e perdi a oportunidade de ver o
Jack.
Fixo os pés em frente a grande porta de vidro enquanto sou
atingida pela chuva que acentua. A brisa fria estremece cada poro
da minha pele. São minutos sentindo-a e meus cabelos se
encharcam assim como as roupas e permaneço aqui parada,
olhando para as únicas luzes acesas sobre o balcão de bebidas.
Fecho os meus olhos para fazer parte da chuva, de cada
pingo grosso e talvez até seja capaz de levar minha dor embora. Um
vento forte me faz encolher. Abro novamente os olhos e assusto
dando um passo para trás ao vê-lo, atrás do bar, embaixo da luz
amarela que ilumina parcialmente o seu rosto. Seus olhos estão
fixos em mim, e sem hesitar avanço na porta e confirmo que está
destrancada.
Entro no local tremendo.
A água escorre molhando o chão e ele não se move, está
atônito e destruído. Jack está com uma fisionomia danificada. Os
olhos desfocados estão vermelhos, as olheiras profundas marcam
suas pálpebras caídas, a barba descuidada, os lábios secos, as
roupas amarrotadas e os cabelos bagunçados. Finalmente reage e
passa as mãos no rosto achando que a minha imagem é um
fantasma. Escuto-o sussurrar enquanto vira de lado, perturbado.
一 Droga, acho que bebi demais, estou vendo coisas. 一
Desacreditado, abandona a garrafa de cerveja que bebia sobre o
balcão, olha em minha direção novamente e percebe que continuo
aqui.
Sua expressão muda, torna-se duvidosa, as sobrancelhas se
juntam e afobado avança em minha direção. Sua mão grande e
quente toca o meu rosto e seu olhar se fixa ao meu confirmando que
sou real.
一 Clayre… 一 Suas mãos me puxam contra ele grudando
nossos lábios desesperado. 一 Seu toque desliza pelo meu pescoço
e sem dúvidas de que sou feita de carne osso Jack desperta.
Seus olhos ganham cor, posso ver pequenas brasas
começarem a flamejar e com um movimento bruto me abraça
fortemente. Antes que possa emitir qualquer palavra, ele arranca o
meu casaco molhado e preocupado começa a tirar o vestido, e em
seguida os sapatos. Poderia impedi-lo, mas não consigo.
Jack tem dor em seus toques, em sua respiração, em seus
olhos que analisam o meu corpo gelado e sem hesitar arranca sua
jaqueta de couro e cobre meu corpo que ficou nu.
一 Você não pode ficar doente, Clayre. Não posso te perder.
一 Suas palavras fazem infinitas borboletas adormecidas acordarem
e baterem bruscamente as asas em meu estômago.
Passo os braços ao redor do seu pescoço e esfrego o rosto
contra o seu, sentindo a aspereza de sua barba grande arranhar
minha pele. Seu corpo quente se une ao meu. Seus braços fortes
envolvem minha cintura e me aninho a ele, deixando o coração falar
por mim.
Pulsante. Quase inteiro de novo.
Jack rosna e suspira profundamente contra minha boca.
一 Droga, porra, Clayre, não deveria estar aqui. 一 As mãos
dele descem pelo meu corpo. 一 Não sei o que você fez comigo,
mas quero fazer coisas más com você…. 一 confessa roçando os
lábios nos meus enquanto meu corpo fica trêmulo e minhas pernas
amolecem.
一 Jack… 一 Sua boca pressiona a minha com desejo, com
fome, mas principalmente com saudade.
Seus lábios engolem os meus, sua língua procura pela minha
e nos beijamos exaltados, entregues ao fogo antes apagado e
agora, vívido e caótico. Cada sensação que meu corpo produz
lembra o quanto pertenço a ele. Posso ouvir as batidas
descompassadas e potentes do meu coração em meus próprios
ouvidos. Ficamos quentes, minhas mãos começam a suar e seu
cheiro ativa uma corrente elétrica que aumenta o desejo. Com o
peito a ponto de explodir, Jack me puxa para o seu colo.
Entrelaço as pernas ao redor do seu quadril e minha calcinha
umedece pelo desejo lascivo que corrói a alma. Sua boca ordinária
anseia por mais beijos e minha entrada roça em seu volume
extravagante.
Jack morde o meu lábio inferior alucinado, sugando-o em
seguida. Perco o ar e tento afastá-lo, mas ele não permite. Afobado
se move até a mesa de sinuca e me senta sobre ela. Suas mãos
capturam as laterais da minha cintura arrastando minha bunda até
chocar minha boceta contra o seu pau. Meus seios roçam em sua
camisa e estremeço. Os lábios que eram secos estão agora
hidratados e seus dentes mordiscam roubando minha sanidade.
Apalpo os músculos dos seus braços e sigo até os seus
cabelos. Jack afasta brevemente nos permitindo recuperar o fôlego.
Mantenho a boca entreaberta, em busca de ar e seus olhos
transitam pelo meu rosto, esfomeado, demonstrando que me quer.
一 Jack… 一 Ele fecha os olhos suspirando profundamente e
os abre novamente suplicantes, em negação. 一 Eu caio em
pedaços quando estou com você. Há dias estou me afogando em
águas negras, sufocando até meus pulmões doerem. Eu quase
posso sentir meu coração em cacos me perfurarem e me destruir de
dentro para fora. Não me rejeite… 一 Seu polegar toca o meu rosto
enquanto seu olhar assiste minha boca se mover. 一 Por favor, diga
algo.
一 Cada movimento seu, cada respiração, cada batida do seu
coração me pertence, todas as noites quando sonho só vejo o seu
rosto. Clayre, eu amo você, mas não podemos ficar juntos. Cada dia
distante eu morro um pouco, mas você vive.
一 Não cabe a você me salvar Jack.
CAPÍTULO 38
“Eu nunca tinha me sentido assim antes
Tudo que eu faço
Me lembra você
E as roupas que você largou estão espalhadas pelo chão
E elas tem o seu cheiro”
(When You're Gone, Avril Lavigne)

Clayre entrou pela porta toda molhada, o ambiente estava


escuro e jurei que via um esboço, por conta da quantidade enorme
de bebida que venho ingerindo nesses dias difíceis. Quando
confirmei que era real, que sua pele se arrepiava sob o meu toque,
eu sai de órbita para entrar em um mundo só nosso. Onde nada
mais importa além de olhar nos seus olhos e sentir meu corpo todo
queimar.
Clayre é como um acorde de guitarra único, recheado de
notas proibidas com um soar harmônico essencial e totalmente
persuasivo. Perco a razão e fico completamente rendido. Toco agora
a sua pele macia, analiso seus lábios avermelhados de desejo e seu
olhar saturno termina de demolir minha alma. Suas palavras saem
com uma carga devastadora.
一 Não cabe a você me salvar Jack. 一 Comprimo os lábios,
sentindo parte da minha mente fragmentar.
Não posso revelar a verdade, nem dizer sobre a merda toda
que é estar lutando contra o meu próprio corpo e sentimentos.
一 Não posso vê-la lentamente se apagar, Clayre, eu não
posso. 一 Ela solta uma respiração entrecortada e desvia o olhar.
一 Jack, você disse que não me amava, agora confessou a
verdade e diz que não podemos ficar juntos? Por quê? 一 Ela morde
o canto interno da bochecha antes de continuar. 一 Sabe, hoje
parece aquelas noites longas, que nunca tem fim, que trazem uma
infinita escuridão. Eu…. 一 Magoada me empurra e se levanta. 一
Só preciso de um motivo e você não precisará mais olhar na minha
cara. 一 Tampo os olhos com as mãos e fico de costas, tentando
buscar um fio de razão que não me faça parecer um maldito filho da
puta e, ao mesmo tempo, que não a faça partir.
Que motivo seria suficiente? Que traria sentido a rejeição?
Que justificaria as palavras que acabaram de sair da minha boca?
Nenhum e em todos os cantos que topo na minha mente sei que
nenhum irá de fato aliviar nada, talvez piorar.
一 Jack, eu te esperaria por um milhão de anos, apenas me
peça. 一 Suas palavras terminam de rasgar o meu coração.
Queria ser capaz de dizer “sim” para me esperar, mas a
revelação da Liana ontem transformou tudo. Não consigo comunicar
ou externar os pensamentos, meus medos. Entreabro a boca para
falar, mas a voz não sai, travo pela primeira vez na vida e apenas
me torturo mentalmente. Estou diante da única pessoa capaz de
despertar o mundo dentro de mim e como exatamente digo algo que
nunca mais me amará?
Passo um minuto assim, em silêncio, com os olhos ardendo,
com a boca salivando em busca do álcool, achando que ele é capaz
de amenizar essa dor ou pelo menos adormecer os meus desejos.
Clayre arfa, impaciente e retira minha jaqueta jogando-a sobre a
mesa de sinuca. Apressadamente veste suas roupas molhadas.
一 Clayre… 一 Balbucio e aproximo dela que empurra minha
mão. 一 Ficará doente!
一 Não me toque, não fale comigo, você não tem nada a
dizer, eu também não tenho a ouvir. 一 Fecho os punhos reprimindo
os impulsos de agarrá-la, de beijá-la e de falar tudo que está
engasgado.
Afobada para sair, ela enfia os coturnos nos pés sem amarrá-
los e veste com pressa o casaco pingando água. Clayre dá um
passo e entro em sua frente.
一 Espera. 一 suplico.
Ela não me olha e se desvencilha do meu corpo seguindo até
a porta. Sua mão pequena toca a maçaneta enquanto suspira
angustiada.
一 Estou saindo pior do que entrei, esse é o seu poder sobre
mim, mesmo sem dizer nada você consegue terminar de quebrar o
meu coração. 一 Meu peito contorce em dor, minhas mãos queimam
como fogo enquanto ela sai pisando forte em meio a chuva.
“Foda-se, foda-se, porra”.
Engulo o medo enquanto cada fibra dos meus músculos me
ordenam a não deixá-la ir. Avanço até a porta e ela caminha na
chuva, abraçada ao próprio corpo. Sem hesitar corro atrás dela. Os
pingos estão frios, grossos e em segundos agarro a sua cintura por
trás virando-a de frente para mim.
一 Clayre… 一 Suas lágrimas se misturam com as gotas e ela
morde os próprios lábios com força, sem conter a dor que sente.
一 Vai embora Jack, me deixe. 一 vocifera com a voz fraca. 一
Viva sua vida feliz e esqueça que um dia sentiu algo por mim.
Ela faz menção de virar, mas seguro seus braços.
一 Clayre seria impossível esquecer você, nem em sonho eu
consigo. Eu só sei te amar e… 一 Travo sentindo o choro apertar, e
engulo cada parte dele. 一 Você é a única mulher que amarei na
minha existência, e porra, você não sabe como fode a minha mente
deixar você. Não tenho mais vida, eu bebo para te esquecer e
mesmo assim não consigo. Cada hora a dose aumenta, enquanto
tento anestesiar minha dor. 一 Clayre tampa minha boca com sua
mão extremamente gelada.
Ela fica nas pontas dos pés tentando aproximar o rosto do
meu enquanto a chuva desliza em sua pele. Até mesmo aqui, com a
claridade dos relâmpagos, ela é a garota mais linda que já vi.
一 Não diga mais nada… 一 Sua voz falha miseravelmente e
descontrolado pelo desejo corrosivo que parece derreter os meus
ossos a agarro.
Devoro sua boca, mordendo, sugando, sentindo a textura
viciante e molhada de sua língua. Agarro seu quadril trazendo-a
para o meu colo e abraço seu corpo junto ao meu. Sinto-a tremer, o
corpo frio pela brisa cortante começa a esquentar e seus lábios
tornam-se cada segundo mais deliciosos. O seu cheiro domina os
meus sentidos e com nossos corpos em chamas quase me esqueço
que estamos no meio da rua sob a chuva intensa.
A água se mistura com a nossa saliva, seus dedos prendem
os meus cabelos e sua respiração fica ofegante. Quando o beijo
termina, ela se aconchega em meu peitoral.
Firmo-a em meus braços e caminhamos novamente para o
bar. Não quero que fique doente e que deixe meu coração ainda
mais aflito. Passo pela porta e tranco na chave. Clayre mantém o
rosto enterrado em meu pescoço e a coloco sentada sobre o balcão
e rapidamente retorno para fechar todas as persianas. Não posso
correr o risco da Liana nos ver e não ajudar mais a filha.
Desde que deixei a Clayre no hospital, nunca estive tão
sóbrio como nesta noite. Seus olhos verdes curiosos assistem cada
movimento que faço até que eu esteja novamente em sua frente.
Clayre fica calada, mas pula no chão descendo do balcão e caminha
até as bebidas pegando uma garrafa de whisky. Quero impedi-la,
mas apenas assisto. Ela serve uma dose e vira de uma vez na boca.
O frio é cortante e faço o mesmo apenas para esquentar o
corpo. Deposito o pequeno copo de vidro no balcão e puxo-a para
mim. Clayre suspira e retiro seu casaco que agora se encontra mais
molhado que antes. Sua respiração se eleva quando meus dedos
retiram novamente o seu vestido e admiro o seu corpo. Ela veste
apenas uma calcinha cor-de-rosa e os seios estão livres, sem sutiã.
Os mamilos estão enrijecidos e com cautela toco o seu
pescoço deslizando minha mão com carinho em sua clavícula, estou
sedento para apalpá-la, todavia, reprimo meus desejos. Sua pele
está gélida, os cabelos extremamente molhados e algumas gotas
até pingam das pontas. Ela mantém o rosto baixo, evitando me
encarar. Não tenho como escapar do seu silêncio sufocante e
decido me abrir parcialmente a ela.
一 É difícil confessar algo que sei que fará você se afastar de
mim. Não existe saída para o futuro Clayre, porque ele é
determinado no hoje, nos erros e nas nossas escolhas atuais. 一 Ela
morde o lábio inferior e fico inevitavelmente excitado. 一 É preciso
uma puta coragem que estou lutando para adquirir agora para
finalmente falar! 一 Inesperadamente suas mãos pequenas
espalmam o meu peitoral contornando meus músculos.
一 Espera Jack! 一 Interrompe-me docemente enquanto
aproxima a boca do meu corpo e morde a camisa molhada.
Ofego ficando completamente duro. Há dias sinto saudades
dos seus beijos, do seu jeito meigo e da sua boceta apertada e
quente. Clayre desliza as mãos e puxa minha camisa para arrancá-
la do meu corpo.
一 Quero você, uma última vez, mesmo sabendo que posso
te odiar depois, eu quero te amar antes.
Sem tempo para pensar, visualizo sua boca rosada beijar o
meu peitoral e fecho os olhos com uma sensação explosiva. A cada
centímetro mais baixo, a saudade aumenta e o desejo atinge picos
intensos. A textura macia de sua pele roça suavemente
mordiscando cada região que passa.
Ela fica de joelhos e assisto sua safadeza enquanto suas
mãos rastejam pelas minhas pernas. Clayre morde a calça jeans na
altura do zíper e estremeço. Lentamente seus dedos pequenos
abrem o botão e puxam o tecido, deixando-me de cueca.
Meus batimentos aceleram drasticamente, minha ereção
atinge o pico máximo e ela sorri com a boca encostada no tecido
branco puxando-o com os dentes. Clayre pode não ter tanta
experiência, mas é naturalmente sexy e isso é absurdamente
irresistível. Sutilmente ela me deixa nu e suas pupilas dilatam.
一 Lembra do meu sonho erótico? Quero realizá-lo porque
tem se repetido noite após noite como uma maldição. 一 Confessa
tímida, ficando com as bochechas ruborizadas.
一 Claro que me lembro, eu estava louco para concretizá-lo.
一 Levo a mão aos seus cabelos e meus dedos entrelaçam aos fios.
一 No sonho eu fazia assim… 一 diz mordiscando minha coxa
e abaixando mais o tronco para sua língua deslizar em minhas
bolas.
Minhas pernas enrijecem, minha respiração torna-se ofegante
e sua língua molhada mesmo percorrendo de maneira incerta minha
pele sensível é minha perdição. Puxo seus cabelos
involuntariamente, ela sorri e continua. Suas mãos pequenas
seguram o meu pau e nos entreolhamos assiduamente enquanto
sua boca aveludada abocanha a glande e desliza em minha
extensão dura e grossa. Clayre chupa faminta, sua saliva permite
um deslizar profundo e solto um gemido grave toda vez que sinto-o
bater em sua garganta.
一 Foder em sua boquinha é torturante e gostoso. 一
Confesso entredentes lutando contra a vontade de gozar.
Clayre geme em resposta e começa a fazer barulhos de
sucção, terminando de foder meu juízo. Inflo meus pulmões
trancando minha respiração. Louco. Alucinado.
Possuído de desejo.
Cada movimento de sua boca, cada raspada de dente suave,
cada engolida profunda me deixa a ponto de pedir rendição. Meu
pau pulsa, minhas bolas pesam e quando percebo estou rugindo o
seu nome.
一 Porra, Clayre! 一 Pressiono sua cabeça penetrando com
força em sua boca.
Ela engasga, sua saliva me lambuza e com violência fodo
gostoso. Antes que goze, retiro meu pau deslizando-o ao redor dos
seus lábios vermelhos e quentes. Sou louco por essa garota e
decido esquecer tudo que me aflige e viver esse momento intenso.
Puxo-a com brutalidade pelos cabelos e mordo sua boca. Ela
retribui a mordida e com urgência aperto sua bunda topando seu
quadril no meu. Deslizo minha mão no meio de suas pernas. Sua
calcinha fina está completamente melada e ela geme sensualmente
sentindo os meus dedos empurrarem o tecido e circularem o seu
clitóris.
Clayre se desmancha em meus braços abrindo um pouco
mais as pernas. Seu olhar está cravado ao meu enquanto seu corpo
vibra. Seu tórax se contrai inspirando o ar e suas costelas se
levantam, tornando-se visíveis no corpo magro. Fascinado, capturo
sua cintura fina e a levo até a mesa de sinuca, sentando-a sobre
ela. Clayre deixa o corpo cair para trás desmanchando no tecido de
lã verde e suspiro ao admirar cada curva do seu corpo. Puxo suas
pernas até seu quadril estar rente a beirada, com acesso livre.
一 Jack, não tenha pena de mim, não vou quebrar se você…
sabe. 一 informa com um sorriso meigo reluzente.
一 Não tenho pena de você Clayre, tenho pena é do seu
corpo que precisará me saciar a noite toda! 一 aviso sentindo a
vontade de viver correr nas minhas veias, como há dias não sentia,
longe dessa garota, longe do seu corpo, longe do seu sorriso.
Com safadeza, levo meus dedos nas laterais de sua calcinha
e brinco com a peça antes de puxá-la pelas pernas da Clayre. Jogo-
a no chão e ansioso levo meu olhar ao seu pecado rosado,
completamente molhado de tesão. Toco sua boceta arfando em
satisfação por sentir novamente sua textura e seu cheiro. Ajoelho e
chupo sua pele, na parte interna de suas coxas e direciono
lentamente os beijos até seus lábios vaginais simétricos,
lambuzados com sua lubrificação.
Meu pau pulsa e deslizo a mão ao redor dele tentando dar
um agrado no meu próprio fogo enquanto minha boca devora sua
boceta com euforia. Esfrego até meu nariz em sua extensão, me
vestindo com seu cheiro poderoso. Clayre eleva o quadril
friccionando sua área proibida em minha cara e agarro com força
suas pernas invadindo-a com minha língua.
一 Isso Jack… 一 murmura enquanto suas pernas ficam
trêmulas.
“Quebrei a porra da minha palavra. Pela Clayre eu faço tudo
que reprimo. Essa garota sempre será meu pecado em forma
humana”.
CAPÍTULO 39
“Olhando as páginas da minha vida
Lembranças turvas de você e eu
Você sabe que eu cometi alguns erros
Arrisquei algumas coisas e caí de tempos em tempos”
(All About Lovin' You, Bon Jovi)

Jack estupidamente penetra sua língua dentro de mim. Os


movimentos sincronizados que ele faz, a sucção perfeita ao redor do
meu clitóris e a fricção dos dedos logo em seguida são de tirar
qualquer mente da face da terra. Ele sabe como fazer todos os
meus ossos derreterem de prazer. Cada poro da minha pele clama
por ele, pelo seu toque que às vezes é arrogante, outras vezes,
sutis. Mas, sua boca ordinária sabe como manusear e ativar cada
ponto sensível do meu corpo e principalmente da minha boceta.
Seus dedos me invadem com alvoroço enquanto a sensação
de desejo esmaga meu peito e queima lascivamente minhas pernas.
Passo minhas mãos pelo tecido verde da mesa de sinuca em agonia
e rendição. Jack sorri contra a minha pele ao constatar que estou
completamente entregue. Sem cerimônias se esbanja em meu
corpo, fazendo o que quer e eu permito. Sua língua molhada e
habilidosa me leva ao delírio. Os lábios quentes me chupam
absurdamente. Eufórico pelos gemidos que escapam de mim, seus
dedos circulam o meu botão rosado com certa pressão em
movimentos medianos que em alguns instantes ficam mais intensos,
fazendo minhas pernas estremecerem pelo prazer exacerbado, que
corrói meu corpo e se acumula em meu peito para me tirar o fôlego.
Com as mãos, aperto seus cabelos, agoniada, gemendo,
enlouquecida pela sensação feroz e ordinária. Minha boceta
esquenta, sinto os espasmos, minhas mãos suam e meus
batimentos quase ecoam para fora do corpo. Tento conter o desejo,
mas falho e Jack se lambuza com cada gota que escorre de mim.
Afobado, chupa todo meu líquido e se levanta encaixando a cabeça
parruda de sua ereção na minha entrada inchada.
Com o olhar preso ao meu corpo, admirando os meus
mamilos duros, sinto-o penetrar.
Potente.
Profundo. Roubando meus sentidos para si.
Deslizo minhas mãos pelo meu próprio corpo enquanto ele
assiste com a boca aberta, estocando seguidas vezes seu pau em
minha boceta. Sua fome é insaciável. Meus dedos circulam minhas
auréolas e meus lábios emitem sons sensuais. A sensação é
gostosa, ardente e quero desesperadamente gozar, mas luto contra
a enorme onda de excitação que palpita dentro de mim.
一 Clayre, meu amor. Você é deliciosa! Eu te olharia
eternamente assim.
Continuo com os toques descendo pelo meu abdômen,
fazendo-o ofegar enquanto aperta as laterais do meu quadril. Sua
ereção grande agora ajustada ao meu tamanho torna-se quente e
os movimentos profanos ganham uma velocidade bruta. Seu olhar
transita por cada pedaço da minha pele, fascinado, apaixonado e
totalmente louco de tesão. Elevo os meus braços acima da cabeça e
deixo que suas mãos grandes me explorem. Seus dedos percorrem
a virilha, seguindo pelas laterais da cintura até pararem nas aréolas.
Jack belisca os bicos enrijecidos e me debato com a sensação nova
de dor e desejo.
Ele sorri e faz carícias, ativando a sensibilidade e deixando o
prazer no limite máximo do meu corpo. Seus movimentos não
cessam, seu pau desliza justo em minhas paredes quentes. Fico
extremamente molhada quando aumenta o ritmo e com violência
bate nossas extremidades que exalam um cheiro de sexo viciante.
Juntos, tensos, incapazes de suportar mais, nos entregamos ao
desejo.
Jack goza em minha virilha e fico inerte, sem me mexer,
apenas sentindo a sensação poderosa me dominar. Após me limpar,
me pega pela cintura e caímos no chão deitando no chão frio.
Enrosco minhas pernas na sua enquanto puxo o ar que perdi.
Aconchego o meu rosto em seu peitoral e analiso as nuances sutis
de carícias que o Jack faz em meus cabelos e no nariz que de
minuto em minuto aprecia o meu cheiro.
Sei que tenho apenas 18 anos, que as pessoas irão dizer que
isso que vivemos é passageiro ou pura safadeza. Que é apenas um
grande sonho sem muito significado, mas só consigo sentir como
meu corpo muda na presença desse homem e se entrega sem
dúvidas. Jurei que precisava amá-lo uma última vez, mas a verdade
é que não estou pronta para ouvir o que tem a dizer, mesmo que por
dias tenha esperado por isso.
Aquela voz interna da razão que surge toda vez que percebo
que algo ruim acontecerá começa a ecoar dentro de mim, como em
um cômodo vazio, de novo e de novo. Será que estar com o Jack é
apenas mais um dos meus sonhos? Com incerteza passo a mão no
meu pulso e disfarçadamente belisco. Inesperadamente ele ri, e não
há nada que eu consiga fazer escondido, afinal, sempre está me
observando violentamente. Se mexo um dedo do pé ele vê. Jack
tem sempre aquele jogo de olhar que faz as minhas mãos e pernas
ficarem inquietas e é exatamente esse que me lança agora
enquanto dá um meio-sorriso irônico.
一 É real, você está nos meus braços e acabamos de fazer
um amor inesquecível. 一 diz com a voz grave e sedutora ao pé do
meu ouvido.
Particularmente agora Jack está sendo ele mesmo, diferente
de quando entrei pela porta e aparentava ser qualquer outro homem
que sofreu um golpe duro da vida e encontrou um consolo enganoso
na bebida. Me envolve em seus braços e nossos rostos ficam na
mesma altura.
一 Para! 一 alerta arqueando uma sobrancelha.
一 Como assim? 一 rebato sorrindo.
一 Pare de pensar, sinto daqui o redemoinho de emoções se
formando ao seu redor. Clayre a sua expressão facial é de
preocupação.
一 Não é verdade! 一 Minto tentando enganá-lo.
一 Vejo como seus olhos estão circulando todo bar em busca
de refúgio e principalmente os seus pés que começaram a ficar
inquietos e claro, seu corpo está tenso, sinto-o em minhas mãos,
não negue. 一 Inspiro profundamente antes de falar.
一 Estou com medo do que você tem a dizer, sabe, não
consigo imaginar esse sentimento tão repleto de paixão se tornando
ódio. O que você fez Jack? Preciso saber por que não podemos
ficar juntos.
Ele ergue a cabeça com os olhos semiabertos em busca de
processar uma resposta. Jack franze a testa e comprime os lábios.
O que ele tem a me dizer virá com uma carga emocional
monstruosa. Seus braços apertam mais forte e com certa
infelicidade limpa a garganta.
一 Sua mãe esteve aqui ontem.
一 Ela disse que viria, que ainda tinha um negócio financeiro
para resolver com você.
一 Como está a relação de vocês? 一 inclino a cabeça em
objeção.
一 Ontem foi a primeira vez que nos vimos depois do hospital
e ela me surpreendeu dizendo que será minha doadora por vontade
própria. 一 Jack cerra os dentes, pisca mais lento e posso jurar que
vi uma nuvem negra de raiva em seu olhar. 一 Estou muito grata
pela demonstração dela de amor, mas eu não consigo vê-la como
mãe e com todo o sentimento e amor que essa palavra simboliza. O
que ela te disse ontem Jack?
一 Não havia mais visto ela desde a viagem e ontem fez
questão de gritar aqui dentro, para todos ouvirem que tirei sua
virgindade. 一 Sobressalto do chão, indignada e me levanto.
一 Ela não deveria ter feito isso! Como ela conta aos seus
clientes? Ninguém precisava saber da nossa intimidade. 一 Penso
no que dizer por alguns segundos antes de continuar. 一 Por isso
fechou hoje? 一 Jack se levanta colando o corpo ao meu enquanto
me segura pela cintura.
一 Sim, começaram a comentar e como estou com os nervos
à flor da pele, não estava afim de socar a cara de qualquer idiota
que viesse me dar lição de moral. 一 Levo minha mão direita ao seu
rosto e imediatamente Jack fecha os olhos, suspirando.
一 Jack, você está péssimo. 一 brinco enquanto com os
dedos percorro sua barba grande e desalinhada.
Ele sorri ainda de olhos fechados e meu toque transita pelo
seu rosto até parar em seus lábios. O cheiro que ele exala é álcool
puro.
一 Droga, se eu soubesse que iria te ver hoje teria me
arrumado. 一 Com ternura envolvo meus braços em seu pescoço e
nossos corpos se conectam.
Nossas peles se roçam, seu pau majestoso resvala em minha
barriga e sou dominada por pensamentos libertinos, que nunca são
saciados totalmente. Fico nas pontas dos pés e sem hesitar Jack
eleva o meu quadril, encaixando-me em seu colo. Minha boceta
fricciona em sua ereção endurecendo-a rigorosamente. Com um
movimento bruto Jack enfia de uma vez dentro de mim fazendo meu
coração acelerar. Um gemido escapa e seu olhar repleto de paixão
observa-me com desejo.
一 Quem sabe, assim, conectado em você, te fazendo sentir
como nossos corpos precisam um do outro, possa fazer você ter
menos raiva de mim. 一 confessa movendo o quadril sutilmente,
provando o deslizar suave de todo seu tamanho grandioso dentro de
mim.
一 Conta Jack, eu… 一 Suplico entre gemidos e seu olhar
recai em minha boca, ofegante.
Ele inspira parecendo finalmente pronto para dizer.
一 Sua mãe está grávida, Clayre. Vamos ter um filho e
imaginar que essa criança será seu meio-irmão acabou comigo. 一
revela de uma vez, intensificando os movimentos contra o meu
corpo.
Jogo minha cabeça para trás com a sensação de prazer
latente. Com a infinita explosão que é toda vez que meu clitóris
entra em atrito com sua pele. Quero chorar pela dor que começa a
crescer, e ao mesmo tempo estou entregue ao desejo. As lágrimas
escapam nas laterais dos meus olhos enquanto Jack me fode,
batendo nossos quadris de maneira desenfreada.
Fixamos nosso olhar, sua expressão tensiona de prazer
enquanto mordo meus lábios quase no ápice. Contraio meu
abdômen, as estocadas tornam-se profanas, rasgando tudo em
mim. Estamos com raiva, apaixonados, em chamas. Minha boceta
arde, meu clitóris torna-se sensível e começo a gemer
descontrolada, pronta para gozar com ódio.
Jack afunda completamente sua ereção, trava dentro de mim
enquanto cerra os dentes. O corpo todo endurece e vejo seus
músculos contraírem no abdômen e o pau pulsar.
Quente. Poderoso.
Pulo de seu colo quando o jato escapa e alucinado ele
termina de gozar derramando sobre o chão seu líquido proibido.
Minhas pernas fraquejam, mas me equilibro com o prazer ainda
corroendo meu peito. Com os ouvidos zunindo procuro pelas minhas
roupas desesperada.
一 Clayre… 一 balbucia Jack aflito, terminando de se
masturbar enquanto a última gota cai.
Coloco apenas o casaco e o fecho, enfio os coturnos nos pés
e ele se aproxima desesperado segurando o meu pulso. A raiva
misturada a paixão me tira completamente do eixo.
一 Você tem razão Jack, eu te odeio. Odeio o fato de ter
imaginado um futuro com você. Odeio também por ter me deixado
no hospital e odeio mais ainda porque sei que nunca me amou de
verdade. 一 Ele nega enfaticamente balançando a cabeça enquanto
os olhos enchem de água. 一 Sabe o que é pior? Você ter
descoberto a gravidez ontem e usar isso como um motivo para não
ficarmos juntos, sendo que você já tinha me deixado. Ficou evidente
que não tem um “motivo”, a não ser o fato, de que você é um grande
filho da puta e eu te odeio. 一 Meus olhos ardem, as lágrimas
escapam enquanto o Jack tenta me abraçar.
一 Não Clayre, por favor, fica comigo. 一 seu sussurro suave
me paralisa.
一 Diz a verdade Jack. Por que não podemos ficar juntos? 一
Ele faz careta, cerrando os dentes.
Jack pensa por alguns segundos, está aflito e nervoso. Seu
olhar transmite incerteza, dor e por fim, decisão. Ele fez uma
escolha, a mandíbula comprime, os olhos desviam dos meus e
espero ansiosa por sua resposta quando abre a boca.
一 Não tem um motivo. Sou um filho da puta, você está certa.
Só queria dormir com você de novo. É carnal, você, o seu corpo
receptivo, a sua boceta deliciosa. É apenas sexo. Você não merece
um cara como eu. Sinto muito. 一 A vontade de chorar aperta,
engulo a dor, incrédula por suas palavras.
Jack é muito contraditório, há segundos estava dizendo uma
coisa e agora mudou? Por quê? Ele ainda tem a audácia de tentar
segurar minha mão e afasto.
一 Não toque em mim. 一 vocifero, correndo para a porta. 一
Nunca mais você tocará em mim. Espero que seja feliz com sua
nova família e esqueça que existo.
Destranco a porta enquanto ele coloca as roupas. Saio do bar
sob a chuva mais branda e corro sem parar, por cada rua, com o
vento contra o corpo, com os sapatos frouxos, com a angústia e as
lágrimas se perdendo no ar. Minha carne está sendo rasgada, meus
ossos estão sendo quebrados e minha mente está sendo derretida
tamanha tristeza e dor que eu sinto. Meu abdômen começa a latejar,
meus pulmões ardem pela entrada de oxigênio falha e não paro,
apenas corro mais, querendo ser capaz de em algum momento
deixar a dor para trás.
Jack será pai, esse tempo todo só me usou e quando toda
revelação veio à tona me deixou no hospital para que ninguém
jamais soubesse que tínhamos nos envolvido. Por isso ele está
acabado, abatido, não é pela minha falta, é pelo meus pais terem
descoberto e agora não ter mais como esconder o ser ordinário que
ele é.
Fui inocente ou talvez burra, eu achei que o Jack não poderia
destruir mais o meu coração, afinal, ele já estava quebrado. Mas,
agora, ele se desintegrou e virou pó.
CAPÍTULO 40
“Eu não pertenço a esse mundo
As coisas são como são
Algo me separa das outras pessoas
Para onde quer que eu vire
Há algo bloqueando minha fuga”
(13 Beaches, Lana Del Rey)

