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1ª Edição – Outubro/2020
Sumário
Copyright © 2020 – Fernanda Piazon
Sinopse:
Agradecimentos
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Epílogo
Sobre a autora
Conheça outras obras da autora:
Eu sou o rei.
Com uma habilidade que adquiri ao longo dos anos, consigo perceber
que esse homem jogado ao chão a minha frente não me oferece
qualquer risco, porém ele cometeu um imenso erro e pagará por isso.
Muita gente sabe quem eu sou, para ser sincero, acredito que todas
as pessoas da Itália saibam que eu sou o chefe da Dalla Costa e não
apenas um empresário, mas ninguém sequer ousa falar sobre isso,
inclusive a polícia, os que tentaram não estão vivos para contar o
restante da história.
— E é roubando que pretende fazer? — Tudo bem, não sou bem a
pessoa mais indicada para dar lição de moral em ninguém, mas a
minha posição exige ações, eu não tive escolha, ele tem.
Ele trabalhava como padeiro, mas após perder o braço foi demitido,
minha mãe o ajudava trabalhando em casas de família, e eu, eu
apenas estudava. Eles queriam que eu tivesse um futuro melhor, que
pudesse estudar e trabalhar em um bom lugar, e eu queria isso
também.
Meu pai, que sempre cuidou de mim, precisava de ajuda para sair do
vício da bebida e eu tranquei os estudos para ser sua “babá”. Minha
meta de vida tornou-se fazer ele parar de beber e ele estava quase
conseguindo, há um mês não colocava uma gota sequer em sua
boca.
Eu disse que iria trabalhar, assim como a minha mãe, poderia fazer
faxinas em casas, ou quem sabe até conseguiria um outro emprego,
mas meu pai relutou, ele se sentia culpado por não poder me dar o
futuro que tanto sonhou. Ele não tinha culpa, a culpa foi do bêbado
que os atropelou quando voltavam para casa.
Nós não tínhamos muito, mas éramos felizes, porém a nossa
felicidade acabou e agora, sozinha, eu já não sei que rumo tomar,
estou perdida, desolada, cansada e não sei mais o que fazer.
— Vou te dizer, mas por favor não comente com ninguém, isso pode
custar a minha vida, ou melhor as nossas vidas — Concordo porque
eu não tinha outra opção, eu precisava saber o que aconteceu com
meu pai
— No dia que você diz que ele foi visto na caffetteria, eu também o vi.
Ela conta que viu quando o tal chefe da máfia Dalla Costa estava
caminhando pela estradinha e meu pai pulou em suas costas,
tentando lhe roubar o aparelho celular, mas o homem foi rápido e o
jogou no chão, levando a sua arma ao rosto do mio papà, ela diz que
ficou com medo de ser vista e se escondeu atrás dos arbustos. Em
seguida, viu um carro parar, alguns homens saírem de dentro e
levarem meu pai dali com eles.
Caminho sem rumo, na estrada, peço uma carona para alguém que
passa, se a pessoa falou algo comigo durante o trajeto não sei, eu
não ouvia nada além do silencio da minha alma e da voz da minha
consciência que pedia para que eu o procurasse.
Peço a Deus que o meu pai esteja vivo, que ele guie os meus passos
e me conduza, se ele tentou roubar foi em um momento de
desespero, não merece a morte por isso.
Eu também não sabia, até ter o meu pai levado por ele.
Pra ser sincera, não sei ao certo o que posso fazer, como conseguirei
falar com o demônio em pessoa, como o confrontarei sobre a
localização do meu pai, será que meu pai está morto? Será que eu
também serei morta?
Decido que eu posso até morrer nas mãos do demônio, mas não vou
me acovardar.
É isso, é o meu fim e talvez seja bom, vou me juntar a minha mãe e
quem sabe ao meu pai, essa vida foi ingrata conosco. Eu realmente
não deveria esperar nada além do que terei.
Capítulo 03
“Estar comigo é como estar com o próprio demônio, você não
sabe o que esperar, mas imagina que não será nada bom.”
— Além disso, seu pai é um dos capos mais importantes, ele que
coordena a entrada de todas as armas em nosso território. — Fabrizio
considera.
Até mesmo com eles, que são as pessoas em que eu mais confio no
mundo, para quem inclusive, eu entregaria a minha própria vida,
busco manter a fachada de todo poderoso e indecifrável.
Sei que eles ficam putos com isso. Assim como eu, eles foram
criados para serem os chefes da máfia, os donos da porra toda e não
ter tudo sobre controle, não estar a um passo à frente de todos os
incomoda tanto quanto incomodaria a mim. Porém comigo, eles não
têm esse gostinho, eu lhes dou muito o que pensar.
Se a tal mulher quer tanto a minha presença ela terá, só não garanto
que será agradável.
Estar comigo é como estar com o próprio demônio, você não sabe o
que esperar, mas imagina que não será nada bom.
— Quer dizer que o meu melhor homem não consegue controlar uma
mulherzinha sequer? — pergunto irritado quando olho para Amadeu.
Como sempre, terei que resolver mais esse problema, na melhor das
hipóteses para os dois prisioneiros, serão mortos juntos e de forma
indolor. Porém, se me encherem a paciência, morrerão de forma
lenta, sendo torturados até que a morte finalmente os abrace.
A tal criatura escandalosa não sabe, mas ela está mais próxima do
seu pai do que imagina.
Ele não teria opção, era me servir ou morrer, mas não tive tempo de
descer a masmorra e saber qual das duas lhe apeteceria. Eu sempre
dou a oportunidade de escolha: ou é da minha forma, ou a morte. No
fundo, talvez, eu não seja tão ruim, não é mesmo?
O que eu não esperava é que a tal filha faminta, a quem ele queria
alimentar chegaria até nós.
Assim que decidi trazê-lo para cá, pedi que Amadeu verificasse sua
versão, se ele estivesse mentindo sobre estar passando fome com
sua filha, não lhe daria outra opção que não fosse uma morte lenta e
dolorosa, mas ele havia falado a verdade, estava numa merda sem
fim, e eu decidi mantê-lo vivo, entretanto ele teria que me servir a
partir de então.
Ele tem recebido um pão e um copo de água por dia, o suficiente para
que não morra de fome e sede, mas também, muito pouco para que
se sinta satisfeito. A fome e a sede são formas milenares de tortura, é
sempre bom exercitar.
Mesmo que eu decida por mata-lo, ele terá que limpar a sua própria
porcaria, eu jamais submeteria os meus homens a isso.
Sei que ele não pode me ouvir enquanto caminho pelo corredor
escuro, é revigorante saber que tenho sua vida em minhas mãos e
agora também da sua filha.
Comandar a vida das pessoas, decidir sobre o seu futuro ao meu bel
prazer controla-las me traz uma sensação indescritível de poder. Ter
o controle de tudo ao meu redor é fantástico, mas nada se compara a
sensação de ter a vida de alguém, o seu destino em minhas mãos.
— Eu não quero saber de nada além do meu pai, só quero o meu pai,
me diga onde ele está — fala com a voz firme e eu acho graça.
Sou arrastada pelo troglodita até o elevador, ele digita uma sequência
de números e sinto um tranco, a caixa de ferro está em movimento.
— O que você vai fazer comigo? O que fez com o meu pai? —
pergunto e ele não se dá o trabalho de me responder. Gira sobre os
calcanhares, me deixando presa aqui nesse lugar frio e vazio.
Uma nuvem de esperança toma o meu peito, talvez seja isso, talvez
eles sejam anjos a me conduzir ao paraíso, eu espero poder
encontrar o meu pai lá.
Os três homens são altos e fortes demais, arrisco até considerar que
são os mais fortes que já vi em toda a minha vida. Eles se posicionam
à minha frente, numa formação triangular perfeita, um deles mais à
frente, e os outros dois se mantêm cada um em uma das suas
laterais, um passo atrás do primeiro.
— Ele não está? — falo um pouco confusa, será que a senhora havia
mentido? Será que o meu pai não está aqui? Eu não consigo ver
nada através das expressões de nenhum desses homens, isso me
deixa perdida.
— Não, Sim... — Não sei o que devo responder. — Quer dizer, ouvi
algumas pessoas falarem e acho que estavam certas. — Resolvo ser
sincera, sinto como se ele fosse capaz de identificar qualquer
resquício de mentira ou omissão que saia dos meus lábios.
— Fico honrado que já tenha ouvido falar de mim, mas pode ser mais
especifica sobre o que lhe disseram?
Sei que não deveria, mas não tenho medo dele, o que me motiva é
encontrar o meu pai. E, enquanto os meus olhos ainda estiverem
abertos é isso que farei, tentarei encontra-lo.
— Eu não quero saber de nada além do meu pai, só quero o meu pai,
me diga onde ele está — falo e o sorriso cada vez maior me
amedronta ainda mais.
Sem forças para lutar contra ele ou para tentar me soltar do seu
aperto firme, caio sobre os meus joelhos, o choro nunca me
abandonando. O desespero erguendo-se sobre mim, e o pior, a
certeza de que eu nada poderei fazer.
Desde que a minha mãe morreu, eu salvei o meu pai por diversas
vezes, mas agora eu sabia que não conseguiria. Eu não teria como
salvá-lo do homem que ainda segurava os meus pulsos enquanto eu
chorava de joelhos no chão.
Minhas mãos estavam erguidas para cima, ele não havia se curvado
um milímetro sequer para facilitar que os meus joelhos chegassem ao
chão, pelo contrário, suas mãos estavam estendidas para a frente,
segurando firmemente os meus pulsos para cima, enquanto todo o
meu corpo pendia para baixo, ele sustentava o meu peso sem fazer
qualquer esforço para isso.
Quando ele percebe que eu não farei mais nada além de chorar, ele
solta os meus braços que caem pesadamente ao lado do meu corpo,
e meus joelhos finalmente sustentam o peso do meu corpo.
— Eu tenho o seu pai comigo — fala de um jeito frio e totalmente
controlado.
Levanto os meus olhos em sua direção, como ele pode admitir assim
de uma forma tão natural que mantém um homem preso, quem é
esse homem? Ele não é Juiz ou Policial, mas age como se fosse a
própria lei.
Eu poderia lhe pedir que soltasse o meu pai, e que jamais lhe
contasse o que fizera comigo. Meu pai iria achar que eu fui embora e
ele teria a sua vingança, uma vida pela outra, era isso que eu estava
lhe propondo e esperava que ele aceitasse.
Capítulo 06
“Foi assim que eu me forjei como sou, com a capacidade de ir
contra tudo e contra todos, inclusive a mim mesmo.”
— Sei sim, eu sei que vai mata-lo e eu estou propondo que fique
comigo e o liberte — fala as palavras com a voz trêmula, tenta
demonstrar a segurança e o conhecimento das consequências do seu
pedido, mas sei que está com medo.
Talvez seja o fato dela querer trocar sua vida pela de seu pai,
valorizando a sua família que no caso é apenas ele. É isso com
certeza, para mim la famiglia é o que mais importa e aparentemente
para ela também.
Já tive pessoas em situações piores do que a dela em minhas mãos e
não me comovi, isso me incomoda um pouco, mas tento não focar
nisso e continuo com o que importa.
— É isso que fará com ele? É isso que está fazendo com ele? —
pergunta em prantos e eu descubro que a sua tortura acaba de ter
início.
— Para o lugar onde você mata os seus prisioneiros, você deve ter
um lugar para isso. — Tenho que admitir, ela está sendo mais
corajosa do que pensei.
Eu nunca tive compaixão, mas é exatamente isso que sinto por essa
menina, seu corpo magro e pequeno contrastando com o meu,
grande e forte. Eu posso não ter uma visão completa, mas sei que ela
está magra demais, mais do que deveria.
Será que essa menina pode ser útil em algo para mim, de repente
não sinto tanta vontade de matá-la quanto antes.
Passo pelos três e sigo pelo corredor, parando de frente para a cela
03, por um instante penso que não deveria deixa-la ver o estado em
que o seu pai se encontra.
— Mia bambina! — exclama com a voz tão fraca que eu mal ouço
— Vai ficar tudo bem, eu prometo — falo com lágrimas nos olhos e
me levanto momentaneamente de perto dele e me dirijo ao demônio a
quem todos chamam de chefe, queria poder estapear sua face, mas
pelo meu pai, terei que me humilhar diante dele.
— Pois trate de achar menos, aqui eu decido o fim que cada um terá,
inclusive o seu e o do seu pai — diz rudemente. — O dele já estava
decidido, ele vai me servir de agora em diante — fala dos nossos
futuros como se falasse da mudança do tempo. — E o com você,
ainda não sei o que farei.
— Tudo bem, desde que ele fique vivo, eu lhe serei grata — falo com
servidão. Minha real vontade é estapeá-lo, mas pelo meu pai me
contenho, entro no ambiente em que meu pai se encontra jogado ao
chão.
Volto a chama-lo com carinho enquanto ouço ele rosnar ordens para
o seu cão de guarda, o mesmo que me trouxe até aqui, antes de se
retirar, sendo seguido pelos dois que agora eu imagino serem seus
irmãos.
Quando ele consegue com dificuldade ficar de pé, apoio o seu braço
em meu pescoço, entro no ambiente que é muito parecido com os
demais e fico grata por aqui ter pelo menos um fino colchonete no
chão, depois de banhar vou colocar o meu pai ali, sigo com ele direto
para a abertura que julgo ser o banheiro e confirmo a suspeita.
Com carinho e cuidado lhe dou banho, quando termino, deixo-o sem
roupa sobre o colchonete, não há condição nenhuma de vesti-lo com
a mesma roupa imunda que estava.
Tiro o meu sobretudo e jogo sobre o seu corpo frágil, ele está
tremendo de frio, fico receosa dele contrair uma virose. De qualquer
forma, eu não vou precisar de muito depois desse período em que
estarei cativa, a minha morte é certa, porém para o meu pai, há
esperança eu preciso protege-lo.
Meu carrasco chega com os itens que avisou que traria, ele se detém
ao me olhar por um período maior do que julgo necessário, mas tento
não me incomodar com a situação, de repente ele apenas está
cumprindo as ordens do chefe e enquanto meu pai for mantido vivo
eu não quero contraria-lo.
Limpo toda a cela em que ele era mantido, a deixo mais limpa e bem
cuidada do que julgo que estava quando o meu pai foi trazido.
Comi apenas um, ainda assim porque o meu corpo exigiu, exausto de
todo o trabalho empenhado na limpeza da cela e também porque há
dias eu não tinha me alimentado como deveria, nós estávamos
sobrevivendo basicamente de café: amargo e puro.
Antes pensei que tudo isso poderia ser um pesadelo, que a qualquer
instante eu poderia acordar e ver que tudo isso não era real, quem
sabe até minha mãe ainda estaria viva e o meu pai não estaria
mutilado pelo acidente.
— Ótimo, no final das contas, talvez, ela ter chegado até nós, não
tenha sido tão ruim. Ela nos será útil para que o velho não faça nada
de errado. — Fabrizio fala, levantando-se acredito eu que para ir para
sua sala sendo seguido por Rico.
Ela não tinha uma grama de gordura em seu corpo para protege-la do
frio. O grande sobretudo preto que cobria o seu corpo, ela havia
colocado sobre o velho, ela acariciava o seu cabelo com um carinho e
uma ternura que quase tocaram o meu coração, digo quase porque
eu não tenho um coração para ser tocado.
Vi quando Amadeu entrou com outro saco que continha pão e dois
recipientes com café e água, ela ainda tremia de frio no chão. Quando
o viu tremeu ainda mais, só que de medo.
Ele deixou os itens no chão, ela pegou um pouco de café para si,
acredito que estava querendo se esquentar um pouco, olhou para os
pães, os seus olhos demonstravam a fome que sentia, mas conteve a
vontade de comer, ela iria deixar para o seu pai, eu sabia.
Considero que eu faria isso pelos meus irmãos, mas eu fui treinado
para isso, eu aprendi que deveria dar a minha vida pela famiglia se
fosse preciso, mas ela não.
Não falo sobre ela com os meus irmãos, ou com Amadeu e também
tenho me mantido distante das câmeras. A distância é como o vento,
capaz de apagar as pequenas chamas das velas, bem como pode
acender grandes fogueiras. Fico feliz por ter exterminado qualquer
chama que estivesse acendendo de dentro de mim.
Uma das lições mais importantes ensinadas por meu pai quando fui
iniciado é que os chefes da máfia jamais podem sentir. Quando ele
me falou, eu não entendi muito bem como ele me dizia que nós não
deveríamos sentir, eu sabia que ele amava minha mãe, a mim e aos
meus irmãos, mas depois de um tempo entendi. Sentimentos fortes
demais nos enfraquecem, ainda mais se outras pessoas tiverem
conhecimento sobre isso.
***
Ela canta baixinho para ele uma conhecida música italiana, sua voz
delicada é quase um lamento a cada palavra dita. Eu travo com a
tristeza derramada na canção em sua voz.
Sei o que fazer com o seu pai, mas não tenho ideia do que fazer com
a ragazza. Seco o rosto e a nuca e pego um copo de whisky. Fico
diante da parede de vidro que me separa e me dá uma visão
privilegiada de Roma, pensando no que fazer com a garota.
A morte para ela não é uma opção. Então eu preciso encontrar algo
para que ela me sirva.
