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Copyright © 2024 Deby Incour

Adaptação da capa, Projeto Gráfico e Diagramação Digital: Débora Ferraz


Revisão e Preparação de texto: Carla Santos
Leitura Crítica: Josiane Cristina
Ilustração da capa e interna: Luciana Souza
Vetores da diagramação: Canva Pro

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem a permissão por escrito da autora e/ou
editor.

(Lei 9.610 de 19/02/1998.)

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

1ª EDIÇÃO - 2024
Formato Digital – Brasil
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Sobre a autora
ou acesso pelo link

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Ei, antes de mais nada, vocês precisam saber que, ao consumir essa história, vão se
deparar com sexo explícito e diálogos obscenos. O DESTINO NOS ESCOLHEU é um romance
para maiores de dezoito anos. Ainda que exista uma capa fofa, isso não significa que menores de
idade podem consumir esse conteúdo sem autorização dos seus responsáveis.
Outro ponto importante é que esta não é uma história de dramas, enredo extenso, plot
twist bombásticos... É uma comédia romântica. Este livro é exatamente para curar ressaca, ler
para relaxar, passar um tempinho, se divertir, então não esperem nada bombástico, é para ser
literalmente o que ele é: leve, muito tranquilo.
Para consumir esse livro é importante também lembrar que é sequência da duologia
“Conectados pelo destino” e, para evitar spoilers do casal anterior, é aconselhável ler o primeiro
livro “Eu escolho você”.
Estando ciente disso tudo e, ainda assim, decidindo continuar, desejo uma ótima leitura.
Com amor,
Deby.
Esse livro é para todas as pessoas que acreditam que nada na vida é por acaso, e que continuam
sonhando com finais felizes ainda que não digam em voz alta.
“Crescer significa uma coisa: Independência.
Todos a queremos.
Às vezes, usamos outras pessoas para ganharmos com isso.
Às vezes, encontramos nos outros.
Às vezes, nossa independência vem ao custo de outra coisa.
E esse custo pode ser alto.
Porque frequentemente, para ganhar nossa independência, temos que lutar
Nunca desista, nunca se renda.”
— Gossip Girl
ANA VITÓRIA
Quem diria que, pela primeira vez, eu passaria meu aniversário sozinha? Desde que a
minha melhor amiga começou a namorar, as coisas mudaram um pouco e não julgo, entendo-a
perfeitamente, afinal somos vizinhas, é óbvio que ela dedicaria seu tempo livre a ele, então isso
não é problema para mim. Ela merece, trabalha muito, e merece essa felicidade que ele lhe
proporciona, fazendo-a se sentir uma rainha.
Porém, não deixa de ser estranho. Não me lembro a última vez que passei meu
aniversário longe dela e, dessa vez, tudo virou uma enorme bagunça e terminou comigo sozinha
em Ibiza. Ela teve reuniões na empresa de fliperamas que herdou do pai, e acabou tendo que
viajar a trabalho, e já havia prometido ao namorado que iria com ele para um evento de trabalho
dele, e iriam passar um tempo juntos, só eles, longe de tudo, e eu ainda não havia definido nada
devido ao meu trabalho e a minha agenda corrida, e então foi literalmente de última hora que vim
parar aqui, não teria como ela ou ninguém vir comigo.
Cheguei na quinta-feira e volto domingo para o Brasil, e pela primeira vez em muito
tempo também, resolvi aproveitar de verdade, sem me importar com a mídia que fica o tempo
todo infernizando minha vida, afinal, ser uma Albuquerque tem seu lado bom e ruim.
Lado bom: fama, poder, dinheiro, tudo que a vida pode oferecer de melhor.
Lado ruim: fama, poder, dinheiro e tudo que a vida pode oferecer de melhor.
Sim, o lado bom também é o ruim, porque, quanto mais dinheiro você tem e mais fama
possui, mais as pessoas vão falar de você, vão te vigiar, e sua privacidade não vai mais existir.
Então passar meu aniversário longe do Brasil foi a primeira rota de fuga que pensei, e claro,
longe da minha família foi uma bênção. Eu sei, família é sagrado, mas tudo tem um limite, e a
minha tem ultrapassado demais todos eles.
Enfim, foi assim que vim parar em um quarto de hotel, com um cara qualquer, em uma
noite que só Ibiza pode oferecer e, no fim, nem gozei.
O cara está literalmente ao meu lado, me olhando como se tivesse feito o melhor sexo da
vida dele, e eu nem tive tempo de gemer de verdade. O que eu poderia esperar de alguém que
ficou cinco minutos tentando ajeitar a camisinha e gozou em um minuto? Sim, eu contei essa
merda.
Ele sorri e eu apenas forço um sorriso idiota, sem acreditar no que me meti. No dia do
meu aniversário, eu arrumei um cara para transar que faz isso muito mal. Que merda foi essa?
Um aviso de que meus vinte e sete anos serão de infelicidade e azar?
Nem minha vagina deve estar entendendo o que aconteceu. Se ela falasse diria: “Minha
amiga, merecemos algo melhor. Isso foi tudo que conseguiu arrumar no meio de tantos caras
naquela festa? Você escolheu o que não sabia transar?”.
Ah, pronto. Agora penso em vagina falante!
Levanto-me ajeitando o vestido e vestindo a calcinha.
— Já vai, lindinha? — o americano questiona... ou é italiano... espanhol? De onde
mesmo ele disse que era? Ah, foda-se. Nem seu nome eu sei.
Nós literalmente dançamos juntos, rolou um clima, ele fala demais, pelo amor de Deus,
eu só queria transar. É pecado só querer transar sem saber a ficha inteira de alguém? E foi nessa
afobação que me afoguei.
— Tenho que ir... Você realmente acabou comigo! — No péssimo sentido da coisa.
Ele se apoia pelos cotovelos na cama e sorri torto.
— Foi bom mesmo. Sua expressão diz tudo! — fala em um tom de garanhão barato.
Controlo a vontade de revirar os olhos.
Balanço a cabeça e pego minha bolsa. Dou apenas mais um sorriso e fujo desse quarto
antes que ele diga mais alguma coisa e eu esgane ele. Preciso de um banho, porque o idiota ainda
me sujou toda tirando aquela porcaria de camisinha.
Quem diria que logo eu, Ana Vitória Albuquerque, que literalmente consegue tudo o que
deseja, arrumou o pior sexo da vida para comemorar seu aniversário!
Me recuso a contar isso para alguém. Minha melhor amiga teria uma crise de riso eterna,
e eu gastaria meu réu primário matando-a, e perderia minha OAB ainda, que lutei muito para
passar naquela prova.
Isso só pode ser castigo dos meus pais, por eu ter impedido que fizessem uma enorme
festa extravagante para sairmos na capa de alguma revista famosa, ou nas páginas de fofocas.
Passo pelo corredor às pressas e vejo um casal entrando em um quarto, estão repletos de
fogo. Espero que ela tenha mais sorte que eu.
Reviro os olhos e aperto o botão do elevador. Pego meu celular na bolsa e confiro as
centenas de mensagens me felicitando.
Vi tarde demais as mensagens me desejando sorte nessa nova fase.
Parabéns, Ana Vitória. Merece um prêmio pela pior noite de diversão da sua vida!
BRYAN
Ajeito as mangas da camisa branca, dobrando-as, enquanto mantenho meu celular preso
na orelha, segurando-o com o ombro.
— Filho, pelo amor de Deus. Já tem vinte e oito anos, está ficando velho, e continua
nessa vida de sair com várias mulheres, como se fosse um adolescente sem qualquer
responsabilidade!
Reviro os olhos, terminando de ajeitar as mangas e agora fechando meu cinto.
— Mãe, já falamos sobre isso. Você e meu pai precisam parar de se intrometer na minha
vida pessoal. Eu amo vocês, mas não vou arrumar uma mulher e filhos só porque vocês dois
querem. Um relacionamento sério não cai do céu! Na hora que tiver que acontecer, eu prometo
deixar, não vou impedir.
— Duvido muito! Você é safado demais, não ajuda quando fica com essa péssima fama
de conquistador de quinta! Será que terei que voltar ao Brasil para te colocar juízo? Bryan,
você vai morrer sozinho!
Seguro o celular com a mão agora e respiro fundo. A Sra. Filipa Nunes sabe ser
persistente.
Desde que meus pais foram morar nos Estados Unidos a trabalho, intensificaram os
pedidos para que eu construa uma família, acham que estou solitário ou algo assim.
Eu não estou solitário! Nunca estaria. Por que eu estaria assim?
— Eu vou ficar bem. Esqueça esse assunto. Já tenho um Mozão para lidar!
— O Rafael é seu amigo, não seu marido e nem seu pai. Esse menino é um anjo por te
aturar e ainda morar com você!
Sorrio, ajeitando os fios do meu cabelo ruivo, que modéstia à parte, é bem bonito, e não
teria como não ser, cuido muito bem dele e de mim.
— Não basta o Rafael estar namorando?
— Não, porque ele não é meu filho! — revida irritada.
Rafael e eu somos melhores amigos desde sempre. Fomos vizinhos, trabalhamos juntos, e
agora moramos juntos. Nossos pais são amigos, então praticamente somos da mesma família. Ele
começar a namorar foi tipo o primo da família que é fodão e seus tios ou pais ficam esfregando
isso na sua cara.
“Ah, o Rafael namora, está fazendo a vida dele, e você, filho?”
Sério, não aguento mais ouvir essa história. Foda-se. Rafael namora, que ótimo, fico
feliz, afinal torci muito e até ajudei para que ele e a Liz, minha chefe e amiga, mas também
melhor amiga dele, abrissem os olhos e enxergassem que nunca foi só amizade. E sim, também
acredito que exista amor ou o que for, e não me recuso de sentir, mas será com a pessoa certa e
no momento certo. Não é porque ele já arrumou alguém, que isso me anima a fazer o mesmo.
Acredito que ainda tenho muito que aproveitar antes de me amarrar a alguém.
— Mãe, ainda que eu arrumasse alguém agora, não seria para casar, ter filhos, tudo isso
de uma vez só como vocês dois desejam. O Voldemort foi perdendo o nariz aos poucos, não
serei eu que vou perder minha liberdade rapidamente.
— Desisto. Começou a falar desses bruxos, é porque vai me enrolar mais ainda.
Sorrio mesmo que não veja.
— Mãe, estou atrasado para o trabalho. Nos falamos depois. Beijos. Te amo!
— Eu também te amo, ainda que me estresse!
Ela se despede e desligo rapidamente antes que retorne o assunto. Dou uma última olhada
no espelho e saio do quarto.
Encontro o Rafael na sala pegando suas coisas.
— Atrasado de novo — ele fala e sorrio, já que a semana toda estive atrasado para
trabalhar.
— Liz me ama, jamais me demitiria por isso. Além disso, o novo fliperama está
consumindo a todos, temos trabalhado até tarde para ele ficar pronto logo, é claro que mereço
umas horas a mais de sono, ou essa beleza aqui, vai ficar destruída. — Aponto para o meu rosto e
pego minhas coisas.
Ele me encara e ajeita os óculos de grau em seu rosto, que são semelhantes aos do Harry
Potter, minha saga favorita de filme e livros.
— Ela vai te xingar e dizer que vai matar você!
— Não vai!
— Vai. Conheço minha namorada. E você vai tentar enrolar com seu charme, que não
funciona mais com ela. — O nerd sorri e semicerro o olhar.
— Nunca! Meu charme nunca deixa de funcionar. Agora vamos, o dia vai ser um
inferno!
— Nem me fale. Hoje terá uma reunião importante com os chefões. Querem adiantar o
lançamento do novo carro, vamos ver no que isso vai dar.
Rafael trabalha como engenheiro mecânico em uma fábrica de carros francesa. O garoto é
foda no que faz. Na verdade, ele é foda em tudo. Inteligente, bom amigo, bom filho, namorado...
É um exemplo, que infelizmente eu nunca sigo.
— Boa sorte então!
Ele assente enquanto saímos do apartamento.

Irritado.
Sim, o dia está sendo um inferno de fato!
Jorginho, meu fusca, não funcionou, de novo. Rafael já tinha saído com o outro carro. E
nenhum Uber apareceu, todos cancelavam a porcaria da corrida. Resultado? Vim andando para o
trabalho. A Santana Games, onde trabalho, fica a uns dez minutos de casa, mas o calor está
insuportável e já imagino o quanto essa camisa social ficará um terror para ficar intacta
novamente.
Porra.
Entro na minha sala, jogando tudo na mesa e soltando uma enorme lufada de ar.
— Eu vou te matar! Temos uma reunião, Bryan! — A voz atrás de mim me faz odiar o
meu amigo, que me alertou sobre o que aconteceria.
Viro-me e encaro a jovem de cabelos em tom de chocolate, olhos castanhos e com um
olhar assassino. Liz Santana, a dona de todo o império de fliperama e jogos que herdou do pai,
poderia me matar nesse momento, eu sei disso.
— Preciso de dez minutos.
— Para quê? Vamos!
— Meu cabelo deve estar uma merda, devido ao suor e preciso me ajeitar. Vim andando.
— Veio andando? Você? O cara insuportável quando se trata de chegar impecável nos
lugares? — Me encara, analisando-me atentamente, e como não faço gracinhas, ela gargalha. —
Desculpe, mas se isso não for um carma por estar abusando no trabalho por ser amigo da sua
chefe, eu não sei o que mais poderia ser!
— Dez minutos e apareço naquela maldita sala de reuniões — falo.
— Cinco!
— Sete e não se fala mais nisso! — faço uma contraproposta.
— Fechado. Eu teria deixado dez minutos. — Sorri.
— Eu sei. Se tornou uma enorme bruxa desde que assumiu tudo.
Ela pisca para mim, toda sorridente e animadinha.

A reunião durou cerca de uma hora e era sobre o novo fliperama. Desde o ano passado
estamos empenhados nisso, no projeto que o Josué, pai da Liz, deixou e ela quis dar
continuidade, o maior da lista que foi deixada. A ideia é construir um fliperama com simuladores
de carros para jogos, unir a modernidade com os anos setenta a oitenta, uma mistura de gerações,
e parte dos lucros será doado para um centro de treinamentos de futuros atletas. É um projeto
lindo, incrível, mas muito trabalhoso e que está enlouquecendo a todos, exceto a garota que
parece que comeu açúcar demais, de tão animada que está.
Recosto na cadeira, e jogo a cabeça para trás, enquanto o pessoal sai da sala. Liz bate
palmas animada e me chacoalha.
— Não é demais? Todo mundo está falando do novo fliperama da Santana! Estamos
movimentando o país.
— É... Uhul! — ironizo.
— Ah, Bryan, para! É gerente do setor de marketing, deveria estar mais animado do que
qualquer um aqui. Isso é bom sinal!
Encaro a minha chefe ligada no 220 V e sorrio.
— Chefinha, eu te amo, mas essa semana estou sem energia para viver. Estou feliz,
acredite, mas esse rosto lindo aqui não tem forças para demonstrar.
Ela faz uma carinha que conheço bem. É a mesma que faz quando vai nos meter em
furada.
— Eu preciso tanto de um favor... que esteja animado para querer fazer.
— Pelo amor de Deus, Liz, se arrumou outro projeto, eu mesmo te mato! — Esfrego a
têmpora.
Ela ri.
— Não! É só que tenho uma reunião por videoconferência daqui a pouco, e precisava ir à
Moon Eventos levar o contrato assinado que esqueci de mandar levar na Ana Vitória. Ela viria
buscar, mas está passando mal, algo assim, parece que está com uma intoxicação alimentar, teve
que ir embora mais cedo, e eles precisam do contrato, ou o evento dos novos jogos da Santana
não vai acontecer. Eles precisam desse contrato ainda hoje.
— Duas perguntas — falo e ela assente. — Primeiro, por que ainda não arrumou um
assistente? Segundo, por que não pede ao seu segurança para levar?
— Não tenho tempo para escolher alguém agora. E o Vitor foi para um treinamento novo
hoje. Vim com outro de nossos seguranças, que, pela cara que estava hoje, me chutaria se eu
pedisse um favor. Preciso de você, Bryan. Por favor... Te deixo ir com meu carro.
— É... Isso já muda as coisas. — Sorrio animado. — Banca o almoço fora da empresa e
negócio fechado!
— Você é muito folgado! — bufa. — Ok. Agora vai logo. Vou pegar o contrato e as
chaves. Entrega para o Sr. Albuquerque, somente nas mãos dele, ou da esposa dele. Eles vão
cuidar de tudo pessoalmente. Estamos atrasados para resolver tudo do evento.
— Eu deveria ter um aumento, só pelo tanto que te ajudo. Até seu assistente estou me
tornando!
Levanto-me e ela faz uma careta.
— Não dizem que sou mimada? Vou usufruir do título!
— Rafael te mima e eu me fodo? Puta merda!
Ela sorri, e só não a esgano porque é muito fofa. A sorte dela é que a amiga irritante não
vai estar lá, porque seria castigo demais para o meu dia, lidar com a cosplay da Barbie após
enfrentar esse sol infernal e chegar todo estragado no trabalho. Ou não iria.
Ana Vitória, a advogada Albuquerque que trabalha na empresa de eventos dos pais, no
setor jurídico, e melhor amiga da Liz, é uma garota irritante, gostosa e linda, mas irritante, e só
sirvo para lidar com ela quando estou em bons dias, porque ela tira o meu juízo e faz eu esquecer
que tenho quase trinta anos, e viro um adolescente pirracento. Lidar com ela hoje, não faz parte
dos meus planos, e apenas por esse motivo não xingo a Liz por me fazer resolver seus
problemas.
Saímos da sala de reuniões, e ela vai andando na frente, animada por ter conseguido o
que queria: me usar
— O Rafael sabe que, quando vem com essas saias curtas e justas, rebola mais que o
normal? — provoco.
Ela vira o rosto e sussurra:
— Vai à merda. E pare de olhar para a minha bunda, seu tarado!
Dou uma piscadinha. Liz nunca me afetou em nada, vejo ela como amiga, uma amiga
fofa e irritante, que sempre tenho que lembrar que pode me mandar embora, e então estarei
ferrado.
— Fica difícil quando vivo vendo sua bunda e do Rafael pelo apartamento, porque
parecem coelhos quando estão juntos!
Ela prende o riso e me xinga baixinho. Os pombinhos vivem me dando visões que eu não
queria ver, e sou um cara que ama sexo, mas não quando se trata dos amigos transando, é
esquisito.
— Se aprendesse a bater na porta, ou avisar que está chegando, não nos veria nus.
— Fica difícil, quando todo final de semana você aparece em casa. Não tem casa?
— Ciúmes, Bryan? Se quiser te empresto a Estrela, ela vai amar te fazer companhia.
Paramos na porta do elevador e ela aperta o botão.
— Deus me livre! Mantenha aquela gata maldita longe de mim.
Ela ri e cruza os braços.
— Não fala da minha gata. Ela é um doce!
Um doce estragado, podre, com gosto de vômito. Aquela gata é uma peste assassina. Eu
enfrentaria um leão, mas nunca a Estrela, a gata que eu sonho em esganar por todas as vezes que
tentou me matar.
ANA VITÓRIA
Alguma energia muito pesada está me rondando desde o dia do meu aniversário há umas
duas semanas. Começo a cogitar ir em busca de alguma benzedeira ou algo do tipo, porque algo
ruim está me rondando. O maior problema é se ela disser que a minha energia ruim sou eu
mesma.
Como se não bastasse ter tido o pior sexo da minha vida no dia do meu aniversário, agora
estou com uma tremenda intoxicação alimentar. Tenho certeza de que foi a comida japonesa. Eu
avisei a Liz que o lugar que fomos era de procedência duvidosa, mas ela não quis acreditar.
Tem dias que tenho me sentido mal. Estou muito enjoada, com mal-estar, sono… nossa,
diversos sintomas estranhos. Nada tem parado no meu estômago, e hoje a situação está pior,
porque estou com muita tontura também.
Estou tentando evitar ir ao médico, porque eu simplesmente tenho pânico de hospital,
fico ainda pior só de estar lá. E com isso, estou tentando a todo custo esconder dos meus pais que
estou à beira da morte. Mas hoje eles viram que eu não estava muito bem, já que não consegui
concluir a reunião com um dos nossos principais clientes, e falei que iria para casa.
Iria, no verbo passado…
Estava melhorando, pensei que ao menos conseguiria ficar mais tempo, terminar de
montar dois contratos e conferir outros; e então passaria na Santana Games, pegaria o contrato
da festa deles, caso a Liz não conseguisse trazer, e compraria algo na farmácia para sarar logo
dessa intoxicação. Esse era o plano.
Porém tudo isso foi por água abaixo. Nesse momento, estou agarrada ao vaso sanitário do
meu banheiro, na minha sala, sentindo-me fraca, torcendo para ninguém entrar aqui e me
encontrar nesse estado, principalmente meus pais.
Coloquei todo o café da manhã para fora, o pouco que consegui ingerir se foi. Meu
estômago está tentando me matar só pode. Mais ânsia e nada, não tenho mais o que vomitar,
inferno!
Minhas mãos tremem porque tenho pânico de vomitar. Tento tirar meu longo cabelo do
rosto, mas nem forças para movimentar os braços tenho. Estou muito mal. De todos esses dias,
hoje estou muito pior.
Olho para a porta do banheiro aberta, porque entrei às pressas. Meu celular ficou na
mesa, não posso ligar para a Liz e pedir para vir para cá me ajudar a não morrer, e o pânico dos
meus pais entrar e me encontrar assim e me arrastarem para o hospital, me faz passar mais mal
ainda.
De novo não…
Meus olhos marejam e volto a sentir meu estômago forçar a colocar algo para fora, mas
só vem a bile. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, estou assustada, não me lembro de ter ficado
assim alguma vez.
Peixe estragado mata? Meu Deus!
Ouço passos e tento me levantar, mas não consigo. Fecho os olhos no instante que sinto
mais necessidade de vomitar. Preciso sair daqui, porque, quanto mais sentir esse cheiro, mais vou
querer colocar até a alma para fora.
— Alguém? — Ouço a voz, e me arrepio toda, porque parece com a voz de uma pessoa, e
seria castigo demais se fosse.
Os passos ficam mais perto e, quando abro os olhos, vejo a figura parada diante da porta
do banheiro, com um envelope em mãos.
Me encara assustado, e espero muito que eu esteja alucinando, que não seja de fato o
ruivo infernal parado na porta do meu banheiro.
— Que merda aconteceu com você?! — questiona mais assustado.
Tento falar, mas meu estômago não deixa. E torno a colocar a bile ou o que sobrou dela e
da minha dignidade para fora.
— Ana Vitória, meu Deus!
Ele se aproxima e meu estado é tão crítico que não consigo impedir quando ele segura
meu cabelo para trás, e nem quando ele se abaixa, me encaixando em seus braços e me segura
firme, mantendo o envelope marrom longe do meu rosto.
— Quer sair daqui? Conseguiu vomitar tudo?
Assinto apenas. É o que consigo fazer.
Ele me ergue e fecha a tampa do vaso, então dá descarga.
Me leva para a pia, e deixa o envelope de lado. Abre a torneira, enquanto vejo o meu
estado no espelho, e parece que tive uma morte horrível.
Ele molha a mão livre e passa pelo meu rosto e minha boca, limpando-me. Minhas pernas
estão trêmulas. Só quero deitar-me e esquecer esse dia. A maquiagem vira uma meleca, até ele
retirar tudo, até eu estar mais apresentável.
Enxuga meu rosto com cuidado com a toalha que puxou do suporte. Deixa sobre a pia e
pega o envelope e então me leva para fora do banheiro. Me coloca sobre o sofá e apenas faço
sinal para a porta.
Ele olha para a porta e me encara em seguida.
— Fechar? Quer que eu feche ou saia?
Faço um sinal de dois com os dedos para que ele entenda.
— Vou fechar, mas não vou sair. Está morrendo, e nunca deixaria uma pessoa nesse
estado sozinha. Não sou maluco nesse nível.
Reviro os olhos apenas e me deito no sofá. Começo a ter certeza de que esse será meu
último dia de vida.
Ele se aproxima deixando o envelope sobre a minha mesa e então torna a me encarar.
— Liz pediu para que eu trouxesse o contrato, e não encontrei seus pais, me perdi nas
informações da recepcionista, mas foi bom, estava passando pelo corredor quando ouvi o som de
alguém vomitando. Estou surpreso, não sabia que a Mattel havia lançado a Barbie que vomita.
Achei muito moderno, mais realista.
Ergo o dedo do meio para o idiota, que sorri todo cretino.
Bryan Nunes, o melhor amigo do namorado da minha melhor amiga e o motivo do meu
estresse semanal durante longos anos. Desde que esse infeliz se aproximou da Liz, passei a ser
obrigada a aturá-lo, e considero um dos meus maiores castigos nessa vida.
Exibido, palhaço, infantil, irritante, metido… nossa, eu tenho uma enorme lista de
adjetivos para o ruivo irritante à minha frente. Nenhum deles é bom, todos são do fundo da
minha alma que não o suporta.
— Some… — consigo falar baixinho, sentindo a alma retornar ao meu corpo, aos
poucos, mas ao menos retorna.
— Liz disse que você está com intoxicação alimentar. Deveria ir ao médico, está
péssima. Já foi? — Ele caminha até o frigobar, como se tivesse qualquer liberdade aqui dentro e
ignorando completamente o que falei. — Lugar legal. Nunca tinha vindo na Moon só passado em
frente. Adorei o estilo casarão antigo. Essa é sua sala? Liz deveria se inspirar para me oferecer
uma igual a essa. Ela está muito muquirana.
Pega uma garrafa de água e se aproxima de mim. Me ajuda a sentar, e eu poderia enforcá-
lo, mas minhas forças ainda não retornaram em cem por cento.
— Vai, bebe um pouco de água. Devagar. Está totalmente sem cor, parecendo que está
morrendo. Ah, e vomitou no seu cabelo também, caso deseje saber.
Ergo o olhar para ele, que sorri de lado.
— Some daqui!
— Vejo que já está melhorando. Primeiro beba a água. Aproveita que estou no modo
caridoso e carinhoso.
Abre a garrafa e leva à minha boca. Puxo de sua mão e dou um pequeno gole e meu
estômago e garganta doem um pouco após a sessão intensa de vômito.
— Eu já tive intoxicação. É péssimo, mas vai por mim, ir ao médico é a melhor solução
porque isso pode piorar. Do corredor, eu ouvi você colocando as tripas para fora. E está péssima
de verdade, abatida. Olha que chego até sentir dó, bem lá no fundo da minha alma, bem no fundo
mesmo, consigo sentir essa dó — provoca-me.
Entrego a garrafa a ele, que fecha.
— Se abrir a boca para alguém sobre isso, te mato. Se já deixou o contrato, so... me… —
soluço.
— Não querendo te desanimar, mas qualquer um que te ver vai saber que está quase
morrendo.
— Da minha vida cuido eu. Só saia daqui e sem abrir sua boca para ninguém.
Ele ergue uma mão em rendição e deixa a água na mesinha ao meu lado.
— Você quem sabe. O contrato está aqui. Fui... Ah, melhoras. De verdade, melhoras aí!
Ele me olha por alguns segundos antes de sair.
— Tem como piorar mais esse dia? — Volto a deitar no sofá esperando melhorar só mais
um pouco para poder sumir daqui.

Depois da manhã caótica, estou em casa, trancada no meu quarto. Consegui sair da
empresa sem que meus pais me vissem naquele estado. Aproveitei para passar na farmácia e
comprei um remédio para dor de cabeça porque tudo isso me trouxe enxaqueca.
Acordei agora, quase cinco horas da tarde. Literalmente apaguei. No meu celular tem
diversas mensagens da Liz, me chamando para ficar com ela, mas recuso, falando que ainda não
melhorei, que fica para uma próxima vez.
Ignoro o restante das notificações no celular. Levanto-me e vou para meu banheiro,
preciso de banho, tentar comer algo e voltar a ter energia. Tenho que melhorar, porque me recuso
a ter que ir ao hospital.

Saio do banho renovada, nem parece que estive a um passo de erguer os braços e Deus
me puxar. Como é horrível ficar doente.
Caio sentada na cama, com o cabelo enrolado na toalha, e amarro bem o cinto do meu
roupão.
Batidas na porta chamam a minha atenção e peço para que entre. Minha mãe entra, com
seu estilo impecável, cabelos alinhados e uma postura admirável. Não me lembro de alguma vez
ter visto dona Marisa Albuquerque desarrumada, sem estar parecendo que vai receber algum
Oscar, ou algo assim.
— Vim ver se está tudo bem. Fiquei sabendo que se trancou aqui e que saiu abatida da
Moon, está tudo bem mesmo? Estava abatida mais cedo. — Me avalia, preocupada.
— Sim, estou bem. Apenas uma forte dor de cabeça. Mas já estou bem melhor.
Não me orgulho de ter que mentir. Mas não posso me dar ao luxo de ficar doente, meus
pais fariam disso um evento, me levariam à força para o hospital, e em segundos estaria com
minha cara estampada em todas as notícias. Parece que tudo na nossa família tem que virar
entretenimento para as pessoas, e o pior, eles parecem gostar quando é polêmica, claro, porque aí
as coisas ficam bem sérias por aqui e isso gera bem mais conteúdos.
— Entendi. Tenho te achado muito abatida esses dias. Parece que está me escondendo
algo. Espero estar errada, filha!
Forço um sorriso.
— Tudo certo por aqui. Era só isso? Preciso terminar de me arrumar. — Ignoro seu olhar
tentando encontrar algo em mim.
— Na verdade, vamos sair para jantar, vem conosco?
— Hoje não, mãe. Tenho alguns contratos para conferir e outros para finalizar.
— Meu amor, não é um convite... — Faz uma careta sem graça. — Seu pai quer você
nesse jantar.
Reviro os olhos e respiro fundo.
— E que tipo de jantar é esse? — Me irrito rapidamente.
— Calma, filha. É só um com os amigos de seu pai. Nada de mais.
— Onde ele vai tentar arrumar um alguém para mim... Dispenso! — rebato.
— Filha...
— Se ele quisesse mesmo a minha presença, teria a decência de vir aqui falar comigo, da
mesma forma que ele vai atrás de mim na Moon me encher de ordens, ou vai atrás da senhora
para que venha como um pombo correio. Não estamos nos séculos passados, onde ele acha que
tem o direito de ficar tentando me casar com alguém de posses. Me poupe!
Levanto-me nervosa e acabo sentindo uma tontura, mas tento disfarçar. Preciso comer ou
vou cair dura.
— Ana Vitória, tente entender, ele só quer o melhor para você. Já tem vinte e sete anos.
Tem que ter alguém. Passou da hora, querida. Veja, até a Liz já está se ajeitando, ainda que não
seja com um rapaz de boas condições como ela merecia...
— Chega! Século XXI, mãe. Estamos no século XXI, caso tenha se perdido. Liz é feliz, o
Rafael a faz feliz; se ele tem dinheiro ou não, isso não é problema nosso e nem de ninguém. O
Rafa tem mais caráter do que muitos que convivemos, mesmo sendo uma escolha “errada” como
ficam dizendo. — Ela desvia o olhar. — E torçam para a minha amiga não descobrir isso, ou ela
não vai ser educada, acreditem, e a mãe dela muito menos. Agora, se puder me dar licença, serei
grata, mãe.
Ela suspira, e assente, saindo do meu quarto. Essa é só uma das atitudes que ela sempre
tem. Minha mãe não insiste, ela se entrega rápido demais em uma discussão, ou no que quer que
seja, só para não se desgastar. É por isso que o meu pai sempre a comanda, controla seus passos,
porque ela é uma enorme submissa a ele.
Amo meus pais, eles são boas pessoas, isso tenho certeza, mas estou farta desse mundo
deles que acham que é tudo perfeito e que só pessoas como nós são boas de verdade. Gozo dos
meus privilégios, não minto, mas estou saturada de viver esse inferno dentro de casa, enquanto
todos acham que aqui é um mar de rosas.
Em breve poderei sair daqui, com meu próprio dinheiro. Até ano que vem terei paz, e
seguirei com minha vida. Continuarei trabalhando na Moon, porque amo aquele lugar, e sei que,
quando eles não tiverem mais controle da minha vida pessoal, me darão paz no trabalho.
Pego meu celular e envio uma mensagem a Liz:

Ana: Está em casa ou saiu?

Liz: Estou na Burguer Place – Anos 80 com os meninos, queria você aqui também.
Viemos para cá, distrair um pouco. Foi um dia cheio. Está livre? Vem pra cá, amiga!

Fico pensativa. Analiso se meu estômago vai cooperar. É melhor não arriscar e continuar
sem aceitar o convite de ficar com ela hoje.

Ana: Fica pra próxima. Aproveitem. Te amo!

Ela envia uma figurinha de uma bebezinha chorando e sorrio. Largo o celular e vou para
o meu closet pegar um pijama, depois farei minha skincare e tentarei comer enquanto estou
melhor. Focarei nas coisas da Moon; e se eu cansar, assisto alguma série ou filme, ou me rendo
ao meu hobby secretinho: jogar. Nem a Liz sabe, ou me atormentaria eternamente,
principalmente por ser muito competitiva, diferente de mim que sou tão da paz, jamais seria
competitiva.
Eu competitiva? Nunca!
BRYAN
A semana tem sido um caos. Às vezes me questiono quais as vantagens de ser amigo da
dona da empresa, já que ela se acha no direito de me explorar mais ainda. Jurei que viveria uma
vida das Kardashians, mas estou mais para a do Dobby, de Harry Potter.
Por sorte hoje recebi uma folga, Liz teve piedade de mim. Mas para ela me oferecer folga
na sexta-feira, é sinal de que vai me explorar muito na semana que vem. Só queria saber onde eu
errei. Final do ano passado estive nos Estados Unidos, e trouxe chocolatinhos para aquela
ingrata, e ela me retribui assim? Essa semana parecia não ter fim.
Caminho pela farmácia, procurando os produtos de cabelo que preciso repor. Eu poderia
comprar na internet, seria mais barato, mas preciso com urgência, meu cronograma capilar não
pode ser bagunçado. Os produtos que eu trouxe dos Estados Unidos já acabaram, o que é uma
lástima, porque paguei baratinho neles e aqui pago o triplo praticamente.
É difícil ter gostos caros e conta bancária que não condiz com eles.
Encontro o óleo reparador e coloco na cestinha preta em minhas mãos. Sinto-me sendo
observado, e ergo o olhar, uma garota me olha e, assim que nota que a vejo, fica toda vermelha e
desvia o olhar, virando-se para a outra garota ao seu lado.
E o Rafael ainda duvida que não preciso de esforço, as mulheres despencam aos meus
pés. São as sardas, ou o cabelo ruivo? Ou o combo todo? Voto no combo todo.
Suspiro e sorrio.
Continuo caminhando pelos corredores, até escutar uma voz que eu reconheceria até do
outro lado do mundo. Franzo o cenho e discretamente me aproximo mais, para ouvir. Não que eu
seja curioso ou fofoqueiro, mas é interessante ver ela por aqui.
— Remédio para enjoos? Vou verificar aqui para a senhorita.
A loira usando uma calça preta colada ao seu corpo, camisa branca e saltos, ajeita a bolsa
preta em seu antebraço. Na gola da camisa tem um acessório brilhante, que me admira muito ela
ficar andando com isso por essa região, porque é nítido que vale o preço de um carro popular se
bobear.
Está maquiada como sempre, mas nem isso esconde a palidez em seu rosto. Seus olhos
azuis estão fundos, e existe uma olheira mal camuflada abaixo deles.
Essa maluca está morrendo. Preciso separar a roupa preta, se bem que elas dominam meu
armário, não será difícil.
A farmacêutica retorna, entregando a ela as opções e explicando, mas informando que, se
ela de fato estiver com intoxicação alimentar, precisa procurar um médico, que só o remédio não
vai resolver, e se automedicar assim é perigoso.
Essa história não faz sentido. Essa semana a Liz comentou de novo que está preocupada,
que a Ana Vitória está mal, com a tal intoxicação. Que comeram em um restaurante japonês e ela
ficou assim. Porém, aparentemente, pediram uma barca de comida, dividiram. É muito estranho
isso, e seria azar demais apenas a cosplay da Barbie ficar mal, e a Liz cheia de energia e sugando
a minha como um Dementador. Isso que ainda a Liz não sabe como encontrei a amiga dela no
banheiro, parecia que estava à beira da morte.
Ela pega o remédio e vai para o caixa pagar, ignorando todo o conselho que recebeu. Não
me admira, ela é teimosa.
Me aproximo mais, encostando em uma das prateleiras e agora chamando sua atenção.
Ela se assusta, como se estivesse escondendo algo. Ergo a sobrancelha e sorrio de lado.
— O que te trouxe para uma farmácia no centro de São Paulo? Pensei que frequentasse
apenas as dos bairros nobres.
— Cale a boca! — sussurra olhando para os lados.
Reviro os olhos.
Ela termina de pagar e agradece pegando a sacola.
— Então? Ainda morrendo? — questiono e ela bufa irritada.
— Você não me viu aqui, fui clara? — Retira os óculos de sol da bolsa.
— E acha que apenas esses óculos vão esconder que a patricinha de São Paulo está aqui?
Isso não é filme!
Ela olha para os lados de novo, mas só temos nós dois e as duas meninas. Me empurra
para o corredor de absorventes e outras coisas íntimas para mulheres.
— Se eu quisesse que as pessoas soubessem que estive em uma farmácia comprando
remédio para enjoo, não teria vindo aqui. Então, se puder calar a boca, serei grata!
— Ok. Mas não respondeu a minha pergunta.
— Que pergunta, seu infeliz?
— Tão delicada... Tão amorosa! É um charme! — Ela me fuzila com o olhar e isso me
faz rir. — Se está morrendo ainda, a tal da intoxicação, lembra?
— Não que te interesse, ainda não estou bem, mas vou melhorar. Agora tchau, e não abra
sua boca para ninguém! — Me dá as costas.
— Sabe o que acho estranho? — deixo escapar.
— O coque que faz toda vez que prende o cabelo? — pergunta.
— Não fala do meu cabelo! — Encaro-a bem sério.
Ela suspira e se vira para mim.
— O que acha estranho, idiota?!
— Que a Liz contou que isso tem a ver com a comida japonesa, mas se dividiram a
mesma comida, por que ela não está morrendo? Tem tanto azar assim, loira?
— Aparentemente sim, já que, em uma semana, tive o azar de te encontrar duas vezes! —
Ergue a sobrancelha bem-feita.
Eu poderia mostrar a língua a ela, mas sou um homem maduro.
— Isso não é intoxicação alimentar. Pode ser alguma virose, algo do tipo, mas
intoxicação não é. Eu já tive, é ruim, mas você parece que está com os dias contados. — Encaro
um sabonete íntimo e pego, abrindo para sentir o cheiro. — Muito melhor o cheiro natural do
que isso. Cheiro de hospital. Péssimo! Quem quer a parte íntima com cheiro de hospital? Porra!
— Fecho o sabonete, voltando ao foco. — Enfim, deveria ir ao médico e não se automedicar. A
sua amiga está bem preocupada.
— Para de jogar praga! — retruca nervosa. — Estou ótima! E feche logo essa merda, esse
cheiro está me matando! — Faz uma cara de nojo.
Fecho o produto e coloco na prateleira.
— Olha, não é praga. A gente se implica e tudo mais, mas deveria buscar ajuda médica.
Até eu estou preocupado de ter que ir ao seu enterro. Odeio enterros. Tenho medo deles. Mas não
conte a ninguém.
— E quem disse que eu iria querer você nele? Seria capaz de ressuscitar só para socar a
sua cara!
Sorrio, afinal, ela me diverte quando fica irritadinha. Pega o celular na bolsa e confere
algo.
— Eu não entendo nada dessas coisas, mas está igualzinha a menina da limpeza lá na
Santana — comento.
— E ela morreu? — ironiza, sem prestar atenção em mim.
— Não. Está afastada. Ela está grávida. — Dou de ombros.
Ana Vitória fica muito pálida rapidamente, erguendo o olhar para mim. Até parece que
falei que é ela que está grávida.
— Eu não estou grávida! — revida muito nervosa.
— Eu não disse que estava!
— Insinuou, Bryan! — diz entredentes, que por sinal são lindos.
— Eu comentei, não insinuei. Está mais na defensiva que o normal. Por que ficou pálida?
Existe a possibilidade? — brinco.
— Claro que não. Está tudo em dia. Eu me cuido muito bem, e... — Um barulho em seu
celular faz ela parar de falar. Encara o aparelho e, se eu achei que ela estava pálida, agora está
ainda mais.
— O que houve? Agora começou a me assustar. — Me aproximo mais e ela não se
afasta, então consigo ler o que aparece na tela do seu celular.

“Sua menstruação está atrasada em mais de 10 dias. Confira o que pode ser....”

— Gente, que modernidade, né? Vocês têm esses avisos? Os homens deveriam colocar
no celular também, sabe, os que namoram ou são casados, ajudaria eles a sobreviverem. Tipo,
colocavam os dados das mulheres com quem convivem e seria ótimo acompanhar os períodos de
riscos à vida deles. Isso avisa sobre a TPM, né? — pergunto, mas ela não responde.
Ana encosta na prateleira e fico mais preocupado. Ela parece que vai desmaiar.
— Não, isso não poderia acontecer... A última vez foi... — Ela começa a contar nos
dedos. — Não. Ele usou camisinha... Se bem que ele era um desastre. Mas isso não aconteceria
comigo. Jamais... — Começa a falar sozinha e isso me deixa com medo. Sempre soube que ela
era meio doidinha, mas não achei que fosse tanto. — Mas estou há meses sem anticoncepcional,
a médica tirou porque estavam me fazendo muito mal e ainda não decidi qual outro método
faríamos. — Suas mãos tremem muito, é nítido.
— Ana? Está tudo bem?
Olho ao redor e as meninas estão no caixa, nos olhando, mas terminam de pagar e saem
me dando sorrisinhos.
— Ana Vitória?! — chamo sua atenção.
— Mas não poderia acontecer na única vez que pode ter ocorrido um deslize, né? Logo
de primeira? Não... Isso deve estar errado...
Ela tenta desbloquear o celular, mas não consegue. Deixo a cesta no chão e aperto seus
braços, chacoalhando-a de leve. Seu rosto se ergue me encarando. Seus olhos estão marejados,
seus lábios sem cor alguma.
— O que está havendo? Está me assustando, garota!
Ela nega e engole em seco.
— Bryan, precisa comprar testes. Eu não posso, porque podem vazar isso se alguém vir,
sei lá... — Não tem ninguém aqui, mas não vou falar, ela não parece nada bem. — Eu vou para o
meu carro, compra dois de lotes diferentes, os melhores. Me entrega eles, ok? Toma. É só
encostar, não precisa de senha! — Ela consegue pegar o cartão na bolsa e me entregar. Um
cartão black.
Quem diria que eu tocaria em um desses. Pego o cartão afastando as mãos dela.
— Teste? — Pego o cartão.
— É... Idiota! Testes de gravidez — sussurra. — Vai logo!
— Espera... Então...
— Não... Impossível. Mas não custa fazer um teste, não é? Vai ver que é só sua fofoca
maluca que me afetou e o aplicativo está errado!
Ela não fala nada com nada.
— Vou comprar. Vai para o carro, é melhor, antes que me enlouqueça junto.
Ela se afasta bem atordoada, quase derrubando sua sacola com o remédio. Pego minha
cesta, nem vou procurar pelo restante das coisas, vou pagar isso e comprar o que a maluca pediu,
antes que ela tenha um treco.
Se meu cabelo ficar uma merda, a culpa será dela.

Seu carro está parado no estacionamento da farmácia, e não seria difícil achar caso não
estivesse aqui, afinal, é um Porsche vermelho, bem discreto, só que não. O carro do seu
segurança está ao lado. Ela e a Liz parecem até filhas do presidente, meu Deus!
Bato no vidro do banco do passageiro e escuto-a destravar a porta.
— Trouxe?!
— Parece até que estou trazendo drogas. Me sinto cometendo um crime.
— Me dá logo isso e entra no carro!
— Quê? Sempre soube que se renderia ao meu charme!
— Não veio de carro, certo? — Odeio quando ela está certa.
Entro no carro, deixando minha sacola aos meus pés.
— Eu não posso fazer isso na empresa e nem em casa. Ninguém pode sonhar com isso...
O que eu faço?!
— Todo esse drama para fazer um teste de gravidez?
— TODO ESSE DRAMA? VOCÊ NÃO TEM NOÇÃO DA MERDA QUE SERÁ SE
ISSO FOR REAL! ENTÃO NÃO OPINE SEM TER A PORRA DO DIREITO DE OPINAR! —
berra nervosa.
Ergo as mãos.
— Me calei, Barbie. Vamos para a minha casa. Rafael vai chegar tarde hoje, faz o teste
lá, terá o dia todo para isso. — Ela me olha com nojo e desconfiada. — Prometo que não vai se
contaminar com nada, donzela — debocho mesmo sabendo que corro risco de vida.
— Eu nunca fui à sua casa. E não pretendo ir! — Seu tom é como se ela fosse andar na
prancha e ser morta em seguida.
— Uma hora ou outra isso iria acontecer, gata. Aceita. Vamos, está parecendo uma doida.
Quer que eu dirija?
— Não! Isso vai me distrair e preciso muito disso agora. E não me chame de gata, idiota.
— Tudo bem. Sabe onde moro?
— Mais ou menos. Saiba que eu não estaria entrando no seu covil se não fosse caso de
vida ou morte. Quero que isso fique claro.
Sorrio de lado enquanto coloco o cinto.
— Uhum... Claro!
— Tire esse sorrisinho idiota da cara, ou te jogo para fora desse carro em movimento!
— Impressão minha ou esse ano está mais agressiva do que o normal? Competindo com a
gata demoníaca da sua amiga? — Encaro-a.
Ela não responde e isso me faz sorrir mais.
— Sem sorrisinho, eu já disse!
— Não estou sorrindo!
Viro o rosto para a janela, antes que ela me arranque os cabelos.
ANA VITÓRIA
Entro no lugar que jamais desejei estar. Estar na casa do Bryan Nunes é dar mais
intimidade a ele, que acha que tem alguma comigo. Mas me vejo agora entrando em seu
apartamento, em completo desespero. As chamadas que recusei mostram que meus pais estão
atrás de mim na Moon, mas não consigo ir até lá sem ter a certeza de que as coisas estão normais,
que nada vai mudar, que isso é só uma intoxicação alimentar ou virose.
— Bem-vinda ao covil! — ele provoca, deixando a sacola sobre a mesa, enquanto acende
as luzes. O apartamento está todo fechado e dominado pelo cheiro de casa bem limpa.
Observo ao redor, mas não me atento muito aos detalhes. Minha cabeça está longe. Estou
me sentindo mal, exausta, sonolenta, cansada e apavorada. Só quero logo resolver essa situação.
— Só me mostra o banheiro, Bryan. Preciso resolver isso e sumir daqui.
— Claro, é um prazer ter você em meu lar. Sempre tão delicada! — Estende a mão pelo
corredor.
Apenas acompanho-o conforme ele começa a andar. O apartamento é pequeno, então
logo estamos na porta do banheiro. Ele abre a porta para mim e me dá passagem.
— Qualquer coisa é só gritar.
Assinto sem saber por que faço isso, não é como se eu esperasse que ele fosse resolver
algo.
Entro fechando a porta atrás de mim, e deixando minha bolsa sobre a pia. O banheiro é
pequeno, mas é bem limpo, e ao menos isso é admirável. Sempre pensei que por dois homens
morarem aqui, isso seria um lixão. Julguei errado... muito errado.
Me olho no espelho, a luz do sol na janela clareia o ambiente e me mostra o quanto estou
destruída. Nem me reconheço. Parece até que fui atropelada. Fecho os olhos por um instante e
respiro fundo antes de abrir minha bolsa e pegar a sacola com os testes que joguei dentro dela.
Acabo retirando a sacola do remédio também. Deixo essa cair dentro da pia, enquanto retiro os
testes de gravidez de dentro da sacola em minha mão. O saco eu jogo em cima do outro. Tudo
muito rápido, de modo desesperado.
Analiso as caixinhas, e sinto a necessidade de engolir em seco e é o que faço. Em toda a
minha vida nunca necessitei fazer isso, sempre tive certeza sobre não estar grávida. Mas nos
últimos dias tudo tem sido uma loucura, e acho que é por isso que não quero ir ao médico, o meu
sexto sentido me diz que tem algo mais sério rolando.
Estou em pânico.
Retiro eles da caixinha e leio as instruções para não fazer nada errado. São de marca
boa... Ainda não acredito que eu serei uma das pessoas que precisa usar isso.
Eu não demonizo ter um filho, mas ter um na minha situação atual, onde meu lar está em
completo desequilíbrio, minha vida um caos, não é a melhor coisa. E pior, se de fato estiver, nem
o nome do pai dessa criança eu sei, não me lembro de onde ele era, foi um cara qualquer, em
uma noite qualquer.
Isso não pode estar acontecendo comigo. Não pode!
Respiro fundo, e abro a calça, pronta para fazer de uma vez e saber se de fato devo surtar.

Os minutos parecem virar horas. Não consigo nem olhar para os testes. Estão sobre a pia,
mas estou com medo. Parece até que virei novamente a garotinha que tinha medo de tudo. Meu
coração nunca bateu tão forte, nem quando ganhei minha primeira Chanel, aos quinze anos de
idade, afinal, isso é muito mais sério, nem se compara.
Estou me sentindo até sufocada. Abro a porta e sobressalto vendo o Bryan encostado na
parede a frente, os braços tatuados estão cruzados, assim como os pés um no outro. Ele me olha
curioso, e claro que faz, é um enorme fofoqueiro, sei bem de sua fama de linguarudo.
— E aí? Vem mais um herdeiro para a elite de São Paulo? Vocês se multiplicam, né? E
vai triplicando o dinheiro, já notou?
Quem diria, que no maior caos da minha vida eu precisaria do cara que mais me irrita, e
que, se eu pudesse, matava.
— Demora um pouco e não consigo ficar lá para ver.
Ele concorda.
— Vai, me conta. Em que problema você se meteu, Cosplay da Barbie? Estamos só nós
aqui. Prometo não contar a ninguém que está desabafando com Bryan Nunes. — Sorri, e suspira.
Encosto na parede ao lado da porta e escorrego, sentando-me no chão, e deixando o ar
sair dos meus pulmões. Mas sinto que, se eu não abrir a boca para alguém, eu vou ter um treco.
— Passei meu aniversário em Ibiza. — Ele ergue a sobrancelhas. — Não finja que não
sabe, me segue nas redes sociais e fica stalkeando a minha vida.
— Temos um ponto, gata.
— Não me chame de gata. — Ele sorri, porque Bryan ama sorrir e isso é tão irritante.
Parece que está correndo açúcar puro em suas veias e não sangue, de tão alegre e bobão que
sempre está. — Enfim... Na noite do meu aniversário, dormi com um cara. Não sei o nome, era
um cara qualquer. Não me lembro nem de onde ele disse que era. Eu só queria sexo e diversão.
Mas ele é um idiota, não sabia transar, e pior, nem usar uma camisinha direito. Eu deveria ter
desistido no instante que ele ficou cinco minutos tentando colocar aquela merda, mas fiquei com
pena... eu acho. — Faço uma careta. — Enfim, um minuto, foi o que ele levou para gozar. Ele
fez uma bagunça, e mais uma vez fui idiota em não ter ligado um alerta aí, me sujou, se sujou...
Eu só queria sair dali e cancelar aquela noite horrenda. Voltei para casa e achei que estava tudo
certo, até eu começar a ficar nesse estado, como se estivesse morrendo. E daí em diante você já
sabe.
Parece que acaba de sair um peso das minhas costas por abrir a boca sobre isso.
— Ele durou um minuto?! — Arregala os olhos. — Quando perdi a virgindade durei
mais. E ele não sabia usar uma camisinha e ainda assim transaram? Se é que pode chamar isso de
transar!
— Claro que focaria só nisso! Não sei nem porque perco meu tempo falando. — Balanço
a cabeça.
— Porra, Ana, claro que foquei. É uma tragédia, além disso, o idiota poderia ter doenças,
sei lá... Ok, não vou julgar, já fiz e faço muita merda na vida. Ninguém é imune. Mas com toda
essa situação, não desconfiou que poderia estar grávida? Jura?
Nego e encosto a cabeça na parede, cansada demais para qualquer coisa.
— Como fui ao restaurante de procedência duvidosa que a Liz nos meteu, nem pensei
nisso. E estava na correria no trabalho, não me atentei que minha menstruação estava atrasada.
Agora é isso, aguardar para saber que merda eu fiz da minha vida...
— Não fala assim, vai! Se condenar será pior, Ana.
— Enfim, preciso tomar coragem e ver os malditos testes... Nem coragem disso eu tenho.
— Minha voz embarga e me acho idiota por isso acontecer.
— Quer que eu veja primeiro?
Só assinto, como uma boa covarde que me tornei nas últimas horas.
— Tudo bem... Vamos lá!
Ele desencosta da parede e entra no banheiro. Minha ansiedade torna a vir, meu coração
até parece que vai explodir, chega a doer o peito de tão rápido que ele bate.
Bryan para na porta do banheiro, olhando os testes, e não consigo ler sua expressão.
Minha respiração está bem agitada, fazendo meu peito subir e descer em um movimento rápido.
— Não estou, né? Foi só um surto! — Sorrio, tentando ter esperanças.
Ele força um sorriso, é nítido. Bryan nunca força sorrisos, pelo menos, não comigo,
porque ele sempre está sorrindo cheio de dentes para me irritar.
— Sinto muito... Ou desejo parabéns? Deu positivo, Ana Vitória... Os dois deram
positivo.
Levanto-me desnorteada, e puxo da sua mão, olhando, mas minha visão está embaçando
pelas lágrimas que começam lotar os meus olhos. Um soluço escapa dos meus lábios quando
vejo o resultado. Grávida, estou grávida de duas a três semanas, marca no pequeno visor.
Minhas mãos tremem. As lágrimas agora escorrem pelo meu rosto.
— Ana...
Nego, entrando no banheiro e pegando as minhas coisas. Passo por ele às pressas.
— Ana Vitória, você precisa se acalmar... Olha seu estado! — grita me chamando.
— Eu preciso sair daqui, e-eu... Não, isso tem que ser um erro. Não pode ser, Bryan. Não
pode! — grito de volta e desesperada.
Ele se aproxima tirando as coisas da minha mão e colocando sobre a poltrona na sala.
— Senta, vou pegar uma água para você. Se acalma, precisa respirar.
— Eu não quero me acalmar. Você não entende, não é? Isso vai ferrar minha vida! Uma
criança agora é a pior coisa que poderia me acontecer. Bryan, eu nem sei nada sobre o pai, minha
casa tá um inferno, meus pais prezam muito a boa imagem, como será quando isso sair na
imprensa? Quando descobrirem que essa criança não tem pai, porque foi concebida em uma
noite qualquer de Ibiza? Está tudo errado! — O choro vira um total desespero.
— Respira, ok? Senta aqui e respira. E não diga isso sobre o bebê... Não fale coisas que
futuramente pode se arrepender, meu bem... Está nervosa, eu entendo...
— NÃO QUERO ME SENTAR! EU NEM SEI MAIS O QUE QUERO... EU FERREI
TUDO. MEUS PAIS VÃO ACABAR COM A MINHA VIDA. A IMPRENSA VAI TORNAR
CADA DIA MEU EM UM TORMENTO! EU NÃO QUERO RESPIRAR, EU SÓ QUERO
QUE ESSAS MERDAS DE TESTES ESTEJAM ERRADOS! — grito mais, muito nervosa
ainda.
Ele me olha sério, não tem gracinha.
— Eu vou pegar uma água. Você vai se sentar nesse sofá e vai respirar, antes que tenha
um infarto! — Ele me senta no sofá, e isso me faz desmoronar mais. — Calma, ficar nesse
estado vai piorar as coisas.
Ele vai buscar a água, enquanto choro em seu sofá, sem rumo, sem saber o que fazer.
— O que eu vou fazer? Como vou falar isso para eles? E pior, como direi que nem o
nome do pai sei, e muito menos sei de onde é, porque é estrangeiro? Como eu pude ser tão
burra... — soluço em meio às lágrimas.
Ele traz a água e se abaixa à minha frente, me entregando o copo. Seguro com as mãos
trêmulas, e levo à boca bebendo aos poucos. Entrego o copo a ele, que coloca no suporte de
copos no braço do sofá e me encara.
— Não me olhe assim... Isso é o pior olhar que poderia receber agora, Bryan!
— Que olhar? De preocupação?
— De pena. Não preciso que sinta pena de mim.
— Não estou fazendo isso. Não confunda preocupação com pena. Estava aqui pensando
nos últimos dias, a Liz preocupada, o estado que te encontrei naquele banheiro... Você foi
guerreira em aguentar tudo isso sozinha, sabia?
Reviro os olhos e agora ele sorri e é sincero. Apoia os braços na minha perna, e em
qualquer outro momento eu o chutaria bem nas bolas, mas no momento não tenho forças para
chutar nem o ar, quem dirá alguém.
— Eu ferrei tudo... Tem chance de eles estarem errados?
— Sinto muito, mas diante de tudo que contou, e como está, e o resultado... Ana, é real
isso. Mas pode ir ao médico, buscar uma confirmação mais precisa. Eu posso ir com você se
quiser fazer isso hoje.
— Nem sei como vou fazer isso... Se vazar algo, tudo vai estar nas páginas de fofocas em
poucos segundos...
— Procuramos um hospital fora do foco, uma clínica, qualquer coisa podemos ir para
uma cidade no interior, não sei, daremos um jeito. Sempre tem um jeito.
— Por que quer tanto me ajudar? A gente se odeia! — Enxugo meu rosto, e mordo o
canto da boca.
Ele ri baixinho.
— Porque você me odiar não significa que eu deseje o pior para você, como ter um treco
ficando nesse estado. E eu não te odeio, Ana.
— Eu te odeio.
— Eu sei, e isso é a parte divertida. Tem que odiar aquele que só gosta de te irritar,
porque você tira o pior dele, e o cara ainda assim consegue te arrancar sorrisos, mesmo que tente
esconder eles de todos. Eu sempre noto.
Acabo sorrindo e me odeio por isso, por não conseguir controlar. Eu não dou sorrisos
para ele. Nunca! Mas isso não é importante, não agora.
— O que eu vou fazer? Eu não sei como resolver isso... Pela primeira vez, não sei lidar
com minha vida, e estou recebendo ajuda do cara que sempre me deixa a beira de usar meu réu
primário. Isso é muito castigo de uma vez só, não concorda?
— Você vai ao médico, mas, primeiro, precisa se acalmar de verdade, e só então pensar
no que vai fazer.
Assinto, porque até concordar com o inimigo passei a fazer.
— Não pode contar isso a ninguém, nem mesmo ao Rafael. Ninguém pode saber de nada,
até eu entender a bagunça que virou tudo, ok?
— Aí você me complica. Eu tenho nas mãos a bomba do ano, e não posso abrir a boca?
Porra, garota! — Encaro-o preocupada, mas o idiota começa a rir. — Claro que vou ficar calado.
Agradeço com um aceno.
— Eu preciso ir trabalhar, o exame vai ficar para outro dia.
— Você precisa respirar, eu já disse. Pode ficar sem ir a Moon hoje, Ana. Não seja
teimosa. E precisa fazer o exame, só para ter certeza de vez. O quanto antes é melhor.
— Estou apavorada, Bryan... — sussurro com a voz trêmula.
— Claro que está, ainda não me chutou por estar encostando em você. Vem... — Abre os
braços e franzo o cenho. — Vem, sei que precisa de um abracinho. Dizem que meu abraço é o
melhor do mundo.
— Nem morta eu vou te abraçar. Posso estar mal, mas não maluca. E quem te falou isso
mentiu!
Ele ergue uma sobrancelha.
— Última chance... Um... Dois...
Me inclino na sua direção, tendo certeza de que fiquei louca de vez.
Abraço o idiota e ele me aperta e, quando se senta no chão, me traz para o meio das suas
pernas, e quando me aperta mais um pouco desmorono de vez.
Eu só sei cuidar das minhas coisas de grife, como vou cuidar de um bebê? Não sei fritar
um ovo, quem dirá cuidar de uma vida frágil.
Ele afaga meu cabelo e acaricia minhas costas. Meu rosto está escondido em seu peito, e
meus braços apertam sua cintura. E o infeliz é cheirosinho, que merda! Mil vezes merda!
— Vai ficar tudo bem, gata.
— Não me chama de gata, inferno! — resmungo.
— Tudo bem, gatinha!
Soco suas costas e ele ri, mas não me solta. E ainda bem que não faz, porque estou
morrendo, sinto isso.
— Se abrir a sua boca sobre como estamos nesse momento, eu te mato, Bryan! Eu pico
seu c-corpo... Eu te jogo no vulcão... E-eu... — soluço.
— Eu já entendi, psicopata. Essa criança vai precisar de muita terapia. Com o gênio que a
mãe tem, a coitada vai ter medo de dormir à noite, porque o bicho-papão dorme no quarto ao
lado. Ainda bem que terá tios maravilhosos; e caso não tenha entendido, sou o tio maravilhoso!
— Eu te odeio, eu juro que te odeio muito! — choro sem parar e ele ri, sem ligar para o
que digo.
BRYAN
Eu já imaginei muitas maluquices na minha vida, mas nunca que veria a maior patricinha
de São Paulo nesse estado e precisando da minha ajuda. Ainda estou tentando assimilar tudo que
aconteceu em poucas horas.
A garota está grávida.
Tenho que segurar minha língua.
O negócio marcou “GRÁVIDA”.
EU TENHO QUE SEGURAR A PORRA DA LÍNGUA.
Isso é o maior castigo na vida de uma pessoa comunicativa. Afinal, sou um homem
comunicativo e não fofoqueiro.
Mas algo não está se encaixando. Entendo o pavor dela, ou não, na verdade, jamais teria
noção dos sentimentos de uma mulher diante dessa notícia, mas ela está agindo como se isso
tivesse acabado com sua vida para sempre. Não é como se ela não tivesse condições de criar essa
criança, mesmo na ausência do idiota do um minuto... Puta merda... um minuto e ainda fez
merda... Meus pais deveriam ouvir essa história, saberiam que ao menos inteligente e bom no
sexo eu sou, mesmo sendo cretino, safado e todos os adjetivos que me dão.
Tem algo rolando na casa dos Albuquerque, eu troco meu nome se não tiver, e me
chamarei de X-Tudo! A menina está em pânico. Quantos anos mesmo ela tem? Fez vinte e sete...
Isso... Vinte e sete anos, e está em pânico como se fosse uma adolescente, ou alguém sem nada a
oferecer a criança, e não uma bilionária, milionária, já nem sei mais, e uma puta de uma
advogada foda no trabalho, porque só se fala disso na mídia, o quanto ninguém passa a perna na
Moon e o quanto as coisas lá funcionam bem por causa dela, que cuida do jurídico. É, tem algo
muito sério. A reação dela é de pânico ao extremo, não é susto, surpresa, medo... É pânico.
Entramos no seu carro, e ela me pediu para dirigir, não que eu fosse recusar, porra é um
Porsche!
Encontramos uma clínica no interior, fica em Campinas. Conseguimos marcar para ela
ainda hoje, longe do foco da cidade onde mais vigiam seus passos. Quem diria que eu estaria na
minha folga levando uma foragida para o interior do estado, porque está grávida.
Puta que pariu. É informação demais para mim.
— Sabe dirigir esse carro, né? — pergunta colocando o cinto de segurança.
Coloco meus óculos de sol e nem a encaro, porque eu poderia arrancar sua língua nesse
momento.
Me ajeito após colocar o cinto, antes que ela tenha tempo de perguntar de novo, saio da
vaga de visitante, levando rapidamente o carro à avenida, e sentindo seu olhar sobre mim.
— Sou formado em Velozes e Furiosos. — Sorrio sabendo que ela vai surtar.
— Ficou louco? Poderia ter matado a gente!
— Sem pânico. Está comigo, está com...
— Não coloque Deus nisso!
— Olha, conhece o ditado? Ana Vitória é uma jovem sábia? Estou surpreso — provoco,
vendo o carro do seu segurança logo atrás. Nunca vou me acostumar a sair com essas meninas e
ter muralhas nos seguindo.
Paramos no semáforo e coloco o endereço rapidamente no GPS, porque sei chegar até a
cidade, mas não faço ideia em que canto é a clínica. Aproveito para conectar meu celular no
carro e ter uma música, afinal tudo melhora com música.
— Eu não deixei que colocasse música!
— No instante que me fez traficar testes de gravidez, usou meu banheiro para mijar neles
e me fez pegar neles mijado, passei a ter direito a tudo. Ah, e sou o guardião do seu segredo, meu
bem. Tenho muitos direitos por aqui.
— Eu não mijei no teste todo, seu idiota!
O sinal verde surge e volto a dirigir.
— Estamos mesmo falando do seu xixi?
— Esquece! Esse dia só piora mesmo.
Coloco minha playlist rapidamente e coloco o celular no bolso assim que começa a tocar
no carro. Aumento um pouco do som, mas ainda assim escuto seus resmungos baixos.
Olha, se o que dizem por aí for real sobre a gravidez mexer com os hormônios, tenho
pena de quem for lidar diariamente com ela. Correrá sérios riscos de vida.
“Lutar pelo que é meu” do Charlie Brown Jr., começa a tocar. Um dos meus cantores
favoritos.
Canto baixinho, para lidar com a paciência do trânsito em São Paulo em uma sexta-feira,
que, não importa o horário, é um dos piores dias para tudo.
Sinto seu olhar sobre mim e olho-a rapidamente.
— Que foi? Admirando minha beleza?
— Primeiro, deveria vender sua autoestima. Segundo, desde quando sabe cantar? — Está
surpresa.
Sorrio focando na avenida.
— Se não tivesse tanto ódio de mim, saberia muitas coisas, gata.
— Dispenso saber mais que o necessário. Não respondeu o que de fato questionei.
— Saber como sei cantar é saber mais do que o necessário, não acha?
Ela resmunga e se ajeita no banco ligando o ar-condicionado.

Estamos na rodovia, quase em Campinas, pegamos bastante trânsito e demorou mais que
o normal. Ela dormiu parte do caminho. É nítido sua exaustão. Acordou quase agora, ainda
sonolenta.
— Alguém confia demais em mim ou está muito cansada — brinco, afinal, sei que é a
segunda opção.
— Sua playlist péssima me deu sono — boceja.
— Ei, minha playlist é perfeita, saiba disso. Vou das antigas as mais atuais, bem eclético.
E a sua? Taylor Swift apenas? — Olho-a rapidamente e ela desvia o olhar sem graça. — Mentira
que acertei. Saiba que não tenho nada contra, até gosto de uma ou outra, mas é bem sua cara
gostar desse estilo mesmo.
— O que quer dizer com isso?
— Sou observador, gata.
Outro bocejo dela vem.
— Para de me dar apelidos! Quando vai parar com isso? Anos nessa, Bryan!
Desligo o som e rio.
— Estão faremos um desafio!
— Não farei nenhum desafio com você. Isso é tipo fechar acordo com a máfia. Sempre
sai caro.
— Escuta primeiro. — Olho-o rapidamente, e ela está olhando para a frente. — Conhece
Faroeste Caboclo? — Ela conhece, já vi um story dela cantando essa música em um karaokê
com a Liz.
— Claro. Pensa que sou o quê? Bryan, o que pensa de fato que sou? Às vezes parece até
que pensa que sou uma leiga em tudo. — Ela se vira para mim.
— Melhor nem saber o que penso, ou me mata. Enfim... — Recebo um tapa no braço,
fraco, mas recebo. — Cuidado, não agrida seu motorista, mocinha! Voltando ao nosso foco.
Segundo o GPS temos um tempo até chegar à clínica, suficiente para você cantar a música inteira
sem errar. Se fizer isso, não te dou mais nenhum apelido, te chamarei apenas pelo seu nome, e
ficarei mudo na nossa volta para São Paulo.
Olho-a rapidamente e ela me encara, seus olhos brilham. Então ela curte desafios!
— E se eu errar?
— Simples, continuo com os apelidos, tagarelando, e você não vai poder mais me proibir
de usá-los.
— Perfeito! Espero que esteja pronto para ficar mudo, e me chamando apenas pelo meu
nome!
A parte mais difícil vai ser eu calar a boca se ela ganhar. Eu amo falar.

Estaciono na clínica e ela desce do carro, pegando sua bolsa e socando a porta com raiva.
Sinto uma dor no peito pela porta. Parece até que o carro grita.
Saio em seguida do carro, tirando meus óculos de sol e rindo.
— Sem gracinhas, seu idiota! Eu tenho certeza de que cantei certo!
— Você trocou a ordem. Deveria ser “Capitão ou traficante, playboy ou general”.
— E o que eu cantei, seu imbecil? — revida bem nervosa.
— “Capitão ou playboy, traficante ou general”.
— Argh! Isso é você quem está dizendo. Você roubou e não temos provas que inverti.
Não valeu!
— Alguém não sabe perder... — cantarolo.
— Vamos logo entrar! — Ela me empurra. Seu segurança para ao lado de fora do carro
dele. — Mathias, pode ficar aqui, por favor, e dentro do carro, para ninguém reconhecer de quem
você se trata. Se meus pais entrarem em contato, diga que estou em qualquer lugar, não sei,
invente algo, ou ignore a ligação.
— Sim, senhorita.
— E, aí, Mathias! Beleza? — Aceno para ele, que apenas assente.
— Deixa meu segurança em paz. Parece que é uma criança. Como a Liz e o Rafael te
suportam? — Me olha chocada.
— Ai... Não precisa ofender, gata! — Levo uma mão ao peito, fingindo drama.
— Cale a boca e vamos logo!
Deixo-a ir na frente, antes que me assassine pelas costas. Viro-me para o segurança e dou
uma piscadinha. Só queria fazer amizade, credo!

Ela olha o exame.


A enfermeira veio trazer pessoalmente, já que a médica teve que atender outra consulta
marcada.
— Isso quer dizer que estou realmente grávida? — Sua voz é baixinha, e suas mãos
tornam a tremer.
— Sim, senhorita. Tudo ocorreu bem no laboratório, mas, se restam dúvidas, podemos
refazer, mas infelizmente por conta do horário não ficará pronto hoje. Porém o Beta HCG está
certo, ele é mais assertivo, e se deu positivo, além dos testes que a senhorita disse ter feito, não
restam dúvidas.
Ana concorda e fico observando-a, sem saber como agir nesse momento.
— Não precisamos refazer. Está tudo bem... É só isso... Preciso assinar algo? — Sua voz
é baixa, chorosa.
— Só confirmar ali no balcão que já recebeu. Meus parabéns, senhorita. — A enfermeira
sorri. — Com licença.
Aceno sutilmente com a cabeça para ela, que se afasta.
— Vem, vamos no balcão confirmar que pegou o exame e sair daqui. — Apoio uma mão
em suas costas e levo-a até o local indicado.
É nítido que ela está agindo no automático. A forma como ela assina os papéis que
confirma seus dados, que agradece, ou que caminha até seu carro. Tudo é no automático. A
leveza que começou a surgir enquanto eu a atormentava, sumiu.
Entramos no carro e seu segurança liga o dele. Saímos juntos e o silêncio se torna
presente. Ainda que ela tenha perdido o desafio, e eu possa tagarelar, é o momento dela e preciso
respeitar.
Prendo meus óculos de sol na camiseta preta que estou vestindo e respiro fundo. Ela
ajeita o cinto e encosta a cabeça na janela. Lágrimas escorrem pelo seu rosto e o clima se torna
pesado, triste.
Observo rapidamente o exame em seu colo, a bolsa cai no chão do carro, mas ela não
parece se importar. Nesse momento sou a pessoa errada para estar aqui com ela, teria que ser a
Liz, ela saberia o que fazer, mas não posso falar nada e algo me diz que a Ana Vitória não vai
contar tão cedo a amiga, porque está se recusando a aceitar a verdade.
Pigarreio.
— Vou te deixar na sua casa, e de lá pego um Uber para ir a minha. Tudo bem?
Ela só assente.
Sei onde ela mora, é o mesmo condomínio em que a Liz vive. Moram em torres
diferentes, mas em coberturas. Um local de luxo perto da Av. Paulista e não muito longe da
minha casa. Assim como a namorada do meu amigo, Ana tem uma vida luxuosa, a família
Albuquerque é bem poderosa, trabalham com os maiores e melhores eventos do país, e é nesse
mundo que a Ana Vitória vive. Ainda assim, algo me diz que as coisas não estão tão boas como a
mídia diz por aí deles e, pelo jeito, pode piorar, e talvez agora entenda seu pânico, e a dificuldade
em aceitar o que de fato está acontecendo.
A patricinha de São Paulo esconde algo de todo mundo, e essa gravidez pode piorar as
coisas, isso é certo quando ligo os pontos das coisas que ela me disse nas últimas horas.
ANA VITÓRIA
Passei o final de semana trancada em meu quarto. Para cada pessoa que me procurou
inventei uma desculpa. Precisava ficar sozinha, só com meus pensamentos. Não coloquei a
cabeça cem por cento no lugar como desejava, mas ao menos já consigo pensar nisso sem chorar
de desespero.
Liguei no hotel em Ibiza, fiz de tudo atrás de informações, dei a data, o número do quarto
que estive com aquele cara, mas já imaginava que não conseguiria nada. São informações
sigilosas, e não seria por telefone que a mulher que me atendeu confiaria em passar qualquer
coisa que fosse. É procurar uma agulha no palheiro.
O sotaque dele era carregado demais no inglês, talvez fosse alemão, russo... Droga, ele
disse de onde era, mas não lembro. Também não mudaria em nada minha vida. O que eu diria:
“Oi, lembra de mim? Você vai ser pai”. Ele nem deve se lembrar de que transou aquele dia, era
Ibiza, a única sóbria demais ali era eu, a que deveria ter sido mais sensata, mas não fui, e é isso.
Fim da história. Me ferrei!
Agora é saber como vou lidar com essa situação, encarar meus pais, a mídia... Já imagino
as manchetes nojentas. Serei deserdada da família, não tenho dúvidas.
Bebo minha água bem gelada, focando na janela do meu escritório na Moon. Tenho três
reuniões hoje, e é nisso que focarei, no meu trabalho, até conseguir assumir a verdade, sobretudo
para as pessoas ao meu redor.
Eu nem sei o que devo fazer. A advogada Ana Vitória não sabe qual o próximo passo na
descoberta de uma gravidez. A real, é que não sei mais nem meu nome direito, porque só sei
vomitar, ter fome, sono e ficar em pânico. Até sonhar que minha barriga explodia, eu sonhei.
Não deveria ter assistido “Amanhecer – parte 1” ontem, antes de dormir. Parece que senti um
bebê vampiro me morder antes de explodir.
Meu celular toca me tirando dos meus pensamentos. É um número desconhecido.
Provavelmente algum cliente que conseguiu meu número pessoal, poucos tem, mas alguém deve
ter passado.
— Alô.
— Oi!
— Quem é? — Franzo o cenho. Tem bastante barulho ao fundo da ligação. Só falta ser
trote.
— Como quem é? Espera... — O barulho vai diminuindo. — Agora sim. Como assim,
quem é? Sou eu, o Bryan!
— Como é que você tem meu número?! — bufo, e me jogo na cadeira, porque não
aguento mais ser castigada.
— Como é que você não tem o meu número?! — enfatiza e isso me faz revirar os olhos.
— JÁ VOU! — ele grita para alguém.
— O que você quer? E onde você está? Na cadeia? Eu não vou te tirar da cadeia!
Ele ri.
— Estou na Santana Games. Estão testando alguns jogos e, pelo jeito, o pessoal da
empresa gostou. Mas ainda não respondeu, como não tem meu número?
— Meu Deus, esquece isso! Fala logo o que quer, Bryan. Tenho muita coisa para fazer.
— Quero saber como está. Se sobreviveu ao final de semana. E aí, já falou com alguém?
Solto uma lufada de ar. Deixo minha garrafa de água sobre a mesa.
— Não. Ninguém sabe, e não sei quando contarei... Bryan, se você abriu essa boca...
— Eu não abri! — me corta. — Como está? Fiquei preocupado, por incrível que pareça.
Até eu estou surpreso com minha preocupação.
Franzo o cenho. Por que ele está insistindo em me ajudar? Qual parte dos nos odiamos,
ele não compreendeu?
— Estou sobrevivendo, Bryan... Era só isso? — Vejo a minha assistente surgir na porta
que está aberta. Ela me olha e sorri.
— Marcou o pré-natal? Eu andei pesquisando, aparentemente precisa marcar isso. Vai
precisar de uma bateria de exames também — fala mais baixo.
— Eu... — Faço uma careta de choque. — Não acredito que ficou pesquisando isso.
Bryan, eu tenho que desligar. Apaga meu número e me deixe em paz, é sério! — Desligo
rapidamente, jogando o celular na mesa e respirando fundo.
Era só o que me faltava, esse doido esquisito ficar me falando o que tenho que fazer.
— Posso entrar? — Maria Júlia pede e assinto, recuperando-me do surto. — O primeiro
cliente chegou para falar sobre o contrato, confidencialidade, etc. É dono daquela revista famosa,
Sunshine, e estilista. Veio ele e a esposa.
— Ok. Sei quem é, e precisarei de paciência, porque o homem é bem ranzinza, e cheio de
exigências, mas é gente boa, e um cliente bem importante. Pede para ele entrar.
— Claro. Mais alguma coisa?
— Sim. Liga para a Santana Games, e pede para a Liz ou o senhor Joaquim passarem até
amanhã aqui, temos uma divergência no contrato, com alguns dados, porque a atual dona é a Liz,
e está como o pai dela ainda, e não dá para resolver essas coisas por telefone, só tem atrasado
tudo, aqui será melhor para ela já resolver o restante das coisas. E cancele a reunião de amanhã à
tarde com aquele cliente que quer processar a Moon dizendo que não entregamos tudo que foi
pedido na festa da filha.
— Tem certeza? — Franze o cenho. — Ele parece bem nervoso.
— Tenho. Reuni todos os e-mails que a esposa dele enviou pedindo a troca das coisas e
depois nos acusou de termos feito sem autorização. O tempo de conversar pessoalmente acabou,
ele está há dois meses nos infernizando e difamando a Moon. A conversa será na justiça agora.
Ele será notificado judicialmente.
— E o modo Ana advogada, ataca! — Sorri. — Vou fazer tudo isso e te informo sobre
qualquer atualização. Vou pedir para trazerem café para a reunião. — Assinto. — Ah, a Luna
Publicidades entrou em contato, querem o termo de confidencialidade, sem que vaze nada a
imprensa até o momento certo, e querem ajustar algumas coisas no contrato.
— Claro, irei resolver. Avise o restante do pessoal sobre isso. — Ela concorda. — Meus
pais estão aqui?
— Não. Sua mãe foi acompanhar de perto a escolha dos locais para a formatura daquela
universidade particular, e seu pai saiu para uma reunião com os donos de uma joalheria, que
querem fazer um grande evento conosco. É o que fiquei sabendo pelo pessoal.
Perfeito. Amo que ela sempre me mantém informada.
— É só isso mesmo. Obrigada, Ju.
Ela assente e se retira.
Ao menos não terei que lidar com meus pais aqui. Eu preciso de um pouco de paz hoje.
Me ajeito na cadeira, e a Maria Júlia traz o estilista e dono da revista e sua esposa, uma
escritora bem famosa.
Vou ligar o modo profissional e deixar os problemas de lado por um instante. Essa é a
parte de amar lidar com a parte jurídica da empresa e todas as burocracias mais chatinhas, distrai
minha cabeça dos problemas.