Após todo o plano de fazer o Gerald pegar o Jack e Clayre


juntos, infelizmente nem tudo saiu como esperado. Não saber de
sua doença foi a grande causa do quase fracasso, porque mesmo
errada aquele infeliz a protegeu. Mas para minha sorte precisaria de
mim e reverti toda situação. Não teve nada mais irritante que
aguentar as suas desculpas fingidas. Amaldiçoo o dia que Gerald
enviou aquela maldita mensagem pedindo para recebê-la e o Jack
viu.
Queria ter visto o sofrimento dos dois, mas como não era
possível, pelo menos passei os últimos dias mais calma. É
extremamente perturbador analisá-los mentalmente porque agora
tudo parece transparente e bem visível. O jeito que o Jack a olhava
e suspirava fascinado. Nunca me olhou daquela forma e por mais
que entrei nessa relação por uma garantia de futuro e vida plena,
ele conseguiu me fazer gostar da ideia de ter uma família.
Trinta dias se passaram e continuo sendo ignorada. É um
processo, Jack logo esquecerá a Clayre, porque em breve
entenderá que formaremos uma família e por fim, concluirei os meus
planos. Isso só será possível porque o Jack é um homem
desprendido das coisas materiais e com facilidade após casarmos
me dará tudo que quero. Hoje é a segunda consulta e desço do
carro. Passo pela porta e lá está ele, sentado largado na poltrona.
一 Oi Jack, é bom ver que está ansioso como eu. 一 Ele
ignora e tento não sentir o desconforto.
Encosto as mãos na superfície fria do balcão do médico.
Passo os dados e aguardamos. Jack não olha em nenhum momento
para o meu rosto. Está sempre na direção oposta e quando a
enfermeira nos chama entramos na sala do ginecologista.
一 Bom dia, tudo bem? 一 Cumprimenta o Dr. Jones e Jack
aperta a sua mão.
一 Bom dia doutor, tudo sim!
一 Sentem-se! Liana, como está a gestação? Pelas contas,
está de dois meses.
O Doutor Marc Jones é um excelente profissional e me
auxiliou quando quis engravidar. Na minha idade as chances eram
baixas, no entanto, sempre tive uma vida saudável e a gravidez
aconteceu de maneira natural. Jack havia bebido todas em um
evento antes da chegada da Clayre, e foi nesse momento que
consegui fazê-lo se descuidar. É parte dos meus planos, casar,
engravidar e usufruir do dinheiro dele.
Harry apareceu oferecendo o mundo. Lembro-me da primeira
vez que conversamos, a troca de olhares, os sorrisos discretos e
depois de algumas noites quentes ele viu em mim a mesma
essência que predomina no coração dele. O desejo incontrolável
pela ambição.
Gerald foi o único homem que me apaixonei e para a minha
infelicidade era pobre na época e engravidar justamente dele foi
uma frustração. Hoje ele é rico e talvez se tivesse aguentado aquela
vida mesquinha poderia ter me dado bem, mas é tarde para
lamentar. Esse homem ao meu lado e o bebê dele que está em
minha barriga são a garantia de felicidade.
A minha relação com o Harry é restrita ao plano, e quando
definimos tudo paramos de nos relacionar. O ajudarei e em troca
fico com uma família nova. Mas nisso tudo saio ganhando, porque
ainda terei um marido gostoso.
Ele quer vingança. Eu quero uma vida com luxo.
Jack encara o médico e finalmente parece disposto a
participar da consulta.
一 Doutor a Liana já teve depressão pós-parto na gestação
anterior e gostaria de saber se nessa poderia ocorrer também?
一 Não necessariamente, como hoje está bem de saúde e
não precisa mais fazer uso das medicações, acredito que tudo ficará
bem! Só precisamos ficar atentos à pressão alta. Hoje não existe
idade exata para engravidar, mas não podemos ignorar os riscos.
一 Sou extremamente nova, saudável, não tenho risco
nenhum! 一 O médico avalia minha ficha e começa as perguntas
essenciais.
A consulta é tranquila e ao final o doutor realiza uma
ultrassonografia. O bebê está em desenvolvimento adequado e o
coração bate potente, me preenchendo com uma sensação nova.
Jack fica emocionado também, mas se contém. É perceptível que
talvez demore mais do que o esperado para conquistá-lo
novamente, mas não desistirei.
Lembro da gravidez passada, do momento do pós-parto e
uma angústia ganha vida dentro do meu peito. Terminamos a
consulta e após pagar tudo Jack caminha rapidamente para fora da
clínica. Sigo atrás dele e vejo seus olhos encararem o céu e se
estreitarem pela claridade.
一 Espera, preciso falar com você. 一 Ele leva a mão direita
ao rosto contornando a barba e suspira pesado.
一 Não tenho nada para conversar com você se não for sobre
o bebê.
一 Jack, eu sei que está com raiva de mim por exigir o
afastamento de você e da Clayre.
一 As suas atitudes não fazem sentido para mim. Continuarei
sendo o pai da criança, a Clayre continua sendo sua filha, porque
não ajudá-la? Por que exigir a nossa separação em troca de fazer o
mínimo? 一 Bufo irritada e coloco as mãos na cintura.
一 Eu não aceito! Eu amo você e não te perderei para a
minha filha! Vamos ter um bebê, estávamos de casamento marcado
e é sério que não enxerga que ela te seduziu para se vingar de
mim? Para destruir a família que estou construindo? 一 Seu
semblante torna-se espantado e nega com a cabeça.
一 Você não pode estar falando sério! Clayre jamais faria
isso. 一 perco a paciência.
一 Está cego! A paixão não deixa as pessoas enxergarem
nada com clareza… 一 Irritado fala por cima de mim.
一 A raiva e o rancor também não deixam que enxergue a
verdade. Posso esperar 20 anos para ficar com ela, não me importo,
mas esperarei, sonhando com o dia que a tomarei para mim, sem
você para impedir.
一 Dizer isso só faz aumentar a sensação de indignação. O
que diria ao nosso filho, o próprio irmão da Clayre? Aceite Jack.
Nessa história toda ela é a maldição que veio para bagunçar tudo.
Pense com calma, arrume as ideias, mas lhe garanto, está
perdendo de construir uma família por uma garota amargurada, cujo
único desejo é de vingar um abandono. Expliquei porque precisei
me afastar, foi por desavenças familiares.
一 Clayre disse que nunca houve conflitos.
一 Está vendo, ela distorce tudo. Você está pensando com o
pau, pense como um homem e futuro pai. 一 Furioso se afasta, sem
responder.
É frustrante vê-lo rendido, que nem um maldito cachorro atrás
de um pedaço de carne. Mal sabe, mas o amor que sente por minha
filha alimenta minha raiva que cada dia torna-se maior, quase
incontrolável. E por culpa dele, a farei sofrer, todas as vezes que
tiver oportunidade. Para ela darei desprezo, para o meu novo filho,
amor.
Trinta dias foi o tempo que passei sem sair do apartamento.
Para o meu pai estou bem, passeando todos os dias, praticando
exercícios e conhecendo pessoas. A realidade, no entanto, é que
tenho sobrevivido à base de chás de camomila, filmes dramáticos e
fast food saudável para manter o equilíbrio. Mas, hoje serei obrigada
a sair do cativeiro para ir ao shopping. Mesmo cada dia mais triste,
preciso seguir em frente, é questão de necessidade.
Levanto-me da cama contrariada, o céu está azul, repleto de
nuvens e o sol brilha forte. O dia está perfeito para fugir da solidão,
todavia minha mãe quer uma reaproximação. No final da semana
ela fará o teste de compatibilidade, embora só poderá doar após o
nascimento do bebê e aceitei tê-la ao meu lado hoje para um
programa de mãe e filha. Quero conhecer as lojas que estão com
vagas disponíveis para os trabalhos de verão. Estou cansada de
chorar a noite e de suplicar para as estrelas aliviarem o meu
coração. Decidi mudar o meu humor corrosivo e ser uma pessoa
normal. Alguém que sai de casa, que prova um donuts e toma café
com creme na cafeteria.
Minha mãe ainda não contou sobre a gravidez e minha
consciência agradece, afinal não quero realmente saber. Quando o
nome ou a imagem do “Jack” se manifesta nos pensamentos, enfio
os fones de ouvido e canto alto minhas músicas depressivas. O que
alivia os ânimos é não tê-lo visto mais e assim gradativamente a
saudade foi diminuindo. Rebeca conversou comigo todas as noites e
no dia que a Liana fizer o exame comeremos McDonald’s juntas em
uma live para comemorar. Sua reação ao descobrir toda a confusão
me fez rir como há dias não conseguia.
Termino de colocar a calça jeans e uma blusa de manga
longa preta. Quando finalizo as sandálias, o interfone toca e minha
mãe espera para irmos juntas. Pego a bolsa e desço até a recepção
e ao vê-la é impossível não observar sua barriga, em busca de
vestígios ou crescimento do bebê. A ideia de ter um irmão não é o
que me incomoda, mas sim o quanto ela será uma mãe de verdade
para essa criança. Liana me abraça e retribuo.
一 Vamos? Nossa manhã será incrível. 一 Avisa sorrindo
enquanto seguimos até o seu carro.
O caminho é silencioso, mas suspiro feliz por ver as pessoas.
Parece que estava em um buraco sufocando e fui finalmente
resgatada.
Entramos no shopping, as pessoas desfilam pelos corredores
alegres e fixo os olhos nas vitrines. Liana me faz entrar em diversas
lojas de roupas, depois nas de produtos de beleza e por último,
quando estou com os pés doendo, entra em uma de roupas infantis.
Um gelo atravessa a alma, trazendo à tona a dor que senti em cada
lágrima que escorreu pelo meu rosto em todos os últimos dias.
Ela chama minha atenção e mostra um macacão azul de
ursinho delicado. Seus olhos estão reluzentes, o sorriso toma
metade de seu rosto e fico em silêncio, com um semblante sério.
Queria sorrir, queria sentir felicidade e acreditar que com o meu
irmão ou irmã tudo será diferente, mas vem o Jack, intruso,
invadindo os pensamentos, roubando toda minha sanidade.
一 Filha, preciso te contar algo. 一 confessa segurando minha
mão. 一 Bem, eu queria ter dito antes, mas fiquei com medo de
machucá-la. Eu e o Jack vamos ter um filho. Você terá uma
irmãzinha ou irmãozinho. 一 Forço um meio-sorriso.
一 Mãe, nem sei o que dizer. 一 Ela pega um par de
sapatinhos brancos na mão.
一 Filha, o que o Jack fez com você é imperdoável, mas
agora com a gravidez decidi dar uma nova chance a ele. 一 O que
ela diz é contraditório, é imperdoável, mas o aceitou de volta? 一
Voltamos porque pensamos na família nova que teremos, espero
que você compreenda.
Suas palavras penetram em meus ouvidos e meu peito
sufoca. A aflição vem em forma de choro, na borda, querendo
explodir, mas mantenho os olhos abertos, fixos nela, engolindo cada
pontada aguda que vem e volta. Meu corpo é dominado por uma
sensação de esmagamento acompanhada de opressão e tristeza.
Por dentro luto para não deixar as lágrimas caírem e por fora tento
sorrir, parecendo indiferente.
Que direito tenho de reclamar? De dizer que isso machuca?
A culpa é toda minha, certo? Ele sempre foi o noivo dela, cheguei
depois.
“Nunca deveria ter me apaixonado pelo meu padrasto
ordinário”.
O retorno para casa é devastador, desisti de tomar o café e
continuo lutando uma guerra interna. Com o grito preso na garganta,
com as mãos trêmulas de nervosismo e uma vontade gigante de
socar os travesseiros. Troco algumas conversas com ela até
pararmos em frente ao prédio.
一 Sábado estarei no hospital às 8h. 一 avisa enquanto desço
quieta e fecho a porta.
一 Tudo bem! Até sábado. 一 Ela acelera e suspiro pesado
elevando o rosto, vislumbrando de longe meu algoz sentado em sua
moto, observando.
Meu coração trouxa dispara, quase saltando para fora. As
lágrimas reprimidas finalmente escapam. Esse homem é um
tormento e jurei que não sentia mais saudade dele até agora, até
vê-lo. Luto contra o meu corpo que quer segui-lo e viro entrando
correndo no prédio.
“Eu odeio você Jack”.
Repito esse mantra mentalmente querendo que se torne a
minha nova verdade. Queria ser capaz de pegar meu coração,
raspar todas as raízes do pecado que cometemos, que já se fincou
em meus músculos, alimentando-se do meu sangue e então
purificá-lo, mas não é possível, e sou obrigada a conviver com esse
desejo proibido me moldando todos os dias. Quase me fazendo
implorar por liberdade.

O restante da semana passa entre pesadelos, choros e uma


única certeza: preciso matar essa paixão. Liana revelar que estão
juntos de novo, acabou comigo. Coloco um vestido amarelo curto,
penteio os cabelos e posso jurar que o sol brilha diferente. Talvez
seja a esperança nascendo em mim. Hoje é o dia em que minha
mãe doará sangue para vermos sua compatibilidade. Meu pai desde
às 5h começou a enviar mensagens, completamente ansioso.
Pego as chaves do carro e em poucos minutos estou saindo
do prédio. Tento reprimir o sorriso que se forma nos lábios, mas é
praticamente impossível, ele abre sozinho. O que mais sonhei
aconteceu. Liana, se for compatível, doará sua medula por vontade
própria, sem que eu implorasse para ser salva. Finalmente confirmei
que mesmo depois de tudo que aconteceu ela me ama.
Entro no hospital e cumprimento todas as enfermeiras. Sento
na cadeira e olho para o relógio de pulso que marca 8h em ponto. O
médico se aproxima e senta ao meu lado.
一 Como está se sentindo? Não apresentou mais cansaço,
nem novos hematomas?
一 Estou bem Dr. e agora com a possibilidade da minha mãe
ser compatível me deixa muito feliz.
一 Sim, estamos na expectativa. O sangue irá para análise
assim que colhermos, mas Clayre, não deixe de se cuidar e lembre-
se podemos esperar qualquer resultado, seja positivo ou negativo.
一 Confesso que apostei todas as minhas últimas esperanças
no positivo. 一 Abro um sorriso amplo e inclino meu rosto para
verificar quem está entrando.
Frustro-me ao notar que é apenas mais um paciente e
recosto na cadeira esperando. Quinze minutos depois estou
inquieta, minhas mãos se esfregam uma na outra, meus pés
balançam discretamente enquanto mordo o canto da minha
bochecha. O doutor segue para outro atendimento enquanto
permaneço esperando. Após a ansiedade corroer todo meu ser
decido ligar para a Liana, mas ela não atende.
As pessoas passam nos corredores, a claridade das janelas
mudam de direção conforme as horas correm e persisto, na
expectativa. Meu olhar está fixo na parede branca, meu corpo não
se move mais e a decepção de esperá-la traz uma sensação de
rejeição. O que aconteceu? Por que ela não dá notícias? Não me
diz qualquer coisa?
Meu celular vibra em minhas mãos e essa é a décima ligação
do meu pai, mas desisti de atender depois de ter repetido três vezes
que ainda estava esperando. Levanto-me do banco, perdida,
desiludida e me sentindo vazia. Em minhas fibras musculares, em
cada batida do meu coração eu sentia a esperança abraçando o
meu corpo. A sensação de gratidão estava exacerbada, no entanto,
agora não restou nada. Nem fios elétricos de força, nem
expectativas e qualquer chance de me curar é assassinada.
“A verdade é que ninguém me salvará, talvez esteja
visualizando tudo de uma perspectiva errada e no fim eu mesma me
salvarei quando livrar toda dor do desprezo que sinto. A indiferença
da minha mãe esses anos todos. A rejeição do Jack eliminando
meus sonhos de amor e no final, quando der meu último suspiro,
estarei sozinha?”.
Caminho desnorteada pelos corredores, olhando cada rosto
sofrendo, cada sussurro baixo clamando a Deus pela vida, cada
lágrima por um ente querido e quando me dou conta estou no único
lugar onde encontro conforto agora, na capela, diante da imagem de
Deus.
Junto as minhas mãos, fecho os olhos, enxugo as lágrimas e
suspiro.
“Oi Deus, talvez seja um pouco tarde para pedir perdão,
certo? Ou não. Estou cansada de ter esperança, de querer a cura e
não tê-la. De buscar conforto em outro coração. Eu vou morrer,
certo? Por que dói confirmar isso se essa é a única certeza que
temos da vida? Eu poderia fazer um último pedido? Não me deixa
partir triste, em uma cama, sufocada pela solidão ou mesmo morta
de sentir. Afinal, nem sempre morremos quando o corpo para. E,
mesmo tudo parecendo tão caótico, queria agradecer pelo que
tenho, pelo meu pai e só não deixe ele ficar triste demais quando o
dia chegar. Amém”.
Enxugo as últimas lágrimas e o choro cessa, como se o
estoque tivesse finalmente chegado ao fim, restando apenas a
prostração que se mantém por tempo demais. Quando reajo, meu
celular vibra. Analiso o visor e é uma mensagem da Liana
“Desculpe filha, eu não consigo fazer isso, encontrarão um
doador para você em algum lugar, espero que compreenda”.
Por que me deixou aqui esperando? Por que me deixou feliz e
depois matou meus sentimentos?
Queria gritar, dizer que essa porra não tem compreensão,
mas eu só me tornaria mais amarga, mais solitária e perderia o que
me resta de tempo submersa na dor, nas águas negras da minha
própria mente. Fico até anoitecer inerte, sentada no banco, em
busca de um conforto que não vem e quando todas as luzes
acendem me levanto. Saio do hospital e vou direto para o
apartamento. Após colocar o carro na garagem sigo ao meu refúgio,
o mar, que fica a alguns passos de distância.
Sento-me nas areias finas, admirando as estrelas enquanto a
brisa noturna refresca o meu corpo. O som do mar é um calmante
natural e gradativamente sinto o desespero diminuir. Tudo que mais
quero é tomar meu chá de maçã, ouvir música e dormir algumas
horas para esquecer esse dia sombrio.
Levanto e giro o corpo para retornar e instantaneamente meu
olhar recai nele, de novo, me observando, em cima de sua moto,
vestindo sua jaqueta de couro. Hoje é um péssimo dia para ser um
stalker, afinal, cansei de reprimir as coisas que me machucam.
Indignada com a audácia dele, perco o controle. Com passos
pesados sigo em sua direção.
Não é possível que esteja aqui após dar uma chance à minha
mãe. O que Jack Bourbon pensa que eu sou? Paro a alguns metros
de distância e ele desce da moto, com um olhar de clemência,
enquanto segura o capacete no braço.
一 Clayre, eu só estou cuidando de você. 一 esclarece, mas
para mim, não faz diferença.
Meu corpo queima e não é de desejo e sim de raiva. Posso
sentir quando os músculos endurecem, meus punhos se fecham e
uma risada de deboche escapa sem controle.
一 Vai embora, qual foi a parte do “eu te odeio” que não
entendeu? Não preciso que cuide de mim, não quero nada de você,
nem os seus falsos sentimentos ou demonstrações baratas de que
finge se importar.
一 O que aconteceu? 一 O olhar analisa-me preocupado e
não cairei em suas mentiras.
一 Eu me arrependo amargamente do dia que aceitei morar
em sua casa. De cada dia que precisei olhar nos seus olhos e de
quando senti desejo. Me arrependo também de ter ficado que nem
uma idiota em seus braços, ouvindo suas declarações fajutas de
que estaria comigo até o fim. 一 Paro, respiro profundamente
deixando toda revolta sair. 一 Pior de tudo é saber que deixei você
ser o meu primeiro homem. Não preciso que cuide de mim, só
preciso que nunca mais me procure.
A expressão dele torna-se apática, o olhar evasivo e decidido
a começar uma conversa coloca o capacete na moto. Quando abre
a boca para falar me viro e o abandono.
“Liana Stuart e Jack Bourbon morreram para mim”.
CAPÍTULO 41
“Oh, será que você não enxerga
Que você pertence a mim?
Como o meu pobre coração dói
Com cada passo que você dá?”
(Every Breath You Take, The Police)