— Estou pronto. — Falo com meu chefe de segurança assim que ele
atende a ligação, em menos de um minuto ele entra em minha sala.
— Sim, senhor.
Tenho vivido no inferno, se bem que o inferno deve ser mais quente
do que esse lugar onde eu e o meu pai somos mantidos o frio aqui
dentro é congelante. Não sei quantos dias se passaram, se é noite ou
dia. O ambiente totalmente fechado e a claridade apenas das luzes
artificiais não me deixam saber.
Recebemos uma refeição por dia: água, pão e café. Assim como
quando cheguei, cogitei a possibilidade de contar os dias através da
vinda do carrasco, se eu estivesse certa, já havia quatro dias que
éramos mantidos aqui.
Mas como num cabo de guerra, esse fio estava muito tensionado, era
como se pudesse se romper a qualquer instante, essa era a sensação
que eu tinha. Eu tentava me manter viva por ele, e ele o fazia por
mim, mas eu não sabia até quando aguentaríamos.
Tento falar, mas ele não deixa, ouço a nossa sentença em silêncio,
tento me manter firme, eu vim até aqui e aceitarei qualquer coisa para
salvar a vida do meu pai, mas não aguento vê-lo se quebrar ao meu
lado.
Quando vejo as lágrimas sofridas rolarem pelo rosto do meu pai, não
contenho a raiva e falo sem pensar, mas as palavras mal saem da
minha boca e eu me arrependo, ao sentir o olhar frio do homem que
já se afastava voltar em minha direção, me fuzilando sem que ele
sequer empunhasse uma arma.
— Sei um mostro!
— Per favore, perdoname, solte-o não foi ele que falou, fui eu, não lhe
faça mal — imploro, chorando. Mas quando me precipito na direção
do homem sou contida novamente pelas mãos fortes que também me
seguraram há dias atrás.
Assim que o homem sai arrastando o meu pai nu, ele nos tranca no
ambiente, que parece ainda mais apertado e claustrofóbico que
antes.
— Quer antecipar a morte de vocês dois, porra? — ele fala e sua voz
de trovão, me estremece por dentro.
Corro para o canto como um animal acuado, uma preza prestes a ser
devorada pelo seu predador. Puxo os joelhos em direção ao meu
peito e choro por mim, por meu pai e pelo o que fiz conosco por não
conseguir me manter em silêncio.
— Então faça.
— Faça o que quer, desconte em mim sua raiva, faça o que deseja —
ele fala e eu dou um passo para trás temendo o que ele disse, ou
melhor, temendo as consequências que sofrerei se fizer o que ele
mandou, porque sim, foi uma ordem, eu sabia.
Capítulo 11
“Eu mandei que ela se levantasse, me encarasse que me
desafiasse, mas no fundo era eu que me desafiava.”
Mandei que ele saísse com o pai dela, eu queria poder lidar com ela
sozinho, saber se ela era tão corajosa tendo que me encarar de
frente, olhando nos olhos, sem testemunhas, apenas ela e eu.
Para ser sincero comigo mesmo, eu sequer sabia o que deveria fazer
com ela, torturar? Dobrá-la sobre minhas pernas e lhe dar umas boas
palmadas para lhe disciplinar? Eram muitas as possibilidades, mas
em todas ela eu terminaria por machucá-la e eu não queria isso.
Vi nos seus olhos o ódio e a raiva e não gostei disso, ela não
combinava com esses sentimentos, não quando eu já havia visto
cheia de amor ao olhar para o seu pai.
Descubro enquanto a encaro que ela foi feita para o amor e não para
o ódio, e eu queria tirar isso de dentro dela. Ofereci a única forma que
eu sabia extravasar, me ofereci para ser seu saco de pancadas, ao
invés de torna-la o meu, para mim, descarregar em alguém as minhas
frustrações sempre funcionou e eu esperava que com ela também
funcionasse.
Então a coloquei sobre o fino colchonete e fiquei ao seu lado por mais
tempo do que eu esperava, eu precisava garantir que ela ficaria bem
quando eu saísse e fiquei com ela até o seu pranto secar e ela
adormecer, pelo menos foi o que eu pensei, mas a mulher sempre me
surpreendia, quando me apoiei para levantar e deixa-la sozinha
novamente para descansar, ela segurou em meu braço.
— Quanto a garota?
Na minha sala, sigo direto para o bar, três doses de whisky seguidas
não me acalmam e enraivecido atiro o copo contra a parede de vidro
que era blindada e não sofreu nenhum dano, já o copo se estilhaçou
em mil pedaços, frágil assim como eu me sentia agora.
Três dias se passaram desde que eu afastei Amapola e seu pai, pedi
que Amadeu continuasse levando água, café e pão, eu não podia lhe
oferecer mais do que isso, embora eu quisesse.
Naquele dia, quando saí com meus irmãos para mais um tedioso
jantar com mais um capo da familgia e sua filha possível pretendente
ao cargo de minha esposa, eles notaram o arranhão em meu rosto,
mas eu não lhes disse o que aconteceu. Eles estavam viajando para
resolver alguns problemas que surgiram e por isso não estavam
comigo, não respondi as perguntas feitas, nem mesmo retruquei as
piadas de Rico que afirmou saber que aquilo se tratava de unha de
mulher e que eu provavelmente passei o dia fazendo sexo selvagem
enquanto eles trabalhavam.
Ele estava certo em parte, era unha de mulher, mas diferente do que
dissera, eu não passei uma tarde inteira com ela fodendo
selvagemente, embora esse pensamento não me desagradasse. A
verdade é que eu deixei que ela me punisse, que descarregasse em
mim toda a sua angústia, e por não ter o hábito de mentir para os
meus irmãos eu preferi me silenciar, eles que tirassem as próprias
conclusões.
Os últimos dias foram um verdadeiro inferno, soubemos que a máfia
Russa havia chegado à Itália, há anos esses desgraçados têm
tentado tomar o nosso território, mas dessa vez eles exageraram, se
é um banho de sangue que eles querem é isso que terão.
Toda essa confusão foi boa para que eu pudesse afastar meus
pensamentos de Amapola, eu sabia que ela estava lá na masmorra, e
isso bastava.
Mantê-la viva era tudo o que eu poderia lhe oferecer, mesmo que a
minha consciência me impelisse a fazer mais.
— Chefe, para ser sincero não, mas pensei em colocá-la no bar para
servir as mesas, deixo claro o que ela fará e nos livro de
preocupações por enquanto.
Garantir que o seu pai esteja não só vivo, mas que também não
passe mais fome assim como ela, já é demais para mim.
— Boa noite, não precisa, vou sair — falo quando lhe entrego o
sobretudo que acabo de tirar dos ombros.
Mamma dizia que era bom que tivéssemos alguém da sua confiança
para cuidar de nós, mesmo quando ela não estivesse por perto,
quando nos casássemos. O que nós não imaginávamos é que os
nossos pais partiriam tão cedo e que essas mulheres fariam o papel
de pai e mãe para nós.
Depois do atentado que nossos pais sofreram, elas que já eram muito
apegadas a nós, se dedicaram ainda mais. Ângela, por exemplo,
embora tenha se acostumado com a minha frieza, só dorme após eu
chegar em casa. E posso apostar que as duas outras senhoras que
estão na casa dos meus irmãos estão com os joelhos prostrados no
chão, rogando a Deus que os tragam de volta em segurança.
Quer dizer, isso só acontece quando elas acham que estamos nos
expondo a um risco desnecessário. E mesmo quando nós não lhes
damos ouvidos, elas continuam a falar como se isso fosse nos fazer
mudar de opinião.
Teria ela fugido? Acho muito difícil, a segurança do local é grande ela
não conseguiria escapar facilmente, se bem que ela aparenta ser
muito esperta.
Sigo para o piso superior onde temos um camarote exclusivo que nos
dá uma visão privilegiada do ambiente, assim como das outras vezes
que venho aqui, peço uma dose dupla de whisky e sigo meu caminho.
Antes de qualquer coisa, sempre fazemos o reconhecimento local,
listando mentalmente as pessoas que estão frequentando e
principalmente, tentando enxergar algo que nos ofereça risco, só
depois descemos até as mesas de apostas para cumprimentar
rapidamente quem nos for importante no momento e demarcar
território.
Ele parou diante de mim, fúria crispava em seus olhos, ele queria me
matar, eu senti no seu silêncio, os seus olhos atiravam adagas
afiadas em minha direção e eu não podia fazer nada além de esperar
o meu fim, para ser sincera não estava preocupada comigo e sim com
o meu pai, por causa das minhas atitudes ele estava condenado a
uma morte lenta e dolorosa.
Mas ele não acreditou em uma palavra sequer que saia dos meus
lábios, ele viu quão grande era a mentira, e que principalmente eu
não estava arrependida do que disse, para ser sincera eu queria dizer
muito mais, e foi aí que ele permitiu. Por uma fração de segundos, eu
enxerguei a compaixão em seus olhos, algo na minha situação o
incomodava e ele permitiu que eu descontasse nele todas as minhas
angústias e frustrações e assim eu o fiz.
***
Tenho tentado não os contrariar, não ter meu pai por perto e não
saber como ele realmente está me assombra, então o que eu puder
fazer para colaborar eu farei.
— Boa tarde, trouxe essa menina para ficar com as outras — informa
e meu coração acelera, era isso, elas se prostituiam e eu seria
obrigada a fazer o mesmo.
— E onde vou coloca-la, amico? Com essa carinha de anjo ela traria
bons lucros a casa. — O tal do Martin levanta o meu rosto buscando
os meus olhos e em um gesto repugnante acaricia o seu membro sob
a calça enquanto passa a língua nos lábios, eu estremeço por dentro.
— Gostei dela.
— Calma, amico, não sabia que ela era sua — o homem fala
erguendo as mãos em rendição.
— Ela não é minha, mas agora é minha protegida, toque nela e será
um homem morto. Coloque-a na cozinha, no máximo para servir as
mesas, estarei afastado da cidade, mas assim que voltar voltarei para
ver como estão as coisas.
Não muito tempo depois, somos levadas para o salão, as duas que
me ajudaram antes me dão as dicas do que fazer e como me portar,
mas não podem ficar muito tempo próximas de mim pois precisam
entreter os homens que começam a chegar.
Elas me avisaram que era para eu evitar muitos sorrisos e ser cordial
apenas o necessário, para que os frequentadores não confundissem
minha função, embora estivesse claro, pois eu estava vestida e elas
de lingerie apenas.
Corro para o banheiro com medo de ser seguida por ele, o que
graças a Deus não acontece, quando consigo me recuperar volto
para fazer o meu trabalho, me mantendo ainda mais afastada do
homem.
A primeira vez que vim servir, quase voltei correndo, mas eu sabia
que podia esperar por isso. Eu era virgem, mas não uma tapada
imbecil. Confortava-me saber que nenhuma delas estava ali obrigada
ou era maltratada e se tratando de escolhas pessoais cada um que
arcasse com a sua.
Suas mãos apertam meus seios tão forte que parece que vão ser
arrancados, nem quando estive sob as garras do próprio demônio que
é o chefe dele, eu senti tanto medo. Grito de desespero quando ele
me morde com raiva, tentando abrir sua calça e suspender minha
saia ao mesmo tempo.
Sinto minha saia ser erguida, eu não tenho tanta força quanto ele.
Martin tem o dobro do meu corpo e quando acho que será o meu fim,
sinto um líquido grosso e quente escorrer pelos meus seios.
Ali, diante de mim, segurando pelos cabelos a cabeça do homem que
até a poucos segundos era o meu algoz estava o próprio demone.
De todos três, o que mais tem admiração por armas brancas é Rico,
mas tanto eu quanto Fabrizio também apreciamos demais esse item
que em um confronto corpo a corpo pode ser essencial para abater o
inimigo.
Acho que foi o ódio que me dominou, eu nunca tinha sentido algo
assim, talvez quando os meus pais sofreram o atentado, saber que
eles estavam mortos acabou comigo, mas eu me reergui. Assumi a
posição para a qual fui treinado e matei todos aqueles que estiveram
envolvidos.
Ela estremeceu sob o contato do tecido com seu corpo, acredito que
só agora se deu conta também da presença dele ao nosso lado.
Amapola se encolheu, com medo do que viria a seguir, mas não tinha
o que temer, eu estava aqui e a partir de agora ninguém mais
encostaria um dedo sequer sobre ela.
O choro de Amapola cessou, mas seu corpo treme tanto que parece
convulsionar, tentando tocá-la o mínimo possível, levanto-a da mesa
e sigo para a área dos quartos. Ela se assusta quando vê o caminho
que estamos percorrendo, mas eu a tranquilizo, falando que ela
precisa tirar o sangue do seu corpo.
— Sei que não está bem, por isso vou ficar com você no banheiro,
mas eu prometo que não te tocarei, eu só quero cuidar de você e
você precisa tirar esse sangue do corpo — falo quando a conduzo
para o banheiro.
Assim que coloquei o seu corpo debaixo da água ela abriu os olhos e
se encolheu, eu a segurava com as mãos estendidas para frente
tentando tocar-lhe o mínimo, mesmo que a minha vontade fosse de
colocá-la em meu colo e cuidar dela.
— Para onde vai me levar? Vou voltar para a sua prisão? — pergunta
e havia tanto medo em sua voz que tive ódio de mim mesmo por tê-la
mantido ali.
— Não, vamos para a minha casa — falo e vejo que ela engole em
seco, não sei se de alívio ou medo, mas era o que eu podia lhe
oferecer.
Capítulo 15
“Sentia como se Salvatore fosse a minha tempestade pessoal, as
vezes ele me agitava, tomava tudo ao meu redor numa fúria
constante e indomável, em outras ele era calmaria e essa
calmaria era tão temida por mim quanto desejada.”
Por que ele fez isso? Por várias vezes, me perguntei, principalmente
enquanto lavava o meu corpo banhado em sangue, mas não
encontrei nenhuma resposta. O homem era funcionário dele e eu sua
prisioneira, por que ele tirou a vida do outro sem sequer hesitar?
Será que ele não era tão ruim assim? Será que eu estava enxergando
algo que ele não permitia que mais ninguém visse?
Tomar banho nua em sua frente, não foi confortável para mim,
principalmente quando eu havia acabado de passar por uma situação
como aquela, mas eu não sentia que ele fosse fazer qualquer coisa
comigo contra a minha vontade.
Vejo três casas, ou melhor três mansões, mas ele estaciona o carro
diante da que fica localizada no meio, centralizada entre as duas.
Fico parada sem saber o que fazer quando ele desce do veículo,
então me mantenho imóvel até que ele abre a porta e me estende a
mão.
— Venha — chama.
Hesitante, seguro sua mão sem saber o que esperar desse homem,
mas ele apenas me conduz para dentro, abrindo as portas imensas e
revelando uma sala de uma beleza que eu jamais pude presenciar em
qualquer lugar que estive.
— Não precisa, ela está bem assim — ele responde por mim
O sofá é tão branco que tenho medo de sentar e sujá-lo, será que
consegui limpar todo o sangue do meu corpo? Penso no que vivi e
meus olhos inundam novamente.
Ficamos em silêncio até que a mulher volte com o bolo e o café, meu
estomago embora enjoado pelo que vivi, ronca com a possibilidade
de comer o pedaço do bolo que ela nos ofereceu.
— Ótimo, leve-a até lá. Vou precisar sair e em breve estarei de volta
— avisa, pondo-se de pé.
— Não para mim, senhor, scusi. — Mas não sinto verdade em sua
voz. — Eu não entendi a ordem perfeitamente.
— Corrija — Ele tenta manter a calma, mas sei que de fato não está
calmo, percebo em cada olhar que ele lança a senhora.
— Impossível senhor, as que não estão ocupadas estão tão sujas que
não teria condição de levá-la sem uma limpeza das grandes. Ela
ficaria doente com a poeira e o mofo, providenciarei uma faxina
amanhã — completa, já segurando em minha mão pronta para me
arrastar para o mesmo caminho em que seguíamos.
— Está tudo bem, criança — ela fala comigo, dando leves batidinhas
em minha mão. — Amanhã providencio a mudança, tenho certeza de
que o senhor Salvatore não se importará de ceder um quarto da
mansão por uma noite. — diz, encarando o homem como se o
desafiasse a contradizê-la, quem era essa mulher afinal?
Ela me leva até um quarto imenso, acho que apenas dentro desse
quarto caberiam três casas iguais a que eu morava com meus pais.
Por isso, entrei receosa de quebrar algo aqui, uma cama com dossel
coberta por lençóis brancos atrai a minha atenção, o tapete no chão é
tão felpudo que eu poderia dormir até sobre ele, como eu estava
descalça pude sentir assim que pisei no ambiente.
— Menina, não precisa ficar com receio, ele não lhe fará mal — fala
como se lesse os meus pensamentos. — Tome um banho que vou
lhe trazer um par de roupas e uma xícara de chá bem quentinho, sei
que está precisando disso agora. Não sei o que aconteceu, mas se
precisar de mim pode chamar, no banheiro você encontrará tudo o
que precisa.
— Obrigada, dona Ângela — Chamo-a pelo nome que ouvi ele falar.
— Não por isso, querida. Vai ficar tudo bem. — diz como se
pressentisse que eu precisava não só ouvir, mas acreditar nessas
palavras.
