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Copyright © 2023 Evelyn Fernandes

Capa: Lilly Designer.


Ilustração: HDT Arts
Revisão: Tan Wenjun e Evelyn Fernandes.
Leitura Beta: Ayla, Raw, Bruna Renata, Mary, Isah, Lya, Bruna
Daltro e Cathy.
Diagramação: KA PEIXOTO.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera
coincidência e não foi pretendida pelo autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em
um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por
qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro,
sem a permissão expressa por escrito do editor.

ISBN: 978-65-00-85365-0
Oi, meus amores! Tudo bem com vocês? Espero que sim.
Eu estou tão animada para compartilhar esta história com
vocês que encheu meu coração de alegria.
Rendido Pela Minha Chefe - A CEO e o Babá é uma
comédia romântica, leve, engraçada e fofa, sem grandes plots e
para aquecer o coração do leitor.
É um livro indicado para maiores de 18 anos, que contém
cenas de sexo explícito, consumo de bebidas alcoólicas e palavras
de baixo calão.

Não há gatilhos nesta história, como disse anteriormente, é


uma comédia romântica fofa, então, aproveitem a leitura!

Com amor e carinho,

Evelyn Fernandes!
Clique aqui para ouvir a Playlist.
“Dedico este livro à minha melhor amiga, Karyna, mais conhecida
como KA Peixoto, que assim como os mocinhos literários, tem o
passado sombrio, o presente doloroso e o futuro incerto. Saiba que
você é um dos meus maiores exemplos de perseverança e força. Te
amo.”
Parte 01.
Não! Não! Não! Não!
Não posso acreditar. Foi só uma noite. Uma maldita noite.
Como pude ser tão descuidada? Logo eu, a senhora razão.
Por que fui dar ouvidos às minhas amigas?
Eu nunca saio de casa, estou sempre na empresa,
trabalhando, focada em ser a melhor, a mais correta, a mais durona.
No único dia que resolvo me divertir e ter uma transa casual
que, diga-se de passagem, nem foi lá essas coisas. Inclusive, tive
que me masturbar sozinha depois para poder chegar lá, porque nem
uma chupada decente o imbecil soube me dar…
Eu engravido.
Eu não posso ser mãe, mal cuido de mim mesma, ou como
nos horários certos, nem me alimento direito. Eu respiro trabalho.
Vivo por ele. Minha vida se resume à minha empresa.
Não nasci em berço de ouro, nem sou herdeira de um
parente muito distante que eu não tinha conhecimento. Tudo o que
consegui conquistar, chegar onde cheguei, foi com esforço,
perseverança e dedicação.
Entrar para o ramo de cosméticos e transformar a Adenium
Line em uma empresa de referência não foi fácil, principalmente
para o nosso público-alvo.
A ideia surgiu quando minha amiga Helena me mostrou uma
fórmula que ela vinha desenvolvendo há um tempo. Lena é formada
em cosmetologia. O mercado para produtos de cabelos – o nosso
tipo de cabelo – era muito escasso, se resumia apenas a alguns
poucos itens que, inclusive, eram motivo de chacota por conta do
cheiro que tinham. Mulheres com cabelos encaracolados e crespos
não tinham muitas opções, era sempre uma dificuldade enorme para
encontrar bons produtos. Então, nos agarramos a essa ideia e
acreditamos no potencial dela. Juntamos nossas economias e
investimos, nos unimos e criamos a nossa própria linha.
A princípio, não era nada muito tendencioso, começamos do
zero, como vendedoras de bairro, indo de porta em porta,
divulgando nossa mercadoria da forma que podíamos.
Recebemos muitas portas fechadas na cara, mas não
desistimos e apesar de certa dificuldade no início, enfim caímos nas
graças dos clientes. Devido ao tamanho sucesso, após um ano,
conseguimos abrir a nossa primeira lojinha, seis meses depois,
outras duas em bairros diferentes.
Agora temos várias franquias. E produção em massa. Somos
uma rede de referência no mercado, porém, como nem tudo são
flores, acabei abdicando de muitas coisas como a minha vida social,
por exemplo, inclusive, sexo casual.
Tudo bem que isso não é uma vida saudável para uma
mulher de 33 anos, mas e daí? É quem eu sou.
E agora não vou só ter que mudar completamente a minha
rotina, terei que viver para outro ser humano. Ser responsável por
outro alguém.
Eu não faço ideia de como fazer isso.
Não consegui nem vir dirigindo o meu carro, tive que pedir
para a minha melhor amiga me buscar na clínica, e agora ela está
tentando me acalmar enquanto dirige até a minha casa.
Começo a tremer dos pés à cabeça com o resultado do
exame na mão, com um POSITIVO enorme na minha cara.
— Calma, Nathália, vai dar tudo certo. Você não está
sozinha, amiga. Respira fundo e solta o ar devagar. — Ela
demonstra como devo fazer e tento imitá-la, mas sem sucesso
algum.
Estou surtando! Tem um bebê dentro da minha barriga. Eu
quero gritar!
— Amiga, tem um bebê aqui ó. — Aponto para a minha
barriga chapada. — Eu não dou conta nem de mim. A única coisa
que sei fazer é ser a CEO da Adenium Line, nem a minha cama, eu
arrumo. Quem arruma é a Neide, minha secretária do lar. Pelo amor
de Deus! Eu mal sei lavar uma louça, quem dirá trocar fraldas.
— Nada que não possa aprender com o tempo. Vai ter uns
sete meses para isso. — Minha amiga quer rir, mas a olho de cara
feia e ela tenta disfarçar.
— Você não está ajudando, sabia? Ah, meu Deus! Eu tô
fudida. — Assim que ela estaciona o carro na minha garagem,
quase pulo do veículo em desespero.
Subimos de escada porque nem o elevador eu consigo
esperar de tão nervosa que estou e ainda moro na porcaria do
quinto andar.
— Amiga, calma. Nós vamos resolver isso juntas, tá bem?
Eu estou do seu lado para o que der e vier. — Tenta me confortar.
— Mas, primeiro, você precisa se acalmar. Um bebê não é o fim do
mundo. Ainda que apenas saiba o primeiro nome do pai, isso se ele
passou o correto naquela balada chinfrim que a gente foi.
Abro a porta do meu apartamento e me jogo no sofá preto
enorme que tem no meio da sala.
— Ele me deu o número dele, eu que nunca entrei em
contato, porque a foda foi uma merda.
Não tenho sorte mesmo, o homem além de parecer ter uma
inteligência bem mediana, pois não conseguia dar andamento a
nenhum assunto interessante, ainda transava mal, e agora ele é o
pai do meu bebê. Olha que coisa boa, para não dizer o contrário.
Pelo menos, ele era bonito. O que não adiantou de muita
coisa, no fim das contas, ele era ruim de cama.
— Manda uma mensagem então, amiga, ou liga. Ele precisa
ficar sabendo. Afinal, é o pai. — Helena pega o meu celular na bolsa
e me entrega.
Pego o aparelho e começo a digitar, não vou ligar porque
pode ser que não me atenda, já que faz dois meses que nos vimos
e ficou nítido que eu não gostei nada, nada mesmo, da nossa
transa. Essas coisas mexem com o ego masculino. E com ele não
poderia ser diferente.
EU: Boa tarde, tudo bem? Lembra de mim? Nós ficamos há
uns dois meses. Meu nome é Nathália.
Envio e depois de alguns minutos, vejo que está escrevendo.
Foda ruim: Ah! Lembro sim, estou bem, gata. Ficou com
saudades do papai aqui?
E não é que ele é o papai mesmo?
Reviro os olhos com tanta força que a minha labirintite quase
ataca.
EU: Na verdade, nós precisamos conversar. Teria um
tempinho para me encontrar hoje, aqui na minha casa?
Foda ruim: Nossa! Mas você está ansiosa mesmo. Tô
disponível no momento, me passa a localização que já, já chego aí.
— Então, o que ele disse? — Minha amiga quer saber.
— Que está vindo para cá, estou mandando a localização
agora, daqui a pouco ele chega. Você vai ficar ao meu lado, não vai,
amiga? — Me volto para ela com aquele olhar do Gato de Botas.
— Isso é pergunta que se faça, Naty? É claro que vou. —
Helena se senta ao meu lado e segura a minha mão enquanto
aguardamos o senhor foda ruim chegar.
Depois de uns trinta minutos de puro suco de surto da minha
parte, e de uma Helena insistindo para eu comer alguma coisa
porque saco vazio não para em pé, imagina um saco com outro
saquinho dentro, é claro, ele chega.
E imediatamente me vem aquele funk na cabeça: Uh, uh,
papai chegou!
Nossa! Que péssimo momento para rir de mim mesma.
Helena abre a porta e Miguel está todo arrumado, exalando
um perfume forte amadeirado, ele mal entra e antes que eu consiga
dizer um “oi”, coloco uma mão na boca, com a outra faço sinal para
que espere e logo corro para o banheiro, colocando o pouco de
comida que havia ingerido agora há pouco para fora.
— O que deu nela? — ouço Miguel perguntar.
— É só um pouco de enjoo, ela já vem, pode se sentar ali no
sofá. — O timbre da voz da minha amiga sai um pouco esganiçado
pelo nervosismo.
Depois de colocar os bofes para fora, lavo meu rosto e boca,
tentando me recompor. Volto para a sala e sento de frente para ele
na poltrona de couro reclinável. Solto o ar que não percebi que
estava prendendo, mas prefiro falar logo tudo de uma vez, senão
vou acabar desistindo.
— Oi, Miguel. Tudo bem? — O homem loiro de olhos azuis
assente meio inseguro, depois de me ouvir vomitar. — Então, não
vou fazer rodeios com você, pois é um assunto delicado que
envolve nós dois. — Ele continua me olhando com insegurança e
um vinco se forma em sua testa, provavelmente está achando que
sou louca, eu até sou, mas nesse caso, o assunto é sério. — Eu
vinha sentindo alguns enjoos e cólicas, andei tendo fraqueza e
tonturas, e com muito custo e insistência da minha amiga aqui ao
lado, fui a um médico verificar o que tinha de errado comigo. Como
não sou uma pessoa de hábitos saudáveis, acreditei ser apenas
falta de alguma vitamina.
— E não era? — Miguel continua sem entender.
— Não, não era. — Faço uma pequena pausa, tentando me
acalmar, porque se respirar fundo, vomito mais uma vez por causa
do seu perfume. — Eu estou grávida de dois meses e as contas
batem exatamente com o dia que ficamos juntos. — Helena, que
estava em pé ao meu lado, pega os exames na bolsa e o entrega.
Miguel desconfia, mas pega o papel, esquadrinhando-o um pouco. E
ao chegar no positivo, suas reações vão de surpresa à
incredulidade, mesmo que eu tenha acabado de contar o que estava
no exame.
— Mas como? Co-como assim? Eu usei camisinha, deve
haver algum engano. — O homem levanta e começa a andar de um
lado para o outro.
— Eu não me relacionei com ninguém antes e nem depois
de você. Fazia alguns muitos meses que eu não transava. Então…
Você é o pai.
— Não é possível que isso esteja acontecendo. Não acredito
em você.
Tudo bem, eu já esperava por isso, afinal, a gente nem se
conhece direito.
— É possível estar acontecendo, inclusive, aconteceu,
camisinhas estouram, e você sabe muito bem disso, Miguel. Isso
não é nenhum engano. Acha que não estou tão desesperada quanto
você só porque sou mulher? Eu nem te conheço. A minha vida é
toda organizada, nunca saio da linha, a única vez que me permiti ter
uma noite, isso, essa gravidez, aconteceu. — Aponto para a minha
barriga. — Eu estou grávida e você é o pai. Nós podemos fazer isso
juntos, não juntos romanticamente, mas você pode estar presente
na vida dessa criança ou não. A escolha é sua. Não vou te forçar a
nada. Não quero forçar ninguém a nada.
— Mas eu tenho namorada. — Joga a bomba como se não
fosse nada de mais e fala como se a culpa fosse minha, como se eu
tivesse traído alguém que nem sabia da existência. — Como vou
explicar para ela que engravidei uma mulher qualquer? — Aponta o
dedo em minha direção como se eu devesse resolver o problema.
Fico calada, porque não sei o que dizer. O cara além de ter
uma foda péssima, ainda é um canalha traidor, e acha que a culpa é
minha. Mas que filho da puta!
— Deveria ter pensado nisso antes de transar com alguém
que não fosse ela, certo? — Helena se mete na conversa, vendo
que fiquei calada com a descoberta da tal namorada e com o
rompante do idiota.
E, por fim, Miguel diz o que eu já imaginava:
— Eu não posso te ajudar, Nathália, não quero fazer parte
da vida dessa criança, você vai ter que fazer isso sozinha.
— Você não quer nem esperar para que ela faça um teste de
DNA e confirme se essa criança é sua? Não quer saber nada a
respeito dela? — Helena pergunta e sei que a minha amiga quer
esganar o homem, porque seus olhos estão arregalados e há uma
veia saltando em sua testa.
— Eu não quero saber. Não posso estragar a minha vida por
isso. — Aponta novamente para mim como se eu não fosse nada,
como se nós não fôssemos nada.
Ao ouvir a palavra “isso”, algo em mim desperta e tiro forças
de dentro do meu ser para respondê-lo:
— Isso. — Passo a mão na minha barriga, como se
estivesse protegendo-a dele. — É o seu bebê, uma criança inocente
que realmente não merece um pai covarde como você. Faça o favor
de ir embora e só retorne aqui se um dia quiser de verdade ser o pai
dela. Caso contrário, nunca mais apareça na nossa frente.
O homem nem pensa duas vezes e sai correndo como o
diabo foge da cruz.
Começo a chorar, mas não sei se de alívio ou desespero.
São tantos sentimentos dentro de mim.
Minha amiga vem ao meu encalço e me abraça, descanso
minha cabeça em seu ombro enquanto ela me embala e beija meus
cabelos.
E agora? O que eu vou fazer? Sozinha, grávida e perdida.
Eu só queria a minha mãe aqui comigo para me dar uma
direção, mas meus pais se foram há dois anos. E eles eram a única
família que eu tinha.
O que me resta é criar esse neném sozinha e dar todo o
amor que ele merece. Não serei a melhor mãe do mundo, mas pelo
menos vou tentar.
E não é isso que importa de verdade?
Parte 02.

Saio da maternidade com meu bebê embrulhadinho em sua


roupinha verde, da cor dos seus olhos.
Assim que o peguei em meus braços pela primeira vez,
descobri o que era amor de verdade.
Agora somos só você e eu, rapazinho.

Primeiro mêsversário do Joaquim

— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — Minha melhor amiga


abre a porta da minha casa e se espanta quando me vê. — Por que
está chorando, Naty? — Ela vem ao meu socorro.
— Porque não dormi a noite toda, Joaquim teve cólica, aí eu
o levei ao hospital, o médico quase riu do meu desespero e me
mandou voltar. Não consegui nem tomar um banho, tô fedendo, com
leite vazando e me sentindo a pior mãe do mundo. — Soluço alto e
ela me abraça de lado.
— Mas, meu amor, é comum não dar conta de tudo. Você é
mãe de primeira viagem e não uma super-heroína. — Helena tenta
me consolar.
— Eu não consegui nem fazer um mísero bolo. — As
lágrimas continuam caindo dos meus olhos.
— E nem será necessário, a dinda trouxe tudo para a
festinha do nosso bebê. Agora, vá tomar um banho que eu te ajudo.
A cólica dele já passou?
— Uhum, acabei de colocá-lo para dormir e estava exausta,
mas ao mesmo tempo, tão preocupada que não consegui pregar o
olho. E se ele sentir dor de novo? E se eu não estiver fazendo o
meu trabalho direito? E se ele se machucar? E se…
— Amiga, você está se martirizando e se maltratando. Você
é mãe e não Deus, nem sempre vamos conseguir evitar as dores
dos nossos filhos, a gente tem que fazer o melhor que podemos
dentro das nossas condições. — Continua me abraçando de lado.
— Vai para o chuveiro, amiga, toma um banho quente e tenta
relaxar, nós vamos estar aqui sãos e salvos quando voltar. — Me
empurra em direção à minha suíte e eu vou.
Quando termino o banho, me sinto bem melhor. Chego na
sala e Helena arrumou a bancada com um bolinho, alguns docinhos
e o número 1 em forma de balãozinho para tirarmos foto.
Tá tudo tão lindo que quero chorar.
— Obrigada, amiga! Eu precisava disso. De um ombro amigo
e de cinco minutinhos para mim — agradeço.
— Você precisa saber pedir ajuda, meu amor. Eu não
consigo adivinhar o que se passa aqui. — Aponta para a minha
cabeça. — Ainda mais que ainda está dando reuniões e
entrevistando pessoas. Não tem como dar conta de tudo. Mas a
partir de agora, sempre que puder, venho lhe dar uma mãozinha e
peça à Neide que venha mais dias da semana para que fique mais
tranquila, certo? — pede com carinho, mas com a voz firme.
— Pode deixar, amiga. Eu vou tentar. E mais uma vez,
obrigada! — É tudo o que posso dizer.

Cinco meses do Joaquim


— Não acredito que escolheram modelos que não tem nada
a ver com a nossa marca, eu dei nomes e perfis, e a Maria, que é a
minha assistente, também indicou sites e agências, o que aconteceu
para que passassem por cima dos nossos pedidos?
Estou numa videoconferência com muita raiva da equipe de
marketing e publicidade, que fingiram não ver as nossas indicações
e fizeram essa merda.
— Dona Nathália, éerrr… hummm — uma das meninas se
embola.
— O quê? — Já estou tão estressada que nem consigo mais
ser gentil.
— Sua blusa está molhada — ela me avisa.
Olho para baixo e só falto morrer de vergonha, tem leite
vazando do meu sutiã.
Mas é claro que tem. Além de Joaquim estar mamando
pouco esses dias por conta de uma pequena infecção, eu estou
mais do que irritada.
— E vai continuar vazando se essa reunião demorar mais do
que o necessário. — Ouço um choro e vejo pela babá eletrônica que
meu filho acordou. — Só um momento, senhoras.
Vou até o quartinho dele e o pego no colo, levando-o para o
meu escritório e continuo a chamada dando de mama para ele.
Meu peito está doendo por ter ficado esse tempo todo sem
amamentá-lo.
Então, dane-se que esse povo se incomoda com as nuances
da maternidade. Eu é que não vou deixar de cuidar do meu filho
porque estão incomodados e fazem cara de desgosto.
— Podemos continuar ou querem falar alguma coisa? —
Faço a minha melhor pose e voz de CEO, ainda que esteja com o
seio de fora enquanto meu filho está se alimentando e todas
respondem um sim em uníssono. — Muito bem.

Dez meses do Joaquim


É! Não vai dar, eu preciso contratar uma babá, mas estou
morrendo de medo. Não vou conseguir adiar o meu retorno para a
empresa.
Outro dia tive que levar o Joaquim para lá e foi uma loucura,
meu filho é muito tranquilo, mas ali não é local para uma criança de
tão pouca idade.
Não quero colocá-lo em uma creche agora, acho muito cedo,
prefiro contratar alguém que dê total atenção para ele.
Me sinto meio mal por não conseguir dar conta de tudo,
porém preciso me forçar a entender que sou só uma. E não me
resumo a ser apenas mãe. Tenho a minha vida pessoal e uma
empresa para gerir.
Uma babá seria o ideal para me auxiliar nesse momento.
Está decidido, agora mesmo começarei a busca e as
entrevistas. Espero conseguir encontrar alguém de confiança logo.
Um ano e meio depois.
Como é difícil encontrar alguém de confiança, puta merda!
Eu vou voltar ao escritório, é isso, já fiquei tempo demais
afastada. Como sou a CEO, além de fundadora e por nunca ter
tirado férias ou folgas em feriados, me dei uma licença-maternidade
maior, ainda que nunca tenha me afastado completamente, as
maiores decisões e reuniões sempre eram comandadas por mim.
Depois do meu quase ataque de nervos na
videoconferência, onde acabou vazando leite por toda a minha
blusa, percebi que não poderia deixar tudo nas mãos de Maria,
ainda que eu a tivesse moldado do jeitinho que a minha empresa e
eu necessitávamos. Haviam coisas que eu precisava ficar de frente.
Eu estou tão desesperada com isso, além de não aguentar
mais entrevistar babás para cuidar do meu filho e não gostar de
nenhuma.
Será que sempre fui exigente e chata assim? Ou é só o
amor incondicional de mãe falando mais alto?
E por falar no meu bebê, Joaquim nasceu com quase quatro
quilos, ele é um bebezão. Tão lindo e perfeito, com seus olhos
verdes e pele marrom, uma mistura minha com Aquele que Não
Deve Ser Nomeado, uma bochecha tão gostosa de apertar e um
cheirinho viciante.
Não sei se vou aguentar ficar tantas horas longe, mas
preciso. Passei esses meses cuidando dele praticamente sozinha,
só pedia ajuda às minhas amigas quando realmente era necessário.
Não sou muito de confiar nas pessoas, creio que seja essa a minha
dificuldade em encontrar uma babá para o meu Joaquim.
Miguel nunca mais me procurou, nem no dia do nascimento
do nosso filho, nem depois disso. Eu o avisei por telefone, mais por
desencargo de consciência mesmo, para que ficasse ciente de que,
ainda que tardiamente, ele poderia tentar uma aproximação,
contudo, ele nem se dignou a me responder, nos ignorando
completamente.
Escuto um leve bater na porta que me tira dos meus
devaneios, não sei quem pode ser, pois já entrevistei todas as
babás por hoje. Já estou entrando no modo desespero.
Abro a porta para saber quem é, e fico surpresa com o que
vejo à minha frente. Tem um homem lindo parado no batente. Ele
me lembra um pouco alguém, mas sou dona de uma grande
empresa, então, vejo muitos rostos diferentes e acabo me
confundindo às vezes.
Enrugo a testa por não entender o porquê está aqui, e antes
que eu possa perguntar, ele timidamente estende a mão e gagueja
um pouco ao se apresentar:
— Bo-boa noite, me cha-chamo Henrique, espe-pero não
estar muito atrasado para a entrevista de babá. — Ele continua com
a mão estendida e eu sem entender. O loiro respira fundo, creio que
tentando criar mais coragem porque suas bochechas estão
vermelhas.
O rapaz lindo na minha porta corou, nunca tinha visto um
homem corar de vergonha. Além de lindo, é fofo.
Decido parar com a tortura psicológica destinada ao rapaz e
estendo minha mão para que aperte, vejo-o relaxar os músculos e
um suspiro de alívio sair de sua boca.
— Muito prazer, Henrique, mas eu não selecionei o seu
currículo, creio que seja algum engano. — Nós dois ainda estamos
sacudindo as mãos enquanto conversamos na porta do meu
apartamento.
Ele parece perceber e solta a sua mão da minha.
— Não, não selecionou, na ver-verdade, eu vim por
indicação da minha cunhada, Maria, sua assistente. Acho que ela
ficou sem bateria e não conseguiu avisá-la. — Creio que o
nervosismo dele passou um pouco, pois a gagueira diminuiu.
Ainda que seja lindo, tenha uma aura de nerd/tímido, core e
gagueje ao ficar nervoso, eu não posso deixar que um homem que
nunca ouvi falar na minha vida entre na minha casa. Ele percebe
que estou pronta para negar a sua entrevista, pede um minuto para
tentar falar com Maria e eu acabo concedendo.
Não me custa nada entrevistar mais alguém, principalmente
alguém recomendado pela minha assistente. Já que estou com
dificuldade para aceitar que pessoas estranhas cuidem do meu filho.
Meu telefone começa a tocar assim que ele desliga a ligação
e vejo que é ela.
“Oi, Maria!”, atendo o telefone.
“Desculpe não ter avisado que o meu cunhado estava indo
fazer a entrevista, mas eu meio que me enrolei aqui na empresa, sei
que parece estranho um homem como babá, mas posso lhe garantir
que ele é perfeito para o cargo, além de ser formado em pedagogia,
já cuidou de algumas crianças no bairro onde mora e estagiou em
uma escola infantil…”, minha assistente fala rápido demais com
medo de que eu não aceite entrevistar o rapaz.
“Tudo bem, Maria, eu vou conversar com ele. Obrigada.”
Encerro a ligação.
— Certo, Henrique, você tem alguns minutos para me
convencer. — Abro a porta e mostro o sofá da sala para que se
sente.
Ele se atrapalha um pouco, tropeçando no tapete, mas logo
se recompõe e senta onde indiquei.
Lindo, mas desastrado.
O loiro começa a mexer as mãos e parece estar suando frio,
então decido iniciar a entrevista antes que o rapaz tenha um ataque
de nervos na minha frente.
— Me conta um pouco sobre você, suas experiências e o
porquê de querer trabalhar como babá. E… me desculpe por dizer
isso, mas acho estranho um homem, principalmente jovem, querer
esse cargo. Atendi apenas mulheres, em sua maioria mais velhas,
então, estou meio perdida aqui. — Não consigo não perguntar sobre
isso.
Ele parece entender o meu receio, pois o seu semblante se
suaviza na hora que as palavras saem da minha boca.
— Entendo completamente a sua preocupação, não tenho
filhos, mas meu irmão caçula é como se fosse um pra mim. Seu filho
é o seu bem mais precioso, mas, como a minha cunhada
provavelmente contou, eu sou pedagogo, cuidei de algumas
crianças do meu bairro, posso te passar os telefones de algumas
mães solo que ajudei. E como disse, eu ajudei na criação do meu
irmão mais novo. — Faz uma pausa e se ajeita um pouco no
estofado.
— Entendo — é a única coisa que digo, porque sei que ele
tem mais a dizer.
— Minha mãe faleceu quando éramos bem jovens e meu pai
precisava trabalhar, eu ficava em casa cuidando dele, meu outro
irmão não tinha muito tempo… eu meio que me virei sozinho por um
bom período, uma tia minha apenas me ensinou o básico, pois ela
também precisava trabalhar e cuidar da casa. Meu irmão caçula tem
dez anos e está vivo, então… acho que fiz um bom trabalho. —
Solta uma risada nervosa.
— Que bom que ele está vivo. — Acho graça da sua piada.
— Me formei em pedagogia, trabalhei por dois anos no
Ensino Infantil, e aqui está a carta de recomendação. — Ele tira um
papel de dentro da sua pasta e me entrega, aproveito para ler.
— Uau! Muitos elogios à sua pessoa. — Realmente estou
impressionada. — Você lecionou com turmas de que idade?
— No primeiro ano, lecionei com uma turma com a média de
dois anos. No ano seguinte, trabalhei com uma de oito meses a um
ano. Mas tive que sair para ficar de olho no meu irmão. Estou
tentando engatar no ramo da Literatura, mas o trabalho de escritor,
infelizmente, no Brasil, ainda não é bem valorizado.
Concordo, percorrendo mais uma vez pela sua carta de
indicação. Não sei qual tipo de livro ele escreve. Mas creio que não
seja algo tão rentável. Contudo, fico mais curiosa quanto a essa
questão de ele cuidar do irmão, afinal, parece ser bem jovem para já
ter cuidado de alguém com dez anos.
— Você disse que saiu do trabalho para ficar de olho no seu
irmão, e agora com quem ele está? Preciso saber, pois imagino que
ele deve ser bem apegado a você e preciso de alguém que priorize
o meu filho. Não me entenda mal, eu estou impressionada que um
rapaz tão jovem como você já tenha tido esse tanto de
responsabilidades, mas preciso de alguém que trabalhe boa parte
do dia para mim durante a semana, e algumas vezes nos finais de
semana, claro que pagarei hora extra, mas como isso vai funcionar
para você? — O rapaz assente, compreendendo minha
preocupação.
— Ah, não se preocupe com isso, eu estou cem por cento
disponível para o cargo, meu pai se aposentou e agora está
tomando conta do nosso caçula.
— Tudo bem, é disso mesmo que preciso. E quantos anos
você tem? — Fofoca pela metade mata fofoqueira, ele parece não
estar nem próximo dos 30, a não ser que tenha um ótimo esteticista.
— Tenho 24. — Levanto tanto as minhas sobrancelhas que
elas só faltam encostar no couro cabeludo. — Eu sei que sou bem
jovem, mas ga-garanto que estou apto para o cargo. Eu amo
crianças, sou responsável, não cos-costumo sair muito, sou
confiável, pontual e prestativo, além de ter experiência. Me
interessei por essa vaga, porque ela é tudo o que estou pro-
procurando, tanto por fazer algo que gosto quanto pelo salário. —
Ele coça um pouco a nuca e me parece estar voltando a ficar
nervoso, com medo de uma negativa.
O avalio com o olhar, olhando-o de cima a baixo, vejo que
suas bochechas voltam a corar diante da minha inspeção e há uma
incerteza em seus olhos azuis.
E que olhos lindos!
— Bem, Henrique, eu não fiquei surpresa negativamente
sobre você. Na verdade, estou impressionada. Você cuidou do seu
irmão praticamente sozinho desde os 14 anos, apenas com a ajuda
de uma tia. — Ele fica aliviado com o que falo e é nítido quando
esse alívio toma o seu rosto bonito.
Realmente estou impressionada, eu, uma mulher de 34
anos, na época 33, que quase surtou porque ia ter um bebê, e esse
homem à minha frente teve que cuidar do irmão com apenas 14
anos, algo que nem era de sua responsabilidade e ainda saiu de um
emprego porque queria ficar mais próximo dele.
Quero assinar a carteira dele agora.
— Ah, obrigado. — Dá um sorriso de canto de boca, o rapaz
olha ao redor da sala, desviando os seus olhos dos meus, me
possibilitando analisar o seu perfil.
E que sorriso lindo. Quero morar nesse sorrisinho. Quer
dizer, quero contratá-lo por causa dos seus atributos. Atributos
profissionais, claro.
Ele continua olhando pelo cômodo, creio que ainda um
pouco tímido com o elogio. Acho que o deixei sem graça.
É isso, está contratado. Currículo impecável e além de lindo,
é humilde.
— E você teria disponibilidade para praticamente morar
aqui? — Volto a fazer perguntas sobre o trabalho. — Porque preciso
de alguém que chegue de manhã e vá embora à noite. Vou pagar
um bom salário com benefícios, é claro, e também horas extras,
como já disse. A princípio, os finais de semana serão livres, mas
caso precise de seu auxílio, irei avisar com antecedência —
exponho a minha situação, querendo muito que ele diga sim. Já que
é mais do que qualificado para o cargo e foi a única pessoa que
gostei e simpatizei nessas um milhão de entrevistas que vim
fazendo durante a semana. Além de ele ser cunhado e indicação da
minha assistente, a qual eu confio cem por cento. E creio que isso
será o mais próximo de conhecido que irei encontrar para o cargo.
Me sinto um pouco mais segura assim.
Sei que me chamam de chata e exigente, e eu sou mesmo,
é do meu filho que estou falando, preciso de alguém qualificado e
confiável.
— Claro, eu não moro muito longe daqui, inclusive, pode me
chamar aos finais de semana, caso precise sair. Estarei sempre à
disposição. — Ele parece ansioso e eu também estou, é quase um
milagre. Já estava perdendo as esperanças de encontrar alguém e
iria acabar levando o Joaquim para o escritório comigo, não quero
deixá-lo em uma creche, ainda.
— Bom, vou voltar ao escritório em duas semanas. Posso
pedir para que venha a partir de amanhã e faremos essas duas
semanas como um período de experiência?
Henrique abre a boca em surpresa, creio que seja por estar
sendo aceito para o cargo de babá. E um sorriso grande e genuíno
– com covinhas – surge em seu rosto.
Ele tem covinhas!
— Mas é cla-claro, muito obrigado pela oportunidade.
Prometo que não se arrependerá. Não sei se está cedo ainda ou se
prefere deixar para amanhã, mas posso conhecer o Joaquim? Esse
é o nome dele, não é? A Maria me contou. Ou ele tem o sono leve?
Creio que esteja dormindo, certo? — E como se o meu filho tivesse
ouvido que estávamos falando dele, escuto o seu choro baixinho.
Vou até o seu quarto – decorado com um papel de parede
de bichinhos – sendo seguida de perto por Henrique. Tiro meu bebê
do seu bercinho com lençol e fronha de animais e coloco-o em meu
colo. Verifico sua fraldinha e não está suja, ele começa a esfregar o
seu rostinho em meu peito e já sei que quer mamar.
Me sento na cadeira de amamentação e Henrique pega uma
almofada de apoio, colocando em cima do meu colo, agradeço-o e
começo a amamentar o meu filho.
Joaquim já começou a comer algumas coisas, já iniciamos a
introdução alimentar dele, mas sempre que acorda, quer um
pouquinho do meu leite.
Henrique pergunta se preciso de mais alguma coisa, eu
apenas sacudo a cabeça em negativa e ele se retira para nos dar
privacidade.
Quando Joaquim já está satisfeito, coloco-o para arrotar e o
levo até a sala.
Henrique está de pé, nos aguardando.
— Posso pegá-lo? — pergunta, estendendo os braços fortes.
Pode me pegar também, inclusive.
De onde surgiu esse pensamento?
Meu Deus! Ele será o babá do meu filho. Tá louca, mulher?
— Claro. — Coloco Joaquim em seu colo.
Quim se aconchega no peito de Henrique e o observa com
seus grandes olhos verdes, o rapaz faz uns barulhos engraçadinhos
e meu filho não aguenta e começa a rir em seus braços. Henrique
cheira a cabecinha dele e logo volta a afastar o rosto para prender
mais uma vez seus olhos nos do meu filho, que envolve seu dedo
com a mão pequena e gordinha.
Ah, pronto! Mas que dado. Ele nem é de ir com qualquer
pessoa, sempre fica desconfiado, mas parece que o seu babá
realmente leva jeito.
Eu te entendo, filho, é difícil não ficar cativado com esse
homem. Como é lindo, fofo e carismático. Dá até uma agonia, não
sei, uma vontade de morder.
Depois de um tempo rindo e admirando o seu mais novo
amigo, Joaquim fecha os olhinhos e volta a dormir, agarrado em sua
blusa. Esse menino acordou só para mamar, é um esganado de
fome mesmo.
O babá vai até o quartinho, coloca-o deitado em seu berço,
encostando a porta com cuidado para não fazer barulho, deixando
apenas uma brechinha aberta para que eu escute caso chore
novamente.
Henrique me olha e dessa vez sou eu que estendo a mão
para ele.
— Bom, o cargo é seu. Além de ser indicação de uma
pessoa de minha confiança, seu currículo é impecável e meu filho
parece ter gostado de você nesse primeiro momento. — E eu
também, inclusive.
— Fico muito feliz, de verdade. — Vamos caminhando até a
porta da frente. — Que horas devo chegar amanhã?
— Como nesse momento ainda não vou voltar ao trabalho
de imediato, pois quero acompanhar a adaptação de Joaquim com
você, pode chegar às 09h da manhã. Mas quando eu voltar, preciso
que esteja aqui às 7:30. Tudo bem pra você? — Abro a porta para
ele.
— Para mim, está perfeito. Até amanhã, dona Nathália.
Creio que por força do hábito, Henrique me dá um beijo na
bochecha para se despedir. O contato é rápido com a minha pele,
mas sinto que seus lábios são macios e consigo sentir o seu cheiro
de sabonete e creme de barbear. Quando percebe o que fez, ele
fica quase roxo de vergonha.
É tão fofo!
— M-me des-desculpa pelo atrevimento, foi for-força do
hábito. Mil perdões. — Eu não consigo não rir do seu desespero e
ele fica com ainda mais vergonha de mim.
— Ei, relaxa, está tudo bem. Foi só um beijo na bochecha,
nós vamos nos ver todos os dias, não precisa me chamar de dona,
apenas de Nathália, e também não precisa se envergonhar por
conta disso. — Tento tranquilizá-lo.
Ele não sabe onde enfiar a cara e volta a se despedir.
— Tudo bem, Nathá-tália, obrigado pela oportunidade.
Amanhã sem falta estarei aqui.
Não sei o que é mais fofo, o “Nathá-tália” ou o seu
desespero.
— Até amanhã, Henrique.
Fecho a porta, e me escoro nela, rindo.
Há tempos, o único que me fazia rir assim era o Joaquim,
mas esse rapaz, não sei, ele tem uma ingenuidade e pureza que
não sei explicar, é algo que nunca vi.
Vai ser difícil ter um homem lindo e fofo aqui em casa todos
os dias e não poder olhá-lo com outros olhos.
Ainda mais que estou na seca há tanto tempo, o último
homem que transei foi Aquele Que Não Deve Ser Nomeado. Não
gosto nem de lembrar. Ô foda mal dada.
Mas não posso reclamar, se não tivesse transado com o
traste, eu não teria o meu Quim.
Bom… pelo menos consegui um babá para o meu filho,
ainda que ele seja um dos homens mais lindos que já pus os olhos.
Acordo com um chorinho baixo do bebê mais lindo do
mundo, que provavelmente está mijado. Levanto para verificar e
confirmo minha suspeita.
— Bom dia, meu príncipe lindo da mamãe. — Dou um
beijinho em sua cabeça e começo a trocar sua fralda.
Ouço o barulho da campainha e me enrolo um pouco porque
ainda estou de pijama e acabei de trocar o neném.
Ao atender a porta, vejo que é Henrique e o deixo entrar, ele
deixa sua mochila no cabideiro que tem ao lado, e vem me auxiliar.
— Bom dia, Nathália. Bom dia, Joaquim. Posso segurá-lo
para você fazer as suas coisas? — pergunta meio inseguro.
— Claro, preciso tomar um banho e organizar o meu dia.
Não fiz nem o café da manhã ainda. Vou preparar uma tapioca e
você poderia dar pra ele para que eu possa jogar uma água no
corpo? É só colocá-lo na cadeirinha e dar pequenos pedaços que
ele adora. Aqui em cima, do lado esquerdo do armário, ficam os
pratinhos e utensílios. — Vou mostrando para Henrique tudo o que
tem na cozinha que possa ajudá-lo e começo a preparar a tapioca.
Joaquim só mama no peito quando acorda e antes de
dormir, ele tem uma dieta balanceada feita por uma nutricionista.
Meu bebê já vai fazer um aninho. E como vou voltar a trabalhar, fico
menos preocupada em relação a isso.
Termino de preparar a comidinha do meu filho e entrego para
o seu babá, que a assopra um pouco e a separa em pequenos
pedaços para que fique mais fácil para o Quim mastigar. Ele ainda
tem poucos dentinhos, então esse cuidado é importante.
Meu pequeno não estranha o rapaz, o que me deixa aliviada,
e aceita o alimento oferecido de bom grado.
E eu estava tão alvoroçada ao abrir a porta que nem reparei
que esse homem é bonito até com a cara inchada de sono. Na
verdade, reparei sim, só preferi fingir que não percebi.
Por quê, Deus? Vou ter que conviver com um homem desse
sem poder tocar, só olhar.
Fico parada, observando a interação dos dois e acho que
Henrique percebe que estou receosa.
— Pode ir fazer as suas coisas, nós vamos ficar bem —
garante.
Meu filho está fazendo uma bagunça danada com a comida
enquanto o rapaz, com a maior paciência do mundo, continua dando
de pedacinho em pedacinho para ele.
— Vou tomar banho, não irei demorar. — Eu já deveria ter
ido, mas fiquei igual a uma palerma os admirando.
— Sem problemas, pode demorar o quanto quiser, eu estou
aqui justamente para isso. Já trocou a fralda dele? — Apenas
assinto com a cabeça, confirmando.
— Assim que eu voltar, conversaremos sobre a rotina
alimentar dele e no que você precisará me ajudar aqui. Tudo bem?
— O rapaz se volta para mim assim que termino de falar.
E só agora Henrique parece perceber que estou com um
pijama curto de seda e acaba olhando para os meus seios – que já
viram dias melhores antes da amamentação – marcados no tecido
fino, mas rapidamente os desvia e é claro que as bochechas
vermelhas retornam.
Estou até agora impressionada por esse homem corar, além
de ser lindo e educado, claro. É demais para o coração de uma mãe
solo que está carente como eu.
Ele pigarreia um pouco e repete que posso me demorar o
quanto quiser. Mas infelizmente, não posso, porque hoje tenho o dia
cheio e por isso estava tão desesperada por alguém que pudesse
me ajudar.
Tenho tantas coisas da empresa para colocar em dia, e
essas duas semanas, antes de voltar, serão exclusivamente para
me organizar e vigiar o babá.
Sei que parece um pouco demais, mas vou colocar câmeras
em alguns pontos da casa, me sentirei mais segura dessa maneira.
Entro no chuveiro e tento ser o mais breve possível, lavando
bem os cachos que me dão um trabalhão. Os nossos produtos são
muito bons, a Helena e sua equipe são talentosos, mas tenho tanto
cabelo, que só Jesus.
Visto uma roupa leve, mas que posso usar para alguma
chamada de vídeo, uma CEO sempre tem que estar preparada, uso
os meus cremes anti-idade, filtro solar e passo uma maquiagem
leve, só para esconder as olheiras. Arrumo os meus cachinhos e os
deixo secando naturalmente.
Vou andando até a sala, mas Henrique e meu filho não estão
mais lá, então vou até o quarto do neném, encontrando-os.
Ele estendeu o tapetinho do Joaquim no chão, que eu
comprei num site, feito de EVA. O tapete também é com o tema de
safari, assim como toda a decoração do seu quarto, e os dois estão
brincando com a mesinha didática.
Cada vez que meu filho acerta uma forma, uma musiquinha
toca, e ele fica tão feliz que dá risadinhas, balançando ao som da
música infantil. Henrique bate palmas, o incentivando, e ele adora a
festa direcionada para si.
— Meninos, vou preparar um café da manhã para mim, por
favor, Henrique, venha tomar também — aviso e vou andando até a
cozinha.
Mas vejo que já está pronto. Há quanto tempo alguém não
faz um cafezinho para mim? Coloco um pouco na xícara, com
bastante açúcar, me sento para degustar e aproveitar esse
momento.
Não faz parte das suas obrigações preparar qualquer coisa
para mim, que gentil da parte dele. Como uma torradinha com
requeijão e quando me levanto para lavar a louça, ouço passos
atrás de mim.
— Tom-mei a liberdade de preparar para a se-senhora, digo,
vo-você. — Ai! Senhora é de doer. Será que esse tanto de creme
que estou usando na fuça não está resolvendo? E o botox que fiz
dias atrás, já acabou a validade? Preciso ligar para a minha
biomédica, Maryana Ancillotti, ela é ótima com a minha pele.
— E estou muito grata por isso, não faz parte das suas
atribuições como babá, mas caramba, está delicioso. — Eu estou
falando do café, infelizmente.
Henrique está com o meu filho no colo, andando para a
frente e para trás para entretê-lo.
— Que nada, foi só uma gentileza, não me custa nada, eu
estou aqui para facilitar a sua vida. — Percebo que ele só gagueja
quando está nervoso ou ansioso, quando vê que o terreno está
tranquilo, consegue falar sem tropeçar nas palavras.
— Me dá ele aqui para que você possa comer também,
aproveito para ficar com Joaquim um pouco, porque hoje o dia será
cheio. — Pego o meu bebê do seu colo e nossos braços se
encostam, sinto uma vibração vindo desse toque, um arrepio, algo
diferente. E acho que ele também sentiu o mesmo, pois desvia o
olhar rapidamente e segue para encher sua xícara.
Ele toma a bebida em silêncio e bem concentrado, sem nem
levantar o rosto do celular, seu pescoço está vermelho, acho que
está sentindo que estou atrás dele, o observando.
O loiro se levanta e vai lavar a louça, coloca o líquido quente
da cafeteira em uma garrafa térmica, ajeitando tudo. Finalmente traz
seu rosto em minha direção e percebo um pouco de receio em seu
olhar, porém ele cria coragem para falar:
— Você pode ir fa-fazer as suas coisas e eu fico co-com ele
aqui na sala, tomei a liberdade de ve-verificar a sua geladeira e vi
que tem ma-marmitas, uma para cada dia, mas gostaria de saber se
poderia eu mesmo me-me encarregar da co-comida do Joaquim. E
como vou passar o dia to-todo aqui, posso aproveitar e fazer a
nossa. Sei que você deixou bem claro que não preciso fazer isso,
mas não gosto de ficar ocioso, então quero aproveitar para cozinhar
quando ele estiver dormi-mindo. — Troca o peso de uma perna para
a outra enquanto fala.
— Primeiro, Henrique, vamos sentar e combinar a nossa
rotina. — Caminho até o sofá e dou batidinhas ao meu lado para
que ele se sente, coloco meu filho no tapete com os brinquedos
dele, o que o manterá entretido por um tempo. O babá se senta
próximo a mim, mas fica meio de lado para poder prestar atenção
no Joaquim. — Antes de começarmos, precisamos fazer um
exercício juntos de confiança, tudo bem? — O rapaz franze o cenho,
mas assente.
— Que tipo de exercício? — pergunta, curioso.
— Percebi que você só gagueja quando está nervoso,
ansioso ou inseguro, com medo de levar uma negativa ou ser
repreendido, certo? — As bochechas coradas aparecem e ele
assente novamente. — Então vamos fazer o seguinte, sei que
confiança não se ganha de um dia para o outro, mas tanto eu
quanto você precisamos confiar um no outro, então, quero que me
olhe nos olhos, segure a minha mão — estendo a minha, sentindo a
sua gelada e um pouco suada — e respire fundo, olhando para mim.
Consegue fazer isso?
— Sim — é a única resposta que vem dele.
Ficamos um tempo de mãos dadas, respirando e mantendo
nossos olhares fixos um no outro.
Primeiro, vem o desconforto, claro, mas depois, começamos
a nos acostumar e, por fim, a quietude chega.
Solto sua mão e ele parece estar bem menos nervoso.
— Você pode me dizer o que pensa, caso tenha algo que
possa agregar na nossa rotina ou na saúde do meu filho, que é a
minha prioridade. Eu sempre irei te escutar, posso não concordar
com tudo, mas estarei aberta a novas sugestões. Não precisa ficar
nervoso, sou sua chefe, não seu carrasco. Você vai precisar se
encaixar na minha rotina, então é necessário se acostumar comigo.
E falando nisso, eu acordo às 08:30, mas só começo o dia às 09:00,
que é quando esse nenenzinho acorda, ele é um reloginho. Preciso
que essa semana chegue no horário combinado. Eu não sou uma
pessoa de bons hábitos alimentares, então, claro que fico grata que
queira fazer a comida, mas vou pagar por isso, sua obrigação é para
com o Joaquim, não comigo. Imprimi os horários que pretendo
trabalhar, ir à academia, resolver algumas coisas e coloquei na porta
da geladeira para facilitar. Também fiz uma listinha com a rotina do
meu filho, alimentos que pode e não pode, ao que tem alergia, e
outras informações importantes, mas sempre que tiver dúvidas,
pode me perguntar, tudo bem? — Entrego o papel para ele, que
estava na mesinha que fica na frente do sofá.
Ele o pega e dá uma folheada, vendo que organizei tudo por
tópicos e em ordem alfabética, o que o faz dar um sorrisinho fofo.
Meu Deus! Que homem encantador!
— Eu pensava que era a pessoa mais organizada do mundo,
mas você me superou. — Continua com o sorriso no rosto, mas
dessa vez não está tão vermelho e percebo que está falando mais
devagar e espaçadamente para não gaguejar e me passar
confiança.
— Acostume-se, eu sou a louca da organização, você
provavelmente vai encontrar post-its meus por aí. — Olho para a
cadeirinha e vejo que meu filho já está querendo dormir, está
abrindo a boquinha toda hora. O babá o observa também e o pega
no colo para niná-lo. — Bom, vou para o escritório e deixarei a porta
aberta. No quarto dele tem uma babá eletrônica, coloque-o no berço
e pode preparar a comidinha dele, se der tempo, faça a nossa
também, senão só me avise que eu peço algo no aplicativo.
— Tá bom, pode trabalhar tranquila, vou cuidar bem desse
menino fofo — sussurra para não acordar o meu filho, que já está de
olhinhos fechados se entregando ao sono.
— Qualquer coisa é s… — me corta.
— Chamar, eu sei. — Sacode a cabeça em positivo.
Dou um cheirinho na cabeça do Joaquim e vou para o
escritório começar o meu dia de trabalho.
Já são meio-dia e não fiz metade do que tinha planejado. Eu
odeio não cumprir meus horários e metas diárias. Meu nível de
organização não me permite me desorganizar. Faz sentido? Não.
Mas sou assim.
Planilhas com valores, contabilidade, marketing, publicidade,
RH… Meu Deus! São muitas coisas para organizar, eu só preciso
resolver o que é mais importante. Pelo menos, consegui fazer
algumas ligações e agendar reuniões para o meu retorno.
Estalo o meu pescoço e me levanto da cadeira para fazer
um alongamento, estou com uma calça legging, só a blusa é um
pouco mais formal, por isso, tiro-a e fico só de top e calça. Começo
os alongamentos, das mãos, braços, pernas e por último, as costas,
então empino minha bunda e tento encostar minhas mãos nos pés,
quando escuto o meu nome.
— Nathália, o almoço es-está pro-pron… — Levanto de
súbito e olho para Henrique, que parece um pimentão e está
engasgando.
Vou correndo até ele e dou leves tapinhas em suas costas
para ajudá-lo. Ele tenta respirar fundo e faz sinal com o braço de
que já está bem e me afasto.
Quero rir do seu desespero em ver a minha bunda para o
alto, mas não consigo, esse homem é uma fofura que só. Se fosse
outro, ou tinha disfarçado, ou olhado na cara de pau, mas Henrique
está num nível de timidez e respeito diferenciado.
— Está mais calmo? — pergunto, contendo o sorriso. Ele
assente e respira mais uma vez, tentando se recompor.
— S-sim, o almoço está pronto. Só vim avisar. — Aponta
com o polegar para trás de si.
— Ah, perfeito, estou morrendo de fome. — Vou andando
atrás dele até a cozinha americana, onde o almoço está servido e
fico maravilhada. Faz tanto tempo que não via comida saudável feita
para mim, que quero chorar de alegria.
Sim, eu sou sensível.
Ele preparou uma salada verde, com filé de frango, purê de
batatas e feijão. Feijão. Há quanto tempo eu não vejo a cara de um
feijãozinho.

— Acho que vou chorar — brinco com ele.