Foi um mês sombrio que vivi e dentro de trinta dias a


impressão é que se passaram 100 anos e continuo sentindo a
mesma dor. Clayre tem ódio em suas palavras e não demonstra
estar mentindo quando esbraveja que me odeia. No entanto, a
conheço o suficiente para perceber que algo aconteceu. Todos os
dias estive aqui, observando sua janela, sua sombra às vezes se
movendo de um lado a outro através da cortina e enterrei a vontade
de falar com ela, morrendo um pouco mais a cada dia.
Em meus sonhos tenho revivido repetidas vezes os nossos
toques e promessas. Não me orgulho de tê-la deixado, mas não
poderia ser egoísta ao ponto de fazer Liana não ajudá-la. Imaginei
no futuro finalmente falarmos sobre isso e quem sabe teria
novamente o seu amor. Mas, agora olhando em seus olhos,
analisando cada lágrima que escapa, talvez deveria ter sido egoísta
e essa é a primeira vez que me arrependo de algo.
Clayre é a estrela que me dá equilíbrio e perdê-la
desestabilizou completamente a minha vida. A minha sorte é ter
pessoas distribuídas para cuidarem de tudo, porque se dependesse
de mim estaria falido de tão fodido emocionalmente. Sempre vivi na
borda, de cama em cama, sem compromissos sérios e quando
encontrei alguém disposta a viver meu ritmo, sem cobranças,
finalmente equiparava aos meus desejos, até então, indiferentes.
Clayre surgiu como uma chuva de granizo, como um choque
de partículas, ela era o ar quente e eu a água, quase como fogo e
gelo. Juntos atingimos altas altitudes, mas o despencar foi como
quebrar em milhões de pedaços.
Coloco meu capacete na moto, mas ela não me dá chance,
gira o corpo e começa a caminhar em direção ao prédio. Deveria
apenas deixá-la ir, respeitar sua vontade, mas foda-se, serei um
maldito egoísta agora. Sem hesitar avanço em sua direção e
abraço-a por trás. Seu corpo todo arrepia, meu nariz roça em sua
nuca entrando em seus cabelos que tanto senti falta do cheiro
enquanto minhas mão escorregaram por seu abdômen apertando-a
contra o meu peitoral.
Suas pernas fraquejaram porque sinto seu corpo despencar
em meus braços e a seguro firme, querendo não soltá-la nunca
mais.
一 Eu te amo tanto. 一 Confesso beijando seu pescoço.
Suas lágrimas caem no meu braço direito escorrendo em
minha pele. Viro-a para mim e encaro seu rosto avermelhado e
confirmo que esse choro não começou agora, aconteceu algo,
porque seus olhos estão caídos e inchados. Ela comprime os lábios
e abraço com força, deixando que afunde o rosto em meu corpo
para se livrar de sua tristeza. Não importo se irá xingar ou me
expulsar daqui a pouco, porque terá valido a pena. Acaricio seus
cabelos e os seus soluços escapam aflitos.
Quando finalmente se acalma tenta falar, mas seus lábios
tremem suavemente e as palavras saem abafadas.
一 Jack, você deveria ter vergonha de vir aqui, de falar
comigo. 一 Arqueio a sobrancelha confuso. 一 Seguro seu rosto e
sua pele está quente.
一 E por que eu teria? Não entendi. 一 indago completamente
perdido.
一 Não precisa fingir… 一 Clayre pensa por alguns segundos,
mas continua. 一 Minha mãe contou que vocês estão juntos de novo
e sabe, eu não tenho nada a ver com as escolhas que fazem, mas
não posso fingir que não fiquei magoada. Todos os dias… 一 Ela
pausa, revira os olhos. 一 Porra. 一 Xinga e inspira profundamente.
一 Quando penso em seguir em frente algo acontece. Olho para
você e seu nome deveria ser Pinóquio[12] Bourbon, porque só sai
mentiras de sua boca. 一 Incrédulo, começo a rir da comparação e
sua fisionomia fica carrancuda.
一 Desculpe, mas meu nariz não está tão grande assim. Até
menti algumas vezes na vida, mas não ao ponto de me fazer um
enganador, como está insinuando, e outra coisa, a principal, na
verdade, não estou com sua mãe. De onde tirou isso? Por que nem
sequer sabe como estou, como pode ter tanta certeza disso? Está
chorando por uma mentira, só falei com sua mãe uma vez nesse
último mês e foi referente a segunda a consulta.
Clayre escapa de minhas mãos e se afasta.
一 Não estou chorando por isso, Jack. Não pense que minha
vida se resume a você.
一 A sua pode até não se resumir, mas a minha sim. Tenho
estado em todos os lugares para garantir que fique bem. E se
passar mal na rua?
一 Não faz isso… 一 suplica triste. 一 Não entendo, minha
mãe me contou no começo da semana que estavam juntos de novo.
一 Sua mãe não pode falar por mim, não temos nada. Nunca
mais tivemos qualquer contato como casal desde que terminei o
noivado. 一 Clayre suspira e me abraça com força.
Suas mãos pequenas passeiam em minhas costas enquanto
sorri.
一 O que foi isso? 一 provoco, beijando o topo de sua cabeça.
一 Estou sensível, precisava de um abraço. 一 Revela tímida
afastando-se de novo.
一 Preciso que entenda uma coisa. 一 Pego sua mão direita e
seu rosto se eleva para me olhar. 一 Não importa se vou ter um filho
com sua mãe, Clayre, eu amo você. Não serei menos pai por não
estar em um relacionamento com ela. Lembra quando disse no bar
sobre me esperar? Que era só eu pedir. Então. Quero que me
espere! 一 Seu olhar fixo ao meu está perdido, vasculhando meu
rosto.
一 Isso foi há um mês Jack, antes de saber que você seria
pai. O seu filho será meu irmão ou irmã, isso é um tanto confuso
para mim. 一 Clayre vira o rosto admirando as estrelas.
一 O que aconteceu? Por que está tão triste? 一 Ela fica em
silêncio por alguns minutos e então senta na calçada e faço o
mesmo.
一 Bom, eu estava feliz. Havia colocado todas as minhas
esperanças no dia de hoje. Liana colheria o exame de sangue para
verificar a compatibilidade, mas não apareceu no hospital. Fiquei
esperando até ela finalmente me enviar uma mensagem de texto
dizendo que não poderia fazer isso, mas que espera que eu
encontre um doador. Não tenho coragem de dizer ao meu pai. Ele
ficará arrasado. 一 Sobressalto com sua revelação.
Abdiquei da minha sanidade, do sentimento que estava
sentindo, do amor da Clayre para a Liana fazer o exame e
simplesmente não foi? Inflo os meus pulmões tentando aplacar a
revolta que cresce por todo meu corpo, querendo externar todo ódio
que aquela mulher tem me causado. A única explicação para isso é
que nos enganou para que nós dois não ficássemos juntos. Para
maltratar a filha, fazê-la sofrer. Fez ela ter esperanças e depois a
destruiu.
Clayre levanta ao ver minha reação e arregala os olhos.
一 Está tudo bem?
一 Preciso ir. 一 Estou furioso e se não partir agora contarei
tudo a ela, mas não cabe a mim confessar, e sim ao Gerald que me
pediu para fazer isso.
Aproximo-me dela e beijo seus lábios. A textura macia de sua
pele, seu cheiro afrodisíaco, suas mãos pequenas que
imediatamente envolvem minha nuca puxando-me para não
desconectar nossas bocas são a minha rendição. Enfio minha língua
circulando a sua, deixando que o meu desejo saboreie com um
apetite devasso o seu gosto inesquecível. A comunicação emocional
que temos está acima de qualquer conflito porque sempre voltamos
um para o outro, mesmo brigados, mesmo dominados pela raiva e o
rancor.
Essa atração magnética que está além das palavras.
Terminamos nosso beijo e ficamos em um jogo de olhares
profundos. Seu interesse ardente me excita e uma chama começa a
queimar ao imaginar infinitas fantasias com ela. Pauso meu olhar
em sua boca, toda marcada por mordidas, provavelmente do
nervosismo desses últimos dias e sou totalmente culpado disso.
Clayre mesmo sendo nova possui uma arma letal, a sua
linguagem corporal. Fico fascinado em como pisca lentamente os
olhos e os deixa entreabertos com um ar de mistério. Em como seus
gestos delicados estão carregados de erotismo, sem ser vulgar. O
sorriso e a forma como os lábios se movem lindamente para falar e
até chorar. Eu senti saudades dela toda, mas principalmente do
sentimento que queima e nos devora todas as vezes que estamos
conectados.
Forço-me a soltá-la e seu olhar tímido me analisa com
atenção.
一 Preciso resolver tudo Clayre. Você poderia esperar por
mim? Pelo seu único homem? 一 Ela sorri envergonhada, passa a
língua nos lábios umedecendo-os, me deixando excitado e balança
a cabeça confirmando.
一 Sim, Jack. Eu espero por você, só não me faça esperar
muito, posso não ter o tempo que gostaria. 一 Suas palavras me
socam a face e a capturo com força em meus braços.
一 Nunca mais diga isso. Por favor, porque dói ouvir.
一 Não importa o tempo, se passaremos um dia ou um ano
juntos. A felicidade sempre estará nas lembranças. No final, eu
sempre estarei viva dentro de você, a morte não é o fim do amor, ela
o eterniza. 一 Engulo a sensação ruim de imaginar um fim e selo
seus lábios novamente com um beijo carinhoso.
一 Entre, esperarei você passar pela porta e vou.
一 Tudo bem, meu protetor. 一 Sorrimos juntos e ela
apressadamente segue até a entrada e sobe as escadas.
Clayre mesmo triste tem uma luz e consegue fazer qualquer
sentimento ruim se dissipar e simplesmente não existir. Quando
estou com ela é como se o mal não pudesse nos alcançar, mas
longe, sinto todos os demônios devorando minha alma.
Ligo a moto assim que ela desaparece e dirijo umas duas
quadras para fazer a ligação para o Gerald. Dessa vez serei a porra
de um egoísta, e sim, não cederei aos desejos da Clayre em não
contar para ele, farei de tudo para ficarmos juntos.
Digito o número e em minutos atende.
一 O que você quer Jack? 一 interroga rispidamente.
一 O que eu quero? A filha da puta da Liana não foi ao
hospital hoje para fazer o exame.
一 O quê? Como você sabe disso? Estou tentando falar com
a Clayre desde tarde e ela não atende.
一 Acabei de vê-la, estava chorando, devastada. 一 Gerald
suspira e escuto algo cair no chão.
一 Meu Deus, minha filha deve estar destruída. 一 lamenta
com tristeza na voz.
一 Está sim, triste, sem esperança, mas a Clayre é forte, mais
do você imagina, nós é que não somos. 一 Ele bufa baixo, fica em
silêncio por alguns segundos e finalmente fala.
一 Qual foi a desculpa ridícula da Liana?
一 Bom, Liana está grávida, teremos um filho, sei que não
pode doar a medula agora se for compatível, mas após o
nascimento tudo se resolveria.
一 O quê? 一 rebate perplexo.
一 Sim, ela revelou há um mês, mas nos falamos só uma vez
desde então, para avisar da consulta no médico. Eu não entendo,
confesso que estou com medo pelo bebê, afinal, Liana teve
depressão pós-parto na gravidez passada e está cada dia mais
diabólica. Fazer a Clayre ter esperanças da doação, pedir que eu a
deixasse e ainda por cima no começo da semana mentiu que
estávamos juntos. Tudo para machucá-la. Até quando fingirá que é
uma mulher que está sofrendo e começará a cobrar dela a verdade?
Algo não está certo, pois age como se a filha nunca tivesse sido sua
responsabilidade.
一 Sim, você está certo. Durante todos esses anos quis
compreender suas atitudes, mas não dá para continuar fingindo que
ela é uma boa pessoa. Ela não ama a Clayre, não a aceita como
filha e irei pessoalmente exigir resposta. Liana terá que me falar do
passado ou então não respondo por mim. Não aceitarei que minha
filha morra, não quando ela tem uma mãe que pode salvá-la.
一 Quero que conte a Clayre sobre a chantagem. Não
consigo mais ficar longe, nem vê-la sofrendo e solitária. Foda-se
caso não concorda, se não contar, eu conto e tenho a impressão
que isso irá magoá-la.
一 Tudo bem Jack, peço dois dias. Pensarei em como
começar essa conversa com ela, mas não fale ainda, assumirei o
meu erro. 一 suspiro aliviado.
一 Dois dias, nenhum a mais. Preciso desligar, visitarei a
Liana e exigirei respostas, não sou nenhum retardado para me
enganar. Fica repetindo que a Clayre está em busca de vingança,
mas é tudo da cabeça dela.
一 Não se exceda. Ela disse o mesmo para mim, que a
Clayre estaria agindo na maldade, mas conheço a filha que tenho.
Porém, precisamos entender o que está acontecendo, a Clayre
precisa ser feliz.
一 Eu a farei feliz e ela será curada e viverá muitos anos,
nem que eu rode o mundo atrás de um doador. Não desistirei!
CAPÍTULO 42
“Eles vão nos culpar, nos crucificar e nos envergonhar
Não podemos evitar se somos um problema”
(The Adults Are Talking, The Strokes)

O vento se choca contra o meu corpo e acelero a moto pelas


ruas. Adoro essa sensação de liberdade, de poder e adrenalina.
Não demora muito e estaciono em frente ao prédio da Liana. Há um
bom tempo não entro nesse lugar, e lembrar dos momentos em que
estávamos juntos não me traz nenhum tipo de nostalgia. Em
compensação, ao pensar na Clayre bate uma dor esmagadora de
saudade, mesmo a tendo visto há poucos minutos. Cada segundo
com ela não é suficiente.
Atravesso a rua e por conhecer a recepcionista passo
tranquilamente. Subo até o apartamento ensaiando o que falarei
para essa narcisista. Existem duas possibilidades: aconteceu algo
que não a deixou ir ao hospital ou realmente não estava se
importando. Paro em frente a porta, suspiro e levanto a mão para
tocar a campainha, no entanto, escuto risadas vindo de dentro do
cômodo. Logo em seguida uma voz grossa que não é
desconhecida.
一 Liana, você sempre consegue o que quer, então pare, olha
o tanto que chegamos longe. Esse é um mal necessário. 一 A última
frase de imediato desvenda quem está ao seu lado.
Harry Welsh, o antigo sócio que me roubou nada menos que
um milhão de dólares. Quando o reencontrei na doceria quis socar a
cara dele. Acabei com a sua reputação em todo país, sendo preciso
mudar de ramo para arrumar um novo emprego. O que me deixa
menos puto é saber que o levei a falência de novo e vê-lo aqui,
prova que Liana é pior do que pensei.
Aperto a campainha já com os punhos fechados, pronto para
resolver do meu jeito. Liana abre a porta e suas sobrancelhas se
levantam, os olhos arregalam enquanto sua boca se abre em
surpresa.
一 Jack? O que faz aqui? 一 Impedindo-me de entrar, ela sai
e fecha rapidamente a porta atrás de si.
Cansei de engolir a frustração e a empurro invadindo o
cômodo. Harry arregala os olhos e adota uma postura de ataque.
一 Então vocês estão juntos? 一 Liana segura o meu braço e
gagueja ao falar.
一 Não é o que está pensando. Harry está apenas
arrependido de tudo e veio pedir ajuda para conseguir se desculpar
com você. 一 Uma risada escapa de mim enquanto levo a mão a
barba e coço possesso.
一 Arrependido? Isso é uma confissão? Ah, entendi, peguei
vocês desprevenidos. Não perderei meu tempo com isso. Não vale
a pena. Continuem achando que sou um babaca. Por que não foi ao
hospital? A porra do nosso combinado era que você ajudaria sua
própria filha. 一 Ela muda a expressão e finge estar sofrendo.
一 Passei muito mal hoje, é culpa da gravidez. Fiquei
enjoada, não consegui me alimentar, era impossível sair.
一 Você tem até amanhã para cumprir com sua parte do
acordo. Caso contrário, a Clayre será irmã e madrasta do nosso
filho. 一 Liana engole em seco e leva a mão ao coração.
一 Cumprirei a minha parte, mas como você ficou sabendo
que não fui?
一 Gerald ligou no hospital.
一 Caso se aproxime da Clayre você sabe o que acontecerá.
一 Estou ficando cansado das suas ameaças, talvez eu deva
agir que nem você e começar a impor algumas também.
Começando, deixa eu pensar… 一 Pauso o raciocínio por alguns
segundos para provocá-la. 一 Talvez com um exame de DNA.
一 Como você ousa? 一 grita inconformada.
一 Pois é, deveria ser essa a sua opção ao não fazer o
mínimo pela sua filha. É melhor começar a ser responsável. 一 Ela
estreita os olhos e nega com a cabeça.
一 Não me diga para ser responsável. Você sempre me
achou madura e empática. Esqueceu que tínhamos um
relacionamento? Que íamos nos casar? O Harry aqui não é o que
está pensando. Como pode me tratar assim? Não enxerga o quanto
tenho sido generosa? E mesmo a Clayre querendo se vingar, fui
boazinha em querer ajudá-la. 一 Essa mulher é um monstro e
sempre duvidei que gente ruim tivesse filhos, mas sim, Liana é a
prova viva disso e no fim, só serviu para machucá-la.
Ela leva as mãos à cintura, balança a perna direita nervosa e
arfa.
一 Claro que me lembro que iríamos casar, inclusive preciso
procurar um psiquiatra para saber se estou curado da doença,
porque não enxerguei quem você era desde o início.
一 Não precisa me humilhar Jack, jura que é esse tipo de
relacionamento que quer ter com a mãe do seu filho? 一 bufo
irritado. 一 Agora só a putinha da minha filha que presta, certo? 一
Aproximo meu rosto do dela e toco em seu queixo.
一 Garanto que ela não é puta, só esteve comigo até hoje.
Queria entender, por que xinga sua própria filha? Principalmente
sabendo que ela não é isso que fala? Está com tanta raiva de nós
dois que passa por cima de tudo? Ela é o seu sangue, eu nem
deveria ter que te lembrar disso.
一 Um dia você voltará comigo, Jack. Enxergará que me ama.
Está cego pela paixão, mas ela é passageira. Você acha que ama
minha filha, mas isso é apenas fogo, pura safadeza. Clayre nem se
lembra mais de você e inclusive receberá o Rangel no apartamento
final de semana. Acha mesmo que você será o único?
Suas palavras me atingem bem no estômago. Por dentro fico
enciumado, por fora, finjo não ligar, até porque essa mulher adora
mentir.
一 Ela é adulta, pode fazer o que quiser. 一 afirmo, mas estou
quase saindo daqui e voltando lá para dizer que ela não receberá
aquele babaca. 一 Está avisada, não tenho mais nada para dizer. 一
Giro meu corpo e encaro o Harry que está furioso.
一 Você me enganou uma vez, não acontecerá uma segunda,
até porque eu não me importo de quebrar a sua cara. 一 Com raiva
avanço sobre ele e difiro um soco na lateral esquerda de seu rosto.
Os braços se levantam em proteção e em seguida tentam me
acertar enquanto se esquiva sem sucesso. Pratiquei por um bom
tempo boxe e sou muito bom nisso. Impaciente acerto outro soco
limpo no nariz, escuto o osso estralar e o homem cai no chão. Ele
começa a grunhir de dor enquanto tenta escapar dos meus
movimentos rápidos. Acerto três, quatro e até cinco vezes sua cara
de ladrão safado. Meu punho direito dói com os impactos e Liana
fria não faz nada, apenas observa. Quando me afasto, a face dele
está roxa e a boca sangrando. Analiso o semblante dos dois e está
nítido que queriam me foder. Não sei se cairia de novo no golpe,
mas o amor que sinto pela Clayre deixou Liana tão cega pelo ódio
que sozinha destruiu qualquer que fosse os planos deles.
Movimento meus punhos no ar recobrando as forças e Harry se
encolhe.
一 Se tentar me foder de novo farei você perder o pouco que
reconstruiu e não se engane achando esperaria você pisar na bola.
Refaz sua vida longe, se eu pegar você próximo ao bar, ao meu
apartamento ou rondando as pessoas que conheço farei uma visita
para te lembrar de permanecer longe e não irei sozinho. 一 Sigo
para o elevador e aperto o botão, mas antes de partir fixo meu olhar
nos dois.
Liana me encara até as portas se fecharem. Talvez seja
errado, mas me culpo por tê-la engravidado. Não queria ter filhos,
não agora, não com ela. Não me lembro de ter sido descuidado a
esse ponto, de não usar preservativo, mas algumas vezes bebi em
festas e pode ter acontecido. Consciente, só fui inconsequente com
a Clayre por deixar o desejo falar mais alto.
Saio do prédio com a adrenalina alta. Queria tê-lo agredido
mais, porém não posso arrumar problema agora, embora saiba que
o Harry não fará mais nada. Ele é o tipo de homem que só age
pelas costas, com a descoberta de hoje, ficaria nítido o seu
envolvimento em qualquer problema que acontecesse daqui para
frente. A principal questão dessa noite foi vê-los juntos. Liana estava
me enganando esse tempo todo e a única coisa que valeu a pena
nessa porra toda foi sua filha.
E eu passaria tudo de novo, atravessaria o próprio inferno se
fosse preciso para conhecê-la uma segunda vez.
Abraçar o Jack após a decepção da espera no hospital fez
uma força desconhecida pulsar dentro de mim. Aquela que não me
deixa desistir, que torna tudo menos caótico e pesado de carregar.
Talvez essa no fim seja a grande cura, porque quando me sinto
amada, quando o amor se faz presente, não há espaço para o
medo, apenas quero lutar.
Minha mãe mentiu ao dizer que os dois estão juntos e dói
constatar que fez isso para me magoar, mas sem sombras de
dúvidas não há maior desgosto do que não aparecer hoje no
hospital. Em me deixar na cadeira, esperando por horas. Meu
celular vibra e ao conferir o visor é o meu pai.
“Uma hora terei que falar com ele, até porque não desistirá
até que eu atenda”.
一 Oi pai, boa noite! Desculpe não atender antes, precisava
relaxar e tomar um banho. 一 Enfio-me debaixo das cobertas
enquanto escuto-o pigarrear para começar os seus sermões.
一 Filha, pelo amor de Deus, como você me deixa horas sem
notícias? O que aconteceu? Como foi?
一 Desculpe, eu precisava digerir tudo! Pai, não queria falar
isso por telefone, mas a Liana não foi, infelizmente. Não entendo
porque ela mudou de ideia. Nos vimos no início da semana e estava
tudo certo para hoje, mas ela desistiu. Acho que a mágoa falou mais
alto e tudo bem, não quero julgá-la, mas isso acabou comigo. 一
confesso mexida, quase sentindo toda a angústia borbulhar
novamente.
一 Bom filha, eu queria avisar que estou indo te ver amanhã.
Será uma visita rápida, mas não dá para conversarmos pelo
telefone.
Meu coração dispara e instantaneamente fico ansiosa para
saber que motivo o faria vir aqui.
一 Está me assustando.
一 Está tudo bem filha, é só que às vezes precisamos fazer
coisas que não nos orgulhamos para um bem maior, mas nem
sempre dá certo, mesmo a escolha parecendo nobre.
一 Piorou um pouco, agora estou curiosa e tensa. 一 Ele sorri.
一 Acalme-se minha canceriana dramática. Apenas pense
que coisas ruins acontecem o tempo todo com as pessoas boas,
sem motivo aparente, mas as boas também! Quanto a doação, filha,
nós daremos um jeito. Começaremos uma super campanha para
encorajar pessoas a doarem mais. Tenho fé que encontraremos um
doador compatível.
一 Eu não acredito mais nisso. 一 confesso desiludida.
一 É normal ocorrer dúvidas, mas filha, não deixaremos de
lutar até o último minuto.
一 Eu te amo muito por isso. Por ser o melhor pai do mundo.
一 Também amo você, descansa e amanhã a noite estarei aí.
一 Tudo bem! Até amanhã. 一 Desligo com o coração
confortado.
Não sei exatamente o que irá me dizer, estou receosa, mas
uma coisa é certa, meu pai é um homem cauteloso e confio nele
com a minha vida. Puxo as cobertas até o pescoço tremendo pelo ar
fresco, mas sou interrompida por uma mensagem. Abro e é a
Rebeca.
一 Só por ter sumido já sei que aquela que não merece o
título de mãe pisou na bola.
一 Sim, o nosso lanche ficará para quando encontrarmos um
doador.
一 Merda, eu sabia que não iria ajudar. Vai lá e agarra aquele
ex-padrasto gostoso, aproveita a vida. O que mais te prende?
一 O bebê.
一 Bobeira. Você será a irmã mais protetora desse mundo e a
melhor madrasta que qualquer criança poderia ter.
一 Essa palavra me assusta “madrasta”.
一 Só prevejo a criança confusa… chamo de mamãe ou de
maninha?
一 Você é terrível Beca, boa noite, amo você, estou cansada.
Amanhã conto tudo!
一 Amo você pecadora!
Um sorriso se forma em meus lábios e desligo a tela
finalmente pronta para me entregar a um sono necessário. Esfrego
os pés esquentando-os e fecho os meus olhos. Suspiro
profundamente e quando a escuridão torna-se amiga o interfone
toca.
“O quê? Não pode ser!”.
Levanto-me xingando e sigo até o aparelho e aperto para
ouvir.
一 Clayre falando…
一 Desculpe pelo horário, é a Jana da recepção. Deixaram
uma encomenda e estou levando aí. 一 Junto minhas sobrancelhas
confusa, mas concordo.
一 Tudo bem, estarei esperando na porta.
Alguns minutos depois a atendente sai do elevador sorrindo
com uma caixa de transporte de animais.
一 Pediram para te entregar, tem um recado colado na caixa.
Meus olhos se arregalam quando vejo através das grades de
proteção e encontro a Dior.
一 Dior, o que você faz aqui? 一 Ela responde com um miado
longo.
Eufórica giro a caixa e vejo o bilhete.
“Oi futura cunhada linda, meu irmão idiota me contou
sobre a vaca da sua mãe. Dior estava com saudades e como
tenho um desfile semana que vem ela quer ficar com a segunda
mãe. Faremos guarda compartilhada! Ela não te deixará
sozinha. Aproveite, e antes que me esqueça: ficará tudo bem”.
CAPÍTULO 43
“Nós sempre agíamos cegamente
Eu precisei te perder para me encontrar
Esta dança estava me matando lentamente
Eu precisei te odiar para me amar, sim”
(Lose You To Love Me, Selena Gomez)

Agarro a Dior assim que entro novamente no apartamento.


