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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DO PARANÁ

Programa de Bacharelado em Teologia

Resenha apresentada por:

LEIDMAR MAGNUS FESTA

2000 ANOS DE CRISTIANISMO: UMA HISTÓRIA CÍCLICA?

Resenha apresentada como requisito parcial


para obtenção de nota na disciplina de História
do Cristianismo do programa de Graduação da
Faculdade Teológica Batista do Paraná

Professor:
Marlon Ronald Fluck

CURITIBA
2008
1 RESUMO

O livro inicia com um compacto sobre a história do povo de Israel,


começando pelo livro de Gênesis com Adão e Eva, Caim e Abel, Enoc e Noé,
chegando até a origem da linhagem imediata do judaísmo e do cristianismo
com Abraão (o estabelecimento da Aliança Abrâmica - Gênesis 12:1-3), Isaac,
Esaú e Jacó (que significa enganador), este último se tornou o herdeiro da
aliança com Deus e teve seu nome alterado para Israel após um encontro com
Javé, no qual se tornou um homem honrado.
Seguindo teremos José, o filho preferido de Jacó, vendido como escravo
para o Egito o qual chegou ao cargo de primeiro-ministro, período durante o
qual trouxe sua família para o Egito. Posteriormente ocorreu a escravidão do
povo israelita e neste cenário Deus chama Moisés, que foi o libertador do povo
e que protagonizou a passagem do mar vermelho (um dos trechos mais
conhecidos das escrituras). O povo andou 40 anos para chegar à terra
prometida, e o substituto de Moisés foi Josué (exímio estrategista militar) que
guiou o povo na conquista da terra. Após isso, chega o período dos reis e o
primeiro escolhido: Saul, que revelou seu caráter falho e idólatra. Seu
substituto Davi, foi o maior rei de Israel e dele encontramos vários Salmos. Seu
sucessor foi seu filho Salomão, que apesar de sábio desviou-se dos caminhos
do Senhor. Após sua morte Israel ficou dividida em dois reinos: Israel (10
tribos) e Judá (02 tribos). Logo chega Nabucodonosor que toma Israel e
durante este cativeiro o judaísmo renasce:houve a recompilação da Tora e sua
teologia foi refinada. Ciro da Pérsia conquistou a Babilônia após a morte de
Nabucodonosor e autorizou a prática da religiões dos povos.
Durante o período intertestamentário vale detacar a chegada ao cenário
de Alexandre Magno que realizou muitas campanhas militares bem sucedidas
e que tiveram como resultados a helenização da cultura e a conseqüente
tradução da Tora para o grego, intitulada Septuaginta. Israel que foi tomada
várias vezes e teve sua liberdade religiosa restaurada durante o governo de
Antíoco IV quando os judeus liderados por Matatias e Macabeu revoltaram-se
na Palestina. Mas em 63 a.C, Pompeu de Roma conquistou Jerusalém.
Dez anos depois, na Palestina haviam cinco partidos religiosos:os
saduceus (dominavam o templo e o Sinédrio), os herodianos (que queria
manter o “status” com o governo romano de Herodes), os zelotes (queriam a
revoluçaão violenta derrubando os romanos e o restabelecimento da
autoridade judaica), os fariseus (legalistas e intolerantes) e os essênios (que se
dedicavam exclusivamente à orar e estudar a Tora).
A respeito da infância de Jesus sabe-se pouco, apenas que seu pai era
carpinteiro e honrado, que sua mãe era virgem que deu à luz através do
Espírito Santo e que Jesus era uma criança prodígio. Seu ministério começa
aos 30 anos ao ser batizado por seu primo João Batista e logo após este
evento ele jejua e é levado ao deserto para ser tentado por Satanás (em 3
áreas de sua vida: fome, segurança física e adoração). Após isso Jesus chama
seus discípulos e realiza vários milagres. Chega assim o momento da traição
de Judas Iscariotes, o julgamento de Jesus perante o Sinédrio e Pilatos, que
lava suas mãos e o condena.
A morte e ressurreição de Jesus ao terceiro dia bem como a sua subida