— Por quê? Fiz mal em preparar essa comida? Se preferir,
pode pedir um delivery para você. — Pega o celular para me
entregar, creio que para eu pedir alguma coisa.
— Pelo contrário, estou maravilhada, comida caseira e
saudável, tanto tempo que não sei o que é isso. — Sei que é algo
péssimo da minha parte.
— Ah! — é a única coisa que diz, meio sem graça.
— Senta aqui e vem almoçar comigo. — Aponto com a
cabeça para a cadeira ao meu lado.
Henrique faz o que peço e começamos a nos servir. O cheiro
está muito bom, assim como a aparência. Estou salivando.
— Hummmmm — gemo em contentamento depois que dou
a primeira garfada. — Que coisa mais perfeita.
— Obrigado. — Ele assente e sorri, mostrando as covinhas e
corando com o elogio.
O quão errado é ter vontade de lamber a bochecha dele toda
vez que ele cora?
Acho que muito, né? Já que sou sua chefe.
Mas talvez só uma lambidinha não faça mal.
Esse homem, além de bonito, gostoso e fofo, ainda cozinha
bem. Duvido que seja solteiro. Mas é claro que não vou perguntar.
Não tenho coragem.
— Então, quem te ensinou a cozinhar assim? — pergunto
entre uma garfada e outra.
— Meu pai, ele era cozinheiro em um restaurante famoso
aqui no Rio. E ensinou todos os filhos, inclusive o meu irmão mais
novo. Claro que o pequeno não mexe em panela de pressão, nem
nada do tipo, mas o básico, ele sabe — conta com o que parece ser
orgulho na voz.
— Eu não sei nem fritar um ovo, fui bem mimada pelos meus
pais e morei com eles até alguns anos atrás quando faleceram.
— Sinto muito por isso, sei que perder alguém que a gente
ama não é nada fácil. — Põe a mão em cima da minha e aperta de
leve.
É um toque suave e sem maldade, mas que aquece o meu
coração e arrepia a minha pele. Henrique percebe que ficou tempo
demais fazendo carinho nela, pigarreia e tira a sua rapidamente,
colocando-a atrás da nuca.
— Bom, eu vou lavar a louça.
— Ah, mas não vai mesmo, quem cozinha não lava a louça,
pode ficando aí. — Faço sinal com a mão para que fique onde está
e começo a retirar os pratos, ele vem logo atrás, guardando as
coisas na geladeira, não dando ouvidos ao que falei.
Henrique se ocupa em guardar as coisas que estavam em
cima da mesa enquanto vou até a pia para fazer o que disse. Depois
que deixo tudo limpo, me viro sem perceber que ele estava vindo
em minha direção e nos esbarramos com força. Meu peito vai de
encontro ao seu abdômen e dou um impulso para trás, quase caindo
no chão. O loiro, em um gesto hábil, me segura com as suas mãos
grandes e fortes, me estabilizando pela cintura.
Que mãos grandes! Dizem que quem tem as mãos grandes
tem o p… o pé grande também! Foi isso o que pensei!

Henrique não solta a minha cintura e a aperta com firmeza.


Olho em seus olhos, depois desvio para a sua boca, ele passa a
língua nos lábios rosados e bem desenhados, engolindo em seco e
desvia o olhar de imediato, saindo do nosso transe e se afastando
de mim.
— Eu vo-vou olhar o Quim — fala, andando de costas e
acaba esbarrando na cadeira, fazendo um barulho alto que
provavelmente acordou o bebê.
O loiro a ajeita, vira de costas e vai quase que correndo para
o quarto do Joaquim.
O que foi que aconteceu aqui?
Me recosto na pia gelada, que acabei de lavar a louça, e
solto a respiração que só agora notei que estava prendendo.
E fico ali parada, com as mãos no mármore, sem saber se
rio, choro ou me preocupo com o que acabou de acontecer, ou não
acontecer, com o babá do meu filho.
Finalmente consegui organizar tudo o que tenho para fazer e
como devo fazer em relação ao trabalho durante essas duas
semanas, antes de retornar ao escritório.
Digo isso como se eu fosse voltar a ficar enfurnada quase 12
horas nele e como se fosse longe da minha casa.
O escritório da Adenium Line – Shampoo e Condicionador –
fica a alguns quarteirões daqui. Como temos muitas filiais, foi
necessário abrirmos uma matriz . E sou tão louca que resolvi
comprar um apartamento o mais próximo possível do trabalho.
Eu detesto trânsito, tenho pânico de ficar horas e horas
parada no mesmo lugar. Só de pensar me dá até uma coceira.
Não abri o meu próprio negócio à toa, não sei se aguentaria
todo dia acordar e ficar tantas horas para chegar e voltar do
trabalho.
Sou uma pessoa muito ativa, que teve que aprender a
diminuir um pouco o ritmo com a gravidez, por isso contratei a
minha assistente, Maria. Ela é uma menina maravilhosa e uma
funcionária exemplar, confio nela de olhos fechados.
Assim que descobri a gravidez, procurei meninas para
trabalharem comigo, Maria se destacou logo na sua primeira
entrevista, muito prestativa, cordial, tinha acabado de concluir sua
faculdade de administração e já tinha estagiado em uma grande
empresa.
Ensinei a ela tudo a respeito do meu trabalho, passei quase
toda a minha gravidez ao lado dela no escritório. Maria virou meu
braço direito, tudo o que acontece, ela me envia um relatório diário.
Lógico que Helena a supervisiona de vez em quando, afinal, somos
sócias.
Termino meus afazeres e fecho o computador, dando por
encerrado o meu expediente. Agora vou verificar os meninos. Digo
agora, mas eu levantei para ir ao banheiro algumas vezes para
observá-los e os dois estavam superbem, dando altas risadas ou
assistindo desenhos juntos.
Henrique é realmente um rapaz paciente, que tem jeito com
crianças e cativante. Joaquim não reclamou nem uma vez sequer
em ficar com ele. Às vezes, até quando está com Helena, meu filho
vem atrás de mim pedindo colo ou fazendo manha.
Hoje consegui trabalhar numa boa. Vamos ver se no
decorrer da semana continuaremos assim e ainda tenho que
receber o rapaz que colocará as câmeras de segurança aqui hoje,
assim que o babá for embora.
Desligo tudo e fecho o escritório, vou até a sala onde os dois
estão, assistindo Mundo Bita e cantando juntos. Que coisa mais
fofa!
Quero colocar essa dupla em um potinho.
— Oi, meninos! — digo para os dois.
Meu filho nem olha em minha direção de tão hipnotizado que
está com o desenho.
— Oi, tudo certo? Já acabou o que tinha para fazer? —
pergunta o rapaz.
— Sim, você já pode ir, já deu o seu horário.
— Mas você não prefere tomar um banho antes? Parece
estar cansada. — Será que as minhas olheiras estão aparecendo?
Meu Deus, Maryana, preciso de você urgente.
Ele vê que coloco as mãos no rosto, preocupada, e acho que
compreende, porque diz logo em seguida:
— Não há na-nada de errado-do com o seu rosto, você
continua lin-linda. Só está parecendo can-cansada mesmo. — Por
mais nervoso que esteja, acho que me elogiou sem perceber.
Quer dizer que ele me acha linda? Você também é. Pena
que é meu funcionário. Um funcionário fofo demais para ser
verdade, mas ainda assim, meu funcionário.
— Ah! Obrigada pelo elogio, não é todo dia que a gente
escuta que é bonita, mesmo estando meio acabada e morta de
cansaço. — Assim que digo isso, ele percebe o que falou e arregala
os olhos. Antes que comece a pedir desculpas, eu o interrompo. —
Se não tem problema para você, eu vou tomar um banho antes que
vá embora. Não vou demorar. — Saio da sala e o deixo sozinho com
o meu filho para que ele não morra de vergonha.
Entro no banheiro e deixo a água quente cair nas minhas
costas que estão um pouco doloridas de tanto ficar sentada e
encurvada. Eu tenho uma péssima postura e sempre acabo ficando
com um pouco de dor.
Termino de me banhar, me secando com a minha toalha
felpuda e quando percebo, vejo que esqueci de trazer uma roupa.
Puta que pariu! Coloco um roupão, enrolo a toalha na cabeça e vou
de fininho para o quarto sem fazer barulho para não chamar
atenção.
Entro no meu dormitório e coloco uma roupinha folgada,
seco o meu cabelo rapidamente e passo um pouco de creme,
tentando penteá-lo depressa sem danificá-lo.
Volto para a sala e o loiro está de pé com Joaquim, agora
sim, meu filho presta atenção em mim e estende os bracinhos
querendo o meu colo.
Que bom! Achei que em uma tarde havia sido esquecida e
trocada pelo babá.
— Amor da mamãe, como foi passar a tarde com o tio
Henrique, hein? — Faço uma vozinha fina que uso quase sempre
para falar com ele, que faz uns barulhinhos fofos e ri. — Você
gostou, é? Que bom, meu amor.
— Precisa de mais alguma coisa, Nathália? — o babá
pergunta.
— Não, Henrique, muito obrigada, você foi excepcional hoje.
Só preciso acertar com você sobre a comida que fez, pois não faz
parte das suas funções e nem ficar depois do seu horário — ressalto
para que fique claro.
— Ah, por favor. Hoje é o meu primeiro dia, podemos falar
sobre as horas extras depois e sobre o almoço, eu fiz com o maior
prazer, afinal, também almocei aqui — dispensa minha oferta.
— Não aceito não como resposta, sempre que fizer algo que
não esteja dentro da sua função, irei pagá-lo. É assunto decidido. —
Ele ia responder, mas pensa melhor e apenas assente. — Te levo
até a porta.
— Não é necessário, mas obrigado. Espero que tenha
gostado do meu trabalho. Amanhã devo chegar no mesmo horário
ou um pouco mais cedo?
— Se puder vir às 08:30, ficarei agradecida.
— Certo, até amanhã então, Nathália. Tchau, rapazinho. —
Sopra um beijo para o meu filho, que dá um sorrisinho com poucos
dentes para ele.
Ele encosta a porta e vou até ela para trancá-la. Ainda é o
seu primeiro dia, mas pude observar que é um bom babá e um
rapaz muito prestativo.
Espero que continue assim.
Saio do prédio de Nathália e vou caminhando até o meu. Eu
não menti quando disse que morava ali perto. Só omiti que morava
no condomínio ao lado para que ela não se assustasse, vai que
achasse que eu era algum stalker ou coisa do tipo, já que apareci
em sua porta e minha cunhada não conseguiu avisá-la que havia
me indicado.
Maria namora o meu irmão mais velho, Luiz, já tem mais de
cinco anos. Ela é uma menina de ouro e ele não a merece, mas
para não arrumar uma briga em família, prefiro não me meter no
relacionamento dos dois.
Chego em casa em menos de dez minutos, abro a porta e
sou recebido pelo meu gatinho, Luke Skywalker. Sou fã da franquia
Star Wars, menos desses filmes novos da Disney, não que eu seja
chato, porém gostei apenas do Episódio VII, depois dele foi só
ladeira abaixo.
Após a aposentadoria do meu velho, vim morar sozinho.
Diego, meu irmão mais novo, e seu Antônio, meu pai, vêm me visitar
constantemente, mas ainda assim, sinto falta dos dois todos os dias.
Eu praticamente criei Diego sozinho. Luiz estava ocupado
demais sendo o Luiz, meu pai estava trabalhando e eu me apaixonei
por aquele garotinho assim que pus os meus olhos nele.
Mamãe morreu de câncer e foi um choque para todos nós
que éramos muito apegados a ela. Meu irmão tinha poucos meses
de vida e tive que aprender a cuidar dele, lidar com o luto e com a
ausência do meu irmão mais velho, quando tinha apenas 14 anos.
Não me arrependo de nada, mas gostaria que as nossas
vidas tivessem sido mais fáceis. As coisas voltaram a melhorar
agora, depois que me formei e papai se aposentou.
Precisava de um emprego fixo para poder quitar esse
apartamento, por conta de um problema financeiro que Luiz arrumou
e tive que resolver as suas merdas, e foi perfeito quando Maria
disse que a sua chefe estava desesperadamente precisando de
uma babá.
Fui com tanta sede ao pote que nem esperei que a minha
cunhada confirmasse, já que Nathália é minha vizinha.
Minha nova chefe é uma mulher linda, foi um baque quando
abriu a porta e dei de cara com aquela perfeição. Porque ela é
perfeita.
E como ela me deixou intimidado, gaguejei de primeira.
Nossa, eu queria enfiar a minha cara no primeiro bueiro que eu
encontrasse.
Aquela mulher é um evento. Não sei como não percebeu
que eu fiquei hipnotizado com a sua beleza. Ou será que percebeu?
Só de pensar nisso, já entro em pânico.
Sei que tenho 24 anos, sou um homem adulto, responsável,
maduro, mas nunca me envolvi com ninguém de maneira séria, na
verdade, nunca me envolvi com ninguém e ponto-final. Eu sou
virgem.
Sim, virgem.
Não posso dizer que não tive nenhuma experiência, pois já
beijei algumas bocas, mas nada muito relevante. Sou tímido demais
e acabava não conseguindo conversar com a menina, já elas se
cansavam por conta da gagueira e desistiam de mim.
Eu também não me esforçava muito por conta do meu jeito
de falar e porque quase não podia sair, já que cuidava do meu
irmão.
Entre cuidar de uma criança, estudar, fazer estágio e cuidar
da casa, acabei deixando para depois, e o depois nunca aconteceu.
Após as coisas se acalmarem um pouco e ficarmos menos
apertados de grana, entrei na terapia e melhorei bastante em
relação as interações sociais com o sexo oposto. Até saí com uma
menina há um tempo, mas ela não estava interessada em mim,
ainda amava o ex e acabei a ajudando a voltar com ele e viramos
amigos.
Sim, eu sou esse tipo de cara.
Mas quando eu a vi, com aqueles cachos volumosos,
aqueles lábios grossos e muito beijáveis, aquela pele marrom
perfeita e uma ruguinha de dúvida no meio da testa, foi isso que
saiu: “Bo-boa noite, me cha-chamo Henrique, espe-pero não estar
muito atrasado para a entrevista de babá.”
Todo o trabalho que eu tive com a fono e a psicóloga em
relação à gagueira foi por água abaixo só porque eu coloquei os
meus olhos nela.
Um virgem emocionado.
Vejo que meu telefone está tocando e dou um sorriso já
sabendo que é meu pai e o Di, eles sempre me ligam nesse horário,
pois já sabem que estou em casa.
“Oi, papai.” Aceno com a mão para ele, que está segurando
o telefone quase colado em seu rosto, ele ainda não aprendeu
direito a mexer nesses celulares novos.
“Oi, meu menino, como foi o seu primeiro dia no novo
trabalho?”, pergunta, ansioso.
"Foi ótimo, o Joaquim é uma criança tranquila, feliz,
inteligente, fofa, não foi nada difícil cuidar dele. Eu tive muito mais
trabalho com esse ser teimoso que está atrás do senhor.”, brinco
com Diego, que está pendurando no cangote do meu pai.
“Ei, eu não te dei trabalho algum, sou um anjinho.” Faz um
bico reclamando.
“Sim, um anjo.” Reviro os olhos. “Porém, como estava
dizendo, foi um dia cansativo, mas gratificante. Por que vocês dois
não vêm aqui esse final de semana e aproveito para contar melhor a
respeito do meu novo trabalho? Hoje foi só o primeiro dia.”
“Nós vamos, sim, meu filho, preciso que explique algumas
matérias para esse rapazinho aqui que está tendo dúvidas na escola
e você sabe que sou péssimo com isso e seu irmão, bem, você o
conhece, ele está sempre muito ocupado para nós.” Vejo no rosto
do meu pai o quanto ele sofre e se culpa pelo Luiz ser assim, uma
péssima pessoa.
“Claro que ajudo, se for algo urgente, podem me ligar à noite
que eu explico, mas tirando isso, vocês estão bem?”. Quero saber.
“Estamos sim, comecei a caminhar pelas manhãs, e o Diego
está ótimo, só com algumas dúvidas escolares mesmo, mas no final
de semana a gente se vê e vocês se entendem.”
“Perfeito, pai, preciso desligar, tomar um banho e descansar,
porque amanhã acordo cedo e vocês também. Beijos, Di. Amo
vocês.” Dou um tchauzinho, encerrando a chamada de vídeo.
É sempre bom conversar com a minha família, eles sempre
melhoram o meu dia, nesse caso, o final dele.
Coloco Luke no chão, pois quando sentei no sofá para falar
com o meu pai, ele veio para o meu colo, e vou tomar um banho.
Tiro minha roupa com certa pressa, jogo no cesto, entro no
box e ligo o chuveiro, deixando a água quente cair. Fico um bom
tempo debaixo do chuveiro, pensando no meu dia de hoje e, do
nada, ela me vem em mente, se alongando, com aquela bunda
perfeita empinada para cima.
Para de pensar nela, ela é proibida para você. É a sua chefe.
Isso. Minha chefe. Proibida.
Linda pra caralho.
Aqueles olhos castanhos me vêm à cabeça, aquela boca,
aquele corpo. Falando em corpo, o meu começa a dar sinal de vida
e meu pau começa a querer se manifestar.
Não. Não. Não. Não. Não.
Eu não posso tocar uma punheta pensando na minha chefe.
Isso é errado de tantas maneiras. Mas quem disse que ele, aqui
embaixo, consegue abaixar?
Troco a água quente pela gelada, mas de nada adianta, ele
continua apontando para o meu umbigo.
Desço minha mão até o meu pau e começo a me tocar,
estou sensível e o rosto dela não sai da minha mente, imagino-a me
beijando, colando o corpo ao meu.
Minha mão acelera os movimentos, para cima e para baixo.
Eu não consigo parar, só escuto o barulho da água batendo em
minhas costas e da minha mão no meu pau.
Nathália está descendo os beijos pelo meu pescoço agora e
eu estou amando, ela não sai da minha cabeça e continuo a me
tocar. Solto um gemido sôfrego.
Meu Deus! Como ela é linda.
Continuo com os movimentos rápidos, não vou aguentar por
tanto tempo, mordo o meu lábio inferior com força até que sinto uma
pontada desde a lombar até a nuca e logo em seguida esporro tudo
no chão do box.
Apoio a minha cabeça no blindex, tentando acalmar a minha
respiração e o meu coração que bate descompassado.
Depois que consigo me acalmar, tomo um banho, de fato,
me sentindo mais leve, mas ainda assim com um peso enorme na
consciência.
Não acredito que gozei pensando na minha chefe.
Ainda que ela seja linda e o sonho de qualquer homem, eu
sou seu subordinado. Isso não deveria ter acontecido.
Preciso urgentemente conversar com alguém a respeito
disso. Não a parte da masturbação, claro. Imagina: “Oi, amigos,
sabe o que é, é que ando me masturbando e pensando na minha
chefe.”
Claro que não, mas preciso desabafar com algum amigo
sobre essa atração que sinto por ela, eu apenas a vi duas vezes e
não consigo tirá-la da cabeça.
Não é possível que isso seja natural, deve ter a ver com a
minha pouca, ou melhor, praticamente nula experiência com
mulheres.
Todas perdiam a paciência comigo e me atropelavam na
hora de falar, ou apenas me beijavam e iam embora.
Acho que ela é a primeira pessoa que, além de me deixar
concluir as falas, ainda que eu esteja gaguejando, sem me apressar,
sem me cortar, sem tentar adivinhar o que estou falando, sem falar
por cima de mim, ainda tenta me acalmar para que eu não fique
constrangido.
Quando ela pegou na minha mão, pedindo para que eu
olhasse em seus olhos e começou aquele exercício comigo, entendi
que ela era diferente. Que é uma pessoa que se importa e que
respeita as diferenças dos outros.
Não sei se é porque é uma mulher mais velha e já deve ter
passado por certas coisas na vida, mas Nathália tem uma calma e
paciência, que transmite paz, ela é… não sei definir o quê.
É, eu acho que estou fodido mesmo.
Depois de passar a noite com peso na consciência por ter
me masturbado pensando na Nathália, consigo dormir pelo menos
um pouco e descansar para o dia de hoje.
Mas o primeiro pensamento que me vem à cabeça é: como
vou olhar nos olhos da minha chefe depois de ter tocado uma
punheta com ela em meus pensamentos e ainda por cima quase ter
tocado outra?
Vou ocupar bastante o meu dia com o meu trabalho e falar e
olhar para ela o mínimo de tempo possível. É isso, acho que assim
vai dar certo.
Coloco água e comida para o meu gato, limpo sua caixinha
de areia, tomo um banho rápido e me arrumo. Ponho uma blusa do
Mestre Yoda, uma calça jeans preta, um All Star também preto, meu
óculos de grau e pego a minha mochila.
Depois de pronto, vou andando até a casa dela, o que não
dura nem dez minutos, dado a proximidade. Em sua porta, já
começo a suar de nervosismo e ansiedade. Respiro fundo e tento
mentalizar que ela não faz ideia da atração que sinto. Bato na porta
de leve e como o porteiro a avisou que eu estava subindo, ela a
abre rapidamente.
— Bom dia, Henrique — me cumprimenta, mas já vira de
costas indo para a cozinha.
— Bom dia, Nathália. — Vejo que Joaquim está na
cadeirinha de alimentação. — Oi, garotão, dormiu bem? — falo com
ele, que está concentrado, esmagando uma banana e tentando
colocá-la na boca.
— Quim acordou cedo hoje, acho que está meio irritado por
conta dos dentinhos — fala, colocando café numa xícara e me
oferecendo. — Senta aí ao lado dele e come um pouco antes de
começar o seu dia, que pelo humor dele, não será tão tranquilo
quanto ontem — me avisa e toma um gole da sua bebida, recostada
na pia.
Como essa mulher consegue ser linda até com remela nos
olhos?
Para de olhar para a sua chefe com essa cara de bobo, ela
vai perceber, digo para a minha consciência.
— Foi assim com Diego também. — Pego algumas frutas e
as pico, colocando-as no pratinho. Ela franze um pouco a testa sem
saber de quem estou falando. — Meu irmão mais novo se chama
Diego, aquele que eu tomei conta. Ele ficou com febre e tudo. E
imagina, um adolescente desesperado, com o irmão de apenas um
ano com febre, de noite ainda, a criança não parava de chorar, foi
complicado. Mas logo em seguida, meu pai chegou e cuidou da
situação — conto a ela o quão complicado foi.
— Tadinho, você deve ter passado alguns perrengues, tão
jovem cuidando de uma criança, de um bebê, no caso. Seu pai tem
muita sorte de te ter como filho. Eu com 15 anos comia barro. —
Quase cuspo minha comida com a risada que dou.
— Isso, eu duvido, principalmente porque é jovem e já é tão
bem-sucedida. — Limpo minha boca com um guardanapo.
— Sim, foi uma piada, mas em relação a serviços
domésticos e cuidar de bebês, com 15 anos, eu realmente comia
barro. — Dá uma risada gostosa e a acompanho.
Tomamos o nosso café tranquilamente em meio a uma
conversa amena e algumas risadas. Graças a Deus, fico mais
tranquilo em relação à ontem.
Por mais que ela me deixe sem jeito, ainda assim, é fácil
conversar com a minha chefe. A sua leveza e simpatia faz com que
eu me sinta em casa.
— Pode ir começar o seu trabalho que vou tratar de limpar
esse garotinho — digo.
— Ah, hoje não tenho muita coisa para fazer, ontem eu
passei quase a madrugada toda trabalhando enquanto esse
menininho dormia. Quero descansar um pouco para levarmos ele a
pracinha. Tudo bem para você? — pergunta enquanto lava a louça
do café.
— Claro, por mim tudo bem. — Assinto com a cabeça.
— Então, vou tirar um cochilo rapidinho e a gente vai, porque
também não podemos ir muito tarde por conta do sol. — Seca as
mãos no pano de prato, vem em nossa direção, dá um beijinho no
filho e pisca um olho para mim, nos dando as costas e indo para o
seu quarto.
Começo a limpar um Joaquim que está todo sujo de fruta e
verifico a sua fralda também para já fazer o serviço completo. Não
está suja, provavelmente a mãe dele o limpou antes de eu chegar.
Coloco-o novamente em sua cadeirinha enquanto arrumo
sua bolsa para irmos ao parquinho aqui do condomínio.
Passado uma hora mais ou menos, vejo que Nathália ainda
não acordou e realmente vai acabar ficando tarde para levarmos o
bebê para um passeio.
Bato em sua porta de leve, ela não atende, bato novamente
e nada, como está encostada, empurro-a e vejo que está dormindo,
com a boca levemente aberta e dá para ver o quão pesado está seu
sono.
Decido deixar um bilhete informando que levarei Joaquim à
brinquedoteca aqui do condomínio, que com certeza deve ter uma
parte com brinquedos para crianças da idade dele.
Grudo o papel na porta da geladeira, pego a bolsa com as
coisinhas do neném e ponho Joaquim no colo para irmos brincar um
pouco fora de casa.
Espero que ela não se chateie.
Joaquim, que antes estava estressado, agora parece outra
criança, ele brinca na salinha, numa parte onde tem alguns carros e
aviões grandes para que os pequenos não os coloquem na boca e
os engulam. Ele joga os carros e depois vai engatinhando para
pegá-los de novo e ri da própria brincadeira.
Esse menino é uma figura.
Escuto passos atrás de mim e vejo uma mulher muito bonita,
com a pele marrom, cabelos cacheados e uma roupa um pouco
formal de quem parece trabalhar em um escritório, parar à minha
frente e perguntar:
— Quem é você e o que está fazendo com o meu afilhado?
— Aponta o dedo em minha direção.
— Eu so-sou o Henrique, babá do Joaquim. — Estendo
minha mão para cumprimentá-la.
A mulher me olha de cima a baixo desconfiada e com razão,
afinal, ela nunca me viu, sou um estranho com o seu afilhado no
parquinho do prédio, mas estende a mão para me cumprimentar de
volta.
— Eu não sabia que a minha amiga já havia contratado um
babá… e que babá — fala a última frase baixinho, mas consegui
escutar e acabo ficando um pouco corado com o que diz.
— Ho-hoje ainda é o meu segundo dia. Acredito que seja por
isso que ela ainda não tenha contado nada.
— Certo, vou subir e tentar falar com a Nathália, pois não
está me atendendo e isso não é do feitio dela, acabei ficando
preocupada — a mulher conta o motivo de estar aqui.
— Ela estava muito cansada e acabou apagando, deixei que
dormisse e vim para a brinquedoteca com o Joaquim. Mas já
estamos há bastante tempo aqui, vamos subir também. — Pego o
neném no colo, vou andando para as escadas do prédio e ela vem
logo atrás de mim.
Abro a porta e creio que a minha chefe ainda esteja
dormindo, porque a casa está silenciosa.
A mulher, que não me disse o seu nome, vai até o quarto e
acho que fica do mesmo jeito que eu, com pena de acordá-la,
porque volta sozinha e tentando não fazer muito barulho.
— Meu Deus! Ela está roncando. Coitada da minha amiga,
cuidar de criança e trabalhar realmente é algo cansativo. Naty está
apagada. — Coloca a mão na boca para abafar uma risada, mas
sem sucesso algum.
— Ela disse que passou a madrugada trabalhando e dormiu
pouco, íamos para o parquinho juntos, mas fiquei com pena de
acordá-la — conto. — Porém, agora vou aprontar o banho do
Joaquim, se puder olhá-lo um instante enquanto encho a banheira
dele.
— Claro, claro, pode ir. — Pega o bebê do meu colo, que vai
de bom grado, reconhecendo a madrinha. — Oi, meu amor, como
você está? Com saudade da dinda? A dinda estava morrendo de
saudade de você também. — Vai andando até o sofá com ele.
Ajeito a sua banheira no banheiro enorme do apartamento,
coloco água morna e deixo o sabão neutro e a sua toalhinha de
bichinhos próximos.
Sua madrinha o traz para mim e tira a sua roupinha, pego-o
do colo dela e começo a dar banho nele, com ela me observando.
Não me sinto incomodado com a sua presença, afinal, ela não me
conhece.
Termino de dar banho em Joaquim e ela o envolve com a
sua toalhinha com capuz e orelha de coelho.
Vamos até o quarto dele, eu o coloco deitado no sofá grande
que tem ali, em cima do trocador, ponho sua fralda e depois sua
roupinha com a ajuda da mulher ao meu lado.
— Por quanto tempo eu dormi que nem vi a Helena furacão
entrar na minha casa? — Nos viramos e vejo Nathália bocejando
com a mão na boca.
Finalmente descubro o nome da mulher que acabei de
conhecer.
— Amiga, você estava apagada, roncando feito motor de
carro velho e até eu, que não costumo sentir pena de ninguém, senti
de você. — Vai até a amiga para abraçá-la.
— Eu não ronco. — Abraça-a de volta.
— Não ronca pouco e nem baixo, né? — Helena ri e ganha
um tapa no braço de leve.
— Engraçadinha, mas me diga, o que veio fazer aqui no
meio do expediente? — Vem andando em minha direção e pega o
Joaquim do meu colo, dando um cheiro em seu pescoço e segue
para a sala, comigo e Helena indo atrás.
— Fiquei preocupada porque não me atendia, você não é de
fazer essas coisas. Fiquei umas duas horas te ligando e como não
tinha resposta, vim correndo para cá. Encontrei essa beldade com o
meu afilhado e achei estranho, por mais que seja lindo, nunca o vi
na vida, mas ele me contou que é o novo babá. — Aponta para mim
com a cabeça e fico morrendo de vergonha. Devo estar parecendo
um pimentão.
— Helena, você vai deixá-lo sem graça. Desculpe, Henrique.
Ela é sem noção assim mesmo — Nathália ralha com a amiga.
— Tu-tudo bem, sem problemas. Vou preparar o almoço —
aviso, apontando com o polegar para a cozinha.
— Ah, você é um anjo. Muito obrigada, mas se preferir, peço
alguma coisa — informa.
— Não, como está acordada, prefiro fazer. Vou deixar vocês
duas conversando. — Me viro para ir para a cozinha.
Começo a preparar a comida, mas como é uma cozinha
americana, consigo ouvir o que dizem e Helena não é nada discreta.
— Esse homem lindo sabe cuidar de crianças e ainda
cozinha para você? O que é isso, um filme?
— Helena, para de ser assim, o garoto vai te ouvir. Sim, ele é
um achado. Educado, gentil, prestativo, foi indicação da Maria. Sinto
que devo tanto a essa menina, ela quebra cada galho meu.
— Sim, ela é ótima. Mas por que não me contou que já havia
encontrado um babá? Já estava preocupada sobre isso.
— Eu esqueci, amiga, sabe que sou organizada, mas tenho
a memória da Dory.
As duas engatam em alguns assuntos aleatórios enquanto
termino de preparar o almoço. Ajeito primeiro a comida do Joaquim,
pego-o dos braços de sua mãe, que agora conversa sobre trabalho
com a amiga, e o coloco sentado em sua cadeirinha, dou colheradas
pequenas para ele, que come feliz, fazendo um pouco de sujeira
com a comida.
Limpo seu rosto e o pego no colo, vejo que está cansado e
querendo dormir, então vou para o seu quarto, sento na cadeira de
amamentação e fico com ele ali até que durma no meu colo.
Coloco-o deitado em seu berço, viro bem a babá eletrônica
para ele e vou para a sala almoçar.
As mulheres já estão sentadas, se servindo e me sento ao
lado de Nathália, fazendo o mesmo.
— Eu achei a comida de ontem boa, mas a de hoje está
ainda melhor, Henrique! Olha esse kibe de forno de frango e essa
saladinha. Hummm. Perfeitos — Nathália elogia com um sorriso
enorme preenchendo o seu rosto bonito.
Como ela é linda, mesmo com a cara inchada de quem
passou horas dormindo.
— Que bom que gostou. — Dou um sorriso tímido.
— Está bom mesmo. Mas, Henrique, me conta. De onde
você veio, tem mais parecido contigo ou você é filho único? —
Helena pergunta.
Engasgo com o suco de uva que estava bebendo e ela dá
tapinhas nas minhas costas.
— Amiga, pelo amor de Deus. Por que você é assim? Deixa
o meu babá em paz, ops, o babá do Joaquim — Nathália se corrige
rapidamente.
O meu babá, não sei por que essa frase ficou tão linda
saindo da boca dela. Pareceu tão errado e tão certo ao mesmo
tempo.
Mas como sou sonso! Claro que sei. É porque quero ser
dela, não seu babá. Deu para entender.
— Foi mal, Henrique, eu sou meio sem noção às vezes —
Helena pede desculpas.
— Tu-tudo bem, e sim, eu tenho um irmão mais velho, mas
ele já é comprometido, e um irmão de dez anos — conto.
— É uma pena, mas enfim, não custava nada perguntar. —
Dá de ombros, encerrando a conversa.
Escuto um chorinho e Nathália e eu vamos depressa ao
quarto do Joaquim, mas ele ainda está dormindo, um sono meio
agitado.
— Acho que está tendo um pesadelo — digo para ela, que
faz um carinho de leve em sua cabeça.
— Meu coração fica apertado quando o vejo assim, eu
costumo sonhar muito também e falar dormindo. Talvez ele tenha
puxado isso de mim. — Ela continua com as carícias, fazendo com
que o bebê volte ao sono profundo e longe de pesadelos.
— Pode ser. — Encaro-a por um segundo antes de voltar a
minha atenção ao Joaquim e o olhando assim... todo agitado e
dormindo, quase consigo me ver durante o sono. — Eu tenho o
costume de sonhar bastante, sabe? Às vezes com peixes voando e
coisas malucas, mas também com coisas bem nítidas... inclusive,
com a minha mãe — sussurro as últimas palavras, mas sei que ela
ouviu. Meu Deus, por que contei isso a ela?
— Eu também sonho com os meus pais. É difícil perder
quem amamos. Os sonhos nos deixam mais próximos deles, pelo
menos é o que eu acho. Sempre que sonho com os dois, acordo
feliz, ainda que a saudade doa em meu peito.
— Eu sinto o mesmo. — Nathália olha para mim e vejo
compreensão em seu olhar.
Aperto sua mão para confortá-la e ficamos ali por um bom
tempo desse jeito, nos olhando e com as mãos entrelaçadas.
Nossa conexão é quebrada e nos afastamos rapidamente,
porque Helena entra no quarto para se despedir e ao perceber que
estávamos com as mãos unidas, arqueia uma sobrancelha para
mim. Porém, não fala nada, pois minha amiga ainda tem muito
trabalho na empresa e realmente veio apenas para checar se eu
estava bem e me passar alguns relatórios.
Henrique vai para a cozinha colocar as coisas do almoço em
ordem e eu vou trabalhar.
Ontem quando ele foi embora, mandei instalar algumas
câmeras. Assim me sinto mais segura em relação ao Joaquim.
Adiantei algumas coisas da empresa, mas creio que irei ter
que agendar algumas reuniões essa semana, já estou me
preparando psicologicamente para ficar longe do meu filho.
Duvido que ele note a minha ausência, do jeito que anda se
apegando ao babá, mas eu sou sua mãe e nunca fiquei longe dele
por mais do que algumas horas. Apegada demais? Eu sei. Mas
dizem que mãe é tudo igual e a minha não era diferente comigo.
E por falar nisso, eu nunca havia me aberto sobre os sonhos
que tenho com ninguém, era algo bem íntimo e pessoal, mas
Henrique tem uma coisa, ele nos passa um conforto, uma vontade
de nos abrir. Sentimentalmente falando, claro. Nada de duplo
sentido.
Começo uma videoconferência com o supervisor de estoque,
porque andaram sumindo alguns produtos e quando terminamos de
falar, vejo que amanhã mesmo terei que verificar por mim. Estou
quase querendo que o babá vá comigo, sendo que eu o contratei
justamente para isso.
Finalizo o serviço com uma dor de cabeça enorme, parece
que ela vai explodir, fecho tudo e vou para a sala, querendo apenas
tomar um remédio e cinco minutos de paz.
Vejo que Henrique e Joaquim estão brincando no chão, meu
filho ri das palhaçadas que o babá faz e eu queria tanto apreciar
esse momento, mas estou péssima.
Ele percebe o meu desconforto porque logo em seguida
pergunta:
— Está tudo bem, Nathália?
— Eu estou morrendo de dor de cabeça, parece que ela vai
explodir. — Levo a mão à têmpora, massageando-a.
— Ah, vi alguns remédios no armário da cozinha e sei fazer
um chá que ajuda muito, eu costumava ter bastante antes de usar
óculos. — Mas não é possível a perfeição dessa pessoa, ele sabe
fazer chá. Assim fica difícil.
Continuo de olhos fechados e com a cabeça encostada no
encosto do sofá, porque dói só de pensar em abri-los.
— Eu aceito o remédio, não sou muito fã de chá, mas se
puder fazer, serei eternamente grata. — E não estou mentindo,
estou com muita dor, qualquer coisa para melhorar, tô aceitando.
— Vou fazer agora. — Mesmo com os olhos fechados, sou
capaz de imaginar cada passo de Henrique pelo cômodo. Ouço o
barulho da cadeirinha sendo preenchida pelo meu filho, assim como
o abrir e o fechar de armários enquanto pega o medicamento na
farmacinha guardada ali.
Coloca um copo com água em uma das minhas mãos e na
outra a pílula, abro os olhos para ver se parece de fato com um
remédio para dor de cabeça e está escrito o nome da marca. Tomo
de uma vez, porque quanto mais rápido tomar, mais rápido a dor vai
embora e volto a me recostar no sofá.
Sinto um cheiro diferente vindo da cozinha e imagino ser o
chá que está preparando. Espero não colocá-lo todo pra fora, mas
do jeito que sou fresca, é bem capaz.
Passado alguns minutos, sinto o sofá se mexer e um toque
de leve no meu ombro, abro um pouco os olhos e vejo que Henrique
está com uma caneca nas mãos enquanto assopra para esfriá-lo.
Mesmo com os olhos semicerrados, não consigo não olhar
para a sua boca vermelhinha e o bico fofo que está fazendo ao
assoprar o chá, por estar quente.
Mas que boca mais linda, Deus! Por quê? Por que faz isso
comigo, Deus?
Sem perceber que estou secando os seus lábios, ele coloca
a caneca em minhas mãos, me ajudando a levar o chá à boca.
De repente, ficou calor aqui. Será que é a bebida? Ou a
minha boceta que se acendeu por conta desse pequeno gesto? Fica
aí o questionamento.
Ele afasta as mãos e me deixa tomar o líquido sozinha, tomo
um gole e não é nada gostoso, mas também não é péssimo, então
tento beber tudo.
— Se quiser que eu durma aqui para te ajudar porque está
cansada e com dor, posso ficar. Hoje não tenho nenhum
compromisso — fala e quero dar um beijo e um abraço nele, mas
me contenho e apenas assinto com cautela para a minha cabeça
não doer.
— Se não ficar ruim para você, eu gostaria, estou com medo
de ter alguma crise, o Joaquim chorar, e você sabe…
— Fica em paz, eu posso ficar e sempre trago uma roupa
para caso precise que eu passe a noite, só não tenho toalha, escova
de dentes, essas coisas. — Coça a nuca, um pouco sem graça.
— Pode deixar, assim que eu melhorar um pouco, separo
tudo para você — digo, fechando os olhos novamente.
— Tudo bem, vou brincar mais um pouco com o Joaquim
porque daqui a pouco ele fica entediado. — Ri um pouco e também
abro um pequeno sorriso.
Meu filho se entedia com facilidade mesmo, temos que estar
sempre inovando com ele.
— Ah, e muito obrigada por ser tão atencioso conosco, pelo
chá, pelo remédio e por dormir aqui. Você não sabe o quanto eu
precisava que ficasse — agradeço a ele, pois é muito bom saber
que posso contar com alguém além de mim mesma.
— Que nada! É o meu trabalho. — Como não o sinto mais
ao meu lado, creio que já esteja sentado no chão com o meu bebê.
Permaneço quieta e no mesmo lugar pelo que acredito ser
um bom tempo, porque quando abro os olhos e vejo o relógio
marrom da parede, já são 22 horas.
Mas também percebo que a dor de cabeça sumiu. Graças ao
chá milagroso que Henrique me deu. Poderia ser outro chá, mas, no
momento, era desse que eu estava precisando.
Preciso parar de ser uma tarada que quer pular nele a cada
passo que dá, mas, pelo menos, eu só penso e não falo nada.
Pensar não é proibido, certo? E nem desrespeitoso.
Levanto de onde estava e confirmo se estou realmente bem,
então vou verificar onde os dois estão.
Vou até o quarto de Joaquim e vejo que o babá dorme com
ele no colo sentado na cadeira de amamentação.
Que coisa mais fofa esses dois!
Pego o meu filho do seu colo e Henrique desperta, mas vê
que sou eu e logo abre um sorriso singelo.
Dou um cheiro e um beijo na cabecinha de Joaquim,
colocando-o no berço e espero para ver se não vai acordar, mas ele
tem um sono pesado.
Esse puxou a mãe, graças a Deus! Dorme muito bem,
obrigada.
Saímos os dois do quarto, como sempre, deixando a porta
aberta, porque todo cuidado é pouco quando se trata de um bebê de
quase um ano.
— Não vou dizer para ir para casa, porque já está tarde, mas
saiba que se quiser ir, posso chamar um Uber. — Me viro para
Henrique, que está logo atrás de mim coçando os olhos.
— Eu prefiro ficar, você não estava nada bem mais cedo,
agora está com a aparência melhor, mas fico receoso que a dor
volte. Tudo bem para você? — pergunta.
Onde que assina para casar com esse homem?
— Claro, seria ótimo. Ah, vou pegar as coisas para você
tomar banho. — Começo a andar, mas me lembro que preciso
mostrar o quarto de hóspedes para ele. — Vem comigo para eu
mostrar o quarto para você, tem banheiro lá.
Henrique vem logo atrás de mim. Abro a porta do cômodo e
começo a mostrá-lo.
— O quarto não é grande, mas é bem confortável, a cama é
de casal, como pode ver, e é bem macia, desculpa pelo edredom
florido e rosa, mas eu sou essa pessoa. — Dou uma risadinha — O
banheiro é pequeno também, mas o chuveiro é uma delícia, ele tem
tudo o que precisa, shampoo, sabonete, toalha, escova de dentes
nunca usada na gaveta, até roupão, caso queira. — Mostro tudo.
— Sem problemas quanto ao rosa, é a minha cor favorita. —
Me viro tão rapidamente que não sei como a minha labirintite não
atacou.
— Você está brincando comigo? Não está? — Aponto para
ele, que dá de ombros.
— Na verdade, não. — Abro e fecho a boca algumas vezes,
mas para matar a minha curiosidade, complementa: — Era a cor
favorita da minha mãe. Mas não só por isso, eu fico bem de rosa
também, acho que combina com os meus olhos. — Agora sim, vejo
que ele está brincando para quebrar o clima que ficou pesado com o
comentário sobre a sua mãe, porque dá uma piscadinha para mim.
Rimos juntos do que ele fala por um tempo, o que de fato
ameniza a tensão.
Eu sei que foi meio preconceituoso da minha parte achar
que um homem não pode gostar de rosa, mas é incomum,
justamente porque as pessoas são machistas, como se uma cor
definisse alguma coisa. É só uma cor.
— Desculpa pela gafe, é que rosa é a minha cor favorita
também — conto.
— Jura? Nem dá para perceber. — Prende um lábio no
outro, contendo um riso e eu dou um tapinha fraco em seu braço.
— Todos os seus objetos de trabalho e da cozinha são dessa cor,
fora o tapete da entrada da casa, o vaso da mesinha… posso
passar o dia todo aqui enumerando.
— Ah, você está muito engraçadinho, senhor Henrique. Vou
deixá-lo tomar banho e vou tomar o meu também. — Aponto o dedo
em riste mais uma vez para ele. — E vou fazer um sanduíche antes
de dormir, se quiser, deixo um pronto para você.
Ele murmura um “obrigado” e entendo que irá querer o
lanche.
Deixo o seu quarto com um sorriso no rosto enquanto ele
entra no banheiro.
Eu queria mesmo era entrar no chuviero com ele, mas vou
me contentar em apenas comer ao seu lado, mesmo querendo ser
sua comida.
Tomo meu banho e tento não pensar em como percebi que
Nathália estava observando os meus lábios enquanto eu assoprava
o chá.
Também vou fingir que não percebi como me olhou com
malícia quando falou do banho e mordeu o lábio em seguida. É, eu
sou virgem, não burro, e muito menos inocente, sou apenas
inexperiente.
Sei que sou um cara boa pinta, principalmente depois que
comecei a malhar todos os dias, algo que foi recomendado pela
minha psicóloga para ajudar com a minha ansiedade.
Mas não sabia que iria gostar tanto de me exercitar e virar
um frequentador assíduo da academia.
Eu vejo os olhares que algumas meninas de lá dão em
minha direção, sou só tímido demais para me aproximar, uma ou
outra ainda tenta chamar a minha atenção e falar comigo, mas
sempre que abro a boca, acabo gaguejando demais e elas
desistem. Porque eu não só gaguejo, acabo falando muito alto
também, acho que elas se assustam.
Eu melhorei bastante em relação a isso, mas depois de um
tempo, fiquei conhecido na academia como “o gaguinho que grita”,
mas foi melhor assim, pelo menos posso malhar em paz.
Bom, pelo menos meus pensamentos se desviaram da
minha chefe, linda até com a testa franzida de dor de cabeça.
Termino o banho e realmente o chuveiro é maravilhoso e o
quarto bem aconchegante como ela disse.
Coloco o roupão, seco o cabelo com a toalha vendo que
tudo está bem equipado e tem até um secador de cabelo, caso eu
queira secá-lo, mas não será necessário.
Mexo na minha mochila e pego tudo que preciso, coloco o
pijama que sempre trago, um short do baby Yoda e uma camiseta
branca. Como só trouxe uma cueca, vou deixar para usá-la amanhã.
Saio do quarto, indo direto para a cozinha, estou realmente
com fome e meu estômago está roncando.
Vejo que Nathália está em pé preparando os nossos
sanduíches, colocando a pastinha de frango que eu preparei hoje
enquanto ela dormia, queijo, alface, tomate e cenoura ralada.
Ela está com um pijama rosa de seda, gostosa demais,
balanço um pouco a cabeça para tirar esses pensamentos da minha
mente.
Ela é a sua chefe, sua chefe, não se esqueça disso.
Uma chefe muito gostosa, com as pernas de fora e os seios
marcando no tecido, mas ainda assim, sua chefe, merece respeito,
não que você fique babando nela igual a um tarado.
Pigarreio para que perceba que cheguei, ela levanta a
cabeça e me dá um sorriso singelo, indicando que eu me acomode.
Sento na cadeira e ela coloca um prato à minha frente com o
sanduíche que estava fazendo.
— Seria muito doido se eu tomasse café agora? — Franze o
nariz de um jeito fofo, como quem está realmente em dúvida.
— Seria, porque já está tarde e você teve uma dor de
cabeça forte, cafeína não ajuda, na verdade, atrapalha bastante. —
Pego o meu sanduíche e dou uma mordida generosa.
— Ah, eu sabia, só precisava que alguém me dissesse. Eu
amo café, você sabe. — Senta ao meu lado para comer também.
Comemos juntos em um silêncio agradável e ao
terminarmos, levantamos para lavar a louça como de costume.
— Você preparou os sanduíches, eu lavo os pratos e os
copos, pode deixar — falo e ela assente.
Nathália senta no sofá e liga a TV procurando alguma coisa
para ver, para em um filme de suspense que eu já vi e sei que é
bem ruim.
— Quer assistir comigo? Tô sem sono — pergunta,
aumentando um pouco o volume. Sento ao seu lado como resposta
para a sua pergunta. — Já assistiu?
— Já, mas não tem problema, posso ver de novo. — Dou de
ombros.
— Beleza, estava querendo ver, mas como sou meio
medrosa, não queria fazer isso sozinha.
— Não é de terror, você sabe, né? — Levanto uma
sobrancelha e ela revira os olhos.
— Sei, mas eu tenho medo de tudo, inclusive de filmes de
suspense. Qualquer tensão me deixa nervosa — explica os seus
motivos.
Começamos a ver o filme e a cada momento de tensão, ela
realmente ficava nervosa, no final, quando o protagonista tenta
enterrar a sua esposa viva, ela dá um pulinho no sofá e logo em
seguida segura a minha mão com força.
Aperto a sua de volta, tentando confortá-la. Começo a
acariciá-la, fazendo uma massagem e vejo que aos poucos vai
relaxando.
Quando o mordomo da casa dá um tiro no patrão, ela
esconde o rosto atrás das minhas costas e provavelmente está com
os olhos fechados.
— Pode me avisar quando isso acabar? — Sua voz sai
abafada e sinto vontade de rir da situação, mas não tenho coragem,
porque ela está com medo de verdade.
Espero a coisa toda se desenrolar e enfim a aviso que está
tudo bem. Ela sai de trás de mim, mas ainda continua com os olhos
fechados.
— Pode abrir, está tudo bem, de verdade. — Em um
impulso, passo o dedo em sua pálpebra para que os abra.
Ela estremece com o toque e dá um suspiro de alívio,
abrindo os olhos.
— Obrigada. — Vira para mim e agradece, mas vejo que
está um pouco ofegante por conta do toque e de estarmos muito
próximos.
— Err, hummm, agora essa parte é bem tranquila. — Tento
fazer com que volte sua atenção para o filme.
— Ah… — Volta a olhar para a TV. — Certo. — Se ajeita um
pouco no sofá.
Terminamos de assistir e como disse antes, é uma porcaria e
ela tem a mesma impressão que eu.
— Eu não gosto muito de criticar as coisas, mas achei esse
filme um pouco…
— Ruim? — pergunto.
— Sim, nossa! — Dá uma risadinha. — Achei tudo meio
louco, as coisas meio misturadas e o plot do final, o cara estava em
coma há quanto tempo? Enfim. Não sou nenhuma crítica de cinema,
mas sim, é bem ruim.
— Não precisa ser crítica para gostar e desgostar de algo e
ter suas próprias opiniões. Eu também não gostei, mas não queria
estragar a sua experiência — digo o porquê não contei que não
havia apreciado o filme.
— Ah, mas quando for assim, pode estragar sem problemas.
Que troço desagradável. — Faz um gesto de desdém com as mãos.
— Mas eu queria saber de quem é o filho.
— Como é?
— O filho dela, ou filha, não dá pra saber o sexo do bebê —
conta. — Você não ficou curioso?
— Eu nem prestei atenção nisso, esse negócio é tão ruim
que nem me liguei. Mas, realmente, não dá para saber. — Agora ela
me deu mais um motivo para achá-lo péssimo.
Nós dois soltamos uma risada gostosa, da desgraça que é o
filme e de como perdemos nosso tempo assistindo.
— Shiu, vamos acordar o Joaquim — falo, ainda rindo.
— Sim, melhor pararmos. — Ela toma algumas respirações
para se acalmar. — Da próxima vez, deixo você escolher.
— Tudo bem para mim, mas gosto mais de filmes no estilo
Star Wars. Você gosta da franquia? — pergunto e estou de fato
curioso para saber se ela gosta.
— Hummm, confesso que só assisti o Episódio VII, porque
uma amiga insistiu para que eu fosse com ela, mas não entendi
nada. — Dá de ombros.
— Claro que não entendeu, tem seis filmes antes, impossível
ter entendido algo. — Faço uma pausa e depois crio coragem para
perguntar: — Tenho todos eles no meu notebook, se quiser assistir
qualquer dia desses, é só me avisar. Eu vou adorar converter você a
uma fã.
— Jura? — Seus olhinhos brilham e ela abre um sorriso de
quem realmente está feliz com o convite.
— Claro que sim. Podemos fazer o seguinte, no final de
semana, meu irmão e meu pai vão estar na minha casa, você pode
ir lá no sábado e podemos assistir alguns, o que acha? — Por favor,
diga que sim, diga que sim, diga que sim.
Ela pondera um pouco, mas logo responde:
— Posso levar o Joaquim? É que você sabe, meu babá vai
estar ocupado — brinca e eu rio um pouco.
— Não só pode, como deve. Meu pai vai amar conhecer
vocês, ele ama crianças — falo e ela assente com a cabeça.
— Perfeito, então. Obrigada pelo convite. — Dá um tapinha
na minha perna e se levanta. — Ah, e antes que eu me esqueça,
amanhã terei uma reunião depois do almoço na empresa. Creio que
não vá demorar, mas posso contar que faça hora extra caso eu
demore um pouco mais por lá?
— Sempre que precisar. — Dou um sorriso sem mostrar os
dentes.
— Obrigada mais uma vez, você sempre me salvando — fala
já de pé, me olhando de cima. — Bom, eu vou tentar dormir um
pouco, amanhã não vou acordar tão cedo para trabalhar, mas o
Joaquim é um reloginho.
— Sim, ele é, mas pode ficar tranquila que estou aqui. E
qualquer coisa é só chamar. — Pisco para ela, que fica meio
desconcertada com o gesto e balança a cabeça como se estivesse
tentando sair de um transe.
— Err, ok, humm, obrigada. Boa noite, Henrique. — Abaixa e
dá um beijo em minha bochecha, que queima assim que ela encosta
os lábios macios nela.
— Bo-boa no-noite, Nathá-tália. — Pronto, a gagueira
desgracenta apareceu. Eu não consigo nem ganhar um beijo na
bochecha sem ficar envergonhado. Qual a porra do meu problema?
Ela percebe que me deixou sem graça, mas não diz nada,
apenas se vira de costas e vai para o seu quarto.
Espero que saia do meu campo de visão para me afundar no
sofá e dar um tapa na minha testa. Por que tanta timidez? Era só
um beijo na bochecha. Ela não me chamou para transar, nem nada.
Não que eu não fosse gostar, mas, cara…
Eu estou muito rendido pela minha chefe.
Eu tô muito fodida. Estou com uma vontade louca de dar
para o babá do meu filho. Não só de dar, eu quero conhecê-lo
melhor também, e esse é um terreno perigoso.
Conversar com ele é tão fácil, pois além de ser um cara
decente, o que pasmem, é difícil de se encontrar por aí, ele é
carinhoso, atencioso e lindo.
Que homem gostoso do caralho!
Já vi que vou ter que recorrer ao meu vibrador, vou só
esperá-lo dormir para que não saiba o que estou fazendo, porque é
bem provável que eu vá fazer um pouco de barulho.
Ahhhhhhhh! Eu quero gritar de tanto tesão reprimido que
estou sentindo. Afundo o travesseiro no meu rosto abafando um
gritinho.
Henrique corou porque beijei sua bochecha. Quer coisa mais
deliciosa que essa?
Espero algum tempo – que parecem horas – enquanto a
casa está silenciosa e vou pegar o melhor amigo da mulher, o meu
vibrador e sugador de clitóris.
Levanto da cama de fininho, tentando ser o mais silenciosa
possível, e com a lanterna do celular me auxiliando, procuro o objeto
na última gaveta, encontrando-o no fundo dela.
Encosto a porta o máximo que consigo, sem fechá-la
totalmente, e volto a deitar com o aparelho na mão.
Tiro o meu baby doll e começo a me acariciar, passo as
mãos nos meus seios e os aperto, imaginando que Henrique está o
fazendo. Desço o sugador de clitóris até a minha boceta que está
implorando por alívio.
— Ahhhh — solto um gemidinho baixo e para não fazer mais
barulho, mordo o lábio inferior. — Assim, aaaah.
Começo a rebolar contra o sugador de clitóris, necessitando
de mais atrito, aperto o meu seio com força e continuo mordendo os
lábios.
— Puta que pariu, Henrique, que delícia — chamo seu nome
enquanto gozo e me tremo inteira, soltando espasmos com o
orgasmo que me atingiu com força.
Minha respiração está ofegante, meu peito sobe e desce e
tento me acalmar para regularizá-la.
Estou mole e satisfeita depois de gozar, claro que seria
muito melhor com ele aqui, mas como isso não irá acontecer, me
contento em imaginá-lo.
Viro para o lado, nua mesmo, e entro em um sono tranquilo e
sem sonhos ruins.
Acordo muito bem disposta, depois de uma boa noite de
sono, espreguiço todo o meu corpo, olho a babá eletrônica e está
tudo bem com o Joaquim, então vou direto para o banheiro antes
que ele acorde.
Tomo um banho rápido, escovo os dentes, penteio o cabelo
e faço um coque, porque mais tarde vou à empresa e preciso estar
elegante. Afinal, sou a chefe daquele lugar. Estar apresentável é o
mínimo.
Coloco uma roupa de malhar, para poder fazer alguns
alongamentos, mas antes vou ver o meu filho.
Sinto o cheirinho de café fresquinho – vulgo o melhor cheiro
do mundo –, mas vejo que Joaquim já está no braço de Henrique
enquanto ele tenta colocar as coisas na bancada.
Abro um sorriso enorme vendo essa cena e pigarreio para
chamar a atenção dele.
— Bom dia, meninos. — Estico os braços para pegar o meu
filho que se joga no meu colo. — Você dormiu bem, meu amor? —
Dou beijinhos em seu rosto e um cheiro em seu pescoço.
— Bo-bom dia, Nathália — Henrique fala sem olhar para
mim, com as bochechas levemente vermelhas.
Mas o que aconteceu de ontem para hoje que ele está com
vergonha de mim novamente? Ontem ele estava tão à vontade
comigo.
— Você já papou, meu amor? Tio Hique já te deu suas
frutinhas? — pergunto e Henrique murmura um “sim” meio para
dentro. — Bom, já que comeu, agora é a vez da mamãe. — Coloco-
o na sua cadeirinha ao meu lado.
— Vai que-querer um ovo frito para acompanhar o cu-
cuscuz? — pergunta ainda sem levantar o rosto em minha direção.
— Se não for incômodo, quero sim. — Me sirvo de um pouco
de suco de maracujá.
— É pra já. — Vira de costas e começa a fritar o ovo.
Observo as costas do meu babá, e até elas são bonitas.
Senhor! Quem tem as costas bonitas? Acho que tô ficando
doida e tarada.
— Henrique, como falei ontem, vou precisar ir à empresa na
parte da tarde, você poderia me acompanhar? Acho que vou me
sentir melhor se vocês dois estiverem no escritório enquanto estarei
no setor de estoque.
— Claro, só preciso ir em casa pegar uma roupa adequada.
Não é muito longe daqui, então vou tomar café e vou lá rapidinho,
pode ser? — questiona, servindo os ovos mexidos no meu prato.
Bom, pelo menos ele parou de gaguejar, mas ainda continua
sem me olhar.
— Ah, perfeito. Vamos tomar nosso café. — Dou uma
garfada no cuscuz que está delicioso, como tudo o que Henrique
faz.
Ele come bem rápido e já vai levantando para sair. Dá um
beijo na cabeça do meu filho e diz que já volta, ainda sem olhar nos
meus olhos.
Mas gente! O que eu perdi? Espero que esteja tudo bem.
Será que dormiu mal? Mas a cama do quarto de hóspedes é tão
macia, Helena mesmo vive dormindo lá e nunca reclamou e ela
adora reclamar.
Como a minha comida tranquilamente enquanto converso
com Joaquim, óbvio que só eu estou falando, ele está rindo e
murmurando palavras desconexas.
Passado alguns minutos, Henrique já está entrando
novamente aqui em casa. Nossa! Ele mora perto mesmo.
— Você mora no apartamento ao lado? — Comprimo os
lábios, querendo rir.
— Não. — Ele para e parece pensar um pouco antes de
continuar: — No prédio aqui perto. Eu contei na entrevista que
morava próximo daqui, mas acho que no currículo está com o
endereço da casa do meu pai.
— Sim, eu percebi, porque era em outro bairro. Mas que
bom que não vive longe, assim posso pedir um help sempre que
precisar sem me sentir tão mal. — Rio um pouco.
— Você pode sempre me chamar, ainda que eu morasse
longe, poderia. Eu estou aqui para isso.
— Ah, obrigada. — É a única coisa que consigo responder.
Não estou muito acostumada com as pessoas sendo gentis comigo
só por serem. — Você pode entreter esse garotinho enquanto me
alongo? Ele me parece estar cheio de energia hoje. — Pego
Joaquim e entrego a ele.
— Claro, que horas temos que estar na empresa mesmo? —
questiona.
— Às 13:00, dá tempo de almoçar e trabalhar um pouco
antes de ir, a matriz também não é longe daqui — conto a ele, que
apenas assente.
Henrique liga o rádio, colocando canções infantis, meu filho
adora escutar música. Os dois agora estão no tapete, Joaquim
engatinha de um lado para o outro, mas para um pouco, bate
palmas nas partes favoritas e depois volta a engatinhar.
Esse meu filho é uma figura, dá altas risadas animado,
mostrando os poucos dentinhos que tem.
Deixo os meninos na sala e vou ajeitar tudo o que preciso
para ir à empresa, espero que tudo dê certo hoje e eu consiga
resolver todas as pendências da Adenium Line.
Depois de quase querer me fundir no sofá por ter recebido
um beijo na bochecha da minha chefe, eu fiquei um bom tempo na
sala ainda e creio ter cochilado porque as luzes da casa estavam
todas apagadas.
Me levantei sem fazer nenhum alarde para ir para o quarto
de hóspedes e acabei escutando um barulho forte de algo vibrando
vindo do quarto de Nathália.
A porta dela está entreaberta, então resolvo verificar se algo
está acontecendo, porque ela estava com dor de cabeça e isso me
deixou preocupado.
Como está tudo escuro, não consigo enxergar nem um
palmo à minha frente, mas quando escuto: “Puta que pariu,
Henrique, que delícia”, um gemido e um gritinho abafado. Eu entro
em pânico.
Percebo que não sou só eu que estou louco pela minha
chefe, ela também está atraída por mim.
Naty está se masturbando e chamando o meu nome. Tem
como não pirar com essa situação?
Essa mulher, linda pra caralho, está pensando em mim
enquanto se toca, eu daria tudo para ser esse vibrador no meio das
pernas dela.
Vou o mais rápido possível para o meu quarto, com o
coração acelerado, com medo que ela perceba que eu possa ter
ouvido alguma coisa e me enfio debaixo das cobertas.
Viro de um lado para o outro agitado, não consigo não ficar
repetindo o que ouvi na minha cabeça, parecendo um disco
arranhado.
Tento meditar para me acalmar e coloco uma música calma
para tranquilizar os ânimos e me ajudar a dormir. Tomo algumas
respirações, me concentrando nelas, e vou me acalmando aos
poucos. Enfim, consigo dormir.

