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Copyright © 2022 Evilane Oliveira

Princesa Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e


acontecimentos que aqui serão descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e

acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as


regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,

através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora.


A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.

9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.


ÍNDICE
Epígrafe

Dedicatória

Aviso da autora

Prólogo

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Capítulo 04

Capítulo 05

Capítulo 06

Capítulo 07

Capítulo 08

Capítulo 09

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13
Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Agradecimentos

Contato

Outras obras
“Você é a maldição da minha existência e o objeto de meus
desejos.”

— Anthony Bridgerton
Para você que se refez colando seus próprios pedaços sozinha.
Princesa Distorcida é um romance dark e aborda como tema
central o incesto (romance entre irmãos). Se você não gosta do

assunto ou é sensível, NÃO LEIA!

A partir daqui você está por sua conta e risco.

Boa leitura,
LAKE TREVISAN

O único som que pude ouvir embaixo das minhas cobertas foi
das gotas de chuva batendo contra os vidros das janelas. Fechei os

olhos e apertei meus punhos enquanto acalmava minha respiração.


Um. Dois. Três...

Passos soaram me assustando, então minhas pálpebras se


abriram. Enquanto minha alma parecia derreter de medo, meu peito
doía. Era uma dor crua, horrível e que me fazia ter ânsia de vômito.

— Ratinha.
Fiquei rígida e quis rolar para debaixo da cama. Tudo nele me
assustava. Sua voz crua, sua altura, seus olhos. Isso era o bastante
para que eu entrasse em desespero.

Já pensei em contar aos meus irmãos o que ele fazia. Já

pensei em dizer à mamãe, mas do que adiantaria? Todos o temiam.


Ninguém me defenderia, eu não os culpava.

Ettore era um demônio. O pior de todos eles.

Senti suas mãos deslizarem por minhas pernas e tentei


desconectar. Contei várias vezes até o cem, esperando tudo acabar,
rezando para que fosse rápido. Só que não acabava. Meu corpo
doía, como todas as vezes. Meus olhos ardiam com lágrimas, mas

eu as empurrei de volta. Ele ficava irritado ao ver minhas lágrimas.

— O que...

A luz acendeu, Ettore se ergueu e eu me encolhi, puxando


meu edredom. Meu peito doeu quando vi mamãe de pé, com a boca
aberta, completamente em choque. Seus olhos bonitos estavam
brilhando com lágrimas não derramadas e meu pai estava de pé
perto dela.

— Qual é o seu problema, Ettore? — mamãe gritou,


horrorizada.
Eu cobri meus ouvidos, tremendo.

— Cala a boca! — meu pai gritou, arrumando a calça,


enquanto mamãe vomitava ali. — Você trouxe essa rata no ventre
quando chegou! Você, Violetta. Eu faço o que diabos eu quiser...

— Ela é uma criança, seu desgraçado! — Minha mãe correu


em sua direção e ele a pegou pelo cabelo. Sua mão colidiu com o
rosto dela e eu gritei. — Banheiro, Lake! Agora! — Sua ordem
reverberou enquanto seu lábio sangrava. Eu não conseguia me
mexer.

— É culpa sua, Violetta! — ele gritou, continuando a bater


nela.

— Não, Ettore. Ele é o culpado...

— Eu odeio você, sua puta!

— Eu também te odeio! — ela berrou antes que ele puxasse a


arma e a ajoelhasse diante de mim.

— Pai, por favor — implorei, chegando mais perto do final da


cama.

— Não sou seu pai, sua rata imunda! E vou matar sua mamãe
bem na sua frente. Quero mais lágrimas, me dê mais...
— Não, por favor. Por favor... — pedi, com a vista embaçada
do líquido que ele parecia amar.

Meu pai tirou uma faca do terno enquanto segurava minha


mãe pelo cabelo. Os olhos azuis dela estavam arregalados, o medo
neles me paralisou, e quando ele deslizou a lâmina em seu pescoço
eu gritei.

Mamãe sempre foi incrível. Tão devota em relação aos filhos,

bondosa e amorosa. Até Rocco, o filho de Ettore com outra mulher,


era amado por ela. Eu a amava mais que a mim, e meus irmãos
faziam o mesmo. Sempre fizeram.

Agora, ele estava tirando-a de nós.

Arrancando a única fonte de bondade do nosso mundo podre,


escuro e cruel.

— Está sentindo dor, Ratinha? — Seus olhos negros


perturbados feriram meu peito enquanto eu continuava gritando. Tão

alto, tão forte.

Ettore empurrou minha mãe para a frente enquanto o sangue


manchava suas mãos. Eu cobri meus ouvidos e solucei. Eu o odiava,
cada grama de mim odiava aquele homem, mas o que mais eu
odiava era o temer.
Eu morria de medo dele. Temia o seu toque, seu olhar, suas
palavras.

Ele era meu pior pesadelo.

— Que bom! — Ele sorriu e deu um passo em minha direção


enquanto eu me empurrava contra a cabeceira da cama. — Porque
eu vou foder você em cima do sangue da sua mãe.

Suas palavras sumiram quando Rocco apareceu, segurando


uma arma na mão. Seus olhos capturaram mamãe no chão e sua
mandíbula apertou.

— Desça, agora. — Suas palavras soaram firmes, furiosas.

— Ei, seu pedaço de lixo, abaixe a porra dessa arma — nosso


pai gritou, mas Rocco não titubeou. Quando ouvi o clique da arma e
o som ensurdecedor de tiro, eu gritei novamente.

Porém, Ettore ainda respirava e ele usava cada grama de ar


para rir.

— Patético.

— Vamos ver quem é patético. — Rocco o pegou pela blusa e


o tirou do quarto.

Ouvi gritos no corredor e sabia que eram meus irmãos. Me


movi para encontrá-los, mas a visão dela de olhos abertos me fez
ficar parada. Minhas pernas ficaram moles e eu desabei. Rastejei,
sentindo o líquido espesso molhar meus joelhos e mãos.

Me aproximei do corpo inerte e senti meu coração ser rasgado


do peito.

Mamãe estava morta.

Não iríamos mais comprar vestidos juntas e nem colares que


ela colecionava. Nada seria como antes. Tudo que eu tinha estava
desabando. Eu precisava dele.

Deus, como eu precisava dele. Onde ele estava?

Como em forma de resposta para minhas preces, ele surgiu


na porta. Seu cabelo escuro estava bagunçado e seus olhos azuis
me olharam dos pés à cabeça.

— Há quanto tempo? — Sua pergunta me fez balançar a


cabeça e me abraçar. — Lake, há quanto tempo?

— Não importa! — gritei de volta, me sentindo fria como gelo.


— Ele a matou. Ele matou nossa mãe! — Apontei para o corpo sem
vida.

Prince evitou encará-la.

— Vamos.
Suas mãos me agarraram e eu evitei estremecer em seus
braços. Evitei, porque naquele momento ele era a única pessoa que
eu queria ao meu lado.

Prince sempre foi a única pessoa que eu queria ao meu lado.

Meu carrasco, meu herói, meu príncipe.

Nada mais importava. Ele sempre seria tudo.

Nada era capaz de mudar isso.


13 ANOS

— Estou cansada de me esconder. Cansada de ficar dentro


dessa casa. — Minhas palavras pareciam fogo.

— Lake. — Vi seu olhar ficar escuro e odiei isso.

Ninguém via esse lado dele. Nunca aparecia.

Só comigo. Quando o assunto era relacionado a minha

segurança.

Ergui a cabeça e o encarei enquanto respirava fundo. Seu


cabelo estava bagunçado e seu braço estendido enquanto
desenhava algo no papel.

— Você sai, tem amigos, até namoradas, e eu continuo presa

aqui! — grunhi, me erguendo.

Prince jogou o caderno na mesa. Quando seu corpo ficou


rígido e seus olhos encontraram os meus, eu estremeci.

Odiava o sentimento dentro de mim. Era feio. Horrível. E eu


não podia deixar isso me consumir. Nunca.

— Rocco sabe o que é melhor para nós...

— Para você é fácil, Prince! — gritei, tremendo, assistindo-o

andar em minha direção. — Tudo é fácil para você e Matteo. Para

mim, é um inferno!

Desde que a nossa mãe foi morta por nosso pai – pai deles –,

eu estava dentro dessa casa. Sem ver a luz do dia sem ser pelas

janelas, atrás de cortinas.

Eu sabia que Rocco e Romeo tinham razão sobre a minha

segurança, mas como eu poderia ficar feliz assim?

— Eu estou com você, Lake. Sempre.

Prince me puxou para os seus braços e eu fechei os olhos,

inspirando o cheiro de hortelã e sabonete.


Não seja uma doente.

Minha voz ecoou na minha mente tão enojada que eu me

afastei dele, sentindo um caroço crescer em minha garganta

enquanto meu estômago revirava.

— Só quero sair. Uma vez sequer. Eu só preciso de

normalidade...

— Vamos lá. — Sua mão enrolou na minha e eu arregalei os

olhos. — Você precisa vestir uma roupa larga. Não faça perguntas.

Prince enfiou um dos seus moletons em mim antes de eu

suspirar quando descemos a escada. Ele colocou o capacete em

minha cabeça e desceu o visor escuro.

— Vão pensar que você é uma foda. Não se preocupe.

Senti uma pontada dentro de mim. Odiava reagir assim às

suas aventuras.

— Tá.

Prince dirigiu pela propriedade e ninguém nos parou. Rocco

não estava aqui, muito menos Matteo ou Romeo. Euforia encheu

meu peito quando passamos pelos portões.

Com medo, apertei meus braços ao redor dele e senti sua

risada vibrar pelo peito. Odiava quão bem ele me conhecia. Como
se seus gestos fossem sempre calculados para me fazer rir.

Assim que a moto parou, eu ergui a cabeça e vi uma floresta.

Prince me ajudou a descer e quando o capacete estava fora, ele me

guiou para o meio das árvores.

— Oh, merda! — exclamei, com os olhos arregalados. O lago


Michigan estava diante de nós, tão bonito quanto quando eu o via

pela janela.

— Senta. — Prince me puxou para uma pedra, então eu me


sentei.

Respirei fundo quando ele fez o mesmo. Meu peito estava


apertado, eu via a apreensão em seus olhos. Odiava vê-lo lutando

contra si mesmo.

— Rocco vai me iniciar em breve. — Sua garganta balançou


e eu toquei seu rosto. — Odeio isso. Eu só queria sumir. Ir para
longe e nunca mais saber da Outfit.

— Compartilhamos os desejos. — Minhas palavras foram

suaves.

Prince me encarou, e enquanto meu peito batia frenético,


meus pensamentos me recriminavam. Não faça isso.

Mas eu fiz.
Minha boca bateu contra a dele em um segundo. Foi tão

fugaz. Porém, mesmo assim, eu me senti no céu. Era quase como


se tudo dentro de mim se encaixasse. Os cacos afiados se

encontraram e tudo voltou ao normal.

Porém, foi rápido. Prince empurrou meus ombros e acabou a


dois metros de mim, com os olhos tão arregalados que eu jurava
que nunca o tinha visto tão assustado em toda minha vida.

— Que. Porra. Foi. Essa, Lake? — Seu grito foi

ensurdecedor.

Meus olhos começaram a queimar, e enquanto eu tentava


abrir minha boca e falar algo, eu não me lembrava mais como
pronunciar nada. As palavras estavam longe de mim.

— Lake, por que você fez isso, porra? — Sua voz era tão

assustada.

E o medo não foi o que mais me incomodou.

Foi o nojo.

Porque naquele momento eu também sentia o mesmo.

Meu corpo começou a parecer tão nojento que eu me joguei

no lago. Esfreguei minha pele com minhas próprias roupas


enquanto meu irmão ficou me olhando perplexo.
— Saia da água! — ele berrou, furioso. — Você vai ficar
doente!

— Me des-desculpa. Por fa-favor...

Prince desistiu de esperar por mim e me puxou da água, se


molhando no caminho. Seus braços me rodearam e ele segurou

minhas mãos.

— Pare com isso, Lake!

— Me desculpa. Por favor, não tenha nojo de mim —

implorei, sufocando.

Ele ficou em silêncio, e o vazio continuou enquanto me


levava até a sua moto.

Não consegui não o abraçar enquanto voltávamos. Senti que


estava perdendo-o. Como areia, ele estava escapando entre meus

dedos. E eu não podia fazer nada.

Porque eu era uma doente nojenta que amava o próprio


irmão.

Meu sangue.

— Nunca mais vamos falar sobre o que aconteceu hoje. —


Suas palavras verberaram em minha mente enquanto ele me guiava

para dentro da mansão.


— Eu sinto muito.

— Nunca mais, Lake.

E, realmente, nós não voltamos a falar sobre isso.

Nunca mais.

ATUALMENTE

Quando meu celular começou a tocar, eu o empurrei para


dentro do bolso traseiro da calça jeans. O frio hoje estava ameno,

por isso apenas um moletom cobria meus ombros. Não que eu

realmente ligasse para essa merda.

Eu quase perdi meus irmãos.

Por pouco, a Cosa Nostra teria rasgado os quatro em


pedaços. Não sei como ou de onde tirei força para pegar os

explosivos que Rocco carregava. Mas eu fiz. O piloto me ajudou e

eu detonei todas as dinamites que havia ali.

Eles estão bem.


A minha própria voz gostava de me tranquilizar. Era até uma

piada, porque sempre foi ela quem me fazia querer arrancar minha
própria pele.

— Eu falei a você para atender a porra do telefone.

Por causa dele.

Minha voz me punia, me dizendo todos os dias o quanto o


amar era errado, o quanto deixá-lo me tocar era um pecado, o pior

de todos.

Eu me virei e o vi na minha lateral, andando em minha

direção como o leão cruel que eu sabia que ele era, mas que ele

conseguia manter escondido. Seus olhos azuis semicerraram e ele

segurou meu rosto com força, a irritação ondulando por cada


pedaço dele.

— Pare de sair sem seus soldados.

Ele havia recuperado algumas memórias desde Nova Iorque.

Um mês havia se passado, mas sua superproteção, jamais.

— Eu precisava pensar. — Puxei meu rosto e me virei,

encarando Cloud Gate.

As pessoas, maioria turistas, se amontoavam ao redor da

escultura enorme, tentando tirar uma foto qualquer. Todos pareciam


tão livres. Tão felizes por estarem em Illinois, apreciando Chicago.

A mesma cidade que me aprisionava. Que me sufocava estar

aqui.

— Você pensa com a cabeça, não com as pernas. — A voz

do Matteo ecoou, então olhei para Prince.

— Sério? Você não pode fazer o trabalho sujo sozinho? —

grunhi, irritada.

Não por ele ter vindo atrás de mim. Isso era o habitual, mas

por trazer Matteo. Na verdade, não foi isso que me irritou, apenas o

fato de que ele não poderia me tocar com nosso irmão aqui.

— Eu poderia, mas quando o assunto é você, a sujeira

alcança um patamar muito elevado — ele rosnou apenas para que

eu escutasse. — Vamos.

Revirei os olhos e andei para longe do Cloud Gate e da

liberdade que aquele ponto exalava. Uma que eu nunca teria, nem
em um milhão de anos.

— Vocês falaram com ele? — perguntei assim que entrei no


carro do Matteo. Ele estava dirigindo, com Prince ao seu lado e eu

atrás.
— Sim, e adivinha? É a porra de um não. Eu disse que você

deveria esperar mais um tempo — Matteo resmungou, irritado.

Como uma forma de me punir por ir de boa vontade para

Nova Iorque com Carmelo, Rocco me proibiu de trabalhar. Eu vivia


como a Lake de treze anos, escondida na mansão do meu irmão.

— Já fez um mês... o Centro precisa de mim, vocês sabem

disso — murmurei de volta e encarei Prince. Ele esfregou o rosto e


olhou pela janela.

— Mais duas semanas e falamos de novo — meu irmão me


respondeu.

Eu acenei, bufando. Era a porcaria do jeito.

Assim que chegamos à mansão do Rocco e da Sienna, eu vi

meus irmãos mais velhos. O meu Don estava de braços cruzados,

com uma calça de moletom que parecia filha única e só. As


tatuagens dele cobriam boa parte da pele e seu cabelo estava curto,

como sempre. Seu olhar era de não me desafie, e por mais que eu

quisesse, sabia qual era o meu lugar.

— Onde você estava?

Sienna desceu a escada com Amo e Rhett. Assim que os


garotos pularam no pai, eu fui salva. Rocco dedicou sua atenção
aos dois e eu passei devagar, fugindo.

— Nós vamos conversar — ele gritou, me fazendo ficar

rígida.

Foda-se.

Subi a escada e só parei quando cheguei ao meu quarto.

Joguei minha bolsa, retirei meu moletom e calça. Andei até o closet

e procurei outra roupa. Me virei ao ouvir minha porta abrir. Prince

lambeu os lábios e deu um passo em minha direção. Ele havia feito


outras tatuagens no último mês, e hoje de manhã foi fazer mais

uma. Eu o ouvi murmurar que seria no pescoço e lá estava ela.

Tinha um plástico sobre ela e eu não conseguia ver, mas logo


descobriria.

— Você se acha muito esperta, hum? — ele grunhiu, se

aproximando.

— Na verdade, eu sou. — Respirei fundo e me virei, me

abaixando para pegar os meus Vans. Deixei-os separados e cacei


um vestido. Quando senti a mão grossa apertar minha cintura, eu

fiquei rígida.

— Então, vamos lá.

Ele me puxou em direção à porta e eu arregalei os olhos.


— Eu estou nua! — gritei, com medo dos nossos irmãos nos

pegarem.

Ele tirou a própria camisa e enfiou em mim. Novamente

recomeçou a andar, me arrastando. Quando chegamos ao térreo,

podia ouvir meus sobrinhos brincando com os pais.

— Vamos ver se é mesmo tão esperta. — Prince me

empurrou para o lavabo e eu arregalei os olhos. — Vou foder sua


boceta esperta aqui, a algumas paredes dos nossos irmãos. É isso

que você quer, certo?

Prince se inclinou, segurando meu rosto, mas eu neguei.


Rhett ou Amo poderiam se sujar e Rocco poderia trazê-los para se

lavarem aqui. Matteo poderia estar por perto e nos ouvir. Isso não

podia acontecer.

— Villain, por favor. — Toquei seu peito, sabendo que o

monstro estava querendo sair para brincar. — Eu juro que não sairei

mais sem os soldados.

— Tarde demais, Silk.

Assim que fiquei arrepiada, ele soube que havia ganhado.

Prince me empurrou contra a borda da pia, puxando meu cabelo e

me arqueando para si. Seu peito duro esmagou meus seios


cobertos pela sua camisa. Segurei seus ombros e ele mordeu meu
queixo, pescoço e depois, em uma descida lenta, meu colo. Os

chupões ficaram vermelhos instantaneamente.

— Sente-se na pia.

Ele me ajudou a subir, porém um tapa alto ecoou e uma


ardência junto a um arrepio começou. Minha boceta estava úmida e

vermelha. Prince capturou meu clitóris e torceu, me fazendo gritar.

— Está vendo? Você quer que nos descubram.

— Não. — Neguei rápido, enquanto ele enfiava os dedos em

mim e retornava ao clitóris inchado e dolorido.

— Você ainda está tomando seus comprimidos, certo? — ele

perguntou, retirando seu pau da calça preta. Era longo, grosso e

com veias saltadas. Prince o cutucou na minha entrada úmida e


apertada. Uma carícia lenta que fez o suco deslizar pela minha

bunda.

— Si-sim.

Eu jamais pararia de tomar remédios. Uma gravidez era a


última coisa que eu queria na minha vida. Prince e eu não podíamos

ter filhos. Nunca.

— Me foda, Villain. Pare de brincar.


Os olhos dele incendiaram e ele estocou de uma vez. Eu
gritei, mas ele colocou a mão sobre meus lábios. Prince lambeu
minha bochecha e eu estremeci quando ele deslizou para fora.

Prendi-o com minhas pernas querendo gozar, mas ele apenas


desfez o aperto. Villain segurou a parte de trás das minhas coxas e
as empurrou abertas próximas ao meu peito. Caí contra o espelho,

sentindo a torneira contra minha coluna.

Villain me fodeu lentamente enquanto lágrimas enchiam


meus olhos com o prazer pequeno e crescente. Parecia o céu, ele

nunca havia me fodido assim. Movi meus quadris para o encontrar,


mas ele se retirou.

— Fique parada. — Ele bateu em minha boceta mais uma

vez e me mostrou os dedos molhados. — Abra a boca.

Eu abri. Prince os aproximou da minha boca e eu fechei os


lábios em torno deles. Minha excitação tocou minha língua e eu
gemi. Ele entrou em mim de novo, subindo a camisa, então

choraminguei, ainda chupando seus dedos.

— Tem alguém? — Quando a voz do Matteo ecoou, eu fiquei


rígida.
Prince sorriu e se inclinou sobre meus seios, lambendo a
ponta antes de responder ao nosso irmão.

— Oi, cara. Sou eu — ele murmurou e, mais uma vez,

deslizou dentro de mim.

Meus olhos se arregalaram e Prince sorriu, me fodendo


lentamente. Ele chupou meu mamilo e mordeu, me fazendo colocar

a minha mão sobre a boca para não gritar.

— Você viu a Lake? — Matteo perguntou.

Prince torceu meu clitóris rindo.

— Só quando chegamos. Ela deve estar por aí.

Ele puxou meus quadris e estocou fundo. Suas mãos


pegaram meu seio e o levaram à boca, chupando com força.

— Tá bom. Vou deixar você cagar em paz.

Prince me girou assim que ouvimos os passos se afastando.

Olhei pelo espelho e o vi sobre mim. Tão alto enquanto eu era uma
menina na sua frente. Villain tirou minha camisa e me puxou contra
seu pau grosso. Ele me fodeu mais uma vez enquanto eu gemia

baixo e o encarava pelo espelho.

O plástico da sua tatuagem estava deslizando com seus


movimentos. Assim que ele finalmente caiu, eu arregalei os olhos. E
quando Prince olhou para o teto, as letras maiúsculas ficaram
visíveis.

SILK.

Na parte da frente, bem diante de todos. Meu apelido.

Ele me estocou e eu gozei enquanto lágrimas enchiam meus


olhos. Ele gozou dentro de mim, me enchendo, até não haver

espaço e sua porra vazar.

Prince me virou, entrou em mim novamente e se moveu em


meio ao seu sêmen pingando no chão.

— Sua tatuagem... — comecei a falar, mas ele abocanhou


meu mamilo, faminto.

Ele não parou de me foder, até que eu gozei novamente e ele


também. Minhas coxas estavam úmidas e seu pau ainda duro.

— Minha tatuagem — ele olhou para o espelho e movimentou


a cabeça — é seu presente de aniversário.

Meu coração ficou pequeno, quase minúsculo, e em

segundos se encheu de paixão, amor, tesão e muita obsessão.

— Você me tem. Eu pertenço a você, como você me


pertence. — Sua voz era cheia de certeza e uma possessividade

que eu conhecia bem.


— Prince... — Toquei seu rosto, ainda olhando as letras que

formavam meu apelido.

— Diga que me pertence, Silk. Diga quem é seu rei.

— Você. Eu pertenço a Prince Trevisan. Meu rei.

Ao bater os lábios nos meus, eu o beijei como todas as vezes

– urgente, sedenta e com amor. Eu o amava mais que a mim e nós


dois sabíamos disso.

E pagaríamos por isso.


ATUALMENTE

Honra é algo que poucos homens têm e eu não fazia parte


desse seleto grupo. Porque eu não podia ser honrado quando fodia

minha irmã pelos cantos da mansão da nossa família. Eu não podia

ser honrado quando eu a observava lambendo a colher com


chocolate, imaginando sua boca no meu pau, enquanto nossa

família estava presente.

— Cara? — Matteo grunhiu, então eu o encarei. — Que

porra, você tá desligado, hein?


— O que foi? — perguntei, sentindo o olhar de todos sobre

mim.

— Rocco quer que vá para Oak Park comigo.

Nem fodendo. Eu não sairia de perto da Lake.

— O quê? Não! — ela gritou.

Eu a encarei, um sinal claro para ela retroceder.

— Ele vai me ajudar com a cidade. — Meu irmão, o que eu

sabia que era o mais próximo a mim, encarou-a. — Você pode


passar os finais de semana lá. Ou ele vem pra cá.

— Eu preciso pensar — falei, encarando quem era realmente


importante.

Rocco.

— É uma decisão sua. Porém, vou precisar de você hoje. —

Ele jogou o guardanapo na mesa e se ergueu.

— Aonde vamos? — murmurei e me ergui também.

Sienna o encarou, engolindo em seco.

— Pegar minha sogra no aeroporto.

O silêncio foi excruciante. Eu sabia pouco sobre como tudo

começou entre Sienna e Rocco, mas Lake fez questão de me


explicar algumas coisas importantes.

Homens da famiglia entraram em Chicago e causaram

estragos. O Don de lá, Enrico, ofereceu uma oferta de paz. Uma que

tinha como peça principal um casamento.

Sienna era da Cosa Nostra. Uma princesa intocada da

famiglia e foi dada como moeda de troca pela paz. No final, não
houve paz, mas Rocco se afeiçoou à loira e hoje a ama de uma

maneira quase impossível de ser explicada.

— Sua mãe está vindo? — Blue perguntou a Sienna.

Ela estava sentada ao lado de Matteo, em silêncio a maior

parte do tempo.

— Sim. Enrico permitiu contanto que ela não volte para a

Itália.

Quando Rocco respirou fundo, sua esposa ficou rígida.

— Ela vai morar em algum apartamento. Não a quero


xeretando a gente.

— Ela não é um soldado, Rocco. Por um minuto, sua atenção

pode estar voltada para algo que não seja a Outfit? — Sienna se

ergueu, parecendo cansada. — Ela quer conhecer os netos, quer


me ver e, principalmente, quer visitar o último lugar que filho dela,

aquele que você matou, esteve.

Lake se ergueu e a encarou.

— Não foi ele e você sabe. Nunca mais diga isso — a


Trevisan mais nova berrou, rígida. — Nós já tivemos essa conversa
um milhão de vezes. Já me desculpei por esconder a verdade de

você, mas nós sabemos quem matou seu irmão, e não foi o meu.

— Lake — Sienna ecoou chocada, mas ela a ignorou.

— Foi Giulio. E sua mãe também deveria saber disso, antes


que ela aja como você em relação ao Don da Outfit.

Sienna abriu a boca e voltou a fechá-la. Rocco olhou para


mim e acenou em direção à saída.

— Rocco...

Ele saiu andando e eu fiquei em dúvida se o seguia ou não,


porém, quando Sienna correu atrás dele, ficou claro que eu

precisava dar um tempo a eles.

— O.k., próxima pauta da família caótica Trevisan? — Matteo


perguntou, rindo e eu balancei a cabeça.

— Bom dia! — Lunna saudou assim que entrou na sala de


jantar.
Remy estava aos seus pés, olhando para a sala toda. Depois

disso, se aproximou e ergueu a mão. Bati em sua palma e depois


fechamos os punhos.

— Olá, King. — Lake se aproximou e ficou de joelhos, o

garoto apenas piscou.

— Sua tia falou com você — grunhi ao ver Lake murchar.

Remy era fechado demais para meu gosto. A única pessoa

com quem ele interagia fora seus pais, era eu e seus primos.

— Olha, eu ganhei uma boneca nova. — Nina apareceu com


a babá e os gêmeos.

— E tá chorando por quê? — Assim que a voz do filho de


Lunna e Romeo ecoou, a filha do Matteo fez uma careta.

— O Rhett a jogou no chão.

Remy encarou o primo e empurrou o ombro dele.

— Não mexa com ela.

Matteo assobiou e ergueu os dois polegares.

— É isso, King! Cuide da nossa princesinha — ele gritou


antes de Blue o encarar e revirar os olhos.
— Vamos, filha, vamos pegar nossas coisas. — A esposa
dele se ergueu e pegou a mão da garotinha.

As duas sumiram depois de beijarem Lunna. Ela se sentou e


colocou Remy na cadeira.

— Você ainda não falou com sua tia. — Lembrei a ele, que a

olhou e acenou.

— Não é pessoal. Remy não curte pessoas. — Lunna riu e

tocou na bochecha da filha mais nova, que estava amarrada a ela.


— Lua ama você.

— Eu sei. — Lake fez bico e piscou os cílios longos.

Lake pediu licença depois disso e eu a segui para a escada.


Assim que entramos em meu quarto, eu a empurrei contra a parede

e agarrei a sua cintura.

— Como diabos você consegue ser tão deliciosa?

Ela suspirou e eu roubei seus lábios. Lambi o inferior e toquei


sua língua. Lake se agarrou a mim e me beijou com mais força.

— Diga que não vai para Oak Park. — Ela se parou nossas
bocas, respirando com dificuldade.

— Pode ser bom...


Lake empurrou meu peito e me olhou furiosa.

— Bom? Para quem?

— Vou ter meu lugar lá, um apartamento. — Beijei seu

pescoço. — Você poderia ir aos finais de semana e seria um lugar


nosso.

— Não sei...

— Poderíamos ficar juntos. Lá ninguém nos conhece.

Ela engoliu em seco e mordeu o lábio.

— Isso é bom, mas... — Lake olhou para mim e eu fui

engolido por seus olhos. — Não quero passar cinco dias sem ver

você.

— Tudo bem, não vou. — Suspirei e beijei sua boca. —

Preciso ir. Não se meta em encrenca.

— Eu nunca faço isso. — Ela riu e eu me inclinei, fazendo-a

parar. — Eu juro. Não vou fazer nada.

— Eu te amo, Silk.

— Eu te amo, Prince.
Rocco se apoiou no carro enquanto assistia à sogra descer
do avião. A mulher era bonita, deveria ter uns cinquenta e poucos

anos, mas não parecia realmente. Sienna teve a quem puxar a

beleza.

— Onde está minha filha? — Suas palavras voaram ríspidas.

Rocco ergueu as sobrancelhas.

— Olá, sra. Rizzi. Como vai?

Ele se virou e eu abri a porta do carro para ela. Um soldado

entrou no banco do motorista e eu fui ao lado, deixando Rocco com

a sogra atrás.

— Sienna está com meus filhos — Rocco grunhiu.

— Onde meu filho foi morto?

Porra. A mulher era violenta.

Rocco a encarou, completamente sério.

— Mantenha sua boca fechada e pergunte à sua filha. Não

vou lidar com você.

A mulher apertou a mandíbula e balançou a cabeça,

contrariada.
O silêncio nos seguiu até chegarmos à casa. Sienna estava

com a filha nos braços enquanto os gêmeos estavam ao seu lado.

Ela sorriu brilhantemente quando viu a mãe.

— Mamma. — Sienna piscou rápido e correu até a mãe.

A mulher a abraçou com força e segurou seu rosto. Ela


fungou e sorriu, limpando o rosto da filha.

— Você está impecável. Parece igual a anos atrás.

As duas sorriram e Sienna se virou, chamando os gêmeos.

— Olhe, mamãe, esses são Rhett e Amo. — Sienna tocou na


cabeça dos filhos e os garotos encararam a velha, franzindo as

sobrancelhas. — Cumprimentem a vovó.

— Oi... vovó. — Ambos pausaram antes de chamá-la assim.

— Olá. — A mulher apenas acenou friamente e encarou a

menina nos braços de Sienna.

— Essa é a... — A voz de Sienna baixou.

— Mais uma Trevisan. — A voz dela pareceu enojada, então


Rocco se aproximou.

— Olhe, fale ou respire perto dos meus filhos com esse tom
novamente e eu vou cortar sua cabeça, porra.
Meu irmão estava rígido, Sienna de olhos arregalados e as

crianças cochichando, sem perceber o que estava acontecendo.

— Por que não entramos? — chamei, antes que Rocco

sacasse sua arma e atirasse na mulher diante de nós.

— Sim, sim. Melhor. — Sienna se apressou e encarou a mãe.

— Eu faço das palavras do meu marido as minhas. Eu te amo, mas

por esses três eu mesma atiro em você.

Sienna se virou e entrou em casa, com os filhos por perto,

parecendo a leoa que todos nós conhecíamos.

— Onde você está? — murmurei no meio do meu quarto,


depois de vir do dela e não achar Lake.

Desci a escada e fui para a cozinha. Não havia ninguém além

da cozinheira. Me virei para voltar para o andar de cima, mas parei


ao ver Lake. Ela estava sorrindo enquanto um homem estava ao

seu lado, no píer.

Calma. Grunhi para mim mesmo, com medo de matar

alguém.
Eu não podia demonstrar ciúme na frente das pessoas, mas

era apenas isso no que eu havia me transformado agora, um

possessivo estúpido que queria a irmã para si próprio.

— Eu perdi alguma coisa? — Minha voz ecoou forte e Lake

pulou, arregalando os olhos. Não sei se ela chegou a perceber, mas

deu um passo para longe do homem. — Quem é você?

— Oi, cara! Sou Luca. — Ele estendeu a mão.

Encarei Lake.

A porra do cara que Rocco queria que ela casasse? Sério?

— Lake, entre, agora — lati, tenso, mas Silk se aproximou e

tocou minha coluna. — Eu mandei você entrar.

— Eu vejo você outra hora, Luca. Preciso resolver alguns


problemas com meu irmão.

Um balde de água fria foi jogado em minha cabeça.

Irmão.

Eu era seu irmão.

Sim, doente de merda, só agora você percebeu isso?

— Relaxa, cara. Vou ser seu cunhado em breve. — O sorriso


na cara dele me fez me mover sem perceber, mas a mão da Lake
me segurou.

— Vamos. Vamos. — Ela me puxou com firmeza e eu encarei

o imbecil antes de deixar que ela me levasse.

Assim que estávamos longe o suficiente, ela me encarou


balançando a cabeça.

— Não é nada, eu juro. — Suas palavras não surtiram


nenhum efeito em minha raiva.

— Na próxima vez que eu vir você próxima dele, vou matá-lo.

Você me ouviu? — rosnei baixinho, para que apenas ela pudesse


ouvir.

Lake engoliu em seco e acenou.

Eu entrei em nossa casa e subi a escada. Tomei banho e

quando saí, Lake estava sentada perto da janela, olhando para a

frente. Assim que terminei de me vestir, bateram à porta.

Caralho.

— Ei, cara. — Acenei para Matteo depois de abrir a porta.

Ele se espreguiçou bocejando.

— Estou indo. Você quer ir conosco?


Assim que Lake desceu da janela com um baque, eu olhei
para o meu irmão. Talvez ficar longe fosse bom. De alguma forma,

ver aquele idiota com ela me lembrou o quão frágil era o que

tínhamos. Assim que nossos irmãos descobrissem, eu estaria


morto.

E ela com aquele idiota.

— Eu quero ir! — ela murmurou atrás de mim e eu a encarei.

— Preciso ver com o Rocco, mas faça uma mala. — Matteo


me encarou depois de responder a ela.

— E você?

— Pode ser. — Acenei, sabendo que não deixaria Lake em

Oak Park sozinha.

Meu celular começou a tocar assim que ele saiu, então o

peguei e vi o nome do Yerík. Fazia algum tempo que eu não tinha


notícias dele.

— Ei!

Lake saiu do meu quarto para arrumar sua mala e eu me


concentrei no meu melhor amigo.

— Como está? — Sua pergunta soou baixa.


— Bem, cara. E você? Seu plano está dando certo?

— Não. Tive que adiar. A garota vai se casar. Vou estudar a


logística para sequestrá-la no dia.

— Você está certo disso? — Me sentei na cama e olhei para

a tevê grande.

— É claro. Eu vou me vingar. Pela minha família.

— O que Aduke acha disso?

Desde que eles se reencontraram na Rússia, estavam mais

próximos.

— Ela não sabe e nem vai saber.

Eu não gostava disso, mas Yerík era grande o bastante para


saber o que fazer.

— Lembrou-se de mais alguma coisa?

Sua mudança de assunto me fez respirar fundo.

— Estou me lembrando dos meus irmãos. Só isso, por


enquanto. Lembrei da minha infância com eles e de odiar meu pai.

Mas para isso eu não precisava de lembranças.

Eu odiava Ettore Trevisan pelo fato de ele ter tocado em algo

que não deveria, e se já não estivesse morto, eu o torturaria por dias


até me cansar e o mataria, arrancando sua cabeça.

— Se concentre e vai conseguir.

Romeo queria me levar ao médico, mas Lake o impediu. Ele

não havia mais tocado no assunto e eu queria que tivesse.

— Eu estou bem. Está tudo bem.

Yerík não empurrou o assunto. Quando desliguei, enviei uma


mensagem a Romeo perguntando se podíamos ir ao cara hoje. Ele

respondeu que precisava ver com ele.

Uma hora depois, eu tinha um lugar para ir, antes de Oak


Park.
ANOS ATRÁS...

O som do portão abrindo foi ruidoso, mas ignorei e continuei


a arrastar o corpo pesado. Levei-o com esforço pelo galpão, e

quando cheguei a outro portão, dessa vez um na lateral, puxei o

corpo e empurrei escada abaixo.

Minhas mãos estavam cheias de sangue e minha blusa


escura, úmida. Sangue. Dele.

Puxei-o para um tipo de cela no andar de baixo e abri o saco

preto. Seu rosto estava completamente desfigurado. Nariz para o


lado, quebrado em diferentes pontos. Seu lábio, partido, sangue

inundando sua boca ferida. Eu o joguei para fora do saco.

Minha pulsação era calma, quase como se tudo que eu

estava fazendo fosse algo normal e corriqueiro. Não era.

Eu odiava violência. Queria fugir, sair de Chicago e nunca

retornar, mas meus irmãos jamais permitiriam isso.

Me afastei, peguei um balde com água e joguei em seu rosto.

— Acorda.

O homem não se moveu, seus olhos nem se abriram. Eu

segurei seu pescoço e o ergui. Não sabia de onde veio a força, mas

ela apareceu.

— Acorde, seu pedaço de merda.

Seu olho roxo abriu um pouco e eu o sentei na cadeira,

prendendo seus pulsos.

— Onde estou? — Sua voz forte hoje estava fraca, abatida.

Era assim que eu o queria. Fraco.

— No inferno, e eu prometo que nesse, o diabo sou eu.

Ele piscou e eu ergui o queixo. Diversão brilhou em seu olhar.

— Você?
— Sim, eu. — Empurrei minha faca em sua coxa e ele gritou.

Peguei os equipamentos para o manter vivo e comecei a

trabalhar, furando-o e prometendo a mim mesmo que antes da sua

morte, eu o transformaria no rato.

O único.

O homem estalou os dedos diante do meu rosto e eu gritei,

me sentando rapidamente. Romeo se ergueu da cadeira e andou

até mim, com os olhos semicerrados.

— Ei, calma. — O médico, ou o que diabos ele era, colocou a

mão no meu ombro.

— Não me toque. — Me ergui da cadeira e saí em direção à

porta.

Romeo demorou alguns minutos, mas logo me encontrou em

seu carro. Meu irmão se aproximou e se abaixou até a janela,

inclinando a cabeça.

— O que lembrou?
O que lembrei? Fechei meus olhos e o rosto desfigurado me

fez respirar profundamente.

— Não quero falar sobre isso.

— O.k. Você quer voltar a fazer isso? — Seus olhos iguais


aos de Lake quase me sufocaram. Eu queria me lembrar, é claro.
Quem era aquele homem? Por que eu o machuquei e, mais

importante, onde ele estava?

Eram muitas perguntas e poucas respostas, então logo


respondi meu irmão.

— Sim.

— Vou avisá-lo.

Romeo entrou no carro e nós fomos embora.

— Onde você estava? — Lake abriu a porta da casa de


Matteo assim que cheguei a Oak Park.

— Onde estão todos? — perguntei, entrando enquanto ela


me seguia.
— Saíram para a casa da amiga da Blue. Onde você foi? —

Sua voz me acompanhou pela escada, então parei nos degraus.

— Romeo me levou ao médico. Ele fez uma espécie de


hipnose.

— O quê? — Silk gritou, chocada. Segurei seu rosto com as


duas mãos. — Você se lembrou de algo?

— Eu... sim, mas não entendi ainda.

— Era com quem? — Ela engoliu em seco. Eu suspirei e

Lake se afastou. — Era com Hope?

— Lake... — Me aproximei, confuso.

— Não acredito que você se lembrou logo dela! — ela gritou,

fazendo menção de correr, mas segurei seu braço.

— Não me lembrei dela. Era um homem, mas eu não o


conheço. Eu estava fazendo algo que parecia errado, mas na
lembrança era certo. Parecia completamente certo.

— Você vai voltar lá? — Lake se acalmou e eu acenei. —

Quero ir com você na próxima vez.

Eu acenei, puxando-a para mim.

— Vamos para o quarto.


Ela acenou e me guiou até o quarto em que ficaria. Eu me
sentei na cama e caí para trás. Lake se apoiou nas minhas coxas e
se ajoelhou entre elas. Coloquei o braço atrás da cabeça e a

observei. Seus olhos brilhavam de excitação.

— Eles podem voltar a qualquer momento?

— Não. É aniversário do garoto.

Bom.

Lake abriu minha calça e puxou minha cueca, fazendo meu

pau semiduro pular. Sua mão com unhas longas o pegou e eu


respirei fundo.

— Chupe meu pau, Silk.

Ela suspirou e abriu os lábios, me levando para o fundo da


sua garganta. Eu segurei seu cabelo e puxei, empurrando no fundo.

Lake arregalou os olhos, sufocada, então abrandei, vendo-a gemer.

— Isso, Silk. Você é perfeita.

Ela me fez gozar com algumas lambidas. Lake engoliu toda

minha porra e eu me ergui, pronto para curvá-la e foder sua boceta


apertada.

— Eu menstruei — ela falou ainda de joelhos.


— Me deixe ver. — Mordi meu lábio.

Ela arregalou os olhos e suas bochechas coraram. Lake se

levantou e ergueu o vestido que usava. Seus dedos seguraram a


calcinha e abaixaram. Seu absorvente estava bem ali, havia pouco

sangue por ser seu começo.

Meu pau ficou duro e eu levei meus dedos para sua boceta.
O sangue era quente e escorregadio. Lake suspirou quando enfiei

dois dedos em seu canal. Com o polegar, friccionei seu clitóris,


ouvindo seus gemidos até ela morder meu peito, gozando em meus

dedos. Quando retirei os dois, Lake me assistiu, horrorizada, lamber

seu sangue.

— Porra, Prince. — Seu peito subia e descia, ofegante.

— Até a porra do seu sangue é bom.

Me afastei dela, fui ao banheiro e me limpei. Quando retornei,

ela entrou e fez o mesmo. Me deitei na cama e respirei fundo. Minha

mente cansada me trouxe mais uma lembrança e eu a deixei vir.

ANOS ANTES...
As pernas de Hope se abriram, me recebendo com gemidos.
Minha mente se desconectou. Enquanto sentia suas unhas em

minha pele, seus seios em meu peito, eu me apeguei às imagens

borradas do cabelo preto, dos olhos azuis. Da sua boca atrevida.

De cada pedaço dela que eu não deveria pensar.

Quando gozei, eu me imaginei fazendo isso dentro dela.

Imprudente, sujo e cru.

Deixei Hope na cama e corri para o banheiro. Apertei meu

pau a ponto de doer, com vontade de arrancá-lo fora. A dor me

cegou abruptamente e eu soquei a parede, tremendo.

Eu era nojento. Um miserável que merecia a morte de uma

maneira mais horrível.

Saia da minha mente. Pare de brincar comigo.

Implorei, tremendo, enquanto sua risada me atormentava.

Fazia dois anos desde a última vez que coloquei meus olhos nela.
Eu me afoguei em drogas, mulheres e prazer, mas nada era capaz

de tirá-la de mim.

Mas essa merda era errada.


Eu não deveria usar imagens dela enquanto fodia outra.

Queria dizer que essa era a primeira vez, mas, foda-se, não

era. E Hope não era a primeira menina a ser usada por mim
enquanto eu desejava que ela fosse outra pessoa.

Que ela fosse minha irmã.

Era tão fodido e distorcido. Nada me envergonhava mais que

amá-la. Sempre seria isso e eu podia me castigar o quanto eu

quisesse, isso nunca mudaria. Porque ela era a minha dona.

Sempre foi.

E eu odiava admitir isso. Odiava pensar nisso.

Porque era errado e fodido.

Porém, desde que descobri a sua volta iminente, eu estava

por um fio.

— Baby, você está bem? Posso entrar? — Hope questionou

atrás da porta.

Eu peguei minha toalha e a envolvi em meu corpo. Deixei-a


entrar e dei passos querendo sair do mesmo local. A culpa me

corroeu.
— Prince — sua voz me fez fechar os olhos enquanto eu

ainda estava de costas —, por que você sempre faz isso? — A dor
em sua voz me fez desejar socar meu próprio rosto.

— Faço o quê? — Deixei a indiferença subir e comecei a me


vestir.

— Nada. Deixa pra lá.

Quando a porta a se fechou, eu respirei aliviado. Assim que

cheguei à sala, ouvi a campainha tocando. Fiquei parado em frente

a madeira branca e encostei minha cabeça, tentando pensar. O som


irritante ecoou de novo e, respirando fundo, abri a porta do

apartamento. Então quis engolir minha própria língua.

— Que diabos é isso? — questionei, olhando para minha


irmã.

— Oi, Prince. — Lake me empurrou, jogando o cabelo longo


sobre o ombro.

— Amor... — Hope apareceu no corredor usando apenas

uma camisa minha. — Oh, oi!

— Lake, essa é a Hope. Hope, essa é minha irmã.

As palavras pareciam lava em minha boca.


— É um prazer. — Hope se aproximou de Lake, mas ela

apenas me encarou por longos segundos. Ela sempre fazia isso.

Sempre me julgando com a porra dos olhos. Parecendo se

recompor, o olhar dela viajou até Hope.

— Foi um prazer, Hope.

Lake andou para o corredor como se a casa fosse dela, então

eu a perdi de vista quando Hope me olhou.

— Hum, eu acho melhor eu ir. — Ela andou até onde estava


sua bolsa.

Eu queria dizer que não precisava ir, porém era preciso.

Eu estava fodido.

Assim que Hope vestiu seu short, ela saiu pela porta depois
de me beijar.

Relutei enquanto ia para o corredor. Parei em frente ao


quarto de hóspedes e suspirei, balançando a cabeça. Não vou fazer

isso. Andei direto para o outro quarto para pegar minha carteira e

suspirei ao abrir a porta e encontrar Lake na cama onde eu havia

acabado de transar com minha namorada.

— Você a fodeu aqui? — Sua pergunta me fez arregalar os

olhos.
Que. Porra. Era. Essa?

— Lake, que diabos? — grunhi, me aproximando. Fiquei

rígido ao ver seu olhar deslizar pelo meu corpo.

— Fiquei dois anos longe imaginando como você estaria... —


Sua boca se esticou e o sorriso diabólico ali me mostrou que não

era ela. Não era a minha menina.

— Lake! — gritei, fúria nadando pelas minhas veias.

— Você se sente nojento, Prince? Você tem nojo de mim? —

Lake mordeu o lábio antes do seu vestido deslizar. O vislumbre da


calcinha apareceu e eu me odiei por notar. Odiei ela por estar desse

jeito.

— Você deve ir para o outro quarto de hóspedes — ordenei,

me aproximando.

Segurei seu braço e a puxei da cama. Arrastei-a até a outra


porta e a empurrei para dentro enquanto ela ria.

— Não sei quem diabos é você, mas não vou ficar escutando
as suas besteiras!

— Foda-se, Prince! — ela gritou no meu rosto, me fazendo

sentir o cheiro do álcool.

Lake puxou o braço, mas eu continuei segurando-a.


— Você bebeu?

— Como diabos você acha que eu viria até aqui? — Ela riu

sem alegria. Senti meu peito doer. O que havia acontecido? —


Como eu poderia te encarar sóbria?

— Dois anos e você precisa de bebida para me encarar? —


questionei, tremendo e vendo seus olhos começarem a se encher

de água.

— Dois anos e você não foi me ver.

A dor irradiou pelo meu peito com mais força.

— Eu não podia, porra! Você deveria ter respondido as


minhas mensagens...

— Para quê? — Sua pergunta foi como um tapa. — Para


você dizer que eu era...

— Preciso sair.

Caminhei pelo corredor enquanto ouvia o seu soluço. Sua dor


me cortava. Eu odiava me importar tanto com ela.

— Fuja, Prince. Você sempre fez isso.

Bati a porta fechada e fui para fora. Correndo como o diabo


foge da cruz.
No meu caso, minha irmã era a minha cruz.

DIAS DEPOIS...

— Não é normal. — A voz suave ecoou e meu corpo ficou


rígido. — A Lake não pode...

— Não toque na porra do nome dela — eu gritei. Hope pulou,

seus olhos arregalados de medo. — Ela não é da sua maldita conta.

Havíamos voltado do Date há alguns minutos e Hope estava


furiosa por Lake a ter confrontado.

— Você é.

Eu ri, balançando a cabeça. Hope me olhou, implorando com


os olhos coisas que não fazia usando a boca.

— Não, não temos nada. Eu venho aqui, fodo você e vou

embora.

— Se é só isso, por que você volta?

Porque eu precisava. Necessitava estar aqui da mesma


forma como necessitava respirar. Me enfiar na boceta quente e
disposta de Hope me fazia esquecer a que eu realmente queria.

Doente de merda.

— Porque você abre as pernas e me deixa ficar.

Foi como um tapa e eu sabia que estava sendo um idiota.

Sabia dessa porra muito bem, mas Hope tocou em um assunto


proibido.

— Ela me mandou ficar longe de você, ou vai enfiar uma bala

em mim. Você acha isso normal? — Ela ergueu o queixo, me


desafiando.

Desde que Lake havia voltado do internato estava fodendo

minha vida e mente. Estava tentando com afinco falar comigo, me


alcançar, mas eu não queria. Não podia perdoá-lo. Não podia ficar
perto dela.

Porque se eu ficasse, porra, nós não conseguiríamos manter


nossas mãos para si.

— Ela quer cuidar de mim.

Não, seu escroto. Ela quer você tanto quanto você a quer.

Dois doentes.

Pra porra. Quis gritar para minha mente quebrada, mas


apenas peguei minha camisa.
— Eu preciso ir.

— Vá. Certamente estarei aqui quando voltar. — Hope

abraçou a si mesma, olhando pela janela.

Saí da sua casa e entrei em meu carro. Dirigi por horas até
chegar à mansão. Vi Lake assim que entrei em seu quarto. Minha

irmã se ergueu e seus olhos jogaram punhais em minha direção.

— Você perdeu a porra da sua mente? — perguntei, me


aproximando. — Que porra você quer, Lake?

— Você sabe o que eu quero.

Meu coração parou.

— Quero que me ame novamente. Não me afaste. Sei que


cometi um erro, eu pedi perdão. Por favor, pare de me ignorar.

Era isso. Meu perdão, meu amor. Não a merda distorcida que

você tanto queria.

— Você se lembra daquele dia... quando me levou para o


lago?

Era a única lembrança que eu jamais esqueceria.

— Não devemos... — comecei a falar e seus olhos azuis se


encheram de lágrimas.
— Não vou me desculpar por amar você. Eu sei que é errado,

mas não posso, Prince. — Balançou a cabeça com força e mordeu o


lábio. — Senti sua falta todos os dias.