aos céus, com as centenas de testemunhas, dão passagem para a nova fase
da igreja quando Saulo da cidade de Tarso, famigerado perseguidor de
cristãos, têm uma visão divina, se converte e junto com Barnabé, depois com
Silas e Timóteo, inicia viagens missionárias por cidades como Chipre, Antioquia
da Psídia, Listra e Derbe. A primeira igreja européira foi fundada em Filipos e
depois em outras cidades como Éfeso. A era apostólica chega ao seu fim
conforme os discípulos vão sendo maritirizados e mortos.
Roma permitia a prática de outras religiões, mas iniciou os cultos ao
imperador tentando elevar o nível de lealdade dos súditos e o povo era
obrigado a assistir aos rituais e quando desgraças ocorriam sempre tentavam
culpar os cristãos por irritarem os deuses. Como o cristianismo pôde
desenvolver-se em uma sociedade que ia contra suas ideologias? Isso ocorreu
através da quebra de paradigmas: a vida comunitária cristã, a unidade da
igreja, o conceito de família, caridade e assistência social. Até os inimigos da
igreja se impressionavam como relata Tertuliano “Vejam como esses cristãos
se amam!”(página 39).
Após a morte dos apóstolos, para combater heresias e manter uma linha
de pensamento cristã, os bispos passaram a resolver as questões teológicas
baseados na tradição oral e escrita, ambas com o mesmo peso. Os mais
famosos ficaram conhecidos como Padres Apostólicos e como exemplo temos
Clemente de Roma e Policarpo de Esmirna. Eles combateram muitas heresias,
começando pelo gnosticismo e o montanismo.
Até 249 A.D. nenhuma grande perseguição foi efetivada, mas sempre
ocorreram martírios e a imagem do cristianismo era distorcida. Diante disso
surgiram escritores que defenderam a posição da igreja, os apologistas. O mais
famoso foi Justino que descreveu as doutrinas por meio da filosofia. A adoção
da filosofia pelos apologistas formou o meio de analise das escrituras e apesar
de falhar em converter os romanos, deu uma ótima base de defesa e
compreensão da doutrina.
O cristianismo era internacional e unia todas as classes e raças em uma
única comunidade, e isso era reconfortante em meio ao caos urbano. Mesmo
em meio às perseguições, havia esperança com a vida eterna. Assim a igreja
cresceu, e com este crescimento vieram os debates internos, sendo o maior
sobre a Trindade e a Encarnação que, na tentativa de serem explicadas,
ocasionaram a criação de um novo vocabulário. Foram tantas as teorias
hereges, como a de Teódoto de Bizâncio o qual afirmava que “Cristo era
apenas um homem em quem Deus estava” (página 50), que várias expulsões e
exílios foram praticados para repreender seus autores. No século III, dois
teólogos intelectuais de Alexandria renovaram as discussões teológicas,
Orígenes desenvolveu a teoria dos níveis de significado dos textos bíblicos
(literal , moral e espiritual), ele foi torturado em 249 pelo imperador Décio,
quando começou a primeira perseguição oficial ao cristianismo.
Em 298 num templo pagão em Antioquia, sacerdotes pagãos acusam os
cristãos de perturbar sua cerimônia. Este foi o prólogo da maior perseguição,
quando Dioclesiano (imperador principal que era tolerante com o cristianismo)
ficou doente e debilitado e Galério (imperador auxiliar) assumiu o poder e
estendeu um edito para todos os cidadãos: a obrigatoriedade do sacrifício ao
imperador, sob pena de morte em caso de descumprimento.
Tanto sangue foi derramado que Dioclesiano foi obrigado a renunciar em
305 A.D e em 311 Galério foi obrigado a editar um Protocolo de Tolerância
restaurando os direitos aos cristãos. Logo veio o novo imperador, Constantino,
o qual apoiando Agostinho, teve que lidar com a divisão dos donatistas. No
século IV Constantino veio a ser o grande protetor e patrono da igreja, que não
