para obtenção de nota na disciplina de História do Cristianismo do programa de Graduação da Faculdade Teológica Batista do Paraná
Professor: Marlon Ronald Fluck
CURITIBA 2008 1 RESUMO
O livro inicia com um compacto sobre a história do povo de Israel,
começando pelo livro de Gênesis com Adão e Eva, Caim e Abel, Enoc e Noé, chegando até a origem da linhagem imediata do judaísmo e do cristianismo com Abraão (o estabelecimento da Aliança Abrâmica - Gênesis 12:1-3), Isaac, Esaú e Jacó (que significa enganador), este último se tornou o herdeiro da aliança com Deus e teve seu nome alterado para Israel após um encontro com Javé, no qual se tornou um homem honrado. Seguindo teremos José, o filho preferido de Jacó, vendido como escravo para o Egito o qual chegou ao cargo de primeiro-ministro, período durante o qual trouxe sua família para o Egito. Posteriormente ocorreu a escravidão do povo israelita e neste cenário Deus chama Moisés, que foi o libertador do povo e que protagonizou a passagem do mar vermelho (um dos trechos mais conhecidos das escrituras). O povo andou 40 anos para chegar à terra prometida, e o substituto de Moisés foi Josué (exímio estrategista militar) que guiou o povo na conquista da terra. Após isso, chega o período dos reis e o primeiro escolhido: Saul, que revelou seu caráter falho e idólatra. Seu substituto Davi, foi o maior rei de Israel e dele encontramos vários Salmos. Seu sucessor foi seu filho Salomão, que apesar de sábio desviou-se dos caminhos do Senhor. Após sua morte Israel ficou dividida em dois reinos: Israel (10 tribos) e Judá (02 tribos). Logo chega Nabucodonosor que toma Israel e durante este cativeiro o judaísmo renasce:houve a recompilação da Tora e sua teologia foi refinada. Ciro da Pérsia conquistou a Babilônia após a morte de Nabucodonosor e autorizou a prática da religiões dos povos. Durante o período intertestamentário vale detacar a chegada ao cenário de Alexandre Magno que realizou muitas campanhas militares bem sucedidas e que tiveram como resultados a helenização da cultura e a conseqüente tradução da Tora para o grego, intitulada Septuaginta. Israel que foi tomada várias vezes e teve sua liberdade religiosa restaurada durante o governo de Antíoco IV quando os judeus liderados por Matatias e Macabeu revoltaram-se na Palestina. Mas em 63 a.C, Pompeu de Roma conquistou Jerusalém. Dez anos depois, na Palestina haviam cinco partidos religiosos:os saduceus (dominavam o templo e o Sinédrio), os herodianos (que queria manter o “status” com o governo romano de Herodes), os zelotes (queriam a revoluçaão violenta derrubando os romanos e o restabelecimento da autoridade judaica), os fariseus (legalistas e intolerantes) e os essênios (que se dedicavam exclusivamente à orar e estudar a Tora). A respeito da infância de Jesus sabe-se pouco, apenas que seu pai era carpinteiro e honrado, que sua mãe era virgem que deu à luz através do Espírito Santo e que Jesus era uma criança prodígio. Seu ministério começa aos 30 anos ao ser batizado por seu primo João Batista e logo após este evento ele jejua e é levado ao deserto para ser tentado por Satanás (em 3 áreas de sua vida: fome, segurança física e adoração). Após isso Jesus chama seus discípulos e realiza vários milagres. Chega assim o momento da traição de Judas Iscariotes, o julgamento de Jesus perante o Sinédrio e Pilatos, que lava suas mãos e o condena. A morte e ressurreição de Jesus ao terceiro dia bem como a sua subida aos céus, com as centenas de testemunhas, dão passagem para a nova fase da igreja quando Saulo da cidade de Tarso, famigerado perseguidor de cristãos, têm uma visão divina, se converte e junto com Barnabé, depois com Silas e Timóteo, inicia viagens missionárias