— Por que não falou comigo, então? — Minhas palavras

ficaram rudes. — Eu te enviei milhares de mensagens...

— Eu não podia. — Balançou a cabeça. Estremeci ao lhe dar


um olhar zangado. — Eu... Eu quase falei ao Rocco sobre você...

— O quê?

Falar o quê?

— Sim, mas você está melhor, certo? — Sua pergunta era


desesperada.

— Estou. Sua ida foi a melhor coisa que aconteceu, Lake. —

Minhas palavras a arruinaram, ela nem mesmo conseguiu falar. —


Eu estou bem e quero que você suma da minha vida novamente!

— Você não quer dizer isso...

— Eu quero. — Acenei rapidamente e andei para longe. —


Vou propor casamento a Hope. É o certo a se fazer — menti,
ardendo de dentro pra fora. Eu precisava sair dali.

— É ela que você quer?


— Lake. — Minha mandíbula apertou.

Ela se aproximou e tocou o meu peito, então me empurrou na


cama e subiu em meu colo, me deixando completamente sem

reação. Apertei o colchão entre os dedos e Lake continuou com seu


jogo sujo.

— Ela faz você ficar assim? — perguntou, apertando meu


pau entre seus dedos.

Não importava que era errado, ela estava focada no que


queria. E, droga, ela sabia que conseguiria. Porque o inferno
congelaria antes de um Trevisan não ter o que quer.

— Lake... — eu grunhi, olhando-a retirar o moletom, ficando


só de calcinha em meu colo. — Oh, porra! — Fiquei rígido quando
ela esfregou seus seios em meu peito.

— Você pensa em mim quando está com ela, Prince? —


questionou, lentamente beijando meu rosto até estar com a boca
sobre a minha. Tão perto. — Você me imagina no lugar dela...

— Cale a boca — ordenei sufocado, mas minhas mãos

subiram com vida própria e meus dedos seguraram o mamilo rosado


e duro. — Não posso aguentar isso...
— Eu não quero que você aguente — respondeu de volta,
atrevida. Assim que ela balançou seus quadris, eu me inclinei e levei

seu mamilo para os meus lábios. Droga.

Eu nos virei, jogando-a na cama. Suas costas se arquearam


enquanto eu lambia sua pele e mordia o mamilo. Era bom, porra,
era perfeito.

— Preciso ver... — Minha voz gotejou necessidade e eu


deslizei até estar entre suas pernas.

Meus dedos afastaram o tecido rendado antes de Lake gritar

quando minha língua serpenteou em suas dobras molhadas. Abri


sua boceta e enfiei minha língua, provando o que era proibido.

O que eu jamais deveria tocar ou desejar.

Mas como minha mente dizia, eu era um doente de merda.

— Lake! — Quando a voz de Matteo ecoou, fiquei rígido e


pulei para longe dela. Minha boca ainda com seu gosto e ela
deitada, coxas abertas, uma prova concreta de que me deixou

provar sua boceta.

— Vai lá — mandei, entrando no banheiro e fechando a porta.

Fechei os olhos e soquei o espelho. O vidro quebrou, fazendo


uma bagunça.
Não seja um doente, filho da puta.

ATUALMENTE...

— Onde sua cabeça foi? — Lake apareceu diante de mim.

Eu respirei fundo, puxando-a para mim.

— Por que não me disse que toquei em você antes da

Dinamarca?

Lake se apoiou em meu peito e inclinou a cabeça.

— Você se lembrou... do quê?

— Do dia em que ameaçou Hope. Quando cheguei em casa

e lambi sua boceta. — Minhas palavras rápidas a fizeram suspirar.


— Eu quero saber as coisas.

— Não queria que se sentisse culpado. Fiz minhas decisões

mesmo sendo jovem, eu queria ser tocada por você. Sempre vou
querer.
— Eu quero saber de qualquer coisa. Tudo que sabe sobre

mim, o Prince de antes.

Lake se afastou e tocou meu rosto. Sua boca bateu sobre a


minha e depois se afastou, me deixando com o desejo de devorá-la.

— Tem uma coisa, mas eu preciso que você continue comigo.


O meu Prince.

Meu batimento cardíaco aumentou a cada palavra.

— Me prometa.

— Diga. O que é? — Segurei seu pulso e ela mordeu a boca.

— Prometa que Villain não vai aparecer.

Eu sabia que era algo ruim e perigoso. Sabia disso com força
dentro de mim. Lake jamais pediria isso se não soubesse que o que

quer que falaria traria o Villain.

— Eu prometo. Agora me conte.

— Eu prefiro mostrar.
ANTES...

Havia algo que me dominava todas as vezes que eu chegava


aqui. Era uma espécie de segunda personalidade, uma versão de

mim que amava a escuridão, que queria usufruir dela.

Eu chamava essa parte de Villain.

Eu era o príncipe, e ele, o vilão.

Eu era o bom e ele era o mau.

— Podemos conversar? — Ele rastejou até a parede, se


encolhendo.
— Não, não podemos, pai.

Seu rosto ficou suave e ele engoliu em seco.

— Acabe com isso. É mais humano fazer isso...

— Por quê? — Me agachei diante dele, inclinando a cabeça.

— Você conversou com ela? Deu a ela a chance de te fazer mudar

de ideia?

Uma careta moldou suas feições. Ele a odiava e isso me

fazia odiá-lo muito mais.

— Aquela rata...

Me movi rápido e soquei seu rosto com força, arrebentando o


lábio cortado. Faltava um pedaço, eu cortei lentamente meses atrás.

— Não se atreva — grunhi, balançando a cabeça. Eu vinha

planejando o hoje há muito tempo. Era o dia de vingá-la. — Vamos,

pai. Eu quero que sinta o que ela sentiu.

Eu o ergui e o empurrei na mesa. Prendi suas mãos com

corda e amarrei com força. Fiz o mesmo com os pés e o deixei

deitado sobre a mesa, rígido.

Me sentei diante dele e sorri, relaxando.


Peguei minha arma, coloquei minhas balas e desenrolei uma
camisinha no cano longo. O rosto de Ettore ficou em choque

enquanto o poder inundava minhas veias. Era isso, Villain havia

chegado.

— O que você está fazendo? — meu pai gritou.

Eu respirei fundo, encarando-o e rindo dele.

— Nada, pai. Nada que você já não tenha feito.

Me ergui e andei até ficar atrás dele. Desci a calça frouxa que

eu o deixava usar, enquanto seus gritos ecoavam me pedindo

misericórdia. Ela pediu por misericórdia? Eu apostava que sim.

Quando encostei o cano em seu cu, ele ficou completamente rígido.


Empurrei, ouvindo-o gritar, me mandando parar.

— Prince! Pare com isso! — meu pai berrou.

Mas empurrei o restante com força, vendo seu ânus começar

a sangrar.

— Ela sangrou? Certeza que sim. — Minha mente ruidosa

me fez imaginar e eu consegui enxergar vermelho, tomado por

raiva. Meus braços tremiam e eu sentia o mais puro ódio.

— Por favor — ele gritou e soluçou.


Bati minha arma mais fundo dentro do seu rabo enquanto ele

gritava, alimentando meu vilão, fazendo-o sorrir em meio ao caos.

— Cuidado, Ettore, um aperto e eu atiro no seu rabo. — Eu ri

ao falar enquanto ele chorava audivelmente. — Ela chorava assim?


Você a deixava chorar?

— Prince!

— Ou você batia nela pelas lágrimas? — gritei, ficando tenso.

Ele batia nela? Machucava-a além disso?

A fúria latente correu pelas minhas veias. Cerrei meu punho


livre e soquei suas costas diversas vezes ao mesmo tempo que

empurrava a arma no seu cu sangrento. Mas não era suficiente.


Machucá-lo nunca parecia suficiente. Peguei uma das minhas facas

e deslizei a lâmina pela pele cheia de cicatrizes.

O sangue deslizou e ele gritou.

Villain adorou, ele quis se banhar em seu sangue.

— Você nunca mais vai colocar as mãos nela. Nunca.

Ela é minha.

Eu tocarei nela.

Apenas eu.
Doente.

— Prin-prince...

Assim que a voz doce encheu minha mente e os olhos azul-

claros apareceram diante de mim, eu sorri, contente. Ela sempre


sabia o que eu queria, mesmo quando eu não falava sobre isso.

Fazia mais de dez minutos que ele me deixou sozinha dentro

do carro, dizendo que viria rápido. Meu irmão entrou no galpão


abandonado e não voltou. Respirei fundo e abri a porta do carro. Dei

passos até o portão e entrei. Ouvi ruídos vindos do final e segui o


som até descer a escada.

O lugar era diferente de tudo que já vi. Parecia um depósito,


mas foram instaladas grades que iam do chão ao teto. O ruído

agora estava nítido e era um choro horrível. Era Prince? Não sabia e
achava pouco provável. Ele nunca chorava.

— Você nunca mais vai colocar as mãos nela. Nunca.


As palavras me fizeram ficar rígida, mas a cena diante de
mim me fez vomitar.

— Prin-prince?

Meu irmão estava diante de mim, usando uma faca para


desenhar nas costas do homem que sangrava. Eu não conseguia

ver seu rosto porque ele estava com a cabeça para a parede.
Ofeguei, vendo sua mão desaparecer atrás do homem.

O que ele estava fazendo?

Eu não precisei pensar muito. Quando ele tirou a mão, uma


arma apareceu e no cano dela tinha uma camisinha. Meu estômago

revirou e o Prince sorriu.

Não, não meu Prince.

Não era ele. Aquele homem não era ele. Não podia ser.

— O que você... — comecei a falar, mas o homem ergueu o

rosto.

Meu coração parou.

Todo o sangue foi drenado do meu rosto, e para não cair, tive

que me apoiar na parede velha.

Ettore.
Papai.

Não, ele não era o seu pai.

Mas ali havia só o resto do homem imponente que um dia o

monstro havia sido. Cicatrizes moldaram seu rosto, faltava orelha e


lábio, e um corte cruzava seu olho que parecia cego.

— O que... — Minha respiração ficou forte e eu não

conseguia respirar.

Minhas entranhas reviraram, um arrepio atravessou meu

corpo e eu vomitei tudo que comi no píer com Prince ao meu lado,

contanto piadas péssimas.

— Ele está vivo? — Olhei para o meu irmão.

Calmamente, ele colocou a arma e a faca na mesa. Seus

passos em minha direção me deixaram nervosa, mas eu sabia que

ele nunca me machucaria.

— Até o dia em que você quiser.

Como?

Ele tocou meu rosto e eu respirei fundo, meu queixo

tremendo como todo meu corpo.

— Uma palavra sua e eu o mato.


Ettore choramingou e eu o olhei. O ódio em seus olhos era

real e sempre me conduziu desde que nasci. Ele me odiava porque


eu era o fruto do seu fracasso. Ter sua esposa sequestrada e

estuprada foi sua ruína.

— Desde quando? — perguntei, engolindo em seco e

voltando a olhar meu irmão. — Desde quando você o mantém aqui?

— Há algum tempo...

Me afastei, fechando os olhos e me inclinando sobre meus

joelhos.

— Rocco me mandou enterrá-lo e...

— Como assim? Ele não parece morto para mim —


resmunguei baixo, apertando minhas mãos trêmulas.

Prince segurou meu braço e me puxou para a escada. Suas


mãos seguraram meu rosto e ele se inclinou. Eu podia sentir seu

cheiro, meu peito apertou com ânsia.

— Ele não estava, e quando percebi isso me livrei dos


soldados que Rocco designou para me ajudar. — Prince olhou em

meus olhos e sorriu. O toque da sua pele na minha me fez

estremecer. — Eu o fiz sofrer, Lake. Durante todo esse tempo, eu o


fiz sofrer e farei mais pelo resto da minha vida.
— Se ele já sofreu, por que não o matou ainda?

— Não é suficiente. Torturá-lo por todo esse tempo não foi

suficiente e não será suficiente daqui a uma década.

Seu olhar obstinado não era real. Ele não parecia meu

Prince.

— Por você, eu vou fazê-lo desejar nunca ter nascido.

Eu toquei seus braços e depois seu rosto. Ele era lindo, o


mais lindo homem que já vi, e mesmo assim, nesse momento, sua

beleza não conseguiu esconder o homem furioso e cruel dentro

dele.

Duas palavras que nunca imaginei usar para falar sobre ele.

Prince Trevisan era bondoso, honrado e fiel. O homem diante


de mim tinha tudo, menos bondade.

— Eu não consigo acreditar que ele está vivo — murmurei,


sentindo meu coração se apertar. Olhei na direção do Ettore, mas

Prince segurou meu rosto, voltando para si.

— Eu sei o que estou fazendo. Ele nunca vai escapar.

— Rocco sabe que ele está aqui? — Minha voz era fraca.

— Não e nunca vai saber.


Me arrepiei com isso.

Rocco me mantinha em uma redoma. Eu não podia sair ou

fazer amigos. Minha vida era enclausurada na mansão. Hoje, foi

uma das raras vezes, desde o dia que beijei Prince no lago, que eu
saí de casa. Ele havia esquecido disso, não tocamos no assunto e

hoje estávamos bem. Normal.

Deus, eu não achava que seria possível ser normal. Nunca


seria.

Não quando eu amava meu próprio irmão.

— Você quer que eu o mate?

Ele matar alguém?

— Você odeia violência. Sempre odiou... — comecei a falar,

mas ele colocou a mão sobre minha boca, me calando.

— Por você, eu faria o inferno de playground.

Respirei fundo, tremendo com suas palavras e com o


significado por trás delas. Talvez, realmente, ele não quis dizer isso,

mas minha mente distorcida desejou ardentemente.

— Vamos embora, isso foi demais pra você...

Não. Ainda não.


Me virei e caminhei de volta. Ettore ergueu o rosto ao me

ouvir se aproximando. Eu peguei a faca com as mãos trêmulas, mas

com uma obstinação fria e latente.

— Você se lembra daquela noite? — perguntei, arrastando a

faca no alumínio da mesa.

— Lake...

— Não fale o nome dela — Prince grunhiu, então percebi que

estava perto.

— Eu tinha seis anos — murmurei devagar, ouvindo sua voz

nitidamente me chamando de rata e imunda, dizendo que meu lugar


era no esgoto. — Estava nevando, era frio, porra, ainda sinto aquele

frio. Você me tirou da minha cama. Me arrastou para o píer

enquanto a neve caía.

A imagem era viva em minha mente. Eu chorava, implorava

para voltar para dentro. Ele apenas me disse para ficar parada.

— Não se mexa até eu dizer que pode.

E assim foram horas parada da neve, usando um pijama fino

e pantufas molhadas. Até ele aparecer na porta da cozinha e me


mandar entrar. Sozinha e morrendo de frio, foi assim que minha mãe

me encontrou na cozinha de casa.


— Lake, o que fazia na neve? — Sua voz era perfeita. Suave,

amável. Ela era perfeita e eu a amava demais.

— Acabei de achá-la, sua filha é louca.

Eu me agarrei a ela assim que ele sumiu e nenhum segundo


daquela noite a soltei. Ela me enfiou em uma banheira quente e

entrou comigo, enquanto eu tremia.

— Minha mãe sempre tentou me proteger de você. —

Respirei fundo, lembrando-me de toda preocupação que ela sentia.

— Ela tinha medo de você. Você a apavorava da mesma maneira

que um dia me apavorou.

Ettore ficou rígido e eu ergui a faca, pronta para me vingar.

Para machucá-lo, mas eu não conseguia me mexer ou causar a dor


que um dia ele me fez passar.

Eu não estava pronta.

— Está tudo bem.

Prince retirou a faca das minhas mãos e me puxou contra seu


peito. Ao fazer isso, ele usou a lâmina que eu segurava para

empurrar no antebraço do Ettore.

O grito dele me fez bem, jamais imaginei algo assim.

— Um dia, você vai ser a única pessoa machucando-o.


Eu sabia que ele estava certo, eu sentia em minhas veias que
isso aconteceria, porque Ettore querendo ou não, eu era uma

Trevisan, sempre seria.

— Me espere lá fora.

Quase neguei, mas eu precisava de tempo.

Ele me guiou para a escada, e assim que cheguei ao andar

de cima me inclinei sobre o portão de ferro e vomitei mais uma vez.

Limpei os lábios ainda ouvindo a voz da minha mãe.

Você é corajosa. Intensa e corajosa.

Não sou, mamãe. Nunca fui e nunca vou ser.

Sou fraca. A rata imunda que ele me chamava.

— Lake, estou aqui. — Mãos tocaram em meus ombros.

Eu o senti. Prince me colocou sobre os braços e me levou

para o carro, enquanto as lágrimas encheram meus olhos. Ele se


sentou e me deixou em seu colo.

— Eu sou fraca...

— Não, baby, você só foi machucada demais e tem feridas


demais para sarar.

— Quando vou ficar bem? — perguntei, entre soluços.


Prince segurou meu rosto entre as mãos e eu funguei,
enquanto seus olhos, as íris que eu mais amava no mundo,
brilhavam com um tipo de adoração que eu jamais experimentei.

Éramos jovens. Crianças amando um ao outro.

Crianças pecando ao amar um ao outro.


ATUALMENTE...

Lake bateu as unhas longas que estavam pintadas de preto


no painel do carro enquanto eu seguia o . Matteo foi para Oak

Park sem nós dois depois de eu explicar que precisava resolver uma

coisa. Lake inventou que precisava ir à manicure e iria comigo mais

tarde.

— Você está bem, certo? — Sua voz ecoou e eu respirei


fundo.

— Você quer me dizer que dormiu com alguém? — perguntei

com calma.
— O quê? Não!

— Você já dormiu com alguém que não fosse eu? — A frase

deslizou e eu sabia que era errado questionar isso.

— Isso não é justo. — Seus olhos procuraram os meus e eu


a encarei.

— Já?

— Não, seu idiota! Só seu pai quando me estuprou!

Apertei minhas mãos no volante, respirando fundo ao


estacionar no meio-fio. Estendi minha mão e segurei sua nuca,

puxando-a para mim. Quando Lake ergueu o queixo, indomável, eu

descansei minha testa na sua.

— Me perdoe.

— Você já dormiu com mulheres que nem conhecia, tantas

que não poderia contar nas mãos. Não seja um filho da puta
comigo.

— Eu sei... quer dizer, eu não sei porque não lembro. Mas,

Silk, eu só respiro você. Em todas as vezes que fodi alguém era

desejando que fosse você.

— Porra, isso é reconfortante. — Ela tentou se afastar, mas


segurei sua nuca com mais força. — Me solte.
— Por que diabos eu faria isso? — rosnei, tenso. — Você me
pertence.

— Prince — Lake grunhiu. Eu me inclinei, lambendo sua pele

e descendo para os seus seios. Mordi a carne com força suficiente

para marcar e a encarei. — Seu idiota!

— Novamente, você me pertence.

Ela revirou os olhos, e quando tentou se afastar, eu a deixei

ir.

Voltei a dirigir e assim que o alertou que estávamos

chegando, vi um galpão no final da rua de terra batida com árvores

ao redor.

— O que diabos...

Lake não esperou por mim. Ela saiu do carro e eu a segui,

vendo-a abrir o portão com tanta familiaridade que me deixou

cauteloso. Assim que entramos, eu senti que já havia vindo aqui. As

lembranças que tive no médico que Romeo me levou devagar


apareceram como flashs. Eu carregava um corpo, descia a escada

pela porta direita, onde agora Silk abria. Eu a acompanhei, e antes

que eu terminasse de descer os degraus, eu sabia quem estava ali.


— Ettore. — Minha voz ecoou assim que um homem atrás de

uma grade alta apareceu.

Ele estava deitado, dormindo, e acordou em um salto. O

corpo magro e faltando dentes não parecia o homem das minhas


lembranças.

— Prince. — Ele se ergueu cambaleando, mantendo o olhar

entre mim e Lake.

Meu olhar foi para ela. Eu estava preocupado, como ela


estava se sentindo? Porém, ela estava impassível andando pelo
corredor, até parar e se virar com os braços cruzados. Seu olhar era

frio, completamente distante.

— Eu disse que o traria. — Ela suspirou e encarou Ettore. —


Você quer ver o monstro que o transformou?

— Me explique isso, agora! — eu gritei, vendo o homem se


arrastar pela parede.

— Você o manteve preso, torturando-o por anos até ser

sequestrado. Você me mostrou ele...

As imagens foram aparecendo como um borrão. O dia em


que a trouxe aqui, seu rosto apavorado, eu fodendo-o com uma
Glock. Fechei os olhos e respirei fundo.
— Você o manteve aqui por quê? — Minha pergunta ecoou

pelas paredes frias de concreto.

Eu a encarei e vi a mulher impiedosa que ela havia se


tornado. A garota que eu me apaixonei era apenas uma parte dela,

uma pequena em comparação a essa.

— Eu sabia que voltaria...

— Você deveria ter matado o desgraçado — resmunguei com

raiva.

Eu não sabia por que estava tão irritado, se por ela ter
continuado na presença dele, vindo aqui, ou por eu ser o culpado
disso.

— Por que eu faria isso? Eu brinquei com Ettore tanto quanto

você. Se não mais. Eu o fiz pagar por cada estupro. Cada vez que
me tocou enquanto eu chorava pedindo para que ele parasse.

Eu apertei meus pulsos tremendo. Eu sabia que ela merecia


sua vingança.

— A cada vez que eu implorava para que alguém me

salvasse... infelizmente, a princesa não foi salva, então ela


transformou a coroa dela em uma arma e se vingou sozinha.
Suas palavras foram como facas perfurando meu coração. Eu
devia tê-la salvado. Eu deveria ter entrado naquele quarto e
arrancado a cabeça de Ettore.

— Saia daqui — ordenei friamente, mas ela se aproximou.

— Me faça sair.

— Me mate. — A voz dele nos interrompeu e eu o encarei.

— Ah, nós vamos. — Ela se aproximou dele e inclinou a


cabeça. — Mas antes eu quero que meus irmãos possam se vingar

de você.

— Você enlouqueceu? — gritei, furioso.

— Nos vingamos. Eles merecem isso. Rocco merece pela

mãe dele, Romeo e Matteo por nossa mãe. Pelas torturas físicas e
psicológicas que Ettore os fez passar.

Eu sabia que ela estava certa, mas se eles soubessem o que

fiz, seria uma traição.

— Foi uma traição — grunhi, fora de mim. Lake respirou

fundo. — Eles vão me matar, é isso que quer, Lake? A merda da


minha morte?

— Não! Claro que não... — Ela passou as duas mãos pelo

cabelo escuro. — Eu só...


— Vamos matá-lo — falei com raiva e ela se virou para
encarar meu pai.

— Eu só quero morrer em paz...

Um barulho ecoou no andar de cima e eu puxei minha arma.


Lake pegou a dela e nos viramos para a escada. Quando passos

foram ouvidos, eu fiquei na frente dela, mirando.

Não havia fuga. Estávamos presos.

— Fique quieto — rosnei para meu pai e ele acenou e se

agachou.

Os passos ficaram mais perto e eu semicerrei os olhos ao ver

uma bota aparecer. Um homem loiro surgiu e eu mirei em sua testa.

— Porra, você sabe se esconder, bebezinha.

Que caralho era esse?

Lake respirou fundo e eu continuei mirando a arma na cara

do idiota. Quem diabos era esse cara, e por que ele estava

chamando Lake assim?

— O que está fazendo aqui? — Lake baixou a arma e deu um

passo até ficar ao meu lado. — Está tudo bem. — Ela colocou a

mão sobre a minha pistola, baixando-a.


Ele abriu os braços, quase como se soubesse que ela

correria para ele. Que o diabo o ajudasse, porque se Lake desse um


passo, eu arrancaria a cabeça dele.

— Lionel, o que está fazendo aqui? — ela perguntou, rígida.

— Eu vim ver você. — Ele sorriu e me encarou. — Você deve

ser o irmão dela.

— Saia daqui, agora! — gritei, dando um passo na direção do

cara.

Ele franziu as sobrancelhas, mas fez o que mandei. Assim

que ele subiu a escada, eu encarei minha irmã.

— Quem é esse idiota?

— Ele estudou comigo no internato.

O.k., foda-se.

— Vamos embora. — Me virei para Ettore. — Eu cuido de

você depois.

Subi a escada e encontrei o imbecil na frente do galpão.

Andei em sua direção e agarrei sua blusa, empurrando-o contra a


parede.
— Não sei quem diabos você é ou o que pretende vindo do

inferno até aqui, mas eu sei de uma coisa: eu vou mandar você de

volta. De um jeito ou de outro.

Soltei-o assim que ele respirou com força, erguendo as mãos.

— Lake era minha amiga. É só isso, cara. Relaxa.

— É bom mesmo.

— Como diabos você veio parar aqui?

Eu me afastei e me virei para ver Lake andando em nossa

direção.

— Onde está ficando? — ela perguntou. Lionel falou o nome

do hotel mais famoso de Chicago. — Quando vai embora?

— Não sei, talvez hoje, depois dessa recepção... — Ele me

encarou e voltou a olhar para ela. — Foi bom rever você, Lake.

— Calma, não seja dramático. Meu irmão é ciumento. — Ela

suspirou e seus ombros cederam. — Onde Cassedy ficou? —

perguntou.

— No hotel. Eu vim com Christian.

Ele acenou para o carro e um cara balançou a mão, focado


em seu celular.
— O.k. Eu passo no hotel depois. — Ela me encarou e seus

olhos me pediram calma sem dizer uma única palavra. Lake o


abraçou e a raiva dentro de mim aumentou. — Agora vá embora.

Lionel foi embora e eu fiquei parado, vendo seu carro


desaparecer.

— Como ele chegou aqui?

— Talvez tenha nos seguido. — Lake respirou fundo. —

Lionel é só um colega de classe. Ele e Cassedy são um casal. Pare

de rosnar.

— E o outro?

Lake respirou fundo.

— Christian é só um garoto.

— Você ficou com ele?

— Sim, eu troquei beijos com ele. É isso?

Eu respirei fundo e tentei me acalmar. Como ela havia falado

antes, isso não era justo. Andei para nosso carro e abri sua porta,

indo para a minha.

— Você pode ir comigo ao hotel.

Posso? Eu não ia pedir, porra.


Assim que chegamos à nossa casa, avisei a Matteo que só

iríamos para Oak Park no final de semana. Ele levou na boa. Lake
subiu para seu quarto e eu encontrei a sogra de Rocco na sala,

olhando o celular.

Ela me ignorou e eu fiz o mesmo. Peguei o controle do


videogame e me virei para subir a escada.

— Você é o mais novo. — As palavras dela me pararam. —


Meu filho e você teriam quase a mesma idade.

Me virei e encarei a senhora Rizzi. Ela parecia Sienna mais

velha.

— Eu conheci seu filho — falei rápido e semicerrei os olhos.

Conheci? Flashs de um homem loiro e alto que vivia com um


moreno cruzou minha mente.

— Ele era um bom garoto. A Outfit o arruinou.

— Ele se arruinou. Meu irmão foi benevolente com ele. Até

quando nos traiu, fomos benevolentes. Todos queriam sua cabeça,

mas Rocco lhe deu uma chance.


— Ele amava a famiglia.

— E morreu por isso.

Me virei e subi a escada, deixando-a para trás.

Entrei em meu quarto, sentei-me sobre a cama e vi um papel

pardo na mesinha. Peguei-o e abri o envelope. Assim que retirei,

havia um saquinho com fios de cabelo e um bilhete.

Seu passado.

Sua decisão.

Rocco.

Porra. Peguei o saco e respirei fundo. Isso poderia me dizer


se eu pecava ao amar minha irmã. Se isso era um erro grotesco

pelo qual nós dois temíamos. Ali tinha uma sentença, e as duas me

deixaram alerta.

Se eu fosse seu irmão de sangue, tudo continuaria igual.

Se eu não fosse, viveríamos com esperança de um futuro.

Um que não tínhamos. Nossos irmãos jamais nos deixariam

ter. Crescemos juntos, mesmo que um papel diga que o sangue de

Violetta não corre em minhas veias, ainda era um pecado.

Um pelo qual pagaríamos, uma hora ou outra.


Guardei o envelope na gaveta e coloquei as mãos na cabeça.
Eu precisava sair e beber. O quanto antes, ou enlouqueceria.

Ainda não conseguia acreditar que Lake havia mantido nosso


pai preso por todos esses anos. Se nossos irmãos descobrissem, eu

não queria nem pensar no que fariam.

— Estou saindo — avisei a ela, depois de tomar banho e me

trocar.

— Aonde vai? — Ela saiu do banheiro enxugando o cabelo,


vestindo apenas um moletom e um top que marcava seus mamilos.

— Para Oak Park.

Lake franziu a testa e deixou as mechas negras caírem para

o lado.

— Por quê?

— Eu preciso beber e quero fazer isso com meu irmão.


Posso? — grunhi, irritado.

Ela acenou, jogando a toalha na cama. Lake retirou o top e

entrou no closet, e quando saiu, o moletom também havia sumido.


Agora seu corpo estava coberto por um vestido curto e brilhoso. Ela

me encarou e ergueu a sobrancelha.

— Eu pensei que ia para Oak Park.


— Você se trocou por quê?

— Eu resolvi ir ver meus colegas do internato.

Como é? Apertei meus punhos, querendo curvá-la e bater em


sua bunda. Lake continuou me encarando séria e eu respirei fundo.

— Aproveite sua noite, então. — Me virei e andei para fora.

Puxei meu celular e avisei ao meu irmão que estava indo


para o Date. Ele respondeu que estava me aguardando.

Bom, eu precisava me distrair antes de matar alguém.


Viver em um internato faz você se aproximar de
desconhecidos, porque eles são sua única companhia. Christian,

Lionel e Cassedy eram isso para mim. Dividi o quarto com Cass, e
quando a conheci percebi que eu teria que conviver com seu

namorado e o irmão dele.

— Oh meu Deus, eu nem acredito que estou com você! —

Cass pulou em meus braços assim que o elevador abriu as portas.

— Nem eu. Como vieram parar aqui? — murmurei,

apertando-a contra mim.

Cass se afastou e seu cabelo loiro enganchou nos brilhos do

meu vestido. Ela tinha minha altura e era a pureza em pessoa,


completamente diferente de mim.

Fui arruinada há anos e a cada segundo era mais.

— Christian teve que resolver alguns problemas da empresa

aqui.

Olhei por cima do seu ombro e o seu cunhado estava com os

olhos presos em mim. Quando Lionel apareceu por trás, Cass me


puxou para o sofá.

— Oi, gente! Lil, desculpe pelo meu irmão. — Franzi as

sobrancelhas ao murmurar.

Era estranho falar isso ao mesmo tempo em que tudo dentro

de mim implorava para ir até o Date para vê-lo.

— Não esquenta. — Lionel se aproximou de Cass e beijou

seu pescoço.

— Então, onde fica a diversão dessa cidade? — Cass


perguntou, relaxando contra seu namorado.

— Chris — eu o encarei —, oi. — Me aproximei e passei a

mão em seu cabelo.

— Ei, pequena.

Relaxei quando seus olhos sorriram.


— Vai ter um racha daqui a alguns minutos — falei, dando de
ombros.

Queria ir até Prince, mas era arriscado demais. Então, ir até

Navy Pier serviria.

Meia hora depois aparecemos entre as pessoas. Eu peguei

uma cerveja e virei lentamente. Meus amigos se entretinham com as


corridas de motos enquanto eu dançava com Cass.

— O que estão fazendo da vida agora? — perguntei para a

minha amiga assim que paramos de pular.

— Eu sou professora on-line de francês, e os irmãos

trabalham com a empresa. — Ela sorriu e eu questionei por que não


dava aula presencial. — Você sabe, Lil me leva para todo lugar.

Viajamos muito, não conseguiria manter.

Eu conseguia imaginar. Lionel sempre foi obcecado por ela,

ele entrava todas as noites em nosso quarto apenas para dormirem

juntos. Cass nunca se importou com essa necessidade dele, pelo

contrário, ela o amava.

— E você, como está?

— Bem.
Era uma mentira, mas eu não podia despejar meus

problemas em cima dela. Cass nunca me entenderia. Ninguém faria


isso.

— Eu trabalho como advogada em um centro comunitário.

— Sério? Isso é incrível, Lake.

Eu também achava.

Assim que sorri para ela, um cabelo loiro passou me


chamando atenção. Quando vi o homem de cabelo escuro e com

tatuagens, pedi licença a Cass.

— Quanto tempo. — Estalei a língua e Kiara se virou.

Eu nunca me acostumaria com a beleza da loira e nem com a

do seu marido. Giulio foi muito importante para mim por um tempo.
Realmente foi meu único amigo nessa cidade por um longo tempo.

Hoje, com sua família, não nos víamos mais.

— Lake, você está linda. — Kiara sorriu e eu devolvi o gesto.

— Onde estão seus irmãos? — Giulio perguntou, olhando por

cima de mim.

— Eles não estão aqui...


— Então você não deveria estar aqui — ele me cortou,

semicerrando os olhos.

— É território da Outfit, estou protegida.

— Com quem você está?

Acenei para meus amigos e Giulio balançou a cabeça, então

o vi pegar o celular.

— Você não é meu pai, Giulio — grunhi, irritada, e revirei os


olhos.

— Nós viemos nos divertir um pouco, sem preocupações —


Kiara suspirou —, certo, amor? — Ela pontuou sua voz, então Giulio

colocou o celular no bolso. — Se divirta, Lake, e se você se meter


em encrenca, não esqueça de esquecer que nos viu.

Eu ergui meus polegares para os dois e sorri quando Giulio

revirou os olhos e arrastou a esposa para longe.

Voltei para Cass e encontrei Lil a devorando. Christian estava

encostado em seu carro, olhando a multidão enquanto colocava o


cabelo loiro para trás.

— Se possível — eu me encostei ao seu lado —, você está

mais estranho que antes — murmurei sobre a música, fazendo-o


sorrir de lado. — Estou feliz por terem vindo. Sabe, faz tempo que
não nos víamos sem ser no videogame.

Christian era o que mais continuava próximo por conta das


nossas partidas em games.

— Eu também estou. Você continua tão gata quanto anos

atrás.

Eu ri, balançando a cabeça. Se tinha uma coisa que ele sabia

fazer, era deixar alguém sem graça.

— Tire o cavalinho da chuva — murmurei de maneira firme e


ele riu, erguendo as mãos.

Cass e Lil se aproximaram e nós bebemos até meu celular


tocar. Peguei-o e saí da multidão para encontrar um local calmo.

— Oi — respondi a chamada da Blue e me sentei em um

banco.

— Prince está bêbado, muito bêbado, e está falando algumas


coisas...

Meu coração afundou assim que a voz da minha cunhada


ecoou incerta.

— Eu preciso que venha aqui. Agora, Lake.


Porra.

— Eu estou indo.

Desliguei a chamada e fui até meu carro. Enviei uma

mensagem avisando a Cass que precisava ir e saí do


estacionamento. Eu demorava um pouco para chegar a Oak Park,

mas dessa vez foi rápido.

Quando Blue abriu a porta da mansão, eu evitei encarar seu


rosto. E se Prince falou algo para ela? Jesus, eu não queria pensar

nisso. Subi a escada rapidamente e cheguei ao quarto dele. Blue

me seguiu e eu estava tentada a pedir que saísse, mas até eu sabia

meus limites.

Era a casa dela.

Abri a porta do banheiro e o encontrei adormecido na

banheira. Ele estava vestido com a roupa que saiu de casa. Me virei

para Blue e lhe dei um sorriso sem graça.

— Ele dormiu. O Matteo chegou?

— Não. Zyon o deixou aqui. — Blue passou as mãos pelos


braços. — Ele estava chamando uma Silk. Você sabe se ele está

vendo alguém?

Alívio percorreu meu corpo.


— Não — balancei a cabeça —, não sei. Talvez Matteo

saiba?

— Ele não sabe. — Blue olhou para Prince e depois para

mim. — Espero que ela faça bem a ele. Sabe, seja uma garota
calma e boa. Prince tem muita bagagem, acho que ele não

aguentaria lidar com alguém que tenha tanta também.

Sua frase quebrou um pouquinho de mim em milhões de


pedacinhos.

Eu queria ser boa para ele, digna dele, mas sabíamos que
isso nunca seria verdade. Eu sempre seria a Lake arruinada e ele

sempre seria meu irmão.

— Ele é forte... — Minha voz soou fraca.

— É claro, mas o amor tem que ser calmo também. — Blue

suspirou e riu, balançando a mão. — O que estou dizendo? Meu


relacionamento com Matteo foi um verdadeiro furacão.

— Mas vocês encontraram a calmaria.

— Mas levou muito tempo.

Blue sorri e se despediu, me dizendo para chamá-la caso eu


precisasse de algo. Quando ela saiu, eu fechei a porta e entrei no

banheiro. Meu apelido estava ali, tatuado, para todos verem.


— O que está fazendo, baby?

Suspirei e tirei sua roupa com muita dificuldade. Quando

terminei, eu o acordei o suficiente para conseguir andar. Vesti uma


cueca limpa nele e me deitei ao seu lado, cansada.

— Silk. — Sua voz ecoou grave.

— Estou aqui — respondi em um fio de voz, tocando seu

rosto.

— Eu te amo, bebê. Amo demais.

Meu peito apertou e eu beijei sua boca devagar.

— Mas a culpa e o medo estão acabando comigo.

Fechei meus olhos e respirei fundo quando as lágrimas


começaram a se acumular. Eu também me sentia assim. Estava

claro o quanto as omissões, mentiras e medo estavam nos

destruindo pouco a pouco.

De dentro pra fora.

— Comigo também.

— Precisamos falar com eles, Silk.

Eu sabia que sim, mas pra quê? Eles matariam nós dois. Nos
separariam para sempre.
— Não, shiu, não precisamos. — Subi em seu colo e me

inclinei, beijando seu lábio. — Eles nunca vão saber. É nosso


segredo.

Prince segurou meus quadris e eu o beijei, devagar e faminta.


Ele puxou meu cabelo e, em questão de segundos, meu vestido

estava fora e minha calcinha para o lado, enquanto eu gemia

sentindo-o profundamente dentro de mim.

— Eu te amo, Prince — falei, suspirando.

E ele gozou dentro de mim, me marcando como sua mais


uma vez.

— Se um dia eles descobrirem — sua voz torturada alcançou

meu coração —, eu quero que siga sua vida. Se case, tenha filhos,
seja feliz.

— Não fale isso... — Comecei calma, mas ele me prendeu na


cama, segurando meu rosto.

— Não me procure, não brigue com eles por mim. Siga em

frente.

— Eu nunca vou seguir em frente. Nunca.

Prince fechou os olhos e se afastou. Ele não parecia mais

bêbado, apenas lento.


— Eles nunca machucariam você, somente a mim, por isso,

se algo acontecer, eu preciso que continue sua vida — pediu,

enquanto eu me sentava e o olhava andando pelo quarto.

— Eu os farei pagar...

— São nossa família.

— Você é minha família, Prince — berrei, insultada. — E eu

sou capaz de tudo por você.

Eu era.

De andar sobre o fogo, ou jogar quem quer que fosse nas


chamas. Não importava.

Nada importava para mim além dele.

— Você não entende? O que fazemos é um erro.

Não deveria doer tanto, já que era a verdade, mas doeu ouvi-
lo.

— Então, por que você volta? Por que você sempre volta? —

gritei, enquanto meu rosto recebia as lágrimas grossas.

— Porque — Prince balançou a cabeça e se inclinou sobre a

mesa, de costas para mim — eu não me vejo sem você. É sufocante


imaginar que eu não posso mais te tocar.
Solucei e fechei meus olhos, destruída. Isso sempre seria

nossa ruína.

Nós sabíamos disso.

— Prince? — Matteo chamou na porta, então me ergui, vesti


minha roupa e limpei meu rosto, enquanto Prince pegava uma calça

de moletom.

— Oi, cara — ele respondeu enquanto eu me deitava e fingia

dormir.

Tentei respirar devagar e prestar atenção no que eles


falavam. Matteo queria saber se ele estava bem e depois mudou de

assunto.

— Você deveria sondar com ela sobre o que te falei — Matt

resmungou e eu franzi as sobrancelhas. — Precisamos ter controle

sobre Rosemont. E o casamento dela pode nos fornecer isso.

— Ela nunca vai aceitar, você sabe disso.

— Ela vai se casar com ele, querendo ou não. Rocco só quer


que isso seja de modo pacífico.

Oh meu Deus!

Eles queriam realmente me casar com Luca.


Assim que Matteo foi embora e a porta se fechou, eu fingi
que tinha adormecido. Prince apenas se deitou, me puxando para o

seu peito. Eu evitei afastá-lo e dizer que ele não deveria ter

escondido isso de mim.

Evitei, porque eu sabia que isso era algo que apenas Rocco

Trevisan poderia me explicar e desfazer.

— Você está bem?

Eu estava?

Desde que saí da casa do Matteo, sem falar com ninguém,


eu estava flutuando em minha mente. De tanto pensar, parecia que

nada fazia sentido.

— Você sabia da pretensão do seu marido e do irmão dele?

— questionei a minha irmã. Lunna era tudo que eu não era –


amável, fácil de lidar e bondosa.

Ela arregalou os olhos, confirmando, então desviei meu olhar.

Havia vindo a sua casa em busca de uma fuga, mas parecia que em
qualquer lugar que eu fosse, as pessoas sempre serviriam a Outfit.
Ninguém queria lidar comigo.

— Romeo e Rocco querem seu bem. Eles estão tentando


fortalecer nossas fronteiras, nos proteger...

A perfeita mulher da máfia.

Lunna Trevisan.

— E quem vai me proteger? Eu nem conheço esse homem


direito — falei, balançando a cabeça.

— Nunca duvide do que sou capaz de fazer por você. —


Lunna segurou minha mão. — Eu, Si, Blue. Nós te amamos e nunca
vamos deixá-la sozinha.

Eu sabia disso, mas a teoria era completamente diferente da


prática.

— Sienna e eu encontramos o amor nos casamentos

arranjados dentro da máfia. — Lunna tirou meu cabelo da frente do


rosto e sorriu. — Você também vai, Lake.

Eu já o havia encontrado.

No meu irmão.

— Quando? — perguntei, afastando minha mão da sua.


— Em dois meses, Lake.

Dois meses e eu seria embalada a vácuo em direção à forca.

Parabéns, Lake.
Eu estava fugindo de todos há quase uma semana. Não vi
mais Prince, porém suas mensagens estavam lotando meu celular.

As chamadas, então, incontáveis. Eu só queria ficar sozinha até ser


tarde demais. Esse dia havia chegado, pelo que parecia.

De terno, Rocco entrou em meu escritório no centro


comunitário. As únicas vezes que o vi de terno durante o dia foi em

seu casamento e no dia que foram buscar Lunna na Rússia.

— O lugar realmente ficou bom. — Ele rodou o dedo no ar e

eu engoli em seco.

— Sim — respondi, me apoiando na cadeira.


Romeo surgiu na porta e sorriu apertado. Eu sabia o que

ambos vieram fazer.

— Eu tenho vários motivos para fazer o que você já deve

saber. — Meu irmão mais velho se sentou e apoiou seus pés na


minha mesa, como se ele fosse o dono do lugar.

— Território, Outfit, poder... incontáveis, realmente. — Imitei

seus movimentos, encarando-o.

Rocco sorriu e olhou para mim em silêncio por um longo

tempo.

— Eu amei você no dia em que a conheci. Você era pequena

demais, olhos azuis demais e o cabelo muito escuro — Rocco

murmurou e meu coração parou. Ele nunca falou sobre isso. —


Violetta me disse para proteger você. Disse a nós dois. — Ele

apontou para Romeo. — Nós falhamos com você, Lake. E nunca

vamos nos perdoar por isso.

— Isso é passado...

— Não sinto como se fosse. Dói hoje da mesma maneira que

doeu aquela noite — Romeo falou e se aproximou, sentando-se na

ponta da mesa. — Você era nossa garotinha, Lake. Isso nunca

deveria ter acontecido.


— Mas aconteceu e não é culpa de vocês. Nem minha.

Minha garganta fechou e meus olhos arderam.

Eu sofria até hoje todos os resquícios daquela noite, mas eu

não deixava isso definir minha vida. Um dia eu fui a vítima, hoje não

mais.

— Eu já sei do casamento. Então, vou poupar vocês de

falarem sobre isso. — Respirei fundo e pigarreei. — Se vocês

disserem que farei isso apenas se eu quiser, podemos conversar,

mas eu acho que não, então não se preocupem, eu farei o meu

dever.

Rocco respirou fundo e colocou as mãos atrás da cabeça.

— Eu vejo um fogo em você que nenhum de nós tem. — Ele

bateu os pés no chão e se ergueu. — Eu garanto a você que vai ser

feliz. Nós dois vamos garantir isso.

— Eu não vou — sussurrei baixinho, mas os dois ouviram.

— Por quê? — Romeo questionou de maneira firme.

— Porque eu — pigarrei novamente — amo outra pessoa.

Assim que ambos franziram a testa, eu me arrependi de ter

falado.
— Se você ama alguém, jamais vamos forçá-la a ficar com

outra pessoa. Quem é o garoto? Podemos conhecê-lo...

Minha cabeça girou e eu neguei rapidamente.

— Estou brincando. — Me ergui e encarei os olhos


desconfiados. — Eu vou me casar com Luca.

Rocco se aproximou mais e segurou meu rosto.

— Seja sincera.

— Estou sendo. — Segurei suas mãos e sorri. — Eu não


quero me casar, mas irei porque sou leal a vocês e a Outfit.

Rocco relaxou e eu me afastei, respirando fundo.

— Agora saiam daqui, eu preciso trabalhar.

Ambos acenaram e em segundos fiquei sozinha. Meu


estômago esfriou e meus olhos começaram a lacrimejar. Sem
conseguir me conter, solucei e me curvei sobre a mesa, tremendo.

Cresça, Lake, você é uma Trevisan.

Ser um Trevisan sempre foi mais que coragem e força,

sempre foi sobre aceitar a maldição e se banhar no sangue que ela


representava.
Eu estava me banhando, mas as lágrimas me

acompanhavam como um lembrete vívido de que eu queria mais.

— Eles disseram a você?

A voz rígida ecoou assim que abri a porta, quando voltei do


almoço.

Prince estava encostado na minha mesa, com os braços


cruzados. Ele vestia um casaco preto longo, calça preta e uma

camiseta branca. Seus olhos fixos em mim, o semblante tão sério


como nunca vi.

— Eu ouvi o Matteo falando pra você, e hoje, Romeo e Rocco

vieram aqui — falei de uma vez e andei até minha cadeira,


colocando a minha bolsa lá.

— Vamos encontrar uma maneira. — Prince se virou. — Não


sei ainda, mas...

— Eu vou me casar com Luca.

Silencioso, ele semicerrou os olhos e eu sustentei seu olhar.


Prince balançou a cabeça e riu sombriamente.
— Como você disse noites atrás, isso está nos matando —
eu disse, desviando os olhos dos dele.

— Olha o que está falando, Lake. Presta atenção na merda


que está falando! — ele grunhiu, rígido.

Eu o encarei. Apenas olhando para ele eu podia ver que

Villain estava em guerra com o meu Prince.

— Não o traga para isso — pedi e respirei fundo. — Somos

irmãos. O meu sangue corre em suas veias e isso... Prince, é


errado.

— Você me disse que era um dos menores erros que já

cometemos...

Sim, eu disse.

— Isso não deixa de ser um erro.

— Eu sou apaixonado por você, mas ele... ele é insano. Ele

nunca vai te deixar ir.

— Vocês dois precisam — afirmei, reunindo forças.

Prince fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu,

não havia mais um centímetro dele, apenas Villain.


— Eu vou impedir isso, Silk. — Ele se afastou da mesa,
completamente sério. — Eu estarei morto no dia que outro homem
colocar as mãos em você.

Ele se virou e saiu da sala, levando meu ar nas mãos.

Ao ouvir meu celular tocar, eu o cacei dentro da bolsa.

Quando vi o nome da Kiara, estranhei. Não éramos próximas, muito


pelo contrário.

— Ei, hum, Giulio comentou sobre seu noivado...

Merda.

— Fiquei sabendo há pouco tempo também. — Sentei-me na

cadeira e respirei fundo. — Está aliviada por eu estar sentindo o

mesmo que você anos atrás?

— Não, apenas sinto por você.

Fiquei em silêncio, confusa.

— Há algo na solidão da mulher mafiosa que ninguém

consegue enxergar. Somos reduzidas aos nossos maridos. Ao que é


importante para a máfia. Ninguém questiona nossos desejos —

Kiara falou baixo e eu engoli em seco. — Eu espero, na verdade,

quero muito que você seja feliz. Nenhuma mulher deve passar a

vida em uma relação sem amor.


— Obrigada, Kiara. Isso é... importante.

— Um dia, eu vi o quanto você é forte e leal a quem ama... a

Prince. Aquele desespero, aquela necessidade... sua família tem

sorte por ter você, Lake. Não se esqueça disso.

Ela desligou e eu continuei segurando o celular, lembrando-

me da noite que implorei para que ela aceitasse Giulio para que eu

pudesse ter meu irmão de volta.

Obrigada por me fazer lembrar quem eu sou, Kiara.

À noite, meus irmãos se reuniram para jantar e deixar meu


noivado às claras. Eu estava com um vestido preto que agarrava

meu corpo até os quadris. Uma fenda se abria ali, mostrando minha

coxa pálida. As alças eram finas e meus seios estavam empinados.

Passei a mão pelo cabelo e encarei o batom vermelho no

espelho. Os cílios estavam longos, e os olhos ainda mais azuis

deixavam a cor escarlate viva.

Calcei meus sapatos, e assim que Sienna me chamou, desci

a escada. Quando cheguei ao meio, vi Luca. Eu sabia que Rocco


apressaria as coisas, por isso não me surpreendi com sua presença.

O homem sorri e eu devolvi o gesto, evitando procurar quem

eu realmente queria ver. Cada decisão hoje era pensada para ele.
Não para o meu noivo.

— Lake Trevisan — Romeo falou ao lado da esposa.

— É um prazer revê-la. — Luca sorriu e beijou minha mão.

— Também. — Acenei, tentando ficar calma.

Nós saímos para a sala e nos sentamos. Apenas nesse

momento percebi que Prince não estava aqui. Todos estavam,


menos ele.

— Onde está o Prince? — questionei, incomodada.

Meus irmãos olharam entre si. Sienna foi a única capaz de

me responder.

— Ele teve uma emergência com o Yerík.

Emergência?

Acenei calmamente e encarei Luca. Ele era loiro e mais velho

que eu alguns anos. Beleza não faltava no cara, mas algo, sim. Ele

não era meu Prince.


— Com licença. — Rocco se ergueu assim que seu celular

tocou.

Imediatamente, Romeo e Matteo fizeram o mesmo. Meu

estômago rodou e eu sabia que era Prince. Olhei para minha irmã e
Lunna sustentou meu olhar, negando saber de algo.

— O jantar será servido.

Nos erguemos e fomos até a sala de jantar. Luca se sentou

diante de mim e eu tentei ser simpática, mas algo sobre Yerík e

Prince não estava me deixando relaxar. Meus irmãos voltaram para


a sala de jantar apenas para dizer que precisavam se ausentar.