tornou a religião oficial do império, mas deu propriedades às igrejas, construiu
basílicas, financiou a impressão da Bíblia e expressou ideais cristãos nas leis.
Apesar disso, as práticas pagãs e o comportamento imoral persistiam.
Teodósio, sucessor o imperador do Oriente, que tornou o cristianismo a religião
oficial do Estado e proibiu as práticas pagãs.
Em 319, o presbítero Ário iniciou o movimento herege denominado
arianismo, que pregava uma doutrina contraditória à Trindade entre Jesus,
Deus e o Espírito Santo. Constantino reagiu a isso convocando o Concílio de
Nicéia, no qual foi redigido o Credo Nicéia que combatia a heresia arianista.
Apesar das contendas, o pensamento teológico progrediu. Em 336, no segundo
concílio em Constantinopla, houve a reafirmação do Credo de Nicéia e no
Concílio de Éfeso,em 436, ocorreu o combate às heresias extremistas em
relação à humanidade e à divindade de Cristo. Finalmente no ano de 451 em
Calcedônia ocorreu o quarto concíclio, no qual Constantinopla foi reconhecida
como segunda autoridade, somente abaixo de Roma. Durante este tempo, a
igreja “acumulou” poder e prestígio, o que tornou possível a construção de
edifícios esplendorosos para seus serviços de liturgia, fato que levantou
suspeitas sobre abuso de dinheiro e poder. O clero tinha privilégios, como o
não pagamento de impostos e foi necessário criar novas leis para que os ricos
não viessem a fazer parte deste grupo. Surgem aqui os bispos aristocráticos,
clérigos privilegiados com amplo conhecimento. O mais conhecido foi Ambrósio
de Milão, um brilhante pregador, administrador e catequista que influenciou
Agostinho e foi o primeiro religioso que forçou um imperador (Teodósio) a
prestar penitência pública.
Ainda no século III, muitos homens e mulheres optaram pelo estilo de
vida eremita, dedicando-se à solidão e oração. Antão do Egito (251-356)
também o fez, mas criando uma forma comunitária que levou à formação de
irmandades e levando ao primeiro passo para o monaquismo. A efetivação da
fundação de mosteiros foi realizada por Pacômio (290-346), que também
escreveu regras para guiar os irmãos. Uma das figuras mais impressionantes
deste século foi Agostinho. Nascido em Tagasta na África do Norte em 354
A.D. teve uma juventude repleta de libertinagem (sobre a qual confessa
arrependimento em sua obra Confissões), explorou diversas verdades
filosóficas mas conheceu o Senhor em Milão ao ler Rm 13.13-14. Batizou-se
em 387, foi ordenado padre e em 395 foi eleito Bispo de Hipona, na África do
Norte. Nesta região, Agostinho iniciou o combate a duas heresias: o donatismo
e o pelagianismo. A primeira se recusava a aceita clérigos suspeitos de serem
participantes em perseguições imperiais, quanto a isso ele escreve que os
“sacarmentos da comunhão e do batismo eram eficazes pela graça de Deus,
não por causa da retidão do padre” (página 69). A segunda, pregava a
autoconfiança e a conquista do paraíso pelas mãos humanas, sobre a qual
Agostinho escreveu: “tudo o que os cristãos recebem é pela bondade, ou pela
graça de Deus, a qual é necessária diante da maldade mundana [...] sem
Jesus os homens fracassam em realizar o bem de que são capazes.” (página
69). Agostinho considerava que o desejo de conhecer Deus melhor era a
marca registrada de uma fé autêntica.
Grandes dificuldades apareceram no final do século IV para o império
romano e consequentemente para os cristãos. Roma foi saqueada e capturada
tanto pelos godos como por Átila o uno, este último foi convencido pelo papa
Leão Magno a recuar, isso aumentou o poder do papado romano. No fim do
século VI a Igreja Oriental era quem fornecia educação, pois os bárbaros
destruíram as escolas públicas, e os serviços sociais (hospitais e abrigos). A
devoção dos fiéis por santos, em especial Maria mãe de Jesus, tornou-se muito