por cidades como Chipre, Antioquia da Psídia, Listra e Derbe. A primeira igreja européira foi fundada em Filipos e depois em outras cidades como Éfeso. A era apostólica chega ao seu fim conforme os discípulos vão sendo maritirizados e mortos. Roma permitia a prática de outras religiões, mas iniciou os cultos ao imperador tentando elevar o nível de lealdade dos súditos e o povo era obrigado a assistir aos rituais e quando desgraças ocorriam sempre tentavam culpar os cristãos por irritarem os deuses. Como o cristianismo pôde desenvolver-se em uma sociedade que ia contra suas ideologias? Isso ocorreu através da quebra de paradigmas: a vida comunitária cristã, a unidade da igreja, o conceito de família, caridade e assistência social. Até os inimigos da igreja se impressionavam como relata Tertuliano “Vejam como esses cristãos se amam!”(página 39). Após a morte dos apóstolos, para combater heresias e manter uma linha de pensamento cristã, os bispos passaram a resolver as questões teológicas baseados na tradição oral e escrita, ambas com o mesmo peso. Os mais famosos ficaram conhecidos como Padres Apostólicos e como exemplo temos Clemente de Roma e Policarpo de Esmirna. Eles combateram muitas heresias, começando pelo gnosticismo e o montanismo. Até 249 A.D. nenhuma grande perseguição foi efetivada, mas sempre ocorreram martírios e a imagem do cristianismo era distorcida. Diante disso surgiram escritores que defenderam a posição da igreja, os apologistas. O mais famoso foi Justino que descreveu as doutrinas por meio da filosofia. A adoção da filosofia pelos apologistas formou o meio de analise das escrituras e apesar de falhar em converter os romanos, deu uma ótima base de defesa e compreensão da doutrina. O cristianismo era internacional e unia todas as classes e raças em uma única comunidade, e isso era reconfortante em meio ao caos urbano. Mesmo em meio às perseguições, havia esperança com a vida eterna. Assim a igreja cresceu, e com este crescimento vieram os debates internos, sendo o maior sobre a Trindade e a Encarnação que, na tentativa de serem explicadas, ocasionaram a criação de um novo vocabulário. Foram tantas as teorias hereges, como a de Teódoto de Bizâncio o qual afirmava que “Cristo era apenas um homem em quem Deus estava” (página 50), que várias expulsões e exílios foram praticados para repreender seus autores. No século III, dois teólogos intelectuais de Alexandria renovaram as discussões teológicas, Orígenes desenvolveu a teoria dos níveis de significado dos textos bíblicos (literal , moral e espiritual), ele foi torturado em 249 pelo imperador Décio, quando começou a primeira perseguição oficial ao cristianismo. Em 298 num templo pagão em Antioquia, sacerdotes pagãos acusam os cristãos de perturbar sua cerimônia. Este foi o prólogo da maior perseguição, quando Dioclesiano (imperador principal que era tolerante com o cristianismo) ficou doente e debilitado e Galério (imperador auxiliar) assumiu o poder e estendeu um edito para todos os cidadãos: a obrigatoriedade do sacrifício ao imperador, sob pena de morte em caso de descumprimento. Tanto sangue foi derramado que Dioclesiano foi obrigado a renunciar em 305 A.D e em 311 Galério foi obrigado a editar um Protocolo de Tolerância restaurando os direitos aos cristãos. Logo veio o novo imperador, Constantino, o qual apoiando Agostinho, teve que lidar com a divisão dos donatistas. No século IV Constantino veio a ser o grande protetor e patrono da igreja, que não tornou a religião oficial do império, mas deu propriedades às igrejas, construiu basílicas, financiou a impressão da Bíblia e expressou ideais cristãos nas leis. Apesar disso, as práticas pagãs e o comportamento imoral