— Fique à vontade, Luca. — Romeo apontou para mim e o

loiro se ergueu.

Meus irmãos não voltaram a se sentar, prontos para saírem.

O capo de Rosemont me encarou e sorriu. Quando ele tirou uma


caixa de veludo do bolso, eu apenas aceitei meu destino.

— Lake, você aceita ser minha esposa?

Meus olhos queimaram, eu quis gritar, espernear e fugir, mas

não podia.

— Sim.

Três letras, uma palavra.


Minha ruína.

Luca colocou o anel em meu dedo e eu me ergui. Sorri para

minha família e minhas cunhadas sorriam, contentes, mas com um


brilho extra de preocupação.

— Marcaremos outro jantar, Luca. — Matteo deu a mão a ele


e todos saíram rapidamente.

— Quem ligou para Rocco? — questionei, nervosa.

Sienna respirou fundo antes de responder:

— Prince.

Droga.

— Eu vou sair — avisei, andando para a escada.

Peguei meu casaco e duas armas. Assim que voltei para

baixo, Sienna, Blue e Lunna estavam andando, preocupadas.

— Se eles voltarem, eu estou dormindo.

— Lake, não acho...

Eu ignorei Lunna e vi Blue morder a unha.

— Alguma coisa aconteceu, eu sinto.

As três suspiraram e eu saí de casa. Minha intuição cresceu

quando saí e vi menos da metade dos seguranças. Entrei em meu


carro e dirigi para longe, pisando no acelerador.

Liguei para Prince, apertando o volante. Chamou duas vezes

e quando ia cair na caixa postal ele atendeu.

— Onde está? — perguntei, tremendo por dentro.

— Onde você está? — Sua voz aumentou e eu percebi que

ele estava correndo.

— Indo até você.

— Volte para a mansão. — Sua urgência estava me deixando


louca.

— O que aconteceu? Onde você está?

— Ele fugiu, Silk. Não sei como, mas ele não está aqui.

Tudo aconteceu em câmera lenta. Meu pé no freio, minha


queda brusca contra o volante e meu carro brecando. Prince gritou e

eu senti uma nova pancada, dessa vez, um carro batendo no meu.

Ratinha.

Abri meus lábios e gritei como nunca, berrei por segundos

infinitos. Tremi por dentro e ouvi pessoas ao redor do carro.

— Lake! — Prince gritou e eu percebi minhas lágrimas.

Reuni forças, parei de gritar e fechei meus olhos.


— Estou indo.

Pisei no acelerador e saí em alta velocidade. Eu não sabia

como eu poderia encarar meu demônio fora da gaiola, mas eu o


faria e eu o colocaria de joelhos diante de mim.

Assim que estacionei o carro diante do galpão, vi meus


irmãos juntos. Prince tinha o rosto machucado e eu sabia que havia

sido um dos nossos irmãos.

— Você quer brincar de rainha, Lake? — Rocco gritou


quando parei diante dele.

— Eu não preciso brincar.

Peguei minha arma e entrei no galpão. Desci a escada e

olhei para cada pedaço do lugar. Havia sangue na cela de Ettore. Vi

as pegadas de sangue até a escada, mas havia duas. Uma de


chinelo e outra de uma bota.

Não sabia quem poderia ter sido, mas eu nunca saberia

explicar o motivo de Lionel aparecer em minha mente. Uma imagem


fugaz, mas que dizia muito. As botas que ele usou no dia que
saímos juntos.

Entrei no sistema de câmeras que havia no galpão e não me


surpreendi ao ver meu colega de internato entrando aqui e saindo
com Ettore.

Peguei meu celular e liguei para ele. Chamou uma vez.

— Diga a Cass que sinto muito.

— O quê? — ele perguntou, confuso, com barulho de carro

ao fundo.

Subi a escada e corri para o meu, sedenta.

— Por matar você.

Desliguei a chamada e pisei no acelerador. Quando entrei no

prédio grande, meus irmãos já estavam ao meu redor. Assim que as


portas se abriram, eu vi Christian e Cass. Ela se ergueu sorrindo,
mas parou quando me viu.

— Lake? O que...

— Onde está Lionel?

Christian se ergueu do sofá e olhou para os meus irmãos.

— Por que você quer saber?

— Ele pegou algo que me pertence.

Christian engoliu em seco e Cass se aproximou de mim.

— Quando ele aparecer, diga a ele que vou devolver o que

pertence a ele quando ele fizer o mesmo. — Matteo agarrou Cass


sem eu ter que explicar nada.

— Lake! — Cass gritou e eu ignorei, mesmo doendo no mais


fundo do meu ser.

— Tique-taque.
Assim que chegamos ao Village, Rocco quebrou seu silêncio.

— Vocês perderam a mente? — ele gritou, possesso.

Eu admito que esperei isso até antes.

Cassedy estava em um quarto no andar de cima, com Giulio


a vigiando. Meu coração reclamava disso, queria ir até ela, mas eu

sabia que precisava do apoio do Rocco.

— Eu fiz isso — Prince falou pela primeira vez e eu evitei

encará-lo. — Eu me lembro perfeitamente que decidi não o enterrar,

Lake não tem nada a ver com isso...


— É óbvio que ela tem. Ela o manteve aqui por anos,

enquanto você estava na Dinamarca, pelo amor de Deus! — Romeo


rugiu e eu estremeci por dentro.

— Eu queria me vingar e o fiz! — falei de maneira firme e


semicerrei os olhos. — Eu o torturei por anos e não me arrependo

de nada!

— Você cresceu, criou uma língua de serpente e agora quer


gritar comigo, Lake? — Rocco se aproximou tanto que encostou sua

testa na minha. — Quem é você?

Você.

A palavra estava na ponta da minha língua, mas segurei

porque o fogo estava aceso em seus olhos. O demônio estava


presente.

— Eu sou seu irmão, mas não é ele que está falando com

você agora. É o seu Don, me respeite, porra! — ele gritou,

segurando meus ombros. — Eu e cada filho da puta nessa sala


vingamos você. A nossa maneira. Prince não tinha permissão para

fazer o que fez!

— Grite comigo! — Prince entrou na minha frente. — Grita na

porra da minha cara, não na dela!


Gritei quando Rocco socou Prince com força e o empurrou
até a parede, furioso.

— Eu vou matar você, seu merda! É isso que você quer? A

morte por sua traição?

— Por favor, assim me tira da minha miséria. — Sua voz

soou firme.

Meu coração latejou, doente. Me inclinei, agarrando a minha

barriga. A dor ali parecia emocional, mas assim que minha mão

tocou a pele, foi como fogo.

— Vamos nos acalmar. — Matteo passou por mim e ficou ao

lado dos dois. — Ettore atrai os piores sentimentos de nós, mas


somos família. Nós ficamos quando ele caiu, e continuaremos aqui

quando o matarmos. Dessa vez, definitivamente.

— Matteo está certo. — Romeo passou por mim também e

eu soltei o ar, tremendo. — O imbecil vai devolvê-lo assim que

perceber que a garota dele está aqui.

— Sim, tudo bem. — Rocco soltou Prince. — Mas nunca

mais você vai agir assim comigo. Eu dou minha vida pela de vocês,

mas eu exijo respeito. De todos. — Ele se virou e olhou entre nós.

Suas sobrancelhas se juntaram e eu vi a escuridão me engolir.


Lake despencou no chão e eu corri até ela, assustado como
nunca. Peguei seu corpo pequeno nos braços e ela gemeu. Quando
a apoiei e subi seu vestido, vi uma mancha roxa. Ela grunhiu de dor,

desacordada.

— Merda. Foi no acidente de trânsito, talvez... — Matteo


olhou a mancha em sua barriga e eu a cobri novamente.

— Vou levá-la para o médico — avisei e andei para o


elevador.

Rocco me seguiu com Romeo.

— Fique de olho na garota — Rocco falou para Matteo e ele

acenou, pedindo que avisassem sobre Lake.

Romeo dirigiu em silêncio no começo, mas depois abriu a

boca.

— Ettore tem um poder indescritível de nos desestabilizar.


Rocco está insultado e magoado por sua traição, e ser o homem
que matou a mãe dele e estuprou a irmã, piora tudo.

Eu sabia disso.

— Eu não consigo dormir desde que descobri que ele a

estuprava — confessei, minha garganta fechando. — E mesmo que


eu não me lembre, sei que uma parcela enorme do que esqueci era
também dessa sensação horrível de culpa, de remorso.

Romeo me olhou pelo retrovisor.

— Eu a amo mais que a mim, Romeo. Não consigo lidar com

isso, acho que nunca vou conseguir lidar com o fato de alguém ter
machucado Lake.

— Você, eu, Rocco, Matteo... todos nós sentimos isso.

— Eu...

— Ela é nossa menina, Prince. Nossa garotinha. Ela nunca


vai crescer aos nossos olhos.

Suas palavras deveriam me alegrar, mas não fizeram isso.


Romeo nunca me perdoaria por tocar nela. Por desejar algo que

deveria ser puro, intocado e perfeito. Algo que eu jamais poderia


manchar com minhas mãos cheias de pecado.

— Ettore vai morrer. Eu prometo — afirmei, mudando de


assunto.
Assim que chegamos ao complexo da nossa casa, eu a levei
para o centro médico. Uma doutora apareceu assim que coloquei
Lake sobre uma mesa. Rocco e Romeo nos seguiram e eu expliquei

o que houve.

— Ela está com uma contusão.

A médica explicou que faria mais exames, mas que não


deveríamos nos preocupar. Rocco e Romeo voltaram para o Village
enquanto eu me sentava ao lado dela. Peguei sua mão e a trouxe

para meus lábios, mas cessei meus movimentos quando vi o anel


de noivado.

Eu tentei esquecer que ela estava prometida a outro homem,


que em breve ela seria dele e não minha. Ela entraria em uma

igreja, teria filhos e um casamento. Ela teria tudo que merecia


enquanto eu assistiria a tudo, destruído.

Sufocado, afastei sua mão e vi seus olhos abertos, focados

em mim.

— Ei, o que está sentindo? — perguntei, engolindo com

força.

— Apenas uma dor na barriga. — Seus olhos procuraram


minha mão, mas eu as escondi sobre minhas pernas, por baixo do
casaco. — E você?

— Eu estou bem. — Acenei e peguei meu celular.

Havia duas chamadas do Yerík. Pareceu que minha desculpa

para não participar do jantar de noivado atraiu meu melhor amigo.


Enviei uma mensagem e esperei.

— Yerík está bem?

Ergui meu rosto e franzi as sobrancelhas.

— Si me disse que houve uma emergência com ele.

Lake segurou meu olhar e eu engoli com força.

— Não posso ver outro homem colocar um anel em seu


dedo. Nunca.

Ela respirou fundo e estendeu a mão, a mesma com a

aliança. Eu a encarei, sem me mexer.

— Você acha que eu quero me casar com Luca? — Sua voz

quebrou e sua mão caiu. — Eu quero você. Sempre foi você e


sempre vai ser.

Ela fungou e eu encarei suas lágrimas.

— Em outras circunstâncias, eu escolheria você sem hesitar.


— Desviei os olhos e ela tocou meu cabelo. — Mas somos irmãos,
Prince.

E se não fôssemos? Os fios de cabelo ainda me atiçavam,

mas eu queria realmente saber?

— Eu não posso ficar e assistir você com ele, Lake — falei

sério e me ergui. — Vou caçar e matar Ettore, preciso disso, mas

depois — olhei em seus olhos azuis e toquei seu rosto perfeito —

vou ficar com Yerík.

— Prince... — Lake segurou meu braço, com os olhos

arregalados.

Eu suspirei, me inclinando.

— Eu amo você, Silk. Mas, por favor, não me peça para


assistir isso — implorei, como um Trevisan nunca deveria fazer. Mas

eu fiz, porque Deus e o diabo sabiam que se ela pedisse, eu ficaria.

Iria morrer aqui, assistindo-a ser de outro homem.

— Me leve com você. Vamos fugir. — Seu lábio tremeu e eu

toquei sua testa bonita, deslizando por sua bochecha. — Prince, por
favor...

— Ele nos encontraria. Poderia demorar anos, mas ele o


faria.

— Não me importo...
— Mas eu, sim. Não vou submeter você a uma vida fugindo.

O meu amor é carnal, mas ainda sou seu irmão, ainda devo

proteger você.

Ela me agarrou, enfiando o rosto na curva do meu pescoço,

soluçando como a garotinha que Romeo a definiu. Como nossa

menina machucada.

Eu a segurei firme, tentando me fundir a ela.

No fim, eu não consegui.

Prince me deixou sozinha em algum momento depois que

adormeci. A médica me deu alta e disse que precisava tomar


medicação. Eu peguei os frascos e andei para casa enquanto

recordava as palavras dele.

Ele ia embora.
E eu não podia culpá-lo, eu jamais aguentaria vê-lo com outra

mulher. Eu sabia o quanto ia ser dolorido para ele estar aqui, ver
Luca e eu. E por mais que isso me destruísse, eu tinha que deixá-lo

livre.

Assim que cheguei à casa, minhas cunhadas me rodearam

com perguntas e cuidados. Mas eu não fiquei por muito tempo. Eu

precisava ver Cass. Por isso, depois de tomar banho, engolir

comprimidos e vestir um vestido solto para não machucar e um


casaco, eu fui para o Village.

— Você realmente está bem? — Rocco questionou,


semicerrando os olhos.

— Me desculpe por ontem, por tudo. Não queria desrespeitar

você. — Toquei em sua mão e me aproximei. Segurei seu rosto e


apoiei minha testa em seu peito. — Me desculpe por deixar o

assassino da sua mãe fugir e por trazer de volta essa dor.

— Oh, garotinha ingênua. — Meu irmão sorriu, segurando

meus ombros. — A sua segurança, dos meus filhos e de Sienna são

as únicas razões pelas quais eu estou furioso. Não posso deixar

Ettore se aproximar da minha família.


Meu coração apertou e eu o abracei com força. Rocco

Trevisan podia ser o demônio, mas ele protegia os seus.

Quando ele me deixou ir, subi para ver Cass. Assim que
cheguei, Giulio me deixou entrar. Cassedy estava no sofá,

abraçando as pernas enquanto chorava.

— Ah meu Deus! — ela gritou, se encolhendo, então ergui

minhas mãos. — Eu não fiz nada... eu não sei o que Lil fez...

— Minha família é a máfia, Cass. — Engoli com força e ela


arregalou os olhos. — Lil pegou algo que eu guardava. Alguém. —

Eu a encarei, me aproximando devagar. — Essa pessoa é horrível,

ela me estuprou quando eu era uma criança, matou minha mãe,


torturou meus irmãos e... me modificou pra sempre. — As palavras

saíram enquanto eu sentia as lágrimas. — Não vou fazer nada

contra você. Mas preciso que Lil me devolva essa pessoa.

— Como... por que...

— Eu não sei também, mas vou deixar você, ele e Chris


saírem daqui ilesos apenas quando ele fizer o que eu e meus

irmãos queremos.

— Eu sinto muito por isso, Lake. — Cass soluçou.

Entreguei o celular em suas mãos.


— Ligue pra ele. Dê a localização e diga que estou

esperando por ele.

Ela discou o número tremendo e colocou no viva-voz. Lil

atendeu no primeiro toque.

— Estou indo. Estava fazendo um trabalho para o pai...

— Lake me pe-pegou. — Cass fungou. — Ela vai me matar


em duas horas.

— O quê?

— Eu preciso que você traga o homem que pegou...

— Baby, eu não...

— Duas horas, Lionel. Isso é tudo. Vou mandar a localização.

— Cass desligou e enviou.

Eu respirei fundo e me sentei diante dela.

— Obrigada, Cass.

— Ele vai vir, Lake. Eu juro. — Ela acenou, tremendo, então

peguei suas mãos. — Ele está estranho nas últimas semanas... seu

pai o forçando a trabalhar... eu tentei perguntar, mas ele nunca


falava...

— Lil vai ficar bem. Vocês dois.


— Eu jamais imaginei que tivesse passado por tanto, Lake.
Eu sinto muito. — Ela soluçou e eu limpei seu rosto.

— Isso me modificou, mas é parte de quem sou hoje.

— Eu quero ir embora. Quero ficar no meu quarto e dormir

uma vida. — Ela riu, passando a mão pelo nariz. — Obrigada por vir
até aqui. Eu estava com medo.

— Eu sei. — Eu a puxei e a abracei, implorando para que Lil

viesse o mais rápido que pudesse.

Porque uma coisa era minha decisão de não a machucar,

outra era dos meus irmãos.

Saí do quarto e fui até o salão. Assim que cheguei, vi Prince

de costas. Me aproximando mais, vi quando uma mão feminina

tocou em seu braço e depois o abraçou.

Quem era ela? E o mais importante, por que ela estava


abraçando-o?
Jill estava com o rosto inchado e tremendo. Ela havia
descoberto que Roman foi morto. Só não sabia que havia sido eu a

pessoa quem tirou a vida dele.

— A mamãe... ela me contou, eu... — A mulher soluçou.

— Olha — eu a guiei para um banco —, você precisa se


acalmar. — Segurei seus ombros e Jill acenou, fungando.

— Ela disse que Roman está morto. Que era culpa do seu

irmão — ela sussurrou baixinho e me encarou, parecendo

totalmente destruída.

— Não é culpa dele, Jill — falei com firmeza e me afastei.


Minha talvez irmã inclinou a cabeça, franzindo o rosto.

— Eu o matei.

O pouco sangue que circulava em seu rosto escorreu,

deixando-a branca. Não sentia remorso por ter feito isso, Roman me
traiu. Me levou para a morte e eu tinha certeza de que ele me

mataria se tivesse tido a chance.

— O... o quê?

— Tinham levado minha irmã, eu fui buscá-la e Roman fingiu

me ajudar. Ele armou uma emboscada. Se não fosse por meus


irmãos... eu estaria morto no lugar dele.

— Não. — Jill balançou a cabeça e se levantou, porém


perdeu o equilíbrio. Eu a segurei, mas logo fui afastado. — Não me

toque!

Ergui minhas mãos, me sentindo torturado por seu olhar.

— Não me toque! Você o matou? Meu irmão... meu

irmãozinho... — Ela piscou e lágrimas grossas escorreram por seu

rosto. — Como...

— Eu não queria que estivesse tão magoada...

— Você o matou! Prince, você matou meu irmão.


Eu sabia disso. E não me arrependia, mas decidi não jogar
isso em seu rosto.

— Eu preciso ir...

Jill saiu do Village e eu me apoiei no balcão, engolindo com

força. Uma mão pousou em minha coluna e eu fiquei ereto, me

afastando.

— Eu ouvi. — Lake acenou para a saída por onde Jill tinha

passado.

— Ela não entende, e por mim, tudo bem.

Minha irmã respirou fundo e eu olhei para sua barriga,


preocupado. Assim que ela dormiu ontem, eu corri de volta para cá,

procurando por respostas.

Eu precisava matar Ettore. Dessa vez, rápido e sem jogos.

— Estou melhor. — Sua voz me fez erguer a atenção para

seu rosto.

Seus olhos azuis estavam límpidos e seus lábios molhados

vermelhos e convidativos. Jesus, ela era perfeita. Eu odiava encarar

Lake sabendo que nunca mais a tocaria.

— Alguma novidade com a sua amiga? — Mudei de assunto,

parando de encará-la.
— Cass está assustada, eu já a tranquilizei. Só queremos

Ettore e eu a deixo ir embora com Lil...

— Ele? — Semicerrei os olhos. Ela tinha perdido a cabeça?

— Prince...

— Ele pegou algo meu, me enganou... eu vou matá-lo na

primeira oportunidade — grunhi, rígido.

— Não, você não vai. — Lake engoliu em seco. — Por mim,


por favor. — Sua voz suave alcançou Villain, e o idiota se curvou à

realeza Trevisan.

— O que ele quer com Ettore? Você já pensou nisso? —

perguntei, me afastando.

— Não faço ideia. — Lake agarrou os braços, negando. —


Talvez tenha sido apenas estupidez...

— Ninguém faz nada desse tipo por uma estupidez, Lake.

Nossos irmãos surgiram e eu os encarei. Rocco havia


reunido seus homens e toda a Outfit estava caçando Ettore, sem

saber que ele era ele.

— Se souberem que ele está vivo... — Lake começou, mas


Matteo colocou a mão sobre sua boca, alerta.
— Você quer nossa cabeça? — ele perguntou,

completamente rígido.

— Vamos subir.

Rocco guiou todos nós para o elevador. Assim que chegamos


à sua sala, me aproximei da janela para encarar a rua.

— Se descobrirem que ele está vivo, vão tentar me tirar do


poder. — Rocco acendeu um cigarro e apoiou seus quadris na

mesa. — Os aliados de Ettore, aqueles que me respeitam, se


puderem escolher vão escolhê-lo, vão se rebelar.

— Não queremos uma fodida guerra, então precisamos achar


aquele demônio — Romeo grunhiu, tirando suas armas e se

sentando.

— Eles podem tirar você do poder? — Lake perguntou, com a


voz baixa.

Rocco a encarou, tragou o cigarro e soltou a fumaça


lentamente, sem pressa nenhuma.

— Sim, porque Ettore ainda está vivo, então ele ainda é o

Don — Matteo resmungou.

Lake encarou Rocco rapidamente, assustada.


— A única maneira de me tirarem daqui será com a minha
morte.

O silêncio gélido fez meu corpo estremecer.

— Ettore amaria fazer isso. — Rocco encarou nós todos. —


Nós vamos achá-lo, e se não o fizermos e eu morrer, não se

preocupem. As vidas de vocês e das suas famílias estarão a salvo.


Me certificarei disso.

— Pare de falar estupidez! — Romeo se ergueu,


semicerrando os olhos e com os punhos fechados, tremendo. — Se

você cair, cairemos juntos.

Lake acenou concordando e todos a seguimos.

— Nada disso vai acontecer — falei, voltando a olhar para a

janela. — Eu vou enfiar uma bala na cara daquele merda e vamos


ficar bem.

Um carro estacionou diante da boate e eu semicerrei os


olhos. Um saco foi jogado para fora.

— É ele — gritei para os meus irmãos e corri para o elevador.

Rocco correu para a escada, e quando cheguei lá fora ele

estava carregando o saco para dentro.


— Saiam! Todos! — ele rugiu, insano, então todos
começaram a se mexer.

Me curvei sobre o saco e meu peito sacudiu, ansioso.


Rasguei o plástico e fiquei rígido com o que vi.

— Pedaço de lixo! — Matteo gritou.

Eu segurei o pescoço de Lionel. Ele ainda estava vivo. O

garoto abriu os olhos e eu apertei sua garganta.

— Onde ele está? — gritei em seu rosto e Lionel se debateu.

— Eu tentei trazê-lo de volta, mas... — Ele agarrou minha


mão.

— Deixe-o falar! — gritou Rocco, então me afastei.

— Me bateram e eu desmaiei. Não sei onde está agora...

Esfreguei minhas mãos em meu rosto e subi para meu


cabelo, puxando os fios negros. Inferno!

— Por que você o pegou, seu imbecil? — Lake se aproximou


e chutou suas costelas. — Eu deveria matar você...

— Eu só queria saber quem ele era... eu vi que o escondia lá

e fiquei curioso...
— Não minta! — ela gritou e enfiou o salto fino na garganta

dele, pressionando. — Não minta ou eu vou furar sua garganta.

— Uma pessoa me contratou para isso...

— Quem? — Ela empurrou mais e um filete de sangue

deslizou.

— Eu não sei quem ele é. Fizemos o negócio por telefone. Eu


juro por Cass — ele gritou, tremendo de medo. — Ele só me pediu

para pegá-lo e levá-lo a uma propriedade. Eu fiz isso, mas quando

estava perto Cass ligou.

— Onde é esse lugar? — Romeo questionou, pegando o

celular.

O amigo da Lake disse, então meu irmão saiu com o celular

no ouvido.

— Enfie uma bala na cara dele. — Quando Rocco se virou

para ir embora, eu vi o olhar de Lake.

— Eu gostaria de fazer mais perguntas — pedi ao meu irmão


e ele se virou.

Rocco encarou o menino no chão e depois acenou.

Lake tirou o pé e respirou fundo. Matteo seguiu Rocco e eu

peguei Lionel, empurrando-o até nossas salas de tortura.


— Onde ela está? — Sua voz quebrou. Lake abriu uma das

portas. — Lake, ela não tem nada a ver com isso. Deixe-a ir...

— Eu quero que você cale a porra da boca e só a abra


quando eu perguntar algo.

Lionel fechou os olhos, mas ficou em silêncio. Puxei uma


cadeira e me sentei diante dele.

— Você trabalha com o quê?

— Roubos. Não pequenos, coisas grandes.

— Quando essa pessoa entrou em contato com você?

— Há alguns meses. Ela seguiu a Lake e descobriu o local.

— Você sabia das câmeras, se é tão inteligente — sondei e


ele acenou.

— O cara queria que descobrissem.

Romeo bateu na porta avisando que precisávamos ir. Eu

deixei Lionel e saí com Lake. Nos dividimos nos carros e dirigimos

juntos. Lake estava com Matteo, e eu, sozinho.

— É nessa — Romeo grunhiu pelos fones do carro, então

estacionei.
Saí do veículo e apertei meu sobretudo. Retirei minha arma e

peguei uma faca. O local era afastado e havia um carro, o mesmo


que jogou Lionel para fora diante da boate. Árvores altas se perdiam

pelos lados e atrás da casa pequena.

— Olhos em toda parte — Rocco gritou.

Eu procurei por Lake e a encontrei olhando para todos os

lados enquanto segurava duas pistolas pequenas.

— Vamos entrar.

Rocco chutou a porta e eu mirei a arma para dentro. Nos

espalhamos, e assim que cheguei a um quarto vi a calça que Ettore

usava. Sangue sujava o chão. Havia alguns algodões e embalagens

de curativos.

— Ele saiu por aqui! — Matteo gritou e eu segui sua voz.

Quando saímos da casa por trás, a floresta apareceu. Lake

pisou do lado de fora e eu me aproximei. Ela respirou fundo, tensa,

então toquei seu ombro.

— Fique aqui.

— Não! — Ela me olhou, semicerrando os olhos. — Eu vou


com vocês.

— É muito aberto, ele pode estar sobre as árvores...


— Não, ele mal consegue andar com os dedos amputados.

— Ela devolveu, feroz.

— Prince está certo, você fica — Rocco grunhiu andando.

Lake engoliu com força e evitou nos encarar.

Nós saímos um atrás do outro, cada um mirando em uma

direção. Barulho dos bichos nos faziam nos mexermos rapidamente

e voltar ao ponto zero. Porém, um frio na minha espinha me alertou

antes que acontecesse.

Eu me virei e ouvi minha última respiração antes que um grito

ecoasse.

Silk.

Minhas pernas se moveram rápido e meus braços agarravam


a arma com força enquanto o vento chicoteava meu rosto. O medo

esvaziou minha mente e meu coração zumbia como um louco,

querendo chegar até ela.

As árvores passavam e a cada segundo eu me questionava

se realmente havia andado tanto. Não parecia antes, mas agora a

distância entre minha alma e eu me punia.

A distância entre Silk e eu fazia Villain se contorcer e

comandar.
— Vamos, ratinha.

Sua voz entorpeceu meus movimentos assim que ele surgiu.


Senti a arma na minha cabeça antes de ouvir sua voz imunda.

Ettore se arrastou diante de mim. Ele mal conseguia se

manter de pé. Eu arranquei a maior parte dos seus dedos do pé.


Para se manter levantado, ele estava usando uma bengala. Na luz

do dia eu podia ver melhor o estrago que Prince e eu havíamos


feito.

Ele não tinha mais dentes, seu rosto era um amontoado de


cicatrizes horrorosas e não havia mais cabelo. Ele inclinou a cabeça

e alguém atrás de mim, o mesmo que segurava a arma, puxou meu


cabelo de repente. Eu gritei assim que um soco foi desferido em

minhas costelas e eu caí de joelhos.

— É assim que eu quero você, sua rata imunda! — Ettore riu

e a cena era patética.

Sem dentes, completamente desfigurado.

— Eu já te vi assim tantas vezes. Você é patético, Ettore. —


Sorri, mordendo meu lábio. — Eu tenho vergonha de ter chamado

você de pai algum dia.

— Sua mãe não tinha nenhuma vergonha de mim. Mas de


você... — Ele estalou a língua, algo que eu me arrependia de não

ter arrancado quando tive a oportunidade. — O fruto do estupro, a

rata imunda que cresceu dentro dela, a putinha nojenta...

— Tire esse homem das minhas costas e repita, seu verme...

— Não, agora não...

O cara me ergueu e eu tentei me soltar, mas a arma foi

colocada em meu rosto de novo. Ettore guiou a gente para o carro e

eu pedi para que meus irmãos chegassem antes, porém eles não

chegaram.

— Eu quero brincar com você, ratinha. Relembrar o passado.

— Ettore sorriu e eu comecei a gargalhar.


— Com o pau que eu arranquei? — Arqueei as sobrancelhas
e ele ficou rígido. — Compra um vibrador, filho da puta.

Ele ergueu a mão com apenas dois dedos e bateu em meu

rosto. Eu cuspi sangue no chão do carro e sorri de novo.

— Faça seu melhor, imbecil!

O outro homem, que eu não conhecia mas sabia que era

alguém da Outfit, colocou um saco em minha cabeça. O carro

acelerou e eu reuni forças, porque eu sabia que estava indo para o

inferno.

Eu o vi colocá-la no carro, enquanto corria. Porém, antes que

eu chegasse, eles haviam sumido. Corri para meu carro, mas os

pneus estavam furados. Caí de joelhos no chão e soquei a areia.

Mais uma vez, inútil. Mais uma vez, não consegui salvá-la.

— Eu decorei a placa. Rastreiem o carro — Romeo gritou.


Eu me ergui assim que senti uma mão em meu ombro.

Matteo apertou e eu engoli com força.

— Vamos pegá-la.

— Eu quero um carro! — Rocco gritou no telefone. — Não


precisam rastrear. O filho da puta deixou o endereço na parede.

Giulio apareceu depois de dez minutos. Nós entramos em


seu carro enquanto eu tentava me controlar, tentava empurrar o ódio

e toda a raiva de mim mesmo por não conseguir deter aquele


demônio.

Eu a deixei lá. Sozinha. Eu disse para ela ficar.

— Prince, não é hora de procurar culpados. Precisamos focar


nela. Só nela.

Eu sabia disso. Mas era horrível a sensação de inutilidade

que eu sentia.

— Eles estão em uma casa não muito longe — Rocco

grunhiu, olhando para o celular, onde o endereço estava. — Cabeça


no lugar, não vamos agir com a emoção.

— Todos nós o odiamos, mas esse não é o foco. Precisamos

matá-lo. Nada de jogos ou vingança. Uma bala e só.


Matteo baixou a planta do lugar e nós começamos a pensar

no plano. Um que fosse efetivo, sem emoções.

Eu acatei isso e deixei Villain tomar o lugar. Ele sempre foi


melhor nisso que eu.

Assim que o carro parou, me puxaram de dentro. Eu fui


arrastada para algum lugar e depois me jogaram no chão. Eu abri

meus olhos, mas o saco ainda estava em minha cabeça.

— Reúna os homens. Eu vou arrancar a cabeça do Rocco


hoje.

Não! Quase gritei, pavor preenchendo minha alma.

— Você nunca vai conseguir — falei baixo, me fingindo de


forte.

— Não? Eu deixei o endereço desse local na parede daquela

casa. Eles vão vir resgatar a ratinha que eles tanto defendem. —
Sua voz se aproximou e o saco saiu do meu rosto. Ettore sorriu e
inclinou a cabeça.
Ele estava certo. Eles viriam, mas meus irmãos não eram
burros. Nunca foram.

— Mas antes dessa festança, vamos brincar, ratinha. —


Ettore se virou para o homem. — Venha deixá-la nua, Ryder.

Eu apertei minha mandíbula e o seu comparsa imundo se

aproximou. Ele me ergueu e eu fiquei rígida, puxando meus pulsos


presos na base da minha coluna. O homem cortou o tecido do meu
vestido, logo meu sutiã foi rasgado e meus seios ficaram expostos.

Eu decorei o rosto do Ryder quando se aproximou da minha

meia-calça. Não gritei, empurrei ou tentei fugir. Não, eu não faria


essa merda. Não daria esse gostinho a Ettore. Eu não era uma rata,
nunca fui e nunca seria.

Eu era uma Trevisan, e mesmo caindo seria forte. Foda-se.

Assim que fiquei nua, Ettore se aproximou, lambendo o que

sobrou do seu lábio. Meu estômago se revirou de nojo, mas engoli


minha bile. Quando o cotoco do seu dedo passou pelo meu mamilo,
eu o encarei com o rosto inexpressivo.

— Quando menina você já era perfeita, gostosinha demais,

mas agora, olhe esses peitos — ele grunhiu sorrindo enquanto eu


continuava parada. — Lembra da noite em que me viu? Prince fez
você ir lá. Aquele pedaço de alma podre.

— Eu gostei de ver seu rabo sendo fodido por uma arma.

Ele sorriu e pegou uma arma, segurando com os punhos e


um dedo anelar restante no gatilho. O cano da arma tinha uma

camisinha sobre ele.

— Eu vou gostar de foder sua boceta com ela.

Ryder me empurrou de repente e eu caí sobre uma cama. Eu

nem havia percebido que estávamos em um quarto. Ele puxou meus

pulsos e os prendeu em cada lado da cabeceira. Ele fez o mesmo


com minhas pernas enquanto eu encarava a janela fechada.

Ettore subiu entre minhas pernas e me tocou com seus dedos


restantes e o pedaço que havia ficado dos amputados. Eles

deslizaram pelos meus lábios grandes, pressionaram meu clitóris e

se enfiaram em meu canal. Eu continuei encarando a janela.

— Você gosta disso — ele grunhiu e eu o vi, pela lateral,

lamber os dedos. — Olha aqui, está molhada.

O inútil nem mesmo conhecia a fisiologia do corpo de uma

mulher. Era vergonhoso.


— O primeiro que rompeu seu hímen e o último antes da sua

morte. — Ele enfiou a arma de uma vez e eu quase deixei um


gemido de dor ecoar.

Meus olhos quiseram se umedecer, mas os proibi. Foquei na


garotinha medrosa de anos atrás, a pobre menina que rezava para

que alguém a salvasse, que surgisse qualquer pessoa e a tirasse da

sua miséria, mas ninguém surgia.

Ninguém jamais surgia.

Aquela mesma garota que não sabia por que estava sendo
castigada, por que esse homem a odiava tanto, mas hoje ela era

uma mulher e entendia que não tinha culpa.

Não era culpa dela.

Era dele. Sempre foi dele.

Ele me estuprou por minutos longos com a arma. Ele beijou e

chupou meus mamilos, me causando nojo, mas continuei parada,

focada em uma coisa – na menina que precisava ser salva, mas se

salvou sozinha.

Na mãe dela que morreu por ela.

Nos irmãos que a vingaram.


No homem que manteve o diabo preso por anos, porque

sentia que era o seu dever. O mesmo homem que ela amava com

tanta força que aguentou o inferno e faria novamente.

— Você é tão deliciosa, ratinha. — Ettore gemeu entre

minhas pernas, ainda me estuprando com a arma. — Goze pra mim.

Nem depois de morta.

— Patrão. — Ryder gemeu ao fundo e eu fiquei rígida.

— Venha, Ryder, foda essa boceta.

Eu fechei meus olhos e tentei pegar e colar os pedaços que


flutuavam de mim. Eu não consegui. Quando o porco imundo

deslizou para dentro de mim, sem delicadeza nenhuma, eu apertei

meus olhos, gritando por dentro.

Ele grunhiu, gemendo ao me estuprar, lambendo meus seios

e barriga. Eu chorei por dentro, me sentindo suja. Quando ele

gozou, graças a Deus na camisinha, eu virei e vomitei na cama.

— Está com nojo, puta? — Ele riu e se inclinou, mordendo

meu seio.

— Saia, Ryder. Nossos convidados chegaram.

Meus irmãos.
— Vista minha roupa! — gritei, apavorada com a ideia de que

eles me vissem assim.

De que Prince me visse assim.

— E acabar com a diversão? — Ettore riu, negando.

Os sons de carros derrapando encheram meus ouvidos.

Ettore se sentou em uma cadeira ao lado da cama e Ryder saiu. O


que eles estavam planejando? Minha coluna esfriou e eu olhei para

a porta.

Quando a abriram, meu estômago caiu. Prince olhou para

mim e seus olhos escureceram dez tons. Não era mais ele, era

Villain.

— Eu vou te dar dois minutos para correr. — Sua voz estava

gélida.

— Olhem para ela — Ettore pediu, rindo. — Em poucos

minutos eu fiz o mesmo que fiz por anos quando ela era uma

menininha.

— Eu vou arrancar sua cabeça... — Rocco grunhiu, entrando

no quarto.

Prince entrou também e eu balancei a cabeça.


— Saiam daqui! Ele chamou outras pessoas — falei pela

primeira vez e Rocco me olhou. Deus, eu jamais havia visto o diabo

com pena, mas ali estava meu irmão, destruído por mim.

— Elas podem vir, podem me matar, podem fazer tudo... eu

nunca vou sair daqui sem você — ele gritou, olhos cheios de

lágrimas e, pela primeira vez, me deixei cair.

Lágrimas encheram meus olhos e eu respirei fundo. Procurei

por Matteo e Romeo, mas ambos não estavam aqui. Ettore riu e

encarou nós três.

— Não sei como eu consegui dar a vida a pessoas tão

patéticas.

Barulho de tiros ecoaram e eu assisti Ettore cair para a frente

com a mão no ombro ensanguentado. No mesmo segundo, Rocco o

alcançou. Escutei mais carros parando e o medo congelou meu


corpo. Matariam meus irmãos.

— Me solte! — gritei para Prince, que estava indo em direção


a Ettore.

Ele se aproximou e cortou as cordas com a faca que usava.

Assim que fiquei livre, abri o armário e tirei uma blusa enorme de
dentro. Não sabia de quem era a casa, mas isso teria que servir.

Assim que cobri meu corpo, pulei a cama e parei diante de Ettore.

— Me dê a arma — pedi a Rocco, que estava apontando

para ele. — Me dê, eu preciso disso... — Se foi meu pedido ou tom

de voz, não sei, mas meu irmão deslizou a arma em minha mão.

Segurei o rosto de Ettore e deslizei a arma em sua boca. Me

curvei, sorrindo e inclinando a cabeça.

— Diga ao diabo que eu vou daqui a alguns anos.

Eu atirei próxima dele, tão perto que seu sangue respingou


em mim, tão perto que senti pedaços do seu cérebro sobre minha

roupa.

Me virei para os meus irmãos e sorri, deslizando os dedos

pelas minhas bochechas sujas.

— Vamos pra casa.


Ela estava ensanguentada dos pés à cabeça, com pedaços
de Ettore pelo rosto, mas ainda sorria. Eu não sabia como ela podia

ser tão forte, mas ali estava ela, de pé. Enquanto seus irmãos
estavam em pedaços por ela.

— Armas nas mãos. Vamos sair — Rocco gritou.

Ereta, Lake fez o que ele mandou e passou por mim, então

saímos da casa. Assim que alcançamos o lado exterior,


encontramos Romeo segurando um homem, Ryder, um dos capos

de confiança do Rocco. Quando o nosso irmão nos viu, ele o jogou

na nossa frente.
— Você, seu pedaço de lixo! — Rocco agarrou o homem pela

gola da camisa. — Seu traidor de merda!

— Vocês roubaram o poder. Ettore está vivo...

— Estava. Não mais. Porém, não se preocupe, vocês logo


estarão juntos.

Ele socou o homem, que caiu.

— Você gostou de me estuprar, seu porco? — Lake chutou a

cara dele e o homem caiu para trás. Ele já estava machucado,

talvez, obra dos meus irmãos.

— Ele? — Matteo perguntou, em choque.

Eu não esperei por nada. Corri até o homem e enfiei minha

faca em sua barriga, puxando o cabo para baixo enquanto ouvia

seus gritos. Eu sorri quando vi seu estômago para fora e o encarei.

— Eu quero que você se lembre de mim no inferno e o motivo


pelo qual estou fazendo isso. — Me inclinei perto do seu ouvido. —

Ela me pertence.

O homem caiu para o lado e eu ouvi gritos. Me virei e vi

Rocco olhando para alguns dos homens que ele liderava.

— Quem chamou vocês aqui? — ele berrou mais uma vez.


— Ettore está vivo — um deles, que eu não consegui ver,
gritou.

— Está? Onde? — Rocco abriu os braços, olhando ao redor.

— Esse homem, o Ryder, sequestrou minha irmã e ele teve o que

mereceu neste minuto. Mais alguém quer isso?

Os homens ficaram em silêncio.

— Vão embora. Ou eu vou fazer vocês conhecerem o diabo

com esse rato imundo!

Eles se dispersaram rapidamente. Meus irmãos se

aproximaram e eu segurei a mão da Lake, então a enfiei no carro.

Por todo o trajeto, ela não olhou ou falou com nenhum de nós.

Silk estava perdida dentro de si mesma.

Havia algo nela que estava me sufocando, ou talvez, fosse

em mim. Eu queria vingá-la, queria matar Ettore com minhas

próprias mãos. Porém, o que eu e Villain ainda não parecíamos

entender era que Lake Trevisan não precisava ser salva. Não mais,

pelo menos. A caçula dos Trevisan podia vingar a si mesma.


Havíamos voltado do centro médico há pouco tempo e ela

subiu para tomar banho. Pediram exames e ela tomou as


precauções necessárias quando acontece um estupro.

Odiava pensar nisso. Que tocaram nela mais uma vez.

— Eu ia perguntar se você está bem, mas é estúpido —


comecei a falar assim que entrei em seu quarto.

Ela estava com uma toalha em volta do corpo e outra na

cabeça. De pé, com os olhos azuis focados na janela, olhando para


ela, perdida.

— Estou bem — murmurou, respirou fundo e me encarou.

Quando ela sorriu, eu quis me ajoelhar e pedir perdão. Por tê-


la deixado para trás, por tê-la feito ficar e ser pega. Por Ettore tê-la

tocado.

Quando Lake andou para o closet, eu me sentei na cama,

fraco. Completamente destruído.

— Prince, não se preocupe... estou bem.

Lake vestiu uma camisola e entrou nas cobertas. Fechei


meus olhos e puxei meu cabelo com força, tremendo. Peguei a
primeira coisa que estava diante de mim e joguei. O objeto, que vi

ser meu celular, colidiu com a tevê e a quebrou.

— Prince... — Eu a senti se mexer e me virei.

— Você não está bem, não tem por que estar — gritei,
furioso, e senti lágrimas encherem meus olhos. — De novo, tocaram
em seu corpo sem sua permissão! Isso não é certo! Isso é fodido e

cruel e... porra, Silk, você é a última pessoa nesse mundo fodido
que merecia algo assim, então não diz que está bem!

Ela nem mesmo me encarou. Seu rosto estava virado para a

janela.

— Silk, me deixa segurar você...

— Não precisa, eu estou...

— Como não? — rugi, completamente despedaçado.

Lake me ignorou. Isso me magoou, mas eu sabia que era


sobre ela, não sobre mim. Ela precisava de tempo e eu precisava

dar isso a ela. Eu fui ao banheiro, peguei sua escova de cabelo e


voltei para o quarto.

Ela não se mexeu um centímetro. Eu me aproximei e me

ajoelhei diante dela. Seus olhos bonitos se fixaram em mim e eu


passei a escova nos fios negros e longos. Ela piscou, me olhando a
cada segundo. Assim que finalizei onde eu conseguia pentear,
deixei a escova de lado e encostei minha testa na dela.

— Que toda dor que você sente seja passada para mim.
Nunca fui de pedir muita coisa a Deus, mas eu preciso que ele faça

isso por mim. Mesmo que eu não mereça. Porque, Silk, você
merece.

— Deus não gosta de mim.

Eu achava que estava despedaçado, mas até ouvir suas


palavras, nada nunca doeu tanto.

— Ele gosta, quem não gostaria da minha garota? —

perguntei, com a voz entorpecida. — Eu errei...

— Você? — Lake tocou meu rosto e deslizou o dedo pela

minha barba por fazer. — Você é bondoso, honrado e fiel.

— E você também.

— Não, eu não sou. Se eu fosse, Deus teria me poupado


hoje e há anos atrás. Ele teria poupado aquela garotinha, Prince. —
Sua voz amena me fez segurar sua mão e a puxar.

— Então, grite com ele. Diga a ele o que está sentindo, é seu

direito.

— Prince...
— Você precisa, Silk.

Lake suspirou, mas se ergueu e me seguiu. Assim que

descemos a escada, eu vi Sienna, Blue, Kiara e Lunna juntas.


Nenhuma se mexeu quando passamos por elas.

Assim que chegamos ao cais, Lake olhou o lago ainda

gelado. Eu a segurei e pulei dentro dele. Nós fomos engolidos pela


água e submergimos logo depois. Eu a segurei junto a mim e tirei

seu cabelo do rosto.

— Vamos lá, amor. Grite! — pedi, mas ela negou, ar gelado

saindo pelos lábios. — Grite, Lake! Grite!

Ela tapou o rosto e, quando percebi, seus ombros tremiam e

ela soluçava forte, com tanta dor, que tudo que eu queria no mundo

era fazer isso amenizar.

— Grite, Silk!

Então, ela fez. Ela gritou alto. Apenas gritos agudos seguidos
de lágrimas e soluços. Um sofrimento que chegava a ser palpável.

— Por que você deixou que ele me destruísse? — ela gritou


para o céu. — Eu não merecia isso! Nunca mereci nada disso! Eu

era uma garotinha, uma garotinha indefesa... por que você deixou

me magoarem tanto? — Seus ombros sacudiram e ela socou a


água. — Por que deixou que a escuridão manchasse minha alma?

Como você pôde permitir que eu me tornasse isso? Eu jamais vou


te perdoar. Nunca. Eu não merecia isso. Nenhuma garotinha

merece.

Ela soluçou e as lágrimas se juntaram à água. Eu a abracei

com força e ela se segurou em mim, tremendo. Eu saí do lago com

ela nos braços, e assim que me virei, as esposas dos meus irmãos

estavam ali com Kiara. Elas se aproximaram e envolveram toalhas


em nós dois.

Sienna não conseguiu se segurar e começou a chorar ao


abraçar Lake, ainda agarrada a mim. Logo, Kiara, Lunna e Blue

fizeram o mesmo. Lake chorou ao vê-las, e como pôde, tocou em

cada uma.

— Eu sinto muito por isso ter acontecido de novo. Sinto

muito, muito, muito — Lunna gaguejou e tocou o cabelo dela. — Eu

deveria conseguir te proteger, você é minha irmãzinha...

Lake não conseguiu responder de tanto chorar.

— Eu vou aquecê-la. Depois vocês sobem para vê-la —


murmurei de maneira firme, então todas se afastaram.
Voltei para a mansão, enchi a banheira com ela ainda

agarrada a mim e entrei. A água quente nos aqueceu rapidamente.

Eu limpei seu cabelo e beijei a ponta do seu nariz.

— Obrigada por isso — ela resmungou, se aconchegando em

meu peito.

— Não me agradeça. Por nada. — Passei a mão em seu

cabelo.

Lake respirou fundo quando fiz carinho em suas costas.


Ainda custava a acreditar que ela havia passado pela mesma coisa,

mais uma vez. Odiava saber que ela estava sentindo toda essa dor

e eu não podia melhorar.

Beijei seu ombro, bochechas e testa tentando de alguma

maneira curá-la.

— Me beije — ela pediu, erguendo o rosto, mas não consegui

me mexer.

— Não acho uma boa ideia. — Toquei sua bochecha e

suspirei. — Você precisa de um tempo...

— Eu preciso de você. Das suas mãos, lábios e cheiro. Deus,

eu preciso tanto do seu cheiro — ela suplicou, nervosa, então me

inclinei. — Por favor, me faça esquecer...


Eu a tirei da banheira e fui até o quarto. Fechei a porta e me

deitei na cama sobre ela. Nossos corpos molhados deslizando um


sobre o outro, seus gemidos baixos e meu desejo misturados com a

necessidade de fazê-la esquecer.

— Prince... — Ela suspirou e eu desci beijando seus mamilos

rosados, sua barriga lisa e cheguei à sua boceta. Beijei ali,

molhando-a, pedindo por um orgasmo e ela me deu em poucos

segundos.

— Sou eu aqui, Silk. Sou eu entrando em você — falei

lentamente enquanto deslizava para dentro da sua boceta apertada.


— Quem está aqui, amor?

— Meu Prince.

Lake abriu os olhos e rebolou, arqueando a coluna, me

oferecendo um banquete em que eu me deliciaria. Capturei um

mamilo e chupei com força. Lake tapou a boca mordendo a mão e


eu segurei sua nuca, puxando-a. Ela deixou sua boca livre e eu

juntei nossos lábios.

Nossos lábios sedentos chupando e procurando o controle.


Lake ganhou quando gozou e choramingou debaixo de mim. Nos
virei e ela rebolou, jogando o cabelo para o lado, enquanto se

apoiava em meu peito.

— Você é tudo que eu sinto. — Ela suspirou.

Eu apertei sua bunda, puxando-a para baixo, gozando dentro

dela desprotegido e gemendo em sua boca.

— Que bom, Silk, porque você é tudo que eu sempre senti.

Ela caiu em meu peito e, em poucos segundos, adormeceu.


Eu continuei acordado, ouvindo sua respiração e agradecendo por

ela. Porque, por um segundo, quando cheguei correndo naquela

casa e não a encontrei... eu podia jurar que a tinha perdido para


sempre.

Assim que desci a escada depois de trocar de roupa no meu

quarto, eu encontrei meus irmãos na sala. As esposas deles

também estavam presentes. Kiara e Giulio, pelo que parecia, tinham

ido embora. Ambos e o filho estavam aqui por causa da fuga de


Ettore.
— Como ela está? — Rocco perguntou assim que entrei e

me sentei.

— Melhor, eu acho. — Passei a mão pelo cabelo e respirei

fundo. — Ainda não acredito que aquele outro também tocou nela.

— Também não... — Matteo se ergueu e eu acenei.

Assim que entrei no quarto e vi a arma com a camisinha,


soube o que Ettore havia feito, mas nunca imaginei que ele seria

capaz de deixar um soldado inútil tocar em Lake.

— Queria ter mantido o desgraçado vivo.

Fui tomado por ódio. Se eu tivesse raciocinado também teria,

mas eu não me arrependia.

— Alguém desconfiou de algo? — Romeo perguntou e eu o

encarei. Ele estava fora da casa quando entramos, foi ele quem

atirou em Ettore primeiro pela janela.

— Nada. Eles estão quietos, como sempre.

Rocco respirou fundo.

— O que importa é que ela está aqui, conosco, e que aquele

filho da puta está no inferno.

Sim, era isso que importava.


— Você matou Lionel? — Romeo perguntou para mim.

— Não, Lake não queria. E agora, acho melhor a gente fazer

o que ela quer.

Sienna e as outras concordaram rapidamente. Rocco se

ergueu e estalou o pescoço.

— Eu vou ver meus filhos.

Ele saiu da sala com Sienna e logo todos se dispersaram,


restando apenas eu e Matteo com sua Blue.