importante. Nesta época foi iniciado um processo de civilizar os bárbaros e
realizar missões entre eles, uma das quais no povo anglo-saxão chefiada por
Agostinho. Com Carlos Magno a Igreja experimentou mais um renascimento
denominado Carolíngio, e ao final de seu reinado a Europa medieval era
totalmente cristã. Infelizmente, após sua morte um novo tempo de imoralidade
e loucura chegou com muitos querendo o papado para si. Assim, foi iniciada a
reforma com o rei alemão do Sacro Império Oto I que iniciou uma nova ordem
de mosteiros: o Cluny que era controlado diretamente pelo Papa e não sofria
intervenções dos leigos. Durante o século X as diferenças culturais entre
Ocidente e Oriente eram tão grandes que em 1136 houve o rompimento final
entre as duas igrejas.
Nesta época começaram as cruzadas convocadas pelo papa Urbano II
em forma de guerra santa, quando camponeses lutaram (sem obter maiores
resultados) contra exércitos e bárbaros. no século XII quando os vinquingues e
demais povos bárbaros haviam sido derrotados ou convertidos teve início o
grande avanço, que se consolidou no século XVIII, das artes, arquitetura,
agricultura e dos estudos com destaque para Tomás de Aquino e a escola
escolástica. Ainda nesta época Francisco de Assis dá início à Ordem dos
Frades e desperta um fervor missionário em seus seguidores. O papado
francês vem para causar uma grande divisão e depois de muitas discussões,
corrupção e interesses próprios o povo clamava mais uma vez por reformas.
Chega o século XV, marcado na Itália pelas glórias do Renascimento que
levaram aos excessos: todos continuavam inventando novos cargos e
vendendo indulgências para aumentar suas arrecadações paroquiais com fins
obscuros.
Neste cenário o teólogo alemão Lutero passa a rejeitar publicamente
estas atitudes, expondo seus pensamentos em um documento afixado a porta
da catedral de Wittenberg, e seguindo seu exemplo, outros passaram a apoiar
as mudanças. A reforma não atingia apenas o panorama religioso, mas
também o político e tão logo os líderes perceberam isso resolveram aderir
conforme lhes fosse mais vantajoso. Tudo isso levou a conflitos entre os
territórios católicos e protestantes. São deste período Calvino e Menno Simons
(igreja Menonita da se originaram também os Amish). Logo chegaram as
reformas holandesa, francesa, a escocesa (com John Knox e a Igreja
Presbiteriana), a inglesa (com Henrique VIII e suas intenções políticas), as
viagens de missionários católicos para a América do Sul, Índia, China, Japão e
o fim de uma reforma durante a qual muitas pessoas sacrificaram suas vidas. A
próxima geração (durante o iluminismo) acabou questionando muitas destas
mudanças. A reforma inglesa com HenriqueVIII ocorreu por interesses
políticos, e o anglicanismo nasceu neste país durante o governo de sua filha,
Elisabete I. No catolicismo, isso ocorreu com as novas ordens como os jesuítas
e dentro de alguns ramos como os franciscanos culminando no Concílio de
Trento.
Todo este movimento reformista fez com que houvesse um período de
grande liberdade para criação de idéias, chamado Iluminismo, e as duas
principais linhas de pensamento dos séculos XVII e XVIII foram: a empirista
(tudo explicado pelos sentidos) e a racionalista (tudo explicado pela razão). O
deísmo, a forma cristã do racionalismo que via um Deus distante do homem,
tinha como adeptos Isaac Newton e Voltaire. Ainda neste período, na Holanda,
houve um movimento que reagiu à doutrina da predeterminação calvinista, o
arminianismo.
Em 1738 a igreja na Inglaterra estava estagnada quando John Wesley
vivenciou uma conversão profunda e duradoura, após alguns dias ele pregou
em Oxford uma mensagem singular: “Pela graça sois salvos por meio da fé”.