persistiam. Teodósio, sucessor o imperador do Oriente, que tornou o cristianismo a religião oficial do Estado e proibiu as práticas pagãs. Em 319, o presbítero Ário iniciou o movimento herege denominado arianismo, que pregava uma doutrina contraditória à Trindade entre Jesus, Deus e o Espírito Santo. Constantino reagiu a isso convocando o Concílio de Nicéia, no qual foi redigido o Credo Nicéia que combatia a heresia arianista. Apesar das contendas, o pensamento teológico progrediu. Em 336, no segundo concílio em Constantinopla, houve a reafirmação do Credo de Nicéia e no Concílio de Éfeso,em 436, ocorreu o combate às heresias extremistas em relação à humanidade e à divindade de Cristo. Finalmente no ano de 451 em Calcedônia ocorreu o quarto concíclio, no qual Constantinopla foi reconhecida como segunda autoridade, somente abaixo de Roma. Durante este tempo, a igreja “acumulou” poder e prestígio, o que tornou possível a construção de edifícios esplendorosos para seus serviços de liturgia, fato que levantou suspeitas sobre abuso de dinheiro e poder. O clero tinha privilégios, como o não pagamento de impostos e foi necessário criar novas leis para que os ricos não viessem a fazer parte deste grupo. Surgem aqui os bispos aristocráticos, clérigos privilegiados com amplo conhecimento. O mais conhecido foi Ambrósio de Milão, um brilhante pregador, administrador e catequista que influenciou Agostinho e foi o primeiro religioso que forçou um imperador (Teodósio) a prestar penitência pública. Ainda no século III, muitos homens e mulheres optaram pelo estilo de vida eremita, dedicando-se à solidão e oração. Antão do Egito (251-356) também o fez, mas criando uma forma comunitária que levou à formação de irmandades e levando ao primeiro passo para o monaquismo. A efetivação da fundação de mosteiros foi realizada por Pacômio (290-346), que também escreveu regras para guiar os irmãos. Uma das figuras mais impressionantes deste século foi Agostinho. Nascido em Tagasta na África do Norte em 354 A.D. teve uma juventude repleta de libertinagem (sobre a qual confessa arrependimento em sua obra Confissões), explorou diversas verdades filosóficas mas conheceu o Senhor em Milão ao ler Rm 13.13-14. Batizou-se em 387, foi ordenado padre e em 395 foi eleito Bispo de Hipona, na África do Norte. Nesta região, Agostinho iniciou o combate a duas heresias: o donatismo e o pelagianismo. A primeira se recusava a aceita clérigos suspeitos de serem participantes em perseguições imperiais, quanto a isso ele escreve que os “sacarmentos da comunhão e do batismo eram eficazes pela graça de Deus, não por causa da retidão do padre” (página 69). A segunda, pregava a autoconfiança e a conquista do paraíso pelas mãos humanas, sobre a qual Agostinho escreveu: “tudo o que os cristãos recebem é pela bondade, ou pela graça de Deus, a qual é necessária diante da maldade mundana [...] sem Jesus os homens fracassam em realizar o bem de que são capazes.” (página 69). Agostinho considerava que o desejo de conhecer Deus melhor era a marca registrada de uma fé autêntica. Grandes dificuldades apareceram no final do século IV para o império romano e consequentemente para os cristãos. Roma foi saqueada e capturada tanto pelos godos como por Átila o uno, este último foi convencido pelo papa Leão Magno a recuar, isso aumentou o poder do papado romano. No fim do século VI a Igreja Oriental era quem fornecia educação, pois os bárbaros destruíram as escolas públicas, e os serviços sociais (hospitais e abrigos). A devoção dos fiéis por santos, em especial Maria mãe de Jesus, tornou-se muito importante. Nesta época foi iniciado um processo de civilizar os bárbaros e realizar missões entre eles, uma das quais no povo