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J. Michelet - O Povo
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1.-1. Rousseau - O Contrato Social
N. Machiavelli - O Príncipe
O POVO
Jules Michelet
Prefácio e notas de
Paul Viallaneix
Martins Fontes
, .. 3c&
M6Q/�,
Tradução: Gilson Cesar Cardoso de Souza
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII
Exame do manuscrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . XLIII
.
A Edgar Quinet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
I. Servidões do camponês . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . 27 . . . . .
1. A amizade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 73
II. Do amor e do casamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
III. Da associação . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 87
IV. A pátria. As nacionalidades desaparecerão? . . . . . 1 95
V. A França . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
VI. A França superior como dogma e como lenda.
A França é uma religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
VII. A fé da Revolução. A Revolução não conservou
a fé até o fim e não transmitiu seu espírito
por meio da educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
VIII. Não h á educação sem fé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
IX. Deus na pátria. A jovem pátria do futuro. O
sacrifício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
Paul Viallaneix
EXAME DO MANUSCRITO
Primeira parte
Capítulo I
Capítulo VII
p. 96):
Conforme o texto impresso, no que concerne à alínea:
"Quanto ao comunis mo . . . que não vão amanhã renunciar
à posse." (p. 97), a mrsão 1 só torna a retomá-la na
página 101 : "De minha parte, espero que a ciência que
cultivo , a história , se revitalize nessa vida popula r" ( 1 •er
são J : " Para mim, esta é minha esperança. A história,
meu querido estudo, espero que irá se reavivando nesta
vida popular . . . " ) , e não difere dela até o fim do capítulo .
Versão 2: Forneceu ao livro numerosos desenvolvi
mentos, retomados, é verdade, numa ordem inteiramen
te diversa: Outros, em compensação, foram abandonados
ou sensivelmente transformados. Eis os principais:
Página 95, após: " ... da maior parte dos monumentos
do século XVII", pode-se ler:
"O mal da nossa burguesia atual, embora freqüente
mente muito vaidosa, é ainda menos a vaidade que o
medo.
L O POVO
Segunda parte
Capítulo I
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VIII
Capítulo IX
Página 1 69, após: " . . . o que eu tinha: uma voz . . . ", o ma
nuscrito comporta um longo desenvolvimento:
"No entanto eu buscava. Essa cidade do Direito, dizia
a mim mesmo, que hei de encontrar na história, se Deus
colocou neste mundo um tipo obscuro, uma sombra de
la foi sem dúvida no coração do homem. A união social
d�s povos e das classes pode modelar-se sobre outra
coisa que não a unidade moral que se encontra entre
as potências de uma alma, sobre essa harmonia de facul
dades que assim se exprime em suas obras? E eu olhava
para dentro de mim, e acreditava já ver aí a sombra da
LVI O POVO
Terceira parte
Capítulo I
Capítulo I I
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Página 206, após: " ... , não quer falar. " , o manuscrito
continua:
"Os produtos materiais da França que eu vos poderia
mostrar, os resultados duradouros de seu trabalho nada
são em comparação com seus produtos invisíveis. Estes
foram quase sempre atos, movimentos, palavras. Sua lite
ratura escrita (a primeira, portanto, a meu ver) está lon
ge, bem longe abaixo de sua palavra, de sua conversação
brilhante e fecunda. Sua fabricação de todo gênero nada
é perto de sua ação. Por máquinas ela teve homens herói
cos, por sistemas homens inspirados. Essa palavra, essa
ação não são coisas improdutivas? E é precisamente isso
o que coloca a França tão alto. Ela chegou à perfeição
nas coisas do movimento e da graça, nas coisas que não
servem para nada.
"Acima de tudo o que é material, tangível, começam
os imponderáveis, os inapreensíveis, os invisíveis . . . 'Não
tenho nem ouro nem prata', poderia dizer a França ao
EXAME DO MANUSCRITO LXI
e
46
n
o
m
A EDGAR QUINEI
(a) Nada mais verdadeiro, pelo menos em 1846. que essa afirmação. A amiza
de dos dois homens remontava à sua juventude e nunca foi desmentida Iniciados
por Cousin na filmofia da história. Michelet traduziu em 1827 os Pr111cípios
da jilosofia da história. de Vico, e Quinet as Idéias. de Herder Voltaram a
se encontrar no Collége de France em 1 842: iuntando seus esfo rços contra o
partido clerical, recolherarr• num volume único (Desjésuites) seus respectivos
cursos de 1843. Quinet, a 28 de julho de 1845, dedicou le christianisme et
la rét'Olution a seu colega. Michelet retribuiu com O f">"O. Mas a solidariedade
dos dois amipos iria continuar. Em 1 857, reeditando le cbristianisme et ta rét·o·
lution, Quinet Jará ao prefácio de Opol'o uma digna réplica: "A partir do instante
em que nos conhecemos. qual acaso fez com que, separados ou próximos,
não tenhamos cessado de pensar ao mesmo tempo, de crer e não raro de imagi·
nar a:, mesma<.; coisas, sem necessidade de nos falarmos? Essa harmonia de
alma sempre foi para nós a confirmação da verdade: após trinta e um anos,
esse combate nos reúne . . . "
2 O POVO
porque ele sou eu. Por suas origens militares, pela mi
nha, industrial ª, representamos, como outros talvez, as
duas modernas faces do Povo e seu recente advento.
Este livro eu o fiz de mim mesmo, de minha vida e
de meu coração. Brotou de minha experiência, muito
mais que de meu estudo. Tirei-o da observação, das rela
ções de amizade e vizinhança; coligi-o ao longo dos cami
nhos; o acaso gosta de servir àquele que persegue sem
pre um mesmo pensamento. Enfim, encontrei-o sobre
tudo nas recordações de juventude h_ Para conhecer a
vida do povo, seus trabalhos, seus sofrimentos, basta
va-me interrogar as lembranças.
Pois eu também, amigo, trabalhei com as próprias
mãos. Mereço, em vários sentidos, o verdadeiro nome
do homem moderno, o nome de trabalhador. Antes de
escrever livros, eu os compus materialmente e; juntei ti
pos antes de juntar idéias, não ignoro as melancolias da
oficina, o tédio das longas horas . . .
Triste época' Eram o s derradeiros anos d o Império;
tudo parecia perecer ao mesmo tempo para mim, família,
fortuna e pátria.
Tudo o que tenho de melhor, sem dúvida nenhuma,
devo a essas provações; a elas deve ser çreditado o pouco
que vale o homem e o historiador. Delas guardei sobre-
(a) Michelet pensa sem dúvida. a julgar pela interpretação que proporá na
época de L '<1mour e La femme ( 1858- 1 859), nos primeiros romances de George
Sand, Indiana e Lélia
(h) Reconhece-� facilmente Les mystéres de Paris, de Eugene Sue .