Essa bola de pelo literalmente ganhou meu coração e tê-la comigo
essa noite me deixará menos solitária. A esmago em meus braços
até seu miado revoltado sair agudo. Pego um recipiente para a água
e outro para pôr a ração que Barbie fez questão de enviar junto.
Sigo para o quarto, arrumo tudo e depois me aconchego nas
cobertas. Dior se aproxima, começa a amassar um cantinho com as
patas e deita. Seus olhos amarelos semifecham e ronrona feliz, só
não mais que eu, por confirmar que o ordinário se preocupa
realmente comigo. Não que tivesse dúvidas, afinal, o que vivemos
juntos foi intenso, mas eu tinha medo de continuar acreditando e
sofrer ainda mais. Parecia mais fácil odiá-lo ou achar que estava
odiando.
Jack tem dois grandes poderes, o primeiro, de me deixar
furiosa e o segundo de fazer qualquer raiva, ódio ou mágoa se
dissipar que nem fumaça. Ele é assim, uma extensão do que sinto
em matéria, em forma humana, algo que se equipara a um desejo
palpável. Com ele tudo é amplificado e torna-se desconexo, no
entanto, é como se nossos sentimentos se justificassem. Talvez nos
envolvermos estragou a relação nada boa com minha mãe ou
simplesmente evidenciou o que nunca esteve ali, entre nós duas, o
amor.
Desligo minha mente colocando os fones de ouvido e
adormeço pouco tempo depois com o som baixo e calmo.

Abro os olhos zonza em algum horário do dia. Estava


extremamente cansada mentalmente e com a presença da Dior me
senti confortada. Procuro-a na cama e encontro enrolada atrás da
minha cabeça.
一 Bom dia Dior, hoje temos visita. Preciso limpar tudo ou
meu pai ficará preocupado achando que estou depressiva, e sim,
estou, mas ele não precisa saber.
Passo o dia conferindo os números de vendas do mês
anterior e confirmo que só eu consumi o equivalente a mil dólares
em trinta dias.
“Ok! Realmente estava na merda, mas isso não pode se
repetir. Só não quero ser um alcoólatra inconsequente que nem o
meu pai. Tudo bem que foi um período difícil na vida dele, em que
sentia que nada valia mais a pena e como exemplo não posso ser
igual, preciso estar sóbrio e reconquistar a minha estrela dourada”.
O turno do bar está começando e escuto tocar Every Breat
You Take[13] de The Police[14]. Encontro em cada frase, na melodia,
tudo que sentia quando fui obrigado a reprimir meus sentimentos.
Por fora parecia frio, mas por dentro eu não conseguia respirar e por
isso todos os dias sentia necessidade de vigiar a Clayre.
Ainda sinto.
Lutar contra seus próprios pensamentos é como fragmentar
sua alma, uma hora você enlouquece. Mas, saber que agora posso
tê-la em meus braços de novo, amenizou essa obsessão doentia.
Alguém bate na porta e entra. Visualizo o Kal que traz em sua
mão direita uma dose de rum.
一 Sua consciência está trazendo a única dose que poderá
tomar hoje. 一 Rimos juntos e nego com a cabeça.
一 Não pretendo beber hoje.
一 Você precisa. 一 Fico tenso e bufo impaciente.
一 Porra! Quem está aí?
一 O pai da Clayre, reclamou do nome do bar e depois disse
que precisava falar com você.
一 Tudo bem, dê aqui, preciso mesmo disso. 一 Inclino o copo
de dose em meus lábios e sinto a coragem líquida descer suave. 一
Deixe ele entrar!
一 Ok, chefe!
Kal sai e organizo os infinitos papéis sobre a mesa. Gerald
entra minutos depois com uma fisionomia carrancuda analisando
tudo com atenção. Seus olhos seguem pelas fotos nas paredes,
pelo pequeno bar no armário até parar nos papéis que seguro em
minhas mãos e deposito no canto da mesa.
一 Então é aqui que minha filha trabalhava?
一 Sim, era aqui!
Ele coça o queixo, caminha até o sofá chesterfield e senta.
一 Drink in Hell, meu Deus, olha onde minha filha se meteu. A
segurei dentro da igreja, ensinei, expliquei e você a corrompeu.
Quero uma dose de qualquer coisa que tiver aí. 一 Levanto, vou ao
bar e sirvo a dose de um dos melhores whiskies que produzi.
一 Aqui! 一 Entrego e sento na poltrona lateral enquanto
confiro ele engolir de uma vez, demonstrando estar nervoso. 一 Veio
aqui falar mal de mim ou aconteceu algo?
一 Nada mal esse whisky, talvez você seja mesmo bom nisso.
一 Elogia brevemente, mas continua. 一 Estou indo conversar com a
Liana, liguei no hospital e ela realmente não apareceu, nem mesmo
hoje. Isso tudo se tornou o inferno na terra, não sei o que pensar,
não sei como agir, não sei se apoio minha filha no pecado, se a
obrigo seguir as minhas regras ou se me interno para recuperar a
sanidade.
一 Posso te dar um conselho? 一 Gerald arqueia sobrancelha
e sorri ironicamente.
一 Você acha que seguirei algo que um homem como você
tem de conselho? 一 Encaro fixamente seu rosto e ele recua. 一
Tudo bem, diz logo. 一 Afirma sem jeito.
一 Somos seres humanos, todos erramos, mas em nenhum
momento agimos por mal, então não entendo a sua dificuldade.
Criou até hoje sua filha, conhece o coração dela melhor do que
qualquer um e ainda assim a condena por errar? Sério? Estou
cansado desses julgamentos idiotas. Ficamos sim atraídos um pelo
outro, eu errei sim em beijá-la duas vezes quando não deveria, mas
fui homem o suficiente para terminar tudo e entender o que
estávamos sentindo. Só não revelei antes por um pedido da Clayre,
por que ela tinha medo de como você reagiria, então no fundo, vai
deixar a raiva falar mais alto? Vai obrigá-la a viver como você quer?
Isso é errado. Não ficarei com a Liana e esperarei a sua filha, seja
amanhã ou daqui a um ano, não me importo, eu continuarei aqui no
meu bar do inferno, esperando o meu anjo salvador retornar, e eu
sei que ela vai, você sabe também, no fundo, é isso que te
incomoda.
Gerald abaixa a cabeça e enche os pulmões de ar.
一 Eu realmente conheço a minha filha melhor do que
qualquer um e se tem algo que ela nunca foi é maldosa ou quis
prejudicar a mãe, sempre procurou o amor. 一 Ele se levanta
frustrado e enfia as mãos no bolso da calça social. 一 Poderia me
acompanhar até lá?
一 Eu? 一 rebato surpreso.
一 Sim, hoje vou pressioná-la para saber porque nunca quis
assumir o papel de mãe. Cansei de fingir que entendo e
principalmente por ter passado anos cuidando e explicando algo
para a Clayre que não cabia a mim dizer.
一 E como teremos um filho juntos, precisa de mim para
ameaçá-la?
一 Sim, diga que ficará com a guarda da criança e que irei
depor a seu favor no processo. Por mais que não tenha criado a
Clayre, sinto que tem algo mais. Ela demonstra ser uma pessoa,
mas quando as duas estão juntas, é diferente. Preciso entender
tudo isso. Quantas vezes ela tocou no assunto do passado com
você?
一 Nenhuma, toda às vezes se esquivou e a Clayre disse que
era assim com ela também! 一 Penso por alguns segundos e não
hesitarei em acompanhá-lo. 一 Eu vou! Outra coisa, descobri que
Liana estava muito próxima de um homem que me roubou, sinto
dizer, mas ela é pior do que você imagina. Estou cansado de ser
bonzinho.
一 Jack!
一 Relaxa, não sou o capeta, no máximo uma alma
condenada. 一 Provoco e ele fica irredutível. 一 Vamos! 一 Pego
minhas chaves do carro e partimos.

Pouco tempo depois estamos em frente ao prédio dela.


Anoiteceu e as nuvens encobrem totalmente as estrelas. Para mim,
é um grande presságio de que a noite será tensa. Subimos até o
apartamento e aperto a campainha. Em segundos, Liana abre a
porta e seu rosto fica pálido, os lábios comprimem e os olhos se
arregalam. Ela tenta falar, porém gagueja e fica apreensiva.
Apressadamente recobre a postura e finalmente consegue
completar a fala.
一 O que faz aqui Gerald? 一 Empurro a porta e entramos.
Liana fica estática, as mãos juntam-se ao corpo, o olhar
permanece fixo em qualquer outro lugar, menos em nossos rostos.
一 Quero entender porque não apareceu no hospital, mas
primeiro voltaremos há 18 anos para finalmente esclarecer as
coisas. Por que abandonou sua filha? Ofereci ajuda profissional.
Não faltou apoio emocional e até mesmo minha mãe, que estava
viva na época, abdicou de tudo para te ajudar.
一 Eu… eu… 一 Ela recua dando alguns passos para trás,
demonstrando insegurança. 一 Não tenho nada para falar, já
passou, faz tanto tempo, por que falar sobre isso agora?
一 Falará sim! 一 Esbraveja Gerald elevando o tom de voz. 一
Não saio daqui enquanto não me disser a verdade. Até quando
fingirá que a ama? Cansei das suas desculpas esfarrapadas, só eu
sei como foi todos esses anos. Sabe o que são tantas noites,
colocando-a para dormir enquanto dia após dia a única pergunta
que me fazia era porque a mãe havia ido embora? Ou todas às
vezes que a deixei sozinha no aniversário porque se fechava ou
quando me perguntava se a culpa de você ter partido era dela! 一
Ele respira fundo, a voz fraqueja, mas engole a angústia para
continuar falando. 一 Muitas vezes perguntei para as minhas
colegas de serviço o que fazer, como falar com a Clayre de uma
forma que a mãe faria. Cansei de dizer que você precisou ir
trabalhar longe para que ela tivesse tudo o que queria, mas é claro
que cresceu e percebeu que estava mentindo. 一 Liana trava, as
lágrimas se formam em seus olhos e suas mãos se juntam a frente
do corpo.
Sento-me no sofá porque sei que essa é uma conversa só
deles, algo que precisa ser esclarecido não só com a Clayre, mas
entre os dois.
一 Fala, diz o que era mais importante em sua vida do que
passar horas com sua filha? Não sentiu nada enquanto aproveitava
a vida e ela chorava deduzindo mil e um motivos para você
desaparecer? 一 Liana desaba em choro, suas mãos cobre a face
enquanto a cabeça nega enfaticamente. 一 Fala, assume e diz a
merda de mãe que você é. 一 Descontrolada ela esfrega os olhos
tentando conter as lágrimas e pela primeira vez vejo dor, uma dor
imensurável e que nunca presenciei.
O seu olhar torna-se suplicante, sombrio e sôfrego.
一 Não foi fácil para mim deixá-la. Na verdade, não conseguia
olhá-la. Eu tentei ser a mãe da Clayre, mas como ser a mãe de um
bebê que nunca foi meu de verdade! Eu a odeio porque ela me faz
lembrar do meu pior lado, de quando fui um monstro e a odeio mais
ainda por ter voltado para roubar minha vida.
CAPÍTULO 44
“Me ajude
É como se as paredes estivessem desmoronando
Às vezes, sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
Não está no meu sangue”
(In My Blood, Shawn Mendes)

一 Essa Clayre, nunca foi minha filha!


Há 18 anos, quando Clayre nasceu, tudo mudou. Estava
apaixonada quando me entreguei ao Gerard e isso me gerou a
frustração de engravidar. Estava começando a minha vida de
verdade e aquele era o fim do meu mundo e de todos os meus
sonhos. Um mês antes do nascimento comecei a ter pesadelos
horríveis, tornei-me insegura. Minha sogra passou a ir todos os dias
nos ver, e cada vez que falava que ajudaria, senti que ela tiraria
minha filha. Lembro de passar noites em claro, de chorar muito e
algumas vezes escondido arranquei alguns tufos de cabelos. Pela
primeira vez a dor exala falando por mim, pronta para confessar o
meu lado sombrio e podre que me moldou todo esse tempo.
A expressão do Gerald torna-se dolorosa demais, seus olhos
ficam marejados e sua mão corre até o rosto tentando entender o
que estou dizendo. Sua respiração torna-se acelerada e seus olhos
se fixam em mim esperando as respostas. Cheguei em uma estrada
sem saída e precisarei revelar tudo. Com esse exame da Clayre a
verdade viria à tona de qualquer forma. Não possuo o gene da
doença, não posso salvá-la e nem gostaria, por mim, ela poderia
morrer.
一 O quê você disse? Como assim ela nunca foi sua de
verdade? Como não porra, ela saiu da sua barriga, ela ficou nove
meses dentro de você. Foram dias de muito amor, de preparação
para receber nossa filha. Que merda está dizendo? Fala caralho.
Como ela não é sua? 一 Nego enfaticamente com um balançar
atordoado de cabeça.
一 Não… não… não era. 一 Furioso ele se aproxima, crava
as mãos em meus ombros e chacoalha inconformado.
Todo meu corpo estremece com a força desproporcional e
com raiva direi a verdade. Estou cansada de carregar esse fardo, de
vê-lo defendendo uma filha falsa.
一 Puta de pariu. Fala caralho. O que você fez?
Meu peito dói massivamente, minhas pernas fraquejam e
como uma nuvem negra o passado me devora. Sou levada até o dia
macabro em que destruí a Liana que era até boa, ambiciosa, mas
ainda amável. Quando segurei a minha filha em meus braços um dia
após o parto tudo que emanava por todo meu corpo era desespero.
Eu não a queria, eu nunca aceitei que seria mãe, e opondo a tudo
isso, meu coração a amava com toda força que existia em meu ser.
Sim, olhar seus olhos pequenos inocentes, os detalhes de seu rosto
que parecia um anjo enchia-me de amor, mas meu coração estava
negro, repleto de uma sujeira diabólica, esse era o poder da
depressão, de fazer tudo perder o brilho e trazer meus próprios
demônio a vida. Minha mente era corroída pelo medo, tudo era
caótico, a dor aguda que perpetuava em minha cabeça me impedia
de pensar com clareza.
一 Eu queria me esconder do choro agudo que não cessava,
da minha incapacidade de cuidar daquela criança. Estava
apavorada, dominada pela depressão. Quando você saiu do quarto
para tomar um café no dia seguinte ao parto, se lembra que eu
estava tentando amamentá-la? 一 Ele apenas balança a cabeça
confirmando. 一 Coloquei nossa pequena bebê frágil em meu colo e
não consegui me controlar. 一 Inflo meus pulmões tentando
controlar minhas emoções contrárias. 一 Eu me sentia em um quarto
sozinha com aquele som indo e voltando, destruindo cada
fragmento da minha mente. Fechei os olhos e comecei a suplicar.
Eu apenas pedi que ela parasse e que me deixasse pensar. Eu não
sei porque fiz aquilo. Eu juro. 一 Suplico chorando, uma dor real, a
única que me faz ter algum tipo de sentimento, porque para todo
resto, não sinto nada. 一 Lembro de segurar o travesseiro e colocar
por cima dela, mas eu não queria machucá-la, eu só queria que ela
parasse de chorar. Eu só queria ter paz e então o pressionei, sem
calcular minha força, abafando o som. E quando tudo ficou
silencioso, senti alívio. Eu chorei, eu senti o ar voltar para os meus
pulmões e a puxei para o meu corpo, mas ela não respirava mais,
ela não se movia e desesperada me levantei da cama. O homem do
leito ao lado tentou trazê-la de volta à vida, mas não conseguiu.
一 Ah meu Deus, que tipo de monstro você é… eu… 一
Gerald vira de costas, evitando me olhar.
As lágrimas correm dos seus olhos enquanto desesperado
ele cobre o rosto. Jack permanece em choque e preciso terminar,
necessito que entenda que amava nossa filha, mas o que aconteceu
não pode mais ser mudado. Ela morreu. Segui minha vida. Nem
queria retornar nesse assunto. A dor foi real, mas hoje, é diferente.
Não sinto nada.
一 Naquele momento de desespero o homem me olhou
desolado. Ele parecia tão confuso quanto eu estava. A esposa dele
a um passo da morte, com um filho de 10 anos para cuidar, sem
esperanças, na verdade, ele estava com medo de ser pai sozinho e
não dar conta. Me ofereceu uma saída, sua filha.
É claro que deixarei de fora a parte persuasiva, onde sugeri
pegá-la e o manipulei através de sua dor. Relembro que o
combinado era que ele ainda teria contato com a criança, mas
quando saí do hospital convenci o Gerald a ir embora de Miami. O
homem poderia arruinar minha vida se revelasse algo. Ir para
Charleston foi um caso de necessidade. Estava apavorada porque
depois do que fiz poderia ser presa. E isso, jamais. Limpo a
garganta e continuo.
一 O homem disse que entendia o meu desespero e que a
filha não teria uma mãe, mas que se eu quisesse poderíamos trocar
as crianças. Aceitei a oferta dele, estava devastada, assustada e
aceitei. Hoje sei que o homem estava fora de si pelo sofrimento, e
sei também que tive uma reação psicótica puerperal. Estava fora de
mim.
Gerald levanta do sofá. Seu olhar de abominação faz
contraste com sua face vermelha pelo choro intenso. Ele quer falar,
mas não consegue. A dor que ele sente é a mesma que senti
quando percebi que de fato havia perdido minha filha.
一 Troquei as roupas dos bebês. Ninguém suspeitou porque a
esposa dele estava debilitada, a criança havia passado da hora de
nascer e poderia apresentar sequelas e morrer. As duas bebês eram
parecidas, até o tom dos cabelos. Gerald suplico, juro a você, hoje,
sem depressão, depois de um longo tempo de tratamento, me
arrependo de nunca ter contado a verdade, mas tive medo de você
nunca me perdoar. Você via aquela nova criança como filha e a
protegia e cuidava com tanto carinho, que engoli tudo sozinha e
tranquei em um quarto no fundo da minha mente e do meu coração.
一 Paro alguns segundos, tentando enxugar as lágrimas que
derramei, com as mãos trêmulas. 一 Eu nunca seria capaz de salvar
essa Clayre. Muito menos receber o seu perdão porque a odeio
tanto que não consigo nem esconder a parte sombria dentro de mim
quando estou diante dela. Essa parte vive comigo diariamente,
perturbando meus sonhos, revivendo a dor que senti e nunca me
deixa esquecer da mulher que foi capaz de matar a própria filha nos
braços. 一 Gerald cambaleia para trás, caindo sentado sobre o sofá
ao lado do Jack, sem forças.
Nunca quis retornar ao passado para não ter que reviver
aquele dia novamente. Adquiri uma depressão pós-parto que se
arrastou por oito longos meses após o nascimento. Tornei-me
amarga, vazia, por muito tempo vivi os dias sem de fato saber o que
estava fazendo. A Liana daquela noite morreu com a filha e a que
habita o meu corpo hoje é implacável e não conseguiria amá-la
nunca.
一 Lembro que olhava aquele pequeno bebê e o meu desejo
era de prejudicá-la porque ela me lembrava do que havia sido capaz
de fazer. Eu nunca consegui amá-la. Comecei o tratamento e tive
uma ótima recuperação, no entanto, não consegui sentir o principal,
que era ser sua mãe, mesmo não de sangue. O choro me
incomodava, os risos e até mesmo cuidar dela era angustiante.
Porque tudo me lembrava a minha filha, a que eu matei. Fugi e
desapareci por anos, cheguei a tentar contatos algumas vezes, mas
nunca consegui ir adiante. Dentro de mim anseio pelo perdão dela,
mas, na prática, ao vê-la, tudo é diferente. Conheci e me relacionei
com muitos homens até encontrar o Jack. Com ele surgiu o desejo
de construir uma família e até mesmo ter um filho. Esse bebê que
cresce dentro de mim está me curando. 一 Ele se levanta
novamente, dessa vez impaciente, os olhos são de puro ódio e
posso ver a dor queimar em suas pupilas midriáticas.
一 Você é um monstro, da pior espécie. O pior tipo de ser
humano que já conheci. Não posso acreditar que fez isso comigo,
com a nossa filha.
一 Essa Clayre não é nossa filha.
一 Cale a porra da sua boca. Ela é minha filha, eu a criei
enquanto você de fato nunca foi a mãe dela, é apenas um ser
humano desprezível. Sem coração, que puniu outra criança por
anos por um erro totalmente seu. Você fez várias vítimas nessa sua
farsa de tentar ser mãe. Usou do sofrimento de um homem que
estava perdendo a esposa, me usou e usou um bebê para suprir
uma dor irreparável. Você é o verdadeiro demônio aqui. A minha
Clayre nunca irá te perdoar e a nossa Clayre não está mais aqui por
sua culpa. Agora entendo porque não fez o exame. A pesquisa
genética mostraria que não tem o gene da doença hereditária, o que
faria os médicos pedirem outros exames e poderia revelar o seu
segredo.
一 Não, Gerald, eu juro, eu não fiz por mal, eu estou todos
esses anos convivendo com a dor. Parte de mim morreu e por isso
me tornei fria, distante, mas não há um dia que não me puna.
Ele fica em silêncio e chora incontrolável pela notícia. Eu
realmente passei a odiar uma criança que não tinha culpa de nada,
mas agora adulta, roubou meu noivo e quis se vingar. No entanto,
não posso dizer a verdade, Gerald é cego e não enxerga a face real
da filha. Aquela cobra disfarçada de boa moça.
一 Quando me pediu para recebê-la, achei que finalmente
estava pronta para seguir em frente, mas ela e o Jack se
apaixonaram e senti meu mundo morrer de novo. Fiquei cega pela
raiva, pelo remorso de saber que não era minha filha, mas
principalmente porque ela deveria ter gratidão, afinal a acolhi, ela
ganhou uma família e por que estava fazendo isso comigo? Ela
queria se vingar. 一 Gerald avança furioso e inesperadamente
acerta um tapa em meu rosto enquanto Jack o segura com força.
一 Não perca a razão. Você precisa pensar, se acalmar,
vamos embora. 一 Afirma passando o braço ao redor de seus
ombros enquanto o conduz para fora.
Coloco a mão em meu rosto, sentindo a ardência. Gerald
desce as escadas atordoado enquanto Jack retorna e fixa o olhar
em mim. O que transmite é nojo e repulsa.
一 Jack, eu juro que eu queria doar a medula e salvá-la, mas
eu jamais seria compatível e preciso que você me perdoe. Ainda
sonho com a nossa família, teremos um filho. 一 As pálpebras
caídas dele, os olhos marejados e o passar de mão na barba
confuso me deixam apreensiva.
一 Quando essa criança nascer jamais deixarei com você.
Meu filho não merece ter uma mãe como você. Maldosa. Egoísta.
Narcisista. Que mentiu todos esses anos fazendo uma garota que
não tem culpa de nada sofrer. A Clayre tinha o direito de saber dos
pais verdadeiros e pelo que disse tem um irmão. Quando iria contar
se o Gerald não tivesse questionado? Preferia vê-la morrer do que
ser salva? Liana, não tem como não sentir desprezo por você. Toda
essa dor que sente é pouco para as vidas que estragou! Como era
para ser o verdadeiro nome da Clayre? 一 Hesito, mas confesso o
seu nome.
A sua rejeição só me faz ter certeza que fugirei com esse
bebê. Criarei com rigor, falando sobre o quanto ele possui um pai
traidor. Quando atingir a maioridade arrancará cada dólar de sua
fortuna. Essa criança será a minha vingança, pode demorar, mas
virá implacável.
一 Seu nome verdadeiro é Star.
CAPÍTULO 45
“Dói te amar
Mas eu ainda te amo
É só o jeito como eu me sinto
E eu estaria mentindo
Se eu continuasse escondendo
O fato de que eu não consigo lidar com isso”
(13 Beaches, Lana Del Rey)