anglo-saxão chefiada por Agostinho. Com Carlos Magno a Igreja experimentou mais um renascimento denominado Carolíngio, e ao final de seu reinado a Europa medieval era totalmente cristã. Infelizmente, após sua morte um novo tempo de imoralidade e loucura chegou com muitos querendo o papado para si. Assim, foi iniciada a reforma com o rei alemão do Sacro Império Oto I que iniciou uma nova ordem de mosteiros: o Cluny que era controlado diretamente pelo Papa e não sofria intervenções dos leigos. Durante o século X as diferenças culturais entre Ocidente e Oriente eram tão grandes que em 1136 houve o rompimento final entre as duas igrejas. Nesta época começaram as cruzadas convocadas pelo papa Urbano II em forma de guerra santa, quando camponeses lutaram (sem obter maiores resultados) contra exércitos e bárbaros. no século XII quando os vinquingues e demais povos bárbaros haviam sido derrotados ou convertidos teve início o grande avanço, que se consolidou no século XVIII, das artes, arquitetura, agricultura e dos estudos com destaque para Tomás de Aquino e a escola escolástica. Ainda nesta época Francisco de Assis dá início à Ordem dos Frades e desperta um fervor missionário em seus seguidores. O papado francês vem para causar uma grande divisão e depois de muitas discussões, corrupção e interesses próprios o povo clamava mais uma vez por reformas. Chega o século XV, marcado na Itália pelas glórias do Renascimento que levaram aos excessos: todos continuavam inventando novos cargos e vendendo indulgências para aumentar suas arrecadações paroquiais com fins obscuros. Neste cenário o teólogo alemão Lutero passa a rejeitar publicamente estas atitudes, expondo seus pensamentos em um documento afixado a porta da catedral de Wittenberg, e seguindo seu exemplo, outros passaram a apoiar as mudanças. A reforma não atingia apenas o panorama religioso, mas também o político e tão logo os líderes perceberam isso resolveram aderir conforme lhes fosse mais vantajoso. Tudo isso levou a conflitos entre os territórios católicos e protestantes. São deste período Calvino e Menno Simons (igreja Menonita da se originaram também os Amish). Logo chegaram as reformas holandesa, francesa, a escocesa (com John Knox e a Igreja Presbiteriana), a inglesa (com Henrique VIII e suas intenções políticas), as viagens de missionários católicos para a América do Sul, Índia, China, Japão e o fim de uma reforma durante a qual muitas pessoas sacrificaram suas vidas. A próxima geração (durante o iluminismo) acabou questionando muitas destas mudanças. A reforma inglesa com HenriqueVIII ocorreu por interesses políticos, e o anglicanismo nasceu neste país durante o governo de sua filha, Elisabete I. No catolicismo, isso ocorreu com as novas ordens como os jesuítas e dentro de alguns ramos como os franciscanos culminando no Concílio de Trento. Todo este movimento reformista fez com que houvesse um período de grande liberdade para criação de idéias, chamado Iluminismo, e as duas principais linhas de pensamento dos séculos XVII e XVIII foram: a empirista (tudo explicado pelos sentidos) e a racionalista (tudo explicado pela razão). O deísmo, a forma cristã do racionalismo que via um Deus distante do homem, tinha como adeptos Isaac Newton e Voltaire. Ainda neste período, na Holanda, houve um movimento que reagiu à doutrina da predeterminação calvinista, o arminianismo. Em 1738 a igreja na Inglaterra estava estagnada quando John Wesley vivenciou uma conversão profunda e duradoura, após alguns dias ele pregou em Oxford uma mensagem singular: “Pela graça sois salvos por meio da fé”. Surgia assim o metodismo, para o qual ele deixou regras, padrões para pregadores e assegurou direitos legais para suas igrejas. Também