(e) Balzac. Lesparsans, lido em 18 e 19 de fevereiro de 1 8 4 5 , pouco depois
da decisão de escrever O poro, causou em Michelet uma ··má impressão ..
O 7
A EDGAR QUINET
s
Povo algum resistiria a semelhante prova. Essa mania
ê
singu lar de denegrir a si mesmo, de exibir suas feridas
e como que procurar a vergonha seria mortal com o
tempo. Muitos, eu o sei, amaldiçoam assim o presente
para apressar um futuro melhor; ex�geram os males para
m .
nos fazer gozar mais depressa a fehc1dade que suas teo
a
rias nos preparam 1. Cuidado, porém, cuidado! Esse jogo
é perigoso. A Europa não está informada de todc:s es�es
artifícios. Se nos dizemos desprezíveis, ela podera muito
bem acreditar. A Itália ainda era uma grande potência
no século XVI. A terra de Michelangelo e Cristóvão Co
lombo tinha força. Mas, quando se proclamou miserável
e infame pela voz de Maquiavel, o mundo a tomou ao
pé da letra e a pisoteou.
Não somos a Itália, graças a Deus, e o dia em que o
mundo concordasse em vir ver a França de perto seria
saudado por nossos soldados como o mais belo de suas vidas.
(a) Michelet já invocara sua primeira visita ao museu ( instalado por I.enoir
sob as abóbadas do claustro dos Pequenos Agostinianos. cuja Escola de Belas.
Arte., passara a ocupar o local desde 1820 ) , na aula inaugural de seu curso
de 1843 no Collége de France. proferida a 29 de daembro de 1 842: "Todas
essas figuras, isoladas nas igrejas, reunidas nos museus, já não dizem nada.
Lá, entre si, numa soc�edade de seu tempo e ,,egundo seu coração, elas falavam.
elas nos falavam e falavam umas com as outras .. . "
(b) A oficina do pai de Michelec dava, de um lado, para o boulei·ard Saint·
Martin, e de. outro, num nível i nferior, para a Rue de Bondy
A EDGAR QUINET 15
dever que lhe agradara, descia de sua cátedra e yinha, com um movimento
de encantadora 'ensíbilidade, sentar-se à minha carteira, ao meu lado.
!. Deixei-a a contragosto em 1837, quando nela a influência eclética predo
minou. Em 1838, o Instituto e o Collége de France me elegeram igualmente,
e obtive a cátedra que ocupo.
VO A EDGAR QUJNET 19
e 24 de janeiro de 1 846
e
s
e
e
s
PRIMEIRA PARTE
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO
SERVIDÕES DO CAMPONÊS
(a) Michel Particelli, senhor de Emery, escolhido por Mazarino para gerente
das finanças em 1643.
32 O POVO D
!. O camponês não está liberado. Eis que, depois do padre, vem caluniá-lo
o artista, o artista neocatólico, raça impotente de choramingas da Idade Média
que só salie derramar lágrimas e copiar ... Derramar lágrimas pelas pedras, pois :
quanto aos homens, que morram de fome se quiserem. Como se o mérito dessas
pedras não estives.'!e no fato de lembrarem o homem e de trazerem-lhe a marca.
Para essa gente, o camponês não passa de um demolidor. Cada parede velha
que ele põe abaixo, cada pedra que seu arado desloca, era uma ruína incom
parável.
O J JA SERVJJJÂO E DO ODJO 39
(a) O termo ··judeu" é tomado em seu sentido mais comum. tal como Tous
senel o define no panfleto: Les jwf<, rois de /"époque, lido por M ichelet em
15 de agosto de 1845: ''Previno o leitor de que essa palavra é aqui empregada,
em geral, na sua acepção popular de judeu, banqueiro, agiota."
40 O POVO D
!. Paralisa-se e até recua. O Sr. Hippolyte Passy assegura (Mém. Acad. polit.,
II, 301) que, de 1 815 a 1 835, o número de proprietários, comparado ao do
resto da população, diminuiu em 2,5%, ou seja, 1140 Ele se baseia no recensea
mento de 1 8 1 5 . Mas será esse recenseamento exato' Será mais sério do que
o de 1826, do que os cálculos do movimento populacional no tempo do Império,
etc.' V Villermé,journal des economistes, n� 42, maio de 1845.
42 O POVO
1. E lhe vendem por preço exorbitante sua única vaca e seus bois de tiro.
Os criadores dizem: Não há agricultores sem esterco, nem esterco sem gado.
Estão certos, mas contra si mesmos Não mudando nada e não melhorando
nada ( salvo no que diz respeito à produção de artigos de luxo e a algumas
pequenas glórias), mantendo os preços altos para as qualidades inferiores. impe
dem todas as regiões pobres de adquirirem os pequenos rebanhos de que neces
sitam, de obterem o esterco que lhe é necessário; homem e terra, não podendo
reparar suas forças, vão enlanguescendo de esgotamento.
2. Pelo Cálculo de Paul-Louis Courier, um arpent de vinha proporcionava
150 francos ao plantador e 1300 ao fisco. Isso é exagero. Mas, em contra-partida,
cumpre acrescentar que esse arpent está hoje muito mais endividado do que
em 1820. - No entanto. não há profiS>ão mais penosa, nem que faça mais
jus a seu salário. Cruzai a Borgonha na primavera ou n o outono; estareis atraves
sando quarenta léguas de uma terra revolvida, arada, podada, replantada, trans
plantada duas veze(i por ano. Quanto trabalho!. .. E tudo para que em Bercy,
em Rouen, esse produto, que custou tanto, seja falsificado e desonrado; uma
arte infame calunia a natureza e o bom licor; o vinho é tão maltratado quanto
o vinhateiro. }
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 43
vida mais folgada e sofrem infinitamente quando chega a hora de voltar à pobre
vida de antes; muitas se fazem domésticas para não deixar a cidade, nãn voltam
para o marido, a família se desfaz.
!. Distinção tão claramente estabelecida na obra do estimado (e saudoso!)
Buret: De la misére, etc., 1840. Talvez tenha ele acolhido nessa obra, com dema
siada facilidade, os exageros das pesquisas inglesas.
46 O POVO DA
(a) Sobre o lirismo desses tecelões das Flandres, ver Histoire de France,
livro X, cap. 1: "Filipe, o Bom, Guerra de Flandres": "Esses operários eram
chamados beghards (os que suplicam) ou /ollards, devido às suas piedosas canti-
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 53
gas, seus cantos monótonos como os da mulher que embala uma criança. O
pobre recluso se sentia sempre pequeno, sempre criança, e entoava uma cantiga
de ninar para adormecer a vontade inquieta e gemente aos pés de Deus . ..