Acordo igual a um adolescente, todo melado. Eu tive um


sonho erótico com a minha chefe e gozei nas calças enquanto
dormia. Eu sou uma vergonha. Além de virgem, precipitado.
Respiro fundo algumas vezes, tiro o cobertor e vou direto
para o banho para dar um jeito nessa ereção matinal.
Após estar mais “calmo”, se assim posso dizer, vou até o
quarto de Joaquim e o espero acordar. Quando ele desperta, o pego
no colo para ir fazer a sua comidinha e o nosso café.
Como Quim acabou de acordar, ele não quer sair do meu
colo, então faço tudo com uma mão só, graças a Deus passo horas
na academia fortalecendo os músculos, porque esse neném é
pesado.
A dona dos meus pensamentos e da minha noite mal-
dormida chega na cozinha, toda animadinha, tranquila e linda como
sempre, com uma roupa justa de treinar e um coque no alto da
cabeça bem-feito, mostrando o seu lindo colo.
Cadê o defeito dessa mulher? Ela não tem nenhum. Não é
possível, meu Deus!
Prefiro não olhá-la nos olhos porque estou com medo de me
denunciar, afinal, eu a ouvi gemendo o meu maldito nome enquanto
gozava.
Ela nos dá “bom dia” e gaguejo como sempre, mas depois
vou me acalmando aos poucos, pois cozinhar me deixa mais
tranquilo e a presença dela com o Joaquim também.
Comemos e depois vou em casa pegar uma roupa, porque
ela quer que eu vá para a empresa com o garotinho e creio estar
certíssima. Nathália é muito apegada e acho que ela não
conseguiria dar cem por cento de sua atenção se estivesse com a
cabeça aqui.
Brinco com Joaquim na sala e depois vou dar banho nele e
aprontar a sua bolsa. Minha chefe pede comida no aplicativo,
porque hoje não consegui fazer nada para nós dois.
Depois de almoçarmos, ela foi tomar um banho rápido e se
aprontar.
— Estamos prontos? — pergunta e a olho. Ela está mais
linda do que nunca.
A dona dos meus sonhos está com uma calça e blazer de
alfaiataria rosa, uma blusa branca de seda e um scarpin nude, com
o coque que havia feito mais cedo e uma maquiagem leve no rosto.
Melhor eu parar de olhá-la desse jeito, porque acho que vai
escorrer baba da minha boca, pigarreio antes de responder:
— Sim, estávamos só te aguardando — respondo.
— Vamos andando, a empresa é aqui na rua mesmo. —
Levanto uma sobrancelha para ela. — Eu sei, uma louca pelo
trabalho, comprou um apartamento perto do escritório. Mas em
minha defesa, odeio pegar trânsito, me dá pânico só de pensar em
ficar horas dentro do carro parada, ou de qualquer meio de
transporte.
— Eu não disse nada — me defendo.
— Mas pensou. Eu sempre ganho essa levantada de
sobrancelha ou uma encarada quando digo que moro na rua do meu
escritório. — Aponta o dedo para mim.
— Eu não estava te julgando. — Estava sim, mas ela não
precisa saber.
— Estava sim, mas já estou acostumada. Agora, vamos. —
Pega a bolsa do cabideiro. — Já pegou tudo o que precisa para o
Joaquim?
— Sim. Coloquei uns brinquedinhos também para ele ficar
entretido, caso precise — conto a ela.
— Ah, perfeito. Então, vamos. — Nathália vai na frente,
abrindo a porta e a fechando depois que saímos.
Vamos caminhando até o escritório que, de fato, não fica
longe dali, a nossa rua é meio extensa, mas não é uma caminhada
que chega a cansar.
Entramos no local e passamos pela recepção que tem um
balcão redondo e branco com duas atendentes atrás. Na parede há
um painel com a foto de uma modelo de cabelos cacheados e
soltos, posando com o que eu acredito ser a nova linha de creme e
condicionador.
— Boa tarde, meninas. Como estão? — Nathália pergunta a
elas, que respondem que estão bem. — Ah, que bom. Vou para a
minha sala, sabem se o Sr. Paulo já chegou?
— Já, sim. Ele está te aguardando lá — uma das
recepcionistas informa.
— Obrigada, meninas. — Assente e depois se vira em
direção à sua sala, e vou atrás com Joaquim.
O escritório é grande, tem muitos setores diferentes e salas
separadas por paredes finas pintadas de rosa, tem também alguns
banners de lançamentos, com fotos das linhas de shampoo e
condicionador.
Passamos por elas e claro que a maior e a última sala é da
CEO, que precisa estar de olho em tudo, ficando num local bem
estratégico.
Ela abre a porta e há um homem sentado em um sofá rosa,
que creio ser o Sr. Paulo, o qual Nathália perguntou na recepção.
Ele se levanta de imediato e vem apertar a sua mão.
— Boa tarde, Dona Nathália. — Ela estende a mão,
apertando a dele.
— Boa tarde, Sr. Paulo. — O homem olha de mim para o
bebê em meu colo, estranhando a nossa presença. — Ah, esse é o
meu filho, Joaquim, e o seu babá, Henrique. — Faz um gesto com
as mãos, nos apresentando.
— Prazer em conhecê-los — o homem diz e eu digo o
mesmo.
— Henrique, pode ficar aqui com o Quim enquanto vou até o
setor de estoque com o Sr. Paulo? Maria deve ter ido almoçar, já, já
ela chega e faz companhia a vocês. — Se volta para mim, com as
mãos nos bolsos.
— Claro que sim, vamos esperá-la aqui, leve o tempo que for
necessário — tranquilizo-a.
O homem negro, com alguns fios brancos, forte e de meia-
idade, a segue para fora da sala.
Passo um tempo ali com Joaquim quando vejo que Maria
voltou do almoço e entra na sala da chefe.
— Oi, cunhado. — Vem me dar um abraço caloroso. — Oi,
Quim. — Dá um beijinho na cabeça do neném. — Como você está?
E o trabalho, está gostando?
Minha cunhada é uma mulher linda, alta, tem um corpo
esguio, usa o cabelo liso e tem um sorriso bonito e acolhedor. O que
ela viu no idiota do Luiz? Nunca saberei responder. É a pergunta de
um milhão de dólares.
— Tô bem, o trabalho está perfeito, sabe que eu amo
crianças e essa coisa fofa aqui não me dá trabalho algum. Mas e
você, como está? E o seu namorado? — Quase reviro os olhos ao
perguntar sobre o traste do meu irmão.
Ela me dá um tapinha no braço, porque eu quase rosnei ao
falar do seu namorado. Maria sabe que ele e eu nos
desentendemos, ela só não imagina o porquê.
— Eu estou ótima, e seu irmão… — ela para um pouco, mas
logo continua —, nós demos um tempo.
— Como assim deram um tempo? — Não quero parecer tão
ansioso para vê-lo sofrer, mas a verdade é que estou, ele não a
merece.
— Eu andei desconfiando dele, mas ele sempre
desconversa, até que vi uma mensagem de um cara cobrando
dinheiro. Luiz havia prometido que tinha parado com os jogos de
azar. Eu não queria mexer em seu telefone, mas já estava ficando
paranoica, sabe? Então o confrontei e ele assumiu, mas disse que
foi a última vez, que havia sido demitido de novo e que estava
perdido e bêbado. — Ela está com a cabeça baixa, pois está
envergonhada, mas quem tem que ter vergonha é o safado do meu
irmão.
— Aí, você terminou com ele?
— Sim, mas ele se ajoelhou, chorou, pediu perdão, disse
que eu estava jogando anos de relacionamento fora. Seu pai até se
meteu, porque ele estava agarrado nas minhas pernas e não me
deixava ir embora. Eu pedi um tempo para pensar e cá estamos.
Faz uma semana que não atendo as suas ligações e nem respondo
suas mensagens. — Ela está com os olhos cheios de lágrimas,
querendo chorar pelo imbecil do meu irmão.
Vou abraçá-la, mesmo com Joaquim no colo, e ela deita a
cabeça no outro lado, onde ele não está, chorando um pouco, mas
logo se recompõe, pois é o seu ambiente de trabalho.
— Espero que fique bem e não volte para ele, Maria. Luiz é
meu irmão, mas você merece coisa melhor. — Afasto os cabelos
que estão grudados na sua bochecha. — Papai te disse a mesma
coisa, não foi?
— Sim, seu pai sempre tentou abrir os meus olhos quanto a
ele, mas eu o amo, você sabe. — Dá de ombros.
— Sei, mas agora já foi, espero que fique bem — repito e
aperto o seu ombro, confortando-a.
— Vou ficar — fala como quem tenta convencer a si mesma.
— Agora, vamos entreter esse garotinho lindo. — Pega Joaquim do
meu colo. — Tava com saudade da tia Maria, meu amor? — Ele dá
risadinhas e entrelaça as mãozinhas no cabelo dela, doido para
puxar. — Vamos tomar um suco na lanchonete aqui em cima
enquanto esperamos a mamãe.
Pegamos o elevador e subimos. O que ela chama de
lanchonete está mais para um restaurante simples. É um lugar
acolhedor, com comida caseira, lanches e café.
Sentamos em uma das cadeiras de metal do lado de fora do
local e pedimos sorvetes ao invés de suco, aqui tem cadeirinha
infantil, então Quim fica bem tranquilo enquanto tenta puxar as
madeixas de Maria, bate na cadeira e pede por atenção, dando
gritinhos de vez em quando.
Mando uma mensagem para Nathália, avisando-a sobre a
nossa localização para que não se preocupe.
Passamos boa parte da tarde ali sentados e minha chefe
aparece depois, com o semblante não muito feliz. Ela abraça minha
cunhada, se despede dela, pegando Joaquim no colo e me chama
para ir embora, mas antes de sair, fala para a outra:
— Pode ir lá em casa amanhã, Maria? Antes de vir para o
escritório, por favor.
— Claro, chefe. Às 09 estarei lá — confirma a presença,
tranquilizando-a.
— Perfeito. — Se vira para mim com Joaquim no colo. —
Vamos, Henrique.
Me despeço de Maria e vou atrás dela, querendo saber o
que aconteceu para que ficasse assim.
— Henrique, pode segurar o Joaquim enquanto vou tomar
um banho rapidinho, por favor? — pergunto ao babá, que vem e
pega o meu filho no colo. — Obrigada.
Estou tão, mas tão exausta mentalmente e preocupada,
porque vou ter que ser dura com os meus colaboradores.
Quando o chefe do estoque me informou que “alguns”
produtos haviam sumido, eu não pensei que esses “alguns” fossem
muitos.
E o pior é que fomos analisar a situação e eles não haviam
sido furtados como achávamos, mas sim estavam estragados e
escondidos. Nos causando um grande prejuízo.
Provavelmente algum novato não os armazenou direito,
deixando-os na luz e no calor do sol por muito tempo, e quando digo
muito, é muito tempo mesmo, fazendo com que alterasse a sua
composição.
Amanhã vou ter uma reunião com a Maria e vamos
conversar sobre quais providências iremos tomar.
Sem mencionar a Helena, que vai ficar uma fera, mas só vou
contar para ela amanhã também. Hoje vou me dar o direito de tomar
um banho e ficar puta com isso sozinha.
Vou tentar relaxar o máximo que puder nesse banho porque
preciso dar atenção ao meu filho que não merece uma mãe mal-
humorada.
Após quase trinta minutos debaixo do chuveiro, coloco um
pijama rosa da Barbie e vou para a sala para liberar Henrique.
O coitado trabalhou tanto hoje que estou querendo dar uma
folga para ele na sexta.
Mas o que vejo quando chego no cômodo faz o meu coração
se acalmar, pelo menos um pouco.
Tem uma xícara de chá quentinho em cima do balcão e a
caixa de remédios aqui de casa, caso eu queira tomar algum.
Me aproximo e pego a bebida quente, sentindo um cheiro de
camomila com maracujá. Levo-a aos lábios e dispenso os remédios.
Vou bebericando e sento no sofá ao lado de Henrique.
— Obrigada por mais essa gentileza — digo a ele, que me
dá um sorriso em resposta. — Hoje foi um dia difícil, mas duvido que
você queira ouvir chatices de escritório, então pode ir para casa, já
passou do seu horário.
— Na verdade, eu gostaria muito de ouvir chatices de
escritório. — Faz aspas com a mão.
— Tem certeza? Porque provavelmente vou reclamar
bastante e você deve estar cansado. Afinal, não dormiu em casa —
relembro-o.
— Eu estou ótimo, mas você parece estar péssima, veio
pisando duro de lá até aqui. Acho que seria bom desabafar, colocar
pra fora. — Aperta minha perna de leve como sinal de incentivo e
não foi um toque maldoso de sua parte, acho que nem percebeu
que pegou na minha coxa, mas como a tarada que sou, amei o
contato e queria mais, porém vou ficar querendo, porque ele logo
retira a mão.
— Bom, algum, ou alguns meninos do estoque, e ainda não
sabemos quem, estragaram uma parcela significativa de produtos,
nos causando prejuízo. Agora precisamos descobrir quem são e
provavelmente vou precisar dar mais cursos e treinamentos ao
pessoal. E eu não queria adiantar a minha volta, mas não vou ter
outra opção. Não podemos ter mais danos como esse. Não quero
ter que aumentar o valor da mercadoria. Somos uma linha acessível
e de qualidade. — Beberico um pouco mais do meu chá, após esse
desabafo.
— Imagino que não, e compreendo totalmente a sua
chateação, não só pelo prejuízo, mas também por ter que voltar
antes do planejado. — Me dá um sorriso reconfortante. — Está
gostoso?
Você é gostoso sempre.
— Como? — pergunto.
— O chá. Está gostoso? Ele é muito bom para acalmar,
quando estou agitado, tomo antes de dormir.
— Ah, está ótimo e olha que não sou fã de chás. Mais uma
vez, obrigada pela gentileza — agradeço.
— Não é preciso agradecer, é normal pra mim, meu pai
sempre fez pra nós, principalmente quando ficávamos doentes. Ele
acha que chá de boldo cura até doenças incuráveis. — Ri um pouco
e seus olhos estão brilhando ao falar do pai.
— Ele parece ser uma figura. Espero conhecê-lo no final de
semana e que goste da sua chefe, que mal te empregou e quase
não te dá um minuto de paz. Peço até desculpas por isso. — Estou
morrendo de pena dele, eu fiz o homem ir para a empresa comigo.
Por que eu sou desse jeito, Deus?
— Já disse que estarei aqui sempre que precisar. Está se
sentindo melhor agora? — me pergunta cauteloso.
— Estou quase cem por cento. Pode ir para casa descansar.
Joaquim e eu ficaremos bem. Acho que hoje vou dormir com ele no
quarto. Não porque ele precisa, mas sim porque eu preciso —
confesso.
— Tudo bem. Até amanhã, Nathália. — Mas antes de se
levantar, dá um beijo na minha testa e se vira para ir embora
rapidamente, sem nem me deixar digerir o que esse gesto significa.
Ainda estou sentindo seus lábios macios em mim quando ele
fecha a porta atrás de si.
Levo a mão até onde sua boca tocou, sentindo um estranho
formigamento.
Foi só um beijo carinhoso e mesmo assim, eu abro um
sorriso enorme como se fosse uma criança que comeu doce antes
do almoço.
Quantos anos eu tenho mesmo?
— Filho, sua mãe está ficando louca, viu? — falo para
Joaquim, que está alheio a mim, em seu tapete, brincando com o
seu teclado musical. — Onde já se viu? Ficar toda boba por causa
de um beijo na testa. Não vai falar nada? — Ele olha para mim por
um momento, provavelmente pensando que sou doida e depois se
volta novamente para o seu brinquedo.
É, eu pirei de vez. Pedindo conselhos para um neném que
nem completou seu primeiro aninho ainda.
Socorro! Eu preciso de ajuda profissional, preciso ligar para
a minha psicóloga sem falta.

Eu dei um beijo na testa dela. Por que eu fiz isso?