Surgia assim o metodismo, para o qual ele deixou regras, padrões para
pregadores e assegurou direitos legais para suas igrejas. Também é deste
período George Whitefield, grande reformador que ajudou a igreja da Escócia.
Na América o Primeiro Grande Despertar veio através de Jonathan Edwards, o
mais influente teólogo da América do Norte. Todas estas renovações criaram
importantes programas sociais, escolas e faculdades.
Um conceito novo surgiu em meio aos colonos dos EUA: o Estado
deveria ser separado da Igreja, e cada pessoa devia responder primeiro à Deus
e não a um monarca ou papa. Muitos líderes da revolução eram cristãos, e o
apoio que as igrejas batistas deram a ela fez a denominação crescer muito em
número de membros. Enquanto isso, na França o Reino do Terror era
implantado tendo como símbolo a guilhotina. O cristianismo foi banido até a
chegada de Napoleão Bonaparte, que acreditava ser mais fácil governar com
uma religião oficial. Na Alemanha Friedrich Schleiermacher lançou as bases da
teologia liberal que declina a autoridade da Bíblia e diz que Jesus era apenas
um homem que chegou a comunhão máxima e pura com Deus, veio o
ceticismo e a separação do “Jesus da história” e o “Jesus da fé”. Na Inglaterra,
o cristão William Wilberforce liderou a luta contra o tráfico de escravos e Soren
Aayabe Kierkegaard , o pai do existencialismo cristão mostra sua teoria sobre
as esferas da existência (estética, ética e religiosa).
O Segundo Grande Despertar dos EUA veio com Timothy Dwight, pastor
presbiteriano, e com Charles G. Finney que frizava “uma renovação não é
nada além de um novo começo de obediência à Deus” (página 185) e foi
resposável por aproximadamente 500 mil conversões. O episódio mais
vergonhoso para o cristianismo foi o da escravidão em 1860 quando Abraham
Lincoln, que odiava a escravidão, e quando foi eleito o Sul deixou a União.
Muitos líderes cristãos sulistas apoiavam a escravidão e isso foi razão para
várias divisões batistas e metodistas. Na Rússia o cristianismo ficou atrelado à
xenofobia e à injustiça devido à ligação entre Estado e Igreja. Quem mantinha
a decência eram os anciãos que também aconselhavam pessoas como
Dostoievski, o grande pensador que mencionou “ame toda a criação de Deus,
ela inteira e cada grão de areia nela. Ame cada folha, cada raio da luz de
Deus. Se amar tudo, perceberá o ministério divino nas coisas”(página 189),e
Tolstoi.
A revolução industrial chega para trazer conforto para poucos e pobreza
para muitos, neste tempo foram criados sindicatos protestantes (nos EUA) e
católicos na Europa. Após 1850 as frentes missionárias se multiplicaram,
inclusive com a inclusão de mulheres. Dois dos maiores missionários deste
tempo foram David Livingstone, que realizou um trabalho na África do Sul
treinando convertidos africanos para propagar o evangelho e James Hudson
Taylor, metodista que iniciou um trabalho em Xangai na China através do qual
mais de 500 mil chineses se converteram. Todo este movimento beneficiou os
locais alvos com escolas, avanços na agricultura e assistência social, e causou
o início do movimento ecumênico – varias denominações e sociedades bíblicas
que adoram em harmonia. Chegando à segunda metade do século XIX a igreja
católica teve um reavivamento da fé com o seu papa mais carismático, Pio IX,
que teve o pontificado mais longo de 1846 até 1878. No âmbito protestante,
que estava muito fragmentado, os batistas, devido as missões e catequese e
ênfase em missões, se tornaram um dos maiores e mais poderosos grupos
crentes do mundo.
Ao final da I Guerra Mundial, veio a neo-ortodoxia (que voltava-se para o
Deus da Bíblia), com o objetivo de afastar a teologia liberal e reviver o
protestantismo na Europa e nos EUA. Seu maior líder foi o alemão Karl Barth