1 . O testamento dos tecelões de Rouen e o notável livrinho escrito por um
deles, Noiret, Mémoires d'un 0U1rier rouennais, 1836. Ele declara que já não
se aceitavam aprendizes
(a) Ne.<Se arrabalde de Londres, nas imediações de White Chapei, hugue
notes franceses haviam encontrado refúgio e instalado oficinas de tecelagem.
54 O POVO
!. Villermé,
Tableau de /'état physique et moral des ouvriers des manufac
tures de coton, etc. ( 1 840). Vimo-los, em novembro de 1839, por ocasião de
uma crise de desemprego que forçava o proprietário a conservar apenas os
operários mais antigos, solicitar que o rrabalho e o salário fossem divididos
enrre rodos para evirar as demissões, r. II, p. 71. Ver rambém 1, 89, 366-369,
e II, 59, 113. - Muiros deles, acusados de concubinarb, se casariam se rivessem
o dinheiro e os documenros necessários, 1, 54, e II, 283 (cf. Frégier, II, 160).
- À afirmariva de que os operários das manufaruras ganhariam o basrame
se fizessem melhor uso de seus salários, opomos a observação judiciosa de
Villermé (II, 4). Para que ganhem o suficienre é preciso, segundo ele, a ocor
rência de quarro co(:;as. que se comporrem sempre bem, esrejam sempre empre
gados, que cada família renha no máximo dois filhos, e, finalmenre, que não
apresenrem nenhum vício . . São quarro condições que muiro raramente se en
contrarão.
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 59
III
SERVIDÕES DO OPERÁRIO
!. Falamos mais atrás (p. 45) do salário dos operários das manufaturas. Se
quisermos escudar o salário em geral, veremos que essa questão tão controversa
se reduz a isto: os salários aumentaram , dizem alguns, e com razão, pois partem
de 1 789 ou antes; os salários não aumentaram, afirmam outros, também com
razão, pois partem de 1824. A partir de então os operários das manufaturas
passaram a ganhar menos, e os outros tiveram apena> aumentos ilusórios; como
o valor do dinheiro mudou, quem ganha o que ganhava na época recebe na
realidade um terço a menos; quem ganhava e ainda ganha 3 francos recebe
apenas o valor de 2. Acresce que, como as necessidades aumentaram na propor
ção das idéias, ele sofre por não ter mil coisas que então lhe eram indiferentes.
Os salários são bem altos na França, em comparação com a Suíça e a Alemanha;
mas aqui as necessidades são bem mais intensamente sentidas. A média dos
salários de Paris, que os Srs. Faucher e L. Blanc fixam igualmente em 3,50
francos, é suficiente para o celibatário e u m tanto insuficiente para o homem
casado que tem filhos. Dou aqui a média geral dos salários que vários autores
tentaram fixar para a França depois de Luís XIV; entretanto, ignoro se é possível
estabelecer uma média para elementos tão variados:
1698 (Vauban). . . . . . 1 2 sous
1738 (Saint-Pierre) . . . . . 16 sous
1788 (A Young ) . . 1 9 sous
1 8 1 9 (Chaptal) . . . . . . . . . . ... . . . . . 25 sous
1832 (Morogue) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 sous
1840 (Villermé). . . . . . . . .. . . . . .. . . 40 sous
Isso para a indústria das cidades. No campo, os salários aumentaram muito
pouco.
62 O POVO
(a) Charles Poncy, nascido e falecido em Toulon ( 1821 -1891 ) . Pedreiro, des
cobriu sua vocação poética lendo Athalie. Em 1846, publicou diversas coletâneas•
Poésies ( 1 840), Marines ( 1 842) e Le chantier ( 1844), com prefácio de George
Sand, que celebra o nascimento recente e promissor de uma poesia operán a•
"'Uma verdadeira explo�ão do gênio poético da França proletária ... Foi preciso
povo
gritar• o Parnaso foi invadido; os iletrado� lhe forçaram as portas; e esse
s, começa
audacioso que outrora sonhava apenas em demolir castelos e bastilha
d
agora a e ificar templo s à' Musas sobre o solo fecundo de seu
sangue e de
seus suores.
68 O POVO
dia que
já passara), era man ifestamente o encanto do
0 desl umb rava , o enc anto
do doce sol !
Ciência bárbara, duro orgulho, que rebaixa tanto a na
tureza anim ada e separa a tal ponto o homem de seus
irmãos infer iore s!
Digo-lhe em lágr ima s: "Pobre filho da luz, que a refle
e,
tes em teu canto, como tens razão em cantá-la! A noit
cheia de embustes e perigos para ti , parece-se muito com
a morte. Possas ver a luz de amanhã! . . . " Depois, passando
,
em espírito de seu destino ao de todos os seres que
das profundezas da criação, sobem tão lentamente para
!
a luz, digo como Goethe e o passarinho: "Luz, Senhor
Mais luz ! "
IV
SERVIDÕES DO INDUSTRIAL
tao
Se operários puderam se elevar a uma exploraçao
vasta, tão complicada como a das grandes manu
�aturas,
ao, que
não será difícil acreditar, e com mui to maior raz
Possam ter se tornado donos d e md ustn
·
' as que exigem
·
,
tem
f. as e com er
capital bem menor, pequenas fábricas, o
·
70 O POVO
valia, e que. ao contrário, é ohrigado a pagar ao.-, operário.-, uma diária maior.
Ora, não tarda que essa diária maior lhe pareça o preço dos acidentes que
teme. Os seguros adicionais parecem-lhe acima de suas possibilidades. Além
do mais,. o operário ferido não é. dos mais ant1gos n a ohra; o doente não é
dos mais hah° H idnsos, dos mais úteis, etc. Isto é, o corµção vai ,.,e endurecendo
por hábiro, não raro por necessidade, e toda caridade logo se extingue, o peque
no ., eguro concedido já não é mais repartido rigorosamente por todos, e o
único resultado de todas as emoçües generosas responsáveis por quadros tão
tristes se reduz a a lguma!>gratificaçües concedidas arbitrariamente e calculadas
não de acordo com ·;,i( necessidades reais das famílias esmagadas, mas com
o lucro a tirar da obra ou dos trabalhos do empresário.
J. A diferença entre o pai e o filho é que este, não tendo sido operário,
conhecendo menos a fabricação, �ahendo menos os l imites do possível e <lo
impos�ível, é muitas vezes cruel por causa da ignorància.
