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Copyright © 2023 Mário Lucas

DEPOIS DE VEGAS
REJEITADA GRÁVIDA DO MELHOR AMIGO DO MEU PAI
1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do
autor/editor.

Capa: LA Design
Revisão: Gláucia Padiar
Leitura Crítica: Regiane Lemos
Betagem: Jéssica Figueiredo, Alessandra Portechel.
Diagramação: April Kroes
Ilustração: @aika_ilustra

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia
autorização do autor. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.


Sumário
Sinopse
Nota
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Outras obras
Gravidez Inesperada. Age Gap. Melhor amigo do Pai.
Chefe e estagiária. Ele irá rejeitá-la.

ÁGATA RUGGIERO
Eu sempre soube o que queria na vida: a primeira,
era me tornar uma grande advogada como o meu pai, e a
segunda, ser a mulher do poderoso Filippo Gagliardi, o
melhor amigo e sócio dele.
Entretanto, por maiores que fossem os meus
sonhos, não estava preparada para me tornar a
estagiária do homem mais arrogante e bonito que havia
conhecido, nem passar tanto tempo perto de Filippo, sob
o seu olhar duro e aquecido, me sentindo umedecer e
corar a cada vez que o seu sorriso cínico se abria.
Porém, por mais que tentasse, ele não me
intimidava, para o azar dele ou não, estava decidida a
provar que não era mais uma menina!

FILIPPO GAGLIARDI
Sentia os olhos da Ágata em mim desde que ela era
apenas uma pirralha, por esse motivo sempre a evitei,
mesmo depois de ter lido aquele seu maldito diário anos
atrás, onde revelava que me queria.
O problema é que agora, com a nossa convivência
trabalhando juntos no escritório, descobri que a quero
também. Não consigo manter distância mesmo sabendo
que a garota é proibida, que tem metade da minha idade
e seu pai jamais permitiria que a sua filha inocente se
envolvesse com o seu amigo cafajeste.
No entanto, uma viagem de trabalho a Las Vegas
mudaria tudo. Uma noite quente e uma gravidez
impossível seria o nosso fim... ou o começo.
O que acontece em Vegas fica em Vegas, mas para
mim e Ágata talvez houvesse uma história depois disso.
Seja bem-vindo(a) ao universo de advogados
italianos poderosos, protetores, ciumentos e
possessivos. Aqui você conhecerá Filippo Gagliardi, um
homem de quarenta anos que tem todas essas
características e mais um pouco. Ele só não contava
ficar perdidamente obcecado e apaixonado por sua nova
estagiária, a filha do seu melhor amigo, vinte anos mais
nova.
“Depois de Vegas” conta uma história leve,
divertida, sexy e com um toque de drama que acredito
que todo bom enredo deva ter. Não é um livro com um
grande plot, tem lá os seus mistérios, no entanto, é uma
característica trabalhada ao longo dos capítulos.
Interessante informar, que o problema de saúde da
mocinha foi inspirado em uma história real de uma amiga
que tive na época da faculdade. Ela me ajudou com
várias informações.
Todos os sentimentos e cenas do casal foram
construídas com muito amor e dedicação de minha parte,
sempre prezando por uma leitura agradável para cada
leitor.
Ainda assim, devo alertar que aqui você encontrará
linguagem inapropriada para menores de dezoito
anos, cenas de sexo explícito, relacionamento tóxico
familiar e rejeição de gravidez, mas com o nosso
amado final feliz.
Espero de coração que goste do livro e seus
personagens. Que Filippo com a sua arrogância e
redenção conquiste você!
A todos aqueles que adoram os
mocinhos que de mocinhos não têm
nada. Aqueles errados que terminam
com uma boa redenção.
Escaneie o QR Code acima e acesse a
ilustração exclusiva do livro ou clique
aqui.
Três anos antes...

Não estava feliz com a droga do vestido que cobria


o meu corpo e nada do que eu vestia parecia bonito o
bastante para tentar chamar a atenção da única pessoa
que realmente importava encontrar nessa festa, Filippo
Gagliardi.
Parecia errado demais ter apenas dezessete anos e
imaginar viver um amor inabalável com o melhor amigo
do meu pai, que por sinal era mais velho que ele, e
terrivelmente atraente. Não sabia ao certo quando essa
atração proibida teve início, sequer conseguia
dimensioná-la, mas entendia que os meus sentimentos
eram fortes o suficiente para não se tratar de algo
passageiro ou, como muitos diziam, “coisa de menina”.
Uma menina, era assim que Filippo me enxergava,
uma sobrinha de consideração. O pior era que não
poderia julgá-lo, o estranho seria se fosse o contrário,
mas essa ideia não me irritava menos.
Eu queria que ele me enxergasse como mulher, que
não julgasse os sonhos molhados de nós dois que me
atingiam e me faziam incendiar quase todas as noites.
Não que desejasse algo apenas carnal, pelo
contrário.
Quando pensava em Filippo, era paixão que
trovejava em meu peito, era falta de ar entre os meus
pulmões, apesar do calor desconhecido e enlouquecido
que se alastrava por cada centímetro da minha pele.
Não havia como negar, nada me faria mais feliz do
que tê-lo para mim, exceto, me tornar uma advogada
extraordinária, outro grande sonho da minha vida.
Inconformada, olhei-me uma última vez no espelho
assim que escutei o som das batidas exigentes na porta.
O vestido claro que circundava cada curva do meu corpo
era o quinto que eu experimentava em menos de uma
hora e ainda assim, não me sentia bonita e imponente
como as mulheres que Filippo costumava andar
acompanhado.
Não era como se quisesse ser igual a elas, todas
pareciam acompanhantes de luxo. Apenas almejava
chamar a atenção de Filippo da maneira que aquelas
mulheres conseguiam, queria que ele notasse com olhos
de homem a mulher que estava me tornando.
— Filha, andiamo [ 1 ] , está na hora! — A voz de meu
pai ressoou em meus ouvidos, denunciando que a sua
paciência em me aguardar fora do quarto já havia se
esgotado.
Ajeitei a mecha loira que se desprendeu do meu
penteado e abri a porta para encontrá-lo. Suas
sobrancelhas se estreitaram em reprovação acerca do
meu atraso, mas sua chateação demorou pouco assim
que me contemplou de cima a baixo e esticou um
pequeno sorriso.
— Está linda — elogiou, oferecendo o braço.
— Não estou, não — neguei, insegura, enlaçando
meu braço ao seu.
— Alcançar a segunda maior nota no vestibular de
Direito merece o seu reconhecimento. — Orgulhoso,
papai me guiou até a escada, descemos alguns degraus
e avistamos os convidados, cerca de trinta pessoas.
— O senhor disse que seria uma comemoração
pequena, apenas com os íntimos — sussurrei em seu
ouvido, sentindo os meus músculos ficarem tensos com
toda a atenção que eu iria ter, mas que não apreciava.
— Se tivesse passado no primeiro lugar, a festa
seria ainda maior. — Ele sorriu para o pessoal que se
aglomerava na luxuosa sala de estar, todos começaram
a me aplaudir, como se eu fosse alguma estrela de
cinema.
Forcei-me a sorrir, mesmo após ter sido golpeada
com as suas palavras.
Se tivesse o primeiro lugar...
O Sr. Giancarlo Ruggiero era um ótimo pai, mas
muito exigente comigo e com o meu irmão Enzo desde
sempre, isso não era segredo para ninguém. A minha
sorte era que o admirava tanto quanto a sua profissão,
porque se fosse o contrário, provavelmente ele não
permitiria que eu seguisse outro caminho que não a
advocacia.
Agradeci os aplausos e cumprimentei cada um dos
presentes, todos faziam parte da alta hierarquia da
sociedade milanesa.
Quando me dei conta de que Filippo não estava
entre eles, foi como receber um balde de água fria, a
decepção retorceu o meu estômago. Fiquei desapontada
e a comemoração ao redor já não fazia tanto sentido.
A verdade era que eu queria impressioná-lo
também.
Avistei Enzo sentado no sofá, se distraindo
enquanto jogava no celular, dentro do seu próprio
mundo. Escapei de uma conversa chata com velhos
conhecidos da minha família e sentei-me ao lado do
garoto para perguntar a ele o que não poderia ao nosso
pai. Se o fizesse, papai desconfiaria e saberia do meu
interesse em seu amigo.
— Enzo, você viu o tio Filippo por aqui? — Era
assim que meu irmão o chamava, tio.
— Ele ainda não chegou, avisou que iria se atrasar.
— Enzo desviou o seu olhar atrevido para mim, o meio-
sorriso desconfiado em seus lábios denunciava que
sabia bem o motivo da minha pergunta, apesar do
pestinha ter somente oito anos.
— O quê? — Fingi desentendimento. — Volte para o
seu jogo. — Baguncei os seus cabelos e me levantei,
segui em direção a entrada para receber algumas
amigas da escola que haviam acabado de chegar. Uma
música leve soava no ambiente, entretendo os
convidados.
Conversei com elas por algum tempo até que
Alónzo, um amigo de infância que eu já havia
cumprimentado, ergueu a sua taça para mim. Alguns
metros distanciava o meu grupo do seu, mas nem isso
foi capaz de evitar o seu olhar repleto de segundas
intenções.
— Ele está mesmo caidinho por você — uma de
minhas colegas comentou, todas se divertindo com a
situação.
— Será que Alónzo tem chances? — a outra lançou
a pergunta direcionada a mim.
— Não. — Fitei Alónzo mais uma vez, o estudando
com desinteresse. — Ele não faz o meu tipo.
— E qual é o seu tipo?
— Ah, não sei. — Suspirei quando a imagem de
Filippo invadiu os meus pensamentos. — Eu quero um
homem que incendeie a minha alma. — Pousei a mão
sobre o peito, soando até um pouco romântica e cafona
para os dias atuais.
Todavia, bastou as palavras saírem da minha boca
para sentir um ardor me tomar as costas e nuca, o que
fez eu ter a certeza de que o Sr. Gagliardi havia
chegado antes mesmo de me virar para avistá-lo se
aproximando com o meu pai.
Ele incendiava a minha alma.
Ele me fazia queimar, mas não tinha ideia disso.
Apertei os dedos na saia do meu vestido por um
segundo, tentei não parecer uma completa estúpida na
presença dele.
— Olha só se não é a nossa futura advogada… —
Filippo parou à minha frente, alto e imponente. Vinte
anos nos separavam no quesito idade, além da relação
que ele tinha com o meu pai.
— Que bom que veio, Filippo — o cumprimentei, sua
mão grande cobriu a minha, tive que me controlar para
não estremecer por dentro, como era de costume.
— Parabéns pela colocação no vestibular. Você foi
excelente. — Sua voz grave me fez engolir em seco, o
olhar intenso quase me fez derreter, tenho certeza que
deve ter causado o mesmo efeito sobre as minhas
amigas.
— Grazie [ 2 ] — agradeci, sorrindo.
— Sei que em breve estará conosco na firma. Para
parabenizá-la e incentivá-la, eu trouxe um mimo. —
Filippo me entregou o pequeno embrulho, que logo se
revelou em um estojo preto onde havia um colar
caríssimo com um pingente no formato de uma balança,
o símbolo do Direito.
— Dio Santo [ 3 ] ! É lindo. — Um sorriso iluminado
tomou o meu rosto. — Muito obrigada, Filippo.
— Posso? — Ele se ofereceu para colocar o colar
em mim, pedindo a anuência de papai primeiro.
Me virei para que suas mãos prendessem a linda
peça em minha garganta, um momento mágico que
jamais sairia dos meus pensamentos, assim como o seu
presente nunca se afastaria do meu pescoço.
Senti uma vontade avassaladora de abraçá-lo em
agradecimento, mas me contive. Filippo se afastou com
papai, ambos foram até um grupo onde ele se aproximou
e segurou uma linda mulher, que eu não conhecia, pela
lombar, tomado por uma intimidade que me feriu e
destruiu qualquer felicidade que havia me causado.
Disfarcei o meu descontentamento até que a maioria
dos convidados foi embora e a comemoração foi dada
por encerrada.
Ignorei o fato de que Filippo ainda estava ali,
conversando com o meu pai na biblioteca e decidi voltar
para o meu quarto, onde passaria a próxima hora
expressando os meus sentimentos dentro do meu diário,
meu maior confidente, receptor dos meus segredos.
Para a minha surpresa, Enzo ainda estava
acordado, passei por ele enquanto subia a escada, mas
ignorei o seu sorriso travesso e algo que escondia atrás
das costas. O menino correu rumo à biblioteca como
quem estava aprontando.
Ao chegar no meu quarto, fechei a porta e tirei os
sapatos, meus pés estavam doloridos.
Antes de começar a me livrar do vestido, notei que o
meu diário não estava sobre os travesseiros, como eu
havia deixado. A colcha da cama bagunçada ativou um
alerta no meu cérebro, um arrepio percorreu a minha
espinha à medida que os meus olhos se arregalavam.
— Não pode ser... — Joguei os travesseiros longe,
puxei as cobertas para ter certeza de que não estava
enganada e, merda, eu não estava! — Enzo, seu... —
grunhi, era isso que ele escondia.
Corri à procura do pestinha, pensei em berrar o seu
nome, mas não queria chamar a atenção do meu pai que
agora se despedia dos últimos convidados.
A porta da biblioteca estava entreaberta, caminhei
até lá e paralisei assim que flagrei Filippo de pé no
centro do espaço, parado, lendo o meu diário.
Quando a sua face surpresa se ergueu e os seus
olhos azuis me atravessaram, soube que ele havia lido o
que não devia. Droga! Eu só falava dele em cada maldita
página e mais nada! Descrevia tudo o que sentia ao vê-
lo, os meus sonhos, as minhas vontades, se duvidar até
o futuro que imaginava para nós dois havia mencionado
naquelas palavras.
Isso não devia ter acontecido.
— Filippo... — Fechei a porta e dei dois passos em
sua direção, estendi o braço, mas, do nada, tudo se
apagou e se transformou em um breu total,
provavelmente algum problema que cortou a energia
elétrica.
Ouvi algo cair no chão, algum objeto sólido.
— Porra! — Filippo resmungou.
— Filippo? — indaguei, ainda no mesmo lugar.
Não demorou para que a sua respiração ofegante
fosse ouvida, como se ele estivesse passando mal.
— Está tudo bem? — Tentei adivinhar o que se
passava. Diferente dele, eu estava calma, era a minha
casa, cresci ali e sabia cada ponto dela mesmo em meio
à escuridão.
— Eu vou... ficar bem — respondeu com dificuldade.
Não acreditei.
— Certo, vou verificar o que aconteceu — girei os
calcanhares, mas me detive assim que ele me chamou.
— Por favor, não vá — pediu, frágil, o que me
impressionou.
Se tinha uma coisa que não fazia parte da
personalidade desse homem era a fragilidade, muito
menos ser do tipo que pedia alguma coisa a alguém, o
Sr. Gagliardi costumava mandar.
— Você precisa de ajuda?
— Apenas... continue aqui até a energia retornar —
pediu outra vez, sua respiração ficou mais densa.
— Tudo bem — concordei, preocupada, decidindo
que precisava examinar como ele estava. Assim,
caminhei com cuidado até a grande janela e abri as
cortinas, permitindo que a luz da lua entrasse e
iluminasse parte da biblioteca.
Somente assim consegui testemunhar Filippo
paralisado, ainda no mesmo lugar, uma das mãos se
apoiando no topo da poltrona, apertando tanto o
estofado que os nós dos seus dedos davam a impressão
de que iriam estourar.
Ao me aproximar, notei a sua testa suada, além do
quanto estava desconfortável. Percebi que ele havia
deixado o diário cair, então o peguei rápido, o
protegendo, já nem lembrava mais dele devido a essa
situação.
— Filippo? — O homem parecia estar tendo algum
tipo de crise que tentava controlar, porém, não
conseguia. Senti a sua agonia e o seu desespero, algo
que me arrepiou de forma negativa.
O que estava acontecendo?
Ele olhou para a janela como se fosse a sua
possível tábua de salvação e uma ideia me ocorreu.
— Me dê a mão, eu vou te ajudar. — Estendi a
palma para ele. Filippo olhou fundo nos meus olhos
antes de aceitar, o seu suor era frio. — Está tudo bem —
murmurei ao guiá-lo até a janela, onde ele se encostou.
Abri ainda mais as cortinas, a luz da lua tomou mais
espaço e nos beijou de maneira doce. — Você não está
mais no escuro — tentei confortá-lo, massageei os seus
dedos longos.
Filippo me fitou como se eu tivesse descoberto o
seu grande segredo, o que me fez constatar que ele não
tinha medo, mas sim pavor da escuridão.
Durante o contato das nossas peles, o seu olhar
suavizou e o seu desconforto pareceu ser substituído
por algum tipo de encanto, uma paz que nos prendeu um
ao outro, uma força incompreendida, algo inexplicável.
Eu mergulhei no seu olhar, meus batimentos cardíacos
aceleraram e nada parecia forte o bastante para
desfazer esse nosso momento sublime.
Até que a energia retornou.
Antes que eu pudesse piscar, Filippo desfez o nosso
toque com pressa, como se fosse um erro e se
recompôs, passando a mão no cabelo escuro.
Constrangida, escondi o diário atrás das costas quando
ele me ultrapassou como se nada tivesse acontecido.
Abriu a porta, mas antes de partir, proferiu:
— Acredito que agora você tenha mais com o que se
preocupar do que perder o seu tempo escrevendo
bobagens em um caderno, menina. — Prendi a
respiração. — Queime essa merda e esqueça do que
aconteceu aqui — decretou, olhando-me uma última vez,
com desprezo.
Foi como um tapa na cara.
Uma facada no meu coração.
Então Filippo partiu, deixando-me sozinha. Ele
arrancou qualquer esperança que habitava em meu
peito. Sentia que estava indo embora da minha casa e
também, de algum modo severo, das minhas
expectativas. Algo me dizia que aquela noite jamais teria
conserto.
Atualmente...

Impaciente, procurei mais uma vez o que precisava


na pasta, enquanto escutava o advogado do réu
interrogar a sua testemunha, ao mesmo tempo em que
se aproveitava da ocasião para destruir todos os
argumentos levantados por Tomás, um de meus
associados na firma. A minha missão de hoje era apenas
supervisionar e estar atento ao desempenho dele, e
claro, dar o devido suporte sobre um caso que estava
recebendo uma atenção considerável da mídia.
Assédio sexual. A história clássica da funcionária
que foi importunada pelo chefe abusador que passou dos
limites.
De um lado, tínhamos um magnata de sessenta e
seis anos, reputação intocável, com uma família de
comercial de margarina. Do outro, a secretária, Jorgina,
uma bela jovem de vinte e seis anos, nossa cliente,
disposta a gastar até o último centavo que tinha no
bolso para fazer justiça.
Em meio a esse confronto, a única testemunha do
caso, Madalena, que afirmava ser uma das ex-
secretárias do réu, discursando mil maravilhas do seu
ex-chefe para o juiz, desconstruindo a imagem do
abusador que nós sabíamos que realmente era e que
precisávamos provar.
A Justiça era feita de provas, e as que eu precisava
simplesmente não estavam na minha maldita pasta!
— Onde está a porra dos documentos? — grunhi,
encarando o Tomás. Sentado ao meu lado, o jovem
advogado empalideceu por um instante, ele sabia bem
que o meu temperamento não me permitia tolerar erros.
— Não foi a estagiária que organizou a pasta? —
sussurrou, desviando o olhar para a garota atrapalhada
que estava sobre o banco às nossas costas e que, já
procurava o que eu precisava dentro de sua bolsa, mas
sem sucesso.
— Eu... eu acho que... — ela gaguejou, suas mãos
tremiam, o seu cérebro parecia prestes a entrar em
colapso, então desistiu de procurar, encolhendo os
ombros. — Esqueci em cima da... mesa — concluiu,
amedrontada, apertei os punhos e a fuzilei com um olhar
imperdoável.
Voltei o rosto para a frente e suspirei, grudei dois
dedos na têmpora e me dispus a pensar.
— E agora? Como vamos provar que essa
testemunha deles é falsa? — Tomás sabia que o nosso
sucesso dependia daqueles papéis, pretendíamos pegar
o nosso oponente de surpresa.
Mirei o assediador do outro lado do tribunal, a sua
expressão contente e esnobe, como se tivesse a certeza
de que a causa estava ganha. Criar uma testemunha
com passado, presente e futuro para mudar o processo
ao seu favor era uma tática rara, mas velha no mercado
e confesso que, neste caso, demorei até demais para
descobrir que esse infeliz havia utilizado dessa
artimanha.
— O que aconteceu? — Jorgina percebeu que
estávamos com problemas. Ela estava sentada do meu
lado esquerdo, tensa e preocupada.
— Nada que não possamos resolver — garanti,
voltando a observar o advogado do magnata que
estampava um sorriso vitorioso no rosto ao encerrar o
seu interrogatório com a testemunha falsa.
Assim que o juiz permitiu, Tomás fez menção em se
levantar, mas eu o segurei e, com o olhar, deixei claro
que assumiria a situação a partir daquele momento.
Levantei para falar com a mulher sentada no banco
das testemunhas, ajeitei o blazer cinza-chumbo antes de
me aproximar. Ela tinha uma aparência comum, devia
estar na faixa dos quarenta e poucos anos.
— Senhora Madalena, pelo período que afirmou ter
trabalhado na empresa do Sr. Rinaldi, podemos concluir
que teve tempo suficiente para conhecer praticamente
todos os funcionários da empresa, não é mesmo? —
perguntei, a olhando seriamente.
— Sim, mas devo ter esquecido de alguns, faz
muitos anos. — Ela sorriu, levando a mão ao cabelo, o
carregando para trás calma e confiante, sem desviar o
olhar dos meus.
De fato, era uma ótima atriz.
— Entendo, então a senhora frequentava o refeitório
da empresa ao lado dos seus colegas da época, não? —
Me aproximei ainda mais dela, astuto, desejando que
caísse em minha teia.
— Protesto! — Abruptamente o advogado do réu se
levantou e apontou o dedo em riste para mim. — Ele não
está se atendo ao caso, Meritíssimo! Esse tipo de
pergunta não tem nada a ver com o mérito do processo!
— Meritíssimo, eu garanto que tudo o que estou
perguntando serve para chegarmos a uma conclusão em
relação ao caso. Se o meu colega conseguir me deixar
trabalhar, ficarei grato. — Sorri de forma cínica para ele,
observando-o arquear a sobrancelha em resposta.
— Protesto negado — pronunciou o juiz, impassível.
— Pode continuar — me deu permissão, movendo a mão
rapidamente.
Assenti e voltei a encarar a testemunha.
— E então? A senhora ia ao refeitório almoçar com
os seus colegas? — repeti a questão. E, dessa vez, a
impedi de trocar olhares com o advogado exaltado,
interpondo-me na rota entre os dois. Era nítido o quanto
ela estava despreparada para essa pergunta, queria
buscar a resposta nos olhos dele, mas não deixei.
— Claro... — confirmou, claramente insegura.
O meu sorriso cresceu, Madalena deu a resposta
que eu queria ouvir.
— A questão, senhora, é que na sua época a
empresa ainda não tinha refeitório, como foi visto na
planta apresentada — argumentei. Imediatamente,
assisti o juiz procurar pelas imagens entre a papelada
que havia sobre a sua mesa.
Madalena engoliu em seco, com certeza foi atingida
por uma pontada de nervosismo, mas insistiu:
— Ah, é claro... — Levou a mão à cabeça como se
tivesse acabado de se lembrar de algo, liberando um
sorriso fingido. — Como pude esquecer disso? Nós
saíamos para comer na lanchonete da frente...
— Que se chamava...? — a interrompi, pegando-a
mais uma vez de surpresa.
— Como?
— A lanchonete que existia à frente da empresa —
expliquei. — Qual era o nome? — Ergui o queixo,
confiante.
— Protesto! — o advogado berrou novamente às
minhas costas, mas o juiz o impediu de continuar.
— A senhora não sabe? — a pressionei, cheguei
ainda mais perto, intimidando-a com um semblante duro
e desconfiado.
— Não... quer dizer, não lembro! — Madalena se
confundiu.
— A senhora não lembra ou está mentindo, dona
Madalena? — Espalmei a mesa que nos dividia, calmo,
porém, severo.
— Eu... — Ela ficou acuada.
— Antes de se sentar à essa mesa, a senhora jurou
falar a verdade, somente a verdade e agora está
mentindo para este tribunal? — A mulher que até então
estava confiante agora se tornava vermelha feito um
tomate, o pavor lhe tomando a face.
Era nítido a confusão em seus olhos, a necessidade
de responder algo que não sabia, o medo da situação.
— Perjúrio é crime, senhora... — Havia uma certa
acidez em minha voz, aproximei o rosto do seu,
Madalena ofegava, seu peito subia e descia, os braços
agarrados à sua bolsa de couro caramelo como se fosse
um escudo, uma proteção.
— Eu... — Ela olhou para o juiz, cuja fisionomia era
de apavorar.
Ele detestava mentiras, assim como eu.
— Vai insistir no teatro ou contar a verdade? Posso
ficar aqui o dia inteiro a enchendo de perguntas que com
certeza não saberá responder, e sabe por quê? A
senhora nunca trabalhou para aquele homem! — Apontei
o dedo para o magnata, cuja expressão denunciava a
sua vontade de procurar um buraco para se esconder.
Ele havia perdido, e já compreendia isso.
Madalena se encolheu ainda mais, não havia outra
opção.
No final, conseguimos reverter o jogo, o réu
confessou seu crime e a nossa cliente saiu pulando feliz
do tribunal. Mais uma causa ganha.
Eu sempre ganhava.
Assim que deixei o fórum, desci com pressa a
escadaria rumo ao carro da firma que me esperava na
porta. Tomás estava a um passo de mim e atrás dele,
escutei a estagiária correr até se interpor em meu
caminho.
— Senhor Gagliardi, scusami [ 4 ] , eu juro que isso
nunca mais irá se repetir! — Ela estava desesperada,
mas o seu desespero era a última coisa com que me
importava agora.
— Não mesmo. Hoje foi a terceira e última vez que
você me decepcionou. Foi muito bom tê-la conosco, mas
infelizmente não dá mais, Alice. Está fora — a dispensei,
sentindo um desprazer enorme por termos chegado a
esse ponto.
Entrei no automóvel, Tomás fez o mesmo, pela outra
porta. Abaixei o vidro escuro e encarei a estagiária uma
última vez:
— Não se preocupe, não irei prejudicá-la, não
informaremos o motivo da sua dispensa. — Ela suspirou,
prestes a chorar, no entanto, não me comoveu.
O motorista que nos aguardava deu a partida para
nos levar de volta à firma. Deixamos a jovem Alice para
trás, encerrando mais um estágio que, assim como a
maioria, não deu certo.
Confesso que não sou um cara fácil de lidar e que
boa parte do insucesso dos meus estagiários na
Gagliardi-Ruggiero, era pelo fato de serem muito
cobrados, eu não permitia erros. Mas não me
arrependia, sabia que a minha metodologia estava mais
do que correta porque, jamais aceitaria que um desses
jovens praticasse a advocacia com algum tipo de
insegurança ou incompetência.
Eu precisava extrair o melhor deles, e se durante
esse processo fosse necessário doer, que doesse. Ser
um advogado da minha firma não era para os fracos e
sim para os fortes, e melhores.
Abri o blazer e afrouxei o nó da gravata, relaxando
após fazer mais um maldito assediador pagar por seu
crime, pois se tinha algo no meu trabalho que me fazia
espumar de raiva, era qualquer tipo de transgressão
contra as mulheres.
De soslaio, testemunhei Tomás deitar a cabeça no
encosto do banco, finalmente respirando após um
julgamento que não devia ter sido tenso, se as coisas
tivessem saído como planejamos.
— Eu te pago para facilitar a minha vida e fiscalizar
os estagiários. Se não serve para isso, então por que
está aqui? — questionei, mal-humorado.
— A garota era desatenta demais, o que eu podia
fazer? — retrucou, em uma tentativa de se eximir da
culpa.
— Qualquer coisa, menos permitir que chegássemos
a um julgamento sem as provas de maior potencial,
porra! — grunhi, o calando.
Tomás permaneceu em silêncio por alguns
segundos, inconformado, mas ciente do seu erro. Ele era
um sobrevivente, havia concluído o estágio com êxito e
hoje colhia os frutos do seu esforço, tornou-se um dos
nossos advogados associados, o meu maior discípulo.
Eu sentia orgulho dele, o que não me impedia de
arrancar suas orelhas quando necessário.
— Certo, Filippo — assentiu, virando o rosto para a
janela.
Olhei o celular quando o senti vibrar dentro do meu
bolso, Giancarlo Ruggiero enviou uma mensagem
avisando que queria falar comigo.
Assim que chegamos ao arranha-céu de silhueta
imponente e fachada espelhada, pegamos o elevador e
subimos rumo aos sete últimos andares, que eram
ocupados por nossa firma.
A famosa e conceituada Gagliardi-Ruggiero, era
referência no mundo jurídico italiano, conhecida como
uma das maiores firmas de advocacia de Milão, liderada
por mim e por Giancarlo. A firma foi fundada por nossos
pais, hoje era formada por um grupo poderoso de
advogados, e presidida por Giancarlo, resultado do
nosso consenso.
Preferi dispensar a parte administrativa e
burocrática, me sentia muito mais útil quando colocava,
de fato, a “mão na massa”, agindo diretamente nos
casos e ajudando as pessoas que batiam em nossa
porta.
Advogar me fazia feliz, porém, quando algo saía do
meu controle, eu me transformava em uma fera
arrogante e enraivecida.
Ter controle sobre tudo me agradava, e nada
alteraria isso.
Assim que as portas metálicas se abriram, encarei o
relógio em meu pulso, fui o primeiro a sair e também a
esbarrar em um corpo pequeno, mas que veio igual a um
furacão em direção a mim, molhando o meu terno e parte
do meu rosto com um refresco no exato instante em que
colidimos.
— Mas o que...? — Perplexo, deixei a minha pasta
cair. Demorei a abrir os olhos que ardiam devido ao
contato com o líquido gelado que cheirava a cereja.
— Ah... meu Deus! Não olha por onde anda? — A
voz tão feminina, valente e familiar aguçou os meus
sentidos.
Dei um passo atrás e abri os olhos, deparando-me
com uma garota de cabelos dourados que eu conhecia
bem, mas que fiz de tudo para evitar nos últimos anos.
Ágata Ruggiero estava aturdida demais com a sua
blusa molhada, o copo que carregava agora rolando pelo
chão. Ela demorou para encarar o homem em quem
havia esbarrado.
Eu a amaldiçoei por dentro quando me encontrei
vidrado no tecido úmido que grudou em seus seios,
desenhando o volume atrativo que tinha o poder de
secar a minha boca, arranhar a garganta. O meu pau
endureceu assim que identifiquei os mamilos marcados,
que pareciam me chamar e consumir o que restava do
meu equilíbrio.
Seu rosto em formato de coração enfim se ergueu,
sua expressão irritada se transformou assim que me
reconheceu, as bochechas ruborizaram, os lábios
carnudos se entreabriram em surpresa. Um efeito
devastador para a minha ereção, que inchou ainda mais,
dolorida.
Ágata conseguia mexer comigo.
Ela me tirava do controle!
Após uma breve conversa com o meu pai, saí da sua
sala contente por saber que começaria a estagiar na
firma, ao lado dele. Estava iniciando o quinto período da
universidade com o pé direito e o sonho de me tornar
uma grande advogada parecia cada vez mais palpável,
sólido.
Estava tão feliz, que nem a reclamação do Sr.
Giancarlo sobre a minha roupa foi capaz de me irritar,
até porque alguma parte da minha consciência
concordava com ele.
A saia preta curta com uma blusinha branca colada
de mangas e tênis, com certeza, não era o look mais
apropriado em um ambiente jurídico de requinte e
seriedade como este. Mas, como uma boa futura
advogada que era, argumentei que ainda não havia
começado o estágio, por isso continuava me vestindo
apenas como uma estudante.
Enfiei o canudo na boca e suguei um pouco mais do
suco de cereja com gelo, meu mais novo vício. O copo
de 700ml não era mais suficiente, decidi que nos
próximos dias passaria a comprar um maior, havia
alguma coisa nesse refresco que me pegava.
Ajeitei a alça da mochila no ombro direito e
continuei caminhando pelo espaço amplo de paredes
verde-chá e caramelo, passei por alguns departamentos
até alcançar o hall que dava de frente para o elevador.
O sorriso estampado em meu rosto durou até o
momento em que escutei o som de notificação do meu
celular dentro da mochila, o peguei para ler a mensagem
da minha ginecologista, avisando que precisava
conversar comigo.
Imediatamente, o doce sabor de cereja foi
substituído por um gosto amargo que se agarrou ao céu
da minha boca, meu corpo foi invadido por uma tensão
que doeu até os ossos, ao mesmo tempo em que foi
atropelado por outro bem maior e mais forte, um
esbarrão inesperado que me assustou, molhou a minha
blusa e me fez largar o copo.
Em milésimos de segundos, o caos foi formado.
O líquido vermelho e gelado espichou em minhas
pernas nuas, se espalhando com os cubinhos de gelo
pelo piso.
— Ah... meu Deus! Não olha por onde anda? —
Permiti que o estresse da situação me tomasse, fui até
um pouco rude com o homem que demorei a identificar,
era Filippo Gagliardi.
Ele parecia ainda mais bonito do que na última vez
que o vi, isso já fazia quase um ano porque, a sensação
que eu tinha, era de que o homem fugia de mim como o
Diabo fugia da cruz. Filippo me desprezava, e todas as
poucas vezes em que nos encontrávamos desde aquela
noite em que leu o meu diário, fazia questão de
demonstrar sua indiferença.
— Estou enxergando muito bem, menina. — Limpou
o rosto. Eu odiava quando me chamava daquele jeito,
parecia estar me diminuindo ou afirmando que eu ainda
não era uma mulher, o que não era verdade. — Acredito
que você também conseguiria enxergar se não andasse
com o rosto enfiado no celular — criticou, enquanto seu
assistente capturava a pasta que deixou cair,
devolvendo-a a ele. — Típico da sua geração.
O seu deboche foi a gota que faltava para que eu
entrasse em colapso. Bufei cruzando os braços, decidida
a responder à altura:
— Talvez seja típico da sua geração ser tão
arrogante ao ponto de não enxergar quem está à sua
frente — repliquei. — Foi um acidente, não percebeu?
Meus olhos arderam, não por ele, mas sim pela
preocupação da mensagem que havia acabado de ler.
Joguei o celular dentro da mochila e fiz menção em me
abaixar para limpar a bagunça, ignorando as pessoas
por ali que nos observavam.
— Não é preciso, alguém fará isso. — Ele segurou
meu braço, ergui a face para encará-lo e mais uma vez
fui rendida pelo par de olhos azuis sedutores, a fina
camada de pelos que desenhava o seu queixo quadrado,
o cabelo castanho bem penteado, salpicado de fios
grisalhos nas laterais.
Filippo era todo másculo, desde o semblante que
expressava perigo até cada músculo do seu corpo
comprimido dentro do terno que exalava poder.
Hipnotizada, quase esqueci de respirar pelo simples
fato de estar perto dele. Aturdida, tentei ultrapassá-lo,
mas no primeiro passo escorreguei no líquido e o homem
me segurou, impedindo que eu caísse, acolhendo-me em
seus braços. Perto demais para alguém que fazia
questão de se manter distante.
O seu olhar me atravessou outra vez, percebi que
as minhas bochechas queimavam, um alerta de que
estavam coradas de modo exagerado.
Como se não fosse o bastante, seu perfume me
nocauteou, o cedro misturado a uma fina fragrância de
lavanda e âmbar formava uma combinação gostosa e
marcante que tinha o poder de sempre molhar a minha
calcinha.
Merda!
— Cuidado onde pisa, garota. — A voz rouca
despertou-me de volta ao mundo real.
Afastei-me do advogado e tentei fingir que não
estava afetada. Prometi a mim mesma nunca mais
alimentar o seu ego. Não iria suportar se Filippo
soubesse que dentro do meu peito ainda existia aquela
otária apaixonada, não nasci para o seu desprezo.
— Eu me chamo Ágata, e você sabe muito bem
disso — retruquei, puxando a alça da mochila sobre o
ombro. — Ou será que já está caducando devido à
idade? — provoquei, recuando.
O meio-sorriso cínico que se formou em seus lábios
denunciou que o infeliz, de algum jeito louco, apreciou
as minhas palavras. Me virei e praticamente corri para o
outro elevador antes que fosse tarde demais. Entrei na
caixa metálica, as portas se fecharam, me joguei contra
a parede fria buscando a respiração.
O que foi tudo aquilo?
Por que me permiti ser atingida de novo?
Filippo jamais iria me querer, então o melhor que
podia fazer era esquecê-lo. Algo que seria quase
impossível, ainda mais agora que trabalharíamos na
mesma firma.
No entanto, eu seria estagiária do meu pai e faria
de tudo para ficar longe de Filippo, evitaria ao máximo
as visitas no andar de baixo, onde ficava a sala dele, lá
seria mais fácil encontrá-lo.
Com um pouco de sorte, não teríamos nenhum tipo
de contato, não precisaria suportá-lo.

FILIPPO GAGLIARDI
Tive que ir ao banheiro após aquela pirralha
atrevida fazer um estrago no meu blazer. Por sorte o
suco de cereja quase não havia respingado sobre a
camisa social branca, então conseguiria utilizá-la até ir
ao meu escritório me trocar.
Tirei o pau para fora, segurei a carne dura para
despejar a urina aquecida sobre o vaso, uma maneira de
dispersar um pouco da excitação que fluía por cada veia
dilatada dele. Não sabia ao certo quantos meses fiquei
sem ver a Ágata, mas hoje constatei outra vez que o que
ela tinha de atrevida também tinha de gostosa.
Como ela pôde ter vindo aqui quase nua daquele
jeito?
Foi impossível não notar os seios fartos assim como
as coxas grossas, que pareciam ter crescido desde a
última vez que coloquei os olhos sobre a pequena
infeliz.
Pequena.
Ágata era bem menor que eu e toda perfeita.
Precisava parar de pensar nela, assim como deveria
me lembrar que ela era a filha de um dos meus melhores
amigos, meu sócio na firma que, a propósito, me
aguardava em sua sala.
Fechei o zíper da calça e fui até a pia lavar as
mãos, molhei o rosto, um calor insuportável atormentava
cada centímetro da minha pele. Passei a mão nos
cabelos e retirei a gravata, entregando-a junto com o
blazer a Tomás que me aguardava ao lado de fora.
— Está tudo bem? — Notei as suas sobrancelhas se
estreitarem.
— Por que não estaria? — devolvi, ajeitando a gola
da camisa.
— Certo, vou levar isso para a sua sala. — Fez
menção em se afastar, mas a minha pergunta o deteve:
— Tomás... acha que estou velho? — A provocação
da pequena atrevida ainda faiscava na minha mente.
— Sério? — Tomás arqueou a sobrancelha,
incrédulo, ele sabia que nada me abalava.
— Claro que não, estou na minha melhor fase, só
queria ouvi-lo dizer o quanto sou perfeito — o sacaneei,
sorrindo.
Tomás sorriu também, mas não desistiu de contra-
atacar.
— Ah, não sei. Talvez a filha do Giancarlo tenha
razão e você esteja um pouco ultrapassado.
— Quer dormir na firma hoje? — Voltei a ficar sério.
— De jeito nenhum, chefe. — Senti o medo em sua
voz.
— Então se retire. — Apontei o caminho do
elevador.
— Sim, senhor. — Foi para lá depressa e sem olhar
para trás. Gargalhei em um tom quase inaudível,
adorava trocar piada e me divertir com ele.
Entrei no corredor de acesso à sala do Giancarlo
que, assim como a minha e todas as outras, tinha uma
fachada de vidro dando visão para o interior do grande
espaço. Cumprimentei sua secretária antes de
ultrapassar a porta para encontrá-lo terminando de
preparar o seu cappuccino na máquina.
O aroma inconfundível do café somado ao leite
cremoso inundou o ambiente sofisticado, as paredes
azuis eclesiástico se harmonizavam com os móveis em
tons de cinza, além dos detalhes em madeira caramelo,
o que tornava tudo mais aconchegante.
Sentei no sofá de couro e cruzei as pernas.
— O que houve com você? — O olhar do homem de
trinta e oito anos me examinou de cima a baixo. Eu era
apenas dois anos mais velho que ele e isso não mudava
nada, tendo em vista que o infeliz por vezes era mais
sagaz.
— Um pequeno furacão esbarrou em mim —
expliquei, me julgando internamente por ter ficado duro
diante da filha dele.
Isso me tornava filho da puta demais.
— Servido? — Giancarlo ofereceu a xícara que
exalava o vapor cheiroso, todavia, com um movimento
de mão, recusei.
— Prefiro uísque. Na verdade, estou necessitando.
— Giancarlo se sentou no sofá à minha frente enquanto
eu me levantei afim de me servir, mas sentei novamente
ao lembrar que ele não bebia nada alcoólico. Não mais.
Meu amigo mudou após a morte de Aurora. — Scusa —
me desculpei.
— Ah, pare com isso. — Fez um sinal de pare com a
mão e tomou o primeiro gole do seu cappuccino,
desviando a atenção por um breve instante.
— O que quer conversar? — Engatei um novo
assunto, cruzando as pernas outra vez.
— Então dispensou mais uma estagiária...
— Ah, não acredito que é um sermão.
— O que foi dessa vez? — Após mais um gole,
Giancarlo depositou a xícara sobre a mesinha de centro.
— Muito desatenta, faz tempo que vinha
acumulando erros e hoje foi a gota d’água. Não vale a
pena detalhar. — Enfiei os dedos em meu cabelo, senti a
maciez de cada fio enquanto buscava apagar Ágata da
minha memória outra vez.
— Você é imperativo demais. — Giancarlo cruzou as
mãos, analisando-me.
— Pois somos iguais — devolvi. — Eu exijo o
mínimo, mas não se fazem mais estagiários como
antigamente. Eles não são... suficientes. — Encarei o
meu amigo de forma fixa. — Para a nossa firma ser
inteligente não basta, tem que saber se sobressair em
cada situação.
— Eu sei. — Giancarlo se recostou no sofá, a
expressão de quem tinha alguma carta na manga. — E é
por isso que quero que a minha filha seja sua estagiária
— disparou, sem ter ideia do que aquilo significava.
Nem notei quando prendi a respiração ou paralisei
feito uma estátua.
— O que foi? Está com uma vaga mesmo —
argumentou, pegando a xícara de volta.
— Nada, é que... uma vez você comentou que a
Ágata não faria estágio na Gagliardi-Ruggiero porque
não queria que achassem que ela estava sendo
privilegiada ou coisa assim... — desconversei, abrindo
as pernas, incomodado.
— Também não queria que ela, de alguma forma, se
acomodasse por estar estagiando na firma do pai, mas
calculei que prefiro Ágata aqui do que em qualquer outra
firma. Até porque temos o melhor advogado, você. —
Ergueu o indicador para mim.
— Acho que não vai dar certo, conheço a garota
desde que tinha o quê? Quinze anos? — Tentei me
lembrar. — Ela me considera como um tio, não quero
que me odeie.
Giancarlo gargalhou.
— Isso não tem importância — pontuou, secando a
sua xícara de vez. — Aliás, faz muito tempo que você
não a vê. Mais cedo ela esteve aqui, passou em primeiro
lugar no nosso teste de estágio. — Arqueei as
sobrancelhas, surpreso. Nosso teste não era fácil. —
Minha bambina é inteligente, porém, quero o seu máximo
e se ela estagiar comigo os meus sentimentos não irão
permitir que eu extraia o melhor dela. O que será
diferente com você.
Usei dois dedos para massagear a minha têmpora
direita, suavemente. A minha cabeça doía só de
imaginar ter contato com a pequena atrevida todos os
dias, a todo instante.
Era perigoso demais... Ágata era um problema que
eu precisava evitar.
— Por que não o Vito? — Sugeri. Vito era um
excelente advogado. — Estou cansado de estagiários. —
Não era totalmente verdade. Eu gostava de ensinar, de
transformar garotos e garotas em profissionais maduros
e capazes de superar qualquer desafio.
— Já falei, quero você e não pode negar. — O
maldito sabia que não.
Eu devia bastante a Giancarlo assim como ele devia
a mim. O conhecia desde criança, estive com ele nos
momentos mais importantes da sua vida, exceto quando
morou um bom tempo fora e retornou para assumir o
lugar de seu pai na firma, assim que o velho Ruggiero
faleceu.
Ele não voltou sozinho, trouxe uma família consigo.
Foi durante a sua estadia em Las Vegas que conheceu
Aurora e teve os seus dois filhos.
Era certo que a ele, eu não poderia dizer um não,
Ágata seria uma responsabilidade tentadora que
infelizmente teria de encarar. Mas a mim restava uma
última carta na manga para o bem da nossa amizade:
fazer da vida da garota um inferno até que ela desistisse
de trabalhar comigo.
Respirei fundo quando a assistente da Dra. Lívia
chamou o meu nome e me deu permissão para entrar em
sua sala. Fazia três dias desde que recebi a sua
mensagem e foram três madrugadas sem conseguir
dormir direito. Semana passada fiz novos exames de
rotina e a minha intuição afirmava com todas as letras
que era sobre isso que iríamos conversar.
O motivo de tanto medo?
Aos dezoito anos, comecei a sentir dores no baixo-
ventre e sangrar com frequência, quando menstruava
parecia que ia morrer. A minha barriga também cresceu,
a sensação que tinha era de ter ganhado peso.
A princípio, achei que era apenas uma bagunça no
meu ciclo menstrual, acreditei que estava mesmo
engordando, mas ao longo do tempo as dores se
tornaram intensas, então contei ao meu pai.
Preocupado, ele imediatamente me levou ao médico,
foi aí que veio o pior: eu estava com os dois ovários
comprometidos, descobrimos um cisto hemorrágico [ 5 ] no
meu ovário direito e um teratoma [ 6 ] no esquerdo. O
hemorrágico era enorme, estava prestes a se romper. O
teratoma, apesar de benigno, devido à minha genética e
características do cisto, poderia vir a se tornar um
câncer.
Não havia outra opção, fui para a mesa de cirurgia e
tive os ovários retirados. Tão jovem e já poderia me
considerar uma mulher seca por dentro, completamente
oca, sem chances de engravidar naturalmente.
Não que eu desejasse ter um bebê naquela idade,
mas algum dia pretendia sim formar uma família, algo
que fui obrigada a entender que jamais iria acontecer.
Desde então venho fazendo acompanhamento,
esses dois últimos anos foram sofridos porque era
impossível superar, já que lembrava frequentemente da
minha mãe que morreu após a descoberta tardia de um
teratoma maligno. O tumor estava em estágio avançado,
nada pôde salvá-la.
Foi a primeira vez que senti um pedaço meu sendo
arrancado, o seu falecimento levou embora o meu
coração e em seguida a vida me fez perder aquilo que
fazia de mim uma mulher, os meus ovários.
Eu me tornei uma sombra... um precipício vazio.
Senti que mergulhava todos os dias dentro da minha
própria escuridão, cuja alternativa era o afogamento.
Apenas não desabei porque meu pai permaneceu ao
meu lado, mais próximo do que nunca, sempre se
fazendo presente para mim e Enzo. Nós três tínhamos
apenas um ao outro e ele jamais suportaria nos ver
distantes de qualquer maneira.
Mas a morte de mamãe mudou a cada um de nós de
alguma forma. Uma parte nossa morreu com ela, e
quando descobri que nunca poderia ter uma filha para
homenageá-la com o seu nome, morri de novo.
— Entre, querida. Sente-se. — A mulher na casa
dos cinquenta anos, de sorriso meigo e semblante
complacente apontou para a cadeira vazia à frente da
sua mesa, onde me sentei por diversas vezes desde que
nos conhecemos.
Fechei a porta e me aproximei, contudo, não atendi
ao seu pedido. Cocei a garganta e, perturbada, caminhei
pelo espaço, indo e voltando.
— Eu não quero me sentar, doutora. — Neguei com
a cabeça, nervosa. — Diga logo o que está acontecendo
comigo dessa vez.
— Ágata, por favor...
— Só... diga — pedi, a encarando, os olhos prestes
a se debulhar em lágrima.
— Não tem nada de errado com você, eu garanto. —
Ela se deslocou até mim somente para me abraçar. —
Fique calma, está tudo bem. Te chamei aqui porque o
resultado da sua última ultrassonografia foi
surpreendente.
Afastei-me dos seus braços, enxuguei os olhos com
o dorso das mãos antes que as lágrimas caíssem.
— O quê? Do que está falando? — Estava confusa,
a minha voz saiu machucada, um pouco rouca. O nó em
minha garganta ainda apertava, me fazia respirar com
certa dificuldade.
A mulher com cabelos tingidos de vermelho me fez
sentar e pediu a sua secretária que me trouxesse um
copo d’água. Esperou até que eu me acalmasse para
então revelar:
— Está vendo isso aqui? — Apontou para a imagem
no resultado da ultrassonografia que abriu sobre a mesa.
— É um pequeno pedaço de ovário. Eu não sei como
isso aconteceu, mas... — A médica sorriu sem mostrar
os dentes. — Você tem 1,2 centímetros de ovário dentro
de você, Ágata.
— Mas... — Engoli em seco, tentando entender. —
Eu perdi tudo na cirurgia, o médico retirou os dois
ovários, como isso poderia acontecer?
Lívia suspirou antes de responder:
— Há coisas difíceis de explicar. Acompanho você
há dois anos e nunca havia surgido nada assim. —
Apontou para o exame mais uma vez, incrédula.
Capturei o papel com as imagens, encarei bem o
que restou dos meus ovários, um pontinho tão pequeno
que não deveria abrir o meu sorriso, mas abriu. A minha
ficha foi caindo lentamente até que me dei conta de
algo:
— Doutora... — Devolvi o exame à mesa e a
encarei, esperançosa. — A senhora acha que com isso,
eu... algum dia... conseguiria engravidar naturalmente?
— Infelizmente... não — ela foi sincera, segurou as
minhas mãos. — Esse ovário é pequeno demais, não
temos como saber se ele é funcional. — Tombei o rosto
para baixo, abatida outra vez. — Mas de qualquer forma,
é uma notícia boa, talvez assim possamos parar com a
sua reposição hormonal. É muito traumatizante uma
mulher tão jovem ter que usar hormônio artificial.
— Mas como o ovário é pequeno, talvez eu precise
continuar com a reposição, não é? — A fitei outra vez.
Lívia largou as minhas mãos para se recostar em
sua cadeira.
— Talvez não. Como o seu caso é atípico, eu
preciso estudar, nós continuaremos acompanhando.
— Às vezes esqueço de tomar os remédios, ainda
assim nunca me senti afetada. — Eu me levantei e a
cumprimentei em despedida.
Antes de ultrapassar a porta para ir embora, a sua
voz me deteve:
— Ágata, só mais uma coisa. — Virei-me para
encará-la de frente. — Prometa-me que não ficará
alimentando esperanças. Não quero que se iluda e se
machuque com expectativas de uma gravidez impossível.
Assenti, em silêncio.
Não era a intenção dela, Dra. Lívia era uma pessoa
incrível, mas as suas palavras ditas de maneira delicada
surtiram o efeito de um tapa marcando a minha cara.
Ao sair da clínica, não me senti bem
psicologicamente para dirigir. Peguei um táxi e pedi ao
nosso motorista para pegar o meu carro. Na viagem de
volta para casa, encostei a cabeça no vidro da janela e
assisti o sol se pôr, escurecendo a cidade. Tentei pensar
em qualquer coisa menos naquele resultado do
ultrassom... na minha mãe, mas não consegui.
Ao entrar na mansão, passei desapercebida por meu
pai e meu irmão. Consegui chegar ao meu quarto sem
ser vista e me enfiei no banheiro.
Debaixo da ducha, me permiti chorar por um longo
tempo até que vesti o roupão branco e me joguei na
cama imensa de lençóis claros, precisava do meu abrigo
confortável para esquecer os gatilhos de hoje.
Bastou alguns minutos para que escutasse batidas
fracas na porta e ela se abrisse. Enzo colocou apenas a
cabeça para dentro, me espiou com o seu rostinho
angelical e cabelos loiros como os do nosso pai:
— Papai está te chamando para jantar — noticiou.
— Diga a ele que lanchei na rua, não estou com
fome — menti, parando de observá-lo para fitar o quadro
da nossa família sobre a parede marfim, que
representava a época em que éramos felizes e sequer
sabíamos.
Escutei os seus passos até que ele se interpôs no
meu campo de visão, me estudando. Era impressionante
a semelhança de Enzo com o Sr. Giancarlo. Ambos
tinham os cabelos tingidos de um loiro-acastanhado,
diferente de mim que puxei à minha mãe, cujas mechas
eram de um loiro mais vivo, dourado. No entanto, os
meus olhos verdes pertenciam ao meu pai.
— Não adianta mentir para mim, feiosa, eu sempre
vou descobrir. — Cruzou os braços, se achando o garoto
mais esperto do mundo. Talvez ele fosse mesmo, o
menino era tão inteligente e à frente do seu tempo que
às vezes me assustava.
— Ai, feioso, me deixa em paz! — Cobri o rosto com
um dos travesseiros, virei para o outro lado.
Enzo circulou a cama até parar na minha frente de
novo. Ele tirou os sapatos e deitou para me presentear
com um abraço, sendo fofo como apenas ele sabia ser.
Eu o correspondi, me rendi fácil.
— Estava mesmo precisando — confessei, após
suspirar, mas não derramei o pranto, já tinha perdido
todas as lágrimas que precisava no banho.
Ficamos assim até quando ele notou que eu havia
me recuperado.
— Acho que você vai querer ouvir o que papai tem a
dizer — o seu tom denunciava que tinha aprontado. Me
afastei o suficiente para me deparar com o seu sorriso
travesso.
— O que fez dessa vez, hein? — questionei,
sentindo a curiosidade mandar a minha tristeza embora.
— Eu não fiz nada, foi papai quem decidiu que você
será a nova estagiária do tio Filippo — disparou, feliz da
vida, descendo do colchão com rapidez, calçando os
sapatos.
— O quê? — Levantei, perplexa. — Isso só pode ser
uma das suas pegadinhas — o acusei.
— Se não acredita, então vai lá falar com ele — me
desafiou, indo embora.
— Volta aqui, Enzo! — Tentei puxá-lo, mas o
pestinha correu, arteiro.
Em um minuto troquei de roupa, encontrei papai no
andar de baixo, mais especificamente na sala de
refeições, jantando em uma paz inabalável, com o garoto
ao seu lado.
— Por que o Filippo? — disparei, curiosa e um
pouco inconformada. Apoiei as mãos no topo de uma das
seis cadeiras que cercavam a mesa de madeira com
película de vidro.
Giancarlo virou o rosto rumo ao filho que abaixou o
olhar, suas bochechas enrubesceram provando que tinha
culpa no cartório.
— Seu pequeno fofoqueiro — grunhiu.
— O senhor não me disse que era segredo. — Enzo
deu de ombros. Estava para nascer criança mais
descarada.
— Achei que tínhamos um combinado, eu queria
ficar com você. — Puxei a cadeira e me sentei.
Chateada, esperei meu pai falar.
— Prefiro que fique com o seu tio. — Ele largou os
talheres, pousou as mãos sobre a mesa para me dar
total atenção. Meu pai era um homem muito bonito e
desde que me entendo por gente, todas as minhas
amigas se derretiam por ele. — Vai aprender mais com
Filippo que é um advogado ativo, o meu serviço é mais
burocrático porque sou o Sócio-Gestor da firma.
— Filippo não é o meu tio e nunca o considerei
dessa maneira — argumentei, não gostando da ideia de
ficar dividindo espaço com aquele arrogante.
— É por isso que até hoje usa o colar que ele lhe
deu de presente? — Giancarlo argumentou, um golpe
baixo demais contra sua própria filha.
Guardei o maldito pingente de balança dentro da
blusa e bufei. Papai me estudou por alguns segundos,
calado.
— Qual é o problema, querida? — a sua pergunta
me fez perceber que eu estava quase entregando o jogo,
não precisava que ele desconfiasse de nada. — Quero
que também aprenda a administrar, mas antes preciso
que se torne uma excelente advogada. Que tenha
experiência e esperteza com os tribunais, isso o Filippo
pode lhe proporcionar.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
— Acho que sei por que ela está tão zangada. — A
voz provocativa de Enzo me congelou, ao mesmo tempo
em que capturou a atenção de Giancarlo.
— Por que, filho? — O meio-sorriso do pestinha
cresceu. Cerrei os punhos sobre as coxas e o fuzilei,
jurando internamente que se falasse algo eu iria matá-lo.
Nós tínhamos um acordo, o seu silêncio era pago.
— Minha irmã está com medo de não aguentar —
completou, então suspirei, aliviada.
— Claro que não. — Neguei, mexendo no cabelo,
ponderando as palavras. — Ele é um grande advogado,
sei que posso aprender muito, só fui pega de surpresa.
— Tentei desconversar.
— Tem certeza? — A sobrancelha de Giancarlo
arqueou, me estudando, meu peito retumbou de
nervosismo. — Escute, Filippo é conhecido na firma
como mãos de ferro. Ele tem um jeito duro de ensinar,
mas é um ótimo mestre, o melhor que temos. — Papai
capturou a minha mão, massageou os meus dedos em
apoio. — Preciso que seja forte e resiliente. Prove o
sangue que corre em suas veias e se torne a melhor
estagiária que aquela firma já viu, entendeu?
Não entendi se ele estava me cobrando ou
incentivando. Talvez fosse os dois. Os seus olhos verdes
se tornaram afiados, era nítido o quanto esperava muito
de mim. Sempre foi desse jeito.
— Tudo bem. Não vou decepcioná-lo — garanti, mas
minha alma estremeceu por dentro, insegurança
roubando toda a energia que havia em mim.
— Então, problema resolvido. — Giancarlo sorriu
largamente. — Vamos jantar. — Apontou para o
banquete à minha frente: massa ao molho Alfredo com
filé mignon.
Uma delícia a qual não consegui resistir.
Antes de usar o garfo para levar o macarrão à boca,
fuzilei meu irmão uma última vez. Ele adorava me
provocar, mas sabia que, de alguma forma, receberia o
troco.
Enquanto comia, pensei na ideia de trabalhar com
Filippo Gagliardi e senti o meu coração acelerar.
Recordei do esbarrão que tivemos naquele dia e uma
pitada daquele calor que senti quando estava em seus
braços me atingiu. Ser a sua estagiária significava estar
perto demais, era quase como ser obrigada a respirar o
mesmo ar.
O problema era que, quando ele se aproximava, eu
me transformava em uma estúpida e perdia a capacidade
de raciocinar. Era como sair de órbita ou flutuar no
universo. Um universo coberto de chamas.
Hoje realmente não era o meu dia. Podia apostar
que não!
Peguei o garfo e me aproximei do cooktop com
cautela. O fogo estava alto, o óleo dentro da frigideira
pipocava enquanto fritava o bife, do jeito que papai
gostava. Tentei virar a carne rapidamente, mas não
consegui esse feito sem queimar a mão no processo.
Tive de engolir o gemido de dor, papai detestava que eu
fizesse barulho. Não queria que ele me chamasse de
garotinho fraco outra vez.
Ele detestava fraqueza.
A pele do lado superior da minha mão ardia, concluí
que o local vermelho logo se transformaria em uma
bolha, mas estava acostumado.
Desliguei o fogo antes que o bife queimasse e, com
bastante dificuldade, o coloquei dentro do prato. As
minhas mãos tremeram quando retirei o avental que era
grande demais para o meu tamanho, segurei o prato com
cuidado. Respirei fundo antes de me encaminhar até a
sala de jantar, onde o homem me aguardava.
Lentamente, coloquei o prato sobre a mesa, à sua
frente, e aguardei ao lado, amedrontado, de cabeça
baixa, escutando-o experimentar o que havia me
ordenado fazer.
Nós tínhamos funcionárias para isso, mas meu pai
afirmava que eu era muito mimado e tinha que aprender
a me virar sozinho.
— Está uma porcaria! — bradou, lançando o prato
no chão. Os estilhaços do objeto se espatifaram e
voaram por todo lado, um deles cortou a minha
panturrilha.
— Ai! — gemi tentando conter a dor que irradiava
pelo corte, toquei o local do ferimento, meus olhos
repletos de lágrimas que era proibido de liberar.
— Andiamo! — Meu pai se levantou com brusquidão,
jogando a cadeira para trás com a força do movimento
de suas pernas, me pegou forte pelo braço.
— Não, papai, por favor. Eu não quero voltar para o
porão — implorei, desesperado, sabia que nada nem
ninguém poderia impedi-lo de me jogar lá dentro daquele
buraco escuro.
— Cale a boca, seu garotinho fraco! — grunhiu. —
Isso é para o seu bem.
A minha respiração falhou quando descemos as
escadas rumo ao subsolo, minhas mãos intensificaram a
tremedeira, os ossos doeram e o suor congelante
arrepiou a minha espinha. Meu cérebro se espremeu
dentro da cabeça, parecia que o corpo inteiro iria
explodir.
Papai me jogou contra a parede suja e se agachou
no centro do espaço onde eram guardadas as coisas
velhas que não utilizávamos mais. Tudo isso era culpa
minha, talvez ele me enxergasse como uma dessas
coisas que não serviam para nada e precisavam ficar
aqui embaixo, esquecidas.
Ele abriu o alçapão de ferro que dava passagem
para o buraco debaixo da terra. O local era tomado pelas
trevas, mal dava para respirar tão pouco enxergar.
Calafrios me tomaram, fizeram doer cada um de meus
ossos.
— Entre — ordenou, com a expressão endurecida,
apontando para o cubículo sombrio que mal me cabia.
Lágrimas rolaram por minha face. A minha garganta
fechou e me fez sufocar. As bochechas queimaram, o
suor me encharcou, os olhos abriram até mais que o
limite. Mesmo assim, obedeci, não existia outra opção.
— Um dia você ainda vai me agradecer por isso,
filho. — Papai sorriu antes de fechar o alçapão com toda
a força que possuía.
Eu só queria que tudo aquilo acabasse.