O vestido preto com milhares de estrelas douradas chama


minha atenção no guarda-roupa. Assim que termino de vesti-lo
confiro o horário no meu relógio de pulso. São 20 horas e papai
ainda não apareceu. O que poderia ter acontecido para atrasar tanto
o seu voo?
Preocupada ligo em seu celular, mas não atende. Sento-me
frustrada na cama e Dior logo se aproxima esfregando-se em
minhas pernas.
一 Tem algo errado Dior, é sempre eu que não atendo, não é
típico dele fazer isso.
Penso por alguns segundos, mas alguém bate na porta e
corro até a sala para abri-la. Visualizo o meu pai acompanhado pelo
Jack. Encontrá-los juntos não é o que eu esperava, a desconfiança
cresce em meu peito como uma erva daninha e assustada deixo
entrarem. Meu pai passa pela porta com uma fisionomia que nunca
presenciei antes. Os olhos estão caídos, as pálpebras estão
arroxeadas e ao me ver abraça-me com impulso. Meu corpo é
esmagado em seu peitoral fazendo os conflitos internos
aumentarem drasticamente.
Afasto-me um pouco dele assim que seu corpo relaxa e
analiso com atenção seus olhos que estão fixos em mim. Posso até
dizer que essa situação é um pouco desconfortável, que há uma
explicação estranha para essa reação diferente. Olhando de fora o
abraço foi normal, caloroso. Meu pai sempre foi carinhoso, sempre
teve essa atitude exagerada de proteção, mas agora, está atípico.
Não é qualquer abraço, nem qualquer respiração um pouco mais
pesada que senti sair dos seus pulmões, há um peso maior,
exacerbado, que traz junto uma sensação de frieza e compaixão.
Jack fica um pouco mais ao lado e não sei como reagir, então
permaneço parada encarando-os, tentando compreender porque
estão juntos e o que aconteceu para estarem abatidos fisicamente.
一 Filha, eu preciso conversar com você sobre a sua… 一 Ele
trava a fala, suspira e continua. 一 Sobre a Liana.
一 Pai, ela está magoada, mentiu no início da semana e não
sei o motivo que a fez não aparecer no hospital. O que aconteceu
para vocês estarem juntos aqui?
Inesperadamente Jack se aproxima, sua mão direta toca a
maçã do meu rosto e meu coração acelera. Seus dedos dedilham
sentindo a textura da pele e seus olhos verdes penetram nos meus,
em uma conexão poderosa que jamais senti antes. Seu tórax
expande, sua boca entreabre para falar, mas desisti e me abraça
com carinho. Estar com meu corpo junto ao dele traz infinitas
sensações de saudade e apenas fecho os olhos sentindo seu
perfume.
Jack esfrega a mandíbula contra a minha e sua barba
percorre um caminho curto, roçando na lateral do meu rosto até
seus lábios estarem em meus ouvidos.
一 Clayre, eu te amo. 一 Ele sussurra, e confusa encaro o
meu pai, que não se opõe ao seu gesto e apenas assisti, em
silêncio, compreensivo e inerte.
Afasto-me empurrando seu corpo e fico a uma distância
segura, capaz de me privilegiar com a visão dos dois, de cada gesto
contido.
一 Falem de uma vez, se queriam me ver assustada,
conseguiram. Estou nervosa. 一 Esfrego uma mão na outra inquieta
e paro ao lado da janela para sentir a brisa suave que corre por
entre os vidros.
Jack encara o meu pai e abre os braços enquanto ele
responde em um gesto arrogante, revirando os olhos, impaciente.
一 Vamos Gerald, assuma seus erros. 一 Meu pai faz uma
careta em reprovação e Jack sorri.
Talvez seria uma tentativa dele de deixar o Sr. Protetor
Freburg mais calmo? O que ele poderia ter aprontado para estar
com tanto receio de mim?
Ele espalma as próprias pernas e deixa a tensão falar por si.
一 Bom filha, não tenho orgulho do que direi, mas quando
esteve internada logo após aquela safadeza toda da viagem, a sua
mãe foi ao hospital e se recorda que saímos para conversar?
一 Sim, eu me lembro.
一 Ótimo, infelizmente naquele dia ela me fez um pedido. 一
Jack pigarreia discordando e meu pai comprime os lábios. 一 Tá
bom, ela fez uma ameaça.
一 O quê? Que tipo de ameaça? 一 Espero por alguma
angústia dentro de mim, mas ela não vem, apenas sinto um grande
nada, como se mais uma atitude ridícula que ela tivesse hoje, não
fizesse diferença e nem despertasse surpresa.
一 Bom, ela me deu uma alternativa, se eu conseguisse
afastar o Jack de você, ela faria a doação de medula.
一 Oi? 一 refuto, incrédula. Tentando assimilar a informação,
mas falhando ao mesmo tempo.
一 Sim, eu chamei o Jack e pedi a ele que te rejeitasse, que
te salvasse. Eu não me orgulho de ter despedaçado seu coração,
mas não me arrependo porque eu queria que tivesse uma chance
de viver sem essa maldita doença. 一 Meu pai abaixa o rosto
envergonhado enquanto dentro de mim só predomina uma única
sensação “euforia”.
Como não imaginei que eles me amassem tanto ao ponto de
abdicarem de seus sentimentos para me ver bem?
Paraliso, sentindo as lágrimas caírem, mas não são de
tristeza, são de alívio, de amor, esse amor que nunca me deixou
desistir e que me mostra que nunca estarei sozinha. Que por mais
que doa partir um dia, ainda assim tive o prazer de receber os
sentimentos mais nobres dos dois. Não há dúvidas, uma escolha
por proteção. Olho para o meu pai, em seguida para o Jack e ambos
estão tensos, com um semblante de consternação e quebrando tudo
isso eu apenas ilustro um sorriso.
一 Eu amo vocês! Agradeço por pensarem primeiro em mim,
para que eu possa usufruir de uma vida longa, mas esqueceram do
mais importante. Ninguém vive bem se sentindo sozinho. Por mais
que eu tivesse você pai, estou de coração partido por perder a única
pessoa que amei tanto, da mesma maneira que amo você. 一 Passo
a mão direita nos olhos secando as lágrimas enquanto o deles ficam
marejados. 一 Não importa o meu tempo de vida eu só quero
aproveitá-lo feliz e não preciso que me deem mais dias, só quero
que me amem enquanto estou aqui.
Com paixão Jack avança em minha direção e devora os
meus lábios. Sua língua molhada pede passagem encontrando a
minha. Nossos lábios se contorcem em um beijo lento, quente e
repleto de significado. Deposito minhas mãos em seu peito forte
enquanto as suas envolvem minha cintura. Senti falta do seu sabor,
da forma como sua boca suga a minha, da intensidade e do fogo da
paixão que transpassa entre os nossos corpos. Esqueço de tudo, do
meu pai, dos milhares de pedaços que estava o meu coração que
nesse segundo parece bater compulsivamente.
Dior cai nos nossos pés rolando no chão. Sorrimos com os
lábios colados e nos admiramos por alguns segundos. Quando
terminamos aproximo do meu pai que beija o topo da minha cabeça.
一 Você sempre será minha filha, minha bebê, aquela que
segurei nos braços noite após noite, que coloquei para dormir, que
levei ao parque toda noite para olharmos as estrelas.
一 Papai, não é porque cresci que não sou mais sua filha,
sempre serei. Você é o melhor pai do mundo. 一 Ele inicia um choro
acentuado deixando-me desolada. 一 Eu disse algo errado? Por que
está triste? 一 Atordoado nega com a cabeça e passo a mão em
seus cabelos, tentando amenizar. 一 Eu jamais ficaria decepcionada
com você, no máximo é claro que fico triste por tudo que sofri
nesses últimos dias, mas compreendo sua escolha.
一 O seu pai está emocionado, realmente estávamos com
medo de ficar magoada. 一 Avisa Jack e abraço o meu pai com
força fazendo-o sorrir. 一 Agora vocês são amigos? Aceita que eu
fique com o Jack pai? 一 rapidamente ele engole o choro e arqueia
a sobrancelha.
一 Amigos não, não exagera Clayre, mas estou disposto a
entender.
一 Isso é incrível. 一 Beijo o rosto dele e corro para o Jack.
Agarro o cintura dele e encosto meu rosto em seu peitoral,
aliviada.
一 Jack…
一 Clayre…
Sorrimos juntos e elevo o rosto para nos admirarmos.
一 Eu voltei para casa aquele dia na chuva e desde então
todos os dias foram difíceis. Por dentro eu estava torcendo para que
você estivesse como eu, destruído. Depois de muito pensar eu
decidi te odiar, eu queria controlar meus sentimentos, moldá-los à
minha maneira, mas Jack eu estava sendo inocente, porque bastou
descobrir toda verdade para o meu coração pulsar na mesma
sintonia que o seu. 一 Ele encosta a testa suavemente na minha e
me puxa para o seu colo.
Entrelaço minhas pernas em sua cintura e a respiração
quente toca minha pele.
一 Clayre, eu estava vivendo em um inverno sem fim. Todos
os dias congelava um pouco, mas saber que poderia receber a
medula de sua mãe era o que me mantinha firme, com aquela
chama acesa, contida, mas ainda assim viva. No entanto, esse
tempo me permitiu confirmar que sim, você é o amor da minha vida.
Nunca tive dúvidas, mas agora eu só quero passar todos os meus
dias ao seu lado. 一 Beijo seus lábios emocionada enquanto nossos
corpos trocam calor.
Contendo a saudade pela presença do meu pai Jack coloca-
me no chão e os dois se olham fixamente parecendo guardar um
grande segredo. Todavia, agora, estamos livres para amar, mesmo
ainda sentida por perder qualquer aproximação com minha mãe.
Preciso viver.
CAPÍTULO 46
“Eu posso sentir o sangue correndo em minhas veias
Quando ouço a sua voz, me enlouquecendo
Hora após hora, dia após dia
Toda noite solitária que eu sento e rezo”
(Stigmatized, The Calling)

Após uma noite intensa onde precisei reprimir toda raiva que
eu sentia pela descoberta do que a Liana fez com a própria filha,
tivemos um jantar calmo. Obviamente não consegui matar a
saudade da Clayre, nem devorá-la com beijos e nem sentir o seu
corpo ao meu, afinal, o Gerald fez questão de ir novamente ao bar
comigo. A conversa foi distante, secreta, mas pensando em um bem
maior. Precisei concordar com ele em não revelar que Liana não é a
mãe biológica da Clayre, mas porque exatamente concordei com
isso?
Acho que no fundo me imaginei em seu lugar, pensei no
desgosto, na parte da vida que ela acharia uma fraude, no medo de
saber sobre sua família de sangue ou porque o seu pai biológico
teve coragem de dá-la para uma desconhecida. Além da grande
incógnita e da dor que carregou todos esses anos querendo
aprovação. Sua mãe realmente faleceu no parto? São tantas
dúvidas que inundá-la com todas elas parecia um castigo. Gerald
conseguiu durante a madrugada o sobrenome da Clayre e é
“Ballard”.
Quando Liana me confessou o primeiro nome, foi inevitável
não sentir a grande conexão que Clayre tem com as estrelas e o
quanto olhá-las acalma sua mente. Uma projeção inconsciente do
passado, que permaneceu em seu coração ativo e intenso.
Pesquisamos sobre a família e descobrimos que o pai se suicidou
após ser internado em uma clínica psiquiátrica, o irmão hoje com 28
anos é piloto de avião e a mãe surpreendendo todas as nossas
expectativas, está viva e é enfermeira no hospital que Clayre estava
internada.
Uma vida completamente diferente da que ela viveu em
Charleston, com uma mãe aparentemente amorosa nas fotos com o
filho mais velho. As lágrimas do Gerald se misturaram com a garrafa
inteira de whisky que tomou por medo de perder a única filha que
ele acreditou ter na vida. Não consigo imaginar algo tão destruidor,
em suas palavras sentia que ao seus olhos não tinha sido um bom
pai, porque em alguns momentos chegou a dizer coisas como “e se
ela ao saber da família esquecer de mim?”.
Eu não acreditava nisso e não sabia o que responder, mas
agora estou diante da única alternativa plausível, falar com sua mãe
e saber se ela acredita que a filha morreu naquele dia. Encaro agora
em minha frente o hospital que ela esteve internada por dias. Subo
as escadas até parar em frente à recepção.
一 Bom dia, o que precisa? 一 Pergunta a recepcionista
sorrindo.
一 Queria verificar o resultado que fiz de compatibilidade com
a Clayre Freburg para uma doação de medula. 一 Havia colhido o
exame um dia após rejeitá-la, na esperança de ser compatível.
一 Certo, qual o seu nome?
一 Jack Bourbon.
一 Ah sim, o resultado está disponível no setor de oncologia.
Pode seguir até o final do corredor que a enfermeira Emma Ballard
irá atendê-lo.
Para minha surpresa, essa era a pessoa que eu procurava. A
mãe da Clayre. Fico ansioso, respirando profundamente enquanto
caminho até o local. Gerald não tinha forças para fazer isso e eu?
Bom, estou incerto, mas jamais deixarei escapar a oportunidade de
salvá-la.
Aproximo-me da porta de vidro e uma senhora toda de
branco está de costas. O cabelo loiro como palha está preso em um
coque no topo da cabeça e ao se virar sorri simpática. Seu rosto é
delicado, a pele é madura pela idade, branca, os olhos são verdes
como os da Clayre e o sorriso é o mesmo.
“Droga, é a mãe dela”.
Sua voz calma e serena me traz a realidade.
一 Bom dia, é o Jack certo? Sente-se, o Dr. me passou o
resultado tem uma semana, estávamos aguardando você aparecer.
A sua atitude de querer ajudar sua namorada é linda. 一 Elogia e me
sento na poltrona em sua frente.
一 Espera… 一 Afirmo enquanto as lembranças da internação
da Clayre retornam em minha mente. 一 Não foi a senhora que fez
transfusão na minha namorada?
一 Isso, sou eu mesma. Eu me lembro bem dela, era uma
loira? de olhos verdes? Com o olhar triste. 一 concordo com a
cabeça. 一 Ela me disse algo que acabou ficando na mente, então
não consegui esquecer.
一 O que ela disse?
一 Que queria morrer para acabar com os conflitos de todos.
一 Meu peito dói e aperto os olhos. 一 Dei um conselho a ela e no
final me disse que adoraria ter uma mãe como eu. Enfim… bobeira
minha. 一 A mulher vira de costas abrindo o envelope e talvez essa
seja a brecha que eu precisava.
Decido encorajá-la a continuar falando.
一 Por que a Clayre dizer isso mexeu com a senhora? Tem
filhos? Ela segura os papéis na mão e o olhar entristece.
一 Sim, eu tenho o Baylor, mas perdi minha filha ainda bebê,
no parto e por isso escolhi ser enfermeira, para ajudar, acolher e dar
o meu melhor por todos que sofrem e quem sabe até conseguir
prolongar ao máximo a vida deles.
“Essa definitivamente é a mãe da Clayre”.
一 Se a sua filha estivesse viva, o que diria a ela? 一 Emma
para por alguns segundos encarando-me fixamente surpresa pela
pergunta.
一 Bom, nossa, são tantos anos. Mas, eu acho que diria que
a amei todos os dias desde que partiu. Todas as noites olhei para o
céu e de alguma forma avistava uma estrela e parecia ser ela
brilhando. Eu… diria que daria tudo para um dia vê-la porque não
tive a chance de conhecer o seu rostinho, quando acordei do coma
já havia partido.
一 Desculpe, sinto muito. Eu… 一 Lamento secando a lágrima
intrusa que caiu dos meus olhos.
一 Olha que lindo, você chorando, não imaginei que minha
história fosse mexer com você.
一 Ah… 一 Ilustro um meio-sorriso sem graça e me ajeito na
cadeira. 一 Homens choram afinal. 一 concluo e sorrimos juntos. 一
É que lembrei da minha namorada sabe, ela está doente precisando
de uma doação de medula.
一 Sim, já tive na minha família casos como o dela, é uma
doença genética, eu sou doadora. 一 Sua revelação me entrega que
então não é compatível com a Clayre, trazendo uma grande
desolação para o meu coração.
一 E seu filho também?
一 Ah não, ele ficou traumatizado com a perda da irmã, tinha
10 anos na época e nunca mais quis entrar em um hospital.
一 A minha namorada nasceu aqui, nesse hospital.
一 Sério? Não olhei toda a ficha dela.
一 Sim, foi no dia 21 de julho. Há 18 anos. 一 A mulher fica
pálida. 一 A senhora acredita em milagres? 一 Emma franze a testa,
junta as sobrancelhas e estreita o olhar, buscando sentido para o
meu questionamento.
一 Sim, eu acredito em milagres. 一 Disfarçando o
desconforto pela minha forma invasiva, ela me entrega o exame. 一
Infelizmente o senhor não é compatível. 一 Frustro-me com sua
revelação.
一 Eu não sou, mas talvez o seu filho seja. 一 Digo sem
pensar.
一 O que meu filho tem a ver com isso? Chamarei o
segurança, estou estranhando os seus questionamentos. 一 A
fisionomia torna-se amedrontada.
一 Não, espera… 一 suplico. 一 Tudo bem, serei direto, talvez
não acredite em mim, mas a sua filha não morreu naquele dia.
一 Saia daqui! 一 grita aflita, com a respiração tornando-se
profunda.
一 Emma o seu marido alguma vez confessou que deu sua
filha para uma desconhecida que havia matado o próprio bebê? 一
Sua respiração que era ofegante, trava.
Seu rosto empalidece e ela leva a mão aos lábios.
一 O que é isso? Como sabe das maluquices que meu
marido falava? Ficou sabendo da nossa história? Com isso não se
brinca. Ele estava sofrendo. Achou que me perderia e enlouqueceu
após perder a nossa filha.
一 Não, de jeito nenhum. Estou aqui porque uma mulher que
conheço confessou que no dia 21 de julho recebeu de um homem
uma bebê para trocar pela sua, e que aceitou, mas nunca conseguiu
amar a criança.
一 Quem é a criança?
一 A Clayre, minha namorada. Ela precisa encontrar sua
família verdadeira, eu preciso salvá-la e não me importo se está me
achando louco, mas eu não vou desistir até que acredite em mim.
一 Aquela moça?
一 Sim. 一 Ela fica em silêncio pensativa. 一 Clayre não sabe
de nada.
一 O quê?
一 Ela não sabe que a Liana não é sua verdadeira mãe, nós
descobrimos pela recusa na doação e não sabemos se deveríamos
contar ou não, mas eu te imploro. 一 Fico de joelhos e a mulher
arregala os olhos. 一 Você precisa acreditar em mim, você precisa
salvar a minha estrela dourada.
一 Preciso vê-la. Primeiro, eu preciso ter certeza.
一 Claro, mas como irá ter certeza sem um exame?
一 Só preciso olhar em seus olhos, preciso…
一 Olha, essa revelação foi chocante para nós. Clayre é
apegada ao pai, ele está sofrendo muito com tudo isso, mas nesse
momento só queremos vê-la bem. O seu filho pode fazer o exame e
como irmão a chance de compatibilidade é grande.
一 Ele não viria ao hospital.
一 Revele a verdade a ele. Olha, eu não tenho motivos para
mentir. Moro aqui em Miami, todos conhecem o meu bar e se quiser
pode questionar a minha família, eu não sou louco. Estou
desesperado, é diferente. Esse grande segredo foi revelado ontem e
pode ser a única forma de salvar a mulher que amo, então, inventar
tudo isso não faz sentido, até porque as chances de compatibilidade
são baixas. 一 A mulher desvia a atenção para o chão, pensa por
alguns segundos e eleva o rosto.
Seu olhar possui traços de sofrimento, o mesmo que vejo na
Clayre. Uma sofreu pela falta da mãe e a outra pela ausência da
filha que jurou ter perdido.
一 Reviver tudo isso trará uma grande angústia para mim e
para o meu filho. Porém acredito em você. Algo dentro de mim não
me deixa recusar e automaticamente me lembro do meu marido.
Sofreu por anos atormentado, achávamos que estava fora de si, que
fantasiou e se tornou psicótico e agora, ouvindo as suas palavras,
talvez tenhamos sido negligentes. Uma vez ele disse que logo após
entregar nossa filha foi atrás da mulher, para pegá-la de volta, mas
ela se mudou e nunca mais conseguiu achá-la. Ele ficou anos
repetindo isso, não dormia, tornou-se depressivo e no fim perdeu a
sanidade por uma culpa que achávamos que não existia.
一 Emma, não busque culpados. A dor faz as pessoas agirem
de forma inesperada. De um lado tínhamos uma mãe que matou a
própria filha em um surto e do outro um pai, sofrendo a possível
perda da esposa, com a desilusão de construir uma família sozinho.
Nenhum dos dois agiu certo, mas naquele momento estavam fora
de si, todavia, algumas escolhas não podem mais ser facilmente
desfeitas e cabe ao destino colocar tudo no lugar, no momento
certo.
Seu semblante fica apático, as lágrimas se formam enquanto
ela tenta conter as próprias emoções levando a mão ao peito.
一 Sabe quantas vez disse a Deus que preferia ter ido no
lugar da minha filha? Um milhão de vezes e imaginar que ela possa
estar viva, tão perto de mim, é chocante e, ao mesmo tempo,
eletrizante.
一 Emma preciso ser sincero com você. 一 Ela trava, mas fica
genuinamente atenta.
一 Não queremos que a Clayre saiba, sei que talvez possa
ser uma escolha egoísta, mas desde pequena sonhava em ter o
amor da mãe e enfim, foi abandonada bebê. Eu estava noivo da
suposta mãe dela… 一 A mulher arregala os olhos. 一 Tudo piorou,
a mãe disse coisas horríveis e ela está sensível. Nós contaremos,
mas acho que se encontrar um doador e seu filho for compatível ela
ficará mais forte para enfrentar o que for.
一 Ah, meu Deus. Ela sofreu muito? Como pode essa mulher
ter aceitado ficar com a minha filha e a abandonado depois. Isso é
um absurdo.
一 Algumas mulheres não nasceram para serem mães
Emma. Outras acham que não nasceram e aprendem e algumas
sonham em ser. Infelizmente pessoas narcisistas também podem ter
filhos e continuam sendo iguais.
一 Espero que um dia ela possa me amar.
一 Tudo que ela sempre quis foi ter o amor da mãe, é
impossível ela não te amar, com o tempo tudo ficará bem!
一 Como faremos para que eu possa vê-la?
一 Não sei!
CAPÍTULO 47
“Estações, elas vão mudar
A vida vai fazer você crescer
Os sonhos vão fazer você chorar, chorar, chorar
Tudo é temporário
Tudo vai passar
O amor nunca morrerá, morrerá, morrerá”
(Birds, Imagine Dragons)

Uma semana se passou desde que meu pai revelou a


ameaça da minha mãe, mas por algum motivo continua comigo.
Deixou o sócio administrando a empresa de contabilidade. Tudo que
eu queria era um momento a sós com o Jack, mas ele demonstra
não querer ficar sozinho, então tenho aproveitado ao seu lado. Em
um dos dias fomos à praia, outra noite jantamos no bar do Jack e
hoje inesperadamente revelou que precisarei repetir meus exames,
um mês antes do previsto.
Subimos as escadas do hospital e ele está tenso. A mão
direita coça o queixo a cada minuto, as pernas estão rígidas e seu
semblante apreensivo.
一 Pai, você está parecendo um robô, o que aconteceu? Fale
a verdade, por que anteciparam o exame? Estou bem! 一 Afirmo
convicta enquanto levo as mãos a cintura parando no topo da
escada.
Ele recua e continua andando me fazendo segui-lo.
一 Precaução Clayre. Não tem nada acontecendo. 一 Travo o
passo e ele gira o corpo para me olhar.
Estive tão focada em mim, no Jack, em como estamos livres
que esqueci de pensar nele. Provavelmente meu pai está assim
porque terminou algum relacionamento. Como fui insensível ao
ponto de esquecer que ele também possui uma vida? Que ele pode
estar de coração partido?
一 Pai, me desculpe. Eu… 一 Ele franze o cenho confuso e
me segura nos braços quando pulo sobre ele. 一 Sou uma idiota,
você está triste, quem foi a megera que brincou com o seu coração?
一 Uma gargalhada alta escapa enquanto me abraça com carinho.
一 Filha, não tem nenhuma mulher na minha vida, só você e
está ótimo assim. Você sozinha já é dor de cabeça suficiente. 一
Beijo a bochecha dele.
一 Quando estiver pronto para contar estarei aqui! 一 Ele me
solta e puxa-me pela mão seguindo por entre os corredores.
Paramos em frente a porta de vidro e me assusto ao ver o
Jack.
一 Jack? O que faz aqui? 一 Com carinho agarra-me e beija
ardentemente meus lábios.
Entrego-me a sua língua magnífica e nossas bocas se
provam com intensidade.
一 Vocês estão no hospital, parem com isso. 一 orienta
Gerald irritado.
Afastamos nossos rostos, mas me aconchego em seu corpo.
一 Seu pai me falou do exame e quis dar apoio.
一 Engraçado, vocês tem se falado o tempo todo, finalmente
são amigos agora?
一 Não. 一 Responde rispidamente o meu pai.
一 Seu pai jamais admitirá que me ama e que agora sou o
genro dos sonhos. Um anjo negro pecador. 一 Deixo a risada falar
por mim e particularmente adoro o quanto Gerald nega que está sim
gostando de passar um tempo com o Jack.
Nosso momento é interrompido por um homem que adentra a
sala sem jeito. Ele é extremamente alto, como o Jack, os cabelos
são loiros quase brancos, os olhos verdes vívidos, a pele quase
transparente, a barba está alinhada e veste uma camisa social azul
com as mangas dobradas até o antebraço. O olhar recai direto no
meu rosto e suas bochechas estão ruborizadas pela timidez.
一 Bom dia! 一 Cumprimenta com a voz grave.
一 Bom dia! 一 Meu pai e o Jack respondem e o homem
senta no banco enquanto fazemos o mesmo.
A cada segundo me analisa incisivamente, mas não é um
olhar de interesse e sim de curiosidade. Gerald levanta e Jack faz o
mesmo.
一 Vamos tomar um café enquanto a enfermeira não chega.
Tudo bem filha?
一 Claro, podem ir. 一 Os dois saem da sala e recosto na
cadeira sem graça, tentando fingir que o homem bonito não continua
me olhando.
一 Eu odeio hospitais. 一 confessa ele com meio-sorriso
quebrado, ao mesmo tempo, que joga os cabelos loiros caídos na
lateral do rosto para trás.
一 Algum trauma de infância?
一 É tão óbvio? 一 Sorrimos juntos.
一 Sim, mas é porque eu também odeio hospitais. Passei
muitos dias internada e desde criança sou obrigada a estar em um
todos os anos.
一 Sinto muito. 一 Comenta com complacência.
一 Tudo bem! Mesmo odiando é o que me mantém bem,
então tem a sua vantagem. 一 Nos encaramos fixamente por alguns
minutos em silêncio. 一 Está doente? 一 Ele nega com a cabeça.
一 Não, vim fazer um exame e você?
一 Eu também, mais um dia de luta.
Nossa conversa é interrompida pela enfermeira que entra e
automaticamente fica pálida ao nos ver. Estudo seu rosto e confirmo
que foi a mesma que fez minha transfusão no mês passado. Ela se
recupera brevemente e sorri seguindo em direção ao balcão para
depositar o material de coleta.
一 Bom dia! 一 Cumprimento e ela gagueja, mas responde.
一 Bo-Bom dia! Como se sente Clayre Freburg, certo? 一
Seus olhos me assistem com tanta profundidade que não sou capaz
de desviar o meu.
一 Estou bem, mas fiquei preocupada. Meu pai entrou aqui
travando as pernas como se fosse um robô enferrujado de
nervosismo. Achei que o último exame tinha apresentado um
resultado bom! 一 Mesmo atrapalhada a mulher pega a ficha e
confere.
一 Sim, é apenas por precaução, é que tem uma observação
que a última transfusão precisou ser feita muito antes do previsto. 一
Os dois me fitam fixamente e encolho-me na cadeira um pouco
ansiosa.
一 Bom, pode atender ele primeiro, não tem problema.
一 Me chamo Baylor e ótimo, pode ser.
一 Força, Baylor, será menos doloroso que uma picada de
formiga. 一 Faço um sinal de positivo e ele sorri.
A mulher se aproxima dele com o material e percebo o
quanto são parecidos, mas apenas assisto ele fechar os olhos
nervoso, comprimir os lábios e a mandíbula tensionar. Levanto-me e
sem pensar paro ao lado dele e seguro a mão oposta, o
encorajando. Seus olhos se abrem e descem até às nossas mãos e
retornam ao meu rosto.
一 Faz de conta que sou sua irmã oferecendo apoio moral. 一
Ele abre um sorriso amplo, no mesmo instante em que seus olhos
ficam completamente marejados.
Tímida olho para a enfermeira e seus olhos estão iguais. Meu
coração se aperta e mesmo sem compreender muito bem o que
está acontecendo, sinto uma sensação nova fluir pelo meu corpo.
Uma emoção inexplicável e desvio meu rosto para a parede
tentando disfarçar minha hesitação. O exame finaliza e solto sua
mão grande que antes estava gélida e agora está quente.
Baylor sorri e se levanta apontando para a cadeira.
一 Sua vez garota hospital. 一 Todos sorrimos e me sento
tirando o casaco vermelho de manga longa para livrar o meu braço.
O homem estica a mão em frente ao meu rosto esperando
que aceite agora o seu apoio e a seguro.
一 Obrigada homem traumatizado. 一 A leveza do momento
deixa-me admirada.
Genuinamente a minha energia combinou com a deles e
quando o exame termina estamos sorrindo e falando sobre a
profissão magnífica que Baylor possui.
一 Uau, deve ser incrível ser um piloto e contemplar o céu em
diferentes horários do dia. Por que escolheu essa profissão?
一 Perdi duas pessoas que amava muito na vida e foi uma
forma de me sentir mais perto deles.
一 Sinto muito! 一 Ele sorri.
一 Tudo bem. Os anos se passaram e superamos e se não
fosse por tudo que aconteceu provavelmente não teria descoberto
minha vocação.
一 Você prefere o amanhecer ou o anoitecer? 一 Ele vasculha
a mente pensando com cautela.
一 Confesso que prefiro o anoitecer. Aquele momento que o
céu ganha uma coloração azul petróleo em contraste com o laranja
dos raios do sol ao se pôr. Em frações de segundos os raios
parecem refletir nas estrelas que começam a brilhar no céu
formando uma imagem extraordinária e inesquecível.
一 Com certeza isso poderia ser o meu programa favorito na
vida. 一 Baylor mantém o sorriso largo no rosto.
一 Somos muito parecidos. 一 Conclui ao mesmo tempo que
um suspiro de alívio escapa de sua boca.
Meu pai e o Jack surgem na porta e entram.
一 Está tudo certo, filha?
一 Sim, pai você acredita que ele é piloto de avião e tem o
privilégio de ver as estrelas mais de perto?
一 Ele é o homem mais sortudo do mundo. 一 Todos sorrimos
e meu pai passa o braço direito ao redor dos meus ombros. 一 Ela
desde criança tem essa fixação com as estrelas, eu tinha que levá-
la ao parque todos os dias e passar no mínimo uma hora olhando. A
Clayre veio como um anjo, e… 一 Meu pai começa a chorar e me
assusto com sua reação. 一 Aprendi muito com ela, eu a amo muito.
一 Abraço-o com força aconchegando meu rosto em seu peito.
一 Papai, depois eu que sou a canceriana dramática.
Não entendo o seu choro, mas nesse instante acabo de
perceber que não estou aqui por acaso. Que essa mulher e esse
homem não estão aqui sem um propósito e é justamente isso que
deixou o meu pai tenso. Na minha cabeça tem uma enorme dúvida,
um grande tabuleiro de xadrez e preciso entender o jogo, mas nesse
momento pareço uma peça solta, perdida.
Após finalizarmos tudo, me despeço do Baylor e da Emma.
Os dois pareciam extremamente felizes e me senti acolhida.
Quando saímos do hospital, Jack segura minha mão e com seu
olhar sedutor hipnotizante arqueia a sobrancelha esquerda
enquanto dá uma piscadela irresistível.
一 O que acha de finalmente termos uma noite com um jantar
a luz de velas amanhã, sabe, como as pessoas românticas fazem.
一 Em meu interior quero aceitar, mas inclino o rosto para olhar o
meu pai.
一 Não se preocupe comigo. Podem ir, amanhã tenho
compromisso.
一 Aonde vai? 一 questiono curiosa.
一 Uma reunião online.
一 Sendo assim, Jack eu aceito jantar a luz de velas com
você.
Com afobação ele captura o meu rosto e morde o meu lábio
inferior. Um gemido escapa de mim e é o suficiente para ativar
nosso desejo. Há mais de um mês não sinto as mãos do Jack
passearem pelo meu corpo. Estou sedenta, faminta para sentir essa
conexão intensa. O fogo que nos devora sempre que nossos
corações batem em sincronia.
一 Perfeito. 一 Sussurra contra a minha boca. 一 O nosso
primeiro encontro oficial será às 17h em ponto, não podemos
atrasar.
一 Estarei pronta às 16h.
CAPÍTULO 48
“Eu costumava pensar que um dia contaria a nossa história
Como nos conhecemos e as faíscas voaram instantaneamente
E as pessoas diriam: Eles são sortudos”
(The Soty Of Us, Taylor Swift)

