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Copyright © 2020 – Fernanda Piazon

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos, são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios - tangível ou intangível - sem o consentimento da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei n.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Todos os direitos desta edição reservados pela autora:
Fernanda Piazon
Edição Digital / Criado no Brasil.
Título: Aprisionada pelo Chefe
Subtítulo: Máfia Dalla Costa
Revisão: Isadora Duarte
Capa: Layce Design
Diagramação Digital: Fernanda Piazon
Direito de Imagem: DepositPhotos.com

1ª Edição – Outubro/2020
Sumário
Copyright © 2020 – Fernanda Piazon
Sinopse:

Agradecimentos

REDES SOCIAIS DA AUTORA


Capítulo 01

Capítulo 02
Capítulo 03

Capítulo 04

Capítulo 05
Capítulo 06

Capítulo 07

Capítulo 08
Capítulo 09

Capítulo 10
Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13
Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21
Capítulo 22

Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26
Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29
Capítulo 30

Capítulo 31
Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34
Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37
Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42
Capítulo 43

Capítulo 44
Capítulo 45

Capítulo 46

Capítulo 47
Capítulo 48

Capítulo 49

Capítulo 50
Capítulo 51

Capítulo 52
Capítulo 53

Capítulo 54

Capítulo 55
Capítulo 56

Epílogo

Sobre a autora
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Sinopse:
A bella Amapola Beviláqua vive com seu pai, juntos, eles lutam para
sobreviver a cada dia após um acidente trágico que muda
completamente suas vidas.
Seu pai, num momento de desespero e numa atitude impensada,
acaba por cair nas garras da fera Salvatore Dalla Costa que o leva
como prisioneiro, tornando o seu futuro e o de sua filha incerto.
Quando Amapola decide entregar sua vida em troca da liberdade de
seu pai, ela não podia imaginar o que lhe esperaria.
Na mansão Dalla Costa, ela se redescobre, se reinventa, cria amigos
e até alguns inimigos.
Tendo que lidar com o temperamento explosivo e imprevisível de
Salvatore, percebe que ele é muito mais do que o demone que todos
na Itália pintam.
O misterioso Salvatore Dalla Costa não permite a aproximação de
ninguém, nem seus irmãos são capazes de penetrar as barreiras
criadas pelo Chefe da Máfia. Mas a inocência, a perseverança, a
coragem e o amor de Amapola o desarmam. Ela não é uma mocinha
indefesa e não se dobra aos seus caprichos como todas as outras
pessoas.
Juntos, eles precisarão superar as diferenças, as tradições antigas,
medos e também traições.
Será que no final Salvatore descobrirá que independente das suas
obrigações com a máfia é possível que o amor reine em seu coração?
Seria Amapola a mulher ideal para se tornar a esposa do Chefe da
Máfia Dalla Costa?
Nota da autora
Inspirado na Bella e a Fera, a história de Salvatore e Amapola traz
muitas nuances de um sentimento que surge da entrega, do
companheirismo da confiança e principalmente do amor.
Espero que Amapola e Salvatore possam encontrar os corações de
vocês, assim como dominaram o meu durante o processo de escrita.
ALERTA!!!

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CONTER CENAS DE CONTEÚDO ADULTO.
Agradecimentos

"Não existe valor naquilo que vem fácil demais."


(Per Onore)
Chegar ao final de mais um projeto sempre me traz as mais variadas
sensações, primeiro me acompanha o prazer de ter concluído mais
um objetivo, e depois, sinto um leve pesar por ter que me despedir
dos personagens que estiveram comigo nos últimos meses, não me
abandonando um segundo sequer.
Preciso demonstrar aqui a minha gratidão especial à minha família
que sempre e em todos os momentos me rendem o seu apoio.
Agradeço também às minhas BETAS: Jaque, Janeise, Hylana, Carla,
Jéssica, Luana e Rose sem dúvidas vocês tornaram esse processo
ainda mais especial, eu amei cada surto, pedidos de continuidade e
feedback que me deram, vocês foram o meu melhor e mais especial
termômetro.
À minha revisora querida e mais que especial Isadora Duarte
agradeço pela atenção, carinho e cuidado com cada pedacinho desse
projeto especial, você foi incrível, agradeço a oportunidade de tê-la
conhecido e que venham outros projetos para compartilharmos.
Às minhas parceiras de divulgação do IG, eu agradeço por levarem
aos seus seguidores mais essa história, obrigada por acompanharem
e se encantarem junto comigo.
E finalmente agradeço a vocês, meus leitores, que sempre estão
presentes e havidos por mais histórias, que Salvatore e Amapola
alcance os corações de vocês assim como aconteceu com o meu.
Um grande beijo cheio de carinho e gratidão.
REDES SOCIAIS DA AUTORA
Instagram: @fernanda_piazon
Facebook: Fernanda Piazon
“Se o teu caminho exige que você ande através do inferno, ande
como se você fosse o dono do lugar.”
(Per Onore)
“Você já dançou com o demônio em uma noite de lua cheia?”
(O coringa – Filme)
“Todos nós temos um capítulo que não lemos em voz alta.”
(O coringa – Filme)
“Por que eu devo pedir desculpas por ter me tornado um
monstro? Ninguém me pediu desculpas por ter me deixado
desse jeito.”
(O coringa – Filme)
Capítulo 01
“Me acostumei a dormir olhando a escuridão, ela reflete o que eu
sou em minha mais pura essência.”

Acordo com a claridade nos olhos e isso me incomoda demais.


Não sei por que caralho eu sempre esqueço de fechar as cortinas do
quarto antes de dormir.
Acho que é porque me acostumei a dormir olhando a escuridão, ela
reflete o que eu sou em minha mais pura essência.
Eu sou a própria morte, levo caos e desespero por onde passo. Não
tenho piedade, há muito tempo perdi a fé, ainda que continue
frequentando a igreja quando necessário, faz parte dos meus
deveres, das minhas obrigações, mas nem uma réstia de luz adentra
o meu ser. Acho que é por isso que convivo bem com a noite e me
desgosto do dia.
Gostaria que todos ao meu redor fossem como eu, amantes da noite,
mas como não são, preciso me adaptar aos dias.
Como um vampiro que queima a pele sob a luz do sol, sigo direto
para as cortinas, preciso fechá-las.
No closet, visto uma calça de moletom cinza e uma camisa, calço os
tênis e sigo para escovar os dentes, estou irritado, o que não é muito
diferente do meu normal estado de espírito, mas hoje, nem o fim de
semana em Palermo conseguiu acalmar os meus nervos.
Aquele lugar é o meu refúgio, onde consigo me desligar um pouco
das minhas obrigações como Dom da Dalla Costa. Mesmo que
ninguém saiba, ali, eu tive bons momentos com meus pais.
É como se aquele fosse o único lugar no mundo em que pudéssemos
ser nós mesmos, livres das obrigações pesadas que carregamos com
as nossas posições, ali, eu e meus irmãos éramos apenas crianças e
jovens que compartilhavam bons momentos com a família. Aquele
pedaço de paraíso e humanidade eu guardo apenas para mim.
Toda a estrutura econômica lícita da nossa organização encontra-se
no conglomerado empresarial com sede da EUR em Roma, é lá que
passo a maior parte do meu tempo.
Nossa organização fora estabelecida há muitos anos, muito antes do
regime fascista de Mussolini, nós fomos presos, torturados e quase
dizimados pelo verme, mas a Dalla Costa, não se deixa abater com
nada e nem ninguém, la famiglia se uniu em nome da fidelidade, da
honra e da vingança. Tomamos de volta o que era nosso: La nostra
terra.
Libertamos os presos, dominamos a economia, e tudo passava por
nós, pelas nossas mãos, nossas ramificações estavam em todos os
negócios. De uma forma ou de outra, todos deviam subserviência a
Dalla Costa, que agora era comandada por mim, Dom por direito
sucessório e meus irmãos, Fabrizio Dalla Costa meu Consigliere e
Rico Dalla Costa meu Subchefe. Nosso sobrenome nos precede, pois
é dele que surgiu a nossa organização, é assim que ela é conhecida.
Estarmos sediados nesse local especificamente, não é à toa.
Passamos a mensagem de que libertamos a Itália do regime fascista
e a tomamos para nós, aqui Mussolini construiu o seu império, e aqui
nós o tomamos. Esta é La Nostra Terra e quem viver nesse pedaço
de chão estará submisso às nossas próprias Leis.
É assim desde que meus ascendentes a tomaram e será assim com
os meus descendentes também, eu sei que se aproxima o momento
em que eu terei que parar com uma única mulher, mas esse momento
ainda não chegou.
É o que esperam de mim, eu, como Dom, preciso de um herdeiro
para passar a minha cadeira, mas no fundo, eu achei que um dia,
assim como os meus pais se encontraram, eu também encontraria
alguém que valesse a pena, porém já entendi que isso não
acontecerá. A minha alma foi forjada solitária no inferno, eu não tenho
um par.
Por isso, só me resta escolher uma das filhas da família, mulheres
que foram criadas para se casarem com um dos nossos, sei que
qualquer que seja a minha escolhida, será com honra concedida a
mim. Todas querem ser minha esposa e todos os capos querem a
oportunidade de casar uma de suas filhas comigo ou com meus
irmãos.
Mesmo tentando evitar esse momento, sei que é chegada a hora,
Fabrizio meu irmão e consigliere, tem conversado comigo sobre esta
possibilidade, nenhum de nós se casou até então e pela hierarquia,
eu devo ser o primeiro.
Precisamos de uma criança, um herdeiro para passar os
ensinamentos, ele precisa crescer antes que nós fiquemos velhos
demais para ensinar o que é preciso.
Ainda somos relativamente jovens, eu tenho trinta e três anos, a
conhecida idade em que Cristo morreu, e é nessa mesma idade que o
meu consigliere quer que eu faça o sacrifício de me casar.
E eu o farei, levo essa organização como o maior propósito da minha
vida, por ela eu sacrificaria a minha própria vida, daria o meu sangue,
a minha alma, como jurei quando fui iniciado, casar-me é apenas
mais uma das minhas obrigações.
Observo o reflexo no espelho quando concluo a tarefa de escovar os
dentes e jogar água no rosto. A minha beleza exterior contrasta com o
que carrego dentro de mim.
Não sou como a Fera de um conhecido conto infantil, aterrorizante
por fora, mas com uma alma e coração adormecidos por dentro, eu
sou exatamente o oposto, o meu interior é um abismo escuro e
impenetrável, nada dentro de mim tem salvação, mas por fora sou
como o anjo caído. A única janela para a minha alma, são os meus
olhos azuis, frios como o gelo, mas eles também são intransponíveis,
apenas eu enxergo através do espelho, talvez os meus irmãos
tenham uma vaga ideia do que realmente sou, mas nem eles de fato
me conhecem.
— Vou sair e não quero ninguém atrás de mim — aviso a Amadeu,
meu chefe de segurança.
— Mas senhor... — Ele começa a falação que eu sei que viria,
tentando me convencer de não sair sem escolta, mas contem
imediatamente as palavras em sua boca quando giro sobre os
calcanhares, lhe direcionando um olhar mortal.
Ele entendeu o recado, sabia que eu não tinha acordado em meus
melhores dias apenas pela minha atitude, era bom que ele me
conhecesse, na verdade, necessário. Os anos ao meu lado o fizeram
entender quando ou não ele podia abrir a boca perto de mim, e não,
hoje não era um bom dia.
Essa merda que Fabrizio está querendo me fazer engolir está
acabando comigo, o que me faz iniciar a semana mais irritado do que
já é costume é o fato de que durante os próximos dias estarei
ocupado em jantares, tentando possivelmente conhecer algumas
supostas pretendentes.
Eu não queria, mas entendo ser necessário. Eu sempre preferi me
envolver sexualmente com mulheres que não faziam parte da Dalla
Costa, eu não queria plantar ilusões em suas mentes e nem na dos
seus pais, mas agora, infelizmente, me vejo obrigado a isso.
Já que não será por amor, que seja pelos interesses da família.
Atravesso os portões do condomínio onde moram apenas eu e meus
irmãos. É uma propriedade um pouco distante da cidade, cerca de
trinta minutos em um dos meus diversos carros velozes, mas o
necessário para mantermos a nossa privacidade intacta.
Por se tratar de um lugar afastado, as plantações de uva e outras
especiarias ornam o caminho, por vezes eu venho correr aqui para
tentar me aproximar do ponto de equilíbrio que Palermo me traz.
Com os fones de ouvido em volume máximo, aumento o ritmo da
corrida ao som de Hail to the king – Avenged Sevenfold, gosto da
letra dessa música, é exatamente assim que me sinto diante dessa
cidade, contenho a vontade de cantar junto com a música que ressoa
alto.

Não demonstro nada, sequer os meus gostos musicais, ninguém


precisa saber mais de mim, eu nunca permito, mas canto em
pensamento “Salve o rei. Salve aquele. Ajoelhe-se à coroa, ao sol,
Salve o rei.”

Eu sou o rei.

Após uma hora correndo sem parar, totalmente molhado de suor,


paro em uma pequena Caffetteria compro uma água, antes de voltar
para o condomínio e me dou conta quão longe eu havia ido.

Não era essa a minha intensão, mas percebo que eu precisava


extravasar e nada melhor do que levar meu corpo a exaustão.

Eu poderia ir a um dos centros de treinamento que mantenho, lutar


com um dos meus irmãos ou soldados, até mesmo com o meu chefe
de segurança, mas eu realmente não queria olhar no rosto de
ninguém.

Apenas o meu tão conhecido vazio interior já me bastava.

Bebo alguns grandes goles enquanto retorno, chego à estrada que


me conduzirá ao caminho de volta e continuo andando até finalizar o
líquido da garrafa. Vou voltar a correr, levar o meu corpo a exaustão é
uma das coisas que me dá mais prazer. Pode ser um pouco
masoquista, mas a dor muscular me faz concentrar em algo que não
seja a minha realidade fodida e repleta de responsabilidades.

Em uma situação atípica, me distraio enquanto mudo a música no


aplicativo do celular, é quando tudo acontece.

Um homem se joga sobre mim de repente, numa tentativa frustrada


de roubar o aparelho que estava em minhas mãos.

— O que pensa que está fazendo? — pergunto, quando o giro sobre


as costas, o levando ao chão em seguida.

Nesse momento, o homem, que agora percebo ser um senhor com


certa idade, olha assustado em minha direção.

— Meu senhor, perdão — pede, se dando conta da merda que fez ao


ter a minha arma apontada para a sua testa.

— Quem é você? Quem mandou me atacar? — pergunto e o medo


em seu semblante me faz imaginar que ele está vendo a face do
próprio diabo em sua frente.

É exatamente isso que disseram algumas das pessoas que eu torturei


durante esses anos, que eu era o próprio demone incarnato, não
posso dizer que não, afinal, concordo com elas. É exatamente assim
que me sinto, superior e inatingível, dono das almas e corpos que
tenho sob as minhas mãos.

Com uma habilidade que adquiri ao longo dos anos, consigo perceber
que esse homem jogado ao chão a minha frente não me oferece
qualquer risco, porém ele cometeu um imenso erro e pagará por isso.

— Ninguém senhor, tenha piedade do meu erro, sou só um pai


desesperado para alimentar sua filha. — Atropela as palavras, e
percebo que ele me reconheceu.

Muita gente sabe quem eu sou, para ser sincero, acredito que todas
as pessoas da Itália saibam que eu sou o chefe da Dalla Costa e não
apenas um empresário, mas ninguém sequer ousa falar sobre isso,
inclusive a polícia, os que tentaram não estão vivos para contar o
restante da história.
— E é roubando que pretende fazer? — Tudo bem, não sou bem a
pessoa mais indicada para dar lição de moral em ninguém, mas a
minha posição exige ações, eu não tive escolha, ele tem.

— Não consigo trabalho — explica. — Ninguém quer empregar um


velho inválido. — Ele só possui um dos braços, isso talvez justifique a
sua falta de emprego, mas as suas ações e escolhas não têm
justificativa.

Pego o celular e peço que Amadeu me encontre imediatamente. Esse


homem cometeu um erro crucial, mas a verdade de suas palavras me
fizeram não o matar imediatamente com a arma que tenho ainda
apontada para a sua testa ou até mesmo com a minha faca, talvez no
fundo ainda me reste qualquer resquício de senso de justiça, o que eu
farei com ele ainda não sei, mas estou certo de que a partir de hoje,
ele jamais verá novamente a filha que supostamente queria alimentar,
ele será meu prisioneiro.

Ninguém rouba os Dalla Costa e fica impune.


Capítulo 02
“Eu não ouvia nada além do silencio da minha alma e da voz da
minha consciência que pedia para que eu o procurasse.”

Há três dias eu não vejo o meu papà, já o procurei por todos os


cantos, ele saiu na segunda feira, dizendo que iria resolver os nossos
problemas e não voltou mais, temo que ele tenha nos colocado em
mais algum.

Já o procurei em delegacias e hospitais, já fui até em necrotérios e


não o encontrei em lugar nenhum.

Choro mais um pouco enquanto tomo a xícara de café amargo, pedi


um pouco de pó na casa da vizinha, mas fiquei com vergonha de
pedir também o açúcar. Há dias não coloco nada no estomago, penso
que a qualquer momento posso desmaiar, a única coisa que me
mantem de pé é a vontade de encontra-lo.

Desde a morte da minha mãe, somos apenas nós contra o mundo e


eu não sei o que farei sozinha.

Será que ele me abandonou? Questiono-me internamente, mas


acredito que não.

Quando os meus pais foram atropelados há cerca de dois anos nossa


vida desmoronou.

Ele trabalhava como padeiro, mas após perder o braço foi demitido,
minha mãe o ajudava trabalhando em casas de família, e eu, eu
apenas estudava. Eles queriam que eu tivesse um futuro melhor, que
pudesse estudar e trabalhar em um bom lugar, e eu queria isso
também.

Queria ter a oportunidade de ajuda-los, dar-lhes uma vida melhor,


mas infelizmente aconteceu o acidente e todo o pouco que tínhamos,
nos foi tirado.

Meu pai, no início, se afundou na bebida, ele bebia para esquecer o


amor da sua vida que havia morrido e bebia para esquecer a
desgraça que era não possuir um membro que para ele era
importante, sobretudo para trabalhar.

Eu havia conseguido ingressar no Instituto Universitário da Itália para


estudar no Programa de Administração de Empresas, através de uma
bolsa, havia sido indicada por vários professores e a minha ótima
nota na avaliação de desempenho muito ajudou, mas depois de um
ano se tornou impossível.

Meu pai, que sempre cuidou de mim, precisava de ajuda para sair do
vício da bebida e eu tranquei os estudos para ser sua “babá”. Minha
meta de vida tornou-se fazer ele parar de beber e ele estava quase
conseguindo, há um mês não colocava uma gota sequer em sua
boca.

Mas infelizmente, todas as nossas reservas que já eram pequenas,


acabaram, e nós já não tínhamos mais sequer o que comer.

Eu disse que iria trabalhar, assim como a minha mãe, poderia fazer
faxinas em casas, ou quem sabe até conseguiria um outro emprego,
mas meu pai relutou, ele se sentia culpado por não poder me dar o
futuro que tanto sonhou. Ele não tinha culpa, a culpa foi do bêbado
que os atropelou quando voltavam para casa.
Nós não tínhamos muito, mas éramos felizes, porém a nossa
felicidade acabou e agora, sozinha, eu já não sei que rumo tomar,
estou perdida, desolada, cansada e não sei mais o que fazer.

Se eu ficar aqui parada morrerei de fome, se eu não procurar o meu


pai, morrerei de tristeza.

Fecho a porta do casebre onde moramos e visto o sobretudo negro


que pertenceu a minha mãe, ele está velho, mas ainda consegue me
esquentar. Hoje faz muito frio, o dia está nublado assim como o meu
coração.

Faço novamente o caminho entre minha casa e a cidade, é um pouco


distante, cerca de vinte minutos de caminhada, a última pista que
consegui do meu pai foi em uma caffetteria na beira da estrada.

Uma funcionária, vendo o meu desespero, me disse que naquela


manhã ele esteve lá, pedindo algo para comer, mas fora enxotado do
lugar pelo dono. Ele não estava bem vestido e ia espantar os seus
clientes, foi o que dissera. Pedi mais detalhes, mas ela disse não
lembrar mais nada, disse que naquela manhã, o homem cujo nome
ninguém ousa falar esteve ali, e todos ficaram tensos com sua
presença.

Eu não entendo como alguém pode despertar tanto medo e pavor, as


pessoas por toda a Itália tremem apenas por pronunciar o nome Dalla
Costa, quem são eles afinal? Eu não sei, nas poucas vezes que
perguntei aos meus pais, eles disseram que eram as piores pessoas
do mundo, almas de demônio que habitavam a terra e eu nunca mais
perguntei.

Volto a bater em cada porta que há próxima a caffetteria, na


esperança de que mais alguma informação me ajude a encontrá-lo.

Quando eu já estava desistindo, uma senhora que disse se chamar


Francesca me ofereceu uma xícara de café, acho que ela percebeu
quanto eu estava com frio e fome. Eu aceitei, de qualquer forma não
poderia negar, essa é a única coisa que colocarei no meu estomago
provavelmente pelo restante do dia.

— Posso te dar um conselho — a senhora pergunta após colocar


alguns biscoitos em minha frente, concordo com a cabeça pois a
minha boca já estava cheia.

— Esqueça o seu pai criança — fala e eu me assusto

— O que? Por quê? — questiono, quase engasgando com os


biscoitos

— Vou te dizer, mas por favor não comente com ninguém, isso pode
custar a minha vida, ou melhor as nossas vidas — Concordo porque
eu não tinha outra opção, eu precisava saber o que aconteceu com
meu pai

— No dia que você diz que ele foi visto na caffetteria, eu também o vi.

— Porque a senhora não me disse antes? — pergunto com lágrimas


nos olhos — Eu já estive aqui por duas vezes — É impossível
esconder a decepção em minha voz.

— Foi para o seu bem, — fala e eu nego na cabeça — eu tinha saído


para colher algumas flores, eu faço arranjos para vender — explica.
— E eu vi quando ele tentou roubar o signore Dalla Costa.

— O QUE? — grito espantada, minhas mãos tremem sem parar —


Meu pai não é ladrão, a senhora está enganada — Ponho-me de pé
imediatamente, eu preciso sair daqui, essa senhora com cara de
boazinha não pode falar isso do meu pai, se eu soubesse que ela iria
levantar esse falso testemunho a ele, eu sequer teria entrado em sua
casa.

Prefiro a fome, do que ouvir as palavras que ela acabou de dizer.

— Se acalme menina — ela fala — Me escute.

— Não há o que escutar, a senhora está enganada eu já disse —


Controlo minha voz, não posso gritar, estou em sua casa e fui bem
educada a ponto de saber que não posso gritar em território de outras
pessoas.

— Me escute, é para o seu bem — afirma novamente e eu assinto a


contragosto, só quero que ela fale logo para que eu possa ir embora.
— Era o seu pai, eu soube assim que me mostrou a foto, ele está
mais magro e com os cabelos totalmente grisalhos, não é? —
pergunta sem esperar uma resposta, como se quisesse me mostrar
que sabia do que falava, mas eu respondo ainda assim.

— Sim, mas há vários homens parecidos com ele, a senhora está


enganada — afirmo novamente

— Filha, ele só tem metade de um dos braços

— Meu Deus! — exclamo e sento em choque, ela não tinha como


saber, a foto que eu lhe mostrei era da época em que a minha mãe
ainda vivia, era uma foto dos dois, uma das poucas que tínhamos.

— Se acalme, criança — Segura em minha mão — Eu não lhe disse


a primeira vez que esteve aqui para te poupar, achei que desistiria,
mas hoje vi a sua determinação, percebi que não seguiria em frente
sem conseguir as respostas que buscava, e é por isso vou lhe falar,
apenas para que você se salve, deixe de procurar o seu pai.

— O que a senhora viu? — pergunto

Ela conta que viu quando o tal chefe da máfia Dalla Costa estava
caminhando pela estradinha e meu pai pulou em suas costas,
tentando lhe roubar o aparelho celular, mas o homem foi rápido e o
jogou no chão, levando a sua arma ao rosto do mio papà, ela diz que
ficou com medo de ser vista e se escondeu atrás dos arbustos. Em
seguida, viu um carro parar, alguns homens saírem de dentro e
levarem meu pai dali com eles.

Eu ouço em silêncio, sem saber o que falar, nem sei mais se as


palavras saem da minha boca. Uma tristeza profunda toma o meu
coração e mesmo que seja óbvio que se o homem for realmente tudo
o que as pessoas falam, a essa altura o meu pai sequer está vivo,
mas meu coração pede para que eu tente encontra-lo.

Caminho sem rumo, na estrada, peço uma carona para alguém que
passa, se a pessoa falou algo comigo durante o trajeto não sei, eu
não ouvia nada além do silencio da minha alma e da voz da minha
consciência que pedia para que eu o procurasse.

Sou deixada na Piazza San Pietro – Praça São Pedro – entro na


Basílica que dá nome a praça, onde já vim antes muitas vezes com
meus pais e ao sentar em um dos bancos choro as lágrimas que
contive até chegar aqui.

Peço a Deus que o meu pai esteja vivo, que ele guie os meus passos
e me conduza, se ele tentou roubar foi em um momento de
desespero, não merece a morte por isso.

Controlo as lágrimas e saio pelas ruas de Roma, uma cidade tão


linda, mas hoje, especialmente, eu não enxergo nada além da minha
dor e sofrimento.

Quase duas horas de caminhada me levaram até a EUR, bairro onde


fica a sede da empresa dos Dalla Costa, sei que é aqui por ser um
bairro praticamente proibido entre nós Italianos, apenas os turistas
transitam livre e alegremente por aqui, eles não sabem o mal que os
cerca.

Eu também não sabia, até ter o meu pai levado por ele.

Pra ser sincera, não sei ao certo o que posso fazer, como conseguirei
falar com o demônio em pessoa, como o confrontarei sobre a
localização do meu pai, será que meu pai está morto? Será que eu
também serei morta?

Decido que eu posso até morrer nas mãos do demônio, mas não vou
me acovardar.

De cabeça em pé e uma determinação invejável entro no lugar, que


poderia muito bem ser algum museu, dada a ostentação e obras de
arte dispostas no lugar. Por morar em Roma, aprendi a valorizar a
cultura e admirar a arte, se fosse em outro momento, eu faria questão
de olhar cada quadro de perto, mas hoje não, eu só quero encontrar o
meu pai.

— Quero falar com o signore Dalla Costa — falo tentando manter a


voz firme, mas a mulher me olha com espanto.

— Tem horário marcado?

— Não, mas é importante.

— Receio que não poderei ajuda-la, o signore Dalla Costa só atende


com horário marcado e assuntos urgentes.

— Mas é urgente — rosno com raiva

— Não grite, signorina, aqui é um ambiente de classe — repreende

— Não grite? Ambiente de classe? — Meu sangue italiano ferve nas


veias e perco o controle — EU SÓ QUERO SABER DO MEU PAI,
SEU CHEFE O PRENDEU OU O MATOU, EU SÓ QUERO O MEU
PAI — grito desesperada e sou segurada firmemente por troglodita
que parece ter duas vezes o meu tamanho.

— Eu assumo daqui — fala com a secretária e me arrasta para dentro


do prédio.

Eu caminho, ou melhor sou arrastada ao encontro da morte, eu sei


que é isso o que acontecerá, o impiedoso Dalla Costa matou o meu
pai e fará o mesmo comigo.

É isso, é o meu fim e talvez seja bom, vou me juntar a minha mãe e
quem sabe ao meu pai, essa vida foi ingrata conosco. Eu realmente
não deveria esperar nada além do que terei.
Capítulo 03
“Estar comigo é como estar com o próprio demônio, você não
sabe o que esperar, mas imagina que não será nada bom.”

— Bem, entre a Graziela Rossetti e a Carlota Carbone, eu escolheria


a Graziela — Rico, meu subchefe, fala.

— Eu também — completa Fabrizio, meu consigliere. — Ela é mais


recatada e prendada, uma verdadeira esposa da máfia.

— Além de ser mais gostosa — Rico diz, sorrindo.

— Além disso, seu pai é um dos capos mais importantes, ele que
coordena a entrada de todas as armas em nosso território. — Fabrizio
considera.

— Sim, mas o pai da Carlota também nos rende um bom dinheiro e


uma coisa muito importante: o prazer — Sorri como sempre, me
pergunto como meu irmão consegue ter uma alma tão leve
convivendo em um ambiente tão hostil quanto o nosso. — Os
Cassinos e as mulheres nos são muito importantes, não é mesmo?

— Você só pensa nisso, Rico? — Fabrizio questiona.

— E você não? — Rico retruca com uma sobrancelha erguida


enquanto gira o seu pequeno canivete entre os dedos.

— E você, o que achou? — Fabrizio pergunta para mim.

— Finalmente os senhores lembraram de pedir a minha opinião, achei


que fossem decidir sobre o meu possível futuro casamento sem
sequer saber qual a minha opinião, se duvidar, até iriam levar a
mulher para a cama para fazer o Test Drive — falo sério e eles
engolem em seco.

— Só estamos tentando clarear sua mente — Fabrizio justifica. —


Sabemos que você não quer isso, então só estamos tentando ajudar
— fala o meu consigliere e não o meu irmão, são poucos os
momentos em que nos despimos da posição de Chefes da Máfia e
esse não é um deles.

Fabrizio está tentando me mostrar que já retardamos demais essa


questão, estamos ficando sem tempo, eu sei disso, mas não me
agrada nenhum pouco ter que escolher uma mulher tão rapidamente,
entretanto é o que preciso, é o que a máfia espera de mim.

Sendo o Dom da Dalla Costa, preciso pensar primeiro em todos à


minha volta e só então considerar o que eu quero, ou seja, primeiro a
famiglia, depois o resto, e quando falo em resto, incluo também a mim
nesse pacote.

— Quero conhecer todas as pretendentes que vocês escolheram,


depois eu decidirei — afirmo, não excluindo a possibilidade de ser
uma delas a escolhida, mas não demonstrando qual das duas eu
preferi.

Mantenho as minhas reservas até mesmo com meus irmãos, é um


hábito que adquiri e não consigo afastar.

Até mesmo com eles, que são as pessoas em que eu mais confio no
mundo, para quem inclusive, eu entregaria a minha própria vida,
busco manter a fachada de todo poderoso e indecifrável.
Sei que eles ficam putos com isso. Assim como eu, eles foram
criados para serem os chefes da máfia, os donos da porra toda e não
ter tudo sobre controle, não estar a um passo à frente de todos os
incomoda tanto quanto incomodaria a mim. Porém comigo, eles não
têm esse gostinho, eu lhes dou muito o que pensar.

Gosto de saber que até os meus irmãos, as pessoas que mais me


conhecem no mundo, me conhecem muito pouco.

Meu celular toca chamando a nossa atenção.

— Senhor, temos um problema. — Ouço a voz de Amadeu quando


atendo a chamada.

— Mais um você quer dizer — falo irritado, eu estou realmente muito


cansado disso tudo, mas são as minhas obrigações e ninguém
precisa saber como eu realmente me sinto, então, visto a couraça da
indiferença como sempre e pergunto ao meu homem de segurança.
— O que houve dessa vez?

— Acabo de tirar da recepção uma mulher que estava dando um


escândalo para vê-lo. — ele fala e eu não consigo pensar em quem
seria louca o suficiente para vir até minha empresa e exigir minha
presença, ou melhor, quem é louca para exigir qualquer coisa de
mim, mas não penso em ninguém.

— De quem se trata e para onde a levou? — pergunto.

— A filha do ladrãozinho e a tranquei na masmorra. — informa, sendo


direto como eu gosto e me levanto para encontrá-los.

Abotoo o terno calmamente, coloco o celular no bolso, tiro da gaveta


minhas duas e inseparáveis armas e prendo uma no coldre por dentro
do terno de três peças que visto e a outra no cós da calça nas costas.

— O que aconteceu? — Fabrizio pergunta, pondo-se de pé


totalmente alerta.
Embora esse ritual de se armar nos seja comum, ele deve ter
pescado algo na minha ligação com Amadeu.

— A filha do meu novo prisioneiro chegou até nós e estava armando


um escândalo na recepção — informo. — Vou resolver esse pequeno
empecilho e já volto.

— Eu disse para matarmos ele e a família. — Rico considera o que já


havia proposto com a sua já rotineira calma, ele não se levantou e
nem deixou de brincar com o canivete um só instante.

— É por isso que sou eu o consigliere e não você — Fabrizio


provoca. — Você sempre escolhe o caminho mais fácil.

— Sou prático — retruca.

— E eu penso — responde, pondo um fim na disputa boba dos dois.


— Eu vou com você — fala quando eu já alcançava a porta.

— Eu também, não me deixem fora da diversão — Rico completa. Eu


não preciso dizer nada, sigo para fora da minha sala com os dois na
minha cola.

Digito o código secreto no elevador e descemos direto para o


subsolo, lugar que poucos sabem existir.

Se a tal mulher quer tanto a minha presença ela terá, só não garanto
que será agradável.

Estar comigo é como estar com o próprio demônio, você não sabe o
que esperar, mas imagina que não será nada bom.

Quanto ao meu demônio interior nem sempre eu consigo controlar, as


vezes mando nele, em outras ele me domina. Hoje, eu ainda não
descobri quem está no comando, mas acho que saberemos agora.
Capítulo 04
“É quase um cortejo fúnebre e no fundo é isso mesmo, nós
anunciamos e conduzimos a morte por onde passamos.”

As portas do elevador se abrem quando chegamos ao subsolo, mais


especificamente na masmorra.

Nós temos diversos depósitos e galpões espalhados pela cidade. Em


regra, são nesses locais que fazemos o nosso serviço sujo,
extorquimos, torturamos, matamos, enfim, são esses os lugares
próprios para as nossas atividades. Porém, mantenho aqui no prédio
sede da empresa uma masmorra, assim como na antiguidade, esses
locais ainda hoje servem de prisão quando precisamos.

Às vezes é necessário termos um lugar assim por perto, como agora


por exemplo, velhos hábitos mantidos, podem facilitar as nossas
vidas.

— Quer dizer que o meu melhor homem não consegue controlar uma
mulherzinha sequer? — pergunto irritado quando olho para Amadeu.

— Chefe, a mulher está muito descontrolada e só não a matei de


cara, porque precisava da sua permissão e porque o senhor manteve
o pai dela vivo. — justifica.
— Estou com você Amadeu, o melhor é sempre matar — Rico fala e
eu nem me dou o trabalho de olhar em sua direção.

Como sempre, terei que resolver mais esse problema, na melhor das
hipóteses para os dois prisioneiros, serão mortos juntos e de forma
indolor. Porém, se me encherem a paciência, morrerão de forma
lenta, sendo torturados até que a morte finalmente os abrace.

— Cela 08 — Amadeu fala e eu sigo na direção.

Aqui no subsolo temos um isolamento acústico fantástico, e cada


cela, que se parece com solitárias, também possui o mesmo
mecanismo. Isso é também uma forma de torturar os meus
prisioneiros, mantê-los totalmente isolados, tendo como
companheiros apenas a dor e o silêncio que são preenchidos
somente quando nós chegamos.

Tenho certeza de que todos os que são mantidos aqui preferem o


silêncio à nossa presença, e isso me diverte. O desespero na face de
cada um quando nos aproximamos é revigorante.

A tal criatura escandalosa não sabe, mas ela está mais próxima do
seu pai do que imagina.

O homem está sendo mantido na cela 03, eu estava decidindo o que


fazer com ele. Embora Rico tenha proposto mata-lo, considerei que
ele nos podia ser útil, estávamos precisando de alguém que não
levantasse suspeitas para entregar algumas das nossas encomendas
e um homem deficiente e com cara de coitado é sempre uma boa
escolha.

Ele não teria opção, era me servir ou morrer, mas não tive tempo de
descer a masmorra e saber qual das duas lhe apeteceria. Eu sempre
dou a oportunidade de escolha: ou é da minha forma, ou a morte. No
fundo, talvez, eu não seja tão ruim, não é mesmo?

O que eu não esperava é que a tal filha faminta, a quem ele queria
alimentar chegaria até nós.
Assim que decidi trazê-lo para cá, pedi que Amadeu verificasse sua
versão, se ele estivesse mentindo sobre estar passando fome com
sua filha, não lhe daria outra opção que não fosse uma morte lenta e
dolorosa, mas ele havia falado a verdade, estava numa merda sem
fim, e eu decidi mantê-lo vivo, entretanto ele teria que me servir a
partir de então.

Passo pela cela em que o homem é mantido, Leopoldo é o seu nome,


mas eu jamais o chamei senão de verme nas poucas vezes que nos
vimos.

Ele tem recebido um pão e um copo de água por dia, o suficiente para
que não morra de fome e sede, mas também, muito pouco para que
se sinta satisfeito. A fome e a sede são formas milenares de tortura, é
sempre bom exercitar.

Amadeu tem feito o trabalho de lhe trazer o mínimo de suprimentos


necessários, as fezes e a urina ele faz na própria cela e é claro, que
ele mesmo terá que limpá-la quando chegar o momento de sair ou
morrer.

Mesmo que eu decida por mata-lo, ele terá que limpar a sua própria
porcaria, eu jamais submeteria os meus homens a isso.

Sei que ele não pode me ouvir enquanto caminho pelo corredor
escuro, é revigorante saber que tenho sua vida em minhas mãos e
agora também da sua filha.

Comandar a vida das pessoas, decidir sobre o seu futuro ao meu bel
prazer controla-las me traz uma sensação indescritível de poder. Ter
o controle de tudo ao meu redor é fantástico, mas nada se compara a
sensação de ter a vida de alguém, o seu destino em minhas mãos.

Amadeu se põe em minha frente ao abrir a porta da cela. E assim que


o vê, a mulher levanta os olhos.

Ela estava aninhada em um canto da cela e imediatamente se pôs de


pé.
— Cadê o meu pai? — pergunta com a voz mais firme do que eu
imaginei que teria, principalmente na situação em que se encontra.

Amadeu dá um passo para o lado, revelando a mim e os meus


irmãos. Há um silêncio costumeiro que nos acompanha quando
chegamos à cela de um prisioneiro e entramos no recinto.

É quase um cortejo fúnebre e no fundo é isso mesmo, nós


anunciamos e conduzimos a morte por onde passamos.

Entramos na cela e me ponho à frente.

— O que você quer? — pergunto.

— Meu pai — responde rapidamente.

— E por que você acha que ele está aqui? — questiono.

— Ele não está? — interroga confusa.

— Eu faço as perguntas e você responde — afirmo e vejo sua boca


tremular.

— Alguém me falou que um de vocês o pegou — fala após um tempo


em silêncio.

— E você acreditou? — Ergo uma sobrancelha.

— Eu já o havia procurado em todos os lugares e não o encontrei —


fala e noto tristeza e preocupação em sua voz.

Analiso a criatura em minha frente, face pálida, olhos tristes, olheiras


imensas que se sobressaiam ainda mais pelo choro recente. Ela está
envolta em um sobretudo negro muito maior do que o seu pequeno
corpo.

Talvez eu tivesse piedade e não há torturasse antes de matá-la,


embora me parecesse jovem, a menina em minha frente aparentava
já ter sofrido o bastante por uma vida.
— Quem você acha que eu sou? — pergunto para saber se a criatura
aparentemente frágil sabe com quem está lidando.

— Não, Sim... — Demonstra sua confusão. — Quer dizer, ouvi


algumas pessoas falarem e acho que estavam certas. — completa e
eu fico admirado com a sua coragem, tenho que admitir. No fundo,
talvez, ela realmente não saiba o perigo que corre.

— Fico honrado que já tenha ouvido falar de mim, — soo sarcástico


— mas pode ser mais especifica sobre o que lhe disseram?

— Que você era o próprio demone encarnado — fala de uma vez,


demonstrando a coragem que achei que não possuía.

— E você acha que estão certas quanto a isso. — afirmo com um


sorriso que muito diz em meus lábios. — Interessante.

Nesse momento, eu quero lhe mostrar que eu sou realmente o


demônio, só para deixar claro que eu mando em tudo, inclusive nela e
em seu destino.

— Eu não quero saber de nada além do meu pai, só quero o meu pai,
me diga onde ele está — fala com a voz firme e eu acho graça.

— Muito apressada você — falo.

— Se eu estivesse no seu lugar, tentaria retardar o momento e não o


apressar — Rico fala atrás de mim, demonstrando que todos estão
totalmente atentos à nossa interação.

Como se tivesse jogado gasolina em uma fogueira, vejo labaredas de


raiva nos olhos da menina e ela se joga sobre mim, com a intenção
de me estapear, eu acredito.

Seus punhos se chocam uma vez apenas sobre o meu peito e eu a


contenho sem muito esforço. Se fosse um homem forte e robusto, eu
o faria com facilidade, sendo ela pequena, magra e aparentemente
frágil, só fez da minha ação de contenção mais rápida e menos
prazerosa.

Eu sempre valorizo uma boa luta antes de uma contenção qualquer,


mas a mulher, que mantenho segura pelos pulsos, parece que vai
quebrar a qualquer momento se eu colocar um pouco mais de força
em minhas mãos.

Doso a medida da força, pois ainda não chegamos na fase da tortura.


Capítulo 05
“E ainda no mesmo canto, vi o meu choro cessar, as lágrimas
secarem na face e a esperança morrer, assim como eu também
morreria.”

Sou arrastada pelo troglodita até o elevador, ele digita uma sequência
de números e sinto um tranco, a caixa de ferro está em movimento.

Quando as portas são abertas, sou conduzida por um corredor


extremamente escuro, eu não consigo enxergar um palmo sequer à
frente do meu nariz, mas o homem parece conhecer o lugar como a
palma da sua mão.

Uma porta é aberta e eu sou atirada dentro de um lugar pequeno e


quadrado, as portas são de ferro, consigo ver após ele ter acionado
um interruptor que eu acredito ficar do lado de fora, estou em uma
espécie de cela, mas não envolta em grades, o ambiente é totalmente
fechado.

— O que você vai fazer comigo? O que fez com o meu pai? —
pergunto e ele não se dá o trabalho de me responder. Gira sobre os
calcanhares, me deixando presa aqui nesse lugar frio e vazio.

Em seguida, a luz é novamente desligada, apenas o escuro preenche


o ambiente e eu tenho certeza de que esse será o meu fim. Assim
como foi o do meu pai.

O escuro confunde, mas eu nunca o temi, hoje pela primeira vez


tenho essa sensação, é como se uma fera, uma besta selvagem
fosse ser atirada para dentro desse ambiente em que estou sozinha e
esse fosse ser o meu fim.

Não há um barulho sequer, apenas as batidas fortes do meu coração


e o soluço do choro que irrompe o meu peito e sai pela garganta.

Numa tentativa falha de proteção, me aninho em um canto qualquer,


é como uma maneira de me auto proteger, embora minha consciência
grite a todo instante que não irá adiantar nada.

Em um primeiro momento eu gritei por socorro, pedi uma ajuda que


no fundo sabia que jamais chegaria, depois eu cansei. E ainda no
mesmo canto, vi o meu choro cessar, as lágrimas secarem na face e
a esperança morrer, assim como eu também morreria.

Ouço um barulho no ferro pesado da porta, a luz é acessa e eu pisco


várias vezes tentando adaptar os olhos a claridade, logo, o meu
carrasco entra no ambiente e eu salto de onde estou ficando de pé
rapidamente.

— Cadê o meu pai? — falo, buscando reunir todas as forças que


ainda tenho dentro de mim.

O homem dá um passo para o lado e três homens que parecem anjos


entram no lugar onde eu estou.

Será que vieram me salvar? Será que ouviram ou souberam do meu


desespero e vieram me tirar daqui?

Uma nuvem de esperança toma o meu peito, talvez seja isso, talvez
eles sejam anjos a me conduzir ao paraíso, eu espero poder
encontrar o meu pai lá.

Os três homens são altos e fortes demais, arrisco até considerar que
são os mais fortes que já vi em toda a minha vida. Eles se posicionam
à minha frente, numa formação triangular perfeita, um deles mais à
frente, e os outros dois se mantêm cada um em uma das suas
laterais, um passo atrás do primeiro.

Estavam sincronizados, eram como uma orquestra perfeita, e ao olhar


nos olhos do que estava à frente eu não senti a paz que um anjo
deveria me trazer, ao contrário, eu senti medo, todo o meu corpo foi
varrido por um calafrio de medo cru, como eu jamais senti em toda a
minha vida.

O silencio deles, assim como o da prisão que eu me encontrava não


era bem vindo, todos me analisavam com cautela, como predadores
prontos para atacar a presa. Era como se eles tentassem prever os
meus movimentos e eu estava tão chocada que sequer conseguia me
mover, eles devem ter percebido isso.

— O que você quer? — Uma voz, grave como o trovão ressoa no


ambiente, fazendo eco contra as paredes vazias do lugar e na da
minha mente.

— Meu pai — respondo assustada.

— E por que você acha que ele está aqui? — pergunta.

— Ele não está? — falo um pouco confusa, será que a senhora havia
mentido? Será que o meu pai não está aqui? Eu não consigo ver
nada através das expressões de nenhum desses homens, isso me
deixa perdida.

— Eu faço as perguntas e você responde — ele diz com grosseria e


eu tremo de medo.

— Alguém me falou que um de vocês o pegou — tento explicar o que


me trouxe até aqui. Eu queria dizer que ele pegou o meu pai, a
senhora havia dito que fora o chefe e a postura do homem que fala
diretamente comigo não nega que é ele.
— E você acreditou? — pergunta, suas palavras rápidas e certeiras
me confundindo ainda mais.

— Eu já o havia procurado em todos os lugares e não o encontrei —


explico, um medo ainda maior me toma, não sei o que seria melhor,
meu pai estar sob o poder desses homens ou não.

Os olhos do homem me esquadrinham por inteira, é como se ele


quisesse me ler, mas não é necessário esse esforço, eu não tenho
segredos, não guardo segredos. É exatamente isso que me trouxe
até aqui, apenas a vontade de encontrar o meu pai.

— Quem você acha que eu sou? — ele pergunta.

— Não, Sim... — Não sei o que devo responder. — Quer dizer, ouvi
algumas pessoas falarem e acho que estavam certas. — Resolvo ser
sincera, sinto como se ele fosse capaz de identificar qualquer
resquício de mentira ou omissão que saia dos meus lábios.

— Fico honrado que já tenha ouvido falar de mim, mas pode ser mais
especifica sobre o que lhe disseram?

— Que você era o próprio demone encarnado — completo e quase


me arrependo do que disse no mesmo instante em que as palavras
saíram da minha boca. Eu poderia ter dito qualquer coisa, qualquer
outra verdade o convenceria, mas não precisava realmente dizer que
ele era o próprio demônio.

— E você acha que estão certas quanto a isso. — Não é uma


pergunta. — Interessante. — Sua fala fria, quase me faz ver a
transformação do anjo em demônio ao vivo e a cores, mas de uma
forma estranha, eu não o temo.

Sei que não deveria, mas não tenho medo dele, o que me motiva é
encontrar o meu pai. E, enquanto os meus olhos ainda estiverem
abertos é isso que farei, tentarei encontra-lo.

— Eu não quero saber de nada além do meu pai, só quero o meu pai,
me diga onde ele está — falo e o sorriso cada vez maior me
amedronta ainda mais.

— Muito apressada você — ele diz como se me repreendesse, como


se não estivesse satisfeito por eu tentar finalizar o quanto antes a
tortura que me impõe.

— Se eu estivesse no seu lugar, tentaria retardar o momento e não o


apressar. — Um dos outros homens que está atrás dele fala com um
sorriso maior do que o do primeiro nos lábios. É um aviso eu sei, mas
não consigo controlar o meu desespero.

Jogo-me sobre o homem na tentativa de o obrigar a me falar onde


está o meu pai, tento esmurrar o seu peito, mas ele segura os meus
pulsos firmemente, o sorriso nunca deixa os seus lábios, é como se
todo o meu sofrimento e toda a dor que eu sinto nesse momento o
satisfizessem, e por isso me desespero cada vez mais.

Sem forças para lutar contra ele ou para tentar me soltar do seu
aperto firme, caio sobre os meus joelhos, o choro nunca me
abandonando. O desespero erguendo-se sobre mim, e o pior, a
certeza de que eu nada poderei fazer.

Desde que a minha mãe morreu, eu salvei o meu pai por diversas
vezes, mas agora eu sabia que não conseguiria. Eu não teria como
salvá-lo do homem que ainda segurava os meus pulsos enquanto eu
chorava de joelhos no chão.

Minhas mãos estavam erguidas para cima, ele não havia se curvado
um milímetro sequer para facilitar que os meus joelhos chegassem ao
chão, pelo contrário, suas mãos estavam estendidas para a frente,
segurando firmemente os meus pulsos para cima, enquanto todo o
meu corpo pendia para baixo, ele sustentava o meu peso sem fazer
qualquer esforço para isso.

Quando ele percebe que eu não farei mais nada além de chorar, ele
solta os meus braços que caem pesadamente ao lado do meu corpo,
e meus joelhos finalmente sustentam o peso do meu corpo.
— Eu tenho o seu pai comigo — fala de um jeito frio e totalmente
controlado.

Levanto os meus olhos em sua direção, como ele pode admitir assim
de uma forma tão natural que mantém um homem preso, quem é
esse homem? Ele não é Juiz ou Policial, mas age como se fosse a
própria lei.

— Ele está vivo? — pergunto, o enxergando sob a visão embaçada


pelas lágrimas.

— Por enquanto, sim — fala frio, como se pudesse decidir sobre o


destino das pessoas, como se fosse Deus.

— Me deixe vê-lo — imploro. — Ele é um homem frágil, desde que a


minha mãe morreu ele só tem a mim. — Tento comovê-lo de alguma
forma, embora ache que essa é uma tarefa difícil.

— Ele é que deveria cuidar de você — afirma.

— Ele perdeu o amor pela vida quando sofreu o acidente — conto.

— Então a morte lhe será bem-vinda — fala por fim, como se o


sentenciasse.

— Por favor, não faça isso. — Eu ainda de joelhos, agarro-me as


suas pernas, implorando pela vida do meu pai. — Me mate em seu
lugar — peço, não aguentando a ideia de uma vida sem ele ao meu
lado.

Eu poderia lhe pedir que soltasse o meu pai, e que jamais lhe
contasse o que fizera comigo. Meu pai iria achar que eu fui embora e
ele teria a sua vingança, uma vida pela outra, era isso que eu estava
lhe propondo e esperava que ele aceitasse.
Capítulo 06
“Foi assim que eu me forjei como sou, com a capacidade de ir
contra tudo e contra todos, inclusive a mim mesmo.”

— Menina tola — afirmo quando Rico explode em uma gargalhada


atrás de mim, sendo repreendido imediatamente por Fabrizio — Você
não sabe o que está dizendo.

Movo minhas pernas, ela de repente se agarrou em mim como um


sanguessuga quando encontra sua presa, ela entende e ainda no
chão se afasta.

— Sei sim, eu sei que vai mata-lo e eu estou propondo que fique
comigo e o liberte — fala as palavras com a voz trêmula, tenta
demonstrar a segurança e o conhecimento das consequências do seu
pedido, mas sei que está com medo.

— E você suportaria a tortura até a morte — falo quando ela me olha,


nossos olhos travam um no outro e o medo, ou melhor, o pavor que
enxergo ali me incomodam um pouco e eu não entendo o porquê.

Talvez seja o fato dela querer trocar sua vida pela de seu pai,
valorizando a sua família que no caso é apenas ele. É isso com
certeza, para mim la famiglia é o que mais importa e aparentemente
para ela também.
Já tive pessoas em situações piores do que a dela em minhas mãos e
não me comovi, isso me incomoda um pouco, mas tento não focar
nisso e continuo com o que importa.

— É isso que fará com ele? É isso que está fazendo com ele? —
pergunta em prantos e eu descubro que a sua tortura acaba de ter
início.

— Talvez — Ergo uma sobrancelha, sem negar ou confirmar o que


ela disse.

— Eu aguento, seja o que for, senhor, eu aguentarei, mas liberte o


meu papà. — A menina fala com uma coragem que me surpreende
demais.

Suas lágrimas, de repente, secaram e ela tenta demonstrar uma


segurança que eu sei que de fato não tem, e aqui, ela ganha um
pouco do meu respeito.

— Tudo bem — falo para testá-la.

— Assim fácil? — pergunta surpresa.

— O que foi, ragazza? Já se arrependeu? — questiono.

— Não, nunca — afirma e eu consigo ler perfeitamente em seus olhos


a segurança com sua decisão. — Pode me levar.

— Para onde? — questiono com uma sobrancelha erguida.

— Para o lugar onde você mata os seus prisioneiros, você deve ter
um lugar para isso. — Tenho que admitir, ela está sendo mais
corajosa do que pensei.

— Não preciso de um lugar para isso. — Aproximo-me dela como um


predador acuando sua presa — Eu posso matá-la em qualquer lugar,
inclusive aqui, agora.

Prendo-a entre a parede e o meu corpo, deslizo o cano da minha


arma por seu rosto e as lágrimas vertem dos seus olhos, começo a
sentir o cheiro do medo da morte, que exala pelos poros da ragazza.
Não vou mentir, eu gosto de ser temido, assombrar os meus
prisioneiros antes de mata-los me faz bem, mas de uma forma
estranha não gosto de sentir isso nela.

Eu nunca tive compaixão, mas é exatamente isso que sinto por essa
menina, seu corpo magro e pequeno contrastando com o meu,
grande e forte. Eu posso não ter uma visão completa, mas sei que ela
está magra demais, mais do que deveria.

Olhando-a de tão perto, não deixo de notar os traços bonitos do seu


rosto escondidos pela fome dor e sofrimento. Seus olhos são janelas
para a sua alma e eu não consigo enxergar nada dentro deles. É
como se toda a esperança tivesse se esvaído, e novamente fico
incomodado por não me satisfazer com esse pensamento.

Será que essa menina pode ser útil em algo para mim, de repente
não sinto tanta vontade de matá-la quanto antes.

Estranhamente, tenho um sentimento de proteção por alguém que


não seja os meus irmãos, e isso me incomoda, os que me seguem
não podem ver a confusão em meus olhos e ações. Um chefe da
máfia jamais demonstra o que sente, e pela primeira vez eu estava
sentindo.

— Vamos — falo quando me afasto dela, mas sem ainda desviar os


nossos olhos.

— Para onde está me levando? — pergunta.

— Para onde eu quiser — falo e sigo em direção à porta.

Passo pelos três e sigo pelo corredor, parando de frente para a cela
03, por um instante penso que não deveria deixa-la ver o estado em
que o seu pai se encontra.

Tenho certeza que quando abrirmos a porta, o cheiro de fezes e urina


tomará todo o ambiente, sem contar que com a quantidade de água e
alimento que ele tem ingerido nos últimos dias, há também a
possibilidade dele ter desmaiado.

Fabrizio me olha, questionando se eu realmente farei isso, de nós três


ele é o que mais pondera as ações, não é como se ele fosse
diferente, não matasse ou não concordasse com tudo o que nós
fazemos, mas ele tem um lado humano que eu e o Rico não
cultivamos, Fabrizio prefere não matar ou torturar quando de fato não
for necessário

— Seu pai está aqui — afirmo quando Amadeu se aproxima da porta


para abri-la, ele assim como os meus irmãos entenderam que eu a
faria vê-lo naquelas condições, morto ele não estava, porque todas as
celas possuem câmeras e nós as monitoramos o tempo inteiro.

— Por favor, eu não quero vê-lo. — Não entendo o seu pedido, e


procuro em seu rosto algo que me leve à alguma mentira que tenha
contado até aqui e não encontro nada, por isso pergunto.

— Não estou entendendo — Ergo uma sobrancelha em sua direção e


Amadeu para as suas ações, aguardando minha ordem — Primeiro
você diz querer trocar de lugar com seu pai, querer morrer em seu
lugar, e agora não quer vê-lo? Acha que eu tenho tempo para ficar
com joguinhos?

— Desculpe, senhor — fala com um fio de voz — Tudo o que eu mais


queria era ver o meu pai uma última vez, mas prefiro que ele pense
que eu fugi, o abandonei, não quero que ele viva com a culpa de eu
ter me sacrificado por ele.

— Chefe — Rico fala, me tirando do torpor e surpresa que eu estava,


desvio os meus olhos para o meu irmão, esperando que ele conclua
sua fala, mas ele não o faz, seus olhos se mantem nos meus e eu
entendo o seu pedido silencioso para que eu não deixe nosso
prisioneiro ver a filha antes de morrer.

É como ceder ao último pedido de um sentenciado a pena de morte,


mas nós nunca concedemos um último desejo a qualquer pessoa,
percebo que as suas palavras sinceras comoveram não apenas a
mim, embora eu não tenha demonstrado isso, mas comoveu também
ao meu mais impiedoso irmão.

Sabia que qualquer um dos dois matariam qualquer pessoa que eu


mandasse, Rico o faria com prazer e satisfação inigualáveis. Entendi
que se desse a ele a função de matar a menina, ele não iria
questionar minha decisão, porém não teria qualquer prazer ao fazê-lo.

— Me poupe de sentimentalismo, menina — falo e com os olhos


ordeno que Amadeu abra a porta.

Ninguém pode saber o que eu sinto, penso repetindo o mantra que


quando ainda recém iniciado eu entonava em minha mente de forma
ininterrupta. Foi assim que eu me forjei como sou, com a capacidade
de ir contra tudo e contra todos, inclusive a mim mesmo.

As portas se abriram e assim como imaginei, o cheiro imundo do


ambiente tomou todo o lugar, nós já estávamos acostumados a isso,
mas ela não, queria ver como lidaria com essa situação,
principalmente por ser seu pai a criatura inerte jogada ao chão.
Capítulo 07
“Já bastava a escuridão da minha alma, eu não precisava de
nada mais assim ao meu redor”

— Meu Deus! — exclamo, levando as mãos ao nariz quando o cheiro


terrível invade o ambiente, quero vomitar, mas sei que não posso, é o
meu pai que está dentro desse lugar e eu preciso ajuda-lo.

Os quatro homens abrem passagem e eu entro na cela, sei que todos


os meus movimentos, por menores que sejam, estão sendo vigiados
por eles, mas não me importo. Quero tirar o meu pai daqui, quero
cuidar dele como tenho feito nos últimos anos, não é a primeira vez
que o pego desfalecido, só que das outras vezes tinha a ver com o
seu vício em bebidas, porém dessa vez é fruto de maus tratos.

O ódio em meu peito se alastra como o veneno de uma serpente, me


pergunto como pode existir pessoas tão ruins no mundo, mas não
encontro resposta alguma, esses homens que se acham deuses um
dia vão pagar por tudo isso.

Meus pais sempre me ensinaram que na vida a gente colhe aquilo


que planta e eles não são bons semeadores.

— Papà, — chamo quando me aproximo e me ajoelho ao seu lado —


sou eu, sua Amah. — falo o apelido carinhoso que apenas ele e
minha mãe me chamavam. — Eu vou te tirar daqui.

— Mia bambina! — exclama com a voz tão fraca que eu mal ouço

— Vai ficar tudo bem, eu prometo — falo com lágrimas nos olhos e
me levanto momentaneamente de perto dele e me dirijo ao demônio a
quem todos chamam de chefe, queria poder estapear sua face, mas
pelo meu pai, terei que me humilhar diante dele.

— Desistiu ao ver seu fim? — pergunta quando me aproximo.

— Não senhor. — Tento soar humilde, quando na verdade minha


raiva me consome por dentro. — Nós fizemos um trato, a minha vida
pela dele, me deixe ajuda-lo a não morrer antes de libertá-lo e depois
você poderá me torturar e matar, ele já é um senhor de idade, fraco
demais para passar por tudo isso que está lhe impondo, por favor eu
imploro, me deixe ajudá-lo.

— Eu não lembro de ter feito trato algum — fala com as sobrancelhas


erguidas. — Em que momento eu lhe disse que ambos sairiam vivos?
— pergunta impiedoso.

— Eu achei que... — começo a falar, mas sou interrompida.

— Pois trate de achar menos, aqui eu decido o fim que cada um terá,
inclusive o seu e o do seu pai — diz rudemente. — O dele já estava
decidido, ele vai me servir de agora em diante — fala dos nossos
futuros como se falasse da mudança do tempo. — E o com você,
ainda não sei o que farei.

— Por favor, — imploro — tenha piedade, o que quer que o senhor


queira, eu faço.

— Não estou te dando opção, cuide dele e dessa sujeira, depois eu


decido o que farei com você — fala e as lágrimas voltam a verter dos
meus olhos.

— Tudo bem, desde que ele fique vivo, eu lhe serei grata — falo com
servidão. Minha real vontade é estapeá-lo, mas pelo meu pai me
contenho, entro no ambiente em que meu pai se encontra jogado ao
chão.

— Qual o seu nome garota? — pergunta quando me abaixo


novamente com a intenção de acordar o meu papà.

— Amapola — respondo sem me dar o trabalho de olhar novamente


em sua direção.

Quero o máximo de distância possível desse demônio e minha única


preocupação nesse momento é o meu pai.

Volto a chama-lo com carinho enquanto ouço ele rosnar ordens para
o seu cão de guarda, o mesmo que me trouxe até aqui, antes de se
retirar, sendo seguido pelos dois que agora eu imagino serem seus
irmãos.

— Vou abrir a cela ao lado, lá tem um banheiro e você poderá banhá-


lo, enquanto você faz isso eu irei buscar alguns produtos de limpeza
para você limpar essa bagunça. — Fala e eu assinto com a cabeça.
— Você terá acesso ao corredor e a cela ao lado, a que você estava
irei trancar. Não pense em fazer qualquer gracinha, ou até mesmo em
tentar fugir, todo esse ambiente é monitorado e além disso, de
qualquer forma, você não conseguiria e só irritaria ainda mais o chefe.
Então, para o seu próprio bem, nem tente. — Convlui e sai em
seguida, me deixando apenas na companhia do meu pai.

Chamo-o com carinho, eu não tenho forças para carrega-lo, ele


precisa me ajudar, eu preciso tirá-lo daqui e leva-lo para a cela ao
lado, espero que lá esteja limpo.

Quando ele consegue com dificuldade ficar de pé, apoio o seu braço
em meu pescoço, entro no ambiente que é muito parecido com os
demais e fico grata por aqui ter pelo menos um fino colchonete no
chão, depois de banhar vou colocar o meu pai ali, sigo com ele direto
para a abertura que julgo ser o banheiro e confirmo a suspeita.
Com carinho e cuidado lhe dou banho, quando termino, deixo-o sem
roupa sobre o colchonete, não há condição nenhuma de vesti-lo com
a mesma roupa imunda que estava.

Tiro o meu sobretudo e jogo sobre o seu corpo frágil, ele está
tremendo de frio, fico receosa dele contrair uma virose. De qualquer
forma, eu não vou precisar de muito depois desse período em que
estarei cativa, a minha morte é certa, porém para o meu pai, há
esperança eu preciso protege-lo.

Meu carrasco chega com os itens que avisou que traria, ele se detém
ao me olhar por um período maior do que julgo necessário, mas tento
não me incomodar com a situação, de repente ele apenas está
cumprindo as ordens do chefe e enquanto meu pai for mantido vivo
eu não quero contraria-lo.

Limpo toda a cela em que ele era mantido, a deixo mais limpa e bem
cuidada do que julgo que estava quando o meu pai foi trazido.

Faço exatamente aquilo que me foi permitido e após finalizar, sento-


me no chão ao lado de onde meu pai repousa cansado.

Algum tempo depois, o carrasco me traz quatro pães, um recipiente


com café, e outro com água, agradeço por isso e tento acordar meu
pai para que se alimente. Preferi comer apena um pão e dei os três
restantes a ele, eu o queria forte para que pudesse pelo menos tentar
sobreviver sem mim.

Comi apenas um, ainda assim porque o meu corpo exigiu, exausto de
todo o trabalho empenhado na limpeza da cela e também porque há
dias eu não tinha me alimentado como deveria, nós estávamos
sobrevivendo basicamente de café: amargo e puro.

Depois de alimentá-lo com carinho e comer a parte que me coube,


deitei ao seu lado, e agradeci por pelo menos as luzes serem
mantidas acesas, já bastava a escuridão da minha alma, eu não
precisava de nada mais assim ao meu redor.
Mesmo tremendo de frio, adormeci.

Antes pensei que tudo isso poderia ser um pesadelo, que a qualquer
instante eu poderia acordar e ver que tudo isso não era real, quem
sabe até minha mãe ainda estaria viva e o meu pai não estaria
mutilado pelo acidente.

Porém, os dois últimos anos me serviram para entender que a vida


não é fácil e que por mais difícil que seja um dia, sempre é possível
que o próximo dia seja pior.

Eu não podia esperar nada de bom da vida e foi com esse


pensamento que adormeci.
Capítulo 08
“Quem em sã consciência se entregaria ao próprio diabo para
salvar outra pessoa?”

— Que merda foi essa? — Fabrizio pergunta assim que entramos no


elevador e eu não o respondo, também estou tentando entender tudo
o que acabou de acontecer.

O que meus irmãos não sabem é que, eu, principalmente, estou


tentando entender o que aconteceu comigo.

Eu sempre fui impiedoso, terrível e cruel. Nunca tive compaixão e


pena ou me senti impelido a proteger a quem eu, na verdade, deveria
torturar, mas a tal da Amapola me despertou algo que eu jamais
imaginei sentir e no fundo eu sequer sei o que de fato significa.

Repeti um milhão de vezes em minha mente as palavras que ela


dissera para o seu pai quando o viu, “Papà, sou eu, sua Amah. Eu
vou te tirar daqui.”. Ela tinha uma inexplicável segurança em sua voz.

Como poderia garantir ao homem moribundo que eles sobreviveriam?


Como ela tinha tanta certeza que me convenceria de não os matar?
Será que ela conseguia ler em meus olhos a dúvida? Será que ela
percebeu que eu fraquejei diante dela?
Pela primeira vez em minha vida, eu duvidei de mim mesmo, das
minhas barreiras e de tudo o que construí para que ninguém se
aproximasse de mim. Eu estava insatisfeito comigo mesmo, e isso
significava que todos à minha volta sofreriam as consequências,
inclusive os meus irmãos que continuavam a ladrar como dois
cachorros sarnentos em meus ouvidos.

— CALEM A PORRA DA BOCA — rosno antes que as portas do


elevador se abram no andar onde mantenho a minha sala. — Eu
preciso pensar, e vocês dois grasnando feito duas matracas em meu
juízo não estão colaborando.

Saio e sou seguido por eles, controlo o impulso de revirar os olhos,


ninguém deve perceber até mesmo quando eu estou insatisfeito.
Tenho que ser ilegível em tudo, mas sendo sincero comigo mesmo,
eu precisava ficar sozinho.

— O que fará com eles? — Rico pergunta, sentando-se na cadeira de


frente para a minha mesa, Fabrizio já estava próximo ao bar,
provavelmente para nos servir de uma boa dose de whisky, mas eu
sabia que estava atento a nossa conversa.

Não me surpreendi com a pergunta de Rico, embora eu tivesse dito


que precisava pensar e eles subentendido que era sobre essa
situação de merda, eles sabiam que eu já tinha algo em mente.

— Você quer mata-los? — pergunto, para testar o meu irmão.

— Se você determinar, eu o farei, Chefe. — afirma com segurança e


eu fico satisfeito.

Na máfia é exatamente assim que as coisas devem acontecer, ainda


que você não concorde, não deve questionar a decisão do chefe, ou
de seu superior imediato.

— Mas você não o fará — Fabrizio comenta quando nos entrega as


nossas bebidas e eu aceno em concordância com a cabeça.
Os meus irmãos são uma extensão de mim, eles conhecem as
minhas ações, embora eu seja imprevisível até mesmo para eles. Em
algumas situações, eles conseguem deduzir o que eu farei.

Talvez isso se dê pela convivência continua, ou até mesmo pelo laço


familiar, apenas eles, em todo o mundo, são capazes de supor as
minhas ações. Minha cabeça traidora me leva até a ragazza, talvez
ela tenha conseguido enxergar além do que deveria, tento afastar o
pensamento.

— Os planos não mudaram, o pai dela nos servirá — informo. — E


quanto a ela, ainda não decidi, mas de antemão, será a nossa
garantia de que ele andará na linha, que não nos trairá.

— Ótimo, no final das contas, talvez, ela ter chegado até nós, não
tenha sido tão ruim. Ela nos será útil para que o velho não faça nada
de errado. — Fabrizio fala, levantando-se acredito eu que para ir para
sua sala sendo seguido por Rico.

— Espero que sim, espero que eu não me arrependa por deixá-los


vivos — falo para mim mesmo quando eles saem e eu fico sozinho.

Tento me concentrar no trabalho, o que só consigo após um tempo e


com um esforço que em regra não é necessário.

— Como estão as coisas? — ligo para Amadeu, após cerca de duas


horas, em que o trabalho conseguiu me afastar dos olhos tristes da
menina.

— Tudo em ordem, chefe — informa — A menina banhou o pai e o


colocou na cela ao lado conforme o senhor me autorizou liberar e
agora acabou de limpar a sujeira que ele tinha feito.

— E onde ela está agora? — pergunto.

— Sentada ao lado do colchonete, cuidando do velho como se fosse


um bebê.
— É bom que ele se recupere o quanto antes, tenho planos para ele
— aviso.

— Sim chefe, posso lhe fornecer mais comida? Assim ele se


recuperará mais rapidamente — questiona.

— O que você deu a eles?

— Quatro pães, café e água, mas a menina comeu apenas um e deu


o restante ao pai, se dermos mais comida ele vai se recuperar mais
rápido — justifica sua boa vontade. Eu me pergunto o que a criatura
tem que penalizou todos os homens mais impiedosos que eu
conheço.

Enquanto eu falava ao telefone com Amadeu, acionei o sistema de


câmeras da masmorra em meu notebook e no momento eu
observava a menina tremer de frio ao lado do seu pai, sua magreza
assustou, logo a mim, que não me surpreendo com nada.

Ela não tinha uma grama de gordura em seu corpo para protege-la do
frio. O grande sobretudo preto que cobria o seu corpo, ela havia
colocado sobre o velho, ela acariciava o seu cabelo com um carinho e
uma ternura que quase tocaram o meu coração, digo quase porque
eu não tenho um coração para ser tocado.

E me peguei concordando involuntariamente com essa merda de


alimentar os prisioneiros, eu nunca fazia isso, Amadeu sabia, Fabrizio
sabia e Rico também. Eu esperava que eles não conseguissem ler
além do que já estava claro.

A menina quebrou um pouco de mim e eu precisava remendar essa


pequena rachadura que ela causou, mas pensaria nisso em outro
momento.

Vi quando Amadeu entrou com outro saco que continha pão e dois
recipientes com café e água, ela ainda tremia de frio no chão. Quando
o viu tremeu ainda mais, só que de medo.
Ele deixou os itens no chão, ela pegou um pouco de café para si,
acredito que estava querendo se esquentar um pouco, olhou para os
pães, os seus olhos demonstravam a fome que sentia, mas conteve a
vontade de comer, ela iria deixar para o seu pai, eu sabia.

Por isso estava assim, tão magra, desnutrida na verdade, ela se


contentava com o mínimo necessário para sobreviver para que
pudesse dar ao seu pai. Será que o homem não via como ela estava
magra?

Talvez ele tivesse percebido e por isso, numa atitude impensada e


imprudente tenha tentado roubar para matar a fome, eu não o julgo,
sua única falha foi ter feito isso comigo.