Eu sei porque fiz isso, porque ela é como um ímã e me sinto
atraído pela sua força, presença e beleza.
Espero não ser demitido por isso. Saí quase correndo de lá
para não levar uma advertência.
Quem é o idiota que dá um beijo na testa da chefe?
Pois, é. Euzinho aqui.
Abro a porta de casa e o que encontro me deixa tão feliz que
aquieta o meu coração, pelo menos por agora.
— Oi, pai. Oi, pirralho — falo para as minhas duas pessoas
preferidas no mundo.
Meu irmão vem correndo me abraçar enquanto Luke, todo
ciumento, fica se enroscando na minha perna.
— Oi, meu filho, viemos antes porque mandamos dedetizar a
casa e o seu irmão é alérgico — meu pai se explica.
— Sem problemas, coroa. Eu amo quando vocês estão aqui
e me fazem companhia.
— E como foi o trabalho, Hique? Fiquei sabendo que a sua
chefe é uma gata. — O abusado pisca o olho para mim.
Mas que moleque safado.
— Você não é muito novo para estar falando assim de
mulheres não, pirralho? — Dou um tapa em sua nuca.
— Ai! Ô, pai. Olha ele. Essa doeu.
— E é para doer mesmo. — Meu pai o olha sério.
— Mas foi o senhor que me contou. — Cruza os braços,
chateado.
— Eu disse que ela era muito bonita sim, para o seu irmão,
que tem idade para isso. Agora, vá tomar banho, já vou preparar o
jantar. — Acena com a cabeça em direção ao banheiro.
— Tá bom, tá bom, mas eu nunca posso falar nada —
resmunga baixinho, mas a gente escuta e dá risada.
Esse garoto!
— Não sei a quem esse guri puxou — Seu Antônio diz, ainda
rindo um pouco.
— Ah, mas que cara de pau, hein, coroa. E a Dona Inês, sua
vizinha, já foi lá em casa buscar açúcar hoje? — Levanto uma
sobrancelha para ele e agora quem recebe o tapa na nuca sou eu.
— Ai, pai! — Faço o mesmo que meu irmão e massageio onde me
bateu.
— Mais respeito com o seu velho — pigarreia e muda de
assunto: — E como estão as coisas no novo emprego?
— Estão indo muito bem, o Joaquim é a criança mais fofa e
esperta do mundo. Tranquilo, não dá trabalho. Já está quase
conseguindo andar, ele fica em pé com auxílio. E a minha chefe é
uma mulher e tanto, educada, gentil, inteligente… — Paro os elogios
por aí, porque ele começa a me olhar desconfiado.
— Sei… e linda, né, meu filho?
— Sim, ela é — digo o que sei que ele quer ouvir.
— Mulheres assim são fáceis de se apaixonar — joga verde.
— Sério, pai? Ela é minha chefe, você sabe que é proibida
para mim. Não começa com isso.
— Não estou fazendo nada. — Levanta os braços em
rendição.
Mas como esse coroa é sonso.
— Sei… agora, vamos fazer o jantar. — Dou um tapinha em
sua perna.
— Vamos nada, eu vou. Você deve estar cansado e também
precisa ajudar o seu irmão com o dever de casa. Eu já estou velho
demais para isso.
— Beleza, então vou tomar um banho também e depois do
jantar, ajudo aquele mané. — Papai assente e se levanta, indo até a
cozinha.
Entro no meu quarto e me jogo na cama, enfiando a cara no
travesseiro. Penso nela e em como queria que aquele beijo não
tivesse sido apenas em sua testa.
Meu pai tem toda razão, é muito fácil se apaixonar por ela.
Depois do banho, jantei com a minha família e ajudei o
pestinha com o dever de casa, Diego está com dificuldade em
matemática, mas nada grave que não possa recuperar.
Eu estava tão cansado que nem fiquei na sala com o meu
pai, fui logo para o quarto dormir, mas como tenho o sono leve e
esqueci de colocar o telefone no modo silencioso, o aparelho
começou a vibrar várias vezes na mesinha de cabeceira ao lado da
minha cama, me acordando.
Pensei em deixar para ver amanhã de manhã, mas como vi
que ainda era 1:30 da manhã e que eram mensagens da minha
chefe, resolvi lê-las.
Quase dou um pulo da cama ao ler.
Nathália: Boa noite. Desculpe a hora, sei que já é tarde.
Mas é só para avisar que não precisa vir amanhã.
Estou levando o Quim ao médico, ele está com uma febre
um pouco alta e fiquei preocupada, então o trouxe para o Hospital
Santa Marta, aqui perto de casa.
Obrigada.
Me visto correndo, coloco a primeira roupa que vejo pela
frente, lavo o rosto e escovo os dentes na velocidade da luz, pego
minha carteira e o celular, e deixo um recado colado na geladeira
para o meu pai e meu irmão não se preocuparem.
Estou com tanta pressa que nem espero o elevador, desço
as escadas correndo, pego a minha moto na garagem, uma Honda
XRE 300 vermelha, dando partida e saio em disparada para a
emergência do hospital pediátrico.
O local realmente não fica longe, mas fiquei tão nervoso que
não iria conseguir esperar um Uber, por isso preferi vir de moto.
Chego ofegante à recepção, depois de quase largá-la no
estacionamento na primeira vaga que encontrei.
— Bo-boa noite, meu filho está passando ma-mal e está com
a mãe na eme-mergência. Onde fica? — falo a primeira coisa que
me vem à cabeça.
Eu endoidei, só pode, mentindo para a atendente. Fora que
eu nunca nem transei, como poderia ter filhos? Mas a recepcionista
não sabe disso, então, tanto faz.
— Documento, por favor? — Ela mal me olha e começa a
digitar meus dados, logo em seguida, imprime uma pulseira que me
dá acesso à sala de emergência. — Terceira porta à direita.
— Obrigado. — Ando rápido, quase correndo. Mas antes de
entrar, paro e respiro. Não preciso parecer um desesperado e deixá-
la ainda mais nervosa. Tomo fôlego algumas vezes e entro.
Procuro-a por algumas salas e a encontro saindo de uma
com Joaquim nos braços. Ela se assusta um pouco ao me ver ali,
mas logo em seguida fica aliviada. Seu rosto está um pouco inchado
e seus olhos estão lacrimejando.
Vou até ela rapidamente, a abraço com força e ela retribui,
chorando um pouquinho no meu ombro. Faço carinho em suas
costas, tentando confortá-la de alguma maneira e digo baixinho
algumas vezes que tudo vai ficar bem.
Quando minha chefe finalmente se acalma, depois de
respirar fundo algumas vezes, ela me olha e eu a encaro de volta,
seu olhar está cheio de gratidão.
— Obrigada por ter vindo — diz e se senta na cadeira de
espera, arrumando Joaquim em seu colo e enxugando um dos
olhos, fungando um pouco. — Tô tão desnorteada que nem
consegui vir dirigindo e pedi um carro por aplicativo. Não sabe como
estou grata por você estar aqui, de verdade.
— Eu não iria conseguir te deixar sozinha. Como ele está?
— Me sento ao seu lado.
— Está com febre e um pouco congestionado, como todo
cuidado é pouco, vim correndo para cá. Espero que não seja nada
grave. Ele parece bem, mas sei que crianças não reagem às coisas
como nós. — Funga mais uma vez e vejo que seu nariz está um
pouquinho vermelho.
Observo Joaquim que está quietinho no colo da mãe,
mexendo em seu colar de ouro. Dou um cheiro em sua cabeça e um
beijinho nele. Meu coração fica apertado em vê-lo assim.
— Você precisa de uma água ou ir ao banheiro? Comer
alguma coisa? Pode ir que eu fico aqui com ele. — Olho-a,
esperando uma resposta.
— Eu não vou conseguir comer nada, mas vou ao banheiro
rapidinho. Já volto. — Me entrega o bebê, que vem tranquilamente
para o meu colo.
Sinto que está mesmo febril e tão quietinho, não está
sorrindo e nem agitado, como normalmente fica.
Nathália demora uns dez minutos e começo a estranhar sua
demora, mas ela vem com um copinho de água e outro de café.
— Desculpa, demorei porque fui pegar uma bebida para
mim, eu não dormi, então estou bastante cansada. Quando cheguei
em casa e Joaquim cochilou, eu continuei trabalhando. Estou morta
— conta.
— Sem problemas, toma o seu café com calma, só acho que
precisa comer alguma coisa. Vou pegar depois para você, nem que
seja um biscoitinho. — Ela apenas assente em concordância.
Depois de tomar as bebidas, ela tenta pegar o filho de volta,
mas Quim prefere ficar no meu colo.
— Bom, acho que eu mesma vou ter que pegar os
biscoitinhos, esse rapaz me trocou mesmo pelo seu babá. E por
falar nisso, como entrou aqui? — Eu não sei onde enfiar a minha
cara.
— Err… eu é… dissequeeraopaidojoaquim — falo tão rápido
que nem sei como não gaguejei.
— Você o quê? — Penso que vai brigar comigo, mas ela
começa a rir, uma risada gostosa, que me deixa menos nervoso e
apreensivo, e acabo rindo com ela.
— Me desculpa, estava tão nervoso que nem pensei, só
falei. — Minhas bochechas provavelmente estão vermelhas,
denunciando o meu constrangimento.
— Nada, eu fico muito grata pela sua esperteza. Sou tão
acostumada a ser sozinha, a estar sozinha com ele, que nem pensei
nisso, por isso perguntei. — Vejo um pouco de tristeza em seu olhar
e queria abraçá-la forte para que esse sentimento vá embora.
— Joaquim Lima — escuto o médico chamar.
Levanto com o neném no colo e vou para a sala com
Nathália, pois o pequeno não quer largar a minha camisa.
O médico pede para colocarmos Joaquim em cima da
mesinha e prontamente o atendemos, ele mede a sua febre de novo
para verificar se cedeu após a medicação.
— Bom, a febre cedeu um pouco. Depois de alguns exames,
verificamos que o Joaquim não tem nada grave, ele está com uma
pequena gripe. Eu vou manter o remédio de febre, e preciso que
faça nebulização nele e lavagem nasal, tudo bem? Caso não
melhore, ou pare de aceitar comida e a febre se mantenha alta,
preciso que retorne aqui diretamente para falar comigo. Vou deixar
avisado na recepção. — Ele anota tudo o que é preciso na receita.
— Fique tranquila, como já disse, não é nada grave. Vou liberar
vocês. E já sabe, qualquer coisa, pode me procurar.
— Obrigada, doutor, o senhor não sabe o quanto me alivia
saber disso — ela agradece e vejo um pouco de alívio em seu rosto.
Saímos da sala de atendimento e vamos andando até a
saída do hospital.
— Eu vim de moto, então vou esperar você pedir o Uber e
vou seguindo atrás do carro. Vai precisar que eu passe a noite na
sua casa mais uma vez? Não será nenhum problema para mim, já
estou aqui mesmo. — Tento passar o máximo de confiança para que
ela aceite.
— Não queria me aproveitar da sua boa vontade, será a
segunda noite que passará comigo e com o Joaquim, me sinto uma
péssima pessoa e chefe abusando assim de você. — Ela me olha
com os olhinhos do Gato de Botas e a minha vontade de abraçá-la
só aumenta.
— Não é abuso algum, fica tranquila. Eu durmo lá mais uma
noite. — Espero que ela não perceba que estou aliviado por ficar
com eles mais uma vez, eu ficaria muito preocupado na minha casa
e não conseguiria pegar no sono.
— Não vou me fazer de difícil porque não estou podendo.
Vou pedir o Uber e você segue atrás. Nossa! — Dá um sorrisinho de
canto de boca. — Que bad boy, uma moto vermelha ainda.
— Que nada, era o veículo mais barato mesmo, comprei
quando me mudei e meu pai também sabe pilotar, na verdade,
tirando o meu irmão mais novo, todos sabemos pilotar moto —
conto a ela sobre a minha família.
— Me deixa te fanficar como um bad boy de óculos de grau.
Ah, você tem alguma tatuagem? Diz que tem, por favor — brinca
comigo e quero rir do que fala.
— Eu não tenho nenhuma tatuagem, mas nada me impede
de fazer uma, se isso vai colocar um sorriso no seu rosto. — Ela
abre um sorriso lindo para mim, que é interrompido pela chegada do
carro.
Ajudo-a a entrar e coloco Joaquim em seu colo no banco de
trás, dou um beijinho em sua cabeça, olhando nos olhos dela, que
se voltam para os meus por poucos segundos – que se tornaram
quase uma eternidade tamanha a intensidade –, porém o motorista
resmunga alguma coisa, nos apressando, e fecho a porta com
cuidado. Vou logo atrás com a minha moto, seguindo-os, sem
perdê-los de vista.
Não demoramos a chegar no condomínio, e após estacionar,
encontro Nathália próxima ao portão, tomo a bolsa com as coisas de
Joaquim de suas mãos e a guio para o apartamento. Fazemos o
percurso em silêncio e sem pressa, tomando cuidado para o
pequeno não acordar.
Entramos em sua casa e vejo que ela saiu com tanta pressa
que deixou todas as luzes acesas.
Sigo direto para o quarto de Joaquim para guardar as suas
coisas. Ao voltar para a sala, encontro Nathália o embalando, seu
rosto ainda carregado de preocupação.
— Você avisou as meninas? — pergunto a ela.
— Como? — Minha chefe está tão cansada que não
compreendeu o que eu disse.
— Estou perguntando isso porque você havia marcado com
as duas aqui de manhã, antes do serviço, não prefere remarcar?
Quer que eu mande mensagem para a minha cunhada? Não tenho
o contato da Helena. — Pego o meu celular do bolso.
— Poderia fazer isso para mim? — questiona, bocejando. —
Mandei uma mensagem para a minha amiga avisando que estava
indo ao hospital e, no caminho de volta, comuniquei que estava
retornando para casa, mas que, apesar de estar tudo bem, achava
melhor desmarcarmos o combinado de amanhã. Não acho que vou
conseguir pensar em nada relacionado à empresa. — Sigo-a
enquanto caminha até o seu quarto para colocar Joaquim na cama.
Ajudo-a desforrando o lençol e ela o deita no meio dela. Nos
revezamos entre olhá-lo e tomarmos banho para tirar o cheiro de
hospital.
Nathália se deita ao lado do bebê e pede para que eu me
deite do outro. Sua cama é enorme e cabe nós três perfeitamente e
sem nenhum aperto.
— Eu posso dormir no chão para não invadir a privacidade
de vocês. — Coço a nuca um pouco sem graça.
— Nada, para de bobeira, Henrique. Fica aqui, essa cama é
enorme. — Faz um gesto de desdém com a mão.
Deito ao lado de Joaquim e me cubro com o edredom rosa.
Ficamos um bom tempo acordados, somente o vigiando e
conferindo se a febre retornou. Depois de algumas horas, quando o
dia já estava clareando, é que conseguimos pegar no sono. Ela
antes de mim, claro, eu havia dormido pelo menos um pouco, já a
minha chefe estava exausta.
Não consegui parar de observá-la e admirá-la ainda mais.
Essa mulher está sozinha nessa. Nathália tem uma força surreal,
porém se permite ser vulnerável, se permite ser ajudada, é humilde.
Não pede ajuda, mas também admite e aceita quando precisa.
Que mulher extraordinária! Estou cada dia mais encantado
por ela. Mas não posso…
Não posso me apaixonar pela minha chefe.
Acordo com um toque suave em meus cabelos e uma mão
grande por cima da minha cabeça, fazendo carinho. Vejo Henrique
com um sorriso singelo no rosto, olhando para mim.
— Bom dia — sussurra.
— Bom dia — respondo e olho para o meu filho, que
continua dormindo. Coloco a mão em sua testa e ele não está mais
febril. Solto um suspiro de alívio.
Viro para o lado para verificar as horas no celular que está
na mesinha de cabeceira e vejo que já são 11:00 da manhã, o que
para mim, é muito tarde. Não costumo acordar esse horário e nem
Joaquim, mas creio que a gripe e a ida ao hospital o cansaram,
assim como cansou a mim e ao Henrique.
— Eu já havia verificado e ele não está mais febril, acho que
foi só um susto mesmo. — Sua voz continua baixa e rouca.
Que voz sexy! Se eu não estivesse tão cansada de ontem e
meu filho não estivesse no meio de nós dois, eu tinha pulado nele.
Não! Não tinha não. Ele é seu funcionário, lindinha.
Joaquim abre os olhinhos e imediatamente me procura, mas
ao me encontrar, me ignora, se virando para o seu novo amigo e
abre um sorriso lindo.
Que traidor!
Henrique inspeciona a sua fraldinha, porém vejo-o torcer um
pouco o nariz, provavelmente porque está suja, se levantando para
pegar outra fralda e trocá-lo.
— Pode deixar que eu faço isso. Você deve estar cansado e
querendo ir para casa. Passou a noite conosco e não tinha
obrigação alguma disso.
O babá, que estava de costas, pegando a fralda limpa, se
vira para mim e penso que vai largar tudo ali e ir embora, mas faz
justamente o contrário.
Henrique vem até mim e aperta o meu ombro de leve,
querendo me passar algum conforto.
— Eu não estou aqui por nenhuma obrigação, estou aqui
porque quero estar. Você não me pediu e nem impôs nada, eu me
ofereci. Tenho ciência de que pode lidar com isso sozinha, mas não
precisa. Estou aqui para te ajudar, porém se eu estiver
ultrapassando algum limite ou sendo incômodo para ti, quero que
me diga.
Seu aperto no meu ombro me passa uma tranquilidade que
eu não esperava sentir, além de suas palavras serem um acalento
para o meu coração.
Sou tão acostumada a fazer tudo sozinha, a estar sozinha
nessa aventura que é ser mãe, que nem consigo mais discernir
quando alguém faz algo genuíno para mim.
Henrique realmente não precisava estar aqui e nem o forcei
a nada, ele ficou porque é uma boa pessoa, porque gosta de cuidar,
porque isso faz parte do seu caráter.
Solto o ar que nem sabia que estava prendendo e apenas
assinto com a cabeça, agradecendo silenciosamente a sua
gentileza.
Ele solta o meu ombro e vai trocar a fralda de Joaquim, que
está deitadinho na cama, o esperando.
Esse garoto agora só quer saber do seu mais novo melhor
amigo. Mas nem posso julgá-lo, Hique é realmente especial.
— Bom, meninos. Vou deixá-los aí e comprar o nosso
almoço. Eu estou morrendo de fome, desde ontem que não como
direito. — Levanto em um pulo da cama, já querendo me
encaminhar para a sala.
— Não será preciso, Nathália. A não ser que seja um
problema para você comer comida requentada. Peguei algumas
sobras que tinham na geladeira e as esquentei. Desconfiei que iria
acordar com fome. — Ele está de costas, terminando de trocar a
fralda enquanto fala.
Eu só sei sorrir, não sei por que ainda fico surpresa com as
coisas que ele faz.
— Claro que não me importo de comer a comida de ontem,
principalmente se for a sua comida. — Não resisto e quando ele se
vira com o meu bebê no colo, agora limpinho, me apoio em seu
ombro e dou um beijo em sua bochecha. — Você é o melhor.
De imediato, seu rosto fica em um tom de rosa por conta do
meu ato inesperado. Mesmo que o contato da minha boca em sua
pele tenha sido breve, pude sentir o cheiro de pasta de dente. Esse
é um dos meus cheiros favoritos agora. Uma mistura de Henrique
com creme dental.
Me viro de costas para ir para a cozinha e sei que ele vem
logo atrás com Joaquim.
— Posso colocar o seu prato? — pergunto, já que ele está
ocupado com o meu filho.
— Eu prefiro que comam primeiro, depois eu me sirvo. —
Coloca Quim na sua cadeirinha.
— Certo, vou colocar o prato desse neném lindo e o meu. —
Depois de ajeitar a comidinha do Joaquim, entrego o pratinho ao
seu babá e vou me servir. Termino de comer rápido, não só porque
estava faminta, mas sim porque Henrique também deve estar, afinal,
passou a madrugada toda comigo e com meu filho. — Agora é a sua
vez de se alimentar, vou levar essa criaturinha para tomar um banho
e você trate de comer e ir para casa descansar.
— Tem certeza? Eu posso ficar. — Seu tom de voz é baixo,
mas consigo ouvir perfeitamente.
— Sei que sim, mas ele já está melhor e livre da febre, foi só
um susto mesmo. Vai me deixar mais aliviada se for embora para
descansar. Já é a segunda noite que passa aqui e sinto que estou
abusando da sua boa vontade. Sei que disse que está aqui para
isso, mas você também precisa relaxar. Joaquim e eu ficaremos
bem.
Henrique apenas assente resignado. Noto uma expressão
de preocupação em seus olhos, mas trato de tranquilizá-lo, dizendo
que se algo mudar, eu mandarei mensagem informando-o e assim
que termina de comer, vai para casa. Porém, não sem antes dar um
cheirinho na cabeça do Quim.
Esses dois têm uma ligação diferente. Quando meu filho
olha para o seu babá, seus olhinhos brilham de alegria e o mesmo
acontece com Henrique.
Acho que foi amor à primeira vista. Nunca vi duas pessoas
apreciarem tanto a companhia um do outro que nem esses dois.
— Tudo bem, eu irei, mas só se prometer que irá amanhã à
minha casa assistir aos seis filmes de Star Wars comigo e com a
minha família.
— Ah, é verdade. A gente combinou mesmo. Se Joaquim
continuar bem, vamos sim. Estou muito animada. Adoro filmes e
gostaria de conhecer a sua família também. — Uma noite de filmes
era tudo o que eu queria.
— Então combinado. — Ele se levanta e vai arrumar a
cozinha para ir embora.
Nos despedimos e finalmente vou dar um banho nesse
garotinho, que já me parece estar com saudade do seu babá que
mal saiu daqui.
O que eu faço com esse neném?
— Eu sei, meu filho. Ele realmente é um amor de pessoa e
um ótimo babá para você. Vocês realmente viraram amigos, não é?
— Bá bá bá bá — meu filho balbucia enquanto o levo para o
banheiro.
— Não acredito que vai aprender a falar babá primeiro do
que mamãe. Olha, garoto, eu te deserdo, hein. — Estreito os olhos
para ele, que não entende nada do que digo.
Coloco a criança na banheira, mas antes verifico se a água
está na temperatura certa.
Joaquim ama tomar banho, às vezes é uma luta para tirá-lo
da água. Mas hoje, como ainda está se recuperando, o pequeno
está um pouquinho menos agitado do que o normal.
Enrolo-o em uma toalha e o levo para o meu quarto. Vamos
passar o dia juntinhos, sem trabalho e sem estresse.
Já avisei as meninas que o Quim não está bem e Helena se
ofereceu para vir aqui mais tarde me ajudar, além de Maria dar
conta do recado na empresa.
Remarquei a reunião para semana que vem. O que são mais
alguns dias de espera, não é mesmo?
Apesar de amar o meu trabalho, meu pequeno sempre será
a minha prioridade.
Ele foi a surpresa que eu não pedi e nem esperava, mas que
não consigo mais viver sem. É a minha luz, o meu chão, meu
mundo todo.
Não consigo mensurar o amor que sinto pelo meu filho. Às
vezes até agradeço por ter cruzado o caminho com o Senhor Foda
Ruim, se não fosse por isso, eu não conheceria o amor da minha
vida.
Não que eu esteja romantizando a ausência paterna, é claro
que preferiria que ele gostasse do próprio filho e quisesse participar
da vida dele.
Porém, não foi o caso, mas aqui estamos, firmes, fortes e
felizes. E não há um dia que eu não agradeça por ser mãe dessa
preciosidade que é o meu Quim.
Mando uma mensagem para a minha chefe com o endereço
aqui de casa, não que seja difícil de encontrar, já que moro no
prédio ao lado do seu, porém ela não sabe exatamente qual.
Como não recebi nenhuma mensagem dela sobre Joaquim,
compreendo que aquilo foi apenas um susto e que agora ele esteja
bem.
Meu irmão caçula e meu pai estão ansiosos para conhecê-
los, principalmente o Quim, eles adoram bebês e foi só eu avisar
que vinha um aqui para o seu Antônio tirar a mesinha da sala e
estender um tapete para que o pequeno ficasse à vontade.
— Filho, o almoço já está pronto, será que ela vai demorar?
— papai me pergunta com um tom de ansiedade na voz.
Assim que termino de responder, ouvimos o barulho da
campainha.
— Eu atendo. — Diego sai em disparada para abrir a porta,
meio esbaforido.
— Cuidado, pirralho. Olha os modos.
— Eu sou um gentrémen. — Vira pra trás e levanta as
sobrancelhas para mim.
— É gentleman, pestinha. E espero que seja mesmo, não
faz mais do que a sua obrigação.
Mas meu irmão já nem me escuta mais, pois assim que abre
a porta, se depara com a beleza de Nathália e com a fofura de
Joaquim em seu colo, e fica hipnotizado.
Chego por trás dele e dou um tapinha em suas costas para
que saia do transe e fale alguma coisa.
— Oi-oi, você é linda! — Nathália abre um sorriso em
agradecimento e ele se embaralha ainda mais. — Posso sua bolsa
pegar se quiser, digo, pegar a sua bolsa se quiser. — Prendo uma
risada e empurro meu irmão para o lado antes que ele a peça em
casamento.
Eu a vi primeiro, então se tem alguém aqui que irá fazer
esse pedido, serei eu.
Como se, de fato, eu tivesse coragem. Coitado de mim!
— Oi, chefe, boa tarde. O que esse mocinho está querendo
dizer é: pode entrar, fica à vontade — digo enquanto pego a bolsa
do seu ombro.
— Boa tarde, meninos. E é um prazer te conhecer, Diego. É
esse o seu nome, certo? — Ela entra na sala espaçosa e se
aproxima do meu irmão para dar um beijo em seu rosto, o safado
fica vermelho igual a um pimentão e coloca a mão ali como se não
acreditasse de verdade que está recebendo um beijo de uma mulher
tão linda quanto essa.
Nathália, entendendo que o pirralho está meio aéreo, tenta
mudar o foco.
— Esse é o Joaquim, o meu filho, acha que consegue
segurá-lo para mim, Diego? — Ele balança a cabeça várias vezes
para confirmar e ela o entrega com cuidado, mas sem tirar os olhos
dos dois.
— Nossa! Ele é pesado. Como um bebê tão pequeno pode
pesar tanto? — dizendo isso, vira as costas e vai sentar no tapete
com ele.
Nathália e eu rimos juntos da espontaneidade do meu irmão
e papai entra na sala logo em seguida.
— Então foi você que deu um emprego ao meu filho?! —
Estende a mão para apertar a dela, mas acaba não se contentando
com isso e já a puxa para um abraço rápido.
— Culpada! — Ela levanta a mão como se estivesse se
entregando. — Gostaria de dizer que ele é um sortudo, mas eu não
posso estar mais grata por tê-lo encontrado. O carinho e o cuidado
que tem com o Quim é palpável. O senhor criou um filho
maravilhoso, senhor…?
— Antônio, mas nada de senhor, apenas Antônio.
— Certo, Antônio. E esse cheiro maravilhoso? Foi o sen…,
quer dizer, você que fez o almoço? — Papai adora uma bajulação,
principalmente quando falam da sua comida.
— Fui eu mesmo, vou arrumando as coisas e vou deixá-los à
vontade.
Meu coroa se vira para terminar o que estava fazendo antes
de vir até nós.
— Ele não precisa de ajuda? — me pergunta, apontando
com o polegar.
— Não, faltam só os pratos — digo.
— Certo.
— Meu pai vai te amar para sempre depois de ter elogiado o
cheiro da comida dele — sussurro próximo ao seu ouvido e sinto-a
arrepiar um pouco com a proximidade.
— Mas está mesmo muito bom. — Nathália balança um
pouco a cabeça, como quem quer espantar a sensação, e coloca as
mãos atrás do bolso da calça jeans apertada que usa, marcando as
suas pernas torneadas.
Enquanto Naty está linda com essa calça, uma blusa curta
rosa, maquiagem leve e o cabelo jogado para o lado com os cachos
bem soltos. Nós três estamos usando uma blusa preta escrito: Star
Wars, e com calças de moletom simples.
— Se você elogiar o gosto então… ele vai te pedir em
casamento. — Pisco para ela, que ri da minha piada.
— Ah, quem me dera que um homem fofo como o seu pai
fizesse esse pedido. — Põe uma das mãos no coração.
— Vem! — Pego na sua mão livre e a conduzo até o sofá.
Ela não protesta e nem questiona, apenas se deixa ser
conduzida por mim. Mas quando vê Luke, sentado no sofá,
dominando todo o espaço com a sua imponência, se abaixa e
começa a fazer carinho nele.
E o desgraçado do gato deixa.
Ele deixa que ela faça carinho nele.
Ele nunca deixa ninguém, além de nós, se aproximar.
Às vezes, nem a gente ele quer por perto.
Mas, pelo visto, o bichano também se encantou por ela à
primeira vista.
Que gato safado!
— Esse é Luke Skywalker, meu gato — apresento os dois
formalmente.
— Luke? Como o cara do filme que iremos assistir hoje? —
pergunta enquanto continua fazendo carinho nele, que se estica
mais para que ela não pare.
É um abusado.
— Sim! Exatamente como o cara do filme — respondo e ela
se levanta, mas o danado pula do sofá e vai se enroscar nas pernas
dela, ainda querendo sua atenção.
— Agora, chega, seu gato safado, nós iremos almoçar e o
senhor também. Pode deixar a visita em paz — meu pai volta,
dando esporro nele, como se o bichano fosse entender.
— Oba! Comida! — Diego se levanta e já ia correr para a
mesa, mas lembra de Joaquim e o pega no colo.
— Ei, ei, rapazinho, cuidado aí! Me dá o Quim aqui e vai
lavar suas mãos. — Aponto com a cabeça para o banheiro e pego a
criança no colo.
— Tá bom, tá bom — protesta, mas vai.
Caminhamos até as cadeiras e nos sentamos. Papai já nos
serviu, menos para Nathália e o Joaquim, mas para ao lado dela,
perguntando do que gosta. E ao ouvi-la dizer “tudo”, um sorriso
gigante se abre em seu rosto.
— Meu filho já almoçou antes de virmos, mas se tiver
alguma frutinha para ele, seria bom.
— Vou pegar uma banana na cozinha. — Levanto e faço o
que disse, aproveitando para amassar um pouquinho a fruta.
Comemos em perfeita harmonia e meu pai pede para ficar
com o Joaquim, dizendo que sente saudade de quando éramos
pequenos e não dávamos trabalho.
— Como você é lindo, rapazinho. — O bebê ri e aperta o
nariz do meu coroa, que faz palhaçadas para ele. — E seu nome é
tão especial. Sua mãe escolheu muito bem.
— Era o nome do meu pai — conta, meio emocionada. —
Ele morreu há alguns anos e não encontrei forma melhor de
homenageá-lo.
— Sinto muito, querida. Compreendo a sua dor. Perdi minha
esposa faz alguns anos também, mas nada se compara a dor de um
filho. — Ele aperta a mão dela por cima da bancada.
— Acho que pesei o clima, me desculpem, meninos. —
Limpa uma lágrima que escorreu do seu rosto e quero muito abraçá-
la agora, mas não posso, então apenas coloco minha mão por cima
da deles. Diego, mesmo que não entenda muito bem, faz o mesmo,
mas o que a gente não esperava é que Joaquim andasse por cima
da mesa e também colocasse a dele. Lógico que o pequeno começa
a bater e falar palavras desconexas, mas nós começamos a rir e,
simples assim, a tensão se dissipa.
Depois de terminarmos o almoço, sentamos todos na sala
para assistir ao filme. Henrique tenta me explicar o motivo pelo qual
eu devo começar pelo Episódio IV e tento prestar o máximo de
atenção possível.
Uma Nova Esperança começa a rodar na tela e todos nós,
inclusive o Joaquim, ficamos quietos e assistimos concentrados. O
filme é antigo, mas estamos vendo uma versão remasterizada. Ele
não é tão grande como imaginava e também não é chato como
pensei que fosse.
Claro que prefiro um romance fofinho, mas no fim, eu
realmente gostei. E meu filho ficou vidrado com as espadas
coloridas, que são chamadas de Sabre de Luz.
Agora, pronto. Foi convertido a gostar e vai ter mais uma
brincadeira para aproveitar com o seu babá.
— E aí, gostou? — Henrique, que está próximo a mim,
pergunta.
Na mesma hora, todos os olhares se voltam para a minha
pessoa. Sinto que serei julgada depois dessa resposta.
— Bem, não é o meu tipo de filme, mas gostei. — Dou de
ombros.
— Deixa a gente adivinhar, doçura. Você gosta de romance.
— Diego aponta o dedo para mim e levanta a sobrancelha, como se
estivesse tentando me conquistar.
— Olha o respeito, garoto. — Seu Antônio dá um pescotapa
nele e prendo uma risada para não deixá-lo sem graça. — Além de
ela ser a chefe do seu irmão, é mais velha do que você e não lhe
deu essas liberdades. Me desculpe, Nathália, meu filho perdeu o
juízo por um momento.
— Tudo bem, sem problemas. Ele não falou por mal. —
Minha voz sai meio tremida, por conta do riso que estava
prendendo.
— Ai, pai, essa doeu. — Passa a mão na nuca. — Desculpa,
Nathália.
— Tranquilo. Já até esqueci. — Pisco pra ele, que mais uma
vez fica com as bochechas em um tom rosado, parecendo o seu
irmão quando está envergonhado. A semelhança entre os dois é
imensa, o mesmo cabelo claro, as mesmas covinhas quando abrem
um sorriso. E olhos azuis que brilham sempre que pensa em alguma
travessura.
Que menino fofo! Tão fofo quanto o irmão.
— Podemos ver o Episódio V? — Diego quer saber.
— Por mim, tudo bem. Como moramos aqui perto, não tem
problema ir embora um pouco mais tarde.
— Beleza! Pode fazer mais pipoca, pai?
— Claro, meu filho. Mas você vai comigo, pestinha, aproveita
e traz o Joaquim também.
Os três saem, com o bebê no colo de Diego.
— Bom…
— Sabe…
Falamos juntos e rimos em seguida da nossa falta de jeito.
— Não precisa ficar se não quiser. Nós somos três nerds que
gostamos de passar o final de semana assim. Mas você não é
obrigada, deve ter outras coisas para fazer. — Passa a mão no
cabelo e sua blusa levanta um pouco, mostrando um pedacinho do
seu abdômen.
Senhor! Afasta esses pensamentos libidinosos de mim.
— Ah, claro. Uma mãe solo que vive para o trabalho e para o
filho realmente tem muita coisa para fazer em um sábado à noite —
bufo uma risadinha. — Mas me conta a história por trás de vocês
três serem viciados nessa franquia.
— Então, era algo que fazíamos juntos sem gastar muita
grana. Meu pai tinha poucas folgas e sempre se sentia mal por nos
deixar sozinhos por tanto tempo, mas quando podia, assistia aos
filmes com a gente. Era o nosso passatempo favorito, porque isso
significava estarmos juntos. Todos nós gostamos, até o desnaturado
do nosso irmão mais velho.
— Você nunca fala muito sobre ele. Sei apenas que é o
namorado de Maria ou ex, depende se ele fez alguma besteira ou
não. Eles brigam bastante, mas não costumo me meter na vida
pessoal dela, apesar de já ter oferecido um ombro amigo, ela é
muito fechada — falo algo que está engasgado há um tempo.
Eu adoro a minha assistente, ela é uma menina ótima, mas
esse namorado dela não parece boa coisa.
— Luiz… é um cara difícil, se assim posso dizer. Depois que
a mamãe morreu, ele meio que… não sei explicar muito bem. Só sei
dizer que mudou completamente. Não parava em casa, não levava
os estudos a sério. Papai estava muito ocupado tentando colocar
comida na mesa e eu cuidando do Diego e do nosso lar, fora os
meus estudos — solta um suspiro pesado como quem está tirando
um peso das costas por estar se abrindo um pouco.
— E ele não ajudava vocês em nada? — questiono.
— Ele era apenas um rapaz que não soube lidar com o luto,
pois era muito grudado com a minha mãe e não conseguia
administrar a dor. Descontou tudo na gente. Papai tentou colocá-lo
na terapia para ver se o ajudava, mas ele simplesmente não ia. Seu
Antônio também tentou conversar com ele diversas vezes, porém
meu irmão sempre fugia. E com o passar do tempo, as coisas foram
só piorando. Ele deu uma pequena melhorada quando conheceu a
Maria. Aquela menina é uma luz na sua vida. Pena que ele é desse
jeito, e não parece muito interessado em mudar.
Aperto sua mão, que está em cima da sua perna, em sinal
de compreensão. Ele vira a palma para cima e entrelaça nossos
dedos.
— Bom, pelo menos não fui eu quem pesou o clima dessa
vez.
Henrique solta uma risada alta e gostosa, e em seguida
soltamos as mãos, pois ouvimos quando os outros estão retornando
para a sala.
— E aí, meu filho? Como foi com os seus novos amigos na
cozinha? — Joaquim se joga no meu colo, rindo, e entendo isso
como algo bom, que ele se divertiu.
— O pequeno adorou o barulho da pipoca no microondas,
deu altas risadas — Seu Antônio conta.
— É mesmo, garotinho? Você adora uma festa, né? Agora
vamos assistir mais um? — Ele apenas balança o corpinho, todo
animado, como se tivesse entendido o que eu disse.
— Deixa o Quim aqui no tapete, Nathália, ele adorou ficar
comigo — Diego pede.
— Mas você é convencido, né, garoto? — Henrique brinca.
— Apenas realista, irmãozão.
E com isso, deixo meu filho com Diego e começamos a ver o
próximo filme.
Acordo com a cabeça na perna de alguém que faz um leve
cafuné em meus cabelos.
Nossa! Que mãos macias!
Peraí! Mãos macias? Carinho? Não acredito que peguei no
sono no meio do filme e ainda dormi no colo de Henrique.
Meu Deus! Que vergonha.
Abro os olhos e vejo que Joaquim dorme tranquilo no
tapetinho, mas foi feita uma minicama para ele.
Que coisa mais linda de se ver!
Me remexo um pouco, Henrique percebe que acordei e me
lança um sorriso tranquilizador.
— Pode continuar dormindo se quiser, ainda falta um pouco
para o filme terminar — sussurra para não acordar os outros e
continua fazendo carinho na minha cabeça.
Saio do seu colo devagar e me espreguiço.
— Desculpa por ter dormido no seu colo — peço sem graça.
— Não, está tudo bem. Você até que aguentou bastante — ri
baixinho.
— Acho que já deu a nossa hora — digo, mas na verdade
queria continuar recebendo aquele cafuné.
As mãos desse homem, gente! São enormes. Que delícia de
mãos.
— Mas já? Não precisa. Pode ficar aqui se quiser — fala,
mas logo em seguida, percebe que chamou a sua chefe para dormir
em sua casa. — Quer dizer, se você quiser, é claro. Mas se não
quiser, tudo bem também. Eu te levo até em casa.
— Eu prefiro ir, pois não trouxe roupa e nem nada para ficar
aqui. Só estou com pena de acordar o Joaquim. Ele parece tão
tranquilo dormindo ao lado do Diego.
— Quanto a isso, posso te emprestar um pijama, mas você
que sabe. — Ele continua me dando o poder de escolha.
E eu gostaria de poder ficar, mas penso que é melhor
mesmo ir embora.
— Seria uma boa, mas prefiro ir. Pode me levar depois que
esse acabar? — Vejo uma pontada de decepção em seu olhar,
porém ele assente.
Me despeço do Seu Antônio, que me faz prometer que irei
retornar mais vezes, e dou um beijinho na testa de Diego, que ainda
está apagado.
Henrique pega o meu filho no colo e vamos andando para a
minha casa devagar para não acordá-lo.
Ao entrarmos, Henrique deixa o pequeno em seu berço e
ficamos por um tempo o observando para ver se não irá acordar.
Levo-o até a porta e ao me despedir, puxo-o para um
abraço. Ele se assusta em um primeiro momento, mas logo envolve
a minha cintura com seus braços fortes e apoia o queixo em minha
cabeça, inalando o cheiro do meu cabelo.
— Obrigada pelo dia incrível — minha voz sai meio abafada,
pois estou com o rosto enterrado em seu peito.
— Eu que agradeço por ter nos aturado um dia inteiro.
Me afasto dele e dou um beijo em sua bochecha.
— Tchau, Henrique.
— Tchau, Nathália.
Ele se vira e sai, caminhando tranquilamente.
Bem diferente do meu coração, que parece que irá sair da
caixa torácica de tão acelerado que está.
Não acredito que cheirei o cabelo dela. Ela me deu um
abraço por pura gratidão e eu não consegui me segurar.
Nathália é tão macia, seu corpo se encaixa perfeitamente ao
meu. Estou inebriado com o seu cheiro, o seu sorriso, a sua
presença.
Sei que é errado, devido às circunstâncias, mas não consigo
evitar. Ela é uma mulher excepcional.
Hoje foi um dia perfeito! E tenho certeza que assim que abrir
a porta de casa, meu pai vai tecer mil elogios para a minha chefe.
Respiro fundo antes de entrar, só para poder ficar mais um
pouco com o seu perfume suave que grudou em mim. Esse cheiro é
muito parecido com o das flores que minha mãe costumava cultivar.
Adenium! Mais conhecida como Rosa do Deserto. Por isso o
nome da empresa e a preferência pela flor na cor rosa.
Abro a porta e como imaginei, Seu Antônio está me
esperando, sentado no sofá. Diego já deve estar em sua cama por
conta do horário, mas é claro que o velho não dormiria até eu
retornar.
— Desembucha, pai. — Coloco a chave em cima da
bancada.
— Como você sabe que eu tenho algo a dizer? — o cara de
pau pergunta.
— Porque eu conheço o meu rebanho, agora diga. — Cruzo
os braços em uma pose defensiva.
— Ela é uma mulher especial, meu filho. Sabe disso, não
sabe? — Sua voz é cautelosa, querendo sondar o terreno.
— Nathália é sim, mas mais do que isso. É bondosa,
paciente, educada, boa mãe, uma empresária de sucesso, linda…
muita areia para o meu pobre caminhãozinho e o pior de tudo,
minha chefe — finalizo com um quê de resignação na voz.
— Você sabe que isso não é o pior de tudo, Hique.
— Sim, eu sei, mas não sei como contar sem perder a
confiança dela. Acho que posso esperar mais um pouco.
— Se é o que sente, meu filho, confio cem por cento no seu
bom senso. Só não demore muito, omissão, assim como a mentira,
tem perna curta. — Ele se levanta, vem até mim e me dá um beijo
na testa.
— Boa noite, pai. Te amo.
— Também te amo. Agora, vá dormir, já está tarde. — Aperta
de leve o meu ombro e assinto em concordância.
Acho que não vou tomar banho hoje, apenas para dormir
sentindo o cheiro dela. Talvez não tome banho nunca mais.
Domingo passou voando! Com o tanto de coisa que eu tinha
para organizar, quando me dei conta, já era segunda-feira e já
estava batendo na porta de Nathália para uma nova semana de
trabalho.
— Bom dia, meninas! — Cumprimento ao entrar, pois vejo
que ela não está sozinha. Minha cunhada e Helena já estão aqui
para a reunião que foi adiada.
As três parecem estar em um clima amigável, tomando café
e papeando. Maria vem me abraçar e eu a recebo de bom grado.
— Oi, cunhado. Como está? — Vish, já vi que voltou com o
embuste do meu irmão só pelo “cunhado” e pelo carinho de graça.
— Tô bem e a senhorita? — Espremo os olhos em sua
direção, me soltando de seu agarre.
— Melhor… e não, eu não voltei com ele. Pode desfazer
essa cara, mas você sempre será o meu cunhadinho. Sabe que é
como um irmão para mim, né?
— Eu gostaria de dizer “que pena”, mas sabe que não
posso. — Prendo uma risada.
Maria me dá um tapa no braço e volta para se sentar com as
suas chefes.
— Henrique, vem tomar café com a gente. Joaquim ainda
está dormindo e a babá eletrônica está aqui em cima, estamos de
olho — Helena me chama.
— Claro, obrigado. A reunião de vocês será aqui na sala
mesmo ou irão para o escritório? — pergunto à minha chefe, me
sentando e me servindo da bebida.
— Escritório. Vou deixar a sala para vocês e tenho certeza
de que vai colocar mais alguma coisa de Star Wars para o Joaquim
assistir. Então é melhor que vejam aqui mesmo, a televisão é maior
— fala comigo na maior naturalidade, achei que iríamos ficar
estranhos depois de sábado, mas ela é uma mulher madura. Eu que
sou o pirralho e inseguro de nós dois.
— É claro que vou converter mais uma criança a fã da
franquia. Inclusive, vou colocar um desenho do Lego para que ele
fique mais entretido — respondo e ela abre um sorriso singelo.
— Bom, já terminei. Vamos, meninas? — Nathália chama as
outras, que seguem em seu encalço.
Ajeito a cozinha e vou para o quarto do pequeno. Depois de
algum tempo, Joaquim acorda e troco a sua fralda, dando a sua
tapioca em seguida. É algo que ele adora comer pela manhã.
Passamos o dia alternando entre brinquedos e assistir
desenhos. Quim adorou o Lego Star Wars e sempre que acabava,
eu já tinha que colocar o próximo, senão ele abria o berreiro.
É, acho que viciei uma criança.
Depois de algumas horas, as meninas vão embora e
Nathália parece bem mais tranquila. Ela ficou realmente chateada
com a situação do estoque.
— Tudo tranquilo, chefe? — Tiro-a dos seus devaneios.
— Graças a Deus, sim. Conversamos bastante e montamos
algumas estratégias para que isso não se repita com tanta
facilidade. — Estica os braços, se alongando, e depois aperta um
pouco o ombro, como quem sente algum tipo de dor no local.
— Está com dor no ombro?
— Um pouco. Às vezes durmo meio torta. Fiz os meus
alongamentos, mas ainda estou sentindo uma pontadinha aqui. —
Continua apertando onde está dolorido.
— Posso fazer uma massagem se quiser… — assim que
termino de falar, percebo que me precipitei.
Estou oferecendo uma massagem para a minha chefe, e se
ela achar que eu sou um abusado? Nossa! Como eu sou idiota.
— Claro que aceito. Só vamos esperar esse pequeno tirar o
cochilo da tarde enquanto termino de enviar alguns e-mails —
responde com o rosto um pouco mais aliviado.
Ainda bem que não recusou, eu iria me sentir meio palerma
se o fizesse. Nathália se vira para voltar ao seu escritório, me
deixando na sala.
Começo a suar de nervosismo só de imaginar que farei uma
massagem nela. De onde eu tiro essas ideias? E por que achei que
seria uma boa passar alguns minutos alisando a pele da minha
chefe?
Socorro, Deus! Eu sou mesmo um idiota.
Vou para a sala segurando um óleo de massagem e
encontro Henrique sentado no sofá, mexendo as mãos de uma
maneira nervosa e batendo a perna em um ritmo acelerado.
— Tudo bem aí? — pergunto ao homem que parece estar
suando frio. Ele passa a mão na cabeça e solta um longo suspiro,
mas em seguida assente. — Tem certeza? Não precisamos fazer
isso se não estiver à vontade.
— Te-tenho sim. Se-sem problema! — E voltamos a
gaguejar! Pensei que ele já estivesse acostumado comigo. O final
de semana foi tão bom. Estávamos tão sintonizados.
Estendo o óleo para ele, que o pega parecendo um pouco
constrangido. Me sento em sua frente, de costas para ele, e aponto
onde mais estou sentindo dor. Ouço um pigarrear e sua respiração
quente no meu pescoço, o que faz os pelos da minha nuca se
arrepiarem um pouco.
Ele coloca as pernas em volta de mim e chego um pouco
para trás, quase encostando nele de tão próximo que estamos.
Henrique passa o líquido nas mãos e logo em seguida no
meu pescoço. Seu toque é quente e macio, me fazendo soltar um
gemidinho de contentamento.
Ele desce agora para os ombros, que é onde a dor está
concentrada, mas ela logo vai se esvaindo com o seu toque suave e
a fricção gostosa que faz ali.
Puta. Que. Pariu.
O cara sabe fazer massagem e tem essas mãos enormes.
Deve ser um animal na cama. E as más línguas dizem que se as
mãos e os pés são grandes, outra parte bem específica do corpo
também é.
— Hummmmmm, que delícia — gemo de satisfação, sem
conseguir me conter. — Ahhhh, isso, assim, aaaahh, não para! —
Ele vai descendo um pouco mais para as minhas omoplatas,
fazendo círculos e não consigo calar a boca. — Ah, meu Deus! —
Mordo o lábio inferior porque, do contrário, eu vou soltar gritinhos.
Estou tão perdida no que estou sentindo que demoro a perceber
que as mãos dele não estão mais em mim.
Me viro para trás para verificar o porquê parou, mas
Henrique já não está mais ali, está correndo para o banheiro
desesperado, com a mão na frente da calça.
Ouço a porta bater com força, creio que por conta do seu
desespero e pressa. E vou até lá, batendo de leve, esperando uma
resposta que não vem, mas ouço o seu suspirar de desalento.
Bato de novo, mas dessa vez com mais força.
— Henrique? — chamo. Nada! Tento outra vez. — Eu não
vou sair daqui até que diga que está bem.
— Tá tu-tudo be-bem. — Sua voz é chorosa e sua
respiração parece estar descompassada.
Acho que ele está tendo uma crise de pânico.
— Me deixa te ajudar, querido. Você não parece nada bem
— tento soar o mais calma e paciente possível.
— Não — grita, mas logo abaixa o tom. — Não posso, só vai
piorar tudo.
Não sei se rio ou se choro dessa situação. Eu percebi o que
aconteceu assim que colocou a mão na frente das suas partes
íntimas, mas vim checar se de fato era real. E dado o seu
nervosismo, acho que acertei.
— Meu bem, sei o que houve e isso é perfeitamente normal,
seu corpo só respondeu aos sons que eu estava soltando. —
Também, né? Parecia uma louca gemendo, é claro que o garoto
tímido ia ficar constrangido ou pior. — Deixa eu entrar, por favor.
Prometo que não vou te julgar.
— Tu-tudo bem — responde resignado.
Depois de alguns segundos, que mais pareceram minutos,
ouço o clique da porta, respiro fundo antes de entrar, tentando me
manter o mais plácida possível.
Ao adentrar o cômodo, vejo que está de costas para mim e
sua respiração não se acalmou. Toco o seu ombro de leve e ele
retesa o corpo, mas isso não me faz recuar, sei que está nervoso e
envergonhado.
— Vem, senta aqui. — Puxo-o pelo braço, que tenta resistir,
mas sou insistente e, por fim, ele se senta na tampa da privada. Não
é o local mais apropriado, porém creio que ele não iria para a sala
comigo.
Henrique não me olha, pois está com o rosto virado para o
lado e muito vermelho quando diz:
— Me-me desculpa! — O rapaz parece estar
hiperventilando.
— Ei! — Viro sua face em minha direção. — Vamos respirar
juntos, como fizemos naquele dia, tudo bem? — Não espero uma
resposta e faço o exercício de confiança que fiz quando nos
conhecemos. Passamos um bom tempo assim. Eu com as mãos em
suas bochechas, olhando dentro dos olhos um do outro enquanto
inspiramos e expiramos o ar. — Melhor? — pergunto quando
percebo que ele está bem mais calmo.
— Uhum — é a única coisa que diz.
— Então, vem! Vamos para a sala. — Pego em sua mão e o
levo comigo até o sofá, me sentando de frente para ele dessa vez.
— Olha…
— Me perdoa — me corta, se desculpando mais uma vez.
— Não é necessário pedir desculpas, não aconteceu nada
de mais. Foi apenas uma reação do seu corpo, como eu disse, e eu
também não facilitei para você, né? — Afago sua perna para que
entenda que não me aborreci de verdade.
— Eu, eu, eu… érrr… — Passa as mãos no cabelo, voltando
a ficar nervoso, mas respira fundo e solta a bomba: — Eu não sou
um cara muito experiente com mulheres.
Solto uma risada por causa da sua brincadeira e ele me olha
estranho, como se não estivesse entendendo o motivo de eu achar
graça da sua suposta inexperiência.
— Peraí… você não está brincando? Isso é mesmo sério? —
Henrique desvia o olhar e ali tenho a confirmação de que não é uma
piada. — Você teve poucas namoradas? É isso? Quer dizer,
desculpa! Não precisa me contar se não quiser.
Por que sou assim, meu Deus? Eu estava rindo dele. Que
mancada! Um homem tão lindo, gostoso, educado, gentil e jovem.
Como assim ele tem pouca experiência? Minha cabeça está a mil.
— Não, eu não tenho pouca experiência, Nathália — diz
sério.
— Mas então? — Franzo o cenho, porque não consigo
compreender.
— Na verdade, eu não tenho experiência alguma. — Abaixa
a cabeça, ficando da cor de um tomate.
— Como assim você não t… Ah! Aaaaaa! — Levanto de
súbito do sofá e agora quem está hiperventilando sou eu. — Você…
você é? Não! Não é possível! Você é virgem? — Levo as duas mãos
à boca. Ele apenas assente com a cabeça e continua olhando para
as suas pernas. — Ok! Vou me acalmar. Deixa só eu tomar um copo
d'água. — Vou até a geladeira e tomo o líquido direto da garrafa,
derramando um pouco em minha blusa e depois volto para o sofá.
— Tá certo, virgem! Não é nada de mais ser um. Todo mundo já foi
um dia. Na verdade, a gente nasce assim, não é mesmo? Pelo amor
de Deus, Henrique, me para, senão eu vou continuar falando noite
adentro.
Ele começa a rir, mas logo em seguida acaba gargalhando e
vou junto. Estamos igual a dois malucos, rindo no sofá. Por mais
que isso não seja normal, pelo menos serviu para que nos
acalmássemos um pouco.
Solto umas lufadas de ar e Henrique também parece estar
mais tranquilo, pelo menos agora está olhando para o meu rosto,
mesmo que ainda esteja com as bochechas coradas.
— Sim, Nathália, eu sou virgem. Você está disposta a ouvir a
minha história?
Eu poderia imaginar mil maneiras diferentes de como contar
para a mulher que estou interessado, que nunca fiz sexo na vida,
mas de todas as formas que imaginei, nunca passou pela minha
cabeça que seria tendo uma ereção no meio de sua sala enquanto
fazia uma massagem no seu ombro.
Não sei como ela não desconfiou desde o início. Eu tentei
ser forte, porém, no momento em que ela começou a gemer, com a
sua pele macia ficando arrepiada, eu não consegui me conter, o
auge foi quando mordeu o lábio inferior.
Eu quase gozei nas calças.
Nunca me senti tão envergonhado e desesperado em toda a
minha vida. Saí correndo para o banheiro e me tranquei lá. Eu
queria sumir. Desaparecer. Quase tentei dar descarga em mim
mesmo, igual nos filmes do Harry Potter, só que ao invés de chegar
ao Ministério da Magia, eu iria para o da Vergonha.
Onde é que eu estava com a cabeça quando inventei de
fazer massagem na minha chefe gostosa pra caralho?
Volto meus pensamentos para o agora, porque do contrário
vou acabar passando mal de novo.
— Sim, Nathália, eu sou virgem. Você está disposta a ouvir a
minha história? — pergunto para a mulher dos meus sonhos, quero
dizer, para a minha chefe.
— Só se você estiver à vontade para me contar, sem
pressão. Eu gostaria muito de saber. — Sua voz é calma e
cautelosa.
— Bom, é… sei que já tenho uma certa idade, na qual os
homens costumam ser mais experientes, mas eu não fui uma
criança, digamos assim, “normal”. Eu tive que encerrar a pré-
adolescência cedo para cuidar do meu irmão, da casa, dos meus
deveres da escola. Você sabe que quando fico nervoso, acabo me
atrapalhando com algumas palavras. Porém, o que você não sabe,
é que eu gaguejava demais nessa época, a ponto de mal conseguir
formular uma frase completa. Além de ser uma criança tímida e
muito introvertida. — Faço uma pausa para respirar e para criar
mais coragem.
— Certo, você era muito tímido e…? — incentiva.
— E as meninas perdiam a paciência comigo por conta da
gagueira, então acabei deixando para lá. Fora que eu estava com a
cabeça cheia por conta das responsabilidades. Fiz muita terapia e
me consultava com uma fono, por isso, hoje eu quase não gaguejo,
só quando estou muito nervoso. Na fase adulta, tentei ser mais
sociável, contudo as coisas também não deram muito certo e aqui
estou eu. Virgem, com 24 anos e muito, muito envergonhado por
estar contando isso para a minha chefe. — Tento não surtar com a
última frase, porque a minha vontade continua sendo de sair
correndo daqui.
— Entendo… — Ela para e pensa mais um pouco antes de
falar: — Sabe, Henrique, eu pensava que homens como você
estavam em extinção, mas você provou que realmente é diferente
de todas as pessoas que já conheci. E olha que sou a CEO de uma
empresa, conheço muita gente — me tranquiliza.
— E isso é algo…? — Preciso saber o que ela pensa sobre
mim.
— É algo lindo, assim como você. — Abre um sorriso
enorme em minha direção. Que sorriso perfeito!
— Ah... — é tudo o que eu consigo dizer e meu rosto está
pegando fogo mais uma vez, mas agora, por um bom motivo.
— Todos os dias quando chega aqui em casa, parece que o
lugar fica mais calmo, sabe? Não sei bem explicar, mas você é
confiável. É algo que meu coração sempre me disse. Talvez eu
esteja viajando no que vou perguntar, mas me corrija se eu estiver
errada. Você sente atração por mim ou foi algo que aconteceu por
conta de toda a situação?
Uau, na lata! Por essa, eu não esperava, mas Nathália é
uma mulher prática, madura e que sabe o que quer, já eu, sou
apenas um garotinho amuado.
Eu deveria mentir, dizer um sonoro não para ela, contudo…
— Sim, desde a primeira vez que coloquei os meus olhos em
você. — É a primeira vez que não gaguejo ao falar dos meus
sentimentos para uma mulher.
— Você já beijou uma mulher antes? — Sua voz está mais
rouca e eu quero muito tocá-la agora.
— Sim, já dei alguns beijos, mas nada que fosse além disso
— confesso, meio sem graça. Vejo que está pensando em algo
depois dessa minha resposta.
— Posso te beijar? Sinta-se à vontade para recu…
Tomado por uma coragem que desconheço, ponho a mão
em seu rosto, calando-a de imediato e grudando os meus lábios nos
seus.
Minha boca é tímida e vou provando o seu gosto devagar,
testando. Sou inexperiente, porém sou curioso. Mas Nathália tem
outros planos, ela parece estar com fome de mim, e me devora,
tomando o controle da situação. Nossas línguas se envolvem em
uma dança gostosa, como tudo nela. Gememos juntos em
contentamento e ela me empurra um pouco para trás para que eu
me deite no sofá. Seu corpo fica por cima do meu e sinto os seus
seios entumecidos roçarem no meu peito. Com a mão na sua nuca,
seguro os seus cabelos com força, não querendo que esse beijo
acabe nunca. Ela tem um gosto tão bom. Minha chefe morde os
meus lábios de leve, encerrando o nosso primeiro beijo.
Eu não queria que acabasse. Não quero abrir os olhos para
o encanto não terminar.
Acho que ela também, pois apenas encosta sua testa na
minha e ficamos ali dessa forma, de olhos fechados e respirando o
mesmo ar. Não querendo quebrar a nossa conexão e nem desfazer
esse momento.
Nossas respirações vão se acalmando e ela se deita no meu
peito, recostando sua cabeça nele e os lindos cachos estão por todo
o meu rosto. Inspiro fundo o seu perfume de Adenium e deixo um
beijo casto em seus fios.
Permanecemos deitados assim por um bom tempo, com ela
por cima de mim e sem dizer nenhuma palavra.
Estamos os dois com medo de nos encararmos e
percebermos que isso foi um erro. Um erro muito bom, mas ainda
assim, um erro.
Faço um carinho em suas costas enquanto ainda estou com
o rosto enterrado nos seus cabelos encaracolados.
Percebo que ela cochilou nos meus braços e assim acabo
pegando no sono também.
Acordo em cima de um peitoral musculoso. Eu não acredito
que beijei o meu funcionário e ainda por cima dormi com ele.
Como pode uma chefe ser tão burra desse jeito? Não é
possível que eu esteja no meu juízo perfeito. Só pode ser falta de
sexo. É isso. Vou colocar a culpa nos hormônios e no tesão
acumulado.
Mas também… Quem conseguiria resistir ao charme do meu
babá?
Virgem.
Ele nunca transou na vida.
Nunca esteve com mulher alguma.
Esse homem lindo e com um coração mais bonito ainda,
nunca teve namorada, beijou poucas pessoas na vida e ainda por
cima me diz que sente atração por mim desde que pôs os olhos na
minha pessoa.
Se ele não tivesse me beijado, eu com certeza teria pulado
nele. Mas o que eu estou pensando? Acabei de me contradizer.
Isso foi um completo equívoco.
Em que mundo é aceitável se relacionar com o babá do seu
filho? Dez anos mais novo e que ainda por cima é virgem.
Tento levantar sem fazer muito alarde, mas é claro que isso
é impossível e ele também acorda. Me ajeito no sofá, Henrique faz o
mesmo e ficamos em um silêncio constrangedor.
— Isso foi um erro, Henrique — sou a primeira a falar.
— Imaginei que fosse dizer algo assim — me responde com
um tom de tristeza em sua voz.
— Eu… é… na verdade, eu gostei muito do nosso beijo. —
O que estou dizendo, meu Deus? — Eu só não posso lidar com
ele… com isso agora. Você é o babá do Joaquim e preciso muito de
você aqui em casa, me ajudando com o meu filho. Preciso priorizá-
lo — desabafo o que está dentro do meu coração para que ele não
pense que estou lhe dispensando, como se o que compartilhamos
não significasse nada.
Eu, de fato, gosto do Henrique, da sua companhia, e agora
do seu beijo. E que beijo... Foi o melhor que já dei em toda a minha
vida. Eu me senti nas nuvens. Não queria que ele acabasse nunca.
— Você provavelmente tem razão, mas…
— Mas? — quero saber.
— Talvez, nós possamos fazer um trato?!
— Um trato? — Eu estou parecendo um papagaio.
— Isso. — Solta uma risadinha.
— E que tipo de acordo tem em mente? — Ainda não
compreendo o que está tentando propor.
— Nós podemos tentar, aos poucos, sem pressa, ver onde
isso vai dar, mas sempre priorizando as necessidades do Quim,
sempre colocando-o em primeiro lugar. Mas se por acaso acharmos
que isso não vai dar certo, que nós estamos indo por um caminho
não muito legal e esquecendo o que realmente importa, nós
paramos. Sem brigas, sem estresse, só paramos. — Fico
boquiaberta em como ele encontrou uma solução tão rápido.
Não que eu vá concordar, porém… Ah! A quem estou
querendo enganar? Eu realmente apreciei o nosso beijo e estou
começando a ter sentimentos pelo babá do meu filho.
Por que não tentar, certo?
— Tudo bem, eu topo. — Cuspo na minha mão e a estendo
para que ele aperte. Penso que vai fazer cara de nojo e negar, mas
Henrique apenas balança a cabeça, rindo de mim.
— Você é realmente uma mulher excepcional. — Cospe em
sua mão e aperta a minha, selando o nosso acordo.
Depois de selar o acordo com a minha chefe, volto para casa
com um sorriso enorme no rosto. Eu estou parecendo o Coringa do
Batman.
Meu pai e Diego ainda estão aqui, pois pedi que eles
permanecessem, eu amo morar sozinho, mas amo ainda mais a
companhia dos dois.
— Boa noite, meu povo — cumprimento minha família.
— Que sorriso é esse? Ganhou na loteria? — o pentelho
pergunta.
— Melhor, mas isso é conversa para gente grande, Diego —
respondo.
— Então pode me contar, eu já sou grande. Tenho dez anos,
sou quase um pré-adolescente — o espertinho fofoqueiro fala.
— Ah, claro. Quase um pré-adolescente, realmente, muito
adulto. — Bufo uma risada. — Cadê o papai?
— Foi em casa buscar algumas coisas com a sua moto e
conversar com o Luiz. — Solta a bomba sem nem perceber.
Não acredito que esse idiota apareceu. Deve estar pedindo
mais dinheiro para as suas dívidas. Não sei o que tanto ele deve,
nunca pagou uma conta dentro de casa, nunca ajudou em nada.
Tento não demonstrar a minha revolta para o meu irmão
mais novo, que está alheio a essas nossas desavenças.
— Certo, então vá tomar seu banho enquanto preparo o
nosso jantar — aviso enquanto afago a orelha de Luke, que
finalmente veio me receber.
Esse gato é um cara de pau mesmo, se fosse a Nathália, ele
já estaria se enroscando nas pernas dela.
Vejo que não terei muito trabalho com o jantar porque Seu
Antônio já deixou quase tudo pronto, então me sento na sala para
assistir um pouco de TV.
Ouço o barulho da porta e sei que é o meu pai chegando.
— Ah! Já chegou, meu filho? — o mais velho pergunta.
— Sim, senhor! Conseguiu pegar o que precisava? — Sondo
um pouco o terreno.
— Consegui — responde apenas isso e sei que está
querendo fugir de uma conversa, porque ele nunca é tão sucinto
assim, sempre há algo a mais para dizer.
— E o que Luiz queria? — paro de rodeá-lo e pergunto o que
quero saber de uma vez.
— O de sempre, meu menino. O de sempre — conta com
pesar. Meu irmão é um grande idiota. — E ele queria saber o seu
endereço, mas não dei. Assim como me pediu.
— Ele vai tentar descobrir de todas as formas, porém ele não
pode saber de jeito nenhum e o senhor sabe o motivo. — Espremo
meus olhos em sua direção.
— Sim, eu sei. Não concordo, mas as escolhas são suas e
os erros são seus também — me alfineta, mas deixo passar, afinal,
ele tem razão.
— Vamos jantar? — desconverso.
— Vamos, sim. Só vou guardar essas coisas.
Jantamos tranquilamente e conversamos sobre trivialidades,
ajudo meu pequeno com o dever de casa e o coloco para dormir,
mas ainda não terminei o assunto com meu pai.
Vou até o quarto onde o meu velho dorme, bato na porta e
assim que me manda entrar, eu o faço.
Ele está com o meu Kindle e provavelmente está lendo um
dos meus livros na Amazon. Depois que ensinei a ele a mexer no
aparelho e que pode pegar livros emprestados através da
mensalidade que pago, o coroa não quer outra vida.
Sou um autor de fantasia, tenho uma série de livros que
escrevo com um pseudônimo: H.D. Smith, e ela é bem famosinha
entre os jovens leitores. Não é uma obra de arte, mas me ajudou
bastante com as contas de casa e a fugir um pouco da realidade,
inclusive, foi com o dinheiro que juntei que consegui pagar ao agiota
que estava atrás do Luiz, e é justamente sobre ele que vim falar
com meu pai.
— Pai — começo e me sento ao seu lado enquanto ele põe
o aparelho e os óculos na mesinha de cabeceira —, quanto ele
pediu dessa vez?
O mais velho desvia o olhar e solta um longo suspiro.
Percebo que ele nem tem mais desculpas para o meu irmão, já
estamos cansados das suas irresponsabilidades.
— Dez mil — responde com a voz por um fio.
— Poderia dizer que é muito dinheiro, porém já paguei uma
dívida dele maior do que essa, bem maior, na verdade — tento
consolar o meu pai.
— Eu dei o que ele pediu. — Eu ia começar a reclamar, mas
ele levanta a mão para que eu o deixe terminar. — Filho, seu irmão
não está bem e é minha responsabilidade. Eu dei o dinheiro com a
condição de que ele não volte a me pedir mais nada e que faça um
tratamento para esse vício. Tenho alguns amigos que conseguem
encaixá-lo em pré-consultas. Ele me prometeu que iria, inclusive,
pediu para que fosse com ele.
— E o senhor acreditou? — Também gostaria de ter fé no
Luiz, mas é quase impossível.
— Eu preciso acreditar. Desde que Maria terminou o
relacionamento deles, seu irmão anda cada vez pior, mas diz que
quer mudar por ela. Por mais que isso não seja o correto, colocar a
responsabilidade de melhora e cura em alguém, pelo menos ele tem
algo a se apegar — finaliza cansado.
— Certo, pai. Vou pensar nisso com calma, mas quero que
saiba que se o meu irmão realmente quiser mudar, eu estarei aqui
para ele, como sempre estive. Fora isso, quero que continue
distante. — Meu pai assente e aperto sua perna de leve,
demonstrando que estou aqui para o que precisar e ele coloca os
óculos de volta e continua com a sua leitura.
Me encaminho para fora do quarto e vou para o meu, preciso
dormir, porque amanhã é outro dia e não sei o que esperar depois
daquele beijo sensacional.
Que boca maravilhosa, que mulher perfeita! Eu não consigo
tirá-la da minha cabeça nem por um segundo.
Tomo um banho gelado porque não quero me masturbar de
novo pensando na minha chefe, agora que nos beijamos, isso
parece errado ou invasivo. Quero fazer essas coisas com ela, quero
ter todas as experiências possíveis com a Nathália.
Um virgem emocionado? Sim! Mas quem liga?
Percebo meu telefone vibrar e o pego para ler uma
mensagem dela. Abro um sorriso enorme só por saber que não fui o
único que ficou mexido com o que aconteceu.
Chefe linda: Oiee… Boa noite!
Eu: Boa noite, tudo bem?
Chefe linda: Tô bem, só queria te desejar boa noite mesmo.
É meio estranho? Ou tá tudo bem para você? É que não faço isso
há um bom tempo.
Eu: Não, na verdade, eu gostei de receber essa mensagem.
E tem muito tempo que você não faz o quê?
Chefe linda: Flertar…
Eu: Então é isso que estamos fazendo?
Chefe linda: Sim, não tá dando certo?
Eu: Para mim, está funcionando bastante, inclusive, gostaria
de mais aulas práticas sobre beijos…
Chefe linda: Isso você pode ter certeza que faremos, mas
quando formos fazer algo além disso, precisaremos conversar a
respeito, porém, tudo tem seu tempo. Não vamos nos precipitar.
Meu coração acelera só em pensar que ela quer mais do
que beijos comigo. E se eu for péssimo na cama? E se não gostar?
E se eu não conseguir fazer com que ela chegue lá?
Começo a entrar em desespero e acabo não falando mais
nada, mas vejo que ela me manda outra mensagem.
Chefe linda: Ei, imagino que esteja surtando com o que
falei, por favor, não surte, prometo que serei boazinha com você.
Acabo rindo e ficando um pouco mais aliviado por saber que
ela, em tão pouco tempo, já sabe que eu sou assim e me
compreende.
Eu: Tudo bem, chefe. Já parei com o surto, mas está na
hora de dormirmos porque amanhã é dia de trabalho. Boa noite,
linda. Dorme bem.
Chefe linda: Boa noite, Hique. Até amanhã e sonhe com
coisas boas.
Deixo o celular de lado, me deitando de costas na cama e
me cobrindo para dormir. Ah, com certeza eu sonharei com coisas
boas, porque nem no mundo dos sonhos, o rosto de Nathália sai da
minha mente.
Estou até agora sem acreditar no que Henrique me disse,
quer dizer, é perfeitamente normal uma pessoa ser virgem, mas não
sei se sou eu que sou ressabiada demais com o sexo masculino ou
se é porque ele é tão gostoso que me faz duvidar um pouco disso.
Depois do nosso beijo delicioso e do acordo que fizemos,
não paro de pensar em quanto isso é uma loucura. Ele é o meu
funcionário e um dos bons. Meu filho está completamente afeiçoado
ao seu babá, porém não posso mentir, eu também estou.
Henrique é do tipo de pessoa que nos acalma, trazendo uma
sensação de paz, como se quando ele chegasse, as coisas
finalmente se assentassem. É como se o que está fora do lugar, não
estivesse mais, como se tudo estivesse certo e em perfeito
equilíbrio.
Ouço a campainha tocar e vou atender com Joaquim no
colo, que hoje acordou mais cedo e está a todo vapor.
Não tive nem tempo de tomar um banho ou me arrumar,
estou com a cara amassada porque não dormi direito, remoendo
tudo. Devo estar com uma olheira gritante, nem o cabelo consegui
pentear, e por estar muito agitada, esqueci de colocar minha touca,
por isso meu cabelo está todo para o alto e desgrenhado.
Não é o melhor momento para receber o cara que estou a
fim de levar para a cama, mas como havíamos combinado, não
vamos mudar a nossa dinâmica e nem quem somos por conta
dessa nossa conexão.
Abro a porta e quase escancaro a boca com a beleza de
Henrique hoje, ele está com os braços de fora, mostrando os seus
músculos, em uma regata branca um pouco apertada, um jeans
claro despojado, marcando suas pernas torneadas, e um tênis
branco.
Gostoso para um caralho!
Termino de avaliar o babá do meu filho e ele me dá um
sorriso de lado, mas suas bochechas ficam coradas por causa da
minha inspeção, afinal, eu não fui nada discreta.
Tenho vontade de sair correndo para o banheiro e arrumar
pelo menos o meu cabelo, mas agora já foi, ele já me viu assim.
— Bom dia, chefe. — Quebra o silêncio e dou espaço para
que entre.
— Bom dia, Henrique — respondo o cumprimento.
— Posso?
“Você pode tudo o que quiser comigo.”
— O que disse? — Tomba a cabeça para o lado em dúvida.
Não acredito que falei isso em voz alta, achei que tinha
apenas pensado.
— Digo, pode sim. Eu vou resolver algumas coisas da
empresa e tomar um banho, estou com o dia cheio — falo rápido
demais e ele percebe que estou nervosa, vindo mais para perto de
mim.
Engulo em seco sem saber o que fazer, mas não me movo.
Com uma das mãos, Henrique coloca uma mecha do meu cabelo
bagunçado para trás da minha orelha enquanto com a outra usa o
polegar para fazer um carinho em minha bochecha. Ele não desvia
o olhar do meu e eu descanso o rosto em sua mão. Não consigo
evitar soltar um longo suspiro de apreciação pela leveza do seu
toque.
O loiro aproxima o rosto do meu e assinto com a cabeça,
dando permissão para que chegue mais perto. Ele cola os nossos
lábios, me dando um selinho bom e demorado, com gosto de pasta
de dente, o que me lembra que eu não escovei os meus e de súbito
acabo me afastando dele.
Ele me olha espantado, achando que estou o rejeitando,
mas logo o acalmo:
— Eu não escovei os dentes ainda. — Henrique dá uma
risadinha e eu dou um tapa em seu braço desnudo.
— Ai! — reclama enquanto alisa o braço.
— Você mereceu, estava rindo de mim. — Entrego Joaquim
a ele, que estava no meio de nós dois esse tempo todo. — Agora
vou deixar vocês dois aí na sala para poder resolver as minhas
coisas.
— Sim, senhora! — Faz sinal de continência e eu reviro os
olhos, mas não respondo nada e vou tomar um banho para começar
o meu dia direito.
Entro no chuveiro e tomo um banho frio para acalmar os
meus ânimos depois de ter quase babado em cima do homem.
Após a chuveirada, me arrumo e vou para o escritório
trabalhar. Não fui nem tomar café porque estou com tanta coisa para
fazer que nem penso em comer.
Mas depois de uma hora de reunião em videoconferência,
Henrique entra no quarto, tentando não chamar muita atenção e
deixa uma salada de frutas e uma xícara de café para mim, dá um
beijo na minha bochecha e sai antes que eu possa agradecer.
Meu estômago estava roncando e eu já estava ficando meio
estressada, mas depois de me alimentar, meu humor melhora um
pouco, até eu receber um e-mail de que um dos nossos
franqueados quer se encontrar comigo e com Helena essa semana.
Pelo visto, terei que voltar para o nosso escritório antes do
que eu pensava. Faço uma chamada de vídeo com a minha melhor
amiga e com Maria. As duas já receberam o comunicado e também
acham que será melhor que eu retorne amanhã mesmo.
Começo a me preparar mentalmente por ter que ficar
algumas horas longe do meu filho e entendo que ser a CEO requer
alguns sacrifícios e esse é um deles.
Depois de terminar o que tinha que fazer pela manhã, vou
até a sala para ver como os meus meninos estão.
Henrique está dando almoço para Joaquim, que está com
um brinquedinho novo na mão, provavelmente foi o seu babá quem
deu. E é algo do Star Wars, essa criança gostou mesmo do filme.
Sento ao lado do loiro, que se vira para mim e percebe que
meu rosto está meio abatido, se assim posso dizer.
— Tá tudo bem com você? — pergunta assim que jogo a
cabeça para trás, deitando-a no encosto do sofá.
— Sim, quer dizer, não — solto um suspiro alto.
— Tudo bem… quer conversar sobre isso?
— Com certeza, preciso da sua opinião. — Desencosto do
estofado e me sento direito, me virando para ele.
— Sou todo ouvidos — diz de maneira tranquila.
— Vou ter que voltar para o escritório amanhã. — Solto a
bomba com um pouco de raiva na voz.
— Mas esse não era o plano inicial? Me contratar para que
pudesse retornar ao seu trabalho? — questiona sem entender o
motivo da minha frustração.
— Sim, era, mas… — Faço uma pausa. Não sei se consigo
dizer em voz alta sem me sentir uma idiota.
— Mas… — me incentiva a continuar.
— Mas… eu sou mãe — pronto, falei.
— Sim, estou ciente disso. Porém, o que isso tem a ver com
o seu retorno? — Seu rosto está franzido porque ele realmente não
está entendendo onde é que eu quero chegar.
— Sinto que vou abandonar o meu filho, sabe? Que deixá-lo
aqui, com outra pessoa cuidando dele, é um tipo de negligência.
Sinto que sou uma péssima mãe por fazer isso — confesso o que se
passa na minha cabeça e um dos meus maiores medos: ser uma
péssima mãe para o Joaquim.
Henrique pondera um pouco sobre o que falei e então diz:
— Não acho que ser uma mulher que trabalha signifique
negligenciar a criação do seu filho. Você está esquecendo que não é
apenas mãe. Você é muitas outras coisas. É uma mãe maravilhosa,
é CEO de uma empresa que gera empregos para muitas pessoas,
em sua maioria, mulheres. É uma mulher com seus sonhos e
desejos, é uma boa amiga, uma boa chefe, uma mulher que tem
medo de filmes de terror e ama os de romance, e além de tudo, tem
um coração enorme. Não é errado tirar um tempo para si, não é
errado trabalhar e ser bem-sucedida, não é errado ser algo além de
uma mãe amorosa — finaliza o seu discurso e aperta a minha mão
de leve para me confortar um pouco.
— Se eu já não tivesse te beijado antes, eu com certeza
teria beijado agora. — Viro minha mão para cima e entrelaço nossos
dedos. Henrique abre um sorriso enorme que chega até os seus
olhos.
— É uma pena que não podemos. — Aponta com a cabeça
para o meu filho ao seu lado. — Contudo, teremos outras
oportunidades. — Pisca um olho para mim e assinto com a cabeça.
— Ah, com certeza teremos. E falando nelas, tem planos
para o final de semana? — questiono empolgada e contente por não
estar mais pensando nos problemas do trabalho.
— Na verdade, sim. Por quê? — Murcho com a sua
resposta, mas conto a ele mesmo assim.
— Porque ia te convidar para um encontro. — Deixo as
minhas intenções claras.
— Ah, eu iria sugerir a mesma coisa, antes de saber que
Diego tem uma apresentação na escola. Ele toca flauta e pediu que
papai e eu fôssemos assisti-lo e que depois o levássemos na sua
pizzaria favorita — conta com pesar na voz por não poder ir a um
encontro a sós comigo. — Porém, eu ia te convidar, na verdade,
Diego pediu que eu te chamasse e que você levasse o Joaquim.
— Jura? — Fico muito feliz em saber que o irmão dele
gostou de mim.
— Claro. E aí, topa? Não é nenhum encontro, mas… —
Faço um gesto de desdém com a mão, dispensado o seu
comentário.
— É óbvio que topo, eu não faria essa desfeita com ele,
além de querer passar um tempo com vocês de novo. O final de
semana passado foi ótimo, eu me diverti demais.
— Será no sábado de manhã e depois iremos almoçar —
relembra.
— Perfeito. Então é um encontro. — Dou um beijinho em sua
bochecha e ele sorri para mim, confirmando.
— Nós podemos sair só nós dois no domingo, o que acha?
— Henrique me convida.
— Claro, só preciso saber se Helena pode ficar com o
afilhado dela, minha amiga é uma mulher que gosta muito de sair.
Não a julgo, ela é solteira e adora uma festa — digo e já pego o
celular para mandar uma mensagem para ela.
— E eu posso escolher o lugar? Ou você já tem algum em
mente? — me pergunta e dou de ombros.
— Sem problemas, pode escolher.
— Tudo bem, então. Agora, vai almoçar que você parece
estar morrendo de fome e tenho certeza que ainda tem muita coisa
para fazer no seu escritório — fala todo mandão e eu gosto do seu
jeito.
Levanto do sofá e vou fazer o que ele disse. Estou com um
sorriso no rosto e com a ansiedade me consumindo por dentro.
Depois da conversa que tive com Henrique sobre voltar a
trabalhar, meu coração ficou um pouco mais tranquilo. Claro que
não estava cem por cento segura por causa do que conversamos,
mas pelo menos eu estava tentando não pirar e nem me martirizar
tanto.
Volto para a empresa com um pesinho no coração, mas
certa de que o trabalho também é algo importante para mim e faz
parte de quem eu sou.
Fundei essa empresa do zero com a minha melhor amiga, a
Adenium faz parte de mim e da minha história.
Cumprimento as meninas da recepção e todo mundo que
encontro no caminho até a minha sala e abro a porta, encontrando
Maria em sua mesa, já a postos.
Essa menina é quase que perfeita, eu não poderia ter
contratado alguém melhor para me auxiliar.
— Bom dia, Maria! Tudo bem? — saúdo a minha assistente,
que já se levanta trazendo alguns documentos em suas mãos e
deixando-os em cima da minha mesa para que eu os analise.
— Bom dia, chefe. Tudo ótimo, feliz que você voltou. —
Termina de colocar o restante dos papéis. — Esses são os relatórios
com o prejuízo do estoque. — Mostra uma pasta preta. — E esses
outros — aponta para uma amarela — são as fichas dos
funcionários atualizada pelo RH.
— Ah, perfeito. Eu já ia lhe pedir justamente isso. Quero ver
os novos rostos, não gosto de trabalhar com quem não conheço.
Você bem sabe. E… poderia me dizer se Helena já chegou? — E
como se tivesse sido invocada através do seu nome, o furacão entra
na minha sala com tudo.
— Bom dia, bom dia, bom dia, meninas! Me chamaram? — A
mulher parece que tomou um litro de café pela sua agitação.
— Nossa! Que animação é essa, querida? — pergunto,
levantando uma sobrancelha.
— Eu tive o melhor sexo da minha vida ontem. Pena que
não repito transas. — Faz um gesto de desdém com a mão como se
isso não fosse nada de mais.
— Pelo amor de Deus, Helena. Nos poupe dos detalhes
sórdidos. — Reviro os olhos.
— Ué, mas foi você que perguntou, mulher. Eu só respondi a
sua pergunta. — Senta na cadeira em frente à minha mesa.
— Não sei por que ainda me espanto com a sua sinceridade.
— Espremo meus olhos para ela. — Vamos logo começar essa
reunião.