Estou na Burguer Place, uma lanchonete perto da Santana Games, vim almoçar com a
Liz, que ainda não chegou. É um lugar muito legal, uma vibe anos 80, e a noite em alguns dias da
semana é um lugar bem badalado, chega a lotar e vira barzinho bem gostoso.
Já pedi minha comida, porque estou morrendo de fome, mas não consegui olhar para o
hambúrguer, meu estômago embrulhou. Estou apenas nas batatas e suco de limão. Deixei o
lanche de lado, longe das minhas vistas.
Vejo minha amiga entrando, mas não é nela que foco, e sim no ruivo acompanhando-a,
usando roupa social, e se achando o dono do pedaço, com os cabelos soltos, e barba bem-feita.
Quando esse maldito castigo vai acabar? Meu Deus!
— Não surta. Mas ou eu o tirava da empresa, ou ele matava todo mundo do setor de
marketing, que fizeram uma cagada na sexta-feira, tudo diferente do que ele pediu. Não posso
dizer ao meu namorado que deixei o melhor amigo dele se tornar um assassino!
— Oi, Cosplay da Barbie. Quanto tempo! — ironiza. Sonso.
— Ficarei surpresa quando não trouxer essa coisa. Sempre uma desculpa.
Ela sorri e pisca para mim, então se senta à minha frente, e ele ao meu lado. Estou
surpresa no quanto está amando testar a própria sorte.
Meu pior erro dos últimos dias foi abrir confidências a esse idiota.
Liz olha para o hambúrguer, enquanto deixa sua bolsa sobre o assento estofado.
— Vou pedir o mesmo. Qual o número dele no cardápio?
— Dois — respondo a minha amiga e bebo meu suco.
Ela se estica para fazer sinal a garçonete e seu perfume vem até a mim. Doce, doce
demais. Fecho os olhos por um instante e forço um sorriso. Bryan me olha de lado, e balança a
cabeça negativamente.
A garçonete se aproxima e eles fazem os pedidos. Tento focar em qualquer coisa que não
o perfume dela. Era só o que me faltava, enjoar com perfumes.
— Amiga, por que inventei um evento? A Moon está me deixando louca pedindo mil
informações e você não quer resolver para mim. E o projeto do novo fliperama está me
matando... Eu só quero fugir. E se fôssemos para Vegas? Ou talvez Europa?
— Se me levar, você vai. Do contrário, não ficarei naquele lugar cheio de gente mais
louca que o normal, e com o Joaquim surtando pela porra da máquina de café. Liz, precisa
comprar uma nova para o refeitório! — Bryan reclama e ela ri.
— Nem pensar. Descobri que é meu entretenimento. Ele tenta descobrir, mas sempre dá
errado, e você surta.
— Deveria arrumar uma mulher para o Joaquim. Ele parece que a cada dia fica mais
estressado e com mais rugas, precisa relaxar, um bom sexo deve ajudar — comento e levo uma
batata à boca. Liz me olha animada. — Estou brincando! Deixe o homem em paz.
— A maluca até que tem razão, mesmo eu duvidando que ela é a melhor pessoa para falar
sobre bom sexo. — Me olha de lado e juro que nesse momento eu sonho em voar no seu
pescoço, e enforcá-lo. Cretino! — E posso ser um ótimo cupido.
— Desde quando? — questiono e ele me olha animado. Por que fui questionar?
— Praticamente fui cupido do Rafael e da Liz. Sou ótimo nisso. E semana passada
consegui fazer minha mãe desculpar meu pai, e eles estão em outro país, mesmo a distância sou
bom. E no mês passado ajudei os pais do Rafael, no caso, o pai dele. Aquiles queria uma nova
lua de mel com a esposa, não sabia como fazer uma surpresa, e ajudei. Sou ótimo.
— Bryan, eu não precisava imaginar meus sogros em uma lua de mel!
Ele ri alto e pisca para ela.
— Melhor do que ver meu bebê transando com uma tarada!
— Rafael não é bebê. E não sou tarada! — rebate sem jeito.
Olho de um para o outro. Como a vida achou que seria correto me deixar grávida? Esses
são o tipo de pessoas que convivo. Piores do que eu!
— Você é tarada — afirmo e ela me olha boquiaberta. — Rafael vive com chupões pelo
pescoço. Se não for você, é melhor cuidar do chifre!
— Que trágico, terei que concordar com a coisinha aqui.
— Me respeita, imbecil! — Ele me oferece um sorrisinho sacana, enquanto chuto seu pé.
E se eu queimá-lo vivo, começando pelo cabelo que tanto ama? Preciso dar uma lida no
Código Penal de novo.
— É, na primeira oportunidade de arrumar uma namorada ao Joaquim, eu farei.
Acreditem! — ela diz bem decidida. Esqueço que, quando coloca algo na cabeça, ninguém tira.
— Por falar nisso, nesse final de semana preciso ir ao litoral. Terá um evento por lá, uma
premiação de gamers, e a Santana está patrocinando. Mas preciso que alguém vá na sexta-feira
para levar os troféus, eles têm que estar nas mãos dos organizadores até sexta, e eu tenho uma
reunião importante no interior. Vocês vão antes, e chego lá no sábado cedo com o Rafael.
— Nós? E quem diz que eu vou? — indago sem acreditar na ousadia da minha amiga.
— Eu vou! Qualquer oportunidade de “luxar” à custa da amiga rica, eu aproveito.
— Bryan! — Liz o repreende rindo.
— Sabe que te amo! E estarei lá, acredite. Quero ficar longe da capital.
Trazem os pedidos deles e engulo em seco.
— E a senhorita vai sim. Está me evitando faz tempo, não vai me evitar final de semana.
E não vou confiar no Bryan indo sozinho! Preciso da sua supervisão, Ana, por favor!
— Como é?! — ele indaga revoltado.
Ela me olha e já entendo tudo. É a premiação de mulheres gamers. Ela comentou comigo
mês passado sobre isso. Apenas mulheres estão organizando tudo, e vão concorrer aos prêmios.
É bem dedicado ao mundo gamer feminino. E onde tem Bryan Nunes e mulheres em grande
quantidade, sempre tem confusão, afinal, ou ele tira o foco delas, ou acaba encantando alguma
inocente, que cai na sua lábia, e aí nada pode dar errado, não quando a Liz organiza algo, porque
se algo der errado, Joaquim, vice-presidente da Santana, tem um infarto.
— Eu não sou babá dele! — deixo claro.
— Ela não é... Espera... O quê? Como assim, babá? No que está me metendo, Liz, para
enviar o sargento aqui?
Chuto novamente seu pé.
— Em um evento que tudo precisa dar certo e preciso dos dois lá antes, para ter certeza
de que tudo está como deveria ser, e confio no bom gosto da minha amiga, e na sua inteligência,
e assim levam os troféus. Posso contar com os dois sendo adultos e cooperando? — fala como se
fôssemos crianças.
— Pode! — respondemos juntos, e claro que a contragosto.
— Ótimo, vamos comer! Mas antes preciso ir ao banheiro, não se matem!
Ela se levanta e vai até o banheiro, nos deixando a sós.
Ele passa álcool em gel nas mãos, que está no centro da mesa, e pega um punhado de
guardanapos. Pega o lanche e leva até a boca dando uma mordida. Viro o rosto, e me afasto um
pouco, olhando pela parede de vidro. Eu amava cheddar e agora o cheiro e a aparência dele está
acabando comigo.
Bebo mais do meu suco, e afasto a batata da minha frente. Nada vai descer agora.
Sinto seu olhar sobre mim.
— Ok... Está com aquela cara de quem vai morrer, misturada a nojo. O que foi?
— Os lanches... — Meu estômago embrulha. — O cheiro... cheddar... — Não olho, não
consigo.
— Está enjoada, por isso seu lanche está largado ali... Ok. Sem lanches então!
— Come logo, Bryan! — peço nervosa. Isso tinha que acontecer logo aqui? Merda!
— Não com você passando mal. Comeu algo hoje?
— As batatas e frutas no café da manhã. Foi o que desceu. E por que mesmo estou te
respondendo? — Faço uma careta, porque ele segue arrancando coisas de mim.
— Porque sou o único que sabe que tem uma miniBarbie aí dentro, ou um miniKen?
Quem é que sabe? Vai ter chá-revelação? Não invente nada brega, ou que foda o meio ambiente,
por favor!
— Bryan! — chamo sua atenção e ele pigarreia.
— Desculpa, perdi o foco. Enfim, vamos tirar essas coisas daqui.
— Quê?!
Ele chama a garçonete e pede para levar todos os lanches. Deixa claro que vai pagar e
para não trazer a conta na mesa. No lugar pede salada bem caprichada. A coitada fica sem
entender nada, mas concorda, porque sempre nos vê por aqui.
— Ficou louco? A Liz vai questionar!
— Deixa comigo. Acha que salada vai conseguir comer?
— Talvez... Pare de ficar se intrometendo no que não tem nada a ver!
— Vai ter que tentar, não pode ficar sem comer. E já disse que tenho mais do que direito
de me intrometer depois dos últimos dias.
Liz retorna, cortando o nosso assunto. Ela olha para a mesa e franze o cenho.
— Cadê a nossa comida?!
— Pedi para levarem. Estava horrível, algo muito estranho quando tentamos comer os
lanches, pareciam estragados. Vão trazer uma salada bem caprichada no lugar. Pediram
desculpas — ele mente tão convincente, que até eu acredito, mesmo sabendo que é mentira.
Ela se senta surpresa. Liz é inteligente, pega as coisas no ar. Não vai cair fácil assim.
— Sério? Aqui é sempre tão bom. Nunca aconteceu isso...
— Sempre tem uma primeira vez — ele insiste e ela olha desconfiada.
— Não tentaram se matar atingindo os lanches um no outro, né? — Nos encara bem
séria.
— Acha mesmo que sabendo atirar eu o mataria com lanches? — pergunto, mais
animada, sentindo o enjoo melhorar.
— Ela sabe atirar? — Bryan pergunta preocupado e se vira para mim, seu cheiro vindo
junto, e sim, estou melhorando, não estou enjoando. Isso é bom sinal.
Essa gravidez não pode me deixar assim até o final. Não pode!
— Não sabe. Ana está te provocando! — ela responde rindo.
Ele me olha e ergo a sobrancelha. Coitadinho, morre de medo de mim e não assume.

Sobrevivemos ao almoço, a salada desceu, e não quis colocar tudo para fora. Me sinto até
bem, de estômago cheio. Bryan bancou as saladas e os lanches, sem a Liz saber que os lanches
tiveram que ser pagos, porque não estavam ruins coisa alguma, e que era amiga dela morrendo.
Ela saiu em choque da lanchonete, e não é para menos. Até me admira essa atitude dele, porque
qualquer um sabe o quanto ele pode ser muquirana.
E por sorte não dei um deslize quando saímos da Burguer Place, que a Liz veio me
abraçar e seu perfume quase me fez vomitar no ato. Aparentemente coisas doces demais me
fazem mal também. Era só o que me faltava.
Voltei para a Moon, pronta para aguentar o restante do dia.
Chega uma mensagem no meu celular enquanto me ajeito para a próxima reunião.
Só pode ser brincadeira. Salvo seu número só para não atender ou ler as mensagens mais,
já sabendo de quem se trata.

Imbecil Ruivo: Salva meu número e marca as consultas, ou eu vou abrir a boca para
todo mundo, é sério!

Quem esse maluco pensa que é?

Ana: Sabe que está chantageando uma advogada, né? Me deixe em paz!

Imbecil Ruivo: Sabe que tem uma criança dentro de você que precisa de cuidados, né?
Não vou te deixar em paz! Nem consegue comer direito. Um médico vai te orientar no que tem
que fazer. Isso é sério, Ana Vitória. Aceite ou não, mas vou me preocupar. Eu vi como fica
quando está mal... Se continuar fugindo da realidade, eu terei que abrir a boca para a única
pessoa que vai te dar um bom choque de realidade! Esteja avisada.

Liz... Se ela souber, estarei ferrada. Não, minha amiga não pode saber agora, até eu ter
certeza de que está tudo certo comigo e com essa criança.
— Não acredito que vou ter que obedecer ao Bryan Nunes! — sussurro e choramingo.
Quando vou acordar desse pesadelo?
Juro que eu queria chorar, mas não tenho tempo agora.
BRYAN
Se tem algo que eu de fato sou muito sério é com o meu trabalho. Brinco, sou sempre
animado no geral, mas não faça merda na minha equipe, que eu vou ficar puto, porque eu sempre
explico tudo, ajudo, fico disponível para tudo, ensino quantas vezes for necessário, e ainda assim
bastou um dia longe daqui para fazerem merda.
A equipe liberou na sexta-feira data e spoilers envolvendo os novos jogos e do novo
fliperama, e isso estava em negrito na agenda “NÃO LIBERAR ATÉ SEGUNDA ORDEM”.
E no rabo de quem isso caiu? No meu, porque é a minha equipe, eu comando o setor do
marketing na Santana Games, tudo ali é minha responsabilidade.
Acabo de sair de uma reunião, e em alguns minutos vou entrar em outra com minha
equipe. Tentar conter os danos da cagada feita. Depois do almoço com as meninas, achei que
ficaria mais calmo, mas não fiquei. Se eu tivesse visto essa merda na própria sexta-feira, o dano
teria sido menor, mas fiquei longe das redes sociais. Quando cheguei hoje na empresa, a bomba
já estava exposta e uma tremenda confusão armada tanto aqui quanto nas redes sociais que
viraram uma loucura, e os portais de notícias também. Liz foi a pessoa mais calma que lidei,
porque, de resto, só estresse.
Entro no setor da administração. São quase 18h, ninguém vai sair tão cedo daqui até
resolver a baderna que virou. O pessoal me olha e desvia o olhar, provavelmente estou com uma
cara péssima, já que sempre estou sorrindo, sendo alegre.
Paro na porta da sala da Liz, está aberta. Ana Vitória está aqui. Elas conferem alguns
documentos. A gravidinha não está mais com a mesma roupa de cedo, agora está usando um
vestido justo ao seu corpo, rosa-claro, de alças finas, e fica lindo nela.
— Oi... — cumprimento no geral. — Liz, preciso falar com você — sou direto. Eu só
quero resolver logo essa confusão, ou tentar.
— Ah, não. Essa sua cara... Qual o problema da vez? — Liz questiona enquanto Ana me
encara.
Me aproximo da mesa, parando ao lado da Liz, e me inclinando sobre a mesa.
— Com licença. — Acesso seu computador, e entro na parte do gerenciamento de
marketing da empresa. Ela olha com atenção. — Eu vou entrar em uma reunião agora com o
pessoal da minha equipe, e esse é o roteiro do que podemos fazer para conter os danos. O jeito é
fingir que nada aconteceu do que foi vazado e tentar camuflar jogando muito anúncio do que já
foi lançado. Vou trocar o tráfego pago da semana, e assim colocamos dos outros jogos. Além do
evento que estamos patrocinando. Vai ser uma forma de camuflar o surto das redes sociais. E
ignorar quem ficar questionando. Vou montar uma nova estratégia para quando de fato essas
coisas tiverem que acontecer, porque perdemos o foco que deveria ter sido na data correta.
Ajeito a postura.
— Perfeito. Confio no que vai fazer. Tem minha autorização. Mas, Bryan, pega leve com
a equipe, eles erraram, mas isso pode acontecer — Liz é tão doce, que, às vezes, chega a ser
estranho, ainda mais nos dias de hoje.
— Não tem como, Liz. Isso é um erro que vale muito dinheiro, porque o fliperama novo e
os novos jogos estão sendo muito bem-preparados para serem lançados, e o marketing deles é
investimento pesado, muito alto mesmo, que parte foi perdido por um erro irresponsável. Está
bem claro que nada disso poderia ter sido divulgado. Não foi um erro de principiante, estamos
falando de uma equipe muito bem treinada.
Confiro a hora no meu relógio e respiro fundo. Sinto o olhar da Ana sobre mim, mas
nesse momento sou a pior pessoa para lidar com qualquer outra, até comigo mesmo.
— Só vim te passar isso pessoalmente. Ah, e terminaram de montar os móveis da sua
nova sala.
— Perfeito! — Fica animada. — Estou ansiosa para assumir a sala que era do meu pai,
mas precisava ficar do meu jeito, para me sentir mais focada ali.
Assinto, e me afasto da mesa.
Olho para a Ana, e nem piadinha sobre estar de rosa faço, nada vem à minha mente.
Minha cabeça está explodindo.
— Bryan, se controla, é sério! — Liz fala. — São nessas horas que o Rafael faz o
extremo da falta. Ele te acalmava.
Não respondo. Só saio da sala.
Depois disso tudo, vou precisar de um banho, algo forte para beber e comida boa. Vou
tentar fazer algo com o Rafael e assim distrair a cabeça.

A reunião durou duas horas, mas resolvemos parte do problema. Descobri quem fez a
bagunça toda. Chamei a pessoa e conversei em particular. Esse erro não pode mais se repetir. Ao
menos, todos já sabem o que fazer e como agir a partir de agora.
Estou no refeitório, arrumaram a máquina do café, pela milionésima vez. Bebo um gole,
encostado na parede. A maioria já foi embora. Vejo o Joaquim se aproximando, e parando perto
da máquina que vive quebrada.
Mexe, e quando vê que está funcionando bate palminhas animado, e faz até uma dancinha
com a cabeça.
Não, ele com certeza não me viu aqui.
Pigarreio e o homem sobressalta, quase morrendo do coração. Sorrio e dou uma
piscadinha.
— Por Deus, menino! Quer me matar? — Leva uma mão ao peito. Ele pega seu café e
prepara ao seu modo antes de tomar. — Dia cheio! Liz me passou sua solução. Que confusão...
Quem diria que redes sociais seriam tão confusas de lidar. Parece que as nossas viraram uma
baderna, e e-mails não paravam de chegar.
— Redes sociais movimentam o mundo. — Bebo meu café e vou me sentindo mais
relaxado.
— E também deixam todos loucos. Que prejuízo! Ainda bem que foi contido. Meus
parabéns, é bom no que faz. Nunca te acho quando preciso, mas sempre arruma qualquer
confusão que surge.
— Sempre estou na minha sala.
— Não, senhor! Raramente está! — rebate.
É... Eu fico batendo perna na empresa. Dou um sorrisinho idiota e ele me olha
desconfiado.
— Preciso ir. Boa noite, garoto.
— Boa noite, senhor Joaquim! Aproveite bem a noite. O senhor tem namorada?
— Me respeite! Não tenho mais idade.
— Para o quê? Namorar ou tran...
— BRYAN! — ele grita me fazendo rir, então sai às pressas.
Amo tirar o sossego das pessoas. Esse sou eu. E que bom que estou voltando ao normal.

Entro na garagem, e Liz está entrando em seu carro.


— Mais calmo?
— Nunca fui estressado! — Me aproximo do Jorginho, meu fusca todo sofrido.
— Aham... — debocha, jogando sua bolsa dentro do carro. — Até a Ana estranhou.
— Estranhou o quê? — Fico bem curioso.
— Que você estava sério demais e a ignorou, não fez piadas, já que sempre arruma
várias, principalmente quando ela está de rosa. Sabe, referências a Barbie e tudo mais...
— Ela ficou chateada, foi? — brinco, abrindo a porta do meu carro.
— Sabe que até pareceu? — Franze o cenho. — Mas acho que foi coisa da minha cabeça.
Ana Vitória ama quando é ignorada por você, impossível ter ficado chateada. Enfim, preciso ir.
Dá um beijo no meu namorado por mim.
Encaro-a de lado, e ela entra rindo no carro.
Entro no meu carro, jogando as minhas coisas no banco ao lado, mas minha mente foca
no que a Liz disse.
Não foi coisa da sua cabeça, Liz. Algo me diz que, no estado atual da Ana Vitória, ela
está sentindo tudo e mais um pouco.
— Vamos lá, Jorginho! Sem problemas hoje. Estou cansado, não me estresse! —
Acaricio o volante e dou partida e ele liga bonitinho. — Bom garoto!
Sorrio animado saindo com o carro atrás da Liz e do carro do segurança dela.

Saio do banho e pego meu celular, antes mesmo de me trocar, e vejo as mensagens que
não vi mais cedo.

Cosplay Barbie: Marquei as consultas para a próxima semana. Agora controla sua
língua!

Sorrio.
Confiro as outras duas mensagens.
Cosplay Barbie: Eu tentei contato com o hotel... não quiseram me dar informação. Nem
sei por que estou te falando isso, mas no momento só tenho você para falar sobre a bagunça da
minha vida. Já disse que é um enorme castigo? Pois saiba que é.

Cosplay Barbie: Eu não estou bem, tive que vir para casa, tomar um banho para ver se
melhoro. Vou passar na Santana quando melhorar, para ajudar a Liz com algumas coisas do
novo fliperama, algo jurídico que ela está com dúvidas e não quer que o jurídico da SG ache
que ela é tão leiga assim nesse assunto. Podemos conversar depois? Eu estou quase fazendo
uma loucura... Estou cogitando, algo, sei lá... Só preciso conversar com alguém.

Porra.
Ligo para ela, mas ela não atende. Tento várias vezes, mas ignora.
Me troco correndo e pego o meu celular e a carteira, então saio do quarto. Rafael está na
sala, me esperando, combinamos de pedir comida e jogar um pouco. Ele me olha e franze o
cenho.
— Desculpa, Mozão, mas preciso sair rápido, resolver uns negócios importantes. — Faço
uma careta, porque o coitado ficou me esperando. Mas isso é muito mais importante nesse
momento.
— Aconteceu algo? Parece preocupado.
— Sim... Quero dizer, não aconteceu nada. Me empresta a chave do seu carro.
— Você quis dizer do seu, né? Está ali na mesa. Bryan, está tudo bem mesmo? Está me
preocupando.
Sorrio.
— Está sim. Nos falamos depois. Ah, antes que eu me esqueça... — Me aproximo dele,
inclinando-me na sua direção, ele franze o cenho. Deixo um beijo no seu rosto. — Liz mandou.
— Idiota! — Limpa o rosto e ri. — Vai logo. Vou aproveitar para assistir uma série e
dormir mais cedo. Qualquer coisa me liga, ok? — Concordo.
Me afasto e pego a chave.
Saio de casa e continuo tentando falar com a Ana, mas ela literalmente desliga dessa vez.
Chama duas vezes e ela desliga e repete isso algumas vezes.
Não, você não vai me ignorar depois de me assustar com aquela mensagem.
ANA VITÓRIA
Me questiono quando de fato terei um bom dia, porque desde meu aniversário que estou
vivendo uma loucura. Inferno astral não deveria ser apenas um mês antes do meu aniversário ou
algo assim? O meu entendeu que deve ficar até meu próximo ano, só pode.
Ignoro as chamadas do Bryan, não tenho como atender nesse momento, e se ele estiver
em apuros, que se vire, porque me ignorou o dia todo. E agora estou no meu próprio problema:
meu pai está falando na minha cabeça sem parar. Desde que chegou em casa, está esse inferno.
— Você não para mais na Moon! — Olho para o homem alto e moreno à minha frente
usando um Armani preto. — É toda hora indo resolver problemas da sua amiga, ou sumindo sem
dar satisfação. Acha que ali é um parque de diversão? Não é, Ana Vitória! — grita nervoso. —
Tem a porra de um contrato, quis isso, então honre o que queria!
Se ele soubesse o real motivo das minhas saídas da Moon nos últimos dias,
provavelmente desejaria que fosse só meus caprichos.
— Orlando, pega leve... Olha como está nervoso. — Minha mãe tenta falar, mas ele a
olha de lado e ela se cala.
— Pegar leve? Ana Vitória está sendo irresponsável no trabalho. Além disso, não
comparece mais aos eventos. Ignora a própria avó tentando contato. Ela nunca foi assim! Sua
filha está estranha, irresponsável, não cumpre com seu papel nessa família mais.
Só pode ser brincadeira!
— Eu sempre fiz tudo que queria, pai, só que cresci, tenho minhas próprias escolhas, e
sobre a Moon, tenho saído mais cedo, mas não falhei com nada. Está tudo em ordem! — Tento
ser calma. — Sobre a vovó, não sou obrigada a aguentar ela se gabando pela neta querida dela,
que claro que não sou eu, ou tentando controlar minha vida como faz com todo mundo dessa
família! Pronto, falei, me sinto leve em falar!
Minha mãe me olha de lado e dou de ombros. A mãe do meu pai sempre foi insuportável,
não posso fazer nada.
— Tome cuidado na maneira que fala da sua avó! Ela e seu avô são a razão por ainda
termos um legado, souberam proteger a nossa família. — Fica mais nervoso. Até hoje me
questiono que legado é esse, já que o único que prestava em cem por cento era meu avô, que
deve ter tido um infarto pela convivência com a insuportável da vovó. Não dá, não suporto ela.
— Nessa semana temos alguns eventos e você vai. Enquanto viver embaixo do meu teto, vai
fazer o que eu mandar! Chega de agir como se não fosse parte dessa família!
Levanto-me do sofá e minha mãe resmunga baixinho, porque sabe que ambos temos um
gênio forte e, quando essas discussões iniciam, sempre algum dos dois fala o que não devia e
saímos machucados.
— O que quer que eu faça, papai? Diga as ordens, que sua boneca vai fazer, porque é
assim que me trata, como uma boneca que o senhor deve controlar! Não quero ir aos eventos.
Não quero ter que lidar com a sua mãe. Não quero me sentir obrigada a fazer coisas que eu não
quero! — grito, perdendo o controle. — Sabe o que eu quero? Que sejam só meus pais, e não
pessoas que ditam os passos que tenho que dar e que jogam na minha cara tudo que me deram.
Não pedi pela vida luxuosa que desde cedo me ensinaram que era melhor, a única que merecia, e
jamais deveria ter algo inferior!
— Olha o tom, Ana Vitória! — me repreende, com o rosto vermelho, tomado pelo
nervosismo. — Enquanto for uma Albuquerque, vai agir como tal! — grita mais alto. — E já te
adianto, é melhor começar a aceitar conhecer as pessoas que tento te apresentar, se interessar por
alguém, porque o tempo de eu ficar te sustentando está se esgotando. Na sua idade, eu já estava
casado e planejando filhos. Sua prima foi apresentada a alta sociedade já, e você sempre foge.
Nessa família aumentamos os membros, não ficamos sozinhos. Isso faz nosso nome!
— E se eu não quiser seguir esses passos, pai?! E se eu não quiser ser a porra de uma
mercadoria para os milionários que você me apresenta? — Meus olhos embaçam, as lágrimas se
formam em grande quantidade. — Não estamos mais no século passado! Pelo amor de Deus,
precisa parar de querer me obrigar a seguir os passos ridículos que acreditam que é certo! —
Minha voz embarga.
— Então esqueça suas mordomias! Cansei de bancar os seus luxos. O combinado era que
depois que te deixasse trabalhar na Moon do seu jeito, sob as suas escolhas, escolheria um bom
partido e se casaria. Esse sempre foi o acordo. Honre sua parte, ou saia dessa casa!
Balanço a cabeça negativamente. Não acredito que ele vai insistir nisso. Eu nunca
concordei com essa parte do acordo, e nesse tempo todo, ele insiste nisso.
— Orlando! — minha mãe chama sua atenção.
— Não tente interferir. Eu criei e dei tudo a ela, mas também posso tirar tudo! Daqui uns
dias aparece até de barriga e sem saber quem é o pai, com essas saídas misteriosas! Saiba que, se
isso acontecer, esqueça que tem pai ou família. Se sujar o nome dos Albuquerque, sinto muito,
mas não irei perdoá-la.
— PAI! — grito. — Às vezes, até parece que preferia um filho homem do que a mim. Me
faz sentir uma qualquer, uma mercadoria! — Choro nervosa, sem acreditar que ele disse isso.
Se ele soubesse que já desonrei... Se ele soubesse que vai ter um neto ou uma neta...
Droga, onde meti essa criança?!
— Desculpa, filha, mas não consigo mais confiar que está fazendo algo certo. Só tem me
dado desgosto. Não parece mais com a minha garotinha. Você simplesmente deu as costas para
nós, não ache que não me sinto traído, machucado. Eu te dei o mundo e o mínimo era valorizar
tudo. — Noto seus olhos marejarem.
Ele passa por mim, e olho para a minha mãe.
— Filha, entenda ele... Ele só quer que você dê continuidade a nossa família. E desde que
se rebelou, ele sente que está te perdendo... Seu pai te ama. Nessas brigas, sempre acabam
machucando um ao outro.
Rio de nervoso e balanço a cabeça.
— Me rebelei por aprender a dizer não? Ou por entender o que de fato quero? Ah, já sei,
foi por não aceitar ficar vivendo no meio dessas pessoas que não acrescentam em nada? Eu
cansei, mãe. Isso não dá a ele o direito de agir comigo como se eu fosse um objeto, que ele
moldou e controla onde vai estar ou não. Eu estou farta do meu pai me ver como alguém que ele
pode manipular, assim como a vovó faz com ele, e todos vocês, e assim como ele faz com a
senhora.
— Ana, não diga isso... Sempre valorizou o sobrenome da família. Sempre foi presente,
deu amor, carinho... O que está havendo? Por que tanto rancor com nossa família? O que te
fizemos para ficar assim? — Sua voz é calma, e isso me irrita, porque ela não vê que isso aqui
não é motivo de amor mais. Parece que ninguém da nossa família enxerga o quão problemático
nos tornamos.
— Você nunca entenderia, mãe, porque é como toda família Albuquerque. O sobrenome
e status é sempre mais importante. Eu vou para a casa da Liz, preciso respirar um pouco longe
daqui.
Pego meu celular no sofá.
— Ana...
Saio de casa e confiro as ligações e mensagens. Retorno a chamada do Bryan, que atende
muito rápido.
— Até que enfim... Desce.
Enxugo meu rosto com as mãos mesmo, e aperto o botão do elevador.
— Quê? Olha, Bryan, nesse momento não estou a fim de lidar com mais um maluco. Só
me deixa em paz, por favor...
— Estou na porta do seu condomínio. Só tenho autorização para ir até a Liz. Então
desce, precisamos conversar. Por favor.
Desligo na sua cara e respiro fundo. Agora tenho que lidar com ele também. Quando
deixei tudo da minha vida perder tanto o controle?

Autorizo a entrada dele para o estacionamento, em uma das nossas vagas de visitantes.
Fico esperando-o, encostada no meu carro, sentada no capô. Bryan entra, e está com outro carro.
Para na vaga que indico com a mão, e sai do carro vindo até a mim.
— O que quer? — Sou direta, estou cansada, cabeça latejando.
— Boa noite, para você também! — diz e solta uma lufada de ar. — O que quero? Que
merda de mensagem foi aquela? O que vai fazer?!
Reviro os olhos. Havia me esquecido do conteúdo da última mensagem.
— Esquece aquilo. Eu estava vomitando, achei que estava morrendo e falei merda! —
Coloco o celular no bolso da minha jaqueta que coloquei por cima do vestido, quando cheguei
em casa.
— Ana, é sério! — Sua voz é preenchida pela preocupação. — O que quer fazer? Você
pensa em...
Encaro-o e arregalo os olhos.
— Claro que não! Eu só estava pensando em ir para a Europa, Bryan. Passar o tempo da
gravidez lá, tenho dupla cidadania. Sei lá, ficar longe de tudo e todos, sem ter que enfrentar os
meus pais. Contar a verdade me fará ser expulsa de casa e provavelmente ser apedrejada em
praça pública, porque não duvido que meu pai faça isso. Meio que ele já está querendo me ver
longe mesmo, isso não seria nada. — Dou de ombros.
— Puta merda! Quase me mata de susto! — Ele solta uma lufada de ar, ficando calmo. —
Nunca mais fale algo assim sem explicar tudo. Eu quase morri. E como assim, ser expulsa? O
que de fato está rolando? Seja sincera. Sou a única pessoa que pode te ajudar no momento, aceite
isso. Precisa se comunicar! Quem temos que matar e esconder o corpo? — diz sorrindo e reviro
os olhos.
— Minha família é muito complicada, Bryan — começo. — Os Albuquerque vêm de
uma linhagem com descendência europeia também, até títulos da nobreza tiveram, mas não me
pergunte a fundo, isso nunca me interessou. Enfim, por isso minha dupla cidadania. Eles pensam
apenas em status, dinheiro, poder... Por muito tempo achei que isso era o certo, sabe? — Ele me
observa com carinho, e odeio ele por me olhar assim, quando nem deveríamos estar tão
próximos. — Mas tudo começou a perder o sentido quando entendi que a forma como eles agem
é muito errado. Isso me deu um choque de realidade. Fui criada para ser como eles, não conheço
dificuldades, sempre tive tudo que queria e na hora que queria.
“Faz pouquinho tempo que comecei a juntar dinheiro com o que ganho na Moon, para
sair daqui o quanto antes, o plano era até o ano que vem, porque a cada dia meus pais querem me
forçar mais a casar com alguém que eles escolherem, e se revoltam quando digo não para o que
querem, como ida aos eventos insuportáveis, jantares e almoços com pessoas que não gosto.
Agora jogam na minha cara tudo que fizeram por mim, eu...”
Meus olhos marejam e pisco mais rápido.
— Eu estou bem cansada de tudo. Já falei disso com a Liz, mas nem ela tem ideia do que
de fato acontece em casa. Eu os amo, não são monstros, porque foi a criação que tiveram dos
seus pais também, eles eram assim, principalmente minha avó materna. Mas cansei de viver
assim.
Solto uma enorme lufada de ar. Ele encosta ao meu lado.
— Enquanto eu ficar aqui, eles vão ter esse controle sobre mim... Só que agora estando
grávida, já não sei se é uma boa ideia sumir dessa casa, ou fazer qualquer loucura que traga a ira
deles, porque eles já vão surtar quando descobrirem da gravidez.
— Nossa... Isso a mídia não conta. Parece tudo perfeito demais — fala baixo, e sua voz é
tão bonita, nunca tinha notado isso.
— Claro que não. Para eles, uma polêmica é como a morte. — Forço um sorriso.
— Por isso seu pânico com a gravidez, né? Tem medo deles te colocarem na rua e só o
que ganha na Moon não dar para sobreviver com a criança — ele resume bem parte do meu
medo. Afinal, estar grávida já me traz pânico suficiente, porque agora que estou sabendo cuidar
de mim. Mas apenas assinto, não digo mais nada. — E estava chorando? Está com uma carinha
de choro.
— É complicado. Enfim, por isso quero ir para a Europa... Mas no momento não sei mais
de nada. — Cruzo meus pés um no outro, as botinhas que são pantufas apertam uma na outra.
— Não vai. Fique aqui. Ana, como vai ficar lá sozinha? Olha o jeito que anda ficando
com seus enjoos. Aqui tem seus amigos, pessoas para te ajudar. Precisa contar a verdade para a
Liz e para os seus pais. Enfrentar logo isso para ter um pouco mais de paz nessa gravidez e
seguir em frente.
Cubro o rosto com ambas as mãos e choramingo.
— Agora choro discutindo com eles, sabia? Eu nunca choro! Sou birrenta. — Ele começa
a rir e o encaro irritada. — Isso não é engraçado, seu idiota!
— É sim... A Liz também disse que aparentemente ficou chateada porque te ignorei.
— O QUÊ?! — grito e faz eco na garagem. — EU NUNCA FICARIA AFETADA!
— Uhum... Sei... — Ergue uma sobrancelha. — Está tudo bem admitir que passou a
gostar de mim. Que sou um cara legal, simpático, engraçado, gato, que te anima, ajuda, e que
quando fico longe sente falta.
— Nunca! Bryan, some daqui! — Empurro-o e me afasto do carro. — Vai embora. Quero
distância eterna de você. Agradeço tudo que fez. Mas chega, isso já perdeu o controle!
— Não vou sumir e nem você vai embora. Só pode contar comigo no momento, meu
bem.
— Não preciso de você! — Encaro-o séria.
— Veremos, então. — Sorri.
Ele desencosta do carro e para a minha frente. Fico olhando-o sem entender. Se curva na
minha direção, mas abaixa na direção da minha barriga.
— O que pensa...
— Shhh! — Coloca um dedo na minha boca, me silenciando, e eu poderia mordê-lo, mas
me contenho. — Olha, amorzinho, sua mamãe é chata demais, reclamona, orgulhosa e muito
teimosa, mas você não precisa ser igual a ela, ou dar ouvidos às coisas que ela fica falando. Ela
diz que não quer o seu padrinho por perto, mas sei que você vai precisar muito de mim, e vai
fazer sua mamãe vir atrás com o rabinho entre as pernas. — Ele simplesmente deixa um beijo na
minha barriga, e faz um carinho também. Prendo o ar, chocada com sua atitude, mas sinto um
frio na barriga.
Se ajeita tirando o dedo da minha boca.
— Você não será o padrinho! — Fico nervosa mais que o normal, sentindo meu rosto
esquentar.
— Claro que serei. Fui o primeiro a saber de tudo, gata. Agora se cuida e, por favor, tenta
comer algo e não se estressar. E nada de Europa! Qualquer coisa, me liga.
— Para me ignorar como fez hoje? — deixo escapar e mordo o canto da boca por isso.
Que ódio!
— Sabia! — grita animado. — Ficou chateada. Já sabia que gostava que eu te atormento.
Relaxa, gata, hoje eu só estava muito estressado. Desculpa! Prometo ficar em cima do meu
celular de agora em diante. — Parece que dei doce a criança. — E que bom que marcou as
consultas. Isso me deixa feliz! — Sorri.
— Que se dane seu celular! Que se dane você. Bryan, some daqui!
Ele ri, como sempre. Entra no seu carro e sai da garagem, me deixando igual uma idiota,
encarando-o.
Apoio uma mão na minha barriga e engulo em seco.
O que rolou aqui?
BRYAN
Tomo café da manhã com o Rafael em uma padaria perto da academia, de onde acabamos
de sair. Estamos tentando colocar com mais frequência treinos na nossa rotina, isso ajuda muito
na correria do nosso dia a dia.
— Vai sair hoje? — pergunta e assinto.
— Saio mais cedo da Santana e vou aproveitar que recebi um convite para um evento de
carros, uma exposição de alguns modelos. Quer vir? Tenho um convite sobrando.
Ele nega, bebendo o restante do café. Levo o ovo mexido à boca e mastigo, observando o
lugar.
— O que está rolando? — pergunta e o encaro.
— Como assim?
— Está esquisito, Bryan. Somos praticamente irmãos, sei quando está escondendo algo.
Às vezes, me esqueço do quanto o Rafael me conhece. São longos anos de amizade já.
— Nada. Muita coisa acontecendo na Santana.
Ele assente e continua me encarando.
— Sabe que pode me contar as coisas se estiver com problemas. Não adianta querer
cuidar de todo mundo, mas não deixar que as pessoas te ajudem.
— Relaxa, estou bem. Vou ficar melhor depois do final de semana no litoral. — Sorrio.
Ele revira os olhos.
— Liz falou que você e a Ana vão antes. Ela vai ser sua babá, e é para ambos conferirem
se está tudo certo e levarem os troféus.
— Só não entendi a parte que preciso de babá. — Bebo meu café e limpo a boca no
guardanapo.
Ele sorri e conheço esse sorriso debochado.
— É um evento só de mulheres. Até mesmo a organização é só de mulheres. Não viu
nada disso?
— Deixei o pessoal do marketing cuidando da divulgação, eles montaram tudo e só
aprovei, não me atentei a esse detalhe. Porra, o que ela acha que sou? Um tarado! — Ele ergue
uma sobrancelha e ajeita os óculos no rosto. — Melhor ficar quieto, Mozão! Enfim, não preciso
de babá. Não misturo profissional com minha vida pessoal.
Ele fica com cara de deboche. Eu o amo, mas poderia socar sua cara agora.
— Vai ser bom essa viagem. Liz está preocupada com a amiga, acha que está escondendo
algo. E você sabe, quando ela coloca algo na cabeça, ninguém tira.
Forço um sorriso e assinto.
— Não deve ser nada além daquela garota sendo fresca — brinco e desconverso da
melhor maneira, para que ele não desconfie de nada.
— Pelo que a Liz disse, Ana está sumida, pouco comunicativa. Hoje elas têm um evento.
Ana tem que ir e Liz aceitou ir com ela. Tomara que se resolvam.
— Evento? — Franzo o cenho.
— Sim. Não entendi bem, Liz estava tentando pegar a Estrela para tomar banho enquanto
falava comigo. Mas Ana vai ter que ir, e não queria ir sem a amiga. Quem é que entende esse
mundo maluco delas?
Assinto, mas fico pensativo sobre a conversa de ontem. Provavelmente é algum evento
por parte da família dela. Nunca lidei pessoalmente com os pais dela, sempre os vi de longe, e sei
o que as notícias contam, mas ela tinha que sair logo dali. O clima pesado que está naquela
cobertura, não faz bem para ela e nem para a criança, mas não posso ficar me intrometendo, não
é assunto meu, ainda que eu de fato me preocupe. Ana Vitória e eu podemos até nos implicar,
provocar e, às vezes, querer se matar, mas nunca desejei o mal dela, e gostaria que ela estivesse
enfrentando essa nova fase de uma maneira mais tranquila.
— Que loucura, né? Mas temos que focar na nossa vida. Acabei, vamos? — indago e ele
concorda. — Preciso comprar o restante das coisas do meu cronograma capilar que adiei. Esse
cabelo aqui não fica lindo sozinho.
Ele revira os olhos enquanto nos levantamos da cadeira. Já deixamos tudo pago, então só
pegamos as coisas da mesa e colocamos no balcão. Eles retiram, mas não custa nada levar de
volta.

Estou na Santana, na minha sala. Passei a manhã conferindo as ideias que a equipe trouxe
para o próximo mês, e agora estou fazendo uma pausa para meu cérebro, que não aguenta mais
ver planilhas e agendas. Aproveitei também para responder mensagem dos meus pais, ou é capaz
deles virem para o Brasil ver se estou vivo.
Liz não vem para a empresa hoje, está resolvendo coisas na rua, como ver as obras do
novo fliperama, então a empresa fica mais tranquila, porque assim como seu falecido pai, Josué,
ela agita muito as coisas por aqui.
Rayssa, nova funcionária da equipe, bate na minha porta e faço um sinal para que entre.
— Bryan, esses são os relatórios das redes sociais da Santana dos últimos sete dias, como
pediu.
Me entrega os papéis, porque pedi para imprimirem tudo, para poder colocar no arquivo
mensal desses dados.
— Obrigado, Rayssa. — Sorrio e ela fica toda vermelhinha, saindo da sala, toda
atrapalhada.
Balanço a cabeça, deixo os papéis sobre a mesa e pegando meu celular para enviar
mensagens.
Bryan: Bom dia, cão do dia! Como está? Comeu? Passou mal? Está bem? Minha
afilhada está bem?

Envio a mensagem, e já sorrio sabendo que ela vai me xingar. Ela trocou a foto do
WhatsApp, está mais ainda a cara da Barbie. Depois não quer que eu faça as piadas.

Cosplay Barbie: Me chama de cão de novo que te furo os olhos! E eu estava bem até me
incomodar. Por que ainda tem o meu número? E você nunca será padrinho dessa criança. E
quem te disse que é AFILHADA? Pode ser um menino! Estou trabalhando, me dá paz!

Bryan: Você tem cara de mãe de menina, daquelas bem mimadinha, fofinha, que dá
vontade de morder. Dizem que tenho um sexto sentido forte. E não vou apagar seu número.
Também estou trabalhando, mas me preocupo com a senhorita. Sou guardião do seu segredo,
tenho uma missão extremamente importante para cuidar. JÁ COMEU?

Cosplay Barbie: NÃO GRITA! Sim, comi, Bryan! Satisfeito? Pode me deixar trabalhar?
Estou ocupada!

Bryan: E por que continua me respondendo, então?!

Ela me manda um áudio falando baixinho: “Vai se foder, seu idiota!”.


Começo a gargalhar. Ganhei meu dia tirando a paz dela. Estou até mais animado para
trabalhar.

Bryan: Nada de beber coisa com álcool no evento, que já sei que vai!

Acesso o Google e pesquiso comidas e bebidas que mulher grávida deve evitar.
Copio e colo uma das informações de um site na nossa conversa:

Bryan: E evite tudo isso aqui também, até falar com seus médicos!

Cosplay Barbie: Bryan, para de agir como se fosse o pai dessa criança, e vai trabalhar!
Por que a Liz ainda te mantém aí? Não trabalha?!

Bryan: Primeiro, se eu fosse pai DELA, levaria mais do que um minuto para gerar.
Segundo, a Liz me mantém aqui porque sou perfeito no que faço... Ah, e pensando bem, eu sou a
primeira figura masculina na vida dessa criança, logo... Meu Deus, eu sou tipo um primeiro
papai, não é? ANA VITÓRIA, EU SOU, NÃO É???????

Cosplay Barbie: Que merda está falando? Cale a boca!

Bryan: E se ELA for como um bichinho que se apega ao primeiro contato com algo ou
alguém? E se ELA estiver entendendo que eu sou o pai? Acho que estou infartando!

Fico olhando ao redor, preocupado. Será que ela já ouve e sente tudo? Preciso pesquisar.
E se tiver se apegado a mim? E se achar que eu sou o pai e não o homem miojo? Estou surtando.
Meu coração acelera tanto que meu smartwatch apita.
Cosplay Barbie: Para de ser maluco! Meu bebê não terá você como pai! Sossega!

Meus olhos brilham... “Meu bebê”, ela está começando a aceitar.


No fundo me dói ver que ela está muito sozinha nisso. Está vindo uma criança com uma
tremenda confusão familiar, não se tem informações do pai, ela está com medo... É estranho
pensar que logo eu sou a pessoa que pode tentar tornar tudo melhor para ela nesse momento, e
meio que sem querer, quando vi já estávamos assim, conectados.

Bryan: Até você resolver como será tudo isso, serei um papai adotivo. Já decidi. Estou
apavorado com o fato DELA achar que é órfã porque eu rejeitei, e ELA já pensava que eu era o
pai, e não padrinho, porque pode ocorrer, não é? Mas e se ELA não entender que sou
temporário, e sofrer depois? ANA, TEMOS QUE FAZER UMA REUNIÃO DE EMERGÊNCIA!

Ela visualiza a mensagem e, em seguida, sua foto some. Filha da mãe, me bloqueou!
Começo a rir, porque ela vai me desbloquear, não vai suportar não poder surtar com a única
pessoa que ela pode abrir a boca.
O que será que meus pais vão achar de descobrir que virei papai adotivo temporário?
Com certeza agora eles me internam de vez.
O smartwatch apita novamente. Estou infartando.
ANA VITÓRIA
Estou em casa terminando de me arrumar para o evento que terei que ir. É organizado
pela Moon eventos, e não tive escapatória dessa vez, mas ao menos consegui que a Liz fosse
comigo. Só espero não passar mal, e que tudo corra bem.
Meus pais já estão lá e aguardam por nós, enviando milhões de mensagens, mas somente
ignoro. Prometi que iria, então esperem, porque sabiam que eu havia ficado além do horário na
Moon resolvendo várias coisas jurídicas.
Calço as sandálias e finalmente estou pronta. Paro na frente do espelho, e gosto do que
vejo, mas também me traz ansiedade, porque daqui a pouco haverá mudanças em meu corpo,
porque dentro de mim tem uma criança agora.
Meu Deus, estou grávida!
Bem ao pé da minha barriga, tem um leve altinho, discreto, mas por eu conhecer bem
meu corpo, sei que nunca esteve ali, mas tem um motivo para isso agora.
Eu vou parir!
Tento não pensar muito sobre isso, porque na semana que vem tudo será mais do que
real, já que terei consultas, e estando tudo certo, não terei mais escolhas a não ser contar para os
meus pais e enfrentar tudo.
Eu vou literalmente deixar uma criança sair de dentro de mim.
— Está linda. — Liz para ao meu lado e sorrio, focando nela e parando de surtar
internamente. — Vamos?
— Claro. Vou só pegar a bolsa que irei levar. Está linda também.
Ela sorri e me abraça de lado, enquanto nos encaramos através do espelho.
— Eu te amo, Ana, muito. Você é a irmã que nunca tive, sabe disso, certo? — pergunta e
assinto.
— Também amo você, Liz!
Ela sorri e me sinto mal por estar escondendo algo tão grande assim dela, mas não quero
deixar ninguém ansioso até ter certeza de que o bebê está bem e que ficarei bem também.
— Animação! Vamos, se é para enfrentar esse evento, que seja de um jeito positivo! —
Respiro fundo e ela ri.
— Essa é a minha amiga.

O evento é bem no centro de São Paulo, em um espaço enorme. É privado, por isso tem a
ausência da imprensa. O dono dele é dono das maiores concessionárias de carros importados do
país, e sempre que tem carros novos chegando, ele faz algo assim, de início apenas para
convidados, depois aberto ao público.
— Sem imprensa — Liz diz, quando entramos e sorrio.
— E, ainda assim, amanhã terão nossos rostos em tudo quanto é lugar.
— São nessas horas que odeio sermos nós — reclama.
— Te entendo!
Pessoas conhecidas imediatamente vêm nos cumprimentar. Algumas até que são legais,
já outras... Mas fingimos muitos sorrisos ao longo da vida nesses eventos, isso já é natural para
nós.
— Uau! — exclamamos juntas ao vermos os carros.
— Isso parece até algo de outro mundo. Provavelmente eu não saberia ligar isso — Liz
comenta, se aproximando de um deles e acompanho.
— Não sabe dirigir nem o seu, amiga.
— Ana! — chama minha atenção e rimos. — Poderia ser menos sincera às vezes.
Dou de ombros e continuamos avaliando.
— Eu teria aquele roxo. — Aponto, e ela concorda.
— E por que não tem? Não é como se não pudesse.
— Vindo diretamente do meu bolso? Por mais que eu ganhe bem na Moon, passaria a
vida trabalhando lá e não conseguiria ter parte da metade do valor desse carro.
— E seus pais? Eles amam te mimar, te dão sempre o que quer...
Olho-a de lado, franzindo o cenho.
— O que está rolando, Liz?
— Ah, desculpa! Não consigo disfarçar. — Faz uma careta de inocente. — Pérola ouviu
algumas fofocas pela sua casa e comentou com a Graça quando se encontraram, e a Graça me
contou porque ficou preocupada, já que não sabe quando a Pérola diz a verdade ou inventa tudo.
Reviro os olhos.
Pérola faz parte da nossa equipe de funcionários, cuida da limpeza. É uma enorme
fofoqueira, e meio que nunca nos demos bem. Ela só fica naquela casa porque nunca abri a boca
para os meus pais sobre as fofocas que ela fica fazendo, porque sei que ela precisa do dinheiro.
— E o que ela disse?
— Ah, que tem tido muitas discussões. Que ouviu seu pai falando que está de saco cheio
de bancar seus luxos, que está na hora de você se casar com alguém de grandes posses, que te
mimou demais... Essas coisas. Sabe, quando me contou que tudo estava complicado, não
imaginei o tanto. Adoro seus pais, mas sempre soube que eles eram um pouquinho difíceis, mas,
amiga, se isso for verdade, é cruel, sabe? Você não pediu para eles te mimarem.
Assinto enquanto tornamos a olhar os carros.
— É, não pedi. Você viu o quanto foi duro conseguir convencer eles de que trabalhar na
Moon teria que ser um emprego de verdade. Teria salário, horários, tudo de modo correto.
— Sim! Foi por isso que fez o contrato que, durante cinco anos, trabalharia
exclusivamente para eles, por um valor X, e que assim como você teria que cumprir sua parte,
eles fariam o mesmo. Até minha mãe teve que conversar com eles e explicar que isso era ótimo,
que eu estava trabalhando com o meu pai, que nós precisávamos de boas experiências e mais
amadurecimento e isso ajudaria.
— Exato. Eles me criaram em um pedestal, e agora que estou entendendo o quanto isso
não é bom, estão se revoltando. Querem me casar a todo custo. Ele me ameaça dizendo que vai
tirar tudo de mim se eu der alguma dor de cabeça... Estou de saco cheio já. E claro que isso tem o
dedo da família do meu pai, que fica falando na cabeça dele.
Ela me olha com chateação.
— Mas uma vez me disse que tinha planos de sair de lá, que só assim, cuidando das suas
próprias coisas e tendo seu lar, eles parariam de ter voz sobre você. Por que não sai? Com o
salário que ganha, pode alugar um lugar bom e se manter, amiga. E se precisar de ajuda, pode
contar comigo, até mesmo se precisar de um lugar para ficar incialmente, até se estabilizar.
Entendo que essa vida de luxo foi a que sempre esteve acostumada, mas se quer ter
independência, vai ter que aprender a viver com bem menos do que agora, mas sabe de uma
coisa? Nada vale mais do que a nossa paz. Nada, Ana!
Sorrio com sinceridade, porque amo ver o quanto minha menina cresceu. Liz é minha
bonequinha e sempre será.
— O plano era fazer isso ano que vem... — Engulo em seco. — Negociaria com eles
apenas para manter o Mathias, por segurança, e que levaria minhas coisas e meu carro, e com
meu novo lar e todas as despesas me viraria, não precisariam me ajudar com nada além do
segurança... Só que... eu já não sei se terei tempo de fazer tudo isso, de tentar uma conversa
civilizada... — Sinto um embrulho no estômago, o coração acelera.
— Do que está falando, Ana? O que está realmente acontecendo?
Olho ao redor, com o desespero me consumindo.
— Prometo que vai saber tudo, na hora certa. Só peço que não me julgue, não me
condene, e nem fique com raiva, promete?
— Sim, mas está me assustando.
— No momento certo, Liz. Eu prometo falar, mas não agora!
Ela concorda com uma expressão de preocupação, mas segura minha mão. Vou relaxando
e soltando o ar com calma.
— Obrigada — digo e ela sorri com carinho.
Vemos meus pais acenando para nós.
— Vamos lá falar com eles, e pegar algo para beber e beliscar, porque algo me diz que
será uma noite longa — ela comenta e sorrio.

Precisei de um canapé, um Vol au vent, água e muito perfume amadeirado e adocicado


demais das pessoas, para começar a sentir enjoo. Parece até que estou com os sentidos mais
apurados.
Mas a água bem gelada com limão que peguei, está me ajudando a controlar, conforme
vou bebendo aos pouquinhos, quero dizer: Estava!
Um casal chega para falar com meus pais, e um garçom se aproxima com mais aperitivos,
e o cheiro me embrulha mais o estômago. Olho para a Liz, que sorri para o cumprimento deles,
enquanto eu apenas aceno com a cabeça.
— Amiga... — pigarreio. — Me cobre por alguns minutos. Já venho.
Ela concorda e me analisa.
— Tudo bem? Está pálida.
— Está sim. Só está muito quente aqui. Já venho!
Caminho rápido antes que meus pais notem. Bebo o restante da água e deixo a taça na
bandeja do garçom que passa.
Passo rápido demais por alguém, esbarrando forte. Mãos me seguram firme devido ao
impacto, e preciso prender o ar para não colocar tudo para fora nesse momento. Ergo o olhar e só
pode ser surto da minha cabeça.
— Então esse era o evento que viriam... O destino está amando nos colocar no mesmo
lugar agora. — Ele sorri animadinho, mas em seguida muda sua feição. — Está pálida. O que
houve?!
Nego e me afasto. Se eu abrir a boca agora, darei um belo show aqui.
— Espera... Está enjoada, é isso? — Assinto. — Vem, te ajudo!
Ele me ajuda a passar pelas pessoas e me leva para o corredor dos banheiros. Olhamos de
um lado para o outro, e não tem ninguém. Abro a porta do banheiro feminino às pressas e, por
um milagre enorme, está vazio. Entro ouvindo seus passos atrás de mim.
Corro para a primeira cabine, e não tenho tempo de mais nada, coloco tudo para fora. Já
estou tão amiga do vaso sanitário, que é como se todos eles me olhassem com carinho e
dissessem: “Vamos, lá, Ana. Estamos com você!”.
Mãos seguram meu cabelo e acariciam minhas costas. Tento empurrá-lo, mas não
consigo, porque logo vomito mais.
Meus olhos marejam, porque sempre tive medo de vomitar. Quando ficava muito doente,
eu chorava por isso acontecer ou ter que ir para o hospital.
Termino e ele me ajuda, me tirando dali e dando descarga. Caminho com calma até a pia.
Me limpo, levando a água até a boca e cuspindo, repito isso algumas vezes. Pego o papel e limpo
minha boca com cuidado e jogo fora. Confiro minha aparência, e estou sem cor ainda, mesmo
com a maquiagem.
Encosto na pia, virando-me para o Bryan.
— Precisa de algo? — pergunta ao se aproximar. Nego balançando a cabeça. — Comeu
algo que te deixou assim?
— Uns aperitivos e o perfume dessas pessoas, a maioria parece que tomou banho com os
perfumes... Até dor de cabeça está me dando. — Faço uma careta de nojo.
Ele sorri com carinho.
— Quer tomar um ar lá fora? Pode ajudar um pouco. Fico com você.
Balanço a cabeça e meus olhos marejam.
— Eu odeio vomitar... Eu odeio ficar assim por qualquer coisa... Se está assim no início
imagine depois... Eu...
— Ei, vem aqui. — Me puxa, sem que eu possa impedir, e me abraça. — Vai ficar tudo
bem. Você vai falar tudo isso aos médicos e eles vão ajudar com algo. E ainda, se isso continuar,
não vai estar sozinha, tudo bem? Estarei aqui. Vai dar tudo certo, meu bem. — Assinto com suas
palavras, focando em outra coisa nesse momento.
Suspiro focando no seu perfume, e o cheiro é tão bom. Algo cítrico com um fundo
amadeirado bem leve, não como o das pessoas por aqui, é bem refrescante, delicioso. Fecho os
olhos e agora quero chorar por ódio, porque o enjoo está diminuindo cada vez mais, e vou
relaxando, e tudo por causa do perfume dele. O cheiro do Bryan, a pessoa que mais me irrita
nesse mundo, é o que me relaxa e isso controla meu enjoo.
Apoio as mãos em seu peito e levo sutilmente o nariz para perto da gola da sua camisa
azul-marinho, mesma cor do meu vestido, outro azar do destino.
— Merda... Meu perfume te deixa enjoada também? Não pensei nisso... — Ele vai se
afastar, mas não deixo. — O quê? Achei que era esse o motivo de estar arrastando o nariz pela
minha camisa...
Nego e fico concentrada no seu cheirinho. E se eu cortar a cabeça dele? Deixo só o
pescoço e terei o seu cheiro, sem sua boca que me irrita.
— Só preciso de mais um minuto — falo baixo.
— Ok... Mas não sei se é uma boa já que está enjoando com o perfume da galera, e eu
estou com perfume também. Ana, você vai ficar pior...
— Shhh... Fica quieto!
— Está bem... Está bem... Me calei!
Assim que me sinto melhor, me afasto e o encaro. Ele fica me olhando confuso, mas logo
sorri.
— Podemos ir — informo.
— Quer alguma coisa?
— Não. Obrigada.
Ele concorda e saímos do banheiro, e ainda não tem ninguém, o que é ótimo.
Estou tentando processar a nova descoberta, mas minha mente ainda não está entendendo
nada. O cheiro dele? Logo o dele? Não poderia ser de uma banana? Uma planta? Qualquer
outra coisa? Tinha que ser o dele?
Por isso ontem, quando almoçamos juntos, com ele não me senti enjoada, apenas com a
Liz, que por sorte hoje veio com um perfume mais leve, delicado, que não me enjoa tanto.
Eu queria saber qual foi o crime ou pecado que cometi tão grave, para estar pagando uma
penitência tão enorme assim.
— Vou ficar circulando por aí e...
— Não! — falo alto demais, paro abruptamente e ele quase tromba comigo de novo. —
Quero dizer, Liz está aqui, vai adorar ter você por perto. — Me olha desconfiado. — Por que está
aqui? — lanço uma pergunta, porque me recuso a dizer porque preciso dele por perto essa noite.
— Contatos... Sempre ganho esses convites e adoro eventos de carros. — Observo-o, e
esse azul dá muito destaque as suas sardas e ao seu ruivo, mas não tanto quando está de verde ou
preto. Pronto, agora fico reparando nisso também? — E a senhorita ainda não me desbloqueou!
Podemos falar disso?
— Se não me irritasse falando bobagens, não ficaria bloqueado. Agora vamos logo até a
Liz, ela já deve estar preocupada. — E eu preciso sobreviver a essa noite sem vomitar na cara de
alguém.
Viro-me andando à sua frente, tentando não pensar na nova descoberta. Espera... E se foi
a praga que ele me lançou na garagem? Ele disse que o meu bebê iria precisar muito dele, e eu
teria que voltar com o rabinho entre as pernas.
Eu vou matar o Bryan Nunes!
— Está linda nesse vestido. Azul lhe cai bem, Cosplay da Barbie. E está ficando ainda
mais gostosa, já te falaram isso? Gravidez lhe cai bem!
Não penso, quando vejo, já fiz: ergo o braço bem alto e mostro o dedo do meio a ele.
— CALE A BOCA!
Ele explode em uma gargalhada, que preciso me controlar para não sorrir com o som
dela.
Babaca! Olha as merdas que ele fala e ainda em público. Quando essa penitência
acabar, eu vou precisar de terapia.
BRYAN
O evento está bem cheio. As pessoas estão animadas com os carros, e não teria motivo
para não estarem, eles são incríveis. Observo com atenção, já que estou escoltado pela loira e
morena, que estão afastando toda mulher que tenta se aproximar. Eu deveria ter investigado mais
sobre o evento que elas iriam.
Bebo um pouco do drink que a Liz pegou para nós, enquanto a Ana Vitória se mantém na
água com limão, mas agora bem melhor, não parece mais que está beirando à morte. Vejo seus
pais ao longe, eles observam a filha como águias, enquanto ela ignora, mesmo tendo certeza de
que ela sabe que eles estão vigiando.
Elas me fizeram de fotógrafo também, com fotos nos carros, que já postaram. Eu vou
matar o Rafael, juro que vou. Ele não poderia me deixar sozinho enfrentando isso.
— Ainda não entendi, como esse ser humano se mete nesses eventos! — Ana fala, como
se eu não estivesse presente.
Às vezes, sinto uma enorme necessidade de surrar sua bela bunda, só pela malcriação.
Que garota petulante e com uma bela bunda, ainda mais empinada e redonda nesse vestido.
Foco, Bryan!
— Você não sabe? Amiga, o Bry é muito reconhecido na área do Marketing. Ele tem até
prêmios e essas coisas. Eu fiquei chocada quando descobri. Sabia que ele era bom, mas não
imaginava que era tanto. Descobri quando vi os troféus na casa dele; na sala tem um, mas no
escritório na casa dele tem uma prateleira com vários — Liz responde, e de novo, como se eu
não estivesse aqui.
Balanço a cabeça assentindo, e bebo um bom gole da minha bebida.
— É, ele é bom no que faz! — gabo e elas me olham. Liz sorri, e Ana faz uma careta
fofa. — Sabem que estou aqui, certo?
— Claro que sabemos. É difícil não saber, quando seu coque rouba a cena.
— Para uma advogada, adora fazer bullying, não acha? — revido para a loira, que está
deslumbrante nesse vestido azul-marinho.
Liz começa a rir, escandalosa, chamando atenção para nós.
— Eu odeio amar vocês. Me estressam, mas me animam! — Liz fala e olha para trás de
mim. — Não se matem. Vou ver o que querem comigo. Me desejem boa sorte.
Ela se afasta, e me viro, terminando a bebida. É a família do dono do evento. Liz vai toda
delicadinha, nem parece que só falta me morder quando quer algo.
— Queria saber como ela consegue — Ana comenta a olhando.
— Como assim?
— Independentemente dos problemas, ela sempre vai colocar um sorriso no rosto e
erguer a cabeça. Isso é admirável. Queria ser assim. Mas... — Olha para os pais que agora
conversam com outras pessoas. — Devem estar me odiando por não estar interagindo com o
pessoal.
— E eu sou o quê? Um alienígena?! — indago e posso estar maluco, mas duvido, ela
sorri discretamente. — Não se cobre, está passando por um momento complicado. Qualquer
pessoa na sua situação estaria surtando, provavelmente.
— Verdade, não é? — pergunta baixinho, e sorrio.
— Claro que sim, Ana. E por falar nisso, estamos há horas aqui e não comeu nada. Não
pode ficar sem comer. Eu vi no Google, você precisa comer bem.
— Vou enviar uma carta ao Google para banirem você de acessar ele!
Começo a rir e ela me belisca discretamente, mas não dói.
— Enfim... Precisa comer, Ana.
— Nada aqui me desce. Tentei, mas... não... — Estremece e bebe o restante da sua água.
Olho ao redor, e não tem nada diferente para ela comer.
— Quer sair daqui e comer algo? Voltamos depois.
— Não! Vou ficar mais uma hora aqui, depois vou falar com o dono da festa e sumir. Se
eu sair, vai ficar chato. Não apenas pelos meus pais, mas porque eles são bons clientes da Moon,
meio enjoados, mas legais. — Sorri. — Quem sou eu para falar de pessoas enjoadas, frescas?
Sou uma!
Não vou dizer que concordo, que ela me acerta com a bolsa ou o copo. Talvez com os
dois.
— Certo... Vou dar um jeito.
— Bryan, o que você...
Não fico para ouvir. Me afasto indo atrás dos garçons.

Bastou um sorriso, uma piscadinha e consegui que me arrumassem um pratinho com as


frutas que estão usando para as bebidas, cortaram na hora e formaram uma salada de frutas.
Inventei que sou alérgico a comida que estão oferecendo e o remédio que tomo é forte e não
posso ficar sem comer.
É, eu sou ótimo ator e um bom conquistador cheio de charme.
Ana Vitória está falando com os donos da festa, junto da Liz. Ela me vê passando e dou
um sinal, para que me siga. Ela nega, mas fecho a expressão e a encaro sério, chamando-a de
novo. Ela revira os olhos e isso significa que vai ceder, mesmo bravinha.
Caminho lentamente, passando pelas pessoas e sorrindo como uma hiena. Vejo um
corredor, ao lado oposto de onde ficam os banheiros, e não tem ninguém por perto.
Discretamente entro nele. É onde estão deixando as coisas da festa, como as caixas. Perfeito, sem
plateia.
Me aproximo da mesa que tem algumas caixas em cima e deixo o prato com as frutas.
Olho o relógio no meu pulso e de fato ela já ficou muito tempo sem comer. Quem diria
que eu teria que virar oficialmente a babá dessa menina. E ainda a Liz quer que ela cuide de mim
no litoral. Eu não digo é nada!
Barulho de salto chama a minha atenção. Viro-me e vejo-a vindo, emburrada. Prendo o
riso.
— Eu juro, espero que seja algo muito importante ou eu vou raspar seu cabelo todo! —
fala se aproximando.
Aponto para as frutas e ela olha, em seguida me encara.
— Estou até com medo de perguntar, mas vamos lá... — Ela cruza os braços, realçando
seu decote e seus seios. — Onde arrumou isso?
Foco, Bryan Nunes!
— Tenho meus meios... Talvez, só talvez, eu tenha jogado charme para as meninas da
bebida e da cozinha, e para o garçom, que aparentemente se encantou por mim.
— Bryan! — chama minha atenção e sorrio.
— Precisa comer. Gosta de frutas? Espero que sim. Fizeram na minha frente, tudo
limpinho. Prometo.
— Bryan, não vou comer. Não estou com fome.
— Vai sim! Não está com fome, mas ela pode estar.
— Para de falar que é ela! Pode ser menino!
— Não é. Meu sexto sentido de pai temporário diz que é menina. — Ergo uma
sobrancelha e desafio-a duvidar.
— Agora não é mais padrinho? Mudou para pai temporário? Poderia mudar para bem
longe e me dar paz, o que acha? — Sorri cheia de deboche. — Meu bebê não terá você como pai.
Seremos nós dois apenas, e acabou — enfatiza algumas palavras.
— Não fala isso, ela pode escutar! — chamo sua atenção e ela bufa desacreditada. —
Desfaz essa cara de emburrada e vem logo comer, ou vou colocar na sua boca, que nem criança.
— Não é maluco de fazer isso! — retruca.
Sorrio de lado.
Puxo-a em uma pegada firme e ela solta um gritinho. Ergo-a, colocando seu corpo na
mesa, e me colocando entre suas pernas. Seu vestido sobe mais e não me importa. Mantenho-a
no lugar, passando um braço ao redor da sua cintura. Noto sua barriga, parece que tem algo
surgindo já, mas deve ser coisa da minha cabeça.
— Vou te matar! — diz entredentes.
— Se tiver se alimentado, posso até pensar em deixar. Vamos. — Espeto uma fruta com
o garfo, e trago até a sua boca. — Abre a boca, Ana Vitória Albuquerque!
— Não! — embirra.
— Ana Vitória, tem quantos anos mesmo? Tem certeza de que é advogada e adulta?
Vamos, abre essa boca!
Revira os olhos e abre a boca, a contragosto, claro. Coloco a fruta na boca pintada de
nude, e ela mastiga lentamente, ainda emburrada. Garota teimosa!
— Viu? Não foi difícil. — Espeto outra fruta e trago até sua boca. — Vamos, precisa
comer, porque ficar sem comer pode piorar os enjoos.
— Quem te disse? Ah, já sei. O Google! — seu deboche me faz querer rir, mas me
mantenho sério.
— Somos grandes amigos, até você passar no médico, lá vou tirar dúvidas. Agora foque
em comer. Estou falando sério, precisa se alimentar!
Coloco a fruta na sua boca e ela mastiga, me encarando, e provavelmente planejando
minha morte.
— Seus olhos são bem mel, quase dourados... Que lindo! — sussurra, franzindo o cenho,
parecendo chocada. — Mas dá medo também. Só que são perfeitos ainda assim.
Sorrio e balanço a cabeça, colocando mais fruta em sua boca, e agora ela já pega sem cara
de ódio.
— Agora que notou? Você realmente me ignorava!
— Não pode me culpar. Você só me provocava esses anos todos.
— Temos um ponto aí. E sim, eles são bem mel, e no sol, ou luzes mais fortes, ficam
muito dourados, como devem estar agora.
— Quem dos seus pais te doou a única coisa bonita em você? — provoca e rio.
Dou mais fruta a mimadinha, enquanto acaricio suas costas. Ela apoia as mãos em cada
lateral da mesa, as unhas bem-feitas chamam atenção para a sua pele clarinha. Existe uma
curiosidade estampada em seu rosto enquanto mastiga a fruta.
— Nenhum dos dois. Minha mãe tem olhos verdes e meu pai castanho-claro. Dizemos
que foi a mistura dos dois que pode ter feito isso, já que ninguém da minha família tem os olhos
como os meus. Sou o único. Admirando minha beleza, Cosplay da Barbie?
— Seu ego é de família também? Ele parece nunca acabar!
— O dia que conhecer minha mãe, saberá. — Sorrio.
Continuo alimentando-a, e ela fica encarando meus olhos, como se os dela não fossem
tão lindos quanto. É o azul mais intenso que vi em alguém. É perfeito. E seus cílios de boneca
ajudam a destacá-los.
— Ruivo natural ou passa horas no salão? — Sorri com ironia.
— Sou ruivo natural, para o seu azar em não poder encontrar defeitos na minha
aparência. Sardas e cabelos puxei da minha mãe.
— Está de brincadeira que esse ruivo perfeito é natural?! — Arregala os olhos e começo
a rir. Ela nota que falou demais no instante que fica sem graça, e pigarreia.
— Você achava que eu pintava? Ana Vitória, qual o seu problema comigo? E acha meu
ruivo e olhos perfeitos?
Dá de ombros. Olha para a fruta e levo a sua boca.
— Tenho que encontrar qualidades no carrapato que não sai de mim. É tipo aprender a
conviver com uma doença que não tem cura. Mas nego até a morte se me perguntarem sobre
isso, porque abriu a boca para alguém. Deve ser a gravidez me fazendo ter mais atenção nas
pessoas que pretendo assassinar.
— Me comparou a uma doença? — Dou a última fruta a ela, e ela sorri e mastiga. — A
cada dia me surpreende mais. E pare de ensinar a bebê a ser psicopata como você!
Deixo o garfo sobre o prato, e agora apoio as mãos em sua cintura.
— Obrigada, depois que comecei a comer, vi que estava com fome. — Sorrio e assinto.
— Vou te desbloquear, mas se der uma de louco de novo, vou pedir medida protetiva contra
você. — Aponta um dedo na minha direção.
— Eu estava morrendo e você querendo falar de medida protetiva? Ana, ela pode ficar
confusa. Primeiro ouve você falar que ela não tem pai. Depois o som da figura masculina que
ouve é padrinho, mas criança não nasce sabendo o que é padrinho, ela distingue o que é pai e
mãe primeiro, logo, ela pode ficar confusa. Mas se eu for pai temporário, como ela já deve sentir,
pode ficar triste quando descobrir que não sou! Precisamos conversar sobre isso, e com urgência!
É impossível que só eu veja a bagunça que vai se criar na cabeça da minha garotinha.
— Está fazendo de novo! Para de ser maluco. Bryan, esquece isso. Só está ajudando e
pronto. Sem ser nada além de um cara me ajudando. Satisfeito?
— Não! — respondo com sinceridade. — Ana? — chamo sua atenção, e ela me encara.
— Posso ser sincero? — Sorrio.
— Não.
— Mas serei. Me apeguei ao seu segredinho, e agora me preocupo com a criança que foi
concebida mais rápido que a luz ou que um miojo, já que ele leva três minutos segundo a
embalagem.
— BRYAN! — Acerta meu peito e tenta descer, mas não deixo, e isso faz com que eu a
puxe mais para mim, encaixando ainda mais nossos corpos. Nos encaramos por alguns segundos,
antes dela continuar: — Vou pedir a medida protetiva. Acredite em mim. Você é louco!
— Nunca disse que não era, meu bem.
Me curvo e deixo um beijinho em sua barriga, antes de me afastar e ajudá-la a descer da
mesa, porque ficar colado assim não será nada bom, não mesmo. Ajeita seu vestido e os cabelos.
— Preciso pegar minha bolsa com a Liz... É... Obrigada pelas frutas... — Ela me dá as
costas e sai toda desconcertada.
Levo as mãos ao bolso da calça e fico olhando-a. A loira alta caminha para longe, e isso
me faz sorrir. Ela fica toda sem jeito quando beijo sua barriga. Vai ter que se acostumar, porque
eu realmente me apeguei ao segredinho dela e vou proteger essa criança, porque é nítido que a
mãe dela não está muito bem, e faz parte de mim cuidar de quem eu tenho por perto, sempre foi
assim.
São anos próximos, independente dos conflitos, é claro que vou querer cuidar e proteger,
fosse dela, da Liz, ou de qualquer outra pessoa que eu tenha em minha vida.
Olho para a mesa e vejo o seu brinco, caiu e não notamos. Pego, colocando em meu
bolso, e saio daqui. Deixo o prato na mesa, alguém da equipe da festa vai ver. Se a Moon
organizou, nada passa por eles, é o que dizem de seus eventos.
Volto para a festa e aproveito que ambas estão juntas e rodeadas de pessoas, e vou
encontrar algumas que conheço e tentar distrair a cabeça. Quem sabe, arrumar alguma bela
mulher para relaxar ainda mais.
Caminho em direção aos carros, onde tem uma mulher negra, com cabelos cacheados, e
um vestido preto lindo. Analiso bem, nenhum homem por perto. Ela mexe no cabelo, e nenhum
anel em suas mãos.
Perfeito. Comecei a ter sorte essa noite. Bryan Nunes pode vestir sua personalidade
safada, finalmente!
Dou mais um passo, mas paro, meu celular começa a tocar, o nome do Rafael surge,
assim como os meus dois castigos parando uma de cada lado meu.
— Nem pensar, Bryan Nunes. Deixe-a em paz. É uma modelo francesa e parente dos
donos da festa, não arrume problemas! — Liz sussurra.
Elas não estavam conversando? Por que não me dão paz?
Atendo a porra da ligação e olho para a Ana Vitória ao meu lado. Agora com sua bolsa, e
me encarando de lado e prendendo o riso. Essa diaba está amando me ver ficar nas mãos delas
essa noite.
— Cara, você viu onde está o carregador do meu notebook? — Rafael fala do outro lado
da linha.
Desisto de tentar ter um sexo, ou um beijo que for essa noite. Puta que pariu. DESISTO!
— Não se tornou papai? Tem que dar o exemplo! — Ana sussurra discretamente em meu
ouvido, é alta, está de salto, mas ainda assim precisa erguer os pés, ficando na ponta deles.
— Não, não vi. Mas já estou indo para casa, Rafael! Tchau! — Desligo e olho para a Liz,
que agora está mexendo em algo no celular. Veio realmente só para evitar minha diversão, que
garota infernal.
Ana Vitória pega o celular na bolsa e suspira.
— Se meu pau cair por falta de uso, saibam que vocês duas tiveram culpa! — falo e elas
me encaram.
Liz gargalha, e Ana faz uma cara de metida.
— Vai cair de tanto usar, isso sim — Liz ri mais ao falar.
— Seu puto! Como você é ridículo. Ninguém precisava dessa informação! — Ana
retruca. — Mas deveria cair, assim me daria paz!
Encaro a loira, bem sério, e ela revida na mesma intensidade. A sorte dela que não posso
acertar sua bunda gostosa nesse momento, ou faria!
— Vou pegar algo para beber e depois sumir desse lugar. Não aguento mais as duas. Eu
me rendo!
Me afasto delas, e as diabólicas ficam rindo.
Eu só queria uma noite divertida, com sexo, conversas, bebida, beijos, qualquer coisa ao
modo Bryan Nunes, mas eu tinha que parar no mesmo evento que elas.
ANA VITÓRIA
Paz, seria hoje o início dela na minha vida? Estou na Moon, já tive duas reuniões que
foram bem tranquilas. Fiz quatro contratos. Confirmei a ida a consulta para saber do bebê na
semana que vem. Não tive enjoo até agora, e são quase 18h. Que dia incrível. E o principal: não
tive mensagem do Bryan, ligações, ou qualquer coisa do tipo. Vou até marcar no calendário para
não esquecer o quanto hoje foi um dia perfeito.
Me troco após o delicioso banho de banheira com direito a minha playlist de fundo. Vou
revisar alguns contratos de festas, comer algo e dar um pulo na Liz, que me chamou para
jogarmos conversa fora.
Passo meus cremes e produtinhos de skincare e me sinto uma nova mulher. Finalmente
os dias de glória.
Penteio meus cabelos após tirar a toalha, passo os produtinhos para o cuidado com as
mechas, que, pelo jeito, não poderei retocar durante um tempo, mas vou conversar com a médica
e ver o que pode ser feito.
Respiro fundo, pego meu celular e desço, porque hoje meus pais podem me arrumar três
maridos, me atacar, surtar e eu irei sorrir, porque estou no modo paz e amor.
Vou para a sala de jantar, onde já deixaram tudo pronto para eu comer. Pedi um lanche
mais natural e suco. Não estou com fome, mas a voz daquele idiota dizendo: “Você não pode
ficar sem comer. Você está grávida, precisa se alimentar. Precisa não sei o que mais...”, fica
berrando na minha consciência. Que castigo!
Deixo o celular sobre a mesa. Sento-me e puxo os contratos que imprimi e deixei aqui,
assim que cheguei para revisar enquanto como.
E é exatamente o que faço quando me sento confortavelmente na cadeira.
Pego o marca-texto e a caneta que estavam juntos e vou lendo, marcando alguns pontos
para rever, outros vou anotando neles, depois passarei a limpo para a Moon entrar em contato
com esses clientes.
No segundo semestre do ano é quando mais temos eventos, e isso significa mais contratos
e questões burocráticas sendo feitas. Além disso, ainda tem o processo do cliente que nos
difamou quando a esposa que fez a confusão toda. É bastante coisa para deixar em ordem,
porque paramos no final de novembro e voltamos apenas em janeiro. Não trabalhamos mais com
eventos de final de ano, porque não tínhamos vida.
Por falar no final do ano, não acredito que estamos rumo a ele. Parece que foi ontem que
enfrentei um Natal caótico com a família Albuquerque, e no primeiro convite de viajar para o
litoral com a Ana e o Rafael, e a mãe dela, Antônia, fiz. Não aguentaria Paris ao lado dos
Albuquerque, onde passaram a virada do ano.
Suspiro com a paz que foi a ida à casa dos Santana, até porque o Bryan não foi. Ele
retornou dos Estados Unidos somente após o Ano-Novo, fiquei livre dele da segunda quinzena
de novembro até janeiro... Que paz! Foi um outro tempo de glória.
Volto a focar nos contratos e em comer. Mas meu celular toca. O nome da minha avó
surge na tela e, claro, ignoro. Uma hora ela cansa e desiste. Ninguém vai estragar meu dia hoje.
Me recuso a aceitar que façam isso!
Passos me fazem virar o rosto, enquanto deixo o celular no silencioso. Meu pai para na
entrada da sala de jantar e me encara, acenando sutilmente com a cabeça.
— Ficaram felizes com sua ida ao evento de ontem — diz e assinto. — Chegaram mais
duas festas, as últimas do ano, superlotamos a nossa agenda. Amanhã farei uma reunião na
Moon, sobre elas, contratos, e preciso que esteja presente.
— Pode deixar. Estou revisando alguns contratos para enviar corretamente. Também
precisamos conversar sobre o processo que estamos abrindo contra aquele casal. E precisamos
fazer uma reunião para reforçar a orientação sobre ética e questões legais com todos os setores.
Não fizemos ainda esse ano. Os funcionários novos têm tido dificuldades em questão ao Código
de Defesa do Consumidor, então é bom fazer essas orientações também, tirar dúvidas, antes que
façam algo errado — pontuo e ele concorda.
— Perfeito. Outra coisa que preciso falar com você. Esse final de semana temos um
evento, é da maior revista do país, fomos convidados para estar em uma das páginas deles.
Respiro fundo, lembrando-me de que estou namastê.
— Pai, estarei com a Liz. Prometi ajudá-la com o evento de premiação que a Santana
Games está patrocinando. Desculpe, mas ela me pediu bem antes, e não vou deixá-la na mão
agora.
— Achei que já tinha entendido a questão de se fazer presente nos eventos, Ana!
— E achei que o senhor tinha entendido que tenho uma vida além da que tentam criar
para mim! Pai, por favor, não estou a fim de discussões hoje — controlo-me.
— A cada dia é mais difícil, infelizmente, tem sido difícil... — Se vira para sair, mas
retorna. — E antes que eu me esqueça, sua avó, sua tia e sua prima, chegam amanhã, vão passar
um tempo aqui. A casa delas está em reforma e não querem ficar em hotel, ou no nosso
apartamento na praia, e nem nas nossas casas na Europa. Então, por favor, não cause problemas!
Pronto. E meu dia de paz se foi. Namastê já era. Nem Buda aguentaria manter a paz nessa
família, tenho certeza.
— Como é? Aquelas duas cobras e a sem-noção, que é legal, mas sem-noção, vão estar
aqui por um tempo? Pai! — Choramingo, porque é impossível me pedir para me comportar
quando a dupla do mal estará presente.
— Veja bem como fala da sua família! Diz tanto que é adulta, que tem vinte e sete anos,
então faça jus a sua idade e se comporte. Isso é uma ordem, Ana Vitória! — Sua voz é séria, bem
séria.
Como se a senhora de quase oitenta, a mulher de cinquenta e a garota de vinte e dois,
agissem como mulheres adultas. Mas eu tenho que agir. É para me deixar louca mesmo.
— Que seja, a casa é sua e da mamãe. Aqui apenas faço hora extra. — Sorrio e sei que
está bem debochado.
Ele me olha de lado e sai pisando firme. Ele vive jogando isso na minha cara e, quando
devolvo, acha ruim? E a rebelde da família sou eu? Puta merda, viu! Sou resultado da criação
deles, não deveriam discutir comigo, mas fazerem uma reunião entre si mesmos.