Despertei assustado, ofegante, demorei até me dar


conta de que havia sido atormentado por mais um
maldito pesadelo.
Suado, sentei-me sobre a cama lentamente, os
lençóis estavam bagunçados, eu estava completamente
nu assim como a beldade ao meu lado.
O cheiro de sexo selvagem ainda pairava no ar,
havia me divertido bastante com a acompanhante de
luxo na madrugada, mas nem mesmo foder a sua boceta
por algumas horas foi o bastante para me livrar do meu
terrível passado.
Me arrastei para fora da cama e caminhei rumo ao
banheiro, tomando cuidado para não pisar sobre os
preservativos espalhados pelo chão.
O contato da água fria em minha pele foi
reconfortante, esfreguei bem a esponja por todo o meu
corpo, usando-a como meio de me livrar dos meus
demônios, cada um mais forte que o outro.
Ao sair do banheiro, peguei o meu celular e enviei
uma mensagem para a minha psicóloga. Fui
irresponsável e faltei aos nossos últimos encontros, era
hora de retornar. A minha terapia nunca terminava
porque eu nunca era curado, se é que havia cura para
uma mente tão fodida quanto a minha, repleta de
camadas.
Segui para a cozinha e, ainda de toalha, preparei
algo rápido, precisava despertar de vez e repor as
energias. Após me alimentar, caminhei até o meu closet
e vesti o terno feito sob medida.
Assim que fiquei completamente pronto, afundei as
mãos nos bolsos e me dirigi até a varanda da minha
suíte, local privilegiado de onde eu tinha uma vista
panorâmica da grandiosa Milão. Morava na cobertura de
um prédio com mais de quarenta andares e adorava
isso. Tomei um pouco de sol e de ar, então retornei para
o quarto.
Aproximei-me da cama mais uma vez, admirei a
garota de pele negra, sexy pra caralho.
— Hora de acordar, linda — chamei, a voz
corrompida pela rouquidão matinal. Estiquei um meio-
sorriso devasso ao assistir a forma dengosa como ela se
movia.
A safada tentou me puxar de volta para mais um
sexo quente, prometeu que esse seria de graça, tive que
utilizar todo o meu autocontrole para recusar. Paguei-a e
a dispensei, educado, assim tomei viagem rumo à firma,
estava cheio de trabalho e não havia mulher no mundo
que fizesse eu me atrasar.
Quando adentrei na Gagliardi-Ruggiero, fui
inundado por todo aquele “caos organizado” que o nosso
trabalho proporcionava. Havia funcionários por todos os
lados, em sua maioria associados espalhados por cada
um de nossos departamentos, assim como sócios,
secretários, assistentes jurídicos e estagiários.
Estagiários.
Lembrei que hoje era o dia em que Ágata iria
começar. Havia se passado uma semana desde a
conversa que tive com o Giancarlo, mas ainda tinha
esperanças de que a garota desistiria de vir ao meu
encontro.
Doce engano.
— A nova estagiária está à sua espera — Emma, a
minha eficiente secretária, anunciou antes mesmo que
eu avistasse a garota loira sentada dentro do meu
escritório, à minha espera. De costas para mim.
— Certo, grazie. — Dei um tapinha na bancada que
cercava a mulher na casa dos trinta anos. Ela estava
sentada diante do seu computador, conseguia conversar
comigo sem parar de digitar.
Ultrapassei a porta de vidro e isso foi o suficiente
para Ágata escutar os meus passos. Ela se levantou
assim que me viu e o nosso olhar colidiu com
intensidade. Fechei a porta às minhas costas, sem
deixar de olhá-la sequer por um instante, não por falta
de vontade, mas sim porque não conseguia.
Simplesmente não podia.
— Bom dia, senhorita Ruggiero. — Ofereci a mão
livre para ela, a outra segurava a pasta.
— Doutor. — Seus dedos pequenos e macios foram
pressionados pelos meus.
O nosso toque atiçou a merda da tensão sexual que
sempre me roubava o juízo e incendiava a minha calça.
Dei a volta na mesa, coloquei a pasta sobre ela e
examinei a menina dos pés à cabeça, rapidamente. Ela
usava uma saia lápis escura e uma blusa de tecido leve,
claro e com mangas que cobria o seu decote, mas
moldava perfeitamente as suas curvas. Era
impressionante como Ágata não ficava menos atraente,
estando vestida ou não.
Ela também estava alguns centímetros mais alta
devido aos saltos que calçavam os seus pés, no entanto,
sem eles, calculei que devia ter 1,55 de altura enquanto
eu exagerava com os meus 1,97.
— Sente-se. — Apontei para a cadeira na qual
estava assim que cheguei, ela me atendeu. Abri o meu
blazer e também me sentei. — Hoje veio vestida de
maneira adequada. Isso é importante. — Recostei-me na
cadeira preta e cruzei as mãos. Todo o meu escritório
era decorado com objetos escuros que iam de contraste
com as paredes marrom-acinzentadas e madeira
caramelo.
Havia um paredão de vidro atrás de mim que se
estendia até o lado direito da sala, fornecendo uma
visão panorâmica dos arranha-céus da cidade. Além de,
é claro, iluminar o ambiente.
— Naquele dia eu ainda não era estagiária e havia
acabado de sair da universidade — argumentou, rápida
no gatilho, cruzando as pernas. Todavia, não me
convenceu.
— Não me compreenda mal, nós trabalhamos em um
mundo corporativo, você representa para as pessoas
aquilo que veste. Então, se quer que a encarem como
uma advogada, vista-se como tal — pontuei, cirúrgico.
Notei que ela não gostou, mas assentiu calada.
Me aproximei um pouco mais da mesa que nos
dividia, capturei uma de minhas canetas metodicamente
alinhadas e brinquei com ela entre os dedos, usando-a
como meio de distração enquanto continuava a manter
os olhos fixos nos da garota. Ágata exalava inocência e,
vestida desse jeito, parecia mais mulher do que menina,
o que me excitava em dobro.
— Soube que passou em primeiro lugar no nosso
teste de estágio e quero parabenizá-la por isso —
comentei.
— Grazie. — Ela sorriu sem mostrar os dentes.
— Seu pai me pediu para ser o seu mentor, mas
quero que saiba que não sou um homem fácil no
trabalho e não vou facilitar a sua vida apenas por ser
filha do meu amigo...
— Nunca esperei por isso.
— Aqui é uma firma de verdade, é a prática daquilo
que aprende na universidade, por esse motivo sempre
vou exigir que dê o seu melhor.
— É para isso que estou aqui — confirmou,
cruzando as mãos sobre o joelho. Perfeita.
— Não gosto de frescura, de estagiária desatenta e
muito menos de fraqueza. — Apontei a caneta em sua
direção, Ágata se manteve firme. A pouca maquiagem
em seu rosto só prendia ainda mais a minha atenção. —
Quando eu lhe der alguma instrução, seria interessante
anotar para não esquecer.
— Não vou precisar, tenho memória fotográfica —
disparou, obrigando-me a arquear as sobrancelhas.
— É mesmo? Então feche os olhos— ordenei em
desafio. Ágata demorou a me atender, esperou para
verificar se não era uma espécie de pegadinha e ao
perceber que eu estava falando sério, obedeceu,
fechando as pálpebras lentamente, seu peito subindo e
descendo de acordo com o descompasso da sua
respiração.
Ela descruzou as pernas voluptuosas e juntou as
mãos nervosas sobre o colo.
— Você deve ter notado todos esses processos
sobre a minha mesa — comentei ao fitar os cinco
arquivos ao lado. Eu sabia que ela não os tinha tocado
porque continuavam exatamente do jeito que os deixei.
— Sim... — Ágata suspirou e mordeu o lábio
carnudo, como se estivesse excitada com esse jogo.
Umedeci os meus lábios e engoli em seco, tentando
manter a concentração no que pretendia fazer ao invés
de me sentir cada vez mais duro, uma vontade
devastadora de fodê-la.
— A que ramo do Direito cada um deles pertence?
— lancei a pergunta, respirei um pouco mais forte.
Encarei o volume no centro das minhas pernas por um
segundo e me preocupei.
Pela fachada de vidro, observei as pessoas andando
lá fora, Emma continuava focada em seu trabalho, nós
estávamos totalmente expostos, apesar de distantes.
Maldição! Por que tanto desejo?
— Dois deles são de Direito Civil... — ela
respondeu, devagar. — Herança e Emancipação. Os
outros três são de Direito Empresarial... — Respirou
fundo, raciocinando à medida que comprimia os dedos
uns nos outros. — Dissolução de Sociedade, Falência
e... Fusão.
Permaneci por alguns instantes em silêncio,
impressionado, a contemplando, eu amava mulheres
inteligentes. Ágata tinha acertado. Ela permaneceu do
mesmo jeito, de olhos fechados, as bochechas cada vez
mais enrubescidas.
— Pode abrir os olhos agora. — Minha voz emanou
lenta e mansa.
Ágata fez o que instruí e a nossa química exalou
como uma onda de calor assim que nos reconectamos.
Uma magia densa e palpável.
Não resisti e desci o olhar pelo seu corpo até as
suas coxas, que foram pressionadas uma contra a outra,
como se ela quisesse esconder alguma coisa, talvez a
sua bocetinha molhada ou o fato de que o seu desejo
era tão ardente que ela mal conseguia se controlar.
A pequena atrevida estava queimando diante de
mim e mal tínhamos nos tocado. Se algum dia
chegássemos a isso, o que poderia acontecer?
— Filippo. — Ousado como era, Tomás invadiu a
sala, surgindo do inferno para nos interromper.
— Obrigado por bater. — O fuzilei, mal-humorado,
uma vontade absurda de matá-lo.
— Oh, scusa. — Ele observou Ágata se levantar de
cabeça baixa, a face afogueada e envergonhada, como
se o rapaz pudesse ler os seus pensamentos. — Ah,
seja bem-vinda. — Ofereceu a mão para cumprimentá-la
e ela o correspondeu, sorrindo.
Por algum motivo louco, isso me incomodou.
Larguei a caneta sobre a mesa e passei a mão no
cabelo, pegando fogo. Catei os processos e entreguei a
ele.
— Tome. Quero que Ágata faça um resumo sobre
cada uma dessas empresas, estude as fraquezas e
potencialidades. Você fica com os outros dois —
ordenei, coçando o pescoço, atordoado.
— Certo. Andiamo, Ágata, eu vou te apresentar a
firma. — Tomás a levou e eu corri até o banheiro, certo
de que esse era apenas o início do meu fim.
Lutei para me manter o mais firme possível durante
o tempo em que fiquei na presença de Filippo, mas creio
que as reações explosivas do meu corpo fizeram com
que eu falhasse. Tinha certeza de que estava vermelha
quando Tomás me tirou de sua sala porque a calcinha
ensopada já incomodava o esfregar das minhas coxas
enquanto caminhava para longe do advogado.
O Sr. Gagliardi era o tipo de homem que exalava
poder até mesmo quando respirava, o seu magnetismo
atraía de tal maneira que me deixava completamente
vulnerável.
O pior era que gostava, sabia que a minha maior
dificuldade aqui não seria suportá-lo, mas sim resistir ao
desejo.
— Ágata? — A voz de Tomás parecia distante, mas
foi se intensificando dentro da minha mente até me
despertar de volta à realidade. — Ágata, está me
ouvindo? — O homem loiro sorriu, ele era jovem, devia
ter vinte e seis ou vinte e oito anos. Seus olhos eram de
um castanho-esverdeado, seu rosto indicava o quanto
era bonito.
— Scusami, Tomás, o que disse? — Levei uma
mecha de cabelo para trás da orelha, pisquei algumas
vezes, tentando focar no presente.
— Ali atrás fica o departamento criminal e à nossa
frente, o civil. — Apontou para ambos os lados. — Mas
você já deve saber disso, afinal, cresceu vindo aqui —
comentou, eu assenti.
— Sim, conheço cada andar da firma, mesmo assim
gostaria que me apresentasse, se não for incômodo —
pedi, sorrindo.
— Certo, mas está tudo bem? — Me analisou,
perspicaz. — O que houve, o Filippo te pressionou? Ele
é um pouco duro, mas não um bicho de sete cabeças
como faz parecer. — Sorriu, tentando me tranquilizar à
medida que exalava um charme natural. — Não se
preocupe, estarei aqui para te ajudar, não quero perder
mais uma estagiária.
Voltamos a caminhar pelo largo corredor, passamos
por alguns escritórios, todos com fachadas de vidro.
Aqui não se importavam com privacidade, mas sim com
transparência. O piso era de porcelanato branco, o
ambiente iluminado, vivo, recheado de engravatados e
mulheres bem vestidas.
— Ouvi comentários de que os estagiários do
Filippo não duram muito, acredito que você saiba o
motivo já que passou dessa fase e continua com ele —
comentei, estava interessada em descobrir o segredo
para desvendar aquele homem.
— A questão é a antecipação. — Tomás me encarou
como se houvesse contado a fórmula secreta.
— Como? — Fiquei ainda mais curiosa, saímos do
corredor, adentramos em um amplo departamento que
pertencia aos associados e aos estagiários. Todos
trabalhavam lado a lado, cada qual em um cubículo que
estava longe de ser como os escritórios dos seniores.
— Nenhum dos nossos supervisores, principalmente
o Filippo, gosta de dizer exatamente tudo o que
precisamos fazer. Ele quer que você seja proativa, que o
surpreenda, contribua e acompanhe a rapidez da sua
mente, mas sem ultrapassar certos limites.
— Quais limites?
— Digamos que Filippo não é do tipo que se envolve
emocionalmente com os clientes ou com os funcionários.
Se conseguir separar isso, será uma grande vantagem.
Se bem que... — A voz de Tomás falhou no instante em
que paramos à frente dos dois únicos cubículos vazios
dentre os vários que entupiam o espaço. Todos em forma
de U.
— O quê? — Arqueei a sobrancelha, minhas mãos
estavam unidas atrás das costas. Pessoas trabalhavam
por todos os lados, digitavam, atendiam a telefonemas,
discutiam sobre casos jurídicos, um movimento intenso e
contagiante.
— Você é filha do Sócio-Gestor, não vai sentir a
pressão de ser dispensada a qualquer momento. —
Tomás apoiou o braço esquerdo no topo de uma das
paredes que dividia um cubículo do outro e que tinha
metade do seu tamanho.
O seu comentário me atingiu de uma maneira ruim,
dispersou um gosto amargo em minha garganta, eu não
queria ser tachada daquele jeito.
— Tomás... — Dei um passo em sua direção, reduzi
o tom, ele virou o rosto para o lado, oferecendo-me o
ouvido. — Se possível, gostaria que esquecesse que sou
filha do Gestor, não quero ser menos cobrada que os
outros estagiários. Quero ser tratada como igual — pedi,
o que me fez ser presenteada com um olhar orgulhoso.
— Pode deixar comigo, não vou facilitar a sua vida,
Ágata, Filippo já havia me avisado.
— Havia? — Curiosidade me tomou.
— No entanto... — Ele observou ao redor. — Não
posso garantir o mesmo do resto do pessoal. Todos aqui
sabem quem é você. — Acompanhei o seu olhar e não
gostei do que testemunhei.
Meus novos colegas de trabalho não pareciam muito
animados com a minha chegada, alguns semblantes
incômodos me incomodaram.
Era como se dissessem silenciosamente que
detestavam o fato de eu ser privilegiada por ser filha de
Giancarlo, enquanto tinham que ralar muito para
conquistarem o seu lugar ao sol.
— Mas não se importe com isso, mostre a eles a
que veio! — Tomás finalmente entregou os meus
processos. Agarrei os três arquivos como se fossem o
meu pontapé inicial na firma, e podia ser mesmo. — E já
que quer sentir como é ser uma estagiária de verdade...
— Entregou os dois processos que Filippo havia deixado
sob a sua responsabilidade. — Faça um resumo desses
aqui também, sem esquecer de inserir os precedentes [ 7 ] .
— Piscou para mim, ao mesmo tempo em que fez um
sinal de pistola com os dedos em minha direção.
Confesso que fiquei surpresa, mas sabia que
hierarquicamente ele estava acima da minha posição,
não queria começar o estágio desobedecendo-o.
Sentia que ser amiga do braço direito de Filippo
poderia ser uma boa oportunidade de me sobressair e
quebrar qualquer preconceito dos meus colegas a meu
respeito.
Ele assumiu o seu cubículo, sentou em sua cadeira,
se preparou para pesquisar algo em seu computador.
Havia muitas pastas e documentos sobre a sua mesa,
trabalho com certeza não iria lhe faltar.
Alguns posts-it com anotações estavam grudados
nas paredes divisórias ao seu redor, o rapaz parecia se
localizar muito bem dentro da sua própria bagunça.
— Quando devo entregar? — perguntei, antes de
assumir o meu espaço.
— Amanhã de manhã. Coloque sobre a mesa do
Filippo, de preferência, antes dele chegar — aconselhou.
O meio-sorriso em meu rosto denunciou o quanto
havia gostado daquele desafio.
Sentei em minha cadeira, liguei o computador e
estalei os dedos antes de começar o serviço. Precisava
ser rápida como nunca, além de me concentrar enquanto
pessoas trabalhavam ao redor.
Sempre sentia essa energia quando visitava a firma,
mas agora ela me tocava de uma maneira diferente
porque a estava vivendo de fato. Era mais uma etapa do
meu sonho se realizando e se tinha certeza de uma
coisa, era de que iria aproveitar cada segundo dessa
experiência.

O primeiro dia de trabalho foi intenso, o meu horário


deveria ser apenas seis horas corridas, mas vi a
necessidade de permanecer na firma até o final da tarde.
Cheguei na universidade atrasada, havia transferido o
meu curso para o turno da noite por imaginar que
precisaria de um tempo considerável para me dedicar ao
estágio.
Sequer lembrei de fazer amizade com a nova turma,
dediquei-me a absorver o máximo de conteúdo da aula e
quando cheguei em casa, ainda peguei algumas horas
da madrugada para terminar os resumos.
Assim que o dia amanheceu, saí de casa mais cedo
que o meu pai, fui uma das primeiras a chegar na firma.
Teria cerca de uma hora para revisar tudo.
Quando me dei por satisfeita, imprimi todos os
documentos, anexei aos processos correspondentes e
empilhei os arquivos sobre a minha mesa. À essa altura,
o departamento já estava cheio, mas o Tomás ainda não
havia chegado, isso indicava que o Filippo também não.
Decidi ir ao banheiro antes de levar os resumos
para o Filippo, quando voltei avistei Tomás chegando
com um copão de café.
— Bom dia, Ágata. Chegou cedo. — Observou, mas
pareceu um elogio. Tomás retirou a alça do ombro,
colocou a sua bolsa de couro sobre a sua mesa.
— Bom dia, Tomás. — O cumprimentei com um
sorriso.
— Já fez os resumos?
— Estão aqui. — Me aproximei dos arquivos, franzi
a testa ao notar que não estavam da maneira como os
deixei.
— Deixe-me ver. — Ele parou ao meu lado,
depositou o seu copo sobre a minha mesa e capturou um
dos processos, achando estranho não encontrar o que
deveria estar ali. — Cadê? — Me encarou.
Tomei o processo das suas mãos, passei as páginas
rapidamente, aturdida. Olhei os outros também, todos
estavam vazios.
Dio Santo!
— Eu... acabei de deixá-los aqui — gaguejei,
abismada, procurando ao redor. — Deixei aqui e fui ao
banheiro...
— Tudo bem, entendi. — A voz de Tomás era calma,
o seu olhar era de quem acreditava em mim. — Você tem
os resumos no computador? — Ele observou as pessoas
trabalhando ao redor como se estivesse farejando o
perigo.
— Sim, coloquei na nuvem — respondi, perturbada.
— Já enviou para o e-mail do Filippo?
— Faria isso depois de deixá-los em sua mesa.
— Faça agora porque ele está chegando. Eu tenho
que ir para encontrá-lo, nós vamos receber o nosso
cliente do caso da Fusão, houve um imprevisto e o cara
vai chegar mais cedo. Filippo vai querer ler esse resumo
antes de falar com ele.
Tomás deu um tapinha em meu ombro, pegou o seu
café e se afastou.
Ainda em choque, sentei em minha cadeira sem
acreditar no que havia acontecido: alguém estava
tentando me ferrar!
Fiz tudo o que Tomás orientou, mas é claro que a
demora da impressora iria me atrasar. Quando me
aproximei da sala de Filippo, fiquei gelada ao avistá-lo
ao lado de Tomás conversando com o tal cliente, os três
sentados nos sofás. Quis entregar os arquivos à Emma,
mas ela me obrigou a entrar.
Tomás veio ao meu encontro e pegou os processos
enquanto Filippo sequer me olhou, continuou dialogando
com o cliente como se eu não existisse ali, o que não
devia ser um bom sinal.
Saí do local de cabeça baixa, irritada e também
decepcionada. Poderia esperar tudo ao trabalhar na
Gagliardi-Ruggiero, menos uma tentativa para me
prejudicar.
Tudo bem que aqueles resumos estavam longe de
ser a coisa mais importante que faria ali, mas
certamente me ajudariam a causar uma boa primeira
impressão.
E se eu não os tivesse guardado na nuvem ou em
qualquer outro lugar?
Levei os dedos à têmpora direita, a minha cabeça
doía, continuou doendo pela próxima meia-hora até que
Tomás voltou ao departamento me encarando como se
estivesse sentindo pena do que me veria passar.
— Ele quer falar com você. — Apontou com o
polegar por cima do ombro, o semblante preocupado.
Apenas assenti e rumei até o escritório da fera.
— Mandou me chamar? — perguntei assim que
fechei a porta. Filippo lia um dos meus resumos com
bastante atenção, parou o que estava fazendo apenas
para apontar a cadeira na qual queria me ver sentada.
— Seus resumos estão bons, mas eu detesto
atrasos. — Me encarou, letal.
— Houve um imprevisto...
— Tomás me contou que algum concorrente tentou
te passar a perna, o que pretende fazer a respeito? —
Ele cruzou as mãos, sua pergunta me pegou de
surpresa.
Pensei por um instante, boquiaberta.
— O que eu deveria fazer? — indaguei,
desconfortável, meus dedos cruzados se apertando
sobre as minhas coxas.
— Tomar mais cuidado. Isso aqui é uma firma de
advocacia e não um parquinho de diversões, Ágata.
— Eu sei, mas não estava esperando por isso —
argumentei, nervosa, o coração quase rasgando o peito.
— E esperava o quê? Um arco-íris colorido?
— Claro que não! — Me empertiguei, o impulso de
raiva sobre mim foi tão grande que cerrei os punhos.
— Deve estar preparada para tudo, muitos querem o
seu lugar. — Bateu o indicador sobre a mesa, seu
comportamento deixando bem claro que me considerava
culpada.
— Hoje é o meu segundo dia, Filippo — grunhi,
incrédula com a maneira que estava me tratando.
— Não temos tempo a perder. Tempo é dinheiro e
todos estamos aqui para faturar.
— Achei que eu estava aqui para aprender!
— Então aprenda uma coisa. — Ele espalmou as
mãos na mesa e aproximou o rosto de uma maneira tão
intimidadora que estremeci por dentro, mas não recuei.
— Gosto de estar preparado quando vou encontrar os
meus clientes. A porra de um resumo sobre o caso ajuda
nisso! — grunhiu.
Fiquei em silêncio, abalada, mas não ousei desviar
o olhar do dele. O som da minha respiração enfurecida
era a única coisa que ecoava no ar, mas não era o
bastante para quebrar o clima terrível estabelecido entre
a gente.
Tranquei as lágrimas que desejavam escorrer por
minha face e, devagar, me levantei.
— Posso me retirar? — Minha voz saiu firme,
porém, dolorida.
O olhar afiado do advogado suavizou, seu
semblante me analisou como se tivesse sido atingido por
um pingo de arrependimento ou percebido o exagero que
havia causado. Ele se recostou em sua cadeira, dando-
me um pouco de espaço.
— Vá. — Me dispensou, dessa vez não teve
coragem de me encarar.
Dei-lhe as costas apressada, agoniada, com uma
pedra no meio da garganta. Foi difícil alcançar o
banheiro sem desabar em lágrimas pelo caminho, mas
consegui.
Assim que Ágata deixou a minha sala com os olhos
brilhando, peguei o telefone fixo do lado direito da minha
mesa e esperei Emma atender:
— Não estou pra ninguém, entendeu? — A encarei
através da fachada transparente e antes que ela
conseguisse responder, desliguei, mal-humorado.
Ignorei a sua expressão indignada com a minha
arrogância, retirei o blazer, o vesti na cadeira,
permanecendo com a camisa social sob o colete. Me
aproximei da bancada de madeira caramelo e superfície
escura que circundava o paredão de vidro para me servir
com uma bebida, a mais forte disponível.
— O que está acontecendo? — Escutei a voz de
Tomás às minhas costas e quase matei Emma com o
olhar assim que ela veio atrás dele.
— Eu disse pra ele não entrar! — ela se justificou,
eu a conhecia o bastante para identificar que estava com
vontade de bater em Tomás tanto quanto eu.
— Por que não a ouviu? — Encarei o rapaz antes de
dar mais um gole no líquido, senti-lo esquentar a minha
garganta.
— Por que está tratando a Ágata desse jeito? —
Tomás ignorou a minha fúria e se aproximou. Emma saiu
do escritório para nos dar privacidade.
— Ela foi chorar pra você? — provoquei, mas por
dentro não me sentia nada bem com aquilo. Não gostei
de ter magoado a garota, senti vontade de pedir
desculpas, esmurrar a minha própria cara, mas
precisava ser firme, precisava que ela desistisse de
continuar por perto sem desconfiar que mexia comigo.
— Filippo, é sério, você é exigente, mas não dessa
maneira. — Ele estendeu um braço em minha direção
enquanto falava. — Eu vi a forma como a Ágata saiu
dessa sala. O que quer que tenha dito, ela não merecia
ouvir.
— É mesmo. E por quê?
— Ontem ela extrapolou o horário do estágio para
produzir os resumos e hoje chegou mais cedo que eu —
grudou as mãos no peito — para deixar tudo pronto para
você — apontou os dois indicadores para mim —, poucos
estagiários fazem isso — explicou, notei o quanto sentia
pena da menina. Tomás nunca mudou, sempre colocava
os sentimentos acima da profissão, bem diferente de
mim. — Sem contar que os textos dela ficaram ótimos.
— Cedo demais para apontar qualidades, Tomás...
— Dei-lhe as costas, coloquei o copo de volta sobre a
bancada.
— E também para apontar defeitos — argumentou.
— Você disse que era para tratá-la como tratamos
qualquer estagiário, mas é a primeira vez que o vejo
agindo assim.
— Prova de que ainda não me conhece. — O
encarei mais uma vez, e apontei para a saída.
Inconformado, o advogado bufou antes de ir
embora. Seu último olhar em minha direção deixava
claro a sua ciência de que eu escondia algo, o infeliz me
conhecia!
Desde que Ágata tinha dezessete anos, depois
daquele nosso breve momento na biblioteca, ela não
saiu dos meus pensamentos. Uma atração explosiva se
alojou em meu corpo, era o meu dever cuidar para que
aquilo não me destruísse.

ÁGATA RUGGIERO
Após Filippo deixar bem claro que levaria ao pé da
letra o fato de não facilitar as coisas para mim, tomei a
decisão de que faria o mesmo com ele.
As lágrimas que liberei no banheiro depois da nossa
conversa no seu escritório não seriam em vão. Nunca
estive disposta a ir ali e me utilizar da vantagem de ser
filha do seu melhor amigo e Sócio-Gestor da firma para
conseguir algum privilégio, mas se ele queria esquecer
disso e da história entre as nossas famílias para me
massacrar na primeira oportunidade, que fosse, eu faria
o mesmo.
Mas não iria desistir.
Nutri esse sentimento de força e revide pelo resto
da semana, fiquei mais atenta às pessoas que
trabalhavam ao meu redor e cheguei a desconfiar até
mesmo de Tomás, no entanto, a minha intuição dizia que
não havia sido ele a roubar os meus resumos, dava para
perceber que agia como um amigo, algo que não me
deixaria menos atenta.
Filippo se manteve distante desde a nossa
discussão, suas ordens a mim eram dadas através do
Tomás, tentei lidar com isso e fingir que não estava
percebendo o que realmente acontecia.
— Aqui. Essa é a sua próxima missão. — Tomás me
entregou um novo processo assim que o encontrei no
departamento.
— Estupro? — Coloquei a minha mochila sobre a
mesa e abri o arquivo, atenta, gostava de casos
criminais.
— Sim. — Tomás cruzou os braços e se encostou na
mesa. — O réu foi condenado oito anos atrás e está
preso em regime fechado há mais tempo do que deveria.
Na verdade, ele está esquecido e precisa da nossa ajuda
para fazê-lo progredir para o regime semiaberto.
Senti raiva do infeliz sem nem mesmo conhecê-lo.
Encarei Tomás por um instante, com desgosto.
— Por mim, estupradores teriam prisão perpétua —
opinei, voltando a folhear o processo que tinha várias
páginas.
— Compartilho da mesma opinião, no entanto, o
nosso dever é fazer a Lei ser cumprida, o que não é o
caso.
— Que estranho, ele foi condenado à pena máxima,
já cumpriu mais da metade e ainda não progrediu. —
Sentei na minha cadeira, quanto mais lia mais ficava
interessada.
— Pronto, você já entendeu. Qualquer coisa, só
perguntar. — Tomás esfregou as mãos antes de sair do
meu cubículo e ir para o seu.
— Filippo vai participar desse caso? — ergui o rosto
para encará-lo.
— Não, esse será entre eu e você. Filippo não pega
casos pro bono [ 8 ] — explicou, se sentando.
Pensei a respeito, é claro que o todo-poderoso
senhor Gagliardi não se importaria com os menos
favorecidos, ele deixou bem claro que estávamos aqui
para faturar, clientes que não tinham dinheiro para nos
pagar não eram de seu interesse, apenas serviam para
manter uma boa imagem da firma.
Fiquei de pé, deixei o processo sobre a mesa e
apoiei os antebraços sobre a parede que me separava
de Tomás.
— O que foi? — Ele parou de ler os documentos à
sua frente para me dar atenção.
— Desculpe a curiosidade, mas... enquanto eu faço
isso, o que vocês dois vão fazer?
— Então, lembra dos resumos que você fez semana
passada?
— Acqua Viva e Poseidone. — Recordei das duas
empresas multimilionárias que pretendiam se fundir.
Estudei as potencialidades e o mercado das duas, a
fusão tinha tudo para ser um sucesso.
— Acqua Viva é a nossa cliente e a Poseidone fez a
proposta de fusão. No início, o Filippo ficou desconfiado
porque a Poseidone é um pouco maior, mas ele estudou
a empresa com base nos pontos que você ressaltou no
resumo e decidiu que é um bom negócio. — Tomás
ergueu o documento que estava lendo. — Esse é o
contrato que os clientes vão assinar, estou revisando,
mais tarde todos estarão aqui para concluir o negócio.
— Se quiser ajuda... — ofereci.
Tomás me analisou com certa pena antes de
responder:
— Acredite, Ágata, eu adoraria. De verdade. Mas
Filippo foi bem claro quando disse que queria você
cuidando do pro bono. — Tomás foi delicado nas
palavras, senti sinceridade em sua voz.
Balancei a cabeça em positivo e ele voltou ao
trabalho, encerrando o assunto.
Suspirei assim que retornei para o meu lugar, não
precisava ser inteligente para entender o óbvio: Filippo
não me queria metida em seus casos, quanto mais
distante melhor. O irônico é que ele não se importou em
usar os meus resumos como base para analisar a
proposta de fusão, apesar de quase ter me estrangulado
por um simples atraso.
Devido ao fluxo intenso no departamento, decidi ir
para a biblioteca, onde teria silêncio para me concentrar
no caso de estupro. O lugar era enorme, com várias
mesas de estudo espalhadas de um lado do espaço, e
diversas estantes abarrotadas de livros jurídicos do
outro.
À medida que analisava cuidadosamente cada
evidência daquele processo, me encontrei indignada ao
perceber que havia uma grande possibilidade do réu ser
inocente.
— Não pode ser... — sussurrei, após ler o laudo
duvidoso da perícia.
Acessei o notebook à minha frente e entrei no
sistema que me daria acesso aos depoimentos daquele
julgamento. Abri o vídeo em que o réu se pronunciava,
oito anos trás:
— Estou dizendo, eu sou inocente! — Ricardo
chorava enquanto tentava se defender das acusações do
promotor. — Não a estuprei, nós tínhamos um caso e ela
não quis aceitar quando falei que iria embora! Jamais
estupraria uma mulher, por favor... — O homem desabou
em lágrimas, desesperado. Suas mãos tremiam, os
soluços explodiam em sua garganta, ele estava
desesperado. — Por favor, Alessia, diga a verdade... por
que está fazendo isso comigo? Por que, Alessia? — Se
referiu à vítima e pendeu o rosto para baixo, enfiou as
mãos nos cabelos. — Eu tenho uma filha... — lamentou,
aquilo apertou meu coração.
Fiquei ainda mais em dúvida, meu lado feminino não
queria acreditar nele, mas meu lado advogada afirmava
que naquele caso em específico, havia muita coisa
errada.
Assisti o quanto consegui e quando não tive mais
estômago, corri para o banheiro, abalada, rememorando
cada prova e fato que me fazia acreditar que havia
acontecido uma injustiça.
Adentrei em um dos boxes e, assim que terminei de
esvaziar a bexiga, escutei a voz de um homem do outro
lado da porta, parecia estar falando ao telefone:
— Não se preocupe, Sr. Rossi, deu tudo certo, nós
acabamos de assinar o contrato. — Estranhei um homem
no banheiro feminino, mas entrei tão aturdida com os
depoimentos que tinha assistido que fiquei em dúvida se
havia sido ele ou eu a errar de endereço. — Pode
começar a comprar as ações, em poucas semanas a
Poseidone vai assumir a Acqua Viva e eles não terão
para onde correr. — Frio me tomou por dentro, levei a
mão ao peito, encostei o rosto na porta para entender se
o que escutei era mesmo verdade. — Exatamente, o
senhor será dono de tudo. Filippo Gagliardi e seu cliente
sequer fazem ideia de que caíram em um golpe. —
Gargalhou, empolgado.
Ouvi passos de tamancos, o homem se assustou.
— Oh, merda! Desculpe, senhoras. Banheiro errado.
— Ele se distanciou, então saí do box.
Ultrapassei as duas mulheres que haviam acabado
de entrar e segui o engravatado até o hall, onde o
observei apertar a mão de Filippo ao mesmo tempo em
que lhe lançava um sorriso falso. O infeliz devia ser o
advogado representante da Poseidone e havia acabado
de fechar um ótimo negócio, pra ele.
Tentei ficar escondida atrás de uma coluna, mas,
como se sentisse a minha presença, Filippo virou o rosto
e me avistou, logo depois que o trapaceador entrou no
elevador para ir embora.
Assustada por ter sido pega em flagrante, voltei a
me esconder, motivada por um impulso ridículo.
Entretanto, raciocinei que deveria contar a ele o que
tinha descoberto, afinal, ficar escondida ali não
resolveria nada.
Assim que dei o primeiro passo para encontrá-lo,
esbarrei em um peitoral sólido que me jogou para trás.
Atrapalhada, recuei, perdi o equilíbrio ao pisar em falso,
meu salto quebrou e quase fui ao chão, mas o Sr.
Gagliardi me segurou com rapidez, uma mão foi ao meu
braço e a outra à minha lombar.
Fui puxada contra o seu corpo, bastou meu olhar se
prender ao dele para que eu sentisse as minhas
bochechas arderem, devia estar corando outra vez.
Não adiantava, não tinha o que fazer, nada iria
evitar a magia que me inundava quando ficava tão
próxima a ele. O mundo esvaziava, tudo se tornava
escuro e a única fonte de luz abrigava somente a nós
dois, em um paraíso que existia apenas dentro da minha
cabeça.
— Quantas vezes vou ter que te segurar, Ágata? —
A voz rouca me arrepiou, sequer notei que engolia em
seco, que poucos segundos foram o suficiente para ser
arrebatada por uma onda de calor.
— O meu... salto — gaguejei, despertando da
hipnose que seus olhos me causavam.
— O quê? — Filippo me afastou com cuidado e
observou ao redor, felizmente ninguém nos dava
atenção, dessa vez o esbarrão foi mais rápido, apesar
de eu ter tido a impressão que durou horas.
— Quebrou... o meu salto quebrou, e agora? Que
vergonha... — Levei as mãos ao rosto assim que me
encostei na coluna para tomar apoio, tentando não
colocar peso no pé prejudicado para não parecer uma
manca. — Como vou andar pela firma desse jeito?
— Creio que você não anda com sapatos de
reserva. — Filippo esticou um sorriso que me irritou.
— Está achando engraçado? — sussurrei, o
detestando. — Não posso dar um passo sem denunciar o
problema, não é adequado para um escritório!
— Que tipo de marca você usa? Com certeza não é
de qualidade — debochou, o desgraçado se divertia com
a minha situação.
— Se não vai ajudar, não atrapalha! — reclamei,
tentando fingir que estava plena diante das pessoas que
passavam por nós.
Filippo fechou o sorriso e analisou a minha
expressão de dor.
— Se machucou? — ele realmente parecia
preocupado.
— Acho que não foi nada demais. — Olhei para o
meu pé, talvez meu tornozelo estivesse querendo inchar.
Filippo pensou rápido e observou ao redor mais uma
vez.
— Certo, consegue chegar ao elevador?
— Acho que sim — respondi, desconfortável, a dor
irradiava. O elevador era o lugar mais próximo e fechado
onde poderia me esconder.
— Vou caminhar ao seu lado, é só ir devagar,
ninguém vai perceber — me incentivou, paciente.
Concordei com a cabeça e dei o primeiro passo,
meu rosto se retorceu de dor, me amaldiçoei por ser tão
atrapalhada e frágil na frente dele.
Filippo cumpriu a sua promessa e me guiou até a
caixa metálica sem me tocar, usando o seu corpo para
ocultar como podia o meu defeito. Levantei o salto
quebrado apenas o suficiente para andar, estava quase
o arrastando e agradeci internamente por não ser fino.
Que saudade dos meus tênis.
Por sorte, o elevador no qual entrei com a Ágata
estava vazio. Apertei no botão que nos faria descer para
o quadragésimo sexto andar.
— Para onde estamos indo? — Curiosa como era,
ela perguntou, assim que as portas metálicas se
fecharam, nos presenteando com a privacidade.
— É um andar em reforma, mas hoje está vazio. —
Capturei o celular do bolso, comecei a digitar uma
mensagem para a Emma.
— Por quê?
— Os homens foram para outro setor — expliquei. —
Quanto você calça?
— Por quê? — As sobrancelhas dela se estreitaram,
surpresa.
Minha nossa, como perguntava!
Suspirei. Parei de digitar e a olhei.
— Quanto... você calça, Ágata? — indaguei
lentamente, me aproximei da menina. Ela se encostou na
barra de ferro da parede ao fundo onde havia um
espelho de corpo inteiro. Suas bochechas ruborizaram
no instante em que a testemunhei mirar a minha boca
como se fosse algum fruto proibido, porém, desejoso.
Aquilo me enlouqueceu por dentro. Cada expressão
delicada sua, cada movimento que fazia com os olhos e
lábios ou o corpo inteiro, era como um maldito feitiço
não intencional, mas que fazia efeito.
Ágata pendeu o rosto para baixo antes de
responder, evidentemente incomodada ou envergonhada,
não soube identificar.
— Trinta e três. — Fiquei surpreso, era um pezinho
de princesa. Em contrapartida, eu era um homem que
calçava quarenta e quatro.
— Certo. — Ela voltou a me olhar como se estivesse
esperando algo que não aconteceu. Lhe dei espaço, me
concentrei no celular.
As portas do elevador se abriram, avistamos um
espaço amplo, vazio e silencioso que estava em fase de
pintura.
— Está pedindo novos sapatos para mim? —
deduziu. — Se for isso, não precisa se preocupar. — A
ignorei, devolvi o celular para o bolso da calça social
quando saí do elevador. Segurei as portas para que ela
pudesse vir.
Ágata tentou caminhar, notei o vermelho e o inchaço
no seu tornozelo esquerdo, não poderia permitir que
continuasse se esforçando. Ela demoraria para
conseguir, sem contar que poderia cair de novo.
— Venha aqui. — Me aproximei outra vez e, contra a
sua vontade, a peguei no colo, quebrando qualquer regra
que havia me imposto de não a tocar.
— O que está fazendo, Filippo? — Foi pega
desprevenida, mas sabíamos que não poderia revidar.
Caminhei com a garota em meu colo sem conseguir
me desprender dos seus olhos, havia um paredão de
vidro no final do corredor em que estávamos e que nos
iluminava em meio àquele vazio desorganizado, com
baldes de tinta, poeira e lonas espalhadas.
Algumas janelas estavam abertas, o vento soprava
suave, arrastando alguns fios dourados sobre a sua face
enternecida. Parecia brincadeira para um homem na
minha idade admitir que gostei de tê-la em meus braços,
de sentir que a estava acolhendo ou a protegendo seja
lá de que maneira fosse.
Fui nocauteado por seu perfume suculento e
insaciável, uma doce fragrância da exótica cereja negra
misturada à uma nota tentadora de amêndoa.
Não era difícil imaginar o cheiro de Ágata porque
ele a descrevia totalmente: era aquele lugar onde a
inocência se cruzava com o pecado, um odor poderoso
que me hipnotizou como se o tempo passasse em
câmera lenta.
Não queria afastá-la do meu corpo, mas o fiz, assim
que a coloquei sobre uma cadeira, bem devagar. A
minha ereção pulsou entre as pernas, dolorida, um alerta
que fez eu me dar conta de que estava prestes a
ultrapassar os limites.
Com Ágata sempre era sim, à beira do abismo.
Dei-lhe as costas e me afastei, buscando respirar,
sentia que estava pegando fogo.
— Grazie... — Escutei a sua voz afetada pelo
mesmo tesão que me corrompia. Era visível que Ágata
me queria assim como eu a estava querendo.
Merda!
— Pedi à Emma que trouxesse novos sapatos para
você — anunciei, sem olhá-la. Esfreguei a mão na
garganta e a desci até o meu pau, sutilmente, para
tentar colocá-lo em uma posição que não me
incomodasse tanto. — Ela chegará logo, se não se sentir
bem, pode ir para casa. — Fiz menção em partir, mas a
menina me impediu.
— Filippo... — Parei de caminhar e virei apenas o
rosto em sua direção. — Eu ia lhe contar que aquele
advogado da Poseidone armou para você — disparou,
me fazendo esquecer do calor que nos rondava naquele
momento.
— O quê?
— Foi por isso que eu estava espiando vocês dois
conversarem. Eu o escutei ao telefone, ele estava
falando com um tal de... Sr. Rossi, afirmou que você e
seu cliente não imaginavam que haviam sofrido um golpe
e que em pouco tempo eles iriam assumir a Acqua Viva.
Raciocinei sobre as suas palavras. Um sentimento
ruim se apossou de mim ao rememorar toda a conversa
que tive com aquele infeliz durante o fechamento do
negócio.
— Tem certeza, Ágata? — Queria a sua confirmação
outra vez, mas no fundo sentia que tudo o que disse era
verdade.
— Sim — confirmou, eu assenti, a raiva me
dominando aos poucos.
— Espere Emma aqui, tenho que resolver isso. —
Ela concordou.
Caminhei depressa até o elevador, troquei um último
olhar com a garota antes das portas se fecharem. O Sr.
Rossi e seu advogado iriam descobrir que em meio a
esse mar dos negócios, eu não era qualquer peixe tolo,
mas sim um tubarão.
Respirei fundo e esfreguei as mãos no rosto assim
que fiquei sozinha. Meu coração trovejava no peito, os
bicos dos meus seios estavam sensíveis, além de me
sentir afogueada entre as pernas.
O que foi aquele olhar do Filippo?
Posso estar ficando louca, mas... pela primeira vez,
tive a impressão de que ele compartilhava da mesma
energia que me incendiou durante todos esses anos.
Como se não fosse o bastante a surpresa de ter me
carregado em seus braços, Filippo me encarou faminto,
da maneira que apenas um homem com segundas
intenções encararia uma mulher. Jamais esperaria um
gesto tão cavalheiro e romântico da sua parte depois de
tanto tempo ganhando a sua indiferença, mas nada me
preparou para aquele olhar. Suas pupilas azuis se
transformaram, era como se estivessem fervendo.
Usei a minha mão de leque para dissipar um pouco
daquele calor, apesar do vento suave continuar soprando
pelas janelas abertas ao final do corredor.
Após um bom tempo, Emma finalmente surgiu com
os meus novos sapatos. A ruiva elegante era um
mulherão de impressionar, poderia ser facilmente
confundida com uma modelo, até mesmo caminhava
como uma, sem precisar forçar.
— Garota, como conseguiu isso? — indagou,
mirando o meu machucado ao mesmo tempo em que me
entregava a caixa que carregava nas mãos.
— Meu salto quebrou. — Mostrei a ela, àquela
altura já estava descalça e, para a minha sorte, o
inchaço já não estava tão aparente assim, no entanto,
ainda doía.
— Parece que não tem muita sorte. — Emma cruzou
os braços e sorriu. — Dias atrás, deu uma trombada no
Filippo e molhou a roupa dele, hoje o seu salto quebrou.
Tem certeza de que não passou sobre algum gato? —
brincou, nós trocamos sorrisos.
— Não, é de nascença mesmo — expliquei,
enquanto calçava os sapatos novos.
— Quer ajuda? — ofereceu, quando me viu levantar.
— Isso aí parece estar doendo.
— Sim, está, mas eu não vou embora agora. Preciso
continuar estudando aquele processo — expliquei,
apesar da dor me incomodar.
— De jeito nenhum, você vai para casa colocar um
gelo nesse machucado. — Emma enlaçou seu braço ao
meu, dando-me apoio para voltar ao elevador.
— Mas...
— Sem “mas”, isso não está em discussão —
sentenciou, agindo como se fosse a minha mãe,
obrigando-me a rir de novo, porém, lembrei de uma coisa
e parei de caminhar. Desfiz o nosso agarre.
— Olha, se estiver fazendo isso porque eu sou... a
filha do...
— Nada disso, enlouqueceu? — Emma me encarou
como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir.
Ela emanava bom humor e humildade, isso me encantou.
— Minha gentileza não pode ser comprada, querida,
apenas merecida. — Enlaçou meu braço de novo. — Não
se iluda, se eu estivesse naqueles dias, acredite, você
estaria fazendo isso sozinha.
Entramos no elevador às gargalhadas.
— Agora vem cá, como conseguiu a ajuda do chefe?
Nunca o vi se importar em fazer um favor desse tipo a
ninguém. — Emma me largou para apertar o botão que
nos levaria de volta ao nosso andar de trabalho.
— Também me surpreendi. Ele parece tão duro e
sombrio — confessei, já estava a tratando como se fosse
minha melhor amiga.
— Menina, quase dei um tapa na cara dele naquele
dia em que ele te falou aquele monte de bobagens...
E assim continuamos a dialogar, nos entendemos
rapidamente, a sensação era de que já nos conhecíamos
há bastante tempo.

Fui obrigada a ir embora da firma, mas fiz questão


de carregar o processo de estupro comigo. Coloquei uma
compressa de gelo no pé e continuei assistindo aos
vídeos do julgamento à medida que anotava tudo aquilo
que julgava pertinente.
Perdi horas na madrugada pesquisando sobre a vida
dos envolvidos no caso, descobri que a vítima era
esposa de um juiz conhecido por ser carrasco nos
tribunais, dificilmente algum réu era absolvido pelas
mãos dele. O engraçado, era que não havia quase nada
sobre o processo em si, era como se tudo tivesse sido
feito sob segredo de justiça.
No dia seguinte, retornei à Gagliardi-Ruggiero com
um resumo em mãos, entreguei os papéis à Tomás.
Ansiosa, quase comi todas as unhas enquanto o
esperava terminar de ler.
Ele suspirou assim que terminou e me encarou
surpreso.
— A sua teoria sobre a possível inocência desse
cara é bastante pertinente, mas você não tem provas
suficientes para pedirmos uma revisão criminal —
argumentou, me devolvendo os papéis. — E também não
foi isso que eu te pedi, Ágata — me repreendeu,
sutilmente.
— Eu sei, Tomás, eu sei! A verdade é que fui lendo
todas aquelas páginas, observei as provas absurdas, e...
— Me empolguei, um desejo incontrolável de fazer
justiça corrompia o meu sistema.
— Ágata, escute. — Tomás ergueu a mão em sinal
de pare, me calando. — Acredite, sei o que é isso, todos
serão considerados inocentes até que se prove o
contrário. Passei por esse dilema diversas vezes aqui na
firma e o que eu posso te dizer é que o Filippo não gosta
disso.
— Como assim? — Deixei o resumo sobre a minha
mesa. Cruzei os braços. — Está querendo dizer que pra
ele não importa se o réu é inocente ou não?
— Não, não é isso. O Filippo não perde tempo com
casos desse tipo. Você pode até tentar convencê-lo, mas
ele verá como um atraso ou perca de tempo, o que não
deixa de ser.
— Não estava pensando em falar com ele, você
também é advogado, achei que poderia me ajudar.
— Você sabe o quanto estou atolado, na verdade,
nós estamos. Esse caso vai demandar uma investigação,
também precisaremos do consentimento do réu, não
sabemos se ele vai topar.
— Quem não toparia ter a chance de sair da cadeia?
— Aquilo parecia muito óbvio.
— Talvez alguém que esteja lá há muito tempo como
ele, perto de ser solto e não queira problemas chamando
a atenção de um juiz que aparentemente o odeia. —
Tomás abriu as mãos como se o que ele tivesse acabado
de falar também fosse o óbvio.
E era mesmo.
Ele me fez refletir, fiquei completamente
desanimada.
— Tudo bem — concordei, abaixei a cabeça,
desistindo.
— Mas... — Sua voz prendeu a minha atenção
novamente. — Se conversar com o Filippo e ele permitir,
eu te ajudo.
Sorri, nós trocamos um aperto de mão. Tomás
retornou para o seu cubículo e o meu sorriso morreu.
Até parece que seria fácil convencer aquele cavalo.