Depois de resolvermos as pendências e alinharmos alguns


pontos necessários, o dia passa mais rápido do que imaginei.
Conheci alguns dos novos funcionários e conversei bastante
com eles. Creio ser importante se mostrar uma chefe acessível e
que se preocupa, não só com o desempenho da equipe, mas com o
bem-estar também.
O nosso franqueado adiou a reunião para amanhã e fico
grata por isso, porque além de ele ser um chato, eu queria ir logo
para casa para ver o meu filho.
Eu chorei igual a uma criança ao deixá-lo com Henrique para
vir trabalhar. Sei que sou exagerada. Mas meu coração de mãe
ficou apertadinho e o babá quase teve que me empurrar porta afora
para que eu viesse para o escritório.
É claro que fiquei conferindo as câmeras lá de casa no meu
notebook de vez em quando. Essa não seria eu se não o fizesse.
E em todos os momentos, fiquei aliviada ao ver que tudo
estava bem com os meus meninos. Eu realmente posso confiar em
Henrique, afinal, ele não fazia ideia de que estava sendo filmado.
Vou caminhando para casa, mas apresso o meu passo
porque estou doida para pegar o meu bebê no colo. Parece que
estou dias sem vê-lo e não somente algumas horas.
Estou com tanta pressa que acabo esbarrando em alguém
sem querer e quando levanto o rosto para ver quem é e pedir
desculpas, quase caio dura no chão ao ver Miguel à minha frente.
Ele continua o mesmo, seu cabelo loiro está bem penteado,
está com a barba por fazer e com o rosto um pouco abatido, mas
continua muito bonito.
Dou um passo para trás querendo sair daqui o mais rápido
possível, mas antes que eu o faça, ele me pergunta:
— O que está fazendo aqui?
É sério? Esse idiota pensa o quê? Que eu estava o
perseguindo ou algo assim? Ou que eu lhe devo algum tipo de
satisfação?
Isso só pode ser uma piada.
Faço a minha maior cara de tédio antes de responder:
— Eu moro aqui. — Viro as costas, deixando-o para trás,
mesmo com o coração acelerado em desespero por ter visto o pai
do meu filho tão perto de nós. Ainda que não entenda porque estava
espantado por eu estar na minha própria rua.
O idiota segura o meu braço, me impedindo de ir embora e
tento me desvencilhar, mas não consigo, então me viro de volta para
ele.
— O que você quer? Com certeza não veio aqui para saber
sobre o meu filho, já que nem lembrava que eu moro aqui — quase
cuspo as palavras na sua cara.
— Eu… é… — Ele passa a mão pelos cabelos de um jeito
nervoso e mira os seus olhos azuis em mim, meio angustiado. — De
fato, eu não vim atrás de vocês, mas… como ele ou ela está? —
pergunta e percebo que está aflito, trocando o peso de uma perna
para a outra, parecendo estar desconfortável.
— Como você pode ser tão cara de pau, Miguel? Você vem
no nosso bairro e por uma força do acaso esbarra em mim e, do
nada, fica interessado em saber como o meu filho está? — Ele
arregala os olhos espantado, não sei se com a minha rispidez ou se
ao constatar que tive um menino. — Faça um favor a nós dois e
continue nos deixando em paz, você perdeu o direito de saber
qualquer coisa sobre o Joaquim ao nos rejeitar, não só uma, mas
duas vezes. — Faço o número dois com a mão na frente do seu
rosto.
Ele assente resignado e quando penso que vai me deixar ir,
solta a seguinte pérola:
— Me desculpa, Nathália. Eu só… não sou bom. Eu não
estou bem e não poderia assumir essa responsabilidade. Eu fiz o
melhor para vocês ao me afastar. Disso você pode ter certeza — diz
em um sussurro, depois vira as costas e vai embora me deixando
ali, no meio da calçada, com um turbilhão de sentimentos dentro de
mim.
Minha cabeça está a mil e vou correndo para casa antes que
eu passe mal aqui no meio da rua.
Eu não acredito no que acabou de acontecer. Não sei se
entro em desespero ou se fico aliviada por ele não ter vindo atrás de
nós para tentar tirar o meu pequeno de mim.
Quando descobri que estava grávida, eu queria que ele
participasse de tudo, que fosse presente, era o mínimo. Mas esse
idiota se recusou e me deixou sozinha para me virar nos trinta.
Nunca entrou em contato, nunca quis saber de nós, mas
sempre tive medo de que um dia ele voltasse para tentar tirar o
Joaquim de mim.
Pelo menos agora posso ficar tranquila sabendo que
pretende se manter distante, se ele mesmo diz que não é bom para
nós e que foi melhor assim, então não posso reclamar.
Graças a Deus que ele saiu das nossas vidas.
Na verdade, ele nunca nem entrou. Fugiu antes de ao
menos tentar. E talvez ele tenha razão, se é uma pessoa instável, foi
melhor assim.
O que não falta na vida do meu filho é amor. Não será um
pai ausente que estragará a vida do meu Joaquim.
Vou fazer de tudo para que ele nunca se sinta abandonado
ou triste com essa situação.
Ao chegar em casa, com o coração quase na boca e pálida,
Henrique se vira do sofá para me receber, mas se levanta em um
rompante ao perceber que não estou bem.
Ele vem correndo até mim, me inspecionando, olhando por
todo o meu corpo para saber se me machuquei e se estou bem, e
coloca as duas mãos no meu rosto para que eu o olhe nos olhos.
— O que aconteceu, linda? — sua voz é um sussurro e eu
não aguento, acabo caindo em um choro copioso e desesperado.
Ele me puxa para um abraço apertado e não paro de chorar,
fungando em sua camisa e molhando-a com as minhas lágrimas.
Henrique não me solta nem por um segundo até que eu me
acalme e pare de chorar. Sua mão faz um movimento de vai e vem
nas minhas costas, me tranquilizando.
Vendo que já estou um pouco melhor, ele pega na minha
mão e me leva até o meu quarto, me colocando sentada na cama.
Ainda segurando uma das minhas mãos, se estica para pegar um
dos meus pijamas na gaveta ao lado da cama, onde eu os guardo.
Ele me ajuda a levantar sem nunca soltar a minha mão, me
leva até o banheiro e liga a água da minha banheira.
Em seguida, me coloca sentada na tampa do vaso e dá um
beijo na minha testa. Se afasta para preparar o banho para mim.
Esperamos ela encher e ele se vira de costas para que eu possa me
despir e entrar.
Afundo meu corpo na água morna, com sais de banho que
tapam a minha nudez. Henrique finalmente se volta para mim, dessa
vez dá um beijo na minha cabeça, respirando o cheiro do meu
perfume e me deixa ali, avisando que irá fazer um chá de camomila
e vai me esperar na sala para conversarmos, caso eu queira.
Apenas assinto e ele se vai, me permitindo ficar ali, com os
meus pensamentos caóticos e fora de ordem.
Passo um bom tempo na água, mas assim que me acalmo,
saio do banho e vou até a sala para me abrir com Henrique.
Estou desesperado para saber o que aconteceu com a
Nathália. Hoje ela já estava agitada por nos deixar sozinhos em
casa, então fiquei esperando-a chegar e fiz um bolinho de chocolate
para acalmá-la porque sei que gosta.
Não imaginei que chegaria aos prantos em casa. O
desespero dela era tão grande que, quando a abracei, ela se
agarrou em mim com tanta força que chegou a esticar minha blusa
no corpo, de tanta agonia.
O que será que aconteceu?
Termino de fazer o seu chá e aguardo sentado em sua
cama, já que Joaquim está dormindo, graças a Deus. Caso contrário
seria complicado conversar com ela nesse estado.
Nathália sai do banheiro com o semblante ainda triste, mas
aparentando estar um pouco mais calma.
Ela se senta ao meu lado e pega a xícara de chá, tomando-o
em pequenos goles e assoprando de vez em quando.
Seu olhar está meio perdido enquanto bebe o líquido, mas
assim que termina, coloca a xícara na mesinha de cabeceira,
suspira alto e se vira para mim, mas não diz nada.
Ela mexe a boca como quem vai começar a falar, mas nada
sai e volta a ficar com o olhar perdido.
Puxo seu rosto para mim, fazendo com que olhe dentro dos
meus olhos. Há uma vulnerabilidade tão grande ali que me
desmonta.
— Sabe que não precisa me contar nada se não se sentir à
vontade, não sabe? — sou o primeiro a quebrar o silêncio e ela
assente com a cabeça.
— Sim — sua voz sai em um sussurro sôfrego.
— Então, que tal deitar um pouco e descansar? — pergunto
enquanto faço carinho no seu rosto.
— Mas você precisa ir para casa daqui a pouco — diz, se
dando conta que o dia ainda não terminou e que provavelmente
Joaquim vai acordar da sua soneca da tarde.
— Não precisa se preocupar com isso. Eu vou ficar. Pode
descansar o quanto quiser. Vou tomar conta do Quim enquanto você
dorme e caso fique tarde, eu durmo no quarto de hóspedes, não
será a primeira vez que faço isso — digo com firmeza para que ela
não possa refutar.
E Nathália nem tenta, acho que está tão cansada
emocionalmente que nem discute comigo, apenas se deita e a cubro
com o edredom, dando um beijo em sua bochecha.
— Descansa, linda. — Apago a luz do seu quarto e encosto
a porta para que possa dormir tranquila.
Vou até Joaquim, que parece ter acabado de acordar, e o
pego no colo, verificando que a sua fralda está suja.
Troco-a e em seguida o levo para a sala para brincarmos um
pouco. O tapete e seus brinquedos estão todos dispostos no meio
do cômodo e passamos a noite ali. Ligo a TV apenas para que não
fiquemos em total silêncio.
Dou muita risada com esse garotinho que não pode ouvir
uma canção que para o que está fazendo para dançar. Acho que
alguém será um bailarino ou trabalhará com música de alguma
maneira.
A energia dele me ajuda a dissipar a preocupação que nubla
os meus pensamentos em relação a Nathália.
O que poderia ter acontecido para que ficasse daquele jeito?
Vejo que está ficando tarde e que já está na hora de colocar
o pequeno para dormir. Ele brincou e dançou tanto que de fato está
cansado.
Assim que pega no sono, coloco-o em seu berço, mas deixo
a porta aberta para escutar caso acorde.
Estou sem sono nenhum, então fico na sala, assistindo um
filme qualquer que passa na televisão.
Já são quase meia-noite quando Nathália sai do quarto, com
uma aparência bem melhor do que estava antes.
Ela se senta ao meu lado e apoia a cabeça no meu ombro.
Recosto a bochecha nos seus cabelos e ficamos assim durante um
tempo, em silêncio, apreciando as nossas companhias.
— Vi o pai do meu filho hoje — fala com verdadeiro pesar na
voz. Reteso o corpo com a notícia, pois ela nunca fala sobre ele.
— Por isso chegou daquele jeito, posso imaginar como
tenha sido difícil para você. — Minha voz está um pouco abafada
porque ainda estou com a bochecha apoiada em sua cabeça.
— Foi péssimo, na verdade, ele nem veio atrás de nós, o
que deveria me deixar tranquila, porque sempre morri de medo de
que tentasse tirar o meu filho de mim, porém eu fiquei com raiva,
muita raiva, porque ele nem lembrava que eu morava aqui e
continua sem querer saber do Joaquim. E meu bebê é tão precioso,
não merece aquele cara como pai. Isso faz sentido para você? Eu
estar preocupada, triste, mas com raiva ao mesmo tempo?
— Claro que sim. Você primeiro ficou com medo de que ele
estivesse querendo roubar o seu bem mais precioso, o que é
compreensível. Depois que percebeu que nem interessado estava,
que tinha apagado vocês completamente de sua mente, então se
indignou pelo Joaquim, afinal, ele realmente merece alguém melhor
como pai, e no fim, ficou triste porque isso não está em suas mãos.
É perfeitamente normal que esteja assim. Não se sinta culpada —
tento tranquilizá-la da melhor maneira possível.
— Dorme aqui hoje? — seu pedido é quase uma súplica.
— Eu vou, já te disse isso — recordo-a.
— Não, você não entendeu. — Balança a cabeça em
negação. — Dorme na minha cama comigo? Não quero ficar
sozinha, por favor.
Engulo em seco, porque da outra vez que dormi com ela,
Joaquim estava no meio e ainda estava doente, então não foi algo
que me deixou nervoso, mas agora, seremos só nós dois.
— Estou aqui para o que você precisar, linda. — Não tenho
coragem de negar nada a ela, ainda mais quando está vulnerável
desse jeito.
Nathália se levanta e me puxa pela mão, nos levando até o
quarto de Joaquim para verificá-lo antes de dormir.
Ambos ficamos admirando-o durante um tempo enquanto a
criança dorme um sono tranquilo.
— Me acalma, vê-lo dormir — sussurra.
— Isso é bom. — Puxo-a pela mão para irmos para o seu
quarto.
Nathália se deita e faço o mesmo do seu lado, virando de
frente para ela, com uma mão debaixo do meu rosto e com a outra
faço carinho em sua bochecha. Depois que nos beijamos, não
consigo mais ficar longe dela.
Ela se aproxima de mim e me dá um beijo demorado, é só
um encostar de lábios, na verdade, mais me arrepia e me traz uma
sensação de pertencimento, como se estivéssemos nos beijando
ensandecidamente, o que não é o caso, estamos apenas respirando
o mesmo ar com as bocas unidas enquanto eu continuo fazendo
carinho em seu rosto.
Nos afastamos um pouco, mas continuamos próximos e com
as respirações misturadas. Ela se vira de costas para mim e a puxo
para ficarmos de conchinha. Estamos os dois abraçados, eu com o
rosto enterrado em seus cachos e ela com o corpo colado ao meu
da melhor maneira.
Nunca vivenciei nada assim, Nathália é a minha primeira em
muitas coisas e eu não poderia ficar mais feliz por ser ela.
Por ela ser a mulher que mexe comigo, que me faz querer
sair da minha bolha de proteção, que me faz querer dar um soco na
cara do desgraçado que a magoou dessa maneira, que me faz
enfrentar esse medo de me envolver, que me faz querer protegê-la
de todo o mal.
Essa mulher é uma força da natureza. E eu quero estar aqui
para ela sempre que precisar.
Eu quero ser o seu porto seguro.
Percebo que Nathália dormiu novamente e fico grato por ela
estar descansando depois de ter desabafado comigo. Eu já estava
ficando nervoso por não saber o que tinha acontecido.
Ouço um ressonar e quero rir do seu ronco baixinho, mas
tenho medo de acordá-la. Ela é linda até roncando. Pego no sono
com ela, embalado pelo som da sua respiração.
Acordo sentindo o calor de Henrique atrás de mim. Seu
braço ao redor da minha cintura, o rosto enfiado entre meus
cabelos, seu peito colado em cada uma das curvas das minhas
costas criam uma atmosfera de acolhimento ao qual eu facilmente
me acostumaria. É tão quente que bastou seu pau estar com uma
ereção matinal cutucando a minha bunda para me incendiar.
E eu, como não sou boba, depois de dormir inebriada com o
seu cheiro e calor, me aconchego mais a ele, tentando despertá-lo.
Ontem eu não estava bem, então nenhum tipo de safadeza
passou pela minha cabeça, porém, hoje… hoje é um novo dia.
Não vou gastar mais o meu tempo me sentindo mal por
conta de alguém que nem sequer se recorda que existimos.
Vou focar no agora e no momento. E nesse instante, o meu
babá gostoso está com o pau duro na minha bunda.
Ele parece sentir que eu acordei e me puxa mais para si, se
é que isso é possível, me apertando em seus braços e beijando o
meu pescoço, inalando o meu perfume, como se precisasse disso
para começar o dia.
— Bom dia, linda. — Dá um beijo nos meus cabelos.
— Bom dia, Hique. — E como não sou boba nem nada,
encosto mais as minhas nádegas no meio de suas pernas e o
escuto soltar um gemido sôfrego.
— Érr, Nathália… eu acho que… humm… — Continuo me
esfregando nele, que quase se engasga quando me viro e monto
em seu quadril, louca para ter o seu pau enterrado em mim.
Henrique arregala os olhos enevoados, parecendo em
dúvida entre me tocar ou apenas me observar rebolando gostoso
sobre a extensão rígida que pulsa forte contra mim.
— Toca em mim, lindo — ronrono quando me deito sobre
seu corpo para mordiscar a pontinha de sua orelha. Hique apoia
obedientemente as mãos enormes em minha bunda. — Você pode
tocar em mim o quanto quiser.
A resposta do simples contato vem acompanhada de um
gemido profundo saído de nossas gargantas.
Como é possível alguém inexperiente como ele ser tão sexy
a ponto de me deixar encharcada com apenas um aperto firme?
— É assim que você gosta, linda? — sussurra ao grudar
minha pelve contra a sua, deixando qualquer traço de timidez de
lado.
— Isso... eu. — Henrique aperta a minha bunda, impondo
um pouco mais de pressão desta vez. — Ah, isso!
Ele afunda o rosto na curvatura do meu pescoço enquanto
alterno entre movimentos circulares e de vai e vem, friccionando os
nossos sexos sob nossas roupas com todo o desejo que arde dentro
de mim.
Levanto meu corpo para que eu possa olhar em seus olhos e
ver o quanto ele está aproveitando, ver o quanto suas íris estão
nubladas de tesão espelhando as minhas.
— Porra! Você é tão gostosa — solta um gemido contra a
minha boca quando ele vem para tomar meus lábios entre os seus.
— Me mostra o quanto você me quer, Henrique. O quanto
me deseja — gemo.
Suas mãos sobem para os meus seios, ansiosos para senti-
los, quando ele deixa a cabeça cair contra o travesseiro. Os olhos
emanando luxúria e as veias grossas saltando sob a pele do seu
pescoço são como a visão do paraíso.
— Eu te quero demais, Nathália. Eu preciso de você.
Meu coração bate mais forte, mas não tenho muito tempo
para pensar nisso. Não quando estou tão perto de gozar.
As pernas trêmulas e sons entrecortados me dão os sinais
de que Henrique também não vai durar muito mais tempo. E por
mais que eu esteja tão enlouquecida quanto ele, quero que sua
experiência seja ainda melhor.
— Eu quero sentir você, posso? — Sinto-o engolir em seco e
mover sua cabeça em concordância.
Ergo minha mão, acariciando o seu rosto e apenas isso o faz
se arrepiar. Resvalo o meu nariz no seu, toco os meus lábios nos
dele de leve, passo a língua em seu lábio inferior e ele abre um
pouco a boca para recebê-la. Gememos em uníssono quando
nossas línguas se encontram, nos beijamos com fome e desejo
enquanto eu emaranho meus dedos em seu cabelo claro, apertando
sua nuca de leve.
Eu estou desesperada para sentir o seu pau. Desço minha
mão pelo seu abdômen, arranhando-o de leve com a minha unha.
Henrique estremece com o meu toque e acelera a sua respiração
em expectativa. Não paro de beijá-lo por nada.
Abaixo a sua calça e cueca boxer de uma vez, fazendo com
que seu membro rígido salte para fora, minha mão envolve sua
extensão, sentindo o quanto ele é grosso e grande. Deslizo para
cima até sentir a gota do líquido pré-ejaculatório em sua glande para
lubrificá-lo. Começo os movimentos, a princípio lento, torturando-o
um pouco, mas vou acelerando conforme ele vai empurrando o
quadril em direção à minha mão.
— Que delícia, linda — geme em minha boca e morde meu
lábio com um pouquinho de força e eu gosto disso.
Acelero os movimentos e Henrique continua empurrando o
quadril para a frente, paro de beijá-lo, mas o olho dentro dos olhos
enquanto meus dedos aproveitam o seu calor. Henrique está com a
boca um pouco aberta e solta alguns sons desconexos. Desço um
pouco o rosto, mordo a sua orelha de leve, fazendo-o arrepiar, e
sinto que está perto de gozar.
— Goza na minha mão, Henrique — sussurro em seu
ouvido.
— Porra, Nathália! — Não sei se fico impressionada com o
seu xingamento ou se por ele ter prontamente atendido ao meu
pedido, esporrando em minha palma. Vou diminuindo os
movimentos enquanto ele solta alguns espasmos com os últimos
resquícios de seu orgasmo.
Dou um beijo em sua bochecha e pego um lenço umedecido
ao lado da cama para limpar minha mão, junto a uma toalhinha na
gaveta para secá-la. Não quero levantar agora, quero aproveitar
mais desse momento com ele.
Henrique agora está deitado de barriga para cima tentando
normalizar a respiração e eu o observo com um sorrisinho no rosto.
— Tudo bem com você? — quero saber, ele se vira de frente
para mim novamente e suas bochechas estão vermelhas, mas há
um brilho no seu olhar.
— Melhor impossível. — Aproxima os lábios dos meus, me
beijando novamente. — Eu… é… posso fazer o mesmo com você?
Não sou muito experiente, mas já li alguns livros e vi alguns filmes
e… eu quero muito, se você quiser. — Sua timidez só me deixa com
mais tesão.
Minha resposta é beijá-lo com mais vontade e com mais
fome para que entenda o quanto o quero me tocando.
Tiro o short do meu pijama e ele arfa ao notar que eu não
estava usando calcinha. Agradeço mentalmente a Maria por ter me
lembrado do meu horário com a minha depiladora, mas logo afasto
esses pensamentos e me volto para o presente com esse homem à
minha frente me olhando com tanto tesão.
O quão perfeito é um cara que leu livros e assistiu filmes só
para te fazer gozar como você merece?
Às vezes acho que esse menino foi inventado.
Pego em sua mão e faço um carinho nela antes de
direcioná-la até o meu centro, que está molhado de tanto desejo.
Ele não para de admirar minha boceta, mas logo trata de me tocar,
pois eu me mexo um pouco, querendo sentir sua mão em mim.
Assim que seu dedo resvala no meu clitóris, eu me arrepio,
ele começa a movimentá-lo devagar e eu ponho minha mão por
cima da sua, mostrando como gosto de ser tocada.
— Isso… assim, mais rápido — suplico entre gemidos.
Henrique agora entendeu exatamente onde e como me tocar
e não para, continuando em um ritmo que me faz gemer cada vez
mais alto de prazer.
— Você fica tão linda assim, entregue na minha mão. — Ele
agora vem um pouco mais por cima de mim para me beijar, mas não
para de massagear o meu clitóris.
Assim como ele, empurro meu quadril para a frente,
querendo mais, enroscando nossas línguas num beijo desesperado.
— Eu vou g-gozar — solto um gemido desesperado, mas a
boca de Henrique ainda está colada na minha, abafando-o.
Jogo minha cabeça para trás e estico o meu corpo porque o
orgasmo foi potente a ponto de me fazer revirar os olhos, estremeço
por inteiro, sentindo um prazer descomunal. Meu peito sobe e desce
de maneira rápida e descompassada, por conta da minha respiração
acelerada, e uma leveza pós-orgasmo vai me atingindo.
Tiro sua mão da minha boceta que está um pouco sensível e
lhe dou um beijinho de leve para que não pense que não gostei.
— Eu sabia que você era gostosa, só não imaginava o
quanto — fala no meu ouvido e me pergunto: cadê aquele garoto
tímido que bateu na minha porta há algumas semanas?
Em resposta, pego a sua mão, chupo os seus dedos que há
alguns segundos estavam dentro de mim e ele arfa em surpresa.
— Que bom que supri as suas expectativas. — Deixo um
beijo em sua mão e olho em seus olhos.
— Você as superou, linda. — Sela nossos lábios
rapidamente, mas joga um balde de água fria em seguida: — Eu
queria muito continuar assim, mas minha chefe é muito exigente E
preciso levantar para trabalhar. — Sua brincadeira me faz gargalhar
e ele se levanta para ir em direção ao banheiro.
Ao retornar, me dá um beijo na testa e avisa que vai fazer
nosso café. Aproveito para me levantar também, pois como sempre,
tenho um dia cheio.

Eu queria nunca mais lavar a minha mão, mas é claro que


isso é impossível. Nathália é deliciosa demais.
Nem preciso dizer que foi a primeira punheta que recebi de
uma mulher, e não de qualquer mulher, mas dela.
Tudo em que consigo pensar ultimamente é nela. Nathália se
entranhou na minha cabeça de uma maneira que é impossível tirá-
la.
Ainda que isso não seja a coisa certa a se fazer, eu não
consigo me afastar, eu quero mais dela.
Mais da sua boca.
Mais do seu corpo.
Mais da sua alma.
Mais dos seus sorrisos.
Mais dos seus gemidos.
Eu quero tudo com ela e pelo que parece, Nathália também
se sente assim em relação a mim.
Posso ser inexperiente, mas não sou burro. Ela me deseja
tanto quanto a desejo e isso faz com que cresça uma confiança
dentro de mim que eu não tive com nenhuma outra mulher.
Ela não me assusta, ela me acalma. Eu me sinto em paz
com ela, me sinto bem e feliz.
Mais seguro, mais eu mesmo.
Se antes achava que estava ferrado por querê-la, agora sei
que estou fodido por estar me apaixonando por ela.
Passo a manhã inteira meio avoada no trabalho depois do
orgasmo maravilhoso que tive pelas mãos de Henrique.
Foi só eu mostrá-lo como me tocar que ele não perdeu
tempo e aprendeu direitinho. Não tem nada melhor do que chegar
bem relaxada no trabalho depois de uma boa gozada.
Claro que meu humor está ótimo, ainda que eu tenha tido a
merda de uma reunião com um dos franqueados. O homem quer
modificar algumas cláusulas no contrato para poder mudar o padrão
da sua loja. Mas não vou permitir, se ele quiser, que entre com um
recurso, o que com certeza perderá, ou se quiser, que passe o
ponto para outra pessoa. Assim ele me daria menos dor de cabeça.
Esses homens pensam que por sermos mulheres, somos
mais suscetíveis a aceitar alguns absurdos, ou pensam que somos
burras. Não é possível.
Mas nem esse senhor desagradável conseguiu tirar o sorriso
do meu rosto e estragar o meu dia. Saio da minha sala para ir
almoçar com as meninas, que estão me esperando no andar de
cima.
Não há quase ninguém em suas salas e nas baias, porque
quase todos almoçam no mesmo horário.
Pego o elevador, cumprimento as pessoas que já estão nele
e me encaminho até o restaurante da empresa.
Vejo que as meninas estão na nossa mesa de sempre. Eu
não sabia que estava com tanta saudade do trabalho até voltar a
minha rotina.
É claro que cada dia é um estresse novo, mas essa é a
minha empresa, a que eu construí do nada, junto à minha melhor
amiga.
Eu me sinto bem aqui, cansada, mas bem.
— Ô linda, achei que ia demorar mais, já estava quase
comendo sem você — Helena bufa.
Mas essa mulher gosta de reclamar. Eu nem demorei tanto
assim. Que exagerada.
— Não exagera, Lena. — Faço um gesto de desdém com a
mão, dispensando sua alfinetada. — O que temos para hoje? —
pergunto com um sorriso que nem percebo estar exibindo.
— Peraí, tem alguma coisa diferente com você? — minha
melhor amiga acusa, estreitando os olhos em minha direção.
— Como assim? — Maria pergunta sem entender. — Ela
está do mesmo jeito que estava ontem. O cabelo, maquiagem, estilo
de roupa.
— Não é sobre isso, é sobre a energia. Tô sentindo uma
vibração diferente vindo dela. — Ela se inclina em minha direção,
pois já havia sentado à sua frente, farejando alguma coisa. — Você
transou! — Aponta o dedo em uma clara acusação.
— O quê? — Maria leva as mãos à boca, espantada, e
querendo rir. — Como você conseguiu deduzir isso apenas com o
cheiro dela, Helena?
— Porque eu sou a melhor amiga dela. — Revira os olhos
como se isso respondesse tudo. — Você trepou com alguém, não
foi? Não minta para mim, sei quando está mentindo.
— Eu não “trepei” com ninguém, Helena — respondo baixo
para que os funcionários não escutem.
— Ficou, então? Alguma coisa você fez. Essa cara de
mulher que gozou não me engana — suspiro resignada, não vai
adiantar mentir para ela mesmo.
— Henrique e eu, nós… é… nos tocamos agora pela manhã
— jogo na roda, me atrapalhando um pouco ao tentar explicar o que
fizemos.
— Mentira? — Maria quase grita, mas depois tapa a boca de
novo. — Esse meu cunhado… e eu pensando que ele era um
santinho.
— Pelo visto, não é. E você pode dizer punheta e siririca,
Naty. Nós não estamos no século XVIII. — Helena ri um pouco. —
Mas tenho que concordar com a Maria, também achei que ele fosse
bem quietinho. Porém, pela sua carinha de “bem gozada”, a siririca
foi uma delícia. — Dou um tapa no seu braço de leve por cima da
mesa.
— Deixa de ser boba. E sim, foi uma delícia. Não só pelo
orgasmo, mas pela conexão. Nós estávamos em sintonia e eu
nunca me senti assim com ninguém — conto o que estou sentindo,
afinal, as duas são as minhas melhores amigas e o mais próximo de
família que tenho, tirando o meu filho, claro.
— Uau! Meu cunhadinho está com tudo. E eu espero de
coração que isso, seja lá o que for que há entre vocês, dê certo.
Você é uma mulher maravilhosa e o Hique é um menino de ouro.
Acho que merecem ser felizes. — Maria põe a mão em cima da
minha, apertando-a de leve em sinal de conforto.
— É bom mesmo que ele seja uma boa pessoa para a minha
melhor amiga. Eu não acredito que haja alguém que a mereça, Naty,
mas confio no seu bom julgamento e no de Maria. E se está feliz, eu
estou em dobro. — Tô tão emotiva que quero chorar com o que
essas duas estão me falando. Ou pode ser apenas fome. Afasto as
lágrimas com a mão e me levanto para pegar minha comida e elas
vêm atrás.
Hoje o cardápio está variado, mas pego um dos meus pratos
favoritos, que é strogonoff de frango.
Nós três comemos em silêncio, apreciando nossas
companhias, tomando nossas bebidas entre uma garfada e outra.
E ao final da refeição, ainda ficamos mais alguns minutos
por ali conversando.
— E você, Maria. Como está o relacionamento com o Luiz?
— Helena pergunta.
— Nós estamos e não estamos juntos, é complicado —
suspira resignada. — Ele está em processo de cura, está em um
tratamento para a sua dependência. Ele é viciado em jogos de azar
e já perdeu tanto, mas tanto dinheiro com isso, que fez dívidas com
agiotas. Quem arcou com tudo foi o Henrique. E quando eu digo que
ele é um homem que vale a pena, não estou mentindo. Ele não
devia nada ao irmão, pelo contrário, mas ainda assim, para que seu
pai não sofresse, Hique sempre o estava tirando de furadas. Da
última vez, ele quase morreu e foi por isso que terminei com ele. —
Fico sem saber o que dizer e apenas me levanto para sentar ao seu
lado e abraçá-la, acho que é disso que ela precisa. De alguém para
apoiá-la e não julgá-la.
Maria é uma menina especial demais para estar sofrendo
por um babaca desse, mas isso, ela tem que descobrir sozinha, nós
apenas podemos alertá-la e dar o nosso ombro para quando
precisar desabafar.
— Não se sinta mal, Maria. O que você precisar, estaremos
aqui. Só tome cuidado para não se machucar mais, tudo bem? —
Helena a abraça também.
E ficamos as três assim por um tempo, até dar o horário de
voltarmos ao trabalho. Resolvemos descer de escada para queimar
as calorias do almoço e nos encaminhamos para as nossas devidas
salas. No caso, Helena vai para a dela, porque Maria fica junto
comigo na minha.
Lembro do convite que Henrique me fez para domingo e
tenho uma ideia, eu ia pedir à Helena, mas minha amiga é meio
doidinha.
— Maria, você acha que pode tomar conta do Joaquim no
domingo?
— Eu creio que sim, vou dar uma olhada na minha agenda.
— Ela pega o seu celular e verifica se há algum compromisso
agendado. — Sim, estarei livre nesse dia.
— Ah, perfeito, só preciso confirmar com o Hique se está
tudo certo e já te passo o horário.
— Hummmm, marcou um encontro, é? — Abre um sorriso
conspiratório.
— Sim, ele me convidou. E como é o meu babá, precisava
que alguém ficasse com o Quim. Tem certeza que não é um
problema para você? — Não gosto de sobrecarregar as pessoas e
Maria já trabalha o suficiente aqui na empresa.
— Fala sério, será um prazer. Sabe que amo o Joaquim e
não tenho nada para fazer no domingo mesmo. É bom também que
tiro o dia para pensar, longe do Luiz — diz um pouco triste, mas
sacode um pouco a cabeça como quem está tentando dissipar os
pensamentos ruins.
— Obrigada, meu amor. Não sei o que seria de mim sem a
sua pessoa. Sério, você foi um dos meus maiores acertos. Tanto na
vida profissional quanto na pessoal — agradeço a ela, porque
realmente não sei o que seria de mim sem a minha assistente
pessoal e amiga. — Agora, vamos voltar ao trabalho. Tenho alguns
números a analisar — encerro o assunto e ela assente enquanto
abre o seu notebook.
Estou feliz por ter pessoas tão boas à minha volta.
Retorno para casa após mais um dia de expediente com
esse pensamento em mente e uma gratidão enorme dentro do meu
coração.
A semana passa bem tranquila, apesar de atribulada.
Henrique e eu não voltamos a fazer nada daquilo, mas sempre que
conseguíamos um tempinho, nos beijávamos, ou dávamos as mãos,
ou fazíamos carinho um no outro.
Eu sou uma mulher muito ocupada e ele está aqui para que
eu não me sobrecarregue, então, acabamos deixando para ficarmos
juntos no final de semana, que finalmente chegou.
Henrique, Diego e Seu Antônio descem para encontrar
comigo, que estou parada em frente ao prédio deles. Ofereci uma
carona até o colégio do pequeno, que não fica muito longe daqui.
Assim que avistam o meu Volvo XC40 prata, eles entram, e o
irmão mais novo de Henrique só falta babar ao ver o veículo tão
bonito, conduzido por mim.
— Bom dia, meninos — cumprimento-os enquanto se
acomodam no carro.
Joaquim está em sua cadeirinha, bem no meio do assento,
com um brinquedinho na mão para se distrair, e Seu Antônio e
Diego se sentam um de cada lado do meu filho. Henrique senta no
banco da frente e dá um beijo rápido em minha bochecha como
cumprimento enquanto os outros dois me respondem com um bom
dia animado.
— Nossa! Que carrão, hein — o pequeno não se contém.
— Gostou, Diego? — Abro um sorriso para ele, mesmo que
esteja virada para a frente e ele não consiga ver.
— Eu adorei — responde com sinceridade. — Ah ê, Hique,
se deu bem, hein.
Como já era de se esperar, seu pai dá um tapa de leve em
sua nuca por estar insinuando que Henrique e eu estejamos juntos.
— Olha o respeito, garoto — Seu Antônio brada para o filho
mais novo.
— O quê? Eu só estou falando a verdade. Não se pode falar
mais nada hoje em dia. — Cruza os braços irritado, fechando o
semblante.
Nós três rimos da sua indignação em conjunto e ele fica
ainda mais emburrado, mas logo, logo esquece, pois irá se
apresentar daqui a pouco e já estamos nos aproximando da sua
escola.
Estaciono no local adequado e assim que paro o automóvel,
Henrique ajuda o seu pai a sair e pega Joaquim no colo. Aproveito
para pegar sua bolsa na mala, fecho o carro e vamos para dentro do
colégio.
Caminhamos até o ginásio, onde será feita a apresentação
de Diego, que está animadíssimo.
Diferente de Henrique, ele parece ser uma criança confiante,
creio que o seu irmão mais velho e o seu pai tenham feito um bom
trabalho em esconder alguns perrengues que passaram e o criaram
da melhor maneira possível, porque, apesar das brincadeiras, Diego
é uma criança fofa, educada, e amorosa, além de ter uma
autoconfiança invejável.
O ginásio está cheio de pais, alunos e funcionários da
escola. Nós encontramos um lugar bem na frente para nos
sentarmos e ter uma visão melhor do palco.
Várias apresentações são feitas, de diferentes tipos, como:
danças, canto, recital de poesia e por último, a orquestra com os
miniqueridos da turma de Diego.
Eles tocam um compilado de músicas contemporâneas, até
funk. É tão fofo que acabo me emocionando, imaginando que em
breve será o Quim e acho que quando chegar esse dia, vou morrer
de amores.
Diego está exultante, tocando flauta com alguns outros
amigos, e é lindo de se ver.
Seu Antônio está tentando segurar o choro, mas é
impossível e acaba fungando um pouco alto e Henrique está do
mesmo jeito. Com os olhos repletos de lágrimas, emocionado ao ver
o irmão mais novo tão feliz e dedicado fazendo o que gosta.
Orgulho, o par de olhos brilha com orgulho para a criança à frente
deles.
Entrelaço meus dedos nos de Henrique para que saiba que
estou aqui com ele nesse momento fofo em família. Mas logo em
seguida, as crianças encerram e nós nos levantamos para bater
palmas, menos ele, que está com Joaquim no colo. Meu filho estava
adorando as músicas.
Assim que é liberado pela professora, Diego vem correndo
até nós e tenta nos abraçar todos juntos de uma vez, acabamos nos
enrolando um pouco, mas conseguimos dar esse abraço grupal
meio desajeitado.
— Estou muito orgulhoso de você, meu menino. — Seu
Antônio bagunça os cabelos do filho mais novo.
— Eu sei, eu sou o máximo, não sou? — Direciona o olhar a
ele.
— E humilde também, criança — o pai responde, prendendo
o riso.
— Vamos na pizzaria ou não vamos? Tô morrendo de fome
— o esganado quer saber.
— Claro que sim, pirralho. Nós prometemos — Henrique é
quem responde.
— Então, partiu — fala, já indo na frente e vamos atrás sem
contestar.
A pizzaria é perto do colégio, andamos somente algumas
ruas para chegar até lá. É um lugar bem aconchegante, mas
simples, do jeito que eu gosto, sem muita pompa.
Nos sentamos e prontamente um garçom vem nos atender
com um sorriso no rosto:
— Boa tarde, vão querer rodízio ou à la carte? — pergunta
para ninguém em especial.
— Rodízio, moço. Não tomei nem café da manhã para
sobrar mais espaço na minha barriga — Diego fala e nós não
seguramos a risada. Que figura!
— Perfeito, e para beber?
— Uma água para mim — digo.
— Uma para mim também, uma coca para o pequeno e o
senhor, pai? — Henrique pergunta.
— Nada. Prefiro pedir depois. — Seu Antônio acena com a
mão, dispensando a bebida.
— Certo, vou informar aos outros garçons que comecem a
passar por aqui. — O homem dá um aceno e se vira para fazer o
que disse.
Pego na bolsa de Joaquim o seu almoço num potinho
separado e sua mamadeira com água, e entrego a Henrique, que
está com ele ao lado, sentado na cadeirinha de bebê.
Meu filho, como sempre, faz uma bagunça danada comendo,
mas o seu babá o auxilia da melhor maneira.
As pizzas começam a chegar e Diego não perde tempo e
aceita quase todas que passam. Esse realmente é o seu restaurante
e comida favoritos, dá para ver pelo brilho nos olhos ao comer.
— Hique, pode comer agora, eu termino de dar a comida do
Joaquim, você deve estar azul de fome — digo e ele assente.
Comemos bastante, conversamos sobre tudo um pouco e
demos muitas risadas com as palhaçadas de Diego.
Aquele dia na casa de Henrique pude perceber o quanto
eles são unidos, mas hoje tive a certeza disso.
E em nenhum momento, me senti excluída por eles, é como
se eu fizesse parte da família.
Estamos abarrotados de comida e estou quase abrindo o
botão da minha calça de tão empanturrada que estou quando Diego
ainda pede sobremesa. Esse menino não tem fundo.
— Deve morar uma solitária aí nessa barriga, né? — Pisco
para ele, que ri em resposta.
— Com certeza, esse garoto parece um saco furado. — Seu
Antônio finge estar brigando, mas há um sorriso em seus lábios.
— Depois da sobremesa, vamos? Estou precisando dormir.
Toda essa comida me deu um sono — Henrique pede.
— Claro. — Aperto a sua perna de leve.
— Por que vocês três não vão indo na frente? Enquanto
Diego e eu vamos ao shopping, eu prometi que se tocasse bem
hoje, compraria um presente para ele — o mais velho diz.
— Eu posso deixá-los lá, é caminho — informo e ele
concorda.
Assim que a criança termina o seu doce, vamos todos
embora. Deixo Seu Antônio e Diego no shopping e me dirijo para
casa com Joaquim e Henrique.
Estaciono no meu prédio mesmo, já que o seu é aqui perto.
— Quer subir para tomar um café ou está muito cansado que
nem aquele rapazinho ali atrás? — Aponto com a cabeça para
Joaquim, que já está coçando os olhinhos.
— Eu nunca estou cansado demais para passar mais algum
tempo com você, linda — me responde e meu coração erra uma
batida.
Esse homem ainda vai me deixar mais rendida do que já
estou.
Subimos até o apartamento de Nathália em silêncio, mas
não um daqueles constrangedores. Nossas companhias bastam.
Ainda mais quando estou segurando a sua pequena e delicada mão
na minha.
Joaquim, que estava sonolento, parece ter despertado e
enquanto entramos em casa, fica falando em sua linguagem de
bebê que só ele entende.
Naty vai preparar o café enquanto brinco com o meu
companheirinho no meio da sala. Eu não canso de babar nessa
criança. Me apaixonei por ele no momento em que o peguei no colo
pela primeira vez.
Eu estaria sendo muito emocionado se dissesse que nos
imagino sempre como uma família feliz?
— Com açúcar, né? — a mulher que vive em meus sonhos
pergunta enquanto põe a bebida quente na xícara.
— Uhum. Nesse ponto sou igual a senhorita. — Viro um
pouco de lado para falar com ela, que está vindo em minha direção
para sentar comigo e seu filho no chão. — Obrigado — agradeço
quando me entrega a caneca.
— Não está tão gostoso quanto o seu, mas dá para o gasto.
— Faz pouco caso do seu café e beberica um pouco em seguida.
— Tenho certeza que está uma delícia. — Me inclino um
pouco em sua direção para falar no seu ouvido: — Assim como
você.
Os pelos do seu pescoço ficam arrepiados e ela solta uma
risadinha nervosa, mas não deixa por menos.
— Você ainda não me provou, Hique — diz e resvala sua
boca na minha, só para me atiçar.
O contato é breve, mas estou desesperado para beijá-la
mais uma vez, porém querer não é poder e nossa criança está a
todo vapor. Então ficamos as próximas horas brincando com ele e
passando um tempo juntos.
Apesar de me deixar louco e eu querer muito dormir com ela.
Também amo ficar assim. Apenas nós três, sentados, apreciando a
companhia um do outro.
— Bem, como esse pequeno serzinho não vai descansar
agora, podemos dar uma volta na pracinha aqui perto, tomar um
sorvete. O que acha? — pergunto.
— Está me convidando para um encontro, senhor Henrique?
— Abre um sorriso enorme em minha direção.
— Sim, é exatamente isso que estou fazendo, senhorita
Nathália. — Pisco um olho para ela.
— Se é assim, eu topo. E tenho certeza que Joaquim vai
amar brincar na pracinha. — Ela se levanta e me estende a mão
para me ajudar a levantar também.
Aproveito e pego Quim no colo e ela vai atrás da bolsinha
dele.
Vamos caminhando até lá de mãos dadas e parece tão
natural. Como se isso fosse a coisa certa.
Hoje o tempo está ótimo, batendo um ventinho bem gostoso.
Já é fim de tarde, mas o nosso bairro é bem tranquilo, não há muito
perigo por aqui.
Entramos na sorveteria mais próxima e Nathália parece ter a
idade do seu filho de tão feliz que está. São tantos sabores que ela
fica até desnorteada.
Os olhos dela estão brilhando de alegria. Eu não sabia que
ela gostava tanto assim de sorvete. Mais uma coisa que descubro
sobre ela e que posso usar para conquistá-la.
Naty pega o maior pote para si e põe os seus sabores
favoritos, flocos e creme, colocando bastante calda de caramelo,
tanto no meio quanto em cima. Espero que ela não seja diabética.
Diferente dela, compro um copo de açaí e coloco apenas
granola. Para Joaquim, não pegamos nada, porque ele ainda irá
completar um ano e não é recomendado que coma nada com
açúcar até completar o segundo ano de vida.
Depois de pagarmos, vamos andando até a pracinha. O local
é envolto com uma grade para que as crianças pequenas não fujam
e os pais possam ficar de olho nelas, sem se preocuparem com elas
correndo e atravessando a rua sozinhas.
Sentamos no banquinho e deixamos Joaquim brincar à
vontade em uma parte onde ficam apenas os pequenos com a idade
próxima à sua.
Nathália dá a primeira colherada em seu sorvete e seus
olhos só faltam revirar de tanto prazer. Quero rir, mas não posso.
— Tá bom, pode falar, Hique. Eu sei que tem algo a dizer. —
Aponta sua colher de plástico para mim.
— Falar o quê? — Me faço de sonso.
— Que eu sou uma mulher adulta, alucinada por sorvete e
que pareço uma criança de dez anos em uma sorveteria. — Tento
prender uma risada, mas é quase impossível, porque ela está
fazendo um biquinho muito fofo para mim. Acabo gargalhando dela,
que me dá um tapa de leve no braço, mas puxo sua mão e deixo um
beijo casto na sua palma.
— Eu juro que não ia dizer nada, mas realmente, você
estava deslumbrada, colocou tanta coisa que nem imagino como
sabe diferenciar os gostos. — Solto sua mão para que ela possa
tomar a sua bomba calórica em paz.
— Eu amo sorvete, é o meu doce favorito. E como não
costumo comprar muita bobagem lá para casa, toda vez que entro
naquela loja, acabo pirando. Não é nenhum crime, sabia? —
Estreita os olhos em minha direção.
— Eu sei, linda. Estou só brincando com você. É porque
normalmente você é tão centrada, que fiquei surpreso com o seu
entusiasmo — digo e tomo um pouco do meu açaí.
Depois que terminamos de comer, Nathália chega mais perto
de mim, puxando o meu rosto para si e limpa o cantinho da minha
boca. Seu toque me faz estremecer, mas eu não estava preparado
para o que viria a seguir.
Ela leva o polegar até a sua língua e chupa o dedo, olhando
dentro dos meus olhos. No fim, ainda dá de ombros como se não
tivesse me deixado de pau duro no meio da praça e se vira para
olhar o filho que está brincando mais à frente.
Essa mulher ainda vai me deixar maluco. Em breve sairá no
jornal a seguinte matéria: Chefe mata funcionário virgem de tanto
tesão.
— Nathália — sussurro apenas para que ela possa me ouvir.
— Hum? — A safada se faz de besta e nem se digna a virar
em minha direção.
— Você me deixou de pau duro no meio da pracinha —
admito entredentes, tentando não ser ouvido por mais ninguém.
— É mesmo? — A cara de pau continua olhando para a
frente, mas vejo um sorrisinho safado de canto de boca.
— Você sabe que sim. Agora vou ter que pensar em gente
morrendo, em mais filmes da Disney de Star Wars, coisas tristes,
séries boas sendo canceladas…
— Ah, então você já tem a solução. Vou me levantar e deixar
você se resolver sozinho. — Minha chefe se levanta, empina a
bunda em direção ao meu rosto e sai rebolando aquela raba
gostosa, fingindo que não fez isso de propósito só para me atiçar
ainda mais.
Tudo bem, eu sou virgem, mas não sou idiota. Também sei
jogar esse jogo. Amanhã vou levá-la a um encontro – de verdade –,
já que nesse, tenho que conter meu desejo de puxá-la para mim e
debruçá-la sobre as minhas pernas para dar uns belos tapas
naquela bunda deliciosa. E vou deixá-la cheia de tesão, assim como
faz comigo.
Só espero que eu não morra de bolas azuis até lá, porque
Nathália não é o tipo de mulher que deixa barato uma provocação.
Ontem após deixá-lo de pau duro no meio da praça, fizemos
o caminho todo para casa com um Henrique meio nervoso. Pensei
que ele iria dormir aqui, mas ele apenas nos deixou na porta, me
deu um beijo na testa, um cheirinho no meu filho e foi embora.
Claramente foi correndo se aliviar, pois ele estava suando ao
nos deixar aqui e quase saiu correndo. Eu queria rir do seu
desespero, mas me contive, pelo menos na sua frente.
Mas será que fui longe demais?
O homem é virgem e eu estou o atiçando sem parar.
Contudo, é difícil me manter sã perto dele, eu estou quase
subindo pelas paredes, no entanto, vou ter que ir com calma para
não assustá-lo.
Mas hoje finalmente é o dia do nosso encontro e eu estou
ansiosa por ele.
Atendo a campainha que está tocando e sei que é Maria que
veio buscar o Joaquim, ela vai levá-lo para a sua casa e amanhã de
manhã bem cedo irei buscá-lo.
Estou com o coração na mão porque será a primeira noite
que passarei longe do meu bebê.
— Oi, Maria. Tudo bem? — digo ao abrir a porta e dar
licença para que entre.
— Eu tô indo, mas isso é história para outra hora. Agora, me
dá esse neném gostoso aqui, que a gente vai passar uma ótima
noite juntos. — Ela pega Joaquim, que estava no meu colo.
Como esse menino é dado, ele nem pestaneja e vai direto
para os braços dela, com um sorriso lindo com poucos dentes na
boca.
— Separei tudo o que ele vai precisar na bolsa, e você
sabe…
— Qualquer coisa é só ligar — me interrompe. — A senhorita
já repetiu isso várias vezes. Fica tranquila, chefe. Esse pequeno e
eu vamos nos divertir muito hoje. Pode ir para o seu encontro em
paz. — Me dispensa com um aceno de mão.
— Certo, vou tentar me acalmar. — Passo as mãos, que
estão um pouco suadas, no meu vestido.
— Mas aqui, esse nervosismo todo é porque vai sair em um
encontro ou porque Joaquim vai passar a noite fora? Porque você
está linda de morrer, meu cunhadinho vai ter um troço quando te ver
vestida assim. — Me analisa dos pés à cabeça, aprovando o meu
visual.
— Eu estou? Não acha que eu exagerei, não? — Eu
realmente estou me sentindo um pouco insegura, mas acho que é
normal. Faz bastante tempo que não saio com alguém.
— Ainda tem dúvidas? — Ela segura meu filho com um
braço e estende o outro para me pegar pela mão e me fazer dar
uma voltinha para mostrar todo o meu look. — Você está
deslumbrante. Rosa realmente é a sua cor.
— Obrigada, Maria, por me tranquilizar. Eu já ia trocar de
roupa achando que esse decote estava muito exagerado e o vestido
muito curto — desabafo sobre o que estava me incomodando.
— Que bobeira! Ele bate no meio das suas pernas, que são
lindas, diga-se de passagem, e o decote está te valorizando. Mas
agora, deixa eu ir para casa com essa criaturinha enquanto espera o
seu príncipe tímido. — Me dá um beijo na bochecha e aproveito
para dar um cheirinho no meu filho.
Ah, meu coração está apertadinho com o meu pequeno
passando a sua primeira noite fora. Mas eu confio cem por cento na
Maria, ela é um amor de menina.
A campainha toca mais uma vez e, antes de atender, me
olho no espelho da sala para conferir se está tudo certo com o meu
visual. Jogo um pouquinho do meu perfume de Adenium e vou
atender a porta. Ao abri-la, dou de cara com Henrique segurando
uma muda de rosas-do-deserto. As minhas preferidas.
Dou uma risadinha meio boba e ele estende as flores para
mim, pego-as, mas não consigo desviar a atenção dos seus olhos
risonhos e brilhantes.
— Oi — digo e ele desvia o olhar para esquadrinhar o meu
corpo, consigo notar que está apreciando a vista, mas logo em
seguida se volta para o meu rosto e pigarreia.
— Oi, linda! — Ele cora um pouquinho porque notei que
estava me secando e vem me dar um beijo casto na bochecha. —
Você está magnífica.
— Ah, obrigada! Você também não está de se jogar fora —
minto, porque ele está um tremendo de um gostoso com uma blusa
branca, que marca o seu peitoral, uma calça jeans e uma jaqueta de
couro.
Henrique ri um pouco e coloco a muda sobre a bancada,
onde será o seu novo lar.
— Gostou? — Aponta com a cabeça para as flores.
— Eu amei, não vou perguntar como adivinhou porque o
nome da minha empresa me denunciou.
— E o cheiro do seu perfume. — Abro a boca em pura
surpresa por ele reconhecer o cheiro da minha colônia.
— Como você…
— Minha mãe… era a flor favorita dela também — me
interrompe e abre um sorriso saudoso no rosto.
— Ah, meu Deus! — Chego perto dele, envolvo o seu
pescoço com os braços e lhe dou um selinho demorado. — Isso é
um problema para você ou…?
— Não, de maneira alguma. Amo o seu cheiro, com certeza
você já percebeu que em qualquer oportunidade, eu estou
cheirando os seus cabelos. — Pisca para mim e me derreto mais
um pouco por ele.
— Certo, assim me sinto um pouco melhor — digo. — Mas
agora quero saber, para onde vamos?
— Vem! Não quero estragar a surpresa, então terá que
aguentar a curiosidade, dona Nathália. — Ele me puxa pela mão e
me leva para fora do prédio sem me dizer mais nada.
Mal posso esperar para saber onde será o nosso primeiro
encontro.