— Você está bem? — a ruiva de olhos azuis questionou e eu

dei de ombros. — Não, você não está.

— Eu vou ficar quando ela estiver bem.

Blue apertou os lábios em um quase sorriso,

compreendendo.

— Com tudo isso, morar em Oak Park está fora dos planos?
— Matteo perguntou.

— Eu só vou se ela for comigo.

Ele acenou e olhou sobre o ombro.

— Talvez, com tudo isso, o casamento dela também devesse

ser adiado. — Meu irmão apertou meu ombro. — Eu preciso ir para


a casa, mas cuide dela.

— Farei isso.

Assim que ambos saíram, Tebow apareceu e se deitou sobre


meus pés. Acariciei seu pelo e o encarei. Ele nunca estava por

perto, sempre alerta com os filhos do Rocco. Ele os protegia com


afinco.

— Ela não está bem, Tebow. E eu não sei o que fazer pra

ajudar.

O cachorro não pôde me dar dicas, por isso o deixei dormir e


subi a escada. Assim que entrei em seu quarto, ela estava acordada

e calçando as botas.

— Ei, ei, para onde você vai? — perguntei, confuso.

Eu pensei que ela passaria o resto do dia na cama.

— Preciso mandar Cass, Christian e Lionel embora. — Ela

pegou sua jaqueta, depois de vesti-la, puxou os fios negros de


dentro.

— Você pode fazer isso depois, Lake...

Ela se aproximou, tocou meu rosto e beijou minha boca

lentamente.
— Vamos comigo. Será rápido, prometo.

Eu abri meus olhos e acenei. Assim que saímos, Rocco


enviou uma mensagem questionando o que diabos estávamos

fazendo. Eu expliquei o que Lake queria fazer e ele não respondeu


mais.

— Você não sai de perto de mim — falei rápido para Lake,

puxando seus quadris em minha direção assim que entramos no


elevador.

— Jamais.

Nós pegamos Lionel e subimos para o quarto onde Cass

estava. Assim que entramos, a garota se ergueu. Eu percebi que


Lake tinha pressa por ela. A garota parecia completamente
assustada.

— Saiam da cidade e nunca mais coloquem os pés aqui —


Lake rosnou.

Lionel acenou, puxando a garota.

Assim que eles saíram, Lake piscou com lágrimas nos olhos.

— Cass não merecia isso.

— Você já fez demais. — Toquei sua bochecha e beijei seu


nariz. — Agora, vamos embora.
— Mais uma parada, por favor — Lake pediu.

Eu respirei fundo, mas acenei.


Eu era boa em fingir, mas nunca boa o suficiente quando
Prince estava comigo. Ele me via, sob toda a máscara de força, ele

conseguia me enxergar.

Olhei de lado e vi sua concentração na estrada. Seu braço

apoiado na porta e mão no volante. Seu cabelo escuro estava


alinhado para o lado e sua barba por fazer estava maior. Eu

conseguia ver o quanto estava cansado.

— Você tem certeza de que quer ir até lá?

Sim, eu tinha.

— Não se preocupe.
Assim que chegamos à nossa antiga casa, Prince estacionou

e ficamos dentro do carro. Ninguém se mexeu. Ele não se lembrava


dessa casa, se o fizesse, era pouca coisa.

— Como ela era?

Ele não precisou me dizer quem. Era nossa mãe.

— Ela era incrível. Nós brincávamos juntos ali. — Apontei


para o jardim onde ela me levava sempre. Atrás dele, havia um lago,

não o Michigan, o nosso. Lá havia um cais quase igual ao da

mansão.

— Ela amava você?

E aí, Lake? Ela te amava?

Ettore disse que ela tinha nojo e se envergonhava de mim.

Que eu era fruto do seu sofrimento, mas será? Violetta nunca me

diminuiu ou fez diferença entre mim e meus irmãos.

— Sim, ela amava. — Olhei para Prince e pisquei

rapidamente para não chorar. — Eu era a sua princesinha. Sua

garotinha. Ela amava pentear meu cabelo, fazer tranças e brincar de

bonecas... Deus, eu sinto tanta falta dela.

Prince tocou minha coxa e apertou suavemente. Eu o olhei e

sorri engasgada, sem conseguir falar. Ele deslizou os dedos em


meu rosto e puxou minha mão para sua boca.

— Eu tenho certeza de que ela amou você, porque não há

ninguém que conheça você por inteira e não a ame. — Funguei,

piscando rápido. Ele se inclinou e me puxou para seu colo, então

toquei seu rosto. — Eu amava você antes, sinto na minha alma, mas

hoje é mais que amar. É necessitar da sua felicidade para eu ser

completo.

— Prince, nós vamos acabar machucados no final disso —

murmurei, sufocada. Ele suspirou e eu me inclinei, apoiando minha

testa na dele. — Eu odeio pensar no futuro. Odeio saber que vamos

nos perder em algum momento.

— Eu sei, também odeio isso. — Prince me afastou e tocou


meus braços. — Vou fazer o teste de . Eu quero me agarrar a

algo, Lake...

— Nosso sangue não vai mudar nada. Nossos irmãos ainda

vão machucar você...

— Eu sei, mas precisamos de algo. Qualquer coisa...

— Andy voltou para Chicago? Talvez, você possa convencê-

la...
— Rocco me deu uma mecha de cabelo dela. — Franzi as

sobrancelhas, ele não havia me dito isso. — Eu não sabia se faria.


Mas agora... a mísera migalha que me faça acreditar em um futuro

com você, me fará fazer qualquer coisa.

— A gente pode ir para o Yerík... ficar um tempo...

— Ele está na Rússia. Seríamos mortos assim que fôssemos

reconhecidos, além do mais, não vou condenar você a uma vida de


fuga — Prince grunhiu, insultado.

Eu respirei fundo, compreendendo.

— Você quer contar a eles sobre nós? — perguntei, nervosa.

— Não pra eles diretamente. — Ele esfregou o rosto. — Para


Blue, Lunna e Sienna.

Fiquei rígida e ele segurou minhas coxas, me mantendo

presa.

— Elas... elas... — As palavras ficaram presas em minha

garganta.

— Precisamos de aliados. Elas controlam nossos irmãos,


você sabe disso.

— Não! — gritei, percebendo o erro. — Elas trairiam os três.


E isso já aconteceu vezes demais para Matteo, Rocco e Romeo
apenas deixarem de lado. Somos irmãos deles, não delas.

Prince fechou os olhos e esfregou as mãos no rosto, tenso.

Toquei seu cabelo e relaxei em seu colo.

— Eles não vão entender. Nós... nós só precisamos de


distância... talvez, assim, a gente consiga esquecer um do outro...

Ele encarou a casa em silêncio e riu, balançando a cabeça.

— Você não entende, não é? — ele grunhiu. Quando se


virou, segurou meu pescoço entre os dedos, me mantendo rente ao

seu rosto furioso. — Nós não vamos deixar você ir. Isso tudo — sua
mão livre deslizou pelas minhas coxas e subiu até meus seios — é
meu e dele. Ninguém, nem mesmo você vai mudar isso.

Meu corpo se acendeu como uma lâmpada. Eu o queria

dentro de mim a cada vez que ele reafirmava que eu era dele. Não
importava se tinham me tocado antes, agora tudo que eu queria

sentir era ele.

— Me leve para a casa — pedi, sem fôlego, fazendo-o sorrir

de lado.

— Por que, Silk? — Prince abriu a porta e saiu comigo. O sol


estava baixando, a noite começava.

— O que...
Ele me levou até o capô do carro preto e me sentou nele.

— Vou dar o que você quer.

— Prince, mas...

Olhei ao redor, nervosa. Não havia ninguém. A casa estava

abandonada há anos. Ninguém entrava aqui, ainda assim...

— Você pode gritar tanto quanto sua boceta pedir. Apenas

Villain e eu a ouviremos. — Ele puxou minha calça para baixo e


levou a calcinha junto. Minha bunda bateu contra o metal gelado e

eu gemi. — Isso, Silk, abra suas coxas e dê o que é nosso.

Prince me empurrou sobre o capô e eu me deitei, com as


pernas enroladas em sua cintura. Seu pau grosso e vermelho saltou
entre nós e ele deslizou pelos lábios escorregadios. Sedenta, eu

arqueei e ele continuou brincando até eu sentir minha bunda molhar.

— Jesus Cristo, essa boceta é a coisa mais linda que já pus


os olhos. — Ele gemeu, olhando vidrado para baixo. Eu guiei minha
mão e esfreguei meu clitóris, então Prince sorriu. — Suba sua blusa,

me mostre esses seios.

Eu puxei o moletom e o ar frio deixou meus mamilos duros


instantaneamente. Prince deslizou para dentro de mim, gemendo
devagar, com olhos fechados e boca entreaberta. Quando bateu no
fundo, eu gozei.

— Prince! — grunhi alto e seus quadris saíram. Quando


voltaram, foi rápido e duro. — Villain!

Suas mãos agarraram meus quadris e ele me puxou de

encontro ao seu pau. Eu gritei, ele gritou, mas não estávamos


satisfeitos. Prince saiu de mim, me puxou e me colocou de frente

para o carro. Eu me inclinei, deitando-me e ele puxou minha bunda,


me fodendo ora lentamente, ora rápido. Meus peitos doíam pelo

atrito com o metal, minha barriga ardia, mas minha boceta estava

amando a atenção, amando os dois homens lutando por ela.

— Amor! — gritei alto e gozei novamente.

— Isso, Silk, goze em meu pau. Leve meu esperma. Um filho


meu em sua barriga seria perfeito. Porra, só de imaginar fodendo

você grávida eu quero gozar mil vezes.

A visão me fez tremer e gozar novamente, mais um, puxando


seu sêmen, querendo inconscientemente engravidar do meu irmão.

— Boa menina. — Ele bateu em minha bunda e eu sorri


lentamente, sentindo a ardência na minha pele e sua boca em meu

pescoço. — Quer mais um antes de voltar?


— Sim, eu gostei de poder gritar. — Ri e ele fez o mesmo.

Deus, eu o amava.

Os dias se passaram e eu senti que estava acontecendo

algo. Prince não foi para Oak Park e Rocco ou Sienna não tocaram

mais no assunto casamento.

— Você está me levando para onde? — perguntei a Blue

assim que saímos da sua casa.

Era aniversário da Nina hoje. Todos vinham para cá, eu vim

mais cedo para ajudar. O que logo entendi que não era preciso. Blue

tinha uma equipe trabalhando no aniversário da garotinha.

— Matteo encontrou um apartamento para o Prince. Preciso

ir lá pegar as chaves — Blue explicou suavemente e nem percebeu

como meu estômago esfriou com isso.

— Você acha que ele vem morar aqui? Tipo, de verdade? —

Minha voz saiu baixa, Blue percebeu a aflição.

— Não se preocupe. Agora que o casamento foi adiado,

Rocco está cogitando deixar você com Prince aqui.


O quê?

— Como assim o casamento foi adiado? — perguntei, com os

olhos arregalados.

— Ninguém vai fazer você se casar depois do que passou.

Rocco já não iria deixar, mas fomos firmes com todos sobre isso.

— Fomos? — questionei suavemente e ela pegou minha

mão.

— Sua irmã, Sienna e Kiara.

— A Kiara sabe? — perguntei, nervosa e envergonhada.

Ela não era próxima de nenhuma de nós, mas de alguma

maneira era mais próxima que muita gente da Outfit.

— Giulio pediu a Rocco que ela e Dante ficassem na mansão

enquanto caçavam Ettore. Pelo que parece, ele estava cauteloso

sobre o homem querer machucar sua família por ele ter sido da
Cosa Nostra — Blue explicou, a todo momento franzindo as

sobrancelhas. Ela ainda não conseguia entender bem o que

acontecia conosco.

— Ah.

— Kiara é legal. Gosto dela.


Eu sabia que era. Mas eu havia magoado a esposa de Giulio

anos atrás. Tinha certeza de que ela não esqueceria tão facilmente.

Assim que chegamos ao apartamento, percebi que era bem

parecido com o que Matteo tinha antes, a diferença desse era que
ele não tinha morador nenhum.

— É um prédio novo. Vocês serão os primeiros moradores.

Assim que Blue abriu a porta, eu suspirei com o tamanho do

lugar. Não havia mobília, mas eu conseguia imaginar quão bonito

seria. Entrei no espaço e vasculhei cada canto, apaixonada pelo


lugar.

— Esse pode ser seu quarto, já que tem uma paisagem

incrível. — Blue olhou pela janela do chão ao teto.

— Sim, é incrível.

— Prince pode ficar no do lado oeste. É bonito também.

Não falei nada, porque eu sabia que não dormiríamos

separados. Porém, Blue não sabia e nunca poderia saber.

Assim que voltamos para sua casa, eu subi para me arrumar.

Peguei um vestido com alças finas e uma fenda na perna. Ele


parecia um pouco com o que usei no meu noivado com Luca, porém

era numa cor bordô perfeita.


— Uau. — Nina abriu a boca assim que desci a escada. —

Você está linda, titia.

Eu me inclinei e ajoelhei diante dela. Seu cabelo ruivo era liso


em cima com as pontas cacheadas. Nina seria uma garota incrível,

disso eu não tinha dúvidas.

— Ninguém está mais linda que você. Seu vestido é incrível.

Ela sorriu e girou, fazendo o tecido rosa tocar minha pele. Eu

sorri, quando olhei para cima, Prince estava ali, sem blusa e com
um casaco grosso. A tatuagem com meu nome estava

completamente visível, perfeita como ele. Eu sorri e levei Nina até

ele.

— Titio Plince! — ela gritou animada e ele a pegou nos

braços.

— Eu fiquei tonto ao ver você. Você está linda. — Suas

palavras foram ditas olhando para Nina, mas a maneira como ele

disse me fez derreter.

— A titia também está linda e a mamãe, e a tia Sisi e a tia

Lua — Nina foi falando e tocando um dedinho de cada, contando.

— Sim, a titia Lake está linda.


Seus olhos alcançaram os meus e eu engoli em seco,

olhando ao redor. Ninguém parecia reparar em nós dois, então sorri


e fui para o seu lado. Nina monopolizou a atenção dele a noite

inteira. A garota era apaixonada.

— Entregue o presente dela, Dante. — Ouvi a voz da Kiara


quando estava próxima da entrada e Nina estava com os primos.

— Mãe, não. — Sua voz ecoou séria e Kiara respirou fundo.

Dante era mais novo que os outros, mas era parecido com

Remy. Ambos eram calados até demais.

— Nina, feliz aniversário! — Kiara entregou a caixa média

enfeitada. Nina pulou animada.

— Obrigada, tia Ky. — Ela olhou para Dante e sorriu. — Ei,

Dane. — Nina esperou pela resposta do garoto, mas ele apenas

suspirou. — Você é um garoto mau. Meninos bons não ignolam

garotas legais.

— Você não é legal, Inie.

— Lógico que sou! — Nina bateu o pé, se irritando, então me

aproximei.

— Que tal chamar sua mãe para cantarmos? Está na hora —


falei, sorrindo.
Ela me encarou séria.

— Dane disse que sou chata!

— Não disse isso.

— Dante, não se chama uma dama de chata, ou que ela não

é legal. Você é um cavalheiro — murmurei séria e ele respirou


fundo.

— Parabéns, Inie, você é legal.

O menino se virou e saiu andando como se fosse um adulto

de vinte anos e não o garotinho de três.

Nina saiu também e logo cantamos parabéns para ela.

Quando cortou o bolo, Blue e Matteo perguntaram para quem seria

o primeiro pedaço. Nina sorriu e olhou para todos. Quando seus


olhinhos pararam em mim, eu senti minha barriga esfriar.

— Pala minha titia por ser uma plincesa superfolte!

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu olhei para Blue,


que sorria. Eu abracei minha sobrinha e beijei sua bochecha.

— Eu amo você, Lovely. Obrigada!

Ela me apertou contra si e eu peguei o pedaço do bolo. Me


virei e ergui o prato em direção a Prince.
— Quem é o preferido agora?

Ele balançou a cabeça rindo e eu fui para o seu lado. Ele


colocou o braço sobre meus ombros e eu o encarei.

— Você está tão bonita nesse vestido que quero o rasgar

todo.

— Que pecado, ele vale uma fortuna. — Sorri, tentando


ignorar as pessoas ao redor.

— Você vale uma fortuna, amor.

Meu coração inchou e eu quis beijar sua boca, mas


obviamente não podia.

— Hoje, eu e você, no apartamento novo.

— Pronta para morar comigo, Silk? — Ele nem tentou fingir

que era uma surpresa.

— Ansiosa.
Rocco olhou para Lake dançando com Rhett e ergueu as
sobrancelhas.

— Jesus, ela os faz fazerem coisas inimagináveis.

Nós rimos, porque era verdade.

— Está machucado por perder o posto de tio favorito da

Nina? — Matteo questionou, bebendo uma dose de uísque.

— Está doendo muito, vou precisar de um tempo — falei,

levando a mão ao peito e todos riram novamente.

Lake se aproximou depois de dançar e eu evitei olhar para

ela. Deus sabia que estava a um ponto de rasgar sua roupa. E com
nossos irmãos por perto, isso seria perigoso.

— Então, Luca não foi convidado? — Sua pergunta me fez

encará-la. Que porra era essa?

O anel havia saído do seu dedo há dias e era bom, porque eu


poderia matar alguém vendo aquela merda.

— Não. Saudade do seu futuro marido? — Matteo se


encostou na cadeira, sorrindo.

— Talvez... — Ela fez uma careta assim que toquei sua coxa

por trás, apertando com força. — Estou brincando. — Sua perna


saiu da minha posse. — Então, Blue falou que vamos adiar o

casamento.

— Por alguns meses. O que você acha? — Rocco

questionou, encarando-a cauteloso.

— Acho bom. — Ela acenou e pegou um copo. Ela se serviu

de uísque e virou o copo. — Quero ficar por perto, sabe? Me casar


com Luca me levaria para longe de vocês...

Rocco suspirou e me olhou. Eu acenei. Matteo havia falado

com ele sobre eu querer vir para Oak Park apenas se ela viesse

junto. Rocco concordou, se ela quisesse.


— Prince vai se mudar na próxima semana. Você quer vir
ficar com ele até o casamento?

Porra de casamento.

— Sim, acho que sim. — Ela sorriu e me encarou.

Eu acenei e olhei para as pessoas espalhadas.

Uma mulher estava parada com os olhos em mim, mais à

frente. Eu a encarei sabendo que seu rosto não era estranho, mas

minha mente não quis me ajudar.

— Antonella — Romeo resmungou ao meu lado. Eu o encarei

antes de voltar a olhar para a garota. — Você tirou a virgindade dela


quando ela era noiva do Matteo.

Eu cuspi a bebida e meu irmão riu.

— Não se preocupe, ele não gostava dela nem nada —

Rocco explicou, mas ainda parecia estranho.

— Você estava em um mau momento, cara — Matteo


começou e eu o olhei. — Bebendo demais, fumando várias

porcarias e fodendo meninas proibidas.

O último eu ainda fazia.


— Com Lake no internato, você viveu um momento escuro —

Rocco emendou.

Eu encarei minha garota. Lake estava olhando para Antonella

como se fosse arrancar sua cabeça.

— Entendi, mas desculpa, cara — pedi a Matteo e ele deu de


ombros.

Lake pediu licença e saiu. Quando fui procurá-la, não

encontrei em lugar nenhum. Fiquei de lado na sala e olhei para o


lado quando Antonella apareceu.

— Você parece bem. — Ela inclinou a cabeça.

— Eu estou.

— Você não se lembra de mim. Eu soube. — Antonella bebeu


da taça cheia de champanhe. — E nem sabe o quanto arruinou a

minha vida aquela tarde, contra seu carro.

— Meus irmãos falaram algo sobre isso... — Franzi as

sobrancelhas. — Você...

— Nunca me casei. Meus pais me odeiam pela vergonha,


mas olhe só para você, perfeito. — Ela riu, balançando a cabeça.

Antonella se virou para mim, deixando a sala às suas costas. — Eu


não sabia que ia ser tão estúpida, mas bastou você estalar os dedos

e minha calcinha caiu.

Eu fiquei em silêncio, porque sabia que ela precisava disso.

— Você só quis brincar e eu era o parque de diversões, e


quando se cansou, fiquei lá, sozinha e arruinada. Nenhum homem
quis casar com a garota que Matteo Trevisan abandonou sem a

virgindade.

— O que você quer?

— Você nunca poderia me dar o que eu quero. — Antonella


sorriu, mas havia lágrimas em seus olhos. A menina parecia
arruinada, quebrada, indefesa.

— Você não sabe disso até falar...

— Eu quero um marido, filhos, uma casa. Uma vida. A que

tirou de mim.

Eu respirei fundo e dei um passo em sua direção.

— Eu posso conseguir isso. Me diga com quem e eu vou

fazê-lo se casar com você.

Antonella sorriu e inclinou a cabeça.

— Você.
Porra, nem fodendo.

— É justo, já que você tirou minha pureza.

— Eu não, jamais. Escolha outro — grunhi, irritado.

— Então, escolha você. — Ela deu de ombros.

Ela se virou e saiu andando como se não tivesse jogado uma


bomba em meu colo.

— Eu pensei que vocês relembrariam a cena patética de

transar. Óbvio, dessa vez sem o carro — Lake rosnou ao meu lado.

Eu me virei, vendo-a escondida na escuridão. Andei até ela e


puxei seu pulso, entrando em uma porta qualquer.

— E você perguntando daquele saco de merda? — perguntei,


recordando sua fala com nossos irmãos. — Quer se casar, porra?

— É óbvio que não, seu possessivo do caralho! — Ela puxou

a mão, furiosa.

— E você? Surtada com Antonella?

— Não fale o nome dela! — Silk gritou, me empurrando.

Segurei seus pulsos sobre sua cabeça. — Me deixe sair, agora!

— Não, Silk, porque você precisa de mim entre suas pernas,


lembrando a quem pertence — grunhi irritado e puxei seu vestido. A
fenda me ajudou a afastar suas coxas. Toquei sua boceta nua e
gemi, me dando conta de que ela não usava calcinha.

— Você é tão ciumento, Villain.

Suas palavras me fizeram abrir o zíper nas suas costas. A


besta dentro de mim, o Villain, sempre queria a porra dos seus

peitos. Assim que desci a parte de cima, me inclinei lambendo seus


mamilos, puxando um para os meus lábios. Lake gritou e eu sorri.

— Silêncio, princesa, seu príncipe está te fodendo no meio de

uma festa. Você não quer que todos os convidados ouçam, certo?

Ela gemeu baixo e puxou os braços, então eu a deixei livre.


Suas unhas rasparam em meu peito e ela empurrou seus quadris

contra mim, pressionando sua boceta em minha calça. Abri meu

zíper e coloquei meu pau para fora. Ele já estava duro desde que
ela desceu a escada como uma maldita rainha.

— Me foda, Villain — ela pediu, empurrando os seios.

Eu mordi a lateral dos dois, lambi e chupei, deixando marcas

roxas. Deslizei meu pau em sua boceta gulosa e ela me recebeu

quente e apertada.

— Quem é seu príncipe, Silk?

— Você. Prince Trevisan. Meu.


Eu empurrei com força dentro dela, batendo suas costas na

parede, ouvindo seus grunhidos. Coloquei a mão entre nós,


acariciando onde nos juntávamos. Lake estremeceu quando toquei

seu clitóris e brinquei com os lábios da sua boceta rosada.

— Goze, amor — pedi.

Ela tapou a boca, se contorcendo. Assim que terminou, ela

me fez afastar e ficou de joelhos.

— Nunca vi uma princesa se ajoelhar.

— Se for para chupar seu príncipe, ela se ajoelha.

Lake abriu os lábios e me lambeu devagar, com os olhos em

mim. Seu cabelo escuro estava solto em ondas em suas costas e


seus peitos pesados e macios visíveis. Sua língua se agitou e eu

quis fechar os olhos, mas nem o diabo me faria perder essa cena.

Lake gemeu ao redor do meu pau e o engoliu, levando-o tão fundo


que senti a ondulação da sua garganta.

— Você quer na sua boca, na boceta ou nos seus peitos? —

perguntei, sem fôlego.

Lake arregalou os olhos azuis.

— Peitos — falou de maneira firme e me engoliu novamente.


Assim que o gozo chegou, ela se afastou, juntou os seios e

minha porra respingou em tudo. Lake tocou o sêmen com os dedos

e o espalhou, levando até os mamilos. Eu me ajoelhei também e


ajudei. Agarrei seu seio e espalhei o creme espesso.

Lake abriu a boca e eu levei gotas até seus lábios e ela fez o

mesmo comigo. Gememos sentindo meu gosto ao mesmo tempo.


Lake puxou o vestido e escondeu os seios cremosos molhados com

a minha porra. Nos erguemos e eu toquei sua boceta melada.

Lambuzei meus dedos e chupei, faminto.

— Hoje, apartamento.

Ela respirou fundo e acenou.

— Prince... — ela gemeu quando retornei meus dedos à sua

boceta.

— Mais um — implorei e ela acenou devagar. — Suba seu

vestido, quero comer sua boceta.

Ela se apoiou na parede e eu agarrei suas coxas. Subi-a e

me inclinei, lambendo suas dobras. Era tão bom, porra. Chupei seu

clitóris inchado e enfiei minha língua em seu canal apertado. Lake


gemeu, e quando gozou, senti seu mel atingir minha língua. Porra,

não havia nada melhor.


— Você sai primeiro — murmurei assim que ela baixou o

vestido pela segunda vez.

— O.k. Feche o casaco, minhas unhas deixaram marcas. —

Ela pegou o casaco e o fechou.

Me inclinei, segurando seu rosto e beijando sua boca. Chupei

sua língua e ela gemeu, me afastando.

— Precisamos ir.

Sorri com suas palavras e ela saiu. Quando se passaram


cinco minutos da sua saída, eu fiz o mesmo. Bati de cara com Blue.

Ela sorriu e semicerrou os olhos.

— O que houve com sua boca? Está vermelha...

Porra, era sério? Idiota.

— Deixe de ser curiosa. — Sorri, piscando o olho.

— Você é horrível. — Ela balançou a cabeça.

Assim que ela saiu, eu respirei fundo e relaxei.

O.k., Prince, ninguém pegou você fodendo sua irmã. Relaxe.


Nossos irmãos foram embora e eu dei um jeito de sair com

Lake. Matteo já havia subido com Blue e Nina, então não viu. Eu

agarrei sua coxa nua e ela sorriu, entretida no celular.

— Abra suas pernas, Silk — pedi e ela parou de rir.

— Como assim? Estamos no carro...

Sua voz diminuiu quando ela viu que eu estava certo disso.

Lake abriu as pernas, obediente.

— Puxe seus joelhos e se apoie na porta — solicitei. Suas

bochechas começaram a corar. — Rápido, Silk.

Lake fez o que pedi, quando vi sua boceta, eu me inclinei

escovando seus lábios. Estavam úmidos e, querendo provar, eu os

levei à boca, gemendo.

— Seus peitos, agora.

— Prince...

Eu a encarei firme e ela abriu o zíper e baixou o topo do

vestido.

— Porra, esse vestido deve ter algum feitiço. Eu quero foder

você a cada minuto que está dentro dele — grunhi, ansioso, me

inclinando. Peguei mais mel da sua boceta e passei em seus


mamilos. — Coloque na minha boca.
Lake suspirou e se ajoelhou no banco. Quando se inclinou e

me deu o seio, eu dirigi chupando seu mamilo. Ela gemeu, e com


minha mão no câmbio, fodi sua boceta. Entrei no estacionamento do

prédio e soltei seu mamilo. Saí do carro e corri até seu lado. Puxei-a

para fora e a inclinei sobre a lateral, deslizando dentro dela.

— Ah meu Deus!

— Sou eu quem estou fodendo sua boceta, Silk.

— Prince... — ela gemeu.

Eu a fodi lentamente até nós dois estarmos quase gozando.


Empurrei dentro dela e despejei meu sêmen gritando.

— Meu Deus. — Ela suspirou e eu a puxei, segurando seu


cabelo na base do pescoço, mordendo seu lábio inferior e

afundando minha língua em sua boca, beijando-a com fome. Lake

se entregou da mesma forma, apaixonada, necessitada.

— Eu amo você.

— Eu amo você.

Ela sorriu e eu cobri seus seios. Nós fechamos o carro e

subimos para o apartamento. A única coisa que havia ali era uma

cama que comprei um dia atrás, sabendo que a usaria hoje.


— Então, você gostou do meu vestido? — Ela girou, tocando
nos quadris e subindo em direção aos seios. Seus olhos azuis

brilhavam, excitados, brincalhões. — Eu o comprei ontem. — Ela

subiu na cama e se virou. Lentamente, abriu o zíper e o vestido


deslizou para fora. Sua bunda nua era redonda e suas coxas eram

grossas. Lake se virou devagar, cobrindo os seios e sorrindo.

— Havia comprado uma calcinha com a mesma cor, mas

parecia certo ir sem, já que eu precisaria manter você entre as

minhas coxas em algum momento. — Suas palavras me fizeram

lamber os lábios. — Para o caso de alguma vagabunda falar com


você... o que aconteceu. — Ela arqueou a sobrancelha.

— Então, você me manteve entretido na sua boceta para que


eu não falasse com aquela menina?

— Você não disse o nome dela. Bom. — Ela empurrou o

cabelo para trás, ainda me impedindo de ver seus peitos.

— Você disse para eu não falar.

Ela mordeu o lábio e acenou.

— Sim, eu mantive e posso fazer mais e mais vezes. — Ela

tirou as mãos dos seios e eu agradeci a Deus por ela ser minha
garota.
Porque se não fosse, eu teria que roubá-la de quem quer que
fosse.

E matá-lo por sonhar que ela poderia pertencer a alguém se


não a mim.
Havia algo em mudar de casa que estava me deixando
apreensiva e nervosa. Parecia que eu estava abandonando alguma

coisa, mas não estava, certo?

— Você tem certeza disso? — Sienna perguntou dobrando

uma calça jeans e colocando sobre a pilha. — Eu sei que ainda vai
estar por perto... é só que aqui é sua casa.

— Não se preocupe, Sienna. Vou ficar bem, além do mais,


posso almoçar com você quase todos os dias. Esqueceu que

trabalho aqui? — murmurei sorrindo.

— Você está certa. — Ela deixou as roupas de lado e

caminhou até estar à minha frente, alisando o vestido que usava. —


Eu sei que você passou por muita coisa recentemente e eu decidi te

dar um tempo. Eu sei que precisava.

Fazia mais de um mês desde aquela tarde. Eu podia fingir

que havia esquecido tudo, mas dentro de mim ainda restava o nojo.
Minha psicóloga retornou para a minha vida dias atrás, quando

passei a noite em claro.

Flávia me dizia que meu corpo e minha mente precisavam de


descanso. Eu sabia que ela estava falando sobre sexo, não era

tonta. Pesquisas e mais pesquisas diziam que depois de um abuso,

a pessoa se torna aversa a sexo, mas comigo... droga, comigo era


completamente diferente.

Quando Prince me tocava, parecia que eu esquecia


completamente aquela tarde. Nenhum vestígio, apenas seu cheiro,

suas mãos e sua boca. Apenas ele e eu.

Nada mais importava.

E por mais que eu quisesse falar para ela sobre isso, sabia
que era ir longe demais.

— Não quero que se case com Luca. Nem antes e nem

depois, mas estar na máfia tem suas grandes desvantagens. —

Sienna afastou uma mecha do meu cabelo e tocou meu ombro. — E


por mais que a gente tenha definido que esse casamento só vai
acontecer daqui a alguns meses, eu ainda estou preocupada.

Os olhos dela se encheram de lágrimas e eu queria que os

meus estivessem secos, mas não estavam.

— Eu não quero me casar com Luca — falei. Foi como se um

tijolo de concreto saísse dos meus ombros. — Não quero, porque...

Eu já amo alguém. Eu o amo tanto que me sufoca.

— Porque eu mereço estar com alguém que eu ame —

completei, engolindo com força.

Sienna segurou minhas mãos.

— E essa pessoa já está na sua vida? — Havia tanta

esperança em seus olhos, quase como se ela esperasse por isso.

— Se estivesse não faria diferença.

— Lógico que faria. Você se casaria com ele. Eu te dou

minha palavra.

Eu amava Sienna, porque ela era a única mulher na minha

vida que me enxergou sob a camada frágil daquela menina.

— Ele não existe, Si. Eu vou me casar com Luca.


Algo quebrou em seus olhos antes de ela olhar para a janela.

Por segundos, seu silêncio se prolongou e ela respirou fundo.


Quando enfim me encarou, minha cunhada parecia resignada.

— No dia que Rocco me escolheu, eu rezei para que ele não


o fizesse. Queria me casar com Juliano, todos diziam que ele pediria

minha mão aquela semana. — Sienna sorriu. — Isso não


aconteceu, Rocco me escolheu e daquele dia até o momento que

conheci seu irmão eu fui infeliz, mas me mantive forte. Eu queria ter
tido alguém ao meu lado que entendesse o que eu estava

passando. — Ela me encarou de maneira firme. — Luca vai honrar


você, vai protegê-la, mesmo sabendo que você não precisa de
ninguém para salvá-la. E eu estou aqui para te dizer que esse

casamento pode ser o início de algo grande como seu irmão e eu. E
se não for, estarei aqui também.

Eu abracei Sienna, apertando seu corpo ao meu porque eu

amava a maneira que ela sempre cuidava de todos nós. Eu a


amava.

— Minha mãe amaria você. Sabe, ela sempre amou as


pessoas que faziam os filhos dela se sentirem bem.

Si sorriu e piscou rapidamente.


— Se cuida, tá bom? — Ela beijou meu rosto e se ergueu.

Enfiei as roupas que ela dobrou na mala, mas me virei

quando ela me chamou.

— Cuide do Prince. Infelizmente, ele nunca mais voltou para


mim. Acho que para ninguém além de você. — Ela sorriu com
tristeza e enxugou uma lágrima que escapou.

— Eu prometo.

Quando ela me deixou sozinha, eu encarei a janela. Fechei

meus olhos e respirei fundo, tentando entender como eu e Prince


faríamos para viver o que desejávamos sem machucar e enojar
nossa família.

— Você está bonita. — Matteo sorriu quando entrei no Date

dias depois.

Hoje havia sido a nossa mudança. Contratei uma equipe de


limpeza e elas estavam dando uma geral no apartamento. Prince e

eu decoramos e compramos os móveis on-line. Foi legal fazer isso.


— Eu sou bonita todos os dias. — Dei de ombros e me sentei
no banco alto.

Eu estava usando uma calça de couro preta, botas altas e um


casaco branco peludo. Estava frio demais em Oak Park.

— Oi, Zyon! — Sorri para um dos amigos de Matteo e ele

acenou. — Onde está sua garota?

— Eu não tenho uma e estou bem assim. — Ele sorriu para

amenizar as palavras rudes.

— Eu acho que só não achou a que vai fazer você se


contorcer.

— Está me jogando praga? — Ele semicerrou os olhos e


Matteo riu.

Me virei quando senti um braço pousar em meus ombros.

Assim que seu cheiro me rodeou, eu sorri.

— Preciso falar com você — Prince murmurou para Zyon.

— Fala aí, cara.

— Rocco encontrou uma noiva para você.

Zyon cuspiu a cerveja que tomava no balcão e me fulminou.

— Como diabos você...


— Ela não tem nada a ver com isso. Vá até Chicago depois,
Rocco quer falar com você sobre os detalhes. — Prince rebateu
rápido demais, fazendo Matteo franzir as sobrancelhas.

— Que conversa é essa? Zyon é um soldado, Rocco não é

um casamenteiro do caralho. E quando é, com certeza não é para


arrumar uma esposa para ele. — Matteo se ergueu.

Prince o encarou, então toquei sua perna por baixo do balcão

e seus ombros desceram, relaxando.

— Antonella me pediu um favor...

Eu afastei a minha mão e o encarei. O que diabos essa


garota estava fazendo?

— Ela quer se casar comigo? — Zyon riu, balançando a


cabeça. — Cara, arrume outra pessoa...

— Matteo confia em você, então eu confio... você é uma

ótima escolha. — Prince continuou falando e eu me ergui.

— E o que diabos você tem a ver com isso? Por que precisa

ser alguém que você confia? — perguntei, explodindo.

— É minha culpa ela estar arruinada, eu só quero ajudar...

— Tão solidário — ironizei e me virei para Zyon e Matteo. —


Parabéns pelo noivado, Zyon.
Me virei e saí andando até o palco onde uma banda tocava,

uma mulher linda cantava apaixonadamente. Eu me sentei a uma


mesa próxima, observando.

— A sua cena de ciúmes na frente do nosso irmão não foi


inteligente, Lake. — Prince se sentou em uma cadeira livre e

agarrou meu braço. Estava escuro demais para qualquer pessoa

nos ver.

— Sério? Eu quero que me explique por que diabos o nome

da Antonella está na sua boca!

— Na festa da Nina ela conversou comigo. Ela, obviamente,

me culpou pela ruína dela. Disse que a vida dela acabou desde que

Matteo a deixou...

— Você não tem culpa se ela abriu as pernas para você!

— Porra, Silk, não é isso! A garota está acabada. Ela só quer


um casamento...

— Aposto que você foi a primeira opção dela, certo? —

questionei, inclinando a cabeça. Ele respirou fundo, desviando os


olhos dos meus. — Eu sabia...

— Eu disse que não, pelo amor de Deus! Zyon vai ser um


bom marido, é isso que importa. Não vou mais falar com ela ou dela.
Eu juro.

Neguei, balançando a cabeça. Estava irritada demais para

concordar com qualquer coisa que ele falasse, principalmente


quando o assunto envolvia uma garota que ele já tocou.

— Eu quero dormir em nossa casa, pela primeira vez, bem.


Nós dois, Silk. Só a gente, pela primeira vez. Não estrague isso com

ciúme.

— Fácil pra você, Prince — respondi, me virando e olhando


para seus olhos azuis. — Eu sou sua, e sempre que fui tocada por

alguém além de você, foi contra minha vontade.

Foi como um tapa em seu rosto. Ele olhou para o chão e

apertou a ponta do nariz. Seu olhar não voltou ao meu e seu silêncio

me disse que fui longe demais. Ele não tinha culpa disso.

— Desculpe, eu só não gosto de saber que outra garota já

ficou com você.

Ele continuou sem me olhar. Sua mão segurou meus dedos e

ele desenhou aleatoriamente devagar na minha palma. Quando

prestei atenção, percebi que ele escrevia Villain.

— Ei, estou aqui — murmurei, me inclinando e tocando seu

rosto. — Ei, calma. Está tudo bem. — Tentei acalmar a fera prestes
a explodir. — Isso, estou aqui, estou bem.

— Eu preciso lutar. — Ele estalou o pescoço. — Não, ele

precisa lutar.

Villain.

Eu acenei e nós nos erguemos. Havia uma luta clandestina

nos limites de Oak Park. Matteo e ele já foram com Romeo e Rocco.
Eu nunca fui, mas Prince falou sobre algumas vezes.

— Preciso ir — ele avisou a Matteo e nosso irmão acenou.

Nos despedimos e entramos no carro dele. Prince dirigiu com

a mão na minha coxa, apertando tão firme que doía um pouco.

— Prince...

— Não — ele rosnou.

Eu engoli em seco, acenando.

Nós entramos no local afastado minutos depois. Prince falou


com o organizador e depois me arrastou até um banco na plateia

lotada. Ele me sentou e se inclinou sobre mim, completamente

sério.

— É ele por inteiro, agora. Villain. — Ele segurou meu cabelo

na minha nuca e lambeu meu pescoço. — Você consegue lidar com


ele, Silk? — A dor no meu couro cabeludo me fez demorar na

resposta, mas suspirei acenando. — Ele está no controle, não diga

que eu não avisei.

Ele se inclinou e mordeu meu ombro. Mesmo por cima do

casaco, senti machucar. Villain se afastou e olhou ao redor. Eu

suspirei e lambi meus lábios. Ele tirou o casaco preto, a camisa, as


botas e ficou apenas com a calça justa.

Meu peito acelerou, juntei minhas pernas, desejando lamber

sua barriga. Ele encontrou meu olhar, mas apenas se virou e


caminhou para o ringue.

— De volta, hoje. Villain! — um homem gritou no microfone,


me deixando arrepiada.

Prince subiu na plataforma mais alta e estalou o pescoço.

Agitado, o seu oponente entrou pulando. Prince ficou calmo, apenas


o observando. Quando um sinal ecoou dando início à luta, o homem

se adiantou e tentou desferir o primeiro golpe. Prince não se mexeu

e recebeu o soco no rosto. Ele sorriu, lambendo o lábio, deixando a


plateia em silêncio.

O homem atacou mais uma vez, porém nessa Prince se

abaixou. Ele chutou a perna do homem, que caiu. Quando o fez,


Villain se afastou e esperou que ele se erguesse. Assim que ele se

ergueu, o homem falou algo. Villain ficou rígido e depois foi uma
sucessão de movimentos rápidos. Ele socou a garganta do homem

e, em segundos, seu oponente estava no chão, com Villain

socando-o repetidamente.

O juiz, ou algo do tipo, os separou. Prince andou lentamente

enquanto o homem cambaleava. Villain sorriu, e quando foi liberado

para atacar, ele chutou o homem nas costelas, girou e chutou sua
coxa. Assim que seu oponente caiu, Villain se inclinou e bateu

repetidamente no homem até ele ficar inerte. Não tive dúvidas de

que era cem por cento Villain ali. Para o tirarem de cima do homem,
precisaram de três homens.

Assim que ele se afastou, eu vi a escuridão em seus olhos.

Não havia sinal do meu Prince.

Eu peguei suas coisas, me ergui e caminhei até ele,

percebendo que em seu peito havia respingos do sangue do


homem. Quando seus olhos pousaram em mim, Villain sorriu. A

escuridão do seu sorriso arrepiou minha alma e esquentou meu

corpo.
Se eu dissesse que seu lado escuro não me excitava, eu
seria uma mentirosa.

E se eu fosse uma mentirosa, jamais poderia admitir que


estava molhada por presenciar a sua carnificina.

— Vamos, Principessa.

Me arrepiei novamente e sua mão deslizou na minha. Villain

me guiou pela multidão, quando chegamos ao estacionamento, suas

mãos cavaram em minha bunda e ele juntou sua boca à minha. Era
esfomeado, rude e cruel.

Era completamente nós.


Silk mordeu meu lábio e eu abri a porta do carro, colocando-a
dentro. Me afastei e corri para o lado do motorista. Pisei no

acelerador, desejando estar dentro dela mais que o meu ar. Villain
estava no comando e, de alguma maneira, Lake estava relaxada

com ele. Sua mão entrou em minha calça e ela me masturbou até

chegarmos ao apartamento.

Eu empurrei suas costas contra o metal do elevador e ela

gemeu, abraçando minha cintura. Chupei seu pescoço, deixando


marcas, mas não pareceu suficiente. Eu mordi e quando senti o

gosto de sangue, minha besta se acalmou.


— Villain! — ela gritou, assustada, antes de eu lamber a

ferida.

As portas se abriram e eu a levei para a nossa casa.

Coloquei-a sobre o sofá e a observei retirar o casaco e a calça.


Quando ficou apenas de lingerie, eu me aproximei e vi gotas de

sangue na ferida. Me ajoelhei e lambi novamente, amando o gosto

do seu sangue na minha língua.

— Você precisa disso? — perguntei, rouco de desejo,

acenando para a peça frágil.

Ela engoliu em seco, apenas depois conseguiu acenar.

Peguei minha faca no tornozelo e enfiei entre sua pele e o tecido

frágil.

O som da peça sendo cortada me satisfez, e quando seus

seios saltaram, sorri. Me inclinei, lambi seu mamilo e depois o outro.

Beijei o vale entre ambos e desci até seu umbigo. Lambi e rodopiei

minha língua, ouvindo os gemidos nada baixos de Lake.

— Abra as coxas, Silk.

Minha garota obedeceu e eu beijei seu monte coberto pela

calcinha de renda. Me apoiei sobre meus tornozelos e toquei sua

boceta coberta. Lake arqueou, gemendo baixinho, agora.


Ergui minha faca e deslizei em sua barriga. Seus olhos se
arregalaram e eu sorri, feliz pela surpresa em suas íris. Deslizei o

lado afiado em sua pele, quase podia imaginar os pelos cortando.

Lake ofegou e a faca parou sobre sua boceta coberta.

— Villain... — ela gaguejou, nervosa.

Eu virei a faca, puxando com a ponta a sua calcinha. Quando


o tecido ergueu, coloquei a faca de lado para dentro, e assim que a

ponta saiu do outro lado do tecido, Lake estava respirando com

dificuldade. Pressionei o metal frio nas suas dobras e ela ofegou.

— Shiu, amor.

Lake engoliu em seco e eu virei a faca, puxando e cortando


sua calcinha. Assim que o tecido deixou sua boceta nua, joguei a

faca para o lado. Abri os lábios rosados e observei o suco que

cobria sua boceta. O medo andava de mãos dadas com o desejo.

Aqui estava a prova.

Capturei com meu dedo e lambi meu polegar. Lake mordeu o

lábio e empurrou os quadris. Eu me inclinei, lambi de cima a baixo e


mordi seu clitóris. Isso a fez gritar.

— Grite, Silk, ninguém pode ouvir você. — Beijei suas coxas

e voltei para sua boceta. — Isso te assusta ou conforta?


Ela gemeu com meu dedo entrando em seu canal apertado.

Lambi suas dobras e quando ela ficou rígida para gozar, eu me


afastei.

— Vire, Silk, você vai gozar no meu pau.

Ela se virou no sofá e eu segurei sua bunda. Desci minha


calça e meu pau saltou, duro e necessitado. Minha garota se

inclinou e deixou sua bunda para cima, fazendo sua boceta se


alinhar com meu pau. Deslizei para dentro e ela suspirou com o

aperto. Puxei para fora e bati de volta com força.

— Ah, meu Deus, Prince! — Seu grito ecoou e eu sorri.

— Seu príncipe não está aqui hoje, amor.

— Não me torture — ela pediu, sem fôlego enquanto eu a

fodia rápido.

— É o que faço de melhor, Silk.

Ela olhou sobre o ombro e eu sorri, me inclinando. Peguei

seu pescoço e a puxei, colando meu peito nas suas costas. Lake
gritou, segurando o braço onde eu apoiava em seu peito, para

segurar sua garganta. Ela se virou e juntou seus lábios nos meus.
Eu enfiei minha língua em sua boca e ela gemeu.

— Goze, Silk.
Nem um segundo depois sua boceta pulsou e ela molhou

meu pau. Eu a deixei ter seu momento, e quando terminou me


sentei e a coloquei sobre mim.

— Sente no seu trono, princesa.

— É um prazer, majestade.

Seu sorriso me fez beijar sua boca. Lake sentou em meu pau
e rebolou, me levando no fundo. Quando meu pau pediu libertação,

ela saiu e se ajoelhou. E assim que gozei, sua boca pegou cada
maldita gota.

— Eu te amo, Villain. — Ela sorriu.

Eu capturei uma gota do meu sêmen que descia pelo canto


da sua boca, coloquei em seu lábio e ela lambeu.

— Eu amo você, princesa.

Lake tomou banho e eu fiz o mesmo, olhando para ela como

se fosse desaparecer. Uma hora, ela iria. Eu sabia disso. Nós


iríamos nos separar e eu sabia que seria minha morte. Porque eu
morreria tentando tê-la de volta, morreria para ter mais um vislumbre
dela com a água deslizando por seu cabelo, enquanto ela fechava
os olhos e pendia a cabeça para trás.

Um vislumbre da mulher da minha vida.

— O que você tanto pensa? — ela perguntou assim que


saímos do banheiro.

Eu vesti uma cueca e me deitei, enquanto ela andava até o


closet. Ela pegou uma camisola e a vestiu.

— Trabalho — menti, porque eu preferia sofrer em silêncio do

que ver a mesma dor em seus olhos.

— Hum. — Ela pegou uma escova e penteou o cabelo.

Assim que terminou, ela se deitou ao meu lado e se

aconchegou em meu peito. Beijei sua testa e ela sorriu. Deus,


parecia as portas do paraíso se abrindo para mim.

— Amanhã eu volto oficialmente ao trabalho. — Suas

palavras ecoaram.

— Aquele lugar é seu.

— É, eu sei. — Ela sorriu novamente. — Eu chego cedo e

farei nosso jantar, então não se atrase.

— Você cozinhando? Isso é novidade.


— Lunna me ensinou coisas básicas. Eu vou me sair bem. —
Ela riu, pouco confiante.

— Eu sei que vai.

Ela suspirou e tocou meu rosto.

— É meu Prince? — Sua pergunta simples, porém com tanto


significado, martelou em meu coração.

— Sim, sou eu. — Engoli em seco. — Isso te confunde? Nós

dois.

Lake se apoiou em meu peito e ergueu a cabeça.

— Um pouco, mas entendo...

— Eu também não entendia. Não é algo do tempo que estive

na Dinamarca. Já é algo antigo, que nasceu comigo. Eu me lembro

disso, da gente brigando pelo controle. — Franzi as sobrancelhas.

— Quando eu torturava Ettore, nunca era eu. Era ele.

Lake acenou devagar, compreendendo.

— Eu aceito essa parte minha, aceito sua escuridão e às

vezes, até a abraço. Como hoje. Eu fiquei furioso por me lembrar

dos estupros. Não de você, nunca vai ser de você, mas do que

aconteceu, e eu precisava colocar para fora. Villain precisava.


— Eu sei, eu vi em seus olhos a mudança.

Era exatamente isso. Uma mudança. Villain aparecia quando

uma chave era girada em minha mente. Ele gostava de coisas

perversas, ele amava a escuridão.

E uma parte do príncipe que ela amava também.

— Quando isso for demais, quando não conseguir lidar, se


afaste de mim. Corra, corra muito e rápido.

— O quê? Por quê?

— Porque eu amo você, mas a obsessão dele é você.

Lake acenou, engolindo em seco.

Eu a deitei ao meu lado e nós adormecemos de conchinha

em pouco tempo.

No dia seguinte, ela foi trabalhar e eu fiquei em Oak Park.


Matteo queria reunir seus homens para falar sobre minha liderança

nas contas e cobradores. Os homens dele eram silenciosos, e

muitos me observaram com cautela.


— Prince é meu irmão, como sabem, e ele vai ficar em Oak

Park. Cobradores devem se dirigir a ele a partir de hoje. — Matteo

dispensou todos e eu acenei para o meu irmão.

— Eles não pareceram gostar disso — murmurei, me

sentando diante dele quando entramos no seu escritório.

— Eles não precisam gostar. Zyon está ocupado por sua

culpa, então nada mais justo que você lidar com a merda dele.

— Cara... — comecei a falar, mas Matteo me olhou.

— Zyon perdeu a namorada há dois anos. Ele não estava

pronto para isso, mas já que você o enfiou nisso, não tem saída.

— Antonella não é uma garota ruim e, porra, ela merecia que

eu a ajudasse...

— Então, por que não foi você que propôs casamento a ela?

Porque eu amo outra pessoa. Amo nossa irmã.

— Isso seria o mais justo, não acha?