Guardei o processo comigo por duas semanas,


estava esperando o melhor momento para abordar o
Filippo, tendo em vista que ele ficou muito ocupado
tentando reverter o acordo da fusão. Enquanto isso,
foquei em outros processos que estavam iniciando,
Tomás percebeu que eu era muito boa em fazer
petições.
Pareceu mentira quando cheguei na firma e Emma
me ligou avisando que Filippo queria conversar comigo.
Aproveitei o momento para levar o resumo.
— Bom dia, Ágata. Sente-se. — Filippo apontou
para o sofá assim que me viu chegar.
O seu escritório era tão amplo e majestoso como o
do meu pai, havia sofás para uma conversa mais
descontraída em um canto, assim como uma mesa de
vidro redonda com seis cadeiras para uma reunião, que
estava localizada do lado oposto de onde estávamos.
Ele se sentou em sua poltrona luxuosa, cruzou as
pernas e descansou os braços sobre os da poltrona.
Hoje estava usando um terno preto meio fosco, a gravata
era da mesma cor e se destacava sobre a camisa social
branca. O Javier [ 9 ] em seu pulso esquerdo, era um dos
últimos lançamentos.
Aquela posição... a sua roupa... o seu perfume... o
seu olhar.
Filippo Gagliardi emanava um poder tão real e
sólido que simplesmente me paralisava, fazia-me viajar
para pensamentos devassos, onde ele se deitava sobre
mim, entre as minhas pernas e me tomava.
— Está tudo bem? — Sua voz me despertou.
Eu assenti, mas optei por me manter calada.
— Te chamei aqui para agradecer pela informação
que me deu dias atrás. Graças a isso, consegui reverter
o acordo. Acontece que se tratava de uma aquisição
hostil. A Poseidone começou a comprar várias ações
horas depois que fechamos o negócio, pretendiam tomar
o controle da Acqua Viva.
— Assim como o Elon Musk fez com o Twitter —
lembrei.
— Exatamente, mas não descansei até que
desistissem da ideia.
— E como fez isso? — Estava curiosa.
— Simples, coloquei as empresas mais lucrativas da
nossa cliente à venda e os obriguei a refazer o acordo,
dessa vez de uma forma que beneficiasse a ambos.
Além de uma nova cláusula que os impedirá de tentarem
essa artimanha no futuro — explicou, com um meio-
sorriso orgulhoso no rosto.
— Inteligente da sua parte — elogiei, admirada.
— Não teria conseguido sem você. — O meu sorriso
cresceu, não queria parecer uma boba derretida, mas o
infeliz conseguia esse feito.
— Grazie — agradeci, contente, apesar de ainda
estar chocada por ele ter reconhecido que tive parte
nisso.
Filippo desceu o olhar para os documentos em
minhas mãos.
— O que tem aí? — Estendeu a mão.
— Ah, é sobre um caso de estupro que o Tomás me
passou... — Entreguei a ele, ansiosa, fiquei nervosa
rapidamente.
— Sim, ele comentou — afirmou, olhando tudo
rapidamente. — Fora de cogitação — decidiu, ríspido.
Me devolveu os papéis.
— Mas você nem leu direito...
— Li o bastante. Se mexermos com esse caso,
vamos perder e eu não perco.
— Não se trata sobre você ganhar ou perder,
Filippo, se trata sobre a vida de um homem que pode ser
inocente — argumentei, pasma com o que ouvi.
— Você não tem provas disso.
— E se eu conseguir?
— Não quero que consiga. O que eu e o cliente
queremos é que faça um simples pedido de progressão
de regime, não um novo Andy Malkinson [ 1 0 ] — rebateu,
frio. Foi ali que o odiei.
— Como pode ser tão frio assim? — Indignação me
tomou.
— Faz parte da profissão. — Ele cruzou as mãos
quando apoiou os cotovelos sobre os joelhos para me
encarar fixamente, lindo de morrer, mas detestável. —
Primeira lição: não se envolva emocionalmente com os
clientes.
Bufei, inconformada, a língua coçando para lhe
responder tudo o que pensava, mas não era o momento.
— Agora volte para o seu departamento e faça o
que mandei — ordenou, mais ríspido ainda.
Saí da sua sala com uma raiva que só aquele
homem conseguia me causar. Ele poderia se recusar a
me ajudar, poderia impedir o Tomás de tomar uma
atitude também, mas naquela firma havia muitos
advogados e um deles era o meu pai!
Senti o ar diminuir a cada vez que tentava me livrar
daquele buraco onde estava preso. A escuridão me
engolia e aterrorizava enquanto reagia de maneira
violenta ao meu desespero:
— PAI, ME TIRA DAQUI!! — berrei, descontrolado,
esmurrando o alçapão com toda a força que me restava.
— EU QUERO SAIR DAQUI! — Me debati como podia, o
espaço era apertado, claustrofóbico, a terra úmida se
arrastava abaixo de mim. O calor molhava a minha pele,
sentia o sangue escorrer por minha testa, fruto da briga
intensa que travei com o infeliz horas atrás, todavia, ele
ainda era mais forte.
Aos dezesseis anos, eu já não aguentava mais
aquela situação, todos os seus castigos, torturas e
humilhações. O pior era ser jogado ali embaixo feito um
animal selvagem, enterrado. Era a minha fraqueza, o
meu fim.
Lágrimas agressivas rasgaram o meu rosto, puxei ar
como podia, os pulmões estremeceram, aflitos, o cérebro
ficou ainda mais comprimido dentro da cabeça. Senti
doer todos os meus ossos, as minhas forças indo
embora.
Era certo que dessa vez iria morrer ali.
Soquei o alçapão mais algumas vezes, machuquei
os nós dos dedos, gritei até quase estourar as veias da
garganta. E quando os demônios sentenciaram que iriam
me sucumbir, o alçapão se abriu, mãos femininas me
puxaram para fora, acolheram-me em seus braços.
— Ele já foi embora! Já foi! — Greta murmurou,
aflita, beijou o topo da minha cabeça, agindo como a
mãe que nunca tive.
Ela me acalmou como podia e me levou para longe
dali, do maldito porão, sempre fazia isso quando meu pai
saía de casa, apesar de sofrer as consequências depois.
Ainda em choque, fui guiado até o banheiro do meu
quarto, onde uma banheira com água morna me
esperava, clamava por mim. Greta esperou que eu
tirasse a roupa e entrasse na água para poder se
aproximar, lavar os meus cabelos, esfregar a esponja em
meus braços.
Ainda sentia as últimas lágrimas abandonarem os
meus olhos durante o tempo em que ela me dava
carinho, cuidava do meu estado físico e psíquico.
— Está tudo bem. — Ergui as pálpebras quando
seus dedos macios deslizaram na minha face. — Agora
está tudo bem, eu estou aqui. — Sua voz era como
música em meus ouvidos, acalentava parte da minha
alma despedaçada. — Estou aqui — repetiu, aproximou
ainda mais o rosto e me encarou de um jeito diferente,
como nunca havia acontecido.
Sua mão escorregou lentamente até o meio das
minhas pernas e me apertou. Naquele momento eu
soube que não era como mãe que ela queria ser vista
por mim.

Despertei assustado, suado e enraivecido. Demorei


a sair da cama, minhas mãos ainda formigavam, a
garganta incomodava, ressequida. Havia tido mais um
maldito pesadelo, o passado gostava de me atormentar,
sempre me sentia preso enquanto dormia, nada daquilo
parecia ter fim.
A noite mal dormida me fez chegar ao trabalho com
a paciência mais curta do que o normal, me sentia
pronto para esmagar qualquer um que entrasse em meu
caminho pelo simples fato de que não estava em um bom
dia.
— Bom dia — sequer consegui disfarçar a voz
ríspida quando passei por Emma feito um trem
desgovernado e entrei no meu escritório.
— Bom dia, o CEO da Acqua Viva deixou um convite
em sua mesa, ele quer a sua presença na festa de
celebração da fusão com a Poseidone. — Ela veio atrás
de mim.
— Não estou em um bom momento para festejar
nada, só o que preciso é trabalhar. — Sentei em minha
cadeira e coloquei a minha pasta sobre a mesa.
— Isso não conta, Filippo, você nunca está em um
bom momento, e dessa vez eu exijo que vá. — Emma
sentou-se na cadeira à minha frente, me encarou com
olhos de uma criança pidona.
— Você não exige nada, Emma, eu sou o chefe aqui.
— Abri o notebook, a ignorando.
— Devo lembrá-lo que o Sr. Mancini é um dos seus
maiores clientes, você não pode negar esse convite. —
Ela estava muito interessada, fiquei desconfiado.
— Okay, me diga o que quer? — A encarei quando
cruzei as mãos sobre a mesa.
— A festa vai ser em Las Vegas e aí no convite diz
que você pode levar toda a sua equipe! — Emma pegou
o convite que estava à minha frente e que eu não havia
dado a mínima atenção. Ela abriu a boca com um sorriso
enorme e ficou balançando o papel dourado como se
fosse um convite para conhecer a Fantástica Fábrica de
Chocolate [ 11 ] .
Seus olhos brilhavam, me fazendo entender tudo.
— Las Vegas? Mancini ficou louco! — Neguei com a
cabeça, o cara era um dos meus clientes mais
excêntricos. Voltei a digitar.
— Ah, Filippo, por favor! — ela implorou.
— Vou mandar o Tomás em meu lugar, você pode ir
com ele se quiser — decidi.
— Grazie! — Emma comemorou com uma palma
única.
— Para onde nós vamos? — Tomás entrou na sala,
curioso.
— Para Las Vegas! — Emma jogou as mãos para o
alto, descontrolada. Fazia tempo que não a via tão feliz
assim.
— Mamma mia! É sério? — Um sorriso animado
surgiu no rosto do rapaz.
— Festa de celebração da fusão da Acqua Viva com
a Poseidone. Depois de quase sofrermos uma rasteira,
Mancini quer fingir para o mundo que ele e Rossi são
melhores amigos — expliquei, ao mesmo tempo em que
lia uma decisão do juiz sobre um dos nossos processos.
— Eles não estão errados, a nova empresa deve
manter as aparências. — Tomás sentou ao lado da
Emma, sorrindo.
— Você vai me representar. — O olhei por um
instante.
— Com certeza. — A sua empolgação me parecia
bobagem, o ignorei. — Estava precisando mesmo de
umas férias.
— Não estarão de férias, estarão a trabalho. Não se
empolgue.
— A Ágata também pode ir? — O encarei
novamente, dessa vez mais sério. Por que ele iria querer
que ela fosse? Qual era o interesse dele naquilo? —
Afinal, se não fosse por ela, nós teríamos fracassado na
negociação. — Era uma justificativa plausível, voltei a
atenção para o texto que estava lendo.
— É claro que a nossa superestagiária deve ir! Ela
agora faz parte da nossa equipe — Emma argumentou,
ela realmente pretendia fazer dessa viagem uma
excursão.
— Podem levá-la também — concordei, os dois
vibraram. — Agora voltem ao trabalho — ordenei, o que
fez Emma correr de volta para o seu cubículo, me
deixando sozinho com Tomás para discutirmos sobre
alguns casos.
Perdemos a manhã inteira naquilo e, quase na hora
do almoço, fui participar de uma reunião no andar de
cima com o Giancarlo e os demais sócios. Quando
terminamos, estava prestes a sair assim como os outros,
mas a sua voz me deteve:
— Filippo, espere um momento, preciso falar com
você. — Meu amigo finalmente se levantou da sua
cadeira e circulou a grande mesa na qual havíamos nos
reunido para poder se aproximar de mim.
Ele esperou que ficássemos sozinhos para poder
dizer:
— Semana passada a Ágata comentou comigo sobre
o caso de um rapaz que foi preso por estupro, pedi ao
Vito para dar uma investigada, espero que não se
importe — disparou, fiquei com raiva no automático.
— Como é que é? — Dei um passo em sua direção,
o fuzilei.
— Apenas pedi para ele investigar, não tomaria
nenhuma atitude sem avisá-lo — Giancarlo se justificou,
mas ele sabia bem que a porra da sua desculpa não era
nada convincente.
— Você já tomou, Giancarlo — rebati, enfurecido. —
Passou por cima da ordem que eu havia dado à sua
filha!
— Filippo...
— Não. Disse que queria que a Ágata estagiasse
comigo para aprender o que você não poderia ensinar. E
também para não estragá-la como profissional devido
aos seus sentimentos. — Ergui a mão enquanto falava,
mas Giancarlo não me deixou concluir.
— Não se trata dos meus sentimentos...
— Ah, não? Desde quando dá tanta importância aos
casos pro bono?
— Viu quem é o juiz envolvido no caso? Aquele cara
é uma pedra no nosso sapato. — Fiquei surpreso com a
sua desculpa.
— Isso não importa, Giancarlo. — Neguei com a
cabeça. — Era uma decisão minha! — Espalmei o peito,
meu coração batia irritado. — Se não está preparado
para me ver negando pedidos à sua filha, então não tem
porque ela continuar comigo — decretei, lhe dando as
costas.
Saí da sala de reuniões, marchei estressado até um
dos elevadores. Assim que cheguei ao meu andar, segui
com pressa para o departamento onde Ágata trabalhava
com Tomás e os demais associados, não havia quase
ninguém lá, era como se todo mundo tivesse sumido.
Olhei o relógio de pulso, era horário de almoço.
— Onde está a Ágata? — interroguei um garoto que,
devido à idade que aparentava possuir, também devia
ser um estagiário ou um associado de primeiro ano.
— Ah... acho que a vi entrando na biblioteca —
gaguejou, como se tivesse medo de mim.
Não quis saber de mais nada, sequer enxergava as
pessoas à minha frente, marchei para a biblioteca e
entrei no lugar vazio como um predador que caçava a
sua presa. Atravessei algumas mesas, adentrei em um
dos corredores abarrotados de livros. Em um cantinho
escondido, avistei a pequena atrevida.
Ela pareceu sentir a minha presença, pois desviou
os olhos do livro que estava lendo e olhou para mim.
Severo, me aproximei:
— Posso tolerar qualquer coisa, Ágata, qualquer
coisa mesmo, menos uma estagiária insubordinada e
mimada que quando não tem o que quer, sai correndo
para pedir favores ao papai — disparei, notando os seus
olhos se esbugalharem.
— O que disse? — Ágata fechou o livro e o devolveu
ao lugar.
— Achou mesmo que eu não iria saber?
— Filippo...
— Acha que pode trabalhar comigo e me
desobedecer? — Sorri, mas não estava com um pingo de
humor. — Se continuar assim, nunca será uma advogada
qualificada e sabe por quê? Porque é ingênua demais,
você pensa que esse mundo é um arco-íris, mas não é!
As pessoas são podres, não pode se enganar com elas,
muito menos com um estuprador, caralho! — Ergui a voz,
mas nem me dei conta disso. Os olhos da Ágata
brilharam, mas dessa vez não senti pena. Respirei fundo
antes de concluir: — Pegue as suas coisas e desapareça
daquele departamento, não trabalha mais comigo.
Lhe dei as costas, porém, não consegui ir longe, a
sua voz enfurecida me deteve:
— Eu me enganei com você! — replicou, capturando
a minha atenção outra vez. — Por todos esses anos o vi
como exemplo, um tipo de advogado que queria me
tornar, mas agora percebo que não é nada do que
imaginei.
— Ah, que pena... — debochei.
— É, é uma pena porque hoje você não passa de
alguém que não quero ser! — Caminhou em minha
direção, fiz o mesmo, nos encontramos no centro.
— É mesmo? — Ergui o queixo, impassível.
— Um babaca arrogante! Um tubarão frio e
insensível... — Ágata recuou quando percebeu que eu
não iria parar. Ela bateu as costas em uma das estantes,
lugar onde a encurralei.
No entanto, nem isso fez com que fechasse a boca:
— Sim, sou um tubarão e posso comer peixinhos
mimados como você — ameacei, coloquei uma mão de
cada lado do seu rosto. — Posso acabar com a sua vida
em um estalar de dedos, Ágata. Sem pena — murmurei,
mirando a sua boca com desejo, ela ofegava, sua
respiração se misturava à minha devido à nossa
proximidade.
— Eu te odeio... — confessou, engoliu em seco
afetada tanto quanto eu. Bastava ficarmos perto assim
para o tesão nos corromper.
— Será um problema com o qual terá de conviver. —
Fiz menção em me afastar, precisava ir embora antes
que fosse tarde, mas Ágata me atacou.
Sim, foi um ataque.
A infeliz agarrou o meu pescoço e me beijou com
um desespero ao qual não pude resistir. Agarrei a sua
cintura de imediato, grudei os nossos corpos, engoli os
seus lábios compartilhando da mesma fome que ela
engolia os meus. O golpe do nosso contato foi tão brutal
que mal consegui raciocinar quando senti a maciez da
sua carne, quando escutei o primeiro gemido dengoso
que escapou de sua boca.
Segurei a sua nuca, meus dedos extensos tomaram
quase toda a circunferência do seu delicado pescoço,
Ágata bagunçou os meus cabelos e arranhou o meu
terno enquanto tentava me puxar pelos ombros.
Era uma necessidade feroz, mútua, parecia que ela
esperava por aquilo tanto quanto eu. O instinto nos
assaltou com a mesma intensidade, a nossa sintonia
ficou ainda mais evidente quando a garota,
enlouquecida, ergueu uma das pernas e a minha mão
livre desceu até a sua bunda. Levantei a sua saia no
percurso, desnudei a sua coxa, apalpei a sua nádega
que encheu e pesou contra os meus dedos, sem esforço.
— Porra, menina! — A minha voz saiu rouca, meu
coração trovejava no peito, pressionei a minha ereção
em seu ventre, enfiei ainda mais a minha coxa entre as
dela, eliminando qualquer espaço existente entre nós
dois.
Apertei a sua nuca e forcei Ágata a me encarar, de
lábios entreabertos, inchados e vermelhos. Seu busto
subia e descia, suas unhas ainda estavam cravadas em
meu ombro e tudo o que encontrei em seu olhar foi a
mesma insanidade que me corrompia, a mesma vontade
de fazer aquilo que não podíamos, mas que
precisávamos.
— Ai, Filippo... — ela gemeu, espalmando os meus
braços. Meu pau pulsou e cresceu ainda mais, sem
controle.
— Não faça isso comigo ou eu juro que rasgo a sua
calcinha aqui mesmo, sua ordinária — a xinguei,
possessivo, aquilo surtiu um efeito positivo em seu
corpo.
Ágata rebolou, excitada, meus dedos afundaram em
sua bunda com uma força que deixaria marcas. A beijei
de novo, seduzido, faminto, mordi os seus lábios como
se quisesse lhe arrancar pedaço ao mesmo tempo em
que arrastei os dentes em seu pequeno queixo, lambi a
sua bochecha vermelha, sua garganta aquecida.
Penetrei a sua calcinha pelo caminho entre as suas
nádegas, escorreguei pelo seu cu e alcancei os lábios
ensopados da sua boceta. Ágata reagiu no automático,
puxou a minha cabeça com toda a força que tinha e
gemeu no meu ouvido, baixinho.
Estávamos queimando, um calor denso nos cercava,
eu suava por dentro do terno à medida que Ágata
gotejava com a minha massagem íntima. Aquilo me tirou
o juízo, fechei os olhos por um momento para me
deliciar com a maravilhosa sensação de ter a sua carne
sensível e inchada esmagada entre os meus dedos.
Me surpreendi ao descobrir que a pequena infeliz
era beneficiada, suas dobras eram generosas, mais
carnudas do que qualquer outra boceta que já toquei.
Ágata puxou os meus cabelos e gemeu como se não
pudesse mais aguentar aquela loucura. Raspei o seu
clitóris poucas vezes, mal havia começado e a fiz gozar.
Forte. Exagerada.
— Dio santo! — ela grunhiu, estremecendo e se
controlando para não gritar, afundou o rosto em meu
peito.
— Mamma mia! — Eu estava derrotado. Sabia que
estava.
Não acabaria com a vida daquela menina, era ela
que o faria comigo. E o pior, sem precisar se esforçar.
Rebolei sem controle, minha boceta molhou as
minhas coxas assim que foi atingida pelo orgasmo. Meu
corpo inteiro pareceu se rasgar ao meio, os ossos
estremeceram, os batimentos cardíacos descontrolados
ao ponto de não haver ar suficiente para respirar.
De repente fiquei fraca, Filippo poderia apenas ter
continuado imóvel, mas o infeliz provou que apreciava
me torturar.
Seus dedos se moveram em círculos sobre o meu
clitóris, desceram para os lábios melados, recebi
carícias tão lentas e lascivas que fui obrigada a erguer o
rosto, que até então estava enterrado em seu peito, para
encará-lo.
Eu estava completamente vulnerável, sabia que
seria capaz de fazer tudo o que ele quisesse sem sequer
pensar nos riscos tamanha era a minha necessidade.
Encostei a cabeça nos livros atrás de mim e abri a
boca para soltar um gemido capaz de ser ouvido por
toda a biblioteca, mas Filippo me calou com um novo
beijo, abafando o barulho dengoso que ecoava por
minha garganta.
Ele não apenas beijava, tomava para si, engolia.
Sua língua se enroscou na minha, sua masturbação
em meu centro criou uma nova onda de tesão que me
arrepiou a pele. Quase esguichei outra vez se não fosse
pelo som de vozes por perto que chamou a nossa
atenção.
Travamos. Cada osso do meu corpo ficou
congelado, senti um vazio descomunal quando os dedos
ásperos de Filippo se afastaram da minha intimidade e
me abandonaram.
De repente, a consciência do que estávamos
fazendo assumiu o controle, o medo de sermos flagrados
fez com que ele soltasse a minha coxa e abaixasse a
minha saia que até então estava acumulada ao redor da
minha cintura. Agradeci mentalmente por isso, não
estava em condições de fazer nada, sequer me
recompor.
Sentia a minha face ardida assim como o corpo
inteiro. Filippo deu um passo atrás e então pude
constatar que não estava menos afetado. A marca no
centro da sua calça evidenciava o quanto era bem-
dotado, o quanto poderia acabar comigo se me fodesse.
Seus cabelos bagunçados, a camisa amassada por
dentro do blazer, manchas úmidas do meu orgasmo
sobre o seu joelho.
Ele ergueu os dedos grossos e molhados da minha
lubrificação, chupou a ponta de cada um deles sem
pressa, sexy, sem tirar os olhos aquecidos de mim.
Apertei as coxas uma contra a outra, minha boceta
contraiu mais uma vez, ensopada e carente. Eu o queria.
Mais que tudo o queria inteiro para mim. No entanto,
Filippo recuou quando escutou passos e mais vozes, o
pessoal devia estar retornando do almoço.
Queria que ele me levasse consigo, mas não o fez.
Olhou-me uma última vez antes de me dar as costas e
partir.
Seria fácil superar isso devido ao lugar onde
estávamos e toda aquela situação, mas o que não
superei foi imaginar refletir em suas pupilas algo
semelhante a um homem arrependido do que fez.
Aquilo me nocauteou, fiquei desanimada e todo o
tesão foi embora em um passe de mágica por
simplesmente ter a impressão de que aquele
arrependimento fosse verdadeiro. Porque eu não estava
arrependida, muito menos me sentia culpada, pelo
contrário, apenas precisava de mais.
Mais do seu cheiro.
Mais da sua pegada masculina e implacável.
Filippo provou ser muito além do que imaginei, me
rendi fácil a uma paixão sufocada há anos, mas ainda
assim, não me arrependia, não queria me arrepender e
muito menos constatar que ele seria capaz daquilo.

Naquela noite, perdi a vontade de jantar, preferi


ficar em meu quarto, absorta em uma quantidade tão
pesada de pensamentos que ameaçavam me afundar na
cama. Perdi as contas de quantas vezes rolei sobre a
colcha macia, perturbada com cada vislumbre do que
aconteceu naquela biblioteca.
Será que estava louca?
Como Filippo poderia estar arrependido depois de
experimentar o meu orgasmo em seus dedos daquele
jeito?
Ele foi descarado, sensual, gostoso.
Mas aquele olhar de dois segundos encheu-me de
dúvidas. Rolei na cama mais uma vez e mirei o teto,
frustrada, enfiei as mãos nos cabelos, sem saber o que
seria do meu futuro na firma dali pra frente. Parecendo
escutar os meus pensamentos, meu pai bateu na porta.
— Filha? Posso entrar? — Sua voz robusta me fez
saltar assustada da cama, como se ainda fosse errado
lembrar do seu amigo masturbando a minha boceta.
Ajeitei o meu pijama com estampa de ursinho panda
e corri até ele, agitada.
— Pai? Oi! Entra! — Escancarei a porta, com um
semblante de quem tinha culpa no cartório. Era fácil não
sentir culpa na hora do fogo, mas depois que tudo
passava, o medo de ser descoberta me atingia feito um
soco.
— Está tudo bem? — Esperto como era, Giancarlo
me analisou, farejando algo.
— Claro que sim! Por que não estaria?
— Não veio jantar... — Ele entrou, exalando um
perfume que mamãe amava.
— Ah, hoje estou sem fome, comi na faculdade,
estou de barriga cheia. — Uni as mãos à frente do
corpo, nervosa.
Na minha mente só conseguia imaginar que papai
sabia de tudo ou se não, iria descobrir a qualquer
momento. Ter teto de vidro era uma desgraça!
— O que aconteceu? Você está diferente —
observou, analisando-me outra vez. — Tem alguma coisa
a ver com a firma?
Abri e fechei a boca algumas vezes, demorei a
formular uma resposta. Caminhei em direção à cama
apenas para esticar as pernas, olhei para baixo, não
queria olhar na cara dele.
— Sim, está tudo muito intenso, mas eu vou dar
conta.
— Filippo falou com você?
— Filippo? O que ele poderia falar comigo? —
indaguei, gelada, de olhos tão abertos prestes a saltar
fora.
Papai franziu a testa e se aproximou, parecia
desconfiado.
— Sobre o caso do homem condenado por estupro.
— Cruzou as mãos na altura do peito. Alívio me tomou.
— Ah... era isso? Meu Deus... que bom, não é? —
Esfreguei o rosto, sorrindo.
— Bom? — Giancarlo ficou ainda mais confuso.
— Ah... não, quer dizer. Ele não falou nada comigo.
Nada. Nada mesmo. Nem o vi hoje — menti
descaradamente, neguei com a cabeça.
Papai sentou na lateral da cama, eu o acompanhei,
sentei-me ao seu lado.
— Como já esperava, ele não gostou de saber que
me meti em um dos seus casos, por esse motivo mandei
o Vito suspender a investigação — disparou, aquilo foi
como um balde de água fria.
— Mas, pai...
— Filha, ponha-se no lugar dele, nenhum advogado
gosta de ver alguém passando por cima da sua
autoridade, ainda mais em um caso que nos dá mais
riscos do que segurança. Foi uma regra entre eu e ele
que quebrei, não vai se repetir — decretou, firme.
Minhas esperanças foram exterminadas.
Curvei a cabeça. Apesar de estar triste, concordei.
Aquele caso era uma guerra perdida, não devia ter
chegado a tanto.
Papai tocou o meu queixo e ergueu o meu rosto:
— Escute, você tem um gênio forte, herdou da sua
mãe, é uma das coisas que mais gosto na sua
personalidade, mas na área jurídica precisará ser
paciente e saber quando recuar. — Seu polegar
acariciou a minha pele. — Não estou afirmando que deve
aceitar a derrota, mas sim aprender a escutar. Filippo é
o melhor mentor que você pode ter naquele escritório,
agarre essa oportunidade — sua mão escorregou para
baixo até segurar a minha e apertar —, aprenda o
máximo que puder e tome o primeiro lugar como melhor
estagiária que a Gagliardi-Ruggiero já teve.
Giancarlo sorriu, mas não o acompanhei. Os olhos
dele brilharam, no entanto, senti que não era pelo
orgulho que tinha de mim, mas sim por aquele que
desejava ter quando eu finalmente conquistasse o topo.
Quando fosse a sua número um assim como ele foi
várias vezes.
O currículo do meu pai era invejável, um advogado
bastante famoso em Milão e respeitado, clientes
milionários, nunca havia perdido um caso.
Era um homem que escondia as suas dores e
emoções a sete chaves, exceto o quanto gostaria de
poder gritar aos quatro cantos que havia sido superado
por sua extraordinária filha.
Ele nunca falou diretamente, entretanto, desde
pequena observei as pistas, captei as mensagens, minha
meta era ser melhor que ele, e para isso precisaria me
tornar o sucesso de um profissional tão bom quanto
Filippo Gagliardi.
— Amo você. Boa noite. — Beijou o topo da minha
cabeça antes de sair, fiquei sozinha.
Me joguei na cama e acreditei que toda aquela
pressão passaria quando voltasse ao trabalho no dia
seguinte, entretanto, pensei duas vezes antes de entrar
no departamento ao lembrar que ontem havia sido
dispensada por Filippo, a última coisa que poderia
acontecer.
Giancarlo reafirmou o quanto nutria expectativas
sobre o meu desempenho no estágio, seria o meu fim
sair tão rápido e ser tachada como um fracasso pelo
amigo do qual ele sentia tamanha admiração.
— O que está fazendo parada aqui? — Tomás
colocou a mão sobre o meu ombro, seu comportamento
me aliviou. Se ele continuava agindo do mesmo jeito, era
sinal de que Filippo não o tinha comunicado sobre a
minha dispensa.
— Com a cabeça no mundo da lua. — Forcei um
sorriso. — Andiamo! — O acompanhei, ele também havia
acabado de chegar, assumimos os nossos cubículos.
Decidi que me manteria ali até conversar com
Filippo, estava determinada a resolver aquela situação.
— Nesta sexta, nós faremos uma viagem — Tomás
anunciou, após se encostar na parede que nos dividia e
me entregar um convite dourado.
— A festa da fusão entre a Acqua Viva e a
Poseidone? Las Vegas? — Sorri ao ler, impressionada.
— Uau... — era um convite e tanto. Las Vegas era a
minha terra natal, eu amava aquele lugar.
— Sim. Tem tudo para ser espetacular! Vai ser
incrível se for conosco. — Tomás realmente parecia
animado.
— Hum... Filippo concordou com isso? — A dúvida
causou um gosto amargo em minha boca, sofri por
antecipação. Ele permitiria que eu fosse comemorar
como parte da equipe após o que me disse?
— Claro que concordou! Você teve grande
contribuição nesta fusão. Se aceitar, iremos eu, você e
Emma. Filippo, como sempre, não gosta de comemorar
nada. — Tomás dobrou os lábios, percebi que também
não gostava da chatice do nosso chefe, no entanto,
viajar para Las Vegas sem Filippo não me pareceu muito
atraente.
— Eu vou pensar, tenho muitos trabalhos da
faculdade para fazer — menti.
— Pensa com carinho, Ágata. — Tomás me encarou
com certo charme. — Sei que já conhece a cidade, mas
com a nossa companhia tudo será diferente. — Piscou
para mim, depois voltou para a sua cadeira.
Parecia ser uma boa oportunidade de desanuviar os
pensamentos, mas não conseguiria me concentrar em
mais nada a não ser conversar com Filippo e me forçar a
pedir para que me mantivesse como sua estagiária, não
queria entrar na extensa lista dos estagiários
dispensados pelo Sr. Gagliardi. Não precisava dar essa
decepção ao meu pai.
Pensando nisso, enviei uma mensagem à Emma e
pedi para que ela me colocasse na agenda do homem
que me fez gozar na biblioteca. Não importava o que eu
fizesse, nada me faria esquecer daquilo. Foi muito bom.
No entanto, Emma disse que hoje Filippo mal pisaria
no escritório, Tomás confirmou a informação quando saiu
para acompanhá-lo até o tribunal, tinham um caso de um
campeão de Fórmula 1 nas mãos.
Esse tumultuado processo os ocupou de uma
maneira que não consegui ter acesso à Filippo pelos
próximos dias, Emma disse que se eu ficasse na quinta
até mais tarde, conseguiria encontrá-lo em sua sala, e
foi o que fiz.
Perdi aula, permaneci no departamento sozinha,
aguardando enquanto mexia no computador.
— O que ainda está fazendo aqui? — Tomás surgiu
com uma expressão cansada, o blazer sobre o ombro.
Olhou o relógio de pulso, eu sabia que passava das sete
da noite, não havia praticamente ninguém no prédio.
— Ah, esperando por vocês. Preciso conversar algo
com o Filippo, ele também já chegou? — Nem consegui
disfarçar a ansiedade ao ficar de pé.
— Está acompanhado, mas você pode ir. Eu vim
apenas pegar algo que esqueci, a noite vai ser longa,
ainda preciso arrumar as malas. — Tomás deixou a pasta
que carregava sobre a mesa.
— Arrumar as malas? — Estreitei as sobrancelhas,
confusa.
— Vegas, lembra?
— Ah, sim. Vegas, verdade. — Lembrei.
— Pelo visto você não vai mesmo, não é? Filippo
nos forneceu o jatinho da firma. — Ele sorriu, senti a sua
ansiedade de longe.
— Fica para a próxima. — Peguei a minha mochila.
— Mas desejo uma boa viagem para você e Emma, me
conta tudo quando chegar. — Acenei para ele antes de
sair do departamento.
Caminhei depressa até o escritório de Filippo,
queria vê-lo, sentir o seu cheiro e falar com ele. Durante
o percurso, me dei conta de que, talvez, não quisesse
apenas conversar sobre o estágio. Talvez houvesse em
mim uma vontade absurda de beijá-lo de novo, mesmo
que fosse outro beijo roubado.
Meu coração bateu em alta velocidade, mas o que
avistei pela fachada de vidro da sala dele me obrigou a
frear os pés.
Filippo estava tomando um drink com uma mulher
que não parecia uma de suas acompanhantes de luxo e
foi isso que me fez prender a respiração. Ela lembrava
uma madame da alta sociedade, elegante, ambos
conversavam com uma intimidade que me incomodou.
A morena se aproximou dele e acariciou o seu rosto,
roçou as unhas na sua barba cerrada, fez nascer um
sorriso cafajeste entre seus lábios. Aquele sorriso me
quebrou.
Aterrissei de volta no chão e compreendi que ainda
habitava no planeta Terra, não na lua ou em um arco-íris
como o infeliz costumava falar.
Fechei os olhos e recuei, já tinha visto o bastante,
não precisava continuar sangrando a ferida. Encontrei
Tomás em um dos elevadores, ele segurou as portas
para que eu pudesse entrar, todavia, permaneci parada,
o encarando de forma fixa à medida que a minha mente
fervia entre milhares de pensamentos.
— O que foi? — perguntou, sem entender nada.
— Seu convite para Las Vegas ainda está de pé? —
disparei, talvez não fosse uma má ideia.
Retornei para a firma satisfeito por ter tido sucesso
em mais um caso, porém, cansado demais com todo o
estresse que a última audiência me causou.
— Parabéns, Filippo, você foi fenomenal no
julgamento — comentou Tomás, que entrou no meu
escritório logo atrás de mim.
— O mérito não foi apenas meu, você também foi
excelente. — Apontei para o meu garoto prodígio antes
de mexer em uns papéis sobre a minha mesa. — Está
evoluindo, Tomás.
— Isso significa que logo terei o meu escritório? —
Era uma indireta, ergui a face para encará-lo, ele estava
louco para sair daquele departamento e ter a sua própria
sala.
— Talvez. — O meio-sorriso em meu rosto
denunciou o quanto gostei da sua ousadia. Gostava de
pessoas ousadas, daquelas que arriscavam, Tomás era
um desses assim como eu.
Escutamos duas batidinhas na porta, avistamos
Rafaella Fontana segurando uma garrafa cara de
champanhe, além de estampar em seu rosto um
daqueles sorrisos capazes de derrubar qualquer homem.
— Sra. Fontana? Aconteceu alguma coisa? O Sr.
Humberto está bem? — Inocente, Tomás não entendeu o
que a esposa do nosso cliente veio fazer aqui a essa
hora.
— O meu marido está ótimo, Tomás, ele poderá
voltar a correr, foi vitorioso em um processo onde havia
sido fraudado e tudo graças a vocês... — Rafaella
caminhou até mim enquanto falava, ela era uma antiga
amante casual. Nosso relacionamento sexual teve fim
quando se casou com o meu agora cliente. — Eu vim
apenas agradecer. — A infeliz deu de ombros,
lentamente, usava um vestido longo tomara que caia,
repleta de segundas intenções.
Incomodado com a sua ousadia, olhei desgostoso
para Tomás, um pedido implícito para que ele não me
deixasse sozinho com ela, mas o desgraçado fez o
contrário.
— Ah... entendi. Eu vou indo, então, preciso arrumar
as malas, farei uma viagem amanhã cedo. Boa noite... —
recuou.
— Tomás, espere. — Cheguei a mover a mão para
chamá-lo, mas o rapaz não esperou, foi embora.
Rafaella sorriu, divertida, e caminhou até o meu
pequeno bar, colocou a garrafa sobre a bandeja e a
abriu.
— Rafaella, o que está fazendo? — Me aproximei, a
analisando.
— Filippo, relaxa, é só a minha maneira de
agradecer — respondeu, maliciosa.
— Seu marido já agradeceu, acabei de receber a
notificação de transferência dos meus honorários. — A
observei encher duas taças, bem despreocupada. — Ele
sabe que está aqui?
— Não faça perguntas das quais já tem a resposta,
querido. — Sorriu e me entregou uma taça. — Nem me
cobre tanto, lembre-se que hoje o Humberto é o seu
cliente por minha causa. — Brindou comigo, chegou
mais perto.
— E foi por isso que terminamos — a lembrei, tomei
um pouco da bebida.
— Sabe o que é, Filippo — Rafaella acariciou a
minha barba, percebi a sua vontade de ir para a cama
comigo —, achei que poderíamos relembrar os velhos
tempos — sugeriu, mordendo o lábio, mas eu não senti
nada, a infeliz sequer desconfiava que não conseguia
mais me excitar.
— Sabe o que é, querida — sorri, cafajeste —, eu
não fodo mulheres casadas.
A carícia que ela fazia em mim logo se tornou um
aperto insatisfeito em meu queixo. Rafaella me largou e
deu as costas, se jogando no sofá.
— Nossa, como você é deselegante! — Bufou,
chateada.
— Por não querer mais comer você? — indaguei,
antes de beber mais um pouco e sorrir ao receber o seu
olhar destrutivo.
— Babaca arrogante!
— Talvez seja por isso que tenha vindo atrás de
mim. — Me aproximei e sentei ao seu lado, a estudando,
a mulher era um espetáculo, sua frustração não fazia
sentido. — Qual é, você é a esposa de um campeão da
Fórmula 1, o que está acontecendo?
Ela apoiou a cabeça em uma das mãos e olhou para
longe, insatisfeita.
— Ele nunca me diz não — desabafou, mas
continuei sem entender. — O Humberto é um homem
maravilhoso, mas me dá tudo o que quero, entende? E,
às vezes, sinto falta de que não ceda à todas as minhas
vontades, de que se imponha o mínimo que seja, sabe?
— Acho que sim... — respondi, ainda meio confuso.
Larguei a taça sobre a mesinha de centro.
— Na cama é do mesmo jeito. — Ela coçou a
garganta, incomodada, parecia sufocada por dentro.
Pensou um pouco e me fitou. — Sei que estou
parecendo uma vaca ingrata, mas só queria que ele, de
vez em quando... — procurou as palavras — fosse...
mais viril, como você — confessou, fiquei surpreso.
Suspirei, cruzei as mãos quando apoiei os cotovelos
sobre os joelhos.
— Olha, Rafaella, sinto muito que esteja passando
por isso, mas, com todo respeito, não é problema meu. E
não, não vou te dar um sexo de consolo, isso não
resolverá o seu problema, só vai complicar ainda mais o
seu casamento e o meu trabalho.
— Também não precisa ser grosso! — Secou a sua
taça, irritada.
— Não estou sendo, mas, infelizmente, meu
escritório não é uma clínica e não faço hora-extra como
psicólogo. — A minha voz calma, talvez, foi o que mais a
irritou.
Indignada, Rafaella abandonou a sua taça, pegou a
sua bolsa e se preparou para ir embora.
— Seu cretino! Não sei onde estava com a cabeça...
— resmungou, batendo os saltos em direção à saída.
Descansei as costas contra o encosto do sofá e
sorri balançando a cabeça, incrédulo com o que havia
acabado de testemunhar. Pensei a respeito, em silêncio,
enquanto deslizava os dedos na testa, até que a
pequena atrevida da Ágata invadiu a minha mente mais
uma vez.
Seus gemidos daquele nosso momento tórrido na
biblioteca ressoaram em meus ouvidos, como se eu a
estivesse tocando de novo. Meu pau ficou duro ao
lembrar dos seus lábios chamando o meu nome, da sua
língua enroscada pela minha, da maciez da sua boceta
em meus dedos e de todo o calor que nos incendiou.
Jurava que ainda podia sentir o seu cheiro na minha
pele e o gosto marcante da sua lubrificação na minha
boca. Uma ideia que me atormentou durante toda a
semana.
Esses dias fiquei atolado de trabalho ao mesmo
tempo em que não consegui esquecê-la. Precisava tomar
uma atitude, não poderia simplesmente fingir que nada
aconteceu.
Estava decidido, amanhã chamaria Ágata para
conversarmos.

Assim que cheguei à firma, caminhei até o


departamento da Ágata, mas não a encontrei, seus
colegas disseram que ainda não havia chegado, o que
era estranho, já que a menina costumava ser pontual.
Tive uma surpresa ao me aproximar do meu
escritório, Emma não havia viajado, estava trabalhando
no seu cubículo como em um dia normal.
— Ué, não ia para Vegas? — indaguei, parando ao
lado da sua bancada.
— Nossa, nem me fala, você não sabe o quanto
chorei essa madrugada! — ela lamentou, empilhava
alguns processos com toda a força que tinha nos braços,
apesar de parecer cansada. Esperei que continuasse. —
Meu pai teve um ataque cardíaco ontem à noite —
disparou, me preocupando. — Agora já está bem, minha
irmã está com ele, passamos a noite inteira no hospital,
vim aqui porque se não trabalhasse iria enlouquecer,
mas precisarei sair mais cedo.
— Mamma mia! — Minha preocupação não passou.
— Tem certeza que está bem? — Segurei a sua mão. —
Não devia estar aqui.
— Não mesmo, devia estar em Vegas, mas meu pai
vem em primeiro lugar. Foi um grande susto.
— Imagino. — Caminhei em direção ao meu
escritório. — Que pena, o Tomás foi sozinho...
— Nada disso, querido, ele levou a Ágata — ela
contou, aquela informação freou os meus passos de
modo tão brusco que cada osso do meu corpo enrijeceu.
Um buraco se abriu aos meus pés e a sensação era
de que o mundo havia parado de girar. O meu cérebro
apagou, tudo ficou lento à minha volta enquanto aquelas
palavras eram processadas em minha mente.
Ele levou a Ágata... Tomás estava com a Ágata... os
dois ficariam sozinhos do outro lado do oceano
Atlântico.
Não podia ser verdade. Como deixei acontecer?
— Tem certeza? — Virei e olhei para Emma mais
uma vez, aturdido. — Giancarlo não iria permitir.
— Ele permitiu. E você também, lembra? Além
disso, Ágata conhece Las Vegas, viveu toda a infância
por lá, é a terra natal dela. Tudo o que o garoto queria.
— Emma sorriu, se divertindo. Continuava arrumando os
seus arquivos enquanto conversava.
— Como assim? — Dei um passo em sua direção,
fúria me consumia, estreitei as sobrancelhas.
Emma empalideceu ao notar a minha raiva.
— Ah... vai dizer que não percebeu. Tá carimbado
na testa dele, Tomás está afim da Ágata — falou, com
cuidado.
Cerrei os punhos, não precisava ouvir mais
nenhuma palavra. Entrei em meu escritório, larguei a
pasta que carregava sobre a poltrona, arrastei a mão
pela barba e, de repente, como se não pudesse
acreditar, me percebi com vontade de assassinar aquele
filho da puta.
— Ah, Tomás... — rosnei, meu sangue esquentou
apenas por imaginar ele a tocando, ele a beijando.
Fechei os olhos por um segundo, tentei me livrar
daquelas imagens que corrompiam os meus
pensamentos.
— Filippo... — escutei a voz preocupada de Emma
às minhas costas. A encarei, a contragosto —, você está
vermelho — concluiu, pasma.
Pensei rápido, tinha que tomar uma atitude o quanto
antes.
— Cancele todos os meus compromissos e me
consiga um voo para Las Vegas. Agora — ordenei, sem
conseguir parar de me movimentar pelo escritório.
— Filippo...
— Agora, Emma! — repeti, liberei um grunhido
áspero.
— Tudo bem! — Ela correu para a sua mesa, pegou
o telefone fixo e fez uma ligação.
Continuei caminhando, agoniado, possesso. Se
Tomás realmente tivesse planos em relação a Ágata, ele
poderia dar por encerrado. Eu iria encontrá-los naquela
maldita cidade e acabar com essa palhaçada!

ÁGATA RUGGIERO
Mais de dez horas de voo para chegar na fabulosa
cidade de Las Vegas teria deixado qualquer pessoa
exausta, comigo não foi diferente. Apesar de ter feito
uma viagem divertida entre diálogos com Tomás e boas
sonecas, não via a hora de pisar em terra firme, sair
daquele jatinho onde, depois de algum tempo, passei a
me sentir entediada.
Tomás se mostrou uma boa companhia, ele era
cativante, engraçado, e a sua ansiedade para conhecer
a minha terra natal me contagiou.
Fazia anos que não andava em Vegas, mas assim
que pousamos fui vivificada pela explosão de cores e
brilho que era aquela cidade durante à noite. Era a mais
populosa e mais densamente povoada do estado
americano de Nevada, fazia jus ao seu letreiro mais
famoso, fabulosa, não havia melhor adjetivo para
descrevê-la.
Enquanto o táxi nos levava pela luxuosa Strip [ 1 2 ] ,
fomos inundados pela beleza e riqueza dos hotéis ao
longo da avenida, todos com cassinos, alguns também
eram resorts, parecia um mundo encantado e infinito.
— Caramba... — Tomás assobiou, impressionado.
Cada um de nós ocupava uma janela do carro. — É tudo
tão... magnífico! Emma nunca vai se perdoar por ter
perdido essa oportunidade. — Nos entreolhamos,
sorrindo.
— Ela ainda não explicou o que aconteceu? —
indaguei, aproveitei o instante para esticar a perna
esquerda que queria dar câimbra, fiquei muito tempo
sentada.
— Apenas disse que teve uma urgência. — Tomás
voltou a observar pela janela, sorrindo.
— Não venho aqui desde os quinze anos, nem sabia
que estava com tanta saudade. — Senti o vento soprar
os fios desordenados do meu cabelo, suguei uma lufada
daquele ar fresco e quente que me fez lembrar da minha
mãe, de tudo o que vivemos ali.
Meus olhos quiseram transbordar em lágrimas,
permiti que algumas delas molhassem a minha face sem
dificuldade, um nó apertou a minha garganta. Foi difícil
engolir a saliva, mas consegui. Limpei o rosto antes que
alguém percebesse.
O hotel em que aconteceria a comemoração da
fusão das empresas era um resort cinco estrelas
simplesmente gigantesco, com mais de quatro mil suítes
e várias atrações internas: cassinos, cinemas,
restaurantes, shows fantásticos, um shopping anexo e
tudo o que se pudesse imaginar ou o dinheiro comprar.
— Eu amo Vegas, é a minha terra natal, mas você
concorda que é muito longe de Milão e muito caro para
comemorar uma fusão? — perguntei a Tomás assim que
deixamos o táxi e seguimos com as nossas malas para a
entrada principal.
— Concordo... — ele gargalhou. — O Sr. Mancini é
o nosso cliente mais excêntrico. Acho que ele tem tanto
dinheiro que não sabe como gastar, e agora que se uniu
à essa outra empresa... Dio Santo!
Entramos em uma fila enorme para fazer o check-in,
o que nos deixou estressados logo de cara porque o
cansaço da viagem se uniu ao da chegada.
No entanto, tivemos sorte com os nossos quartos, já
estavam reservados para os convidados da festa e
apenas por isso tivemos um tratamento melhor do que a
maioria das pessoas que ficou à deriva em meio aquele
caos.
Eram poucos funcionários para a grande demanda, a
maioria deles parecia estar pouco se importando com os
hóspedes que chegavam, como se o investimento que
fizeram para estar ali não fosse grande coisa.
Assim que finalmente consegui entrar na minha
suíte, me frustrei por não ter uma vista privilegiada que
era o sonho de qualquer um ao ir para um hotel como
aquele, mas agradeci mentalmente por tudo estar
extremamente limpo.
Agradeci também o fato do nosso evento acontecer
apenas na noite de amanhã, teríamos tempo para
aproveitar durante o dia.
A primeira coisa que fiz, foi tirar a roupa e
mergulhar na banheira. Poderia pensar em qualquer
coisa durante aquele banho relaxante, mas foi Filippo
Gagliardi que dominou a minha mente, assim como a
raiva por tê-lo visto com aquela mulher. O bom de estar
em Las Vegas era que não veria aquele rosto sexy pelo
resto do fim de semana, iria tentar me divertir para
esquecer que aquele advogado cafajeste existia.
Saí do banheiro vestida em um roupão confortável,
caminhei até a cama ao mesmo tempo em que enxugava
o cabelo com uma toalha. Peguei o meu celular assim
que escutei o som da notificação, sorri ao ler a
mensagem de Tomás:

Está com sono?


Que tal um passeio?