é deste período George Whitefield, grande reformador que ajudou a igreja da Escócia. Na América o Primeiro Grande Despertar veio através de Jonathan Edwards, o mais influente teólogo da América do Norte. Todas estas renovações criaram importantes programas sociais, escolas e faculdades. Um conceito novo surgiu em meio aos colonos dos EUA: o Estado deveria ser separado da Igreja, e cada pessoa devia responder primeiro à Deus e não a um monarca ou papa. Muitos líderes da revolução eram cristãos, e o apoio que as igrejas batistas deram a ela fez a denominação crescer muito em número de membros. Enquanto isso, na França o Reino do Terror era implantado tendo como símbolo a guilhotina. O cristianismo foi banido até a chegada de Napoleão Bonaparte, que acreditava ser mais fácil governar com uma religião oficial. Na Alemanha Friedrich Schleiermacher lançou as bases da teologia liberal que declina a autoridade da Bíblia e diz que Jesus era apenas um homem que chegou a comunhão máxima e pura com Deus, veio o ceticismo e a separação do “Jesus da história” e o “Jesus da fé”. Na Inglaterra, o cristão William Wilberforce liderou a luta contra o tráfico de escravos e Soren Aayabe Kierkegaard , o pai do existencialismo cristão mostra sua teoria sobre as esferas da existência (estética, ética e religiosa). O Segundo Grande Despertar dos EUA veio com Timothy Dwight, pastor presbiteriano, e com Charles G. Finney que frizava “uma renovação não é nada além de um novo começo de obediência à Deus” (página 185) e foi resposável por aproximadamente 500 mil conversões. O episódio mais vergonhoso para o cristianismo foi o da escravidão em 1860 quando Abraham Lincoln, que odiava a escravidão, e quando foi eleito o Sul deixou a União. Muitos líderes cristãos sulistas apoiavam a escravidão e isso foi razão para várias divisões batistas e metodistas. Na Rússia o cristianismo ficou atrelado à xenofobia e à injustiça devido à ligação entre Estado e Igreja. Quem mantinha a decência eram os anciãos que também aconselhavam pessoas como Dostoievski, o grande pensador que mencionou “ame toda a criação de Deus, ela inteira e cada grão de areia nela. Ame cada folha, cada raio da luz de Deus. Se amar tudo, perceberá o ministério divino nas coisas”(página 189),e Tolstoi. A revolução industrial chega para trazer conforto para poucos e pobreza para muitos, neste tempo foram criados sindicatos protestantes (nos EUA) e católicos na Europa. Após 1850 as frentes missionárias se multiplicaram, inclusive com a inclusão de mulheres. Dois dos maiores missionários deste tempo foram David Livingstone, que realizou um trabalho na África do Sul treinando convertidos africanos para propagar o evangelho e James Hudson Taylor, metodista que iniciou um trabalho em Xangai na China através do qual mais de 500 mil chineses se converteram. Todo este movimento beneficiou os locais alvos com escolas, avanços na agricultura e assistência social, e causou o início do movimento ecumênico – varias denominações e sociedades bíblicas que adoram em harmonia. Chegando à segunda metade do século XIX a igreja católica teve um reavivamento da fé com o seu papa mais carismático, Pio IX, que teve o pontificado mais longo de 1846 até 1878. No âmbito protestante, que estava muito fragmentado, os batistas, devido as missões e catequese e ênfase em missões, se tornaram um dos maiores e mais poderosos grupos crentes do mundo. Ao final da I Guerra Mundial, veio a neo-ortodoxia (que voltava-se para o Deus da Bíblia), com o objetivo de afastar a teologia liberal e reviver o protestantismo na Europa e nos EUA. Seu maior líder foi o alemão Karl Barth (1886-1968) que desdenhando do orgulho e das convicções meramente humanas disse: “O evangelho cai sobre o homem como a Palavra poderosa do próprio Deus, questionando-o até o fundo de seu ser, desentranhando-o de suas seguranças e satisfações” (página 205). Na Rússia a revolução em 1917 criou novas retaliações contra os cristãos. Baseados nas ideologias de Marx e Engels os moderados mencheviques foram derrotados pelos extremistas bolcheviques liderados por Lênin (1870-1924), que tornou crime o ensino da religião para menores de 18 anos. Seu sucessor Joseph Stálin (1879-1953) perseguiu várias denominações até a extinção. Após a II Guerra Mundial com a baixa da Cortina de Ferro e com Nikita Khruschtchev (1894-1971) no poder, a igreja novamente foi atacada com a prisão e morte de muitos padres e monjas, mas em 1991 com a queda da Cortina de Ferro a igreja novamente se reavivou. Hitler continuava a realizar suas manobras e criou o movimento nazista Cristãos Alemães que tinha como lema “Cristo veio até nós por meio de Adolf Hitler [...] temos uma só missão : ser alemães, não cristãos” (página 210), em oposição Martin Niemoller fundou a Igreja Confessante em 1934 e membros como Karl Barth participaram. Com a invasão da Polônia em 1939 começou a II Grande Guerra, na qual ocorreu o holocausto judeu. Os territórios ocupados tiveram igrejas destruídas e religiosos mortos, com a prerrogativa de Hitler “o golpe mais pesado que já atingiu a humanidade foi o advento do cristianismo [...] uma invenção judaica” (página 210). Com o fim da II Grande Guerra, um mundo perplexo e devastado teve na igreja cristã o seu ícone de ajuda humanitária. Outros desdobramentos ocorreram e novos conceitos surgiram, as idéias missionárias do bispo anglicano Tucker que defendeu que missionários trabalhassem junto com um clero nativo. As questões sociais como a luta pela igualdade de raças nos EUA foram encabeçadas por cristãos como Martin Luther King e a luta pela paz nas Filipinas na década de 1980 com Jaime Sin foram empreendidas por cristãos que faziam diferença por onde passavam. O catolicismo passou por mudanças durante o pontificado de João XXIII que convocou em 1962 o Concílio Vaticano II, no qual a igreja assumiu uma atitude positiva em relação ao protestantismo e decretou a execução da liturgia na língua nativa dos países (não mais em latim) para que os leigos se envolvessem. Apesar de se considerar a explosão evangélica como conseqüência das reformas pós século XVIII, sabemos que ele é uma continuação da linha renovadora desde os Padres Apostólicos, os monges e reformadores medievais, do Grande Despertar e todos os outros marcos do cristianismo. Billy Graham é a melhor figura para representar esta nova fase do cristianismo, com suas reuniões de tendas que reuniam milhares de pessoas, sua pregação já foi ouvida por cerca de 210 milhões de pessoas de 185 países. No século XX também despontou o movimento pentecostal, um grupo de cristãos dos EUA que tomou como bandeira os dons do Espírito Santo - os mais tardios foram chamados de carismáticos. Este grupo hoje representa a maior parte do protestantismo mundial, alcançando a marca de 75% dos protestantes na América do Sul. O movimento cristão progrediu, hoje a Bíblia tem sido traduzida e distribuída gratuitamente em quase todas as línguas, a mídia transmite programas evangélicos (rádio, jornais, revistas, televisão etc) mas problemas como o analfabetismo bíblico continuam, bem como o crescimento desigual (na Rússia, África do Sul, América Latina e Ásia é um crescimento gigantesco, mas na Europa isso não ocorre). Concluindo, muitos erros foram cometidos e as Igrejas estão realizando uma revisão em suas estruturas e ideologias para que se tornem um centro de união e não uma pedra de tropeço para o cristão.