— Menina tola — resmungo para a tela do notebook, como se ela


pudesse me ouvir. — Quem em sã consciência se entregaria ao
próprio diabo para salvar outra pessoa?

Considero que eu faria isso pelos meus irmãos, mas eu fui treinado
para isso, eu aprendi que deveria dar a minha vida pela famiglia se
fosse preciso, mas ela não.

Ela é tão pequena e frágil, deveria ser cuidada, amada e protegida e


não exercer esse papel.

Amapola, repito o seu nome em minha mente e cedo ao desejo de tê-


lo em meus lábios.

— Amapola... Amah. — Gosto de como o seu nome soa, delicado e


cheio de significados assim como ela.

Fecho o aplicativo, não posso ficar o dia inteiro observando a criatura


e me surpreendo com a ideia de que era exatamente isso o que eu
queria fazer.

Encerro o expediente, querendo ir para minha casa, preciso ficar o


mais distante possível dela, talvez uma boa noite de sono resolva
esse conflito que pela primeira vez na vida eu sinto.
Mas em casa, antes de dormir, o último pensamento que tenho é a
garota, ouço sua voz repetidas vezes dizendo, como se fosse para
mim, as palavras que disse ao seu papà:

— Sou eu, sua Amah!


Capítulo 09
“A distância é como o vento, capaz de apagar as pequenas
chamas das velas, bem como pode acender grandes fogueiras.”

Há quatro dias, mantenho o pai e a criatura que me atormenta presos


na masmorra da sede da empresa.

Tenho tentado me manter o mais distante possível, mas volta e meia


ela domina os meus pensamentos.

Não falo sobre ela com os meus irmãos, ou com Amadeu e também
tenho me mantido distante das câmeras. A distância é como o vento,
capaz de apagar as pequenas chamas das velas, bem como pode
acender grandes fogueiras. Fico feliz por ter exterminado qualquer
chama que estivesse acendendo de dentro de mim.

Uma das lições mais importantes ensinadas por meu pai quando fui
iniciado é que os chefes da máfia jamais podem sentir. Quando ele
me falou, eu não entendi muito bem como ele me dizia que nós não
deveríamos sentir, eu sabia que ele amava minha mãe, a mim e aos
meus irmãos, mas depois de um tempo entendi. Sentimentos fortes
demais nos enfraquecem, ainda mais se outras pessoas tiverem
conhecimento sobre isso.

Ele nos protegia e cuidava, assim como a todos da famiglia, porém


amar, ele só nos amava quando estávamos a sós em nossa casa. E
eu não queria amar ninguém além dos meus irmãos. Eles assim
como eu, já nasceram nesse meio e estavam fadados ao destino da
máfia. Eu faria o mesmo com minha futura esposa, que também já
faria parte da famiglia, eu iria protegê-la, mas sabia que jamais a
amaria. O meu casamento seria consumado apenas para garantir o
meu herdeiro, mas eu nunca permitiria que o amor fizesse parte
dessa equação.

Não ter visto a prisioneira afastou de mim o sentimento de culpa, pela


primeira vez senti como se estivesse fazendo algo errado, e não era,
esse é o meu normal: prender, torturar, matar ou designar para
qualquer serviço aqueles que entram no meu caminho. E eles haviam
entrado.

Ontem, quando saímos da empresa, Amadeu me informou que o


velho estaria recuperado, sua filha tem cuidado dele e o alimentado.
Ele já estava apto a fazer o que quer que eu precisasse, e hoje
quando acordei, decidi que era o momento de afastá-los.

Tenho algumas reuniões agendadas no início da manhã e em


seguida verei o que fazer com ele, ou melhor com eles.

***

— Chefe, podemos descer quando quiser — Amadeu informa quando


concluo a minha última reunião da manhã, que por sinal demorou
mais do que eu esperava.

— Preciso fazer uma ligação e chamo você — falo e ele entende o


recado, saindo em seguida da minha sala, me deixando sozinho com
uma inquietação que não é costume que sinta.

Ativo o sistema de câmeras no notebook, e rapidamente, a imagem


dos dois toma a tela e a minha atenção.

A menina está sentada no colchonete, ainda vestida com as mesmas


roupas e sem o sobretudo preto, que continua sobre o corpo de seu
pai. O velho repousa a cabeça sobre o seu colo, ela acaricia o seu
cabelo com cuidado, é como se tivesse medo de quebra-lo com um
toque mais forte. Ela fala com ele que se mantem de olhos fechados
e fico curioso para saber o que a menina tanto fala, por isso ativo o
sistema de som do ambiente e me arrependo no mesmo instante.

Ela canta baixinho para ele uma conhecida música italiana, sua voz
delicada é quase um lamento a cada palavra dita. Eu travo com a
tristeza derramada na canção em sua voz.

C'è gente che ama mille cose


E si perde per le strade del mondo
Tem gente que ama mil coisas
E se perde pelas estradas do mundo
Io che amo solo te
Io mi fermerò e ti regalerò
Quel che resta della mia gioventù
Eu que amo apenas a ti
Eu me aquietarei e te presentearei
Com o que resta da minha juventude
Io ho avuto solo te
E non ti perderò, non ti lascerò
Eu só tive você
E não te perderei, não te deixarei.

— Menina tola — resmungo comigo mesmo — O que você veio fazer


aqui? — pergunto para a tela enquanto ela continua a cantar seu
lamento.

Sem qualquer resposta, desligo o sistema de câmeras e vou até o


banheiro, jogo um pouco de água na minha nuca e rosto, como se
isso fosse capaz de acalmar o fervor em minha mente.

Sei o que fazer com o seu pai, mas não tenho ideia do que fazer com
a ragazza. Seco o rosto e a nuca e pego um copo de whisky. Fico
diante da parede de vidro que me separa e me dá uma visão
privilegiada de Roma, pensando no que fazer com a garota.

Não posso mantê-la prisioneira para sempre, então as minhas opções


são: dar-lhe alguma função dentro da máfia ou mandá-la para um dos
nossos cassinos/bar.

A segunda opção não me agrada nenhum pouco, sei que é para lá


que vão as filhas deserdadas da famiglia ou as mulheres tomadas
como pagamento de dívidas, mas todas elas merecem estar naquele
lugar, a menina que cantava docemente para o seu pai, não.

O seu olhar demonstra determinação na mesma medida que deixa


clara a sua inocência, eu aposto que ela jamais fora tocada por um
homem, jogá-la em um dos cassinos a destinaria a prostituição ao
uso do seu corpo e eu jamais fazia isso sem que elas mesmas
aceitassem, e no fundo eu sabia que Amapola jamais aceitaria. Eu
preferia condenar uma mulher a morte do que ao abuso e exploração
forçada do seu corpo.

A morte para ela não é uma opção. Então eu preciso encontrar algo
para que ela me sirva.

— Estou pronto. — Falo com meu chefe de segurança assim que ele
atende a ligação, em menos de um minuto ele entra em minha sala.

— Sim, senhor.

— Vamos à masmorra, prepare a entrega que temos que fazer em


Caserta para o velho, ele deverá ser retirado da masmorra no início
da noite, quando o movimento do bairro diminuir, e deve seguir direto
para a entrega, você será o encarregado de lhe passar as instruções,
ele não deve falhar. — Dou as coordenadas, deixando claro o aviso
de que se o velho falhar, ele também terá falhado.

— Considere feito, chefe — concorda. — E quanto a menina?


— Durante esse primeiro trabalho do velho, a manterei aqui para
garantir que ele não faça nenhuma bobagem, depois a utilizaremos
quando necessário, assim como ele. — informo.

— Quer que eu desça para informar o serviço? — pergunta.

— Eu mesmo o farei. — falo quando me coloco de pé, fechando o


botão do terno de três peças que visto.

Entro no elevador e mantenho a postura impenetrável enquanto sinto


pela primeira vez o meu coração acelerar.

As portas do elevador se abrem na masmorra e Amadeu se precipita


à minha frente, o ambiente frio e estéril acalma as sensações que
antes me dominavam. Amadeu abre as portas da cela onde os dois
são mantidos e eu entro no ambiente.

O cheiro não é agradável, mas não se compara a quando o seu pai


estava sozinho.

Ela levanta os olhos em minha direção e as enormes olheiras me


surpreendem. Quando a vi agora a pouco pelo sistema de câmeras,
ela estava de cabeça baixa e não consegui ver o seu olhar, mas
agora de tão perto, percebo que ela não deve ter dormido mais de
duas horas por noite nos últimos dias.

Pode ser que o frio a tenha impedido ou o medo do inesperado, do


que iria acontecer a eles dois. Talvez os dois associados a fome,
dada a pouca ingestão de alimento, ainda que eu tenha permitido um
pouco mais, ainda assim é pouco para os dois.

— Levantem-se. — falo os encarando. O velho assustado,


rapidamente, se põe de pé se precipitando em puxá-la para
acompanha-lo, ele realmente está melhor. Provavelmente, os
cuidados da filha o tenha salvo, já ela, a cada segundo que a encaro,
parece definhar ainda mais.

— Vai nos matar? — ele pergunta.


— Ainda não — respondo, o encarando e ele me olha como um
ratinho assustado. Confesso que muito me agrada a reação que
causo nas pessoas.

— Por favor senhor, eu suplico pelas nossas vidas, pela vida da


minha filha — ele começa, e eu ergo a mão o interrompendo.

— Poupe-me dessa ladainha — aviso. — Vim pessoalmente informar


o que acontecerá a vocês dois, para que não reste dúvidas quanto ao
que devem fazer e se agirem contra isso, deixo claro que a morte
será o caminho de ambos.

Falo e vejo o velho engolir seco.

— Liberte-o, não foi esse o acordo, a minha vida pela dele? — a


menina fala, contestando o que eu acabo de dizer.

— Eu nunca faço acordos menina, achei que já tivesse entendido


isso, eu apenas digo o que farão e vocês fazem sem contestar.

— Isso não é justo — fala perplexa.

— A minha justiça sou eu que coordeno, não sigo os padrões dos


outros, apenas os meus. A partir de agora não me interrompa mais.
— Vejo a raiva flamejar em seus olhos, mas quando o sustento, ela
abaixa a cabeça em seguida, cortando o contato. Sei que teme mais
pela vida do seu pai do que pela sua própria, mas sem me importar
com os motivos fico satisfeito, é assim que deve ser: eu falo e ela
escuta em silencio.

— Hoje à noite, Amadeu lhe tirará daqui — falo diretamente com o


seu pai. — Ele lhe dará instruções sobre o que fará, não o questione,
nem lhe cause problemas, sua filha será mantida aqui, então, se você
não fizer o que ele disser, ela morre, se nos der trabalho, ela morre,
se pedir ajuda a alguém, ela morre, se falhar, ela morre. Sua morte
será a consequência para qualquer situação que eu não deseje. Eu
lhe garantirei uma morte lenta e dolorosa, farei questão de fazer isso
pessoalmente. É um aviso — termino e o velho deixa as lágrimas de
medo rolarem por seu rosto. Cumpro o que vim fazer aqui, giro sobre
os calcanhares para sair do ambiente, mas antes de cruzar a porta
ouço um sussurro da menina que me impede de seguir

— Sei un mostro! — Isso mesmo, ela teve a audácia de me chamar


de monstro.
Capítulo 10
“Mas para a minha surpresa não é medo o que sinto quando nos
encaramos, sinto o mesmo que ele: ódio e raiva.”

Tenho vivido no inferno, se bem que o inferno deve ser mais quente
do que esse lugar onde eu e o meu pai somos mantidos o frio aqui
dentro é congelante. Não sei quantos dias se passaram, se é noite ou
dia. O ambiente totalmente fechado e a claridade apenas das luzes
artificiais não me deixam saber.

Tenho sentido tanto frio que, às vezes, acho que morrerei de


hipotermia, meu pai tentou tirar o sobretudo que eu lhe dei, mas ele
não podia ficar nu e eu havia jogado as suas roupas fora. De qualquer
forma, não havia como ele vesti-las novamente no estado em que
estavam.

Recebemos uma refeição por dia: água, pão e café. Assim como
quando cheguei, cogitei a possibilidade de contar os dias através da
vinda do carrasco, se eu estivesse certa, já havia quatro dias que
éramos mantidos aqui.

Meu pai estava melhor, um pouco mais forte e isso me deixou


satisfeita, pois ele estava muito debilitado quando cheguei. Estar
acostumada a comer pouco me ajudou, eu continuava dando a maior
parte a ele, o mínimo era o suficiente para mim, eu só queria que ele
ficasse bem.

O frio não me deixava dormir, mesmo mantendo os nossos corpos


colados numa tentativa de nos aquecer que não ajudava muito.

Tentando nos distrair, comecei a cantar para o meu pai, conhecia


muitas músicas que ele gostava, que ele ouvia quando minha mãe
ainda era viva e cantar distraia tanto a ele quanto a mim.

Eu queria me entregar, morrer talvez me tirasse logo desse


sofrimento, mas eu precisava me manter viva para cuidar do meu pai.
Ele era o fio que me mantinha conectada à terra.

Mas como num cabo de guerra, esse fio estava muito tensionado, era
como se pudesse se romper a qualquer instante, essa era a sensação
que eu tinha. Eu tentava me manter viva por ele, e ele o fazia por
mim, mas eu não sabia até quando aguentaríamos.

Ouço o barulho das chaves na porta, e espero que o nosso carrasco


deixe no chão a nossa comida, como tem feito, mas não é o que
acontece. Vejo o seu Chefe entrar no ambiente, ele nos obriga a
levantar, e me encara o tempo todo.

Tento falar, mas ele não deixa, ouço a nossa sentença em silêncio,
tento me manter firme, eu vim até aqui e aceitarei qualquer coisa para
salvar a vida do meu pai, mas não aguento vê-lo se quebrar ao meu
lado.

Quando vejo as lágrimas sofridas rolarem pelo rosto do meu pai, não
contenho a raiva e falo sem pensar, mas as palavras mal saem da
minha boca e eu me arrependo, ao sentir o olhar frio do homem que
já se afastava voltar em minha direção, me fuzilando sem que ele
sequer empunhasse uma arma.

— Sei um mostro!

— O que disse? — ele me pergunta.


— Nada senhor, ela não disse nada — Meu pai fala numa tentativa de
minimizar os danos das minhas palavras, mas ele não desvia o olhar
da minha direção um segundo sequer.

— Leve o velho daqui — ordena ao homem que o acompanhava, que


imediatamente se precipita na direção do meu pai segurando-lhe
grosseiramente pelo braço e eu me desespero.

— Per favore, perdoname, solte-o não foi ele que falou, fui eu, não lhe
faça mal — imploro, chorando. Mas quando me precipito na direção
do homem sou contida novamente pelas mãos fortes que também me
seguraram há dias atrás.

— Tire esse farrapo do corpo dele e deixe aí — manda que o homem


dispa meu pai, e eu sabendo o frio que faz nesse ambiente me
desespero ainda mais. E o que eram pedidos de misericórdia viram
gritos de desespero, ele iria torturá-lo ainda mais por minha culpa.

Assim que o homem sai arrastando o meu pai nu, ele nos tranca no
ambiente, que parece ainda mais apertado e claustrofóbico que
antes.

— Quer antecipar a morte de vocês dois, porra? — ele fala e sua voz
de trovão, me estremece por dentro.

Corro para o canto como um animal acuado, uma preza prestes a ser
devorada pelo seu predador. Puxo os joelhos em direção ao meu
peito e choro por mim, por meu pai e pelo o que fiz conosco por não
conseguir me manter em silêncio.

— Per favore, perdoname — imploro.

— Perdeu a coragem de me enfrentar? Levante-se — ordena e eu me


vejo obrigada a fazê-lo para evitar que o meu pai sofra.

— Sim, senhor — falo com a cabeça baixa.

— Olhe para mim — ele manda, eu faço e quase me arrependo ao


ver o ódio que paira ali, mas para a minha surpresa não é medo o que
sinto quando nos encaramos, sinto o mesmo que ele, ódio e raiva,
mas diferente dele eu não posso descontar, gritar e dizer o quanto o
desprezo. Por meu pai tenho que me calar, eu já nos prejudiquei
demais, então engulo em seco, mantendo o meu olhar firme no seu e
torcendo para que ele não perceba o que eu de fato sinto.

— Você não perdeu a coragem. — afirma após ficarmos por um longo


período nos encarando. — Você está com ódio, arrisco até dizer que
se pudesse já teria me atacado.

— Não, senhor — afirmo desviando o olhar, tentando fazer ele


acreditar nas minhas palavras e não me leia tão perfeitamente como
o fez.

— Não minta, eu odeio mentiras.

— Sim, senhor — falo.

— Significa dizer que estou certo quanto ao que você sente?

— Sim — respondo entredentes, sendo sincera, mas sem saber se eu


de fato deveria.

— Então faça.

— O que? — pergunto, voltando a olhar em seus olhos, sem entender


o que ele quis dizer com isso.

— Faça o que quer, desconte em mim sua raiva, faça o que deseja —
ele fala e eu dou um passo para trás temendo o que ele disse, ou
melhor, temendo as consequências que sofrerei se fizer o que ele
mandou, porque sim, foi uma ordem, eu sabia.
Capítulo 11
“Eu mandei que ela se levantasse, me encarasse que me
desafiasse, mas no fundo era eu que me desafiava.”

Ouvi-la me chamar de monstro não foi o problema, sei que é o que


todos pensam, e o que eu de fato eu sou, mas o que me admirou foi a
coragem que teve de dizer em voz alta. Não precisei olhar nos olhos
de Amadeu para saber que ele também estava surpreso.

Mandei que ele saísse com o pai dela, eu queria poder lidar com ela
sozinho, saber se ela era tão corajosa tendo que me encarar de
frente, olhando nos olhos, sem testemunhas, apenas ela e eu.

Amadeu pensou que eu a mataria, tenho certeza disso, foi o que o


seu pai também pensou enquanto era arrastado e gritava em
desespero, mas eles estavam enganados, eu não faria isso, estava
claro em minha mente eu só não sabia o porquê.

Para ser sincero comigo mesmo, eu sequer sabia o que deveria fazer
com ela, torturar? Dobrá-la sobre minhas pernas e lhe dar umas boas
palmadas para lhe disciplinar? Eram muitas as possibilidades, mas
em todas ela eu terminaria por machucá-la e eu não queria isso.

Eu mandei que ela se levantasse, me encarasse que me desafiasse,


mas no fundo era eu que me desafiava, era eu que me questionava
por que merda eu não dava um fim nessa situação de uma vez,
porque caralho eu não pegava minha pistola e atirava de uma vez por
todas em sua testa, seu corpo estendido aos meus pés seria o fim,
dela e de toda a minha agonia, mas eu não consegui achar nenhuma
resposta. Confrontei a mim mesmo, e não consegui ser com ela quem
eu era com todas as outras pessoas que ousaram me questionar.

Vi nos seus olhos o ódio e a raiva e não gostei disso, ela não
combinava com esses sentimentos, não quando eu já havia visto
cheia de amor ao olhar para o seu pai.

Descubro enquanto a encaro que ela foi feita para o amor e não para
o ódio, e eu queria tirar isso de dentro dela. Ofereci a única forma que
eu sabia extravasar, me ofereci para ser seu saco de pancadas, ao
invés de torna-la o meu, para mim, descarregar em alguém as minhas
frustrações sempre funcionou e eu esperava que com ela também
funcionasse.

Eu não sabia o porquê, mas eu queria cuidar e protegê-la como


jamais quis fazer com ninguém, e decidi que faria isso, iria protege-la
inclusive de mim mesmo.

Ela me olhou, sem acreditar no que eu acabara de falar, mas ainda


com lágrimas nos olhos ao encarar os meus ela decidiu por fazer o
que eu ofereci. Era muito mais do que já dei a qualquer pessoa e
esperava que ela entendesse isso.

— Sei un mostro, di spessore, stronzo, demone... — Amapola


despejou em mim toda a sua mágoa enquanto socava o meu peito
com raiva.

Ser chamado de monstro, grosso, imbecil e demônio não me


incomoda, o que estava me incomodando era o sofrimento que
exalava dela, nas suas lágrimas, no seu choro compulsivo que
parecia rasgá-la de dentro para fora, eu queria que sua dor passasse,
por isso deixei que extravasasse, que me socasse o quanto quisesse,
afastei a sua mão apenas do meu rosto, ela tinha arranhado próximo
ao meu olho esquerdo, sabia pelo leve ardor que senti, mas deixei
que batesse no meu peito até que todas as suas forças se
esvaíssem, e quando o seu choro foi diminuído, quando os seus
gritos já não eram mais altos quando ela socava lentamente o meu
peito, percebi que ela iria cair sem forças e a segurei em meus
braços.

Mantive Amapola agarrada a mim e lentamente me abaixei, tive


vontade de fazer o mesmo que ela fazia com seu pai antes de
chegarmos. Apoiar sua cabeça em meu colo e dizer que ficaria tudo
bem, mas eu não podia.

Então a coloquei sobre o fino colchonete e fiquei ao seu lado por mais
tempo do que eu esperava, eu precisava garantir que ela ficaria bem
quando eu saísse e fiquei com ela até o seu pranto secar e ela
adormecer, pelo menos foi o que eu pensei, mas a mulher sempre me
surpreendia, quando me apoiei para levantar e deixa-la sozinha
novamente para descansar, ela segurou em meu braço.

— Por que fez isso? — pergunto.

— Porque você precisava — eu respondo, pra ser sincero nem sabia


o que deveria falar ao certo.

— E você se preocupa com todos os seus prisioneiros? — Fico


assustado quando percebe que eu havia me preocupado com ela,
ninguém jamais extraiu nada de mim, ninguém além dela agora.

— Não estou preocupado — afirmo, levantando rapidamente, eu


preciso sair daqui.

— O que vai fazer com ele? — pergunta aflita quando eu já alcançava


a porta.

— O que eu disse que faria — respondo apenas e saio do ambiente,


eu não poderia ficar por mais tempo ali.

Antes de sair olhei para o sobretudo jogado no canto, tive vontade de


vesti-la para que o frio que eu sabia que sentia passasse, mas não
podia fazer isso, eu já havia ultrapassado muitos limites, mais esse
seria demais, esperava que ela o fizesse.

— Alguma ordem chefe? — Amadeu me acompanhou quando


cheguei à porta do elevador.

— Siga os planos conforme combinado. — digo e noto que ele olhou


o arranhão em meu rosto.

— Quanto a garota?

— Não a matei, — respondo — como eu disse, siga os planos


conforme conversamos.

As portas do elevador se fecham atrás de mim e preso sozinho na


caixa metálica, eu olho o meu reflexo no espelho, um pequeno
arranhão adorna a minha face próximo ao olho esquerdo. Eu não
acredito que não matei quem fez isso, ao contrário permiti que
fizesse.

Apoio as mãos no corrimão e encaro os meus olhos não me


reconhecendo, compaixão, piedade, benevolência, desde quando
permito que esses sentimentos me dominem?

Na minha sala, sigo direto para o bar, três doses de whisky seguidas
não me acalmam e enraivecido atiro o copo contra a parede de vidro
que era blindada e não sofreu nenhum dano, já o copo se estilhaçou
em mil pedaços, frágil assim como eu me sentia agora.

Amapola me deixava fraco e eu não me sinto bem com isso, logo eu


que nunca temi a nada, estava temendo a uma mulher.
Capítulo 12
“A verdade é que eu deixei que ela me punisse, que
descarregasse em mim toda a sua angústia.”

Três dias se passaram desde que eu afastei Amapola e seu pai, pedi
que Amadeu continuasse levando água, café e pão, eu não podia lhe
oferecer mais do que isso, embora eu quisesse.

Naquele dia, quando saí com meus irmãos para mais um tedioso
jantar com mais um capo da familgia e sua filha possível pretendente
ao cargo de minha esposa, eles notaram o arranhão em meu rosto,
mas eu não lhes disse o que aconteceu. Eles estavam viajando para
resolver alguns problemas que surgiram e por isso não estavam
comigo, não respondi as perguntas feitas, nem mesmo retruquei as
piadas de Rico que afirmou saber que aquilo se tratava de unha de
mulher e que eu provavelmente passei o dia fazendo sexo selvagem
enquanto eles trabalhavam.

Ele estava certo em parte, era unha de mulher, mas diferente do que
dissera, eu não passei uma tarde inteira com ela fodendo
selvagemente, embora esse pensamento não me desagradasse. A
verdade é que eu deixei que ela me punisse, que descarregasse em
mim toda a sua angústia, e por não ter o hábito de mentir para os
meus irmãos eu preferi me silenciar, eles que tirassem as próprias
conclusões.
Os últimos dias foram um verdadeiro inferno, soubemos que a máfia
Russa havia chegado à Itália, há anos esses desgraçados têm
tentado tomar o nosso território, mas dessa vez eles exageraram, se
é um banho de sangue que eles querem é isso que terão.

Toda essa confusão foi boa para que eu pudesse afastar meus
pensamentos de Amapola, eu sabia que ela estava lá na masmorra, e
isso bastava.

Mantê-la viva era tudo o que eu poderia lhe oferecer, mesmo que a
minha consciência me impelisse a fazer mais.

Impedi-me de observá-la mais de uma vez por dia, e garanti a mim


mesmo que essa pequena e rápida observação diária serviria apenas
para garantir que ela estaria viva, mesmo que em todos os instantes,
como agora o que eu mais queira é abrir as câmeras de segurança e
observar sua beleza, mesmo em meio ao tormento que eu tenho lhe
causado.

— Nós vamos até eles. — Ouço a voz de Rico.

— Realmente é melhor garantirmos o serviço — Fabrizio completa.

— Se vocês acham que é necessário, tudo bem. — Concentro-me


novamente na conversa que tínhamos, em um momento tão sério
como esse não posso arriscar em manter os meus pensamentos
distantes. — Eles estão em nosso território, eu não admito nada
menos do que todos eles mortos. — aviso.

— Estarei lá para garantir isso. — Rico completa com um sorriso no


rosto.

— Amadeu, você os acompanhará, designe outro para ficar comigo.


— digo.

— Sim, chefe. — Meu melhor homem de segurança completa, ele me


representaria já que eu não poderia os acompanhar por já ter outros
compromissos marcados.
Em seguida todos se retiram para se organizarem, hoje é quarta feira
e eles partiriam o quanto antes, melhor resolvermos logo essa
situação com os russos do que esperarmos ser surpreendidos.

— Fale Amadeu — ordeno ao notar que todos se retiraram, mas


Amadeu se manteve de pé no mesmo lugar onde estava.

— O que faremos com a menina? — pergunta e sei exatamente sobre


quem ele está falando

— Por que? — questiono não entendendo onde ele quer chegar.

— Hoje é sexta-feira e a partir de amanhã não terá ninguém no prédio


para alimentá-la, nos fins de semana apenas eu venho aqui.

— Merda, — rosno — tinha esquecido desse inconveniente, a


propósito como está o pai dela?

— Fazendo exatamente tudo o que ordenamos, sem causar


problemas, acho até que ele está grato por não ser mais inútil, a única
tristeza dele é saber que a filha está conosco.

— É isso o que está lhe mantendo na linha Amadeu. Ela é o nosso


trunfo com ele, enquanto ele nos servir nós a manteremos conosco,
depois decido o que fazer com eles, quando não tiverem mais
serventia — aviso, deixando claro que ambos são descartáveis para
mim.

— Posso levá-la para o cassino bar? — Ele quer saber.

— Você acha que ela se adequaria ao ambiente? — pergunto para


ver se Amadeu terá a mesma opinião que eu quanto a menina. Ele
também não gosta de forçarmos as mulheres a se prostituírem, talvez
a minha confusão não tenha me deixado enxergar quem ela
realmente é.

— Chefe, para ser sincero não, mas pensei em colocá-la no bar para
servir as mesas, deixo claro o que ela fará e nos livro de
preocupações por enquanto.

— Faça como achar melhor — concluo e abaixo minha cabeça,


dando o assunto por encerrado, eu não poderia fazer por ela mais do
que já fiz.

Garantir que o seu pai esteja não só vivo, mas que também não
passe mais fome assim como ela, já é demais para mim.

O dia passou muito rápido, entre juntar os melhores homens da


famiglia, reunir os Capos para avisar o que havíamos decididos,
liberar as melhores armas para serem utilizadas e, finalmente, ter
com meus irmãos uma última reunião antes de partirem levou muito
tempo e agora, por volta de onze e meia da noite, passo pelos
portões de casa, tendo o meu carro seguido pelo de Matteu que ficou
responsável pela minha guarda na ausência de Amadeu.

— Boa noite senhor, coloco a mesa para o jantar? — Ângela, minha


governanta, pergunta assim que eu entro em casa.

— Boa noite, não precisa, vou sair — falo quando lhe entrego o
sobretudo que acabo de tirar dos ombros.

Ângela foi uma das nossas babás, mais especificamente a minha


babá. Minha mãe sempre manteve as nossas babás, mesmo quando
não mais precisávamos de uma, e assim como Ângela trabalha
comigo, as governantas de Rico e Fabrizio também estão com eles.

Mamma dizia que era bom que tivéssemos alguém da sua confiança
para cuidar de nós, mesmo quando ela não estivesse por perto,
quando nos casássemos. O que nós não imaginávamos é que os
nossos pais partiriam tão cedo e que essas mulheres fariam o papel
de pai e mãe para nós.

Depois do atentado que nossos pais sofreram, elas que já eram muito
apegadas a nós, se dedicaram ainda mais. Ângela, por exemplo,
embora tenha se acostumado com a minha frieza, só dorme após eu
chegar em casa. E posso apostar que as duas outras senhoras que
estão na casa dos meus irmãos estão com os joelhos prostrados no
chão, rogando a Deus que os tragam de volta em segurança.

No fundo, elas são as únicas pessoas próximas de nós, que nos


conhecem tão bem quanto os nossos pais e que as vezes, esquecem
as nossas posições de homens da máfia e nos contestam.

Quer dizer, isso só acontece quando elas acham que estamos nos
expondo a um risco desnecessário. E mesmo quando nós não lhes
damos ouvidos, elas continuam a falar como se isso fosse nos fazer
mudar de opinião.

— Estou na cozinha senhor, se precisar é só chamar — ela avisa com


formalidade e começa a se retirar.

— Pode descansar, Naná — falo me atrapalhando e chamando-a


pelo apelido que lhe dei ainda na infância. E a mulher que hoje me
trata de maneira formal por eu ser o chefe da família abre um sorriso
para mim.

— Obrigada, meu menino, eu irei — avisa e se retira, já sabendo que


não terá nada além disso da minha parte.

Enquanto tomo banho, me pergunto se eu decidi ir até o cassino para


me distrair ou para ver Amapola, o pior é já saber a resposta antes
mesmo de me fazer a pergunta e não gostar nenhum pouco dela.

Pego as chaves do carro sobre o aparador do quarto e desço as


escadas de dois em dois degraus, eu não quero pensar no que estou
fazendo.

Para ser sincero, quando Rico que é o responsável por supervisionar


o movimento dos cassinos não está, eu ou Fabrizio fazemos seu
papel, e hoje, como nenhum dos dois estão na cidade era lógico que
eu iria até lá, porém não estaria com o coração acelerado e uma
ansiedade fora do comum para chegar ao local.

Após estacionar e entrar no ambiente que cheira a charuto e whisky,


acabo me arrependo de ter mandado trazer a ragazza para cá, ela
realmente não combina com nada disso aqui.

Percorro todo o ambiente com os olhos, procurando-a em cada canto


e não a encontro.

Teria ela fugido? Acho muito difícil, a segurança do local é grande ela
não conseguiria escapar facilmente, se bem que ela aparenta ser
muito esperta.

Sigo para o piso superior onde temos um camarote exclusivo que nos
dá uma visão privilegiada do ambiente, assim como das outras vezes
que venho aqui, peço uma dose dupla de whisky e sigo meu caminho.
Antes de qualquer coisa, sempre fazemos o reconhecimento local,
listando mentalmente as pessoas que estão frequentando e
principalmente, tentando enxergar algo que nos ofereça risco, só
depois descemos até as mesas de apostas para cumprimentar
rapidamente quem nos for importante no momento e demarcar
território.

Já no camarote, observo todo o ambiente, Matteu segue de pé ao


meu lado, ele é o meu segundo homem e quando Amadeu não está
por perto é sempre ele que fica comigo.

Gosto de homens rápidos, tanto no gatilho quanto no pensamento e


os dois são assim, é por isso que os tenho comigo.

— Mas que porra é essa? — Coloco-me, rapidamente, de pé

— O que houve chefe? — Ele me pergunta, esquadrinhando o local à


procura do que quer que tenha me feito levantar abruptamente, mas
com certeza não encontra. Em regra, eu calculo as minhas ações, ajo
com cautela e lentidão, mas a cena que vejo não me dá tempo para
tanto e é por isso que eu desço as escadas rapidamente sendo
seguido por ele que já mantém a sua arma em punho, acredito eu que
engatilhada e pronta para o que quer que tenha supostamente me
feito sair desesperado dessa forma.
Capítulo 13
“Ele estava em conflito com ele mesmo, e eu diferente dele, que
me ajudou quando precisei, não tinha como ajuda-lo.”

Eu não esperava ser afastada do meu pai tão rapidamente e,


definitivamente, eu não queria isso, eu gostava de tê-lo por perto, ele
é o meu refúgio, a minha segurança e fortaleza assim como sei que
eu também sou dele.

Eu precisava que ele se recuperasse, não sabia por quanto tempo


seriamos mantidos aqui nesse lugar minúsculo e sem qualquer
ventilação natural. Para ser sincera, pouco ar circulava pelo ambiente
e até o ato de respirar eu fazia com cautela para que sobrasse mais
para ele.

O homem que nos servia de carrasco, sempre deixava pão, café e


água, não trocávamos nenhuma palavra, com exceção do último dia
que ele me tirou da cela e praticamente exigiu que eu me
alimentasse, disse saber que eu apenas bebia o café para me manter
aquecida e estava deixando todo o pão para o meu pai. Não posso
afirmar com certeza, mas por um instante achei que ele estivesse...
preocupado.

Vi o próprio demônio entrar na nossa cela e tirar o meu pai de perto


de mim, ele deixou o meu papà nu e descartou o meu sobretudo em
um canto, eu não sabia se ele o mataria por causa da minha afronta.
Eu o havia chamado de monstro, e acredito que ninguém jamais
tenha dito algo parecido para ele.

Quando a porta se fechou e nós dois ficamos sozinhos no ambiente


que parecia ainda menor por causa da imponente postura do homem,
eu achei que fosse ser o meu fim, achei que ele me mataria sem
pestanejar uma única vez. Mas não foi isso o que aconteceu.

Ele parou diante de mim, fúria crispava em seus olhos, ele queria me
matar, eu senti no seu silêncio, os seus olhos atiravam adagas
afiadas em minha direção e eu não podia fazer nada além de esperar
o meu fim, para ser sincera não estava preocupada comigo e sim com
o meu pai, por causa das minhas atitudes ele estava condenado a
uma morte lenta e dolorosa.

Ele mandou que eu me levantasse, e contrariando todos os meus


instintos eu o fiz, me coloquei em uma posição de submissão, sabia
que era isso o que ele queria, o que ele esperava de todos a sua volta
e implorei o seu perdão, não por mim, mas pelo meu pai eu o fiz.

Mas ele não acreditou em uma palavra sequer que saia dos meus
lábios, ele viu quão grande era a mentira, e que principalmente eu
não estava arrependida do que disse, para ser sincera eu queria dizer
muito mais, e foi aí que ele permitiu. Por uma fração de segundos, eu
enxerguei a compaixão em seus olhos, algo na minha situação o
incomodava e ele permitiu que eu descontasse nele todas as minhas
angústias e frustrações e assim eu o fiz.

Entre socos, tapas e arranhões nos lugares em que ele abaixou a


guarda eu descarreguei o meu ódio, as minhas inseguranças e
diferente do que eu pensava ele não revidou, não me machucou.
Ficou em silêncio até que a minha última força saísse pelo punho
atirado contra o seu peito, sem forças eu teria caído, mas ele me
segurou.

Suas mãos circundaram o meu corpo e eu me senti cuidada e


protegida, como quando a minha mãe ainda era viva, quando o meu
pai não era dependente da bebida e de mim. Eu não deveria me
sentir assim, ele havia sequestrado o meu pai, me mantido cativa e
agora estranhamente, me deixava aliviar a tensão e cuidava para que
eu não me machucasse.

Será que esse homem tinha algum resquício de humanidade dentro


de si? Comecei a achar que sim, mas ele rapidamente manteve a sua
fachada, a sua pose de senhor do mundo, o todo poderoso,
entretanto ficou ao meu lado até que eu me acalmasse totalmente, ou
até que o restante das minhas forças se esvaísse por completo.

Quando ele se levantou para novamente me abandonar em minha


prisão, agora solitária, eu questionei sua atitude e percebi que ele
estava tão perdido e incrédulo quanto eu. Ele tinha agido por impulso
e senti que estava arrependido por isso.

Ele estava em conflito com ele mesmo, e eu diferente dele, que me


ajudou quando precisei, não tinha como ajuda-lo.

Antes de sair, me garantiu que não mataria o meu pai e de certa


forma foi o seu último ato de piedade comigo, eu seria mantida aqui,
mas só de saber que meu pai vivia já era um conforto e alivio imenso.

***

— Amapola. — Ouço uma voz já conhecida me chamar, eu estava


tão exausta que nem vi quando meu carrasco se aproximou.

— Sim? — Sento-me rapidamente.

Tenho tentado não os contrariar, não ter meu pai por perto e não
saber como ele realmente está me assombra, então o que eu puder
fazer para colaborar eu farei.

— Tome um banho — fala quando me entrega uma sacola com uma


calça jeans, camiseta preta e um par de tênis. — Você vai sair daqui
hoje, volto para buscá-la em meia hora.
— Você vai me libertar? — pergunto esperançosa.

— Não necessariamente, você será enviada para outro local.

— Meu pai? — Questiono

— Chega de perguntas, menina. Apenas se arrume que eu voltarei


para buscá-la. — diz antes de fechar novamente a porta da minha
prisão.

Enquanto me banhava, pela primeira vez com sabonete, o medo


começou a me dominar. Eu não sabia o que esperar desse novo local
para onde seria enviada, mesmo que sozinha e sem nenhum
conforto, eu já havia me acostumado com a minha prisão particular. O
novo me assustava.

Aproveitei o sabonete e com a ponta da toalha improvisei uma escova


de dentes, era terrível não poder fazer minha higiene pessoal como
de costume.

Fui levada em silêncio pelo homem até uma construção antiga e


bonita, quando entrei descobri ser um cassino, uma casa de jogos.

— Martin — ele chama a atenção de um homem que estava distraído


no bar e não tinha notado a nossa aproximação, eu me mantive em
silêncio, ao seu lado de cabeça baixa.

Mesmo nessa posição, percorri com os olhos o quanto consegui do


ambiente, era banhado em luxo e riqueza, tinha certeza de que as
pessoas que frequentavam esse local eram bem abastadas
financeiramente.

Várias pessoas andavam de um lado para o outro, limpando cada


canto do local, a maioria mulheres, vestidas em roupas curtas outras
até de lingerie, me perguntei se não sentiam frio, mas o ambiente
parecia ter algum tipo de aquecimento, pois eu não vestia qualquer
casaco e ainda assim não sentia frio.
Algumas mulheres conversavam com outras rindo, como se não
estivessem aqui obrigadas, me perguntei se elas, assim como eu,
eram prisioneiras, mas se fossem, por que estariam tão satisfeitas
enquanto trabalhavam?

Talvez essas fossem as mulheres mais lindas que eu já tenha visto,


maquiadas, cabelos sedosos, unhas feitas, não pareciam sofrer
maus-tratos. A única coisa que me incomodava era a pouca roupa
que vestiam, no mais parecia tudo normal, quer dizer, não tão normal,
porque por todo o local havia homens espalhados portando armas
que eu sabia serem de grosso calibre.

Por que eles me trouxeram aqui? Questionei-me desde o momento


que entrei, mas assim que o homem atrás do balcão se aproximou de
nós tive a resposta.

— Buon pomeriggio, amico Amadeu — ele cumprimentou meu


carrasco que agora descobri se chamar Amadeu.

— Boa tarde, trouxe essa menina para ficar com as outras — informa
e meu coração acelera, era isso, elas se prostituiam e eu seria
obrigada a fazer o mesmo.

Como eu poderia fazer isso se sequer estive com um homem na vida,


eu havia me enganado, e diferente da sensação de proteção que tive
quando fiquei sozinha com o monstro, ele iria me destruir.

— Mais uma para o cardápio? — O tal Martin questiona.

— De forma alguma. Por ordens expressas do chefe, ela ficará aqui


até segunda ordem, mas não será oferecida como as outras,
entendido? — pergunta e um alívio toma o meu corpo, mas ainda
assim não me livro do medo, se ele não me enviou para aqui para me
prostituir, o que eu farei?

— E onde vou coloca-la, amico? Com essa carinha de anjo ela traria
bons lucros a casa. — O tal do Martin levanta o meu rosto buscando
os meus olhos e em um gesto repugnante acaricia o seu membro sob
a calça enquanto passa a língua nos lábios, eu estremeço por dentro.
— Gostei dela.

Em um gesto rápido, Amadeu tira sua mão do meu queixo e o arrasta


sobre o balcão, fazendo-o ficar entre nós, o homem que antes estava
separado de nós pelo mármore onde as bebidas são servidas, agora
estava com as costas apoiadas sobre a superfície gelada e com uma
arma apontada em sua testa.

— Toque nela de novo e eu estouro os seus miolos — Amadeu fala


com raiva.

— Calma, amico, não sabia que ela era sua — o homem fala
erguendo as mãos em rendição.

— Ela não é minha, mas agora é minha protegida, toque nela e será
um homem morto. Coloque-a na cozinha, no máximo para servir as
mesas, estarei afastado da cidade, mas assim que voltar voltarei para
ver como estão as coisas.

Amadeu deixa claro os limites do que eu posso fazer no lugar e eu


fico um pouco mais tranquila, mas não perco o olhar de ódio do tal
Martin na minha direção e do homem que se auto intitulou meu
protetor e eu fico perdida sem saber o que fazer.

Depois de um tempo, o tal Martin me arrasta pelo braço, me levando


até a cozinha do local, me ordenando que lave os pratos e organize
todo o ambiente, embora seja muito trabalho eu até agradeço por ter
uma distração.

Quando termino, sou levada a um quarto grande onde várias


mulheres estão se arrumando, perfumando, maquiando e passando
cremes em seus corpos deslumbrantes, me sinto totalmente
deslocada aqui. Os chuveiros ficam todos expostos, elas não têm
vergonha de estarem nuas na frente dos homens que circulam pelo
ambiente, mas eu tenho, por isso, embora sinta que precise, me
recuso a tomar banho.
Até que uma das mulheres percebe e resolve fazer uma espécie de
cabana para me proteger dos possíveis olhares masculinos. Fico
grata por isso, mas volto a me assustar com a roupa que me
entregam para vestir: saia de couro e top preto e uma bota da mesma
cor que vai até os joelhos.

Pergunto para a mulher que me ajudou se é mesmo necessário que


eu me vista assim e ela informa que é a roupa padrão das
garçonetes. Se eu fosse fazer o mesmo serviço que elas estaria
vestindo apenas um conjunto de lingerie, assim como as outras. Eu,
na verdade, achava que elas ainda se vestiriam, mas acabo de
descobrir que é assim que vão permanecer.

— Você se acostuma, menina — ela fala, tentando me acalmar,


enquanto tomava banho ela me fez depilar totalmente, eu nunca tinha
feito isso e fiquei envergonhada, mas ela disse que eu poderia
precisar, expliquei que não, que eu não iria me prostituir, não julgava
nenhuma delas, mas eu não faria isso, mesmo assim fiz como me
orientou.

Vesti a roupa, calcei as botas e sentei na cama puxando como podia


o pedaço de couro para baixo, eu estava me sentindo ridícula e a
vergonha com certeza estava estampada em minha cara.

— Relaxa, mulher. — Uma loira deslumbrante se aproximou de mim.


— Aqui eles não nos obrigam a fazer nada que a gente não queira, o
difícil é resistir ao dinheiro dos velhos que frequentam.— engulo seco
e ela continua — Sabe, quando cheguei aqui, assim como você, fiquei
assustada, fui tomada como pagamento de dívida e comecei apenas
servindo as mesas, mas depois percebi que eu poderia ganhar mais
fazendo o que faço hoje, nem sempre é bom, mas a gente se
acostuma, as vezes temos sorte de sermos escolhidas para ficar com
um dos chefes, são homens lindos e muito gostosos quem sabe você
não tem sorte. — Pisca para mim.

— Você já ficou com um deles? — Pergunto curiosa, porém um


pouco incomodada, não sabia o porquê, mas não queria ouvi-la dizer
que ficou com o monstro. — Qual? — Questiono após ela confirmar
com a cabeça, de repente o meu coração está acelerado com a
expectativa do que responderá.

— Sim, já estive com o consigliere e com o subchefe, mas meu sonho


de consumo é o chefe dos chefes, o Dom, mas um dia eu chego lá —
fala com um sorriso nos lábios.

— Ficou com os dois? — Quero saber, mas não consigo esconder o


espanto em minha voz.

— Ao mesmo tempo — responde orgulhosa do seu feito e eu não


acredito no que ouvi, seria possível uma situação dessas? Levo a
mão aos meus lábios, espantada. — Agora venha, vou dar um jeito
nas suas olheiras.

A loira me arrasta, me colocando sentada em uma cadeira, a


contragosto deixo que ela me maquie e arrume os meus longos
cabelos de um jeito lateral que fica tão diferente do que estou
habituada que quando me olho no espelho não me reconheço. Estou
bonita sim, sexy talvez, mas não tem um sopro do que eu realmente
sou refletido no espelho.

Não muito tempo depois, somos levadas para o salão, as duas que
me ajudaram antes me dão as dicas do que fazer e como me portar,
mas não podem ficar muito tempo próximas de mim pois precisam
entreter os homens que começam a chegar.

Elas me avisaram que era para eu evitar muitos sorrisos e ser cordial
apenas o necessário, para que os frequentadores não confundissem
minha função, embora estivesse claro, pois eu estava vestida e elas
de lingerie apenas.

Realmente aqui, tem muito trabalho e eu não parei um segundo


sequer, seguindo de um lado para o outro e servindo as mesas, mas
até então acho que tenho me saído bem. A única coisa que me
incomoda são os olhares de Martin, ele parece não estar se
concentrando em nada além de mim.
O pior é que está bebendo demais, tenho tentado nem passar perto
dele, quem sabe assim ele me esquece e não em importuna.

Olho no relógio que fica em cima da prateleira de bebidas do bar, e


vejo que já é quase meia noite, não tenho o hábito de andar com
saltos tão altos e os meus pés estão me matando. Vou até a cozinha
para beber um copo d’água e enquanto estou apoiada na pia,
digerindo o líquido refrescante, Martin entra no ambiente e vem em
minha direção, meu coração acelera no mesmo instante.

— Você é cagna do Amadeu? — pergunta, o odor forte de bebida que


sai da sua boca me deixa tonta.

— Não sou puta de ninguém, só estou trabalhando — falo, tentando


sair de perto dele, mas ele segura em meu braço.

— Não se faça de difícil, docinho. — Ele me puxa para muito perto. —


Sei que você quer isso, só quer que eu insista, não é? — pergunta e
leva a boca até o meu pescoço e eu o empurro com toda a força que
consigo reunir.

— NÃO. ME. TOQUE. — grito quando me afasto e saio correndo, ele


ri feito louco, parado no mesmo lugar.

Corro para o banheiro com medo de ser seguida por ele, o que
graças a Deus não acontece, quando consigo me recuperar volto
para fazer o meu trabalho, me mantendo ainda mais afastada do
homem.

A única coisa que está me incomodando é que não estão me


mandando servir as mesas do salão e sim de alguns lugares com
pouca iluminação no cassino onde algumas meninas estão quase
fazendo sexo para que todos vejam, algumas já subiram para os
quartos, mas outras estão sentadas no colo de alguns homens sendo
acariciadas em suas partes mais íntimas.

A primeira vez que vim servir, quase voltei correndo, mas eu sabia
que podia esperar por isso. Eu era virgem, mas não uma tapada
imbecil. Confortava-me saber que nenhuma delas estava ali obrigada
ou era maltratada e se tratando de escolhas pessoais cada um que
arcasse com a sua.

Em uma das vezes que fui mandada servir um dos camarotes


reservados, senti que estava sendo seguida, mas olhei em volta e
não vi ninguém. Porém gritei de susto quando na quarta vez que vim
até aqui, senti uma mão tapar minha boca com força, a bandeja caiu
das minhas mãos e pelo cheiro imundo de bebida eu sabia de quem
se tratava: Martin.

— Não grite, cagna — fala em meu ouvido enquanto me arrastava


cada vez mais rapidamente para o escuro, para um local onde não
havia ninguém — Agora vou de ensinar o que eu faço com quem me
recusa.

— Per favore, não faça isso — imploro.

— Isso, eu gosto de ouvir cagnas como você implorar. — Ele puxa


meu top para baixo e meus seios saltam para fora, tento cobri-los,
grito desesperada mesmo sabendo que ninguém irá me socorrer.

Suas mãos apertam meus seios tão forte que parece que vão ser
arrancados, nem quando estive sob as garras do próprio demônio que
é o chefe dele, eu senti tanto medo. Grito de desespero quando ele
me morde com raiva, tentando abrir sua calça e suspender minha
saia ao mesmo tempo.

Entendo que não terei como escapar e em pensamento clamo a Deus


por misericórdia, peço silenciosamente que ele não deixe que isso
aconteça comigo, eu não sobreviveria se passasse por uma situação
dessas. Eu aguento o frio, a fome, a miséria, a raiva das pessoas,
qualquer coisa, mas isso não, isso me destruiria completamente.

Sinto minha saia ser erguida, eu não tenho tanta força quanto ele.
Martin tem o dobro do meu corpo e quando acho que será o meu fim,
sinto um líquido grosso e quente escorrer pelos meus seios.
Ali, diante de mim, segurando pelos cabelos a cabeça do homem que
até a poucos segundos era o meu algoz estava o próprio demone.

Sua face transtornada pelo ódio, a frieza de quem acaba de decapitar


uma pessoa, mas eu enxergo sua face como um anjo, o meu anjo
salvador. Ele acabou de tirar uma vida para salvar a minha, eu não
consegui desviar os meus olhos do seu, mesmo quando ele soltou a
cabeça do morto no chão, eu apenas o enxergava diante de mim, e
não queria nada além disso.
Capítulo 14
“Ela estava quebrada e eu queria apenas juntar os seus pedaços
novamente.”

Eu sempre fui um amante das facas, sempre gostei de brincar com


elas assim como os meus irmãos e por isso, mantemos juntos o que
acredito ser a maior coleção de facas de sobrevivência de todo o
mundo.

De todos três, o que mais tem admiração por armas brancas é Rico,
mas tanto eu quanto Fabrizio também apreciamos demais esse item
que em um confronto corpo a corpo pode ser essencial para abater o
inimigo.

Ao longo dos anos, estudamos as melhores facas para performances


corpo a corpo e cada um de nós sempre carrega consigo pelo menos
uma das nossas preferidas, só que eu nunca imaginei sentir tanto
prazer em utilizar a que carrego comigo.

As nossas facas foram produzidas pelos melhores forjadores do


mundo algumas de aço damasco outras de carbono como a que
carrego comigo agora, mas todas funcionais, resistentes e
extremamente afiadas.

Meus irmãos com certeza não acreditarão que eu consegui decapitar


um homem com a minha M9 Baioneta, que ela é extremamente letal
nós já sabíamos, porém decapitar uma pessoa não é fácil, já
tentamos outras vezes, mas ficamos no quase, a morte sempre foi
certa, mas a decapitação ainda não tínhamos conseguido.

Acho que foi o ódio que me dominou, eu nunca tinha sentido algo
assim, talvez quando os meus pais sofreram o atentado, saber que
eles estavam mortos acabou comigo, mas eu me reergui. Assumi a
posição para a qual fui treinado e matei todos aqueles que estiveram
envolvidos.

De longe, a mulher vestida de preto e com o corpo pequeno já havia


chamado a minha atenção, mas eu não a havia reconhecido, ela
estava tão... diferente. Sensual e sexy demais naquela roupa de
couro preta. Quando ela virou de frente para mim com a bandeja nas
mãos, quase tive uma sincope e não consegui afastar os meus olhos
do seu corpo.

Eu quis imediatamente tirá-la dali para que ninguém a visse daquela


forma, para que ninguém pudesse a desejar como eu estava fazendo.
Agir como um ogro era exatamente o que eu estava prestes a fazer
quando a vi ser abordada por Martin, o gerente do lugar e
imediatamente segui até eles.

Mesmo sem ainda estar próximo deles eu sentia o seu desespero,


sentia o seu medo e isso me destruiu, que merda Amadeu fez? Eu
disse para não jogar a garota na merda, tudo bem que os seus trajes
eram de garçonete e não o que as prostitutas usavam, mas ele tinha
que ter avisado a Martin os limites. Quando me aproximei deles já
com a faca empunhada, eu o segurei pelos cabelos e tal qual Jason,
o degolei em um corte limpo e certeiro que dividiu o seu corpo em
dois.

Amapola estava jogada sobre o mármore frio, a parte de cima da sua


blusa minúscula havia sido arrancada, sua saia estava embolada em
sua cintura e uma das laterais da sua calcinha rompida.

Ela estava totalmente exposta e em estado de choque, larguei a


cabeça do verme rapidamente, tentando não a chocar ainda mais,
todo o seu corpo estava banhado com o sangue de Martin. Ela estava
paralisada, olhava para mim sem sequer piscar, e eu, pela primeira
vez na vida, não sabia o que deveria fazer.

— Ela está em pânico — Matteu fala, me tirando do torpor e me


fazendo lembrar da sua presença, não éramos eu e ela apenas ali, eu
precisava cobri-la mas ele foi mais rápido do que eu pela primeira
vez, e acredito que pela última também, e jogou sobre ela o paletó
que tirou do seu corpo, sem querer realmente tocá-la.

Ela estremeceu sob o contato do tecido com seu corpo, acredito que
só agora se deu conta também da presença dele ao nosso lado.
Amapola se encolheu, com medo do que viria a seguir, mas não tinha
o que temer, eu estava aqui e a partir de agora ninguém mais
encostaria um dedo sequer sobre ela.

— Você está bem? — pergunto e nesse momento ela chora, acho


que caindo na real do que acabara de acontecer, me aproximo com
cautela — Não tenha medo, eu não vou te fazer nenhum mal, me dê
a sua mão, deixa eu te ajudar.

Falo as palavras com a maior calma que consigo manter no


momento, minha adrenalina está em picos, meu sangue bombeia tão
forte em minhas veias que eu consigo sentir a pulsação em todos os
meus poros, ela ainda não conseguiu se mover, então com cuidado,
me precipito em ajuda-la, alguns seguranças já fizeram isolamento da
área e seus corpos formam um muro em volta de nós. Sei que não
somos vistos mas quero tirá-la daqui.

O choro de Amapola cessou, mas seu corpo treme tanto que parece
convulsionar, tentando tocá-la o mínimo possível, levanto-a da mesa
e sigo para a área dos quartos. Ela se assusta quando vê o caminho
que estamos percorrendo, mas eu a tranquilizo, falando que ela
precisa tirar o sangue do seu corpo.

Enquanto me tranco com ela no quarto, sei que Matteu está


evacuando o cassino e provavelmente ligando para Carbone, o Capo
responsável por aqui, ele é que deve limpar a sujeira do seu homem e
não nós.

— Sei que não está bem, por isso vou ficar com você no banheiro,
mas eu prometo que não te tocarei, eu só quero cuidar de você e
você precisa tirar esse sangue do corpo — falo quando a conduzo
para o banheiro.

Ela olha para o espelho e simplesmente desfalece em meus braços,


eu a seguro com cuidado, um cuidado que eu jamais tive com
ninguém.

Vê-la naquele estado me apavorou, imagino que ela nunca foi


acostumada a lidar com sangue e morte. Não apenas o seu corpo
estava banhado em sangue, mas também todo o seu rosto e cabelo,
e foi isso que ela viu ao encarar o espelho, eu deveria ter previsto e
entrado na frente do objeto, mas não o fiz e agora a tenho em meus
braços.

Caminho até o box e abro as torneiras, regulando para uma


temperatura quente, mesmo desfalecida ela não parava de tremer, eu
não sabia se de frio, pavor ou medo.

Assim que coloquei o seu corpo debaixo da água ela abriu os olhos e
se encolheu, eu a segurava com as mãos estendidas para frente
tentando tocar-lhe o mínimo, mesmo que a minha vontade fosse de
colocá-la em meu colo e cuidar dela.

— Sou eu, está tudo bem — afirmo, acalmando-a. — Você consegue


ficar de pé sozinha para que eu te solte? — Ela acena, concordando
com a cabeça e eu me afasto lentamente, me assegurando que ela
de fato não cairia. — Tire sua roupa e lave seu corpo e os seus
cabelos, eu estarei aqui caso se sinta mal, para que não se
machuque.

— Pode me deixar sozinha, per favore? — fala, voltando a chorar.

— Amapola, me ouça — falo com toda a calma que eu realmente não


tinha — Eu prometo que ninguém nunca mais tocará em você contra
a sua vontade, prometo que eu farei o que for preciso para protege-la,
mas não me peça para sair daqui agora, eu preciso me certificar de
que você ficará bem enquanto se banha, eu não vou olhar para o seu
corpo — garanto e ela concorda.

Enquanto ela toma banho, eu me mantenho do lado de fora do box.


Fixo meus olhos em um ponto à minha frente, fazendo o que eu havia
garantido, não a olharia, além da água que limpava o seu corpo, as
lágrimas também se fizeram presentes, eu pude ver quando olhava
rapidamente em sua direção. Amapola esfregou tão forte a bucha em
seu corpo que ranhuras avermelhadas começaram a aparecer, eu
queria fazê-la parar com a tortura que se impunha, mas eu não podia,
ela precisava desse momento.

Ouvi quando ela desligou o chuveiro e rapidamente estendi a toalha


que ela envolveu em seu corpo, caminhei ao seu lado até o quarto e
tirei o paletó que me vestia para que se cobrisse, Amapola estava
totalmente nua diante de mim, mas nesse momento eu não a olhava
com qualquer desejo, ela estava quebrada e eu queria apenas juntar
os seus pedaços novamente.

— Vamos sair daqui? — chamei quando notei que ela tinha


minimamente se acalmado.

— Para onde vai me levar? Vou voltar para a sua prisão? — pergunta
e havia tanto medo em sua voz que tive ódio de mim mesmo por tê-la
mantido ali.

— Não, vamos para a minha casa — falo e vejo que ela engole em
seco, não sei se de alívio ou medo, mas era o que eu podia lhe
oferecer.
Capítulo 15
“Sentia como se Salvatore fosse a minha tempestade pessoal, as
vezes ele me agitava, tomava tudo ao meu redor numa fúria
constante e indomável, em outras ele era calmaria e essa
calmaria era tão temida por mim quanto desejada.”

Saímos por uma porta que dava direto para o estacionamento.


Rapidamente, um segurança lhe entregou a chave de um carro, fui
conduzida por ele até o veículo negro como a noite e como a alma do
seu dono.

Era estranho me sentir segura perto do homem que acabara de matar


outro bem na minha frente, ou melhor, sobre o meu corpo.

Por que ele fez isso? Por várias vezes, me perguntei, principalmente
enquanto lavava o meu corpo banhado em sangue, mas não
encontrei nenhuma resposta. O homem era funcionário dele e eu sua
prisioneira, por que ele tirou a vida do outro sem sequer hesitar?

Será que ele não era tão ruim assim? Será que eu estava enxergando
algo que ele não permitia que mais ninguém visse?

Ele me confundia, eu não conseguia entender nada realmente


quando estava perto dele. Sentia como se Salvatore fosse a minha
tempestade pessoal, as vezes ele me agitava, tomava tudo ao meu
redor numa fúria constante e indomável, em outras ele era calmaria e
essa calmaria era tão temida por mim quanto desejada.

Tomar banho nua em sua frente, não foi confortável para mim,
principalmente quando eu havia acabado de passar por uma situação
como aquela, mas eu não sentia que ele fosse fazer qualquer coisa
comigo contra a minha vontade.

Se ele seria capaz de me matar? Tenho certeza que sim, a qualquer


hora e sem nenhuma dúvida. Mas tinha a mesma certeza de que ele
não abusaria do meu corpo, ou me estupraria, isso eu podia apostar a
minha vida que não.

Assim como prometeu, ele não me olhou com malícia ou desejo,


apenas com preocupação e algo em mim estranhou essa distância,
eu o achava bonito, quer dizer ele era lindo, uma beleza selvagem
como o próprio anjo caído, o demone. Não era a primeira vez que eu
pensava nele dessa forma, e tinha certeza de que não seria a última.
E mesmo que não fosse o momento, que não fosse o certo, eu queria
que ele me olhasse de forma diferente, ainda queria o seu respeito,
mas em algum momento uma pequena parte de mim passou também
a querer o seu desejo.

Ele dirigiu em silêncio e vi que o trajeto me levava em direção a


minha casa com o meu pai, de fato, já tinha ouvido falar que os
chefes da máfia viviam por ali nos arredores.

— Meu pai. — falo quebrando o silêncio que estava no carro desde


que saímos do cassino

— Ele está bem. — Ouvi sua voz grave.

— Me deixa ir embora, me deixa ficar com ele? — pedi, acreditando


que a compaixão que vi que existia nele falasse mais alto e permitisse
me libertar, eu precisava de um abraço, do cuidado da pessoa que
mais amo no mundo.

— Não posso, ragazza. Me peça qualquer coisa menos isso — ele


fala e sinto o meu peito ser espremido.

— Então é isso? Continuarei sendo sua prisioneira para sempre? A


única coisa que mudará é o meu cativeiro? — pergunto com a
garganta sendo lacerada pelo choro iminente.

— Não veja a minha casa como um cativeiro, mas eu não posso te


deixar ir — Tenta amenizar, mas sou tomada pela raiva e desespero.
Ele deveria ter compaixão, como vou me recuperar do que vivi, sem
ter por perto a minha única família, como esquecer o que passei se a
sombra disso tudo é o homem que me mantém cativa? Ele me
salvou, mas não quer me libertar. De que adianta?

Continuo chorando por todo o caminho, até entrarmos por imensos


portões de uma propriedade que eu sequer sabia existir tão perto da
minha casa. Um contraste imenso entre a pobreza em que eu vivia e
a imponente propriedade totalmente rodeada por um jardim que eu
tenho certeza ser maravilhoso durante a o dia, já que a noite
iluminado pela lua e pelas luzes artificiais já me deixava boquiaberta.

Vejo três casas, ou melhor três mansões, mas ele estaciona o carro
diante da que fica localizada no meio, centralizada entre as duas.

Fico parada sem saber o que fazer quando ele desce do veículo,
então me mantenho imóvel até que ele abre a porta e me estende a
mão.

— Venha — chama.

Hesitante, seguro sua mão sem saber o que esperar desse homem,
mas ele apenas me conduz para dentro, abrindo as portas imensas e
revelando uma sala de uma beleza que eu jamais pude presenciar em
qualquer lugar que estive.

A decoração é branca com detalhes em madeira, a paz do lugar


contrasta totalmente coma fúria do seu dono. Será que ele é casado?
Está tudo tão organizado que ouso pensar que sim, por outro lado,
sendo quem ele é sei que deve ter mil empregados para manter esse
ambiente em perfeito estado. Eu o enxergo aqui em cada detalhe que
vejo, o lugar tem a sua personalidade estampada em cada canto.

— Ângela? — ele grita com sua voz de trovão e eu estremeço um


pouco. Espero então que sua mulher venha até nós, mas uma
senhora que aparenta ter cerca de sessenta anos entra no ambiente
apressada secando as mãos em um pano.

— O que foi, menino? — pergunta, mas trava quando me vê em pé —


Perdão senhor, em que eu posso lhe ajudar? — fala mudando toda a
sua postura para a formalidade de quem serve ao seu chefe.

— Não mandei que fosse descansar? — ele questiona, erguendo as


sobrancelhas

— Eu só estava fazendo um pão senhor, já estava indo para o quarto


— justifica. — Precisa de alguma coisa? — Pergunta, mas os seus
olhos não se desgrudam de mim, um segundo sequer.

— Organize um quarto, Amapola ficará conosco por um tempo. — Ela


o olha com uma expressão indecifrável, como se cobrasse uma
satisfação dele, será que ela realmente não temia o seu chefe?

— Vou chamar alguém para providenciar isso imediatamente, posso


pegar o seu casaco? — pergunta diretamente para mim, e eu me dou
conta de que não visto nada sob ele.

— Não precisa, ela está bem assim — ele responde por mim

— Vou trazer um pedaço de bolo e uma xícara de café para vocês


enquanto providencio o quarto, podem aguardar no sofá — a senhora
fala e se retira.

O sofá é tão branco que tenho medo de sentar e sujá-lo, será que
consegui limpar todo o sangue do meu corpo? Penso no que vivi e
meus olhos inundam novamente.

— Pode sentar, Amapola. — Eu agradeço, sentando-me em seguida


na bem na pontinha do sofá grande e espaçoso.

Ficamos em silêncio até que a mulher volte com o bolo e o café, meu
estomago embora enjoado pelo que vivi, ronca com a possibilidade
de comer o pedaço do bolo que ela nos ofereceu.

Só quem já viveu com muito pouco ou quem passou fome tem a


capacidade de realmente valorizar qualquer comida que lhe
ofereçam.

Assim como eu, ele aceita o bolo e o café e nos alimentamos em um


silêncio confortável, a mulher também não se manteve conosco,
acredito que esteja providenciando o que ele pediu.

— Já está pronto, senhor. — Ela volta algum tempo depois e avisa.

— Ótimo, leve-a até lá. Vou precisar sair e em breve estarei de volta
— avisa, pondo-se de pé.

— Eu a acomodo. — a senhora concorda.

— Grazie — agradeço aos dois de uma só vez e deixo que a senhora


me conduza pela mão.

— Ângela — ele a chama quando já saiamos andando — Para onde


está indo? — pergunta.

— Levá-la até o quarto, senhor — explica

— Que quarto você preparou, Ângela? — Posso perceber a irritação


em sua voz e fico com medo pela mulher.

— No andar superior, senhor — informa com tranquilidade na voz


como se não o temesse.

— Ângela, ela não é uma hospede — fala com hostilidade a minha


posição aqui — Achei que estivesse claro.

— Não para mim, senhor, scusi. — Mas não sinto verdade em sua
voz. — Eu não entendi a ordem perfeitamente.

— Corrija — Ele tenta manter a calma, mas sei que de fato não está
calmo, percebo em cada olhar que ele lança a senhora.

— Onde devo colocá-la? — pergunta.

— Em uma das casas anexas. — diz com uma sobrancelha erguida


como se tivesse certeza que a senhora sabia exatamente para onde
deveria me levar.

— Impossível senhor, as que não estão ocupadas estão tão sujas que
não teria condição de levá-la sem uma limpeza das grandes. Ela
ficaria doente com a poeira e o mofo, providenciarei uma faxina
amanhã — completa, já segurando em minha mão pronta para me
arrastar para o mesmo caminho em que seguíamos.

— Não precisa se preocupar, eu me encaixo em qualquer lugar —


fico constrangida pela situação, eu realmente não era sua hospede,
era sua prisioneira, não devia ficar em sua casa.

— Está tudo bem, criança — ela fala comigo, dando leves batidinhas
em minha mão. — Amanhã providencio a mudança, tenho certeza de
que o senhor Salvatore não se importará de ceder um quarto da
mansão por uma noite. — diz, encarando o homem como se o
desafiasse a contradizê-la, quem era essa mulher afinal?

— Vá com ela, Amapola — Salvatore nos dá as costas e sai em


direção a mesma porta por onde entramos.

Já a senhora ao meu lado, sorri satisfeita por ter ganhado a batalha


contra o chefe. Eu só esperava que ela não perdesse uma guerra por
minha causa, eu sabia exatamente do que ele era capaz.

Ela me leva até um quarto imenso, acho que apenas dentro desse
quarto caberiam três casas iguais a que eu morava com meus pais.
Por isso, entrei receosa de quebrar algo aqui, uma cama com dossel
coberta por lençóis brancos atrai a minha atenção, o tapete no chão é
tão felpudo que eu poderia dormir até sobre ele, como eu estava
descalça pude sentir assim que pisei no ambiente.

— Menina, não precisa ficar com receio, ele não lhe fará mal — fala
como se lesse os meus pensamentos. — Tome um banho que vou
lhe trazer um par de roupas e uma xícara de chá bem quentinho, sei
que está precisando disso agora. Não sei o que aconteceu, mas se
precisar de mim pode chamar, no banheiro você encontrará tudo o
que precisa.

— Obrigada, dona Ângela — Chamo-a pelo nome que ouvi ele falar.

— Não por isso, querida. Vai ficar tudo bem. — diz como se
pressentisse que eu precisava não só ouvir, mas acreditar nessas
palavras.

Faço como ela disse e tomo um banho, quando retorno para o quarto
ela já me espera, entrega a xícara de chá e me mostra a roupa sobre
a cama, quando ela sai vejo que é uma roupa masculina, será que ela
seria capaz de me dar um par de roupas dele?

Confirmo a suspeita ao sentir o cheiro impregnado nas roupas, estive


até agora com um blaser seu sobre os meus ombros então sim, é
uma roupa dele, mas como não tenho outra opção, visto e aperto bem
o cordão da cintura, só assim para a peça se manter no meu corpo.
Em seguida, deito na cama, mantenho o abajur aceso, chega de
escuridão por hoje.

Rogo a Deus para que Ele me conduza a um sono tranquilo, que eu


possa esquecer, mesmo que por um curto período de tempo tudo o
que tenho vivido nos últimos dias, e principalmente o que vivi hoje.
Inconscientemente, agradeço por ter sido salva, mesmo que ele tenha
me salvado enquanto me mantem cativa. O chefe da máfia me livrou
do pior, por isso pedi a Deus que o protegesse e que nenhum mal se
aproximasse dele.

Contrariando o que pensei, não demorei a dormir. Pelo menos por


hoje, Deus ouviu as minhas preces.
Capítulo 16
“Para tudo na vida existe um limite, até em um ambiente onde os
crimes acontecem diariamente.”

Saio de casa batendo forte a porta de entrada, eu estava possesso de


raiva. O que Ângela estava pensando ao colocar Amapola em um
quarto dentro da minha casa?