Passei a noite anterior e o dia todo ansiosa. Termino de me


arrumar sentindo que tenho 16 anos porque minhas pernas estão
bambas e o estômago queimando pelo nervosismo. Por que sair tão
cedo para um jantar? Não sei, mas estou ansiosa para descobrir.
Meu pai abre os braços admirado.
一 Filha, você está linda. 一 Elogia ao ver meu vestido
dourado, tomara que caia e curto.
一 Obrigada, pai, eu estou nervosa! Ele sempre me chama de
estrela dourada! 一 Aviso chacoalhando a mão no ar para arejar o
rosto. 一 Tem certeza que sairá sozinho?
一 Filha, eu que sou o pai aqui, não se preocupe comigo,
tenho um jantar também.
一 Com quem? 一 Foco minha atenção em seu rosto,
esperando a resposta.
一 Aquela enfermeira simpática do hospital, a Emma! 一 Um
sorriso escapa de mim!
一 Isso é incrível, ela parece ser tão amável, fico feliz em
ouvir isso. A conhecemos ontem e não perdeu tempo. 一 Ele
concorda sorrindo e o interfone toca.
Sigo até a porta e ao abrir encontro o Jack. Ele usa uma
camisa social branca com os botões abertos revelando parcialmente
o seu peitoral forte, as mangas estão dobradas até o antebraço e o
perfume é magnífico. A calça e os sapatos são sociais, preto. Seus
olhos transpassam pelo meu corpo e ao final de sua análise sorri
com sedução.
一 Está linda pra caralho! 一 Um sorriso se forma em meus
lábios e nos abraçamos.
Seu abraço tem uma sensação de liberdade. Jack entrelaça a
mão na minha e me puxa para sairmos.
一 Boa noite Gerald, amanhã cedo sua filha estará de volta.
一 Meu pai solta um ruído entredentes e gesticula com as mãos
para sairmos.
一 Te amo pai. 一 Aceno e juntos seguimos para o elevador.
Meu corpo começa a esquentar à medida que os segundos
passam. Em cada passo que caminhamos para fora do prédio, em
cada brisa suave do fim de tarde que traz o seu cheiro masculino
até mim, no toque sútil de seus dedos nos meus, no olhar de soslaio
que trocamos até entrarmos no carro.
Quando sento no banco faz questão de puxar o cinto para
prender o meu corpo. Seu rosto fica rente ao meu, sua respiração
toca a minha bochecha e quando termina de acoplar a fivela levo
minha mão ao seu pescoço puxando seus lábios contra os meus,
pressionando-os com saudade.
A textura, o calor que se espalha por todo meu ventre é
viciante, era disso que eu sentia falta e que temos nos segurado há
dias, mas hoje o que mais quero é estar em seus braços.
Passo minha língua em sua boca e a invado. Jack não faz
cerimônias, seus lábios engolem os meus com desejo, com
violência. Entrego-me a sensação deliciosa e mesmo sem fôlego
continuo, mais lento, intenso, com sabor de safadeza. Quando
nossos rostos se afastam os seus lábios carnudos roçam em minha
pele, descendo beijos até o meu pescoço.
一 Vamos, acho que nunca desejei tanto que um jantar
acabasse, e ainda nem começou. 一 Sorrimos e apressadamente
ele se arruma no banco e liga o veículo.
O trajeto é longo e aperto minhas mãos uma na outra
nervosa. Para onde Jack estaria me levando? Suspiro aproveitando
a imagem do céu que começa a ganhar estrelas brilhantes e as
músicas clássicas de rock que ele escuta o tempo todo.
Normalmente eu ouviria um concerto de ópera e concluo que somos
completamente opostos, mas é aqui no seu mundo que me encaixo,
que serei muito mais feliz, não diria completa, porque já nascemos
inteiros como papai sempre disse, mas a vida que me resta será
muito mais emocionante e inesquecível.
Se houver uma vida depois dessa, espero vivê-la com o Jack.
A viagem dura quase 3h e ao estacionarmos meu coração só
falta fugir do meu peito. Desço do carro com a boca aberta,
literalmente surpresa.
一 Jack, é sério? 一 Reprimo um grito, mas ele acaba
escapando. 一 Ah! Meus Deus! 一 Ele sorri com minha reação
enquanto meus olhos admiram o restaurante.
一 Você nunca mencionou esse lugar, mas Clayre, quando
lembro dele só consigo pensar em você e imaginar o quanto amaria
jantar aqui.
一 Já falo tanto de estrela, de céu, e sim, eu sempre quis
conhecer, mas nunca achei que conseguiria. 一 Analiso a fachada
que marca o nome do restaurante Space 220 [15]no Epcot na Disney.
一 Meu Deus, jantaremos no espaço.
Puxo o Jack pela mão desesperada para conhecer. Ao entrar
encontramos uma temática perfeita de que estamos seguindo rumo
ao espaço. Com uma imagem magnífica de uma nave espacial, com
luzes brilhantes e ambientes extraordinários. Quando piso no
restaurante minha mente parece que vai explodir. As janelas com
contornos de neon azul refletem uma imagem impressionante e bem
realista da terra há milhas de distância e ao redor infinitas estrelas
brilham, fornecendo uma experiência única que jamais esquecerei.
Sentamos e suspiro, sem conseguir falar, apenas sorrir. Meus
olhos captam cada detalhe querendo guardá-los em minha
memória.
一 Jack isso é incrível, por que fez isso?
一 Porque amo ver você sorrindo, assim, como está agora,
sem conseguir se conter e com os olhos brilhando.
一 Quando contarão tudo que escondem de mim? Sinto que
algo mais aconteceu! 一 Jack concorda com um balançar de
cabeça.
一 Você confia em mim Clayre?
一 Sim, eu confio.
一 No momento certo, só se lembre de uma coisa: tudo é
possível. ”Tudo”. 一 Enfatiza misterioso e não tenho dúvidas de que
Jack fala sobre milagres.
E hoje, eu escolho acreditar!
Ele faz o pedido das bebidas. Para mim um suco de maçã e
para ele um vinho. Escolhemos as entradas e sobremesas e
desfrutamos de um jantar incrível enquanto olhamos a terra
reluzente. Admiro seu rosto enquanto fala de boca cheia
empolgado.
一 Meus pais querem te conhecer! 一 Travo, surpresa.
一 Querem?
一 Claro, amor, contei sobre você e tudo que estava
acontecendo. Minha mãe está ansiosa para vir até aqui, ela está
finalizando a organização dos desfiles de verão, mas logo estarão
livres.
一 Amarei conhecê-los e saber da história de amor deles.
一 Dramática, como a nossa. 一 Sorrimos juntos. 一 Mas
intensa! 一 complementa.
一 Jack… 一 Rapidamente ele me encara, atento. 一 Eu só
queria te agradecer, por se preocupar tanto comigo, eu te amo. 一
Ele abandona o prato e segura minhas mãos sorrindo.
一 Clayre, eu te amo. Eu daria a minha vida por você e o que
eu disse quando acampamos continua vivo, você é a minha casa
agora, meu lugar preferido, minha mulher e só te deixarei se algum
dia não me quiser mais e sinceramente espero que isso nunca
aconteça. 一 Ele suspira e sorri de canto. 一 Clayre, aceita ser
minha namorada? 一 Um sorriso escapa de mim, estamos juntos,
mas nunca precisamos dizer essa palavra, mas gostei de ouvi-la.
一 Eu te quero o tempo todo. E sim, eu aceito ser sua
namorada, oficialmente falando. 一 Jack beija minha mão
esquentando todo meu corpo e seu olhar transita nos meus lábios
descendo pelo meu vestido até parar no meu decote.
一 Hora de voltar para a terra, estou louco de saudade.
Levantamos juntos, suspiro uma última vez admirando a
imagem magnífica e seguimos para o carro. O caminho de volta é
ainda mais longo que a ida, afinal, estamos sonhando com esse
momento há vários dias. Escutamos música e quando estamos
próximos ao prédio meu corpo vibra.
一 Jack, meu estômago está estranho. 一 Seu olhar segue do
meu rosto até a minha barriga.
一 A comida fez mal? 一 questiona começando a ficar triste.
一 Não, é que me sinto como na primeira vez, com as
malditas borboletas. 一 Jack sorri e solta uma respiração de alívio.
一 Você quase fez meu coração parar, não se preocupe,
capturarei cada uma delas daqui a pouco.
Deposito minha mão sobre a perna dele e acaricio em
provocação. Jack acelera e em minutos estamos entrando no
elevador. Suas mãos picantes passeiam em minha barriga enquanto
me abraça por trás. Sua boca beija minha pele subindo pelo meu
pescoço enquanto um arrepio potente se arrasta por todo meu
corpo. Suspiro excitada e com carinho coloco minhas mãos sobre a
dele.
一 Eu adoro quando suas mãos passeiam em meu corpo.
一 Não sei como sobrevivi tanto tempo longe de você. 一
confessa com a voz rouca.
Ao sairmos do elevador, Jack entrelaça sua mão na minha e
me conduz pelo ambiente. Quando atravessamos a porta do meu
antigo quarto imediatamente sua boca gruda na minha. Ele me pega
pela cintura e juntos caímos na cama sob o efeito de um beijo
intenso, gostoso e interminável.
Seu corpo cai por cima do meu enquanto nossos toques são
urgentes e cheios de desejo. Ansiosa, desabotoo a sua camisa
social e arranco a peça. Adoro sentir seus músculos, sua pele
contra a minha e a sensação de queimação que domina todo ponto
sensível de prazer. Adoro estremecer em seus braços, da junção e
dos movimentos que fazemos quando estamos entregues à paixão.
Sutilmente Jack me senta na cama e abre o zíper do meu
vestido, roçando suavemente os dedos até a altura do meu quadril.
Retiro a peça ficando apenas de calcinha.
一 Você está sempre com uma parte do corpo livre, sem
nada, só para me tirar o juízo. 一 Elogia descendo o toque para a
minha cintura e direcionando até os meus seios. 一 Deita na cama
minha estrela. 一 ordena abrindo a calça.
Ele arranca o cinto com um movimento rápido e assisto
quando se livra dele e fica somente com a cueca branca. Sua
ereção grande marca consideravelmente o tecido e passo a língua
em meus lábios delirando de desejo. Seu olhar encontra o meu e
um sorriso malicioso se forma.
Jack se arrasta ficando por cima de mim e captura meus
braços levantando-os acima da minha cabeça. Minhas mãos
começam a suar enquanto ele fica de joelho no meio das minhas
pernas. Delicadamente sua boca me beija na altura da minha
clavícula e segue um rastro sedutor até o meu mamilo direito
endurecido. Os dentes o mordem com força, fazendo-me contorcer
pela ardência e em seguida ameniza chupando com indecência.
一 Jack… 一 Ele me interrompe.
一 Shiiiu, espera, estou provando você, estava com muitas
saudades. 一 Ignorando meu clamor continua e passa para o
mamilo esquerdo.
Essas carícias são suficientes para me deixar molhada. Seu
órgão duro cutuca minha entrada deixando o tecido úmido. Com
despudor Jack retira a minha calcinha e a leva ao nariz. Fico
instantaneamente tímida e seu olhar escurece de tesão ao ver
minha reação.
一 Adoro quando faz essa feição de doçura. Vira de costas,
preciso beijar cada pedacinho do seu corpo. 一 ordena abrindo
espaço para que eu role o meu corpo.
Fico na posição que ele tanto deseja. Com carinho afasta os
meus cabelos para a lateral, colocando-os sobre o meu ombro
direito, deixando meu corpo livre. Jack encosta o nariz no meio das
minhas costas e desce inspirando meu perfume até chegar na
minha bunda. Agarro o travesseiro excitada trazendo-o para
encaixá-lo embaixo do meu rosto.
Insanamente sinto quando ele morde com arrogância minha
nádega direita e poderia dizer que dói, mas as sensações
misturadas me fazem gostar muito disso. Sem cerimônias Jack abre
as bandas da minha bunda para admirar minha área proibida.
一 Droga Clayre, se você soubesse o quanto você é gostosa.
Farei coisas muito más com você agora. 一 avisa enfiando a língua
em meu ânus lentamente.
Um tremor percorre meu corpo, junto a um calafrio que se
transforma em prazer.
一 Jack, isso é muito bom! 一 Minhas palavras o satisfazem
porque sinto a língua descer, subir e contornar com apetite.
一 Quando você estiver pronta faremos sexo anal, bem
devagar para não te machucar.
一 Ah, a língua assim é bom, mas com esse pau que você
tem aí acho que causaria um estrago. 一 Ele sorri e morde
novamente minha bunda.
一 Já disse, com jeitinho cabe tudo. 一 É claro que irei querer
muito em breve.
Jack mantém a visão fixa em minha boceta e sem censura
enfia o rosto na fenda entre as minhas nádegas para chupá-la por
trás. Minhas pernas amolecem quando seus lábios devoram minha
região inteira. O movimento de sucção, a língua procurando meu
clitóris para instigá-lo levam meu coração a batidas intensas. Aperto
os lençóis fechando os meus olhos e sem controle arqueio minhas
costas para elevar mais o meu quadril e facilitar o acesso de sua
língua ordinária.
Sua mão direita escorrega em minha coxa, apalpando-a com
paixão seguindo até o meio das pernas. Seus dedos esfregam e
circulam o meu ponto sensível enquanto sua boca volta à região
proibida para lambê-la. Os gemidos escapam incontroláveis e perco
o ar com a onda de prazer sufocante. Jack intensifica os
movimentos firmes ao sentir minhas pernas tremerem.
一 Ah Jack, eu não consigo me segurar. 一 Desmancho-me
em sua safadeza e ansioso para me provar me instiga audacioso
ativando todo fogo que queima em meu peito.
Gozo em sua boca, totalmente aflita, movimentando meu
quadril em sua língua para sentir cada fricção avassaladora. Jack
chupa todo o meu prazer arrebatando meus instintos para si.
Quando captura a última gota meu corpo fraqueja, mas recupero a
postura me levantando para prová-lo também.
一 Clayre, eu amo o seu sabor proibido. 一 Ele me beija com
o meu cheiro preso em sua pele.
Nossas línguas dançam em sincronia enquanto
pressionamos nossos corpos.
Pele com pele.
Com um desejo exacerbado.
Ainda de olhos fechados começo a abaixar sua cueca
sentindo seu pau duro saltar da peça e roçar em minha virilha. Seus
braços me prendem a ele enquanto esfrega a ereção em minha
extremidade, procurando minha boceta. Afasto-me e coloco minha
mão espalmada em seu peitoral contornando seus músculos
enquanto seu olhar se mantém preso ao meu. Abaixo o tronco para
aproximar a boca da sua ereção, mas recuo. Jack arfa quando
minha mão envolve seu comprimento e deslizo progressivamente
masturbando-o. A respiração fica desalinhada e inesperadamente
me afasto, para deixá-lo louco.
Clayre rasteja pelo colchão com seu corpo nu, de forma
sensual, passando os próprios dedos nos lábios para me atiçar. Ela
movimenta o quadril alternando as poses eróticas. Alguns instantes
está de frente me deixando com a vista dos seus mamilos rosados e
gostosos e outras está de costas empinando a bunda.
Seus olhos inocentes transitam em meu corpo com desejo.
Ela senta na cama e passa as mãos no abdômen, sobe
pausadamente até os seios e com os dedos contorna as aréolas.
Meu corpo fica excitado, minha mente se enche de fantasias e a
cada segundo estou louco para fodê-la bem forte.
Clayre me leva a loucura quando abre as pernas e desliza o
toque até a própria boceta avermelhada de tesão. Fissurado e duro
me aproximo dela e aproximo meu pau a sua boca. Seus lábios
estão molhados e deslizo a glande sobre eles, contornando-os, até
enfiá-lo suavemente em sua boca. Seus olhos se fecham e sua
cabeça se movimenta querendo engoli-lo de uma vez.
Coloco a mão em seus cabelos entrelaçando os fios, ao
mesmo tempo que pressiono o meu quadril enfiando profundamente
em sua garganta. Ela geme enquanto arfo, adorando a visão de vê-
la com a boca preenchida com o meu tamanho. O barulho de
sucção e a sua língua molhada circulando a minha ereção me
deixam alucinado.
Seguro sua cabeça e começo a estocar em sua boquinha,
batendo fundo em sua garganta enquanto ela engasta e enche meu
pau de saliva.
一 Porra Clayre, caralho, que delícia. 一 Seus olhos piscam
mais rápido, a boca abre ainda mais e me seguro para não gozar
enfiando uma última vez antes de me afastar.
Deito-me por cima do seu corpo e abro suas pernas ansioso.
Deslizo a glande em seu clitóris e esfrego progressivamente até vê-
la molhada. Penetro de uma vez em sua boceta apertada e afobado
estoco agressivamente. Minha mão esquerda agarra o seu pescoço
e ela entreabre a boca, em êxtase. Seus gemidos intensificam, suas
pernas se abrem mais e seus seios gostosos balançam com a
violência das socadas.
As paredes de sua boceta se acostumam com o meu
tamanho e seguro suas pernas para fodê-la com mais força. Seus
olhos assistem minha ereção invadi-la enquanto suas mãos
seguram as próprias pernas me dando livre acesso. Em um jogo
corpo a corpo viro-a de costas e posiciono de quatro. Clayre abre as
pernas e rebola o quadril para me provocar.
一 Jack, eu quero mais forte. 一 Suas palavras picantes
ativam minha fera selvagem e agarro com arrogância sua cintura
fina.
Enfio a ereção em sua boceta e colido nossas extremidades
com acidez. Adorando a sensação de invadi-la dessa maneira e ser
espremido pela sua abertura justa.
Corpo com corpo. Possuído pelo descontrole.
Clayre deixa o corpo cair na cama e me encaixo em suas
costas. Elevo lateralmente sua perna direita deslizando-a para cima
e impiedoso introduzo progressivamente. O cheiro que exalamos, o
suor, a sua pele avermelhada pelos meus toques e os cabelos
bagunçados demonstra a nossa saudade.
Meu corpo vibra, com a textura molhada que permite um
deslizar preciso e fundo. Meu quadril se projeta com brutalidade
contra sua bunda e seu corpo balança com o impacto. Passo a mão
lateralmente em seu corpo e levo meu indicador a sua boca. Clayre
o chupa enquanto, geme baixo e arqueia as costas, querendo mais
de mim.
Seu pecado quente como brasa contrai ao redor do meu pau
causando a combustão do meu corpo. Os rugidos escapam roucos
de mim, meu peito infla trancando o ar, a sua boceta irresistível fica
excessivamente molhada e meu pau pulsa.
Os movimentos intensos e frenéticos.
A chama incontrolável de desejo que se transforma em
prazer.
Agarro-me ao seu corpo enterrando fundo enquanto meu
líquido a preenche. Mordo seu ombro enquanto ela geme ainda
dominada pelo prazer. Sua textura macia não me permite deixá-la e
sua voz mansa é persuasiva e apaixonante.
一 Jack, estava com tanta saudade. 一 Clayre movimenta o
corpo, e em segundos está por cima do meu.
Ela se ajusta e ficamos com os rostos colados. Seus lábios
beijam o meu com carinho e seus dentes mordiscam levemente com
doçura.
Seguro seu rosto e a admiro.
一 Meu amor, nada irá nos separar. Agora somos só nós dois
e não precisaremos provar mais nada a ninguém. Eu te amo.
一 Eu também te amo!
CAPÍTULO 49
“Agora somos só nós dois e não
Temos que provar pra mais ninguém, amor
Eles não conseguem perceber como é real
Que a gente se encante com alguém assim”
(Só Nós Dois, Detonautas)