Faço como ela disse e tomo um banho, quando retorno para o quarto
ela já me espera, entrega a xícara de chá e me mostra a roupa sobre
a cama, quando ela sai vejo que é uma roupa masculina, será que ela
seria capaz de me dar um par de roupas dele?
Ela sabia que eu não a trouxe como minha hóspede, estava claro no
semblante da criatura, a falta de roupa, o rosto inchado pelo choro
recente, a aparência sofrida. Ângela sabia, mas a velha enxerida
estava se fazendo de desentendida, eu a conhecia, ô, se conhecia.
Podia apostar minha vida sem medo de perdê-la que a criatura estava
no quarto exatamente ao lado do meu, eu lia muito bem as intenções
das pessoas e com Ângela não era diferente.
Era sempre assim, quando queria nos engabelar, ela se fazia de
inocente, uma coisa que eu sabia perfeitamente que ela não era.
Vi, quando entrei com a ragazza, que ela se compadeceu com a
situação da criatura, me olhou questionando silenciosamente o que
eu havia feito, mas deixei claro no meu semblante impassível que eu
não havia feito nada e no fundo ela sabia que se fosse eu a deixá-la
naquele estado ela sequer estaria ali.
Deixar que ela ficasse em uma das pequenas casas que mantemos
espalhadas pela propriedade para alguns funcionários já era muito
mais do que eu estava disposto a dar, mas não, Ângela tinha que me
empurrar ao meu limite e acomodá-la em um dos quartos da mansão.
Bufo de raiva e soco o volante, sabendo que eu estou perdendo
tempo parado dentro do carro refletindo sobre as ações da velha.
Coloco-o em movimento e sigo na direção da boate.
Preciso confrontar Carbone sobre as atitudes do seu associado,
Martin não era da famiglia e foi trazido por ele para cuidar de um dos
seus negócios. Nós permitimos sua entrada, mas a responsabilidade
era dele e eu iria cobrar respostas.
Principalmente sobre o fato dele abusar das meninas que mandamos
para lá, pela segurança que agiu, eu podia apostar que não era a
primeira vez que fazia isso.
— Sim, chefe? — ligo para Amadeu ativando o sistema de bluetooth
do carro.
— Já soube o que aconteceu no cassino? — pergunto.
— Sim, senhor. Infelizmente — fala e noto um sentimento de culpa
em sua voz. — O que houve com a garota? — Ele quer saber.
— Está preocupado, Amadeu? — questiono, não gostando nenhum
pouco dessa merda,
— Não, chefe, só acho que não fui tão claro com Martin quanto
deveria.
— Você o avisou para não a tocar? — tento entender o que quis
dizer.
— Sim chefe, quando a levei vi o seu interesse na menina e lhe dei
uma corsa, falei que não chegasse perto dela, como eu lhe disse,
senti que ela era inocente, por isso deixei claro o limite, como o
senhor ordenou. Disse que ela iria servir à máfia, mas não com o seu
corpo. — ouço meu homem de confiança falar e não deixo de ficar
orgulhoso por sua atitude.
Amadeu é filho de Ângela e foi criado junto comigo e com meus
irmãos, os mesmos princípios que carregamos, ele também carrega
consigo, assim como a mesma dor. O seu pai era o homem de
confiança do meu e estavam juntos até a morte, ele também morreu
no mesmo atentado que o meu pai. Nós assumimos os nossos
papeis, eu o de Dom da Dalla Costa, assumindo a cadeira do meu pai
e ele o de chefe de segurança do Dom, assim como era o seu pai.
Confiamos nas mãos um do outro as nossas vidas, eu o conheço tão
bem quanto aos meus irmãos e por isso tenho certeza de que cada
palavra que acaba de sair da sua boca é a mais pura verdade. Eu
poderia acrescentar aí algo que ele não disse, ele se afeiçoou pela
ragazza, não sei ainda se como um homem se afeiçoa a uma mulher
ou se apenas com um sentimento de cuidado fraternal, mas sim, eu
sabia que ele não gostara nenhum pouco do que aconteceu com ela.
— Estou voltando para a boate para limpar a sujeira por lá — falo.
— Eu já o fiz chefe, não há com o que se preocupar, todo o ambiente
está totalmente limpo — informa com a sua competência de sempre,
eu agradeço mentalmente. Assim, a única coisa com a qual terei que
me preocupar é com Carbone.
Embora saibam o que pode acontecer em um ambiente como esse,
notei que algumas mulheres estavam extremamente assustadas,
talvez com a brutalidade da morte de Martin, algumas acabaram
confessando que ele as ameaçava e estuprava.
Deixei claro que eu jamais permiti que isso acontecesse e que jamais
permitiria, para tudo na vida existe um limite, até em um ambiente
onde os crimes acontecem diariamente. Existem situações que não
toleramos e sem dúvidas essa é uma delas.
Deixei claro para Carbone que quem assumisse o comando do
cassino deveria estar plenamente ciente das regras estabelecidas por
mim. E qualquer um que ousasse agir de forma contrária, acabaria da
mesma forma que Martin. No fundo, sua morte serviu de lição para
todos, esse tipo de abuso eu não tolero e jamais tolerarei.
Cheguei em casa por volta de quatro horas da manhã, eu estava
esgotado fisicamente: a viagem dos meus irmãos e de Amadeu, toda
a tensão que estávamos passando com a chegada dos Russos me
preocupava, mas nada me incomodou tanto quanto ver Amapola
quase ser estuprada.
A cena digna de filme de terror passava por minha mente
ininterruptamente e se eu pudesse ressuscitar Martin, eu o faria,
apenas para ter o prazer de mata-lo novamente.
Quando cheguei em casa, não encontrei Ângela em nenhum lugar,
ela deve ter ido descansar, ela tinha uma casa aqui no complexo,
mas desde a morte do seu marido, só dormia lá quando Amadeu
estava com ela, do contrário ela ocupava um quarto de hóspedes
localizado no térreo da mansão. Na verdade, não era mais de
hospedes e sim dela, ela já o tinha com o seu jeitinho peculiar e o seu
oratório cheio de imagens que tanto eu quanto Amadeu sempre
trazemos de presente para ela.
Subo para o meu quarto e quando passo pela porta que fica ao lado
do minha, resolvo confirmar as minhas suspeitas, e quase sorrio.
Assim como suspeitei, Ângela acomodou Amapola no quarto ao lado
do meu, não resisti e entrei no ambiente.
De pé diante da cama, fiquei parado por um tempo, a observando
dormir aninhada no meio da cama, totalmente enrolada nas cobertas
grossas, quis tocar em seu rosto para saber se ela sentia frio ou se
era apenas medo de tudo o que passou, mas contive o ímpeto e
mantive as mãos dentro dos bolsos. Assim elas não corriam o risco
de desobedecer as minhas ordens.
Depois de um tempo, segui para o meu quarto tomei um banho
demorado e relaxante em minha banheira e só depois me joguei na
cama pronto para dormir feito uma pedra, sabendo que agora ela
estava em segurança e debaixo das minhas asas, eu tinha certeza
que conseguiria dormir tranquilamente.
Capítulo 17
“Gosto disso, serviços limpos e eficientes, por isso enviei os
melhores.”
Mas se for ser sincero, eu realmente estou de bom humor, por isso ao
invés de comer torradas com café puro e amargo como de costume,
pedi o cornetto, que é uma espécie de croissant italiano, geralmente
recheado com chocolate, geleia ou creme, pode ser servido também
sem recheio, e aí podemos acrescentar o que quisermos inclusive
manteiga e queijo.
— Ainda não sei, Ângela. Preciso arrumar um lugar para ela ficar, até
lá, organize uma das casas conforme ordenei ontem. Vou passar
algumas ordens aos seguranças, ela não deve sair da casa que você
a colocar.
***
— Acho que deixei claro que ela é uma prisioneira e não uma
hóspede não foi?
— Você sabe que eu não converso com ninguém sobre nada, Ângela.
Não torre minha paciência, já disse que não. — Encerro o assunto e
subo as escadas.
Que merda essa velha está fazendo com minha cabeça? Pergunto-
me quando a água quente jorra sobre a minha cabeça.
Até mesmo o sexo tem sido mecânico, apenas uma forma de aliviar a
tensão do meu corpo, mas já não sinto tanto prazer quanto antes, são
apenas corpos suados liberando ocitocina e endorfina.
— Com você?
— Acho que fui claro quando disse: “eu te espero em dez minutos” —
digo, não estando acostumado a dar explicações a ninguém sobre
nada, principalmente, a quem me deve subserviência.
— Isso não foi um pedido, ragazza, foi uma ORDEM. — Deixo clara
minha posição.
— Você só pode ser louco, doente, ou sente prazer com o sofrimento
alheio, ou talvez todas as opções juntas, não é mesmo? Você
sequestra o meu pai, me prende em uma masmorra, me joga em um
cassino exposta a todos os riscos que aquele lugar poderia me
oferecer a agora me convida para almoçar? Você só pode ser um
sádico. — Amapola pula da cama enquanto fala me desrespeitando
totalmente e eu me controlo para não ser de fato o sádico que ela diz
e lhe dar umas boas palmadas para que me respeite.
Eu realmente não deveria ter ouvido a velha enxerida, fazer o que ela
disse só me trouxe aborrecimentos.
— Senhor, ela não tinha o que vestir e como quando chegou vestia o
seu paletó eu pensei que... — Começa a justificar e eu a interrompo.
— Outra coisa, ela só irá almoçar se descer para comer comigo, caso
contrário, ficará com fome — aviso e ela abre a boca para questionar,
mas basta olhar em minha direção para se calar.
— Sim, senhor.
— Compre roupas para ela — falo e ela se retira após concordar com
a cabeça.
Assim como pensei, Amapola não desceu para almoçar, não faria
diferença, afinal já estava acostumada a não ter o que comer. Meu
coração se apertou um pouco com o pensamento de tê-la passando
fome novamente quando eu poderia lhe dar qualquer alimento que
precisasse, mas eu não cedi, ela teria que aprender a me respeitar,
por bem ou por mal.
Capítulo 18
“Talvez você não esteja procurando com os olhos corretos a sua
saída, meu anjo, as vezes precisamos abrir os olhos da nossa
alma. E é pelo coração que precisamos enxergar as coisas.”
Será que Ângela teria lhe dado algo para comer, contrariando as
minhas ordens? Pela primeira vez desejei que ela não tivesse me
obedecido, eu não falaria isso em voz alta, de forma alguma, mas
desejei que ela tivesse alimentado Amapola. No fundo sabia que essa
possibilidade era grande, ela havia se apegado a menina, eu pude
perceber.
Por volta de oito horas da noite meu celular toca, vejo que é Matteu e
estranho, ele está na guarda externa da casa, será que houve algum
problema?
— Chefe?
— Sim?
— Acabei de pegar a prisioneira tentando fugir — ele fala e eu mal
posso acreditar em suas palavras, será que Amapola foi tão burra
assim?
— Você a capturou? Não toque nela. Onde vocês estão? — Despejo
perguntas e ordens que espero que ele entenda.
— Sim, senhor. No jardim central, na frente da mansão.
— Já estou a caminho — aviso já ficando de pé
— Eu o aguardo. — Encerro a ligação e saio do ambiente feito um
raio.
— Por favor, meu filho, não faça nada com a menina. — Ângela me
aborda no meio do caminho.
— Você a ajudou? — pergunto mesmo sabendo que ela jamais faria
isso.
— Claro que não, senhor, eu jamais o trairia — fala me tranquilizando
— Eu sei Ângela, sei que não seria capaz.
— Claro que não seria, mas por favor não a machuque. Ela não
merece, sei que a menina já sofreu demais, e se ela quiser ir, deixe
que vá meu filho, se for para ser sua ela voltará, ninguém tira de nós
algo que é nosso, e se for para ser será. — Naná como sempre, fala
tudo o que pensa e quase consegue me irritar mais do que Amapola.
— Do que está falando?
— Você sabe, Salvatore, não negue mais o que eu enxerguei desde a
primeira vez que os vi juntos.
— Você está variando, velha enxerida.
— Não estou não, meu menino. Escute o que eu lhe digo, deixe-a ir, e
verá que ela vai ficar, acredite na experiencia dessa velha enxerida —
fala com um sorriso nos lábios e eu não me dou o trabalho de
responder. Saio da mansão bufando de ódio.
De longe eu consigo ver Amapola ajoelhada no chão, eu estava com
raiva, com muita raiva, principalmente depois das palavras de Naná.
Será que ela estava certa? Será que eu realmente estava querendo
Amapola por perto e por isso a mantinha aprisionada? Será que eu
deveria deixa-la ir?
Enquanto caminhava a passos largos, cogitei várias possibilidades,
mas a única que eu tive certeza é que eu não a queria distante.
— Pode ir agora Matteu, eu assumo daqui pra frente. — Dispensei o
meu segurança, eu queria lidar com ela sozinha.
— O que pensa que está fazendo? — pergunto quando recupero o
folego e controlo a raiva.
— Fugindo!? — A desaforada fala com rebeldia.
— E por acaso você acha que iria conseguir? — questiono com uma
sobrancelha erguida
— Talvez sim — responde, e eu tenho vontade de rir.
— Pois que fique claro, ragazza, que você não conseguirá, nem que
eu precise te algemar aos pés da minha cama, para que eu mesmo te
sirva de guarda. — ameaço.
— Você não seria capaz disso, seria? — O medo de que eu
realmente fizesse isso crepitou em sua fala.
— Tente fugir novamente e é exatamente isso que eu farei, agora
levante, vamos para dentro. AGORA — falo sem nenhuma paciência.
— Eu vou embora daqui, não quero e não vou ser sua prisioneira
para sempre, não consigo viver dessa forma. E se for para ser assim
eu prefiro morrer, me mate Salvatore, me mate. — Ouvir ela preferir a
morte do que ser minha prisioneira me rasgou por dentro. Eu não a
queria morta, também não a queria sofrendo, se estar perto de mim
lhe fazia tão mal, eu lhe daria uma chance.
— Levanta, Amapola — falo.
— Não. — Ouço sua resposta.
— Levanta e eu te dou uma chance de fugir de mim. Se conseguir eu
garanto a você que não irei atrás. — Deixo clara a minha intensão.
— O que você vai fazer comigo?
— Te dar uma chance de fugir, chega de joguinhos, eu nunca
mantenho ninguém preso por muito tempo. Eu mato na primeira
semana, mas eu não fiz com você, e talvez esse tenha sido o meu
erro, eu deveria ter matado você e o seu pai — começo a falar e ela
me corta. Amapola é a única pessoa que tem coragem de interromper
as minhas falas, as vezes acho até engraçado isso.
— Deixe o meu pai de fora, sou eu que te desafio o tempo inteiro,
então desconte sua raiva em mim apenas.
— Não seja tola menina, eu deixo que você me desafie, ainda não
percebeu? Acho engraçada essa sua petulância. Essa sua mania de
achar que pode medir forças comigo, mas não pode, Amapola. Você
não tem forças para lutar contra mim, e vou te provar isso agora,
chega dessa brincadeira de gato e rato, vamos brincar feito adultos
agora, você é a caça, e eu o caçador, se eu te pegar você será minha
prisioneira até o seu último suspiro em vida, se você passar dos
portões terá sua desejada liberdade. — Deixo claro o que acontecerá
aqui agora, mas como sempre, com Amapola sempre tem um porém,
ela queria garantir que conseguiria escapar, então eu entendi que
Ângela estava certa, eu precisava deixá-la ir já que não teria coragem
para matá-la. Ninguém precisava saber o que eu realmente sentia,
mas eu a deixaria ir, estava decidido.
Falei para ela quais seriam as suas vantagens, ela ainda não sabia,
mas a sua saída pelos portões do complexo já era certa, eu apenas
aproveitei mais uma vez, para sentir o seu cheiro e tocar em seu
corpo, quando sussurrei em seu ouvido como seriam as regras e
apontei por onde ela deveria seguir, eu queria manter o seu cheiro
delicado guardado em minha mente, por isso respirei em seu
pescoço.
Senti quando ela se arrepiou, seu corpo estremeceu levemente. Eu
pude sentir porque ainda estava colado no meu, se eu sussurrasse
mais um pouco naquele pontinho do seu pescoço, próximo a sua
orelha, poderia jurar que ela deitaria um pouco mais o pescoço para a
lateral e pediria por mais. Se derreteria em meus braços, eu me
afastei para não fazer exatamente isso, não tentar convencê-la a ficar
utilizando de outras artimanhas. Eu já tinha decidido deixaria que
partisse.
Dar-lhe cinco minutos de vantagem, não era nada para mim, eu
poderia dar dez e ainda assim eu a alcançaria, mas eu a
acompanharia de longe até o fim, até que ela cruzasse os portões e
eu tivesse que não só deixa-la partir como também apaga-la da
minha mente. Eu queria aproveitar os últimos minutos em sua
companhia.
Dei as ordens a Matteu, eu sabia que ele havia ficado insatisfeito com
o que eu disse, as últimas informações davam conta que os Russos
estariam rondando a propriedade, por um instante me preocupei com
ela, será que eles a pegariam? Eu poderia mandar que alguém a
seguisse em segurança até sua casa, era isso, eu precisava parar de
procurar desculpas para mantê-la aqui quando tudo o que ela mais
queria era distância de mim.
