Você está na página 1de 223

Copyright© 2023 - Jéssica Oliveira

Edição 01

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode


ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos
eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da
autora, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões
críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de
direitos autorais.

1. Literatura Brasileira 2. Romance 3. Jovem Adulto 4.


Contemporâneo
Revisão
Mariana Barbosa

Designer de Capa
Tenorio
Diagramação
Jéssica Oliveira
Betagem
Eduarda Azambuja
LEIA TAMBÉM DA MESMA AUTORA:
Votos Por Dever
Votos De Mentira
Votos Quebrados
Votos de Sangue
Um Herdeiro Para A Fera
O Bebê Por Acidente Do Espanhol
Heyden
Onde Está A Felicidade?
Felicidade Oculta
O Preço Da Felicidade
Dante
Vizinha Infernal
LEIA AQUI: amzn.to/3tLYeIt

Instagram: bit.ly/ig3AnCGVfjessoliv
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
Katie fugiu de casa aos dezoito anos, deixando para trás um
passado carregado de cicatrizes. Recém-formada e com grandes
expectativas para o futuro, Katie decide iniciar uma nova fase de
sua vida, passando uma noite quente com o homem que ela deseja
há meses, Blake Lockhart, um advogado renomado, brutalmente
bonito e charmoso.

O que começou como uma noite intensa se transforma no início de


um pesadelo. A esperança de um novo começo é cruelmente
ceifado quando Katie descobre que está grávida, e Blake a acusa de
um golpe da barriga, desaparecendo de sua vida.
Quando Blake retorna a Seattle, o passado vem à tona, colocando-
os cara a cara. O destino dá uma segunda chance a Blake, que está
determinado a corrigir os erros do passado.

Ele fará de tudo para derrubar o muro que Katie construiu em busca
de redenção.

Mas será que as cicatrizes permitirão que Katie abra seu coração
novamente?
Este livro é dedicado à força inabalável das mulheres. Vocês
são dignas de um mundo onde a segurança, o amor e a paz
são tesouros inquestionáveis.
Que este livro seja um farol de esperança em seu caminho
para a felicidade merecida.
Capítulo 1

Só mais seis semanas, Katie.


Cantarolo o meu mantra mentalmente enquanto preparo o
coquetel de frutas vermelhas para o casal sentado à mesa doze.
Meus olhos vagam pelo ambiente, nunca me canso da beleza daqui.
Uma melodia suave de jazz flui de um canto do bar, e os lustres de
cristal suspensos no alto teto emitem um brilho que dança pelo
salão, criando uma aura de luz envolvente.
Eu vim de Salisbury em Maryland, uma cidade pequena e
encantadora por si só, mas que não pode competir com o esplendor
do Hotel Elysium, situado no coração de Seattle, a cidade da chuva.
Enquanto viro habilmente o coquetel em uma das taças,
meus olhos se iluminam com a chegada dele. Blake Lockhart, o
homem que, de alguma forma, faz com que todas as maravilhas
deste lugar percam um pouco do seu brilho quando entra.
Os cabelos dourados de Blake parecem capturar os raios
solares. Seu queixo anguloso acrescenta um toque de firmeza à sua
aparência jovial, enquanto seus lábios rosados, curvados de
maneira irresistível, sempre parecem esconder um segredo ou um
sorriso sarcástico. E o seu corpo... meus pensamentos são
abruptamente interrompidos quando uma das taças que estou
servindo escorrega dos meus dedos, caindo com um estrondo surdo
no chão de mármore. O som ecoou pelo salão, atraindo a atenção
de todos, incluindo a de Blake.
Nossos olhares se encontram, e sinto um calor intenso subir
ao meu rosto, fazendo com que ele abra um sorriso sutil. Me abaixo
mais rápido do que desejava para juntar os cacos de vidro, e meu
colega de trabalho, Sean, se junta a mim.
— Senhor Lockhart sorriu para você — ele cantarola com
um risinho, recolhendo os cacos de vidro.
— Ele estava apenas sendo educado.
— Se dê um pouco de crédito, Kat. Você está obcecada por
esse homem há mais tempo que posso lembrar e, em todas as
vezes que ele entra, você parece que é abduzida para algum lugar
bem distante daqui. — Olho para ele, chocada, perguntando-me se
Sean está certo.
— Eu só acho senhor Lockhart admirável — desconverso,
dando de ombros, e depois me levanto com alguns cacos de vidro e
encontro ele, o homem que tem o dom de me deixar aérea, do outro
lado do balcão.
Blake está apoiado no balcão de mármore, com os
cotovelos descansando sobre ele e as mãos entrelaçadas. Fico
tensa ao encontrar seus olhos azuis intensos e nebulosos como um
dia de verão, carregando uma tempestade.
— Então, você me acha admirável? — pergunta, seus
lábios curvando-se de forma provocante enquanto espera minha
resposta. Engulo em seco, sentindo o calor subir ao meu rosto
novamente, e o olhar curioso de Blake só torna as coisas mais
complicadas.
— Admiro muitas coisas, senhor Lockhart — respondo,
tentando inutilmente recuperar minha compostura. Mas, nesse
momento, tudo o que eu queria era que o chão se abrisse e me
engolisse.
Blake sorri, seus olhos brilhando ainda mais intensamente.
Era quase como se ele soubesse que estava me deixando
desconfortável, mas estava se divertindo com isso.
— Você tem um jeito interessante de responder às
perguntas, Katie — comenta, inclinando-se um pouco mais na
minha direção, com seus olhos fixos no crachá preso ao meu
uniforme. — Mas não é isso que eu quero saber — Blake conclui.
Meu coração começa a bater mais rápido. Nunca trocamos
mais do que um simples “boa-tarde” ou “boa-noite.” Por que ele está
conversando comigo? Olho rapidamente para Sean, questionando
se tudo isso é uma brincadeira de mau gosto.
— O casal da mesa doze está aguardando — Sean adverte,
talvez me tentando tirar do transe. Dou-lhe um aceno de cabeça e
me viro para Blake. Seus olhos especulativos encontram os meus, e
ele se afasta do balcão, compreendendo que não obterá uma
resposta minha. Conforme ele se afasta, sinto o ar retornar aos
meus pulmões.
— Que merda foi essa? — meu colega pergunta, enquanto
levo uma mão à nuca, sentindo as gotículas de suor ali.
— A terra saiu do eixo, só pode — afirmo com um sorriso e
começo a preparar outro coquetel de fruta para a mesa doze.
Depois de preparar o quarto coquetel, o meu coração
finalmente retorna ao ritmo normal. Blake se sentou em um espaço
reservado para os queridinhos do hotel. Ele é advogado executivo e
representante do Elysium, por isso está frequentemente presente
aqui, e raramente vai embora sozinho. Benditas sejam elas.
Removo o avental ao final do meu turno e caminho até o
vestiário. Troco-o por um vestido laranja floral, com babados na
altura dos ombros e saia rodada, sentindo o calor abafado de julho
envolver meu corpo.
Diante do espelho, solto meus cabelos, que caem em ondas
até a altura das costas. Escovo-os rapidamente com as mãos,
arrancando alguns fios de cor-de-mel.
Dirijo-me para a área da frente do bar e me despeço de
Sean, mesmo sabendo que nos encontraremos novamente em
algumas horas. Após me formar em Arquitetura Paisagista na
Universidade de Pembroke, fiquei sem alojamento, e ele gentilmente
me ofereceu o quarto disponível em seu apartamento.
O salário do hotel não é muito, mas é o suficiente para
sobreviver temporariamente. Assim que meu contrato terminar,
posso começar a agendar entrevistas na minha área de estudo e,
quem sabe, alugar um pequeno apartamento só para mim.
Atravesso a extensa cozinha do hotel, já que Paul, o
gerente, não gosta que saiamos pela entrada principal, e o aroma
das refeições maltrata meu estômago.
— Ei, Katie. — Ouço alguém me chamar por trás e me viro
para encontrar Nice, a responsável pelos garçons do serviço de
quarto. — Seu turno já acabou? — questiona com um sorriso
amarelo.
Assinto, prevendo um pedido de ajuda, pois estamos no
período de troca de turno e não há garçons à vista.
— Está chovendo muito, e os garçons estão todos atrasados
— ela se justifica, indo em direção a um carrinho de inox com
bandejas empilhadas.
— Qual é o quarto? — pergunto, olhando as horas no
relógio de pulso, já é quase 11h15 da noite.
— Suíte com vista, quarto 1B. — Assinto, pegando o cartão
magnético de sua mão e empurrando o carrinho em direção ao
elevador de serviço. — Quando terminar, volte aqui e vou pedir para
prepararem algo para você comer. — Sorrio, a comida do hotel é a
melhor que já comi na vida.
Entro na caixa de metal e aguardo sua ascensão
lentamente. Encontro meus olhos verdes como uma pedra jade
refletidos no espelho e há um brilho ali que não via há muito tempo.
Certamente ganhar a atenção de Blake Lockhart deu um ânimo a
minha noite. Reviro os olhos, minha felicidade não devia depender
da atenção de um homem, mas, durante longos quatro anos, tudo o
que fiz foi trabalhar e estudar como uma condenada, como se minha
vida dependesse só disso. Eu precisava garantir que nunca voltaria
para Maryland. Agora que a pior parte passou, posso me permitir
relaxar. E, em seis semanas, nunca mais o verei, será como virar a
página de um livro.
Estou ansiosa para um novo começo.
Chego à suíte 1B e passo o cartão magnético na porta, que
é uma verdadeira obra-prima, branca e com arabescos prateados.
Com um pequeno clique, a porta se abre, e eu a empurro, revelando
seu interior.
Ao entrar, percebo que o quarto está vazio. Meus olhos
percorrem o ambiente e fico envolvida pela opulência. No centro da
suíte, há uma cama king-size, com lençóis de cetim branco e
travesseiros macios que parecem convidativos, e o dossel dourado
acrescenta um toque de luxo. Próximo à varanda, com as portas
abertas, encontro um conjunto de sofás de veludo cor de creme,
perfeitamente posicionados para apreciar a vista espetacular da
cidade e do Space Needle, que se ergue majestosamente contra o
céu noturno de Seattle, com suas luzes brilhando como estrelas.
Por um breve momento, fico admirando a vista espetacular
da cidade. É fácil esquecer o impressionante horizonte de Seattle
quando não se tem tempo para contemplá-lo.
— É uma vista admirável, não acha? — Sou abordada pela
voz de Blake atrás de mim.
O que diabos ele está fazendo aqui?
A tensão percorre meus ombros enquanto me viro para
encará-lo. Parece que o universo está testando o quanto de
constrangimento posso suportar em um único dia.
— É uma vista incrível, senhor Lockhart — digo
educadamente, encontrando-o apenas de calça jeans e descalço no
meio do quarto. Minhas bochechas coram suavemente quando, sem
querer, meus olhos percorrem seu abdômen. Desvio rapidamente o
olhar enquanto dou um passo para trás e acabo esbarrando no
carrinho de comida, quase o derrubando. Por sorte, apenas alguns
utensílios caem no chão.
Meu Deus! Meu cérebro grita, enquanto queimo de dentro
para fora com tamanho constrangimento. Eu abaixo rapidamente
para pegá-los, e Blake para o meu lado, apanhando um garfo do
chão.
— Você é sempre destrambelhada, ou é só quando estou
presente? — ele quer saber com um toque de zombaria em sua voz.
Analiso o seu rosto, e Blake está sorrindo, deve me achar uma
piada.
— Sou destrambelhada mesmo — resmungo, puxando com
firmeza o talher da sua mão, mas ele o segura, impedindo-me de
pegá-lo. Contraio o maxilar com irritação. Por que ele está fazendo
isso? Por que continua me provocando?
— Você fica linda quando está irritada. — Coro carmesim
com seu elogio, ganhando outro sorriso dele. — Avermelha com
tanta facilidade, Katie — acrescenta, me analisando sutilmente.
Desvio o olhar e me levanto, me afastando dele.
Blake Lockhart está flertando comigo? Eu já vi as garotas
com quem ele sai, todas parecem fúteis e genéricas, mas lindas.
Devo estar sonhando acordada, não é possível. Solto os utensílios
na bandeja, e ele faz o mesmo.
— Vou pedir que tragam talheres limpos — aviso, dando um
passo em direção à saída.
— Tudo bem, é só lavá-los na pia do banheiro — sugere.
Passo a língua pelo lábio inferior e lhe dou um aceno, pegando os
talheres novamente para lavá-los.
Olho ao redor em busca do banheiro, me sentindo perdida,
mesmo enxergando uma extensa banheira em uma porta aberta.
Com passos pesados, caminho até lá, sentindo uma agitação no
meu estômago. Paro diante da pia e, quando ligo a torneira, Blake
se escora no batente da porta e me sinto um animal de zoológico
sendo observada.
— Não precisa me fazer companhia — murmuro enquanto
passo água na faca. Seus lábios se abrem em um sorriso sutil, ele
sabe o quanto é lindo, e seu sorriso é como uma arma que
desestabiliza qualquer mulher.
— Pensei em continuarmos aquela conversa do bar — ele
sugere, e respiro fundo, sentindo o meu coração dobrar de tamanho.
— Era uma conversa íntima, não era para você ter escutado
— respondo, desligando a torneira, e o meu estômago faz um
barulho que até um surdo seria capaz de escutar.
— Está com fome? — ele pergunta, pegando os talheres da
minha mão.
— Um pouco — admito, pois está óbvio. Segui-o para fora
do quarto.
— Jante comigo, vem comida o suficiente para duas
pessoas. — Solto um riso involuntário, chamando a sua atenção.
Ele me encara com uma expressão do tipo: O que foi? Como se
fosse algo banal convidar uma garçonete de quarto para jantar.
— Está entediado, senhor Lockhart? — pergunto,
observando-o empurrar o carrinho de comida até a mesa de centro,
entre os sofás posicionados perto da bela vista do Space Needle.
— Você me fez um elogio mais cedo, só estou retribuindo a
gentileza — ele afirma, sentando-se no sofá. Será que é esse
papinho que ele usa para levar as mulheres para cama? Na
verdade, eu acho que ele nem precisa de muita conversa, com seu
status e beleza, seu catálogo deve ser extenso.
— Oferece comida de graça para todas que o elogiam? —
provoco.
— Só para as que me interessam — responde.
Acredito que minha tentativa de tentar parecer
desinteressada falha miseravelmente quando o rubor aquece meu
rosto.
— Sente-se, eu não mordo, prometo — acrescenta, e um
arrepio sobe a minha coluna só em pensar em seus dentes
cravados em minha pele. Blake bate no assento ao seu lado em um
convite silencioso.
Caminho até ele, pensando que serei apenas mais uma
garota em sua lista, e isso não me incomoda, afinal, é uma ótima
maneira de virar a página. Me sento ao seu lado, e ele começa a
destampar as bandejas de comida. Meu estômago se esgoela em
resposta.
Ele serve um prato com salmão grelhado, acompanhado de
um molho de manteiga de limão, aspargos frescos e arroz basmati,
pelo menos é o que indica uma plaquinha. Blake me estende o
prato, e eu aceito um pouco sem jeito. Em seguida, ele se levanta e
atravessa o quarto até o frigobar.
— Aceita uma cerveja? — ele pergunta, e eu assinto, com a
boca cheia de aspargos. Ele se aproxima, abrindo duas garrafas
com os dentes, e me entrega uma. Dou um longo gole no gargalo e
coloco na mesinha de centro ao lado. Não tenho o hábito de beber,
apenas em festas ou comemorações, acredito que a bebida pode
revelar o pior das pessoas.
— Pensei que morasse em Seattle — comento, já que está
hospedado no hotel, e mordisco o meu salmão, assistindo-o se
sentar ao meu lado.
— Moro, e minha irmã está hospedada em minha casa, por
isso estou aqui — explica, soltando a garrafa na mesa com um
pequeno sorriso.
— Ela não deve ser tão ruim assim — digo, franzindo a
testa.
— Você tem irmãos? — Balanço a cabeça em negação e
agradeço mentalmente a Deus por meus pais não terem colocado
mais nenhuma criança no mundo.
— Leslie também é advogada, e recentemente abriu um
processo contra uma das empresas que represento.
— Que merda — balbucio, arrancando um pequeno sorriso
dele. Blake estala a língua.
— Me conte mais sobre você, senhorita Edwards. — Ele
leva a garrafa à boca, e percebo que só eu estou comendo.
Suspiro baixinho, pensando no que contar a ele, certamente
que fugi de casa aos dezoito anos, roubando o carro da minha mãe
e levando o pouco de dinheiro que tinha na carteira do meu pai não
é a história ideal.
— Me formei em arquitetura paisagista mês passado, e meu
contrato no hotel encerra em seis semanas.
— Seus pais devem estar orgulhosos. — Balanço a cabeça,
mesmo que seja mentira. Eles não têm notícias minhas há muito
tempo. Levanto-me, colocando o prato de volta no carrinho. Meus
olhos se perdem nas luzes do lado de fora, e caminho
involuntariamente em direção à varanda. É mais extensa do que eu
imaginava, com uma jacuzzi e um sofá-cama aberto.
A chuva parou, e o ar está úmido e abafado, e isso me
lembra um pouco do clima em Maryland. Respiro profundamente,
tentando aplacar as lembranças. Eu parti há cinco anos, mas parece
que minha mente continua presa lá. Me agarro ao parapeito de ferro
e jogo a cabeça para trás, permitindo que a leve brisa acaricie meus
cabelos da nuca.
— Você está bem? — Me viro para Blake, que está perto
demais e ocupando cada espaço da minha mente. Suas mãos se
apoiam no parapeito, comigo entre elas, e meu coração logo
começa a bater fora de ritmo.
— Está um pouco quente — confesso, erguendo o queixo
para encontrar o seu olhar. Blake se aproxima, com seus lábios
quase tocando nos meus. Fecho os olhos e inalo profundamente a
fragrância vinda do seu pescoço. De repente, o celular dele começa
a tocar, e Blake se afasta, levando todo o calor consigo. Respiro
fundo, virando-me para a cidade, pensando que talvez seja um sinal
para eu ir embora e evitar seis semanas de puro embaraço.
Me viro, e Blake já está diante de mim. Seus dedos ágeis
agarram minha cintura com ímpeto, puxando-me contra seu corpo
com uma urgência avassaladora. Seus lábios reivindicam os meus
com força e vão desacelerando aos poucos, permitindo-me provar
seu gosto lentamente. Blake corta o beijo por um instante, e sua
respiração pesada e seus olhos cheios de desejo encontram os
meus.
— Me desculpe — ele sussurra contra minha boca, mas
antes que eu possa responder, volto a beijá-lo com fome, ansiosa
para explorar cada pedaço dele. Retornamos ao quarto e, quando
chegamos à cama, já estou sem o vestido, e ele, com a calça nos
calcanhares.
Blake chuta a calça longe e volta-se para mim. Seu olhar
percorre meu corpo, fazendo-me arrepiar inteira. Contenho a
necessidade de cobrir os meus seios quando sua mão desliza pela
minha coluna, se detendo em uma cicatriz, explorando-a com os
dedos. Seus olhos expressam curiosidade, mas, antes que ele
possa me questionar como a adquiri, puxo sua cueca boxer para
baixo, e seu pau bate em meu abdômen. Minha mão o envolve, é
grosso, quente e pesado, não muito diferente de como eu
imaginava. Sorrio mordendo o lábio inferior, e meu polegar acaricia
sua glande molhada pelo pré-gozo.
Seus lábios encontram os meus lentamente e, conforme ele
me deita na cama, sua mão percorre o meu corpo e seus lábios
encontram o caminho até os meus seios. Me estico na cama,
sentindo seus dentes em minha aréola, e afundo meus dedos em
seus cabelos.
Blake passa para o outro seio, enquanto sua mão se dirige
para o centro da minha intimidade muito molhada. Seu polegar
separa meus lábios vaginais, acariciando ao redor do meu clitóris.
Minha respiração começa a ficar mais rápida e, quando ele
mordisca o meu mamilo e acerta o meu ponto de prazer, eu arqueio
e gemo alto. Blake exibe um sorriso glorioso. Seus olhos encontram
os meus enquanto ele desliza um dedo na fenda molhada.
— Porra! Você é tão apertada... — ele introduz mais um
dedo, e seu polegar percorre suavemente meu clitóris, fazendo-me
choramingar, — Mal posso esperar para me enterrar em você. —
minha mão segura a dele quando começa a diminuir a penetração.
— Não para! — imploro, quase desesperada.
— Não vou, eu quero que você termine na minha língua —
ele declara, abaixando-se, e seus dentes descem, mordendo o
interior da minha coxa com força o suficiente para me marcar, mas,
ainda assim, me deixa completamente arrepiada.
O primeiro golpe da sua língua na minha intimidade faz
minhas pernas tremerem. Meu coração bate tão rápido que eu mal
consigo ouvir meus pensamentos direito. Ainda estou processando
que o homem que está com a cabeça entre as minhas pernas é
Blake Lockhart.
Blake suga meu clitóris com ardor, torturando-me com
golpes duros, brutais e ritmados que eu nunca havia experimentado
antes. Fecho uma das mãos em punhos no lençol e a outra enrosca
em seus cabelos, enquanto eu me inclino para frente e
desesperadamente empurro minha pélvis contra seu rosto, sentindo
o orgasmo percorrendo meu corpo inteiro.
Quando os tremores começam a diminuir, minha mão em
sua cabeça escorrega para o seu rosto e limpa a umidade em seus
lábios. Ele abre um sorriso lindo e maravilhoso.
— Você é fogo, hein! — ele sussurra, fazendo-me corar
sutilmente.
— Já faz um tempo — comento e sou arrastada pelos pés
até a extremidade da cama. Blake me pega no colo com firmeza,
acredito que, se eu tivesse que ficar em pé agora, cairia.
— Quer fazer uma loucura? — pergunta com um olhar
libidinoso.
— Já estou no meio de uma. — Ele ri, pega algo da gaveta,
acredito que sejam camisinhas, e nos leva para a varanda.
— E se alguém nos ver?
— Vale o risco. — Blake me coloca sobre o sofá-cama e se
posiciona entre as minhas pernas, abrindo-as com as suas. Ele
descarta a camisinha do pacote, enquanto observo as estrelas no
céu noturno. E pensar que estava caindo um aguaceiro há pouco
tempo. Sinto um beliscão no meu mamilo que me faz soltar um
gemido queixoso.
Blake engatinha até mim, sua língua invadi a minha boca,
fazendo-me provar o meu próprio gosto.
— Quero seu corpo e sua mente aqui, KitKat — sussurra
com doçura e, desliza dentro de mim com um golpe brutal e um
suspiro rouco escapa da sua boca próximo ao meu ouvido,
arrepiando-me inteira.
Movo-me contra o corpo dele, desejando tê-lo ainda mais
fundo, preenchendo-me completamente. Meus dedos deslizam pelo
meio das suas costas, sentindo sua pele banhada em suor. O aroma
que emana do seu corpo é o melhor que já senti em um homem. De
repente, Blake desliza a mão por baixo da minha cintura e me puxa
para cima, colocando-me em seu colo. A pele pálida dos meus seios
reluz a luz da lua, e temo que alguém possa nos ver.
— Monte em mim KitKat — ele murmura com uma voz
entorpecida de prazer, fazendo até a minha alma arrepiar. Encontro
o seu olhar na penumbra da varanda e me encaixo nele, deslizando
até o fundo. Blake se recosta, e seus dedos me agarram pela
cintura. Começo a cavalga-lo, e meus seios firmes e pesados,
balançam com ímpeto, conforme sento nele com mais força. Seus
lábios traçam um caminho de beijos pela curva no meu queixo,
enquanto suas mãos apertam as bochechas da minha bunda, e
ditam um ritmo que nos leva direto ao orgasmo.
Meu corpo se transforma em gelatina, e mal sinto minhas
pernas quando Blake atinge o ápice com força. Minha cabeça cai
em seu ombro, exausta, mas, se tivesse que fazer tudo de novo, o
faria.
Ele me deita no sofá-cama e me puxa para o seu peito,
depositando um beijo em meu ombro, e vai descendo lentamente
até chegar ao meu pescoço. Ele inala o meu cheiro com força, e um
sorriso se forma em meus lábios.
— Mais gostosa que chocolate, KitKat. — sussurra,
mordiscando o lóbulo da minha orelha.
Permito-me relaxar, sem me preocupar em como terminará
as coisas entre nós amanhã.
Capítulo 2

Acordo no sofá-cama da varanda, com a luz da manhã


banhando o meu rosto. Procuro por Blake ao meu lado e, como
previa, encontro o seu lugar frio e vazio. Suspiro, me deitando
novamente e cobrindo os meus seios com o lençol. Permaneço
encarando o céu, especificamente uma nuvem com formato de
aranha até ela desaparecer de vista.
Mais seis semanas, Katie.
Me levanto quando minha barriga começa a roncar de fome,
e pensar que essa noite só aconteceu porque meu estômago
resolveu fazer um barulho monstruoso na hora errada. Ando para
dentro do quarto, os olhos percorrem a cama praticamente intocada,
meus pensamentos se deleitam brevemente em sua língua macia
me acariciando, e o desejo se acumula rapidamente entre as
minhas pernas. Já era difícil controlar antes, quando eu só tinha a
imaginação, agora que eu sei como é na prática.... balanço a
cabeça em negação. Quanto menos eu me apegar a esta noite,
melhor. Tomo um banho rápido antes que alguma camareira me
pegue por aqui, eu não saberia nem o que explicar.
Respondo às centenas de mensagens que Sean me enviou
no meio da noite, me sentindo culpada em não o ter avisado que
não voltaria para casa, e desço para a cozinha. Tomo o café
fornecido para os empregados e depois início o expediente mais
cedo. O dia se arrasta lentamente, até a chegada do meu colega,
que me fuzila de perguntas impróprias. E, quando a noite finalmente
chega, sinto meu coração ansioso. Mentalmente quero negar que
tinha algo a ver com Blake Lockhart, mas é irrefutável.
Mas Blake não aparece, nem nos dias seguintes.

Apoio meus cotovelos no balcão do bar e depois a minha


cabeça nas mãos, inquieta e com a cabeça latejando. Já tem um
tempo que não venho me sentindo bem. Faz duas semanas e meia
que transei com Blake, e há uma semana que venho sentindo uma
dor incômoda na vagina, algo que nunca senti antes após o ato
sexual. Usamos preservativos nas três vezes, é impossível ele ter
me passado algum DST, não?
— Katie, está tudo bem? — Me viro para Sean e balanço a
cabeça em negação.
— A minha vagina está me punindo por usá-la com um
homem que me rejeitaria no dia seguinte. — Ele ri.
— Ele é um playboy carismático e gostoso. A sua florzinha
devia imaginar que ele não faria um pedido de casamento no dia
seguinte. — Eu sabia onde estava me metendo naquela noite, só
não queria que a última lembrança fosse uma bactéria na minha
florzinha. Rio. — Se tem algo te incomodando, melhor ver o que é
— menciona e se afasta para preparar os pedidos.
Pego o meu telefone, aproveitando o pouco movimento, e
agendo uma consulta para amanhã, antes do meu turno começar,
pelo aplicativo da clínica que o hotel fornece para os empregados, e
volto a trabalhar.

Me sento na recepção da clínica com a perna inquieta e com


uma ansiedade enorme me corroendo para resolver isso. Parece
que comi pimenta pela vagina, e ela está cuspindo fogo. Rio da
minha capacidade de fazer piadas com isso. Uma porta branca se
abre na minha frente, chamando a minha atenção e das mulheres a
minha volta.
— Katie Edwards — o ginecologista, jovem de cabelos
escuros e barba bem-feita, anuncia o meu nome.
Contenho a vontade de correr para dentro do consultório e
ando até ele, alisando sutilmente a barra do meu vestido verde-
escuro. Assim que eu entro, o doutor Raul fecha a porta atrás de si
e faz sinal para me sentar. Obedeço prontamente.
— No que posso ajudá-la, senhorita Edwards? — pergunta,
sentando-se na cadeira na minha frente.
Respiro fundo. Por que falar de sexo sempre é
embaraçoso? Ainda mais quando é com homens.
— Tive relações sexuais há duas semanas, e agora estou
com uma dor incômoda no canal vaginal.
— Arde quando urina, ou coça a região da vulva?
— Não, nenhum dos dois — respondo com as mãos
inquietas em meu colo.
— Usaram preservativo? — Balanço a cabeça, assentindo.
— Vou ter que examiná-la. Entre no banheiro e coloque um avental
— pede, indicando uma porta ao lado, e obedeço-o no automático.
Enquanto deslizo o avental no meu corpo, praguejo
mentalmente. Deus deve estar me punindo, só pode. Passei cinco
anos sem transar, sem sentir o toque de um homem. E agora, em
menos de um mês, vou abrir as pernas para outro estranho.
Retorno à sala e me sento na mesa, assistindo ao médico
vestir uma luva de látex branca.
— Coloque as pernas no apoio — pede ao meu lado, e coro
vermelho-escarlate. Se ele percebeu, não deixou transparecer.
Com as pernas arregaçadas, como um maldito peru de Ação
de Graças, o doutor Raul faz a volta e para entre minhas pernas,
seus olhos descem brevemente até a minha vulva e, quando ele
penetra dois dedos, seus olhos desviam para o lado.
Fecho os olhos e cerro a mandíbula, sentindo-o quase
cutucar o meu ventre.
— Acho que encontrei o seu problema — avisa, removendo
os dedos e encontrando o meu olhar.
— É grave?
— Depende do que vocês introduziram lá dentro, usaram
algum brinquedo, algo diferente? — Arregalo os olhos e balanço a
cabeça em negação.
— Apenas a camisinha.
— E todas foram descartadas corretamente?
Relaxo a cabeça pensando, os dois primeiros preservativos,
eu o vi levar até o lixo, mas o último, depois que o Blake gozou,
ficamos abraçados por um tempo, com ele ainda dentro de mim, e a
última coisa que eu lembro depois disso é acordar sozinha.
— Eu não sei — admito.
— Tudo bem, acredite, isso é mais normal do que você
imagina. — Sorrio envergonhada. — Vamos removê-la agora,
depois você fará um teste de gravidez, e eu te passarei uma receita.
— Teste de gravidez? — A pergunta irrompe para fora da
minha boca por vontade própria.
— É só para descartar a hipótese, não se preocupe. —
Engulo em seco e assinto, tentando não surtar, ainda não é o
momento, e espero que não chegue a isso.
Enquanto doutor Raul espeta minha vagina com um varão,
ou... sei lá como se chama esse instrumento, permaneço
imobilizada, querendo entender como a melhor transa da minha vida
acaba desse jeito.
— E aqui está a causa das suas dores — anuncia,
segurando o preservativo na ponta do instrumento. — Pode descer
da mesa, vou te dar o teste e você pode fazer agora — avisa,
jogando o preservativo no lixo e descartando as luvas também.
Desço enquanto o doutor lava as mãos. Parece que 50% do
problema foi resolvido. Agora falta o teste de gravidez. Não sei se
tenho estômago para isso, devia ter tomado café, mas estava tão
ansiosa para isso terminar que apenas tomei um banho.
O doutor retorna a sua cadeira e me estende uma caixinha
branca. Esvazio os meus pulmões e caminho ao banheiro. Me sento
no vaso, encarando o palito.
Ok, Katie, é só para descartar a hipótese!
Sigo as instruções da caixinha e, quando termino, retorno à
sala e entrego o teste ao médico, ele o coloca na mesa em cima de
uma folha branca, depois me estende a receita médica e me explica
como tomar.
Apenas concordo com o que ele diz, mesmo que a chances
de dar positivo sejam pequenas, minha mente está presa àquele
palito. Tenho vinte e três anos e um cronograma para as coisas não
saírem do controle, não deveria estar passando por isso.
— O seu companheiro sabe que estava com desconforto?
— ele sonda, analisando o teste. Mas parece que é só uma forma
sutil de perguntar se eu não transei com qualquer desconhecido.
— Não. Foi casual — admito, pois ele não é ninguém para
me julgar, só eu posso fazer isso, e eu faço muito bem.
— Está grávida, senhorita Edwards. — Sugo o meu lábio
inferior, triturando a informação, e mordisco o lábio com força até
sentir o gosto de sangue em minha boca. Estou grávida de Blake
Lockhart! Parece piada de mau gosto. — Lamento se a notícia não
era o que você esperava — doutor Raul profere, me arrancando dos
meus pensamentos.
— Não era. — Balanço a cabeça, sentindo as lágrimas
invadirem os meus olhos. — Eu preciso ir, obrigada. — Me levanto
rápido, sentindo a sala girar.
— Você parece assustada, por que não se senta um pouco
para que possamos conversar?
Eu não pareço, eu estou apavorada! Não tenho uma casa,
meu contrato com o hotel termina em menos de quatro semanas, e
o Blake... levo uma mão ao peito, sentindo que meu coração quer
fugir da caixa torácica. Blake me deixou no hotel, ele não quer
compromisso, quem dirá um filho para criar.
— Você precisa saber que tem opção, Katie.
— Das quais eu me arrependeria amargamente no futuro.
Deixo o consultório sem dizer mais nada e caminho pelas
ruas da cidade sem rumo, sentindo o planejamento cuidadosamente
estruturado escorrendo pelos meus dedos como areia fina. Que
empresa contrataria uma grávida?
Chego ao hotel, e Sean já está atrás do balcão, prendendo
uma bandana preta em seus cabelos castanho-escuros, seus olhos
castanho-esverdeados encontram os meus e sua expressão se
torna preocupada.
— O que o médico disse, Kat? — Me aproximo dele e
escoro minha cabeça em seu peito largo, e Sean passa os braços
fortes ao meu redor. — Está me preocupando.
— Tinha uma camisinha dentro de mim. — Sean me segura
pelos ombros abruptamente e me afasta para encontrar os meus
olhos. — Estou grávida, Sean.
— Mentira! — diz, chocado, e meus olhos se enchem de
água. — Não chore, Kat — pede, limpando as minhas lágrimas com
as mãos e depois volta a me abraçar. — Você vai ficar bem, mas
precisa contar para o Blake logo, não tem que passar por tudo isso
sozinha, ele vai ajudá-la.
— Ele não voltou aqui desde que transamos, está me
evitando.
— Como ele vai reagir é problema dele — comenta,
empurrando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Você
teve sorte de não ser qualquer pé-rapado.
Sean está certo e é por esse motivo que ainda não
desmoronei, independente de Blake aceitar ou não, pela justiça, ele
será obrigado a me ajudar financeiramente.
— Vou conversar com Paul e permanecer no hotel por
enquanto. — Sean assente e se afasta.
— Faça isso, Kat E eu cubro o seu turno para que possa
conversar com Blake.
— Não é cedo demais? Eu acabei de descobrir, a ficha nem
caiu completamente ainda. — Balanço a cabeça, sentindo o coração
ficar apertado, se eu ainda não consegui assimilar, não me vejo
anunciando para Blake.
— Você tem nove meses, Kat, mas, quanto antes resolver,
se sentirá melhor e não terá que lidar com isso sozinha.
— Você é um bom amigo.
— É óbvio que eu sou. — Ele me olha com desdém e
começa a preparar um coquetel. Sean é o tipo de homem que
valeria a pena namorar, se gostasse de mulheres. Enrugo os lábios
e começo a trabalhar também, preparando um monólogo em minha
mente sobre como contar ao Blake.
Capítulo 3