Brinco com o novelo de lã da Estrela, que está mais interessada em receber carinho da
dona, que alisa sua barriga peluda. A gata branca e toda metida da minha amiga tem uma vida
melhor do que nós duas, isso sim é algo assustador. Mas essa gata e eu compartilhamos uma
coisa muito boa: a raiva por Bryan Nunes. Estrela não o suporta, ela o mataria, sei disso, e pior,
eu advogaria a seu favor: “Excelentíssimo Senhor Juiz, a gata é inocente. Ela foi provocada.
Todo o ataque por parte dela foi em legítima defesa”.
Sorrio do meu próprio pensamento idiota.
— Então, vovó, titia e prima Albuquerque estarão aqui por tempo indeterminado.
Obrigada por avisar, evitarei seu apartamento e as dependências do condomínio.
Começo a rir e cutuco ela com meu pé. Estamos esparramadas em sua cama, já que
começou a chover do nada — São Paulo e suas quatro estações em um único dia — e está com
muitos relâmpagos fortes, que nos fez sumir da sacada do seu quarto, que amamos ficar.
— Se ouvir gritos, corra, pode ser que eu esteja jogando alguma delas pelas janelas ou
sacadas! Precisa me ajudar a manter o meu réu primário. — Ela ri. — Mas acredito que eu não
vou ficar muito tempo com os meus pais. Algo me diz que terei que sumir dali, e agora mais do
que nunca. — Suspiro pensando no serzinho dentro de mim, que chegou causando. — Sabe lá
quanto tempo elas vão ficar. Terei que dar um jeito de sumir dali para ter paz, porque realmente
preciso evitar o estresse.
Ela concorda, sem saber o motivo que preciso sumir logo dali, e evitar o estresse diário
que podem me causar.
— Sabe o que andei pensando depois da nossa conversa ontem no evento? — Liz para o
carinho na Estrela, que mia nervosinha, nos fazendo rir. A gata sai da cama, toda irritada, e vai
para a sua própria caminha. Eu amo a personalidade dessa gata maluca. — Voltando ao assunto...
Enfim, estava aqui pensando. Amiga, você tem uma coleção enorme de sapatos, bolsas de grifes
e tem muitas joias. Sempre brincamos que era seu investimento. Ana, de fato é seu investimento!
— Sorri. — Fiz umas contas por cima, o lado administradora me atacou essa madrugada, e
cheguei à enorme conclusão de que, se você sair da casa dos seus pais, você tem muita grana em
mãos. Claro, será difícil conseguir vender tudo rapidamente, provavelmente apenas com algumas
joias consiga mais rápido, e também não vai ter a fortuna que tem com eles, afinal, é uma família
bilionária, mas vai te ajudar demais!
Fico pensativa e surpresa por não ter tido essa ideia antes.
— Liz, você tem razão! Não tinha pensado nisso. Ainda que eles me barrem de levar
algo, muita coisa comprei com o dinheiro do meu trabalho, e mesadas na época que me davam...
Tenho bolsas e sapatos de edições limitadas, não tem em mais nenhum lugar, muita gente do
nosso meio mesmo daria a vida para ter. Meus pais com certeza vão morrer, porque vai se
espalhar que estou vendendo coisas para fazer dinheiro, mas que se dane, é a porra da minha
vida, e estou cansada deles comandarem. Liz, você é um gênio! — fico animada e ela sorri.
— Coisas de grife são sim investimento para quem pode ter, porque no fim, podem valer
o dobro ou até o triplo do que foi pago, porque viram itens colecionáveis para muitas pessoas de
posses. E posso conversar com minha mãe, se eu não estiver maluca, ela tem uma conhecida que
faz bazar com essas coisas, e a mulherada da elite paulista vai que nem louca atrás,
principalmente os maridos querendo mimar elas com algo que era limitado. Que você consiga
vender ao menos duas de suas joias, e umas duas bolsas de edição limitada, amiga, vai te ajudar
demais!
Concordo, mesmo com o coração apertado em fazer isso, porque coleciono esses itens,
mas é por uma boa causa, e por uma situação muito mais importante: minha gravidez e um lar
em que eu possa ter paz para viver e trazer meu bebê para ele.
Sorrio pensando nisso, depois de dias intensos, pela primeira vez me sinto mais leve
sobre a gravidez, a ficha está cada vez mais caindo.
— Fala sim com a sua mãe, por favor, e vou dar uma olhada nas joias. Tenho dois colares
bem extravagantes que a vovó me deu e nunca usei, parece que ela faz de propósito, sempre me
presenteia com coisas que não tem nada a ver comigo. Eles devem valer uma fortuna, com toda
certeza, foram comprados em uma joalheria famosa na Europa. E vou ver nas minhas coleções
limitadas de bolsas e sapatos o que posso tirar logo dali para fazermos isso. Por enquanto, peça
sigilo a sua mãe, e isso fica só entre nós.
— Combinado! — Bate palmas bem animada. — Vou atrás de algo para comermos e
bebermos, e podemos assistir algo aqui mesmo. O que acha? Depois dessa conversa adulta,
merecemos um mimo!
Sorrimos.
— Pode ser!
— O que podemos ver? — pergunta.
Ficamos pensativas até que falamos juntas:
— Gossip Girl! — rimos, afinal a Blair e a Serena que habita em nós nunca morrerá,
ainda que os anos passem.
— Quer algo específico para comer e beber, S? — brinca, pois na série S e B é como as
duas amigas às vezes se chamam e o blog de fofocas chama elas.
— Qualquer coisa sem álcool na bebida, porque estou me purificando, virando uma
mocinha comportada, B! — respondo e ela gargalha. — Para comer, pode escolher.
Atiro o novelo de lã nela, que sai correndo do quarto, me fazendo rir.
Meu celular vibra e pego para ver. Se achei que passaria o dia longe de Bryan Nunes,
estava muito errada. Abro a mensagem:

Imbecil Ruivo: Tudo bem? Comeu hoje? Descansou?

Ana: Estou viva, Bryan! Boa noite. Tchau.

Imbecil Ruivo: Quero foto dela! Preciso ter certeza de que não aprontou nada com a
minha garotinha temporária.

Ana: Como vou te mandar foto? Bryan, a criança está dentro da minha barriga, lembra?
Você bebeu?

Imbecil Ruivo: Algumas cervejas… Bebi pelo Rafael que não bebe. Vamos, quero
foto, está atrasando o meu jogo!
Bloqueio a tela do celular, tento ignorar, mas é impossível, porque ele começa a mandar
um monte de interrogação e a ligar no WhatsApp.
Respiro fundo e pego o celular. Abro a câmera dele e ergo a blusa branca, de manga
longa que uso, e tiro uma foto da minha barriga. Antes de enviar, fico olhando, e é a primeira vez
que faço isso. Sorrio sem jeito e dou zoom na imagem. Está mais altinho o pé da minha barriga,
um pouco mais que antes.
Toco minha barriga e acaricio lentamente, ignorando as ligações e mensagens. Alguns
segundos depois ajeito a blusa e envio a foto para ele.

Ana: Agora boa noite, Bryan!

Ele digita e para. Faz isso algumas vezes, antes de finalmente enviar:

Imbecil Ruivo: Está aparecendo mais! Ontem já tinha notado, mas achei que era coisa
da minha cabeça. Agora vou ficar quieto. Boa noite, mamãe do ano!

Liz entra no quarto dizendo que vão preparar algo para nós e trazer. Assinto apenas,
olhando a mensagem e lembrando das coisas que ele disse ontem.
Bryan não deveria se apegar, no fundo, eu me preocupo dele se machucar ou meu bebê
sair machucado, porque tudo está lindo para ele agora que é temporário, como ele mesmo disse.
Mas e depois? Se isso der merda, nosso grupo de amizade vai abalar, meu bebê vai sofrer e,
consequentemente, isso vai me atingir.
Ele precisa se afastar, isso está indo longe demais, mas quanto mais tento ser dura com
ele, rude, ignorar, mais ele fica por perto, é do contra.
Recebo uma foto dele, enquanto a Liz coloca na série. Abro a imagem e é da parede da
sua sala, onde está a TV e alguns quadros em preto e branco, apenas um colorido.

Imbecil Ruivo: Sabe o colorido? É minha casa em Hogwarts. Sou da Grifinória. Se ela
for da Sonserina, deixarei ela de castigo até eu morrer. Qualquer casa, menos Sonserina!

Prendo o riso. Eu poderia dizer que sei do que ele fala, porque, diferente da Liz, já assisti
aos filmes algumas vezes, e na época do ensino médio já fiz isso de descobrir minha casa, mas
somente envio uma figurinha debochada. Melhor ele nem saber que, quando eu fiz o teste, deu
que sou da Sonserina.
Espera, se ele souber vai me dar paz? Acho que preciso confessar ao maluco que já vi os
filmes algumas vezes e já tenho uma casa, e fazer a revelação do ano para ele. Se ele não chutar
meu rabo e sumir, não faz mais. Porque, pelo que a Liz relata, ele a traumatizou, por isso nem
toco no assunto de Harry Potter perto dos dois. Se ele levar muito a sério essa obsessão, isso
pode ser minha liberdade, e paz.
Ana, você realmente quer essa paz? E se você se apegou a ele também, e aos cuidados?
Reclama, mas não evita mais.
Prendo a respiração por alguns segundos, quando a minha própria consciência me alerta
de um grande perigo.
— Vamos assistir, daqui a pouco teremos comida e bebida! — Minha amiga me
desconecta dos meus pensamentos.
Se joga ao meu lado e não demora para a Estrela surgir novamente, toda metida, com sua
tiara, que agora tem várias, depois que gostou da que dei. Se coloca no nosso meio, nos fazendo
rir.
Tiro uma foto dela e envio para quem a teme.

Imbecil Ruivo: Obrigado, cão. Acabou com a minha noite. Me dá logo um tiro, doeria
menos, porra!

Começo a rir alto.


— O que foi? — minha amiga pergunta curiosa.
— Só achei engraçada a foto que tirei da Estrela!
Ela balança a cabeça e deixo o celular de lado, focando na série, que já vimos várias
vezes.
BRYAN
Enquanto o jantar está sendo preparado, estou na mesa com meu notebook, adiantando
umas coisas de trabalho, e bebendo uma taça de vinho. Me sinto cansado esses dias e nem tive
ânimo para sair hoje, me divertir de alguma forma.
Rafael não vem para casa, vai passar a noite na Liz, o que significa que ficarei sozinho,
então o melhor é caçar coisas para fazer para não ficar entediado; e se for trabalho, cozinhar e
jogar ou assistir algo, que seja.
A Santana Games tem tido muitas novidades recentemente, o setor de Marketing tem
trabalhado sem parar, e por isso estou tão exausto, porque sinto a necessidade de ficar em cima
da equipe, conferindo tudo de perto, ainda mais depois do erro que cometeram.
A tela do meu celular acende e sorrio já vendo parte da mensagem pela barra de
notificação. Pego o aparelho e confiro a mensagem por completo.

Cosplay Barbie: Se estava com meu brinco, por que não disse logo? O que estava
pensando em fazer com ele? Tenho até medo de saber!

Eu havia esquecido de informar a ela sobre o brinco e lembrei hoje. Antes tarde do que
nunca.

Bryan: E você se importa tanto com ele, que nem notou. Se deu conta hoje que falei.
KKKKKK

Cosplay Barbie: Talvez porque tenho muita coisa na cabeça, sabe, coisas sérias, você
não entenderia, já que seu cérebro é vazio! Preciso dele. Vou pedir ao Mathias para ir buscar,
porque vou sair. Está em casa?

Reviro os olhos e ignoro a mensagem. Se ela quiser, que venha buscar pessoalmente. Se
vai sair, que passe aqui e pegue.
Cosplay Barbie: ????

Respiro fundo e respondo, ou vai surtar.

Bryan: Estou! Mas se quiser, que venha buscar. Aonde a senhorita vai? Não é caminho
daqui?

Cosplay Barbie: Na verdade é caminho... Vou dar umas voltas. Estou meio que fugindo
de casa.

Bryan: Quem você matou?

Cosplay Barbie: O problema é quem eu vou matar. Daqui uns vinte minutos passo aí.
Espero que meu brinco esteja inteiro. É de diamante, sabia? Muito cuidado com ele!

Bryan: Agora não sei se vou te devolver. Fiquei atraído por ele de repente! Sinto um
apego pelo coitadinho...

Ela me envia figurinhas de dois gatinhos se batendo e começo a rir. Foco nas minhas
coisas, aguardando a patricinha dos brincos de diamantes. Na minha época, as princesas perdiam
sapatinhos e não brincos valendo uma fortuna. Que mundo evoluído.

A campainha toca, após eu fazê-la subir, e ouvir ela me xingando através do interfone e o
porteiro rir. Nem parece que por trás do rostinho de anjo, tem uma fera.
Desligo a música que coloquei e caminho em direção a porta. Assim que abro, encontro a
loira toda arrumadinha. Os cabelos loiros e longos estão com ondas e bem brilhoso. Usa uma saia
estilo colegial, branca, curtinha. Na parte de cima usa um suéter rosa claro de tricô, larguinho.
Nos pés está com um coturno branco e a bolsa combina com o suéter. Está maquiada, mas é
delicado, sutil, só realça sua beleza.
Ela está linda de um jeito meiga. Parece mais leve. Bem diferente da garota que vi nos
últimos dias.
— Vai continuar babando ou me dar o brinco? — Estende a mão me tirando da distração.
— Boa noite! Entre, senhorita educada. — Dou passagem e ela entra, mas reclamando
baixinho.
Seu perfume deixa o rastro conforme passa por mim. Fecho a porta, e fico olhando a loira
parada perto da mesa e me encarando.
— Cadê o Rafael? — pergunta bem curiosa.
— Na casa da Liz. Não vem para casa hoje. Por quê?
Ela arqueia a sobrancelha esquerda e me olha com um sorrisinho debochado.
— Não vai me dizer que está armando um jantar para um encontro? Bryan Nunes faz
encontros em casa? Vivi para ver isso! — Cruza os braços e reviro os olhos.
— Linguaruda! Para a sua informação fiz jantar para mim, não queria pedir comida. —
Me aproximo da mesa, pegando minha taça de vinho e bebendo o restante. Já é a segunda e é
melhor parar por enquanto, porque vou mexer com faca e tenho uma doida em casa, melhor estar
bem sóbrio.
Me encara desconfiada.
— E a comida você mesmo fez? Esse cheiro é da comida que você fez? Não é nada
pronto que está esquentando?
— Vou fingir que não notei seu tom de espanto. Eu tenho muitas qualidades, Ana Vitória.
— Me devolver meu brinco não é uma delas. Cadê? Estou atrasada! — Bate um dos pés,
parecendo criança birrenta.
Passo por ela, que se vira me acompanhando, e pego o brinco que deixei no braço do
sofá.
— Aqui.
Ela pega o brinco e olha para ele.
— Obrigada. Preciso ir. — Coloca o brinco, fazendo par com o outro em sua orelha.
— Ou... — pigarreio. — Pode ficar, jantar e contar por que está fugindo de casa. Eu fazia
isso na adolescência, depois de adulto é ainda mais preocupante. — Sorrio.
— Já te falaram que é fofoqueiro e curioso demais?
— Sempre! E aí, o que acha?
— Depende. Se me convencer que vale a pena enfrentar sua comida e não a de um
restaurante maravilhoso em São Paulo, eu fico e conto.
Retira a bolsa deixando sobre a mesa e me encara, desafiando-me.
— Ainda estou finalizando. Pode aguardar, experimentar e decidir. Se odiar, pago o
jantar do restaurante que desejar. Prometo.
— Isso é um desafio?! — Seus olhos brilham.
— Entenda como desejar, meu bem. — Dou uma piscadinha.
— Ótimo! Espero que tenha água gelada, estou morrendo de sede.
Se aproxima da pequena ilha que divide a cozinha com a sala, que é em conceito aberto.
Balanço a cabeça, sem acreditar nas coisas em que me meto. Que garota irritante!
Tudo isso por um bebezinho. Um serzinho que sinto que é uma linda garotinha. Mas que,
se eu estiver errado, vou babar do mesmo jeito. Droga, crianças são fofas!
Retiro a camisa, porque vou mexer com molho e ela acompanha o movimento, sem
disfarçar. Prendo o riso, deixando a peça sobre o sofá e caminhando para a cozinha.
— Quem está babando agora? — provoco, notando suas bochechas corarem rápido
demais.
— Já vi melhores! — desdenha.
Começo a rir, lavando as mãos.
— Duvido um pouco, após o homem miojo fica difícil acreditar que já viu melhores!
— Idiota! — Fecha a cara e se debruça sobre a ilha.
Balanço a cabeça e pego a água da patricinha, e volto ao preparo do jantar, sob sua
supervisão. Me sinto naqueles programas de culinária, com os chefs analisando tudo que você
faz.
— Desde quando sabe cozinhar? — Bebe sua água, sem tirar os olhos de mim.
— Meu pai. Aprendi a cozinhar com ele, porque minha mãe é péssima na cozinha, ela faz
uma ou outra coisa boa, de resto é perigoso tentar ingerir. Mas nem sempre cozinho, preciso
estar com muita vontade e inspirado. Na maioria das vezes compramos comida, ou a mãe do
Rafael manda comida para cá, e não perco a oportunidade. A comida dela é perfeita. Ou o Rafael
faz algo, porque suborno ele pra isso.
— Que feio, subornando o melhor amigo. Esperava mais de você! — ironiza.
Sorrio.
— E você, sabe fazer algo na cozinha, ou não sabe nem fritar um ovo? — brinco e ela
morde o cantinho da boca.
— Em minha defesa, nunca me deixaram encostar na cozinha. Mas sou ótima com
organizações, sabia? Meu closet é impecável. Nunca precisei contratar empresas para organizar,
sempre fiz tudo sozinha por lá. E todo o meu quarto foi planejado por mim, quando fiz dezoito
anos e queria tirar a vibe menininha dele.
— Em organização vou ficar devendo perfeição, exceto pelos meus produtos de cabelo e
pele, eles sempre estão bem-organizados.
Ela sorri.
— Suas tatuagens têm significado? Tem muitas.
Balanço a cabeça negando, enquanto tempero o salmão. Está muito curiosa para quem
sempre me ignorava.
— Não. Bem... — Fico pensativo e olho para elas. — Apenas as com datas e as que tenho
do Harry Potter e notas musicais. As datas são o nascimento dos meus pais, Harry Potter, porque
sou fã e foram as primeiras que fiz. E de música, porque eu gosto de música, cresci na base
delas.
— Será que agora vai me contar por que sabe cantar? Já nasceu sabendo, ou veio com
estudos? — questiona e rio. E depois o fofoqueiro e curioso sou eu.
— Faremos assim. Te conto curiosidades sobre mim que poucos sabem, e você me conta
coisas sobre você que quase ninguém saiba. O que acha? Vamos deixar justo esse interrogatório
repentino.
— Por mim tudo bem!
Não hesita, o que só comprova que é mais fofoqueira e curiosa que eu.
— Certo... Eu já cantava bem, porque puxei isso da minha mãe. Mas na minha infância
para a adolescência, eu era um garoto bem hiperativo, não parava, e meus pais não sabiam mais o
que fazer. Até que me levaram à psicóloga e ela indicou me colocarem em atividades que eu
gostasse, e ajudassem a gastar energia. E foi o que fizeram. Me colocaram na natação, inglês, e
escolhi aula de música, onde aprendi a tocar violão e piano, e melhorei meu canto. Fiz até os
quinze ou dezesseis anos, não lembro bem, mas já faz um tempo que não pratico com o violão e
piano, estou enferrujado, mas sempre estou cantando por aí.
— Nossa! É um homem com conhecimentos, estudos, estou chocada! — Ergo o olhar do
que estou fazendo e a encaro, vendo seu sorrisinho. — E isso ajudou você a sossegar?
— Sim — respondo e ela ri. — Ou meus pais teriam infartado. Eu era muito atentado.
— Era? Tem certeza de que era? — indaga e rio. — Ok. Minha vez: Coleciono bolsas e
sapatos de grifes, sei de cor cada um deles, e o quanto deles eu tenho.
— Por que não me surpreende? — pergunto e ela dá de ombros. — Mais uma. Perdi a
virgindade aos quinze anos. Meus pais juram que foi aos dezoito. Pobres velhinhos inocentes.
— Perdi aos dezessete, foi uma grande merda. Preciso rever as pessoas que arrumo para
transar! — Fica pensativa.
— Tenho uma que talvez vá se surpreender — falo e ela fica atenta a mim, enquanto
coloco o salmão na assadeira. — Até os dezoito anos, só dormia com abajur aceso, tinha medo
de escuro. Eu apagava a luz e saía correndo para o quarto. Parecia doido.
Ela gargalha e o som é bonito. Muito bonito mesmo.
— Por que algo me diz que isso acontece até agora?
— Está bem errada, saiba disso! Sua vez, vamos. — Lavo as mãos e ligo o forno elétrico.
— Se contar para alguém te mato. Mas amo ficar jogando, e não é qualquer jogo. São
esses bem de ação, violentos. Isso me desestressa. E adoro ouvir podcast criminais, quando não
consigo dormir. Acho que por isso queria ser advogada criminalista no início da faculdade,
sempre gostei desses casos. — Franze o cenho e ergo a sobrancelha. — Estranho, eu sei!
— É... Sempre teve jeitinho de psicopata mesmo.
Me mostra o dedo do meio agora. Suas unhas estão com outra cor de esmalte, não é a
mesma do evento — alguém esteve no salão, e mexeu no cabelo e nas unhas — e bebe o restante
da água.
— Tenho mais uma. Essa é a minha maior humilhação! — Fico atento. — Já enviei
cartinhas para um carinha que eu tinha uma paixonite no ensino médio, com músicas da Taylor
Swift, e descobri que ele era gay.
Começo a rir e ela revira os olhos sem jeito.
— Desculpe, mas, de verdade, se benze. Você tem muito azar com homens! — Olho o
relógio em meu pulso. — Daqui a pouco estará tudo pronto para comermos. Preciso tomar um
banho, então pode prometer que não vai atear fogo na casa?
— Realmente me acha psicopata? — pergunta incrédula e assinto. — Vamos, faltou mais
uma revelação sobre si. Não tente me enrolar.
Encaro-a bem e sorrio de lado e penso no que vou dizer.
— Não me desapeguei do meu fusca, porque sabia que precisaria dele até o Rafael ter
como comprar um carro para si mesmo.
Ela me olha confusa. Passo por ela e a maluca me segue.
— Como assim? Conta isso direito!
Entro no meu quarto e ela para na porta, avaliando tudo quando acendo a luz.
— Não tem germes aqui, garota — provoco.
— Quem me garante?! — Entra como se estivesse entrando em um pântano. — Vamos,
conte!
A sorte dela é que está grávida ou chutaria sua bunda para fora daqui. Ela encosta na
cômoda e fica me encarando, enquanto pego minhas coisas para tomar banho.
— Ele vivia falando que precisava comprar um carro e faria assim que arrumasse um
emprego na área dele. Sempre acreditei mais nele do que ele mesmo, então sabia que não
demoraria para ele conseguir o que tanto queria e sabia que ele precisava de um carro com
urgência. Comprei um carro novo, mas ele nem se interessou, então evitei usar, não coloquei
seguro, inventei mil desculpas para deixar o coitado paradinho, porque carro parado não é bom,
mas nada dele se interessar. Sabia que ele recusaria se falasse que comprei pensando mais nele
do que em mim. Então, quase um ano depois, ele pareceu se preocupar com o bendito carro e
começamos a usar aos poucos, mas nada dele entender que deveria usar. — Respiro fundo. —
Ele arrumou um emprego e não teve escolhas, precisou de um carro para trabalhar e está usando-
o, porque foi um bom motivo para eu oferecer sem ele ter chances de recusar. Então fico usando
o fusca, até ele poder comprar um carro para ele, e me devolver, e aí poderei aposentar o
Jorginho. Rafael não aceita ajuda, e eu podia ajudar, só tive que armar um teatro por longos
meses para ele se tocar de que não podia mais recusar ajuda, e o carro não podia ficar parado.
Seus olhos marejam. Fico bem surpreso.
— Me tornei sentimental! — Pisca rápido e começo a rir. — Não acredito que está com
um carro todo ferrado, que vive quebrando e a Liz ou ele salvando seu rabo, apenas para poder
deixar seu amigo ter um carro para trabalhar enquanto não tem condições de comprar um.
— Pois é... Mas fique quietinha, ou ele me mata. Não vai demorar para ele comprar um
para ele, tenho certeza. Ele precisava mais do carro que eu, e até que me divirto com os dramas
do Jorginho, sabia? — Dou de ombros e ela sorri.
— É um belo gesto, Bryan — ela é sincera em suas palavras, não tem ironia ou deboche.
— Liz queria dar um a ele quando ele conseguiu o emprego, mas sabia que ele rejeitaria.
— E faria mesmo. Sempre foi assim, e por isso sempre cuido dele, porque ele tem medo
do novo, de ser um peso para as pessoas. Por isso convenci ele a vir morar aqui, consegui fazê-lo
ficar com o carro de modo temporário, e dei um empurrãozinho no namoro dele com a Liz.
Sempre ajudando porque ele merece demais.
— Isso me lembra a Liz e eu. Uma sempre ajudou a outra. Ela foi a irmã que não tive.
Isso sempre foi muito bom. Não me fez sentir sozinha. — Sorri.
— Já notou que no nosso grupo somos filhos únicos, com amizades valendo como irmãos
de sangue? — Fico pensativo.
— Pois é... Agora tome seu banho, que estou morrendo de fome! — Me dá as costas
saindo do quarto, desfilando, jogando seus cabelos.
Sorrio balançando a cabeça e entro no banheiro.
ANA VITÓRIA
Meu Deus, e depois mulher que demora no banho ou para se arrumar!
Caminho pela sala, bisbilhotando suas coisas, já que não tem nada para fazer, e ou era
esperar pela comida com cheiro maravilhoso, ou comer sozinha em algum lugar, bem longe da
cobertura Albuquerque aonde a tríade chegou para completar o ambiente nada tranquilo. Elas
entraram por uma porta e saí pela outra, literalmente.
— Ele é realmente obcecado por Harry Potter, meu Deus! — Olho as decorações e as
edições de livros bem legais por sinal.
Vejo que o controle do videogame está ligado e o aparelho também.
— O que será que o idiota fica jogando? Não vou estranhar se for aqueles joguinhos que
arruma o cabelo das bonecas — falo baixinho e começo a rir.
Ligo a TV e vai direto para a tela do jogo.
— Não acredito! Eu amo esse jogo. Se for a última edição, eu tenho um piripaque. —
Confiro na configuração dele e sorrio igual ao gato da Alice. — É a última versão... Como esse
cretino conseguiu? Nem lançou ainda, e nem pela Santana Games vai sair mais. Não foram eles
a trazer essa edição ao Brasil. Preciso reavaliar minha amizade com a dona Liz, está estragando
meus luxinhos. Eu adorava conseguir através de contatos lá dentro sem ela saber que sou doida
dos jogos assim.
Vejo a loja do jogo e meus olhos brilham. Armas e roupas novas para os bonecos. Que
saudade de dar uns tiros, no jogo, claro. Esses dias nem tempo tive para isso.
Suspiro, desligando a TV e colocando o controle no lugar. Parece até que deixei uma
parte de mim ir embora. Volto a bisbilhotar para superar a dor dele ter o que eu quero. Abro uma
das gavetas perto do videogame, e está cheio de camisinhas.
— Que puto! Bryan é um perdido! — sussurro.
Fecho rapidamente e ouço um pigarreio. Viro-me assustada e encontro-o saindo do
corredor, usando uma calça de moletom cinza, sem camisa, ainda exibindo seus músculos e
tanquinho com tatuagens. O idiota é gostoso, quem diria.
— Pensei que tinha morrido afogado no banho.
— Acha que é fácil manter essa pele lisinha e o cabelo bem cuidado? — Reviro os olhos.
— O que estava fazendo? — pergunta me analisando.
— Eu? Nada! Só admirando a decoração, sabe? Nada de mais! — Sorrio, colocando as
mãos para trás, como uma criança arteira. É, eu sempre me entrego, sou péssima nisso. —
Podemos comer?
— Podemos, senhorita!
Que bom. Daqui a pouco desmaio.

Bebo o suco, invejando-o beber o vinho, e odiando ter amado a comida dele. Limpo a
boca e ele me encara, e sei que quer rir.
— É, foi razoável! — Não dou o braço a torcer.
— Você amou. Nem enjoada ficou, e normalmente fica enjoada com tudo pelo jeito! É
tão difícil assim elogiar algo vindo de mim? — Passa a língua pelo lábio inferior, e perco um
pouquinho do foco. — Ana?
— Hm? É... Não... Ok, estava perfeita. Satisfeito? — assumo de uma vez.
— Não. Porque agora o mundo pode acabar devido ao seu elogio a mim.
— Seu idiota, por isso te evito: Você é o motivo do meu estresse!
Ele se levanta rindo e retira nossos pratos. Seu perfume passa por mim, e só falto sair
flutuando como em um desenho animado. Que droga de cheiro bom!
Confiro a hora em meu celular e também as mensagens e ligações da minha família. Me
deem um tempo!
— Está ficando tarde, Bryan. Melhor eu ir. Foi bom o jantar. — Levanto-me e o olho,
enquanto ele coloca tudo na pia. — Obrigada, de verdade. — Sou sincera.
— Está sim. — Confere a hora em seu relógio. — Vou aproveitar para jogar um pouco
antes de dormir. Jogar com o Rafael é complicado, ele me vence rindo, de modo relaxado. É
desumano.
Ele vai jogar o meu precioso? Posso ouvir os tirinhos e os trajes novos sendo usados.
Aquelas novas armas são incríveis!
Tenho que ser madura. Sou uma mulher madura. Uma advogada foda. Uma adulta. Isso é
só um jogo.
— Ah, sim... Entendo.
Ele caminha para a sala, terminando de pegar as coisas da mesa e colocar no lugar.
— Que foi? Quer ficar e admirar o quanto sou bom em tudo, e isso inclui nos jogos? —
pirraça.
Ana Vitória Albuquerque, você é uma mulher madura. Não vai cair no golpe por causa
de um jogo!
— Claro que não! Tenho mais o que fazer, sabia?
Ele concorda e volta para a sala. Liga a TV e meus olhos brilham, eu sinto.
Os tirinhos... as missões. Tem as novas armas e trajes. Não consigo pensar em outra
coisa. Por que ele já tem essa porra e eu não?
Meu celular vibra e é a minha tia me ligando. Ah, me esquece, inferno!
Olho para o jogo.
Eu sou forte!
Não vou ficar nesse covil por um jogo.
Sou muito forte...
— Esse jogo é novo. Poucas pessoas conseguiram ter acesso de primeira, e fui uma delas.
Não deve entender nada disso, né? Tenho alguns privilégios por ser gerente de marketing da
Santana e usufruo muito deles. Isso aqui é outro nível. Sabe o que é gráfico de jogo? O desse
está impecável. Muito mais realista. Está mais rápido. Na hora dos tiros, é muito mais veloz.
Como o diabo é terrível!
Engulo em seco.
— É, não entendo nada disso...
Ele sorri e balança a cabeça.
— Sabe, não me disse o porquê estava fugindo de casa. Me conta, está tarde. Mas isso
não vai levar mais que cinco minutos, não é?
É, Ana. Não vai... O jogo... Eu quero jogar!
— O que são cinco minutos a mais? — questiono. — Mathias não vai se importar em vir
me buscar a qualquer horário, porque vim com ele e ele sabia que não teria hora para voltar para
casa hoje. — Sorrio, perdendo a batalha para um maldito jogo.
Ele concorda e indica o sofá para eu me sentar. Ele se joga em uma parte do sofá, com o
controle do jogo em mãos.

— SAI DE CIMA DE MIM, SUA PSICOPATA! — ele grita.


Bastou meia hora de jogo, para ele entender que, pelos meus jogos, eu dou a vida. Ele
não quis me deixar completar a nova missão, porque matei ele. Não mandei ele confiar em me
dar um controle e jogar comigo.
Bastou um “quer tentar”, que perdi a guerra e não mais a batalha.
— EU QUERO CONTINUAR JOGANDO. ACEITA QUE PERDEU! — grito de volta.
Ele gargalha, erguendo os controles com as mãos, todo torto no sofá, enquanto estou em
cima dele, pronta para matá-lo.
— Como perdi? Éramos parceiros! Você matou seu parceiro no jogo. Agora entendo que
é obcecada por eles... — Me olha de um jeito engraçado.
— ERA VOCÊ OU EU, MEU QUERIDO! AGORA ME DÁ ESSE CONTROLE OU
NÃO RESPONDO POR MIM! — Ele nega. — VOU TE MORDER E TE ESPANCAR ATÉ A
MORTE, BRYAN!
Continuo escalando-o em busca do controle. Se eu completar mais uma missão, ganho
uma nova arma e posso escolher um dos trajes que quero, todo de couro rosa.
— PARA DE SER MALUCA! — Ele me segura, quando quase rolo de cima dele para o
chão, e me assusto. — Cuidado, psicopata! — Ele ri de nervoso. — Está grávida, Ana! Meu
Deus... Calma! Já entendi, ama mesmo o jogo, mais do que falou mais cedo e do que ficou
falando sozinha na sala.
Abro a boca em choque. Cretino, ele ouviu tudo! O babaca sorri concordando, como se
estivesse lendo a minha mente. Balançando a cabeça negativamente.
— Estou ensinando ao bebê como se luta pelo que quer — falo ofegante. — É só mais
uma missão, por favor, Bryan! — imploro.
— Não! E está praticamente nua em cima de mim e tudo por um jogo. Se controla, doida!
— E você está adorando, porque está com a mão na minha bunda, seu tarado. Eu vou te
agredir e esquecer que tenho quase trinta anos, vai ser briga de criança birrenta!
Ele se ergue do sofá, levando-me com ele, como se eu não pesasse nada. Isso me
surpreende um pouco e já não sei se o meu coração acelerado é só por isso.
Se vira me deixando no sofá, com cuidado. Estamos ofegantes.
— Já viu o tamanho da saia que está? E viu como estava me escalando como uma doida?
Não tinha muita escolha de onde segurar você — fala rindo e deixando os controles perto da TV,
longe de mim.
— Eu só quero terminar de jogar. Não tenho culpa se foi idiota e se deixou ser visto pelos
inimigos. — Ajeito o cabelo e a saia da melhor forma que posso. Estou até com calor. Cruzo as
pernas em seguida e faço o mesmo com os braços.
— Não adianta ficar emburrada. Está grávida e vi bem como estava ficando louca com o
jogo. Não pode se estressar, sabia? Eu vi no...
— Fala Google e te espanco antes que consiga pedir socorro! — dou um aviso.
Ele dá um passo para trás.
— Toma algo para se acalmar, e chega de jogo por hoje! Sua amiga sabe o quanto é
psicopata jogando?
— Eu não sou psicopata, por mais que neste momento eu pareça uma. E te contei isso em
confissão antes, então é óbvio que ninguém sabe. Não prestou atenção, não? — Levanto-me. —
Vou ao banheiro. Só estou dando por encerrado esse papo, porque realmente tenho que ir agora,
porque amanhã o dia vai ser longo e temos que ir para o litoral. Mas saiba que, do contrário, eu
poderia te morder todinho até me dar o controle.
— Virou animal agora? Se bem que adoraria ter você vindo me morder todinho... — Sua
cara é de um perfeito safado.
Dou um passo na sua direção e ele se afasta erguendo as mãos.
Para que me chama para jogar se não aguenta? Eu, hein. Que frouxo!

Pego minha bolsa, agora mais calma. Bebi um pouco de água também para ajudar. Nem
parece que eu estava quase matando o Bryan minutos atrás. Sou uma nova pessoa!
Liguei para o Mathias e ele já está a caminho, chega em alguns minutos.
— Se quiser fugir delas, é só me ligar, o covil vai te receber! — ri cruzando os braços e
sorrio.
Antes de eu ficar uma doida jogando, contei a ele que minha família está completa lá em
casa, e precisava de paz na cabeça hoje, para enfrentá-las sem agredir.
— Obrigada pelo jantar. E é uma pena não aceitar perder.
— Você me matou, Ana Vitória! Éramos parceiros no jogo, se lembra?
— Não se pode ter tudo na vida! — Passo por ele dando tapinhas em seu braço.
Bryan ri e é maluco achar o riso dele encantador?
— O Mathias já chegou?
— Deve estar chegando. — Solto uma lufada de ar. — Foi legal hoje. Bem divertido. É
bom saber que se borra de medo de mim e que joga muito mal.
— Qualquer um se borraria de medo de você. Você parecia uma maluca em cima de
mim. E saiba que em jogos com cartas, sou muito bom. — Faz uma careta divertida. Sorrio,
porque estou com a consciência limpa. Me achei supertranquila jogando. — Te acompanho até a
portaria para não ficar sozinha.
Concordo.
Ele se aproxima, apoiando as mãos na minha cintura, e isso me faz ficar como uma
estátua. Seus olhos estão mais escuros agora. Desce o olhar para os meus lábios e, por alguma
razão, sinto um frio na barriga, algo novo, que não me lembro da última vez que senti perto de
alguém.
Se inclina com todo seu tamanho e aproxima o rosto da minha barriga. Um tremor
percorre meu corpo, mas tento controlar.
— Desculpa sua mãe por hoje. E lembre-se: nunca chame ela para jogar nada com você,
porque pode acordar a psicopata que habita dentro dela — fala com o bebê, sua voz fica ainda
mais calma, serena.
Não retruco, porque não consigo. O frio na barriga intensifica, principalmente quando
suas mãos apertam um pouco mais da minha cintura. Ele ergue o olhar e engulo em seco.
— Posso? — questiona, não sei bem pelo que pede, mas assinto no automático.
Ergue meu suéter com apenas uma mão, olha com carinho para a minha barriga e deixa
um beijo nela, demorado, mas muito suave. Preciso fechar os olhos por alguns segundos e um
arrepio surge.
Ele abaixa o suéter e ajeita a postura. Me encara e tento controlar a respiração que está
ficando ofegante. Se aproxima, deixando um beijo na minha testa, e isso termina de me deixar
perdida.
— Boa noite, Ana — diz baixinho.
— B-boa noite... — me atrapalho um pouco e me odeio por isso. Meu celular vibra. —
Ele deve ter chegado. Não precisa descer. Não vou ficar esperando sozinha. Obrigada pela noite.
Ele sorri de um jeito diferente, é meigo.
Me leva até a porta, e só quando saio de seu apartamento e ele fecha a porta, é que respiro
de verdade.
O que está acontecendo comigo?
BRYAN
Retorno do almoço para a minha sala, mas sou surpreendido pela Liz dentro dela. Ela se
vira me encarando, parece nervosa.
— Não fiz nada! — me defendo.
— Temos um problema. A organização do evento precisa dos troféus até as 18h. Vocês
precisam descer para o litoral agora. Já falei com a Ana. Cadê seu celular? Estou tentando falar
com você faz uma hora!
Pego o celular no bolso da calça e confiro.
— Merda, descarregou! Desculpe. Mas acredito que dê tempo. Eu só preciso passar
algumas coisas ao pessoal da equipe e pedir para enviarem tudo que o Joaquim pediu. Minhas
coisas estão arrumadas, passo em casa, pego tudo e me encontro com a sua amiga.
Ela assente.
— Nada pode dar errado. Aquele blogueiro fofoqueiro que vive tentando cancelar as
pessoas, vai estar lá. Foi convidado, e não quero que ele fale nada negativo sobre nós.
— Pode deixar. Ainda que ele fale, estamos apoiando, somos patrocinadores, e não os
donos da organização. Seria burrice da parte dele reclamar e nos acusar de algo.
Ela concorda e respira fundo.
— Me liguem assim que chegarem lá. Ana tem autorização para entrar no condomínio, e
já autorizei você. Ela sabe a senha de acesso a casa.
— Certo. Só isso, chefinha?
— Sim. E, por favor, não se matem. Eu tenho duas reuniões ainda para enfrentar e
preciso ter a certeza de que não vai aprontar, Bryan! — Se aproxima segurando meus braços. —
Me promete que não vai aprontar! Promete!
— Obrigado pela confiança. — Sorrio e ela me olha com seus olhinhos de bichinho
abandonado. — Está bem! Não vou.
— Obrigada. Amo você. Vejo vocês amanhã cedo. Preciso ir. — Me joga um beijo.
Sai rapidamente, nem me dá tempo de questionar se ela vai bancar o meu seguro de vida,
já que estarei com uma psicopata, que quase me matou por causa de um jogo.
Quando digo que já virei multifunções nessa empresa, ela não acredita. Eu quero
aumento!

Estou no estacionamento da Moon onde a Ana pediu para encontrá-la. Ao menos


consegui tomar um banho e carregar um pouco do meu celular antes de vir. Só que agora faz uns
dez minutos que espero por ela, mas quem sou eu para reclamar? A donzela pode tudo!
Reviro os olhos e fico cantarolando baixinho, aguardando a bonitinha aparecer. Depois de
ontem, do surto dela pelo jogo, tenho medo real dessa menina. Só que foi bem legal, me diverti
de verdade, como em muito tempo não fazia, sem precisar de mulheres, álcool, foi tranquilo,
leve. Gostei da versão que vi dela ali, soltinha, sem se preocupar com nada além de surtar, isso
me ajudou a ficar mais leve.
Passos chamam minha atenção. Olho e vejo-a vindo com a bolsa e celular na mão, e, pela
cara, alguma coisa não vai bem.
— Temos um enorme problema! — fala nervosa.
— Sério, você e sua amiga precisam aprender a ser menos diretas. Preparar as pessoas,
entende?
— É sério, Bryan! — chama minha atenção. — Pedi para você vir enquanto tentava ligar
o meu carro. Não sei o que aconteceu, mas simplesmente morreu, não está tendo forças de ligar.
O Mathias está de folga hoje, porque esqueci de avisar que iria viajar. Quando aviso que vou sair
e ele está de folga, deixa alguém da equipe de seguranças para substituí-lo que me serve de
motorista também. Tentei falar com um dos nossos seguranças, mas vai mexer na organização
deles, precisam falar com o Mathias para autorizar, e ele não atende a porcaria do celular. Minha
mãe foi para uma reunião e está com o carro dela, e nem me atrevo a pedir o do meu pai, que ele
me mata, já que está com ódio que estou indo viajar.
Bufa irritada, enquanto digita algo no celular.
— Para tudo se tem um jeito, e para sua sorte, tenho uma carruagem a sua disposição,
princesa! — Desencosto do Jorginho e aponto para ele com um enorme sorriso.
Ana ergue o olhar do celular e começa a rir.
— Está me zoando, né? Estou vendo um Uber. Não vamos nisso.
Ah não, ninguém fala nesse tom dele.
— Não vamos gastar uma fortuna de Uber, é loucura. Vamos no Fusca! O pai do Rafael
mexeu nele, está ótimo. Quase uma Ferrari! — Dou um tapinha de leve nele.
— Bryan, eu não vou para o litoral nesse carro. Isso nem deveria sair às ruas. É um
perigo para as pessoas! — mantém a decisão.
Abro a porta do passageiro, dando uns soquinhos, para ela cooperar, já que enrosca.
— Está cheirosinho. Não fala assim dele, Jorginho tem muitos sentimentos. E tem
seguro, se der problema, vamos ter socorro. Confia em mim, vamos chegar sãos e salvos!
— Isso tem seguro?! Me poupe! E quem protege as pessoas ao redor disso? Esquece.
Estou atrás de um Uber. Não entro nesse troço nem morta! — resmunga me fazendo rir.
— Temos que estar lá antes até as 18h. Ou seja, temos duas horas para chegar na praia.
Não tem outro jeito. E hoje é dia propício ao trânsito. Já viu o GPS? Está terrível!
— Tem outro jeito sim! — Se desespera. — Já sei! Posso pegar um dos carros dos
Santana!
Como pode ser tão teimosa? Espero que a minha princesinha não puxe a mãe.
— Ana, já fui várias vezes para a praia com ele. Confia em mim, vai dar certo. Na volta,
você vem com o casal e volto nele. Satisfeita? As partes mais sérias dele foram mexidas, e estão
certinhas.
Espero.
Ela nega e cruza os braços.
— Nisso eu não entro! Não tem nada que me faça colocar os pés dentro dessa lata velha!
E quando falo que é uma patricinha, acha ruim.

Estamos na rodovia, rumo a praia, com uma grávida não muito feliz. Ela está tentando se
esconder dentro do fusca, e é difícil evitar o riso. Ele que deveria estar se escondendo dela, que o
despreza como se ele fosse qualquer carro. Ele é o Jorginho, meu fusca azul do coração até eu
poder aposentá-lo com dignidade.
— Quer ouvir música? — pergunto.
— Não! Melhor não forçar demais esse troço.
— Não te obriguei a entrar, meu bem. Então trate bem ele!
— Você literalmente me empurrou para dentro desse negócio horrível. Isso é
praticamente sequestro, seu imbecil!
— Não ofende ele. — Acaricio o painel. — Ela não sabe o que diz, amigão. Vamos
mostrar para ela, que, diferente do Porsche dela que pifou, você vai nos deixar no litoral.
Ela xinga baixinho.
— Cale a boca. Estou contando os segundos para chegarmos e eu sair de dentro disso.
Vira o rosto para a janela, emburrada. Rio e balanço a cabeça. É, a vida não é um conto
de fadas. Às vezes, a princesa anda de carruagem, mas, às vezes, vai ter que andar na abóbora.
— Pare de rir, idiota!
— Ânimo, gata! Olha que dia lindo!
Ela me ignora completamente. Que drama, tudo isso por causa de um fusca idoso, que
merece respeito, pois está um pouco frágil, só isso.

Passo por ela, que está encostada no carro e com o celular nas mãos. Abro o capô e sai
muita fumaça. Só mais vinte minutos, era o que precisávamos para chegar até o condomínio
onde a Liz tem a casa, segundo o GPS no meu celular, mas o carro morreu, e começou a sair
fumaça.
Isso foi praga da loira nervosinha ou do pai dela, já que ela disse que ele estava com ódio.
Ela me olha balançando a cabeça. Abro a boca, mas ela ergue um dedo.
— Não fale nada. É melhor ficar quieto, Bryan Nunes, ou juro que te mato aqui mesmo!
Simulo estar costurando a boca.
Acionei o seguro, estamos aguardando eles têm meia hora. É uma estrada deserta, mas
bem bonita. A casa da Liz fica em um condomínio que dá para uma praia reservada, então temos
que pegar essa estrada, e aqui o GPS começou a ficar um pouco ruim e em seguida o carro pifou.
Acredito que por isso o seguro está demorando para chegar já que uma das agências é aqui
pertinho, para a nossa sorte.
Ergo o dedo para tentar falar e ela me fuzila com o olhar.
— Fale logo! Não consegue calar a boca mesmo.
— Conseguiu falar com alguém? — Viro meu celular para ela. — Não deu tempo de
carregar tudo. Descarregou.
— Consegui um pouco de sinal. Pedi um Uber, está a caminho, mas está finalizando
outra viagem na região. Espero que venha logo.
— Olha, na defesa do Jorginho...
— Não tem defesa, Bryan Nunes! Não tem! — Aponta um dedo na minha direção e
prendo o riso. — Acha engraçado, né? Você é um carma na minha vida. Não tem uma vez que eu
esteja na sua presença e não me estresse. E sabe o pior? Diz tanto para eu me cuidar na gravidez,
mas você é o motivo do meu surto — explode de vez.
— Está com fome, não está? Por isso está ficando mais nervosa. Gravidez piora todos os
sintomas, eu vi naquele que não deve ser nomeado.
— Estou... — fala chorosa, e controlo o riso. Grávida, com fome e estressada, uma
combinação perfeita para me matar.
— Vem aqui... O seguro já deve estar chegando e o Uber também. Vamos pensar nisso
como uma aventura, meu bem. — Estendo a mão para ela segurar, mas ela recusa.
— Não quero contato com você nesse momento, porque estou sentindo que vou explodir
ainda mais. — Entra no carro, se sentando e encostando a cabeça no banco. Deixa o celular sobre
seu colo.
Não quer meu abraço, mas quer ficar no carro que ela odiou? Estou valendo nada mesmo.
— Isso foi sua energia ruim, sabia?
— Cale a boca! — Fica mais chorosa e acabo ficando com dó.
Sorrio com carinho e ela desvia o olhar. O pôr do sol está lindo, reflete bem na estrada.
Se ficar bem quieto, dá para ouvir o som do mar ao longe. Olho novamente para a loira em seu
vestido rosa-claro. Ela fecha os olhos e apoia a mão sobre a barriga.
— Tudo bem? — Fico em alerta.
— Não, Bry... — É, não deve estar bem mesmo, porque ela me chamou por um apelido.
— Está me dando enjoo. Na verdade, eu já estava enjoada na serra e na balsa, agora está
piorando.
Me abaixo à sua frente, que está com as pernas para fora do carro.
— Quer vomitar? Pode fazer isso se quiser, está tudo bem. — Ela nega. — Certo. —
Apoio a mão na sua barriga e fico acariciando, tentando distraí-la. — Dá para ouvir o som do
mar de longe, notou?
Ela concorda lentamente.
— Estamos perto, não para ir andando, mas estamos — sussurra.
— Quer que eu pare o carinho? Isso piora?
— Não... Pode continuar — pede sem jeito.
Observo-a e apenas consigo admirá-la. Não deve ser fácil logo de início em uma gravidez
estar sentindo tudo intensamente assim. Eu fiz pesquisas, muitos desses sintomas as mulheres
grávidas sentem mais à frente, mas não significa que é raro sentir logo no início, e ela é uma
dessas premiadas, digamos assim.
— É bom pensar que o Jorginho aguentou a rodovia, serra, balsa e resolveu quebrar aqui
perto. Ao menos já estamos aqui.
— Seu conceito de legal é bem diferente do meu. — Sorrio e ela abre os olhos me
encarando. — Ainda vou te matar por hoje. Não ache que ficar me dando carinho vai amenizar
algo. Desde ontem quero te matar, na verdade, porque me impediu de jogar.
— Ele só ficou cansado. Foi uma grande aventura! E sobre o jogo, você virou uma
psicopata em minutos. — Fica me encarando, mas sua expressão muda. — O quê? Está pior o
enjoo?
Ela nega.
— Não... É que agora entendi o que disse sobre a claridade e seus olhos mudarem as
cores dele. Agora estão muito mais dourados com a luz do sol. Você combina com o pôr do sol,
sabia? Realça muito seus olhos, cabelos e automaticamente suas sardas.
— Está tentando dizer que sou muito bonito?
— Esquece tudo que eu disse, vai. Estou passando mal! — Suas bochechas coram além
da maquiagem.
Barulho de carros chamam minha atenção. Que maravilha! O seguro chegou e, pelo jeito,
é o Uber vindo na frente.
— Vem, vamos. Nosso resgate chegou, donzela! — brinco.
Ajudo-a sair do carro e ela confirma que é o Uber, ao olhar a placa do carro.
Ela vai para o Uber, onde coloco as nossas coisas nele. Em seguida trato tudo com o
rapaz do seguro também. O Jorginho vai para a oficina do pai do Rafael. Assim que eu chegar na
casa da Liz, ligo para ele informando que até amanhã vai estar lá.
Entro no Uber, a Ana está ficando pálida e isso me preocupa. O enjoo está piorando, pelo
jeito.
Ela se aconchega em mim, sem eu precisar puxá-la. Até estranho sua atitude, mas fico
quieto, porque eu já iria fazer isso de qualquer maneira.
Coloca o rosto em meu pescoço e fica assim até chegarmos no nosso destino, enquanto
deixo uma mão apoiada em cintura, segurando-a, para seu corpo se mexer o menos possível,
devido aos enjoos.
ANA VITÓRIA
A casa está limpa, Liz como sempre, pensa em tudo. Provavelmente pediu para virem
limpar antes de virmos. Bryan sai abrindo as portas de vidro da sala, que dão para a praia
reservada, enquanto me sento no sofá, ainda passando mal, mas bem melhor do que antes. É
inacreditável que o perfume dele me ajude. Ainda não aceito isso.
— Uau! — exclama e o olho. — Meu Deus. Isso é lindo! — Concordo com um aceno. —
Rico é outro nível. Não tem piscina, tem logo a praia no quintal! Achei bem humilde, sabe?! —
Sorrio.
Ele vem até a mim. A brisa entrando e refrescando o ambiente me faz notar o quanto
precisava do ar longe de São Paulo.
— Eu vou levar as coisas no local da festa. Só preciso carregar um pouco do meu celular.
Na volta já compro algo para comermos. Não vou demorar lá. Prometo. Aguenta ficar aqui
esperando?
— Eu tenho que ir, Bryan. Prometi para a Liz que iria e ficaria de olho em você!
— Você tem que ficar e descansar. E eu sou adulto, senhorita, não preciso de babá. —
Duvido um pouco disso. — Invento alguma desculpa para ela. Preciso ter certeza de que vai ficar
bem nesse tempinho — insiste preocupado. Pior que é fofo. Um irritante fofo.
— Vou, Bryan. Deve ter água na geladeira e algumas coisas para beliscar. Quando Liz
vem cá, pede para abastecer com o básico. Vou ficar bem. Vai logo, estão esperando os troféus, e
precisa ter certeza de que tudo está ficando correto, afinal, a Santana Games apoiou isso com
uma enorme fortuna.
— Certo.
Concordo, porque no momento tudo que tinha que dar errado já deu. Estou na fase da
aceitação.

Falei com a Liz e expliquei que o Bryan foi levar as coisas porque eu passei mal, e ela
superentendeu. Ele fez fotos e vídeos de tudo por lá e mandou para ela e para mim. Está lindo,
vai dar tudo certo. Me sinto mal de não ter ido, porque vim para ajudar, e não resolveu nada.
Pelo menos, o Bryan já voltou rápido com a comida — sinal de que ele não aprontou
nada, focou no que tinha que fazer e veio embora — e comemos, isso ajudou a me deixar
melhor.
Saio do banho e coloco um dos pijamas que trouxe, que só talvez, muito talvez mesmo, eu
tenha trazido um bem pirracento, para provocar a peste ruiva caso ele me irritasse. Depois do
estresse com o carro, ele entrou para o topo da minha lista de vinganças. A sorte dele é tudo ter
dado certo no fim, ou eu o mataria naquela estrada.
Visto o short de renda, que na verdade é uma calcinha short, e coloco a parte de cima que
é um conjunto dele, um top todo rendado. Eles são azul-clarinho, bem bonitos e bem sexy.
Passo meus produtos pós-banho e caminho até a janela, abrindo-a e olhando a vista. Já
anoiteceu. A lua reflete no mar escuro, assim como as luzes das casas. É um lugar lindo que eu
amava vir com os pais da Liz. Era sempre muita diversão. Sinto falta desses momentos bem
leves da minha vida. Conforme a idade foi se aproximando, a criança dentro de mim foi
morrendo aos poucos.
Respiro fundo e saio do quarto indo para a sala atormentar quem me causou todo o
estresse do meu dia. Se não pode se separar dos loucos, junte-se a eles. É o meu lema.
Bryan está falando no celular com alguém. Já tomou banho também, veste apenas um
short. As tatuagens em suas pernas torneadas são chamativas assim como as dos braços, e
algumas na costela e peito direito. O infeliz é muito bonito e gostoso, quem diria!
Ele está de costas para mim. A TV da sala está ligada, mas está no silencioso. Faço
questão de fazer barulho ao me deitar no sofá, puxando meu celular do suporte de copos, e
fingindo que estou mexendo.
Bryan se vira para mim e o encaro.
— Ai, caralho... — fala e preciso prender o riso. — Não, não é com você, pai. É que
acabei de ter uma visão... O que estava falando? — Engole em seco, fica nítido.
Ergo a sobrancelha e ele balança a cabeça negativamente. Faço cara de inocente e volto
para o celular, abrindo as redes sociais.
— É... Pai, nos falamos depois. Amo vocês. Tchau! — Ele desliga rápido, e continuo
sentindo seu olhar sobre mim.
Pigarreia me fazendo erguer o olhar.
— O quê? Atrapalho? — pergunto com a voz doce, porque, quando quero, posso ser uma
peste também.
— Está me zoando, né? Você vai usar isso, Ana Vitória?!
— Isso o quê? O celular? — Me faço de sonsa.
Ele bufa de nervoso e balança a cabeça irritado.
— Já entendi. Vai me provocar por causa de ontem e hoje, e por todos esses dias te
atormentando. Mas nessa escola de provocações, eu sou professor, meu bem. Não vou cair no
seu truque. Pode acreditar! — Sua voz fica vibrante, rouca, muito sexy.
Tento fingir que não me afetou.
— Não sei do que está falando. Estamos na praia. Queria que eu trouxesse o quê? Burca?
Quer saber? Essa conversa me deu sede, com licença.
Levanto-me, deixando o celular sobre o sofá, e caminho para o corredor que leva a
cozinha, ouvindo seu riso de nervoso e xingos baixinhos.
Ana Vitória 1 x 0 Bryan.
Estava na hora de tirar o juízo de quem tem tirado o meu. É incrível como ele consegue
acender dentro de mim o espírito jovial antigo, onde não me importa as consequências, só a
diversão.

Ele fugiu. O infeliz se trancou em algum dos quartos e não saiu mais.
São quase onze horas da noite quando saio da sala para ir me deitar depois de ter trancado
tudo.
Não acredito que ele é tão fácil assim de perder o controle por uma mulher. Que puto!
Caminho pelo corredor dos quartos, ouvindo um som baixinho, e não quero acreditar,
porque, se for de onde estou pensando, eu vou surtar. Caminho mais rápido, parando na porta do
quarto que ele sabe que ficarei.
Bryan está deitado debaixo da coberta, com a TV bem baixinha, assistindo filme ou série,
não importa agora.
— O que está fazendo aqui? Tem outros quartos. Sabe que estou nesse! — digo irritada.
Ele desvia o olhar para mim e sorri todo cretino, é nítido, mesmo com apenas a luz da TV
iluminando tudo.
— Demorou para vir e não encontrei seu nome por aqui, Cosplay da Barbie.
— Quantos anos você tem mesmo?! — Entro no quarto de vez, saindo da porta, e
parando ao lado da cama, onde deixo meu celular na mesa de cabeceira.
— Te faço a mesma pergunta! — Encara meu corpo e depois a mim.
— Bryan, some daqui!
Ele sorri mais ainda e é um sorriso diabólico.
— É melhor não, gata. Esqueci de contar algo sobre mim ontem: Amo dormir pelado. Se
eu sair, é essa visão que terá, a não ser que queira, porque aí...
Entreabro os lábios, chocada.
— Q-quê? Claro que não quero! Por que está deitado pelado na cama que eu vou dormir?
Você é um safado de primeira, saiba disso! — me altero e ele ri.
— Pode procurar outro quarto, ou ficar aqui, você quem sabe. Eu te disse que nessa
escola que entrou agora, sou professor! — revida.
Engulo em seco.
Ana Vitória 1 x 1 Bryan.
Temos um empate e odeio empates. Mas se ele acha que vou sair daqui, está enganado.
Quer guerra? Teremos guerra.
Deito-me na cama, por cima da coberta, e ele acompanha o movimento.
— Quantos desse trouxe para me provocar? — pergunta rindo e ignoro sua pergunta.
— Coloque algo bom para assistirmos, e fique quieto!
— Claro, Barbiezinha.
Olho-o de lado e ele sorri mexendo no controle da TV.
Cretino.

Abro os olhos lentamente. Em algum momento do filme que não lembro qual, cochilei.
Meus olhos começaram a pesar e senti um cansaço forte. Se isso for da gravidez estou ferrada,
porque, se me der isso no trabalho, durmo em cima dos clientes da Moon. Nossa, que cansaço
forte que vem do nada.
Sinto um carinho na minha barriga, é gostoso, intrometido, mas gostoso, e causa um leve
arrepio. Olho para o lado e Bryan está virado para mim com a cabeça apoiada em um braço. A
TV está ligada em outra coisa agora, mas no mudo.
— Dormindo parece um anjo. Nem parece que é o cão.
— Eu vou te matar ainda, acredite — sussurro esfregando o rosto. Bocejo logo em
seguida.
Ele sorri e encara minha barriga, onde seus dedos passam suavemente por ela.
— É incrível saber que ter uma criança sendo gerada dentro de uma pessoa. Não é bizarro
pensar nisso? Um ser humano gera outro. É assustador, mas nunca parei para pensar que fosse
algo tão mágico e bonito.
— Estou tentando não pensar que uma criança vai sair de dentro de mim, com bracinhos,
pernas... Obrigada por me fazer lembrar. O pânico veio! — Faço uma careta e ele ri baixinho.
— Já sabe quando vai contar para a sua família e nossos amigos?
Me ajeito, mas ele não para o carinho, e é estranho, mas gosto disso. Uma mecha de seu
cabelo cai em seu rosto e toco, empurrando-a para trás. Escorrego os dedos por sua barba bem-
feita, e engulo em seco, com o frio que surge na minha barriga. Ele continua me olhando, com
seus olhos lindos e assustadores ao mesmo tempo. Tiro minha mão dele.
— Assim que fizer o exame, já quero falar com meus pais. Essa semana tive uma
conversa com a Liz sobre questões financeiras, e acho que o pânico sobre a reação deles está
diminuindo. Mas tem outro surgindo.
— O quê? — Sua voz é tão suave, calma, que me relaxa mais do que deveria.
Suspiro, encarando-o e notando que ele é muito lindo, e demorei muito tempo para
reparar. Mas preciso focar na conversa, e parar de notar os detalhes dele.
— Pensando juridicamente, não estou ocultando a gravidez do pai porque quero, tentei
procurar, liguei no hotel, insisti. Hoje pela manhã fiz de novo, até gravei a ligação. Não consegui
nada, já que se recusam a me dar. Não podem dar informações, é a política de proteção aos dados
dos hóspedes do hotel. E nem sei se de fato ele estava naquele hotel, ou foi apenas para a festa e
reservou um quarto só por aquela noite e mais nada. Então, se um dia ele aparecer e descobrir,
jamais poderá dizer que não fui atrás, tentar me acusar de algo, tenho provas que tentei. Mas
pensando pelo lado emocional, jamais esconderia a verdade dela ou dele... Na hora certa contaria
tudo sobre o pai. Mas me preocupo. E se me odiar por isso? Me julgar? Tem noção do quanto a
ausência paternal pode afetar a vida de uma criança? Quando estagiei em alguns escritórios, eu vi
tantos casos de cortar o coração, Bryan. E agora posso me tornar um deles, entende?
Ele assente encarando minha barriga e fica em silêncio, pensativo por alguns segundos.
— Não posso garantir que ela não se chateie, mas nunca vai faltar amor para ela, e tenho
certeza de que isso pode amenizar as coisas. Liz não vai te deixar sozinha, o Rafael muito menos,
acredite... E eu também não, Ana. — Me olha com carinho. — Costumo me apegar as pessoas
que sinto necessidade de proteger, e isso aconteceu mais uma vez. Pode tentar me chutar, mas
vou ser presente e te ajudar no que precisar. E tudo bem se o homem miojo não aparecer, e quer
saber? Acho até melhor, você não sabe que tipo de pessoa ele pode ser, às vezes é até melhor
evitar, e deixar a vida seguir com o restante. Pai e mãe é quem cria, está presente, e se ele não
estiver, outros vão estar para essa criança. E se ele aparecer e recusar a paternidade, quem
perderá é somente ele, acredite em mim.
Rio baixinho e olho para a sua mão.
— Uma hora vai se cansar disso, Bry. Vai por mim. Ninguém quer pegar uma
responsabilidade que não é sua e que é tão grande assim. Essa é a minha bagunça, não tem que
entrar nela.
Ele tira a mão da minha barriga e toca meu rosto, erguendo-o e virando para si.
— Estou ajudando, não estou? — Assinto. — Estou ajudando porque eu quero e sinto
que devo fazer isso. E daí que não sou de fato o pai, que mais nos matamos do que nos damos
bem?! Estou aqui e vou ficar até quando for necessário, e quando tentar me expulsar, será o
momento que eu vou reforçar minha presença, porque já notei que, quando tenta me afastar, é
quando mais precisa, mas é orgulhosa demais para assumir isso. Se eu tiver que passar de pai
temporário para papai fixo, tudo bem, vamos nessa. Estou tendo um infarto nesse momento?
Possivelmente. Mas não vai ficar sozinha, eu prometo. Tem pessoas demais que gostam de você
e vão te ajudar, e sou uma delas.
Meus olhos marejam e tento disfarçar, mas ele nota e sorri.
— Então gosta de mim? — provoco, tentando disfarçar.
— Sei que não ouviu apenas isso. — Sorrio timidamente com suas palavras. Ele me puxa
para os seus braços e me abraça, acariciando minhas costas. — Eu sempre disse que não fugia do
amor, mas que ele aconteceria com a pessoa certa, e até lá eu viveria minha vida. Só não
imaginei que a pessoa que eu fosse me apaixonar primeiramente fosse por uma criança que nem
ao mundo veio ainda, mas sinto uma necessidade enorme de proteger e amar. Esse serzinho é
meu primeiro amor, Ana, e consequentemente cuidarei de você também. Tem mais de 1,85 m
aqui de amor puro para doar.
Adeus controle emocional. Apoio a mão em seu pescoço e escondo o rosto em seu peito.
— Prometo não contar a ninguém que está chorando nos meus braços e usando um
pijama sexy.
— Idiota! — sussurro e ele ri alto. — Vai para o outro quarto, Bryan!
— Nem pensar, já me esquentei aqui. E deveria se esquentar também, parece morta de
tão gelada.
— Não com você nu debaixo das cobertas!
— Estou de cueca, bobona!
Ergo o rosto encarando-o e enxugando as lágrimas.
— Me enganou?
— Não! Eu realmente amo dormir pelado. Mas aqui estou de cueca. Vem, sem frescura.
Ontem estava montada em cima de mim, quase mostrando a calcinha e agora está assim. E não
sei se lembra, toquei no seu xixi. E aparentemente virei pai da criança dentro de você.
— Você não tocou no meu... Olha, esquece! Meu Deus, você é irritante! E não falei se
aceito que seja o pai.
Me afasto, puxando a coberta e me colocando embaixo dela, enquanto ele ri.
— Não pode se estressar! — fala e o olho com mais raiva ainda. — E não precisa falar,
meu bem. Já me oficializei, mesmo infartando. Sério, Ana. Estou infartando e não sei se quero
mais uma garotinha... Vou pagar meus pecados, não vou?!
O motivo do meu estresse diz que não posso me estressar. É muita cara de pau. Rio do
seu surto.
— Boa noite. E se você roncar, te chuto para fora dessa cama. E suma dela antes deles
chegarem e pensarem merda!
— Sim, senhora! — responde travesso.
Viro-me de costas para ele, e o infeliz me puxa para si, grudando nossos corpos.
— Bryan! — grito me assustando.
— Só quero dormir com a minha garotinha, não tenho culpa se a mãe vem de brinde! E
confesso, que belo brinde.
Tento dar um coice nele com o pé, exatamente como um animal, mas não consigo. Ele ri
apoiando uma mão sobre a minha barriga e acariciando. Desliga a TV com a outra mão e joga o
controle para os pés da enorme cama de casal. O quarto fica bem escuro, e agora só nossa
respiração é ouvida junto ao som do mar ao fundo. É bom.
Só que existe um enorme problema nessa situação. Se eu não estivesse usando algo para
provocá-lo não estaria sentindo seu pau bem colado a minha bunda, que nem duro está, mas logo
se percebe que é grande.
Nem para me vingar eu sirvo!
— Bryan, aí não é a minha barriga! — chamo sua atenção quando desliza a mão para
baixo tocando onde não deve. Ele agora a sobe, até demais, roçando meus seios. — Nem aí, seu
idiota!
— Desculpe, sou meio desajeitado.
— Já disse o quanto é idiota e puto? Faça de novo e arranco seus dedos!
Ele ri, e deixa um beijo no meu ombro e isso me arrepia. Torna a acariciar minha barriga
de um jeito gostoso.
— Obrigada por tudo, Bryan... — sussurro. — Obrigada, de verdade. Está ajudando a
deixar as coisas mais leves.
Ele deixa outro beijo, agora no topo da minha cabeça.
— Boa noite, Ana — sussurra.
Só por essa noite, eu me permito relaxar em seus braços até pegar no sono, e isso não
demora a acontecer.
BRYAN
Me remexo na cama, ainda bem sonolento. Não faço ideia de que horas são, mas o
barulho do mar me fez relaxar demais, e apagar como há muito tempo não faço. E acho até que
choveu um pouco em algum momento, mas estava tão confortável ficar na cama, que nem tentei
descobrir se de fato estava. Mas tem algo diferente agora, e é a falta de um corpo que estava
colado ao meu, com um perfume sensual, delicioso por sinal.
Abro um olho primeiro, criando forças para abrir o outro. Ana Vitória não está na cama.
Esfrego o rosto e tateio a mesa de cabeceira em busca do meu celular. Quase derrubo ele, mas
consigo ser mais rápido e segurá-lo e isso me faz despertar bem rápido, porque se esse iPhone
quebrar, eu me afogo nesse mar, já que não vou comprar outro agora, não estou maluco de fazer
isso. Meu dinheiro não dá em árvore não, eu, hein.
Confiro a hora e são 5h20. Onde aquela doida se meteu a essa hora? Levanto-me,
deixando o celular na cama e seguindo para o banheiro do quarto. A porta está entreaberta, mas
ela não está aqui.
Entro nele e faço tudo que tenho que fazer, antes de procurar pela foragida. Confesso que
faço tudo bem rápido, com medo dela estar passando mal em algum canto da casa, e tenha saído
do quarto com medo de me acordar.
Abro a porta do quarto com cuidado agora e saio dele. Caminho pelo corredor de piso de
madeira. A casa da Liz é uma bela mansão, bem ao estilo das casas praianas estadunidense. É um
lugar muito lindo, tranquilo. No meio do nada? No meio do nada. Corro riscos de vida com a
psicopata que me mandaram como babá? Corro riscos. Mas paz na minha vida jamais foi uma
opção que eu pudesse escolher.
Paro na entrada da sala, e encontro a foragida deitada no sofá, olhando para fora, tendo
uma vista perfeita do mar. Está um pouco escuro ainda, o nascer do sol provavelmente começará
daqui a pouco. O celular dela está no braço do sofá enorme que ela puxou para ficar retrátil, e ela
ficar deitada mais para a ponta. Porém, ela não escuta uma música, um gospel, ou alguma coisa
mais tranquila.
As palavras seguintes da mulher narrando um caso são:

“E naquela noite, após ter uma noite de amor com seu namorado, ela o esfaqueou até a
morte, com ele ainda acordado. Vizinhos daquela cabana contam que ouviram os gritos de um
homem pedindo socorro, mas ficaram com medo... A namorada confessou friamente os detalhes
do crime quando foi encontrada, e eles aterrorizam qualquer um que os ouça...”