Assim que eu dei as ordens e Matteu se foi, mandei que ela corresse.
Ela o fez, vi Amapola correr como se sua vida dependesse disso e
enquanto ela corria eu apenas caminhava em seu encalço, mantendo
uma distância para que ela achasse que ela havia ganhado e eu
perdido, no fundo era isso mesmo, mas não da forma que ela iria
interpretar.
Quando ela entrou na reta longa que já lhe dava visão dos portões,
eles começaram a abrir, era Matteu seguindo minhas ordens
enquanto eu queria correr e impedir que ela fosse. Eu queria que ela
ficasse, mas ela iria, ela hesitou, eu vi quando olhou para trás me
procurando, será que ela iria voltar como Naná falou, ou a velha
estava errada como eu pensava.
Infelizmente, ela estava errada. Amapola voltou a correr em direção a
sua liberdade, mas foi aí que eu vi, um carro se aproximava com os
faróis apagados, na escuridão era quase imperceptível, mas meus
olhos treinados viram, então eu corri, sabia que em menos de dez
segundos eu a alcançaria, e corri em sua direção, certo de que eu
poderia perder a minha vida no confronto mas salvaria a dela,
esperava que Matteu estivesse tão atento quanto eu.
E quando o som da primeira rajada de tiros soou, eu sabia que vinha
do meu soldado, empurrei Amapola e esperava que ela não se
machucasse, mas essa era a única forma de tirá-la da linha de tiros
que eu sabia que viria em minha direção.
Saquei a minha arma da cintura e revidei, senti quando fui atingido de
raspão na barriga e no ombro esquerdo, quando vi que eles estavam
recuando, me deixei cair no solo, sabia que ela estava a salvo e que
meu soldado lidaria com o restante.
Acredito que Amapola não conseguiu de fato acompanhar toda a
situação. Ela não estava acostumada com tudo isso, por isso, vi de
relance quando ela se levantou cambaleando e se aproximou
hesitante de mim.
Eu vi a dúvida estampada em seu rosto, Amapola olhava entre mim e
o portão, então eu lhe disse o que tinha pensado desde o momento
que saí da mansão.
— Vá, minha Amah, eu te dou sua liberdade, eu te deixo ir. — Meu
coração se quebrou com as palavras ditas mas eu precisava lhe dar
isso.
— SOCORRO, SOCORRO... Alguém me ajuda, por favor —
Surpreendendo-me, ela se abaixou ao meu lado. Com um cuidado
que há muito tempo eu não sentia, ela segurou minha cabeça e
repousou em seu colo enquanto implorava por ajuda, eu já sabia que
os meus homens estavam a caminho então relaxei no conforto dos
seus braços.
— Não se assuste, mia bella, eu estou bem, vai ficar tudo bem. —
Tento tranquilizá-la o desespero dela estava me incomodando.
— Já vamos para o hospital, chefe — Matteu fala quando um dos
carros parou ao meu lado.
— Eu vou junto — Amapola fala.
— Não. Você fica — Matteu tenta impedi-la.
— Não foi um pedido, Matteu. Foi uma ordem — Minha Amah, falou
como se fosse a dona da porra toda e ela era realmente.
Vi o meu homem de confiança hesitar diante dela, da sua postura
segura e quando ele, mesmo temeroso tentou segurá-la, validei a sua
ordem. Eles que se acostumassem com ela a partir de hoje, se ela
decidiu ficar, eu jamais a deixaria partir.
Seguimos em alta velocidade até o hospital, sabia que uma equipe
médica já me esperava, quando entrei no ambiente o meu estresse
que o carinho que Amapola depositou em meu cabelo por todo o
trajeto afastou, voltou imediatamente.
Queriam que eu deitasse em uma maca, mas eu sabia que não
precisava então entrei andando como eu queria.
— Senhor, — o médico que me aguardava começou a falar — preciso
que o senhor colabore, perdeu muito sangue, preciso que se sente
pelo menos na cadeira de rodas se não a sua situação pode piorar.
— Ele vai colaborar, pode trazer a cadeira. — Amapola se precipita e
responde antes de mim.
Vejo os meus soldados se afastarem um pouco, nos dando
privacidade, e eu a encaro, mas não tenho tempo de questionar pois
o médico chega com a cadeira de rodas e ela se põe a ajuda-lo.
— Vou deixar que, sua esposa o acompanhe senhor. Acho que ela
vai nos ajudar a ajuda-lo. — Esse médico já é conhecido da famiglia,
então esse não é o nosso primeiro contato e ele sabe que eu costumo
lhe dar trabalho.
— Eu não o deixaria — ela afirma.
Quando chegamos a sala de exames descobrimos que ambos os
tiros foram de raspão, então eu não ficaria muito tempo no hospital.
De qualquer forma, eu logo estaria em casa, não é o primeiro tiro que
eu tomo, e mesmo da vez que passei por uma pequena cirurgia para
retirar um projetil cravado na minha coxa eu fui para casa em
seguida, imagine tendo sido baleado de raspão.
Eles fazem os procedimentos necessários sob a supervisão criteriosa
de Amapola. A mulher fez milhões de perguntas e tirou suas dúvidas
quanto aos cuidados necessários. Quando o médico dispôs uma
enfermeira, como é costume em situações como essa, ela dispensou
prontamente, dizendo que ela faria o trabalho.
E eu fui apenas expectador de toda a cena, pela primeira vez na vida
eu deixei que outra pessoa decidisse o que era melhor para mim. E
estava satisfeito com isso desde que fosse ela.
Eu precisaria estabelecer limites, eu sabia, mas só por hoje eu a
deixaria agir.
Capítulo 21
"Salvatore me deu a chance de partir e eu resolvi ficar, porém
não sabia quais seriam as consequências dessa decisão, preferi
pensar nisso em um outro momento"
Meu coração ainda estava acelerado com tudo o que vivi nas últimas
horas quando entramos no carro para voltar ao complexo.
Ainda não estava entendendo muito bem o que estava sentindo por
ele, será que seria só gratidão? Será que seria medo do poder que
ele tinha sobre minha vida?
— Acho que consigo fazer isso sozinho, afinal tenho dois braços.
— Eu sei, consigo ver, tenho uma ótima visão por sinal. — Não
contenho a irritação — Mas eu dispensei a enfermeira que viria, então
farei o meu trabalho.
— Desde que meu pai precisou pela primeira vez — falo, e minha voz
demonstrou a tristeza que senti. — Quando ele amputou o braço, era
eu quem cuidava do local, não tínhamos condição de pagar um
enfermeiro para isso, então, tive que aprender, e depois, em todas as
vezes que ele precisou, fui eu quem cuidou dele.
— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, Salvatore.
Antes que ele se sentasse, soltei com cuidado cada botão da sua
camisa, e pude ver de perto, e sentir também nos leves toques o
quanto o seu corpo era definido. Em seu peito havia uma tatuagem,
eu já vira esse símbolo antes e sabia ser o brasão da máfia que ele
comandava. Era uma caveira alada, com uma espécie de chapéu
adornada por rosas vermelhas e armas de fogo. A tatuagem saltava
aos olhos por causa da cor da sua pele muito branca, era toda preta,
com exceção das rosas coloridas, por mais tenebroso que fosse
aquele símbolo e tudo o que ele significava, eu achei... linda,
combinava com ele e com tudo o que ele representa.
— Pois então não olhe para mim e eu terminarei quanto antes o meu
trabalho. —Volto à posição de antes, e tento ser o mais rápida que
consigo.
— Cáspita — ouço ele resmungar, mas tento não lhe dar atenção,
finalizo o trabalho e percebo que embora tenha sido atingido de
raspão foi profundo. Com certeza ficaria uma cicatriz não muito bonita
naquele local antes de levantar retirei os seus sapatos e meias.
— Pronto! — exclamei, pondo-me de pé sendo seguida por ele.
— Sim, é assim que vou te ajudar, você não é o primeiro homem que
irei despir, não se preocupe — falo com a intensão de tranquilizá-lo,
sei que ele interpretaria de outra forma, mas eu não precisava dizer
que o outro homem que despi era meu pai ou será que sim?
— Mas você ainda é uma menina — ele se afasta quando diz, noto
que não gostou do que ouviu.
— Isso, posso ser uma menina, mas não sou uma criança, tenho
vinte e um anos e sei muito bem o que eu faço — falo, deixando claro
o meu ponto.
Dessa vez minhas mãos tremem com a proximidade, sei o que ele
pensa, mas só eu sabia a verdade, eu era virgem e inexperiente, e o
volume que vi enquanto estava ajoelhada entre suas pernas, era
imensamente maior do que o do meu pai. E o pior, enquanto eu
abaixava o zíper de sua calça, vi aquele volume crescer ainda mais.
Meus olhos se arregalam e eu agradeço que ele não pode ver, não é
como se eu fosse de fato senti-lo dentro de mim um dia, mas me
perguntei como uma mulher aguentava aquilo tudo lá? Minha mãe
santíssima, demoro a deslizar a calça por suas pernas, dando tempo
para que o rubor do meu rosto se dissipe.
— Não, assim como você ficou comigo, eu também ficarei aqui, mas
não se preocupe, eu não vou olhá-lo — aviso, sentando na cadeira
onde antes ele estava.
— Pode pegar uma toalha para mim antes de sair, por favor. — Travo
com seu pedido, era isso, ele queria que eu o visse nu, e o pior é que
eu também queria ver.
— Sim.
— Sim.
— O que faz aí? Deite aqui comigo — diz e eu fico receosa mais
ainda assim vou em sua direção, afirmando para mim que será
melhor para que eu possa cuidar dele durante a noite.
Deitada de lado, o admiro até que o sono me vence e eu adormeço.
Capítulo 22
“Vejo Amapola dormindo, tão serena que me pergunto como a
mulher pode estar tranquila dormindo ao lado do homem que já
lhe disse várias vezes que a mataria a qualquer instante.
— Nós vamos sair, irmão, mas só depois que você explicar que
caralho aconteceu por aqui, e o porquê você não nos avisou, nós
ficamos preo... — Ele começa a dizer que estavam preocupados, mas
se calam por causa da presença de Amapola.
— Vou conversar com meus irmãos e depois farei isso. — Sigo para o
banheiro
— Ora, ora, o poderoso chefão trouxe uma prisioneira para lhe curar
as feridas de batalha. — Rico como sempre solta uma de suas piadas
nem um pouco engraçadas.
Nos minutos que seguem, ouço os três me explicarem que assim que
souberam que eu havia sido baleado, eles anteciparam a última
emboscada que estava prevista para hoje à noite e realizaram na
madrugada mesmo.
Que porra é essa? Ela está preocupada com ele? Será que Amapola
sente algo por Amadeu? Irrita-me ainda mais a troca de olhares entre
eles, que caralho está acontecendo aqui, diante dos meus olhos?
Capítulo 23
"Decidir entre a famiglia e o que eu desejo, pode não ser uma
tarefa muito simples afinal, se fosse a alguns dias atrás eu não
teria dúvidas quanto à qual seria a decisão correta, mas agora
não tenho tanta certeza assim."
— Para onde?
Antes de ir, peço que Ângela providencie que uma loja traga tudo o
que Amapola possa precisar, roupas, sapatos, botas, casacos de frio,
enquanto listo ela acrescenta, camisolas e lingeries, não perco o
sorriso da enxerida quando assinto concordando, mas não lhe dou
assunto e saio em seguida já encontrando todos à minha espera.
— Senhor?
Decidir entre a famiglia e o que eu desejo, pode não ser uma tarefa
muito simples afinal, se fosse a alguns dias atrás eu não teria dúvidas
quanto à qual seria a decisão correta, mas agora não tenho tanta
certeza assim.
Será que era a presença dos seus irmãos, ou será que eu havia me
iludido com uma realidade que nunca existiu de fato?
Deve ser isso, afinal um chefe da máfia jamais teria compaixão por
um prisioneiro, enquanto tomava banho pensei em minha decisão de
ontem à noite, e considerei que fui burra, muito burra por sinal. Eu tive
minha liberdade nas mãos e a deixei escorrer por entre os dedos,
agora estava eu, novamente, feito Rapunzel, presa na torre do
castelo.
Fui sincera com ele, achava que era assim que deveria ser, e quando
ele mandou que eu arrumasse minhas coisas para a viagem, quase
sorri, o que eu iria arrumar se eu só tinha a roupa que vestia? Minha
irritação momentânea, talvez seja pelo fato de que ele me deixará em
algum lugar, no fundo eu gostaria de estar perto dele por um tempo
maior, mas nem sob tortura diria isso em voz alta.
Sai do quarto e quase cai da escada quando eu vi, uma loja inteira
montada na sala da mansão de Salvatore, eu sequer consegui contar
quantas araras de roupas havia ali, bolsas, sapatos, sandálias,
casacos, eram tantas as opções que eu não acreditei quando Ângela
me conduziu até algumas mulheres que eu achava que trabalhavam
na loja que estava montada ali.
— Ângela, não precisava, você poderia ter escolhido uma roupa como
a que visto, como vou escolher diante de tantas coisas tão lindas?
— Sim, Amapola, você pode e vai aceitar, a menos que não goste de
uma ou outra coisa, mas tenho certeza de que você precisará de tudo
isso — avisou com um sorriso nos lábios.
— Não Ângela, você está enganada, antes de sairmos ele avisou que
iriamos viajar, ele me deixará em outro lugar.
Escolhi duas calças jeans, quatro blusas lindas com estampas, duas
amarravam na cintura, sabia que deixaria um pouco da minha barriga
a amostra, mas não seria nada que chamasse muita atenção, um
blazer, um sobretudo e já estava achando que era coisa demais, mas
era difícil não estar empolgada com tantas opções. Escolhi uma saia
jeans e um vestido curto soltinho, com um sorriso nos lábios eu me
permiti aproveitar aquele luxo momentâneo.
Havia três caixas grandes separadas e abri para ver o que havia ali,
já que todo o restante estava exposto, mas quase engasguei com a
quantidade e variedade de lingeries e camisolas, meu deus, eu
estava acostumada a dormir com a própria roupa que vestia agora
tinha em minhas mãos as mais lindas camisolas que já havia visto, os
tecidos eram tão delicados que pareciam acariciar a minha pele com
um simples toque.
— Vejo que Ângela fez o que pedi, — diz quando observa todas as
coisas espalhadas no quarto — já está pronta?
Já em casa, segui direto para o meu quarto, estava com fome, mas
precisava de um banho para tirar o cheiro de sangue podre que ainda
estava sobre o meu corpo. Mesmo tendo tomado banho eu ainda me
sentia sujo e fedorento, o sangue russo fedia mais que os outros, eu
estava certo disso.
Mandei que ela ficasse quieta e agradeci por ela ter seguido as
instruções pela primeira vez na vida, seguimos de carro até o hangar
onde o meu jatinho nos esperava.
— Não vai, Amapola. Eu te garanto que não irá cair, vamos entre. —
Coloco as duas mãos nas laterais da sua cintura e a giro para que
possa continuar o percurso até uma das poltronas.
Coloco-a sentada ao lado do lugar que sento todas as vezes que viajo
e vejo quando as nossas malas são colocadas no quarto que tem na
parte traseira, minhas malas pessoais nunca vão no compartimento
de bagagens, caso eu precise de algo, ademais o local está quase
sempre preenchido por armas.
— Sim.
Não me sinto bem por lembrar todas as vezes que a fiz me temer.
Geralmente, eu fico em êxtase quando sinto que as pessoas temem a
minha presença, mas com ela sentia algo diferente, esse sentimento
não me satisfazia, era exatamente o contrário, ele me perturbava.
Dois carros já nos aguardavam, dispensei Amadeu para que ele fosse
com Matteu no outro carro, de uma forma estranha eu desejava não
compartilhar a companhia de Amapola com mais ninguém.
— Nossa, quanta modéstia “só temos trinta suítes”. — Ela tenta imitar
a minha voz, engrossando a sua e eu sorrio. — É lindo aqui. —
Suspira quando passamos dos portões, e ela tem uma visão mais
ampla do local.
Ela quase salta para fora do carro assim que estaciono, admirando
avidamente cada lugar que os seus olhos alcançam, mas ela não faz
ideia do real tamanho deste lugar.
— Não.
— Você cozinha?
— Não é como se eu fosse uma chef, mas consigo fazer uma massa.
Fiquei impressionada quando ele até fez uma reverencia, para que eu
entrasse em seu castelo, porque sim, esse lugar não é nada menos
que isso. Percebi que ele não se vangloria com o que possui, ter é
apenas uma consequência da sua família e de quem ele é, mas ele,
definitivamente, não ostenta o seu poder financeiro.
Abro a mala que trouxe e não sei o que vestir, me olho no espelho e
sinto raiva de mim mesma. Como assim não saber o que vestir? Até
essa manhã, eu tinha apenas uma muda de roupas, mas agora
pensando em todas as opções que Ângela tinha me dado, eu estava
em dúvidas sobre o que deveria vestir para acompanhá-lo.
Decido por usar uma calça jeans escura, com uma camiseta cinza de
um tecido molinho tipo malha, mas que fica bem justa no meu corpo,
pego um cachecol largo de cashmere, assim, se fizer frio, posso jogá-
lo sobre os ombros, enquanto calço as botas pretas de salto fino over
the knee, ouço batidas na porta e sei que é Salvatore, permito sua
entrada enquanto termino de calçar o par.