(1886-1968) que desdenhando do orgulho e das convicções meramente
humanas disse: “O evangelho cai sobre o homem como a Palavra poderosa do
próprio Deus, questionando-o até o fundo de seu ser, desentranhando-o de
suas seguranças e satisfações” (página 205).
Na Rússia a revolução em 1917 criou novas retaliações contra os
cristãos. Baseados nas ideologias de Marx e Engels os moderados
mencheviques foram derrotados pelos extremistas bolcheviques liderados por
Lênin (1870-1924), que tornou crime o ensino da religião para menores de 18
anos. Seu sucessor Joseph Stálin (1879-1953) perseguiu várias denominações
até a extinção. Após a II Guerra Mundial com a baixa da Cortina de Ferro e
com Nikita Khruschtchev (1894-1971) no poder, a igreja novamente foi atacada
com a prisão e morte de muitos padres e monjas, mas em 1991 com a queda
da Cortina de Ferro a igreja novamente se reavivou.
Hitler continuava a realizar suas manobras e criou o movimento nazista
Cristãos Alemães que tinha como lema “Cristo veio até nós por meio de Adolf
Hitler [...] temos uma só missão : ser alemães, não cristãos” (página 210), em
oposição Martin Niemoller fundou a Igreja Confessante em 1934 e membros
como Karl Barth participaram. Com a invasão da Polônia em 1939 começou a II
Grande Guerra, na qual ocorreu o holocausto judeu. Os territórios ocupados
tiveram igrejas destruídas e religiosos mortos, com a prerrogativa de Hitler “o
golpe mais pesado que já atingiu a humanidade foi o advento do cristianismo
[...] uma invenção judaica” (página 210).
Com o fim da II Grande Guerra, um mundo perplexo e devastado teve na
igreja cristã o seu ícone de ajuda humanitária. Outros desdobramentos
ocorreram e novos conceitos surgiram, as idéias missionárias do bispo
anglicano Tucker que defendeu que missionários trabalhassem junto com um
clero nativo. As questões sociais como a luta pela igualdade de raças nos EUA
foram encabeçadas por cristãos como Martin Luther King e a luta pela paz nas
Filipinas na década de 1980 com Jaime Sin foram empreendidas por cristãos
que faziam diferença por onde passavam.
O catolicismo passou por mudanças durante o pontificado de João XXIII
que convocou em 1962 o Concílio Vaticano II, no qual a igreja assumiu uma
atitude positiva em relação ao protestantismo e decretou a execução da liturgia
na língua nativa dos países (não mais em latim) para que os leigos se
envolvessem. Apesar de se considerar a explosão evangélica como
conseqüência das reformas pós século XVIII, sabemos que ele é uma
continuação da linha renovadora desde os Padres Apostólicos, os monges e
reformadores medievais, do Grande Despertar e todos os outros marcos do
cristianismo. Billy Graham é a melhor figura para representar esta nova fase do
cristianismo, com suas reuniões de tendas que reuniam milhares de pessoas,
sua pregação já foi ouvida por cerca de 210 milhões de pessoas de 185 países.
No século XX também despontou o movimento pentecostal, um grupo de
cristãos dos EUA que tomou como bandeira os dons do Espírito Santo - os
mais tardios foram chamados de carismáticos. Este grupo hoje representa a
maior parte do protestantismo mundial, alcançando a marca de 75% dos
protestantes na América do Sul.
O movimento cristão progrediu, hoje a Bíblia tem sido traduzida e
distribuída gratuitamente em quase todas as línguas, a mídia transmite
programas evangélicos (rádio, jornais, revistas, televisão etc) mas problemas
como o analfabetismo bíblico continuam, bem como o crescimento desigual (na
Rússia, África do Sul, América Latina e Ásia é um crescimento gigantesco, mas
na Europa isso não ocorre).
Concluindo, muitos erros foram cometidos e as Igrejas estão realizando
uma revisão em suas estruturas e ideologias para que se tornem um centro de
união e não uma pedra de tropeço para o cristão.