Ela sabia que eu não a trouxe como minha hóspede, estava claro no
semblante da criatura, a falta de roupa, o rosto inchado pelo choro
recente, a aparência sofrida. Ângela sabia, mas a velha enxerida
estava se fazendo de desentendida, eu a conhecia, ô, se conhecia.
Podia apostar minha vida sem medo de perdê-la que a criatura estava
no quarto exatamente ao lado do meu, eu lia muito bem as intenções
das pessoas e com Ângela não era diferente.
Era sempre assim, quando queria nos engabelar, ela se fazia de
inocente, uma coisa que eu sabia perfeitamente que ela não era.
Vi, quando entrei com a ragazza, que ela se compadeceu com a
situação da criatura, me olhou questionando silenciosamente o que
eu havia feito, mas deixei claro no meu semblante impassível que eu
não havia feito nada e no fundo ela sabia que se fosse eu a deixá-la
naquele estado ela sequer estaria ali.
Deixar que ela ficasse em uma das pequenas casas que mantemos
espalhadas pela propriedade para alguns funcionários já era muito
mais do que eu estava disposto a dar, mas não, Ângela tinha que me
empurrar ao meu limite e acomodá-la em um dos quartos da mansão.
Bufo de raiva e soco o volante, sabendo que eu estou perdendo
tempo parado dentro do carro refletindo sobre as ações da velha.
Coloco-o em movimento e sigo na direção da boate.
Preciso confrontar Carbone sobre as atitudes do seu associado,
Martin não era da famiglia e foi trazido por ele para cuidar de um dos
seus negócios. Nós permitimos sua entrada, mas a responsabilidade
era dele e eu iria cobrar respostas.
Principalmente sobre o fato dele abusar das meninas que mandamos
para lá, pela segurança que agiu, eu podia apostar que não era a
primeira vez que fazia isso.
— Sim, chefe? — ligo para Amadeu ativando o sistema de bluetooth
do carro.
— Já soube o que aconteceu no cassino? — pergunto.
— Sim, senhor. Infelizmente — fala e noto um sentimento de culpa
em sua voz. — O que houve com a garota? — Ele quer saber.
— Está preocupado, Amadeu? — questiono, não gostando nenhum
pouco dessa merda,
— Não, chefe, só acho que não fui tão claro com Martin quanto
deveria.
— Você o avisou para não a tocar? — tento entender o que quis
dizer.
— Sim chefe, quando a levei vi o seu interesse na menina e lhe dei
uma corsa, falei que não chegasse perto dela, como eu lhe disse,
senti que ela era inocente, por isso deixei claro o limite, como o
senhor ordenou. Disse que ela iria servir à máfia, mas não com o seu
corpo. — ouço meu homem de confiança falar e não deixo de ficar
orgulhoso por sua atitude.
Amadeu é filho de Ângela e foi criado junto comigo e com meus
irmãos, os mesmos princípios que carregamos, ele também carrega
consigo, assim como a mesma dor. O seu pai era o homem de
confiança do meu e estavam juntos até a morte, ele também morreu
no mesmo atentado que o meu pai. Nós assumimos os nossos
papeis, eu o de Dom da Dalla Costa, assumindo a cadeira do meu pai
e ele o de chefe de segurança do Dom, assim como era o seu pai.
Confiamos nas mãos um do outro as nossas vidas, eu o conheço tão
bem quanto aos meus irmãos e por isso tenho certeza de que cada
palavra que acaba de sair da sua boca é a mais pura verdade. Eu
poderia acrescentar aí algo que ele não disse, ele se afeiçoou pela
ragazza, não sei ainda se como um homem se afeiçoa a uma mulher
ou se apenas com um sentimento de cuidado fraternal, mas sim, eu
sabia que ele não gostara nenhum pouco do que aconteceu com ela.
— Estou voltando para a boate para limpar a sujeira por lá — falo.
— Eu já o fiz chefe, não há com o que se preocupar, todo o ambiente
está totalmente limpo — informa com a sua competência de sempre,
eu agradeço mentalmente. Assim, a única coisa com a qual terei que
me preocupar é com Carbone.
Embora saibam o que pode acontecer em um ambiente como esse,
notei que algumas mulheres estavam extremamente assustadas,
talvez com a brutalidade da morte de Martin, algumas acabaram
confessando que ele as ameaçava e estuprava.
Deixei claro que eu jamais permiti que isso acontecesse e que jamais
permitiria, para tudo na vida existe um limite, até em um ambiente
onde os crimes acontecem diariamente. Existem situações que não
toleramos e sem dúvidas essa é uma delas.
Deixei claro para Carbone que quem assumisse o comando do
cassino deveria estar plenamente ciente das regras estabelecidas por
mim. E qualquer um que ousasse agir de forma contrária, acabaria da
mesma forma que Martin. No fundo, sua morte serviu de lição para
todos, esse tipo de abuso eu não tolero e jamais tolerarei.
Cheguei em casa por volta de quatro horas da manhã, eu estava
esgotado fisicamente: a viagem dos meus irmãos e de Amadeu, toda
a tensão que estávamos passando com a chegada dos Russos me
preocupava, mas nada me incomodou tanto quanto ver Amapola
quase ser estuprada.
A cena digna de filme de terror passava por minha mente
ininterruptamente e se eu pudesse ressuscitar Martin, eu o faria,
apenas para ter o prazer de mata-lo novamente.
Quando cheguei em casa, não encontrei Ângela em nenhum lugar,
ela deve ter ido descansar, ela tinha uma casa aqui no complexo,
mas desde a morte do seu marido, só dormia lá quando Amadeu
estava com ela, do contrário ela ocupava um quarto de hóspedes
localizado no térreo da mansão. Na verdade, não era mais de
hospedes e sim dela, ela já o tinha com o seu jeitinho peculiar e o seu
oratório cheio de imagens que tanto eu quanto Amadeu sempre
trazemos de presente para ela.
Subo para o meu quarto e quando passo pela porta que fica ao lado
do minha, resolvo confirmar as minhas suspeitas, e quase sorrio.
Assim como suspeitei, Ângela acomodou Amapola no quarto ao lado
do meu, não resisti e entrei no ambiente.
De pé diante da cama, fiquei parado por um tempo, a observando
dormir aninhada no meio da cama, totalmente enrolada nas cobertas
grossas, quis tocar em seu rosto para saber se ela sentia frio ou se
era apenas medo de tudo o que passou, mas contive o ímpeto e
mantive as mãos dentro dos bolsos. Assim elas não corriam o risco
de desobedecer as minhas ordens.
Depois de um tempo, segui para o meu quarto tomei um banho
demorado e relaxante em minha banheira e só depois me joguei na
cama pronto para dormir feito uma pedra, sabendo que agora ela
estava em segurança e debaixo das minhas asas, eu tinha certeza
que conseguiria dormir tranquilamente.
Capítulo 17
“Gosto disso, serviços limpos e eficientes, por isso enviei os
melhores.”

— Buongiorno, Naná — falo com a velha mexeriqueira quando


acordo, estranhamente de bom humor e me sento na mesa para o
desjejum.

— Buongiorno, menino — diz com um sorriso no rosto. — Posso lhe


servir um cornetto com cappuccino?

— Cornetto de chocolate, per favore.

— Vejo que alguém acordou de bom humor — A velha fala e eu ergo


a sobrancelha, ela sabe que eu não gosto quando ela é intrometida,
então se retira rapidamente sem esperar minha resposta.

Mas se for ser sincero, eu realmente estou de bom humor, por isso ao
invés de comer torradas com café puro e amargo como de costume,
pedi o cornetto, que é uma espécie de croissant italiano, geralmente
recheado com chocolate, geleia ou creme, pode ser servido também
sem recheio, e aí podemos acrescentar o que quisermos inclusive
manteiga e queijo.

Tive ótimas notícias ao acordar, meus irmãos conseguirão retornar na


segunda feira logo cedo, estão colocando o nosso plano em prática e
uma boa parte dos vermes Russos já estão jogados em quaisquer
valas por aí.

Gosto disso, serviços limpos e eficientes, por isso enviei os melhores,


eu mesmo gostaria de estar lá, porém não podemos jamais nos
afastar ao mesmo tempo. Sempre temos demandas por aqui como a
que aconteceu ontem, então um dos chefes sempre fica de guarda
em Roma, pronto para qualquer eventualidade.

— A ragazza já acordou? — pergunto quando ela volta com o que eu


havia lhe pedido.

— Ainda não, senhor — Ângela responde — Quanto tempo ela ficará


conosco?

— Ainda não sei, Ângela. Preciso arrumar um lugar para ela ficar, até
lá, organize uma das casas conforme ordenei ontem. Vou passar
algumas ordens aos seguranças, ela não deve sair da casa que você
a colocar.

— Ela é sua prisioneira? — leva a mão ao coração como se estivesse


assustada com a informação.

— Não importa, Ângela. E não se meta onde não deve. — Começo a


perder o meu bom humor matinal

— Senhor, se me permite... ou melhor sei que não me permite, então


vou falar de uma vez. — Eu bufo alto porque sei que não adianta
interrompê-la, então finjo desinteresse enquanto continuo comendo
meu cornetto — Se a menina é prisioneira, deixe que fique aqui na
mansão, pelo menos não ficará sozinha, pelo estado que chegou
aqui, suspeito que ela já fora mais quebrada do que eu possa
suspeitar. Eu te conheço, meu filho, por trás da fachada que todos
veem de Chefe da Dalla Costa, existe um menino com um coração de
ouro.

— Você está enganada — falo quando tomo um gole do cappuccino.


— Não, estou não. Além disso, se ela será prisioneira aqui no
complexo, não importa onde esteja, ela não sairá daqui de qualquer
forma, nas casas ou na mansão não faz diferença, ela estará sob sua
guarda.

— Ela é sua responsabilidade, qualquer problema cobrarei de você,


Ângela — Irritado, falo já levantando e jogando o guardanapo sobre a
mesa. Ela sempre tinha os argumentos certos para me convencer, e
eu costumava ouvi-la, mesmo não admitindo.

***

Passo toda a manhã trancado no escritório da mansão, perdido em


meio a tanto trabalho que tenho não vejo a hora passar, quando dou
por mim, já são quase duas da tarde.

— Quer almoçar, senhor? — Ângela pergunta assim que piso os pés


na sala, a mulher sempre está de guarda para mim.

— Vou tomar um banho rápido e já desço para o almoço — falo


quando chego na escadaria que me levará ao andar superior.

— Posso chamar a ragazza para almoçar com o senhor? — Ouço a


voz de Ângela e giro sobre os calcanhares irritado.

— Acho que deixei claro que ela é uma prisioneira e não uma
hóspede não foi?

— Sim, senhor — fala e abaixa a cabeça, com falsa submissão, eu a


conheço bem — Mas já que é fim de semana e os seus irmãos e
Amadeu não estão aqui para almoçar com o senhor, pensei que
gostaria de companhia.

— Você tem pensado mais do que deve Ângela — respondo irritado.

— Menino, não seja malcriado, não foi essa a educação que eu te


dei, o que custa almoçar com ela? Tenho certeza que ela, assim
como você, adoraria ter alguém para conversar sobre algo que não
sejam seus problemas.

— Você sabe que eu não converso com ninguém sobre nada, Ângela.
Não torre minha paciência, já disse que não. — Encerro o assunto e
subo as escadas.

Que merda essa velha está fazendo com minha cabeça? Pergunto-
me quando a água quente jorra sobre a minha cabeça.

Eu nunca esperei ou precisei da companhia de ninguém para nada,


se bem que não seria de todo ruim ter alguém para almoçar comigo,
não é? Mesmo que eu não fale nada, apenas para não me sentir tão
só enquanto como.

Visto uma calça jeans escura e calço um par de tênis, em casa eu


prefiro não usar terno, é o único ambiente em que eu deixo as
formalidades das roupas de lado.

Enquanto escolho uma camisa para vestir, me observo pelo reflexo


do espelho, enxergo o meu corpo totalmente definido pela malhação
e treinamentos constantes, meu tempo é todo tomado pelas
obrigações da máfia, exceto pelos poucos fins de semana que me
permito ir a Palermo. Não tiro nenhum outro tempo para mim.

Até mesmo o sexo tem sido mecânico, apenas uma forma de aliviar a
tensão do meu corpo, mas já não sinto tanto prazer quanto antes, são
apenas corpos suados liberando ocitocina e endorfina.

Escolho uma camisa azul marinho e visto, enquanto penteio os


cabelos, penso que eu poderia realmente testar se a companhia de
Amapola seria agradável para o almoço, e decido tentar. Coloco o
celular no bolso e paro na porta do quarto ao lado do meu.

Ergo as mãos diversas vezes, pensando se realmente devo bater ou


não, mas por fim, convencido pelas palavras da velha que não saem
da minha mente decido por bater.

— Pode entrar. — Ouço a voz delicada de Amapola e giro a


maçaneta.

— Você? — ela questiona quando me vê entrar, está sentada no


centro da cama, com os joelhos encolhidos próximo ao peito. Lembro
que essa era a posição que ficava quando estava na masmorra.

— Quem você esperava? — questiono irritado e quase me


arrependendo de ter batido a porta, em seu rosto está estampado o
descontentamento em me ver no ambiente.

— Ângela. — noto que na mesinha de cabeceira há uma bandeja com


louças, acredito que Ângela tenha lhe trazido a refeição aqui.

Percebo que a roupa que ela veste é minha, a velha está


ultrapassando todos os limites do bom senso e começo a ficar
irritado.

— Pois não é ela, sou eu.

— Estou vendo — responde me afrontando.

— Desça para almoçar, eu te espero em dez minutos — aviso e já me


ponho a sair do ambiente, estar na presença dela me tira do sério.
Como pude pensar que um almoço poderia ser... agradável?

— Com você?

— Acho que fui claro quando disse: “eu te espero em dez minutos” —
digo, não estando acostumado a dar explicações a ninguém sobre
nada, principalmente, a quem me deve subserviência.

— Pois eu não vou.

— O que disse? — pergunto apenas para ter ideia do que ouvi.

— Que eu não vou almoçar com você — repete.

— Isso não foi um pedido, ragazza, foi uma ORDEM. — Deixo clara
minha posição.
— Você só pode ser louco, doente, ou sente prazer com o sofrimento
alheio, ou talvez todas as opções juntas, não é mesmo? Você
sequestra o meu pai, me prende em uma masmorra, me joga em um
cassino exposta a todos os riscos que aquele lugar poderia me
oferecer a agora me convida para almoçar? Você só pode ser um
sádico. — Amapola pula da cama enquanto fala me desrespeitando
totalmente e eu me controlo para não ser de fato o sádico que ela diz
e lhe dar umas boas palmadas para que me respeite.

— Não, eu não sou sádico, mas poderia se quisesse. Se ainda não


entendeu eu posso tudo, Amapola. Tudo o que eu quiser estará em
meus pés se eu assim o desejar, e não se iluda, ragazza não é um
convite para almoçar, não estou te propondo um encontro. Queria
amenizar apenas o que passou ontem, mas vejo que já está
recuperada.

— O que eu passei ontem foi culpa sua — ela grita e as suas


palavras me atingem, mas eu não demonstro.

— Que seja, eu realmente não me importo — falo e noto a sua


surpresa com as minhas palavras. — Se não descer em dez minutos
para almoçar comigo, ficará com fome — Bato a porta atrás de mim.

Eu realmente não deveria ter ouvido a velha enxerida, fazer o que ela
disse só me trouxe aborrecimentos.

— ÂNGELA — Grito quando chego à sala e pela primeira vez não a


encontro pronta para me servir.

— Sim, senhor. — Tenho certeza que ela notou a minha falta de


humor repentina.

— Quem autorizou que desse para a menina minhas roupas?

— Senhor, ela não tinha o que vestir e como quando chegou vestia o
seu paletó eu pensei que... — Começa a justificar e eu a interrompo.

— Pois você tem pensado demais, Ângela. E isso está começando a


me irritar, guarde os seus pensamentos para você a partir de agora.

— Sim, senhor — diz com a cabeça baixa.

— Outra coisa, ela só irá almoçar se descer para comer comigo, caso
contrário, ficará com fome — aviso e ela abre a boca para questionar,
mas basta olhar em minha direção para se calar.

— Tenho sua permissão para sair, senhor? Tenho que terminar de


servir o almoço — fala e eu sei que nem a mulher que me criou quer
ficar ao meu lado e suportar minha irritação.

— Sim, Ângela. Pode ir — Ela começa a se retirar, mas eu chamo


sua atenção novamente antes que saia.

— Sim, senhor.

— Compre roupas para ela — falo e ela se retira após concordar com
a cabeça.

Assim como pensei, Amapola não desceu para almoçar, não faria
diferença, afinal já estava acostumada a não ter o que comer. Meu
coração se apertou um pouco com o pensamento de tê-la passando
fome novamente quando eu poderia lhe dar qualquer alimento que
precisasse, mas eu não cedi, ela teria que aprender a me respeitar,
por bem ou por mal.
Capítulo 18
“Talvez você não esteja procurando com os olhos corretos a sua
saída, meu anjo, as vezes precisamos abrir os olhos da nossa
alma. E é pelo coração que precisamos enxergar as coisas.”

Diferente do que pensei, eu consegui dormir, entretanto não por tanto


tempo quanto o meu corpo realmente precisava.
Antes do sol tomar todo o céu com a sua claridade vibrante, eu já
estava acordada diante da janela admirando o imenso jardim que
como pensei, era ainda mais fantástico durante o dia.
Eu não sabia o que fazer, se deveria sair, ou me manter ali
trancafiada, mas optei pela segunda alternativa, no fim, entendi que
apenas o meu local de aprisionamento tinha mudado. Eu continuava
como prisioneira de Salvatore Dalla Costa, a diferença era que o meu
cativeiro agora era de um luxo que eu jamais cogitei desfrutar.
Deitada na cama macia, eu revivi diversas vezes o tormento da noite
anterior, e chorei de tristeza, por ter vivenciado algo tão terrível, por
mais que eu tenha tomado banho, lavado todo o meu corpo, mais de
uma vez inclusive, o cheiro de bebida que Martin exalava estava
impregnado em mim. Sem falar do sangue, eu senti escorrer cada
gota sobre o meu corpo e a sensação do líquido quente praticamente
queimando a minha pele jamais sairia de mim, nem que eu me
esforçasse muito.
Nesses momentos em que a angústia e o medo me tomavam, o único
conforto que eu tinha era a lembrança do rosto do meu salvador, o
monstro que me aprisiona havia salvado a minha vida, e quando o
cheiro de bebida e de morte se apossavam de mim, era nas roupas
que eu vestia, impregnadas com o seu cheiro que eu buscava
conforto. E de uma forma impressionante isso me acalmava.
Ontem, enquanto estava no cassino, me dei conta de que já faz cerca
de quinze dias que eu estava sob o seu domínio e sem a minha
liberdade, eu tinha perdido totalmente a noção de tempo, mas agora
eu sabia.
Talvez por isso, por ter passado tanto tempo trancada, sem qualquer
contato no mundo externo, sem ter a liberdade de fazer o que eu
quisesse, eu tenha me acostumado. Estar nesse quarto confortável
não está sendo um martírio, embora tudo o que eu mais quisesse era
ver o meu pai.
Ângela me trouxe uma bandeja imensa de café da manhã e eu a
agradeci por isso, eram tantas coisas gostosas que eu não sabia por
onde começar e quando comecei a comer além do que o meu corpo
precisava lembrei do meu pai, será que ele também estava tão bem
alimentado quanto eu? Quase parei de comer, mas eu não seria
capaz de desperdiçar uma migalha sequer de pão. Não tinha certeza
se teria na vida outra refeição como aquela, então preferi aproveitar.
Passei o restante da manhã entre a janela e a cama, quando as
lembranças vinham forte, eu corria para a janela buscando me distrair
com os pássaros ou as flores, até mesmo com o balanço das copas
das árvores, aproveitando a liberdade que o vento lhes trazia, e
apenas quando cansava de ficar de pé, voltava para a cama.
Sozinha, ouvi uma batida na porta, e imaginei que fosse Ângela, mas
estava enganada, acompanhei quando o homem mais lindo que os
meus olhos já vira na vida entrou no quarto.
Ele estava diferente, não vestia o tão charmoso terno de três peças
que eu estava acostumada a vê-lo e sim uma calça jeans escura,
camisa azul marinho e tênis. Sua beleza era gritante, cogito dizer que
ele ficaria bem de qualquer forma, até mesmo nu, talvez essa fosse
inclusive a melhor veste para o seu corpo. Não sei de onde vem
esses pensamentos de vez em quando, não é a primeira vez que
penso nele dessa forma, mas ele foi o primeiro homem que me fez
pensar assim.
Todo o encantamento que eu possa sentir por ele, se esvai no
momento em que ele abre a boca. Sei qual a minha posição aqui, sei
que lhe devo submissão, ou como ele mesmo já deixou claro, pode
tirar a minha vida quando quiser, ou pior, pode tirar a vida do meu pai.
Mas tem algo nele que não me deixa calar, de repente, eu tenho
vontade de voar sobre ele e fazer novamente o que ele deixou que eu
fizesse enquanto me manteve em seu outro cativeiro, mas eu sabia
que ele jamais permitiria, então o que eu podia, era confrontá-lo.
Sim, eu era sua prisioneira, sabia que ele poderia me matar, mas eu
não ia deixar que ele exigisse ainda mais de mim.
Eu poderia até ser grata por ele ter me salvado de ser estuprada, mas
não diria isso em voz alta, de forma alguma, disse o que ele precisava
ouvir, que tudo o que passei era sua culpa, e eu não estava mentindo
por isso.
Ele ficou irritado, ou melhor, ele ficou possesso eu sabia,
principalmente por eu contestar as suas ordens, mas eu não podia
fazer diferente, como poderia me sentar à mesa com ele como se
nada estivesse acontecendo? Como se eu estivesse aqui por vontade
própria e não por ser sua prisioneira? Eu não conseguiria e deixei
claro para ele.
Ele saiu batendo a porta e afirmando que se não fosse almoçar com
ele eu não almoçaria, pois ele que ficasse com o seu prato de
comida, eu não iria e ponto. Agradeci por Ângela ter me trazido uma
boa refeição para o café da manhã, seria o suficiente para mim, eu já
estava acostumada, lidaria bem com a falta de almoço.
Comecei a cogitar possibilidades que me tirassem daqui, quem sabe
se eu conseguisse escalar pela janela, me esgueirando pelos cantos
talvez não fosse vista, talvez eu conseguisse minha liberdade. Era
isso!
Mas, assim que passei a primeira perna no parapeito da janela a
porta se abriu, meu coração quase parou de medo e eu quase me
atirei de uma vez para fora. O que não seria muito inteligente, se
tentasse com calma talvez eu conseguisse descer em segurança, me
apoiando nas elevações da parede, mas pular de vez com certeza
não seria uma boa opção.
Agradeci, por não ser o demone a entrar no quarto e sim Ângela. Não
perdi o seu olhar de reprovação, ela trazia em suas mãos uma
bandeja, acredito que contendo mais uma refeição deliciosa.
— Venha aqui, menina — a senhora fala, fechando a porta atrás de
si, e eu como um ratinho acuado fui lentamente tirando a perna do
local onde já iniciava a minha tentativa de fuga e voltei para dentro do
quarto, indo em sua direção.
— A senhora vai contar para ele? — pergunto, temendo ouvir sua
resposta.
— Não, querida. Não vou, mesmo sendo o que deveria fazer eu não
vou contar — informa, segurando minha mão e me conduzindo até a
cama, quando eu sentei ela sentou ao meu lado.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer — ela começa. — Nem mesmo pelo
conselho que eu lhe darei agora. — Acenei que sim, ouvi-la era o
mínimo que eu poderia fazer, desde que cheguei aqui, ela tentou me
confortar o quanto pudesse, então eu me calei para que ela falasse.
— O que você pensa em fazer, não é uma ideia muito inteligente. E
conhecendo esse lugar como a palma da minha mão, eu já adianto
que você não terá êxito, meu amor, então esse não é o caminho que
deve seguir, pode acreditar.
— E qual é o caminho? Eu não enxergo nada além desse — falo, as
lágrimas dominando o meu coração.
— Talvez você não esteja procurando com os olhos corretos a sua
saída, meu anjo, as vezes precisamos abrir os olhos da nossa alma.
E é pelo coração que precisamos enxergar as coisas.
— Não entendo. — Suspiro.
— Mas vai entender, eu tenho certeza que sim, porque eu enxerguei
desde o primeiro momento em que você entrou nessa casa. — Ela
fala e eu de verdade, mesmo me esforçando não consigo
compreender o que ela quer dizer com essas palavras.
— A senhora também é prisioneira aqui? — Levo uma das mãos a
boca espantada pelo que disse, eu não sabia se ela tinha consciência
da minha condição nesta casa.
— Não se preocupe, eu sei filha. — Tranquiliza. — E não, não sou
prisioneira aqui.
— Então a senhora poderia me ajudar a sair. — Praticamente
imploro.
— Eu posso te ajudar de muitas formas enquanto estiver aqui, meu
anjo, te prometo que debaixo desse teto nenhum mal te acontecerá,
mas com esse pedido que me fez, infelizmente, não poderei ajudar,
se você sair pelos portões do complexo, eu nada mais poderei fazer.
— Mas eu preciso ver o meu pai — explico.
— Com o tempo, tenho certeza de que todas as coisas irão se
resolver, basta você ter calma, fé e tentar enxergar com os olhos da
alma, criança. Quando você fizer isso, tudo irá se resolver, eu
prometo.
Fala e se levanta em seguida, para me deixar sozinha em meu
cativeiro.
— Se alimente, mais tarde eu venho buscar a bandeja, trouxe
algumas roupas para você também, não sabia o que gostava, então,
preferi calças jeans e camiseta, se quiser outra coisa é só me falar —
informa.
— Mas ele disse que se eu não descesse para almoçar com ele eu
não iria comer nada.
— Esqueça, criança. — Faz um gesto com a mão como se não
importasse o que eu disse — Ele é o Chefe da Máfia, mas não é um
monstro, se você observar vai enxergar. — Fala e eu balanço a
cabeça descrente.
— É o que eu enxergo quando o olho.
— É o que você quer enxergar, anjo, é diferente. — Sorri, como se
estivesse certa do que acabara de me dizer. — Além disso, ninguém
que fica sob os meus cuidados vai morrer de fome, isso eu garanto.
Ângela sai, me dando muito o que pensar. Será que ela está certa?
Será que há outra possibilidade de eu alcançar a liberdade sem ter
que me arriscar fugindo?
Cedo aos impulsos do meu estomago e como todo o prato de
macarronada que ela me trouxe, eu realmente não dispenso qualquer
comida.
Deitada na cama, penso nas minhas possibilidades de fuga. Mesmo
tendo ouvido a senhora e seus conselhos ainda acho que essa é a
minha melhor opção no momento.
Por isso tomo um banho, visto a roupa que ela me trouxe e volto a
elaborar um plano, talvez, escalar a janela não seja a melhor opção,
sentada na cama começo a considerar outra possibilidade.
Capítulo 19
“Por um instante eu hesitei, eu sabia que se eu conseguisse sair,
eu alcançaria a minha liberdade, mas também era provável que
eu jamais o visse novamente.”

Passei toda a tarde considerando as minhas possibilidades, eu


poderia permanecer aqui, mas viver numa incerteza não faz muito o
meu estilo. Como eu poderia me contentar em dormir e acordar presa
em uma torre como a Rapunzel?
Não. Definitivamente essa não seria Amapola Beviláqua. E por isso
tomei a decisão de realmente tentar fugir.
Ainda durante a tarde quando Ângela veio buscar a bandeja, senti
como se a senhora pudesse me ler, ela sabia que eu não acataria os
seus conselhos e tentaria fugir, mas ela não disse nada e nem me
repreendeu.
Perguntou se eu precisava de algo, salientou a alimentação, era
como se ela estivesse cuidando de mim para que eu estivesse forte
na fuga, mesmo não aprovando minha atitude.
Eu neguei, além de realmente não estar com fome, não gostava de
estar mentindo para ela. Mesmo que de fato não fosse uma mentira,
eu só queria a minha liberdade e esperava conseguir. Eu a agradeci,
antes de sair, e ali eu estava agradecendo não apenas pela comida
que me fornecia, mas por todo o cuidado e atenção que me
dispensou enquanto eu estive nesta casa.
Durante a tarde, mapeei mentalmente todo o trajeto que percorri
desde que entrei pelos portões do complexo.
Quanto ao percurso dentro da mansão seria mais fácil para mim, com
todas as luzes acesas eu sabia exatamente por onde passei, me
arrependi um pouco, por não ter descido para almoçar. Quem sabe
eu conseguisse espiar algo do lado de fora? Mas já que eu não fui,
tudo bem não adiantava ficar me lamentando.
Eu temia apenas a área externa, era um longo caminho a percorrer
até os portões de entrada e no escuro eu não prestei muita atenção, a
parte de dentro seria trabalhosa por causa das pessoas que
transitavam, mas eu daria um jeito.
Durante a minha observação na janela, notei que sempre havia
homens armados caminhando pelos jardins, eu teria que dar um jeito
de me esquivar deles também, mas eu estava confiante.
Então quando a escuridão da noite tomou o céu, eu sabia que havia
chegado o momento, eu poderia ser confundida com um bandido e
ser alvejada por um dos seguranças, mas eu confiava que o meu
porte pequeno me ajudaria a esgueirar por entre os arbustos e
colunas e auxiliasse na minha fuga.
Com o coração batendo forte no peito, abri lentamente a porta do
quarto, eu sabia que não estava trancada, pois em nenhuma das
vezes que Ângela esteve no quarto ouvi o barulho de chaves, nem
mesmo quando o demone esteve aqui.
Andei na pontas dos pés até chegar ao topo da escada, cogitei a
possibilidade de tirar os tênis para fazer o mínimo de barulho
possível, mas desisti quando considerei que não teria muito tempo
para calçá-lo quando chegasse fora da mansão.
Com o máximo de cuidado observei todo o andar de baixo, pelo
menos os espaços que eu conseguia ter a visão. Passo a passo
comecei a descer os degraus.
Pelos cantos, me esgueirando e já sabendo qual caminho eu deveria
seguir, não demorei a chegar na imensa porta que me separava do
jardim.
Por um instante eu hesitei, eu sabia que se eu conseguisse sair, eu
alcançaria a minha liberdade, mas também era provável que eu
jamais visse novamente o anjo/demônio, que tanto me salvou quanto
me aprisionou, e eu, por mais que quisesse negar estava incomodada
com esse pensamento.
Como seria não olhar mais naqueles olhos azuis cristalinos e
impenetráveis? Como seria não sentir mais meu coração acelerar
tanto de medo quanto de satisfação quando ele estava próximo de
mim?
E também como seria não me sentir mais protegida por alguém? Fora
desses muros, eu tinha que me virar para proteger a mim e ao meu
pai, para nos alimentar e também para cuidar dele.
Desde que fui mantida prisioneira, eu tinha a estranha sensação de
proteção. Eu me senti cuidada e protegida por Amadeu, que todos os
dias fornecia o alimento e que quando me deixou no cassino deixou
claro que ninguém deveria me tocar, ou ele mataria. Senti-me cuidada
por Ângela, com suas palavras de conforto, comidas deliciosas e um
carinho que eu só senti vindo da minha mãe e do meu pai, e por mais
estranho que parecesse eu me senti protegida pelo demone ou
angelo, como eu também o via, o meu anjo salvador.
É como se essa sua face apenas eu pudesse enxergar, ainda que
escondida por diversas barreiras eu conseguia ver a compaixão e o
cuidado em seu olhar, assim como eu também vi o desespero por me
encontrar naquela situação na boate, mesmo que ele não quisesse
demonstrar eu vi e senti.
Mas não, eu não podia me deixar levar por essas falsas sensações,
nada disso era real, foram apenas ilusões que eu criei. Com essa
certeza, rumei para a noite escura, o vento frio tomou a minha face, e
eu quase sorri de satisfação, digo quase, porque uma pequena parte
de mim queria ter ficado, mas eu segui em frente.
Vou me esgueirando por entre os arbustos e pilastras que passei toda
a tarde tentando gravar a localização pela janela do quarto. Eu
consegui avançar, entretanto uma voz grossa e grave soou atrás de
mim, e eu soube que era o meu fim.
— O que pensa que está fazendo? Mãos na cabeça e ajoelha. — Era
uma ordem eu sabia, então fiz o que mandou.
Eu não podia ver o dono da voz, mas sabia que não era o demone e
nem o carrasco que me levava alimentos. Ele, por sinal, eu sabia
estar viajando por causa da conversa no cassino ontem à tarde.
Então sendo outro segurança, provavelmente, deve estar achando
que eu estou invadindo a propriedade do seu senhor. E vai estourar
meus miolos e lhe entregar em uma bandeja de presente como
prêmio pelo seu serviço perfeito.
Será que iria adiantar rogar a Deus mais uma vez? Ultimamente, eu
tenho recorrido tanto a ele já nem deve mais estar aguentando os
meus lamentos, mas não custa tentar não é mesmo? Pensando
assim, peço a Deus que ele não me mate e ao homem que me
mantém cativa no chão peço clemencia.
— Per favore, senhor, não me mate — ele para a minha frente. Eu já
estou de joelhos como ele mandou e com as mãos para o alto em
sinal de rendição, reconheço o homem que acompanhava o demone,
quando ele me trouxe do cassino.
Ele não me responde, apenas tira um aparelho de celular do bolso e
disca para alguém, eu imagino quando leva o telefone ao ouvido.
— Chefe? — Meu coração quase para quando entendo o que ele fez,
começo a gesticular desesperadamente para que não faça isso, mas
nada que eu faça adianta e ele avisa o que eu acabo de fazer. —
Encontrei a prisioneira tentando fugir. — Ele ouve algo que o demone
fala. — Sim, senhor, no jardim central, na frente da mansão. — Faz
uma pausa — Eu o aguado.
— Ele vai me matar — falo quando ele encerra a chamada e mantem
os olhos presos em mim, aponta uma pistola para a minha testa.
— Se tivesse realmente medo não teria tentado fugir, não seja tola
menina, nada foge aos olhos do chefe.
— Ou dos seus cães de guarda — retruco irritada, sei que vou morrer
mesmo então não vou ficar quieta.
— Que seja, não importa quais são os olhos que te prendem, todos te
levarão a ele, você já deveria ter entendido isso, garota.
Dito isso o homem se cala e vejo uma sombra irromper a escuridão
da noite, sei que é ele e que o momento da minha sentença final se
aproxima então em silêncio apenas espero.
— Pode ir agora, Matteu. Eu assumo daqui pra frente — ele fala e eu
nem preciso levantar os olhos para saber que ódio puro crepita em
sua face.
O segurança se afasta, eu levanto os olhos o encarando, todos
podem temer a sua face de anjo caído, mas eu não. Eu não o temo e
deixo claro isso quando o encaro, refletindo em meus olhos a mesma
raiva que vejo nos seus.
Se for para eu morrer que eu o faça com dignidade.
— O que pensa que está fazendo? — pergunta rompendo o silêncio.
— Fugindo!? — falo entre afirmação e questionamento e confesso
que as palavras saíram com mais deboche do que eu pretendia.
— E por acaso você acha que iria conseguir?
— Talvez sim
— Pois que fique claro, ragazza, que você não conseguirá, nem que
eu precise te algemar aos pés da minha cama, para que eu mesmo te
sirva de guarda.
— Você não seria capaz disso, seria? — pergunto assustada, será
que ele faria realmente isso, como eu sobreviveria tão próximo dele,
eu não duraria mais de um dia com vida por causa dessa minha boca
que sempre fala o que minha cabeça pensa.
— Tente fugir novamente e é exatamente isso que eu farei, agora
levante, vamos para dentro, AGORA. — Ele me puxa pelo braço, me
tirando do chão e uma raiva me domina de uma forma que eu não
consigo controlar, então vem a explosão.
— Eu vou embora daqui, não quero e não vou ser sua prisioneira
para sempre, não consigo viver dessa forma. Se for para ser assim eu
prefiro morrer, me mate Salvatore, me mate — falo e as lágrimas
tomam a minha face quando me ajoelho novamente, esperando o tiro
de misericórdia, eu me rendi, não aguento mais.
— Levante, Amapola. — Ouço sua voz cortar o vento.
— Não — retruco.
— Levanta e eu te dou uma chance de fugir de mim, se conseguir eu
garanto a você que não irei atrás. — Assim como eu, ele também
estava desistindo, eu deveria ficar feliz com isso não é mesmo? Mas
no fundo eu não estava.
Estava aí a minha chance de seguir em frente, mas eu não estava
totalmente feliz com essa possibilidade, será que eu fugi porque sabia
que ele viria atrás de mim? Será que no fundo eu não queria
conseguir? Eu não sabia, mas mesmo assim eu me levantei, fiquei de
pé e o encarei.
— O que você vai fazer comigo?
— Te dar uma chance de fugir, chega de joguinhos, eu nunca
mantenho ninguém preso por muito tempo. Eu mato na primeira
semana, mas eu não fiz com você, e talvez esse tenha sido o meu
erro, eu deveria ter matado você e o seu pai.
— Deixe o meu pai de fora, sou eu que te desafio o tempo inteiro,
então desconte sua raiva em mim apenas.
— Não seja tola menina, eu deixo que você me desafie, ainda não
percebeu? Acho engraçada essa sua petulância, essa sua mania de
achar que pode medir forças comigo, mas não pode Amapola. Você
não tem forças para lutar contra mim e vou te provar isso agora.
Chega dessa brincadeira de gato e rato, vamos brincar feito adultos
agora, você é a caça, e eu o caçador, se eu te pegar você será minha
prisioneira até o seu último suspiro em vida, se você passar dos
portões terá sua desejada liberdade.
— Isso não é justo, eu não conheço esse lugar, e os seus homens
sempre podem me pegar — falo, sabendo que numa corrida entre ele
e eu, eu não tenho um porcento sequer de chance de vencê-lo.
— Eu não falei que seria, mas vamos lá, eu gosto de desafios, nada
muito fácil me apetece, então te darei algumas vantagens.
— Quais? — pergunto confiante.
— Nenhum dos meus homens chegará perto de você, seremos só
nós dois, e eu te dou cinco minutos de vantagem à minha frente, olhe
para lá. — Ele gira os meus ombros, colando minhas costas em seu
peito, abaixa a cabeça falando baixo em meu ouvido quando aponta
para a frente. — Siga por esse caminho e chegará no portão de
saída. — Sua voz grossa e baixa causa arrepios em todo o meu
corpo e eu suspiro involuntariamente. — Eu abrirei os portões quando
e se você se aproximar dele, sua liberdade estará garantida —
completa e se afasta bruscamente.
Quase caio com a distância repentina, mas me esforço para controlar
os espasmos voluntários do meu corpo. Olho em sua direção e ele
com um sorriso nos lábios pega o aparelho de telefone para chamar o
seu segurança, realmente ele não falou que seria justo, eu só não
imaginei que fosse ser dessa forma.
— Sim, senhor — O mesmo homem que me capturou se aproxima.
— Quero todos os homens na parte de trás da mansão, ninguém
deve se aproximar do jardim e nem do portão pelos próximos quinze
minutos, tire inclusive a guarda do portão, você ficará na guarita de
vigilância, e se a senhorita Amapola se aproximar do portão quero
que o abra, deixe-a sair.
— Senhor, abrir os portões sem nenhuma guarda é muito perigoso —
o homem fala e eu me preocupo.
— Não foi um pedido, Matteu, foi uma ordem. Eu estarei aqui na parte
da frente do complexo, só faça o que mandei imediatamente. — Ele
não dá chances para o homem contestar.
Pude sentir a aflição do tal Matteu com a ordem do chefe, será que
seria realmente tão arriscado quanto parecia enquanto eles falavam?
Mesmo temerosa tentei não pensar nisso agora, eu tinha a minha
chance então eu a agarraria e arcaria com as consequências, fossem
elas quais fossem.
— Corra, Amapola. Você tem cinco minutos de vantagem. — Ouço
sua fala e como se um gatilho tivesse sido acionado eu me ponho a
correr desesperadamente.
Para ser sincera, eu não tenho o hábito de correr, então fiz o mais
rápido que pude, meus pulmões estavam ardendo com o esforço e eu
sabia que a qualquer instante eu iria cair ao chão, mas não, eu não
podia deixar isso acontecer era a minha chance eu não poderia
sucumbir as minhas forças físicas, minha mente deveria ser mais
forte. Agradeci todo o alimento que consumi durante o dia, era o que
estava me dando um gás a mais.
Eu sabia que levaria tempo para chegar ao portão principal, mesmo
não estando totalmente atenta quando entramos, mesmo tendo
percorrido de carro foi demorado, acredito que já estou correndo a
cerca de dez minutos e ao olhar para trás de relance vejo uma
sombra correndo em minha direção, eu sabia que em breve ele me
acompanharia, vi o portão de longe, e vi também que ele diminuiu o
passo, ele estava me dando a chance de fugir eu senti que era isso
que estava acontecendo. Então olhei para trás mais uma vez,
sabendo que era a última que o veria, e quando os imensos portões
de ferro começaram a se mover lentamente, abrindo passagem, era a
minha liberdade se aproximando e eu corri ainda mais rápido.
Porém, ainda mais rapidamente senti a sua aproximação, não sei
como ele irrompeu a distância que tínhamos em tão poucos
segundos. No mesmo instante em que eu corria, desesperadamente,
para a minha liberdade, senti suas mãos me alcançarem e me
empurrarem bruscamente para o lado, ele me empurrou diretamente
para o meio das árvores frondosas que havia ali.
Sem entender direito o que estava acontecendo enquanto caia
desequilibrada, vi ele sacar uma arma das suas costas e mirar, não
para mim, mas para um carro prata que se aproximou em alta
velocidade. Eu sequer o tinha visto, mas ele viu, ele mais uma vez
salvou a minha vida, enquanto eu acabara de tirar a dele, ele caiu no
chão, após o ensurdecedor barulho de tiros sendo disparados
ininterruptamente, Salvatore havia sido atingido.
O segurança que estava na guarita atirou contra o carro e eles
rapidamente voltaram ainda de ré pelo mesmo caminho que vieram,
enquanto eram atingidos por muitos tiros dado por uma arma que eu
acredito ser uma submetralhadora.
Ainda atônita pelo susto, levantei cambaleante e olhei para o portão
era a minha liberdade ali tão perto de mim e olhei para Salvatore
caído no chão, caminhei até ele o sangue escorrendo pelo chão
coberto de pequenas pedrinhas, mas ele tinha os seus olhos abertos,
e eles me encararam frios como sempre, mas tristes como nunca
antes eu vi.
— Vá, minha Amah, eu te dou sua liberdade, eu te deixo ir — fala em
um fio de voz e eu fiz o que deveria fazer.
— SOCORRO, SOCORRO... Alguém me ajuda, por favor. — Já
abaixada ao seu lado, apoiando a sua cabeça em minha perna,
implorei para que alguém chegasse até nós rapidamente, ele me
salvou tantas vezes, eu precisava salvá-lo também.
— Não se assuste, mia bela. Eu estou bem, vai ficar tudo bem — ele
fala com uma calma impressionante, tentando me tranquilizar quando
na verdade era eu que deveria estar fazendo isso por ele.
Um carro preto freou os pneus bruscamente ao nosso lado e três
homens além do que já tinha nos alcançado por estar na guarita se
precipitaram em nos ajudar. Eu realmente não tinha forças para
erguê-lo, ainda mais tomada pelo desespero como estava.
— Já vamos para o hospital, chefe — Matteu informa, apoiando o seu
ombro e o coloca no banco traseiro.
— Eu vou junto — aviso.
— Não. Você fica — Matteu fala, me olhando com raiva. Eu sabia que
ele me culpava pelo que aconteceu, todos me culpavam na verdade,
até eu mesma sabia que a culpa era da minha teimosia, mas eu não
me afastaria dele.
— Não foi um pedido, Matteu. Foi uma ordem. — Respondi e passei
pelo segurança determinada a não me afastar do meu anjo caído e
quando coloquei a cabeça dentro do veículo minha mão foi segurada
pelo segurança, eu estava sendo puxada para fora.
— Deixe-a — Salvatore interferiu com um sorriso nos lábios.
Eu entrei satisfeita no veículo e deitei sua cabeça no meu colo, ele
entendeu minha posição. Ele me deu a liberdade, mas eu escolhi ficar
com ele, o que aconteceria daqui para a frente eu não sabia, mas
esperava não me arrepender.
Capítulo 20
“Chega dessa brincadeira de gato e rato, vamos brincar feito
adultos agora, você é a caça, e eu o caçador, se eu te pegar você
será minha prisioneira até o seu último suspiro em vida, se você
passar dos portões terá sua desejada liberdade.”

Passei o dia inteiro ainda mais irritado do que é de costume, a


ragazza fazia questão de me tirar do sério, mesmo quando eu
estendia uma bandeira branca propondo uma trégua, mas não, ela
não queria.

Mesmo sendo apaixonado pela macarronada da Naná, eu quase não


consegui comer, de repente, com poucas palavras ela havia me tirado
totalmente o apetite, me afundei novamente no escritório.

Eu iria me encher de trabalho para tentar esquecê-la. Assim que


Amadeu chegasse, a sua primeira função seria providenciar um lugar
para colocar a garota e sumir com ela das minhas vistas.

Ela estava me tirando o foco, e principalmente, me tirando do sério.


Eu não podia permitir isso.

Tive boas notícias sobre os Russos, pouco a pouco eles estavam


sendo eliminados, havia a possibilidade de uma dupla estar aqui em
Roma, mas eu estaria atento e os rastrearia, se realmente estivessem
aqui. Eles não sairiam com vida, eu iria garantir pessoalmente.

Lembrei dela quando Ângela me levou um café expresso e alguns


biscoitos no meio da tarde. Eu havia a deixado com fome, isso estava
me incomodando, mas a criatura precisava me afrontar tanto?

Será que Ângela teria lhe dado algo para comer, contrariando as
minhas ordens? Pela primeira vez desejei que ela não tivesse me
obedecido, eu não falaria isso em voz alta, de forma alguma, mas
desejei que ela tivesse alimentado Amapola. No fundo sabia que essa
possibilidade era grande, ela havia se apegado a menina, eu pude
perceber.

Tentei e consegui desviar a minha atenção para o trabalho, entre


ligações e contatos influentes consegui descobrir que os Russos
realmente estavam aqui, dois deles entraram em Roma e o destino
dos dois já estava traçado.

Avisei a Matteu para que ele aumentasse a segurança do complexo,


separei um espaço especial, para leva-los assim que conseguisse
captura-los, afinal eu faria questão de lhes dar uma hospedagem
cinco estrelas. Seria uma cortesia da Máfia Italiana, um aviso para
outros que ousassem pisar no solo sagrado de la mostra terra.

Por volta de oito horas da noite meu celular toca, vejo que é Matteu e
estranho, ele está na guarda externa da casa, será que houve algum
problema?

— Chefe?
— Sim?
— Acabei de pegar a prisioneira tentando fugir — ele fala e eu mal
posso acreditar em suas palavras, será que Amapola foi tão burra
assim?
— Você a capturou? Não toque nela. Onde vocês estão? — Despejo
perguntas e ordens que espero que ele entenda.
— Sim, senhor. No jardim central, na frente da mansão.
— Já estou a caminho — aviso já ficando de pé
— Eu o aguardo. — Encerro a ligação e saio do ambiente feito um
raio.
— Por favor, meu filho, não faça nada com a menina. — Ângela me
aborda no meio do caminho.
— Você a ajudou? — pergunto mesmo sabendo que ela jamais faria
isso.
— Claro que não, senhor, eu jamais o trairia — fala me tranquilizando
— Eu sei Ângela, sei que não seria capaz.
— Claro que não seria, mas por favor não a machuque. Ela não
merece, sei que a menina já sofreu demais, e se ela quiser ir, deixe
que vá meu filho, se for para ser sua ela voltará, ninguém tira de nós
algo que é nosso, e se for para ser será. — Naná como sempre, fala
tudo o que pensa e quase consegue me irritar mais do que Amapola.
— Do que está falando?
— Você sabe, Salvatore, não negue mais o que eu enxerguei desde a
primeira vez que os vi juntos.
— Você está variando, velha enxerida.
— Não estou não, meu menino. Escute o que eu lhe digo, deixe-a ir, e
verá que ela vai ficar, acredite na experiencia dessa velha enxerida —
fala com um sorriso nos lábios e eu não me dou o trabalho de
responder. Saio da mansão bufando de ódio.
De longe eu consigo ver Amapola ajoelhada no chão, eu estava com
raiva, com muita raiva, principalmente depois das palavras de Naná.
Será que ela estava certa? Será que eu realmente estava querendo
Amapola por perto e por isso a mantinha aprisionada? Será que eu
deveria deixa-la ir?
Enquanto caminhava a passos largos, cogitei várias possibilidades,
mas a única que eu tive certeza é que eu não a queria distante.
— Pode ir agora Matteu, eu assumo daqui pra frente. — Dispensei o
meu segurança, eu queria lidar com ela sozinha.
— O que pensa que está fazendo? — pergunto quando recupero o
folego e controlo a raiva.
— Fugindo!? — A desaforada fala com rebeldia.
— E por acaso você acha que iria conseguir? — questiono com uma
sobrancelha erguida
— Talvez sim — responde, e eu tenho vontade de rir.
— Pois que fique claro, ragazza, que você não conseguirá, nem que
eu precise te algemar aos pés da minha cama, para que eu mesmo te
sirva de guarda. — ameaço.
— Você não seria capaz disso, seria? — O medo de que eu
realmente fizesse isso crepitou em sua fala.
— Tente fugir novamente e é exatamente isso que eu farei, agora
levante, vamos para dentro. AGORA — falo sem nenhuma paciência.
— Eu vou embora daqui, não quero e não vou ser sua prisioneira
para sempre, não consigo viver dessa forma. E se for para ser assim
eu prefiro morrer, me mate Salvatore, me mate. — Ouvir ela preferir a
morte do que ser minha prisioneira me rasgou por dentro. Eu não a
queria morta, também não a queria sofrendo, se estar perto de mim
lhe fazia tão mal, eu lhe daria uma chance.
— Levanta, Amapola — falo.
— Não. — Ouço sua resposta.
— Levanta e eu te dou uma chance de fugir de mim. Se conseguir eu
garanto a você que não irei atrás. — Deixo clara a minha intensão.
— O que você vai fazer comigo?
— Te dar uma chance de fugir, chega de joguinhos, eu nunca
mantenho ninguém preso por muito tempo. Eu mato na primeira
semana, mas eu não fiz com você, e talvez esse tenha sido o meu
erro, eu deveria ter matado você e o seu pai — começo a falar e ela
me corta. Amapola é a única pessoa que tem coragem de interromper
as minhas falas, as vezes acho até engraçado isso.
— Deixe o meu pai de fora, sou eu que te desafio o tempo inteiro,
então desconte sua raiva em mim apenas.
— Não seja tola menina, eu deixo que você me desafie, ainda não
percebeu? Acho engraçada essa sua petulância. Essa sua mania de
achar que pode medir forças comigo, mas não pode, Amapola. Você
não tem forças para lutar contra mim, e vou te provar isso agora,
chega dessa brincadeira de gato e rato, vamos brincar feito adultos
agora, você é a caça, e eu o caçador, se eu te pegar você será minha
prisioneira até o seu último suspiro em vida, se você passar dos
portões terá sua desejada liberdade. — Deixo claro o que acontecerá
aqui agora, mas como sempre, com Amapola sempre tem um porém,
ela queria garantir que conseguiria escapar, então eu entendi que
Ângela estava certa, eu precisava deixá-la ir já que não teria coragem
para matá-la. Ninguém precisava saber o que eu realmente sentia,
mas eu a deixaria ir, estava decidido.
Falei para ela quais seriam as suas vantagens, ela ainda não sabia,
mas a sua saída pelos portões do complexo já era certa, eu apenas
aproveitei mais uma vez, para sentir o seu cheiro e tocar em seu
corpo, quando sussurrei em seu ouvido como seriam as regras e
apontei por onde ela deveria seguir, eu queria manter o seu cheiro
delicado guardado em minha mente, por isso respirei em seu
pescoço.
Senti quando ela se arrepiou, seu corpo estremeceu levemente. Eu
pude sentir porque ainda estava colado no meu, se eu sussurrasse
mais um pouco naquele pontinho do seu pescoço, próximo a sua
orelha, poderia jurar que ela deitaria um pouco mais o pescoço para a
lateral e pediria por mais. Se derreteria em meus braços, eu me
afastei para não fazer exatamente isso, não tentar convencê-la a ficar
utilizando de outras artimanhas. Eu já tinha decidido deixaria que
partisse.
Dar-lhe cinco minutos de vantagem, não era nada para mim, eu
poderia dar dez e ainda assim eu a alcançaria, mas eu a
acompanharia de longe até o fim, até que ela cruzasse os portões e
eu tivesse que não só deixa-la partir como também apaga-la da
minha mente. Eu queria aproveitar os últimos minutos em sua
companhia.
Dei as ordens a Matteu, eu sabia que ele havia ficado insatisfeito com
o que eu disse, as últimas informações davam conta que os Russos
estariam rondando a propriedade, por um instante me preocupei com
ela, será que eles a pegariam? Eu poderia mandar que alguém a
seguisse em segurança até sua casa, era isso, eu precisava parar de
procurar desculpas para mantê-la aqui quando tudo o que ela mais
queria era distância de mim.
Assim que eu dei as ordens e Matteu se foi, mandei que ela corresse.
Ela o fez, vi Amapola correr como se sua vida dependesse disso e
enquanto ela corria eu apenas caminhava em seu encalço, mantendo
uma distância para que ela achasse que ela havia ganhado e eu
perdido, no fundo era isso mesmo, mas não da forma que ela iria
interpretar.
Quando ela entrou na reta longa que já lhe dava visão dos portões,
eles começaram a abrir, era Matteu seguindo minhas ordens
enquanto eu queria correr e impedir que ela fosse. Eu queria que ela
ficasse, mas ela iria, ela hesitou, eu vi quando olhou para trás me
procurando, será que ela iria voltar como Naná falou, ou a velha
estava errada como eu pensava.
Infelizmente, ela estava errada. Amapola voltou a correr em direção a
sua liberdade, mas foi aí que eu vi, um carro se aproximava com os
faróis apagados, na escuridão era quase imperceptível, mas meus
olhos treinados viram, então eu corri, sabia que em menos de dez
segundos eu a alcançaria, e corri em sua direção, certo de que eu
poderia perder a minha vida no confronto mas salvaria a dela,
esperava que Matteu estivesse tão atento quanto eu.
E quando o som da primeira rajada de tiros soou, eu sabia que vinha
do meu soldado, empurrei Amapola e esperava que ela não se
machucasse, mas essa era a única forma de tirá-la da linha de tiros
que eu sabia que viria em minha direção.
Saquei a minha arma da cintura e revidei, senti quando fui atingido de
raspão na barriga e no ombro esquerdo, quando vi que eles estavam
recuando, me deixei cair no solo, sabia que ela estava a salvo e que
meu soldado lidaria com o restante.
Acredito que Amapola não conseguiu de fato acompanhar toda a
situação. Ela não estava acostumada com tudo isso, por isso, vi de
relance quando ela se levantou cambaleando e se aproximou
hesitante de mim.
Eu vi a dúvida estampada em seu rosto, Amapola olhava entre mim e
o portão, então eu lhe disse o que tinha pensado desde o momento
que saí da mansão.
— Vá, minha Amah, eu te dou sua liberdade, eu te deixo ir. — Meu
coração se quebrou com as palavras ditas mas eu precisava lhe dar
isso.
— SOCORRO, SOCORRO... Alguém me ajuda, por favor —
Surpreendendo-me, ela se abaixou ao meu lado. Com um cuidado
que há muito tempo eu não sentia, ela segurou minha cabeça e
repousou em seu colo enquanto implorava por ajuda, eu já sabia que
os meus homens estavam a caminho então relaxei no conforto dos
seus braços.
— Não se assuste, mia bella, eu estou bem, vai ficar tudo bem. —
Tento tranquilizá-la o desespero dela estava me incomodando.
— Já vamos para o hospital, chefe — Matteu fala quando um dos
carros parou ao meu lado.
— Eu vou junto — Amapola fala.
— Não. Você fica — Matteu tenta impedi-la.
— Não foi um pedido, Matteu. Foi uma ordem — Minha Amah, falou
como se fosse a dona da porra toda e ela era realmente.
Vi o meu homem de confiança hesitar diante dela, da sua postura
segura e quando ele, mesmo temeroso tentou segurá-la, validei a sua
ordem. Eles que se acostumassem com ela a partir de hoje, se ela
decidiu ficar, eu jamais a deixaria partir.
Seguimos em alta velocidade até o hospital, sabia que uma equipe
médica já me esperava, quando entrei no ambiente o meu estresse
que o carinho que Amapola depositou em meu cabelo por todo o
trajeto afastou, voltou imediatamente.
Queriam que eu deitasse em uma maca, mas eu sabia que não
precisava então entrei andando como eu queria.
— Senhor, — o médico que me aguardava começou a falar — preciso
que o senhor colabore, perdeu muito sangue, preciso que se sente
pelo menos na cadeira de rodas se não a sua situação pode piorar.
— Ele vai colaborar, pode trazer a cadeira. — Amapola se precipita e
responde antes de mim.
Vejo os meus soldados se afastarem um pouco, nos dando
privacidade, e eu a encaro, mas não tenho tempo de questionar pois
o médico chega com a cadeira de rodas e ela se põe a ajuda-lo.
— Vou deixar que, sua esposa o acompanhe senhor. Acho que ela
vai nos ajudar a ajuda-lo. — Esse médico já é conhecido da famiglia,
então esse não é o nosso primeiro contato e ele sabe que eu costumo
lhe dar trabalho.
— Eu não o deixaria — ela afirma.
Quando chegamos a sala de exames descobrimos que ambos os
tiros foram de raspão, então eu não ficaria muito tempo no hospital.
De qualquer forma, eu logo estaria em casa, não é o primeiro tiro que
eu tomo, e mesmo da vez que passei por uma pequena cirurgia para
retirar um projetil cravado na minha coxa eu fui para casa em
seguida, imagine tendo sido baleado de raspão.
Eles fazem os procedimentos necessários sob a supervisão criteriosa
de Amapola. A mulher fez milhões de perguntas e tirou suas dúvidas
quanto aos cuidados necessários. Quando o médico dispôs uma
enfermeira, como é costume em situações como essa, ela dispensou
prontamente, dizendo que ela faria o trabalho.
E eu fui apenas expectador de toda a cena, pela primeira vez na vida
eu deixei que outra pessoa decidisse o que era melhor para mim. E
estava satisfeito com isso desde que fosse ela.
Eu precisaria estabelecer limites, eu sabia, mas só por hoje eu a
deixaria agir.
Capítulo 21
"Salvatore me deu a chance de partir e eu resolvi ficar, porém
não sabia quais seriam as consequências dessa decisão, preferi
pensar nisso em um outro momento"

Meu coração ainda estava acelerado com tudo o que vivi nas últimas
horas quando entramos no carro para voltar ao complexo.

O homem era nervoso demais, irritado demais, teimoso demais, mas


eu cuidaria para que ele se recuperasse como deveria.

Ainda não estava entendendo muito bem o que estava sentindo por
ele, será que seria só gratidão? Será que seria medo do poder que
ele tinha sobre minha vida?

Salvatore me deu a chance de partir e eu resolvi ficar, porém não


sabia quais seriam as consequências dessa decisão, preferi pensar
nisso em um outro momento.

Quando chegamos em casa, Ângela correu em nossa direção.

— Grazie a Dio stanno bene! — exclama aliviada.

— Sim Ângela, estamos bem — Salvatore fala. — Não é dessa vez


que usarei um dos meus paletós pretos em um caixão.
— Não fale bobagem, menino. Eu estava aflita — a senhora fala
preocupada. — E você anjo? Está tudo bem?

— Sim senhora, obrigada — respondo a sua pergunta — Eu vou levar


o Senhor Salvatore para o quarto... quer dizer, vou ajudá-lo chegar
até lá — falo constrangida.

Pela primeira vez, o chamei de senhor, eu sempre o chamei pelo


nome Salvatore. Gostava de como me sentia sabendo que quando o
fazia, ele se ofendia. O homem estava acostumado a ter todas as
pessoas ao seu redor o tratando com formalidade, mas eu não. Eu o
chamava pelo nome, porém sabia que ele não toleraria essa atitude
na frente dos outros, é como se eu o estivesse desautorizando,
diminuindo sua posição, e agora, não estando mais em guerra com
ele, eu não queria causar transtornos.

— Vá... — Ângela fez um gesto com a mão, como se mandasse que


eu fosse rápida. — Pela quantidade de sangue que vi próximo ao
portão, sei que ele deve estar fraco, vou fazer um suco e um lanche e
subo para levar.

Eu quis apoiar o seu corpo sobre o meu ombro para ajudá-lo na


subida das escadas, mas ele não permitiu. O homem era uma rocha,
mesmo que eu o tenha percebido pressionar o ferimento em seu
abdome, acredito que ele estava sentindo dor, mas tinha certeza de
que ele jamais admitiria.

Quando chegamos à porta do seu quarto, ele esperou que eu o


deixasse ali, mas é claro que eu não faria isso. Assim como ele
cuidou de mim, eu iria retribuir. Fiquei impressionada com a beleza do
lugar, era tudo tão a cara dele que não me surpreendi pelo preto ser a
cor dominante na decoração, contrastando totalmente com as
imensas pedras de mármore carrara estatuário que revestiam o piso
de toda a residência, até os lençóis que cobriam a sua cama no
centro do quarto que eram de ceda preta.

— Eu estou bem Amapola, consigo me virar sozinho.


— Tenho certeza que sim, mas prefiro garantir que fará tudo o que o
médico mandou, além disso, terei que refazer os curativos quando
você terminar o banho. — respondo, não me importando em
questioná-lo.

— Acho que consigo fazer isso sozinho, afinal tenho dois braços.

— Eu sei, consigo ver, tenho uma ótima visão por sinal. — Não
contenho a irritação — Mas eu dispensei a enfermeira que viria, então
farei o meu trabalho.

— E desde quando você tem experiência com ferimentos e curativos?


— pergunta na tentativa de dissuadir minha ideia em ajudá-lo, mas
ele realmente não faz ideia de quantas vezes tive que cuidar dos
machucados do meu pai desde que a minha mãe se foi.

— Desde que meu pai precisou pela primeira vez — falo, e minha voz
demonstrou a tristeza que senti. — Quando ele amputou o braço, era
eu quem cuidava do local, não tínhamos condição de pagar um
enfermeiro para isso, então, tive que aprender, e depois, em todas as
vezes que ele precisou, fui eu quem cuidou dele.

— Eu não sabia — Talvez houvesse uma nota de pesar em sua voz,


como se não quisesse que eu tivesse passado por aquilo.

— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, Salvatore.

— Mas pretendo descobrir cada uma delas, Amapola. — Eu não


esperava por essa resposta então fico apenas em silêncio, mas
resolvo agir, ele precisa de um banho e cama o quanto antes.

— O seu closet fica naquela porta? — pergunto, apontando o local e


ele confirma. — Vou buscar algo para vestir, por favor me espere.

— Esperarei, Amapola, pelo menos hoje eu não vou a lugar algum. —


Ouço suas palavras enquanto me afasto.

Entro no local e me surpreendo com a quantidade de roupas e a


organização. Suponho que suas roupas de dormir fiquem nas gavetas
e quando abro, sorrio satisfeita, eu acertei. É como se conhecesse
cada lugar que o pertence, estranhamente, eu me sentia íntima dele.

Quando volto para o quarto, com uma calça de moletom e uma


camisa branca, diferentemente, do que falou, ele não me esperava,
então supus que estivesse no banheiro.

Seria a outra porta do quarto? Era o que eu iria descobrir agora.

Sem bater para me anunciar girei a maçaneta e vi o homem com uma


careta de dor terrível enquanto se esforçava para desfazer os botões
da camisa social, o terno já não estava em seu corpo.

— Por que você é assim tão teimoso, Salvatore? — questiono já


entrando no ambiente, e com a preocupação de ajudá-lo nem
observei a beleza do local.

— Eu teimoso? O que queria, Amapola? Que eu esperasse para que


você me despisse? — pergunta para me provocar, e eu engulo em
seco com a ideia. Eu nunca havia despido um homem, exceto meu
pai quando embriagado é claro, mas era exatamente isso que eu
esperava.

— Sim, Salvatore. Era exatamente isso que eu esperava, e é o que


eu farei. — Noto a surpresa por minhas palavras em seu semblante
enquanto parto em sua direção, determinada a fazer o que disse.

Olho em volta e vejo que há uma poltrona em um dos cantos, seguro


em sua mão pela primeira vez com a intenção de conduzi-lo até o
local e um arrepio percorre minha pele quando se choca com a dele.

— Preciso que se sente, você é muito... grande, eu não conseguiria te


ajudar — falo quando chegamos ao móvel, ele me seguiu sem
protestar.

Antes que ele se sentasse, soltei com cuidado cada botão da sua
camisa, e pude ver de perto, e sentir também nos leves toques o
quanto o seu corpo era definido. Em seu peito havia uma tatuagem,
eu já vira esse símbolo antes e sabia ser o brasão da máfia que ele
comandava. Era uma caveira alada, com uma espécie de chapéu
adornada por rosas vermelhas e armas de fogo. A tatuagem saltava
aos olhos por causa da cor da sua pele muito branca, era toda preta,
com exceção das rosas coloridas, por mais tenebroso que fosse
aquele símbolo e tudo o que ele significava, eu achei... linda,
combinava com ele e com tudo o que ele representa.

Sua barriga possuía os gominhos tão bem marcados que eu pude


contá-los, eram três de cada lado totalizando seis, o último descia até
a sua virilha formando um “V” perfeito, quase suspirei quando puxei
delicadamente a ponta que estava presa em sua calça social e
constatei onde aquele caminho do pecado encerraria.

Coloquei-o sentado na poltrona e tirei, com cuidado, a peça do seu


corpo. Primeiro, retirei as abotoaduras que eu sabia que eram de ouro
e que prendiam os punhos. Em seguida, o ajudei a retirar o braço que
não tinha sido machucado e só depois finalizei deslizando a peça de
roupa por seu braço ferido, quando o encarei, percebi que assim
como eu, Salvatore respirava pesadamente.

— Vou buscar a caixa de primeiros socorros que trouxemos do


hospital, não saia daí — aviso, querendo realmente executar a tarefa
de despi-lo. Nada me daria mais prazer no momento do que cuidar
dele e iria aproveitar enquanto ele estivesse cooperando, não sabia o
quanto duraria.

Corri para fora do banheiro e quando segurei a caixa nas mãos


respirei fundo antes de voltar. Eu precisava de autocontrole, meu
corpo estava tendo algumas reações que eu jamais havia sentido em
minha vida, mas mesmo sendo virgem eu sabia o que era: Desejo.

Para a minha surpresa, Salvatore ainda estava no local que o deixei,


parecia em transe olhando para um ponto fixo a sua frente, mas a
minha aproximação chamou a sua atenção e ele a desviou para mim.

Coloquei a caixa em um pequeno banco de descanso para pés que


estava à frente da cadeira, com cuidado o arrastei para o lado, com
medo de que a ação danificasse o piso que com certeza valia mais do
que eu já teria ganho em toda a minha vida.

Coloquei-me entre suas pernas e com a ajuda de um algodão


embebido em óleo mineral retirei com cuidado o curativo colocado em
seu ombro. O médico havia dito que se ele não molhasse não
precisaria trocá-lo hoje, apenas amanhã. O homem teimoso deixou
claro que um banho seria a primeira coisa que faria assim que
pisasse em sua casa, então eu estava tentando com todo o cuidado
não piorar a situação do ferimento. Nós estávamos tão próximos que
podia sentir a sua respiração forte batendo contra meu peito e se não
fosse pelo soutien de bojo ele já teria percebido os bicos enrijecidos.

Quando terminei o processo no ombro, descartei o algodão na lixeira


e embebi outro no algodão no mesmo óleo, me ajoelhei entre suas
pernas e com cuidado toquei o curativo que tomava o lado esquerdo
da sua barriga.

— Pare, Amapola. — Salvatore rosna quando comecei a retirar uma


pequena parte do adesivo.

— Oh mio Dio, te machuquei? — pergunto preocupada, pois estava


tomando o máximo de cuidado para que não sentisse dor.

— Não, Amapola, não machucou, mas tê-la assim, ajoelhada entre


minhas pernas é uma visão difícil de lidar — fala e eu fico
momentaneamente sem palavras.

— Pois então não olhe para mim e eu terminarei quanto antes o meu
trabalho. —Volto à posição de antes, e tento ser o mais rápida que
consigo.

— Cáspita — ouço ele resmungar, mas tento não lhe dar atenção,
finalizo o trabalho e percebo que embora tenha sido atingido de
raspão foi profundo. Com certeza ficaria uma cicatriz não muito bonita
naquele local antes de levantar retirei os seus sapatos e meias.
— Pronto! — exclamei, pondo-me de pé sendo seguida por ele.

— Grazie a dio la tortura è finita.

— Eu não o estava torturando, estava te ajudando. — Deixo clara a


minha intenção — Mas ainda falta tirar as calças.

— Amapola. — Sua voz era pura advertência, mas eu estava


determinada a concluir o que comecei, então antes que ele iniciasse
as reclamações, eu levei as mãos ao cinto que prendia a calça em
sua cintura, mas ele as afastou rapidamente. — Pare agora, menina,
já chega de brincadeira — rosna — Eu sou homem, porra.

— Primeiro, eu não estou brincando e segundo, sim, eu sei que é um


homem, me decepcionaria se não fosse. — Tento amenizar o clima

— Não me provoque. — Salvatore me puxa e eu choco o meu corpo


contra o seu, ele abaixa a cabeça, e por um instante acho que vai me
beijar, mas não o faz, e eu fico... decepcionada.

— Não quero te provocar, Salvatore. Eu já disse, me deixe ajudá-lo.


— Nossas respirações se chocam a cada palavra devido à nossa
aproximação.

— Tirando minha roupa? É assim que quer me ajudar.

— Sim, é assim que vou te ajudar, você não é o primeiro homem que
irei despir, não se preocupe — falo com a intensão de tranquilizá-lo,
sei que ele interpretaria de outra forma, mas eu não precisava dizer
que o outro homem que despi era meu pai ou será que sim?

— Mas você ainda é uma menina — ele se afasta quando diz, noto
que não gostou do que ouviu.

— Isso, posso ser uma menina, mas não sou uma criança, tenho
vinte e um anos e sei muito bem o que eu faço — falo, deixando claro
o meu ponto.

— Então faça — Ele deixa as mãos caírem na lateral do corpo e eu


levo minhas mãos sem hesitar ao seu cinto.

Dessa vez minhas mãos tremem com a proximidade, sei o que ele
pensa, mas só eu sabia a verdade, eu era virgem e inexperiente, e o
volume que vi enquanto estava ajoelhada entre suas pernas, era
imensamente maior do que o do meu pai. E o pior, enquanto eu
abaixava o zíper de sua calça, vi aquele volume crescer ainda mais.

Meus olhos se arregalam e eu agradeço que ele não pode ver, não é
como se eu fosse de fato senti-lo dentro de mim um dia, mas me
perguntei como uma mulher aguentava aquilo tudo lá? Minha mãe
santíssima, demoro a deslizar a calça por suas pernas, dando tempo
para que o rubor do meu rosto se dissipe.

— Não vai tirar a cueca?

— Não, acho que isso você consegue sozinho — Tento parecer


segura, mas por dentro eu estava mais vermelha do que um tomate
maduro.

— Não vai sair do banheiro? — ele pergunta com um sorriso nos


lábios enquanto entra no box imenso com chuveiro duplo.

— Não, assim como você ficou comigo, eu também ficarei aqui, mas
não se preocupe, eu não vou olhá-lo — aviso, sentando na cadeira
onde antes ele estava.

— Eu não me importaria se olhasse — Ele falou antes de ligar a


ducha e eu nem quis mirar em sua direção, porque era bem capaz de
manter os olhos nele de fato.