2 POSICIONAMENTO CRÍTICO
Em seu prefácio e introdução os autores expõem a sua intenção de
produzir uma obra que examina o cristianismo de uma perspectiva global, sem questionar a validade histórica ou arqueológica das escrituras e que não seja influenciada por nenhuma tradição ou doutrina particular a qual pudesse distorcer os fatos. A imparcialidade é um caminho difícil de ser trilhado, mas ao longo da maioria dos textos apresentados foi mantida pelos autores, que iniciaram com a História de Israel seguindo até a Igreja Global nos dias de hoje e futuros. Os textos dão ênfase a diversos assuntos, mas, devido às escolas dos autores e suas linhas de pensamento, existem alguns que são visivelmente mais destacados: • Uma delas é a ênfase em pessoas, ou seja, o texto não fica muito atrelado aos detalhes da maioria dos acontecimentos e faz um compacto dos mesmos. Nas explanações são privilegiados os vários personagens cristãos (ou que possuam ideologias cristãs) que serviram de exemplo e foram fundamentais nas transformações que a igreja sofreu. Nesta obra são encontradas páginas inteiras falando sobre Agostinho - páginas 68 e 69 que narram seu nascimento, os princípios de sua teologia e as heresias que combateu - João Crisóstomo - páginas 74 e 75 o qual viveu do final do século IV até o sétimo ano do século V e foi chamado também de “boca de ouro” devido a sua oratória incrivelmente coerente e recheada de conhecimentos bíblicos – Tomás de Aquino – páginas 112 e 113, discípulo de Alberto Magno, foi um grande pensador e deu profundidade à teologia da transubstanciação – dentre outros. • Outra é a ênfase das influências que a Igreja produziu (em forma apologética), que são os textos nos quais encontramos em destaque o desenvolvimento promovido pela igreja no âmbito da arte, arquitetura, filosofia, agricultura (técnicas difundidas pelos fazendeiros monásticos), serviços de assistência social, senso de família e comunidade, direito civil (no qual foi discutida a proibição da pena de morte e a indissolubilidade do casamento, dentre outros temas), a expansão e popularização do ensino, o refinamento da teologia e muitos outros aspectos nos quais o cristianismo foi um divisor de águas entre a antiga e a nova mentalidade. • Por fim temos a ênfase na decepção humana, quando os autores mostram a desilusão dos homens ao depositar sua esperança em utopias que prometiam resolver todos os problemas, como a revolução industrial e movimentos como o Iluminismo, mas que terminavam apenas gerando o inconformismo popular.
Ao analisar olhar com atenção para as seqüências descritas dos fatos,
podemos ver como está exposta de forma pulverizada o desenvolvimento gradual de várias tradições que foram incorporadas à liturgia cristã. Como exemplo podemos citar o culto das relíquias (página 91), que na Idade Média se confundia com a superstição e causavam concorrência entre as igrejas que buscavam sempre ter uma coleção maior destes “talismãs” (uma boa parte da suarenda vinha das exposições destas coleções). Infelizmente houve um amadurecimento deste tipo de veneração ao longo dos séculos, Agostinho protestava dizendo que “se juntarmos todos os pedaços da cruz de Cristo guardados em diferentes santuários é possível construir um navio”. Os autores são incisivos e unânimes ao analisar os efeitos da Revolução Industrial, que inicialmente gerou esperanças de melhorias para todos através da automatização de processos mas que no final causou a concentração de riquezas e a escravidão moderna, onde milhões de pessoas trabalhavam dia e noite, sem feriados, eram consideradas apenas peças substituíveis, moravam em cortiços com moradias precárias e propícias para a propagação de doenças. Claramente os autores defendem a intervenção da Igreja em situações como esta. São mostrados de uma forma sucinta o nascimento de dois paradigmas missiológicos, o primeiro no século VI com o papa Gregório Magno (página 84), que ao enviar Agostinho como chefe de uma missão entre o povo anglo-saxão o aconselha, baseado em Tessalonicenses, a evitar ofender sem necessidade os pagãos e oferecer-lhes o evangelho com respeito (“de tudo o que provai, retenha aquilo que for bom”). Atualmente este é um dos paradigmas mais utilizados em missões, onde temos a preparação acadêmica do missionário (estuda a cultura e a língua de um povo), após isso ele é enviado para o campo, convive com este povo e tenta encontrar um ponto–chave entre as culturas religiosas para que o povo não alcançado possa entender com