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 75
SERVIDÕES DO COMERCIANTE 1
o povo, mas
a embriaguez, não é o crime de envenenar
0 de avi ltá- lo. O ho me
m cansado do trabalho entra con
aço de liber
fiante na taberna, que am a como seu esp
ha. A mi stu ra
dade· pois bem, o que encontra? Vergon
vinho pro�uz
alcoÓl ica que lhe servem com o no me de .
la da �eb1 da
um efeito que um a quantidade dup la ou tnp
do seu cerebro,
verdadeira não pro duz iria ; ela se apo ssa
s movimentos.
turva seu espírito, trava sua língua e seu
rua pelo taber
Bêbado e de bolsos vaz ios , é atirado à
ao ver um a
neiro . . . Quem não sente o coração apertar
e aquecer no
pobre vel ha que tragou o veneno par a �
ado,. em" Jog , e da bar -
. uet
inverno transformar-se, nesse est .
VI
SERVIDÕES DO FUNCIONÁRIO
VII
1. A França não tem espírito mercantil. salvo nos momentos ingleses ( como
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 95
1 . A França não rem espírito mercantil, salvo nos momentos ingleses ( como
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 95
VIII
1. Mas devo antes ajudar e preparar esse jovem. Por isso prossigo o meu
trabalho histórico. Um l ivro é um meio de fazer um livro melbor.
DA SERVIDÃO E DO ÓDIO 1 03
1. Nem penso em contestar. ( Ver mais acima, pp. 54-55. ) Quem desejaria
voltar aos tempos de impotência, quando o homem não tinha máquinas'
JJA SERVllJÃO E IJO ÓDIO 1 09
A NATUREZA
O INSTINTO DO POVO,
POUCO ESTUDADO ATÉ HOJE
l. E nesse núme
ro os operários de fábricas constituem parcela mírnma.
1 18 O POVO
co. Eram estas: "Legihus fidus, non regihus. " Fiel às leis,
não aos reis 1 " • • •
II
1. Eis aqui a inscrição completa, tal como a li. ou acreditei ler, pois estava
quase completamente apagada sob um musgo de três séculos: W. Harter. Legibus
fidus, non regibus. }ar zuar. 1588.
(a) A visita à capela de Holyrood e a descoberta das duas tumbas e da inscri
ção latina estão relatadas no }oun1al de 22 de agosto de 1 834.
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A NATUREZA 121
1 . Para citar um exemplo, eles não quiseram ver que a questão penitenciária
dependia da questão da instrução pública. Quer se rrare de formar ou reformar
o homem . edificá-lo ou reedificá-lo, não é o pedreiro, mas sim o professor
que o Estado deve convocar: o professor religioso, moral, nacional, que falará
em nome de Deu.s e em nome da França. Vi criaturas miseráveis, aparentemente
desesp eradas, cegas ao sentimento moral e religioso, conservarem ainda o senti
mento da pátria.
(a) Heródoto, História, II, 84: "A arre da medicina é rão especializada entre
eles que cada médico se consagra a uma única moléstia, e um mesmo médico
não rrara de várias. Há então entre eles grande variedade de médicos Uns cuidam
dos olhos, outros da cabeça, outros dos dentes, outros do ventre, outros das
doen ça..;; venéreas."
122
O POVO JJA
III
IV
OS SIMPLES.
A CRIANÇA, INTÉRPRETE DO POVO
(a) Michelet, com efeito, viu agonizar sua mãe ( 9 de fevereiro de 1 8 ViJ,
seu amigo Poinsot ( 14 de fevereiro de 182 1 ), a esposa Pauline ( 24 de julho
de 1 8 39 ) e seu "anjo branco", Madame Dumesnil ( 3 1 de maio de 1842 ).
< h ) Recordação do dia 3 de abril de 1842, domingo, passado à cabeceira
de Madame Dumesnil ( ver o journal de 4 de abril ).
1 "O antepassado recebe a criança quando ela sai do sangue materno . . . Eis-te
renascida, ó minha alma, para dormir de novo num corpo." (Leis indianas, cita
das em meu Origines du droit. ) � Sem admitir a hipótese da transmissão das
almas (e menos ainda a da transmissão do pecado), somos tentados a acreditar
que nus.-,us instintos primários .-,ão o pen.-,amento do:, ancestrais, que o jovem
\'iandante leva como provisão para a jornada. Acrescema�lhe muita coisa. Se
descarto as teorias, se fecho os livros para observar a natureza, vejo o pensa
mento brotar em nó.-, qual instinto obscuro, cre:,cer na meia-escuridão, ilumi
nar-se e mostrar-se à luz plena da reflexão; depois, formulado e cada vez mais
aceito como fórmula, passar para os háhito,..,, para as coisas que nos são própria,..,,
que iá não examinamos, e, de novo ohscurecido, integrar nossos instintos.
138 O POVO
CONTINUAÇÃO.
O INSTINTO NATURAL DA CRIANÇA É PERVERSO? 1
punições que infligimos à sua mobilidade, aliás desejada pela natureza; falo
da inepta dureza que nos faz atirar bruscamente, e sem precaução, em frias
abstrações, um ser jovem, mal saído do leite e do sangue maternos, tépido
ainda, e que só pede para desabrochar.
!. Este capítulo, que espíritos desatentos julgarão estranho ao tema. constitui
seu próprio fundamento. Ver pp.166-167.
O POVO DA LIB
140
ª Idade Média agonizante do século XV. Julgue-se por este trecho: "De tantos
.
nsos, o que restou' Só o agravamento dos males, o desencorajamento, o deses
pe ro do bem, o tédio e a náusea. Parece que caiu o dia; a atmosfera não é
negra. mas cinzenta... Os esforços da falsa jovialidade do século XV. essas tenta
l!vas artificiais e premeditadas de fazer rir, ensombrecem ainda mais o tempo
Que havera de menos alegre do que os moralismos de Brandt e de sua nau
dos insensatos' Diga-se o mesmo das danças da Morte, impressas de todas
as maneiras. Fábulas e alegorias toscas que lembram enfadonhamente a vertigem
frenética de um tempo pelo menos mais vivo: as grandes danças de São Guido '
as rondas de Carlos VI..."
. !. A infidelidade da mulher é tema característico da Idade Média. As outras
e pocas a conheceram pouco. O eterno texto de gracejos, as histórias jocosas
·''.'podem entristecer quem conhece e sabe. Fazem sentir bem o prodígios ;
ted10 daquele tempo, o vazio das almas sem alimento adequado à sua fraqueza.
a prostração moral, o desespero do bem, o abandono de si mesmo e da própria
.salvação.