Respondi que sim de imediato, é claro que iria


concordar, ninguém em sã consciência iria a uma cidade
como aquela para passar a noite dormindo, apesar de
ainda me sentir um pouco cansada da viagem e de ter
ficado naquela longa fila para o check-in.
No entanto, nada me impediria de matar a saudade
da minha terra natal.
Esta noite Vegas seria minha!
Decidi ser prática, coloquei um macacãozinho preto
de tecido leve que contornava cada curva do meu corpo,
além de permitir que as minhas pernas ficassem à
mostra. Soltei o cabelo repartindo-o ao meio, mas não
caprichei muito na maquiagem, a ansiedade não
permitiu, estava louca para sair de uma vez, queria bater
perna.
Para concluir, coloquei alguns acessórios e calcei
os saltos mais altos que tinha. Eu era uma mulher baixa,
às vezes isso era preciso.
— Uau! — Tomás ficou impressionado quando me
viu, assim que saí do quarto. Ele sequer tentou
disfarçar. — Você está... linda! — elogiou, encarou as
minhas coxas por mais tempo do que deveria, o que me
fez imaginar, pela primeira vez, que pudesse sentir
algum interesse por mim.
Não seria uma má ideia, pensei.
Tomás era um homem lindo, não chegava aos pés
do Filippo, mas era. Também era alto, não tanto quanto
o Filippo, mas o suficiente. Na verdade, o observando
por completo, Tomás não parecia grande como o nosso
chefe, mas o que eu precisava mesmo era parar de
pensar naquele infeliz!
Não era justo ficar comparando os dois.
Por que Filippo Gagliardi insistia em invadir os
meus pensamentos? Ele não estava nem aí pra mim, não
lembrava da minha existência, fingiu que nada
aconteceu naquela maldita biblioteca, preferiu se agarrar
com outra para continuar me ignorando feito o covarde
que era!
E eu não faria o papel da boa menina que ficaria o
esperando.
Seria mais do que sensato da minha parte acabar
com aquela paixonite infundada que estava me
consumindo. De uma vez por todas! Tomás certamente
poderia me ajudar. Quem sabe ele beijasse melhor do
que Filippo? Droga! Você precisa parar de pensar nele,
Ágata!
— Ágata? Está tudo bem? — Pisquei algumas
vezes, Tomás sorria à minha frente, mantinha um olhar
curioso sobre mim. — Você bugou mais uma vez.
Estamos no planeta Terra, certo? Quantos dedos tem
aqui? — Usou os dedos para fazer o sinal do número
dois.
— Ah, para! Está tudo bem! — Sorri, dei um tapinha
na sua mão e o ultrapassei, tentei me reconectar com o
mundo real e deixar aquele homem de lado. — E a
propósito, obrigada pelo elogio. Você também está lindo
— fui sincera. Tomás usava calça jeans, camisa de
algodão e jaqueta.
Caminhamos lado a lado pelo extenso corredor.
— Valeu. Então, o que quer fazer? — Sorriu,
guardou as mãos dentro dos bolsos.
— Ah, não sei. Morei aqui quando era adolescente,
nunca tive uma noitada em Las Vegas, queria
experimentar algo novo. — Dei de ombros, empolgada,
paramos à frente do elevador.
— Bom, então somos dois. Ouvi dizer que uma
balada na Fremont Street [ 1 3 ] cai bem — sugeriu, eu me
empolguei.
— Issooo! — Bati palmas.
Levamos um tempo até finalmente conseguirmos
sair do hotel, para tudo precisávamos caminhar muito,
tendo em vista a magnitude do lugar. Pegamos um táxi
que nos levou para o nosso local de destino e assim que
saí do carro, fui inundada por boas lembranças ao
reconhecer lugares onde andei com a minha mãe
enquanto ainda estava viva.
Meu coração acelerou, o corpo inteiro quis se
emocionar, mas me segurei. Hoje não seria uma noite
triste, preferi acreditar que a minha mãe gostaria que me
divertisse.
Voltamos para o hotel de madrugada, mas não da
maneira que imaginei. O nosso programa foi um fiasco,
esperamos em uma longa fila para entrar na balada e
quando finalmente aconteceu, me vi exausta, passando
mais tempo sentada do que dançando.
Tomás, por outro lado, ainda tentou salvar a noite,
mas acabou chutando o balde, se empolgou demais nos
drinks e ficou bêbado. Terminei frustrada e ainda por
cima servindo de babá para um adulto que descobri ser
completamente fraco para o álcool.
Assim que entramos em sua suíte, o joguei em sua
cama, ele balbuciava coisas aleatórias à medida que a
minha raiva crescia. Primeiro, pela frustração do que
deveria ser uma grande noitada. Segundo, porque Tomás
ao invés de me paquerar, decidiu encher o sangue de
cachaça, sequer ousou tentar um beijo.
Estávamos em Las Vegas, poxa! Éramos jovens!
Nada deveria ser assim.
Após me certificar de que ele dormiria bem, enfim
retornei para a minha suíte que ficava no mesmo andar,
três portas à frente da dele.
Os meus pés doíam tanto que imaginei estarem em
carne viva, tendo em vista que, desde que cheguei, não
fiz nada além de caminhar, enfrentar fila e caminhar.
Senti vontade de me morder inteira devido ao ódio e
frustação que se alastrava sobre mim quando me deitei,
mas o cansaço me pegou em cheio, dormi
profundamente, acordei quase na hora do almoço, então
pensei que uma piscina me faria bem.
Após tomar um belo banho e fazer todas as minhas
necessidades, desci para desfrutar tudo o que o luxuoso
clube do hotel tinha, comecei pela piscina, usava apenas
um biquíni com uma canga branca cobrindo o quadril.
Havia uma fenda no tecido quase transparente que
mostrava uma das minhas pernas que cintilava devido ao
efeito do protetor solar.
Sorri ao avistar as diversas piscinas infinitas, cuja
água era azul cristalina. Logo percebi que o design do
lugar havia sido construído para parecer um oásis, e de
fato era.
As calçadas tinham a cor da areia do deserto e
sobre elas, centenas de tendas e espreguiçadeiras se
estendiam por toda parte até se perder de vista, assim
como as enormes palmeiras e jardins com uma
vegetação semelhante àquelas encontradas em um oásis
de verdade.
Havia tendas de todos os tipos, desde aquelas
comuns em formato de guarda-chuva até outras que
lembravam um mini palácio para acolher uma família
inteira.
Decidi me acomodar em uma daquelas que, ao invés
da espreguiçadeira, tinha uma cama cercada por uma
charmosa estrutura de madeira com cobertura em forma
de dossel, exalando luxo, conforto e privacidade. Porque
se eu quisesse fechar as cortinas, ficaria isolada, longe
de qualquer olhar indesejado, o que não era o caso.
Havia uma explicação para aquilo, apesar de o dia
estar ensolarado e ótimo para pegar um bronze, a
temperatura nesse horário era altíssima. Não era à toa
que o clube estava repleto de banhistas e o calor de
derreter fazia jus ao fato de Vegas ser localizada no
deserto de Mojave.
Pedi a um dos garçons que me trouxesse frutas,
suco e gelo. Retirei a canga e deitei sobre o colchão
confortável me sentindo uma rainha, não tinha como ser
diferente.
Ali, comendo morangos e observando o tempo
passar naquele paraíso, acreditei que finalmente
estivesse tendo o descanso que merecia.
— A senhorita aceita uma massagem? — Um belo
rapaz que parecia ter a minha idade se aproximou, o
uniforme que usava indicava que trabalhava no spa do
hotel.
— Claro! — Sorri, o observando se sentar na ponta
do colchão e me olhar com certa ansiedade.
Ele até se preparou para tocar os meus pés, mas a
grande sombra masculina que se impôs sobre as suas
costas o fez erguer o rosto e olhar para trás.
Fiquei chocada assim que identifiquei o homem
vestido em uma camisa branca de linho e calça de sarja
bege. Os tênis brancos completavam o look casual que
se destacava em alguém acostumado a andar sempre de
terno. Filippo Gagliardi retirou os óculos escuros
quadrados e fuzilou o massagista:
— Não ouse tocá-la — ameaçou. O seu grunhido foi
emitido de modo tão áspero que me arrepiou a pele.
Incrédula, engoli em seco, apoiei as mãos e me
sentei.
— Filippo? — Não era possível, eu não conseguia
acreditar.
— Saia daqui! — ele expulsou o funcionário. O
rapaz não pensou duas vezes em obedecê-lo, afastando-
se como se estivesse com medo do infeliz.
Não poderia julgá-lo, era evidente a irritação de
Filippo em cada centímetro do seu corpo, como se lhe
doesse os ossos. O maxilar duro e o semblante
enrijecido denunciavam que não estava apenas com
raiva, mas sim enfurecido. Qualquer um poderia jurar
que estava prestes a massacrar o primeiro que surgisse
em sua frente, inclusive eu.
Filippo se aproximou, adentrando na tenda, e me
observou de cima a baixo, ameaçador. Seus olhos azuis
ferviam, ele parecia doente de ódio, desejo e
tempestade.
— Que porra você está fazendo, Ágata? — inquiriu,
como se tivesse algum direito.
— Hum... o quê? — balbuciei, parecendo uma
estúpida, a sua presença havia me surpreendido de tal
maneira que ainda me sentia perdida no tempo.
— Eu permiti que viesse a Vegas para trabalhar,
não para se exibir em um biquíni minúsculo que mal
cabe a sua... — Sua voz falhou, ele encarou o centro
das minhas coxas de maneira tão possessiva que me
incendiou.
Fechei as pernas, afetada, molhada. Me vi atenta às
mangas dobradas da sua camisa, as veias dos seus
antebraços estavam expostas, pareciam ter vida própria.
Além da raiva e do tesão, por mais loucura que
fosse, captei o seu ciúme e aquilo, de algum modo
distorcido, me confortou.
— Caso não se lembre, você me demitiu — disparei,
decidida a revidar. — E para a sua informação não estou
aqui à trabalho, mas sim para me divertir. Além disso,
não lhe devo satisfações. — Ajeitei o longo cabelo e
voltei a me deitar, bem despreocupada.
Filippo suspirou como alguém que precisava manter
a calma. Ele se aproximou ainda mais.
— A sua demissão não ficou definida —
argumentou.
— Nada fica definido com você, Filippo. — Dei de
ombros, suas sobrancelhas se estreitaram.
— O que quer dizer?
O encarei com raiva, lembrei do momento em que o
flagrei na intimidade com aquela desconhecida em seu
escritório. Provavelmente devem ter transado. Eu não
devia sentir ciúmes, sequer ficar incomodada. Não
tínhamos nada, não devia me importar, mas não
adiantava porque ainda queria matá-lo.
— Vamos, diga — incentivou, colocou uma das mãos
dentro do bolso, ergueu o queixo, impassível.
Por mais que não fosse intencional, não havia um
só segundo em que ele não agisse como um maldito
dominador, como se fosse o dono do mundo e, nesse
momento, de mim.
— Quero dizer que você ter vindo até aqui falar
sobre trabalho não faz o menor sentido, já que fez de
tudo para me afastar desde que coloquei os pés naquela
firma...
— Ágata...
— Pode continuar afirmando que vivo em um arco-
íris, senhor Gagliardi, mas saiba que não sou tola, sei
quando a minha presença é indesejada. Além disso,
senti o cheiro do seu arrependimento de longe —
disparei, aquilo estava entalado em minha garganta,
dispersou um gosto amargo em minha boca.
— Arrependimento? — Filippo se fez de
desentendido, mas por fim pareceu entender. Um meio-
sorriso convencido surgiu em seu rosto. — Então é isso?
Acha que me arrependi do que fizemos na biblioteca?
Por esse motivo resolveu passear com o Tomás aqui em
Vegas?
Como ele era egocêntrico.
— Você é tão babaca, Filippo. — Sem pensar em
nada, segui o exemplo de algumas moças que havia
visto até chegar ali e arranquei a parte superior do
biquíni, expus os seios, motivo que destruiu o sorriso de
Filippo imediatamente.
— Que porra é essa? — Ele travou a mandíbula
mais uma vez e olhou ao redor, quase em pânico.
— Se me der licença... — fiquei de bruços, me
acomodei fingindo que queria relaxar, mas a minha
verdadeira e única intenção era provocá-lo.
Filippo pensou rápido, caminhou ao redor da tenda
e fechou todas as cortinas que formaram uma rede de
proteção assim que tocaram no piso, nos isolando.
— O que pensa que está fazendo? — Virei e me
sentei, notei que as cortinas eram quase transparentes,
ainda assim, nos escondiam.
Estar presa ali com ele me deixou nervosa, mas de
um jeito tentadoramente bom.
Filippo avançou em minha direção, empurrei a
bunda para trás ao tentar fugir, mas acabei quase
afundada no colchão quando ele se sentou ao meu lado
e inclinou o seu torso musculoso sobre o meu, suas
mãos se espalmaram de cada lado do meu rosto, me
prendendo.
O tecido da sua camisa, por ser de linho, continha
uma charmosa aparência amarrotada. Os primeiros
botões estavam abertos, dando visão para o peitoral que
aparentava ser largo e duro feito pedra.
A colônia amadeirada que usava me nocauteou mais
uma vez, fiquei zonza apenas com o seu olhar e aquele
cheiro.
Cheiro de homem.
— Escute bem o que vou dizer, Ágata, porque será
apenas uma vez. — Ele aproximou o rosto do meu, a
minha respiração acelerou e atingiu os seus lábios. — Já
me conhece há bastante tempo, mas não o suficiente
para compreender que sou o tipo de homem que não se
arrepende de nada — grunhiu, mostrando os dentes
brancos e afiados nas últimas duas palavras.
Isso fez com que uma sensibilidade exagerada
tomasse os meus seios, os mamilos incharam bem
debaixo dos olhos famintos de Filippo. A calcinha do
meu biquíni pareceu ainda menor quando a minha
lubrificação aumentou, fui obrigada a esfregar as coxas
uma na outra, excitada.
— Isso sig... significa... — gaguejei, ofegante, com
uma vontade avassaladora de beijá-lo.
— Significa que eu gostei pra caralho do que
fizemos naquela biblioteca, Ágata. E apenas atravessei
o oceano Atlântico para garantir que nenhum outro
homem irá tocá-la como te toquei.
— Ai, Filippo... — Gemi, seduzida.
Era o que faltava para que o senhor Gagliardi
tomasse a minha boca com tudo o que tinha. Os seus
lábios castigaram os meus, a sua língua puniu a minha,
a sua mão agarrou um punhado volumoso do meu cabelo
e provou que nada nem ninguém seria melhor do que
ele.
A viagem de última hora para Las Vegas atropelou
todos os meus compromissos, quase deixou a Emma
louca, já que estávamos sem o jatinho e exigi que
conseguisse um voo urgente para mim. Mal deu para
organizar a mala, nunca vivi tantas horas estressantes,
apenas hoje de manhã fiz o check-in no hotel e não
perdi tempo em vasculhar cada canto do imenso lugar
atrás da pequena atrevida.
Agora estava aqui sobre ela, preso aos seus lábios
cheios como se necessitasse dos seus beijos para
sobreviver. Foi naquele contato violento que a castiguei,
precisava descontar o caos peculiar que apenas Ágata
conseguia causar em mim.
Tomei a sua carne com raiva e desejo. Era assim
que eu era, a minha personalidade não me permitia ser
diferente.
Me vi faminto por seu gosto feminino, além de tudo
precisava eliminar aquela maldita sensação de que
poderia perdê-la.
Apertei o seu cabelo macio, mordi o seu lábio,
queixo e pescoço. Liberei os seus fios dourados para
pressionar o seu seio esquerdo, sua pele branca ficou
vermelha, todo aquele volume encheu os meus dedos e
apenas contemplar aquela maravilha me satisfez.
— Você está tão quente… — murmurei, meu pau
latejou duro dentro da calça. Não era uma mentira,
quase quarenta graus dominava o ambiente, além do
calor sexual que emanava de nós.
Ágata gemeu, suas mãos ansiosas bagunçaram o
meu cabelo e me puxaram para beijá-la outra vez.
Permiti que ela me devorasse como podia. Chupei a sua
língua, a fiz enlouquecer.
— Vamos sair daqui. — Mordi o seu lábio, vistoriei
ao redor.
Apesar de estarmos protegidos pelo dossel, ainda
estávamos expostos. O tecido que nos cercava era
minimamente transparente, mas o bastante para que as
pessoas lá fora enxergassem as nossas silhuetas.
Eu sabia que Ágata queria, o tanto que ela queria,
mas a sua resposta me surpreendeu:
— Não... — sussurrou, maliciosa, apesar de não
conseguir tirar as mãos de mim. Ela arranhava os meus
braços, ansiosa para que continuássemos.
— Não brinque comigo, garota — ameacei, o meu
rosnado fez com que sentisse a sua respiração aquecida
se misturar à minha.
Por mais que detestasse a sua recusa agora, lá no
fundo eu gostava, amava algo difícil, a sensação de que
deveria ter uma conquista.
— Por que eu deveria? — Tentou me beijar outra
vez, necessitada, mas não permiti.
— Por quê? — Notei que ao lado dela, mais para o
canto do colchão, havia uma bandeja com frutas, uma
jarra de suco e um copo com gelo. Me estiquei para
pegar um dos cubos. — Vou te mostrar o porquê... — Um
meio-sorriso saliente se formou em minha boca.
Com o intuito de não dar bandeira sobre o que
estava prestes a fazer, saí de cima dela para ficar
corretamente sentado. Levei a mão habilidosa até o meio
de suas coxas e esfreguei o pedaço de gelo no tecido do
seu biquíni, bem sobre o exato local que cobria o seu
clitóris.
Ágata parecia ter vestido aquilo para me perturbar,
a peça era minúscula, ainda mais para uma mulher com
uma boceta generosa como a dela. Entretanto, nada me
faria negar o quanto ela ficou sensual, o quanto fez
nascer um terrível e primitivo desejo de posse em mim.
— Oh... — Ágata abriu as coxas e jogou a cabeça
para trás, sem conseguir tirar os olhos dos meus. Me
responsabilizei por ficar atento ao que acontecia fora da
tenda, ao mesmo tempo em que absorvia cada uma de
suas emoções enquanto a masturbava. — Filippo! — Ela
arrastou os pés no colchão, arranhou a colcha
impermeável.
— Esse é o motivo — expliquei. — Vai querer
mesmo fazer isso aqui? Na frente de todos? — Sem
nenhum esforço, afastei a sua calcinha para o lado e
senti o atrito que o gelo fez contra a sua boceta quente,
cada centímetro da pele sensível dela pegava fogo, a
infeliz estava melada. — Diz que sim... — A minha voz
ecoou rouca, quis seduzi-la.
Ágata mordeu o lábio, fechou os olhos, resistindo.
Esfreguei o cubo preguiçosamente, uma brincadeira
lasciva e divertida. Era fascínio que me tomava, e a
certeza de que iria querer causar aquele efeito nela para
sempre.
— Andiamo! — Ela praticamente saltou da cama,
desistindo de resistir. Capturou a sua canga, prendeu ao
quadril e fez menção em sair tamanha era a sua
necessidade.
Levantei depressa, peguei a parte superior do seu
biquíni e a impedi de ir lá fora exibindo os seios fartos.
Puxei-a de volta sob o meu olhar repressor.
— Esqueci — se justificou. Comprimi os lábios,
irritado, no entanto, ajudei-a a recolocar a maldita peça!
— Se não sabe, topless é comum por aqui.
— Sabe o que é, querida, sou um homem egoísta
demais para isso.
Ágata sorriu sem mostrar os dentes, provando que
de algum modo maluco, adorou o meu comentário.
Finalmente abandonamos a tenda e atravessamos o
clube sob um sol escaldante que quase nos torrou.
Estava mais quente agora do que quando cheguei aqui,
todavia, entrar no hall climatizado do hotel serviu de
alívio.
— Em qual andar você está hospedado? — Ágata
quis saber, seguindo para o elevador onde algumas
pessoas já aguardavam para entrar.
— Cobertura. — Coloquei a mão em sua lombar e a
desviei do caminho que seguia, guiando-a para o
elevador privativo onde apenas hóspedes que pagavam
a mais tinham acesso. Usei o cartão de hóspede vip para
abrir as portas metálicas e também para digitar no painel
o nosso destino.
Mal ficamos isolados e Ágata me agarrou, sua pele
permanecia quente e a sua boca ávida tinha gosto de
morango, algo que me tirou o juízo. Ergui uma mão para
tapar a lente da câmera que nos filmava e usei a outra
para apertar a sua bunda com tanta força que marcaria a
sua carne com cada um dos meus dedos.
Paramos de nos agarrar quando as portas se
abriram e saímos para o corredor. Ultrapassamos um
casal que aguardava para entrar.
Possessivo, segurei a mão dela, estava ansioso.
Caminhamos depressa, usei o cartão para ter acesso à
minha suíte máster e, assim que abri a porta, esperei a
garota entrar, ainda lhe dando a oportunidade de
desistir, por mais que eu desejasse que não desistisse.
Fui surpreendido por um brilho diferente em seu
olhar, algo singelo. Ela respirou fundo como se tivesse
tomando coragem, mas por fim entrou, permitindo assim
que eu trancasse a porta depois de ter entendido que a
sua reação era um sinal.
Ágata passeou pela amplitude da sofisticada sala de
estar, sem pressa, como se estivesse reconhecendo o
território ou decidindo o que realmente queria.
Permaneci parado e contemplei os seus pequenos pés
abandonarem as sandálias, as suas mãos delicadas
desfazerem o nó da canga que foi ao chão, desnudando
o seu quadril largo, evidenciando as coxas torneadas, a
bunda cheia, a cintura fina.
Engoli em seco, hipnotizado quando ela virou o
rosto inocente e me olhou, pronta para ser minha.
Eu costumava me definir como um homem
experiente, mas sequer lembrava quando tinha sentido
tamanha vontade de foder uma mulher. A nossa química
era de um tipo raro, incontrolável. Uma selvageria capaz
de explodir tudo o que estivesse pela frente.
Abri os botões da minha camisa com calma, retirei a
peça e mostrei a ela a tensão que corrompia os
músculos do meu corpo. Porém, não existia tesão maior
do que aquele instalado em cada veia do meu pau, onde
o sangue se acumulava de tal maneira que a minha
ereção prendeu a atenção da garota assim que fiquei nu
por completo.
Ágata sequer conseguia olhar em meus olhos, ela
ficou vidrada no centro das minhas pernas até que me
aproximei feito um predador e a agarrei com toda força
que possuía, fazendo questão de eliminar qualquer
espaço entre nós dois.
A infeliz gemeu dentro da minha boca, carente. A
joguei contra a parede mais próxima, arranquei a parte
superior do seu biquíni, mamei em seus seios com um
desespero que nem parecia fazer parte de mim. Tudo
com Ágata parecia novo, o seu perfume, a maciez da
sua pele sensível contra a aspereza da minha barba
cerrada.
Fiquei alucinado ao constatar que ela estava na
ponta dos pés, em uma tentativa de compensar a nossa
diferença de altura.
Selvagem, arrastei os dentes em seus mamilos,
ignorei a força com que ela arranhava o meu couro
cabeludo e me saciei como podia. Beijei o seu abdômen,
coloquei um dos joelhos no chão para tomar apoio, ergui
a sua coxa que ficou confortavelmente sobre o meu
ombro e, devagar, puxei a sua calcinha para o lado,
encarei a sua boceta de frente pela primeira vez.
— Puta que pariu, menina... — rosnei, vidrado. —
Eu vou acabar com você — avisei, tirei os olhos da
imagem que me enfeitiçava e encarei o seu rosto uma
última vez. Ágata estava completamente vermelha, os
cabelos uma verdadeira bagunça. Havia expectativa e
insegurança em seu olhar, seu busto subia e descia em
descontrole.
E por mais que eu compartilhasse daquela mesma
euforia, decidi que não poderia atacá-la naquele
momento, não se quisesse saboreá-la da maneira que
acreditava que merecia.
Foi com essa atitude que abocanhei a sua boceta
lentamente, como se fosse um fruto proibido. Fechei os
olhos, enfeitiçado. Arrastei a língua por cada centímetro
da sua carne inchada até que decidi brincar entre os
grandes lábios, sorvendo todo o gosto afrodisíaco que
ela possuía.
Seguindo os seus instintos, Ágata rebolou na minha
cara. Não parecia coisa de uma mulher experiente, mas
sim de uma ninfeta descobrindo aquele prazer pela
primeira vez. Tal convicção foi o suficiente para me
deixar maluco, a encarei feito um devasso, o que bastou
para ela gritar ainda mais alto.
Então eu avancei, mamei com força, chupei o seu
clitóris até que ficasse vermelho. Até que os pelos da
minha barba espetassem toda a sua virilha e Ágata
lambuzasse a minha boca quando alcançasse o
orgasmo.
Fraca, ela se desmanchou em meus braços assim
que me ergui para pegá-la no colo. Derrubei os objetos
que estavam sobre o aparador onde a sentei. Permaneci
entre as suas coxas molhadas com o pau duro esmagado
contra o seu abdômen, a cabeça babada, uma
necessidade inexplicável de fodê-la.
— Aonde vai? — Ágata choramingou, impedindo o
meu afastamento.
— Buscar um preservativo... — avisei, faminto.
— Não é necessário... — argumentou, puxando-me
de novo. Ela não apenas queria, mas precisava daquilo
tanto quanto eu. Estava quase desesperada. E a ideia de
experimentá-la sem qualquer barreira se espalhou em
meu cérebro feito uma tentação perigosa.
No entanto, aquilo não era uma brincadeira e eu não
fazia o tipo “marinheiro de primeira viagem”. Retornei
até onde havia deixado a minha roupa e peguei o
preservativo guardado dentro da minha carteira, era um
costume meu andar precavido.
Após me proteger, voltei a beijá-la, sôfrego. Enlacei
a sua cintura, segurei a sua coxa, enterrei os dedos em
sua pele macia, me encaixei entre as dobras meladas do
seu orgasmo e afundei o pau inteiro em sua boceta. De
uma só vez.
— Oooh! — Ágata se aninhou ao meu corpo,
estremecendo. Ela fechou os olhos quando cessou o
grito e mordeu o meu ombro à medida que me sufocava
por dentro, apertada demais.
Permiti que relaxasse, não ousei me mover até que
ela se sentisse minimamente confortável. Tentei olhar
para a nossa união, mas Ágata me cegou com os seus
beijos, segurou o meu rosto, então continuei,
entorpecido por tudo aquilo que me oferecia.
Espalmei a sua bunda com força, mordi a sua boca,
queixo e pescoço com mais violência ainda. Não poderia
mentir, houve um momento em que fui egoísta. A tomei
para mim e ignorei os seus gemidos. A fodi com um
desejo inflamado contaminando cada centímetro da
minha pele.
Seu corpo pequeno ardia, suas curvas eram minhas,
sua entrega foi emocionante porque era evidente que
aquela garota queria me pertencer.
Quanto mais a sua boceta me espremia, mais eu
queria comê-la, mais precisava grunhir ao ter aqueles
lábios generosos sugando o meu pau, lambuzados.
Era um prazer que doía, algo de perder a cabeça e
me fazer esmagar a menina entre os meus braços. Não
havia espaço. Era eu, ela e a parede. Era o barulho alto
que denunciava a maneira intensa com que fazíamos
sexo. Era a minha mão agarrando o seu cabelo e a
obrigando a olhar dentro dos meus olhos.
Ágata arranhou as minhas costas, e como se
precisasse me sentir ainda mais fundo, arreganhou as
pernas. Vulnerável. Toda minha.
Gozei feito um louco, minhas mãos cobriram o seu
rosto pequeno, os dedos apertaram as suas bochechas,
trêmulos. Ágata estava alucinada quando estoquei as
últimas vezes, minha porra escorrendo entre a gente.
— Merda… — grunhi, sem fôlego.
— O que foi? — A garota abriu os olhos, ofegante.
Percebi a sua surpresa quando viu o meu esperma.
Sua cabeleira dourada estava rebelde, molhada de
suor. O verde dos seus olhos foi tocado por uma fina
camada líquida, mas Ágata não me soltou. Ainda me
sentia grosso em sua boceta.
— A droga do preservativo estourou — rosnei, a
magia do orgasmo nutrindo os meus arrepios.
Senti quando escorreguei de dentro dela, um pouco
menos excitado, a fina capa que me cobria estava
mesmo rasgada e sobre ela identificamos uma pequena
mancha de sangue. O que não era uma surpresa.
— Por que não me contou que era a sua primeira
vez? — A encarei.
— Você sabia? — Ao ouvi-la, me perguntei como
seria possível que ela ainda ficasse envergonhada.
Porque foi isso o que aconteceu.
— Eu desconfiei — admiti, arrastei o polegar em seu
queixo.
Ela suspirou, tombou a cabeça para baixo e fechou
as pálpebras como se lhe doesse ter de confessar.
— Fiquei com medo que desistisse. — Apoiou as
mãos ao lado do corpo. — Não queria que pensasse que
a minha virgindade... — sua voz falhou, embargada, não
tinha mais coragem de me olhar. Identifiquei o seu medo
da rejeição, imaginei as loucuras que certamente
invadiam a sua cabeça. — Eu só queria que você não
pensasse, Filippo — terminou, cansada.
Segurei o seu queixo, ergui o seu rosto tomado por
todo aquele rubor que me fascinava e a observei com
profundidade.
— Ainda não percebeu? Você anula os meus
pensamentos — confessei, quase em um sussurro,
devagar e rouco. Fui honesto.
Uma lágrima manchou a sua face, ela apoiou as
mãos sobre as minhas e me presenteou com um novo
beijo, doce. Por fim, me abraçou, buscando conforto.
Confesso que demorei a correspondê-la, apesar de ter
feito.
A questão é que eu não estava acostumado com
sentimento depois do sexo, ainda mais de um que tinha
saído dos freios.
Filippo percebeu que as minhas forças tinham ido
embora, que eu não seria capaz de caminhar depois que
saltasse daquele móvel, onde estava sentada. Sem
precisar de um pedido, o homem me pegou em seus
braços sem nenhum esforço e me carregou até o quarto.
Ele me deitou na cama confortável com um cuidado
que contradizia toda a brutalidade com que havia me
devorado.
Foi uma decisão arriscada não contar sobre a minha
virgindade, nunca imaginei que sentiria todo aquele
prazer, mas estaria mentindo se afirmasse que não me
sentia dolorida por dentro.
Filippo se sentou ao meu lado e acariciou o meu
rosto com a parte superior da sua mão, observando-me
como se estivesse encantado. Aproveitei o momento
para contemplar o seu corpo mais uma vez,
principalmente o abdômen trincado tomado por uma fina
camada de suor. Até quando suava, o homem era
cheiroso.
Ele poderia ser facilmente definido como um
paredão de músculos, duro e áspero. E até mesmo o seu
pau, agora semiereto entre as suas pernas compridas,
continuava a prender a minha atenção em cada uma de
suas veias.
— Você devia ter me parado — ele reclamou, mas o
seu tom não parecia uma reclamação. Fechei os olhos
por um instante e suspirei, ainda absorvendo todas as
sensações que o meu primeiro pós-sexo oferecia. —
Com certeza eu te machuquei.
— Não machucou...
— Isso não é verdade. — Filippo segurou o meu
queixo.
— Mas foi gostoso — argumentei, em um tom quase
inaudível devido ao cansaço do prazer. O fato era que
eu já queria me entregar a ele mais uma vez, não
importava o quanto doesse.
Filippo pensou por um instante antes de continuar:
— Precisamos nos proteger, infelizmente aconteceu
esse acidente, não podemos correr o risco de uma
gravidez...
— Não vai acontecer — afirmei, convicta, o
obrigando a parar de falar. — Eu... — Hesitei. Não
queria revelar o problema de saúde pelo qual havia
passado, era algo íntimo demais, que me adoecia
apenas por lembrar. — Eu me protejo — concluí,
preferindo não mais encará-lo quando decidi fechar as
pálpebras novamente e virar o rosto para o lado.
— Você usa anticoncepcional? É o que está
dizendo? — Senti a minha bochecha queimar sob a sua
desconfiança. Não me fazia bem mentir ou ocultar coisas
de quem quer que fosse, e fazer isso com o Filippo
parecia ser bem mais complicado.
Assenti, em silêncio.
Escutei a sua respiração pesada seguida do seu
afastamento. O observei caminhar até o banheiro
exibindo um dorso largo e musculoso. Senti vontade de
segui-lo, mas me contive, o respeitei. O que não impediu
que o meu corpo fosse atingido por uma sensação
estranha, solitária.
No entanto, Filippo retornou, dessa vez me carregou
para o banheiro junto com ele. Fui colocada em uma
banheira repleta de espuma, cheirando a lavanda. Ele se
sentou às minhas costas e me permitiu repousar contra o
seu peito, deitar a cabeça sobre o seu ombro.
O Sr. Gagliardi não fazia ideia, mas aquela atitude
fez com que os sentimentos acumulados no meu coração
se multiplicassem, e era tudo culpa dele. Era tudo por
ele.
Suspirei, relaxada. Me senti protegida quando o seu
braço esquerdo contornou a minha cintura, pesado,
como se quisesse afirmar até mesmo para as paredes
que eu lhe pertencia.
E provando que não era um homem construído
apenas de brutalidade, ele usou sua mão livre para
deslizar a esponja de banho por minha pele, espalhando
o sabonete líquido hidratante.
Começou esfregando os meus seios, habilidoso. Sei
que a sua intenção não era me deixar excitada, mas foi
impossível. Mais uma vez os meus mamilos se tornaram
inchados, descobri que reagia de modo hipersensível ao
toque dele, o que ficou comprovado quando escorregou
a esponja macia até o meio das minhas coxas.
Gemi quando a minha boceta foi esfregada
lentamente, de uma maneira que me obrigou a abrir as
pernas, colocá-las sobre as dele. Havia pouco espaço,
Filippo dominou tudo com o seu corpo, eu parecia ainda
menor grudada a ele, era como se cada um dos seus
músculos me comesse.
Ele girou sobre a minha carne inchada,
provavelmente a massagem tinha o intuito de me aliviar,
mas estava me enlouquecendo.
— Mais forte... — supliquei, mordi o lábio. Ergui o
rosto para encará-lo com necessidade.
— Não posso, você ainda está dolorida. Quero
apenas que relaxe — sua voz grave não ajudou, piorou o
meu estado. Rocei minhas panturrilhas nas suas, senti
os seus pelos.
Segurei nas laterais da banheira ao mesmo tempo
em que o homem levou o antebraço livre para debaixo
dos meus seios, me abraçando, firme. Fechei os olhos,
esfreguei a cabeça em seu ombro, dengosa. A esponja
subiu e desceu entre as minhas dobras, devagar, mas ao
invés de dissipar a dor, fez com que ela crescesse de
um jeito diferente. Lascivo.
— Por favor, mais forte... — implorei outra vez,
arrastei os dentes sobre a veia grossa do seu pescoço.
— Você não vai aguentar gozar de novo agora,
Ágata. Sua boceta está muito sensível. — O infeliz
estava brincando comigo. Ele usou os dedos para
beliscar um dos meus mamilos vermelhos, obrigando-me
a gemer ainda mais forte.
Seu pau tomou espaço entre nós dois, pressionou
as minhas costas. E como se estivesse duro a ponto de
incomodá-lo, Filippo me ergueu um pouco e o colocou
bem debaixo da minha bunda, atravessando as minhas
nádegas. Fazendo assim com que eu ficasse montada
sobre aquele eixo longo.
— Se me fizer gozar, eu deixo você gozar de novo...
— me desafiou, aguçando os meus sentidos, a voz
emitida em um rosnado possessivo. — Segure o meu
pau, Ágata... — Mordiscou a minha orelha, impedindo-
me de raciocinar.
Já era a minha intenção sentir a sua carne grossa
entre os meus dedos, então não foi difícil aceitar.
— Assim... — Filippo pressionou a esponja sobre o
meu clitóris quando segurei o seu pau.
Ofegante, eu o masturbei, mas nem a minha
inexperiência em fazer aquilo o impediu de grunhir feito
um animal. Filippo ficou louco, castigou a minha boceta,
esfregou a esponja com tanta força que eu praticamente
convulsionei quando atingi o orgasmo, mais forte do que
qualquer outro que ele havia tirado de mim até ali.
Foi preciso que me segurasse, esmagasse os meus
seios. Ele ainda aproveitou o momento para terminar de
se masturbar e me acompanhar no prazer, ejaculando
dentro da água, violento.

Abri os olhos devagar, dando-me conta de que havia


dormido e estava na cama. Sozinha. Assustei-me com
esse fato, será que o cansaço havia batido tão forte a
ponto de sequer ter notado Filippo me trazendo para cá?
Pelo visto, foi o que aconteceu.
Levantei devagar, fraca e dolorida, mas satisfeita.
Voltei ao banheiro e analisei a minha imagem no espelho
para ter a certeza de que já não era mais a mesma
garota. Estava toda mordida e marcada, aquele infeliz
me tomou feito um selvagem, mas nada me convenceria
de que não havia gostado, porque gostei.
Após alguns minutos debaixo do chuveiro, retornei
ao quarto dentro de um roupão, usava uma toalha para
enxugar o cabelo. Filippo entrou no quarto vestido, com
uma pequena sacola farmacêutica nas mãos.
— O que é isso? — Curiosidade me atingiu. O
primeiro pensamento do que poderia ser me paralisou.
— Preciso remediar o estrago que fiz em você. —
Ele se levantou e me entregou a sacola, sério. Era uma
pílula do dia seguinte.
Meu estômago revirou. Notei Filippo guardar as
mãos dentro dos bolsos, impassível, apesar de calmo. A
resposta era só uma: ele não cofiava em mim.
— Filippo, eu falei que... — tentei argumentar, um
gosto amargo corrompeu a minha boca.
— Eu sei o que você falou, Ágata, mas prefiro não
arriscar. Isso não é apenas por mim, é por nós dois.
— Não confia em mim. — Ter a certeza daquilo me
desanimou. Foi como um soco.
— Não se trata disso. A questão é que não podemos
correr riscos, você não pode engravidar. — Não
precisava ser inteligente para perceber que aquela ideia
lhe parecia um pesadelo.
Eu o entendia, não era criança, mas também
precisava fazer com que me entendesse. Para isso seria
necessário falar a verdade:
— Exatamente isso, Filippo! — O encarei, aflita. —
Eu... não posso engravidar — afirmei com dificuldade,
era como se a minha garganta estivesse rasgada. Meus
olhos arderam, senti vontade de chorar. — Aos dezoito
anos passei por uma cirurgia... ooforectomia bilateral [ 1 4 ] .
Tive os ovários retirados — despejei, abalada, falar
sobre aquele assunto era um maldito gatilho.
Sentei na cama e limpei o rosto. Filippo pareceu
perturbado por alguns instantes, esfregou a barba,
surpreso. Então se sentou ao meu lado.
— Eu jamais te enganaria. — O fitei. — Naquele
momento em que falei que não precisávamos de
preservativo era por essa razão. Menti sobre usar
anticoncepcional porque no fim das contas... dá na
mesma, não é? — Dei de ombros e forcei um sorriso,
triste. — Desde o início sabia que não corríamos riscos
de gravidez. E, quanto a estar protegida, em nenhum
momento deixei de confiar em você.
Recebi o seu olhar profundo, enigmático. Daria tudo
para descobrir os seus pensamentos.
— Eu estou limpo — garantiu, mas para mim não era
uma surpresa. Filippo era cuidadoso ao extremo,
controlador com cada detalhe da sua vida. Desde que o
conheço jamais ouvi falar sobre ter ameaçado engravidar
alguma mulher. Não lembro sequer de uma namorada,
com ele era tudo supérfluo e passageiro, mas seguro. —
Faço exames regularmente.
Assenti, enxuguei os olhos mais uma vez, impedi
que lágrimas descessem.
— Mesmo assim você devia ter me contado. Eu não
aceito mentiras, Ágata — foi firme, tanto no olhar quanto
na voz.
Filippo não parecia sentir pena de mim, o que era
um alívio, pois odiava perceber esse sentimento nas
pessoas quando ouviam a minha história. Por outro lado,
sua reação não deixava de ser uma surpresa, fora do
normal.
— Lembro da época em que ficou alguns dias no
hospital, mas não imaginava que havia passado por isso.
Giancarlo inventou uma história, fez parecer que não era
nada grave. — Se dar conta de tudo o assustou, talvez
não esperasse essa atitude do meu pai.
— Eu o fiz prometer que não contaria. Para
ninguém. — Encarei a pequena caixa entre os meus
dedos, tão fria. Um sorriso forçado surgiu entre os meus
lábios, as lembranças enchendo a minha cabeça. —
Fiquei muito abalada, jurei que se ele contasse para
qualquer pessoa não falaria mais com ele.
Filippo permaneceu calado, não se moveu.
— Mesmo assim vou tomar — decidi, mostrei a caixa
a ele. — Apenas para que fique tranquilo. — Fiz menção
em levantar, mas Filippo me segurou.
— Não será necessário. Na verdade, não faz
sentido. — Agora parecia convencido. — Se tomar
apenas vai bagunçar o seu ciclo menstrual e te causar
mal-estar. — Suas palavras, ditas de modo protetor, me
agradaram.
Filippo tomou a caixa das minhas mãos.
— Tem certeza? — Precisava me certificar, não
queria que ficasse com uma pulga atrás da orelha.
— Sempre tenho certeza de tudo — garantiu,
voltando a ser arrogante.
Revirei os olhos, balancei a cabeça ao estampar um
sorriso quando ele se levantou e saiu do quarto.
Me joguei na cama, o coração acelerado. Nem
acreditava que havia conseguido desabafar, colocar o
que estava entalado para fora. Até com o meu pai
evitava conversar sobre o meu problema, as visitas a
médica, o tratamento, fazia tudo sozinha.
Aproveitei o tempo sozinha para caminhar até a
varanda e constatar que Filippo tinha a melhor visão da
cidade, principalmente das fontes dançantes do
Bellagio [ 1 5 ] , que ficavam próximas ao nosso hotel.
O encontrei caminhando de um lado a outro da sala
de estar, falando ao telefone sobre trabalho, provando
que apesar de estar em Las Vegas ainda se mantinha
ocupado. Ainda estava no controle.
Sua suíte era um luxo completo com muito mais
espaço e privilégios do que o quarto onde eu estava
hospedada. Entretanto, os tons das paredes e objetos se
mantinham os mesmos, divididos entre o cinza e o
branco.
Catei o biquíni jogado no chão, o tecido úmido ainda
cheirava ao esperma quente dele, sem contar que nem
lembro quando foi que a parte inferior deixou o meu
corpo entre cada uma daquelas estocadas. A verdade
era que já não queria mais usá-lo, mas o faria até poder
vestir uma roupa decente.
— Está com fome? — Filippo se aproximou após
guardar o celular no bolso da calça. Parecia ter
escutado a minha barriga roncando minutos atrás.
— Morrendo, mal tomei café. — Sorri, contente. Não
podia acreditar que ele me levaria para comer.
Filippo segurou o meu rosto com cuidado, acariciou
o lábio inferior com o polegar e por fim me beijou como
se nada do que havíamos feito até ali tivesse sido o
bastante.
Quando não consegui mais respirar, me esforcei
para sair de sua boca ávida, apesar de querer
permanecer presa àqueles lábios experientes para
sempre, seduzida pelo frescor mentolado de sua língua.
Ele não permitiu o meu afastamento de uma vez, foi
diminuindo o ritmo, degustando a minha carne inchada
até finalmente parecer satisfeito.
— Doce e suave. Beijar você é como mergulhar
entre as nuvens, menina. Se é que isso é possível —
confessou, fazendo de mim a garota mais feliz. Segurei
o seu rosto e esfreguei a ponta do meu nariz no seu,
parecia mentira que os meus sonhos estivessem se
realizando.
Filippo me ajudou a colocar a parte superior do
biquíni, vesti o resto, então seguimos para o meu quarto
que ficava alguns andares abaixo.
Ele esperou que eu trocasse de roupa, momento em
que lembrei que tinha deixado o celular sobre a cama.
Me surpreendi com a quantidade de mensagens que
havia chegado, respondi as do meu pai e do meu irmão,
mas decidi ignorar aquelas em que Tomás se desculpava
pelo fracasso da noite anterior.
— Estou pronta — anunciei, após sair do banheiro
usando botinhas brancas de salto, short jeans e uma
camisa social soltinha que me fez parecer bem
despojada.
Resolvi deixar o cabelo volumoso e ondulado solto
para ajudar a cobrir as mordidas no pescoço com as
quais Filippo havia me marcado, porque apenas a
maquiagem que estava usando talvez não fosse o
suficiente.
Ele me analisou de cima a baixo, pareceu levemente
incomodado com as minhas pernas nuas exibidas, mas
não disse nada. Seu foco foi no colar em minha garganta
que o fez se aproximar e puxar o pingente de balança
com o dedo indicador, provavelmente se lembrando que
aquele era o presente que me deu três anos atrás.
— Bonito. — Sorriu.
— Hmm... nem tanto, eu tenho outros melhores. —
Ajeitei a alça longa da bolsa pequena que carregava no
ombro.
Meu estômago roncou de novo.
— Vamos, ou sua barriga vai formar uma banda de
tanto fazer barulho. — Senti sua mão espalmar a minha
lombar e me guiar para fora do quarto.
— Onde vai achar um lugar para almoçarmos em
plena três horas da tarde? — Essa era a minha
curiosidade. — Tudo em Las Vegas é ocupado, filas
imensas, você nem imagina o quanto eu caminhei desde
que cheguei aqui. Sem contar que já passou e muito da
hora do almoço, em qualquer restaurante iremos
encontrar apenas as sobras — afirmei, antes de usar o
cartão para trancar a porta. — A não ser que esteja me
levando para lanchar, neste caso, uma lanchonete cai
bem. Eu sei de uma que...
— Conheço um lugar que nunca me deixa na mão,
independentemente do horário — Filippo me
interrompeu, enquanto caminhávamos de volta para o
elevador. — Estou afim de comer comida de verdade,
mas se você quiser lanchar, lá também terá essa opção.
— Ah, então também conhece a cidade?
— Eu e o seu pai temos clientes aqui.
Meu pai.
A forma como ele falou me fez lembrar de que eu
estava no meio da amizade entre amigos de longa data.
Não saberia dizer como o Sr. Giancarlo Ruggiero
reagiria se descobrisse que o seu melhor amigo e
também Sócio-Propietário da firma, havia tirado a minha
virgindade.
Mas esse não era o momento para pensar nisso. A
verdade era que preferia esquecer tudo o que pudesse
me afastar de Filippo agora.

Fui levada a um restaurante afastado do hotel onde


estávamos, longe daquele caos formado de neon e
cassinos que Las Vegas proporcionava.
A princípio não achei interessante aquele design
rústico composto por cadeiras de couro cinza, mesas
quadradas com tampo de madeira sobre um suporte de
ferro, além do teto exibindo dutos de ar. O lugar era
completamente masculino, a equipe quase inteira
masculina, mas a limpeza e a comida se faziam de
extrema qualidade.
— Nossa, que gostoso... — gemi de prazer ao
experimentar um prato que Filippo havia indicado.
Era uma barca como aquelas de sushi, porém,
composta por legumes coloridos e cozidos em uma
mistura intensa de temperos. No centro da barca, havia
um enorme pedaço de carne artesanal com uma
cobertura de queijo e azeite.
— Eu disse que você ia gostar — Filippo comentou,
após engolir mais um pedaço do bolinho crocante que
havia pedido, acompanhado de uma salada fresca com
toques apimentados.
Experimentei praticamente tudo do banquete à
nossa frente, estava realmente com fome e ele não ficou
atrás. Pelo visto, o sexo havia drenado todas as nossas
energias.
— Confesso que não acreditei. — Limpei os lábios
com um guardanapo.
— Eu sei, vi o seu olhar de preconceito assim que
passamos pela porta. — Filippo se recostou em sua
cadeira, parecendo satisfeito.
— É que esse restaurante me lembrou aqueles
bares masculinos, sabe? Imaginei que comida boa seria
a última coisa que fariam aqui. — Dei de ombros, Filippo
cruzou os braços, obrigando o tecido de linho da sua
camisa a comprimir ainda mais os seus bíceps.
— A especialidade deles é fazer receitas famosas,
porém, desconstruídas. Me inspiro muito aqui.
— O quê? Sabe cozinhar? — Arqueei as
sobrancelhas.
— Digamos que aprendi na marra. Depois tomei
gosto pela coisa. — Ele tamborilou os dedos nos braços,
seu olhar desviou por um instante, como se uma
lembrança invadisse a sua mente.
— Eu sou um desastre na cozinha. — Apoiei o
queixo sobre o meu punho fechado. — Mas a minha mãe
sabia cozinhar maravilhosamente bem. Ela fazia uma
musse de limão com chocolate e canela que era divino.
— O meu sorriso cresceu, fechei os olhos. — Parece até
que estou sentindo o gosto agora de tão deliciosa que
era, porque tinha um sabor... único... assim como ela. —
Ergui as pálpebras, afetada pela saudade da mulher que
mais amei na vida.
Encontrei a seriedade de Filippo me observando.
— Sente muita falta dela, não é? — Quis saber.
— Ah... todo mundo sente falta da mãe. Acho que
isso é algo... universal. — Tentei desconversar enquanto
segurava as lágrimas.
Filippo apresentou um semblante de alguém que
acreditava existir ressalvas em minha resposta, ao
mesmo tempo em que cruzou as mãos sobre a mesa. Eu
sabia pouco da sua vida, mas o bastante para entender
que havia cometido uma gafe, já que a mãe dele morreu
logo após o seu nascimento.
— Sinto muito. — Toquei os seus dedos, mas ele se
afastou devagar, deixando claro que ali existia uma
barreira.
Decidi respeitá-lo, mergulhamos em um silêncio
incômodo, e durante esse tempo não consegui parar de
observá-lo. Constatei que, apesar dos anos de amizade
com o meu pai e proximidade comigo, Filippo sempre se
manteve distante, sua vida era um livro fechado, e ele
não dava indícios de que algum dia se permitiria ser
desvendado.
Assisti os seus dedos experientes atravessarem o
seu cabelo castanho, como se o homem quisesse se
distrair. Notei os fios grisalhos se destacarem nas
laterais, exalando um charme que me rendia fácil.
— Por que proibiu o seu pai de contar sobre a sua
cirurgia? — perguntou, curioso, puxando um novo
assunto para quebrar o nosso gelo.
Suspirei, pensativa.
— Primeiro, pela minha mãe. Quando descobrimos
que ela tinha um tumor no ovário já era tarde demais e
foi tudo muito sofrido, você sabe. Sei que é normal as
pessoas perguntarem e se preocuparem, mas aquilo me
doía, ter de explicar sobre o mesmo assunto várias
vezes parecia uma agulha me espetando — desabafei,
lancei o olhar para longe, recordando o passado. — Por
outro lado, também senti vergonha. Sem os ovários, me
tornei uma mulher incompleta. Nunca foi a minha
intenção engravidar assim tão jovem, mas talvez algum
dia, depois de alcançar os meus objetivos, quando
encontrasse alguém que me transmitisse confiança e
quisesse construir uma família.
Voltei a encarar o Filippo, pela primeira vez, ele
parecia me compreender, sentir o que senti e entender
os meus motivos.
— Você é uma mulher completa, Ágata — afirmou,
convicto. — Passou por um problema de saúde como
qualquer pessoa, mas superou, está aqui, e posso te
garantir que a sua história não é motivo de vergonha.
Muito pelo contrário — argumentou, obrigando-me a
sorrir emocionada.
— Grazie — sussurrei, enxuguei os olhos.

Terminamos o almoço no final da tarde, saí do


restaurante satisfeita e tive um tempinho sozinha do
lado de fora enquanto esperava o Sr. Gagliardi se
despedir dos funcionários, um bando de marmanjos que
pareciam idolatrá-lo e que, pelo nível de intimidade,
também eram seus amigos.
Filippo me contou que salvou todos eles de
perderem o emprego, já que o restaurante quase foi
tomado pelo irmão do dono em uma disputa pela
herança.
Olhei para o lindo pôr do sol apenas para ficar
impressionada com pessoas curtindo um delicioso
passeio de balão naquele céu dourado. Foi quando me
perguntei como podia ter esquecido daquilo, era uma
atividade que costumava fazer em família.
— Lindo... — murmurei.
Peguei o celular da bolsa e fotografei, meu coração
até bateu mais rápido, recordando da sensação de
atravessar aquele céu como se fosse eterno.
— Vamos? — Filippo abriu o carro ao apertar o
botão do chaveiro.
Entramos no conversível que devia valer cerca de
300 mil dólares, a parte interna era em couro
personalizado, certamente Filippo havia pagado uma
fortuna para alugá-lo. Meus cabelos voaram ao vento
assim que disparamos pela estrada, saboreando aquele
clima morno e incomparável de Vegas.
Assim que chegamos ao hotel, fomos recebidos por
aquele mundo de cores brilhantes que a noite da cidade
oferecia, entregamos o carro ao valet e seguimos até o
hall de entrada, local onde nos deparamos com o Tomás.
— Chefe? — Ele ficou surpreso ao ver o Filippo,
mas talvez a sua surpresa tenha crescido quando o
notou retirar a mão que estava confortavelmente
espalmada em minha lombar. Algo que o Sr. Gagliardi
fez o dia todo, sempre me conduzindo como se tivesse
uma necessidade extrema de me tocar, ou afirmar para
outros homens que eu tinha dono.
Passar todo aquele dia com a Ágata foi uma
surpresa agradável, apreciava a sua companhia, o seu
perfume e o sorriso fácil. Gostava do fato dela ser uma
garota meiga, inteligente, vaidosa e que, apesar das
cicatrizes, exalava uma vontade imensa de viver.
Ainda não tinha engolido o fato de Giancarlo ter me
escondido o segredo que ela havia me revelado, mas
não poderia cobrá-lo, já que existia coisas sobre a
minha vida que ele não tinha conhecimento.
Ambos éramos parecidos em nossas
personalidades: frios, racionais e discretos. Sempre
desconfiei do fato dele nunca ter me contado o quanto
seu coração era despedaçado. Agora, tinha certeza.
Por outro lado, Ágata me surpreendeu com a sua
força e coragem para passar por tudo o que passou,
tendo em vista que já tinha enfrentado algo parecido
quando perdeu a sua mãe. Agora, a garota preenchia o
meu olhar de uma forma mais humana e madura. Sem se
dar conta, Ágata havia conquistado a minha admiração.
— Não acredito. — Tomás forçou um sorriso ao nos
ver, era evidente que havia percebido a minha mão se
afastando da lombar da garota. — Achei que não viria.
— Tive de vir ou Mancini não me deixaria em paz —
menti, guardei as mãos dentro dos bolsos.
E por mais que fosse difícil admitir, senti falta de
continuar tocando a menina, marcá-la de alguma forma
ou até mesmo impor a minha presença.
— Ah... entendi. — O olhar de Tomás desviou para
ela. — Ágata, eu te procurei o dia inteiro, bati na sua
porta várias vezes, até me preocupei. Então vocês
estavam... juntos?
— Hmm... — Ela me olhou sem saber o que dizer.
— Estávamos te procurando. — Decidi inventar uma
desculpa. — Cheguei hoje pela manhã, acabei de
encontrá-la ali fora, Ágata estava me levando até você.
— Sim! Claro! Foi isso! Foi exatamente isso que
aconteceu! — a garota exclamou, de repente, sem se dar
conta do alto volume em que estava falando. —
Esperava o quê, Tomás? Você ficou de ressaca e eu
decidi sair para me divertir! — Nervosa, ela acertou um
tapa forte no ombro do coitado, até eu senti a dor que
ele sentiu. — Acabei esquecendo o celular no quarto!
— Ah... fez bem. — Tomás acariciou o local onde
havia levado o golpe. — E sobre ontem à noite, Ágata,
depois podemos conversar? — Eles se entreolharam de
uma maneira que me incomodou.
Que porra era aquela de “ontem à noite”? O que os
dois fizeram enquanto estiveram sozinhos? Ágata
aplacou os meus sentidos de tal maneira que até havia
me esquecido sobre ter tido um bom tempo para se
divertir com o Tomás.
— Claro! — Ela apertou a pequena bolsa à frente do
corpo, os nós dos seus dedos ficaram vermelhos, ainda
por cima sorriu para o infeliz.
Até ali tudo bem, mas ele correspondeu, abriu um
sorriso que me obrigou a cerrar os punhos dentro dos
bolsos devido ao tamanho do meu ciúme. Um sentimento
egoísta que sequer concordava que outro cara sorrisse
para ela que não fosse eu!
— Bem, daqui a pouco será o evento, temos que nos
aprontar. — Ágata conferiu a hora no relógio de pulso,
entendi que estava pretendendo desfazer aquela
situação, agia como se tivéssemos sido flagrados.
— Verdade. Vamos marcar de nos encontrarmos na
entrada daqui a uma hora e meia, pode ser? — defini,
atuando bem melhor que ela.
— Talvez duas — Ágata sugeriu.
— Por mim tudo bem, vou ter que esperá-la de
qualquer jeito. — Tomás esfregou as mãos e a encarou
cheio de expectativas, para o meu incômodo.
— Ah, que isso. Não precisa, Tomás. — Ágata
pareceu constrangida, mas evitou me encarar. Era
melhor assim, não podíamos ficar nos comunicando de
forma indireta na frente do meu associado.
— Faço questão. Prometo que hoje sim você terá
uma noite especial. — Ele a paquerou ali, bem na minha
frente. Foi como levar um soco na cara.
Minha pele esquentou devido ao ódio.
Que desgraçado.
— Ah... eu vou indo. Até mais tarde, Filippo — ela
se despediu, deve ter notado a minha irritação.
— Vou te acompanhar... — Tomás fez menção em
tocá-la, mas eu o puxei primeiro, um aperto firme em seu
braço.
— Não — grunhi, severo demais para a ocasião.
O espanto gerado pela minha atitude obrigou o
rapaz a formar um vinco na testa, sem entender o que
estava acontecendo. Por outro lado, Ágata ficou pasma,
paralisada ao testemunhar a minha atitude inesperada.
— Preciso trocar uma palavrinha com você, Tomás
— me esforcei em dizer. — Andiamo! — O soltei e dei
dois tapinhas em seu ombro, quase o empurrando para
longe da garota.
— Sim... claro — Tomás concordou, meio
perturbado.
Ágata ficou sozinha, boquiaberta, observando nós
nos afastarmos.
O caralho que ele iria acompanhá-la!