2 POSICIONAMENTO CRÍTICO

Em seu prefácio e introdução os autores expõem a sua intenção de


produzir uma obra que examina o cristianismo de uma perspectiva global, sem
questionar a validade histórica ou arqueológica das escrituras e que não seja
influenciada por nenhuma tradição ou doutrina particular a qual pudesse
distorcer os fatos. A imparcialidade é um caminho difícil de ser trilhado, mas ao
longo da maioria dos textos apresentados foi mantida pelos autores, que
iniciaram com a História de Israel seguindo até a Igreja Global nos dias de hoje
e futuros.
Os textos dão ênfase a diversos assuntos, mas, devido às escolas dos
autores e suas linhas de pensamento, existem alguns que são visivelmente
mais destacados:
• Uma delas é a ênfase em pessoas, ou seja, o texto não fica muito
atrelado aos detalhes da maioria dos acontecimentos e faz um compacto
dos mesmos. Nas explanações são privilegiados os vários personagens
cristãos (ou que possuam ideologias cristãs) que serviram de exemplo e
foram fundamentais nas transformações que a igreja sofreu. Nesta obra
são encontradas páginas inteiras falando sobre Agostinho - páginas 68 e
69 que narram seu nascimento, os princípios de sua teologia e as
heresias que combateu - João Crisóstomo - páginas 74 e 75 o qual viveu
do final do século IV até o sétimo ano do século V e foi chamado
também de “boca de ouro” devido a sua oratória incrivelmente coerente
e recheada de conhecimentos bíblicos – Tomás de Aquino – páginas
112 e 113, discípulo de Alberto Magno, foi um grande pensador e deu
profundidade à teologia da transubstanciação – dentre outros.
• Outra é a ênfase das influências que a Igreja produziu (em forma
apologética), que são os textos nos quais encontramos em destaque o
desenvolvimento promovido pela igreja no âmbito da arte, arquitetura,
filosofia, agricultura (técnicas difundidas pelos fazendeiros monásticos),
serviços de assistência social, senso de família e comunidade, direito
civil (no qual foi discutida a proibição da pena de morte e a
indissolubilidade do casamento, dentre outros temas), a expansão e
popularização do ensino, o refinamento da teologia e muitos outros
aspectos nos quais o cristianismo foi um divisor de águas entre a antiga
e a nova mentalidade.
• Por fim temos a ênfase na decepção humana, quando os autores
mostram a desilusão dos homens ao depositar sua esperança em
utopias que prometiam resolver todos os problemas, como a revolução
industrial e movimentos como o Iluminismo, mas que terminavam
apenas gerando o inconformismo popular.

Ao analisar olhar com atenção para as seqüências descritas dos fatos,


podemos ver como está exposta de forma pulverizada o desenvolvimento
gradual de várias tradições que foram incorporadas à liturgia cristã. Como
exemplo podemos citar o culto das relíquias (página 91), que na Idade Média
se confundia com a superstição e causavam concorrência entre as igrejas que
buscavam sempre ter uma coleção maior destes “talismãs” (uma boa parte da
suarenda vinha das exposições destas coleções). Infelizmente houve um
amadurecimento deste tipo de veneração ao longo dos séculos, Agostinho
protestava dizendo que “se juntarmos todos os pedaços da cruz de Cristo
guardados em diferentes santuários é possível construir um navio”.
Os autores são incisivos e unânimes ao analisar os efeitos da
Revolução Industrial, que inicialmente gerou esperanças de melhorias para
todos através da automatização de processos mas que no final causou a
concentração de riquezas e a escravidão moderna, onde milhões de pessoas
trabalhavam dia e noite, sem feriados, eram consideradas apenas peças
substituíveis, moravam em cortiços com moradias precárias e propícias para a
propagação de doenças. Claramente os autores defendem a intervenção da
Igreja em situações como esta.
São mostrados de uma forma sucinta o nascimento de dois paradigmas
missiológicos, o primeiro no século VI com o papa Gregório Magno (página 84),
que ao enviar Agostinho como chefe de uma missão entre o povo anglo-saxão
o aconselha, baseado em Tessalonicenses, a evitar ofender sem necessidade
os pagãos e oferecer-lhes o evangelho com respeito (“de tudo o que provai,
retenha aquilo que for bom”). Atualmente este é um dos paradigmas mais
utilizados em missões, onde temos a preparação acadêmica do missionário
(estuda a cultura e a língua de um povo), após isso ele é enviado para o
campo, convive com este povo e tenta encontrar um ponto–chave entre as
culturas religiosas para que o povo não alcançado possa entender com mais
clareza os ensinamentos bíblicos. O segundo paradigma veio na virada do
século XX, com o bispo anglicano Tucker, de Uganda, o qual desejava criar
uma igreja onde missionários estrangeiros trabalhassem junto com um clero
nativo em bases iguais. Este paradigma também já é bem difundido no meio
protestante, em especial nas regiões resistentes ao evangelho, onde se realiza
um trabalho para alcançar nativos, treiná-los e enviá-los como missionários no
meio de seu povo – este se revelou como sendo o meio de evangelismo mais
eficiente no meio do povo árabe e de adeptos do islamismo.
Um ponto que vale ser destacado é o movimento cíclico da História, no
qual os acontecimentos passados voltam a acontecer de maneiras muito
parecidas. Ao olhar para os vários cismas ocorridos na Igreja devido as seitas
(como o gnosticismo desde a época apostólica e o arianismo) podemos
comparar com as atuais doutrinas de sincretismo religioso brasileiro criadas
pelos próprios cristãos, os o envolvimentos de forma indevida com a política
(as influências do Estado sobre a Igreja na Europa) acontecem também na
atualidade quando cristãos que se tornam políticos esquecem dos princípios
básicos e cedem à corrupção. O prestígio do clero continua sendo uma
variável, como o índice Dow Jones ele às vezes fecha em alta e às vezes em
baixa. Assim como no passado, a Igreja continua promovendo o serviço social
e o assistencialismo aos necessitados, levando a educação e o conhecimento
para os lugares mais remotos e esquecidos pelos governos. Por este motivo
podemos ver nas palavras de Charles Finney uma realidade histórica: “Uma
renovação não é nada além de um novo começo de obediência à Deus”
(página 185). A História se repete, mas sempre precisamos renovar nossa
mente e restabelecer a nossa obediência à Deus.