Paro em frente à vitrine de uma loja, analisando a minha


expressão, enquanto crio coragem para atravessar a rua e
conversar com Blake. Sean descobriu onde ele trabalha e fiquei
impressionada quando soube, pois é há uma quadra do Elysium.
Uma semana já se passou e foi o suficiente para eu cair na
real. Esperar ou não esperar não vai mudar o fato de que estou
grávida. Me afasto da vitrine, percebendo que é uma loja de
paisagismo Jardins Verdejantes. Meu coração murcha por um
momento, sabendo que esse sonho terá que esperar por mais um
tempo. Atravesso a rua com passos determinados. Estou vestindo
uma calça jeans, uma blusa social verde-clara, que realça os meus
olhos, e uma sapatilha preta.
A tarde já está no fim, espero encontrá-lo em seu escritório
ainda. Entro no edifício e meus olhos percorrem rapidamente para o
painel com os nomes das salas comerciais. Lockhart & Associados
Advocacia fica no último andar.
Entro no elevador com uma inquietação remoendo minhas
entranhas. Na semana passada, conversei com Paul, que aceitou
minha permanência no hotel, e isso foi como tirar um pequeno peso
das minhas costas. Agora eu preciso tirar o peso maior.
As portas do elevador abrem, dando vista para o último
andar, as paredes são revestidas de painéis de madeira escura, e a
iluminação é suave, criando uma atmosfera elegante. Desço com
passos incertos, analisando a minha esquerda, com cadeiras de
couro preto sofisticadas e quadros que decoram a recepção e, à
direita, um balcão com algumas recepcionistas atrás. À medida que
caminho em direção ao balcão, não deixo de notar os olhares
curiosos e discretos em mim.
— Boa tarde — saúdo, chamando atenção de uma garota
loira, usando um vestido tubinho vermelho, e seus olhos escuros
encontram os meus sem muito interesse. — Senhor Lockhart está
aqui? — questiono.
— Pai ou filho? — pergunta, olhando as horas no relógio de
pulso, com certeza já estão fechando.
— Blake Lockhart — sussurro. A garota me analisa
brevemente e comprime os lábios, como se estivesse com pena de
mim.
— Senhor Lockhart deixa o escritório em dez minutos,
então, se ele a atender, seja breve.
— Claro. — Vou contar que estou grávida e sair correndo,
penso ironicamente.
Sigo a recepcionista, que martela seu salto alto em um piso
laminado creme. Ela para diante de uma porta de madeira escura e
dá um suave toque. O meu coração parece que deseja fugir do
peito, batendo tão alto que eu nem compreendo o que a
recepcionista diz ao Blake quando abre a porta.
— Entre e não demore — ela avisa com firmeza e me dá
passagem.
Aposto que, se fosse um executivo, ou alguém importante,
ela não usaria esse tom. Não prendo o pensamento a esta mulher, a
arrogância deve prevalecer nesse escritório. Entro na sala com o
meu peito doendo pela ansiedade e fecho a porta com um baque
surdo atrás de mim.
Blake está de pé, diante de uma imponente mesa de
madeira escura. Sua aparência é a de quem farreou a noite toda e
veio direto para o trabalho. Os cabelos desgrenhados, o paletó
amarrotado, e aquele olhar cristalino, agora opaco e distante.
Começo a me perguntar se agora este é realmente o momento
adequado para nossa conversa.
— Oi... — sussurro e, hesitante, dou um passo em sua
direção.
— O que você quer? — A pergunta dele é ríspida,
acompanhada de um tom de voz duro que corta toda a minha ação.
Engulo em seco, com a língua traçando o contorno dos meus lábios
ressecados.
— Você sumiu. — Amaldiçoo a minha falta de coragem em
falar o real motivo. Blake está diferente, não que eu o conhecesse
muito bem, mas nunca o presenciei assim em nenhuma das idas ao
hotel.
— Me diga por que está aqui ou vá em embora, estou
trabalhando, Katie. — Seu tom de voz permanece inflexível.
Balanço a cabeça, tentando compreender o porquê de toda
a hostilidade. E sua expressão incisiva me examina
minuciosamente. Eu devo continuar, antes que ele mesmo me
expulse da sala.
— Um dos preservativos ficou dentro de mim. Estou grávida,
Blake. — Minhas palavras ressoam pelo escritório, e um riso
desdenhoso escapa dos lábios dele enquanto ele balança a cabeça
em negação. Ele se vira para a mesa, agarra um copo de bebida
âmbar e o esvazia em um só gole, fazendo uma careta de desgosto.
— Sabe, por um momento, eu pensei que você fosse
diferente — ele profere as palavras com repugnância, e então se
afunda na cadeira de couro preto atrás da mesa. Minha indignação
ferve dentro de mim, e as palavras escapam antes que eu possa
contê-las.
— Engraçado, eu posso dizer o mesmo de você. — Minha
voz vacila, e meu rosto cora com a ousadia das palavras. O que
Blake pensa que estou fazendo? Humilhando-me para tentar um
golpe?
— Eu vou ter o bebê com ou sem você.
Ele ignora minha presença, rabisca algo em um papel e
depois se levanta e caminha na minha direção. O cheiro de álcool e
cigarro que o envolve faz com que eu dê um passo para trás,
sentindo meu estômago revirar.
— Isso é o máximo que você vai ter de mim. — Ele agarra
minha mão com força, virando-a para cima, e desliza um cheque
para cima dela.
— Eu não vim pelo dinheiro. — Minha voz sai embargada,
uma bola de emoção se forma em minha garganta e meus olhos
ameaçam transbordar.
— É o que todas vocês dizem.
— Vocês? — Minha voz sai em um sussurro.
— Você acha que é a primeira a voltar aqui, semanas
depois, alegando que carrega um filho meu? — ele zomba com
desprezo, enchendo o copo de uísque até a borda. — Aceite o
dinheiro e não volte mais aqui — rosna, sem espaço para
contestação.
— Você está bêbado e claramente não está no seu estado
mental normal. Eu volto outro dia. — Não dou tempo de ele
responder e deixo a sala, batendo a porta com força.
Caminho para a saída com lágrimas riscando o meu rosto e
ignorando os olhares das recepcionistas, aparentemente é algo que
elas presenciam eventualmente. Entro no elevador como se meu
mundo estivesse desmoronando ao meu redor. Esse encontro foi
um erro, eu devia ter saído de lá quando percebi que ele estava
bêbado.
Ao chegar à rua, a brisa fresca bate em meu rosto, e meus
passos vacilam enquanto tento entender o que acaba de acontecer.
Minha mão segura o cheque de forma firme, com os dedos o
amassando com fúria e desespero. A raiva começa a crescer dentro
de mim não apenas pela forma como Blake me tratou, mas pela
situação em que me encontro.
Minha vida está uma bagunça e minha cabeça, cheia de
perguntas sem respostas. O que o deixou tão furioso comigo? Antes
mesmo de eu revelar a gravidez, a sua hostilidade já era notória.
Como vou criar esse filho sozinha?
Todas essas incertezas ameaçam a me sufocar.
Olho para o cheque mais uma vez, e uma sensação de
revolta toma conta de mim. Não quero depender de Blake ou de seu
dinheiro, mas, nas condições em que me encontro, não posso
bancar a orgulhosa.
Vou esperar alguns dias e voltar até o seu escritório. Deus,
que humilhação. E se Blake não quiser fazer parte da vida desse
bebê, então que seja. Não importa o que aconteça, eu serei forte
não só por mim, mas também pelo pequeno ser que está crescendo
dentro de mim.
Caminho em direção ao escritório do Blake com Sean ao
meu lado. Já se passaram alguns dias daquele encontro horrível, e
eu só espero que, desta vez, encontre Blake sóbrio. Sean me
aconselhou a depositar o cheque no dia seguinte, antes que Blake
mudasse de ideia e o cancelasse.
— Você lembra o que vai dizer? — Sean pergunta com
confiança no olhar.
Sean quer que eu exija um teste de paternidade caso Blake
se recuse a colaborar com a pensão alimentícia. Porra, o cara vem
de uma família de advogados, eu estou perdida se seguirmos por
esse caminho.
— Lembro. — Sorrio para ele.
Se não fosse pelo apoio de Sean, acho que teria
desmoronado mil vezes só esta semana. Sempre fui uma pessoa
solitária, até mesmo na faculdade, pois nunca me enturmei.
Dediquei-me tanto aos estudos para ser alguém de quem pudesse
me orgulhar que esqueci de viver, fazer amizades e conhecer
pessoas. Eu simplesmente não tenho ninguém. Minha família? Nem
sei se posso chamar aquela aberração de família. Meu pai é
alcoólatra e agressivo, e minha mãe fecha os olhos para tudo o que
ele faz. As coisas melhoraram para ela quando cresci e comecei a
ser agredida no lugar dela.
— Katie. — Sean puxa meu braço, tirando-me de minhas
memórias mais sombrias. — Chegamos.
Desço do elevador, me perguntando como chegamos aqui
tão rápido. Sinto borboletas em meu estômago enquanto meu amigo
me guia até a recepção. A loira que me atendeu outro dia me
reconhece imediatamente e dá uma breve revirada de olhos.
— Blake Lockhart está? — Sean adota um tom de voz firme
e autoritário.
— Não, senhor Lockhart não trabalha mais conosco — uma
recepcionista responde. Viro-me para Sean, sentindo meu mundo
desabar, e ele me acalenta com um afago no ombro, embora seu
olhar revele a mesma preocupação que a minha.
— E onde podemos encontrá-lo? — Minha voz soa rouca,
sufocada pelas emoções que tento conter.
— Lamento, mas não posso informá-la. São ordens dele.
— OK — murmuro.
— Ok é o caralho! — Sean rosna. — Ele engravidou a
minha amiga, então, quando você o ver, ou falar com ele, diga que
vou arrancar as bolas dele pela garganta. — As recepcionistas se
afastam do balcão, um pouco assustadas.
— Sean..., tudo bem — aviso, segurando-o pelo braço para
afastá-lo, consciente de que há muitos olhares sobre nós.
Meu amigo passa o braço ao redor do meu corpo, e isso me
dá algum conforto, pois sinto que perdi minhas forças. Descemos no
elevador em silêncio, a notícia de que Blake não trabalha mais aqui
caiu como um soco no meu estômago. Blake é um playboy egoísta,
insensível e um completo filho da puta! O que eu estava pensando
quando decidi ficar na suíte com ele?
Com certeza estaremos melhor sem ele, penso no meu
bebê. Para que forçá-lo à paternidade se ele não será presente e
amoroso?
Assim que chegamos ao térreo e saímos do edifício, uma
das recepcionistas que Sean assustou se aproxima de nós com um
sorriso sem graça.
— Blake se mudou para Chicago na noite passada — diz,
me entregando um pedaço de papel. — Aqui está o endereço da
sua casa. — Fico surpresa com sua compreensão. Não esperava
encontrar apoio aqui depois do que aconteceu. Suspiro e balanço a
cabeça, pegando o papel em sua mão.
— Obrigada — sussurro. Ela me dá um aceno de cabeça,
gira nos calcanhares e caminha de volta ao edifício, balançando
seus longos cabelos escuros.
— O que você vai fazer? — Sean pergunta, enquanto eu
encaro o papel com o endereço de Blake. Amasso o papel com
força a fim de desmanchá-lo em minhas mãos.
— Não vou mais me humilhar. Blake Lockhart está morto
para mim.
Capítulo 4

— Parabéns, acaba de conseguir outro projeto! — exclama


Luiza, minha chefe, anunciando ao entrar na minha sala. — O
proprietário reside em Leschi, enviei o endereço por e-mail. Ele ficou
impressionado com o nosso catálogo e, em particular, com o jardim
da mansão Dawson — afirma, orgulhosa.
— Amanhã eu faço uma visita. — Ela assente e se retira.
Me escoro na cadeira de couro, sentindo o meu coração
acelerar com a notícia. Este é o meu terceiro projeto desde que me
juntei à equipe Jardins Verdejantes, a sensação de prazer e gratidão
nunca perde seu brilho.
Consegui uma vaga aqui graças a um projeto de reforma no
jardim do Hotel Elysium. Intrometi-me, dando minha opinião
diretamente a Luiza, nossa conversa fluiu rapidamente, e agora eu
sou uma das suas arquitetas. Às vezes, me belisco, pois parece um
sonho.
Desligo o meu computador e deixo o meu olhar vagar pelo
quadro de Joy em minha mesa. Na fotografia, ela tinha acabado de
completar três meses, com sua cabecinha adornada por uma meia
dúzia de fios de cabelo. Apesar da pouca idade, era perfeita, com
pele de porcelana e grandes olhos azuis, herdados do pai. Foi
nesse mesmo mês que comecei a trabalhar para Luiza e conheci
Bryan na noite em que saí para comemorar meu novo emprego.
Tudo aconteceu rapidamente naquela época, cheguei a pensar que
finalmente minha vida estava entrando nos trilhos. Só que não.
Levanto-me da cadeira e apanho minha bolsa no suporte de
mesa. Desço os degraus em direção ao primeiro andar da loja, onde
algumas ferramentas de jardinagem estão à venda. Toda a maldita
vez que saio da loja, meus olhos são atraídos involuntariamente
para o outro lado da rua, onde ergue-se o impotente edifício da
Lockhart & Associados Advocacia.
Pensei que seria fácil esquecer Blake, mas sua lembrança
parece arraigada em minha mente. Tentei não o odiar durante a
gravidez, mas foi uma tarefa impossível. Dois anos se passaram, e
toda vez que me vejo diante do seu edifício, a última conversa que
tivemos passa em minha mente como em um filme de terror. Eu só
quero esquecê-lo e não entendo por que é tão difícil.
Atravesso a rua em direção ao Elysium. Já faz alguns dias
que não vejo Sean. E agora que ele ocupa o cargo de gerente de
bar, temos mais tempo para conversar. Entro no saguão e o som
dos meus saltos ecoam no chão de mármore escuro. Caminho em
direção ao bar próximo à janela que oferece uma vista panorâmica
da cidade. As banquetas de couro estão vazias e alinhadas ao longo
do balcão de madeira escura. Avisto Sean de pé, debruçado em
frente ao balcão, concentrado em seu tablet. Aproximo-me
sorrateiramente passando a mão pelas suas costas, chamando a
sua atenção. Meu amigo se vira para mim surpreso e com um belo
sorriso.
— Que surpresa boa! Como está a Joy? — pergunta, me
abraçando apertado. Sean não usa mais o uniforme de bartender e
nem a bandana, apenas uma roupa social que realça seus
músculos.
Me sento na banqueta e viro-me para ele.
— Ela está bem. Você pode visitar a sua afilhada quando
quiser. — Sean assente. Ele não costuma ir a minha casa por um
motivo, Bryan, confesso que, se eu não morasse lá, também não
iria.
Sean pede ao barman um martíni de maçã, ele sempre me
oferece um por conta da casa.
— Consegui um novo projeto, Sean. Agora falta pouco. —
Meu amigo aperta a minha mão por cima da bancada.
— Se minha avó não estivesse comigo, receberia vocês de
volta, Kat, pelo menos até você conseguir alugar o apartamento.
— As coisas estão calmas por enquanto. Bryan chega em
casa cansado, um pouco antes de eu ir para a cama, e às vezes
adormece no sofá assistindo à TV.
— Isso não é vida, Kat.
— Já estou vacinada para esse tipo de situação, não se
preocupe. — Ele sorri. O barman serve o martíni em uma taça e
coloca em minha frente. Removo o guarda-chuvinha e beberico o
líquido verde-claro. Beber ainda não é o meu forte, mas parece que
me envolver com homens errados, sim.

Estaciono o meu Honda Civic em frente ao meu prédio. É


um lugar simples, mas a vizinhança é tranquila. Moro a menos de
meia hora do trabalho, o que me permite voltar para casa antes do
sol se pôr e passar algum tempo com a Joy. Subo dois lances de
escadas e bato na porta da vizinha.
A porta abre em instantes, revelando apenas Olga, a
senhora que cuida de Joy enquanto eu trabalho. Normalmente ela
me recebe com Joy nos braços, mas hoje não.
— Oi, Katie. O Bryan pegou a Joy cerca de vinte minutos.
Tentei avisá-la, mas seu telefone só cai na caixa-postal — explica,
parecendo um pouco preocupada.
— Tudo bem... não tem problema — reforço e me afasto da
porta, caminhando para o outro lado do corredor, em direção ao
meu apartamento. Meus dedos hesitam na maçaneta por um
momento, meu coração dobra de tamanho e aquela sensação de
que as coisas podem ir de mal a pior em questão de minutos
percorre o meu corpo.
Balanço a cabeça para afastar esse pensamento intrusivo,
algo que costumava me assombrar enquanto morava em Maryland,
e giro a maçaneta, revelando a entrada da sala. Bryan está de
costas para mim, embalando Joy em seus braços. A gentileza e a
preocupação que demonstra por minha filha foram um dos motivos
pelos quais me apaixonei por ele. Nosso relacionamento evoluiu
rapidamente e, após oito meses juntos, ele me convidou para morar
aqui. Em tanto tempo, eu nunca havia me sentido tão segura e,
naquele momento, me pareceu uma ótima ideia.
Bryan se vira para mim, e seus olhos escuros como carbono
encontram os meus. Forço um sorriso gentil, fechando a porta atrás
de mim e deixando a minha bolsa no sofá de canto ao lado, depois
observo minha filha em seus braços, adormecida.
— Demorou para chegar — comenta, com seus olhos
vagando pelo meu corpo. Reprimo a vontade de ajustar a saia lápis
que tem uma pequena fenda na coxa. — Gostei da saia — diz,
embora eu saiba que é mentira, pois, por ele, iria trabalhar de burca.
— O trânsito estava uma loucura — respondo, se eu disser
que fui visitar Sean e não o avisei antes, começaremos uma
discussão, e eu não quero isso, especialmente com Joy em seu
colo.
Me aproximo deles e dou um beijo na testa da minha filha.
Bryan entregou-a com delicadeza para não a acordar e depois
caminha até a cozinha, que faz parte do mesmo cômodo da sala.
Atravesso o corredor em direção ao quarto da minha filha. É
todo branco e sem decoração, pois estamos morando aqui há
apenas quatro meses. E decorá-lo foi uma das tarefas que risquei
da minha lista quando Bryan socou a parede ao lado da minha
cabeça. Ele viu uma mensagem do meu colega de trabalho,
marcando de nos encontrarmos em uma das casas que íamos
visitar para elaborar um projeto e interpretou tudo errado. É claro
que o álcool ajudou. Desde então, os sinais ficaram claros na minha
cabeça, a preocupação excessiva era apenas uma forma de me
controlar. E eu só percebi quando já estava envolvida demais.
Tal mãe, tal filha, quem diria.
Dou outro beijo em Joy, depois deito-a com cuidado no
berço, ela veste um macaquinho curto e florido, revelando suas
coxas bem gordinhas que tenho vontade de mordê-las toda vez que
as vejo.
Caminho até o meu quarto e afasto as janelas para arejar o
ambiente e eliminar o cheiro de mofo que parece persistir. Abro o
guarda-roupa e pego um vestido amarelo de alcinhas, trocando-me
rapidamente entre as portas abertas. Depois volto à sala, pois,
infelizmente, não posso ficar presa no quarto.
Este novo projeto é a chave para que eu consiga locar o
apartamento que estou de olho há semanas. Embora seja mais caro
por ser mobiliado, tem uma creche a três quadras de distância e fica
vinte minutos do meu trabalho, o que o torna ideal. No entanto, o
dinheiro que o corretor de imóveis exige de entrada ultrapassa
minhas economias.
Então, por enquanto, preciso conviver com Bryan nos
termos dele. Reflito sobre isso e apanho o tênis dele do chão e
depois a camisa que ele jogou sobre a cadeira da cozinha. Pego
também minha bolsa no sofá e levo tudo de volta ao quarto.
Quando estou prestes a sair do quarto, Bryan surge de
repente na minha frente, fazendo o meu coração saltar no peito.
— Puta merda, você me assustou. — Ele sorri. Costumava
achar seu sorriso tão lindo, com pequenas covinhas nas bochechas,
mas agora tudo nele perdeu o encanto.
— Está tão calada Kat — comenta, mostrando-se atencioso,
e, se eu não tivesse convivido por dezoito anos com um pai abusivo,
tóxico e repugnante, talvez acreditasse nele.
— Só estou um pouco cansada. — Sorrio, tentando passar
por ele, mas Bryan bloqueia meu caminho e seus dedos deslizam
pela minha barriga, até me empurrar contra a porta do quarto.
— Está cansada demais para mim? — ele sussurra no meu
ouvido, e meu estômago revira. O sexo já não é algo que
praticamos há algum tempo devido aos nossos turnos de trabalho
que não se encaixam e, normalmente, Joy está acordada, para
minha felicidade. Meus lábios não são capazes de produzir uma
palavra que seja aceitável, então, quando Bryan me beija, apenas
retribuo. Quem nunca transou sem muita vontade que atire a
primeira pedra.
Bryan me deita na cama e seu corpo robusto se lança sobre
o meu, com seus dedos encontrando o caminho por baixo do meu
vestido e removendo minha calcinha. Ele não tem paciência para
tirar suas roupas completamente, apenas abaixa a calça até os
joelhos e entra em mim com um gemido rouco.
Ele não se preocupa em pegar uma camisinha, pois depois
que engravidei de Joy, passei a tomar injeção todos os meses.
Respiro profundamente e fecho os olhos, sabendo que serão
apenas dez minutos dessa tortura e depois ele me deixará em paz
pelo resto da noite, talvez até o resto da semana. Aprendi isso com
a minha mãe; depois que ela dava o que meu pai queria, tínhamos
algum tempo de paz naquela maldita casa.
Bryan volta a me beijar, e a pior parte é ter que interagir com
ele. No começo, ele me fazia gozar com muita facilidade, mas agora
nem se esforça em tentar. Às vezes, penso que eu mereço tudo
isso. Só estou com ele porque não tenho um lugar para morar e
ainda não posso alugar um apartamento. Joy precisa de um teto
sobre a cabeça, e Bryan é bom para ela, então, tudo isso ainda é
tolerável. Farei tudo o que tiver ao meu alcance para que minha
pequena Joy não tenha a mesma vida que eu.
Capítulo 5

— É bom tê-lo de volta, filho — meu pai profere, exibindo


um sorriso nos cantos de seus lábios finos.
— Como se eu tivesse tido escolha — retruco, mantendo
meu olhar firme sobre ele enquanto se recosta em uma grande
cadeira preta executiva. Meu pai, Carson Lockhart, é sócio
majoritário da empresa, e já está na casa dos sessenta anos. A
única razão pela qual me arrastou de volta de Chicago para cá é a
sombra iminente de que um dia ocuparei seu lugar.
— Você teve dois anos para superar o que aconteceu,
Blake. Entre maconha, álcool, mulheres e baladas... em algum
momento, teria que retornar à realidade. — Seu tom de voz é
cauteloso.
Pelo visto, fui o único que tive algo para superar, reflito, mas
guardo isso para mim.
— Precisa de mais alguma coisa? — Meu pai inclina-se na
minha direção.
— Não. — Ele balança a cabeça. — Tire o dia para
descansar da viagem, e amanhã conversamos.
Deixo o escritório do meu pai com olhares demais em mim,
me sinto como se tivesse ressuscitado dos mortos. Paro diante da
minha sala, onde meu nome continua gravado na plaquinha de
metal, provavelmente restaurada para minha volta.
Entro na espaçosa sala e fecho a porta atrás de mim. O
ambiente ainda é tão familiar quanto me lembrava. As paredes são
revestidas com painéis de madeira escura, e a iluminação suave
cria um ambiente sério e elegante. O escritório é adornado com
diplomas e certificados que atestam as realizações da família
Lockhart ao longo das décadas. As estantes abrigam uma vasta
coleção de livros, muitos dos quais eu ainda não tive a chance de ler
e provavelmente nem vou.
Minha mesa de mogno maciço está impecavelmente
organizada, com um computador de última geração e,
provavelmente, amanhã haverá uma pilha de documentos
esperando pela minha atenção. Eu sabia que assumiria
responsabilidades aqui, mas a realidade de estar de volta à
empresa da família começa a pesar sobre mim.
Caminho lentamente pela sala e me aproximo da grande
janela que se estende do chão ao teto, oferecendo uma vista
deslumbrante da cidade lá fora. Seattle continua a pulsar com vida,
seus arranha-céus brilham sob a luz do sol. Aqui sempre foi minha
casa, mas agora parece estranha e distante.
Fico observando, perdido em meus pensamentos. A
sensação de estar de volta a esse mundo de negócios me faz
questionar minhas escolhas e a direção que minha vida está
tomando. A voz de meu pai ecoa em minha mente, lembrando-me
de minhas escapadas nos últimos dois anos. Eu cheguei tão fundo
ao fundo do poço que não sabia se seria capaz de sair.
Viro-me para a entrada da sala, lembrando a última vez que
estive aqui, muito bêbado, com raiva do mundo e de luto... Katie
atravessa os meus pensamentos e tento afastá-lo com força, mas
suas palavras penetram intensamente na minha cabeça. “Um dos
preservativos ficou dentro de mim. Estou grávida, Blake”.
Naquela noite, cheguei a me perguntar se aquilo poderia ser
real. Se ela realmente podia estar grávida. No entanto, Rosalia
surgiu em minha mente, uma garota com quem transei no banheiro
de uma boate. Ela me encontrou duas semanas depois, alegando
estar grávida, mas, no fim das contas, só queria dinheiro. Com um
cheque de dez mil dólares, ela desapareceu para sempre.
Quanto a Katie... ela não parecia ser esse tipo de garota.
Parecia ser honesta. Nunca precisei insistir para que uma mulher
ficasse em meu quarto. E, quando ela depositou o cheque no dia
seguinte à sua revelação, eliminou qualquer dúvida que eu poderia
ter em relação à gravidez verdadeira.

Estaciono a minha MV Agusta F3 vermelha ao lado do


Camaro preto. Contemplo por um momento a minha bela casa. Já
se passou tanto tempo desde a última vez que estive aqui. É uma
construção majestosa que combina o charme da arquitetura
vitoriana com toques modernos e tons claros. A casa tem dois
andares, com janelas de formas redondas e salientes.
Morei aqui com os meus pais, mas, quando eles se
divorciaram, fui o único a permanecer nela. Minha mãe Evelyn
mudou-se para Chicago, para ficar perto dos meus avós, levando
Leslie, a minha irmã, com ela. Eu fiquei aqui com o meu pai, mas ele
também se mudou depois de um tempo.
Caminho em direção à casa sentindo a grama fofa afundar
sob meus coturnos. Minha mãe contratou uma equipe de limpeza e
de jardinagem para revitalizar a propriedade. Ao entrar na casa,
solto o meu capacete no armário ao lado. O grande hall se abre
diante de mim à esquerda e encontro a sala de estar, com móveis
modernos dispostos ao redor de uma lareira de mármore. À direita,
a sala de jantar, com uma mesa imponente e lustres cintilantes
É um exagero ter uma casa tão grande apenas para mim,
mas nunca tive coragem de deixá-la... bom, até que a deixei. Mas
agora estou de volta. Caminho em direção à escada central, que
leva ao segundo andar, mas sigo em direção à cozinha e paro
diante da grande janela, que oferece vista para o Lago Leschi. O
jardim está desordenado, mas nada que um cortador de grama não
resolva.
Ouço vozes vindas do lado de fora e, antes que eu pudesse
caminhar até lá, Stacy entra pela porta dos fundos. Seus cabelos
loiro-perolados estão presos em um rabo-de-cavalo e ela veste um
short jeans apertado e uma blusa curta preta que deixa sua barriga
chapada e bronzeada à mostra.
— Você voltou cedo — comenta com um sorriso de leoa e
anda em minha direção. Seguro em sua cintura e a trago para perto
de mim, depositando um beijo em seus lábios.
Stacy é afilhada dos meus pais. A conheço desde pequena,
ela sempre teve uma quedinha por mim, mas estava além dos
limites. Sou dez anos mais velho, porém, agora que ela tem vinte
anos, até a minha mãe aprovou nosso lance. E ela ficará aqui na
casa até as aulas começarem na Universidade de Washington, no
mês que vem. Não tem por que acelerar as coisas.
— Estava conversando com quem? — pergunto, olhando
para o lado de fora, vendo uma mulher parada diante do cais,
observando o Lago Washington.
— É a arquiteta que a Evelyn contratou. Precisa decidir
como vai querer o jardim, Blake. — Solto um suspiro. Se minha mãe
contratou, podia ter decidido.
— Vou lá conversar com ela — aviso, sentindo os dedos
dela explorarem o meu abdômen.
— Eu vou tomar um banho, se quiser me fazer companhia
depois. — Sua mão aperta meu pau com força enquanto mordisca o
lábio.
— Eu não demoro — declaro e deixo a cozinha em direção
ao jardim antes que Stacy pule em cima de mim.
Caminho pela área externa, depois desço os degraus de
mármore claro em direção ao jardim. Mal consigo lembrar de como
era essa parte da casa há dois anos. A mulher permanece de
costas, ela usa um vestido azul-carbono que acentua suas curvas e
tem uma pequena fenda que sobe em direção a sua bunda
empinada. Os cabelos loiros cor-de-mel estão presos com uma
trança holandesa, eu sei o nome desse penteado porque Leslie
amava quando era pequena.
Quando estou a um metro da arquiteta, ela vira-se para mim
e seu sorriso se desvanece ao encontrar meu olhar, fazendo-me
perder toda a ação também. Por um instante, minha mente trava,
meu coração acelera no peito e o mundo parece congelar ao nosso
redor. Brevemente, os lábios de Katie se entreabrem, mas ela os
fecha com força, enquanto suas bochechas ganham um tom
avermelhado. Talvez ela esteja envergonhada, pois, da última vez
que nos encontramos, ela tentou me dar o golpe da barriga.
— O que você faz aqui? — pergunto, mesmo que a resposta
seja óbvia. Sua expressão se torna quase violenta, algo que nunca
imaginei em seu rosto, enquanto sua mão em punho segura uma
caneta. Katie engole em seco e suas pálpebras tremem levemente.
— Não sabia que era sua propriedade — declara com
aspereza. — Não se preocupe, já estou de saída — diz, dessa vez
mais grossa, e se vira abruptamente, me dando as costas.
Espera aí, ela teve uma atitude imoral e se comporta como
se o canalha fosse eu? As palavras escapam da minha boca antes
que eu possa segurá-las.
— Encontrou algum idiota que caiu no golpe da barriga? —
Katie se vira com a mesma postura de antes, com indignação.
— O único idiota que eu encontrei foi você — ela rosna e se
afasta pela lateral da casa, sigo Katie, com minha raiva em ebulição,
subindo à cabeça.
Katie olha por cima do ombro enquanto se aproxima do meu
Camaro, então ela se vira para mim e seus lábios se contraem
enquanto ela morde a tampa da caneta com ferocidade e a cospe
com força, como se estivesse tentando liberar sua frustração.
— Você não é louca! — eu vocifero, e então, com um olhar
desafiador, Katie estende a mão que segura a caneta, apertando-a
com força, e crava a ponta do objeto na porta do carro, arrastando-o
até a outra extremidade. Ela joga caneta no chão com um pequeno
encolher de ombros e se vira para mim com os olhos verdes
injetados de raiva.
— Talvez eu seja — responde, e a tensão entre nós paira no
ar, como uma nuvem escura desencadeando uma tempestade.
— Considere-se desempregada! — exclamo, e sua
expressão não se altera em nada. Ela gira nos calcanhares e
caminha em direção a um carro estacionado do outro lado da rua.
Katie bate a porta com força, como se desejasse mostrar toda sua
raiva. Encaro o arranhão em meu Camaro com a respiração ainda
acelerada e a adrenalina correndo pelas minhas veias. Que caralho
aconteceu aqui?
Capítulo 6

O que eu fiz, Senhor? Esse pensamento está derretendo o


meu cérebro, como uma teia pegajosa que não consigo
desembaraçar. O suor brota em meu corpo por todos os lados.
Maldito Blake Lockhart. Eu devia ter pegado aquela caneta e
enfiado no olho dele, não riscado seu carro de menino riquinho,
metido à besta.
Sean se aproxima enquanto estou sentada sobre a pedra
fria da pia de um dos banheiros do Hotel Elysium. Depois que saí da
casa do Blake, não sabia mais para onde ir.
— Katie, precisa manter a calma. — Sean para entre as
minhas pernas.
— Como manter a calma, Sean? Luiza vai me demitir. —
Meu amigo comprime os lábios. Isso é irrevogável, mesmo que eu
tenha um passado com o Blake, estava sob os serviços dela quando
arranhei o carro dele. Maldição!
— Apenas conte a verdade, Kat. Se ela te demitir da mesma
forma, vamos para o plano B. Blake está com 16 meses de pensão
atrasada.
— Ele vai negar que a filha é dele, vai exigir um teste de
paternidade, e até tudo isso se resolver, Bryan fará o diabo a quatro
com minha vida.
— Pelo amor de Cristo, Joy é a cópia dele, é só colocar um
do lado do outro e pronto — diz, me fazendo sorrir. Realmente Joy
herdou apenas uma coisa bem específica de mim.
— Aparência não é o suficiente, e Blake está com uma
garota agora, ela pode ser um problema.
— Vamos dar um passo de cada vez. Primeiro você vai
conversar com a sua chefe, mas não hoje, porque você não está em
condições para isso — diz com firmeza, me apertando firme nos
ombros. — Daí vamos agir de acordo com a resposta da Luiza.
Respiro fundo e lhe dou um aceno firme.
— Não sei o que eu faria sem você — digo, às vezes sinto
que sou um fardo que Sean não pediu para carregar, que ninguém
desejaria carregar.
— Vamos ficar bem — afirma e me abraça.
— Por que você não pode gostar de mulheres? — pergunto,
ele ri alto e se afasta.
— Vocês são uma raça complicada.

Estaciono em frente ao meu prédio com o único desejo de


me jogar na cama e simplesmente existir, sem ter que lidar com
responsabilidades, seja o meu trabalho, seja Blake, seja qualquer
outra coisa. Meus pensamentos se voltam para Joy, minha razão de
alegria e a luz da minha vida. Por isso escolhi esse nome, pois é o
que ela representa para mim, alegria pura. No entanto, não posso
esconder o quão profundamente exausta estou, tanto fisicamente,
quanto mentalmente.
Pego a Joy adormecida no apartamento da vizinha, e parece
que Deus atendeu todos os meus pedidos. Solto a minha filha em
seu berço e, em vez de tomar um banho e me deitar também,
reparo na bagunça que se encontra a casa e começo a organizá-la.
Quando estou agachada em frente à privada, esfregando-a
e sentindo a dormência em meus joelhos, começo a me questionar
por que caralho eu não fui me deitar. Meu telefone toca com uma
mensagem em cima da mesa e meu sangue gela com quem possa
ser.
“Considere-se desempregada!” Foram as palavras de Blake.
Será que ele já foi até a agência me denunciar? Meu coração
acelera com o medo do que isso pode significar para o futuro de Joy
e o meu.
Pego o telefone e há uma mensagem de texto da minha
chefe:
Luiza Willer: Katie, como foi a visita?
Deus, será que ela já sabe e está me testando? Minha
mente está um turbilhão, e eu mal consigo formular uma resposta
coerente.
Mensagem Katie: Aconteceu uma coisa. Podemos
conversar amanhã de manhã?
Mensagem Luiza: Claro.
Ok. Ela parece normal, talvez ainda não saiba de nada.
Solto o telefone na mesa, olho em direção ao banheiro, e um
desânimo me engole por completo.
Meu telefone toca novamente e, dessa vez, é uma ligação
do Nick, o corretor de imóveis. Bloqueio a tela e deixo cair na caixa
de mensagens, com a minha sorte, com certeza ele já locou o
apartamento e está fazendo apenas a cortesia de me avisar.
Quando finalmente termino o meu banho após a limpeza,
Joy acorda com um pequeno choro que me faz rir. A culpa é sua,
Katie. Meu cérebro cansado me critica novamente por não ter ido
me deitar e apenas existir.
Me visto apressadamente para pegá-la. Ela é tão esperta
que se pendura nas grades do berço para poder descer. Se contar,
ninguém acredita. Caminho até o seu quarto, e sua perninha já está
esticada para pular para o outro lado. A pego no ato, e ela sorri,
mostrando seus 8 dentinhos brancos.
— Você acordou, pombinha. — Dou um beijo no seu
cangote com cheiro de neném e a levo até a sala.
Me sento no sofá com ela em meu colo de frente para mim e
apoio os pés na mesinha de centro. Suas bochechas estão bem
avermelhadas, e os olhos azuis, meio inchados do soninho.
— Está com fome, pombinha?
— Xim ma-mãe — profere com seu sotaque de bebê que eu
particularmente acho encantador. Dou um beijo em seu nariz e a
solto no sofá, em seguida, ligo a TV em um canal de um desenho
para ela.
Joy já fala algumas palavras, mas ainda não forma frases.
Aprendeu o “não” com muita facilidade antes de completar um ano,
logo depois veio ma-mãe, aga e boxaxa. Ela já completou 1 ano e
três meses, e o pediatra disse que ela é muito avançada para a sua
idade.
Pico uma banana inteira e um pedaço de mamão dentro de
uma vasilha de plástico e solto entre suas perninhas. Me sento ao
seu lado e escoro a cabeça para trás, observando-a comer
enquanto assisti a Baby Einstein.
Ela olha para mim brevemente e sorri. O meu mundo pode
estar desmoronando, mas, quando olho para o rosto inocente e
sorridente dela, todos os pensamentos sombrios desaparecem por
um momento.
Agora, mais do que nunca, vejo Blake enraizado em seu
semblante. A semelhança inegável entre Joy e seu pai é como uma
faca de dois gumes. Por um lado, é um lembrete constante de um
passado que eu preferiria esquecer. Por outro lado, é a ligação mais
forte que tenho com o homem que pode ser a chave para garantir o
futuro da minha filha. Joy pode ter uma vida melhor, uma que eu
jamais conseguirei lhe dar se eu não contar a verdade ao Blake,
mesmo que ele não mereça nada disso.