— Henrique, eu estou de vestido. — Aponto o óbvio.


— E? — Levanta as sobrancelhas em provocação.
— E que… — Respiro fundo e conto até dez antes de dizer o
real motivo por não querer subir em sua moto. — Estou sem
calcinha — sussurro com as bochechas coradas de vergonha.
Seus olhos só faltam saltar das orbes e seu rosto fica
vermelho igual um pimentão.
— Eu n-não sa-sabia disso, Naty. — E a gagueira do homem
até voltou.
Por que eu sou assim, meu Deus?
— Podemos ir no meu carro. É só me dizer para onde
vamos. — Tento barganhar.
— Vamos fazer o seguinte — diz, já se acalmando um
pouco. — Vamos no seu carro, mas eu posso dirigi-lo? Porque aí
mantemos a surpresa, tudo bem para você?
— Tá bom, já que não vai me contar. Fazer o quê, né? —
Reviro meus olhos.
— Para de ser curiosa, dona Nathália. Já, já você vai
descobrir. — Aperta meu nariz de leve e me conduz até o meu
automóvel, que está na garagem do meu prédio.
Chegamos até o meu carro e Henrique, como sempre muito
cavalheiro, abre a porta para que eu entre.
Conversamos um pouco sobre trivialidades pelo caminho e
paramos em uma rua que não conheço, mas entendo que teremos
que andar um pouco para chegarmos no nosso destino.
Ele me ajuda a descer e entrelaça nossos dedos nos
levando até uma grade que está escrito: Entrada proibida.
— Ué, estamos no lugar certo? — Franzo o cenho.
— Paciência, jovem Padawan. — Pisca para mim e
desenrola o metal que envolvia o portão. — Vamos, linda. — Ainda
estamos de mãos dadas, então ele vai andando na frente e eu vou
logo atrás.
— Pada-quem? — pergunto enquanto sou guiada por ele.
— Padawan significa aprendiz e é um termo utilizado nos
filmes de Star Wars — explica com a maior paciência.
Depois de caminharmos um bom pedaço, Henrique para
perto de uma parede, acende as luzes do local e é aí que entendo o
porquê de tanto mistério.
Levo as mãos à boca, impressionada com o que estou
vendo à minha frente.
É, esse realmente será um primeiro encontro incrível.
Essa mulher quer me matar do coração, só pode. Como ela
simplesmente coloca um vestido desse e não usa calcinha?
Eu quase infartei quando me disse que não estava usando
uma, pelo amor de Deus! Ela ainda vai me enlouquecer.
Vim dirigindo o seu carro porque não ia conseguir me
concentrar se ela subisse na minha moto e grudasse seu corpo no
meu desse jeito.
Tentei pensar em várias coisas brochantes para não agarrá-
la ali mesmo no estacionamento do seu prédio, mas não adiantou
de muita coisa. Então tentei prestar atenção na estrada que era o
melhor a se fazer para que eu não causasse um acidente.
Imagina a notícia: Virgem morre após batida de carro por
saber que a sua chefe está sem calcinha.
Juro! Não sei o que faço com essa mulher. Ela toma todo o
espaço dos meus pensamentos.
Após chegarmos ao local, acendo as luzes para que ela veja
a surpresa que preparei.
Nathália leva as mãos à boca e vai andando um pouco para
a frente para observar tudo ao seu redor.
— Você fez isso tudo para mim? — Chego por trás dela,
ponho meu queixo na curva do seu pescoço e envolvo meus braços
em sua cintura.
— Sim, linda. Eu queria que nosso primeiro encontro fosse
especial. — Minha voz sai baixa e luxuriosa.
— Como…?
— Esse é um antigo restaurante onde meu pai já trabalhou.
Quando ele ainda estava em funcionamento, as pessoas vinham
aqui não só pela comida, mas por essa vista linda também. O dono
é amigo do meu velho e pede para que ele venha aqui de vez em
quando olhar para ver se não foi invadido — conto como conheço
esse lugar.
— É tudo tão lindo — suspira em contentamento.
O lugar que estamos lembra um pouco a Pedra Bonita aqui
no Rio de Janeiro, claro que o acesso caminhando não é tão difícil,
não chega a ser uma trilha, o local não tem tantos trechos íngremes,
a vegetação é baixa, demora bem menos para chegarmos e o visual
é lindo, principalmente quando chegamos perto de um cume, que à
noite, com as luzes da cidade acesas, fica lindo demais.
E eu enfeitei todo o ambiente com flores do deserto de todas
as cores que encontrei, peguei uma mesa e duas cadeiras para
jantarmos e fiz um prato especial, que deixei aqui antes de ir buscá-
la.
Saio de trás dela, pegando em sua mão e a levando para se
sentar, fazendo o mesmo à sua frente.
— Fico feliz que tenha gostado. Confesso que estava
nervoso, pensando que ia achar meio brega — digo.
— Por que eu acharia algo tão lindo e romântico assim,
brega? — Ela faz um carinho em minha mão por cima da mesa.
— Não sei, você é tão… perfeita que eu fico com medo de
parecer um moleque aos seus olhos — conto um dos meus maiores
receios.
— Henrique, eu poderia falar várias coisas sobre você e
moleque não passaria nunca pela minha cabeça. Não é porque é
inexperiente que eu te acho menos homem ou infantil de alguma
maneira. Pelo contrário, me sinto muito bem ao seu lado. — Dá de
ombros, como se não tivesse acabado de acertar uma flecha do
amor em meu coração, que erra uma batida.
— Obrigado, não sabe como é bom ouvir isso. Agora, vamos
jantar? — pergunto, já tirando o cloche do prato.
— Ai, meu Deus! Eu amo lasanha. Faz tempo que não como
uma, sabe, dieta e essas coisas. — Revira os olhos.
— Eu sei, pedi ajuda à Maria.
— Ah, que sorrateiros. — Estreita os olhos para mim.
— Queria que a nossa noite fosse perfeita para você.
— Ela está sendo. — Beijo sua mão e em seguida
começamos a nos servir.
Enquanto comemos, falamos sobre várias coisas e
principalmente sobre o nosso pequeno. Ela me conta que está se
sentindo meio relapsa por deixá-lo com a Maria e eu tento
tranquilizá-la da melhor maneira que consigo.
— Desculpa por estar falando sobre o Joaquim. Sei que
esse encontro deveria ser sobre nós dois. — Me olha com os
olhinhos culpados, parecendo o Gato de Botas.
— O Quim é a coisa mais importante do mundo para você, é
claro que podemos falar sobre esse garotinho levado. Você sabe
que eu também sou apaixonado por ele. — Aperto a sua mão em
sinal de conforto e ela assente com um sorriso feliz. — Bom, agora
que já jantamos, podemos nos sentar ali, naquela manta que trouxe
para nós, e comermos a sobremesa juntos?
— Eu gosto dessa ideia. — Me levanto, pego um potinho
com a torta de chocolate que fiz e nos levo até a toalha que estendi
no chão e coloquei alguns travesseiros também. — Você pensou em
tudo mesmo — fala impressionada.
— Eu fiz o que pude. — Pisco para ela enquanto sento e a
puxo para que se sente entre as minhas pernas.
Ficamos assim, com os corpos colados por um tempo,
apenas apreciando a companhia um do outro, mas logo começamos
a dividir a sobremesa.
É claro que eu só trouxe um potinho e uma colher para
dividirmos.
— Hummmm, que delícia. Você que fez? — pergunta
enquanto lambe os lábios.
— Sim, com a ajuda do meu pai.
— Nossa! Está divino. Por favor, sempre que puder, leve um
desses lá para casa. Quer dizer, melhor não. Senão vou sair rolando
de tanto que irei comer.
— Eu faço o que você quiser, linda. Basta pedir. — Aliso sua
coxa e ela se arrepia com o meu toque leve. Percebo que sua
respiração começa a acelerar e ela a friccionar uma perna na outra.
— Linda?
— Sim? — Sua voz sai apenas num sussurro.
— Posso te beijar?
— Achei que não ia pedir.
Nathália se vira e se joga em cima de mim, me fazendo
deitar de costas na manta. Ela roça os lábios nos meus de leve e
depois me beija com vontade. Sua língua pede passagem e eu dou.
Dou tudo o que ela quiser. Minha boca, meu corpo, minha alma,
meu coração.
Não há outro lugar no mundo onde eu queira estar.
Seu corpo está colado ao meu, sinto seus seios entumecidos
roçarem no meu peito, ainda que estejamos vestidos, sua boca
devora a minha e ela abre as pernas, encostando sua boceta no
meu pau.
Nathália se esfrega desesperadamente e cheia de tesão em
mim, que aperto sua bunda deliciosa e levanto o meu quadril,
ajudando-a a aplacar sua vontade.
— Meu Deus, Henrique. Que gostoso! — Ela continua se
esfregando em mim e me beijando ensandecidamente. Sinto o
tremor de seu corpo e sei que ela irá gozar.
E é exatamente o que acontece. Nathália geme na minha
boca enquanto o orgasmo a atinge. Ela para de se mexer e
descansa a cabeça na curvatura do meu pescoço e é claro que me
aproveito disso para cheirar o seu cabelo.
— Tudo bem aí, linda? — pergunto enquanto faço carinho
em suas costas.
— Sim, mas pode ficar melhor. — Ela levanta o rosto,
mordendo os lábios e me olha com uma carinha safada.
— É? — Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Como?
— Eu vou te mostrar. — Me dá um selinho demorado e em
seguida beija o meu pescoço.
Nathália levanta um pouco a minha blusa, descendo pelo
meu peito e me beijando. Ela lambe ao redor dos meus mamilos e
eu fico arrepiado. Já estou duro feito pedra.
A safada faz tudo olhando nos meus olhos e eu não consigo
desviar.
— Você. É. Muito. Gostosa — digo pausadamente, ofegante.
Entre um fôlego e outro.
Ela vai passando a língua no meu abdômen trincado e
quando chega próximo à minha calça, para de me lamber, abre o
botão e eu levanto o quadril para ajudá-la a me despir.
Descendo minha roupa até a metade das minhas pernas
com a cueca, ela passa a língua nos lábios e segura o meu pau com
uma das mãos.
— A-amor? — chamo-a.
— Sim. — Ela levanta uma das sobrancelhas em
divertimento.
— Eu acho que se você for por esse caminho, não vou durar
muito. — Minha voz sai embargada e desesperada.
— Ótimo, então. — Ela solta o meu pau, faz um coque
rápido no cabelo e volta a segurá-lo.
Nathália passa a língua ao redor da glande, espalhando o
líquido pré-ejaculatório em volta dele e logo em seguida engole o
meu pau com vontade. Com sua outra mão, ela acaricia as minhas
bolas e quase urro de tanto tesão.
— Mulher! Você me deixa maluco. — Ponho minha mão em
seus cabelos presos, segurando-os e empurrando sua cabeça para
baixo. Ela é tão safada que a todo momento direciona o seu olhar
para mim.
Nathália continua engolindo o meu pau, subindo e descendo
em movimentos rápidos e constantes, sem parar de me olhar e
massagear as minhas bolas.
Ela, com a boca na minha extensão e me olhando desse
jeito, é a coisa mais gostosa quejá vi em toda a minha vida.
— Eu vou go-gozar. — Penso que vai sair, mas ela me
surpreende e continua me chupando. Não aguento mais me segurar
e acabo gozando em sua boca. Naty engole todo o meu líquido e
me enlouquece ainda mais por não desviar os olhos de mim em
nenhum momento. Assim que termina, tira os lábios do meu pau e
limpa o cantinho deles.
Puxo-a para que caia em cima de mim e a beijo com
vontade, sentindo o meu gosto. Nunca foi tão gostoso beijá-la.
Que mulher sensacional.
Se receber um boquete é algo tão sensacional assim,
imagina quando eu estiver dentro dela. Acho que não vou durar nem
dois minutos.
Depois de nos acalmarmos um pouco, ficamos deitados,
ofegantes e satisfeitos, com ela por cima de mim e eu muito feliz por
estar com ela. A posição está tão confortável que acabamos
pegando no sono ali mesmo.
Acordo algumas horinhas depois com Henrique agarrado em
mim. Em algum momento da noite, devo ter saído de cima dele sem
perceber. Me mexo um pouco, fazendo com que ele também
desperte. Henrique, sentindo a distância entre nossos corpos, me
puxa para junto de si. Sinto o seu hálito quente banhando minha
nuca e ele inspira profundamente.
— Hique?
— Sim, linda.
— Você está com a cara enfiada nos meus cachos de novo.
— Ele se aconchega mais em mim, enterrando ainda mais o seu
rosto nos meus cabelos.
— Sim, porque é uma das melhores coisas do meu dia.
Acordar agarrado em você e sentir o seu perfume.
— Isso poderia virar um hábito, sabe? — Me viro para ele e
dou um beijinho casto em seus lábios.
— Toda vez que a senhorita me ilude assim, meu coração
erra uma batida — ele fala com os olhos ainda fechados e com um
sorriso no rosto.
— E quem disse que estou te iludindo? — Dessa vez quem
enfia o rosto na curva do seu pescoço sou eu. Sou envolvida pelos
seus braços fortes e me sinto tão segura aqui com ele.
— Tão me deixando sonhar. — Dou um riso abafado da sua
piada boba, depois solto um longo suspiro.
— Acho que já está na hora de irmos. Adorei o nosso
cochilinho, mas é melhor dormirmos mesmo em uma cama grande e
macia. — Saio de seu agarre e me sento devagar, ele não fala nada,
mas se coloca de pé, estendendo a mão para me ajudar a levantar.
— Vem, linda. — Henrique abaixa na minha frente, dando
um tapinha em suas costas para que monte nele.
— Você se lembra que eu continuo sem calcinha, não
lembra? — digo, mas pulo em suas costas mesmo assim.
Henrique me pega com facilidade e eu me ajeito, encostando
a minha intimidade nele.
— Não parei de pensar nisso nem por um segundo, desde
que você me contou. — Belisca minha perna direita com um pouco
de força e depois dá um tapinha nela.
— Gosto desse Henrique safado, não que o tímido não seja
uma delícia também. — Mordo seu pescoço e deixo uma lambidinha
ali, o que faz com que os pelos daquela região fiquem arrepiados.
— Então, você me acha uma delícia? — Henrique já está um
pouco ofegante quando chegamos próximo ao carro. Ele me coloca
no chão com cuidado e entrelaça nossas mãos.
— Isso não é óbvio? — Abro a porta do automóvel e me
sento no banco do motorista, pois quem irá dirigindo agora sou eu e
ele se senta no carona.
— É claro que sim, eu sou mesmo um partidão. — Faz uma
voz engraçada e nós dois caímos na gargalhada.
Dou partida no carro e vamos o caminho todo conversando
sobre bobagens, o clima entre nós está ótimo, Henrique não tira a
mão da minha perna, fazendo um carinho próximo à minha virilha, o
que me deixa toda arrepiada e doida para pular nele, mas me forço
a prestar atenção na estrada.
— Amor, se você não tirar a mão daí, eu vou acabar parando
esse carro em qualquer lugar e pular em cima de você. — Minha
voz sai rouca.
— Tá bom, não está mais aqui quem te provocou. —
Levanta as mãos em rendição.
— Quer que eu te deixe em casa ou vai subir comigo? —
pergunto com o coração agitado e ansiosa pela sua resposta.
— Eu quero ficar com você — diz na maior naturalidade,
nem percebendo o que faz com o meu coração.
Entrelaçamos as mãos e subimos pelas escadas, parando
de vez em quando para nos beijar no meio delas, igual dois
adolescentes.
Ao chegarmos na minha porta, abro-a rapidamente e assim
que a fecho, pulo em seu colo, como disse que faria.
Começamos a nos beijar enquanto me esfrego em Henrique,
ele aperta a minha bunda com vontade. Somos uma confusão de
mãos, bocas, línguas, mordidas, lambidas, chupões e gemidos de
prazer.
Ele me deposita em cima da bancada e eu envolvo minhas
pernas em volta da sua cintura sem parar de beijá-lo.
— Nathália? — me chama, mas parece mais um gemido.
— Sim.
— Posso retribuir?
— Retribuir? — Mordo seu lábio inferior.
— É, eu quero sentir o seu gosto. — Vai beijando o meu
pescoço e depois descendo até os meus seios.
Ele abaixa as alças do meu vestido e vai deixando beijos
molhados até o meu seio direito enquanto massageia o outro de
leve.
— Você pode fazer o que quiser, desde que não pare de me
tocar assim. — Minha voz sai em um sussurro.
Henrique para de beijar os meus seios e me olha. Aproveito
que a sua atenção está no meu rosto e levanto os braços como um
pedido silencioso para que ele tire o meu vestido. Assim que puxa a
peça do meu corpo, me deixando totalmente nua, exposta e com as
pernas abertas, minha respiração fica ofegante e sinto o meu peito
subir e descer de maneira desenfreada devido a vontade louca de
tê-lo me tocando novamente.
— Vai ficar parado aí me olhando? Ou vai pegar o que é
seu? — Levanto uma sobrancelha, desafiando-o.
— Você é perfeita, sabia? — pergunta, mas não espera uma
resposta e me beija exatamente onde eu mais queria.
Henrique beija a parte interna da minha coxa direita e deixa
uma mordidinha de leve ali, fazendo o mesmo com a outra. Depois
respira fundo, sentindo o meu aroma e finalmente abre os meus
lábios com a língua.
Sinto um arrepio na nuca, que vai se alastrando pelo meu
corpo, quando ele encosta sua boca na minha boceta.
Sua língua faz movimentos circulares no meu clitóris e ele se
concentra naquele ponto, chupando e lambendo.
— Isso, assim… enfia um dedo em mim — peço enquanto
coloco a mão em seus cabelos e o empurro em direção à minha
boceta, me esfregando de maneira frenética em sua boca.
Ele coloca um dedo e faz movimentos de vai e vem ao
mesmo tempo que suga meu clitóris. A sensação é tão deliciosa que
eu não consigo parar de me esfregar em seu rosto.
Começo a sentir os primeiros espasmos de prazer e sei que
meu orgasmo está chegando, pois começo a me tremer e ficar
desesperada por mais dele.
— Goza para mim, linda — pede e eu me desfaço em sua
frente. Meu corpo entra em combustão e solto um gemido alto
tamanha a intensidade do meu prazer.
Afasto o seu rosto, por causa da sensibilidade no local, e o
puxo para um beijo de língua desesperado e afoito. Sinto o meu
gosto em sua boca e é uma delícia compartilhar esse momento com
ele.
— Virgem e inexperiente, né? — digo, ainda com a boca
colada na sua. — Porém, um tremendo de um gostoso.
Ele cessa o nosso beijo, encosta a testa na minha e solta
uma risada gostosa.
— Se eu te contar que li alguns livros hot, você acreditaria?
— confessa e sinto um pouco de insegurança em sua voz.
— Jura? Você aprendeu a teoria e veio testar a prática
comigo, senhor escritor? — Dou um selinho em sua boca e já
começo a me mexer para sair de cima da bancada. — Vem tomar
um banho na banheira comigo? E se quiser continuar testando o
que leu, eu não serei contra. — Desço dali do jeito que estou,
pelada, e vou andando em sua frente, rebolando um pouco para
chamar sua atenção.
— O que você não me pede gemendo que eu não faço
imediatamente? — Cola seu corpo atrás do meu e vamos andando
meio abraçados até o banheiro.
Ajudo-o a tirar a sua roupa, pois só eu estou nua e isso não
é justo. Enquanto esperamos a banheira encher, colamos nossos
corpos e permanecemos abraçados.
Não é um ato malicioso, foi uma coisa natural, nós dois
assim, juntos, ele com o queixo na minha cabeça e eu com o rosto
enterrado em seu peito.
Depois de um tempo assim, verifico se a água está quente,
coloco os sais e entramos. Ele se senta de frente e eu me enfio no
meio de suas pernas, de costas para ele.
— Que livro você leu? — Desde que Henrique me contou,
fiquei curiosa a respeito da sua leitura.
— Alguns. — Beija do meu ombro até o meu pescoço, se
demorando um pouco mais nessa região, enquanto faz um leve
carinho nos meus braços.
— Você está tentando me distrair para não me contar os
nomes dos livros? — Minha voz sai quase num sussurro.
— Tá funcionando? — Morde a curva do meu pescoço e
resvala o nariz, inalando o meu cheiro.
— Uhum. — Mal consigo formular uma palavra.
Sinto seu peito sacudir um pouco com a risada fraca que
solta e eu continuo ali, recebendo seus beijos e carícias sem
reclamar. Afinal, nos seus braços, eu me sinto bem, me sinto
tranquila, segura e em paz.
Após a nossa troca de carícias na banheira, Henrique me
auxilia a sair, me enrolando na toalha e me secando igual uma
criança, ainda fez questão de colocar o pijama que eu mais gosto –
o rosa de seda – em mim.
Estou bocejando e lacrimejando de sono, mas antes de
dormir, ligo para Maria para saber como Joaquim está e de acordo
com a minha amiga, ele brincou bastante, assistiu desenho e agora
já está dormindo. Avisei que iria buscá-lo pela manhã e Henrique se
ofereceu para ir comigo.
Hique me abraça por trás e algumas horas se passam, mas
mesmo com sono e cansada, minha mente não desliga. Acabo me
mexendo demais, o que faz com que ele também não consiga
dormir.
— Amor? — ele me chama ao pé do ouvido.
— Sim… — Me viro de frente para ele.
— Pode falar o que não está te deixando dormir, prometo
que não vou julgar. — Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha.
— Tá tão óbvio assim? — Enterro meu rosto em seu
pescoço, me escondendo um pouco, mas ele levanta o meu queixo
para que eu o olhe.
— Você não para de se mexer e já resmungou sozinha
algumas vezes, então sim, tá bem óbvio.
— Você acharia muita loucura se eu disser que mesmo
depois de ter ligado para Maria, eu estou preocupada com Joaquim
e não consigo pegar no sono porque ele não está no quarto ao
lado? — Não disse nada antes porque sempre fico com medo de ser
julgada por ser uma mãe superprotetora. Mas para a minha
surpresa, Henrique se levanta e começa a se vestir, já que está
apenas de cueca boxer branca. — Hique? — chamo, sem
compreender o porquê ele está se vestindo.
— Que foi? — pergunta enquanto termina de colocar a
camisa.
— Por que está se vestindo? — Continuo deitada, sem
entender o seu rompante.
— Porque eu estou indo buscar o Quim na casa da minha
cunhada — diz como se não estivesse falando nada de mais, me dá
um beijo na testa e sai do quarto, provavelmente para pegar a chave
do meu carro.
Levanto rapidamente e vou atrás dele, que já está na porta.
— E é assim? Só me avisa e sai? — Me escoro na parede,
cruzando os braços e apoio o pé direito na perna esquerda.
— Você está cansada e não me custa nada ir até lá. — Volta
até mim novamente, deixando um beijo suave em minha boca. —
Não prefere que eu vá sozinho? — Envolve seus braços em mim,
me tirando da minha pose defensiva.
— Certo… é que eu não estou acostumada com os outros
fazendo as coisas para mim, além da Neide, que arruma a casa e as
minhas roupas todo final de semana. Então eu sempre esqueço o
quão prestativo e generoso você é. — Faço um carinho em seu
rosto, me rendendo. — Pode ir, vou te esperar no quarto. Só não
esquece de avisar à Maria para ela não se assustar.
— Vou mandar uma mensagem agora mesmo — diz, já se
desvencilhando e se direcionando à saída. — Volto já. — Joga um
beijinho com a mão, fechando a porta atrás de si.
Não sei o que eu fiz para merecer alguém assim, mas
obrigada a quem quer que o tenha designado para mim.
Chego à casa da minha cunhada às três horas da manhã,
mas tomo um susto ao ver que meu irmão também está na entrada
da sua residência, completamente bêbado.
— O que você está fazendo aqui, seu idiota? — pergunto a
ele, que se sobressalta ao me ver ali.
— Eu é que pergunto-to — soluça e se embola com a última
palavra.
— Não lhe devo satisfações — apesar de saber que é
verdade, conto logo antes que ele faça um escândalo —, mas eu
vim buscar o filho da minha patroa que Maria está tomando conta
essa noite. Agora, vai embora, porque ela não merece te ter na
porta da casa dela a essa hora da madrugada, nesse estado ainda.
— Faço um gesto com as mãos em direção a ele. — Parecendo um
indigente, fedendo a cachaça e tropeçando nos próprios pés.
— Ela precisa me atender. Eu sou o namorado dela. —
Aponta o dedo em minha direção.
— Não interessa, ainda que fosse o Papa, isso não seria
relevante. Você está passando vergonha e provavelmente está a
envergonhando também. Vai para casa, Luiz. Está tarde. Toma um
banho, dá um rumo para a sua vida e aí sim, quem sabe, a Maria
não pensa em te atender. Dá um espaço para ela. Você está a
perdendo por pura irresponsabilidade. — Não acredito que estou
dando conselhos para esse idiota, mas ele é meu irmão e como
sempre, estou com pena de quem ele se tornou.
— Você acha que ela vai me perdoar? — Meu irmão
realmente parece desolado com a possibilidade de uma negativa.
— Eu acho que a Maria te ama, só está cansada das suas
promessas não cumpridas e das coisas erradas que faz. Isso
porque ela não sabe de tudo. E reze para que nunca descubra, ou
tome jeito e conte a ela de uma vez. Sua namorada não merece
metade das coisas que você fez. — Quando digo isso, ele arregala
os olhos em desespero, só de pensar em perdê-la. — Vamos, eu te
ponho num táxi. — Ponho a mão em seu ombro e o encaminho até
o ponto que tem próximo à casa de Maria. Ele reluta um pouco, mas
por fim aceita. Dou o dinheiro ao motorista e informo o endereço
onde meu irmão mora.
Volto para a casa da minha cunhada e toco a campainha,
aguardando-a atender. Depois de alguns minutos, ela abre a porta
com a maior cara de sono, Joaquim nos braços e a sua bolsinha no
ombro.
— Desculpa, Ma, mas a sua chefe não estava conseguindo
dormir. — Dou um beijo em sua testa, pegando o bebê e suas
coisas.
— Eu imaginei, ela é muito apegada. Até que você
conseguiu entretê-la bastante. — Dá uma risadinha baixa.
— Err… você ouviu alguma coisa aqui na porta? — pergunto
como quem não quer nada.
— Não, coloquei seu irmão para fora hoje mais cedo, mas
pensei que ele já tinha ido quando parou de gritar por mim e os
vizinhos disseram que iam chamar a polícia. Ele tem pavor de ser
preso. — Dá de ombros.
— Ele ainda estava aqui, mas já o despachei para casa num
táxi — conto.
— É isso quase todo dia. Eu gostaria muito que ele me
deixasse em paz ou que realmente mudasse. Porém, só de ele estar
bêbado do jeito que estava e por não conseguir receber um não
meu, já mostra que continua o mesmo ser humano mimado e
egoísta de sempre. — Sua voz é triste, porém resignada, como se
sempre esperasse o pior dele.
— Não fica assim, pequena. Tenho certeza que as coisas
vão melhorar. — Não sei mais o que dizer a ela, todas as desculpas
para o meu irmão já foram esgotadas e com isso, Maria apenas se
despede de nós, fechando a porta, e eu levo Joaquim embora dali
para sua mãe.
É claro que ao chegar lá, Nathália não estava no quarto e
sim na sala nos esperando.
Assim que escuta a porta, vem correndo pegar seu filho do
meu colo, que já está dormindo devido a hora. Dá um beijinho em
sua testa e o coloca em seu bercinho.
Ela fica um bom tempo ali, apenas observando-o até que
volta a bocejar e quem a pega no colo sou eu. Levo-a até sua cama,
colocando-a deitada e me arrumo atrás dela, puxando-a para perto
de mim, colando nossos corpos.
E finalmente pegamos num sono profundo e tranquilo.
Despertar agarrado em Nathália é sempre a melhor parte do
meu dia, mas preciso acordá-la, senão ela irá perder a hora do
trabalho e sei que é bem rígida com esse tipo de coisa.
Começo resvalando o meu nariz na sua orelha e depois
beijando atrás dela, porque sei que é um ponto sensível. Beijo
também o seu pescoço e Nathália começa a dar sinais de que está
despertando, se mexendo um pouco e suspirando.
— Bom dia, Hique! — Sua voz ainda está rouca de sono. —
Que horas são?
— Sete horas da manhã. — Continuo beijando seu pescoço
e ela quase ronrona em contentamento.
— Ai, que preguiça. Não queria levantar, mas tenho tanta
coisa para fazer. — Se desvencilha de mim devagar e senta na
cama. — Preferia ficar recebendo seus beijos, mas fazer o quê? A
vida não é um morango.
— Infelizmente, não é mesmo. Vai para o escritório hoje? —
Me levanto da cama e paro na sua frente, estendendo a mão para
que se levante.
— Vou, mas também vou conversar com a Marta, a dona da
casa de festas que irá realizar o aniversário do Joaquim, marquei
com ela hoje na parte da tarde aqui em casa — conta e logo em
seguida vai andando até o banheiro.
— A festa é no mês que vem, correto? — pergunto.
— Sim, mas a casa tem tudo, só não escolhi o tema ainda, e
ela vem aqui justamente para isso. Eu estava muito indecisa e então
ela irá me mostrar alguns para ver se eu aprovo. — Vou atrás de
Nathália, que está tirando a roupa para entrar no chuveiro.
Não sei se presto atenção no que fala ou no seu corpo nu
diante de mim.
Será que algum dia vou me acostumar com a beleza dessa
mulher?
Acredito que não.
— Eu posso te ajudar se quiser — me ofereço.
— Eu estou contando com isso, afinal, esse garotinho é seu
fã número dois — diz enquanto começa a se ensaboar e eu a salivar
observando o seu corpo molhado e delicioso.
— Número dois? — Estou escorado na parede do banheiro,
de braços cruzados, olhando para ela confuso.
— Sim, a número um sou eu, obviamente — diz enquanto
desce a mão até o seu centro e começa a esfregá-lo, me olhando
nos olhos. Essa mulher sabe o poder que tem sobre mim e não
deixa de usá-lo sempre que pode. Tenho certeza de que ela
percebeu que estou quase babando de tanto desejo de tocá-la e
que assim que começou a “se ensaboar”, meu pau ganhou vida
dentro da cueca boxer. — Vai ficar aí só olhando ou vem pegar o
que é seu? — repete o que me disse da outra vez e em questão de
segundos, já estou dentro do chuveiro de cueca e tudo.
Ouço a risada gostosa de Nathália quando vê o meu
desespero para tocá-la, mas que logo se torna um gemido assim
que me ajoelho em sua frente, empurrando-a com cuidado e abro
suas pernas para mim.
Primeiro circulo seu clitóris com os dedos e depois beijo sua
boceta deliciosa, molhada e pronta para mim.
Naty simplesmente me viciou no seu gosto. Ontem eu dormi
com ele na boca e hoje eu quero mais.
— Que delícia, amor — geme e começa a esfregar seu
centro em minha boca, que não para de devorá-la.
— Delícia é esse seu gosto. — Continuo lambendo seu
ponto de prazer enquanto enfio dois dedos dentro dela, que solta
um gritinho de contentamento, apreciando a atenção que está
recebendo.
Faço movimentos de vai e vem e ela está tão absorta nas
sensações que não sabe se quica em meus dedos ou esfrega sua
boceta na minha cara.
E eu estou adorando, chupando, lambendo, fodendo-a com
a minha mão e minha língua.
Sinto quando seu corpo começa a ter alguns espasmos e sei
que vai gozar porque abre a boca, solta um gritinho alto e treme de
maneira frenética.
— Vem, amor, goza na minha cara — digo ainda com a boca
nela, que prontamente me atende, gozando em mim e me deixando
mais louco por ela.
Essa mulher é uma visão em todos os momentos, mas
quando goza, ela é a minha perdição.
Seu peito subindo e descendo, sua boca entreaberta, sua
respiração descompassada, seu cabelo desgrenhado, suas
bochechas coradas, seus olhinhos fechados e seu rosto extasiado
são as coisas mais lindas que já vi em toda a minha vida.
Me levanto do chão e beijo-a com prazer e vontade. Ela
retribui o meu beijo, descendo sua mão até o meu pau e começando
uma punheta lenta e gostosa.
Eu já estava mais do que pronto para ela, meu pau já estava
duro feito pedra e após espalhar o líquido pré-ejaculatório para
lubrificá-lo, Naty acelera os movimentos, mas para de me beijar e
olha dentro dos meus olhos, mordendo o lábio enquanto toca uma
punheta para mim.
Eu estou tão inebriado com o seu cheiro, o seu gosto, os
seus olhos castanhos que não desviam dos meus, o barulho da
água caindo, do vai e vem dos seus movimentos e da rapidez da
sua mão em mim, que demora pouco tempo para que já esteja me
desfazendo em sua barriga, derramando toda a minha porra nela.
— Puta que pariu! Como você é maravilhosa. — Beijo sua
boca mais uma vez e ela dá uma risadinha convencida.
— Eu sou assim, sabe? — Morde o meu lábio inferior e rio
de sua ousadia.
— Agora vamos tomar um banho de verdade, gostosa,
porque hoje você tem o dia cheio. — Dou um tapa na sua bunda e
começamos a, de fato, tomar banho.