Aproveitei para escrutinar o lugar, evitando os espelhos é claro, se eu


o visse nu em toda a sua glória eu trairia a minha força de vontade. O
lugar era lindo, aqui o piso não era branco, os veios do mármore que
cobria todo o chão e parede eram dourados, pareciam fios de ouros
encrustados na pedra. Um balcão tomava uma das paredes de fora a
fora, havia duas pias com torneiras douradas, ali eu sabia que de fato
eram de ouro, em outra parte tinham armários que eu acreditava
guardar os seus itens de higiene pessoal, toalhas e roupões, próximo
ao box onde ele se banhava havia uma jacuzzi que caberia
tranquilamente umas oito ou dez pessoas. Outras decorações
estavam espalhadas e eu fiquei maravilhada com a beleza e o luxo do
lugar, era quase uma obra de arte.

— Amapola, você pode sair um instante? — Ouvi sua voz grossa e


saí do meu momento de admiração ao local.

— Não Salvatore, posso ficar aqui, não estou te olhando.

— Eu sei que não está, mas eu preciso me aliviar — explica.

— Ah, fique à vontade, eu estou de costas para o vaso, e quanto ao


cheiro não se preocupe, eu estou acostumada, você sabe... — Faço
referência ao cativeiro que limpei. — Já tive que limpar lugares
terríveis — concluo sem desviar os meus olhos da parede a frente.

— Não é esse tipo de alívio, Amapola — fala e eu engasgo, me


levantando rapidamente para sair, entendendo o que ele queria fazer.
Meu Deus do céu, o homem queria se masturbar e eu estar ali era um
pouco demais.

— Pode pegar uma toalha para mim antes de sair, por favor. — Travo
com seu pedido, era isso, ele queria que eu o visse nu, e o pior é que
eu também queria ver.

— Claro. — Tento manter a calma, sigo para o armário e o abro,


como suspeitei, ali estão as toalhas, giro sobre os calcanhares e
tentando focar em seu rosto sigo em sua direção.

Deus do céu, é maior do que eu imaginava, penso quando os meus


olhos me traíram e seguiram direto para o pênis ereto apontando para
o teto. Apresso o passo, lhe entregando a toalha e saio correndo, com
o coração acelerado, enquanto ele continuava com sua face
impassível.

Assim que entro no quarto, corro e sento em sua cama, preciso


recuperar o fôlego, minha nossa senhora, o que era a visão daquele
homem totalmente nu, tenho certeza que nunca mais na minha vida
eu esqueceria.

— O que houve, menina? Parece que viu fantasma — Ângela


pergunta quando entra no quarto e me vê com as duas mãos na
boca.

— Não, nada. Eu só estou com... sono. — finjo que estou bocejando


e ela balança a cabeça incrédula.

— Estarei lá em baixo, se precisarem de qualquer coisa me chamem,


seu quarto está arrumado, mas eu acho prudente que durma aqui
com ele, você sabe, caso ele precise de algo ou sinta dor — explica.

— Sim, tudo bem — assinto. — Colocarei uma poltrona ao lado da


sua cama, não se preocupe eu estarei por perto.

— Não precisa, menina. A cama é grande cabe os dois


tranquilamente — Dito isso ela segue para fora do quarto sem
esperar qualquer palavra minha, e para ser sincera acho que não
conseguiria dizer nada, como ela podia sugerir que eu dormisse com
ele?

Disperso os pensamentos e aproveito o tempo que ele demora para


organizar sua cama, retirando o forro e esticando os edredons que o
cobrirão, fecho as cortinas do quarto e apoio a bandeja que Ângela
trouxe na mesa, sim ele tinha uma mesa redonda com vidros e
cadeiras escuras à sua volta em uma das extremidades do quarto.
Penso que ele pudesse fazer suas refeições ali naquele local.

Algum tempo depois, Salvatore sai do banheiro já vestido com a calça


de moletom que eu peguei, mas sem a camisa, eu os havia levado
para o banheiro junto com a caixa de medicamentos.

Acompanhei-o enquanto comia e depois refiz os curativos conforme


me comprometi.
— Preciso de um banho também — falo quando termino o trabalho e
descarto o lixo.

— Fique à vontade. — Ele indica o seu banheiro, mas eu nego, nem


em sonho que eu entraria naquele lugar sabendo o que ele acabara
de fazer lá dentro.

— Não precisa, vou rápido no quarto que você disponibilizou para


mim e já volto. — Ele assente com a cabeça e eu sigo para a porta.

— Salvatore? — Chamo sua atenção, voltando para o seu quarto


assim que me lembro de uma coisa.

— Sim.

— Você poderia me emprestar uma roupa? — peço envergonhada. —


É que ontem Ângela me emprestou uma e hoje ela retirou para lavar,
e só tenho essa roupa que estou vestindo e está suja.

— Claro, Amapola. Não precisa justificar, pegue o que precisar e


amanhã vou providenciar roupas para você.

— Não precisa, Salvatore — falo envergonhada, mas se realmente eu


for mantida prisioneira, vou precisar de pelo menos mais uma muda
de roupas. Ele não questiona o que falei, então sigo para o closet.

Tomo um banho rápido e volto para o quarto, com passos leves, me


aproximo da sua cama e noto que ele já está dormindo. Com o
cobertor que trouxe nas mãos, me aconchego no sofá de canto do
quarto, pronta para dormir mas ouço sua voz.

— Amapola? — ele me chama.

— Sim.

— O que faz aí? Deite aqui comigo — diz e eu fico receosa mais
ainda assim vou em sua direção, afirmando para mim que será
melhor para que eu possa cuidar dele durante a noite.
Deitada de lado, o admiro até que o sono me vence e eu adormeço.
Capítulo 22
“Vejo Amapola dormindo, tão serena que me pergunto como a
mulher pode estar tranquila dormindo ao lado do homem que já
lhe disse várias vezes que a mataria a qualquer instante.

Abro os olhos lentamente ao ouvir um burburinho na porta do meu


quarto, consigo distinguir as vozes de Rico e Fabrizio, assim como a
voz de Naná, mas não sei ao certo o motivo da possível discussão
entre eles.

Tento me mover para colocar ordem na bagunça, mas sinto um peso


sobre o meu braço direito, olho para o lado e vejo Amapola dormindo,
tão serena que me pergunto como a mulher pode estar tranquila
dormindo ao lado do homem que já lhe disse várias vezes que a
mataria a qualquer instante. Será que ela não possui nenhum senso
de perigo?

Aos poucos a memória do que aconteceu começa a retornar, nossa


pequena discussão antes do almoço, eu a deixando sem comida, ela
tentando fugir de mim, e eu, finalmente, entendendo que não
conseguiria tirar sua vida, então deixando-a ir.

— Ai merda! — Resmungo quando tento mover o braço esquerdo


para tirá-la de cima de mim, mas sinto o membro ferido fisgar com um
resquício de dor. Enquanto tento me concentrar na tarefa de tirá-la do
meu peito para descobrir o que meus irmãos tanto rosnam, a porta se
abre com brusquidão.

— Puta que pariu — Rico fala com um sorriso no rosto e Fabrizio


apenas me olha questionando o que está acontecendo
silenciosamente.

— O que estão fazendo aqui? Vocês não tinham um trabalho a fazer?


— questiono irritado com a invasão.

— Tínhamos e fizemos — Fabrizio avisa, me dando a informação de


que estão todos mortos.

— Ótimo, agora saiam — ordeno.

— Saiam o caralho — Rico retruca.

— Rico — falo seu nome em uma clara advertência.

— Oh meu Deus! — Amapola fala envergonhada quando acorda,


tentando puxar os cobertores para se cobrir — Eu não... não deveria
— começa a se explicar e eu a corto.

— Não precisa falar nada — aviso. — E vocês eu já disse saiam,


porra.

— Nós vamos sair, irmão, mas só depois que você explicar que
caralho aconteceu por aqui, e o porquê você não nos avisou, nós
ficamos preo... — Ele começa a dizer que estavam preocupados, mas
se calam por causa da presença de Amapola.

Eles não sabem nada sobre ela, e chefes da máfia jamais


demonstram fraqueza ou preocupação, mas eu pude notar no
semblante dos dois, que o que quer que tenham feito para adiantar o
serviço foi para estarem aqui o mais rápido possível. Sabia que eles
queriam ver com os próprios olhos que eu estava bem.

— Em dez minutos no escritório — aviso e eles concordam antes de


sair.
— Me perdoe, Salvatore. Eu não deveria ter encostado em você, ou
melhor, deveria ter permanecido no sofá.

— Eu lhe dei permissão para deitar em minha cama, Amapola, não se


preocupe — falo quando me levanto para ir ao banheiro.

— Você está se sentindo bem? Precisa comer alguma coisa para


tomar as medicações que o médico receitou.

— Vou conversar com meus irmãos e depois farei isso. — Sigo para o
banheiro

Tomo um banho rápido e escovo os dentes antes de descer, quando


volto para o quarto Amapola não está mais, e eu não faço ideia para
onde havia ido, mas no momento eu não posso me preocupar com
isso, preciso conversar com meus irmãos urgentemente.

— Ora, ora, o poderoso chefão trouxe uma prisioneira para lhe curar
as feridas de batalha. — Rico como sempre solta uma de suas piadas
nem um pouco engraçadas.

— Não se meta nisso. — Deixo claro apontando um dedo para ele


antes de me sentar à frente dos dois

— Sim, senhor. — Levanta as mãos em tom de brincadeira — Mas


desde quando você traz as putas do cassino para sua casa? Me dê
essa informação e eu não perguntarei mais nada. — Curioso como
sempre ele completa.

— Chame-a de puta novamente e eu me encarregarei pessoalmente


de cortar as suas bolas — falo quando atiro rapidamente o canivete
entre as suas pernas, eu não queria acertar e ele sabe tanto quanto
eu disso, mas o terror por ver uma faca cravada tão perto das suas
bolas, não teve como disfarçar.

— Salvatore, não brinque com isso, nós brigamos, lutamos e


descontamos nossas frustrações um no outro, caralho, mas o pau é
um limite entre nós, porra. Corte a minha garganta, mas não brinque
com o meu parque de diversões. — Rico fala irritado quando retira a
faca cravada na madeira entre as suas pernas.

— O que houve aqui ontem? — Fabrizio pergunta.

— Eu faço as perguntas e vocês respondem. — Levo o telefone ao


ouvido — Amadeu, no escritório — falo e antes que Fabrizio
responda, o meu homem de confiança entra no ambiente.

— Senhor. — Noto o seu escrutínio sobre o meu corpo, vejo-o


respirar aliviado ao notar que estou bem. — Peço desculpas pelas
falhas dos meus soldados, eu os devia ter treinado melhor, qualquer
um deles deveria estar a sua frente para que nada lhe acontecesse.

— Dessa vez não se preocupe, Amadeu. Toda a responsabilidade do


que aconteceu foi minha — falo tanto para ele quanto para os meus
irmãos, para que eles entendam que foi eu que afastei os homens de
mim. Sendo uma decisão minha, sabia que nenhum deles iria
contestar, afinal, o que eu falo é lei, e eles apenas cumprem.

— Sim, senhor — Amadeu fala e eu vejo Rico e Fabrizio se


entreolharem irritados, eles não iriam questionar a minha autoridade,
eu sabia, mas também não estavam nenhum pouco satisfeitos.

Nos minutos que seguem, ouço os três me explicarem que assim que
souberam que eu havia sido baleado, eles anteciparam a última
emboscada que estava prevista para hoje à noite e realizaram na
madrugada mesmo.

Quanto aos dois que se atreveram a se aproximar de mim, eu já sabia


que haviam sido capturados por meus homens, quando estávamos
saindo do complexo para o hospital, passamos pelo carro deles,
ninguém precisou falar nada para que eu entendesse que foram
rendidos.

Ainda no hospital, Matteu avisou que iriam levá-los para um dos


galpões, eles sabiam que eu iria querer resolver pessoalmente a
situação.

— Entre — respondo quando ouço batidas na porta do escritório.

— Senhor, o café está na mesa — Naná avisa.

— Já estamos indo — informo, mas meus irmãos já estavam de pé,


prontos para seguir comigo para a sala de jantar. — Amadeu, venha
conosco, tem algo que eu quero esclarecer com você — Chamo e ele
concorda.

Não é um problema para mim ou meus irmãos, ter Amadeu sentado à


mesa conosco, ele foi criado junto com a gente, nossas ressalvas
estão apenas quando estamos em público, ele não é um simples
soldado da famiglia ou o chefe da minha segurança, Amadeu é com
um irmão para nós.

— Senhor, com sua permissão, vou chamar a bambina. — Embora


tenha tratado como se eu a permitisse, Naná não me deu tempo para
respostas e seguiu em direção as escadas.

— Buongiorno, signore — Amapola fala quando chega ao ambiente,


antes de sentar à mesa, no local onde Ângela já havia disposto as
louças para ela. Segue em minha direção, colocando ao meu lado
uma pequena bandeja de prata, com algumas medicações. — Eu ia
deixar em seu quarto, mas Ângela pediu que eu descesse, não quero
incomodar.

Ela fala e eu me pergunto o porquê dela estar assim, será que é a


presença dos meus irmãos que a está lhe constrangendo. Ao olhar
suas roupas, lembro que preciso providenciar que lhe tragam algo
para vestir, ela está com a mesma roupa de ontem, provavelmente
Ângela lavou.

— Sente-se, Amapola. — Aponto o local.

— Não precisa, signore. — Ela começa e eu a corto.


— Sente-se. — Ela entende que não é um pedido e segue em direção
ao local que lhe indiquei.

— Enfermeira? — Rico questiona com um sorriso brincando em seus


lábios ele quer apenas provoca-la.

— Rico, já chega — falo e ele passa as mãos sobre os lábios como


se o fechasse com um zíper. E eu esperava que ele conseguisse
manter a língua quieta realmente.

Naná começa a nos servir, e nós ficamos em silêncio por um tempo,


até que me direciono a Amadeu.

— Creio que vocês já saibam o que aconteceu na sexta-feira, não é


mesmo? — faço uma pergunta retórica, os três assentem com a
cabeça confirmando, pois estavam com as bocas cheias de comida,
eu me direciono a Amadeu — Quais foram as suas orientações
quando eu te mandei deixar a menina no cassino?

— Disse que ela deveria ajudar, na cozinha ou como garçonete,


conforme conversamos, senhor.

— Martin lhe disse algo?

— Não diretamente, mas pela forma que ele a olhou, eu notei


interesse, e sabendo que a menina não iria querer envolver-se com
os negócios das outras, deixei claro os limites quanto a ela.

— Deixou claro? Tem certeza disso? — questiono irritado — Ela


quase foi estuprada, porra. Se eu não tivesse visto, ele a teria
estuprado dentro do cassino. — Levanto a voz irritado, e só agora
noto que Naná está no ambiente, a senhora leva as mãos à boca
surpresa com o que eu disse, ela não sabia exatamente o que
Amapola havia passado.

— Perdão, senhor, eu deveria... — ele começa a se justificar e


Amapola o interrompe.
— Não foi culpa dele, ele o ameaçou, colocou uma arma na cabeça
do Martin, não o faça mal, Salvatore. Amadeu não tem culpa pelo que
me aconteceu — ela fala e eu realmente tenho vontade de matar o
homem que me acompanha desde a infância.

Que porra é essa? Ela está preocupada com ele? Será que Amapola
sente algo por Amadeu? Irrita-me ainda mais a troca de olhares entre
eles, que caralho está acontecendo aqui, diante dos meus olhos?
Capítulo 23
"Decidir entre a famiglia e o que eu desejo, pode não ser uma
tarefa muito simples afinal, se fosse a alguns dias atrás eu não
teria dúvidas quanto à qual seria a decisão correta, mas agora
não tenho tanta certeza assim."

— Eu lhe perguntei algo, Amapola? — Olho em sua direção, tendo


certeza de que os meus olhos atiram adagas contra o seu.

— Não, senhor — fala, e embora suas palavras sejam de respeito, o


tom deixa claro a sua irritação.

— Ótimo, responda apenas o que eu lhe perguntar — aviso. — Acho


que já terminamos o café, vou vestir uma roupa e em quinze minutos
iremos ao galpão. — Jogo o guardanapo sobre a mesa e saio irritado
em direção ao meu quarto.

Troco de roupa, vestindo um dos meus ternos pretos, preciso


descontar a minha raiva e frustração em alguém e tendo os russos
como prisioneiros, agradeço por não precisar caçar alguém para isso.

Saio do quarto e dou de cara com Amapola plantada em minha porta.

— Preciso refazer os curativos — diz com a voz mais baixa do que eu


esperava, ela não gritou ou questionou como sempre fazia, será que
ela estava triste?

— Depois, Amapola. Não tenho tempo para isso agora. — informo,


mas a mulher me segura no antebraço, tenho que confessar que a
sua coragem me surpreende.

— Por favor, Salvatore. Eu garanti que faria o necessário para que se


recuperasse logo — Eu concordo contrariado, voltando para dentro
do meu quarto, considerei que era melhor que eu estivesse com os
curativos, pois com certeza eu faria algum esforço físico e talvez isso
contivesse um possível sangramento.

Não espero que ela desfaça os botões da minha camisa, eu mesmo a


retiro, Amapola segue para o local onde havia guardado o kit de
primeiros socorros, sento-me na poltrona e aguardo.

Nós ficamos em silêncio, ela limpa cada um dos meus ferimentos,


passando cada um dos itens que o médico receitou.

— Devagar — falo enquanto ela cuida dos pontos em meu abdome.

— Se você conseguir ficar quieto, talvez não o machuque tanto —


responde, me olhando nos olhos.

— Você gosta do Amadeu? — pergunto, não contendo a curiosidade


e a raiva que guardei desde que subi.

— Sim. — Eu não contenho a surpresa com a sua resposta direta. —


Quer dizer, ele foi bom para mim, ele é um homem bom, me protegeu
quando chegamos no cassino, eu não esperava isso dele — tenta
justificar.

— Não se engane, menina, nenhum de nós é bom — digo irritado.

— Você também é, Salvatore. Pelo menos comigo você é bom, me


ajudou, me salvou, me protegeu quando pode — fala olhando nos
meus olhos e eu engulo em seco, levantando-me em seguida, ela já
havia concluído o curativo.
— Esteja arrumada, quando eu voltar nós vamos viajar — aviso
quando chego à porta do meu quarto.

— Para onde?

— Não interessa, Amapola, não me questione ou faça perguntas.

— Tudo bem, senhor, eu não tenho opção, não é? — Noto a irritação


em seu tom de voz muito baixo — Estarei pronta afinal, não tenho o
que levar mesmo, além do meu corpo e da minha resiliência, já que
não mando mais em mim.

— No início da tarde estarei de volta — falo apenas, saindo do


ambiente e batendo a porta com força.

Antes de ir, peço que Ângela providencie que uma loja traga tudo o
que Amapola possa precisar, roupas, sapatos, botas, casacos de frio,
enquanto listo ela acrescenta, camisolas e lingeries, não perco o
sorriso da enxerida quando assinto concordando, mas não lhe dou
assunto e saio em seguida já encontrando todos à minha espera.

Sento no banco traseiro do veículo, Amadeu assume a direção. Os


meus irmãos, assim que me viram, entraram também em seus carros,
quase nunca saímos juntos no mesmo veículo. É uma estratégia para
o caso de sermos atacados, assim seria mais fácil para nós
revidarmos e despistarmos também.

— Amadeu? — chamo sua atenção quando estacionamos na frente


do galpão.

— Senhor?

— Prepare o jatinho, quando voltarmos irei a Palermo e retornarei na


terça-feira.

— Considere feito, senhor — Eu desço do veículo, abotoo o terno e


sigo para dentro do lugar onde os russos estão, com a certeza de que
sairei daqui mais tranquilo após descarregar em alguém toda a raiva
que sinto.

— Ora, ora, o que temos aqui? — falo quando entro no local e


encontro os dois russos amarrados em cadeiras, ambos arregalam os
olhos ao me verem, sabendo que o próprio diabo chegou para lhes
fazer uma visita. Nenhuma palavra ou som escapa dos seus lábios,
mas eu consigo enxergar em seus olhos o medo do que virá para eles
e eu garanto que é pouco perto do que eu lhes farei.

Vejo Amadeu, Rico e Fabrizio se aproximarem feito leões famintos


prestes a se alimentarem. — Vocês já tiveram diversão demais no fim
de semana, esses dois serão meus — aviso e eles concordam, se
mantendo um pouco afastados de onde os homens foram amarrados,
retiro o terno e a camisa de botões, percebo quando os dois
escrutinam os meus ferimentos, mas eles não estão expostos,
Amapola os havia coberto.

— O que vai precisar, senhor? — Matteu pergunta, apontando uma


mesa repleta de instrumentos de tortura, eu sorrio, olhando para os
homens que mesmo antes de eu ter me aproximado já começam a se
debater nas correntes.

— Que comecem os jogos — falo em russo para que eles possam


entender e sorrindo, sigo em sua direção.

Começo batendo-lhes com uma barra de ferro, é bom para fazê-los


acostumar com a dor que virá, alguns ossos são quebrados no
processo, mas é impossível controlar minha fúria quando estou com
tanta raiva.

Diferente de outras torturas, eu não busco por nenhuma resposta, eu


sei o que vieram fazer aqui, então o único som que quero ouvir de
suas bocas são os gritos de desespero e dor, e é exatamente isso
que tenho de cada um deles.

— Suspendam um pouco as correntes — Ordeno quando deixo a


barra de ferro cair das minhas mãos, agora além da dor, eles terão
que aguentar o peso do corpo em seus braços, assim que minha
ordem é cumprida por meus homens, os gritos de dor e agonia ecoam
no ambiente, mal sabem eles que ainda sofrerão muito, até que eu
lhes dê a misericórdia da morte.

Entre alicates, quebradores de ossos, marretas e facas afiadas, um


deles logo morreu, bufei quando percebi que dera um último suspiro,
eu ainda queria mais um tempo com ele, o outro resistiu por mais um
tempo. Quando cansei, notei que além do sangue do homem, sobre o
meu corpo, os meus próprios ferimentos começaram a jorrar por
causa do esforço físico, com um tiro em sua têmpora, finalizei o meu
momento com eles.

Antes de sair ordenei que eles cortassem suas cabeças e enviassem


a Rússia, como os outros corpos foram descartados por meus irmãos,
esses dois serviriam de presente, e aviso, é claro.

Quem pisa em meu território sem a minha permissão, jamais sairá


com vida para contar a história.

— Vou para Palermo — aviso aos meus irmãos quando saímos do


galpão.

— Você voltará para o jantar com os Carbone amanhã? — Fabrizio


pergunta.

— Não. Cancele — digo quando abro a porta do veículo.

— Vai sozinho? — Rico questiona, com uma sobrancelha erguida.

— Não lhe interessa. — Ele sorri quando eu retruco.

— Já respondeu, irmão, você acaba de me responder — Ele fala e eu


fico irritado quando percebo que fiz exatamente isso, mas foco em
Fabrizio que me faz uma pergunta que eu não sei ao certo o que devo
responder.

— Você manterá a decisão de se casar com Carlota Carbone irmão?


O que devo dizer ao capo? Sabe que quando marcamos o jantar de
amanhã, ele já espera ouvir o pedido da mão da sua filha,
principalmente, depois de já termos estado com as principais famílias
pretensas ao cargo de sua noiva e termos marcado o retorno com a
dele, não é mesmo?

Fabrizio me lembra as obrigações que tenho com a famiglia e com


elas a obrigação de me casar. Eu já tinha decidido que Carlota
Carbone seria a escolhida para ser minha esposa, eu já tive um
momento com ela e além de inteligente e bonita, a mulher era muito
gostosa, confesso. Então já que teria que me amarrar a alguém, que
fosse alguém que me desse prazer.

Entretanto, agora eu já não tinha mais tanta certeza assim quanto a


minha decisão, a presença de Amapola me fez duvidar do que eu
deva fazer, acabo de perceber que ter esse tempo afastado e com
ela, pode ser útil para que eu entenda o que está acontecendo
comigo.

Decidir entre a famiglia e o que eu desejo, pode não ser uma tarefa
muito simples afinal, se fosse a alguns dias atrás eu não teria dúvidas
quanto à qual seria a decisão correta, mas agora não tenho tanta
certeza assim.

— Não diga nada, apenas cancele — falo e entro no carro, dando o


assunto por encerrado pelo menos no momento.

Só por esses dois dias, não quero pensar em máfia, obrigações e


casamento. Preciso de um tempo, me distanciar de tudo e refletir
sobre as minhas decisões.
Capítulo 24
"Eu tive minha liberdade nas mãos e a deixei escorrer por entre
os dedos, agora estava eu, novamente, feito Rapunzel, presa na
torre do castelo."

Não sei exatamente o que aconteceu, mas Salvatore adormeceu uma


pessoa e acordou outra totalmente diferente, ele foi tão frio comigo,
que me senti... humilhada.

Será que era a presença dos seus irmãos, ou será que eu havia me
iludido com uma realidade que nunca existiu de fato?

Deve ser isso, afinal um chefe da máfia jamais teria compaixão por
um prisioneiro, enquanto tomava banho pensei em minha decisão de
ontem à noite, e considerei que fui burra, muito burra por sinal. Eu tive
minha liberdade nas mãos e a deixei escorrer por entre os dedos,
agora estava eu, novamente, feito Rapunzel, presa na torre do
castelo.

Quando saí do banheiro com uma toalha enrolada em volta do corpo,


vi que Ângela havia deixado sobre a cama a minha única muda de
roupas já lavada e passada, vesti sabendo que em breve, Salvatore
me chamaria para selar o meu destino após o retorno dos seus
irmãos. Ele me mandaria para outro lugar, só esperava que o meu
novo cativeiro não me trouxesse mais traumas do que eu já
vivenciara.

— Bambina? — Ângela chamou minha atenção, eu estava tão


distraída olhando pela janela que não vi quando ela entrou — O
signore te aguarda para mangiare.

— Lá em baixo? — Pergunto espantada.

— Sim, bela. Ele te aguarda na mesa com seus irmãos.

— Talvez seja melhor... — começo a justificar, mas ela me interrompe

— Não o contrarie, criança. Não dificulte as coisas para você. — Era


um conselho, mas também um aviso. Eu percebi — Seja sabia meu
bem, não o questione desnecessariamente, eu conheço o menino, e a
sua rebeldia o afugenta tanto quanto o atrai, use-a nos momentos em
que realmente for necessário. — Ela me estende sua mão e eu a
seguro, sabendo que a senhora não queria o meu mal, eu confiava
nela.

Constrangida pelos quatro pares de olhos que me encaravam


incrédulos, eu sentei à mesa após entregar as medicações que ele
deveria tomar durante a manhã, eu já tinha tudo separado quando
Ângela chegou e iria deixar no seu quarto, mas sabendo que ele
estaria tomando café da manhã, eu resolvi trazer.

Sabia que deveria ficar em silêncio, a conversa não era direcionada a


mim, mas quando ele gritou com o único homem que além dele havia
me defendido, eu falei, o defendi, era o mínimo que eu deveria fazer,
quando ele tinha feito o mesmo por mim, mas a reação de Salvatore
me surpreendeu. E quando ele partiu escada acima, fazendo todos
nós levantarmos, eu o segui, precisava colocar o curativo em seus
ferimentos, tinha certeza que ele não fizera e aquilo não poderia ficar
exposto.

Mesmo contrariado ele permitiu que eu fizesse, e ainda avisou que


iriamos viajar quando ele retornasse, ele perguntou sobre Amadeu,
ou melhor, sobre o que eu sentia por ele, e notei em sua voz um
pouco de aflição e desgosto, seria ciúmes ou eu estava enxergando
além do que deveria?

Fui sincera com ele, achava que era assim que deveria ser, e quando
ele mandou que eu arrumasse minhas coisas para a viagem, quase
sorri, o que eu iria arrumar se eu só tinha a roupa que vestia? Minha
irritação momentânea, talvez seja pelo fato de que ele me deixará em
algum lugar, no fundo eu gostaria de estar perto dele por um tempo
maior, mas nem sob tortura diria isso em voz alta.

Por volta de onze horas da manhã, Ângela me chamou pedindo que


eu descesse que havia uma encomenda para mim, achei estranho,
afinal o que seria essa tal encomenda? Ninguém sabia da minha
presença ali e além do meu pai eu não tinha mais ninguém que
pudesse me enviar qualquer coisa.

Sai do quarto e quase cai da escada quando eu vi, uma loja inteira
montada na sala da mansão de Salvatore, eu sequer consegui contar
quantas araras de roupas havia ali, bolsas, sapatos, sandálias,
casacos, eram tantas as opções que eu não acreditei quando Ângela
me conduziu até algumas mulheres que eu achava que trabalhavam
na loja que estava montada ali.

— Sua encomenda, bambina — ela falou com um sorriso no rosto —


O senhor Salvatore, pediu que eu providenciasse. — ela disse e eu
passeei os olhos por tudo rapidamente, estando próxima da arara de
casacos, passei minhas mãos pelos tecidos macios.

— Ângela, não precisava, você poderia ter escolhido uma roupa como
a que visto, como vou escolher diante de tantas coisas tão lindas?

— Não precisa escolher, bella, é tudo seu — ela falou e eu engasguei

— O que? — Faço um gesto negativo com as mãos — Não posso


aceitar Ângela, mais uma ou duas mudas de roupa é o suficiente.

— Sim, Amapola, você pode e vai aceitar, a menos que não goste de
uma ou outra coisa, mas tenho certeza de que você precisará de tudo
isso — avisou com um sorriso nos lábios.

— Não Ângela, você está enganada, antes de sairmos ele avisou que
iriamos viajar, ele me deixará em outro lugar.

— Ele disse isso? — questionou com uma sobrancelha erguida.

— Disse que era para eu estar pronta, que iriamos viajar.

— Pronto, meu bem, estão escolha apenas o que quiser levar, o


restante ficará em seu quarto você voltará, bela, não tenho dúvidas
disso.

Ela me deixou sozinha para dispensar as mulheres que agora eu


sabia terem vindo apenas fazer a entrega e não trazer as peças para
que eu escolhesse, em seguida ela chamou alguns seguranças para
levarem as araras para cima.

Ângela me entregou uma mala para que eu arrumasse e avisa que


quando eu voltar tudo estará no devido lugar, enquanto escolhia o
que levar, fico admirada, são mais peças do que já tive em toda a
minha vida.

Vestidos formais, de festa e alguns mais soltinhos, calças, botas,


saias, blusas variadas, sobretudos, casacos, blazers, bolsas, são
tantos os itens que vestiriam quase uma província inteira, onde
Ângela estava com a cabeça quando mandou que trouxessem tantas
coisas? Eu estava certa que Salvatore não ficaria satisfeito com a sua
atitude.

Escolhi duas calças jeans, quatro blusas lindas com estampas, duas
amarravam na cintura, sabia que deixaria um pouco da minha barriga
a amostra, mas não seria nada que chamasse muita atenção, um
blazer, um sobretudo e já estava achando que era coisa demais, mas
era difícil não estar empolgada com tantas opções. Escolhi uma saia
jeans e um vestido curto soltinho, com um sorriso nos lábios eu me
permiti aproveitar aquele luxo momentâneo.
Havia três caixas grandes separadas e abri para ver o que havia ali,
já que todo o restante estava exposto, mas quase engasguei com a
quantidade e variedade de lingeries e camisolas, meu deus, eu
estava acostumada a dormir com a própria roupa que vestia agora
tinha em minhas mãos as mais lindas camisolas que já havia visto, os
tecidos eram tão delicados que pareciam acariciar a minha pele com
um simples toque.

Escolhi algumas peças, além de duas botas e um par de sandálias


rasteira, fechei a mala porque sabia que se mantivesse aberta eu não
pararia de colocar coisas dentro dela, mesmo acreditando que sequer
as usaria.

— Amapola? — Ouço a voz de Salvatore, após uma batida na porta e


me preparo para a sua explosão quando vir a quantidade de coisas
que Ângela comprou.

— Pode entrar — falo, mesmo sabendo que se ele quisesse já teria


feito, Salvatore não espera autorização de ninguém para nada.

— Vejo que Ângela fez o que pedi, — diz quando observa todas as
coisas espalhadas no quarto — já está pronta?

— Você mandou que trouxesse tudo isso? — questiono espantada

— Sim, algum problema? — pergunta e acho que não entendeu o


porquê de eu estranhar.

— Olha, não precisava isso tudo, outro par de roupas, já seria o


suficiente... — começo e ele me corta.

— Perguntei se estava pronta, Amapola, não sua opinião quanto aos


itens que pedi que lhe trouxessem.

— Mas você não pode...

— Posso, Amapola, eu posso o que eu quiser, se estiver pronta


vamos, quero chegar ao nosso destino antes de anoitecer — ele fala
saindo do quarto e eu corro para o acompanhar ainda no corredor,
puxando a mala que agora percebo estar pesada demais.

— Para onde vamos? — pergunto, quando ele para a caminhada


para retirar a mala das minhas mãos.

— Você faz muitas perguntas, ragazza, aconselho que fique em


silencio, mantenha sua língua dentro da boca — diz quando para no
alto da escada e deixa a mala ali, em seguida um segurança sobe
para pegá-la e eu o sigo em silêncio até o carro.

Aceno para Ângela de dentro do veículo, ela nos observava da


escada com um sorriso nos lábios, e eu esperava que ela estivesse
certa, queria voltar, queria poder vê-la novamente.
Capítulo 25
"Eu precisava me afastar para pensar em quais seriam os meus
próximos passos e decisões, tê-la por perto talvez não me
ajudasse muito"

Já em casa, segui direto para o meu quarto, estava com fome, mas
precisava de um banho para tirar o cheiro de sangue podre que ainda
estava sobre o meu corpo. Mesmo tendo tomado banho eu ainda me
sentia sujo e fedorento, o sangue russo fedia mais que os outros, eu
estava certo disso.

Naná me confirmou que havia providenciado tudo o que pedi para


Amapola, e que ela estava no quarto organizando a mala para
partirmos, comi uma maçã, antes de sair da cozinha, eu estava
faminto, afinal já eram duas horas da tarde, mas havia decido deixar
para almoçar no jatinho.

Eu estava estranhamente ansioso para chegar a Palermo.

Antes de bater à porta de Amapola, me questionei se era certa minha


decisão de leva-la comigo, se eu precisava me afastar para pensar
em quais seriam os meus próximos passos e decisões, tê-la por perto
talvez não me ajudasse muito, mas mesmo assim decidi leva-la
comigo.
Quase me arrependi imediatamente, assim que depositei os meus
olhos sobre ela. Fui bombardeado por perguntas, e questionamentos
às minhas decisões, lembrei-me por que eu havia decidido me mantar
o mais distante possível das mulheres, mamma fazia com o mesmo
com o coitado do papà. Ele tinha que lhe dar mil e uma explicações
sobre tudo dentro de casa não havia segredos, ela tinha
conhecimento de qualquer coisa que ele fizesse, apenas fora de
casa, agia como uma perfeita esposa submissa da máfia, ela era
fantástica, mas nós sabíamos bem, quem realmente mandava
quando ela estava irritada.

Assustava-me enxergar muito dela em Amapola, sobretudo por eu


sempre ter idealizado que quando eu me casasse, queria poder ter
um relacionamento como o dos meus pais, uma mulher em que eu
pudesse confiar a minha vida de olhos fechados, que estaria por mim
quando eu precisasse, mas como poderia encontrar alguém assim, se
quando estamos no escuro até a nossa própria sombra não
permanece ao nosso lado?

Eu achava que mammá e papà eram um caso atípico e não


acreditava que eu poderia ter a mesma sorte. Aliás eu não acreditava
em sorte, eu era um bom jogador, conhecia as regras do jogo que
comandava e por isso sempre obtive êxito, e assim seria, nunca foi
sorte, sempre foi trabalho duro e dedicação.

Mandei que ela ficasse quieta e agradeci por ela ter seguido as
instruções pela primeira vez na vida, seguimos de carro até o hangar
onde o meu jatinho nos esperava.

— Vamos sair de Roma? Da Itália? — Ela questiona assim que se dá


conta de onde estávamos, se não fosse todo o meu treinamento, teria
revirado os olhos irritado, mas apenas saí do veículo e abotoei o
sobretudo quando senti o vento gelado bater em minha face.

De relance, vi Amapola fazer o mesmo com a peça que lhe cobria e


agradeci mentalmente à Ângela. Ela me seguiu e assim que subimos
as escadas, Amapola paralisou.
— O que houve? — pergunta, tentando entender.

— Eu nunca andei de avião — fala, girando sobre os calcanhares e


olhando para mim e eu vejo o medo serpentear em seus olhos.

— Está com medo, Amapola? — pergunto com um sorriso, brincando


em meus lábios.

— Isso é mais uma das suas torturas? — questiona com a voz


embargada e eu me sinto um pouco culpado pelo tom que empreguei
na minha pergunta.

— Não, Amapola. Tenho outros hábitos de tortura, uma viagem de


jatinho definitivamente não se enquadra nestes termos. — Saliento
que não é um avião e sim um jatinho para que ela entenda a
diferença.

— E se ele cair? — pergunta assustada.

— Não vai, Amapola. Eu te garanto que não irá cair, vamos entre. —
Coloco as duas mãos nas laterais da sua cintura e a giro para que
possa continuar o percurso até uma das poltronas.

Coloco-a sentada ao lado do lugar que sento todas as vezes que viajo
e vejo quando as nossas malas são colocadas no quarto que tem na
parte traseira, minhas malas pessoais nunca vão no compartimento
de bagagens, caso eu precise de algo, ademais o local está quase
sempre preenchido por armas.

Amadeu e Matteu se sentam a duas poltronas atrás de nós e vejo a


porta sendo fechada, olho para as mãos de Amapola que tremem
visivelmente, não é que ela realmente tem medo de voar? Espero que
ela possa se acostumar logo, pois eu sempre estou viajando. Que
merda acabei de pensar? Como assim estou fazendo planos de levá-
la em minhas viagens?

— Amapola? — chamo sua atenção.


— Sim — responde e sua voz está tão tremula quanto suas mãos.

— A viagem não será longa — falo baixo, olhando em seus olhos


para que veja a verdade e se tranquilize. — Em cerca de uma hora e
vinte minutos, talvez um pouco mais já teremos chegado, estamos
indo a Palermo. — Resolvo falar o destino para tranquilizá-la.

— Palermo? É muito distante, vamos levar horas até chegar lá.

— Não de jatinho, não estamos indo de carro, piccola — explico e ela


acena com a cabeça, toco minhas mãos nas suas e noto o quão
suadas estão. — Vou prender o cinto em você tudo bem?

— Sim — ela concorda, então puxo as tiras de couro e as amarro em


sua cintura, testando se estão firmes.

— Já vamos decolar, você poderá sentir um desconforto no ouvido


além de um leve frio na barriga quando estivermos subindo, se quiser,
aqui temos chiclete. — Aponto uma caixinha à nossa frente. — Pode
aliviar um pouco a situação, depois que o piloto estabilizar no ar,
essas sensações irão passar e será como se estivéssemos em terra
firme — garanto e ela assente com a cabeça, mas ainda insegura. —
Ainda está com medo?

— Sim.

— Se você quiser pode segurar em minhas mãos — falo e nem eu


mesmo acredito em minhas palavras, mas como se estivesse
esperando por isso, Amapola aperta os meus dedos rapidamente
entre os seus e eu fico satisfeito por poder lhe servir de conforto no
momento.
Capítulo 26
"Geralmente, eu fico em êxtase quando sinto que as pessoas
temem a minha presença, mas com ela sentia algo diferente,
esse sentimento não me satisfazia, era exatamente o contrário,
ele me perturbava.

Durante todo o tempo que estivemos no ar, tentei tranquilizar


Amapola como podia, eu realmente não queria que ela se sentisse
tão insegura e com medo.

Não me sinto bem por lembrar todas as vezes que a fiz me temer.
Geralmente, eu fico em êxtase quando sinto que as pessoas temem a
minha presença, mas com ela sentia algo diferente, esse sentimento
não me satisfazia, era exatamente o contrário, ele me perturbava.

Durante a descida, Amapola, novamente, ficou tensa, tentei distraí-la


para que ela não notasse a rápida aproximação com o solo, mas
quando as rodas tocaram o chão ela respirou aliviada.

Dois carros já nos aguardavam, dispensei Amadeu para que ele fosse
com Matteu no outro carro, de uma forma estranha eu desejava não
compartilhar a companhia de Amapola com mais ninguém.

— Um castelo? — Quando paro o veículo aguardando que abram os


portões da propriedade, Amapola leva as mãos a boca surpresa.
— Quase — explico. — Digamos que seja uma réplica menor de um
castelo, aqui só temos trinta suítes, dez salões, cinco salas de jantar,
e mais alguns outros poucos cômodos, se fosse um castelo, teria, no
mínimo, o dobro do tamanho do que temos aqui, é apenas uma
propriedade de descanso.

— Nossa, quanta modéstia “só temos trinta suítes”. — Ela tenta imitar
a minha voz, engrossando a sua e eu sorrio. — É lindo aqui. —
Suspira quando passamos dos portões, e ela tem uma visão mais
ampla do local.

Mas a arquitetura do local realmente é a mesma de um castelo, é um


lugar a se admirar, de fato, as colunas altas de pedra se destacam
como forte de observação, os jardins que circundam a propriedade,
tem as cores mais incríveis que já vi, até levamos algumas mudas
para o jardim do complexo, lá elas ficaram muito bonitas, mas aqui as
mesmas plantas eram maravilhosas de uma forma que eu mal
consigo explicar.

Acredito que a mesma sensação de paz que sinto quando venho


aqui, Amapola também está sentindo, é como se ela estivesse em um
plano distante, em uma realidade paralela, talvez onde apenas a
beleza do local tivesse a sua atenção. Eu concordava que realmente,
em uma primeira vez neste lugar, todos deveriam se sentir
exatamente assim.

Ela quase salta para fora do carro assim que estaciono, admirando
avidamente cada lugar que os seus olhos alcançam, mas ela não faz
ideia do real tamanho deste lugar.

— Vamos entrar? — chamo sua atenção após deixá-la admirar um


pouco a paisagem local.

Como demoramos um pouco a sair de Roma, chegamos por volta de


cinco e meia da tarde, a temperatura começou a cair, não é como o
frio de Roma, mas ainda assim, está bem diferente do dia nessa
região que costuma ser quente.
— Sim, vamos — ela responde, o sorriso sumindo dos lábios de
repente, como se temesse o que estava por vir.

— Espero que aproveite a estadia, senhorita. — Faço um gracejo


como uma reverência, indicando que deve entrar na minha frente e
tentando trazer de volta o sorriso aos seus lábios e consigo, fico
satisfeito com o meu feito.

— Grazie, signore — fala quando segue à minha frente, mas


novamente paralisa com a beleza do local.

Ao passar das portas de entrada, um amplo salão se descortina,


apenas estatuas e objetos de decoração adornam o ambiente, há
uma imensa escadaria que nos conduz ao andar superior, todo esse
ambiente pode ser visto através de espécies de galerias como as de
teatro, dispostas por todo o andar superior formando uma abobada
circular acima das nossas cabeças.

O assoalho feito de madeira dá maior destaque as decorações, a


escadaria coberta por um imenso tapete vermelho.

— Onde coloco as malas, senhor? — Amadeu pergunta, tirando


Amapola do torpor que se encontrava e nos trazendo à realidade.

— Coloque ambas na frente do meu quarto, pedi que preparassem o


quarto ao lado do meu para ela — aviso e ele segue.

— Você vem muito aqui? — ela pergunta, dando alguns passos à


frente e girando para observar o lugar

— Sempre que posso.

— Vamos subir, preciso acomodá-la e de um banho.

— Eu tenho refazer os curativos, você tomou banho e saímos em


seguida, eu esqueci de refazê-los, fala e noto a preocupação em sua
voz.

— Não se preocupe, Ângela deve ter colocado o kit de primeiros


socorros e as medicações em minhas malas, assim que terminar o
banho vou até você para que os faça.

— Vamos subir, então — Amapola percorre com a ponta dos dedos


os detalhes esculpidos que adornam toda a escadaria, e devido ao
seu escrutínio cuidadoso por todos os lados levamos muito tempo
para chegar ao topo da escada.

— Eu nunca pensei em estar em um lugar assim, é lindo demais,


cada escultura, cada imagem nas paredes, as armaduras, é tudo tão
fantástico que parece ter saído dos filmes — fala quando seguimos
pelo imenso corredor que nos levará aos quartos.

— Que bom então que te trouxe.

— Obrigada, Salvatore — fala quando nos aproximamos das malas.

— Não por isso, Amapola, você já conhecia Palermo?

— Não.

— Ótimo, então tome um banho, se quiser. E assim que eu terminar


vamos sair, vou lhe mostrar alguns lugares, jantaremos fora também,
não pedi que preparassem nada para o jantar.

— Se quiser eu posso fazer.

— Você cozinha?

— Não é como se eu fosse uma chef, mas consigo fazer uma massa.

— Ótimo, quem sabe amanhã você não faça o nosso jantar?

— Será um prazer lhe servir, signore — Amapola fala e de repente eu


interpreto as suas palavras de outra forma.

— Tenho certeza que sim, Amapola — respondo, abrindo a porta do


quarto onde irei acomodá-la
Vejo-a admirar todo o ambiente, que segue o estilo de todos os
ambientes da propriedade. O quarto tem os móveis em estilo
vitoriano, mas diferente de alguns ambientes que a madeira escura
prevalece, aqui tudo é dourado, com os estofados em um tom claro,
bege talvez. No centro do quarto, uma imensa cama com dossel,
dourada com capitonê bege, como os tons dos móveis, uma
penteadeira com um imenso espelho e duas poltronas no mesmo
estilo de decoração e entalhe da madeira também compõem o
ambiente.

Ela gira cento e oitenta graus, olhando todo o ambiente e consigo


visualizá-la como uma princesa vestida com um imenso vestido
rodado, ela se encaixa perfeitamente nesse lugar. Considero que não
apenas neste local, mas também em minha vida.

Surpreso com o pensamento repentino, mostro-lhe rapidamente o


ambiente, o banheiro, onde encontrará os itens básicos que irá
precisar e me retiro para o banho, preciso resfriar os meus
pensamentos e acredito que só conseguirei fazer isso estando
distante dela.
Capítulo 27
"É fácil se acostumar com o que nos faz bem Salvatore, difícil
mesmo é estar acostumada com o pior lado das pessoas, e acho
que sou especialista nisso, afinal foi o que encontrei até hoje."

Desde que chegamos a Palermo, Salvatore parece outra pessoa, é


como se o ambiente lhe trouxesse uma paz, não sei explicar direito,
mas não sinto todo o peso que ele carrega sobre os ombros.

Fiquei impressionada quando ele até fez uma reverencia, para que eu
entrasse em seu castelo, porque sim, esse lugar não é nada menos
que isso. Percebi que ele não se vangloria com o que possui, ter é
apenas uma consequência da sua família e de quem ele é, mas ele,
definitivamente, não ostenta o seu poder financeiro.

Salvatore é daqueles homens que preferem mostrar sua força e poder


com as suas ações, ele fala pouco, mas são as suas atitudes que
deixam claro quem manda e quem obedece, e é claro ele é sempre o
que está em primeiro nessa equação.

Eu nunca havia andado de avião, mas ele fez a experiência mais


leve, fiquei surpresa quando permitiu que eu segurasse em sua mão
e, principalmente, pela sua tentativa de me distrair, nós almoçamos
durante o voo, e durante a descida ele repetiu o gesto para me
tranquilizar.
Novamente, me surpreendi quando ele disse que sairíamos para
conhecer Palermo, como assim ele seria meu guia turístico? Comecei
a desconfiar das suas ações, eu não estou acostumada com isso,
depois de tanto apanhar a gente aprende a ficar em alerta.

Todo esse lugar é mágico, pisar neste lugar é como entrar em um


conto de fadas, mas preciso manter os meus pés no chão, para que o
tombo não seja tão grande.

Abro a mala que trouxe e não sei o que vestir, me olho no espelho e
sinto raiva de mim mesma. Como assim não saber o que vestir? Até
essa manhã, eu tinha apenas uma muda de roupas, mas agora
pensando em todas as opções que Ângela tinha me dado, eu estava
em dúvidas sobre o que deveria vestir para acompanhá-lo.

Será que eu deveria ter lhe perguntado aonde iriamos? Ou melhor,


será que deveria ter perguntado o que trazer? Eu não sabia quais
eram os seus planos, então o que eu trouxe deve servir, e eu não
posso me sentir mal por isso, sei como é não ter nada, e as peças
que trouxe são mais que suficientes.

Decido por usar uma calça jeans escura, com uma camiseta cinza de
um tecido molinho tipo malha, mas que fica bem justa no meu corpo,
pego um cachecol largo de cashmere, assim, se fizer frio, posso jogá-
lo sobre os ombros, enquanto calço as botas pretas de salto fino over
the knee, ouço batidas na porta e sei que é Salvatore, permito sua
entrada enquanto termino de calçar o par.

— Pode entrar — falo quando o vejo parado na porta, com o kit de


primeiros socorros nas mãos, vestindo apenas uma calça jeans e
tênis, ficamos os dois paralisados nos entreolhando, ou melhor,
parecia mesmo que estávamos nos admirando. Será que ele me
admirava?

— Ah, sim — fala com a voz rouca. — Eu trouxe. — Mostra a caixa


em suas mãos — O curativo.

— Claro, pode sentar aqui. — Indico uma poltrona e ele se senta.


Não perco quando ele coloca as duas mãos apoiadas nas laterais dos
meus quadris, quase suspirei ao sentir o peso das suas mãos sobre o
meu corpo, nós estávamos tão próximos. Já estivemos assim outras
vezes, quando cuidei dos seus ferimentos, mas dessa vez senti
diferente, como se essa proximidade fosse além do nosso corpo
físico, era como se as nossas almas conversassem.

— Pronto — falo, finalizando o curativo em sua barriga — Os pontos


sangraram, você fez esforço físico?

— Não mais do que eu suportaria.

— Oh desculpe, eu não quis ser invasiva.

— Não, eu que fui grosseiro com você, desculpe.

— Você está me pedindo desculpas? — pergunto realmente


espantada

— Não se acostume com isso, Amapola. Esse não é um beneficio


que sempre terá de mim — fala um tanto quanto ríspido, e eu queria
poder engolir as palavras que disse.

— É fácil se acostumar com o que nos faz bem, Salvatore, difícil


mesmo é estar acostumada com o pior lado das pessoas, e acho que
sou especialista nisso, afinal foi o que encontrei até hoje.

— Vou vestir uma camisa e chamo você para sairmos. — Ele não
comenta o que eu disse e sai, me deixando sozinha.

Não consigo entender esse homem, as vezes parece ser tão diferente
do que quer demonstrar, queria poder lê-lo, conhecer quem é
Salvatore em sua essência, mas assim como esse castelo, ele tem
muros impenetráveis construídos em volta de si.

— Não vai pegar sua bolsa? — questiona quando sai do quarto e me


encontra no corredor, admirando um dos quadros enquanto o
aguardo.
— Não tenho dinheiro, nem celular e nem documentos, então acho
que não precisa. — Eu queria acrescentar que era sua prisioneira,
mas achei melhor conter a língua, minha resposta já foi insolente.

— Vamos resolver isso — ele avisa, em seguida apoia a mão na base


da minha coluna, me conduzindo para as escadas e depois para fora
do castelo.
Capítulo 28
“E é nesse instante, que todo o meu mundo começa a fazer
sentido, eu nunca havia beijado como fazia com Amapola, sem
qualquer conotação sexual, pelo menos no momento, eu apenas
queria sentir o seu gosto, sentir a macies de sua pele, e saber
como seria tê-la em seus braços mesmo que fosse por poucos
instantes.”

Eu a havia convidado para sair, como em um encontro era isso, e eu


mal estava acreditando, eu nunca tinha feito isso e nem sabia como
fazer.

Sabia que encontros deveriam ser agradáveis, mas eu não era o que
se poderia considerar uma companhia agradável.

— Amapola? — chamo sua atenção.

— Sim.

— Você sabe da minha posição então, mesmo tendo oferecido um


passeio pelos pontos turísticos, nós não poderemos descer, você
entende? Para fazer isso eu teria que fechar o lugar e como decidi
apenas quando chegamos aqui, não tive tempo hábil para isso.

— Não se preocupe, Salvatore. — Ela desvia os olhos atentos do


vidro, sabia que estava admirando cada lugar, mesmo distante — Eu
entendo. — Sem que eu espere, ela segura a mão que estava sobre
o câmbio automático do carro. — Desculpe — ela pede quando
encaro o gesto espantado. Amapola me surpreende quando age por
impulso, eu não estou acostumado com isso, assim como eu, as
pessoas a minha volta sempre calculam cada ação, já ela não age
assim.

Passamos na frente da Catedral de Palermo, Teatro Massimo,


Catedral de Monreale, e só de ver a empolgação dela, observando os
locais de longe, fiquei irritado por não poder leva-la até lá para que
ela pudesse admirar de perto.

Por volta de nove horas da noite, decidi que era hora de jantarmos, a
empolgação de Amapola me arrancou alguns risos, coisa que eu
definitivamente não fazia com frequência, ainda mais várias vezes em
um único dia. Ela estava realmente fazendo milagres.

— Você gosta de peixe? — pergunto quando paro em um restaurante


que serve comida mediterrânea, embora como um bom italiano,
apaixonado por massas, eu amo a culinária dessa região que mistura
elementos do mar e da terra.

— Sim — responde dando de ombros, e me recordo que sua


condição financeira não era das melhores, então não deve estar
acostumada a comer pratos muito variados.

— Ótimo, então tenho certeza que irá gostar daqui — falo, tentando
deixá-la tranquila.

Após a varredura dos meus homens, o andar superior é fechado para


nós dois, e sigo com Amapola para o ambiente muito requintado, já
estive aqui outras vezes, então espero que ela aprecie tanto quanto
eu.

Recebemos a visita do chefe de cozinha, além do dono do


restaurante, uma prática comum, para deixar claro que o nosso
atendimento seria tido com prioridade e exclusividade.
Assim que eles saíram, o maitre nos trouxe o cardápio e a carta de
vinhos, Amapola assim que a abriu, depositou-a de volta na mesa
deixando por minha conta os pedidos. Não sei se ela havia se
assustado com os valores dos pratos e vinhos, ou se realmente não
sabia o que pedir.

— Bom, já que estamos em uma região mediterrânea, vamos


experimentar pratos locais, tudo bem?

— Sim claro, eu adoraria — fala com um sorriso nos lábios.

— Você bebe?

— Não muito.

— Uma garrafa de sauvigon blanc, per favore — peço o vinho e


enquanto ele se retira, me concentro nos pedidos. Eu queria que ela
tivesse uma boa experiencia, e acreditava que estava tendo, pois
mantinha um sorriso nos lábios desde quando saímos da
propriedade.

— Tem certeza que não quer escolher?

— Sim, pode escolher, por favor.

— Para entrada vamos querer caponata de beringela, prato principal


pasta com sarde e para a sobremesa, Cannoli — faço o pedido
quando ele traz o vinho e serve em nossas taças.

— É tudo muito bonito aqui — ela fala após experimentar um pouco


do vinho.

— Gostou?

— Sim, é delicioso — Ela passa a língua pelos lábios, buscando


coletar qualquer resquício de vinho que estivesse ali, sei que ela não
fez nessa intensão, mas meu pau imediatamente acorda, com certeza
estarei com essa cena em minha mente por um longo período de
tempo.
— Que bom que gostou, — falo — Amapola, me conte um pouco
sobre você. — Quero levar a conversa para um campo seguro, eu
poderia pedir a um dos meus homens que me enviasse um dossiê
sobre ela, é provável que Amadeu já o tenha, inclusive, mas eu queria
ouvir de sua boca.

— Não tem muito o que falar. — Ela dá de ombros.

— Então, me fale o pouco que há. — Recosto-me na cadeira e


degusto o vinho enquanto ela começa.

— Bem, moro com o meu pai sozinha, não muito distante da sua
propriedade, minha mãe e ele sofreram um acidente há cerca de dois
anos, foi nesse acidente que ele perdeu uma parte do seu braço —
explica. — Ele trabalhava como padeiro, e minha mãe, fazia alguns
serviços em casa de família, eles eram bons para mim, sempre fui a
sua prioridade. — Noto a tristeza em sua voz.

— E depois do acidente?

— Depois do acidente, o meu pai, se viciou em bebida, ele era


apaixonado por minha mãe, e não suportou perdê-la. Eu mesma,
tendo sofrido muito, tive que ser forte, e desde então cuido dele como
posso.

— Por isso foi atrás dele e se dispôs a ficar em seu lugar? —


pergunto, apoiando o cotovelo na mesa e cruzando as mãos sobre
ela.

— Sim, eles sempre foram muito bons para mim, era o mínimo que eu
poderia fazer por ele, sei que ele faria o contrário se estivesse no meu
lugar. — Eu a encarava, buscando qualquer resquício de mentira em
seu semblante, mas não encontrei nada, ela estava sendo sincera.

— E você, Amapola? O que você fazia até quando aconteceu o


acidente com seus pais?
— Estudava.

— Estudava? — pergunto espantado e ela sorri, ela estava saudosa.

— Sim, fazia o Programa de Administração de Empresas, tinha uma


bolsa integral, mas ainda assim, mesmo sendo pouco tínhamos
alguns custos para me manter na universidade, então tive que
desistir.

— E depois, Amapola, o que fez quando abandonou o curso?

— Nada. — Ela dá de ombros novamente e beberica um pouco do


vinho, noto que ela realmente não bebe muito — Eu passei a cuidar
dele e fiz alguns serviços em casa de família assim como mia
mamma, foi o que, muitas vezes, nos salvou da fome.

— Você não merecia passar por isso. — falo e em um ímpeto


inesperado, seguro sua mão que repousava sobre a mesa.

Nosso rápido momento é interrompido pelo maitre que traz as


entradas que eu havia escolhido.

Admiro Amapola comer e fico satisfeito, ela realmente pareceu


apreciar o prato.

— Me conta um pouco sobre você? — Ela fala constrangida, mas sei


que está curiosa.

— Diferente de você, eu até tenho muito para contar, porém,


infelizmente, não posso, piccola, minha posição exige o máximo de
descrição.

— Conte o que puder, Salvatore. Eu ficarei satisfeita. — Ela me


surpreende com a resposta e me vejo vasculhando a mente em busca
de algo que eu possa lhe contar.

— Bem, meus pais também morreram, só que em um atentado e não


em um acidente como os seus.
— Sinto muito — ela fala com os olhos cravados nos meus.

— Não se preocupe, eu já os vinguei — digo e percebo quando ela


engole em seco, não estando acostumada com a realidade nua e
crua da máfia. — Essa propriedade que estamos, era onde nós
vínhamos nas férias e nos fins de semana.

— Obrigada por me trazer — ela fala e eu concordo com a cabeça.

— No mais, sou quem você sabe que sou, e além disso administro a
empresa que você esteve há dias atrás.

— O que viemos fazer aqui? — Percebo que já não tem tanto receio
por estar ao meu lado.

— Nada em especial, queria um tempo para espairecer e me


recuperar, e resolvi vir para aqui — Omito o fato de que eu queria um
tempo com ela, o garçom nos entrega os pratos principais.

— Por que me trouxe? — pergunta após uma garfada em sua massa.

— Não sei, Amapola — respondo com sinceridade. — Talvez, eu


quisesse te manter quieta, e tenho percebido que só estando perto de
mim você fica, digamos que, boazinha.

— Boazinha? — pergunta, sorrindo.

— Sim, Amapola, e a propósito, você está linda hoje — falo e ela


cora, acho que não está acostumada a ser elogiada, mas linda foi o
mínimo que eu pude dizer diante de como ela de fato está.

Quando entrei no quarto e a vi terminando de se arrumar, tive


vontade de dizer imediatamente como ela estava perfeita, mas me
contive, agora conversando com ela de forma tão natural, quis dizer
para que ela soubesse.

— Obrigada, Salvatore, você também está — fala e mantem o olhar


preso ao prato de comida, com certeza envergonhada pelo que disse.
Terminamos o jantar praticamente em silêncio, antes de irmos
embora pedi que fizessem uma caixa de cannolis para levarmos
porque notei que ela gostou muito do doce, pedi também uma garrafa
do vinho que bebemos.

Quando chegamos à propriedade, convidei Amapola para


caminharmos um pouco no jardim, era estranho, mas eu queria ser
gentil com ela, coisa que não fazia questão de ser com mais ninguém.

Tirei o sobretudo que vestia e joguei sobre o seu ombro, caminhamos


até estarmos próximos do lago onde muitas vezes brinquei com meus
irmãos.

Ficamos em silêncio admirando a lua refletida na água e


permanecemos assim por um longo período, cada um refletindo os
seus próprios problemas e pensamentos.

— Salvatore? — ela chamou de repente.

— Por que você me trata diferente das outras pessoas? — pergunta e


eu quase engasgo, até onde essa menina seria capaz de me ler.

— Eu não te trato diferente.

— Sim, você trata — questiona, virando-se em minha direção e eu


faço o mesmo, nossos olhares ficam travados e ela continua — Você
não é rude a todo o momento, sei que você quer me proteger, e
principalmente você me deu a opção de sair, de fugir de perto de
você.

— Eu não sei, Amapola. — Sou sincero — Você é... diferente. Por


que não foi embora quando eu permiti?

— Porque eu quis ficar, tem algo em você que me atrai na mesma


medida que me amedronta.

— Você tem medo de mim?

— Agora não mais, sei que não seria capaz de me fazer mal.
— Eu, realmente, não seria Amapola, não entendo o porquê, mas
você está certa, eu não seria capaz de te machucar.

— E eu agradeço por isso, Salvatore — ela fala e me surpreende ao


levar a mão ao meu rosto, me acariciando com delicadeza.

— Amapola? — chamo sua atenção. — O que você faria se eu te


beijasse?

— Agora? — pergunta surpresa.

— Sim, piccola. Agora. — Lentamente aproximo o meu rosto do dela,


esperando que ela se afaste, mas ela não o faz. Então, encosto os
nossos lábios, nossos olhos ainda presos um ao outro.

E é nesse instante, que todo o meu mundo começa a fazer sentido,


eu nunca havia beijado como fazia com Amapola, sem qualquer
conotação sexual, pelo menos no momento, eu apenas queria sentir o
seu gosto, sentir a macies de sua pele, e saber como seria tê-la em
seus braços mesmo que fosse por poucos instantes.

Quando pensei em me afastar dela, Amapola me surpreendeu,


puxando-me mais para perto, passeei minha língua por cada canto da
sua boca e descobri que ali havia vários sabores e todos eram
incríveis.

Os nossos corpos estavam colados um ao outro, e assim como as


nossas línguas dançavam em uma sincronia perfeita, num impulso
rápido tirei Amapola do chão e corri até a entrada, subi os degraus
que me levavam à porta saltando de dois em dois.

— Salvatore, o seu braço — ela fala preocupada por eu estar


carregando-a no colo.

— Não se preocupe, mia bella, eu já aguentei coisas muito piores do


que isso, mas agora eu só preciso entrar com você urgentemente —
Dito isso, subi correndo os degraus da parte interna, e diferente do
que ela havia pensado, eu não a levei para o seu quarto, fui com
Amapola direto para o meu, se ela quisesse, era ali que ela iria ficar
por essa noite.
Capítulo 29
"Conversar com Salvatore era como andar em um campo minado
a cada passo que eu dava corria o risco de pisar em uma bomba
e ver tudo ir pelos ares em segundos."

Salvatore tem o dom de me confundir, ele é como um carro super


veloz, que acelera de 0 a 1000km/h em segundos e por mais que eu
corra não consigo acompanha-lo.

Suas emoções sempre tão mascaradas e ocultas, por vezes, ficam


visíveis para mim e isso me confunde, não sei se é real ou fruto da
minha imaginação.

Diferente das outras pessoas, eu não o temo, sei que ele é instável
como o polônio, elemento químico que concentra o maior índice de
radioatividade e consequente, instabilidade da natureza, não é como
se ele pudesse mudar a sua essência, ele é o que é, e pronto.

Ele é letal, mas preciso descobrir se há uma forma de me aproximar


sem que eu seja destruída, porque a cada instante que passa eu
tenho ainda mais vontade de estar perto.

Estar ao lado de um mafioso nem sempre nos traz benefícios, e eu


entendi que embora ele quisesse me proporcionar um momento...
bom, me levando para conhecer a capital da Sicília, ele não podia
estar exposto e eu entendia.

No jantar, consegui ver um lado dele que eu jamais poderia imaginar


existir, não é como se ele tivesse sido carinhoso, mas demonstrou
interesse em mim, na minha vida, ele me fez perguntas, quis saber de
tudo, eu não tinha muito o que contar, mas não deixei de compartilhar
o pouco que já passei.

Quanto a ele, é como ele mesmo disse, os seus segredos não devem
ser compartilhados, mas de uma forma estranha, eu queria desvendá-
lo, não Salvatore o chefe da máfia italiana, mas sim, a pessoa, o que
ele era quando se enxergava através do espelho.

Ele estava me confundindo, quem era essa pessoa que me tratava


com cortesia, que tentava me fazer aproveitar o momento, admirar as
paisagens e conhecer um novo lugar, não conseguia enxergar nele, o
monstro que as pessoas pintavam, sem coração e desumano, porque
ele escondia essa parte dele? Será que mais alguém já teve acesso?

Eram tantas as minhas dúvidas, mas eu não encontrava respostas


para nenhuma delas. E sabia que se eu o pressionasse demais era
provável que ele se afastasse que explodisse. Conversar com
Salvatore era como andar em um campo minado a cada passo que
eu dava corria o risco de pisar em uma bomba e ver tudo ir pelos ares
em segundos.

— Amapola? — ele chama minha atenção enquanto reflito sobre os


últimos acontecimentos, sobre o que eu imaginava que ele era e
sobre o que ele tem me mostrado de fato ser enquanto olho em seus
olhos, tentando enxergar além do que ele me deixa ver. — O que
você faria se eu te beijasse?

— Agora? — Não acreditei em suas palavras, ele queria me beijar?


Isso era real? O homem que eu agora entendo estar desejando,
estava querendo me beijar?

— Sim, piccola. Agora — ele falou e foi se aproximando lentamente,


me dando tempo para fugir, espaço para decidir, Salvatore, mais uma
vez, estava me dando o poder de escolha e, mais uma vez, decidi
ficar. Então os seus lábios tocaram os meus, e eu nem conseguiria
descrever a situação.

Porém, mais rápido do que eu gostaria, ele se afastou, entretanto,


senti quando os meus pés foram literalmente tirados no chão. Ele
correu comigo em seus braços como se eu não pesasse uma grama
sequer, nem a imensa escadaria da parte interna da casa freou os
seus movimentos e quando o vi entrar em seu quarto e me deitar em
sua cama, eu previ o que aconteceria. Era inevitável.

Se eu estava com medo? Mais do que eu poderia dimensionar, mas


eu não tinha medo de me arrepender, pois eu ansiava por isso tanto
quando ele, as últimas semanas foram intensas demais, mas me
permitiram ver as coisas por um outro ângulo. Eu afastei as visões e
conceitos dos outros e quando me permitir enxergar Salvatore com as
minhas próprias lentes, eu enxerguei algo que sequer poderia
imaginar ser possível. Ele tinha alma, talvez até um coração.

— Mia bela, io te voglio — Salvatore fala com a voz rouca, quando


deita o seu corpo sobre o meu, aliviando o seu peso em um dos
braços.

— Eu também te quero, Salvatore, fammi tuo.

— Sim, Amapola, eu te farei minha. — Sinto os seus lábios tocarem


os meus novamente, mas dessa vez não há nenhuma delicadeza em
seus toques. Salvatore é exigente, ele não pede, ele toma de mim o
que quer, e enquanto me beija sinto que ele cobra sua dívida, não
apenas tomando os meus lábios e o meu corpo, mas também a
minha alma e coração.

Se eu for sincera, eu sempre o quis, desde a primeira vez que o vi,


mesmo tendo sido apresentada a sua face de demone, eu consegui
enxergar o angelo. Il mio angelo Salvatore.

Sinto suas mãos acariciarem o meu rosto com uma delicadeza que eu
nunca esperei que ele tivesse. Ele desce uma das mãos por meu
pescoço, ombros e seios, é como se estivesse mapeando cada
pedaço de mim.

Com cuidado ele tira o seu sobretudo do meu corpo, eu queria mantê-
lo ali, para ter o seu cheiro grudado em minha pele, mas sabia que
quando me levantasse dessa cama, eu estaria marcada por ele,
literalmente.

Lentamente, vejo a minha blusa ser retirada, o olhar de Salvatore é


de pura admiração, diria até adoração. Será que ele olha assim para
todas as mulheres que se deitam em sua cama? Desejava com todas
as minhas forças que não. Queria esse olhar, limpo de qualquer
preocupação e entregue ao momento apenas para mim.

Sua boca percorre a minha barriga, me causando arrepios e me


fazendo contorcer sob o seu corpo.

— Sensível demais, mia bela, fique quieta para que eu possa te fazer
sentir prazer.

— Mais? — questiono, porque todas as minhas terminações nervosas


estavam em alerta, e eu era toda sentidos nesse momento.

— Sim, Amapola. — Seu rosto pairou sobre o meu. — Eu sequer


comecei, durante toda essa noite eu te farei minha, cada hora, minuto
e segundos serão tomados por sensações diferente para que nunca,
jamais você esqueça como é estar comigo e nunca queira se afastar.

— Você me quer perto de você?

— Per tutti i giorni della mia vita — Vejo verdade em cada uma de
suas palavras, talvez, amanhã ele mude de ideia, talvez, ele não me
queira mais por perto, mas hoje eu sei que essas palavras são reais,
e por isso queria que essa noite nunca tivesse fim.

— Eu também te quero e vou ficar por todos os dias das nossas vidas
— falo e grito quando os seus lábios tomam os meus seios, eu não
esperava pelo ataque, mas todo o meu corpo ansiava por seu toque.
Suas mãos desfazem o botão da minha calça, e os seus dedos
deslizam para dentro da minha calcinha.

Eu já havia ficado excitada por Salvatore, mesmo não admitindo,


olhar a sua masculinidade me deixava molhada. No dia que o vi nu no
banheiro, quando corri para tomar banho no outro quarto, as minhas
pernas estavam molhadas pelo líquido que havia escorrido, e no
banho, ao me lavar, intimamente, soltei um gemido, pois minha
vagina estava inchada, surpresa por nunca ter sentido aquilo, levei
novamente os meus dedos até lá, e me toquei com leveza, foi bom,
mas nada se compara ao que os dedos de Salvatore estão fazendo
comigo.

Ele beliscou o meu clitóris e eu gritei, uma sensação de prazer


misturada com uma picada fina de dor me tomou, mas quando ele
deslizou um dedo para dentro da minha fenda molhada, não senti
apenas uma picada de dor, mas uma ardência real e me dei conta do
que estava prestes a acontecer, ele estava tocando a minha
virgindade, e ele a tiraria.

A calça jeans colada estava limitando os seus movimentos, então,


saindo de cima de mim, ele tirou as botas que eu calçava e puxou de
uma só vez a calça e a calcinha, por um instante, eu agradeci a
distância, eu precisava pensar se deveria falar ou não que eu era
virgem, e com a sua boca e dedos em meu corpo, eu não estava
conseguindo fazer com clareza.

E se ele desistisse? Eu não queria parar, mas sentia que precisava


dizer. Minha cabeça foi novamente afastada da dúvida quando ele se
ajoelhou no chão e sem que eu esperasse afundou a cabeça entre as
minhas pernas.