Acordo com meu despertador tocando pela milésima vez e


minhas vistas pesam por uma noite terrivelmente mal dormida. Joy
acordou duas vezes durante a madrugada, e estou me sentindo
sufocada de ansiedade pela conversa que terei daqui a pouco com
a minha chefe.
— Katie, se levanta antes que eu quebre essa porcaria —
Bryan resmunga, se virando de costas para mim. Contenho a
vontade de sufocá-lo com o travesseiro e me levanto. Não me
recordo de guardar tanto ódio assim dentro de mim. Bryan não sabe
de nada do que estou passando, e, se soubesse, com certeza, não
receberia o seu apoio.
Respiro fundo e me sento na cama, tentando manter os
olhos abertos, a luz matinal se infiltra pelas frestas das cortinas,
pintando o quarto com uma luminosidade pálida, e meu desejo é
voltar a dormir.
Pego minha roupa dobrada em cima da cômoda e deixo o
quarto, fechando a porta atrás de mim. Me lavo rapidamente e me
visto com uma calça jeans preta, uma blusa social de seda rosa-
envelhecido que já conheceu dias melhores e, por último, um
mocassim nude. Olho para o meu reflexo no espelho e vejo os
cabelos enrolados e rebeldes, então, dou uma breve escovadas
neles com os dedos.
Jogo mais água no rosto, tentando afastar a sensação de
letargia que persiste enquanto solto um longo bocejo. Ainda preciso
arrumar as frutas e o lanche da Joy. Olga, quando precisa de algo,
tem acesso ao nosso apartamento para fraldas e roupas, mas
sempre levo algo para que ela não precise ficar entrando e saindo,
principalmente enquanto Bryan ainda está em casa.
Deixo o banheiro em direção à cozinha, abro a porta da
geladeira e pego o melão, as uvas e os morangos, soltando tudo em
cima da pia para lavá-los. Quando me viro para pegar uma faca na
gaveta, Bryan está em pé diante da entrada do corredor apenas de
cueca boxer, segurando o meu telefone na mão com uma expressão
de irritação profunda.
Cacete, deixei o meu telefone no quarto.
— Me desculpe, eu me levantei na pressa e esqueci de
pegá-lo — murmuro uma desculpa fraca, mesmo que eu queira
berrar que estou cansada e tenho o direito de esquecer a porra do
telefone, ainda mais quando me expulsam do quarto.
— Quando ia me contar? — Ele se aproxima, e,
involuntariamente, dou um passo atrás.
— Contar o quê? — Meu cérebro pifa, não tenho ideia do
que ele está falando, ando escondendo tantas coisas ultimamente,
eu não sei do que possa se tratar.
— Não se faça de besta, Katie — ele rosna, esmagando o
telefone com os dedos. — Eu escutei as mensagens da sua caixa
postal. O nome Nick te diz alguma coisa?
— Por que estava futricando nas minhas coisas? — As
palavras escapam de mim em um tom que eu nunca usei com ele.
— Esse não é o ponto, caralho! — berra e arremessa o meu
telefone, acertando o um aéreo de portas de vidro, os cacos
explodem por todo o apartamento, preenchendo o ambiente com
estilhaços refinados.
— Quer uma explicação melhor que essa? — pergunto,
erguendo os braços.
— Eu cuidei de você, porra, da sua filha, que nem é do meu
sangue — vocifera, aproximando-se ainda mais, como uma
tormenta prestes a desabar — Você estava ferrada, no fundo do
poço. Não tinha nada, nem ninguém e nem o pai dela te quis. — O
timbre da sua voz reverbera por todo o meu corpo. Cada palavra é
um golpe, uma ferida que ele abre em minha alma.
— Eu não preciso dele e nem de você — sussurro, minha
coragem treme como uma chama vacilante em meio a uma
ventania. De repente, sinto o impacto da mão do Bryan contra o
meu rosto, fazendo-me cair no chão. Minha cabeça bate no piso, me
deixando um pouco zonza. O gosto de sangue inunda minha boca, e
percebo que mordi meu lábio com a força do impacto.
Aperto os olhos com força, sentindo a ardência em meu
rosto. Fico de quatro para me levantar, um pouco desorientada, e
uma baba ensanguentada escorre, manchando o chão como uma
pintura grotesca. Inferno.
— Levanta-se e vamos conversar. — Sorrio, esse
desgraçado ainda acha que pode haver espaço para alguma
conversa depois disso.
— Ma-mãe. — Ergo a cabeça, e meu coração se agita ainda
mais ao vê-la na entrada do corredor, seus pezinhos descalços
tocam o chão de forma hesitante. Deus, ela pode pisar em algum
caco de vidro. Me levanto mais rápido do que achei ser capaz, a
tempo de ver Bryan se aproximar dela.
Instintivamente agarro o rolo de massa em cima do balcão
ao lado e acerto com toda a minha força na cabeça dele. Bryan cai
desmaiado como um saco de bosta, que é o que ele é, e jogo o
objeto ao seu lado.
Pego Joy nos braços com meu coração pulsando como um
tambor enlouquecido. Entro no seu quarto e a coloco no berço,
depois apanho a sua bolsa materna e jogo algumas fraldas e roupas
dentro dela.
Ouço uma batida na porta que faz o meu sangue gelar.
Coloco a bolsa no ombro, pego a Joy e as chaves do carro
no caminho para a cozinha como se estivesse em um piloto
automático de sobrevivência. Paro diante do Bryan e há uma poça
de sangue em volta da sua cabeça. Meu Deus, eu o matei? Me
aproximo dele para checar seus batimentos cardíacos, mas outra
batida na porta me faz ter um sobressalto e me afastar do corpo.
Espio pelo olho mágico, é a Olga. Abro a porta rapidamente
e saio, fechando-a atrás de mim. Não preciso que ela seja
testemunha de nada. Aparentemente Olga é uma venezuelana ilegal
no país e não quero colocá-la em perigo.
— Você está bem? — Ela toca em meu rosto, preocupada.
— Vou ficar. — Forço um sorriso, e até esse pequeno gesto
dói, pois cada músculo do meu rosto parece protestar contra o
movimento. — Eu preciso sair daqui agora eu ligo para você —
aviso, me dando conta de que estou sem telefone. Olga dá um beijo
na bochecha da Joy e, em seguida, desço as escadas em direção
ao meu carro.
Coloco a Joy na cadeirinha no banco de trás. Ela não
parece assustada, e isso alivia um por cento do peso que carrego
no peito. Se eu o matei, posso ser presa e, por Deus, quem cuidaria
da Joy? Só de imaginar ela sendo enviada para Maryland, para ser
criada pelos meus pais, faz os meus olhos se encherem de
lágrimas.
Olho pelo retrovisor, meu reflexo mostra um lábio inchado e
cortado, a minha bochecha e queixo assumem um tom arroxeado.
Dirijo em direção ao Hotel Elysium. Eu não tenho mais para onde ir,
não tenho nada, Bryan não estava totalmente errado, mas eu tenho
Sean, e outra vez sinto que vou arrastá-lo para um drama que não
pertence a ele.
Em vez de entrar no estacionamento do hotel, sigo em
diante e estaciono em frente ao meu trabalho. É hora de tomar as
rédeas da minha vida e despejar os meus problemas em cima de
outra pessoa. Rio com esse pensamento, percebendo o absurdo de
achar graça nessa situação. Mas agora, mais do que nunca, eu
preciso garantir o meu emprego. Depois eu decido o que fazer com
o resto.
Pego Joy no banco traseiro e entro na loja com a cabeça
baixa. Subo os degraus rapidamente e paro diante da secretária da
Luiza, Sarah.
— É o dia da criança no trabalho? — Ela sorri enquanto
aperta o pezinho de Joy, mas seu semblante logo se transforma em
preocupação ao encontrar meus olhos, perdendo todo o brilho que
tinha momentos antes.
— Meu Deus, Katie, o que aconteceu com você? — Eu
posso inventar qualquer desculpa, afirmar que fui assaltada,
atropelada, que caí e bati na quina de alguma coisa, nossa, a lista é
imensa para alguém que foi vítima de violência por parte de seu
companheiro.
— Tive uma discussão com o Bryan. — Opto por dizer a
verdade, pois a realidade é tão clara quanto a luz do dia, e as
pessoas gostam de saber. — Luiza já chegou?
— Está com um cliente, mas vou avisá-la. Espere um
momento. — Sarah pega o telefone e liga para o escritório da nossa
chefe. Joy começa a ficar inquieta em meu colo; presumo que sua
fralda esteja suja e que esteja sentindo fome também.
— Já vou cuidar de você, minha pombinha.
— Pode entrar — avisa, preocupada, deve estar morrendo
de pena de nós. Mas a única pessoa de quem preciso que sinta
pena é Luiza.
— Você não disse que ela estava com um cliente? — Sarah
dá de ombros, enrugando os lábios.
— Parece que já foi embora — concordo, caminhando em
direção à sala da minha chefe. Bryan ocupa meus pensamentos,
caído no chão do apartamento, e balanço a cabeça, afastando a
imagem. Talvez eu deva ligar para a emergência. Se ele morrer,
estou perdida, e se ele já estiver morto?
Bato na porta da Luiza e a abro em seguida. Quando penso
que a situação não pode piorar, percebo que Blake está sentado
diante da minha chefe.
Luiza olha para mim com uma expressão de choque antes
de se levantar rapidamente e se aproximar.
— Katie, o que aconteceu com você? — ela pergunta,
visivelmente preocupada, mas meus olhos estão fixos nos de Blake.
Parece que ele perdeu todo o sangue do corpo; sua expressão é de
uma pessoa que tenta contar os meses sem usar os dedos. Para
um advogado, ele não parece muito inteligente. Seu olhar passa de
mim para a Joy e de volta para mim, com uma mistura de choque e
perplexidade. Agora a ficha do bastardo caiu.
— Bryan aconteceu — respondo e pergunto a Luiza: —
Podemos conversar a sós?
Nesse momento, Blake se levanta, fazendo-me dar um
passo atrás.
— Katie. — Suas palavras mal passam de um sussurro.
— Agora não, Blake. — Minha voz é oposta da dele, pois
estou à beira do colapso.
— Senhor Lockhart, peço que retorne mais tarde — Luiza
diz, sem saber de tudo o que está realmente acontecendo na sala.
Blake está conhecendo sua filha.
— Ela é minha filha. — Sua resposta é uma pergunta e uma
afirmação ao mesmo tempo. Luiza olha para o Blake e depois para
mim e me sinto em um maldito looping.
— Katie, o que está acontecendo? — Luiza parece um
pouco impaciente.
— Acredito que o senhor Lockhart possa explicar — digo,
dando outro passo atrás, incapaz de permanecer na presença dele
e ainda responder às perguntas da minha chefe. Caminho em
direção a minha sala e escuto passos atrás de mim. Olho por cima
do ombro, e Blake está se aproximando.
— Katie, converse comigo, por favor. — Entro na sala, mas
não consigo fechar a porta antes de ele se enfiar no caminho. Olho
para seus olhos azuis, o seu nariz fino e arrebitado e o deixo passar,
literalmente sem forças para fechar a porta em sua cara. Blake
fecha a porta atrás de si, enquanto eu solto a bolsa em cima da
cadeira e pego uma fralda seca. — Por que você não me procurou?
— Sua aflição é palpável, mas o que ele sente não se compara ao
que eu vivenciei quando me deu as costas.
Coloco uma das roupas de Joy sobre a mesa e depois
coloco-a deitada com a cabecinha sobre ela para poder trocar a sua
fralda molhada. Joy tenta alcançar meu grampeador ao lado, mas
eu o afasto dela e agilmente coloco uma fralda seca e sua roupa de
volta ao lugar.
— Está com fome, pombinha? — pergunto, ela sorri,
concordando com a cabeça. Solto minha filha na cadeira e percebo
que não tenho nada para alimentá-la. Dou a volta na mesa e
procuro nas minhas gavetas algum biscoito, qualquer coisa que
possa enganar sua fome até irmos a algum lugar. Encontro meio
pacote de pão torrado. Melhor do que nada.
— Katie, fale comigo — pede enquanto estendo um pedaço
de pão a Joy.
— O que garante que ela é sua filha, Blake? Pode ser de
qualquer idiota que caiu no golpe da barriga, lembra? — Seu rosto
assume um tom vermelho, não sei se é de raiva ou
constrangimento.
— Que idade ela tem?
— Se fosse o pai dela, saberia — rosno e sei que não estou
em condições de recusar ajuda. Sean e eu acreditávamos que Blake
não aceitaria e exigiria um teste de paternidade. E agora tudo está
acontecendo ao contrário, eu simplesmente não sei como lidar com
isso.
— Você não teria arranhado o meu carro, correndo o risco
de perder o emprego, se não fosse verdade, Katie. E a... — Ele olha
para Joy sem saber como se referir a ela, mas não digo seu nome,
apenas o observo afundar na própria vergonha. — Ela deve ter
entre um ano e dois meses, talvez três — ele arrisca.
— Parabéns, você acabou de passar no teste de
paternidade. Desculpe por não ter uma carteirinha de “bom pai” aqui
comigo. — As palavras saem ríspidas e de forma involuntária, mas
libertadoras. Dizer algumas verdades era tudo que eu precisava. No
entanto, isso não é suficiente; tudo está desmoronando, estou com
raiva, quebrada e sentindo meu lábio sangrar novamente.
— Você está com raiva...
— Blake, olha para mim — eu o interrompo, apontando para
o meu rosto, com as lágrimas escorrendo sem controle. — Tem algo
muito maior acontecendo agora. Essa conversa esperou dois anos e
terá que esperar por mais um pouco. — Viro-me de costas para ele,
sentindo que vou desabar.
De repente sinto seus dedos firmes em meus ombros. Blake
não me abraça, mas me segura com tanta força como se sentisse
que estou prestes a desmoronar.
— Quem fez isso com você? — ele pergunta depois de um
tempo.
— Meu namorado. Ex-namorado agora — acrescento.
— Vamos à delegacia, você precisa denunciá-lo. — Me viro
para ele, balançando a cabeça em negação.
— Eu não posso fazer isso — digo e mal consigo enxergá-
lo, com meus olhos cheios de lágrimas, tomando conhecimento do
tamanho do erro que eu cometi ao atacar Bryan.
— O que você fez, Katie? — pergunta, preocupado.
— Acertei-o com um rolo de massa na cabeça.
— Ele está vivo? — Pisco os olhos, derramando as
lágrimas.
— Eu não sei. Havia uma poça de sangue em volta da
cabeça dele. — Blake coça a nuca, pensativo.
— Temos que descobrir se ele está vivo, em seguida,
veremos como lidamos com o resto.
— Não precisa se envolver. Isso não vai mudar o passado.
— Mais uma vez, não estou em posição de recusar ajuda, mas não
quero dever mais nada a nenhum homem.
— Eu já cometi muitos erros, Katie, mas rejeitar vocês
novamente não será um deles — Blake fala, com sua voz soando
sincera, parece que o playboy, babaca e metido à besta cresceu.
Permaneço em silêncio, incapaz de formular uma resposta
adequada. Blake me magoou muito e me tratou como lixo, mas
preciso pensar em Joy e na segurança dela agora. Sinto as
pequenas mãos dela em meus joelhos e a vejo tentando se
esconder entre minhas pernas. Me abaixo e a pego nos braços.
— Qual é o nome dela? — Blake pergunta, dando um passo
vacilante em nossa direção.
— Joy.
— Como alegria — ele comenta, olhando para Joy com
admiração. — É lindo — Blake profere e se aproxima lentamente,
mas minha filha vira as costas para ele e se agarra ao meu pescoço,
um pouco desconfortável, então Blake se afasta.
— Ela demora para interagir com estranhos. — Ele assente.
— Vocês têm onde ficar? — A pergunta dele me pega de
surpresa. Desde que saímos do apartamento, não me ocorreu que
não temos para onde ir. Sean seria a minha primeira opção, mas ele
não tem espaço para nos receber, e a diária do hotel é uma facada
na conta bancária.
— Não temos — digo e minha pele começa a arder sob o
peso do olhar dele. Todos sentem pena, eu não aguento mais viver
assim. — Eu estou tentando locar um apartamento há um tempo, o
corretor me deixou uma mensagem de voz, mas o Bryan escutou
antes de mim, e eu não sei o que ele disse — explico, e as lágrimas
começam a picar meus olhos.
— Podem ficar na minha casa até você conseguir locar o
apartamento. É mais seguro para você e a Joy do que voltar para
sua casa.
— Não me diga o que é mais seguro para a minha filha... —
As palavras saem mais duras do que eu pretendia. Entendo que ele
quer ajudar, mas eu nunca a colocaria em perigo novamente ao
voltar para aquele apartamento.
— Eu só quero ajudar — explica, encarando-me com uma
expressão gentil e preocupada. Onde estava esse homem há dois
anos quando eu mais precisei?
— Oney, ma-mãe — Joy pede pelo seu unicórnio de pelúcia,
chamado Honey.
— Ah, pombinha, ele está em casa, dormindo na sua
caminha — explico, e seu lábio inferior se curva em um beiço.
— O que ela quer, Katie? — pergunta, curioso, enquanto
observa a Joy.
— Ela quer o unicórnio com o qual ela dorme e carrega para
todos os lados. Na pressa, eu o esqueci.
Olho para a Joy, brincando com o meu brinco de pérola
falsa. A independência sempre foi importante para mim, mesmo que
tenha significado suportar Bryan por tanto tempo. No entanto, não
posso deixá-la viver em uma situação assustadora como esta. Joy
merece segurança e estabilidade, e meu ego ferido não pode estar
acima do bem-estar dela.
— Precisamos buscar nossas coisas no apartamento. —
Blake concorda com um aceno de cabeça, e de repente minha
mente me leva direto ao Bryan. Vivo ou morto?
Uma batida na porta interrompe nossa conversa, fazendo
meu coração acelerar. Parece que o desespero será minha
companhia constante daqui em diante.
— Katie, está tudo bem? — Luiza pergunta, e Blake leva
dois dedos aos lábios, estranho o gesto dele e respondo a minha
chefe:
— Sim, já estamos saindo.
Blake se aproxima e fica a centímetros de mim.
— Não comente nada sobre o rolo de massa. — Assinto,
percebendo que estou recebendo conselho do seu lado advogado
nesse momento. — Vou esperar você lá fora — avisa.
Blake abre a porta, e Luiza está parada diante dela, usando
um vestido vermelho-sangue, só de pensar em sangue meu
estômago embrulha. Os dois se encaram brevemente, e Blake se
retira, dando passagem a minha chefe, que entra e fecha a porta.
— Eu não sei nem por onde começar — confesso, mas não
dou espaço para ela me fazer perguntas. Relato sobre a única noite
que passamos juntos, o que gerou a Joy, a rejeição do Blake e a
minha briga com Bryan.
Luiza está sentada na ponta da mesa, acariciando os
cabelos da Joy, ela solta um suspiro e me encara, meu coração
parece que vai se fragmentar no peito, mesmo que Blake esteja
disposto a ajudar, eu preciso desse emprego.
— Como sua chefe, preciso dizer que não posso aceitar o
que você fez, Katie, riscar um carro de um cliente é inaceitável. Mas,
como mãe e esposa, eu teria furado os pneus do carro dele
também. — Ela sorri, aliviando o aperto em meu peito.
— Isso não vai mais acontecer, eu prometo. — Ela assente.
— Blake pediu a sua demissão, mas acho que isso é
insignificante para ele agora. E, a respeito do Bryan, precisa
denunciá-lo.
— Eu sei. — Eu sei que preciso e isso não sai da minha
cabeça, mas o que eu fiz com ele foi bem pior, isso é a única coisa
que me impede de denunciá-lo. Eu jurei a mim mesma que nunca
mais permitiria que um homem me batesse e sairia impune, mas eu
não queria matá-lo.
— Tire a semana para resolver isso e depois volte ao
trabalho — diz, se levantando da minha mesa e caminhando em
direção à porta.
— Obrigada, Luiza.
Solto um suspiro ao ficar sozinha e encaro a minha pequena
pombinha de volta à cadeira. Ficaremos bem. Tento enfiar esse
pensamento na cabeça, pois ela precisa de uma mãe sã.
Capítulo 7

Sinto o vento cortar o meu rosto enquanto acelero minha


moto pelas ruas de Seattle. Katie segue com seu carro logo atrás de
mim. Minha mente está um turbilhão. Porra, eu sou pai! A ficha
parece longe de cair, mas as ações de Katie, a idade da bebê, a
fisionomia dela, tudo é como se Leslie tivesse nascido de novo,
éramos muito parecidos quando bebês. Joy é minha filha.
As palavras da Katie nunca soaram tão sinceras. “O único
idiota que eu encontrei foi você”. Sou um completo imbecil, um filho
da puta sem tamanho. Durante esses dois anos em que estive fora,
vivi como se não houvesse o amanhã; álcool, mulheres e festas
eram o auge dos meus dias, enquanto Katie fazia todo o trabalho
sozinha e ainda tinha que suportar um cara que a maltrata. Preciso
convencê-la a denunciá-lo. Se esse tal Bryan estiver morto, as
coisas ficarão complicadas para o lado dela.
Estaciono em frente à minha casa, meus olhos se fixam no
arranhão no meu Camaro. Começo a me perguntar se teria
descoberto minha filha se Katie não tivesse feito o que fez. Teria ela
me contado?
Katie para seu carro atrás do meu e desce, abrindo a porta
traseira para pegar Joy. A bebê está adormecida, com a cabeça
apoiada no pescoço. Katie encontra meu olhar, e não é apenas o
hematoma que me chama a atenção, ela mudou muito desde aquela
noite no hotel, tanto mental, quanto fisicamente. Está mais magra, e
aquele brilho no olhar de quem estava prestes a começar um sonho
se perdeu.
Pego a bolsa materna em seu ombro, pois sei que ela ainda
não se sente confortável em me dar a bebê, e eu também nem
saberia como pegá-la.
— Tem certeza de que não tem problema ficarmos aqui? —
E mesmo em uma situação de merda, ela se preocupa em não
incomodar.
— Não tem problema — garanto. Stacy pode ser um
problema, estamos indo devagar, namoramos há pouco mais de
seis meses. Na verdade, nunca pensei que fosse me prender a uma
mulher, mas ela ficou ao meu lado no meu pior momento. Talvez as
coisas tivessem sido piores se ela não estivesse lá. Penso nos
meus pais e a reunião que eu tinha agendado mais cedo com o meu
pai corre a minha mente. Não era bem assim que eu imaginava o
meu retorno.
Abro a porta para Katie, e ela entra, olhando em volta, se
familiarizando com o lugar, depois se vira para mim.
— Onde posso deitá-la?
— Os quartos ficam no andar de cima, mas pode colocá-la
no sofá se quiser, assim, veremos quando ela acordar — respondo.
Ela assente e segue em direção a sala. Acompanho-a de perto,
Katie solta Joy com a cabecinha em uma almofada e depois a cerca
com outras.
Ela se vira para mim, com ombros curvados e os olhos com
uma fina película de lágrimas.
— Eu não quero deixá-la, mas preciso voltar ao meu
apartamento. Não saber o que aconteceu com Bryan está me
sufocando, e Joy precisa de suas coisas.
— Não pode voltar lá sozinha. É perigoso. — Katie
entreabre os lábios para argumentar, mas me antecipo. — Eu vou e
pego o que eu conseguir, se algo tiver acontecido com ele, eu te
aviso.
As lágrimas rolam, e ela se vira para limpá-las.
— Se encontrar o meu telefone no chão da cozinha, traga
por favor. Bryan o arremessou contra um armário, mas talvez esteja
funcionando. — Por Deus, começo a desejar que ela tenha o
matado, porque estou começando a querer matá-lo.
— Coma alguma e descanse, eu volto logo.
Katie me passa o seu endereço e a chave do apartamento.
Em seguida, pego a chave do Camaro e caminho até o carro com
passos largos, fazendo uma ligação para Stacy. A deixei no campus
antes de ir para agência Jardins Verdejantes exigir a demissão da
Katie e não tenho ideia de que horas ela volta. A chamada cai na
caixa postal. Não são nem onze horas e minha cabeça lateja como
um tambor, imagina o que restará até o final do dia.

Estaciono em frente ao endereço que Katie me passou.


Desço e analiso o prédio diante de mim, uma construção modesta
com a fachada descascada pelo tempo e falta de manutenção. Um
lugar simples, longe da opulência que costumo me envolver.
Subo dois lances de escadas e chego diante da porta do
apartamento que Katie me indicou. Hesito por um momento,
imaginando qual cena irei encontrar do outro lado. A incerteza pesa
sobre mim e, com um suspiro, insiro a chave na fechadura e giro
lentamente. A porta se abre, revelando um interior simples, mas
acolhedor.
Ouço um caco de vidro se fragmentar com o primeiro passo
que dou para dentro do apartamento. No chão, há vários deles
espalhados, incluindo o telefone da Katie, perto do pé da mesa.
Pego o telefone e tento ligá-lo, mas não está funcionando. Raiva
atravessa o meu corpo, imaginando o que ela teve que suportar com
esse cara porque simplesmente não tinha para onde ir, porque fui
um imbecil que não lhe deu o benefício da dúvida, estava em um
lugar sombrio e bêbado demais para perceber que podia ser
verdade. Por meses, eu a culpei pela morte da Leslie, quando o
único culpado fui eu.
Balanço a cabeça, afastando as lembranças. Se Bryan não
está aqui, ele pode voltar a qualquer momento. Caminho pelo
corredor e paro diante dos quartos, o de Katie me chama atenção,
mas entro no de Joy. É pequeno e tem apenas o berço branco e
uma cômoda da mesma cor. Encontro o unicórnio de pelúcia e pego
antes que acabe me esquecendo. Quando olho em direção à
cômoda, me dou conta que não tenho onde colocar as roupas. Muito
esperto, Blake.
Entro no quarto da Katie e meus olhos percorrem pela cama
bagunçada enquanto ando em direção ao roupeiro. Abro todas as
portas até encontrar uma sacola plástica grande e uma mala de
viagem. Sem perder tempo com detalhes, jogo o máximo de roupas
que consigo dentro da mala e da sacola. Enquanto pego as roupas
de Joy, encontro um álbum de fotos no fundo de uma gaveta.
Me bate uma curiosidade e não posso esperar chegar em
casa. Abro o álbum, e a primeira foto que vejo é da Katie apenas de
sutiã lilás meia taça, exibindo uma barriga chapada, com um
sapatinho branco de bebê logo acima do umbigo. Seus olhos não
demonstram a mesma alegria dos seus lábios. Imagino o quanto
deve ter sido difícil para ela. Há uma legenda escrita no topo: 1°
mês. Fecho o álbum, sentindo que estou invadindo a privacidade
dela.
Retorno à cozinha, e aquele rolo de macarrão me chama
atenção novamente. Sem ponderar, pego um pano de prato em
cima da pia ao lado de um monte de frutas e enrolo-o na volta do
rolo, um dos lados está manchado de sangue. Sem evidências, sem
provas.

Estaciono atrás do carro da Katie e guardo o meu telefone


de volta no bolso da calça. Passei o caminho todo ligando para
Stacy. Não sei onde a garota se enfiou. Desço e abro o porta-malas,
nessa hora um táxi estaciona na extremidade da rua, e Stacy desce
com as duas mãos carregadas de sacolas, agora vejo o motivo de
não ter atendido as ligações. Seu sorriso se ilumina quando ela me
enxerga, e não consigo retribuir. Ela é jovem demais, não sei como
vai reagir à notícia.
— As aulas começam logo, então, pensei em renovar o
armário — diz, girando em uma sandália de salto alto. — E você não
devia estar no escritório? — pergunta, se aproximando, usando um
vestido cor de creme, com um cinto preta acima da cintura.
— Fui resolver o problema do carro.
— Ah, e você descobriu quem foi o vagabundo que fez isso?
— Ela me dá um beijo na bochecha e seus olhos claros vagueiam
para dentro do porta-malas, encontrando os pertences de Katie, e
depois se volta para mim, franzindo o cenho.
— Sim, e ela está lá dentro. — Faço um gesto sutil para
minha casa, e Stacy balança a cabeça como se seus pensamentos
estivessem em desordem. — Sabe a arquiteta que esteve aqui
ontem de manhã?
— O que tem ela? — Noto a preocupação na expressão de
Stacy antes mesmo de saber o motivo.
— Lembra da pergunta que me fez um tempo atrás sobre a
coisa mais louca que já me aconteceu?
— Sim, e não estou gostando do caminho dessa conversa,
Blake.
— A arquiteta foi uma das garotas que eu pensei que estava
tentando me dar o golpe da barriga. — Depois de um momento de
reflexão, Stacy balança a cabeça em negação.
— Por que não me contou isso ontem? E como pode ter
tanta certeza de que é sua filha? — ela me enche de perguntas e
compreendo a sua preocupação.
— Eu vi a bebê.
— E daí? — pergunta, e sinto sua agitação. — Ela pode ter
transado com outro cara no dia seguinte, na semana ou até no mês
seguinte, e agora está contando que a filha é sua.
— Não complique as coisas, Stacy. — Me viro e puxo as
malas do carro.
— Espera aí, elas vão ficar conosco? Blake, você mal
conhece essa mulher. — Ignoro-a enquanto levo as malas em
direção à casa e ouço Stacy correndo para me alcançar. — Você,
pelo menos, pediu um teste de paternidade?
Me viro abruptamente para ela com minha paciência
atingindo o limite. Sabia que seria difícil para ela entender, mas não
vou permitir que Stacy entre lá e desconte sua raiva em Katie por
um erro que cometi no passado.
— Elas vão ficar comigo pelo tempo que for necessário e
não vou pedir o teste — digo quase silabicamente para que eu não
precise repetir e explico a situação de Katie com o Bryan na
esperança de que Stacy compreenda um pouco mais e deixe de
lado esse ciúme infundado. Katie me odeia e com toda a razão, eu
provavelmente sou o último homem que ela desejaria por perto.
— Eu não acredito que isso esteja acontecendo — ela
resmunga ao meu lado quando chegamos à porta.
— Seja madura e me ajude a lidar com a situação, pois eu
não vou abandoná-las — aviso, e o desgosto é evidente na
expressão dela.
A notícia ainda é recente para mim, talvez eu esteja sendo
duro e exigindo compreensão demais de uma garota de vinte anos,
mas, se Stacy não souber lidar com isso, não sei como
continuaremos juntos. A minha cabeça está o caos, melhor não
pensar nisso agora e acabar tomando uma decisão precipitada.
Entro na casa e dou um olhar de aviso a Stacy, seus olhos
reviram com força, em seguida, ela desfila na minha frente, quase
arrebentando o chão com o peso dos seus passos. Katie fica em pé
no meio da sala, mas Stacy a ignora, fazendo ainda mais barulho ao
subir as escadas para nosso quarto. Em instantes, Joy começa a
chorar, com certeza o barulho a acordou.
Filha da mãe!
Largo as malas na entrada e pego o unicórnio, depois
caminho até elas. Joy está sentada no sofá com a marca da
almofada desenhada no rostinho levemente corado.
— Bryan não estava mais lá, Katie, você não o matou —
aviso para que possa se acalmar e depois me abaixo em frente a
Joy, exibindo a Honey, ela sorri, enrugando o narizinho e
estendendo as mãos gorduchinhas para pegá-lo. Ela é perfeita.
— Obrigada por lembrar.
— Vamos subir e arrumar um quarto para vocês. — Ela
assente.
Pego as malas na entrada, e Katie me segue com a bebê no
colo em direção ao andar de cima. Paramos em um quarto que fica
há três portas do meu. Abro e entro antes delas, o quarto precisa
dar uma ventilada, pois ficou muito tempo fechado e sem uso. Solto
as malas diante da porta do closet e depois arrasto as cortinas cor
de creme, revelando grandes janelas vitorianas com vista para o
Lago Washington.
Viro-me para Katie, e ela ainda permanece na entrada, com
seus olhos varrendo o quarto. Uma cama grande ao meio, com
dossel de madeira e tecido translúcido branco. Um balanço
suspenso com lugar para dois em frente à janela e pufes estão entre
outras coisas no chão. Este era o quarto da Leslie.
— Vamos embora assim que eu encontrar outro lugar para
ficarmos. — Há um tom de mágoa na voz dela.
— Não precisa ter pressa, Katie, eu quero ajudar.
— Já ajudou. — Assinto, tirando o seu telefone do bolso e
lhe estendendo.
— Não está funcionando, eu vou comprar outro pra você.
— Pare de fazer isso! — diz de repente, com uma
intensidade crescente na voz. — Você precisa entender que não
importa o quanto você tente compensar o que aconteceu, nunca vou
esquecer as palavras que você me disse há dois anos. Eu vou
agradecer eternamente por nos acolher, mas não pense que isso
apaga tudo. Não somos amigos, Blake. Não finja que somos
amigos.
Meus olhos encontram os dela e sei que minhas palavras
nunca compensarão totalmente o que fiz. Talvez o melhor seja sair
calado, mas eu quero que ela saiba que lamento de verdade.
— Você está certa. Eu não posso mudar o passado, e não
estou pedindo que você me perdoe imediatamente. O que
aconteceu entre nós foi uma confusão terrível, e eu assumo toda a
responsabilidade por isso.
— Chama aquilo de confusão? — pergunta, incrédula. — Eu
chamo de menino mimado, imaturo e arrogante. — Engulo em seco,
claramente agora não é uma boa hora para conversarmos, ela está
muito chateada e tem muita coisa acontecendo. Embora tudo que
tenha dito seja verdade e eu merecesse cada palavra, no entanto,
Katie precisa saber que eu mudei.
— Eu quero estar na vida de Joy, mas entendo que você
precisa de tempo para me perdoar e aceitar que não está mais nisso
sozinha, Katie.
Ela não responde, e eu percebo que já é um começo, mas
ainda há muito trabalho a ser feito. Deixo o quarto, dando
privacidade a elas, pensando em como fazê-las ficar comigo, pelo
menos até darmos um jeito no Bryan e garantir que ele ficará longe.
Capítulo 8