mais clareza os ensinamentos bíblicos. O segundo paradigma veio na virada do século XX, com o bispo anglicano Tucker, de Uganda, o qual desejava criar uma igreja onde missionários estrangeiros trabalhassem junto com um clero nativo em bases iguais. Este paradigma também já é bem difundido no meio protestante, em especial nas regiões resistentes ao evangelho, onde se realiza um trabalho para alcançar nativos, treiná-los e enviá-los como missionários no meio de seu povo – este se revelou como sendo o meio de evangelismo mais eficiente no meio do povo árabe e de adeptos do islamismo. Um ponto que vale ser destacado é o movimento cíclico da História, no qual os acontecimentos passados voltam a acontecer de maneiras muito parecidas. Ao olhar para os vários cismas ocorridos na Igreja devido as seitas (como o gnosticismo desde a época apostólica e o arianismo) podemos comparar com as atuais doutrinas de sincretismo religioso brasileiro criadas pelos próprios cristãos, os o envolvimentos de forma indevida com a política (as influências do Estado sobre a Igreja na Europa) acontecem também na atualidade quando cristãos que se tornam políticos esquecem dos princípios básicos e cedem à corrupção. O prestígio do clero continua sendo uma variável, como o índice Dow Jones ele às vezes fecha em alta e às vezes em baixa. Assim como no passado, a Igreja continua promovendo o serviço social e o assistencialismo aos necessitados, levando a educação e o conhecimento para os lugares mais remotos e esquecidos pelos governos. Por este motivo podemos ver nas palavras de Charles Finney uma realidade histórica: “Uma renovação não é nada além de um novo começo de obediência à Deus” (página 185). A História se repete, mas sempre precisamos renovar nossa mente e restabelecer a nossa obediência à Deus.
3 APLICAÇÃO PRÁTICA
A transformação ocorrida na sociedade mundial devido ao cristianismo
mantém seus reflexos até os dias atuais. O movimento antiescravista, as lutas sindicais incentivadas pela Igreja da Inglaterra, a Democracia Cristã européia, a luta social pelo fim da segregação racial nos EUA, os movimentos contra sistemas opressores de ditaduras em tantos países e muitos outros foram imprescindíveis para que muitos tipos de opressão popular chegassem ao fim e houvesse mais dignidade no tratamento ao povo. Os pensadores da igreja desenvolveram doutrinas que foram aceitas e depois contestadas (como a transubstanciação de Tomás de Aquino que foi contestada por Zuínglio - página 137 - que a considerava apenas um memorial) mas contribuíram e muito para aprimoramento da teologia e ainda hoje levam nossos teólogos à profunda reflexão. Cabe a nós aprimorar as bases teológicas e fazer com que estas venham a ser ampliadas. Algo muito interessante, que diz respeito à história cíclica, foi mostrado na página 162, onde é descrito o desenvolvimento da música na igreja e que as cidades competiam para ter igrejas dotadas de excelentes coros e orquestras. Esta situação do século XVII muito se assemelha a situação vivida hoje entre as grandes igrejas, que disputam os fiéis através de atividades que os atraiam. Obviamente isso pode ser considerado uma tática de evangelismo, mas devemos ficar atentos para que não se transforme em puro ativismo. Nas discussões entre amigos de igreja e de Escolas Bíblicas, sempre que se inicia uma conversa considerando os aspectos históricos do cristianismo nós, inconscientemente, adotamos um padrão de classificação: existem as igrejas do BEM (todas as denominações protestantes) e a igreja do MAL (a igreja Católica Apostólica Romana). A maioria das pessoas acaba fazendo referências aos papas e bispos e procura encaixa-los nos moldes inquisitores impondo-lhes muitas culpas. O fato é que esquecemos que os grandes nomes da história cristã não são exclusivamente protestantes, vamos sempre encontrar homens e mulheres que obedeciam a Deus como Madre Tereza de Calcutá, Lutero (que questionou a igreja em alguns aspectos mas manteve muitos costumes intactos em sua liturgia) que eram católicos em sua essência. Estou citando isso pois como protestante muitas vezes me esqueço que não foi somente este movimento que construiu as bases cristãs, mas foi a Igreja em seu todo que o fez (anglicanos, batistas, metodistas, católicos, luteranos etc), todos erraram e acertaram juntos e colaboraram para que o cristianismo chegasse ao estágio no qual se encontra hoje: uma religião praticada em todos os cantos do mundo e acessível para uma boa parte da população mundial.