Olho de lado para a ilha que divide cozinha e sala, e está uma zona, provavelmente
preparou algo para comer, ou tentou matar alguém, e esse alguém sou eu.
A história do crime continua sendo contada, e a loira vira o rosto para mim e sorri. Um
arrepio macabro percorre meu corpo e me faz engolir em seco.
— O que foi? Parece até que viu fantasma? Por que a cara de espanto?
— Não sei... Talvez porque seja madrugada, a cozinha está uma zorra e você ouvindo
sobre como uma mulher matou o namorado a facadas, enquanto olha para o mar. Tenho muitos
pontos para estar apavorado.
Ela ri alto e revira os olhos.
— Perdi o sono e fiquei com fome. Eu te disse que tenho mania de ouvir esses tipos de
podcast quando fico sem sono.
— Não poderia ouvir um louvor? Uma música? Talvez historinhas de ninar? Porra, Ana,
isso é macabro! — Me estremeço e balanço a cabeça, enquanto ela ri.
— Não poderia. Isso me relaxa, Bryan.
Me aproximo pausando o podcast, porque a mulher agora começa a narrar como a perícia
concluiu que todo o crime foi feito e o que a namorada maluca contou em detalhes e como o
namorado ficou desfigurado.
— Bryan! — reclama.
— Desculpa, mas eu não vou ficar de madrugada em uma casa no meio do nada, com
você ouvindo isso. Já assisti filme de terror demais para saber como isso termina. E vai por mim,
eu seria o idiota que cai quando fosse correr, ou corre diretamente para o perigo.
Ela ri mais ainda, achando graça do meu desespero. Sento-me aos seus pés, e coloco suas
pernas sobre meu colo, enquanto bocejo, ainda com sono.
— Você é um bundão, sabia?
— Talvez. E a senhorita não ajuda me apavorando.
Ana balança a cabeça e ajeita as costas quando começo a massagear seus pés.
Olho para fora e como o esperado, o nascer do sol inicia e, puta merda, é lindo ver isso
daqui da sala, sem precisar ir para um ponto específico. Isso acontece bem na nossa frente.
— Eu amava esses momentos aqui. Liz e eu sempre madrugávamos para ver o nascer do
sol, porque ao pôr dele normalmente estávamos cansadas demais das brincadeiras e acabávamos
dormindo a tarde toda. Então crescemos, e nossas vindas para cá eram mais para curtição, festas,
bebidas, e para um luau incrível na praia vizinha. Quando vamos ficando mais velhos, paramos
de aproveitar os momentos mais especiais, tudo é sempre corrido. Não me lembro da última vez
que vi o sol nascer, que fiquei parada olhando o céu à noite, ou admirando alguma paisagem.
Suspira e a olho.
— Entendo. Por eu ser muito hiperativo na infância, esses momentos eram muito
respeitados por mim, me tranquilizavam, eu respirava melhor. Quando fui ficando mais velho,
fui deixando essas coisas de lado. Hoje tento aproveitar a vida, ser mais leve, mas nem sempre é
fácil. Ser adulto é uma droga às vezes. — Sorrio de lado e ela concorda.
Bocejo de novo, e largo seus pés, virando-me e me encaixando entre suas pernas. Ela não
reclama, o que considero um grande milagre. Talvez o podcast demoníaco realmente ajude a
doida a relaxar, o que é muito sinistro. Fico de bruços, abraçado ao seu corpo, a cabeça deitada
em sua barriga, onde deixo um beijo calmo, enquanto suas pernas estão nas minhas laterais.
Ficamos encaixados assim, ouvindo o mar, e admirando o sol, que vai alaranjando tudo.
— Por que não foi com seus pais para os Estados Unidos? Todo ano vai pra lá, parece
gostar muito.
Sorrio, porque acho muito fofo a curiosidade dela sobre mim, que a cada vez fica mais
presente.
— Eu os amo, sinto falta, mas precisava amadurecer sozinho, sem a proteção deles, os
cuidados excessivos. Meus pais são pessoas incríveis, mas podem sufocar algumas vezes. E era
um momento deles, uma promoção dos sonhos. Sempre foram excelentes advogados, e quando a
empresa os mandou para São Francisco, com tudo pago, e uma moradia incrível, sabia que era a
hora de começar a conquistar as coisas que desejo. Gosto dos Estados Unidos, faz anos que
sempre vou, desde criança, mas amo ainda mais meu país. Não trocaria sem necessidade —
explico e ela toca meu cabelo, mas não reclamo, porque o jeitinho que ela faz me traz uma
sensação gostosa de aconchego, de lar.
— Preciso confessar algo...
— Sua família é trilionária e não bilionária?
— Não, seu idiota! — Ela ri. — Mas antes de eu colocar o podcast para ouvir, meio que
investiguei sua família... — Inclino o rosto para cima e ela me olha sem graça. — Sério, você é
literalmente feito para dias ensolarados... Não tem noção do quanto seu olho, cabelo, sardas, a
barba, tudo fica perfeito, é um contraste lindo... — ela perde o foco, e isso me faz sorrir.
Pigarreia ainda mais sem graça, com as bochechas corando um pouco. — Como eu ia dizendo...
fiquei curiosa. Você não fala muito deles. E quando sai na mídia com a gente, colocam você
como se fosse um desconhecido, e o Rafael só passou a ser conhecido para eles, porque agora
está com a Liz. Eu acho ridículo o que a mídia faz, e eu queria saber se realmente não tem nada
sobre você que eles possam encontrar, para pararem de fazer essa chacota ridícula. E, Bryan,
você é muito importante no meio do Marketing em São Paulo, tem várias premiações, e seus pais
são incríveis advogados jurídicos de uma multinacional ligada a Bolsa de Valores, uma das
maiores do mundo. Tem sim informações sobre você na internet.
Sorrio, enquanto me ajeito, apoiando-me pelos cotovelos as suas laterais, e a encarando.
— Virando stalker, senhorita Albuquerque? E obrigado pelos elogios.
— Não... Um pouco! Bryan, é sério. Por que deixa a mídia te tratar como um ninguém, se
não é isso? E não se acostume, nem eu estou entendendo por que ando te elogiando demais.
Devem ser os hormônios — faz pouco caso.
Prendo o riso. Agora a mocinha vai culpar a gravidez.
— Respondendo sua dúvida, meu bem... Não me importo com o que eles falam, simples.
Até me divirto um pouco com algumas notícias, sabia? Eles vão falar a verdade sobre mim no
dia que eu der a eles motivo para isso, e ficarem sem saída para inventarem porque todos os
portais de notícias vão soltar o que vazar e muitos com a verdade, como ocorreu com o Rafael,
que agora namora a CEO da Santana Games, e ficaram sem saída, a não ser falar a verdade sobre
ele, e parar de ocultar sua identidade, e diminuírem como faziam. A verdade até gera conteúdo
para eles, com os clickbaits ridículos que criam. Mas sempre será podre a forma deles jogarem,
não todos, claro. — Respiro fundo e ela me olha atentamente.
— Quem me dera eu fosse a misteriosa. — Ela sorri. — Então ser misterioso não te
incomoda mesmo? Sério? — Assinto.
— Ser “o misterioso” dessas páginas ridículas traz a eles lucros ainda maiores, sabia
disso? — Ela nega. — Tudo por causa das especulações que fazem com as mentiras que eles
criam. Além disso, as pessoas que acreditam são maiores do que as que buscam pela verdade,
porque nessas páginas a maioria que se mantém ali acompanhando quer isso, o caos, as mentiras,
porque sabem o tipo de página que acompanham. É algo cansativo demais para ficar brigando,
reclamando, por isso escolhi ignorar, já que brigar só pioraria tudo. Se na minha profissão sabem
quem sou, isso já me basta. Agora fofoca por status? Não gasto meu tempo. Brinco, faço piadas
sobre a situação, mas não que de fato eu me importe. Estou bem sendo “anônimo” para eles, e
que bom que esse rostinho lindo gera dinheiro para esses idiotas. No final, ainda ajudo. Viu? Sou
uma ótima pessoa!
Ela ri baixinho e torno a deitar a cabeça em sua barriga.
— Se fosse da família Albuquerque e dissesse isso, seria um homem morto ou deserdado.
Começo a rir e ela torna a mexer no meu cabelo.
— Não é só sua família, Ana. Trabalho com marketing, vai por mim, muita gente quer ser
lembrada, custe o que custar. Status tem se tornado mais importante do que deixar realmente um
legado bonito. Por isso páginas de fofocas se mantém, as mentiras vendem mais do que a
verdade, as pessoas costumam aplaudir esse tipo de circo. Brigar é só dar mais palco a isso, e não
é o tipo de coisa que gosto.
— Mas isso de status tem um alto preço, Bry... Que, na maioria das vezes, quem paga são
as pessoas que nada tinham com isso. — Suspira cansada. Acaricio sua cintura com os dedos.
Entendo perfeitamente o que ela quis dizer, e isso me deixa preocupado.
— Sai daquela casa, Ana. Conta para eles a verdade e sai dali. Vai viver sua vida, é a
melhor coisa que vai fazer por si mesma nesse momento. Enquanto estiver embaixo do teto
deles, vão continuar te obrigando a ser quem você não quer ser.
— Eu sei, e é o que farei. — Ergo o rosto para encará-la. Seus olhos azuis focam em
mim. Ela é linda até sem maquiagem, com cabelos bagunçados e carinha de sono. — Lembra
que falei que conversei com a Liz sobre algumas coisas? — Balanço a cabeça. — Vou separar
algumas coisas de grifes que possuo, de edições limitadas. A mãe da Liz confirmando sobre o
bazar de uma conhecida dela, irei colocar à venda para fazer mais dinheiro e poder me estabilizar
ainda mais. Se for que nem os que já vi, acontece normalmente aos finais de ano, e muita gente
poderosa vai neles em busca dessas peças, porque não vendem mais.
— Vai conseguir pelo dobro do que foi pago! — Ela concorda. — Isso é incrível. Mas
vai esperar o bazar para sair de lá?
— Não! — Sorri. — Não ganho mal na Moon, tenho dinheiro guardado também, nada
comparado ao que estou acostumada a viver, não minto, mas vai ajudar. Vou alugar algum
apartamento em outro lugar. A única coisa que vou pedir a eles é para manterem o Mathias,
porque ele é um dos melhores seguranças. Está comigo desde que eu era adolescente, sempre
cuidou de mim, e ele não é um funcionário barato, e não quero dispensá-lo. Como sei que ele é
chefe da nossa equipe de seguranças, ao menos isso sei que os meus pais vão concordar,
independentemente de qualquer coisa, até por questão de segurança.
Assinto.
— Acha que vão deixar você tirar suas coisas de lá?
— Não são nem malucos de não deixarem — fala com firmeza e isso me arranca um
sorriso. Essa é a Ana que conheço há anos. A que não abaixa a cabeça. Que bom que ela está
voltando. — Podem ter me dado muita coisa, mas muitas comprei com o meu dinheiro também.
E jamais vão querer a filha deles andando por aí sem as coisas de luxo que tem, e parar nas
notícias como: “Herdeira Albuquerque perde tudo”.
Começo a rir.
— O “herdeira Albuquerque está grávida” já será demais para eles.
— E como! — Arregala os olhos e rimos.
Fico olhando-a e noto suas bochechas corarem, ela está ficando sem graça. Tem um
homem só de cueca no meio das pernas dela, com ela vestindo um pijama que mais parece uma
lingerie sexy, e é meu olhar que deixa ela sem jeito? Balanço a cabeça e sorrio.
— O quê? — pergunta baixinho e balanço a cabeça de novo.
— Pode ficar em casa nesse tempo, Ana — digo sem pensar demais.
— Bryan...
— Sei que parece loucura, mas me escuta, tenho motivos para isso. Ative seu lado
advogada e analise os pontos antes de escolher algo, ok?
— Vai, vamos ver. Mas já digo, sou difícil de convencer! Não pense que sou uma
advogada que não se atenta aos detalhes.
— Pode deixar, doutora. Vamos lá! — pigarreio e ela controla o riso. — Primeiro, está
saindo de casa no meio de uma confusão, e colocar uma mudança no meio disso é loucura,
porque mudanças são cansativas, e na maioria das vezes estressantes. Segundo, está grávida,
nunca passou por isso antes, não sabe como serão as próximas semanas até a nossa bebê nascer,
então ficar morando sozinha não acho que é uma boa ideia. Terceiro, em casa vai ter a mim, o
Rafael e a Liz, que parece que mora lá, sério, sua amiga nunca vai embora, ela sempre arruma
um jeito de aparecer, parece até o Dobby tentando impedir do Harry Potter de ir para Hogwarts.
Ela surge do nada! — Ela começa a rir alto, tremendo nossos corpos. — Sabe quem é Dobby? Às
vezes, me empolgo e esqueço que nem todo mundo sabe o que é uma obra-prima...
— Eu sei — me interrompe. — Já assisti aos filmes, Bryan. Continue!
Meu coração até se anima com essa informação. Certo, a minha Barbie está me deixando
muito mole agora, no sentido figurado claro, porque, se ela ficar se mexendo assim, não acho que
certa coisa vai ficar mole por muito tempo.
Foco, Bryan!
— Meus olhos estão brilhando nesse momento, não estão?! — indago empolgado com a
notícia. — Assistiu quantas vezes? O que sabe? Tem uma casa em Hogwarts?
— Foca, Bryan! — pede ainda rindo, e segurando meu rosto com ambas as mãos.
— Desculpa. Voltando... Terá nós três para cuidar de você e da minha Barbiezinha.
— Pode ser menino. Se for menino vai fugir? — me desafia, mas preciso me controlar
para não perder o foco de novo, quando ela começa a mexer na minha barba, dando carinho, e
ajeitando os fios.
— Claro que não! — falo bem sério. — Vou amar do mesmo jeito e proteger de você. —
Me olha brava e sorrio. — Mas eu sinto, é sério, Ana. É menina. Não sei, é algo forte que me diz
isso. Mas se eu estiver errado, tudo bem, ainda assim vai ser do mesmo jeito meu amor pelo
serzinho dentro de você. Eu disse que meu primeiro amor era essa criança. — Dou de ombros e
sorri sutilmente.
— E aí eu que protegerei ele de você, afinal, Deus me livre aprender ser cretino e safado
como você!
— Me dá um soco, ofende menos! — brinco.
— Bryan, vou rejeitar, ainda não me convenceu.
— Calma! Tem mais. Além disso, vai ser uma forma de você aprender a viver no mundo
dos meros mortais, já que vai sair das masmorras da Sonserina, porque eles parecem membros
dessa casa, com todo respeito, claro. Vai viver na luz, sabe? Posso te ajudar, cuidar de você,
cozinhar... — vou falando e ela continua com cara de paisagem. — Tenho diversos jogos cheios
de tiros, missões, armas e sempre tenho acesso a vários inéditos... — Seus olhos brilham e quero
rir, mas me controlo. Tenho uma viciadinha para cuidar. — Além de ter um quarto sobrando,
que é escritório, mas prefiro ficar torto em outros lugares trabalhando, para ter o que reclamar
quando a coluna começa a doer. Só vi vantagens!
Me olha sorrindo, agora jogando a parte da frente do meu cabelo para o lado direito, e
não queria dizer nada, mas fico ainda mais gato assim. Seus olhos brilham, e ela pisca algumas
vezes. Parece que tem alguém ficando obcecada por mim.
— Primeiro, o bebê não é nosso, é meu! — Droga, ela foca mesmo nos detalhes. —
Segundo, posso aprender a cozinhar morando sozinha. — Ergo a sobrancelha esquerda e a
encaro sério. — Ok, sou péssima. Quase me matei preparando um lanche agora. E por último e
não menos importante, jogos não me convencem de morar com você. Então, a resposta é não.
— Tudo bem. Eu tentei. É uma pena, porque sabe, o Rafael odeia jogar comigo, vira
briga, ainda mais que ele é o melhor jogador dali, e...
— Rafael, o melhor? — pergunta indignada. — Ele só ganha nos fliperamas porque
nunca competiu comigo! Ele compete com a Liz e com você, que não sabem jogar. São dois
fracotes no jogo! Jogo pra caralho, e poderia muito bem derrotar ele de olhos fechados. Só não
faço, porque esse meu lado eu deixo só para mim, nem a Liz faz ideia, ou não me levaria a sério
mais.
Abaixo o rosto e falo com sua barriga:
— Ei, não ouve a mamãe, ela é ogra às vezes. Esquece que é princesa, e vira a Fiona!
Não se assuste, meu amor.
— Cale a boca... — Abaixa minha cabeça para a sua barriga, encostando meu rosto nela,
e isso me faz rir. Volta a mexer nos meus cabelos quando ajeito a cabeça. — Agora falando
sério... Vou pensar, tudo bem? Prometo que depois do exame falamos disso.
Assinto, porque já é um avanço.
Ficamos em silêncio, e confesso que o sono vai se aproximando com a ajuda dos seus
dedos mexendo no meu cabelo.
— Bryan?
— Oi, gata.
— Para de me chamar assim, idiota!
Rio, e ela me xinga baixinho.
— O que ia dizer?
— Obrigada por tudo que está fazendo. Nem sempre sou fácil de lidar ou de aceitar
carinho das pessoas tão facilmente, a Liz é a única que sabe lidar comigo e me conhece bem o
suficiente para saber que sou mais ogra do que carinhosa. Mesmo sem qualquer obrigação, está
ajudando, e ainda que eu queira te matar a cada segundo, porque é irritante, sou grata por tudo.
Acaricio sua cintura e deixo beijos na sua barriga.
— Amigos são para essas coisas, Ana. Estou com você nessa loucura toda, e não vou a
lugar nenhum. Prometo.
Seu corpo relaxa mais ainda, e seus dedos não param de mexer em meu cabelo.
— Vai comigo na consulta? Eu tenho pavor de médico.
Começo a rir e ela puxa meu cabelo.
— Mesmo que não pedisse, eu iria.
Fecho os olhos, e solto uma lufada de ar, ficando cada vez mais com sono.
ANA VITÓRIA
Desperto ouvindo barulho na porta. Bryan está agarrado a mim, no meio das minhas
pernas, me impossibilitando de virar e ver a porta.
— Bryan... Acorda! — Cutuco ele. — Bryan!
— Oi? — Ergue o rosto sonolento e o idiota é lindo demais, ainda mais com o cabelo
todo bagunçado, parecendo um belo leão, um leão bem gostoso...
Meu Deus, estou ficando maluca.
— Chegaram... Vai!
— Quem? — Está sonolento demais.
— O trem para Hogwarts! Claro que é a Liz e o Rafael! — Tento empurrá-lo, mas não
resolve.
Ele sorri se sentando. Sento-me rápido e olho para ele, não exatamente só para ele, mas
para o meio das suas pernas.
— Bryan! — grito.
Desce o olhar para o meio das pernas e sorri todo cretino.
— Acabei de acordar, e estava dormindo no meio das suas pernas e de bruços, não posso
fazer nada. Ele tem vida própria.
— Pode fazer sim, sumindo daqui! — Levanto-me às pressas e puxo-o pelo braço. —
Vai, se move, infeliz!
Ele se levanta por conta própria, provavelmente com pena do meu esforço, mas é tarde
demais. Rafael é o primeiro a entrar e, assim que nos vê, Bryan me puxa para a sua frente,
colando nossos corpos. Engulo em seco e forço um sorriso, porque estamos agindo como
suspeitos.
Rafael cora no mesmo instante, ficando um tomate, bem boquiaberto, mas garanto que
não mais espantado que eu, sentindo o tamanho do Bryan bem na minha bunda, e pior, ainda
pulsa, endurecendo mais. Que isso? Um poste?! Engulo em seco.
— Rafa, não é nada do que está pensando... — começo a falar.
— Péssima escolha de palavras. Sempre que tem uma merda, o culpado diz isso.
— Qual é o seu problema? — Viro o rosto para o Bryan. — Não ajuda? Então cale a
boca.
Ele sorri me apertando mais ainda para si, e prendo a respiração, tentando controlar a
agitação crescendo dentro de mim.
A morena passa pela porta carregando uma bolsa, e olhando para o celular.
— Rafa, e aí eles se mataram... AI. MEU. DEUS! — Liz para ao lado do namorado e
agora nos olha. — O QUE É ISSO?
— Que ótimo, agora fodeu de vez — sussurro.
— A patricinha cada vez mais meiga. Sempre muito delicada! — Piso no pé do ruivo, e
ele resmunga, tirando de baixo do meu, mas sem me soltar.
— Vocês estão...
— NÃO! — grito respondendo a minha amiga, enquanto tenho me soltar do Bryan, que
não deixa. — Acordamos agora, nos trombamos na sala na hora que o Rafael entrou. — Olho
para o Rafael. — Pelo amor de Deus, você está bem?
— Relaxa, provavelmente está mais em choque por te ver vestida assim do que nos
braços do amigo dele. — Ela aperta o ombro do namorado e ri. — Mas se não estão, então por
que o Bryan está agarrado em você?
— Porque ele é um idiota! Me solta! — tento de novo me soltar, mas é inútil.
— Calma... É melhor parar com isso, porque está me deixando mais duro ainda, e sabe
disso... — sussurra em meu ouvido, e sua voz desse jeito, me deixa fraca, muito fraca. Olho para
o casal e tento disfarçar. — Sem circo, gente. Vou consertar o clima aqui — Bryan começa e
algo me diz que não vou gostar de como vai terminar. — Nos trombamos na sala, na hora errada.
Estou de pau duro, me assustei e puxei ela para esconder!
— MEU DEUS! — Liz grita horrorizada. — Qual o seu problema com filtro?
— Não é nada que não tenha visto... — Viro o rosto para ele, boquiaberta. — Quero
dizer, já ela já viu um pau, o do Rafael, o tempo todo, porque fica gemendo pelo apartamento e...
— BRYAN! — Rafael grita agora, e acho que o menino vai morrer. — SÓ C-CALE A
BOCA!
— É melhor fazer isso mesmo! — digo entredentes e ele sorri como uma criança arteira.
— Vão... saiam daqui. Já entendemos, eu acho... — Minha amiga faz uma careta e, em
seguida, tampa os olhos do namorado, não sei pra quê, ele já está infartando mesmo.
— Rafa, desculpa... — sussurro enquanto sou arrastada pelo corredor, porque o Bryan me
leva. — Está vendo? — Olho para o ruivo. — Tudo culpa sua, seu idiota! O menino vai morrer
por suas merdas!
— Ou ele está chocado em ver o quanto meu cabelo é incrível mesmo após acordar.
— Claro, foi isso sim, Bryan. Jamais seria pelo fato de estarmos quase nus, agarrados, e
você dizer que estava com o pau duro! Me solta! — Empurro-o e ele me largar rindo.
Ao fundo escuto minha amiga gargalhando e o namorando gaguejando para falar algo.
Coitado, vai precisar de terapia e ela de dois tapas na cara para não rir do meu momento trágico.
Disfarçamos e entramos juntos no quarto. Tranco a porta e encosto nela, respirando
ofegante, indignada com tudo. O ruivo ri até cair na cama, se divertindo com a situação, porque é
claro que isso seria divertido para ele.
Olho para a porta antes de me afastar e me aproximar da cama.
— Eu vou te matar! Agora a Liz vai pensar que... — digo entredentes, ou tento, porque
ele me puxa para si, e quando menos espero, inverte a posição, e deita meu corpo na cama,
ficando por cima e me encara, ainda rindo. — Me solta! Isso não tem graça. Eles vão pensar
merda, Bryan... — Prende minhas mãos e meu coração parece que vai explodir de tão forte que
bate.
— Deixe que pense. — Sua voz muda, está mais intensa, e o riso sumiu rapidamente. —
Não importa o que ela vai pensar sobre nós. Qual é o problema, Ana? Tem medo de que pensem
que não resistiu a mim? — Aproxima o rosto do meu, seu corpo colado em mim agora, e seu pau
grudado na minha boceta. E o pior ocorre, eu ofego de desejo, e sinto um frio forte na barriga. —
Responde? O que tem de mais? São só nossos amigos.
— Porque eles são nossos amigos e não v-vou enganá-los. Não tem nada acontecendo! —
Minha respiração está ofegante e a sua está cada vez mais intensa.
Sinto o ar quente do seu hálito bem próximo a minha boca, nossos olhos estão muito
perto, e nossos narizes roçam um no outro. Seus olhos mudam, o dourado dá lugar a uma cor
mais escura, intensa. Eu consigo ver o desejo se acomodando em seu corpo, em sua expressão.
Isso me deixa instável, desnorteada. Uma voz desequilibrada grita dentro de mim para não
resistir, deixá-lo fazer o que quiser comigo nesse momento.
— Ana... — sussurra quase como um gemido. Seu pau me pressiona mais e fecho os
olhos por alguns segundos, deixando um suspiro escapar. Nossos lábios roçam um no outro e
sinto que vou perder o controle de vez, e não posso.
— Não, Bryan!
Ele afasta o rosto, parecendo confuso, mas me solta. Saio às pressas da cama, bem
atrapalhada, e fujo para o banheiro, trancando-me como uma covarde, e totalmente excitada.
Apoio as mãos na pia e encaro meu reflexo no espelho. Estou vermelha, meu peito sobe e
desce rápido demais. Ainda posso sentir suas mãos em mim, seu pau me pressionando por cima
da calcinha que agora está molhada. Sinto ainda seu perfume me embriagando, e seus olhos me
despindo de vez.
Abro a torneira e molho o rosto, confusa, assustada, e pior, com muito desejo e raiva por
ter fugido, ainda que a razão me dissesse que era o certo, porque não posso cair na dele.

Desde que tomei um banho e saí do quarto, não tive mais contato com o Bryan. Estou
evitando-o, ainda que sinta seus olhares sobre mim e as lembranças me arrepiem. No momento é
a melhor coisa, e entendo isso, ou finjo entender. Tem o evento mais tarde e é nisso que preciso
focar.
Liz e eu estamos sentadas na praia enquanto eles foram buscar comida. O dia está fresco,
e a brisa do mar ajuda muito no clima gostoso.
— Então... A cena mais cedo... — Seu tom de voz é cheio gracinha.
— Nem pense nisso! Não aconteceu nada. Bryan que é um idiota e fala demais. Agradeça
por eu mantê-lo vivo — pigarreio e ajeito minha postura.
Ela ri alto.
— Calma, foi só uma brincadeira... Se está dizendo vou confiar, afinal você nunca
cederia logo a ele. Sempre se odiaram nesses anos todos. E já deixou claro que não acredita em
clichês, comédia romântica, e que a vida pode ser leve dessa maneira. É toda cheia de viver pela
razão, nada de suspiros, ou coisas assim.
Eu nunca o odiei... Ele me irrita, mas odiar? Não... Ou talvez sim? Merda, eu nem
deveria pensar demais nisso, porque não é importante. Não tem que se tornar.
— Pois é. — Sorrio e olho para o mar.
— Passei no local do evento antes de vir para cá. Está muito bonito mesmo. Os troféus
ficaram lindos, consegui ver com calma, porque, assim que chegou em São Paulo, já mandei
vocês trazerem e nem pude ver nada direito. Apoiar esses eventos que valorizam mais as
mulheres é sensacional. As influenciadoras gamers vão amar, tenho certeza.
Olho para ela e sorrio.
— Claro que vão. E, Liz, sinto muito por não ter ido com o Bryan verificar tudo. Eu não
cheguei muito bem aqui. Me pediu ajuda e, ultimamente, tenho falhado tanto com você!
— Ei, para com isso! Na verdade, eu queria era todos nós aqui, um final de semana entre
amigos, longe da loucura que é São Paulo. Acho que todos nós precisamos buscar um pouco
mais de paz. Nossas vidas estão uma correria tremenda, cheia de coisas acontecendo, então ficar
aqui, longe de tudo, pode ajudar. E é um tempo também para aproveitar com o Rafael,
comemorar nosso um ano de namoro, de verdade, sem imprensa, trabalho, agitação, só nós dois
curtindo. Tentamos fazer isso em São Paulo, mas parece que lá tudo é sempre na correria, não
fluiu como imaginei.
Assinto e deito a cabeça em seu ombro.
— Posso afogar o Bryan no mar para ficar mais animado? — brinco.
— Não! Deixa o ruivinho em paz. Ele me oferece ótimos cafés da manhã e amo roubar os
óleos de cabelo dele. São muito bons. Mas não conta para ele que sempre pego, ou me mata.
Bryan é insuportável com os produtos de cabelo e com o cabelo dele. Não deixa ninguém nem
encostar neles. — Ri, e franzo o cenho, me lembrando de uma coisa: Hoje eu fiquei mexendo em
seu cabelo, e ele até dormiu. Não reclamou. E o cabelo dele é sagrado.
— Se colocar cola dentro dos produtos, prometo não contar.
— Ana Vitória!
Rimos e ela passa os braços ao meu redor.
— Que saudade dessas conversas malucas com você. Eu queria trazer a Estrela, mas ele a
jogaria no mar, tenho certeza.
— Ou ela o jogaria!
Gargalhamos.
Queria tanto contar de uma vez para ela que será titia, mas só vou ter segurança em falar
abertamente da gravidez quando tiver certeza de que está tudo bem com o meu bebê. Só assim
vou poder falar, lutar por ele, enfrentar tudo.
— Eles foram fabricar a comida? Meu Deus. Estou morrendo de fome! — ela comenta e
assinto. — Provavelmente Bryan deve estar dando em cima de alguma mulher por aí, como fez
no local do evento. Te falei que ele aprontou?
Ergo a cabeça do seu ombro e a encaro. Aperto os dentes com força, sentindo meu
coração acelerar de novo. Será que estou morrendo?
— C-como assim?
Ela me olha rindo e balança a cabeça.
— Quando fui ao local do evento, uma garota perguntou se fui eu que enviei o Bryan
Nunes lá, e confirmei. Ela pediu se, por favor, eu o lembraria de ligar para ela, que amanhã ela
vai estar livre. Aquele idiota só tinha que ir lá, olhar tudo, levar os troféus, e ver se estava tudo
certo e se precisavam de algo. Mas ele tinha que jogar o charme dele para cima de alguém. É um
cretino da pior espécie. Eu desisto do Bryan. E ele ainda diz que não foge do amor. Como não?
Vive saindo com milhares de mulheres e não sossega. — Balança a cabeça como se ele fosse seu
filho, e estivesse trazendo apenas problemas.
— Aquele filho da mãe estava de gracinha com uma garota ontem? Ele conseguiu o
número e vão sair amanhã? — Entreabro a boca, sentindo meu corpo inteiro queimar de raiva.
— Não sei se vão sair. Mas algo rolou. Eu sabia que ele ali com muitas mulheres, seria
um perigo. Mas nem deveria nos surpreender, não é?
Concordo no automático.
Os meninos chegam e Rafael nos chama. O coitado nem consegue me olhar direito. Liz
se levanta limpando a areia do vestido.
— Vem?
— Já vou, Liz. Pode ir na frente.
Ela entra e fico olhando, vendo o ruivo dentro da sala.
Esse filho da mãe tentou me beijar hoje, dormiu agarrado em mim, me convidou para
ficar na casa dele, tomou posse oficialmente do meu bebê, e tudo isso enquanto arrumou um
contato e um possível encontro, se é que não é um encontro oficial? Balanço a cabeça
negativamente. Minhas mãos tremem, e me sinto um pinscher nervoso nesse momento.
Claro, confia mais nele, Ana Vitória. Acredite que esse idiota é realmente alguém
confiável. Vai lá, sua burra, que, no final, ele usa você e mais dez, e depois vem com esse sorriso
imbecil e sendo carinhoso para tentar te agradar, quando, no fundo, só te usa como faz com
todas!
Levanto-me irritada, chateada, e querendo a cabeça dele em uma bandeja. Ajeito o short
jeans e camiseta branca, me limpando. Caminho para dentro da casa, parecendo que incorporei
um touro furioso.
Eles estão arrumando a mesa, com a Liz mostrando onde fica tudo, enquanto desembala
as comidas.
Ele me fez confiar nele, e estava pegando o telefone de outra. Filho da puta!
Bryan traz os pratos, passando por mim, e minha vontade é de chutar sua bunda nesse
momento e quebrar todos os pratos na sua cabeça. Mas me controlo, porque não vou fazer um
show.
— Amiga, me ajuda aqui, por favor? — Liz me chama e assinto apenas. Me aproximo
dela e ela sussurra em meu ouvido: — Está tudo bem?
— Sim.
— Não parece. O que houve?
— Nada, Liz! — respondo um pouco rude e ela me olha mais desconfiada ainda. —
Desculpa, amiga. Não é nada.
Bryan me olha, mas desvio o olhar.
Terminamos de arrumar tudo e nos sentamos para comer. Me sirvo apenas com um pouco
de comida, porque meu estômago está embrulhado nesse momento. Sento-me na ponta da mesa,
o casal lado a lado, e o Bryan sozinho de frente para eles. Ele me olha e franze o cenho, porque o
local ao seu lado estava arrumado para mim, mas peguei tudo e sentei longe dele.
Eu queria ser menos invocada, e controlar mais a raiva que estou sentindo, mas não
consigo, é algo mais forte que eu nesse momento.
— Então o fusca quebrou... de novo... Meu pai teve uma enorme crise de riso ao me
contar, e minha mãe disse que ela mesma vai marretar aquele carro — Rafa comenta, voltando a
ficar confortável na minha presença, eu acho.
— Mande sua mãe ficar longe dele. O coitado só se esforçou demais. Deixe o Jorginho
em paz.
Jorginho deveria passar por cima do pau do dono dele.
— Eu queria ver a cena. Ana Vitória Albuquerque dentro de um fusca todo remendado, e
ele quebrando no meio do caminho. Amiga, desculpa, mas, quando eu soube, eu ri demais.
Forço um sorriso e enfio um pedaço de batata na boca, mastigando lentamente.
— Ainda bem que deu tudo certo. Aquele carro é um perigo. Quando voltarmos, vai
pegar o seu outro carro de volta, Bryan. Estou vendo um para mim.
— Relaxa, Mozão.
Relaxa, Rafael, porque aparentemente o seu amigo só é fiel a você mesmo. Sinta-se
honrado.
Eles ficam conversando, e apenas sorrio e aceno, pior que os pinguins de Madagascar, e
tenho diversos pensamentos macabros de como matar o Bryan. Uma coisa é certa, eu começaria
pelo cabelo dele.
Observo-o de perfil, e dá para entender por que as mulheres caem como idiota no papo
dele. Bryan é realmente muito bonito. Ruivo natural, cheio de sardas, tatuagens, usa brinco, tem
uma barba bonita, olhos hipnotizantes, um nariz digno de dar inveja, e um sorriso caloroso. O
combo perfeito para a destruição.
E a parte mais idiota é que eu, que sempre deixei claro que não cairia no papo furado de
homens, que poderia acreditar em clichês fofos e divertidos apenas pela Liz e para a vida dela, e
que a vida é uma droga e não uma comédia romântica, fui lá, caí no golpe e quase beijei a
porcaria do golpe.
Idiota. Você é uma idiota, Ana Vitória.
— Ana? — Me assusto com a voz me chamando e olho para onde ela veio.
— Perdão, estava distraída. O que foi, Liz?
— Perguntei: Se vazar a planta do novo fliperama, teria uma resolução judicial rápida?
Respiro fundo.
— Depende... Vai depender muito de quem vazou, como foi feito, se a pessoa vai
colaborar, se o juiz vai querer resolver tudo rápido, se vai haver necessidade de chegar a
audiências, e tem a questão dos sigilos contratuais... É uma tremenda burocracia. Mas no fim,
tudo já estaria na imprensa, e ainda que tenha um pedido para que tudo seja retirado, em era de
prints, nada some para sempre mais. Então seria uma dor de cabeça longa, isso eu posso garantir.
— Droga. Essa é a minha maior preocupação com essa demora para o fliperama ficar
pronto logo. As pessoas estão cada vez mais curiosas, e tenho medo da planta vazar antes do
tempo. Porque tudo foi montado especialmente para ser único.
— Meu anjo, tenta não pensar nisso. Foca que tudo está dando certo. Não fique pensando
em algo que nem aconteceu. Isso só te deixa irritada. Prometeu que viria para relaxar. Tenta fazer
isso — Rafael diz a ela, todo carinhoso como sempre, e isso me faz sorrir. Que bom que minha
amiga tem alguém especial na vida dela.
— Ele tem razão. Já temos tanta coisa para lidar na Santana, não se martirize por uma
que nem sequer ocorreu — Bryan também a orienta.
— Mas se ocorrer, daremos um jeito. Confie em mim. Além disso, tem ótimos advogados
na equipe jurídica da Santana.
— Mas nenhum deles é você, que vai mandar todo mundo ir se foder sem medo. Todo
mundo tem medo de você como advogada, Ana!
Rafael sorri da namorada e balanço a cabeça revirando os olhos.
— Para de focar no futuro, Liz. É sério. — Bebo o suco.
— A Barbie tem razão.
Barbie? Eu vou virar a Annabelle, seu cretino!
— É, vocês têm razão. Não vou pirar! Joaquim também mandou eu respirar e minha mãe
e a Graça praticamente me chutaram logo para cá, para ver se assim fico mais relaxada — ela diz
toda meiga e assentimos sorrindo.
Terminamos de comer e os meninos se prontificam a limparem tudo. Liz e eu vamos dar
uma olhada na casa, ver como estão as coisas. A mãe dela sempre está por aqui, mas pediu para
verificarmos o estado de tudo, porque faz tempo que não faz isso com calma, e bom, acho que
isso vai ajudar a me distrair porque estou um pouquinho enjoada, mas nada comparado a como
costumo ficar, é mais tranquilo, só é uma sensação que incomoda, infelizmente. Mas é melhor
aguentar o enjoo do que ir atrás da pessoa que consegue controlar ele. Eu me recuso a fazer isso.
BRYAN
Rafael e Liz estão no quarto deles, terminando de se arrumarem para o evento. Já estou
pronto, debruçado sobre o parapeito de madeira, do deck da casa, observando a praia linda.
Provavelmente as casas ao redor não tem moradores, devem ser casas de férias, porque apenas a
nossa e mais uma estão com as luzes acesas, e isso notei desde que chegamos.
É bom respirar longe do caos, sentir mais a natureza, isso acalma de dentro para fora.
Fazia um tempo que minha cabeça não silenciava devido as coisas do trabalho, e agora isso
aconteceu. É engraçado pensar que nem procurando diversão com diversas mulheres tenho feito,
antes pelo cansaço, e agora, nesse momento, por estar mais relaxado.
Puxo o ar para os meus pulmões, e solto lentamente.
Falei com meus pais hoje, falaram que estou sumido demais, mal sabem eles da loucura
dos últimos dias. Querem saber se vou passar o final do ano com eles, só que, pela primeira vez,
não tenho certeza. Tem tanta coisa acontecendo no trabalho, e na minha vida que estou ainda
tentando entender tudo, mas sem pirar.
Escuto passos e viro o rosto para trás e, caramba, que perfeição!
Ana está com um vestido verde-escuro todo brilhante. Ele é justo em seu corpo, parando
no meio das coxas. Um pouco mais curto na perna esquerda, algo bem delicado. As sandálias são
da mesma cor do vestido e bem brilhosas.
Subo o olhar, e ela está com uma mão para trás, os cabelos soltos em ondas perfeitas, e
uma maquiagem linda, e os lábios lindos em um vermelho-fosco. O brinco em sua orelha é mais
delicado, e vejo-o porque ela coloca a franja atrás da orelha revelando sua orelha.
— Cadê a Liz?
— N-no quarto ainda — me atrapalho um pouco, meio atordoado com a visão.
— Droga... — fala baixinho.
— Precisa de algo?
— De você? Não. Não mesmo. Só precisava da ajuda dela para fechar o vestido. Eu
espero ela vir para a sala.
— Posso fazer isso. Se sei abrir, posso fechar — brinco, mas ela continua séria. Tem algo
rolando, e não foi só por causa de mais cedo, quando quase nos beijamos antes dela fugir. Ana
está estranha além do normal. — Eu ajudo, vem.
Ajeito a postura e ela me olha desconfiada, antes de olhar para trás e ver que não tem
nenhum sinal da amiga. Solta uma lufada de ar e vem até a mim. Para à minha frente, me
deixando perdido com seu cheiro.
Foca em fechar, Bryan!
O vestido mostra suas costas. São cordões finos que passam por sua pele, formando três
linhas na horizontal. Ela solta o cordão que precisa amarrar, e o vestido fica mais largo ao seu
corpo.
Pego as duas pontas, tentando não pensar que está sem sutiã, ou que o corte na parte de
trás vai até mais ou menos um dedo acima de sua bunda. Por que ela tinha que ser tão linda e
gostosa? Porra!
— Tem que apertar, porque ele se solta conforme eu ando, e ajusta ao corpo do modo
certo — explica.
— Uhum... Claro. Vou apertar o suficiente para não te machucar, e nem apertar muito sua
barriga, você sabe por quê. Mas não vai ficar nua no evento, posso te garantir.
Não vai mesmo. Eu colo essa porra no corpo dela.
Engulo em seco quando ela puxa partes do cabelo que ficaram para trás, e fica ainda mais
visível a perfeição que esse vestido está em seu corpo.
Seguro com firmeza os cordões finos e puxo-os, no movimento seu corpo vem para trás,
colando ao meu peito, batendo sua bunda em meu pau e isso me faz prender o ar, porque ela
ofega baixinho como mais cedo, e parece um gemido manhoso. Abaixo um pouco o rosto e tento
controlar o calor que começa a me queimar de dentro para fora, enquanto amarro os cordões, no
pequeno vão entre sua bunda empinada naturalmente, que cria uma leve curvatura na subida para
as suas costas. Meu pau começa a endurecer, sem controle algum, e não sinto vergonha por isso,
não tenho como controlar.
Amarro firme, ajustando o laço da melhor maneira. Quando termino, toco a alça fina em
seu ombro, e ajusto-a na sua pele, vendo-a se arrepiar.
— Pronto — sussurro em seu ouvido e ela assente. — Ana... — Aperto sua cintura, e
beijo abaixo da sua orelha. É um beijo demorado. Ela toca minha mão em sua cintura, e geme
baixinho.
Caralho, que desejo infernal estou sentindo por ela.
Ela se afasta bem desnorteada, confusa.
— O-obrigada... Tenho que... — não termina de falar.
Entra na casa sem olhar para trás, me deixando parado aqui, duro, louco de desejo por
ela, e perdendo o controle.
Ela quer me matar, e vai conseguir.

O evento está lindo, e não poderia estar mais orgulhoso de trabalhar em uma empresa que
ajuda tanto em criar momentos incríveis para outras pessoas. Ainda que a Santana não tenha
feito tudo e tenha apenas apoiado e doado os troféus, é uma premiação muito importante para
essas influenciadoras gamers, e vindo essa ajuda de uma empresa que produz jogos, é um marco
eterno na vida dessas meninas. Isso é motivo de muito orgulho.
Liz está radiante. Muitas pessoas querem sua atenção, ela é o destaque, o momento, e
estou orgulhoso, porque gosto dessa garota, torço muito para ela chegar cada vez mais longe. Ela
tem o amor que seu pai tinha pelos negócios, acima de qualquer dinheiro ou fama e isso a torna
ainda mais especial.
Bebo o champanhe em minhas mãos, enquanto o Rafael está na água com gás, assim
como a loira que parece procurar alguém no evento, porque não para de ficar olhando para todo
mundo.
— Liz está bem feliz. Parece até que ela que vai ganhar um prêmio — Rafael comenta.
— Ela já tem um enorme prêmio todo dia. — Ele me olha confuso. — A gata dela manter
ela viva, isso é o maior prêmio da vida dela.
— Não sei por que ainda te dou conversa.
Rimos.
Levo uma mão ao bolso, enquanto olho ao redor. Meus olhos notam a garota que
encontrei ontem aqui. Eu estava tão focado em fazer o que a Liz pediu e comprar comida para a
Ana para voltar para casa e ver se ela estava bem, que nem me lembro o nome dela, mas sei que
ela me deu um telefone, disse para ligar, perguntou se eu era solteiro. Eu lembro de ter pegado o
papel, colocado no bolso, mas provavelmente caiu quando fui comprar a comida para a Ana,
porque quando peguei a carteira não tinha nada além dela, celular e chaves no meu bolso.
Ela me nota, porque acena sutilmente. Acho que é assistente da organizadora do evento.
Não deve ter mais que vinte anos. É bonita, muito bonita para ser sincero, mas me cheira a
problema, e no momento quero distância de problemas. Foi ótimo perder o papel com o número
dela, uma dor de cabeça a menos.
Finjo que nem a notei, e desvio o olhar. Nem comentei sobre isso com a Ana e a Liz, ou
cortariam meu pau achando que aprontei, mas só fui educado, afinal, ela que veio pegar as coisas
comigo e me mostrar como tudo estava ficando. Comentei por cima com o Rafael, falei que
achava que tinha me livrado de uma enorme dor de cabeça, e ele ficou rindo, falando que era
castigo de tanto correr atrás de mulheres e usá-las, o destino estava colocando umas doidas para
me cercar e me fazer pagar tudo que fiz.
Eu sou praticamente um santo, então ele está errado.
— Rafa! — Liz chama o namorado.
— Vai lá, Ursinho... — provoco, imitando a voz dela, e ela me dá um soco no braço. —
Porra, qual o seu peso na academia?!
Ele ri passando por mim.
— Achei... — Ana comenta e a olho.
— Achou o quê? — Me olha confusa. — Disse que achou.
Ela balança a cabeça negativamente, e passa por mim, ignorando-me. Perfeito. O casal
está colado, a loira fugindo com meu bebê e me evitando, e uma doida me encarando igual a uma
psicopata e sorrindo que nem o Coringa.
— Que noite longa essa! — Viro o champanhe de uma vez e vou em busca de algo mais
forte para beber e algo gostoso para comer, isso sim me anima.

A premiação foi bonita, e convidaram a Liz para entregar, e ela pediu a minha ajuda, e
assim passamos os prêmios para as meninas, que ganharam também apoio de outras empresas e
marcas, deixando a noite delas ainda mais feliz.
Agora está acontecendo uma festa com muita música alta e bebida. A galera está bem
animada. Liz e Rafael sumiram, provavelmente estão transando às escondidas por aí, porque
esses dois estão terríveis. Ensinei tudo errado para eles, meu Deus!
Ao menos perdi de vista a garota do telefone perdido, e espero que continue assim,
sumida. Nesse momento, meus olhos procuram pela loira no meio dessa loucura toda, enquanto
caminho com meu copo de uísque, tentando sobreviver as pessoas pulando, dançando e berrando
na minha cabeça.
Caminho até os corredores que levam a parte onde a premiação aconteceu, parece mais
tranquilo, e lá tem os acessos aos banheiros do outro lado, onde Ana deve estar, porque tem um
tempo que sumiu.
Passo por um cara quase devorando a boca da garota com ele.
— Vai com calma. Ela não é uma comida! — falo alto, passando por eles.
Parece que tenho que ensinar tudo a esses jovens...
Consigo chegar ao corredor, mas paro abruptamente, quase infartando imediatamente,
quando vejo a garota do telefone que ainda não lembro o nome, falando com a Ana Vitória, que
está encostada em uma das paredes, segurando o celular em uma mão.
Bebo o uísque e respiro fundo. Quero ouvir o que falam, mas não tem como, não com o
som alto, e se eu entrar mais no corredor, vão me ver. Tento fazer leitura labial e descubro que
sou péssimo. Pela cara da Ana Vitória, ela não está suportando a menina, porque esse é o olhar
que ela me lança há anos, do tipo “irei te matar”.
A menina assente sobre algo que a loira diz e respira fundo, antes de dar um sorriso
desanimado.
Droga, eu preciso saber o que falam!
— Com licença! — Um imbecil passa por mim, quase me levando e chamando a porra da
atenção para mim.
As duas se viram e me encaram. Ana me olha com deboche, enquanto a garota me olha
de cima a baixo e só falta me engolir como o cara engolindo a boca da menina.
Forço um sorriso e pigarreio, antes de beber o restante do uísque e caminhar até as duas,
sem saber onde estou me enfiando, mas bem apavorado.
— Senhoritas — cumprimento-as.
— Estava aqui conversando com sua amiga — a menina diz sorrindo.
— É mesmo? Minha amiga? — Olho de lado para a Ana, e ela sorri como um diabo. — E
o que falavam?
— Ela me contou que você é gay. — Olho para a menina agora e ergo a sobrancelha
esquerda. Eu sou o quê? — Notou que eu estava interessada... É uma pena, sabe? Mas se quiser
tentar outras coisas, tem meu número. — Me dá uma piscada.
Só pode ser brincadeira. O que a Ana Vitória tem na cabeça?
— Claro, tenho sim seu número — minto do meu jeito mais convincente. — Mas sou
gay. Muito gay mesmo. — Olho de lado para a Ana, que prende o riso. Filha da mãe.
— Eu tenho que ir, está uma loucura aqui. Obrigada por me alertar. Foi uma ótima
pessoa. — Toca o braço da Ana.
— Não precisa, agradecer, querida. Sempre estou ajudando quem precisa. — A advogada
mentirosa força um sorriso.
Passo a língua pelo lábio inferior, ainda chocado com a cara de pau.
A menina sorri e se afasta, rebolando mais que o normal. Espero-a se afastar bem e
ficarmos sozinhos no corredor, para puxar a loira para mim, grudando suas costas em meu peito,
e levando a boca ao seu pescoço.
Ela solta um grito.
— Que merda de história é essa, Ana Vitória?!
— Deveria me agradecer, seu imbecil. Essa menina fez dezoito anos hoje, sabia? E ela é
filha de uma família importante aqui na região. Imagine a dor de cabeça que arrumaria. Todo
mundo daqui conhece ela. Bastou parar uma pessoa para me informar e descobri tudo sobre ela.
Adora arrumar problemas com vários homens, e os pais a pintam de santa.
— E quis me ajudar por quê, amiga? — Ela tenta se soltar, mas não deixo. — Como
soube dela? Não vou te soltar enquanto não falar, fique ciente disso.
Ergue o rosto para mim, e revira os olhos.
— A Liz contou mais cedo. Está feliz? Agora me solta.
De repente, tudo vai se alinhando na minha mente.
— Entendi tudo! — Sorrio. — Por isso estava nervosa e me ignorando mais que o
normal. Estava com ciúmes. E a pessoa que estava procurando era essa garota. É claro!
— Ficou louco? — grita. — Nunca eu teria ciúmes de você. Só te ajudei para não trazer
problemas a Liz e a Santana. Agora me solta, seu iludido.
— Tem certeza, Ana Vitória? — sussurro em seu ouvido. — Tem realmente certeza de
que não ficou puta achando que eu estava arrumando outra enquanto estava duro por você mais
cedo?
— T-tenho. — Sua voz se perde um pouco. — Agora me solta antes que nos peguem
assim de novo.
Sorrio, e deixo um beijo em seu pescoço, inclinando nossos corpos para o lado, como se
fôssemos cair, e ela ri, se curvando para a frente.
— Me solta, idiota. Isso faz cócegas! — Encho seu pescoço de beijos, e ela ri alto. —
Para, Bryan! Meu celular vai cair... Vai me deixar nua aqui. — Continua rindo gostoso.
Solto-a e ela se vira para mim, se ajeitando.
— Nunca te deixaria nua aqui, não na frente de todos — falo e ela desvia o olhar por um
momento antes de tornar a me olhar. — Perdi o número dela, e nunca pensei em ligar. Estava
mais preocupado em te alimentar e ver se estava bem. Acredite em mim. — Puxo seu queixo e
deixo um beijo em seu rosto.
— Não importa. Não me deve explicações... Agora é melhor eu voltar para a casa. Liz e
Rafael sumiram, e esses saltos estão me matando. Vou pedir um carro e voltar.
— Vou com você.
— Não vai. Vai me dar paz, Bryan! Quero distância de você.
— Nem pensar! Sou seu amigo, lembra? Seu amigo gay. Vou cuidar de você como um
ótimo amigo. — Dou um passo na sua direção e ela dá outro para trás. — O que mais inventou
para ela? Que à meia-noite viro um lobisomem?
— Melhor nem saber... — Sorri diabolicamente e se afasta às pressas.
— ANA VITÓRIA! — grito, e ela caminha quase correndo e rindo.
Se ela pensa que vai escapar fácil assim depois de me ignorar o dia todo por ciúmes, está
enganada. E se ela acha que vou acreditar que não estava com ciúmes, está ainda mais errada.
Amigo gay, sério? Ela pensou logo nesse clichê?
ANA VITÓRIA
Tomei um banho assim que cheguei e foi a melhor coisa que fiz hoje. Tirar a maquiagem,
sandálias, me trouxe leveza. Depois do dia extremamente estranho, eu precisava relaxar e colocar
a cabeça no lugar.
Liz e Rafael ficaram no evento, mas disseram que daqui a pouco estão por aqui. Vão
comprar pizza para aproveitarmos o restante da noite, bem, madrugada. Bryan veio junto, e foi
tomar banho também, e não o vi desde então.
Está bem escuro, mas isso não me impede de ficar sentada na escadinha do deck de
madeira, abraçando a mim mesma, enquanto observo o mar na escuridão. Tem muitas nuvens e
um vento de chuva. Mas a luz da casa ilumina um pouco e ajuda a admirar a paisagem.
Hoje foi bem estranho, é como se eu tivesse perdido o controle sobre mim mesma com
uma raiva excessiva. É tudo tão confuso dentro da minha cabeça. O quase beijo, dormirmos
juntos, seu convite para eu ficar na sua casa, a história da menina do evento... Estou uma pilha de
sentimentos que simplesmente não encontro respostas para nada.
Bryan não me deve nada, mas... droga, a confiança que estou depositando nele, nunca fiz
com ninguém além da Liz. E agora ele tem coisas que nem minha melhor amiga tem. E de
repente, é como se hoje, depois do que a Liz contou, o que está sendo criado estivesse correndo
risco de romper. Fiquei apavorada e agora entendo isso.
Passos me fazem prender o ar por alguns segundos. No fundo é como se eu soubesse que
ele sumiu desde que chegamos para me deixar respirar e agora é como se estivesse vindo buscar
respostas, afinal, o ignorei, agi sem pensar... Dentro do Uber foi um completo silêncio, cada um
preso em seus pensamentos olhando pela janela. E isso foi bem estranho, porque acho que me
acostumei com ele tagarelando na minha cabeça sem parar.
Ele se senta ao meu lado usando apenas uma calça de moletom preta, justa ao seu corpo.
Os cabelos estão soltos, molhados, e ele cheira a sabonete, e até esse cheiro nele parece ficar
diferente. Apoia os braços musculosos e tatuados sobre os joelhos, e fica olhando para a frente,
enquanto brinca com os próprios dedos.
Olho para a frente também e respiro com calma.
— Fiquei com raiva — começo e ele me olha, mas não consigo encará-lo, então continuo
focada no mar. — Quando a Liz comentou sobre a garota, eu senti raiva. Mas agora sei que foi
de mim, e não de você, porque não me deve nada.
— Ana...
— Por favor, só me deixa terminar. — Respiro fundo. — Cresci aprendendo que, na vida,
você pode ser substituído sempre. Que fama, dinheiro e poder valem mais do que qualquer coisa.
Me ensinaram que tudo que é oferecido a alguém precisa ter algo em troca, é uma constante troca
de favores. Minha primeira amiga de verdade foi a Liz, e quando ela se mudou para o mesmo
prédio que o meu, aquilo me fez respirar aliviada pela primeira vez. Toda vez que íamos na casa
dela em Alphaville, e eu via como a família Santana era, eu sonhava com aquilo, e com ela por
perto, agora me faria poder sentir mais disso. Meus pais não são pessoas ruins, mas nunca
souberam demonstrar amor de verdade, eles me dão aquilo que tiveram. Aprender a confiar nas
pessoas é difícil para mim. Confiar na Liz foi complicado, mas ela não desistiu... — Sorrio
fracamente. — Você é a segunda pessoa que estou aprendendo a confiar nesse nível também...
Te ofereço coisas sobre mim, que nem a Liz sabe ou tem, e isso me assusta demais. Porque, no
final, eu sempre penso que uma hora a cobrança vai vir, e você vai exigir algo ou ir.
Crio coragem de olhar para ele, mesmo sabendo que meus olhos marejam nesse
momento. Ele me encara, mas não consigo ler sua expressão e isso me traz medo.
— Foi como se eu estivesse confiando em alguém, que, a qualquer momento, vai só sair
de cena, porque já teve tudo que queria. Essa é mais uma das coisas que cresci aprendendo, que,
na vida, vão te usar e descartar. Não acredito em comédias românticas, finais totalmente felizes,
e já conversei sobre isso com a Liz. Acho que a vida só pode ser leve se a gente tentar fazer isso
dentro das possibilidades que temos, mas isso não vai ser pra todo mundo. Confiar em alguém
além dela depois de anos, está me assustando muito, e estou pirando. — Lágrimas escorrem pelo
meu rosto. — E ainda tem a gravidez, os problemas em casa... E, droga, quase nos beijamos mais
cedo... Isso piorou toda a bagunça dentro de mim, porque não sei o que realmente está
acontecendo. É como se em vinte e sete anos eu não me conhecesse e só agora descubro isso.
Ele desvia o olhar, virando o rosto para o mar.
— O que tenho com a Liz, com você e com o Rafael, nunca tive com ninguém... Mas o
que tenho com você nesse momento, me abrir da forma que tenho feito, nunca fiz antes. Fiquei
com medo de isso tudo acabar, e voltarmos ao que era, onde você se preocupava mais com farra,
mulheres, e nos provocarmos e nada mais. Porque perder isso, será dar razão a minha família, vai
ser como se eles estivessem certos esse tempo todo sobre tudo, que não devemos confiar em
ninguém, que somos substituíveis. — Enxugo as lágrimas e olho para a frente. — Desculpa ser
meio louca, mas juro que está tudo...
Sua mão puxa meu rosto, virando-o para si, e isso me interrompe, faz meu coração
acelerar. Abaixo o olhar, lágrimas continuam escorrendo sem parar, e agora se misturam a
ansiedade e ao frio na minha barriga.
— Não é louca, mas por que não falou comigo desde o início? Por que não perguntou a
verdade? Eu teria te acalmado. — Ergue meu queixo e acaricia minha pele. — Olha para mim,
Ana Vitória. — Ergo o olhar, minhas vistas estão embaçadas pelas lágrimas. — Por que não veio
falar comigo? — insiste. — Teríamos resolvido toda a confusão.
— Medo... Vergonha... Só agora que realmente estou entendendo a bagunça de mais
cedo.
Ele balança a cabeça negativamente, e me puxa para os seus braços, abraçando meu
corpo. Encosto a cabeça em seu peito, e os braços em suas pernas. Uma de suas mãos acaricia
minha cintura, e a outra segura meu rosto erguendo-o para si. Meus cabelos despencam para trás,
desfazendo o coque que havia feito. Seus olhos dourados me encaram e seu polegar acaricia
minha bochecha.
— A minha prioridade era voltar e cuidar de você. Não menti quando disse que não tenho
o número dela. Perdi. E quer saber? Isso nem me importou. Sabe o que me importa? Estar aqui
com você e o bebê. Eu fugia para as farras, mulheres, não nego, mas minha prioridade sempre foi
as pessoas que me importo. Desde que descobri sua gravidez, tenho vivido unicamente para
cuidar de você para que se sinta melhor, e achei que tivesse notado isso. Me chateia saber que
realmente acredita que eu poderia estar com outra enquanto cuido de você. Posso ser muitas
coisas, mas jamais esse tipo de homem. Se me importo, eu fico, eu cuido, eu protejo.
— Mas faz isso pelo bebê, Bry... Tenta entender a loucura que estou vivendo... Não é
fácil acreditar que depois de anos em meio às implicâncias, logo você, que eu queria chutar, é a
pessoa que posso confiar para a mudança mais importante da minha vida — sussurro chorosa.
— Sinto muito que sua família te criou tão friamente e te ensinou a ser assim, ao ponto de
não notar que não faço apenas pelo bebê, mas também por você. Eu me importo com você
também. Cuidar de você, automaticamente cuido do bebê, eu sei, mas me preocupa saber como
está no meio de toda essa confusão. Prefiro mil vezes lidar com você querendo me matar do que
triste, porque me dói ver as pessoas que me importo sofrendo. Você também tem coisas de mim
que o Rafael, minha família e até a Liz, não têm. Fugir toda vez que tiver medo só vai te
machucar, e me machucar por ver que está se ferindo por medo.
Mordo o canto da boca tentando controlar o choro, mas ele puxa meu lábio com o
polegar, impedindo que eu faça isso.
— D-desculpa... — falo quase sem voz.
— Não peça desculpas a mim. Peça desculpas a si mesma por se culpar por uma criação
que te ofereceram por anos. Vamos ter que trabalhar nisso, conversar mais, tentar resolver essa
questão. E o primeiro passo é a comunicação. Não se isole mais, isso te machuca, ainda que não
veja. Não é uma proteção, é só uma maneira de se torturar como se tivesse culpa. Ninguém é
perfeito, todos temos defeitos, e está tudo bem. Eu costumo me isolar às vezes, mas não gosto,
isso me deixa pior, porque amo pessoas, estar rodeado delas é bom. E com o tempo vai sentir
isso também.
Passo os braços ao redor da sua cintura, e fecho os olhos abaixando a cabeça e
encostando em seu peito.
— Não menti sobre ela... Realmente a história que contei aconteceu. Contaram quem de
fato era a menina, e mesmo chateada, eu quis te proteger. E talvez, só talvez, eu tenha tido
também um pouquinho de ciúmes. E antes que fique se achando, tenho ciúmes das minhas
amizades.
— Então assume que temos uma amizade? — pergunta me fazendo sorrir em meio às
lágrimas.
Ergo o rosto e ele o segura novamente.
— Nunca. — Ele sorri e beija o topo da minha cabeça. — Obrigada por não me julgar, só
ouvir e aconselhar.
— Jamais vou julgar, só quando começar a jogar e ouvir podcast macabro.
Rio baixinho, e ele deixa outro beijo, mas agora na minha bochecha.
— E se o nosso bebê gostar de ouvir podcasts criminais também? Vai julgá-lo? —
pergunto, e só então percebo o que de fato falei.
Seus olhos brilham, e é um brilho diferente. Eles marejam.
— Tem noção do que acabou de dizer e da vontade que estou nesse momento?
— Depende... Vou me arrepender de dizer que quero descobrir do que está falando,
porque talvez não tenha entendido? — pergunto sorrindo sem jeito, me fazendo de sonsa,
torcendo para ele esquecer o que deixei escapar.
— Vou te deixar escolher se vai ou não se arrepender de descobrir...
Franzo o cenho confusa de verdade agora. Mas entendo em seguida, sua boca cola na
minha. De início me assusto, mas depois é como se alguma barreira caísse, porque só me deixo
ser levada pelo beijo, ao som do mar, com um gosto salgado pelas lágrimas que tornam a cair
pelos meus olhos fechados.
Tiro os braços do seu corpo e coloco as mãos em seu rosto. A barba faz cócegas na palma
da minha mão e em meu rosto, mas é gostoso de sentir. O frio na barriga se intensifica e meu
coração está acelerado de um jeito diferente, é bom.
Seu beijo me traz calma e me desliga do mundo. Neste momento não existem problemas,
só nós dois. É um beijo que nunca tive, parece até ser o primeiro que dou em minha vida.
Sua língua parece se encaixar tão bem na minha, que chega a assustar. É como se fosse
um encaixe único, feito somente para nós dois.
Afastamos com calma nossas bocas, buscando ar, porque tudo foi tomado pelo beijo. A
brisa balança nossos cabelos. Nossos olhos se encontram, e ele sorri de lado. É diferente dos seus
sorrisos. É algo mais sereno, tímido talvez.
— Não me odeie — pede acariciando meu rosto. — Então, se arrependeu ou não de
descobrir minha vontade? — sussurra.
Engulo em seco, ainda processando o que aconteceu.
— Bryan... Eu... — começo, mas sou interrompida.
— GENTE? CHEGAMOS! — Liz grita e nos afastamos rapidamente.
Pigarreio, ajeitando a franja que despenca em meu rosto pela brisa. Prendo-a atrás da
orelha.
— Amor, eles podem estar dormindo, já — escuto Rafael dizer.
— Estão não… Olha eles ali. Não me digam que tentaram afogar um ao outro? —
Caminham até nós.
Sorrio apenas, ainda sem jeito pelo ocorrido, confusa.
— É emocionante a confiança que nos colocam — Bryan toma a frente e, pela primeira
vez, agradeço muito por isso.
Eles sorriem.
— Vamos. Trouxemos pizza e bebidas. Estou morrendo de fome e cansada. Preciso
relaxar com vocês. Foi tudo lindo, mas não recomendo só beber e não comer… Eu já disse que
trouxe pizza? — minha amiga diz agitada.
Rafael nos olha e depois encara o amigo, e queria não ter notado o sorriso tímido que ele
dá ao Bryan. Levanto-me e o ruivo faz o mesmo. Liz me olha e parece desconfiada de algo, mas
não diz nada, e ainda bem.
— Vamos comer, Liz. — Seguro sua mão, passando na frente deles com ela.
— Faço perguntas ou não? — pergunta.
— Fica calada.
— Então...
— Não! — Olho para ela, que faz cara de decepção. — Como nunca acerto essas coisas
e, ainda assim, consegui um relacionamento? Espera, será que o Rafael me ama mesmo ou eu
errei tudo?
— Meu Deus, o quanto bebeu? — pergunto e ela ri. — Ótimo, o suficiente para amanhã
reclamar.
Ela me agarra rindo. Ao menos não vai se lembrar de nada amanhã, espero.

Estamos no quarto que virou um depósito cheio de coisas que o pai da Liz mandava para
cá só para não jogar fora ou doar, como a mãe dela pedia. Ele era um pouco acumulador e
maluco.
— Ele tinha um piano? O Josué tocava? — Bryan pergunta confuso.
Liz me olha e começamos a rir. Rafael e ele ficam nos encarando sem entender nada.
— Não mesmo. Ele jurava que sabia, sem nunca ter tido aulas de piano. Resultado, o
piano veio parar aqui e ele nunca nem aprendeu a tocar algo — minha amiga explica.
Passo pelo Bryan indo em direção a uma caixa transparente.
— Seu pai era acumulador. Meu Deus! — Rafael diz olhando tudo.
— Ele era. Mamãe surtava. Então ele dizia para ela que tinha doado, ou jogado algo fora,
mas na verdade mandava para cá, e ela só aceitava, porque ele era pior que criança teimosa. —
Dá de ombros.
Sorrio, porque amava essas “brigas” deles.
— Olha, a boneca Bu. — Abro a caixa pegando-a.
— O tempo não foi bom com a Bu — minha amiga diz se aproximando e rio. — Meu
Deus, a Bu ficou cega!
Começo a rir alto.
— Essa boneca aqui era a nossa máquina de sustos. — Me aproximo do bundão e aponto
a boneca para ele.
— Nem quero saber como isso vai terminar! — Bryan fala se afastando e sentando no
banco do piano. Rafael encosta no piano e cruza os braços nos olhando curioso.
— Eu quero. Como assim, máquina de sustos? — Rafa pergunta e Liz e eu rimos.
— Aprontávamos muito. E então pintávamos ela, deixando bem assustadora, e a
colocávamos em lugares específicos sem nossos pais verem. Eles morriam de medo, sempre se
assustavam, achando que ela era possuída ou algo assim. Eram sustos bem fortes que eles
levavam — ela explica.
— E foi assim que deram um fim nessa boneca. E agora sabemos que ela veio parar aqui
— completo. Minha amiga concorda olhando para a boneca toda destruída.
— Por isso o Bu... Bu devido aos sustos? — Rafael questiona e concordamos.
— Coitada, nem a boneca tem paz com vocês — Bryan fala e jogo ela em cima dele, que
a joga para o canto. — Tira essa porra daqui!
Gargalhamos do medroso. O medroso que me deixou perdida após um beijo.
— Nergeek, vem aqui. Me ajuda com essas caixas. Você vai gostar. Tem vários jogos
antigos — Liz pede ao namorado, e quase cai em cima das caixas, tentando escalar para pegar a
que ela quer.
— Calma, Liz. Eu pego. E fique longe do álcool hoje, tudo bem? Vai me agradecer
amanhã!
Coitado, uma Liz normal já é o caos. Uma Liz altinha é pior. Me viro para as outras
coisas, bisbilhotando nas caixas, enquanto tento distrair a cabeça sobre o beijo... Meu Deus, o
que foi aquilo? Por que não paro de pensar? Nem a pizza foi capaz de me distrair o suficiente.
— Será que o piano ainda funciona? O coitado está tomado pela poeira... — Bryan
pergunta.
— Testa aí... Ai, caixa maldita, vem aqui!
— Calma, meu anjo. Vou pegar! — Rafael ri da namorada e pega a caixa antes que ela se
mate.
Me abaixo nas caixas do chão, onde tem várias coisas, e começo a mexer, quando ouço o
som saindo do piano. E o pior, eu conheço a música. E era tudo que não precisava para fechar o
combo da loucura essa madrugada.
Tiro um caderno de desenho da caixa, mas paro com ele sobre o meu colo quando a voz
do Bryan começa acompanhar a música. Ele canta Say You Won’t Let go, do James Arthur,
enquanto toca a música no piano. Meu coração não acelera, ele parece parar. A voz dele é muito
suave, calma, serena, te toca de dentro para fora e te arrepia imediatamente.
Viro o rosto lentamente e engulo em seco. Liz e Rafael estão encarando-o também, e
minha amiga está boquiaberta. Já o amigo sorri enquanto segura a caixa, porque, provavelmente,
já foi agraciado algumas vezes com isso.
Eu já o ouvi cantar no carro, mas agora ele não apenas canta, ele toca na alma. Seus olhos
encontram os meus através do piano preto, e apenas balanço a cabeça negativamente, implorando
para ele não fazer isso comigo, não depois do beijo. Ele volta a olhar para o piano enquanto vai
finalizando a música, e minha vontade nesse momento é de chorar, mas não de tristeza, é pela
sensação que ele me causa cantando.
Quando ele termina, Liz aplaude como uma doida, Rafael deixa escapar um “uau” e eu
fico sem reação. Simplesmente perco todo e qualquer foco de vez.
— Eu preciso beber água — falo deixando o caderno cair na caixa, e saio às pressas.
Preciso de ar, ou fugir para as montanhas, desesperada, pelo que estou sentindo, mas sabendo
que não posso, então me contento com a água e a brisa ao lado de fora.
BRYAN
Não sei exatamente o que se passou pela minha cabeça quando decidi que seria perfeito
me sentar no piano, tocar e cantar. Há muito tempo não faço isso. Não dessa maneira. Eu vivo
cantando por aí enquanto faço minhas coisas, às vezes tiro o violão do guarda-roupa e fico
tocando apenas para passar o tempo, mas cantar exatamente como fiz hoje, não me lembro da
última vez que fiz.
Mas só saiu. Não pensei muito sobre a música, a letra... Ela veio dentro de mim e me fez
viajar em um azul bonito, em um azul que tem dona. Seus olhos viraram um mar dentro de mim
que me fizeram sentir como se estivesse navegando, sentindo o balançar do barco calmo,
tranquilo, relaxante.
E o beijo... O beijo veio a minha memória e me senti diferente. Foi como se milhões de
fogos estourassem dentro de mim de um jeito especial. Eu preciso demais disso. Eu quero beijá-
la novamente. Porra, eu sinto a necessidade de sentir mais uma vez aqueles lábios deliciosos.
— Meu Deus! Eu posso virar sua empresária? Vamos. Eu invisto em você. Bryan Nunes,
o cantor do ano! Vai ganhar prêmios. Vamos, Bryan! — Olho para a morena que não cala a
boca.
— Quanto a Liz bebeu? — pergunto ao meu amigo.
— A pilha dela vai acabar daqui a pouco. Acredite.
— Ei, não falem como se eu não estivesse aqui... — boceja e deita a cabeça no ombro do
namorado, que me olha como se dissesse: “Eu não disse?”.
Sorrio, e levanto-me do piano.
— Liz, por que não vai tomar um banho? Daqui a pouco vou lá e vemos essa caixa, o que
acha? — Rafael sugere a ela.
— Já entendi. Querem conversar. Não sou criança, sabia? Meu Deus, preciso fazer xixi.
Ela se afasta, mas não sem antes deixar um beijo no namorado, e sair cambaleando não
sei se de sono ou pelo álcool. Talvez pelos dois.
Rafael se aproxima do piano, deixando a caixa em cima e me encarando.
— Fale o que está pensando, Mozão. — Suspiro e ele ajeita os óculos no rosto e respira
fundo.
— O que está rolando entre você e a Ana Vitória não me interessa. São adultos, Bryan. E
noto que, seja lá o que for, é algo complicado. Ana tem estado estranha, e a Liz notou. Ela achou
que nessa viagem pudessem se reconectar mais. Aparentemente, a Ana se reconectou, mas não
com quem imaginávamos. Realmente estou feliz que estão se dando melhor, ou tentando.
— Mas? — Sorrio de lado.
Ele sorri também e relaxa os ombros.
— Me preocupo. Pense bem no que estiver fazendo, porque a Ana é a melhor amiga da
Liz, e esse grupo existe há anos. Não estrague as coisas, não por mim, mas por elas, e por você
mesmo. Eu te conheço, e sei que se odiaria por machucar alguém. Você é um cara doce, Bryan,
protetor. Seu olhar para ela é de proteção agora, e, quando faz isso, se apega às pessoas. Só tome
cuidado para não se machucar e machucar ela também.
Assinto e respiro fundo.
— Não deixe a Liz acreditar que a amiga está distante. Ana precisa desse tempo, as
coisas estão complicadas, mas vão se ajeitar, e uma hora vão entender tudo. — Ele sorri corando.
— O quê?
— Ela está grávida. — Engulo em seco e fico sem reação. — Não precisa confirmar.
Primeiro, não sou burro. Fui muito bem nas aulas de biologia para saber que esses sintomas
esquisitos dela, não tem nada com intoxicação alimentar. Ela não bebeu nada de álcool no
evento, e nem o vinho que trouxemos. E esqueceu o notebook aberto na página sobre gravidez
dia desses, enquanto estava tomando banho e acabei vendo. Só encaixei uma coisa na outra.
— Rafael... Ela não contou a ninguém ainda, nem a Liz...
— Calma. Não vou dizer nada. Isso é algo dela. Se não contou, tem seus motivos. Só me
diz uma coisa, essa criança é sua, Bryan?
Balanço a cabeça e ajeito o brinco na minha orelha.
— Mais ou menos.
— Não tem como ser pai mais ou menos.
— Tem... Vai por mim. Tem! — Sorrio. — Primeiro, sua inteligência me assusta.
Deveria ter sido mais inteligente quanto a Liz, e me poupado o trabalho de cupido. — Me olha
sério e sorrio. — Ela vai explicar tudo, mas a criança não é minha. É de outro cara. Só que... —
Dou de ombros.
— Se apegou. — Assinto. — Bryan, você roubou essa criança, não foi?
— Roubar é uma palavra muito feia. Eu meio que peguei emprestado.
— Já entendi tudo. Por isso esse grude dos dois. Você tem o segredo dela, ela só tem
você sabendo de tudo que nem quero imaginar como soube. E para completar, se apossou do
lugar de pai, e a Ana está tendo que lidar com seus surtos. Acertei?
Sorrio e dou uma piscadinha para ele.
— Me conhece bem mesmo. Chocado.
— Bryan!
— O que você queria que eu fizesse? A criança pode sair traumatizada da barriga dela.
Estava lá sem pai, fui e peguei. Pronto. Não cometi crime nenhum. Muito pelo contrário, a mãe
da criança que está para me matar, fica se especializando com podcasts macabros. — Rafael ri e
balança a cabeça incrédulo. — E tem mais, talvez ela vá morar conosco. Espero que não fique
bravo por eu ter dito só agora.
— Claro que não. Mas espero que esteja pronto para enfrentar a Liz enfurecida porque
ambos esconderam tudo isso.
Ele pega a caixa.
— Controla ela, Rafael. É sério!
— Se vira. E quero imaginar como vai contar aos seus pais que serão avós de uma
criança que você furtou! Ah, e semana que vem meus pais nos querem na casa deles para um
almoço. Vou adorar ver eles descobrirem também.
Ele passa por mim.
— Rafael, para. Não brinca com isso.
— Boa noite, Bryan!
— Rafael Rocha!
Ele sai e fico assustado com o monstro que está virando. Está tendo aulas com aquela
gata infernal da Liz, só pode.

Caminho pelo corredor com cautela, saindo do quarto que eu deveria dormir, mas só
deixei minhas coisas. Depois que o Rafael e a Liz foram se deitar, não vi mais a Ana, ela saiu da
praia, se trancou no quarto dela e não saiu mais.
Confiro a hora em meu celular e é muito tarde, daqui a pouco o sol vai estar nascendo e
eu ainda acordado. Chegamos tarde e enrolamos para nos deitar, uma coisa conectou a outra, e
depois do beijo, simplesmente fiquei mais acordado do que nunca e não só por ele, mas pelo
desabafo dela, aquilo mexeu muito comigo também.
Verifico se a porta do seu quarto está destrancada, e está. Abro com cuidado para o caso
dela estar dormindo, não a acordar. Mas, para a minha surpresa, ela está acordada assistindo TV.
— Estava demorando para a minha paz acabar... — sussurra e isso me faz rir baixinho.
Fecho a porta atrás de mim, e tranco com a chave. Caminho até a cama, e sento-me ao
seu lado, observando a TV.
— Você assiste Gossip Girl? — pergunto.
— Você conhece Gossip Girl?
— Quem não conhece? Não assistia, mas sei o que é.
— Deveria. Te ajudaria a não usar o coque no cabelo.
— Qual o seu problema com a porra do meu cabelo? — Viro-me para ela, que ri e revira
os olhos.
— O que quer aqui?
Deixo o celular na mesa de cabeceira, e me ajeito, entrando embaixo da coberta que ela
está. Ajeito o travesseiro e apoio a cabeça no braço, ficando de lado para ela, e observando-a.
— Não te deixei deitar. — Me olha. — O que quer?
— Por que saiu daquele jeito?
— Não sei do que está falando.
— Sabe sim. Canto mal? — brinco e ela se ajeita na cama. Vira o rosto para mim e sua
expressão suaviza.
— Muito, Bryan. Deveria ser preso por estragar meus ouvidos — fala com a voz doce,
me provocando.
— E a senhorita, deveria ser presa por ser mentirosa. — Me aproximo mais e, quando ela
vai se afastar, puxo-a grudando seu corpo ao meu. — Eu quero mais, Ana — sussurro e ela me
olha confusa.
— Do que está falando?
— Disso aqui.
Beijo-a novamente, só que dessa vez um pouco mais necessitado. Em uma urgência
tentando controlar o desespero, e ansiedade que me ronda.
— Bryan... — Ela afasta os lábios, ofegante, tocando meu peito nu. — Isso não era para
acontecer. Não faça isso comigo. Não me deixe mais maluca...
— Maluca por desejar o mesmo que eu? Não estamos cometendo nenhum crime, Ana. Eu
só preciso sentir mais de você, assim como eu sei que quer. Seus olhos, sua respiração, sua fuga,
tudo diz o mesmo.
— O beijo mais cedo foi um...
— Foi gostoso, intenso, não diga que foi um erro. Sabemos que não foi.
— Bryan... — sussurra.
— Ana...
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até não aguentarmos mais, e voltarmos a
nos beijar, mas agora mais forte, porque um desejo cresce dentro de mim e sei que se mistura ao
dela. Inclino-me sobre ela, sua perna se encaixa na minha. Sua mão sobe para a minha nuca e
suas unhas arranham minha pele, e isso me faz gemer em seus lábios.
Minhas mãos passeiam pelo seu corpo, em uma busca desesperada por mais contato. Sua
pele se arrepia em meus dedos, e ela geme em meus lábios. Meu pau endurece, e, porra, não
posso ir além, não hoje.
Viro-me deitando de costas e trazendo seu corpo para cima do meu. Suas pernas
enroscam ao meu redor, e ela se inclina para a frente, ficando empinada sobre mim. Agarro sua
bunda, enquanto ela roça em cima do meu pau, com nossas bocas ainda grudadas em um beijo
louco, indecente.
Afasta nossas bocas, me deixando louco. Retira a blusa do pijama e, puta que pariu, está
sem sutiã. Seus seios se revelam para mim, lindos, apetitosos.
— Porra! — Trago seu rosto para mim pela nuca, e seus seios colam na minha pele,
fazendo ela gemer. — Não me faça perder o controle. Não podemos ir tão além hoje...
— Sério que vai bancar o santo agora? — sussurra em meus lábios, rebolando sobre meu
pau. — Aaah... — geme manhosa quando me mexo embaixo dela.
— Enquanto não passar no médico e termos certeza de que está tudo bem, não dá para
irmos além.
— E você diz isso agora? Tem noção do quanto estou excitada? Porra, Bryan!
Ela sai de cima de mim frustrada. Sorrio virando-me de lado para ela, e admirando seus
seios perfeitos.
— Não disse que não pode gozar, meu bem... Só não posso te penetrar... Só isso... — Me
aproximo, tocando um de seus seios, e ela me olha entreabrindo os lábios. — São lindos... Você
é linda!
Aproximo a boca de um deles e chupo com calma, vendo seus olhos fechar e ela inclinar
a cabeça para trás. Os cabelos estão espalhados pelo travesseiro e ela está se rendendo
totalmente.
Largo o seu seio quase explodindo com meu pau desejando brincar também. Desço uma
mão por dentro do short e da calcinha, e descubro o quanto ela está molhada.
— Porra!
— Eu te avisei. Desde o quase beijo estou excitada, e depois piorou, e agora... — Deslizo
o dedo pelo vão da sua boceta molhada, e ela geme. Seus olhos encontram os meus e parece que
esse olhar foi feito para mim.
Puxo-a para os meus braços, mantendo-a firme a mim. Ela leva o rosto ao meu pescoço, e
as mãos tocam meu peito. Fecho os olhos quando começo a massagear seu clitóris. Ela vai
gemendo baixinho bem no meu pescoço. O ar quente de seus lábios toca minha pele e me
arrepia.
Abro os olhos e abaixo o rosto para ver o seu. Sua mão agora toca minha barba, e assisto
a cena linda que é vê-la rendida a mim, com os lábios entreabertos gemendo, o olhar tomado
pelo desejo.
— Não sabe o quanto estou precisando de autocontrole para não te foder bem aqui, meu
bem... — sussurro rouco, minha voz chega a vibrar.
Ela vai ficando mais sensível à medida que intensifico o toque. Meus dedos vão ficando
encharcados.
— Bryan... Aaah...
— Goza, Ana, e lembre-se de que a próxima vez que fizer isso será no meu pau. Somente
nele!
Ela geme mais alto e engulo o seu gemido em meus lábios. Aumento a velocidade do
movimento, e suas unhas agarram minha pele, enquanto ela choraminga em meus lábios,
gozando em meus dedos. Seu corpo treme, e ela me agarra mais forte, largando meus lábios e
gemendo na minha pele.
Tiro minha mão da sua boceta, e agarro seu corpo acalmando-a. Desço seu short, e ela o
chuta com as pernas, e fica assim, agarrada a mim apenas de calcinha.
Me olha e sorrio, acariciando suas costas. Enrosca as pernas nas minhas, e aperta seus
seios em meu peito.
— Ainda está duro.
— Não me importa. Você gozou e está feliz, isso sim me importa. — Prendo uma mecha
do seu cabelo atrás da orelha.
— Para, Bryan! — resmunga e sorrio franzindo o cenho.
— Com o quê, Cosplay da Barbie?
— De ser perfeito. Eu não acredito nessas coisas. A Liz acredita, lembra? Eu tenho que te
odiar. Mas, de repente, tudo seu me deixa igual boba, eu fico cedendo a tudo, e então é o beijo,
são seus olhos, é seu cheiro...
— Como assim, meu cheiro? O que tem meu cheiro? — pergunto bem curioso e ela
parece se dar conta do que disse.
— Nada... Preciso me limpar.
Ela tenta se afastar, mas impeço.
— O que tem meu cheiro, Ana Vitória? — Ela nega, escondendo o rosto no meu pescoço.
— Não falo nem morta. Vai se achar mais que o normal.
— Você só está piorando minha curiosidade. Fala logo. — Sorrio.
Ela continua negando. Ergo seu rosto e ela me olha sem jeito.
— Está bem, mas eu juro que, se ficar se achando, eu te mato! E você sabe que sou capaz
disso. — Assinto não duvidando nem um pouco. — Descobri que seu cheiro acalma os meus
enjoos. Ok? Satisfeito?
Aperto os dentes, travando o maxilar e tentando não rir. Ela fica me encarando nervosa, e
juro que tentei ao máximo, mas não aguento. Começo a gargalhar.
— Bryan Nunes! — chama minha atenção e acerta meu peito, tentando se soltar, mas não
deixo.
— Então a nossa garotinha já é rendida pelo papai, é isso mesmo?
— Ah, vai para o inferno! Me solta e some daqui!
Continuo rindo e nego. Ela se solta e levanta emburrada, puxando a blusa dela para levar
consigo.
— Desculpa, mas saber disso é impagável. E tem dúvidas ainda de que sou o pai oficial
dessa criança? Isso é o destino, psicopata! — Ela me mostra o dedo e caminha em direção ao
banheiro, irritada. — Se quiser voltar nua de vez, não vou reclamar. Tem uma bela bunda, Ana
Vitória.
Ela me olha no momento em que toco meu pau por cima da calça. Segue o movimento.
Dou uma piscadinha para ela, que balança a cabeça e entra no banheiro.
Sorrio, e foda-se que estou duro pra caralho ainda. Saber que a criança já sabe quem é o
papai dela, me deixa feliz demais.
Balanço a cabeça, rindo igual idiota e esperando a nervosinha retornar. Não demora para
ela fazer isso, e vem para se vingar, porque está nua, e me encarando como uma diaba pirracenta.
Passa na frente da TV, deixando a luz iluminar seu corpo, enquanto sinto todos os meus pecados
serem cobrados.
Sobe na cama, engatinhando, e se deita de bruços ao meu lado. Seu corpo lindo me
provocando.
— Ana, nunca me ouve. Por que resolveu ouvir agora? Caralho! — reclamo agitado.
Ela ri baixinho.
— Desliga a TV, por favor. Boa noite, Bryan. Durma com os anjos.
— Difícil com uma diaba dormindo nua ao meu lado. Quer me matar? — Meu coração
parece que vai explodir.
Ela suspira, como se não tivesse assinado o meu óbito. Esfrego o rosto e olho para o meu
pau quase rasgando a calça e a cueca.
— Mamar não te deixa menos enjoada também?
— BRYAN! — Vira o rosto me encarando chocada e rio.
— Só para saber... Não ajuda?
— Como eu pude te deixar ser pai dessa criança?! — Se cobre irritada e me faz rir de
nervoso, porque estou excitado e com ela nua ao meu lado.
— Ela me escolheu, deveria aceitar de uma vez.
Tiro a calça jogando-a longe e me ajeito conforme puxo seu corpo para mim. Acerto sua
bunda, e a Ana geme e solta uma risadinha. Beijo seu pescoço, e ela suspira. Puxo o controle e
desligo a TV. Volto a me ajeitar agarrando-a, que se aconchega ao meu corpo.
Espera, então ela me deixou oficialmente no papel de pai? Foi isso que ela quis dizer,
não foi?!
Meu coração acelera mais uma vez, mas por outro motivo.
ANA VITÓRIA
Abro os olhos lentamente. Meu corpo está aquecido pelo outro corpo agarrado a mim. A
mão está sobre a minha barriga e seu rosto em meus cabelos. Viro-me com cuidado, ficando de
frente para ele, que continua dormindo.
O som da chuva ao lado de fora é gostoso, se mistura ao som do mar e deixa o clima
perfeito. Ele se ajeita, me puxando mais para si e isso me faz sorrir. Observo seu rosto, as
diversas sardas, pele clarinha e os pelos ruivos... Bryan é muito lindo, e me sinto uma tonta por
não ter notado isso há muito tempo. Parece até que foi desenhado, seus traços são perfeitos. O
nariz fino e delicado, as sobrancelhas perfeitas, os lábios nem se fala. Ele tem motivos para ter
um ego tão grande.
Enrosco uma perna entre as suas, e sinto seu pau duro, isso me faz rir baixinho. Não tem
jeito, mas não posso julgá-lo, dormir agarrado a uma mulher nua a noite toda, que provavelmente
ficou roçando a bunda nele mesmo que sem querer, e manter o controle, não é para os fracos.
Toco seu rosto e acaricio com cuidado. Fico pensativa. Hoje é o último dia aqui, e então
subiremos a serra e voltaremos a São Paulo, onde a vida corrida retornará, e onde terei que
resolver minha vida. Mas, no momento, o que mais me preocupa é saber se meu bebê está bem.
Não quero ficar pensando besteira, afinal, os sintomas estão aqui, me sinto bem, esses dias na
praia não tenho tido enjoos fortes. É, está tudo bem. Não vou pensar besteira, é só o medo me
assombrando.
Seus olhos se abrem lentamente, as íris douradas me encaram e um sorriso lindo surge em
seu rosto. Não deveria ser assim. Essas coisas não deveriam mexer comigo. Mas, de repente,
estou virando tudo aquilo que julguei não existir, e no final, vem o frio na barriga acompanhado
do coração acelerado para acompanhar o caos.
— Dou bom dia, ou fico preocupado de terminar como o cara do caso do podcast? —
sussurra bem rouco. Ele não me ajuda a ficar menos boba por ele.
— Por enquanto ainda te manterei vivo. — Sorrio.
Ele sobe a mão tocando meu rosto, e trazendo o seu para próximo do meu, então me
beija, e isso faz borboletas voarem dentro de mim.
— Bom dia, meu bem. — Se inclina para baixo e deposita um beijo na minha barriga. —
Bom dia, amor do papai.
São esses detalhes que me fazem derreter por ele. Sobe o rosto para mim e me beija de
novo, mas dessa vez de um jeito mais safado.
— Bry...
— Não pode me culpar... Já se viu no espelho? É gostosa pra caralho!
— Deixa de ser safado! — Dou um tapa em seu ombro e ele ri.
Um som ao lado de fora chama nossa atenção. Viramos o rosto ao mesmo tempo para a
porta. Bryan ri e balança a cabeça, seus cabelos mexem com o movimento e o cheiro perfeito se
espalha.
— Isso foi o que pensei ter ouvido? — Apoio as mãos em seus ombros, e ele se ajeita
mais sobre mim, e preciso de autocontrole para não perder o juízo e grudar nele como uma
maluca e implorar para que me faça sua.
— Foi. Sua amiga é bem escandalosa, vai por mim.
— Puta merda — gemo a contragosto. — Eu não precisava saber que a Liz geme assim!
Ele ri alto e me encara agora, enquanto a maluca fica gemendo.
— Podemos só entrar no clima deles, o que acha? — Sua voz muda, fica mais sexy ainda.
Outro gemido alto do lado de fora me faz rir baixinho.
— Estou chocada. O Rafael fode tão bem assim? Estou assustada! — Fico pensativa.
Bryan me olha irritado e dou de ombros.
— Você está com um homem duro em cima de você, sofrendo por não poder te foder,
mas, ainda assim, pronto para te fazer gozar, e fica falando que o amigo dele fode bem? Porra,
Ana Vitória! — Fica emburrado e isso me faz rir.
— Está com ciúmes, ruivo? E eu não disse que o Rafael fode bem. Questionei apenas.
Estou surpresa, só isso. Ele parece um neném assustado.
Ele se afasta, deitando-se na cama, emburradinho de um jeito fofo. Bryan Nunes é
ciumento, estou surpresa. Me ajeito, me colocando entre as suas pernas. Ele me observa, e sorrio
mordendo o cantinho da boca.
— Quer um pedido de desculpas, amorzinho? — sussurro, ignorando os sons do lado de
fora.
Ele não responde. Abaixo sua cueca o suficiente para expor seu pau, e, puta merda, que
belo pau. Apoio as mãos nas suas coxas torneadas e deslizo a língua pela base longa, grossa. Ele
ofega de um jeito perfeito. Tudo que esse cretino faz é perfeito.
— Ana! — me chama em um gemido, ao mesmo tempo contém a irritação em sua voz.
Sorrio.
— Só cuidado para não virar uma Liz... Sabe, vão saber que está gemendo no meu
quarto… — Passo novamente a língua, lambendo gostoso. E ele geme baixinho.
Seus olhos me encaram ansiosos, estão ficando escuros. Mas também estou ansiosa,
porque estou excitada, querendo um sexo de verdade, gostoso, que me deixe louca, e sei que o
ruivo deitado na minha frente pode me dar isso no momento certo. De madrugada eu já queria ter
feito isso, chupá-lo bem forte, mas me controlei ao máximo. Bem diferente de agora, que coloco
seu pau na minha boca e ele geme de um jeito mais intenso, delicioso. Aperto firme suas coxas,
enterrando as unhas em sua pele, seus músculos ficando mais rígidos.
Chupo sem cerimônia. Uma de suas mãos agarra minha nuca e meus cabelos. A outra
aperta um punhado do tecido na cama. Seus lábios estão entreabertos, e os gemidos saem. Bryan
não tem receio de gemer, e isso me deixa mais molhada ainda.
Intensifico a sucção, sem tirar os olhos dele porque isso me deixa mais excitada ainda.
Ele me encara cheio de tesão.
— Porra... Que gostoso! — Está ofegante. Solto um gemido com a boca cheia. — Ana...
Caralho! Vou gozar… — me alerta.
Puxa mais meu cabelo, e gemo mais ainda. Arrasto as unhas por suas coxas, arranhando a
pele, e ele joga a cabeça para trás, gemendo mais. A cena é a pura perfeição.
— Meu bem… Se não parar nesse momento… Oooh… Ana, que boca do inferno!
E fica mais incrível quando seu pau pulsa, ele perde o controle, e começa a gozar, me
dando tudo, que engulo sem me importar.
O aperto na minha nuca fica mais fraco, e suas pernas ficam mais relaxadas. Tiro seu pau
da minha boca, e passo a língua pelo lábio inferior. Ele ainda está semiereto, como um bom
safado que sabe ser e eu ainda quero gozar.
— Vem aqui! — Me puxa, e solto um grito pelo susto, mas rio em seguida. — Quer me
matar? Usa a porra de uma faca, não essa boca... — Me beija, enquanto desce mais sua cueca e
chuta para fora de seus pés.
Sento-me em cima do seu pau, e ele se encaixa bem no vão da minha boceta encharcada,
ainda que sem me penetrar. Ele torna a ficar bem duro, e isso me deixa desesperada querendo
mais.
Estamos nus, e nunca pensei que combinaríamos tanto assim.
Bryan afasta nossos lábios e agarra minha bunda com ambas as mãos, enquanto abocanha
um de meus seios e chupa, mamando nele como se estivesse com fome, porque ele é guloso na
maneira que faz. Apoio as mãos em seu peito duro, e começo a me esfregar em seu pau. Para a
frente e para trás. Vou até a cabeça e volto. Estou tão molhada, que desliza bem pela base longa.
Meus gemidos vão se intensificando à medida que vou perdendo o controle. Agora meu
outro seio é devorado. Eles são meu ponto fraco.
— Bryan, meu Deus... — Inclino a cabeça para o lado, meus cabelos despencam junto.
— Aaaah… Preciso gozar! Bryan! — Fico mais desesperada.
Ele larga meu seio e geme.
— Vai, lambuza meu pau... Goza, linda... Goza de novo para mim! Eu disse que isso
seria nele na próxima, faça isso. Goza gostoso! — Sua voz é de um verdadeiro cretino
galanteador, pronto para te seduzir e foder sua mente e coração sem pensar duas vezes.
Aumento o ritmo, totalmente enlouquecida. Nossos gemidos se misturam, e sem me
penetrar, ele me faz gozar de novo, tendo um orgasmo delicioso pela manhã. E o melhor, eu o
faço gozar mais uma vez, e dessa vez embaixo de mim.
Despenco trêmula sobre ele, fazendo uma enorme bagunça com nosso gozo.
— Calma... — pede, me abraçando e beijando meu pescoço.
— Preciso de banho e estou com fome. E preciso também que me foda loucamente na
próxima. Esses joguinhos estão me deixando surtada.
Ele ri, tremendo nossos corpos.
— Vamos tomar um banho, e cuidar dessa fome. E o casal do outro quarto parece ter
sossegado, teremos paz no café, se bem que nos divertimos também… E sobre te foder de
verdade, não vejo a hora de fazer isso! — Me beija, apertando o meu rosto.
— Obrigada pela compreensão com a jovem mãe tarada. — Rimos.
Ergo o rosto encarando-o e me perdendo em seus olhos.
— O que foi? — questiona.
— Não quero voltar para São Paulo. Aqui está tudo perfeito demais. Meio que estou
entendendo o mundo lindo e cheio de flores, corações, magia, amor, que a Liz diz existir, onde
tudo é leve como em uma comédia romântica. — Ele ajeita os fios do meu cabelo que estão em
meu rosto.
— Fugir dos problemas não resolve eles. Vamos voltar, ver a nossa bebê ou o nosso
bebê. Você vai contar aos seus pais, e vou estar lá em todos os momentos. Não vai passar por
isso sozinha.
Meus olhos marejam, porque agora parece que virei uma chorona também.
— Promete que vai estar lá?
— Prometo, meu bem. Quando contar a eles, estarei com você, e na consulta estarei
colado em você. Preciso tirar minhas dúvidas, já que reclama do...
— Se falar Google, te mato!
— Eu ia dizer: Aquele-que-não-pode-ser-nomeado.
Sorrio emotiva. Estou gozada e emotiva.
— Tenho uma confissão. — Me olha atento, e ainda assim isso não me impede de dizer,
não me faz fugir. — Gosto da gente, Bry... Não me peça para repetir. — Sorrio sem jeito. — Mas
isso que estamos criando, está me deixando mais leve e sendo alguém que gosto.
— Eu também gosto, acredite. — Sorri, enquanto saio de cima dele, com o coração
aquecido.
Ele fica me olhando quando fico de pé na frente da cama.
— O que houve?
— Nada... Só estou pensando o quanto vai ficar ainda mais linda barriguda, e muito mais
gostosa. Teremos um problema: o papai vai ficar mais tarado que o normal também quando as
mudanças aumentarem nesse corpo, que já me deixa louco agora.
Fico sem jeito, e jogo sua cueca na sua cara. Tento fugir, mas ele é muito mais rápido ao
se levantar e me agarra. Começo a rir, tentando me soltar, mas ele me leva assim para o banheiro,
junto dele.
— Banho e comida, senhorita. Tenho duas princesas para alimentar.
— Só vou concordar porque estou morrendo de fome. E estou ansiosa para esfregar na
sua cara que esteve o tempo todo errado sobre o sexo do bebê.
— Claro que está — diz, rindo.