As palavras do Jack sobre “tudo é possível” não me


abandonaram em todos os dias que se passaram e ele fez questão
de ficar sempre ao meu lado. Foram manhãs e noites juntos
enquanto tudo se modificava gradativamente. Eles não me contaram
nada, nem mesmo o porquê do meu pai permanecer por tanto
tempo comigo. Após um mês, ele finalmente retornou para
Charleston. A sensação é que estava se curando de algo e que a
minha presença e o meu amor eram necessários.
Voltei a minha rotina no bar, feliz por estar novamente
vivendo, mas sinto os olhares questionadores de alguns clientes do
Jack e muitos continuam aqui apenas por curiosidade, para ver a
enteada que roubou o “marido” da mãe. Liana parou de dar notícias
após a primeira consulta para verem o bebê, mas hoje, dois meses
depois da sua recusa em fazer o exame de compatibilidade,
finalmente quero saber o motivo.
Pego uma garrafa de whisky, sirvo em um copo com gelos e
escuto uma pessoa fazer um comentário desagradável.
一 Essa garota deveria ter vergonha. Roubou o marido da
mãe que está grávida. Espero que sofra muito na vida.
一 Sim, ela será irmã e madrasta do bebê. Safada. 一 Giro o
corpo evitando olhar e suspiro triste.
一 Clayre, não ligue. 一 avisa Kal.
一 É difícil, mas estou tentando. Quem pediu esse drink? 一
Ele sorri e aponta para o homem encostado no balcão do caixa
falando com o Jack.
一 O seu amiguinho.
一 Baylor, ele é um cara legal.
Desde que o conheci no hospital passou a ser uma presença
constante no bar. Quase todas as noites que não está viajando a
trabalho passa aqui, conversando comigo ou com o Jack.
一 Como o Jack não tem ciúmes dele? O cara é bonito, vive
falando com você e o meu amigo é extremamente intolerante, ainda
mais com qualquer um que te olha. 一 Uma risada longa escapa de
mim.
一 Não sei, mas sabe, ele me trata como uma irmã, é
diferente, dá para ver que não tem maldade, acho que o Jack
percebeu isso. 一 Kal franze o cenho em dúvida. 一 Preciso que
faça um favor, sairei para ir à igreja, é rápido, se o seu amigo
ciumento perguntar diz que não me viu.
一 O que você vai aprontar, Clayre?
一 Por favor, eu prometo que está tudo bem, é importante. 一
Ele suspira em objeção, mas acaba cedendo.
一 Tudo bem! Vá, antes que eu desista de te acobertar.
Confiro novamente os dois que conversam animados e
disfarçadamente sigo até os fundos e saio. Caminho a passos
rápidos até entrar no carro. Respiro profundamente relembrando as
palavras que ensaiei a semana toda para falar com a minha mãe.
Não demora e estaciono em frente ao prédio dela. Desço do carro
ansiosa, pronta para ouvir a verdade.
“Seja qual for, eu estou pronta”.
O prédio é simples na segurança e mostro o documento
confirmando que sou filha e rapidamente me deixam subir. Encaro o
espelho do elevador tentando ser forte. O que mais Liana poderia
dizer para me magoar? Acredito que nenhuma palavra, afinal, nada
se compara a dor que me atormentou no hospital, ao esperá-la por
horas. Saio do elevador e encontro a porta do seu apartamento
aberta.
Solto uma respiração afobada pela boca. Travo ao escutá-la
falando com alguém. Meus pés ficam a um passo de entrar e não
prossigo ao ouvir uma fala perturbadora.
一 Não adianta mais ficarmos aqui, o Jack assumiu a relação
com aquela putinha. 一 A voz é de homem e tento reconhecer, mas
não identifico quem seja. 一 Você fez toda aquela armação na
viagem para o pai finalmente tirá-la do nosso caminho e vocês se
casarem e mais uma vez deu errado. Por que não foi fazer a porra
do exame para ganharmos tempo? 一 Levo a mão ao coração, sem
acreditar no que estou ouvindo.
Lentamente dou um passo para trás, querendo compreender
melhor o que está acontecendo.
一 Não estava suportando mais, Harry, eu estou cansada de
tudo isso. 一 O homem parece ser o mesmo que roubou o Jack. 一
Ele não se casará comigo. É em vão.
一 Sim, mas nessa só você saiu ganhando, mesmo tendo que
cuidar dessa criança. Você acha que ele assumirá o filho? Aquela
garota apareceu e destruiu todos os nossos planos, perdi a chance
de derrubá-lo. E a criança só terá direito a fortuna na maior idade.
Foi uma gravidez desnecessária.
一 O Jack não deixará faltar nada, me dará o dinheiro que eu
pedir, garanto que dividirei com você. 一 Tudo fica silencioso e não
posso acreditar que ela enganou a todos.
Não vou embora sem fazê-la me ouvir, eu consigo. Indignada
entro de uma vez. Ao passar pela porta encontro os dois sentados
no sofá e rapidamente percebem a minha presença. Assustados, se
levantam e ela tenta recobrar a postura arrumando o vestido. Os
movimentos de suas mãos são suficientes para evidenciar sua
barriga, agora maior, da gestação.
一 Clayre? 一 Chama o meu nome parecendo não acreditar
que estou aqui.
Confirmo que o homem se trata realmente do Harry, o antigo
sócio do Jack e tomada pela mágoa, resolvo atacá-la. Dói saber que
ela não tem caráter, que estava ajudando um ladrão.
一 Sério? Há quanto tempo estão juntos enganando as
pessoas? 一 Seu semblante se fecha e seus olhos tornam-se
furiosos.
Harry sorri.
一 Ué, não entendi Liana, o que sua falsa filha faz aqui? Você
não disse que contou tudo ao seu ex-marido? Achei que toda essa
palhaçada familiar tinha acabado.
一 Você não tem nada a ver com isso, não tem vergonha de
ter roubado dinheiro do Jack? 一 Retruco frustrada, mas começo a
me dar conta de sua fala, da parte que disse “falsa filha”.
一 Liana sempre disse que tinha voltado por vingança, não
acreditei, mas você enfeitiçou o Bourbon e ficou claro. Você é uma
verdadeira vadia. Veio dizer que venceu?
一 O quê? Não é minha mãe? Do que você está falando? 一
Liana leva a mão ao rosto impaciente e comprimi os lábios.
一 Saia Harry, preciso falar com ela. 一 Ele obedece saindo
pela porta.
一 Falsa mãe… 一 repito incrédula.
Ela não desvia o olhar, com a expressão arrogante fixa em
seu rosto e mesmo em silêncio transmite rancor. As peças antes
espalhadas começam a se encaixar em minha mente. Todas as
vezes que não apareceu, as tentativas frustradas de conseguir uma
palavra de afeto ou um gesto de carinho. A barreira invisível e
amarga que sempre nos separou tinha uma verdade espelhada, que
não poderia ser vista, mas era sentida com muita força. Por isso
nunca consegui o seu amor?
一 Seu pai não disse nada?
一 Não, mas agora entendi o porquê. 一 Sussurro baixo,
devastada, retornando ao passado, revivendo cada frase que
perguntei tantas vezes ao meu pai.
“Onde está a mamãe? Por que ela não veio me ver hoje?”.
A dor volta, aguda, potente, trazendo todo ressentimento e
dúvidas. Eu achava que era culpa minha, achava que ao nascer
tivesse destruído a vida dela. Achei que tinha sido rebelde, uma má
filha, ao ponto de fazê-la partir. Quando expulsou de seu coração
que eu era uma maldição me senti o próprio mal e descobrir que
tudo, que todos os pedidos e medos foram sentidos de maneira
errada, faz meu coração esfriar.
Uma enorme e grossa camada de gelo, impedindo qualquer
sensação nova, a não ser o infinito e sufocante frio. Encaro o seu
rosto com os lábios trêmulos, os olhos cheios d’água, com os
punhos fechados e a terrível vontade de gritar.
一 Você nunca foi a minha mãe. Eu deveria sentir alívio,
certo? Mas por que não sinto, por que dói tanto? 一 As lágrimas
escapam desenfreadas. 一 Essa é a grande justificativa que eu
procurava e finalmente chegou, mas ela vem com tantas reticências.
Quem sou eu? O que você fez?
一 Clayre, eu tive depressão pós-parto. Não queria ter essa
conversa com você, eu achei que não precisaria. A verdade é uma
só. 一 Ela faz uma pausa, respirando profundamente antes de
continuar. 一 Não sou sua mãe e sempre odiei você. 一 Confessa
fria, calculista, com bondade inexistente em seus olhos. 一 Um dia
após o parto fui dominada pelo estresse, traumas psicológicos,
surtei e… 一 Ela pausa e já sei o que dirá, é horrível, doloroso. 一
Não queria ter acabado com a vida da minha própria filha. Estava
fora de mim e seu pai verdadeiro não te quis e me entregou você.
Aceitei…
一 Chega! 一 Interrompo, com uma dor lacerante rasgando o
meu peito. Ensaiei o que dizer, mas ouvir ela confessar sua índole
podre, junto com a revelação chocante traz um grande branco para
a mente. 一 Você é horrível. Não precisa terminar, eu não quero
mais ouvir. 一 Tampo os ouvidos com as mãos, atordoada. 一 O que
você fez é imperdoável e não, não, não tem uma justificativa.
Afasto minhas mãos do rosto e aponto o indicador em sua
direção.
一 Você é amarga, cruel e não sei se um dia conseguirei te
perdoar. 一 Liana sorri.
一 Não pedi e nem preciso do seu perdão, fiz um favor ao te
acolher. Eu te dei um pai, uma vida e provavelmente até um
namorado que você roubou de mim. O meu único arrependimento
foi ter aceitado você naquela noite. Mesmo se tivesse ficado com
sua família verdadeira nunca teria uma mãe, porque a sua morreu.
一 revela irônica. 一 Ainda te dei esse direito, de me chamar de
mãe, mas você é tão mal agradecida que retornou para se vingar e
tomou a minha vida, o meu noivo, mas jamais o meu filho. 一 Liana
passa a mão na barriga. 一 Contarei ao bebê a falsa irmã escrota
que ele tem, traidora, manipuladora e puta.
一 Eu te perdoo! 一 Seus olhos se arregalam. 一 Talvez
precise ouvir isso para purificar sua alma. Para ser uma pessoa
melhor e parar de mentir. Bastava dizer a verdade. E ao contrário
dos seus achismos, não retornei para me vingar. Nem queria morar
com você, mas cedi ao pedido do meu pai. O seu amor eu sempre
quis, isso é verdade, todos os dias senti sua falta, mas o problema
está todo em você, é tão maldosa, narcisista, que acabou se
tornando impossível sentir amor por mim. Você sabia que não seria
compatível e alimentou esperança dentro do meu coração, apenas
para me destruir. 一 Grito, engolindo o choro, buscando as forças
que tanto ensaiei para ter.
一 Garota, nem se eu tivesse alguma chance te salvaria, eu
te deixaria morrer. 一 O choro aperta no peito, as lágrimas ardem
insistentemente e engulo a saliva tentando controlar. 一 Você é
ardilosa, o seu perdão é falso. 一 Afirma fazendo uma expressão de
nojo.
一 Eu te odeio. Não porque você não é minha mãe, mas
porque você poderia ter sido, mas preferiu causar dor. 一 Giro o
corpo e caminho até o elevador e paro antes de entrar. 一 Agora
entendi, você e o tal Harry só queriam enganar o Jack, achou que
tendo um filho dele ficaria rica? O que aconteceu? Se apaixonou e
eu cheguei para atrapalhar o seu golpe? Você não precisa
realmente de perdão, porque nunca teve caráter nenhum. 一
Apressadamente entro e aciono o botão sem olhá-la.
Nunca mais quero ver o seu rosto. Ela destruiu a minha vida.
Não quero saber de família, de nada que possa destruir também a
minha alma. Todos os dias que Gerald esteve comigo, se curando é
para lidar com essa mesma dor que agora é minha. Ele soube que
não era o meu pai e mesmo assim não deixou de agir como se
fosse, pelo contrário, me amou mais. O choro vem pesado,
rasgando o peito em rancor, em agonia.
Eu esperava qualquer coisa, talvez, palavras ríspidas,
declarações de que tentou me amar, mas essas são pesadas
demais. Ela matou a própria filha? Meu pai biológico me deu para
essa narcisista? Que tipo de pessoas são essas? Que tratam um
filho como uma mercadoria, e porque a sensação é de que não
tenho valor nenhum nesse momento?
Abandono o prédio desnorteada, andando pelas ruas, com os
punhos fechados, sem rumo, apenas permitindo que meu coração
se acalme.
“O que será de mim? Quem eu sou de verdade?”.
CAPÍTULO 50
“Eu afundo meus pés na areia
O oceano parece mil diamantes
Espalhados em um cobertor azul
Eu me inclino contra o vento
Finjo que não tenho peso”
(Wish You Were Here, Incubus)

A brisa marítima toca o meu rosto enquanto retiro os sapatos


e enfio os pés na areia. Meu celular vibra na minha mão direita
enquanto mantenho os punhos fechados, apertando-o com toda
força. Enxugo os olhos para enxergar melhor e confirmo que é o
Jack. Eu sei que ele sabe de tudo, que mais uma vez mentiu para
me proteger e não consigo ter raiva, apenas quero ouvir sua voz.
一 Jack… 一 balbucio com a voz trêmula.
一 Clayre, meu amor, onde você está? Se não contar o Kal
levará um soco por ter ajudado você a sair escondido. 一 Provoca
em diversão, mas não consigo sorrir.
一 Ela não é a minha mãe. 一 Ele fica mudo enquanto escuto
o barulho ao fundo de música e pessoas. 一 Isso realmente me
destruiu. 一 Confesso sentindo uma nova lágrima rolar.
一 Clayre, ela é doente. Onde você está?
一 Não quero te ver.
一 Amor, não diga isso. 一 suplica triste.
一 Não quero ouvir nada sobre essa família que me rejeitou.
Não quero saber, dói demais ser rejeitada duas vezes, não serei
pela terceira. Eu morreria viva.
一 Amor, você está no seu cantinho, na praia, escutei o
barulho das águas, não se mova, estou indo aí. 一 Desligo sem
respondê-lo enquanto fico estática olhando o mar fixamente.
A dor é paralisante, como se eu fosse de cera e não pudesse
mover o corpo, mas a mente não para, ela revive repetidas vezes as
palavras da Liana. Realmente ela é doente, mas também é má, o
buraco negro que deixou em mim pode nunca se fechar. E se tudo
desmoronar?
Fico inerte, sentindo a textura fina e áspera da areia em meus
dedos. Não sei precisar quanto tempo estive assim, com o coração
na mão tentando remendá-lo. Visualizo alguém parar ao meu lado e
sentar. Não ouso olhar, imaginando ser o Jack.
一 Clayre… 一 Mas, não é.
Inclino o rosto para olhar o Baylor.
一 O que faz aqui? Eu? 一 Assustada vasculho ao meu redor
para ver o Jack ao longe, sentado na calçada, esperando. 一 O que
está acontecendo? 一 questiono confusa.
一 Jack me disse que estava triste. 一 bufo frustrada.
一 Estou com medo. Não quero morrer, e não quero ser
rejeitada por uma família nova… 一 Confesso chorando
compulsivamente, com todos os medos me perturbando. 一 Acho
que eu preferia não saber, assim não doeria. 一 Ele encara as
estrelas fixamente e ao invés de parecer triste por mim, está calmo.
一 Lembra quando eu disse que perdi duas pessoas
importantes na minha vida?
一 Sim, me lembro.
一 Bom, foi o meu pai e a minha irmã. Na época tinha 10
anos quando ela partiu, passava o dia ajudando minha mãe e
estava me sentindo tão feliz por finalmente ter alguém para me tirar
da solidão. Eu amava a ideia de ter uma irmã para cuidar, para
brincar e dividir a vida. 一 Junto minhas sobrancelhas confusa, com
a mente tentando processar suas falas. 一 Ela morreu no parto
Clayre, nunca pude conhecê-la, até há dois meses atrás. 一 Baylor
abre a carteira, retira um papel e me entrega.
一 O que é isso? 一 capturo-o tremendo e começo abrir
perdida.
一 Queria uma irmã para dividir até parte de mim se fosse
necessário. 一 Suas palavras são suficientes para explodir minhas
emoções.
Meus olhos piscam descontrolados, com as lágrimas
escapando excessivamente enquanto o papel me mostra o
resultado de compatibilidade de 100%. Baylor é o meu irmão, ele é
a minha família. Meu pai e o Jack estavam trazendo-o para a minha
vida sem que essa interação fosse dolorosa.
Solto o papel e pulo sobre ele, que me abraça com força.
Caímos na areia enquanto ele me conforta. Jamais imaginei sentir
uma emoção tão forte que curasse minha alma, que trouxesse junto
amor e esperança.
一 Você é o meu irmão, eu… 一 Tento falar contra o seu
peito, mas o choro impede.
一 Você é minha irmã, Clayre. Mamãe estava ansiosa para
que soubesse a verdade. 一 Afasto-me ficando em pé para olhá-lo.
一 Mãe? 一 Jack se aproxima e me abraça por trás.
Ele puxa minha cintura encaixando-me em seu colo, e senta
na areia. Com ternura beija o meu rosto enquanto alisa os meus
cabelos. Baylor sorri se levantando e sentando-se novamente.
一 Sim, sua mãe está viva, aliás nossa mãe. E ao contrário
do que pensa nós nunca deixamos de te amar. Reconhece essa
mulher. 一 Ele procura uma foto no celular.
一 Ah Meu Deus! 一 exclamo escondendo meu rosto no
peitoral do Jack, emocionada. 一 É a Emma, a enfermeira.
一 Ela é nossa mãe. 一 Pulo do colo do Jack e em segundos
estou nos braços do Baylor chorando novamente com ele.
一 Jamais você se sentirá sozinha. Posso não ter cuidado de
você todos esses anos, mas nunca deixei de te amar.
一 Se precisar bater no Jack quando ele me magoar, você
estará aqui?
一 Sim, até mesmo para bater nele. 一 Sorrimos juntos e
confusa volto para os braços do Jack que me prensam com força
em seu corpo.
一 Meu amor, respira, hoje pode ter parecido que tinha
perdido o mundo, que não sabia quem você era, mas olha aí, porra,
eu amo você, sua família esperou você a vida toda. O milagre não é
só a cura Clayre, mas o amor. 一 Beijo seus lábios e suas mãos
acariciam o meu rosto.
一 Jack, me belisca. 一 Ele sorri.
一 É real amor, você está na porra do meu colo, e sim você
tem uma mãe, um irmão e uma cura para a doença e para o
coração.
一 Isso é muito mais do que mereço, Jack. 一 confesso entre
soluços.
一 Amor, você merece, nunca duvide disso. 一 Tento conter
as lágrimas enquanto Baylor se levanta e bate as mãos na roupa
para retirar a areia.
一 Vamos, dona Emma não dorme direito tem vários dias,
esperando o reencontro.
一 E se ela não gostar de mim? 一 Pergunto sem pensar com
clareza e eles sorriem.
Jack se levanta e me puxa pela cintura passando a mão em
meu vestido.
一 Vocês já se conhecem e ela adorou você. 一 enfatiza meu
irmão, animado. 一 Vamos! Juntos, seguimos até o carro do Jack e
entramos. Os minutos são intermináveis. O caminho parece
extremamente mais longo do que deveria ser. As ruas aparentam
estar mais largas e o meu coração está acelerado. Quando Jack
conduz o veículo pelos portões da casa, aperto uma mão na outra
nervosa.
Estou tão eufórica que não consigo ver nada nítido em minha
frente. A minha visão está turva pela emoção e a cada minuto
preciso engolir meus sentimentos para evitar transparecê-los em
lágrimas. Jack estaciona e desço do carro. Baylor rapidamente para
ao meu lado e segura minha mão. Meus olhos percorrem a casa
grande, as paredes são brancas e as persianas verdes. O ambiente
é luxuoso, bem localizado e minha ansiedade atinge picos elevados
quando a porta se abre.
Emma lentamente pisa na varanda e seus olhos ternos
encontram os meus. Quero segurar o choro que emerge como um
tsunami, mas é impossível. Meus olhos expulsam as lágrimas
salgadas e comprimo meu lábios em comoção.
一 Mãe… 一 balbucio com a voz embargada.
一 Filha… 一 Emma avança em minha direção e me abraça
amorosamente.
Essa mulher que no primeiro contato no hospital foi capaz de
tocar o meu coração. Foram tantos anos sofrendo, querendo uma
mãe, querendo amor materno e finalmente senti-lo através dos
gestos faz toda caminhada árdua ter valido a pena. Não cabe voltar
ao passado, nem questionar os fatos, afinal, não temos o poder de
mudá-lo. No entanto, agora, o futuro pode ser escrito.
Emma passa a mão no meu rosto e sorri.
一 Clayre ou melhor, seu verdadeiro nome, Star. 一 Arregalo
os meus olhos surpresa. 一 Cada noite que chorei olhando para o
céu. Tantas vezes te imaginei como uma estrela. Uma grande
conexão que está além do que se pode compreender, apenas sentir.
一 Amo ser a Clayre e amarei ser a Star de vocês também. 一
Minha mãe me agarra novamente emocionada, chorando
copiosamente enquanto fala com a voz cortada.
一 Espero conseguir ser a mãe que você merece, eu espero
amá-la com tanta força que você seja capaz de sentir o quanto é
importante para mim e para o Baylor. Tê-la novamente em nossa
vida é a grande cura da nossa família e no futuro espero que possa
me enxergar como sua mãe de verdade e sentir amor por mim.
Limpo minha garganta tentando recuperar a voz. Baylor chora
emocionado e Jack olha na direção oposta, tentando ser durão.
一 Emma, eu tenho um pai maravilhoso, agora ganhei um
irmão e uma mãe. Eu sempre tive tanto medo de pedir infinitas
vezes para Deus, porque nunca achei que merecia, mas hoje
compreendo que se não fosse a minha doença eu jamais teria
encontrado vocês. Tudo parecia tão errado, injusto, mas agora, eu
percebi que estava vendo de uma perspectiva desconhecida e o
destino já estava traçado. Espero ser a filha que sempre sonhou.
一 Você é, só de estar viva, de poder te abraçar, você já é o
meu maior presente.
一 O que acontece agora? 一 questiono incerta, com a mente
a milhão.
Jack segura minha mão e beija o meu rosto.
一 Meu amor, agora você vive, temos um longo caminho no
hospital, mas todos estaremos juntos. O amor pode não curar, mas
te tornará mais forte para não desistir.
一 Eu não desistirei, eu lutarei, até o fim.

SEIS MESES DEPOIS


Jack tranca a porta do bar e enfia as chaves no bolso da
calça jeans. Sua fisionomia está séria, a testa franzida pelo
nervosismo e tentando acalmá-lo, abraço o seu corpo.
一 Ei, está tudo bem!
一 Liana terá o bebê, só queria saber como ele está. Droga,
isso está me tirando a paz. 一 Jack captura uma mecha dos meus
cabelos loiros e leva ao nariz inspirando profundamente. 一 Você me
acalma, olhar nos seus olhos é a única coisa que me acalma. 一
Confessa com o olhar fixo ao meu.
一 Ela aparecerá, deve estar se adaptando ou está vivendo
com o Harry em outra cidade.
一 Acho que ela estava com medo de alguém revelar os seus
segredos sujos do passado e causar algum problema. O que ela fez
foi um crime, mas agora depois de tantos anos é difícil trazer isso à
tona, até porque seu pai biológico faleceu, infelizmente. E claro, ela
ajudou o Harry a tentar me roubar novamente. Não queria que o
meu filho crescesse com essa mulher.
一 Sim, mas Jack… 一 Aproximo meus lábios do seu
depositando um beijo. 一 Ela aparecerá, eu tenho certeza. Pessoas
ruins também têm filhos, mas o que aconteceu no passado a
perseguiu por muitos anos. Em breve descobriremos onde ela se
esconde e você poderá entrar na justiça pela guarda do bebê.
CAPÍTULO 51
“Agora toda vez que me olho
Achei que tinha te dito, esse mundo não é para você
O quarto está em chamas enquanto ela arruma o cabelo
Você parece tão brava, apenas se acalme, você me encontrou”
(Reptilia, The Strokes)

Coloco a mão em minha barriga enquanto fecho os olhos


sentindo a contração potente estremecer o corpo. Não lembrava que
a dor é terrível, pior que ossos quebrando. Após a visita da Clayre
resolvi desaparecer e viver distante. Sem obrigações com nada,
nem ninguém, já que ela ocupou o meu lugar. O objetivo, no
entanto, continua o mesmo, criar o bebê e ensiná-lo a ser a minha
vingança viva. Ao menos espalhei na cidade o que ela fez com a
própria mãe porque aos olhos de todos ela é minha filha.
Fiz algumas consultas, mas descuidei nos dois últimos meses
e diferente da gestação anterior não fui dominada pela depressão
mesmo estando sozinha por meses. A dor de cabeça passou a ser
frequente e o inchaço do corpo é perceptível. Não disse ao Harry
onde ficaria, ele não tinha nada mais para oferecer e apenas sugaria
o que conseguirei daqui para frente. A dor gradativamente aumenta
e entro agora no hospital de Los Angeles. Minhas mãos estão
suadas, uma tontura leve se apodera de mim junto a um calor que
não estava aqui antes. Essa é a primeira vez que realmente quero
ter um filho e talvez seja pelo meu desejo de vingança, mas cuidarei
dessa criança.
Sumir acarretou na perda da cafeteria, que era minha fonte
de renda. Pelo menos tenho uma boa quantia, o suficiente para
pagar o parto e viver bem. Estou trabalhando em uma nova cafeteria
no centro e guardo todo salário para ficar tranquila. Toda noite
amaldiçoou a Clayre por ter voltado para a minha vida e tirado tudo
de mim. Posso estar longe, mas acompanho tudo que acontece.
Passo os dados na recepção e minutos depois estou sendo
levada a um quarto de internação. As contrações tornam-se
intensas e aperto os lençóis incapaz de continuar raciocinando. Uma
das enfermeiras se aproxima e faz o acesso venoso e sei que
chegou o momento. No entanto, a minha cabeça dói massivamente,
sinto palpitações, meu corpo é tomado por calafrios, as pernas
também doem e as forças começam a sumir.
一 Escuta aqui, não me sinto bem. 一 A mulher toca o meu
rosto notando que estou suando frio.
一 Peguem o aparelho de pressão. 一 Ordena para a
ajudante que o entrega e ela retorna a atenção em mim. 一 Além
das dores da contração, sente algo diferente?
一 A minha visão está embaçada, estou com vertigens, a
minha cabeça e a nuca doem. 一 Ela confere a pressão e inclina o
rosto fazendo sinal para chamarem o médico.
一 A pressão está alta?
一 Sim, precisaremos fazer a cesárea agora.
一 Me recuso a perder o meu filho, tratem de fazer o trabalho
de vocês direito entendeu? Chamem um médico competente. 一 Ela
me ignora enquanto trazem uma maca para me levarem ao centro
cirúrgico.
A dor erradia para os ombros e braços, sinto enjoos, as
pernas fraquejam enquanto as contrações agudas me fazem gemer
alto, em desespero. Tudo se torna nebuloso, a visão fica turva e
vejo os vultos se moverem ao meu redor e em minutos estou
deitada, sem dor, mas com uma sensação pesada, angustiante que
me tira o ar. Encaro o teto com o estômago ácido, sufocando
gradativamente. Nervosa balanço a cabeça enquanto o médico
acelera o procedimento.
一 Bisturi. 一 Uma dor diferente cresce em meu peito e se
mistura a uma aflição.
一 Doutor, está aumentando a pressão. 一 A tontura me
atinge, o ambiente começa a girar, meu corpo gela, os olhos ardem
e acelero a respiração em busca de ar.
一 Não, eu não quero morrer. Não aceito! Deus não tem esse
direito! 一 Tento fechar os punhos lutando contra os tremores que
percorrem todo meu corpo.
Meus lábios e dentes ficam cerrados, sinto as contrações
involuntárias iniciarem. Os sons se tornam distantes e identifico
pequenos trechos de fala perdendo parte do raciocínio “ela está em
eclâmpsia”, “rápido”. “ela vai convulsionar”.
“Deus, você precisa me salvar, não é possível que você será
um maldito que me levará agora que estou com o filho que pela
primeira vez quero cuidar. Não aceito morrer, não, não”.
Minha cabeça dói ao ponto de explodir e meu corpo
endurece. A luzes se dissipam suavemente, o som desaparece e a
escuridão me envolve.
Após um banho longo seguimos até a cozinha para fazer o
jantar. Tenho passado muitas noites aqui, na verdade todas. Jack
não me deixa partir e também não quero ir. Ele caminha até a
geladeira para pegar uma cerveja. Sento na banqueta da ilha e
mordo uma maçã verde. Meu celular toca em cima do balcão e
rapidamente pego observando que é uma ligação de um número
desconhecido.
一 Alô! Boa noite!
一 Boa noite, é a Clayre Stuart Freburg? 一 Meu coração
acelera.
一 Sim, é ela.
一 Boa noite Clayre, eu sou a enfermeira do Hospital Geral
de Los Angeles e estou entrando em contato para falar sobre sua
mãe. 一 Fico confusa.
一 A Emma? O que aconteceu?
一 Não, a Liana. Está constando aqui que você é filha dela, é
isso mesmo? 一 Levanto e sigo a passos lentos até a sala,
nervosa.
一 Sim, isso, minha mãe Liana. O que aconteceu?
一 Bom, infelizmente ela teve complicações no parto.
Poderia vir até o hospital? 一 Meu coração acelera pela notícia e
ando de um lado a outro.
一 Claro, sim, moro em Miami, mas prometo chegar aí o mais
rápido possível.
一 Tudo bem, aguardaremos.
一 Ela está bem? 一 A enfermeira fica em silêncio e
pondera as palavras.
一 Não podemos falar por telefone, mas infelizmente não.
一 Uma respiração pesada e profunda escapa dos meus lábios, eu
sei o que quer dizer, ela morreu.
一 E o bebê? Ele está bem?
一 O seu irmão está bem, conseguimos salvá-lo, é um
menino saudável. 一 Um sorriso escapa de mim e balanço a
cabeça concordando, mesmo sem que ela possa me ver.
一 Em breve chego!
一 Boa noite! Ele estará esperando.
Desligo o telefone com as mãos trêmulas e Jack encara-me
preocupado.
一 Está tudo bem? O que tem a Liana?
一 Jack, era uma ligação de um hospital, o bebê nasceu. 一
Seu semblante empalidece, os olhos arregalam, a respiração fica
ofegante e os ombros tensionam.
一 Onde ele está?
一 Vamos buscá-lo. 一 aviso.
一 Como assim?
一 Liana perdeu a vida no parto, me ligaram porque
legalmente sou a irmã do bebê. 一 Jack está branco, sua
respiração trava e leva a mão direita a boca, tapando com força,
segurando os sentimentos.
Aproximo-me e abraço sua cintura e roço meu rosto em seu
peito. Ele se rende ao gesto de carinho e me prende em seu corpo.
Sutilmente encosta a lateral do rosto no topo da minha cabeça e
suspira.
一 Estou com medo. Nunca quis ter um filho.
一 Jack Bourbon você é o segundo homem mais protetor que
conheço, só perde para o meu pai. 一 Sorrimos juntos. 一 Ele terá
o melhor pai do mundo.
一 Ligarei agora no aeroporto. 一 avisa se afastando
afobado.
Os próximos minutos são tensos. Jack anda perdido até parar
e suspirar. Pegamos apenas uma bolsa com documentos e uma
muda de roupa e corremos para o aeroporto. Jack consegue as
passagens e quando sentamos na poltrona do avião voltamos de
fato a respirar. Tudo aconteceu freneticamente e agora ficamos
inertes, sem reação, em total silêncio, ansiosos para entender tudo.
Quando pousamos pegamos um táxi. Nossas mãos não se soltam,
um apoiando ao outro, em busca de força para entender o futuro
que acaba de mudar.
Chegamos ao hospital com o dia amanhecendo e uma
enfermeira está na recepção.
一 Bom dia, eu sou Clayre Freburg e estou aqui para buscar
o meu irmão. A paciente é Liana Stuart. 一 A mulher balança a
cabeça em concordância e pega o meu documento para conferir.
Após todo procedimento somos direcionados até um corredor
amplo e sentamos nas poltronas para aguardar.
一 Bom, ele não poderá entrar com você. 一 avisa outra
enfermeira olhando fixamente para o Jack.
一 Ele é o pai do bebê. 一 Apressadamente Jack pega o
documento e entrega.
一 Certo, o nome confere com o dado pela paciente, tudo
bem, podem me acompanhar.
Entramos na ala de maternidade e no canto direito está uma
incubadora. Vejo uma pequena criatura enrolada em cobertores e
me aproximo lentamente. As cobertas felpudas são azuis e os
olhinhos curiosos estão assustados.
一 Ele está super bem. 一 avisa a enfermeira enquanto
olhamos juntos através do vidro transparente e meu coração se
enche de emoção.
一 Ele é tão lindo, pequeno. 一 diz Jack com a voz
embargada.
Com cuidado a enfermeira o pega e entrega para ele que
está ofegante, pálido e emocionado. Jack o abraça e fecha os olhos
cheirando com carinho. Uma mão se fixa atrás da cabeça e a outra
na costas para não machucá-lo.
一 Ah, meu Deus, eu sou pai, não consigo acreditar. Estou
feliz. 一 afirma admirando o bebê com os olhos marejados.
一 O que aconteceu com a Liana? 一 questiono.
一 Preciso que me acompanhem até a sala do médico que
explicará tudo e entregará todos os documentos para serem
assinados.
一 Bom dia. Sou o doutor Mayer, sinto muito pela perda de
vocês. Infelizmente não conseguimos salvá-la. Liana teve uma
eclâmpsia junto a uma hemorragia severa. A idade avançada e o
descuido do acompanhamento nos últimos meses de gestação
foram os fatores que agravaram o quadro. Mesmo com a vida em
risco se recusava a partir e lutamos para trazê-la de volta, mas
infelizmente não foi possível.
一 Quero vê-la. 一 Jack me olha receoso. 一 Eu preciso.
一 O médico concorda e se levanta.
一 Tudo bem, me acompanhe, por favor. 一 Jack beija meu
rosto.
一 Não quero ver. 一 concordo compreensiva e sigo atrás
do médico.
Passo pelos corredores frios e brancos com as mãos juntas
ao corpo. Uma grande agonia nasce no meu peito e seguro as
emoções prendendo-as com força para não extravasar. Passamos
por uma porta e o ambiente é extremamente frio e solitário. Logo a
frente está o corpo coberto e com cuidado o médico retira a
proteção apenas do rosto para poder vê-la.
一 Deixarei você sozinha, para se despedir. 一 confirmo
com um balançar de cabeça sem conseguir falar.
O homem sai e fecho brevemente os olhos inspirando
profundamente. É real, ela realmente partiu. Levo a mão direita ao
seu rosto e toco em sua pele gélida. Não se move e o meu peito
explode liberando a dor. As lágrimas escapam incontroláveis por me
sentir aliviada. Por que me sinto assim? A verdade é que um peso
saiu de mim. Ela me causou tanto dor que saber que nunca mais
poderá me machucar alivia. Fungo aflita, tentando controlar o choro
e limpo a garganta.
一 Adeus, mas eu precisava dizer que ficarei com o seu filho
também e, juro, nunca imaginei isso ou te desejei o mal. No final,
você queria ser salva e era assim que eu me sentia, querendo mais
vida. Prometo que serei uma ótima mãe, diferente do que você foi
para mim e o amarei como você nunca conseguiu me amar. Nos
encontraremos depois das estrelas, além do infinito, quando elas
não brilharem mais e espero que esteja arrependida e quem sabe
um dia possa te perdoar. Adeus Liana.
CAPÍTULO 52
“Se eu desistir de você, eu desisto de mim
Se lutarmos pela verdade ficaremos juntos”
(Stigmatized, The Calling)