Blake sai do quarto, e suas palavras ecoam


incessantemente em minha mente. É difícil acreditar que não estou
mais sozinha nisso. Se ele realmente deseja ser o pai de Joy,
preciso ter certeza de que vai ser presente antes de deixá-la se
envolver demais. Gostando ou não, Bryan cuidou bem dela, e Joy
gostava dele. Não quero que minha filha cresça com a constante
sensação de rejeição toda vez que perdemos o contato com
alguém.
— Ainda bem que você ainda é pequena, minha pombinha.
Coloco-a no chão e me sento na ponta da cama, sentindo o
cansaço me engolir. Meus dedos traçam o contorno do meu rosto
machucado, e minha língua desliza pelo corte em meu lábio,
sentindo sua abertura.
Meu olhar se fixa em meu telefone com a tela trincada,
suspiro profundamente antes de me deitar. Às vezes, penso que o
universo conspira contra mim, pois não encontro outra explicação.
No meio de toda essa desgraça, pelo menos Bryan ainda está
respirando, mas não tenho certeza de que ele vai deixar barato o
que fiz com ele, mesmo que eu só tenha revidado de uma forma
bem intensa.
Enquanto Blake buscava nossas coisas, liguei para Sean do
telefone fixo, ele virá mais tarde para me ver. Olho para um relógio
de parede com decoração de borboleta e percebo que já passou do
meio-dia. Joy precisa almoçar, mas a mera ideia de descer e olhar
para o Blake ou para Stacy, que entrou martelando o piso com os
passos, deixa meu estômago embrulhado. Ontem, ela me recebeu
de maneira tão calorosa, mas hoje estou certa de que deseja a
minha morte. Eles devem ter conversado lá fora, e ela reagiu à
notícia tão bem quanto o Blake há dois anos.
Preciso urgentemente encontrar outro lugar para ficarmos.
Devia ter escutado aquela maldita mensagem do corretor de
imóveis. Agora fico me questionando o que ele falou. Será que o
apartamento já foi alugado? Ou será que ele conseguiu reduzir o
valor? Qualquer um dos motivos deixaria Bryan enfurecido.
Sinto as mãozinhas da Joy em meus joelhos e me sento na
cama para olhá-la, e um rastro de baba escorre pelo seu queixo.
— Está com fome, pombinha? — Me aproximo do seu rosto,
e seus dedinhos tocam no meu machucado com gentileza.
— Xim, ma-mãe. — Planto um beijo em seu nariz e limpo
com o polegar a sua baba.
— Você está sempre com fome, não é? — Ela sorri.
Levanto-me da cama e abro a mala para trocar minha blusa
com respingos de sangue. As roupas estão todas amassadas, coro
ao encontrar minhas calcinhas e os sutiãs perdidos entre as peças.
Blake deve ter feito com pressa, antes que Bryan voltasse. Fico me
perguntando se ele foi para algum hospital ou para a delegacia.
Será que ele me denunciaria?
Agora que sei que ele está vivo, talvez eu deva fazer uma
denúncia, mas retalhar só aumentaria sua raiva. Tudo o que quero é
que Bryan nos deixe em paz, e não quero me envolver em um
processo que pode se arrastar por um tempo indeterminado. Sei
que parte desse sentimento de querer evitar confrontos é culpa da
minha mãe. Nunca quis ser como ela, mas quanto mais tento evitar,
mais eu me pareço.
Deslizo em um vestido laranja floral, com babados nos
ombros e saia rodada. Prendo os meus cabelos ondulados em uma
trança baixa e depois pego a Joy pela mãozinha e deixo nosso
quarto, meio incerta se devo fazer isso. O corredor da casa é amplo
e bem iluminado, com várias portas e quadros na parede. A casa é
impressionante, porém, perigosa para uma bebê da idade da Joy.
Chego ao topo da escada e consigo visualizar quase todo o andar
de baixo, com exceção da cozinha, que fica do outro lado.
Desço lentamente, à procura de Blake. Espero que ele não
tenha saído. É estranho preferir tê-lo por perto a fora de casa, mas a
ideia de mexer em suas coisas me deixa desconfortável. No
entanto, preciso preparar algo para Joy almoçar.
Caminho até a cozinha e abro a geladeira, está vazia. Deus,
ninguém come nessa casa? Começo a abrir as portas dos armários,
e Joy me ajuda com entusiasmo.
— Você gosta de fazer bagunça, não é? — Ela me ignora,
pegando duas tampas de panela e batendo uma na outra.
Sem encontrar comida, levanto-me e dou de cara com Stacy
do outro lado da ilha. Ela analisa o meu rosto brevemente e depois
seus olhos se fixam nos meus, a hostilidade em sua expressão é
descomunal.
Ela empina o nariz e se inclina sobre o balcão da ilha.
— Pelo visto, você já se sente em casa. — Seus olhos vão
para a minha filha no chão, mordendo uma das tampas da panela.
Stacy pode fazer cara feia para mim o quanto quiser, mas
uma piscada errada na direção da Joy, e ela terá que comprar uma
lace. Educo o meu rosto à gentileza, pois não quero que ela me veja
como um problema, só desejo ficar em paz.
— Vamos embora assim que eu encontrar outro lugar para
ficarmos.
— Tudo bem, só não banque a espertinha, Blake está
comigo agora. — Não consigo evitar uma sutil revirada de olhos e
me viro para Joy, pegando-a do chão e deixando as tampas na ilha.
— Vamos encontrar um lugar para almoçar, pombinha. —
Stacy permanece na ilha, sinto seus olhos como alvo em minha
nuca. Pego minha bolsa no sofá, onde estão as chaves do carro.
Quando estou prestes a sair, a porta se abre, revelando Blake.
— Fui comprar o almoço — comenta, olhando para a bolsa
em meu ombro, — Estavam indo aonde? — Ele fecha a porta e
aponta para algumas sacolas em sua mão.
— Dar uma volta — respondo sem muita vontade, e seus
olhos desviam para além de mim.
— Stacy disse alguma coisa para você?
— Se está perguntando, presumo que já saiba a resposta.
— O maxilar dele se aperta. — Não quero criar mais conflitos,
Blake, então, por favor, não diga nada.
Ele concorda, nada satisfeito.
— Vamos almoçar, a Joy deve estar com fome. — Com um
gesto, ele tira a bolsa do meu ombro e a coloca em um armário, ao
lado de um capacete.
Sigo Blake até a sala de jantar, e é tão estranho estar aqui,
na presença dele. Vamos nos sentar à mesa e comer juntos... a “eu”
de dois anos atrás se sente traída, enojada, odiei-o por todo esse
tempo. Agora ele volta como um maldito salvador, mais lindo do que
nunca, com uma namorada que parece ter saído de uma capa de
revista e uma casa incrível.
Blake solta as sacolas sobre a mesa e puxa uma cadeira
para mim. Olho para ele antes de me sentar com Joy em meu colo.
Ela se estica por cima da mesa, tentando alcançar a sacola e fica
inquieta quando eu não permito que a pegue.
— Eu já volto com os pratos — Blake fala, se afastando com
pressa, ele parece meio atrapalhado, acho que nunca precisou
tomar conta de alguém na vida. Respiro fundo, esse dia parece
interminável, se eu pudesse, acelerava para terminá-lo.
Blake retorna trazendo Stacy consigo. Ele coloca os pratos e
talheres na mesa e se senta do outro lado, com a garota ao seu
lado. Os olhos dela estão fixos em mim, certamente monitorando
para onde estou olhando.
Coloco Joy na cadeira ao meu lado, pelo visto ela é a única
que está confortável com toda essa situação. Pego um prato e sirvo
macarrão com queijo para mim e para ela, tentando inutilmente
ignorar a presença do casal do outro lado da mesa.
— Pensei em comprar algumas coisas de bebê para deixar
aqui — Blake comenta, cortando o silêncio ensurdecedor. — Uma
cadeira de alimentação, um berço e alguns brinquedos.
— Não há necessidade, não vamos ficar mais do que o
necessário — respondo, e Stacy parece relaxar no assento.
— Quero que se sintam em casa, Katie. Você vai voltar a
trabalhar e será bom Joy ter um ambiente em que se sinta
confortável e segura. — Ele está usando nossa filha para me
amolecer, o problema é que estou muito enferrujada para isso
funcionar.
— Vamos ver — respondo e dou uma garfada na comida,
desejando que o assunto termine.
— E sua família está onde, Katie? Eles sabem da sua
situação? — Stacy pergunta naturalmente, como se desejasse me
conhecer melhor, os seus olhos se mantêm presos nos meus e seus
dedos deslizam até o pulso de Blake, acariciando-o.
— Minha família vive em Maryland.
— Nunca pensou em voltar para casa? Viver na segurança
deles, em vez de ser um saco de pancada nas mãos de um homem.
— Stacy — Blake a repreende.
— O quê? — pergunta, ofendida. — Só estou tentando
conhecer melhor a mãe da sua filha, de quem você só sabe o
sobrenome.
Blake suspira, soltando o garfo com irritação no prato.
Percebo que estou em outro ambiente disfuncional com a Joy. Pelo
menos, eu sei que ele não vai socar o rosto dela no meio do almoço.
Eu arranhei o seu Camaro, e Blake só me encarou com raiva.
— Eu fugi de casa aos 18 anos porque era o saco de
pancada do meu pai — respondo e não tem como parecer menos
dramático. Evito olhar para eles e limpo a boca de Joy com um
guardanapo antes de sair da mesa com ela em meus braços.
Preciso de ar antes que eu imploda perto deles.
Ouço-os discutirem enquanto caminho para o jardim do qual
eu devia estar preparando um projeto para ele a essa hora. Desço
os poucos degraus de mármore e coloco Joy no chão. Minha
cabeça dói, tornando difícil organizar os pensamentos. Acredito que
algumas horas de sono cairiam bem, reflito, acompanhando minha
filha até a extremidade do jardim. Me sento em uma grande pedra
cinza, enquanto ela brinca com as folhas das árvores no chão.
Blake se aproxima sutilmente, observando Joy. Lembro-me
da época que desejava ser notada por ele, mas agora tudo o que
quero é que ele fique longe.
— Me desculpe pela Stacy, ela não tem freio na língua. —
Dou de ombros.
— Não tem como ficar feliz com uma situação como esta —
sussurro.
Blake se senta ao meu lado, e seu braço encosta levemente
no meu, provocando um pequeno choque que faz os pelos do meu
braço arrepiarem. Me afasto, fazendo-o sorrir.
— Minha irmã foi assassinada naquela noite em que eu
estava com você — ele revela, pegando-me de surpresa. Viro-me
para ele, e seus olhos permanecem fixos em Joy, despedaçando
uma folha sentada no chão.
— Lamento, Blake. — Encontro seu olhar profundo, tão
vasto quanto um oceano.
— Ela me ligou algumas vezes. A primeira vez, eu atendi, e
Leslie pediu para encontrá-la em um bar no píer Waterfront. Ela
queria fazer as pazes.
— Por abrir o processo contra uma das empresas que você
representava — digo, e ele concorda, surpreso por eu ainda me
lembrar. — E por que você não foi encontrá-la?
— Porque eu queria ficar com você — explica, fazendo meu
coração bater de forma irregular. — Eu acordei no meio da noite
para ir ao banheiro e ouvi as mensagens na caixa postal. Leslie
disse que alguém estava a seguindo e implorou para que eu fosse
buscá-la, mas, quando eu cheguei, já era tarde demais.
— Você não poderia ter previsto o que aconteceria — digo,
tocando suas mãos, que estão entrelaçadas entre as pernas, e seu
polegar percorre por cima dos meus dedos.
— Eu sei, mas, se eu tivesse escolhido ela, minha irmã
ainda estaria viva. E, quando você apareceu no meu escritório,
Katie, eu não estava pensando com clareza. Não é justo culpar o
luto ou o álcool, mas, quando eu te vi, tudo o que senti foi um ódio
profundo por você e por mim.
Incomodada com a sua revelação, levanto-me e afasto-me
de Blake. Lembro-me claramente da nossa conversa de dois anos
atrás, eu fiz questão de revivê-la para que nunca esquecesse o
quão odiável e repugnante era Blake Lockhart, e agora ele está me
deixando confusa.
— Nunca pensou em mim nesses dois anos? Se perguntou
se poderia ser verdade?
— Você descontou o cheque no dia seguinte. Pensei que só
queria o dinheiro. Eu lamento que as coisas tenham sido tão difíceis
pra vocês. — As palavras ficam presas na minha garganta. O que
aconteceu com a Leslie foi uma tragédia horrível, nenhuma família
devia passar por isso, mas isso, infelizmente, não apaga o que
aconteceu comigo.
Não existe um botão de reiniciar quando simplesmente as
coisas ficam ruins.
Blake se levanta e depois se abaixa ao lado da Joy,
estendendo uma folha laranja para ela. Minha filha aceita com um
sorriso e a leva à boca, mas Blake a impede de comer. Seus olhos
encontram os meus, e ele parece genuinamente à vontade como
pai.
— Ei, tem um marombado lá fora, querendo falar com a
Katie — Stacy grita na entrada da área externa e se retira antes que
possamos fazer alguma pergunta.
Blake se levanta, pega Joy no colo, e surpreendentemente
ela não protesta e continua a brincar com a folha.
— Deve ser o Sean — comento, embora me lembre de ele
dizer que viria mais tarde.
— O barman? — Blake pergunta, visivelmente confuso.
— Sim, ele é padrinho da Joy — esclareço. — Liguei para
ele do telefone da casa. Espero que não se importe.
Blake balança a cabeça, e juntos subimos para a entrada da
casa.
Ao avistar Sean, acelero os passos, ele está de costas,
usando uma jaqueta de couro e calça skinny social que molda seus
glúteos. Ele escuta meus passos e se vira, abraçando-me com
força, e quase desapareço em seus braços.
— Eu vou matar aquele homem, Kat. — Ele se afasta para
olhar o meu rosto, preocupado.
Sorrio com lágrimas nos olhos, finalmente um rosto amigo
depois de toda essa confusão.
— Você é a única família que eu tenho. Não posso deixá-lo
ser preso. Quem limparia a minha bagunça? — Ele solta uma risada
e olha para Blake ao nosso lado.
— E aí — Sean o cumprimenta com um timbre másculo que
ele só usa com os héteros “top”. Quero rir, pois o Blake se encaixa
direitinho no perfil, ou se encaixava. Ele parece ter mudado.
Sean se aproxima e estende os braços para Joy.
— Olá, pequena pombinha. — Joy se joga para frente, então
Blake não tem escolha a não ser soltá-la, perdendo todo o brilho no
olhar.
— Se quiserem conversar lá dentro — ele oferece, assinto,
grata, e todos entramos.
Blake nos leva para a sala de estar, e Sean entra,
observando tudo ao redor. Meu amigo se acomoda em um sofá cor
de creme, retira uma caixa de celular do bolso da jaqueta e me
estende. Meus lábios se separam, surpresa.
— Sean, não precisava — sussurro, vendo Blake se afastar.
— Precisava sim. Coloque o seu chip aí e vamos ouvir a
mensagem que deixou Bryan tão puto com você.
Assinto e subo apressadamente para o quarto onde estou
hospedada, então, pego o meu telefone na mesa de cabeceira e
descarto o chip. No caminho de volta para o primeiro andar,
vislumbro Blake e Stacy abraçados em frente ao balcão da cozinha.
Torço o nariz, honestamente não sei o que ele viu nessa garota,
além da beleza obviamente.
Me sento ao lado de Sean, que faz cosquinhas na barriga de
Joy em seu colo.
— A garota parece bem receptiva — Sean comenta
zombeteiramente, fazendo-me rir.
— É o satanás vestido de Barbie — sussurro, olhando por
cima do ombro para ter certeza de que os pombinhos não nos
ouvem.
— Você está bem ficando aqui, na presença dele?
— Uma parte de mim ainda deseja sufocá-lo e a outra está
tentando fazer dar certo pela Joy.
Ligo o telefone após colocar o chip e, depois de digitar uma
quantidade absurda de informações, ele acende na página inicial.
Várias mensagens e chamadas não atendidas do Bryan começam a
entrar sem parar, e, involuntariamente, começo a tremer.
— Ignora esse desgraçado.
— Eu não posso. Blake só trouxe uma parte das minhas
coisas.
— Você compra tudo novo.
— Documentos, Sean. Meu computador e meu diploma.
Isso se ele já não tacou fogo em tudo.
— Vamos pensar com calma. Se Blake já foi lá uma vez,
podemos ir de novo e, assim, você não precisa vê-lo.
— Já disse que eu te amo hoje? — Ele revira os olhos,
provocando-me um sorriso. Entro na caixa de mensagens e coloco o
telefone no viva-voz para que Sean possa ouvir também.
“Boa tarde, Katie, estou ligando referente ao apartamento.
Conversei com o proprietário, e ele está disposto a reduzir o valor
da entrada. Preciso que me dê uma resposta até amanhã, pois há
mais pessoas interessadas”.
— Ai, meu Deus! — eu grito, sentindo o meu coração querer
abandonar o peito. — Você ouviu, pombinha, nós temos um
apartamento.
— Vai lá, liga para ele — Sean incentiva.
Levanto-me, sentindo uma agitação no meu interior. Meu
Deus, isso poderia ter sido tão diferente se eu tivesse atendido a
ligação ontem à tarde. Sem se martirizar, Katie, não tinha como
prever!
Nick me atende no terceiro toque e conversamos
brevemente. Ele me informa que só preciso encaminhar os
documentos para o contrato de locação e, depois da vistoria, o
apartamento estará livre para nos mudarmos dentro de um mês. Ok,
a data é meio distante, mas ainda é perfeito, assim, tenho tempo de
verificar a vaga para Joy na escolinha.
— O apartamento é meu — anuncio ao retornar à sala, e
Blake está entrando nela.
— Você vai embora? — ele pergunta, e não compreendo o
choque na sua expressão, eu disse que só ficaríamos aqui o
necessário.
— Sim, em um mês. Espero que ainda possamos ficar aqui
até lá.
— É claro. — Ele balança a cabeça e sobe para o segundo
andar.
— Parece que alguém não quer que você vá embora — meu
amigo murmura quando me sento ao seu lado.
— Ele quer recuperar o tempo perdido com a Joy.
— Se você diz. — Reviro os olhos, me sentando ao lado
dele, meu sorriso é tão grande que parece que vai quebrar minhas
bochechas. — Eu preciso te contar uma coisa. — Seis palavrinhas
que ativam meu modo ansiedade. Sean me encara com uma
expressão de quem fez uma cagada. Até agora ele foi o único
homem que não me decepcionou.
— O que você fez, Sean? — Ele umedece os lábios,
tocando na ponta do meu joelho como se desejasse me tranquilizar.
— Há três meses, enviei uma foto da Joy para o endereço
que a secretária nos deu há dois anos. — Amparo minha cabeça
com uma das mãos, perplexa.
— Você acha que Blake está mentindo? Que ele já sabia da
existência da Joy?
Não faz sentido, no nosso reencontro ontem, ele estava
convicto de que eu ainda era uma golpista. E agora, mais cedo, ele
parecia sincero..., mas ele já foi babaca comigo uma vez, o que
garante que não está sendo de novo?
— Ei, paralisa esse cérebro por um momento. — Sean me
puxa de volta à realidade. — Eu não sei, por isso estou te contando.
Ele retornou pouco tempo depois da carta, parece suspeito, não
acha?
Balanço a cabeça, com os pensamentos ainda mais
confusos.
— E se ele não recebeu a carta? — pergunto.
— A notificação do serviço postal diz que foi recebida.
— Por que não me contou antes, Sean? — Ele aperta os
lábios e me puxa para os seus braços.
— Ai, Kat, você precisava de ajuda, e era orgulhosa demais
para pedir.
— Orgulhosa? Olha onde estamos agora. Na casa do
homem que nos rejeitou.
— E, em breve, no seu apartamento. — Sorrio com meu
coração se enchendo de esperança.
Deito-me exausta deste dia que finalmente terminou. Depois
que Sean foi embora, fiquei no quarto com Joy, organizando nossas
roupas no closet. Troquei algumas mensagens com a minha chefe e
silenciei o número do Bryan, que não parava de me ligar e enviar
mensagens, pedindo para conversar comigo. Como se houvesse
algo para conversar. Foi um ano da minha vida jogada fora ao lado
dele, mas também foi um ano que não precisei me preocupar onde
iria dormir com a Joy. Por que Bryan tinha que estragar tudo?
Viro-me de lado, ouvindo o ressonar da minha filha, ela
também deve estar cansada, pois sua rotina foi virada de cabeça
para baixo. Dou um beijo em seu pescoço e adormeço, pedindo a
Deus por dias melhores.
Capítulo 9

Encaro o teto do meu quarto, desejando ficar deitado até


que as coisas simplesmente se resolvam entre mim, Katie e Stacy.
Faz apenas três dias e essa casa parece um manicômio. Stacy não
consegue ficar na presença da Katie, que não consegue ficar muito
tempo na minha presença, e eu acabo não conseguindo estar com a
minha filha. Eu sei que ela é apenas uma bebê e não compreende
quase nada ainda, mas quero que ela saiba que sou o pai dela, e
não aquele boçal do Bryan, que a conhece mais que eu.
Meu rádio relógio começa a despertar, mas nem sei desde
que horas estou acordado. Tenho uma reunião com meu pai daqui a
algumas horas, ainda não contei para ninguém a respeito da Katie e
da minha filha. A partir do momento que eu falar, todos se acharão
no direito de opinar.
Desligo o despertador e sinto a mão da Stacy percorrendo o
meu abdômen em direção ao meu pau, seus lábios dão suaves
beijos em minhas costas e, quando os dedos puxam o elástico da
minha cueca, a seguro pelo pulso. Tesão é a última coisa que tenho
sentido ultimamente.
— Preciso trabalhar — aviso e me sento na cama com as
pernas para fora. Stacy suspira alto.
— Até quando vai usar essa desculpa? — sussurra, olho
para ela por cima do ombro, ela está visivelmente chateada, talvez
eu devesse pedir um tempo até eu organizar a minha vida, isso não
é justo com ela.
Me viro para ela e seguro sua mão incrivelmente delicada
com longas unhas pintadas de uma cor nude, então, acaricio a
ponta dos seus dedos e depois encontro o seu olhar.
— Eu não queria que fosse assim... — começo e,
imediatamente, ela enrijece.
— Não ouse terminar comigo — profere, puxando sua mão
de dentro das minhas.
— Você está infeliz aqui, e eu não posso escolher entre
você e a minha filha. — Porque será a Joy, mas não digo isso a ela.
— Você mal a conhece... — ela sussurra, decepcionada.
— Esse é o ponto, Stacy, eu quero conhecê-la, e isso
incomoda você. — Ela abaixa a cabeça, e vejo suas lágrimas
rolarem.
Inferno. Nunca me envolvia emocionalmente com ninguém
justamente porque essa parte é a mais difícil. Eu gosto da Stacy por
mais birrenta e cruel que ela possa ser às vezes, mas ela é
engraçada também e tem uma personalidade forte, só que é jovem
demais para entender o tamanho da situação que Katie e eu
estamos passando agora.
— Eu vou mudar, só me dê outra chance. — Seus olhos
marejados encontram os meus, e ela pega na minha mão e a puxa
até o meio da cama. — A Joy vai me amar antes de você — diz com
doçura e dá um pequeno sorriso.
— Sendo assim... — Stacy fica de joelhos, apenas de
calcinha, e meus olhos percorrem seus pequenos seios, ela percebe
e se estica para me beijar. Stacy monta em meu colo, e seus lábios
descem para o meu pescoço, dando beijos e pequenas mordidas.
Sua mão está invadindo minha cueca quando escutamos o choro da
Joy.
Me afasto, e Stacy suspira.
— Ela chorou algumas vezes de madrugada — comento,
tirando-a do meu colo, e me levanto, pegando minha bermuda em
uma poltrona ao lado.
— Eu ouvi e acho que os vizinhos também. — Lhe dou um
olhar feio.
— Vou ver se ela precisa de alguma coisa — falo, deixando
o quarto, e o choro no corredor se intensifica.
Dou dois toques na porta da Katie, ela não responde, então
a abro lentamente e a encontro embalando a Joy. O choro parece
reduzir aos poucos. Katie me enxerga na entrada e gesticula com a
cabeça, questionando silenciosamente por que estou aqui.
Entro no quarto pé por pé e paro ao seu lado.
— O que ela tem? — pergunto, vendo a Joy com as
pálpebras pesadas, mas parece que está lutando para ficar
acordada.
— Ela só está com um pouco de dificuldade para se
acostumar aqui — Katie responde e solta um bocejo, fazendo
lágrimas escorrerem dos seus olhos.
— Me dê ela um pouco e se deite. — Ela balança a cabeça
em negação.
— Tudo bem, já estou acostumada — responde, travando a
mandíbula para o próximo bocejo não sair.
— Katie, me deixe ser o pai dela, eu fico aqui com você.
— Você não tem que trabalhar? — pergunta, relutante.
— Agora não. — Ela balança a cabeça e solta minha filha
em meus braços, Joy torce o pescoço para trás, procurando por sua
mãe, mas a deito contra o meu peito e começo a embalá-la. Katie
permanece em pé ao lado da cama, nos observando, ela usa
apenas uma camisola de cetim prata que desenha bem o contorno
dos seus mamilos entumecidos.
— Durma — sussurro, subindo meu olhar e vendo-a
levemente corada, Katie dá uma pequena revirada de olhos com a
minha ordem, fazendo-me rir, mas se deita, cobrindo-se até o
pescoço.
Ela me segue com os olhos enquanto caminho para o
balanço suspenso de frente para a janela. Me sento nele e começo
a me embalar lentamente. Joy volta a fechar os olhos, e suas
pálpebras dão leves tremores. Aliso sua bochecha com o nós do
dedo e coloco seu cabelo para trás da orelha, revelando um
delicado brinco de ouro com formato de pomba. Ela é perfeita
demais.
Acho que nunca na vida desejei ter filhos. Trabalho e farra
estavam no topo da lista. Toda semana, uma garota diferente, sem
compromisso ou estresse, a vida parecia mais fácil daquela forma,
só que terrivelmente vazia e solitária. E, depois que Leslie faleceu,
eu segui fazendo as mesmas merdas, só que em Chicago. E, em
vez de sair para foder com alguém na rua, Stacy, que estava me
perseguindo há meses, caiu de bandeja no meu colo.

Estaciono minha moto em frente ao meu trabalho e aliso os


meus cabelos para trás após remover o capacete. Pelo espelho
retrovisor, vejo a agência Jardins Verdejantes onde Katie trabalha,
estive ali há quatro dias e parece que faz uma eternidade. Entro no
elevador e encaro o meu terno preto, de corte slim e um pouco
amarrotado. Como saí atrasado, peguei o primeiro que encontrei.
Coloquei a Joy ao lado de sua mãe só depois de ter certeza de que
ela havia apagado totalmente e avisei a Katie, que parecia presa em
um sono profundo.
As portas do elevador abrem, e Nancy, minha secretária,
caminha com passos largos em minha direção, balançando seus
cachos pretos. Pela expressão dela até imagino o que seja, o meu
pai deve estar uma fera, nossa reunião era para ter acontecido há
cerca de uma hora, e eu tenho me atrasado todos os dias desde
que retornei. Não estou com cabeça para cuidar de nenhum caso
nesse momento.
— Senhor Carson está na sua sala. — Minha cabeça cai
sutilmente para trás, eu achava que teria mais alguns minutos antes
de ele começar a gritar nos meus ouvidos.
— Estou apresentável? — Abro os braços, mas ela torce um
pouco o nariz.
— Mesmo terno de anteontem e está um pouco amarrotado.
— Achei que só eu fosse reparar nisso, mas Nancy é analítica. Ela
trabalha para mim desde que comecei na empresa e conhece bem o
gênio forte do meu pai.
Abro a porta do meu escritório e enxergo meu pai de costas
para mim diante da fachada de vidro. Fecho a porta com um clique
suave e coloco o meu capacete em um dos sofás. Meu pai se vira
para mim e solta um copo de uísque na minha mesa.
— Finalmente decidiu aparecer, Blake. — Seu tom é
cortante, e ele não parece feliz. Seus olhos, que costumavam
transmitir orgulho quando olhavam para mim, ultimamente mostram
decepção.
Suspiro, passando a mão pelos cabelos desgrenhados
antes de me sentar atrás da minha mesa.
— Desculpe pelo atraso. As coisas têm estado um
pouco...complicadas recentemente.
Ele se aproxima e pega a cadeira em frente à minha mesa,
sentando-se com um olhar sério.
— Complicadas? É isso que você chama de sua atitude
irresponsável? Em breve, você será o sócio com maior poder dentro
dessa empresa, Blake. Deveria dar o exemplo.
Em breve, em breve, em breve. Não consigo mais evitar a
sensação de sufocamento que essa palavra me traz. Meu pai
sempre foi um homem de negócios implacável, e sua exigência de
excelência é rigorosa. E, nos últimos dois anos, negligenciei minhas
responsabilidades, porém, agora não há mais como me esquivar
dessa situação e nem daquela que me aguarda em casa.
— Eu sei, pai. Entendo que minha conduta não tem sido a
melhor, mas tenho coisas pessoais para resolver no momento.
Ele me olha com ceticismo.
— Que coisas pessoais? Você retornou à cidade não faz
uma semana. — Suspiro e encontro seus olhos azuis opacos.
— Eu tenho uma filha. — Coloco para fora, pois não sou
mais um menino que preciso da aprovação dele, embora ele pense
o contrário. — O nome dela é Joy e tem um ano e três meses.
Meu pai arregala os olhos e choque toma conta de seu
rosto. Ele fica em silêncio, como se precisasse de tempo para
processar todo a informação e, depois de um momento, balança a
cabeça e olha para mim com uma expressão de desaprovação.
— Você tem uma filha e nunca me disse nada? — Agora ele
parece mais magoado do que bravo.
— Eu não sabia, pai. Ou melhor, eu sabia... — tento explicar
a situação da maneira mais clara possível, percebendo o quão
miserável eu fui por ter virado as costas a ela.
— Não quero duvidar da palavra de ninguém, mas, dada a
essa história, acredito que um teste de paternidade é necessário. —
Balanço a cabeça em negação.
— Entendo sua preocupação, mas não vou fazer a Katie
passar por isso. Ela já sofreu o suficiente, e eu não quero que ela
tenha que provar nada para ninguém.
Meu pai parece ainda mais desapontado, mas Katie merece
a minha confiança agora.
— Ainda se sente culpado pelo que aconteceu com a sua
irmã e está deixando suas emoções nublarem seu julgamento.
— Pode dizer ou pensar no que quiser, eu não voltarei atrás.
E, se me der licença, eu tenho outra reunião e preciso me preparar
— aviso, indicando a saída com a mão.
Meu pai se levanta, fechando os botões do seu paletó.
— Sua mãe já sabe? — Balanço a cabeça em negação, e
meu pai se retira em silêncio.
Me escoro na cadeira e giro em direção à fachada de vidro.
Um já foi, agora só falta a minha mãe, e sinto que isso está longe de
terminar, ainda mais se os dois se unirem para “colocar juízo na
minha cabeça.” Preciso encontrar uma maneira de isso não afetar a
Katie e a Joy.

Encerro uma reunião com o dono do Elysium e, pela


primeira vez desde que cheguei a Seattle, consegui sentir o
vislumbre da normalidade. Me direciono ao bar quando enxergo
Sean, o amigo da Katie, sentado em uma banqueta, observando os
garçons. Me sento ao seu lado, chamando sua atenção, temos
quase a mesma altura, mas somos o oposto na fisionomia, exceto
pelo físico.
— O lounge privado fica para o outro lado — Sean diz, sem
tirar os olhos de um tablet, e noto a hostilidade em sua voz.
— Eu sei, acabei de sair de lá — respondo, ganhando sua
atenção, e seu olhar é tão frio quanto seu tom de voz.
— Não vou ajudá-lo com a Katie. — Ele balança a cabeça
em negação.
— Então me ajude com a Joy, ela merece um pai melhor
que o Bryan. — Ele solta um riso nasalado.
— Não acredito que vou dizer isso, pois Bryan é um filho da
puta, sem dúvidas, mas ele estava presente, enquanto você
simplesmente as rejeitou e pediu a sua secretária para não divulgar
seu endereço.
— Nunca vou me perdoar por isso, mas, você gostando de
mim ou não, sabe que elas estão mais seguras comigo. E quero que
a Katie perceba isso também e que confie em mim.
— Katie cresceu com pais que arruinaram a vida dela.
Quando ela estava finalmente se reerguendo, você não conseguiu
manter suas garras longe dela, então, a quebrou e despedaçou o
seu coração e a esperança de ter uma vida melhor. Confiança
requer tempo, Blake.
Levanto-me, sentindo que levei um tapa na cara. Eu ferrei
com a vida daquela garota e nada do que eu tente fazer parece ser
o suficiente.
— Quer ganhar pontos com a Katie? — Ouço em minhas
costas e viro-me para o Sean. — Podemos buscar o restante dos
seus pertences na casa do Bryan: notebook, documentos, as coisas
que você deixou para trás da primeira vez. — Sinto uma leve
alfinetada, mas assinto.
— Vou buscar a chave — aviso, e ele puxa uma do bolso da
calça.
— Não precisa, eu tenho uma aqui, para casos de
emergência — explica.
Espero por Sean do lado de fora, em cima da minha moto, e
envio uma mensagem a Stacy, avisando que vou chegar mais tarde.
Enfio o telefone no bolso quando ele se aproxima com uma mochila
nas costas e um capacete debaixo do braço. Sean não diz nada,
apenas sobe na sua moto e arranca na minha frente.

Enquanto o sol começa a se pôr no horizonte, estacionamos


diante do prédio. Sean desce de sua moto primeiro, removendo o
capacete, e lança um olhar atento aos apartamentos, com atenção
especial voltada para o de Bryan, que parece estar às escuras.
Juntos, subimos as escadas para o apartamento com a
mesma pressa com a qual estive aqui da primeira vez. Mesmo que
tenhamos as chaves, entrar sem a autorização pode ser
considerado invasão. Sean coloca o ouvido na porta, certificando-se
que não haja ninguém dentro. Em seguida, insere a chave e a abre,
fazendo um pequeno clique discreto.
— Procure pelo notebook, e eu vou pegar o resto — Sean
diz, afastando a porta e acendendo a luz da entrada, revelando um
cenário mais bagunçado do que da última vez que estive aqui. Há
várias latas de cerveja abertas na mesa e na pia da cozinha. Um
odor rançoso me atinge, fazendo-me franzir o nariz.
— Acho que ele andou ocupado — Sean observa. Adentro
mais o apartamento, varrendo-o com os olhos.
— Bryan sempre foi assim? — pergunto, enquanto ele abre
as gavetas de um armário.
— No começo eles nunca são — responde, pegando uma
pasta e guardando-a na mochila.
Caminho pelo corredor em direção ao quarto do Bryan, a
respiração está acelerada devido à urgência de encontrar o
notebook da Katie e sair daqui. Minha mão tateia a parede em
busca do interruptor e, antes que meus olhos se ajustassem à luz
repentina, sou surpreendido por um golpe que atinge meu rosto com
força. Uma onda de dor aguda me atravessa rapidamente, e meu
corpo cambaleia na direção do impacto, colidindo violentamente
contra a porta. O gosto metálico do sangue invade minha boca
enquanto tento recuperar o equilíbrio.
— Péssimo lugar para roubar, meu amigo — Bryan cospe as
palavras com seu punho pronto para outro golpe.
Sem tempo para hesitar, instintivamente intercedo seu
golpe, segurando sua mão fechada antes que ela atinja meu rosto
novamente. Com um movimento rápido, giro seu punho para o lado,
forçando-o a perder o equilíbrio. Enquanto ele luta para se
recuperar, minha mão ágil encontra sua nuca, apertando com
firmeza. Com um movimento preciso, meu joelho encontra o rosto
de Bryan com um impacto surdo, fazendo-o recuar e cair ao chão,
gemendo de dor.
— Não estou roubando, estou pegando as coisas da Katie.
— Cuspo o sangue no chão, aos seus pés.
— Aquela piranha não tem mais nada aqui — ele rosna,
curvando-se com um gemido gutural quando piso na curva do seu
joelho, depositando todo o meu peso. Me abaixo para encontrar o
seu olhar, e o bafo de cigarro e cerveja barata quase me faz recuar.
— Nunca mais chame a mãe da minha filha assim — aviso,
afastando-me de Bryan, ele está bêbado demais para conseguir
revidar. Viro-me e encontro Sean no batente da porta com um
sorriso brincando em seus lábios enquanto ele segura o notebook.
— Acabou? — ele pergunta, e eu cuspo o sangue
novamente, concordando.
Deixamos o apartamento com mais calma do que quando
entramos. Sean para diante da sua moto e me entrega sua mochila.
— Meu intervalo acabou, preciso voltar ao hotel — ele
explica, examinando o meu rosto. — Sua cara arrebentada fará
Katie feliz e, com certeza, a comoverá ao saber que você socou o
Bryan. — Sorrio, mesmo com a dor latejando em meu maxilar.
— Obrigado por cuidar delas — digo, e Sean sobe na moto
e coloca o capacete no topo da cabeça.
— Estou te tolerando por causa da Katie, mas ainda não
confio em você. Eu enviei uma foto da Joy para o endereço que
consegui com uma das secretárias e, três meses depois, você
aparece todo bonzinho.
Balanço a cabeça, confuso, enquanto o vejo mexer no
telefone.
— Eu não recebi foto nenhuma — comento, tentando
lembrar se há alguma possibilidade de eu ter visto.
— Sabia que ia dizer isso. — Sean vira o telefone para mim,
exibindo a foto de um bebê. — A Joy tinha quatro meses aqui. —
Pego o celular da sua mão quando reconheço o cobertor cor-de-
rosa com vários unicórnios brancos desenhados nele.
Não pode ser... deve haver vários cobertores assim, penso,
lembrando de ter visto uma foto semelhante nas mãos da Stacy. Ela
disse que era o bebê da sua prima de terceiro grau.
Sean puxa o telefone da minha mão e desliga a tela.
— Tem certeza de que nunca recebeu? — Minhas palavras
ficam presas na minha garganta. Eu não tenho ideia. Stacy não faria
algo tão baixo, ou faria?
— Eu não tenho certeza — confesso, e Sean solta um riso
mordaz, abaixando o capacete. Ele parte sem dizer uma palavra,
deixando-me para trás, digerindo a bomba que soltou em cima de
mim.
Dirijo para casa com a mente nublada pela revelação. Stacy
mentiu para mim por todos esses meses? Ela não seria tão boa atriz
assim, seria? Deus, se ela estiver mentindo, não sei o que sou
capaz de fazer com ela. Cada quilômetro que percorro só aumenta
minha perturbação e ansiedade. Começo a relembrar a reação dela
quando contei que não era golpe da barriga, e Stacy já sabia que eu
era pai de uma menina sem que sequer tivesse mencionado o nome
dela. Deus, isso não pode ser paranoia.
Finalmente chego em casa e adentro com passos largos, a
raiva e a confusão formam um nó apertado em meu estômago. Mas,
quando enxergo Katie e Joy sentadas no chão da sala de estar, a
agitação se aplaca dentro de mim. Solto o meu capacete no sofá, e
Katie se levanta, observando o meu rosto, assustada.
— O que aconteceu com você? — pergunta, se
aproximando. Retiro a mochila das costas e entrego a ela.
— Fui pegar o resto das suas coisas no apartamento do
Bryan — explico, passando a língua pelo meu lábio inchado.
— Oh, Blake. Você não deveria ter ido lá sozinho. — Ela
franze a testa.
— O estado dele está pior que o meu, acredite. — Katie
sorri. — E Sean me acompanhou, agora não precisa vê-lo nunca
mais.
— Obrigada — ela sussurra, apertando meu braço em
agradecimento, e nesse momento ouvimos um arranhar de garganta
vindo de trás de mim. Katie se afasta, e eu viro-me. Meus olhos
colidem com os da Stacy, de braços cruzados na entrada da sala, e
a raiva volta a arder em meu peito.
Stacy descruza os braços na hora que enxerga meu rosto, e
sua expressão muda de irritação para preocupação. Ela diminui
seus passos, aproximando-se até parar diante de mim.
— O que houve com seu rosto, Blake? — pergunta com
uma voz suave, e seus dedos se elevam, prestes a tocar meu
ferimento, mas seguro firmemente em seu pulso e o afasto. Stacy
franze a testa, confusa.
— Vamos subir — aviso, caminhando a sua frente.
Removo o paletó e o arremesso descuidadamente na
primeira poltrona que encontro ao entrar em meu quarto. Em
seguida, desamarro a gravata e tiro os sapatos antes de me virar
para encontrar Stacy parada à entrada.
— Pode me explicar o que está acontecendo? — pede com
uma expressão inocente, uma fachada na qual eu nunca deveria ter
confiado.
— Vou fazer uma pergunta, Stacy, e, se você mentir, vou
enviá-la de volta para Chicago no estilo da máfia. — Meu tom de
voz não tem qualquer traço de complacência, fazendo a culpa
transparecer em seu olhar.
Ela sorri, confusa, balançando levemente a cabeça.
— Você está me assustando Blake. — Medo e incerteza
cintilam em seu rosto.
— Aquela foto que recebeu há meses era da Joy? —
pergunto, e os meus músculos faciais parecem prontos para
explodir de tensão.
O silêncio pesado é quebrado apenas pelo som da sua
garganta engolindo em seco. Stacy balança a cabeça sutilmente, e
as lágrimas começam a deslizar por sua bochecha.
— Você não estava pronto para receber uma notícia naquele
momento. O luto quase o destruiu, Blake, e, quando finalmente
encontrou um equilíbrio, aquela foto apareceu... e eu... — ela
gagueja
— Você o que, Stacy? — esbravejo, com a raiva inflando em
minhas veias, fazendo-me seguir em direção a ela com o desejo de
sufocá-la. — Você não tinha esse direito, porra! — exclamo, vendo-a
se espremer contra a parede.
Me afasto, sentindo que vou perder a cabeça se continuar
perto dela.
— Blake, eu estava apenas tentando proteger você. Eu te
amo, e eu estava com medo de que a notícia da Joy também
pudesse nos separar. Por favor, entenda — ela pede suplicante.
— Você só ama a si mesma, nem quando conheceu a Joy,
mudou esse comportamento desprezível. Você é uma pessoa
horrível.
Ela ri, mas parece irritada.
— Sou horrível por não querer perdê-lo, mas foi você que a
rejeitou antes mesmo de ela nascer. — A verdade em suas palavras
me cortam como uma lâmina afiada.
— E eu estou tentando corrigir isso.
Sem esperar por sua resposta, viro-me e entro no closet.
Stacy não se dá por vencida e me segue, com um rastro de lágrimas
deixadas pelo caminho. Pego uma mala vazia e começo a jogar
suas coisas dentro dela, minhas mãos tremem de raiva e frustração.
— Por favor, Blake, pare! Não tenho para onde ir. Você é
tudo o que eu tenho. — Sua voz está quebrada, e seus olhos
procuram os meus, mas eu só quero que ela desapareça daqui
agora.
— Se vira. Eu não quero mais você na minha vida —
vocifero, pegando outra mala, pois a princesa tem mais 25458
peças de roupas.
— Blake, só me escuta, por favor... — choraminga,
ajoelhada diante da mala. Não posso ceder às súplicas da Stacy
agora. O que ela fez é imperdoável, e o que eu fiz com Katie
também é, só que eu estou tentando corrigir o meu erro, e Stacy
continuou persistindo no dela e agindo sem benevolência alguma.
— Há milhares de hotéis em Seattle, e suas aulas começam
em algumas semanas — digo, fechando a outra mala. — Você vai
ficar bem — garanto, passando por ela e descendo com seus
pertences.
Ouço os saltos da Stacy batendo com força no piso
conforme me segue para a entrada da casa. Katie desapareceu da
sala de estar, o que é bom, Joy não precisa presenciar outra briga.
Abro a porta e coloco as malas de Stacy para fora, então,
me viro para ela, parada do lado de dentro, sua expressão é a pior
que eu já vi na vida, e espero que ela não me faça arrastá-la,
porque eu o farei.
— Você já queria terminar comigo — sussurra, dando
passos curtos em minha direção, com as lágrimas ainda riscando
sua bochecha. — A partir do momento em que você viu a Katie no
jardim, tudo mudou, e você nem sabia da existência da Joy.
— Não a culpe — aviso, e Stacy desce os poucos degraus
para a área externa, aproveito e passo por ela, fechando a porta
atrás de mim. Não tem por que estender mais esse drama. Eu a
achava imatura demais para entender certas coisas, mas, como ela
é capaz de fazer algo tão baixo, pode muito bem se virar sozinha no
caminho para um hotel.
Solto um suspiro profundo, sentindo um tambor ressoar
dentro da minha cabeça. Caminho até a geladeira e pego uma
cerveja gelada. Pela janela da varanda, vejo Katie no sofá,
embalando Joy na rede de descanso a sua frente. Pego outra
cerveja e atravesso a porta, chamando atenção dela.
— Que noite, hein? — comenta quando lhe entrego uma
long neck aberta. Ela analisa a garrafa por um momento e depois
toma um gole.
— Stacy sabia da Joy por meses e me escondeu. — Katie
morde o lábio, já desinchado.
— Eu lamento — ela murmura, mas suas palavras não
parecem nem um pouco sinceras. Katie para de embalar nossa filha
adormecida e se recosta no sofá, encontrando o meu olhar.
— Sério? — pergunto, fazendo-a sorrir, ela encolhe os
ombros.
— Uma surra e um término não absolvem os seus pecados,
Blake, mas já é um começo. — A sinceridade no olhar dela é
inegável, Sean estava certo.
Tomo um gole da minha cerveja e viro-me em direção a Joy
ressonando suavemente. A luz fraca das estrelas ilumina seu rosto
angelical, revelando a serenidade que ela não conseguiu encontrar
hoje mais cedo.
— Ela é linda, não é? — Katie murmura, admirando-a.
— Sim, ela é. — Minha voz soa rouca. — E você também é,
Katie. — Ela solta uma risada suave, junto de uma revirada de
olhos.
— Agora você está puxando o meu saco — diz, soltando a
garrafa de cerveja na mesa ao lado, mas seu olhar revela que
minhas palavras atingiram o alvo.
— Pelo que eu me recordo, você não tem um. — Katie cora
sob a luz do luar com sua vulnerabilidade à mostra e me lança um
olhar insultante, provocando-me um riso.
Depois de um dia terrível e exaustivo, coloco a cabeça para
trás, aproveitando a tranquilidade momentânea, consciente do caos
que será amanhã, quando todos souberem que expulsei Stacy da
casa.
Capítulo 10