— Sim, mas não posso me casar. — Respirei fundo e me


ergui. — Vou conversar com Antonella e Zyon. Se ambos realmente

não quiserem, peço a Rocco para recuar.

— O.k., Prince, Rocco sempre escuta você.


— Como assim sempre, cara? — perguntei, irritado pelo seu

tom.

— Blue.

Ele me lembrou que falei sobre a mãe dela e o fato de eu ter

pedido por sua vida quando ele não fez, eu o entendia.

— Não era o momento, você agiu por impulso...

— Eu agi como um filho da puta. — Matteo grunhiu e era

visível que isso ainda o machucava. — Blue ficou magoada e eu sei


que até hoje é grata por você ter aparecido naquele momento.

Meu irmão balançou a cabeça e pegou uma dose de uísque.

— Isso não importa mais. Vá lidar com seu trabalho.

Eu acenei e saí, mesmo contrariado.

Assim que surgi no corredor, Zyon apareceu. Quando me viu,

ele deu um passo para o lado. Antonella estava ali, olhando ao redor

e engolindo em seco.

— Ei — cumprimentei ambos, mas Zyon apenas manteve o

silêncio.

— Hum, Zyon quis me trazer para conhecer Oak Park. A

casa... — ela falou baixo enquanto ele olhava para longe todo
momento. — Eu acho que foi um erro, no entanto.

— Não, claro que não — falei rápido, mas o seu noivo

continuou com a boca fechada. — Zyon quer que conheça tudo.


Não é, Zyon? — perguntei, empurrando a questão.

— Não, não é. — Ele me encarou. — Você rompeu a


virgindade que deveria ser tirada por mim, então, por que diabos eu

vou me casar com ela e não você? — ele gritou, mas graças a Deus

ninguém fora a garota e eu ouviu.

— Calma — ordenei, rígido.

— Eu... — Antonella abriu a boca, mas a fechou.

Ela se virou e saiu andando para longe. Zyon me encarou,

quase como se esperasse que eu fosse atrás dela, mas... desculpa

amigo, esse era o seu dever.

— O prazer de ser um Trevisan — ele grunhiu e se virou,

seguindo-a.

Eu fui trabalhar como Matteo pediu, quando anoiteceu fui

para casa. O cheiro de algo bom chegou ao meu nariz assim que

passei da porta. Lake apareceu vestindo um short jeans tão curto


que eu via sua bunda, e um top branco que dava para ver

nitidamente seus mamilos.


— Oi... — Quando eu ia abrir a boca para falar seu apelido,

uma miniatura da Blue apareceu.

— Titio! — Nina pulou em meus braços e eu sorri. — Minha

mamãe e meu papai saíram, então eu pedi para ficar com você e a

titia princesa!

— Sério, Principessa?

Ela acenou com força e seu cabelo ruivo balançou.

— Sua titia fez algo para comermos? — perguntei, andando

até uma Lake sorridente.

Eu beijei seu cabelo e passei para a cozinha. Ela havia posto

a mesa e um macarrão cheiroso estava no centro, com uma salada.

— Sim! Macarrão da tia Lulu.

Lake riu e eu coloquei Nina na cadeira. Me sentei na ponta e


Lake na outra.

— Então, como está na sua escolinha? — Sua tia começou a


puxar conversa enquanto nos servíamos.

Nina contou tudo detalhadamente, dizendo que seus primos

não a deixavam brincar na hora do lanche. Lake riu escondido,


porque Nina estava realmente brava.
— Remy é rude.

— Você sabe o que é rude? — perguntei, divertido.

— Não, mas ouvi a mamãe dizer isso para o papai quando

ele falou coisa feia.

Lake e eu rimos, sem nos conter, então Nina nos observou


até rir também.
Meu primeiro dia de volta ao trabalho havia sido bom, mas
parecia que não iria se repetir hoje. Assim que entrei na minha sala

meu telefone tocou. Eram moradores, mãe e filha, precisando de


atendimento.

— Ei, você quer um pirulito? — perguntei à criança que não


deveria ter mais de cinco anos. Vi Nina nela por um segundo.

A menina olhou para a mãe, que sorriu e acenou. Ela pegou


o doce dos meus dedos e agradeceu.

— Qual o seu nome, princesa? — perguntei sorrindo e ela


piscou.
— Eu sou Renata e ela é a Flora — a mãe falou e eu sorri.

— Que nome lindo! — afirmei, realmente apaixonada. A

garotinha sorriu pela primeira vez. — No que posso ser útil a vocês,

Renata? Já frequentam o centro comunitário, certo?

A mãe engoliu com força e olhou para a filha. A mulher tinha

uma pele negra e cabelo cacheado, enquanto a garotinha era parda

e tinha cabelo ondulado.

— Flora, que tal você desenhar coisas aqui neste papel para

mim? — murmurei, me erguendo e pegando uma folha e lápis de


cor. Levei tudo para a mesa de centro longe da minha mesa e a

menina me seguiu, acenando.

Deixei-a desenhando e me sentei novamente.

— Pode falar, aqui é um lugar seguro. E farei tudo que estiver

ao meu alcance para que se sinta da mesma maneira — murmurei

de maneira firme.

Ela acenou. Antes das palavras, lágrimas encheram seus

olhos.

— Eu conheci o pai da Flora há alguns anos. Eu... não sabia

que ele era envolvido com drogas. — Ela balançou a cabeça e

fungou baixo. — Nosso namoro foi conturbado, ele sempre foi


agressivo e me bateu muito, mas então eu engravidei. De alguma
maneira achei que o consertaria...

Renata sorriu tão triste que pareceu apertar meu estômago.

— Ele não mudou. Ficou mais violento. — Ela olhou para a

filha e soluçou, levando as mãos ao rosto. — Ontem, eu precisei ir

ao trabalho e deixei ela com ele. Deus, como eu me arrependo...

— O que ele fez?

Meu corpo se arrepiou, vislumbres da garotinha que um dia

fui cruzou meus olhos.

— Eu esqueci o celular, e quando voltei ele estava sobre ela,


abusando dela. Da minha garotinha. — Renata me encarou e eu vi o

desespero e a dor em seus olhos. — Eu preciso da guarda da minha

filha, preciso que ele apodreça na cadeia. Já fui à delegacia, mas

ele fugiu...

Levei um segundo para respirar e acalmar a menininha cheia

de dor e lembranças. Quando enfim ela se recolheu, eu respirei


fundo e segurei as mãos da Renata.

— Ninguém vai tirar a Flora de você e ele vai apodrecer na

cadeia. Eu juro.
Pedi mais informações a ela, e quando nossa sessão havia

acabado, eu me aproximei da Flora e me sentei ao seu lado. Toquei


seu cabelo e ela me encarou. A dor me sufocou e eu desejei que

houvesse uma maneira de vingá-la.

— Você é incrível e nada disso é culpa sua.

Flora olhou para a mãe e depois para mim. Quando ambas

saíram da minha sala, eu suspirei e fechei os olhos. Quando abri, vi


o desenho dela. Havia um urso nos braços da garotinha e um

homem de pé, completamente escuro.

Eu me ergui rígida e fui para minha mesa. Puxei meu celular

e liguei para a segurança. Assim que Black atendeu, eu suspirei.

— Eu preciso que encontre uma pessoa para mim.

Desliguei o telefone e o coloquei sobre meu peito. Lágrimas


grossas encheram meus olhos e elas deslizaram pelos cantos, me
destruindo. Respirei fundo e meu celular tocou.

— Eu o encontrei.

— Leve-o para o Village.

Eu me ergui e saí do centro comunitário. Assim que cheguei

à boate dos meus irmãos, Romeo estava a minha espera. Eu não


parei diante dele, então ele me seguiu.
— Eu posso saber por que diabos tem um cara numa cela a

pedido seu? — ele grunhiu enquanto eu entrava no corredor das


celas.

Tirei meu casaco e puxei as mangas do meu moletom claro.

Eu sabia que isso logo seria inútil, pois o sangue mancharia cada
pedaço de tecido.

— Eu estou falando com você, Lake! — ele gritou, insano,


então eu o encarei.

— Ele estuprou uma garotinha do centro comunitário. Cinco

anos! Ela tem cinco anos, como a Nina! — gritei, tremendo e


piscando rápido para não chorar.

Romeo ficou sem reação, mas logo se recuperou.

— Você não pode matar todos... eles se escondem em casas


de pessoas importantes, eles, às vezes, são as pessoas que

respeitamos. Não podemos chegar a todos.

— Mas eu cheguei a esse, e juro pela minha vida, que ele

não vai sair vivo dessa sala. — afirmei, rígida. Meu irmão segurou
meu rosto. — Rome...

— Faz tempo que não me chama assim. — Ele sorriu e

beijou minha testa. — Vá, bebê. Faça o que achar que deve.
Ele se virou e saiu. Eu entrei na sala e encontrei um homem
branco, com cabelo escuro.

— Echo? É você, certo? — perguntei, me apoiando na


parede e colocando um pé sobre o outro.

— O que eu estou fazendo aqui? Vocês pegaram o cara

errado — ele falou sério, me olhando de cima a baixo. — Quem é


você?

— Ninguém importante, só a advogada da sua esposa e


filhinha.

Seu rosto ficou sem expressão, mas ele se recuperou rápido.

— E o que diabos estou fazendo aqui? Cadê a Renata?

Eu me movi e retirei minhas facas do tornozelo. Tirei minha


arma e coloquei sobre a mesa. Echo estava amarrado à cadeira e

tentou se soltar para pegá-las.

— A Renata está tentando cuidar do psicológico que você


fodeu, seu merda! — grunhi, me aproximando e me inclinando. — E
da garotinha também, seu estuprador.

— Eu não fiz nada! Me solte! — ele gritou alto e eu sorri.

— Ninguém vai te escutar. Você falou isso pra ela quando ela

chorou?
Echo gritou assim que passei a faca em seu peito. Segurei
seu mamilo e o cortei. Sorri quando o sangue deslizou.

— É tão rápido — murmurei, fascinada com o líquido


vermelho deslizando.

— Pare! Pare com isso.

— Mas, querido, eu só comecei. — Sorri e me virei, pegando

a outra faca. — Que tal agora o seu pau? — Levei um dedo ao


canto da boca e ergui as sobrancelhas, rindo.

— Socorro! Socorro, alguém me tira daqui!

— Não grite, Echo, faz você parecer uma menininha. —

Estalei a língua, divertida.

Me aproximei, peguei a mesa e a afastei. Não queria perder

muito tempo. Suas mãos estavam presas atrás, então foi fácil abrir a

calça molhada de sangue. Seu pau pequeno e mole saiu e eu quase

ri dessa merda, mas engoli. Com nojo, segurei a coisa ouvindo seus
gritos.

— Vocês, homens, se acham tão superiores só porque


carregam isso. É uma pena ter que tirar o seu orgulho, Echo.

Realmente, é uma pena.


— Por favor, pare com isso! Socorro! — Lágrimas desciam

pelo seu rosto, mas em nenhum momento me convenceram. A


única coisa em minha mente era a pequena Flora, sendo abusada

por esse pervertido.

Passei a faca e forcei, olhando para ele. O sangue jorrou

rápido, quando terminei, segurei seu pau imundo bem diante do seu

rosto perplexo e desesperado de dor.

— Agora me diz, Echo, como você vai foder outra garotinha,

seu merda?

Empurrei seu pau na sua cara e me afastei.

— Eu poderia enfiar uma bala na sua cara, mas a hemorragia

que isso vai causar, além de te fazer sofrer por mais tempo, vai te
mandar para o inferno.

— Oh meu Deus! — Ele soluçou, chorando.

— Ah, não se preocupe com o sangue. — Inclinei a cabeça,

sorrindo. — O chão é lavado periodicamente, você sabe, né, meus

irmãos amam brincar.

Joguei minha faca na mesa e saí da sala. Não me surpreendi

quando vi Prince de pé, diante de mim. O cara poderia estar no


inferno que sairia de lá depois de uma briga insana com o demônio

apenas para me salvar.

— Romeo me disse o que houve — ele resmungou, me


olhando de cima a baixo.

Infelizmente, eu precisava de roupas novas.

— Eu preciso de roupas. Cass deve ter deixado para trás

algumas. Pode buscar?

— Não, eu não posso.

— Por quê? — Semicerrei os olhos, irritada.

— Porque você não vai tomar banho aqui. Lave as mãos, nós

vamos subir.

Eu respirei fundo, mas fiz o que ele disse.

Assim que fiquei um pouco mais limpa, subimos e eu tomei


banho. Peguei uma calça da Cassedy e vesti uma blusa quentinha.

Quando fiquei pronta, saí e encontrei Prince olhando pela janela.

— O que foi? — Me aproximei e encontrei Jill parada na


frente, encarando o Village.

— Ela deve querer falar comigo. — Ele passou a mão pelo


cabelo.
Eu segurei seu casaco, virando-o para mim.

— Jill está magoada, isso não passa rápido, dê um tempo a

ela.

— Eu sei. — Prince suspirou e me encarou. — Tudo bem

com isso tudo que aconteceu hoje?

Se eu dissesse que estava, seria mentira.

— Vai ficar.

— Você vai voltar para o centro ou quer ir para a casa? — Ele

tocou meus ombros e eu o abracei.

— Queria ir para casa, mas marquei um almoço com a


Lunna.

— Se divirta, então.

Ele me levou até meu carro e viu que Jill não estava mais ali.

Dirigi até a casa da Lunna e fui recebida por Remy na sala com a

irmã Lua. Eu sorri e me aproximei.

— Como foi na escola? — perguntei, vendo que ainda estava

de uniforme.

— O de sempre.

Nossa, esse garoto...


Peguei Lua e beijei seu rostinho. Ela era muito parecida com

a Lunna, eu a achava linda e uma fofura de garota.

— Ah, que bom que chegou! — minha irmã me abraçou e


olhou para Remy. — King, por que ainda está com o uniforme?

— Lua estava sozinha.

Lunna acenou, olhando ao redor.

— O.k., obrigada por cuidar da sua irmã. — Ela sorriu para o


filho e ele se ergueu, saindo da sala.

— A babá deve estar em algum lugar próximo, mas Remy é


superprotetor. — Lunna riu e me chamou para sentar no sofá.

— Como você está? — perguntei antes que ela pudesse

fazer a mesma questão a mim.

— Ótima. Deus, minha vida parece um conto de fadas. — Ela

sorriu feliz e eu a acompanhei. — Estou brincando, mas, sim, eu


estou feliz nesse momento. Lua é incrível e Remy é meu garotinho

perfeito. Romeo é a melhor coisa da minha vida. — Lunna suspirou

apaixonada. — Mas vamos falar de você.

— Eu estou bem. — Respirei fundo e puxei minhas pernas

para cima, apoiando a bochecha no sofá.


— Como está sendo morar só você e o Prince? — Lunna

puxou a blusa e deu o peito a Lua, o que não a deixou ver minha
rigidez pela pergunta.

— Bem, sabe, ele é ele. Nós funcionamos, sempre fizemos

isso.

— Realmente. — Ela riu e inclinou a cabeça. — Eu te amo e

quero que seja muito feliz. Talvez você conheça um cara em Oak
Park, se apaixone... hum? — Lunna arqueou as sobrancelhas, rindo.

— E meu noivo? — murmurei para tirar seu foco e ela

balançou a mão.

— Vamos esquecer Luca. Ele mora longe demais. Quando

nos veríamos? No Natal? — Ela torceu o rosto, negando. — Quero


nós juntas.

— Eu também. Eu também.

— Então, parece que temos outra grávida na família. —

Lunna começou a fofoca sem me olhar.

— Sério? — Eu abri a boca. — Lunna! Você vai lotar essa

casa.

— Não, não sou eu! — ela gritou, rindo. — Romeo quer mais,
mas estou irredutível. Remy e Lua está ótimo.
— Sienna, então? — perguntei, achando estranho também.
Ela havia dado à luz a Alena há meses.

— Estou entre ela e Kiara. Estávamos na mansão aquele dia,


e ambas foram ao banheiro. Quando fui, havia um teste de gravidez

positivo esquecido na bancada. — Lunna arregalou os olhos,

excitada pela fofoca.

— Logo iremos descobrir, mas aposto em Kiara. Dante já

está com quatro anos.

— É, talvez por isso eu chamei as duas para tomar chá mais

tarde com a gente.

— Meu Deus, como você é fofoqueira. — Balancei a cabeça

e nós rimos juntas.


Kiara e Sienna chegaram na hora exata que Lunna marcou,
eu as invejei pela pontualidade. Eu sempre chegava atrasada aos

lugares.

— Ei, como estão? Muito obrigada pelo convite. — Kiara

sorriu para mim e abraçou Lunna.

— Precisamos conversar mais. — Minha irmã sorriu e eu

balancei a cabeça, sem Kiara ver. Lunna só era uma fofoqueira


mesmo. — Blue está chegando.

Como se fosse um chamado, o carro preto do Matteo


estacionou. Blue saiu dele e pegou Nina. Dante e os gêmeos já

haviam sumido. Só a Alena e a Lua haviam ficado.


— Ei, princesa! — Beijei Nina, que retribuiu com entusiasmo.

Logo, ela se juntou aos primos e nós fomos para a sala de

chá da Lunna. Eu nunca havia ido ao cômodo, mas era bonito e

tinha uma vista para o lago.

— Jesus, o Matteo quase me deixa louca. — Blue balançou a

cabeça ao se sentar no sofá. — Não sei se aqui está assim, mas ele

sai cedo demais e volta supertarde.

— Aqui sim! — Sienna ergueu a mão, pronta para reclamar.

— Mas eu não posso culpá-lo. Se eu pudesse também sumiria.


Minha mãe está me deixando louca! Ela comenta sobre tudo, e

quando não é tentando me ensinar sobre meus filhos, é algo

relacionado a morte de Salvatore.

Quando ficamos em silêncio, ela suspirou balançando a

cabeça.

— Eu a amo, mas conciliar Rocco e ela está me deixando

exausta.

Peguei em sua mão e apertei, porque estava estampado em

seu rosto seu cansaço.

— Ela se ressente de você estar com Rocco? — Kiara

perguntou, sentada na ponta do outro sofá. Sienna acenou. — Mas


ele não teve culpa, certo? Pelo que Giulio me disse, ele quem matou
seu irmão...

— Foi, mas mamãe não entende apenas isso. — Si suspirou

audivelmente e me encarou. — Prince está bem?

Sienna sempre nos tratou como seus filhos, e com Prince não

era diferente.

— Sim. — Acenei contida e Blue pigarreou.

— Matteo disse que ele obrigou Zyon a se casar com

Antonella. — Suas palavras saíram baixas. — Eu não entendi por

qual motivo ele faria isso.

— Romeo disse que ele se sente responsável pela ruína dela

dentro da máfia. — Lunna deu de ombros.

— De noiva de um dos herdeiros, ela foi para a menina

manchada. Ninguém quis se casar com ela depois disso. — Kiara se

arrepiou. — Blue, talvez não compreenda, mas uma garota sem

virgindade e falada pelo povo é como a morte dentro de qualquer


máfia.

— Sim, até da Outfit, mesmo Rocco tendo deixado isso mais

de lado. — Sienna olhou pela janela. — Eu acharia melhor Prince se

casar com ela.


Meu corpo ficou rígido e Si me encarou. Tentei disfarçar meu

incômodo ao sorrir negando.

— Ele jamais faria isso.

— Então, ele não deveria ter tirado a virgindade dela —


Lunna rebateu rapidamente. — Amo Prince, mas Rocco deveria tê-
lo obrigado a se casar com ela.

— Lunna. — Blue fez uma careta.

— É a verdade, aliás, Zyon não está feliz com isso, tá? — a

minha irmã questionou enquanto eu empurrava minhas palavras.

— Não, óbvio que não, ele perdeu a namorada recentemente.

— Blue suspirou, triste.

— O que você acha? — Kiara perguntou, sorrindo.

— Eu acho que basta um Trevisan sendo obrigado a se casar


— murmurei séria, deixando todas em silêncio.

— Seu casamento não vai acontecer... por tudo que houve...


— Si começou e Lunna emendou.

— É claro que não, seus irmãos jamais fariam isso.

É, parecia que não.


Quando o celular de Sienna começou a tocar, ela sorriu ao

levar o aparelho à orelha.

— Ei... quem está falando? — Seu sorriso caiu e eu a olhei,


curiosa. — O sr. Trevisan está no Village... ele está lá, não em um

helicóptero. — Sua voz aumentou antes de se erguer. — Meu


marido não ia voar hoje, você está errado!

Ela olhou entre nós e eu me ergui e me aproximei. Meu corpo


ficou frio e eu engoli com força.

— Para onde Romeo foi? — ela perguntou a Lunna, que se

levantou como todas.

— Ele ia até Oak City... o que houve? — Sua voz diminuiu até

ser um sussurro.

— De helicóptero?

— Sim, Matteo disse que iriam todos... — Blue falou, pálida.

Sienna cobriu o rosto e suas pernas cederam. Quando ela

cambaleou, eu tentei segurá-la, mas ela caiu. O soluço que rasgou


seu peito me alertou e esfriou minha alma.

— Giulio, Giulio... — Ela soluçou ainda no celular, então eu

peguei o telefone.
— É a Lake. O que houve? — perguntei rígida e andei até a
janela enquanto Lunna e Blue acudiam Sienna. Kiara me seguiu,
pronta para falar com o marido.

— O helicóptero que levava Romeo, Rocco, Matteo e Prince

caiu. — Suas palavras eram irreais. Elas ecoaram em minha mente,


mas não fazia sentido. — Estamos indo em direção ao local, mas,
Lake...

— O que? — Minha voz tremeu.

— Foi sobre o lago congelado. Não sabemos o que

encontrar.

Kiara pegou o celular, porque eu o deixei cair. Me curvei


sentindo cada célula do meu corpo se resumir a pó. Eu não podia
sequer imaginar que meus irmãos haviam caído de helicóptero. Não

podia visualizar uma vida sem eles, parecia minha morte.

— Diga que estou indo. Quero um carro, ou qualquer porcaria


que vão usar para resgatá-los — gritei para Kiara, que tremia no
celular.

— Ele quer falar com você. — Kiara empurrou o celular de

volta e eu o coloquei no viva-voz.


— Não há tempo para isso. Estou com homens de confiança.
Zyon, Travis e alguns outros. Porém, notícias correm. Os capos
estão se reunindo. A maioria já está achando que todos morreram.

Você entende o quão perigoso isso é? Para vocês, esposas e


filhos?

— E o que diabos você quer que eu faça? — gritei, tremendo,

enquanto as lágrimas enchiam meus olhos. — Meus irmãos estão


debaixo de gelo, Giulio! O que você quer que eu faça?

— Lidere. Por um dia, ou uma semana. Lidere até eu

encontrar seus irmãos — Giulio falou baixo. — Porque eu vou

encontrar.

Sua promessa era firme e eu podia sentir que ele realmente

quis dizer isso.

Porém, promessas seladas na aflição eram apenas palavras

ditas por alguém desesperado.

E todos nós estávamos.

Desliguei depois de dizer que faria isso. Chamei meu

segurança e o mandei convocar todos os homens que não estavam


no resgate dos meus irmãos.
— Não vou conseguir ficar de pé quando eles quiserem

nossa cabeça e dos nossos filhos. — Blue balançou o rosto,


soluçando.

— Eu vou pegar Remy e Lua. Preciso proteger meus filhos.


— Lunna limpou o rosto molhado e me encarou. — Eles querem

meu filho, certo? Remy é o herdeiro...

— Por favor, nós precisamos ficar juntas — murmurei


calmamente enquanto via Sienna ainda no chão, tremendo e

chorando. — Kiara vai para o bunker com os filhos de vocês e as

babás.

— De novo? Esse pesadelo mais uma vez? — Blue

choramingou.

Eu respirei fundo e limpei meu rosto.

— Façam o que estou dizendo. Agora.

Todas nós fizemos o que era necessário. Quando saímos da

mansão estávamos vestidas como se fôssemos a um jantar de

negócios, porém, a única negociação de hoje seria nossas vidas.

— Fiquem calmas — Sienna murmurou assim que estacionou

o carro diante do Village. Havia muitos carros por ali. — Coloquem


os óculos e olhem para a frente.
— Eu acho melhor você falar com eles — murmurei,

tremendo e com uma necessidade imensa de chorar.

— Você é irmã, é uma Trevisan mais que todas nós. É com


você, Lake.

Encarei Lunna e solucei. Imaginar que talvez somente eu


tivesse sobrado partia meu coração. Eu sabia que jamais seguiria

em frente, eu não podia. Não sem eles.

— Por Remy, Nina, Rhett, Amo, Lua, Alena... Por nós —


Sienna implorou, quebrando meu coração mais uma vez.

— O.k., fiquem ao meu lado.

— Jamais sairíamos — elas falaram em uníssono.

Os homens lotavam o salão do Village. Nós quatro subimos


no palco, com nossos seguranças ao redor. Sabíamos que vir a

frente de homens que acreditavam que éramos lixo era perigoso.

— Boa tarde, senhores — Black gritou e o silêncio recaiu

sobre o lugar.

— Olá a todos. Ficamos felizes e um tanto surpresas pela


rapidez com que chegaram a Chicago — disse alto e olhei ao redor,

vendo alguns rostos retorcidos e outros serenos.

— Nosso Don morreu, é claro que estamos com pressa.


Sienna estremeceu ao meu lado, mas fingi que não vi.

— Meu marido está bem — ela grunhiu, controlada. — Ele

não estava naquele helicóptero. Rocco está bem e só estamos aqui

porque, pelo que parece, os soldados e capos tão fiéis já estavam


orquestrando uma forma de tirar a família Trevisan do poder.

— Se os quatro morreram, não resta ninguém para assumir.

Vamos votar! — um homem gritou.

Eu o encarei e memorizei seu rosto, porque em breve

arrancaria sua cabeça.

— Eu estou aqui — rosnei, séria. — Sou uma Trevisan e

ninguém vai assumir o lugar do meu irmão, seu Don, porque ele

está vivo! — Aumentei meu tom para que pudessem me ouvir, mas
estava completamente calma por fora. — Quando ele retornar a

Chicago, farei com que saiba quais os nomes das pessoas que

ousaram pedir uma votação quando, abertamente, sua irmã e


esposa estavam diante de vocês falando que ele está vivo.

— Por que ele não fala conosco? — A voz era familiar.

Quando encontrei o rosto de Luca, eu quis enfiar o anel de noivado


que ele me deu em sua garganta.
— Por que você não questionou isso a mim, noivo? — cuspi,

batendo meus cílios. — Luca, ele não está em um lugar com área,

mas não se preocupe, levarei sua questão a ele quando ele retornar.

— Onde estão seus filhos? Os herdeiros legítimos? — um

homem de jaqueta escura questionou e eu o encarei.

— Longe de pessoas como você — Lunna gritou, andando

até o homem, mas Black a segurou. — Toque no nome dos meus

filhos e eu mesma vou arrancar seus olhos!

O homem semicerrou o olhar, mas não se mexeu.

— Essa reunião está se estendendo mais que o necessário.


— Sienna tocou o ombro da Lunna. — Rocco Trevisan e seus

irmãos estão bem. Voltem para as suas casas, para as suas

famílias, e esperem pela ligação dele.

— Por que seguiríamos ordens de uma mísera mulher?

Eu sorri, dei alguns passos até a borda do palco e chutei o


rosto do homem que estava diante de mim. Me agachei até ficar na

sua altura e o encarei.

— Porque esta mulher aqui vai cortar seu pau minúsculo e


enfiar na sua boca — gritei enquanto ele apertava a mandíbula,

furioso. O sangue deslizava do seu nariz. — Alguém quer reclamar


de mim? Das minhas cunhadas? — Me ergui berrando para todos,

mas ninguém se mexeu.

— Vão embora. Já! — Black gritou e sua voz retumbou por

todo o Village.

Assim que ficamos sozinhas, eu caí de joelhos, esgotada.

Lunna colocou as mãos nos olhos enquanto eu ouvia o choro de

Sienna. Blue continuava olhando para o nada.

— Co-como eu vou contar à minha fi-filha? — Sua voz

quebrou.

Com o queixo trêmulo, eu me ergui e toquei seu rosto.

— Eles estão bem. Eu vou procurá-los agora — afirmei,


vendo o desespero nos olhos das mulheres mais fortes que já

conheci na minha vida.

— Eu vou com você — Sienna falou e eu acenei.

Lunna e Blue voltariam para a casa, por causa das crianças.

— Eu e Sienna estamos indo — falei para Giulio assim que

ele atendeu.

— Tem um helicóptero esperando por vocês na mansão. —


Sua voz saiu abafada por causa do vento. Ele parecia estar voando,

pelo visto.
— Traga meu marido, não ouse voltar sem ele. — Chorando,
Lunna segurou meu rosto.

— Eu vou trazer — beijei sua bochecha —, eu juro —


prometi, tocando seu cabelo longo e encarando os olhos que eram

tão azuis quanto o mar.

— Acredito em você. — Ela me abraçou apertado e Blue se

juntou a nós.

Guardei o celular e fomos para a casa. Quando a aeronave


se ergueu, eu fechei meus olhos e implorei para que meus irmãos

estivessem bem.

Que Prince estivesse bem, porque se eu o perdesse, não

sobraria nada de mim.

Na primeira vez que ousei pensar em perdê-lo, havia sido


como andar sobre chamas, porém, dentro de mim eu sempre soube

que ele estava vivo. Quando todos desistiram, eu fiquei de pé por


ele.

Eu sabia que ele estava vivo, porque havia apenas um


coração dentro de mim, mas ele batia por nós dois.
Como esperávamos, Giulio estava em um helicóptero. Nós
sobrevoamos o lago Michigan quase por completo quando eu vi

Sienna se abater completamente. Ela se curvou sobre os joelhos e


gritou alto com tanta dor que eu quase pude sentir sobre meus

ossos.

— Si... — Minha voz saiu por nossos fones. Toquei seus

ombros e a puxei para mim. — Si, ele...

— Eu não posso viver sem ele, escolho não viver sem ele. —

Ela me olhou com lágrimas descendo por seu rosto. — Que tipo de

mãe eu sou que não pode viver sem o marido? Que não pensa nos
filhos? Que tipo de amor doentio é esse que toma tudo que tenho

dentro de mim e me deixa sem nada?

Balancei a cabeça e me neguei a encará-la.

— Olhe para mim, Lake! Você acha que eu conseguiria viver


sem seu irmão? A morte é mais convidativa que isso. Aquele

homem, meu Rocco, é o que faz meu coração continuar batendo.

Eu o odeio e amo com cada célula do meu corpo, e imaginar que ele
está lá embaixo, sem vida, me destrói completamente. — Ela gritou

cada palavra desesperada.

Eu a entendi. Entendi mesmo não querendo entender.

Mesmo querendo não amar alguém com essa intensidade, não

querendo amar meu próprio irmão com essa intensidade.

— Senhora — o piloto gritou e nós olhamos para fora.

Pedaços grandes boiavam no que parecia ser um buraco no

rio congelado.

— O gelo está fino, não posso pousar. Giulio está vindo para

cá — o homem falou com firmeza.

— Tem alguma corda que posso usar? — Sienna questionou,

engolindo com força e puxando suas luvas.

— Não acho seguro...


— Eu vou descer, de um jeito ou de outro.

O homem suspirou ao ouvir a voz séria e acenou para a

escada presa ao piso da aeronave. Sienna abriu a porta e a jogou.

— Está ventando demais... — O homem tentou novamente,

mas eu o calei com um olhar.

— Desça, irei atrás de você. Segure firme — falei

rapidamente e ela acenou.

Sienna desceu lentamente, e como o piloto disse, estava

ventando demais. Ela balançou para o lado e por um segundo

quase caiu, mas minha cunhada voltou a ficar firme. Assim que ela

pisou no gelo, eu desci.

A corda estava gelada mesmo sob minhas luvas. O vento me

jogou de um lado para o outro, congelando meu estômago por um

segundo. Voltei a ficar firme e desci lentamente, quando pisei no

chão, Sienna tocou meu ombro. Nós andamos lentamente com o

helicóptero sobre a nossa cabeça.

O buraco que parecia pequeno de cima era enorme. Não

havia sinal dos meus irmãos, apenas pedaços do helicóptero.

— Eu vou entrar — Sienna falou.

Eu me virei, vendo-a tirar o casaco.


— Ele não está aí — falei, rígida, porque se estivesse não

seria com vida.

— E onde ele está? — Sua voz caiu ao mesmo tempo em

que ouvi um grito.

Nos viramos e primeiro vi o vermelho, depois uma pessoa


balançando as mãos. Eu corri com Sienna, e assim que nos

aproximamos vi que o vermelho era sangue. Muito sangue.

— Porra, o que vocês duas estão fazendo aqui? — Sentado,


Matteo gritou, segurando a perna que parecia machucada.

Eu vi que a poça vermelha vinha do lado. Assim que percebi


quem era, caí ao seu lado.

— Ei... — chamei devagar. Prince abriu as pálpebras por um

segundo. Procurei seu machucado e apertei, mas estava gelado


demais. — Acorda.

— Passarinha... — Rocco gemeu atrás de mim.

Eu me virei e o encontrei segurando o braço.

Sienna o agarrou e chorou no pescoço dele. Rocco apenas


apertou os dentes, morrendo de dor, mas compreendendo o

desespero dela.
— Prince, acorde — pedi, assim que voltei a olhá-lo. — Sou

eu, acorde — implorei, ouvindo meu batimento cardíaco ir à loucura.


— Por favor.

— Ele está com uma laceração na barriga — Romeo falou,

deitado. Eu me movi para ele, ainda segurando a mão do Prince. —


Eu bati minha coluna, não consigo mexer minhas pernas. Dói pra
caralho.

— Fique quieto. Giulio já está vindo com o socorro.

Romeo acenou e me olhou.

— E a Lótus?

O amor em seus olhos me fez responder rápido.

— Está esperando você com Remy e Lua. — Toquei seu


rosto e o beijei. — Fique quietinho que já, já você estará com a sua

Lótus.

— Silk — Prince gemeu.

Eu me aproximei, vapor condensado deixando meus lábios a

cada respiração.

— É a Lake, mané. Fique acordado, já estamos indo para


casa. — Matteo estalou o pescoço e respirou fundo, fechando os
olhos.
— Blue está tão assustada — Sienna falou enquanto eu
apoiava minha testa na do Prince.

— Estou aqui. Acorde. Abra seus olhos, por favor — implorei,


falando baixo com a garganta fechando.

— Ele vai ficar bem, Lake — Rocco falou e eu acenei.

Até Giulio chegar, eu fiquei com Prince, tocando-o e dizendo


mais e mais para que ele acordasse e ficasse comigo. Romeo e ele

foram os primeiros a serem içados para o helicóptero dos


bombeiros. Eu tentei ir com ele, mas era inviável, por isso fui com

Sienna para o mesmo que havia nos trazido. Antes de subir, no


entanto, esperamos içarem Matteo e Rocco também.

Olhei para fora, deixando o restante do helicóptero para trás.

— E o piloto? — perguntei, me dando conta de que não havia


ninguém além dos meus irmãos.

— Romeo estava pilotando. — Matteo grunhiu com dor e eu


toquei seu braço.

Assim que pousamos, Blue apareceu com seu cabelo cor de

fogo voando e olhos cheios de lágrimas. Matteo sorriu quando foi


movido para a maca.

— Suba aqui, Flame.


Blue não pensou duas vezes. Matteo estava meio sentado e
ela ficou sobre seu colo, tendo cuidado com a perna machucada.

— Você não se atreva a sair de perto de mim novamente. —


Ela segurou seu rosto com uma mão, apontando o dedo magro para

ele. — Não se atreva, Matteo... nossa filha, ela... eu nunca...

— Tudo bem, Flame, estou aqui. Está tudo bem. — Ele a


abraçou apertado antes de colocarem os dois em uma ambulância.

Eu entrei nela e vi Rocco e Sienna subirem em um dos nossos


carrinhos de golfe.

Assim que entrei no complexo de saúde, fui atrás do Prince,

que havia entrado em cirurgia. Lunna estava andando no quarto que


Romeo ficaria. Eu entrei e ela me olhou, piscando e fungando.

— Ele ma-machucou a coluna, mas estava bem, ele falou


comigo... perguntou da Lu-lua, do Re-remy... ele va-vai ficar bem —

ela falava uma palavra sobre a outra, nervosa e trêmula.

— Shiu, está tudo bem. Já, já ele vai para casa — falei com
firmeza.

Ela me abraçou com uma força desmedida, chorando em


meu cabelo.
Nós esperamos por horas. Longas horas. E quando Lunna

cansou, eu a deixei dormindo no quarto de Romeo e fui para o do


Prince. Me deitei na cama e puxei minhas mãos juntas para o meu

rosto, só aí me dei conta do sangue.

— Por favor, por favor — implorei a Deus.

Ao mesmo Deus que me dizia que era pecado o amar, o

mesmo Deus que me deu livre arbítrio, mas deixou claras as


consequências. O mesmo Deus que amava a todos, que me amava,

mesmo eu pecando.

Ele já havia trazido Prince para mim, ele faria novamente.

Eu necessitava que ele fizesse isso.

Eu acordei horas depois com a porta sendo aberta.


Empurraram uma maca para dentro e eu vi o cabelo escuro

primeiro. Depois ele apareceu de lado e então sua tatuagem ficou

visível.

Um senhor entrou depois dele, segurando uma prancheta,

então questionei sobre a saúde do Prince.


— Ele teve o pulmão perfurado e houve um princípio de

hemorragia, mas conseguimos controlar rapidamente — o médico

falou, arrumando os óculos. — Prince vai dormir por algumas horas


por causa da anestesia, mas está estável.

— Obrigada, doutor — murmurei, me aproximando do meu

irmão.

Peguei sua mão e me inclinei, vendo sua barriga enfaixada.

Ele estava com os olhos fechados e parecia sereno. Afastei seu


cabelo e descansei minha cabeça em seu ombro.

— Estou aqui, amor. Não vou sair daqui, eu prometo.

Ele não esboçou reação e eu não esperei que o fizesse.

Fiquei ao seu lado por horas, quando a porta voltou a abrir, era

Lunna.

— Como ele está?

— Não acordou ainda. E o Romeo? — Suspirei, me


afastando do Prince.

— Dormiu há alguns minutos, depois de brigar com o efeito


da anestesia. — Minha irmã sorriu e se aproximou, pegando na mão

dele. — Nem acredito que todos estão vivos.

— Nem eu. — Sorri, com os olhos úmidos.


— Sienna vem ver Prince daqui a pouco. Ela está

preocupada.

Eu imaginava.

Lunna saiu e a porta voltou a ser aberta depois de alguns

minutos. Dessa vez, Matteo entrou com Blue ao lado. Ele estava em

uma cadeira de rodas e sua perna enfaixada.

— Como ele está? — Matteo se aproximou e segurou o

ombro de Prince.

— Não acordou ainda. — Sorri para Blue e ela tocou a perna

de Prince.

— Vamos ficar na mansão até a minha perna melhorar. Ligue


quando ele acordar. — Meu irmão se aproximou de mim e segurou

minha mão. — Obrigado por cuidar de tudo. Delas.

Blue e Nina.

— Eu sou uma Trevisan, não sou? — Dei de ombros, mas

meu irmão me puxou para olhar bem em meus olhos.

— Você é a melhor versão dessa família fodida. — Ele tocou

em meu rosto. — Nina e Blue são as coisas mais importantes da


minha vida. Você as protegeu. Mesmo quando estava morrendo por

dentro, você as protegeu, então, me deixe agradecer.


— Matt...

— Obrigado por cuidar do meu coração.

Eu o abracei e choraminguei em seu ombro. Matteo me

soltou e Blue me abraçou também.

— Obrigada! Amo você.

Assim que ambos saíram do quarto, eu me virei para Prince.

Me surpreendi ao vê-lo com os olhos meio abertos.

— Enquanto você salvava o dia, quem cuidou de você?

Eu corri para seu peito e o abracei, tendo muito cuidado com

o seu lado direito.

— Eu nunca tive tanto medo na minha vida... — Tentei falar,


tremendo.

Ele beijou meu cabelo. Com lágrimas deslizando por meu


rosto, ele segurou minhas bochechas.

— Eu estou bem, Silk — Prince murmurou, enxugando minha

pele, então me afastei um pouco. — Então, quem?

— É o seu dever cuidar de mim, então... — Sorri devagar e

ele tocou meu rosto com carinho. Eu derreti, amando seu toque.

— Seu príncipe chegou.


— Cadê o cavalo branco? — brinquei.

Ele riu, negando.

A porta foi aberta pela terceira vez e Sienna surgiu. Rocco

estava ao seu lado, com Rhett e Amo nas suas pernas. Alena
estava nos braços da Si.

— Como eles vieram parar aqui? — perguntei a Sienna


quando me afastei e ela abraçou Prince.

— Rocco.

Meu irmão era louco pelos filhos, não estava surpresa que

ele havia mandado trazer seus herdeiros.

— Pronto para outra? — Meu irmão mais velho sorriu para

Prince. Seu braço também estava enfaixado onde ele machucou.

— Me lembre de nunca mais entrar em um helicóptero com


Romeo no comando. — Prince riu e Rocco balançou a cabeça,

rindo.

— Ele sabe pilotar, aquela tempestade de neve nos pegou.

Acontece — Rocco falou, tocando nos filhos a cada oportunidade.

— Eu sei, estou zuando. Como ele está?


— Não acordou ainda, mas os médicos disseram que bem. A
coluna é algo que vamos descobrir quando ele acordar. — Todos

nós respiramos fundo.

Rocco me abraçou e eu relaxei contra o seu peito, me

sentindo protegida.

— Obrigado, pequena.

Eu beijei seu rosto e me afastei. Eles foram embora depois

de mais alguma conversa. Quando fiquei sozinha com Prince, me


virei e voltei para perto dele.

— Ficamos pouco tempo morando juntos, hum? — Eu ri,


puxando conversa.

Ele se afastou um pouco, me dando espaço para deitar, o

que fiz rapidamente.

— Vou me recuperar rápido, não há nada que fique entre mim


e você depois que eu tive um gosto do que é morar com você.

Minhas bochechas coraram e ele riu, mas parou quando


sentiu desconforto.

— Durma. — Toquei seu rosto e sorri. — Eu preciso disso.

Hoje foi um dia horrível e cansativo.

— Então, feche os olhos, princesa. Não vou sair daqui.


Isso me confortou tanto que por um segundo me assustei.
Mas era isso, certo? Eu o queria ali, ao meu lado para sempre. Eu o
amava com tanto afinco, que pensar em um futuro sem ele parecia

como um castigo com uma imensidão de dor.

Uma da qual eu não queria ou estava preparada para ter.

— Você me assustou — murmurei, bocejando quando ele


tocou meu cabelo.

— Eu me assustei. — Seus olhos ficaram claros e sinceros.


— Por um segundo, eu vi minha morte e percebi ali que vale a pena.
Viver uma vida com você, mesmo que escondidos, vale a pena.

Amar você vale a pena. Eu poderia morrer ali e teria vivido com
glória por ter você.

— Prince... — Pisquei o olhando, mas ele fechou as

pálpebras.

— Eu poderia morrer hoje e teria valido a pena, porque eu


tive você.
O acidente havia sido um borrão, mas eu me lembrava do
principal, a queda. Romeo não foi realmente o culpado. O vento era

aterrorizante. Romeo desceu o tanto que pôde, e quando o


helicóptero caiu, nós fomos para o fundo do lago.

Nós não, eu e Matteo. Rocco nos salvou, mesmo com o


braço fodido entrou na água e nos tirou de lá. Meu irmão aguentou a

dor e só parou quando amarrou o paletó na minha ferida e do

Matteo.

Ir de última hora a Oak City havia sido uma emergência.

Rocco descobriu que uma nova gangue estava comprando de nós e


adulterando a merda. O Don não resolvia as coisas por telefone e ir

até lá de carro levaria tempo, então ele optou pelo helicóptero.

Fomos todos porque ele quis assim. Romeo era seu

consigliere, andava com ele para cima e para baixo, mas Matteo e
eu, não. Porém, nesse dia ele quis que fôssemos com ambos.

— Você tá bem, né? — Rocco perguntou, sentado ao lado da

minha cama no dia seguinte. Ele parecia preocupado. Os únicos no


hospital ainda eram eu e Romeo.

— Estou. O médico disse que ficarei aqui uns dias, mas estou
bem.

Ele acenou, olhando para o celular. Romeo ainda não havia

acordado e isso estava nos deixando cautelosos.

— Nina está aqui! — Lake deu um gritinho quando a filha de

Matteo apareceu.

— Tio Plince! — Quando Nina pulou em cima de mim, Lake


deu um grito assustado.

— Tudo bem. — Eu a acalmei e segurei Nina. — Oi, princesa.

Como você está?

— Bem, mas e o senhor?


Sorri quando ela colocou a mão no queixo, parecendo
pensativa.

— Estou melhor agora com a princesa do tio aqui. — Beijei

sua cabeça e ela sorriu, contente pela resposta.

— O meu papai disse que vai ficar bom logo — ela comentou

baixinho. — A tia Kiki disse que eu sou uma garotinha comportada.

— E por que ela disse isso? — Lake puxou conversa,

sentando ao lado.

— Porque o Dane não quis blincar comigo. Acleditam? — Ela

fez um movimento afirmativo com a cabeça e Lake me olhou

sorrindo.

— O Dane é chato igual o pai dele, Nina — Rocco falou sério

e Nina fez careta.

— Talvez. — Ela colocou a mão abaixo do queixo.

— Dane é um garoto. Todos os garotos são chatos — Lake


falou com firmeza e nossa sobrinha me encarou.

— Mas o tio Plince e meu papai não são — ela negou,

confiante.

— E o tio Rocco? — Meu irmão semicerrou os olhos.


— E o titio Locco.

Lake e eu rimos. Nina ficou comigo mais alguns minutos

antes dos seus pais aparecerem para me ver e pegá-la.

— Se precisar de algo, me ligue. — Rocco se levantou para


sair também.

Eu acenei, agradecendo em seguida.

Quando Lake e eu ficamos sozinhos, ela sorriu para mim.

— Nina é tão esperta. — Lake colocou o cabelo atrás das


orelhas.

— Para a idade dela, com certeza. — Sorri, pegando sua


mão.

Lake se sentou por perto e colocou a cabeça em meu ombro.

Depois de algum tempo, percebi que ela adormeceu. Toquei em sua


bochecha e suspirei.

Quando ela apareceu no meio daquele gelo, quase me


obriguei a ficar acordado, mas a dor estava me cegando. De alguma

forma, eu relaxei e fui engolido pela escuridão porque sabia que ela
estava comigo, ela me manteria ali. Com ela.

Foi um daqueles momentos que eu disse a ela. Não


importava se eu fosse morrer, estaria feliz por estar em sua
presença, sob seu olhar.

Porra, podia parecer idiota, mas a maneira como eu a amava

não podia ser explicada com palavras fáceis.

Lake Trevisan tinha minha alma e coração entre os dedos.

Quando Romeo acordou no dia seguinte, todos correram


para o seu quarto. Assim que Rocco abriu a porta, ele estava de pé

beijando Lunna, que estava sentada na cama. Quando nos ouviram,


ambos se afastaram. Eu estava em uma cadeira de rodas, com

Lake empurrando.

— Vocês podiam ter batido — Romeo grunhiu, mas nós o


ignoramos e entramos.

Não precisamos perguntar se estava tudo bem, ele parecia


excelente. Nós conversamos rapidamente, mas tive que voltar ao

meu quarto quando o médico mandou. Lake riu assim que me deitei
na cama novamente.

— Eu quero ir embora.
— Mas já? — Ela arqueou as sobrancelhas, divertida.

Ela parecia estar amando minha ruína.

— Sim, eu não posso te foder nessa porra de hospital —

rosnei.

Ela parou de sorrir e mordeu o lábio.

— Realmente não pode. — Lake se aproximou e tocou a

tatuagem em minha garganta. — Eu amo isso. — Ela suspirou e se


inclinou até meu ouvido. — Se você for um garoto bonzinho, vou

tatuar seu nome na minha bunda.

— Na bunda, não. — Alcancei suas coxas e coloquei a mão


entre suas pernas. — Bem aqui. — Pressionei a parte interna da
sua coxa, perto da sua boceta.

— Sério? Você nunca vai deixar uma pessoa chegar tão

próximo daí. — Ela riu, piscando,

Toquei realmente entre suas pernas grossas.

— Eu vou tatuar. Aprendi no meu tempo na Dinamarca.

— Sério? — Ela parecia cética.

— Sim, as de Yerík fui eu quem fiz.

— Tudo bem, então.


Ela sorriu e beijou meu rosto, próximo da minha boca.
Segurei seu cabelo e a puxei, mas Lake foi mais rápida e desviou.
Rosnei, irritado, e ela beijou minha bochecha.

— Aqui não. Alguém pode entrar. — Sua explicação deveria

ter me acalmado, mas a besta dentro de mim não queria entender.

— Tudo bem. — Me forcei a falar e ela se afastou.

Nós passamos mais dois dias no hospital, mas eu queria ir


para a casa. A nossa casa, por isso que quando tive alta, cinco dias

depois, eu fiquei furioso quando Lake concordou em ficar em

Chicago.

— Você deveria ter dito não, me apoiado — falei com raiva,

me sentando na cama.

— Você precisa ter uma assistência que em casa não temos.

— Lake abriu as janelas do meu antigo quarto. Sienna já havia

arrumado cada porcaria em seu lugar.

Isso era algo que estava me incomodando. Ela havia ido ao

nosso apartamento.

— Você a deixou ir até lá? — perguntei. Lake suspirou,

parando de se mover. — Ela pode ter achado coisas...


— Não achou nada. Tudo estava em perfeita ordem. Suas

coisas no seu quarto, e as minhas, no meu. — Quando ela franziu


as sobrancelhas, vi a centelha de dúvida.

— Será?

— Pare de me enlouquecer. Sei que queria ir para a casa,

mas é melhor ficarmos aqui. — Ela se aproximou e se sentou ao

meu lado. — Sienna vai ficar em cima, sabe como ela é com você.
Vou dormir no meu quarto...

— Nem fodendo.

— Você está agindo como uma criança quando lhe negam

doce...

— Sua boceta é doce, então acho que está certa.

Lake balançou a cabeça e suspirou.

— Eu também quero sua cabeça entre as minhas pernas,

mas precisamos ter cuidado. — Sua voz saiu baixa, submissa e eu

fui rendido. Que porra.

— O.k. Só uma semana. Nada mais.

Ela sorriu e olhou para a porta. Eu havia trancado assim que

entrei. Lake voltou a me encarar e juntou nossos lábios. Eu gemi,

puxando sua nuca e assumindo o controle. Mordi seu lábio e ela


abriu a boca para reclamar, mas usei a brecha para enfiar a língua.

Lake gemeu e derreteu contra meu peito.

— Se eu tocar em você agora, sua boceta vai estar como,


Silk?

Ela suspirou e mordeu o lábio.

— Responda a maldita pergunta, Lake.

— Ensopada — gemeu baixinho, então subi seu vestido.

— Toque suas dobras e coloque seus dedos melados na

minha boca.

Seu colo ficou vermelho, mas ela me obedeceu. Lake levou

sua mão até a borda do vestido e abriu as coxas, afastando a

calcinha de renda branca. Ela enfiou os dedos gemendo e continuou


a tortura. Minha boca estava com água, e meu pau, duro.