O POVO DA
142
ad
sino, e, apenas um número muito pequeno de pessoas
me
podia realmente obtê-lo. Ela condenou o instinto natural
ao
como perverso e corrupto na origem, fazendo da ciência,
salv
da metafísica, de uma fórmula muito abstrata, a condição
abs
da salvação 1•
am
Todos os mistérios das religiões da Ásia, todas as sutile
feli
zas das escolas ocidentais, numa palavra, tudo o que o
F
mundo contém de dificuldades do Oriente e do Oci
tas
dente, tudo comprimido, amontoado numa mesma fór
e,, u
mula! "Está bem", diz a Igreja, "é o mundo inteiro numa
her
taça prodigiosa. Bebei-a em nome do amor!" E ela traz, s�a
em apoio à doutrina, a história, a lenda comovente; é bio
o mel nas bordas do copo. . . r:io
" O que quer que ele contenha, beberei, s e de fato tivo
o amor estiver no fundo . " Tal foi a resposta do gênero flu
humano. Essa foi a verdadeira dificuldade, a objeção, e R
foi o amor quem a fez, não o ódio, a soberba humana, com
como se diz sempre. dad
A Idade Média prometeu o amor e não o deu. Disse: �m
"Amai, amai" 2, mas consagrou uma ordem civil odiosa, .
sist
que
!. Se respondemos que os espíritos não cultivados (o que, para a época,
quer dizer todos, ou quase) estavam dispensados de comparecer. será preciso cora
confessar que um enigma tão terrível impunha, soh pena de danação, a ahdicação
Que
1
geral da inteligência humana em favor de alguns doutos que acreditavam sahê-lo.
Vede o resultado. Posto o enigma, cercado de comentários não menos ohscuros, Enqu
o gênero humano se cala, permanece diante dele mudo e estéril. Durante um ?
P ri
período imenso, tão longo quanto o período hrilhante da antigüidade, do século pode
V ao século XI, o gênero humano mal arrisca algumas preces, algumas lendas do d
infantis, movimento que tamhém é contido pela proihição expressa dos concí difíc
lios carlovíngios. dout
2. Não apenas dissera, como sinceramente o quisera. Essa tocante aspiração last ic
ao amor é que faz o gênio da Idade Média e que assegura nossa eterna simpatia. .
P 3Iia
Não retiro uma palavra do que disse no segundo volume de Histoire de France. _
te-l a
Lá mencionei o impulso, o ideal; aqui, num livro de interesse prático, só posso drata
referir-me ao real, aos resultados. - Exprimi (no final do mesmo volume, im e" do
presso em 1833) a impoiência desse sistema e a esperança de que escapasse conc
à sua ruína, logrando transformar-se. - O quanto ele está distanciado de nós, nan10
vimo-lo a 1 1 de maio de 1844, quando, na Câmara, um magistrado sincera e
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR A NATUREZA 143
VI
�ºL"
e consoladore,1, os
_ filho,.., mais humildes da natureza. os animai..,; inocentes. De
de invocar todos os deuses campestres para que amenizassem a ferida
0 poeta doente de amor: Suas 01•elhas também o rodeai·am. E em seguida
num ge .sto
encantador, temendo ferir o orgulho de Galo: Nostri nec paenite ;
zl!as: 1ux te paeniteat pecon:..,�, dit•in poeta
e u
n.- (a) Virgílio, Bucólicas, X, 16-17: "Elas não nos desdenham. e tu, divino poeta,
ao de,..,p rezes o rebanho .,
148 O POVO
trabalho que ele realiza junto do homem. Essa é, talvez, a causa de a Idade
Média ressurgir sempre depois de tantas ruínas terríveis.
1. O jesuíta Bongeant" ohjetou que os animais deviam ter uma alma porque
eram demônios
2. Gloriosamente continuado por seu amigo e por seu filho. os Srs. Serres p
e Isidore Geoffroy Saint-Hilaire. Vejo com alegria uma juventude cheia de futuro m
a prisão . fr
JJA IJBERTAÇÀO !'ELO AMOR. A NATUREZA 153
VII
1. 1'ossa era mecanicista. 4ue quer máquinas por rodo lado, devia perceber,
parece. que, mesmo que nada mais sejam, os animais são, seguramente, as pri
meira., máquinas. fornecendo, além de grande quantidade de força positiva,
uma outra força infinita, ine!'itimável, que resulta (!-ie não quisermos dizer da
alma) da animação da vida. Parece então que devíamos retomar o estudo e
a dom e.,tica,·ão dm animais. Ver o belo artigo "Domestication " , de lsiclore Geof
fro1 Saint-Hilaire, na fi11crclopédie no111·elle, ele Leroux e Reynaud.
154 O POVO
VIII
O NASCIMENTO DO GÊNIO.
TIPO DE NASCIMENTO SOCIAL
IX qu
ou
REVISÃO DA SEGUNDA PARTE. ta
INTRODUÇÃO À TERCEIRA qu
po
Deixei-me arrastar para longe, longe demais talvez, cu
pelo coração. cr
Queria caracterizar o instinto popular, mostrar-lhe a os
fonte vital onde as classes cultivadas devem buscar hoje nã
seu rejuvenescimento; pretendia provar a essas classes, tã
nascidas ontem e já desgastadas, que elas precisam apro
ximar-se do povo de onde saíram. ba
Para encontrar o gênio desse povo desfigurado por de
seus males e alterado por seu próprio progresso , foi pre m
ciso que eu o estudasse especialmente em seu elemento O
mais puro, o povo das crianças e dos simples. É aí que có
Deus nos conserva o depósito do instinto vivo, o tesouro e
da eterna juventude. da
Mas esses simples, essas crianças que em meu livro de
eu convocava para testemunharem em favor do povo, no
acabaram por pleitear em seu próprio nome. Eu os ouvi; re
promovi, como pude, a vingança dos simples contra o m
desprezo do mundo. Defendi a criança provando que ça
a dureza da Idade Média continuava a pesar contra ela. no
Como?! Rejeitastes, na fé e na vida, o fatalismo cruel
que supunha o homem culpado ao nascer de uma falta di
que não cometera; e, quando se trata da criança, voltais te
a essa idéia; castigais o inocente; deduzis, a partir de so
uma hipótese cada vez mais abandonada, uma educação po
de suplícios. Sufocais, amordaçais esse jovem profeta, ze
esse José, esse Daniel, o único capaz de decifrar vosso qu
enigma, de interpretar vosso sonho oculto. co
Sustentando que o instinto do homem é mau, corrom qu
pido por natureza, que o homem só vale na medida em qu
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A NATUREZA 167
Quem não faria votos por esse grande povo, que, das
baixas e obscuras regiões, vai aspirando e subindo às
apalpadelas, sem luz, sem sequer uma voz para gemer? . . .
Entretanto, seu silêncio fala . . .
Diz-se que César, navegando pelas costas da África,
adormeceu e teve um sonho: via como que um vasto
exército a chorar e a estender-lhe os braços. Ao desper
tar, escreveu em suas tabuinhas de cera: Corinto e Carta
go. E mandou reconstruir essas duas cidades.