Ao descer para o primeiro andar, testemunho Blake


brincando de jogar Joy para cima. O riso contagiante de nossa filha
enche o ambiente, porém, ele é tão alto que a cada vez que ela sai
de seus braços, sinto um frio desconcertante no fundo da barriga.
Os olhos azuis dele encontram os meus com uma intensidade que
parece queimar minha pele.
— Você sabe como fazer o coração de uma mãe parar —
comento sarcasticamente, chegando por trás dele. Blake segura
Joy, que o abraça pelo pescoço quando se viram para mim.
— Só percebeu isso agora? — pergunta, arqueando
levemente as sobrancelhas, soltando aquele risinho que me deixava
corada toda vez que entrava no lobby do hotel.
— O quê? Que seu ego é maior que o universo? —
respondo.
— Mamãe não está para brincadeira, pombinha — ele
sussurra para Joy, beijando seu pescoço e desencadeando cócegas
nela. Tenho vontade de revirar os olhos, mas sei que só estou o cão,
porque acordei atrasada e estou faminta.
Estendo os braços para pegá-la, mas Joy continua agarrada
ao pescoço dele, fazendo-o sorrir. Três semanas se passaram
desde o escândalo com Stacy, e os dois se tornaram inseparáveis
desde então. Blake sabe como bajular uma bebê.
A campainha toca, e Nora, a governanta contratada por
Blake, se aproxima de nós para atender. Ainda acho estranho ter
alguém para realizar tarefas simples, mas não posso reclamar. Não
ter que voltar do trabalho e limpar a casa, lavar uma pilha de louça,
ou preparar o jantar tem suas vantagens. Só espero não me
habituar, afinal, em uma semana, estaremos nos mudando para o
novo apartamento.
Olga, minha antiga vizinha, adentra acompanhada da Nora,
carregando uma sacola ecológica de supermercado no ombro. Joy
transborda de felicidade no colo de Blake ao avistá-la. Como
precisei retornar ao trabalho há alguns dias e a escolinha próxima
ao meu novo apartamento é um tanto distante daqui, Blake se
ofereceu para contratar uma babá e imediatamente pensei nela.
— Bom dia — Olga fala timidamente, e toda vez que entra
aqui, parece encantada com a casa e com Blake.
— Nos vemos no jantar, pombinha. — Dou um beijo de
despedida em minha filha e então ele a entrega para Olga.
Saímos da casa juntos, e Blake caminha ao meu lado,
vestindo um dos seus tradicionais ternos de grife, que moldam
malditamente bem cada linha do seu corpo atlético. Tem sido cada
vez mais fácil ficar na presença dele, acho que, no final das contas,
eu não estava tão enferrujada assim. Vejo o quanto Blake se dedica
para conquistar a Joy; acorda no meio da noite para me ajudar a
colocá-la para dormir, prepara a sua mamadeira e até está
aprendendo a trocar a sua fralda, embora já tenha colocado ao
contrário várias vezes, como ele não entende que o lado da fita
adesiva tem que ficar para frente?
Tiro a chave do meu carro de dentro da bolsa e, de repente,
ele me segura pelo cotovelo, chamando minha atenção.
— Quer carona? — pergunta com as chaves do Camaro à
mostra, desvio os olhos para o carro e o arranhão que eu havia feito
há semanas foi consertado.
— Posso dirigir? — Blake solta um risinho, mas ele
desaparece quando permaneço o encarando sem entender sua
reação.
— Ele acabou de sair da automotiva — explica, me
entregando as chaves, perdendo o brilho no olhar.
Passo por ele nem sequer imaginando como dirigir uma
máquina como esta. Abro a porta e deslizo para dentro do
automóvel, fico maravilhada com a maciez do assento e o aroma do
interior. Blake toma o assento ao meu lado e nossos olhares se
cruzam brevemente enquanto ligo o veículo.
— Deixo você dirigir na volta — aviso, dando a ré. Blake
sorri e sintoniza o rádio, uma melodia do Oasis, "Stop Crying Your
Heart", toma conta automaticamente, mas desligo o som.
— Desculpa, tenho trauma dessa música.
— Ex-namorado? — ele sonda com sua atenção voltada
para mim.
Balanço a cabeça em negação, e Blake se endireita no
assento.
— Quando era pequena, ela tocava no rádio enquanto eu
brincava na oficina do meu pai. É a única lembrança boa que eu
tenho dele.
— Sua família nunca procurou por você? — Paro no
semáforo e me viro para ele, dando um pequeno encolher de
ombros.
— Por que procurar o que não faz falta? — respondo e dou
partida no carro.
— Acho impossível não sentir a sua falta.
— Diz o homem que me abandonou — ironizo, e a culpa
cruza os olhos de Blake. Ele mordisca o lábio inferior, pensativo.
— Se aquela noite tivesse tido um destino diferente, eu teria
voltado, Katie.
— Mas não voltou, e isso também não importa mais, Blake.
— Respiro fundo, começando a me sentir desconfortável com o
rumo da conversa.
Blake não voltou, e até então tudo bem, pois, na minha
mente, eu não estava esperando um final “felizes para sempre”.
Tinha mais algumas semanas de trabalho no hotel e, como ele, eu
estava unindo o útil ao agradável. Mas depois as coisas
complicaram e, mesmo que ele tenha as razões dele para ter me
virado as costas, eu tenho as minhas para não conseguir perdoá-lo,
pelo menos não agora.
Seguimos o resto do caminho em silêncio, com Blake
trocando mensagens com alguém. Me pergunto se é Stacy, eu os
ouvi discutindo no telefone algumas vezes essa semana. Términos
nunca são fáceis, ainda mais quando o parceiro acha que tem o
direito de comandar a sua vida, decidindo o que é melhor ou não
para você.
Estaciono na vaga do Blake, em frente ao seu escritório. Ele
desce a janela, e uma das recepcionistas da Lockhart & Associados
entrega dois mocaccinos em copos descartáveis.
— Não queria aborrecê-la — diz, se virando para mim e me
entregando um dos cafés. Não consigo deixar de sorrir e aceito,
tomando um gole.
— Não me aborreceu, mas vai, se continuar se negando a
me dizer qual estilo de jardim prefere.
— Já disse, você tem carta-branca, faça como achar melhor.
— Reviro os olhos.
— Não é assim que funciona, Blake.
— Vamos jantar no Elysium, e eu respondo a todo o seu
questionário — sugere, e aquele riso que me deixava sem chão
toma conta dos seus lábios.
— Podemos fazer isso por e-mail e sem gastar uma fortuna
— digo, erguendo a minha muralha e beberico o meu café.
— Por e-mail, fica mais difícil de conhecer a mãe da minha
filha. — E lá vem ele tentando me desarmar com essa frase. —
Quero saber mais sobre você, Katie, além da sua idade, a música
que mais odeia e como fica rabugenta quando acorda e não toma o
café da manhã.
Meus lábios se separam, chocada, e contenho a vontade de
lhe dar um murro.
— Devemos fazer isso pela Joy, somos a família dela.
— Tudo bem. — Seus lábios se curvam em um sorriso
vitorioso, — Mas vamos fazer isso em casa, alguém precisa tomar
conta dela — falo, firme na minha decisão, pois, na última vez que
estive no Elysium com o Blake, a minha vida saiu do controle.
— Olga está disponível mais tarde. — Ele indica o celular
com um risinho, me mostrando a conversa por mensagem com a
babá.
— Você pegou o número dela! — exclamo, recebendo um
pequeno encolher de ombros dele.
— Sim, para emergência — explica, abrindo a porta do carro
e descendo. — Pego você mais tarde. — Ele vira as costas e parte,
me deixando dentro do carro.
Minha cabeça cai para trás brevemente. “Pela Joy...” Tá
bom, Blake, e eu nasci ontem.
O dia passa tranquilamente e, com as poucas informações
que coletei do jardim durante a semana, consegui, pelo menos,
organizar o básico. Dediquei-me às dimensões, à topografia, às
condições do solo e à exposição solar... Bom, e como o orçamento
não é problema, acredito que um espaço infantil seria legal para a
Joy.
Argh! Colo minha testa na mesa, frustrada, estou colocando
as minhas vontades acima das do cliente, mas é difícil saber o que o
cliente deseja se ele recusa a falar.
Meu telefone vibra na mesa com uma mensagem do
corretor de imóveis.
“Boa tarde. Katie, se desejar fazer uma última visita ao
apartamento antes da mudança, deixei a chave na portaria do
prédio”.
Comprimo os lábios, até que não é uma má ideia visitá-lo
antes de nos mudar, assim, já anoto tudo que preciso comprar,
mesmo que ele seja mobiliado, com uma criança pequena, sempre
há alguma coisa faltando.
Bom, pelo menos, vou conseguir fugir desse jantar com o
Blake. Envio uma resposta, confirmando a visita ao apartamento.
Abro o programa de designer no computador e começo a
brincar com as ferramentas, mesmo que o Blake ainda não tenha
decidido se quer um jardim formal, informal, contemporâneo. E,
quando percebo, já está na hora de ir embora.
Pego minha bolsa e desço as escadas para o primeiro andar
alinhando o meu vestido tubinho azul-marinho. Me despeço das
meninas na saída e paro na calçada, tentando localizar Blake do
outro lado da rua. A esta hora, tem muito movimento, é quase
impossível atravessá-la.
Pego o meu telefone e envio uma mensagem enquanto
caminho para a esquina, na faixa de pedestre.
Mensagem Katie: Estou aguardando você.
Guardo o meu telefone na bolsa, mas o pego novamente e
envio outra mensagem, assim, não vou precisar ver a expressão
dele quando contar que não vamos jantar.
Mensagem Katie: Vou deixá-lo em casa e fazer uma visita
ao meu apartamento.
Blake começa a digitar, e quase derrubo o telefone quando
sou puxada pelo braço e minhas costas se chocam contra uma
parede de músculos.
— Achei você, pomba. — Olho por cima do ombro, sentindo
um frio gelar minha espinha, e me deparo com Bryan, exibindo um
sorriso de orelha a orelha, porém, o que me chama atenção é a fita
adesiva colada em seu nariz.
Puxo o meu braço, tentando me livrar do seu aperto, mas
ele me segura com mais força.
— Vamos dar uma volta.
— Se não me soltar, vou gritar — aviso e ouço apenas seu
sorriso em minha nuca.
— Pode gritar, pomba, não vou soltá-la até dizer o que eu
quero.
— Eu não devo nada a você, Bryan — rosno, e ele me
empurra para frente, me forçando a caminhar, olho em volta, à
procura de alguém na calçada, mas não há ninguém além dos
carros passando e o barulho alto do trânsito.
— Você arrebentou a minha cabeça e depois aquele filho da
puta entrou no meu apartamento e quebrou o meu nariz. Por sua
culpa, eu perdi o emprego, Katie, e tenho uma conta enorme com o
hospital.
— Eu não tenho dinheiro.
— Mas ele tem. — Balanço a cabeça em negação,
recusando-me a pedir qualquer coisa ao Blake. Bryan me vira para
ele, me segurando pelos dois braços como se eu fosse uma boneca
de pano. Sinto vontade de me encolher com o tamanho da
ferocidade em seu olhar, pois é um olhar de quem não tem mais
nada a perder.
— Você vai me ajudar, porra, ou trarei os seus pais até você.
— Suas palavras caem como chumbo derretido em meu estômago.
Eu não sou mais uma criança, no entanto, só de pensar em ter
qualquer tipo de contato com eles me faz querer pegar a Joy e fugir
do país. Meu coração se agita, batendo de forma errada, e sinto que
vou entrar em colapso se ele não se afastar.
— Me solta, caralho! — grito, me debatendo contra ele.
Bryan me empurra para trás, e eu caio de bunda, arranhando os
cotovelos no chão, ranjo os dentes, me sentando e sentindo-me
plenamente humilhada.
Uma sequência de buzinas toma conta dos meus ouvidos e,
de repente, Blake está caminhando em nossa direção, arrancando o
paletó no caminho.
— Não vai se livrar de mim, pomba. — Bryan declara sem
ver Blake as suas costas. Balanço a cabeça em negação, para
Blake não seguir nesse caminho, ou nunca vamos sair desse buraco
em que nos coloquei.
Blake ignora o meu aviso e, quando Bryan se vira para ele,
é surpreendido por um golpe no rosto. Ele cambaleia, e Blake
aproveita sua perda de equilíbrio e o chuta na altura do peito,
derrubando-o para trás. Bryan cai ao meu lado com o sangue
escorrendo pelo nariz e boca.
Blake se aproxima, encarando Bryan como se quisesse
transformá-lo em pó. Ele segura o nariz quebrado do Bryan e o torce
para o lado, provocando gritos de dor. Fico surpreendida, pois nunca
achei que alguém fosse capaz de conseguir machucá-lo.
— Eu avisei para ficar longe dela — profere cada palavra
com a raiva pingando em sua voz. — A próxima vez que o vir, o
nariz quebrado será o menor dos teus problemas.
Blake se afasta, e meus olhos encontram os de Bryan com
uma promessa silenciosa de que ele tornará a minha vida um
inferno. Me levanto com ajuda do Blake, sua face é toda beleza fria,
e os olhos azuis nebulosos encontram os meus preocupados.
— Vamos embora. — Blake passa a mão em volta do meu
corpo e me puxa para perto de si. No caminho para o carro, ele
pega o paletó no chão.
Entramos no carro em silêncio, e Blake, ainda tenso pela
briga com Bryan, liga o motor. Seus dedos apertam o volante com
tanta força que a pele em seus nós dos dedos fica pálida. Seu olhar
está fixo na estrada, mas posso sentir a tensão que emana dele.
Mas eu... eu não consigo conter minhas emoções por mais tempo.
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto enquanto a cena
se repete em minha mente, tento disfarçar, mas é inútil. Sinto meu
peito apertar, e o choro irrompe de forma incontrolável.
O olhar de Blake se move de repente em minha direção. Ele
estende a mão e gentilmente afasta uma mecha do meu cabelo do
rosto, colocando-a para trás da orelha.
— O que ele queria, Katie?
Balanço a cabeça em negação, com um nó entalado em
minha garganta.
— Converse comigo. — Sua mão desliza para a minha
coxa, mas não de uma forma provocativa, de maneira reconfortante.
Engulo em seco, tentando limpar a garganta.
— Dinheiro. Bryan perdeu o emprego e está me culpando
por isso.
— Você não deve nada àquele filho da puta — Blake rosna.
— Ele ameaçou trazer os meus pais até Seattle... — Limpo
as minhas lágrimas, pensando no quão ruim seria isso. Robert e
Zaina não podem mais me machucar, por que é tão difícil eu
conseguir aceitar isso?
— Deixam vir, você não precisa vê-los — concordo e relaxo
no assento, escorando minha cabeça na janela enquanto ainda sinto
a mão de Blake na minha perna.
O carro para depois de um momento, e eu abro os olhos,
um pouco mais calma que antes, notando que estamos
estacionados em frente ao meu apartamento. Olho para Blake
confusa, eu havia mencionado o endereço para ele, mas não achei
que fosse lembrar e muito menos me trazer aqui depois de tudo que
acabou de acontecer.
— Não pode mais deixar que ele defina a sua vida, Katie —
ele profere como se lesse meus pensamentos e desce do carro,
faço o mesmo, sentindo a ardência em meus cotovelos, então,
estico um deles para frente e o vejo ralado com sangue e sujeira
grudado.
Argh! Maldito Bryan.
Amanhã vou à delegacia, pedir uma medida protetiva. Bryan
não vai parar se eu não tomar uma atitude. Penso no que teria
acontecido se eu estivesse sozinha com a Joy. Deus, as hipóteses
fazem o meu sangue gelar.
Blake espalma a mão pelas minhas costas, me guiando em
direção ao prédio. Ele é um pouco mais moderno daquele em que
eu morava com o Bryan. A fachada está inteira, e os arbustos,
aparados.
Aperto o interfone e aviso ao porteiro que vim visitar o
apartamento, só então o portão abre, revelando o interior. Assim
como eu, Blake entra, analisando tudo ao nosso redor. De longe,
enxergamos um espaço infantil com balanço, escorregadores, entre
outros brinquedos e, ao lado, alguns bancos com flores e árvores
em volta. O saguão de entrada é amplo, com paredes de mármore
da cor marrom e um balcão de recepção com dois homens atrás.
Pego as chaves com o porteiro e subimos as escadas para
o segundo andar. O corredor é claro, com uma luz quente acesa em
todo o comprimento. Paro em frente à terceira porta e sinto uma
agitação em meu âmago ao abrir a porta. Há meses venho
desejando me mudar para cá com a Joy, e isso parecia tão distante
e impossível de acontecer.
Entramos no apartamento, e Blake fecha a porta atrás de si.
Caminhamos pelo curto corredor da entrada e chegamos na
cozinha, toda branca e vintage. Meus dedos percorrem pela madeira
clara da mesa redonda, com espaço para quatro pessoas. Me viro
para o Blake do outro lado, na sala de estar, e há apenas um sofá
retrátil, da cor cinza-claro, que contrasta muito bem com as paredes
pintadas de azul-tibet.
— Vou sentir falta de vocês — ele quebra o silêncio,
encontrando o meu olhar.
— Você pode visitar a Joy quando quiser — digo, puxando o
cotovelo para frente, sentindo uma ardência persistente. Está
sangrando, torço o nariz.
— Não me disse que tinha se ferido. — Blake corre seus
olhos pelo meu corpo.
— Porque isso não é nada — declaro.
— Seu joelho também está sangrando. — Me curvo para
analisar, e está um pouco ralado.
Franzo os lábios, devo estar começando a ficar imune à dor.
— Deveríamos ter ido embora — comento.
— Vamos cuidar disso. — Ele me puxa pela mão,
procurando o banheiro da casa. Blake entra na minha frente e para
diante de uma extensa pia feita de mármore escuro. Ele se vira para
mim e, de repente, suas mãos agarram meu quadril, e um calor
estranho percorre o meu peito em uma espécie de déjà-vu, então
me coloca sentada em cima da pia.
— Sério, precisa disso? — pergunto com ele entre as
minhas pernas, rindo de mim.
— Tinha esquecido como você é baixinha. — Cerro os olhos
e fecho as pernas, expulsando-o do meio delas.
Blake liga a torneira ao meu lado e estica o meu o braço
para dentro da cuba, molhando a mão e passa em meu cotovelo
cuidadosamente. Não consigo lembrar qual foi a última vez que
alguém cuidou assim de mim. Observo Blake, a impecável curvatura
de sua mandíbula, adornada por uma barba rala, enquanto morde
levemente a ponta do lábio inferior.
— O que foi, Katie? — sussurra ao encontrar o meu olhar, e
faço um esforço para fechar meus lábios, notando que estou com a
mesma expressão que costumava ficar quando ele entrava no hotel.
— Acho melhor irmos embora — respondo, ele umedece os
lábios e seca o meu braço com um pedaço de papel higiênico.
— Tudo bem, só falta o seu joelho — avisa, descartando o
papel no lixo.
Blake para em frente das minhas pernas, e seus olhos fixam
nos meus, enquanto suas mãos deslizam suavemente pelas minhas
coxas. Tento não pensar em como foi a primeira vez que as senti
percorrendo pelo meu corpo. Ele ergue a ponta da minha saia,
fazendo o meu coração bater de forma errática. Então eu seguro
sua mão para afastá-lo.
— Acho melhor eu fazer isso — digo, me sentindo ridícula
pelo leve rubor em minhas bochechas.
— Tem certeza? — ele pergunta com olhar sugestivo, e seu
quadril parece queimar entre as minhas pernas.
A palavra “sim” se instala na minha mente, como um alerta
vermelho piscando ferozmente, mas não consigo colocá-la para
fora. Em vez disso, balanço a cabeça em negação, incapaz de
consentir em voz alta, sabendo que vou me arrepender disso, mas,
ao mesmo tempo, incapaz de afastá-lo.
Capítulo 11

Minhas mãos deslizam suavemente pelas coxas de Katie.


Seus olhos, fixos nos meus, revelam um misto de desejo e
incerteza. A proximidade de seu corpo emana um calor quase
insuportável, e o rubor ardente em suas bochechas só intensifica
minha vontade de beijá-la.
Sem hesitar, me inclino em sua direção, permitindo que
meus lábios rocem suavemente os dela. É uma carícia quase
imperceptível, mas faz Katie estremecer como uma folha frágil ao
vento. Ela se inclina em minha direção, sem desviar o olhar, e minha
língua entra em sua boca, explorando-a. Enquanto isso, minhas
mãos agarram seu corpo, trazendo-a para mais perto de mim,
tornando nosso beijo mais profundo e urgente, alimentando minha
fome incontrolável de possuí-la.
Passo meus lábios por seu pescoço, distribuindo beijos com
os lábios abertos, podendo ouvir sua respiração mais rápida e
ofegante enquanto desço em direção aos seus seios. Com um toque
delicado, levanto a barra de sua saia, revelando mais de sua pele
macia e, em seguida, retiro o vestido. Meus olhos permanecem em
seus seios inchados, notando seus mamilos ficando duros e
pontudos, fazendo com que uma lenta onda de excitação se espalhe
por meu corpo.
— Blake... — ela diz, hesitante, mas não lhe dou chance de
dizer mais uma palavra.
Eu abocanho seu mamilo, sentindo suas pernas se
contraírem ao meu redor. Com um leve movimento, Katie se inclina
para trás, me dando mais espaço. Minha língua traça um círculo
suave ao redor de seu mamilo, então, eu o chupo em minha boca,
saboreando os arrepios que percorrem seu corpo. Ela solta um
gemido, e suas pernas me seguram com mais intensidade,
demonstrando sua óbvia necessidade.
Desço, beijando sua barriga lisa, que exibe uma discreta
cicatriz horizontal logo abaixo e pequenas linhas brancas na região
do abdômen. Eu as beijo e me ajoelho na frente dela.
— Afaste as pernas — peço, e seus grandes olhos verdes
encontram os meus. Aquela incerteza atravessa seus olhos. A única
incerteza que quero que ela tenha agora é se ela prefere gozar na
minha boca ou no meu pau, mas não vou pressioná-la.
Passo a mão pela parte interna de sua coxa, chegando a um
ponto onde sinto sua umidade escorrendo por sua perna, ela cora,
mordendo o lábio. Não seja cruel, KitKat. Você precisa disso tanto
quanto eu preciso de você.
Katie abre as pernas, e o cheiro inebriante que ela exala faz
meu pau latejar dolorosamente, levando-me a enterrar meu rosto
entre suas pernas e lamber sua excitação crescente. Um gemido
escapa de seus lábios enquanto ela aperta a mandíbula com força,
privando-me deles.
Traço a boceta dela com a ponta da língua, de novo e de
novo. Ignorando seu clitóris, recusando-me a comê-la até que ela
admita que quer isso tanto quanto eu.
— Por que está fazendo isso? — geme, os nós dos dedos
brancos, agarrando-se à borda da pia, e seus quadris se movem em
minha boca, independentemente de sua vontade.
— Porque quero que você queira isso tanto quanto eu. —
Eu circulo minha língua em torno de seu clitóris bem lentamente, e
Katie choraminga, com sua cabeça caindo para trás.
— Eu não vou implorar, se é isso que você quer, Blake —
ela rosna meu nome com fúria e tesão, mordendo o lábio e se
contorcendo. Deslizo um dedo dentro dela, e sua boceta chupa com
força, deixando meu pau prestes a explodir.
— Por Deus, Katie, vou gozar antes de você se continuar
fazendo isso com meu dedo. — Ela é tão apertada, uma
combinação deliciosa para meu pau, que me dá vontade de me
enterrar bem fundo dentro dela.
— Não aguento mais, Blake... — ela choraminga, e sua mão
afunda em meus cabelos, me puxando para frente. — Quero isso
tanto quanto você, satisfeito?! — ela exclama, abrindo mais as
pernas. E, com um sorriso de leão, abocanho seu clitóris,
devorando-a e sentindo seus dedos pressionarem minha cabeça
contra ela, trazendo sua libertação com um gemido gutural.
Katie endireita a cabeça caída para trás, encontrando o meu
olhar.
— Foi difícil? — Ela me lança um olhar incisivo, então a
beijo antes que ela possa responder. Com a ajuda dela, tiramos
minha roupa, seus dedos percorrem meu abdômen nu e posso vê-la
inalando o perfume do meu peito.
Coloco seu cabelo atrás da orelha, levantando seu queixo
em minha direção.
— Se vira. — Ela obedece e cora ao ver nosso reflexo no
espelho. Sua timidez ainda me deixa maluco.
Me aproximo por trás e sua cabeça atinge o meio do meu
peito. Trago seus quadris mais para trás, e Katie desvia o olhar do
espelho no momento em que deslizo o meu pau entre suas coxas
meladas. Puxo seu cabelo para trás e cheiro o seu pescoço, depois
o beijo, levantando arrepios em sua pele. Dou uma leve mordidinha
nela e Katie começa a relaxar, com seus olhos nos observando
timidamente pelo espelho.
Levo minha mão até seu clitóris e seu corpo se retrai com
apenas um toque.
— Tão sensível — sussurro em seu ouvido, e sinto ela
empurrar sua bunda contra mim, suas pernas se abrindo mais,
como um aviso silencioso para seguir em frente. Agarro seus
quadris e me enterro em sua boceta quente, molhada e muito
apertada.
Gememos em uníssono.
Abraço seu corpo com força, investindo dentro dela. Minha
mão segura seu seio, meu polegar acaricia seu mamilo inchado e a
outra em seu pescoço, forçando-a a olhar no reflexo e ver o quão
perfeita ela é. Ela encontra o meu olhar e, por Deus, nunca quis que
uma mulher fosse minha tanto quanto a quero agora. Inteligente,
decente, orgulhosa. Diferente de todas que já estive.
Um gemido sem fôlego passa pela boca de Katie, e ela
morde o lábio inferior, deixando-o levemente branco. Seus braços
envolvem meu pescoço, enquanto eu me perco cada vez mais
dentro dela, alcançando o meu limite. Escovo meu polegar sobre
seu clitóris, movendo facilmente sobre sua carne molhada. Katie
grita e suas paredes se apertam com mais força ao meu redor, eu
acelero os movimentos e, quando ela finalmente goza, alcanço
minha libertação.

Permaneço dentro dela por um momento, sendo capaz de


sentir o som acelerado do seu coração batendo nas costelas, contra
meu peito. Empurro seu cabelo para o lado e beijo a curva do seu
pescoço.
— Mais gostosa que chocolate, KitKat — sussurro, puxando
o lóbulo da orelha dela com os dentes, Katie arrepia e suspira,
afastando seu rosto.
— Acho melhor irmos agora — ela simplesmente fala sem
emoção ou entonação, então se abaixa, pegando suas roupas, e
deixa o banheiro sem olhar para trás. Enquanto ela se afasta,
percebo a tensão no ar e o silêncio que se instala como uma parede
entre nós. A incerteza em seu olhar agora paira sobre mim, e não
posso deixar de me perguntar se ela se arrepende e se está se
afastando por medo ou culpa.
Me vesti rapidamente e saí do banheiro, lutando contra a
sensação de vazio que sua partida repentina deixou em mim. Katie
não está mais no apartamento e a porta está entreaberta. Tranco a
porta e desço até o saguão do prédio, então a encontro em frente ao
portão, falando ao telefone. Seus olhos encontram os meus, mas ela
desvia, encerrando a chamada.
Entrego a chave ao porteiro e me aproximo dela,
percebendo que esqueci o meu paletó lá em cima. Grrr. Desgraça.
— Você está bem? — pergunto e odeio o quanto essa
pergunta soa estranha depois do sexo, parece o mesmo que
perguntar se a mulher gozou porque não fez um bom trabalho.
Ela assente.
— Era o Sean ao telefone, ele vai me acompanhar até a
delegacia amanhã. Vou pedir uma ordem de proteção contra o
Bryan.
— Que bom que você mudou de ideia. Posso ir com você se
quiser — ofereço, abrindo o portão para ela.
— Não, obrigada — ela diz, contornando o carro e abrindo a
porta. A naturalidade dela em agir como se nada tivesse acontecido
está começando a tirar minha paz. Katie não parece arrependida,
mas, sim, indiferente.
Deslizo ao seu lado, e Katie fecha os olhos enquanto dou
partida. Ela parece determinada a evitar qualquer contato. Dirijo
observando-a de vez em quando, seus olhos se abrem no meio do
caminho e permanecem focados do lado de fora. Gostaria de saber
no que ela está pensando. Será que fui com sede demais ao pote?
Estaciono em frente à casa e seguro seu cotovelo antes que
ela saia do carro.
— Não foi bom para você? — me ouço perguntar algo que
nunca tinha passado pelos meus lábios antes.
Katie olha para mim surpresa.
— Foi ótimo, Blake. Mas só porque foi ótimo não significa
nada.
— Kate...
— Isso não vai acontecer de novo. — Ela desce, e eu fico
mais um momento digerindo sua resposta. É impossível não ter
significado nada, foi perfeito pra caralho. Se fecho os olhos, posso
sentir o cheiro de sua pele, a suavidade dos seus lábios... Balanço a
cabeça e saio do carro, não me imaginando mais podendo tocá-la.
Entro em casa e encontro Katie imobilizada em frente à
porta. E, quando penso que não pode piorar, Deus manda a minha
mãe. Liguei para ela há três semanas para contar sobre a Joy, mas
ela estava no meio do gerenciamento de crise para o governador de
Chicago, então, decidi esperar e aqui estamos.
— Por que você está aqui? — pergunto, surpreso, pois ela
nunca vem para Seattle, a última vez que esteve aqui foi quando
Leslie morreu. Minha mãe e meu pai não se suportam.
— Vim para gerenciar uma crise — ela diz com os olhos
grudados em Katie, deixando claro de que crise se trata.
— Você pode nos dar licença — peço a Katie, antes que
minha mãe diga algo que não posso reverter.
Katie acena com a cabeça e caminha em direção à cozinha,
de onde vem a risada de Joy. Espero ela se afastar e volto minha
atenção para minha mãe. Seu cabelo loiro está preso com presilhas
prateadas, exibindo seus brincos e colar de pérolas.
— Quem te contou? — pergunto, aproximando-me dela e
conduzindo-a em direção à sala.
— Isso importa? — Suspiro, me sentando ao lado dela, e
um patinho de borracha faz barulho quando me sento. — Blake o
que está acontecendo? Você voltou há algumas semanas, rompeu
com Stacy, e depois transformou essa casa em um lar de
desabrigados.
— Você viu a bebê? — minha mãe concorda com olhar de
decepção, — Ela é a sua neta. A filha que eu rejeitei há dois anos.
— Você não tem certeza disso — ela fala, convicta. — Você
está tentando redimir a culpa que sente pelo que aconteceu com a
sua irmã com aquela mulher e aquele bebê.
— Você e o meu pai são incríveis — digo, sentindo que vou
perder a paciência. — Não sou mais um garotinho, mãe, vocês
precisam aceitar que não podem mais comandar a minha vida.
Ela segura meu pulso delicadamente, encontrando o meu
olhar.
— Eu não vim aqui para brigar com você, querido. Mas seu
pai e eu estamos preocupados, você não conhece essa garota. Só
não quero que se machuque mais.
Passo a língua pelos lábios, balançando a cabeça. Esses
dois anos foram difíceis para minha mãe, além de lidar com a morte
da Leslie, ela teve que lidar comigo, alcoolizado, drogado, cheio de
crises. Não quero ser desrespeitoso, mas ela precisa entender que
não há crises aqui, além do Bryan.
— Jante comigo esta semana. Tente conhecê-las pelo
menos. — Minha mãe tira um envelope pardo de dentro da bolsa e
me estende.
— Leia isso e depois me diga se deseja criar laços com
esse tipo de gente. — Ela se levanta e nossos olhares se
encontram. — Você está tão envolvido que não consegue ver o
buraco em que está se metendo, filho.
Estendo o envelope para ela, e minha mãe franze os lábios,
insatisfeita.
— Eu vou ler se você, pelo menos, tentar conhecê-las —
ressalto, fazendo-a suspirar.
— Tudo bem, Blake — diz, dando-me um beijo na cabeça e
depois vai embora.
Começo a ponderar se um teste de paternidade não é
realmente necessário. Assim, não teria o que discutir com minha
família. Mas eu nunca pediria isso a Katie. Ela ainda guarda muita
mágoa, e não quero afastá-la ainda mais.
Subo as escadas e entro no meu quarto. Sento-me na beira
da cama com os olhos fixos no envelope. A minha mão treme
quando começo a abrir, e a incerteza pesa sobre meus ombros.
Evelyn sempre foi implacável quando se trata de investigar a vida de
alguém, ela é a melhor, tanto em encontrar podres, quanto em
escondê-los.
Meus olhos percorrem a primeira página do documento, que
é um registro da delegacia de Maryland, impressos com os dados
pessoais da Katie. Os dados mostram que Katie estava prestes a
completar dezoito anos quando foi pega em flagrante furtando uma
loja de conveniência. Não há descrição do que ela estava roubando,
talvez comida. Não sei o que a levou a fazer isso, mas o meu
estômago se contorce de surpresa e me faz questionar o que mais
aconteceu com ela no seu passado. Toda vez que tento entrar no
assunto para conhecê-la melhor, ela é breve em detalhes, como se
sua vida só existisse a partir do momento em que chegou em
Seattle.
Viro a página e encontro o xerox de uma fotografia de
quando ela era adolescente. Seus cabelos eram mais ondulados do
que agora, e ela estava magra, quase em um estado preocupante,
com um sorriso cansado nos lábios. No final da folha, há uma nota
que diz:
PROCURA-SE.
“Garota de 18 anos foge de casa roubando carro dos pais.
Atende pelo nome, Katie Edwards”.

“Eu fugi de casa aos 18 anos porque era o saco de pancada


do meu pai.” Minha cabeça começa a rodar quando suas palavras
me vêm à mente. Informações que a minha mãe não fez questão de
adicionar a este maldito dossiê.
Como ela conseguiu fazer tudo isso sozinha? Atravessar o
país de Maryland para Seattle e ainda conseguir ter uma vida, uma
carreira e uma filha? Esfrego os olhos com força, percebendo que
não conheço nem 10% daquela garota. E, em cada página que leio,
não me faz querer me afastar dela, pelo contrário.
Folheio para a última página, e uma notícia do jornal local de
Maryland prende a minha atenção:
MARIDO QUE MATOU A ESPOSA COM PÉ DE CABRA É
PRESO EM SALISBURY, NO LESTE DE MARYLAND.

Salisbury, MD
Um crime chocante abalou a pacata cidade de Salisbury,
localizada no leste de Maryland, quando as autoridades prenderam
um homem acusado de assassinar brutalmente sua esposa com um
pé de cabra. Os detalhes aterrorizantes do incidente deixaram a
comunidade em estado de choque.
O suspeito, identificado como Robert Edwards, de 48 anos,
foi detido após a descoberta macabra do corpo de sua esposa,
Zaine Edwards, de 40 anos, em sua residência no bairro tranquilo
de Salisbury. O crime teria ocorrido durante a noite anterior, e as
denúncias ainda estão sendo investigadas pela polícia local.
Segundo informações preliminares, vizinhos relataram ter
ouvido uma discussão acalorada vinda da casa do casal na noite
anterior ao crime. A polícia foi alertada quando um dos vizinhos,
preocupado com o barulho e gritos, decidiu ligar para as
autoridades.
Os policiais chegaram à residência de Robert e Zaina
Edwards e, após uma busca, fizeram a descoberta terrível do corpo
da vítima. Ela foi encontrada sem vida em um quarto da casa, com
ferimentos graves na cabeça, aparentemente causados por um pé
de cabra que foi encontrado nas proximidades.
O suspeito, Robert Edwards, foi detido no local sem oferecer
resistência. Ele está atualmente sob custódia da polícia de Salisbury
e enfrenta acusações de homicídio em primeiro grau. A investigação
está em andamento para determinar os motivos por trás desse ato
brutal.
Os moradores locais expressaram choque e tristeza, e
houve relatos de que Robert era alcoólatra e cometia atos de
violência contra Zaina.
As autoridades estão trabalhando incansavelmente para
coletar todas as evidências e informações necessárias para
esclarecer esse crime hediondo. Os detalhes adicionais sobre o
caso serão revelados à medida que a investigação prossiga.
Puta merda.
Dois anos se passaram, e Katie ainda não deve estar ciente
disso. Considerando a forma como ela reagiu quando Bryan disse
que traria seus pais para Seattle, ela provavelmente não faz ideia do
assassinato. Agora, compreendo mais do que nunca o medo dela
em relação à sua família.
Deito-me para trás, sem saber o que fazer diante dessas
informações.
Capítulo 12

Rapidamente corto a fruta em cubos dentro de um recipiente


enquanto observo Joy do outro lado da ilha, sentada no cadeirão.
Jogo um pedaço de maçã, e ele cai dentro do seu pratinho vazio.
Ela sorri.
Deixo a tigela de frutas e sanduíches em uma cesta de
piquenique estilo Chapeuzinho Vermelho, que encontrei em um dos
cômodos da casa, espero que Blake não se importe.
Preciso levar Joy para passear, é fim de semana, e não me
recordo a última vez que a levei há um passeio, com medo de
encontrar Bryan em algum lugar, mas duvido que ele vá ao parque.
E, ontem cedo, Sean e eu fomos à delegacia para denunciá-lo. Eu
realmente espero que ele me deixe em paz agora.
— Quase tudo pronto, pombinha — digo, olhando para o
colarinho do seu macaquinho cor-de-rosa inteiramente babado,
torço o nariz.
A porta da frente bate e, por um motivo muito específico,
meu coração começa a acelerar. Toda hora me pergunto onde
estava minha cabeça quando fiz sexo com Blake novamente. Cristo,
por que não posso simplesmente dizer não para ele?
Parece que o meu cérebro se dissolve quando Blake chega
muito perto ou me toca... balanço a cabeça, afastando a memória de
duas noites atrás. Blake entra na cozinha, vestindo apenas um short
preto de academia, com os cabelos um pouco revoltados, mas que,
de alguma forma, o deixam sexy. Meus olhos se demoram em seus
ombros largos e viajam até o início daquele delicioso V em seu
abdômen.
Grrr. Há meio minuto eu estava me crucificando pelo que fiz
e agora estou quase tocando seu corpo com os olhos. Preciso me
mudar dessa casa o mais rápido possível.
Blake dá um beijo na cabeça de Joy, e nossa filha sorri,
estendendo os braços para ele pegá-la no colo, vê-los interagir
desperta algo dentro de mim que nunca senti antes, uma sensação
boa, mas estranha ao mesmo tempo. Espero que Blake nunca a
machuque, porque eu nunca perdoaria isso.
— Quer vir no colo? — Blake pergunta, tendo toda a sua
atenção.
— Xim. — Ele me olha com um sorriso de soslaio, pois ama
escutar essa palavra dela.
— Então diga, sim, papai — Blake explica, e a expressão
dela se torna um pequeno ponto de interrogação. — Pa-pai — ele
diz silabicamente, encarando os grandes olhos azuis dela.
— Xim, ma-mãe. — Ela sorri, mostrando todos os dentes, e
ele a pega do mesmo jeito, beijando o pescoço babado.
— Onde está a mamãe? — Blake pergunta, e Joy aponta
para mim, então mando um beijo para ela. — Agora aonde está o
papai? — questiona com doçura.
Joy ergue os braços para cima e diz:
— Não xei.
— Com o tempo, ela vai entender — esclareço, mas ele
precisa ter paciência.
— Ouvi dizer que facilita o aprendizado da criança quando a
mãe chama o...
— Não vou te chamar de pai — interrompo, sem espaço
para discussão.
— E de papai? — Ele sorri, gesticulando com as
sobrancelhas loiras mais definidas que as minhas.
Lhe dou uma revirada de olhos e mordo um pedaço de
maçã.
— Vai fazer um piquenique, pombinha? — Joy balança a
cabecinha. — E eu posso ir com você?
Encaro Blake de olhos cerrados, e ele dá um pequeno
encolher de ombros quando Joy aceita o seu pedido. É óbvio que
ela ia aceitar, está babando literalmente por esse puxa-saco.
Blake me entrega a nossa filha e sobe para pegar uma
camisa. Apanho o meu telefone e envio uma mensagem ao Sean, já
que não sei me comportar sozinha, alguém precisa me pôr no lugar.
Pensar nisso me traz a mente à mãe do Blake, Evelyn Van De
Kamp. Eu a pesquisei quando cheguei na agência ontem. Evelyn
trabalhou na Lockhart e Associados por alguns anos, mas depois se
mudou para Chicago e abriu sua própria empresa, Evelyn Van De
Kamp e Associados, especializada em resolver problemas e
gerenciar crises, protegendo e preservando a imagem e a
privacidade de figuras públicas. E está tentando preservar a imagem
da família dela agora. Eu não sei no que pensar. Blake transava
com tudo que se movia e engravidou uma pobretona, se fosse uma
garota de berço de ouro, acredito que a decepção não seria tão
grande.
Pego a cesta de piquenique e caminho até a entrada com
Joy, Blake está descendo as escadas trazendo um tapete xadrez.
Ele colocou uns óculos escuros e está com um sorriso bobo nos
lábios. Joy bate palminha ao vê-lo, e isso me enche de alegria. Eu
não tive muitos momentos felizes com a minha família, a minha
maior alegria foi quando ela nasceu, porque não me senti mais
sozinha, por isso, família é importante, e quero que ela tenha tudo
que eu não tive.