3 APLICAÇÃO PRÁTICA

A transformação ocorrida na sociedade mundial devido ao cristianismo


mantém seus reflexos até os dias atuais. O movimento antiescravista, as lutas
sindicais incentivadas pela Igreja da Inglaterra, a Democracia Cristã européia, a
luta social pelo fim da segregação racial nos EUA, os movimentos contra
sistemas opressores de ditaduras em tantos países e muitos outros foram
imprescindíveis para que muitos tipos de opressão popular chegassem ao fim e
houvesse mais dignidade no tratamento ao povo.
Os pensadores da igreja desenvolveram doutrinas que foram aceitas e
depois contestadas (como a transubstanciação de Tomás de Aquino que foi
contestada por Zuínglio - página 137 - que a considerava apenas um memorial)
mas contribuíram e muito para aprimoramento da teologia e ainda hoje levam
nossos teólogos à profunda reflexão. Cabe a nós aprimorar as bases teológicas
e fazer com que estas venham a ser ampliadas.
Algo muito interessante, que diz respeito à história cíclica, foi mostrado
na página 162, onde é descrito o desenvolvimento da música na igreja e que as
cidades competiam para ter igrejas dotadas de excelentes coros e orquestras.
Esta situação do século XVII muito se assemelha a situação vivida hoje entre
as grandes igrejas, que disputam os fiéis através de atividades que os atraiam.
Obviamente isso pode ser considerado uma tática de evangelismo, mas
devemos ficar atentos para que não se transforme em puro ativismo.
Nas discussões entre amigos de igreja e de Escolas Bíblicas, sempre
que se inicia uma conversa considerando os aspectos históricos do
cristianismo nós, inconscientemente, adotamos um padrão de classificação:
existem as igrejas do BEM (todas as denominações protestantes) e a igreja do
MAL (a igreja Católica Apostólica Romana). A maioria das pessoas acaba
fazendo referências aos papas e bispos e procura encaixa-los nos moldes
inquisitores impondo-lhes muitas culpas. O fato é que esquecemos que os
grandes nomes da história cristã não são exclusivamente protestantes, vamos
sempre encontrar homens e mulheres que obedeciam a Deus como Madre
Tereza de Calcutá, Lutero (que questionou a igreja em alguns aspectos mas
manteve muitos costumes intactos em sua liturgia) que eram católicos em sua
essência. Estou citando isso pois como protestante muitas vezes me esqueço
que não foi somente este movimento que construiu as bases cristãs, mas foi a
Igreja em seu todo que o fez (anglicanos, batistas, metodistas, católicos,
luteranos etc), todos erraram e acertaram juntos e colaboraram para que o
cristianismo chegasse ao estágio no qual se encontra hoje: uma religião
praticada em todos os cantos do mundo e acessível para uma boa parte da
população mundial.

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