— Essa porra é minha. — Agarrei sua mão e puxei para


meus lábios.

Lambi cada um dos dedos, sentindo seu gosto. Foi como se

eu estivesse no deserto e apenas uma gota de água caísse em


meus lábios. Eu avancei, puxando-a pelos quadris e me deitando.

Sentei sua bunda em meu rosto e lambi sua boceta molhada. Meu
pau soltou sêmen e eu gemi quando abocanhei seu clitóris. Lake

mordeu a cabeceira acolchoada para conter seus gritos.

Eu a chupei com sede, e quando gozou eu a segui. Era

inevitável.

— Ah, Prince... — Ela riu, saindo de cima enquanto eu lambia

os lábios.

— Você...

Parei de falar quando bateram e depois giraram a maçaneta.


Os olhos dela duplicaram e eu xinguei.

— Ei, acabei fechando a porta para dormir — gritei para a

porta.

— Hum, é... o.k. Você viu a Lake? — Sienna perguntou.

Fodeu.

— Ela disse que ia tomar banho — respondi, vendo Lake

andar de um lado para o outro.

— Ah, é que vim do quarto dela...

Porra fodida dos infernos.

— Você perguntou à sua mãe? Ao Rocco? Eu realmente não

sei onde ela está — falei, tentando ficar calmo.


— Tudo bem. Vou procurar pela casa. Bom descanso...

Assim que suspirei aliviado, ela voltou a falar.

— Aliás, preciso pegar uma coisa no seu banheiro. Pode abrir

pra mim? — Assim que Sienna retornou a falar, Lake levou as mãos

ao rosto.

Apontei para o closet e Lake entrou nele, com cuidado para

não fazer barulho. Me ergui e vi a mancha de gozo na calça. Tirei a

roupa e peguei um short limpo da pilha que havia na cadeira.

— O que você esqueceu no meu banheiro, Si? — perguntei,

com a voz entediada.

Sienna entrou e olhou ao redor. Eu soube ali que ela sabia.

Sienna nunca foi idiota.

Ela andou para o banheiro e pegou uma caixa com um teste

de gravidez.

— Grávida? De novo? — Arqueei as sobrancelhas.

— Não, não estou. — Ela me olhou, fechou os olhos e saiu

do quarto, sem falar mais nada.

Seu desapontamento não podia ficar mais visível.


Fechei a porta e me deitei na cama. Lake saiu do closet e se

aproximou, mordendo a unha.

— Ela sabe — falei de uma vez.

— Meu Deus — Lake levou as mãos à boca, tremendo —,


meu Deus, meu Deus... — ela continuou falando isso, desesperada.

Minha cirurgia doeu quando me ergui, mas ignorei isso.

— Olha, não surta. É a Sienna, ela não vai entregar a gente...

— Prince, pelo amor de Deus, ela deve estar com nojo de


nós dois! — ela gritou e se afastou, andando para lá e para cá. —

Ela... ela... ela... ela deve achar um erro, é óbvio que ela vai falar

pra ele!

— Lake...

— Jesus! Ele vai matar nós dois. — Ela estremeceu.

Eu me aproximei, segurando seus ombros e depois seu rosto.

— Fique calada, porra! Ela não vai entregar a gente, não sem

ter a certeza absoluta.

— Vamos embora, por favor. — Lake piscou e o medo em


suas íris não era por ela, era por mim.

Nós dois sabíamos o que nossos irmãos fariam comigo.


— Pra onde, Silk? Nossos irmãos merecem mais... eles vão
ficar putos, mas não vão me matar...

Era mentira.

Lake era a menina deles, nossa. Eles rasgariam meu corpo.

— E você... você só vai ser mantida longe de mim. — Toquei


sua nuca e a puxei para mim.

— Eles podem não querer, mas vão fazer isso...

Foda-se, eu não me importava comigo.

— Você vai sair do quarto e subir para o seu, quieta. Quando


descer, finja. Se Sienna perguntar algo, minta. — Lake acenou

mesmo com meu aperto. — Vai ficar tudo bem, Silk. — Beijei seu

cabelo

— Me diz — ela se afastou e colocou as mãos no meu peito


—, se eles descobrirem... você jura, jura que vamos embora. Se
tivermos a oportunidade, nós vamos embora.

— Não...

— Jure! Jure por mim, por sua alma, pelo seu coração! —
Lágrimas enchendo seus olhos e o desespero em suas palavras me
fizeram jurar.
— Eu juro! Prometo, Silk. — Puxei-a para mim e beijei sua
boca.

Ela se afastou mais uma vez e andou para a porta.

— Sem olhar para trás.

— Sem olhar para trás.

Ela saiu do meu quarto e eu fui para o closet. Vesti uma calça
e coloquei minhas facas nas pernas e braços. Quando vesti a blusa,
bateram à minha porta.
Assim que encontrei Sienna depois de muito andar pelo
quarto, ela estava no cais. Me aproximei, apertando meu casaco e

ficando ao seu lado.

— Você estava me procurando? — Tentei deixar o

nervosismo que apertava meu estômago de lado e sorri.

— Hum, sim. — Sienna se virou e me encarou.

De alguma maneira eu soube, olhando em seus olhos azuis,

que ela não tinha certeza, mas desconfiava de algo.

— Eu fui pegar as coisas do Prince em Oak Park... Lake, ele


levou alguém para lá?
Sua pergunta me fez gelar, mas apenas franzi as

sobrancelhas.

— Alguma menina? Eu não vi, por quê? — perguntei,

cruzando os braços e fingindo desconfiança.

— Encontrei uma calcinha nas roupas dele...

Caralho. Como diabos esqueci uma calcinha nas roupas dele,


porra?

— Se ele levou alguém, foi quando eu estava no trabalho —

falei, desviando os olhos dela. — Por que não pergunta a ele?

— Não. Ele vai achar que estou me intrometendo na vida

dele. — Ela suspirou, negando e se virando para o cais novamente.


— Enfim, a festa que o prefeito fará é nesse final de semana. Já

escolheu um vestido?

— Não, você vai às compras? — murmurei, sabendo que

Sienna amava me vestir.

— Talvez... — Ela sorriu e eu relaxei.

Nós voltamos para dentro e eu subi para o meu quarto.

Mandei uma mensagem para Prince, mas ele não respondeu.

Esperei por quase duas horas, mas me cansei. Fui até seu quarto e

abri a porta, quando vi seu corpo adormecido na cama me acalmei.


Saí sem fazer barulho e encontrei Blue na cozinha. Nina
estava longe de ser vista.

— Você está bem?

Depois do susto de quase ser descoberta, eu estava.

— Sim, sim. Cadê nossa garota? — Me sentei apoiada no


balcão largo que nos separava.

— Escola. Depois de dias, Matteo finalmente a deixou ir. —

Blue riu, prendendo o cabelo no alto da cabeça. — Sienna disse que

vamos às compras amanhã. — Ela fez uma careta. — Amo Sienna,

mas ir a um shopping com ela e Lunna é pedir pra morrer.

— Ela nos veste como se fôssemos suas bonecas —

completei, gemendo.

Blue acenou.

— Vou porque preciso de um vestido para essa festa.

— Eu também.

Nós conversamos por alguns minutos e eu me lembrei da

grávida misteriosa.

— Sim, Lunna encontrou um teste de gravidez positivo aqui

na mansão — comecei a fofoca e Blue arregalou os olhos. —


Estavam aqui Sienna e Kiara. Agora, Lunna e eu estamos tentando

descobrir quem é. — Ergui a sobrancelha e ela se aproximou,


cochichando.

— Eu aposto em Sienna.

— Não, ela não.

Neguei rápido, lembrando-me que Prince havia perguntado a


ela quando entrou no quarto.

— Kiara, com certeza. — Apontei para Blue e ela mordeu o

lábio.

— Sim, mais provável. Si não esconderia de nós.

Kiara também iria a essa festa, por isso, Blue traçou um novo

plano. Lunna amaria a ideia, porque estava tão curiosa quanto nós.

No jantar, Prince ficou no quarto, de repouso, por isso fui


levar sua comida. Assim que entrei, ele tirou os olhos do videogame
por um segundo.

— Com fome? — Sorri, aliviada por estarmos protegidos em

nosso segredo.

— Sim. — Ele acenou sorrindo e pausou o jogo. Coloquei a


bandeja à sua frente e ele focou em comer. — Tudo bem?
— Sim. — Acenei olhando para a porta, mas estava fechada.

— Sienna achou uma calcinha minha nas suas roupas. — Mordi


meu lábio e Prince fez uma careta.

— Não havia levado as coisas para o seu quarto?

— Sim, não sei como esqueci uma.

Prince tocou meu rosto e acariciou minha bochecha com o


polegar.

— Está tudo bem.

— Por que está com essa roupa? — Toquei em sua perna e


senti a faca. Meu corpo ficou rígido. — Você está armado?

Prince desviou os olhos dos meus.

— Sim, eu achei que Rocco já estivesse vindo me matar...

— E o que você iria fazer com as facas se ele tivesse vindo?


Machucá-lo? — Semicerrei os olhos quando ele não me respondeu,

então me ergui da cama. — Ele é nosso irmão.

— Eu vou defender você até a minha morte. Só vou parar de


lutar e aceitar meu destino quando você estiver segura — ele

rebateu rapidamente e inclinou a cabeça, fúria nadando no mar azul.


— Eu sei me defender também. Eu posso nos defender
quando for preciso, mas eu não posso ver você machucar nossos
irmãos. — Me aproximei e toquei seu rosto. — Eles não entendem,

e nós, não muito tempo atrás, também não.

Prince recuou. Seu silêncio foi longo e eu não sabia se ele


não mudaria de ideia. Se havia algo que Prince fazia sem medir
consequências, era me proteger.

No dia da festa, Prince ficou em casa por motivos óbvios,


enquanto todos nós comparecemos à festa. Matteo já estava bom

da perna e Romeo nem parecia que havia machucado a coluna. Ao


lado da Lunna em um vestido preto que agarrava seu corpo em

todas as partes poucos centímetros acima do joelho, meu irmão


estava de terno preto, completamente sério.

— Eu ainda fico chocada com a beleza da Lunna — Sienna


murmurou ao meu lado. Eu acenei, mas Si também estava

esplêndida. Com um vestido azul-escuro ombro a ombro e longo,


ela estava a perfeição. — Você também é perfeita — ela murmurou

rápido e eu encarei seus olhos. — Vocês são parecidas...


Eu estava com o cabelo liso e preso atrás. Meu vestido era
de alças finas e a parte superior lembrava um espartilho, mas esse
alcançava apenas meu umbigo. A saia caía fluida e havia uma fenda

na perna esquerda. Ele era completamente preto, com detalhes em


prata.

— Obrigada, Sienna. Você também.

O prefeito fez um discurso curto, mas decidido. Todos os

presentes, desde a polícia a empresários ricos, sabiam quem


éramos. Ninguém na cidade ousaria falar sobre a Outfit. Nem

mesmo a polícia.

Nós nos sentamos juntos com Kiara e Giulio à mesa. Depois


que Sienna disse o que Giulio fez por nossa família aquele dia,

nossos irmãos estavam mais confiantes sobre o ex-Cosa Nostra.

Eu ainda custava a acreditar que Giulio foi capaz de voltar a

Outfit depois de fugir. Olhando para Kiara, eu poderia entender. Ele

a amava mais que tudo. Ela era a sua esposa e sua alma.

O que todos nessa mesa tinham era o que eu sempre quis.

Eu consegui o amor insano, a obsessão mais crua, porém


ninguém nunca poderia presenciar esse amor. Isso me destruía.
— Você está bem? — Blue perguntou ao lado e eu a encarei.

Completamente de vermelho, a esposa de Matteo fez várias


cabeças se virarem quando chegou.

— Sim, eu acho. — Fiz uma careta e sorri. — Estou um


pouco enjoada, mas não é nada de mais...

— Quer ir para a casa? — Matteo perguntou, preocupado.

Sim! Por favor, eu poderia estar com Prince agora. Livres do

medo.

— Talvez, vou esperar alguns minutos pra ver se melhoro. —

Dei um sorriso amarelo a todos na mesa.

— Melhor ir — Lunna afirmou séria e chamou um dos nossos


seguranças. — Iremos daqui a pouco. Não se preocupe.

Olhei para meus irmãos mais velhos e eles acenaram. Saí da


festa com o soldado do Rocco e ele me levou para casa. Assim que

o carro entrou na propriedade, vi um veículo parado em frente à

casa. Eu não o conhecia e isso foi o suficiente para ficar em alerta.

— Pare o carro — pedi ao soldado e ele o fez.

Semicerrei os olhos e meu coração caiu quando vi Alena nos


braços da mãe de Sienna. Que merda aquela louca estava fazendo?
Saí do carro e corri em sua direção. Assim que me viu, ela arregalou

os olhos e ficou completamente branca.

— O que você está fazendo? — gritei, sentindo meu corpo se


arrepiar.

Batidas dentro do carro ecoaram, então olhei para dentro.


Rhett e Amo estavam deitados no chão. Meu coração parou.

— O que você ia fazer? — grunhi, me aproximando e

arrancando Alena dos seus braços. A menina começou a chorar e


seus irmãos também. — Leve essa senhora para dentro — ordenei

a um dos soldados.

Trêmula, peguei meus sobrinhos e liguei para Rocco,

enquanto seus filhos choravam.

— A sra. Rizzi pegou os gêmeos e a Alena... ela ia levá-los


para algum lugar. Os meninos estavam no chão do carro...

— Como é? — Sua voz enviou arrepios por meu corpo.

— Por um segundo ela não fugiu com seus filhos. Venha para

casa.

Me ajoelhei diante dos gêmeos ainda segurando a bebê.

— Está tudo bem agora. A titia chegou e seus pais estão


vindo — falei com firmeza, mas os dois choramingaram mesmo
assim.

Droga.

Eu entrei com os dois e subi. Procurei pela babá dos três,


uma das quatro que Rocco e Sienna pagavam. Encontrei duas

adormecidas no sofá na sala de jogos. Quando tentei acordá-las,

tremi por dentro.

— Acorda, Julia! — Rhett balançou a mulher morta, então eu

o puxei.

— Rhett, aqui. Vamos procurar o tio Prince — chamei, saindo

da cena horrorosa e indo até o quarto do Prince.

Não havia ninguém nele. Por um segundo fiquei arrepiada,


mas me forcei a me acalmar. Ele estava bem, precisava estar.

Desci com as crianças na mesma hora que meus irmãos


chegaram. Sienna caiu de joelhos diante dos filhos e os agarrou.

— Oh meu Deus, estão bem? — ela perguntou, com lágrimas

nos olhos enquanto Rocco pegava a Alena nos braços.

— Ei, campeões, tudo bem? — ele falou com os gêmeos, que

estavam agarrados a Si.

— Tudo. A vovó queria levar a gente pra conhecer o tio

Salvatore — Amo falou pela primeira vez.


Eu me virei para esconder meu choque.

— A gente disse que não queria, mas ela continuou — Rhett

falou irritado.

— A tia Lunna vai levar vocês para a casa dela e a mamãe

vai buscá-los já, já com o papai. — Sienna se ergueu e beijou os


filhos, que começaram a reclamar.

— Escutem a sua mãe — Rocco falou sério e entregou Alena

para Lunna.

Assim que saíram, eu os segui em direção à sala. Sra. Rizzi

estava sentada, olhando para as mãos. Ela parecia serena, calma


demais para quem ia lidar com o diabo da Outfit.

— Mãe — Sienna chamou parando diante dela, enquanto

Rocco ficou longe. Eu apostava que ele não confiava em si mesmo


perto dela. — O que você ia fazer com meus filhos? — A voz da

Sienna quebrou. A mulher loira, furiosa e impiedosa que fez Rocco

Trevisan se apaixonar por ela estava em pedaços.

— Meus bebês... eles... mãe, por favor...

— Pare com essa merda! — Rocco gritou, saindo das


sombras e ficando de frente para a sogra. — Você tem ideia de

quantas maneiras distorcidas e fodidas de te matar estão passando


pela minha cabeça? — Ele se inclinou e segurou o rosto da mulher.

— Minha mulher não vai se curvar para você. Eu vou arrancar sua
língua e fazê-la mastigar tudo. Abre a porra da sua boca!

— Me largue! — a mulher falou pela primeira vez, em um

rosnado alto. — Salvatore me espera, ele me chamou e pediu que


eu levasse as crianças. Ele quer conhecer os sobrinhos. — Sua voz

saiu séria, como se realmente tivesse acontecido isso.

— Que porra você fumou? — Matteo rosnou ao lado de Blue,

na ponta da sala.

— Ele está me esperando. Ele disse que seu pai está lá


também. — A mulher sorriu para Sienna e lhe estendeu a mão. —

Vamos comigo. Nós duas. Salvatore vai amar ver você.

Sienna caiu no sofá e levou as mãos ao rosto, chorando.

Seus ombros tremiam e eu desejei ter o poder de tirar sua dor.

— Você enlouqueceu completamente... — Rocco grunhiu,


enojado.

— Você tem nojo de mim? — A mulher sorriu e olhou para


todos na sala. Quando seus olhos pararam em mim, senti minha

alma congelar. — Com isso dentro de casa?


Meu coração golpeou minhas costelas. Eu vi minha vida e de
Prince passar por nossos olhos em segundos.

— Com aquele demônio a corrompendo? O pecado que os


dois cometem sob o seu teto... — Sra. Rizzi cuspiu no chão. —

Irmãos... é um nojo!

Meu chão se abriu quando todos os rostos se viraram para

mim. Meus irmãos e minhas cunhadas me olharam completamente

confusos. Enquanto minha vida acabava, eu me perguntei onde

Prince estava. Me perguntei se ele havia corrido para longe o


bastante, onde nenhum Trevisan o encontraria.

E quando o tiro ecoou, eu não me importei se alguém havia


morrido, apenas desejei que tivesse sido eu.
De alguma maneira eu soube que precisava voltar para a
casa. Fui para o cais e fiquei mais de uma hora olhando para o gelo.

Até que Yerík me ligou. Meu melhor amigo estava a milhares de


quilômetros, e no momento que eu precisei, nem tendo consciência

dessa necessidade, ele se fez presente.

— Eu acho que você precisa sair daí enquanto é tempo.

Compre passagens, venha para a Finlândia. Vou encontrar você lá

— Yerík resmungou apressado.

— Deixá-la está fora de questão.

— Isso é fodido demais, já falei pra você. — Ele respirou

fundo. — Traga ela.


— Deixar nossos irmãos parece um erro. Nós dois sabemos

disso.

— Você vai ser morto — ele gritou e eu fechei meus olhos. —

Eles vão te matar na primeira chance e ela... porra, ela vai continuar
viva, mas destruída pela sua morte.

— Eu preciso ir, cara. — Me ergui da madeira repleta de neve

e olhei para a casa. — Yerík...

— Sim, Villain?

— Se alguma coisa acontecer, venha até ela e diga que eu


queria que fosse diferente.

— Você fez o exame?

— Ele não importa.

Eu desliguei e andei para a casa. Assim que entrei, ouvi

vozes. Parei na sala e vi Lake de pé, de costas para mim. Todos


estavam olhando para ela. Alguém atirou e eu corri, derrubando-a

no chão. Ela gritou e eu me movi, procurando qualquer sinal de tiro.

— Ei, ei! Tudo bem? — gritei, apavorado.

— Sim — ela me olhou em pânico —, se levanta. — Ela me

empurrou e nos erguemos juntos.


Eu olhei ao redor da sala e encontrei nossos irmãos nos
encarando. A mãe de Sienna estava com a cabeça caída e o

sangue escorria dela para o chão. Que porra...

— Eu vou perguntar uma vez. — A voz de Rocco soou

perigosa. Eu fiquei rígido. — O que diabos está acontecendo? Por

que a mãe da Sienna disse isso?

— Eu não sei o que ela disse — falei calmamente, erguendo

meu queixo.

— Que você está fodendo a porra da sua irmã! — Matteo

gritou, eu o vi pela lateral dos meus olhos.

— Isso é mentira. — Lake se apressou enquanto eu ainda


estava em choque. — Pelo amor de Deus, Rocco! — ela gritou,

horrorizada. — A mulher estava dizendo que falou com o filho

morto...

Rocco se aproximou lentamente e eu continuei o encarando.

Meus olhos nos dele, mas também em Matteo. Se um deles se

aproximasse dela, eu teria pouco tempo.

— Quem é Silk? — Rocco acenou para a minha garganta. —

Quem porra é Silk, Prince?

— Ninguém — grunhi, apertando meus pulsos.


Eu não esperei o soco, mas ele veio como um raio. Seu

punho colidiu com minha mandíbula e eu cambaleei para trás.

— Quem é Silk? — Ele agarrou meu casaco e me empurrou

contra a parede.

— Ninguém!

Dessa vez seu soco foi na minha barriga. Em cima da minha


cirurgia recente. A dor cegou meus sentidos por longos segundos.

— Rocco! Pare com isso! — Lake gritou, batendo no braço

dele. — Não o machuque, por favor. Pare!

— , ? — ele berrou mais uma vez e socou

minha barriga.

Senti o sangue molhando minha pele, e a dor dessa vez não


me segurou.

— Sou eu! — Lake gritou mais uma vez, porém, de alguma


forma, mais alto.

Tão alto que sua voz reverberou dentro da minha alma.

Meu irmão soltou meu casaco e deu um passo para trás. O

rosto furioso deu lugar ao choque e, em seguida, ao nojo. Ele


balançou a cabeça, olhou ao redor e voltou a nos encarar, franzindo
as sobrancelhas.
— Você fodeu a Lake? A sua irmã? — A voz dele era repleta

de asco.

Por quê? Porque o amor que eu sentia por ela era sinônimo
de algo tão nojento?

Por que diabos amar Lake Trevisan causava repulsa nas


pessoas?

Eu a amava mais que a mim, um tipo de amor que poucas

pessoas no mundo terão a sorte de experimentar, mas ainda assim


viam esse amor com nojo.

— Eu a amo — falei com firmeza.

Ele fechou os olhos e balançou a cabeça olhando para mim.

— Quem é você? Meu irmão jamais faria isso! — Matteo


gritou, se aproximando.

— Ele faria e fez. Ele odiava isso e se culpava, mas ele a


amou. Antes — falei e os dois me olharam perplexos. — Ele a amou

quando manteve o pai preso por anos. Ele a amou mesmo não se
lembrando dela. Na Dinamarca, preso, ele a amou.

— Pare de falar! — Rocco gritou, sacando a arma e mirando

em meu rosto.

Em segundos, Lake ficou na minha frente.


— Não faça isso. Por favor, eu imploro, não faça isso. — Ela
soluçou, tremendo. Por mais que eu quisesse tocá-la, sabia que não
era o momento.

Talvez esse momento nunca mais fosse chegar.

— Lake... — Sienna se ergueu, completamente chocada.

Pela mãe morta ou por nós. Ou pelos dois. Eu não sabia.

— Deixem o Prince sair. Eu juro que não vamos mais nos

ver... eu juro. Rocco, eu juro pelo meu sangue. Por nossas vidas,
deixe-o ir — Lake implorou e eu odiei cada palavra.

Villain quis se soltar, arrancar as correntes que eu usava para

prendê-lo, mas eu o mantive sob controle.

— Você acha que eu acredito em uma palavra que sai da sua

boca? — Rocco cuspiu. — O que você acha que é? Quem você


acha que é para me pedir isso?

— Eu sou uma Trevisan.

— Você e ele não merecem a porra desse nome! — Matteo


andou até ficar diante dela. — Como vocês conseguem se olhar na

porra do espelho?

Lake se encolheu e eu empurrei Matteo para longe dela.


— Não grite com ela! — berrei, furioso, então ele me socou.
Eu não revidei, não podia, porque de alguma maneira o entendia. —
Me bata, me torture, me mate, mas você não vai gritar com ela.

— Vocês... — Sienna falou e eu a encarei sobre o ombro de

Matteo. — A calcinha era sua, não é? — A pergunta foi para Lake.


Não vi o rosto dela, mas sabia que estava chorando. Sienna

balançou a cabeça. — Desde quando?

— Eu já falei — respondi, querendo poupar Lake. — Na


Dinamarca, quando éramos adolescentes, sempre. Porque não

mando em meu coração. Você também não.

Rocco andou de um lado para o outro, em silêncio.

— Eu vou matar você — Matteo falou.

— Faça — eu acenei —, agora ou amanhã, mas deixe-a de

fora disso! — rosnei, tentando controlar meus impulsos.

— Ela? — Rocco olhou para todos e parou em mim. — Ela


vai se casar hoje.

— Ela não quer esse casamento — falei rápido, furioso só


por pensar em Lake se casando.

— Não dou a mínima para o que ela quer. — Rocco se

aproximou ainda com a arma na mão. — Ela é nada para mim.


— Rocco... — Sienna começou, mas meu irmão ergueu a

mão.

— Você vai se casar com Luca e eu terei sorte de nunca mais

olhar para o seu rosto. — Ele balançou a cabeça mais uma vez. —
E você, porra, eu vou fazer o que o diabo amaria fazer.

— Você não é Deus! — Lake gritou, furiosa.

— Não, eu sou o demônio. — Rocco deu um sorriso

impiedoso.

— Levem Prince para a mesma cela que o pai dele, o que

abusou da irmã dele. — Ele semicerrou os olhos. — A semelhança

é assustadora.

— Não se atreva! — Lake gritou, passando ao meu lado.

Segurei seu ombro, mas Matteo me socou na barriga. Dessa


vez, o sangue manchou tanto ele quanto eu.

— Ettore me estuprou, Prince nunca seria capaz disso. Você

conhece seu irmão! — ela berrou, fora de si. — Conhece o coração


dele, vocês todos o fazem. — Ela olhou para Sienna. — Você sabe,

Si. Ele nunca seria capaz disso. — As lágrimas desceram

novamente, alcançando seus lábios e caindo sobre o decote.


Ela estava linda no vestido. Era horrível pensar que essa

seria minha última imagem dela.

— O meu irmão jamais tocaria na minha irmã — Rocco falou


sério e se aproximou dela. — E você, por um momento da minha

vida, imaginei no meu trono, mas eu estava errado.

— Ainda somos nós. Prince e Lake. Seus irmãos...

— Prince e Lake não são nada para mim.

Blue e Sienna permaneceram em silêncio, ambas chorando.

— Escolha um vestido, você vai se casar — Matteo


murmurou sério.

Eu quis socar sua cara, mas eu pude ouvir a voz da Lake.

Eles não entendem, e nós não muito tempo atrás, também

não.

Não nos compreendiam. Eles não tinham culpa.

— Eu vou te ver ainda hoje. — Rocco mirou seus olhos em

mim, completamente sério.

Então se virou e encarou a sogra morta.

— Alguém tira a porra dessa mulher do meu sofá! — Com


seu grito, Matteo me empurrou para fora e eu fui levado por meu
irmão para a morte.

Eu só não sabia que ela seria meu inferno também.


Todo meu corpo doía. Cada parte com células vivas latejava.
Minha mente corria tentando pensar em alguma saída, qualquer

uma onde eu pudesse tirá-lo da posse dos nossos irmãos e irmos


embora. Mas não havia. Nem uma mísera chance de fuga.

Prince e eu chegamos ao nosso final e ele não era feliz.

Sienna me colocou dentro do bunker, segurando a bolsa que

havia agarrado desde que saímos para aquele jantar. Olhei para o
local fechado e engoli em seco. Ordens do Rocco. Presa em um

lugar que deveria me proteger. Si fungou. Eu sabia que isso estava

doendo nela. A morte da mãe, o quase sequestro dos filhos, eu e


Prince.
Porém, também, me prender aqui.

Foi assim que ela foi tratada ao chegar aqui. Presa, sozinha,

machucada.

— Por que não me falou? — Ela fungou, desnorteada. — Isso


é errado em tantos níveis, mas eu... eu faria algo. Deus, eu não

quero que Rocco mate Prince.

— Me deixe ir... — pedi, morrendo por isso.

Usar sua dor para meu benefício era errado, mas era a única

maneira.

— Me deixe ir. Eu sumo com ele — implorei, mas Sienna

negou.

— Rocco jamais me perdoaria. Nunca. Ele me ama, mas há

algo sobre vocês, irmãos dele, que o deixa completamente fora de

si. — Uma lágrima solitária deslizou no rosto já molhado. — E eu

nem entendo isso porque vocês cresceram separados, mas esse


sangue — ela apontou para minhas veias — é sinônimo de uma

lealdade cega e de um amor que arruína tudo em que toca.

— Eu amo o Prince, Sienna. Ele é a minha vida — confessei,

agarrando suas mãos. — Aquele homem, o mesmo que me segurou

quando caí andando de bicicleta, o mesmo que me viu nascer,


aquele homem é a única coisa boa que me foi dada. Prince me ama
de uma maneira — parei de falar porque eu iria dizer que ela não

sabia, mas ela sabia — distorcida que só um Trevisan pode amar.

Sienna negou, confusa.

— Eu sei. Você está confusa, eu também estive, Si. Desde a

minha adolescência lutando contra algo que meu coração pedia e


minha alma implorava. Eu o beijei pela primeira vez quando éramos

dois adolescentes e ele correu de mim, me odiou e teve nojo.

— Lake... — Ela desviou o olhar.

— Olhe para mim! — gritei, desesperada — Esta é uma

história distorcida onde a princesa não é a mocinha. Da princesa


que tentou o príncipe a pecar e ele pecou.

— Por favor...

— Na Dinamarca, eu o beijei mais uma vez, eu o fiz me tocar

e me foder, sem nem imaginar quem eu era. A única vilã dessa

história sou eu. A pessoa que deve pagar pelo erro de pecar, sou
eu!

— Ele não é inocente!

— Eu muito menos! — berrei, sufocada. — Se Rocco quer

punir alguém, que me puna. Não ele, que ao chegar aqui tentou se
manter longe e, mais uma vez, como a serpente, eu o tentei.

— Nenhum de vocês é inocente. — Sienna soltou minhas

mãos e recuou. — Eu amo você, mas hoje vou ser leal ao meu

marido.

Si saiu e fechou a porta, levando com ela qualquer esperança


que eu tinha de conseguir fugir e ajudar Prince. O som da fechadura

me fez gritar, caindo de joelhos. Não havia maneira de sair. Fechei


meus olhos e pensei em alguma forma. Porém, quanto mais o

tempo passava, mais nervosa eu ficava. Prince precisava de mim, e


como uma garota estúpida, eu estava presa.

Me ergui e mexi em todo canto do quarto de pânico. Era


grande, com várias camas e comida estocada. Meu estômago

agitou com fome, mas eu o esqueci. Ele não era importante. Abri
uma porta e armas apareceram. Peguei coldres e enfiei duas armas

em minhas laterais. Peguei as facas e coloquei na perna, dentro da


cinta-liga.

Haveria uma brecha, e Deus me ajudasse, eu a usaria.

Uma hora depois ou algo perto disso, ouvi barulho. Meu


coração golpeou contra minhas costelas e eu me ergui da cama. Me
afastei e me escondi, e quando um cabelo vermelho apareceu, eu

me senti péssima, mas prendi Blue com meu braço.

— Pare com isso! — ela falou baixo e tocou minha mão. —


Eu vim ajudar.

Suas palavras me acalmaram, mas não a soltei.

— Minha mãe era usuária de drogas — Blue murmurou e seu


corpo relaxou contra o meu peito. — Não sei se já ouviu sobre

isso...

— Eu preciso sair daqui. Me desculpa, mas vou fazer o que


for preciso...

— Um dia, ela havia sido pega com drogas da Bratva. Para


Rocco, isso é a morte. Então, eu implorei a Matteo pela vida dela. —

A voz suave quebrou e Blue fungou. — Matteo não me ajudou.


Lembrar disso me rasga a alma, mas é a verdade. Ele sequer se

mexeu pela vida dela. Mas Prince — Blue soluçou como se a


lembrança estivesse vívida na sua cabeça e, talvez, estivesse —
não me perguntou nada, ele apenas ligou para Rocco e a salvou.

Soltei-a devagar e mirei a arma, tremendo. O rosto da ruiva

de Matteo estava cheio de lágrimas. Ela levou a mão à boca e


acenou.
— Eu disse a ele naquele exato momento... no dia que
precisar de mim, só me diga a hora e local. Ele não precisou me
dizer nada, Lake. Eu vi em seus olhos, naquela sala, sem ele nem

mesmo me olhar. — Blue respirou fundo. — Este é o momento. Vá


salvá-lo e, por favor, consiga.

— Blue...

— Corra.

Eu me movi para fora e continuei correndo. Minhas pernas


ardiam em cima do salto que ainda estava em meus pés. A faca

raspava a minha pele, mas eu continuei até estar em meu carro.


Pisei no acelerador e dirigi mais rápido do que nunca.

Corri pela vida dele e pela minha.

Eu parei o carro antes do galpão para onde eu ia há anos.


Verifiquei a munição das armas e coloquei-as de volta no meu

corpo. Peguei um dos meus elásticos de cabelo e o prendi mais no


alto. O salto faria barulho, por isso optei por deixá-lo no carro.

Antes de ir, disquei no celular que ainda estava comigo o


número de Yerík. Demorou para ele atender, talvez pelo fuso, mas

quando o fez suspirei aliviada.


— Eu preciso que esteja pronto para pegar Prince no
aeroporto — falei rápido.

— O quê?

— Nos descobriram — murmurei, respirando com dificuldade.

— Porra. Ele precisa de documentos novos...

— Eu sei, já tenho alguém que os fará.

Yerík desligou pedindo que eu o mantivesse informado.

Disquei outro número, e quando sua voz ecoou, tentei deixar todo o

ressentimento de lado.

— Eu preciso da sua ajuda.

— Lake? — A voz dele ecoou completamente confusa.

— Eu pago o que você pedir.

Ele não demorou para aceitar e, em questão de minutos, eu

tinha documentos novos para Prince em Indiana.

Guardei meu celular ao desligar e foquei no principal, tirar

Prince dos nossos irmãos.

Entrei na mata e andei devagar, sentindo meus pés doerem

contra as pedras e pedaços de madeira. A escuridão banhava a


floresta, mas não deixei o medo se aproximar. Eu precisava chegar

até ele.

Ouvi vozes assim que fiquei a poucos metros do edifício alto.

Me escondi atrás de um tronco grosso de uma árvore grande e


respirei fundo. Meu peito subia e descia, mas eu controlei os ruídos

com a boca.

— Eu não vou matar meu irmão! — Romeo gritou, me


deixando rígida. — Olha para mim, porra, eu posso atirar, mutilar e

torturar quem você quiser, mas não ele!

— Você acha que eu quero isso? — Rocco rebateu rápido. —

Eu o peguei nos braços, inferno! Mas o que você quer que eu faça?

— Sua voz ecoou perdida.

— Eu também não sei, mas esse não é o caminho.

— Como eles foram capazes de fazer algo assim? — Matteo


falou e eu ouvi o choro em sua voz. — Como ele pôde? Como

diabos ela pôde? Eu sempre os vi como melhores amigos...

— Não faço ideia, tenho nojo só de imaginar Lake nua —


Rocco grunhiu e eu fechei meus olhos.

Porém, me dei conta de que se eles estavam aqui, Prince


estava sozinho lá dentro.
Me movi devagar e fui pela mata. Pisei em um galho

quebrado e quase gritei ao sentir a coisa perfurar a pele fina dos

meus pés. Continuei morrendo de dor e cheguei ao galpão.

Entrei no local sem pressa, porque se tinha algo que aprendi

era que você só era pego quando estava fazendo algo errado.

Desci a escada com a arma na mão mesmo sabendo que

meus irmãos nunca deixariam outra pessoa participar dos nossos

problemas. Meu coração caiu quando vi Prince. Ele estava sentado


e sangue pingava da sua roupa para o chão. A poça redonda de

sangue já preenchia o piso onde sua cadeira estava.

— Ei, acorde — chamei baixo e abri o portão atirando na


tranca. Não saiu nenhum som, porque peguei silenciadores. —

Prince.

Me ajoelhei em seu sangue e desamarrei suas mãos. Seu

rosto estava com hematomas, por um momento odiei meus irmãos.

O que eles haviam feito?

— Silk... — Ele abriu as pálpebras e eu senti pavor me

preencher.

Ele não conseguiria ir até o carro. Era visível em seus olhos

opacos e sua pele pálida que havia perdido muito sangue.


— Vamos embora. — Tentei erguer seu corpo, consegui

apenas na terceira vez.

Saí da cela e fechei os olhos. Como eu o carregaria até o

carro? Era impossível.

— Eu preciso que fique aqui — falei, sem fôlego, e o coloquei

de volta na cadeira.

— O que está fazendo? — Seu suspiro baixo e fraco me

trouxe lágrimas.

— Deixe as mãos para trás.

Ele fez isso e eu saí da cela. Limpei meus pés no lado sem

sangue para não deixar pegadas e andei na ponta deles. Fechei a


cela e fui para a parede do fundo, onde a escuridão me

encobertaria. Esperei longos minutos até ouvir passos e aguardei

para ver se os três apareceriam. Só assim meu plano daria certo.

— Porra... — Romeo falou, com Rocco e Matteo atrás dele.

Os três se aproximaram e eu peguei minhas armas. Quando


eles me ouviram, não houve tempo para sacarem suas próprias

pistolas. Eles arregalaram os olhos, chocados. Eu sabia que eles

não esperavam por mim.

— Sienna! — Rocco gritou, mas eu neguei.


— Blue — falei encarando Matteo e ele ficou rígido. — Ela

tem algo que poucas pessoas têm – gratidão e lealdade. Não foi

você, foi ele. E quando ela teve que escolher, ela escolheu quem

havia escolhido ela. Você sabe do que estou falando.

Meu irmão piscou e desviou o olhar. Eu sabia que o havia

machucado, e por um momento me importei, mas foi só ouvir o


gemido de dor de Prince que tudo desapareceu.

— Entrem na cela. Rocco e Matteo. Você fica — falei para

Romeo.

Ele me encarou, sem reservas ou máscaras, apenas meu

irmão.

— Como isso aconteceu? — Romeo murmurou, franzindo as

sobrancelhas.

— Eu não saberia te responder isso, mas posso te falar que

eu o amo. Como se ele fosse um pedaço de mim, como minha alma

e nada, nada que você, a igreja ou as pessoas falem pode mudar


isso.

— É errado! — Rocco gritou, furioso.

— É, mas nenhum de nós se importa de fazer o errado.

— Lake... — Matteo começou.


— “O orgulho do homem o humilha, mas o de espírito

humilde obtém honra.” [i]— recitei a bíblia e encarei os três. — Quem

de nós é mais orgulhoso? Não peça desculpa, não implore, não


perdoe... este é o nosso lema e isso é um pecado.

— O que você...

— “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a


[ii]
espada, pela espada morrerão.” — Ignorei Romeo, tremendo ao

segurar a arma. — Quantas vidas tiramos? Quantas vezes

empunhamos uma espada e levamos alguém à morte? Várias! O


meu pecado é amar meu irmão e compreendo totalmente, não

aceito e nem peço perdão por isso, mas compreendo.

Os três me olharam sem reação.

— Vou me casar com Luca. Vou fazer o que quiser. Mas

depois. — Encarei Rocco, séria. — Agora... agora, eu sairei daqui


com ele e vocês não irão me impedir.

— Você não vai atirar em nós... — A voz do Rocco parou


assim que apertei o gatilho e atirei bem ao lado do seu braço,

atingindo a parede.

— Por ele, eu vou.

Ele amaldiçoou e puxou Matteo para a cela.


— Pegue Prince e feche a cela. — Acenei com a minha arma
para Romeo e ele fez o que pedi.

Assim que Rocco e Matteo estavam presos, eu olhei para


eles.

— Eu estarei no meu quarto pela manhã.

Romeo subiu as escadas e eu o segui, mantendo a mira de

uma arma neles e a outra em Romeo. Nós subimos e eu respirei

fundo, sentindo um pouco de alívio. Abri o carro do Romeo e o


mandei pôr Prince dentro.

— Lake, não faça nada estúpido...

— Eu já fiz. Eu atirei contra meu Don, meu irmão. — Me

afastei dele e abri a porta do lado do motorista. — Me deixe ir, nos

dê tempo...

— Nem um milhão de anos será suficiente para você se


despedir dele.

— Eu vou tentar.

Entrei no carro e dirigi rapidamente. Parei para trocar de


carro, porque sabia que o de Romeo tinha rastreador. Colocar

Prince nele levou tempo, mas eu o fiz rapidamente. Depois de


quase vinte minutos, estacionei e liguei para a única pessoa que eu
jamais pensei em ligar.

— O que houve?

— Eu preciso da sua amiga, aquela médica. Agora, aqui no

estacionamento — grunhi, sem fôlego.

— Você sabe que não moro mais aí, certo?

— Eu preciso dela aqui, não você! Pode me ajudar ou não?

Kiara suspirou e disse que sim. Desliguei e quebrei o celular.

Em cinco minutos as portas do elevador se abriram e uma garota


apareceu carregando uma mala.

— O que houve com ele? — Aysha abriu a porta e eu deitei o

banco.

— Ele fez uma cirurgia e hoje se meteu em uma briga —


expliquei, respirando fundo. A garota acenou e rasgou a camisa

dele.

— Caramba. — Aysha fez uma careta e eu me encolhi ao ver


a ferida aberta. — Eu vou fechá-lo, mas você precisa levá-lo a um
hospital. Pode haver uma hemorragia interna...

Não tínhamos tempo, a costura teria que servir. Assim que


ela começou a trabalhar, Prince gemeu em alguns momentos.
Quando enfim acabou, ela enfiou dois potes de remédio na minha
mão.

— Faça ele engolir pelo menos dois desses a cada quatro

horas.

Eu guardei os comprimidos e a encarei.

— Eu vou pagar por isso.

— Um dia. — Aysha se afastou e fechou a porta do carro.

Eu voltei a dirigir, e dessa vez não parei em nenhum lugar.


Prince acordou em algum momento e eu o fiz engolir os remédios.

— O que houve, Silk? — Ele estava sonolento, por isso

apenas dei água a ele e pedi que dormisse. — Não, me diz... como
saímos de lá?

— Eu preciso que descanse. A viagem é longa. Nós


conversamos daqui a pouco.

— Você me tirou de lá. — Prince me ignorou e olhou para a


barriga. — Você fez isso?

— Não, aquela amiga da Kiara. Aysha.

— Para onde estamos indo? — Ele focou na paisagem.

— Pegar documentos novos. — Optei por dizer apenas isso.


Prince pegou minha mão e levou até sua boca. Ele beijou
cada junção dos meus dedos e isso fez lágrimas encherem meus

olhos.

— Por que você está chorando, Silk? — ele perguntou assim


que solucei e seus olhos vieram para os meus.

— Eu... eles...

Mentira.

Nada me preocupava além dele. Não me importei comigo,


com outros, apenas com o homem que possuía meu corpo, alma e

coração.

Prince estava debilitado e eu o deixaria. Voltaria para o


inferno da máfia e o deixaria seguir sua vida sem mim, isso partiu

meu coração em tantos pedaços quanto o cinturão de asteroides


nas órbitas de Marte e Júpiter. Lá, na imensidão do universo, eles
pareciam minúsculos, e era assim que meu coração se sentia.
As lágrimas dela secaram em algum momento, mas não
deixei de tocá-la. Nem quando quis me curvar para vomitar. Os

remédios que ela me fez engolir eram grandes e estavam me dando


enjoo. Eram eficazes, no entanto. A dor havia diminuído bastante.

— Aysha disse que precisa ir a um hospital. — Lake deslizou


pela pista e eu pude ver a placa nos dando boas-vindas a Indiana.

— Estou bem. — Suspirei quando olhei para seu rosto.

Ela estava com o mesmo vestido que usou para ir ao jantar.

Sua maquiagem estava borrada e seu cabelo se soltando do rabo


preso no alto da sua cabeça. Mas nada disso conseguiu deixá-la

menos que perfeita.


Qualquer coisa que já senti em minha vida não se

aproximava do amor que eu sentia por ela.

— Para onde vamos? — perguntei, desejando poder

vislumbrar um futuro.

— Yerík disse que para a Finlândia. — Ela engoliu com força.

— Você falou com ele?

— Sim, eu precisava que fosse até o aeroporto.

— O.k., você fez certo. — Beijei seus dedos e olhei para a


pista.

Ela dirigiu mais um tempo, mas quando entrou em um


condomínio de luxo eu estranhei. Onde estávamos e quem

veríamos?

— Olhe para mim — Silk pediu e isso me alertou.

Foquei em seu rosto e Lake sorriu. Suas mãos tocaram meu


rosto e havia uma saudade em seus olhos que por um momento não

compreendi, mas logo o fiz.

— Você não vai comigo, não é?

Seu queixo tremeu, e enquanto seus olhos piscavam rápidos,

ela acenou. Um simples gesto foi capaz de me trazer mais dor que o
buraco em minha barriga.

— Você sabe... o final, ele nunca foi bonito para nós. — Lake

acariciou minha bochecha, chorando. — Ninguém nunca me fez

acreditar que teríamos um final digno. Só o que necessitamos.

— Silk...

— Não posso correr o risco de eles entrarem em um

consenso e matarem você. — Ela balançou a cabeça e fungou. — E

por mais que doa, eu escolhi ficar, escolhi permanecer para que eles

te deixem ir em paz, sem buscas.

— E quem disse que eles não nos deixariam ir? — perguntei,

mas nem mesmo reconheci minha voz.

— Nós conhecemos nossos irmãos.

Ela estava certa, e talvez fosse isso que mais me irritasse.

Ela estava certa. Minha Lake sabia que eu tinha consciência disso.

— Eu arrumei documentos novos e essa pessoa vai levar


você até a Finlândia. Ela me deve. — Suas palavras saíram fortes.

Eu me inclinei, ignorando a dor.

Na alma e na barriga.
— Como eu posso viver sozinho depois de conhecer o

paraíso que é viver ao seu lado?

Minha pergunta a fez me abraçar mais forte que nunca,

porque nós dois sabíamos que isso não voltaria a acontecer.

— Eu sempre, eternamente, vou reviver a dádiva que foi


estar em seus braços — Lake sussurrou baixinho e segurou os

pedaços da minha camisa. — Se um dia você amar de novo, espero


que seja calmo, que te deixe confortável e que faça você sentir pelo

menos um décimo do que me fez sentir. — Lake sorriu enquanto


partia meu coração.

Eu não imaginava amar ninguém além dela. Ninguém parecia


capaz disso. Só ela.

— Eu nunca vou amar de novo. Para isso precisaria de um

coração, e neste momento ele está completamente destruído. —


Puxei-a pela nuca e a encarei sem reservas, deixando-a ver a dor e
todo o desespero.

— Prince...

— Viva sua vida plenamente, Silk. Viva por nós dois, porque

estou morrendo. E eu sei que o futuro será horrível.


— Não, não vai ser. — Ela limpou seu rosto e tocou o meu.

— Nós vamos ficar bem. Eu aqui, e você lá. Nós precisamos ficar
bem. Porque senão... de que valeu a pena?

— Você vai se casar com ele?

Eu precisava perguntar, porque se fosse, Deus, eu jamais


sairia daqui.

— Não. Não vou, não posso. — Ela olhou para a casa e

beijou meus dedos. — Nós precisamos ir. Por favor, jamais duvide
do meu amor por você. Isso sempre foi a única coisa que me

manteve sã. No meu pior momento, você foi a única coisa que me
manteve de pé.

Eu não duvidava. Jamais duvidei do seu amor quando era


óbvio em suas ações.

— Eu seria um idiota se fizesse isso. — Beijei sua boca,

puxando-a contra mim.

A dor foi boa, ela se juntou a da minha alma e fez o nosso

beijo ser o mais doloroso de todo o mundo. Lake me puxou mais,


como se pudéssemos nos fundir. Suas mãos apertaram a blusa, as

unhas rasgando o tecido e depois minha pele enquanto eu invadia


sua boca, procurando alívio. Procurando memorizar seu beijo.
Procurando memorizar Lake dentro de mim, para que eu
nunca mais me sentisse sozinho no mundo, mas era em vão.

Sem Lake, eu era apenas um menino perdido.

Ela deixou beijos em meu rosto e pescoço, me abraçando.

— Eu te amo. Por toda minha vida eu te amei. Para sempre


te amarei. Isso não vai morrer, é impossível. — Ela fungou enquanto
lágrimas desciam por seu rosto.

Toquei sua pele, espalhei a lágrima e beijei seu nariz, olhos,

boca, sobrancelhas. Tudo que eu pude alcançar, eu beijei.

— Você é a melhor coisa da minha vida. — Tentei sorrir,


tentei agir como um adulto, e em vez de quebrar diante dela, optei
por ser forte para ela. Foi um inferno, mas eu o fiz. — Um dia, se o

universo quiser, nós vamos nos reencontrar.

— Eu acredito nisso. — Ela acenou repetidamente.

Abracei o corpo dela e fechei meus olhos, lágrimas que


segurei desceram, mas as escondi rapidamente.

— Eu te amo, Silk. Você é dona da minha alma. Dona de nós.

Ela soluçou e se afastou.

— Eu amo você. Os dois. Pra sempre.


Ela me beijou novamente, e quando nos separamos ouvi uma
porta abrir. A entrada da casa estava clara.

— Quem é a pessoa que arrumou os documentos? —


perguntei quando ela abriu a porta.

— Não importa quem é. Importa o que ele vai fazer.

Quando Lionel surgiu com sua namorada ao lado eu encarei

os dois. Saí do carro, ignorando a dor latente em minha barriga.

— Lake — grunhi, irritado.

Eu teria matado esse rato quando pude, mas não fiz por ela,
sabendo que jamais o veria novamente, só que agora ali estava ele.

— Lake. — Ele acenou e evitou me olhar.

Sua namorada olhou para Lake e eu conseguia ver as

lágrimas em seus olhos.

— Eu... — a garota falou, mas logo ficou em silêncio.

— Oi, Cass. — Lake veio para perto de mim e segurou minha


mão. — Vocês me devem e sabem disso. Tirar Prince dos é

pouco para o que você fez a mim, Lionel.

— Eu sei e estou com o jato pronto. — O cara não me olhou


novamente, era sábio por isso. Eu poderia matá-lo.
O que ele fez ocasionou tudo pelo qual eu sempre temi. Lake,

indefesa. Lake, abusada.

Ele era o culpado.

— Bom. Prince precisa de um médico. — Ela me olhou e o

casal encarou minha barriga. O curativo já estava com sangue.

— Você vai ficar? Dormir aqui? — Cass perguntou.

— Não, eu só vim deixá-lo.

Lionel e ela acenaram e suspiraram.

— Nós vamos dar um tempo a vocês. Prince, é só entrar na

casa.

Eu semicerrei os olhos, mas ele não esperou por resposta.

Apenas se virou e levou sua namorada junto.

— Eu não gosto disso — falei de maneira firme. Lake me

puxou para trás do carro. — Silk.

— É nossa única chance. — Ela deu um sorriso triste e

segurou meus braços. — Jesus! Eu queria que tivéssemos tempo.

Eu...

Eu a calei batendo minha boca na sua. Sua língua entrou em

meus lábios e eu chupei, sedento por seu toque, qualquer coisa que
ela pudesse me oferecer.