— Vou vestir uma camisa e chamo você para sairmos. — Ele não
comenta o que eu disse e sai, me deixando sozinha.
Não consigo entender esse homem, as vezes parece ser tão diferente
do que quer demonstrar, queria poder lê-lo, conhecer quem é
Salvatore em sua essência, mas assim como esse castelo, ele tem
muros impenetráveis construídos em volta de si.
Sabia que encontros deveriam ser agradáveis, mas eu não era o que
se poderia considerar uma companhia agradável.
— Sim.
Por volta de nove horas da noite, decidi que era hora de jantarmos, a
empolgação de Amapola me arrancou alguns risos, coisa que eu
definitivamente não fazia com frequência, ainda mais várias vezes em
um único dia. Ela estava realmente fazendo milagres.
— Ótimo, então tenho certeza que irá gostar daqui — falo, tentando
deixá-la tranquila.
— Você bebe?
— Não muito.
— Gostou?
— Bem, moro com o meu pai sozinha, não muito distante da sua
propriedade, minha mãe e ele sofreram um acidente há cerca de dois
anos, foi nesse acidente que ele perdeu uma parte do seu braço —
explica. — Ele trabalhava como padeiro, e minha mãe, fazia alguns
serviços em casa de família, eles eram bons para mim, sempre fui a
sua prioridade. — Noto a tristeza em sua voz.
— E depois do acidente?
— Sim, eles sempre foram muito bons para mim, era o mínimo que eu
poderia fazer por ele, sei que ele faria o contrário se estivesse no meu
lugar. — Eu a encarava, buscando qualquer resquício de mentira em
seu semblante, mas não encontrei nada, ela estava sendo sincera.
— No mais, sou quem você sabe que sou, e além disso administro a
empresa que você esteve há dias atrás.
— O que viemos fazer aqui? — Percebo que já não tem tanto receio
por estar ao meu lado.
— Agora não mais, sei que não seria capaz de me fazer mal.
— Eu, realmente, não seria Amapola, não entendo o porquê, mas
você está certa, eu não seria capaz de te machucar.
Diferente das outras pessoas, eu não o temo, sei que ele é instável
como o polônio, elemento químico que concentra o maior índice de
radioatividade e consequente, instabilidade da natureza, não é como
se ele pudesse mudar a sua essência, ele é o que é, e pronto.
Quanto a ele, é como ele mesmo disse, os seus segredos não devem
ser compartilhados, mas de uma forma estranha, eu queria desvendá-
lo, não Salvatore o chefe da máfia italiana, mas sim, a pessoa, o que
ele era quando se enxergava através do espelho.
Sinto suas mãos acariciarem o meu rosto com uma delicadeza que eu
nunca esperei que ele tivesse. Ele desce uma das mãos por meu
pescoço, ombros e seios, é como se estivesse mapeando cada
pedaço de mim.
Com cuidado ele tira o seu sobretudo do meu corpo, eu queria mantê-
lo ali, para ter o seu cheiro grudado em minha pele, mas sabia que
quando me levantasse dessa cama, eu estaria marcada por ele,
literalmente.
— Sensível demais, mia bela, fique quieta para que eu possa te fazer
sentir prazer.
— Per tutti i giorni della mia vita — Vejo verdade em cada uma de
suas palavras, talvez, amanhã ele mude de ideia, talvez, ele não me
queira mais por perto, mas hoje eu sei que essas palavras são reais,
e por isso queria que essa noite nunca tivesse fim.
— Eu também te quero e vou ficar por todos os dias das nossas vidas
— falo e grito quando os seus lábios tomam os meus seios, eu não
esperava pelo ataque, mas todo o meu corpo ansiava por seu toque.
Suas mãos desfazem o botão da minha calça, e os seus dedos
deslizam para dentro da minha calcinha.
Sua boca volta a devorar a minha e sinto quando ele leva a mão para
baixo, alinhando a cabeça do pênis em minha entrada em seguida os
seus dedos seguem para o meu clitóris fazendo movimentos
circulares sobre eles e eu gemo.
— Me desculpe não ter falado antes, mas achei que você iria parar —
atropelo as palavras me justificando.
Pouco a pouco, ele força a minha entrada, sinto dor no local, mas
todo o meu corpo está dominado por outras sensações. Tento afastar
a mente do incomodo e finalmente, ele me penetra, sei que está
fazendo um esforço terrível para se conter e não me machucar, mas
ainda assim força cada centímetro para dentro de mim.
— Acho que sim — falo, sorrindo, mas faço uma careta de dor
quando ele puxa o seu membro para fora.
Agora ele tinha tudo de mim: o meu corpo, a minha alma e o meu
coração.
Capítulo 30
"Pela primeira vez em anos, tenho a sensação de estar vivendo, é
isso que Amapola me traz: um sopro de vida onde antes só havia
escuridão e morte."
Sigo para o banheiro, estou de pau duro, preciso urinar eu sei, mas
só o fato de tê-la ao alcance das minhas mãos me deixou explodindo
de tesão o que torna a ação fisiológica difícil, me concentro na parede
a minha frente, mas as imagens de Amapola durante a noite
estouram como explosões em minha mente. Mesmo tendo tomado
dela durante a noite não apenas a sua pureza, mas também ter
drenado todas as suas forças eu não estava satisfeito, longe disso.
— Para duas pessoas — informo que não estou só e percebo que ele
se cala, então encerro a chamada.
Eu o faria com todo prazer, mas vou deixá-la descansar para a noite.
Meu coração está acelerado, minha pulsação tão forte que eu sento o
latejar não apenas no meu pau, mas em todo o meu corpo e quanto
mais eu espremia as mãos em volta dele, mais sentia o líquido ser
drenado.
— Me desculpe, acho que fiz uma bagunça aqui — falo quando olho o
seu corpo antes imaculado, totalmente coberto por meu sêmen.
***
— Sim, Amapola, eu disse roupas leves e não que fosse nua — rosno
para ela.
— Ah, então essa roupa está perfeita. — Sorri. — Vou pegar apenas
um chapéu. — Ela gira sobre os calcanhares e me deixa plantado
sozinho, me pergunto de onde essa criatura saiu.
Assim como aconteceu pela manhã, sou acordada por Salvatore com
beijos e carinho, penso que eu poderia me acostumar com isso, mas
sei que a realidade é bem diferente.
— Acho que você tirou toda a minha energia — respondo ainda rouca
pelo sono.
— Não.
— Sim.
Nós estávamos de barriga cheia, mas mesmo assim ela quis trazer os
cannolis, ela realmente amou o doce, Amapola estava um pouco mais
solta, tinha bebido duas taças de vinho durante o jantar e por isso ao
entrar no meu quarto não aguardou as minhas instruções, tendo
seguido direto para o terraço e deitando sobre uma das chaises.
Vou até ela e lhe entrego uma das taças, ela se senta me olhando de
repente mais ansiosa.
— Eu não sei, Salvatore, mas espero que ele esteja bem — fala,
chorando.
Mas como a ninfa da história que me contou mais cedo, ela me seduz
e de repente eu me vejo rendido enquanto afasto do seu corpo e do
meu, as peças de roupa que nos separam.
— Grazie, mio angelo — ela fala, mas assim como eu, se perde nas
sensações quando intensifico as estocadas em sua boceta.
— Sim.
— Não pense que eu não sei o que você fez, e não se acostume a
achar que terá o que quiser de mim enquanto rebola sobre o meu
colo.
Segurei-a no colo para levá-la para dentro, ela estava fria e precisava
se aquecer, mas Amapola acordou e eu pude esquentá-la da melhor
forma possível, cobrindo o seu corpo com o meu.
— Para onde vamos hoje? — ela pergunta com um sorriso nos lábios
após sair do banheiro parecendo uma miragem, Amapola vestia um
vestido amarelo florido, soltinho no corpo e curto demais como a saia
de ontem, nos pés um par de botas cano curto.
— Sim, mia bella, eu não poderia lhe trazer para Palermo sem deixá-
la ver o mar.
— Tudo bem — concordo e assim que tiro os sapatos dos pés ela
abaixa e os segura junto com a sua bota.
— Não, Amapola, você não será minha prisioneira, mas será minha
companhia, então ficará comigo — afirmo.
Encerro o assunto, mas percebo que ela não fica satisfeita com o
rumo da conversa, me pergunto o que essa menina tem na cabeça?
Tenho lhe dado muito mais do que já fui capaz de dar a qualquer um,
então por que não se contenta.
— Vestida?
— Sim, bella, como quiser, ninguém virá até nós — falo, ainda
deitado com um dos braços atrás da cabeça.
Como uma abelha atraída pelas flores, eu sou atraído para ela e não
consigo desviar os meus olhos
Levei-a um pouco mais para o fundo do mar, onde o seus pés não
mais tocavam o chão, a água batendo próximo ao meu pescoço e
sendo ela muito menor que eu dependia de mim para sobreviver. Eu
gostava dessa sensação, de ter a vida das pessoas em minha mão,
era um poder que nem conseguiria descrever a intensidade do prazer
que me dava, mas com Amapola era diferente, eu tinha sua vida em
minhas mãos, mas queria que ela confiasse que eu zelaria por ela, e
jamais faria nada que a colocasse em risco.
Nós estávamos cansados e após o jantar fomos logo dormir, ele disse
que eu dormiria com ele, mas pedi que todas as minhas coisas
fossem deixadas no “meu” quarto. Eu queria ter o meu próprio espaço
pessoal, algum lugar para onde pudesse fugir se necessário.
Quando acordei pela manhã, Salvatore já havia saído e eu fiquei...
decepcionada. Afinal o que eu esperava desse homem? Queria
acordar e encontrá-lo ao meu lado? Caso ele não estivesse, eu queria
encontrar um bilhete de amor, flores e chocolates, para compensar a
sua ausência?
Após ter tomado banho e vestido uma calça jeans, blusinha simples e
tênis, desci para o café da manhã. Fiquei chateada por estar sozinha
e quase não consegui comer nada, percebi a dimensão do problema,
porque rejeitar comida definitivamente não era comum para mim.
— Tudo bem Naná, já vou descer — falo e ela entende que quero
ficar sozinha um tempo.
Desço para comer, já me alimentei muito pouco por hoje não rejeitarei
mais uma refeição, por causa dele.
Coloco o meu orgulho ferido de lado e vou até o seu quarto, procuro
em todos os lugares e não o encontro, será que ele saiu e eu não
percebi?
— Você não tem nada a ver com os meus problemas, por isso pedi
que saisse, quanto mais tempo fica aí parada à minha frente, mais
tempo eu perco, e menos eu adianto o meu trabalho.
— Eu pensei que podia ficar com você um pouco. — Tento mais uma
vez.
— Você não é minha prisioneira mais, já disse isso para você, achei
que tivesse entendido — rosna em minha direção.
Ontem à noite depois que Amapola dormiu, desci até o escritório para
checar os meus e-mails e ver quais eram as prioridades para resolver
no dia seguinte, e desde então pude notar que estava tudo um
verdadeiro caos.
Sabia que meus irmãos tinham feito o que podiam, mas eu joguei a
merda no ventilador quando degolei Martin e sabia que as mortes dos
Russos também chamariam atenção. Para completar, minha
secretária, que facilitava muito minha vida, havia se afastado por um
tempo, isso tudo já me traria muitas ocupações. Ainda havia as
atividades licitas da organização que precisavam a todo instante de
atenção especial para que nada se cruzasse ou confundisse com as
ilícitas que exercíamos.
Era muita coisa importante para lidar sozinho, por isso fiquei até tarde
no escritório. Quando chequei em casa, mesmo o meu corpo e a
minha mente pedindo, eu não fui até ela, primeiro porque ainda havia
muitas coisas a serem resolvidas e segundo porque sabia que as
chances de descontar nela seriam grandes e eu definitivamente não
queria isso.
***
Acordo pela manhã e assim como ontem, saio antes que ela se
desperte.
— Temos um problema.
— Sim, senhor. Foi ele que acabou de me ligar, disse que a menina
está dando um escândalo em sua casa, dizendo que quer ver o pai e
que o senhor havia autorizado. Mamma tentou acalmá-la, dizendo
que era melhor que o aguardasse, mas ela está irredutível e exigiu
falar com o senhor.
— Sim, senhor.
— Sim.
— Nós precisamos conversar, vou pedir que ele que traga você até
mim, tudo bem? — Embora eu esteja espumando de raiva, tento usar
todo o autocontrole que treinei por anos.
***
— Sim, claro. — Ela sorri, mas dos seus olhos saem faíscas de raiva,
posso perceber. — Você disse que eu não era mais sua prisioneira.
— Sim, falei, mas disse também que você não poderia sair quando
quisesse, Amapola.
— Exatamente, senhor, não deveria, por isso decidi que tentaria ver o
meu pai já que o diálogo não é uma opção para nós.
— Quanto ao seu pai, quando sairmos mais tarde, eu a levarei até ele
— aviso. — Agora por favor, eu preciso voltar ao trabalho.
— Sim, quer dizer não, não me irrite, Salvatore. Só diga o que quer
comer e eu providenciarei.
Será que ela poderia substituir minha secretária por um tempo? Seria
uma forma de mantê-la ocupada e também me serviria de auxilio, ela
era segura nas suas ações e também determinada. Acho que era
isso, eu acabei de ter uma ideia que seria excelente para mim e para
ela também, eu acreditava, mas esperava que ela compreendesse,
pois alguns limites precisariam ser estabelecidos, quanto a isso eu
não tinha dúvidas.
Capítulo 36
"Sinto como se antes de Salvatore, eu estivesse presa em um
limbo, o meu pai se colocou nessa posição e me manteve presa
junto com ele, toda minha vida estava estagnada, não havia mais
motivação alguma, era apenas sobrevivência."
Por isso infernizei a cabeça dos dois até que ligassem para ele, fiquei
surpresa e temerosa também quando ele avisou que mandaria que
me levassem até ele. Lidar com Salvatore era como andar na corda
bamba, em um instante você tinha total equilíbrio e controle da
situação, e no instante seguinte, estava jogada ao chão.
Peguei uma bolsa, mas como não tinha nenhum item pessoal para
preenchê-la, coloquei o livro que lia, assim, se alguém por algum
motivo a segurasse, não perceberia que estava vazia.
Quando cheguei ao topo da escada, Ângela e Matteu me aguardavam
lá em baixo, e os seus olhares em minha direção, me fizeram sentir
como naquelas cenas de filmes em que a mocinha humilhada
reaparece em câmera lenta tempos depois, deixando todos
boquiabertos. Fiquei satisfeita, mas estaria ainda mais se fosse
Salvatore ali em baixo a me guardar surpreso, mas ele não perdia por
esperar.
Não consegui me conter quando ouvi que ele não havia almoçado
ainda, o que esse homem pensava? Que o trabalho iria alimentá-lo?
E quando ele tratou com descaso a observação de Amadeu, eu não
resisti e resolvi tomar a frente, já que eu iria esperá-lo, pelo menos iria
resolver isso.
— Sim, Amapola, vou levá-la — ele fala e eu salto sobre o seu colo,
agarrando em seu pescoço a agradecendo.
— Não me agradeça agora, bella, mais tarde você poderá fazer isso
de uma forma mais prazerosa para nós dois, sim? — Meu rosto
esquenta com as suas palavras e com as promessas guardadas ali.
Ele fala com Amadeu que vamos até a casa onde eu morava com
meus pais e o seu segurança coloca o carro em movimento.
— Sim.
— Quero te fazer uma proposta.
— Hoje à tarde, você foi muito útil para mim, — começa e eu lhe dou
toda a minha atenção — eu estava cheio de coisas para resolver,
mas se você não tivesse ajudado eu não teria conseguido, Amadeu
serve para muitas coisas, mas não para essa função, ele me chama
toda hora e eu definitivamente não tenho paciência.
— Você terá, não confunda as coisas, bella, agora vá, e não demore,
eu estou cansado.
— Não. Estarei aqui no carro, tenha o seu tempo com o seu papà —
Beijo os seus lábios antes de sair e correr em direção a casa onde
vivi por anos, mas que estranhamente não parecia mais o meu lar.
Capítulo 37
"Salvatore não havia ajudado apenas a mim, mas também o meu
papà, eu lhe seria eternamente grata por isso."
Ele me conta que quando nos separamos, ele foi levado até outra
cela, Amadeu lhe entregou roupas novas e limpas e garantiu que tudo
ficaria bem tanto comigo quanto com ele, se ele fizesse o serviço que
lhe dariam.
Quando perguntei qual era o serviço, ele disse que era apenas fazer
algumas entregas em uma cidade vizinha, disse que quando retornou
para casa, tudo estava limpo e organizado, havia algumas roupas
novas para ele, e a geladeira estava cheia.
— Papà, vou chamar Salvatore para tomar café conosco, tudo bem
pra você?
— Não o chame assim, papà, ele não é uma pessoa ruim, olha o que
ele fez para mim e para você.
— Não se preocupe, papà, vai ficar tudo bem. — Corro para fora, com
uma vontade estranha de vê-los juntos.
— Vamos, Amapola.
— Boa noite — Eu puxo a cadeira para que ele se sente enquanto lhe
sirvo o café, não em uma xícara de porcelana como ele está
acostumado, mas em um copo simples.