Liz e eu estamos na praia, a chuva passou, está nublado, mas, ainda assim, estamos
aproveitando. Os meninos estão sentados no deck, Bryan está com uma cerveja em mãos, e o
Rafael com uma Coca-Cola. É incrível como são opostos e, ainda assim, se completam. É
literalmente como a Liz e eu.
Colocamos um biquíni e aproveitamos um pouco do mar. Agora estamos deitadas na
areia, observando o dia nublado e só curtindo o momento. Apoio a mão sobre a minha barriga e
aliso lentamente, sem conseguir resistir. Ela amanheceu ainda mais aparente hoje. Claro que
nada “oh, meu Deus, você está grávida”, mas é visível que meu corpo está mudando a cada dia
sem parar.
— O que está rolando, Ana? — Viramos o rosto uma para a outra. — Te conheço a vida
toda, sei que está acontecendo algo. Você está diferente. E, às vezes, parece que está me
escondendo alguma coisa séria. Nossas conversas parecem sempre sérias demais agora, e você
parece sempre prestes a me contar algo, mas recua.
Meu peito aperta, porque nunca escondemos nada uma da outra. Estou angustiada. Ela é a
minha melhor amiga, e tenho a evitado por medo da verdade vir à tona.
— Algum problema comigo? Tem a ver comigo estar trabalhando demais, ou estar
focada no namoro? Só me fala, por favor. Podemos resolver. E agora, de repente, está parecendo
mais próxima do Bryan do que de mim. É como se ambos estivessem me escondendo algo.
Meus olhos marejam e pisco rápido tentando conter. Me sento e ela faz o mesmo. Nossos
cabelos voam com o vento. Minha pele arrepia. Olho para o mar e sei que já fui longe demais em
esconder isso dela. São vários dias ocultando tudo e ela sempre tentando estar por perto.
Não posso. Não consigo mais.
— Você tem razão... Tem sim algo rolando. Mas não é com você, Liz.
— Então me conta. A gente dá um jeito. Precisamos matar alguém? Você matou alguém?
A gente resolve, Ana. Ainda que seja presa, vou te visitar na cadeia, e posso levar suas coisas
que tanto gosta, mesmo que eu precise levar escondido e correndo o risco de ficar presa também.
Sorrio do seu jeitinho. Como pude ter tanta sorte assim de ter uma amiga especial como a
Liz? Ela é a melhor pessoa desse mundo.
Respiro fundo, buscando forças para ser sincera, e acabar de uma vez com isso. Não tem
mais como esconder. Estou machucando alguém que não merece.
— Fiquei com um cara em Ibiza — começo.
— Certo... E o que rolou? Se apaixonou? É isso? — Seus olhos brilham e sorrio
balançando a cabeça.
— Nem sei quem ele era. É Ibiza, sabe como são as festas por lá. — Ela concorda. —
Transamos e foi uma enorme bosta. Ele não sabia usar o pau e nem a camisinha.
Lembro-me daquela noite e uma raiva me sobe. Não pela consequência dela, mas por ter
escolhido o pior cara da noite. Meu dedo está necrosado, só pode!
— Ok... Isso tem a ver com você estar estranha? É o sexo ruim? — Franze o cenho,
confusa. Eu a entendo, também estaria.
Nego lentamente, conforme meu coração acelera pelo medo de sua reação. Não acho que
ela vai me julgar, mas tenho medo de que fique chateada por eu ter escondido.
— Sexo ruim sempre me frustra. Mas não é isso... Quando voltei, comecei a ficar mal e
pensei que fosse intoxicação alimentar pelo restaurante que fomos.
— Nem me fala. Juro que comecei a pensar que tinha mesmo te levado ao caminho da
morte. — Sorrimos.
— Então... Não era intoxicação, Liz.
— Não? — questiona e nego. — Então... Ana, espera. — Seus olhos arregalam. — Estou
bem confusa... Calma, a camisinha, ele não sabia usar... Ai... Meu... Deus... — Assinto dando um
sorrisinho de lado. — Você está grávida?!
— Estou. Queria ter contado, mas estava tudo uma loucura. Minha vida virou uma
loucura. E queria ter a certeza de que o bebê está bem antes de te falar... Mas estava me matando
por dentro te esconder isso. E sei que minha distância também estava machucando você…
Droga, olha a bagunça que isso tudo virou!
— Meu Deus... Vou ser titia? Ana! — Ela se ajoelha sobre as próprias pernas, com os
olhos marejados, enquanto choro vendo sua reação ou é somente a paz por dizer a verdade,
talvez um pouco dos dois. — Amiga, deveria ter me dito. O pai já sabe?
— Não... — Prendo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Tentei buscar pistas
sobre ele, porém não consegui. Mas não é como se eu esperasse que fosse encontrá-lo e ele surtar
de felicidade. Ele estava bebendo naquela noite, talvez nem lembre que transamos, e nem devo
ter sido a única que ele levou para a cama e fez seu papelão. Por Deus, aquilo foi péssimo, estou
traumatizada e sem um sexo que preste desde então! — Penso no Bryan e prendo o sorriso sem
jeito. Não totalmente sem sexo que preste, porque o ruivo me deixa louca.
— Ana... — Ela se joga em meus braços, me abraçando apertado e me fazendo focar
novamente na conversa. — Meu Deus... Não tinha que passar por isso sozinha. Por isso está
estranha. Isso é um enorme motivo.
— Estava apavorada — sussurro em meio ao choro que agora está mais forte. — Me
perdoa por não ter dito. Meus pais também não sabem. Vou contar essa semana, após o exame.
Por isso tenho que sair logo dali. Minha vida inteira mudou após meu aniversário e eu estava
surtando. Só queria ter a cabeça no lugar ao menos um pouquinho antes de te contar e ter certeza
de que o bebê está bem. Mas estava insuportável ficar quieta.
Ela se afasta e segura minha mão. Ambas estamos chorando ao nos olhar.
— Não me peça desculpas. Olha tudo que está enfrentando sozinha. Tem noção do
quanto é uma mulher incrível? Para uma pessoa que viveu a vida toda sob a proteção e ordens
dos pais, isso tudo é sim a maior mudança da sua vida. E veja, está conseguindo, porque a Ana
que eu conhecia teria surtado e explodido em mil pedacinhos. Mas olha só, amiga, está
conseguindo ser forte, está até chorando, para isso acontecer era um milagre.
— São os hormônios... — Choro mais e ela ri em meio às lágrimas. — Eu nunca choro, e
agora isso sempre acontece. — Aponto para o meu rosto com a mão livre.
— Estou tão feliz. Não vai ficar sozinha nessa gravidez. Não mais. Prometo. Vou fazer
tudo que puder para você e essa criança. Serei a tia mais babona de todo o universo.
Enxugo o rosto e sorrio.
— Na verdade, não estive sozinha — confesso também.
— Não? Como assim? — Solta minha mão e enxuga o próprio rosto, se sentando direito
à minha frente.
— O Bryan sabe de tudo desde o início. — Ela abre a boca. — Não pira. Calma... Ele
estava comigo quando descobri. Nos encontramos na farmácia, fiz o teste na casa dele, não tive
saída. — Seus olhos arregalam. — Desde então ele tem me ajudado em muitas coisas. É
bonitinho ver o cuidado dele comigo e com o bebê que ele se apossou do lugar de pai, porque diz
que guardou meu segredo e acha que tem direitos agora. Enfim, ele tem sido uma pessoa
incrível, Liz. — Me emociono de novo. — Ele foi a pessoa que eu precisava para não surtar.
Alguém de fora de tudo e que me manteve segura, mas sem me pressionar.
— Espera... Ele já sabia, você foi na casa dele, falou que é bonitinho o cuidado dele, ele
se tornou pai da criança... Amiga, o Bryan te drogou? Pisca duas vezes se estiver precisando de
ajuda. — Começo a rir do seu surto.
— Não. É sério, Liz! Chocante, mas sério. Não posso não reconhecer o esforço dele.
Bryan está cuidando da gente. — Toco minha barriga e ela segue o movimento sorrindo. — Me
estressando muito também, mas se não fizesse isso, não seria ele. Não dá para ter tudo perfeito,
não é mesmo?
— Meu Deus. Que dimensão maluca foi essa que entrei? Bryan cuidando de você, que
está emotiva com os cuidados dele… Acho que eu estou drogada e tendo alucinações! — Ela ri.
— E provavelmente ficarei na casa dele com ele e o Rafa.
— Ok. O que fizeram com você? Ana Vitória, você está bem?!
Sorrio e assinto.
— Calma, vamos focar em uma coisa por vez. Primeiro a gravidez. Já temos sexo? Não,
né? Disse que ainda passaria com o médico para saber se estava tudo certo. Ou já tem? Merda,
não entendo nada disso. — Seus olhos brilham, ainda está emocionada.
— Não sei ainda. Mas o maluco ruivo insiste que é menina. — Dou de ombros.
— Sabe que ele tem cara de pai de menina mesmo? Ela nunca terá problemas com cabelo
e pele ruim. Bryan tem ótimos produtos e sabe cuidar bem das duas coisas. — Faz uma careta e
gargalhamos. — Meu Deus, eu sou tia! — Me agarra de novo, e caímos deitadas na areia, rindo.
— Te amo tanto, Liz. Você é minha irmãzinha, sempre! Me perdoa por não ter dito antes!
— Para com isso! E claro que sou. Sou sua irmãzinha desde o dia que grudei em você e
não te soltei. Pensando bem, o Rafael tem razão sobre eu pegar as pessoas para mim.
— Ele tem... Acredite!
Rimos mais, e se antes eu estava sufocada, agora tudo se foi. Estou leve, de verdade.
Ficamos agarradinhas por um tempinho.
— Ana, você e o Bryan estão...
— Não! — omito. Essa verdade eu preciso segurar, porque nem eu acredito ao ponto que
chegamos. Ainda acho que nessa situação ele me drogou mesmo.
— Sei...
— É sério — pigarreio.
— Não estou dizendo nada.
— Liz!
Ela ri e se senta.
— Posso contar para o Rafa sobre a gravidez? — pede com jeitinho, com seus olhinhos
que convencem as pessoas.
— Pode... Se confiei no Bryan, confio em qualquer pessoa.
— Temos um enorme ponto. Porque ele é fofoqueiro. — Ela se levanta e me ajuda. —
Bem que notei que está ficando peituda. Achei que tinha colocado silicone sem me falar. Foi
uma das hipóteses que levantei.
— Liz Santana!
— Que foi? Estava surtando achando que tínhamos nos divorciado! — ela fala, e começo
a rir.
Caminhamos até eles. Rafael fica todo vermelhinho me vendo. Meu Deus, o garoto tem
que superar a história do pau do Bryan duro, e eu estar quase nua naquele momento.
— Melhor começarmos a arrumar as coisas para retornarmos a São Paulo — Bryan fala.
— O senhor está na capa da minha lista de vinganças! — Liz ameaça a ele, antes de se
colocar entre as pernas do namorado e se sentar no colo dele, e não deixo de notar a pegada firme
na cintura dela, que ele dá.
Gente, o que a Liz fez com esse garoto? Ele era um bebê!
— O que eu fiz? — Bryan pergunta confuso, deixando a garrafinha de cerveja ao seu
lado. Sento-me na escadinha abaixo dele, e encosto no corrimão. Ele me olha e sorrio. — Ah…
Entendi tudo! — Sorri de volta. — Em minha defesa, o Rafael já sabia! — Joga a bomba para o
amigo.
— Como assim? — nós duas perguntamos em uníssono.
— Bryan, você abriu a boca? — pergunto e ele nega.
— Não! Ele descobriu sozinho — se defende.
— Descobri porque deixou a prova aberta no notebook, Bryan! Só liguei os pontos da
minha suspeita. — Rafael joga a bomba de volta para o amigo.
— E não me contou? — Liz questiona ao namorado, que fica com as bochechas coradas,
e sorri dando de ombros. — Tão certinho... Que droga! Claro que não contaria. É a pessoa mais
boca fechada desse mundo. Nergeek temos que resolver sua vida de fofoqueiro. Está na hora de
ativar ela!
Sorrimos.
— Espera… Provas? A porcaria do Google, não foi? Eu vou te matar ainda! — falo para
o ruivo, que pisca para mim tentando me tirar o foco. — Bryan, para de ficar pesquisando as
coisas ali. Aquilo não é médico!
— Relaxa. Na sua consulta vou tirar minhas dúvidas. Farei uma lista e darei paz ao
Google.
— Não vai mesmo. Está proibido de ir! — informo. — Como pode ser tão irritante?
— Ei... Eu quero ir à consulta também! — Liz diz enciumada.
— Nem fodendo. Alguém tira a mãe da rata daqui?
— Não fala assim com ela, Bryan! — Rafael chama atenção dele.
— Ela é uma gata, Bryan. Gata! Supera! — minha amiga defende a Estrela.
— Dane-se. Eu vou na consulta. Sou o pai!
— NÃO É NÃO! — Liz revida e parecem até duas crianças. Rafael segura a namorada,
que está quase virando a Estrela. — Diz a ele que tenho prioridade, Ana! Eu vou matar o Bryan!
Bryan me olha e ergue a sobrancelha esquerda, me desafiando a fazer isso.
— Desculpa, amiga. Pior que o maluco tem mesmo prioridade. — Dou de ombros.
Bryan gargalha e dá um peteleco no nariz dela. Eu não vi isso. Quantos anos eles têm?
— Chega os dois! — Rafael briga com eles, que caem na risada, nem eles mesmo se
aguentam. — Sejam adultos! Ana tem que levar quem ela quiser, e não ficar indecisa entre os
dois, que ficam pressionando. Ela está grávida, lembram?
Sussurro um “obrigada” para ele, que me olha e sorri. O único sensato aqui, além de
mim, claro.
— Um peteleco, sério? Isso foi a melhor coisa que pôde fazer? — Ana indaga rindo e o
Rafael revira os olhos para os dois. Ou seja, não escutaram nada que ele disse.
— Depende, quer outra coisa? — O tom do Bryan muda. Não penso, só acerto a perna do
cretino e o Rafael lhe dá um soco no braço! — Que foi? Eu nem falei nada. Só fiz uma pergunta.
Para que me agredirem? — se faz de santo.
— Acaba de perder sua ida à consulta, seu idiota. Vamos arrumar as coisas, Liz! —
Levanto-me e ela faz o mesmo, rindo vitoriosa. — Isso não significa que também vá, Liz! —
chamo atenção dela, que faz beicinho. Crianças!
Passo por eles.
— Ana! Ana Vitória, vem aqui agora… Ana! — Bryan fica me chamando, mas ignoro.
— Ela não é doida de me impedir de ir. Ela não é, certo? — pergunta ao amigo.
— Bem-feito. Quem manda falar merda. Eu no lugar dela não deixaria mais. Nem você e
nem a Liz. Parecem crianças!
— Que porra é essa? É meu amigo. Tem que me defender! Eu fui seu cupido e tutor da
putaria. Cadê a consideração?
Rafael ri e o ruivo fica me chamando, mas continuo o ignorando.
— Meu bem… Coisa linda… Melhor Cosplay da Barbie… Dona dos meus medos…
Calma, isso não foi bom. Anula o último! — berra e controlo o riso dentro da casa, diferente da
Liz, que gargalha.
Claro que ele ainda vai. Ele merece isso mais do que ninguém. Bryan é de fato o pai
dessa criança, já que perdi o oficial — Deus, serei uma péssima mãe! —, mas só pela
perguntinha idiota que ele fez a Liz, merece a tortura de ficar sem saber se vai.
— E não tem nada rolando mesmo? Desde quando fica enciumada pelas safadezas dele?
— Quê? Eu? Está l-louca? — me atrapalho. — Vamos arrumar logo tudo! — Aperto o
passo e ela vem rindo atrás.
Sou uma nova mulher nesse momento. Não fico com ciúmes. Nem tem porque ficar, e…
Inferno, a quem eu quero enganar? Estou morrendo de ciúmes do Bryan Nunes! Devo estar
pagando agora todos meus pecados nesses vinte e sete anos.
BRYAN
A semana começou mais tranquila. Voltei a academia com o Rafael, tive somente uma
reunião na empresa, que foi entre os chefes de cada setor e o Joaquim, e agora estou esperando o
Rafael passar na Santana Games, porque estou sem carro, e combinamos de sair, já que ele sairia
mais cedo do trabalho.
Liz já foi para casa, e parte da empresa também. O refeitório está vazio, tem apenas eu e a
maldita máquina de café. Estou na frente dela, esperando meu café ficar pronto, mas ela pifou,
como sempre.
Encaro-a impaciente. Fiquei dias longe, e a filha da mãe me recebe assim? Quando a Liz
vai comprar uma igual e substituir essa? Essa porcaria está mais remendada que o Jorginho, que,
por sinal, tenho que resolver a situação dele essa semana. O coitado não reviveu, segundo o pai
do Rafael.
Olho para os lados, e meto um tapão nela e a filha da mãe faz um enorme barulho, me
fazendo dar alguns passos para trás, com medo de que exploda. Mas então cai apenas uma gota
de café, e ela desliga.
Só pode ser brincadeira.
— Eu deveria dar um fim em você, sua infeliz! Eu só queria a porra de um café! —
resmungo com ela, como se fosse me responder.
Saio do refeitório e vou para a sala do café no meu andar, não tem jeito, vai ser o café
daquela máquina lá mesmo. Droga, esse era mais gostoso.

Vinte minutos depois, Rafael estaciona na frente da Santana Games e entro no carro às
pressas, querendo sumir daqui logo, porque estou morto de fome.
— Peguei trânsito. Não adianta surtar! — se explica.
— E depois diz que não somos marido e mulher. Fica me dando mais satisfação do que as
mulheres que passaram pela minha vida.
— Vai à merda, Bryan! — Rafael retruca me fazendo rir.
Jogo minhas coisas no banco de trás, e coloco o cinto enquanto ele volta a dirigir pela
Av. Paulista. Já está escurecendo.
— Meu pai falou com você sobre o Jorginho?
— Sim. Disse que não tem mais jeito. Que provavelmente agora ele realmente se foi. Mas
quero ver com meus olhos. Aquiles pode estar querendo me enrolar.
— Está falando do meu pai.
— E ele gosta de me enrolar! Menti? — indago e o Rafael ri. Ele ajeita os óculos em
seguida. — Primeira parada, qualquer shopping longe da Paulista. Estou cansado dessa região.
Preciso comer e fazer umas coisas. Depois tenho que comprar algumas coisas de cabelo, que,
desde que a doida apareceu, meu cronograma capilar está uma merda.
— Bryan, não sou seu chofer.
— É sim. Vamos. — Sorrio, tirando o celular do bolso e conferindo. — Acredita que a
Ana até agora não me mandou o endereço da consulta? Só sei que será amanhã. Ela está me
torturando, só pode.
— Na próxima, você aprende a controlar suas safadezas.
Reviro os olhos e envio outra mensagem a ela, pedindo pela quinta vez o endereço.
Ele pigarreia e o olho.
— Precisamos conversar sobre uma coisa. Tem que prometer não surtar.
— Não vou prometer, Rafael. O que rolou? — Meu sorriso some.
— A Estrela precisa ficar em casa com a Liz. O apartamento dela foi dedetizado e ela não
quer ficar em hotel. Pronto. Falei. De novo, não surta.
Começo a gargalhar, mas quando noto seu olhar de lado para mim, entendo que ele não
está brincando.
— Aquele demônio vai ficar em casa? Nem fodendo!
— Bryan...
— Sem discussões. Aceito qualquer coisa menos aquela gata infeliz em casa. Pode
esquecer. Liz que fique em um hotel com ela.
— A Estrela não gosta de hotéis, segundo a Liz.
— E quem disse? A gata? Me poupe. Se aquela gata aparecer em casa, Rafael, juro que
serei preso. Eu me vingo dela pelo que ela fez e sempre faz ao me ver. Ela vai estar no meu
território, e as sete vidas dela vão desaparecer!
— Bryan! — chama minha atenção. — É só essa noite! Nem vai notar ela lá.
— Estou avisando. Aquele pequeno monstro tem que ficar bem longe de casa. Lá ela não
fica, Mozão. Sinto muito!
Ele balança a cabeça e revira os olhos. Onde já se viu, cogitarem a Estrela e eu no mesmo
apartamento por uma noite? Ficaram loucos!

Jantamos, comprei umas coisas na perfumaria, e agora estamos em uma loja de artigos
para bebês. Rafael está no celular, digitando bem rápido, parece apreensivo. Deve ser coisa do
trabalho.
Paro perto de umas araras e vejo as roupinhas ali, todas brancas, pequenas, delicadas.
Mas nada chama a minha atenção.
Caminho pelas sessões e paro na parte de bichinhos de pelúcia antialérgicos, e
imediatamente o leãozinho chama a minha atenção. Pego e sorrio, então viro para o Rafael.
— A criança nem nasceu e já vai dar brinquedo? Não seria o contrário, tipo dar fraldas,
roupas, essas coisas??
— Vai por mim, com a mãe que essa criança terá, roupa não vai faltar. Ana Vitória tem
cara que é obcecada por roupas, sapatos, essas coisas. Na certa vai viciar a criança do mesmo
jeito. Já a diversão, o papai tem que oferecer.
— Papai... Um ano atrás disse que era cedo demais para ser titio, e agora virou pai! —
Guarda o celular no bolso e cruza os braços me olhando.
— O destino quis assim. Ele nos escolheu para cuidar da criança. — Fico olhando o
leãozinho, que é muito fofinho.
— Bryan, por te amar e conhecer muito bem, sei que até o destino você manipularia para
grudar em alguém que quer cuidar.
Olho para ele, incrédulo.
— Anda muito malcriado, sabia?
Ele ri e olha o bichinho que balanço na frente dele.
— É fofo.
— Ótimo. Levarei. É um jeito da Ana não me matar depois das mil perguntas que farei a
médica. Ela vai ficar feliz e vai recuar.
— Então é pela sua sobrevivência e não pela criança o presente?
— É para os dois. — Dou uma piscadinha e caminho pelo corredor com o leãozinho e as
sacolas que eu já estava.
— Ela já mandou o endereço da consulta?
— Nossa, mas como está agressivo! — comento e ele ri atrás de mim.
Passamos no caixa e saio da loja com mais uma sacola em mãos. Rafael está rindo de um
jeito debochado e fico olhando para ele sem entender.
— O que foi?
— É um enorme mão de vaca, mas gastou uma fortuna em um bicho de pelúcia, que com
certeza está esse valor só por ser loja de shopping, e pagou rindo. Ainda acha que é a Ana Vitória
que vai encher a criança de coisas? Bryan, você está nas mãos de uma criança que nem ao
mundo veio ainda!
— Claro que não! — Faço uma careta, franzindo o cenho. — Sou um homem bem
econômico ainda. E não vou encher a criança de coisas. O leão é pela minha sobrevivência
amanhã e um pequeno agrado — pigarreio.
— Aham... E eu sou idiota... Quem diria que a pessoa a te colocar juízo e te ter nas mãos
seria um bebê!
— Vai se foder, Rafael!
Ele continua rindo. Nessas horas, ele não é tímido, incrível!
— O tempo que está rindo, deveria estar comprando mais camisinha, porque o tanto que
transa com a Liz, daqui a pouco de fato serei tio!
Me dá um soco no braço, corando as bochechas imediatamente.
— Ana tem razão. Você é um idiota!
Nem ela acredita mais nisso. Sorrio e ele me empurra, me fazendo rir.
— Vamos. Preciso ir para casa e descansar.
Ele me olha e sorri, as covinhas ficam bem marcantes. Posso estar louco, mas parece até
que está aprontando. Mas devo estar mesmo louco. É o Rafael, o cara é um santo praticamente.
ANA VITÓRIA
Estou na cozinha, onde me apoio na pequena ilha que divide ela com a sala e observo a
cena à minha frente.
— Deixa eu ver se entendi. A Estrela vai ficar escondida aqui, no quarto do Rafael,
porque o Bryan não pode saber, mas ela odeia hotéis e você não teve escolhas, já que, na minha
casa, sem chances com a família Albuquerque em peso por lá. É isso mesmo?
Liz assente dando carinho para a gata em seu colo. Ela literalmente me arrastou para essa
loucura que está armando com o namorado pelas costas do Bryan.
— Amiga, não tinha escolhas. Ela fica realmente muito nervosa em hotéis. Esqueci
completamente da dedetização hoje. Saí correndo da empresa para pegar ela em casa e sair de lá.
Minha mãe e a Graça foram para um hotel, o cheiro está bem forte em casa, infelizmente. E os
outros funcionários receberam folga. Se não fosse necessário, nunca traria ela. — Faz beicinho.
— Olha, por mais que eu ame a ideia de irritar o Bryan, acho que dessa vez a Estrela
corre riscos de vida e não ele. — Apoio uma mão no rosto e fico olhando para elas. — Foi bom
te conhecer, Estrela.
— Para, Ana Vitória! — Liz pede e sorrio. — Me conforte. Por isso te trouxe. Preciso
que acalme o maluco. Está grávida, ele nunca surtaria com você. Ele ama esse bebê, ficou claro.
— Eu vim pelo entretenimento, porque estou com a coluna me matando. Poderia estar
deitadinha em casa, fingindo que minha família não existe. Viu? Vim por você, saiba que isso
vai sair caro! — Ergo a sobrancelha. — E disse bem, ele ama o bebê. Sairei ilesa, mas não vai
garantir que vocês saiam.
— Acabou de dizer que veio pelo entretenimento, é isso? Cadê a menina religiosa que
disse ser uma vez? Tenha fé de que vai dar certo. Bryan tem bom coração, nunca mataria essa
gatinha linda, peludinha e inocente.
Estrela mia como se duvidasse das palavras dela, e eu tenho que concordar com a gata.
— Liz, isso já ultrapassa o limite da fé. Bryan vai matar a gata e vocês. E eu terei que
tirar o idiota da cadeia, por peso na consciência de estar a par disso. Olha a situação difícil que
me colocou. Sempre achei que eu defenderia a Estrela no tribunal, não o contrário. — Suspiro
chateada e ela sorri.
— Eu o mato se encostar na minha filha. Olha como é um anjinho! — Aperta a pobre
gata, que sofre com a dona Felícia.
— Não mata não! — aviso. — Já perdi um pai do meu bebê, não posso perder o segundo.
Além disso, preciso do cheiro dele. Acredita que é o único cheiro que me ajuda no enjoo? Fala se
não me ferrei!
Ela choraminga e cai sentada no sofá, virando a gata para si mesma, que a encara com
preguiça.
— Estrela, precisa se comportar. Vai ficar no quarto do Rafa e muito quietinha.
Entendeu? Você ama o Rafael, lembra? O Bryan vai chegar, e você vai fingir que ele não está
aqui!
A Estrela leva uma pata à boca e lambe em puro deboche. Começo a rir e a Liz me olha
sério.
— Desculpe, mas é nítido que a gata não está nem aí para o que o fala. — Prendo o riso.
— Eles já estão vindo? Onde aquele idiota se meteu? Não deveria estar morrendo após o
trabalho? Quando falo que ele não trabalha... — Reviro os olhos e ela sorri.
— Para de ser ciumenta. Ele saiu com o Rafael e, segundo a mensagem que recebi, estão
a caminho daqui. Então me ajude a levar as coisas dela e as minhas para o quarto, por favor.
— Primeiro, não tenho ciúmes. — Faço uma careta e ela me olha com ironia. — E
segundo, a sua sorte que vim no meu carro, que, graças a Deus, o Mathias deu um jeito nele,
porque, no primeiro início da guerra, corro daqui, e te largo sozinha, só para deixar de ser tonta e
ficar falando bobagens.
Ela me mostra a língua, como a grande CEO e madura que pode ser.
Vou até a sala, pegando as coisas e indo com ela para o quarto do namorado. Ela abre a
porta e acende a luz, e não me surpreende nada ver que o quarto é a cara do Rafael, cheio de
livros, canto gamer, quadros de filmes e séries, uma TV enorme, e tudo bem-organizado. Ele
sabe que a namorada é bagunceira? Coitado.
— Tenho que deixar tudo dela arrumado, antes deles chegarem, para trancar ela aqui.
Quando estou aqui, Bryan nunca entra no quarto do Rafael sem bater. Vai dar certo.
— Queria ter essa sua confiança, sabia? — comento.
— Ana, fé. Lembra? Temos que ter fé!
Olho para a Estrela que não parece que vai dar ouvidos ao pedido da dona sobre ficar
quietinha.
Deixo as coisas perto da cama e ajudo ela a organizar tudo, enquanto a gata fica
bisbilhotando o quarto. Um barulho na porta de entrada chama a nossa atenção, e a Liz fica mais
branca que o normal.
— Que comece o show — sussurro e a Liz me olha de lado. — Quero dizer... Que
comece as orações. Sabe alguma? — Respiro cansada. Sério, que dor no corpo. Nem estou
barriguda e já estou morrendo. O que será de mim?
— Não era você a religiosa? — ironiza.
— Na guerra você lembraria de alguma? Esqueci até meu nome no momento, Liz!
— Claro, e se esquecesse, o que duvido, inventaria alguma. No desespero falo até em
mandarim, minha amiga.
Começo a rir e ela me acompanha. Olhamos para a gata que está na cama agora, afofando
o colchão e provavelmente xingando internamente por não ser os cheios de frescurinhas que a
Liz dá a ela. Mas no instante que ela ouve a voz do Bryan, ela pula da cama. Liz a pega rápido.
— Estrela! — sussurra assustada. — Quietinha. Era aqui ou hotel, lembre-se disso!
A gata branca coloca as garras para fora. Apoio a mão na barriga sobre o tecido de malha
canelada do vestido rosa-claro e justo ao meu corpo. Ao menos se eu morrer, morrerei bonita, fiz
até as unhas na hora do almoço, e hidratei o cabelo.
— E foi assim que a sua tia fez o seu segundo papai ir embora — converso com a minha
barriga, ou seja, com o bebê que vai conhecer a versão assustadora ou vergonhosa do pai.
Liz me xinga baixinho e isso me faz rir. Tenta colocar a gata no chão, mas a Estrela
ameaça correr para fora e, antes que eu feche a porta, as duas figuras masculinas param diante
dela. Me coloco na frente da minha amiga e sua gata de humor duvidoso, e forço um sorriso.
— O que faz aqui? — Bryan franze o cenho me olhando desconfiado com uma das mãos
cheias de sacolas.
— Aqui onde? — Me perco. Droga, me esqueço que seu olhar me deixa até tonta. Quem
diria! — Ah, aqui no quarto. Vim com a Liz. — Puxo o braço da minha amiga que coloca o rosto
no meu ombro, escondendo a gata atrás de mim, que se agita em seu braço. — Surpresa! Rafael,
belo quarto.
Rafael está branco atrás do Bryan. Bem-feito, aprontaram e agora vão lidar com a merda
toda, porque na hora de me mandarem para o litoral com esse puto, ninguém pensou que eu
terminaria em um fusca quebrado.
Bryan nos olha ainda mais desconfiado, e seu olhar segue para o canto do quarto e sua
expressão suave se fecha. Ele fica muito sério e muito gostoso. Preciso deixá-lo bravo às vezes.
Credo, que gostoso.
Foco, Ana. Está parecendo ele!
— Ana, sai da frente da Liz! — ordena, mas nego. Estrela passa a patinha em mim com
quem diz: “Vai, Ana, eu dou conta, deixa ele vir”. — Ana Vitória, sai da frente da Liz agora.
Não estou brincando.
Nego de novo e aperto os lábios, dando um passo para trás e minha amiga acompanha.
— Bryan, calma... Vamos lá pra sala e compro algo para comermos. Deve estar com
fome de novo. Compro o que quiser! — Rafael tenta impedir o amigo de entrar mais no quarto,
mas é em vão.
Cruzo os braços e continuo negando com a cabeça à medida que ele me olha mais sério
ainda. O ruivo dá mais um passo e para bem na minha frente, e ainda que Liz e eu sejamos altas,
ele é bem mais alto que a gente. Então ele vê o que ela esconde. Me puxa pela cintura, me
colocando ao seu lado e faço uma careta sabendo que o caos vai começar. Apoio uma mão em
seu peito, grudada a sua lateral, onde me mantém.
Que cheiro perfeito. E as veias do pescoço destacadas nas tatuagens que sobem a lateral
dele... Foco, Ana!
— Bryan... Lindão. Ruivo mais perfeito do mundo. Posso explicar. É uma história
superengraçada, juro! — Liz começa, mas a sua gata não coopera, ela tenta se jogar em cima do
Bryan, e minha amiga a segura mais firme.
Essa é minha deixa. Me afasto. Entre ele arranhado e eu, que a Estrela se divirta com ele.
— Eu disse que não queria essa capeta aqui! Ela vai querer me matar! — ele diz
entredentes.
— Teoricamente, ela sempre quer. Seja aqui, na Liz... — falo, mas ele me olha de lado e
sorrio me calando.
— Bryan é só essa noite. Ela vai ficar aqui, não vamos deixar sair — Rafael explica.
— Não. Pode tirar essa rata de bueiro daqui! — Basta ele chamar a gata de rata, que ela
pula do colo da Liz e agarra nas pernas dele. — TIRA ESSE DEMÔNIO DE MIM!
Me afasto mais. Rafael tira as sacolas da mão dele. Uma pena ela matá-lo antes de eu
sentar nele de verdade.
— Filha, de novo não. Vamos, vem com a mamãe! — Liz tenta pegar a gata, mas ela
sobe mais pela perna dele, prestes a matá-lo. Suas unhas são tão afiadas, que vão danificando o
tecido da calça.
Eu poderia rir, mas se ela estragar ele vai ser até um pecado. Ele chacoalha a perna, e a
pestinha da Estrela sobe mais. Se ela grudar no cabelo dele, já era. Esse é o fim dela e o dele,
porque vai ficar careca.
— Estrela, vem aqui agora! — Liz chama tentando pegá-la. Puxa a gata, mas ela
enroscou as unhas na roupa do Bryan.
A gata mia, parece uma maluca. Incorporou uma tigresa do nada.
— EU VOU MATAR ESSA GATA. ACREDITE. HOJE É O FIM DELA! — Bryan
tenta pegar nela, mas minha amiga consegue puxá-la rápido e protege a coitada, que vai para os
seus braços berrando.
— Bryan, vamos. Sai daqui, agora! — Rafael puxa ele.
— Não saio. Ela fodeu a minha calça. Primeiro o meu cabelo e agora a minha calça. E ela
continua me ameaçando, olha ali! Essa gata vai voar pela janela! — Ele dá um passo na direção
da Liz, que corre para o outro lado do quarto, e me puxa me usando de escudo.
— Sério? Vai usar uma grávida de escudo?
— Se a grávida for quem ele nunca mataria, sim! — Minha amiga fala desesperada.
— Sai de perto dela, Bryan! Ela se assustou apenas — o coitado do nerd continua
tentando acalmar a situação e eu só rio nesse momento.
— Dane-se! Eu avisei que mataria ela. Isso aqui vai ser a batalha final de Hogwarts. Ela
será meu porco para o abate! — Ele vem na nossa direção. Furioso. Ela realmente danificou sua
calça, mas, poxa, poderia ter sido o cabelo, ele tem que ver que ela deixou o cabelo dele intacto e
a pele também.
— Bryan! — Rafael o chama.
Empurro-o, apoiando as mãos em seu peito. E ele para.
— Calma. Pense comigo, matá-la vai te levar preso. É crime. É só uma gatinha. — Ele
continua puto.
— Na cadeia, seu cabelo vai ficar uma merda! — Liz diz e ele só fica mais puto.
— Liz, só fica quieta! — aviso e ela assente quando a olho, antes de me voltar para o
nervosinho.
— Elas têm razão. Ela nem te atacou tanto assim. Se acalma — Rafael completa.
— Vocês três são traíras! Armaram pelas minhas costas. Se essa peste sair daqui, eu vou
colocá-la no forno e não estou brincando!
— Não vai sair. Juro. — Liz aperta a gata que só falta pedir socorro, mas ainda não
escondeu as garras. Essa é guerreira, forte, destemida.
— Eu não traí. Só vim pelo entretenimento — explico.
— Poderia ter me dito! — reclama comigo. — Caralho! Por isso o Rafael estava
estranho. Não acredito que trouxeram essa peste para cá e que você não abriu a boca!
— E perder o entretenimento? — Ele me lança um olhar furioso, mas muito sexy, então
se afasta de perto de mim e pega as sacolas saindo do quarto, muito bravo.
Olho para o casal e levo as mãos à cintura, soltando o ar com força.
— Dessa vez ela escapou. Mas eu trancaria bem essa porta, porque, se eles se
encontrarem de novo nesse apartamento, teremos um enterro... ou dois!
Saio do quarto indo à procura do doido. Ele está em seu quarto, deixando as coisas sobre
a cama.
— Se acalmou? — pergunto encostando no batente da porta. — Não iria matá-la mesmo,
né?
— Vai por mim, se ela tocasse de novo no meu cabelo, ela seria morta.
Sorrio e balanço a cabeça. Cruzo os braços, então encosto a cabeça no batente.
— Eu fico mexendo, e não reclama.
— Você é diferente!
Sinto um friozinho gostoso na barriga.
— Vai sobreviver a uma noite com ela. Só não entrarem no caminho um do outro.
— Acha que confio naquela rata?
— Gata. Uma gata, Bryan.
— Rata! Aquilo está longe de ser uma gata.
Abre a camisa branca, revelando seu tanquinho perfeito. O cinto da calça é aberto em
seguida e os primeiros botões dela também. Perco mais uma vez o foco.
Ele caminha na minha direção, e sem me dar tempo de pensar, segura meu rosto com
ambas as mãos e beija meus lábios, derretendo-me de dentro para fora.
— Bry... Falei para a Liz que não está rolando nada... — sussurro e ele sorri deixando
outro beijo.
— O problema é só seu que quis dar uma de Pinóquio e mentiu.
Sorrio e ele beija mais e mais... Até um gemido meu, bem baixinho, escapar em seus
lábios. Toco seus braços, perdendo-me em seus beijos.
Se afasta o suficiente para me olhar.
— Está linda! — me elogia e isso me faz sorrir ainda mais. — Cadê o endereço da
consulta?
Pigarreio, tentando me consertar, porque perdi a postura.
— Antes de sair deixo com você. Você vai, relaxa.
— Perfeito. — Ele sorri e olha para a calça. — Eu realmente vou matar essa gata!
Reviro os olhos e rio.
— Não seja maldoso. Eu gosto daquela gata doida. Preciso ir.
Me olha de lado antes de passar uma mão pelo cabelo.
— Vou tomar um banho. Me espera antes de ir?
Concordo.

Fico na sala, observando suas coisas do Harry Potter. O casal ainda está no quarto
controlando a Estrela, porque não param de chamá-la. Sorrio do grito da Liz perdendo a
paciência e o Rafael defendendo a gata. O casal perfeito.
Pego o primeiro livro da saga do bruxo, e abro no primeiro capítulo, e leio as primeiras
linhas. Isso é tão nostálgico. Acho que começo a entender o surto do Bryan por esse universo.
Não tem nada a ver com ser uma saga muito famosa, mas sim pela nostalgia e a sensação de que
ela traz de que as coisas podem acontecer. Coisas do tipo, magia existe, só basta acreditar. É
como voltar a acreditar em Papai Noel, Fada do Dente, nessas coisas.
Fecho o livro colocando no lugar e pego o troféu. Um prêmio como melhor gerente de
marketing de São Paulo.
Passos me fazem olhar e é ele, usando um short de moletom e uma camiseta branca. Os
cabelos presos em coque do jeito despojado que ele gosta de usar, que sempre vou implicar, mas
achar sexy, ainda que nunca confesse a ele.
— Então é bom mesmo no que faz. — Coloco no lugar e ele sorri.
— No escritório coloquei os outros — se gaba.
Sorrio e me afasto, indo até onde deixei minha bolsa.
— Preciso ir, Bry. Estou realmente cansada. Hoje o dia foi longo.
Me analisa preocupado.
— Tudo bem?
— Sim. Só tive muito trabalho na Moon, com várias reuniões importantes, lidei com dois
clientes chatos, aguentei minha avó e tia infernizando a minha vida pela manhã e passei a tarde
enjoada e agora estou morrendo de dor nas costas. Pelo menos fiz as unhas e hidratei o cabelo,
foi o ponto mais relaxante do meu dia.
— Defina estar bem de verdade?
Sorrimos.
— Preciso mesmo ir. Mandei o endereço no seu WhatsApp, assim que saí do quarto. Viu?
— Eu vi, Cosplay da Barbie. Comeu? — muda de assunto.
— Sim. Eu comi. Acredite. Só estou cansada e passei muitas horas sentada em reunião.
Só preciso me deitar e descansar.
Ele se aproxima e toca meu rosto, acariciando.
— Vai descansar então. Amanhã cedo te encontro no consultório.
Assinto e deixo um beijo em sua bochecha, mas ele me rouba um beijo na boca.
— Para de ser puto.
— Para de ser linda e me deixar louco, que eu deixo de ser puto.
Meu coração dispara e tenho medo dele estar ouvindo.
— Não sabe o que está dizendo. Na hora que o bebê nascer seu encanto por mim acaba. É
tipo o Jacob com a Bella em Crepúsculo. Já viu?
— Tenho cara de quem já viu Crepúsculo?
— Você é fã de bruxinhos, que, por sinal, Robert Pattinson tem participação.
— É diferente, gata — me provoca com o apelido.
Me puxa para si, com uma pegada gostosa, e me beija com vontade. Claro que me rendo
como sempre. Ele sabe bem como conseguir isso de mim.
— Será? Pode ser exatamente como no filme, e no final sempre ter sido a criança e nada
além disso, e você me deixar de lado porque nunca foi para ser.
— Para com isso, Ana. Nunca mais diga uma merda assim. Sou um cretino sim, mas
jamais nesse nível de te largar depois, cagar para você. Eu sou louco pela criança, mas também
estou louco pela mãe dela.
— Bryan…
Toca meus lábios com o polegar.
— É sério. E vou te provar isso, meu bem.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo.
— É melhor eu ir. E mantenha a Estrela viva.
Ele deixa um beijo na minha testa e se inclina deixando outro na minha barriga, e isso
nunca vai deixar de me surpreender.
— Só ela não sair daquele quarto. — Me encara novamente e sorrio.
Pego minha bolsa, e grito me despendido da Liz e do Rafael, que respondem gritando
também.
— Espero que esteja disposta a me tirar da cadeia caso a noite termine mal!
— Jamais. Não virei advogada para tirar você da cadeia. Eu serei advogada a favor da
Estrela. Boa noite, Bry!
Ele me olha feio e isso me faz rir.
— Boa noite.
Saio do seu apartamento com uma sensação muito diferente. E é a mesma que senti
ontem quando fui para casa. É uma sensação de saudade, de despedida. É como se eu estivesse
deixando meu verdadeiro lar e indo para um que não me pertence mais e isso está começando a
me assustar.
BRYAN
Estou deitado no meu quarto, assistindo Velozes e Furiosos. Perdi as contas de quantas
vezes vi aos filmes, mas sei que não ultrapassa o número de vezes que assisti aos de Harry Potter
ou li os livros.
Me recuso a ir para a sala e dar o azar de encontrar aquele pequeno demônio. Ainda não
acredito que o Rafael conseguiu me enrolar direitinho. Sou realmente uma péssima influência
para ele.
Olho para a mensagem que chega em meu celular e sorrio. Pedi uma foto da barriga da
Ana e ela me enviou, de frente ao espelho, apenas de lingerie. Está de lado na foto, e é a coisa
mais linda. Cada dia mais fica evidente as mudanças em seu corpo. Não sou idiota, eu a via,
notava seu corpo, admirava, e por fazer isso, noto ainda mais as mudanças. Seus seios estão um
pouco maiores. Sua barriga criando forma. Está ficando ainda mais linda, isso é inegável.

Bryan: Perfeita. Seria mais perfeita ainda se tivesse ficado aqui comigo

Ela envia uma figurinha debochada e isso me faz rir.

Cosplay Barbie: Está muito obcecado por mim, não acha?

Bryan: Depende. Se com obcecado quer dizer que estou com saudade, tesão,
preocupado, querendo cuidar de você... Então sim, estou!

Ela não responde na mensagem. Pelo contrário, me liga. Deixo o celular no viva-voz,
porém baixo, e diminuo o volume da TV. A luz do quarto está apagada, o ar-condicionado
ligado. Um clima bem confortável. Então deixo o aparelho sobre minha barriga nua, já que estou
totalmente assim embaixo do edredom, como realmente amo dormir, e fico olhando o filme
passar.
— O que está fazendo? — pergunta e sorrio.
— Deitado na cama, totalmente pelado, assistindo Velozes e Furiosos.
— Não preciso saber que está pelado, seu idiota!
Rio do seu tom bravinho.
— E você, meu bem?
Ela suspira e ri baixinho.
— Fugindo da minha família. Me tranquei no quarto. Estou deitada, com um pote do
meu sorvete favorito, assistindo Gossip Girl, pela milionésima vez. Poderia jogar, ou fazer outra
coisa... Mas estou realmente cansada.
— E posso saber qual o sorvete favorito da maior patricinha de São Paulo?
— Para me julgar ainda mais? — retruca de boca cheia e sorrio.
— Talvez.
— Ben&Jerry’s de Cookie. Vai, pode me chamar de patricinha, enjoada, fresca...
— Até poderia. Mas essa marca de sorvete é realmente muito boa. Não posso te julgar,
porque me acabo neles quando vou para os Estados Unidos, porque me recuso a pagar o valor
deles aqui.
Ela ri e é divertido pensar que esse som se tornou um dos meus favoritos agora.
— Então... Vai para os seus pais esse ano?
Respiro fundo, vendo o Brian O’Conner apostar seu carro.
— Sendo bem sincero? Não sei. Não acho que seja um bom momento para ficar longe da
Santana Games. Tem muita coisa acontecendo por lá. E não quero te deixar sozinha aqui.
Ela fica em silêncio por alguns segundos, me fazendo olhar para o aparelho e ver se a
ligação caiu, mas não, só ela que ficou muda.
— Bryan, não quero que mude seus planos por mim. Sou tão grata por tudo que está
fazendo. Mas sei que todo ano vai vê-los, é o único momento que vocês têm juntos. Se precisa ir,
vai. O bebê e eu ficaremos bem.
— Mas eu não ficarei estando longe, do outro lado do mundo, e você estará aqui sozinha
no final de ano. Minhas viagens para lá levam semanas. Não quero perder esse tempo, que sei
que as coisas vão mudar ainda mais em você. — Me abro de verdade. Sou sincero com ela.
Nunca fui de filtrar as coisas que quero falar, não seria agora que começaria a fazer.
— Às vezes, penso que você não tem noção da responsabilidade que resolveu assumir,
Bry. Uma criança não é fácil, e mesmo sendo mãe de primeira viagem, sei disso. Elas choram,
dão trabalho, noite sem dormir, gastos... Ainda que eu não fique aí para sempre, sinto que está
deixando sua vida por mim e pelo bebê, e isso me preocupa.
Passo uma mão pelos cabelos e respiro fundo, olhando para o canto do quarto onde está a
sacola com o leãozinho.
— Ana, não estou parando minha vida, deixando-a de lado. Estou começando a vivê-la
de verdade. Essa criança se tornou o meu mundo, e farei parte do dela. Meu primeiro amor não
será deixado de lado por conta de fraldas sujas, choros, manhas, cólicas, gastos, remédios... Tudo
que envolver uma criança. Isso não vai me fazer amar menos o bebê. Pode ficar aqui o tempo
que precisar, e se quiser ficar morando aqui, nunca iria reclamar. Eu amo o nosso bebê, e é o
amor mais puro e sincero que já senti em quase trinta anos. Acredite em mim.
Ela funga e um sorriso cresce em meu rosto.
— E se um dia ele aparecer? — Sua boca é cheia e sua voz chorosa.
— Se ele aparecer, e quiser assumir a responsabilidade... — Meu coração acelera pelo
medo. — Daremos direito a ele, dependendo da situação, mas sempre serei o pai, e vou continuar
amando, cuidando, protegendo. Ainda que me doa saber que terei que dividir a paternidade se
isso de fato ocorrer. — Engulo em seco. — E se um dia ela ou ele quiser procurar pelo pai de
sangue, vou respeitar, chorar pra caralho, precisar de cinco anos de terapia, fazendo todos os
dias, mas vou respeitar.
Ela ri baixinho e funga novamente.
— Sou uma péssima mãe. Ela ou ele nunca vai me perdoar por não saber nada sobre o
pai e ter arrumado um maluco para assumir o lugar.
— Vou desconsiderar a parte do maluco. — Reviro os olhos. Sou bem normal, porra. —
E sobre ser péssima mãe, sabe que isso é mentira, Ana Vitória. Está pronta para perder todo esse
castelo que tem, só para viver em paz e poder dar paz ao bebê? Está disposta a enfrentar seus
pais que te prenderam e controlaram a vida toda? Sabe que isso agora não é mais só por você,
mas pelo bebê também. Está sendo uma mãe incrível, acredite em mim.
— Estou pensando no que direi amanhã a eles. Como vou contar que um cara que gozou
em um minuto, não sabia usar a camisinha, me engravidou de primeira? Bryan, estou muito
ferrada!
— Estarei com você. Vamos resolver tudo. Uma coisa de cada vez. E foda-se o que dirão,
já disse que não está sozinha. Tem a mim, sua amiga e o Rafael.
— Bry?
Sorrio do seu tom manhoso.
— Oi, meu bem.
— E se outra pessoa surgir na sua vida? Ainda terá espaço para o bebê? — Sua voz é
quase um sussurro.
Penso por alguns segundos, porque não estou acreditando no que ouço. Só pode ser
brincadeira!
— Claro que vai ter! A minha Barbiezinha sempre será minha prioridade. Ou
Leãozinho... Veremos. — Sorrio. — E sempre vai ter espaço para você na minha vida também.
— Não perguntei de mim...
— Mas sei que está enchendo sua cabeça de bobagens. Para com isso.
— Não estou não! Só pensei no bebê.
— Uhum, sei... — Ela resmunga com minhas palavras. — Ana?
— Hm? — Está com o sorvete na boca de novo, porque geme me fazendo viajar no som.
De repente, a minha dúvida aperta meu peito. Não só pelo bebê, mas por mim... Sinto
medo, ciúmes, ansiedade imediata.
— E se entrar alguém na sua vida e na do nosso bebê, ainda terei espaço no mundo de
vocês?
— Depende. Se for o Chuck Bass, sumo e você nem nos acha. — Ela ri, me provocando.
— Claro que terá. Quem eu vou implicar do coque ou ficar babando nos olhos e na voz linda
quando canta?
Então ela acha minha voz linda quando canto? Sabia!
— Não acha que ele terá ciúmes de saber que está caidinha por outro homem? —
pigarreio.
— E quem disse que estou caidinha por você? Apenas estou reconhecendo algumas das
poucas qualidades que possui. — A garota é teimosa. Não dá o braço a torcer.
— Ainda assim. Eu jamais ficaria bem sabendo que minha mulher fica admirando os
olhos e a voz de outro homem. Acha que realmente não vai me tirar da vida de vocês?
Isso se tornou um medo repentino. Uma sensação de desespero me consome aos poucos.
— Então será um problema unicamente dele, se ele pensar assim. Ele que tenha uma voz
mais bonita que a sua e um olhar mais lindo que o seu. Cada um com seus problemas.
Gargalho e ela ri também.
Olho para a TV e um frio surge na minha barriga. Meu pau reage à sua risada e à sua
sinceridade.
— E acha que um cara se manteria na sua vida, sabendo que o outro por quem fica
admirando os olhos e a voz, fica duro só de pensar em você? — Nem reconheço meu próprio
tom.
— Bryan... — sussurra.
— Ou que não vou querer dividir o que é meu com ele? — falo sem pensar, só sai.
— Por que acho que não estamos mais falando sobre paternidade?
— Estamos. Estou falando que não quero dividir minha filha ou filho com outro cara,
mas também não quero dividir você!
— Bryan, não faz isso... — pede com a voz trêmula.
— Fazer o quê? Assumir que só de pensar em você com outro fiquei puto? — Me ajeito
na cama e encosto a cabeça na cabeceira, olhando para o teto. — Ana, não consigo pensar na
porra da possibilidade de você com outro. Estou nesse momento infartando, e meu pau pode
provar, porque está duro pra caralho, querendo marcar território como um animal. Não consigo
imaginar você com outro, isso me deixa desesperado!
Ela fica em silêncio por alguns segundos. Minha vontade é de ir até ela e fazê-la entender
de uma vez por todas que estou louco por ela.
— É melhor a gente desligar, Bry... As coisas estão indo longe demais.
— Fugir não vai mudar o meu medo nesse momento. Ana... Eu não quero ter que te
dividir com outro. Entendeu? — Me sinto agitado, ofegante. — Eu te quero apenas para mim.
Sendo só minha e de mais ninguém. Imaginar você com outro, dividindo sua vida e levando o
bebê, está me matando nesse momento.
Ela ofega, e não sou diferente. Preciso dela só para mim.
— Boa noite, Bryan. Preciso desligar.
Ela desliga.
Porra. Ela desliga!
Esfrego o rosto com ambas as mãos e meu peito sobe e desce rápido demais.
Caralho.
Estou apaixonado não apenas pelo bebê, mas por ela também, e nesse momento à beira
da morte, tenho certeza disso.
Chega uma mensagem dela e pego o celular imediatamente para conferir:

Cosplay Barbie: Dorme bem... Não fugi, só precisava respirar. Te espero amanhã no
consultório. Vai ser difícil dormir mais uma noite sem meu cheirinho favorito. Precisa parar de
me deixar confusa, Bry.

Me envia uma foto sua, dando uma piscadinha, e é a perfeição pura. Claro que salvo,
assim como as da sua barriga.
Filha da mãe. Ela só pode estar tentando me enlouquecer.
Porra.
Claro que estou enlouquecendo e agora entendo tudo. Estou apaixonado em dose dupla.
Estou louco pelas duas pessoas, que se tornaram as razões da minha vida.
Fodeu tudo!
Me apaixonei pela Ana também.

Bryan: Essa conversa não acabou, Ana Vitória. Boa noite, meu bem!

Cosplay Barbie: Eu sei. Boa noite, Bry.

Bloqueio a tela do celular e respiro fundo. Não posso nem buscar água, porque tem uma
gata demoníaca aqui, logo no dia que estou prestes a morrer pela minha descoberta.
ANA VITÓRIA
Paro no último degrau da sala, vendo que não me livrarei de passar estresse antes de ir
para a consulta. Vovó, tia Carmina e meu pai estão aqui. Ele não deveria estar na Moon?
Ajeito a bolsa e respiro fundo. Não bastou colocar tudo para fora essa manhã, terei que
lidar com o que é pior que vomitar para mim.
— Bom dia! — cumprimento e continuo caminhando pela sala, torcendo para passar
despercebida, já que estão entretidos em uma conversa sobre a Espanha.
Caminho sem olhar para trás, mas, como na vida nada é como queremos, paro no meio do
caminho com a voz da vovó.
— Já vai para a Moon tão cedo? Seus pais nem saíram ainda.
Viro-me em cima da minha sandália verde-escura que combina com meu blazer e bolsa,
mantendo o equilíbrio. Olho para eles me avaliando e coloco um sorriso no rosto, que nem
mesmo o Coringa seria capaz de conseguir.
— Tenho um compromisso antes, vovó.
Ela me avalia. Elis Albuquerque parece sempre estar disposta a procurar algum problema
em mim, onde possa apontar seus dedos e dizer ao filho “eu lhe disse!”. Sua postura parece vinda
da realeza, assim como suas roupas elegantes e suas joias finas.
— E vai para a empresa do seu pai vestida assim? Não me parece roupa para uma
advogada — tia Carmina solta seu veneno.
Sinto a bile queimar e eu poderia vomitar nela, em todo seu penteado alinhado.
— Assim como, tia? — Abaixo o olhar para mim mesma, e vejo a saia branca de cintura
alta, justa ao meu corpo de um modo nada vulgar, parando no meio das minhas pernas, e tendo
apenas uma sutil fenda na lateral. Uso um cropped branco, que é conjunto dela, e revela apenas
dois dedos da minha barriga. Claro, o decote está bem nítido, mas óbvio que na empresa, para
qualquer reunião, fecharei o blazer e pronto. — Vestida como qualquer pessoa? — Encaro-a, e
seus olhos me julgam até a alma.
— Ana está bela como sempre. Deixe-a em paz, Carmina — meu pai a repreende. Meu
Deus, o que é isso? Fim do mundo e ninguém me avisou? Ele defendendo a filha dos ataques de
sua irmã jararaca?
— Por isso ela é desta maneira, Orlando! A deixa agir como uma mimada! — vovó
reclama.
Deve estar me confundindo com minha prima, que se faz de santa, e é uma chatinha, que
coitada, se não acordar para vida, vai ser mais controlada que eu.
— Bom, preciso ir! — corto o assunto.
— Temos reuniões na empresa com os funcionários, como solicitou — meu pai avisa e
assinto.
— Eu sei. Estarei lá. Tchau.
Caminho o quanto antes para fora dali, mas não sem antes ouvir minha tia dizer:
— Ana Vitória ainda será uma desonra para essa família. Deveria dar a ela limites como
faço com Juliana. Você e aquela sua mulher deixam essa garota solta demais.
Ela sabe que tenho vinte e sete anos?
Não fico para ouvir se meu pai vai dizer algo. Não vou me estressar.

Chego na clínica após meia hora. Preferi vir dirigindo, escutando música, tentando não
surtar, enquanto Mathias me acompanhava com seu carro logo atrás. Saio do carro, e caminho
pelo estacionamento subterrâneo indo em direção aos elevadores e torcendo para o Bryan já estar
aqui, porque sei que ele ainda está sem carro, mas o Rafael lhe daria uma carona antes de ir
trabalhar. Não que aquele negócio que ele chama de carro fosse me deixar mais tranquila, pois as
chances de ele não chegar triplicariam, sério, espero que o fusca tenha morrido de vez. Rafael e
Liz sempre tiveram razão, e os pais do Rafa também, aquele carro é um perigo.
Droga, minhas mãos estão suadas. Tenho pânico de médicos, essa é a verdade. Hospitais,
clínicas, nada disso me tranquiliza.
Pego o elevador e vou até o andar, soltando o ar devagar. Não vou pirar. Não mesmo.
O andar chega e saio do elevador conferindo a clínica toda branca, elegante. Essa médica
é referência. Atende nos hospitais mais importantes do estado, mas, como eu preciso manter o
máximo de sigilo da imprensa, ela aceitou me atender aqui onde sua agenda já estava
superlotada, e já que tem muitos dos recursos necessários na sua clínica muito linda, sério, é
muito linda.
Não tem pacientes. Marcamos um horário fora do início dos atendimentos. É, o dinheiro
tem uns bons privilégios sim.
Caminho pelo corredor, entrando na recepção, tem uma moça no balcão de atendimento,
focada no computador, mas também um ruivo alto, tatuado, gostoso e que quis me enlouquecer
noite passada. Está sentado no sofá.
Bryan segura um copo descartável entre os dedos, uma das pernas esticadas. Está com
uma calça preta, camisa branca, os primeiros botões abertos revelando as tatuagens, e em seus
braços também, já que as mangas estão dobradas para cima.
O relógio preto, o brinco na orelha, o cabelo solto e ajeitado ao seu modo despojado,
sexy. Caramba, estou tarando-o no meio da clínica. Ele mexe no celular, não nota minha
presença, está sério, com o cenho franzido. Ele é mais gostoso assim.
— Senhorita Ana Vitória. Bom dia! — a moça me chama e me assusto.
Bryan vira o rosto para mim, os olhos mel, agora totalmente dourados nessa luz branca,
me encaram e um sorriso cretino surge em seu rosto.
Para mim serão dourados. Mel não definiria bem esses olhos. Liz estava errada quando
disse que só era mel. É mais que isso.
— B-bom dia... — pigarreio.
— Sente-se, fique à vontade. A doutora já vai atendê-la. Aceita uma água, um chá ou um
suco?
— Não, obrigada. — Sorrio para a menina simpática.
Bryan se levanta, jogando o copo no lixo e colocando o celular no bolso e, de repente,
toda a conversa vem à minha memória e sinto um frio na barriga, mais forte do que nunca. Para à
minha frente e sei que estou olhando para ele como uma idiota, sinto isso. Mas por que ele
amanheceu ainda mais gato? Eu amanhei vomitando!
— Bom dia, meu bem! — Ergue a mão, e toca meu rosto acariciando.
Jesus. Estou falecendo.
— Bom dia. Chegou faz tempo? — Engulo em seco e ele nega.
— Tem uns dez minutos. Tudo bem? — Assinto, mas depois nego, e então assinto de
novo. — Está ou não? Fiquei confuso. — Sorri.
Para de sorrir, seu idiota. Está me deixando mais nervosa. E por que estou falando
mentalmente e não com ele?
— Preciso falar com você — pigarreio.
Ele concorda. Caminhamos para o corredor, indo para perto do elevador. Encosto na
parede, ajeito a bolsa e cruzo os braços. Ele para na minha frente, levando as mãos ao bolso da
calça.
— Está muito linda.
— Obrigada... — Sorrio. — Bryan, parou! Nada de charminho. — Ele ri, porque sabe
que é exatamente o que está fazendo.
— O que quer falar? Se está querendo saber da listinha que fiz, juro que reduzi ela ao
máximo. De cinquenta perguntas, tenho trinta.
Inclino a cabeça para o lado.
— Bryan, o que eu falei mais cedo na mensagem?
— Que sou gostoso.
— Não falei isso!
— Tudo bem. Posso tentar reduzir para vinte e nove. — Firmo o olhar e a expressão. —
Certo, vou me controlar.
Ele não vai. Não presta nem para mentir.
— Acho bom. Mas não é isso. Tem que prometer que não vai sair daquela sala nem por
um segundo! E se alguém surgir com agulha ou o que for para me picar, vai matar a pessoa.
Ele sorri de um jeito fofo.
— Meu amor, não ficou com medo quando fez o exame para confirmar a gravidez e
agora está?
— É, mas eu estava nervosa e... — paro, dando-me conta de algo. — Do que me
chamou?
— Foca, Ana. — Sorri de lado. Idiota!
Ele disse “meu amor”, não sou maluca. Deus, hoje é o meu fim. Eu sinto.
— Certo... Aquele dia eu estava em pânico, nervosa, não respondia por mim. Hoje não.
Não gosto de médicos, hospitais, clínicas. No geral, fico nervosa. Prometa que não vai sair
daquela sala!
— Não vou. Relaxa, vai dar tudo certo. Prometo que estarei grudado em você. Se me
beijar agora, relaxa mais.
— Para de ser cretino.
— Só dei uma dica. — Dá de ombros.
A doutora Adrielly me chama e isso me faz gelar por dentro.
— Temos que ir. Respira fundo. Vou estar com você o tempo todo. No final quem sabe
ganha um pirulito.
— Não sou criança, Bryan!
— Não falei qual pirulito era.
Fico boquiaberta com sua cara de pau e ele ri baixinho. Quando digo que é um puto!
Segura minha mão e caminhamos juntos para a sala da doutora que nos espera sorridente
na porta. Mas é a mão entrelaçada na minha que me agita mais que o medo de estar aqui. É a
primeira vez que ele faz isso, e não queria, mas estou amando.

Após alguns exames, e muitas perguntas, além de muita coisa sendo digitada no
computador dela, estamos sentados diante dela, que tem um sorriso lindo no rosto, olhando para
o computador.
— Pelo que vejo aqui, está tudo certo. Nada com o que se preocupar. Vamos marcar um
ultrassom para daqui uns dias, onde poderemos ver melhor tudo, e, claro, poderão ver também.
Vou pedir alguns exames para você, nada com o que se preocupar, são comuns, mas esses serão
em um hospital onde será tudo mais rápido. Para acompanharmos em detalhes essa gravidez, eles
são necessários... E claro... — Ela se vira para nós. — Vamos falar sobre essa gravidez. Seu
esposo disse que está muito enjoada. Confirma isso?
— Ele não é meu esposo. — Sorrio.
— Namorado... — ela tenta e nego.
— Somos amigos — falo.
— Sou o pai do bebê — ele revida, emburrado.
— Mas não temos nada! — afirmo.
A médica fica olhando de um para o outro e depois ri. Bryan bufa, e problema dele, é a
verdade; e, ainda assim, se ele olhar para outra, mato-o.
— Perdão. Certo, o papai disse que você anda tendo muitos enjoos. Isso é normal. Muitas
pessoas tendem a querer classificar todas as gravidezes como iguais, mas não são. Tenho
pacientes que nunca tiveram enjoos, outras que tiveram até o final da gravidez. Cada gravidez é
única. Seus enjoos têm algo específico que os traz ou acontece em determinados períodos do seu
dia a dia?
Penso um pouco para responder certinho.
— Depende. Às vezes, quando fico muito nervosa, eles aparecem mais fortes. Mas há
cheiros e comida que acabam comigo, e normalmente de manhã eles surgem mais. — Faço uma
careta e ela sorri.
— Sua gravidez, pelo que notei dos exames iniciais e pelos relatos que foram dando, está
bem movimentada. Passarei um remédio para enjoo, mas não recomendo que o tome com muita
frequência. Meu conselho é que tente manter comida dentro dessa barriguinha, isso pode ajudar
um pouquinho.
— Ela vai comer, nem que eu tenha que colocar na boca dela. Acredite, doutora!
Chuto o pé do idiota. A doutora fica sorrindo, encantada pelo tagarela que não calou a
porcaria da boca desde que chegamos.
— E as recomendações importantes? — ele pergunta. Reviro os olhos. Quem está
grávida mesmo? Eu ou ele?
— Claro. Vão receber uma pastinha cheia de informações. Mas vamos lá, está no início
da gravidez, esse período é importante para mantermos o bebê e você bem. Evitar estresse... —
Olho para o Bryan quando ela diz isso, e ele não me olha, mas sente meu olhar porque sorri.
Olha aí, doutora, o motivo do meu estresse. — Comer bem. Nada de alimentos crus, ou
semelhantes, é o meu conselho, ainda que alguns colegas deixem a partir de um tempo, eu
simplesmente não recomendo. Cabelo, vejo que é loira e não é natural, com todo respeito, apenas
sou muito atenta as minhas pacientes, nada de retocar até nossas futuras consultas onde poderei
orientar sobre isso. — Sorrio quase chorando. Minha linda raiz. — Durma bem, não se esforce
demais, nada de carregar pesos ou sair pulando de paraquedas. Sim, já tive perguntas assim
passando nessa sala e agora gosto de usá-las, porque nunca se sabe quando vai surgir ideias
malucas.
Rimos e ela sorri.
— E quando poderemos ver o bebê? Ouvir ele? Saber que está tudo realmente correto?
Só vou ter paz o suficiente depois disso — falo e Bryan apoia a mão na minha perna e acaricia.
— Prometo que logo. Antes do período certo, não ajudaria, só lhe deixaria ansiosa,
porque não veríamos nada. Mas nas próximas semanas será possível. Porém, não se preocupe,
Ana, está tudo bem. Seus seios estão inchados e, às vezes, doloridos como disse, notou o pé da
barriga mais elevado, os enjoos, fizemos uns exames, o bebê está aí, e deixando você
maluquinha já, como você mesma disse quando a examinava. Disse que tem uma saúde boa, todo
ano faz exames, ainda que tenha medo de hospitais como o papai informou. Está tudo certo agora
e vamos garantir que continue.
Sorrio emotiva.
— E doutora... — Bryan pigarreia e algo me diz que o que ele vai falar, vai me fazer
querer morrer. — Relações sexuais... Ela está liberada?
Ele não fez isso. Bryan Nunes realmente perguntou isso?
Sei que meu rosto deve estar vermelho mais do que o do Rafael. A doutora ri.
— Claro. Está tudo ok lá dentro... — Eles estão falando da minha vagina como se eu não
estivesse aqui. — Ana está bem, confiem em mim. Vamos conferir mais nos exames que vou
solicitar, mas tudo bem com relações sexuais. E Ana, está tudo bem ele perguntar, é mais comum
do que imagina. As pessoas acham que vai machucar o bebê, ou algo assim... Nada disso. Se
estiver tudo certo na gravidez, não tem problema ter relações, desde que não inventem nada
radical, do tipo perigoso, claro.
Bryan aperta minha perna e eu poderia matá-lo.
— Então ela e o bebê realmente estão bem, né? — Sua voz agora é suave, nada cretina e
isso me ajuda a voltar ao normal.
Olho para ele e vejo a ruguinha de preocupação na sua testa, e começo a entender o
porquê de tantas perguntas desde que chegamos. Bryan não é só exagerado, ele realmente está
muito preocupado. Somos mesmo muito importantes para ele e isso me faz querer chorar.
— Está. — Ela nos olha com carinho. — Ela está bem. Nada anormal. Alguns exames
infelizmente teremos que esperar uns dias, mas nada errado até aqui. Não precisam se preocupar.
Podem me ligar para tirar qualquer dúvida sempre, me procurar. Eu vou estar com vocês nessa
gravidez, e vamos trazer esse bebê ao mundo cheio de saúde. Sigam sempre as minhas
orientações e dos meus colegas de profissão, é o que peço, e na dúvida me procure.
Assentimos, e o Bryan suspira aliviado e eu também. O bebê e eu estamos bem. Tem
exames, ultrassom, muita coisa ainda por vir, mas estar aqui, mesmo que com medo, está me
deixando em paz, porque agora estou cuidando dele e de mim, para poder terminar tudo bem.
Estar acompanhada por uma médica referência na área, me deixa em paz também.
— E quando poderemos saber o sexo? — pergunta animado e acabo sorrindo.
— Vai depender do método. O que muitos recorrem principalmente para o famoso chá-
revelação, é o de sexagem fetal, que é a partir da oitava semana. — Franzimos o cenho. Isso de
semanas ainda é confuso e ela nota. — Vão se acostumar com essa questão da semana. Vai ser
ali por volta dos dois meses. Ana está com um mês por assim dizer.
Sorrio. Um mês de puro surto com o meu presentinho de aniversário.
— Faremos esse e sem chá-revelação. Me recuso. Sofro de ansiedade.
— Quero chá-revelação! — provoco, porque nunca aguentaria esse mistério.
— Nem por cima do meu cadáver. E se eu morro sem saber o sexo do bebê? Nem pensar!
Esquece isso. Meu cabelo pode cair de nervoso. Não inventa me matar de ansiedade!
Rio baixinho. Como é dramático.
— Vocês têm certeza de que não são um casal? — ela pergunta sorrindo.
— Tenho!
— Não a escute. Ana Vitória não sabe o que diz, doutora! — ele rebate.
Balanço a cabeça. Coitada, deve estar achando que somos loucos. Ele é, eu não.