— Oi, Marta! Tudo bem, querida? — Nathália abraça a


mulher que estava aguardando chegar.
— Ah, estou ótima e você? — pergunta e se senta no sofá,
com a sua pasta na mão. Creio que seja para mostrar os temas das
celebrações.
— Estou bem também, só ansiosa para escolher logo o tema
da festa — minha garota responde.
As duas ficam um bom tempo ali conversando, vendo as
fotos que estão no portfólio da mulher e Joaquim e eu estamos no
meio da sala felizes assistindo Star Wars.
E toda vez que as criaturas inteligentes que se assemelham
a ursinhos de pelúcia aparecem, Joaquim dá risada e bate palma
feliz. Aponto para a TV e digo o nome delas, Ewoks, devagar e
pausadamente. Incentivando-o para que possa tentar falar sua
primeira palavra, mas no final, ele apenas balbucia algo indecifrável.
Contudo, sorrio para o pequeno como se realmente tivesse falado a
palavra corretamente, só para ver o sorriso banguela tomar conta do
seu rosto. E eu sou tão babão que fico voltando toda hora o vídeo
para que ele se divirta.
Quim se apaixonou pelos bichinhos e eu sou apaixonado
pela criança, então faço tudo para vê-lo sorrir.
— Henrique? — escuto-a me chamar.
— Sim, dona Nathália — respondo, não querendo
demonstrar para a moça que temos algum tipo de relação que não
seja a profissional.
— Pode nos ajudar, por favor? — pede e sua voz soa um
pouco esganiçada, a coitada realmente não está conseguindo
escolher.
— Posso ver? — Aponto para a pasta e Marta me entrega.
Olho tudo com calma, mas realmente não acho nada a cara do
nosso menino.
— E então? — Naty pergunta.
— Eu acho que nada aqui se parece muito com o Joaquim,
mas… — Faço uma pausa e depois continuo: — Sei de uma coisa
que ele vai gostar.
— Que seria…? — Marta quer saber e eu me viro para a TV,
mostrando para as duas a felicidade da criança assistindo os
Ewoks.
— Meu Deus, eu não tinha pensado nisso. — Minha chefe
leva as mãos à boca.
— Ele está extremamente apaixonado por eles. Toda hora
eu preciso ficar voltando do começo para que ele os veja. E como
parecem ursinhos de pelúcia, acho que seria uma boa. — Devolvo a
pasta à sua dona, que aceita e guarda em sua bolsa.
— Não creio que seja difícil para nós fazermos uma festa
com esse tema. Só vai ficar um pouquinho mais caro porque
precisaremos personalizar. Se fosse sobre o filme, como um todo, o
preço não alteraria, mas somente deles… — informa, parecendo
receosa com o fato de precisar cobrar mais caro.
— Sem problemas quanto ao preço. É o primeiro aniversário
do meu filho. Eu pago o que for, só mandar para a minha secretária,
como sempre. — Nathália é taxativa.
— Perfeito. — A mulher se levanta. — Bom, então já vou.
Não temos tempo a perder. A festa é no mês que vem.
— Eu te levo até a porta. — Minha chefe a acompanha e eu
fico ali, a aguardando.
Nathália vem correndo até mim e pula no meu colo, me
enchendo de beijos.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — Não para de me dar
selinhos por todo o meu rosto.
— Sempre às ordens, linda. — Ponho-a no chão, mas
deposito um beijinho em seu nariz arrebitado.
— Sabe o que eu pensei agora? — Morde a pontinha do
polegar e faz uma carinha de menina travessa.
— Que eu sou um gênio? — Tento, mas ela revira os olhos.
— Não, seu desumilde. Eu pensei em nos fantasiarmos. O
que você acha?
— Acho que vocês dois vão ficar uma gracinha.
— Vocês? — Ela levanta uma sobrancelha e só pelo seu
olhar, já sei que vai sobrar para mim.
O que eu não faço por esses dois?
Não consigo parar de rir de Henrique que está com uma cara
emburrada para mim enquanto experimenta a fantasia de Ewok que
mandei fazer.
— Sabia que você fica a coisa mais linda quando está com
essa carinha fechada? — provoco e ele bufa.
Faz duas semanas que Marta foi lá em casa e convenci
Henrique a se fantasiar comigo e Joaquim. Não só ele. Vou fazer
Helena e Diego, o irmão mais novo dele, se vestirem assim também.
Isso se eu não conseguir convencer a Maria também.
Quero todas as pessoas que amam o meu bebê vestidas do
seu bichinho favorito. No caso do Di, ele mesmo que se ofereceu e
eu adorei.
Ainda bem que não tem feito tanto calor e que a casa de
festas é climatizada, porque caso contrário iríamos morrer. No Rio
de Janeiro tem um sol para cada e com certeza a gente não iria
aguentar.
— Hique, Hique, Hique — Joaquim fala, estendendo os
bracinhos para o seu melhor amigo e nós dois nos sobressaltamos.
Henrique perde toda a sua postura e seu mau humor vai
embora no momento em que ele entende que meu filho está
chamando o seu nome.
— Meu Deus, meu filho é um gênio. — Quero chorar e nem
estou com raiva porque ele não falou mamãe e sim o nome da sua
pessoa favorita.
— Meu amor! — Henrique o pega do meu colo, fantasiado
mesmo, e meu filho coloca as mãozinhas em volta da sua
bochecha.
— Hiqueeeeeeee. — E gargalha alto, feliz, com a mais pura
inocência, sem nem perceber que estamos com lágrimas nos olhos.
— É, meu amor. Hique. Sou eu. — Henrique funga e deixa a
lágrima escorrer, vou até ele e beijo seu rosto molhado.
— Eu não estou nem com ciúmes, sabe? — digo com um
beicinho.
— Ô, meu amor. Em breve, ele estará falando mamãe
também — tenta me consolar, mas não consegue tirar o sorriso do
rosto que vai de orelha a orelha.
E para ser sincera, eu também não consigo parar de sorrir.
Desde que comecei a me envolver com ele, pensei em um
milhão de coisas que pudessem dar errado. Mas esse tempo que
estamos juntos e todo o amor que meu filho tem pelo seu amigo, me
faz pensar que finalmente a felicidade me encontrou.
— Sabe, Henrique… — começo e ele se volta para mim,
ainda com os olhos marejados. — Eu pensei que o amor não fosse
para mim. Não até te encontrar. Desde que bateu em minha porta
com esse seu jeito tímido, essas covinhas e esse sorriso, eu não
consigo pensar em outra coisa que não seja te ter aqui comigo para
sempre. Quer namorar comigo?
Ele não me responde com palavras e sim com um gesto.
Seus lábios encostam nos meus e nós ficamos com nossas bocas
encostadas, mas sem nos beijar de verdade, somente respirando o
ar um do outro enquanto derramamos lágrimas de felicidade.
Meu filho solta outro gritinho e nós dois finalmente nos
afastamos.
— Você ainda tem dúvidas de que eu te quero mais do que
tudo, chefe? — Ele abre um sorriso enorme e eu sacudo a cabeça
em uma negativa.
— Acho que essa roupa que está vestindo responde por si
só — implico com ele, que revira os olhos, mas não deixa de sorrir.
— Deixa eu me trocar para a gente ir almoçar lá em casa.
Meu pai está nos esperando ansioso. — Me entrega o Joaquim e vai
se vestir.
No caminho, paramos na sorveteria e compramos um pote
de sorvete para a sobremesa.
— Nunca vi uma pessoa ficar tão feliz porque vai comer
sorvete que nem você, linda. — Henrique aperta a minha perna
enquanto estaciono o carro.
— É só uma das melhores coisas que existem na face da
Terra. Me deixa! — Dou língua para ele, que ri.
— Uma maturidade sem tamanho — responde, descendo do
carro e indo tirar Joaquim da cadeirinha.
— Ei!! O juvenil aqui é você. Senhor inexperiente, nem tão
inexperiente assim — debocho da sua cara.
— Idade é só um número e não finja que não gosta de mim e
nem do meu corpitcho. — Vai andando na frente com o meu filho e
vou logo atrás, rindo.
Mais cedo, quando o pedi em namoro, foi por causa desses
momentos. Da leveza que ele me traz e da paz que sinto ao estar
em sua presença.
Nós nos entendemos como ninguém, nos respeitamos,
curtimos um ao outro, damos risadas de coisas bobas e nos
apreciamos. Acho que isso faz toda a diferença em um
relacionamento.
Entramos na casa de Henrique e somos recebidos por um
Diego eufórico.
— Tia Nathália! — Me dá um abraço apertado. — Viu a
minha fantasia?
— Oi, meu amor. Vi sim, seu irmão me mostrou a foto. Ficou
linda em você. — Dou um beijinho em sua cabeça e ele abre um
largo sorriso para mim.
— Não vai falar com o seu irmão mais velho não, pestinha?
— Henrique chama a sua atenção.
— Já te vi hoje, Hique. — Revira os olhos. — Posso brincar
com o Joaquim?
— Pode, meu amor — respondo. — O tapetinho já está
montado? — Henrique comprou um tapete igual ao da minha casa e
alguns brinquedos para o meu filho e deixou aqui para quando
viéssemos.
Tem como não se apaixonar por esse homem? É quase
impossível.
Diego diz que sim e pega o meu filho no colo, levando-o com
cuidado para a sala e coloca alguns desenhos musicais para eles
assistirem.
Seu Antônio chega no ambiente, nos cumprimentando e indo
se sentar próximo as crianças, pois também quer passar um tempo
com Joaquim.
Eu me sinto tão acolhida por eles, que tratam o meu filho tão
bem. Me traz um sentimento tão bom estar com essa família.
— Vamos colocar a mesa, amor? — Henrique pede e me
puxa para a cozinha para buscarmos as coisas.
— Vou colocar só um pouquinho para o Joaquim, porque ele
estava meio enjoadinho por conta dos dentes que ainda estão
crescendo — digo, pegando um pratinho pequeno de plástico.
— Sem problemas. Papai fez um franguinho grelhado para
ele e tem arroz e feijão ali no fogão. — Ele aponta com a cabeça em
direção às panelas.
Ponho a comida do meu filho e vou até a sala para servi-lo,
mas seu Antônio pergunta se pode fazê-lo e não vejo motivo para
negar seu pedido.
— Claro que sim. Só não ponha muito na colher porque ele
prefere comer devagar. — Pisco para ele e vou me servir.
Sentamos para almoçar, Diego, Henrique e eu, pois seu
Antônio ficou no sofá com Joaquim.
— E como está indo na escola, Di? — puxo assunto.
— Tirei boas notas em quase todas as matérias, mas a
minha melhor nota foi na aula de música — conta animado.
— Esse é meu garoto — Henrique diz orgulhoso.
— A gente podia sair para comemorar, o que acham? —
sugiro e dou uma garfada na comida que está magnífica como
sempre.
— Não dá ideia, dona Nathália. Ou esse rapazinho vai se
aproveitar de você — meu namorado implica com o irmão mais
novo.
— Ei, eu nunca faria isso. — Diego se finge de ofendido. —
Mas aceitaria ir no fliperama que abriu aqui perto.
— Não falei. — Henrique ri e o outro revira os olhos.
— Ah, eu acho ótimo. Se tiver um cantinho infantil para o
Joaquim, melhor ainda. — Bato palmas animada.
— Tem sim, amor. É bem grande, passei ali em frente esses
dias. Tem bastante coisa para crianças de todas as idades.
— Perfeito, então! Seu Antônio, vai querer ir conosco? —
pergunto ao mais velho, que entrega Joaquim a Henrique e se senta
para almoçar.
— Não, minha filha. Vou deixar vocês, jovens, aproveitarem
— responde, começando a se servir.
Permanecemos à mesa conversando e combinando sobre o
nosso passeio, que não poderá ser hoje porque estamos cansados,
mas será em breve, afinal, Diego merece.
Após finalizarmos a refeição, vou para casa organizar
algumas coisas para a semana de trabalho. Henrique me deixa na
porta, mas não entra, pois quer ficar um pouco com a sua família.
A próxima semana será bem corrida, preciso comparecer à
sessão de fotos com as modelos que selecionei para a nova linha
de produtos.
Eu estou tão feliz com o trabalho que Maria, Helena e eu
fizemos, que mal posso me conter.
Nós selecionamos mulheres reais, não somente modelos.
Mas também donas de casa, mães, empresárias, funcionárias da
Adenium, inclusive. Mulheres batalhadoras, jovens, mais velhas,
estudantes. Todo tipo de mulher.
Estou tão apaixonada pela campanha que idealizamos. Elas
gravarão o nosso primeiro comercial de TV.
Que orgulho!
Isso é um dos motivos da minha ansiedade, o outro é a
festinha do meu filho que está chegando e pelo que Marta está me
mostrando, vai ficar tudo lindo.
Esse é um dos melhores momentos da minha vida. Espero
que nada o estrague.
Ponho comida para Luke, que está miando e reclamando de
fome. Esse gato parece que não tem fundo.
— Pronto, seu reclamão. Pode vir comer — falo como se ele
realmente fosse me responder, porém apenas mia e depois come
sua ração.
A campainha toca e eu estranho. Não estou esperando
ninguém. Na verdade, já estou quase pronto para sair para
trabalhar. Meu pai foi para sua casa e Diego está no colégio. Atendo
a porta, dando de cara com o meu irmão mais velho.
Como ele conseguiu o meu endereço?
— O que você está fazendo aqui, Luiz? — quase rosno para
o idiota à minha frente.
— É assim que você me recebe? — Abre os braços em
protesto.
— Em primeiro lugar, eu queria saber como conseguiu meu
endereço, você não deveria estar aqui. E em segundo, eu nem
deveria estar te recebendo. — Viro as costas e ele vem atrás,
fechando a porta.
— Sempre assim, né, Henrique? O irmão bonzinho, o
exemplo de filho, de caráter, melhor do que todo mundo — me
acusa com uma raiva mal contida na voz.
— Como é? Agora eu estou errado por ter caráter? Por estar
lá quando a nossa família precisou? Quando o nosso caçula
precisou? Você está se ouvindo ou não consegue ver nada além do
seu umbigo? — cuspo tudo o que está entalado na minha garganta
há tempo demais.
— Ah, para de se fazer de perfeito. Eu vim aqui em paz,
pedir desculpas e dizer que estou tentando melhorar… — Levanta a
mão para que eu o deixe concluir. — Vim contar que já estou em
tratamento para o meu vício, papai está me acompanhando. Aquele
dia na casa da Maria foi um erro e eu já estou arrependido.
Inclusive, já pedi desculpas a ela. Minha terapeuta pediu que eu
fizesse uma lista com as pessoas que deveria me desculpar e você
era a primeira pessoa dela. Mas nem sei por onde começar… —
Vejo em seu rosto que dessa vez ele está sendo sincero.
— Por que não começa do início? — Cedo e vou andando
para o sofá, indicando com a cabeça para que ele se sente.
— Bem, a primeira coisa que quero fazer é me desculpar por
não estar ao seu lado quando a nossa mãe morreu. Você estava
sofrendo tanto quanto eu, ou até mais, pela sua idade. Eu te
abandonei e isso não foi legal da minha parte. — Faz uma pausa
para tomar um pouco de ar e depois continua: — Por todas as vezes
que te deixei na mão quando precisou do seu irmão mais velho. Eu
só não aguentei a pressão da responsabilidade. E pelos últimos
anos, por ter feito você gastar quase todo o seu dinheiro com o meu
vício. Eu estou tentando melhorar, sei que a minha palavra não vale
de muita coisa, mas é o que eu tenho a oferecer, pelo menos por
agora. — Ele está de cabeça baixa e parece de fato arrependido.
Mas já ouvi essa ladainha tantas e tantas vezes que estou
receoso de acreditar nele e em seguida me decepcionar mais uma
vez.
Para ser sincero, fico preocupado com o meu pai, ele não
merece mais uma decepção. Acho que se Luiz errar mais uma vez,
o coroa não irá aguentar.
— Antes de aceitar o seu pedido de desculpas, eu quero te
perguntar algumas coisas — começo e ele assente em
concordância. — Primeira coisa, você disse que está em tratamento.
Me conte sobre ele.
— Estou em um grupo de ajuda para pessoas com vícios,
ele é semanal. Está me fazendo um bem danado e estou me
consultando com uma terapeuta também. Não faltei um dia sequer
— conta com o que acho ser um traço de felicidade por estar no
caminho certo.
— Certo, e a respeito da sua vida? Pretende dar um rumo a
ela? Arrumar um emprego? Estudar? — Preciso saber se ele
continuará vivendo às custas do nosso pai.
— Fiz uma entrevista semana passada e continuo em busca
de trabalho. Ainda não encontrei nada na minha área, mas estou
confiante que irei conseguir. — Luiz realmente parece acreditar no
que está dizendo, então vou ficar contente por ele também.
— E quanto a Maria? Já contou tudo o que já aprontou? Das
traições, dos segredos? — sondo, porque por mais que o ame e
esteja feliz que ele queira mudar, sei que é cego de amor pela
namorada e não sei se aguentaria perdê-la de verdade. A
dependência emocional que tem dela não é nada saudável.
— Eu… é… — Põe a mão na cabeça, parecendo meio
perdido. — Quero contar para ela, só não agora. Está tudo muito
recente e preciso dela ao meu lado.
— Certo… — Decepção toma a minha face e ele percebe.
— Eu juro que não sou o mesmo de antes, irmão. Só preciso
de mais tempo. Sei que não é justo com ela. Mas, por favor, acredite
em mim quando digo que estou mudando — ele implora e há um
tom de desespero em sua voz.
Nunca vi o meu irmão assim, tão perdido e desesperado
para que eu acredite nele. Mas não sei o que fazer.
— Posso digerir tudo isso com calma? — Preciso pensar e
conversar com o meu pai também.
— Claro, Hique. Só por você estar me ouvindo, já me sinto
grato. — Levanta e estende a mão para que eu a aperte, aceito-a e
olho em seus olhos para que saiba que estou contando com a sua
mudança. — Obrigado por me escutar e por tudo. Nunca agradeci
por todas as vezes que me tirou de alguma enrascada, por todas as
vezes que segurou a onda lá em casa e por todas as vezes que me
ajudou, mesmo que eu não tenha merecido.
Não respondo nada, apenas aceno com a cabeça e o levo
até a porta, é muita coisa para digerir de uma vez só.
Vou até o meu quarto, me arrumar para o trabalho. Caso
contrário, vou acabar me atrasando e minha chefe não tolera
atrasos.
Minha cabeça está um turbilhão e não paro de pensar em
tudo o que o meu irmão falou.
Nem quando chego na casa de Nathália e acho que ela
percebe que estou diferente, pois me pergunta mais de uma vez se
está tudo bem comigo, e eu apenas respondo que sim, sem dizer
mais nada.
Ela acaba desistindo de querer saber mais, porque hoje é o
dia da sua grande campanha na empresa e apenas me dá um beijo
no rosto, me deixando com Joaquim.
Não quero atrapalhar o seu cronograma contando sobre os
meus problemas. Ela não merece que eu o estrague com as minhas
bobagens.
— É, amigão. Hoje seremos só você e eu o dia todo. O que
vamos assistir? — pergunto a Joaquim.
— Hique, Hique, Hique — responde com os bracinhos
levantados e se balançando um pouco.
— Star Wars? Perfeito, eu não teria feito escolha melhor,
garotinho — digo a ele, que continua falando o meu nome sem
parar. — E vamos colocar o Episódio VI e voltar dez vezes nas
cenas dos Ewoks, está bem?
Só esse menininho mesmo para melhorar o meu humor
depois desse começo de dia de merda que tive.
Apenas espero que eu consiga parar de pensar no meu
irmão, pelo menos por hoje. Pois ainda quero fazer uma surpresa
para a dona do meu coração que merece toda a minha atenção e
carinho.
Ela é digna disso sempre, mas hoje é um dia especial e
quero recebê-la como merece.
Hoje é um dia muito aguardado por mim e pela minha
equipe. Nós estamos acompanhando a gravação do nosso primeiro
comercial de TV.
Apesar de já estarmos há algum tempo no mercado e ter
conseguido uma boa visibilidade nas redes sociais, a Adenium Line
ainda não havia chegado no patamar televisivo, mas agora isso irá
mudar. Com o crescimento e a expansão da nossa marca,
conseguimos realizar esse sonho.
Helena e eu estamos radiantes. Quem diria que duas
mulheres como nós conseguiriam chegar tão longe assim?
O mundo é mais difícil para nós, mas a gente chegou até
aqui com muito esforço e dedicação.
Meus pais ficariam muito orgulhosos. Olho para o céu e
agradeço a eles por terem me criado da melhor maneira que
conseguiram e pelas bênçãos que sei que estão mandando de lá.
— Você está conversando com os seus pais, não está? —
ouço Helena perguntar ao meu lado.
— Não vou nem perguntar como sabe, porque você me
conhece desde sempre. — Dou de ombros e ela me abraça de lado.
— Amiga, tenho certeza que eles estão felizes e orgulhosos.
— Dá um beijo na minha bochecha.
— Nossa! O que eu fiz para merecer um beijo da minha
coração de pedra, hein? — brinco com ela, porque minha amiga não
é muito dada a demonstrações de afeto e nem muito carinhosa.
— Hoje nós duas merecemos todos os beijos e abraços do
mundo. — Abre um sorriso de orelha a orelha.
— E eu? — Maria para do meu outro lado.
— Você também, meu amor. Não seríamos nada sem o seu
trabalho e dedicação. — Abraço-a de lado também.
Observamos tudo acontecendo na nossa frente e o
comercial está maravilhoso. Com mulheres lindas e reais.
Claro que não conseguimos assistir tudo porque ele ainda
tem que ser editado, mas foi o suficiente para nós.
— E aí? Vamos comemorar num barzinho aqui perto? —
Helena nos convida empolgada.
— Eu topo — Maria concorda feliz.
— Preciso avisar ao meu babá — digo e as duas abrem um
sorrisinho de lado.
— O seu babá mesmo, não é, dona Nathália? Porque do
meu afilhado que não é.
— Ah, se manca, Helena! Para a sua informação, o Henrique
é um ótimo funcionário. — Reviro os olhos para ela.
— Seeeeeeei — diz e continua com o sorrisinho de lado e
Maria a cutuca para que pare de implicar comigo.
— Vou ligar para ele rapidinho e avisá-lo. — Me afasto para
pegar o telefone e fazer a chamada.
“Oi, Hique! Tudo bem por aí?
Tudo sim, amor, e com você?
Tudo certo por aqui, liguei para avisar que vou tomar um
drink com as meninas, mas não vou me demorar muito. Tem
problema?
Claro que não! Nós vamos ficar te esperando ansiosos para
comemorarmos também. Pode aproveitar tranquilamente com elas.
Sem preocupação.
Perfeito, amor. Logo mais tô em casa. Beijos.”
— Logo mais tô em casa. — Levo um susto com Helena
atrás de mim, com a mão no coração, fazendo uma vozinha fina, e
Maria tentando prender uma risada.
— Que susto, garota! — Mas eu também não aguento e
começo a rir com as duas. — Cara, por que você é assim e por que
eu ainda sou sua amiga?
— Melhor amiga! — Dá ênfase na primeira palavra e eu
reviro os olhos.
— Não fica se vangloriando não, senão vou designar esse
cargo para a Maria. — Aponto o dedo em riste para ela.
— Ah, sua mentirosa. Ninguém é capaz de ocupar o lugar
que eu tenho dentro do seu coração. — Põe as duas mãos no lado
esquerdo do peito e suspira.
— Não me teste. — Continuo com o dedo apontado para ela.
— Meninas, não briguem! Vamos celebrar e depois a dona
Nathália vai para casa para fazer o mesmo com o seu babá, digo, o
babá do Joaquim — Maria diz e Helena ri da minha cara.
— Vocês duas estão muito engraçadinhas — bufo. — Agora,
vamos! Você dirige, Helena!
Saímos as três em direção ao meu carro e acabamos
parando em um bar perto da minha casa, pois sou chata e quero
ficar sempre o mais próximo possível do meu filho.
— Dia de semana e esse bar está lotado — Maria diz, como
a menina responsável que é.
— Não tem dia certo quando está calor no Rio de Janeiro.
Todo mundo para pra tomar uma cervejinha, ainda mais aqui, que é
um lugar bem tranquilo e não muito perigoso. — Helena observa
todo o ambiente, provavelmente já procurando uma presa.
Essa minha amiga não dá ponto sem nó. Tenho certeza que
vai embora com alguma companhia para passar a noite.
— Tá procurando alguém, Lena? — Maria franze o cenho
em dúvida.
— Alguém para sentar ou para sentar na cara dela, certeza
— digo e ela assente, confirmando sem vergonha alguma.
— Já que estou aqui e como está cheio de gente bonita…
Então eu estou a fim de comer alguém ou ser comida, tanto faz para
mim. — Dá de ombros.
— Eu amo que você nem nega, amiga.
— Por que negaria? Eu sou uma grande safada mesmo e
muito gostosa também — rebate o que eu disse com toda a
humildade que não possui.
— Ainda bem que você sabe! — Nós três viramos a cabeça
de lado e vemos que quem disse isso foi uma mulher linda que
passou ao nosso lado e saiu, deixando-nos de boca aberta.
— Vocês viram isso? — Maria se sobressalta.
— Nossa! Até eu fiquei com calor e olha que nem foi comigo.
— Começo a me abanar.
— Que gostosa safada do caramba, ela fala isso e vai
embora. Eu vou lá atrás dela. — E com isso, vemos nossa amiga
nos abandonar e a gente mal chegou no local.
— É, Maria, só sobrou nós duas. — Chamo o garçom e
pedimos uma cerveja para dividirmos.
Ficamos um bom tempo ali, conversando sobre trivialidades,
enquanto Helena vai embora com a mulher que acabou de
conhecer, apenas passando na nossa mesa para nos avisar.
— Essa minha amiga é maravilhosa, tenho que admitir. —
Levanto o meu copo como se estivesse fazendo um brinde.
— Eu queria ser mais como ela — Maria admite meio sem
graça e eu ponho a mão por cima da sua.
— Você ainda está brigada com o Luiz? — Estou me
sentindo uma péssima amiga por não ter perguntado mais nada
sobre o seu namorado.
— A gente conversou esses dias e ele está mudando,
melhorando. Começou a terapia e finalmente parece empenhado
em conseguir um emprego, mas está difícil, sabe? — Dá de ombros,
meio resignada.
— Mas você o perdoou? Tem pretensão de voltar com ele?
Porque quanto ao emprego, posso ver alguma coisa na empresa
para ele. Na verdade, você mesma pode ver isso. Te dou total
liberdade, claro, desde que ele seja responsável e de preferência
que tenha experiência ou formação. — Não vejo motivos para não
ajudá-la nesse momento.
— Estou pensando em dar uma última chance. Mas quanto
ao emprego, fico meio em dúvida se devo misturar o pessoal com o
profissional. — Faz uma pausa e depois acrescenta: — Se bem que
ele não precisa trabalhar ali na sede, pode trabalhar em outro
escritório.
— Pensei justamente nisso. Manda o currículo dele para o
RH e diz que é indicação sua. Estamos com algumas vagas abertas,
de repente pode ter alguma que se enquadre no perfil dele. — Tiro a
mão de cima da dela e termino de beber minha cerveja.
Maria fica com os olhinhos brilhando de alegria depois da
nossa conversa, pega o celular e começa a digitar freneticamente.
Creio que para dar a boa notícia ao namorado.
Fico feliz em poder ajudar uma amiga tão querida. Só espero
que esse menino não volte a aprontar e realmente tenha mudado e
melhorado como acredita.
Maria merece toda a felicidade do mundo e não alguém que
só a faça sofrer, como ele estava fazendo antes.
Depois de pagarmos a conta, nos despedimos e vou
andando pra casa para finalmente encontrar os meus meninos.
Agora quero aproveitar e comemorar com eles.
Chego em casa e está tudo escuro, acho estranho porque
Henrique disse que estaria me esperando com Joaquim. Tudo bem
que já está um pouco tarde e os dois devem estar dormindo.
Quando ia acender a luz da sala, vejo que há um caminho
iluminado até o meu quarto e resolvo seguir até ele, deixando a
minha bolsa largada no sofá e vou seguindo.
E se antes eu tinha alguma dúvida dos meus sentimentos
em relação ao meu namorado, agora eu não tenho mais.
Hoje pela manhã, ele estava estranho, pensei que fosse
alguma coisa comigo ou com o nosso relacionamento, talvez
estivesse se sentindo pressionado ou algo do tipo. Mas ao ver essa
surpresa, vejo que foi besteira da minha cabeça.
Mal posso acreditar que ele arrastou todos os meus móveis
para o lado e colocou uma mesa pequena de jantar, enfeitou tudo
com flores e velas aromáticas no meio do meu quarto.
Está tudo mais do que perfeito. Eu sabia que queria
comemorar comigo, mas não tinha ideia de que faria algo assim.
Tem como não amar esse homem?
— Oi, linda! — Henrique se levanta da cadeira e vem até
mim, me pegando pela mão e me levando até a mesa.
— Não acredito que fez isso tudo enquanto eu estava no
trabalho. Tá tudo tão lindo — digo enquanto ele puxa a cadeira para
eu me sentar.
— Tive uma ajudinha do Joaquim, que resolveu dormir mais
cedo. Hoje ele foi generoso conosco — brinca e rio da sua piada. —
E antes que me pergunte, ele está ótimo e aqui está a prova. —
Mostra a babá eletrônica na mesa.
— Eu adorei. Jantar à luz de velas no quarto enquanto a
gente assiste o meu filho dormir. — Estendo a mão para Henrique,
que beija a minha palma. — Nada seria mais perfeito do que isso,
amor. Obrigada!
— Você é perfeita! — Deixa uma mordidinha no meu pulso,
que me faz arfar.
— Sabe uma coisa que seria legal? — Olho bem dentro dos
olhos dele.
— Não, amor. O que seria legal? — Me ponho de pé,
parando ao seu lado, ele levanta o seu rosto para me olhar e coloca
a mão na minha cintura, aguardando minha resposta.
— Você me comer agora ao invés dessa comida que está na
mesa, ou melhor, você me comer em cima da mesa. — Mal termino
de falar e Henrique me puxa para si. Sento em seu colo de frente
para ele, mantendo minhas pernas uma de cada lado do seu quadril.
— Você é a melhor coisa que me aconteceu, sabia? — diz,
apertando a minha coxa com vontade enquanto me esfrego nele.
— Amor, a gente pode ser romântico depois? Agora, tudo o
que eu mais quero é sentar em você. — Mordo o seu pescoço e ele
solta um gemido.
Vou beijando e lambendo-o até chegar em sua boca, mordo
seu lábio inferior e depois passo a língua nele, colando nossos
lábios em um beijo quase feroz.
Henrique tenta se levantar comigo em seu colo, mas
acabamos nos desequilibrando e quase caímos, começamos a dar
risadas por estarmos tão afoitos e desesperados.
Depois de nos acalmarmos, ainda na mesma posição, ele
coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
— Vamos para a cama, amor. Afinal, você precisa tirar a
minha virgindade de maneira digna. — Beija e morde a minha
bochecha em seguida, eu me levanto e ele vem logo atrás.
— Tudo bem, senhor puro e virginal. Vamos para a cama. —
Puxo-o pela mão e acabo jogando-o em cima dela, fazendo-o cair
de costas no edredom.
Antes de me jogar em cima dele, começo a tirar a minha
roupa de maneira lenta e Henrique permanece deitado, colocando
os braços atrás da cabeça enquanto me observa com os olhos
vidrados e cheios de desejo.
Começo pela camisa, ficando apenas de sutiã e depois vou
tirando a saia lápis rosa, chutando-a para o lado.
Estou apenas com um conjunto de lingerie branco de renda
e um salto alto. Dou uma voltinha para que ele possa me admirar e
o homem nem pisca.
Penso que irá continuar deitado, porém ele se levanta, vindo
até mim e ficando a menos de um centímetro de distância. Henrique
levanta o meu rosto com a mão sob o meu queixo.
— Linda pra caralho — é o que diz antes de colar sua boca
na minha em um beijo possessivo.
Solto um gemido ao sentir sua língua invadir a minha boca,
pedindo passagem e eu cedo de bom grado. Não sei qual dos dois
está mais faminto.
Ele põe a mão atrás da minha nuca, puxando de leve o meu
cabelo e eu arfo de prazer.
— Depois, por favor, me passe a lista de livros que leu —
brinco quando começa a descer até o meu pescoço, deixando
mordidas, beijos e lambidas.
Meu namorado dá atenção total ao meu seio direito,
abaixando o sutiã, chupando o bico rígido e logo em seguida faz o
mesmo com o outro enquanto roço uma perna na outra, tentando
aplacar um pouco o desejo que estou sentindo.
Ele se ajoelha diante de mim, chegando minha calcinha para
o lado e resvalando o nariz para sentir o meu cheiro. Henrique abre
um sorrisinho de lado que me deixa ainda mais encharcada.
— Prontinha para mim, amor. — Passa um dedo na minha
boceta molhada e o leva até a boca, me provando. — Sempre
pronta para mim.
Eu não consigo pronunciar nenhuma palavra que faça
sentido, apenas gemidos e coisas desconexas quando ele separa
os meus lábios com a língua, me deixando arrepiada dos pés à
cabeça.
Henrique se levanta, me pega no colo e solto um gritinho
com a surpresa, mas me deposita na cama logo em seguida.
Ele tira a roupa com uma rapidez tremenda e eu quero rir,
mas não há espaço para isso quando vejo seu pau tão duro e pronto
para mim.
Hique se deita em cima de mim, que já tirei a calcinha e
estou de pernas abertas, apenas o aguardando.
— Tem camisinha na mesinha de cabeceira, amor — digo e
ele a pega, retirando o lacre e colocando-a. Eu o auxilio, pois é a
sua primeira vez e ele volta a ficar por cima novamente. — Vou
colocar as pernas em volta do seu quadril, tudo bem? — Henrique
assente e faço o que disse para ajudá-lo enquanto ele põe a cabeça
do seu pau na minha entrada, vou empurrando com a perna o seu
quadril para que entre todo de uma vez.
E assim que está todo dentro de mim, gememos em
uníssono. Ele fica parado por um tempo sem se mover, não sei se
por medo de me machucar ou algo do tipo, mas eu o incentivo a se
movimentar. Ponho a mão em seu rosto e digo:
— Amor, hoje é sobre você. Tudo bem? — Olho dentro dos
seus olhos e faço um carinho em sua bochecha corada. — Pode
começar a se mexer.
Henrique me beija e logo começa o vai e vem gostoso,
minhas pernas continuam em volta dele, empurrando-o para dentro
de mim enquanto ele vai pegando o ritmo, metendo com força e
vontade.
Levanto o meu quadril para senti-lo ainda mais, e ele
começa a fazer movimentos mais rápidos.
Pego sua mão e a levo até o meu pescoço para que me
enforque. E claro que Henrique não perde tempo, prendendo o meu
ar, bem do jeito que eu gosto.
— Como você é gostosa, não vou aguentar por muito tempo,
amor — diz entre gemidos.
— Eu sou sua, Hique. Para fazer o que quiser. Goza para
mim — peço quando afrouxa um pouco o aperto em meu pescoço e
ele volta a arremeter com força.
Sinto seu corpo todo tremer e sei que vai gozar. Incentivo-o
gemendo e levando meu quadril de encontro ao seu e ele goza,
urrando de prazer, com a boca entreaberta, o rosto corado e os
olhinhos fechados.
Henrique se joga ao meu lado para não depositar o seu peso
em mim e me viro de lado para observá-lo.
Seu peito nu subindo e descendo freneticamente, sua
respiração acelerada, o suor na testa e o rosto corado são a minha
perdição.
— Tá tudo bem, amor? — pergunto e me aconchego mais a
ele, que demora um pouco para responder, pois está esperando a
sua respiração normalizar.
— Tudo mais do que bem. Eu diria que tudo está perfeito. —
Se vira de frente para mim, ficando de lado na cama, assim como eu
estou.
— Foi do jeito que imaginava? — Estou morrendo de
curiosidade para saber.
— Não — diz, levantando uma sobrancelha para mim.
— Não? — questiono meio sem graça.
— Foi melhor. Muito melhor. — Beija a minha boca e sorrio
em seus lábios.
Envolvo minha perna em cima do seu quadril e começamos
a nos beijar novamente, já nos preparando para outra rodada de
sexo.
Empurro-o para que fique de costas na cama, me
esfregando um pouco nele e pego outra camisinha, colocando no
seu pau que já está duro de novo.
Sento no seu membro e começo a quicar freneticamente,
colocando uma das mãos de Henrique em um seio e a outra no meu
pescoço enquanto subo e desço no seu pau grande.
Levo um dedo até o meu clitóris, massageando-o e quico
com força enquanto me enforca e aperta o meu mamilo direito.
O misto de sensações e prazer me faz enlouquecer de tanto
tesão e gozo, me tremendo dos pés à cabeça, apertando o seu pau
com os espasmos do meu orgasmo e ele vem logo depois, gozando
pela segunda vez.
Me jogo em cima dele, ainda com seu pau dentro de mim,
que me envolve em seus braços e ficamos assim por um bom
tempo. Com ele me apertando junto ao seu peito e eu com o rosto
enfiado no espaço entre o seu pescoço e ombro, inspirando o seu
cheiro amadeirado. Permanecemos em silêncio, apenas sentindo o
coração acelerado um do outro.
É tão bom, eu me sinto tão, mas tão segura.
Não quero que essa sensação acabe nunca.
Eu estou amando o meu namorado e não poderia estar mais
feliz por isso.
Se eu morresse hoje, morreria feliz.
Nunca pensei que perder a virgindade fosse ser dessa
maneira, mas talvez não seja a virgindade em si, e sim quem estava
comigo compartilhando esse momento.
Nathália é tudo o que sonhei para mim. Ela é uma mulher
linda por dentro e por fora. Seu sorriso é capaz de iluminar e
aquecer até os corações mais gelados.
E hoje eu estou parecendo o Coringa do Batman pelo
tamanho do meu sorriso, claro que não é um riso macabro, mas o
tamanho é o mesmo.
— Por que está me olhando assim? — Nathália me
pergunta, abraçada a mim na cama.
— Como você sabe que estou te olhando? Está de olhos
fechados.
— Eu posso sentir suas esferas azuis direcionadas à minha
pessoa. Dá para parar? — Ela mostra um sorrisinho de lado ainda
sem abrir os olhos.
— Não — digo apenas isso e acho que ela só não me dá um
tapinha por pura preguiça.
Estamos os dois sem forças para movermos sequer um
músculo, nós transamos quatro vezes, e em todas elas, Nathália me
mostrou como gostava de ser tocada e fiz o mesmo com ela.
— Juro que se eu não estivesse tão derrotada, me virava de
costas só para implicar com você — bufa e até isso sai sem forças.
— E me privar de ver esse sorriso? Não mesmo, linda. —
Beijo sua testa.
— Você gosta do meu sorriso? — Ela sabe que eu gosto, só
quer ouvir da minha própria boca.
— Você sabe que eu amo. É a sua curva mais bonita. —
Nathália finalmente abre os olhos e me observa, mas o sorrisinho
não sai da sua boca.
— Às vezes me pergunto se você é real, Hique — confessa.
— Agora, pode, por favor, me fazer um café para eu acordar?
— É para já, minha dona. — Me levanto e vou fazer o que
pediu.
Já são seis horas da manhã e eu preparo um café
maravilhoso para ela, com tudo o que gosta, bolo de cenoura, pão
de queijo, torradinhas com geleia e algumas frutas. Coloco tudo
numa bandeja e levo até sua cama.
Nathália está sentada, com as costas na cabeceira, usando
seus óculos de grau e com o notebook no colo, provavelmente
trabalhando. Ela nem nota quando entro, mas pigarreio para que me
olhe.
— Ai, meu Deus! Que amor! — Ela põe as suas coisas na
mesinha de cabeceira e eu coloco a bandeja no meio da sua cama,
e me sento do outro lado, dando um beijinho em sua bochecha.
— Tem quase tudo o que você gosta aí e principalmente a
sua droga favorita. — Aponto para a garrafa térmica.
— Estava doida para comer um bolinho mesmo. — Lambe
os lábios e nós tomamos nosso desjejum tranquilamente.
— Vai para o escritório hoje, linda? — pergunto quando vejo
que está indo tomar banho.
— Vou, mas não vou demorar muito por lá. O aniversário do
Quim está chegando e preciso ir ao salão de festas resolver
algumas coisas.
— Certo, só vai me avisando se precisar de alguma coisa. —
Vou atrás da nossa criança, que é realmente um reloginho e já, já
vai acordar para comer.
Preparo seu cuscuz amarelo com ovo e Nathália aparece na
minha frente linda como sempre, mas formal, com as roupas que
usa para ir para a empresa.
Joaquim já acordou e está em sua cadeirinha. Naty dá um
beijinho nele e conversa com o seu filho que, mesmo sonolento,
presta atenção no que ela diz como se estivesse entendendo tudo.
— Tô indo, meus amores. Qualquer coisa, é só ligar. — Joga
um beijo no ar e sai de casa com pressa.
— É, meu anjinho, sua mãe é uma mulher de negócios —
digo com um sorriso na voz, colocando a comidinha em sua frente.
Ô menino para gostar de cuscuz com ovo que nem esse,
mas não julgo, é uma delícia mesmo.
— Me conta tudooooooo. — Maria gira em sua cadeira,
animada e doida para saber da fofoca.
— Foi perfeito — digo apenas isso, porque de jeito nenhum
vou dar detalhes da minha transa com Henrique para a sua
cunhada, ainda que ela seja minha amiga.
— Poxa, nenhum detalhezinho? Só perfeito? — sua voz sai
em um muxoxo.
— Sim, e se dê por satisfeita, dona Maria. — Olho para ela
por cima do meu notebook, que me dá língua. Tão madura.
— Você viu a Helena hoje? — pergunto, porque já está
quase na hora do almoço e nem sinal da minha outra amiga.
— Ela ligou avisando que iria se atrasar — me responde.
— Pelo visto, não é apenas eu que tenho coisas a contar.
Ela não costuma se atrasar ou faltar ao trabalho. A noite deve ter
sido boa.
— Só eu que estou sem novidades quentes. Que tristeza. —
Dá de ombros e faz um beicinho.
— Ué, amiga. O Luiz não… — Não faço ideia de como
completar essa frase.
— Ah, nós não estamos fazendo nada. Acabamos de voltar,
estamos indo devagar agora.
— Imagino, mas se quer um conselho, sexo é uma coisa
íntima, que pode unir vocês. Faz uma surpresinha, compra uma
lingerie, um jantar a dois, um filme. Namorar é bom. — Tento animá-
la.
— É… acho que vou fazer isso. Só não sei se é o momento.
— Faz uma pausa e depois continua: — Posso te pedir uma
opinião?
— Sempre — nem pestanejo ao respondê-la.
— Meu namorado parece que… Eu não... Parece que ele
está me escondendo mais alguma coisa. Tipo… sei que diz a
verdade ao estar indo ao psicólogo e de não estar mais envolvido
com os jogos, mas sabe quando parece que a pessoa ainda não te
contou tudo? — Franze o cenho pensativa. — Não sei se estou
sendo neurótica demais, se devo pressioná-lo, ou se apenas o apoio
nessa fase difícil que está passando.
— Se tinha uma coisa que a minha mãe sempre dizia, é que
devemos seguir o nosso instinto. Mas como o seu namorado já te
feriu outras vezes, pode ser apenas você se autopreservando. Não
acha melhor dar essa chance para vocês dois e conversar com ele
sem pressão? — Não sei se sou a melhor pessoa para dar
conselhos sobre relacionamentos. E para ser sincera, se eu fosse
ela, já teria terminado há tempos com esse cara, mas o amor é
cego, então tento não julgá-la.
— Acho que vou fazer isso. Obrigada por me ouvir, amiga.
— Sempre às ordens, meu amor. — Pisco para ela e
voltamos ao trabalho.
Hoje é o dia do aniversário do meu filho e eu estou radiante.
O meu bebê está completando um aninho de vida.
É o dia mais feliz da minha vida.
Me sinto tão realizada como mãe.
A festa está linda demais, todo mundo que eu amo está aqui.
Convidei a galera do escritório e informei que se tivessem crianças
que era para trazê-las, ainda que não fossem seus filhos. A família
da Helena. A maioria dos meus vizinhos que têm filhos. Seu Antônio
e Diego.
Só a Maria que talvez não viesse ou caso conseguisse
chegar, seria apenas no final, pois hoje é aniversário de casamento
dos seus pais. Só a desculpei por isso.
Está tudo do jeitinho que imaginei e meu filho está lindo com
sua roupinha de Ewok. Não só ele, como Henrique, Diego, Helena e
eu.
O salão está parecendo uma floresta, semelhante ao planeta
ao qual os bichinhos vivem. Está lotado de crianças correndo e
brincando. Tem alguns animadores fazendo brincadeiras. As
músicas infantis estão a todo vapor.
Tem muita comida e bebida, e claro, um open bar para os
adultos porque a gente merece.
Todo mundo quer pegar o aniversariante no colo, mas ele
grudou no seu melhor amigo e não quer largar de jeito nenhum. Só
aceita quando sou eu ou Diego. Nem Helena ele está querendo.
Contratei uma equipe de foto e filmagem que está
registrando tudo. E eu nem vi as fotos ainda e já quero pendurá-las
num mural lá em casa.
Uma mãe muito babona, sim! Com muito orgulho.
— Que horas eu posso tirar essa roupa? — Helena já me
perguntou isso inúmeras vezes. Ela perguntou, inclusive, antes de
colocar.
— Hora nenhuma, querida. — E, pela milésima vez, eu
respondo a mesma coisa.
— Por que não vai tomar uma cerveja, Helena? — Henrique
tenta ajudar e ela revira os olhos, mas vai até o garçom e pega uma
jarra inteira com a bebida, tomando direto do gargalo.
— Você não deveria ter dado essa ideia para ela — rio da
minha amiga que está parecendo uma maluca, fantasiada e com
uma jarra na mão.
— Como se ela precisasse de algum incentivo para ser
doidinha — ele ri junto comigo.
— De fato, não precisa. — Olho para o lado e vejo Diego
correndo em nossa direção.
— Tia, lembra aquele dia que fomos no fliperama comemorar
minhas notas? — pergunta afobado.
Alguns dias atrás fomos ao tal lugar que abriu aqui perto e
ele e Joaquim se divertiram horrores. Inclusive, meu filho chorou
porque não queria ir embora, foi uma luta para fazê-lo parar de
chorar.
— Sim, meu amor. O que tem?
— Aquela menina que eu conheci está aqui, ela é sua
vizinha. — Aponta com a cabeça para ela.
— Que legal! Bom que você terá companhia quando for lá
em casa, é só convidá-la. — Pisco para ele, que se anima todo.
— Jura? Eba! — E sai correndo para contar a novidade para
a sua mais nova amiga.
— Esse meu irmão é uma figura — Henrique ri.
— Família! — o fotógrafo chama. — Pose para foto, por
favor.
Nós três fazemos inúmeras poses. E tenho certeza que
ficaram todas lindas. Não teria como ser diferente. Dada a nossa
euforia, felicidade, e as nossas fantasias fofas.
— Será que as pessoas estão gostando da festa? —
questiono meio insegura.
Uma das poucas coisas que me deixam insegura, são as
que são relacionadas ao meu filho.
— Claro que sim, meu amor. É só olhar ao redor. — E é
exatamente isso que eu faço e realmente, todo mundo parece estar
apreciando o momento. Até Helena com sua cerveja na mão.
Depois de algumas horas de festa, finalmente cantamos o
tão esperado Parabéns Para Você. E meus olhos estão
transbordando de alegria.
Como sempre, olho para cima e agradeço a Deus, ao
Universo, e aos meus pais que estão olhando por nós e nos
abençoando.
A maioria das pessoas já foram embora, sobrando somente
alguns vizinhos mais chegados, a família de Helena e de Henrique.
— Amor, pode dar o Joaquim um minutinho para minha
amiga porque eu gostaria de te dizer algo. — Assim que digo isso,
Henrique arregala os olhos e me parece meio nervoso.
— É… é alguma coisa ruim? — Franze o cenho, e eu
desfaço o nó em sua testa com os dedos de uma maneira
carinhosa.
— Claro que não. Eu só queria que estivéssemos nós dois,
apenas — conto e ele solta um suspiro de alívio.
— Certo, já volto. — Ele entrega Joaquim à madrinha, que
protesta no começo, mas depois cede porque ela o leva para junto
de Diego. Vamos caminhando para um pouco distante dali, do lado
de fora do salão, mas ainda próximo a festa, onde podemos ver os
poucos convidados, sua família e o Quim com Helena. — Diga, meu
amor. Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, aconteceu — respondo com um sorriso.
— E o que foi? — quer saber.
— Eu te amo! — digo o que está entalado em minha
garganta.
— Vo-você me ama-ma? Co-como assim, me-me ama? —
Eu quero rir do seu desespero e do seu nervosismo, mas prendo um
lábio no outro esperando que se acalme para que eu possa
respondê-lo.
— Te amando, meu amor. Tirando o meu filho, claro. Você é
a primeira pessoa que eu penso antes de dormir e que quero ver ao
acordar. Todos os momentos ao seu lado são especiais. Não precisa
me dizer o mesmo. Eu só senti necessidade de te contar. Não quero
te pressionar a nada e nem te deixar pouco à vontade. Eu só
precisava te dizer.
Após a minha declaração, Henrique aparenta estar mais
nervoso do que imaginei que estaria quando decidi contar como me
sinto.
— E-eu… é.. você… — se embola nas palavras e eu não o
corto e nem o apresso. — Antes de dizer que também te amo, eu
preciso te contar uma coisa. Eu estava esperando o momento certo
para te falar. Não sabia como dizer. Pensei em mil maneiras
diferentes, em vários momentos diferentes, mas todas as vezes a
coragem fugia de mim e eu acabava deixando o medo de te perder
falar mais alto e ia deixando para depois, sempre pensando: de
amanhã não passa. — Seu rosto está vermelho e sua respiração
está acelerada.
— Você está me assustando, Henrique. Medo de me perder?
Contar a verdade? Do que está falando? — Fico tão nervosa quanto
ele e com medo do que possa sair da sua boca. Não estou
entendendo nada.
— É que quando nos conhecemos, eu não fui totalmente
sincero com… — ele para de falar e seus olhos só faltam saltar para
fora de tão arregalados e eu me viro para onde ele está olhando.
Mas não é possível que eu esteja vendo o que está diante
de meus olhos.
Maria está chegando na festa de mãos dadas com um rapaz,
mas esse homem que está com a minha funcionária, não é qualquer
um.
É a porra do Foda Ruim.
Ninguém menos que o pai biológico do Joaquim.
O que ela está fazendo com Miguel aqui? Não é possível
que…
Não! Não! Não! Não!
Eu me recuso a acreditar numa coisa dessa.
Os dois vão se aproximando, Maria totalmente alheia ao que
está se passando comigo, mas o homem ao seu lado também me
vê e fica tão surpreso quanto eu.
Nós quatro estamos de frente uns para os outros e sinto que
algumas pessoas chegaram atrás de nós. Creio que sejam seu
Antônio, Helena com Joaquim e Diego que passa correndo.
— Luiiiiiiiiiz! — o menino inocente grita feliz e pula no colo do
irmão que o agarra por impulso, mas logo o solta no chão.
— Dá para alguém me explicar o que é que está
acontecendo aqui? — exijo, mas ninguém me responde.
Eu não posso acreditar!
Isso só pode ser um pesadelo.
O dia mais feliz da minha vida, acaba de se tornar o mais
triste também.
— O que você tá fazendo aqui, seu idiota? — Helena quase
rosna para Miguel, que acabei de descobrir que é Luiz, ou será Luiz
Miguel, ou Miguel Luiz?
Meu Deus, que confusão! Minha cabeça vai explodir.
— Com quem você tá falando desse jeito, Lena? — Maria
está pior do que eu e com um vinco enorme na testa.
— Com esse babaca que você trouxe. Como tem coragem
de aparecer aqui? — Minha amiga está com tanto ódio, que pego
Joaquim do colo dela e o entrego a Diego e peço por gentileza que
ele entre com o meu filho e brinque com as crianças que ainda
estão ali. O menino nem discute e faz o que eu pedi.
— Eu acho que ele não sabia, amiga. Não é, Miguel? — Me
volto totalmente para o homem que me magoou, não por não me
querer, mas sim, por não querer o meu filho.
— Peraí, você conhece o meu namorado? — Maria olha de
mim para ele.
— Infelizmente, sim. Só não sabia que ele era o Luiz. Ele se
apresentou para mim como Miguel.
— O meu nome é Luiz Miguel — o idiota fala, como se
fizesse alguma diferença.
— Eu não entendo… — minha secretária diz.
— Então, somos duas, Maria. — Me viro para Henrique, que
está desesperado. — Pode começar a falar — demando.
— Eu ia te contar, amor…
— Amor? — Miguel fala alto.
— Não me chama de amor — digo ao mesmo tempo que o
imbecil. — Você nunca mais vai me chamar assim. Meu Deus, como
eu fui burra. Como pôde mentir para mim por tanto tempo? —
Lágrimas começam a escorrer dos meus olhos, mas eu as afasto
com um safanão.
Eu não vou chorar por ele. Esse homem não merece. Não
depois de eu descobrir que mentiu para mim por todo esse tempo.
— Desembucha, Henrique — Helena diz, e parece mais
furiosa que eu.
— Acho melhor irmos embora, Maria. — Miguel quase sai
puxando minha funcionária pelo braço, mas ela não arreda o pé dali.
— É claro que não vamos, eu quero saber como é que você
conhece a minha chefe e por que é que o seu irmão não contou
nada. — Ela se volta para o cunhado.
— Eu vou contar a elas, Luiz. Queira você ou não — Hique
diz. — Vou começar do início…
— Cala a boca, irmão — o doador de esperma tenta, mas o
mais novo não para.
— Luiz Miguel é meu irmão mais velho, e um dia por acaso
ao ajudá-lo a fazer o backup do seu celular, descobri que ele havia
engravidado uma mulher desconhecida. — Maria já está com
lágrimas nos olhos e o seu semblante está coberto de decepção. —
Eu tentei o confrontar por diversas vezes, até que depois de pagar
mais uma de suas dívidas de jogo, ele me contou. Eu o ameacei,
porque queria conhecer o meu sobrinho. Mas de acordo com o meu
irmão, Nathália era uma mulher ruim e rica, que o havia enganado e
engravidado de propósito, além de ter proibido qualquer um de nós
de se aproximar dela e do Joaquim.
— Eu vou matar esse filho da mãe. — Helena tenta avançar
em Miguel, mas seu Antônio a segura, pedindo calma, e tenho
certeza que ela só o respeita porque é um senhor de idade.
— Luiz apenas me deu um nome e um endereço e eu
comecei a investigar sobre a vida de Nathália, e descobri que por
pura coincidência, era chefe da minha cunhada, que sempre que
falava sobre ela, contradizia tudo que meu irmão havia falado. Mas
como é uma mulher rica e influente, meu pai e eu ficamos com
medo de que algo que Luiz disse tivesse um fundo de verdade e ela
nos proibisse de ver o Joaquim. Então, quando a vaga de babá
surgiu, eu me candidatei, tanto para descobrir quem era de fato a
mãe do meu sobrinho quanto para mostrar a ela, caso fosse
minimamente parecida com o que meu irmão me relatou, que
mudasse de ideia e permitisse que nós fizéssemos parte da vida
dele. — Henrique já está com os olhos marejados, assim como a
maioria de nós, menos o idiota do doador de esperma que parece
desesperado para fugir dali.
— E eu não menti, ela me proibiu de ver a criança. Você
precisa acreditar em mim, Maria. Essa mulher fez de proprósi…
Sua fala é interrompida por um tapa que sua namorada dá
no meio da sua cara. Deixando a marca dos dedos em sua
bochecha.
— Como você tem coragem de continuar mentindo? E por
que eu fui tão cega? Tão burra? Como não consegui enxergar o
tremendo cafajeste que é? Como pôde abandonar uma criança?
Que tipo de homem faz isso? — ela grita em desespero e eu vou
abraçá-la, tirando-a de perto do encosto que é o seu namorado.
— Prefere acreditar neles do que em mim? — o babaca
continua tentando.
— Eu não tenho motivos para acreditar em você, tudo que
sai da sua boca é mentira. Você nunca vai mudar, não é mesmo?
Sempre pensando em si mesmo em primeiro lugar. — Maria está
tremendo e tento acalmá-la fazendo carinho em seus braços, que
estou envolvendo com os meus. — Nunca mais, e vou repetir para
que entenda, nunca mais chegue perto de mim. — Ele tenta falar
mais alguma coisa, mas ela o corta. — E eu não estou blefando
dessa vez. Se chegar a menos de cem metros de onde eu estiver,
se tentar me ligar, se pensar em pronunciar o meu nome. Eu te
denuncio para polícia. Você me entendeu? — Luiz não responde e
tenta se aproximar, mas nós nos afastamos. — Entendeu?
— Maria você não pode…
— Cala a boca, seu idiota. Ela não vai repetir e você vai
embora agora. E se eu souber que tentou incomodá-la, quem irá
chamar a polícia serei eu. E pode apostar que eu sou uma atriz e
tanto. Posso inventar mil histórias, cada uma mais cabeluda que a
outra. — Uma Helena enfurecida aponta o dedo em riste para ele —
Vai embora daqui agora.
O idiota vacila um pouco, dá um último olhar para Maria e sai
dali transtornado.
— Nathália… eu — Henrique tenta, mas eu o corto.
— Isso serve para você também. Vai embora daqui. Eu não
quero ver o seu rosto nunca mais. — Ainda estou abraçada com
Maria, e Helena vem para o nosso lado.
— Por favor, me escuta. Eu não queria que tivesse chegado
a esse ponto, mas eu me apaixonei por você no meio do caminho. E
fiquei morrendo de medo de te perder. Você é a mulher da minha
vida. Eu te amo, Nathália! — É até cômico ouvir uma coisa dessa
saindo da boca dele, que ainda está fantasiado.
Eu acabei de me declarar para ele, minutos antes de tudo
isso acontecer. Tudo que eu mais queria era que me dissesse o
mesmo.
Mas agora eu não o reconheço mais. Eu não sei quem é
essa pessoa que está diante de mim.
Como ele pôde mentir por tanto tempo?
— Me ama? — pergunto cética. — Acha que isso é amor?
Mentir? Omitir? Você teve todas as oportunidades para conversar
comigo. E esperou que eu baixasse a guarda e me apaixonasse,
para que depois eu me decepcionasse? — Aponto o dedo em riste
para ele. — Amor é confiança e você não confiou em mim. Todo
esse tempo me escondendo esse segredo.
— Não, não foi bem assim. — Ele tenta se aproximar, mas
me esquivo do seu toque.
— Vai embora, Henrique — imploro, chorando.
— Vamos, meu filho. — Seu Antônio põe a mão no ombro
dele. — As meninas precisam digerir essa história toda. Vamos para
casa. Amanhã vocês conversam melhor.
Ele vacila, mas acaba obedecendo ao pai e juntos os dois
vão atrás de Diego, que está com Joaquim no colo brincando.
Henrique dá um beijo na cabecinha do meu filho e uma
lágrima escorre pelo seu rosto. Sei que ama o Joaquim, mas não
quero pensar nisso agora.
Não quando estou tão magoada e machucada.
Seu Antônio vem entregar o meu bebê, e Helena o pega no
colo. Os três vão embora dali cabisbaixos, mesmo Diego que não
entende muito bem o que está acontecendo parece triste por nos
deixar.
E assim que saem do meu campo de visão, eu desabo num
choro desesperado.
Está doendo demais.
Eu me abri para ele.
Confiei nele.
Me apaixonei por ele.
E tudo para quê?
Para descobrir que é um mentiroso? Que me enganou esse
tempo todo.
Eu só quero ir embora daqui, me deitar em posição fetal na
minha cama e chorar até dormir.
— Eu avisei a você, meu filho. Era para ter contado tudo a
ela, desde que descobriu que não era nada como seu irmão a
descreveu — meu pai fala pela milésima vez.
— Pai, dá para parar com o sermão? Eu já entendi. Já estou
mais que arrependido. A única coisa que posso fazer agora é
colocar a cabeça no lugar e implorar pelo perdão dela. Nem que
seja de joelhos. Eu me humilho se for necessário, tá legal? — Eu
estou desesperado.
Ontem quando saí do aniversário do Joaquim, eu estava
desolado, não queria deixá-la mesmo com ela me implorando para
que eu fosse. Mesmo vendo que ela estava mais do que
decepcionada comigo. Eu queria estar lá por ela. Mesmo que a
causa do seu choro fosse eu.
Mas meu pai tem razão. Nathália precisava de tempo e eu
também.
Desde que meu irmão me contou por livre e espontânea
pressão que eu tinha um sobrinho, eu não descansei até conhecê-
lo.
Seu Antônio me ajudou com tudo, ele também sabia sobre
Joaquim, e acreditou em meu irmão em um primeiro momento.
Papai queria um neto tanto quanto eu queria um sobrinho.
Nós nos apaixonamos por ele sem nem conhecê-lo, só sabendo de
sua existência.
Comprei esse apartamento justamente para ficar mais perto
dele, caso o cargo de babá não tivesse surgido, nós daríamos um
jeito de nos aproximar. Até descobrirmos a verdade.
Porém, quando minha cunhada me informou sobre a vaga,
eu não pensei duas vezes e fui atrás.
Era a oportunidade perfeita!
Ficar perto do meu sobrinho e descobrir se sua mãe era
realmente a mau-caráter que meu irmão havia dito que era.
De fato, Nathália é uma mulher rica e com poder para nos
afastar de Joaquim, principalmente porque meu irmão nunca iria
querer fazer um teste de DNA para provar que ele é o pai. Então,
caso ela quisesse, não conseguiríamos chegar a um metro de
distância de meu sobrinho.
E o Quim era minha prioridade até eu conhecê-la de
verdade.
Confesso que no começo, fiquei realmente em dúvida,
porque eu me encantei por Nathália no momento em que pus meus
olhos nela. Então pensei que eu poderia estar me iludindo, me
ludibriando e só enxergando o que queria a respeito dela. Pensei
que pudesse estar cego de desejo ou algo assim.
Mas ela foi me provando a cada dia que tudo que meu irmão
havia dito era mentira.
E eu, idiota, ao invés de lhe contar tudo, já estava me
apaixonando, e fiquei com medo de perdê-la.
Todos os dias eu pensava em abrir o jogo.
Todos os dias tentei contar que sou o tio do Joaquim.
E todos os dias eu desistia por medo.
Medo de perdê-la.
Medo que ela não me admirasse mais.
Medo que ela não confiasse mais em mim.
Medo que ela não quisesse mais me ver.
E olha só onde o medo me trouxe?
Depois daquele show de horrores que foi o fim do
aniversário do meu filho, Maria, Helena, Joaquim e eu viemos para a
minha casa.
Entre minha secretária e eu, não sabia quem estava pior. Foi
tudo muito rápido, mas muito avassalador.
A única coisa que consegui fazer, além de cuidar do meu
filho, foi deitar na minha cama e chorar.
Levantei agora apenas para me entupir de sorvete com as
minhas amigas e falar mal de homem.
Por que eu dei a chance do meu coração se apaixonar por
alguém? Só para ele ser estraçalhado depois?
Eu já devia saber que nenhum homem presta. Até os que
gaguejam, têm covinhas, são tímidos e têm um sorriso lindo.
Que ódio!
Até quando estou com raiva dele, não consigo achá-lo feio.
Ele podia ser barrigudo e calvo, talvez fosse mais fácil
esquecê-lo. Ou não, eu nunca me importei com aparência. Isso é só
a minha mente tentando arrumar alguma desculpa.
— Você está fazendo de novo, amiga — Helena reclama. —
Por que ao invés de ficar resmungando, suspirando derrotada e
revirando os olhos, você não se abre com a gente? E isso serve
para a senhorita também Maria.
Nós duas olhamos para ela meio irritadas, mas Lena tem
razão.
— Certo! Eu começo — a mais nova diz. — Meu
relacionamento com o Miguel nunca foi um modelo a ser seguido,
sabe? Ele sempre foi assim…
— Um cuzão? — Helena corta e eu reviro os olhos para ela.
— Jura, amiga? Deixa a menina falar — ralho e ela levanta
as mãos em rendição.
— Sim, um cuzão, apesar do nosso relacionamento
conturbado, nunca pensei que fosse capaz de me trair, porque
sempre demonstrou ser muito respeitoso comigo, nesse tipo de
situação. Porém, eu acreditava que essa loucura e obsessão,
apesar de serem coisas nitidamente tóxicas, que uma terapia
poderia nos ajudar e que ficaríamos bem. — Maria parece tão
desolada. — A gente vivia terminando e voltando, mas sempre por
causa dos seus problemas com jogo e dinheiro. Nunca por causa de
traições, mentiras… quando ele estava comigo, Miguel nem olhava
para o lado. Eu jamais pensaria algo assim dele, ainda mais
engravidar uma pessoa e largá-la, descartá-la, como se não fosse
nada. — Seus olhos estão repletos de culpa, como se a
responsabilidade fosse dela.
E não é! Nós mulheres precisamos parar de nos culpar pelo
que os homens fazem. Não é culpa de Maria que ela foi traída, nem
que seu namorado abandonou uma outra mulher grávida.
A culpa é dele e somente dele.
— Amiga, você sabe que aquele babaca não te merece, né?
— Helena põe a mão em cima da dela e a aperta em sinal de
solidariedade.
— No fundo, eu sempre soube. Mas essa foi a gota d'água.
Não tenho intenção alguma de perdoá-lo. Não quero ouvir suas
desculpas, suas explicações. Porque não há nada que possa dizer
que irá me fazer mudar de ideia — ela funga um pouco, pois
começa a chorar. — Cara, quem faz uma coisa dessas e tenta
negar, olhando dentro dos nossos olhos? Meu Deus! Como sou
burra!
— Você não é nada disso, Maria! Só estava cega,
apaixonada e esperançosa. — Aperto a sua outra mão.
— Ou seja, burra! — Nós três rimos juntas.
— Agora é a sua vez, Nathália. Não dá mais para ficar
chorando e bufando o dia todo. — Helena aponta. — Bora,
desembucha.
— Eu vou falar… não acredito que deixei me iludir assim. Eu
deveria ter me blindado desde que Miguel escolheu não ser pai do
meu filho. — Eu contei tudo para Maria sobre como as coisas
aconteceram, até mostrei as mensagens que tinham no meu celular
para que ela tivesse certeza que não estava mentindo e Helena
ficou de testemunha confirmando tudo. Em momento algum ela
duvidou de nós, mas a menina precisava saber. — Como eu não
percebi? O carinho, a conexão? Cara, eles são muito parecidos.
Todos eles. E sabe o que me mata? — pergunto para ninguém em
especial. — Eu teria o perdoado se ele tivesse me contado antes de
nos envolvermos, sabe?
— Posso dar minha humilde opinião sobre o Henrique? —
Maria pergunta e eu assinto. — Eu o conheço há muitos anos e ele
não é nada como o irmão. — Faço que vou interrompê-la, mas ela
levanta a mão pedindo para que a deixe terminar. — Não estou
dizendo que o que ele fez foi certo. Meu cunhado deveria ter dito a
verdade no momento em que viu que você não era o monstro que
Luiz pintou. Porém… entendo o motivo de ele não ter contado. Não
acho certo, mas consigo compreender.
— Entende? — Levanto uma sobrancelha em clara
discordância e desagrado.
— Henrique sempre foi muito tímido, inseguro, ele realmente
tinha dificuldades para se relacionar. Meu cunhado não conseguia
falar com pessoas estranhas. Foi preciso muita terapia e cuidado
com ele para que saísse de seu casulo.
— E isso justifica? — Estou indignada, não quero resolver o
problema, quero reclamar dele, apenas.
— Não, claro que não — responde de imediato. — Mas,
explica muita coisa. Principalmente o medo de te perder. Desde que
te conheceu, seu nome não sai da boca dele. O sorriso não sai do
rosto dele. A felicidade transborda dos olhos dele. Não posso nem
dizer que recuperou a confiança nas pessoas, porque ele nunca
teve confiança alguma. Você deu isso a ele. Então, me perdoe se
estou sendo invasiva e me metendo onde não fui chamada,
porém… eu daria uma segunda chance ao Henrique se fosse você.
Mas como não sou o melhor exemplo de escolhas em
relacionamentos, não vou insistir no assunto. Apenas te apoiar no
que decidir.
— Nossa! Até eu que sou doida, fiquei convencida com o
que a Maria falou. — Nós duas olhamos para Helena, que dá de
ombros. — Eu não tenho o coração de pedra que nem vocês
acham, tá legal? Eu sei perdoar também.
— Jura, amiga? E o que fez seu coração ficar mais
amolecido assim? Será uma certa mulher que passou alguns dias
na sua casa? — Maria joga verde e ela revira os olhos.
— Ah, para! — Helena faz um gesto de desdém com a mão.
— Eu só entendi o que você quis dizer, Ma. O garoto ficou com
medo de perder a Naty. E, sinceramente, amiga. Se ele te contasse
de primeira que era tio do Joaquim. Você se envolveria com o cara?
— É claro que não, mas…
— Então aí está a sua resposta — Lena me corta.
— Que seria? — Cruzo os braços porque não tenho
resposta alguma.
— Você pode perdoá-lo, porém, faça-o sofrer e implorar
primeiro. — Minha melhor amiga me dá uma piscadela. Ela fala
como se fosse fácil.
— Acha que é simples assim? Recuperar a confiança em
alguém? Perdoar uma mentira dessas? — Não posso acreditar que
só eu esteja raciocinando direito aqui.
— Eu não disse isso, Naty. Porém, eu nunca te vi tão
tranquila e leve na vida quanto quando estava com o babá
gostosão. E pelo que a Maria disse, ele não parece ter feito isso
para te ferir, e sim porque é um rapaz inseguro. Também, olha só
para você. — Faz um gesto como se fosse uma reverência. —
Linda, inteligente, bem-sucedida, amorosa, paciente. Cara, às vezes
até eu que não sou insegura fico meio irritada com toda a sua
perfeição. — Reviro os olhos porque sou tudo menos perfeita. —
Não, é sério, antes de ter o apoio de Henrique, você já dava conta
de uma empresa, da sua casa, e do seu bebê, praticamente
sozinha. Mesmo que não pudesse estar pessoalmente na sede,
ainda assim, não fugia do seu compromisso com a Adenium
trabalhando home-office desde que acabou o seu resguardo. Fala
sério!
— E por eu ser uma ótima pessoa devo perdoá-lo? Mas e a
confiança, meninas? — Continuo batendo na mesma tecla. Será
que ninguém me entende aqui?
— A confiança pode ser reconquistada, chefe. — Maria dá
de ombros. — É tão difícil encontrar o amor, amizade e
companheirismo na mesma pessoa. E vocês pareciam tão certos
um para o outro. Dava até um pouco de enjoo de tão doce que
eram.
— Uuuuuu, primeira vez que te vejo sendo recalcada, Ma.
Adorei! — Helena pisca para ela.
— Eu vou pensar, meninas! Agora, me deixem me entupir de
açúcar e falar mal de todos os homens do planeta Terra, ainda que
eu tenha sido enganada apenas por um. — Vou até a geladeira e
pego outro pote de sorvete.
Que droga! Até o meu doce favorito me faz lembrar daquele
babá gostoso e idiota!
Merda!
Hoje é segunda-feira e eu passei o domingo inteiro
remoendo se deveria ir trabalhar ou não. Mas como estou no modo
“cão arrependido e desesperado para recuperar o amor da minha
mulher” vou para a casa da Nathália mesmo assim. Na maior cara
de pau possível.
Antes de conhecê-la, eu era só um cara tímido, com zero
confiança em mim mesmo e que queria apenas ficar na minha.
Mas aí ela abriu a porta para me receber em sua casa e
desde então meus dias não foram os mesmos.
Principalmente porque a primeira coisa que eu via ao ser
recebido por ela era o seu sorriso.
E que sorriso! Ele era tudo para mim.
Cada dia que eu passava sem ver o seu sorriso era um dia
perdido.
Eu fazia de tudo para ver os seus lábios se curvarem para
mim.
Ela era tudo em que eu conseguia pensar.
Tudo o que eu queria para mim.
E saber que eu fui o motivo de sua tristeza e decepção me
deixava de coração partido. Deixei minha insegurança falar mais
alto que a razão.
O medo de perdê-la me paralisou, mas vou fazer de tudo
para ter o seu perdão, mesmo que ela não queira mais nada
comigo.
Toco a campainha e depois de alguns minutos que
pareceram horas, devido a minha ansiedade, uma Nathália de
pijama de coraçõezinhos rosa, rosto inchado, e cabelos
desgrenhados, atende.
Assim que ela me vê, tenta bater a porta na minha cara, mas
eu a seguro com força, impedindo-a.
— Amor, por favor. Pode pelo menos me escutar? — Tento
apelar com uma voz mansa, mas isso só a irrita mais e ela continua
tentando fechar a porta enquanto eu fico segurando.
— Dá para você ir embora? E não me chama de amor. —
Sua voz sai entrecortada devido a força que está fazendo.
— Mas eu trabalho aqui, vim cuidar do Joaquim para que
você possa ir para o escritório. — Tenho a cara de pau de jogar
essa no ar. Acho que aprendi alguma coisa com o Luiz, afinal. Minha
cara nem treme, que nem a dele.
— Trabalha aqui? Jura que você vai meter essa para cima
de mim, Henrique Duarte? — Ela está quase gritando e eu estou
fingindo uma calma que não possuo.
— Sim, a gente combinou que se não desse certo, íamos
continuar seguindo de maneira profissional, é o que eu estou
fazendo. — Gente! A Globo está me perdendo, como sou sonso.
— Nós combinamos isso para caso o nosso relacionamento
por algum motivo não desse certo. Não se eu descobrisse que você
é a porra de um mentiroso, e pior, tio do meu filho. — Ela para de
forçar a porta e abre os braços irritada. Muito irritada.
Seu rosto está vermelho de tanta raiva e parece que ela quer
avançar em mim, mas eu continuo fingindo placidez e dignidade.
— Detalhes…
— Você tá de sacanagem comigo? Detalhes, Henrique? —
Ela me dá as costas, vai até o sofá, pega uma almofada para jogar
em mim, mas eu me esquivo, ela pega outra e faz o mesmo e eu
continuo me esquivando, eu corro dela, dando voltas no sofá
enquanto ela faz o mesmo atrás de mim. — Para de correr, você
sabe que merece uma almofadada.
— Eu sei que mereço isso e muito mais. — Paro e me viro,
indo até ela. E tirando o objeto de sua mão.
— Por que você mentiu para mim? Realmente achou que eu
era como o seu irmão me pintou? — Seus olhos começam a marejar
e eu quero me dar um tapa na cara por fazê-la sofrer.
Aproveito que estou segurando o seu braço, o abaixo
devagar, segurando em sua mão.
— No começo, eu fiquei em dúvida, sim. Nós não sabíamos
nada sobre você, o pouco que chegou até nós, foi algo que me fez
pensar em dar um jeito de me aproximar do meu sobrinho. Mas
assim que te conheci, percebi que tudo era uma mentira do imbecil
do meu irmão, linda — digo derrotado.
— E não me contou tudo na primeira oportunidade, por quê?
Eu teria te escutado. Você sabe disso. E teria deixado que
participasse da vida do Joaquim. — Uma lágrima escorre pela sua
bochecha e a limpo com o meu polegar.
— Eu fiquei com medo de te perder e de perder o Joaquim.
Primeiro, eu tinha entendido que você não era mau-caráter, mas
isso não significava que deixaria que fôssemos presentes na vida do
nosso pequeno. Afinal, meu irmão é um cafajeste. Meu pai e eu
ficamos com medo de você nos afastar. E por mais que eu te ame,
meu amor. Porque eu amo, o Quim sempre foi minha prioridade —
conto o que queria ter dito no final da festa e ela se desvencilha de
mim, me virando as costas.
— Você teve muitas oportunidades para me dizer, Henrique.
Mas preferiu omitir algo tão sério. Como posso confiar nas suas
palavras novamente? — Ouço-a fungar e percebo que levou as
mãos ao rosto para secar as lágrimas.
— Eu sei, meu amor. E eu estou mais do que arrependido.
Estou disposto a recuperar sua confiança todos os dias das nossas
vidas, se você me der uma segunda chance. É só o que estou
pedindo. — Levanto minha mão para tocá-la, mas desisto quando
ouço suas palavras.
— Eu preciso pensar. Vai embora, por favor — pede, sua voz
é quase um sussurro.
— Tudo bem, eu vou te dar o tempo que precisa. Mas me
promete uma coisa? — peço, tentando ser o mais humilde possível,
pois não estou em condições de barganhar nada.
— Não sei se posso prometer nada, mas diga o que quer. Eu
preciso ficar sozinha — sentencia.
— Promete para mim que ainda que não me perdoe e a
gente não volte a ficar juntos — quase não consigo pronunciar essa
última frase. — Promete que não vai nos afastar do Joaquim.
Ela se vira para mim e assente com a cabeça.
— Eu nunca faria tal coisa. Meu filho ama vocês. E ele tem
um avô e dois tios. Não está sozinho como eu. Isso sempre foi o
que eu quis para ele. Independente dos nossos problemas. Joaquim
sempre será minha prioridade.
— A minha também, linda. Obrigada por ser tão generosa. —
Quero abraçá-la e beijá-la até fazê-la me perdoar, porém, sei que
precisa de um tempo.
Principalmente depois do que disse: “Ele não é sozinho
como eu”.
Se depender de mim, você nunca mais estará sozinha, meu
amor.
Só espero que me perdoe logo.
Faz alguns dias que Henrique saiu lá de casa, depois de me
pedir perdão. E, desde então, não para de me mandar mudas com
flores do deserto.
Cada uma com um recadinho mais carinhoso que o outro e
eu sigo não o respondendo.
A verdade é que eu já o perdoei dentro do meu coração,
mas estou com medo de me jogar de cabeça de novo e de me ferir
novamente.
Entendo que está arrependido e que não fez por mal, porém,
meu coração sente de um jeito e a minha cabeça pensa de outro.
Não estou conseguindo me entender.
Sei que quero estar com ele, e meu filho está morrendo de
saudade. Não para de chamar o nome do tio.
Nossa! Só de pensar nisso, toda aquela cena do aniversário
de Joaquim me volta à cabeça.
E é por isso que ainda não o respondi. Eu o perdoei,
contudo, ainda estou magoada.
Maria por outro lado. Nem perdoou e nem irá perdoar o
Miguel, que ainda teve a cara de pau de aparecer aqui na empresa
dia desses fazendo uma cena. Os seguranças o colocaram para
fora e o ameaçaram.
E de acordo com ela, o pai dele, seu Antônio, o proibiu de
procurá-la, o ameaçando, não sei bem de que maneira, mas depois
disso, ele nunca mais apareceu.
E minha amiga, apesar de ainda amar o traste, parece estar
bem melhor sem ele. Acho que não só ele era dependente dela. Ela
também era dele.
Minha funcionária começou a fazer terapia e diz que está
sendo a melhor experiência de sua vida, mesmo que às vezes saia
de lá com a cara inchada de tanto chorar.
As coisas estão seguindo o seu curso e eu continuo mal-
humorada, meio amargurada e sem querer falar com o Henrique. Ao
mesmo tempo que estou morrendo de saudade dele.
Por que eu sou assim, Deus?
— Oi, meninas! — Helena entra em nossa sala no escritório
toda serelepe. — Nossa! Que clima de enterro. Ainda não perdoou o
babá gostosão? E você, Maria, já conseguiu se livrar do embuste?
— Graças a Deus e ao Seu Antônio, sim! Ele ameaçou
denunciar o filho por roubo. E Henrique disse que testemunharia a
favor do pai — conta.
— Roubo? — Lena e eu perguntamos em uníssono.
— Sim, meu ex-namorado já roubou do próprio pai, no caso,
as joias da mãe. Ele mandou penhorar para pagar dívidas de jogo.
Algo assim. — Dá de ombros, nitidamente fingindo que não se
importa, mas decepção cobre o seu olhar.
Ela pode não querer voltar com ele, mas deve ser horrível
descobrir que ficou tanto tempo com alguém que você não faz ideia
de quem seja de verdade.
Aproveito que Maria contou sobre os seus problemas para
não responder sobre Henrique, mas minha melhor amiga não é
idiota e me alfineta de novo.
— Ainda estamos esperando sua resposta, Nathália —
cantarola o meu nome, porque sabe que isso me irrita.
— Não, amiga. Ainda não o desculpei e você sabe disso. —
Reviro os olhos e finjo prestar atenção no meu computador
querendo encerrar o assunto.
— Amiga, sei que sou irritante. — Faço uma careta
concordando com ela que continua. — Mas você sabe que precisa,
ou perdoá-lo, ou colocar um ponto-final nisso, não sabe?
— Eu sei, Helena, mas… — paro de falar e ponho as duas
mãos no rosto, meio nervosa.
— Mas? — incentiva.
— Eu estou com medo — assumo.
— Medo do quê, meu amor? — Minha amiga vem até mim,
puxa uma cadeira e se senta ao meu lado. — Se abre com a gente.
— De ser enganada novamente — minto, porque isso é pura
mentira.
— Ah, corta essa, Nathália. — Lena me dá um safanão.
Nossa! Mas ela saiu de amiga compreensiva para implicante em
questão de segundos. — Você está com medo do que está sentindo
por ele. Esse sentimento que está dentro do seu coração não vai
embora só porque está com medo de senti-lo, amiga. E eu posso
jurar que você já tinha o perdoado no dia seguinte. E é isso que te
assusta. Não é mesmo?
Como ela me conhece tanto e tão bem?
Desde que conheci Henrique, tudo foi fluindo tão
naturalmente, como se tivesse que ser, sabe? Como se
estivéssemos predestinados.
Quando tudo estava bem, eu me entreguei a ele sem nem
pestanejar. Porém, foi só o primeiro obstáculo aparecer, que eu me
assustei.
Tudo que eu sempre quis foi formar a minha própria família,
e quando nós dois começamos a nos envolver, foi bem nítido para
mim que ele era o cara.
Não só por mim, mas pelo meu filho também. A primeira
palavra que Joaquim falou foi o nome dele.
O quão isso soa assustador para uma mãe solo
apaixonada?
— Eu te amo! — digo para a minha amiga, que abre um
largo sorriso.
— Isso eu tô careca de saber. Mas e o babá gostosão, será
que sabe? — Minha amiga levanta uma sobrancelha para mim em
desafio.
— Meu Deus, como vocês são lindas! — Maria vem até nós
para nos abraçar, com lágrimas nos olhos.
— Como estamos sentimentais hoje, hein — Helena
reclama, ela detesta abraços.
— Ah, deixa de ser chata! — Nossa funcionária faz um gesto
de desdém com a mão e nós rimos juntas.
— Bom, meninas! Preciso ir buscar o meu filho, que está
com o avô. — Como é bom poder dizer isso. Meu bebê tem um
vovô.
— Você tem deixado o Joaquim na casa do babá e não tem
respondido as mensagens e nem dado uma resposta para ele todos
esses dias? — Minha melhor amiga está espantada. — E eu que
pensava que a rancorosa era eu.
— Ué, foi você mesmo que disse que eu deveria fazê-lo
penar. Tô só cumprindo o meu papel.
— Muito que bem, minha amiga. Tô orgulhosa da sua
pessoa — Helena diz e eu rio.
— Certo, meus amores. Vou indo e essa semana eu não
volto mais ao escritório. Qualquer coisa é só mandar uma
mensagem. — Me despeço delas, saindo da sala para buscar o meu
filho.
Meu telefone vibra no bolso quando estava quase chegando
ao apartamento de Henrique para buscar o Joaquim, com uma
mensagem do Seu Antônio pedindo para que eu o encontrasse na
sorveteria próxima ao nosso condomínio.
Ué? Ele disse que não sairia de casa hoje, mas do jeito que
Diego é, deve tê-lo convencido a ir.
Não vou nem reclamar, lá é um dos meus lugares favoritos e
bem que estou precisando tomar um sorvetinho mesmo. Só assim
para melhorar o meu humor.
Eu estou nervoso, suado e ansioso.
Desde que tudo aconteceu não há um segundo do meu dia
que eu não pense na Nathália. Ela não sai da minha cabeça nem
por um segundo.
E assim que percebi que era só questão de tempo até que
me perdoasse, dei a ela o que precisava, mas agora eu quero a
minha mulher de volta na minha vida.
Quero a sua companhia, as nossas conversas, risadas,
nossos beijos, amassos, abraços, carinhos. Quero tudo com ela.
Uma vida inteira ainda é pouco para nós.
Pretendo fazer dela a mulher mais feliz desse mundo, se ela
me quiser de volta e me permitir.
Todos os dias mando as suas flores preferidas na sua casa,
sei que ela não está me respondendo, mas também sei que está
gostando.
E como último recurso do desesperado, resolvi fechar a sua
sorveteria favorita, e batizar um novo sabor de sorvete – não tão
novo assim, é uma mistura de flocos com creme seus sabores
preferidos – com o nome: Flor do Deserto em sua homenagem.
Claro que tive que chorar bastante e desembolsar a
quantidade de dinheiro que eu tinha guardada e que consegui com o
lançamento do meu novo livro em uma plataforma digital. Mas por
ela, tudo valia a pena.
Estou atrás do balcão como se fosse um atendente e mandei
fazer um avental rosa escrito: Nathália, eu poderia estar matando e
roubando, mas estou aqui me humilhando pelo seu perdão. Volta
para mim!
Brega? Demais!
Mas eu não me importo nem um pouco em me rastejar pelo
seu perdão.
Meu pai, Diego e Joaquim estão sentados numa mesa para
me dar apoio moral e para que ela não desconfie de primeira.
Assim que ela entra no ambiente, sinto seu perfume invadir o
lugar, abaixo um pouco o meu rosto que está coberto por um boné
para que não me reconheça.
— Oi, meus amores! — Ouço-a dizer e vejo que coloca sua
bolsa numa cadeira e se senta na outra, entre Diego e meu pai.
— Oi, tia Nathália — meu irmão se inclina para beijar a
bochecha dela. — Como foi o seu dia hoje no escritório?
Quero rir, porque esse moleque está a enrolando para que
não perceba nada, mas preciso me segurar senão acabo me
entregando.
— Meu dia foi ótimo e o seu na escola? — pergunta
realmente interessada, enquanto tenta pegar Joaquim do meu pai,
mas ele não quer sair do colo do vovô e ela desiste.
— Eu aprendi a tocar uma música nova e tirei dez na prova
de matemática — conta todo orgulhoso.
— Ah, já entendi porque estamos aqui, então. Um dez
merece ser comemorado. — Faz uma pausa, observando em volta.
— Nossa! Mas hoje está vazio, só tem a gente aqui? Normalmente
nesse horário está lotado.
— Sim, mas melhor assim, né? — Seu Antônio faz um gesto
com a mão dispensando o assunto. — E como você é a mais
fissurada pelo doce que nós, minha filha. Pode ir pegar o seu
enquanto a gente pensa no que pedir e distraímos o meu neto.
— Tá bem, então. — Sinto a alegria em sua voz por poder vir
encher um potinho com o seu doce favorito. Ela vem cantarolando
feliz e pega a maior vasilha rosa disponível no balcão, vai olhando
tudo, como se não pegasse sempre os mesmos sabores. — Ué?
Não tem flocos e creme, moço?
Nathália está quase entrando no freezer, e noto o seu
desespero por não encontrar o que quer.
— Não, linda! Mas tem o sabor Flor do Deserto que é uma
mistura dos dois, quer experimentar? — Levanto o meu rosto para
ela, que paralisa, assim que nota que sou eu à sua frente.
— O que você tá fazendo aqui, Henrique? — Leva uma mão
à boca quando saio de trás do balcão e ela lê o que está escrito no
meu avental.
— Quero saber se quer experimentar esse novo sabor que
mandei fazer especialmente para você, meu amor. — Pego o
potinho da sua mão, porque ela ainda está paralisada.
— Eu… é… vou querer sim. — Sacode a cabeça para cima
e para baixo meio desnorteada.
— Certo, posso colocar um pouco de: Meu amor, me perdoa
por omitir algo tão importante por tanto tempo por medo de te
perder? — questiono na maior cara de pau que consigo.
— Depende… — Faz uma carinha de quem está realmente
em dúvida.
— Do quê?
— Se você — aponta o dedo em riste para mim — prometer
que nunca mais irá fazer algo parecido com isso. Eu acho que
perdoo sim.
— Acha, linda? — Me aproximo dela, deixando apenas um
fio de distância entre nós e ela não resiste e pula em mim,
envolvendo seus braços no meu pescoço.
— É… por enquanto você só está merecendo um “acho” —
diz, bem próximo da minha boca, lambendo o lábio inferior.
— Certo, por ora, vou aceitar essa resposta. — Grudo meus
lábios nos seus e ela retribui o beijo, mas somos interrompidos por
um pigarrear do meu pai, porque estamos na frente das crianças e
nós dois rimos.
— Você é tudo que eu sonhei para mim, linda! — Passo o
dedo ao redor dos seus lábios, como se estivesse os desenhando.
— Eu estava morrendo de saudade do seu sorriso.
— Você é o motivo dos meus sorrisos, Hique! — ela diz e eu
me derreto, feito o bobo apaixonado que sou.
— Nós já podemos tomar sorvete, pai? — Ouvimos Diego
perguntar impaciente.
— É claro que pode, Di. Vem cá! — Nathália o chama e ele
vem rapidamente.
— Oba! — Meu irmão já está até com o potinho na mão.
— Eu não acredito que você mandou batizar o meu doce
favorito em homenagem a mim e ainda fechou uma sorveteria só
para me pedir perdão. — Se volta para mim com os olhos brilhando
de alegria.
— Você merece isso e muito mais, meu amor! — Dou um
selinho rápido nela. — Agora, vamos experimentá-lo?
— Claro! — Abre um daqueles seus sorrisos que me deixa
cada vez mais apaixonado.
Eu a amo tanto que chega a doer. E não poderia estar mais
grato por ela ter me perdoado.
Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. O dia que
reconquistei o meu amor.
Depois de horas me entupindo de sorvete com a minha
família, vou levar Nathália em casa.
Meu pai, como o grande cupido que se tornou, disse que
queria passar mais um tempo com o Joaquim e pediu para que
buscássemos ele mais tarde.
Como se não tivesse passado o dia inteiro com a criança.
Mas é claro que nem discutimos. Tudo que queríamos era ficar um
tempinho sozinhos.
— Linda! — digo.
— Oi? — ela pergunta enquanto coloca um pouco de café na
minha xícara.
— Nada, só queria te chamar de linda. — Dou de ombros e
ela ri.
— Obrigada? — é mais uma pergunta que um
agradecimento.
— Sempre às ordens! — Faço um sinal de continência e ela
revira os olhos.
— Certo… — ela faz uma pausa, mordendo o lábio inferior
parecendo em dúvida.
— Pergunta, meu amor. — Tomo um gole da minha bebida.
— O que você quer saber?
— Como o Luiz está? — Uau! De todas as perguntas que
achei que ela fosse fazer. Essa nem passou pela minha cabeça.
— Ele não quer saber mais de nós, depois que o
ameaçamos por causa da Maria. Papai ainda consegue contato com
ele de vez em quando. E acho que ele abandonou o tratamento,
creio que só estava tentando melhorar pela namorada, mas agora
que ela terminou o relacionamento deles, em sua cabeça não faz
mais sentido continuar. Mas… era isso mesmo que queria me
perguntar?
— Na verdade, eu queria saber se ele quer se aproximar do
meu filho. — Vejo em seus olhos que está nervosa e ansiosa.
— Não, meu amor. Quando chegamos em casa naquele dia,
ele já estava lá na porta nos esperando, transtornado. E não fez
uma única pergunta sobre o Joaquim. Ele só queria saber da Maria.
No dia seguinte, papai foi atrás dele para conversar a respeito e
tentar colocar um pouco de juízo em sua cabeça, porém, Luiz abriu
o jogo, dizendo que podíamos ser felizes sem ele, e que não queria
mais saber de nós e muito menos de uma criança — conto tudo a
ela, que parece aliviada ao saber que meu irmão não irá atrás do
nosso bebê.
— Eu queria dizer que estou com raiva, mas só consigo
sentir alívio — desabafa e vem se sentar no meu colo.
— Entendo perfeitamente, meu amor. — Resvalo meu nariz
em sua bochecha. — Mas e você? Me perdoou de verdade ou só
queria tomar sorvete?
— O que você acha? — Vira o rosto totalmente para mim, e
seus lábios ficam bem próximos aos meus. — É claro que eu só
queria tomar sorvete. — Revira os olhos e eu rio.
— Pensei que era porque estava com saudade disso aqui.
— Aproximo a boca da sua, deixando um selinho demorado.
— Acho que não, mas faz de novo para eu ter certeza. —
Dessa vez, pego-a no colo, me levantando e ela envolve suas
pernas em minha cintura.
— Vou fazer muito mais que isso. — Entro em seu quarto e a
deposito em sua cama macia.
Me deito por cima dela e beijo sua boca deliciosa com
desespero, sua língua busca a minha com avidez, e sinto que estou
no céu. Ela tem gosto de café, e agora esse se tornou o meu gosto
favorito.
Que delícia de beijo. Tão delicioso quanto a mulher que está
me beijando agora.
Tiramos nossas roupas meio desesperados e afoitos, mas
nunca parando de nos tocar. É impossível parar de tocá-la.
Ela me puxa para si, e começa a se esfregar no meu pau,
cheia de tesão.
— Eu quero te sentir dentro de mim, Hique! — ela arfa e eu
já estou duro feito pedra.
Meu pau pulsa de tanto desejo e eu faço o que ela pede,
arremeto dentro dela, metendo fundo e forte.
— Puta que pariu! Que boceta gostosa — minha voz sai
quase num engasgo e ela não satisfeita em me deixar louco de
tesão, começa a movimentar o quadril em direção a mim.
— Eu quero mais rápido. — Morde meu lábio e depois passa
a língua ali.
— Seu pedido é uma ordem, amor. — Faço movimentos de
vai e vem da maneira que pediu, rápido e forte, enquanto ela
continua trazendo seu quadril de encontro ao meu e gemendo de
prazer.
Aproveito para envolver o seu pescoço com uma mão,
apertando e afrouxando de vez em quando e a safada abre um
sorriso de canto para mim.
— Me bate, por favor — implora e eu atendo o seu pedido,
dando um tapa na lateral da sua coxa, deixando a marca dos meus
dedos ali.
Que visão mais perfeita. Minha mulher gemendo enquanto
meto meu pau em sua boceta, com o rosto corado, e a marca da
minha mão na sua coxa gostosa.
É a visão do paraíso.
Levo minha mão até o seu clitóris e ela começa a se
esfregar em mim, desesperada para gozar.
— Vem, amor. Goza para mim — peço em um sussurro e
Nathália se desmancha em um orgasmo, sua boceta se contraindo
no meu pau e eu vou logo em seguida.
Saio de dentro dela, me deitando ao seu lado e a puxando
para o meu peito. Nathália se aconchega ali, e para mim esse
momento é a coisa mais certa de toda a minha vida.
Minha mulher, nos meus braços, exausta de prazer, com
minha porra escorrendo de sua boceta, os seus cachos
embrenhados no meu rosto e o seu perfume impregnado no meu
nariz.
Perfeição seria pouco para descrever o agora.
— Eu te amo, linda — beijo seus cabelos, inspirando o seu
cheiro.
— Eu também te amo, amor — ela me responde e meu
coração dispara de felicidade.
É, nada no mundo é melhor do que isso.
Alguns anos depois.
— Paaaaaaai! — Joaquim grita e meu marido se
sobressalta.
— Oi, meu filho. Por que está gritando? Papai já vai. — Ele
se levanta, vai até o quarto do nosso Quim e eu vou atrás.
Hoje é o seu primeiro dia de aula e a criança mal conseguiu
dormir de tanta ansiedade.
— Cadê o meu uniforme? Eu não tô achando ele — suspira
de maneira dramática e eu prendo um lábio no outro para não rir.
— Meu amor, tá na sua gaveta. Onde o papai deixou ontem.
— Abre-a, mostrando para ele que está exatamente no lugar onde
deixou.
— Ah! — Dá um tapinha em sua testa se lembrando. —
Obrigado, papai — agradece e abraça as suas pernas, e Henrique
se abaixa para pegá-lo no colo.
— Estamos mesmo ansiosos, não estamos? — ele pergunta
ao filho.
— O senhor, eu não sei, mas eu estou muuuuuito —
responde e nós dois rimos.
— Vou preparar o café da manhã dos campeões para levar
você para escola. Vamos! — Henrique sai do quarto, indo direto
para a nossa cozinha.
Desde que nos reconciliamos, não nos largamos mais.
Depois de alguns meses, ficamos noivos, casamos numa cerimônia
simples, e estamos morando no meu apartamento desde então.
Como Henrique tem uma facilidade maior, quem fica em
casa cuidando do nosso filho é ele. E sim, ele é o pai do Joaquim,
porque pai é quem cria, cuida e ama.
E se tem uma coisa que emana desses dois é amor. Nunca
vi duas pessoas se amarem tanto quanto eles.
Eu não poderia ter me casado com alguém melhor, tanto
para mim quanto para o Quim.
Sem contar que, graças a Deus, Luiz nunca mais nos
procurou. Desde que fugiu da cidade porque foi ameaçado por
alguns agiotas que estava devendo. Não que eu estivesse feliz com
isso, mas estava aliviada por saber que ele não nos procuraria.
— Eu quero ovos mexidos, mamãe, por favor — meu menino
pede, me tirando dos meus devaneios, e eu sorrio para ele.
Esse é um dos momentos que mais aprecio no nosso dia a
dia. Tomar café juntinho com a minha família.
— É para já, meu amor. — Vou até ele, beijo sua bochecha,
e depois vou para o fogão para fazer o que pediu.
Depois de tudo pronto, nos sentamos para comer num
silêncio confortável e ao finalizarmos a refeição, Henrique vai ajudar
o filho a se arrumar.
Quando estamos todos prontos, descemos pelo elevador e
vamos caminhando até a escolinha.
É claro que eu iria escolher uma escola próxima a mim.
Meu filho está tão lindo em seu uniforme verde e branco,
com sua mochila do Mestre Yoda um pouco aberta na lateral, e sua
lancheirinha. Sem contar o sorriso enorme em seu rosto.
Ao chegarmos na porta do colégio, ele pestaneja um pouco
e se vira para nós com um pouco de nervosismo estampado em seu
rostinho.
— Mamãe, eu posso conversar com o papai sozinho? —
Meu filho quer saber.
— Mas é claro, meu amor. — Me abaixo para beijar o seu
rosto. — Tenha um ótimo primeiro dia de aula, pequeno. — Saio
dali, mas paro próxima aos dois, fingindo que estou mexendo no
meu celular.
Assim que percebe que “não estou prestando atenção” na
sua conversa com Henrique, Joaquim se volta para ele.
— Pai, posso te fazer uma pergunta?
— Todas que você quiser, meu amor. — Hique se agacha
para ficar na linha de visão do nosso bebê, sua voz calma em um
tom sempre amoroso e carinhoso, e eu quero abraçá-lo, mas
supostamente não estou ouvindo nada.
— É normal sentir medo de ir para escola? — Sua voz sai
tão baixinha que quase não escuto.
— É claro que sim, filho. Todo mundo sente medo do
desconhecido. Mas sabe de uma coisa? — Quim nega com a
cabeça. — Algumas das melhores coisas da vida, são as que dão
medo na gente.
— Sério? — Ele leva as mãozinhas até as bochechas
espantado.
— Uhum! Foi assim quando conheci a sua mãe — meu
marido conta e eu quero muito beijá-lo agora.
— Tá certo, papai. Eu entendi o que quis dizer. A mamãe às
vezes é assustadora mesmo — diz, e eu comprimo os lábios
prendendo o riso e creio que Henrique faz o mesmo. — Mas aí, é só
dar sorvete de flocos com creme para ela, que ela vira a melhor
pessoa do mundo todo.
— É verdade, campeão. — Mexe nos cabelos do filho,
bagunçando-os um pouquinho. — E aí? Pronto para entrar?
— Sim! Mas você vai comigo, né? E a mamãe também? —
Vou andando até eles, assim que pergunta por mim.
— Até a porta, sim. Depois dali é com você, campeão. —
Henrique pega na mão do Quim e eu pego na outra e juntos
entramos no colégio para deixá-lo em sua sala.
— Filho? — chamo antes de ele entrar. — Me dá o Luke aqui
— peço e ele ri sapeca.
— Tá bom, mamãe. Desculpa. Eu queria um amiguinho
comigo no meu primeiro dia. — Tira o gato de dentro da mochila e
Henrique só falta desmaiar de desespero.
Mas eu tenho quase certeza que se Luke falasse, a ideia de
vir até aqui seria dele.
Joaquim nos entrega o bichano, meio contrariado.
Pego o gato que parece não querer ir com a gente para ficar
de olho no meu filho e quero muito chorar, mas preciso esperar que
entre porque não quero que ele veja.
Damos tchau para o nosso menino, que acena de volta feliz
e nos viramos para ir embora com o coração apertadinho, mas
repleto de felicidade.
— Obrigada! — digo para Henrique.
— Pelo quê?
— Por ser o melhor pai que o nosso filho poderia ter —
respondo, o abraçando de lado enquanto caminhamos para fora
dali.
— Vocês são o meu sonho realizado, linda. Não há um dia
em que eu não agradeça ao Universo por tê-los comigo. — Beija a
minha bochecha e enfim deixo uma lágrima de alegria cair.
— Eu te amo, Hique!
— Eu te amo mais, meu amor!