Eu não sabia como tinha acontecido, mas quando Salvatore ficou de


pé diante da cama após ter feito o meu corpo convulsionar sob o
toque da sua língua e dedos, ele estava nu, gloriosamente nu, admirei
o seu membro já coberto por uma camisinha e constatei que o que eu
havia visto no banheiro e que o que notei ser grande, estava ainda
maior e mais grosso.
— Dio santo — falei com medo e acho que ele percebeu.

— Você quer parar, bella?

— Não, Salvatore. — Considero ou não se devo contar mais uma vez


— Continue. — Resolvo ficar calada.

Sua boca volta a devorar a minha e sinto quando ele leva a mão para
baixo, alinhando a cabeça do pênis em minha entrada em seguida os
seus dedos seguem para o meu clitóris fazendo movimentos
circulares sobre eles e eu gemo.

Sinto-o forçar a minha entrada e um grito fino escapa da minha boca.


Involuntariamente, levo as mãos até minha entrada e constato que
não havia entrado nada, até a cabeça do seu membro ainda estava
fora de mim, Senhor, eu não ia aguentar, será que tudo nesse homem
precisava ser exagerado dessa forma.

— Mia bela, — fala quando eu travo as minhas pernas em volta da


sua cintura, impedindo os movimentos do seu corpo — você é muito
apertada, há quanto tempo você não se deita com um homem?

— Eu nunca estive com um homem — digo finalmente o que já


deveria ter dito, se ele não quiser continuar, eu pelo menos fui
honesta.

— O que disse? — pergunta espantado, se afastando minimamente


de mim, mas ainda posso sentir sua cabeça fazendo pressão em
minha entrada.

— Me desculpe não ter falado antes, mas achei que você iria parar —
atropelo as palavras me justificando.

— Puta merda, Amapola. Eu pensei que...

— Eu sei o que pensou, Salvatore, se não quiser continuar eu


entendo.

— Você quer que eu pare?


— Não, continue, per favore — praticamente, imploro.

— Amapola, então me ajude e relaxe, eu nunca estive com ninguém


assim, então será a minha primeira vez também, se estiver doendo
demais ou desconfortável, é só você pedir e eu paro, va bene?

— Eu não pedirei, Salvatore, eu quero isso... muito.

— Ah, merda. — Salvatore me beija com paixão, suas mãos voltam a


percorrer todo o meu corpo, mas ele se concentra em meu clitóris, ele
volta a estimulá-lo e eu volto a me perder nas sensações que ele me
desperta.

Pouco a pouco, ele força a minha entrada, sinto dor no local, mas
todo o meu corpo está dominado por outras sensações. Tento afastar
a mente do incomodo e finalmente, ele me penetra, sei que está
fazendo um esforço terrível para se conter e não me machucar, mas
ainda assim força cada centímetro para dentro de mim.

— Caralho, Amapola — exclama quando solto um grito, sei que nesse


momento o meu selo se rompeu, como prometeu, ele me fez sua. —
Seu aperto está quase doendo em mim, mia bella, se estiver demais
para você, fale e eu paro.

— Continue, Salvatore, eu não quero que pare, eu já me perdi na dor,


agora me ensine a sentir prazer — falo e ele me beija com paixão.

Aos poucos Salvatore começa a fazer movimentos lentos, para fora e


depois retornando para dentro de mim, é mais do que uma sensação
de preenchimento, sinto-o tocar em lugares que eu sequer sabia
existir.

Aos poucos, a dor vai diminuindo e uma sensação tremor em todo o


meu corpo me toma novamente, movo os quadris em sua direção,
querendo mais a cada instante. Salvatore entende e aumenta o ritmo,
o suor do seu corpo pinga sobre o meu peito e barriga quando o ritmo
de seus movimentos cresce.
Solto um grito libertador quando estremeço sob o seu corpo e ouço
um grunhido escapar dos seus lábios quando ele também estremece,
em seguida ele deixa o seu peso cair sobre mim.

Nossas respirações estão descompassadas, aceleradas, e eu


finalmente consigo entender tudo o que as garotas que estudavam
comigo falavam sobre sexo. Mesmo ouvindo os relatos, eu jamais
imaginei que fosse ser assim.

— Você está bem, mia bella?

— Acho que sim — falo, sorrindo, mas faço uma careta de dor
quando ele puxa o seu membro para fora.

— Eu te machuquei. — Não era uma pergunta e sim uma afirmação


quando olhou onde os nossos corpos se uniam há instantes atrás.

Sento-me na cama e entendo o seu espanto, os lençóis brancos de


ceda ostentam uma imensa mancha vermelha. Salvatore se afasta,
tudo o que eu vi em seu semblante a instantes atrás havia sumido,
ele estava com raiva. Será que era de mim?

— Você não me machucou — falo, abraçando-o por trás quando me


aproximo da janela. — Como eu disse antes de tudo, eu sei que você
não me machucaria.

— Como pode ter tanta certeza, Amapola? — pergunta quando me


encara nos olhos.

— Eu vejo, Salvatore, eu vejo algo que você quer esconder de si


mesmo, agora eu consigo enxergar com os olhos da alma e do
coração. — Lembro das palavras de Ângela.

— Não tenha tanta fé em mim, Bella.

— Eu sempre terei fé Salvatore, eu sempre terei — falo e deixo que


tome os meus lábios mais uma vez.

Agora ele tinha tudo de mim: o meu corpo, a minha alma e o meu
coração.
Capítulo 30
"Pela primeira vez em anos, tenho a sensação de estar vivendo, é
isso que Amapola me traz: um sopro de vida onde antes só havia
escuridão e morte."

Desperto e vejo Amapola dormindo serenamente ao meu lado, sem


que eu possa resistir levo minhas mãos aos seus cabelos
acariciando-os com cuidado, ela se move um pouco mais não
desperta.

Sigo para o banheiro, estou de pau duro, preciso urinar eu sei, mas
só o fato de tê-la ao alcance das minhas mãos me deixou explodindo
de tesão o que torna a ação fisiológica difícil, me concentro na parede
a minha frente, mas as imagens de Amapola durante a noite
estouram como explosões em minha mente. Mesmo tendo tomado
dela durante a noite não apenas a sua pureza, mas também ter
drenado todas as suas forças eu não estava satisfeito, longe disso.

Eu poderia passar dias trancado com ela em um quarto e ainda assim


não estaria satisfeito.

Escovo os dentes, pego o aparelho de celular sobre a bancada e sigo


para a varanda do quarto, preciso verificar os meus e-mails e fazer
algumas ligações, é bom para me distrair também, assim consigo
deixá-la dormir um pouco.
— Amadeu?

— Sim chefe — responde quando atende a chamada.

— Peça que tragam o café da manhã no meu quarto em vinte


minutos. — aviso por volta de dez horas da manhã, ela já teve o
tempo necessário para descansar.

— Providenciarei agora senhor.

— Para duas pessoas — informo que não estou só e percebo que ele
se cala, então encerro a chamada.

Sei que tenho surpreendido a todos ultimamente, sobretudo a


Amadeu que está sempre ao meu lado e é quem providencia tudo o
que preciso. Então é quem tem conhecimento de praticamente tudo o
que eu faço, mas não me importo.

Estar com Amapola me traz novas sensações, e eu estou satisfeito


por isso, talvez a monotonia e o controle que tenho sobre tudo e
sobre todos a minha volta não sejam mais tão atrativos para mim.

Ela é o contrário de todos a minha volta, Amapola não se dobra com


a minha presença, não cumpre as minhas ordens, ela questiona,
reclama, deixa clara a sua opinião e insatisfação e talvez seja isso o
que tem me atraído diretamente para ela.

Olho o horizonte e penso em como a minha vida mudou, quer dizer,


eu já não vivo apenas pensando em trabalho e nas minhas
obrigações da máfia, pela primeira vez em anos, tenho a sensação de
estar vivendo, é isso que Amapola me traz: um sopro de vida onde
antes só havia escuridão e morte.

— Ei Bella. — Beijo suas costas nuas, o lençol cobria apenas a parte


de baixo do seu corpo — Acorde, você já dormiu demais. — falo em
seu ouvido.

— Salvatore! — exclama meu nome, com uma voz deliciosamente


rouca, mas mantendo ainda os olhos fechados.

— Pedi que trouxessem o café da manhã, precisamos mangiare. —


Não resisto e vou descendo beijando toda a pele exposta das suas
costas. Lentamente, deslizo o lençol e sigo com meus lábios todo o
caminho até o seu tornozelo.

— Você sabe como despertar uma mulher — fala e eu sorrio


depositando um último beijo em sua panturrilha, sua voz não está
mais rouca de sono e sim de desejo.

— Não, mia Bella, essa forma de despertar é sua. — Giro,


rapidamente, o seu corpo e o mantendo sob o meu. — Eu nunca
acordo ninguém assim, esteja certa disso.

Não resisto e mesmo querendo deixá-la descansar um pouco, refaço


o caminho partindo do seu pescoço, passando pelos seus seios até
estar novamente com a cabeça entre suas pernas, meu novo lugar
favorito em todo mundo.

— Salvatore, eu quero... — ela começa com a voz entrecortada, mas


eu corto suas palavras.

— Não, Bella, você precisa descansar um pouco, mas isso não


significa que não podemos nos divertir — falo, deixando que o sopro
das minhas palavras resvale no seu clitóris exposto diante de mim.

Toda a boceta de Amapola está vermelha e inchada. Sei que tudo o


que fizemos durante a noite, foi demais para uma primeira vez, mas
eu não consegui me controlar e percebi que ela também não, assim
como agora que implora para que eu me enterre novamente dentro
dela.

Eu o faria com todo prazer, mas vou deixá-la descansar para a noite.

Sei que o nosso café da manhã logo chegará, então intensifico o


movimento dos meus lábios, e com apenas um dedo em seu interior
pressiono o seu ponto de prazer levando-a, rapidamente, ao êxtase.
Ver o seu corpo tremendo de prazer, os olhos fechados, os seios
empinados e as costas arqueadas, me impedem de manter o
controle, por isso, ajoelho entre as suas pernas e abaixo a calça de
moletom, agarrando em seguida o meu pau com a mão direita, ele
lateja ainda mais, eu estou com a adrenalina e o tesão em alta, e
olhando-a respirar pesadamente abaixo de mim enquanto com os
olhos cravados no meu membro, vendo eu me masturbar, mais rápido
do que eu desejo, gozo em sua barriga e seios.

Meu coração está acelerado, minha pulsação tão forte que eu sento o
latejar não apenas no meu pau, mas em todo o meu corpo e quanto
mais eu espremia as mãos em volta dele, mais sentia o líquido ser
drenado.

— Salvatore! — Sua voz me tirou do torpor em que me encontrava,


após ter urrado feito um lobo com a cabeça jogada para trás, e com
as mãos ainda em volta do meu pau.

— Me desculpe, acho que fiz uma bagunça aqui — falo quando olho o
seu corpo antes imaculado, totalmente coberto por meu sêmen.

— Me beije — Ela fala, não se importando nenhum pouco com o que


eu havia feito sobre o seu corpo e eu faço o que me pediu,
aumentando ainda mais a bagunça quando choco o meu corpo contra
o dela marcando-a ainda mais como minha.

Levo Amapola em meus braços para o banheiro, e tomo,


rapidamente, um banho para aguardar o nosso café da manhã, quis
lhe dar espaço, para que pudesse se limpar, e fazer a sua higiene
pessoal.

Quando o nosso café chega, peço que deixem na antessala do quarto


e vou até onde ela havia sido acomodada para buscar sua mala, ela
precisaria de roupas quando saísse do banho.

Quando volto, encontro a mulher sentada diante da mesa, com o


corpo coberto apenas por uma toalha. Será que ela não havia visto o
roupão no armário, ou ela estava deliberadamente me provocando?
O pescoço exposto pelo cabelo amarrado no alto da sua cabeça
quase me enlouquece, instantaneamente, me vi agarrando ali
enquanto estocava com força em sua boceta com sua bunda
empinada em minha direção.

— Salvatore, me desculpe eu estava com fome — ela fala, chamando


minha atenção, eu estava paralisado olhando-a com a mala em uma
das mãos.

— Não, Amapola, sem problema, fique à vontade, vou colocar sua


mala lá dentro e volto. — Continuo o caminho para dentro do quarto,
quando coloco a mala no chão, levo mão até o meu membro
endurecido e o aperto sob o jeans.

— Merda, preciso me controlar — resmungo, fazendo um esforço


hercúleo para abrandar o meu desejo por ela antes de acompanhá-la
no café da manhã.

— Você se chateou por eu ter vindo comer sem esperar? — ela


pergunta quando sento na cabeceira da mesa.

— Não, eu só... me distrai um pouco, mas tudo bem, de qualquer


forma, não gosto de tê-la com fome.

— Obrigada — responde e em silencio continua a comer.

— Vista uma roupa leve, está calor e vamos passear um pouco —


aviso quando me levanto, indo em direção ao celular, preciso pedir
que Amadeu providencie algumas coisas para mim.

— Tudo bem — ela fala, terminando de beber o café que estava em


sua xícara.

***

— Estou pronta. — Amapola avisa quando se aproxima de mim no


terraço do quarto.
Percorro o seu corpo com os olhos e me pergunto como ela acredita
estar pronta vestida com uma saia branca que mal cobre suas
pernas, uma blusa azul amarrada sobre o seu umbigo deixando parte
da sua barriga exposta e sandálias rasteira amarrada em seus
tornozelos.

— Tem certeza? — Ela olha para baixo, analisando a roupa que


veste, de repente o sorriso morre em seus lábios.

— Você disse roupas leves — se explica. — E está muito calor.

— Sim, Amapola, eu disse roupas leves e não que fosse nua — rosno
para ela.

— Eu não estou nua, Salvatore. — O sorriso volta a brincar em seus


lábios — Pode me dizer aonde vamos?

— Para que? — pergunto irritado, se eu quisesse a levaria para o


inferno, mas não com essa roupa, penso

— Para que eu veja se a roupa está adequada.

— Vamos a vinícola da famiglia.

— Ah, então essa roupa está perfeita. — Sorri. — Vou pegar apenas
um chapéu. — Ela gira sobre os calcanhares e me deixa plantado
sozinho, me pergunto de onde essa criatura saiu.

— Vamos. — Decido me calar quanto a sua roupa, mas isso não me


impediu de avisar a Amadeu que todos os trabalhadores deveriam ser
liberados hoje, eu mesmo seria o seu guia.

Passamos o restante da manhã e o meio da tarde caminhando pelo


vinhedo. Expliquei à Amapola desde a plantação das uvas até a
produção dos vinhos, ela se mostrou interessada demais, era
inteligente, pude perceber em seus comentários.

Mesmo bebendo pouco, fez questão de experimentar tudo o que


produzíamos. Ela me fazia sorrir a cada careta quando degustava os
vinhos secos contrastando com os sorrisos ao experimentar os
suaves, era de se esperar, afinal, além de não estar acostumada com
bebidas fortes, o seu paladar refletia a sua essência: cheirosa, suave
e embriagadora.

Almoçamos e decidimos voltar a propriedade para descansarmos um


pouco, a noite havia sido agitada e queria que ela estivesse
descansada para o que eu tinha em mente.

Antes de se jogar sobre a cama, Amapola me passou uma lista de


materiais que precisaria para o jantar. Ela havia lembrado que disse
que cozinharia para mim, entreguei o papel a Amadeu para que
confirmasse se tínhamos tudo e providenciasse o que faltasse.
Dispensei os funcionários da cozinha e a deixei dormindo quando
decidi ir para o escritório trabalhar.

O esforço foi em vão, mesmo distante, Amapola me desconcentrava,


enquanto olhava a tela do notebook não enxergava nada além dela.

Uma ligação de Fabrizio me trouxe de volta, problemas e mais


problemas, essa era a minha realidade e não a calmaria que Amapola
trazia aos meus dias, me permiti dar um tempo, avisei que ele
resolvesse o que estivesse ao seu alcance e os demais problemas eu
veria quando chegasse.

Partiríamos amanhã à noite, então quarta-feira a minha vida real me


abraçaria novamente.
Capítulo 31
"Um conto de fadas era tudo o que eu desejava, mas Salvatore
estava longe de ser um príncipe encantado, não era a sua
essência."

Assim como aconteceu pela manhã, sou acordada por Salvatore com
beijos e carinho, penso que eu poderia me acostumar com isso, mas
sei que a realidade é bem diferente.

Tenho medo do instante em que toda essa calmaria acabe, e eu sei


que vai.

Um conto de fadas era tudo o que eu desejava, mas Salvatore estava


longe de ser um príncipe encantado, não era a sua essência.

— Como você consegue dormir tanto, Bella?

— Acho que você tirou toda a minha energia — respondo ainda rouca
pelo sono.

— Pois trate de recuperá-la, já lhe dei tempo suficiente. — Eu sei ao


que ele se refere, confesso estar ansiosa por isso.

Visto um short jeans e uma camiseta soltinha e vou até o terraço,


admiro o homem deitado sobre a chaise, ele é realmente um príncipe,
as vezes, penso que é o príncipe das trevas, mas isso não tira a sua
beleza, lhe dá até mais imponência.

— Posso ir até a cozinha? — pergunto, chamando a sua atenção, já


era noite e eu precisava começar a cozinhar logo.

— Claro, vou te acompanhar, dispensei os funcionários — avisa,


pegando o notebook e o celular antes de sairmos do quarto.

Admiro cada lugar por onde passo, mas me surpreendo com a


cozinha, ela não é rustica como todo o lugar, e sim, moderna mesmo
tendo fogão a lenha, e alguns itens que julgo serem mais antigos, ela
é totalmente moderna.

Sobre a bancada imensa, estão todos os ingredientes que listei além


de panelas e outros itens que vou precisar, agradeço a quem quer
que os tenha separado para mim. Provavelmente, pelos materiais
sabia qual era o prato que faria e facilitou o meu trabalho poupando-
me o tempo de procurá-los.

Coloco um avental e prendo o cabelo com um rabo de cavalo antes


de começar, Salvatore se acomoda na mesa abrindo o notebook,
entendo que ele vai trabalhar enquanto eu cozinho, mas só a sua
companhia já me deixa satisfeita.

— Quer uma taça de vinho? — pergunta, mostrando uma das


garrafas que trouxemos da vinícola.

— Melhor não, — explico — durante o jantar eu te acompanho, mas


agora posso estragar a receita. — Ele sorri de lado e serve apenas a
sua taça, concentrando-se no trabalho, me esforço para fazer o
mesmo. Para que ele não me distraia.

Pico os ingredientes para o recheio, cebola, alecrim, nós moscada,


sal e outras especiarias e levo ao fogo junto com as carnes que
servirão de recheio para a massa, filé de porco, filé de frango ambos
cortados em pedaços pequenos acrescento um pouco de pimenta e
ponho para cozinhar.
Enquanto o cheiro maravilhoso do recheio começa a tomar a cozinha,
me empenho a fazer a massa: ovos, farinha e água. Os ingredientes
são poucos e simples, mas depois de sovar e abrir com o cilindro eu
sabia que estaria perfeita, em casa quando fiz esse prato uma vez
demorei muito tempo por ter que abrir tudo com um rolo, agradeci
mentalmente pela facilidade que o cilindro me trouxe, eu realmente
gosto muito desse prato.

Desligo o fogo com o recheio e acrescento o ovo, pão ralado e


presunto, misturo tudo com uma colher grande e cubro com plástico
filme, essa mistura deve descansar e esfriar por uma hora.

Faço um molho tradicional de tomate, e após abrir e cortar as lâminas


de massa começo a recheá-las. Desvio o olhar para Salvatore e vejo
que ele me encarava, enquanto cozinhava havia me distraído
totalmente da sua presença, mas senti o seu olhar me puxar feito um
imã.

— O que está fazendo? — pergunta — Está com um cheiro divino.

— Tortellini di Valeggio — falo, começando a rechear a massa e a


finalizo com uma espécie de nó.

— Nodo d’Amore? — pergunta e eu sorrio ao responder

— Sim, o famoso nó do amor — digo, sorrindo e Salvatore se levanta


e caminha até onde estou.

— Parece difícil — comenta despretensiosamente.

— Na verdade não é, é só a prática mesmo. — Continuando o


trabalho — Você conhece a história desse prato? — pergunto,
sorrindo

— Não.

— Quer saber? — Pergunto e ele dá de ombros, sentando-se à minha


frente na bancada, então resolvo contar.
— É uma lenda do século treze, dizem que soldados chegaram até as
águas do Rio Mincio e naquela época atores eram contratados para
entretê-los, um deles lhes contou que havia ninfas naquelas águas
que a noite saiam do rio e dançavam. — Ele leva a taça aos lábios e
concentra a sua atenção em mim. — Mas como elas eram
enfeitiçadas, assumiam forma de bruxas feias quando saíam das
águas. Um dos soldados ficou impressionado com a história e
naquela mesma noite, enquanto dormia, foi acordado pelas bruxas
que dançavam, intrigado ele foi até elas que fugiram, mas enquanto
corria, uma bruxa deixou o seu manto cair e diante dele se
transformou em uma bela ninfa, eles se apaixonaram e durante
aquela noite se amaram, mas como antes de amanhecer ela
precisava voltar ao lago, entregou a ele como lembrança um lenço
atado.

— Tome um pouco. — Salvatore leva a sua taça aos meus lábios


quando faço uma pausa na história, compartilhando comigo a sua
bebida, então continuo.

— Durante a festa no dia seguinte, ele reconheceu sua amada,


dançando diante dos homens, ela havia enfrentado os perigos para
estar perto do seu amor, mas os olhares dos dois despertou o ciúme
de uma aldeã que o desejava, ela contou a todos que havia entre eles
uma ninfa, e o soldado conseguiu ajudá-la a voltar para o rio sem ser
capturada, mas ele foi preso, durante a noite quando todos dormiam,
sua ninfa foi até ele, que decidiu segui-la. A mulher que o desejava,
resolveu ajudar ao perceber o quanto se amavam e pediu que o
libertassem. Eles fugiram para o rio, e no local onde desapareceram,
na margem foi encontrado um lenço de seda dourado amarrado pelos
amantes, que passou a simbolizar o seu amor eterno, e assim surgiu
o Nodo d’Amore, para sempre lembrar a história dos dois, deixando
claro que nenhum amore é impossível.

— Você gosta de histórias.

— Sobretudo as de amor — respondo com um sorriso nos lábios,


mas não perco o seu semblante fechado e percebo que ele não
compartilha os mesmos pensamentos que eu.
Após finalizar, levo os nossos pratos até a mesa que já estava posta
em um imenso salão de jantar.

— Salvatore? — chamo sua atenção quando ele serve a minha taça


de vinho.

— Sim.

— Avise a Amadeu e Matteu que deixei sobre a bancada o jantar


deles.

— Por que a preocupação com eles, Amapola? — Sua voz está


irritada? — Eles sabem se virar, podem providenciar o seu alimento.

— Tenho certeza que sim. — Dou de ombros — Mas já que eu


cozinhei para nós dois, não me custava servi-los também, ademais fiz
muita comida e não gosto de desperdícios.

— Você me surpreende, Ragazza — fala, me encarando.

— Eu gosto disso — respondo, sorrindo.

Em seguida comemos até estarmos satisfeitos, aparentemente minha


comida lhe agradou muito pois o vi repetir três vezes o prato.

Subimos para o quarto, com mais uma garrafa de vinho na mão e


uma bandeja com os cannolis que trouxemos ontem do restaurante.
Capítulo 32
"Até a escuridão é necessária para que possamos enxergar as
estrelas e é por isso que eu gosto da noite... e de você também."

Eu estava surpreso, Amapola cozinhava maravilhosamente bem, eu


já havia comido esse prato outras vezes e gostava muito, mas o dela
estava sensacional, eu não sabia explicar o porquê.

Nós estávamos de barriga cheia, mas mesmo assim ela quis trazer os
cannolis, ela realmente amou o doce, Amapola estava um pouco mais
solta, tinha bebido duas taças de vinho durante o jantar e por isso ao
entrar no meu quarto não aguardou as minhas instruções, tendo
seguido direto para o terraço e deitando sobre uma das chaises.

Vou até ela e lhe entrego uma das taças, ela se senta me olhando de
repente mais ansiosa.

— Fale Amapola — aviso quando percebo que ela fica em silêncio.

— Posso lhe perguntar uma coisa?

— Sim, mandei que falasse, belsa.

— Onde está o meu pai, o que fez com ele? — pergunta e a


ansiedade pela informação torna-se perceptível.
— O que acha que eu fiz? — Sento-me ao seu lado.

— Você o machucou? Ele ainda é seu prisioneiro? — As lágrimas de


repente tomam os seus olhos.

— É o que pensa que eu fiz? — pergunto e ela dá de ombros.

— Eu não sei, Salvatore, mas espero que ele esteja bem — fala,
chorando.

— Ele está Amapola, não se preocupe.

— Onde ele está?

— Em sua casa — informo.

— Em nossa casa? — pergunta espantada.

— Não Amapola, na casa dele, sua casa agora é a minha. — Deixo


claro para ela o meu ponto e ela acena com a cabeça, percebo que
queria dizer algo, mas se conteve, me pergunto por quanto tempo não
falará, porque Amapola definitivamente não é o tipo de pessoa que
guarda o que pensa e o que sente.

— Ele está bem?

— Garanto a você que tem vivido muito melhor do que antes, me


certifiquei de que não lhe faltasse nada, na verdade não deixo que
nada falte a quem me serve.

— Ele tem lhe servido? — pergunta espantada.

— Você pergunta coisas demais, Amapola.

— Mas ele é meu pai. — Justifica a sua curiosidade.

— Ô mulher difícil. — Levo as mãos ao cabelo um pouco irritado, eu


não estou acostumado a dar explicações a ninguém sobre o que faço.
Amapola, sem que eu espere, senta-se em meu colo, mantendo uma
perna em cada lado da minha cintura. E me surpreende ainda mais
quando me beija na boca, o gosto do vinho misturado com o doce que
ela acabou de comer são como afrodisíacos para mim, por isso
correspondo devorando-a com meus lábios.

Amapola rebola sobre o meu colo, fazendo o meu membro endurecer


instantaneamente, fico surpreso com a sua audácia, afinal ela não
tinha nenhuma experiência até a noite anterior.

Mas como a ninfa da história que me contou mais cedo, ela me seduz
e de repente eu me vejo rendido enquanto afasto do seu corpo e do
meu, as peças de roupa que nos separam.

Com o meu membro endurecido entre as suas pernas ouço


novamente a sua voz a me enfeitiçar.

— Me fale, Salvatore, me conte o que o meu pai tem feito. — Ela


rebola jogando o pescoço para trás me dando acesso aquele
pedacinho do paraíso.

— Você está tentando me manipular, mia bela? — pergunto,


enquanto chupo o seu pescoço com força, mesmo com um pouco de
raiva pelo que ela está fazendo comigo eu não consigo me afastar.

— Não, mio angelo, eu só estou preocupada com ele. — Geme alto


quando eu abocanho um dos seus seios.

— Non preoccuparti, mia bella, eu me certifiquei de que ele estivesse


bem — falo intensificando ainda mais os chupões em seus seios.

— Ele deve estar preocupado comigo — choraminga.

— Quando voltarmos, deixarei que você vá até ele — falo, afastando


sua cintura do meu membro duro para vesti-lo com a camisinha.

— Você promete, Salvatore? — pergunta, olhando em meus olhos,


buscando a verdade em minhas palavras.
— Sim, Amapola, eu te prometo — falo, colocando a cabeça do meu
pau em sua entrada e fazendo-a deslizar lentamente sobre ele.

— Grazie, mio angelo — ela fala, mas assim como eu, se perde nas
sensações quando intensifico as estocadas em sua boceta.

Amapola me faz fazer coisas que eu jamais imaginei, eu não dou


satisfação de nenhuma das minhas decisões sequer para os meus
irmãos, mas para ela eu dei, mesmo sabendo que foi apenas para lhe
tranquilizar, esse definitivamente não era um hábito que eu cultivava.

Estando não apenas envolvido pelo momento, mas também um


pouco enraivecido pelo que ela faz comigo, eu não sou carinhoso ou
delicado, eu fodo Amapola de todas as formas que posso, mas a
cada vez que a giro e a coloco em uma nova posição, ela me segue
gemendo cada vez mais alto e demonstrando sentir tanto prazer
quanto eu.

Depois de gozarmos duas vezes seguidas, nos deitamos na cheise,


Amapola se aconchega ao meu lado deitando sobre o meu braço com
os olhos presos no céu estrelado.

— Amapola? — chamo sua atenção.

— Sim.

— Não pense que eu não sei o que você fez, e não se acostume a
achar que terá o que quiser de mim enquanto rebola sobre o meu
colo.

— Perdoname — fala, desviando o olhar para o meu — Eu não tive


essa intensão, só estou preocupada com ele — explica. — Queria
afastar de mim a angustia que sentia para me dar inteira para você.
— Fico surpreso por suas palavras repentinas, mas enxergo a
verdade através do seu olhar.

— Va bene, Amapola, não precisa fazer essa carinha. — Passo o


dedo pela ruga que se formou entre a sua sobrancelha. — Só quero
que fique claro para que não se acostume. — Ela assente com a
cabeça e volta a olhar para o céu e eu repito o seu gesto.

— Eu gosto da noite — ela fala e eu concordo acariciando suas


costas.

— Eu também, mia bella, às vezes sinto como se ela fosse uma


extensão de mim, ela reflete a escuridão que trago em mim.

— Salvatore — Amapola chama a minha atenção e desvio o meu


olhar para o dela.
— Sim?
— Até a escuridão é necessária para que possamos enxergar as
estrelas e é por isso que eu gosto da noite... e de você também.
As palavras fogem da minha boca e eu não consigo responder a sua
afirmação tão sincera, vejo suas pálpebras pesarem e Amapola
adormecer, me entrego como ela ao sono, a noite e a minha própria
escuridão.
Capítulo 33
"Eu gostava dessa sensação, de ter a vida das pessoas em
minha mão, era um poder que nem conseguiria descrever a
intensidade do prazer que me dava, mas com Amapola era
diferente, eu tinha sua vida em minhas mãos, mas queria que ela
confiasse que eu zelaria por ela, e jamais faria nada que a
colocasse em risco."

Acordo Amapola mais cedo, quero levá-la para passear pela


propriedade. Depois de termos adormecido no terraço, eu acordei de
madrugada sentindo o seu corpo tremer sobre o meu, ela estava com
frio.

Segurei-a no colo para levá-la para dentro, ela estava fria e precisava
se aquecer, mas Amapola acordou e eu pude esquentá-la da melhor
forma possível, cobrindo o seu corpo com o meu.

— Para onde vamos hoje? — ela pergunta com um sorriso nos lábios
após sair do banheiro parecendo uma miragem, Amapola vestia um
vestido amarelo florido, soltinho no corpo e curto demais como a saia
de ontem, nos pés um par de botas cano curto.

— Vamos passear pela propriedade, quero te mostrar alguns lugares


— falo e ela concorda, enquanto toma o seu café da manhã.
Dispenso Amadeu e Matteu, como não iriamos sair deixei-os de
sobreaviso apenas para o retorno à noite, eu queria poder aproveitar
o dia com Amapola sem a interferência ou a presença de ninguém.

Começo levando-a para conhecer os jardins, nós havíamos ido


apenas no que ficava localizado na lateral da mansão, mas nos
fundos, nós tínhamos um ainda mais bonito, os recortes das árvores
formavam um labirinto perfeito. Na infância, eu, os meus irmãos e
Amadeu amávamos correr e brincar de se esconder aqui.

Amapola se encanta com os cavalos, com as flores e com tudo o que


eu lhe mostro, quando decidi trazê-la comigo, eu sabia que ela iria
gostar do lugar, mas eu não imaginava que fosse ser tanto quanto
aparentava.

Pego um dos carros de golfe que temos aqui e coloco a cesta de


piquenique que pedi que preparassem, eu a levaria em um dos
lugares que eu mais amava aqui, mas ficava um pouco afastado da
mansão.

— Para onde vamos? — ela pergunta após sentar ao meu lado, eu já


estava aguardando atrás do volante, enquanto ela se despedia de
todos os cavalos que tínhamos aqui.

— Você pergunta demais, ragazza — respondo quando coloco os


óculos estilo aviador no rosto. — Surpresa. — completo quando
coloco o carro em movimento.

— Você não me parece um homem de surpresas, Salvatore.

— E não sou, mia bella, mas surpreendentemente tenho gostado de


te surpreender — falo uma verdade absoluta, admitindo tanto para ela
quanto para mim mesmo.

— Que bom, porque eu amo ser surpreendida — fala com um imenso


sorriso, e durante os quinze minutos que percorremos de onde
estávamos até o lugar da tal surpresa, Amapola me aponta todas as
coisas que os seus olhos permitem alcançar, acabo demorando ainda
mais no trajeto, só para ter o prazer de vê-la admirada com cada
novidade.

— Eu não acredito — ela leva as mãos a boca maravilhada antes


mesmo de descer do carrinho, e eu me precipito em ajudá-la a
descer. — O mar! — exclama.

— Sim, mia bella, eu não poderia lhe trazer para Palermo sem deixá-
la ver o mar.

Eu havia pedido que montassem uma tenda de frente para o mar,


mas não esperava encontrar o que via no momento, o espaço estava
decorado com tecidos brancos amarrados nas estacas de madeira
que formavam a sua estrutura, algumas flores coloridas ornavam o
lugar e combinavam muito com ela, com toda a sua delicadeza.

— Obrigada, Salvatore, eu não esperava por isso — fala e desce do


carrinho, segurando na mão que lhe estendi para servir de apoio.

Assim que pisamos na areia, Amapola se abaixou para retirar as


botas dos pés.

— Me dê a cesta — ela pede, indicando o objeto que eu carregava e


que trazia em minhas mãos — Tire os seus sapatos.

— Melhor não, e a cesta está pesada — falo e continuo caminhando


em direção a tenda.

— Tire os sapatos, Salvatore — diz quando me alcança e segura em


minha mão — Pise no chão, sinta os seus pés na areia, aproveite o
momento — fala como uma suplica e os seus olhos cravam nos
meus.

— Tudo bem — concordo e assim que tiro os sapatos dos pés ela
abaixa e os segura junto com a sua bota.

Pela primeira vez em muitos anos, sinto novamente a areia em meus


pés, desde que comecei a assumir o meu lugar e as minhas
obrigações na máfia, eu não estive mais aqui, apenas Amapola me
fez querer aproveitar tudo o que esse lugar pode nos oferecer.

Conversamos um pouco e comemos alguns quitutes deliciosos que


prepararam para a gente.

— Posso perguntar uma coisa? — ela fala e eu sorrio

— Outra coisa, não é Amapola? É só o que você faz, ragazza. —


Coloco uma uva em sua boca ela acena, concordando com a cabeça
e deixa um beijo em meus lábios. — Pergunte.

— Como será quando nós voltarmos?

— Como assim, Amapola? Seja mais clara — peço não entendendo


onde ela quer chegar.

— Eu continuarei sendo sua prisioneira? — pergunta, enquanto


encara suas mãos unidas sobre o colo.

— Não, Amapola, você não será minha prisioneira, mas será minha
companhia, então ficará comigo — afirmo.

— Então não poderei sair?

— Para onde você quer ir, Amapola? — pergunto irritado — Eu já


deixei que veja o seu pai, o que mais você quer ragazza? Não
comece a exagerar.

— Se acalme, Salvatore, não quis te deixar assim, — fala — mas é


que eu posso querer ir ao mercado, fazer compras, passear, ver a
rua, pessoas, eu não sei exatamente, mas já que não serei mais sua
prisioneira, quero saber se posso sair, só isso

— Não, Amapola, você não pode — falo já irritado. — Tudo o que


quiser ou precisar basta pedir e eu providenciarei, va bene?

Encerro o assunto, mas percebo que ela não fica satisfeita com o
rumo da conversa, me pergunto o que essa menina tem na cabeça?
Tenho lhe dado muito mais do que já fui capaz de dar a qualquer um,
então por que não se contenta.

Amapola gira de costas para mim, e abraça as pernas enquanto


observa o mar à sua frente.

— Senhor, eu posso me banhar? — pergunta após um tempo em


silêncio e sei que me chamar de senhor foi apenas para me irritar e
se afastar de mim.

— Você está de roupa de banho? — Ergo a sobrancelha quando


questiono.

— Não estou, é verdade, desculpe — fala, voltando a encarar o mar à


sua frente.

— Pode ir, piccola — falo depois de um tempo.

— Vestida?

— Sim, bella, como quiser, ninguém virá até nós — falo, ainda
deitado com um dos braços atrás da cabeça.

— Grazie. — Ela olha para trás e de repente um pequeno sorriso


surge em seus lábios, ela se despe diante dos meus olhos e eu ergo
o tronco apoiando-me sobre o cotovelo para admirar a visão da
mulher tirando a roupa.

Amapola corre para o mar calmo a nossa frente, e grita quando a


água fria toca suas pernas, mas ela não desiste e pouco a pouco vejo
o seu corpo ser coberto pela água. Imagino que ela não saiba nadar,
pois se mantém em um lugar onde a água alcança apenas sua
cintura, os seus seios estão para fora da água, me proporcionando
uma visão e tanto enquanto ela gira sob o sol de braços abertos.

Como uma abelha atraída pelas flores, eu sou atraído para ela e não
consigo desviar os meus olhos

— Vem, Salvatore — ela chama com um sorriso nos lábios quando


percebe que eu a observo, e eu vou. Acabo de perceber que basta
ela me chamar e eu irei para qualquer lugar que ela me leve. Tiro
minha roupa seguindo o seu gesto e vou ao seu encontro.

Levei-a um pouco mais para o fundo do mar, onde o seus pés não
mais tocavam o chão, a água batendo próximo ao meu pescoço e
sendo ela muito menor que eu dependia de mim para sobreviver. Eu
gostava dessa sensação, de ter a vida das pessoas em minha mão,
era um poder que nem conseguiria descrever a intensidade do prazer
que me dava, mas com Amapola era diferente, eu tinha sua vida em
minhas mãos, mas queria que ela confiasse que eu zelaria por ela, e
jamais faria nada que a colocasse em risco.

Depois de um tempo ali, voltei um pouco para a parte rasa, eu queria


estabilidade para fazê-la minha, estar sem camisinha não era um
problema, antes de sairmos da cidade eu lhe daria uma pílula do dia
seguinte.

Eu só não iria perder a oportunidade de tomá-la sob a água, e não iria


até o shorts para buscar o preservativo, então sem pensar, penetrei-a
mais uma vez, e como o canto dos pássaros ao nosso redor,
Amapola cantava o seu orgasmo em meu ouvido me levando junto
com ela.

Depois do nosso momento dentro da água, ainda ficamos um tempo


na tenda, nos secamos com as toalhas deixadas ali e nos deitamos
sob o sol para que ele terminasse o trabalho de aquecer os nossos
corpos.

Por volta de quatro horas da tarde, nós voltamos, precisávamos


arrumar as nossas coisas para partirmos.

Amadeu providenciou a pílula que eu havia pedido e aproveitando


que já havíamos transado sem camisinha na praia, eu a tomei
novamente na banheira, pele contra pele, numa fusão absoluta e em
uma conexão que eu jamais estabeleci com ninguém mais.

— Eu queria poder ficar mais tempo — Amapola fala entristecida


quando chegamos ao hangar.

— Eu também, piccola, mas prometo que lhe trarei de volta — falo,


tentando convencer tanto a ela quanto a mim, porque eu também
gostaria de poder nos trancar em uma bolha, onde ninguém se
aproximasse de nós, e nada nos atingisse.

Mas essa, infelizmente não era a realidade da máfia e as obrigações


da Dalla Costa, não iriam esperar para que eu vivesse tudo o que
desejava com Amapola.

Eu era o Dom, o Chefe, e deveria lembrar disso acima de qualquer


desejo pessoal.
Capítulo 34
"Quem me diminuiu foi você, Salvatore, com suas palavras rudes
e os seus gestos grosseiros, não espere que eu me curve diante
de você como os outros. Tire a minha vida se quiser, mas se me
manter viva, jamais conseguirá me manter calada."

Eu estava triste por termos que voltar, Palermo tornava Salvatore


uma outra pessoa, era visível a mudança nele.

No jatinho como ele fez questão de salientar, eu já pude sentir a sua


mudança, embora ele tenha segurado em minha mão e tentado me
tranquilizar, não era mais o mio angelo que estava comigo, quem
voltou para Roma sentado na poltrona ao lado da minha foi Salvatore
Dalla Costa, o chefe da máfia italiana.

Ao chegarmos em casa, fomos recebidos por Ângela, que agora eu


comecei a chamar também de Naná, era assim que ele a chamava
em alguns momentos e eu queria poder me sentir próxima de mais
alguém além dele.

Nós estávamos cansados e após o jantar fomos logo dormir, ele disse
que eu dormiria com ele, mas pedi que todas as minhas coisas
fossem deixadas no “meu” quarto. Eu queria ter o meu próprio espaço
pessoal, algum lugar para onde pudesse fugir se necessário.
Quando acordei pela manhã, Salvatore já havia saído e eu fiquei...
decepcionada. Afinal o que eu esperava desse homem? Queria
acordar e encontrá-lo ao meu lado? Caso ele não estivesse, eu queria
encontrar um bilhete de amor, flores e chocolates, para compensar a
sua ausência?

Talvez fosse realmente isso que eu esperava, mas precisava ter


consciência de que eu não teria, Salvatore jamais faria esse tipo de
coisa, embora ele pudesse ser outra pessoa quando estávamos a
sós, a sua essência jamais seria mudada. Eu precisava me
acostumar.

Após ter tomado banho e vestido uma calça jeans, blusinha simples e
tênis, desci para o café da manhã. Fiquei chateada por estar sozinha
e quase não consegui comer nada, percebi a dimensão do problema,
porque rejeitar comida definitivamente não era comum para mim.

Resolvi conhecer a propriedade, passeei pelos cômodos da mansão e


me encantei por cada um deles, o único lugar que não entrei foi o
escritório dele, ali era o seu território sagrado, eu não iria invadir seu
espaço, embora ele invadisse o meu a todo instante.

Caminhei pelo jardim que eu tanto havia observado e me apaixonei


pelo cuidado em cada cantinho. Era como estar no próprio paraíso,
mas a paz do lugar não alcançava o meu coração.

Fiquei por muito tempo sentada em um dos banquinhos de madeira


trabalhada olhando para o céu, o leve vento gelado batia em minha
face, enquanto o sol fazia o trabalho de me aquecer, eu estava bem,
mas não estava em paz.

Almocei novamente sozinha e me tranquei em meu quarto, consegui


dormir um pouco durante a tarde, eu ainda não havia me recuperado
das intensas atividades dos últimos dias.

— Amapola? — Ouço a voz de Naná e suas batidas leves na porta.

— Entre — falo, enquanto penteio os cabelos, após ter tomado


banho. Coloquei um vestido soltinho rosa em meu corpo, passei
hidratante e um batom leve nos lábios. Eu queria estar bonita para ele
quando chegasse, já tinha passado o dia inteiro sozinha, sua
companhia seria bem-vinda.

— O jantar já está servido.

— Salvatore chegou? — pergunto com um sorriso nos lábios

— Não, bambina. — O sorriso morre em meus lábios imediatamente


— ele geralmente chega mais tarde — explica.

— Tudo bem Naná, já vou descer — falo e ela entende que quero
ficar sozinha um tempo.

Jogo-me na cama, as lágrimas enchem os meus olhos, como vou


conseguir viver assim? Pergunto-me, mas não encontro nenhuma
resposta.

Desço para comer, já me alimentei muito pouco por hoje não rejeitarei
mais uma refeição, por causa dele.

Volto para o quarto, antes passo na biblioteca e pego um livro, ler


talvez me distraia, mas percebo estar enganada quando me vejo
arrastar uma poltrona para perto da janela e não me concentro em
uma linha sequer, meus olhos estão presos ao caminho de entrada
do complexo, na expectativa que ele chegue.

Vejo as horas passarem lentamente e por volta de dez e meia da


noite, meu coração acelera ao ver o seu carro estacionar na entrada
da casa e ele descer vestido em um dos seus ternos caros.

A expectativa me corrói por dentro quando ouço passos na escada,


mas me entristeço ao perceber que ele não vem até mim, mesmo
após já tendo chegado a cerca de uma hora.

Coloco o meu orgulho ferido de lado e vou até o seu quarto, procuro
em todos os lugares e não o encontro, será que ele saiu e eu não
percebi?

Desço as escadas e o procuro por todos os ambientes, mas não o


vejo.

Com a respiração descompassada paro na frente do seu escritório,


encosto o meu ouvido na porta, tentando detectar algum ruído que
me indique que ele está ali, mas não ouço nada, me pergunto onde
ele poderia ter se metido, já que estando na janela tenho certeza que
ele não saiu e eu não o encontrei em lugar algum.

Mesmo temendo, giro a maçaneta da porta do seu escritório,


pensando que ele só pode estar aqui.

— O que pensa que está fazendo garota? — O seu cheiro


maravilhoso de banho tomado e colônia cara me atingem
rapidamente assim como as suas palavras duras e o seu semblante
fechado.

— Eu estava te procurando — falo um pouco nervosa.

— Já me encontrou? Agora saia e não entre mais em meu espaço de


trabalho. — Suas palavras me atingem como facas afiadas, não
entendo o porquê dele estar me tratando assim.

— Salvatore? Fiz alguma coisa que te aborreceu? — pergunto,


tentando entender.

— Não, Amapola, você não fez nada. Eu só preciso estar sozinho


agora, tive um dia cheio e ainda tenho muitas coisas para resolver,
então só fique quieta e saia.

— Mas eu pensei que pudesse te ajudar...

— Você pensa demais, Amapola, e eu não quero nem saber o que


está pensando, já tenho problemas demais, então me poupe.

— E o que eu tenho a ver com os seus problemas? Por que está


descontando em mim? Eu só queria vê-lo saber como está, fiquei
sozinha o dia inteiro.

— Você não tem nada a ver com os meus problemas, por isso pedi
que saisse, quanto mais tempo fica aí parada à minha frente, mais
tempo eu perco, e menos eu adianto o meu trabalho.

— Eu pensei que podia ficar com você um pouco. — Tento mais uma
vez.

— Não perca o seu tempo, Amapola, eu não serei uma boa


companhia hoje para você — avisa.

— Então é isso, continuo sendo sua prisioneira só que agora tenho


que estar disponível para quando você queira estar comigo? —
pergunto irritada, fazendo exatamente o contrário do que ele disse e
entrando ainda mais no seu espaço de trabalho.

— Você não é minha prisioneira mais, já disse isso para você, achei
que tivesse entendido — rosna em minha direção.

— Não sou? Tem certeza, Salvatore? — Cruzo os braços sobre o


peito — A única diferença que encontro é que agora a minha prisão
está mais ampla e eu posso passear por ela, mas ainda estou presa
aqui.

— Não comece, Amapola, não tenho paciência para esse tipo de


discussão, ou melhor, para deixar claro eu não discuto, eu ordeno e
as pessoas fazem.

— Simples assim não é mesmo? Um rebanho de cordeirinhos prontos


para exercer a vontade do seu pastor.

— Isso, Amapola, exatamente assim — ele fala irritado, apoiando as


duas mãos espalmadas em sua mesa. — Olha só, o pai da minha
secretária enfartou, eu tive um dia de merda, depois do que
aconteceu sexta feira, a polícia local está farejando feito cães
treinados o cassino, e eu preciso resolver isso tudo de alguma forma,
então não me irrite ainda mais e saia daqui.
— Eu poderia tentar te ajudar — falo, percebendo que ele realmente
parece exausto.

— Me ajudar? — Ele ri, ou melhor, ele gargalha na minha frente —


Não seja tola, garota, em que você me seria útil? Nem a faculdade
você concluiu.

— Eu já estava prestes a me formar, Salvatore, não me diminua, e se


eu não concluí os estudos, não foi por falta de vontade ou
determinação, mas sei da minha competência e ninguém vai me
convencer do contrário.

— Eu não quis dizer isso — fala, abaixando o tom da sua voz.

— Não quis, mas disse não, é mesmo? Para você eu só sirvo na


cama, como uma das meninas do cassino.

— Amapola. — Seu tom é de repreensão.

— Mas não se preocupe, assim como elas eu me deitei com você


porque quis, eu compreendo isso.

— Não se diminua, ragazza.

— Quem me diminuiu foi você, Salvatore, com suas palavras rudes e


os seus gestos grosseiros, não espere que eu me curve diante de
você como os outros. Tire a minha vida se quiser, mas se me manter
viva, jamais conseguirá me manter calada.
Capítulo 35
"Eu estava acostumado com uma Amapola simples de jeans e
vestidos floridos, mas a mulher que entrou na minha sala era
outra totalmente diferente."

Amapola saiu batendo forte a porta do escritório, e eu desconto minha


raiva socando a mesa para não descontar nela.

Meu dia tinha sido uma merda sem fim.

Ontem à noite depois que Amapola dormiu, desci até o escritório para
checar os meus e-mails e ver quais eram as prioridades para resolver
no dia seguinte, e desde então pude notar que estava tudo um
verdadeiro caos.

Ter me afastado foi um erro, e agora eu que arcasse com as


consequências. Um chefe da máfia jamais deixa suas obrigações, e
eu fui tolo por pensar que poderia, me distrair e me afastar de tudo,
nem que fosse apenas por dois dias.

Trabalhei a noite praticamente inteira e saí antes mesmo do sol estar


brilhando forte no céu.

Amapola dormia como se nada pudesse atingi-la e eu estava aqui


para garantir que de fato fosse assim.
Depositei um beijo casto em seus lábios e inspirei profundamente o
cheiro dos seus cabelos, queria poder lembrar dela para me acalmar,
sabia que iria precisar disso durante o dia.

Infelizmente, nem mesmo as lembranças dos dias que passamos


juntos, do seu cheiro ou da sua entrega foram capazes de afastar os
problemas que me tomaram feito um furacão.

Sabia que meus irmãos tinham feito o que podiam, mas eu joguei a
merda no ventilador quando degolei Martin e sabia que as mortes dos
Russos também chamariam atenção. Para completar, minha
secretária, que facilitava muito minha vida, havia se afastado por um
tempo, isso tudo já me traria muitas ocupações. Ainda havia as
atividades licitas da organização que precisavam a todo instante de
atenção especial para que nada se cruzasse ou confundisse com as
ilícitas que exercíamos.

Era muita coisa importante para lidar sozinho, por isso fiquei até tarde
no escritório. Quando chequei em casa, mesmo o meu corpo e a
minha mente pedindo, eu não fui até ela, primeiro porque ainda havia
muitas coisas a serem resolvidas e segundo porque sabia que as
chances de descontar nela seriam grandes e eu definitivamente não
queria isso.

Mas como um cão que fareja problemas e não se afasta ou se


esconde deles, Amapola veio até mim, e assim como eu previ e tentei
evitar, eu explodi com ela.

Tentei me acalmar e voltar ao trabalho, mas foi impossível. Eu


entendia o seu ponto, mas eu era o chefe dessa porra e ela não podia
achar que poderia falar comigo como bem entendesse.

Esse é o problema das mulheres, nós lhes estendemos a mão e elas


acham que podem tomar todo o nosso corpo.

Irritado demais, bebi meia garrafa de whisky antes de subir para o


meu quarto, eu esperava que ela já estivesse dormindo, melhor assim
do que ter mais um conflito antes de poder finalmente dormir.
Se bem que estando acordada, quem sabe eu conseguisse
convencê-la a aproveitarmos melhor o nosso tempo, quase sorri com
o pensamento, porque tinha certeza que era mais fácil Amapola me
dar um tiro na testa do que se deitar comigo, ô mulher difícil, meu
Deus.

Se eu já estava irritado, ao chegar no meu quarto e não a encontrar,


eu quase me tornei o próprio homem bomba, prestes a explodir toda
a mansão apertando apenas um botão.

Saí exasperado e abri a porta do quarto ao lado, sabendo onde a


encontraria. Eu tentei evitar, mas se ela queria mais confusão eu
satisfaria o seu desejo, eu já havia deixado claro que ela deveria
dormir comigo, aquele quarto serviria apenas de depósito para os
seus objetos pessoais.

Mas ao abrir a porta furioso, imediatamente os ímpetos de confusão


do meu corpo foram paralisados ao ver a mulher deitada sobre uma
pequena poltrona adormecida com um livro sobre o peito.

— Romeo e Giulietta. — Vejo o título do livro e balanço a cabeça em


negação, definitivamente não seria algo que eu achava que Amapola
leria, um clássico de Shakespeare, seria ela mais romântica do que
queria demonstrar ou seria eu que não conseguia lê-la como fazia
com as outras pessoas?

Coloco o livro na mesinha ao lado da sua cama e com cuidado para


não acordá-la, levo-a para o meu quarto, ela resmunga algo que não
consigo decifrar quando a cubro com o cobertor, tomo um banho e
me deito ao seu lado, querendo que a sua presença me acalme e me
faça adormecer mais rápido.

***

Acordo pela manhã e assim como ontem, saio antes que ela se
desperte.

— Chefe? — Amadeu chama mais uma vez, me impedindo de


concentrar no relatório que preciso assinar urgentemente.

— Sim — respondo irritado.

— Temos um problema.

— Mais um não, é mesmo? Mas não quero saber do que se trata,


resolva ou eu não conseguirei concluir a conferência desse relatório
para assinar, já passam de duas da tarde e eu sequer almocei.

— Desculpe, chefe, não lembrei de providenciar algo para que o


senhor comesse.

— Não se preocupe, Amadeu, só não me traga mais problemas. —


Vejo ele vacilar e não sair da sala quando eu o dispenso, e pergunto
irritado — Fale Amadeu, que merda aconteceu que você não
consegue resolver sozinho?

— É a signorina Amapola — ele fala o nome da mulher e todos os


meus sentidos entram em alerta instantaneamente.

— O que houve com ela, Amadeu? Matteu não estava encarregado


de ficar de guarda hoje? — pergunto, já me levantando.

— Sim, senhor. Foi ele que acabou de me ligar, disse que a menina
está dando um escândalo em sua casa, dizendo que quer ver o pai e
que o senhor havia autorizado. Mamma tentou acalmá-la, dizendo
que era melhor que o aguardasse, mas ela está irredutível e exigiu
falar com o senhor.

— Puta merda, essa menina não cansa de me dar trabalho? — falo


em voz alta, quando deveria apenas ter pensado.

— Quer que eu arrume outro lugar para ela chefe? — Amadeu


pergunta.

— Não se preocupe, Amapola é problema meu.

— Bom — ele fala baixo com um sorriso nos lábios.


— O que disse? — pergunto, encarando-o irritado.

— Nada senhor, só pensei alto demais.

— Pois controle os seus pensamentos, Amadeu. Agora pode ir, vou


resolver mais esse problema.

— Ângela? — falo quando ela atende a ligação e já posso ouvir os


gritos de Amapola com Matteu, ela realmente não é o tipo de mulher
que se intimida por uma arma ou por um homem com cara de ruim.

— Sim, senhor.

— Coloque Amapola na linha.

— Amapola, — Ouço Ângela falar — Salvatore quer falar com você.


— avisa e no mesmo instante a sua voz irrompe a distância através
da ligação, tenho que afastar os meus ouvidos para que ela não os
estoure com seus gritos.

— Salvatore, fale para esse brutamontes que você permitiu que eu


fosse ver o meu pai, você disse que eu não era sua prisioneira, então
mande que ele me leve até lá, eu vou enlouquecer se continuar presa
aqui, sem poder sair desse lugar. — Ela atropela as palavras e eu
respiro fundo, como uma criatura pode ser tão teimosa assim.

— Amapola? — Tento controlar a voz.

— Sim.

— Nós precisamos conversar, vou pedir que ele que traga você até
mim, tudo bem? — Embora eu esteja espumando de raiva, tento usar
todo o autocontrole que treinei por anos.

— Até você? Mas eu queria ver meu pai e...

— Amapola, por favor, não me cause mais problemas, só venha e


nós resolveremos, tudo bem?
— Sim, senhor Salvatore, como quiser — ela fala e desliga o telefone
sem me esperar responder mais nada.

— Merda de mulher impulsiva — respondo, jogando o telefone na


mesa e tentando novamente me concentrar no trabalho.

***

— Senhor, a senhorita Amapola está....

— Eu já disse que ele está me aguardando, Amadeu, não precisa me


anunciar. — A mulher entra na minha sala feito um furacão e eu
paraliso, ela só pode estar brincando comigo, que porra é essa?

— Boa tarde, senhor Salvatore Dalla Costa, estou pronta para a


nossa reunião — avisa e eu quase não consigo desviar os meus
olhos do seu corpo, de cada pedaço dele.

Eu estava acostumado com uma Amapola simples de jeans e


vestidos floridos, mas a mulher que entrou na minha sala era outra
totalmente diferente. Amapola vestia uma calça preta cintura alta, e
uma blusa vermelha de mangas cumpridas, a blusa não era colada ao
seu corpo, mas tinha a porra de um decote em “V” que ia fechando
até chegar à altura da calça, deixando claro na parte dos seios que
ela estava sem soutian, o que ela queria? Que eu tivesse uma
sincope? Sem contar nos saltos nos pés e na bolsa de mão que eu
poderia apostar que não tinha nada dentro.

— Saiam todos — falo, controlando a raiva na voz e desejando que


ninguém mais a veja assim. — Sente-se Amapola. — Indico a cadeira
à minha frente e ela se senta com uma calma e uma postura de quem
era dona de tudo e de todos.

— Obrigada, senhor. — Ela estava maquiada e os cabelos penteados


para trás, sexy, sensual e sedutora, era o que faltava para ela
terminar de me foder, e por falar em foder, era exatamente isso que
eu queria agora, mas mantive a postura.
— Quer falar o que estava acontecendo em minha casa há instantes
atrás?

— Sim, claro. — Ela sorri, mas dos seus olhos saem faíscas de raiva,
posso perceber. — Você disse que eu não era mais sua prisioneira.

— Sim, falei, mas disse também que você não poderia sair quando
quisesse, Amapola.

— Então, eu entendo seu ponto senhor, mas acontece que eu queria


apenas ir até o meu pai, e isso você havia permitido, não é mesmo?

— Amapola, não tente voltar as nossas conversas ao seu favor, eu


disse sim que você poderia vê-lo, mas nós deveríamos conversar
antes de você dar um escândalo e querer forçar um dos meus
homens a levá-la sem que eu, tivesse dado a ordem.

— Então me diga, senhor Salvatore, como poderemos conversar, se


o senhor é uma pessoa atarefada e indisponível? Se ontem a noite
me tratou como se eu fosse nada, apenas porque eu queria vê-lo?

— Eu não deveria tê-la tratado assim — falo, porque eu realmente


remoí a nossa discussão várias vezes.

— Exatamente, senhor, não deveria, por isso decidi que tentaria ver o
meu pai já que o diálogo não é uma opção para nós.

— Não exagere, querida. — O sarcasmo dessa conversa toda fica


visível, tanto para mim quanto para ela.

— Então me diga o que esperar de você, Senhor Salvatore. — Ela se


debruça sobre a mesa e os seus seios quase saltam para fora,
caspita.

— Para ser sincero, Amapola, nem eu sei o que devo esperar de


mim, mas por favor não me desafie, não questione as minhas ordens.

— Sou sua funcionária então? Porque só um empregado deve


subserviência ao seu patrão, não é mesmo?
— Chega de sarcasmo, mia bella — falo, levando a ponta do dedo
indicador até vale entre seus seios, deslizando por eles até onde
conseguia alcançar do local em que estava. Amapola arfa com o
toque, mas se recupera rapidamente, usando a mesa que nos separa
como escudo e se afastando um pouco de mim.

— Não foi minha intensão, senhor — fala, fazendo um pequeno bico


com os lábios e balançando levemente a cabeça, suas palavras
diziam uma coisa, mas todas as suas ações demonstravam outra
totalmente diferente.

— Quanto ao seu pai, quando sairmos mais tarde, eu a levarei até ele
— aviso. — Agora por favor, eu preciso voltar ao trabalho.

— Sim, senhor, enquanto isso o que eu faço?

— Não sei, Amapola, sente-se no sofá, me guarde só fique quieta e


me deixe trabalhar, sim?

— Tudo bem — ela fala, se levantando e rebolando até o sofá, será


que ela realmente rebolou ou foi fruto da minha imaginação. Amapola
abre a bolsa e tira de dentro o livro que lia ontem à noite, me
surpreendendo ainda mais, se eu tivesse apostado teria perdido, mas
para que a mulher havia trazido esse livro, eu não fazia ideia.

— Senhor? — Amadeu fala, após abrir minha porta

— Mas que porra, será que eu não conseguirei me concentrar para


trabalhar hoje? O próximo infeliz que entrar nessa sala vai levar um
tiro no meio da testa — rosno irritado.

— Desculpe, senhor, mas eu vim saber se iria querer o seu almoço?

— Providencie qualquer porcaria, Amadeu, agora saia — falo e antes


que ele se retire a voz de Amapola preenche o silêncio mórbido e
tenso do ambiente.

— Você não comeu nada até agora, Salvatore? Quer desmaiar de


fome? — Amadeu fica paralisado e eu respiro fundo, contando até
três — Não se preocupe Amadeu, eu vou resolver isso, pode ir — ela
fala e ele sai como uma flecha.

— É muito difícil para você ficar calada?

— É difícil quando vejo que você está se prejudicando.

— Está preocupada, mia bella?

— Sim, quer dizer não, não me irrite, Salvatore. Só diga o que quer
comer e eu providenciarei.

— Confio no seu gosto, mia bella, só me deixe trabalhar — peço.

— Posso usar o telefone?

— Claro — respondo e ela volta a sentar-se diante de mim, mas gira


o aparelho de telefone que há sobre a minha mesa em sua direção.

Assim que ela escolhe o prato, passa o endereço de entrega e


desliga. O telefone volta a tocar, e antes que eu o alcance ela tira o
fone do gancho e leva ao ouvido.

— Escritório do signore Salvatore Dalla Costa em que posso ajudar?


— Ouço ela atender a chamada. — Ele está em uma reunião no
momento, mas posso anotar o recado e passar para ele assim que
possível. — Amapola puxa um bloquinho de anotações e anota o que
a pessoa fala e depois disso encerra a chamada. — Agradeço
mentalmente por ela não ter me passado a chamada, embora a
atenção que dispensei ao seu gesto tenha me dispersado um pouco.

Ela repete o mesmo gesto com as ligações subsequentes, eu havia


programado o ramal da minha secretária para que as ligações fossem
direto para o meu até que conseguisse alguém para substituí-la, mas
eu não fazia ideia de quantas ligações recebia em um único dia. Ela
me passava apenas as mais urgentes, e depois enviava e-mails com
as mensagens importantes, eu realmente não conseguiria ficar muito
tempo sem alguém para me auxiliar.

Vejo Amadeu lhe entregar o almoço e ela o dispensar em seguida, os


seus gestos são calmos e calculados, é como se ela não quisesse
desviar minha atenção, espera um momento em que desvio o meu
olhar para ela e avisa sobre o almoço.

Volto a trabalhar e não me atento mais para outras ligações e


finalmente consigo me concentrar no trabalho, pois ela dominou o
espaço e resolveu o que estava ao seu alcance, eu iria lhe agradecer
por isso.

Estava surpreso também, mesmo não tendo ainda concluído a


faculdade, ela já mostrava que seria uma excelente profissional,
talvez tê-la trazido até aqui, não tenha sido uma má ideia como
considerei e quase liguei cancelando sua vinda.

Será que ela poderia substituir minha secretária por um tempo? Seria
uma forma de mantê-la ocupada e também me serviria de auxilio, ela
era segura nas suas ações e também determinada. Acho que era
isso, eu acabei de ter uma ideia que seria excelente para mim e para
ela também, eu acreditava, mas esperava que ela compreendesse,
pois alguns limites precisariam ser estabelecidos, quanto a isso eu
não tinha dúvidas.
Capítulo 36
"Sinto como se antes de Salvatore, eu estivesse presa em um
limbo, o meu pai se colocou nessa posição e me manteve presa
junto com ele, toda minha vida estava estagnada, não havia mais
motivação alguma, era apenas sobrevivência."

— Acabamos por hoje — Salvatore fala, ao olhar ó horário no seu


relógio de pulso e eu me levanto, tentando organizar o lugar onde
trabalhei durante a tarde.

Ainda pela manhã quando acordei, um misto de sensações me


tomou, ele havia me levado para a sua cama, mas o gesto de atenção
não me fez esquecer as suas palavras duras na noite anterior.

Durante a manhã, continuei a excursão pela propriedade, e por mais


bonita que fosse, eu já estava entediada. Após almoçar, decidi tentar
ler um pouco, mas não conseguia me concentrar em nada, as
palavras de Salvatore me remoeram por dentro e me fizeram ferver
de raiva.

Lembrei do meu pai, e resolvi tentar a sorte e convencer Matteu a me


levar para vê-lo. Mesmo eu tendo garantido que Salvatore me
permitiu visitá-lo, o homem não cedeu, acredito que ele achou que eu
iria fugir, mas eu não faria isso, primeiro porque eu decidi ficar mesmo
quando Salvatore me deixou ir, e segundo porque sabia que qualquer
passo impensado meu poderia atingir a pessoa que eu mais amava
no mundo.

O meu sangue italiano ferveu em minhas veias e por pouco eu não


voei na garganta de Matteu. Quem ele pensava ser para tentar me
impedir de visitar meu pai? Ângela tentou amenizar a situação, mas
eu não queria paz, chega de calmaria, se Salvatore não tinha
paciência comigo, eu também não precisava me preocupar em dar-
lhe descanso.

Por isso infernizei a cabeça dos dois até que ligassem para ele, fiquei
surpresa e temerosa também quando ele avisou que mandaria que
me levassem até ele. Lidar com Salvatore era como andar na corda
bamba, em um instante você tinha total equilíbrio e controle da
situação, e no instante seguinte, estava jogada ao chão.

Ao encerrar a ligação, acompanhei Matheus até o carro, e após ele


bater à porta para seguirmos, olhei as minhas mãos cruzadas sobre o
colo e por um instante examinei as minhas roupas: calça jeans, uma
blusinha simples e botas rasteiras. Considerei que o ambiente de
trabalho dele era requintado demais para a minha simplicidade e já
que ele tinha gastado uma quantia que eu sequer fazia ideia em
roupas, sapatos, bolsas e até maquiagem resolvi usá-los, e pedi que
Matteu me esperasse um instante.

Lembrei das palavras de Salvatore na noite anterior, mesmo que não


tenha sido a sua intensão, ele me ofendeu, senti como se eu não
pudesse ser adequada aquele ambiente, então resolvi lhe provar que
mesmo não tendo concluindo os estudos e não tendo uma condição
financeira como a dele, eu aprendi com as pessoas que convivi na
universidade. Escolhi uma roupa perfeita, sapatos de salto e penteei
os cabelos para trás, mantendo-os liso, quando olhei no espelho
quase não me reconheci.

Peguei uma bolsa, mas como não tinha nenhum item pessoal para
preenchê-la, coloquei o livro que lia, assim, se alguém por algum
motivo a segurasse, não perceberia que estava vazia.
Quando cheguei ao topo da escada, Ângela e Matteu me aguardavam
lá em baixo, e os seus olhares em minha direção, me fizeram sentir
como naquelas cenas de filmes em que a mocinha humilhada
reaparece em câmera lenta tempos depois, deixando todos
boquiabertos. Fiquei satisfeita, mas estaria ainda mais se fosse
Salvatore ali em baixo a me guardar surpreso, mas ele não perdia por
esperar.

Não perdi o sorriso de Ângela e o aceno de cabeça, confirmando


silenciosamente que eu estava certa no que fiz, e sua aprovação me
encheu ainda mais de confiança.

Ao chegar na sede da empresa, por onde quer que eu passasse,


todos os olhares se voltaram para mim, e quando as portas do
elevador se abriram no andar onde eu imaginava ser o escritório de
Salvatore, não perdi o espanto de Amadeu. Ele também não estava
acreditando no que via, mas se recuperou do susto me levou até o
seu chefe.

Vi vários sentimentos distintos passarem pelos olhos de Salvatore


quando entrei em sua sala: surpresa, possessividade, espanto,
tensão, desagrado, adoração, ciúme e por fim desejo. Ele não
conseguiu mascarar, estava ali claro como a água, não só para mim,
mas para quem quer que o olhasse, por um instante ele se deixou ser
visto, e eu dei pulinhos de alegria por dentro, afinal era uma resposta,
eu também o afetava.

Nossa conversa foi surpreendentemente tranquila, eu vim armada


para a guerra, mas encontrei o terreno pacificado, esperava que
continuasse assim.

Não consegui me conter quando ouvi que ele não havia almoçado
ainda, o que esse homem pensava? Que o trabalho iria alimentá-lo?
E quando ele tratou com descaso a observação de Amadeu, eu não
resisti e resolvi tomar a frente, já que eu iria esperá-lo, pelo menos iria
resolver isso.

Quando atendi a primeira chamada, não foi intencional, vi que ele


estava precisando se concentrar nos papéis que analisava, e não
pedi permissão ao atender, mas quando encerrei a ligação, percebi
que eu teria a chance de mostrar que eu era competente, e fazê-lo
engolir suas palavras do dia anterior. Eu lhe daria uma boa lição com
as minhas ações, no final, ele teria certeza que eu estava certa. Eu
poderia ajudá-lo.

— Sim, vamos! — Pego a minha bolsa, deixando sobre a sua mesa,


duas folhas inteiras de observações e recados que ele teria que ver
no dia seguinte, para mim foi uma excelente distração, confesso, mas
para ele tenho certeza de que lhe tirei um fardo pesado das costas.
Ele não conseguiria ter trabalhado com o telefone tocando sem parar,
esperava que encontrasse logo uma substituta para a sua secretária.

Ele sai do escritório e eu o sigo, o homem caminha como se fosse a


própria força da natureza, tudo se curva diante dele, todos se dobram
quando ele passa, mas eu não faço o mesmo, eu apenas o
acompanho.

— Você me levará para ver mio papà agora? — pergunto quando


Amadeu fecha a porta do carro após nos sentarmos no banco
traseiro.

— Sim, Amapola, vou levá-la — ele fala e eu salto sobre o seu colo,
agarrando em seu pescoço a agradecendo.

— Obrigada, Salvatore — falo, encarando os seus olhos azuis.

— Não me agradeça agora, bella, mais tarde você poderá fazer isso
de uma forma mais prazerosa para nós dois, sim? — Meu rosto
esquenta com as suas palavras e com as promessas guardadas ali.

Ele fala com Amadeu que vamos até a casa onde eu morava com
meus pais e o seu segurança coloca o carro em movimento.

— Amapola? — ele chama a minha atenção.

— Sim.
— Quero te fazer uma proposta.

— Proposta? — pergunto espantada por acreditar que ele não é o


tipo de pessoa que propõe algo, ele simplesmente ordena, como já
salientou para mim diversas vezes.

— Hoje à tarde, você foi muito útil para mim, — começa e eu lhe dou
toda a minha atenção — eu estava cheio de coisas para resolver,
mas se você não tivesse ajudado eu não teria conseguido, Amadeu
serve para muitas coisas, mas não para essa função, ele me chama
toda hora e eu definitivamente não tenho paciência.

— E o que quer de mim, Salvatore? — pergunto com um sorriso,


brincando nos lábios.

— Você quer trabalhar comigo enquanto a minha secretária está


afastada? — pergunta, mas eu não sei se ele realmente está me
dando poder de escolha, mas antes mesmo que ele falasse eu
imaginei que era isso, então a resposta já estava certa em minha
mente.