Levei Tomás para um dos bares do hotel, o segurei


lá por quase uma hora, a sorte era que não faltavam
assuntos para debatermos. Quando enfim o liberei, segui
para o meu quarto ainda perturbado pelo simples fato
dele ter mais acesso a Ágata do que eu, no entanto,
precisava me controlar se não quisesse continuar dando
bandeira.
Após relaxar no banho, coloquei um smoking. Havia
terminado de ajeitar a gravata borboleta no pescoço
quando atendi à ligação de Giancarlo.
— Pronto — atendi.
— O que explica essa sua ida repentina à Vegas? —
ele disparou, fiquei desconfortável.
Sabia que não poderia falar besteira, Giancarlo era
mais velho e perspicaz que Tomás, não acreditaria em
qualquer desculpa esfarrapada. Era necessário ser
convincente:
— Mancini me ligou quando ficou sabendo que eu
não viria. Pelo que entendi, ele quer acrescentar
algumas cláusulas no acordo que acabamos de fechar
com a Poseidone. Não confiava apenas em Tomás para
guiá-lo nessa empreitada. — Caminhei pelo quarto,
devagar.
Giancarlo riu.
— Mancini dá mais trabalho do que uma criança —
fez piada.
— Com certeza. E eu não suportei ele por tantos
anos para simplesmente permitir que estrague o meu
trabalho.
— Claro que não — concordou. — Já encontrou a
Ágata por aí?
— Sim, marquei de me encontrar com ela e Tomás
no evento daqui a... quinze minutos. — Observei o
relógio de pulso.
— Está tudo bem entre vocês? Você e a Ágata? —
Meu estômago esfriou, mas lembrei que existia apenas
uma razão para ele fazer aquela maldita pergunta.
— Depende de como ela vai se sair de agora em
diante. Vamos ver se dessa vez obedece ao chefe ao
invés do papai — brinquei, Giancarlo riu de novo. Por
fim, ficou em silêncio.
— Obrigado por ter dado mais uma oportunidade à
minha filha, Filippo. A questão é que Ágata é muito
justa, como a mãe. Já comentei com você sobre isso,
perdi as contas de quantas vezes discuti com a Aurora
porque ela não aceitava a injustiça de alguns dos meus
casos. Ágata nasceu com o dobro das suas qualidades e
defeitos também. Ela é tudo o que me restou. Ela e o
Enzo.
Minha garganta apertou, um gosto amargo se
espalhou em minha boca. Constatei que estava pisando
em um terreno perigoso, tocando em seu maior tesouro
sem a devida permissão.
— Filippo?
— Estou aqui — respondi, a minha voz saiu mais
ríspida do que deveria, minha consciência pesando.
— Tome conta da sua sobrinha.
Giancarlo não fazia ideia, mas as suas palavras
serviram como um último soco em meu rosto, um
daqueles de extrema realidade.
— Não se preocupe. Ela está segura comigo —
garanti, completamente rígido, cada osso do meu corpo
incomodado debaixo da carne.
Encerrei a ligação com apenas uma certeza:
Giancarlo Ruggiero nunca aceitaria aquilo. Nada mudaria
o fato de que Ágata era anos mais nova, filha do meu
melhor amigo e que eu havia devorado a sua
virgindade.
Mancini e o seu novo sócio reservaram um dos
maiores e mais luxuosos salões de festa do hotel, para
celebrar a união das empresas. O local ficava depois do
cassino onde também havia um grande número de
pessoas, centenas de apostadores arriscando a sorte
para ganhar os seus milhões de dólares. Ou perder tudo.
Com uma bela taça de champanhe na mão direita,
caminhei por entre os convidados com calma, encontrei
o meu cliente compartilhando uma mesa com o senhor
Rossi, que não parecia tão animado quanto ele.
— Aah, não acredito! O meu advogado veio! —
Mancini se ergueu de sua cadeira e abriu os braços,
feliz da vida. — Senhoras e senhores, recebam Filippo
Gagliardi, o homem responsável pelo sucesso dessa
fusão! — Veio até mim me aplaudindo, todos da mesa o
imitaram, fiquei desconcertado.
— Quando é que vai parar de ser tão excêntrico? —
perguntei, logo depois de apertar a sua mão.
— Ser excêntrico significa ter muito dinheiro, então
a melhor resposta para a sua pergunta é:
— Nunca — respondemos em uníssono,
gargalhamos em seguida.
— Sabe que a sua presença aqui significa que se eu
for a um daqueles caça-níqueis ficarei mais rico ainda.
— O infeliz sorriu, ele era um homem na casa dos
cinquenta anos, mas com um sorriso de vinte.
— Não exagere, sei que sou raro, mas nem tanto
assim — brinquei.
— Seu filho da mãe arrogante! — Bateu a mão em
meu ombro, gargalhamos outra vez.
— Parece que o seu novo sócio não está tão feliz
quanto você. — Notei a expressão forçada no rosto do
Sr. Rossi, que tentava se distrair em meio às belas
mulheres que puxavam conversa com ele.
— Ele ficou triste por não ter conseguido roubar a
minha empresa, mas depois do acontecido tivemos uma
conversa séria. Como prêmio de consolação, coloquei
algumas amigas para distraí-lo. — Mancini o observou,
malicioso.
— Como você é cafajeste. — Tomei mais um gole da
minha bebida.
— Não mais que o meu advogado... — Mancini
olhou ao redor, admirando o evento até que algo roubou
a sua atenção. — Oh, minha nossa! O que aquele anjo
faz perdido aqui? — Os seus olhos se encheram de
encanto.
Segui o seu olhar e me deparei com a Ágata
descendo a escadaria de entrada do salão. Sempre
soube que ela era bonita, mas não lembrava de tê-la
visto tão deslumbrante. Fiquei completamente
hipnotizado por sua imagem delicada naquele vestido
verde-escuro que parecia ter sido bordado à mão, feito
exclusivamente para o seu corpo. Ele não era vulgar,
mas a maneira como o tecido contornava cada uma de
suas curvas salientes fazia com que fosse.
Perfeita. Não havia melhor adjetivo para defini-la.
E enquanto Ágata ultrapassava cada degrau, atraía
todos os olhares da grande massa masculina presente
no evento, algo que me perturbou. As mulheres também
a contemplavam, algumas admiradas e outras
incomodadas, era um efeito surreal.
Ágata sequer tinha noção do poder que tinha. Ela
levou uma mecha dourada para trás da orelha e
observou o ambiente, tímida, até que os seus olhos
encontraram os meus.
— Ela está olhando para cá, mas tenho certeza que
não é para mim — Mancini comentou, deu um passo à
frente para ficar ao meu lado.
— É a minha estagiária. Foi ela quem me alertou
sobre os planos do Rossi. Ágata salvou a sua empresa
— o respondi, preso à Ágata da mesma maneira que ela
parecia estar a mim.
Mancini nos observou por alguns instantes.
— Linda e inteligente, apenas um louco não daria
tudo para tê-la. — Seu comentário fez com que eu o
encarasse, sério. — Quis apenas dizer que vocês se
olham de todas as maneiras, exceto como chefe e
estagiária.
— Não diga besteira. — Voltei a beber, tentei
disfarçar.
Será que estava tão evidente assim?
— Olhe para a minha idade, Filippo, não tente me
fazer de bobo. — Ele observou Ágata mais uma vez. —
Veja, parece que tem um concorrente.
Era Tomás que havia surgido da puta que pariu. Ele
parecia um cachorro em cima da garota, se ela desse
oportunidade o rapaz iria lambê-la até o osso. Não havia
dúvidas disso.
— Você já o conhece, é o meu associado...
— Tomás — Mancini completou. — Já entendi. —
Assentiu, o seu tom era de alguém que havia percebido
muito além do que deveria, ainda mais em tão pouco
tempo. Tomás nos avistou, ele cruzou o seu braço com o
da Ágata para vir com ela em nossa direção. Senti a
pele do meu rosto arder e queimar naquele momento,
sabia que devia estar ficando vermelho em uma
velocidade acima do possível. — Posso me livrar dele se
quiser — Mancini sugeriu.
— Faça esse favor — pedi, três segundos antes de
ser nocauteado pelo perfume de cereja da pequena
atrevida.
Ágata sorriu para mim, depois para o nosso cliente.
Fiz as devidas apresentações.
— Então você é a responsável por essa festa. Meus
parabéns. Filippo tem sorte em tê-la em sua equipe —
Mancini a elogiou, entretanto, o aperto de mão que
trocou com ela também me deixou insatisfeito.
Maldição! Por que me incomodava tanto quando
outro cara a tocava ou a olhava? Isso só poderia ser
uma doença, pensei.
— Grazie, senhor Mancini. — Ágata sorriu, não
esperava por isso.
— Tomás, quanto tempo. Filippo estava aqui me
contando maravilhas sobre você — Mancini deu atenção
a ele, cínico.
— Estava? — Tomás me fitou, surpreso e ingênuo
demais para a ocasião.
— Venha, precisamos conversar — Mancini o
chamou, Tomás sorriu, era o que ele precisava, ser
reconhecido. Tudo bem que dessa vez foi armação, mas
ele realmente merecia, era esforçado.
Os dois desapareceram e nos deixaram sozinhos.
Contemplei a menina mais uma vez, o seu rosto repleto
de ternura fez com que o calor gerado por meu ciúme se
transformasse em uma espécie de magia que aqueceu
meu corpo inteiro.
— Todos estão olhando para você e eu detesto isso
— admiti, em seu ouvido.
— Por quê? — O meio-sorriso em sua boca pintada
com a cor nude denunciava que a infeliz já conhecia a
resposta.
— Não gosto que te olhem como eu — confessei,
após secar a taça.
— E como é... que você me olha, senhor Gagliardi?
— Sua voz pareceu mais feminina ainda, quase dengosa,
o que causou um efeito devastador para o meu pau.
— Como se fosse minha — respondi, mais rouco do
que deveria.
Ágata paralisou assim que me ouviu, fez menção em
falar, mas pareceu sem palavras. Não dava para
esconder o misto de expectativas e sentimentos tomando
a sua face, a prova disso se fazia no rubor ainda mais
intenso de sua pele que se sobressaía sobre a sua
maquiagem.
Continuamos ali, presos um ao outro até que uma
mulher assumiu o palco e começou a cantar. Parte das
luzes se apagaram quando a canção romântica iniciou,
os convidados foram pegos de surpresa, porém, vários
casais se formaram sobre a pista de dança,
transformando aquilo em uma espécie de baile.
— Aceita dançar comigo? — Ágata ofereceu a mão
para mim.
Sorri, não consegui evitar o deboche.
— É sério. Andiamo — insistiu, parecia mesmo
querer fazer aquilo.
— Não sou o tipo de homem que leva uma mulher
para dançar, querida. Não tenho o menor jeito para isso
— justifiquei.
— Tudo bem, vou procurar um par. — A infeliz deu
de ombros, me provocando. Ela tentou me ultrapassar,
mas não permiti. Segurei o seu braço e a encarei tão de
perto que a intimidei.
— Isso foi uma tentativa de me manipular? —
rosnei, Ágata engoliu em seco.
— Não, é que...
— Escute, Ágata, posso até perder o raciocínio
quando estou com você, mas não significa que pode
transformar isso na porra de uma arma para conseguir
de mim o que quer — grunhi em seu ouvido, ela suspirou
ao mesmo tempo em que notei o arrepio se espalhar por
sua pele. — Então, a menos que queira insistir nessa
fantasia ridícula da primeira dança romântica do casal,
me diga o que você realmente quer e eu farei —
determinei, afastei o rosto alguns centímetros para
encará-la, mas não o bastante para deixar de sentir a
sua respiração.
Ágata mordeu o lábio, excitada. Ela sempre parecia
queimar quando me via agir feito um homem das
cavernas. Era um comportamento distorcido da sua
parte, mas me agradava.
A garota demorou a me responder, precisou de
alguns segundos para absorver as minhas palavras:
— Quero que me tire daqui e me leve de volta para
o seu quarto, para a sua cama. A verdade é que tudo o
que fizemos me deixou exausta, meus pés estão doendo,
esse vestido está me apertando e não me agrada ser o
centro das atenções. — Ela olhou ao redor, então eu
finalmente a soltei, lembrei que estávamos em meio à
várias pessoas. — Para mim basta apenas eu e você —
declarou, me afetando, obrigando os meus olhos a se
tornarem prisioneiros dos seus.
Puta merda, deixá-la jamais seria uma opção.
Endireitei a postura, retirei o cartão magnético do
bolso e entreguei a ela, discretamente.
— Vá na frente. Irei logo atrás de você, nos
encontramos lá em cima. — Ágata assentiu, não pensou
duas vezes em seguir as minhas instruções.
Assim que fiquei sozinho, troquei a minha taça e
voltei a beber. Caminhei pelo salão com uma
ornamentação que devia ter custado alguns milhões. Era
um luxo exagerado, um glamour forçado que me
incomodou. Cheguei à conclusão de que, mesmo que
não houvesse o convite da Ágata, cedo ou mais tarde eu
iria acabar dando o fora dali, provavelmente.
Verifiquei o que Tomás estava fazendo antes de
sair, ele se distraía com as belas convidadas do Mancini.
Digitei a senha no painel do elevador para poder chegar
à minha suíte, onde Ágata aguardava por mim.
Sorrimos de maneira genuína assim que trocamos o
primeiro olhar. Me agradava o fato dela ficar contente
sem uma plateia para nos ver. Concordava com o que
tinha dito, bastava apenas nós dois e mais ninguém.
Ágata se aproximou e procurou a minha boca. Eu a
correspondi ao mesmo tempo em que fechei a porta. E
por mais que a minha vontade fosse de fodê-la feito um
tarado mais uma vez, sabia que estava mesmo exausta,
o que ficou confirmado quando bocejou. Além disso, ela
não suportaria, ainda devia estar sentindo alguma dor.
Segurei a sua mão, a levei para o quarto. Ágata se
sentou na cama enquanto retirei o blazer.
— Seria uma tentativa de manipulação se eu
pedisse para me despir? — Encarei o seu sorriso
descarado. — Foi você quem disse que faria o que eu
quisesse — argumentou, brincalhona.
— Acho que se incluiria mais como persuasão. —
Me aproximei, de bom humor. Acariciei os seus lábios e
me excitei com o fato do seu rosto ficar à altura do meu
pau.
Era uma maldita fascinação.
Todavia, me convenci de que aquele não era o
momento. Ao invés de seguir os meus instintos
despudorados, fiz o contrário, me ajoelhei diante da
garota e retirei os seus sapatos, um de cada vez, sem
pressa, curtindo aquela atitude por mais simples que
fosse.
Ágata gemeu quando beijei o contorno dos seus pés
ao mesmo tempo em que os massageei, utilizando a
força correta sobre a sua carne macia em uma tentativa
de apaziguar as suas dores. Também depositei beijos
sobre os seus dedos, nunca fui fã de podolatria [ 1 6 ] , mas
estava tentado a pensar melhor sobre o assunto ao tocar
pés tão pequenos e perfeitos.
— Isso é tão bom... — murmurou, seus olhos se
fecharam, o semblante de uma princesa.
— Tenho que concordar... — Terminei a massagem e
me levantei.
Ágata também ficou de pé, retirei o seu vestido e
dei a ela uma de minhas camisas para vestir. A peça
ficou perdida em seu corpo, mas a agradou, fez com que
ficasse confortável.
Ela se deitou primeiro, me acomodei ao seu lado
usando apenas uma cueca boxer. Estava quase
dormindo quando notei a sua aproximação, seu corpo se
aconchegando ao meu, buscando por abrigo. Não pensei
muito a respeito, apenas a aceitei e a puxei para perto,
protegendo-a entre os meus braços.
Despertei incomodada com todas aquelas luzes
ligadas do quarto, sem entender como fui capaz de
adormecer daquele jeito, já que sempre tive o hábito de
dormir na escuridão, era mais confortável. De olhos
semicerrados, me esforcei para identificar a hora no
relógio de pulso, era um pouco mais de três da
madrugada.
Ao contrário de mim, Filippo parecia ter o sono dos
justos. Demorei a perceber que estava quase totalmente
deitada sobre o corpo dele, algo que me agradava.
Levantei-me devagar, tomando cuidado para não
acordá-lo. Desliguei todas as luzes e retornei para os
seus braços, me sentindo melhor para manter os olhos
fechados em meio ao breu.
Cochilei rápido, não sei quanto tempo se passou,
mas acordei assustada ao escutar algo se espatifando
no chão.
— Filippo?! — Senti a sua falta ao meu lado, ouvi
algo se esbarrar contra a parede, um som pesado. O fato
de não conseguir enxergar me levou ao desespero, o
coração acelerou rápido.
— Porra! — ele grunhiu em um tom frustrado.
— Filippo, o que está acontecendo?! — Puxei o
lençol como se fosse um escudo e me sentei, o cérebro
em alerta.
Ouvi mais alguns barulhos que não pude identificar,
entretanto, imaginei que o homem estivesse procurando
alguma coisa desesperadamente.
De repente, as luzes foram ligadas, o clarão me
cegou nos primeiros instantes. Quando enfim consegui
encontrá-lo, Filippo estava encostado na parede, todo
suado e ofegante, com a mão esquerda manchada de
sangue, ainda apoiada contra a tecla do interruptor.
Nervosa, observei a bagunça que ele havia causado
para tentar se livrar da agonia que a escuridão lhe
causava, algo que, eu infelizmente tinha esquecido.
— Não suporto o escuro... — rosnou devagar,
enraivecido, buscando se livrar do mal-estar espalhado
sobre o seu corpo.
Era evidente que não estava bem.
— Me desculpe! — Corri para abraçá-lo, seus
músculos estavam frios, em contrapartida os batimentos
cardíacos eram violentos, ameaçando atravessar a
carne. Suas mãos tremiam, tive que ajudá-lo a voltar
para a cama, pois a suas pernas davam indícios de que
não iriam mais suportá-lo. — Dio mio... — Preocupada,
averiguei o estado da sua mão, o corte não era
profundo, mas o suficiente para continuar sangrando.
Por sorte, encontrei um kit de primeiros socorros.
Filippo permaneceu sentado na lateral da cama, os
cotovelos apoiados sobre os joelhos, a cabeça baixa,
seu sangue gotejando lentamente sobre o carpete.
Prendi o cabelo e me ajoelhei à sua frente, limpei o
seu ferimento, retirei os estilhaços do vidro, ele havia
derrubado o abajur que estava na mesinha ao seu lado
da cama, provavelmente quando tentou ligá-lo.
— Esqueci que você tem medo da escuridão —
comentei baixinho, enfim tendo coragem de olhar dentro
dos seus olhos, momento em que constatei que as suas
pupilas azuis foram tomadas por uma fina camada
cinzenta, o que me assustou.
— Não é medo! — na defensiva, ele foi rápido na
resposta. Fillipo se levantou e me deu as costas,
impedindo que o curativo fosse concluído.
Apesar de toda a situação, testemunhar a forma
altiva que caminhava apenas de cueca, era uma imagem
sensual demais para ser esquecida, entretanto, não
superou a minha preocupação, nem todas as perguntas
que cresciam em minha mente.
Levantei-me e o segui até a varanda, Filippo estava
encostado no guarda-corpo, observando a Sin City [ 1 7 ] , à
medida que a brisa gelada que arrepiava todo o meu
corpo, aparentava não incomodá-lo.
— Então o que é? — indaguei curiosa, às suas
costas.
— Nada que deva saber. — Foi ríspido novamente,
mas dessa vez me irritei.
— Não precisa ser um ogro e descontar a sua raiva
em mim, só estava tentando ajudar. Se não queria falar
bastava dizer, com certeza eu iria entender e respeitá-lo,
ao invés de agir feito um idiota que não sabe lidar com
as suas emoções — disparei, aborrecida.
— Ágata. — Ignorei a sua voz quando lhe dei as
costas. Caminhei pelo quarto, estava determinada a sair.
— Ágata, caralho, não está me ouvindo?! — Filippo
segurou o meu braço, mas me desvencilhei.
— O quê? — Ergui o queixo, pronta para discutir se
fosse o caso.
— Saiba que as únicas emoções com as quais ainda
não sei lidar são aquelas que dizem respeito a você. De
resto, está tudo sob controle! — garantiu, convicto.
Mentiroso.
— Estou vendo. — Cruzei os braços, irônica. O olhei
de cima a baixo deixando claro que não acreditava nas
suas palavras.
Filippo bufou e fechou as pálpebras por um
segundo, voltando a me encarar com a ferocidade que
lhe era de costume.
— Eu sofro de nictofobia [ 1 8 ] — disparou, capturando
a minha total atenção. — É essa merda que gera todas
essas reações em meu corpo e mente quando fico no
breu. Foi gerado por um trauma de infância do qual não
gosto de falar. Isso serve de gatilho e geralmente
quando tenho essas crises fico ainda mais... bruto do
que o normal — confessou, com dificuldade. — Você não
tem nada a ver — explicou, as últimas palavras saíram
em um tom mais brando.
A sua sinceridade me fez relaxar. Filippo esfregou o
rosto, perturbado, por fim se sentou na cama mais uma
vez, retornando para o lugar de onde havia saído.
— Antes que pergunte, sim, já fiz terapia, mas com
o excesso de trabalho acabei deixando isso de lado —
continuou, de cabeça baixa. — As crises tinham
passado, o que me fez acreditar que havia superado,
então parei de tomar os remédios. Irresponsabilidade da
minha parte — reconheceu, olhou para a frente, exausto.
— Agora vou ter que começar tudo de novo. — A ideia
não parecia agradá-lo.
Me aproximei, fiquei novamente de joelhos à sua
frente, segurei o seu rosto, obrigando-o a me olhar.
— Sei o que é isso, também larguei a minha terapia.
Às vezes queremos apenas esquecer que temos um
problema e fingir que somos pessoas normais.
A expressão de Filippo mudou, como se naquele
momento enfim alguém o compreendesse.
— Foi exatamente isso — afirmou, após passar
algum tempo calado. Sua voz continuava rouca, mas as
palavras foram ditas de maneira suave.
Ele esperou que eu terminasse o curativo para
deixar ligada apenas a luz do banheiro, fazendo com que
o quarto ficasse semiescuro.
— O que está fazendo? — indaguei, já deitada.
— Encontrando uma maneira de não incomodá-la.
Sei que é difícil dormir com toda aquela claridade. —
Filippo subiu na cama, sentou-se ao meu lado.
— Não precisa, eu me viro. Não quero que tenha
outra crise.
Ele acariciou o meu rosto.
— Eu não terei — garantiu, mas não foi o bastante
para dissipar a minha preocupação, o medo de vê-lo
sofrendo outra vez.
O que será que gerou o seu trauma?
Deitei de costas para ele, em uma tentativa de lhe
dar espaço, controlando a vontade de voltar para a
proteção do seu corpo. No entanto, para a minha
surpresa, Filippo não quis fazer o mesmo. Ele me
agarrou com firmeza, enfiou a perna musculosa entre as
minhas e ficou de conchinha comigo, eliminando
qualquer espaço entre nós dois.
Foi impossível evitar o sorriso que se formou em
meus lábios, a boa sensação de ser acolhida e,
principalmente, correspondida. Fechei os olhos e
agradeci a Deus por aquele momento.
Saber que um homem tão poderoso e imbatível
como Filippo possuía uma fraqueza, o tornava mais
humano aos meus olhos, e foi ali que tive a certeza de
que o amava.

Acordei sozinha na cama, mas dessa vez tudo


parecia tranquilo. A força com que os raios do sol
atravessavam as frestas das cortinas denunciava que
havia amanhecido. Segui até o banheiro bocejando, logo
após ter notado que Filippo havia organizado a bagunça
feita durante a madrugada.
Escutei o som do chuveiro, apoiei as mãos sobre a
pia e analisei o meu reflexo no espelho. Meu rosto
estava inchado e vermelho do sono, escovei os dentes
ao mesmo tempo em que tentei organizar a rebeldia do
meu cabelo.
Puxei a porta de vidro jateado do box e observei
Filippo tomando banho igual a um deus grego, retirando
a espuma de shampoo do cabelo à medida que
atravessava os fios escuros com as mãos, os levando
para trás. Algo simples, mas que o tornou ainda mais
másculo do que costumava ser.
De lábios entreabertos, contemplei os músculos
esculpidos do seu corpo, os tríceps saltados em seus
braços, a bunda dura e máscula.
Ele sentiu a minha presença e se virou sem pressa,
expondo o pau semiereto que rapidamente enrijeceu
quando a minha pele queimou sob o seu olhar, um
semblante de quem queria me comer.
Enfeitiçada, me aproximei, permitindo que os jatos
d’água que caíam sobre o seu corpo também me
molhassem. Ergui a mão e toquei a camada de pelos
negros que cobriam o seu largo peitoral, cravei as unhas
em sua pele e as arrastei para baixo, apalpei o
tanquinho duro com necessidade, como se quisesse
arrancar pedaço.
Senti as minhas bochechas arderem no instante em
que segurei a sua ereção, masturbei a carne grossa,
esmaguei cada veia. A sensibilidade que aquele contato
causou em meus seios e boceta, provou que era
exatamente daquilo que eu precisava.
De repente, como se não pudesse mais suportar,
Filippo me encurralou contra a parede, agarrou com
firmeza um punhado do meu cabelo e guiou o meu rosto
para perto do seu, obrigando-me a ficar na ponta dos
pés.
— Quero que chupe o meu pau... — grunhiu em
minha orelha, primitivo, feito o maldito animal que era.
Em resposta, tive de gemer, morder o lábio. — Mas
estou com vontade de mamar na sua boceta. — Fechei
os olhos, excitada à medida que a sua glande babada
afundava em minha barriga. — O que quer primeiro?
Incapaz de raciocinar direito, apenas imaginei como
seria sentir toda a sua extensão em minha boca, o gosto
que iria causar.
— Os dois... — respondi, aflita sexualmente, uma
vontade imensa de me entregar a ele.
Então o homem me beijou, engoliu os meus lábios
com desespero e acertou um tapa sonoro em minha
bunda, com uma força de marcar os dedos.
Ele me levou para a cama e me fez deitar sobre o
seu corpo, acomodar o quadril sobre o seu rosto ao
mesmo tempo em que a minha boca ficou a centímetros
do seu pau. Não tive tempo de pensar por onde começar,
Filippo agiu primeiro, abriu as minhas nádegas e
abocanhou a minha boceta, experiente.
Eu gritei, segurei o seu pau pela base, arrastei a
língua na fenda melada e me esforcei para engolir a
cabeça robusta que encheu as minhas bochechas. O
gosto salgado foi o suficiente para me corromper, era
uma perversão deliciosa, nunca havia experimentado
nada parecido.
A parti dali os meus gemidos saíram abafados, a
língua saliente de Filippo fez de mim sua escrava. O
infeliz me castigou, mamou com tanta habilidade e força
que fui incapaz de devolver o prazer na mesma
proporção que o recebia. Ele se apoiou nos calcanhares
para conseguir movimentar o quadril, foder a minha
boca. A nossa diferença de tamanho ajudava nessa
posição.
Seu pau ia e vinha, as veias dilatadas se
arrastavam nos meus dentes, tive que parar em um
momento para poder tossir, estava babada.
Fui egoísta, segui os meus instintos e rebolei na
sua cara, selvagem. A aspereza da sua barba roçando
em meu clitóris me fez perder o controle.
Ergui as costas, apoiei as mãos em seu peito e dei
tudo de mim. Não me importava se o peso da minha
bunda, de alguma forma, o estava sufocando, continuei
me esfregando nele em uma busca desesperada por
prazer.
Filippo não se manteve quieto, não parou. E se
aquela loucura fosse uma guerra, não haveria trégua.
Seus dedos se afundavam na minha carne ao mesmo
tempo em que a sua língua me levou ao orgasmo.
Explodi. Delirei. Fiquei fraca.
Tentei entender como havia chegado tão rápido
naquele nível, mal havia perdido a virgindade e sentia
que já tinha feito muito.
Filippo me fez sair de cima dele e ficar de quatro na
beira da cama. Ele ficou de pé ao lado de fora, acertou a
minha bunda com tapas ardidos, segurou o meu quadril
e me penetrou com força. De uma só vez.
— Aaah! — gritei com o baque, minhas coxas
estremeceram. Afundei o rosto entre os lençóis, a boceta
contraiu.
Não era fácil contê-lo, o infeliz era grande e eu
estava completamente preenchida. Apenas voltei a
respirar quando se moveu, indo e vindo com uma
intensidade que me fez submissa. Já era de
conhecimento público que Filippo era um homem bruto e
dominante, mas essas qualidades pareciam triplicar
quando fazia sexo.
Ele deixava evidente o seu desejo, o fascínio, a
devassidão. Sem dizer uma palavra, provava que ali era
o meu dono e que poderia fazer de mim o que quisesse.
Sua mão agarrou o meu pescoço, nossos corpos se
colaram, seus dentes marcaram o meu ombro e seu pau
puniu a minha boceta, vindo com tudo, acelerado.
Quando achei que não iria aguentar, ele segurou os
meus braços para ter apoio, os puxando para trás
enquanto me fodia como se fosse a última oportunidade
da sua vida. Minha cabeça pendeu para baixo, estava
alucinada, escorrendo entre as coxas.
Não pude resistir, a cada estocada violenta, sentia o
meu orgasmo se aproximar de novo. Filippo aparentou
compartilhar da mesma energia, começou a rugir. Não
demorou para que explodíssemos ao mesmo tempo,
descontrolados. Os jatos do seu esperma quente
chegaram fundo, me inundando.
Nada superaria aquele momento em que o coração
ameaçava rasgar o peito. O momento em que não existia
ar suficiente para respirar.
O homem caiu sobre mim, ofegante e satisfeito.
Beijou as minhas costas à medida que fui atingida pelos
espasmos. Era um momento único e que eu jamais iria
esquecer.
A viagem de volta a Milão foi estressante, porque
tive que passar mais de dez horas de voo sem poder
tocar na Ágata dentro daquele jatinho, ou reivindicá-la
sem que Tomás percebesse alguma coisa.
Fingir que não tive nada com ela em Vegas ou que
não a fodi naquela manhã até que a sua boceta e meu
pau doessem, me irritou a ponto de me deixar mal-
humorado. Não que fosse do meu agrado espalhar pelos
quatro cantos do mundo que estava comendo a filha do
meu melhor amigo, mas não gostava nem um pouco de
ser privado de tocá-la quando bem entendesse.
Por outro lado, Ágata parecia estar melhorando em
sua atuação. Testemunhei a maneira inteligente como se
saiu das perguntas desconfiadas de Tomás, mas me
enfureci com a forma divertida que utilizou para interagir
com ele, algo que parecia confortá-la e, sem que
percebesse, alimentava as esperanças do rapaz.
Cinco semanas se passaram desde então, e aquela
proximidade da Ágata com o Tomás não havia mudado,
assim como a minha certeza de que possuir aquela
menina estava se transformando em um maldito vício!
Havíamos criado estratégias para os nossos
encontros às escondidas. Na firma, tomávamos o
máximo de cuidado para agirmos apenas como chefe e
estagiária, evitando contato ou desconfianças.
Precisávamos de beijos, sexo quente, não de um
escândalo.
— Isso foi muito bom... — Ágata sussurrou contra
os meus lábios, após ter gozado três vezes seguidas.
Era quase meia-noite, estávamos deitados na cama
bagunçada do meu quarto, lugar onde mais
costumávamos foder. Seu corpo mole e aquecido
praticamente se derretia sobre o meu. Era uma das
coisas que me fascinava, tê-la sobre mim, exausta e
satisfeita.
— Eu sou melhor do que bom. — Apertei a sua
bunda, senti as marcas dos tapas que havia lhe dado.
Um meio-sorriso convencido se formou em minha boca.
— Dio Santo! Como se acha! — Ela rolou para o
lado, abandonando o meu corpo.
— Mas é verdade — afirmei, avancei sobre o seu
corpo e a beijei até que implorasse para respirar.
— Isso é o que diz, mas... — Ofegou, com um
sorriso.
— Mas?
— Será que vai conseguir fazer... — hesitou, seu
sorriso se desfez — sexo anal comigo sem que eu sinta
dor? — perguntou em um tom baixinho, foi quase um
sussurro, mas o bastante para me paralisar, enfeitiçado.
— Quer me enlouquecer de vez, menina? —
Esmaguei o seu seio, meus dedos se encheram da sua
carne rosada.
— Será a minha primeira vez... — suas bochechas
coraram, seus olhos se fecharam devido a timidez. —
Ouvi dizer que dói bastante.
Meu pau ganhou vida entre as suas coxas,
pressionado contra o seu abdômen. Todas as suas
reações me enlouqueciam pelo simples fato de serem
naturais, nada forçado. Tomei a sua boca de novo, fiz
com que o seu constrangimento em me fazer aquele
pedido amenizasse.
Ágata era uma garota curiosa descobrindo os
prazeres da vida. E quanto mais eu lhe mostrava aonde
podíamos chegar, mais ela queria experimentar coisas
novas.
Encantado, acariciei a sua face com o dorso da
mão.
— Prometo que farei tão gostoso que você vai
querer repetir — afirmei, mordi o lábio, imaginei mil
loucuras pervertidas. — Estou pronto para começar! —
Me afastei empolgado, desci da cama, precisava buscar
um lubrificante.
— Agora não! — Ágata sorriu, impressionada, se
sentando sobre o colchão.
— Por que não? — Estreitei as sobrancelhas, sem
entender.
— Esqueceu da hora? Tenho que ir para casa, do
contrário meu pai vai desconfiar do trabalho que fui
fazer com as minhas amigas da faculdade. — Ágata se
levantou enrolada no lençol.
— É verdade — as palavras saíram amargas,
espalhou um gosto ruim em minha boca.
Não me agradava o fato dela ter que ir, daquela
situação nos limitar, de não ter o poder para controlar
sequer o tempo em que ficava comigo.
Esfreguei a barba, saí do quarto completamente nu
e me servi de um uísque no bar da sala, precisava beber
quando ficava perturbado. A minha cobertura era inteira
pintada de branco, o porcelanato na mesma cor chamava
a atenção devido aos detalhes marmorizados.
— Ei? O que foi? — Ágata se aproximou,
analisando-me.
— Nada — menti, engolindo o líquido de uma só
vez.
— Me fala, por favor. — Tocou o meu ombro.
Depositei o copo vazio sobre a bancada. — É por que
estou indo embora? Você sabe que vou voltar — me
consolou, mas não serviu de nada.
Segurei o seu rosto e a puxei para perto, minhas
mãos cobriram toda a lateral da sua face enquanto os
meus olhos a encaravam com obsessão.
— Não é apenas por estar indo embora, Ágata. Eu
sou um homem acostumado a ter tudo o que quero e na
hora que quero. Gosto do controle, mas não consigo com
você e, às vezes, isso me deixa louco, entende?
— Eu entendo... — ela respondeu, seu hálito de
cereja me atingiu. — Se pudesse dormiria todas as
noites com você, mas não posso — se justificou, apesar
de não precisar.
Notei a angústia dentro das suas pupilas
esverdeadas, o que provava que sofria da mesma
perturbação que a minha.
Então, eu a beijei. Feito um louco. Na intenção de
me despedir, porém, o tesão falou mais alto, Ágata
correspondeu e acabamos transando de novo, bem ali...
sobre o tapete felpudo da sala.

ÁGATA RUGGIERO
Filippo me acompanhou até o estacionamento e me
beijou várias vezes antes de finalmente me deixar partir.
Quando saí do seu prédio, um abismo se formou em meu
peito, era como se faltasse um pedaço de mim.
A cada vez que nos encontrávamos, demorava mais
a sair dos seus braços porque a verdade era que eu não
queria ir. Não queria me afastar do seu toque, dos seus
beijos nem dos seus abraços ou da sensação de o
receber entre as minhas pernas.
Quando estávamos na firma, era uma tortura fingir
que ele era apenas o meu chefe arrogante e mal-
humorado. Pensava em Filippo a todo instante, queria
saber o que estava fazendo, tinha uma necessidade
absurda de vê-lo, de falar ou lhe tocar, mas não podia,
precisava ser coerente.
Se o nosso envolvimento viesse à tona, seria um
golpe pesado demais para o meu pai. Seu melhor amigo
e sua única filha. A filha a quem ele tanto se apegou
após a morte da esposa e que seria capaz de proteger
com a própria vida devido ao medo de perdê-la.
Giancarlo Ruggiero sempre foi bastante protetor quanto
a mim, e descobrir que eu estava “namorando” para ele
significaria uma maneira de me perder.
Assim que passei pelos portões da propriedade,
estacionei na frente da mansão e tentei chegar às
escadas que me levariam até o meu quarto, entretanto,
não consegui, Giancarlo me impediu:
— Duas e meia da madrugada — sua voz severa
reverberou pela sala, em seguida a luz de um abajur foi
ligada em meio à escuridão, revelando a imagem de meu
pai sentado no sofá, de pernas cruzadas, o semblante
sério.
— Pai? O que ainda faz acordado? — Desisti de
subir os degraus e me esforcei para me aproximar dele,
cada osso do meu corpo parecia congelado.
— Você não atende mais as minhas ligações, quer
que eu me conforme apenas com uma mensagem onde
mente dizendo que foi fazer um trabalho com as suas
amigas...
— Eu não menti! — Apoiei as mãos no topo do sofá
que estava à frente do dele.
Engoli em seco, meu coração acelerou. Papai levou
o copo de água que segurava até a boca e molhou a
garganta, sem pressa e sem parar de me olhar com
severidade.
— Quem é ele? — a pergunta saiu calma e com uma
certeza que me apavorou.
— Não tem ninguém, pai — falei devagar, calculei
cada palavra. — Eu realmente estava com as minhas
amigas. Por que está desconfiando assim de mim? —
Contornei o sofá e me sentei, se permanecesse de pé
certamente iria cair devido ao medo que me afligia.
Papai era um homem esperto, e continuava me
encarando como se já soubesse de toda a verdade.
— Filha, seja sincera com o seu pai — pediu.
— Mas...
— Já tive a sua idade, sei o que está acontecendo
com você. Está se protegendo?
— Pai! — Levei as mãos à lateral do rosto, minhas
bochechas ardiam, tinha certeza de que estava
vermelha. Respirei fundo, tomei coragem. — Não é o
que está pensando — insisti na mentira, precisava
convencê-lo.
— Ágata, olhe para mim — ordenou, firme. Deixou o
copo sobre a mesinha de lado e apoiou os cotovelos
sobre os joelhos, cruzou as mãos. — Posso aceitar tudo
de você, menos mentira. Entendo que nunca
conversamos sobre esse tipo de assunto, mas... porra!
Só restou eu, você e o Enzo! — Respirou fundo, fechou
as pálpebras por um breve instante. — Faz tempo que
notei que está diferente, esperei que me falasse alguma
coisa, quis te dar espaço, mas estou cada dia mais
preocupado. — Ele se levantou, insatisfeito. — Se
demorar demais terei que descobrir sozinho — ameaçou.
Foram suas últimas palavras.
Giancarlo começou a se afastar e eu me desesperei:
— Pai... — A velocidade que utilizei para ficar de pé
me nocauteou. De repente, tudo girou ao meu redor,
minha visão ficou turva, percebi que iria ao chão quando
meu pai me segurou.
— Filha! O que está acontecendo? — Percebi a
preocupação em sua voz.
— Nada... só fiquei tonta. — Coloquei a mão na
testa, pisquei algumas vezes na tentativa de voltar a
enxergar com clareza.
Papai me fez sentar no sofá, foi pegar uma água
para mim e ficou ao meu lado até que eu melhorasse,
acariciou o meu rosto.
— Amanhã vamos ao médico — afirmou.
— Não. — Me afastei de seus braços, ajeitei a
postura. — Deve ser porque estou dormindo pouco, sem
contar que não me alimento direito — cogitei,
procurando uma explicação para aquele mal-estar
repentino.
— Eu te avisei que estava pegando pesado no
estágio, a faculdade te exige muito também. — Giancarlo
segurou a minha mão, ainda estava tenso.
— O senhor sabe que isso é normal, pai. Como
disse, já teve a minha idade e passou pelas mesmas
experiências. — Entrelacei os nossos dedos. — Mas eu
dou conta — garanti, sorrindo.
— Filha... — Seu semblante suavizou.
— Está tudo bem, pai. — O abracei, não queria
olhar em seus olhos enquanto mentia. — Por favor,
acredite em mim. — Meu coração se apertou, doeu. No
entanto, doeria bem mais se ele soubesse a verdade.
— Está certo. — Enfim, ele me correspondeu, seus
braços fortes me cercaram. — Mas não custa nada fazer
alguns exames e conferir se está tudo bem. Até porque,
devido ao problema que teve...
— Não tem nada de errado, falei com a médica há
alguns meses. — Me afastei, Giancarlo não parecia
convencido. — Tudo bem, vou procurá-la de novo.
Prometo.
Ele assentiu, passou a mão em meus cabelos. Por
fim, depositou um beijo sobre a minha testa.
— Vamos dormir, vou acompanhá-la. — Giancarlo
me ajudou a levantar, dessa vez não senti nada, mas
sabia que por dentro tinha algo de errado. E pior, sentia
que meu pai não havia acreditado em nenhuma das
minhas palavras.
Após me reunir com um cliente, deixei o meu
escritório e segui até o departamento do Tomás. Poderia
simplesmente chamá-lo, mas desde que passei a me
envolver com a Ágata, averiguar o que ela estava
fazendo sempre que tinha oportunidade se tornou quase
um hábito.
Antes de atravessar as portas do departamento,
avistei a garota em um diálogo divertido com o infeliz.
Como sempre, Tomás estava dentro do cubículo dela,
encostado à sua mesa, com um olhar encantado que me
irritava.
Nos últimos tempos, a amizade deles estava se
tornando tão séria, que até suco de cereja que ela
gostava ele trazia todos os dias. Sem contar as vezes
em que iam almoçar juntos, isso quando eu não a
“sequestrava” para que tivesse aquele momento comigo,
algo raro, já que o excesso de trabalho, o pouco tempo
que tínhamos e o alto risco de sermos flagrados por
algum conhecido me impedia.
Me aproximei deles, porém, apenas fui notado
quando limpei a garganta e os fuzilei.
— Filippo? Pode falar, quer alguma coisa? —
Surpreso, Tomás ajeitou a postura assim que me viu.
— Sim, que você venha comigo — afirmei, severo,
tendo ainda mais certeza do que estava prestes a fazer.
— Certo — confirmou, contornando o cubículo para
vir ao meu encontro.
Encarei Ágata uma última vez, ignorei a sua
expressão sapeca, ela adorava me provocar e agia como
se não tivéssemos fodido ontem feito dois coelhos.
Levei Tomás até um escritório ainda não utilizado,
completamente montado e bem longe do departamento
no qual trabalhava.
— Nossa... — Ele ficou impressionado, se
aproximou do paredão de vidro com uma vista digna de
filme. — Eu ainda não tinha visto esse escritório. —
Voltou a olhar para mim. — Quem trabalha aqui?
Guardei as mãos dentro dos bolsos antes de
respondê-lo:
— A pergunta certa é: quem vai trabalhar aqui? —
respondi, com um olhar sugestivo.
— Não... — Tomás sorriu, entendendo o recado. —
Sério? Esse... esse é o meu...?
— Sim, Tomás, a partir de agora esse será o seu
escritório. Você não será mais um Associado, estou te
nomeando Sócio-Júnior. — Sorri.
Ao ver a felicidade inundando o rosto do rapaz,
soube que estava resolvendo dois problemas de uma só
vez: primeiro, dei a ele o que sempre buscou e
verdadeiramente merecia porque era um ótimo
advogado. Segundo, o tiraria de uma vez por todas de
perto da Ágata.
Ou era isso ou jogá-lo pela janela. Para manter a
minha boa reputação seria melhor a opção menos
violenta.
— Passei a vida toda esperando por isso. Caramba,
Filippo, não sei o que dizer! — Ele não conseguia
acreditar.
— Não diga nada, apenas aperte a minha mão e
trate de voltar ao trabalho. — Ofereci a mão a ele, nos
cumprimentamos.
— Grazie. Vou terminar alguns serviços e depois
faço a mudança!
Assenti, então o deixei sozinho. Ao tomar o caminho
de volta para o meu escritório, me deparei com a Emma
nervosa marchando em minha direção.
— Eu não sei como aquela mulher conseguiu entrar
aqui, já pedi que se retirasse, ameacei chamar os
seguranças, mas ela falou que se isso acontecesse faria
um escândalo! — disparou, não precisou citar o nome da
pessoa para que eu soubesse de quem se travava.
— Deixa que eu resolvo — garanti, assenti de
maneira ríspida e continuei, Emma veio logo atrás de
mim.
Uma mulher de cabelos castanhos curtos usando um
vestido preto envelhecido me aguardava na porta da
minha sala. Greta era a última pessoa na face da Terra
que eu desejava ver, parecia cansada, carregava um
semblante preocupado, e apesar de ser apenas dez anos
mais velha do que eu, a infeliz ainda continuava sendo
bonita.
— Que merda você está fazendo aqui? — grunhi,
revoltado. Olhei ao redor para ter a certeza de que
ninguém além de Emma nos observava.
— Preciso falar com você, e dessa vez não aceitarei
que me expulse como se não fosse alguém importante —
argumentou, ousada como de costume.
Greta jamais abaixava o maldito nariz empinado,
sempre achando que ainda possuía algum poder sobre
mim. Sorri, em deboche.
— Você nunca foi importante pra mim — deixei
claro, meu maxilar enrijeceu a ponto de doer.
— É mentira e você sabe disso, querido. — Fechei
os olhos por dois segundos, irritado. — Filippo, eu não
vim aqui para brigar, preciso de um advogado. O caso é
sério.
— Vá embora agora ou eu te arrasto à força e não
duvide da minha capacidade de fazer isso. — Dei um
passo em sua direção, de queixo erguido, olhar
assassino.
Apesar da fúria correndo em meu sangue, consegui
manter a conversa civilizada, não seria burro a permitir
que alguém da firma desconfiasse que estava diante de
uma inimiga, alguém que cavou um buraco fundo em
meu peito impossível de ser tapado.
— Filippo, acalme-se. — Emma se aproximou ainda
mais, forçando um sorriso.
Os olhos de Greta foram cobertos por uma frágil
camada líquida, algo que não me comoveria.
— Se você me ajudar juro que nunca mais vou te
procurar. Eu desapareço — prometeu, mas havia
passado da época em que eu acreditava nas suas
promessas.
— Eu não vou te ajudar, procure outro advogado,
um que seja tolo o bastante para confiar em você. Agora
saia da minha frente — rosnei baixo, os punhos
cerrados.
Greta assentiu, evidentemente inconformada, e
amarga. As pupilas escuras antes molhadas, haviam
secado com rapidez. Ela deu alguns passos para longe,
mas não se afastou por completo, virou e me encarou
uma última vez:
— Você me tirou tudo, Filippo! E estou prestes a
perder a migalha que me restou. Era o mínimo que
poderia fazer! — grunhiu, sua pele parecia arder de
ódio, levando embora a imagem de pobre coitada que
tentou passar em um primeiro momento.
— Se não se importa, vou acompanhar a senhora
até o elevador! — Emma se interpôs à minha frente,
como um escudo, e obrigou Greta a partir.
Só então respirei de verdade, mas tive dificuldade
em puxar a primeira lufada de ar. Entrei em minha sala,
tonto, senti o coração desacelerar, a pele esfriou, estava
tendo um maldito ataque de pânico! Forcei as minhas
pernas a se moverem, com muito custo alcancei o
frigobar, bebi um pouco de água. Meu cérebro foi
invadido com várias lembranças do passado e me
atormentou de tal maneira que achei que iria cair.
— Filippo! Filippo, você está bem? — Emma entrou
no escritório. A princípio, a sua imagem pareceu um
vulto e a sua voz estava distante.
Respirei fundo, fechei os olhos. Aos poucos busquei
me acalmar.
— Sim, estou — respondi, minha testa estava
molhada devido ao suor.
— Eu vou ligar para a sua terapeuta e depois
desmarcarei todos os seus compromissos. Está mais do
que na hora de você voltar! — Emma correu até a minha
mesa e fez a ligação que evitei por vários meses.
Ela tinha razão, precisava retornar com a terapia.

Após sair do consultório e entrar no bentley que me


aguardava na porta com o motorista, fiquei surpreso por
notar que havia anoitecido, eram quase vinte horas.
Minha terapeuta se estressou com a insistência de
Emma em marcar uma sessão de urgência, no entanto,
ela conseguiu me convencer a falar sobre tudo o que
havia acontecido desde que a encontrei pela última vez.
Olhei o celular que esteve desligado nas últimas
horas, havia várias mensagens, e algumas delas eram
da Ágata. Em resumo, ela queria saber o que havia
acontecido, o motivo do meu desaparecimento inusitado
durante a tarde e sem nenhuma explicação.
Era mesmo de se desconfiar, já que tínhamos o
costume de trocar mensagens todos os dias e um dos
principais assuntos se referia ao momento em que
sairíamos do trabalho para nos vermos.
Não pensei duas vezes, fiz a ligação:
— Oi! O que aconteceu? Onde estava? Fiquei
preocupada — Ágata disparou assim que me atendeu.
Era incrível como ouvir sua voz me acalmava, por mais
que estivesse tensa como naquele momento.
— Preciso te ver. Está na faculdade? — perguntei,
estava necessitado do seu corpo e do seu cheiro, mas
principalmente da sua boceta.
— Não fui a aula, ainda estou na firma, estava
esperando você aparecer — confessou, aquilo surtiu um
efeito positivo em meu peito.
— Ágata... — repreendi.
— Emma não me disse nada, inventou uma desculpa
que não acreditei, então resolvi aguardar. Tomás
também me pediu para ajudá-lo a organizar o seu novo
escritório, usei isso como desculpa...
— Como é que é? — Ouvir aquela informação foi
como receber uma facada. Ajeitei a postura, todo o meu
corpo enrijeceu sobre o banco de couro.
— Já estamos quase acabando, não precisa se
preo...
— Caralho, Ágata, não acredito nisso! — reclamei,
emputecido.
— Filippo, está tudo bem — ela garantiu, calma, em
uma tentativa inútil de amenizar a situação. — Só
estou... ah, ele está voltando. Tenho que desligar. Daqui
a pouco retorno. — Diminuiu o tom nas últimas palavras.
Por fim, desligou na minha cara.
Incrédulo, mal consegui raciocinar. Ordenei ao
motorista que me levasse à firma, estava determinado a
acabar com aquela palhaçada!
Assim que as portas do elevador se abriram, me
deparei com uma Gagliardi-Ruggiero completamente
vazia. Poucas luzes permaneciam ligadas no corredor
pelo qual marchei feito um trator desgovernado, não
havia sinal de pessoas em qualquer dos escritórios,
exceto no que eu havia acabado de dar a Tomás.
Desacelerei o passo e respirei fundo antes de
entrar, deparando-me com Ágata sozinha, de quatro no
chão, apanhando alguns papéis que provavelmente havia
derrubado.
A visão da sua bunda apertada na saia lápis me
paralisou, fui pego de surpresa, não esperava encontrá-
la em uma posição tão sensual e que levou apenas um
segundo para me esquentar.
— Filippo? — Ela notou a minha presença e se
levantou, colocou os documentos sobre a mesa.
— Cadê ele? — Dei um passo à frente logo depois
de fechar a porta, minha preocupação era se Tomás
também estava presente.
— Quem? Tomás? Ele acabou de sair, recebeu uma
ligação dos pais, teve que resolver uma urgência —
explicou, tentando entender o motivo da minha ira, como
se não fosse óbvio.
— Deixe-me adivinhar, você resolveu continuar aqui
para terminar de ajudá-lo — concluí, severo, caminhei
em sua direção de queixo erguido.
— Na verdade, não. É que deixei os papéis caírem
e... o que está acontecendo? — Ela estreitou as
sobrancelhas.
— O que está acontecendo é que basta eu dar as
costas para você deixar o Tomás se aproximar! Já
conversamos a respeito, não é uma boa ideia! — Neguei
com a cabeça, parando à sua frente, minha sombra a
cobrindo devido ao meu tamanho.
— Sim. Conversamos. Eu te falei que além do
Tomás ser apenas meu amigo, nós também trabalhamos
juntos! — Ergueu o indicador, explicando. — Não há
como evitar a nossa proximidade que é estritamente
profissional e você sabe.
— Ágata... — Segurei a sua cintura, firme,
mergulhei em seus olhos que tanto me enfeitiçavam. —
Quantas vezes vou ter que te dizer que o Tomás mantém
esperanças com você? Eu não gosto... que fique sozinha
com ele. — As últimas palavras foram emitidas em um
grunhido áspero, o que fez com que a garota
umedecesse os lábios, ficasse na ponta dos pés,
segurasse o meu rosto e me calasse com um beijo de
tirar o fôlego.
Simples assim.
— Fiquei com saudades... — De olhos fechados,
Ágata sussurrou contra a minha boca, respirando com
dificuldade após perder o ar. — Por que sumiu de
repente? Onde esteve? — Suas mãos atravessaram os
meus cabelos, espalmei a sua bunda e esmaguei a sua
carne entre os dedos, obrigando-a a gemer.
Agarrei um punhado do seu cabelo, chupei a sua
língua, engoli os seus lábios, pressionei a minha ereção
contra o seu abdômen até que tivéssemos a certeza do
que queríamos fazer.
— Quero a sua boceta. E quero agora — rosnei,
possessivo.
Ágata tinha o poder de me tornar um homem
descontrolado e os ciúmes que me causava de propósito
só fazia de mim um animal selvagem, aquele que
precisava marcar o seu corpo como se fosse o meu
território, fruto da minha posse. Era uma necessidade
feroz, uma fome que havia se intensificado devido aos
últimos acontecimentos.
Ela não precisou dizer uma palavra para que eu
identificasse o seu olhar em direção à fachada de vidro
do escritório, onde desci as persianas para que
tivéssemos a privacidade que precisávamos. Aproveitei o
momento para girar a chave e trancar a porta, então
peguei a garota no colo e a coloquei sentada sobre a
mesa.
Com um único movimento, ergui a sua saia à medida
que Ágata sequer conseguia desgrudar da minha boca.
Nossos beijos eram movidos pelo desespero, mas tive
que afastá-la, deitá-la sobre a mesa, segurar as suas
coxas com força e abri-las o máximo possível, de
maneira que a sua pequena calcinha ficasse comprimida
contra a sua boceta.
Um olhar perigoso foi o suficiente para fazê-la
gemer assim que inclinei o rosto sobre o seu clitóris
inchado, rocei os dentes sobre a fina camada do tecido.
Ágata já estava babada, a infeliz mais uma vez
provava o quanto era sensível, a facilidade com que
ficava pronta para mim.
Então eu literalmente mordi a sua carne, cravei os
caninos na sua pele vermelha antes de arrastá-los até a
calcinha e rasgá-la, fazendo com que ficasse
desprotegida. Em seguida, usei a língua para lamber
entre os grandes lábios, do seu delicioso cu até o
clitóris. Perdi as contas de quantas vezes repeti aquele
movimento, de olhos fechados, ensandecido, mas
terminei sem permitir que a infeliz gozasse.
Ágata teve que morder o punho para não fazer um
escândalo, apesar de derrubar o que havia sobre a
mesa, desorganizar tudo. E ao notar que eu iria me
afastar, ela me puxou pelos cabelos, implorando por
mais, derramando o seu pré-gozo na minha língua,
porém, fui resistente.
Com o corpo queimando por dentro do terno, sem
poder esperar mais um minuto que fosse, abri o zíper da
calça e tirei o pau para fora, sentindo o seu peso em
minha mão. Me masturbei apenas para provocá-la e
rocei a carne endurecida sobre o seu clitóris, a cabeça
larga ultrapassou o seu umbigo, uma prova do que
estava prestes a fazer.
Me acomodei entre os seus lábios vaginais melados
e a penetrei de uma só vez, da ponta até a base. Minhas
bolas bateram contra as suas nádegas em um golpe
forte, o que mostrava que eu havia a preenchido.
Fechei os olhos por um instante, arquejei com todas
aquelas contrações, o formigamento intenso que a nossa
união causava.
Ágata arqueou as costas, aproveitei para erguer a
sua blusa e abrir o seu sutiã. Massageei os seus seios,
arrastei uma das mãos para tapar a sua boca e evitar
outro grito, puxei o meu quadril e voltei com tudo, um
baque violento ao ponto de estremecer a mesa.
A menina se contorceu, mordeu os meus dedos,
seus gemidos foram abafados. Ela gostava assim, forte,
sem delicadeza, e era o que eu sabia fazer. Então a fodi
com um desespero que apenas a sua boceta conseguia
me causar. A infeliz me engolia até o fim, apertada de tal
maneira que me obrigava a gemer.
Apertei as suas bochechas quando Ágata quis gritar,
segurei uma de suas coxas e continuei acelerado,
testemunhando cada segundo da nossa loucura, das
chamas que nos consumiam.
Ela não conseguia tirar os olhos de mim, delirava
sob o meu poder, me pertencia. Era como se
soubéssemos que nos completávamos, que apenas
precisávamos continuar até que explodíssemos em um
orgasmo inesquecível. E foi o que aconteceu. Ejaculei
quente, espesso, fui o mais fundo que pude e perdi as
energias.