Não sou César, mas quantas vezes tive o sonho de Cé
sar "! Via-os chorar, compreendia suas lágrimas: Urhem
orant. Querem a Cidade! Exigem que ela os receba e
proteja . . . Eu, pobre sonhador solitário, que poderia ofe
recer a esse grande povo mudo? O que eu tinha: uma
voz. . . Seja essa sua primeira entrada na Cidade do direito,
de que foram excluídos até hoje.
Fiz falarem neste livro aqueles que nem sequer sabiam
que tinham algum direito no mundo. Todos aqueles que
gemem ou sofrem em silêncio, tudo o que aspira e sobe
na vida, são o meu povo . . . São o Povo. - Que venham
todos comigo.
E eu que não posso engrandecer a Cidade, para que
ela seja sólida! Ela oscila, desaba, pois é incompleta, ex
clusiva, injusta. Sua justiça é sua solidez. Caso só queira
ser justa, nem mesmo justa será: cumpre que seja também
santa e divina, fundada sobre o único Fundador h.
Ela será divina se, em lugar de cerrar ciumentamente
(a) Esse sonho é relatado por Plutarco e m Vida de César. !.Vi l . Vale a pena
ler a admirável meditação que ele inspirou a Michelet no jounzal de 30 de
jan eiro de 1842.
(h) Texto ela ediçiio original: · · .fundada pelo único Fundador. " Um erratum
in., ericlo no fim da segunda edição pede que se leia sobre onde se lê pelo.
A corr eção aparece na terceira edição. A escolha da nova preposição dá a enten
de r que "o único Fundador·· da Cidade não é Deus. mas o Povo, tratado, é
verdade, como um deus.
1 70 O POVO
A PÁTRIA
F
n
e
to
b
ví
d
am
d
çã
sã
J a
A AMIZADE
era uma escola, onde a imitação se fazia em sentido descendente; cada qual "ª
te
estudava e copiava o vi>inho de posição superior. Os sentimentos nem sempre
eram servis, ma�-os espíritos o eram. Esse servilismo de imi tação foi sem
, •n
dúvida uma das causas que retardaram a Idade Média e a esterilinram por
Vít
tanto tempo.
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A PÁTRIA 177
II
DO AMOR E DO CASAMENTO
s
( u ) Michelet lembra aqui seus próprios esforços e m educar as criadas de
cas a, part icularmente Victoíre, apelidada Rustica. Ver o }oumul do. anos
1 842- 1 845
184 O POVO DA
es , qu e vos amava
crificastes. A modesta jov em qu e amast
ai-a agora! Foi sáb io ( não. falo de
e aba nd on ast es, lam ent
- a moral tam
E não é apenas o físi co que esmorece
balho persistente,
bém de cai . Como contar para um tra
invenção, com
para os negócios sér ios , para a grande
interesse, servo
um homem vendido ao casamento de
ado a dispersar-se,
de uma mu lhe r e de uma fam ília , obrig
e sua v1· d �·? Q u e
a lançar aos qu atro ventos seu tempo
se pode espera r de um a na ção cu jas �la s�e
.
s dmge?t s �
itaçao do vazio . . .
se consomem em palavras vãs , na ag
1. Como tão hem lhe.> disse o Sr. De Maistre em suas Considérations sur
lu réi'o/ulion.
1 86 O POVO DA
os os tesouros do
ber que perderam aqu ilo que vale tod
mu nd o, o céu e a terra: ser am ado !
III
Ã
DA ASSOCIAÇ O
.
ca caram o ucro aos pes e feriram corajosamente o Baal da Bolsa. o Baal'.
_ o Moloch, o ídolo devorador de homens "
Nao,
( a ) Em !.e htllU/11<'1. redigido em 1854, Miche!et prestará a Fourier a home
nagem aqui anunciad:i.
(b) Alusão ao fo � rierist � Toussenel e a seu panfleto: Lesjuifs, rois de répo
.
que. Hzstozre de la feodaltte /inanciére ( 1845 ).
189
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A PÁTRIA
a, e be m pouco à po-
qu e o faz em consideração à pesso
�� o. -
r mu ita co isa , pe la Re vo luç ao , pe la
O francês passou po
�m ho me m desses,
guerra. Por certo, é difí cil con du zir,
é dif ícil levá-lo a ass oci ar- se.
Por qu e' Precisamente por-
valor.
o qu e, como ind iví du o, ele tem mu ito , .
fer ro em vo ssa gu err a da Afn ca,
Fabricais homens de
qu e constantemente
a um a guerra um tanto ind ivid ual ,
sigo me sm o; sem
obriga o homem a contar apenas con
s ass im , às vésperas
dúv ida , não tendes razão em querê-lo
a. Não vos espanteis
a das crises que aguardamos na Europ
lta, conservarem, em
. então se esses leôes, um a vez de vo
o da independência
bora sub mi ssos aos freios da lei , alg
a selvage m.
se sen tirã o presos
o Previno-vos de qu e tais ho me ns só
a à associação pe lo coração,
pela am iza de . Não espereis
atil •a on de a alma
e que se atrelem a um a sociedade neg
tos sem se am ar, por
não significará na da , que vivam jun
mo fazem, por exem
econo mi a e por doçura natural, co
ue . A soc ied ade coo
a plo, os operários alemães em Zu riq
peratiz•a dos ingleses, que se unem
à perfe içã o para um a
se op on do qu and o
tarefa especi al, em bo ra se odiando e
vém a nó s, fran
seus int ere sse s div erg em , tam po uco con
ade de am igo s;
ceses. A França precisa de uma soc ied
nã o comportar ou tra s constitui sua des
?1
vantage ind s �
. Aq ui, a un1ao
trial ma s também sua sup eri ori dad e soc ial
' r e comunhão
não se opera nem pela nobreza de caráte
res que, com�)
de há bit os, nem pela aspereza de caçado
ar a presa. Aq w,
lob os, se juntam em bando para apanh
a ún ica união possível é a união dos esp írit os.
um a for ma de
Ex isti nd o essa condição, nã o há ne nh
assoc iação que não seja excelente. A questão
dom inan e �
pessoas e as
entre este povo simpático diz respeito às
d isposiç õe s mo rai s. "Os associados se querem bem ?
e em pn- _
Convêm uns aos outros? " - eis o que sempre
1 94
O POVO
:
imposrn p la viol enc ia, e algo
impossível numa época em
unidade forçada,
que a propriedade
se acha mtmitameme divi dida
, e em parte alguma mai s i mpo
ssível do que na
França. - Voltando às form
as possíveis de associação, crei
o que elas devem
diferir segundo as diferentes pro
fissões, as qua is, mais ou menos
complexas,
exigem maior ou menor unid
ade de direção; e diferir também
_ segundo os dife
rentes pazs es, conforme a disparidade dos
gênios nac iona is. Essa observa
�
e sen cial, que desenvolverei
um dia, poderia ser amparad
ção
a por um ime nso
numero de fatos.