Estaciono meu carro em frente ao parque, e Blake sai,


abrindo a porta traseira para pegar Joy e a cesta de piquenique. O
sol brilha intensamente no céu, pintando-o com um azul radiante.
— Já estiveram aqui antes? — Blake indaga enquanto
caminhamos pelo vasto gramado verde, onde as famílias
aproveitam o dia e as crianças correm incansavelmente.
— Sim, quase todo o fim de semana. Joy adora alimentar os
gansos.
— Aqui tem ganso? — pergunta de repente, fazendo-me
franzir a testa.
— Sim, por quê? — Blake enruga os lábios, balançando a
cabeça. — Ah, meu Deus, não me diga que você tem medo de
gansos? — comento, rindo, notando um ligeiro rubor em suas
bochechas.
— Eu não disse isso.
— Ah, pombinha, papai tem medo de gansos — zombo,
apertando as bochechas dela.
— São animais raivosos — Blake se defende, e eu caio na
gargalhada.
— Ah é? — pergunto, fingindo choque. — E como você
atraiu a fúria dos gansos raivosos, Blake? — digo, carregada de
ironia.
Ele faz uma careta.
— Eu tinha dez anos na época... — ele começa a história e
não consigo parar de rir.
Sentamo-nos embaixo de uma árvore a uma distância
razoável do lago e dos gansos para que o Blake pudesse relaxar.
Não lembrava há quanto tempo eu não ria de algo. Um homem tão
grande e forte e que fez um estrago em Bryan duas vezes tem medo
de ganso, isso parece inédito para mim.
Me deito para trás na grama, observando algumas mulheres
passarem por nós sem conseguir evitar olhar para o Blake, as
conversas sussurradas e risos contidos indicam claramente o
interesse. Me pergunto se eu era tão óbvia assim quando trabalhava
no hotel.
Blake se deita ao meu lado e se vira para mim, empurrando
os óculos além da testa, enquanto Joy brinca com as folhas das
árvores entre nós dois.
— Nunca me imaginei fazendo isso — ele diz, encontrando
o meu olhar.
— Não é tão animado quanto a um happy hour — falo com
um sorriso, — Mas, se tivesse pegado os primeiros quatro meses de
vida, todas as madrugadas mal dormidas iam te lembrar, como a
pior ressaca do mundo.
— Lamento não ter estado lá.
Assinto, vendo uma sombra se formar em cima da minha
cabeça, me sento e viro, enxergando Sean. Estava começando a
pensar que ele não viria. Ele me dá um beijo na cabeça e depois
cumprimenta Blake.
— Olá, pequena pombinha. — Sean se abaixa e pega Joy,
ele me lança um olhar que não diz nada e tudo ao mesmo tempo.

Quando contei ao meu amigo a besteira que cometi, já me


preparei para o julgamento que eu sabia que estava por vir. No
entanto, Sean me surpreendeu ao me encorajar a seguir meu
coração, mas, sinceramente, isso é algo que prefiro evitar. Meu
coração já está ferrado demais para tomar qualquer decisão. A
racionalidade deveria ser minha aliada, porque cada vez que permiti
que a emoção tomasse decisões, as coisas se tornavam um
desastre.
— Ela já viu os gansos? — Sean pergunta, dou uma olhada
de soslaio para Blake, segurando o riso, acho que nunca mais vou
pensar em gansos da mesma maneira.
— Ainda não — respondo, assistindo ao meu amigo
convidá-la para um passeio. Sean me lança um olhar sugestivo
antes de virar as costas e me deixar sozinha com o Blake.
Me escoro nos cotovelos e minha cabeça cai para trás,
querendo matá-lo.
— Convidou seu amigo para não ter que ficar sozinha
comigo? — Blake se vira para mim, apoiando-se no cotovelo.
— É tão óbvio assim? — pergunto, encontrando o seu olhar.
Blake sorri de maneira divertida e balança a cabeça.
— Chamei Sean para protegê-lo de qualquer ganso que
possa aparecer. — Eu rio suavemente e olho para o lago, onde Joy
e Sean estão alimentando os gansos.
— Nunca mais vai esquecer isso, não é?
Balanço a cabeça em negação e meu sorriso esvanece
quando um senhor de sorriso gentil para a nossa frente com um
cesto cheio de rosas-vermelhas. Ah, meu Deus. São pequenas
coisas, mas que me deixam desconsertada. Cadê o Sean para me
tirar desse embaraço?
— Boa tarde, jovem. Gostaria de comprar uma bela rosa
para sua dama? — o senhor pergunta, mostrando o cesto para
Blake. Os olhos dele encontram os meus e um risinho se forma no
canto dos seus lábios.
— Claro, eu adoraria comprar todas as rosas para minha
dama — responde de forma insinuante, pegando sua carteira.
— E você vai pagar com cheque também? — Ouço-me
dizer, cheia de desdém.
Blake perde o brilho nos olhos. O senhor me entrega a cesta
contendo cerca de cinquenta rosas, e eu afundo o nariz, inalando
seu perfume.
— Algum dia você vai me perdoar? — ele pergunta e posso
ouvir a preocupação em sua voz.
Passo a língua pelos lábios, ganhando tempo, porque não
sei como responder. Não posso culpá-lo por todas as coisas ruins
que aconteceram comigo quando ele saiu preferindo acreditar que
era um golpe. Porém, é difícil aceitar isso, eu me agarrei tão forte a
essa ideia de que ele é um homem arrogante, desprezível..., e não é
nada disso.
— O fato de você estar passando por um momento ruim
naquele momento me deixa confusa, Blake, porque preciso acreditar
na sua palavra. E, mesmo que eu queira muito acreditar nela, toda a
mágoa que vivi durante toda a minha vida me impede de esquecer e
seguir em frente, porque, se você me machucar de novo, estarei
pronta.
— Nunca quis magoá-la, Katie, e não pretendo... Eu quero
você e a Joy na minha vida — fala mais claro que o sol que brilha
acima de nós, mas um riso desacreditado me escapa. Eu não
acredito que estamos tendo essa conversa.
— Você não sabe nada a meu respeito, Blake. Isso tudo —
aponto para o parque e as rosas — é só a ilusão de família ideal e
tradicional, mas são apenas pequenos momentos, porque nunca é
um mar de rosas.
— Então me conta, me deixe conhecê-la. — Mordisco o
lábio com força, pensar em falar da minha vida me pesa no
estômago, como comida estragada.
O que eu devo contar? Que aquela cicatriz que tenho
próximo às costelas, o meu pai fez quando estava tentando bater na
minha mãe com o atiçador de fogo e acabou acertando em mim
quando tentei defendê-la
Eu tinha dezessete anos e me recordo como se fosse hoje
da dor lancinante que percorreu o meu corpo. Robert estava
bêbado, óbvio. Minha mãe o mandou sair de casa para se acalmar,
e não me levou ao hospital para ser medicada e suturada, ela fez
tudo em casa com medo de que os médicos dessem queixa à
polícia. Ela era tão emocionalmente dependente dele que me
assustava. Quando eu questionava por que não íamos embora, ela
dizia:
“Não seja estúpida, garota. Você vai trabalhar para nos
sustentar?”
Eu iria se fosse preciso.
— Katie... — Blake segura a minha mão, me arrancando
daquele torpor —, eu tenho medo de ganso como você já sabe —
comenta com um sorriso e sei que ele só quer me fazer rir — e meu
primo fez minha prova de admissão pra entrar na faculdade de
direito.
— Isso não é ilegal? — pergunto, surpresa, e aquela nuvem
negra se dissipa tão rápido quanto chegou.
— Com certeza é. — Blake ri, despreocupado. — Se a
ordem dos advogados descobrir, eu posso perder o diploma e a
licença profissional e provavelmente serei processado por fraude ou
falsificação.
Meu queixo cai, chocada.
— Por que está me contando isso?
— Quero que confie em mim como eu confio em você.
— Você é louco e irresponsável.
— Ah, para. — Ele estala a língua, dando um tapa no ar. —
Não diga que você nunca colou em uma provinha? — diz com um
riso presunçoso e sei que ele não espera uma resposta, porque não
se trata de uma provinha, e, sim, da carreira inteira dele.
— Nunca colei — confesso, chamando sua atenção que
está na Joy. — Na verdade, eu nunca fiz muita coisa. Não fui ao
baile, não tinha grupos de amigos, as líderes de torcida me
odiavam. A minha adolescência foi um clichê de Meninas Malvadas,
só que, no fim, eu não fiquei com o garoto bonito — comento com
um riso, pensando que nada nunca foi fácil para mim, e quando é,
sinto que tem algo errado, será que sou paranoica?
— Quanto à parte do garoto bonito, podemos
definitivamente resolver isso. — Faço uma careta.
— Você devia ser um galinha no colegial. — Blake gargalha
e, sem dúvidas, é um dos melhores sons que já escutei.
O telefone dele toca avisando que há uma mensagem e
Blake se senta para olhar. Me acomodo na grama macia,
observando as árvores ao meu redor balançando suavemente ao
vento. O sol que acaricia o meu corpo me deixa com uma
preguicinha gostosa. Se fechar os olhos, garanto que vou
adormecer, mesmo com o barulho à nossa volta e os gritos das
crianças.
Blake guarda o telefone e se vira para mim com uma
expressão menos divertida e mais séria.
— Tudo bem se eu apresentar Joy aos meus pais? — ele
pergunta, e me sento, porque parece que não consigo pensar
deitada.
Ainda não tive o prazer de conhecer o pai de Blake, mas, se
ele tiver a mesma atitude que Evelyn demonstrou ao me ver na
entrada da casa, prefiro que Joy não esteja na presença deles.
— Sua mãe deixou claro que veio limpar sua bagunça,
Blake. Não quero expor Joy a alguém que verá minha filha como um
problema a ser resolvido.
Ele balança a cabeça, e eu me sinto meio que uma bruxa
por fazer isso, mas Joy é sempre minha prioridade.
— Eu também não quero que Joy fique exposta a nenhuma
situação desconfortável. Que tal você conhecê-los primeiro e
depois, se achar apropriado e seguro, apresentarmos nossa filha a
eles?
— Tudo bem — assinto com um frio desbravando as minhas
entranhas.
O que tem pra dar errado que já não deu?
Capítulo 13

Subo com as malas de Katie até seu apartamento. O dia da


mudança aconteceu mais rápido do que eu havia previsto. É
estranho pensar que não vou mais vê-la todos os dias. Agora é
apenas eu naquela casa imensa, e essa nova realidade parece criar
um vazio dentro do meu peito.
Dou uma suave batida na porta e, sem demora, ela abre,
revelando Katie com um sorriso contagiante. Ela usa um vestido
justo e preto com várias florezinhas amarelas e que levanta os seus
seios de uma maneira que é difícil ignorá-los.
— Obrigada por trazer o resto das minhas coisas — diz, me
dando espaço para entrar.
— Onde eu posso deixar? — pergunto, olhando em volta,
ainda está tudo igual há semana passada quando estivemos aqui. O
apartamento é um pouco pequeno, mas é encantador.
— No meu quarto — ela responde e parece irradiar
felicidade, presumo que essa conquista seja muito importante para
ela. Caminho até lá e encontro uma pilha de roupa em cima da
cama e o paletó que eu havia esquecido repousa em uma poltrona
cor creme no canto do quarto.
Volto para a sala depois de deixar as coisas de Katie em seu
quarto. A encontro na varanda, com a luz apagada, olhando para as
estrelas. Katie parece absorta com o brilho noturno do céu e a brisa
suave bagunçando seus cabelos.
Com passos silenciosos, me aproximo e paro ao seu lado. O
silêncio da noite nos envolve por um momento antes de Katie
quebrá-lo com um suspiro.
— Olha como o céu está lindo esta noite — diz com uma
voz suave e sonhadora.
Olho para as estrelas por um momento e depois volto meu
olhar para ela.
— Você ainda é a vista mais deslumbrante desta noite —
destaco, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela pega
minha mão, e eu sei que vai me afastar novamente, talvez dar
espaço a ela seja a melhor coisa que eu deva fazer agora. Mas ela
me surpreende, Katie me olha com um sorriso tímido, levando
minha mão até sua cintura. Ela se inclina em minha direção, seu
nariz quase tocando o meu, e sua mão desliza até o meio do meu
peito. Tenho certeza de que ela pode sentir meu coração acelerado.
Avanço os centímetros restantes, reivindicando seus lábios
na esperança de quebrar quaisquer barreiras que coloquei ao longo
dos anos. Sua língua envolve a minha com a mesma ferocidade da
última vez. Katie se agarra ao meu pescoço, e pressiono seu corpo
contra a parede.
Desacelero o beijo dela quando seus dedos desabotoam
agilmente minhas calças.
— Tem certeza? — pergunto, porque não quero que
aconteça a mesma coisa da semana passada.
— Resolveu ser um bom samaritano agora? — ela pergunta
com ironia.
— Eu quero você, Katie, não apenas seu corpo... embora eu
queira muito explorá-lo. — Ela olha para mim, e eu gostaria de
saber o que se passa na cabeça dela nesse momento.
— E se não der certo, Blake? Não estou pronta para outra
decepção.
— Não vou decepcionar você — respondo sem espaço para
questionamentos, e Katie apoia a testa em meu peito, enquanto eu
a seguro pelos braços. Depois de um momento, ela levanta a
cabeça, captando meu olhar.
— Então vamos a passos de tartaruga, ok? — Sorrio.
— Ok — digo, plantando um beijo em seus lábios, depois
abraço o seu corpo e afundo o nariz em seu pescoço, saboreando o
seu perfume. — Ia me deixar te comer aqui na varanda? — Me
afasto para analisar o rosto dela a tempo de vê-lo corar. — Ainda
avermelha com tanta facilidade. — Ela faz uma careta.
— Se lembra de muita coisa daquela noite? — ela pergunta,
se afastando e apoiando-se no parapeito de ferro.
Paro ao seu lado, pensando naquela noite. É inegável que
ela é inesquecível por diversos motivos, e Katie é um deles, mas
tento evitar pensar nela por muito tempo. Sempre que o faço,
necessariamente, minha mente me leva de volta para Leslie.
Superar a morte dela não foi algo fácil. Eu amava minha irmã,
apesar das nossas diferenças. Porém, tento não mergulhar fundo
nesses pensamentos, porque a última imagem que tenho dela foi
quando fiz o reconhecimento do seu corpo.
Leslie foi atacada por trás por um homem covarde usando
um fio de nylon para sufocá-la, como se quisesse tirar a vida dela de
forma cruel. O estrangulamento deixou marcas distintas em seu
pescoço, marcando sua partida de uma maneira indelével. Foi assim
que a causa de sua morte foi confirmada, asfixia por
estrangulamento, uma tragédia que ainda assombra meus
pensamentos.
— Lembro de você quase caindo em cima do carrinho de
serviço de quarto. — Katie ri suavemente, com seus olhos brilhando
como as milhares de estrelas no céu.
— Isso você bem que podia esquecer.
— Foi o seu jeitinho destrambelhado que me chamou
atenção. — Katie coloca sua mão gentilmente sobre a minha no
parapeito, e meus dedos se entrelaçam aos seus.
— Amanhã, no jantar com os seus pais, não diga nada
sobre nós. — Balanço a cabeça, puxando-a para meus braços,
Katie encontra meu olhar, e eu me inclino para beijá-la, perdendo-
me na doçura dos seus lábios.

Ao entrar em casa, a solidão me envolve imediatamente. O


silêncio parece mais pesado do que nunca, com a ausência das
risadas da Katie e os gritos da Joy. Faz poucas horas desde que se
mudaram, mas sinto um vazio profundo. Nunca imaginei que
pudesse sentir tanta falta de alguém em tão pouco tempo. Será isso
estar apaixonado? Sorrio feito um idiota. Jamais senti essa carência
e o famoso frio na barriga, nem pela Stacy, embora eu tenha tentado
de verdade fazer com que desse certo.
Subo as escadas em direção ao meu escritório. Amanhã
tem algo que precisa ser feito bem cedo. Ao chegar lá, encho um
copo com um uísque envelhecido e me sento na cadeira, pegando
da gaveta o acordo que preparei em nome de Bryan Sullivan.
ACORDO DE AFASTAMENTO E CONSEQUÊNCIAS
LEGAIS
Partes Envolvidas:
Este Acordo de Afastamento é celebrado entre:
1. Blake Lockhart (advogado) representando os interesses
de Katie Edwards e Joy Edwards.
2. Bryan Sullivan.
Termos e Condições:
1. Bryan concorda em se afastar permanentemente de Katie
e Joy e se comprometer a não as contatar direta ou indiretamente,
seja pessoalmente, seja por telefone, seja por e-mail, seja por redes
sociais, ou seja qualquer outro meio de comunicação.
2. Bryan se compromete a não cometer nenhum ato de
violência, ameaça, assédio ou intimidação em relação a Katie ou
Joy direta ou diretamente. Isso inclui, mas não se limita a qualquer
forma de abuso físico, emocional, verbal ou psicológico.
3. Em caso de descumprimento dos termos deste contrato,
Bryan autoriza que possa ser processado criminalmente de acordo
com as leis vigentes no estado ou país de residência de Katie e Joy.
Isso pode incluir, mas não se limitando, acusação de agressão,
assédio ou violência doméstica.
4. A parte beneficiária, por meio de seu representante legal,
compromete-se a fornecer a Bryan uma quantia única de 300 mil
dólares, mediante assinatura e cumprimento deste acordo.
5. Bryan confirma que o pagamento mencionado no item 4 é
uma compensação pela sua concordância em não ter mais contato
com Katie e Joy, bem como pelo seu compromisso de cumprir todas
as cláusulas deste acordo.
Termo do Acordo:
Este acordo entrará em vigor na data de sua assinatura e
permanecerá em vigor indefinidamente, a menos que seja
rescindido por ambas as partes mediante acordo escrito. No
entanto, o descumprimento de qualquer cláusula deste acordo por
Bryan resultará na aplicação das consequências legais
mencionadas na cláusula 3.

Assinaturas:

_______________________

Blake Lockhart (advogado)

_______________________

Bryan Sullivan

Espero que ele aceite, pois eu não acredito que só uma


medida protetiva irá fazê-lo parar de persegui-las, e agora que Katie
e Joy estão morando sozinhas, tenho medo do que ele possa fazer.
Bryan não tem escrúpulos e, se ele não aceitar o que eu tenho de
oferecer, estou disposto a resolver de uma forma que não haverá
volta.
Tomo um gole do uísque, sentindo o líquido âmbar abrasar
minha garganta. Meu olhar é atraído para o envelope com o dossiê
que minha mãe montou. Tenho me perguntado desde aquele dia se
devo compartilhar isso com Katie. Não sei como abordar o assunto
com ela, porque sempre parece tão vulnerável quando se trata de
seu passado, e a última coisa que quero é causar mais dor a ela. A
verdade contida no dossiê pode ser importante, mas a felicidade
dela é ainda mais valiosa para mim.

Estaciono minha moto em frente ao apartamento de Bryan e


ando até lá sentindo a adrenalina correndo pelas veias. Da última
vez que nos vimos, acho que quebrei o seu nariz outra vez,
merecidamente. Bato na porta com firmeza. Sem demora, Bryan a
abre com uma expressão de surpresa tornando-se revolta e, antes
que ele possa reagir, digo em um tom implacável.
— Vamos conversar, Bryan.
Ele me olha com os olhos meio avermelhados e o cheiro de
álcool escapando de sua boca. É evidente que ele não está em seu
melhor estado, o que me preocupa ainda mais, considerando que,
sóbrio, ele já não é mentalmente estável.
— Não temos nada para conversar — Bryan vocifera e tenta
fechar a porta na minha cara, mas, antes que ele possa fazer isso,
enfio o capacete na entrada, impedindo-o de fechá-la.
— Você quer dinheiro, eu tenho — vou direto ao ponto, e a
porta se abre um pouco mais. Bryan ainda não disse uma palavra,
mas o ódio em seu olhar é palpável.
— Deixe-me adivinhar, vai me fazer um cheque também —
Pelo visto, Katie deixo-o a par de tudo.
— O que quiser para deixá-las em paz. — Ele ri, e torço o
nariz diante do seu odor.
— Ela sabe que está aqui? Salvando o rabo dela.
— Quer o dinheiro, ou não? — pergunto com a paciência
beirando ao limite. Bryan dá de ombros, abrindo completamente a
porta.
— É o mínimo, depois de terem feito eu perder o meu
emprego.
O mínimo seria um tiro direto no meio dessa cabeça vazia.
Tiro o papel dobrado do bolso da jaqueta, onde estão
registrados todos os termos que ele precisará aceitar e assinar para
receber o dinheiro. Estendo o documento para Bryan, que o
observa, alternando o olhar entre o papel e eu. Ele finalmente o
pega, balançando a cabeça como se estivesse tentando dispersar
os efeitos do álcool, enquanto seus olhos examinam atentamente
cada linha do documento.
O silêncio e uma tensão pairam no ar enquanto ele pondera
a proposta. Ele analisa os termos, um a um, e seu semblante se
altera lentamente, passando de desconfiança para uma aceitação
relutante.
Após um longo momento, ele olha para mim e diz:
— Tudo bem, vou firmar este acordo, mas só porque não
vejo outra saída. Katie me meteu em uma confusão terrível.
Seguro a língua com força, respiro fundo e aliviado por ele
aceitar e lhe entrego a caneta.
— Assine aqui e tudo ficará resolvido.
Bryan apoia o papel na lateral da cozinha para assinar com
uma expressão resignada, como se estivesse engolindo o orgulho,
mas como a necessidade o empurrasse nessa direção.
Ele me entrega o documento assinado, e eu removo a
mochila das costas onde trouxe o dinheiro. Não foi fácil conseguir
tirar essa quantia do banco, mas é melhor dessa forma para acabar
com isso agora.
— Espero nunca mais vê-lo — falo, caminhando para fora
do apartamento. Foi mais fácil do que eu havia previsto, porém, por
essa quantia em dinheiro, tem que ser muito ignorante para recusar.

Chego no meu trabalho uma hora atrasado e apenas recebo


um olhar de condenação do meu pai. Suspiro, mal podendo esperar
pelo jantar que me aguarda esta noite. Entro na minha sala e, assim
que me sento, Nancy, minha secretária, abre a porta, me trazendo
uma xícara de café.
— Senhor Lockhart perguntou por você, e eu disse que
estava em uma reunião no Hotel Elysium.
— Boa garota — respondo, me lembrando de antigamente.
Nancy encobria todos os meus atrasos quando virava a noite em
uma festa e precisava marcar presença na empresa nem que fosse
para dormir no escritório com a porta trancada.
— Às ordens, chefe. — Ela desliza o café sobre a mesa com
um sorriso.
— Nancy, leve um mocaccino para Katie na Agência Jardins
Verdejantes, e um KitKat da máquina automática. — Ela abre um
sorrisinho.
— É pra já. — Sai fechando a porta.
Ligo meu computador e começo a trabalhar sentindo que
parte dessa bagunça já foi resolvida, agora preciso resolver as
coisas com meus pais, principalmente fazendo minha mãe perceber
que está tudo bem ela voltar para Chicago.
Minutos depois, meu celular vibra em cima da mesa com
uma mensagem. É de Katie. Sinto um pequeno sorriso se formando
no canto dos meus lábios só de ler o nome dela.
Katie: Você está me amaciando para esta noite?
Eu rio, mas acredito que ela esteja apenas se referindo ao
jantar com meus pais.
Blake: Só estou adoçando minha sobremesa para mais
tarde.
Solto o telefone na mesa, mas, em seguida, entra outra
mensagem.
Katie: E a sobremesa pode ser comida antes do jantar?
O que fizeram com a minha garota? Minhas bochechas
parecem que vão quebrar com o tamanho do meu sorriso.
Blake: Não me faça descer aí, KitKat.
Katie: Se você vier, terá que responder ao questionário que
está fugindo há semanas.
Pronto, aí está ela, sorrio.
Blake: Faça o que você quiser, o jardim também será de
vocês.
Katie envia um emoticon com dois olhinhos virados para
cima, e eu imagino claramente ela fazendo isso, em seguida,
aparece um coração rosa.
Acho que estou começando a amolecê-la.
Ao chegar em casa, sou envolvido pelo aroma delicioso da
comida que Nora está preparando. Confiro com ela como estão os
preparativos para o jantar e subo para tomar um banho.
Honestamente temo o quão hostil minha mãe possa ser com Katie,
sei que ela não maltrataria Joy, pois é somente uma bebê, mas ela
enxerga Katie como algo que precisa ser extirpado de perto de mim.
Minha mãe é uma mulher de pulso firme e opiniões fortes.
Não é por acaso que ela é contratada para limpar a bagunça de
políticos corruptos, executivos de grandes corporações envolvidos
em escândalos e até celebridades que se encontram em situações
delicadas.
Ao sair do banho, visto uma camisa raglan cor azul-petróleo
com manga ¾, e uma calça jeans preta, e, quando estou terminando
de arrumar meus cabelos, a campainha toca.
Me apresso para atendê-la, mas, quando chego as escadas,
Nora já está no hall de entrada, ela abre a porta, revelando Katie,
mais linda que tudo que já vi na vida. Ela usa um vestido curto com
saia plissada, branco, adornado por uma estampa floral em tons
suaves, como rosas, lavanda e azul-pálido, e mangas longas
bufantes.
Ela entra com um sorriso tímido, encontrando meu olhar
quando chego ao final da escada. Seu cabelo loiro-dourado está
preso em uma trança holandesa, com algumas mechas soltas
emoldurando delicadamente seu rosto.
— Espero não ter chegado cedo — comenta, parecendo um
pouco envergonhada. Me aproximo dela, puxando-a pela cintura, e
seu doce perfume invade meu espaço. Enterro meu nariz em seu
pescoço para absorver todo o seu cheiro.
— Cheirosa e linda pra caralho — sussurro enquanto
mordisco seu pescoço, sentindo a pele arrepiar sob minha língua.
Eu a seguro com mais força contra mim, meus lábios encontrando
os dela. Seus dedos percorrem minha nuca, emaranhando-se em
meu cabelo. Santo inferno, meu pau já está em ponto de bala.
Ouvimos um arranhar de garganta vindo da entrada, e noto
Katie congelar em meus braços. Eu me afasto dela, encontrando os
olhos dos meus pais. Katie solta um suspiro suave e se vira para
eles com uma expressão blindada.
— É assim que recepciona seus convidados? — A voz da
minha mãe não transmite severidade e está longe de ser calorosa.
— Chegaram cedo — comento com um sorriso para aliviar a
tensão e não me aproximo para abraçá-la por motivos óbvios.
Viro-me para Katie, suas bochechas estão um pouco
coradas. Seguro a mão dela, fazendo-a me olhar surpresa, agora
que a intenção de manter segredo foi por água abaixo, não há mais
motivos para nos manter afastados.
— Katie, você já conhece minha mãe, Evelyn, e este é meu
pai, Carson — apresento, os dois a encaram, e começo a perceber
que esse jantar está longe de ser tranquilo.
— É um prazer conhecê-lo, senhor Carson — Katie fala com
simplicidade, e meu pai assente brevemente.
Levo todos para a sala, tentando dissipar a tensão que
parece estar crescendo no ar. Sento-me ao lado de Katie e coloco
meu braço em volta dela, deixando claro que, se eles forem contra
ela, irão contra mim também. Meus pais ocupam assentos
separados, e minha mãe não desvia os olhos de Katie. Embora seu
olhar não seja adverso, posso sentir a avaliação intensa que está
fazendo.
— Sua mãe e eu adoraríamos ouvir uma explicação
plausível para a história de vocês — meu pai pontua naturalmente,
embora o seu “natural” nunca tenha sido agradável.
— Não os convidei para jantar para passarem um pente fino
na minha história com a Katie.
Como em algum momento da minha cabeça eu pensei que
isso funcionaria?
— Querido, só estamos tentando entender melhor. — Minha
mãe gesticula com uma mão no peito. — Você esteve fora de
Seattle por dois anos, por que a Katie não foi até a Lockhart e
Associados, falar com o seu pai? Pedir ajuda, dinheiro, contar sobre
a bebê.
Olho para Katie, um pouco rubra e retraída. Ela já passou
por merda demais com os pais e o ex-namorado para ter de ficar
aqui ouvindo isso dos meus pais.
— Não precisa responder — aviso a ela, e tudo que falta
para isso virar um tribunal é a porra do martelo.
— Blake, está tudo bem. — Ela segura meu pulso, me
tranquilizando, — Não é porque não tenho dinheiro que não tenho
orgulho. Seu filho me rejeitou quando eu estava grávida, me deu um
cheque e disse para nunca mais voltar. A senhora voltaria? — Suas
palavras são como um rolo compressor esmagando meu coração, a
cicatriz que causei a ela ainda está aberta.
— E agora você está se relacionando com um homem que
te rejeitou quando estava grávida. Onde está seu orgulho? — minha
mãe intervém com palavras cortantes.
— Não vou permitir que você seja rude com ela quando o
único culpado aqui fui eu! — exclamo impulsivamente, minha voz
ecoando com raiva subjacente. — Katie merece respeito e, se vocês
não enxergam isso, podem ir embora.
— Não queremos desrespeitá-la, Blake — meu pai diz
cautelosamente. — E não é nada pessoal, senhorita Edwards, mas
uma confirmação de paternidade deixaria Evelyn e eu mais
tranquilos.
— Não posso acreditar no que estou ouvindo.
— Filho, você é nosso único herdeiro e precisamos pensar
no futuro das empresas — meu pai explica, e sinto a veia saliente
na minha testa prestes a explodir.
— Faça o teste, Blake. — As palavras de Katie mortalizam o
ambiente, — Joy é sua filha, e o teste só vai confirmar isso. —
Balanço a cabeça, sem saber o que pensar. Ela deve estar mais
farta dessa discussão do que eu.
— Senhor Lockhart, o jantar está na mesa — Nora anuncia
da entrada da cozinha, e acredito que nenhum de nós tenha
estômago para comer agora.
— Prepare a mesa para dois, Nora. Meus pais já estão de
saída — aviso, levantando-me e guiando Katie até a varanda dos
fundos.
Me sento na rede e puxo Katie para meu colo, cruzando os
braços em frente a sua cintura, ela apoia sua cabeça no meu
pescoço em silêncio.
— Me desculpe — sussurro no seu ouvido, — Eu me sinto
um completo idiota por ter pensado que eles seriam gentis.
— Vamos dar o que eles querem e acabar logo com isso. —
A mágoa é evidente na voz dela. — Joy precisa de um lar estável,
Blake, e sua família, mesmo após o resultado do teste, não poderá
oferecer isso a ela.
— Você está certa. — Ela sorri.
— Acostume-se — diz, se virando para mim.
Abraço-a com força, embalando-nos na rede. Katie relaxa
gradualmente em meus braços, e tudo estaria perfeito se Joy
estivesse aqui.
Capítulo 14

Solto um bocejo, provocando-me lágrimas. Já estou na


quarta xícara de café e essa letargia parece que me acompanha o
dia todo. Já faz duas semanas desde a minha mudança com a Joy,
e não tem sido fácil. Preciso acordar mais cedo para levá-la a
escolinha, ainda estamos no processo de adaptação. Joy voltou a
acordar no meio da madrugada, sugando todas as minhas energias,
e parece que desaprendi a me virar sozinha.
Me escoro para trás, analisando o projeto do jardim do
Blake. Luiza estava começando a me cobrar pelo progresso do
projeto, mas não podia fazer nada se Blake não respondia ao meu
questionário. Porém, quando finalmente aceitei a sua carta-branca,
as coisas simplesmente fluíram e estou quase com o esboço pronto
para apresentar a minha chefe.
Com outro bocejo, vejo uma notificação de e-mail subir com
o endereço do laboratório GenoTech, aperto no x para fechar. Como
se já não bastasse fazer o exame, o laboratório fica enviando
propaganda. O resultado do teste de paternidade sairá em alguns
dias, e confesso que estou levemente ansiosa, mesmo sabendo o
resultado.
Para minha alegria, isso está perto de acabar e a mãe do
Blake retornará a Chicago, espero. Não tive mais o prazer de ficar
na presença deles, penso ironicamente. O que Evelyn me disse
naquela noite me fez desejar que a terra se abrisse e me engolisse.
Onde está o seu orgulho, Katie? Questiono-me e meus
pensamentos viajam para a varanda do meu apartamento. Eu
estava tão feliz naquela noite, tudo que eu desejei por meses
finalmente se realizou, e Blake estava lá, apoiando meu sonho,
independentemente de suas preocupações sobre eu não ficar mais
em sua casa. Ele tem se esforçado desde que nos acolheu e por
isso desejo mais do que tudo conseguir colocar um ponto-final na
história da Katie e do Blake do passado.
Para mim, é muito difícil confiar em um homem, deve ser
porque todos que eu conheci me magoaram e me feriram
profundamente, e não quero quebrar a cara novamente. Não faço o
estilo de mulher que se joga de corpo e alma, e a única vez que fiz
isso resultou em uma rejeição e não foi uma experiência muito boa,
mas não posso ficar remoendo isso para o resto da vida, se estou
disposta a seguir em frente com Blake, preciso confiar que ele falou
sério quando disse que não iria me magoar.
Deixo a agência mais cedo, precisando passar na farmácia
para comprar novos bicos de mamadeira, algumas pomadas e
fraldas extras que a escolinha solicitou, a lista que me deram é
imensa, Blake fez as compras, mas esqueceu de alguns itens, típico
dos homens.
Entro na farmácia, a mesma que fica ao lado do Hotel
Elysium, onde me aplicam mensalmente a injeção do
anticoncepcional. Minhas pernas amolecem com esse pensamento.
Meu Deus, qual foi a última vez que eu tomei a injeção? Pego meu
telefone na bolsa, então a ficha cai. O lembrete que usava para não
esquecer de aplicar todos os meses está no telefone que Bryan
quebrou.
— Katie, quanto tempo não a vejo? Como está a Joy? —
Célia, a farmacêutica que me acompanhou durante a gestação e o
crescimento da Joy, se aproxima, mas seu sorriso se perde no
caminho quando ela encontra o meu olhar.
— Estou com a minha injeção atrasada — murmuro,
sentindo como se o chão estivesse se abrindo diante de mim.
Começo a pensar no sono excessivo e no cansaço extremo que
estou sentindo nos últimos dias. A falta da menstruação que devia
ser um aviso passou despercebida por sempre ser muito leve e às
vezes quase imperceptível, já que emendo as aplicações.
MEU DEUS!
— Ok — Célia diz profissionalmente, — Há quanto tempo
está atrasada?
— Eu não sei — sussurro.
Quando estava morando com o Bryan, eu ainda estava sob
o efeito da injeção, isso foi em... minha mente entra em pane, não
consigo lembrar; tudo é uma tela preta.
— Katie. Respire fundo, parece que você está prestes a
desmaiar. — Ela segura a minha mão com força e sinto sua pele
incrivelmente quente, enquanto estou completamente fria e
petrificada. — Vou verificar no sistema quando você recebeu a
injeção pela última vez.
Célia me conduz até um banco próximo ao balcão e me
deixa ali.
Eu não posso estar grávida. De novo não. Isso não pode
estar acontecendo. Joy foi a melhor coisa que me aconteceu, mas
não me vejo com outro bebê, ela ainda é tão pequena, como vou
fazer para criar outro bebê sozinha?
Célia volta e se abaixa na minha frente. Seus dedos
apertam meus joelhos gentilmente, e seus olhos castanhos se fixam
nos meus com atenção.
— Você está há um mês e uma semana atrasada, querida.
Respiro fundo, Blake e eu transamos apenas uma vez,
então, as chances podem ser mínimas. Forço um sorriso amargo.
Até parece, se tem algo para dar errado em minha vida, vai dar.
— Pelo seu abalo, acredito que vá querer um teste de
gravidez. — Assinto, sem cabeça para pensar no restante das
coisas que vim comprar.
Isso não parece real. É como se eu estivesse vivendo um
déjà vu.
Pago pelo teste e saio da farmácia, me sentindo
desorientada, sem rumo. Decido entrar no hotel, pois estou sem
condições para dirigir. Minha mente está uma névoa de
preocupação, ansiedade e incerteza.
Meus passos me levam em direção ao meu amigo. O bar
está mal iluminado e a suave música jazz tocando ao fundo parece
um eco distante. Avisto Sean. Ele está sentado em uma banqueta,
tomando uma bebida, e seus olhos brilham de surpresa quando ele
percebe que estou me aproximando.
— Kat, que surpresa boa. — Ele se levanta para me
abraçar, mas não o faz quando enxerga minha expressão enlutada.
— O que aconteceu?
— Oh, Sean... — As palavras morrem em minha garganta, e
meu amigo me abraça apertado, então fungo baixinho em seu
ouvido.
— Foi o Bryan?
— Não — sussurro, Sean me segura pelos braços e me
afasta.
— Blake? — pergunta com a voz séria.
Engulo o nó em minha garganta e puxo o teste de gravidez
da bolsa, porque estou sem palavras para dizer isso em voz alta.
Deslizo para a banqueta e descanso a cabeça nas mãos, sentindo
as lágrimas brotando. O peso da situação e o medo da possibilidade
de engravidar novamente ameaçam me esmagar. A mão de Sean
toca suavemente meu ombro, oferecendo o conforto que tanto
preciso.
— Ei, vai ficar tudo bem — ele me tranquiliza com sua voz
calma e reconfortante. — Não vamos tirar conclusões precipitadas,
Kat — diz simplesmente, pedindo ao barman um copo de água para
mim.
Sean tem uma paz dentro de si e uma segurança que eu
nunca tive. Ergo a cabeça, encontrando o seu olhar, e meu amigo
limpa as minhas lágrimas, gentilmente.
— Estou com a injeção atrasada há um mês e uma semana
— digo finalmente. Meu amigo me fita pensativo.
— Isso dá um total de cinco semanas. E você partiu da casa
do Bryan há sete semanas, então, se estiver grávida, pelo menos
não é daquele imbecil. Já é uma vitória, Katie.
— Isso é uma loucura. — Enxugo minhas lágrimas.
Guardo o teste de gravidez na bolsa, tentando recuperar a
compostura, quando meu olhar é atraído por algo que faz meu
coração afundar ainda mais. Entre as mesas do bar, está Blake,
sentado, rindo e muito à vontade, conversando com uma garota loira
de sorriso largo e sua beleza digna de capa de revista. Ela parece
divertida e feliz, como se a vida estivesse seguindo seu curso sem
um tropeço, enquanto a minha está desmoronando.
— Sabia que o Blake estava aqui?
Sean franze a testa e nega veemente. Ele se vira para o
salão e, nesse exato momento, meus olhos encontram os de Blake.
De repente, seu sorriso desaparece. Acredito que foi pela surpresa
de me ver e não porque estava acompanhado de uma loira gostosa.
Corto o contato visual ao sair do banco.
— Preciso buscar Joy e evitar Blake até eu saber o
resultado.
— Então corra porque ele está se despedindo da boneca de
plástico. — Concordo com a cabeça, caminhando com passos
largos em direção ao lobby do hotel, sem olhar para trás.