ÁGATA RUGGIERO
Ao chegar em casa e entrar no banheiro,
testemunhei as minhas coxas meladas, o esperma de
Filippo ainda sujava a minha pele, no entanto, estava
acostumada. Tomei um banho relaxante antes de colocar
um pijama e ir até a cozinha, onde Enzo preparava algo
sobre a ilha.
— O que está aprontando, feioso? — Me aproximei,
sentindo o cheiro da pasta de amendoim que ele usava
para rechear o seu sanduíche.
— Sanduíche com pasta de amendoim! —
respondeu, empolgado. — Mas não adianta pedir, está
acabando e eu não vou te dar. — Protegeu o prato
sabendo que eu poderia simplesmente tomar, como fazia
quando queria provocá-lo. No entanto, daquela vez a sua
atitude não seria necessária, o odor do amendoim
embrulhou o meu estômago.
— Nossa, tem certeza que essa pasta não está
vencida? — perguntei, ficando enjoada.
— Claro que não, veja! — Ele aproximou a lata de
mim, o que piorou a minha situação.
— Não... — me afastei e cambaleei até a pia mais
próxima, onde vomitei o que havia comido mais cedo.
— Feiosa? O que está acontecendo? — Enzo largou
a lata sobre a ilha e veio tentar me auxiliar, apavorado.
Ergui a mão em uma tentativa de impedi-lo de se
aproximar, tendo em visto que o cheiro do amendoim
também estava nele, a pasta melada na ponta dos seus
dedos.
Vomitei outra vez, me senti fraca.
— Vou chamar o papai! — Ele fez menção em sair
da cozinha.
— Não! — Ofeguei, o paralisando. — Não faça isso.
Não quero deixá-lo ainda mais preocupado. — Abri a
torneira e me lavei, devagar. — Não foi nada... deve ter
sido alguma coisa que comi e não me fez bem. — Era
mais uma desculpa que não me convencia.
Tinha mesmo algo de errado.
— Acho que você vomitou porque sentiu o cheiro da
pasta de amendoim. — Enzo voltou a se aproximar,
observando-me atentamente como se a sua mente
inteligente cogitasse alguma coisa. — Papai disse que a
mamãe não suportava sentir o cheiro de amendoim
quando estava grávida — disparou, como se algo se
encaixasse dentro da sua cabeça.
— Você está louco? — Fiquei horrorizada. — Pare
de falar besteira! — A maneira como os meus batimentos
cardíacos aceleraram fez com que o meu cérebro ficasse
em alerta.
— Não estou dizendo que você está grávida, irmã,
só lembrei que...
— É melhor encerrarmos esse assunto! — Saí da
cozinha depressa, corri de volta para o meu quarto,
entretanto, passei mal ao chegar no topo da escada,
minha visão embaçou mais uma vez.
Com bastante esforço, alcancei a minha porta e
entrei, deitei na cama e levei alguns minutos para me
recuperar. Aqueles sintomas não eram os mesmos que
senti quando adoeci pela primeira vez, mas não era
possível que a ideia do meu irmão fosse verdade, apesar
que... a minha menstruação estava atrasada, lembrei.
Minha cabeça doeu e ficou tão pesada que parecia
ser espremida por meus pensamentos. Nada mais fazia
sentido. Rolei na cama a noite inteira, sequer consegui
dormir e quando amanheceu decidi que precisava ter
certeza.
— Não vai ao estágio hoje, filha? — Papai
perguntou assim que assistiu eu me sentar à mesa. Ele
estava na ponta e Enzo do outro lado, à minha frente.
— Não, vou ver a minha médica — respondi, mas
não consegui desgrudar os olhos do meu irmão, estava
tentando me certificar de que ele não havia falado nada
do que tinha acontecido na noite anterior.
— Sentiu mais alguma coisa? — Olhei para o meu
pai, não sabia se ele estava me testando ou se
realmente não sabia de nada, o nervosismo que me
corroía por dentro e que eu tentava esconder não
permitia.
— Não, mas prometi ao senhor, não prometi? —
respondi, observei Enzo continuar bebendo o seu café
em silêncio, testemunhando a minha mentira.
— Grazie. — Giancarlo assentiu com um meio-
sorriso e apertou a minha mão.
Assim que terminamos de comer, ele saiu com o
Enzo e eu fui à farmácia mais próxima, após enviar uma
mensagem a Filippo avisando que não compareceria na
firma porque faria exames de rotina. Filippo quis saber
se estava tudo bem, confirmei dizendo que sim, aquela
loucura de gravidez não tinha a menor possibilidade.
Assim que retornei ao meu quarto, fui ao banheiro
com o teste, li as instruções e fiz o que tinha que fazer.
Não precisei esperar muito, a resposta veio rápida na
forma de duas linhas rosadas, a cor bem forte e viva,
quase vermelha.
Meu cérebro entrou em parafuso. Boquiaberta, não
consegui me mover. Tapei a boca, meus olhos foram
inundados por lágrimas, esperei que uma daquelas
linhas desaparecesse, mas não aconteceu.
Eu estava grávida.
Fiquei surpreso quando Emma avisou que um dos
maiores empresários da Itália queria marcar uma reunião
comigo. Pasquale Lombardo, era um magnata na casa
dos setenta anos conhecido por ser arrogante e exigente
nos negócios tanto ou mais do que eu, e até onde sabia
vivia trocando de advogado, já que costumava forçá-los
a burlar a Lei para que fizessem as suas vontades.
— Senhor Lombardo, seja bem-vindo, em que posso
ajudá-lo? — cumprimentei-o e apontei para a cadeira do
outro lado da minha mesa, onde o homem de cabelos
grisalhos se sentou.
— Filippo Gagliardi, estou ansioso para começar a
pagar os seus honorários — ele disparou, logo depois de
cruzar as pernas com certa classe, um sorriso de quem
podia tudo tomando o seu rosto.
— Até onde sei ainda não assinamos nenhum
contrato. — Recostei em minha cadeira, à vontade.
— Não seja tolo, você sabe quem sou e também
entende que se estou agora na sua sala é porque o
escolhi para ser o meu advogado. Preciso de um homem
de coragem. — Ergueu uma sobrancelha, momento em
que, sem perceber, denunciou que estava necessitado,
não de um advogado, mas sim de um que fosse capaz de
fazer o trabalho sujo sem questioná-lo.
— Acertou, Pasquale, eu sou realmente corajoso,
mas não tolo e nem de longe me interessa fechar
qualquer negócio com você — disparei, sem rodeios.
O homem foi pego de surpresa, algo semelhante a
ter levado um tapa na cara. Muito provavelmente alguém
sequer tinha coragem de lhe negar alguma coisa.
— Gostei do seu senso de humor. — Balançou o
dedo indicador em minha direção, sorrindo, levando as
minhas palavras como uma piada. — Agora vamos falar
de negócios.
— Acho que ainda não entendeu, então deixe-me
explicar: — apoiei os cotovelos sobre a mesa, cruzei os
dedos e o encarei com seriedade — não sou como os
outros advogados, não penso apenas na quantidade de
dinheiro que os meus clientes podem me oferecer. Não
trabalho em meio à podridão e, Pasquale, com todo
respeito, é de conhecimento público a sujeira que você
faz quando quer algo.
— Como se atreve?! — O homem se ergueu,
irritado.
— Essa pergunta seria minha, você entra no meu
escritório me tratando como se eu fosse o seu
empregado. — Me levantei, calmo, porém, sem um pingo
de paciência para alguém como ele. — Mesmo que
algum dia tivesse a sorte de trabalhar comigo, eu seria o
seu parceiro de negócios, não um pau mandado.
— Algum dia, Sr. Gagliardi, vai se arrepender do
que disse! — rosnou ao apontar o dedo para mim. — E
de ter me tratado como se eu fosse um qualquer.
Apoiei-me sobre a mesa e me inclinei em sua
direção, o olhando do alto, já que tínhamos uma boa
diferença de tamanho.
— Eu não respondo a ameaças, Pasquale. E se não
quiser sair do meu escritório ameaçado também, é
melhor se retirar agora! — grunhi, enfurecido.
O velho bufou e, enfim, me deu as costas,
desaparecendo. Sentei-me estressado, pensando que às
vezes o inferno enviava pessoas às nossas vidas apenas
para nos irritar de graça, não era possível!
Tentei voltar ao trabalho no notebook, mas antes
conferi se havia alguma resposta da Ágata à minha
última mensagem, na qual perguntei se tinha feito os
exames e se estava tudo bem. Ela ainda não havia
respondido, sequer ficou online desde a última vez.
Como se adivinhasse que eu estava pensando em
sua filha, Giancarlo entrou em minha sala, pescando o
olhar interessado de Emma e de outras duas
funcionárias que conversavam com ela em seu cubículo.
— Tem um minuto? — Ele fechou a porta, com cara
de poucos amigos.
— Claro. — Apontei para a cadeira disponível, onde
o homem se sentou.
— Bom, Filippo, vou direto ao ponto: sabe me dizer
se está havendo alguma coisa entre o Tomás e a Ágata?
— disparou. Seu olhar desconfiado provava que aquela
ideia o perturbava.
— Até onde sei, nada. Por que a pergunta? —
indaguei, incomodado, tentando encontrar uma posição
mais confortável em minha cadeira.
— Desde aquela viagem dos dois à Vegas que a
minha filha está diferente. Algo mudou. Tenho quase
certeza que ela está saindo com algum cara, e como os
dois não se desgrudam...
— Você deduziu que fosse ele — completei,
incomodado por ele, por estar escondendo aquele
segredo de um grande amigo.
— Ontem ela deixou de ir à faculdade para ajudá-lo
a organizar o novo escritório. Eles costumam almoçar
juntos, trabalhavam lado a lado e teve aquela viagem
para Vegas. — Giancarlo suspirou, e a maneira como
esfregou a sua barba cerrada denunciava que aquela
possibilidade também o incomodava.
— Olha, Giancarlo...
— Se viu alguma coisa, preciso que me diga. —
Apoiou os braços sobre a mesa e aproximou o rosto.
— Não vi nada, passei mais tempo com o Mancini,
porém, os dois estavam sempre por perto — menti,
desconfortável. Pensei como seria se eu estivesse no
lugar dele. E era óbvio que sequer passava por sua
cabeça que o cara com quem a sua filha estava saindo
estava bem à sua frente.
Giancarlo se recostou em sua cadeira,
decepcionado.
— Mas, não estou entendendo, se a Ágata tivesse
alguém... isso seria um problema? — Quis testá-lo,
cruzei as mãos sobre a mesa.
Giancarlo demorou a me encarar, era como se
procurasse a melhor resposta.
— Na verdade, eu não sei. — Cruzou as pernas, seu
pé balançava impaciente. — Ela é a minha única menina,
compreendo que agora é adulta e que tem as suas
necessidades, mas queria estar preparado... de alguma
maneira. — Senti a sua agonia, o compreendi e me senti
ainda mais filho da puta por isso. — Faz tempo que
desconfio, esperei que me contasse porque Ágata nunca
foi de me esconder nada, mas o tempo passou e ela
continua escondendo e se tem que esconder é porque
existe um problema.
Era verdade, o problema era eu, a amizade entre as
nossas famílias, a diferença gritante entre as nossas
idades.
— Eu entendo — foi o que pude responder, meu
maxilar enrijeceu.
— Era isso, vou voltar ao trabalho. — Giancarlo se
ergueu, o seu olhar de pai preocupado me atingiu mais
fundo do que deveria.
Eu havia prometido à Ágata que não iria contar
nada, mas naquele momento percebi que não poderia
permitir que aquilo continuasse. Conhecia bem o
tamanho da ferida que um maldito segredo poderia criar,
e não era nada bonito.
— Giancarlo, espere. — Me levantei, estendi a mão
em sua direção, fazendo com que se virasse. Giancarlo
esperou, mas a minha voz não saiu, raciocinei e percebi
que disparar um segredo daquela magnitude não seria
prudente. — Talvez… Ágata queira apenas um pouco de
privacidade e está esperando o momento certo para te
contar — falei, com cautela.
Minhas palavras pareceram fazer efeito em sua
cabeça, o seu semblante preocupado suavizou.
— Você é pai e tem todo o direito de estar
preocupado, mas a sua filha é uma das garotas mais
responsáveis que já conheci — continuei, guardei as
mãos dentro dos bolsos. — Se você estiver certo e ela
estiver conhecendo alguém, talvez ainda não se sinta
preparada para compartilhar, entende?
— Tem razão… — Giancarlo abaixou o olhar, senti o
peso da sua mente tomada por milhares de
pensamentos. — Talvez eu esteja ansioso demais e a
pressionando sem perceber. — Ele voltou a me encarar,
satisfeito. — Grazie, Filippo…
— Com licença. — Emma entrou no escritório, nos
interrompendo. O seu olhar estava em alerta, o que
mostrava que havia algo de errado. — Desculpe, Filippo,
mas é urgente.
— Emma, só um momento, estou conversando com o
Giancarlo.
— É urgente mesmo. É aquela mulher outra vez.
Greta, pensei. Giancarlo sorriu, provavelmente
pensando besteira.
— Você não muda mesmo, não é? — comentou,
balançando a cabeça, achando graça.
— Não, Giancarlo. Não é o que está pensando. —
Contornei a mesa, me aproximei dele.
— É a Greta que resolveu surgir dos mortos para me
incomodar — contei, era um dos podres da minha vida
dos quais meu amigo tinha conhecimento.
O seu sorriso morreu.
— Greta? Não acredito. — Giancarlo desviou o olhar
de mim para a Emma. — Onde ela está?
— Lá embaixo, ameaçando fazer um escândalo se o
Filippo não aparecer. — Emma cruzou os braços,
indignada.
— Eu vou cuidar disso — garanti a Giancarlo.
— Sei que vai. — Ele deu dois tapinhas em meu
ombro. — Depois me conte como foi. — O homem se
preocupava comigo, era um amigo de verdade, mas a
sua amizade não estava sendo devidamente
correspondida por mim, não quando eu escondia o que
estava fazendo com a sua filha.

O novo embate com a Greta me obrigou a procurar


minha terapeuta antes da data marcada. Tive outro
ataque de pânico, os remédios que estava tomando não
serviam de nada porque mais forte que eles eram as
minhas malditas lembranças, recordações perversas de
um passado que ainda me afetava e que, em hipótese
alguma desejava reviver.
Acreditei que aquela perturbação me incomodaria
pelos dias seguintes, mas o que me incomodou de
verdade foi notar o distanciamento da Ágata.
Desde que retornou ao trabalho, ela não era mais a
mesma, respondia as minhas mensagens de maneira
vazia, além de me evitar na firma, usando do protocolo
chefe e funcionária como um escudo e não mais como a
desculpa para esconder que nos envolvíamos.
Tinha algo de errado.
Três dias foram o suficiente para a minha paciência
se esgotar, estava cansado daquele joguinho ridículo e
se Ágata estivesse fazendo aquilo apenas para me
irritar, tinha conseguido!
Devido ao excesso de trabalho, não consegui
impedir que ela saísse da firma sem que falasse comigo.
Decidi que não enviaria mais mensagens, a pegaria de
surpresa quando saísse da faculdade, e foi o que fiz!
Assim que a garota deixou o prédio da universidade
após a sua última aula, se deparou comigo a esperando
praticamente na porta, de pé ao lado do carro, com as
mãos nos bolsos do sobretudo preto que usava por cima
do terno e um semblante nada amigável. Era evidente
que eu estava puto.
Ágata engoliu em seco antes de se aproximar,
nervosa. Ela usava um lindo vestido azul-marinho de
tecido leve, que contornava perfeitamente o seu corpo,
mas não cobria direito as suas pernas, o que me fez
lembrar que ainda gostava de se vestir como uma
estudante quando não estava estagiando.
— Filippo? O que faz aqui? — Apertou a alça da sua
mochila em seu ombro, tensa.
— Entra — ordenei, abrindo a porta traseira do
carro.
— Filippo, eu... — tentou me evitar, outra vez.
— Ágata, eu não estou pedindo — ordenei outra
vez, deixando claro que negar não seria uma opção. A
minha voz saiu dura tanto quanto o meu pau, o sangue
correndo em cada veia devido ao tesão e a raiva que
aquela infeliz me causava.
A contragosto, ela me obedeceu, eu a segui e assim
que fechei a porta, ordenei ao motorista que nos levasse
para dar uma volta.
Encontrar Filippo agora era a última coisa que eu
queria fazer, apesar de um por cento da minha
consciência afirmar que seria a mais correta. Aqueles
três dias em que o evitei não foram fáceis, mas
necessários. Precisava de tempo para pensar, para
continuar surtando e tentar planejar qual seria o próximo
passo.
Naquela manhã em que fiz o teste de gravidez, tive
a sensação de que iria morrer. Incrédula com o
resultado, voltei à farmácia e comprei mais três testes
de marcas diferentes, todos deram a mesma coisa:
positivo.
No entanto, ainda não acreditava no que meus olhos
viam, mandei as fotos dos resultados para a Dra. Lívia,
contei o que estava acontecendo, sequer precisei pedir,
ela desmarcou todos os seus compromissos e me
atendeu com urgência.
Devido ao meu histórico, tive que fazer mais de um
exame, Lívia queria ter a total certeza de que eu
carregava mesmo um bebê e não outra coisa:

— E então, doutora? Qual é o resultado? — Engoli


em seco, não conseguia parar de esfregar as mãos,
ansiosa e nervosa ao mesmo tempo.
Sentada do outro lado da mesa, a mulher de jaleco
branco terminou de olhar os documentos que a sua
assistente havia acabado de lhe entregar e me encarou,
perplexa:
— Querida, você está mesmo grávida — disparou,
como se não pudesse acreditar.
— Mamma mia! — Me levantei, chocada.
— Ágata, calma! — Ela tentou se aproximar, mas
não permiti.
— Você disse que uma gravidez jamais seria
possível! — Apontei o dedo na sua cara, lágrimas
molhavam o meu rosto.
— Sim, é verdade, mas tem coisas que a medicina
não consegue explicar. — Lívia tentou me acompanhar à
medida que as minhas pernas não paravam quietas, iam
de um lado a outro, trêmulas. Senti que a qualquer
momento entraria em colapso! — É impossível uma
mulher sem os ovários engravidar de modo natural, mas
com você aconteceu. Aconteceu e pode ser considerado
um milagre...
— Um milagre? — Arqueei as sobrancelhas,
indignada. — Doutora, pela lógica uma mulher sem os
ovários também não poderia menstruar...
— Mas nós lhe explicamos que a menstruação devia
ser fruto do seu remédio para reposição hormonal...
— Encontramos um resquício de útero meses atrás
e ainda assim, pela lógica, eu não poderia ter um filho!
— contestei, frustrada, chorando e soluçando entre as
palavras.
— Ágata, durante dois anos não surgiu nada e
quando aconteceu tinha apenas 1,2 centímetros...
— Não importa! — exclamei, movimentei a mão,
farta. — Confiei em tudo o que a senhora e os outros
médicos dessa clínica disseram! Não me protegi e
agora... estou grávida. — Olhei para a minha barriga, as
últimas palavras saíram com dificuldade. — O que o meu
pai vai achar? — Enxuguei os olhos.
Além de Giancarlo havia o Filippo, aquele que mais
me dava medo se descobrisse a verdade.
— Querida... — Doutora Lívia me abraçou,
consolando-me. A correspondi.
Conversamos por mais um tempo até que fui
embora, arrasada, ciente de que não conseguiria
esconder aquele segredo por muito tempo.

Filippo me encarou com um olhar severo assim que


o seu motorista entrou na rodovia, nos afastando da
faculdade.
— Quer me explicar por que diabos está me
evitando, caralho?! — interrogou, mal me dando espaço,
aquele banco agora parecia pequeno demais para nós
dois.
— Não sei do que está falando — menti, sequer
conseguia olhar em seus olhos questionadores e tudo o
que mais queria era fugir dali, se possível até mudar de
país, pois lembrava-me muito bem que no início de tudo
aquilo Filippo deixou bem claro que não pretendia correr
o risco de me engravidar.
— Ágata, essa não é a hora de brincar. — Filippo
roçou o seu polegar direito no queixo, impaciente e
exigente. — Você está me ignorando por três dias, mal
responde as minhas mensagens. Acha mesmo que eu
permitiria que continuasse se comportando assim sem
me dizer nada?
— Talvez... — apertei a mochila sobre as coxas,
senti a aflição me corromper aos poucos —, eu precise
de um tempo — completei, a minha voz foi emitida em
um tom quase inaudível, não pude evitar.
Me afastar não era a melhor ideia, mas ainda não
estava preparada para lhe contar, sabia que aquela
notícia faria com que tudo fosse ladeira a baixo.
Porque se tinha uma coisa que havia aprendido era
que filho não segurava ninguém, muito menos um
homem experiente como Filippo Gagliardi. E, por Deus,
eu não queria perdê-lo!
— Tempo? — A ideia lhe pareceu repulsiva. Sua
expressão ficou amarga. — Tempo para quê? Para que
se afaste ainda mais de mim? — Segurou o meu braço e
me puxou para perto, de queixo erguido, olhos azuis
afiados. — Responda! — exigiu.
— Filippo... — Me segurei para não chorar, estava
confusa, fiquei aterrorizada com a ideia de terminarmos
o que mal havia acabado de começar. E também era
aquele mesmo medo que me fazia querer fugir ao mesmo
tempo em que queria apenas que ele me abraçasse e
prometesse que tudo ficaria bem. — Por favor —
implorei, engoli em seco mais uma vez, meus lábios
perderam toda a umidade.
— Não. — Filippo negou com a cabeça. — Ou me
conta agora o que está acontecendo ou não permitirei
que volte para casa — ameaçou, me soltando. — Porque
é evidente que não quer se afastar de mim, apenas está
com medo de me contar seja lá o que for.
O carro parou em um sinal, olhei pela janela antes
de abaixar o rosto, enfiar as mãos nos cabelos. Respirei
fundo, fechei os olhos e tomei coragem:
— Eu estou grávida — disparei, o coração quase
rasgando o peito.
A princípio, Filippo ficou em silêncio, como se
precisasse de tempo para entender o que havia
escutado.
— Como é que é? — grunhiu, minha pele arrepiou
com a raiva que senti em sua voz. — O que foi que
disse?
— Que estou grávida! — Aumentei o tom,
despejando aquele peso para fora.
— Que merda de brincadeira é essa, hein? Olhe
para mim, Ágata, estou falando com você! — Ele ficou
nervoso, então ergui o rosto, enxuguei as lágrimas.
O carro voltou a correr.
— Não é brincadeira, Filippo. Acredite, fiquei tão
surpresa quanto você...
— Acreditar? — Me interrompeu, emputecido. — Me
falou que não podia ter filhos. Eu confiei na sua maldita
palavra!
— E eu confiei no que a minha médica tinha me
dito! — tentei justificar, grudei as mãos no peito.
O homem estava perplexo, me olhava como se
tentasse entender, como se buscasse uma outra
realidade na qual as minhas palavras não fossem
verdade. Porém, à medida que o encarava, provei que
estava falando sério, por mais que doesse.
— Acha que sou palhaço?! — interrogou,
estreitando as sobrancelhas. — Acha que pode me fazer
de tolo?!
— Eu não queria esse filho! — tentei me defender,
entrei em desespero.
— Queria sim! Você queria! — Ergueu o dedo,
cuspiu as palavras na minha cara. — Tentei nos proteger
e desde o início você recusou, inventou desculpas,
mentiu! Claro que mentiu! Dio Santo, Giancarlo jamais
me esconderia se a filha dele realmente tivesse ficado
doente! — Sorriu, incrédulo, negando com o rosto como
se imaginasse que havia caído em uma armadilha ou
pior... que eu era uma golpista.
Aquilo foi um nocaute, senti o impacto, minha pele
ferveu. Fechei os olhos e puxei uma lufada de ar com
dificuldade, os pulmões arderam, era como se o meu
corpo estivesse quebrado.
— Eu jamais mentiria! Por que faria isso, ficou
louco?! — argumentei, frágil.
— Porque você não passa de uma mimada
irresponsável! — berrou, saindo do controle.
Foi ali que o meu coração se partiu.
Solucei, o pranto veio forte e doloroso. Mal
consegui respirar, minhas mãos tremeram, fui inundada
por um mal-estar até o último fio de cabelo. Filippo
respirou fundo e xingou algo ininteligível antes de se
afastar o máximo que conseguiu, fazendo com que eu
me sentisse ainda mais solitária.
Foi difícil, um silêncio devastador dominou o
veículo. Filippo somente abriu a boca para ordenar ao
motorista que retornasse à faculdade, onde estava o
meu carro.
Conforme os minutos passavam, tentei me
recuperar, precisava me recompor. Assim que
estacionamos, não esperei ser mandada embora, abri a
porta, mas antes que pudesse sair por completo, o
infeliz me chamou:
— Ágata... — olhei para ele, embora não tivesse
tido a coragem de fazer o mesmo —, eu não quero esse
filho — decretou, tão frio quanto um iceberg. Foi a última
facada que poderia cravar em meu peito.
Fechei os olhos, terminei de me arrastar para fora e
bati a porta. O carro disparou, abracei o meu corpo ao
ficar sozinha. Já havia passado por momentos difíceis,
mas nada me preparou para a dor que me destruía
naquele momento.
Duas semanas foram o bastante para que eu
entendesse que o pouco que tinha começado a construir
com o Filippo não teria mais volta. Após a nossa
discussão, ele resolveu agir como um desconhecido, me
ignorava na firma e até parecia que não tinha mais
estagiária.
Nos últimos dias, passei a trabalhar exclusivamente
para o Tomás, apenas ele me dava ordens ou fazia
pedidos. E se não fosse pelo fato de que ainda escondia
a gravidez do meu pai, já teria abandonado o trabalho,
tendo em vista que as palavras cruéis ditas por Filippo
permaneciam na minha cabeça.
Conviver no mesmo espaço que ele sendo obrigada
a receber o seu desprezo pelo seu filho em minha
barriga me machucava.
Por outro lado, Giancarlo havia me dado uma
trégua, parou de me pressionar com as suas perguntas,
respeitou o meu espaço, o que me fez ficar um pouco
mais calma. Se eu criasse qualquer desculpa para sair
do estágio ele iria desconfiar, e a última coisa que
precisava agora era da sua desconfiança.
— Tomás, bom dia, aqui estão as petições que me
pediu. — Entrei no escritório do rapaz, mostrei a ele os
documentos que carregava.
— Bom dia, Ágata. Faça um favor, entregue tudo ao
Filippo. — Ele me olhou rápido, estava concentrado na
tela do seu notebook, havia livros e pastas dentro de
uma caixa sobre a sua mesa, o que provava que estava
bastante atarefado.
— Ah... — Um desconforto me atingiu, apertei os
papéis entre os dedos. — Se possível, gostaria que você
mesmo entregasse — pedi, obrigando Tomás a me
encarar outra vez, com mais atenção.
— Por quê? — Notei a sua curiosidade, estava cada
dia mais difícil ter que mentir. — Está acontecendo
alguma coisa?
— Não. Claro que não. — Forcei um sorriso, a
minha mente estava tão pesada que até para criar uma
desculpa precisava me esforçar. — É só que... ele me
pediu um serviço que ainda não consegui concluir e não
quero ter que ir lá sem levar tudo.
— Ah, certo. — Tomás continuou me analisando,
como se quisesse descobrir o que de fato estava
acontecendo.
Me atrapalhei em colocar os documentos sobre a
sua mesa, os papéis caíram, tive que me abaixar para
apanhá-los. Era uma coisa simples, mas para alguém
que estava abalada como eu pareceu muito.
— Droga! — xinguei.
— Eu te ajudo. — Tomás se aproximou e tentou
catar os papéis comigo.
— Não precisa, faço sozinha. — Ele me ignorou,
aquilo gerou uma espécie de gatilho e foi o bastante
para me irritar. — Não precisa fazer isso, Tomás! —
exclamei, frustrada, o coração acelerado, lágrimas
molharam as minhas bochechas.
— Ágata, está tudo bem? — Tomás se preocupou,
segurou as minhas mãos.
— É só que... — Fraquejei, lembrei da situação que
estava passando, um nó se formou em minha garganta.
— Ágata... — Ele me levantou e me abraçou,
consolando-me. Foi ali que desabei. Um ombro amigo
era tudo o que precisava.
Solucei, entrei em desespero. Não tinha ideia do
que iria fazer, não estava preparada para ser mãe, para
cuidar de uma criança, muito menos criá-la sozinha, sem
pai, sem apoio. Não fazia ideia do que o meu pai iria
achar, tive medo dele me desprezar como Filippo estava
fazendo, afinal, não seria mais a sua garotinha de ouro
com um futuro brilhante.
Abracei Tomás como se estivesse pedindo socorro,
ele acariciou o meu cabelo e permitiu que, através de
cada lágrima, eu desabafasse, apesar de não dizer uma
palavra.
— Está tudo bem, Ágata. Vai ficar tudo bem. Seja
qual for o problema que estiver passando, você vai
conseguir superar — murmurou, acalmando-me.
— Grazie. — Me afastei, enxuguei o rosto. —
Desculpe.
— Se quiser conversar, estou aqui — sugeriu, tocou
a minha mão de novo.
— Talvez um dia. — Forcei um sorriso, desfiz o
nosso toque.
— Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa,
Ágata, basta me chamar. — Vi em seu olhos o quanto ele
queria fazer algo por mim.
— Obrigada de novo, Tomás. Não conta pra
ninguém, por favor. — Encarei a fachada de vidro,
pessoas iam de lá para cá, provavelmente alguém tinha
nos visto.
— Não vou contar, mas vou esperar que me conte o
que está acontecendo porque agora fiquei preocupado.
Assenti, suguei ar pelo nariz e me afastei, segui
para o banheiro. Por sorte, estava vazio, me aproximei
da pia, lavei o rosto inchado, os meus olhos estavam
vermelhos. Enxuguei as mãos com o papel toalha que
puxei do dispenser e encarei a minha barriga através do
espelho.
Pela primeira vez desde o resultado dos exames,
pensei como seria me tornar algo que até pouco tempo
acreditava não ser possível: mãe. Poderia eu ser capaz
de amar essa criança tanto quanto a minha mãe havia
me amado? Como seria ter um bebê em meu colo,
observar o seu sorriso, protegê-lo?
E foi viajando por todos aqueles pensamentos que
acariciei o abdômen ainda imperceptível. Sabia que a
barriga demoraria a aparecer. Fechei os olhos e tentei,
de alguma forma, me conectar com aquela criança
mesmo sem entender o motivo.
Naquele instante, fui inundada por um pouco de paz
que não durou muito tempo. Senti a minha bochecha
queimar, ergui as pálpebras e me deparei com Filippo
me observando, rancoroso. Assustei-me com a sua
presença, seus olhos azuis tempestuosos desceram para
a minha barriga.
— O que está fazendo aqui? — indaguei, na
defensiva, coloquei as mãos ao lado do corpo.
— Estava indo ver o Tomás e acabei testemunhando
aquele lindo momento de vocês dois. — Suas palavras
saíram amargas à medida que ele se aproximou. —
Então eu pensei: será que esse filho é meu mesmo? —
Encarou a minha barriga de novo, sarcástico. — Será
que você estava falando a verdade ou era mais uma das
suas mentiras?
— Como se atreve? — rosnei, indignada.
— Fala pra mim, Ágata! — exigiu, irritado. — Se
deitava com ele enquanto fodia comigo? — grunhiu.
Minha mão se ergueu rápido, e mais rápido ainda foi
a velocidade que usei para acertar um tapa na sua cara
com uma força de marcar os dedos.
— Escuta aqui o que vou te dizer, Filippo, porque
não vou repetir: — apontei o dedo na sua cara — você
pode não querer esse filho, mas não vou permitir que me
trate como uma vadia ou que duvide do meu caráter! —
cuspi as palavras, revoltada, cheia de ódio. —
Infelizmente você é o pai dessa criança, mas agora
quero que se esqueça disso porque decidi que vou criá-
la sozinha, não preciso de ninguém! Não preciso de
nada que venha da sua parte muito menos do seu
desprezo!
O homem permaneceu calado. Pela primeira vez, o
grande advogado Filippo Gagliardi não parecia ter
argumentos. Então, o ultrapassei, arrasada, mas me
detive antes de sair do banheiro, o fitei uma última vez:
— Ah, não precisa se preocupar, não vou contar
nada a ninguém, muito menos ao meu pai e sabe por
quê? — Ele virou o rosto em minha direção, sua raiva já
não existia, tudo o que eu enxergava era o vazio. —
Porque prefiro enfrentar o mundo sozinha e criar esse
bebê do que obrigá-lo a ter um pai que o rejeita! — O
encarei com desprezo, o mesmo que Filippo estava
usando todos esses dias para me fazer sangrar.
Foram as minhas palavras finais, me afastei dele,
corri para o meu departamento, peguei as minhas coisas
e fui embora. Não tinha mais condições de continuar
trabalhando, tudo o que queria era desaparecer.
Quando Ágata saiu do banheiro, pareceu ter levado
metade de mim com ela. Ouvir as suas palavras foi como
ser nocauteado, principalmente porque percebi que
estava agindo semelhante ao homem que sempre odiei:
o meu pai. Narciso Gagliardi me rejeitou como filho a
vida inteira por algo que não tive culpa, e se tinha uma
coisa que não me perdoaria, era ser igual a ele.
Com dificuldade, saí do banheiro, os meus passos
estavam pesados de uma maneira que parecia carregar
mil pesos nas costas.
Porque prefiro enfrentar o mundo sozinha e criar
esse bebê do que obrigá-lo a ter um pai que o rejeita!
A frase feriu os meus ouvidos mais uma vez. Toda a
raiva e frustração que Ágata tinha me causado com a
notícia de que estava grávida, agora parecia dispersa,
frágil. Mas os malditos gatilhos permaneciam pulsando
em cada veia do meu cérebro, relembrando o que não
conseguia esquecer, afirmando que aquele pesadelo se
repetiria.
Ao entrar em minha sala, bebi um pouco de uísque e
tentei me recuperar daquela maldita sensação de ser um
monstro como Narciso. Foi um tapa na cara, mas quando
o Tomás irrompeu pela porta com um semblante de
poucos amigos, soube que o meu dia infernal ainda não
tinha encerrado.
— Seja o que for, não estou em condições de falar
agora. — O ignorei, dei-lhe as costas e enchi o copo
mais uma vez.
— Quer me contar o que fez com a Ágata dessa
vez?! — interrogou, senti a sua aproximação tanto
quanto o ódio em sua voz.
— Não sei do que está falando, Tomás... — Bebi
mais um gole e voltei a encará-lo, o rapaz estava
nervoso de um jeito que testemunhei poucas vezes.
— Ah, não? — Arqueou as sobrancelhas. — Acha
que sou idiota, Filippo? Acha que não sei que estava
tendo um caso com ela?
Fui pego de surpresa, a minha reação me entregou,
dei a certeza de que Tomás precisava.
— Eu sei e a Emma também sabe — apontou para a
mulher ruiva fora da sala, dentro do seu cubículo, de pé,
nos observando com uma onda de tensão a cercando —,
mas por fidelidade a você e por gostarmos da Ágata,
fingimos que não sabíamos de nada. E agora, a garota
aparece arrasada no meu escritório depois de vários
dias em que você vem a ignorando e fingindo que ela
não existe!
— Muito bem, Tomás. Parabéns. Apesar de todo o
cuidado que eu e ela tivemos, vocês descobriram, mas
isso não me surpreende e sabe por quê? — Deixei o
copo de lado, dei um passo em sua direção, de queixo
erguido. — Porque é exatamente o que falou, você gosta
da Ágata. Vai negar? — o desafiei.
Tomás ficou sem palavras por um momento, mas
enfim respondeu:
— Sim, eu gosto. — Assentiu, o que me fez cerrar
os punhos devido ao ódio que a sua confissão me
causou. — É verdade. Mas não sou burro, notei que ela
havia feito uma escolha e a respeitei, coisa que você,
pelo visto, não é capaz de fazer. — Apontou o dedo na
minha cara.
— O que foi que disse? — rosnei, possesso, me
aproximei dele ainda mais, disposto a socá-lo, apesar de
me controlar para não o fazer.
Tomás engoliu em seco e deu um passo atrás, notei
o seu medo, mas o infeliz não se deu por vencido:
— É isso mesmo o que ouviu, Filippo. Tenho certeza
que fez alguma coisa grave para machucar a Ágata
porque você é assim, frio e insensível quando quer. Você
prefere esconder o que tem de bom para dar lugar às
merdas que passam na sua cabeça...
— É melhor calar a boca, não sabe o que está
dizendo, Tomás... — ameacei.
— Mas com a Ágata não vou permitir! Estarei ao
lado dela se ela quiser...
Ele não teve tempo de concluir, o agarrei pelo
colarinho e o sacudi, furioso:
— Não ouse se aproximar dela, entendeu?! —
grunhi, o assustando. Tomás ficou imóvel em minhas
mãos, de lábios trêmulos. — Nem pense em tocá-la ou
eu juro que esqueço de tudo, Tomás, e acabo com você!
— ameacei, mostrei os dentes afiados ao rosnar cada
palavra tomado por um ciúme que me adoecia, que me
fazia enxergar tudo vermelho apenas por imaginá-lo ter
alguma coisa a mais com a Ágata.
— Ei, o que é isso?! O que é isso?! — Emma
invadiu a sala e nos separou com dificuldade, se
impondo entre nós dois feito uma barreira. — Filippo,
pelo amor de Deus o que deu em você?! — repreendeu,
me empurrou para mais longe do desgraçado.
— Ágata me pertence, entendeu? Ela é minha! —
Estirei o braço na direção de Tomás, o indicador
erguido. — Minha! — repeti, usei a mão livre para bater
forte no peito.
— Chega! — Emma olhou para o lado de fora e
fechou a porta em uma tentativa de evitar que fôssemos
ouvidos. — Agora basta! Vocês dois parecem crianças!
Passei a mão no cabelo e dei as costas.
Atormentado, caminhei pelo espaço com as mãos na
cintura, o raciocínio era pouco, estava confuso.
Tomás demorou a se mover, parecia afetado. Ele
ajeitou a gravata, caminhou devagar até a porta para me
encarar uma última vez:
— Se ela é sua como está dizendo, então prove. —
Foi embora, de cabeça baixa.
Continuei inquieto, meu coração dava indícios de
querer atravessar o peito, destruir os ossos. Notei que a
Emma permanecia parada com o seu olhar reprovador.
— Não é uma boa hora — me adiantei.
— Não me importa porque agora, além de se
desculpar com a Ágata seja lá pelo que você tenha feito,
também deve desculpas ao Tomás! — exigiu. Em
resposta, eu sorri, incrédulo, deixando claro que aquilo
não era uma possibilidade. — Estou falando sério,
Filippo! — Emma estreitou as sobrancelhas ao se
aproximar. — Será que não enxerga o quanto aquele
rapaz te admira e te respeita? Respeita tanto que
desistiu da garota pela qual estava interessado apenas
para não te atrapalhar!
Aquela informação surtiu efeito, ativou um alarme
em minha cabeça. Nunca tinha enxergado por aquele
ângulo. Paralisado, a observei.
— Disso você não fazia ideia, não é mesmo? Pois
agora está sabendo! E se ele veio até aqui defendê-la, é
porque se preocupa com a Ágata tanto quanto eu.
Porque nós te conhecemos o bastante para saber que
pode ser o melhor homem do mundo quando quer, mas
também usa o seu lado mais cruel para esmagar uma
pessoa quando bem entender.
Era tudo verdade, mas não estava em condições de
assumir porra nenhuma agora!
— Acabou? — indaguei, ainda corrompido pelo
orgulho.
— Acabei, grazie! — Emma bateu os saltos quando
saiu da minha sala, furiosa.
Inferno!

Acordei desesperado depois de mais um pesadelo.


Como sempre, suava frio e o meu cérebro doía tanto que
parecia ser esmagado pelo próprio crânio.
Peguei o celular sobre a mesa de cabeceira após
ouvir o som da notificação. Como se adivinhasse que
estava me atormentando em sonhos, Greta enviou uma
mensagem.

Estou ficando sem tempo, Filippo.


Não vou te perdoar se não me ajudar.