2. Nen hu n:
a outrlt época forneceu exempl
os sem elha ntes . Em que sécu
foram vistos tao grandes exé lo
rcitos, ramos m ilhões de hom
ens sofrendo e mor
ren do sem revolta, com doç ura,
em silên cio?
O DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A PÁTRIA 1 95
IV
A PÁTRIA
AS NACIONALIDADES DESAPARECERÃO'
�
1 . pátria ( ª. má tng , como tão bem
diz iam os dórios ) é o am
Surge n os e� so�ho c mo � um a jovem mãe adorada
ou um a
or dos amores.
nut riz robusta
que nos_ alei.ta aos mil_ hoe
s . . . Fraca imagem'. w ao apenas. nos. a 1 eJta
contém em si: ln ea rno 1• · como nos
em11 r et sumus.
lJA UBERTN.;Ao PELO AMOR. A !'ÁTR/A 1 99
d
rio, viveremos cada vez mais, isto é, fortificaremos nossa
0
individualidade, adquiriremos originalidades mais vigo
e
rosas e fecundas. Deus nos guarde de nos perdermos ' . . .
S e nenhuma alma perece, como então essas grandes al n
O: 5 �
ªs das na õ s - com seu gênio vivaz, sua história pró p
a
diga em marttres, plena de sacrifícios heróicos, toda pre
nhe de imortalidade - como poderiam extinguir-se' d
Quando uma delas se eclipsa por um instante, o mundo l
inteiro adoece em todas as suas nações, e o mundo do l
o
coração em suas fibras que fazem eco às nações . . . Leitor,
essa fibra dolorida que vejo em vosso coração é a Polônia s
e a Itália 1 • v
A nacionalidade, a pátria. é sempre a vida do mundo.
Morrendo ela, tudo morreria. Perguntai de preferência p
ao povo, ele o sente, ele vo-lo dirá. Perguntai à ciência
à história, à experiência do gênero humano. Essas dua ;
grandes vozes estão de acordo. Duas vozes' Não, duas
realidades - o que é e o que foi - que se opõem à
abstração vazia.
Lá eu tinha meu coração e a história; estava firme na
quele rochedo; de ninguém precisava para confirmar-me
� m minha fé . Mas fui até as massas, interroguei o povo,
1ovens e velhos, pequenos e grandes. A todos ouvi teste
��
mun a em pela pátria. Essa é a fibra viva que neles morre
por ultimo. Encontrei-a nos mortos . . . Estive nos cemité
rios chamados prisões, galés, e lá abri homens; pois bem ,
�
nesses h me?s mortos, de peito vazio, adivinhai o que
encontrei. .. amda a França, última centelha pela qual tal
vez se pudesse fazê-los reviver.
Não digais, peço-vos, que isso é apenas uma questão
1_ ·
Dolorkla - e agora muda no Cnllege de France - na voz que lhe restava,
.
nn"iso quendo e gr�mde ,\1ickiewicz! "
i)
(a) M ickiewicz. de ois de ohter uma l i cenc:;a por motivo de doença no outo
no de 1�44, alguns meses depois viu-se excluído do Collége de France pela
nomeaçao de um novo titular para a cddeira de Literatura Eslava, Cyprien Rohen
201
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR. A PÁTRIA
A FRANÇA
. é a Pa tn ar
alguns an os . "O que re-
. s cosmopolitas de gozos m ateriai s me
Suas utopia
�,
. de
o um co m en ta , no prosai· c0 da poesia ,,
cord a � , onfe ss ' una '
_ Ro ma d e sa ba ' fu1 · a mos para as. ilhas da fort
Horao o:
nto de ab an d ono e desencoraiamento.
triste ca eleste
que
_
viera m d epo ·s
1 ' com sua pátria c
Os cristãos ,
- um gol pe não
dao
uni vers al na terra
e su a frate rnidade , . o com essa bela e como-
me nos mortal contra .
eus
o
trm
1 :n
ao
pe
s
�� Nor te �ão tardarão a vir
vente doutrina. S
pescoço.
pôr-lhes a corda no u-
s o s filh os de escr avos, sem pátria ' se m de
Não somo ab am os de citar·'
n d e po et a qu e ac
ses, como o era o gra o Apóstolo dos Gen
-
s de ª orno
não somos romano
tios, somos os rom an os J ���
e a e os franceses da Franç
heróica
a.
el es qu lo esforço de uma
�ra�
Somos fi�hos da�u
m a o m und o e estabeleceram
naci onal i dade, ftz�ra
para todas as naço . � � o e an elho da igualdade. Nossos
pais não compre en iam� a fra erni dade como essa sim
pa
as-
t u do am ar e ace 1" tar , que mistura' ab _
çoe s n ão a dei
para as outras na e e
que r-se hoje que
•
vo ta m en to ;
ram a França em seu de e
�
Toma-se a um povo vizinho algo que nele é coisa viva;
faz-se mal e mal sua apropriação, apesar da rejeição de
um organismo que não combina com o objeto estranho; e
.
e esse corpo estranho que colocais na própria carne é m
coisa inerte e morta: é a morte que adotais! p
E que dizer quando essa coisa não apenas é estranha a
e diferente, mas também inimiga? Quando a ides buscar f
justamente entre aqueles que a natureza vos deu por
adversários, a quem vos opôs simetricamente' Quando O
pedis a renovação da vida àquilo que é a negação de d
vossa própria vida? Quando a França, por exemplo, dan c
do as costas à sua história e à sua natureza, começa a �
copiar o que podemos chamar a anti-França: a Inglaterra?
Aqui não se trata de ódio nacional , de malevolência
cega. Temos a estima que devemos ter para com a grande
nação britânica; e provamo-lo ao estudá-la tão seriamente
quanto nenhum outro homem desta época. O resultado
desse estudo, dessa estima mesmo, é a convicção de que
o progresso do mundo depende de que esses dois povos
não percam suas qualidades numa mistura indistinta, de
que esses dois amantes opostos ajam em sentido inverso,
je que essas duas eletricidades, positiva e negativa, ja
nais se confundam.
O elemento que, entre todos, era para nós o mais hete
·ogêneo - o elc;;mento inglês - foi exatamente aquele
1ue preferimos. Adotamo-lo politicamente, em nossa
:onstituição, graças à fé dos doutrinários que copiavam
20 5
f)A ll/3FRTA< . \n !'/!L
O A.MOR. A PÁTRIA
er .
, ad ot am o- lo lit er almente, sem levar
sem compreeml . teve
e 0 p
.
nm e1r o g e'n1·0 que a Inglaterra
em conta qu te
as fo i ex at am en te o que m ai s vi olentamen
·
as tolices do outr , .
mto .
, , e de esp
frances � pob re e • pob r
_
.