Entro em casa, aliviada por finalmente chegar. Beijo a


cabecinha de Joy e a coloco no chão. Minha filha corre para pegar
seu unicórnio no sofá. Vou até meu quarto, tiro os sapatos e pego o
teste e o celular da bolsa.
Há duas chamadas perdidas que Blake tentou fazer
enquanto dirigia para casa. Não tenho forças para enfrentar uma
conversa com ele agora. Descasco uma banana para Joy, torcendo
para que a fruta a mantenha ocupada enquanto faço o teste.
Minha vida será assim daqui para frente, mantendo um filho
ocupado para conseguir cuidar do outro? A ansiedade dentro de
mim é sufocante, e não posso evitar o tremor em minhas mãos
enquanto abro a embalagem do teste.
No banheiro, meus olhos encontram meu reflexo no
espelho. Minha expressão é uma mistura de medo e esperança,
com traços de cansaço. Respiro fundo e, com as mãos trêmulas,
faço o teste. Agora é apenas uma questão de minutos, que parecem
uma eternidade.
Enquanto espero, ouço o som da campainha tocar. Meu
coração dá um salto. Eu sei que é Blake do lado de fora, devia ter
atendido as ligações dele.
Merda!
Merda!
Merda!
Guardo o teste dentro da embalagem e coloco na gaveta do
armarinho. Dou descarga e lavo as minhas mãos com pressa
quando a campainha toca novamente. Grrr! Caminho para sala,
fazendo um nó com meu cabelo. Espio pelo olho mágico, Blake usa
um terno inteiramente preto que esculpe cada músculo dos seus
braços e apoia o capacete da moto na cintura.
Abro a porta, mesmo sentindo o coração querendo
abandonar o peito, e encontro seu olhar azul tempestuoso, fixos nos
meus. Dou passagem para ele entrar e verifico onde Joy está.
Brincando em cima do tapete de dar comida para Honey.
— Você está bem? — pergunta quando me viro para ele.
— Ótima — respondo, e soa extremamente irônico.
Blake franze a testa, confuso, e se abaixa para dar um beijo
na Joy, caminho até a cozinha e pego uma maçã, começando a
lavá-la quando Blake para ao meu lado.
— Por que fugiu de mim no hotel? — Dou de ombros.
Porque eu estava em choque com a possível ideia de estar
grávida, os meus pensamentos estavam uma bagunça, com certeza
iria chorar na sua frente e precisava de um minuto para me
restabelecer.
— Katie... — ele sussurra tão próximo que sinto o seu calor
corporal.
— Precisava pegar Joy na escolinha. — Mordo a maçã, me
virando para ele. — Você veio até aqui porque pensou que eu
estava com ciúmes da garota? — pergunto, avaliando o seu rosto.
— Não estava? — Blake pergunta e parece meio
decepcionado agora.
— É claro que eu estava, Blake. Ela é bonita, sexy e
engraçada e, antigamente você fazia aquele hotel de abatedouro,
quase todas as vezes que tinha reunião com garotas muito
parecidas como aquela. Mas eu não vou te sufocar com as minhas
inseguranças como Bryan fazia comigo. — Dou de ombros,
terminando de comer a maçã.
— Não sou mais aquele homem, mas, se quiser, posso
transferir as reuniões para o escritório — ele sugere, e fico surpresa.
Sorrio, deslizando as mãos para os seus ombros largos,
subindo em direção ao seu pescoço.
— Para ficar a sós em uma sala privada com uma loira
gostosa?
— A única loira gostosa que eu quero é você. — Sua mão
desliza para a minha cintura, Blake me coloca sentada em cima da
pia da cozinha com facilidade e se enfia entre as minhas pernas.
— Não vou me intrometer no seu local de trabalho, além do
mais, você não faria algo bem onde meu melhor amigo trabalha.
— Não faria nada que fosse magoá-la — diz começando a
me beijar, mas de repente se afasta, olhando para baixo, e Joy está
segurando em sua calça.
— Alguém também está com ciúmes — aviso, Blake planta
um beijo em meus lábios e se abaixa para pegá-la.
Ele se afasta, levando-a para a sala. Pulo de cima da pia e
vou até o banheiro, tranco a porta e me escoro contra ela,
preparando o coração para o que quer que esteja naquele palito.
Pego a embalagem com as minhas mãos voltando a ficarem
trêmulas. Meu coração bate forte no peito, e os pensamentos se
atropelam em minha mente: E se eu estiver grávida? Como vou
contar a Blake? E se ele me abandonar novamente?
Balanço a cabeça, afastando esse pensamento, mas é
impossível evitar o acúmulo de lágrimas em meus olhos. Encaro o
teste, sentindo o chão fugir debaixo dos meus pés e uma sensação
de desamparo me envolve.

Á
Me sento no vaso encarando a palavra GRÁVIDA grifada na
pequena tela. Sempre imaginei que, quando tivesse um segundo
filho, seria planejado, eu teria mais tempo de carreira, de
relacionamento e de idade. E outra vez sinto que voltei à estaca
zero.
Fungo baixinho, secando minhas lágrimas com o dorso da
mão, e guardo o teste de volta no armarinho. Aproveito que Blake
está com Joy e entro no banho na tentativa de organizar os
pensamentos. Não tenho ideia de como contar isso a ele. Tento
imaginar como ele reagiria, mas tudo o que vejo é o Blake de dois
anos atrás, me acusando de golpista e me expulsando da sua vida.
Permaneço no banho até sentir que não vão desmoronar
assim que eu o ver na sala brincando com Joy. Me enrolo em uma
toalha e atravesso o corredor para o meu quarto. Coloco um vestido
cor terracota com botões em todo seu comprimento e solto o meu
cabelo.
Viro-me para a entrada, e meu coração dispara quando
encontro Blake e Joy diante da porta. Blake está com um sorriso de
orelha a orelha.
— Conte à mamãe do que você me chamou, pombinha.
— Papai — Joy pronuncia tão claro quanto a neve e sorri
para ele, exibindo todos seus dentinhos. Ela adora agradá-lo.
— Onde está o papai, pombinha? — pergunto, me
aproximando deles.
— Aquiiii — responde, apontando para Blake, e sorri outra
vez, enrugando o narizinho.
Blake vira Joy para si e a enche de beijo, o meu coração,
mesmo todo fodido, se alegra em ver que minha filha tem um pai
que realmente a ama e que vai cuidar dela, independente do que
pode acontecer com nosso futuro.
Capítulo 15

Cantarolo Without Me da Halsey enquanto termino de lavar


a louça. Joy brinca com a Honey aos meus pés. A campainha toca,
e só tem duas pessoas que viriam me visitar. Ela toca de novo, duas
vezes seguidas, e eu seco as mãos rapidamente antes de andar até
a porta, ouvindo-a soar mais algumas vezes. Quando abro a porta,
Blake entra abruptamente, soltando o capacete da moto na mesa
antes de se virar para mim.
Seu olhar me atravessa, deixando-me imobilizada, e eu mal
consigo entender o que está acontecendo.
— Blake, o que aconteceu? — pergunto, assustada com o
comportamento dele.
— Joy não é minha filha — pronuncia cada palavra ríspida e
cortante, apontando um papel dobrado na minha direção.
Pego o papel e as palavras parecem borradas diante dos
meus olhos trêmulos. Não pode ser verdade, não pode. Meu
coração dispara, a sensação de choque e desespero se mistura em
meu peito.
— Blake, isso não pode ser real — minha voz vacila —, Joy
é sua filha — digo, parecendo quase desesperada.
Ele passa a mão pelos cabelos exasperado, como se isso
pudesse aliviar a tensão que cresce entre nós. Blake está
visivelmente transtornado, e não sei como explicar a ele que esse
resultado é uma mentira.
— Meus pais estavam certos. — Suas palavras me atingem
como punhais. Blake pega o capacete da mesa.
— Blake... — grito, sentindo que é a única maneira de
pronunciar as palavras.
— Preciso ficar longe de você agora. — Ele sai do
apartamento, batendo a porta com força, e eu acordo de repente,
com o coração martelando no meu peito e uma sensação
angustiante de ansiedade apertando minha garganta.
O quarto está banhado pela suave luz do amanhecer, e o
silêncio é interrompido apenas pelo som suave da respiração da
Joy, que acordou no meio da madrugada e não tive forças para levá-
la de volta ao seu quarto.
Respiro profundamente. Mas o sonho, ou melhor, o
pesadelo ainda se agarra a mim, fresco e perturbador. Me viro na
cama, puxando o lençol até o queixo enquanto tento acalmar minha
respiração.
O resultado do teste de paternidade está marcado para hoje
e, mesmo que eu saiba, sem a menor sombra de dúvidas, essa
situação está me devorando de dentro para fora.
Me sento, passando a mão pelo rosto. Ótima maneira de
começar o dia, Katie, penso, relutante em sair da cama.
Enquanto tento manter o lanche da tarde no estômago, dou
continuidade ao jardim da residência Lockhart. Não me recordo de
me sentir tão enjoada no começo da gravidez de Joy. Já faz uns
quatro dias desde que fiz o teste rápido, mas decidi revelar a ele
apenas depois que resolvermos a questão do teste de paternidade.
Tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que até esqueci de
me preocupar com Bryan. Depois da ordem de afastamento, ele
desapareceu, fiquei com medo que acabasse o deixando mais
irritado, mas realmente valeu a pena.
Uma batida na porta interrompe meus pensamentos, e
Sarah, secretária da Luiza, desliza a cabeça para dentro da minha
sala.
— Luiza quer ver você. — Assinto, soltando um suspiro e
me escorando para trás.
O que será que aconteceu agora? Reflito, calçando os meus
saltos de baixo da mesa. Alinho rapidamente meu macacão social
branco e caminho até o escritório dela. A porta está aberta, dou um
suave toque, chamando a sua atenção atrás da mesa. Luiza faz
sinal para eu entrar, removendo os óculos de grau. Sua expressão
neutra faz o meu estômago revirar.
— Tenho uma notícia desagradável para dar a você —
anuncia quando me sento na sua frente.
Engulo em seco, não tendo a menor ideia do que pode se
tratar. Luiza estica os braços em cima da sua mesa e parece tão
infeliz quanto eu. Por favor, Deus, não seja demissão.
— Katie, a senhora Van De Kamp, que nos contratou para
arquitetar o jardim da residência Lockhart, nos dispensou.
Meu queixo cai e começo a tremer como uma vara verde,
sem conseguir controlar a raiva que sobe a minha cabeça. Que filha
da puta!
— Eu vou resolver isso — digo, ficando em pé. Não aguardo
Luiza me dispensar para deixar sua sala. Desço para o primeiro
andar, sem dar espaço para ponderação, eu preciso desse projeto,
agora mais do que nunca. Blake pode ser rico, mas eu não sou, e
não quero mais depender de homem nenhum.
Atravesso a rua em direção a Lockhart e Associado, ainda
não sei o que vou dizer a ele, mas eu preciso pôr para fora porque
senão vou implodir. Evelyn não gostar de mim é aceitável, mas
tentar me prejudicar profissionalmente é baixo até para uma mulher
como ela.
Desço do elevador e não posso ignorar a sensação
esmagadora que senti quando saí daqui da última vez. Foco, Katie!
Ignoro minhas emoções à flor da pele e paro diante da recepção,
chamando atenção da secretária do Blake, Nancy, a mesma moça
que havia me dado o contato dele há dois anos, nunca mencionei
isso com ele.
— O Blake está? — pergunto, chamando atenção das
demais.
— Sim, vou avisá-lo que está aqui. — Nancy fala com ele
pelo telefone, desliga em seguida com sorriso e faz a volta no
balcão, me levando em direção à sala.
Sinto um frio na barriga quando Nancy abre a porta para
mim. Adentro a sala, e Blake já está caminhando em minha direção
com um sorriso, saudoso. Minha raiva se dissipa brevemente
quando sou envolvida pelos braços dele.
— Que surpresa maravilhosa — ele diz, olhando em meus
olhos, e franze a testa em preocupação. — O que aconteceu?
— Sua mãe dispensou os serviços da agência... Está bem
claro que é por minha causa. — Minha voz treme, tentando se
manter firme, enquanto as lágrimas picam meus olhos, e Blake me
segura firme pela cintura.
— É típico dela quando não consegue o que quer — Blake
expressa, a irritação evidente em sua voz. Ele afasta o rosto para
enxergar o meu. — Eu vou conversar com ela, e gostaria de
recontratá-la para terminar nosso jardim — declara por fim.
— Obrigada — sussurro, apoiando a testa no meio do seu
peito, e Blake beija o topo da minha cabeça, fazendo o meu coração
voltar ao ritmo normal.
Uma batida tange na porta, e eu, sem ânimo, me afasto
dele. Ela abre e Nancy entra com o sorriso caloroso de sempre.
— Chegou correspondência para você — explica,
estendendo a Blake um envelope todo branco. Ela se retira em
seguida, e meus olhos percorrem pelo símbolo do laboratório
GenoTech gravado no envelope, fazendo meu estômago dar um nó.
Levo a mão à boca, levemente enjoada.
— É o teste — avisa, soltando-o na mesa.
— Você não vai abrir? — pergunto.
— Que tipo de relacionamento teríamos se eu não confiasse
na palavra da mãe da minha filha? — Meus olhos se enchem de
lágrimas e engulo em seco, lembrando-me daquele pesadelo.
— Quero que abra — digo, provocando surpresa em seu
rosto. — Você também teve dúvidas uma vez e, se estamos aqui,
por que não olhar? — Blake mordisca o lábio, parece irresoluto com
minha decisão.
Ele se senta na ponta da mesa e pega o envelope de volta,
com os olhos presos nos meus. Blake rasga a embalagem,
removendo o teste, e seus olhos estudam o papel por um momento
que parece uma eternidade.
— Cem por cento minha — declara, soltando o teste na
mesa e encontrando meu olhar — Me desculpe por não ter confiado
em você e por dizer aquelas coisas horríveis.
Caminho até ele, deslizando os braços por seus ombros,
Blake me abraça pela cintura e amassa meus seios em seu peito.
— Vamos pôr um ponto-final nessa história.
— Eu adoraria fazer isso — ele diz, beijando o meu
pescoço, e sua barba por fazer me causa arrepios. — Podemos
jantar hoje, um primeiro encontro de verdade — sugere, plantando
um beijo em meus lábios.
— Vou ver se Olga pode ficar com a Joy. — Ele concorda,
voltando a me beijar.

Termino de fazer uma trança em meu cabelo, ouvindo as


risadas da Joy se divertindo com Olga. A campainha toca e prendo
um brinco rapidamente na orelha. Me afasto do espelho e analiso
meu vestido preto, com decote reto e alcinhas finas. Começo a
pensar em quando as roupas pararem de me servir. Senhor!
Ando até a sala de estar, cogitando em contar para Blake
hoje no jantar, e o enxergo jogando Joy para cima. Um dia esse
homem me fará infartar. Olho para Olga e me surpreendo ao vê-la
segurar um unicórnio de pelúcia gigante. Deus, Blake só pode estar
confundindo sua casa com a minha.
Ele se vira para mim com um sorriso perigosamente sexy.
Blake usa uma camisa branca sem estampa e, por cima, uma
jaqueta de couro aberta, calça preta e coturnos. Com certeza é o
tipo de homem que dá trabalho.
— Se fosse você, pegava uma jaqueta. — Ele aponta para
cima da mesa e há dois capacetes pretos. Balanço a cabeça em
negação, e Blake balança positivamente.
Minha cabeça cai para trás, eu caminho até o meu quarto e
pego no roupeiro uma jaqueta de couro vermelha. Retorno para a
sala, e Blake já me aguarda com os capacetes, enquanto Joy tenta
desesperadamente montar no unicórnio.
Dou um beijo em minha filha e desejo boa sorte ao
unicórnio. Blake me estende o capacete, e sinto um frio na barriga,
acho que nunca, em meus vinte e cinco anos, andei de moto.
— Para onde vai me levar? — pergunto quando chegamos
em frente ao portão do meu prédio.
Blake se vira para mim com um risinho.
— Confia em mim?
— Preciso responder agora? — Ele sorri e coloca o
capacete, erguendo a viseira escura para me enxergar.
— Precisa — responde, pegando o capacete das minhas
mãos.
— Confio. — Ele cerra os olhos, encaixando-o na minha
cabeça. É pesado, mas confortável por dentro.
Blake sobe na moto e depois olha para mim, aguardando eu
fazer o mesmo, percebo que ele está rindo quando seus olhos se
tornam levemente amendoados.
— Suba, KitKat, prometo ir devagarinho.
Com um frio na espinha, subo na moto, me agarrando ao
seu tronco com força. Blake alisa minha coxa e acelera. Com o
vento cortante do final de verão soprando contra meu rosto, agarro-
me a ele com firmeza, meu coração batendo descompassado. A
sensação de liberdade misturada com o medo da velocidade é
intensa. Ele prometeu ir devagar, mas parece estar se divertindo me
provocando.
Enquanto avançamos pelas ruas da cidade, começo a
relaxar lentamente. O frio na minha espinha deu lugar a uma
excitação crescente. O vento faz meus cabelos dançarem e, de
alguma forma, me sinto mais viva do que nunca.
A cidade se desdobra diante de nós, iluminada pelas luzes
da noite. À medida que nos aproximamos do nosso destino, meu
coração volta a bater mais rápido. Não sei para onde Blake está me
levando, mas mal posso esperar para descobrir.
Enquanto a moto desacelera, nos aproximamos do
Waterfront Park. Blake estaciona entre outras motos, depois desce,
e me pega do banco como se eu fosse uma criança de colo.
Quando ele me coloca no chão, me sinto meio aérea. Removo o
capacete, tentando localizar em qual parte do parque estamos. E,
pelo suave murmúrio das ondas quebrando na orla, deduzo que
estamos perto dos píeres.
Blake segura firme na minha mão e me conduz pelo
caminho de pedras. Pelo que lembro, foi próximo a um desses
píeres que a sua irmã foi assassinada, pensar nisso faz um arrepio
indesejado subir minha coluna. Ele passa a mão ao redor da minha
cintura. Acredito que vamos jantar em um dos restaurantes à beira-
mar, reflito. Então Blake me puxa em direção a um dos píeres e me
conduz aos iates ancorados, e o nome LOCKHART gravado em um
deles me deixa pasma.
— Você tem um iate?
— É do meu pai, então acho que sim — responde, sorrindo.
Blake me ajuda a subir a bordo e, uma vez dentro, sou
envolvida pelo luxo. As luzes suaves destacam os detalhes
requintados da embarcação, e tudo é tão perfeito que é difícil
descrever.
— Gostou? — ele pergunta, me abraçando por trás e
beijando o meu ombro, subindo em direção ao meu pescoço.
— Eu amei — sussurro, sem conseguir mensurar o tamanho
da minha surpresa.
Blake me guia para dentro do iate. O interior é
deslumbrante, uma visão de pura sofisticação. A madeira escura,
polida e brilhante se estende por todo o espaço, criando um
ambiente acolhedor. Os sofás ao redor são revestidos com tecidos
claros e as paredes decoradas com belas obras de arte e a
iluminação quente cria um clima romântico. Parece uma cena de
filme de romance, mas, com a minha sorte, acabaríamos
naufragados. Quero rir disso, mas, quando meus olhos colidem com
a mesa lindamente arrumada para dois, velas brilhando suavemente
iluminam um arranjo de flores frescas no centro da mesa, e chego à
conclusão de que eu não me importaria de ficar presa com Blake no
meio do oceano.
— Como conseguiu preparar tudo isso então poucas horas?
— Eu me viro para ele, ainda embasbacada.
— Pedi ajuda a Nancy.
— Aquela mulher merece um aumento.
— E eu não mereço nada? — ele pergunta, me segurando
pela cintura.
— Se quer a sobremesa antes do jantar, é só pedir com
jeitinho. — Seus dedos me apertam com mais força, queimando em
meu quadril.
O desejo cru aperta suas feições, e Blake lambe os lábios,
abaixando-se, enquanto meus dedos sobem em direção ao seu
pescoço, trazendo-o mais perto mais rápido. Sua língua mergulha
na minha boca enquanto meus dedos mergulham em seu cabelo.
Ele me puxa pelas pernas, nos levando para outro andar. Uma suíte
dentro de um iate, porra!
Blake me deixa em uma cama espaçosa com um lençol
branco esticado sobre ela. Ele tira minha jaqueta e depois o vestido.
Meus seios estão inchados e sensíveis, e meus mamilos ficam
entumecidos sob seu olhar, que vagueia faminto por meu corpo.
Blake me empurra para trás, mas, antes que eu possa cair na cama,
ele me agarra abruptamente e me coloca deitada. Sua perna desliza
entre as minhas e então ele tira a jaqueta e a camisa.
Meus dedos traçam seu corpo quente, se enroscando nos
cabelos de sua nuca e, à medida que ele se aproxima, seus lábios
exploram meu pescoço em direção ao meu peito. Blake inala o
perfume entre os meus seios.
— Seu cheiro me deixa louco — ele diz com a voz rouca e,
quando sinto sua boca quente chupar meu mamilo, engasgo e,
quando ele belisca o outro entre os dedos, aperto minhas pernas ao
redor da dele.
Ele espalma meu seio, apertando-o em sua mão e
chupando com mais força. Mordo meu lábio e esfrego
desesperadamente minha pélvis contra ele, procurando por
qualquer fricção. Blake levanta a perna centímetros para cima, e eu
gemo com o atrito provocado pelo contato.
— Calma, mocinha — ele sussurra, prendendo meus
quadris na cama, e ouço minha respiração ofegante.
Blake reivindica meus lábios e, lentamente, sua mão
percorre a parte interna da minha coxa, subindo para minha
intimidade. Ele empurra minha calcinha para o lado e coloca um
dedo em mim, minhas paredes se contraem sugando-o, Blake
geme contra minha boca e pressiona sua protuberância dura contra
minha perna.
Ele desce beijando meus seios e minha barriga, eu me
inclino para que ele possa tirar minha calcinha. Blake separa minhas
pernas e se inclina, beijando a parte interna da minha coxa,
mordiscando levemente e criando tremores na minha base.
Sua língua desliza lentamente entre minhas dobras e eu
gemo ao sentir a sua boca quente contra minha carne pulsante.
Blake a percorre para cima e para baixo, uma e outra vez, me
provando e, quando ele finalmente circula meu clitóris com a ponta
da língua, grito.
Meus dedos afundam em seu cabelo e Blake levanta o olhar
para encontrar o meu, com uma pequena risada nos lábios porque
sabe que estou chegando ao limite. Ele enterra o rosto entre minhas
coxas, devorando-me. Blake me chupa e mordisca, possessivo,
implacável e desesperado. Não consigo mais me conter, começo a
tremer e empurro os quadris quase com desespero, até chegar a
minha libertação.
Eu me apoio nos cotovelos e Blake fica diante das minhas
pernas, seu rosto reluzindo com a minha excitação. Percorro meus
olhos por seu corpo e seu pau está fazendo força para sair da calça.
Mordo o lábio quando ele abaixa a última peça que me impede de
tê-lo por completo, e seu pênis salta, grande e duro, com a cabeça
pingando pré-gozo.
— Como você quer? — pergunto, e um sorriso se expande
em seus lábios.
— Vire-se e deite a cabeça no colchão. — Me viro na cama,
e Blake fecha os dedos em minha cintura, me puxando para trás, ele
pressiona seu peito tórrido nas minhas costas e dá uma suave
mordiscada em meu pescoço, suspiro com os arrepios que ele
enviou ao meu corpo. Eu me inclino para frente e faço o que ele
pediu, a palma da mão desliza pela minha coluna até o quadril.
— Que bunda. — Blake me apalpa, me abrindo mais para
ele. Sinto meu rosto queimar. Ele coloca a ponta de seu pênis
latejante na minha entrada molhada e força total e completamente,
até que minha bunda atinja sua pélvis e suas bolas acariciam minha
área íntima, arrancando-me um gemido.
— Tudo bem? — ele pergunta, e eu suspiro em resposta.
Meu corpo reage com uma onda de excitação quando ele
começa a entrar e sair. Blake grunhe sem se importar com o barulho
que faz. Ele acelera. Gemo, e ele investe com mais força, sem
piedade, em um ritmo implacável. De repente, ele me puxa para
trás, deixando-me ajoelhada na beira da cama. Sua mão espalma
meu seio, enquanto a outra percorre o polegar sobre o meu clitóris.
Jogo minha cabeça contra seu peito, enquanto sinto prazer me
consumir como fogo em palha. Blake rosna contra meu pescoço,
seus dedos acelerando no meu ponto sensível, fazendo-me
liquefazer em seus braços. Ele me segura com mais força, metendo
mais fundo. Sua língua acaricia delicadamente a pele macia do meu
pescoço, e então ele dá uma mordida suave quando atinge o clímax
dentro de mim.
Ele me solta, e eu deslizo para o meio da cama, sem forças
para me manter em pé. Blake se deita ao meu lado, com sua mão
deslizando suavemente pelas minhas costas e seus dedos
explorando delicadamente a saliência da minha cicatriz.
— O que você fez aqui? — pergunta enquanto ainda toca a
marca na minha pele.
Me viro para ele com a respiração ainda pesada. Blake está
deitado apoiado sobre o cotovelo, seu rosto projetando uma sombra
sobre o meu, e seu cabelo desalinhado o torna ainda mais sexy.
Não queria estragar nossa noite com esse assunto, ou
qualquer outro que envolva meu passado, mas ele ainda me encara
aguardando uma resposta.
— Levei um golpe com um atiçador de fogo. — Seu olhar
cinza se torna frio e tempestuoso.
— Foi seu pai? — questiona, percorrendo os dedos para o
centro da minha barriga e me puxando contra seu peito.
— Sim, ele queria acertar minha mãe, mas eu me enfiei na
frente. — Rio desacreditada que eu ainda tentava defendê-la
daquele monstro.
— Que idade você tinha? — pergunta, fazendo longas
carícias em volta do meu umbigo.
— Dezessete.
— Foi por isso que fugiu?
— Foi uma sequência de coisas que me fez querer sair
daquela casa. Eu estudava à noite e, durante o dia, trabalhava
numa lojinha que vendia materiais e equipamentos de jardinagem,
foi ali que eu me encantei pelo paisagismo. — Blake sorri,
empurrando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
Senhor Milton, o dono da loja, me ensinou muitas coisas e
me deu muita força quando disse que queria ser paisagista, parecia
um sonho tão distante. Impossível é a palavra certa.
— Minha mãe roubava o meu salário e, se eu não dava por
vontade própria, ela pegava de alguma forma. Eu era muito burra —
digo, me lembrando da quantidade de vezes que eu cedi a ela. —
Depois de um tempo, passei a guardar uma quantia na loja e a outra
eu dava a ela para que me deixasse em paz.
— Você não era burra, era só uma criança.
— Depois de tantos anos vivendo naquela situação, eu
devia saber lidar, mas era difícil porque eram os dois. — Dois
sanguessugas. — Eu guardei dinheiro até eu me formar no ensino
médio e pesquisei as universidades públicas que ofereciam o meu
curso. Encontrei algumas, e a Universidade de Pembroke foi a
escolhida por ser a mais longe de Maryland.
— Alguém ajudou você a sair de lá?
— Não, eu não tinha ninguém — falo, recordando-me de
como foi ter que fazer tudo sozinha. — Eu esperei pela estreia do
Super Bowl, pois sabia que meu pai beberia até não conseguir
enxergar mais uma garrafa à sua frente. Roubei o dinheiro da sua
carteira e as chaves do carro da minha mãe, e fugi no meio da
madrugada.
— Você não teve medo?
— Meu medo era de passar minha vida presa naquela casa.
Então dirigi para Filadélfia e peguei o primeiro voo para Seattle.
Mesmo passando fome, frio, comendo o pão que o diabo amassou,
foi libertador.
Blake me olha com admiração, seus dedos ainda traçando
círculos suaves em minha pele.
— Cada dia você me surpreende mais — ele sussurra,
inclinando-se para me beijar. — Não está mais sozinha, estou aqui
para você, sempre. — diz cada palavra contra meus lábios, e eu
volto a beijá-lo, montando em seu colo. Entre uma carícia e outra,
Blake já está dentro de mim, me dando novos momentos bons para
que eu possa esquecer os ruins.
Capítulo 16

Corto uma cebola ao meio em cima da pia enquanto assisto,


pelo meu notebook na mesa, Hush A Morte Ouve. E Joy brinca as
minhas costas batendo uma tampa de panela no chão, tirando todo
o suspense do filme.
Desde que a peguei na escolinha, estou pensando na minha
cama. A semana foi cheia de altos e baixos, altos enjoos, pressão
baixa. Mas o encontro com o Blake no iate foi além de surreal,
romântico, sexy e quente. Não poderia ter começado de forma
melhor, me senti cansada depois, como se tivesse puxado pedra
uma tarde inteira.
É sexta à noite e, assim que Joy jantar, vamos deitar e eu
quero acordar só amanhã depois das nove. Rio da minha própria
ilusão, até parece que isso vai acontecer. A campainha toca,
interrompendo meus devaneios, e se for Blake, vou colocá-lo para
dormir também. Estou fisicamente exausta para contar que estou
grávida. Essa conversa foi adiada por tempo demais, mas terá que
esperar mais um dia.
Espio pelo olho mágico e enxergo apenas um grande buquê
de rosas-vermelhas.
— Quem é? — pergunto.
Já assisti a filmes de terror demais para saber que nunca se
deve abrir a porta sem ver o rosto do sujeito, ainda mais quando se
tem um ex-namorado que deseja o seu sangue.
— Qual outro homem te traria flores, KitKat? — A voz do
Blake ressoa do outro lado, e seu riso alto dissipa qualquer
ansiedade. Abro a porta.
— O que você aprontou? — pergunto retoricamente,
aceitando as rosas, inalo seu perfume e caminho até a cozinha para
pegar um vaso.
— Minha mãe voltou para Chicago — comenta, me
seguindo e tirando de trás de si uma garrafa de vinho. — Achei que
fosse querer comemorar. — Blake solta a garrafa no balcão ao lado
e se abaixa para pegar a Joy, que já está com os bracinhos
levantados para ele.
— Lamento que ela não goste de mim — deixo escapar,
largando o vaso na mesa com um pequeno bocejo.
— E qual sogra gosta da nora? — pergunta com um riso
enquanto retorno para terminar o jantar.
— Isso é para ser reconfortante? — provoco, olhando para
ele por cima do ombro quando a lâmina da faca encontra meu dedo
indicador, causando uma onda aguda de dor pelo meu corpo. — Ai!
Droga! — exclamo, sentindo o calor do sangue escorrendo,
misturando-se ao suco de cebola.
Blake solta Joy no chão e se aproxima para examinar o meu
dedo.
— Não foi nada — aviso, mas meu coração dispara,
pulsando mais rápido do que o normal. Puxo um guardanapo e
enrolo no dedo, vendo-o tingir de vermelho em instantes.
— Vamos limpar e fazer um curativo. Onde fica o kit de
primeiros socorros?
— No banheiro — respondo, deixando a água da torneira
escorrer sobre o corte. Encosto a testa no armário, sentindo uma
tontura momentânea me invadir, nesse momento, o teste de
gravidez invade meus pensamentos. Desligo a torneira e puxo outro
guardanapo. Me viro e Blake já está atrás de mim, uma mão
segurando o kit, e a outro, o teste.
— Está grávida — afirma, e não consigo decifrar o tom da
voz dele. O silêncio pesado se instala entre nós enquanto procuro
as palavras para respondê-lo.
— Eu não sabia como te contar — digo, mordiscando lábio
e examinando a tensão crescente em seus ombros.
— Por quê? Não é meu filho? — ele pergunta com uma
expressão confusa.
— Uau! — murmuro, chocada com a rapidez com que ele
tirou conclusões.
Aproximo-me dele, tirando o teste e o kit de primeiros
socorros de suas mãos enquanto seus olhos penetrantes esperam
por uma resposta. O apartamento parece mais apertado, as paredes
se fechando ao nosso redor.
— Não contei por medo da sua reação e, olha — ironizo —,
não estava errada.
— Isso não é justo, Katie, você acabou de sair de um
relacionamento. Não estou tentando ofender você. Apenas
compreender — ele se justifica.
— Mas ofendeu com sua escolha de palavras — retruco,
sentindo as lágrimas se acumulando no canto dos meus olhos.
A situação, apesar de diferente, evoca lembranças da outra
vez, e não voltarei a passar por aquilo.
— O bebê é seu Blake. Esqueci de renovar a injeção
quando nos mudamos para sua casa. Mas, se tiver alguma dúvida,
peça para a mamãe voltar para Seattle, tenho certeza de que ela
não hesitará em pedir outro teste de paternidade — escarneço, e
Blake balança a cabeça, a frustração pesando em seus olhos, como
se ele não pudesse acreditar o quanto eu posso ser uma vaca
escrota quando eu quero.
— Ma-mãe. — Joy se agarra em minhas pernas, pedindo
meus braços, troco o guardanapo manchado de sangue e, em
seguida, a pego no colo, encontrando seu olhar fixo em nós.
— É melhor você ir embora — digo, virando-lhe as costas, e
caminho até a varanda.
Sento-me na cadeira de balanço suspensa, e o som abafado
dos passos de Blake se afastando ecoa pela sala enquanto seguro
Joy suavemente em meus braços. O silêncio se instala novamente,
apenas interrompido pelo suave rangido da cadeira de balanço.
As lágrimas começam a escorrer, com um misto de tristeza,
raiva e frustração. Me sinto vulnerável, como se não tivesse controle
de nada, minha vida está prestes a desmoronar diante de mim outra
vez. Joy se vira para mim, inquieta, e se senta em cima da minha
barriga. Seus olhos curiosos encontram os meus e, por um
momento, sinto um lampejo de calma.
— Temos que acabar o nosso papa — digo, beijando sua
cabeça.
— Papai. — Ela estende a mãozinha em direção à porta,
chamando por Blake.
— Papai já foi embora, pombinha.
Levanto-me da cadeira de balanço com Joy nos braços.
Volto para o apartamento, sentindo a frieza do chão sob meus pés
descalços. Solto Joy no chão e coloco um curativo no dedo, porque
alguém precisa terminar o jantar.

A noite se estende, mas o sono persiste em se esquivar.


Viro meu travesseiro pela milésima vez em busca do lado frio
enquanto luto para encontrar uma posição para dormir. Espio as
horas no celular na mesa de cabeceira e já passou das duas da
madrugada. Me deito de barriga para cima, encarando o teto,
desejando deletar da cabeça aquela discussão com Blake apenas
para conseguir dormir. Inferno.
Por que ele tinha que ser um babaca e reagir daquela
forma? Pego o travesseiro e coloco sobre meu rosto, querendo
abafar os pensamentos de qualquer forma. Meu celular vibra na
cômoda com uma mensagem. Retiro o travesseiro, me virando na
cama, forçando os olhos a focar na mensagem.
Blake: Eu devia ter ficado para a gente conversar.
Diz na tela, uma declaração que me faz ponderar, mas
silencio o celular e desligo-o. Se Blake tivesse ficado, talvez tivesse
sido pior.
A luz brilha no quarto com outra mensagem.
Blake: Eu devia ter deixado você me explicar, antes de tirar
qualquer conclusão.
Devia, mas eu também devia ter contado antes de você
descobrir por conta própria. Reflito, soltando o celular, pois agora o
que foi feito não pode ser desfeito. Amanhã, ao acordar, ligarei para
Olga cuidar da Joy, enquanto Blake e eu conversamos de cabeça
fria.