Após todo procedimento e o médico explicar a causa da


morte, saímos do hospital atordoados. Sentamos no táxi que Jack
fez questão de pagar para nos levar a Miami, para a segurança do
bebê. As lágrimas escapam molhando meu rosto e encaro o bebê
frágil agora dormindo nos braços do Jack e mesmo odiando o fato
de ela ter sido capaz de me causar tanta dor, sei que o amarei e
cuidarei com muito amor.
一 Jack, eu prometo ser a melhor mãe que seu filho poderia
ter, a mãe que eu nunca tive e sempre sonhei em ter. Prometo amá-
lo com a minha vida, como amo você.
Jack não segura o choro e aperta os olhos tentando conter
seus sentimentos bagunçados.
一 Desculpa, você não merece carregar um erro meu. 一
Coloco a mão em seus lábios tampando-os.
一 Nunca mais diga isso. Cuidaremos dele, Liam nunca será
um erro. A família nunca se tratou de sangue. Em poucos dias
descobriremos se estou curada após um longo tratamento e
cuidaremos dele juntos.
Jack me abraça enquanto admiramos o rostinho angelical,
com o melhor cheiro do mundo.
一 A família que escolhemos, Clayre, todos os dias.
一 Para sempre! 一 aconchego ao seu lado.
O trajeto até Miami é silencioso. Após algumas horas de
viagem, Jack descansa enquanto fico com o bebê. Liana havia
escolhido o nome, Liam. Poderíamos trocar, mas olhar para o seu
rostinho não me deixa. Ela escolheu e ficará assim. Seguro-o com
tanta força em meus braços que de minuto em minuto confiro se não
estou machucando.
Quando chegamos no prédio subimos para o apartamento.
Passamos pela sala perdidos e seguimos para a cozinha para tomar
água, minha boca está seca e meus olhos doem por ter chorado
tanto. Liam é lindo, os cabelos são castanhos claros e sua estatura
é minúscula. Jack continua pálido, porém mais calmo. Ele passa a
mão direita na barba com uma feição de dúvida.
Embalo-o em meus braços enquanto penso que talvez esse
seja um presente de Deus. Como a minha doença é hereditária, ter
um filho seria um risco. A criança poderia ter ou ser um portador do
gene assim como a minha mãe, e é justamente devido a isso que
acontecem casos como o meu. Liam pode não ter nascido de mim,
mas o meu amor por ele será o mesmo. Admiro suas mãozinhas
delicadas que estão juntinhas enquanto dorme pacificamente. Jack
segue até a geladeira para pegar uma cerveja. Já sei que está
nervoso, perdido e talvez até com medo.
一 Como cuidaremos de um bebê? Eu não sei fazer isso!
Eu… 一 suspira pesado depositando a bebida sobre a ilha. 一 Estou
com medo. 一 confessa.
Aproximo lentamente dele e encosto em seu peitoral. Seus
braços envolvem minha cintura e olhamos continuamente para o
Liam.
一 Precisaremos de fralda, leite, roupas e muito amor. Jack,
nós faremos isso, olha para ele, o que sente ao vê-lo? 一 Ele
suspira novamente e sorri.
一 Sinto amor!
一 Eu também, e sabe não perderemos nada da vida, pelo
contrário, ganharemos uma família. Você será o melhor pai, talvez
claro em alguns momentos coloque a fralda errado, mas no geral,
você será incrível.
一 Poderei ensiná-lo a andar de moto, a produzir bebidas e
ouvir rock. 一 Elevo meu rosto para olhá-lo com a sobrancelha
arqueada.
一 Certo, senhor rock and roll, mas ele é um bebê, vai
demorar um pouco, mas sim, ele amará tudo isso. 一 Jack morde
minha bochecha roçando a barba na lateral do meu rosto.
一 Liam terá a melhor mãe do mundo, meu amor, isso tenho
certeza.

Após passar a tarde verificando e comprando tudo que o


bebê precisa finalmente paramos para respirar. Pela primeira vez
ofereci mamadeira a ele e senti tanto carinho e não queria deixá-lo
nem para ir tomar banho. Saio do banheiro e coloco rapidamente o
pijama. Essa será nossa primeira noite com o bebê e escutamos
atentos todas as dicas da Alexia, mãe do Jack e do meu pai.
Coloco minhas pantufas e enquanto me refrescava, Jack
permaneceu com o bebê. Sigo até a sala e antes de entrar escuto
ele questionar indignado. Avanço preocupada e o encontro
segurando o bebê nas mãos com a testa franzida.
一 Droga, Clayre, ele está doente?
一 O quê? O que aconteceu? 一 Ele franze também o nariz e
faz careta.
一 Esse cheiro não é normal. Como pode uma criatura tão
pequena se sujar dessa forma? 一 Gargalho e me aproximo.
Jack o coloca no sofá e abre as roupas com uma expressão
extremamente engraçada de medo.
一 Santo Deus, quantas vezes por dia isso acontecerá?
一 Muitas Jack. 一 Ajudo-o e ao terminar o bebê está
cheiroso de novo.
Sentamos juntos no sofá e admiramos o Liam deitado no colo
dele.
一 Ele sorriu para mim, mais cedo! 一 Orgulha-se. 一 Estava
errado em não querer ter filhos, eu já o amo e não estamos nem
vinte quatro horas com ele.
Aproximo meu rosto do seu e nos beijamos.
一 Liam amará você Jack.
一 Você também, meu amor. Amanhã compraremos roupas,
um boné e uma jaqueta pequena de couro… 一 Fala empolgado
enquanto o admiro sorrindo.
ALGUNS DIAS DEPOIS
A confirmação de que minha saúde está 100% finalmente
veio. Meu pai decidiu vender a sua parte na empresa para o sócio.
Os motivos: o novo neto e a minha verdadeira mãe, que agora é sua
namorada. Sempre sonhei em ter uma família perfeita, e claro, não
existe perfeição, mas agora estamos bem perto dessa definição.
Jack surpreendendo a todos é um pai dedicado, são poucos dias,
mas ele já demonstra o quanto será protetor porque passou a dormir
no quarto do Liam, na poltrona de couro caramelo que fez questão
de comprar. Segundo suas desculpas, estava cuidando dos sonhos
dele.
Admiro agora o céu acinzentado e seguro no braço do meu
pai. As folhas secas balançam com o vento suave da primavera e
algumas despencam lentamente caindo sobre o chão de terra com o
gramado batido. Pela primeira vez andamos por entre os túmulos à
procura da “verdadeira” Clayre. Em minha mente imagino um anjo
flutuando querendo confortá-lo, afinal, mesmo com medo assumiu
todos os riscos e nunca me faltou o principal, o amor, esse mesmo
amor que hoje dói em seu coração porque por maior que seja nunca
faltaria espaço para quantos filhos tivesse.
Atravessamos alguns túmulos e pisamos sobre as folhas
analisando cada lápide escrita à procura do nome. Em um dos
últimos localizado no centro do imenso local vislumbramos o dela, o
que deveria ser meu, mas há 18 anos a acompanha. O corpo dele
enrijece, as pernas travam ameaçando ceder, os olhos tornam-se
vermelhos, intensos, repletos de lágrimas e seguro em sua mão
dando força.
一 Pai, sei que está com medo, que quer ser forte, mas não
seja! Deixe a dor te dominar e chore, se livre desse sentimento,
dessa culpa que você acha que tem. Porém, eu te garanto, a Clayre
sente o quanto você a ama e onde quer que esteja está feliz por ter
um pai incrível.
Caminhamos para mais perto da lápide de granito preto e
encontramos uma inscrição em memória. “A saudade é imensurável,
assim como o nosso amor por você que atravessará os tempos,
nossa linda estrela brilhante”. Não consigo conter a emoção pela
crise de identidade que se apodera do meu coração e apenas
choramos juntos em silêncio. Em meio a tantos motivos que
rodeavam a minha mente para o desprezo da Liana, jamais imaginei
uma verdade tão amarga como essa.
Meu pai me abraça e nos confortamos juntos, por longos
minutos. A sensação é que parte de mim estava lá dentro com a
Clayre, uma parte que faltava para preencher toda solidão que eu
sentia. Uma brisa suave, o som dos pássaros cantando trazem
calma e a impressão de não estarmos sozinhos.
一 Filha, sabe… Deus foi tão bom comigo que mesmo
perdendo uma filha, ele me deu outra maravilhosa.
一 Se a Clayre estivesse viva te amaria também, é impossível
não te amar, você é o melhor pai do mundo. A família não é só a de
sangue, é sobre lutar uns pelos outros, amar e nunca abandonar, é
sobre o amor.
一 Amo você, filha. 一 diz carinhosamente e uma voz doce
fala em seguida pelas nossas costas.
一 Eu também amo você Clayre ou Star… 一 confessa minha
mãe Emma e giro o corpo para vê-la.
“Ela veio, ela está pronta para vivermos juntos, como uma
família nova”.
一 Eu não me sinto mais sozinha e prometo que serei uma
boa mãe para o Liam.
一 Liam é um garoto de sorte. 一 Enfatiza meu pai enquanto
sou envolvida pelos dois em um abraço inesquecível, sem dor, sem
medos.
Repleto de amor.
EPÍLOGO
UM ANO DEPOIS
“Ainda te sinto nos meus sonhos
Toda noite eu te encontro nas estrelas
Pra dançar nossa canção
Lembro da sua boca no meu rosto
Na última noite de agosto
Cê já sabia que ia levar meu coração”
(Depois do Universo, Giulia Be)

Olhar para a Clayre ainda me traz a sensação da primeira


vez que a vi. Quando surgiu na minha porta procurando sua mãe.
Naquele momento fiquei intrigado com o seu jeito meigo que
despertou um lado adormecido dentro de mim. Um lado que eu não
conhecia por nunca ter me apaixonado de verdade. Ao longo da
vida fiquei atraído e tive várias mulheres, mas nenhuma me fez ser
inconsequente e quase perder a sanidade.
Ontem o Liam disse sua primeira palavra e foi “mamãe”, claro
que choramos. Sou sortudo por ter a garota mais doce do mundo
comigo, que dorme agarrada ao meu corpo e faz questão de amar
nós dois mesmo quando a estresso. Deixamos o Liam com a Barbie
e finalmente farei uma surpresa para a Clayre. Ela admira a
paisagem lá fora enquanto sua mão faz carícias em minha coxa.
Particularmente nesses momentos em que seus olhos verdes estão
fixos em algo aproveito para me dar conta do quanto a amo e
desejo.
一 Barbie continua revoltada com o Buck, o que ela pretende
fazer?
一 Uma doce vingança, minha irmã jamais esquecerá que ele
foi de cavalo buscá-la em um desfile de moda. Saiu em todos os
programas de tv e agora está brava em dobro porque tem um monte
de mulheres suspirando para conhecer o tal cowboy do interior.
一 Eles vão se entender, são apaixonados desde criança. 一
Ela faz uma pausa e sorri. 一 Liam ama ficar com a Dior, os olhos
brilham ao vê-la. Barbie daqui a uns dias precisará nos dar guarda
total dela.
一 Não fique com saudades, daqui a uma hora estaremos de
volta. 一 Ela concorda sem jeito e percebo o quanto cuida do nosso
filho com tanto amor e até esqueço que quem gerou foi a Liana.
Quando estamos bem distantes, em um campo aberto, onde
não há casas e nenhuma luz, somente a do luar, estaciono. Clayre
desce do carro com um sorriso no rosto.
一 Veremos as estrelas? 一 questiona docemente.
一 Sim, mas fecha os olhos. 一 Ela estreita o olhar
sedutoramente e me aproximo pegando em suas mãos.
一 É sério. 一 aviso.
一 Tudo bem! Prometo não olhar.
Nesses momentos me sinto um idiota apaixonado, mas já
aceitei esse meu lado nada rock and roll. Pego um lençol e estendo
sobre a grama. Pego os dois presentes e coloco sobre ele.
Aproximo-me da Clayre tocando em sua cintura, conduzindo-a
enquanto sorri ainda tampando os próprios olhos. Ela senta ao meu
lado e quando estamos prontos toco em seus lábios com meu
polegar, contornando-os suavemente.
一 Pode abrir. 一 Ela faz o que mando e o seu semblante se
ilumina ao conferir os presentes. 一 Lembro que me disse algo
sobre querer provar a nuvem e ter uma estrela em um pote de vidro.
一 Jack, você me surpreende todos os dias e nem falo sobre
a parte em ser péssimo tentando cozinhar ou quando é
extremamente genuíno ao fazer o Liam dormir tão facilmente em
seu colo. Eu… amei! 一 Com a mão direita captura o abajur de vidro
com uma estrela dentro e o acende.
A luz amarelada ilumina parcialmente o seu rosto,
evidenciando os seus olhos verdes intensos. Suspiro encantado
enquanto assisto sua boca se aproximar do enorme algodão-doce
para devorá-lo.
一 Sempre quis provar um pedacinho da nuvem. 一 Relembra
enfiando a nuvem açucarada em seus lábios. 一 Fico
automaticamente excitado e meu coração acelera quando seu olhar
procura pelo meu. 一 Jack… 一 sussurra com a boca melada com a
espuma rosa. 一 Quero você! 一 confessa se aproximando.
Clayre aproxima a boca do meu peitoral, na abertura da gola
e morde minha pele. Suas mãos pequenas desabotoam e empurram
minha camisa de flanela deixando meu peito nu. Meus braços
prensam seu quadril ao meu, sentando-a em meu colo.
一 Não faz isso, eu já fico duro de tesão. 一 Passo minha
língua ao redor dos seus lábios sentindo o resquício de açúcar
grudada.
一 Então farei de novo. 一 provoca abaixando o rosto e
mordendo novamente meu peito. 一 Jack, eu sou sua, desde que
me beijou pela primeira vez.
一 Não, Clayre, você é minha desde que eu te vi entrando
pela porta no primeiro dia. 一 Ela mordisca novamente, chupa minha
pele, deixando uma marca de prazer.
Puxo seu quadril, esfregando sua boceta em meu volume.
一 Ah, Clayre, eu amo foder você. Amo socar bem fundo
enquanto você me olha assim, com safadeza. 一 Minhas palavras a
fazem morder o lábio inferior de desejo.
一 Então me pega, Jack, meu corpo é seu, meu coração é
seu. 一 diz excitada, movendo suavemente o quadril.
Minhas mãos safadas sobem pelas suas pernas erguendo o
seu vestido. Adoro quando ela usa esses vestidos curtos, sem
calcinha, só para me atiçar. Ela joga o corpo para trás e
rapidamente a seguro roçando os dedos nas laterais dos seus seios.
Ansiosa, puxa-os de dentro da roupa e os expõe. Meus olhos
admiram com desejo e transitam entre um mamilo e outro. Meus
lábios se abrem sedentos para prová-los e minha ereção torna-se
grande, cutucando sua entrada quente enquanto sua excitação
umedece a minha calça jeans.
Clayre eleva o quadril e abro afobado o zíper da calça
puxando para fora meu pau grande e duro. Ela provoca rebolando e
friccionando sua abertura molhada por toda extensão. Com a outra
mão elevo o seu tronco e abocanho o seu mamilo rosado esquerdo.
Minha boca chupa enquanto a língua se move sobre o bico,
fazendo-a gemer.
A glande robusta do meu pau se esfrega em seu clitóris e
desesperado movimento seu quadril enfiando gradativamente em
sua boceta. Ela geme, seu mamilo endurece enquanto o mordo com
força. Com arrogância agarro as laterais da sua cintura puxando o
seu quadril contra o meu. Minha ereção bate em sua profundidade
sendo esmagado. Suas paredes se acostumam com o meu
tamanho e começo a movê-la em meu colo.
Um ritmo feroz. Profundo. Sentindo sua textura quente e
gostosa.
A fricção e os movimentos fazem nossa pele ferver de tesão
e com satisfação encaixo minhas mãos por baixo do seu quadril e a
elevo do meu corpo, sentando-a de uma vez no meu pau. Seu corpo
estremece, suas mãos passeiam pelos músculos dos meus braços e
seu olhar se fixa ao meu. Ela rebola, subindo e descendo, forte e
rápido. Seus lábios entreabertos soltam gemidos eróticos tentadores
encostados ao meu enquanto seus seios balançam e seus mamilos
raspam em meu peito, continuamente.
一 Jack, eu amo você. 一 sussurra com a boceta molhada,
cada segundo mais deslizante.
一 Clayre, minha safada abre mais essas pernas e goza
gostoso no seu homem, meu amor.
Meu pedido é uma ordem prazerosa que ela adora obedecer.
Seu clitóris esfrega-se intensamente, meu coração acelera, minhas
pernas ficam rígidas, meu peito infla de ar e a onda de prazer vem
aguda, me fazendo arfar. Clayre se contorce, as pernas amolecem,
as mãos apertam meus cabelos enquanto bato sua boceta no meu
pau, enterrando fundo dentro dela para gozar enlouquecido.
Meu líquido a preenche, meu tórax se eleva captando o ar e
juntos caímos na grama verde fofa olhando fixamente para o céu.
Esse é nosso momento preferido! Fazer amor no meio do nada, sob
o céu e as estrelas. Com carinho puxo-a para o meu corpo que me
abraça. Deposito um beijo em sua testa e fecho os olhos.
一 Jack o que você imagina no nosso futuro? 一 balbucia
ainda sem ar.
一 Clayre, teremos uma vida longa juntos. Passaremos
muitas noites acampando, você fará sua faculdade. Em um final de
semana sairemos para andar de moto, em outros avistaremos o
mar. 一 Ela sorri e eleva o rosto com o olhar preso ao meu.
一 Beberemos alguns drinks, arrumaremos um namorado
para a Dior e farei uma tatuagem igual à sua, de sol, lua e estrela!
一 Uma risada escapa de mim.
一 Casaremos, faremos muito amor e quem sabe teremos um
filho.
一 Nós já temos, o Liam. 一 diz com amor na voz, ajustando o
tom para doce e suave.
一 Outro filho… 一 Ela sorri.
一 Jack…
一 Clayre… 一 Os vaga-lumes começam a piscar e a brisa
gelada toca os nossos corpos.
Puxo-a pela nuca tocando nossos lábios. Envolvo sua língua
com a minha e sugo, em um beijo gostoso. Ela geme contra minha
boca e fico totalmente rendido ao seu poder. Quando se afasta nos
entreolhamos, apaixonados.
一 Jack, meu padrasto ordinário que virou meu namorado
safado. 一 Mordo-a e ela tenta fugir virando o rosto.
一 Clayre, meu anjo com a asa quebrada. A que desafiou os
medos e sentou no inferno para tomar uns drinks comigo. Eu amo
você.
一 Eu também te amo, Jack Bourbon!
FIM

Seja um doador de medula óssea, você pode salvar uma vida!


AGRADECIMENTOS
Chegamos ao final e usarei esse pequeno espaço para
compartilhar brevemente alguns pontos. Primeiramente se você
gostaria de saber mais sobre doação de medula óssea? Só clicar
aqui. Esse livro estava longe de ser algo clichê e espero que ao
chegar aqui você tenha se apaixonado pelo Jack e a Clayre. Dois
personagens intensos, que alugaram minha cabeça no ano
passado, mas por muitos conflitos que muitas vezes sugam nossa
energia os coloquei de lado. Escrever esse livro me trouxe muito
crescimento pessoal, foi onde deixei muitas crenças de lado para
trazer exatamente o que os personagens queriam. Gostou do livro?
Comente e avalie. Então, dito isso, agradeço primeiramente a Deus,
e posteriormente, minhas leitoras que não me deixaram desistir.
Quero deixar minha gratidão a todos os profissionais que
trabalharam nesta obra, desde revisão, leitura crítica, betagem,
ilustração e as parceiras de divulgação que abraçaram esse projeto.
Agradeço imensamente às minhas amigas de vida que forneceram
suporte, apoio moral, emocional para nunca desistir de cada história
que me proponho a escrever, vocês sabem que fizeram diferença.
Na ordem que planejei o próximo dessa série será o livro do Kurt
Bourbon, em seguida o da Barbie e por último o do Frank (tio do
Jack e da Barbie). Obrigada leitoras maravilhosas, nos encontramos
no próximo lançamento. Não deixem de me seguir no Instagram
para ficar por dentro das novidades, clique aqui.
Com amor, Diana Novak
[1]
Miami ou oficialmente Cidade de Miami, é uma cidade localizada no estado
estadunidense da Flórida, nos Estados Unidos.
[2]
A Universidade Internacional da Flórida é uma instituição de educação superior pública
estadunidense localizada em Miami, no estado da Flórida.
[3]
A Carolina do Sul é um estado no sudeste dos Estados Unidos da América.
[4]
Charleston é a cidade mais populosa do estado norte-americano da Carolina do Sul.
[5]
McDonald’s Corporation é uma rede multinacional estadunidense de fast food, fundada
em 1940 como um restaurante operado por Richard e Maurice McDonald, em San
Bernardino, Califórnia, Estados Unidos.
[6]
A Igreja Gesu é uma histórica igreja católica romana em Miami, Flórida.
[7]
A Suíça é um país montanhoso da Europa Central com grandes números de lagos, vilas
e picos elevados dos Alpes.
[8]
Biscayne National Park é um parque nacional localizado na Flórida, Estados Unidos.
[9]
Boca Chita Key é a ilha ao norte da parte superior de Flórida Keys, no Parque Nacional
de Biscayne, Condado de Miami-Dade, Flórida.
[10]
A cidade de Zurique fica no extremo norte do lago Zurique, no norte da Suíça.
[11]
Plaza Club é um bar e clube noturno em Zurique, na Suíça.
[12]
Pinóquio é um personagem de ficção cuja primeira aparição se deu em 1883, no
romance As Aventuras de Pinóquio, escrito por Carlo Collodi.
[13]
Every Breat You Take é uma canção da banda The Police do album Synchronicity de
1983, escrita por Sting e Andy Summers.
[14]
The Police é uma banda inglesa de rock, formada pelo baixista e vocalista Sting, o
guitarrista Andy Summers e o baterista Stewart Copeland na cidade de Londres em 1976-
1977.
[15]
O Restaurante Space 220 no Epcot oferece pratos sofisticados e contemporâneos. O
restaurante tem como temática uma base espacial, chamada Estação Espacial Centauri e
seus visitantes terão a impressão de estarem a 354 km acima da terra.

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