últim os anos de vida
.
iveu l onge , , 11atri a .�eu� oito
da .
havia
1 a) BHo , n. que v . a de Ma d·am e de Stael , . Mich elet
George S· . and . e Co , nn ,
i /J l Indiana, de . . tos. por mttlheres, . "" Por our ro lado.
. .. . . drns . roman ces escn
' na
dia
e,..,crito ant en orm en te: . · rva ção sobre tn . · c1a ·,
1 84 4 . en co ntr am o,.. ., uma obse
no ·/ournal de 16 de ma . . pe1 o .ing lês
io d e rem in1sc en
· é uma
. . .. ,, Essa prefe re ncta ,,
. 0h ras
qu e ap ro xim a as. duas e do estra
, ngeiro.
gostam do estran h o
Je Corina: as mu lheres
206 O POVO DA
is se te m! ? espmto da
nações, aprendei o que sem
jam ais : " Quanto ma is se dá , ma , egro,
ma s co nt mu a mt
deroso despe�tar.
ad or me cid o,
França po de estar
sempre na im inê nc ia de um po nd o
.
d1 a
França, co nv ive
Há mu ito tempo acompanho a .
co m ela ao lon go de do is mil anos. Juntos assis
riamente
os ao s pio re s dia s, e de sta vez se! com certeza que
tim
cível. E preciso qu e Deus
este é o país da esperança inven
s nações, pois, em plena
a esclareça ma is que às outra
ela via o qu e ne nh um a via ma is; via por entre as
noite
ter rí �eis so mb ras tão pr es en tes na Idade Mé dia ; ninguém
ança o enxergava.
então dis tin gu ia o cé u; só a Fr
r
l
VI
p
o
p
A FRANÇA SUPERIOR
a
COMO DOGMA E COMO LENDA
A FRANÇA É UMA RELIGIÃO ª
t
t
o
O estrangeiro acredita ter dito tudo ao afirmar sorrin c
do: "A França é a criança da Europa. "
Se lhe dais esse título, que perante Deus não é o me p
nor, é preciso que convenhais também que é Salomão e
criança quem se assenta no tribunal e distribui justiça. d
Pois qual nação conservou a tradição do direito, senão a
a França?
Do direito religioso, político e civil; a cátedra de Papi b
niano e o púlpito de Gregório VII. p
Roma não está em parte alguma a não ser aqui. Desde e
São Luís, a quem a Europa recorre em busca de justiça,
o papa, o imperador, os reis? . . . O papado teológico em s
Gerson e em Bossuet, o papado filosófico em Descartes fr
S
(a) Michelet já qut,era demonstrar, em Introduction à l "histoire unü•ersetle,
a superioridade da França em relação às demais naçôes européias. Mas, com
a
O pot'o, o tom apologético torna-se propriamente religioso. d
DA LIBERTAÇÂO PELO AMOR A PÁTRIA 209
VII
A FÉ DA REVOLUÇÃO.
A REVOLUÇÃO NÃO CONSERVOU A FÉ ATÉ O FIM
E NÃO TRANSMITIU
SEU ESPÍ RITO POR MEIO DA EDUCAÇÃO
neirus sanguinários. Essa relação entre as duas épocas foi percebida com bastan
te acuidade pelo Sr. Quinet: Le cbristianisme et la rémlution. pp. 349-3 5 1
( 1845). - Dois homens d e escrupulosa eqüidade, propensos a julgar favoravel
mente seus inimigos, Carnot e Daunou. concordavam perfeitamente em sua
opinião sobre Robespierre. O último me disse várias vezes que, salvo no derra
deiro momento, quando a necessidade e o perigo o tornaram eloqüente, o
famoso ditador era um _bomem de segunda ordem. Saint-Just tinha mais talento.
Os que querem nos fazer crer que ambos eram inocentes dos últimos excessos
do Terror são refutados pelo próprio Saint-Just. A 1 5 de abril de 1 794 (tão
pouco tempo antes do 9 Termidor') ele deplora a culposa indulgência que
se instaurara até então: "Nos últimos tempos, o relaxamento dos tribunais au
mentou a ponto de, etc. Que fazem os tribunais há dois anos' Tem-se falado
de sua justiça'. . . Instituídos para manter a Revolução, sua indulgência liberou
·
o crime por toda parte, etc" Histoire Parlementaire, t. XXXI I, p. 3 1 1 , 3 1 9, 26
Germinal, Ano II .
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR A PÁTRIA 219
VIII
IX
DEUS NA PÁTRIA
A JOVEM PÁTRIA DO FUTURO.
O SACRIFÍ CIO
(a) Michelet consagrará todo o último capítulo de Nos fils (Nossos filhos,
1869) à "educação pelas festas . .
224 O POVO
cer com ele . . . Escavai fundo nessa alma, tudo está perver
tido e vazio; entretanto, na última camada, encontrareis
quase sempre um fundo sólido, o amor paterno.
Pois bem! Em nome de nossos filhos, peço-vos que
não deixemos a pátria perecer. Quereis legar-lhe o nau
frágio, padecer sua maldição . . . a maldição de todo o futu
ro, do mundo, talvez perdido por mil anos se a França
sucumbir'
Só podereis salvar vossos filhos - e com eles a França
e o Mundo - por um único meio: estabelecei neles a
C' f
ie.
Fé no devotamento, no sacrifício ", na grande associa
ção onde todos se sacrificam por todos, ou seja, a Pátria.
Bem sei que esse é um ensino difícil, pois as palavras
não bastam, é preciso recorrer a exemplos. A força, a
magnanimidade do sacrifício, tão comuns entre nossos
pais, parecem perdidas para nós. Eis a verdadeira causa
de nossos males, de nossos ódios, da discórdia interna
que torna esse país fraco como um moribundo e risível
aos olhos do mundo.
Se tomo de parte os melhores, os mais honoráveis,
e os pressiono aos poucos, descubro que cada um deles,
aparentemente desinteressado, traz no fundo alguma
coisa de reserva que não gostaria de sacrificar por nada.
Pedi-lhe o resto . . . Um daria a vida pela França, mas não
renunciaria a determinado divertimento, a um dado há
bito, a um vício. . .
(a) Entre rodas "' cradiçôes maiores que definem a condição humana, das
quais a introdução a Ori!{ines du droit contém o inventário, Micheler considera
a do sacrifício a mais privilegiada: .. A tradição suprema, a mais notável pela
substância e pela forma, é aquela pela qual o homem não transmite a natureza,
mas transmite-se e se entrega de coração, voluntariamente. O símbolo dessa
tradição é o sacrifí1'io. O sacrifício é o ponto culminante da vida humana. ··
A moral cívica que pregará no College de France de 1 846 a 1851 será a moral
do sacrifício.
DA LIBERTAÇÃO PELO AMOR A PÁTRIA 231
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