— Sim senhor, disse que nós iriamos trabalhar juntos. — Ele estreita
os olhos em minha direção — Papà gostaria de lhe agradecer pela
oportunidade que está me dando.
— Verei o que posso fazer quanto a isso, papà, assim que eu puder
voltarei para vê-lo — aviso. — Qualquer coisa que precisar fale com
Amadeu e eu providenciarei.
— Amanhã?
— Sim, Amapola, tenho pressa, não tenho como ficar sem ninguém
para me auxiliar.
— Tudo bem, acho que eu posso fazer isso.
— Salvatore, eu não posso aceitar. — Ela leva uma das mãos à boca
após olhar a quantia que eu anotei. — Esse valor é muito acima do
que uma pessoa ganha exercendo essa função.
— Não.
— Sim.
Deliciei-me com o seu cheiro, analisei mais uma vez as suas roupas,
ela estava perfeitamente vestida para matar, o decote da sua blusa
que me chamou durante toda a tarde para beijar o vale entre os seus
seios e a bunda pequena, mas arrebitada na calça preta colada que
vestia. Fiz um esforço imenso para não atacá-la no escritório mesmo.
Eu sabia ser paciente, e com ela não poderia ser diferente, eu já
ultrapassava muitos limites por Amapola, e a minha concentração e
paciência não deveria ser uma delas.
— Sim, Amapola.
Nossas bocas se tocam novamente, mas dessa vez o ritmo é ela que
dita, lento e delicado assim como ela, e eu gosto da sensação de tê-la
assim, entregue a mim.
Mas me surpreendendo mais uma vez, Amapola não desse sua boca
para o meu membro como eu esperava, ela simplesmente para e
beija o meu peito no lado esquerdo, no mesmo lugar onde tenho a
tatuagem que simboliza a máfia Dalla Costa, e que também
instantaneamente um coração que eu não sabia ter começa a bater
descompassado.
— Não me peça algo que eu não tenha, mia bella — falo, olhando em
seus olhos.
— Sim, Salvatore você tem, eu posso ver e sentir, você só precisa
querer enxergá-lo.
— Sim, Salvatore, sua Amah, seja meu também. — Seus olhos dizem
além das suas palavras, ali eu enxergo as suas expectativas, que
talvez eu não seja capaz de suprir, então lhe dou o que tenho para o
momento, os meus beijos, o meu corpo e a minha devoção.
— Você é perfeita, Amapola — falo quando levo minha boca aos seus
seios, saboreando cada um deles lentamente.
Meus dedos foram para a sua boceta depilada, acariciando com leves
toques que se intensificaram com o tempo, tornando-se mais
intensos, vi Amapola fechar os olhos com força, o desejo estava a
tomando por completo e sabia que ela gozaria em meus dedos, mas
eu não queria que fosse dessa forma.
Ela veste uma saia preta cintura alta justa ao seu corpo, a peça tem
uma espécie de zíper transversal que a corta de um lado ao outro, se
aquele negócio se soltar ela ficará nua na frente de todos, a blusa que
veste também é preta, não é justa no corpo, ostenta um decote
discreto nos seios, pelo menos é menor do que o decote da que
vestia ontem, a blusa tem ainda uma espécie de faixa que se prende
em seu pescoço como se fosse uma coleira, e as mangas cumpridas
também de cor preta são de um tecido transparentem, deixando toda
a sua deliciosa pele visível, nos pés uma sandália de tiras amarradas
no tornozelo, diferente de ontem, os cabelos estão soltos e caem em
ondas sobre os seus ombros, quanto ao cheiro: ela exala desejo,
pecado e poder, um pacote perfeito de tudo o que me atrai.
— Ângela — repreendo.
— Ela é uma boa menina, Salvatore — fala mesmo eu não tendo lhe
dado espaço para tanto. — Não seja tão fechado, seja o chefe da
máfia apenas da porta dessa casa para fora, mas aqui dentro viva,
meu filho, não é todo dia que temos a oportunidade de encontrar
alguém como ela, não jogue fora a sua chance de ser feliz.
— Eu não disse que seria, meu filho. — Ela leva as mãos ao meu
rosto em um gesto carinhoso e me dou conta de quanto tempo ela
não fazia isso, eu construí uma barreira em volta de mim e Amapola
começou a derrubá-la, até Ângela está conseguindo se aproximar
novamente. — Mas sei que você é determinado e a sua palavra é lei,
o que você quiser as pessoas terão que aceitar, não engane ou dê
desculpas a si mesmo, eu confio em você — fala, tirando as mãos do
meu rosto e eu aceno com a cabeça sem saber ao certo o que devo
falar.
***
— Amadeu você pode providenciar para mim uma agenda, por favor?
— ela fala assim que as portas do elevador se abrem no andar do
meu escritório.
Vejo Amapola organizar o que agora será sua mesa, ela guarda a
bolsa em um dos armários, liga o computador, organiza os itens que
estavam dispostos ali e em um levanta e abaixa que me hipnotiza, eu
fico apenas aguardando o momento que o zíper da sua saia vá ceder
para que eu possa cobri-la.
— Precisa de algo, senhor Salvatore? — ela pergunta quando nota
que eu permaneci parado no mesmo lugar, assim como Amadeu que
aguardava para me seguir até a minha sala.
— Não senhorita, grazie. — Eu queria dizer para ela parar com toda
aquela merda, mas eu não podia.
Que merda eu estava fazendo, tirando o meu melhor homem das ruas
para fazê-lo de cão de guarda para Amapola, eu confiava em Amadeu
assim como nos meus irmãos, e tendo certeza que ele estava ciente
do nosso envolvimento, ele jamais ultrapassaria os limites, então não
havia outro melhor do que ele.
— Tudo bem, irmão, mas antes eu preciso conferir, porque não posso
acreditar que é ela. — Ele aperta o botão do interfone sobre a minha
mesa. — Amapola, pode vir até aqui? — Ele fala e Fabrizio tira o
canivete rapidamente das minhas mãos.
Fabrizio avisou que Carbone havia viajado e que a sua filha iria
representá-lo na reunião que teremos a tarde, não gostei muito da
ideia, porque não me apetecia estar com Carlota, sabendo que ela
tentaria de todas as formas me seduzir.
Eu teria que aprender a dosar o que era correto ou não, mas sua
inteligência e sagacidade sem dúvidas acrescentaria muito para a
minha formação.
Como um homem como ele sentiria ciúmes de alguém como eu? Não
é como se eu estivesse me diminuindo, sabia o meu valor e as
minhas qualidades, mas embora nós tenhamos nos entendido, havia
muitos pontos que nos afastavam.
Sem que ele soubesse, eu havia pesquisado ainda hoje pela manhã
sobre a máfia italiana, e infelizmente, as obrigações que recaiam
sobre as suas costas, para mim, não eram muito promissoras. Como
Dom, ele mandava em tudo, mas todo o peso da organização assim
como os festejos pelos negócios bem sucedidos e as cobranças pelos
erros, tudo pesava sobre ele.
Entendi afinal o porquê dele ser assim, sua austeridade era reflexo da
sua posição na famiglia, aos poucos eu começava a montar um
pouquinho do quebra-cabeças que era Salvatore e me surpreendi por
perceber que gostava do que era revelado a mim.
— Fale.
— Amapola.
— Sim, signore.
— Acho que já fechamos esse tópico, Amapola, então por favor não
me questione mais.
— Sim, senhor. — Saio irritada da sua sala, não é certo o que ele
está fazendo, eu não vou me sentir bem com essa decisão, é como
se eu estivesse abusando da sua boa vontade.
Não é como se o dinheiro fosse lhe fazer falta, eu sei que não, mas
não fico satisfeita com a posição que ele me coloca.
— Não, senhor, era às duas e meia, mas acredito que ela tenha se
antecipado.
— Jantar?
Eu não a defendi para não chamar a atenção para ela, mas não me
senti confortável com a situação, vê-la encolher-se sobre a cadeira
me fez sentir algo que eu nunca senti por ninguém, queria poder
colocá-la em meu colo e confortá-la, ou melhor queria poder dar um
tiro na testa de Carlota, mas a famiglia deve proteger quem pertence
a ela. Para nós, os laços consanguíneos contam muito, e Carlota
deveria ser grata por isso.
— Você acha que o seu pai seria o único a tentar casar sua filha com
o Dom? — Ergo a sobrancelha questionando-a.
— Mas eu sou a sua...
— Você não é nada, Carlota, que fique claro que eu não me casarei
agora e nem tão cedo, se for preciso agendarei uma reunião para que
isso fique claro para todos.
— Você sai para foder com a Carlota Carbone e volta nesse mal
humor do caralho? Acho que ela está precisando se aperfeiçoar nas
suas técnicas. — Rico fala quando entramos na sala.
— Eu pensei que...
— Ei irmão, pela manhã você não estava com esse humor do diabo.
— Fabrizio tenta apaziguar.
— Ei, se acalme, Salvatore. Ela bebeu apenas uma taça, e para a sua
informação nós viemos almoçar com você, ela disse que você havia
saído com a Carlota. Descobrimos que ela havia pedido o almoço
para vocês dois, e resolvemos ficar — Rico explica.
— E o vinho?
— Salvatore.
— O quê? Que merda você tem a ver com isso? — rosno para ele.
— Você sabe que a vinda de Carlota foi uma jogada do Carbone para
forçar a sua aproximação com ela, sabe que os capos esperam que
você firme compromisso com uma das filhas da famiglia quanto antes,
não é? E mais, como conversamos antes, estava praticamente claro
que Carlota seria a sua escolhida, então, o que quer que tenha com a
garota, cuide para não a quebrar tanto, ela já sofreu demais não
merece aguentar ainda mais merdas.
— Já disse para cuidarem de suas vidas, que merda que todos hoje
estão perturbando meu juízo com essa história de casamento?
— Sim, senhor — ambos falam, mas sei que o tom de respeito é falso
e reflete simplesmente a reprovação por minhas ações.
Mas uma coisa era certa, eu queria estar ainda mais próximo dela
para entender o que era isso tudo e só depois eu iria me decidir sobre
o que fazer, sobretudo quanto ao casamento.
A minha frieza sempre tinha uma razão, e muitas vezes era para
resguardar o meu poder, eu jamais abriria mão disso.
Capítulo 42
"Eu não sou uma filha da máfia, não tive privilégios, eu sequer
tenho berço, mas seja lá como for, farei o possível para que
Salvatore perceba que eu posso estar ao seu lado como qualquer
uma outra mulher. Eu já tenho a sua confiança, agora eu quero o
seu coração."
Tudo teria sido muito pior se os seus irmãos não tivessem aparecido
e junto com Amadeu terem me feito companhia. Eles eram pessoas
diferentes quando se despiam de toda a pose de quem comanda uma
das maiores máfias do país, assim como Salvatore, gostei de
conhecer esse outro lado deles.
Ele estava sendo o meu porto seguro, algo que eu sequer imaginava
que estava precisando no momento, eu só precisava ter cuidado para
não me envolver além do necessário, a mesma mão que ele me
estendia e me ajudava a levantar poderia facilmente me derrubar.
— Sim eu ouvi, e por sinal, a ligação era pessoal, deixe para tratar
dos seus assuntos pessoais fora do horário de expediente. — Eu
perco a paciência, levanto da cadeira onde estava sentada e dou a
volta na minha mesa, parando em sua frente, encarando-a de perto
para que ela enxergue que não a temo.
— Insolente
É isso, ela que não cresça suas garras em minha direção, porque eu,
definitivamente, as cortarei com todo prazer.
Junto alguns e-mails que imprimir para entregar a Salvatore para que
ele veja com prioridade, e caminho até a sua sala, sei que os seus
irmãos ainda estão com ele, mas como serei breve, não atrapalharei
o que quer que eles estejam discutindo.
— O que? Que merda você tem a ver com isso? — Salvatore fala, a
irritação em sua voz é perceptível ainda que eu não o esteja vendo.
— Você sabe que a vinda de Carlota foi uma jogada do Carbone para
forçar a sua aproximação com ela, sabe que os capos esperam que
você firme compromisso com uma das filhas da famiglia quanto antes,
não é? E mais, como conversamos antes, estava praticamente claro
que Carlota seria a sua escolhida, então o que quer que tenha com a
garota, cuide para não a quebrar tanto, ela já sofreu demais não
merece aguentar ainda mais merdas. — Levo as mãos trêmulas à
boca.
Sim era sobre mim que eles falavam, mas também sobre a mulher
que ainda a pouco estava em um almoço de negócios com ele. Ela
seria sua noiva, será que o almoço foi para formalizarem a sua
situação? Como Salvatore foi capaz de me envolver em uma situação
como essas sabendo de tudo isso.
— Já disse para cuidarem de suas vidas, que merda que todos hoje
estão perturbando meu juízo com essa história de casamento? — Ele
tenta cortar o assunto
— Sim Fabrizio, ela falou. — Afirma e meu coração para, giro sobre
os saltos, não querendo continuar a ouvir.
Por que nada em minha vida pode ser simples? Quando penso que
as situações estão se ajeitando, que aos poucos minha vida está
entrando no caminho certo, algo acontece e puxa o meu tapete,
divago enquanto finjo estar concentrada no trabalho.
Percebo que não a enxergo mais apenas como uma filha mimada da
máfia que quer a todo custo a atenção do chefe, enquanto nossos
olhares duelam eu vejo que a enxergo como minha rival. Eu quero o
mesmo que ela: Salvatore, e percebo que não vou hesitar em usar as
poucas armas que tenho.
Eu não sou uma filha da máfia, não tive privilégios, eu sequer tenho
berço, mas seja lá como for, farei o possível para que Salvatore
perceba que eu posso estar ao seu lado como qualquer uma outra
mulher. Eu já tenho a sua confiança, agora eu quero o seu coração.
Vejo quando ela respira fundo e se afasta. Eu aviso a Salvatore e ele
permite a sua entrada, a mulher avisa que os seus homens
capturaram quem quer que seja que eles estavam procurando.
— Não, vamos comigo — ele fala após olhar o relógio, faltam poucos
minutos para o fim do expediente e acredito que ele irá direto para
casa.
Fico irritada e me sinto excluída, o que eles vieram fazer aqui que eu
não posso o acompanhar? Por que a mulher está com ele e eu não
posso?
É lógico que ela me viu tirar a vida do homem que tentou abusar dela,
mas a morte lenta que dei a Martin não se comprava ao que eu faria
com o traidor.
— Então foi você o traidor? — Puxo os seus cabelos com raiva para
que me olhe nos olhos e enxergue o tormento que o aguarda.
— Mia moglie, Amah, tu sei mia moglie — falo sendo o mais sincero
possível.
O beijo foi diferente dessa vez tanto para mim quanto para ela,
nossas línguas duelavam, mas não havia apenas tesão e desejo.
Havia entrega e carinho também, passei minhas mãos por seu corpo,
como por instinto, mas me ative em seu rosto segurando com ambas
as mãos, mantendo-a aprisionada em meu domínio, dessa vez com o
seu consentimento e a sua vontade.
O sorriso nos lábios de Ângela deixava claro que ela percebeu que
algo havia acontecido entre nós dois, ela nos lia nas entrelinhas e
acredito que antes mesmo de nós dois termos admitido o que
sentíamos, ela de alguma forma, já sabia.
— Vou tomar um banho rápido e vou até você — Amapola fala após
subirmos as escadas e pararmos diante da porta do seu quarto.
Minhas mãos passearam por seu corpo, indo da altura de sua coxa
até os seios, coloquei minha mão em seu decote e apertei o bico
entumecido de um deles, Amapola gemeu, assim como eu ela já
estava cheia de tesão.
— Puta que pariu, Amah, você sabe como eu fiquei o dia inteiro só de
imaginar que essa saia te deixaria exatamente assim, livre para os
meus toques? — Deslizo a mão para dentro da abertura do tecido e
aperto o seu sexo ainda por cima do tecido fino e rendado da calcinha
que veste.
— Não minta para mim, Amah, você sabia que me deixaria assim e
fez de propósito, mas eu não me importo, durante todo o dia eu
imaginei as mais diversas formas de te foder e as colocarei em
execução durante toda a noite, não demore, principessa. — Giro-a
para mim e colo nossos lábios, enquanto manipulo sua boceta com os
dedos, eu queria ultrapassar as barreiras de sua calcinha, mas
controlei meus instintos.
— Sim?
— Eu queria estar com você, Salvatore, não quero apenas o que você
me oferece quando estamos a sós. — Ela gira o corpo para que os
nossos olhos se encontrem. — Eu quero tudo de você, quero a
calmaria, mas também quero estar presente na tempestade.
— Mas é o que você é, Salvatore, eu não estou ao seu lado por te ver
como um príncipe encantado, eu estou ao seu lado porque você me
faz bem, você me tirou da inércia que a minha vida estava, ou melhor,
você me fez viver, antes de você eu apenas sobrevivia.
— Você não sabe o que diz, eu deveria pedir que se afastasse de
mim mas... — falo e beijo levemente os seus lábios.
— Mas?
— Eu não consigo, pela primeira vez eu não consigo fazer algo que
eu sei ser o certo.
— Não diga isso, mia Amah, não fale algo que não conseguirá
cumprir.