Estaciono na rua em frente à casa do Blake. Eu não avisei


que viria, mas talvez devesse, pois há um carro parado em frente à
entrada. Desço e caminho até a porta, ela está entreaberta.
Empurro-a para trás e entro no hall.
— Blake? — chamo, e nem sinal dele, — Nora? — digo,
caminhando até o meio da sala.
Pego o meu telefone para ligar para ele quando escuto
passos vindos de trás, me viro e vislumbro Stacy descendo do
segundo andar. Meu coração dispara em uma velocidade surreal. O
que ela está fazendo aqui? E onde diabos está o Blake?
— Blake sabe que você está aqui? — eu pergunto,
arrancando uma risada dela.
— Quem você acha que abriu a porta para mim? — Minhas
narinas se dilatam com a insinuação na voz dela.
— Onde ele está? — questiono sem tentar esconder minha
irritação.
Stacy suspira, revirando os olhos.
— Ele foi correr.
— E o que você está fazendo aqui?
— Por que você não pergunta ao seu namorado? — ela diz,
cheia de desdém.
— Porque estou perguntando a você — respondo, pois ela
já está ultrapassando o limite da minha paciência.
Stacy lambe os lábios com irritação, cruzando os braços na
frente do peito.
— Vim buscar o resto dos meus pertences que Blake
esqueceu de jogar dentro da mala antes de me pôr para fora — diz,
pisando firme no chão em direção à saída. De repente, Stacy para e
se vira para mim, — Você e seu pai são uma aberração.
— Do que está falando? De onde você conhece meu pai? —
pergunto, confusa, dando um passo em direção a ela.
— Deus me livre de conhecer aquele monstro — ela diz
com nojo, me dando as costas.
Puxo Stacy pelo braço mais rápido do que penso, fazendo-a
desequilibrar dos saltos.
— Por que está dizendo essas coisas? — exijo saber. Stacy
é mais alta que eu, mas seus olhos azuis se arregalam quando a
puxo para mais perto com mais força.
— Blake tem um documento com suas informações —
profere, rígida sob meu aperto.
— Onde? — Minhas unhas se enterram na pele macia do
seu braço.
— No escritório, no segundo andar. — Solto Stacy, e ela
cambaleia para longe, saindo da casa sem olhar para trás.
Subo apressadamente as escadas em direção ao segundo
andar, sentindo a tensão crescer a cada passo. Entro no escritório e
meus olhos percorrem a sala em busca do documento. Eu vasculho
impaciente as gavetas, abro armários com pressa, olho as pilhas de
papéis e começo a removê-los dos envelopes. O desespero se
mistura com a confusão, enquanto minha mente tenta processar por
que Blake teria algo guardado sobre mim, ou pior, sobre meu pai.
O desespero atinge o auge quando finalmente me deparo
com um registro policial de Maryland com minhas informações. Me
sento na cadeira, sentindo as pernas cederem ao peso do meu
corpo.
Minha mãe roubou uma garrafa de vodca e eu tive que
assumir a culpa porque ela já estava registrada por roubo. Nada
grandioso, sempre coisas estúpidas. Meu Deus, eu nem lembrava
mais disso, aconteceu tanta merda que quase ser presa parece
pouco comparado ao resto.
Viro a página e me deparo com uma foto minha e eu não
reconheço mais, o fantasma que deixei para trás, mas que continua
a me assombrar. No final, uma nota de “procura-se”. Cristo, se eles
tivessem me encontrado, o que teria sido de mim?
Respiro fundo, me sentindo muito enjoada, por que Blake
tem isso?
Chego à última página, e o título da matéria me faz tremer.
O mundo ao meu redor parece desmoronar enquanto leio cada
palavra da reportagem. Uma sensação de náusea se intensifica, e
eu me sinto completamente destruída diante de tanta crueldade.
Meu pai sucumbiu à violência e à fúria, transformando-se em um
monstro que jamais esquecerei. Uma onda de tristeza e raiva me
envolve, e as lágrimas escapam, traçando caminhos silenciosos
pelo meu rosto.
Minha mãe... eu não tenho palavras boas para descrevê-la,
mas ninguém merece ter um fim dessa forma. Não consigo evitar
me perguntar como teria sido minha vida se não tivesse tido
coragem para deixar Maryland para trás? Ou se ela ainda estaria
viva se eu tivesse ficado com ela?
Capítulo 17

Ao chegar na metade do Leschi Parque, sinto-me


completamente suado e os músculos do meu corpo imploram por
uma pausa. Faço o retorno em uma árvore, e o vento da manhã
bate em meu peito nu, me refrescando.
Katie e Joy adorariam esse lugar, tem trilha, lagoa e ganso.
Sorrio sozinho como um idiota, o que tenho feito muito desde que
elas entraram na minha vida.
Ontem à noite ressoa na minha mente, fazendo-me diminuir
os passos. Como sou estúpido! Mais uma vez eu fodi com a
revelação da gravidez. Porra, como consegui fazer isso duas vezes?
Katie está grávida e com raiva de mim. Esse poderia ser o
lema da nossa história, seria cômico se não fosse triste. Deveria ter
reagido diferente e não ter ido embora quando ela mandou. Porra,
ela está esperando um filho meu, deveria tê-la abraçado e beijado, e
não acusado de cara.
Santo inferno.
Acelero os passos em direção a minha casa. Quando
chegar, vou tomar um banho e ir até seu apartamento, quero que ela
saiba que não vou fugir feito um maldito bastardo, como da última
vez.
À medida que me aproximo, enxergo o carro da Katie
estacionado, meu coração dá um guincho no peito, espero que ela
não tenha encontrado com a víbora da Stacy. Entro na casa, e Katie
está sentada em um dos degraus da escada.
— Já estava indo atrás de você — eu digo, diminuindo o
espaço entre nós com um sorriso.
Seu olhar engata no meu e instantaneamente sei que tem
algo de errado. Ela estava chorando, seus olhos estão vermelhos,
assim como seu nariz.
— Katie, o que aconteceu?
Ela me olha fixamente, seu olhar revelando uma mescla de
dor e raiva, ainda tentando conter as lágrimas, então tira um
envelope de dentro da bolsa e vira para mim. Reconheço o papel de
imediato, e meu coração acelera, percebendo o que ela encontrou.
Maldição!
— Eu não queria que você soubesse desse jeito.
— Que você andou me investigando ou sobre o meu pai ter
matado a minha mãe? — Sua voz soa áspera e rouca.
— Foi minha mãe que investigou, eu não tive nada a ver
com isso e não sabia como te contar, Katie. — Minha defesa parece
frágil diante da decepção nos olhos dela.
— Você teve quando escolheu esconder isso de mim. — A
mágoa transparece em sua voz trêmula, com as lágrimas prontas
para cair.
— Saber só a deixaria exatamente como você está agora, e
isso não vai mudar nada na sua vida. Eles eram pessoas horríveis
que só a machucaram.
— Mas essa decisão não cabe a você, Blake. Eu tinha o
direito de saber, mesmo que doesse, mesmo que ela merecesse...
— Sua voz é uma mistura de dor e indignação. Katie soluça,
limpando as lágrimas, e fica de pé.
— Eu só queria proteger você, não queria que isso te
machucasse. — Ela olha para mim com os olhos marejados e uma
batalha interna evidente em seu semblante.
— Mas machucou — sussurra, descendo as escadas.
— Katie, vamos conversar. — Tento segurá-la pelo braço,
mas ela se esquiva com um olhar incisivo.
— Eu preciso ficar sozinha, Blake. Preciso processar tudo
isso. Por favor, me dê esse tempo.
Fico parado, vendo Katie ir embora, sem saber o que fazer.
Devia ter colocado fogo naquele documento assim que o recebi da
minha mãe. Ele cumpriu certinho o propósito que ela queria, causar
caos.
Agora, no silêncio que se instala, só posso pensar no que
fazer a seguir. Katie precisa de tempo e sei que, se eu a forçar a
conversar comigo, só afastarei ainda mais. Subo para meu quarto a
fim de tomar um banho e ver como eu conserto essa bagunça
amanhã. Penso em quantas vezes disse que não a magoaria e
agora parece que é só o que venho fazendo.
A luz do dia começa a ceder ao entardecer quando
estaciono minha moto na frente do prédio da Katie. Passei a noite
revirando na cama, com os pensamentos me consumindo. Se eu
estou mal, imagina como ela está se sentindo, sabendo que o
próprio pai matou a mãe, mesmo que nutrisse pavor pelos dois.
Já está começando a anoitecer, evitei mandar mensagens
durante o dia para não a pressionar, mas sinto que vou enlouquecer
se não saber como ela está. Ainda mais grávida e tendo que cuidar
da Joy.
Atravesso o portão, acostumado a seguir direto sem
conversar com o porteiro, mas sou interrompido quando o senhor
faz sinal para eu me aproximar.
— A senhorita Edwards, não está. Ela pediu que o avisasse
caso você aparecesse.
— Onde ela foi? — pergunto, pegando o meu telefone para
ligar para ela.
— Não me disse, mas levou uma mala — avisa, seus lábios
finos formam as palavras com cautela.
Me despeço do porteiro e volto para a minha moto, iniciando
uma chamada a Katie, não posso acreditar que ela abandonaria o
lar que se esforçou tanto para conquistar. Não quero acreditar que
ela foi embora sem me dizer nada. Balanço a cabeça, afastando a
ideia que ela levaria Joy para longe de mim, ou o bebê em sua
barriga.
Guardo o telefone quando todas as chamadas caem na
caixa de mensagens. A sensação de impotência cresce a cada
batida do meu coração. Subo na moto e pego a estrada, com o
asfalto zumbindo sob as rodas enquanto o vento bate em meu rosto.
Será que foi isso que ela sentiu quando eu a abandonei?
Desespero, raiva, medo.
Estaciono no Hotel Elysium, porque, se tem alguém que
sabe onde Katie está, é Sean. Entro no hotel, dirijo-me ao bar com
passos determinados e o avisto em uma conversa com outro
homem. Aproximo-me com cautela, mesmo que a urgência cresça
dentro de mim como um pulsar desenfreado.
Paro ao lado de Sean, chamando a atenção dele, e sou
recebido por uma expressão carregada. Com certeza Katie e ele
conversaram.
— Onde ela está? — pergunto sem rodeios.
— E por que eu te contaria? — ele diz, erguendo as
sobrancelhas.
Passo a mão pelo meu cabelo, exasperado, sem saber o
que fazer, infelizmente não posso socar a cara do Sean até obter
uma resposta, e isso é um pouco frustrante.
— Eu me preocupo com ela. Você sabe que ela está
grávida? — questiono a fim de amolecer o coração do grandão.
— Sei. — É claro que ele sabe, Sean beberica o drink e se
vira para mim desinteressado. — Katie está bem. Ela não é de
tomar decisões impensadas e não colocaria os filhos em perigo.
Devia confiar nela.
— Eu confio nela e só queria protegê-la, Sean.
— É assim que começa. Você escolhe o que contar ou não
contar, depois escolhe o que ela deve ou não vestir, e de quem ela
deve ser amigo ou não.
— Não me compare ao Bryan, eu escondi porque queria
realmente protegê-la.
Sean solta um suspiro e termina a sua bebida em um gole.
Inferno, ele não vai me dizer. Me afasto do balcão sem ter ideia do
que fazer e de para onde ir.
— Blake, ela pediu para eu não contar — diz, fazendo-me
virar para ele. — E vou respeitar a decisão dela, mas para onde
você iria se soubesse que seu pai matou a sua mãe?
— Para casa — sussurro e não tenho certeza se ele me
ouviu, mas tenho certeza do que preciso fazer.
Capítulo 18

O sol começa a nascer, tingindo o céu com tons de laranja e


roxo quando finalmente chegamos na cidade que tanto evitei.
Salisbury, onde tudo desmoronou. Enquanto o motorista do
aplicativo acelera, observo as ruas familiares, que agora parecem
carregar um peso insuportável, cada esquina, cada prédio, ecoando
memórias que eu havia enterrado no fundo da minha alma.
Enquanto meus olhos se movem pela estrada, uma mistura
de emoções me atinge. Raiva, tristeza, medo. Quando voltei ao
apartamento ontem, à medida que as memórias se desenrolavam,
senti uma necessidade crescente de encarar o passado. Eu sabia,
no fundo do meu ser, que eu precisava confrontar aquelas
lembranças enterradas e permitir a mim mesma a chance de libertar
as correntes que me prendiam, encarando o que tanto me
atormentava para finalmente deixar de viver com o peso do medo.
Enquanto o carro se aproxima do meu destino, respiro
fundo, apertando Joy com mais força em meu colo. Ela é meu ponto
de equilíbrio, acho que não teria capacidade emocional para
retornar aqui sozinha.
O carro estaciona, e me vejo diante da minha antiga casa,
um lugar que já foi meu lar, mas que agora é apenas um amontoado
de madeira e lembranças. Meu coração aperta ao encarar a fachada
desgastada, é uma casa simples, pintada de um azul desbotado,
que, apesar de tudo, emana uma sensação acolhedora.
Desço do carro, meus olhos fixos na entrada. À frente da
casa, ainda se ergue um carvalho majestoso, suas ramificações
contínuas fornecem sombra para o alpendre da frente, que agora
exibe tábuas soltas e uma cadeira de descanso. E, no galho mais
baixo, pende um balanço improvisado feito com um pneu velho
amarrado por uma corda, que movimenta suavemente com a brisa,
um resquício das poucas lembranças boas que tenho daqui.
Pago o motorista e respiro fundo, dando os primeiros passos
em direção à entrada. Está na hora de enfrentar os demônios que
assombram minha existência. Paro diante da porta, e é como abrir
um portal para um passado. Hesito, meus dedos tocam na
maçaneta, e Joy bate com a mãozinha no meu peito, como se
dissesse para abrir logo.
Empurro a porta e o assoalho range com o primeiro passo
que ouso dar para dentro, um odor invade minhas narinas denso e
pesado. As partículas de poeira dançam à medida que a luz entra
na sala. Olho ao redor antes de decidir se devo soltar Joy no chão e
adentro mais o espaço, parando diante do corredor dos quartos.
Está tudo exatamente como da última vez em que estive aqui,
exceto pelas fitas amarelas de cena de crime presas ao batente da
porta do meu quarto.
Sinto o frio percorrer minha espinha. As lágrimas começam
a embaçar minha visão e um nó se forma na minha garganta.
Avanço e, a cada passo, sinto como se minhas pernas se tornassem
chumbo, impedindo-me de seguir em frente. As memórias parecem
se agitar, como se estivessem presas em um vórtice, esperando
para serem liberadas. Enquanto ando, tudo volta à tona, cada canto
da casa é um eco dos momentos que preferiria esquecer. O silêncio
é apenas interrompido pelo ranger do assoalho sob meus pés.
Paro diante da porta do meu antigo quarto. A fita amarela
destaca-se do restante da porta branca. Respiro fundo, buscando
coragem para cruzar essa barreira, e empurro a porta devagar,
revelando o interior do cômodo. A luz que se infiltra pela janela
pousa suavemente sobre a mobília.
O quarto permanece quase intocado, exceto pela poeira que
se acumula sobre os móveis. Minha cama, os livros na prateleira,
cada item parece congelado no tempo, e vê-los da mesma forma
que os deixei aperta o meu coração. Viro-me e a parede em frente à
cama me deixa sem fôlego. Ela exibe respingos de sangue em
várias direções, registrando o tamanho da brutalidade do meu pai.
Lágrimas começam a turvar minha visão, e sinto que já suportei o
suficiente.
Meu Deus, por que ele fez isso? Penso, começando a ficar
enjoada. Saio da casa sentindo-me quase hiperventilar e coloco Joy
no chão, meu estômago agitado se embrulha e eu vomito todo o
café da manhã que tomei no hotel.
Merda! Limpo a boca com o dorso na mão e caminho até
Joy tentando subir no balanço. Pego o meu telefone e tem algumas
chamadas perdidas do Blake e mensagens que ainda não tive
cabeça para responder.
Eu precisava fazer isso, vir até aqui e colocar um ponto-final
nisso, não sei se ele entenderia. Peço um carro no aplicativo,
porque ainda tem mais um lugar que preciso visitar antes de sair
dessa cidade e nunca mais pôr meus pés aqui.
Desço do carro em frente ao cemitério municipal e confiro a
lápide da minha mãe no site da prefeitura. Coloco Joy no chão, que
segue ao meu lado, seu pequeno andar quase animado contrasta
com minha hesitação. As lápides homologadas e os monumentos
discretos formam uma paisagem tranquila, banhada pela luz do sol
da manhã. O vento leve balança as árvores, trazendo um ar fresco
e reconfortante.
Enxergo o túmulo da minha mãe, e meu coração bate mais
rápido à medida que me aproximo. Deixo Joy brincar perto, e me
sento ao lado do túmulo. Meus olhos se fixam na lápide desgastada
e, com os dedos, traço suavemente o contorno das letras gravadas
na pedra, lendo o nome da mulher que me deu à luz, Zaina
Edwards.
Lágrimas começam a inundar meus olhos, e não entendo
como posso sentir a dor da perda de algo que eu nunca tive. Os
segundos se prolongam e as palavras parecem ecoar em minha
mente, invocando poucas memórias carinhosas que lutam para
superar as mais sombrias. O nó na garganta me sufoca, mas é
importante, para mim, expressar o que carrego comigo por todos
esses anos.
— Oi, mãe. Já faz tanto tempo... — murmuro com um
suspiro trêmulo, as lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto
enquanto fito sua foto na lápide. Nesse momento, lembro-me de
quando ela foi registrada, em meu aniversário de onze anos. Ela me
abraçou por trás enquanto olhávamos o pôr do sol. Ela sussurrou
algo carinhoso e reconfortante, algo que eu não consigo mais
lembrar.
E eu me pego questionando por que não houve mais
momentos assim, por que o amor materno que vi nos outros parecia
ser algo distante, inatingível para mim. Por que minha mãe não
conseguia me proteger? Por que ela não me escolheu para colocar
em primeiro lugar?
Uma mistura de tristeza e ressentimento me consome. A
saudade do que nunca tive se entrelaça com a dor do que realmente
vivi. Respiro fundo, tentando controlar o nó na minha garganta, e
continuo a falar com o túmulo.
— Eu... eu queria ter tido mais, mãe. Queria ter tido mais do
que os gritos e as lágrimas. Queria ter sentido mais do seu amor,
mais do seu apoio. Não entendo por que foi tão difícil. — Minha voz
falha, mas minha determinação em liberar esse peso emocional é
maior que tudo. — Eu perdoo você. Não por você, mas por mim.
Porque carregar esse fardo é mais pesado do que posso suportar.
Adeus, mãe.
Me levanto e sinto um peso sair dos meus ombros, como se,
finalmente, tivesse dito as palavras que me sufocaram por anos.
Caminho até Joy, que brinca no túmulo ao lado.
— Vamos embora, pombinha — digo, pegando-a em meus
braços.
Caminho tranquilamente para a saída do cemitério com o
meu coração mais leve do que quando cheguei. Ao alcançar a
saída, avisto Blake, sua figura elegante, escorado contra uma
Mercedez preta. Joy pula do meu colo quando também o enxerga, e
sou obrigada a colocá-la no chão.
Aos tropeços, ela caminha até ele, Blake sorri, encurtando o
espaço entre os dois, a pegando nos braços, dando um abraço
apertado e um beijo nela. Me aproximo deles, meu coração voltando
a bater em um ritmo acelerado. Surpreendida pela sua presença.
— O que faz aqui? — pergunto, incerta de como agir, pois
esses últimos dias não têm sido fácil para nós dois.
— Eu já cometi o erro de deixá-la partir uma vez, mas isso
não vai mais se repetir. Não vou mais esconder nada de você, eu
prometo. Só confia em mim, Katie.
— Eu confio, só não sabia se me entenderia. Eu precisava
vir aqui, Blake... — Ele me abraça com força quando começo a
chorar e beija a minha cabeça.
— É claro que eu entendo. — Me afasto, e ele limpa as
minhas lágrimas.
— Podemos ir embora? — falo, agora mais que tudo
desejando voltar para minha casa.
— É claro.

Dou um beijo na cabeça da minha filha e a coloco no berço,


exausta da nossa viagem. Caminho para a sala, me sentindo bem
por estar de volta em casa. Blake está sentado no sofá, mexendo no
telefone. Fiquei admirada por ele ter conseguido me encontrar em
Salisbury, mas ele disse que só haveria dois lugares que eu poderia
ir, e ele não estava errado. Quando não me achou na casa, foi direto
no cemitério.
Ele guarda o telefone e me puxa para o seu colo, eu escoro
a cabeça em seu ombro, encontrando o seu olhar.
— Nunca mais fuja de mim — ele pede, empurrando meu
cabelo para trás da orelha. — Achei que nunca mais as veria. Fui
tolo por ter feito aquela pergunta, espero que possa me perdoar —
expressa, e sei que está se referindo ao bebê.
— Você foi mesmo, mas nunca os afastaria de você. — Sua
mão desce, acariciando meu abdômen.
— Eu amo você, Katie, e, também, Joy e esse bebê. Quero
construir uma família com você, prometo que serei o melhor pai e o
melhor marido se você me der essa honra. — Sento-me no colo
dele com o meu coração batendo violentamente na minha cabeça,
me impedindo de processar as palavras.
Ele está me pedindo em casamento????
— Katie Edwards, você quer se tornar a minha Katie
Lockhart?
— Blake... — sussurro, encarando seus olhos azuis
tempestuosos, olhando para mim com ansiedade. A trajetória da
nossa história passa pela minha cabeça e não vejo outra palavra em
minha mente além de... — Sim. Mil vezes sim. — Blake abre um
sorriso que promete o mundo, me empurra para trás no sofá e me
beija com força.
— Merda, não tenho a porra de um anel aqui, mas vou
comprar a maior pedra que encontrar — ele promete, selando
nossos lábios.
Capítulo 19

— É hora de acordar. — Ouço Blake sussurrar em meu


ouvido, com sua mão invadindo minha camisola e acariciando a
pequena protuberância da minha barriga.
— É meu aniversário, deixa-me dormir — reclamo, puxando
o cobertor e cobrindo a cabeça.
Ouço a risada de Joy por perto e sinto suas mãozinhas
agarrarem a coberta para me descobrir.
— Acorda, mamãe. — Abro um olho e a vejo usando um
chapéu de aniversário personalizado com um unicórnio. Me viro
para Blake que está debruçado sobre mim, e ele também está
usando um.
— Seus chatos — resmungo, bocejando e me sentando.
O quarto mês de gravidez não tem sido fácil. Muito sono,
muito enjoo, muito xixi e o mau humor, nem se fale. Se Blake não
me abandonar até o final da gestação, ele realmente me ama.
— Se arrume e depois desça, temos uma surpresa para
você — diz com um sorriso imenso, planta um beijo na minha
têmpora e depois sai do quarto com Joy.
Me levanto com a preguiça grudada no corpo como uma
segunda pele, vou até o closet e coloco uma legging preta, pantufas
de unicórnio que ganhei de Natal da Joy e uma blusa de lã branca,
que modela perfeitamente o formato da minha barriga. Não me
lembro de ter tido uma barriga tão crescidinha assim na gravidez de
Joy, se bem que, há três meses, desde que vim morar na casa de
Blake, ele tem me feito comer o dobro.
Quando ele nos pediu para voltar para a casa, pensei que
não seria capaz de abrir mão do que eu tinha acabado de conquistar
para voltar a morar em um lugar onde novamente eu não seria dona
de nada, mas Blake não me faz sentir isso. E ficarmos juntos agora
faz mais sentido do que cada um em um lar.
Lavo-me rapidamente e desço com meus dedos acariciando
meu pequeno pacotinho. Estávamos discutindo nomes ontem antes
de dormir, embora ainda não saibamos os sexos. Blake quer uma
surpresa. Ele quer me matar de ansiedade, isso sim. Mas estou
animada de qualquer maneira, sempre sonhei com uma família
grande e unida.
Chego ao primeiro andar e sinto cheirinho de bolo assado.
Caminho em direção à cozinha, onde ouço a voz de Joy, ela virou
uma verdadeira papagaia nesses últimos meses e é tão teimosa
quanto o pai.
Aproximo-me por trás da cadeira infantil onde minha filha
está sentada e, quando ela se vira para mim, seu rosto está uma
meleca marrom da cobertura do cupcake.
— Isto parece delicioso. — Joy sorri e seus dentes se
destacam.
Blake dá volta na ilha, me puxando para seus braços em
volta da minha cintura.
— Se gostar da cobertura, posso fazer um pouco mais para
mais tarde. — Ele pisca, e eu sei exatamente onde ele está
pensando em colocar a cobertura.
— Esta é minha surpresa? Picolé sabor chocolate? — Ele
gargalha, me fazendo sorrir.
— Vamos lá fora — diz, se virando para pegar a Joy.
Avisto o jardim que eu projetei, procurando a minha
surpresa, mas não enxergo nada, apenas belas flores, um gramado
aparado e uma casa na árvore para a Joy brincar.
— Está na frente — Blake diz, me puxando pela mão.
Sigo ele até a entrada da casa com a ansiedade me
consumindo, não imagino o que ele tem para mim. Blake abre a
porta, saindo na minha frente e, quando ele dá um passo para o
lado, meu queixo cai, admirando um Land Rover Discovery preto,
com um grande laço vermelho no topo.
Meu Deus! Mês passado vi esse carro em uma revista e
mostrei para o Blake. Comentei que era o tipo de carro certo para
uma família grande, pois, no Camaro, não caberiam as duas
cadeirinhas.
Blake sacode a chave na minha frente com um enorme
sorriso.
— Você gostou? — ele pergunta, e eu forço os músculos da
minha mandíbula a se fecharem.
— Está brincando? Não consigo nem fechar a boca. Eu
amei! — digo, puxando a chave da mão dele e abraçando-o pela
cintura.
— Tem mais uma surpresa.
— Mentira! — exclamo, descendo a escada e me
aproximando do carro com meu coração batendo num ritmo
desenfreado. As coisas materiais nunca me chamaram a atenção,
mas não posso negar que eu amo ser bajulada por ele.
Blake para na parte de trás do Rover e me dá a mão, eu
ando para o lado dele.
— Abi a pota mamãe. — Joy parece mais ansiosa do que
eu.
Estendo a mão e aperto o botão, o porta-malas sobe
lentamente, Blake está de olhos em mim, mas não consigo tirar os
olhos do carro, a expectativa é enorme, o que mais ele poderia me
dar? Já tenho tudo.
Meu queixo cai com tanta força que tenho a sensação de
que vou desmaiar quando vejo dois carinhos de bebês. Um com um
laço rosa e outro com laço azul.
— Como? — eu pergunto, arrancando uma risada dele. Não
tenho gêmeos na família, e Blake nunca me disse se tinha.
— Joy, cubra os ouvidos. — Blake brinca, largando nossa
filha no chão, e me abraça apertado.
— Fiquei tão surpreso quanto você, mas a médica explicou
que isso pode acontecer, não vou te dar aula de biologia para não
estragar o momento, mas vamos ter gêmeos, KitKat.
— Meu Deus! — sussurro com lágrimas escorrendo pelo
meu rosto, e Blake me beija no meio da testa, no nariz, na bochecha
e no rosto inteiro.
Epílogo

O brilho do sol ilumina o jardim com intensidade enquanto


preparo o isopor com algumas cervejas geladas. Pela janela da
cozinha, observo Katie espalhando protetor solar em Noah e seu
rosto iluminado por um sorriso, enquanto Joy, animada, ajuda Leslie
com as boias de braços para nadar no Lago Washington.
Abro a porta e saio para o jardim, onde o riso das crianças
ecoa pelo ar. Noah tem os cabelos loiros reluzentes, brilhando sob o
sol. Seus cachos dourados balançam enquanto ele corre em direção
ao cais, pronto para mergulhar no lago.
— Devagar! — Katie grita. Ela se vira para mim com a
mesma doçura nos olhos. — Esse menino ainda vai me matar.
Sorrio.
— Ele sabe nadar, relaxa. — Katie suspira, olhando para as
meninas.
Joy está cada vez mais parecida com a mãe dela, com
longos cabelos loiros e ondulados e um sorriso meigo. Os gêmeos
não são idênticos, mas Leslie parece uma cópia da sua irmã mais
velha.
Descemos para o lago, e Katie leva consigo a cesta de
piquenique. Pego a mão dela, e meu dedo brinca com o diamante
em sua aliança. Nos casamos após o nascimento dos gêmeos, e
Sean foi o nosso padrinho. Em seguida Katie decidiu largar o
emprego na agência para ficar com as crianças. Alguns anos
depois, abrimos seu próprio escritório, aqui na residência, assim, ela
poderia fazer seus horários e pegar quantos clientes quisesse.
Dinheiro nunca foi ou será um problema, ainda mais porque agora
sou oficialmente o sócio majoritário da Lockhart e Associados. Mas
Katie se sente realizada criando os projetos e ficar parada seria um
talento desperdiçado.
As meninas caminham na nossa frente, e Noah está
agarrado ao cais, com os olhos verdes ansiosos, ele espera as
irmãs se aproximarem e começa a jogar água nelas. As
reclamações das meninas nos alcançam.
Katie estende a toalha quadriculada a uma certa distância
das crianças, porque é certo que Noah nos jogará água também. Me
sento, e ela se acomoda contra o meu peito.
— O lago virou um campo de guerra — Katie brinca,
olhando para mim por cima do ombro.
— Eles cresceram tão rápido — sussurro, percebendo que
não temos mais bebês na casa.
— Não ouse me engravidar — avisa com advertência.
Deito Katie no cais, enfiando uma das pernas entre as delas.
Nossos olhares se encontram e ali, em meio à algazarra das
crianças, encontro a plenitude: o amor, a família e a certeza de que,
mesmo sem dizer uma palavra, ela compreende cada batida do meu
coração.
Aproximo-me e reivindico os lábios da minha esposa.
PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE MARCADO PELO PODER
ROMANCE MÁFIA + CASAMENTO FORÇADO + MAFIOSO IMPLACÁVEL.

Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre tarde demais que seu
destino já havia sido decidido antes mesmo de completar dezoito anos.

Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é usada como uma moeda
de troca, sendo forçada a se casar com o herdeiro da Cosa Nostra: Franco Fiore.

Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o Corvo, pois reflete a
encarnação do mal, pretende possuí-la e reivindicar toda sua inocência.

Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria e perigosa quanto ele,
Fiorella não estava disposta a ceder, quebrar ou se esconder.

Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna uma paixão ardente,
perigosa e instável, colocando em perigo não só o acordo entre as máfias, mas tudo que
está a volta deles.
LEIA AQUI: http://amzn.to/3QqO2NN
SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE

Helena Hathaway foi adotada por Carlo Santoro, o Chefe da Outfit, devido a sua amizade
com a filha do mafioso. Ela cresceu sob as regras da máfia, jurou lealdade e submissão.
Porém, para ajudar sua amiga, cometeu um ato de traição, colocando em risco o acordo
entre as máfias. Helena se vê no início de um pesadelo, desesperada e sem alternativas,
ela foge para salvar sua vida.
Ettore Reviello, imponente e corrompido, é a voz da razão na máfia nova-iorquina.
O Consigliere, carregado por um passado obscuro, nunca desejou se casar. Logo que
descobriu que seu destino já estava determinado, havia somente uma coisa que ele
poderia fazer: encontrar uma mulher disposta a se casar sem a esperança de um futuro.
Duas almas quebradas se unem. A sedução ardente e a luxúria que já existiu uma
vez, revive entre os dois, e, desejo, ódio e superação é a batalha que Ettore terá que lutar
se quiser resistir ao casamento com Helena.

LEIA AQUI: http://amzn.to/3tQp6G1


TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE

Ela é a minha esperança.


Ele é o meu pior pesadelo.

Sienna, menina perfeita de sorriso dócil e mente conturbada, acredita ter recebido um
destino pior que a morte: casar-se com o braço direito do seu pai, o seu pesadelo
encarnado: Romeo Ferraro

O Subchefe, um homem rico, poderoso e perigoso, com a alma escura e condenada ao


inferno, não esperava render-se aos encantos da jovem, que viu crescer.

Ela aguardava um monstro que devoraria sua alma, que a quebraria em mil pedacinhos,
contudo, o medo que carregava, tornou-se pequeno comparado aos sentimentos que
nasceu pelo homem.

Romeo jurou protegê-la, ele só não imaginava que sua bela esposa, guardava um segredo
que quebraria sua família, colocando-o contra quem ele mais amava, o seu irmão.

Ódio, amor e traição, é o que esse casamento fadado ao fracasso terá que enfrentar para
encontrar a luz no fim da escuridão.
LEIA AQUI: amzn.to/40d5ASo
QUARTO LIVRO DA SÉRIE

ROMANCE MÁFIA + CRIANÇAS FOFAS + FOUND FAMILY + HATE TO LOVE +


VINGANÇA.

Fiorella

Fui forçada a casar com Franco Fiore para garantir a paz entre as máfias. Do amor ao ódio,
construímos uma família. O Capo da Cosa Nostra deu-me tudo e em troca só esperava a
minha lealdade.
Todo mundo sabe o quão implacável e cruel meu marido pode ser e, para manter minha
família segura, guardo um segredo que poria fim ao acordo de paz entre as máfias e
destruiria nosso casamento.

Franco
Fiorella me fez perceber que tenho coração apenas para apunhalá-lo. A pessoa em quem
mais confiava me traiu para proteger o inimigo, o homem que me levou ao inferno e me
transformou no próprio diabo. Agora a sede de vingança queima dentro de mim como uma
chama insaciável, e não descansarei até que seu sangue seja derramado.

LEIA AQUI: bit.ly/votosdesangue


Bebê Inesperado x Enemies to Lovers x Age Gap x Contrato x
Sequestro
Arrogante, poderoso e controlador, Maxwell Snyder, CEO do Fundo
de Investimento Snyder, precisa de um herdeiro para se manter no
poder na empresa. Viúvo há mais de três anos, Max escolhe
meticulosamente uma barriga de aluguel, determinado a fazer isso
sozinho.

Ele só não esperava que no dia da consulta outra mulher acabasse


sendo inseminada. Max faria qualquer coisa para ter o bebê em sua
posse, até mesmo sequestrar a mãe de seu filho.
Persephone Beaumont, atendente de uma cafeteria, vive um
pesadelo constante após assumir uma dívida de jogo de seu
falecido pai. A jovem não imaginava que sua vida pudesse piorar
drasticamente, até que acordou no quarto de um estranho.
A descoberta de que estava grávida de um magnata, soava tão
absurda quanto o contrato que ele lhe impôs. Persephone era o
oposto dele em todos os sentidos, mas ela se tornaria sua maior
tentação.

Um sentimento avassalador desperta em Max, porém, a única coisa


que o impede de romper todas as barreiras é o contrato que ele
estabeleceu a ela.

LEIA AQUI: bit.ly/amzumherdeiropfera


GRAVIDEZ INESPERADA - BILIONÁRIO MULHERENGO.

Delphine Dubois aos 27 anos, chegou no auge da sua profissão; Diretora Financeira do
Hotel Bel Air Country Club. Para sua vida ficar perfeita, só falta uma coisa. Um bebê.
Devido a um relacionamento complicado no passado, Delphine não consegue confiar em
outro homem, por isso decide fazer inseminação artificial. Duas semanas antes da
consulta, por influência da sua melhor amiga, ela faz sexo casual com um homem que
conheceu no lobby do hotel.
Delphine só não contava que no dia da inseminação já estaria grávida do homem quente e
com sotaque espanhol, com quem ela rolou a noite inteira. Christopher Wesker, um
mulherengo indomável e pior de tudo, herdeiro do Hotel Bel Air.
Christopher fará de tudo para ganhar a confiança dela, porém a sua reputação ao longo
dos anos o coloca em maus lençóis.

O que resta saber é; será que Delphine cederá aos encantos do espanhol, pelo bem do
bebê?

LEIA AQUI: https://amzn.to/3H7skKX


Dante Armstrong abandona Nova York e se muda para Seattle em busca de um
recomeço. Com o passado manchado de relacionamentos fracassados, Dante ergue uma
armadura emocional e decide dizer não ao amor, até sua irmã contratar uma doce e tímida
empregada.
Hannah Reese, depois de muito custo foi escalada para trabalhar na cobertura de um
ricaço, porém não imaginava que encontraria um homem gentil, solitário e quebrado.
A atração entre os dois é irrefreável, Dante sabe que não resistira, mas com as feridas do
passado ainda aberta, ele propõe a jovem um relacionamento sem compromisso.

LEIA AQUI: https://amzn.to/3pMLX3K


Michael O'Connor, um advogado bem sucedido que esbanja beleza e status,
está à procura de uma babá para sua filha.
Viúvo há mais de quatro anos, Michael ainda sofre com os fantasmas do passado, mas
tudo muda quando contrata Lindara, uma doce jovem que o abala feito um raio com toda a
sua simplicidade.
Lindara Fincher, aos 7 anos de idade, tinha uma vida espetacular, morava em Upper East
Side e era a melhor dançarina de ballet de sua turma. Porém, ela vê sua vida de cabeça
para baixo, quando em uma noite ela e seus pais sofreram um grave acidente de carro a
deixando órfã.
Ambos atormentados pelo passado encontram algo em comum, mas para que esse amor
floresça terão que lidar com Sabrina, funcionária e ex-namorada do Michael, que une
forças com o arqui-inimigo de longa data do advogado.
LEIA AQUI: http://amzn.to/32CXyqk
Lindara aceitou o pedido de casamento, mesmo guardando um segredo que pode
destruir seu relacionamento com o advogado Michael O’Connor. Na tentativa de consertar
o seu erro, ela acaba sofrendo um terrível acidente perdendo parcialmente a memória.
Michael não poupa esforços para ajudá-la a lembrar dele. Porém, no processo, eventos
preocupantes trazem grandes consequências para vida dos dois.
Lindara se encontra em um impasse: ficar ao lado do seu noivo, mesmo não o amando, ou
tentar recomeçar a vida, longe de tudo o que ela já amou.

LEIA AQUI: https://amzn.to/3C7aL9H


Depois de muitos altos e baixos Lindara foi transformada em uma mulher
indecorosa pela mídia, fazendo-a se afastar de todos que mais ama. Ela tenta seguir em
frente sem olhar para trás, mas o passado novamente volta atormentá-la.
Dante antigo rival do Michael se aproveita da situação e faz de tudo ao seu alcance para
conquistar o coração da jovem, que a muito custo acaba cedendo aos seus encantos.
O advogado se torna a válvula de escape da Linda, sempre presente e atencioso. Eles só
não imaginavam que em um piscar de olhos o universo deturparia a relação dos dois, e
mais uma vez Lindara se veria entre o passado e o futuro.
LEIA AQUI: amzn.to/31Yx7hk
Um bad boy de caráter duvidoso se rende a uma nerd disposta a colocá-lo na
linha.

Dakota King, uma aluna exemplar na Universidade de Nova York, tem sua vida
transformada em um caos no instante em que Savannah, sua irmã gêmea, lhe apresenta
Heyden Hayes e Erin Yoshida, o cara, por quem ela sentia uma tremenda queda.
Estudante de literatura inglesa, a tímida garota sonhava em viver o seu próprio romance e
aproveitou a oportunidade quando foi assaltada em seu trabalho e o assaltante lhe propôs
um acordo em troca do seu silêncio. Dakota pensou que seria fácil enganar a polícia, já
que o seu pai estava encarregado do caso, mas jamais pensou que se apaixonaria pelo
assaltante.

Você também pode gostar