Bufei irritado e por pouco não arremessei o aparelho


contra parede.
Após tomar um banho, comer e me vestir, saí do
prédio direto para a terapeuta. Emma havia marcado os
meus compromissos apenas para o período da tarde, ela
estava fazendo assim sempre que eu tinha uma sessão,
algo que vinha se tornando rotineiro.
— Então a Ágata não apareceu na firma na última
semana? — a mulher negra de olhos escuros me
perguntou.
— Não — respondi, desgostoso.
Estava sentado no sofá de pernas abertas, os
cotovelos apoiados sobre os joelhos, as mãos cruzadas,
o pé insistentemente batendo contra o assoalho.
— Ela desapareceu desde a nossa discussão no
banheiro. — Cocei a garganta, incomodado.
— Você sabe o que aconteceu? Houve alguma
justificativa da parte dela?
— Não, nada. — Senti uma pontada no peito, aquela
situação me estressava. — E como o Giancarlo teve que
ir aos Estados Unidos em uma viagem de negócios,
ainda não consegui conversar com ele — completei. —
Mas ao que tudo indica, ele não sabe que a Ágata anda
faltando ao estágio.
— Imagino que você tenha chegado a alguma
conclusão sobre tudo isso. — De pernas cruzadas,
Donatella esbanjava elegância usando um vestido claro
que destacava a sua cor de pele.
— Cheguei — respondi após um suspiro. Erigi a
coluna, esfreguei a barba. — Acho que ela está se
aproveitando da ausência do pai para poder ficar o mais
longe possível de mim.
— E como vem se sentindo com isso? A ausência
dela te afetou de alguma maneira?
Não respondi, mas as palavras estavam na ponta da
língua. Donatella aguardou, sabia que precisava confiar
nela o suficiente para me abrir, mas ainda era difícil
expor tudo que fosse relacionado a sentimento.
— Que diferença isso faz? — Desviei o assunto,
procurei algum outro ponto do consultório para poder
focar a vista.
— Bastante, tendo em vista que você precisa se
encontrar em meio à essa confusão de sentimentos que
domina a sua cabeça.
— Sentimentos... — debochei com um sorriso. — Do
que adianta sentir? No fim será sempre a mesma coisa,
tudo vai por água abaixo — concluí entristecido, voltei a
observá-la.
— No encontro anterior você disse que se sentiu
semelhante ao seu pai quando a Ágata te falou aquelas
coisas — Donatella ressaltou, analisando-me. — E até
onde me contou o seu pai não sentia nada por você, pela
Greta, nem por ninguém. Se você não sente nada em
relação à Ágata...
— Está insinuando que me pareço com o meu pai?
— Ergui o queixo, irritado.
— Bom, ele era um homem sem sentimentos, e se
você não sentiu nada com a ausência da Ágata, então...
— Eu senti, tá bom! — confessei, nervoso,
aumentando o tom. — Senti a falta dela, caralho! —
Joguei aquilo para fora, despejando o que entalava a
minha garganta. Relaxei contra o encosto do sofá. —
Quer saber a verdade? Estou sentindo a falta dela desde
que nos afastamos — confessei, as últimas palavras
saíram quase inaudíveis.
Donatella ficou calada por quase um minuto, como
se esperasse que eu me acalmasse.
— Para um advogado você xinga muito — observou,
descruzando as pernas. Ela capturou o copo com água
que estava na mesinha ao seu lado para molhar a
garganta, indicou que eu fizesse o mesmo, e foi o que
fiz. — Você disse... desde que nos afastamos, mas o
correto não seria desde que você se afastou dela?
Respirei fundo, odiando estar errado.
— Isso — admiti, fechei as pálpebras naquele
momento.
— No encontro anterior você também afirmou que a
instabilidade entre você e a Ágata não tem nada a ver
com o que aconteceu no seu passado. Ainda acha que é
isso?
Me irritei, estava cansado de todo esse rodeio, dela
conseguir as minhas respostas sem precisar se esforçar.
— Por que você não me diz o que acha? — desafiei,
voltando a apoiar os cotovelos sobre os joelhos, fixo na
sua imagem.
— Quer saber a minha opinião? Tem certeza? —
Assenti. — Eu acho que a notícia da gravidez acionou
gatilhos profundos em você que te deixaram
desestabilizado. Então você reagiu da maneira que lhe
era mais fácil, se afastando, punindo, torturando com
palavras.
Sorri outra vez, incrédulo.
— Está totalmente enganada! — argumentei.
— É mesmo, e por quê? — Arqueou as
sobrancelhas, me desafiando.
— A Ágata mentiu pra mim! Me fez de palhaço! É
por isso que a odeio! — falei como se fosse óbvio.
— Ah, então costuma sentir ódio das pessoas que te
fazem falta? — A infeliz me colocou contra parede, fiquei
sem palavras.
— Chega! — Me levantei, emputecido. — Você não
sabe de merda nenhuma! — a ataquei.
— Você a odeia ou odeia a sensação de que tudo
pode acontecer outra vez? — Donatella se ergueu
também, enfrentando-me cara a cara.
— Do que está falando? Não use o meu passado
contra mim! — Ergui o dedo, foi uma ameaça.
— Não estou usando nada, quero apenas que pare
de fugir e chegue a conclusões! — falou firme, se
utilizando da mesma petulância que a minha.
— Fugir? — Aquilo me pareceu o cúmulo!
— Não foi você que acabou de se levantar para ir
embora? Que eu saiba o nosso tempo ainda não acabou.
— A infeliz olhou para o seu relógio de pulso.
Caminhei pelo consultório, cansado e ao mesmo
tempo prestes a explodir.
— O que quer saber, hein? O que quer de mim? —
exclamei, mas Donatella não recuou, ela já estava
acostumada com a minha personalidade tempestuosa.
— A pergunta correta é o que você quer de si
mesmo, senhor Gagliardi — respondeu com calma. —
Pretende tomar alguma atitude sobre essa situação ou
deixar que continue como está?
A encarei por um bom tempo antes de lhe
responder, pensei em um milhão de coisas.
— É claro que pretendo tomar uma atitude — falei,
insatisfeito. Caminhei até a porta e a olhei uma última
vez. — Mas você não precisa saber!
Fui embora com vontade de nunca mais voltar. Era
sempre assim!
Mesmo após os últimos acontecimentos, não
imaginava que passar uma semana distante do estágio
me faria tamanha falta. E apesar de ter tido mais tempo
para focar na universidade, estava com saudade de
colocar todos aqueles estudos em prática, de ver o
Direito acontecendo no dia a dia como a Gagliardi-
Ruggiero me proporcionava.
Sentir a necessidade de trabalhar era aceitável, o
que eu não conseguia entender era a ausência feroz que
cada célula do meu corpo sentia do Filippo. O infeliz me
fazia falta, estar grávida de um filho dele não ajudava,
apenas piorava a situação porque a minha saudade se
duplicava, tanto quanto homem e como o pai que ele não
queria ser.
Mas aquilo não duraria muito tempo, meu pai estava
para chegar, alguma atitude devia ser tomada porque
conviver naquela firma sendo rejeitada não fazia
sentido. A carga era pesada demais.
Enquanto dirigia de volta para casa, após ter
passado a maior parte do tempo distraída na sala de
aula, pensando no meu bebê, tive a ideia de sair do
país, talvez eu devesse voltar a morar em Vegas, e parir
essa criança escondida do Giancarlo.
Saber da minha gravidez poderia significar o fim da
sua sociedade com o Filippo, e apesar de o infeliz
merecer tudo o que fosse de ruim, eu não queria sofrer
mais do que já estava, não precisava transformar tudo
aquilo em uma bola de neve, a questão era tomar a
atitude mais fácil.
Depois de estacionar à frente da mansão, entrei na
sala de estar, encontrei o meu pai de pé, de costas,
conversando com o Enzo que estava sentado no sofá.
— Pai, que bom que já chegou. — Sorri, joguei a
minha mochila e os livros que carregava sobre o outro
sofá.
O meu irmão me olhou primeiro, o seu semblante
não era dos melhores, parecia preocupado. Quando
Giancarlo se virou e me encarou com um olhar de aço,
avistei o exame que constatava a minha gravidez em
suas mãos. Foi ali que soube que qualquer plano meu
tinha ido por água abaixo.
Ele descobriu tudo!
— Pai... eu... eu posso explicar — gaguejei, minhas
pernas amoleceram, meu estômago esfriou.
— Comece — rosnou, furioso, como se estivesse
lutando para se controlar. Entreabri os lábios, mas as
palavras não saíram, apenas senti os meus batimentos
cardíacos de uma maneira tão violenta que me doeu a
carne. — Porque achei que você não podia engravidar.
— Eu também achei..., mas foi um acidente.
Aconteceu o impossível, pai. — Lágrimas desceram,
fiquei aflita, as mãos gelaram. Não estava preparada
para aquele embate. — Juro que... que... tentamos ser
cuidadosos, mas... — Abaixei a cabeça, frágil. — Pai,
por favor... — solucei, amedrontada de ser rejeitada por
ele também.
Me apoiei no topo do sofá.
Giancarlo negou com a cabeça, os punhos cerrados
denunciavam que estava tentando se controlar, percebi
que havia um milhão de coisas invadindo a sua cabeça,
mas, por fim, um suspiro pesado fugiu da sua boca, sua
raiva pareceu amenizar para dar lugar ao lado paterno
que existia em alguma parte do seu corpo.
— Oh, minha filha... — Giancarlo se aproximou e fez
o que eu jamais poderia esperar, me deu um abraço. —
Minha filha querida. — Seus braços me cercaram, fui
acolhida e chorei alto, estava esgotada. — Está tudo
bem.
— Pai, me desculpa! — Minhas lágrimas se
intensificaram. — Estou tão envergonhada. — Solucei
outra vez, ofegante. — Não queria decepcioná-lo.
— Está tudo bem, está tudo bem. Você nunca me
decepciona. — Sua voz grossa e mansa me aliviou ao
mesmo tempo em que me fez chorar ainda mais.
Enzo se aproximou e nos abraçou também, ficamos
unidos até que todos se acalmassem. Depois que a
emoção diminuiu, nos acomodamos nos sofás, eles de
um lado e eu de outro.
— Agora me diga, quem é o pai? — Giancarlo quis
saber, e todo o nervosismo que havia se dispersado
voltou a me atingir com força.
Engoli em seco, permaneci calada, encarando o
homem que sabia que iria enlouquecer se eu não o
respondesse.
— Ágata, quem é o pai dessa criança? — Repetiu,
devagar, observando os meus dedos cruzados sobre o
colo se apertarem. Giancarlo esperou, mas permaneci
quieta, prestes a explodir por dentro. — Eu terei um neto
ou uma neta e preciso saber quem será o pai! — exigiu,
se tornando inquieto. — E se você ousar mentir de novo,
dessa vez não vou perdoar, estou falando sério. —
Ergueu a sobrancelha à medida que pude escutar a sua
respiração.
A sua ameaça era real, me fez perceber que a partir
dali mentiras não seriam mais uma opção, não se eu
quisesse que Giancarlo continuasse engolindo aquela
situação.
— Prefiro não contar — respondi em um tom quase
inaudível, abaixei o rosto.
— O quê? — Ele ficou indignado.
— Não quero, pai! — Voltei a encará-lo, vi a sua
raiva.
— Não vou admitir isso. — O homem se levantou,
enraivecido. Enzo continuou sentado, nos observando.
— Pai, por favor...
— Não! — Negou, convicto. — Acha que vou
permitir que você crie esse bebê sem que eu saiba quem
é o pai dele?!
Enfiei as mãos nos cabelos, meus olhos arderam, a
garganta sufocada.
— É direito meu saber, então vou perguntar pela
última vez: — senti quando Giancarlo se aproximou,
porém, continuei de cabeça baixa. — Quem é o pai
desse bebê? — perguntou em alto e bom tom.
— Sou eu! — Conheci aquela voz forte, foi quando o
meu coração pareceu despencar do peito. Ergui o rosto,
chocada. — Eu sou o pai. — Levantei, e tanto quanto o
meu pai, fiquei incrédula ao avistar o homem que havia
acabado de chegar, era Filippo Gagliardi do outro lado
da sala. — Esse filho é meu, Giancarlo. — Seu olhar
corajoso desviou dele para mim. — É nosso — corrigiu,
decidido.
Paralisada, não sabia descrever a avalanche de
sentimentos que me atingiram, nem a força com que fui
golpeada. Com dificuldade, consegui virar o rosto para
perceber que as peças daquela história se encaixavam
na mente do meu pai como um maldito quebra-cabeças.
Ele se deu conta de que tudo fazia sentido, olhou de
Filippo para mim uma última vez, antes de marchar até o
seu melhor amigo e acertar um soco na sua cara. Um tão
forte que o jogou no chão.
— PAI! — Eu e Enzo gritamos ao mesmo tempo,
corremos em direção a eles.
— Seu desgraçado! — Giancarlo acertou um chute
no estômago de Filippo, o homem gemeu, sem ar. —
Confiei em você! — Se ajoelhou ao lado dele e o puxou
forte pelo colarinho.
Filippo poderia reagir, mas não o fez.
— Dio Santo! Pai, por favor, não faça isso! — berrei
quando o vi erguer o punho cerrado e se preparar para
mais um golpe que seria capaz de quebrar os dentes do
infeliz.
— Pai, não bate no tio Filippo! — Enzo ficou
desesperado, ele adorava o desgraçado.
Giancarlo grunhiu, enfurecido, seu punho tremeu de
ódio, mas ele acabou jogando Filippo no chão mais uma
vez, antes de se afastar.
Assim como o Enzo, não consegui me conter, ajudei
o homem a se levantar, me condenei por ser tão fraca
naquele momento, mas parecia impossível deixá-lo caído
e sangrando sem ser capaz de fazer alguma coisa, por
mais que Filippo não merecesse a minha ajuda, o fiz
apenas por solidariedade.
— Como teve a coragem de engravidar a minha
filha, caralho?! — Giancarlo bradou, perdendo o
controle. Ele olhava para Filippo como se quisesse
assassiná-lo enquanto caminhava de um lado a outro e
lhe apontava o dedo. — Você era o meu melhor amigo!!
— acusou, revoltado.
Devagar, Filippo parou de se apoiar em mim e Enzo.
Com um olhar, pediu para nos afastarmos, e foi o que
fizemos.
— Eu ainda sou... o seu melhor amigo, Giancarlo —
Filippo respondeu, devagar. Ele limpou o sangue no
canto da boca com o dorso da mão. Então desviou o
olhar de meu pai para mim, e aquele simples gesto
pareceu ter um milhão de significados. — Mas não pude
evitar. Eu e Ágata nos envolvemos. — Voltou a encarar o
meu pai, sério. — Aconteceu. Mas estou aqui para
assumir toda a responsabilidade, tanto por ela quanto
pelo meu filho em sua barriga.
Meu coração falhou durante as batidas, toda aquela
loucura, tudo o que ele dizia não podia ser verdade,
Filippo não poderia mudar de opinião com tanta rapidez.
Onde estava o homem que afirmou não querer esse
bebê?
Após o caos formado com a minha chegada na
mansão dos Ruggiero, percebi que os ânimos de todos
estavam bastante alterados e que aquele com certeza
não seria o melhor momento para uma conversa
civilizada. Fui embora após as coisas se acalmarem na
medida do possível, com a promessa de que voltaria no
dia seguinte e foi o que fiz, logo depois do almoço.
Aquele domingo estava ensolarado e bonito, mas
quando encontrei o Giancarlo em seu escritório
particular dentro de sua casa, soube que o diálogo que
estava prestes a acontecer não seria fácil.
E não foi.
Por quase duas horas, conversamos sobre o meu
envolvimento com a sua filha, expliquei a ele como as
coisas haviam acontecido. Contei apenas o que
precisava saber, sempre prezando pela privacidade a
qual eu e Ágata ainda tínhamos direito.
— É isso, Giancarlo. Errei em mentir para você, mas
tudo aconteceu muito rápido como te expliquei e agora
estou aqui, pedindo para que entenda o impossível —
admiti, sentado de pernas cruzadas, observando o
homem sério do outro lado da mesa me encarando com
um ódio que demoraria a desaparecer. — Reafirmo que
estou disposto a arcar com toda a responsabilidade.
Giancarlo sorriu forçado. Incrédulo, negou com o
rosto, desviou o olhar de mim por um instante antes de
responder:
— Primeiro, ainda tenho vontade de que você seja a
vítima do que seria o meu primeiro homicídio qualificado
— revelou, e o que dizia parecia tão verdadeiro que não
duvidei, mas aquilo não me intimidou. Meu amigo não
me dava medo, sabia que estava puto, sua reação era
mais do que normal.
Giancarlo se ajeitou em sua cadeira antes de
prosseguir:
— Segundo, tive uma conversa séria com a Ágata
hoje de manhã, ela o aceita como o pai da criança, mas
apenas isso. Eu, por outro lado, não aceito nada, então
a minha proposta é o seguinte: — ele cruzou as mãos
sobre a mesa e aproximou o rosto, desconfiei de que
não iria gostar do que estava prestes a ouvir — vamos
ocultar essa história, inventaremos uma desculpa e
Ágata se mudará para Las Vegas. Lá ela terá todo o
apoio necessário, todos os cuidados e proteção que
você não iria conseguir oferecer a ela ou ao bebê. —
Fiquei em choque, ouvi-lo embrulhou o meu estômago.
— Esqueça que se envolveu com a minha filha e que a
engravidou. Meu neto ou neta jamais saberá quem é o
seu pai, diremos que o sêmen foi doado e...
— Nem fodendo! — A rebeldia com que a minha voz
foi emitida o surpreendeu. — Está louco? — o
interroguei, perplexo.
— Louco? — Giancarlo parecia tranquilo até demais,
o que me assustou. — Ágata me contou que você
rejeitou essa criança... — Fechei os olhos, lamentando
por ele tomar conhecimento daquilo. — Só isso seria o
suficiente para a proposta que acabei de fazer. Por outro
lado, ela não sabe do que você passou com a Greta,
mas eu sei. Sei que o seu psicológico ainda é ferrado,
Filippo. — As suas palavras me encheram de ódio. —
Não queria usar o seu passado como argumento, mas a
sua atitude em rejeitar o bebê não me deu escolhas,
pelo contrário, só provou que jamais será capaz de
cuidar da minha filha como ela merece!
— Eu sou capaz! — Me ergui, emputecido. Giancarlo
fez o mesmo, nos enfrentamos na troca de olhar. — E
entendo que você esteja se sentindo traído por mim, que
me odeie agora e até que duvide da minha capacidade,
mas não vou permitir que decida pela Ágata ou por mim.
— Encostei o indicador na mesa, estreitei as
sobrancelhas ao encará-lo. — Mesmo que a sua filha
não me queira como homem, tenho os meus direitos
como pai.
Giancarlo fez menção em replicar, mas continuei:
— E sobre o meu passado... — minha voz emanou
mais suave, meus olhos arderam devido a dor de ficar
exposto daquela maneira. — Ele só pertence a mim, eu
sou o responsável por controlar os meus demônios. Não
nego que foi por causa deles que feri a Ágata, que disse
o que não devia dizer quando estava de cabeça quente,
mas... — Dei uma pausa, engoli em seco. Giancarlo me
observava atentamente, com as mãos apoiadas sobre a
mesa. — Eu... sou capaz — repeti, firme, tanto para ele
quanto para mim mesmo.
Um silêncio devastador nos cobriu. De repente,
aquele escritório parecia pequeno demais para dois
homens em um conflito.
— Agora, por favor... me deixe falar com a sua filha
— pedi, amargo.
— Ela não quer falar com você.
— Giancarlo, sei que não estou em posição de
exigir nada e que demorei até demais para tomar uma
atitude, mas nós sabemos que quanto antes eu e ela
conversarmos melhor será para todos, principalmente
para o bebê. — Me controlei para não permitir que o
Filippo arrogante tomasse a sensatez e cautela que
deveria permanecer naquele momento.
Giancarlo guardou as mãos dentro dos bolsos e me
analisou desconfiado.
— Por que eu deveria? O que fez você mudar de
opinião sobre essa gravidez?
Umedeci os lábios ao suspirar de novo, impaciente.
Fechei os olhos, andei de um lado a outro, esfreguei a
barba. Por que era tão difícil me abrir? Por que tanto
bloqueio? Não era do tipo que dava satisfações, mas
não estava em posição de decidir.
— Quer que eu diga a verdade? — Voltei a mirá-lo,
irritado. — Eu rejeitei essa criança porque nunca mais
quis ter outra depois que aquela vadia da Greta me
enganou afirmando que esperava um filho meu! Depois
que me fez acreditar que o que tínhamos era amor
verdadeiro, quando na verdade era pura ambição sobre
a minha herança! — disparei, minhas mãos começaram a
tremer. — Não queria essa criança porque não queria
correr o risco de engravidar a filha do meu melhor amigo
logo na nossa primeira vez, apesar de lá no fundo saber
que todo o ciúme que sentia por ela devia ter alguma
explicação.
Respirei. E, pela primeira vez em horas, a
expressão impassível de Giancarlo começou a suavizar.
— Então agi como o animal irracional que costumo
ser quando estou enfurecido, mas as pessoas que
gostam de mim e a minha terapeuta falaram coisas que
eu deveria escutar e que me fizeram voltar à razão —
admiti, logo após respirar fundo e apoiar as mãos na
cintura. — Percebi que estava sentindo muita falta da
Ágata, uma saudade tão grande que me corroía por
dentro. Lembrei que ela e Greta não tem nada em
comum e que havia cometido um erro, porque, porra! —
Sorri forçado, uma lágrima grossa e quente molhou o
meu rosto. — Ela não mentiria pra mim.
Minha voz saiu embargada, limpei o rosto. Estava
envergonhado por não ter conseguido manter o controle.
Giancarlo permaneceu parado me observando, mas
agora de um jeito diferente, menos defensivo.
— Não, Filippo, a minha filha não mentiu — falou,
devagar. — E eu jamais a levaria para Vegas contra a
vontade dela ou aceitaria que você não assumisse a sua
responsabilidade como pai, apesar de não me sentir feliz
com essa realidade. — Ouvir aquilo foi um baque, fiquei
confuso, sem palavras. — Essa mentira foi um teste, eu
sabia que você iria se conter e continuar discreto, mas
precisava entender com qual Filippo estava lidando: o
traumatizado covarde ou aquele que teria coragem para
assumir o seu erro. — Giancarlo respirou fundo, agora
parecia triste. — Mas quem vai decidir como será daqui
por diante será a Ágata. Ela é adulta e também
responsável pelo que aconteceu.
Ele olhou para o lado assim que ouvimos o rangido
de uma porta dentro do escritório. Ágata saiu do cômodo
anexo com os olhos vermelhos de chorar, provando que
havia escutado toda a nossa conversa.
Giancarlo foi embora, nos deixou sozinhos.
— Ágata... — Dei um passo em sua direção, tentei
iniciar a conversa.
— Não venha agora agir como o advogado cheio de
argumentos muito menos como um pai arrependido. —
Ela ergueu a mão, mais lágrimas desceram por suas
bochechas rosadas. — Escutei tudo o que você disse... e
entendo que tenha os seus demônios, mas o que
acontece... — soluçou, machucada. Saber que todo o
seu sofrimento era culpa minha me quebrou. — É que as
suas atitudes e as palavras que me disse também
criaram demônios dentro de mim.
Ela deu uma pausa, sugou ar pelo nariz, enxugou os
olhos.
— Estou com muito... ódio de você. — As palavras
saíram amargas, seu olhar estava cheio de raiva. — E
assumir o nosso filho ontem foi o mínimo que deveria
fazer, então não pense que fiquei... maravilhada com
uma atitude que teve três semanas de atraso. — Ela
grudou a mão pequena sobre o peito, como se buscasse
força para continuar. — O filho é seu e você tem
direitos, mas o que tínhamos... acabou. — Aquilo foi um
decreto, outra facada.
Fechei os olhos, senti a dor e não foi nada
agradável, gelou o meu sangue, doeu os ossos,
comprimiu o meu peito obrigando o meu coração de gelo
a diminuir, se tornar frágil.
— Isso é tudo o que tenho a dizer. — Ela enxugou o
rosto, arrasada. Não soube o que falar. — Peço que me
dê um tempo para assimilar os últimos acontecimentos e
quando me sentir mais confortável, conversaremos sobre
o bebê.
Assenti, inconformado e despedaçado por dentro.
Ágata saiu do escritório, fiquei sozinho. Senti que
havia perdido a mulher da minha vida, e nada do que
fizesse seria capaz de reverter aquilo.
Da janela do meu quarto, observei Filippo lançar um
último olhar em minha direção, antes de entrar em seu
carro e sair da propriedade. Não vou dizer que aquilo
não doeu e que lá no fundo queria que tudo fosse
diferente, porque essa era a verdade.
No entanto, assim como havia rejeitado a mim e ao
nosso filho, o infeliz também merecia a minha rejeição.
Queria que Filippo sentisse na pele o que senti, que ele
sofresse de verdade e que aprendesse que uma mulher
como eu merecia muito mais do que um homem que se
dizia arrependido com palavras bonitas.
Ainda não tinha compreendido tudo o que havia
acontecido no seu passado, mas estava certa de que
nada justificaria as humilhações que passei.
Respirei fundo antes de me sentar na cama, exausta
e mais emotiva do que de costume. Pensei em tudo o
que havia acontecido, sentia o rancor correr pelo meu
sangue, acariciei a minha barriga com a certeza de que,
dali por diante, o meu filho seria a minha prioridade e
por ele seria capaz de enfrentar o mundo.
Papai entrou no quarto acompanhado de Enzo que
sentou-se ao meu lado presenteando-me com o seu
abraço, deitou a cabeça em meu ombro. Por todo esse
tempo o meu irmão foi fiel, nunca me delatou.
— E agora? — Papai me encarou com as mãos
guardadas dentro dos bolsos. — O que vai fazer quanto
ao estágio e a faculdade?
Olhei para o meu abdômen mais uma vez, parecia
mentira, mas eu já me sentia muito apegada àquele
bebê. E acho que o instinto materno me inundou de tal
maneira que me vi obrigada a responder:
— Não quero me esconder — falei, convicta e mais
forte do que esperava, levantei os olhos para o meu pai
em um pedido silencioso para que concordasse. — Sinto
falta do estágio e não posso sair da faculdade.
— Tem razão, não pode parar a sua vida porque
está grávida — concordou, o que me fez sorrir,
agradecida. — No entanto, terá que ter mais cuidados.
— Grazie, papai. Eu amo você — declarei do fundo
do meu coração.
— É claro que fiquei chateado, mas jamais rejeitaria
esse milagre, minha filha. — Giancarlo sentou ao meu
lado, acariciou o meu rosto. — Para todos os efeitos,
você não podia ter filhos e agora está grávida. Seja
como for, isso deve significar alguma coisa. Sua mãe
não esperaria uma atitude diferente da minha parte.
Meu coração foi invadido por um sentimento de
proteção, agora que tinha a minha família ao meu lado
me sentia mais forte.
— Até que vou gostar de ser titio nessa idade —
Enzo fez piada, acariciou a minha barriga. Nós três
gargalhamos, encarei aquilo como um novo começo.
Na segunda-feira voltei ao estágio, mas dessa vez
decidi ir para a cobertura, iria começar a estagiar com o
meu pai, seria constrangedor demais continuar tão
próxima a Filippo depois de tudo o que aconteceu. É
claro que ele ainda estaria perto, mas o nosso contato
seria menor se trabalhássemos em andares diferentes.
Todavia, conforme os dias se passaram, não
imaginei que mudar de departamento iria me deixar tão
entediada, já que o serviço ali era mais chato, ficávamos
com a parte final dos processos, quando toda a emoção
da ação tinha passado, o que tornava o meu trabalho
repetitivo ao ter que redigir apenas alegações finais.
O que me fazia feliz era pegar o processo no início,
estudar para formar a defesa do cliente, buscar
argumentos e jurisprudências que ajudassem na causa,
aquilo sim fazia com que me sentisse desafiada!
Nas primeiras duas semanas, Filippo respeitou o
meu espaço assim como havia lhe pedido, mas do seu
jeito.
Todos os dias quando chegava à firma, encontrava
flores e chocolates sobre a minha mesa acompanhados
de um cartão escrito à mão pedindo desculpas, além das
suas mensagens que enviava religiosamente no meu
celular durante à noite e também pela manhã.
Quando ele notou que aquilo não estava
funcionando, ao invés de apenas um arranjo de flores,
passou a enviar dois, mensagens também vinham no
período da tarde, além de substituir os chocolates por
presentes caros como pulseiras de diamantes, colares
com rubis e outras joias que valiam milhões.
O infeliz arrumava pretextos para ir até o meu novo
departamento, ficava me espiando trabalhar sempre que
podia e passou a almoçar no refeitório apenas para me
observar à distância durante aquele momento, o que
gerou uma fofoca entre os funcionários de que tínhamos
algo, mas ele parecia não se preocupar muito com
aquilo, bem diferente de mim que devido à minha
timidez, às vezes ficava constrangida.
Mesmo quando eu não o via, quase sempre sentia a
sua presença por perto, a minha pele queimava daquela
maneira que apenas os seus olhos azuis conseguia
causar, porém, me mantive firme, cheguei à conclusão
de que tudo o que estava fazendo ainda não era o
suficiente comparado ao que sofri.
Eu merecia mais, como mulher precisava me
valorizar porque nenhum homem faria aquilo por mim. E
no caso do Filippo, precisava ter a certeza do seu amor
não apenas por mim, mas pelo nosso filho que foi o pivô
da nossa separação.
Certo dia, sentei à mesa em que sempre ficava
quando ia almoçar no refeitório da firma. Como de
costume, Tomás também tomou o seu lugar. Apesar de
não trabalharmos mais juntos, não terminamos a nossa
amizade, aproveitávamos aquele momento para
conversar.
Enquanto ele falava, procurei por Filippo na mesa
em que passou a ficar estrategicamente para poder me
observar com os seus olhos de águia, porém, não o
encontrei.
— Ágata? Está me ouvindo? — A voz de Tomás se
fez presente em minha cabeça, trazendo-me de volta à
realidade.
— Oi! Claro! — Sorri, o encarando, tentei me
concentrar no que ele estava dizendo.
Tomás olhou para trás, justamente para onde eu
estava olhando.
— Hoje ele não veio, não é? — indagou,
denunciando que sabia exatamente o que estava
acontecendo.
— De quem está falando? — me fiz de sonsa, mas
não colou.
Tomás ajeitou a postura, limpou a garganta.
— Nunca te contei, mas... faz um tempo que eu e a
Emma descobrimos sobre o seu relacionamento com o
Filippo, Ágata — contou com cuidado, mas aquilo não
me afetou, até porque Filippo não estava fazendo muita
questão de esconder.
— Bem, acho que ele está deixando isso evidente
para todos aqui, não é mesmo?
— É verdade. — Tomás sorriu, concordando. —
Porém, nós descobrimos antes, e depois que você
mudou de andar para estagiar com o seu pai,
entendemos que haviam terminado, apesar de que é
visível que ainda se gostam bastante.
Desisti de continuar comendo, limpei os lábios com
o guardanapo.
— Você está enganado. Nunca existiu sentimento
ali, hoje eu sei que era apenas sexo — disparei, sem me
dar conta de que estava me abrindo para ele de uma
maneira que nunca havia feito. — O que mais vocês
sabem? — A pergunta poderia entregar sobre a minha
gravidez, mas foi inevitável. — Quer dizer... o que mais
andam comentando sobre eu e ele na firma?
— Além das flores, chocolates e joias que ele te
envia todos os dias? — Tomás sorriu outra vez, ele
parecia achar a situação engraçada. — Nada. — Então
me analisou. — Há mais alguma coisa que deveríamos
saber?
Suspirei, aliviada.
— Definitivamente, não — neguei, não que a minha
gravidez fosse um segredo, não conseguiria esconder
aquilo para sempre, mas queria continuar discreta, pelo
menos por enquanto. — Só que... prefiro que não
toquemos mais neste assunto.
Tomás assentiu, espalmei as mãos sobre a mesa,
momento em que ele aproveitou para tocar os meus
dedos.
— Quero apenas que saiba que eu... sempre estarei
ao seu lado. — Notei o seu carinho e a sua amizade.
Aquele toque não era feito de segundas intenções, mas
sim de apoio, então o correspondi com um sorriso,
acariciei os seus dedos.
Ouvimos o Filippo limpar a garganta às minhas
costas, eu sabia que era ele porque reconheceria a sua
presença em qualquer lugar do mundo.
Tomás ergueu o rosto primeiro, eu me virei e me
deparei com o homem nos observando com um olhar
endurecido, a pele tomada por um rubor que denunciava
quando não estava satisfeito.
— Oi, Ágata — cumprimentou-me, notei sua voz
rouca um tanto forçada. — Posso falar com você um
momento? A sós? — Olhou para o Tomás, que logo
entendeu o recado.
O rapaz assentiu e saiu sem que fosse necessário
um pedido.
Calada com um semblante fechado, voltei a segurar
a colher para mexer em meu prato, procurando uma
maneira de me distrair enquanto calculava a quantidade
de dias em que fingi que Filippo não existia. Seria a
primeira vez que conversaríamos cara a cara após
semanas afastados.
Ele tomou o lugar do Tomás à minha frente, cruzou
os dedos sobre a mesa e me olhou como se estivesse
cheio de necessidade, ciúmes e ansiedade. Não podia
negar, por mais que ainda o odiasse, apenas perceber a
sua reação me arrepiou dos pés à cabeça, de um jeito
que não deveria mais acontecer.
— Vai continuar me evitando até quando? —
perguntou, sua voz emanou calma.
— Eu te pedi um tempo, você é burro ou quê? —
repliquei, largando a colher para olhar em seus olhos.
— Não acha que já passou tempo demais? Ágata,
você está me matando aos poucos, esperar não é fácil
— declarou, obrigando-me a sorrir em deboche como ele
costumava fazer.
— O que você quer, Filippo? — interroguei,
impaciente. Cruzei os braços.
— Eu quero você — ele foi rápido na resposta, não
titubeou e seu olhar profundo provava que estava sendo
sincero. — Quero que volte pra mim, que me perdoe pelo
que fiz e que me dê uma chance de consertar o meu
erro. — Meus olhos arderam, tanto de raiva dele quanto
de mim por ainda me sentir minimamente afetada com as
suas palavras.
— Sabe o que aprendi? Há coisas que não têm
conserto! — devolvi, ríspida.
— Não diga isso. Você está carregando o meu filho.
— Ah, agora o filho é seu?! — Me levantei,
rancorosa. A minha voz saiu mais alta do que deveria. E
por perceber que estava a um fio de explodir ali na
frente de todos, catei a minha bolsa e o meu copo de
suco para poder sair.
No entanto, Filippo não se contentou em ser
deixado na mesa com cara de palhaço e me seguiu até
um outro salão onde ficamos sozinhos.
— Ágata! Ágata, espera! — Apressei os passos,
porém, não suportei mais fugir. Parei, me virei e o
encarei com sangue nos olhos.
— Engraçado porque dias atrás você falou que não
queria esse filho e que eu era uma mimada irresponsável
ao afirmar que havia planejado engravidar de você! —
continuei, revoltada.
— Ágata... — Filippo tentou argumentar, mas não
permiti que continuasse, estava nervosa demais.
— Sabe o que é mais engraçado? Em nenhum
momento, Filippo, você pensou que me conhecia há
bastante tempo, sequer lembrou que o escolhi para ter a
minha primeira vez! Você só pensou em você! —
desabafei frustrada, apontei o dedo na sua cara. — Não
teve um pingo de empatia por mim ou por esse bebê! —
Coloquei a mão sobre a barriga. — Continuou sendo
esse filho da puta egoísta que costuma ser!
Continuei andando, mas parei outra vez, era muita
coisa para colocar pra fora.
— E se acha que presentes caros vão me comprar
ou fazer te perdoar, está muito enganado!
Filippo ficou sem reação, evidentemente chocado
com tudo o que despejei. Tentei me afastar novamente,
estava cega de raiva, corrompida por diversos
sentimentos conflitantes que nem eu mesma conseguia
entender. Queria chorar, queria bater nele, queria que
sofresse e que escutasse, mas não pretendia fazer o que
fiz:
— Ágata! — Filippo segurou o meu braço.
— Me larga! — No impulso, joguei o suco em sua
cara quando me desvencilhei do seu agarre. Só então
me dei conta do que tinha feito e de onde estávamos.
Arrependida, olhei ao redor, duas funcionárias que
conversavam ao lado de uma vidraça e que eu ainda não
tinha visto, assistiram ao episódio, estavam chocadas.
De olhos fechados, Filippo permaneceu paralisado
sentindo o líquido cheirando a cereja escorrer por sua
pele. Minha respiração foi desacelerando aos poucos,
fiquei constrangida quando ele abriu os olhos, perplexo.
— Eu não... — a minha voz falhou, engoli em seco.
— Não foi a minha intenção — justifiquei, a culpa me
esmagando por dentro.
Filippo assentiu, limpando os olhos. Então decidi ir,
não podia mais continuar perto dele tão nervosa daquele
jeito.
Naquela noite cheguei ao meu apartamento com um
estresse que não podia ser contido. Estava sendo
sempre assim, minha cabeça se perdia em tantos
pensamentos sobre como reconquistar a Ágata ou sobre
a possibilidade real de perdê-la para sempre, mal
conseguia dormir.
Levantei da cama me sentindo solitário, fui até o bar
me servir de um uísque e andei pela cobertura
lembrando dela em cada canto do maldito espaço!
Era como se o seu cheiro ainda estivesse ali, como
se o seu sorriso ainda me enfeitiçasse e o calor do seu
corpo me acolhesse.
O que sentia não era uma simples saudade, era uma
dor que me corroía por dentro, que doía cada osso em
meu corpo e me fazia sofrer de uma maneira que jamais
sofri por outra mulher. Desde que nos afastamos, não
consegui olhar para outro rabo de saia, e acreditava que
se não a tivesse de volta logo, seria capaz de
enlouquecer.
Voltei para o quarto com o copo na mão, observei a
cama bagunçada e lembrei das tantas vezes em que me
enrosquei com a Ágata sobre aquele colchão. Lembrei
também da sua gravidez, imaginei como seria ter um
filho com ela, do rosto que a criança teria e de tudo o
que estava perdendo com o nosso afastamento.
Era o inferno na Terra.
Atormentado, peguei o celular para enviar uma
mensagem a ela. Hesitei várias vezes, não suportava
mais ser ignorado, lembrei da humilhação que me fez
passar hoje mais cedo, do ódio que identifiquei em seus
olhos, do toque de Tomás em seus dedos. Aquele não
seria o melhor momento.
Esgotado, arremessei o copo contra a parede,
precisava parar de imaginar que tudo estava perdido.

Assim que voltei à firma no dia seguinte, foi


impossível não notar os olhares que recebi. Todos
sabiam, todos falavam pelos cantos, a verdade era que
nunca me senti tão exposto.
Contudo, decidi que dali em diante a minha melhor
arma seria a calma e a paciência. A tentativa de fazer
com que Ágata voltasse para mim havia saído do
controle e sequer poderia culpá-la, porque o verdadeiro
culpado continuava sendo eu. Ela ainda não estava
preparada para me perdoar, me pediu um tempo e não
respeitei, mas agora o faria de verdade, mesmo que
esse vazio continuasse devorando cada centímetro do
meu peito.
Com este pensamento, parei de enviar mensagens,
flores e presentes. Cessei as visitas que criava para ir
ao seu departamento, até me privei de continuar a
observando no horário do almoço.
Enchi a minha cabeça com todo o trabalho que
havia ficado acumulado devido ter passado os últimos
tempos apenas pensando nela. Quando tinha alguns
minutos livres, pesquisava sobre coisas relacionadas a
bebês, sobre como ser um bom pai ou todos os cuidados
que uma grávida deveria ter.
Algumas vezes cheguei até a visitar umas lojas no
shopping com a intenção de entender aquele universo do
qual sempre tentei fugir. Mas a noite, quando chegava
em casa era sempre a mesma coisa: solidão e saudade.
A realidade batia, então eu me abria com a minha
terapeuta que afirmou me ver evoluindo a cada sessão.
Dia após dia, passei a focar cada vez mais no
trabalho, passava horas no escritório e às vezes saía
bem tarde.
Certa vez, estava chegando ao trabalho, passei pela
recepção do prédio e, como fazia todos os dias,
caminhei em direção aos elevadores.
De soslaio, avistei a Ágata entrar pelas portas
giratórias, mas ao invés de seguir pelo mesmo caminho
que eu, quase correu em direção aos banheiros com uma
das mãos tapando a boca, parecia estar passando mal.
De imediato uma preocupação me atingiu, andei
depressa pelo hall para encontrá-la no meio do caminho.
Ela não aguentou chegar até o banheiro, estava
vomitando dentro de um contentor de lixo.
— Ágata! — Larguei a minha pasta no chão. A
segurei de maneira delicada pelo braço. — O que
houve? — Levei uma mecha do seu cabelo dourado para
trás da sua orelha.
— Nada... apenas um enjoo matinal... — respondeu
com dificuldade, claramente não se sentia bem, estava
frágil, e apesar de ainda estarmos no início do dia,
parecia cansada.
Usava uma blusa um pouco maior para o seu
tamanho, além de jaqueta, provavelmente para esconder
a barriga que já devia estar aparecendo. Pelas minhas
contas ela estava quase entrando no quinto mês de
gestação.
— Mamma mia! — Retirei um lenço de um dos
bolsos internos do meu blazer, me aproximei ainda mais
dela e limpei a sua boca com todo o cuidado que aquele
momento exigia.
— Não precisa fazer isso... — ela murmurou,
nauseada, fitando-me com os olhos marejados devido à
força que exerceu para vomitar.
— Não tem problema. — Enxuguei os seus lábios
com vontade de fazer muito mais se fosse possível, se
ela permitisse.
Meu coração bateu mais forte apenas com aquele
simples contato que me trouxe velhas lembranças, no
entanto, sabia que ainda estava impedido, sabia que
ainda existia uma barreira, então me afastei antes que
fosse ela a ter essa atitude, apesar de receber o seu
olhar esverdeado que, pela primeira vez em muito
tempo, não consegui compreender.
— Quer ajuda para ir até o banheiro? — perguntei,
após jogar o lenço dentro do contentor, notando que ela
ainda deveria avançar alguns metros.
Sem dizer nada, Ágata assentiu, catei a sua mochila
pesada que estava jogada no chão, os livros dela e a
minha pasta.
Ofereci o meu braço onde a garota se apoiou com
cautela, como se estivesse tomando cuidado com a
minha aproximação. Caminhamos devagar, era como se
sentisse mais pesada. Absorver o seu doce perfume me
fez sofrer, porque por dentro entendia que não podia
fazer nada além de apenas sentir o seu cheiro.
Assim que ela entrou no banheiro, aproveitei o
momento para encher um copo descartável com água no
filtro que tinha ali perto. Bebi dois deles e segurei o
outro cheio para entregar a ela quando saiu pela porta
com o rosto lavado.
— Você precisa se hidratar. — Entreguei o copo a
ela. Ágata molhou a garganta sem contestar, provando
que estava com sede.
— Já que está terminando o quarto mês da
gravidez, seria interessante se levasse consigo uma
garrafinha d’água para não esquecer de se hidratar, isso
é muito importante para você e para o bebê —
mencionei, percebendo que o que eu disse prendeu a
atenção da garota. — Não sei se já fez, mas... precisa
se consultar com uma nutricionista, a sua alimentação
deve ser controlada. É importante a ingestão de
alimentos ricos em vitamina C, assim como deve evitar
enlatados, doces e massas porque vai te provocar
náuseas — continuei, falei tudo com a mesma facilidade
que teria um médico.
— Como... sabe de tudo isso? — Notei as
sobrancelhas da Ágata se arquearem em surpresa.
— Eu pesquisei — respondi devagar, tentando
entender onde estava o problema.
— Por quê?
Respirei fundo, finalmente compreendendo a sua
curiosidade. A olhei com profundidade.
— Porque apesar de eu ter errado bastante, nunca
deixei de me importar com você — declarei, e aquelas
palavras saíram do fundo da minha alma.
Ela engoliu em seco, era evidente que havia sido
tocada pela emoção, uma fina camada líquida encheu os
seus olhos, mas a garota se segurou e buscou se
controlar. Negou com o rosto quando decidiu olhar em
outra direção.
— Achei que tinha desistido de fingir... — falou,
desacreditada, colocando as mãos para trás. Por fim,
mordeu as bochechas.
— Eu não preciso disso, Ágata. — Tomei o seu copo
e o enchi no filtro outra vez. — Apenas estava dando a
você o tempo que pediu. Sem pressão. — Ofereci o copo
a ela, a garota aceitou, e enquanto bebia sem pressa os
seus olhos me analisaram.
Notei que o seu corpo havia mudado, os seus seios
pareciam maiores, a curvatura da cintura menos
definida, ela estava ainda mais linda do que quando a vi
pela última vez. A observei com necessidade, poderia
dizer que por um instante não me contive e o meu olhar
chegou a ser feroz.
Ágata sentiu aquela tensão sexual que pairou entre
a gente. A sua respiração se tornou pesada, ela jogou o
copo na lixeira como se precisasse sair daquela nossa
energia para se distrair.
— Eu tenho que ir... — De bochechas vermelhas, a
garota começou a pegar as suas coisas que deixei sobre
o banco encostado na parede.
— Ágata... — ela ergueu o rosto, curiosa, mas não
parou com o que estava fazendo. — Você disse que eu
teria os meus direitos como pai, mas não está me
informando de nada — lembrei, calculei cada palavra.
— Como assim? — Ela se endireitou, segurou os
livros contra o peito após passar a alça da mochila até o
ombro.
— Eu quero participar do seu pré-natal.
Provavelmente já deve ter começado, não sei. Estou no
escuro aqui — declarei, pegando a minha pasta que
estava ao lado das suas coisas.
De lábios entreabertos, ela não soube o que dizer,
parecia confusa.
— Ainda não sei se estou pronta, Filippo — disse,
após um tempo, apertou ainda mais os livros contra o
peito, como se fosse corrompida por algum tipo de
agonia.
Suspirei, desanimado.
Abri a minha pasta sobre o banco e retirei dela um
embrulho pequeno.
— O que é isso? — Ágata começou a abrir assim
que lhe entreguei.
— Estava esperando para entregar a você em algum
momento. — Guardei as mãos dentro dos bolsos para
assisti-la ficar perplexa ao encontrar dois sapatinhos de
bebê, de uma cor neutra que não denunciava o sexo.
Ágata demorou a erguer o rosto, uma única lágrima
molhou a sua bochecha. — Eu quero ser o pai desse
bebê. Ser para ele o que eu não tive. — Cerrei os
punhos ao lembrar do monstro que me criou. — Mas não
vou conseguir isso sozinho. Preciso que me deixe entrar
— falei com calma, torcendo para que ela
compreendesse.
— Eu vou pensar — respondeu, com a voz
embargada. Guardou a caixinha transparente dentro da
embalagem de novo. Fiquei feliz por não ter tentado me
devolver.
— Tudo bem — concordei, apesar de não estar
satisfeito.
Ágata assentiu, abri espaço para ela passar e ir
embora deixando apenas o seu perfume gostoso como
lembrança. Senti um vazio enorme me consumir o dia
inteiro, mas tive um vislumbre de esperança quando
cheguei em casa à noite e li a sua mensagem em meu
celular:

Próximo sábado. Às 9h.


Encontro com o médico.
Ofereci-me para buscar a Ágata em casa, mas ela
preferiu me encontrar na clínica onde a sua família
costumava ir. Para a minha sorte ou não, ela veio
acompanhada do Enzo, o que me deixou feliz e triste ao
mesmo tempo. Eu amava aquele garoto, nós sempre nos
demos muito bem, mas aquele era um momento que
esperava ter apenas com ela.
Por outro lado, poderia ter sido pior se fosse o
Giancarlo, confesso que não queria ter de lidar com o
meu amigo naquela hora, apesar dele ter se mantido
neutro desde a nossa última conversa.
Era como se fosse um mero telespectador, alguém
que queria testemunhar como aquela história iria se
concluir.
— Tio Filippo! — Enzo saltitou em minha direção,
sorridente. Nós trocamos um aperto de mão e eu
aproveitei para bagunçar o seu cabelo.
— E aí, garoto, quanto tempo! — Sorri, observando
a felicidade estampada em seu rosto. — Dio Santo, está
um verdadeiro ragazzo [ 1 9 ] !
— Eu estava com saudades de você! Espero que
tudo fique bem e volte a nos visitar. — Enzo sorriu, era
uma criança muito simpática. De repente, imaginei que
adoraria que o meu filho ou filha fosse semelhante a ele.
Ágata trancou o seu carro ao apertar o botão da
chave antes de se aproximar, parecia mais animada e
menos cansada do que dias atrás, apesar dos olhos
inchados de quem havia acordado não fazia muito
tempo.
— Bom dia. — Ofereci a mão, ela me correspondeu.
— Bom dia. — Me observou de olhos semicerrados
devido à intensa luz do sol.
— Vamos entrar? — Apontei para a clínica e,
apenas quando ultrapassamos as portas duplas do
prédio, notei que a estava guiando pela lombar, como
fazia antigamente.
— E aí, tio, está ansioso para descobrir o sexo do
meu sobrinho? Nós ainda não sabemos — Enzo falou,
momento em que percebi que ele poderia ser a minha
grande fonte de informação.
— Pode apostar que estou — confirmei, afastando a
mão da lombar da Ágata à medida que nos
aproximávamos da recepção.
Ela estava maravilhosa, usava uma calça jeans com
uma blusa de tecido leve da cor lilás. Os cabelos
volumosos dourados soltos em cascata, fizeram de mim
um homem ainda mais apaixonado.
Assim que nos encostamos no balcão, Ágata ficou
conversando com a recepcionista à medida que
aproveitei aquele momento para salvar o número do
celular do Enzo, um presente que ele afirmou ter
ganhado há pouco tempo do seu pai.
Entramos os três no elevador, continuei
respondendo às dúvidas do garoto:
— Tio, você prefere que o bebê seja menino ou
menina? — Para ele, aquilo parecia ser muito
importante.
Ágata me olhou, provando que compartilhava
daquela mesma curiosidade. A encarei de volta, cada
vez mais rendido por sua beleza natural, o brilho que
parecia tomar o seu rosto, a mão delicada que hora ou
outra acariciava o seu abdômen.
— Se for uma garota tão linda quanto a sua irmã, eu
ficaria muito contente — confessei, aproveitando o
momento para paquera-la.
Ágata fechou os olhos, um meio-sorriso tomou os
seus lábios carnudos que estavam pintados de um rosa-
claro.
— Acho que prefiro um garoto, para ensiná-lo a
jogar basquete. — Enzo encostou a ponta do indicador
no queixo, ele olhava para o alto, refletindo sobre o
assunto.
— Se for um ragazzo também não seria nada mal. —
Pensei em voz alta, imaginei aquela situação.
Assim que as portas metálicas se abriram, nos
encaminhamos para um dos consultórios onde o nosso
médico nos aguardava. Para a minha surpresa, era a
primeira vez que a Ágata estava se consultando, ela
ainda não tinha recebido nenhuma recomendação.
Quando chegou o momento de fazer o ultrassom, o
médico pediu para que a Ágata se deitasse sobre a
cama e puxasse a blusa para cima, o que revelou uma
barriga maior do que eu esperava. Me posicionei de um
lado, o doutor tomou o seu lugar do outro assim que se
sentou em sua cadeira. Enzo ficou no banco de frente
para a cama, observando tudo com atenção.
E enquanto o gel era espalhado sobre o abdômen
saliente da garota, me vi preso de tal maneira que fiquei
hipnotizado, milhões de pensamentos inundaram o meu
cérebro de uma forma que mal conseguia explicar.
Senti vontade de tocá-la, mas me contive.
— Vamos lá... — O médico começou a movimentar o
transdutor sobre a barriga da Ágata, todos ficamos
atentos à tela que mostrava as imagens escuras e
disformes. — Esse é o seu primeiro exame de ultrassom,
correto? — Ele encarou a menina por um momento.
— Sim — ela respondeu, franziu os lábios. Notei
que fechava as mãos com frequência, como quem queria
uma válvula de escape para conter o nervosismo.
Não poderia culpá-la, eu também me sentia nervoso,
um frio singular invadiu o meu estômago.
— Então você não tem certeza com quantas
semanas está — ele comentou, Ágata assentiu. —
Quando descobriu que estava grávida? — O doutor
desenhou um círculo verde na tela, até aquele momento
eu ainda não entendia bem o que estava vendo.
— Ah... já faz tempo. — Ágata umedeceu os lábios,
trocou um olhar comigo.
— Ah, sim. — O homem continuou atento ao que
fazia. — Esse aqui é o útero. O colo do útero é pra cá,
certo? — Mostrou, terminando o desenho.
— Aham... — Eu e a garota respondemos em
uníssono, prestando atenção.
— Aqui é o bebê de cabeça para baixo. —
Contornou o corpo do neném com uma linha amarela
para que entendêssemos melhor a imagem, ali tudo ficou
visível. — Esse aqui é o filho de vocês, estão vendo?
Assentimos. E naquele momento, não esperava que
o meu peito começasse a formigar ao ser tomado por
uma emoção diferente, desconhecida. Ágata sorriu, o
que me fez sorrir também à medida que, por algum
motivo, era atingido pela ansiedade.
— Aqui está o bracinho e o ombro. A barriguinha
está pra cá. — Terminou o desenho, por último fez a
orelha.
— Dio Santo... — Ágata ficou impressionada.
— Nossa, ele é grande — comentei, impressionado
também, espalmei as mãos sobre o colchão.
— Para termos uma ideia inicial aproximada da
idade gestacional, a gente vai ver a distância das
nádegas até a moleira. — Ele analisou a linha tracejada
que havia acabado de fazer, como se fosse uma régua.
— Está dando quatorze semanas e seis dias, quase
quinze semanas. — Voltou a mexer o aparelho sobre a
barriga da Ágata, a imagem criou vida e o neném se
mexeu. — Olha o bebê mexendo. Ele se mexeu!
O meu sorriso cresceu, Ágata gemeu de emoção e,
como se não pudéssemos evitar, as nossas mãos se
encontraram, atraídas por uma força inevitável, era algo
maior que nós dois.
— O meu sobrinho está se mexendo! — Enzo pulou
do banco e apontou para a tela do aparelho, feliz da
vida.
— Cabeça aqui, coluna vertebral, bundinha pra cá.
— Uma seta vermelha mostrava para onde o doutor
estava apontando. — Certo?
— Certo... — Ágata se emocionou, apertou os meus
dedos, nos entreolhamos com um sentimento que sequer
conseguíamos dimensionar.
— Aqui é o útero e esse escuro é tudo água — ele
continuou explicando. — Aqui estão vendo o coração
batendo, certo? — Assentimos novamente. — Vamos
agora ouvir as batidas do coração.
Ele fez o som ecoar para que escutássemos. Era
forte, vibrante, me arrepiou. Ágata chorou. Coloquei a
minha outra mão sobre a sua e respirei fundo, nervoso,
chocado, inundado por diversas emoções. Ouvir o
coração do nosso filho batendo provava que ele estava
chegando, que existia e que era nosso.
— A frequência do coração está mais ou menos
em... 170 batidas por minuto — o médico afirmou e
continuou movendo o transdutor, lentamente. — Olha lá
o bebezinho, estão vendo o filho de vocês ali?
— Sim... — respondi, com orgulho, massageando a
mão da Ágata.
Enzo também foi tocado pela emoção, ele se
aproximou e parou ao meu lado.
— Agora, papai e mamãe prestem atenção.
Reparem, que aqui está o coraçãozinho do neném
batendo. — Apontou com a seta, nos prendendo àquela
imagem de uma maneira que nada poderia nos afastar.
— Se eu giro o transdutor um pouco para o lado... —
outra forma apareceu. — Aqui tem outro coração
batendo. Entenderam? — Eu ainda não havia entendido,
Ágata apertou os meus dedos com toda força que tinha.
O médico fez a imagem ir e voltar.
— Se eu vou um pouco para o lado... — repetiu o
movimento que havia feito antes. — Encontro outro
coração batendo.
Reconheci o outro corpo.
— São dois? — disparei, chocado. — Dois bebês?
— Isso mesmo. Dois corações, vocês terão gêmeos
— anunciou, uma lágrima grossa e quente desceu por
minha face.
— Mamma mia!! — Enzo exclamou. — Que legaaal!
Serei tio duas vezes!
A princípio, a Ágata não teve reação, ela apenas
ofegava, olhava de mim para a tela e para o médico sem
conseguir acreditar que aquilo seria possível. Então
começou a rir, tão encantada quanto eu. Uma onda de
amor e carinho nos cobriu, era um sentimento intenso
que crescia rapidamente, me arrepiava dos pés à
cabeça.
Suei frio, meus batimentos cardíacos davam indícios
de que iriam atravessar o peito. Sequer conseguia
explicar a avalanche de sentimentos que me tomou
naquele instante, quando não consegui parar de olhar
para os dois bebês.
Segurei a mão da Ágata ainda mais forte.
— Parabéns, papai e mamãe. Parabéns, titio. — O
homem sorriu para o Enzo. Nós gargalhamos.
— Dio Santo... olha isso. — Mostrei a mão livre,
estava trêmulo. — Meus filhos... — murmurei, orgulhoso.
Eles eram meus, eu era o pai deles.
Fui inundado por lágrimas, uma atrás da outra, nem
lembrava quando havia chorado daquela maneira.
— Filippo... — Ágata soluçou, emocionada. Eu
acariciei o seu rosto enquanto tentava enxugar o meu. —
Meu Deus, não estou acreditando.
— Calma... respira... — falei a ela, com a voz
embargada, ainda bastante emocionado, sempre
voltando a fitar a tela do aparelho.
O médico colocou para ouvirmos ambos os corações
dos nossos filhos, e no fim revelou que teríamos um
menino e uma menina.
Decidi aceitar o convite do Filippo para irmos
almoçar logo depois que deixamos a clínica, seria o
momento de conversarmos sobre os bebês que estavam
por vir. E apesar de ainda estarmos processando a
grande surpresa, precisávamos ter aquela conversa, era
algo necessário.
Assim que terminamos o almoço, percebi que eu,
ele e Enzo compartilhávamos da mesma energia
harmônica, a magia da descoberta dos gêmeos
continuava nos cercando de tal maneira que apenas
falávamos sobre aquilo.
Era incrível perceber o quanto Filippo estava
empolgado com a ideia de ser papai de gêmeos, aquele
brilho em seu olhar me enternecia.
— Ágata, já posso ligar para contar a novidade ao
papai? — o meu irmão perguntou, logo depois de limpar
a boca com um guardanapo.
— De novo isso, Enzo? Já disse que não, eu quero
filmar o momento em que ele descobrir. — Imaginei a
cena, o Sr. Ruggiero iria cair para trás ao saber que
seria avô de dois netinhos de uma vez.
— Nossa, assim vou morrer de ansiedade! — Enzo
se encostou na sua cadeira ao cruzar os braços,
fechando a cara.
— Tenho uma ideia para resolver este problema,
Enzo — Filippo falou, logo depois de usar o guardanapo
também. Ele retirou a carteira do bolso e entregou 100
euros ao meu irmão. — Este restaurante tem um
playground ali do outro lado — apontou a direção. — Por
que não vai lá se divertir enquanto eu e sua irmã temos
uma conversa de adultos? — Piscou para o garoto.
— Tudo bem. — Enzo deu de ombros, trocando a
cara feia por uma feliz.
Ele se levantou e saiu.
Filippo cruzou os dedos sob o queixo quadrado e me
encarou profundamente com os seus intensos olhos
azuis, que, naquele momento, davam a impressão de
enxergarem além da minha carne, tocavam a alma.
Peguei o copo ao meu lado e bebi um pouco de
água sem conseguir parar de olhá-lo, pensando que à
minha frente estava o homem que havia me roubado o
juízo desde os quinze anos e que agora havia me
engravidado.
— Ágata..., eu preciso ser honesto com você —
declarou, obrigando-me a franzir a testa. Mantive-me
calada, esperando. — Você sabe um pouco da minha
história, mas não ela completa.
— Filippo, não precisa fazer isso... — Me adiantei,
não queria que ele se sentisse obrigado a ter que me
contar alguma coisa.
— Mas eu quero — insistiu, calmo. Desde que me
ajudou quando me encontrou vomitando naquele
contentor de lixo, notei que havia algo diferente em seu
comportamento, o melhor era perceber que nada parecia
forçado. — A história é longa, então vou tentar resumir:
— respirou fundo, se preparando. — Minha mãe morreu
no parto logo após o meu nascimento, ela teve
complicações quando não conseguiu dar à luz ao meu
irmão gêmeo — revelou, fiquei chocada.
Isso explicava a surpresa na minha gravidez, porque
na minha família não tinha histórico de gêmeos, achava
que na dele também não.
— Devido a essa tragédia, o meu pai se tornou
rancoroso, malvado, e jogou a culpa da morte deles toda
em cima de mim. — Filippo apoiou as mãos sobre a
mesa, os seus dedos se apertaram uns nos outros, aos
poucos ele parecia aflito ao lembrar da própria história.
— Ele costumava me castigar toda vez que eu errava em
alguma coisa, qualquer coisa. — Tombou o rosto para
baixo, as imagens doloridas pareciam invadir a sua
cabeça. — Sempre era o mesmo castigo, ele me
trancava em um buraco escuro dentro do porão. Era
como se me enterrasse debaixo daquele piso
sufocante... por horas — rosnou, amargo. — Isso gerou
o meu medo do escuro.
Filippo ergueu o rosto, estava se segurando para
não chorar. Era como se cada palavra que dizia
espetasse as suas feridas, o fizessem sangrar, ainda
assim prosseguiu:
— Aos dezesseis anos, os maus-tratos continuavam,
mas eu havia me tornado um jovem revoltado que
começava a revidar. Greta veio morar conosco assim que
começou a namorar com o meu pai. Ela era uma mulher
bonita que me ajudava a evitar os castigos, porém,
nunca me encarou como um filho. — Filippo assumiu
uma expressão sombria, tão medonha que me arrepiou.
— Em algum momento, cedi às suas carícias e me
entreguei.
— Ela abusou de você? — Fiquei horrorizada com
aquela hipótese, meu coração acelerou.
— Não... — ele negou, engoliu em seco, seu pomo
de Adão subiu e desceu. Era como se houvesse uma
pedra em sua garganta. — Desde o início eu também
quis, seja por carência ou por curiosidade. Seja por
desejo ou... apenas por querer me vingar do meu pai de
alguma maneira por todos os anos de humilhações e
agressões. Não sei o motivo exato, mas o que tive com a
Greta foi consentido.
— Ah, Filippo... — meu coração se apertou, fechei
os olhos por um instante, cerrei os punhos ao lamentar
ouvir tudo aquilo, apesar de entender que queria, que
sentia necessidade de conhecê-lo totalmente.
— Aos poucos, fomos perdendo a noção do perigo,
às vezes fazíamos sexo quando o meu pai estava
dormindo e em uma noite dessas... ele nos flagrou. —
Filippo piscou várias vezes, ergueu o rosto para evitar
alguma lágrima e respirou. — Como castigo, me enviou
para um colégio interno, mas isso não durou muito
porque morreu em um acidente de carro dias depois,
quando decidiu dirigir bêbado.
Abaixei o rosto, coloquei as mãos nas têmporas,
enfiei os dedos no cabelo, aquela história só piorava.
— Dio Santo... que pesadelo. — Tive que ter
coragem para continuar escutando, estava me sentindo
mal com aquilo, com ódio do pai dele e da tal Greta que,
pelo que o meu pai me disse, ainda dava às caras.
— Confesso que não senti absolutamente nada
naquele enterro. Ele havia feito tanto mal a mim que
ficou apenas o vazio... e a Greta. — Sua voz pesou ao
falar o nome da mulher. — Ela voltou afirmando que
esperava um filho meu. E eu... àquela altura muito
apaixonado, dependente emocional dela, acreditei. Até
porque além do meu advogado, que era o seu avô, não
havia sobrado mais ninguém.
O velho Ruggiero, papai dizia que ele amava o
Filippo e que foi através dele que o conheceu. Depois se
tornaram amigos.
— Por alguns meses eu e Greta moramos com o seu
avô, eu vivi toda a emoção de ser um pai, me iludi
profundamente até que um homem um dia chegou à
nossa residência e revelou a verdade. Greta tinha um
caso antigo com ele, assim como tinha com outros. Ela
só pretendia dar um golpe em mim, o mais novo herdeiro
de um império.
Fiquei em silêncio, abismada, com as mãos na boca
porque não sabia o que dizer. Não entendia como podia
existir tanto ser humano ruim na Terra e como aquele
tipo de situação era capaz de acontecer.
Filippo passou as mãos nos cabelos, o semblante
endurecido provava que se envergonhava de tudo aquilo,
parecia com nojo tanto quanto eu.
— Os anos passaram, eu estudei, me formei, cresci
no trabalho, me aliei com o seu pai quando ele retornou
de Las Vegas e aí veio você. — Ele me encarou mais
uma vez, cheio de sentimento. — Quando eu li aquele
seu diário... — forçou um sorriso. — Aquela frase na
qual você dizia que me amava, achei que era apenas
coisa de adolescente, ignorei. Mas as suas palavras
ficaram na minha mente feito uma maldita tatuagem... —
revelou, intenso. — Preferi me afastar porque descobri
que também gostava de você, que me sentia atraído de
um jeito feroz, Ágata — grunhiu as últimas palavras, me
arrepiando.
Paralisada, apenas o observei, me dando conta de
que não importava o resto do mundo, tudo só fazia
sentido se eu o escutasse naquele momento:
— E quando você me beijou na biblioteca, eu
entendi que a queria como minha, só minha, para
sempre. Não me importei mais com o seu pai, com a
moral ou com porra nenhuma! Me entreguei de corpo e
alma. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde a
Greta. E o resto você já sabe. — Sua voz foi tomada por
uma tristeza que me tocou, doeu os ossos.
Suspirei, percebi que estava quase debruçada sobre
a mesa e endireitei a coluna.
— Por que... me contou tudo isso? — Imaginava um
milhão de coisas, mas precisava ouvir dele.
— Porque foi preciso passarmos por tudo isso, eu te
magoar do jeito que te magoei, perder o seu respeito, a
sua admiração e até mesmo o seu amor... para entender
que sempre, sempre... sempre te amei — declarou,
aflito, verdadeiro.
Lágrimas desceram por minhas bochechas. Todos os
meus sentimentos, o que passamos, tudo parecia
comprimido em meu peito, fazendo com que o meu
coração diminuísse ao ponto de quase se tornar apenas
um fragmento.
— Filippo... — Espalmei a mesa, tentei falar.
— Amei a garota inteligente com pés de princesa
que calça trinta e três. Aquela que é viciada em suco de
cereja e que apesar de ter vinte anos, tem como filme
preferido aquele de desenho, o ogro... como é mesmo o
nome? — Sorriu, fazendo-me sorrir enquanto enxugava o
rosto.
— Shrek — respondi, parecendo uma boba.
— A sua série preferida é Suits, porque você
sempre quis ser uma advogada e a sua personagem
preferida é a Jessica, apesar de sempre ter tido uma
quedinha pelo Harvey Specter.
— Como você...? — Fiquei impressionada, mas o
homem ainda não havia terminado.
— Seu estilo de música predileto é o gospel, a
canção que você mais amava era Hallelujah na versão
original do Buckley, mas pela quantidade de vezes que
escutou Rescue, da Lauren Daigle, no seu notebook
enquanto trabalhava na firma, desconfio que tenha
mudado de opinião.
Boquiaberta, o admirei, entendi aonde queria
chegar.
— Eu sei que você prefere dormir toda coberta
mesmo no calor, e quando está com fome fica tão
estressada que é capaz de bater em alguém — Filippo
falava com a maior facilidade, nada parecia decorado,
ele me conhecia em cada detalhe. Sempre me enxergou.
— Você amava passear de balão porque era uma
atividade que fazia com a sua mãe, e eu aposto todas as
minhas fichas que vai querer colocar o nome da nossa
filha de Aurora. — Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa
e se aproximou.
Antes que eu pudesse respondê-lo, Enzo voltou, o
que obrigou a nos recompormos e fingirmos que estava
tudo bem.
— Aqueles brinquedos não são para um garoto da
minha idade, tio Filippo — reclamou quando sentou em
sua cadeira, ofereceu o troco do dinheiro ao Filippo.
— Pode ficar, garoto. — O homem bagunçou os
seus cabelos e me olhou outra vez, com aquele sorriso
lindo, brilhante e apaixonado.
Precisei ir ao banheiro dar uma melhorada no rosto
antes de sairmos do restaurante, quase no final da
tarde. Foi quando me dei conta de que praticamente
passei o dia inteiro com ele.
Enzo entrou no carro, entreguei a minha bolsa a ele
e bati a porta. Me virei e caminhei até o homem de
camisa social cinza que me observava com as mãos nos
bolsos, ao lado do seu automóvel que estava
estacionado atrás do meu.
— Hoje foi um dia cheio de surpresas. Grazie,
Filippo. — Sorri, envolvida pelo seu perfume.
Ele me encarou cheio de vontade e com aquele
charme natural que me enfeitiçava. Então fitou o meu
abdômen.
— Posso? — Aproximou a mão. Eu assenti, em
seguida recebi o seu toque que se arrastou por toda a
minha barriga, com carinho, como se estivesse
conhecendo o local que abrigava os nossos bebês.
Não resisti, pousei a mão sobre a dele. O vento
morno agitou os nossos cabelos quando o sol começou a
se pôr. Filippo aproximou o rosto lentamente e foi ali, na
rua, enquanto as pessoas caminhavam de um lado a
outro, que nos beijamos como se estivéssemos
sozinhos, que me entreguei ao homem da minha vida,
mais uma vez.
Foi um beijo intenso, carregado de saudade, me
arrepiou o corpo inteiro. Os seus lábios engoliram os
meus, o seu braço laçou a minha cintura e me puxou
para perto. Eu o queria tanto que o puxei pelos cabelos,
a necessidade falava alto.
Era amor... sempre foi.
— Prometo que nunca mais vou te machucar, que
vou cuidar de você e te proteger... que serei o melhor
pai do mundo para os nossos filhos — Filippo murmurou
entre cada beijo, a voz rouca aquecendo a minha pele
durante os segundos que arrastou os lábios em meu
pescoço, mordiscou o meu queixo, os lábios.
Nem me dei conta de quando fiquei na ponta dos
pés ou quando o seu corpo me envolveu de tal maneira
que nem se eu quisesse, conseguiria fugir.
Encostamos as testas, arrastei as unhas em sua
barba cerrada, sem pressa, senti as nossas respirações
se tornarem a mesma coisa.
— Eu te amo tanto que não sei explicar... —
sussurrei, enfim abrindo os olhos.
— Meu amor... minha mulher. — Me apertou ainda
mais firme, e por um momento acreditei que dois corpos
poderiam sim ocupar o mesmo espaço.
— Quer saber mais uma coisa sobre mim que tenho
certeza que você ainda não sabe?
— Quero. — Filippo parecia o homem mais feliz do
mundo.
— Sempre achei você parecido com o Harvey.
Ele gargalhou e quase me beijou de novo, porém,
Enzo nos interrompeu:
— Eeei!! — exclamou da janela. — Esquecer uma
criança sozinha no carro é crime! — lembrou, nos
fazendo gargalhar mais uma vez.
Algumas semanas depois...

Acordei assim que o meu celular começou a tocar.