Deitado em nossa cama enquanto acaricio suas costas para que ela
finalmente durma, após eu ter tomado para mim todas as forças do
seu corpo, faço um último comentário antes dela cair em sono
profundo, e a sua resposta ficará martelando em minha mente para
sempre.
— Talvez fosse melhor se você tivesse ido, eu não tenho muito o que
lhe oferecer, minha Amah — falei.
Eu não disse mais nada e nem ela, apenas refleti suas palavras
infinitas vezes até adormecer, mas principalmente com a certeza de
que eu faria o possível para que ela quisesse permanecer ao meu
lado para sempre.
— Você não tem mais nada para fazer tão cedo? — Salvatore
pergunta irritado, ele sempre ficava assim quando Rico estava
presente.
— Pra ser sincero eu tenho, mas preferi vir falar com Amapola antes
de sair. Vim lhe desejar um dia maravilhoso repleto de tudo o que ela
sempre quis.
— Hoje é o seu dia, bella, quero que descanse e que esteja linda para
a noite — Acaricia o meu rosto com as costas das mãos.
— Sim, senhor?
— Você ficará com Amapola hoje durante todo o dia, esteja atento e
não saia de perto dela.
Reformei a casa onde vivi toda a minha vida com meus pais, eu e
Salvatore concordamos que ele precisava de uma ocupação, sua
mente não poderia ficar parada, então, agora ele trabalhava fazendo
entregas para uma das empresas legais de Salvatore. Ele havia
perdido tudo no maldito acidente, inclusive as oportunidades de
trabalho, e devolvendo isso a ele, Salvatore lhe deu ânimo uma nova
perspectiva e motivação para acordar todos os dias.
Eu só não estou ainda mais feliz porque além do meu papà, apenas
Amadeu e Ângela me acompanharão na cerimônia. Não é qualquer
evento que eles participam, e quanto a nós dois sempre mantivemos
discrição quanto ao nosso relacionamento, que até hoje não
nomeamos.
Eu amo Salvatore, embora nunca tenha dito isso para ele com
palavras, não tenho dúvidas do que sinto, mas resguardo o mínimo
do meu coração com medo de que em algum momento ele o parta.
Era por isso que ele não poderia comparecer à cerimônia, quem
acreditaria que um homem em sua posição acompanharia a sua
secretária em sua formatura? Eu entendia, mas isso não diminua a
minha tristeza por sua ausência em um momento tão importante para
mim.
O espelho reflete uma mulher segura de si, e satisfeita por tudo o que
conquistou, giro mantendo os olhos no reflexo e admiro o quanto eu
havia mudado. Eu ainda era a mesma garota cheia de sonhos, metas
e expectativas, eu ainda mantinha os pés no chão, só que agora eles
calçavam sapatos de grife, ou melhor eu não apenas calçava, mas
também me vestia assim.
— Salvatore? Você...
— Sim, mia Amah, eu vou com você — Avisa e o sorriso que faltava
toma o meu rosto.
— Mas e o que vão pensar? Tudo o que nós conversamos? Você não
pode. — Ele coloca os dedos em meus lábios me calando.
— Mas antes, falta apenas isso para que você esteja perfetta. — Ele
coloca o colar em meu pescoço e eu o encaro pelo reflexo espantada.
— Você pode, mia bella, isso é o meu primeiro presente para a mia
fidanzata.
— A partir de hoje vamos nomear o que temos, amore mio — Ele tira
da caixa um par de brinco que eu coloco ainda antes de sairmos do
quarto e descermos as escadas de braços dados, espantando Rico,
Fabrizio, Amadeu e Ângela que nos aguardavam. O sorriso que já era
grande, aumenta ainda mais, no final todas as pessoas mais
importantes para mim estarão comigo.
Era tanta alegria que eu mal cabia em mim, entre fotos discursos
homenagens e horarias durante toda a cerimônia, eu não desviava o
olhar dele e quase arfei quando reconhecida as suas presenças. Ele,
Fabrizio e Rico foram convidados para compor a mesa de honrarias,
um discurso para eles foi entoado, exaltando as suas qualidades
como empresários de sucesso, é lógico que a máfia não foi citada,
mas todos ali sabiam quem eram eles. Era nítido como as pessoas
praticamente se curvavam para que os homens passassem.
Eu não poderia ficar ainda mais feliz, pois eles estariam literalmente
ao meu lado quando eu recebesse o diploma. Todos se perguntavam
silenciosamente o que eles faziam ali, da parte de quem teriam
comparecido à cerimônia, eu jamais dei a entender que tivesse
qualquer vínculo com eles, principalmente, pela discrição que a minha
função pedia, mas quando o meu nome foi chamado todos
descobriram o motivo deles estarem ali.
— Quero deixar claro que eu não sou qualquer um, eu sou o papà
dela, mas não se preocupe, Salvatore. Eu estimo essa relação, eu
vejo o quanto você fez não apenas por ela, mas também por mim...
Assim como papà, pouco a pouco todos se despedem até que reste
apenas eu e ele.
— Repete?
— Claro que sim, il mio uomo. — Ele joga o celular sobre o sofá e
cola os nossos corpos quando as primeiras notas soam no ambiente,
minha garganta se fecha com o reconhecimento.
— Eu fiz tudo o que podia, papai — falo com lágrimas nos olhos.
— Não Carlota, você não fez. No último ano eu te coloquei diante de
Salvatore todas as vezes que pude, te ofereci de bandeja a ele e você
não conseguiu agarrar o prêmio. Agora, teremos em nosso meio uma
mulher que sequer faz parte da nossa famiglia, isso é uma vergonha.
Ele havia sido convidado por papai, é claro que ele seria, era a forma
de apresentar ao futuro chefe a sua bela filha.
Quando eu já estava com vinte e quatro anos, papai deu uma festa
para comemorar a minha graduação, eu havia odiado ter que fazer
faculdade, mas sabia que iria me ajudar. Afinal, o chefe não iria
querer ao seu lado alguém que não fosse inteligente o suficiente.
E foi nesse dia que eu me entreguei a primeira vez a ele, eu não era
mais virgem, e deixei isso claro para ele enquanto o seduzia, ele
disse que não iria me corromper para que não fosse obrigado a
casar-se, Salvatore deixou claro que postergaria esse momento o
quanto pudesse.
Era comum que homens da máfia tivessem outras mulheres, ela disse
que eles poderiam sair com qualquer uma, mas que se casariam
apenas com uma legítima filha da famiglia, ainda mais sendo ele o
chefe.
Mesmo triste, eu aceitei o que ela disse, eu não queria dividi-lo com
ninguém, mas estava disposta a fazê-lo entender isso após o nosso
casamento.
Entretanto não foi o que aconteceu, no último ano ela esteve cada
vez mais próxima dele, ouvi de um soldado que ela morava com ele
em sua casa, e que era tratada por ele como sua moglie, ninguém
tinha permissão para estar perto dela além do chefe e dos seus
homens de confiança.
As lágrimas que caem do meu rosto ao ver a foto deles juntos são
amargas, mas eu as farei ficar doce quando enfim conseguir afastá-
los e eu farei, custe o que custar.
— Se você encostar nela ele vai matá-la, Carlota, não seja burra, não
acha que essa foi a primeira coisa que eu cogitei ao ver essa notícia?
— Faça o que for preciso, eu lhe darei cobertura — ele avisa. — Caso
seja necessário fique grávida dele. — Mamãe o olha chocada, porque
sabe que mesmo que essa opção seja uma saída, por outro lado me
desonrará diante da família.
— Não será preciso, papai. Eu fui criada para ser a esposa do Dom e
assim será — digo segura, embora o meu coração esteja acelerado.
Eu preciso de alguma forma ficar sozinha com Salvatore amanhã, já
sei exatamente o que farei.
Capítulo 48
“Eu nunca deveria ter entrado em sua vida, Salvatore, não faço
parte dessa famiglia e nunca farei. Eu sou apenas o seu
segredinho, presa dentro das paredes dessa casa, é por isso que
ficou tão irritado? Por que as pessoas agora descobriram o que
você escondeu por um ano?”
“O beijo da fera”
— E quem foi?
— Ainda não sei, cunhadinha, mas com certeza irá se arrepender por
ter a língua grande e os dedos tão ágeis — fala, seguindo para a sala
de Salvatore. Sorrio ao olhar nossa foto estampada mais uma vez,
isso de fato nos trouxe muitos problemas, mas não posso negar que é
a foto mais linda que já vi na vida.
O dia foi um verdadeiro inferno, mas eu não imaginava que
estaríamos rodeados por repórteres querendo um furo, uma palavra
ou uma outra foto nossa juntos quando saímos do escritório. Eu não
sabia como, mas até a saída exclusiva que tínhamos estava cercada.
— Então pare de reafirmar que sou sua apenas aqui, dentro dessa
casa, entre quatro paredes, onde ninguém mais pode ver. Por que
você não pode assumir logo o nosso relacionamento? Por que não
acaba com isso de uma vez? — pergunto com as lágrimas
começando a encher os olhos, de repente eu me senti diminuída,
como se eu valesse muito pouco para ele.
***
Tentei me afastar com calma para não o acordar, mas era Salvatore
Dalla Costa ao meu lado, o homem que estava sempre alerta mesmo
quando dormia, e ouvir sua voz me mandando ficar, me fez derreter
um pouquinho.
— Verdade, senhorita.
Não é por insegurança, eu confio nele e sei que ele jamais faria algo
que me machucasse, mas se tratando de Carlota Carbone, eu
preferia estar sempre por perto, ela tentava toma-lo para si em todas
as oportunidades.
Salvatore parece confuso e eu não sei quanto tempo leva até que eu
retome a consciência e gire sobre os calcanhares, voltando-me para a
saída.
— Sai... Amapola. — Ouço sua voz, enquanto caminho para fora a
passos largos.
— Não fuja, Amapola, não é assim que uma mulher da máfia iria agir.
— Você vai entrar comigo e nós vamos resolver juntos. — Ele não
espera que eu responda e me arrasta de volta para o ambiente, nós
estávamos na porta, então ainda conseguimos ver quando a mulher
se levanta vagarosamente de dentro das pernas de Salvatore e ele a
chama por meu nome em uma cena deplorável.
— Ele disse que vocês não tinham exclusividade — Carlota fala após
ficar de pé, sorrindo mais uma vez ao passar os dedos sobre o canto
dos seus lábios, me dando uma clara lembrança do que ela fazia há
instantes com Salvatore.
— Interfone para Rico e Fabrizio, peça que eles venham até aqui
imediatamente — falo com a secretária de Salvatore ainda da porta.
— Assim que eu sair por aquela porra você estará morta, Amapola —
Carlota me ameaça.
Eu jamais imaginei passar por uma situação como essa, agredir uma
mulher por causa de um homem? Salvatore não era um homem
qualquer, era o meu homem, o único que eu amei, mas se ele
permitiu que ela estivesse naquela posição, dentro das suas pernas,
ele não me merecia e ela merecia uns bons tapas e foi exatamente o
que eu fiz, até que o sangue estivesse escorrendo dos seus lábios e
eu ter Rico me afastando dela pela cintura.
— Tire as mãos daí Carlota. — Fabrizio fala com raiva quando ela
tenta pegar o copo que estava sobre a mesa.
— Beba água quando sair, eu não sei o que, mas você colocou algo
na bebida dele Carlota, e assim que eu descobrir você irá pagar. —
Fabrizio ameaça e ela leva as mãos ao peito se fingindo de
indignada. Eu ainda tentava me livrar das garras de Rico que me
segurava firmemente para que eu não avançasse sobre ela
novamente.
— Como pode pensar isso sobre mim, Fabrizio? Você será meu
cunhado, Salvatore afirmou ainda hoje que se casaria comigo — fala
com os olhos cravados no meu.
— Está vendo só, é ele que está falando e não eu. — Vejo Carlota
triunfante e eu me sinto como mera expectadora desse circo de
horrores.
— Não ameace uma filha da máfia — ela rosna para ele que não se
intimida — Amanhã a sua cabeça estará sobre a mesa do meu pai
por ter ousado tocar em mim.
— Ele tem a nossa permissão para fazer o que for preciso, saia
agora, Carlota — Fabrizio ordena.
Carlota era uma filha da máfia, fora criada para estar ao lado de um
mafioso, e eu sequer tinha forças para lutar pelo homem que amava.
Quantas outras Carlotas apareceriam na vida de Salvatore? Quantos
olhos tortos eu teria que suportar? Eu sempre quis uma vida tranquila,
sempre quis estudar, ter estabilidade financeira e poder dar uma vida
digna ao meu pai. Eram apenas esses os meus planos, mas eu os
mudei quando admiti o que sentia por Salvatore.
Tentei abrir os olhos, mas a dor que senti era como se facas afiadas
estivessem sendo cravadas ininterruptamente em cada um deles.
— Você está bem, meu filho? — Ouço a voz de Naná e forço os meus
olhos a se abrirem, eu estava acostumado com a dor, esse incomodo
não era nada perto de tudo o que já passei.
Até que eu levanto para pegar uma bebida, Carlota se precipita a mim
e nos serve...
Ativo o som e ouço minha voz chamar por Amapola, era como se eu
estivesse com ela ali e não com Carlota, eu a joguei sobre a mesa e
levei minhas mãos até o centro das suas pernas erguendo sua saia e
embolando-a na cintura enquanto beijava a parte interna das suas
coxas e ela se contorcia sobre a mesa. Não era por ela que eu
chamava, era por Amapola, eu estava delirando, Carlota havia me
dopado.
Ela havia sido quebrada por mim mais novamente, e de alguma forma
eu sabia que dessa vez, eu não poderia fazer nada, o que ela havia
visto já era demais, e nem queria pensar no que ela sentiria se visse
tudo o que aconteceu antes do ato que precedeu sua chegada.
— Caralho, foi pior do que pensei — Rico comenta quando para atrás
de mim e analisa a cena, ele leva a mão ao mouse, voltando ao
momento que Amapola entra na minha sala.
— Isso, você está certo, Salvatore Dalla Costa — Rico rosna para
mim. — Aproveite e se case com Carlota, tenho certeza que serão
muito felizes juntos, pelo menos uma brava cagna você terá na cama
— completa. Eu tenho que concordar ela seria uma boa puta na
cama, eu já a tive outras vezes, mas esse prazer ela jamais terá,
Carlota destruiu Amapola e eu a destruirei.
— Vou lhe dar o tempo que precisa para digerir tudo o que aconteceu
e depois a procurarei — aviso. — Eu não vou forçá-la a nada, seja lá
o que ela decidir eu aceitarei. — Encerro o assunto. — Quero uma
reunião com o Carbone daqui a uma hora.
— Amadeu esteve com ela até hoje pela manhã, mas ela exigiu que
ele dormisse, você sabe como é a garota. Então, hoje quem está com
ela é Matteu — Fabrizio responde quando eu aperto o botão verde
para aceitar a chamada do meu homem de confiança.
— O que? Quem ele pensa que é? — grito irritado. — Onde ele está?
Vamos até ele então.
Eu esperei que ela viesse até mim, mas ela não o fez, sabia que não
havia saído, pois Amadeu tinha ordens expressas de me avisar caso
ela tentasse, andei por todo o ambiente sem parar, pela primeira vez
eu não sabia como lidar com a situação, mas quando percebi que iria
furar o chão se continuasse com os movimentos decidi ir até o seu
quarto.
— Amapola? — chamo sua atenção após abrir a porta, meus olhos
ficam presos na mala aberta sobre a cama. Ela estava guardando ali
suas roupas, ela iria me deixar, iria sair da minha vida. — Precisamos
conversar — falo após não obter nenhuma resposta sua.
— Eu ouvi, Salvatore, mas fiz questão de não ver, porque ontem já foi
o suficiente para mim.
— Amapola...
— Eu nunca quis essa vida para mim, Salvatore, eu não sei viver
essa vida, me manter ao seu lado, me acostumar com as mortes,
sequestros, abusos, tudo isso está muito longe de tudo o que eu quis
para mim, tudo o que eu sonhei.
Eu queria implorar para que ficasse, abrir para ela todos os meus
sentimentos, dizer que ela tinha despertado em mim algo que
ninguém foi capaz, com Amapola eu era... bom.
— Eu fui levada pela família de uma louca apaixonada por você, será
que você não vê que o que me traz perigo é você Salvatore? — Suas
palavras duras me fazem engolir seco — Veja tudo o que eu passei
desde que estou ao seu lado? Todos os riscos, atentados,
sequestros, estar com você é a única coisa que pode me destruir.
— Você está certa, me desculpe — falo, dando dois passos para trás
— Se é a liberdade que quer, você a terá.
***
— Ligue para Rico, preciso que venham até aqui agora — digo para
Fabrizio.
— Ela não te perdoou? Irmão, eu sei quão fodido deve ser para ela o
que viu, mas ela ama você, com o tempo ela vai ver que você não
teve culpa. — Fabrizio interfere.
— Não sou eu que está dizendo, Fabrizio, foi Amapola que deixou
claro quão mal eu lhe fiz, e eu tenho que concordar com ela.
— Por favor, Salvatore, não seja tolo — Rico fala. — O idiota dos três
sou eu, aja racionalmente como sempre fez, a mulher só está
magoada, espere o tempo passar e tudo ficará bem.