FIM!
Uau! Escrever esse livro foi uma loucura. E são tantas
pessoas a agradecer que nem sei por onde começar.
Agradeço ao meu marido, que me dá força, enche minha
garrafinha d'água, faz café para mim e apoia o meu trabalho
completamente, ainda que não seja consumidor dele.
A minha mãe e minhas tias que são modelos de resiliência e
de maternidade.
A minha prima e primeira amiga que tive na vida, Gisele, que
me emprestou meu afilhado, Caio, como modelo para o Joaquim.
Onde estiver… estarei contigo.
A Ka Peixoto, que mais do que uma amiga é uma irmã que a
vida me deu. Obrigada por estar comigo sempre. Te amo!
As minhas betas e amigas, que me ajudaram, aconselharam
e seguraram em minha mão mais vezes do que posso contar, Ayla,
Raw, Bruna Renata, Mary, Isah, Lya, Bruna Daltro e Cathy!
Obrigada, obrigada e obrigada! Vocês são especiais demais.
As minhas meninas, Larissa e Helena, não sei o que seria de
mim sem a ajuda e o trabalho de vocês.
A Mirlla Muniz que está lançando um livro junto comigo e
que mesmo assim me ajudou com o meu lançamento. Inclusive,
para quem quer saber, o livro se chama: Todas as vezes que te vi
sorrir e está disponível na Amazon e no Kindle Unlimited.
A minha revisora e amiga, Liliane. Te amo, Tan Wenjun.
Obrigada por estar comigo sempre. Você é a maior que nós temos.
Ao meu pai que está no céu olhando por mim. Te amo, véio.
As meninas da minha parceria que fizeram um trabalho lindo
postando conteúdo do meu livrinho para que ele pudesse chegar em
mais pessoas.
E a você leitor, saiba que não seríamos nada sem o apoio de
vocês.
Com carinho e muito amor no coração,
Evelyn Fernandes.

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