— Claro que sim! — falo, sorrindo satisfeita — Então eu seria sua


secretária?

— Digamos que minha assistente pessoal, você trabalhará


diretamente comigo, e me auxiliará no que puder, além de é claro,
filtrar as infinitas ligações e pedidos de reunião que eu recebo por dia,
acha que consegue?

— Eu não acho, Salvatore, eu tenho certeza, eu lhe disse ontem, mas


você preferiu descontar em mim suas frustrações e não me ouvir.

— Eu não descontei em....

— Descontou sim, e como sua funcionária eu não vou admitir que


você...

— Pare aí, Amapola senão esse contrato será rescindido, antes


mesmo da assinatura, precisamos estabelecer limites.

— Limites? — questiono incrédula

— Sim, Amapola, em qualquer organização, inclusive na máfia, existe


algo chamado hierarquia e você vai precisar aprender a respeitá-la.
Jamais levante a voz para mim, não questione as minhas ordens, seja
discreta, o que você ouvir não compartilhe com ninguém, esteja
atenta, não se coloque em risco... —Salvatore faz uma lista
interminável de todas as minhas obrigações e eu ouço com atenção,
entendo que ele está certo por um lado, sendo quem ele é, eu não
posso começar a gritar com ele, na frente das pessoas, mas isso não
significa que eu não possa falar com ele depois — Você acha que
consegue? — pergunta após finalizar a lista de deveres.

— Creio que sim, Salvatore, mas tenho uma ressalva.

— Ficaria surpreso se não tivesse, mia bela — fala quando o carro


estaciona na frente da casa do meu pai, meu coração já começa a
acelerar apenas com essa pequena proximidade.

— Quando algo me incomodar, eu não o questionarei na frente dos


outros, mas terei a liberdade de chamá-lo a sós para falar sobre isso?

— Se você esperar o momento certo, sim Amapola, só não me


empurre para a borda do precipício quando eu estiver no limite, não
faça o que fez ontem, para que eu também não precise fazer o
mesmo — ele fala e sinto como se ele tivesse se arrependido pelas
palavras rudes que me disse, mesmo não tendo falado diretamente
isso.

— Então sim, Salvatore eu aceito.

— Você também será remunerada pelo serviço, não se preocupe.

— Não estou preocupada, olhe para mim, Salvatore, você já tem me


dado muito mais do que um salário mensal seria capaz — falo e sinto
vontade de acrescentar que apesar de tudo ele tem feito por mim, não
apenas financeiramente, mas ele me trouxe à vida novamente.

Sinto como se antes de Salvatore, eu estivesse presa em um limbo, o


meu pai se colocou nessa posição e me manteve presa junto com ele,
toda a minha vida estava estagnada, não havia mais motivação
alguma, era apenas sobrevivência. Salvatore me fez enxergar tudo
sobre uma nova ótica, uma nova perspectiva das coisas se
descortinou à minha frente, e eu precisava reconhecer isso.

— Você terá, não confunda as coisas, bella, agora vá, e não demore,
eu estou cansado.

— Você não virá comigo?

— Não. Estarei aqui no carro, tenha o seu tempo com o seu papà —
Beijo os seus lábios antes de sair e correr em direção a casa onde
vivi por anos, mas que estranhamente não parecia mais o meu lar.
Capítulo 37
"Salvatore não havia ajudado apenas a mim, mas também o meu
papà, eu lhe seria eternamente grata por isso."

As minhas mãos tremem ao chegar à porta de casa, meu coração


bate acelerado, estranhamente eu não temo pela situação que o
encontrarei, confio nas palavras de Salvatore de que ele está bem.

Respiro fundo enquanto giro a maçaneta lentamente, quase sorrio ao


vê-la aberta, sempre fui eu a responsável por manter as portas
trancadas, meu papá, nunca se preocupou com isso.

Abro a porta devagar e o vejo sentado em nosso pequeno sofá, ele


mantém os olhos presos a um papel quadrado em suas mãos, posso
apostar mesmo sem estar próxima dele que é uma fotografia.

— Papà! — chamo com as lágrimas escorrendo pela face.

— Amah? — ele pergunta, olhando entre a foto e o lugar onde


permaneço parada — Minha Amah?

— Sim papà, sono io! — Ele se levanta rapidamente e vem em minha


direção.

— Mia bambina. — As lágrimas saem dos seus olhos enquanto eu o


abraço — Eu não acredito que está aqui.

— Eu estou papà, eu nunca o deixarei. — Nós choramos abraçados e


ele me leva até o sofá desgastado.

Noto que a casa está estranhamente organizada, tudo está no lugar,


não há bagunça, ou cheiro de bebida. Ele também está limpo, de
banho tomado e arrisco até dizer que mais forte do que antes.

— Filha, você está... diferente. — Ele me analisa de cima à baixo e


seguindo os seus olhos me dou conta de como estou arrumada, muito
diferente de como ele sempre estivera acostumado a me ver.

— São só as roupas papà, continuo sendo a sua Amah. — Beijo sua


face. — Me conte, o que aconteceu nesse tempo em que não nos
vimos?

Ele me conta que quando nos separamos, ele foi levado até outra
cela, Amadeu lhe entregou roupas novas e limpas e garantiu que tudo
ficaria bem tanto comigo quanto com ele, se ele fizesse o serviço que
lhe dariam.

Quando perguntei qual era o serviço, ele disse que era apenas fazer
algumas entregas em uma cidade vizinha, disse que quando retornou
para casa, tudo estava limpo e organizado, havia algumas roupas
novas para ele, e a geladeira estava cheia.

Dois dias depois, o próprio Salvatore o havia recebido em seu


escritório, e garantiu para ele que eu estava bem, disse que eu seria
mantida em segurança e que ele não se preocupasse, apenas fizesse
o que fosse determinado sem questionar, porém depois daquele dia
nada mais lhe fora determinado a fazer.

Ele passava os dias em casa, apenas Amadeu aparecia para conferir


se ele estava bem, sóbrio e se precisava de algo. Uma das
exigências de Salvatore foi que ele não ingerisse nenhum tipo de
bebida alcoólica, para o caso dele precisar e ele não estar sóbrio,
mas algo dentro de mim, dizia que essa exigência tinha mais a ver
comigo do que com ele.

— E você, bambina? O que ele fez com você? — pergunta


preocupado.

— Vou fazer um café para tomarmos enquanto eu lhe conto. — Sigo


para a cozinha, com ele atrás de mim.

Falo resumidamente, tudo o que me aconteceu, omitindo a nossa


viagem e o nosso envolvimento, é claro. Meu pai seria capaz de me
dar uma boa surra caso soubesse que eu me deitei com Salvatore.

— Papà, vou chamar Salvatore para tomar café conosco, tudo bem
pra você?

— O demone está aqui? — pergunta espantado

— Não o chame assim, papà, ele não é uma pessoa ruim, olha o que
ele fez para mim e para você.

— Filha, não se engane, por favor — fala quando eu já me levantava.

— Não se preocupe, papà, vai ficar tudo bem. — Corro para fora, com
uma vontade estranha de vê-los juntos.

— Salvatore — falo quando me aproximo do homem de braços


cruzados à frente do peito, encostado no carro enquanto me espera.

— Vamos, Amapola.

— Venha tomar um café conosco.

— Eu estou cansado, Amapola, se despeça do seu pai e vamos


embora.

— Se você não vier tomar um café conosco, eu o trarei aqui para


compartilhar com você.

— Amapola. — Sua voz tem um tom de repreensão.


— Salvatore, olhe só, você já deixou claro que eu não vou voltar a
morar com meu papà, pelo menos deixe-o tranquilo de que eu estarei
bem, por favor — peço.

— Você é impossível, Amapola — ele diz irritado, olhando para os


lados mas me segue quando entro em casa.

— Senhor Salvatore. — Vejo meu pai com os olhos arregalados, mal


acreditando na presença dele em nossa casa

— Boa noite — Eu puxo a cadeira para que ele se sente enquanto lhe
sirvo o café, não em uma xícara de porcelana como ele está
acostumado, mas em um copo simples.

— Senhor, eu o queria agradecer por não nos... — meu pai começa e


Salvatore o interrompe.

— Não precisa agradecer, apenas continue andando na linha e tudo


ficará bem.

— Obrigado por trazer minha Amah de volta.

— Eu não a trouxe — diz e volta o seu olhar para mim. — Amapola,


você não contou a seu pai que nós... — Salvatore começa a falar e eu
me precipito a explicar.

— Sim senhor, disse que nós iriamos trabalhar juntos. — Ele estreita
os olhos em minha direção — Papà gostaria de lhe agradecer pela
oportunidade que está me dando.

— Verdade, senhor. Amapola sempre quis estudar e poder trabalhar


em uma grande empresa como a sua, nós seremos eternamente
gratos, mas por que você não voltará para casa, querida? Poderá ir
trabalhar todos os dias como todas as pessoas fazem.

— É que o senhor Salvatore é muito importante, papà, e como sua


assistente pessoal tenho que estar sempre perto dele — respondo
nervosamente.
— Mas Amapola, não é certo que uma moça de família esteja o
tempo inteiro ao lado de um homem feito, as pessoas vão falar de
você — Eu engasgo e Salvatore se manifesta.

— Não se preocupe, eu matarei qualquer um que ousar falar da


Amapola, agora nós temos que ir, tenho uma reunião ainda hoje —
diz, já se levantando para irmos embora.

— Filha se cuide — meu pai fala quando chegamos à porta —


Aproveite a oportunidade que ele está te dando para terminar os seus
estudos querida, eu estou bem, nada está me faltando, então volte a
estudar, sim?

— Verei o que posso fazer quanto a isso, papà, assim que eu puder
voltarei para vê-lo — aviso. — Qualquer coisa que precisar fale com
Amadeu e eu providenciarei.

— Eu te amo, bambina — ele fala quando me abraça.

— Eu também te amo, papà.

— Grazie, por cuidar dela, signore.

— Não se preocupe, ela estará bem ao meu lado — Salvatore fala e


se dirige ao carro, eu abraço meu pai mais uma vez, antes de segui-lo
satisfeita e também grata.

Salvatore não havia ajudado apenas a mim, mas também o meu


papà, eu lhe seria eternamente grata por isso.
Capítulo 38
"E contrariando tudo o que eu sempre pensei na minha vida, eu
me entreguei a Amapola como jamais havia feito na vida, naquele
momento... Eu lhe entregava o que ela pediu, ela estava tomando
algo de mim que não teria mais retorno, estava tomando o meu
coração e eu simplesmente... deixei que levasse."

O trajeto para casa foi silencioso, cada um de nós dois permaneceu


perdido em seus próprios pensamentos. Amapola, acredito eu, estava
feliz por ter visto o seu pai e se certificado de que ele estava bem
assim como eu havia dito.

Já em minha mente, um milhão de pensamentos, todos relacionados


a ela se sobrepunham a todos os problemas que eu tinha para
resolver, relacionados à máfia e aos outros negócios da famiglia.

Era impressionante como a ragazza tinha o poder de me surpreender,


quando Amapola me chamou para os acompanhar no café, eu
realmente não esperava, achava que ela queria ter o seu tempo com
ele para que conversassem, ou sei lá o que quisessem fazer, mas ela
me quis ao seu lado, e não me deu outra alternativa senão
acompanhá-los.

Fiquei ainda mais surpreso por me sentir diferente diante da presença


do seu pai, não é como se eu não o conhecesse, o homem havia sido
meu prisioneiro, já conhecia o pior de mim, mas naquele momento eu
percebi que não queria que ele me visse assim, como seu carrasco.

Quando o chamei em meu escritório há dias atrás, eu lhe garanti que


sua filha ficaria bem, mas omiti o fato de que ela estava em minha
casa, disse que em troca dos seus serviços, eu garantiria que nada
faltasse a nenhum dos dois. Omiti o fato de que eu realmente não o
enviei para servir a máfia e sim para executar um trabalho simples
referente às empresas legais da famiglia, por Amapola eu decidi não
colocá-lo em perigo.

Toda essa benevolência repentina estava me deixando surpreso,


essa não era minha essência, o que Amapola era capaz de fazer
comigo eu não conseguia dimensionar ainda, mas tinha certeza de
que não queria que nenhuma das minhas ações refletissem
negativamente nela.

— Salvatore, — ela chama minha atenção e me dou conta de que já


estamos em casa — chegamos.

— Vamos ao escritório, Amapola, precisamos ter uma conversa. —


ela concorda, me seguindo.

Ângela, nos aborda ao entrarmos em casa questionando sobre o


jantar, aviso a ela que terei uma reunião agora, mas que em cerca de
dez minutos poderá servi-lo.

— Sim, Salvatore — ela fala após entrarmos no ambiente que no dia


anterior foi palco de uma das nossas discussões.

— Sente-se, Amapola. — Indico a cadeira à frente da minha mesa —


Amanhã você começará o trabalho como minha assistente.

— Amanhã?

— Sim, Amapola, tenho pressa, não tenho como ficar sem ninguém
para me auxiliar.
— Tudo bem, acho que eu posso fazer isso.

— Eu tenho certeza, mia bela. Eu jamais teria feito essa proposta a


você se não acreditasse que poderia. — Ela abaixa os olhos para as
mãos cruzadas sobre o seu colo, mas noto um sorriso despontar em
seu rosto. — Esse será o valor que receberá pelo serviço. — Estendo
sobre a mesa um pequeno pedaço de papel com a quantia descrita.
— E durará enquanto minha secretária estiver afastada, depois
pensarei em alguma outra função para encaixá-la, você não ficará
mais desamparada, eu garanto.

— Salvatore, eu não posso aceitar. — Ela leva uma das mãos à boca
após olhar a quantia que eu anotei. — Esse valor é muito acima do
que uma pessoa ganha exercendo essa função.

— Então vamos a algumas primeiras pontuações como seu chefe.


Primeiro: no trabalho eu não sou Salvatore, e sim Senhor Salvatore;
segundo: não questione as minhas ordens, se eu disse que esse será
o valor que receberá você aceita; terceiro: entenda que esse valor é
realmente proporcional aos meus funcionários, trabalhar como minha
assistente pessoal não é como trabalhar para qualquer pessoa, tenha
em mente tudo o que envolve estar ao meu lado.

— Sim, senhor. — ela concorda, engolindo em seco, provavelmente


considerando o fato de eu ser um chefe da máfia, quanto a quantia
referente ao seu pagamento mensal, é lógico que esse não é o valor
que pratico, eu aumentei o valor em pelo menos quinhentos por
cento, mas ela não precisa saber, e eu faço o que quero não preciso
dar satisfação a qualquer pessoa quanto as minhas decisões.

— Quanto ao seu horário, será ajustado com o meu — falo e ela


concorda com a cabeça. — Alguma observação?

— Haverá alguém para me explicar como funciona a empresa?

— Não, e nem é necessário. Você trabalhará diretamente comigo,


qualquer informação que precise eu mesmo esclarecerei.
— Tudo bem então. — Ficamos em silêncio por um pequeno período
e percebo que ela quer falar algo.

— Fale, Amapola, o que quer perguntar?

— Salvatore, quer dizer, senhor Salvatore, e quanto a nós? — ela


pergunta insegura.

— Nós? O que quer saber especificamente, Amapola? — Quero ouvir


dela o que espera que eu responda.

— Preciso saber se voltarei a morar com o meu papà.

— Não.

— E como será então? Eu viverei aqui com você?

— Sim.

— Salvatore, por favor seja claro, eu preciso saber quais são os


limites que teremos, não quero e não posso confundir as coisas. — O
medo percorre a sua face e me pergunto se é porque ela teme estar
próximo a mim ou que eu me afaste.

— Os limites são: dentro do escritório você é minha secretária, então


se comporte como tal. — Levanto e caminho até estar diante da
poltrona em que ela está sentada. — Dentro de casa você é minha.
— Beijo sua boca com fervor, matando o desejo insano que ela me
deixou durante todo o dia.

Quando me afasto ela respira ofegante, assim como eu, Amapola


ansiava por esse momento, só que eu a estou desejando desde
ontem e não vou mais resistir à vontade de arrancar as suas roupas e
tomá-la para mim.

Deliciei-me com o seu cheiro, analisei mais uma vez as suas roupas,
ela estava perfeitamente vestida para matar, o decote da sua blusa
que me chamou durante toda a tarde para beijar o vale entre os seus
seios e a bunda pequena, mas arrebitada na calça preta colada que
vestia. Fiz um esforço imenso para não atacá-la no escritório mesmo.
Eu sabia ser paciente, e com ela não poderia ser diferente, eu já
ultrapassava muitos limites por Amapola, e a minha concentração e
paciência não deveria ser uma delas.

As roupas que separavam nossos corpos enquanto nossas línguas


duelavam em um beijo faminto não eram capazes de mascarar o
calor que emanava dos nossos corpos.

Eu não só desejava Amapola, o que sentia por ela ia além do desejo


carnal, da vontade sexual, era muito além disso e pela primeira vez
eu estava permitindo e admitindo o que sentia. Eu podia ter
estabelecido limites quanto a nossa relação profissional, mas quanto
ao nosso envolvimento pessoal, eu deixaria fluir, talvez fosse ela a
minha chance de viver uma relação de verdade e não apenas o
fingimento e interesse que a máfia por vezes exigia.

Minhas mãos percorreram e apertaram todo o seu corpo, parando no


botão da sua calça e soltando-o rapidamente, levantei Amapola e a
conduzi até o sofá que havia no escritório, deitando o meu corpo
sobre o dela.

Quando fiz o que desejei durante toda a tarde, descendo minha


língua pela pele exposta que ia do seu pescoço até o umbigo, pude
ver de perto toda a sua pele arrepiar, a porra da roupa era tão
decotada que bastou que eu forçasse um pouco da minha língua para
dentro do tecido para que conseguisse tocar os seus bicos rígidos,
ela estava tão entregue quanto eu.

Mesmo sendo inexperiente sexualmente falando, Amapola era


responsiva demais e despertava em mim um desejo como nunca
havia sentido antes.

— Eu te quero, Amapola — falei rouco em seu ouvido, suas mãos


começaram a desabotoar minha camisa, e depois os dedos delicados
acariciaram minha pele, em seu rosto havia desejo e adoração.

— Salvatore? — ela chamou, enquanto os seus olhos varriam o meu


corpo.

— Sim, Amapola.

— Me deixe beijá-lo onde nunca foi beijado? — Não entendi direito o


que ela quis dizer com a afirmação, será que ela era tão inocente a
ponto de acreditar que ninguém nunca havia feito sexo oral em mim?
Mas se era isso que ela queria, eu daria, só de pensar em sua boca
envolvendo o meu membro quase gozo feito uma adolescente
inexperiente.

— Sim mia Amah, beije-me. — Giro os nossos corpos, ficando em


baixo dela. Amapola continua com a sua tarefa tortuosa de me despir
e quando estou totalmente nu diante dela, já também do mesmo jeito,
vejo-a em câmera lenda sentar-se sobre o meu colo.

Nossas bocas se tocam novamente, mas dessa vez o ritmo é ela que
dita, lento e delicado assim como ela, e eu gosto da sensação de tê-la
assim, entregue a mim.

Mas me surpreendendo mais uma vez, Amapola não desse sua boca
para o meu membro como eu esperava, ela simplesmente para e
beija o meu peito no lado esquerdo, no mesmo lugar onde tenho a
tatuagem que simboliza a máfia Dalla Costa, e que também
instantaneamente um coração que eu não sabia ter começa a bater
descompassado.

— O que está fazendo? — pergunto, assustado pela primeira vez na


vida.

— Beijando onde ninguém jamais beijou, Salvatore, o seu coração,


você pode me dar roupas, uma casa, segurança, dinheiro e muitas
outras coisas, mas eu abriria mão de tudo isso para ter apenas o seu
coração.

— Não me peça algo que eu não tenha, mia bella — falo, olhando em
seus olhos.
— Sim, Salvatore você tem, eu posso ver e sentir, você só precisa
querer enxergá-lo.

— Mia Amah — falo, acariciando o seu rosto, um nó prende em


minha garganta, como ela pode me pedir a única coisa que eu não
posso lhe dar?

— Sim, Salvatore, sua Amah, seja meu também. — Seus olhos dizem
além das suas palavras, ali eu enxergo as suas expectativas, que
talvez eu não seja capaz de suprir, então lhe dou o que tenho para o
momento, os meus beijos, o meu corpo e a minha devoção.

— Você é perfeita, Amapola — falo quando levo minha boca aos seus
seios, saboreando cada um deles lentamente.

Ouço seu gemido quando minhas ações passam de lentas a


exigentes, os dedos da mão direita apertando firmemente os bicos do
seu seio esquerdo enquanto os meus lábios torturavam com chupões
fortes o direito, suas costas arquearam sobre o meu toque, mas eu
queria mais, queria sua entrega completa.

Meus dedos foram para a sua boceta depilada, acariciando com leves
toques que se intensificaram com o tempo, tornando-se mais
intensos, vi Amapola fechar os olhos com força, o desejo estava a
tomando por completo e sabia que ela gozaria em meus dedos, mas
eu não queria que fosse dessa forma.

Cobri o meu membro com o preservativo que havia tirado do bolso da


calça, e alinhei em sua entrada e quando ela lentamente deslizou
sobre o meu membro senti como se o mundo tivesse parado de girar.
Nossos olhares presos um ao outro, mas foi o gesto de Amapola que
me tirou o chão, ela novamente levou os lábios ao meu peito
deixando alguns beijos delicados no local.

E contrariando tudo o que eu sempre pensei na minha vida, eu me


entreguei a Amapola como jamais havia feito na vida, naquele
momento, enquanto arremetia dentro dela, eu lhe entregava o que ela
pediu, ela estava tomando algo de mim que não teria mais retorno,
estava tomando o meu coração e eu simplesmente... deixei que
levasse.

Girei nossos corpos novamente, ficando por cima dela e investindo


com força, assim como ela havia feito comigo, eu queria que ela me
desse tudo, me desse além da sua submissão e do seu corpo, me
entregasse o seu coração.

Levei minhas mãos ao seu clitóris, com movimentos circulares, a


estimulei, aumentando as estocadas em seu interior.

Eu preenchia Amapola e ela estava fazendo o mesmo comigo e


quando ela finalmente gozou apertando o meu membro em suas
paredes eu a segui, olhando em seus olhos e prometendo
silenciosamente que tentaria lhe dar aquilo que me pedira.

Eu havia me dado conta de que tinha um coração e Amapola era a


única pessoa que merecia tê-lo para si.

Quando nos recuperamos, subimos para o quarto e após termos


tomado banho descemos para jantar. Estranhamente, nós estávamos
ainda mais conectados, tenho certeza que Ângela percebeu porque
vez ou outra notei o sorriso discreto em seus lábios.

Diferente das outras noites, eu adormeci tranquilo mantendo a mulher


entre os meus braços, sentindo o seu cheiro que me acalmava e me
trazia a paz que antes dela não havia em meus dias.

Como o ar em Palermo, Amapola é para mim como uma brisa leve,


ela me acalma e me tranquiliza, me fazendo desejar que essa
estranha sensação de paz dure para sempre.
Capítulo 39
“Eu não queria que ela se sentisse mal com a presença da
mulher que eu sabia que era um tanto quanto desagradável
quando queria. Um embate entre as duas não seria nada bom, e
infelizmente, era o que eu estava prevendo que aconteceria."

— Bom dia senhor, Salvatore — Amapola fala com um sorriso nos


lábios após se sentar a mesa para tomarmos café.

Eu fico momentaneamente sem palavras, o que a mulher pensa que


está fazendo? Tudo bem que ontem, eu entendo, ela tenha se vestido
para me provocar pelas besteiras que eu disse, mas me pergunto
qual a necessidade de estar vestida assim.

— Algum problema, senhor? — ela pergunta após o meu silêncio, eu


realmente não conseguia parar de admirá-la.

Ela veste uma saia preta cintura alta justa ao seu corpo, a peça tem
uma espécie de zíper transversal que a corta de um lado ao outro, se
aquele negócio se soltar ela ficará nua na frente de todos, a blusa que
veste também é preta, não é justa no corpo, ostenta um decote
discreto nos seios, pelo menos é menor do que o decote da que
vestia ontem, a blusa tem ainda uma espécie de faixa que se prende
em seu pescoço como se fosse uma coleira, e as mangas cumpridas
também de cor preta são de um tecido transparentem, deixando toda
a sua deliciosa pele visível, nos pés uma sandália de tiras amarradas
no tornozelo, diferente de ontem, os cabelos estão soltos e caem em
ondas sobre os seus ombros, quanto ao cheiro: ela exala desejo,
pecado e poder, um pacote perfeito de tudo o que me atrai.

— Amapola, você precisa realmente estar vestida assim para


trabalhar? — Saliento que ela não está indo para uma reunião social
e sim para o trabalho.

— Sim, senhor, sem dúvidas — afirma, enquanto enche a sua xícara


de café, e o simples gesto me deixa duro novamente, mesmo tendo
me satisfeito em seu corpo diversas vezes durante a noite e ainda
pela manhã. — Não conheço a sua rotina e os seus compromissos,
então preciso estar preparada para qualquer ocasião, tenho certeza
que assim estarei à sua altura — fala, voltando a se alimentar e eu
tenho vontade de levá-la imediatamente para o quarto.

— Não precisa me chamar de senhor aqui, você sabe, não é?

— Sei, mas eu preciso entrar no clima — fala com um sorriso


travesso nos lábios, enquanto se debruça sobre a mesa para pegar
uma fruta e eu quase vejo o bico dos seus seios, ela está sem
soutien, de novo.

— Entrar no clima? — pergunto com um sorriso pequeno nos lábios.


— Me dê sua mão.

— Sim, senhor. — Ela me estende a palma sem entender o meu


pedido.

— Pois eu já estou totalmente no clima, mia bela. — Levo sua mão


até o meu membro que parece querer explodir minha calça. — Me
diga como vou conseguir trabalhar com você tão perto vestida assim
sem que eu esteja dentro de você a cada instante? — Em
pensamento acrescento que não conseguirei me concentrar sabendo
que todos os homens que a olharem sentirão o mesmo desejo que
eu, mas eu mato qualquer um que ousar olhá-la por mais de cinco
segundos.
— Que bom então que não serei a única a ter um dia de
aprendizados não é mesmo, senhor? — Ela dá um aperto de leve no
meu pau, que baba dentro da calça antes de afastar sua mão. —
Você me ensina o meu trabalho e eu te ensino a ser um bom menino
e a se controlar. — Pisca para mim quando Ângela volta ao ambiente.

— Dio mio — Falo exasperado.

— Vou escovar os dentes e já volto para irmos — avisa, quando


apoia o guardanapo ao lado do prato e se levanta seguindo o seu
caminho, ela me hipnotiza com cada pequeno gesto.

— O seu café esfriou, mio caro — Ouço a voz de Ângela distante,


mas sou trazido de volta quando ela praticamente grita o meu nome
— Salvatore.

— Ah, desculpe Naná, eu me distraí — comento.

— A bambina realmente é uma bella distração, querido — provoca,


sorrindo.

— Ângela — repreendo.

— Ela é uma boa menina, Salvatore — fala mesmo eu não tendo lhe
dado espaço para tanto. — Não seja tão fechado, seja o chefe da
máfia apenas da porta dessa casa para fora, mas aqui dentro viva,
meu filho, não é todo dia que temos a oportunidade de encontrar
alguém como ela, não jogue fora a sua chance de ser feliz.

— Não é tão simples, Naná. — Levo as mãos ao cabelo nervoso.

— Eu não disse que seria, meu filho. — Ela leva as mãos ao meu
rosto em um gesto carinhoso e me dou conta de quanto tempo ela
não fazia isso, eu construí uma barreira em volta de mim e Amapola
começou a derrubá-la, até Ângela está conseguindo se aproximar
novamente. — Mas sei que você é determinado e a sua palavra é lei,
o que você quiser as pessoas terão que aceitar, não engane ou dê
desculpas a si mesmo, eu confio em você — fala, tirando as mãos do
meu rosto e eu aceno com a cabeça sem saber ao certo o que devo
falar.

***

O caminho para empresa foi repleto de informações, tentei passar


para Amapola tudo o que era necessário que ela soubesse em um
primeiro momento, no mais, aos poucos, ela iria se adaptar, eu tinha
certeza disso.

Tivemos um pequeno contratempo, quando perguntei sobre a sua


graduação, falei que ela deveria voltar ao curso que estava prestes a
terminar, ela ficou eufórica é lógico, exceto quando eu disse que eu
pagaria pelo curso. Ela afirmou que agora, tendo um salário, ela
mesma poderia fazê-lo, mas é claro que eu não aceitei.

Ela ficou emburrada o restante do caminho, porque deixei claro que


quando se tratasse de trabalho e das minhas ordens profissionais, ela
não deveria questionar, no final, mesmo estando em silêncio ela
concordou.

— Amadeu você pode providenciar para mim uma agenda, por favor?
— ela fala assim que as portas do elevador se abrem no andar do
meu escritório.

— Sim, senhorita — ele responde, seguindo de volta para dentro do


elevador.

— Amadeu venha até minha sala — aviso. — Peça para Matteu


providenciar a agenda que ela precisa.

— Sim, senhor — Ele disca para Matteu e dá a ordem.

Vejo Amapola organizar o que agora será sua mesa, ela guarda a
bolsa em um dos armários, liga o computador, organiza os itens que
estavam dispostos ali e em um levanta e abaixa que me hipnotiza, eu
fico apenas aguardando o momento que o zíper da sua saia vá ceder
para que eu possa cobri-la.
— Precisa de algo, senhor Salvatore? — ela pergunta quando nota
que eu permaneci parado no mesmo lugar, assim como Amadeu que
aguardava para me seguir até a minha sala.

— Não senhorita, grazie. — Eu queria dizer para ela parar com toda
aquela merda, mas eu não podia.

A passos largos, entro na minha sala, de alguma forma o meu humor


matinal estava se esvaindo rapidamente.

— Em que posso lhe ajudar, senhor?

— Hoje você vai ficar aqui no escritório — falo e ele ergue as


sobrancelhas sem entender realmente. Amadeu é o meu homem de
confiança e por isso está sempre na rua conferindo se as minhas
ordens estão sendo devidamente cumpridas, mas é exatamente por
essa confiança que hoje, o manterei aqui — Você vai ficar com
Amapola, caso ela precise de algo, você será encarregado de cuidar
para que ninguém se aproxime dela, quer dizer, para que ela não
corra riscos, entende? — Ele concorda com a cabeça, como sempre,
nunca questionando as minhas ordens e eu o dispenso.

— Estarei ao lado dela senhor, não se preocupe — avisa e segue


para fora.

Que merda eu estava fazendo, tirando o meu melhor homem das ruas
para fazê-lo de cão de guarda para Amapola, eu confiava em Amadeu
assim como nos meus irmãos, e tendo certeza que ele estava ciente
do nosso envolvimento, ele jamais ultrapassaria os limites, então não
havia outro melhor do que ele.

— Amapola? — falo após discar o seu ramal. — Peça que os meus


irmãos venham até a minha sala, por favor.

— Sim, senhor — ela fala prontamente e eu tento me concentrar no


trabalho que tenho a fazer.

— Puta que pariu, Salvatore, sua nova secretária é gostosa pra


caralho — Rico diz assim que entra na minha sala e eu respiro fundo
sabendo que essa merda iria acontecer.

— Guarde sua opinião para você — rosno.

— É sério, me fala, em qual a agência de modelos você a contratou?


Será que não consigo uma nesse padrão para mim? Ou quem sabe...
você poderia me ceder a sua, não é mesmo? Tenho certeza que
trabalhando ao seu lado, em pouco tempo, a mulher estará uma
caveira ambulante e ao meu lado, com certeza, eu me certificarei de
que ela além de trabalho, também terá algum prazer — fala quando
Fabrizio entra na sala, sentando na outra cadeira a minha frente.

— Como assim aquela menina suja e com roupas esfarrapadas se


tornou aquele mulherão, Salvatore? Por acaso alguma fada madrinha
esteve na sua casa esses dias transformando a gata borralheira em
cinderela?

— Vocês vieram até a minha sala a trabalho ou apenas admirar


Amapola? — pergunto irritado.

— Amapola? — Rico interroga sem acreditar.

— Você, — aponto um canivete para ele — mantenha o pau dentro


das calças e longe dela. E você, — aponto para Fabrizio — não sabia
que era entendedor de contos de fadas infantis, se concentrem no
que devem — aviso.

— Tudo bem, irmão, mas antes eu preciso conferir, porque não posso
acreditar que é ela. — Ele aperta o botão do interfone sobre a minha
mesa. — Amapola, pode vir até aqui? — Ele fala e Fabrizio tira o
canivete rapidamente das minhas mãos.

— Sim, em que eu posso ajudar? — ela pergunta após entrar na sala,


com o que parece uma agenda nas mãos.

— Caspita — Rico fala, deixando clara a sua surpresa. — Eu só


queria me certificar de que era realmente você — Diz, deixando clara
a sua surpresa.

— Pode ir Amapola, não dê ouvido a eles. — Dispenso-a.

Após mais alguns comentários infames de Rico, finalmente


conseguimos nos concentrar novamente no trabalho, eles me
passaram algumas situações que precisavam de resolução com
urgência, incluindo o cassino, a polícia estava na nossa cola.

Fabrizio avisou que Carbone havia viajado e que a sua filha iria
representá-lo na reunião que teremos a tarde, não gostei muito da
ideia, porque não me apetecia estar com Carlota, sabendo que ela
tentaria de todas as formas me seduzir.

Ainda havia a presença de Amapola, eu não queria que ela se


sentisse mal com a presença da mulher que eu sabia que era um
tanto quanto desagradável quando queria. Um embate entre as duas
não seria nada bom, e infelizmente, era o que eu estava prevendo
que aconteceria.
Capítulo 40
“Como um homem como ele sentiria ciúmes de alguém como
eu? Não é como se eu estivesse me diminuindo, sabia o meu
valor e as minhas qualidades, mas embora nós tenhamos nos
entendido, havia muitos pontos que nos afastavam.”

Felicidade esse era o sentimento que me preenchia por poder


finalmente estar trabalhando com aquilo que eu gostava.

É lógico que estar ao lado de Salvatore era um bônus maravilhoso.


Ele era realmente incrível, sua capacidade de gerir e administrar eram
impressionantes, sem sombra de dúvidas eu aprenderia muito
estando ao seu lado.

Eu teria que aprender a dosar o que era correto ou não, mas sua
inteligência e sagacidade sem dúvidas acrescentaria muito para a
minha formação.

Quando os seus irmãos saíram da sua sala, ele me chamou para


informar que eu deveria ficar distante deles, sobretudo de Rico e das
suas gracinhas. Eu quase sorri, será que o todo poderoso Salvatore
Dalla Costa estava com ciúmes de mim?

Como um homem como ele sentiria ciúmes de alguém como eu? Não
é como se eu estivesse me diminuindo, sabia o meu valor e as
minhas qualidades, mas embora nós tenhamos nos entendido, havia
muitos pontos que nos afastavam.

Sem que ele soubesse, eu havia pesquisado ainda hoje pela manhã
sobre a máfia italiana, e infelizmente, as obrigações que recaiam
sobre as suas costas, para mim, não eram muito promissoras. Como
Dom, ele mandava em tudo, mas todo o peso da organização assim
como os festejos pelos negócios bem sucedidos e as cobranças pelos
erros, tudo pesava sobre ele.

Entendi afinal o porquê dele ser assim, sua austeridade era reflexo da
sua posição na famiglia, aos poucos eu começava a montar um
pouquinho do quebra-cabeças que era Salvatore e me surpreendi por
perceber que gostava do que era revelado a mim.

— Posso entrar senhor? — falo após bater na porta da sua sala.

— Sim Amapola, entre. Precisa de algo?

— Na verdade, quero tirar uma dúvida.

— Fale.

— Ontem, você não tinha almoçado às três horas da tarde, preciso


saber se você almoça aqui todos os dias, se eu preciso providenciar
ou não?

— O melhor é sempre confirmar comigo, Amapola, às vezes, eu


almoço em um restaurante em outras peço o almoço e como aqui
mesmo, mas o ideal é que você confirme comigo.

— Quanto a hoje, senhor? O que devo fazer?

— Providencie o almoço para nós dois, ainda não consegui colocar


tudo em dia então ficaremos aqui, quanto a você, como é minha
assistente pessoal sempre estará comigo, então o que eu fizer você
também fará.

— Tudo bem, signore, vou providenciar agora — falo e sigo em


direção a porta, mas sou interrompida por sua voz grave.

— Amapola.

— Sim, signore.

— Você já resolveu a questão do seu retorno a faculdade?

— Já entrei em contato com eles e enviei o formulário de solicitação


de retorno e as documentações necessárias, quanto ao pagamento...

— Quanto ao pagamento assim que fizerem a sua admissão eu


pagarei a integralidade do ano que falta para você concluir, basta que
me avise.

— Salvatore. — Suspiro resignada, com o salário que ele me


concedeu eu poderia pagar as mensalidades tranquilamente e ainda
sobraria um bom dinheiro por mês.

— Acho que já fechamos esse tópico, Amapola, então por favor não
me questione mais.

— Sim, senhor. — Saio irritada da sua sala, não é certo o que ele
está fazendo, eu não vou me sentir bem com essa decisão, é como
se eu estivesse abusando da sua boa vontade.

Não é como se o dinheiro fosse lhe fazer falta, eu sei que não, mas
não fico satisfeita com a posição que ele me coloca.

Providencio o nosso almoço, pedi que entregassem por volta de uma


hora da tarde, Salvatore tem uma reunião agendada para às duas e
meia, e teremos tempo suficiente para almoçar, inclusive para
comemorar a minha readmissão na universidade que acaba de
confirmar por e-mail. Será que ele se importaria se eu pedisse um
vinho para acompanhar o almoço? Eu estava radiante por meus
planos voltarem a caminhar conforme a minha vontade, então liguei
novamente para o restaurante e pedi que acrescentassem o item ao
pedido.
— Avise ao Salvatore que alguém o aguarda. — Uma voz feminina
chama minha atenção, eu estava distraída olhando para a tela do
notebook admirando mais uma vez o e-mail que recebi da
universidade.

— Desculpe, senhorita, buongiorno, eu não a vi chegar.

— Percebi, sendo secretária de quem é, deveria estar mais atenta —


fala, me repreendendo e eu me encolho na cadeira, realmente eu
havia falhado estando desatenta.

— Desculpe, — falo novamente — em que posso ajudá-la?

— Avise ao Salvatore que alguém o aguarda — fala e sua arrogância


começa a me irritar, o que tem de bonita, tem de grossa e mal
educada.

Ela veste um vestido azul marinho de um ombro só, totalmente justo


no corpo, deixando bem marcadas as suas curvas, os cabelos loiros
curtos e ondulados caem sobre os ombros emoldurando o seu rosto
que parece ter sido esculpido a pincel, os olhos são de uma azul
brilhante e se destacam ainda mais com a maquiagem escura. Não
sei quem ela é, mas posso arriscar dizer que é uma modelo dessas
que posam para as capas de revista.

— Qual o seu nome, senhorita? O senhor Salvatore tem outras


reuniões agendadas após o almoço. — Verifico o relógio e constato
que são doze e quarenta e cinco — Não sei se poderá atendê-la.

— Tenho certeza que ele me atenderá, avise que Carlota Carbone o


aguarda — ela fala e eu lembro que esse é o nome da pessoa que
terá uma reunião com Salvatore às duas e meia da tarde.

— Só um instante, por favor. — Resolvo ir pessoalmente à sua sala


avisar sobre a presença da mulher.

— Entre, Amapola. — Ouço sua voz após bater na porta.


— Senhor, a senhorita Carlota Carbone está na recepção.

— A reunião estava marcada para esse horário? — Vejo ele buscar


no computador a sua agenda, mas me precipito em atender.

— Não, senhor, era às duas e meia, mas acredito que ela tenha se
antecipado.

— Mande-a entrar, e por favor fique também, Amapola, é bom que


esteja a par dos negócios.

— Sim, senhor — falo e me retiro.

Antes de anunciar a mulher que está sentada, encarando o seu


celular e agitando suas pernas cruzadas que Salvatore irá atendê-la,
sigo na direção de Amadeu, peço que ele receba o nosso almoço, e
solicite para uma das auxiliares que organize na sala de reuniões,
após sua confirmação chamo a atenção da mulher e peço para que
ela me acompanhe até a sala de Salvatore.

— Senhor a senhorita Carlota Car... — Sou interrompida enquanto a


anuncio.

— Salvatore, meu querido, quanto tempo. — Ela vai em sua direção e


ele se põe de pé para cumprimentá-la.

— Carlota, sente-se por favor — ele fala quando ela se afasta, e a


notável intimidade entre eles me incomoda. — Amapola. — Ele indica
a outra cadeira e eu me sento.

— Não se dê o trabalho querido, vim buscá-lo para almoçarmos


juntos. —Eu me torno mera expectadora da interação entre eles.

— Carlota eu não posso, estou cheio de trabalho e...

— Salvatore, — suas unhas cumpridas vermelhas passeiam pela gola


da camisa dele — você está sempre ocupado e cheio de trabalho,
mas isso nunca nos impediu de encontrarmos um tempo, não é
mesmo? Olha só, tenho uma reunião agendada para duas e meia,
agora provavelmente será o seu almoço, então nós unimos o útil ao
agradável. Almoçaremos, faremos outras coisas e depois
conversaremos sobre os cassinos — fala e se e pudesse tiraria suas
garras de cima dele, mas ainda mantendo-me sentada, eu apenas
observo.

— Amapola, a minha agenda?

— O almoço o aguarda na sala de reunião, senhor e depois o próximo


compromisso é com a senhorita Carbone — respondo.

— Está vendo? Não há por que negar, e você está me devendo um


jantar, não pense que eu esqueci. — Um sorriso provocante brinca
em seus lábios pintados de vermelho.

— Jantar?

— Sim Salvatore, você iria jantar com meus pais e comigo na


segunda feira, Fabrizio avisou que você precisou viajar para resolver
umas questões da máfia, nós sabemos que a máfia é sempre mais
importante do que qualquer coisa não, é mesmo? Nós entendemos e
papà o aguarda ansiosamente, e eu também. — Definitivamente essa
mulher fala demais, ou será que seria eu que não consigo digerir o
que as suas palavras significam?

— Tudo bem, Carlota, vamos — Salvatore fala, começando a recolher


os seus pertences que estão sobre a mesa.

— O que eu faço com o almoço senhor? — pergunto, minha voz de


repente sai mais grossa do que eu gostaria, como se um bolo a
prendesse.

— Descarte-o, querida. — A mulher intragável avisa. — Não é


possível que uma secretária precise fazer uma pergunta dessas a um
homem como Salvatore, ele tem coisas mais importantes a decidir do
que o que fazer com um simples almoço.

— Amapola, estarei de volta às três da tarde, se alguém me procurar


avise, por favor — Salvatore fala, me olhando de uma forma estranha
e eu me dou conta de que ainda permanecia sentada na cadeira. Na
verdade, a sensação que tive é de que eu me senti diminuir e afundar
na poltrona.

— Sim, senhor. — Evito olhar em seus olhos.

Vejo a mulher entrelaçar o seu braço com o de Salvatore, e o bolo


que estava em minha garganta aumenta ainda mais. As portas do
elevador se abrem e eles entram, eu acompanho tudo à distância,
mas enquanto a mulher fala sorri e o toca o tempo inteiro, os seus
olhos se mantem fixos nos meus até as portas se fecharem.

Corro para o banheiro, e nervosa jogo um pouco de água na minha


nuca, minha cabeça parece ferver, após me recuperar refaço a
maquiagem antes de sair. Eu não posso me deixar abalar, afinal o
que eu esperava? Que Salvatore me pedisse em namoro? Que
tivéssemos exclusividade? Sim, era exatamente isso que eu
esperava, mas acabou de ficar claro para mim que eu não teria.

— Está tudo bem, senhorita? — Amadeu pergunta após eu sair do


banheiro, ele me aguardava na porta. — Você correu para o banheiro
de repente.

— Não se preocupe, Amadeu, eu só estava com vontade de ir ao


banheiro mesmo, o almoço chegou?

— Sim, senhorita, já está na sala de reuniões.

— O senhor Salvatore não me acompanhará, então quer fazer as


honras? — pergunto, tentando ser simpática.

— Acredito que eu não deva, senhorita, o chefe não iria gostar.

— Não se preocupe, Amadeu, assim como você, eu sou apenas mais


uma funcionária do Salvatore, então vamos?

— O chefe já almoçou? — Rico interrompe a nossa conversa.


— Sim, senhor, ele acabou de sair — aviso.

— Achei que ele iria almoçar aqui, vim acompanha-lo.

— Amapola pediu o seu almoço, senhor, se quiser poderia


acompanha-la está na sala de reuniões — Amadeu fala e eu o olho
surpresa, como eu conversarei com um homem que mal conheço.

— Seria um prazer, ragazza, desfrutar da sua companhia.

— Tudo bem — respondo sem graça, mas faço questão de arrastar


Amadeu conosco, de repente, ele pode me proteger se eu precisar.

O almoço realmente me surpreendeu, Rico e depois Fabrizio que


também se juntou a nós, foram extremamente agradáveis comigo,
apesar de sentir que suas perguntas sempre buscavam respostas e
informações, eu me senti à vontade com eles.

Fabrizio é mais observador, enquanto Rico não mede as palavras,


definitivamente não há um filtro entre o que ele pensa e o que fala,
eles quiseram saber sobre mim e sobre a minha vida, como Salvatore
havia decidido me trazer para a empresa e quando contei sobre a
faculdade, propuseram um brinde para comemorar o meu retorno à
universidade.

Amadeu não era um homem de muitas palavras, mas compartilhou


conosco esse momento de descontração, ele estava sempre atento a
mim, como se guardasse um tesouro. Eu gostava dele e sentia que
era reciproco, descobrir que ele era filho de Ângela foi uma surpresa
muito grata para mim, assim como eu tinha por ela um sentimento
maternal, estabeleci com ele uma relação fraternal, Amadeu começou
a ser para mim a imagem do irmão que eu jamais tive.

Por volta de duas e meia da tarde, finalizamos o nosso momento de


descontração, e fiquei feliz por pelo menos não ter ficado totalmente
sozinha, mesmo que Salvatore tenha permeado os meus
pensamentos a todo instante, eu pude aproveitar um pouco.
Capítulo 41
"A minha frieza sempre tinha uma razão, e muitas vezes era para
resguardar o meu poder, eu jamais abriria mão disso."

Irritado era o mínimo que eu poderia usar para descrever o meu


estado de espírito, quem Carlota pensa que é para entrar no meu
escritório praticamente exigindo que eu a acompanhasse no almoço?
E pior, quem ela era para falar com Amapola daquela forma?

Eu não a defendi para não chamar a atenção para ela, mas não me
senti confortável com a situação, vê-la encolher-se sobre a cadeira
me fez sentir algo que eu nunca senti por ninguém, queria poder
colocá-la em meu colo e confortá-la, ou melhor queria poder dar um
tiro na testa de Carlota, mas a famiglia deve proteger quem pertence
a ela. Para nós, os laços consanguíneos contam muito, e Carlota
deveria ser grata por isso.

Enquanto as portas do elevador se fechavam, eu vi nos olhos de


Amapola a decepção, Carlota deixou claro o seu envolvimento
comigo no passado e eu não pude fazer nada, ela com certeza
imaginaria que eu e Carlota iriamos fazer muito mais do que almoçar,
eu pensaria assim, mas não sei o que fazer, no momento eu não
posso assumir um compromisso formal com Amapola. Preciso de um
tempo para que a famiglia se acostume, Amapola caiu de paraquedas
em minha vida e nem eu entendia ainda o papel que ela assumiria.
— Vamos almoçar aqui? — Carlota pergunta quando estaciono na
frente de um dos melhores restaurantes de Roma, fiz questão de vir
dirigindo, assim eu teria algo com que me distrair e não lhe daria
espaço para conversas.

— Sim. Algum problema? — pergunto ríspido.

— Eu pensei que iríamos a um lugar mais íntimo — fala, levando sua


mão até o meu pau, creio que tenha se surpreendido por eu não estar
de pau duro como sempre estive na sua presença.

— Não Carlota, não tenho tempo. Almoçaremos e conversaremos


sobre os negócios, apenas isso. — Deixo claro quando afasto sua
mão que me tocava.

— Salvatore, o que está acontecendo? — Sua voz toma uma nota de


choro e começo a me irritar. — Você sabe que papà, o estava
aguardando para um pedido de noivado, não é? O que aconteceu?
Por que você não foi?

— Não fui porque eu não quis, Carlota, eu tinha outros compromissos


mais importantes.

— Mais importantes do que a famiglia?

— Mais importantes do que esse noivado que os capôs querem me


forçar a formalizar quanto antes.

— Mas eu pensei que nós...

— Você pensa demais, Carlota, assim como Graziela Rossetti e todas


as outras filhas da máfia que visitei nos últimos tempos.

— Você procurou outras noivas? — fala espantada, os olhos de


repente enchendo-se de lágrimas que eu sabia serem mais falsas que
a fidelidade de alguns homens comigo.

— Você acha que o seu pai seria o único a tentar casar sua filha com
o Dom? — Ergo a sobrancelha questionando-a.
— Mas eu sou a sua...

— Você não é nada, Carlota, que fique claro que eu não me casarei
agora e nem tão cedo, se for preciso agendarei uma reunião para que
isso fique claro para todos.

— Enquanto isso, nós poderíamos nos conhecer melhor Salvatore,


sair mais vezes, você verá que eu sou a pessoa ideal para estar ao
seu lado, nenhuma das outras pretendentes são tão adequadas a
você quanto eu.

— Não se iluda, garota, agora vamos, precisamos ser rápidos eu


ainda tenho outros compromissos para hoje.

Durante o almoço, tentei me ater ao que realmente importava, a


situação do cassino e a busca da polícia por nos incriminar, fiquei
sabendo que um dos nossos funcionários havia dado mais
informações do que deveria e eu garantiria que ele estivesse em
minhas mãos até amanhã para que o fizesse aprender a manter sua
língua guardada.

Em diversos momentos Carlota voltou a tocar no assunto do noivado,


mas eu a cortei em todas elas, eu havia tomado a decisão e ninguém
me faria mudar de ideia.

Como estava no encalço do funcionário e os Carbone estavam à


frente da caçada, após o almoço, Carlota voltou comigo para o
escritório, iria pedir a Amapola que providenciasse uma sala para que
ela usasse hoje a tarde, ou até mesmo poderia ser a sala de
reuniões.

— Ah querida, obrigada por nos proporcionar um almoço tão


agradável quanto esse — Rico, Fabrizio e Amadeu estão diante da
mesa de Amapola e não perco o clima descontraído do ambiente, e
pigarreio chamando atenção de todos.

— Atrapalho a interação entre vocês no horário de trabalho? —


praticamente rosno e é Amapola a primeira a responder, após cravar
os olhos na mulher que está ao meu lado.

— Não, senhor. Só estávamos nos despedimos, acabamos de


almoçar agora — ela fala com um sorriso nos lábios, mas os seus
olhos fervem em minha direção — Senhores, tenho certeza que
teremos outras oportunidades como essa, agradeço a companhia —
Se despede deles e se acomoda no seu local de trabalho.

— Nós que agradecemos, Amapola, você foi incrível — Rico fala,


segurando sua mão e depositando um beijo como uma reverência,
que porra é essa que está acontecendo?

— Vocês dois, me acompanhem. Amapola, providencie uma sala


para a senhorita Carbone ela ficará conosco essa tarde — aviso,
seguindo para minha sala.

— Sim, senhor. — Ouço ela falar enquanto caminho.

— Você sai para foder com a Carlota Carbone e volta nesse mal
humor do caralho? Acho que ela está precisando se aperfeiçoar nas
suas técnicas. — Rico fala quando entramos na sala.

— Primeiro eu não sai para foder e sim para almoçar e conversar


sobre a situação do cassino.

— Eu pensei que...

— Esse é o problema, as pessoas a minha volta estão pensando


demais, se distraindo demais do que realmente importa — rosno para
ele.

— Ei irmão, pela manhã você não estava com esse humor do diabo.
— Fabrizio tenta apaziguar.

— Não estava, mas também não tinha sido sobrecarregado de


problemas, que cheiro é esse? Vinho? Vocês estavam bebendo? —
pergunto ainda mais irritado. — Se vocês não sabem, Amapola não
tem o hábito de beber, o que fizeram seus irresponsáveis?

— Ei, se acalme, Salvatore. Ela bebeu apenas uma taça, e para a sua
informação nós viemos almoçar com você, ela disse que você havia
saído com a Carlota. Descobrimos que ela havia pedido o almoço
para vocês dois, e resolvemos ficar — Rico explica.

— E o vinho?

— Ela tinha pedido para comemorar com você a admissão na


universidade, mas como você saiu para almoçar com a Carlota, nós
comemoramos com ela, a propósito, ela é uma mulher incrível e
inteligente, tenho certeza que será uma excelente secretária — Rico
fala com ironia.

— Salvatore.

— Fala, Fabrizio — Ordeno irritado.

— O que você tem com a garota?

— O quê? Que merda você tem a ver com isso? — rosno para ele.

— Você sabe que a vinda de Carlota foi uma jogada do Carbone para
forçar a sua aproximação com ela, sabe que os capos esperam que
você firme compromisso com uma das filhas da famiglia quanto antes,
não é? E mais, como conversamos antes, estava praticamente claro
que Carlota seria a sua escolhida, então, o que quer que tenha com a
garota, cuide para não a quebrar tanto, ela já sofreu demais não
merece aguentar ainda mais merdas.

— Já disse para cuidarem de suas vidas, que merda que todos hoje
estão perturbando meu juízo com essa história de casamento?

— Ela falou com você sobre isso?

— Sim, Fabrizio, ela falou.

— E o que você disse a ela?


— Não interessa o que eu disse, — praticamente grito irritado — eu
não tenho que dar satisfação a ninguém, nem mesmo a vocês dois,
eu me casarei quando e com quem eu quiser.

— Tudo bem, chefe, não se preocupe. Não vamos interferir.

— Quanto à Amapola, esqueçam que ela existe, ela é problema meu,


e não diz respeito a nenhum de vocês, o que quer que eu venha a
fazer com ela não interessa.

— Sim, senhor — ambos falam, mas sei que o tom de respeito é falso
e reflete simplesmente a reprovação por minhas ações.

— Agora podemos nos concentrar no trabalho?

— Claro — Fabrizio responde e Rico acena com a cabeça, mas


nenhum dos dois sequer olham em meus olhos, sei que estão
irritados assim como eu fiquei ao vê-los cheios de sorrisos com ela,
mas eu não tinha outra alternativa.

Como eu explicaria a eles que me encantei por Amapola como nunca


havia me encantado por nenhuma outra mulher? Como eu admitiria
para eles que estava possivelmente apaixonado? Se nem eu mesmo
ainda havia admitido o que estava sentindo.

Na realidade, eu não sabia exatamente nomear o que sentia, era


posse, carinho, desejo e tantos outros sentimentos que me deixavam
confuso. Vê-los com ela, me deixou com ciúmes, eu precisava de um
tempo para entender o que estava acontecendo comigo, talvez isso
tudo passasse com o tempo.

Mas uma coisa era certa, eu queria estar ainda mais próximo dela
para entender o que era isso tudo e só depois eu iria me decidir sobre
o que fazer, sobretudo quanto ao casamento.

Eu era o chefe da Dalla Costa e ninguém me forçaria a nada, mas eu


também não poderia deixar de considerar que a famiglia deveria ser a
minha prioridade e isso incluiria os laços estabelecidos com o
casamento, mas Amapola despertava em mim algo que ninguém
mais despertou.

Eu não poderia lhes dizer claramente o que eu sentia ou pensava,


esse foi um dos principais ensinamentos do meu pai “Jamais deixe
que as pessoas saibam ou percebam o que você pensa ou sente”, ele
dizia que quando eu assumisse como Dom, que todos os olhares
estariam voltados para mim, se eu fosse transparente demais as
pessoas preveriam as minhas ações e consequentemente,
conheceriam os meus próximos passos, as pessoas nunca torceriam
pelo meu sucesso, estariam sempre esperando o fracasso para
tomarem o meu lugar, e eu jamais permitiria isso.

A minha frieza sempre tinha uma razão, e muitas vezes era para
resguardar o meu poder, eu jamais abriria mão disso.
Capítulo 42
"Eu não sou uma filha da máfia, não tive privilégios, eu sequer
tenho berço, mas seja lá como for, farei o possível para que
Salvatore perceba que eu posso estar ao seu lado como qualquer
uma outra mulher. Eu já tenho a sua confiança, agora eu quero o
seu coração."

Organizar um lugar para a tal da Carlota trabalhar durante a tarde foi


um martírio, ela fez mil e uma exigências até que eu não aguentei
mais e disse que por se tratar de uma alocação temporária o básico
seria suficiente.

Vi quando Amadeu sorriu, concordando com a cabeça, eu estava


certa, afinal para que tantas exigências se amanhã ela não mais
estaria aqui na empresa? Tem pessoas que por terem poder
aquisitivo acham que todos tem que se curvar aos seus caprichos,
mas eu definitivamente não me curvaria para ela.

Além disso, tinha a sua saída com Salvatore que continuava a me


atormentar, a todo instante minha mente vagava, tentando descobrir o
que eles fizeram no tempo que saíram para o tal almoço.

Eu havia ficado no mínimo decepcionada com Salvatore, ele poderia


ter recusado, dito que já tinha um almoço marcado, ou dado uma
desculpa qualquer, mas não, ele sequer pensou duas vezes antes de
aceitar o convite da loira.

Tudo teria sido muito pior se os seus irmãos não tivessem aparecido
e junto com Amadeu terem me feito companhia. Eles eram pessoas
diferentes quando se despiam de toda a pose de quem comanda uma
das maiores máfias do país, assim como Salvatore, gostei de
conhecer esse outro lado deles.

Respondo alguns e-mails da empresa e em seguida, faço uma


listagem de todas as matérias que poderei realizar online, assim eu
diminuiria as minhas idas presenciais na universidade e poderia me
dedicar ao trabalho.

Eu estava radiante com mais essa novidade e precisava compartilhar


com meu pai, por isso liguei, ele chorou de felicidade e por pouco não
o acompanhei, por fim, Salvatore estava nos dando muito mais do
que nos tirava, o homem que virou todo o meu mundo de pernas para
o ar estava me dando novas motivações para seguir em frente.

Ele estava sendo o meu porto seguro, algo que eu sequer imaginava
que estava precisando no momento, eu só precisava ter cuidado para
não me envolver além do necessário, a mesma mão que ele me
estendia e me ajudava a levantar poderia facilmente me derrubar.

— Você está surda garota? — Vejo Carlota parada diante da minha


mesa.

— Não senhorita, se não percebeu eu estava em uma ligação —


respondo sem paciência.

— Sim eu ouvi, e por sinal, a ligação era pessoal, deixe para tratar
dos seus assuntos pessoais fora do horário de expediente. — Eu
perco a paciência, levanto da cadeira onde estava sentada e dou a
volta na minha mesa, parando em sua frente, encarando-a de perto
para que ela enxergue que não a temo.

— Eu não lhe devo satisfações, tenho certeza de que o senhor


Salvatore não se importará com a minha ligação pessoal, se precisa
de alguma coisa fale, se não for o caso, eu tenho mais o que fazer do
que perder o meu tempo dando satisfações a quem não diz respeito.

— Insolente

— Eu ouvi competente? Sim, senhora. — Sorrio diante do seu


nervoso repentino — Eu sou extremamente competente e por isso
estou ao lado do melhor.

— Eu preciso de uma linha telefônica para que eu possa utilizar


enquanto trabalho — fala irritada.

— Em instantes alguém levará até você, se me dá licença preciso


resolver algumas pendencias. — Deixo-a plantada quando sigo na
direção de Amadeu, acho que ele pode me ajudar a resolver a
questão do telefone que ela precisa, de canto de olho vejo quando ela
se retira, voltando para a sala de reuniões.

É isso, ela que não cresça suas garras em minha direção, porque eu,
definitivamente, as cortarei com todo prazer.

Junto alguns e-mails que imprimir para entregar a Salvatore para que
ele veja com prioridade, e caminho até a sua sala, sei que os seus
irmãos ainda estão com ele, mas como serei breve, não atrapalharei
o que quer que eles estejam discutindo.

Estranho a porta estar entreaberta e quando ergo o punho para


anunciar minha presença as palavras de Fabrizio me fazem paralisar,
sei que não é ético e nem é o correto, mas não consigo deixar de
ouvi-los.

— O que você tem com a garota? — pergunto-me se é sobre mim


que estão falando, por isso me sinto menos culpada por estar
ouvindo.

— O que? Que merda você tem a ver com isso? — Salvatore fala, a
irritação em sua voz é perceptível ainda que eu não o esteja vendo.
— Você sabe que a vinda de Carlota foi uma jogada do Carbone para
forçar a sua aproximação com ela, sabe que os capos esperam que
você firme compromisso com uma das filhas da famiglia quanto antes,
não é? E mais, como conversamos antes, estava praticamente claro
que Carlota seria a sua escolhida, então o que quer que tenha com a
garota, cuide para não a quebrar tanto, ela já sofreu demais não
merece aguentar ainda mais merdas. — Levo as mãos trêmulas à
boca.

Sim era sobre mim que eles falavam, mas também sobre a mulher
que ainda a pouco estava em um almoço de negócios com ele. Ela
seria sua noiva, será que o almoço foi para formalizarem a sua
situação? Como Salvatore foi capaz de me envolver em uma situação
como essas sabendo de tudo isso.

— Já disse para cuidarem de suas vidas, que merda que todos hoje
estão perturbando meu juízo com essa história de casamento? — Ele
tenta cortar o assunto

— Carlota falou com você sobre isso? — Fabrizio pergunta e eu


prendo a respiração para ouvir a sua resposta.

— Sim Fabrizio, ela falou. — Afirma e meu coração para, giro sobre
os saltos, não querendo continuar a ouvir.

— E o que você disse a ela? — Fabrizio pergunta e eu travo


novamente, considero que é melhor que eu saiba qual foi a sua
resposta para que eu possa me preparar.

— Não interessa o que eu disse. — Salvatore fala em um tom de voz


mais alto — Eu não tenho que dar satisfação a ninguém, nem mesmo
a vocês dois, eu me casarei quando e com quem eu quiser.

— Tudo bem, chefe, não se preocupe não vamos interferir. — Os


irmãos cedem à sua irritação.

— Quanto a Amapola, esqueçam que ela existe, ela é problema meu,


e não diz respeito a nenhum de vocês. O que quer que eu venha a
fazer com ela, não interessa. — Meu Deus, será que ele terá coragem
de me deixar envolver para depois simplesmente me descartar?

— Sim, senhor. — Eles afirmam que entendem sua posição e eu volto


para a minha mesa.

Minhas mãos tremem tanto que eu sento em minha cadeira sem


saber exatamente o que devo fazer, eu estou literalmente nas mãos
de Salvatore. Ele não vai deixar que eu me afaste, mas a sua
presença constante pode me destruir.

Por que nada em minha vida pode ser simples? Quando penso que
as situações estão se ajeitando, que aos poucos minha vida está
entrando no caminho certo, algo acontece e puxa o meu tapete,
divago enquanto finjo estar concentrada no trabalho.

— Espere, senhorita Carbone. — Interrompo a mulher que seguia em


disparada para a sala de Salvatore.

— Que espere, garota, eu preciso falar com ele urgentemente —


avisa, mas eu me mantenho à sua frente.

— Aguarde um instante e eu vou anunciá-la. — Mantenho minha


postura, impedindo sua passagem. Amadeu se levanta rapidamente
do sofá para onde tinha retornado há poucos instantes, pronto para
separar uma possível confusão entre nós.

Percebo que não a enxergo mais apenas como uma filha mimada da
máfia que quer a todo custo a atenção do chefe, enquanto nossos
olhares duelam eu vejo que a enxergo como minha rival. Eu quero o
mesmo que ela: Salvatore, e percebo que não vou hesitar em usar as
poucas armas que tenho.

Eu não sou uma filha da máfia, não tive privilégios, eu sequer tenho
berço, mas seja lá como for, farei o possível para que Salvatore
perceba que eu posso estar ao seu lado como qualquer uma outra
mulher. Eu já tenho a sua confiança, agora eu quero o seu coração.
Vejo quando ela respira fundo e se afasta. Eu aviso a Salvatore e ele
permite a sua entrada, a mulher avisa que os seus homens
capturaram quem quer que seja que eles estavam procurando.

De repente, toda a sala muda totalmente a esfera, os homens


começam a fazer ligações ao mesmo tempo que conferem suas
armas, os itens pessoais são recolhidos, percebo que eles vão
encontrar o homem.

— Eu devo lhe aguardar senhor? — pergunto a Salvatore quando ele


alcança a porta, ele estava tão concentrado que sequer havia notado
a minha presença.

— Não, vamos comigo — ele fala após olhar o relógio, faltam poucos
minutos para o fim do expediente e acredito que ele irá direto para
casa.

Recolho rapidamente os meus itens pessoais e os sigo assim como a


mulher que continua grudada em Salvatore. Lembro das suas
palavras sobre os limites profissionais e fecho os olhos, tentando
manter o controle. Eu queria arrancar cada fio de cabelo dela, mas
infelizmente não posso.

Paramos diante de um galpão, Salvatore pede que eu o aguarde no


carro e sai seguido por seus irmãos e por ela.

Fico irritada e me sinto excluída, o que eles vieram fazer aqui que eu
não posso o acompanhar? Por que a mulher está com ele e eu não
posso?

Após cerca de trinta minutos de espera, resolvo entrar, não deve


haver problema afinal sou sua secretária pessoal, sei da sua posição
na máfia, então não há nada que eu não possa saber.

Foi o que eu pensei e o que afirmei a Matteu que guardava a porta do


galpão acompanhado de outros cinco homens, mas ao ultrapassar as
portas, eu percebi que saber quem Salvatore era e ver com meus
próprios olhos ele em ação eram duas coisas muito diferentes.
Capítulo 43
“Eu comecei a considerar que toda a sobrecarga e escuridão que
a máfia representava poderia ser mantida fora da minha casa,
dentro dela não necessariamente deveria reinar a escuridão.”

Carlota havia localizado o traidor que dera informações à polícia, se


havia algo que eu não admitia na famiglia era traição, eu os caçava
feito miseras presas e os devorava como o predador que era.

Todos os traidores eram entregues diretamente a mim, eu fazia


questão de torturá-los e matá-los pessoalmente, e a morte pelas
minhas mãos era sempre a mais dolorosa, todos sabiam disso. Por
isso, eram poucos os que se arriscavam a estar diante da minha ira, e
nenhum deles sobreviveu para contar a história esse não seria o
primeiro.

Entro no galpão seguido por Amadeu, Fabrizio, Rico e Carlota, preferi


deixar Amapola no carro. Eu não queria que ela visse no que eu me
transformava quando estava agindo como chefe da máfia.

É lógico que ela me viu tirar a vida do homem que tentou abusar dela,
mas a morte lenta que dei a Martin não se comprava ao que eu faria
com o traidor.

Tirei o terno e a camisa branca, vestido apenas com a calça,


caminhei lentamente até o homem que estava amarrado a uma
cadeira.

— Então foi você o traidor? — Puxo os seus cabelos com raiva para
que me olhe nos olhos e enxergue o tormento que o aguarda.

Vejo Carlota Carbone puxar uma cadeira e se sentar para


acompanhar as minhas ações. Sei que ela queria demonstrar estar
pronta para ser a mulher do chefe, que teria estomago para suportar
o que quer que a máfia lhe oferecesse, o que ela não sabia, era que
para mim isso não importava mais. Há pouco tempo atrás, talvez,
essa fosse uma das qualidades que eu buscasse em uma mulher
para ser minha esposa.

Mas hoje eu não pensava mais assim. Era a tranquilidade, paz,


compaixão e cuidado de Amapola que me atraiam. Eu comecei a
considerar que toda a sobrecarga e escuridão que a máfia
representava, poderia ser mantida fora da minha casa, dentro dela
não necessariamente deveria reinar a escuridão.

Comecei a torturá-lo, quebrando cada um dos seus dedos, com um


canivete afiado escrevi em seu peito a palavra traidor. Eu fazia
questão de afundar a faca em sua carne o máximo possível, a dor
refletida em seus olhos costumava me dar ainda mais gás.

Resolvi aumentar a brincadeira para ver até onde Carlota manteria


sua postura segura, mas quando ordenei que prendessem o homem
de cabeça para baixo e fiz tantos cortes em seu corpo que sua pele
parecia estar totalmente esfolada, eu controlava a profundidade dos
cortes para que ele não morresse, ela simplesmente saiu correndo e
eu sorri, sabendo que estava certo.

Um rio de sangue estava empoçado embaixo da sua cabeça quando,


lhe arranquei os últimos dentes, os gritos de pedido de misericórdia
foram substituídos pelas súplicas pela morte, realmente, era melhor
morrer do que ser mantido sob as minhas garras.

Peguei uma faca fina e quando finquei em um dos seus olhos,


sorrindo, girei para fazer algum comentário com meus irmãos, mas
meu riso se perdeu quando os meus olhos encontraram os de
Amapola.

Ela estava parada próxima da porta do galpão, a agenda que desde o


início da manhã estava sempre com ela agarrada ao peito, sua
respiração estava pesada, o maxilar travado e eu soube que ela
estava ali a mais tempo do que eu desejava.

Ela havia presenciado a maior parte da tortura, talvez a pior parte


dela, eu não queria que ela tivesse me visto assim, banhado em
sague, sorrindo enquanto torturava alguém que clamava por
misericórdia, girei sobre os calcanhares novamente, e com um corte
preciso em no pescoço tirei o que restava da vida do traidor.

Caminhei até o banheiro, lavei o meu corpo, Amadeu já havia deixado


uma muda de roupas separada para mim, era sempre assim após
qualquer seção de tortura que eu fazia, as minhas roupas iam direto
para o lixo. Eu sequer cogitava vestir novamente alguma peça que
teve contato com sangue de traidor.

Enquanto a água gelada jorrava sobre minha cabeça pensei em


Amapola, no que ela iria pensar ao me ver literalmente como o
monstro que afirmou algumas vezes que eu era. Pela primeira vez, eu
não sabia como lidar com o julgamento de alguém, não sabia o que
dizer quando voltasse a olhá-la nos olhos, mesmo exausto pela
recente seção de tortura, soquei a parede a minha frente.

— Amapola, o que faz aqui? — pergunto quando saio do pequeno


box para pegar a toalha, mas ela já segurava o item e estendia em
minha direção.

— Precisa de mais alguma coisa, senhor Salvatore? — ela fala em


um tom profissional.

— Eu pedi que ficasse no carro me aguardando. — Tiro a toalha de


suas mãos.
— Mas eu sou sua assistente pessoal, tenho que estar ao seu lado
em todos os momentos — Justifica.

— Não, Amapola, você é muito mais do que a minha assistente


pessoal, por isso eu não te queria aqui.

— E o que eu sou para você Salvatore?

— Mia moglie, Amah, tu sei mia moglie — falo sendo o mais sincero
possível.

É isso, Amapola não é mais minha prisioneira, nem mesmo minha


assistente pessoal, ela não julgou as minhas ações e a sua ternura ao
vir me encontrar, preocupada com as minhas necessidades me
demonstraram que mesmo ela sabendo e respeitando o que eu sou,
enquanto chefe da Dalla Costa, ela manteve a ternura e a calmaria
que eu preciso.