— Prince, por favor. — Ela gemeu se afastando, mas eu a

empurrei contra o carro. Segurei sua coxa e empurrei meus quadris


contra ela. Lake mordeu meu peito e suas unhas fincaram em minha

carne.

— Sem calcinha, mais uma vez — gemi, tocando sua bunda

nua.

Apertei com força e ela gemeu. Eu a ergui e Lake abriu suas


coxas. A dor em minha barriga ficou em segundo plano quando

enfiei meu pau duro dentro dela. Lake jogou a cabeça para trás e eu

baixei o topo do seu vestido, arrebentando as alças. Me inclinei


capturando seu mamilo e mordi para em seguida sugar. Comi sua

boceta lentamente, fazendo-a implorar.

— Oh, Princesa, eu amo você e essa boceta. Porra, como eu

amo sua boceta. — Capturei seu clitóris e apertei, seu corpo se

arrepiou e Lake gozou. — Preciso do seu gosto na minha língua.

Eu caí de joelhos e segurei suas coxas abertas. Lambi de

cima a baixo, amando o sabor. Lake gritou quando mordi um dos

seus lábios grandes e girei minha língua em seu canal.

— Prince, por favor.


— Implore mais, Silk. Porra, não acredito que é a última vez

que vou ter meu pau tão profundo em você. — Minhas palavras
foram cruas e a dor voltou, mas eu a usei para dar prazer a Lake.

Chupei seu clitóris e me ergui, voltando meu pau para o seu


lugar.

— Sua boceta é meu lar.

— Eu amo você. — Ela gemeu enquanto as lágrimas

desciam. Quando alcançaram seu decote, eu me inclinei e lambi

cada uma delas, deixando as minhas próprias em sua pele.

Lake soluçou e eu fiz o mesmo. Assim que gozei, eu a

abracei apertado e beijei sua testa.

— Um dia, eu prometo.

— Não faça isso. Não me dê esperanças — ela pediu,


chorando.

Segurei seu queixo.

— Um dia, eu prometo.

Ela acenou e me abraçou com força. Eu odiei me despedir


dela, me senti fracassado, perdido e fraco.

Eu, Villain, nós odiávamos nos sentirmos fracos.


Lake se afastou, se vestiu e eu a levei até a porta do carro.

Assim que abri, ela tocou minha barriga.

— Deixe o médico cuidar de você.

— Eu vou, prometo.

Ela acenou, me abraçou e entrou no carro. Eu me afastei, e

mesmo na escuridão, consegui ver seu rosto brilhando pelas

lágrimas. Me matou saber que ela voltaria para Chicago sozinha, na

madrugada, chorando.

— Um dia.

— Um dia.

Ela dirigiu para longe e eu fiquei parado, vendo meu coração

ir e levar minha alma junto. Não ficou nada, apenas a dor de não a
ter aqui. A solidão fria de não saber quando a veria.

Porém, de uma coisa eu tinha absoluta certeza, eu a veria.

Um dia.

Lionel e eu não trocamos palavras, Cass foi a pessoa que me

recebeu na casa e trouxe o médico para me tratar. Foi ela também


quem me deixou no jato e a última que vi desde que saí dos . Eu

havia viajado por horas, a dor física havia cessado, mas a pior não.

— Ei, cara. — Yerík me puxou para seus braços assim que o

encontrei no aeroporto da Finlândia.

Ele estava mais forte, com um casaco escuro, gorro e um

cachecol. As luvas também eram pretas. Abracei-o com força e o

larguei quando desejei poder fechar os olhos e chorar. Porra, eu


estava ridículo.

— A garota é insana, mano.

Completamente.

— Eu não sei o que fazer. Pra onde ir. Sem ela, estou perdido
— confessei, olhando para o meu melhor amigo e ele me abraçou

novamente.

— Às vezes é bom se perder. Em outro momento, você vai se


encontrar.

— Sem ela? Impossível.

— Eu também achei isso. — Ele colocou o braço sobre meus

ombros enquanto andávamos para o carro. A porcaria do país era

frio como Chicago nunca foi.


Cassedy me deu roupas de frio, e graças a elas eu não
estava tremendo dos pés à cabeça.

— Então, eles descobriram tudo? — Yerík perguntou


enquanto dirigia.

Eu respirei fundo, olhando para a neve acumulada. Depois de


um tempo, encarei meu amigo.

— Eles descobriram, me mantiveram preso, me bateram, e

depois, ela me salvou. Ela foi até lá, mirou uma arma na cara do
nosso Don e me tirou de lá.

— Cara, sua garota é louca. — Yerík riu, mas eu vi a


admiração.

Eu a chamava de princesa, mas a verdade era que Lake

Trevisan era uma rainha, uma distorcida, insana e impiedosa.

Eu tive sorte de tê-la.

Eu precisava ter sorte para recuperá-la.


Eu não sei como cheguei a minha casa. Tudo parecia um
borrão em minha mente. Dirigi no automático, chorando por todo o

caminho, e quando cheguei meus irmãos estavam na sala. Eles me


assistiram subir a escada e me perder dentro de mim mesma.

Eu não dormi, nem sei se era capaz, mas meu coração


estúpido, fraco e dolorido não conseguia me deixar sem chorar.

No banho, dentro da banheira que eu usei com ele tantas


vezes.

Na cama, onde ele me tocou como o único homem que podia


fazer isso.
Em tudo que eu olhava, via ele.

E isso me destruiu lentamente.

— Lake, por favor — Lunna implorou na porta enquanto eu

estava sentada na janela, olhando para a imensidão de gelo que


cobria o lago.

Sienna já havia vindo, e pensar em Lunna com nojo de mim,


como Si, me partia ao meio.

— Lake, não me deixe de fora...

Eu me ergui e fui até a porta. Assim que abri, ela se assustou

com o barulho repentino e, talvez, com a minha aparência horrível.

— Eu... eu sinto muito.

— Por quê? Você não fez nada comigo, Lunna — falei,

voltando para meu lugar.

Ela fechou a porta e se aproximou até se encostar na janela


também, de frente para mim. Seus olhos estavam cansados e seu

cabelo preso.

— Por ter percebido isso e não ter feito algo.

Suas palavras me fizeram erguer o olhar. Lunna sorriu e

fungou baixo.
— No dia do aniversário da Nina. Eu estava com dor de
cabeça e procurei um lugar com menos iluminação. — Lunna olhou

para o gelo e eu senti meu estômago girar. — Eu vi vocês entrarem

e saírem de lá. Poderia não ser nada de mais, mas a maneira como

vocês saíram, preocupados, me disse que havia algo ali. Então,

quando Sienna disse que encontrou uma calcinha nas coisas dele,

eu liguei os pontos.

— E não contou a ninguém? Não teve nojo de nós dois?

— Eu acho que depois de passar por tanta coisa, eu não me

sinto mais no direito de julgar. Porém... sim, por um momento senti

repulsa.

— É errado, dizem...

— Porque somos condicionados a isso desde sempre.

Ninguém acha isso normal, Lake. Ninguém. Porque não é. — Lunna

apertou meu joelho. — Mas não estou dizendo que o amor que

sente por ele é. Amar é o que somos ensinados. Não entendo seu

amor, mas não tenho nojo dele. Eu tenho medo. — Eu a encarei,


sentindo minha garganta fechar. — Medo do que as pessoas

pensam, do que podem fazer com vocês. Eu tenho medo.


— Eu realmente o amo — murmurei, cansada

emocionalmente, e solucei. Lunna se aproximou e me abraçou. —


Não sei como vou viver sem ele. Não parece justo ou correto fazer

isso.

— Eu imagino que sim. Porém, nós amamos vocês. Seus

irmãos podem não confessar, mas eles se sentem aliviados por


você ter ido até lá e libertado Prince.

Eu sabia que sim, a discussão deles ainda estava viva em

minha cabeça.

— Eu vou me casar com Luca — sussurrei, porque eu

realmente o faria.

— Eu não quero que faça isso...

— Eu preciso. — Acenei, certa disso, mas Lunna suspirou


contrariada. — Preciso ir embora, Lunna. Preciso deixar tudo isso
pra trás. — Apontei para o quarto. — Isso tudo... as lembranças

estão me sufocando, não posso ficar mais um dia nesta mansão.

Luna fungou e eu a deixei me abraçar.

— Você vai ficar bem, Lake.

— Um dia.

Um dia eu ficaria.
Eu não fiquei melhor com o tempo. Ele deveria me curar,
certo? A dor não estava diminuindo. Nem um por cento. E eu não
escondi isso de ninguém. Meus irmãos assistiram a minha queda

dia após dia. Até, finalmente, o dia do meu casamento.

Quando Rocco falou com Luca, obviamente o imbecil loiro


correu para acatar a ordem do seu Don como um filhote. Eu não

estava sendo justa, mas ultimamente eu não era eu.

— Você está linda. — Sienna sorriu tristemente me olhando.

Não era para ser um dia alegre? Me perguntei enquanto

passava a mão pelo tecido de seda. Eu escolhi um vestido simples,


nada de véu, nada de cauda ou qualquer coisa que realmente

dissesse que eu era uma noiva. O vestido era branco de mangas


longas, um decote pequeno e fluido pelo corpo.

— A mais linda noiva, e olha que eu fui incrível. — Lunna


sorriu, tentando me fazer sorrir, mas realmente não havia como.

— Eu queria que você se visse... — Blue murmurou ao lado,

abraçando Nina.
— Por quê? A garota no espelho não sou eu.

Elas respiraram fundo e Nina desceu dos braços da mãe.

Quando ela se aproximou de mim, me ajoelhei para ficar na sua


altura, pouco me importando com o vestido.

— Você tá tliste. É pelo titio Plince? Cadê ele? — Suas

palavras fizeram a comporta se abrir.

Cadê ele? Deus, eu queria saber, mas não sabia. Yerík não

me avisou nada, e eu não liguei, porque, sinceramente, continuar


mantendo contato só me faria sofrer mais.

— Nina... — Blue tentou tirá-la de perto, mas eu abracei

minha sobrinha.

— A titia não está triste, princesa. Está tudo bem — menti,

me afastando e enxugando minhas lágrimas com um lenço.

— Eu posso comer um docinho?

Então sorri pela primeira vez.

Blue a levou e eu me ergui com a ajuda da Sienna.

— Não se preocupem comigo. Eu estou bem.

Era mentira, mas quem se importava?


Eu desci do quarto e fui levada à igreja. Quando saí do carro,
meus irmãos estavam ali. Eu os ignorei. Não havia falado com
nenhum e isso não mudaria.

— Romeo vai levá-la até o altar — Rocco falou, mas eu

apenas neguei.

— Ninguém vai. Se estou indo para o inferno, não quero


companhia. Eu e o diabo nos damos bem.

Eles respiraram fundo, notoriamente irritados.

— É para seu bem, nós jamais faríamos algo que a

machucasse...

— Então, por que estou sangrando?

Matteo abriu a boca, mas voltou a fechá-la.

— Me diz, Matt, por que tudo dentro de mim parece em

chamas?

Sorri, vendo que nenhum falaria nada.

— Sentem em seus lugares e assistam a minha ruína.

Andei para longe deles, e quando anunciaram minha entrada,

eu me desconectei.
Luca era um cara simples, gostava de piadas e isso eu
percebi apenas hoje. Eu não quis festa, mas houve e eu fui obrigada

a ir. As pessoas não se importavam, elas festejavam, sorriam,

bebiam e comiam alegremente, enquanto eu me perdia em minha


mente. O que Luca logo percebeu.

— Você quer ir embora?

Sim!

Não, se você pensa em me tocar!

Luca logo descobriria que teria uma esposa no papel, mas na

cama, jamais. Ninguém iria me tocar. Nunca.

— Sim. — Acenei, suspirando.

Não me despedi da minha família e isso chocou o capo de


Rosemont. Assim que entrei em seu carro para irmos, Luca se

sentou diante de mim. Eu tinha que admitir que ele era bonito. Com

olhos azuis, um cabelo loiro limpo e uma covinha no queixo que o

deixava atraente, ele era o sonho de qualquer mulher. Menos o


meu.

— Você quer me contar do porquê nosso casamento foi às


pressas? — ele sussurrou, sorrindo.
— Meus irmãos têm suas próprias vidas agora. Queriam se

livrar da caçula — murmurei, a mentira deslizando facilmente.

— Hum, bom pra mim, então — ele murmurou, rindo


novamente.

Eu fiquei em silêncio e olhei para fora da janela. Chicago


ficou para trás e logo adentramos mais fundo em Illinois. Eu tinha

que dizer o quanto o meu estado era lindo.

— Você não parece com a Lake Trevisan que subiu naquele


palco e colocou centenas de homens crescidos em seu lugar. —

Luca ergueu a sobrancelha, compenetrado.

Eu não era mais ela.

— Gosto de guardar essa Lake.

Luca riu novamente. Não sabia que uma pessoa podia rir

tanto.

— Meus pais não puderam ir ao casamento pela viagem

longa — ele explicou algo que eu nem havia percebido. — Eles são

idosos.

— Ah, que pena — murmurei, tentando soar o mais sincera

possível.

— Você os conhecerá amanhã.


Amanhã parecia perto demais para conhecer qualquer

pessoa, mas apenas acenei.

Assim que chegamos, depois de horas e conversas a base

de risos de Luca, nós entramos na sua residência. Já havia


anoitecido, por isso fomos diretamente para os quartos da casa. Ela

era uma casa mediana, pequena em comparação a dos meus

irmãos, mas era bonita e sofisticada.

— Esse é o...

— Meu quarto — falei de maneira firme, fazendo Luca inclinar


a cabeça. — Não vou dividir uma cama com você.

— Hum, estranho, mas concordo. Não vamos dividir o quarto

— Luca murmurou.

Eu vi que meus pertences estavam arrumados. Sienna havia

mandado tudo hoje pela manhã.

— Sério? — perguntei, um tanto chocada. Qual homem casa

com uma mulher e não quer dividir o quarto com ela?

— Sim, mas isso não quer dizer que não vamos dividir a

cama. Eu preciso de um herdeiro, depois dele, aí você pode ficar

por conta própria.

Que diabos?
— Não vou lhe dar filho algum. Não vou me deitar com você.

Nunca — pontuei cada palavra e Luca riu. O infeliz riu!

— Durma bem, Lake.

A porta foi fechada e eu corri para passar a chave. Quando

fiquei protegida, procurei por qualquer coisa no quarto, câmeras e


escutas. Não havia nada.

Tirei o vestido e o rasguei em pedaços, jogando a porcaria no

meu closet. Tomei um banho longo e limpei o beijo de Luca na


minha testa na hora do casamento. Ele bem que queria na boca,

mas me abaixei rápido.

Depois de me vestir, entrei nas cobertas e chorei.

Por muito tempo.

Eu fingi estar doente por uma semana. Luca vinha me ver,

mas logo saía e seus pais não vieram com medo de pegarem a
doença. Dramáticos. Porém, meu marido logo percebeu que era

mentira. Então, conheci seus pais. Eram velhinhos ranzinzas que


tratavam Luca como um menino, não um homem. Seu pai era um

pouco bruto, mas eu o ignorei a maior parte do tempo.

— Meus pais são donos do local.

Estávamos indo a um restaurante que os pais dele nos


convidaram. Eu não queria ir, estava com um mal-estar pela comida

apimentada que comi no almoço, mas Luca implorou.

— Hum, legal.

O homem ao seu lado, Baron, riu. Ele era melhor amigo do

Luca e sempre estava conosco. Era legal, mas eu não estava com
ânimo para fazer amizades.

— Baron — Luca resmungou, mas o amigo riu mais.

— Ei, ela está entediada. Deveríamos levá-la a uma boate

legal.

Luca negou, rígido, mas eu me interessei.

— Eu quero ir.

Qualquer coisa com barulho suficiente me faria parar de ouvir

meus pensamentos. Eles estavam me enlouquecendo.

— Obrigado, Baron — Luca grunhiu, revirando os olhos.


Então nós jantamos com os pais de Luca, porém Baron ficou
no carro todo o tempo. Ele parecia entretido com o celular quando

voltamos. Fomos para a boate, e assim que entramos, eu relaxei.

Minha cabeça derreteu e eu dancei, me afastando dos dois.

Ambos ficaram na mesa e eu me mexi ao som lento de

Ariana Grande. Fui ao bar, pedi uma bebida e quando voltei dancei
mais. Meus pés já estavam doendo quando enfim me cansei. Me

virei para ir até Luca, mas parei ao ver Baron me encarando.

O olhar intenso me fez franzir as sobrancelhas. Que porra ele


estava fazendo?

Andei em sua direção, mas percebi que ele não estava


realmente olhando para mim, e sim, com o olhar perdido na

multidão. Eu vi quando Luca começou a falar com ele. A mão do


meu marido foi para a coxa de Baron e eu fiquei chocada quando

ele beijou o canto da boca do outro.

Que porra era essa?

Ignorei isso e voltei a andar. Bebi com eles e quando fomos

embora, Baron se juntou a gente. Entrei na casa e subi para o meu


quarto. A bebida tinha feito efeito e eu estava um pouco tonta, mas
não menos curiosa.
Luca não me seguiu e eu fiquei quieta até ouvir passos.
Múltiplos.

Abri um pouco minha porta e vi ambos. Levei minha mão à


boca, chocada demais ao ver ambos se beijando.

— Meu Deus! — murmurei, chocada.

Os dois continuaram se beijando e vi quando Baron abriu a


calça de Luca. Meu marido abriu sua camisa e ambos sumiram

dentro do quarto escuro.

Fechei minha porta devagar e deslizei pela madeira, grata


demais a Deus pela dádiva de ter me casado com um homem .

Agora eu sabia o motivo de Luca querer esse casamento. Era sua


fachada.

— Ah, Luca, peguei você.


Três meses.

Noventa dias.

Duas mil cento e sessenta horas.

O tempo do meu inferno era medido por dor, não pelo relógio.
E eu estava cansado.

— Eu preciso pensar bem na minha rota de fuga — Yerík


murmurou, focado em um mapa.

Sim, ele ainda estava focado em sequestrar a filha de um dos


capos da Bratva. Eu achava uma loucura, mas ele estava decidido.
O sequestro já deveria ter acontecido, mas tudo fazia a garota adiar

o casamento.

— Você deveria ter uma rota no ar. É mais fácil — opinei,

olhando para a janela.

Ficamos de vez na Finlândia por motivos óbvios. Yerík

precisava coordenar melhor o sequestro e eu precisava manter

minha cabeça sobre meu pescoço.

— Você sabe pilotar? — Ele me encarou sério.

Yerík era mais velho que eu quase dez anos. Tínhamos


muitas coisas diferentes e tantas outras iguais, uma dessas era

saber a hora de parar. Não sabíamos.

— Não, mas essa garota vai cancelar esse casamento de

novo e dá tempo de aprender.

Yerík acenou e passou a procurar um curso de pilotagem.

Eu o deixei focado no trabalho e dei uma volta. A casa onde

morávamos ficava em Kemi, uma cidade pequena repleta de

florestas e lagos congelados. Era frio e não conhecíamos ninguém.

Há duas semanas, Aduke esteve aqui, mas precisou ir para a casa,

para sua família. Ela e Yerík não estavam bem, era visível. Aduke

não gostava da ideia de ele querer sequestrar alguém.


Me sentei em um banco depois de tirar a neve e cruzei meus
braços. O parque estava bonito, mas ultimamente tudo estava me

deixando para baixo.

Lake não adorava o frio, mas eu sabia que ela gostaria daqui.

O lago sempre a faria lembrar do Michigan. Ela se sentiria em casa,

mesmo longe.

Fechei meus olhos e peguei o celular. Havia uma foto dela,

uma das várias que deixei no celular. Não trouxe o aparelho, mas

todas estavam salvas na nuvem. Nos primeiros dias aqui pensei em

ligar, mas não queria colocá-la em problemas.

Então, eu estava escrevendo mensagens em um grupo que

estava apenas eu. Eu mandava a cada vez que algo me lembrava


ela, ou quando queria matar alguém por não a ter.

Tudo se resumia a ela.

— Ei, bom dia! — Uma senhora se sentou na ponta e eu me

afastei mais, sem responder. — Você vem aqui quase todos os dias.

— E você também.

Já a havia visto por aqui, mas ela nunca se aproximou.

— Sim, você está sempre no meu banco.

Eu olhei ao redor e a encarei.


— Seu?

— Sim, Paulo amava esse banco, todos os dias nos

sentávamos aqui. Você está no lugar dele. — Ela fez uma careta,

mal-humorada. — Pare de se sentar aqui.

— Olha, você precisa falar com o prefeito...

— Seu pestinha. — Ela atacou com sua bengala e eu me


ergui, chocado. — Saia. Não volte aqui.

— Você fugiu do asilo? — perguntei, irritado, mas ela piscou

e em segundos começou a chorar. Muito.

Porra.

— Olha, dona, eu tô indo... — Apontei para a saída do

parque, mas ela pegou meu braço e me fez sentar.

— Deixe de ser abestalhado, não estou chorando. — Ela


suspirou, sorriu e inclinou a cabeça. — Gabi.

Olhei para sua mão estendida e fiquei confuso pra caralho.


Eu vinha aqui apenas para pensar em Lake sem Yerík nos meus

ouvidos.

— Prince.
— Que piada. — Ela revirou os olhos. — Meu marido

realmente se sentava aí. — Sua voz baixou e ela olhou para a


frente. — Ele se foi há três meses.

Três meses.

— Eu perdi alguém há três meses também.

— Sério? Morreu de quê? Meu Paulo infartou...

— De nada, ela está bem — falei rápido, assustado só com a


ideia de perder realmente Lake.

— Então, você não perdeu nada. Só deixou pra trás.

— Não fale o que não sabe. — Apertei minha mandíbula.

— Estou sendo sincera. — A velhinha deu de ombros.

Me ergui, insultado demais, e a encarei.

— Boa tarde, Gabi.

Me virei e comecei a andar, porém ela gritou meu nome.

Irritado, me virei novamente.

— O quê?

— Sua garota merece alguém que lute por ela — Gabi


murmurou séria, então, se apoiando na bengala, a velhinha me deu

as costas e foi embora.


As palavras da Gabi continuaram em minha mente por dias.

Quando a sua sugestão alcançou um patamar elevado em minha


mente, eu decidi agir.

Peguei meu celular e liguei para Lake. Chamou duas vezes e


caiu. Ela não retornou. Nem um dia depois e nem um mês depois.

Eu sentia que algo estava acontecendo, mas sabia que não podia ir
para os Estados Unidos.

— Porra, você aprendeu rápido. — Yerík riu enquanto eu


pilotava um helicóptero pela primeira vez. Nós demos uma volta

com o professor por perto e depois fomos almoçar no restaurante de


sempre.

— Yerík. — Suspirei, empurrando o prato remexido. Eu

estava sem fome.

— O quê? — ele perguntou depois de morder um

hambúrguer.

Fiz uma careta ao ver o molho em sua barba por fazer.

— Preciso ir até ela — falei, por fim.


— Porra, cara, não! — Ele balançou a cabeça, ficando
completamente sério.

— Eu preciso. Estou com documentos novos, ninguém vai


saber que estou lá. — Minha voz aumentou e Yerík respirou fundo,

limpando a boca com o guardanapo. — Ela não me respondeu.


Liguei e ela não respondeu. Alguma coisa está acontecendo, cara.

— Ela deve estar bem... cara, ela é forte — ele rebateu, com

confiança.

— O.k., mas eu preciso vê-la.

Meu melhor amigo balançou a cabeça, jogou o guardanapo


na mesa e levou as mãos à cabeça. Depois de muito tempo, ele

acenou.

— Eu vou com você.

Viajar não era tão simples para nós, uma vez que tínhamos

aberto um bar na Finlândia para encobrir o que realmente fazíamos


– tráfico e matadores de aluguel. Yerík e eu nos dividíamos nas

coisas, por isso, primeiro resolvemos nossos problemas e depois

focamos na viagem.

Eu nem sabia que estava tão ansioso até entrar na porra do

avião.
Nós pousamos em Wisconsin e fomos dirigindo até Chicago.

Yerík foi esperto nisso, porque os homens do Rocco poderiam me

reconhecer. Eu não sabia o que ele disse para explicar minha

ausência e nem queria.

A única coisa em minha cabeça era ver minha Silk.

Esperei por um longo tempo até ela sair do shopping. Seu

cabelo voava e tinha um segurança com ela. Fiquei de pé, e quando

seus olhos bateram nos meus, seu corpo virou pedra. Movimentei a

cabeça chamando-a e ela acenou.

Assim que despistou o segurança, Blue entrou em meu carro.

Ela olhou para cada pedaço meu e me abraçou. Eu fiz o mesmo, era
bom estar em casa.

— Eu preciso da sua ajuda — falei assim que ela se afastou.

— Prince... eu...

— Você é a única pessoa que pode me ajudar. — Segurei


sua mão com força e Blue suspirou.
— Aquele dia, eu soltei a Lake. Eu a deixei ir e paguei por

isso com Matteo. Você entende? — Seu cabelo vermelho deslizou e

eu a vi respirar fundo.

Suspirei ao entender o significado disso.

— Você não me deve mais nada. Eu entendo. — Acenei,


tocando sua cabeça. — Darei meu jeito. Estou com saudades da

Nina.

— Não é isso que eu quis dizer, eu vou ajudar, mas... Lake


não é mais a mesma.

Eu sabia que não. Nem eu era.

— Também não sou, Blue.

A esposa de Matteo respirou fundo e pegou o celular. Depois


de soltá-lo, me olhou com coragem.

— Ela está morando em Rosemont, agora.

Tudo que Blue pudesse fazer para me machucar doeria

menos do que isso. Porque eu sabia o que significava. Ela se casou

com Luca.

— Ela não vem para Chicago desde o casamento. Óbvio que

vamos sempre lá, Sienna e Lunna — Blue respirou fundo —, mas no


último mês ela estava mais distante e indisposta a nos ver.
Eu me inclinei sobre o volante e soquei o painel, fúria

nadando em minhas veias. Ela mentiu para mim. Me disse que não
se casaria, mas onde ela estava? Nos braços daquele filho da puta.

— Prince, calma! — ela berrou, assustada.

Eu fechei meus olhos, tentando inutilmente me acalmar.

Silk mentiu na minha cara.

— Eu vou até lá. Faça com que ela saia de casa.

Blue abriu a boca, mas voltou a fechá-la. Eu sabia o que ela

estava pensando, mas não importava. Nada disso importava.

— Salve meu contato. Não deixe Matteo saber que estou


aqui.

Blue suspirou, mas acenou. Assim que saiu do meu carro, eu


comecei a dirigir. Peguei Yerík no hotel e fui até Rosemont matar

alguém.
Eu tinha um segredo. Um que ninguém sabia e eu queria

manter assim.

— Você está linda. — Luca sorriu ao lado de Baron.

De modo quase imperceptível, eles se afastaram. Se eu não

soubesse o segredo deles, não teria percebido. Luca sorriu relaxado


e Baron também.

— Realmente — Baron concordou e eu me sentei longe dos

dois.

— Eu estou de moletom e casaco da cabeça aos pés —

resmunguei, revirando os olhos e eles deram de ombros.

— Então, algo para fazer hoje?

Nada. Nada mesmo.

Minhas cunhadas queriam vir me visitar, mas neguei. Não

queria ninguém em Rosemont. Não podia. Meu celular começou a


tocar e eu peguei o aparelho novo. Fazia alguns meses que perdi o

outro quando o joguei na cabeça de Baron em uma boate. Eu

estava bêbada e ele estava brincando comigo.

— Ei, Blue — respondi, sorrindo e me erguendo, deixando o

casal de pombinhos sozinho.


— Ei, estou em Rosemont. Não surte. Me encontre no King’s.

— Sua voz soou tensa e eu me preocupei instantaneamente.

— Meus irmãos estão bem? — perguntei baixo, mas Blue

não respondeu.

Quando desligou na minha cara, eu já estava subindo a

escada. Vesti uma roupa quente com botas pretas e saí de casa

após avisar ao casal secreto que eu iria ver minha cunhada. Luca
não gostava de seguranças, por isso eu também não andava com

eles.

Assim que cheguei ao King’s, me senti fora da minha zona de


conforto. Era um lugar jovem, com boliche e sinuca. Não sabia o

que Blue tinha na cabeça de vir para cá.

Eu a procurei pelo local, mas não a vi. Talvez ainda fosse

chegar, por isso me sentei e aguardei. Quando o garçom se

aproximou, pedi um hambúrguer com batatas fritas e suco.

— Obrigada. — Sorri para o garoto e ele saiu da minha

frente, deixando a visão de todo o espaço aberta.

Meus lábios cederam quando vi um homem parado no final

do lugar, perto da parede. Respirei fundo, neguei e apertei meus


olhos, mas ele continuou lá. Me olhando. Me ergui para andar em
sua direção, mas ele fez o mesmo, por isso parei.

Prince parou diante de mim e eu quase caí quando minhas


pernas viraram geleias.

— De quem é o anel em seu dedo?

Escondi minha mão e tentei abrir a boca, mas nada saía.

Como você dizia ao homem que amava que se casou com outro?

— Quantas mentiras você me contou?

Não, eu não... mas ele estava certo. Eu menti.

— Eu não podia ficar em Chicago — respondi de maneira

firme e me apoiei na mesa.

Me sentei e o encarei, ainda de pé. Ele parecia o mesmo,

mas seus olhos não. Não havia fogo, nada. Ele parecia abatido.

— Como você está? Senta — pedi, na verdade, quase


implorei.

— Eu estou morto por dentro. Você, no entanto, parece bem.

— Sua amargura me fez tentar tocá-lo, mas ele se esquivou.

— Olha, Luca nunca me tocou, se é isso que tanto te irrita.


Eu jamais permitiria — falei, tentando me aproximar, mas Prince riu.
— Você acha que é por isso? — Ele negou e se inclinou,
quando seus dedos agarraram a minha mão, eu me assustei. —
Meu anel deveria estar aqui, não o dele. — Prince tirou o anel de

casamento e jogou no meio da pista de boliche.

Deus, como era possível ele existir? Qualquer homem ficaria


furioso só de pensar que sua garota foi tocada por alguém, mas ele

estava furioso por um anel idiota.

— Você sabe o que houve. Sabe que eu também queria isso.

— Você não quer mais? — Sua voz soou machucada.

— Isso não é possível para nós dois — falei, sem o encarar.

Prince respirou fundo e o garçom chegou. Eu comecei a

comer enquanto ele me observava como um falcão. Quando me


enchi, empurrei a batata com cheddar em sua direção. Ele amava.

— Não quero. — Ele se ergueu e jogou o dinheiro na mesa,

então eu fiz o mesmo com medo de ele ir embora. — Venha comigo.


— Prince estendeu a mão e a minha palma coçou para ir.

— Para onde?

— Importa? — ele grunhiu, irritado. — Se estou ao seu lado,

importa para onde eu vou te levar?

— Não, claro que não — falei rápido e peguei sua mão.


Saímos do King’s e eu respirei fundo o ar de Rosemont. Era
uma cidade linda e aprendi a gostar dela. Prince me colocou no
carro e dirigiu. Quando ele entrou em um hotel na cidade, eu o segui

sem questionar.

Assim que entramos em seu quarto, vi uma mochila e muitos


casacos. Me virei para ele, mas percebi que não o escutei se

aproximar. Prince estava na minha frente, quase cobrindo meu


corpo com o seu.

Seu cheiro me entorpeceu. A dor tão conhecida e regular

cedeu e eu enfim consegui respirar.


Havia algo nela que eu não sabia o que era, eu podia
perceber pelos seus olhos. Eles fugiam de mim, mesmo eu vendo a

necessidade que ela tinha de me tocar.

— Há quanto tempo está... aqui? — Eu ia perguntar casada,

mas a palavra parecia balas de uma doze na minha boca.

— Há poucos meses. — Lake ergueu a mão e tocou meu

casaco. — Não teve um dia que eu não implorei para que eu


estivesse com você.

— Por que você se casou, Lake? — perguntei, me afastando


do seu toque. Ela puxou a mão junto ao peito.
— Porque era o que restou.

Semicerrei os olhos e ela andou até a janela.

— Ficar em Chicago sem você, com eles, parecia errado. —

Ela fechou os olhos e depois me encarou. — Nenhum consegue me


encarar. Todos acham que meu pecado foi demais. Então, Prince,

qual era o ponto de permanecer?

— Você sabia que se casaria no dia em que me levou a

Lionel. Sabia e mentiu...

— Sim, e daí? Eu minto, Prince! Como você, nossos irmãos...


foda-se! — Ela andou até mim e empurrou o dedo em meu peito. —

Então, pode me julgar... me odeie... você não sabe como me senti

subindo em um altar...

Eu me afastei, apertando meus olhos. Imaginei Lake andando

pela igreja. Jesus, obrigado por ter me levado para longe, porque

assistir a isso seria minha morte.

— Você acha que eu estava feliz? Que eu fiquei feliz ao

comprar a merda de um vestido? De viajar até uma cidade

desconhecida? Porra, Prince, não! Eu segurei minhas lágrimas, fiz o

que esperavam de mim, e quando cheguei a Rosemont desabei.

— Olha...
— Luca foi bom pra mim. Na verdade, bom demais para ser
verdade...

— Você se apaixonou por ele?

A pergunta pesou em meu peito, mas Lake me olhou dos pés

à cabeça e balançou a cabeça.

— Você é tão idiota. — Lake riu e andou pelo quarto, até

parar e me encarar. — Luca é e mesmo se não fosse, eu jamais

poderia amar alguém além de você.

Porra, o quê?

— Ele queria um casamento para manter a fachada que é


sua vida. Ele e o melhor amigo são um casal — ela explicou e se

sentou na cama, parecendo cansada.

— O que você tem? Parece cansada, e não é só agora.

Desde que entrou naquele lugar...

— Não tenho nada — ela rebateu, irritada.

Me aproximei e toquei sua testa. Ela parecia quente. Peguei

as pontas do seu casaco e tirei dela, ouvindo seus gemidos.

— O que diabos você está fazendo? — Silk gritou.


— Você está febril... — Tirei sua calça também, mas parei

quando notei algo. — Que porra é essa?

Havia um plástico enrolado em sua coxa. Abri suas pernas e

vi a tatuagem ali.

Villain.

Porra.

Meu nome estava escrito em letras pequenas e minúsculas.


Toquei sua coxa e suspirei.

— Quando fez isso? — perguntei, sem forças.

— Há uma semana. Está infeccionado e não sei por que... —


Ela suspirou com dor quando toquei. Realmente estava.

— Você precisa deixar sem o plástico. — Peguei as pontas e

retirei. Havia uma pomada ali que ela devia ter passado. — E
precisa ficar de calcinha a maior parte do tempo. A infecção pode
ser pelo atrito com a roupa.

— O.k. — Ela engoliu em seco e eu percebi como

estávamos.

Eu de joelhos entre suas pernas abertas. Olhei para sua


boceta coberta e levei minha mão ali. Lake mordeu o lábio.
— Alguém teve essa visão da sua boceta, Silk? — Esfreguei

meu polegar e ela engoliu em seco.

— A tatuadora. Ela era uma mulher.

Puxei o tecido e sorri ao ver que estava molhada. Lake


empurrou os quadris em minha direção e eu me inclinei, capturando
seu clitóris com minha boca. Por alguns segundos foi como se eu

estivesse no paraíso. Silk gemeu agarrando meu cabelo e eu levei


meus dedos à sua entrada. Enquanto a chupava e lambia, meus

dedos fizeram inveja ao meu pau. Entrando nela, sentindo seu


aperto.

— Prince, oh Deus! — Ela jogou a cabeça para trás e eu


segurei suas coxas.

— Vou comer sua boceta assim, sem seus peitos em meu

rosto por causa da tatuagem — reclamei chateado e abri meu zíper.

Lake empurrou os quadris e eu entrei em sua boceta


escorregadia. Joguei a cabeça para trás bem, porque finalmente
estava em meu lugar. Em casa.

— Como senti sua falta, porra — rosnei, agarrando sua

cintura.
Bati sua bunda em minha pélvis, fodendo-a tão forte que ela
gritava a cada estocada. Segurei seu cabelo e a puxei contra mim.
Cobri sua boceta com minha palma e depois esfreguei seu clitóris.

Ela grunhiu, tremendo. Soltei seu cabelo e toquei seus peitos. Lake
gemeu, ambos estavam mais cheios e os bicos duros. Eu queria os

dois em minha boca.

— Goze — ordenei, tremendo, e ela acenou.

Com duas estocadas, Lake gritou e banhou meu pau. Eu a

deitei na cama, abri suas pernas e me masturbei. Ela me olhou com


as pálpebras meio abertas e assistiu a minha porra sujar suas coxas

e boceta. Meu nome tatuado foi contemplado também.

— Abra mais as suas coxas.

Silk segurou seus joelhos e eu deslizei dentro dela. Me

inclinei com cuidado e mordisquei seu mamilo. Chupei a carne


deliciosa e mais uma vez gozei. Dessa vez, dentro dela.

— Porra, toda vez parece o céu — grunhi, ainda dentro dela,


sentindo seus espasmos. Respirei fundo, me acalmando e

percebendo que fiquei sobre ela. — Tudo bem? — perguntei e ela


acenou.
Saí da sua boceta e caí ao seu lado. Lake se ergueu e foi ao
banheiro, quando voltou me encarou parada na porta.

— Eu preciso ir.

Não, porra.

— Você não vai. Vamos embora daqui. — Me ergui e andei


até ficar a sua frente. Lake respirou fundo. — Eu não vou mais

acordar na Finlândia pensando nos motivos que fazem você estar


longe, enumerando cada um para que eu me sentisse correto, mas

quer saber, Lake? Eu não sou correto.

— Nossos irmãos...

— Que se fodam. Eles podem me procurar pelo mundo todo,

eu não dou a mínima.

— Eles vão te matar...

— Que matem, mas, por favor, que o tempo que tive antes
tenha sido com você ao meu lado. — Implorei com os olhos para ela

me escolher dessa vez.

Eu estava cansado de pensar nessa garota. De tentar me

convencer que era o melhor. Para quem, porra?

— Não estamos felizes, Lake.


— Eles vão nos caçar... — Ela desviou os olhos lacrimosos

dos meus.

— E vamos fugir. Eu posso lidar com uma vida fugindo, o que

eu não posso, de maneira nenhuma, é respirar mais um dia sem


você comigo. Isso me mata.

Ela fungou e correu até meu peito. Eu a abracei com força e

ela enrolou seus braços em meu pescoço. Seu cheiro era tudo que
eu sentia naquele momento, e se pudesse morrer, eu o faria em

paz.

— Vamos. Porém, eu preciso falar com Luca.

— Ele vai contar ao Rocco — protestei, mas Lake negou.

— Eu tenho o segredo dele, ele vai guardar o meu.

Tentei pensar em uma maneira de fazê-la mudar de ideia,


mas ela já estava pegando suas roupas. Merda!

Quando entramos na casa, eu a achei bonita, mas não algo à


altura da minha Silk. Lake entrou na frente, e quando vimos Luca,

paramos. Ele estava jogando videogame com outro cara.


— Baby, você precisa ver, Baron perdeu tudo — Luca gritou

sem nos ver.

— Ei, tudo bem? — Lake falou e o tom da sua voz fez eles se
virarem.

Os dois se ergueram e eu fiquei atrás da Lake os encarando.

— Ei, cara. — Luca franziu as sobrancelhas. — Seu irmão

disse que precisou dar um tempo de Chicago. Já retornou?

— Luca, eu estou indo embora.

Ele ficou branco e depois começou a balançar a cabeça.

— Lake, o quê? — Luca deu um passo, mas me movi e ele

parou.

— Você pode falar o que quiser. Que resolvi ir morar em

Paris, gastando seu dinheiro. Qualquer coisa, Luca. — Ela se

aproximou dele e ergueu o rosto. — Mas eu não posso mais ficar


aqui.

— E o Rocco? Eu... que diabos é isso, Lake? — Ele parecia

completamente furioso e, principalmente, assustado.

— O que acabei de dizer. Ele vai me ligar e eu vou confirmar.


Rocco não era idiota. Logo sacaria, mas eu não dava a

mínima. Eu passaria a vida fugindo, mas valeria a pena. Com Silk,


eu sabia que valeria.

— Lake... — Ele olhou nervoso em minha direção.

— Eu sei que era fachada, Luca. Vi você e Baron assim que

cheguei. — Lake se aproximou dele e o homem arregalou os olhos,

me encarando com pavor.

— Que porra... — Ele começou a negar, mas era inútil.

— Olha, não se preocupe conosco. Não vou dizer nada a

ninguém. — Ela respirou fundo. — Eu vou embora, porque não

posso ser feliz aqui. Eu sei que me entende.

Luca respirou fundo e me encarou.

— O que está acontecendo? Por quê?

Lake me encarou e eu dei de ombros. Eu não ligava para a

opinião de ninguém além da dela.

— Prince e eu cruzamos a linha de irmão e irmã — Lake

murmurou e eu toquei sua barriga, puxando-a contra mim.

Os dois arregalaram os olhos e a aversão foi visível a seguir,

mas rapidamente encobriram isso.


— Você... — Baron, ou algo assim, desviou o rosto e andou

para longe.

Luca olhou entre nós, enojado.

— Não estou pedindo sua permissão, Luca. Um segredo pelo

outro. É uma troca justa, não acha? — A voz dela se tornou firme e
ele engoliu em seco.

— Se você quer isso... eu não posso fazer nada.

— Você é um cara legal. Sabe, merece ser feliz. — Silk sorriu

e se aproximou dele.

Cautelosa, ela abriu os braços. Luca suspirou e a puxou para

si. Eles se abraçaram e quando eu ia puxá-la, ele a soltou. Baron se

manteve longe e, que bom, porque bastava Luca próximo a Lake.

— Vou pegar minhas coisas.

Silk começou a subir a escada, mas eu fiquei. Não tiraria


meus olhos dos dois filhos da puta. Se eles pensassem em nos trair,

eu arrancaria a cabeça deles.

— Vou ficar aqui, caso vocês mudem de ideia — murmurei,


me sentando e colocando minha arma na mesa de centro.

Ambos se sentaram e ficaram iguais pedras.


Peguei meu celular e liguei para Yerík.

— Estou levando-a.

— Você perdeu a cabeça, seu insano? — ele gritou, e no

fundo ouvi música.

— Eu não vivo sem ela, você sabe disso.

— Nesses meses...

— Eu apenas fiquei sobre a borda, tentando não me afogar.

Cara, ela é minha, preciso levá-la. Se você achar arriscado para


você e Aduke, nós vamos para outro lugar.

— Aduke, Aduke... esqueça ela. Acabou.

— Cara, não fode, não acabou nada.

— Acabou, ela acabou de me ligar. Me pediu pra escolher


entre ela e a vingança. Quando escolhi, ela disse que não dava

mais. Que eu seguisse minha vida.

Caralho, que inferno!

— O.k., olha, eu estou levando Silk. Quando voltarmos, eu

posso ligar para ela — murmurei, tenso.

— Não. Meu foco é pegar aquela garota, ter a minha

vingança. Se Aduke não pode lidar com isso, por mim, tudo bem.
— Yerík...

— Venha logo. Nosso voo sai em uma hora. Porra, tem que

comprar passagem para ela também. Ela tem documentos falsos?


Porque vai precisar.

Não, mas ela sabia onde conseguir.

Desliguei o celular e me inclinei sobre meus cotovelos.

— Sabe, vocês não são tão diferentes de nós — comecei a


falar e os dois me encararam. Ergui os olhos e suspirei. — Deus os

condena da mesma forma.

— Jamais ficaria com meu irmão, isso é nojento! — Baron


gritou, nervoso.

— Se um dia alguém te amar da maneira como eu amo


aquela mulher, você terá sorte. Nossas almas não têm laços

sanguíneos, e a dela me pertence, a minha, pertence a ela. Como


meu coração.

Baron ia falar mais, porém Luca tocou sua perna e o calou.

— Não sou ninguém para julgar você. Cuide dela. Só isso. —


Luca acenou gentil e olhou para Baron. Durante poucos segundos

eles tiveram uma conversa com o olhar e pronto, Baron relaxou na


cadeira.
Um tempo depois, Lake surgiu. Ela carregava duas malas e
eu quase chorei por isso. Ela não ia precisar disso na Finlândia. Na
verdade, teríamos que comprar novos casacos.

Peguei minha arma da mesa e guardei no coldre. Me

aproximei da Lake e tomei as malas das duas mãos. Ela sorriu e


agradeceu.

— Luca, obrigada por tudo. Entrarei em contato.

— Tudo bem. Fique bem e segura. — Luca a abraçou


novamente e depois de acenar para Baron, ela andou ao meu lado
para fora.

Coloquei suas malas no carro e entramos. Lake sorriu e


descansou sua cabeça em meu ombro enquanto eu começava a
dirigir.

— Tá longe de acabar, né? — Sua voz ecoou fraca e eu

apertei sua coxa.

— Não importa.

E na verdade, não importava. Eu poderia viver uma semana

ou duas, mas se tivesse sido ao lado dela, morreria feliz.

Era egoísta, mas era a verdade.


Não demorou muito para a nossa família perceber o que
havia acontecido. Sienna foi a primeira a ligar e eu ainda estava em

solo americano.

— Luca disse que foi para Paris. — A voz dela ecoou baixa.

— Como Prince está?

Eu o encarei diante de mim, dentro de um jatinho que Lionel

nos emprestou novamente. Ele estava dormindo, parecia tão


exausto. Sua respiração suave me deu a sensação de calmaria. Era

bom, mas a tempestade viria.

— Eu não sei, estou em Paris — falei, bocejando.


— Lake, você nunca iria para Paris. Aquele lugar não faz seu

estilo. — Si riu na linha, nervosa.

Ao ouvir passos ao fundo, semicerrei os olhos.

— As pessoas mudam, Sienna. Onde estão meus irmãos? —


Mudei de assunto, sabendo que eles estavam ao seu lado.

— Estão aqui.

É claro.

— Eu preciso desligar. Estou indo fazer compras...

— É madrugada aí, Lake.

Porra.

— É uma promoção exclusiva. Sabe, uma fila imensa, preciso

chegar cedo.

— Você não nos engana — Rocco resmungou ao tomar o


celular e eu respirei fundo. — Eu aceitei os seus termos, Lake. Não

fui atrás dele, o deixei ir enquanto você permanecesse...

— Eu não sei por que está nervoso. Eu estou na França com

a permissão do meu marido. Não sou mais responsabilidade sua,

Rocco.

— Não sei o que fez a Luca, mas eu vou descobrir.


— Como sua esposa falou, é madrugada.

— Lake, eu vou matar vocês dois dessa vez.

— Rocco, eu estou em Paris, curtindo o país, livre das

demandas de vocês. Me esqueçam — grunhi, irritada pela sua

ameaça.

— Eu vou te encontrar.

— Eu passo o meu hotel assim que pousar — murmurei e ele

desligou.

Eu não sabia o que estava passando na cabeça deles, mas

de uma coisa eu tinha certeza, eu não ia ficar mais um segundo


longe do Prince. Não podia. E mesmo que nossos irmãos nos

caçassem, eu permaneceria fugindo. Nada mais importava.

Eu me sentei ao seu lado e apoiei minha cabeça em seu

ombro. Yerík me observou da outra ponta e eu o encarei.

— Por que você não nos condena como todo mundo? —


perguntei baixo.

Sempre quis fazer essa pergunta. Desde que Prince

descobriu que éramos irmãos, Yerík o apoiou em tudo. Até em

nossa relação.
— Não posso julgar meu melhor amigo quando ele faz algo

que o deixa feliz. — Ele encarou a janela. — Não posso julgá-lo


quando eu presenciei quão miserável a vida dele é sem você.

De alguma forma estúpida, eu me senti bem com a centelha


de reconhecimento. Mesmo que fosse ridículo querer que alguém

que você amava estivesse sofrendo. Saber que não sofria sozinha
aliviava.

— Aduke está na Finlândia?

Yerík respirou fundo e me encarou. Ele era alto, com


tatuagens em todos os lugares, menos no rosto. Seus olhos eram

azuis e ele era mais velho que Prince e eu. Apostaria uns trinta e
poucos.

— Não estamos mais juntos.

— Entendi, sinto muito.

— Não sinta.

Ele me ignorou logo depois e eu fiquei quieta. Prince


continuou dormindo e eu voltei a pensar na minha família. Eu os

veria de novo? E os pequenos? Um dia, eu os veria grandes? Nina


casando, os gêmeos, Remy, Alena e Lua também? Isso trouxe
lágrimas aos meus olhos. Não queria viver longe da minha família.
Na verdade, eu nunca desejei ficar longe.

Meu desejo sempre foi nós quatro juntos, sempre.

Eu odiava que isso nunca poderia se realizar.

Odiava saber que eu não os veria novamente, e se os visse,


seria minha ruína.

— Silk — Quando Prince murmurou baixinho, eu o olhei.

Seus olhos estavam selados e sua respiração continuava lenta. —


Silk... não vá.

Meu coração doeu. Ele estava sonhando comigo deixando-o?

— Ei, estou aqui — respondi, engolindo meu choro e tocando


sua mão, apertando-a. — Estamos juntos. Dessa vez pra sempre,

eu juro.

Quando chegamos à Finlândia, Prince e Yerík tiveram que


sair. Eu não sabia como estava sendo a vida deles aqui, mas de

uma coisa eu tinha certeza, a casa era um lixo.

— Eu não vou morar aqui. Pelo amor de Deus, como você


viveu aqui tanto tempo? — perguntei quando ele chegou trazendo
comida. Yerík não estava com ele.

A casa era de um andar e não era quente o bastante. Era

próxima da cidade, mas eu vi que demorava alguns minutos.

— Essa não é nossa casa, Silk. Calma. — Ele segurou meu


rosto entre as mãos e sorriu. — Você fica tão linda brava.

— Onde é, então? — murmurei, sendo engolida pelo meu


cachecol.

— Lá. — Ele apontou para trás e eu me virei.

Depois da porta de trás, havia uma floresta que estava

completamente branca, coberta pela neve. Porém, havia um


caminho aberto entre ela. Abri meus lábios, chocada. A casa era
vermelha e estava coberta de neve também.

— Oh meu Deus! — gritei, sorrindo e me soltando dele. —

Vamos lá.

Ele me enfiou no carro e nós chegamos à casa em dois


minutos. Desci da camionete e subi a escada. A casa realmente era
linda. Abri a porta e a quentura me abraçou.

— Vim aquecer antes de te trazer. — Ele riu nas minhas

costas e eu tirei meu cachecol, gorro e luvas.


— É tão bonita — murmurei para a lareira e Prince me
abraçou por trás.

— Eu a comprei no dia que viajei para te buscar. — Beijou


minha cabeça com carinho, então me derreti em seus braços. —

Yerík disse que eu era um idiota, mas fazer o quê?

— Onde ele está? — perguntei, olhando-o.

— Foi resolver alguns negócios. — Prince se afastou e pegou


minhas malas.

— O que estão fazendo aqui? — questionei, seguindo-o

escada acima.

— Tráfico, mortes... essas coisas. — Ele deu de ombros e eu

estremeci.

— Poderíamos recomeçar sem isso em nossas vidas —

indiquei assim que entramos no quarto.