Estamos na minha sala na Moon, depois da consulta, e respiro mais aliviada, mesmo
sabendo que agora, com essa pasta cheia de coisas, tenho que falar com meus pais, que, por sinal,
ainda não chegaram, mas já devem estar a caminho.
Bryan está sentado na minha cadeira, com as pernas na minha mesa, enquanto a Maria
Júlia passa minha agenda. Ele lança piscadinhas para ela, que fica toda sem jeito. Babaca.
— Obrigada, Ju. Pode ir.
— Com licença.
Ela se retira toda sem jeito. Assim que fecha a porta, encaro o ruivo.
— Pare de tarar as funcionárias da Moon! Idiota!
— Não fiz nada, meu docinho de limão. Você que mandou eu vir. — Sorri e pisca para
mim.
E os apelidos só pioram.
— Sim. Irei falar com os meus pais mais tarde. Prometeu que estaria comigo. Fique com
o meu carro e me pegue aqui depois do trabalho. Vou te avisar.
— Vai deixar o Porsche comigo? — Se senta direito, parecendo uma criança ganhando
doces.
— Não se anima, não! — Caminho para perto dele e sento-me na beirada da mesa,
ficando entre suas pernas. — Está sem carro. Sei que não vai pegar o que está com o Rafael.
Trabalho perto, e tenho o Mathias se precisar. E como aqui fica mais perto de casa, faz mais
sentido você vir da Santana para cá e me pegar.
— Por mim tudo bem.
— Com isso não retruca, né?!
Ele sorri e se levanta. Me senta direito na mesa, e assim se encaixa entre as minhas
pernas. Suas mãos apertam minha cintura por baixo do blazer e minha saia sobe mais.
— Vocês estão bem. Tem noção do quanto desejei ouvir isso hoje? — fala baixinho e
sorrio.
— Eu também desejei. Tem muita coisa ainda para acontecer... Mas estamos bem sim. A
doutora foi clara nisso.
Ele concorda.
— E fui claro também de que aquela conversa não terminou.
— Bry...
— Nada de Bry. Pare de fugir, Ana. Eu vejo como me olha, como fica na minha
presença. Sente que tudo mudou, assim como eu sinto. — Leva uma mão ao meu rosto e
acaricia, inclino um pouco do rosto na direção do seu toque. — Assumir de uma vez isso vai
tornar tudo tão mais fácil.
— Não sei como — sussurro, presa ao seu olhar.
— Vai parar de fugir, e de achar que isso é um crime, erro, sei lá o que essa cabecinha
inventa. Vai deixar de dizer para a sua amiga ou as pessoas que não temos nada. A porcaria da
imprensa vai parar de ser um peso se algo entre nós vazar, e o principal: não vai fugir toda vez
que eu tentar dizer que estou apaixonado por você.
Prendo o ar por um instante. Meus lábios entreabrem em seguida e meu coração fica mais
acelerado.
Apaixonado por mim.
Não só pelo nosso bebê.
Por mim...
Meus olhos marejam e ele aproxima os lábios dos meus, roçando e fazendo-me perder de
vez a razão.
Bryan está apaixonado por mim. Ele está!
— Eu estou apaixonado por você, meu bem. Louco de desejo. Perdendo o controle. Indo
à loucura. Tudo junto e misturado.
— Não diz isso... Não fale coisas que depois podem me machucar. — Minha voz é
chorosa.
— Não vou te machucar, Ana. Não sou sua família que nunca lhe deu o valor e o amor
que merecia. Desculpa, meu amor, mas essa é a verdade. Se fecha para as pessoas com medo de
sermos eles, mas não somos. Ana, eu amo essa criança, mas também quero a mãe dela para mim.
— Bryan... — Agarro seu pescoço e o beijo entre as lágrimas que escorrem pelo meu
rosto.
Ele não está errado. Me fecho por esse medo. Fujo do mundo de flores e dias
ensolarados, por medo. Porque cresci em um lar onde nada disso importava. Minha família não é
de demonstrar carinho, minha mãe até tenta, mas sinto que ela é tão fechada quanto eu. Me
fechei porque não sei fazer isso, e tinha medo de passar vergonha. Me abri para a Liz, só para
ela, mas não chega perto do que o Bryan está fazendo comigo.
— Fica comigo... — sussurra ofegante em meus lábios. Abro os olhos lentamente e o
encaro. — Seja minha. Nos dê essa chance, Ana. Me deixe te provar que a vida pode ser mais
divertida, leve, e com menos dramas.
Mordo o lábio inferior e acaricio seu pescoço.
— E se eu me machucar?
— Te deixo quebrar o meu pau.
— Eu gosto dele. Não quero quebrar.
Ele ri.
— Te deixo raspar meu cabelo e destruir minhas coisas do Harry Potter.
— Me deixaria fazer isso mesmo? — pergunto ainda mais emotiva, porque isso deixa
claro que é realmente tudo real o que diz.
— Sim. Se eu te machucar, te fizer sofrer, tem todo direito de fazer isso e muito mais. Eu
prometo que não impedirei.
— Por que tinha que ser logo você minha comédia romântica? — questiono lembrando
da conversa que tive com a Liz um tempo atrás, onde ela falava sobre isso e que eu tinha medo
do Bryan ser parte da comédia romântica que eu não acredito... não acreditava.
— Quê? — Ele fica confuso.
— Nada.... — Sorrio. Empurro-o e desço da mesa, ainda perdida com tudo. Ele se senta
novamente na minha cadeira. — Mais tarde, eu prometo te dar uma resposta. Preciso pensar,
colocar a cabeça no lugar. A manhã foi cheia. Mas é sério, prometo te responder com calma,
como merece de verdade.
— No seu tempo, meu bem. — Sorri.
Enxugo o rosto com cuidado e inclino sobre a mesa ligando o computador. Viro-me para
ele, que me olha como um tarado que sabe ser. Pego a chave do carro sobre a mesa e jogo para
ele.
— Cuide bem do meu carro. Te ligo, ok?
Guarda a chave no bolso.
— Sim, senhorita. E mais uma coisa... — Estende as pernas, e sua expressão fica bem
sexy. — A médica disse que tudo bem transarmos.
— Eu ouvi. — Sinto um arrepio. — Mas foque que temos que falar com meus pais,
pensar no que dizer para amenizar a confusão — Ele analisa meu corpo. — Está me ouvindo?
— Uhum... Estou pensando.
Não está nada. Está pensando em sexo e, pior, já conheço bem suas expressões e
olhares.
— Bryan, tenho muita coisa. Temos que ver o que irei levar ou não. Você não faz ideia
do meu closet.
— Ana, precisa relaxar. Está tensa ainda. Conheço uma forma para te ajudar. — Sorri.
— Por que você não está prestando atenção em mim, seu puto?! — reclamo.
— Estou, mas também estou me lembrando de que a grama foi aparada hoje cedo.
Não acredito que ele está dizendo isso.
— Bryan!
— O quê? Aparei a grama, hidratei o cabelo e no almoço tenho barba para fazer. — Sorri
todo safado. Balanço a cabeça negativamente. — Estarei ainda mais gostoso para você.
— Sério que está falando do seu pau como um campo, um bosque, ou sei lá o quê?
— Nada disso! — ele ri. — Um parque de diversão com graminhas verdes reluzentes. Se
bem que tem as bolas... Poderia ser um campo. Um campo do caralho por sinal.
— Meu Deus! — Me afasto e ele gargalha. Prendo o riso. — Bryan, o foco não é esse.
— Esse também é o foco. Ana, estou com um tesão infernal. Eu preciso te foder, ok?
Meu pau pode cair a qualquer momento. O Mister Ruivinho está morrendo!
Suas palavras me acertam em cheio e sinto uma pontada bem na boceta. Merda.
— O Mister quem? — Foco em outra coisa. — Pelo amor de Deus! Deu o nome para o
seu pau de Mister Ruivinho?
— Ué, combinava. Era esse ou Potterzinho.
— Só pode ser brincadeira! Para de ser tarado e de dar nome para o seu pau. Isso é
ridículo — rio.
— Fala para o meu pau que está duro só de ver você. — Ele passa a mão por cima da
calça, que marca o volume. Isso me faz salivar.
Se levanta e vem na minha direção, me puxando para si. Apoio as mãos em seus ombros.
— Se controla. Depois resolverei isso também, ok? — sussurro.
Agarra minha bunda e me beija bruto, sem controle, e, merda, eu me entrego,
esquecendo-me. Sua língua fode minha boca. Ele não brincou, está excitado e fazendo o mesmo
comigo.
— Você vai hoje para a minha casa. — Sua voz toca meu ouvido e me traz arrepios — E
juro por tudo que existir nesse mundo, não vai sair de lá sem antes eu enterrar meu pau em você,
fui claro? Vai gozar com ele dentro de você, bem fundo... — Puxa minha nuca para trás e gemo
em resposta.
— Foi bem c-claro.
Beijo-o de novo, e ele geme na minha boca, enquanto esmaga minha bunda em uma de
suas mãos. Meus dedos entram nos cabelos em sua nuca e puxo. Sua mão sobe para as minhas
costas, me apertando ainda mais para si.
— MAS QUE MERDA É ESSA? — Nos separamos no susto. A porta está escancarada e
meus pais me olhando.
Bryan pigarreia e eu apenas solto um pouco do ar. Olho para a mesa e meu mundo para.
A pasta dos exames ao lado da minha bolsa está bem em destaque. E quando eles entram na
sala, e meu pai fecha a porta com tudo, sei que não tenho mais para onde correr.
BRYAN
Eu nunca perdi uma ereção tão rápido como agora. Meu pau só falta se esconder, quando
o Senhor e a Senhora Albuquerque entram na sala da filha.
Existe uma razão pela qual Ana Vitória estava receosa em contar aos pais sobre a
gravidez e acabo de entender tudo com apenas o olhar severo que o homem me lança e, em
seguida, o coloca sobre a filha.
— Que palhaçada é essa na empresa? É para isso que veio correndo? Esse era seu
compromisso? — questiona, mas parece mais que ele afirma sua teoria.
— O quê? Não! Acabei de chegar.
Eles se aproximam mais e Ana se fecha mais ainda. Observo atentamente o cenário que
parece ter se tornado bem frio.
— Bom dia — é o que digo. Não tem muito o que dizer.
Eles me olham e apenas Marisa acena sutilmente, para ao lado da mesa da filha e só então
lembro-me de olhar para o que está bem ali.
— Esse é Bryan Nunes, um amigo. Esses são meus pais, Orlando e Marisa — faz as
apresentações, mas não é como se não nos conhecêssemos. Ele me ignorou por completo no
evento dos carros, assim como em todos os outros que nos esbarramos.
— Sei quem é esse aí. Um dos funcionários da empresa da Liz. O cara que ninguém nem
sabe quem é quando sai na mídia com vocês.
Ok. Isso nunca me doeu, mas, porra, o homem sabe ser frio para machucar.
— Pai! — ela chama sua atenção e ele ignora.
Sua mãe olha para a mesa e seus olhos pousam na pasta, e meu sangue gela. O clima não
está bom para isso ser tratado agora. Respiro fundo, sem tirar os olhos dela.
— Não me respondeu. Vamos. Acha que aqui é um lugar para ficar com casinhos? Ana
Vitória, esse é o tipo de comportamento de uma advogada e herdeira disso tudo?! — ele lança as
palavras cruéis sobre a filha, mas não consigo olhá-los, não quando sua mãe entreabre os lábios e
arregala os olhos.
— Não acredito que estamos tendo esse tipo de conversa. Acha mesmo que eu sou esse
tipo de pessoa? Estávamos nos beijando. Apenas isso, pai. Não tinha ninguém nu aqui! A sala
estava fechada. Não tem quase ninguém ainda na empresa. Não exagere, meu Deus! — Ana
retruca e quero concordar com ela, mas fecho os olhos por alguns segundos, quando sua mãe
balança a cabeça negativamente e toca a pasta.
— Você está grávida, Ana? — A mãe dela pega a pasta. Seus dedos estão trêmulos, isso é
muito nítido.
Marisa folheia as páginas ao abrir com rapidez. Balanço a cabeça em negação. Isso não
vai ser nada bom.
— Como assim, grávida? — Orlando olha para a esposa e depois para a filha, sua
expressão não suaviza. Ela piora. Ela piora muito. O homem começa a ficar vermelho e sua
respiração a se agitar mais.
Olho para a Ana Vitória e sua respiração está agitada. Fico atento. Ela não pode passar
nervoso. Caralho!
— Está. Ana está grávida de um mês… — sua mãe diz chorosa, em um fio de voz, tendo
certeza ao ler tudo ali.
Seu pai continua olhando-a e a minha menina cruza os braços, parece uma autodefesa,
como se tentasse se acalmar. Quero puxá-la para mim, mas no momento preciso ter calma. Ser
impulsivo vai foder tudo.
— Estou… — Ana sussurra, com a voz fraca. — Estou grávida.
Não era assim que ela queria contar.
— Minha filha está grávida?! Não! Isso só pode ser uma piada de péssimo gosto! — Ele
esfrega o rosto com ambas as mãos. Sua mãe olha a filha, em choque.
— E não nos contou? Ana, somos seus pais, querida. Por que não nos disse? Olha o tanto
de tempo.
— Eu ia contar hoje, mãe. Não era para saberem desta maneira. E demorei um tempo
para descobrir a gravidez.
Sua mãe deixa a pasta no lugar.
— E era para sabermos como?! — Orlando grita e aperto os dentes, travando o maxilar.
Tento controlar o nervoso crescendo dentro de mim pela maneira como ele fala com a filha. —
Me fala?! Abre essa boca e fale, porra! Quando iria nos contar que está grávida, Ana Vitória?!
— NÃO SEI, TÁ LEGAL? NÃO SEI! — ela grita mais alto ainda, berrando. Descruza os
braços e fico mais alerta.
— Grávida… Sua avó e sua tia tinham razão! Eu te mimei demais… Minha filha grávida,
embaixo do meu nariz e me enganando! Isso só pode ser um infernal pesadelo!
— Não enganei, pai! E elas têm razão de quê? De que sou a desonra da família? Me fala?
As palavras delas valem mais do que a minha para você? — Ela chora e isso me destrói por
dentro.
Ninguém deveria fazer minha garota chorar.
— Quem é o pai? — exige saber, ignorando a filha. Os sentimentos dela ficam agitados.
Ele só ignora.
— Um cara de Ibiza. Transei, deu merda. Satisfeito? — confessa friamente. Ela nem
pensa alguns segundos. É rápida. Isso mostra que está no estopim de tudo.
— Quem é esse rapaz? — Marisa pergunta, deixando a pasta sobre a mesa e encarando a
filha com um pouco mais de carinho que o Orlando.
— Não sei… Eu não sei… — Ana chora angustiada. — Não tenho informações sobre
ele. Tentei ter, eu juro. Mas não consegui. Era um estranho. Engravidei dele e não tive mais
contato.
— E ainda acha que sua avó e tia estão erradas? Grávida há um mês, hoje já se agarrando
a outro cara qualquer? — O pai dela insiste em me atacar, e isso a deixa mais nervosa, e me
deixa mais puto, porque está deixando-a assim. — Como vai ser isso quando vazar na imprensa?
Como vai ser quando disserem que uma Albuquerque está grávida e nem sabe quem é a porcaria
do pai?
— Para você só importa isso? A porcaria da imprensa? Estou falando que estou grávida, e
só isso importa?!
— NÃO! ME IMPORTA TAMBÉM O FATO DE QUE MINHA FILHA ESTÁ
GRÁVIDA DE UM CARA QUALQUER. QUE ELA VAI SER RETALHADA NA
IMPRENSA E LEVAR A FAMÍLIA JUNTO. ME IMPORTA O FATO DE TER ESCONDIDO
ESSA BOMBA! — ele grita e a Ana sobressalta.
Chega! Me aproximo dela, tocando suas costas.
— Parem de pressionar ela! — Minha voz é firme. Séria. Estou nervoso e tento me
controlar diante da situação. — A filha de vocês está grávida, e olhem o estado que estão
deixando-a! Sério que vão lidar com a situação desse jeito?
— Bry... — Ana tenta me parar, mas não paro.
— Eu vou assumir essa criança. Essa é a preocupação de vocês? Essa criança tem sim um
pai. Eu sou o pai. Satisfeitos? Isso é o suficiente para terem mais carinho em tratar dessa situação
quando ela não pode passar nervoso? Ou isso é difícil para a família perfeita dos tabloides de São
Paulo?!
— Você não se meta! — Orlando dá um passo na minha direção e empurro a Ana para
trás, que segura a minha mão, tentando me tirar dali, mas não recuo. Ele quer ser um grosso?
Seja comigo, não com ela! — Quer assumir o quê? Acha mesmo que a imprensa vai comprar a
ideia de que o zé-ninguém que eles citam, e que quando sai nas notícias é com outras mulheres, é
realmente o pai dessa criança? Se enxerga, moleque! — Me olha com raiva e não me importo.
Me chame de tudo, menos de moleque!
— O zé-ninguém aqui acolhe sua filha. Protege ela e a criança. Tem tentado a todo custo
acalmar ela do pânico que sente de vocês. Tem tentado fazê-la entender que ter amor e oferecer
ele, não é crime. Foda-se o que a imprensa vai pensar. Eu vou assumir essa criança! — digo
nervoso. Minha vontade é de socar a cara desse idiota. — O moleque aqui tem uma carreira do
caralho na área que atua. Tem excelentes pais que são advogados fodas, trabalhando em uma
puta multinacional. Posso não ter heranças europeias e o caralho que for, mas a única coisa que
nos diferencia é que meu caráter e minha imagem não estão à venda a qualquer custo. Eu jamais
priorizaria a mídia ao invés da minha família!
— Eu mandei você não se intrometer!
Ele fica ainda mais perto.
— Pai, chega! — Ana entra na minha frente, ficando entre nós. — Por favor, chega.
Seu pai a olha, ainda muito enfurecido, mas recua. Ao menos isso ele respeita, um pedido
dela. Passo uma mão pelo cabelo e, juro, que se ele falar mais uma merda para tentar machucá-la,
eu vou enfiar minha razão no rabo.
Sua esposa toca seu braço e ele respira fundo.
— Filha, isso é loucura. Como pôde manter tudo em segredo? Como vai ser daqui para a
frente? Sua avó e tia, o que dirão? — Marisa pergunta em meio às lágrimas. — Olhe a situação
em que se colocou, querida.
— E ela pensa nisso? Eu tinha um futuro para você, menina! A porra de um futuro que
não pensou em destruir aprontando essa merda. — O pai dela joga as palavras e, quando passo
por ela para ir na direção dele, Ana me segura e ela quem vai até ele.
— Que futuro, Sr. Albuquerque? Onde eu me casaria sem amor, seria a esposa perfeita,
teria diversos filhos para herdar tudo do meu marido milionário, serviria para ele exibir aos
amigos dele… Levaria a vida da mamãe? — Sua voz agora tem amargura. Sua mãe a olha
incrédula. — Isso não é vida, pelo menos não para mim. Engravidei sim, ocultei… Mas quer
saber? Toda essa bagunça na minha vida não é bem uma bagunça. — Ela sorri em meio à
tristeza. — É o destino colocando tudo no lugar. Cansei de ser a filha perfeita de vocês. Querem
pegar tudo que é meu? Peguem. Tirem tudo. Cansei! Isso não é para mim. Nunca foi.
Orlando ri com ironia, mas é nítido o nervosismo tomando conta dele.
— Não sobrevive um dia longe de tudo que tem. Se acha madura, mas não é. Ou nunca se
envolveria com esse cara e arrumaria filho de um estranho!
— Chega de falar assim com ela, caralho! — grito nervoso e ele me olha com mais raiva
ainda e isso não me importa.
— Orlando! — Marisa chama sua atenção. — Pelo amor de Deus!
— O Bryan tem feito mais por mim do que vocês em vinte e sete anos — Ana solta as
primeiras palavras e isso me atinge, me acalmando. — Sou sim grata por tudo que me deram,
mas nada disso é mais importante do que amor, cuidado, coisas que não existem no mundo
bilionário de vocês. Liz, Rafael, todos eles me dão aquilo que vocês acham que uma Prada ou
uma joia europeia pode substituir. Eu quero uma vida de verdade, com sentimentos reais.
Pessoas reais. Isso nenhum Albuquerque é capaz de oferecer.
Os olhos do pai dela marejam e o meu também, só que o meu é de orgulho da minha
Cosplay da Barbie.
E Ana não para. Continua:
— Vou para aquela casa pegar minhas coisas essa semana e sair dali. Vou honrar meu
contrato aqui, porque amo esse lugar e meu trabalho. Só peço que mantenham o Mathias, não
precisa ser comigo, mas mantenham na equipe de vocês. Nossa relação, a partir de agora, não
envolve mais eu dar satisfação a vocês. Acabou! Eu preciso de paz. O neto ou neta de vocês,
precisa de um lar de verdade para crescer e não viver fechado em uma bolha como eu, controlado
por vocês. Peguem tudo que quiserem pegar nesse momento, não me importo. Peguem o carro,
as joias, tudo. Agora eu sei que essas merdas não têm valor para mim, porque o meu bem mais
precioso está dentro de mim, e vou fazer de tudo para ser diferente com essa criança. Para que
ela sinta amor de verdade, coisa que achei que sabia o que era. Não odeio vocês, mas, nesse
momento, precisamos impor limites. Sou adulta, cresci. Chega de agirem como se ainda tivessem
voz sobre mim!
Sorrio ainda mais orgulhoso. Ela tem mais do que eles podem oferecer, pode apostar.
— Vai para onde filha? Ana… — Marisa chora. — Orlando, faça algo! Fale algo! —
grita. — É sua única filha! É impossível que tenha se tornado tão frio assim com o passar dos
anos. Ela é a Ana, a sua garotinha, lembra?!
Ele balança a cabeça e as lágrimas escorrem. Ana segue chorando, e eu só quero tirá-la
daqui, abraçar e cuidar longe desse mundo estranho dela.
— O Mathias vai ficar com você, o carro também, e vou bancar eles, por sua segurança!
Não sou esse monstro que pensa. Se quer sair daquela casa, saia. Leve tudo ou deixe, você
escolhe. Mas vai manter o segurança e o carro blindado. Aceitando ou não, é minha filha e faz
parte dessa família, e sempre estará na mídia, cheia de olhos em você, e sua segurança sempre
será uma das minhas prioridades. Só saiba que não terá volta. Se sair daquela casa, não permitirei
que volte, então é melhor pensar bem no que fará.
Não consigo acreditar no quanto ele pode ser duro, orgulhoso com a própria filha.
— Precisam parar com isso. São pai e filha! Tem uma criança no meio disso agora! —
Marisa fala e me aproximo da filha dela, passando o braço ao seu redor. Seu corpo está tremendo
e isso me deixa irritado, porque estão fazendo isso com ela e sei que é hora de dar um basta.
— Ela vai ficar comigo. Não se preocupem. Ela não vai precisar voltar. Darei a ela e ao
bebê tudo que precisarem. Só espero que o senhor um dia reconheça tudo que está perdendo. Sua
filha é incrível. A pessoa mais maluca, linda, inteligente, amorosa que conheço, ainda que ela
tente ser durona. Ana é perfeita do jeito imperfeito dela. E essa criança tem sorte de ter ela como
mãe.
Ele não responde. Apenas olha uma última vez para ela, antes de sair da sala, socando a
porta. Marisa se aproxima da filha e deixa um beijo em sua testa. Ana soluça baixinho.
— Pensa bem, lá vocês vão ter tudo, filha. Ele só está nervoso. Te ama. Mas,
infelizmente, esse é o jeito dele. Foi assim sempre — Marisa tenta amenizar a situação.
— Não terei tudo e sabe disso. Se acostumou a viver essa vida. Mas eu não aguento mais.
Não se preocupe. Vou ficar bem. Bryan é a melhor pessoa desse mundo, e terei o Rafael e a Liz.
Essa é a minha nova vida, mãe. Espero que um dia ele entenda que nunca quis nada disso, ainda
que tenha aceitado e amado ter muitas dessas coisas que o dinheiro pode comprar. Eu só queria
meu pai, não o empresário e herdeiro da fortuna Albuquerque.
Me afasto para que ela possa abraçar a filha.
— E o bebê, vai impedi-lo de estar conosco? — Sua mãe soluça.
— Não sei, mãe. No momento só preciso de paz e recomeçar.
Elas se afastam e sua mãe me olha.
— Cuida dela. Ana é durona, mas só é uma menina ainda. Por favor, só cuida dela! —
Não me julga, e é nítido o motivo: é o desespero de uma mãe.
Assinto, ainda que saiba que Ana é mais forte do que ela pensa. Olha para a filha mais
uma vez e se afasta chorando. Sai da sala, nos deixando a sós.
Ana se vira para mim e se joga nos meus braços.
— Me tira daqui, Bry, por favor… Me tira agora daqui! — implora.
— Vamos, meu bem. Vamos sair daqui. Respira, vai ficar tudo bem, prometo. Não pode
ficar nesse estado.
Pego suas coisas, agarrado a sua mão agora, ela não me solta e não quero que faça isso.

Depois de tanto chorar, dorme em meus braços, no sofá da sala. Está deitada em cima de
mim praticamente.
Seu rosto está vermelho assim como seu nariz. Seus olhos estão fechados, mas ainda
assim é notável o inchaço. Beijo o topo da sua cabeça e respiro profundamente.
O que foi tudo aquilo? Como Orlando pode ser tão cego? Estava nítido nos olhos
marejados dele que ama a filha. Mas o orgulho e a importância do sobrenome da família
pareceram o suficiente para dar as costas. E a Marisa está presa no mundo dele e ainda que ame a
filha, ama também a vida que tem.
Afago seu cabelo e acaricio suas costas.
A porta se abre e Liz entra desesperada. Eu liguei para ela. Ana vai precisar da amiga ao
acordar. Ela nos vê e caminha até a poltrona, deixando sua bolsa. Então se aproxima, abaixando
ao nosso lado, e acariciando o braço da amiga.
— Como ela está? — sussurra.
— Péssima. Dormiu agora há pouco. Chorou muito. Teve enjoo… Ela ficou bem mal.
Mas finalmente dormiu, graças a Deus. Só não quer sair de perto de mim, e queria ver você.
Os olhos da Liz se enchem de lágrimas e elas escorrem.
— Como o Orlando pode ser tão cego, egoísta, frio! Ele a ama, eu sei disso. Ana só quer
carinho, ainda que não diga as palavras. Eu devia ter estado mais presente, cuidado mais dela.
Poderia ter resolvido isso…
— Ei, nada de se culpar. Liz, você tem uma empresa para liderar. Sua vida está corrida.
Sua amiga entende isso. Nesse momento precisamos cuidar dela e não de mais pessoas sofrendo.
Ela concorda.
— Vou pegar as coisas que vai precisar hoje. Trabalhe de casa esses dias, vamos precisar
ficar em cima dela, ter certeza de que estará bem.
Assinto e respiro fundo. Liz se senta no chão e deita a cabeça nas costas da Ana, mas com
o rosto virado para mim.
— Liz, pare de se culpar! — ordeno, porque sim, ela tem que parar com isso.
Ela morde o cantinho da boca. Dou carinho a ela também, afagando seu cabelo como
faço com o de Ana.
— E o bebê?
Sorrio todo bobo.
— A médica disse que está bem. Em breve vamos saber mais coisas. Mas está bem, os
dois. A melhor notícia do dia.
Ela sorri aliviada e solta uma lufada de ar.
— Cuida dela, Bryan. Não deixe mais ninguém deixar ela assim, e, por favor, não faça
ela sofrer, ou juro que deixo a Estrela acabar com a sua vida, Bryan. Não estou brincando!
— Vou cuidar dela e do bebê. Eu prometo. E mantenha essa gata longe!
Ela ri baixinho e funga ao se levantar.
— Vou pegar as coisas que ela pode precisar para ficar aqui hoje. Daqui a pouco, eu
retorno.
— Ok.
Ela pega a bolsa e sai do apartamento.
Olho para a Ana e deixo um beijo na sua testa. Nunca mais ninguém vai deixá-la assim.
Pode ser quem for, ninguém vai machucar minha mulher. Ninguém!
ANA VITÓRIA
Acordo sentindo um carinho no rosto e vozes ao fundo acompanhadas de risos. Olho para
a figura ao meu lado. Bryan está sentado na cama, e nem sei em que momento vim para cá. Com
certeza, ele que me trouxe.
— Dorminhoca, precisa de um banho e comer algo. Liz e o Rafa compraram várias coisas
e estamos esperando você para escolher o que vamos assistir.
Esfrego o rosto, e tenho certeza de que minha maquiagem já era, devo estar o caos.
Automaticamente meu cérebro me leva a manhã que tinha tudo para ser perfeita e virou um
completo desastre. Mas agora não quero ter que pensar nisso. Bryan tem razão: preciso de banho
e comida.
— Não tenho coisas aqui.
Ele sorri e aponta para um canto do seu quarto. Vejo uma mala branca que lembra muito
com uma das que possuo.
— Liz foi até a sua casa buscar o básico.
Sorrio e me sento na cama, e no momento, não me importa se meu cabelo está uma
merda, se meu rosto está borrado, porque só de estar aqui, longe daquela cobertura, me faz
respirar melhor.
Olho para o Bryan e meu sorriso fica tímido.
— Obrigada por hoje. Sinto muito pelas coisas que ele disse e a forma como te tratou...
— Ei, não vamos falar disso. Amanhã ou depois conversamos, mas saiba que nada disso
me importa. O que me importa é que você e o bebê estejam bem. Por isso, banho e depois
comida.
Assinto. Ele se levanta, estendendo a mão para mim e seguro. Ele me ajuda a sair da
cama e me leva para o seu banheiro.
— Tem toalhas limpas, e pode usar o que precisar.
Vejo seus produtos e sorrio.
— Até os de cabelo e skincare?
Ele ri e me abraça por trás, beijando meu pescoço.
— Pode usar. Só não conta para a Liz, ela é bem ciumenta. Vai me infernizar eternamente
que deixo você usar e reclamo quando ela usa escondido.
— Agora terei que contar — brinco e ele ri nos virando para o espelho. — Jesus! Estou
péssima demais.
— Está linda.
— Para de ser mentiroso. Bryan, pareço uma boneca atropelada.
Ele gargalha.
— Ok, está péssima. Mas nada que um banho não resolva.
Me solta e passo o dedo abaixo do olho todo preto pelo rímel. Eu não estava me
importando até ver que estou um monstro.
— Vou te esperar na sala, tudo bem?
— Não! — Me viro para ele. — Não. Por favor, fique comigo — peço envergonhada por
não querer ficar nem um minuto sozinha hoje.
— Tudo bem, mas não me responsabilizo por ficar excitado — me provoca e sei que é
para me distrair.
— Se conseguir ficar excitado por mim nesse estado, vou acreditar de verdade que está
apaixonado por mim. Não dizem que o amor é cego?
Ele ri e revira os olhos, fechando a porta atrás de si e cruzando os braços enquanto fica
encostado na pia.
Ele está sem camisa, mas ainda usa a calça de mais cedo.
Tiro minha saia primeiro, revelando minha calcinha da mesma cor que ela. Em seguida é
a vez do cropped, estou sem sutiã, mas sem me importar que ele me veja assim. Olho para ele
que me analisa, sério, mas seus olhos estão escurecendo pelo desejo e isso me faz rir.
Retiro a calcinha em seguida e ele engole em seco.
— Já está duro, né? Meu Deus, como pode ser tão tarado?
— Ou seja, agora acredita que sou apaixonado por você? — me lembra do que falei e
meu coração acelera.
Entro no boxe, totalmente sem jeito, porque ele tem esse dom de me deixar assim. Ligo o
chuveiro e o jato de água vem, primeiro morno, até estar um pouco mais quente.
Me coloco embaixo da água, molhando meus cabelos e limpando o que sobrou da
maquiagem. Abro os olhos que havia fechado para tirar o rímel, e vejo o ruivo parado na porta
do boxe me observando.
Sinto um frio forte na barriga e o coração agitar bastante.
— Se importa se eu me juntar a você? — pergunta em um tom rouco. Nego lentamente,
porque não me importo nem um pouquinho.
Ele retira a calça, junto da cueca, e puta merda, está muito duro, muito grande, muito
gostoso.
Estou virando uma tarada pior que ele!
Entra no boxe comigo e, diferente de mim, fecha o vidro. Para à minha frente, bem
próximo, seu pau roça minha barriga e me faz prender o ar. Seus dedos tocam meu rosto
molhado e vacilo uma das pernas, e isso me faz apoiar as mãos em seu peito, e grudar mais
nossos corpos.
— Bryan... — sussurro ansiosa.
— O que foi, meu bem? — questiona passando o polegar pelo meu lábio inferior.
— Quero v-você, aqui... agora — peço, e ele sorri.
— Sabe o que está me pedindo, certo? — Concordo. — Não tenho camisinha aqui,
apenas no quarto, amor.
— Estou limpa. Você também deve estar e não é como se eu já não tivesse meu útero
ocupado.
Ele sorri e balança a cabeça.
— Sim, estou limpo. E você está tentando acabar com minha sanidade.
— Nunca teve uma. Me beija logo!
Ele ri da minha ansiedade e, quando penso em retrucar, me agarra, atacando minha boca,
molhando-se todo. O beijo é urgente, e me faz esquecer de tudo. Aqui agora somos só nós dois e
ninguém mais.
Empurra meu corpo para a parede e o azulejo gelado me arrepia. Minhas mãos vão para o
seu cabelo molhado e meus dedos penetram os fios, puxando-os enquanto ele me devora
desesperadamente.
Uma de suas mãos desce diretamente para o meio das minhas pernas e toca minha boceta
que está molhada, e não pela água do chuveiro, mas por ele. Ele me toca e começo a gemer em
sua boca. Seus dedos massageiam meu clitóris e isso está me deixando maluca.
— Bryan, eu preciso urgente de você, depois pode fazer todas as etapas... — imploro em
seus lábios e ele sorri.
— E o puto sou apenas eu?
— Claro que...
Não termino de falar. Ele me ergue em um impulso, me fazendo rir, mas logo meu riso é
tomado por sua boca novamente. Minhas pernas estão enroscadas ao seu redor, e minhas mãos se
divertem em seu cabelo. O beijo é uma delícia, assim como seu pau pressionando minha boceta
agora.
— Bryan... — chamo ofegante.
— Vou te dar o que quer... Calma.
Sua voz é ainda mais sexy. Uma de suas mãos guia seu pau na minha entrada, e só esse
sutil movimento me faz gemer baixinho. Ele sorri bem safado. E quem diria que ele conseguiria
ficar mais gostoso ainda. Bryan molhado e com tesão é uma obra-prima.
Ele entra dentro de mim e um grito escapa da minha boca. Puxo seus cabelos, e ele geme
alto.
— Caralho, como é apertada! — Sua voz é acompanhada de mais um gemido.
Seu pau é grande, grosso na medida certa, e uma delícia. E quando ele começa a se mexer
dentro de mim, é tudo que pedi e um pouco mais. Sua boca devora meu seio, e minha cabeça
inclina para o lado, totalmente pesada. Os gemidos ficam mais altos que a água que escorre em
nós.
Ele mete em um gostoso vai e vem, é forte. Aperto mais as pernas ao seu redor quando
ele larga meu seio, e nossos olhos se encontram. Sua testa se aproxima da minha. Eu sinto o
hálito quente de sua boca a centímetros da minha.
— Como é gostosa!
Aperto-o e ele geme mais ainda. Meus gemidos estão manhosos. Minhas unhas descem
pelos seus ombros, arranhando sua pele. Aperta minha bunda com ambas as mãos e sei que
ficarão vermelhas, porque ele faz isso forte.
— Aaaah... Meu Deus... Bryan! — chamo-o sentindo que logo irei perder o controle.
— Goza, linda. Goza no meu pau! — Suas palavras me atingem mais do que o esperado.
— Se antes... eu já dizia que era minha, agora afirmo. Você é minha e de mais ninguém,
entendeu? — Ele é possessivo e gosto de ver esse seu lado.
— Coloca uma coleira logo! — provoco e ele mete mais forte. — Aaaah! Filho da mãe!
— Não me provoque que faço isso mesmo. — Aperto-o de novo. — Isso... Me aperta
mais... Porraaaaa!
Levo o rosto ao seu pescoço, onde gemo entre os gritos quando um orgasmo me atinge
forte. Espremo-o dentro de mim, e ele geme ainda mais alto e forte, me chamando, então sinto-o
gozar dentro de mim, enchendo-me até não ter mais o que colocar para fora.
Beijo seu pescoço, sua pele se arrepia em meus lábios. Nossas respirações estão agitadas,
mas nunca me senti tão satisfeita por estar ofegante.
Viro o rosto para ele, que me beija, enquanto sai de dentro de mim e me coloca no chão,
mantendo-me firme em seus braços. Seu pau está semiereto, e claro que estaria, o tesão está
acumulado aqui e não sou diferente.
— Precisamos terminar esse banho, antes que os dois invadam aqui pensando que
morremos. — Acaricia meu rosto e assinto chateada por querer mais. Ele sorri. — Desfaz essa
carinha emburrada. Mais tarde vai montar em mim e devorar meu pau com essa bocetinha
deliciosa mais uma vez.
Cacete, por que ele sendo um puto é ainda mais perfeito?
— Pode apostar que vou mesmo.
Ele ri e me beija.

Saímos do banho após ele lavar meu cabelo e me ensaboar, repleto de carinho, sem
parecer que horas antes tinha me feito gozar e falado safadezas.
Com a toalha na cabeça, olho as coisas que a Liz trouxe e pego um short preto curtinho e
bem justo ao meu corpo, e um cropped branco. Já estou de calcinha, então só visto eles e passo
meus produtos e perfume. Liz é perfeita, sabe exatamente tudo que uso e trouxe certinho minhas
coisas.
Bryan colocou um short preto da mesma cor da cueca em que está. Mas não deixei de
notar algo: em seu guarda-roupa quando ele abriu, a maioria das suas coisas são pretas. Parece
que gosta mesmo dessa cor.
Tiro a toalha do cabelo e seco ele com cuidado. O ruivo se aproxima do enorme espelho
alto que fica perto do banheiro e o puxa. Franzo o cenho, achando que o homem endoidou de
vez, mas, na verdade, meus olhos brilham. O espelho é uma porta, e atrás tem um closet cheio de
caixas, malas e bagunça.
— Você tem tipo um portal mágico, é isso? — Me aproximo, agarrada a toalha e ele ri.
— Esse quarto era dos meus pais, e ele e minha mãe viviam brigando por espaço. Como
esse era o maior quarto, em uma reforma fizeram esse closet, porque aqui era apenas um espaço
para fazer um escritório ou o que a pessoa quisesse.
— Genial a ideia de esconder atrás do espelho. Jamais imaginaria. E por que não usa?
— Eu uso para guardar essas coisas. Prefiro minhas coisas no guarda-roupa que é enorme
também. Pela pura preguiça de sempre ter que vir aqui e pegar algo, quando já está aqui perto.
Sorrio.
— Tem mais portais mágicos?
— Bem que eu queria, faria uma sala comunal da Grifinória! — Suspira e algo me diz
que não está brincando. Reviro os olhos. — Pode ficar com ele para as suas coisas.
— Mas não disse que tem o escritório? Bryan, não quero atrapalhar você...
Ele leva as mãos ao bolso do short de moletom, enquanto encosta na parede ao lado da
entrada do closet e me encara com ironia.
— Acha mesmo que vai ficar dormindo lá? Vai ficar aqui, comigo. Agora como vai fazer
para colocar seu shopping pessoal aqui, é um problema que eu não vou lidar.
— Não tenho um shopping pessoal! Sou bem controlada com essas coisas! — Cruzo os
braços, ainda agarrada a toalha e ele ri. — Está bem, talvez eu tenha umas coisinhas em
excesso... — Continua me olhando e rindo. — Certo. Tenho muita coisa mesmo. Mas estou
decidida a doar muita coisa e vender outras. Não preciso de tudo aquilo, tem coisas com etiqueta,
outras na caixa ou sacola ainda. Acho que em algum momento me tornei meio compulsiva. Era
minha distração para fugir de casa.
— Vai ficar aqui, é sério.
— Não acha que está bem possessivo? Como advogada, e observando essa situação e
colocando meu lado sensato para falar mais alto, deveria pedir medida protetiva? — brinco e ele
sorri.
— Quem vai ter que pedir será eu, se virar uma tarada de alto nível. Está lá nos papéis
que a médica deu. Li tudo enquanto dormia. Pode sentir mais desejos sexuais ou reduzir. Tendo
em vista que está emburrada porque queria continuar transando...
— Seu idiota! — Jogo a toalha nele, que segura rapidamente, rindo. — E o escritório?
Vai continuar escritório?
— Não. Lá será do bebê. Tem a melhor vista para a cidade, sabia?
Meus olhos automaticamente marejam. Me aproximo dele, me pendurando em seu
pescoço e deixando um beijo em seus lábios.
— Você é maravilhoso. Não é toda pessoa que aceitaria entrar na vida de outro nessa
bagunça.
— Não precisa chorar, meu bem.
— Não estou chorando. — Pisco rapidamente e ele sorri.
— Vou cuidar de você, senhorita “não estou chorando”.
Sorrio e ele deixa um beijo na minha testa.
— Obrigada. Obrigada por tudo, Bry.
Abraço-o e ele retribui me abraçando apertado.
— Vamos, precisa secar esse cabelo, não quero ninguém doente. E tem que comer algo.
— Odeio secar cabelo. Está calor. Não vou ficar doente.
— Não falei que você secaria. Vem.
Nos afasta e segura minha mão, me levando ao banheiro novamente, onde deixa a toalha
também.
— Vai secar para mim? — pergunto surpresa. — Não deveria me ajudar a não ser mais
dependente das pessoas e diminuir meu lado mimada?
— Quieta. Minha função não é melhorar, é estragar você de vez.
Começo a rir sem acreditar nisso.

Ele secou meu cabelo, escovou, e passou até produtinhos. De onde esse homem saiu?
Saímos do quarto para nos juntarmos aos outros dois. E assim que vejo a Liz, me jogo em
cima dela no sofá.
— Ana Vitória! — Bryan me repreende pelo que fiz. — Ela quer me matar! — fala
nervoso e os outros dois riem.
— Bryan, calma. Estou viva e o bebê também. Deixa de ser um velho rabugento. — Olho
para o Rafa. — E, Rafael, vai para o seu amigo, que eu preciso da minha amiga.
Ele ergue as mãos se levantando do sofá e se juntando ao amigo.
— Vamos ajeitar as coisas e deixar as duas.
— Claro. Se ela me garantir que vai parar de se jogar assim! — Bryan continua nervoso.
— Porra, olha o relógio apitando. Está alertando meu início de infarto! — Aponta para o relógio
que nem está apitando. Ele só faz drama.
Jogo um beijinho para ele, enquanto me ajeito nos braços da Liz, que me agarra rindo.
Ele bufa e o Rafael o puxa para a cozinha enquanto rio baixinho.
— Ana, nada de matar o Bryan. Ele me irrita, mas me diverte e a Santana precisa dele!
— sussurra.
— Jamais faria isso. Longe de mim.
Ela me olha desconfiada e rio baixinho.
— Quer conversa sobre hoje?
Nego lentamente.
— Tudo menos isso. Só quero esquecer. Nesse momento preciso que seja minha amiga
que vai falar que tudo vai ficar bem. Que as coisas vão se ajeitar. Que sou linda, maravilhosa e
gostosa. E que se foda os Albuquerque, que posso ser foda sem eles. — Ela sorri me olhando nos
olhos. — Mas o principal... — sussurro agora enquanto olho para a cozinha e vejo o ruivo
provocando o Rafael com algo que o deixa bem vermelhinho, não dá para ouvir, mas sei que é
besteira. — Que ter me apaixonado pelo Bryan não é uma furada.
— Ah-rá! Eu sabia! — sussurra animada. — Você é foda. Vai dar tudo certo. Não precisa
deles para viver. E sim, é uma furada estar apaixonada por ele, mas a melhor furada que o
destino poderia colocar na sua vida. Porque ele é um cara incrível, Ana.
Sorrio e resmungo:
— Eu sei e me sinto uma burra por só notar agora.
Ela me deita no sofá, ainda agarrada a mim, e começamos a rir.
— Ana Vitória Albuquerque está apaixonada. Isso que eu chamo de um evento épico!
— Tonta!
Empurro-o e ela ri, deitando a cabeça em meus seios. Ficamos olhando para os dois na
cozinha, que estão em alguma conversa sobre a Fórmula 1.
Não tem como não me apaixonar. Ele esteve comigo quando ninguém mais estava. Cuida
de mim e do bebê. Me protege, me acolhe, me dá amor e carinho, coisas que há muito tempo
achei que não seriam para mim. Bryan é um homem tão completo que parece até ser mentira, que
uma hora vou acordar e descobrir que foi tudo um sonho. O modo como ele me protegeu hoje,
enfrentou Orlando Albuquerque sem temer as consequências, me fez entender que ele é a pessoa
certa na minha vida complicada.
Demorei muito para notar que estava apaixonada, os sinais estavam aqui, e até o bebê
parece sentir, e nem está grande ainda, mas os enjoos melhoraram. Me sinto segura, animada,
amada só quando estou com o ruivo que é meu estresse, mas também minha calmaria.
Agora entendo o frio na barriga, as batidas aceleradas em meu coração, os ciúmes, a
necessidade de estar perto. Estou apaixonada, e me sinto feliz por estar. Não estou apavorada
como imaginei que um dia ficaria se isso acontecesse.
— Consegui entrada VIP para a próxima corrida no Brasil — Liz comenta me tirando dos
pensamentos. Olho para ela. — Vamos levar esse bebê para começar desde já a aprender o que o
tio dele ou dela gosta, e como comprar o tio fácil.
Gargalho e eles nos olham me fazendo prender o riso.
— É assim que o compra? — sussurro. — Que feio. Manipulando um jovem tão fofo,
dona Liz!
Ela sorri.
— É assim que vou contar a ele que bati o carro... de novo, mas dessa vez saindo de casa,
e hoje bati no portão da garagem. Não foi forte, nem ativou o airbag, foi mais um encostar, mas
ferrou a pintura, porque ao invés da ré, continuei seguindo o carro torto, estava em pânico. Ele
vai me proibir de dirigir, e todos vão apoiá-lo. Até você que eu sei. Estou ferrada!
— Amiga, esquece o volante, pelo amor de Deus!
Rimos, e ela resmunga baixinho:
— O pior é que o Vitor estava atrás e viu. Aquele fofoqueiro vai contar ao Rafael, tenho
certeza!
— Liz, se chegou ao ponto do seu segurança ser fofoqueiro assim, é porque a situação
está grave.
— De que lado está? Deveria ser a minha advogada.
— Sou advogada do caos. Onde o caos estiver, defenderei.
— ANA VITÓRIA!
Gargalho de novo e, mais uma vez, os curiosos nos olham. Principalmente o ruivo
fofoqueiro, louco para saber do que se trata.
Sinto muito, lindo. Papo de amigas!
Ele me dá uma piscadinha, e isso me faz suspirar, querendo agarrá-lo e beijar, mas me
controlo porque acho que estou viciada nele, mas só um pouco, claro.
BRYAN
Fico observando-a enquanto ajudo o Rafael a preparar as coisas para comermos. Ana
reclama do perfume da Liz, que está trazendo enjoos a ela, e isso me faz sorrir, porque a Liz fica
brava, achando que o bebê vai odiá-la.
— Está apaixonado por ela — Rafael afirma sussurrando ao meu lado, ajeitando as coisas
no prato.
Olho para ele e sorrio.
— Estou. Não tenho motivos para mentir. Estou louco por ela, Mozão!
Ele sorri e balança a cabeça.
— E ela está por você. Pode estar interagindo com a Liz, mas os olhos dela estão em você
sempre que pode. O jeito que ela dormia em você quando cheguei, antes de levá-la para o seu
quarto. Depois o tempo que ficaram trancados lá... — Ele cora.
— Deu para ouvir, não deu? Claro que deu. Está igual um tomate!
— A porta do quarto estava um p-pouco aberta, não é como se fosse abafar os sons do
banheiro por completo.
Começo a rir.
— Agora sabe como me sinto quando a escandalosa aí está no seu quarto!
— Ah, cale a b-boca. — Fica mais vermelho ainda.
— Elas nos enlouquecem. Está tudo bem. Já aceitei que meu pau só a quer, não tenho
como negar. — Dou de ombros.
— Meu Deus! Como esse assunto chegou no seu p-pau? Nojento!
Ele se afasta levando o prato para a mesa. Entrego o que eu preparava, e ele coloca nela
também, organizando tudo.
— Já sabe como vai contar aos seus pais a novidade? Sábado temos almoço nos meus. É
melhor já contar a verdade a eles, antes que descubram pela mídia, e falar de uma vez aos seus.
— Vou falar com ela. Tudo vai depender unicamente dela. Ana Vitória tem que decidir
como quer levar essa gravidez, e só vou respeitar. Ela tem passado por muita coisa, então, se ela
não quiser contar a eles e aos meus pais agora, tudo bem.
Ele concorda.
— Então, já escolheram o filme, série, ou o que for? — Se vira para elas ao perguntar.
— Podíamos jogar algo? O que acham? — Liz pergunta. — Fugir da rotina de filmes.
— Eu topo! — Ana fala. Claro que topa, uma psicopata por jogos.
Rafael me olha e dou de ombros.
— Por mim tudo bem.
— Então vamos jogar. Só que nada de cartas, porque o Bryan rouba!
— Rafael, vai à merda. Eu não roubo!
Ele ri. Poxa, eu só torno o jogo mais interessante.
— UNO. O Rafael tem! — Liz diz.
— Nem pensar. Isso vai acabar com a nossa relação — deixo claro minha opinião. Esse
jogo nunca termina bem.
— É cartas. Ele rouba! — Rafael insiste.
— Eu aceito jogar UNO. Vamos ver se o Bryan rouba mesmo — Ana Vitória provoca. E,
pela cara da psicopata, ela sabe bem no que está se metendo.
Liz sorri animada.
— Posso pegar, Ursinho? — pede toda manhosa ao namorado. Engraçado que na hora de
me passar ordens na Santana incorpora o capeta.
Rafael assente com um gesto rápido de cabeça, e ela se levanta.
— Mano, isso me lembrou algo. — Sorrimos. É bem estranho quando começa a vir gírias
paulistas do nada nas falas dela. — Na época do ensino médio, tinha alguma aluna que tacava o
terror com isso de UNO na escola. Lembro que era sempre uma baderna. Mas nunca soube quem
era. Mas a menina era o demônio, porque uma turma ficou devendo grana para ela. Apostavam
com dinheiro! Deu o maior B.O., mas abafaram o caso, claro. Um colégio caríssimo não poderia
se sujar assim! — Liz conta e vejo a Ana Vitória agarrando uma almofada e escondendo o riso.
Não acredito nisso... Minha garotinha vai precisar ficar longe da mãe!
— Não estudaram juntas? Vai que era a Cosplay da Barbie — provoco e a loira me fuzila
com o olhar.
— A Ana? Não! Tá maluco?! Nessa época, a única coisa que tinha reclamações da nossa
parte era que conversávamos demais e por isso mudaram a gente de sala. Jogaram ela no prédio
B e eu no D. Ana Vitória era a maior patricinha da escola — Liz conta rindo, e então vai para o
quarto do namorado.
Vou para a sala, e a Ana vem até a mesa. Rafael vai buscar as bebidas, enquanto puxo
uma cadeira para ela.
— Eu aposto a cabeça do meu pau que essa garota do UNO era você.
— Cale a boca! — ela ri baixinho. — Não toca mais no assunto. Deixa-a achar que ainda
sou uma patricinha linda.
— É patricinha e muito linda, mas um demônio quando o assunto é jogos. Minha filha vai
ficar longe dos seus ensinamentos, acredite!
Ela aperta minha cintura me fazendo rir.
— Não toca mais no assunto, já disse!
— E o que eu ganho em troca?
Me olha boquiaberta.
— A chance de não amanhecer com o cabelo raspado e todos os seus produtos no lixo!
— Ok. Me convenceu. Mas era você, certo?
Me dá um sorrisinho maquiavélico.
— Meus pais foram na escola e abafaram o caso. Não me deixaram jogar mais nada até
eu ser maior de idade. Já que eu estava fazendo apostas com dinheiro. Tive que devolver o
dinheiro que consegui. Foi horrível!
Gargalho e o Rafael nos olha curioso.
— O que houve? — pergunta.
Ana se senta e me sento ao seu lado.
— Nada. Apenas o seu amigo que confessou ter uma tatuagem de raio e leãozinho na
bunda, e que vai me mostrar mais tarde. Não deu tempo de eu conferir hoje!
Filha da puta!
Ela ri e o Rafael prende o riso.
— Não tenho essa merda.
— Tem sim. Grifinória e Harry Potter. Como eu poderia saber se não falasse? Nem sei o
que são essas coisas direito.
Como não sabe? Ela disse que já assistiu! Claro que sabe!
— Ela tem um ponto. Quando fez?
— Eu não fiz porra nenhuma, Rafael! — Me irrito. — Vamos comer.
Liz volta e deixa o jogo no sofá, então se junta a nós.
— O que houve? Por que a Ana e o Rafa estão rindo?
— Bryan tem um leãozinho e um raio tatuado na bunda — Rafael espalha a mentira.
Liz me olha e começa a rir, enquanto se senta.
— Está zoando, né? É você que minha amiga escolheu para ser pai da criança dela? O
cara com essas tatuagens na bunda? Meu Deus!
— EU NÃO TENHO ESSA PORRA. VAMOS COMER! — grito e a Ana Vitória
gargalha.
Vou surrar a bunda dela e vamos ver se ela vai continuar rindo. Peste loira!

Dez rodadas depois, Liz e eu estamos fora do jogo. Enquanto Ana e Rafael brigam por
estarem empatados e querendo mudar isso. Claro que empatados, deixei eles ganhar, e nem estou
zoando. Sou muito bom com esses jogos de cartas.
Porra, perdi para eles. Que merda eu virei?
— Rafael, não pode jogar essa carta! — ela grita nervosa.
Estamos sentados no chão da sala. Estou perto da Ana, só por precaução.
— Claro que posso. Está nas regras, Ana.
— UMA PORRA!
Liz começa a gargalhar, chocada com a amiga. Ela não viu nada, eu fui ameaçado da
última vez, ela queria me morder.
— Me mostre que estou errado! — Rafael revida.
O geek berra dentro dele nesse momento. Rafael é muito certinho com jogos. Nunca o
acuse de roubo ou insinue.
— Ela está mesmo tirando a calma do Rafael? — Liz me pergunta e concordo. — Ok,
isso está me assustando!
Sorrimos.
— Imagine como me sinto. Agora entende por que ela me dá medo? — pergunto e a Liz
ri alto.
A confusão entre os dois continua. Eu disse que jogo nunca termina bem.
— Não vou provar. Porque mesmo com você inventando regras, vou ganhar. Quer
apostar?
— Não vou apostar nada! — Ele ajeita os óculos. — Já sei quais cartas não tem. Fiz as
contas. Por exemplo, vai ter que comprar logo mais.
Ela rosna, pronta para matá-lo.
— Controla sua monstrinha! — Rafael fala comigo, enfurecido.
Ela tirou a calma do Rafael. Ainda não acredito no que estou vendo.
— Se ele me chamar de monstrinha de novo, eu vou enfiar esses óculos no...
— ANA! — chamo sua atenção e ela bufa. — Não acha que está nervosa demais? Que tal
se acalmar? Está grávida, lembra? Sem estresse. E já teve muito hoje. Se continuarem desse jeito,
vou guardar essa merda, e não...
— Quer ficar quieto? — me interrompe, ignorando-me. Eu vou arrastar ela daqui e não
vai demorar. — Está me desconcentrando. O nerd aí se acha, não é? Vamos ver quem vai
ganhar!
Ela joga a carta. O Rafael joga a dele. Ela joga mais uma. Ele joga outra, e ela precisa
comprar. Ana está vermelha de raiva.
Eles começam a jogar sem parar as cartas. Rafael tem só mais duas, e Ana tem quatro
porque teve que comprar mais. Eu disse para acabar o jogo, mas quiseram desempatar. São
teimosos.
Mas no instante que o jogo continua e ele fala UNO, e ela ainda tem cartas, coloca sobre
o montinho, e ele joga a carta final, vencendo, a garota vira o demônio de vez.
— VOCÊ ROUBOU! SEU NERDZINHO FILHO DA MÃE. EU VOU TE MATAR,
RAFAEL. EU VOU!
Ela tenta ir para cima dele, mas puxo-a para o meu colo. Liz gargalha ao ponto de passar
mal.
— Amiga, o que a gravidez está fazendo com você? Ana, se acalma!
Rafael se mexe e uma carta surge embaixo do pé dele.
— EU SABIA! ELE ROUBOU! EU DISSE! — ela grita animada.
— EU NÃO ROUBEI! N-NÃO VI ESSA CARTA. DEVE T-TER CAÍDO. EU NUNCA
R-ROUBO! — explica nervoso.
— EU SABIA. EU SABIA. EU GANHEI! GANHEI! — A maluca de vinte e sete anos
grita, pulando em mim e me fazendo rir.
Rafael fica vermelho, enquanto a namorada o consola.
— Eu sei que não roubou. Mas discutir com uma grávida não será nada bom. Corre
riscos, meu amor — Liz fala para ele.
— Eu não roubei — sussurra para mim, enquanto a Ana não vê.
— Eu sei! — sussurro de volta e sorrio.
— E concluímos que sou melhor que ele. Agora, preciso vomitar! Merda, a comida bateu.
Ela se levanta às pressas e corre para o banheiro. Me levanto em seguida.
— Guardem tudo. Escondam isso. Nunca mais deixem ela achar! — aviso.
— De onde veio esse lado assustador dela? — Liz indaga.
— Sua amiga é monstro, acredite, gata! — falo indo ao banheiro ver a mamãe psicopata,
enquanto Liz e o Rafael recolhem tudo correndo.
Assim espero termos concluído que nunca mais ninguém pega um jogo de cartas na
presença da Ana Vitória.
Depois do jogo, e dela vomitar, ficamos na sala assistindo filmes, de modo mais
tranquilo, e ficamos assim até tarde. Liz foi embora hoje, e o Rafael foi com ela, sei que para dar
mais privacidade para nós dois, nesse primeiro dia da Ana morando oficialmente aqui.
A minha loirinha já está deitada quando entro no quarto, após trancar todo o apartamento
e ter feito alguns negócios de trabalho para mandar à equipe da Santana amanhã. Ainda não
entreguei o presente do bebê, farei isso amanhã. Sem mais fortes emoções por hoje.
Tiro a roupa, ficando completamente nu, e me coloco embaixo das cobertas. Ela parece
dormir, está relaxada. É bom vê-la mais tranquila assim. Toco sua barriga e acaricio. Ela vem
para mim, de olhos fechados ainda.
Se aconchega no meu corpo, colando sua bunda em mim, e então descubro que não sou o
único a estar nu para dormir. Se ela aderir isso, também estarei bem fodido pelo resto da vida.
Meu pau vai estourar.
Acaricio sua pele e pela primeira vez preciso pensar em trabalho, muito trabalho para
dormir e não acordá-la porque estou excitado demais, mais do que na praia. Já que agora sei
como é gostoso estar dentro dela.

Abro os olhos, sentindo-a se mexer. Ela está virada para mim, seus lindos olhos me
encarando, enquanto acaricia minha barba.
— O que houve? Está bem? — pergunto, e ela concorda.
Assente e suspira.
— Desculpa, não queria te acordar.
— Relaxa, meu bem. O que houve então? Perdeu o sono? Quer ouvir seus podcasts
psicopatas?
Ela nega e sorri.
— Bry? — sussurra me chamando, ainda que eu a olhe.
— Oi.
— Eu também estou...
Franzo o cenho, um pouco confuso.
— Está o quê, amor?
Sorri sem jeito, e fico ainda mais perdido. Ana é sonâmbula?
— Apaixonada por você. É recíproco, Bryan.
Acho que morri.
Faleci.
Parou tudo aqui.
Estou dormindo?
— O que disse, Ana?
— Isso mesmo que ouviu. Também estou apaixonada por você, e quero tentar. Quero dar
essa chance para nós dois, não apenas pelo bebê, mas por mim. Preciso sentir isso, e hoje
entendo isso. E viver essa descoberta com a pessoa que me fez tê-la. Eu me apaixonei totalmente
por você.
Sorrio sem acreditar. Claro que notava seus olhares, e desconfiava, mas ouvir é muito
melhor.
Puxo seu rosto e a beijo, não é delicado, e nem teria como, comigo ansioso, animado e
muito feliz com isso.
Ela monta em mim e nosso beijo intensifica ainda mais. Viramos uma loucura de mãos e
movimentos, enquanto sua boceta roça meu pau, molhando-me, que estou completamente duro.
Se inclina na minha direção, e encaixo meu pau na sua entrada. Somos rápidos, a
adrenalina do momento nos consome. E quando estou dentro dela e ela geme em meus lábios,
sinto-me em casa de verdade.
Suas mãos deslizam pelo meu rosto, indo até os meus cabelos, a unha enrosca em meu
brinco, e ele cai, mas não me importo.
Ela se movimenta, deixo-a controlar, indo e vindo, me deixando louco. Meu pau se
aquece em seu interior apertado, quente, delicioso.
Agarro sua bunda e nossos lábios se afastam de vez. Os cabelos dela despencam para a
frente, e a cena é deliciosamente sexy. Não falamos nada, nossos olhares dizem tudo.
As mãos descem para o meu peito, onde sei que ela sente meu coração acelerado. Apoia
elas ali, inclinando o rosto para o lado, enquanto quica em cima de mim, e, às vezes, rebolando.
Seus lábios estão entreabertos, os seios balançando aos movimentos.
Eu quero registrar essa porra de cena. É perfeita.
Inclina a cabeça para trás, gemendo mais alto, e me espremendo sem parar. Abro mais a
boca, gemendo alto, grosso, apertando forte sua bunda. Um orgasmo nos atinge junto, seu corpo
vem para mim, escondendo o rosto no meu pescoço, e ela geme alucinada.
Continuo metendo nela, mais calmo, gozando até o final, e só então saio, e abraço seu
corpo para mim.
Posso sentir seus batimentos colados aos meus. Nossas respirações agitadas tomam conta
do quarto. Puxo seu rosto para mim e a beijo de novo, sabendo que fiz a escolha mais certa da
minha vida.
ANA VITÓRIA
Convenci o Bryan de ir sim trabalhar. Eu ouvi a ligação dele com a equipe de marketing.
Falei com a Liz, e parece que alguns estrangeiros importantes vão estar hoje na Santana para
parceria de publicidade e marketing do novo fliperama sendo construído. Bryan tem que estar lá,
não tem lógica ele ficar em casa por minha causa. Estou bem e tenho que trabalhar também,
tenho coisas importantes para resolver na Moon, e é exatamente por isso que estou aqui, mesmo
contra a vontade do ruivo, que ficou me mandando milhões de mensagens reclamando, e passei a
ignorar, ele tem que se concentrar nas coisas dele, e entender que posso me cuidar sozinha.
Maria Júlia me passou toda a agenda e ainda me parabenizou pela gravidez, uma fofa.
Não tinha como fingir que não ouviu toda confusão. Meus pais estão aqui, estivemos juntos em
algumas reuniões, claro que fiquei ansiosa, chateada, mas fomos profissionais e isso que importa
nesse momento. Tem dois eventos grandes essa semana, e o melhor é focar neles, enquanto foco
na parte burocrática e no processo que aquele cliente insuportável está só complicando as coisas,
porque ele andou fazendo merda de novo, espalhando mentiras mais uma vez. Quando a mulher
dele vai assumir que ela fez a cagada? Meu Deus! Até provas temos e já sabem disso.
Olho a hora e passa do meio-dia. Não fiquei enjoada, mas trouxe o remédio que a médica
indicou e as vitaminas.
Batidas na porta me fazem erguer o olhar. Maria Júlia entra trazendo uma sacola marrom
de papel. O cheiro de comida acompanha.
— Chegou seu almoço, Ana.
— Meu almoço? Mas não pedi almoço.
Ela sorri e se aproxima deixando na mesa.
— Só pediram para te entregar. E fizeram certo, já que não parou até agora para comer.
Sorrio. Ela tem razão. Mas iria fazer isso, só estava terminando de conferir alguns
documentos.
— Obrigada. Pode ir comer, está mais do que liberada, Ju.
— Claro. Com licença.
Ela sai da sala e olho a embalagem. É de um restaurante aqui perto. Puxo a notinha e tem
um recado nela:

“Coma, por favor, meu bem.


Beijos.
B, o seu lindão.”

Claro que seria ele. Esse maluco deveria estar trabalhando. Sorrio e abro a embalagem. O
cheiro é perfeito. É salada, frango, tudo que ele já notou que não coloco para fora após comer.
Pego o celular e envio uma mensagem a ele:

Ana Vitória: Obrigada, meu puto! Agora foca no trabalho. Beijos.

Deixo o celular de lado para comer, porque tenho que terminar logo os trabalhos por
aqui, antes de ir para a casa dos meus pais, buscar mais das minhas coisas, aproveitar que
provavelmente só terei que lidar com as três malucas.

Recolho minhas coisas para sair da Moon. Não falei para o Bryan que vou para a casa dos
meus pais, ou ele teria um infarto. Mathias vai me acompanhar, e vou falar também com a mãe
da Liz, ela entrou em contato sobre o bazar. Pediu para eu deixar as coisas com ela já, acho que
deu tudo certo e vou conseguir vender muita coisa.
Saio da minha sala e paro na mesa da Maria Júlia, para deixar um recado com ela, já que
tentei ligar para o Bryan, mas, por estar na caixa postal, isso diz que está nas reuniões. Só enviei
mensagem falando que estava saindo da Moon e depois nos falávamos.
— Se o Bryan Nunes passar aqui ou me procurar, fala que fui resolver umas coisas e o
Mathias está comigo. — Ela me olha desconfiada. — Ele te deixou me vigiando, não foi? — Seu
rosto cora.
— Ele pediu sim. Ligou aqui mais cedo.
— Eu vou matá-lo! — falo nervosa e ela ri. — Pois se ele ligar de novo fale que eu saí e
não disse para onde fui!
Que ódio. Era para ele estar focado no trabalho não em mim. Eu não vou quebrar, meu
Deus!
— Ana...
— Não caia no charme daquele puto, Maria Júlia! Boa tarde!
Ela ri baixinho e me afasto, querendo enforcá-lo. Ele agora convence minha assistente do
que ele quer. Só pode ser piada.

Me livrei de encontrar as três malucas. Pérola disse que elas saíram, mas, como não
duvido nada que ela fofoque a elas que estou aqui, arrumo logo minhas coisas antes delas
aparecerem.
É estranho entrar em casa e sentir que aqui realmente não é mais o meu lar. Não sinto
falta. Pelo contrário, sinto paz em estar pegando minhas coisas.
Infelizmente não conseguirei resolver tudo hoje, é muita coisa, mas pegarei os principais
e vou separar as coisas para a mãe da Liz e para doação.
Coloco uma música baixinho e fico olhando o closet. O idiota tem razão: isso é um
shopping.
Vou separar em três lados, um para doações, o outro para as vendas e o que irei levar. Se
no final vou saber o que fiz, é outra história.
Pego todas as minhas malas, que são muitas, para usar para as coisas que vou levar para a
mãe da Liz e para casa do Bryan... quero dizer: para a minha nova casa.
Começo as tarefas, porque só olhar não vai movimentar nada.

Uma hora depois e estou vendo a luz. Meu Deus, eu tenho muita coisa! Sou uma
acumuladora, é isso.
As três pilhas que formei são enormes, e ainda não terminei, mas já cansei e terei que vir
mais dias, provavelmente só semana que vem eu termine tudo.
Meu celular toca pela milionésima vez, e pego, pausando a música que tocava na caixa de
som embutida no closet. Bryan está me ligando faz tempo, mas estava irritada por ele ficar
deixando fiscais na minha cola, e porque sabia que ele precisava se concentrar no trabalho e se
eu ficar dando brechas ele não vai fazer isso. Ele é superprotetor até demais.
— Sem surto! — peço ao atender.
— Sem surto? — grita nervoso. — É isso que tem a dizer? Ana Vitória, onde se meteu?!
Pelo tom de voz, entrei em uma fria.
— No Beco Diagonal. Vai por mim, isso está parecendo um! — Olho para o enorme
ambiente e quero chorar. — Nunca mais irei comprar nada.
— Não pense que vai amenizar fazer referência a Harry Potter. Estou te ligando sem
parar, e nem sua assistente sabe onde foi! — Bryan está muito bravo. — Porra, quer me matar
de preocupação?!
— Estou na casa dos meus pais, separando minhas coisas. — Faço uma careta. — Bryan,
eu tenho um shopping mesmo. Socorro! — Choramingo.
— Não acredito que foi sozinha para esse inferno. Porra, Ana! — A raiva se mistura a
preocupação. Respiro fundo. — Estou indo agora aí. Só pode estar de brincadeira com a minha
cara! Você tinha duas funções apenas: Moon e casa! Era só isso. Esse foi o acordo mais cedo.
— Não precisa ficar nervoso! Estou bem. Não tem ninguém em casa. Nem as cobras,
acredita? A paz reinou! — Sorrio. — Entendeu que tenho um shopping? Não acaba. E nem fui
para a parte dos meus produtos, joias, lingerie, e outras coisas... Cansei! E, além disso, não tinha
o direito de deixar a Maria Júlia me vigiando. Bryan, eu sei me virar. Precisa parar de ser
superprotetor ao extremo, porque desse jeito não vai se concentrar no trabalho.
Ele bufa irritado. Me ferrei é isso.
— Estou saindo da Santana agora — avisa. — Vou passar aí. E saiba que vou te
esganar!
— Se algo me acontecer será o primeiro suspeito! — retruco, mas ele já desligou na
minha cara. Está bravo mesmo.
Quanto drama. Agora estou cansada, querendo sorvete e ainda vou levar bronca. Puta
merda!
Saio do closet e vou para o meu banheiro conferir as coisas por lá.
E se eu deixar tudo e comprar três calcinhas apenas? Meu Deus, não aguento mais
arrumar nada.
Me assusto vendo vovó, minha tia e prima surgirem do nada no quarto. Isso é praga do
Bryan!
— Ah, então é verdade. Apronta, traz desgosto a família e vem ainda buscar tudo o que o
meu irmão te deu?! Tome vergonha na sua cara, Ana Vitória! — Tia Carmina fala, mas ignoro.
Estou cansada e, para eu arrancar os cabelos dela, é um segundo.
— Então está grávida mesmo? — Juliana questiona com deboche.
— Estou — respondo bem seca, separando meus produtos.
— Como pode fazer isso? Como ficou grávida?! — vovó grita nervosa. — Nem sabe
quem é o pai. Isso é um vexame aos Albuquerque.
Olho para as três malucas e sorrio com ironia.
— Da mesma forma que a senhora ficou grávida. Quer que a lembre como fazemos
bebês? E sobre meu bebê, tem sim um pai, não que interesse a vocês.
— Respeite a vovó, Ana! — Juliana pede e reviro os olhos.
Até gosto dessa estranha, mas é outra sendo manipulada por eles, e se não acordar logo e
sair disso, vai viver presa nessa família assim como fazem comigo.
— Ela não sabe o que é isso, filha. Deveria ensinar sua prima a ter bons modos!
Começo a rir e solto uma lufada de ar.
— Saiam do meu quarto agora! — ordeno. — Enquanto eu ainda estiver aqui dentro, ele
é meu quarto. Querendo ou não, todo esse lugar é meu, porque sou a única filha do meu pai.
Agora quem está de favor aqui são as três. Peguem o rumo até a porta e sumam. E se quiserem
dizer ao meu pai que surtei, digam. Foda-se! — grito irritada. — Agora me deem paz, antes que
eu não responda por mim, e arranque as três daqui esquecendo as boas maneiras e quem são! Fui
clara?! — falo nervosa e elas me olham boquiabertas. — Isso mesmo! E, Juliana, na próxima vez
que for esconder um chupão no seu pescoço, use um bom corretivo. Ser a neta e filha perfeita
cansa, né? Eu sei! — Encaro seu pescoço e ela leva a mão assustada. — Sumam! Vamos. Para
fora as três. Que inferno!
Juliana sai correndo, sua mãe olha-me com raiva e vovó não é diferente.
— Sua prima não é você, Ana Vitória! — minha avó defende a outra neta.
— Claro que não. Eu assumo minhas merdas, não que minha gravidez seja uma merda,
pelo contrário, tem sido a melhor coisa que já me aconteceu, e sabe por quê? Porque ainda que
tenha vindo de uma maneira inesperada, me fez ter coragem para sair dessa casa e não ter que
lidar mais com vocês. Pode ter certeza, vovó, que minha filha ou filho, nunca vai ser controlado
por vocês como fizeram comigo, até porque, se bem conheço o pai, vão ter que lutar muito para
conseguir ver essa criança! — Ela me olha muito nervosa. — Agora vão lá, as duas, cuidar da
Juliana, que precisa esconder um chupão porque ambas controlam até com quem ela transa. Isso
se ainda não acreditam que ela é virgem!
Dou de ombros.
— Toma muito cuidado em como fala da minha filha, garota insolente!
— Ah, tia, me poupe! — Faço uma careta. — Juliana já saiu com mais homens do que eu
a vida toda. Nem a senhora acredita que a menina é santa. Agora saiam logo, estão tirando a paz
que eu possuía.
— Isso não vai ficar assim. Ainda vai se rastejar por ajuda do seu pai, e nós impediremos
que ela caia na sua ladainha, Ana Vitória. O maior desgosto dessa família é você e essa criança a
caminho.
Engulo em seco e levo a mão até a minha barriga, dando um passo na direção delas.
— Nunca mais fale do meu bebê assim. Não queiram conhecer o meu pior lado, acredite,
eu posso acabar com vocês, afinal, fui treinada pelos melhores: vocês. Se sou o que sou, vocês
me tornaram assim! — Minhas palavras são frias e não me importo.
Elas saem furiosas. Estou cansada e com um ser humano prestes a me matar, e querendo
muito um sorvete, o mínimo é me darem paz nos meus minutos finais de vida.
Sento-me na privada e choro, porque tenho muita coisa para organizar e porque deixei o
Bryan bravo, e eu virei uma sensível do caramba. Eu não gostei dessa parte da gravidez, não
gostei mesmo.
— Elas são umas cobras, meu amor, e infelizmente ainda vai conhecê-las pessoalmente
um dia, e se vomitar na cara delas, mamãe nunca vai achar ruim — falo acariciando minha
barriga. — Não conta para o papai que te ensino essas coisas. Se bem que ele é capaz de te
ensinar pior. — Choro mais. — Viu? Seremos pais terríveis. Você precisa crescer sabendo que
somos doidos, mas amamos você, está bem? Ainda que estejamos presos porque fizemos
merdas!
Deus, eu estou cansada, preciso de um sorvetinho!
BRYAN

Vim o caminho todo escutando música, tentando distrair minha cabeça com algo que
gosto, porque, de verdade, estou irritado com a atitude da Ana Vitória. Não é só um sumiço, não
depois de como eu vi o modo que o pai dela pode deixá-la. A médica foi clara sobre ela não
poder passar nervoso, porque ela está sentindo tudo em excesso nesse início, ela está mais
sensível, e ela precisa respeitar a si mesma e entender de uma vez por todas que precisa se cuidar
mais.
Então ela some por uma hora que pareceram dias, não dá notícias, penso que algo grave
aconteceu, e ela se mete nos pais, local esse que sei que faz mal a ela. Se eu perder meus cabelos,
é bom ela saber que será a culpada disso.
Peguei o acesso a cobertura, não negou isso, sabe que seria pior. E agora estou aqui,
respirando fundo, enquanto as portas do elevador se abrem, para não esganar o motivo do meu
estresse.
Uma cabeça loira surge na lateral do elevador, e um sorriso meigo aparece em seu rosto.
A filha da mãe sabe que fez merda, porque age como criança quando apronta, oferecendo
sorrisos e carinha fofa. O pior foi ainda ter que escutar a amiga dela dizer que era melhor nem
me estressar, quando fui saber se ela tinha notícias. Liz alegou que Ana Vitória é terrível, e
sempre foi de aprontar muito, e que, se eu for me estressar por tudo, melhor viver na base de
calmantes. Eu sou o que para essas duas? Porra!
Saio do elevador e ela encosta na parede ao lado. Estamos no hall de entrada, todo
branco, com quadros e plantas que devem valer mais que minha vida.
— Não surta — pede baixinho.
— Eu juro que, se me pedir mais uma vez isso, eu vou te esganar. É melhor deixar eu me
acalmar, antes de tentar se explicar. Estou falando bem sério!
Morde o canto da boca e assente.
Abre a porta de entrada para a sala e, puta que pariu, os Albuquerque conseguem exibir
mais do seu luxo do que os Santana. Certeza de que nenhum desses quadros devem valer menos
que meio milhão. A sala não grita luxo, ela berra. Mas uma coisa é certa, pode ser lindo, mas não
traz cara de lar, a sensação é de um lugar onde não ficam, não usam de verdade. Não tem nada
semelhante à da Liz, onde você realmente se sente em casa.
— Vamos subir, antes que as cobras apareçam.
— Não disse que estava sozinha?
— Apareceram depois que nos falamos. Juro que estava sozinha — explica e a encaro, e
vejo que fala a verdade.
Ela vai na frente e vou olhando tudo ao redor. Não tem um quadro de família, uma foto
que diga “somos unidos”.
Subo atrás dela, e vou vendo os quadros na parede da escada. Se eu vejo esses negócios
de madrugada, não fico nessa casa nem por todo o produto de cabelo do mundo. É assustador
essas pinturas estranhas.
Sigo ela pelo longo corredor após a escada, e entramos em seu quarto, que não me admira
ser imenso, e a parte mais aconchegante dessa casa com coisas que é melhor eu não relar, porque
se quebrar, vou ter que pedir dinheiro a um agiota para pagar.
O quarto está uma enorme bagunça de malas, coisas espalhadas. Fecho a porta atrás de
mim e ela pede para trancar com a chave, para evitar surpresas de novo, e isso me diz que foi
assim que sua família surgiu, entrando de surpresa aqui.
Levo as mãos ao bolso da calça. Ana está pisando em ovos comigo agora, é nítido, mas
não poderia agir diferente, não depois do inferno que passei na última hora.
— Tenho que terminar de juntar as coisas que vou levar para a mãe da Liz, e as que vou
levar para a sua casa, o restante venho aqui para separar nos próximos dias, e qualquer coisa
peço ajuda da Liz e dos funcionários da casa.
Assinto.
Ela entra no closet. Acompanho-a e, puta merda, ela tem muitas coisas mesmo. Eu já
imaginava, só que ver é assustador.
— Essas pilhas? — pergunto e ela encosta no que deve ser um balcão coberto por muita
coisa.
— A menor é as coisas que de fato vou levar, junto das coisas que estão no quarto. As
maiores são para o bazar e doação. Ainda tem muita coisa para ver. E ainda tenho que separar
produtos, joias, sapatos, acessórios no geral. Mas não vai ser hoje. Vou pegar o que uso sempre
deles, e vejo o resto depois. Deixarei trancado aqui, para as três malucas não terem acesso.
Encosto na parede, olhando ao redor, então respiro fundo e a encaro.
— Pode me falar o que tinha na cabeça de dar um sumiço de uma hora e não deixar
ninguém a par de onde estava?
— O Mathias sabia. — Fico mais sério e ela suspira. — Ok... Eu fiquei brava porque
deixou a Maria Júlia me vigiando e quis me vingar, mas também não foi só isso... Eu sabia que
as coisas estavam corridas na Santana, ouvi a ligação mais cedo e falei com a Liz, por isso insisti
para ir trabalhar. Se eu ficasse te dando atenção, não focaria no trabalho. Mas agora sei que ficou
bravo, então desculpa. Não deveria ter ignorado suas ligações. Errei, assumo. Mas também não
deveria ficar tão preocupado. Bryan, estou bem. Nós estamos. — Aponta para a sua barriga.
— Não, você não deveria. Ana, depois de ontem, a forma como eu vi que ele te deixa
nervosa, é claro que eu ficaria preocupado em você ir para a Moon. Pedi a sua assistente para
ficar de olho em você e ter certeza de que comeria, iria se hidratar, e não focar só no trabalho
para fugir deles e esquecer que dentro de você tem uma criança, e quando a mãe dela não está
bem, ela não vai ficar bem! — Não grito, nem sou estúpido ao falar, mantenho o tom brando. —
Tem noção do inferno que passei tentando contato e não conseguindo? A Maria Júlia não achava
o número do Mathias. Estava indo para a Moon pedir aos seus pais o contato dele, e sabendo que
qualquer merda dita, perderia meu réu primário! Fiquei muito preocupado, não foi pouca coisa.
Está grávida, depois de ontem, pensei mil merdas!
Ela desvia o olhar. Fecho os olhos por alguns segundos, e a encaro de novo.
— Já entendi... Não vou mais fazer isso. No seu lugar também ficaria preocupada. Não
pensei. Também acabei me distraindo com as coisas aqui, e isso ajudou a te ignorar... Desculpa.
— Me olha e começa a se aproximar. Para a minha frente, e cutuca meu peito. — Não pode ficar
bravo com a Cosplay da Barbie, né? Além disso, foi só um errinho... — fala manhosa e controlo
a vontade de rir. Quem diria que a bravinha perde a pose quando está errada.
— Claro que posso ficar. Porque, além disso tudo, me fala que vai levar as coisas para a
minha casa, quando sabe que se tornou nossa!
— Vou usar meu direito de permanecer calada. Só estou me ferrando! — Suspira. —
Tudo bem... Achei umas coisas mexendo aqui, mas como está bravo comigo...
— Primeiro, não sou o Rafael que se vende fácil com a Liz quando ela apronta. Segundo,
não vai me deixar menos bravo tão cedo. Eu fiquei muito preocupado, Ana Vitória.
Ela assente e se afasta chateada e isso me machuca, mas não consigo ser diferente. Porra,
foi um susto infernal que passei!
Ela vai para um canto do closet e pega uma caixa. Se aproxima e para na minha frente,
com uma expressão de anjo, coisa que no momento ela não é.
— Olha... — pede e abro a caixa de papelão. — Nem lembrava que eu tinha. Foram das
vezes que fui a Disney. Estava uma febre de novo por causa dele, e eu comprei várias coisas,
inclusive alguns livros de edições especiais, que estão perdidos nessa bagunça. Quando mais
nova, eu via os filmes, cheguei até descobrir minha casa. Nunca fui fã como você, mas acho
legal. — Dá de ombros.
A caixa está lotada de coisas do Harry Potter. Varinhas, cachecol, funkos, copos, um
monte de coisa e algumas da Sonserina.
— Você é da Sonserina? — Encaro-o e ela ri sem jeito. — Sabia que não poderia ser tão
perfeita assim! Agora entendo por que só me dá dor de cabeça!
— Bryan!
— E se não era fã, por que comprava tudo?
— A Liz não mentiu, eu era patricinha, mas também metida. Adorava me exibir, até
entender que era muito errado e ridículo ser assim. Porém, tem alguém que ama de verdade tudo
isso e merece mais. Você. — Sorri bem meiga.
— E é assim que está tentando limpar sua barra comigo, me subornando?
— Nunca suborno ninguém. Fere meu lado advogada dizendo isso.
Sorrio e ela pisca delicadamente para mim.
Tiro a caixa da sua mão, colocando no chão. Puxo-a para mim e ela enrosca os braços ao
meu redor.
— Nunca mais faça isso, entendeu? Não quero te trancar dentro de casa, não é isso. Mas
me preocupo. Está grávida, é uma pessoa muito conhecida, está tendo problemas em casa... Por
favor, Ana, não faça mais isso nem de brincadeira! Fiquei com medo, apavorado de algo ter
acontecido. É sério.
— Desculpa. Não vou mais fazer. Mas precisa controlar um pouco da sua superproteção.
Eu não vou quebrar, Bryan.
Assinto. Mas não vou ser menos protetor, não quando me preocupo muito com ela e o
bebê.
— Está tudo bem? Como foram as coisas hoje?
— Foi até que fácil lidar com os meus pais. Expulsei minha avó, prima e tia daqui, e
devem estar com raiva. E te deixei bravo, enquanto fazia uma bagunça nesse lugar, e desejava só
acabar logo e um sorvete para ser feliz. É, foi um dia cheio.
Balanço a cabeça, e beijo-a, relaxando a tensão em meu corpo e sentindo-me mais calmo.
— Achei que estivesse bravo comigo... — sussurra.
— Estou bravo, não te odiando, ou ficando menos apaixonado por você. Vamos resolver
logo essas coisas. Precisa descansar.
— E você também precisa. Está cansado.
— Sobre isso... — Ela me olha. — Vou ter que viajar de madrugada para Curitiba,
porque pela manhã terá um evento lá, e um grande parceiro da Santana nesse novo projeto vai
estar lá. Como eu consegui isso, ele só quer tratar comigo e não vai vir para São Paulo agora, e
precisamos dessa reunião ainda essa semana para uns ajustes finais de alguns lançamentos, e ele
só aceita presencialmente. E como ele tem o tempo muito corrido, é difícil conseguir falar com
ele, e não podemos perder essa oportunidade. Mas volto no dia seguinte pela manhã.
— Terei um dia de paz? Sério?! — fala animada e acerto sua bunda, fazendo-a rir. —
Estou brincando. Tudo bem. Vamos sobreviver sem Bryan Nunes por um dia. Posso manter a
mim e o bebê vivos nesse tempo.
Encaro-a sério e ela ri.
— Nada de problemas. Nada de confusão. Posso ter certeza de que vou viajar e, quando
voltar, não aprontou nada?
— Pode! Palavra de escoteira.
— Nunca foi escoteira.
— Tem razão. Mas finge que fui. — Me agarra e me beija de novo.
— Ainda estou bravo.
— Eu sei... Mas tenta fingir que não está, porque estou cansada e só quero um pouco de
carinho.
Sorri e abraço-a apertado.
— Vamos logo adiantar isso e vou te comprar sorvete.
— Promete? — pergunta manhosa.
— Prometo.