— Deixa eu cuidar da sua mão — fala com um sorriso nos lábios.

— Deixa eu cuidar da sua boca primeiro — Puxo-a para mim e a colo


os nossos lábios.

O beijo foi diferente dessa vez tanto para mim quanto para ela,
nossas línguas duelavam, mas não havia apenas tesão e desejo.
Havia entrega e carinho também, passei minhas mãos por seu corpo,
como por instinto, mas me ative em seu rosto segurando com ambas
as mãos, mantendo-a aprisionada em meu domínio, dessa vez com o
seu consentimento e a sua vontade.

Quando afastamos nossos lábios, vi de relance a sombra de Carlota,


ela havia visto o nosso momento, e não sabia se isso era bom ou
ruim. Por um lado ela poderia entender que as suas chances de me
ter novamente ruíram, por outro, ela poderia querer prejudicar
Amapola de alguma forma. Eu precisava estar mais atento ainda a
ela.

— Você disse que precisávamos ser profissionais — Amapola fala,


mas o brilho dos seus olhos deixa claro que ela desejava esse beijo
tanto quanto eu.

— Sim, eu disse. — Deposito mais um beijo de leve em seus lábios


— Mas podemos manter o profissionalismo apenas na frente das
outras pessoas, eu não resisto a você, Amah.

— E nem eu a você, Salvatore — Vejo a verdade em cada uma das


suas palavras.

As palavras que eu lhe disse tiraram um peso dos meus ombros, eu


estava realmente gostando muito de Amapola, da sua companhia e
principalmente do seu cuidado.

Ela fez o curativo em meus punhos e após me vestir, nós saímos do


ambiente, eu queria demonstrar o que sentia, mas precisei vestir a
máscara de controle que a minha posição exigia.

— Salvatore, você pode me levar até em casa? — Carlota pergunta e


eu sei que está tentando não demonstrar o que viu.

— Claro, sem problemas. — Entro no carro sendo seguido por ela,


vejo quando Amapola dá a volta no veículo e senta-se do meu lado
esquerdo, Carlota tentou nos manter distante, mas Amapola
sutilmente fez o que deveria, sendo profissional, mas ainda assim
demarcando o seu território.

— Sua secretária vai nos acompanhar? — ela pergunta, tentando


diminuir Amapola.

— Sim, eu irei com Salvatore, eu sempre estou por perto dele. —


Abro a boca para responder, mas Amapola se antecipa, Carlota bufa
não conseguindo disfarçar o seu descontentamento, que fica ainda
mais evidente quando durante todo o trajeto mantem os olhos presos
na estrada. Discretamente, aperto a mão de Amapola aprovando sua
atitude.

Se ela ia estar ao meu lado, precisava ser forte e se impor, e eu lhe


daria liberdade para isso, ainda que não pudesse imediatamente
assumi-la publicamente, ela teria de mim o que fosse preciso.

— Obrigada, Salvatore. — Carlota sequer espera que um dos meus


homens abra a porta quando paramos diante da mansão da sua
família e em segundos já havia entrado no ambiente, ela tinha
cumprido o seu trabalho de me entregar a cabeça do traidor e eu a
trouxera em segurança, era o que importava.

Quanto a cobrança dos capôs, eu ainda iria pensar como lidaria,


precisava resolver um problema de cada vez, mas tudo o que eu mais
queria no momento era poder chegar em casa e ter mia moglie em
meus braços.
Capítulo 44
"Tudo em Amapola fora feito exatamente para completar os
meus espaços vazios, ela me entregava o seu corpo e eu lhe
presenteava com a minha alma."

Chegamos em casa e eu resolvi que deveríamos jantar antes de


subirmos para o quarto, depois que eu entrasse no ambiente
certamente não sairia de lá tão cedo junto com Amapola.

O sorriso nos lábios de Ângela deixava claro que ela percebeu que
algo havia acontecido entre nós dois, ela nos lia nas entrelinhas e
acredito que antes mesmo de nós dois termos admitido o que
sentíamos, ela de alguma forma, já sabia.

— Vou tomar um banho rápido e vou até você — Amapola fala após
subirmos as escadas e pararmos diante da porta do seu quarto.

— Venha tomar banho comigo — Puxo-a para mim e afundo meu


nariz em seus cabelos, abrindo caminho até o seu pescoço e fazendo
o seu corpo arrepiar.

— Se você deseja assim, senhor Salvatore, vou apenas buscar uma


roupa — Afasta-se de mim, mas antes que entre no quarto, eu a puxo
fazendo o seu corpo girar e suas costas baterem contra o meu peito.
— Antes Amapola, eu preciso tirar uma dúvida que me corroeu por
todo o caralho do dia.

— Sim? — Ela fala ofegante quando minha respiração pesada bate


em seu pescoço e orelha acompanhada da minha voz rouca de tesão.

Minhas mãos passearam por seu corpo, indo da altura de sua coxa
até os seios, coloquei minha mão em seu decote e apertei o bico
entumecido de um deles, Amapola gemeu, assim como eu ela já
estava cheia de tesão.

— O que quer saber? — ela perguntou com a voz embargada.

— Essa merda de saia, se eu deslizar a porra desse zíper, você ficará


exposta, Amapola? — pergunto, levando a mão que apertava o seu
seio para a sua intimidade, acariciando-a por cima da peça indecente
que vestia.

— Faça o teste, Salvatore, descubra com suas mãos o que quer


saber — Eu tenho vontade de jogá-la na parede e fodê-la bem ali,
mas tudo bem prolongar um pouco mais a tortura, eu gosto disso.

Deslizo o zíper e constato o óbvio a porra da saia se divide em duas


partes começando da lateral esquerda da sua virilha indo até o meio
da sua coxa direita.

— Puta que pariu, Amah, você sabe como eu fiquei o dia inteiro só de
imaginar que essa saia te deixaria exatamente assim, livre para os
meus toques? — Deslizo a mão para dentro da abertura do tecido e
aperto o seu sexo ainda por cima do tecido fino e rendado da calcinha
que veste.

— Ah Salvatore, — ela geme quando belisco o seu clitóris — eu... eu


não sabia, não quis te deixar assim. — Sua mão aperta o meu
membro duro ainda restrito pela calça.

— Não minta para mim, Amah, você sabia que me deixaria assim e
fez de propósito, mas eu não me importo, durante todo o dia eu
imaginei as mais diversas formas de te foder e as colocarei em
execução durante toda a noite, não demore, principessa. — Giro-a
para mim e colo nossos lábios, enquanto manipulo sua boceta com os
dedos, eu queria ultrapassar as barreiras de sua calcinha, mas
controlei meus instintos.

Afastei-me de Amapola, fazendo-a bambear levemente sobre os


saltos, o seu corpo estava cedendo ao desejo, ajudei-a a se manter
em pé e a deixei plantada diante da porta do seu quarto e segui para
o meu sem olhar para trás. Ela demoraria alguns segundos para se
recuperar do nosso rápido momento, mas eu esperava que não
demorasse muito a me encontrar.

Já dentro do meu quarto, segui até o frigobar e peguei uma garrafa de


Chardonnay, colocando em um balde de gelo junto com duas taças,
segui para o banheiro, apoiei tudo na borda da jacuzzi e aproveitei
para encher enquanto descartava as minhas peças de roupas.

Enchi as taças e entrei na água que estava na temperatura perfeita,


descansei minha cabeça na borda, fechando os olhos por um
instante. Eu queria me desligar de tudo, mas Amapola era constante
em meus pensamentos e imediatamente fui levado para ela e para
tudo o que começava a representar para mim.

— Salvatore? — Sua voz delicada chamou minha atenção e eu voltei


meu olhar para a mulher que estava parada próxima a mim, vestida
em um penhoar, branco transparente e mais nada cobria o seu corpo
perfeito.

— Venha — chamo, estendendo minha mão para ela, que a aceita de


bom grado. Vejo a peça delicada deslizar por seu corpo e fica
totalmente nua para mim, seus pés delicados afundam na água
borbulhante seguido por todo o seu corpo.

Amah sentou-se de frente para mim, as pernas abertas em cada lado


da minha cintura, minhas mãos passearam havidas por todo o seu
corpo e eu segui os seus gemidos quando os nossos sexos se
encontraram, mesmo sem ainda sequer tê-la penetrado eu poderia
gozar apenas com o pequeno contato do meu pau com a sua boceta
apertada.

Desci os meus lábios para os seus seios, mordendo os mamilos e


sugando-os até que estivessem ambos totalmente rígidos. Os
gemidos de Amapola se intensificaram ainda mais quando minhas
mãos seguiram para a sua boceta, ora entrando e estimulando o seu
ponto G, ora trabalhando em seu clitóris com movimentos circulares,
eu sabia que ela gozaria rapidamente, mas queria que ela o fizesse
em minha boca.

— Sente-se aqui, mia Amah — falo, levantando-a e apoiando a sua


bunda na borda. — Abra as pernas para mim.

— Ah, Salvatore. — Geme quando meus lábios se fecham em sua


boceta, eu estava havido por sentir o seu gosto se espalhar em minha
boca, por isso, intensifico as estocadas dos meus dedos em seu
ponto G enquanto minha boca devora o seu clitóris inchado.

Tiro os dedos de sua boceta e forço a sua entrada apertada, é o


bastante para Amapola explodir em um orgasmo alucinante, todo o
seu corpo treme como se estivesse tendo uma convulsão, os gemidos
que escapam dos seus lábios são altos como gritos finos.

Sem esperar, trouxe-a de volta para dentro da jacuzzi e alinhando


nossos sexos, penetro-a de uma só vez, ainda posso sentir os seus
últimos espasmos e quase me entrego com esse pequeno contato,
mas usando todo o meu autocontrole, me concentro nela e com as
mãos em sua cintura conduzo Amapola ao meu bel prazer.

Vezes eu a faço cavalgar lentamente, em outras, intensifico as


investidas, é maravilhoso ouvir o som do nosso prazer refletido nos
gemidos e no barulho que os nossos corpos fazem ao se chocar.

Tudo em Amapola fora feito exatamente para completar os meus


espaços vazios, ela me entregava o seu corpo e eu a presenteava
com a minha alma, e foi com esse pensamentos que gozamos juntos.
Respirações descontroladas, o suor se misturando à água, nosso
prazer escorrendo por seu sexo, e principalmente, minha alma se
conectando a sua.

A contragosto, desconecto os nossos sexos e a coloco entre minhas


pernas, pego a taça e levo à sua boca, fazendo-a entornar pelos seus
lábios, capturo com os meus cada gota que escapa pelos seus, e
nunca o vinho foi tão saboroso, tinha o sabor não apenas marcante
da uva, mas o gosto de amor da mia Amah.

— Amah? — falo após alguns minutos de silêncio, cada um preso em


seus próprios pensamentos, mas nossos corpos ainda imersos na
água continuavam a se acariciar, estando ainda o mais próximos se
possível.

— Sim?

— Por que você entrou no galpão? Eu pedi que ficasse no carro.

— Eu queria estar com você, Salvatore, não quero apenas o que você
me oferece quando estamos a sós. — Ela gira o corpo para que os
nossos olhos se encontrem. — Eu quero tudo de você, quero a
calmaria, mas também quero estar presente na tempestade.

— Você não tem medo?

— Sei que nunca me faria mal, você teve muitas chances de me


machucar, Salvatore, mas em todas elas escolheu cuidar de mim. Sei
que não sou capaz de protegê-lo de nada, então quero pelo menos
estar ao seu lado em todos os momentos.

— Mas eu não queria que você me visse daquela forma. — Sou


totalmente sincero e deixo que ela me veja além do que eu já tenha
permitido para qualquer pessoa.

— Mas é o que você é, Salvatore, eu não estou ao seu lado por te ver
como um príncipe encantado, eu estou ao seu lado porque você me
faz bem, você me tirou da inércia que a minha vida estava, ou melhor,
você me fez viver, antes de você eu apenas sobrevivia.
— Você não sabe o que diz, eu deveria pedir que se afastasse de
mim mas... — falo e beijo levemente os seus lábios.

— Mas?

— Eu não consigo, pela primeira vez eu não consigo fazer algo que
eu sei ser o certo.

— Eu sei, Salvatore, a tua presença me causa um frio na espinha,


mas não é medo, é expectativa. Quando estou com você é como se o
meu corpo saísse de um estado letárgico constante, tudo em mim
corresponde ao que há em você, eu não sei o que você está disposto
a me dar, mas eu aceito o que quer que seja, e mesmo que você não
admita eu sei que você também é melhor quando eu estou por perto,
e é por isso que eu sempre estarei, mesmo que você não queira, eu
estarei sempre ao seu lado.

— Não diga isso, mia Amah, não fale algo que não conseguirá
cumprir.

— A menos que você me quebre, eu sempre estarei com você, em


qualquer circunstância.

Eu a calo com um beijo e venero o seu corpo com o meu, no fundo eu


desejo que as suas palavras sejam o reflexo da verdade, eu a quero
para mim, a desejo como ao ar que respiro, mas ainda não consigo
dimensionar tudo o que me toma quando eu estou com ela.

E quando terminamos, com os lábios colados e a respiração ofegante


eu percebo que pela primeira vez, eu não transei, fodi ou fiz sexo por
prazer, eu amei Amapola com cada pedaço de mim.

Deitado em nossa cama enquanto acaricio suas costas para que ela
finalmente durma, após eu ter tomado para mim todas as forças do
seu corpo, faço um último comentário antes dela cair em sono
profundo, e a sua resposta ficará martelando em minha mente para
sempre.
— Talvez fosse melhor se você tivesse ido, eu não tenho muito o que
lhe oferecer, minha Amah — falei.

— Não diga isso Salvatore eu estou aqui porque quero, eu sei de


todos os riscos.

— Eu te fiz prisioneira e depois te deixei ir, não entendo o porquê


você ficou.

— Salvatore, — ela chamou minha atenção encarando meus olhos


profundamente, despindo toda a sua alma para mim — Você não me
aprisionou, eu fui até você procurar o meu pai, me prender foi uma
consequência, sendo quem é você não tinha outra opção.

— Não justifique os meus atos, Amapola.

— Eu não estou fazendo, isso. Eu enxergo os seus erros e as suas


falhas, mas tenha certeza de que se eu estou aqui é porque quero e
tenho plena consciência disso, nada e nem ninguém é capaz de me
prender a não ser a minha vontade de ficar, eu estou aqui e
permanecerei enquanto você me fizer bem enquanto eu quiser.

Eu não disse mais nada e nem ela, apenas refleti suas palavras
infinitas vezes até adormecer, mas principalmente com a certeza de
que eu faria o possível para que ela quisesse permanecer ao meu
lado para sempre.

Mia Amah, amore mio.


Capítulo 45
“Eu ainda era a mesma garota cheia de sonhos, metas e
expectativas eu ainda mantinha os pés no chão, só que agora
eles calçavam sapatos de grife, ou melhor eu não apenas
calçava, mas também me vestia assim.”

*Um ano depois

— Bom dia, cunhadinha! — Rico entra em casa como sempre de


surpresa e nos pega na mesa do café da manhã.

— Bom dia, Rico, pare de me chamar assim — falo, jogando o


guardanapo sobre o seu colo.

— Você não tem mais nada para fazer tão cedo? — Salvatore
pergunta irritado, ele sempre ficava assim quando Rico estava
presente.

Mesmo estando juntos há um pouco mais de um ano, ele ainda


mantém sua postura séria quando está na presença das outras
pessoas, apenas entre quatro paredes nós éramos plenamente nós
mesmos, sem máscaras e sem receios, talvez, apenas Ângela tenha
presenciado uma ou outra demonstração de carinho dele comigo.

— Pra ser sincero eu tenho, mas preferi vir falar com Amapola antes
de sair. Vim lhe desejar um dia maravilhoso repleto de tudo o que ela
sempre quis.

— Você fala como se fosse aniversário dela — Salvatore resmunga.

— Não seja tão insensível irmão, é como se fosse, nós sabemos o


quanto ela batalhou para conseguir finalmente concluir o curso, não é
mesmo? — Rico o encara.

— Você não poderá ir mesmo? — falo triste, eu me acostumei com a


presença deles, era como se fossem meus irmãos.

— Infelizmente não, principessa, seu querido chefe me encheu de


trabalho por hoje, mas prometo que depois vamos dar um jeito de
comemorar — Eu assinto com a cabeça.

— Lá vem o outro — Salvatore resmunga, quando vê Fabrizio entrar


com um imenso bouquet de flores do campo em suas mãos.

— Veio dizer que também não poderá comparecer? — Falo, o


encarando com uma carinha triste.

— Não faça essa carinha, bela. — Fabrizio me entrega as flores —


Agradeça ao seu querido chefe, por não nos dar um único dia de
folga.

— Se eu não tenho folga, por que darei a vocês? — Salvatore diz


irritado.

— Vamos embora Fabrizio, a fera está de mal humor hoje — Rico


fala, irritando-o ainda mais e Fabrizio sorri.

Ambos me cumprimentam antes de sair me desejando um dia


maravilhosos e muito sucesso à noite.

— Não faça essa carinha triste, mia Amah. — Salvatore deposita um


beijo em meus lábios e cola nossas testas quando paramos diante do
imenso spa.
— Mas eu queria ficar com você — falo baixinho, abraçando-o pelo
pescoço.

— Hoje é o seu dia, bella, quero que descanse e que esteja linda para
a noite — Acaricia o meu rosto com as costas das mãos.

— De que adianta eu estar linda se você não estará ao meu lado —


choramingo.

— Mas eu estarei em casa te esperando para jantar, mia bella, e


todos os meus pensamentos estarão com você — justifica e eu
concordo com a cabeça, embora tudo o que eu tenha dito seja o que
eu sinto de fato. Não gosto de ficar fazendo drama, sei os limites que
estar envolvida com a máfia me impõem.

— Nos veremos antes de eu sair para a cerimônia?

— É provável que não, mia principessa, mas estarei te esperando


quando voltar, eu prometo, — fala — Amadeu ficará com você, tudo
bem?

— Não precisa Salvatore.

— Já discutimos sobre isso antes. — Ele coloca uma mecha do meu


cabelo atrás da orelha, me deixando claro que não há espaço para
discutirmos quanto a isso. — Amadeu? — Ele aperta o botão que
abaixa o vidro que nos separava dos seguranças.

— Sim, senhor?

— Você ficará com Amapola hoje durante todo o dia, esteja atento e
não saia de perto dela.

— Não se preocupe, chefe. — Ele sobe novamente o vidro que nos


separa e me beija, me deixando praticamente sem fôlego.

Esses pequenos momentos em que temos que agir como se não


tivéssemos algum envolvimento me incomodam às vezes, mas eu tive
que aprender a lidar com isso também, o melhor era nunca criar
expectativas.

Entro no espaço com Amadeu em minha cola, esse foi o meu


presente de formatura, dado por Salvatore, é lógico que sutilmente
ele havia me dado outras coisas, mas eu não o deixei pagar pela
cerimonia e pelo meu vestido, o que nos gerou uma imensa
discussão, mas não cedi.

Eu não gostava dessa bajulação que as pessoas me dispensavam


quando me viam escoltada por um segurança, e eu nunca estava
sozinha. Salvatore era alucinado por controle e segurança, ele dizia
que o mais importante era que eu estivesse bem, as pessoas só
faltavam se ajoelhar diante de mim, mal sabiam elas que nada
daquilo me pertencia, todo esse glamour fazia parte do pacote
completo que era Salvatore Dalla Costa, eu só aceitei pagar o preço.

Esse foi definitivamente o melhor ano da minha vida, eu pude


finalmente viver tudo o que sempre sonhei, pude estudar com
tranquilidade, trabalhar em uma empresa que muito me acrescentou
profissionalmente, pude ajudar o meu pai não apenas
financeiramente, mas dando-lhe o tratamento adequado para o seu
vício em álcool e muito amor e carinho, mas sem dúvidas estar ao
lado de Salvatore era o que mais me fazia feliz.

Ele foi o meu alicerce quando eu mais precisei, paciente quando o


trabalho e os estudos tomaram a minha sanidade e controle, e
principalmente foi o meu abrigo, meu amor e o melhor amante que
poderia existir. Apesar de todo o seu trabalho e de toda a sua
obrigações com la famiglia, ele esteve sempre atento às minhas
necessidades.

Nesse último ano eu amadureci como pessoa e como mulher, aprendi


a me impor, embora continuássemos mantendo a nossa relação
profissional na empresa, fora dela eu segui com os conselhos de
Ângela soube ser sábia, não adiantava bater de frente com ele. A sua
posição exigia sempre o controle absoluto de tudo então eu entendi
como lidar com ele aos poucos. Hoje, eu sabia que diferente do Chefe
da máfia Dalla CostaI, Salvatore às vezes se deixava conduzir e eu
ficava feliz por ser apenas meu esse privilégio, eu sabia a ditar as
regras que estavam disfarçadas de obediência e ele mal havia se
dado conta disso.

Reformei a casa onde vivi toda a minha vida com meus pais, eu e
Salvatore concordamos que ele precisava de uma ocupação, sua
mente não poderia ficar parada, então, agora ele trabalhava fazendo
entregas para uma das empresas legais de Salvatore. Ele havia
perdido tudo no maldito acidente, inclusive as oportunidades de
trabalho, e devolvendo isso a ele, Salvatore lhe deu ânimo uma nova
perspectiva e motivação para acordar todos os dias.

Vez ou outra, ele vinha me visitar, ainda ficava receoso na presença


de Salvatore, acredito que por se envergonhar da sua atitude quando
o conheceu, mas eu notava que assim como ele, Salvatore também
ficava com o mesmo sentimento pela forma que nos conhecemos.

Eu nunca disse abertamente ao eu pai o que havia entre mim e


Salvatore, mas sabia que ele suspeitava, nós estávamos sempre
juntos em qualquer situação, e principalmente, eu morava com ele,
não era comum uma funcionária morar com o seu patrão.

No fundo, eu o agradecia silenciosamente por nunca me perguntar


claramente ou me julgar por me permitir viver uma situação assim,
mas acreditava que ele enxergava que Salvatore me fazia bem, ou
melhor nos fazia bem.

Hoje é a minha formatura, o dia que eu e os meus pais tanto


sonhamos, mas fico feliz por ter além dele outras pessoas com quem
compartilhar, Salvatore, Rico, Fabrizio, Amadeu e Ângela, pouco a
pouco, se tornaram muito especiais para mim.

Eu só não estou ainda mais feliz porque além do meu papà, apenas
Amadeu e Ângela me acompanharão na cerimônia. Não é qualquer
evento que eles participam, e quanto a nós dois sempre mantivemos
discrição quanto ao nosso relacionamento, que até hoje não
nomeamos.
Eu amo Salvatore, embora nunca tenha dito isso para ele com
palavras, não tenho dúvidas do que sinto, mas resguardo o mínimo
do meu coração com medo de que em algum momento ele o parta.

Durante o ano, como éramos vistos muito juntos, algumas pessoas


especularam um possível relacionamento entre nós, mas demos um
jeito de sempre calar os boatos.

Era por isso que ele não poderia comparecer à cerimônia, quem
acreditaria que um homem em sua posição acompanharia a sua
secretária em sua formatura? Eu entendia, mas isso não diminua a
minha tristeza por sua ausência em um momento tão importante para
mim.

Após um dia regado de cuidados, massagens, penteados,


maquiagens, depilação, unhas e tudo o mais que era preciso o
resultado realmente não poderia ser diferente do que vejo ao me ver
totalmente arrumada diante do espelho do meu quarto, eu ainda
mantinha as minhas coisas ali, mesmo que não tenha dormido mais
no ambiente desde que voltamos de Palermo.

O espelho reflete uma mulher segura de si, e satisfeita por tudo o que
conquistou, giro mantendo os olhos no reflexo e admiro o quanto eu
havia mudado. Eu ainda era a mesma garota cheia de sonhos, metas
e expectativas, eu ainda mantinha os pés no chão, só que agora eles
calçavam sapatos de grife, ou melhor eu não apenas calçava, mas
também me vestia assim.

Há um ano atrás, eu sequer imaginava poder concluir o meu curso e


estar na posição que estou, também nunca esteve nem no meu mais
remoto sonho.

Eu escolhi para a noite um vestido dourado de mangas soltas, que se


prendia por um botão em meu pescoço e toda minhas costas ficavam
expostas até a altura da cintura em um imenso circulo aberto, o
decote frontal ia até um pouco abaixo da linha dos seios, que se
cruzava, deixando uma abertura nas laterais da cintura, desse ponto
para baixo ele era colado até o início das coxas, onde se abria
rodado, dando um movimento incrível ao meu corpo, nos pés uma
sandália de tiras da mesma cor.

Meu cabelo estava amarrado em um coque alto com alguns fios


soltos, e a maquiagem que fizeram destacava ainda mais os meus
traços, os meus olhos estavam definitivamente um show à parte.

Controlo as lágrimas para não estragar a produção, eu queria estar


linda até o fim da noite para que Salvatore pudesse me ver. Ligo para
o meu pai avisando-o que em cerca de vinte minutos eu passarei com
Amadeu para buscá-lo, ainda de frente para o espelho, eu não
consigo desviar os olhos de mim, é como se eu estivesse em um
conto de fadas, só lamento por meu príncipe encantado não estar ao
meu lado no momento.
Capítulo 46
“Não importa o que vão pensar, Amapola, já chega de toda essa
merda, de querer tocar em você e não poder, de ficarmos nos
esgueirando pelos cantos, hoje durante todo o dia eu me
martirizei por não estar com você, e resolvi que ser o dono de
toda essa merda deve me servir para algo.”

Ainda diante do espelho, vejo a porta do quarto se abrir e imagino que


seja Ângela, mas ao procurá-la pelo reflexo vejo o homem mais lindo
que conheço e o meu coração quase para.

Vestido com um terno preto de três peças e gravata borboleta,


Salvatore entra lentamente no quarto parando atrás do meu corpo,
prendo a respiração ao nos enxergar enquadrados na moldura que
nos reflete, eu queria poder congelar esse momento, essa imagem,
para que eu nunca mais esquecesse.

— Tu sei belíssima, amore mio

— Salvatore? Você...

— Sim, mia Amah, eu vou com você — Avisa e o sorriso que faltava
toma o meu rosto.

— Mas e o que vão pensar? Tudo o que nós conversamos? Você não
pode. — Ele coloca os dedos em meus lábios me calando.

— Não importa o que vão pensar, Amapola, já chega de toda essa


merda, de querer tocar em você e não poder, de ficarmos nos
esgueirando pelos cantos, hoje durante todo o dia eu me martirizei
por não estar com você, e resolvi que ser o dono de toda essa merda
deve me servir para algo. Qualquer um que ousar questionar minha
decisão, eu farei questão de calar, quem ousar te desmerecer eu
matarei, então sim, Amapola, já estamos juntos há tempo demais eu
não vou mais me privar da sua companhia, a única coisa que me faria
desistir é se você não quiser que eu a acompanhe.

— É o que eu mais quero, Salvatore, foi o que eu pedi aos anjos


durante todo o dia, que você estivesse ao meu lado.

— Eu estou, mia bella, e sempre estarei, agora nós precisamos ir


para que você não se atrase. — Ele segura em minha cintura e me
gira de volta para a frente do espelho, se abaixa e pega uma caixa de
veludo que ele havia colocado sobre a cama e eu sequer tinha visto
por estar tão hipnotizada com sua chegada.

— Mas antes, falta apenas isso para que você esteja perfetta. — Ele
coloca o colar em meu pescoço e eu o encaro pelo reflexo espantada.

— Salvatore, isso é demais, eu não posso aceitar. — Levo as mãos


até a peça, tocando com cuidado as pedras que tenho certeza serem
diamantes.

— Você pode, mia bella, isso é o meu primeiro presente para a mia
fidanzata.

— Namorada? — pergunto espantada.

— A partir de hoje vamos nomear o que temos, amore mio — Ele tira
da caixa um par de brinco que eu coloco ainda antes de sairmos do
quarto e descermos as escadas de braços dados, espantando Rico,
Fabrizio, Amadeu e Ângela que nos aguardavam. O sorriso que já era
grande, aumenta ainda mais, no final todas as pessoas mais
importantes para mim estarão comigo.

Era tanta alegria que eu mal cabia em mim, entre fotos discursos
homenagens e horarias durante toda a cerimônia, eu não desviava o
olhar dele e quase arfei quando reconhecida as suas presenças. Ele,
Fabrizio e Rico foram convidados para compor a mesa de honrarias,
um discurso para eles foi entoado, exaltando as suas qualidades
como empresários de sucesso, é lógico que a máfia não foi citada,
mas todos ali sabiam quem eram eles. Era nítido como as pessoas
praticamente se curvavam para que os homens passassem.

Eu não poderia ficar ainda mais feliz, pois eles estariam literalmente
ao meu lado quando eu recebesse o diploma. Todos se perguntavam
silenciosamente o que eles faziam ali, da parte de quem teriam
comparecido à cerimônia, eu jamais dei a entender que tivesse
qualquer vínculo com eles, principalmente, pela discrição que a minha
função pedia, mas quando o meu nome foi chamado todos
descobriram o motivo deles estarem ali.

Salvatore se levantou e tomou o diploma das mãos do homem que


me entregaria e ali, na frete de todos, selou o nosso destino com um
beijo. Sussurros e suspiros foram ouvidos por todo o salão, quando
nos afastamos notei também a decepção na face de algumas
mulheres, mas nada importava, apenas eu e ele.

Vi quando Rico e Fabrizio discretamente saíram da mesa e seguiram


na direção dos fotógrafos que avidamente capturavam o momento
com suas câmeras, mas nem eu e nem Salvatore nos importamos,
nós estávamos felizes e ninguém ia tirar o nosso brilho. Eu não parei
de sorrir um segundo sequer até o final da cerimônia, Salvatore
manteve a sua postura austera e arrogante, ele já havia feito muito
além do que eu poderia esperar.

Após receber os cumprimentos da mesa, que agora dispensavam a


mim uma atenção exagerada, descemos para comemorar com os que
vieram por mim, Ângela ostentava um sorriso tão grande no rosto que
espelhava o meu, Amadeu tinha um brilho de satisfação nos olhos,
assim como Rico e Fabrizio, meu pai não podia estar mais feliz, mas
não deixou de soprar em meu ouvido quando nos abraçamos “depois
nós teremos que conversar, mocinha”, não é como se ele pudesse
me proibir, mas ele era meu pai, afinal, eu já deveria ter-lhe contado.

Papà colocou em minha cabeça a tradicional coroa feita de folhas de


louro que simboliza a vitória.

— Vamos jantar em algum restaurante? — perguntei a Salvatore

— Não, Amah, pedi que Ângela preparasse uma pequena recepção


para nós em casa — avisa e eu fico ainda mais surpresa. — Vamos?
— chama.

Comunico a todos os nossos planos e entramos junto com meu pai no


carro para irmos para casa, o sorriso não me escapava dos lábios
mesmo com a tensão instalada entre o meu pai e Salvatore, era como
se um estivesse aguardando o melhor momento para falar com o
outro, e esse momento chegou após jantarmos e brindarmos com
Champagne e o meu pai e Ângela com suco à minha vitória.

— Senhor Leopoldo? — Salvatore enlaçou minha cintura, trazendo


para mais perto dele. — Eu preciso falar com o senhor.

— Eu estava esperando por isso, signore — papà fala com segurança


e eu fico nervosa.

— Papà, por favor — começo a falar e ele me interrompe.

— Não se meta, Amapola, isso é uma conversa entre homens — fala


e eu vejo o meu pai tão menor em tamanho do que Salvatore se
agigantar de repente.

— Peço desculpas por não ter falado antes com o senhor —


Salvatore começa. — Sei que Amapola é tão preciosa para o senhor
quanto se tornou para mim, e enquanto pai, entendo que esteja
chateado por saber da nossa situação junto com os demais.

— Estou mesmo, eu não esperava isso da minha filha — Alterna os


olhos entre mim e Salvatore.

— Eu entendo, senhor, mas peço que compreenda que a minha


posição às vezes exige que eu me resguarde um pouco, nem sempre
tudo o que eu faço pode ser de conhecimento de todos — Salvatore
fala, assumindo toda a culpa quando eu sei que na verdade ele teria
falado desde o primeiro dia que o convidei para tomar café conosco.

— Quero deixar claro que eu não sou qualquer um, eu sou o papà
dela, mas não se preocupe, Salvatore. Eu estimo essa relação, eu
vejo o quanto você fez não apenas por ela, mas também por mim...

— Senhor Leopoldo — Salvatore o interrompe, mas meu pai ergue


uma das mãos em um gesto que deixa claro que ele precisa falar.

— Eu não me refiro ao luxo e as coisas materiais, sei que criei muito


bem minha filha, junto com a minha falecida esposa, que Deus a
tenha. — Faz o sinal da cruz — E essas coisas não enchem os olhos
da minha Amah, se o senhor ganhou o seu coração é porque é um
homem bom, apesar de tudo o que faz e enquanto você a respeitar e
a fizer feliz eu lhes dou a minha benção.

— Muito obrigada, senhor Leopoldo, mio suocero. — Eles apertam as


mãos e eu o abraço, agradecendo a sua compreensão e as suas
palavras.

— Agora, mia bambina, vou me despedir de todos, seu velho não


suporta mais essas comemorações extensas.

— Fique e durma aqui conosco — convido.

— Não, bambina, prefiro minha casa, mas agradeço a gentileza — ele


fala e Salvatore pede que um dos seus homens o acompanhe.

Assim como papà, pouco a pouco todos se despedem até que reste
apenas eu e ele.

— Quer mais uma taça de Champagne? — Salvatore oferece.


— Si, amore mio — falo com um sorriso nos lábios.

— O que disse? — Salvatore pergunta, eu jamais disse essas


palavras a ele, embora ele por vezes me chame assim, eu
demonstrava o meu amor e o meu carinho de outras formas.

— Si, amore mio — repito e ele caminha lentamente em minha


direção com a duas taças cheias do líquido borbulhante.

— Repete?

— Mio amore, amore mio, ti amo Salvatore Dalla Costa — falo e os


meus lábios são tomados pelos seus em um beijo cheio de
significados e promessas.

— Dança comigo, mia moglie. — Ele tira o celular do bolso e eu sei


que é para conectá-lo ao sistema de som da mansão.

— Claro que sim, il mio uomo. — Ele joga o celular sobre o sofá e
cola os nossos corpos quando as primeiras notas soam no ambiente,
minha garganta se fecha com o reconhecimento.

Não é apenas uma dança entre amantes, não é apenas uma


confissão de amor eterno, a música que ele me dedica é uma
devoção e uma promessa de amor eterno, e apaixonada por ele na
mesma medida, eu acompanho o seu corpo e a sua voz grave em
meu ouvido que cantava cada palavra dita e repetindo com fervor
enquanto nossos olhos não se desviavam um segundo sequer.

Vivo per lei da quando sai


La prima volta l'ho incontrata
Non mi ricordo come ma
Mi è entrata dentro e c'è restata
Vivo por ela, desde
A primeira vez que eu a conheci
não me recordo como foi
que há me conquistado
Vivo per lei perché mi fa
Vibrare forte l'anima
Vivo per lei e non è un peso
vivo por ela que me dá
toda minha força de verdade
vivo por ela e não me pesa
Vivo per lei anch'io lo sai
E tu non esserne geloso
Lei è di tutti quelli che
Hanno un bisogno sempre acceso
Come uno stereo in camera
Di chi è da solo e adesso sa
Che è anche per lui, per questo
Io vivo per lei
vivo por ela eu também
e não há razão pra ter ciúmes
ela é tudo e mais além
como o mais doce dos perfumes
ela vai onde quer que eu vá
não deixa a solidão chegar
mais que por mim
Eu vivo por ela
È una musa che ci invita
A sfiorarla con le dita
Atraverso un pianoforte
La morte è lontana
Io vivo per lei
É uma musa que nos chama
a sonhar com coisas lindas
Através de um piano
a morte não existe se
Eu vivo por ela
Vivo per lei che spesso sa
Essere dolce e sensuale
A volte picchia in testa ma
è un pugno che non fa mai male
Vivo por ela que muitas vezes sabe
Ser doce e sensual
Algumas vezes bate na cabeça mas
É um soco que nunca faz mal
Vivo per lei lo so mi fa
Girare di città in città
Soffrire un po' ma almeno io vivo
È un dolore quando parte
Vivo por ela eu sei que me faz
Girar de cidade em cidade
Sofri um pouco, mas pelo menos eu vivo
É uma dor quando parte
Vivo per lei dentro gli hotels
Con piacere estremo cresce
Vivo per lei nel vortice
Attraverso la mia voce
Si espande l'amore produce
Vivo por ela dentro dos Hotéis
Com prazer extremo cresce
Vivo por ela em um abismo
Através a minha voz
O amor se expande e produz
Vivo per lei nient'altro ho
E quanti altri incontrerò
Anchè come me hanno scritto in viso
Vivo por ela e nada mais eu tenho
E quantos outros encontrarei
Que como eu tem escrito na testa
Io vivo per lei
Io vivo per lei
Sopra un palco o contro ad un muro
Eu vivo por ela
Eu vivo por ela
Em cima de um palco ou contra um muro
Vivo per lei al limite
Anche in un domani duro
Vivo per lei al margine
Ogni giorno una conquista
La protagonista sarà sempre lei
Vivo por ela até o limite
Até em um amanha duro
Vivo por ela na beira
Em cada dia uma conquista
A protagonista será sempre ela
Vivo per lei perché oramai
Io non ho altra via d'uscita
Perché la musica lo sai
Da vero non l'ho mai tradita
Eu vivo para ela, porque agora
Eu não tenho outra saída
Porque a música sabe
Sinceramente nunca à trai
Vivo per lei perché mi da
Pausa e note in libertà
Ci fosse un'altra vita la vivo
La vivo per lei
Vivo por ela porque me da
Pausas e notas em liberdade
Se tivesse outra vida eu a vivo
Eu vivo por ela
Vivo per lei la musica
Io vivo per lei
Vivo per lei è unica
Io vivo per lei
Vivo por ela a musica
Eu vivo por ela
Vivo por ela que é única
Eu vivo por ela

As últimas notas de Vivo per lei de Andrea Bocelli, terminam e as


minhas lágrimas desabam, eu não poderia desejar nada além desse
momento, mas ainda assim pela primeira vez, Salvatore se despe
totalmente diante de mim.

— Ti amo, mia Amah, desde a primeira vez que os meus olhos


caíram sobre você. Você foi o meu primeiro e o meu último
pensamento todos os dias, obrigada por ficar e ser minha.

Ele me beija, se abaixando em seguida e subindo as escadas comigo


em seus braços, nós nos amaríamos com o nosso corpo e
reafirmaríamos tudo o que as nossas palavras disseram, hoje muitos
passos foram dados, e eu estava mais do que satisfeitas com cada
um deles.
Capítulo 47
"As lágrimas que caem do meu rosto ao ver a foto deles juntos
são amargas, mas eu as farei ficar doce quando enfim conseguir
afastá-los e eu farei, custe o que custar. "

— Papai? mamãe? Mandaram me chamar? — pergunto após entrar


no escritório.

— Você já viu a notícia destaque em todos os jornais e revistas do


país? — papai fala exasperado, atirando vários papeis em minha
direção.

— O que é isso? — Fico chocada ao ver a imagem de Amapola e


Salvatore estampada em todos os lugares.

— Precisa mesmo que eu te fale o que é isso Carlota — papai rosna.

— Se acalme, querido, nós vamos dar um jeito. — Mamãe tenta


amenizar, mas eu ainda estou em choque.

— Eu te criei para ser esposa do chefe, Carlota. Você — ele aponta


para mamãe — não fez o seu trabalho como deveria, são duas
incompetentes. — Papai está mais nervoso do que é de costume.

— Eu fiz tudo o que podia, papai — falo com lágrimas nos olhos.
— Não Carlota, você não fez. No último ano eu te coloquei diante de
Salvatore todas as vezes que pude, te ofereci de bandeja a ele e você
não conseguiu agarrar o prêmio. Agora, teremos em nosso meio uma
mulher que sequer faz parte da nossa famiglia, isso é uma vergonha.

— Querido, Carlota fez o que pode, eu sou testemunha, ela o cercou


em todas as festas, esteve sozinha com ele em todas as
oportunidades, mas ultimamente ele a desprezava, o que a menina
poderia fazer?

Vejo os dois discutindo como se eu não estivesse presente, era assim


na máfia, nós, os filhos, estávamos fadados a cumprir aquilo que nos
fosse designado, o casamento ou a morte, não importava, não nos
cabia questionar.

Toda essa situação estava mexendo comigo de uma forma diferente,


não era apenas uma decisão que viera do meu pai. Eu queria
Salvatore com todas as minhas forças, eu o amei desde a primeira
vez que o vi no meu baile de quinze anos.

Ele havia sido convidado por papai, é claro que ele seria, era a forma
de apresentar ao futuro chefe a sua bela filha.

Assim como de seus irmãos, Salvatore estava acompanhado dos


seus pais, na época, ele era apenas um aprendiz, seu pai era o Dom,
mas ele já demonstrava toda a sua força e domínio.

Todos já se curvavam diante da sua presença, quando papai sugeriu


que ele me acompanhasse na valsa de debutante e ele aceitou, foi
naquele momento que eu me apaixonei. O seu olhar penetrante, o
seu rosto insondável, nenhum sorriso escapou dos seus lábios, mas
eu quis beijá-lo.

Naquele dia eu decidi que me tornaria a mais bela, educada, forte e


perfeita entre as filhas dos capos, eu seria a esposa ideal e ele não
teria como escolher outra que não fosse eu para desposar.

Quando eu já estava com vinte e quatro anos, papai deu uma festa
para comemorar a minha graduação, eu havia odiado ter que fazer
faculdade, mas sabia que iria me ajudar. Afinal, o chefe não iria
querer ao seu lado alguém que não fosse inteligente o suficiente.

E foi nesse dia que eu me entreguei a primeira vez a ele, eu não era
mais virgem, e deixei isso claro para ele enquanto o seduzia, ele
disse que não iria me corromper para que não fosse obrigado a
casar-se, Salvatore deixou claro que postergaria esse momento o
quanto pudesse.

Durante todos esses anos, todas as minhas ações foram calculadas


para o manter o mais próximo possível de mim, passei a ajudar papai
nos negócios e no cassino, foi a melhor maneira que encontrei de
estar cada vez mais próxima de Salvatore. Mesmo preferindo estar
em casa e fazer compras com minhas irmãs, eu fingia estar
interessada nos negócios da familgia, e essa proximidade fez com
que fizéssemos sexo mais algumas vezes.

Não era um relacionamento, Salvatore sempre fez questão de deixar


isso muito claro, mas depois de ter assumido como chefe da Máfia
Dalla Costa, nós sabíamos que estava cada vez mais perto dele
anunciar quem seria sua esposa. Quando ele começou a marcar os
jantares com as famiglias, eu fiquei radiante, mas quando ele
desmarcou o jantar de retorno em nossa casa, eu fiquei frustrada,
podia apostar com qualquer pessoa que naquela noite ele anunciaria
o nosso noivado, mas ele não veio.

Um pedido de desculpas, e uma justificativa dada pelo seu consigliere


foi a única coisa que tivemos.

Na mesma semana, papai deu um jeito de fazer eu me encontrar com


ele, e foi aí que essa criaturazinha apareceu em nossas vidas. Não
sei de onde ela surgiu, só sei que se estabeleceu como sua
secretária, arrogante e prepotente, Amapola sempre estava onde
quer que Salvatore estivesse.

Pedi aos meus homens que a seguissem, que descobrissem algo


sobre ela, mas nada de útil foi acrescentado, a menina tinha apenas o
pai, e morava no complexo assim como os empregados mais
próximos de Salvatore.

Mas eu sabia que existia algo além disso, e constatei quando os vi


juntos no banheiro de um dos galpões quando Salvatore torturava um
traidor. Naquele dia, eu saí de lá arrasada, era como se o chão
tivesse sido arrancado dos meus pés, contei tudo para mamãe e ela
me garantiu que provavelmente ele apenas se divertia com ela.

Era comum que homens da máfia tivessem outras mulheres, ela disse
que eles poderiam sair com qualquer uma, mas que se casariam
apenas com uma legítima filha da famiglia, ainda mais sendo ele o
chefe.

Mesmo triste, eu aceitei o que ela disse, eu não queria dividi-lo com
ninguém, mas estava disposta a fazê-lo entender isso após o nosso
casamento.

Entretanto não foi o que aconteceu, no último ano ela esteve cada
vez mais próxima dele, ouvi de um soldado que ela morava com ele
em sua casa, e que era tratada por ele como sua moglie, ninguém
tinha permissão para estar perto dela além do chefe e dos seus
homens de confiança.

Mesmo mamãe tentando me tranquilizar, eu sabia que havia algo a


mais, que Salvatore poderia em algum momento se rebelar e ir contra
as nossas tradições, mas eu não podia fazer nada.

As lágrimas que caem do meu rosto ao ver a foto deles juntos são
amargas, mas eu as farei ficar doce quando enfim conseguir afastá-
los e eu farei, custe o que custar.

— Me coloque junto dele amanhã, papà. Eu darei um jeito nessa


bagunça — falo determinada, interrompendo o diálogo exasperado
entre os dois. Papai culpava mamãe por eu não o ter conquistado e
mamãe tentava se justificar.

— O que vai fazer, minha filha?


— Ainda não sei, mamãe, mas darei um jeito — aviso determinada.

— Se você encostar nela ele vai matá-la, Carlota, não seja burra, não
acha que essa foi a primeira coisa que eu cogitei ao ver essa notícia?

— Sim, papà eu sei, mas seu eu encostar nele. Ela o deixará, e é


exatamente isso que eu farei — falo com um sorriso nos lábios,
começando a traçar um plano.

— Faça o que for preciso, eu lhe darei cobertura — ele avisa. — Caso
seja necessário fique grávida dele. — Mamãe o olha chocada, porque
sabe que mesmo que essa opção seja uma saída, por outro lado me
desonrará diante da família.

— Não será preciso, papai. Fique tranquila, mamãe, amanhã à noite


eles não estarão mais juntos, palavra de Carlota Carbone — falo me
pondo de pé.

— É a sua última chance, Carlota, se você não conseguir resolver


essa situação, pode estar pronta para casar com qualquer outro capo,
não me interessa quem seja, eu só não vou mais esperar para criar
alianças e depender da sua incompetência em prender um homem.

— Não será preciso, papai. Eu fui criada para ser a esposa do Dom e
assim será — digo segura, embora o meu coração esteja acelerado.
Eu preciso de alguma forma ficar sozinha com Salvatore amanhã, já
sei exatamente o que farei.
Capítulo 48
“Eu nunca deveria ter entrado em sua vida, Salvatore, não faço
parte dessa famiglia e nunca farei. Eu sou apenas o seu
segredinho, presa dentro das paredes dessa casa, é por isso que
ficou tão irritado? Por que as pessoas agora descobriram o que
você escondeu por um ano?”

Eu não podia estar mais feliz e ao mesmo tempo mais desesperada,


algum dos jornalistas conseguiu driblar Rico e Fabrizio e ficar com
uma foto do nosso beijo que no dia seguinte estava estampada em
todos os jornais Italianos.

“Salvatore Dalla Costa assume romance com secretária”

“Seria a escolhida de Salvatore Dalla Costa tão gelada quanto ele?”

“Com um beijo, aparentemente apaixonado e público, Salvatore Dalla


Costa assume relacionamento”

“Descubra quem é a mulher que conquistou o chefe Salvatore Dalla


Costa”

“Olhos nos olhos, corpo a corpo, Salvatore Dalla Costa e sua


escolhida parecem se completar”
“Teremos um casamento em breve?

“O que esperar quando o homem mais gélido da Itália resolve


aquecer o coração?”

“Não foi o primeiro beijo”

“O beijo da fera”

— É isso, cunhadinha, você está famosa — Rico fala após chegar ao


escritório de Salvatore e me encontrar analisando as capas.

— Já descobriram quem vazou?

— Assim que vi as manchetes eu imaginei quem foi

— E por que não disse a ele? — pergunto, sinalizando a sala de


Salvatore com o polegar, ele está uma fera desde que chegamos ao
escritório e descobrimos toda repercussão do nosso momento.

— Porque esse é um assunto que eu quero tratar pessoalmente, vou


dizer agora, mas quero que ele deixe por minha conta o que farei. —
Ergue a sobrancelha — Do jeito que ele estava insano, a ordem seria
de execução imediata, mas ninguém que me dá uma volta e
consegue um fim tão rápido e indolor assim. — Percebo a raiva em
sua voz.

— E quem foi?

— Valentina De Fiore, uma jornalistazinha com cara de anjo e malícia


de uma diaba.

— E o que você fará com ela?

— Ainda não sei, cunhadinha, mas com certeza irá se arrepender por
ter a língua grande e os dedos tão ágeis — fala, seguindo para a sala
de Salvatore. Sorrio ao olhar nossa foto estampada mais uma vez,
isso de fato nos trouxe muitos problemas, mas não posso negar que é
a foto mais linda que já vi na vida.
O dia foi um verdadeiro inferno, mas eu não imaginava que
estaríamos rodeados por repórteres querendo um furo, uma palavra
ou uma outra foto nossa juntos quando saímos do escritório. Eu não
sabia como, mas até a saída exclusiva que tínhamos estava cercada.

— Você está arrependido — falo quando paramos na porta da


mansão, todo o trajeto fora feito em silêncio até aqui.

— Não é isso, Amapola. O problema é que eu não gosto desse tipo


de exposição, eu nunca tive a minha vida pessoal estampada em
qualquer lugar, isso não é bom para os negócios.

— Mas eu não faço parte do seu negócio, Salvatore, essa é também


a minha vida, e eu não estou tão incomodada quanto você, mesmo
estando tão exposta quanto.

— Não me faça rir, Amapola. Você jamais esteve na minha posição,


não conhece as minhas obrigações então não se compare a mim.

— O que disse? — pergunto chocada, há muito tempo ele não era


rude comigo, nós nos dávamos bem.

— Não me faça repetir, você ouviu bem. — Abre bruscamente a porta


do quarto e irrompendo para dentro.

Nós havíamos entrado em casa tão exasperados que seguimos direto


para o quarto, sequer respondemos o cumprimento de Naná, eu
precisava lembrar de lhe pedir desculpas depois.

— Ouvi, Salvatore, mas quero ter certeza se interpretei da forma


adequada.

— Você não é burra. — Olha em meus olhos friamente, enquanto


desabotoa a camisa social que vestia.

— Então é isso? Eu fui um erro, ou melhor, sou um erro para você. —


Constato. — Eu nunca deveria ter entrado em sua vida, Salvatore,
não faço parte dessa famiglia e nunca farei. Eu sou apenas o seu
segredinho, presa dentro das paredes dessa casa, é por isso que
ficou tão irritado? Por que as pessoas agora descobriram o que você
escondeu por um ano?

— Se eu não a quisesse, você nem estaria mais aqui, então não


coloque palavras em minha boca e não distorça o que eu falo.

— Então pare de reafirmar que sou sua apenas aqui, dentro dessa
casa, entre quatro paredes, onde ninguém mais pode ver. Por que
você não pode assumir logo o nosso relacionamento? Por que não
acaba com isso de uma vez? — pergunto com as lágrimas
começando a encher os olhos, de repente eu me senti diminuída,
como se eu valesse muito pouco para ele.

— Porque na máfia as coisas não acontecem dessa forma, Amapola,


não posso fazer o que eu quero sem dar satisfações — fala, ligando o
chuveiro.

— Eu estou cansada disso: máfia, máfia e máfia. — digo exasperada

— Essa é a única coisa que eu tenho a lhe oferecer, Amapola, essa é


a minha realidade. Eu e a máfia somos um só, não posso me
distanciar das minhas obrigações para fazer o que você quer.

— Então, eu tenho que me conformar que essa será a minha posição


Salvatore? Não espere que eu seja o seu segredinho sujo para
sempre.

— Você não é e nunca será meu segredinho sujo, mi amore, venha


aqui — Ele me chama e eu nego. — Me dê um tempo para que eu
resolva as coisas, Amapola, eu te prometo que ficará tudo bem — ele
fala e eu saio do banheiro, resolvo tomar banho sozinha para refletir
sobre tudo o que ouvi.

Eu nunca cobrei nada de Salvatore, nunca o pressionei para que me


assumisse como sua mulher, mas não gostei de vê-lo tão irritado
apenas por as pessoas terem descoberto o nosso relacionamento.
Eu já havia lhe dito mais cedo que era só ele fazer uma nota de
esclarecimento, ser evasivo e tudo ficaria bem, as pessoas sairiam do
nosso pé, mas Salvatore Dalla Costa não estava acostumado a dar
satisfações a ninguém, mesmo que isso lhe tirasse a paz.

***

Dormimos juntos embora nunca tenhamos estado tão afastados, cada


um preso em seu próprio mundo, com as suas próprias dúvidas e
questionamentos.

Quase me soquei quando eu acordei durante a madrugada e me dei


conta de estar grudada ao seu corpo, com certeza foi força do hábito,
mesmo que involuntariamente o meu corpo procurou o dele.

Tentei me afastar com calma para não o acordar, mas era Salvatore
Dalla Costa ao meu lado, o homem que estava sempre alerta mesmo
quando dormia, e ouvir sua voz me mandando ficar, me fez derreter
um pouquinho.

Eu amava esse homem com todas as minhas forças. E ainda pela


manhã, quando ele me pediu desculpas por sua grosseria eu não
resisti em perdoá-lo, já ouvi dizer, mas nunca havia experimentado e
de fato sexo de reconciliação era maravilhoso.

Deixei claro que precisaríamos resolver a nossa situação e ele me


pediu um tempo, apenas para comunicar aos capos, ele marcaria no
início da próxima semana uma reunião.

Embora ainda houvesse um ou outro jornalista à espreita, os


seguranças haviam dado um jeito de afastá-los, por isso a chegada
no escritório hoje foi mais tranquila, agradeci por não o ver irritado
logo no início da manhã.

O dia foi passando e eu me concentrei em responder os milhões de e-


mails com pedidos de declarações, fotos e entrevistas direcionados a
nós dois, quase não saí da minha sala, eu tinha uma desde quando
sua secretária voltou a trabalhar. Eu era responsável pelos assuntos
mais pessoais de Salvatore, ou seja, os da máfia, mas por hoje
resolvi apenas a nossa situação.

Quando respondi o último e-mail por volta de quatro horas da tarde,


eu sabia que Salvatore ficaria satisfeito por eu ter conseguido
despistar a todos, por isso fui até sua sala para lhe contar a novidade,
encontrei a mesa de sua secretária vazia, e Amadeu também não
estava, estranhei pois nunca ficava sem ninguém ali, a não ser que
Salvatore tivesse saído.

— Dona, Amapola — a mulher fala quando eu já alcançava à porta da


sala de Salvatore.

— Já disse que não precisa me chamar assim.

— Mas é que depois de ontem. — Ela dá de ombros envergonhada,


mas deixando claro estar ciente das últimas notícias.

— Deixa de bobagem, garota. — Sorrio. — Nada disso importa, aqui


na empresa eu sou tão funcionária quanto você, tudo bem? — Ela
sorri com a minha fala, provavelmente achava que eu iria mudar da
água para o vinho após me envolver com Salvatore, mal sabia ela
que eu já estava com ele antes mesmo de vir trabalhar aqui.

— A propósito, vocês estavam lindos e formam um belo casal.

— Obrigada — sussurro com um sorriso nos lábios. — Salvatore


saiu? — pergunto estranhando a calmaria.

— Não senhorita, ele está em reunião.

— Ainda bem que você chegou, eu ia até sala e iria interrompê-lo o


que sabemos muito bem que ele não gosta, não é mesmo? — Sorrio
— Longe de mim irritar a fera Dalla Costa.

— Verdade, senhorita.

— Com quem ele está em reunião? — pergunto — Onde está


Amadeu?
— Está com a senhorita, Carbone, e ela pediu que Amadeu fosse até
a sua casa buscar algo que ela havia esquecido e que precisava ser
entregue ao chefe — conta

— Ah, entendi. — Um alerta pisca em minha mente — Já tem muito


tempo que ela chegou?

— Cerca de quarenta minutos, senhorita.

— Amadeu está demorando, não é mesmo? Vou ver se há algo em


que eu possa ajudá-los — falo, decidindo ir até a sala de Salvatore.

Não é por insegurança, eu confio nele e sei que ele jamais faria algo
que me machucasse, mas se tratando de Carlota Carbone, eu
preferia estar sempre por perto, ela tentava toma-lo para si em todas
as oportunidades.

— Salvatore? — falo, meu coração errando uma batida com a cena


que se descortina diante de mim.

Salvatore está sentado em sua cadeira, a cabeça jogada para trás em


êxtase enquanto Carlota ajoelhada entre suas pernas tem todo o seu
membro dentro da boca, consigo ver claramente toda a cena através
da sua mesa de vidro. As lágrimas escorrem imediatamente dos
meus olhos, por mais que eu seja forte, essa dor eu não estou
conseguindo suportar.

— Amapola? — Sua voz embargada, acredito que pelo tesão, chega


aos meus ouvidos e em seguida os seus olhos se voltam para o meio
das suas pernas onde a mulher ainda mantem o seu membro rígido
entre os dedos e limpa o canto dos lábios com um sorriso no rosto. —
Não é você que...

Salvatore parece confuso e eu não sei quanto tempo leva até que eu
retome a consciência e gire sobre os calcanhares, voltando-me para a
saída.
— Sai... Amapola. — Ouço sua voz, enquanto caminho para fora a
passos largos.

— Senhorita, o senhor Salvatore... — sua secretária começa, mas eu


a paro com um gesto da mão.

— Agora não, eu preciso respirar.

— O que houve, Amapola? — Amadeu vem até mim quando vê as


minhas lágrimas.

— Vá até a sala de Salvatore e veja com os seus próprios olhos o que


ele e Carlota Carbone estavam fazendo — falo, tentando seguir na
direção contrária da sala do homem que acaba de partir o meu
coração, mas sou imediatamente puxada por Amadeu, não com
grosseria, mas de uma maneira firme.

— Não fuja, Amapola, não é assim que uma mulher da máfia iria agir.

— Esse é o problema, Amadeu, eu não sou e nem nunca serei uma


mulher da máfia.

— Você vai entrar comigo e nós vamos resolver juntos. — Ele não
espera que eu responda e me arrasta de volta para o ambiente, nós
estávamos na porta, então ainda conseguimos ver quando a mulher
se levanta vagarosamente de dentro das pernas de Salvatore e ele a
chama por meu nome em uma cena deplorável.

— Ele está bêbado? — Amadeu fala, seguindo na direção do seu


chefe, enquanto eu ainda me mantenho fincada no chão sem
qualquer ação.

— Ele disse que vocês não tinham exclusividade — Carlota fala após
ficar de pé, sorrindo mais uma vez ao passar os dedos sobre o canto
dos seus lábios, me dando uma clara lembrança do que ela fazia há
instantes com Salvatore.

— Amapola. — A voz de Amadeu me tira do torpor, olho em seus


olhos que me passa uma mensagem clara “reaja e tire-a daqui”.

— Interfone para Rico e Fabrizio, peça que eles venham até aqui
imediatamente — falo com a secretária de Salvatore ainda da porta.

— O que foi, querida, não gostou do que viu? — Carlota pergunta e


eu vejo Amadeu colocar Salvatore sentado em sua cadeira, ele mal
consegue se manter sobre as próprias pernas.

— Saia daqui agora! — rosno para ela, mas não me contenho, e a


agarro pelos cabelos.

— Assim que eu sair por aquela porra você estará morta, Amapola —
Carlota me ameaça.

— Pois então, que a minha sentença de morte valha a pena — Jogo-


a no chão, estapeando sua face.

Eu jamais imaginei passar por uma situação como essa, agredir uma
mulher por causa de um homem? Salvatore não era um homem
qualquer, era o meu homem, o único que eu amei, mas se ele
permitiu que ela estivesse naquela posição, dentro das suas pernas,
ele não me merecia e ela merecia uns bons tapas e foi exatamente o
que eu fiz, até que o sangue estivesse escorrendo dos seus lábios e
eu ter Rico me afastando dela pela cintura.

— Eu vou te matar, Amapola — Carlota grita, sendo segurada por


Fabrizio.

— Eu espero que faça exatamente isso, Carlota, porque senão cada


vez que você cruzar o meu caminho, eu lhe darei uma surra — aviso
também aos berros.

— Minha bolsa, eu quero minha bolsa. — Ela esperneia quando


Fabrizio tenta tirá-la do local, o vejo caminhar com ela até onde sua
bolsa estava.

— Tire as mãos daí Carlota. — Fabrizio fala com raiva quando ela
tenta pegar o copo que estava sobre a mesa.

— Eu estou com a garganta seca. — Leva a mão ao copo do líquido


que eu imagino ser whisky.

— Beba água quando sair, eu não sei o que, mas você colocou algo
na bebida dele Carlota, e assim que eu descobrir você irá pagar. —
Fabrizio ameaça e ela leva as mãos ao peito se fingindo de
indignada. Eu ainda tentava me livrar das garras de Rico que me
segurava firmemente para que eu não avançasse sobre ela
novamente.

— Como pode pensar isso sobre mim, Fabrizio? Você será meu
cunhado, Salvatore afirmou ainda hoje que se casaria comigo — fala
com os olhos cravados no meu.

— Eu vou casar, eu caso com você, amore mio — Salvatore diz


sentado no sofá, como se não bastasse tudo o que eu vi ainda tenho
que ouvir isso.

— Está vendo só, é ele que está falando e não eu. — Vejo Carlota
triunfante e eu me sinto como mera expectadora desse circo de
horrores.

— Já chega, me solta, Rico — peço, olhando-o nos olhos.

— Ele está bêbado ou drogado, cunhadinha, eu prometo que vou


descobrir o que aconteceu aqui. — Noto a tristeza em sua voz.

— Você vai sair daqui agora, já chega — Amadeu se precipita na


direção de Carlota jogando-a para fora da sala.

— Solte a garota — Ouço uma voz que não reconheço e Rico me


solta bruscamente quando ouvimos um barulho de tiro.

Precipito-me para fora do ambiente, seguindo-os e vejo o segurança


de Carlota caído no chão, pergunto a Deus se essa situação pode
piorar ainda mais.
— Se você não sair da minha frente agora a próxima será você. —
Amadeu mantém sua arma apontada para a testa de Carlota quando
a ameaça e ela abre os olhos assustada.

— Não ameace uma filha da máfia — ela rosna para ele que não se
intimida — Amanhã a sua cabeça estará sobre a mesa do meu pai
por ter ousado tocar em mim.

— Eu ameaçarei qualquer um que ousar fazer qualquer coisa com o


meu chefe, inclusive você e o seu pai, mesmo que a minha cabeça
esteja sobre sua mesa, eu terei orgulho de ter cumprido o meu papel
— ele fala seguro.

— Ele tem a nossa permissão para fazer o que for preciso, saia
agora, Carlota — Fabrizio ordena.

— E pode esperar retaliação, quando eu descobrir o que fez com ele,


eu farei com você dez vezes pior — Rico avisa, quando me puxa de
volta para a sala de Salvatore.

— Você está bem? — Fabrizio pergunta, quando eu sento em uma


das poltronas, eu precisava sentar para não cair.

Evitei olhar na direção de Salvatore, Rico e Amadeu tentavam o fazer


recuperar o mínimo de dignidade enquanto eu estava perdida.

Todas as minhas expectativas foram frustradas, naquele momento,


me perguntei se estaria disposta a viver uma vida de riscos, mesmo
que ele tivesse sido drogado, ele deixou que ela entrasse, deixou que
sentasse à sua frente e dividiu com ela uma dose de bebida. Ele
ainda estava consciente quando permitiu.

Carlota era uma filha da máfia, fora criada para estar ao lado de um
mafioso, e eu sequer tinha forças para lutar pelo homem que amava.
Quantas outras Carlotas apareceriam na vida de Salvatore? Quantos
olhos tortos eu teria que suportar? Eu sempre quis uma vida tranquila,
sempre quis estudar, ter estabilidade financeira e poder dar uma vida
digna ao meu pai. Eram apenas esses os meus planos, mas eu os
mudei quando admiti o que sentia por Salvatore.

Quando eu questionava as minhas ações, as minhas mudanças de


planos, eu considerava que às vezes precisamos abandonar os
nossos planos iniciais, abandonar a vida que havíamos planejado,
porque já não somos mais a mesma pessoa da época que planejou.
Agora, sentada nessa cadeira, eu começo a reconsiderar, talvez
voltar aos meus planos iniciais. Com a ajuda que Salvatore me deu,
era a melhor opção no momento, mesmo que o meu coração se
partisse, no fundo do meu coração, eu comecei a entender o que era
certo, o que era melhor para mim.

Em silêncio, levanto da cadeira e saio, a tempo de ouvir Amadeu


avisar a Matteu pelo rádio comunicador que me acompanhe.
Capítulo 49
"Eu a perdi, e me perdi no processo, o homem que eu me tornei
após sua chegada em minha vida acabou de se partir em mil
pedaços."

Tentei abrir os olhos, mas a dor que senti era como se facas afiadas
estivessem sendo cravadas ininterruptamente em cada um deles.

— Amapola? — chamo, tentando entender o que está acontecendo.

— Você está bem, meu filho? — Ouço a voz de Naná e forço os meus
olhos a se abrirem, eu estava acostumado com a dor, esse incomodo
não era nada perto de tudo o que já passei.

— O que aconteceu? Onde Amapola está? — Não respondo sua


pergunta.

— Vou ligar para seus irmãos, eu fiquei de avisá-los quando você


acordasse — avisa quando eu forço o meu corpo a sentar na cama.

— Pare Ângela, onde está Amapola? O que aconteceu? — pergunto


ríspido, não como o menino que ela criou, mas como o chefe da máfia
e ela entende o recado.

— Eu não sei, senhor. — Ela estende um copo com água e dois


comprimidos em minha direção — O senhor sabe que alguns
assuntos não são reportados a mim, os seus irmãos podem
esclarecer suas dúvidas, vou chama-los.

— Onde está Amapola? — Insisto.

— Eu não sei senhor, a senhorita não dormiu na mansão hoje — fala


e se retira em seguida.

Ângela sai do quarto, me deixando sozinho, após tomar os


comprimidos que ela me entregou, levanto da cama e sigo para o
banheiro. Enquanto a água gelada cai sobre a minha cabeça e corpo,
eu tento entender o que aconteceu, porque o meu corpo parece ter
sido atropelado por um caminhão, mas eu não lembro de nada.

A última coisa que tenho lembrança é de estar no escritório,


analisando alguns papéis e da chegada de Carlota, depois disso nada
mais. É como se o dia de ontem não tivesse existido.

Carlota havia esquecido alguns papéis em sua casa e pediu que


Amadeu fosse buscá-los, ficamos resolvendo algumas pendencias do
cassino, eu não lembro de ter visto Amapola após isso, e também não
lembro de ter recebido os papéis.

Eu jamais bebi para ficar embriagado, o controle é uma das minhas


principais armas, e a dose de whisky que tomei com Carlota jamais
faria esse estrago em mim, a não ser que...

— Ela não seria louca a esse ponto ou seria? — questiono a mim


mesmo e saio do banheiro ainda molhado, enrolando apenas uma
toalha em volta da minha cintura.

Ligo o notebook que estava sobre a mesa de cabeceira, de repente,


sou tomado pelo nervoso, de alguma forma eu sei que o que quer que
tenha acontecido comigo entre ontem e hoje é o que fez Amapola não
estar aqui.

A sensação de não estar no controle nesse momento me incomoda,


algo me tirou do eixo e eu preciso descobrir o que foi.

Acesso o sistema de câmeras da minha sala, apenas eu tenho


acesso a essas filmagens para garantir a minha privacidade, assim
como os meus irmãos em suas salas. Guardamos as senhas um do
outro à sete chaves, e jamais a utilizamos, é uma regra entre nós.

Busco as imagens de ontem, e acelero até o momento em que


Carlota chega no escritório, antes disso eu tenho lembrança dos
fatos, por enquanto nada de anormal acontece, nós estamos apenas
conversando eu sei que é sobre o cassino pois lembro desses
acontecimentos.

Até que eu levanto para pegar uma bebida, Carlota se precipita a mim
e nos serve...

— Que merda é essa? — Vejo quando ela abre uma espécie de


compartimento em um anel e deixa cair algo em um dos copos, ela
acrescenta gelo e me entrega a bebida — Puta que pariu, eu vou
matar essa filha da puta.

Ela senta de volta em seu lugar, e depois de alguns instantes vejo o


meu corpo bambear sobre a cadeira e ela vir até minha direção,
sentando-se em meu colo, Carlota me beija, e eu... retribuo.

Ativo o som e ouço minha voz chamar por Amapola, era como se eu
estivesse com ela ali e não com Carlota, eu a joguei sobre a mesa e
levei minhas mãos até o centro das suas pernas erguendo sua saia e
embolando-a na cintura enquanto beijava a parte interna das suas
coxas e ela se contorcia sobre a mesa. Não era por ela que eu
chamava, era por Amapola, eu estava delirando, Carlota havia me
dopado.

Acelero o sistema de câmeras, não querendo ver toda a cena que se


desenrolou em meu escritório, eu estava com nojo de mim mesmo.

Até que toda a repulsa e nojo de mim mesmo se multiplica e vira


desespero quando vejo Amapola parada diante da porta, enquanto
Carlota de joelhos entre minhas pernas me chupa.

Ela havia sido quebrada por mim mais novamente, e de alguma forma
eu sabia que dessa vez, eu não poderia fazer nada, o que ela havia
visto já era demais, e nem queria pensar no que ela sentiria se visse
tudo o que aconteceu antes do ato que precedeu sua chegada.

Eu a perdi, e me perdi no processo, o homem que eu me tornei, após


sua chegada em minha vida, acabou de se partir em mil pedaços.

— Ora, ora... a Bela adormecida acordou. — Rico entra no quarto,


soltando mais uma de suas piadinhas fora de hora.

— Onde está Amapola? — pergunto, ainda sem levantar os meus


olhos da tela do notebook.

— Na casa do pai dela — É Fabrizio que responde.

— Caralho, foi pior do que pensei — Rico comenta quando para atrás
de mim e analisa a cena, ele leva a mão ao mouse, voltando ao
momento que Amapola entra na minha sala.

— Como ela está?

— Fodida. Destruída — Rico e Fabrizio falam ao mesmo tempo e eu


engulo em seco.

— O que você fará? — Fabrizio pergunta preocupado, Rico se atém


em analisar as cenas, sua expressão de surpresa demonstra o quão
fodido eu estou.

— Não sei — respondo sincero. — Pela primeira vez na vida eu não


sei o que fazer.

— Você sabe que ela te drogou, não é? — Rico ergue a sobrancelha,


movendo freneticamente o cursor na tela à procura do momento.

— Sei, eu vi — afirmo. — Está tudo gravado aí. — Aponto a tela.


— Então, Salvatore, basta mostrar à Amapola, ela vai ver que você
não teve culpa — Fabrizio completa.

— Achei, vou gravar o momento e você mostrará a ela, vou omitir


tudo o que aconteceu depois, não se preocupe, irmão — Rico avisa,
deixando claro para mim quão grande foi a merda.

— Ela não vai me perdoar, eu não o faria se estivesse em seu lugar,


o que ela viu, vai ficar para sempre em sua memória. — constato o
óbvio.