— Eu estou sendo racional, irmão, é por isso que estou deixando que
ela vá. Vejam o que ela precisa e ajudem em tudo, é só isso. —
Encerro nossa conversa e eles entendendo o recado se retiram.
Ela não estava apenas indo embora, ela estava levando um pedaço
de mim, o melhor que eu tinha a oferecer a alguém, e eu sabia que
sem Amapola, jamais teria essa parte de volta.
Quando deixei sua casa eu não sabia o que faria daquele momento
em diante, o último ano havia sido intenso e totalmente preenchido
por sua presença em minha vida, sentia como se houvesse uma
divisão entre antes e depois de Salvatore.
Não apenas essa cena piscava em minha mente, mas também o que
presenciei no escritório, ver Carlota ajoelhada entre suas pernas
havia sido o fim para mim, e foi por isso que decidi partir.
A única coisa que me irritava era a terrível mania que ele tinha de me
lembrar sempre de Salvatore, como se eu pudesse esquecê-lo, ledo
engano do meu velho, se afastar definitivamente não significa
esquecer. Eu lembrava a cada dia, hora, minuto e segundo, mesmo
que não demonstrasse, Salvatore era presença constante em minha
mente.
Cinco dias depois de ter falado com Fabrizio e Rico o que eu faria,
estava dentro do jatinho voando para Palermo com uma provável
entrevista de emprego agendada para o dia seguinte.
Meu pai dizia que estar enfiada no trabalho quase vinte e quatro
horas foi a maneira que encontrei de fugir dos meus sentimentos.
Depois de um tempo, percebi que ele tinha razão, já que a cada
tempo livre que eu tinha, acabava por estacionar o carro diante do
castelo de Salvatore. Eu quis me afastar, não queria vê-lo e evitava
tudo que remetesse a ele, mas volta e meia eu estava aqui, buscando
absorver um pouco que fosse dele, como um drogado que busca
incansavelmente o mínimo para alimentar o seu vício.
Saí do escritório após o almoço, o que era uma raridade, mas Marco
praticamente me expulsou para que eu pudesse ir a um salão e me
arrumar, hoje teremos um grande evento, estaremos lançando uma
novos produtos e as expectativas são imensas.
— Amapola?
— Filha, eu não tenho dúvidas de que você será a mulher mais bela
da noite, mas me dói saber que ainda assim, realizada
profissionalmente, a sua felicidade não chega aos olhos, você apenas
finge ter superado querida, não engane a si mesma.
— Não pense que vai fugir de mim — avisa e eu passo por ele,
sorrindo.
— Vão ficar aí me olhando com essa cara? — pergunto após ter dado
mais uma ordem a Fabrizio. Eu esperava que ele e Rico saíssem
imediatamente, mas os dois permaneceram sentados onde estavam,
pernas cruzadas, copo de whisky na mão e o olhar afiado em minha
direção.
— Sim, ficaremos até que você pare de ladrar como um cão e nos
ouça. — É Rico que fala.
— Me poupe Rico, eu não tenho tempo para ficar batendo papo com
vocês.
— Nós não queremos bater papo, Salvatore, mas precisamos que
você pise no freio pelo menos por um instante — Fabrizio completa.
— Nos últimos meses, nós quase não temos tido funções, você está
absorvendo tudo, Salvatore — Fabrizio completa.
— Irmão olha só, nós sempre trabalhamos como uma equipe, nos
conhecemos como ninguém mais e sinceramente, não aguentamos
mais ver você se afundar nessa merda toda.
— Essa é a minha função como chefe, cobrar para que no final tudo
dê certo, se eu não colocar a porra da minha cabeça no lugar toda
essa organização vai ruir.
Após quatro meses que Amapola se foi, ele começou a me ligar pelo
menos duas vezes por dia e em todas elas pedi que dissessem que
eu estava em reunião. Ele foi persistente e continuou com as ligações
por cerca de um mês, eu me perguntei por quanto tempo ele iria
resistir.
Até que um dia, em uma das suas ligações, ele disse que ela estava
passando mal, era mentira do velho, apenas um artifício que usou
para que eu o atendesse e eu diferente de toda a minha vida, fui
irracional, deixando que as minhas emoções me guiassem e atendi.
Conversar com ele era como estar falando com meu pai, primeiro ele
me deu um sermão por tudo o que a sua filha havia presenciado e eu
sabia que merecia, por isso o ouvi. Depois, ele deixou claro para mim
o quanto eu estava sendo fraco, quase sorri porque era, no mínimo,
loucura de sua parte me atacar novamente, mesmo que dessa vez
fosse com palavras.
No último mês, suas ligações foram constantes, mas algo que ele
disse me tirou o eixo central, Marco, meu sócio e presidente da
exportadora estava começando a se aproximar demais de Amapola.
Eu percebi que ele era o melhor para ela, suas palavras duras,
voltando a minha mente. Ela tinha razão, não fazia parte desse
mundo de riscos e morte, eu não podia arrastá-la para a minha
própria miséria, e foi pensando assim, que antes mesmo que
chegasse a casa onde passei dias felizes com ela, voltei para o
hangar e voei de volta para Roma.
— Se eu chegar até você, eu vou te dar uma surra tão grande que
precisará de um hospital — aviso.
Avanço em sua direção, mas sou contido por Fabrizio e Amadeu que
acompanhavam toda a merda do canto da sala onde
costumeiramente ficavam.
— Ah, então deve ser por amá-la que colocou quase vinte homens
em sua cola, não é mesmo? — Rico fala arrogante.
— Quem a colocou para trabalhar com ele foram vocês, seus imbecis
— rosno com raiva por suas palavras e começo a forçar a corda que
me prende à cadeira, sei que não demorará muito até que eu esteja
solto.
— Você disse que não era para colocarmos ela em nada relacionado
à máfia, queria ela em um serviço limpo e foi ela que escolheu
Palermo, essa foi a melhor opção que encontramos — Fabrizio
explica.
— Assim como você, ela tem trabalhado desde a hora que acorda até
quando vai dormir, ela também está prestes a pifar assim como você,
irmão. Essa birra, essa distância que há entre vocês não está fazendo
bem a nenhum dos dois, será que não enxergam isso? — Rico fala
sério.
— Não irmão, nada disso, nenhuma paz que vocês dois tenham
fantasiado vale a pena se vocês já estiverem mortos por dentro. E é
isso que temos visto, vocês morrerem um pouco mais a cada dia, e
digo isso não como seu consigliere, mas como seu irmão. — Levo as
mãos ao rosto exasperado com as palavras de Fabrizio.
— Você também?
— Por que merda não me disse antes? — rosno irritado para ele.
No mesmo quarto onde estive com ela da última vez que viemos a
Palermo, eu ainda enrolado em uma toalha, me deito para admirar as
estrelas, até isso Amapola me fez enxergar de outra forma.
Observo quando ela sai, linda como sempre esteve, um vestido com
um decote em formato de coração, longo e esvoaçante cobre o seu
corpo, algumas flores pequenas e delicadas ornam o tecido, o cabelo
solto sobre os ombros e uma leve maquiagem. Mesmo longe, consigo
captar cada detalhe que há nela, e mesmo que nos mantivéssemos a
quilômetros de distância, ainda assim, eu a enxergaria perfeitamente
como se usasse lentes de aumento.
Vejo quando ele beija seu rosto, e demora por tempo demais ali, mas
antes que eu não seja mais capaz de controlar meus impulsos,
Amapola se afasta, dando um passo para trás.
— Você está andando demais com Rico, preciso rever esses contatos
— resmungo e ele assente com a cabeça, mas noto que há algum
resquício de sorriso em seus lábios.
— Não, eu preciso fazer algo antes, pare na frente da casa, por favor.
— Sogro? Então quer dizer que você finalmente resolveu fazer o que
era certo?
— Eu garanto que tudo ficará como deve ser, mas eu não quero e
não vou mais esconder Amapola, essa é a nossa última chance, se
ela não voltar comigo, acabou para nós.
— Filho, tenha calma, não é assim que as coisas se resolvem.
— Sim, Salvatore, você a tem — ele fala após tomar uma longa e
profunda respiração. — Cuide, proteja e ame minha filha, não a faça
sofrer, por favor.
***
Sou abordado por uma pessoa diferente a cada passo que dou para
dentro do ambiente, tento ser cordial mesmo que esse evento em
nada me apeteça, eu apenas quero encontrá-la, mas sendo quem
sou, era de se esperar que todos quisessem um tempo comigo, o
mínimo que fosse, por isso que estava claro para mim o porquê de eu
enviar sempre Rico ou Fabrizio para esses eventos, só me fazia
presente quando havia extrema necessidade.
Ele me segue para fora e não muito depois, os meus olhos se cruzam
com os de Amapola, ela olha entre mim e Marco, acredito que está
surpresa por ainda o encontrar vivo, mas eu desvio os olhos dos dela,
eu a surpreenderei esta noite, tenho certeza.
— Xiii, sou eu, meu amor — sussurro em seu ouvido após abafar o
seu grito com uma das mãos, suas costas coladas em meu corpo, de
repente, me trouxe um alívio inesperado, caminho com ela colada a
mim. Ainda mantendo sua boca fechada com minha mão, se tratando
de Amapola eu nunca sei exatamente o que esperar, então melhor
garantir que não fizesse um escândalo.
— Eu não posso ir, minha vida é aqui agora Salvatore. Isso entre nós
nunca vai dar certo. — Ela descruza as pernas que me envolviam e
eu a apoio no chão com cuidado.
— Me perdoe, amor, por ter feito você pensar assim, mas você jamais
foi o meu segredinho, me dê uma chance, Amapola e se você depois
dessa noite ainda quiser ficar aqui, eu a deixarei e nunca mais
voltarei.
— Você tem até o final da festa, mia bela. — Afasto os nossos corpos
sabendo que precisamos voltar para o salão.
— Vão — rosno para os dois, não tendo outra opção, vejo eles
dançarem, ambos constrangidos o homem sequer se aproxima de
Amapola. Graças a isso ele estará vivo no final da noite, quanto ao
músico imbecil eu já não posso garantir.
— Louco por você, mi amore — ele diz ainda sem parar de andar
rapidamente.
— Meu pai, ele vai ficar preocupado. — Tento justificar, mas no fundo
sei que quero evitar estar a sós com ele, como vou conseguir pensar
racionalmente tendo-o tão perto de mim?
— Hoje mais cedo, assim que você saiu com Marco eu estive em sua
casa, eu avisei que você dormiria comigo.
— Mia moglie
— Para onde?
— Por favor, Salvatore, entenda o meu lado, não dificulte ainda mais
as coisas para mim — Imploro.
Caminho com cuidado até estar sentada ao seu lado, mas no instante
seguinte estou com a boca colada a sua.
— Eu sei, mia bella, só não fique tão distante de mim, per favore.
— Tudo o que eu falei foi preciso, porque eu sabia que você não iria
se afastar de mim tão facilmente.
— Esperta.
— Como assim? Você sabe que eles não iriam aceitar, eu não sou
ninguém.
— Vou garantir que dará certo sim, mia bela. — Ele leva as mãos ao
meu cabelo, colocando uma mecha atrás da minha orelha. — Eu
mato qualquer um que tentar nos atrapalhar. Olha para mim, amore
mio. — Levanta o meu rosto para que os nossos olhares se
encontrem. — Eu prometo te fazer a mulher mais feliz do mundo,
você é a única em minha vida e será assim para sempre.
— O que disse?
— Eu levo tudo para onde você quiser meu, amor, mas volte comigo,
seja mia moglie. — Ele ainda estava sobre o meu corpo, ainda
conectados pelos nossos sexos, mas além disso havia uma conexão
de alma.
— Accetto
— Eu disse que aceito ser sua para sempre, desde que você também
seja meu, e eu não preciso que leve tudo, porque eu estarei bem em
qualquer lugar desde que esteja ao seu lado. Eu te amo, Salvatore,
com todas as minhas forças e de todo o meu coração.
Como assim ele vinha até Palermo, me convencia a voltar para ele,
me pedia em casamento e já tinha um jantar de noivado marcado
para a noite? Ele fez tudo isso em menos de vinte e quatro horas.
Partiria meu coração estar distante dele, mas por outro lado seria
egoísta da minha parte se pedisse que ele viesse comigo, assim
como eu, ele precisava viver e ser feliz.
— Mas eu quero...
— Se passar por essa porta eu juro que a tranco aqui, mio amore, —
fala — se precisar de qualquer coisa ligue para Ângela, mas fique
nesse quarto, per l'amor di Dio.
***
— Desde a primeira vez que a vi nesta casa, eu sabia que seria você
a escolhida pelo coração do meu menino, Amapola. Eu não estava
enganada assim como tenho certeza que serão felizes para sempre.
— Não faça isso, menina, senão terá que retocar e o seu noivo lá em
baixo já está impaciente para a sua chegada, eu vim trazer o seu pai
para te acompanhar.
Nós sabíamos que minha mamma onde quer que estivesse, também
olhava por nós, e eu estava grata por tudo que nos aconteceu,
mesmo com todas as dores e dificuldades. Após a sua partida nós
sobrevivemos e finalmente estávamos bem.
Eu, finalmente, seria sua, e ele estava deixando isso claro para todos
os presentes.
— Não vou me calar como todos os frouxos que estão presentes, não
admito que as nossas filhas sejam preteridas por uma qualquer. —
Todos na sala ficaram tensos e eu não estava diferente.
— Porque era preciso, mia bella, eu havia lhe dito que mataria
qualquer um que ousasse se aproximar de você, tenho certeza que a
partir de hoje ninguém mais vai sequer olhar torto em sua direção. Eu
vi quando você entrou no ambiente e não gostei nenhum pouco, por
isso, só estabeleci limites e deixei claras as consequências. — Ele
havia se levantado e me puxado para ficar de pé diante de si, desta
forma ninguém nos ouviria.
— Acostume-se meu amor, eu não disse que seria fácil estar ao meu
lado, mas farei o possível para que o mínimo de merda te atinja.
— Você sabe que não, e em breve ficará quarenta dias sem me tocar,
então trate de aproveitar enquanto pode — fala, sorrindo e eu a
acompanho.
Apenas o fato de ser ela ao meu lado bastaria, mas ela fez tudo como
sempre sonhou e a festa esteve estampada nos jornais por semanas
consecutivas.
Ser pai havia sido tão maravilhoso que quando Filipo completou sete
meses de nascido convenci Amapola a engravidar novamente, saber
que ela carregava outro pedacinho de mim dentro dela me deixava
em êxtase.
Toda vez que passamos dos portões do castelo, como diz Amapola,
eu me dispo do mafioso e visto apenas a versão que guardo para
eles, um Salvatore que qualquer um jamais supôs existir.
— Não os culpe, mio amore, sabemos que você sempre fica uma
gatinha no cio quando eu estou perto. — Levo minha mão a sua
boceta quente, eu sei exatamente o que ela está precisando
Não demorou para que o dedo fosse substituído por meu pau, numa
sintonia perfeita de movimentos e gemidos os nossos corpos se
embalavam e conectavam tornando-se um só, até sermos envolvidos
pela névoa do prazer explodiu ao gozarmos mais uma vez. Os nossos
corpos se amavam assim como as nossas mentes, corações e almas.
Por isso bastava que ela pedisse e eu traria o mundo aos seus pés,
eu ficava satisfeito porque ela sempre deixava claro que o seu mundo
era apenas eu e os nossos filhos, apenas nós importávamos para ela.
Ela não julgava nenhuma das minha ações, sabia quem eu precisava
ser fora do nosso lar, mas sabia também que eu sempre estaria de
volta por ela atento às suas necessidades e focado em fazê-los
felizes, porque o simples fato deles existirem já me tornava o homem
mais feliz do mundo ainda que não merecesse tanto.
Para todas as pessoas eu ainda era A fera Dalla Costa, mas para
Amapola e meus filhos eu seria para sempre apenas Salvatore, um
homem apaixonado e que fazia qualquer coisa para vê-los felizes.
Sobre a autora
Ele resolve arriscar, porém, Nathalia avisa que, infelizmente, não tem
mais vagas.
O que será que o destino reserva para esses dois na época mais
bonita do ano na qual não apenas as luzes se acendem nas ruas,
mas em todos os corações junto à esperança de dias melhores?
Kananda havia saído de casa após mais uma discussão com sua
irmã; após a morte dos seus pais ela não imaginava que a relação
delas poderia ficar pior do que já era, mas a vida sempre nos
surpreende e nem sempre é para o bem.
Lara me amou, ou ainda me ama, não sei ao certo, mas hoje ela está
decidida a me fazer pagar pelos meus pecados, me fazer sofrer em
suas pequenas mãos e eu aceito a punição. Acontece que os anos de
persistência acabam por nos desestimular; eu mudei minha vida,
mudei minha rotina, mas nada disso a fez mudar de ideia. Ela não
confia em mim, e eu não a julgo, mas sinto que cada dia que passo
longe da minha pequena, me mata um pouco por dentro.
O nosso amor parece com os descritos nos romances, mas você vai
ver que nem tudo é alegria, que os mocinhos erram e conseguem
consertar os seus erros, já eu, não sei se os meus terão conserto; eu
a quebrei demais, sem perceber, e não sei se serei capaz de juntar os
seus pedaços.
Era assim com Lara, sempre foi, mas eu não quis enxergar, até quase
perdê-la para sempre.
Enrico Chiarelli