Trouxemos as coisas para a casa da Liz. Sua mãe e a Graça, governanta da casa, nos
fizeram ficar aqui para jantar. Mas não vamos demorar. Assim que sair daqui compro o sorvete
para a manhosa e vamos para casa para ela descansar, e eu também, porque viajo de madrugada.
— Ah, querida, meus parabéns. Que seja uma gravidez abençoada! — Antônia a aperta
em seus braços, enquanto Liz ri sentada ao meu lado.
A maluca da gata está no quarto da dona, e ainda bem. Era só que faltava para fechar meu
dia: lidar com a rata peluda.
— Obrigada. Você é sempre muito incrível comigo.
— Claro que seria. Você é parte da família. Sinto muito por tudo que aconteceu na sua
família, Liz me contou — fala ao soltar a Ana e se sentam nos sofás. Olho para a Liz, e ela
prende o riso. E depois eu sou o fofoqueiro. — Eles são cabeças-duras. Josué já teria colocado
juízo na cabeça do seu pai, acredite.
Ana sorri e assente.
— Estou bem, isso que importa.
Graça traz água para nós. Quando me entrega a minha, sorri toda tímida.
— Ah, pelo amor de Deus, Graça! Ele é só um cretino! — Liz resmunga enciumada e a
governanta sorri.
— Ele é um rapaz muito educado.
— Um educado bem terrível. Se eu sonhar que fez essa menina sofrer, eu corto seu
amiguinho, ouviu? — Antônia me ameaça.
— Por que tudo sempre se volta contra mim? — indago.
Ana ri e Liz me olha com ironia.
— Porque te conheço bem. É terrível. Josué só gostava de você porque o apoiava nas
loucuras dele e ainda ajudava a concretizá-las. Como posso confiar que não vai aprontar? —
Antônia toca em um ponto sensível. Posso nem me defender. Eu ajudava o homem que era
maluco.
Bebo minha água para conter o riso e ela me olha e sorri.
— Ele cuida bem de mim, acreditem — Ana me defende. Até que enfim uma defesa aqui.
— O jantar será servido em poucos minutos — Graça avisa se afastando e indo para o
corredor.
— Pelo menos alguém gosta de mim! — Aponto para a Graça, que olha para trás e sorri
toda vermelhinha, então torna a caminhar.
— Claro que gosta, é um puto que fica seduzindo as mulheres. Bryan, se você aprontar
em Curitiba, eu te mato! — Ana me ameaça.
— Melhor não falar sobre aprontar, Ana Vitória! É bem melhor ficar quietinha — aviso e
ela torna a beber água.
— Ah, não! O que Ana Vitória aprontou? Nem grávida é menos atentada? — Antônia
pergunta.
Liz começa a rir e a olho de lado.
— Ela conseguiu deixar o Rafael bravo ontem, e hoje quase fez o Bryan perder os
cabelos. Mãe, ela está pior que antes! Se a criança puxar ela, estamos perdidos.
Ana escorrega um pouco pelo sofá, e abraça uma almofada com a mão livre. Antônia
começa a rir, e isso me diz que de fato devo ter me ferrado. Essa garota deve ser uma praga pior
do que já demonstra.
ANA VITÓRIA
Bryan foi para Curitiba, e eu tive uma péssima madrugada de sono, seguida de uma
manhã pior. Muito enjoo e perda de sono. Trabalhei torcendo para as horas passarem logo e, para
piorar, tive que ir ao cartório resolver umas coisas da Moon, porque a Maria Júlia não iria
conseguir, já que estava em outras funções importantes que a coloquei.
Voltar para casa foi a melhor parte do meu dia. Quem diria que ficar longe daquele puto
me traria tanto desastre. Era só o que me faltava, eu ter me apegado a esse nível.
Mas não quero pensar nisso agora. Estou organizando as coisas que eu trouxe. Bryan
tirou tudo do closet e colocou no escritório, e agora estou distraindo meus enjoos com
organização, eu gosto disso.
Rafael já chegou também e está preparando um café da tarde, segundo ele preciso comer.
Tenho certeza de que ele é mais um dos que o Bryan deixou de fiscal em cima de mim. Porém,
depois de ontem que ele ficou bravo, vou só fingir que não tem pessoas me vigiando para ele,
que é superprotetor.
Tomei banho assim que cheguei, coloquei um short curtinho jeans e uma camiseta
branca, meus cabelos estão presos em um coque e estou com zero maquiagem. Por mim só
tentaria dormir, já que estou com muito sono, mas toda hora fico querendo fazer xixi porque me
entupi de água, então tirei a opção dormir.
Bryan questionou se está tudo bem aqui, falei que estava, porque se eu falar que nada
parou no meu estômago hoje e nem o remédio resolveu, e com isso nem as vitaminas que tenho
que tomar também ficaram no meu corpo, ele volta correndo, e ele precisa focar no que foi fazer.
— Ana? — Rafa me chama e viro o rosto enquanto coloco o vestido pendurado. Estou
organizando tudo por cores. Está ficando bom, e acho que vai sim caber o que falta trazer. Tirei
muita coisa e vou tirar mais.
— Vou tomar um banho, mas se quiser já ir comer... Está melhor?
Sorrio. Liz teve tanta sorte. Rafa é um dos caras mais puro, generosos e amorosos que
conheço. Desde que viu que eu estava mal está preocupado.
— Vou te esperar. Está tudo bem. A Liz vem? Não falei o dia todo com ela.
— Não. Ela tinha um jantar com a mãe dela, algo da ONG da Antônia. E está com o dia
corrido. Mas te mandou um beijo.
— Ah sim. Pode tomar seu banho, te espero. E sim, estou melhor, obrigada por se
preocupar.
Ele assente e sorri. Sai da porta do closet e respiro fundo, passando a mão na nuca, e a
outra apoio na barriga.
— Precisa parar de dar trabalho quando aquele idio... quando o papai não está. Você tem
que me valorizar mais, sabia? Sou sua casinha, enquanto ele nem dor sentirá! Cadê o apoio a
mamãe? Veste a camisa do meu time, e não do dele.
Bufo chateada. Essa criança vai fazer dois meses essa semana, segundo a doutora que me
manda tudo — parece até a Alexa me atualizando sobre as novidades do dia quando dou apenas
“bom dia” a ela —, e já é apegada àquele puto, porque é nítido que longe ela faz um estrago aqui
dentro, porque fico muito mal.
A campainha toca e espero para ver se o Rafael atende, mas já deve ter se trancado em
seu banheiro. Saio do closet e vou atender a porta. Achei que a Liz não viesse, mas levando em
consideração que ela é um grude no Rafa, não me admira fazer essa surpresa.
Sorrio ao abrir a porta, mas meu sorriso some na mesma velocidade que meus olhos
arregalam.
Diante da porta tem duas pessoas e sei bem quem são, mesmo não querendo acreditar. Já
os vi por fotos, e ainda que não tivesse visto, ficaria nítido, quando a ruiva é o filho versão
mulher, só muda a cor dos olhos, e o homem tem o mesmo sorriso do Bryan. Estão com duas
malas grandes e uma bolsa, e eu acho que estou entrando em trabalho de parto e só tenho quase
dois meses de gestação.

Eles estão acomodados no sofá, após entrarem e deixarem suas malas ao canto. Rafael
parece ter morrido no banho, porque nunca mais saiu. E eu estou mais enjoada que antes.
— E você quem é? Seu rosto me é familiar — Filipa pergunta bem sorridente. Seu
marido me observa atento, assim como o filho faz, sem perder nenhum detalhe e isso me assusta,
porque parece até que ele está lendo todos os meus pecados e são muitos.
— Ana Vitória Albuquerque, senhora — pigarreio. — Amiga do Bryan.
— Ah, a Ana... — Ela ri e não entendo, e nem sei se quero entender.
— Prazer, Ana Vitória. Já deve saber quem somos se é amiga de meu filho, correto? — o
pai dele pergunta e assinto.
Por que estou me sentindo no tribunal, mas sendo eu a julgada e não a advogada?
— C-claro — pigarreio de novo. — Celestino e Filipa. É um prazer conhecê-los. —
Sorrio e eles retribuem.
— Meu filho e o Rafael estão? — Filipa questiona.
— Rafael está no banho e o Bryan foi viajar a trabalho, mas retorna amanhã.
— E você? — Celestino indaga curioso.
— Eu? Eu o quê?
— Está aqui por alguma razão? — Filipa pergunta ainda mais curiosa que o marido.
Merda, agora sei de quem o Bryan puxou em deixar a pessoa sem saída.
— Ah, sim. Claro. Deve estar estranhando uma estranha na casa do filho de vocês.
Óbvio. Que cabeça essa minha! — Rio de nervoso. — Minha casa está tendo reforma, e o Bryan
me deixou ficar aqui uns dias — minto, porque o que direi? “Seu filho e eu estamos juntos, e ele
vai assumir meu bebê que ele pegou para ele?”.
— Claro. Entendemos. Mas por que toda essa tensão? Se é amiga do nosso filho, é nossa
amiga também! — Filipa sorri, quebrando a tensão entre eles, porque a minha pinica até a alma.
Eu vou matar o Bryan por não me avisar disso.
— Não fique nervosa, querida. Pegamos você de surpresa, certo? Queríamos fazer isso
com o Bryan, mas o peste se safou! — seu pai explica.
Ok. Bryan perdoado.
Sorrio de nervoso. Escuto o Rafael saindo do seu quarto e me viro para ele, desesperada.
— Ana, ainda não comeu? Você... Meu Deus! — Arregala os olhos olhando para trás de
mim e sussurro um pedido de socorro assim que ele me encara. — Filipa e Celestino, quanto
tempo! O que fazem aqui? Bryan sabe que estão aqui? — começa a falar sem parar, passa por
mim rindo de nervoso. Ele os cumprimenta.
Que ótimo, está mais nervoso que eu. Estamos ferrados.
Sento-me no braço da poltrona, respirando fundo, mas discretamente. Quero vomitar.
Toco minha barriga de modo sutil e imploro mentalmente para o meu amorzinho cooperar com a
mamãe porque a coisa ficou complicada aqui.
Avós na área.
Papai fora da área.
Mamãe ferrada.
Titio quase desmaiando.
Era só para ser mais um dia qualquer, claro que o destino nunca deixaria isso ocorrer.
Puxo meu celular do bolso e mando mensagem ao Bryan falando que preciso falar com
ele urgente, enquanto eles se cumprimentam, e peço socorro a Liz, e a cretina responde rápido,
mas diz que essa bomba ela solta minha mão, mas que ama muito. Péssima amiga!
Coloco o celular no bolso quando o Rafael se afasta e os dois voltam a sentar no sofá. O
moreno leva uma mão à cintura e me encara. Engulo em seco e forço um enorme sorriso.
— E a namorada, querido?
— Na casa dela. É melhor amiga da Ana, sabia? — responde a Filipa.
Tira o foco de mim, Rafael! É o que desejo gritar agora.
Eles me olham e sorrio assentindo. Daqui a pouco terei câimbra na boca.
— Sabemos, o Bryan comentou, sabe... — Ela ri. Claro que comentou, é um fofoqueiro,
mas só quando convém a ele. Porque sobre nós e o bebê ele se calou e a bomba caiu no meu
colo.
— Bom, que tal tomarem café conosco? Vão para o hotel ou pretendem ficar aqui? —
Rafael joga o verde.
— Tivemos problema com o hotel. Vamos conseguir entrar só amanhã. Tem problema
ficarmos aqui?
Tem. Seu filho tem uma enorme novidade e estou em pânico e quase desmaiando.
— Claro que não! — respondemos juntos.
Isso vai ser um longo fim de tarde e noite!

Estamos ao redor da mesa de café, e tento manter na minha barriga o que coloquei. Nada
do Bryan responder. Aquele idiota tinha que sumir logo agora!
— E como está a vida de vocês por aqui? Faz tanto tempo que não pisamos no Brasil. O
apartamento está muito melhor do que quando fomos embora! — Celestino fala e o Rafa sorri.
— Estamos bem. Minha mãe vai finalmente começar seu próprio negócio e dar entrada
na sua aposentadoria. Meu pai está indo bem com a mecânica. Mas sobre eles devem saber,
vivem em contato. — Eles concordam e sorriem. — Já o Bryan está trabalhando bastante, a
Santana Games está em um projeto incrível de um novo fliperama que vai unir a atualidade e o
anos 70 a 80 com foco nas máquinas de jogos e em simuladores de corrida que te façam se sentir
como um piloto em um carro, mas sem perder a essência dos fliperamas. Então está bem corrido
para ele a vida profissional. E eu estou feliz no meu novo emprego. Está sendo incrível estar
presente na criação de carros e ajudando para eles saírem das fábricas.
— Ah, que bom. Vocês merecem. Fico feliz em saber que os dois estão bem. Ainda que
aquele ingrato esqueça que tem pais e não nos conte quase nada mais. Bryan está merecendo
uma bela surra! — Filipa reclama e quero concordar com ela, ele merece a surra, porque olha o
problemão que me deixou para lidar sozinha.
— E você, Ana? Fale mais sobre você. — Celestino pede.
Engulo em seco e me ajeito na cadeira.
— Sobre mim? Não tem muito o que contar. Não estou construindo carros incríveis e
nem lidando com o marketing de um super projeto. — Sorrio e eles fazem o mesmo.
— Mas deve fazer algo bom também. Estuda, trabalha? Não recordo se o Bryan já
comentou — ele insiste.
— Não estudo mais. Sou advogada no setor jurídico da Moon Eventos. É uma empresa de
grandes eventos dos meus pais.
Será que conto que fui deserdada? Melhor não.
— É advogada como nós. Que incrível. E já ouvi falar dessa empresa. É aqui perto,
certo? — Filipa questiona e assinto. — Claro... Eles já fizeram um grande evento para a empresa
que trabalhamos.
— Parece tão jovem, mas já carrega uma responsabilidade grande. Como diz que não tem
nada para contar? — Celestino é carinhoso e isso me relaxa um pouquinho.
É que o senhor não tem noção da outra responsabilidade de perninhas e bracinhos que
terei que cuidar. Essa novidade vai ser gigante para vocês.
— As coisas estão evoluindo mesmo. Rafael namorando e no emprego dos sonhos.
Helena finalmente se arriscando em ter seu negócio de bolos e o que mais ela inventar... Só falta
o Bryan me dar netos e se casar. Por Deus, vou morrer sem ter isso! — Filipa fala e me engasgo.
Rafael me dá leves tapinhas nas costas.
— Desculpem. Me engasguei com a saliva.
Eles assentem.
— Bryan é um caso perdido, meu amor. Deveria aceitar que o nosso filho não quer viver
isso.
— Ele disse que quer. Ele sempre fala que nunca disse que não queria. Não é, Rafael? —
pergunta esperançosa.
— É... s-sim. Ele fala — Rafa responde atrapalhado e vermelho.
— Talvez ele tenha arrumado alguém. Sabem de algo? Ele é ótimo em nos esconder as
coisas! — Sorri animada.
Deus, socorro. Prometo não ameaçar mais minha avó e tia!
— Arrumado? Não... Ele? O Bryan? Com alguém? A senhora conhece seu filho... Conta
aí para eles, Rafael! O Bryan com alguém! — começo a rir de nervoso.
— É... Ele n-não tem ninguém. Bryan é o Bryan e... Alguém quer mais café?
Isso vai ser um desastre.

Caminhamos com eles pelo corredor, mas paramos assim que a Filipa para.
— Se vamos ficar no quarto do Bryan, e o Rafael na sala e você no quarto dele... Onde é
que você fica quando o meu filho está se não tem colchão a mais na casa? Não vai me dizer que
fica revezando o sofá com o Rafael e aquela tralha que chamo de filho não faz nada? — Filipa
pergunta preocupada.
— Fico na sala — falo, porém ao mesmo tempo que o Rafael solta algo bem diferente.
— Revezamos os três!
Eles nos olham confusos.
— Fico na sala porque gosto daquele sofá. Uma delícia! — Olho para o Rafael que
assente. O coitado é péssimo com mentiras. — E o Bryan e o Rafael revezam quando decido
dormir em alguma cama. Sãos uns cavalheiros!
Ufa. Essa foi por pouco.
— Entendi — ela fala.
— Devem estar muito cansados da viagem. Vão descansar. Amanhã cedo o Bryan estará
aqui — Rafael tenta nos salvar.
— Pior que estamos mesmo. Tem certeza de que não tem problema ficarmos?
— Claro que não, senhor. Pode ficar. A casa é de vocês também. Rafael e eu queríamos
companhia mesmo! — Soco o braço do nerd de leve. Eita, que é musculoso. — Não é mesmo?
— Aham... Queríamos. Sempre queremos... companhia!
Eles sorriem e continuamos a caminhar para o quarto do Bryan. Mas o Rafa me puxa e o
olho.
— Suas coisas... Tudo está lá — sussurra. — Tem coisa demais por lá para alguém que
não veio para morar.
Fecho os olhos e respiro fundo.
— Darei um jeito. Sou advogada, tenho que saber contornar isso aqui. Como acha que
faço nos problemas da Moon? Sou ótima com diálogos. Confie em mim... É sério, confie, Rafael,
porque parei de confiar. Estou surtando!
— Eles também são e vão ver que tudo não passa de mentiras!
— Respira, darei um jeito! — Espero.
Abrem a porta e seguimos eles.
— Nossa, não lembrava mais como era esse lugar — Celestino diz e eles olham ao redor.
A porta do closet está aberta e tem coisas minhas pelo quarto. — O Bryan está deixando você
deixar suas coisas por aqui? Ele está dividindo espaço? Quem é esse Bryan e o que fizeram com
o antigo? — Sorri.
— Boa pergunta! — Deus, me fala que isso é um teste e serve para eu ter uma grande
conquista lá na frente. — O senhor tem uma ótima questão. Mas tudo não passou de uma
enorme generosidade do coração dele. Eu tentei ficar no escritório, daria um jeito, compraria um
colchão de ar, mas ele não deixou. Pediu para eu jogar tudo no closet. Quase me joga lá também,
acreditam? — rio além do limite. Rafael me olha de lado, provavelmente assustado com meu
surto de riso. — Perdão — pigarreio.
Os dois me olham e sorriem confusos. Filipa deixa a mala em um canto, mas acaba
esbarrando em uma sacola, que está aqui desde o dia que vim ficar de vez aqui. Ela tomba e um
leãozinho sai de dentro dela.
De onde veio isso?
— Ah, Deus... — Rafael sussurra quase tendo um treco. Deus está sendo mais convocado
hoje do que foi em todas as nossas vidas, tenho certeza. O desespero aqui está forte.
Olho para ele e franzo o cenho.
— O que é isso? — Filipa pega e sorri. — Bryan deu para gostar de pelúcias agora? Mas
o danadinho do leão é fofo.
Rafael me empurra discretamente.
— Boa, senhora... — Sorrio. — Mas é m-meu. Ganhei da... Liz! A namorada do Rafael.
Me aproximo e ela me entrega o leãozinho e pego a sacola. Olho para a pelúcia, e para
dentro da sacola. Não tem mais nada lá.
— Eu não duvidaria se ele tivesse comprado para ele. É a cara dele, literalmente. O leão
parece ele! — Celestino diz e rimos.
Pior que o papai Nunes tem razão. O leãozinho é o Bry. Sorrio.
— Vamos deixá-los. Vou só pegar umas coisas. Espero que consigam descansar bem —
digo.
Corro pegar minhas coisas básicas para a noite, e nos despedimos deles saindo do quarto,
Rafael, eu, o leão e nossa culpa por estar mentindo.
Vamos para a sala e caímos sentados no sofá, soltando o ar com força.
— Conseguiu falar com ele? — me pergunta.
— Não. Estou começando a ficar preocupada. Ele sempre está com o celular — suspiro
desanimada.
— Deve ter ficado sem sinal ou bateria — Rafa diz e assinto. — Eles não vão acreditar
nessas mentiras por muito tempo. Bryan tinha que ter dito a verdade!
— Eu sei. Estou me sentindo horrível mentindo assim para eles. Quando descobrirem vão
me odiar. Nunca me viram pessoalmente e a primeira impressão que vai ficar é que sou
mentirosa. E nem posso ficar culpando o Bryan, tenho certeza de que não falou nada esperando
eu falar que podia fazer isso. — Encaro o leão. — Por que ele tem isso? — Balanço o leão.
— Achei que já tivesse te dado. — Sorri. — É para você sabe quem...
— Ele comprou para o bebê? — sussurro ainda mais e ele concorda. — Que inferno,
como vou ficar brava com ele por ter viajado no meio desse caos? Que merda! — choramingo.
Rafael suspira.
— Pois eu tenho como ficar bravo. Ele tem que voltar amanhã cedo e resolver essa
confusão. Eles estão perguntando demais, isso significa que estão desconfiados!
— Eu sei... Mas até agora tudo certo. Amanhã vou conversar com o Bryan. Não quero ele
mentindo para os pais também.
Rafa esfrega o rosto e abraço o leãozinho fofo. Bryan comprou para o nosso bebê...
Como não amar esse puto?
Espera... Amar? Até antes eu era só apaixonada. Foi isso que descobri esses dias, certo?
Barulho na porta e passos no corredor chamam nossa atenção e me tiram dos meus
pensamentos confusos.
Olhamos e é a Filipa. Em sua mão tem algo que me faz gelar. São as informações sobre a
gravidez que a doutora nos deu para lermos.
— Devo me preocupar por, ao lado da cama do meu filho, ter dúvidas sobre início de
gravidez?
Olho para o Rafael e ele me encara, está pálido, mas certeza que não mais que eu.
— Isso? É... Ah, é... — Rafael tenta, mas trava.
Ela me olha agora e sorrio, quase vomitando de vez.
— É uma campanha. Bryan foi chamado para fazer uma campanha fora da Santana.
Gravidez é o tema. É isso! — falo a primeira merda que penso.
Ela franze o cenho.
— Nossa, que susto! Pensei que ele estava me escondendo algo. — Ela ri, mas ficamos
quietos, desesperados. — Boa noite, meus amores. Preciso descansar e muito. Foi uma viagem
cheia de turbulência.
Assentimos e ela volta para o quarto.
— Eu vou vomitar! — Levanto-me às pressas.
— Vai para o meu banheiro, lá eles não vão escutar nada. Vou tentar falar com ele... de
novo! Já vou lá ver como você está, tudo bem?
Assinto rápido.
Deixo o leão no sofá e corro para o seu banheiro, onde me jogo no chão, colada à privada
e coloco tudo para fora, só que dessa vez é pelo nervosismo também.
BRYAN
Entro em casa empurrando a pequena mala com cuidado, para não acordar o Rafael e a
Ana. São seis horas da manhã e não sabem que troquei o horário do voo, fiz isso antes de ir para
Curitiba, mas não consegui avisar a tempo, acabei ficando muito ocupado no evento.
Esqueci a merda do carregador, não encontrei nenhum por lá, fiquei sem bateria. Espero
que nada tenha acontecido nesse meio tempo. Literalmente não dormi, esperando a hora de ir
para o aeroporto.
O cheiro de café chama minha atenção, e quando olho para a cozinha, após tirar a jaqueta
e jogar em cima da mala, vejo Ana, está de pijama ainda. Os cabelos presos em um coque alto, a
franja caindo nas laterais do rosto e uma carinha de sono.
— Bry — sussurra e se aproxima rápido, se jogando em meus braços.
Abraço-a apertado e beijo seu pescoço, antes de virar seu rosto para mim e beijá-lo.
Porra, nunca vou enjoar dessa sensação que é ter essa mulher em meus braços.
— Bom dia, meu bem.
— Bom dia... Estava preocupada. Não disse que viria cedo.
Sorrio e acaricio seu rosto.
— Fiquei sem bateria. Esqueci o carregador aqui e não consegui nenhum, e por isso não
avisei que viria mais cedo. Me perdoa. Está tudo bem? Aconteceu algo? Por que já está
acordada? Por sorte levei a passagem impressa também, porque estava tudo no celular. Fiquei
desesperado por não conseguir dar notícias.
Ela força um sorriso, parece nervosa. Afasto-a e olho para a sua barriga.
— Estamos bem. Eu e o bebê. — Sinto um alívio com suas palavras. — Mas não dormi
direito.
— Enjoo?
— Um dos motivos.
— Um dos? O que houve, Ana?
Puxo-a novamente para mim e beijo seu pescoço, antes de me inclinar e levantar a blusa
do pijama e beijar sua barriga.
— Bom dia, amor do papai.
— Bryan, não faz isso! — fala baixinho, mas bem nervosa.
— Por que não? O que está havendo? — Ergo o olhar e encaro-a.
— Temos que conversar e muito rápido!
Olho para a sua barriga de novo.
— Ok, o papai está encrencado?
— Bryan! — Ela me puxa e agarro seu rosto, beijando sua boca. — Para! — Me empurra
de leve. — Foca no que vou dizer.
— Vou focar, só preciso de mais um beijo. Estava preocupado sem ter notícias sua e do
nosso bebê!
Ela sorri e balança a cabeça. Então me beija, cedendo ao meu pedido.
— Como é? — A voz que surge me faz estremecer, engolir em seco e sentir minha alma
sair do corpo.
— Esse era o assunto... E você acaba de destruir horas de um roteiro digno de Hollywood
— Ana sussurra, mais apreensiva.
Olho para onde a voz veio e minha mãe está parada, de camisola, descabelada. Meu pai
ao seu lado. Ambos me olhando chocados, e atrás deles o Rafael, mais branco que papel.
Eu só fui viajar por algumas horas e o mundo entrou em colapso?
— Vamos! Quero resposta. Por que estavam se beijando e que história é essa de “nosso
bebê”? — Minha mãe insiste.
— Ela tem razão. Filho, o que está realmente havendo aqui? — meu pai insiste.
— O que vocês fazem aqui? — indago encarando-os.
Olho para a Ana e o Rafael em seguida e eles estão nervosos. Bem nervosos. Seus olhares
entregam isso.
— O único nesse momento que nos deve explicações são os três! — meu pai fala.
— Por que disse que só era amiga do Bryan, Ana? — minha mãe pergunta e olho para a
loira ao meu lado.
— Você disse isso? — questiono e ela dá de ombros.
— Ela disse. E ambos disseram que você não tinha ninguém. Estavam nervosos. E agora
até um bebê surge na história. Que bebê? — minha mãe volta ao assunto.
— Calma! — Fico nervoso. — Vamos todos nos sentar, tomar um café e tentar resolver
essa bagunça toda. Mas antes preciso falar com esses dois!
Seguro a mão da Ana e caminho com ela.
— Não pensem que vão arrumar mais mentiras! — meu pai avisa.
— Não i-iremos, Celestino — Rafael informa.
Ana passa por eles comigo e pede desculpas baixinho. Puta merda, eu só fui viajar. Só
isso.
Empurro o Rafael e entramos em seu quarto, onde vejo as coisas da Ana.
— Dormiu aqui?! — Fecho a porta.
Eles param no meio do quarto. Esfrego o rosto tentando entender que merda aconteceu.
— Dormi. Eles ficaram no seu quarto e o Rafa na sala.
— Certo. O que falaram a eles? Por que mentiram? E o que eles estão fazendo aqui?
— Queria que disséssemos a verdade sem você aqui? Ficou louco? — Rafael diz.
— Dissemos que eu era sua amiga e estava aqui porque minha casa estava em reforma.
Eles viram o informativo sobre gravidez e contornei, falando que era uma campanha fora da
Santana que estava fazendo. Entrei em pânico não sabia o que dizer, Bry! — Ana está bem
nervosa.
— Porra. — Olho para o Rafael que me encara. — Espera, você ficou insistindo para eu
falar logo a verdade a eles. — Passo a mão no cabelo. — Seu nerdzinho filho da puta, você sabia
que eles viriam, não sabia?! Rafael!
— Nãooo! — ele responde nervoso.
— Rafael... — Caminho na sua direção e ele corre pulando sua cama, parecendo um
doido, e a Ana entra na minha frente. — Eu vou te matar, Rafael!
— Eu não sabia! — Ele encosta na parede cheio de quadros. — Juro que não sabia! Foi
apenas azar em ter dito e eles aparecerem.
— E por que está correndo, cacete? Virou o Jackie Chan do nada! — Fico olhando para
ele, ainda sem entender seu medo. Eu só iria socá-lo rapidinho.
— Porque você está puto e vai me matar! Quem deveria matar os dois sou eu. Me
colocaram nessa bagunça, e a Liz não quer nem se meter, sendo que é a melhor amiga dela na
confusão também!
— Ele não sabia. Sei disso. Eu vi como ele ficou em choque. Bryan, se acalma. A única
pessoa aqui com quem tem que ficar bravo é comigo.
— Com você? Ana, pelo amor de Deus! — reclamo, cansado e querendo resolver logo
tudo isso.
— Sim. Eu foquei tanto em mim e na minha vida, que esqueci que você tem uma também
e precisava resolvê-la. Não falei que poderia dizer a eles a verdade. Sei que só me respeitou.
— Ana...
— Desculpa. Eu vou consertar essa merda. Não quero que arrume conflitos com eles por
minha causa.
— Para com isso, amor. — Puxo-a para mim. — Ninguém aqui teve culpa... — Encaro o
Rafael. — A não ser esse filho da mãe!
— Eu não sabia! — insiste.
— Mas lançou a praga! — revido.
Me olha bravo e dou de ombros. Quem não deve não corre e muito menos pula a cama.
— Vão resolver logo isso. Ficar aqui só vai piorar tudo. Vou deixar vocês a sós —
informa e assinto. — Para de me ameaçar com o olhar, seu maluco!
Dou um sorrisinho e a Ana me empurra.
— Vamos, Bryan!
Saímos do quarto.
São só seis horas da manhã e o dia já está rendendo.

Contei a verdade a eles, absolutamente tudo, até porque a Ana mesmo disse a verdade
sobre como engravidou e sobre o pai biológico. Eles estão sentados no sofá, boquiabertos. Acho
que é a primeira vez na vida que vejo meus pais mudos.
Ana está sentada na poltrona que viramos para o sofá onde estão. Coloquei uma cadeira
ao seu lado e me sentei, para ficar pertinho dela.
— Deixa eu ver se entendi... — Minha mãe pigarreia. — Ana está grávida, você assumiu
a criança, descobriram que estão apaixonados, e agora ela mora aqui porque saiu da casa onde
estava tendo problemas com os pais...
— Ele roubou a criança, querida. Ana deixou claro isso. Seu filho roubou! — meu pai a
interrompe.
É, tem essa parte. Ela alegou que eu roubei a criança antes mesmo de nascer. Um
absurdo!
— Detalhes... Apenas detalhes, Celestino! — Ela nos olha. — A Ana, meu filho? Está
apaixonado e virou pai do filho da Ana Vitória? Esta que você chamava de Barbie metida e
estragada, patricinha entojada, irritante, bruxa, carma que carregava na amizade com a Liz, loira
insuportável, gostosa mais irritante... Quais eram os outros adjetivos que ele usava, querido?
— Psicopata era um, não? — Meu pai ajuda.
Ana vira o rosto lentamente na minha direção e engulo em seco.
— Como é? Bryan, você fala isso de mim? Por isso sua mãe riu ontem quando descobriu
quem eu era! — diz entredentes.
— Eles confundiram, meu bem. Era outra Ana! — Sorrio sentindo a morte chegar.
Ela balança a cabeça negativamente. Não vai esquecer tão cedo isso. Estou fodido, e de
novo, era para ser só uma viagem e um retorno tranquilo.
— Mas, e o pai da criança? E se ele retornar, como vão fazer? Ele tem todo direito de
querer estar na vida da criança se desejar, até porque, ele nem sabe de nada, não podem culpá-lo
de nada... — meu pai questiona, e sei que é seu lado advogado em ação.
— Podem sim. Péssimo uso do pau e da camisinha! — minha mãe declara e quero rir,
mas me controlo, porque meu pai a olha de lado e em seguida para mim, como se esperasse eu
rir.
Olho para a Ana, que começa a falar:
— Eu busquei por ele, porém o hotel não pode fornecer informações, é parte política de
privacidade dos hóspedes, e gravei uma das ligações como garantia. Também procurei na rede
social do hotel, tem fotos da festa daquele dia, olhei cada pessoa que curtiu e comentou, nenhum
deles era ele. O hotel tem muitos seguidores nas redes sociais, seria impossível encontrar
olhando um por um, nunca terminaria de ver, não sem ter um nome.
Franzo o cenho.
— Quando fez isso? — sussurro.
— De madrugada e hoje cedo — confessa.
Meu corpo gela. E a ansiedade começa a crescer dentro de mim. Aceno lentamente com a
cabeça apenas e olho para os meus pais, só para desviar o foco.
Eu sei que ele pode aparecer, mas me desespero todas as vezes que ela tenta buscá-lo,
porque meu maior medo é ele querer levar essa criança, e tornar da vida da Ana um inferno, não
sabemos quem ele é, seu caráter... Não sabemos nada. Mas também me causa medo em perdê-la
para um estranho. Sei que é idiota sentir ciúmes disso, mas sinto, porque essa insistência dela me
causa ansiedade pelo que ela quer descobrir, porque talvez seja algo que me tire de sua vida e da
vida do bebê.
Engulo em seco e travo o maxilar.
— Querido, ainda que ele apareça, ela procurou, tem provas, e pai é quem cria, e o Bryan
vai fazer isso, nós iremos criar essa criança!
— Querida, entendeu que seu filho tomou posse de um bebê alheio?
— Entendeu que ele nos deu um neto e uma nora depois de anos, e não podemos perder?
É raro isso aqui. É tipo aquela brecha na lei perfeita que encontramos. Não estrague o momento
sendo muito certinho. Não é hora para isso, Celestino!
Ana ri baixinho e sorrio para eles. Meu pai balança a cabeça e suspira antes de sorrir
também.
— É uma chance em um milhão dele aparecer, e se ele quiser aproximação à criança,
darei desde que eu confie nele, mas jamais tirarei os direitos do Bryan, e nunca deixaria ele fazer
isso, pode virar a maior briga na justiça, mas nunca tiraria o filho de vocês do lugar de
paternidade, não depois de tudo. Ainda que o pai biológico não tenha tido chances de saber a
verdade, ele pode ser pai no DNA, mas jamais vai ter todos os direitos que o Bryan tem, isso
jamais permitiria, não a um estranho de uma única noite, uma noite maluca, e sem
responsabilidade nenhuma de ambas as partes. Podem me chamar de egoísta, bruxa, ou o que for,
mas essa criança vai crescer sabendo de toda a verdade, principalmente de quem protegeu e
cuidou desde o primeiro instante que soube da existência dela. Se um dia quiser procurar pelo
pai, ajudarei, será um direito do meu filho ou filha, mas nunca vou deixar esquecer quem
realmente merece o título.
Olho para a Ana e meus olhos marejam. Ela me encara e sorri, emotiva e ainda mais
linda. É como se ela tivesse lido minha mente, minutos atrás. Ela falou exatamente o que eu
precisava ouvir nesse momento.
Pisco rapidamente e sorrio.
— Ai, meu Deus. Serei vovó! Estão perdoados pela mentira. Rafael, pode sair, não
vamos te bater! — ela grita toda emotiva, nos fazendo rir.
— Me perdoem de verdade. Queria ter dito a verdade, mas era o lugar do Bryan fazer
isso, ele precisava estar junto — Ana se desculpa e meus pais sorriem para ela.
— Está tudo bem, querida. Agora entendemos tudo, e sabemos que só queria fazer do
jeito certo. — Minha mãe a acalma.
— Espero que continuem pensando assim quando eu matar o filho de vocês por falar
tantas coisas ruins sobre mim! — Me olha de lado e dou uma piscadinha para ela.
— Depois até te ajudo. Agora me conte tudo sobre o bebê. Exames, quando teremos o
sexo. Quero saber tudo. E temos que abastecer essa casa, te deixar bem alimentada. Ah, e deixar
um ambiente melhor para uma criança que vai chegar. E sobre seus pais, se precisar de defesa,
nos chame, estou louquinha para uma briga forte!
— Mãe! — chamo sua atenção e a ruiva dos olhos verdes sorri.
— Obrigada por entenderem. E vou contar tudo sim. Só preciso tentar comer qualquer
coisa, porque estou começando a ficar enjoada.
Sorrio para a loira. Que bom que está querendo comer, lembrando de se cuidar como a
médica disse.
— Vamos. Vou preparar um café da manhã reforçado para todos! — Meu pai sai do sofá.
— Vem, Bryan!
— E deixar a dona Filipa sozinha com ela e fazendo minha caveira?
— Se não fizesse tanta merda não teria medo agora. Vamos!
Ele me puxa e olho para ambas.
— Mãe, controla a língua! — imploro.
— Não controlei nem meu cabelo essa manhã. Se eu conseguir controlar a língua vai ser
um milagre!
Ana ri e me encara sussurrando: “São iguais!”. Não sou igual. Minha mãe é doida!
— Temos que pensar no quartinho. Arrancar as tralhas do Bryan daquele escritório. Você
e o bebê são prioridade agora. E, além disso, temos chances de casamento? Me deixem ficar
iludida! — minha mãe praticamente implora e começo a rir.
— Não. Sem casamento por aqui. Nunca na vida me casaria com ele. Isso é ultrapassar o
meu limite de suportar o filho de vocês, com todo respeito, claro — Ana revida.
— Como é? Amor, já vivemos uma união estável! Daqui para a aliança dourada é dois
segundos! — me revolto.
— Não vivemos não! Começamos a morar juntos agora, essa é a nossa única ligação no
momento, e ninguém nem sabe da gente. Não tem como provar nada. Além disso, depois dos
seus “elogios” a mim, fica difícil sua situação!
— Ela tem muitos pontos! — meu pai declara.
— Mas que porra, estão do lado de quem?
— Dela! — Ambos respondem juntos.
Era só o que me faltava.
— Rafael vem aqui me defender. Agora! — grito. — E morarmos juntos não é a a única
coisa que nos conecta, meu bem. A criança é uma delas... Tire esse direito de mim, que eu
cometo loucuras!
— Filho, tem medo de barata, que loucura cometeria? Me poupe! — Meu pai continua
me humilhando. Ana ri, porque está adorando isso.
Caralho!
O interfone toca e sei que é reclamação pela barulheira. O vizinho de baixo deve estar
puto, ele adora reclamar de mim.
Rafael aparece e coloco ele para atender. Ele sempre resolve melhor isso. Meu pai
começa a conferir as coisas, rindo da minha raiva. Minha mãe está conversando com ela, e nem
quero saber o assunto.
Ana me encara rapidamente e aponto para o dedo anelar. Ela sussurra: “Nem fodendo!”.
Nunca li tão perfeitamente um lábio como agora.
Mas vai se casar sim, só pelo desaforo!
Sou acusado de roubar criança.
Diz que nunca na vida se casaria comigo.
Perco meus pais em segundos.
Caralho, não viajo mais a trabalho!
ANA VITÓRIA
Sentimento de paz é o que sinto agora. Saber que os pais do Bryan não ficaram magoados
e nem acharam loucura tudo isso, me faz relaxar de verdade. Não quero que ele tenha com a
família os mesmos problemas que tenho, isso não é legal. Se eu falar que me sinto tranquila em
cem por cento por tudo que aconteceu, mentirei, porque dói, são meus pais, minha família, amo
eles, e os queria vivendo essa fase comigo, ainda que eu entenda que preciso desse tempo longe,
para recomeçar de verdade e priorizar a gravidez.
Então fazer com que o Bryan passe pelo mesmo jamais seria uma opção para mim. Nunca
seria egoísta em deixá-lo virar as costas para a família caso achassem tudo isso uma loucura, que
de fato é, a nossa loucura, que o destino nos escolheu para vivenciar.
Estou no quarto com ele, que está se arrumando sozinho, já que me arrumei primeiro.
Vamos levar seus pais ao hotel, porque, como vieram a mando da empresa, precisam estar lá, que
está tudo pago, e também ninguém ficará em casa hoje, tenho trabalho, o Rafa e o Bryan
também, e eles têm uma reunião na empresa que trabalham, e depois vão para a casa dos pais do
Rafael, vê-los. Porém mais tarde jantaremos juntos, o Celestino quer preparar um jantar para
comemorar terem um neto. Sério, eles são perfeitos.
Ajeito a juba do leãozinho. Estou sentada na cama. Ele está no banheiro, ajeitando o
cabelo e a barba, que cortou em Curitiba, está mais curto o cabelo e a barba muito bem feita, o
que me traz uma leve pontadinha de ciúmes, já que se arrumou perfeitamente para o evento, mas
me recuso a colocar isso para fora, jamais.
— O leão era para o bebê, mas pelo jeito terei que comprar outro — comenta e o encaro,
rindo.
— Idiota. Claro que não. Ele é fofo. Por que não me entregou?
— Digamos que nossos dias foram bem agitados. Acabei adiando. Não vou nem
perguntar se gostou, estou começando a ficar com ciúmes dessa pelúcia!
— Ele é lindo. O bebê vai amar, tenho certeza. É sua cara, bem que o seu pai falou!
Ele resmunga e lava as mãos, saindo do banheiro. Bryan é muito gato e gostoso, e parece
que a cada dia isso fica ainda mais em evidência. Puta que pariu.
Deixo a pelúcia de lado e o encaro, antes de suspirar.
— Não fica chateado porque procurei novamente o pai do bebê. Eu vi como ficou mais
cedo.
Ele ajeita a manga da camisa preta. Está todo de preto hoje, o que é um enorme problema
para mim, porque preciso focar em outras coisas que não sejam ficar babando nele.
— Claro que fiquei. Mas entendo você. Só não entendi por que de novo isso.
— Porque pensei que seus pais julgariam eu não saber nada do pai do bebê... Entrei em
desespero.
Ele me olha puxando o celular da cômoda para colocar no bolso, agora carregado, ainda
bem, senti falta das suas mensagens me irritando.
— Para de ter medo do que as pessoas vão dizer ou pensar. O que importa é o que nós
dois sabemos e acreditamos — fala me fazendo assentir, porque ele está certo.
Caminha para onde está sua pequena mala e coloca ela na cama. Abre, tirando uma
sacola rosa de dentro.
— Iria te entregar mais tarde, mas como preciso limpar a minha barra após meus pais
abrirem a boca sobre o que eu falava de você, melhor começar desde já a lutar pela minha vida.
Começo a rir e pego a sacola.
— Se for uma Barbie, vou acertar sua cabeça com ela. Estou avisando! E sobre as merdas
que dizia, espero que tenha falado que me irritava também.
— Isso nunca vai saber, amor. Agora olha logo o presente e para de reclamar. — “Amor”
essa palavra me faz estremecer toda vez.
Tiro o presente da sacola, abrindo-o e começo a rir sem acreditar.
— Sério? Bryan!
Ele ri e se inclina na minha direção puxando meu queixo para cima e beijando meus
lábios. Será que em algum momento vou parar de ficar tão derretida por ele?
— Achei sua cara quando passei e vi na vitrine.
— Não imagino o motivo! — Reviro os olhos e sorrio.
Ele me deu um cardigan rosa, é lindo, mas eu sei o motivo de fazer isso.
— Não é só por eu gostar de rosa. — Olho-o e ele ri de um jeito arteiro.
— Não. É porque me lembrou a Barbie, ela usaria algo assim, delicado, fofo e bem rosa.
E como eu tenho uma Barbie em casa, queria vestir ela...
— Para de me chamar de Barbie, seu puto! — Começo a rir, e ele se afasta sorrindo. —
Eu amei, é lindo. Obrigada!
Levanto-me e vou em sua direção, me pendurando em seu pescoço. Ele me segura, e
deixo um beijo em sua boca, rápido. Me afasto dobrando a peça e colocando na sacola de novo.
Viro-me para ele, que está me olhando todo bobo.
— O quê? — pergunto sem jeito.
— A gravidez só realçou sua beleza. — Reviro os olhos, totalmente sem graça. — É
sério. Está com um brilho diferente, principalmente nesses olhos lindos.
— Para. Não te perdoei ainda! — Pego minha bolsa na cama e ele me puxa para si.
— Mas vai me perdoar mais tarde... — Agarra meu pescoço e leva a boca a minha orelha:
— Quando eu te foder bem gostoso.
Sinto borboletas voarem dentro de mim, com muita velocidade.
— Para de ser cretino! — sussurro, e ele morde meu lóbulo. — Bryan, não vai diminuir
sua merda assim!
— Veremos, meu bem. Veremos! — Sorri bem safado e acerta minha bunda, antes de me
dar um beijo rápido e nos afastarmos. — Vamos, vou te deixar na Moon, e meus pais no hotel.
Almoça comigo?
— Pode ser na Burguer Place? Gosto de lá — peço e ele concorda. — Topo então. Te
encontro lá, o Mathias me leva! — Sorrio.
— Ok, patricinha.
— Bryan, vai à merda! — Empurro-o e ele gargalha.

Estou na sala do meu pai, em uma reunião com ele sobre algumas pendências da
empresa. Minha mãe está cuidando dos ajustes dos eventos. Tento deixar o clima mais tranquilo,
evitar o estresse, e ao menos ele parece querer o mesmo.
— Todas as informações foram passadas aos funcionários, sobre questões jurídicas —
informo sobre a reunião de hoje que ele não participou. — Ah, o cliente que tem dado dor de
cabeça, finalmente resolveu tentar ajeitar as coisas, vamos ver como será, tudo para o processo
está em andamento, porém veremos como ele finalmente decidiu solucionar essa confusão.
— Certo. Os contratos dos novos clientes?
— Tudo enviado, até mesmo os mais recentes. E o que tinha que ser atualizado também
foi. Os termos de sigilos dos que pediram também foi feito. E a nota pública sobre as últimas
confusões que o cliente armou está nas mãos da equipe de marketing e relações públicas, mas
pedi para segurarem, temos que ver o que ele quer conversar conosco. Falta apenas conferir as
exigências que a revista Sunshine solicitou para ver se estão dentro dos limites do contrato. A
Luna Publicidades já vai para a parte do evento, tudo certo com eles. Eram nossos maiores
clientes no momento que ainda tinham algumas pendências.
Anoto algumas coisas enquanto vou falando, e quando termino encaro-o. Ele está me
olhando, analisando, e não sei dizer se sua expressão diz algo, é uma incógnita para mim.
— Sua avó falou que esteve em casa e expulsou ela, sua tia e prima do quarto. — Bate de
leve a caneta dourada sobre a pasta preta.
— Sim, eu fiz. Porque não vou ficar mais aguentando elas me provocando e,
principalmente, envolvendo meu filho nisso!
— Filho? É menino? — sussurra. — E o que elas provocaram?
— Não sei o sexo. Só modo de falar. E sobre ela, não quero ficar voltando a essas coisas,
mas conhece sua família, nunca falam algo se não forem descer o nível e tentar humilhar. —
Levanto-me com minha agenda e caneta. — Tudo foi passado ao senhor. Vou sair para almoçar e
depois terei outras reuniões. Qualquer novidade aviso ou a Maria Júlia o informa.
Assente.
— Já está aparecendo mais. — Franzo o cenho, confusa. Ele indica minha barriga. Ah...
— Está. Entrei no segundo mês e amanheceu um pouco mais aparente.
A saia branca que estou de cintura alta, ajuda a destacar que tem algo acontecendo com
meu corpo. E Bryan não perdeu a chance em tirar uma foto antes de sairmos de casa. Eu só
queria saber para que tanto ele quer essas fotos.
Ele só concorda, não diz mais nada. Queria que ele fosse menos frio, isso já ajudaria
bastante. Saio de sua sala, ajeitando a blusa bege de manga longa que está por dentro da saia, é
um modelo bem delicadinho, bonito. Nunca me senti tão bonita como estou me sentindo hoje.
Talvez o Bryan tenha razão: algo está diferente e para melhor.
Caminho pela Moon e está uma correria com os eventos da semana, todos muito
importantes. Cumprimento algumas pessoas até chegar na minha sala.
Preciso me encontrar com o Bryan daqui a pouco, mas combinei de passar na Santana
para ver a Liz e a sua sala nova, então já tenho que sair logo. Pego minhas coisas e vou ao
encontro do Mathias, que já espera para me levar.
BRYAN
A semana foi dividida entre meus pais, Santana e ajudar a Ana a trazer suas coisas. E
agora sinto meu corpo relaxar por finalmente ser final de semana e poder respirar longe do modo
gerente de marketing e dar mais atenção aos meus pais, que vão embora amanhã.
Os pais do Rafael nos convidaram para almoçarmos lá, e estamos esperando meus pais
chegar para irmos, já que saíram para comprar umas coisas que querem levar aos Estados
Unidos. O Rafael já foi com a Liz, faltam somente nós, e de lá vamos ao fliperama, faz tempo
que não vamos em nenhum da Santana, seremos só nós, sem a skin profissional.
Aproveitarei para ter notícias do Jorginho, o coitado está longe por muito tempo e preciso
saber se o pai do Rafael não está me enrolando para eu finalmente dar um fim no coitado.
Mas no momento só consigo focar na pessoa na sala, usando um vestido bem curto de
alças finas, lilás. Seus seios estão esmagados pelo tecido, que é nítido que está mais apertado em
seu corpo. Ela carrega um par de tênis branco e uma bolsa da mesma cor.
— Estou pronta. Desculpa, eu precisava conferir umas coisas da Moon ou não teria paz.
— Deixa o tênis branco no chão e a bolsa na poltrona. — Como estou?
— Gostosa. Linda. Me deixando duro... Tantas coisas...
— Como pode ser tão cretino? Meu Deus!
— Meu jeito especial, que eu sei que ama! Agora, enquanto eles não chegam, vem aqui
me dar um beijo. — Dou tapinha em meu colo e ela me olha desconfiada. — Passou a manhã
toda trabalhando, em pleno sábado, só preciso de um pouquinho de atenção da mamãe mais linda
do mundo.
— Jogo sujo envolver a gravidez!
Se aproxima e seu perfume me embriaga. Porra, eu tenho um tesão enorme por essa
garota, e isso não vai mudar nunca pelo jeito.
Puxo-a para o meu colo, agarrando sua cintura, e trazendo seu rosto para mim. Beijo seus
lábios rosados pelo gloss que utiliza e não me importo com isso. O sabor morango se mistura no
beijo que se torna melado, mas delicioso.
— Bryan... — sussurra no instante que meu pau começa a endurecer embaixo da sua
bunda. — Acabei de me arrumar... — Puxo seu lábio inferior e ela ofega.
— E está me deixando louco com esse vestido.
— Disse o mesmo quando eu estava com sua camiseta esses dias.
— Não tenho culpa se fica gostosa em qualquer coisa!
Sorrio e ela bate em meu ombro.
— Sem aprontar! — me fala, mas é tarde demais, estou tão duro que chego a gemer só
por ela se mexer em meu colo.
Observo seu rosto lindo. Os cabelos soltos com ondas. Seus cílios dignos de boneca.
Como pode ser tão perfeita? Sou um homem muito sortudo.
— Sabe, notei algo... — pergunto e ela inclina o rosto me analisando. — Fica de quatro
para mim, meu bem. — Minha voz está muito rouca, porque estou sendo tomado pelo desejo.
Me olha confusa, e um sorrisinho surge em seu rosto, assim que compreende.
— Quê? Aqui? Agora? Bryan! — chama minha atenção.
— Exatamente o que ouviu. Aqui. Agora. — Levanto-me trazendo seu corpo comigo. Ela
fica de pé à minha frente, nossos corpos colados. Aperto seu rosto com uma mão e beijo sua
boca, não é delicado, mas só dela gemer me diz que está adorando. — Percebi que ainda não
havia te fodido assim... de quatro... — Sinto seu corpo estremecer.
— Eles já devem estar chegando. Podem subir e...
— Então é melhor ser rápida, Ana Vitória, e fazer o que falei. Fica de quatro. — Minhas
palavras saem em tom de ordem, e no momento, é isso mesmo.
Viro-a, colando sua bunda em meu pau e suas costas em meu peito. Beijo seu pescoço e
ela inclina a cabeça para o lado.
— Para de ser puto. Está muito tarado, não acha? — sussurra.
— Se eu colocar a mão nessa boceta, tenho certeza de que estará molhada. Não é
diferente de mim.
— Engano seu... — Mordo sua pele e ela ofega mais forte. Subo seu vestido e deslizo a
mão por dentro da calcinha de renda. — Bryan... — geme meu nome, empinando mais ainda sua
bunda no meu pau e me fazendo gemer.
— Está molhada. Muito molhada.
Tiro a mão e subo em direção aos seus seios, apertando e ela geme mais forte. Percorro o
caminho até seu pescoço, apertando de leve e virando seu rosto para mim. Seus olhos estão mais
intensos, e seus lábios entreabertos.
— Fica de quatro, Ana Vitória. Agora.
Solto-a e empurro seu corpo para o sofá, com cuidado, afinal ela carrega nosso bebê. A
loira fica de joelhos sobre ele, apoiando-se no encosto, bem empinada. Seus cabelos caem para o
lado, longos, bonitos. Tenho a visão da sua bela bunda e a calcinha enterrada nela.
Me aproximo, tocando a carne macia e apertando forte, enquanto abro o meu cinto e a
calça com a outra mão. Ela me observa, está ansiosa, provavelmente preocupada de alguém
chegar, mas isso só torna tudo mais gostoso ainda.
Coloco meu pau para fora, e afasto o tecido molhado de sua boceta. Alguns pelos
começam a crescer ali no que era totalmente depilado, mas isso nunca tiraria meu tesão, só tiraria
de algum idiota.
Penetro-a e ela geme alto e não sou diferente. Aperta sua cintura e apoio um joelho no
sofá, ao lado da sua perna direita. Suas mãos apertam ainda mais o encosto, afundando o
material.
Entro e saio de dentro dela, fodendo sua boceta que me devora. Ela me engole gostoso,
apertando-me. Nossos olhares estão presos um no outro, e vê-la com os lábios entreabertos,
gemendo, a bochechas mais vermelha, e o olhar embriagado pelo desejo, só me deixa mais
louco.
— Mais forte... — pede ofegante, e sorrio.
Aumento o ritmo, indo mais forte como ela queria. Seu corpo vai para a frente a cada
movimento do meu. Ela rebola entre as estocadas.
— Porra, Ana! — Abro os lábios, gemendo alto. Ela retribui apertando-me mais forte
ainda. — Caralho! — xingo de novo, indo mais fundo ainda.
Vozes e passos no corredor ao lado de fora invadem o apartamento. Ela me olha
assustada.
— Bryan... Aaaah...
— Quieta. — Puxo seu cabelo, trazendo suas costas para mim, a bunda ainda bem
empinada. Não paro de meter dentro dela. — Sem barulho... Estamos quase lá... Calma...
Eu conheço bem seu corpo. Ela quer gozar, porque não para de me apertar, e seus olhos
marejam.
A campainha toca. São eles. Ela me olha, e apenas tampo sua boca, indo mais rápido nos
movimentos. Controlando meus gemidos ao máximo.
Ela ergue um braço, cravando as unhas no meu pescoço. Largo sua boca.
— Bry... — sussurra entre os gemidos baixos. A campainha toca novamente. — Eles...
— Primeiro nós... Foca em nós, princesa. — Aperto seu rosto, roçando a sua bochecha
com meus lábios.
Ela fecha os olhos, focando em nós, e sei que faz isso, porque seu corpo torna a relaxar, e
ela começa a gozar no meu pau, me fazendo ter a mesma reação. O orgasmo a faz estremecer. A
campainha toca de novo, e eles chamam por nós.
Meto mais um pouco, tendo certeza de que derramei tudo dentro dela, e só então saio.
— Consegue ir para o quarto? — Ela nega fraca e isso me faz sorrir. — Tudo bem, amor.
Calma... — Beijo sua testa e mantenho-a colada em mim.
Grito para eles, finalmente. Informo que já vou. Levo-a para o nosso quarto, e deixo-a
sentada na cama, enquanto me limpo rapidamente para ir abrir a porta.
Saio do quarto dando uma piscadinha para ela que me ergue o dedo do meio, brava, afinal
se arrumou e vai ter que fazer isso de novo, mas por uma boa causa.
Abro a porta para os dois, e eles entram reclamando da demora.
— Não sabia onde havia colocado as chaves, e a Ana esqueceu a dela na Moon. Ela está
terminando de se arrumar e podemos ir — minto na maior cara de pau, enquanto na minha mente
só se passa o que aconteceu minutos atrás.
— Perfeito. Compramos coisinhas para o bebê. Achamos cada coisa fofa.
Começo a rir da empolgação da minha mãe. Meu pai me olha de lado e balança a cabeça.
— Ela vai comprar mais nos Estados Unidos, se preparem! — ele sussurra em meu
ouvido e gargalho.
— Ei, estou aqui, falem para eu ouvir também!
Deixam as sacolas no chão.
— Aproveitaram bem as compras, hein?! — Já eu aproveitei bem a minha mulher, o que
considero muito melhor, até que cronograma capilar. Sorrio.
— Muito! — minha mãe fala bem empolgada e me agarra animada.
— Ela vai nos fazer ser barrados no aeroporto! — meu pai reclama e ela dá de ombros.
— São coisas essenciais!
— Doce de leite é essencial, querida?
— Claro que é. Muito mais que cuecas novas! — revida. — Poderia comprar isso lá.
Começo a rir, porque me lembram a relação entre mim e a Ana.
— Cadê a Ana? Ela comeu? Está melhor dos enjoos? — meu pai pergunta, cortando o
assunto compras.
Minha mãe se afasta.
— Sim para tudo. Está terminando de se arrumar. — De novo.
— Estou pronta! — Ela aparece, e se eu não soubesse o que fizemos, diria que nada
aconteceu. Está toda perfeitinha novamente. — Vamos? Estou ansiosa para o enterro do
Jorginho!
— Não fala assim dele! — reclamo e eles riem. — Ele tem sentimentos. Vamos logo,
seus traíras!
Pego sua bolsa e ela calça os tênis, apoiada em mim. Meus pais ficam nos olhando e
sorrindo.
ANA VITÓRIA
— Ele não morreu!
— Morreu, Bryan. Ele morreu. Esse carro já era. Não tem conserto — Rafael repete o
que seu pai disse ao Bryan.
Bryan encara o painel do carro. Ele está dentro do Jorginho, indignado. Estou encostada
na parte da frente. Finalmente ficaremos livre dessa coisa. Esse carro me gerou traumas.
— Bryan, você tem o meu carro!
— E tem o seu carro que está comigo. Aposenta esse! — Rafael revida.
— Eles têm razão. Não é mais seguro remendar algo aí. Já deu. É daqui para o ferro
velho — Aquiles fala, deixando claro que não arruma mais nada.
Bryan sai do carro e apoia as mãos no teto dele, nos olhando.
— Vocês são insensíveis. Estou sofrendo um luto aqui, sabia?
Prendo o riso e desvio o olhar. O senhor Aquiles resmunga e olha para o filho.
— Se vira. Eu desisto! Coloque juízo na cabeça dele! — Aquiles enfurece.
Ele entra dentro da casa e eu quero fazer o mesmo, estou com fome e a dona Helena fez
doces deliciosos. Mas tenho medo do Bryan dar fuga com esse carro, nem que ele tenha que
empurrar por toda São Paulo.
— Pega o seu carro que está comigo. Eu vou ver um carro para mim. Se o problema é
ficar sem carro...
— Esquece isso. Aquele carro é seu! Pronto. Satisfeito? É para ficar com você!
— Para de ser maluco! — Rafael replica e bufo cansada. Eu quero comer!
Viro-me para eles.
— É o seguinte. O Bryan sempre teve esse carro para você. O carro nunca foi para ele, e
sim para você que precisava mais. Falei, estou leve. Ele tem o meu carro, odeio dirigir em São
Paulo, então vai ser ótimo ter alguém além do Mathias para me carregar para cima e para baixo.
Ele pode ficar com o meu até comprar um, o que acho que não é necessário, já que tenho o
Mathias, que está logo ali, perto do Vitor. E estou a ponto de pedir ao segurança da Liz e ao meu
para darem uma surra no Bryan e um fim nessa tralha, porque eu quero comer, e vocês ficam
nessa palhaçada de quem fica ou não com um carro! — grito nervosa. Eu quero docinhos!
Ambos me olham assustados.
— Desculpa, é a fome. Estou grávida, relevem! — Dou de ombros.
Rafael olha para o amigo, e balança a cabeça.
— Isso é verdade?
— Sim. Não fica bravo.
Rafael sorri destacando suas covinhas e resmunga baixinho, ficando todo vermelho.
— Não tenho mesmo como te controlar. Que merda, seu idiota!
Reviro os olhos.
— Se beijem, abracem, mas vamos entrar e comer? — imploro.
Liz, Helena e Filipa aparecem na janela.
— Pelo amor de Deus, ainda no drama da tralha?
— Não fala assim do Jorginho, praga! — Bryan resmunga com a minha amiga e sorrio
para ela, de nervoso.
— Venham já comer. Ou eu mesma pego esse carro, marreto ele todo, e ainda dou uma
surra em vocês, exceto na Ana, que está grávida! — Helena grita.
Eu amo estar gravidinha!
Assim que chegamos, contamos a eles, que não ficaram surpresos. Aquiles e Filipa
disseram que toda a birra que tínhamos só podia terminar de duas maneiras: amor ou nos
matarmos. Ainda bem que foi a primeira opção.
— Eu a ajudo! — Filipa grita também.
— Vamos conversar sobre o que fez! Agora vamos comer! — Rafael fala e vai na frente.
As três saem da janela, e me viro para o ruivo.
— Quer fazer um enterro?
— Sua frieza é assustadora! — reclama e sorrio.
Dou a volta e paro ao seu lado.
— Eu sei que o carro é importante para você. Mas eu também sei que tem
responsabilidade o suficiente para dar um fim nisso, pela sua segurança e das pessoas na rua.
— Eu sei... — responde chateado. — É hora de dar adeus.
— É sim. RIP Jorginho.
— Entra. Vai, Ana Vitória! — Fica nervoso me fazendo rir.
Acaricio seu braço. Estou realmente com dó agora. Ele está triste mesmo pelo carro.
— Te amo, Bry, não pode me enxotar assim! — falo rindo, e só então me dou conta do
que deixei sair da minha boca.
Bryan me encara e engulo em seco. Meus olhos estão arregalados e meu rosto queima.
— O que disse? — sussurra. Um sorriso lindo surge em seus lábios e seus olhos mel
ficam fortemente dourados, ainda mais agora que o sol traz sua luz para nós. O ruivo dos seus
cabelos e barba ficam mais evidentes. — Ana, repete.
Nego rapidamente. Assustada com o que falei, e mais assustada ainda por não me
arrepender de ter dito e por meu coração ficar agitado.
— Disse que me ama!
Nego de novo e ele ri me pressionando no carro e devorando minha boca. Ainda que eu
me renda, o nervosismo do que eu acabei falando continua em mim.
— Vamos comer — fala e continuo muda. Assustada. — Relaxa, está tudo bem. Talvez
nunca tenha sido só paixão. Se te conforta, também amo você, meu bem... amo vocês! — reforça
e acho que vou desmaiar. — Vamos comer os doces. Sei que é eles que você quer.
Assinto apenas, porque se eu falar ou vomito ou caio dura.
Eu o amo.
Eu amo o homem que fica triste por um fusca e que dá nome a ele, rouba criancinhas
ainda na barriga da mãe, é maluco por Harry Potter, tem coleção de produtos de cabelo e
skincare, e é um puto.
Eu amo um maluco.
Meu Deus!
— Melhorou meu luto, sabia?
— Preciso ir ao banheiro. Acho que vou vomitar!
Ele gargalha, mas eu só quero chorar.
Eu amo esse irritante!

Os homens entram em uma conversa sobre carros, Fórmula 1 que o Rafael vai com o pai
amanhã, e sobre os Estados Unidos, onde o Celestino mora.
Nós mulheres estamos em uma conversa sobre diversos assuntos. Liz e eu levamos
docinhos ao Vitor e Mathias, que adoraram. Helena conta sobre entrada na sua aposentadoria das
aulas, e sobre estar animada em começar seu negócio de doces e bolos.
Filipa conta que será o primeiro Natal longe do filho, e fico triste com isso. Sei que era
algo importante entre eles, mas infelizmente eles não podem vir, e o Bryan não tem como ir, não
apenas por mim, porque eu o faria estar lá, mas porque estão na correria com o lançamento do
fliperama novo da Santana que precisa acontecer depois do Ano-Novo, não dá mais para esperar,
tem coisas escapando na imprensa, burburinhos entre os curiosos, e não querem arriscar.
Nem me intrometo nesse assunto de festas, porque provavelmente começarei a ficar
barriguda, e o quanto eu puder privar a mídia de saber, farei, quero paz até o bebê nascer, então
evitarei muitos lugares, e provavelmente estarei em casa jogando, ouvindo meus podcasts e
tendo a paz preciosa de final de ano que raramente tenho.
Liz devora o pudim que a sogra fez. Eu sou a grávida e ela a passa fome. Puxo o prato
dela e ela me olha rindo.
— Rafael descobriu que fiz merda no carro. Me deixe comer, pode ser minha última
refeição. E amo pudim! Ah, e minha mãe pediu para te avisar que tudo certo com o bazar. Vai
acontecer na semana do Natal.
Sorrio animada.
— Perfeito! E pare de comer antes que morra com tanto açúcar.
— Comeu quatro pedaços de bolo. Fica quieta!
— Tenho uma desculpa e você?
— Ansiedade para o lançamento do fliperama.
— Justo! — falo e ela ri.
Olhamos para as duas, focando nelas novamente, que agora falam sobre bebês e nisso me
interesso, afinal, terei um, e preciso manter a criança viva.
Olho rapidamente para a sala e o olhar do Bryan cruza com o meu, e sinto que ainda vou
morrer pelo que descobri e deixei escapar. Ele me dá uma piscadinha e sorri. Fico sem jeito e
viro o rosto.
— Está muito apaixonada... — Liz sussurra e deita a cabeça no meu ombro. Sua mão
vem para a minha barriga, e ela fica acariciando. — Estou feliz que esteja sendo feliz de verdade.
Sorrio.
É, estou mesmo.
— Coloque o Bryan para ajudar. Se ele não fizer nada, Helena tem autorização para
arrebentar esse garoto! — Filipa me fala e assinto rindo.
— Eu posso ter também? — Liz pede e ela concorda rindo.
— Ele vai ajudar, provavelmente precisarei brigar com ele para conseguir ficar um pouco
com a criança.
Elas riem, porque no fundo todos sabem disso, já que, desde que chegamos, ele ficou
perguntando se estou bem, se quero alguma coisa, se preciso vomitar, e não tira os olhos de mim.
Bryan é muito protetor e ainda que isso me deixe maluca às vezes, é uma proteção bonita.
Olho para a sala, e vejo ele me olhando ainda. Rafael cochicha algo em seu ouvido e ele
soca o braço do amigo, que gargalha.
É, eu o amo muito. E é recíproco.
Semanas depois...

BRYAN
Estou na Santana em mais um dia de luta diária com a maldita máquina de café.
Por que a Liz não compra outra? Ela me odeia!
O refeitório está vazio, é pós-almoço, então isso me dá chances de dar uns tapas na
máquina para ver se ela reage e solta meu café.
— Sabia! — A voz que grita me faz saltar e quase levar meu celular ao chão.
Viro-me lentamente para a pessoa que gritou e o velho me encara.
— Chefe! — Sorrio, ou tento.
— Você é o destruidor da minha máquina de café!
— Quê? Não! Essa lata velha que não funciona direito — defendo-me e ele bufa nervoso.
— Tem câmeras e finalmente elas fizeram um bom serviço, e hoje dei sorte de pegar você
no flagra! Está na rua.
Começo a rir.
— Não estou não! Quem deveria estar é a Liz por não comprar uma nova.
— Estou falando sério, está na rua! — Joaquim, o vice-presidente, insiste.
— Não, eu não estou! — Ergo a sobrancelha e ele balança a cabeça. — Temos que falar
com a Liz. Como pode o senhor não conseguir que ela ceda a uma nova máquina de café? É o
vice-presidente!
Ele esfrega a testa, cansado e suspira.
— Fizemos um acordo. Tudo aqui ambos teríamos que aprovar juntos, desde um copo
novo ao refeitório a um jogo novo a ser lançado. O mesmo acordo que tinha com Josué.
Só pode ser brincadeira.
— Olha, sobre coisas sérias entendo, mas sobre uma máquina de café? Puta merda. Será
que eu tenho que resolver tudo aqui?! — reclamo.
Reviro os olhos e me viro para sair.
— Onde pensa que vai? Destruiu minha máquina!
— Sua não. Nossa. E vou resolver essa merda. Eu quero a porcaria de um café, e aquela
manipuladorazinha vai resolver isso.
Saio sob seus gritos que tenho que passar no RH. Ele sabe que não viveria sem mim.
Rayssa vem rapidamente até mim, e já sei que tem problema. Cacete, qual o problema do
mundo comigo? Sim, estou bem irritado ultimamente.
— Chefe, não surta.
— Já estou surtando. O que foi? — Ela tenta acompanhar meus passos, até estarmos
perto do elevador. Suas bochechas coram, mas toda vez que vem falar comigo isso acontece.
— Os vídeos de ontem que eram para terem sido impulsionados não foram. Hoje
faríamos, mas foi rejeitado na plataforma.
— Vejam o que tem errado e refaçam, simples. — Olho a hora em meu pulso conforme
aperto o botão do elevador. — Rayssa, ainda está aqui.
— Estou. É que... — pigarreia e a olho.
— O que aconteceu? Desembucha de uma vez. Estou sentindo palpitações e morrerei em
segundos, porque é isso que vão fazer comigo ainda, me matar!
Ela sorri sem jeito. O elevador chega e entro nele, segurando a porta. Ela entra, e noto-a
engolir em seco.
Aperto o celular com força e respiro fundo.
— Os vídeos... Então, é que... — Viro-me para ela, apertando o andar da Liz.
— O que tem esses vídeos que os editores levaram cinco dias para editar e deixar como
queríamos?!
Meu peito sobe e desce rápido. Começo de infarto, certeza! Meu cabelo não vai aguentar
tanto estresse. Cortei uns três dedos para cuidar deles semanas atrás, não sei quantas, mas enfim,
e agora vou ficar careca, nada resolveu.
— Então... E-eles... Excluímos para repostar, porque foram rejeitados, e faríamos os
ajustes, m-mas perdemos os vídeos.
— Peçam aos editores. Eles mandam novamente! Simples.
Ela nega, abraçando seu tablet e sinto minha alma sair do corpo.
— Corrompeu... Os vídeos editados e os originais estão danificados — sussurra.
— Como é? Está me dizendo que os vídeos que levaram dias para serem produzidos, que
foi um inferno entre reuniões com o pessoal da publicidade para apoiar, e uma trabalheira
enorme nas mãos dos editores, foram corrompidos? Não tem em mais nenhum lugar esses
vídeos?!
Ela nega. A porta do elevador abre e seguro-a.
— Vocês têm noção do quanto custou a produção deles para o caixa da empresa? O
inferno que foi convencermos eles que era uma boa ideia gravar? Foram longas madrugadas aqui
acompanhando os bastidores, e pior, bancando uma fortuna aos influenciadores que participaram
deles! — tento ser calmo, mas sinto a morte vindo.
— Não temos mais nada... Os editores estão tentando recuperar. Por algum erro
apagamos ele da nuvem, e não deu para salvar a tempo, porque deu algum outro problema e o
que estava no lixo da nuvem sumiu antes de termos a chance de restaurar.
Balanço a cabeça negativamente.
— Vá para o nosso andar, preciso respirar antes de ir lá.
Ela assente e pede desculpas em nome da equipe.
Caminho no andar da Liz, indo em direção a sala que antes era do seu pai e agora se
tornou sua. Bato na porta, ela ainda não arrumou alguém para ser seu assistente, então é só irmos
direto até ela.
Sua voz me pede para entrar e, quando vê que sou eu, seu sorriso desaparece e um olhar
de desespero surge.
— Eu juro que se me falar que temos mais problemas, eu pulo da porra dessa janela! —
Bato sua porta e caminho até o centro da sala.
— Já sabe sobre os vídeos?
— Acabei de saber. Puta merda. Vão comer o rabo do meu setor. Bom, o meu rabo. Eu
lidero o marketing!
— Relaxa, já estou tentando resolver. Os editores vão dar um jeito. Chamaram até o
pessoal da computação, T.I., algo assim, vamos resolver, respira. Joaquim ainda não sabe de
nada.
— Liz, eu queria muito ter sua calmaria nesse momento. Mas fica difícil, porque isso foi
uma fortuna que pode ter ido pelo ralo, e você sabe o que acontece quando um setor falha.
— Eu sei, sou a dona daqui, lembra? Agora ficar nervoso não vai resolver. Está muito
estressado ultimamente. Precisa respirar, Bryan!
— Respirar? — rio de nervoso. — Perdi o Jorginho, sem tempo para o meu próprio
cabelo quem dirá para ficar com a Ana, noites sem dormir cuidando das coisas por aqui,
aguentando o setor da publicidade me infernizando por discordarem de tudo que tentamos fazer,
e a porra da máquina de café quebrou de novo, e o Joaquim quer minha demissão porque viu que
agredi a lata velha! — Ela me olha boquiaberta. — E para fechar o combo, os dias longos de
trabalho valendo uma fortuna podem ter ido para o ralo, com o lançamento das novas máquinas
dos jogos às portas. Ah, Liz, me dê motivos para ficar tranquilo, que não arrumei ainda!
Ela sorri. A doida sorri.
— Comprar uma máquina de café vai deixar você e o Joaquim felizes? Não aguento mais
vocês dois infernizando sobre ela. Busquem aquela máquina antiga, se encontrarem uma boa,
nova ou seminova, compramos, e se acharem duas será melhor, só por garantia! — diz nervosa.
— Venceram! Eu aceito que precisamos de uma máquina de café nova no refeitório.
Caminho para perto dos sofás e me sento, descansando. Giro o celular em minha mão.
— Não é só isso que está te deixando ansioso e irritado. A Ana ainda não abriu a boca
sobre o sexo do bebê, acertei?
Recosto no sofá e jogo a cabeça para trás, encarando o teto e soltando o ar com força.
— Não! Fizemos o morfológico, faz quase dois meses, e ela segue guardando o resultado
a sete chaves. Porra, para que fizemos então se ela esconderia?
Liz ri e a encaro, puto.
— Ela disse que no momento certo abriria. Que tinha que ser um momento especial. Nem
eu sei, juro. Ana só quer fazer um momento especial entre vocês dois.
— Ela quer me matar! Sabe o que ela aprontou ontem? Inventou que era perfeito se
pendurar na escada para organizar a parte das suas bolsas no closet! Ela quase caiu!
Liz gargalha, porque ela adora me ver sofrer.
— Rafael me contou que você brigou feio com ela. Eu avisei que a Ana é uma peste e
está pior na gravidez. Quanto tempo ela já está? Não deveria estar descansando? Estamos a
menos de um mês para o Natal e ela continua fazendo mil coisas, não para.
— Ela está com cinco meses.
— E ela não parou ainda? Eu com cólica já quero morrer!
— Pois é... Não para quieta e só me causa infartos. E agora ainda oculta o sexo do bebê.
Porra, por que ela me odeia?
A morena ri e balança a cabeça.
— Ela não te odeia. Ela te ama e você sabe disso. Vou aliviar seu estresse deixando os
dois comprarem a máquina de café. Sério, são obcecados nela, me assustam.
— Obrigado por ter compaixão pelo meu coração. E sabe o pior? — Ela nega. — Meus
pais estão do lado dela nessa tortura. Os pais do Rafael acharam maravilhoso ela ocultar. Qual o
problema deles?
— Olha, até eu estou curiosa e nem eu consegui convencer ela de abrir o envelope. Acha
que ela já sabe e não contou?
— Duvido. Se ela soubesse já teria cedido. Todo dia infernizo com isso. Ela quase me
matou esses dias por estar de saco cheio de eu perguntar. Venço ela pelo cansaço. — Dou de
ombros. — Preciso ir, ver o que aconteceu em detalhes com essa bagunça. Ao menos, uma coisa
boa aconteceu, teremos uma nova máquina daquela lá de café!
Chega uma mensagem em meu celular e é do meu tormento:

Cosplay Barbie: Vou chegar tarde hoje. Não precisa me esperar. Mathias me leva.
Beijos!

Em seguida tem uma foto da sua barriga, linda, perfeita. Salvo para a minha coleção.
Continuo pedindo as fotos nas últimas semanas, isso vai ser importante.

Cosplay Barbie: Daqui a pouco não terá roupa que camufle mais. O bebê está enorme.
Bryan, ele vai ter que sair de mim em algum momento, já pensou nisso?

Claro que já, nas aulas sobre gravidez que fomos, nos livros que lemos, vídeos que ela
me fez assistir, e enquanto eu quase desmaiava, ela sorria animada, como uma boa psicopata. Só
agora que ela notou que o bebê vai ter que sair em algum momento?

Bryan: Para de pensar nisso. E se não quer que vaze à imprensa, vai ter que tomar mais
cuidado com as roupas que usa, meu bem. Ou pode sossegar a bunda em casa, lá até nua pode
ficar!
Cosplay Barbie: Até mesmo com o Rafael em casa?

Bryan: Não consegue ficar um dia sem me causar ataque cardíaco, né? Porra, Ana!

Ela envia figurinhas rindo. Me levanto, e Liz me encara.