Prince se virou e colocou as malas no chão. Ele me encarou,

franzindo as sobrancelhas.

— É nisso que somos bons. Saí da família Trevisan, mas

ainda sou o mesmo mafioso com a alma fodida.

Saí da família Trevisan.


Jesus, eu achava que nada poderia me fazer tremer longe

dos meus irmãos, mas aqui estava eu.

Eu não saí, né? Eu amava meus irmãos, amava minhas

cunhadas e sobrinhos. Não queria sair de nenhum lugar, eu só


queria amar Prince.

— Ei, ei. — Prince segurou meu rosto e eu pisquei,

encarando-o. — O que...

— Eu nunca quis sair da família. Ainda me sinto uma

Trevisan, mesmo sabendo que sou uma Bianchi... — tentei falar,


mas Prince me interrompeu.

— Eu renuncio qualquer coisa que me afaste de você, família

ou não.

Eu entendia, mas isso ainda doía.

— Eu também, mas não dói menos.

Prince me abraçou e descansou seu queixo na minha

cabeça. Eu envolvi meus braços em sua cintura e me apoiei em seu


peito.

— Nós vamos ver todos de novo. Um dia.

Eu não sabia se tinha mais medo ou prazer em saber disso.


Prince e eu ficávamos dentro de casa todo o tempo, na

verdade, eu ficava. Não vi mais Yerík desde que cheguei, e Prince


sempre saía à noite e voltava de madrugada. Eu sabia o que ele ia

fazer.

— Esse bar que vocês têm... — comecei a falar assim que


nos sentamos para jantar. Ele sairia em breve.

— Hum. — Seu murmúrio foi feito enquanto comia um


pedaço de carne que grelhamos.

— Não precisa de uma bartender? — Ergui a sobrancelha,

sugestiva, e ele parou de comer.

— Yerík contratou uma garota — Prince murmurou sem

interesse e eu fiquei alerta.

— Uma garota? Por que nunca ouvi falar dela? — sondei,

cortando o pedaço de tomate da salada.

— Porque é uma menina normal. — Deu de ombros,

totalmente concentrado na comida.

— Eu quero ir com você, hoje.


Prince me olhou acenando e eu sorri. Bom, a garotinha

Trevisan ia sair do ninho.

Eu subi para me vestir enquanto Prince ficou lavando a louça.

Não havia muitas opções no frio que fazia, por isso fui ao óbvio –
calça quentinha e um casaco peludo. Calcei minhas botas e Prince

colocou meu cachecol.

— Tome. — Ele me deu minhas luvas e nós saímos.

Assim que chegamos ao bar que não era tão longe quanto

pensei, Prince me colocou atrás do balcão com uma carranca feia.

— O quê? — perguntei sobre o som alto.

— Não saia daqui.

— O que houve? — murmurei, completamente confusa.

— Alguém que não confio. Fique com a Finley. — Prince

acenou para a garota ao lado e eu o encarei.

— Minutos atrás você não a conhecia — resmunguei,


semicerrando os olhos.

Ele agarrou minha mão, colocando sobre seu coração.

— Isso é somente seu. Pare com ciúme.


Estremeci e acenei, mordendo meu lábio. Prince me puxou e

beijou meus lábios rapidamente. Quando me soltou, eu suspirei e

ele saiu.

— Então, você é a garota do Rude.

A voz me deixou confusa. Porém, só depois me lembrei do


nome que Prince havia usado para sair dos .

— É. — Acenei e olhei ao redor.

— Finley — ela estendeu a mão —, e você? — A garota era

jovem realmente, tinha cabelo escuro igual ao meu e era tão magra

quanto uma modelo.

— Sasha.

O nome que estava na minha identidade era estranho na


minha voz.

— É um prazer, Sasha. Aqui é calmo na semana, mas sexta


e sábado fica bem louco — ela gritou sobre a música enquanto

servia dois homens.

— Estou vendo. — Sorri.

O bar realmente era agitado. Durante as horas que Prince

não voltou para me pegar, eu aprendi a servir algumas pessoas com


a ajuda da Finley. Ela até que era legal.
— Onde Yerík está? — perguntei a ela assim que o

movimento diminuiu e Prince surgiu conversando com um homem


em uma das mesas.

— Não sei. Ele sempre aparece pra fechar.

E ela estava certa. Quando chegou perto das duas da

madrugada, as pessoas se dispersaram e Yerík chegou. Ele estava

usando um casaco preto e uma balaclava para cobrir o rosto. Ele


andou até a mesa onde Prince estava e se sentou. O cara que

estava com ele saiu depois que apertaram as mãos.

— Então? Você conseguiu saber se ela vai adiar novamente?


— A voz do Prince ecoou assim que andei até os dois e Finley

desligou o som.

— Ela quem? — perguntei, deslizando em seu colo e me

sentando.

Prince se encostou no banco acolchoado e segurou minha


coxa.

— A garota que Yerík vai sequestrar.

Prince apertou o domínio sobre minha perna e o aviso era

claro. Não fale nada.

— Porra, isso é... surreal — murmurei baixo.


Ele observou a chama na pequena lareira que havia em cada
mesa.

O bar era rústico e tão aconchegante que eu poderia viver


aqui.

— Por que você vai fazer isso? — perguntei, me inclinando


sobre a mesa.

Prince suspirou e eu percebi minha posição sobre seu colo.

— Vingança. — Ele não me encarou, só olhou para Prince. —

Seu namorado vai me ajudar nisso.

— Eu aposto que sim. — Me remexi ao virar e ele agarrou


minhas coxas. — Ele é mais fiel a você que a mim.

— Não chega a tanto, mas sim, vou ajudar Yerík. — Prince


deu de ombros, como se não fosse nada de mais.

— Eu vou fechar o caixa com a Finley. — Yerík se ergueu e


saiu.

Assim que ele sumiu, as mãos do Prince subiram pelas

minhas coxas.

— Sabe o lado ruim de morar na porra de um lugar frio? —


Sua voz perfurou a cama de roupa e me arrepiou. — Eu não posso

enfiar a mão em sua calcinha.


Apertei meu ventre e empurrei minha bunda em seu colo,
sentindo seu pau duro.

— Vamos lá, Silk. Vou foder você enquanto dirijo.

— Não vai ser a primeira vez. — Lambi meus lábios, olhando

para ele sobre o ombro.

— Não, não vai, porque você sempre testa minha obsessão


pela sua boceta.

Ele me ergueu e eu dei tchau para Finley. Prince me agarrou

e eu gritei quando fui erguida e posta sobre seu ombro.

— Rude!

— Eu serei, amor, eu prometo.


Eu a coloquei em meu colo, fechei a porta e ela começou a
tirar a calça grossa. Assim que ficou nua da cintura para baixo, eu

guiei meu pau para sua boceta. Lake jogou o cabelo para trás e eu
segurei os fios perto da sua nuca.

— Olhos na estrada, Silk. Me foda com as mãos no volante.


Você vai ser meus olhos.

Ela suspirou e agarrou o volante enquanto eu segurava seus


quadris. Ergui seu corpo e ela desceu novamente, engolindo meu

pau. Eu podia vê-lo brilhando com o suco da sua boceta.

— Porra, amor, você parece ficar mais apertada a cada vez

— grunhi, sedento pelo orgasmo.


— Vou virar para a esquerda, diminua.

Desacelerei o carro e mudei a marcha. Lake bateu a bunda

em meu colo, gemendo cada vez mais alto. Eu enfiei a mão na sua

frente, agarrei a barriga plana e depois sua boceta. Capturei seu


clitóris e girei, fazendo-a gritar. Ao sentir sua tatuagem agora

cicatrizada, eu grunhi.

— Goze.

— Prince. — Ela se curvou e suas mãos saíram do volante.

Dei uma palmada em sua boceta que a fez gritar e se erguer.

— Olhos na rua, mãos no volante ou nada de gozar, Silk.

— Tá, o.k. — Sua respiração atropelou as palavras e logo

voltou a fazer seu trabalho e eu o meu.

Sua boceta me apertou e eu sabia que ela estava quase lá.

Pressionei seu botão inchado e rosa, fazendo-a gritar, gozando e


puxando o meu para mim.

— Meu Deus. — Lake respirou fundo e eu parei o carro.

Ela se virou, sorriu e mordeu o lábio. Capturei sua boca e

suspirei ao sentir o gosto bom. Lake gemeu e meu pau ganhou vida.

A neve começou a cair e eu a girei. Silk sentou sobre mim e usou


meu pau como seu brinquedo, subindo, rebolando e descendo.
— Eu amo seu pau — ela gemeu chegando a um novo
orgasmo.

Eu ri e gozei também, beijando sua boca.

— Eu estou uma bagunça. — Lake riu, saindo do meu colo e

se sentando no banco ao lado.

— Se vista. Não vou tirar você nua do carro.

Ela acenou e começou a colocar as roupas. Assim que

chegamos perto da casa do Yerík, eu vi marcas de rodas na neve.

Não era incomum durante o dia, porque muitos turistas subiam a

montanha, mas nesse horário, sim.

— Eles nos encontraram — falei de maneira firme, fazendo

Lake parar de sorrir.

Ela olhou para os lados e para a frente. Me inclinei, peguei

minhas armas e entreguei uma nas mãos dela.

— Não quero machucar ninguém — ela murmurou, nervosa.

Eu agarrei seu rosto, puxando-o contra o meu.

— Eu também não, mas se alguém tentar pegar você, eu

vou.

— Prince...
— Não vou voltar para o inferno, é solitário demais.

Dirigi até nossa casa e estacionei. Abri minha porta como se

eu não soubesse que havia pessoas me observando. Peguei a mão

da Lake e a levei para dentro. Não me surpreendi ao ver Rocco


fumando, sentado na minha poltrona.

Sem camisa.

No frio da Finlândia, chegava a ser ridículo.

— Vocês não aprenderam nada comigo? — Ele tragou o

cigarro e soltou a fumaça em círculos pequenos. — Local aberto


demais, casa desprotegida... nada?

Meu irmão voltou a tragar e colocou o tornozelo para


descansar sobre o joelho direito. Ouvi barulho na cozinha pouco

antes de Sienna surgir. Lake deu um passo, mas parou


imediatamente.

— Ei, eu amei essa casa. Rocco achou insegura, mas é tão


aconchegante. — Ela se sentou no colo dele e tirou o cigarro dos

seus dedos, jogando a bituca na lareira.

— Onde estão os outros? — Lake perguntou, engolindo em


seco.

— Onde mais? Em suas casas. — Ele deu de ombros.


— Não é uma visita com a família toda. Talvez, em outra

oportunidade. — Sienna sorriu e Rocco a encarou, balançando a


cabeça.

— Você não veio tentar me levar de volta? — A voz da minha

Silk ecoou incerta, fazendo Rocco a encarar.

— Eu vim deixar duas coisas. — Ele pegou uma pasta, e

quando foi a abrir, empurrei Lake para trás e segurei minha arma. —
Para você. — Ele estendeu para Lake e ela passou por mim, indo

até ele.

Com os dedos trêmulos, ela pegou e voltou para o meu lado.

— Isso é...

— Seu divórcio. Luca deu entrada nele assim que saiu.

Decidiu que não quer mais esse casamento. Por mim, foda-se. —
Rocco esfregou as mãos na calça jeans e se ergueu com Sienna. —

E isso é seu.

Olhei para o envelope nas suas mãos e engoli em seco.

Era...

— Eu encontrei Andy. Havia sangue seu no nosso centro


médico, nas roupas e até no helicóptero. — Agarrei o papel pardo e

meu irmão inclinou a cabeça. — Eu já abri, obviamente.


— E o que... — Lake começou, mas eu já sabia a resposta.

— Não somos irmãos — Rocco murmurou, encarando nós

dois. — Você não é filha do Ettore. Você não é minha irmã. — Seus
olhos se fixaram em Lake, eu vi a tristeza em seu olhar. — Prince é

filho da Andy, não da sua mãe, Violetta.

— Mas...

— Eu não sei como ou por que Violetta pegou Prince para

criar. Realmente não sei, mas eu me lembro da barriga dela.


Lembro-me disso... Talvez tenha perdido o bebê e Ettore decidiu

trazer um dos gêmeos bastardos...

Eu coloquei minha arma sobre a mesa de centro e me sentei,


franzindo as sobrancelhas e sentindo algo dentro de mim doer. Eu
não me lembrava de Violetta, porque eu sentia essa dor? Ela não

estava em minha mente... mas eu sabia, sentia que a amava.

— Prince é um Trevisan, continua sendo. A Lake é uma


Trevisan de alma, sempre será, mas por tudo... ela merece carregar
o nome do seu sangue nos documentos. — Sienna entregou a Lake

uma nova pasta, e quando ela a abriu vimos todos os seus


documentos com o sobrenome Bianchi.
— Eu nunca quis ser uma Bianchi. — Ela piscou rapidamente
e me olhou. Toquei seu rosto e ela desabou em lágrimas. — Sempre
odiei Carmelo...

— Eu sei — Rocco murmurou e nos olhou. — Eu também

odiaria, mas pra isso acontecer — ele gesticulou entre nós —, vocês
precisam de sobrenomes diferentes.

Eu sabia que ele não entendia nós dois, mas sua decisão de

estar aqui dizia muito.

Lake se jogou no peito do nosso irmão mais velho e enrolou

os braços no pescoço dele. Rocco a segurou e enfiou seu rosto no

cabelo dela. Ele a abraçou com força, e quando a soltou ela não fez
o mesmo, continuou lá.

— Eu te amo, me desculpa por tudo. — Ela soluçou, se


afastando apenas o suficiente para encarar seu rosto. — Você

sempre será meu irmão, não ligo para nosso sangue, você sempre

foi nada além de justo com nós quatro. Nada além do melhor irmão.

Eu tenho orgulho de você, eu te amo.

— Seja feliz, Lake. Eu serei sabendo que você está.

Ela sorriu, acenando e o abraçando novamente.


— E você pode voltar a ser uma Trevisan quando se

casarem, não que eu esteja colocando pilha — Sienna murmurou


sobre fungadas, então eu a abracei. Si soluçou me apertando. — Eu

vou morrer de saudade. Queria que voltassem conosco...

— É impossível. Podemos entender que não são irmãos de

sangue, com um pé atrás, mas entendemos. Porém, as outras

pessoas...

— Elas nunca vão entender. — Acenei, terminando por

Rocco.

Lake se afastou dele e eu dei um passo em sua direção.

— Me desculpe se amá-la tirou a sua confiança em mim, mas

eu juro, por nosso sangue, irmão, que eu vou proteger e amá-la.


Sempre. Todos os dias da minha vida.

Rocco acenou e eu me aproximei, abrindo os braços. Ele me


puxou e eu fechei meus olhos. Logo o abraço se desfez.

— No Natal, iremos vir todos — Sienna murmurou. Eu me

virei, vendo Lake em seus braços. — A família toda sabe disso,


Matteo está meio retraído, mas ele vai superar.

— Matteo está mais chateado por Blue ser impertinente do


que qualquer coisa — Rocco falou com seriedade.
— Homens Trevisan. — Sienna ergueu as sobrancelhas e

Lake riu.

— Nós precisamos ir. Os gêmeos estão doentes e Lunna só


consegue lidar com eles, Alena, Lua e Remy por pouco tempo.

Qualquer pessoa sã não conseguiria, mas optei por não falar


nada.

Rocco guiou a esposa para fora e parou na porta, ambos se

virando.

— Cuidem um do outro. Estamos a uma ligação de distância.

Eu respirei fundo e acenei, relaxando pela primeira vez em

muito tempo. Ter o apoio da família era importante para mim, mas

mais ainda para Lake. Eu não me lembrava deles como ela. Ela os

amava muito mais que eu.

— Eu ligarei — prometi e os dois saíram da casa, deixando a

porta fechar.

Lake se virou para mim e colocou as mãos no rosto, correndo

até mim. Eu a ergui e ela me abraçou com força que uma garota
pequena não deveria ter, mas ela tinha.

— Eu não acredito que não somos irmãos. — Sua testa

descansou na minha e eu segurei seu cabelo. — Não acredito que


passei anos me achando suja por te amar.

— Sem sangue igual, sem tabu, sem pecado — murmurei,

sorrindo, com suas pernas enlaçando minha cintura. — A primeira

coisa que eu quero sabendo disso...

— O quê? — Ela ergueu o rosto, me olhando com

expectativa.

— Um bebê. Preciso ver você grávida. — Sorri quando ela

semicerrou os olhos, rindo.

— Não creio, pensei que diria que seria se casar! — Lake

grunhiu, tentando ficar séria.

— Podemos fazer isso amanhã, eu quero também. — Sorri e


segurei seu rosto. — Mas agora quero foder cada pedaço seu, amar

você sabendo que por esse pecado não irei para o inferno.

— Só por esse? — Ela lambeu meus lábios e eu mordi seu

queixo.

— Só, porque nós sabemos que vamos estar lá. Juntos. Em


família.

Lake gemeu quando coloquei a boca em seu pescoço.


Chupei a carne e mordi, deixando uma marca. Quando deslizei pelo

seu colo, ela tirou o casaco e puxou a blusa. As marcas mais


visíveis estavam ali. Tantos roxos de mordidas e chupões que eu

tinha o dever de deixar.

Marcá-la era a única maneira de acalmar Villain.

Ela era nossa, sem pecado, apenas com a depravação da

obsessão.

— Coloque aquele vestido...

— Qual? Agora? — Ela respirou fundo, excitada.

Eu acenei, colocando-a no chão.

— O que usou no aniversário da Nina.

Lake lambeu os lábios e acenou. Ela subiu a escada e eu me

sentei depois de me servir com uísque e baixar as luzes, deixando


apenas o fogo crepitar. Minutos depois, ela surgiu. Sua perna grossa

aparecendo na fenda, seus peitos apertados no tecido.

— Dance para mim. — Liguei nosso som.

Seu cabelo estava liso e alcançava sua bunda. Deus, ela era

perfeita. Quadris largos, cintura fina e peitos que eu amava foder.


Lake balançou a bunda girando e suas mãos deslizaram pelo corpo

lentamente.
Quando me encarou, suas palmas estavam subindo por seus

seios e parando em seu pescoço. Lake mordeu o lábio e seus olhos


azuis brilharam com as luzes que vinham da lareira.

— A maneira que você me possui é inacreditável — rosnei,

deixando a bebida de lado.

Lake se aproximou com a boca entreaberta e colocou o pé no

sofá entre minhas pernas, então deslizei minha palma pela coxa
nua.

— Você está escutando a letra dessa música? — Ela se

inclinou e eu senti o cheiro da sua pele. — Ouça, Prince.

A voz da mulher era linda, baixa e cantava sobre mim e Lake.

Ele está fora de si, eu estou enlouquecendo

Nós temos aquele amor, o do tipo insano

Eu sou dele, e ele é meu

No fim, somos ele e eu[iii]

— No fim, somos ele e eu... — Lake cantarolou em meu

ouvido.

Eu me ergui, acabando com a distância. Colei minha boca na

sua e lutamos pelo controle, eu lambi, mordi e procurei seu sabor


doce. Quando o achei, quis cada vez mais, mais um pouco, mais um
segundo.

Conosco sempre era assim. A necessidade, nosso desejo e


nossa obsessão.

Lake me deixou arrancar seu vestido, e quando ficou nua eu


a carreguei até nosso quarto, deitei-a sobre nossos lençóis e

segurei seu tornozelo. Beijei seus dedos, subi para sua panturrilha

até ter beijado cada parte. Lambi a tatuagem marcando-a com meu

nome e entre suas coxas. Fiz o mesmo com sua barriga plana e
mordisquei sua pele. Assim que cheguei aos seus mamilos, capturei

um e saboreei, gemendo.

— Prince, por favor.

— O que, princesa?

— Não brinque comigo, apenas me faça sua.

Ela já era minha, mas não falei isso. Apenas fiz o que ela

queria, deslizei pela sua boceta, fazendo-a gemer e beijei seus


lábios, engolindo cada murmúrio.
Duas semanas depois nós chegamos a nossa casa depois de
ir ao bar. Prince me agarrou ainda na entrada, e quando cheguei ao

sofá já estava nua. Villain me amou da forma que mais gostava,


lentamente e depois bruto e insano.

Eu não sabia qual das duas eu mais gostava, mas de uma


coisa eu sabia, ser a princesa desse príncipe era bom.

— Mais rápido, princesa.

Ele puxou meus quadris e eu me sentei em seu colo. Prince

jogou a cabeça para trás e eu lambi seu pescoço, desenhando cada


letra do meu nome. Desci até encontrar seu peito e ergui os quadris,

sentando mais rápido.


— Como eu vivi tanto tempo sem você sentada sobre mim?

— Tsc, tsc, tsc. — Sorri obstinada e o fiz gozar rápido.

Nós ficamos na sala, em frente à lareira, apenas olhando um

para o outro ainda nus. Eu contornei suas tatuagens e ele tocou


minha pele, admirando-a como se eu fosse perfeita.

— Você é tão macia. — Ele beijou minha testa e eu sorri, me


erguendo um pouco e me apoiando em seu peito.

— Eu quero abrir um centro comunitário aqui. Igual o que eu

tinha em Chicago.

Eu vinha pensando nisso desde que cheguei. Kemi não era

uma cidade tão grande, mas em todos os lugares havia pessoas


precisando de ajuda.

— Escolha o lugar e ele é seu, Silk.

Eu sorri e o abracei com força.

— Obrigada! Te amo! — Beijei seu rosto todo e ele riu,

agarrando meus quadris.

— Tem uma maneira melhor de me agradecer.

Seu sorriso safado me fez morder o lábio e me sentar em seu

colo.
— Faça seu melhor, Silk.

No dia seguinte, eu estava diante do computador que Prince

havia me dado depois de ver alguns locais para construir o centro,


olhando para as meninas juntas. Até Kiara estava com elas.

— Sim, descobrimos quem está grávida. — Blue ergueu as

sobrancelhas e Kiara a encarou.

— Vocês desconfiaram?

— Você deixou o teste de gravidez no banheiro. — Lunna riu,

enrolando uma mecha do cabelo.

Elas estavam no jardim de um salão de festas. Era o

casamento do Zyon com a Antonella. Meus irmãos estavam em

algum lugar pela festa.

— Parabéns, Kiara. Tenho certeza de que Giulio está pulando

de alegria.

— Sim, demais. Muito obrigada. É outro menino. — Ela sorriu

animadamente e eu festejei.
Desde que Prince falou de bebês logo após descobrirmos

que não éramos irmãos, eu estava mais inclinada a engravidar.


Seria um processo, porque obviamente deveria haver algo de

errado, já que não engravidei durante todo esse tempo. Eu tinha


uma consulta marcada para o mês que vem e estava nervosa.

— E onde está a Nina? — perguntei a Blue e ela olhou para


trás. Com um suspiro, me encarou. — Rodeada dos Trevisan

protetores e mandões. Vou salvá-la. Te amo!

— Te amo! Corra, ela está com tédio. — Nós rimos e Sienna


me mostrou Alena.

— Estamos animadas para ir no Natal! Por favor, deixe para


comprar as decorações quando eu estiver aí!

— Eu jamais privaria você desse prazer — falei com

seriedade e todo mundo explodiu em risadas.

— Ei, eu sou boa em decorar. Sejam pessoas ou lugares. —

Ela riu, jogando o cabelo loiro impecável.

Ouvi a porta bater e olhei sobre o ombro. Prince bateu a neve


para longe dos ombros e sorriu. Suas bochechas e nariz estavam

vermelhos.
— Prince chegou — murmurei ainda o olhando e depois voltei

para as garotas.

As três estavam me encarando com um sorriso amável.

— O quê?

— É bom ver você feliz. Só isso — Lunna falou e as meninas

concordaram.

— Ei, garotas Trevisan e menina Conti. — Prince enfiou a


cabeça na tela e elas começaram a falar com ele.

Assim que desliguei, ele beijou meu rosto.

— Como foi no bar?

Em Chicago era tarde, enquanto nós já estávamos entrando


na madrugada.

— Bem, Yerík está deixando algumas coisas organizadas por


causa do sequestro.

— Já está próximo? — Fechei o notebook e me ergui.

Prince acenou, caminhando para a cozinha. Eu coloquei seu

jantar para esquentar e me sentei enquanto ele esperava.

— Onde ele vai levar a garota? — perguntei, sem o encarar.


Prince já havia dito que quanto menos soubéssemos, melhor.
Mas isso era eu, não nós. Ele sabia de tudo.

— Quanto menos soubermos, melhor.

— Essa garota, qual o nome dela? — Ignorei sua fala e


continuei.

— Não sei. Não quero saber também. Isso não vai durar mais
que dois meses, logo ele vai se sentir vingado e vem pra casa. —

Prince pegou sua comida e se sentou me olhando.

— Ela é de uma família da Bratva, certo?

— Silk. — Seu tom de voz me disse para parar.

— E se eles quiserem retaliar? Procurarem ele por aqui? —

perguntei, pensando o quanto isso era perigoso.

— Eles não sabem onde estamos. Ninguém sabe. — Prince


pegou a minha mão. — Não se preocupe, nós dois não vamos ser

um dano colateral.

— Eu sei, é só que estou pensando nela.

Prince me soltou e bufou longamente.

— Ela não é importante.


— Ela é uma garota que não tem culpa dos erros do pai. —
Minha voz ficou firme.

Prince se ergueu, empurrando o prato. Eu sabia que tinha ido


longe demais, mas era a verdade.

— Yerík é como um irmão, eu o amo e ele me ajudou pra

caralho desde que o conheci. Não me importo com essa garota. Se


ele a matar, eu enterrarei o corpo dela sem hesitar. Então, pare, Silk.

— Prince segurou meu rosto com carinho, deslizando o dedão pela


minha bochecha lentamente. — Ela não é importante. Você é. Yerík

é.

— Não quero que você se machuque...

— Eu não vou, prometo.

Parecia uma promessa vazia, mas mesmo assim optei por

acreditar. Era apenas isso que eu podia fazer.

Prince me beijou, depois terminou de comer, então subimos.


Depois de fazer amor, me deitei em seu peito.

— Dá pra acreditar que estamos bem? Sem fuga, sem


medo? — Sua voz ecoou quando meus olhos queriam se fechar.

— Parece um sonho.
— Você acha que nossos irmãos no mesmo ambiente que

nós vão ficar bem? — Sua voz preocupada me fez suspirar.

— Vamos seguir o de sempre, nada de muito toque na frente

deles e pronto. Não acho muito justo, já que estamos em casa,


mas...

— Eles não estão acostumados conosco — ele completou

por mim e eu acenei.

— Amo você. Boa noite, Prince.

— Boa noite, Silk. Te amo.

Ao sentir uma mão acariciando minha bunda, eu suspirei.

— Amor, estou dormindo — reclamei, ainda de olhos

fechados.

— Acorde, preciso levar você a um lugar.

— Prince, pelo amor de Deus, o sol nem raiou.

Ele me puxou pelas pernas e me pegou nos braços.

— Prince! — gritei, irritada, mas ele beijou meu rosto.


— Eu vou amordaçar você se continuar gritando.

Minhas bochechas ficaram vermelhas e eu abri os olhos,

finalmente. Prince estava descendo a escada. Ele me colocou sobre


o sofá e me mandou levantar.

— Vou fechar seus olhos — ele murmurou, já colocando uma


venda no meu rosto.

— O que diabos você está aprontando uma hora dessa? —

berrei, chateada. Ele colocou algo em meu corpo, era macio,


parecia seda. — Se acha que vou sair nesse frio da porra só com

isso está louco.

— Dá pra você ficar calada? Ou quer que eu tape sua boca?

— ele rosnou. Se eu pudesse, teria revirado os olhos. — Boa

menina.

Ele colocou um casaco logo após e calçou botas quentinhas.

Um cachecol foi enrolado em meu pescoço e eu suspirei quando ele

enfiou um gorro. Puxei o cachecol, cobrindo minha boca.

— Pronto, vamos lá, reclamona.

Ele me levou para fora e eu suspirei ao sentir a brisa fria.

Suas mãos agarraram meus quadris e ele me colocou no carro que

já estava quente. Agradeci a Deus por Prince ter vindo ligá-lo antes.
— Não vai me agradecer por ter ligado o carro antes?

— Eu? Você quem me tirou de casa de madrugada.

Prince riu e o carro ganhou vida. Ele colocou uma música e


ficamos em silêncio até o carro parar, alguns minutos depois. Prince

me tirou do carro e eu senti a brisa mais fria ainda. Onde a gente

estava? Ele tirou meu casaco e eu senti uma echarpe macia ser

posta em meus ombros.

— O que você está aprontando? — perguntei, me abraçando.

Prince riu por perto, mas não me respondeu.

— Prince, eu juro por Deus que vou atirar na sua cabeça.

— Que horror! — A voz rouca de uma senhora ecoou

chocada.

— Quem está aqui? — gritei, então tiraram minha venda.

Pisquei para me acostumar com a claridade e me surpreendi

ao perceber que o sol estava nascendo. Estávamos no que parecia


ser um parque. Olhei ao redor e encontrei Prince no final de um

caminho de pétalas vermelhas sobre a neve. Ele não estava

sozinho. Havia uma mulher mais velha ao seu lado, curvada sobre a
bengala e segurando um livro.
Finley estava na lateral, sorrindo e balançando a mão. Yerík

estava ao lado, segurando o que parecia ser um notebook. Eu

semicerrei os olhos e consegui visualizar minha família na tela. Meu

coração martelou e eu apertei meus lábios.

— É nosso casamento? — perguntei, tremendo, e ele

acenou.

— Ande para mim, Silk.

Ele estava usando um terno preto e suas tatuagens


escapavam pelas costas das mãos e pescoço, onde meu nome

descansava. Eu dei um passo em sua direção, sendo movida por

minha necessidade de ser a sra. Trevisan dele.

— Você está tão linda.

Me olhei e sorri ao ver o vestido que parecia tão fino quando


ele me vestiu, mas agora eu podia ver que era grosso. Ela liso, não

tinha muitos detalhes, mas era perfeito. As mangas eram longas,

meu decote era redondo e delicado. A echarpe era de renda branca


e tão quente quanto macia. Toquei meu cabelo e ele estava em

ondas naturais. Talvez um pouco bagunçado, mas não liguei. Eu me

sentia linda sob os olhos lacrimosos de Prince.


Deus, ele era realmente meu? Prince Trevisan era poderoso,

destemido e impiedoso, mas comigo se tornava o homem que me


amava tanto que chorava, o que me colocava sobre tudo e todos, e

não dava a mínima sobre deixar isso claro.

— Deus, como eu te amo. — Toquei seu rosto e beijei sua


boca.

— Essa é a Gabi. Ela é uma amiga que coincidentemente é


juíza de paz também — ele me apresentou à senhora, que me olhou

com esperteza.

— A única da cidade.

— Sim, e ela me chantageou. — Prince sorriu, segurando

minhas mãos.

— Eu quero saber como. — Sorri para Gabi e ela balançou a

mão.

— Eu preciso fazer o café dos meus netos, vamos logo com

isso.

Nós rimos e continuamos rindo até a cerimônia acabar. Nos

beijamos longamente e rimos mais quando percebemos, depois de

nos afastar, que Gabi tinha sumido. Yerík se aproximou e eu sorri

para a minha família.


— Obrigada por estarem aqui mesmo que de forma virtual.
Nós amamos vocês — falei com lágrimas deslizando.

— Eu queria estar aí. — Sienna fungou, chorando, e Blue


acenou concordando.

— Amamos vocês, por favor, sejam felizes. — Lunna piscou e


lágrimas caíram dos seus olhos.

— Você está linda, Lake — Matt falou e eu derreti em choro.

— Eu te amo, Matt. Obrigada por estar aqui — murmurei

enquanto Prince dizia o mesmo.

— Cuide da nossa garotinha — Romeo pediu e eu o encarei.

— Pode apostar que vou. — Prince beijou meu cabelo.

— Eu queria ter levado você até o altar, mas a vida não é

justa. Entre todos nós, você é realmente merecedora da felicidade.


De ser feliz. Eu te amo, pequena — Rocco falou sério e Sienna o
abraçou.

— Obrigada, Rocco. Por tudo.

Eu funguei ao ver Lunna no colo do Romeo, enquanto Blue


tinha o braço de Matteo em seus ombros. Eles estavam felizes.
Haviam encontrado o tipo de amor que eu sempre senti, mas que

sempre foi proibido para mim.


— Amo vocês — murmurei, fungando, então eles desligaram.

Prince me abraçou e eu o beijei. Finley continuou tirando


fotos e eu sorri, sabendo que estava inchada de sono e do choro.

— Obrigada por estarem aqui — Prince murmurou para os

dois e eu acenei em seu peito.

Os dois foram embora e Prince me levou até um banco


próximo. Me sentei e encostei minha cabeça em seu peito, enquanto

assistíamos juntos ao sol subindo.

— Ela é linda. — Admirei minha aliança de ouro branco com


um diamante azul.

— É da cor dos seus olhos.

Era, realmente era. A aliança que a acompanhava era mais


fina que a dele e tinha nossos apelidos gravados nelas de um lado e
do outro, nossos nomes.

Silk e Villain.

Lake e Prince.

Ele beijou meu cabelo e eu segurei seus dedos nos meus.


Apertando e sentindo, pela primeira vez na vida, que eu estava

amando e sendo amada sem proibições.


Prince era meu. Meu namorado, meu homem, meu marido.
Meu melhor amigo.

Nós percorremos um caminho difícil, cheio de percalços que

nos aterrorizaram por muito tempo, mas valeu a pena. Estar ali,
diante da neve e vendo um sol ameno surgir, fez valer a pena.

Ser a garota com o nome tatuado em seu pescoço, a que ele

colocou em um pedestal alto e a protegeu com toda sua força, valeu


a pena.

Ser amada por um Trevisan valeu a pena.

Minhas cunhadas e eu que o dissessem.

Esse amor distorcido, cruel e insano era o melhor.

E, definitivamente, valeu a pena.

FIM!
Gostou? Não esqueça de avaliar o livro!
Encerrar Renascidos Em Sangue é como dar adeus a um
pedaço de mim. Um pedaço que me modificou para sempre, e que

sempre fará, porque eu sei que nada aqui vai morrer. Tudo vai
continuar com vocês. Os que lerem agora, ao lançar, ou os que
lerem daqui a cinco, dez anos.

Quero agradecer tanta gente aqui, mas vou focar no mais

importante ao longo desta série.

VOCÊ.

Que vibrou comigo, que se encantou e me encorajou a cada

passo que dei nesta longa jornada. A você, leitor, que me impulsiona

mais e mais em busca de excelência.

Na busca para entregar algo que vocês gostem.


Obrigada por todo carinho, amor e reconhecimento.

Sem vocês eu não seria metade do que sou hoje.

Obrigada a você que acompanhou Renascidos Em Sangue

até aqui.

Obrigada a minha família por estar sempre ao meu lado.

Obrigada a minha assessora, Vanessa, minha melhor amiga,

Veridiana, minha revisora, Andrea. Obrigada por serem impecáveis.

Por me apoiarem e serem tão importantes.

Com todo o amor do mundo,


“Eu o temia tanto quanto o desejava.”
“Sequestrada pelo Mafioso” chega ainda em 2022!
Meus olhos se prendem na fumaça. Ela é densa, mas aos
poucos começa a sumir, não sobrando nada. Trago mais forte,
inspirando calmamente para logo expirar. Minha irmã sempre

reclama quando me encontra com cigarros. Já a avisei que fumar é

um dos meus vícios menos preocupantes. Tenho alguns muito mais

sombrios.

Novamente encaro a fumaça e me forço a me levantar da

poltrona do apartamento pomposo. O silêncio no cômodo é o


completo oposto dos barulhos lá fora. Las Vegas é a cidade que não
dorme, eu acho que até mais que Nova York. Não que eu vá muito a
essa cidade. São palavras das pessoas. É o que comentam.

Sirvo-me de uísque puro e caminho para a minha janela. As

luzes estão brilhantes, na cidade; os carros, barulhentos; as boates

e cassinos, abertos, à espera dos festeiros. O que não é o meu

caso.

Moro na Itália, um lugar afastado de Roma. Minha casa fica,

como dizem, no meio do nada. Cresci em um lugar cercado por

árvores e é lá que vivo até hoje com meus dois irmãos, Teodora e

Vincenzo.

De uma casa para outra são uns bons cinco minutos de

carro. A pé, eu diria que uns trinta. É o meu lugar. Não saio de lá
nem com uma arma na cabeça. Morrerei dentro do meu jardim.

— Acho incrível seu modo de aproveitar a cidade, Enrico. —

Deixo os meus olhos fixos na rua assim que escuto a voz do meu

irmão.

— Pensei que já estivesse com o pau enterrado em alguma


vagabunda dessa cidade — digo, virando o copo e deixando o

líquido amargo descer queimando minha garganta.


— Temos trabalho a fazer… — ele murmura e eu me viro,

dando de cara com ele de braços cruzados. Somos quase idênticos,


mas Vincenzo é mais novo e mais idiota que eu.

— Sério? Que curioso você lembrar disso hoje. — Arqueio


minha sobrancelha e ele fecha os olhos, respirando fundo.

— Não sei por que sempre fica remoendo essa bobagem…

— Você me deixar quase morrer sozinho enquanto estava

transando com uma puta é bobagem? — questiono cruzando os


braços. Minha voz é séria.

Uma semana atrás quase morri em um dos confrontos pelas


ruas de Roma. Drogados filhos da puta me atraíram para uma

emboscada. Quase fui morto. Minha sorte foi que um dos meus
soldados entrou na minha frente e matou o homem que estava

pronto para me mandar para o inferno. Não tinha sinal de Vincenzo,


e quando o encontrei ele estava entre os lençóis de uma prostituta.
Ou pelo menos é o que ele pensa que eu acho.

Vincenzo tensiona o rosto e se vira, indo pegar seu próprio

copo com uísque.

— Você distorce tudo — resmunga enquanto se volta para


mim. — Vista-se. Estamos saindo em dez minutos. — Ele sai da
sala sem outra palavra.

Idiota.

— Casa bonita — resmungo entrando no hall da casa de


Bertoni. Ele está sentado no sofá da sua sala enquanto eu ando por

ela, ouvindo os cliques repetidos do meu sapato contra o chão.

As paredes da mansão são escuras, deixando o lugar


completamente negro. As únicas coisas claras nesta casa são
alguns móveis. Viro-me devagar e, o encarando, viro o uísque que

ele me deu.

— Você veio aqui por um motivo e eu sei qual. Que tal parar
de enrolação e ir direto ao ponto? — Sua voz é rouca e eu sorrio,

fazendo seu rosto se contorcer com irritação.

Bertoni é alto, magro e parece um homem comum, mas disto

ele não tem nada. Seus roubos às minhas cargas estão fodendo
com a logística dos meus negócios. Controlar uma cidade já dá

trabalho demais, Bertoni só está adicionando merda no meu


caminho.
— Eu gosto de aproveitar o máximo de tempo possível antes
de matar alguém. Meu irmão adora meus trabalhos também. Quer
aprender. Meu pai sempre disse que eu tenho uma vocação para

lecionar. — Sorrio friamente e entrego meu copo a Dino, um dos


meus soldados.

— Você vai me matar? Está cego ou completamente louco?


Vocês não saem vivos daqui. Meus homens matarão todos. — O

velho ri, se erguendo de vez. Ele limpa as mãos na roupa e sorri


ironicamente.

— Você não me conhece mesmo, então — as palavras saem,

ao mesmo tempo em que Vincenzo chega até o homem e o levanta


pelo colarinho.

Ele sorri, à espera de seus seguranças, mas para quando


ninguém entra na casa. O medo rasteja pelos seus olhos e eu sinto

nojo do homem à minha frente.

— Onde eles estão? O que fizeram? — Seu grito é quase


ensurdecedor. Porém já fiz pessoas gritarem muito mais alto que
isso. Ele só está sendo patético. Eu sorrio limpando meu paletó e

recomeço a andar. Coloco o copo seco na mesa de centro e cruzo


os braços.
— Dino, leve-o para o carro — ordeno, observando Vincenzo
se afastar e deixar que o outro pegue o idiota.

— Vamos embora — meu irmão murmura, e eu aceno,


seguindo Dino para fora, de olho em Bertoni.

— Me soltem! — Ele se vira me encarando, e eu ergo os

olhos. — Ela está no sótão. Peguem-na! — Bertoni volta a gritar


enquanto se sacode nos braços de Dino, e eu franzo as

sobrancelhas.

— Quem? — questiono, achando que ele está brincando.

Bertoni parece um lunático estúpido, não vou cair em suas

armadilhas tão inúteis quanto ele.

— Peguem-na! Ela é minha. Vai para onde eu for. Não a

toquem. Matarei todos —volta a berrar, e eu reviro os olhos, ao ver


seu rosto completamente furioso.

— Vou verificar — Vincenzo murmura, mas nego e começo a

subir a escada.

No andar de cima é tudo como a sala; luxo, escuridão e

dinheiro. Escuto meus passos no corredor e vejo uma pequena


porta no teto e uma corda.

— Inferno! — resmungo, puxando-a, e uma escada desce.


Murmurando mais algumas maldições, eu subo a escada

minúscula e chego ao sótão. Suspiro ao ver a parede de tijolos e


uma porta trancada. Tudo parece sujo e, vendo as teias de aranhas

na porta e nos cantos, também constato que não vem ninguém aqui

há um longo tempo.

Bertoni quer me enganar. Se alguém estivesse aqui, não

estaria sujo assim. Filho da puta! Vou rasgar sua garganta por me

fazer perder tempo. Movo-me para a escada, querendo sair daqui.


Meus sapatos fazem barulho no chão e, em meio a eles, eu escuto

uma batida na porta com teias de aranhas.

Merda.

Volto para ela e suspiro. Dou duas batidas na porta e quem

está do outro lado responde com uma batida mais fraca. Aperto a
ponta do meu nariz e, suspirando, dou um chute na porta.

A porcaria estava tão podre que se parte ao meio. Entro no


cômodo que parece um quarto e procuro a pessoa que bateu na

porta em resposta. Assim que meus olhos focam numa mulher no

canto da parede, eu paro de me mover. Ela está encolhida, sentada,

e eu engulo em seco, enxergando seu olhar apavorado fixado em


mim.
— Vamos lá. — Minha voz sai mais rouca do que eu

pretendia. Seu corpo se encolhe rapidamente e eu franzo as

sobrancelhas. O que diabos aconteceu com essa menina?

Suas bochechas fundas me dizem que a mulher não come há

dias, sua pele está tão suja que não sei qual é a cor dela. Aproximo-

me devagar e desvio os olhos quando vejo que ela está apenas com
uma camisola velha transparente.

— Levante — ordeno, e ela estremece, erguendo seus olhos.


Os dois são tão cinzentos quanto o próprio céu em dia de

tempestade. Porém um deles tem uma mancha verde na parte

inferior. Verde igual ao dos meus próprios olhos.

— Papai? Onde ele está? — ela pergunta fraca e eu me torno

mais confuso ainda. — Eu… estou com fome. Pode pedir a ele para

me ver? Vou ficar quietinha, eu ju-juro. — Ela tosse e eu aperto


meus punhos. Bertoni é pai dela? Que porra é essa?

— Erga-se — mando novamente e ela acena, tentando se

levantar. Mas é inútil. Suas pernas balançam e perdem a força,


levando a menina ao chão novamente.

— Merda. — Abaixo-me, pegando-a, e sinto seu corpo se


tensionar e seus olhos se fecharem com força.
Saio do sótão com ela agarrada a mim como um filhote de

macaco. Suas mãos se juntam atrás do meu pescoço e suas pernas


envolvem minha cintura enquanto desço as escadas e a levo para o

lado de fora. Ela parece sentir dor, não entendo essa merda, mas

não paro de pensar no motivo disso.

Bertoni é um sádico de merda. Será que ele abusava dessa

menina? Se sim, eu vou arrancar seu pau com um alicate.

Não encontro o carro de Vincenzo, então presumo que ele já

foi e levou Bertoni. Dino está do lado de fora com os homens de

Bertoni e os meus. Seus olhos se arregalam ao ver a mulher em


meus braços.

— Abra a porta — mando, e ele o faz de maneira rápida.

Coloco a mulher sentada no banco e vejo quando ela se encolhe


perto da janela, abraçando as pernas. Fecho a porta, a mantendo lá

dentro.

— Ela ainda está viva? — um dos homens do velho murmura

para outro e eu me aproximo, semicerrando os olhos.

— O que Bertoni fez com ela? — Aperto meus punhos,


querendo matar todos eles.
Não entendo a necessidade de querer saber tudo a respeito

dela, ou o desejo enlouquecedor de matar todos os infelizes que

colocaram os olhos sobre ela. Não a conheço, e, mesmo se

conhecesse, eu não dou a mínima para os problemas dos outros. E


é isso que está me enlouquecendo. Por que quero protegê-la?

— Ela pertencia a ele. Bertoni a tratava como um objeto.


Como um bicho de estimação, na verdade — o homem moreno fala

devagar e engole em seco. — Ele a tem desde que ela tinha apenas

doze anos. Ganhou ela como pagamento de uma dívida —explica, e

eu sinto meu sangue correr quente. — Ninguém tinha permissão de


subir. Só a empregada para deixar comida ou uma professora que

ensinava a ela, mas nas duas últimas semanas ninguém ouviu nada

dela. Pensamos que tinha morrido. Ele a deixou lá para morrer de


fome? — A sua fala parece uma pergunta e eu me canso de ouvir

sobre essa merda.

— Vão embora. Dino se encontrará com vocês amanhã para


dar o restante do pagamento combinado. — Eles acenam e eu entro

no carro, ao lado dela.

O cheiro de sujeira impregnado nela me faz abrir as janelas

apenas um pouco. Decido, suspirando, que assim que chegarmos

em casa a farei tomar banho e comer. Ela permanece encolhida no


canto do carro, até que paramos em frente ao prédio do meu

apartamento. Coloco-a em meus braços e subimos no elevador


privado.

Dino abre a porta do apartamento e eu entro no cômodo,

passando por Vincenzo. Seus olhos se arregalam, seus lábios se


abrem, e eu balanço a cabeça, dizendo que falaremos sobre isso

outra hora.

Entro em meu quarto, ainda com ela no colo, e ando direto

para o banheiro. Coloco-a sentada na bancada e suspiro ao ver

quão pequena ela é. Mesmo na bancada, ela fica mais baixa que

eu. Sua testa alcança a altura do meu queixo.

Seus olhos se erguem e, devagar, duas lágrimas descem,

limpando a sujeira enquanto as minhas mãos então em sua cintura.


Assim que as tiro de lá, ela respira aliviada, abraçando sua própria

barriga.

— Qual o seu nome? — Deixo minhas mãos longe do seu


corpo. Ela olha para os lados, à procura de algo ou alguém.

Novamente, ela parece apavorada.

— Giovanna — sua voz é apenas um sussurro. — Mas…

Papai me chama de Aberração ou Ferrugem — sua voz é suave, e


ela pisca aqueles malditos olhos incríveis. Novamente, a vontade de
matar o desgraçado me consome. — Por causa do meu cabelo, eu

acho. — Ela parece tão ingênua, parece que nada no mundo é

capaz de chegar a ela.

— Quem é papai? Bertoni é seu pai? — questiono, cruzando

meus braços e me mantendo afastado. Agora que ela falou, presto


atenção em seus fios avermelhados. Ela é ruiva.

— Não. Ele… — Ela engole em seco e encara seus próprios

pés. — … só me ordenou que o chamasse assim quando fui morar


com ele. — Sua explicação me coloca na borda, e eu tento parar a

onda de raiva que passa por meu corpo.

Fecho meus olhos e me pergunto quão doente aquele idiota

é. Vou matá-lo, não tenho nenhuma dúvida disso. Mas antes quero
fazer sumir todo o sofrimento que estou vendo nos olhos dessa

menina. É uma loucura, mas algo dentro de mim grita para que eu
primeiro me certifique de que ela está bem.

— Vou te dar um banho. Não tema. Não te farei mal —

sussurro, encarando seu rosto, e acho que nunca falei uma coisa
tão verdadeira.
Ela engole em seco, mas não fala nada. Eu coloco as pontas
dos meus dedos na sua camisola e puxo o material fora do seu
corpo. Tento manter meus olhos em seu rosto, mas sua pele me

chama atenção. O vale entre seus seios tem várias cicatrizes.


Aproximo-me e aperto meus olhos ao ver vários cortes de uma faca
pequena. Desvio a atenção em seguida, colocando uma blusa

minha sobre seu corpo nu.

Puxo-a da bancada e a levo para debaixo do chuveiro. A


água é quente e eu tento diminuir um pouco para não machucar sua

pele. Coloco-a no chuveiro enquanto seguro seu corpo pela cintura.


Pego a esponja com sabonete e a deslizo pelo seu corpo. A camisa
encharca rapidamente, mas não me impede de limpá-la. É melhor

mantê-la vestida. Imagino os horrores pelos quais ela passou e não


quero ser um gatilho.

Em alguns minutos seu corpo está limpo e eu posso ver a cor

dele. Branca. Ela é tão clara quanto as nuvens e um dia ensolarado.


Depois que enxáguo seu corpo, eu a faço se sentar no vaso
sanitário e lavo seus cabelos com um xampu que já estava no

banheiro. Enxáguo-os também e, em seguida, pego meu roupão e a


faço colocá-lo, depois de tirar a blusa molhada. Novamente, pego-a
em meus braços e a levo para a cama.
— Onde está papai? — ela questiona, deitada na cama.

— Ele não é seu pai. Não o chame assim! — rosno, fazendo-


a se encolher. Seus olhos se fecham e eu engulo a minha

frustração. — Ele está morto. Eu o matei — informo frio e saio do


quarto a passos rápidos.

Quando chego à sala, eu vejo Vincenzo de braços cruzados,

à minha espera. Uma pena que não posso lhe dar atenção agora.

— Onde está Dino? — pergunto ao mesmo tempo em que a


porta se abre e meu amigo aparece com as sacolas e um carrinho

cheio de comida. Pedi que fizesse isso enquanto subíamos no


elevador.

— Mandei o garçom ir embora. Está aqui tudo que pediu. —


Ele me entrega a sacola e eu puxo o carrinho com comida para

todos nesta casa, mas que são apenas de Giovanna.

Volto para o quarto sem olhar para Vincenzo. Ela está onde a
deixei. Sento-me, deixando o carrinho próximo, e tiro as roupas da

sacola. Tem algumas camisetas, duas calças jeans, calcinhas e


sutiã. Fora uma camisola com um desenho bobo na frente.

— Gio — chamo, forçando minha voz rouca a abrandar. Ela

se vira e logo se senta, limpando o rosto. Ela estava chorando. —


Trouxe roupas e comida — informo e vejo seus olhos duplicaram de
tamanho ao ver os pratos.

Trago todos eles para a cama, e ela, devagar, pega o


primeiro prato com um pedaço de carne assada e legumes ao lado.
Em menos de alguns minutos o prato está limpo e Gio começa a

comer o próximo com frango grelhado e purê de batatas.

Sento-me na minha poltrona e suspiro, chamando sua


atenção. Seus olhos opacos me observam, e eu aceno para a

comida.

— Devagar. Você vai vomitar tudo — aviso, encarando sua


boca ainda em movimento. Giovanna acena e durante a próxima

meia hora eu a observo comer.

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