De olhos semicerrados, demorei a conseguir identificar o
nome que aparecia na tela, era o Enzo me ligando quase
duas da madrugada.
— Alô? Enzo? O que foi? Aconteceu alguma coisa?
A sua irmã está bem? — Mal permiti que o menino
falasse, fiquei preocupado de imediato porque sabia que
eles estavam sozinhos, Giancarlo teve que fazer mais
uma viagem de negócios.
— Ela está enjoando muito, tio... acho melhor você
vir aqui — sua voz estava tomada de sono, o que
denunciava que havia acabado de acordar.
— Certo. Estou indo! — Me levantei e marchei para
o banheiro, lavei o rosto rápido, me vesti mais rápido
ainda, não demorou nada para que estivesse em meu
carro a caminho da mansão dos Ruggiero.
Assim que entrei na sala de estar, subi as escadas
correndo, entrei no quarto da Ágata para encontrá-la
escovando os dentes no banheiro enquanto o seu irmão
cochilava sobre a sua cama.
Enrolada em uma toalha, ela se impressionou
quando me viu pelo reflexo do espelho, o cabelo
molhado provando que havia acabado de tomar um
banho. Cuspiu a espuma na cuba da pia de mármore
antes de falar:
— Filippo? O que está fazendo aqui? — disparou,
em seguida esfregou a boca.
— Enzo me ligou afirmando que você estava
passando mal. — Estreitei as sobrancelhas quando me
aproximei, preocupado. A analisei da cabeça aos pés em
busca de alguma pista que denunciasse que não estava
em seu estado normal.
— Eu não acredito que o Enzo fez isso — reclamou,
ajeitando a toalha que cobria os seus seios.
— O que aconteceu? — Segurei o seu queixo.
— Foi só um enjoo, nada demais, está tudo bem —
explicou, tocando a minha mão. — Não precisava ter
vindo correndo no meio da noite desse jeito, se tivesse
me ligado eu ia explicar. — Sorriu, como se apreciasse a
minha atitude.
— Nem pensei nisso, apenas queria chegar logo
para conferir se você e os nossos filhos estavam bem. —
Apoiei a mão livre sobre o seu abdômen inchado
encoberto pela toalha.
Ágata cresceu o sorriso.
— Você é louco, e o Enzo também. Enzo, vem aqui!
— chamou o garoto.
— Ele dormiu na sua cama — contei, sem parar de
acariciar o seu queixo com o polegar. — Tem certeza de
que está bem?
— O enjoo já foi, mas passei o dia sentindo dor na
lombar.
— Certo, eu vou levar o Enzo para o quarto dele e
volto aqui, tudo bem?
— Aham — Ágata concordou.
Deixei-a sozinha, voltei para o quarto e peguei o
Enzo no colo. Levei o garoto até a sua cama, sorri ao
assisti-lo em um sono profundo, baguncei os seus
cabelos antes de cobri-lo com o edredom, fechar a porta
e sair.
Enzo continuava cumprindo o nosso combinado de
me avisar absolutamente tudo que acontecesse com a
sua irmã independentemente de qualquer coisa, tendo
em vista que o médico deixou claro que a gravidez
gemelar necessitava de mais cuidados do que uma
normal, já que Ágata tinha os sintomas em dobro.
Giancarlo notou a minha aproximação, mas ainda
não havia dado espaço para conversarmos, apesar de
não me impedir de pegar Ágata em casa sempre que
fosse necessário. No trabalho, falávamos apenas
profissionalmente, na grande maioria das vezes apenas
em reuniões com os outros sócios.
Desde que voltei a me reaproximar da Ágata, era a
primeira vez que ficava na residência de Giancarlo sem
que ele estivesse presente, nunca mais havia passado
da porta de entrada, e não sabia como ele iria lidar
quando descobrisse que eu estava no quarto da sua filha
às duas da madrugada, entretanto, aquilo não era algo
com que devesse me preocupar. O mais importante era o
bem-estar da Ágata.
Encostado no batente do closet de braços cruzados,
observei-a se pentear de pé em frente ao espelho. Ela
usava uma camisola vermelha, curta demais para ficar
em minha presença, algo que fez o meu pau endurecer.
Os meus olhos brilharam em luxúria quando ela se
virou ao notar a minha presença. Suas bochechas
enrubesceram à medida que analisei o tecido quase
transparente destacar a sua barriga e os seios mais
volumosos do que costumavam ser. A calcinha
contornava o quadril largo, suas coxas grossas pareciam
ainda mais atraentes assim como os pés pequenos.
Umedeci os lábios, faminto.
Ágata estava com dezenove semanas de gestação e
desde que nos reaproximamos ainda não havíamos
transado. Mas eu era um homem paciente, estava
esperando o seu tempo.
— Ele dormiu? — Ela decidiu quebrar o nosso
contato visual que estava prestes a queimar o ambiente,
colocou a escova sobre o móvel ao lado.
— Sim. E você, está mesmo se sentindo bem? Quer
que eu faça alguma coisa?
— Estou bem, Filippo... — sorriu, então me
aproximei. — Eu garanto. — Me posicionei às suas
costas e a abracei devagar, pousei as mãos sobre o seu
abdômen maior do que o normal para a época de
gestação na qual estava, já que carregava dois bebês.
Nos encaramos através do espelho, Ágata suspirou
quando comecei a acariciar a sua barriga, possessivo,
ao mesmo tempo em que pressionava o meu pau em sua
lombar. Ela fechou os olhos, deitou a cabeça em meu
peito e mordeu o lábio inchado quando beijei o seu
pescoço lentamente, sentindo o cheiro do seu sabonete.
— Então acho que é hora de eu ir... — sussurrei
enquanto chupava a sua orelha, ela gemeu.
— Talvez... você possa ficar. — Ágata arranhou os
meus braços, esfregou a bunda grande em mim.
— Tem certeza? — Desci os dedos para dentro da
sua calcinha. — Onde eu iria dormir? — Alcancei o seu
clitóris inchado, ela deu um gritinho.
— Na minha... cama — respondeu com dificuldade,
sentindo o meu esfregar entre as suas dobras meladas,
molhadas demais para alguém que havia resistido por
tanto tempo.
— Com o pau enfiado na sua boceta? — Arrastei a
boca por sua bochecha, intensifiquei os movimentos
entre as suas pernas.
— Aham... — Ágata confirmou, necessitada,
buscando o meu beijo, apertando as coxas. A minha
barba cerrada espetou a sua pele, que tornou-a ainda
mais vermelha.
— Vou te fazer gozar a noite inteira, amor... — Fiz
Ágata ficar de frente, a encostei contra o espelho.
Retornei para dentro de sua calcinha, penetrei dois
dedos grossos em sua boceta, até o fim, e girei lá
dentro. Ela alucinou. — Vai se arrepender de nos causar
tanta saudade. Vou te foder por cada dia que me fez
esperar para te comer outra vez. — Fui e voltei, abri
espaço entre a carne apertada, atingi o seu ponto G.
Ágata me agarrou, se rendendo, ergueu a coxa.
A cada grito que dava, esguichava em sequência,
trêmula. Eu a segurei, beijei a sua boca sem delicadeza
à medida que saí de seu corpo e a massageei com força,
esmagando a sua boceta sensível entre os dedos. Girei,
dominei toda a sua extensão babada. Fiz com que
esquentasse, pegasse fogo.
Por fim, acertei tapas estalados em seu clitóris,
atiçando os seus hormônios à medida que ela continuava
esguichando e criava uma poça aos nossos pés.
Quando perdeu as forças, a peguei em meus braços
e a carreguei para a sua cama. Tranquei a porta do seu
quarto e voltei tirando a roupa.
Ágata ficou me admirando, seduzida. Ajudei a tirar
sua camisola enquanto nos beijávamos apaixonados. Me
deitei na cama, abri as suas pernas ao máximo, de
maneira que ficasse completamente exposta, lambuzada
e carnuda.
Olhando em seus olhos com uma intensidade quase
violenta, abocanhei os seus lábios vaginais que
pareceram derreter em minha língua de tão gostoso que
foi aquele contato. Com calma, os chupei, sorvi cada
centímetro de pele e me perdi em meio às suas dobras
que se esfregaram entre os meus dentes, roçaram na
barba.
Ágata enlouqueceu, ela forçou as pernas então
permiti que ficasse à vontade, soltei as suas coxas para
segurar firme em seu quadril.
A garota se manteve aberta para mim, arrastando os
pés delicados em meus braços e costas enquanto eu
aumentava a força com que a mamava, matando a
saudade.
— Porra..., você parece ainda mais saborosa,
menina! — Ofeguei, arrastei a língua de cima a baixo,
chicoteei o clitóris, molhei o dedo do meio dentro dela
antes de usá-lo para penetrar o seu cu.
— OOH! — Ágata gritou, jogou a cabeça para trás,
espalmou os seios pesados cujos mamilos estavam
intumescidos de tesão.
Ergui a mão livre para apertar um deles, beliscar o
bico. O meu olhar se manteve obcecado em cada uma de
suas reações, não parei de chupá-la nem de provocá-la
entre as nádegas até que Ágata não resistisse,
explodisse de novo. Mas dessa vez em minha boca.
Fiz uma festa, bebi tudo, mordi a sua carne como se
fosse algo raro. Fui me erguendo à medida que
arrastava os dentes em sua perna ao ficar de joelhos.
Beijei os seus pés e até mordi os pequenos dedos
enquanto agarrava o meu pau e me masturbava,
sentindo a minha virilidade ficar maior, engrossar.
Ágata me assistia como se eu fosse um deus, era
como se cobiçasse cada parte do meu corpo,
principalmente o pau que estava preparado para fodê-la.
— Acha que não percebi que me trouxe até aqui de
propósito? — grunhi, feito o verdadeiro animal que era.
Captei a confirmação que precisava no rosto da infeliz.
Um sorriso saliente se fez entre os seus lábios. — Se
queria tanto me dar era só ter falado... — A minha voz
emanou rouca, esfreguei a glande lubrificada e aquecida
sobre o seu clitóris. Ágata ofegou alto, alucinando com a
minha provocação. Então a penetrei, apenas a ponta
grossa.
— Aaai... — O seu gemido saiu trêmulo, carente.
Ágata fechou os olhos por um instante quando contraiu,
me sugando. E quando não conseguiu mais resistir
àquela loucura, ergueu o quadril, desesperada.
Agarrei as suas coxas, possessivo. Forcei o quadril
e me enterrei dentro dela, pouco a pouco, assistindo a
sua boceta faminta me engolir a cada polegada, cada
veia dilatada onde corria aquele exagero de sangue.
Ergui o rosto quando meti até o fim, fechei as pálpebras,
rugi. Senti aquela energia primitiva me inundando, uma
força tão masculina que sequer tinha explicação.
Ágata também sentiu, ela mordeu os dedos, ficou
louca. Eu a contemplei louco da mesma maneira,
achando-a ainda mais bela grávida daquele jeito.
— Que Deus me dê controle... — rosnei, entre
dentes, o coração ameaçando rasgar o peito.
Então eu me movimentei, uma, duas, várias vezes.
A cada impacto, os seios dela ondulavam, suas coxas
batiam nas minhas, era pele roçando com pele.
Os músculos dos meus braços contraíram, fodi com
um pouco mais de força, Ágata fez um escândalo,
bagunçou os cabelos. Ela estava entregue, vulnerável e
ansiosa para gozar outra vez. A garota me sentia fundo,
deslizando em um ritmo intenso entre os seus lábios
vaginais.
Então eu a soltei, a segurei firme pelos calcanhares,
fazendo com que ficasse arreganhada para continuar me
recebendo. Meti com gosto, dei a ela o que estava
querendo. Beijei o seu pé de um jeito apaixonado, fechei
os olhos, não me cansei.
Ágata estava prestes a gozar de novo então me
inclinei sobre o seu corpo, tomei cuidado para não pesar
sobre a sua barriga e a beijei, reivindiquei a sua boca.
Chupei a sua língua sem parar de lhe foder, meu quadril
subia e descia, incansável.
Arrastei os lábios por seu pescoço até os seios
inchados, os segurei com força, os dedos afundaram na
carne rosada. Quando comecei a mamá-los, não pude
mais parar, toda aquela abundância me corrompeu. Sorvi
os bicos, suguei tudo, me viciei.
Ágata não resistiu à pressão, tanto aquela que o
meu pau fazia entre as suas pernas quanto à maneira
que a minha boca castigava os seus peitos. Ela puxou o
meu cabelo, me cercou com as coxas. Suas unhas
arranharam as minhas costas, a sua boceta me sugou
até o fundo e sufocou como se fosse a minha dona.
E de fato era.
— Você é minha! — Soquei com força, o barulho que
fazíamos parecia música. — Você me pertence, Ágata!
— rugi. Ela berrou.
O orgasmo nos golpeou ao mesmo tempo. Forte.
Intenso. Avassalador.
Despejei toda a minha porra dentro dela, quente e
espessa. Parecia que iria morrer, fiquei alucinado,
completamente envolvido. Vibrei. Ela era a mulher da
minha vida, significava tudo pra mim!
Ofegante, Filippo demorou até finalmente
escorregar para fora de mim, todo lambuzado, uma
mistura do meu prazer e do dele que, também se
espalhava pela minha virilha. Ainda trêmula dos
orgasmos, permiti que aquela magia da qual senti tanta
saudade me dominasse até o último instante, cada
espasmo do meu corpo denunciava o quanto necessitava
daquele homem.
Não sabia ao certo como explicar, mas aquele sexo
foi o melhor de todos, o meu corpo estava extremamente
sensível e parecia sentir tudo em dobro, ou triplo. Não
era à toa a quantidade de vezes que gozei, nem o
quanto havia me tornado submissa.
Tentei respirar com calma, fechar as pernas, mas
Filippo me impediu:
— Ainda não acabei com você. — Ele me
surpreendeu, a sua ereção não havia perdido a força. —
Eu disse que iria te foder a noite inteira, então fique de
quatro — ordenou, passando a mão no cabelo, sexy de
tal maneira que demorei a perceber quando mordi o lábio
inchado, devido ao tesão que identifiquei em seu olhar.
O infeliz me tinha completamente dominada,
apaixonada de uma forma que não existia possibilidade
de desobedecê-lo. Era curioso aquele sentimento de
pertencer a alguém, de idolatrá-lo ou perceber que a
minha boceta corresponderia a qualquer movimento do
pau dele.
Sem pensar em mais nada, apenas fiz o que
mandou, virei o corpo, deitei a cabeça e ergui a bunda.
— Abra mais. — Filippo acertou um tapa ardido em
minha nádega. Arquejei, deixei os joelhos escorregarem
para os lados e a minha barriga pressionar o colchão.
Filippo agarrou a minha bunda dos dois lados,
pressionou a carne sensível entre os dedos, abrindo o
caminho até a boceta que ficou completamente
vulnerável.
Podia sentir um fio do líquido viscoso saindo de mim
e descer até os lençóis.
— Gostosa demais... — rosnou, cheio de desejo. Ele
melou o polegar grosso entre os meus lábios vaginais e
o penetrou em meu ânus, bem devagar. Eu gritei e
estiquei o braço direito, baguncei o lençol. — Gosta
disso, não é? — perguntou, lascivo, fazendo com que um
arrepio intenso me envolvesse a pele. — Safada... —
grunhiu, usou a mão livre para acariciar o meu clitóris.
Fui masturbada nos dois lados, ao mesmo tempo. E
a habilidade que Filippo usou para fazer aquilo não
facilitou as coisas, pelo contrário, era como se me
torturasse, obrigando-me a afundar o rosto no colchão
enquanto rebolava necessitada, em busca de saciar
aquele fogo que só fiz quando gozei.
Enfraquecida, quis me deitar, mas Filippo não
permitiu. Ele me segurou pelo quadril e firmou os meus
joelhos até que eu ficasse da maneira que lhe agradava.
Recebi mais um tapa, a minha bunda ondulou. A
pele ardeu de um jeito gostoso, fechei os olhos à medida
que o infeliz arrastava a mão áspera e grande pelas
minhas costas, até agarrar um punhado do meu cabelo
no limite adequado da força.
— Comer você é muito bom. Mas te comer grávida,
é melhor ainda — foi o que disse enquanto roçava a
glande melada entre as minhas dobras, em uma
brincadeira lasciva que me obrigou a fechar os olhos e
gemer.
Quando menos esperei, Filippo me penetrou,
afundou o pau em minha boceta em um ritmo lento que
me deixou tonta, preencheu toda.
Palavras ininteligíveis foram expulsas dos meus
lábios assim que o senti por completo. Grosso. Rústico.
Pulsando. Aquela sensação era indescritível, fora de
controle. Era como se eu estivesse experimentando
aquele homem pela primeira vez, e as terminações
nervosas da minha boceta se multiplicassem, me
deixassem louca.
Provando que sabia bem o que estava fazendo, ele
começou a me foder de verdade, aumentou a velocidade
das estocadas. Quando percebi, estava me castigando,
hora ou outra desacelerava, ficava alguns instantes
parado, depois voltava a intensificar de novo.
Então eu rebolei, contribuí da maneira que pude.
Nos movimentamos ao mesmo tempo, o impacto dos
corpos o deixava louco.
Em nenhum momento Filippo soltou o meu cabelo,
pelo contrário, puxou firme, fez com que eu erguesse o
rosto. Possessivo, usou a mão livre para agarrar a minha
bunda, afundar os dedos na minha carne. Toda vez que
a minha boceta o engolia, queria mais, e sentia o vazio
quando se afastava.
Quando não conseguiu mais resistir, fez uma
sequência acelerada, a última de todas. Filippo rugiu
alto, gostoso, másculo, e apenas aquilo fez com que eu
gozasse de novo, o acompanhando na luxúria.
Por fim, ele me liberou e permitiu que eu deitasse
na cama, exausta. Filippo se deitou ao meu lado, de
frente, sorrindo saliente ao acariciar o meu rosto
enquanto buscávamos a calma.
Ficamos assim por algum tempo, imersos na
profundidade daquele nosso silêncio apaixonado, até
que me surpreendi quando o escutei falar:
— Casa comigo? — disparou, do nada, ainda
ofegante. Um sorriso meigo se formou em meus lábios.
— Assim? Sem oferecer um anel? — Não esperava
um pedido, mas sempre sonhei que fosse algo
romântico.
Filippo tornou o seu olhar afiado, entendendo aonde
eu queria chegar. O seu sorriso cresceu, perigoso.
— Primeiro você usa o seu irmão para me trazer
para cá...
— Você o usou há mais tempo, para ficar de olho
em mim — argumentei.
— E agora quer um anel.
— Eu mereço. É o mínimo. — Acariciei a sua barba.
— Minha mulher exigente. — Mordeu a ponta dos
meus dedos.
— Eu ainda não disse sim — o provoquei.
Filippo se sentou, pegou a sua cueca preta do chão
e a vestiu. Quando caminhou até onde havia deixado a
sua calça, decidi me levantar, enrolei-me no lençol
cinza, permitindo que a seda beijasse e envolvesse o
meu corpo, feito um manto segurado no alto do busto
que descia em cascata.
Cheia de expectativas, o observei catar algo dos
bolsos da sua roupa e voltar, as mãos atrás das costas.
— Não acredito... — comentei, incrédula, meu
coração acelerou.
— Para a sua sorte... — Filippo apoiou um joelho no
chão e revelou o que escondia, ergueu as mãos. — Eu
sou um homem precavido — completou, abrindo o
pequeno estojo vermelho, que guardava um anel cuja
pedra central era um belíssimo diamante azul.
— Ah, Filippo... — soprei as palavras, encantada.
— Você estava certa, Ágata. Isso é o mínimo que
você merece. É só o início... — colocou o aro de ouro
branco em meu dedo, a peça se encaixou perfeitamente,
parecia feita sob medida — de uma vida inteira que eu
tenho pra te dar — declarou. — Se disser um sim, é
claro — fez piada, como se fosse possível eu negar.
Admirei todo aquele luxo, uma maravilha.
— Sim. — Sorri. — Agora, sim — corrigi,
gargalhando em seguida. Contente, Filippo beijou a
minha barriga.
— E aí, crianças? — Espalmou o meu abdômen. —
Aprovado?
— Será? — brinquei, e provando que aquele
momento poderia ser ainda mais perfeito, os bebês se
mexeram pela primeira vez, uma onda se formou em
minha pele.
— Mamma mia! Você viu isso? — Filippo ficou tão
chocado que se levantou, sobressaltado.
— Não só vi como senti! — Fiquei surpresa também.
— Dio Santo!
— Mamma mia! — O homem se derreteu, beijou a
minha barriga várias vezes, então recebemos mais uma
resposta dos gêmeos, eles se mexeram outra vez.
Foi lindo.
Estava no fim do expediente quando fui avisado por
Emma que Giancarlo estava finalmente sozinho em sua
sala, e que aquela seria a oportunidade perfeita para a
conversa que há dias eu pretendia ter com ele, mas que
ainda não tinha conseguido desde que havia voltado de
viagem.
Segui até a cobertura enquanto a maioria dos
funcionários iam embora. Entrei na sala daquele que não
sabia se ainda me considerava um amigo.
Sentado em sua poltrona de pernas cruzadas, o
homem de cabelo loiro-acastanhado analisava um
documento.
— Estava esperando você chegar — informou,
erguendo o rosto para me olhar nos olhos. Então saquei
tudo.
— Ágata não segurou a língua... — deduzi,
sentando-me no sofá à sua frente.
— Acho que ela ficou com medo de você ser surrado
por mim outra vez. — Giancarlo esticou um meio-sorriso,
convencido.
Sorri também, cruzei as pernas e apoiei um dos
braços no apoio do sofá.
— Então sabe sobre o que vim falar — fui direito ao
assunto.
— Sim, sobre o casamento com a minha filha. —
Giancarlo colocou os papéis que segurava sobre a
mesinha de centro e respirou fundo, me encarando com
uma seriedade nada amigável.
Depois de tudo o que aconteceu, nunca mais fomos
os mesmos. Soube que ele ficou feliz com a notícia dos
gêmeos, mas sequer trocamos uma palavra. A impressão
que dava era a de que o muro de gelo que o cercava
nunca derreteria, sempre estaria pronto para protegê-lo.
— Olha, Filippo, à essa altura você já deve ter
entendido que eu não decido pela Ágata. Ela é maior de
idade, já pode ser considerada mãe, ficarei feliz se essa
escolha significar a felicidade dela. Mas isso não
significa que te perdoei. — Sua expressão ficou amarga.
— Ainda continuo com a mesma opinião a seu respeito,
não confio mais em você. Pelo menos, não como o
homem capaz de proteger a minha filha — foi sincero.
Desconfortável, eu assenti.
Decidi engolir aquelas palavras, não por me sentir
culpado, porque com a Ágata já tinha resolvido todas as
minhas desavenças, e a opinião dela era a mais
importante. Mas sim porque conhecia Giancarlo o
suficiente para saber que a sua atitude não dizia mais
respeito a mim, mas sim a ele mesmo.
O homem nunca se perdoou, porque na sua cabeça
havia deixado a Aurora morrer. Na sua fodida cabeça,
acreditava que poderia ter impedido o falecimento da
mulher que mais amou na vida.
Se ele não era capaz de perdoar a si mesmo, como
o faria comigo?
— Tudo bem — concordei, me levantando e fazendo
menção em partir.
— Não vai argumentar? — Parei de caminhar ao
escutá-lo. — Claro que não, a minha opinião não
importa, já conseguiu o que queria. Ágata é sua de
corpo e alma e nada do que eu faça mudará isso —
concluiu, insatisfeito.
Suspirei, virei e o encarei, concentrado.
— Está enganado, Giancarlo, a sua opinião importa
muito para mim, afinal, ainda o considero um dos meus
melhores amigos. Eu o conheço bem e há muitos anos,
por esse motivo decidi ficar calado. Entendi o que
realmente está acontecendo e não quero correr o risco
de dizer algo que possa te ferir.
— Do que está falando? — Ele se levantou, de
queixo erguido.
Então me aproximei, devagar.
— Tudo o que você disse não é mais sobre mim ou
sobre o que fiz com a Ágata, é sobre você — disparei,
calmo, percebi que o peguei de surpresa. — Continuo
superando os meus demônios, Ágata está me ajudando
nisso porque em meio ao meu nevoeiro escuro, ela se
tornou a luz que me guia. Mas você, Giancarlo, diferente
de mim, está longe de começar a superar o seu passado.
— Não sabe o que está dizendo — rosnou, de
punhos cerrados, identifiquei a raiva em seu olhar, a
mesma que até meses atrás me adoecia.
— Tudo bem, é só a minha opinião. — Recuei, não
queria brigar, sabia que estava pisando em um terreno
delicado. — Agora tenho que ir, Ágata está vindo me
encontrar.
Fiz menção em sair, mas escutei o toque da ligação
e tive de atender o meu celular. Era a Emma.
— Filippo! A Greta... com a Ágata! — O terror na
voz da mulher me arrepiou dos pés à cabeça.
— Com a Ágata? Onde? — exclamei, nervoso.
Giancarlo deu um passo à frente, preocupando-se
ao escutar o nome da filha ser pronunciado. Ao ouvir a
resposta de Emma, saí correndo, desesperado.
Giancarlo me seguiu. Por sorte, encontramos o elevador
abrindo, então descemos até o térreo, onde acontecia
uma cena horrível em frente ao prédio: Greta com um
revólver apontado para a minha mulher.
— Não! — berrei, antes de atravessar as portas de
vidro e ultrapassar o círculo de pessoas que se formava
ao redor das duas, uma plateia.
— Filippo! — Ágata gritou ao me ver, paralisada de
medo. Sem pensar duas vezes, entrei na sua frente,
feito um escudo.
— Greta, o que está fazendo? — perguntei,
assustado, protegendo Ágata atrás de mim.
— Ah, você ainda pergunta?! — ela gritou,
descontrolada, as mãos trêmulas, os olhos em lágrimas
de rancor. — Eu te pedi um favor, Filippo, apenas um, e
você me ignorou assim como fez durante todos esses
anos!
Troquei um olhar rápido com o Giancarlo que, ao
assentir, entendeu o que precisava fazer.
— Greta, abaixe essa arma, vamos conversar... —
Estendi um braço em sua direção, tentando manter a
calma para tentar lhe tranquilizar.
Ela parecia completamente louca.
— Ah, agora quer conversar? — Expressou um
sorriso doentio. — Agora não há mais o que fazer, o
banco tomou o meu apartamento, eu estou na sarjeta!
Do jeito que você queria quando me abandonou!
— Eu não te abandonei... — Tentei ganhar tempo, à
medida que Giancarlo se aproximava da mulher.
— Sim! Você fez! — Greta me acusou, dando um
passo em minha direção enquanto eu sentia Ágata
tremer às minhas costas, aterrorizada. — E agora acha
que tem o direito de formar uma família feliz com essa
fedelha enquanto eu morro de fome?! — gritou, nervosa.
— Acha isso justo, senhor advogado?! — Ergueu o rosto,
em fúria.
Giancarlo estava prestes a lhe dar o bote, mas a
infeliz percebeu a tempo e mirou na direção dele.
— Não ouse se aproximar ou eu te mato, seu
desgraçado! — ameaçou, apontou a arma de mim para
ele. Repetiu esse mesmo movimento sem parar, como se
decidisse em quem atiraria primeiro.
As pessoas ao nosso redor estavam apavoradas,
todos assistiam e filmavam como se aquilo fosse um
maldito espetáculo. Um no qual eu deveria tomar uma
atitude ou o pior iria acontecer, e eu jamais me
perdoaria se permitisse aquilo.
— Pai! — Ágata berrou, chorando ao ver o Giancarlo
sob a mira da infeliz.
Respirei fundo, entendi o que deveria fazer.
— Greta, olhe para mim. — Ela olhou, no mesmo
instante em que escutamos uma sirene policial se
aproximar. — Sou eu que você quer. É por mim que está
aqui, então vamos resolver isso apenas entre a gente,
certo? — pontuei, cauteloso, dando um passo em sua
direção.
— Filippo, não... — Ágata sussurrou, tentou me
segurar, mas continuei.
Greta se manteve calada, observando a mim e a
Giancarlo ao mesmo tempo.
— Sou eu que você quer. Eu. Faça o que quiser
comigo, mas não com ela — apontei para Ágata — ou
com ele — olhei para o meu amigo.
— Filippo... — Greta me chamou, entredentes,
choramingando ao ficar tensa com a minha aproximação.
— Eu vou atirar em você — ameaçou, como se tivesse
avisando não apenas para mim, mas para si mesma.
— Isso... atire em mim, não neles — neguei com o
rosto, chegando ainda mais perto da mulher até que ela
decidiu focar apenas em mim, como eu queria. — Sou eu
— assenti, com calma. — Eu e você. Apenas nós dois —
repeti, ela engoliu em seco, suas mãos continuaram
tremendo, sua respiração era ofegante.
— Tudo o que queria era que ainda me amasse... —
Greta revelou, soluçando. — Eu não queria ter mentido
pra você... — lamentou, abaixando o rosto por um
instante à medida que a viatura da polícia parou na
avenida ao nosso lado. — Queria que aquele filho fosse
seu, fiquei louca quando descobri sobre essa fedelha! —
Sua voz ficou amarga na última palavra.
— Fique calma, converse comigo — pedi.
— Agora não tem mais volta... — soluçou outra vez.
— Greta, escute. — Ela ergueu o rosto, tentando ter
algum tipo de controle. — Se fizer alguma coisa com a
Ágata, eu nunca vou te perdoar — prometi, e o que disse
foi tão forte que pareceu surtir efeito em cada pedaço da
desgraçada. — Pode atirar em mim, tirar a minha vida,
mas não toque nela — implorei, fazendo com que
chorasse mais. — Ou é isso ou me dê essa arma e
vamos acabar com essa situação. — Ofereci a mão.
— Atenção, senhora! Você está cercada! Não atire!
— os policias gritaram, as pessoas se espalharam, com
medo.
Greta olhou ao redor, percebendo que estava sob a
mira de outras armas. Então voltou a focar em mim,
pareceu desistir de tudo e me entregou o revólver.
Suspirei em alívio.
Os policias se aproximaram depressa e a pegaram.
Entreguei o revólver a um deles e olhei para trás em
desespero, procurando a minha garota que encontrei nos
braços da Emma, arrasada. Nós corremos um em direção
ao outro e nos abraçamos como se fosse a nossa última
chance, como se o mundo tivesse desabando e o que
nos salvaria seria aquele abraço.
Eu a acolhi com tanta força contra o meu corpo que
senti o coração chegar à boca, o sangue ainda gelado
em minhas veias sofria com o medo de perdê-la, de não
tê-la mais comigo.
— Por que fez isso? Por que quis se sacrificar? Por
quê? — Ágata perguntou, as palavras saíram
engasgadas. Ela me segurava pelo colarinho, nervosa,
querendo uma explicação.
Segurei o seu rosto, olhei no fundo dos seus olhos
verdes. E o que disse a seguir saiu de dentro do meu
coração:
— Eu morreria por você.
Era verdade, por ela eu seria capaz de morrer.
Preferia ter que tirar a minha vida do que vê-la morta em
meus braços ou sofrer outra vez por minha culpa.
Então a beijei e a abracei de novo. Giancarlo se
aproximou, parecia aliviado, Ágata correu para abraçá-lo
ao mesmo tempo em que Emma também me abraçou,
trêmula, morrendo de medo, os olhos molhados.
Naquele momento, Giancarlo me encarou, e em seu
olhar enxerguei tanta gratidão que fiquei surpreso,
porque era uma cena que até minutos atrás, não parecia
possível.
Após acalmar a filha, ele veio ao meu encontro e me
apertou a mão, em seguida puxou-me para um abraço
que traduzia o quanto estava agradecido por ter feito o
que fiz.
Não precisou de palavras, naquele momento entendi
que ele havia voltado a ser meu amigo.
Três meses depois...

Ao me olhar pela última vez no espelho de corpo


inteiro, soube que estava pronta para me tornar a Sra.
Gagliardi Ruggiero. O vestido de noiva que cobria o meu
corpo havia sido feito sob medida, era algo simples e
sofisticado, de um tecido macio que não incomodava o
volume da minha barriga.
As mangas eram curtas e rendadas, o meu cabelo
estava preso em um rabo de cavalo com uma mecha
solta de cada lado do rosto, o que trazia suavidade à
minha pele levemente maquiada.
Acariciei o abdômen inchado, sorri para o meu
reflexo porque gostei do que vi. Estava adorando a
minha gestação, apesar de todos os percalços que havia
passado.
Após aquele infortúnio com a Greta, a minha família
ficou mais unida e o meu relacionamento com o Filippo
foi finalmente aceito pelo meu pai. Era óbvio que o
Giancarlo jamais tentaria me impedir de ficar com ele,
mas lá no fundo sabia que ainda não tinha dado a sua
bênção, até aquele momento.
Como se adivinhasse que flutuava entre os meus
pensamentos, papai entrou na minha suíte, trocamos um
olhar feliz através do espelho. Estávamos no mesmo
hotel onde o meu relacionamento com o Filippo, de fato,
havia sido consumado, preferimos casar em Vegas, a
cidade onde tudo começou.
— Você está linda, filha — papai comentou quando
me virei para olhá-lo de frente. — Seria clichê afirmar
que é a noiva mais perfeita do mundo? — Se aproximou,
com um sorriso orgulhoso, os olhos carregados de amor.
— Que bom que gostou, pai. — Acariciei a saia do
vestido, senti a ansiedade me tomar aos poucos.
— Fico imaginando o que a sua mãe diria se visse
você desse jeito — papai deslizou a ponta dos dedos
pelo meu braço, parecia encantado. — Adulta, grávida e
prestes a se casar — ele sorriu, emocionado, lutando
para segurar as lágrimas.
— Oh, pai... eu não posso borrar a maquiagem — a
minha voz saiu embargada quando o abracei.
— Vou sentir tanta falta de você lá em casa, filha...
— confessou, em um soluço sufocado. Meu coração se
partiu, estávamos há meses nos preparando para a
despedida, para o momento no qual eu sairia do lugar
onde sempre morei para viver ao lado de Filippo. —
Agora será apenas eu e o Enzo — se afastou um pouco,
tocou o meu rosto com cuidado.
— Eu sempre estarei com vocês, pai — afirmei,
emocionada, enxugando as lágrimas antes que caíssem.
— Eu e os seus netos. — Coloquei a sua mão grande
sobre a minha barriga pesada.
— Meus netinhos queridos... — Giancarlo olhou
para o meu abdômen, sorriu após enxugar o rosto. —
Sabe que não paro de imaginar como será o rostinho
deles? — Me encarou, repleto de expectativas. — Foi
assim com você e depois com o Enzo.
— Mas eu não quero que o senhor fique triste, pai
— rocei as unhas em sua barba aparada.
— Não se preocupe, filha, a verdade é que estou
feliz. Tenho certeza de que estará em boas mãos —
confessou, fazendo com que o meu coração batesse
acelerado. — Você se tornou a melhor versão que
poderia existir de mim e da sua mãe.
Eu precisava daquelas palavras, e ouvi-las em um
momento tão especial da minha vida, foi tudo o que
faltava para que aquele instante se tornasse ainda mais
perfeito.
Tive que me olhar outra vez no espelho, retocar a
maquiagem enquanto papai pegava o meu pequeno
buquê.
— Vamos? Filippo está esperando — lembrou.
— Vamos. — Assenti, tomando coragem.
Não demorou para que saíssemos do hotel e
entrássemos na limusine que estava nos aguardando.
Durante a viagem até a pequena capela que escolhemos
para o casamento, observei a cidade passar pela janela,
lembrei de todos os momentos mais especiais da minha
vida, da minha mãe. Senti que estava fazendo a coisa
certa, que a partir daquele momento, iniciaria um novo
ciclo da minha vida.
A limusine estacionou, nós descemos. Fiquei de
braços dados com o meu pai e entrei na capela assim
que as portas se abriram e o instrumental de Rescue, da
Lauren Daigle, começou a tocar, assim como foi pedido.
Os poucos convidados se ergueram: Emma, Tomás e
Enzo, os amigos do Filippo, Giuseppe e Milena [ 2 0 ] . No
altar, estava ele, elegante em um terno cinza-claro, o
amor da minha vida, o homem pelo qual fui apaixonada
desde que o vi pela primeira vez, Filippo Gagliardi.
Ele sorria como se, a cada passo que eu dava em
sua direção, fosse uma conquista, um impulso a mais
para a sua felicidade que parecia exalar em cada poro
do seu corpo.
Giancarlo beijou a minha testa antes de me entregar
a ele. Filippo segurou as minhas mãos como se elas
fossem feitas de ouro. Mergulhou em meus olhos com
um sentimento apaixonado, fazendo assim com que um
arrepio gostoso me envolvesse a pele.
— Eu juro te amar para sempre. Te proteger. Dar a
minha vida a você e aos nossos filhos se for necessário
— declarou, aquecendo o meu coração. — Juro ser a
mão que acariciará o seu rosto todos os dias, os lábios
que irão sorrir com o seu sorriso, o coração que baterá
sempre que o seu bater. Juro não te deixar sozinha e ser
o homem merecedor de passar o resto dos meus dias ao
seu lado.
— Eu juro te amar para sempre. Te proteger. Dar a
minha vida a você e aos nossos filhos se for necessário
— repeti, emocionada, respirando com calma para poder
continuar. — Juro ser o abraço que irá te acolher quando
precisar, a luz que irá guiá-lo quando tudo estiver
escuro, a força motriz para incentivá-lo a alcançar os
seus objetivos. Eu juro não te deixar sozinho, e ser a
mulher merecedora de passar o resto dos meus dias ao
seu lado.
— O noivo pode beijar a noiva — o cerimonialista
consentiu.
— Eu te amo. — Filippo me puxou para perto.
— Eu te amo — declarei, antes dos meus lábios
serem tocados pelos seus, em um beijo que fez eu me
sentir nas nuvens.
Todos se levantaram novamente e nos aplaudiram, a
música voltou a tocar e nos acompanhou até sairmos da
capela, momento em que fui pega de surpresa ao avistar
um balão nos aguardando do lado de fora, pronto para
um voo em meio ao pôr do sol.
— O que significa isso? — Encarei o Filippo sem
conseguir acreditar no que estava vendo.
— Acha mesmo que não pensei em tudo? — Ele
sorriu, sabia que um passeio daqueles significava muito
para mim, tocava fundo em meus sentimentos, fazia-me
lembrar da minha mãe. — Vamos?
Me despedi do meu pai, Enzo e todos os outros.
Entreguei o buquê à Emma, a única solteira do grupo.
Filippo também se despediu e me ajudou a subir no
balão decorado com fitas brancas, mensagens de amor e
as fotos que fizemos durante a gravidez.
O piloto nos instruiu sobre todos os procedimentos
de segurança antes de alçar voo, e nos fazer invadir as
nuvens amareladas, da cor de ouro.
Filippo me abraçou para me dar coragem até que
ficássemos estabilizados no céu. O vento morno soprou,
meneou os fios do meu cabelo. Sorri de orelha a orelha
ao contemplar aquela linda paisagem divina, um
momento único do qual jamais iria esquecer.
Agradeci a Deus em minha mente, agradeci à vida
que estava tendo com um homem que me amava de
verdade. A minha família.
Filippo espalmou a minha barriga, nossos filhos
chutaram quando sentiram o toque do papai.
Encostamos as nossas testas e nos beijamos
apaixonados, poderia até afirmar que nossos corações
batiam na mesma sintonia.
Olhei para o pôr do sol outra vez, respirei fundo e
pensei que aquele não era o final, mas sim o início de
uma longa história feliz.
Sentado dentro da banheira cheirando à lavanda,
repleta de espumas e rosas, aproveitei aquele momento
relaxante com a minha esposa após o nosso passeio de
balão. Ágata estava deitada de maneira confortável em
meu colo. Meus braços a cercavam e as minhas mãos
espalmavam a sua barriga, que parecia ainda maior e
mais bela.
— Trinta e quatro semanas de gestação, e eu tenho
certeza que sentirei falta desses momentos — sussurrei
contra o seu ouvido, fazendo-a sorrir à medida que os
meus dedos se arrastavam por sua pele, possessivos.
— É? Quem diria que o meu marido ficaria tão
apaixonado por sua esposa grávida... — fez piada, sua
cabeça estava deitada sobre o meu peito. Ela ergueu o
rosto, contente.
— Quem diria... — refleti. Em seguida cheguei à
uma conclusão: — Não estou apenas apaixonado como
obcecado por cada fase sua durante a gravidez. —
Mordisquei os seus lábios, a excitando.
— Até pelas curvas que perdi? — murmurou,
seduzida.
— Aham — confirmei.
— Os pés inchados, as marcas em meu corpo...
— Tudo, amor — confessei. — Você é perfeita, e
grávida então... — Desci os dedos até a sua boceta,
toquei de forma sutil o seu clitóris inchado.
— Aah... — Ágata gemeu. — Vou sentir falta de toda
essa sensibilidade que a gravidez me causa — revelou,
me beijando mais um pouco.
— Não se preocupe. Prometo que darei um jeito
para que continue à flor da pele. E se for o caso, posso
até engravidá-la outra vez. — Nós sorrimos com a
brincadeira, me arrastei por entre as suas dobras.
Ágata abriu as pernas, necessitada.
— Preciso de você dentro de mim... agora —
mordeu o meu lábio, sentindo o meu pau endurecer entre
nós dois.
— Vamos para a cama — ordenei, ajudei a minha
mulher a se levantar. A enxuguei com a toalha antes de
seguirmos até o quarto.
Ágata se sentou na lateral da cama, eu segurei o
seu cabelo de maneira delicada, em um rabo de cavalo
que usei para guiar a sua boca molhada até o meu pau.
A garota me segurou pela base, permiti que também
tivesse o controle, deslizou a língua saliente por cada
uma de minhas veias até as bolas, onde me sugou.
— Hmm... — Um gemido rouco escapou por minha
garganta, assim como tantos outros. — Que boquinha
deliciosa, amor... — elogiei, permitindo que ela me
saboreasse à medida que eu a fodia entre os lábios,
devagar, curtindo cada movimento que fazia, cada
chupada envolvente.
Ágata mamou com vontade, degustou a minha carne
como se fosse um fruto raro, babou o eixo grosso que a
enchia por dentro, afundava em sua garganta, ia e
voltava. Era como se tivesse uma verdadeira adoração
pelo meu pau, tanto quanto eu era fascinado e obcecado
por sua boceta.
Gemi com os beijos depositados sobre a minha
glande carnuda, alucinei com a habilidade que usou para
pincelar a minha fenda, de onde sorvia o líquido pré-
ejaculatório.
Segurei o seu cabelo com mais força, empurrei a
sua cabeça para baixo e movimentei o quadril com um
pouco mais de velocidade, gostando daquela safadeza.
Quando a minha pele ardeu e as bolas formigaram,
soube que devia pará-la porque, do contrário, acabaria
gozando antes do previsto. Não que me faltasse
vontade, mas era de minha preferência satisfazê-la em
primeiro lugar, deixá-la louca antes que fosse
enlouquecido.
No entanto, Ágata demonstrou não concordar com
aquilo. Puxou-me com ainda mais desejo e se empenhou
até me fazer explodir em sua língua, melar os seus
lábios.
— Caralho... — chiei, a respiração fora de ritmo.
Ela cuspiu tudo na toalha que puxou até a boca
enquanto eu me limpei no primeiro lençol que vi à minha
frente. Em seguida, a beijei, seduzido por sua vontade
em me dar prazer. Sentei-me ao seu lado, arrastei a mão
áspera por seu abdômen até alcançar a alta temperatura
de sua boceta.
Ágata apoiou as mãos na cama e se inclinou para
trás, abrindo as pernas, dando o acesso livre que os
meus dedos precisavam para masturbá-la. Dominei toda
a sua virilha, fiz com que gemesse forte quando
esmaguei o seu clitóris, antes de me afundar entre suas
dobras umedecidas, ensopadas.
Aproveitei aquele momento para abocanhar os seus
seios, segurá-los com a mão livre. Eles estavam
inchados de tal maneira que dava para enxergar as
veias, o que me excitava em dobro, tornava-me faminto.
Para a minha surpresa, a minha boca foi inundada
com um líquido amarelado, quase transparente. O gosto
peculiar me lembrava o leite, ativou o meu lado mais
primitivo e fez com que eu a mamasse feito um tarado,
ao mesmo tempo em que aumentava o ir e vir molhado
dos meus dedos em sua boceta.
Ágata deu gritinhos em sequência, agarrou o meu
cabelo, puxou-me ainda mais para perto. Sentiu os meus
dentes afiados morder a sua carne, ao mesmo tempo em
que se contraiu por dentro. Os seus espasmos foram
involuntários, quase descontrolados, de um jeito que a
fez derreter com o meu toque intenso, esguichar em
orgasmos.
Nunca me acostumei a testemunhá-la chegar ao
limite daquele jeito. Era um doce pecado que estava
disposto a cometer para sempre.
Ela se deitou, exausta. A puxei para o centro da
cama e me acomodei de joelhos entre as suas pernas.
Peguei um frasco pequeno sobre a mesa de cabeceira e
despejei um gel transparente sobre a sua barriga,
fresco, com cheiro de menta. Espalhei o produto sem
pressa, espalmando cada centímetro de pele até os
seios.
Ágata sequer conseguia parar de gemer, a
massagem era erótica, possessiva. Enquanto os meus
dedos a percorriam, provei que ela era minha, que me
pertencia.
Olhei profundamente em seus olhos antes de
degustar os seus mamilos outra vez, continuar sorvendo
aquele líquido que me enfeitiçava a cada chupada, cada
roçar de dentes na carne sensível.
Quando me satisfiz, me estirei na cama para
começar a mamar na sua boceta, sugar as suas dobras,
brincar com o seu clitóris. Era um prazer intenso, Ágata
se abriu toda enquanto acariciava os próprios seios,
chiando, gemendo baixinho, rebolando o quadril da
maneira que conseguia.
Rocei a barba em sua virilha, mordi a sua carne
antes de voltar a ficar de joelhos, e penetrá-la com os
dedos outra vez. Com experiência, alcancei o seu ponto
G, girei em sua boceta durante o tempo em que a minha
mão livre permaneceu sobre o seu abdômen,
territorialista.
Ágata não resistiu, fez um escândalo ao gozar mais
uma vez. Esperei que ela se acalmasse até virá-la de
lado parar gastar um bom tempo masturbando o seu cu.
Usei um lubrificante íntimo, tive paciência até prepará-la
para que me recebesse. Deitei-me às suas costas,
ficamos de conchinha, só então eu a penetrei.
— Oooh... — gemeu contra a minha boca, à medida
que me controlava para não enchê-la com a minha porra
de uma vez.
Fodi com cuidado, comecei metendo apenas a
cabeça do pau. Acolhi Ágata contra o meu corpo, usei
uma das mãos para tocar o seu clitóris enquanto
continuava me empurrando entre as suas nádegas.
Era um sufoco gostoso... um prazer surreal.
Quando metade do meu eixo duro estava afundado
no rabo dela, iniciei os movimentos, sem pressa,
aproveitando cada segundo. Ágata delirou, em alguns
momentos revirou os olhos.
Eu pulsei, cada veia do meu pau se dilatava. O
lubrificante ardia, hora ficava frio e em seguida se
tornava quente outra vez.
Aos poucos, fui acelerando sem conseguir parar de
lhe agarrar. Tinha a necessidade de tocá-la a cada
centímetro, esmagar os seus seios, espalmar a sua
barriga, mostrar que era minha. Também chupava a sua
orelha, lambia e beijava a sua boca, arrastava os lábios
por sua bochecha.
A verdade era que eu havia me tornado um homem
apaixonado, e comer o seu cu estava me alucinando.
— Cuzinho gostoso do caralho! — Chupei o seu
pescoço, Ágata começou a gritar. Voltei a masturbar o
seu clitóris até que ela gozasse e vibrasse dos pés à
cabeça, completamente vulnerável. — Minha! — rosnei,
meti com força. — Você é só minha, porra! — Beijei a
sua orelha, acelerei os movimentos.
Estava ensandecido, dominado pelo desejo doentio
de ser o seu dono. Quanto mais ela gemia e gozava,
mais me arrancava rugidos, até que não resisti. Gozei,
fora de controle.
Ainda duro e não satisfeito, afundei o pau em sua
boceta, castiguei aquela menina em uma sequência
rápida, possessiva.
O som do nosso contato nos entorpeceu, me tirou o
juízo. Fiquei sem ar, mas não parei de foder. Comi a
minha mulher com gosto. Ágata praticamente se
derramou em meus braços, se entregou a todos os meus
desejos. Mordi o seu ombro, o seu pescoço. Repeti tudo
aquilo até explodir outra vez.
Os jatos saíram com força, me deixaram fraco. Sem
energia, apenas senti e amei. Amei Ágata intensamente,
com a magia daquele orgasmo corrompendo o meu corpo
inteiro.
Um ano e meio depois...

Sentada sobre o tapete da sala de estar, olhei para


Aurora e Davi brincando à minha frente com várias
peças coloridas de encaixar. A cobertura inteira estava
uma verdadeira bagunça, tudo revirado de cabeça para
baixo, mas eu não me importava, o mais importante era
a liberdade dos meus bebês, e o plano que estava
prestes a traçar com eles.
— Tudo bem, crianças, agora a mamãe quer que
vocês prestem atenção aqui! — bati duas palminhas para
chamar a atenção deles, algo que funcionou.
Testemunhei dois pares de olhos fofos e azuis me
encararem. — Daqui a pouco o papai vai chegar e nós
teremos que nos esconder.
— Pa... pa... pa... — Aurora falou, sorrindo. Davi a
acompanhou.
— Exatamente, Aurora, é o papai. Hoje ele foi
vitorioso em um processo muito importante para a sua
carreira e nós vamos comemorar... — Davi gritou,
contente. Ele estava vestido em um macacão azul
enquanto a sua irmã usava outro da cor rosa. — Isso,
Davi, mas quando ele chegar nós teremos que fazer
silêncio, tá bom? Lembre-se que o senhor derramou a
minha a massa de bolo e me atrasou. — Apontei para
ele, fazendo bico e estreitando as sobrancelhas.
Davi colocou as mãos na cabeça, gargalhando,
depois se levantou. Sua irmã decidiu acompanhá-lo, eles
começaram a andar feito dois trens desgovernados,
bagunçando tudo o que havia pela frente.
Aurora conseguiu alcançar o porta-retratos do
momento em que Filippo nos fotografou juntos quando
eles nasceram, então me apressei, tomei o objeto das
pequenas mãos dela.
— Não, Aurora — reclamei com a garotinha loira,
ela sorriu. — Esse aqui não, filha, pelo amor de Deus.
Você já quebrou quase todos. — Devolvi o porta-retratos
para a mesinha ao lado do sofá. Segurei a sua pequena
mão. — Vamos, temos que nos esconder. — Caminhei
com ela em direção ao seu irmão, que arremessava o
controle da TV no chão mais uma vez, causando outra
rachadura no objeto. — Dio Santo! — o repreendi, Davi
bateu as mãos nas têmporas, percebeu que havia feito
algo de errado.
Quando percebi que o controle não tinha mais jeito,
peguei o menino no colo.
— Meu filho... — o encarei fingindo que estava
irritada.
— Ma... ma... ma... — Davi tocou o meu rosto.
— Depois não reclame por não conseguir mais
assistir aos seus desenhos. — O beijei e procurei por
sua irmã. Ela havia se afastado de mim sem que eu
percebesse, aproveitava o seu momento de
independência jogando fora todas as penas de ganso
que enchiam uma das almofadas do sofá.
Olhei a hora no relógio de pulso antes de pegá-la no
colo também, me dividindo com um bebê em cada braço.
Cheirei os dois e caminhei para trás da parede que
ficava depois da mesa de jantar, onde havia preparado
um bolo e uma faixa que dizia “Parabéns pelo seu
sucesso, papai”.
Fiquei de joelhos no chão, coloquei os gêmeos
sentados à minha frente e fiz sinal de silêncio.
— Shhh... não podemos fazer barulho, papai está
chegando. — Eles pareceram me entender, os rostinhos
estavam ansiosos, acariciei os meus filhos e senti o meu
coração bater mais forte quando escutamos alguém
entrar no apartamento.
— Cheguei! — Filippo exclamou, ouvimos os seus
passos. — Querida? Onde está você e as crianças?
Davi soluçou em um sorriso, coloquei a ponta dos
dedos sobre os seus lábios.
— Meus amores, papai chegou! — a voz do homem
ficava cada vez mais próxima. — Aurora? — A garotinha
ergueu as sobrancelhas, reconheceu o seu nome. —
Davi? Papai chegou! O que isso? Que mesa bonita é
essa?
— PAPA! — Aurora berrou, denunciando o nosso
esconderijo. Neguei com a cabeça para a menina, mas
ela não se importou, sorriu de maneira descarada.
— Oi, filha! — Filippo nos encontrou, feliz da vida.
Ele se ajoelhou e abriu os braços. Aurora foi a primeira
a correr até ele, Davi fez o mesmo em seguida.
A cena das duas crianças indo até o pai,
reconhecendo o homem que as amava ao abraçá-lo,
pareceu acontecer em câmera lenta aos meus olhos. Era
algo lindo de assistir, um sentimento leve se apoderava
de cada parte do meu corpo sempre que os via juntos, a
minha linda família.
— Que saudade de vocês! — Filippo gargalhou,
encheu de beijos cada um dos bebês quando se ergueu
com ambos em seu colo.
— Surpresa! — falei desanimada, com um olhar que
traduzia o quanto a minha ideia de surpreendê-lo havia
ido por água abaixo.
— Oi, meu amor. Me dá um beijo. — Filippo inclinou
o rosto até o meu, os nossos lábios se tocaram após um
dia inteiro em que ficamos longe um do outro.
Naquela hora eu deveria estar indo para a
faculdade, mas como era uma noite especial, preferi
faltar e ter esse momento com o meu marido e filhos.
Caminhamos até a mesa, onde comecei a repartir o
bolo. Filippo se descuidou, um breve momento no qual
Aurora tocou o recheio e melou o seu rosto. Aquilo foi
motivo de gargalhada quando o homem entregou Davi
para mim. Filippo achou prudente me sujar também, fez
uma linha em minha bochecha com a cobertura de
chocolate.
— Ah, não vale! — reclamei, Davi bateu palminhas,
se divertindo. — Você quer também, filho? — Fiz um
coração em sua bochecha, mas o menino desmanchou o
desenho, pareceu incomodado antes de lamber os
próprios dedos, experimentar o açúcar que derreteu em
sua língua.
— Aurora? — Filippo arrastou o dedo na testa da
garota, criando uma linha de chocolate.
Aurora gritou, surpresa.
Ficamos os quatro envolvidos naquela brincadeira
gostosa por vários minutos, até que o meu marido me
puxou para mais um beijo quente, carregado de carinho
e emoção.
— Obrigado por existir. Obrigado pela família que
me deu — declarou, as suas palavras me encantaram. —
Você e os nossos filhos são tudo pra mim.
Eu o abracei, as crianças se agitaram em nossos
braços, contentes. Aquela era a nossa vida, a nossa
história de amor. Tudo que nos surpreendeu
milagrosamente Depois de Vegas!
Caro leitor, se conseguiu chegar até aqui e o seu
coração enlouqueceu de amor e surtos com essa
história, não esqueça de deixar a sua avaliação. Sua
opinião é muito importante.
Do contrário, se o relacionamento de Filippo e Ágata não
te conquistou, sinto muito e convido você a conhecer
meus outros romances disponíveis aqui na plataforma.
Cada livro nos toca de uma maneira diferente e está
tudo bem.
Muito obrigado e até a próxima aventura de amor!
Conheça meus outros livros na Amazon, é só clicar
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não perca nenhuma novidade!

@autormariolucas

[1]
Vamos.
[2]
Obrigado(a).
[3]
Santo Deus!
[4]
Desculpe-me.
[5]
Decorre do rompimento de um pequeno vaso do cisto no ovário, ocasionando
sangramento em seu interior. Eles costumam desaparecer de forma natural, porém,
quando de tamanho grande, em casos graves, é necessário a cirurgia.
[6]
O teratoma é um dos vários tipos de tumor que surgem a partir das células germinativas
dos ovários, pode ser maduro (benigno) ou imaturo (maligno).
[7]
São decisões judiciais que, baseadas em casos concretos, servem de parâmetro para
julgamentos posteriores de casos semelhantes.
[8]
No caso da advocacia pro bono, o advogado oferece seus serviços de forma voluntária
e gratuita, sem receber honorários ou remuneração pelos serviços prestados. Porém, vale
ressaltar que pode existir a cobrança dos honorários de sucumbência pela parte vencedora
do processo.
[9]
Marca fictícia de relógios de luxo pertencente à família Javier, grupo de homens
poderosos da série Intenso Demais. Todos os livros disponíveis na Amazon.
[10]
É um britânico que foi injustamente condenado e preso em 2003 pelo estupro de uma
mulher de 33 anos em Salford, Grande Manchester.
[ 11 ]
Baseado no conto de Roald Dahl, este cômico e fantástico filme segue o jovem Charlie
Bucket e seu avô Joe. Eles se juntam a um pequeno grupo de ganhadores de uma
competição, os quais vão para um passeio na mágica e misteriosa fábrica do excêntrico
Willy Wonka. Ajudado por seus anões trabalhadores, Wonka esconde uma surpresa para
durante o passeio.
[12]
Las Vegas Strip ou Las Vegas Boulevard, é a avenida que contém os cassinos mais
imponentes do mundo.
[13]
É uma rua localizada no centro da cidade de Las Vegas, Nevada. É considerada a
segunda rua mais conhecida de Las Vegas, fechada para carros, repleta de cassinos e
coberta em sua maior parte por um telão gigantesco em uma enorme estrutura de metal
em forma de arco que fica a 27 metros do chão.
[14]
Ooforectomia é o procedimento cirúrgico de remoção de um ou dos dois ovários (uni
ou bilateral). Trata-se de uma intervenção radical, portanto é indicada apenas em casos
graves de comprometimento dos ovários ou de prevenção de tumores.
[15]
Hotel Resort e Cassino de referência em Las Vegas.
[16]
O fetiche consiste em sentir atração e prazer pelos pés.
[17]
Cidade do Pecado, apelido de Las Vegas.
[18]
É uma fobia específica relacionada ao escuro. Tal transtorno está catalogado no
Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Representa o excesso de
ansiedade quando alguém se expõe a cenários de penumbra ou completa escuridão.
[19]
Rapaz.
[20]
Casal protagonista do livro Amada Por um Italiano: paixão proibida. Livro onde
Filippo aparece pela primeira vez.

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