— Ela já te irritou... De novo... Uma relação bem tranquila, ainda bem! — ironiza.
— Liz, vai à merda também!
A morena gargalha enquanto saio de sua sala, quase sentindo a morte.
Sem o Jorginho.
Sem cronograma capilar.
Sem paz no trabalho.
Sem paz com minha mulher.
Sem saber o sexo do bebê.
Tenho medo de perguntar se pode piorar e um raio atingir minha bunda.
ANA VITÓRIA
As semanas têm voado. Não me lembro exatamente o dia que acordei e vi minha barriga
muito em destaque, mas lembro que me assustei, porque naquele momento a ficha caiu
totalmente, principalmente quando meus seios começaram a parecer que vão explodir, e minha
coluna já começa a reclamar quando fico muito tempo andando ou sentada na mesma posição.
Estou realmente muito grávida. Meu Deus, quem deixou isso acontecer?
Alongo o pescoço, enquanto termino de assinar alguns documentos importantes. O
cliente insuportável cedeu, assumiu a confusão que a esposa causou e assinou os termos de
responsabilidade sobre tudo, depois de um tempo entre longas reuniões. Nossa, era só uma
coisinha simples de resolver!
Batidas na porta me fazem erguer o rosto. Passa das oito da noite, tenho certeza, mas
queria terminar logo essas coisas, para ficar livre depois, aproveitar que finalmente todo o closet
está ajeitado e o escritório foi esvaziado para finalmente começarmos a pensar no quartinho do
bebê.
— Entre.
Não imagino quem ainda esteja por aqui além de mim. É sexta-feira à noite. Todos foram
às pressas para casa descansar ou pararam em algum bar para um happy hour, ainda mais que
hoje o calor deu uma trégua e o dia está fresco, até choveu.
A porta se abre e a minha mãe entra na sala, me surpreendendo por ainda estar aqui.
A minha relação com meus pais segue a mesma. Desde que saí de casa, nos limitamos a
nos falar somente aqui. Não procuro, e não sei se querem me procurar ou não, mas,
independentemente das opções, agradeço não terem feito, porque precisava me reencontrar, e
esse espaço foi importante, ainda que doloroso.
O que sei da cobertura deles é o que comentam, por exemplo, minha avó, tia e prima
ainda estarem lá, por terem tido atrasos na reforma da casa, o que eu já julgo que querem é morar
lá e estão arrumando pretextos. E que minha prima queria meu quarto, mas minha mãe não
deixou. Por mim, poderia ficar, não me afetaria em nada, de verdade.
— Ainda está aqui... Ana, vai para casa. Descanse. Chegou cedo. Todos já foram para as
suas casas — pede. Uma coisa notei de diferente, mamãe está tentando se aproximar de novo.
— Já vou. Estou apenas terminando de assinar algumas coisas. — Me ajeito na cadeira e
gemo de dor na coluna.
— Seu pai não vai gostar nada de saber que ainda está aqui.
— Como se ele se ele não fosse ficar feliz sabendo que estou trabalhando, já que vivia
exigindo mais trabalho e mais da minha presença aqui.
A figura de terno preto aparece na porta e, pela cara, escutou o que eu disse. Que ótimo.
— Que eu saiba, sou seu chefe aqui, assim como sua mãe. Então não são seus pais
mandando ir para casa, são os seus chefes. — Sua voz é autoritária, da mesma maneira como dá
ordens aos funcionários.
Ergo uma sobrancelha e os dois me encaram. Minha mãe cruza os braços e ele leva uma
das mãos ao bolso da calça.
— E desde quando se importam com o tempo que fico aqui? Se fico menos reclamam. Se
fico mais reclamam. Fica difícil assim. — Olho para os papéis e volto a assinar.
— Filha, está grávida. Precisa descansar. Comer. Vai para casa. Além disso, o seu
namorado está aí. Mathias acabou de nos avisar. Ele veio te buscar.
Só pode ser brincadeira!
— Sua mãe tem razão, Ana Vitória. Está grávida, tenha um pouco de juízo! — Ergo o
olhar para o meu pai, surpresa, porque é a primeira vez que ele realmente parece preocupado
comigo e a minha gravidez, depois de tudo. — Vai para casa. Esquece essas merdas. Segunda-
feira resolve. E tem mais, após o recesso, não volte mais.
— Como? — Arregalo os olhos.
— Orlando? Como assim? — Minha mãe parece tão surpresa quanto eu.
— É isso mesmo que ouviram. Se ela quiser continuar trabalhando, será home office para
poder descansar. — Continuo chocada. — Quando a criança nascer, ela vai cumprir a licença e
só depois retornar. Mas do contrário, ou é home office ou rompemos o contrato, e não me
importo em bancar a multa.
Minha mãe prende o riso.
— Eu posso muito bem continuar trabalhando daqui da Moon. Estou ótima fazendo tudo,
ainda mais agora na correria com tantos eventos!
— Pela primeira vez concordo com ele! — Bryan aparece e o circo agora está completo.
Ele para na porta, cruzando os braços e me encarando bem sério. — Para casa, agora!
Balanço a cabeça irritada.
— Eu estou ótima. Estou grávida e não doente! — Levanto-me e, para o meu azar, sinto a
pontada na coluna e não consigo disfarçar.
— Casa, Ana Vitória! Não me faça repetir de novo. Uma vez na sua vida, me ouça! —
Meu pai fala e se vira saindo do escritório, passando ao lado do Bryan de cara fechada, e o ruivo
não o olha diferente.
Olho para a minha mãe.
— Desculpa, mas desta vez até seu namorado entende que está errada. Não pode culpar
somente seu pai. E, filha, ele está tentando. Do jeito dele, mas está tentando cuidar de você,
mesmo depois de tudo. Não seja tão dura e tente ceder também.
Minha mãe se aproxima e deixa um beijo em meu rosto. Todos os dias antes de ir embora
faz isso. É sua maneira de tentar me dizer que vai continuar aqui por mim.
— Amo você, nunca se esqueça disso.
Assinto e ela se afasta. Passa pelo Bryan e sorri. O ruivo me encara, está sério, parece
irritado.
— Vamos, Ana Vitória!
Reviro os olhos e começo a recolher minhas coisas. Era só o que me faltava, um monte
de gente me expulsando do meu trabalho.

Estamos no carro, e o caminho para casa, que deveria ser muito rápido, se torna
demorado, já que o trânsito está infernal, é sexta-feira, não tinha como ser diferente.
Paramos no sinal vermelho, e ele apoia uma mão na minha barriga e fica acariciando. São
essas atitudes que me fazem vibrar sempre, e ter certeza de que o “eu te amo” naquele dia não
saiu da boca para fora. Ele me faz amá-lo todos os dias, ainda que me deixe maluca também.
Toco sua mão por cima da minha barriga e acaricio. Os pequenos movimentos parecendo
chutinhos vêm e isso me faz sorrir. Olho para ele, que sorri todo bobo. Faz alguns dias que o
bebê começou a se mexer, e foi um surto, porque estávamos preocupados, ainda que a doutora
Adrielly nos assegurasse que estava para acontecer, e não era motivo para ainda nos
preocuparmos. Ela sempre tenta nos acalmar, é um amor.
Volta a dirigir.
— Está muito cansada? Podíamos sair para jantar, o que acha? Só nós dois. Aproveitar
um pouco.
— Um banho vai me relaxar. Podemos sair sim. — Sorrio e ele tira a mão da minha
barriga, deixando apoiada na minha perna. — Vai ser bom distrair a cabeça após tanta papelada.
Nosso relacionamento já caiu na mídia, mas ainda bem que a gravidez segue em segredo.
Isso é o que realmente nos importa, manter a gravidez longe da imprensa e ter esse momento de
paz.

O restaurante que ele me trouxe é um dos mais famosos de São Paulo, e não porque pedi,
ele escolheu, eu só vim. Só agradeço ter sido um lugar mais tranquilo, vai ser bom para encerrar
a sexta-feira.
Ele me contou dos problemas na Santana e que finalmente Liz cedeu a máquina de café.
Ela foi guerreira. Desde o ano passado essa briga dele e do Joaquim com a máquina. Achei que
ela foi forte até ceder aos dois malucos pelo café dali.
— Você precisa relaxar mais. Bry, erros acontecem, ainda que alguns custem altos
valores. Não pode tentar deixar tudo sempre perfeito. É humano.
— Só acho que tenho falhado demais como gerente de marketing. A equipe é minha
responsabilidade. Deveria estar mais atento.
— Ei... — Acaricio sua mão sobre a mesa. — Para com isso. É um profissional incrível.
Foi indicado ao melhor gerente de marketing de São Paulo, em mais um ano. Como pode dizer
que está falhando? Isso poderia acontecer com qualquer um. Se a Liz não pirou, não tem motivos
para você fazer isso.
— Ela só é compreensível demais assim como o pai dela era.
Balanço a cabeça.
— Bryan, não pode cuidar de tudo e todos ao mesmo tempo. — Ele desvia o olhar como
uma criancinha levando bronca. — Olha para mim. — Me encara novamente. Seus olhos estão
mais escuros agora devido a luz do ambiente. — Posso me cuidar sozinha. O bebê está bem. O
Rafael é adulto, deixa ele tomar as próprias decisões, porque ele sabe se virar melhor do que nós
dois. Seus pais entenderam que não tem como estar com eles, é triste, mas está tudo bem, é só
agora, e depois vão vir ver o bebê. O fliperama está prestes a estrear e essa loucura vai passar. E
sua equipe sabe o quanto é um chefe incrível. E quer saber mais? — Sorrio. — Eu também sei o
quanto é incrível, a Liz e o Rafael também. Todas as pessoas que se importam com você, te
amam, sabem que está dando seu melhor todos os dias. Respeite a si mesmo e descanse um
pouco essa cabecinha hiperativa demais.
Ele puxa meu queixo e me beija com carinho.
— Já disse que te amo hoje?
— Na verdade, não. Está bravo por causa da minha arte de ontem na escada, e por eu ter
ficado até tarde na Moon — rio baixinho e ele me beija de novo.
— O melhor dessa relação é que você me irrita e ainda acha graça.
— É um charme quando fica bravo! — Dou de ombros.
Ele solta meu queixo e sorri, e esse sim é o meu Bryan.
— Quer sobremesa?
— Dispenso. Não consigo comer mais nada. Comi o meu e peguei ainda do seu prato.
Rimos e ele bebe sua água com gás.
— O que quer fazer? Quer continuar aqui, sair, ir a algum outro lugar, só escolher, meu
bem.
Fico pensativa.
— Tem algo que quero fazer. Vamos!
Ele pede a conta, mas fica curioso.

Me aconchego ao seu lado, enquanto o filme passa na tela. É um cinema drive-in que
estreou em São Paulo, com filmes clássicos. Por sorte conseguimos um lugar, o último. O filme é
A princesa e o plebeu, uma comédia de 1953.
Ele entrelaça sua mão na minha, enquanto seu outro braço acaricia minha cintura.
Erguermos o suporte de copos ao meio, e joguei meu blazer no vão que ficou para ficar fofinho e
eu poder ficar mais perto do Bryan.
Sorrio de uma cena, e ergo o olhar para ele, que está encarando a enorme tela à frente.
Entre tantos erros e loucuras na minha vida, Bryan foi um dos meus acertos, e todos os dias me
faz lembrar disso em cada gesto de carinho que tem comigo. Meu peito se enche de amor só de
olhar para ele, e não sinto mais raiva por ter me tornado sentimental demais, que chora por falar
de seus sentimentos, por qualquer coisinha boba que seja, ou por entender que realmente o amo.
Ele me fez libertar uma Ana que por muito tempo tive medo de deixar sair.
— Te amo — sussurro. Pela segunda vez, as palavras saem da minha boca, mas agora
sem eu estar distraída.
Ele abaixa o rosto na direção do meu, e me olha, parecendo tentar entender se ouviu
direito.
— Oi?
Sorrio. Solto minha mão da sua e coloco em seu rosto, acariciando.
— Eu te amo, Bryan. E a cada dia consigo amar mais.
— Segunda vez que diz. — Ele sorri de um jeito especial.
— Está contando?
— Talvez.
Toca meu rosto e me beija, deixando-me derretida em seus braços.
— Também amo você, Cosplay da Barbie.
— Barbie grávida... Teve uma, não teve? Ou era uma amiga dela? — Tento me lembrar,
porque sei que teve algo assim.
— Amiga dela, a Midge. Não foi uma boneca bem aceita pelo público. Tive que estudar
isso na faculdade e nos cursos, sobre crises empresariais e como o marketing pode salvar isso
também.
— Uau. Bryan Nunes é um nerdzinho que guarda tudo na memória?
— Não. Bryan Nunes só é obcecado pela profissão. Me pergunta sobre qualquer coisa do
ensino médio, vai se chocar que eu tenha concluído ele sem reprovar.
Começo a rir e ele me beija de novo.
— Vamos voltar ao filme, porque ficar te beijando me deixa louco. — Me deixa outro
beijo e sorrio.
Ele volta a focar no filme, então puxo com cuidado o envelope de dentro da minha bolsa,
que está ao meu lado. Trago-o para a frente do seu rosto e balanço lentamente.
— Acho que é um momento especial. Só nosso. Vamos abrir, Bry.
Ele me olha, seus olhos brilham e meu coração acelera. Acende a luz dentro do carro, e
segura o envelope.
— Tem certeza de que é aqui que vamos descobrir?
— Tenho. Abre, vai! — Passo um braço pela sua cintura e encosto a cabeça em seu
ombro. Por incrível que pareça, a posição torta não faz minhas costas doerem. Descobri nas
últimas semanas que a posição que eu encontrar para ficar confortável, ninguém me tire, por
favor!
Ele abre o envelope, suas mãos estão trêmulas e as minhas começam a suar. Enrolei
porque queria que fosse o momento certo. Estávamos na correria, não iríamos fazer isso direito.
E não queria fazer isso na clínica. É algo nosso, um momento somente nosso e de ninguém mais.
Ele retira o papel deixando o envelope cair em seu colo. Abre a folha me mostrando
também e meu mundo congela. Leio duas vezes para ter certeza. Sento-me direito, ajeitando-me
no meu banco.
— Nem ferrando! — falo em choque.
— Puta que pariu! — Ele se empolga, e nem podemos gritar ou os outros carros vão
buzinar em nosso ouvido.
— Bryan... Isso está errado!
— Não está! — Ele olha para o papel de novo e para mim em seguida. — Porra! — Seus
olhos brilham mais, ele está chorando.
— Me recuso! Não. Você não pode ter acertado esse tempo todo! — rio de nervoso.
— Acertei, meu amor. Eu acertei sim. Vamos ter uma Barbiezinha!
Entreabro a boca, sem conseguir emitir um som. Ele não pode ter acertado. Bryan esteve
certo o tempo todo? Isso é o destino zombando de mim, tenho certeza!
Ele me agarra e passo os braços ao redor do seu pescoço. Começo a rir de nervoso e isso
vira um choro de emoção.
— Bry, teremos uma menininha... Meu Deus!
— Sim. Teremos uma... Espera aí! — Ele se afasta enquanto enxugo o rosto e ele faz o
mesmo.
— O quê? Deveria estar esfregando na minha cara que esteve certo o tempo todo.
— Farei, não se preocupe. Mas... Ana, uma menininha... Caralho, não tinha pensado
nisso. Então é assim que o destino vai fazer eu pagar por todas as vezes que brinquei com a filha
dos outros?
Começo a rir e tento controlar o som da minha gargalhada.
— Meu Deus!
— Não ria. Eu não tinha pensado nisso. Porra, estou sem ar. Ana, se ela vier sua cópia
então, fodeu. Já viu como é doida e linda? Caralho! Preciso de ar... Puta que pariu! Preciso
começar a pedir perdão pelos meus pecados.
— Bryan, para de ser doido! Ela nem nasceu, como pode estar pensando em namorados?
— Namorados? No plural? Então pode ser no plural? Ah, caralho. Ana, preciso de água.
Preciso de água! — insiste, hiperventilando.
Não sei se acudo, rio ou vou atrás de água. Ué, a menininha dele está a caminho, que lide
com isso.
— Porra, uma garotinha. Estou muito fodido.
Continuo rindo e me aproximo de novo dele, tentando beijá-lo, mas ele não deixa, o
homem está morrendo mesmo.
— Ana, quero um menino!
Gargalho alto, vamos ser expulsos daqui.
— Pare antes que eu faça xixi na roupa... — Minha voz chega a estar quase sem ar.
Ele me olha feio. Mas o que posso fazer? Teremos uma garotinha e é isso aí.
Seu celular faz barulho e ele pega conferindo e respira mais aliviado.
— O que foi? — pergunto enxugando as lágrimas que o riso trouxe.
— Conseguiram restaurar os vídeos. Mais uma boa notícia!
— Que bom, Bry! — Tento beijá-lo de novo, mas ele impede. — O que eu fiz?
— Vai me dar uma menininha para eu me ferrar! Ana, quero um menino. Menina vai
fazer o meu cabelo cair.
Pronto, volto a rir.
— Tudo bem... Podemos terminar e aí...
— NUNCA BRINQUE COM ISSO! — Puxa meu rosto para si. — São minhas!
— Fale baixo, maluco! — Sorrio e ele retribui, me beijando agora. — E não somos suas.
Somos mulheres livres!
— Sabe que não é. São minhas sim. Não me estressa uma hora dessa. Meu coração vai
parar.
Balanço a cabeça rindo e ele devora minha boca de novo, sendo mais safado agora e não
posso nem reclamar, porque amo.
BRYAN
Coloco mais peso para erguer, enquanto o Rafael bebe água e retira um dos fones do
ouvido, colocando no bolso da calça.
— Uma menina. Estou fodido, Rafael. Entende isso? — Ergo a barra e ele ri se
engasgando com a água.
— Você afirmava que era uma menina e agora fica bravo por ser? Para de ser maluco!
Resmungo, quase morrendo pelo peso que estou erguendo. Foi assim que resolvi
descontar o pânico, em pleno sábado, sete horas da manhã, malhando como um doido. Estou
muito feliz, realmente estou, mas porra, a ficha caiu. Cuidar de uma garotinha... Não, uma não!
Cuidar de duas garotas, é para me foder. Vou pagar meus pecados, sinto isso, e eles são enormes.
Largo a barra terminando a primeira série e encaro-o, mas antes vejo meu reflexo no
espelho. Estou vermelho, suado. Ele se deita perto de mim, para iniciar abdominais, porque
aparentemente o único com bastante coragem de pegar muito peso a essa hora sou eu. A
academia está vazia, está caindo o mundo lá fora.
— E a Ana Vitória só sabe rir do meu pânico. Acredita? Ridículo isso! Olha que mundo
fodido, cheio de vários Bryan por aí, prontos para darem o bote em alguma jovem bonita. Estou
na merda!
Ele ri, porque é outro que só sabe fazer isso. Volto a pegar a barra.
— Pensei que, ao descobrir o sexo, ficaria mais calmo para eu poder te contar uma coisa.
— Ele se senta, e acompanho tudo pelo enorme espelho à nossa frente.
— O quê? — Minha voz sai fraca.
— Liz descobriu que um dos apartamentos do pai ainda não foi vendido. Ela nem
lembrava que ele tinha. É na Bela Vista, perto. Enfim, conversamos, e decidimos morar juntos
depois das festas e da inauguração do fliperama. O local está intacto, bonito, bem-cuidado. A
família dela sempre mantém tudo muito bem-cuidado, essa é a verdade. Conversamos com a
Antônia essa semana e com meus pais. Não contei nada antes porque estava nervoso demais com
muitas coisas.
Largo a barra e me aproximo da minha garrafa. Bebo a água fresca e o encaro. O suor
escorre pelo meu corpo, meu cabelo está pingando. Ele me encara ansioso por uma reação
minha.
— Isso vai te fazer feliz? É isso mesmo que quer? Ir morar com a Liz é um passo gigante.
— Ele sorri e assente. — Vou sentir sua falta por nos vermos todos os dias, mas vai lá, faça teu
caminho. Eu sempre torci por vocês e não seria diferente agora. Era nítido que algo assim
aconteceria em algum momento. Só espero receber o convite para padrinho do casamento.
Ele ri e volta a fazer abdominais.
— Desde que me deixe ser padrinho da gatinha que está a caminho.
— Argh! Por que me lembrou? Gatinha? — Sinto a bile. — Muitos vão chamar ela de
gostosa, gata, linda, etc. Puta que pariu! — Bebo mais água e ele ri.
— Sou grato por tudo, Bryan. Você é um irmão que a vida me deu — fala entre o ir e vir
do exercício.
— Então seja mais grato aceitando o carro ficar no seu nome. Eu vou ver um carro para
mim e, por enquanto estou com o da Ana. Que porra, me sinto mal traindo o Jorginho — que ele
descanse em paz —, mas é um puta carro. Aquele Porsche é foda.
Ele sorri, sentando-se, ofegante e vermelho assim como eu.
— Deveria ter desconfiado que, quando ficava reclamando ao usar o Jetta, era porque
tinha algum problema. Bryan, o valor que deu nesse carro foi à vista, né?
Desvio o olhar e sorrio, deixando minha garrafa onde estava e voltando para a barra.
— Isso não muda nada!
— Não deveria gastar dinheiro comigo. Não dessa maneira. Você precisava mais dele do
que eu.
— Errado! Eu precisaria dele no futuro, e o futuro mudou os planos. Você precisava e
muito, e demorou para aceitar, se tocar que deveria usar o carro. Tive que praticamente implorar.
Porra!
— Pare de gastar comigo, agora vai ter que gastar com outra pessoinha, que vai te exigir
muita grana. Já parou para pensar que vai ter que economizar nos produtos de cabelo?
Largo a barra e começo a rir.
— Talvez eu tenha que cortar ele, vai cair tudo mesmo.
— Para de ser dramático! — Se levanta e vai para um dos aparelhos do outro lado.
— Rafael? E se a gente se inscrever na ioga e meditação? — Viro-me para ele.
— Nunca! Assuma suas responsabilidades de uma vez. Ela é uma garota e vai ter que
lidar com isso. Quem mandou fazer bosta com outras garotas? Agora fica apavorado!
— Eu sou responsável. E por ser, estou com medo.
Ele ri com ironia.
Pois vou encontrar algo para nós dois na ioga e meditação. Mas antes preciso buscar
dicas de calmantes naturais, vou precisar.
— Segue sendo uma criança dramática! — me provoca e mostro o dedo a ele. — Viu? E
ainda diz que é responsável!
Olho para fora da academia, ela é toda de vidro. Vejo a padaria abrindo, e a placa que
eles colocam na porta: “Temos donuts do Harry Potter essa semana”.
— Rafael, quero donuts. Vamos!
Foda-se a academia. Porra, preciso de donuts. O açúcar vai me acalmar!
— Quê? — O coitado perde o fôlego até.
Pego nossas coisas e me aproximo dele.
— Donuts. Vamos.
— Bryan, me fez treinar a essa hora no sábado para querer donuts? Está me zoando? —
Faz uma careta, sem entender nada.
— Olha. São do Harry! — Aponto para fora. — Quero eles. Isso vai me acalmar!
— Só pode ser brincadeira. A Ana Vitória sabe a loucura que ela se meteu ao aceitar você
como pai da menina?
— Claro que sabe e não vive sem mim. Gostoso, lindo, olhos perfeitos, sardas e tatuagens
incríveis, um tanquinho delicioso, verdade seja dita, um cheiro que ela é viciada, e cabelos que
brilham mais que o sol. Inteligente. Bilingue. Bom motorista. Cozinho bem. E transo pra caralho.
Ela sabe bem onde se meteu. Se quiser, posso continuar listando.
Ele balança a cabeça indignado, me fazendo rir.
— Eu queria entender o que fiz de errado para merecer tanto castigo!
— Foi para a Fórmula 1 em São Paulo, com a Liz e seu pai e não me levaram! Isso
merece cem anos de castigo. Eu a ensinei a usar o poder do sobrenome dela.
— Cale a boca. Vamos logo antes que eu te soque! E não foram porque a Ana estava
muito enjoada.
Ele tem um ponto e, por falar nela, envio uma mensagem:

Bryan: Vou tomar café com o Rafael. Mas levo coisas para você. Quer algo?

Cosplay Barbie: Sim. Sexo. Acordei com tesão. Tinha que sair para malhar hoje?

Começo a rir. Ana está mais tarada que o normal, e não estou reclamando. Muito pelo
contrário, isso é como ganhar na loteria para mim.

Bryan: Serei todo seu depois. Prometo. kkkkk.

Cosplay Barbie: Quero pão de queijo. Enquanto isso uso minha mão e brinquedos
mesmo. Uma grávida não tem um dia de paz!

Bryan: Vou levar. E para de me atentar!

A Cosplay do diabo envia uma foto só de calcinha, deitada na cama, e não posso nem
salvar, porque foi por visualização única.
— Rafael, ela vai me matar! — aviso, enquanto vamos ao banheiro da academia para
tirar o suor do rosto ao menos. — Meu cabelo e o Mister Ruivinho vão cair!
— Por quê? O que ela aprontou agora? E quem é Mister Ruivinho?
— Me mandou uma foto seminua. E o Mister Ruivinho é... — Olho para ele, que começa
a rir sem crer.
Ele fica todo vermelho. Quem vê pensa que não transa que nem coelho com a Liz ou que
nunca deu nome ao pau.
— Eu não precisava saber!
— Precisava. Porque, se eu morrer, quero que testemunhe contra ela! Ela vai fazer meu
cabelo e meu pau caírem antes da minha filha nascer e de termos chance de dar irmãos a ela.
Ela só pode estar querendo acabar comigo. Não tem outra explicação.
ANA VITÓRIA
Estou na Moon. A semana começou agitada por aqui, essa temporada do ano sempre
deixa tudo uma grande correria na empresa de eventos. A agenda do ano já foi fechada, e vamos
cumprir apenas os últimos eventos, temos cinco até final deste mês, antes de iniciar dezembro
temos que ter tudo fechado, porque todos saem de férias.
O final de semana descansei bastante a mente, não o corpo, já que me tornei uma tarada.
Vou deixar o coitado do Bryan sem pau e eu assada. É isso! Mas não dá para controlar. Acontece
do nada, tipo os desejos malucos. Quando vejo, estou louca de tesão, e precisando dele; e quando
ele não está, meus dedos e brinquedos ajudam. A doutora disse que isso poderia acontecer, como
também eu sentir menos desejo sexual, mas acho que estou com o desejo sexual de todas as
mulheres do país dentro de mim.
Entro na sala do meu pai, ele pediu para a Maria Júlia me avisar que queria falar comigo.
Não bato na porta, a sala já estava aberta.
Ele está sentado atrás da mesa, o paletó pendurado no encosto da sua enorme cadeira
preta. Minha mãe está com ele, sentada na cadeira à frente, digitando algo no notebook. Ela tem a
sala dela, mas, às vezes, trabalham juntos, quando precisam resolver questões em conjunto.
Ainda que meu pai seja controlador demais, as coisas na Moon precisam dos dois, e ele
respeita isso.
— Queria me ver? — pergunto e eles me olham.
— Sim. Feche a porta — fala autoritário, mas tento não levar isso como fonte para
estragar o meu dia. Ele só está sendo ele.
Fecho a porta e abro o casaco preto que estou usando. Somente na minha sala, com a
Maria Júlia e com eles que deixo a barriga à vista. Do contrário tento camuflar ao máximo por
aqui. Por enquanto segue intacto o segredo sobre a minha gravidez. Mas, infelizmente, isso me
priva de muitas cores de roupas e coisas que gosto de usar, porque opto por tudo que disfarce
mais, tons escuros, como preto, roupas mais largadas, e muitos casacos ainda que no calor. Ao
menos trabalho embaixo do ar-condicionado, minha sinusite que lute depois. Somente na
presença dos meus amigos, em casa, consigo ser eu mesma, me vestir do jeitinho que amo.
— Precisamos falar sobre seu trabalho home office. Temos que deixar tudo organizado e
o que diremos a todos na sua ausência — meu pai explica.
Eles sabem que quero manter a gravidez em segredo da imprensa e, pela primeira vez,
respeitam minha decisão quando o assunto é imprensa nacional.
— Claro. Podemos resolver, ainda que eu ache isso uma bobagem! — Sento-me ao lado
da minha mãe e ela sorri acariciando meu ombro. — Só temos que ser rápidos, porque a Liz
inventou alguma surpresa que quer mostrar, e vou me encontrar com ela daqui a pouco.
Eles assentem. Meu pai não reclama, e isso já é um ponto positivo. Ele está aprendendo a
se controlar mais e entendendo que sei das minhas obrigações, e não é porque fico saindo que
não cumpro o meu dever.

Definimos tudo, e o que será dito aos funcionários. Vão dizer que estou me afastando por
questões pessoais, mas que seguirei trabalhando à distância, e quando necessário estarei presente,
ao menos por um tempo. Claro que vai gerar fofocas, mas depois que a bebê nascer terão a
verdade.
A bebê... Minha garotinha. Sorrio.
Olho para eles e me ajeito na cadeira, resolvendo contar a novidade. Eles são meus pais,
e, mesmo depois de tudo, merecem saber.
— Será uma menina — confesso.
Me encaram. Olho para a minha mãe e seus olhos marejam na hora, já meu pai, engole
em seco, não disfarça.
— Uma garotinha? Filha... Terei uma netinha então? — ela questiona emotiva e assinto.
— Que amor... Uma família cheia de mulheres! — Me abraça e retribuo com carinho.
Nos afastamos e ela enxuga o rosto. Mamãe sempre foi emotiva, independente das
circunstâncias.
— Uma menina... Parabéns! — meu pai fala, com a voz um pouco rouca. — E... faz
tempo que descobriu? — As linhas de expressões surgem em sua testa.
— Sexta-feira depois que saí daqui. Resolvemos abrir o ultrassom.
— E ela... — pigarreia. — Nós vamos ter acesso a essa menina? — pergunta tentando ser
seco, mas falha.
Levanto-me e olho para ambos. Minha mãe me analisa preocupada, e ele se esconde atrás
da fachada de homem dos negócios. Caminho para perto dele, engolindo meu receio. Sento-me
em uma de suas pernas, como fazia quando criança, e passo um braço ao redor dos seus ombros,
enquanto acaricio seu braço com a outra mão. Ele me encara, escuto o choro baixinho da minha
mãe.
— Pai, não odeio o senhor ou minha mãe. Não odeio ninguém da nossa família. Só
precisava ser livre, caminhar sozinha, entende? E estou sendo a pessoa mais feliz do mundo,
acredite. Sou grata por tudo que me deram esses anos, porque não vou ser hipócrita e dizer que
todo luxo não é bom. Mas viver presa a ele nos limita de descobrir o mundo lá fora. E esse
mundo é incrível, colorido, e cheio de possibilidades. Não sou a filha que sonhou e nunca vou
ser. Me machucou muito com muitas de suas palavras, e mamãe me fez entristecer por todas as
vezes que ficou ao seu lado ou em silêncio. Mas isso não me faz odiar vocês. É a criação que
tiveram, e que julgam ser a melhor, pela ignorância de não verem que o mundo evoluiu e não dá
para ficar dividindo quem é rico ou pobre para estarmos perto, é ridículo.
Beijo seu rosto, mas noto seu olhar marejado, ainda que ele tente disfarçar. Limpo o
batom em sua bochecha e sorrio.
— Claro que não vou privar de terem contato com a neta de vocês. Mas vou privar de
fazerem com ela o que fizeram comigo. Isso não vou permitir. Mas jamais colocarei ela contra
vocês, talvez contra a vovó e a tia, só um pouquinho — brinco e ele me olha de lado. Minha mãe
ri baixinho. — Amo vocês... — Minha voz embarga. — E famílias brigam, isso é normal. Só não
é normal essa perfeição que tentam passar e esse controle que tentam ter sobre todos. — Abraço-
o e, quando penso que não vai retribuir, ele passa um braço pela minha cintura.
— Perdão... Está sendo um inferno viver esses meses nessa situação, distante de você.
Acredite, dói muito em mim. Não é a filha perfeita, mas também não fui o pai perfeito. E se o
Josué estivesse aqui me mataria por todas as atitudes de merda que tive ultimamente, ele era o
meu juízo, e quando se foi perdi praticamente um irmão e piorei, reconheço, ainda que não
justifique.
— Oh, pai... Demorou para se tocar! — Não controlo a língua e rio em meio às lágrimas.
— Está tudo bem. Mas isso não significa que vão voltar a me controlar. E vai ter que pedir
desculpas pela maneira como tratou e trata o Bryan. Ele me fez feliz e cuida muito bem de mim.
É um homem incrível e me vejo vivendo para sempre ao lado dele. Ele merece respeito e é o pai
da neta de vocês, querendo vocês aceitar ou não.
Beijo novamente seu rosto e deixo agora o batom ali. Levanto-me, enxugando o meu
rosto. Aproximo da minha mãe e deixo um beijo na sua bochecha. Fecho o casaco.
— Agora tenho que ir, a Liz vai me matar se eu demorar.
Caminho em direção à porta, mas minha mão para na maçaneta quando ele diz:
— Te amo, Ana. Ainda que não diga sempre ou demonstre.
Engulo em seco e viro-me para eles.
— Também a-amo vocês. — Jogo um beijo e saio às pressas, porque começo a chorar
como uma criança querendo colo.
Um passo de cada vez, até tudo estar nos eixos. É o que o Bryan me disse ontem quando
conversávamos sobre isso, e ele tem razão. Barreiras estão sendo quebradas, e quem sabe um dia
tudo seja como de fato desejei.

Olho para a fachada enorme, linda, colorida. Ainda está sem o nome.
Bryan e Rafa estão conosco. Rafael estava de folga hoje, porque vai viajar a trabalho essa
semana. O menino vai para a Europa, está radiante.
— Por que estamos onde será o novo fliperama? — pergunto.
Liz para a nossa frente, segurando a chave nas mãos e sorrindo muito animada.
— Porque na estreia talvez você não consiga vir, muita imprensa, a nossa garotinha
secreta... — ela já sabe, e foi um surto quando contei no final de semana. — E também, porque
iniciamos esse projeto juntos, ainda que nossas vidas tenham virado uma loucura depois, isso
começou conosco, lá em casa, com a Estrela atacando o Bryan.
— Nem me lembre! — o ruivo reclama ao meu lado e rimos.
— E quero que sejam os primeiros a ver ele. Faltam pequenos detalhes, que serão
colocados na semana da inauguração. Mas esse projeto é nosso, e vocês precisavam estar aqui.
Era o que meu pai faria, e é o que eu tenho que fazer. Ele sempre dizia que temos que lembrar
quem sempre esteve conosco em todos os momentos, bons ou ruins, e vocês foram essas pessoas,
e claro que minha mãe também, mas ela tem uma ONG e eventos para cuidar. — Sorri emotiva.
— Vamos? É hora de verem o que criamos fora do papel.
— Nem o Bryan viu? — questiono bem surpresa.
— Bryan viu tudo no cru, agora verá tudo colorido! Não o deixei ver mais — Liz conta e
rio da cara de birrento dele.
Segura minha mão e o Rafa se aproxima dela.
— Vamos, estou ansioso para ver isso de perto — Rafa diz, deixando um beijo rápido
nela.
— Ai, vamos! Estou animada. Sem choro. Nada de choro, gente.
Olho para o Bryan e ele cochicha no meu ouvido:
— Ela sabe que é a única chorando?
— Shhh... — Sorrio, e ele ri.
Estamos entrando pelo estacionamento privativo. Assim que a Liz abre as portas laterais,
estacamos na porta.
Paralisados.
Boquiabertos.
Chocados.
— Pedi para deixarem tudo aceso e funcionando. Quero testar tudo com vocês.
O fliperama está muito lindo. Não é qualquer tipo de lindo. É um lindo perfeito. As cores,
as máquinas, tem até uma lanchonete dentro. É muito grande. Dois andares. Meu Deus!
— Vamos! Vamos! — Ela entra pulando, parecendo uma criança.
Entramos e não conseguimos parar de ficar boquiabertos.
— Ali é a entrada principal. — Aponta para o corredor todo em LED, bem lindo, ótimo
para belas fotos, não só ele, como diversos lugares. — Ali a lanchonete inspirada na que
amamos. E temos até jukebox.
Vamos olhando tudo, e levo a mão na barriga, com medo de, na emoção, fazer a criança
sair. Tem sofás espalhados, bancos, muita luz LED, neon, plaquinhas iluminadas, e uma enorme
parede com quadros e funkos, tudo sobre jogos.
— Aqui ficaram apenas algumas máquinas, tornando uma parte mais lazer. Mas lá em
cima está o que meu pai tanto queria colocar no projeto. Venham!
Acompanhamos ela, subindo a escada. Bryan apoia a mão nas minhas costas, conforme
vai me acompanhando pela escadaria.
— Tem elevador também e rampa para mais acessibilidade. Olhem. — Aponta para o
outro lado. — No projeto inicial, isso estava faltando, uma falha nossa, claro, mas isso era
extremamente importante.
Com certeza. Isso é muito importante mesmo. Subimos e Bryan e Rafael soltam um
palavrão em conjunto. Até me espanto, porque o Rafael é quase um santo.
— Amiga... — sussurro e ela sorri chorosa.
— Sim, conseguimos unir a modernidade à nossa vibe de fliperamas anos 70 a 80!
O segundo andar é ainda mais incrível. Tem espaços dedicados a cada um dos jogos
clássicos do fliperama. Mas tem o espaço com os simuladores de corrida. Tem até mesmo
macacões e capacetes de pilotos famosos dentro de vidros, que, com certeza, são blindados.
— Vários pilotos e algumas corridas quiseram apoiar, patrocinando e ajudando na
divulgação — ela revela. — O chão, os simuladores, os uniformes que pegam ali naquele balcão
para utilizar. — Aponta a esquerda. — Tudo foi pensado para se sentirem em um autódromo. Os
simuladores mexem, sai água, vento, tudo que possam imaginar. E existem os óculos de
realidade virtual, eles te colocam na corrida, é como estar lá, mas em alguns anos atrás, os
uniformes, cores, gráficos, tudo representa a década de 70 a 80 para se adequar à experiência do
que queríamos criar aqui, da modernidade dos anos 2000. — Aponta os óculos de realidade
virtual. — Ao passado, anos 70 a 80 que é o foco dos nossos fliperamas.
Bryan e Rafael se sentam nos simuladores, parecendo crianças.
— Amiga, isso está perfeito! Não tenho o que dizer. Achei que era uma ideia maluca,
mas, olhando agora, tenho certeza de que é uma ideia maluca... Como nos metemos nisso? Que
projeto enorme, louco, lindo!
Eles riem.
— Meu anjo, isso está muito melhor do que pensávamos. Olha essas máquinas, e como
conseguiram fazer parecer um carro antigo de fórmula 1, e ao mesmo tempo que a gente se sente
no passado, nos traz ao presente, com as tecnologias se misturando — Rafa deixa sua alegria sair
nas palavras. O geek está no seu mundo aqui.
— Ele tem razão, gata! Isso está perfeito. O local está lindo e divertido. É unir os dois
mundos que os jovens amam, mas principalmente os mais velhos, que não é meu caso, sou muito
jovem... Porra, quase trinta, é para foder! — Bryan fala nos fazendo rir. Quem vê pensa que
trinta anos é velho. Está nem perto disso.
Puxo minha amiga para os meus braços e ela me abraça, chorando. Os outros dois nos
olham e sorriem.
— Conseguiu, Liz! Você conseguiu o que o seu pai tanto queria. Estou orgulhosa, minha
amiga!
— Conseguimos. Nós conseguimos. Isso é só o começo. Ele tinha mais projetos. Mas
esse aqui foi o principal para eu saber do que a Santana Games era capaz.
Olhamos para o cantinho do PAC-MAN e rimos. Boas lembranças desse jogo.
— Lembra que perdeu da última vez e te desafiei a chamar alguém para sair? Foi ali que
o Rafael te pegou de jeito?
Liz gargalha e Bryan também. Rafael se engasga, me fazendo rir. Amo atormentar esse
menino, desde que descobri que suas bochechas vermelhas são um charminho.
— Quer jogar? Podemos testar tudo! — ela pergunta animada.
— Claro. Preciso mostrar a minha filha como fazer a futura madrinha dela perder em um
jogo!
Ela ri, mas então se afasta com os olhos arregalados.
— Espera! Vou ser madrinha?! — grita.
— Claro que vai. Certeza de que o idiota ali já chamou o Rafael. Não tinha como não ser
vocês.
— Na verdade, não! — Rafael olha feio para o amigo.
— Ela está querendo colocar intriga entre nós dois, Mozão. Não ouve ela! — Bryan pede
ao amigo e me olha de lado, provavelmente me xingando mentalmente.
— Vou poder mimar minha afilhada perfeita — Liz choraminga. — Vou dar uma gatinha
para ela!
— NEM FODENDO! — Bryan grita nos assustando. — NEM POR CIMA DO MEU
LINDO CADÁVER. ESSA MENINA NUNCA TERÁ UM GATO. JAMAIS.
— Ué, por quê?! — Liz pergunta fazendo beicinho e isso me faz rir.
Rafael balança a cabeça e ajeita os óculos, então sorri.
— Porque tem uma rata encapetada. Se for tirar uma gata para a minha filha do mesmo
lugar que tirou aquele demônio, estarei ferrado. Então nada de gato! Se der um gato a ela, eu te
mato, Liz Santana!
— Ei, deixa minha namorada em paz. E não fala assim da Estrela. Ela só não gosta de
você — Rafael defende as duas.
— Meu ursinho tem razão! Defenda a nossa filha, Rafael! Mostre ao Bryan que ele não
sabe compreender a Estrela.
Começo a rir.
— Amiga, tudo menos uma gata. Bryan tem uma péssima energia, animais o odeiam.
Não posso ficar viúva sendo tão nova. Preto não me cai bem.
Bryan me olha indignado.
— Como me deixaram ficar com essa mulher?! Puta merda. Ela é fria, psicopata,
assustadora... — Me olha e seus olhos brilham, e o idiota suspira. — E... O que eu falava
mesmo?
Dou uma piscadinha para ele e o casal ri da cara de tonto dele.
— Nem nos perguntou. Só pensou com a parte debaixo! — Rafael revida.
— UUUU! — Liz e eu vaiamos juntas.
— Quantos anos vocês têm? — Bryan nos pergunta.
— Bryan, relaxa, anda muito estressado. Sua garotinha vai precisar do papai com ótimas
energias, então não gaste agora — provoco, porque sei que ele ainda está surtando por ter caído a
ficha do trabalho que ele terá com uma menina. — Vamos jogar! Estou animada. — Realmente
estou muito animada. Que saudade de um joguinho.
Ana, lembre-se de se comportar!
Olho para a minha amiga conforme nos aproximamos da máquina do PAC-MAN e sorrio
emocionada. Ver a Liz feliz é uma das minhas alegrias. E sei o quanto tudo isso é importante
para ela, é o jeitinho dela de ter o pai por perto e de sentir ela mesma.
— Então vamos jogar! — ela diz animada, enquanto meu lado psicopata de jogos pensa
em mil maneiras de derrotar ela, e no que apostar.
BRYAN
Observo a mulher loira, com uma barriga linda, usando um vestido vermelho e saltos. Seu
cabelo está mais longo, e ela conseguiu retocar o loiro, a médica autorizou, desde que não
encostasse na raiz, e claro, isso vai de acordo a cada gravidez e médico, mas ela confia na
doutora.
Está linda, radiante. Mais perfeita do que nunca.
Rafael e a família estão aqui, assim como Liz, a Antônia e a Graça, a governanta da
família Santana, e até aquela gata do demônio, que fica me olhando pelo canto da sala, como se
estivesse esperando o momento certo para me atacar. Ao menos, não destruiu a árvore de Natal,
já é um avanço.
Ana se aproxima de mim, enroscando os braços em meu pescoço, e me fazendo passar os
meus ao redor dela. Seu corpo está a cada dia mais diferente. Sua bunda e seios estão maiores,
seu rosto mais cheinho, e sua barriga mais linda. Está perfeita, ainda que, às vezes, ela entre em
pânico com as mudanças, isso afeta a mente dela, assim como imagino fazer com todas as
mulheres nessa fase, vivendo uma gravidez. Mas tento de todas as maneiras provar todos os dias
que ela continua a mesma mulher linda, gostosa, atraente, perfeita, que amo, porque é realmente
isso.
— Como estou?
— Perfeita. Sexy. Mas isso você é todo dia.
— Até quando estou vomitando ou cheia de remela?
— Até assim. Não consegue ficar feia, acredite!
Ela bufa desconfiada e me deixa um beijo sutil nos lábios.
— Ainda não me disse qual é o meu presente de Natal — diz curiosa.
Os outros estão conversando espalhados pelo apartamento. Todos mudaram seus planos
para estar conosco. Meus pais infelizmente não conseguiram, e é a primeira vez que passamos
um Natal longe, mas nos veremos em breve e foi bom vê-los antes. Estão bem animados com a
chegada da neta.
— Você também não me falou o que é o meu. Estamos quites, meu bem.
Ela sorri, e amo esse sorriso. É loucura pensar que, de repente, alguém se torna parte da
sua vida. Ana Vitória se tornou exatamente isso, parte da minha vida. É a pessoa que me
completa da maneira mais divertida e especial.
— Depois que todos forem, podemos abrir, o que acha? — sugiro e ela concorda. —
Falou com eles? — me refiro aos seus pais.
— Falei, mas já sabia que não viriam. É a festa dos Albuquerque, a primeira que não
estou, vai dar o que falar. Mas nos chamaram para almoçar com eles amanhã.
— Hum... — Tento controlar meu desgosto. Eu sei que são os pais dela, mas ainda
precisam de muito para me convencerem que querem melhorar, e que merecem a filha e a neta.
— Bry... — me chama baixinho. — Você prometeu que tentaria. Eles estão tentando.
Lembra que só queremos nossa filha vivendo com tranquilidade em todos os lados. Só vamos
tentar.
— Eu prometi e vamos. Mas, se ele falar uma merda ou sua avó e tia, não vou controlar
minha língua. Serei o próximo doido a surgir nos podcasts que ouve.
— Eu sei, e te amo por isso, por sempre querer me defender. — Me beija de novo.
Merda, seus beijos sempre me deixam a ponto de esquecer onde estamos e com quem estamos.
Sou viciado nessa mulher, não tenho como negar mais.
— Os pombinhos podem vir comer? — Antônia chama, nos interrompendo e nos fazendo
rir.
— Ela tem razão. Ana não pode ficar sem comer. Então nada de esperar até a meia-noite
— Graça completa.
— Já era para ela estar comendo! — Helena reforça.
Aquiles, Liz e Rafa olham para nós e riem baixinho. Ana está ferrada, tem sempre
pessoas de olho nela e em como está se cuidando. Acho ótimo, assim ela entende que não é
exagero da minha parte, é amor, assim como o deles.
— Vamos comer então, estou morrendo de fome mesmo! — Se afasta de mim e sorrio.
— Quem diria que o nosso Natal seria com uma Ana grávida. Amiga, eu sabia que você
deixava tudo mais apocalíptico, mas dessa vez você se superou! — Liz fala nos fazendo rir.
— De nada! — Ana dá de ombros.
— Já decidiram o nome? — Aquiles questiona.
Ana me olha e sorrimos.
— Já. Decidimos ontem. Depois de pesquisarmos muito — confesso. — No Google,
sabe? — Olho para ela que tanto criticou ele e ontem ele ajudou. Que ironia! Ela me mostra o
dedo do meio, enquanto se senta ao lado da amiga.
Graça começa a servi-la, mas ela impede, brigando com a mulher, dizendo que ela está
como convidada aqui. Tem toda razão.
— E qual o nome? — Rafael questiona.
— Maitê — Ana conta. — Maitê Albuquerque Nunes.
Sinto até um frio na barriga quando ouço o nome. Minha menina terá meu sobrenome.
Não pedi para incluir, Ana decidiu, e isso deixa claro que todas as minhas preocupações em ser
tirado da vida delas em algum momento era bobagem. O nós é real, e isso é o maior presente que
eu poderia ter tido esse ano. Amo minhas meninas.
— É lindo! — Helena diz e os outros concordam.
— Nossa linda Maitê! Não vejo a hora de conhecer essa bonequinha! — Liz comenta e
Ana sorri para ela. — Alguém mais?
— Eu também, porque a gatinha já está pesando e me fazendo não ter mais posição para
dormir e nem na reta final chegamos.
Começamos a rir. Ana é bem reclamona, mas no final é a primeira a ser chorona, dizendo
que está com medo de colocar a criança para fora. O quartinho ainda não foi montado. Como o
Rafael vai sair, vamos esperar para decidir tudo o que faremos. Por mim eu vendia aqui e
compraríamos um apartamento maior, porque aqui os cômodos são pequenos, mas ela não quer,
disse que gosta daqui, porque viveu muito tempo em um lugar grande demais que se tornou
muito solitário, e aqui ela sente o que é lar de verdade e quer isso para a nossa filha. No final,
temos o mesmo sentimento, também gosto daqui.
— Vamos comer! — falo, morrendo de fome.
Olho para o lado e a gata maligna dá um passo na minha direção. Puxo a Graça para a
minha frente, agarrando a mulher por trás.
— Menino, que isso?! Ui! — Ela fica toda sem jeito, trazendo risos a todos.
— Essa peste. Essa rata do inferno. Quem teve a brilhante ideia de trazer ela? Era para ser
um Natal feliz, lembram? — resmungo.
— Bryan, ela é uma nova gatinha. Veja, nem te atacou! — Ana defende. — Está usando
uma senhora de escudo. Meu Deus!
— Ainda não atacou... — Rafael sussurra, mas ouço e o encaro sério, e ele ri.
A gata vem na minha direção, contornando Graça e sondando-me. Sua tiara na cabeça é
nova, uma coroa cheia de brilhantes. Ela parece sorrir toda maligna, então ergue somente uma
patinha e coloca as garras para fora e me ameaça, não estou louco, é como se ela dissesse
“Cuidado, eu ainda sei usar isso, mas hoje vou deixar o espírito natalino reinar”. Me arrepio
todo.
Contorno a mesa e me sento correndo do outro lado da Ana. Uso até ela de escudo se
necessário, já que a gata gosta dela.
— Vejam, senhores, este é o pai de família, que foge de um gato! — Aquiles fala e todo
mundo ri, até a minha mulher, que deveria me defender. Ela deveria ser literalmente minha
advogada, não?
— Desculpa, mas é difícil te defender. A Estrela está quietinha hoje.
— Ana tem razão. Minha gata é um anjo agora!
— Filha, não elogia muito não. Ela mordeu sua bunda ontem, porque mandou ela para o
SPA.
Todos gargalham, menos eu. Eu disse, a gata é uma rata de bueiro!
— Ela só não estava tendo um dia bom!
— Ela nunca tem... — Graça revida e Liz a olha boquiaberta.
— Viram? Não sou louco. Essa gata é uma rata enorme!
Me assusto com a Estrela surgindo ao meu lado e solto um grito. A gargalhada triplica.
Sou uma piada a todos e até a essa rata peluda.
Na primeira oportunidade, vou doar essa gata para qualquer lugar distante. Liz que não
cuide dela.

Todos já foram, exceto Liz e Rafa que estão no quarto dele, mas a gata foi embora, graças
a Deus. É bem tarde, houve trocas de presentes, mas somente agora Ana e eu vamos trocar os
nossos.
Estamos na sala, ela inventou de sentar-se no chão, como vai se levantar depois? Não sei,
porque ela odeia que eu ajude, diz que pode fazer tudo sozinha, resultado? Começa a chorar e me
chama.
Sua barriga já está bem grande, a Maitê está crescendo e engordando. Até mesmo para
esconder com as roupas largas que conseguia, já ficou complicado, então nossas saídas se
limitam a lugares com menos pessoas e longe do foco para a imprensa. É uma escolha dela, e se
ela se sente confortável assim, respeito e apoio.
— Primeiro o seu! — Ela me entrega uma caixa pequena. Está embrulhado em um papel
vermelho.
Me ajeito à sua frente. Na TV passa filmes natalinos, no canal que colocamos. É um
clima gostoso. Lá fora chove um pouco, uma chuva bem de verão, mas está levemente abafado.
É até estranho passar o Natal com calor, faz um tempo que passou o inverno norte-americano.
— Como terei certeza de que não é uma bomba? — pergunto e ela faz cara feia, e isso me
faz sorrir.
Abro rasgando o papel, nada delicado, porque sou ansioso. Uma caixa de madeira toda
preta surge. Retiro a tampa, e olho dentro. Começo a sorrir.
— Você não fez isso... — sussurro.
— Fiz sim. Foi difícil, mas consegui um artista para fazer a você.
Retiro da caixa um mini Jorginho, literalmente igual, até os amassadinhos, arranhões,
ralados. Sei que meus olhos marejam, porque me tornei um papai emotivo como a mamãe
maluca.
— Ana, meu Deus! — Sorrio olhando a peça com carinho.
— O Jorginho não dava para trazer de volta, mas, naquele dia que se despediu dele, tirei
várias fotos e filmei. A ideia surgiu ali, só não sabia se daria certo. E deu. Gostou? Diz que sim.
Estava receosa. Você é todo perfeccionista para essas coisas de objetos de decoração que tenham
valores sentimentais.
— Eu amei, meu amor. É perfeito! E no final, me deu um Jorginho. — Começo a rir e a
olho. Ela dá de ombros. — E não sou perfeccionista... — Me encara bem séria. — Eu achei um
pequeno raladinho no funko do Dumbledore. Viu o valor? Era para estar perfeito.
Ela ri, nem parece que quase me matou dias atrás quando chegou meu novo objeto de
coleção do Harry Potter. Eu quase morri. Era um raladinho bem visível. E sim, vão trocar. Foi
muito caro.
— Esse Jorginho eu amo, o que quase explodiu a gente, não!
Balanço a cabeça ao rir, e coloco ele com cuidado na caixa.
— Vou arrumar um cantinho especial para ele. Obrigado! — Me inclino beijando-a.
Assim que me afasto entrego o seu, que está dentro de uma sacola rosa, claro. — Esse é o seu.
— Vai me dar tudo rosa agora?
— Se reclamar pinto o apartamento todo de rosa.
— Te mato!
— É Natal, cadê o espírito natalino? — brinco e ela sorri.
Ela abre a sacola, mais delicada que eu. Desfaz o laço branco, e em seguida retira o seu
presente. Seu cenho franze e acompanho cada uma de suas reações. Ela abre e começa a folhear
com calma, e rapidamente seus olhos marejam.
— As fotos... Era por isso que queria as fotos... — sussurra, com a voz trêmula.
— Sim. Salvei cada foto que te pedia da sua barriga. Sabia que sua gravidez estava sendo
difícil, muita coisa acontecendo, e não estava registrando nada, então percebi que poderia um dia
se arrepender disso, de não ter as fotos do início de tudo. Aí tem as semanas, meses, até agora...
Cada foto que me enviou, cada foto que tirei sem que percebesse. Está tudo aí, para se lembrar
sempre de que nunca esteve sozinha, eu sempre estive aqui, te olhando e cuidando de você em
cada momento, ainda que não estivesse por perto, como no início, quando tudo ainda era um
grande segredo.
— Bryan, eu falei que não queria borrar a maquiagem hoje. Elas são caras e estou
tentando ser mais econômica, não vivo mais à custa dos meus pais!
Começo a rir. Como se eu não soubesse o valor dessa mulher. Ana Vitória é bem cara, e
não posso culpá-la, cresceu assim. E pior, continuo mimando-a, exatamente com todo luxo que
posso dar, e ela tenta me matar todo dia por isso.
Ela termina de ver o álbum e fecha deixando de lado então vem até mim e me abraça,
ficando de joelhos entre as minhas pernas.
— Te amo tanto, seu puto. Obrigada por sempre pensar em tudo e cuidar de nós duas.
Obrigada!
— Você merece tudo isso, meu amor. — Enxugo seu rosto com carinho, e ela sorri, se
sentando entre as minhas pernas. Abraço-a acariciando sua barriga. — Vocês duas merecem o
melhor e darei a vocês, sempre. — Beijo seu pescoço, e sua pele se arrepia. Amo o quanto ela
sempre responde aos meus toques.
Ela sorri emocionada.
— Amei. Foi o melhor presente que já ganhei na vida, e olha que já ganhei muitas coisas.
— Sorrio feliz em saber disso. — Tem mais um presente na árvore. Uma caixa rosa. — Olha
para a nossa imensa árvore, quase não cabia aqui dentro. Sim, eu inventei isso. E ela e o Rafael
me xingaram por cada galho que tiveram que colocar enfeites e são muitos.
— Tem, mas esse é da minha princesinha. — Puxo a caixa e coloco em suas mãos.
— Devo abrir ou só quando ela nascer?
— Deve. Você com certeza deve abrir. Acho que pode gostar. — Começo a rir, já
esperando ela me matar.
Ela abre a caixa, parece receosa. Conhece o quase marido que tem — quase sim, ela vai
se casar comigo ainda, é questão de honra agora, ainda não esqueci o que ela disse aos meus pais
—, tudo pode acontecer.
Tira a tampa e começa a rir, mas acho que de nervoso.
— Bryan, uma roupinha do Harry Potter? Sério? Eu não acredito que vai viciar ela nisso!
— Você vai viciar ela em jogos assassinos, podcasts macabros, e coisas de luxo, Gossip
Girl com aquele tal de Chuck Bass, que faz seus olhos brilharem. Me deixe mimar ela com
cultura, e sim Harry Potter é cultura!
Ela ri balançando a cabeça. Tem até um minióculos e uma minivarinha.
— Você é maluco! E não vou viciar ela em nada. Serei uma mãe séria, que vai ensinar ela
sobre livros clássicos e coisas do tipo.
E eu sou feio! Mas não vou discutir com doido.
— Feliz Natal, princesinha! — sussurro para a sua barriga. — Não dê ouvidos a mamãe,
ela nem sabe o que são livros clássicos! Ela conhece apenas Vogue e olhe lá.
— Bryan! — Ela me acerta com a tampa da caixa, me fazendo rir. — Me estressei. Sai!
— Ela tenta se levantar, mas não consegue, o vestido não ajuda, porque é justo ao seu corpo.
— Quer ajuda? — controlo o riso.
— Não! Eu sei me virar sozinha... Esse vestido... — Ela faz esforço, mas choraminga. —
Bry, quero ajuda... — Eu disse que isso aconteceria.
Gargalho puxando-a para mim.
— Sossega aqui. — Beijo seu pescoço.
— Rir de uma mulher grávida pode te dar dez anos de azar.
— Então estou ferrado, todo dia fico rindo das suas loucuras! — Ela faz cara feia, mas
não dura, porque, quando seus olhos focam nos meus, o seu olhar brilha e ela sorri. — Feliz
Natal, princesa.
— Feliz Natal, puto.
— Sempre tão delicada...
Sorrimos, e beijo-a em um climinha só nosso, que eu amo demais. Isso é tudo que eu
sempre precisei e agora sei disso.
— Bryan? — sussurra.
— Oi?
— Estou com tesão e vontade de comer milho com leite condensado.
— O tesão posso cuidar agora. O milho... Sério? — Faço uma careta e ela ri.
— Tesão primeiro. Prioridade!
Começo a rir. Levanto-me, trazendo-a comigo. Deixamos os presentes no sofá e vamos
para o nosso quarto terminar nossa noite natalina, do nosso jeito.
Um tempo depois...

ANA VITÓRIA
Dou comida para a sapequinha que não quer saber de ficar na cadeira dela. Estamos
sentadas no chão da sala. Estou pronta, falta apenas trocá-la, cuidar dela no geral, e hoje em dia
faço isso depois de eu estar pronta, porque eu fazia o contrário e, quando íamos sair, ela já estava
suja.
Hoje é a despedida de solteiro da Liz e do Rafael, que será no novo fliperama. Foi
fechado unicamente para isso. Eu sugeri Vegas, mas Bryan foi contra, alegando que minhas
viagens repentinas nunca terminam bem. Achei um absurdo isso, que fique claro.
Maitê vai completar um ano em breve, e está muito arteira. Dando os primeiros passinhos
e deixando a todos loucos. A nossa babá simplesmente pira com ela, do jeito mais carinhoso
possível, mas está afastada por uma gripe, e então essa semana estamos cuidando dela, nos
revezando. Minha mãe tem ajudado, Helena também, e até meu pai, o que é bem surpreendente,
e semana que vem iremos finalmente para os Estados Unidos, para passar o Ano-Novo com os
pais do Bryan, já que o Natal ficamos novamente aqui.
Foi um ano bem agitado esse, desde o nascimento dela. Liz noivou, meus pais estão
tentando ser diferentes com a neta, minha avó nem abre a boca sobre nada e minha tia também,
já que dei um ultimato: falem uma merda e fiquem sem nos ver. Sei que é quase chantagem, mas
era isso ou ser presa porque matei elas. E consegui fazer um bom dinheiro com tudo vendido no
bazar que foi um sucesso. Eu sabia que colecionar coisas de grife seria investimento e dos bons.
Pensei que o escândalo da família seria eu, já que as notícias ficaram polvorosas com o
nascimento da Maitê em março e meu relacionamento com o Bryan ficou ainda mais em
destaque, ao menos lembram seu nome agora. Mas Juliana resolveu tudo, minha prima deu um
escândalo maior ao ser flagrada transando dentro de uma boate. A família Albuquerque quase
ficou apenas na lembrança, e eu? Deus que me perdoe, ri demais. É a vida, um dia você julga, e
no outro todos apontam os dedos para você.
Enfim, na mídia, é sempre todos querendo que eu ceda a capa de alguma revista, mas,
como sou esperta, logo divulguei o rosto dela, ninguém terá a exclusiva, a mamãe aqui já fez
isso, assim param de nos seguir para cima e para baixo querendo uma foto dela, para competirem
entre si quem seria o primeiro a ter isso. Mas também foi a única. Evito expor ela, até que ela
entenda e queira isso, ou seja, daqui alguns anos.
— Papa!
— Mamãe! — corrijo-a, não que tenha errado, e não, ela não chama pela comida. É pelo
Bryan. Foi a primeira palavra dela. A segunda foi “Pa”, que é a comida e eu quase fiquei no
esquecimento, mas ela só chama quando quer mamar, ou quando o papai não pode dar atenção,
aí ela lembra de mim, e vem fazendo manha até o pai largar tudo com dó, e correr socorrer sua
princesinha.
Ela gargalha, fazendo seus olhos azuis como os meus brilharem.
— Papa! — Ela acha graça em me torturar, só pode.
— Mamãe! Tem que falar mamãe!
— Papa! — Torna a gargalhar.
Sorrio, não tem como não rir. Ela bate as mãozinhas nas perninhas gordas. Maitê é uma
bolinha loira. Essa é a verdade. A garota come de tudo, até meu cabelo se deixar.
Coloco a comida na sua boca, a última colherada. E ela sorri. Nem parece que me deixa
maluca com seus choros, gritos, ou quase me mandou para o hospital surtada, quando seus
primeiros dentinhos começaram a vir ali pelos seis a sete meses. Foram longas noites.
Principalmente para o meu peito, que ela usava para coçar a gengiva, só queria isso e nada mais.
Sofri, a dor do início da amamentação que eu sentia, voltou com tudo, e foi quando não aguentei,
estava tendo até febre e passando mal, tive que começar a colocar na mamadeira para ela, mas
não quis abandonar meu seio, e foi bom, porque a mamãe aqui tem muito leite para dar a essa
garota, com dentinhos, e uma agitação que, se fosse filha biológica do Bryan, não seria tão
parecida.
Não foram meses perfeitos, não dá para romantizar a maternidade, tem muitos altos e
baixos, mas isso não diminui o amor que sinto pela minha menina. E claro, a rede de apoio que
tive e tenho me faz respirar mais aliviada, mas, no final, o peso maior sempre fica para mim, não
tem como evitar, e são nessas horas que preciso respirar fundo, e lembrar que tudo é só uma fase,
e logo ela estará enorme e sentirei falta da minha garotinha.
— Comeu tudo, meu amor. Parabéns! — Ela bate palminhas quando falo. — Isso
mesmo! — Limpo sua boquinha. Como eu dei a comida, não fez sujeira, do contrário, teria
comida para todo lado, porque ela come se divertindo, literalmente.
Levanto-me e levo as coisas à cozinha. Retorno em seguida e ela está engatinhando até
onde tem as coisas do seu pai e vários brinquedos dela, que ela sai colocando em todo canto. Às
vezes, acho que ela faz esconderijos deles, porque alguns somem e aparecem do nada.
— Dada... — chama o boneco do Harry Potter, um dos funkos dele.
— Nem pensar. Você tem os seus brinquedos e esse não é um deles. Esse machuca você,
meu amor.
Sim, ela tem muitos... Muitos brinquedos, e várias coisas do Harry Potter. Bryan viciou a
menina, que muitas vezes só dormia ao som da abertura dos filmes. Eu pari ela, sofri na
amamentação, nas manhas quando ela não o queria, e somente eu a acalmava. Fiquei ali com ela,
quando sabia que ele não tinha o que fazer. E quais a primeiras palavras dela? O que ela passa
amar desde bebê? É isso aí, o mundinho do ruivo contaminou ela, e eu? Eu que lide com isso.
A porta se abre e ela para. Se vira rápido. Animada. Essa menina é louca no pai, e
apaixonada no tio, que não mora mais com a gente tem um tempo, mas quando ela o vê fica
maluca, o que faz a Liz querer se divorciar sem ter casado ainda, porque acha injusto ele
conseguir o carinho da afilhada e da gata mais que ela. Cheguei a conclusão de que ela ama os
homens da vida dela, até o avô ela surta para ter por perto, os dois. As mulheres? Ah, essas ela
faz de gato e sapato, e a gente se contenta apenas. Mas claro que faz isso, eles a mimam.
O mais engraçado é que ela não gosta da Estrela. Todas as vezes que fomos na Liz, ela
chorava sempre que a gata se aproximava. Isso é muito louco. Bryan fez direitinho o papel dele
em passar o medo dele para ela, só pode.
Bryan entra, deixando os sapatos na porta, e ela começa a dar gritinhos e chamar por ele,
desesperada. Vem engatinhando o mais rápido que consegue e tenta se levantar para andar, mas
sua afobação não deixa. Ele está carregando uma caixa grande, que deixa na mesa, mas nem me
atrevo a perguntar o que pode ser.
— Oi, amor. — Ele me beija, deixando suas coisas no sofá.
— Papa! Papa! — grita alucinada. Então começa a fazer beicinho, porque não foi a
primeira ter sua atenção. É, o ruivo sofre aqui. Ambas precisam dele.
— Oi, princesinha... Calma. O papai vai pegar você. Só preciso lavar as mãos, ok? Vim
da academia e da ioga, estou todo sujo.
É, ele convenceu ao Rafael de fazerem ioga juntos. Liz e eu deixamos de questionar as
coisas. Estamos na fase que só aceitamos.
Seu beicinho treme e acho uma fofura. Ele me olha e começo a rir.
— Se vira. Ela é sua agora. Preciso separar as coisas dela para dar banho. Minha mãe vai
ficar com ela hoje. Temos que deixá-la lá.
— Por falar nisso... Essa caixa estava em seu nome na portaria. Seu pai mandou.
— Para mim? Mas vou lá, por que não me entregou lá?
— Confira se não é uma bomba antes... — Maitê grita por ele. — E meu Deus, filha,
calma! — ele fala com ela, rindo.
Começo a rir. O homem guarda ranço, não tem jeito. Mas gosto que estejam se
respeitando, e as coisas aos poucos estão ficando cada vez melhores.
— Vai lavar essa mão! A menina vai ter um treco!
Ele caminha pelo corredor e ela vai seguindo-o enquanto ele vai falando com ela. E ela
muda o choro para risos das palhaçadas do pai.
Me aproximo da caixa e abro-a, já que não tem nada que diga o que é. Retiro o plástico
bolha de cima, e congelo. Ele não fez isso...
Tiro a caixa de boneca. É de madeira, tamanho médio. Tem um cartãozinho pendurado
no telhado e pego para ler:

“Um dia me pediu... Talvez não se lembre.


Espero que seja divertido brincar com a Maitê nela.
Seu pai.”

Meus olhos marejam e começo a chorar vendo a casa de boneca. Bryan retorna com a
nossa menina em seus braços, que mexe em seu cabelo, ela ama fazer isso.
— O que houve? Por que está chorando?
— Essa casinha... Quando eu era criança pedi a ele, mas não me deu. Ignorou. Pensei até
que não tinha ouvido o meu pedido. Deu outras coisas naquele Natal, afinal isso era simples
demais. Não insisti, não costumava fazer isso... Mas agora... ele se lembrou. Isso é ele tentando
melhorar, é sua forma de dizer que me ama, ainda que não fale muito, como me disse uma vez.
— E tem como não te amar? — pergunta e deixa um beijo na minha testa. — Que bom
que ele de fato está tentando. Todos eles estão tentando. Só de darem amor a nossa garotinha e
estarem tentando melhorar tudo com você, começam a ganhar um pouco do meu respeito.
Assinto para ele e sorrio da nossa filha agora fascinada no brinco e tatuagens dele.
— Disse que era para eu brincar com a Maitê.
Nos últimos meses ele tem se esforçado, do seu jeito, mas está sabendo respeitar meus
limites. Minha mãe está melhor, muito melhor. Entenderam que me prender a eles jamais vai me
manter por perto, não mais. Estão tentando, e aos pouquinhos estão conseguindo. Minha avó, tia
e prima, respeitam e não se intrometem com a criação que dou a minha filha, e muito menos
tentam mudar, e sei que não foi apenas a pequena ameaça que fiz, tem dedo dos meus pais, mas
não quero me intrometer mais. Os problemas deles não fazem mais parte da minha vida, não
esses tipos de problemas.
Ela puxa o cabelo dele me fazendo rir e enxugar as lágrimas.
— Fico confuso se ela ama ou odeia meu cabelo, já que esses dias quase destruiu todos os
meus produtos de cabelo. E por falar nisso, vamos comprar as travas dos armários, com
urgência!
Concordo e olho para a casinha de boneca, sentindo-me bem feliz.
— Preciso organizar as coisas dela.
— Vou ficar com ela e dou banho também. Preciso tomar depois, mas serei rápido.
Ele sempre diz isso, mas leva mais tempo que nós duas para se arrumar.
— Tem certeza? Os banhos dela são sempre malucos.
— Sim. Já está arrumada, relaxa. Deixa que cuido dela. — Pisca para mim e os dois saem
pelo corredor.
Ele cochicha algo a ela, e ela gargalha. O melhor som da minha vida.

Largo o celular dizendo a Liz que daqui a pouco iremos, só preciso conferir o que tanto
aqueles dois demoram. Bryan disse que daria conta de tomar banho, dar banho nela e arrumar a
pequena. Mas deve ter morrido, não é possível.
Caminho pelo corredor, e vou para o quarto dela, onde ouvi eles entrarem tem um
tempinho.
O quarto é todo rosa e branco, o mundo das princesas toma conta, tudo escolha dele,
deixei ele ser feliz e fazer exatamente o que queria, resultado: Um quarto todo planejado e que
foi gasto uma fortuna para a garotinha que ele rapta direto para dormir conosco porque ela é
fofinha e bebezinha demais para deixar dormindo sozinha, é o que ele alega. Bryan é um pai
muito babão.
Ele está sentado na poltrona, com ela dormindo em seu peito, enquanto ele canta baixinho
para ela, a música do Rei Leão. Sua voz é suave, linda. Maitê é viciada no canto dele,
principalmente quando ele toca violão para ela. Ensinou ela gostar até de Charlie Brown Jr. Essa
menina é mais dele do que minha, é isso.
O leãozinho que ele deu a ela, está enroscado entre eles, ela ama esse bicho.
— Amor, precisamos ir. Fez ela dormir? Tínhamos que deixá-la na minha mãe... —
sussurro e sorrio.
— Como resistir? Ela ficou bocejando e me olhando com os olhinhos pesados. Minha
Barbiezinha queria o papai para dormir...
— Bry...
— Shhh... Pede para a Marisa vir para cá. Não vou acordá-la e colocar no carro fará isso.
Olha, está até roncando baixinho... Olha que lindo! — Seus olhos brilham.
— Amor...
— Vai... Avisa sua mãe! — Me expulsa.
Balanço a cabeça e sorrio. Bryan é terrível! Dou uma última olhada antes de sair, e é
estranho pensar que estou vivendo um sonho que até pouco tempo atrás não passava pela minha
cabeça, e agora se tornou minha maior realização.
Amo esses dois, muito.

Já estamos no fliperama. Um pessoal da Santana Games e amigos do novo trabalho do


Rafael estão presentes também. Seus pais e a mãe da Liz não quiseram vir. Deixaram esse
momento apenas aos amigos.
— É estranho ver esse local vazio. Desde que inaugurou tem sido um sucesso! — Liz me
fala e concordo. — Mas está vazio por uma boa causa... VOU CASAR! — ela grita me
agarrando e rio.
— Vai. O nerd fez o serviço direitinho. A pediu em casamento em Paris! Isso é muito
vocês.
— É sim.. Estou tão feliz! — Suspira. — Tudo deu certo, Ana. Nós dois, a Santana
crescendo sem parar, o fliperama, você e o Bryan, e até a nossa garotinha... Tudo deu muito
certo!
Sorrio concordando.
— Deu! E o melhor, Bryan e eu estamos vivos, não nos matamos. Mas aquele puto segue
sem fazer um pedido de namoro!
Começamos a rir, e ela disfarça um olhar. Mas noto, porém fico quieta.
— Um milagre estarem vivos.
Nos aproximamos do outro pessoal e fico olhando o celular, enquanto conversam. É
sempre assim. Mesmo no trabalho, com a babá, meus pais, ou quem for que estiver com ela, não
consigo não me preocupar. Sempre fico atenta ao celular.
Rafael chama a Liz e braços rodeiam minha cintura, me afastam do pessoal. É o Bryan,
seu cheiro que ainda me acalma me faz suspirar nesse momento.
— Ela está bem. Sabe disso.
— Não estou preocupada! — minto.
— Ana, você sempre está. — Me vira para ele e sorrio. Ele retira o celular da minha mão
e coloca em seu bolso. — Para de se preocupar tanto. Maitê está ótima. Curte um pouquinho.
Nos últimos meses tem se dedicado perfeitamente a ela, mas precisa se lembrar de que tem que
viver ainda. — Desvio o olhar e reviro os olhos, e ele sorri. — Fala que ela me imita, mas as
teimosias são suas.
Volto a olhar para ele. Seus olhos sempre me acalmam.
— Por falar em curtir, quando o senhor vai me pedir em namoro? — tento me distrair.
— Namoro? — Ele ri e empurro-o, mas ele me puxa para si de novo. Passo os braços ao
redor do seu pescoço. — Amor, isso é união estável já.
— Não é não! — implico.
— O próximo passo é casamento.
— Nem morta! Não caso com você. Já disse. Nem em namoro me pediu!
— Vai casar comigo — é firme nas palavras.
— Não vai nem se ajoelhar? Só caso se se ajoelhar — brinco. — Posso repensar sobre
isso, mas vai ter que se ajoelhar.
— E roubar o momento deles? — Olho-o, confusa, porque estou brincando, e ele sorri de
um jeito muito suspeito. — Mas se colocar a mão no meu bolso talvez tenha uma caixinha da
Tiffany... — Arregalo os olhos.
— Bryan, você não fez isso... Eu estava brincando. E isso é muito caro, já falei para
deixar de mimar a mim e a Maitê!
Ela me ignora, como sempre!
— Discretamente, coloque a mão no meu bolso direito, sem trazer o foco para nós! Tem
gente olhando, gata! — me pirraça.
— Eu juro que se for pegadinha e for apenas seu pau duro, eu vou te dar um soco. E se
me chamar de gata de novo, te mato!
Ele gargalha. Puto.
Coloco a mão e o maluco não mentiu. Tem uma caixinha. Deus, era brincadeira! Eu
estava só brincando...
Me afasto um pouco dele e abro a caixinha, e tem um anel muito lindo dentro.
— Bryan, i-isso é sério?
— Muito sério. Era para fazer depois daqui, mas sou ansioso, me conhece. — Sorri. —
Então, casa comigo, Ana? Me deixa ser um pouquinho mais feliz em poder te chamar de esposa?
— sussurra e minhas mão estão trêmulas. — Não tem que ser namoro, porque essa fase fui
pulada há muito tempo. Nossa vida é de casados já, mas sonho em poder colocar uma aliança
dourada em seu dedo e te chamar oficialmente de minha.
Olho para o lado e vejo Rafael e Liz nos olhando, e pela cara dos dois... Merda, sabiam!
Por isso ele a chamou, para eu ficar sozinha e o puto aprontar. E por isso ela deu aquele olhar
estranho.
— Bryan... Casar? Véu, grinalda, festa, tudo isso? — Engulo em seco com meus olhos
embaçados. — Tipo, casar mesmo?
Meu coração está parando.
— Se for o que sonha, podemos ter tudo isso, meu amor. O que quiser teremos. Só casa
comigo, princesa, por favor... — me pede, com a voz embargada. Tão lindo meu ruivo emotivo.
— E posso responder com não? — brinco, estou nervosa. Tento controlar o choro, mas
fica cada instante mais difícil.
— Não! — Sua resposta é rápida.
— Então não é um pedido, Bryan!
Ele ri.
Pego o anel e entrego a ele, para que faça as honras. Ele coloca na minha mão, toda
gelada, trêmula.
— Aceito me casar com você, meu puto. — Me jogo em seus braços e ele me aperta
forte.
Lar. É isso o que seus braços são para mim.
— Viu? Nunca diga nunca!
— Idiota. Droga, minha maquiagem. Que merda, Bryan! — Começo a chorar de vez.
O casal se aproxima na maior cara de pau.
— Viu, eu falei que desse ano não passava! — Liz fala ao noivo.
— Parabéns! — Rafa diz e nos afastamos.
Eles nos abraçam e, quando Liz está comigo, a ameaço de todas as formas possíveis por
não ter me dito, mas ela disse que o Bryan falou que, se ela abrisse a boca, perderia o cargo de
madrinha da Maitê. Ele é um puto, eu digo!
— Não era certo tirarmos esse momento de vocês. É a despedida de solteiro dos dois! —
falo chateada.
— E foi o melhor presente que nos deram! — Rafael me olha sorrindo, e a minha amiga
concorda.
— E não acabou... — Bryan pigarreia e olhamos para ele. Agora os dois parecem
surpresos. Perfeito, ele aprontou mais e sem supervisão. — Consegui reservar quatro dias no
Bellagio, em Las Vegas, por isso fui contra ao pedido da Ana. Um contato de trabalho me deu...
— Faz suspense por alguns segundos. — Uma das melhores suítes, para até seis pessoas. Após a
virada do ano.
— Bryan! — Liz e eu gritamos animadas e nos jogamos em cima dele, que por pouco não
cai.
— Preciso arrumar os mesmos contatos que você! — Rafael fala e concordamos rindo.
— Cara, como consegue?
— Sou foda no que faço, eu já disse! Presente de casamento adiantado. — Olhamos para
ele. — Que foi? Tenho que economizar. Tenho fraldas para comprar.
E voltamos ao muquirana. O riso se espalha.
Ele deixa um beijo na testa da Liz e um beijo na minha boca. Ela se joga nos braços do
Rafael agora, mais animada ainda.
— Eu precisava disso. Nós precisamos. Trabalhamos demais esse ano, principalmente a
mamãe dando a vida pela filha. Porque, sejamos sinceros, Bryan é um pai muito bom, mas o
peso maior sempre fica na mamãe.
Concordamos e beijo o meu Bryan... Meu noivo. Meu Deus!
— Vamos aproveitar! — Liz me puxa quando começa a tocar I wanna dance with
somebody, da Whitney Houston. Não tenho tempo nem de rejeitar, ainda que não fosse.
Os convidados estão animados. Ainda não voltei a beber, então me contento com a
bebida sem álcool que o garçom me entrega da bandeja exclusiva para a galera, que assim como
eu está na base de surtar sem precisar o álcool entrar.
Liz rodopia e me agarra em seguida, e quase caímos. Bryan pega uma bebida e encosta
em um canto junto com o amigo e outro pessoal, mas os olhos deles estão em nós, e sorriem
como bobos.
Mãe, noiva, vivendo o melhor da vida, e ainda aproveitando com as pessoas certas... Eu
não poderia querer nada melhor.
Que bom que nós escolhemos viver o que o destino nos deu.
Meu ruivo me dá uma piscadinha e sussurra um “eu te amo”. Ele nem precisa dizer,
porque isso está em cada gesto dele, em seu olhar, carinho. Bryan é perfeito, e me completa da
melhor maneira.
Agradeço primeiramente a Deus por me acompanhar sempre em tudo que faço, e me
permitir viver das coisas que amo.
Josiane, minha Jojo, ou melhor, a minha Aquariozinho. Essa é uma das pessoas mais
especiais que entrou na minha vida e fez parte dessa duologia, betando, cuidando, fazendo
críticas e apoiando como ninguém. Se esses dois livros aconteceram, é porque ela ajudou muito,
não soltou minha mão em nenhum momento. Esteve comigo nas madrugadas que pensei que não
era boa o suficiente, torcendo pelo lançamento ser positivo, e divulgando sem parar em suas
redes sociais, o @literaturamente_falando. De leitora, a amiga e beta, obrigada por fazer parte da
minha vida e dos meus livros, e por me apoiar sempre, mesmo quando ainda era só uma leitora.
Eu te amo, e sou grata demais por ter na minha vida alguém como a Liz, meiga, carinhosa,
companheira, e que faz de tudo para ter as pessoas que amam felizes ao seu redor.
Larissa, minha assessora e amiga. Se tem alguém que eu chamaria para uma guerra é ela,
a garota mais maluca, ousada, incrível, divertida, e que sonha em me esganar por todas as vezes
que a fiz surtar. Obrigada por ser a Estrela da minha vida, a gata mais maluca, e que me arranca
ótimos sorrisos. Você é perfeita, e em mais um lançamento esteve aqui, segurando a loucura toda
que crio, e sobrevivendo aos meus surtos. Sei que vive me xingando, mas é seu jeitinho de dizer
que me ama, afinal nunca te deixo passar no RH (ele nem existe, sejamos sinceras). Te amo
muito, obrigada por tudo!
Minhas parceiras lindas, obrigada por segurarem esses lançamentos, tanto do Rafa quanto
do Bry, vocês fizeram muita coisa, sério — essas garotas trabalharam demais, meu Deus! Deram
a vida por eles, e o principal: deram amor. Continuaram do início ao fim, sem soltar a mão da
autora maluca, e entrando nas minhas loucuras. O nosso grupo me deu muitos risos e choros pelo
carinho lindo de vocês. Obrigada, meus amores. Obrigada demais!
Toda equipe por trás do lançamento: revisor, betagem, ilustrador... Todos vocês fazem
parte disso e sou grata demais, sem vocês nada seria possível e sabem disso.
Leitoras(es) amadas(os), obrigada por estarem aqui em mais um lançamento, sem
soltarem minha mão, embarcando em todos os mundos malucos que crio na minha cabeça cheia
de novas histórias para contar. Vocês são sempre muito incríveis, as(os) melhores, e não é clichê,
é a verdade. Amo vocês, tenho cada uma(um) como uma(um) grande amiga(o). Obrigada a todos
vocês, leitores do Incourverso, vocês tornam o sonho dessa autora cada vez mais real.
Nos vemos em breve!
Fiquem com o meu até logo, como sempre.
Deby
Paulista, da casa de Sonserina e que tem como terapia caseira assistir Friends.
Começou a escrever na adolescência e, desde então, nunca mais parou. Adora inventar
cenários caóticos e completamente cômicos em seus livros, o que condiz com o jeito que
costuma tentar ver a vida: o mais leve possível e tentar rir mesmo em meio ao caos.
Estudante de Marketing e completamente apaixonada por esse meio de divulgação
digital, em que sempre busca novas estratégias de prender seus leitores.
Já trabalhou como Social Media e Designer, hoje vive totalmente dedicada aos seus
livros, e o que antes conciliava com a escrita para se sustentar, se tornou o seu segundo plano e
sua forma de desafogar um pouco das palavras quando sua mente se enche com tantas vozes de
novos personagens implorando para terem suas histórias contadas no mar infinito de inúmeras
ideias que sempre aparecem, principalmente na hora do banho.
Sonha em viajar ao mundo, mas enquanto isso não acontece, viaja através das palavras
dos universos que cria.

Instagram:
https://www.instagram.com/deby.incour/

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