— Então é isso, você vai desistir? — Fabrizio questiona.

— É o mínimo que posso fazer por Amapola — falo quando me sento


em uma das poltronas.

— Isso, você está certo, Salvatore Dalla Costa — Rico rosna para
mim. — Aproveite e se case com Carlota, tenho certeza que serão
muito felizes juntos, pelo menos uma brava cagna você terá na cama
— completa. Eu tenho que concordar ela seria uma boa puta na
cama, eu já a tive outras vezes, mas esse prazer ela jamais terá,
Carlota destruiu Amapola e eu a destruirei.

— Vou acertar as contas com ela, não se preocupem.

— É o mínimo que espero — Fabrizio afirma.

— Amanhã eu terei a sua cabeça sobre a minha mesa — informo


com frieza e controle. — Ninguém dopa o chefe sem estar ciente das
consequências, ela assinou a sua sentença de morte.

— E quanto à Amapola? — Rico questiona

— Vou lhe dar o tempo que precisa para digerir tudo o que aconteceu
e depois a procurarei — aviso. — Eu não vou forçá-la a nada, seja lá
o que ela decidir eu aceitarei. — Encerro o assunto. — Quero uma
reunião com o Carbone daqui a uma hora.

— Providenciarei — Fabrizio responde e vejo a tela do meu celular


piscar com uma chamada de Amadeu.

— Quem está com Amapola? — pergunto para os meus dois irmãos,


sabendo que eles não a deixaria sozinha com o seu pai.

— Amadeu esteve com ela até hoje pela manhã, mas ela exigiu que
ele dormisse, você sabe como é a garota. Então, hoje quem está com
ela é Matteu — Fabrizio responde quando eu aperto o botão verde
para aceitar a chamada do meu homem de confiança.

— Chefe? — A voz acelerada de Amadeu me põe em alerta.

— O que houve? — pergunto, me colocando imediatamente de pé,


em estado de alerta, meus irmãos me seguem.

— Eles a pegaram — fala. — Mataram Matteu e levaram Amapola.

— Quem a pegou? — grito, seguindo para o closet para vestir uma


roupa

— Carbone senhor, ele levou Amapola pessoalmente com seus


homens, um dos soldados que foram baleados, o único que
sobreviveu, acabou de me ligar para avisar.

— Reúna os melhores e se prepare para a guerra Amadeu, eu trarei o


inferno para a terra até que ela esteja em segurança — aviso,
jogando o celular sobre uma bancada e me vestindo rapidamente.

— Rastreei-os — aviso a Rico que me seguia e ele sai em disparada,


seguido de Fabrizio.
Capítulo 50
"Juro, pelo sangue derramado em nossa terra e em nossa
iniciação, defender a família acima de qualquer coisa com honra
e integridade dando a minha vida se preciso for para o bem e
segurança de todos. "

Eu já havia decidido que mataria Carlota, mas agora não seria


apenas o seu fim, mas de toda a sua família, todos os Carbones
seriam dizimados, nenhum sobraria para contar a história.

— Encontrou? — pergunto a Fabrizio quando desço as escadas,


encontrando junto com ele, Rico e Amadeu, que rosna ordens aos
seus homens no telefone.

— Não foi preciso procurar, ele mesmo nos contatou.

— O que? Quem ele pensa que é? — grito irritado. — Onde ele está?
Vamos até ele então.

— Chefe? — Fabrizio chama minha atenção.

— Fala porra, eu preciso pegá-la quanto antes.

— Ele a levou para um dos galpões, contatou os demais capos, exigiu


uma reunião com todos presentes. Afirmou que Amapola agrediu
Carlota gratuitamente, e você sabe la famiglia protegge chi è in
famiglia, ele quer a cabeça dela, morte ai traditori — explica.

— É claro que eu sei, Fabrizio, conheço todas as normas da nossa


organização, você sabe melhor do que ninguém que eu poderia citá-
las de trás para frente — rosno em sua direção — Mas mia moglie,
também é famiglia, e nós devemos proteção a ela também — concluo
exasperado.
— Sim, mas você jamais a assumiu. — Ele joga as palavras em
minha face, e eu sei que é verdade. — Para todos ela não é mais que
a sua secretária, todos estarão ao lado dele, precisamos de um plano
— explica.
— O plano é: matarei Carbone e toda a sua família e quem mais se
colocar contra mim — aviso. — Rico, pegue toda a gravação, se
temos um traditori entre nós, é Carlota. Ela que foi ao meu escritório e
me dopou. — Concluo meu raciocínio e todos me seguem para fora.
— Salvatore. — Ouço a voz de Ângela me chamar e giro em sua
direção — Traga ela de volta em segurança. — Pede com um terço
preso entre os dedos e eu assinto com a cabeça, confirmando que eu
a trarei ou não me chamo Salvatore Dalla Costa.
***
Vejo uma fila de carros diante do galpão para onde Carbone trouxe
Amapola, meu coração estava acelerado, mas mantive os meus olhos
focados e vidrados, ninguém deveria saber o que eu sentia, e eu era
bom em esconder.
Com calma, abotoei o terno que vestia e colocando os óculos escuro
no rosto caminhei para dentro do ambiente sendo seguido por meus
irmãos e nossos soldados. Estávamos preparados para qualquer
situação, mas eu sabia que não chegaria a tanto.
O mar de soldados se abria a minha frente à medida que eu
caminhava, Amadeu se precipitou em abrir o pesado portão de ferro
para que eu entrasse. Percorri os olhos cuidadosamente, verificando
que todos os capos já estavam presente. Provavelmente, Carbone os
havia contatado antes de nos ligar, talvez antes mesmo de pegar
Amapola.
Uma imensa mesa tinha sido colocada no ambiente e todos que
estavam sentados à sua volta se levantaram assim que eu cheguei,
com exceção de Carbone, sua filha estava ao seu lado, o rosto roxo e
inchado deixava claro o estrago de Amapola.
Continuei percorrendo o ambiente com os olhos, e a vi em um canto,
amarrada à correntes com as mãos erguidas para o alto, fiz um sinal
para Amadeu com a cabeça, e ele seguiu na direção de Amapola.
Dois soldados se colocaram à frente dela, impedindo que ele a
alcançasse, dois tiros depois os dois estavam jogados ao chão e
Amadeu a apoiou sentada em uma cadeira.
Minha vontade era correr para ela, abraçar, saber se estava tudo
bem, pedir perdão, mas diante de todos eu precisava agir como o
chefe que era. Vacilei quando os seus olhos se cruzaram com os
meus, notei o seu lábio inchado e partido, eles a haviam machucado,
e eu cobraria em dobro, mas os seus olhos vazios de emoção me
fizeram tremer por dentro.
Continuei caminhando lentamente até estar na cabeceira da mesa,
Fabrizio e Rico ocupando os seus lugares ao meu lado, um a um os
capos me reverenciaram beijando a minha mão, e quando dei a
permissão com um gesto todos se sentaram.
Os anéis que carregávamos nos dedos com os símbolos de cada
uma das famílias aqui representadas foram erguidos para que o
juramento de fidelidade e honra fosse entoado por todos, como era de
costume antes de cada uma das nossas reuniões.
— Giuro, per il sangue versato sulla nostra terra e nella nostra
iniziazione, di difendere la famiglia sopra ogni cosa con onore e
integrità dando la mia vita se è necessario per il bene e la sicurezza di
tutti. — Faço o juramento primeiro e todos me seguem.
— Juro, pelo sangue derramado em nossa terra e em nossa iniciação,
defender a família acima de qualquer coisa com honra e integridade,
dando a minha vida se preciso for para o bem e segurança de todos
— entoam em seguida.
— Então o que nos traz aqui? — pergunto após alguns minutos de
silêncio.
— Chefe, a sua secretária, — Carbone aponta o canto onde Amapola
está — agrediu a minha filha. — Carlota olha não apenas em minha
direção, mas para todos os capos que estão na mesa, ela estava de
pé atrás do seu pai. — E como o sangue derramado da famiglia se
cobra com sangue, eu a busquei para que a justiça seja feita — fala e
noto a raiva crispar em seus olhos.
— E para lavar sua honra, você precisou matar seis dos meus
soldados? — pergunto, a frieza na minha voz cortou o ambiente.
— Eles não me entregaram a cagna. — Quero voar em seu pescoço
por chama-la de puta, mas me controlo.
— E nem deveriam, ela estava sob minha proteção. — Um burburinho
começa a ressoar na mesa.
— Como pode proteger uma qualquer? — ele fala, tentando controlar
o tom de voz.
— Amapola é mais que uma qualquer, acho que todos estão cientes
das ultimas noticias. — Constato o óbvio — Não finja inocência.
— Eu não aceito que você escolha uma cagna quando a minha filha é
a esposa ideal para você, ela nem faz parte da máfia. — Seus olhos
atiram adagas em minha direção — De qualquer forma, ela tocou em
Carlota, eu exijo sua morte.
Vozes exaltadas são ouvidas e em sua maioria apoiando o que
Carbone falava, no fundo, todos eles gostariam que eu me casasse
com uma de suas filhas.
— Diante de mim você não exige nada! — A calma em minha voz
contradiz a firmeza e todos se calam imediatamente. — Nenhum de
vocês, eu me casaria com qualquer uma das filhas da famíglia, exceto
com a sua, Carbone, se há uma cagna entre nós, é ela. — Vejo de
relance Amapola erguer os olhos em minha direção surpresa por
minhas palavras.
— Eu não admito... — ele começa a falar em um tom de voz mais alto
do que deveria e eu o calo.
— CHEGA! — Levanto batendo as duas mãos sobre a mesa, meu
olhar o fuzila. — Mais uma palavra sua e morrerá sem sequer saber o
porquê. — Todos se encolhem em suas cadeiras e eu continuo.
— Vocês estão ao meu lado para todas as decisões da máfia, mas na
minha vida pessoal vocês não interferem e nem tocam no que é meu
— falo, olhando nos olhos de cada um deles. — Eu poderia tê-la
buscado simplesmente, mas aproveitei a reunião para cobrar uma
dívida, e não apenas sua filha pagará, mas também você por ter
matado os meus soldados e pego Amapola. Rico coloque o vídeo.
— Se há algum traidor entre nós é a sua família e por isso pagarão
com a vida, não restará um só Carbone vivo sobre o solo italiano, e
que sirva de aviso para qualquer um que ousar se aproximar de mim.
— Vejo quando todos assistem espantado a cena em que Carlota me
dopa e depois deliberadamente se atira sobre mim.
Nesse mesmo instante, um dos meus soldados entra no galpão com
a mulher de Carbone, deixando claro o que eu farei, todos os olhos
estão sobre mim, e eu não escondo o ódio que me percorre.
— Salvatore, eu te amo, não me mate, por favor — Carlota implora e
eu nem me dou o trabalho de olhar em sua direção, sinalizo para que
os meus homens os prendam.
— Em consideração a tudo o que fizeram pela famiglia até aqui, eu
lhes darei uma morte rápida, alguém tem alguma objeção? —
pergunto, voltando minha atenção para todos os rostos espantados
em volta da mesa, não ouço sequer a respiração de nenhum deles.
Alinhados em uma fila estão Carlota e seus pais ladeando-a, Rico e
Fabrizio se põem ao meu lado e com as nossas armas em punho,
como em um pelotão de tiro treinado para matar, os três corpos caem
ao chão. Era o fim do clã dos Carbone, eu não sentia por isso, acabei
de livrar a máfia de quem trama contra o seu chefe, um dos seus
soldados havia falado a Amadeu que todos estavam ciente do que
Carlota faria, mesmo conhecendo os riscos. Eles atentaram não
apenas contra Amapola, mas também contra mim.
— Que seja desfeito o conselho — falo as palavras que encerram
todas as reuniões e todos se dispersam rapidamente, acredito que
não estavam suportando estar na minha presença por mais nenhum
segundo sequer.
Capítulo 51
"Ela não estava apenas indo embora, ela estava levando um
pedaço de mim, o melhor, e eu sabia que sem ela jamais o teria
de volta. Mas amar no final é isso, não é sempre insistir e
persistir é também saber quando é preciso deixar ir."

Todo o trajeto foi feito no mais absoluto silêncio, Amapola não me


dirigiu sequer um olhar. Ainda no galpão quando todos se
dispersaram, eu fui até ela, mas o desprezo em seu olhar foi a única
coisa que tive.

Eu havia perguntado se ela estava bem, mas um leve aceno com a


cabeça foi tudo o que ela me deu.

Assim que entramos pela porta da mansão, Ângela a agarrou com as


lágrimas escorrendo por sua face, todo aquele desespero e silêncio
estavam me tirando o foco, por isso segui direto para o meu quarto.

Eu esperei que ela viesse até mim, mas ela não o fez, sabia que não
havia saído, pois Amadeu tinha ordens expressas de me avisar caso
ela tentasse, andei por todo o ambiente sem parar, pela primeira vez
eu não sabia como lidar com a situação, mas quando percebi que iria
furar o chão se continuasse com os movimentos decidi ir até o seu
quarto.
— Amapola? — chamo sua atenção após abrir a porta, meus olhos
ficam presos na mala aberta sobre a cama. Ela estava guardando ali
suas roupas, ela iria me deixar, iria sair da minha vida. — Precisamos
conversar — falo após não obter nenhuma resposta sua.

— Não há necessidade, Salvatore. — Sua voz é firme e determinada.


— Não temos nada para dizer.

— Ela me dopou, Amapola, você estava lá, viu o vídeo — Justifico.

— Eu ouvi, Salvatore, mas fiz questão de não ver, porque ontem já foi
o suficiente para mim.

— E o que quer que eu diga? O que quer que eu faça? — pergunto,


indo até ela e tirando a peça que dobrava de suas mãos, ela sequer
me olhava nos olhos.

— Me deixe ir Salvatore, é a única coisa que lhe peço.

— Amapola...

— Eu nunca quis essa vida para mim, Salvatore, eu não sei viver
essa vida, me manter ao seu lado, me acostumar com as mortes,
sequestros, abusos, tudo isso está muito longe de tudo o que eu quis
para mim, tudo o que eu sonhei.

— Mas você disse que me amava.

— E eu amo, Salvatore, mas não é o suficiente. Eu preciso de paz, de


segurança e de distância de tudo isso. Eu quero voltar a ser o que eu
era antes de você. — As lágrimas caem dos seus olhos.

— Isso é impossível, Amapola, depois de tudo o que nós vivemos.

— Eu levarei os bons momentos e tudo o que você me proporcionou,


mas não quero mais estar ao seu lado.

Eu queria implorar para que ficasse, abrir para ela todos os meus
sentimentos, dizer que ela tinha despertado em mim algo que
ninguém foi capaz, com Amapola eu era... bom.

Enquanto ela continuava a tarefa de dobrar e guardar suas roupas, eu


pensei em tudo o que eu poderia falar para convencê-la a ficar, mas
eu não consegui, e nem podia, um chefe jamais se humilhava, jamais
implorava e eu era o chefe. Por outro lado, quando estava diante de
Amapola eu era apenas Salvatore, o seu Salvatore.

— Eu não posso deixa-la ir.

— Vai me manter presa novamente? — Os seus olhos me cortaram


com raiva.

— Não, Amapola, não é essa a questão. Você esteve ao meu lado


todo esse tempo, se afastar assim pode colocá-la em risco. Não
arrisque sua vida por não querer estar perto de mim.

— Mas estar perto de você é arriscar a minha sanidade, não se


preocupe, eu sei me cuidar.
— Como soube hoje quando foi levada? — questiono irritado.

— Eu fui levada pela família de uma louca apaixonada por você, será
que você não vê que o que me traz perigo é você Salvatore? — Suas
palavras duras me fazem engolir seco — Veja tudo o que eu passei
desde que estou ao seu lado? Todos os riscos, atentados,
sequestros, estar com você é a única coisa que pode me destruir.

— Você está certa, me desculpe — falo, dando dois passos para trás
— Se é a liberdade que quer, você a terá.

Por um instante vejo uma pequena centelha de incerteza passar por


seus olhos, mas ela rapidamente se recupera, sustentando o meu
olhar.

— É o que eu quero, Salvatore, é o que eu quis desde a primeira vez


que o olhei nos olhos, a minha liberdade — ela fala quando eu coloco
a mão na porta para sair do seu quarto, mas eu paraliso.
— Você nunca esteve presa, Amapola, desde que eu a tirei do
cassino, eu lhe dei sua liberdade — falo, saindo e batendo a porta
atrás de mim.

***

— Ligue para Rico, preciso que venham até aqui agora — digo para
Fabrizio.

Enquanto aguardo os meus irmãos viro a garrafa de whisky


diretamente em minha boca, pensei em colocar no copo, mas não
tinha paciência, eu queria que o ardor do líquido fizesse descer o bolo
que travava minha garganta e que desde criança eu não sentia.

— O que aconteceu? — Fabrizio pergunta após entrar no meu quarto


sem bater na porta e se deparar com a garrafa em meus lábios.

— Preciso que me façam um favor — aviso. — Amapola está indo


embora, se certifiquem que ela esteja segura, ajudem-na no que for
possível, e jamais tratem com ela sobre mim e vice-versa, eu nunca
mais quero ouvir o seu nome, apenas quero que ela esteja segura.

— Salvatore, Tem certeza? — Rico pergunta.

— Nunca estive tão certo em minha vida.

— Ela não te perdoou? Irmão, eu sei quão fodido deve ser para ela o
que viu, mas ela ama você, com o tempo ela vai ver que você não
teve culpa. — Fabrizio interfere.

— Você está errado, Fabrizio. Eu nunca poderia fazê-la feliz, desde


que eu entrei em sua vida só lhe fiz mal.

— Não vá por esse caminho, Salvatore. A menina estava na merda e


você a puxou, lhe deu uma nova motivação, segurança, profissão
cuidado....

— Não sou eu que está dizendo, Fabrizio, foi Amapola que deixou
claro quão mal eu lhe fiz, e eu tenho que concordar com ela.
— Por favor, Salvatore, não seja tolo — Rico fala. — O idiota dos três
sou eu, aja racionalmente como sempre fez, a mulher só está
magoada, espere o tempo passar e tudo ficará bem.

— Eu estou sendo racional, irmão, é por isso que estou deixando que
ela vá. Vejam o que ela precisa e ajudem em tudo, é só isso. —
Encerro nossa conversa e eles entendendo o recado se retiram.

Algum tempo depois, vejo da janela do quarto, Amapola passar a


porta de entrada, alguns soldados carregam suas diversas malas, ela
hesita um instante olhando para trás. Eu queria que desistisse, que
voltasse e conversasse comigo, mas ela não o faz. Após se despedir
de Ângela com um abraço, ela entra no carro e se vai.

Ela não estava apenas indo embora, ela estava levando um pedaço
de mim, o melhor que eu tinha a oferecer a alguém, e eu sabia que
sem Amapola, jamais teria essa parte de volta.

Mas amar no final é isso, não é sempre insistir e persistir, é também


saber quando é preciso deixar ir.

E eu amava Amapola a ponto de abrir mão da minha própria


felicidade para que ela tivesse a dela.
Capítulo 52
"Salvatore era a essência da máfia e eu sempre seria o seu
segredo, pensando assim entendi que eu realmente não estava
disposta a passar por isso"

*Seis meses depois

Seis meses se passaram desde que eu deixei Salvatore. De lá pra cá


muita coisa mudou, exceto o que eu sinto por ele e essa estranha
mania que eu tenho de continuar vindo aqui, onde tudo entre nós
começou de verdade.

Quando deixei sua casa eu não sabia o que faria daquele momento
em diante, o último ano havia sido intenso e totalmente preenchido
por sua presença em minha vida, sentia como se houvesse uma
divisão entre antes e depois de Salvatore.

Fui para a casa do meu pai, eu já havia passado a noite lá, me


consolando com aquele que sempre esteve em meu lado. Diferente
do que pensei, não ouvi de sua boca frases do tipo “eu avisei”, “sabia
que se daria mal”, “enganou-se porque quis” ao contrário, ele
aconselhou que eu esperasse a poeira abaixar e o procurasse. Meu
pai não era um bom conselheiro porque assim como eu, ele havia
conhecido uma nova face de Salvatore e podia até dizer que gostava
dele.
No dia seguinte, seus irmãos me procuraram, inicialmente, pensei
que pediriam para que eu retornasse, mas não, eles se mostraram
compreensivos e deixaram claro que estariam sempre por perto para
o que eu precisasse.

Eu fiquei grata porque eles também se tornaram minha família, e ter


me separado de Salvatore não significa que eu queria me afastar
deles também, longe disso.

Durante quinze dias, eu considerei tudo o que vivemos e o que eu


passei, não foram apenas momentos ruins, longe disso, eu ganhei
muito mais do que perdi. Salvatore me trouxe uma nova perspectiva
de vida, novas esperanças e metas e eu o agradecia por isso.

Por diversas vezes, encarei o meu celular, considerando ligar para


ele. Eu havia sido dura, eu sabia, se não fosse assim, ele tentaria me
convencer a ficar e é bem provável que eu ficasse de fato, mas nada
que tenha começado como nós começamos poderia dar certo no fim.

As palavras que lhe disse doeram demais em mim, e eu remoí


diversas vezes a culpa de tê-las proferido com a intenção de afastar o
homem que eu amava.

Não apenas essa cena piscava em minha mente, mas também o que
presenciei no escritório, ver Carlota ajoelhada entre suas pernas
havia sido o fim para mim, e foi por isso que decidi partir.

Quantas outras Carlotas apareceriam? Quantas outras filhas da máfia


estariam dispostas a tudo para nos afastar? O fundo, eu sempre
percebi os olhares tortos dos capos para mim, eles acreditavam que
eu não era digna do chefe, e talvez eu não fosse mesmo.

A máfia italiana é pautada em costumes que perduram há anos, como


eu poderia imaginar que ele abriria mão das suas obrigações para
estar comigo? Salvatore era o coração da máfia e eu sempre seria o
seu segredo, pensando assim, entendi que eu realmente não estava
disposta a passar por isso.
Ver a morte de Carlota e de toda a sua família não me fez ter remoço,
pena ou qualquer coisa do tipo. Convivi com eles por tanto tempo que
eu também havia endurecido e talvez perdido um pouco da minha
essência, mas depois de muito pensar eu entendi que todos sabiam
os riscos dos seus atos e, definitivamente, estavam dispostos a pagar
o preço.

Atacar diretamente o chefe era como assinar a própria sentença de


morte, eles sabiam disso até mais que eu, pagaram pra ver e
sofreram as consequências, me culpei por não sentir culpa, mas
considerei que talvez uma parte de mim também houvesse se tornado
mafiosa. Afinal, é impossível entrar nesse mundo e sair ilesa.

Após quinze dias, eu entendi que se permanecesse em Roma, eu


acabaria por procurá-lo novamente e por isso decidi que eu me
mudaria de cidade, eu não conhecia muitos lugares, mas Palermo me
trazia boas lembranças e foi querendo a tranquilidade e a paz que eu
encontrei aqui que resolvi me mudar.

Avisei a Rico e a Fabrizio, eu havia conseguido fazer algumas boas


economias, uma vez que Salvatore não me deixava gastar com nada,
e isso seria o suficiente para me instalar e manter a mim e ao meu pai
até que conseguisse um emprego novo.

Eu tinha esperanças de que essa mudança nos faria bem, e de fato


fez, meu pai estava apaixonado pela cidade, e eu desconfiava até
que ele estava de namorico com uma viúva muito simpática que era
nossa vizinha, eu estava feliz e ele também.

A única coisa que me irritava era a terrível mania que ele tinha de me
lembrar sempre de Salvatore, como se eu pudesse esquecê-lo, ledo
engano do meu velho, se afastar definitivamente não significa
esquecer. Eu lembrava a cada dia, hora, minuto e segundo, mesmo
que não demonstrasse, Salvatore era presença constante em minha
mente.

Cinco dias depois de ter falado com Fabrizio e Rico o que eu faria,
estava dentro do jatinho voando para Palermo com uma provável
entrevista de emprego agendada para o dia seguinte.

Eu tentei negar a ajuda afirmei que não precisava, eu iria me virar,


mas eles eram loucos por segurança e ter estado tão próxima deles
por um longo período me tornava um alvo, e assim era a lei da máfia:
la famiglia protegge la famiglia, de alguma forma eu comecei a
pertencer a esse mundo.

Diferente do que pensei, minha nova função não tinha nada


relacionado à máfia, eu fui contratada para ser assistente pessoal do
presidente da exportadora de vinhos que havia em Palermo, era uma
sociedade entre Salvatore e Marco Grassi, o homem para o qual
agora eu trabalhava.

Eu estava apaixonada pelo que fazia, ter trabalhado diretamente com


Salvatore me trouxe muita experiência e eu não tive dificuldade em
me encaixar, além disso, trabalhar com Marco era maravilhoso. Ele
era sagaz, inteligente e leve, todos os dias eu acordava com a
certeza de que ir trabalhar me faria um bem enorme.

Meu pai dizia que estar enfiada no trabalho quase vinte e quatro
horas foi a maneira que encontrei de fugir dos meus sentimentos.
Depois de um tempo, percebi que ele tinha razão, já que a cada
tempo livre que eu tinha, acabava por estacionar o carro diante do
castelo de Salvatore. Eu quis me afastar, não queria vê-lo e evitava
tudo que remetesse a ele, mas volta e meia eu estava aqui, buscando
absorver um pouco que fosse dele, como um drogado que busca
incansavelmente o mínimo para alimentar o seu vício.

Salvatore jamais me procurou, mesmo sendo sócio da exportadora,


eram os seus irmãos que assumiam todas as questões da empresa e
era por isso que eu sempre me forçava a seguir em frente, ele já
havia conseguido e eu não poderia continuar me afundando em
autopiedade.

Saí do escritório após o almoço, o que era uma raridade, mas Marco
praticamente me expulsou para que eu pudesse ir a um salão e me
arrumar, hoje teremos um grande evento, estaremos lançando uma
novos produtos e as expectativas são imensas.

Confirmei com Fabrizio ontem a sua presença, e eu estava feliz por


podê-lo encontrar novamente, nesses seis meses nos vimos poucas
vezes e eu estava com saudades. Fiquei sentida apenas por Rico não
poder vir também, seria fantástico ter os dois aqui comigo. Quanto a
Amadeu e Ângela, eu me contentava em vê-los nas chamadas de
vídeo, eu sabia que eles não se afastavam de Salvatore em nenhuma
circunstância, eu ficava triste por um lado, mas por outro grata por
saber que ele estava cercado de pessoas que lhe eram fieis e que
gostavam verdadeiramente dele e não apenas o bajulavam por sua
posição.

De qualquer forma, em breve eu iria a Roma, dessa vez não


conseguiria fugir dos compromissos do trabalho, e só de pensar em
estar na mesma cidade que Salvatore novamente o meu coração
gelava.

Ligo o carro e me forço a seguir em frente, era assim sempre que


vinha aqui no castelo. Olhava o celular, as nossas fotos e a vontade
de ligar, mesmo que ficasse em silêncio, apenas ouvir sua voz já
preencheria o vazio que havia dentro de mim, mas eu me controlava
e seguia, viver um dia de cada vez suportando e lidando com a
distância e a saudade tinha se tornado minha meta de vida, e até o
momento, eu sobrevivi.

— Você está linda, principessa — papà fala quando entra no meu


quarto, eu estava de frente para o espelho prendendo o último par do
brinco na orelha.

— Obrigada papà — respondo com um sorriso nos lábios.

— Amapola?

— Sim. — Giro em sua direção.

— Quando você vai deixar de lado esse orgulho e procurá-lo? —


pergunta, voltando mais uma vez ao assunto proibido.
— Não comece, papà, per favore.

— Filha, eu não tenho dúvidas de que você será a mulher mais bela
da noite, mas me dói saber que ainda assim, realizada
profissionalmente, a sua felicidade não chega aos olhos, você apenas
finge ter superado querida, não engane a si mesma.

— Não vamos falar disso hoje — peço, soltando um suspiro. —


Salvatore já superou e eu preciso fazer isso também, papà, mas você
não ajuda quando em cada oportunidade faz questão de me lembrar
dele.

— Você está tentando convencer a mim ou a você mesma que o


esqueceu, querida? Porque eu vejo todos os dias o quanto ele ainda
está presente aqui — toca em minha testa — e principalmente aqui.
— Toca em meu coração.

— Marco chegou. — Ouço o barulho da buzina e dou um beijo em


sua bochecha, agradecendo por ter sido salva dessa conversa —
Preciso ir.

— Não pense que vai fugir de mim — avisa e eu passo por ele,
sorrindo.

— Eu não penso papà, e nem conseguiria, não é mesmo? —


pergunto quando alcanço a porta.

O vento fresco bate em minha face e faz o vestido voar, desço as


escadas até me aproximar do carro de Marco, ele estava lindo, ou
melhor ele é um homem muito bonito e sedutor. É uma pena que eu
não esteja pronta para me abrir novamente para um relacionamento
porque tenho certeza de que ele seria o homem ideal.

— Você está linda, Amapola — ele fala admirado, vejo a devoção em


seus olhos e sei que ele tem interesse em mim, ele inclusive já deixou
isso claro mais de uma vez.

— Obrigada, você também não está nada mal. — Brinco, tentando


dissipar o clima que ficou após ele ter beijado meu rosto e demorado
tempo demais inspirando meu perfume.

— Eu tinha que estar digno da mulher que me acompanharia —


responde, sorrindo nossos rostos quase colados um ao outro.

— Vamos? Não podemos nos atrasar afinal somos os anfitriões. —


Dou um passo para trás, tentando manter a conversa em um ponto
seguro, por um instante achei que ele me beijaria.

— Acho que ninguém se importaria se nos atrasássemos cinco


minutos.

— Eu me importaria. — Sorrio e abro a porta do carro — Teremos


tempo para conversar depois.

— Vou cobrar essa conversa — ele fala, fazendo um gesto de


reverência e terminando a tarefa de abrir a porta para que eu
entrasse no carro, ele ainda me estendeu a mão para auxiliar na
entrada.

Eu respiro fundo para controlar os meus pensamentos, talvez fosse


bom que eu tentasse, mas por outro lado, não sei se conseguiria.
Antes que ele desse partida no carro vejo uma das cortinas da janela
se fechar, papà nos observava, de certa forma é até bom para que
ele entenda que eu preciso seguir em frente.

E talvez Marco seja o caminho ideal para isso.


Capítulo 53
"Ela tinha razão, não fazia parte desse mundo de riscos e morte,
eu não podia arrastá-la para a minha própria miséria"

Rosno ordens para todos os lados, na verdade os dois últimos meses


tem sido um inferno para aqueles que convivem e trabalham
diretamente comigo.

Desconto a minha raiva espancando, torturando e matando qualquer


um que ouse entrar em meu caminho. Sei que nem os meus irmãos
estão mais me suportando, mas o que eu posso fazer se essa é a
única maneira que eu conheço de livrar um pouco do meu estresse?

— Vão ficar aí me olhando com essa cara? — pergunto após ter dado
mais uma ordem a Fabrizio. Eu esperava que ele e Rico saíssem
imediatamente, mas os dois permaneceram sentados onde estavam,
pernas cruzadas, copo de whisky na mão e o olhar afiado em minha
direção.

— Sim, ficaremos até que você pare de ladrar como um cão e nos
ouça. — É Rico que fala.

— Me poupe Rico, eu não tenho tempo para ficar batendo papo com
vocês.
— Nós não queremos bater papo, Salvatore, mas precisamos que
você pise no freio pelo menos por um instante — Fabrizio completa.

— Pise no freio? — Sorrio com escárnio — Como vou fazer isso se


tenho um monte de merda acumulada para resolver?

— Divida as tarefas. — Rico ergue as sobrancelhas em minha direção


como se falasse o óbvio.

— Nos últimos meses, nós quase não temos tido funções, você está
absorvendo tudo, Salvatore — Fabrizio completa.

— Então que bom para vocês, não é mesmo? Aproveitem a folga e


divirtam-se. — Faço um gesto com a mão indicando a porta, eu quero
ficar sozinho.

— Que merda você pensa que está fazendo? — Rico perde a


paciência e eu recosto na cadeira cruzando as mãos sobre o peito
para ouvir o que quer que eles tenham a dizer, confesso que estou
ansioso para que acabem logo e saiam.

— Irmão olha só, nós sempre trabalhamos como uma equipe, nos
conhecemos como ninguém mais e sinceramente, não aguentamos
mais ver você se afundar nessa merda toda.

— Vocês não precisam ver nada, só saiam e me deixem trabalhar em


paz.

— Salvatore, nós não sabemos mais o que dizer para controlar os


capôs. Desde a morte dos Carbone nós não fizemos mais nenhuma
reunião e você tem cobrado deles cada vez mais.

— Essa é a minha função como chefe, cobrar para que no final tudo
dê certo, se eu não colocar a porra da minha cabeça no lugar toda
essa organização vai ruir.

— Esse é o problema, Salvatore, você não está com a porra da sua


cabeça no lugar, toda a sua mente está focada em apenas uma
pessoa: Amapola Beviláqua — Rico fala e disfarço o baque que sinto
no coração apenas com a menção do seu nome.

Eu proibi que eles me dessem qualquer informação sobre ela, pedi


que não me dissessem absolutamente nada desde que ela se foi,
apenas pedi que continuassem a protegê-la e a ajudassem no que
fosse preciso.

Eu mandei ainda que Amadeu tivesse homens em sua cola, mas eu


não procurava saber qualquer informação sobre ela, garantir que ela
estivesse bem era o que me bastava.

Apenas uma pessoa rompeu essa barreira que eu criei: Leopoldo


Beviláqua.

Após quatro meses que Amapola se foi, ele começou a me ligar pelo
menos duas vezes por dia e em todas elas pedi que dissessem que
eu estava em reunião. Ele foi persistente e continuou com as ligações
por cerca de um mês, eu me perguntei por quanto tempo ele iria
resistir.

Até que um dia, em uma das suas ligações, ele disse que ela estava
passando mal, era mentira do velho, apenas um artifício que usou
para que eu o atendesse e eu diferente de toda a minha vida, fui
irracional, deixando que as minhas emoções me guiassem e atendi.

Conversar com ele era como estar falando com meu pai, primeiro ele
me deu um sermão por tudo o que a sua filha havia presenciado e eu
sabia que merecia, por isso o ouvi. Depois, ele deixou claro para mim
o quanto eu estava sendo fraco, quase sorri porque era, no mínimo,
loucura de sua parte me atacar novamente, mesmo que dessa vez
fosse com palavras.

No último mês, suas ligações foram constantes, mas algo que ele
disse me tirou o eixo central, Marco, meu sócio e presidente da
exportadora estava começando a se aproximar demais de Amapola.

Como na porra do mundo ninguém havia me dito isso? Questionei,


mas lembrei que eu havia proibido qualquer pessoa de tocar em seu
nome, todos, assim como sempre acontecia, estavam apenas
cumprindo as minhas ordens, eu não podia reclamar.

Eu vivi um inferno, sem decidir o que fazer, arrumei minhas malas


para ir até ela por mais vezes do que consegui contar, mas desisti em
todas elas e as suas atualizações, mesmo que contrariando as
minhas ordens, vinham cada vez mais me tirando o sono.

Cheguei a ir até palermo há quinze dias atrás e os vi almoçando no


mesmo restaurante que eu a havia levado. Eles não estavam
sozinhos, era um almoço de negócios eu sabia, mas ver a interação
entre eles quase me fez surtar, como o ogro que sou, eu queria tirá-la
de lá, colocá-la em meus ombros e lhe dar uns bons tapas na bunda
por sequer ter deixado que ele se aproximasse, mas eu não fiz.

Eu percebi que ele era o melhor para ela, suas palavras duras,
voltando a minha mente. Ela tinha razão, não fazia parte desse
mundo de riscos e morte, eu não podia arrastá-la para a minha
própria miséria, e foi pensando assim, que antes mesmo que
chegasse a casa onde passei dias felizes com ela, voltei para o
hangar e voei de volta para Roma.

— Você está louco — autopiedade rosno, voltando a realidade e


tirando o meu pensamento do devaneio. — Eu nem lembrava dessa
garota — falar dela dessa forma tão impessoal me machuca, mas é
preciso para que eles se calem.

— Tem certeza? — Fabrizio questiona. — Então por que ainda não


marcou um jantar com os capos para anunciar o seu noivado? Ou
melhor, por que não esteve com nenhuma outra mulher depois dela?
— Fabrizio pergunta.

— Porque eu estou atarefado demais, vocês não veem? Eu não


tenho tempo, porra.

— Ou talvez seja porque... — em um gesto rápido, Rico se joga sobre


a mesa abrindo a primeira gaveta e tira de lá o colar que eu dei a
Amapola no dia da sua formatura e a foto que esteve estampada em
que nós nos beijávamos — porque você ainda não a esqueceu —
completa, tirando a peça da gaveta e pulando para longe de mim.

— Me devolva essa merda. — Fico de pé, ele foi tão rápido ou eu


estava mais distraído do que supunha que sequer notei as suas
ações.

— Venha pegar. — Ele balança os itens no ar como fazia quando


éramos crianças.

— Rico. — Fabrizio o repreende, mas sorri.

— Se eu chegar até você, eu vou te dar uma surra tão grande que
precisará de um hospital — aviso.

— Desde que você melhore o seu humor do cão, irmão, eu não me


importo de ser o saco de pancadas da vez — ele fala sério de
repente, mas se recompõe rapidamente e volta a balançar a peça no
ar.

Avanço em sua direção, mas sou contido por Fabrizio e Amadeu que
acompanhavam toda a merda do canto da sala onde
costumeiramente ficavam.

— Me solta, caralho. — Em um gesto rápido, empurro os dois que


tropeçam para trás e avanço, mas os três se unem e me seguram
juntos. Eu poderia lidar facilmente com cada um deles sozinhos, mas
juntos os três melhores lutadores que conheço, depois de mim,
realmente fica impossível.

— Agora você vai nos ouvir. — Fabrizio começa após ter me


amarrado a uma cadeira.

— Quando estiver solto vou enfiar uma bala na testa de cada um de


vocês. — Olho para Amadeu: — Sua mãe perdeu o marido agora
perderá o filho, pode ligar para ela mandá-la começar a rezar.
— Me desculpe, chefe, eu nunca fui e nem serei desleal a você, mas
é por ver que está se afundando cada vez mais que eu concordei em
fazê-lo ouvir o que seus irmãos tem a dizer

— Eu vou matá-los, mesmo assim — aviso e ele concorda com a


cabeça.

— Você sabe que hoje terá um evento em Palermo, não é? —


Fabrizio começa e eu concordo com a cabeça. — Você irá e não eu.

— Você está louco? — Sacudo-me, tentando me soltar.

— Não estamos, irmãozinho — Rico completa. — Você ama Amapola


e desde que ela se foi, você não vive, vegeta.

— Eu não tenho sentimentos suficiente para amar e vocês melhor do


que ninguém sabem disso — corto. — Eu a deixei ir porque quis e
porque ela merece algo melhor do que eu tenho a oferecer.

— Ah, então deve ser por amá-la que colocou quase vinte homens
em sua cola, não é mesmo? — Rico fala arrogante.

— Salvatore, você a está atirando nos braços de Marco, nossos


informantes tem dito que ele está cada vez mais próximo, é isso que
você quer? — Fabrizio questiona.

— Quem a colocou para trabalhar com ele foram vocês, seus imbecis
— rosno com raiva por suas palavras e começo a forçar a corda que
me prende à cadeira, sei que não demorará muito até que eu esteja
solto.

— Você disse que não era para colocarmos ela em nada relacionado
à máfia, queria ela em um serviço limpo e foi ela que escolheu
Palermo, essa foi a melhor opção que encontramos — Fabrizio
explica.

— Muito bem, então, acharam que a colocar com o almofadinha,


honesto e tirado a galã era a melhor opção? — Cuspo as palavras. —
Não podiam ser mais imbecis.

— Acho que tem alguém com ciúmes, não é mesmo irmãozinho? —


Rico provoca e eu levanto erguendo a cadeira comigo.

— Chega Rico. — Fabrizio interfere, sabendo que ele está passando


dos limites. — Salvatore, nós queremos o melhor para você, e para
ela também. Todas as vezes que falei com Amapola, ela estava triste,
sua voz e o seu olhar nas chamadas de vídeo não tinham mais brilho
— conta.

— Assim como você, ela tem trabalhado desde a hora que acorda até
quando vai dormir, ela também está prestes a pifar assim como você,
irmão. Essa birra, essa distância que há entre vocês não está fazendo
bem a nenhum dos dois, será que não enxergam isso? — Rico fala
sério.

— E o que querem que eu faça? Que a impeça de ter a vida digna


que ela sempre desejou? Que a traga de volta para esse mundo de
miséria e morte? — Consigo soltar minhas mãos e me levanto
deixando todos em alerta.

— Não irmão, nada disso, nenhuma paz que vocês dois tenham
fantasiado vale a pena se vocês já estiverem mortos por dentro. E é
isso que temos visto, vocês morrerem um pouco mais a cada dia, e
digo isso não como seu consigliere, mas como seu irmão. — Levo as
mãos ao rosto exasperado com as palavras de Fabrizio.

— Eu não sei se é o certo. — Tiro o colar e a foto das mãos de Rico.

— Nós também não sabemos irmão, mas vá até lá e descubra —


Fabrizio avisa.

— Chefe — Amadeu chama minha atenção.

— Você também?

— Só mais uma coisa.


— Fale.

— Um dos meus homens disse que o tal do Marco comprou um anel


hoje pela manhã e é exatamente do tamanho do dedo anelar da
Amapola.

— Por que merda não me disse antes? — rosno irritado para ele.

— Porque o senhor havia me proibido de tocar no nome dela. — Ele


dá de ombros.

— Prepare o jatinho — falo para ele indo em direção à minha mesa


para pegar meus objetos pessoais antes de sair, eu havia tomado
uma decisão. — E você, — aponto para Fabrizio — marque um jantar
amanhã com os capos, diga que vou anunciar a minha noiva —
completo.

— Calma, Salvatore, um passo de cada vez — Fabrizio começa


prudente — E se ela não voltar com você? Estamos falando de
Amapola, não é mesmo? A ragazza é imprevisível.

— Faça o que mandei, Fabrizio, eu espero trazê-la de volta, mas se


ela não voltar comigo, outra será escolhida como minha esposa —
falo determinado e sigo para a porta, meu coração acelerado, eu não
quero outra mulher, apenas Amapola me fará feliz.

— Ah, já ia esquecendo. — Giro sobre os calcanhares e ainda


consigo ver os três sorrindo por terem alcançado o objetivo, mas vejo
o sorriso morrer à medida que dou um soco em cada um deles. —
Nunca mais me prendam — aviso, deixando-os caído com a certeza
de que cada um estará com um olho roxo em questão de segundos.
— Obrigada irmãos — falo, saindo do ambiente e deixando-os para
trás, com certeza, tão perplexos quanto satisfeitos.
Capítulo 54
"Antes eu amava a escuridão porque pensava fazer parte dela,
agora eu a admiro porque através dela conseguimos ver a beleza
das estrelas que piscam sendo mais fortes do que a escuridão
que as cerca."

O jatinho pousa no hangar em Palermo às dezoito horas


pontualmente, de uma forma estranha, lembro da minha mãe e de
toda a sua devoção, contradizendo tudo o que fui nos últimos anos,
volto aos tempos em que fui catequisado e faço uma oração a Deus
para que Ele conduza os meus passos se merecer que Ele me ajude
a trazer Amapola de volta, porque estou certo de que essa é a nossa
última chance sem dúvida.

No mesmo quarto onde estive com ela da última vez que viemos a
Palermo, eu ainda enrolado em uma toalha, me deito para admirar as
estrelas, até isso Amapola me fez enxergar de outra forma.

Antes eu amava a escuridão porque pensava fazer parte dela, agora


eu admiro porque através dela conseguimos ver a beleza das estrelas
que piscam, sendo mais fortes do que a escuridão que as cerca.

Amapola era assim, mesmo com a escuridão que eu trazia à sua


volta, ao cercá-la, ela brilhava e se sobressaia a mim.
Olho no relógio, são nove horas da noite, resolvo me vestir e ir até
sua casa, quero saber como é o local que ela vive, mesmo tendo me
assegurado de que seria ideal para ela e o seu pai, quero ver
pessoalmente.

Amadeu conduz o carro até a casa e parece que a cada metro de


aproximação, o meu coração palpita ainda mais acelerado.

— Pare aqui — peço que Amadeu mantenha a distância ao


estacionar, eu sabia que ela iria para a festa com Marco, seu pai tinha
me dito quando sondei hoje à tarde, não contei que estaria aqui a
noite, pela primeira vez eu estava inseguro.

Mesmo já tendo obtido informação sobre a interação entre eles, eu


me surpreendi ao vê-los juntos e considerei que talvez ele fosse
melhor do que eu para ela, mas como eu sou um filho da puta,
egoísta do caralho, desconsidero o lapso de consciência e decido que
já lhe dei tempo demais.

Observo quando ela sai, linda como sempre esteve, um vestido com
um decote em formato de coração, longo e esvoaçante cobre o seu
corpo, algumas flores pequenas e delicadas ornam o tecido, o cabelo
solto sobre os ombros e uma leve maquiagem. Mesmo longe, consigo
captar cada detalhe que há nela, e mesmo que nos mantivéssemos a
quilômetros de distância, ainda assim, eu a enxergaria perfeitamente
como se usasse lentes de aumento.

Ela caminha na direção de Marco lentamente, um sorriso que antes


era apenas destinado a mim estampa o seu rosto, ele escaneia todo o
seu corpo e eu controlo o meu instinto que grita para que eu o tire de
perto dela.

Vejo quando ele beija seu rosto, e demora por tempo demais ali, mas
antes que eu não seja mais capaz de controlar meus impulsos,
Amapola se afasta, dando um passo para trás.

— Ela ainda é minha. — Sorrio satisfeito.


— Sem dúvidas nenhuma, chefe — Amadeu fala e eu me dou conta
da sua presença e que, principalmente, falei em voz alta sem sequer
perceber.

— Eu ainda não esqueci o que fez, Amadeu — falo irritado, tentando


manter alguma distância do homem que me acompanha por uma vida
inteira.

— Tenho certeza que me agradecerá depois — Eu mal posso


acreditar, logo ele que sempre manteve uma postura austera e
respeitosa, agora acha que pode dizer o que pensa.

— Você está andando demais com Rico, preciso rever esses contatos
— resmungo e ele assente com a cabeça, mas noto que há algum
resquício de sorriso em seus lábios.

— Seguimos ele, chefe? — pergunta assim que o carro de Marco


entra em movimento.

— Não, eu preciso fazer algo antes, pare na frente da casa, por favor.

Mesmo sabendo que posso apenas entrar no lugar, eu não faço,


prefiro respeitar pelo menos um pouco a privacidade deles, por isso
bato na porta quando a alcanço.

— Salvatore? — A cara de espanto do pai de Amapola quase me faz


sorrir.

— Esperava mais alguém, suocero?

— Sogro? Então quer dizer que você finalmente resolveu fazer o que
era certo?

— Não vai me convidar para entrar?

— Desculpe, Salvatore. Venha, vou fazer um café para nós dois. —


Abre passagem e eu entro no lugar, escrutino tudo e posso ver um
toque dela em cada canto, mia Amah, em todos os lugares que toca
deixa a sua marca.
— Então, por que não me disse que viria? — ele pergunta quando me
estende uma xícara.

— Porque eu decidi um pouco mais cedo.

— Ela acabou de sair — comenta e o seu sorriso morre, de repente,


nos lábios. — Talvez você tenha demorado tempo demais.

— Eu vi quando ela saiu, eu estava com o carro parado um pouco


atrás — Informo.

— E por que deixou que ele quase a beijasse? — pergunta


espantado.

— Eu nunca os tinha visto juntos, e quis observar para ver se ela o


queria ou ainda me pertencia.

— E o que viu? Porque eu também os estava olhando e por muito


pouco eles não se beijaram.

— Mas ela retrocedeu, de alguma forma o afastou, Amapola ainda é


minha, sr. Leopoldo, e é por isso que vim falar com o senhor primeiro.

— Pois fale logo homem.

— Quero que me dê a mão da sua filha em casamento.

— O que? Rápido assim quer levar ela de mim? — De repente, o


homem se levanta e começa a andar de um lado para o outro.

— O que esperava? Já demoramos tempo demais para isso — aviso.

— Mas nós estamos bem aqui — fala com pesar.

— Eu garanto que tudo ficará como deve ser, mas eu não quero e
não vou mais esconder Amapola, essa é a nossa última chance, se
ela não voltar comigo, acabou para nós.
— Filho, tenha calma, não é assim que as coisas se resolvem.

— Se tem uma coisa que eu não tenho é calma, e já esperei demais


por Amapola — Ponho-me de pé, preciso ir para a festa. — Tenho
sua benção ou não?

— Sim, Salvatore, você a tem — ele fala após tomar uma longa e
profunda respiração. — Cuide, proteja e ame minha filha, não a faça
sofrer, por favor.

— Não se preocupe, mio suocero, minha vida será fazê-la feliz. —


Caminho para a porta. — Não a espere para dormir — falo com um
sorriso nos lábios.

— Controllati Salvatore, Amah è mia bambina, si?

— Non preoccuparti, eu só a farei bem — aviso e desço as escadas


antes que o homem saque uma arma e torne Amapola viúva antes
mesmo do nosso casamento.

***

Amadeu estaciona o carro no local onde acontecerá o evento de


lançamento dos produtos novos, não apenas pessoas da Itália, mas
de todo o mundo estão presente.

Sou abordado por uma pessoa diferente a cada passo que dou para
dentro do ambiente, tento ser cordial mesmo que esse evento em
nada me apeteça, eu apenas quero encontrá-la, mas sendo quem
sou, era de se esperar que todos quisessem um tempo comigo, o
mínimo que fosse, por isso que estava claro para mim o porquê de eu
enviar sempre Rico ou Fabrizio para esses eventos, só me fazia
presente quando havia extrema necessidade.

Quando finalmente consigo chegar ao salão principal, eu a vejo, ela


está na companhia de Marco e um outro casal que reconheço como
donos de uma das principais adegas da Itália, Amapola sorri, mesmo
estando de lado para mim, ela ainda não me viu, tem um braço
apoiado no de Marco e dou o melhor de mim para não puxar uma
faca e cortar fora o membro que a apoia e a sua outra mão que
acaricia a de Amapola com cuidado.

Pouco a pouco as pessoas notam a minha presença, e as cabeças


giram em minha direção, até que ela, seguindo os demais, me olha e
vejo o sorriso morrer lentamente em seu rosto. Ela não estava feliz
em me ver ou era apenas o choque pela surpresa inesperada, afinal
Fabrizio era quem deveria estar aqui e não eu.

Com segurança, caminho em sua direção, ignoro a todos que


tentavam se aproximar de mim, depois eu voltaria para falar com eles,
mas o meu único foco, no momento, era afastar os dois e eu iria.

— Senhores? — Cumprimento os homens, estendendo a mão, Marco


me olha surpreso, tenho certeza que ele sabia que eu e Amapola
tivemos qualquer envolvimento, afinal, nossas fotos estamparam
todos os jornais e revistas de grande circulação há apenas seis
meses.

— Senhora. — Pego a mão da mulher que o acompanhava e beijo o


dorso em respeito ao seu marido.

— Amapola. — Estendo minha mão para ela que se mantem feito


estátua, nem os olhos piscam.

— Salvatore. — Meu nome em seus lábios é um sussurro lento e


envolvente que faz todo o meu corpo se arrepiar.

— Sei belíssima, amore mio — Diferente do que fiz com a outra


mulher, eu a puxo, beijando sua face e sussurro em seu ouvido. Vejo
seu pescoço e braços se arrepiarem e sorrio quando nos afastamos
minimamente.

— Senhor Dalla Costa, que surpresa tê-lo aqui — Marco fala,


tentando demonstrar um entusiasmo que eu sei que ele de fato não
tem, assim como eu pensei, Amapola não mais envolveu o seu braço
com o dele e minha missão, por hora, está cumprida.
— Fabrizio teve um imprevisto — justifico. — De qualquer forma eu
fazia questão de estar presente hoje aqui — comento e em seguida
nos engajamos em uma conversa sobre negócios e prosperidade de
vendas, infelizmente, eu não podia me dedicar apenas a Amapola.

Marco, como o bom empresário que era, me conduziu às principais


rodas, cumprimentei todos os homens e mulheres que estavam
presente e eram mais importantes, seguido lado a lado por ele e
Amapola. Ela, embora sorrisse e tenha sido simpática, estava tensa,
eu podia sentir.

— Eu preciso ir ao banheiro — fala após algum tempo.

— Esteja à vontade Amapola — Marco responde, sorrindo.

— Estarei esperando, mia bela. — Solto e ela respira fundo, fechando


os olhos antes de me virar as costas, eu sabia que ela não estava
satisfeita com a situação, mas o que eu podia fazer afinal?

— Me acompanhe — falo com Marco e sigo com ele em direção a


uma das salas que eu suspeitava já estar vazia, Amadeu havia me
dado o sinal, indicando o lugar, era por isso que ele era o meu melhor
homem, ele se antecipava a tudo o que eu precisasse.

— Senhor, Salvatore, sua presença aqui foi maravilhosa, tenho


certeza que o evento será ainda mais um sucesso — fala após
entrarmos no ambiente.

— Que bom, Marco, é sempre a minha intenção que os lucros sejam


maiores, mas o que me trouxe hoje aqui não foram os negócios e sim
Amapola.

— Amapola? —Tenta demonstrar espanto, mas eu, sendo homem,


sei que ele já tinha sacado motivo da minha presença.

— Sim, la mia moglie.

— Sua mulher? Senhor eu não sabia que vocês...


— Não se faça de tolo, Marco, para o seu próprio bem. — Minha voz
é firme e cortante, vejo que ele engole em seco. — Eu e Amapola
estivemos passando por um mal tempo, mas decidi que ela já teve o
que precisava, então eu vim para buscar o que me pertence.

— Ela disse que estava sozinha.

— Eu não lhe perguntei o que ela disse, e se quiser continuar na


empresa, ou melhor, se quiser continuar vivo, afaste-se dela — Sigo
para a porta.

— Me desculpe, senhor, eu não sabia — Eu reviro os olhos, como


pude considerar que um homem frouxo como esse, que sequer tem
culhões para me peitar, poderia ser bom para Amapola?

— Mas agora sabe. — Giro a maçaneta, mas lembro de ter esquecido


algo — E da próxima vez que sua mão tocar em qualquer lugar do
corpo dela, mesmo que seja na ponta dos dedos, eu a corto.

Ele me segue para fora e não muito depois, os meus olhos se cruzam
com os de Amapola, ela olha entre mim e Marco, acredito que está
surpresa por ainda o encontrar vivo, mas eu desvio os olhos dos dela,
eu a surpreenderei esta noite, tenho certeza.

Eu estou exausto de tantas conversas vazias, na verdade, não me


incomodaria tanto se eu não estivesse ansioso para estar a sós com
Amapola. Pensei em arrastá-la para a sala onde estive com Marco,
mas desisti, ela estava tensa eu sabia, deixá-la em expectativa estava
me divertindo também, por isso aguardei, ansiosamente, a
oportunidade que buscava e quando ela seguiu para o lado dos
banheiros eu a segui, deixei que ela entrasse e verifiquei as portas
dos lados, encontrando uma espécie de sala onde poderíamos
finalmente estar a sós.

— Xiii, sou eu, meu amor — sussurro em seu ouvido após abafar o
seu grito com uma das mãos, suas costas coladas em meu corpo, de
repente, me trouxe um alívio inesperado, caminho com ela colada a
mim. Ainda mantendo sua boca fechada com minha mão, se tratando
de Amapola eu nunca sei exatamente o que esperar, então melhor
garantir que não fizesse um escândalo.

— Salvatore, o que faz aqui? — pergunta quando entramos no


ambiente e eu a solto.

— Não está feliz em me ver, mi amore?

— Eu só estou... surpresa — Tenta explicar, mas eu não resisto e a


agarro pressionando-a contra a parede.

— Puta merda, mia Amah, eu estava doido de saudades de você —


Sinto o calor passar entre os nossos corpos e solto um suspiro antes
de tomar os seus lábios em um beijo faminto.

Pouco a pouco, Amapola cede passagem para o meu beijo, abrindo e


gemendo quando nossas línguas se tocam, quanto mais aprofundo o
beijo, mais ela se solta. Não muito tempo depois, ela está puxando o
meu cabelo, ergo minimamente seu corpo e suas pernas envolvem
minha cintura, pressiono o meu pau duro em sua boceta e ela arfa.

— Não faz isso comigo, Salvatore, eu não vou conseguir sobreviver a


tudo novamente. — Sua voz é um sussurro sofrido quando nossas
bocas se afastam.

— Eu não vou fazê-la sofrer, amore mio, eu vim te buscar — Encosto


minha testa na dela, nossos olhos quase colados um no outro.

— Eu não posso ir, minha vida é aqui agora Salvatore. Isso entre nós
nunca vai dar certo. — Ela descruza as pernas que me envolviam e
eu a apoio no chão com cuidado.

— Me dê uma chance, Amah, eu vim até aqui para conversarmos,


mas não é esse o momento, eu só não pude resistir, quando sairmos
daqui, venha comigo por favor, eu preciso que você me ouça.

— Não me peça isso, por favor.

— Você está feliz, Amapola? — pergunto ainda sem afastar as


nossas testas, e dependendo de qual for sua resposta é o nosso fim.

— Eu estou bem aqui, gosto do trabalho, das pessoas...

— Eu perguntei se era feliz, amore mio e não se estava bem.

— Eu não sei o que dizer.

— Diga a verdade, Amapola, apenas a verdade, ainda tem o mesmo


brilho no olhar todos os dias quando era quando acordávamos
juntos?

— Não — ela responde por fim após um tempo que pareceu


estabelecer uma batalha com ela mesma. — Mas também não tenho
a tristeza da incerteza de saber se no final do dia você apresentará a
sua noiva à sociedade e aos seus capos, de precisar fingir que não
sou nada além de sua assistente, de estar com você tão perto e ao
mesmo tempo distante, de ser o seu segredinho, aquele que só
sabem os que frequentam sua casa, ou seja, os seus irmãos.

— Me perdoe, amor, por ter feito você pensar assim, mas você jamais
foi o meu segredinho, me dê uma chance, Amapola e se você depois
dessa noite ainda quiser ficar aqui, eu a deixarei e nunca mais
voltarei.

— Me dê um tempo para pensar.

— Você tem até o final da festa, mia bela. — Afasto os nossos corpos
sabendo que precisamos voltar para o salão.

— Tudo bem, até o final da festa. — Suas palavras acendem a


esperança dentro de mim e após mais um beijo que não resisti em
roubar, voltamos para o ambiente barulhento e lotado de pessoas.

Sentamos na mesa principal para o jantar, e após comermos e


experimentarmos os novos vinhos a orquestra contratada começou a
tocar.

— Convidamos agora os anfitriões da sede da exportadora para


abrirem a pista de dança, senhorita Amapola Beviláqua nos dê a
honra de acompanhar os senhores Salvatore Dalla Costa e Marco
Grassi — o idiota fala de cima do palco e nos três ficamos nos
entreolhando sem saber como agir, como no inferno eu ia dividir
minha mulher com outro?

— Senhor? — Marco pergunta ciente da minha ameaça anterior, mas


preocupado em fazermos uma cena.

— Vão — rosno para os dois, não tendo outra opção, vejo eles
dançarem, ambos constrangidos o homem sequer se aproxima de
Amapola. Graças a isso ele estará vivo no final da noite, quanto ao
músico imbecil eu já não posso garantir.

— Com licença. — Sob os olhares atentos de todos, eu tiro Amapola


dos braços de Marco, não esperei sequer duas estrofes completas e
isso já tomou toda a minha paciência.

— Salvatore — Amapola fala entredentes, mantendo o sorriso no


rosto enquanto me repreende. — Não faça uma cena aqui, você não
deixou sequer eu dançar com ele a primeira parte da música, foi...
deselegante.

— Apenas com a primeira palavra eu já queria arrancá-la dos braços


dele, amore mio, não teste a paciência que eu não tenho. — Em um
movimento rápido giro o seu corpo arqueando-o em seguida e
tomando os seus lábios na frente de todos.

Mandei a merda todo o protocolo e controle que estava tentando ter,


que se explodam os jornais e revistas de fofoca, eu quero que todos
saibam que ela é minha.
Capítulo 55
"Joguei todos os meus medos e angústias de lado e me joguei
em seus braços novamente, eu amava esse homem com todas
as minhas forças"

Salvatore só podia estar ficando louco, não havia outra explicação.


Após o show que protagonizamos na pista de dança, ele me arrastou
para fora do salão sem sequer se despedir de ninguém.

Eu percebi que se eu recusasse ou me opusesse a sairmos naquele


momento era provável que ele me jogasse sobre os ombros e me
carregasse para fora de qualquer jeito.

— Você está louco — falo, sorrindo quando chegamos a porta do


local onde acontecia o evento, suspeitava que Amadeu já havia saído
para buscar o carro.

— Louco por você, mi amore — ele diz ainda sem parar de andar
rapidamente.

— Devagar ou eu vou acabar caindo com esses saltos — Tento me


equilibrar e acompanhá-lo ao mesmo tempo que uma das minhas
mãos mantinha a barra do vestido longe do chão e dos meus pés,
evitando também a queda.
— Não seja por isso, mia bela. — Dou um pequeno grito quando ele
me tira do chão e me carrega em seus braços até o carro que
acabara de estacionar à nossa frente. — Eu tenho pressa.

— Para onde estamos indo?

— Para nostra casa — fala tranquilamente.

— Meu pai, ele vai ficar preocupado. — Tento justificar, mas no fundo
sei que quero evitar estar a sós com ele, como vou conseguir pensar
racionalmente tendo-o tão perto de mim?

— Não se preocupe, eu já o avisei.

— O que? Quando? Como?

— Hoje mais cedo, assim que você saiu com Marco eu estive em sua
casa, eu avisei que você dormiria comigo.

— E quem disse que eu vou? — Cruzo os braços e a sobrancelha,


desafiando-o.

— Eu estou disposto a usar toda a minha persuasão, mio amore, para


garantir que essa noite você seja minha — fala, aproximando-se
como um felino prestes a atacar sua presa, sinto sua mão envolver o
meu pescoço e o seu hálito fresco resvalar em minha pele, me
arrepiando inteira.

— Esse é o problema, Salvatore — sussurro em um fio de voz


quando os seus lábios passeiam lentamente por minha pele sem
realmente tocar em lugar algum, apenas a sua respiração me
alcança, mas eu sinto como se ele tocasse em todo o meu corpo. —
Eu não suportarei ser sua por uma noite e vê-lo partir ao amanhecer.

— E quem disse que eu irei? — questiona com uma voz rouca.

— Eu sei que não pode ficar.

— Mas posso levá-la comigo, Amah, sarai mia per sempre.


— Ser sua prisioneira novamente?

— Mia moglie

— O que disse? — questiono, tentando confirmar se ouvi o que


suponho de fato.

— Vamos entrar, amore mio, lá dentro nós conversaremos — fala


quando a porta do carro é aberta por Amadeu, eu sequer havia
percebido que já havíamos feito todo o trajeto.

Era assim quando eu estava com Salvatore, ele me envolvia em uma


névoa de sensações, me fazendo perder totalmente a noção de
tempo e espaço.

Entramos no castelo e eu o admiro como fiz da primeira vez que


estive aqui, não havia como ser diferente diante de tanta beleza.

— Vamos? — Salvatore chama minha atenção.

— Para onde?

— Para o quarto — ele afirma, erguendo a sobrancelha para mim.

— Calma. — Estendo as palmas da minha mão para frente e fecho os


olhos, buscando controle — Olha só, nós precisamos conversar, e
acredito que o quarto não seja o lugar ideal para isso.

— Mia bella, estando no quarto, na sala de jantar, escritório,


biblioteca, cozinha ou até mesmo no banheiro não faria diferença
alguma, amore mio, eu iria te agarrar e estar o mais colado em você
que fosse possível, então considerei que o quarto seria mais
confortável — explica, como se não estivesse falando nada demais.

— Por favor, Salvatore, entenda o meu lado, não dificulte ainda mais
as coisas para mim — Imploro.

— Va bene, vamos sentar aqui, então — ele senta na escada,


deixando ainda mais claro que pouco importa onde nós estejamos, é
impossível nos mantermos distantes.

Caminho com cuidado até estar sentada ao seu lado, mas no instante
seguinte estou com a boca colada a sua.

— Me desculpe, amore mio, mas eu estou tentando diminuir a


saudade por estar a tanto tempo longe de você — justifica o beijo e
eu acabo cedendo, porque considero que é melhor realmente
estarmos no quarto, ou é capaz de alguém nos flagrar em um
momento constrangedor aqui mesmo, por isso o chamo para subir.

Quando Salvatore abre a porta do quarto que dividimos há tempos


atrás, me falta fôlego, ele pediu que arrumassem tudo com lençóis
vermelhos, pétalas de rosas e velas, o lugar parecia ter saído de uma
cena de filme.

— Salvatore — sussurro admirando o lugar, há uma mesa posta para


o jantar, no terraço tem um balde de gelo com taças de vinho além de
algumas frutas e queijos, ele pensou em tudo.

— Vem aqui, Amapola. — Ele segura em minha mão, me conduzindo


ao terraço.

— Nós precisamos conversar.

— Eu sei, mia bella, só não fique tão distante de mim, per favore.

— Eu não estou distante, Salvatore, eu só não consigo pensar


claramente estando tão perto de você.

— Va bene, amore mio, va bene. — Ele passa as mãos nos cabelos


exasperado — Eu gostaria que você soubesse, que o que viu, toda
aquela merda com Carlota, foi uma armação, eu estava dopado.

— Eu sei, Salvatore, eu estava lá quando você mostrou o vídeo aos


capos.

— E ainda assim me deixou — afirmou consternado. — Eu vivi o


inferno esses meses, Amapola, mas eu te deixarei partir se essa for
realmente sua vontade, você me disse coisas que eu sei que são
verdades. Sei que eu não a mereço, que o meu mundo corrompido
não faz parte de você, mas como eu sou um egoísta do caralho, eu
vim, mais uma vez por você, por nós dois. — Seus olhos sequer
piscam enquanto me encara.

— Tudo o que eu falei foi preciso, porque eu sabia que você não iria
se afastar de mim tão facilmente.

— Esperta.

— Aprendi com o melhor. — Sorrio — Esse tempo que passamos


longe, de certa forma, foi bom, Salvatore. Eu entendi que estar com
você apenas quando estivéssemos a sós não estava me fazendo
bem, a cada dia que eu acordava, me perguntava se seria o nosso
último dia juntos, sabia que todos estavam te pressionando para
formalizar o casamento e eu não seria e nem serei sua amante, por
isso eu parti, Salvatore. Eu entendo sua posição e suas obrigações e,
principalmente, entendo que a máfia tem tradições que devem ser
seguidas. Então, para me proteger, preservar a minha saúde física e
mental, eu preferi deixá-lo seguir.

— Eu nunca faria de você minha amante, Amapola, não me tenha em


tão baixa conta, tudo o que eu disse, tudo o que senti foi verdadeiro.

— Ainda assim não é o suficiente.

— Eu não posso abandonar a minha posição, amore mio, fui treinado


para isso desde quando nasci, mas se você quiser, eu estou disposto
a mudar as normas, alterar as regras do jogo e fazer de você mia
moglie.

— Como assim? Você sabe que eles não iriam aceitar, eu não sou
ninguém.

— Você é Amapola, você é l'amore della mia vita, e ser o chefe de


toda essa merda tem que valer alguma coisa quando eu preciso, não
é mesmo? — Um sorriso discreto brinca em seus lábios.
— Eu não sei se daria certo, e não estou disposta a arriscar
novamente.

— Vou garantir que dará certo sim, mia bela. — Ele leva as mãos ao
meu cabelo, colocando uma mecha atrás da minha orelha. — Eu
mato qualquer um que tentar nos atrapalhar. Olha para mim, amore
mio. — Levanta o meu rosto para que os nossos olhares se
encontrem. — Eu prometo te fazer a mulher mais feliz do mundo,
você é a única em minha vida e será assim para sempre.

— Salvatore — sussurro o seu nome maravilhada com suas palavras


e ele toma a minha boca com ânsia, fome e cuidado, eu
simplesmente deixo-o levar de mim tudo o que precisa e deseja assim
como eu faço com ele.

Joguei todos os meus medos e angústias de lado e me joguei em


seus braços novamente. Eu amava esse homem com todas as
minhas forças, e o beijo, dessa vez, não tinha mais qualquer resquício
de medo, eu estava novamente me entregando a Salvatore, afinal eu
era irrevogavelmente dele.

O beijo foi se tornando cada vez mais voraz, o desejo guardado em


nós nesses meses vindo à tona, e arrastando para o lado toda a
calmaria que nos envolvia no momento, rápido como o fogo
percorrendo a pólvora. Salvatore uniu os nossos corpos, numa
ligação ainda mais intensa do que todas as outras vezes que
estivemos juntos.

Salvatore beijou os meus seios, venerou o meu corpo inteiro e


quando, finalmente, o tive dentro de mim novamente, as sensações
que me tomaram se multiplicavam a cada estocada, a cada batida do
seu corpo com o meu, nós éramos perfeitos juntos e eu queria que
durasse não apenas por essa noite, ou pelos próximos dias, queria
que essa ligação fosse para a vida inteira.

— Ti amo, amore mio — Salvatore diz quando todo o meu corpo


começa a vibrar numa sintonia e ligação perfeitas.
— Ti amerò per sempre, Salvatore. — Os nossos gemidos se
misturam enquanto os nossos olhos dizem muito além do que essas
simples palavras conseguiam expressar.

— Sposami amore mio?

— O que disse?

— Case comigo, Amapola Beviláqua, seja minha para sempre —


repete e eu fico travada no lugar.

— Você está brincando?

— Nunca falei tão sério em minha vida.

— Mas e minha vida? Tudo o que construí aqui.

— Eu levo tudo para onde você quiser meu, amor, mas volte comigo,
seja mia moglie. — Ele ainda estava sobre o meu corpo, ainda
conectados pelos nossos sexos, mas além disso havia uma conexão
de alma.

A minha alma o pertencia, assim como a dele pertencia a mim, e eu


estava ainda mais feliz do que julguei ser possível.

— Accetto

— O que disse? — pergunta sem acreditar em minhas palavras.

— Eu disse que aceito ser sua para sempre, desde que você também
seja meu, e eu não preciso que leve tudo, porque eu estarei bem em
qualquer lugar desde que esteja ao seu lado. Eu te amo, Salvatore,
com todas as minhas forças e de todo o meu coração.

Ele me beija e fazemos amor novamente, ainda mais conectados.


Após o jantar, ele foi até a sua mala e tirou de dentro uma caixinha
com um anel ornado com um imenso diamante. Salvatore havia
pensado em tudo e eu não conseguia tirar os olhos da peça que
enfeitava o meu dedo, simbolizando o nosso amor e tudo o que
viveríamos dali em diante.

Eu disse sim a Salvatore e a tudo o que ele me oferecia, não sabia ao


certo o que aconteceria dali em diante, mas apostava que ele já tinha
pensado em tudo, e eu, estranhamente, confiava nele, mesmo
quando bateu aquele frio na minha barriga eu decidi me jogar nos
braços do amor, ou melhor, nos braços de Salvatore e não podia
estar mais feliz por isso.
Capítulo 56
"Quando pensei que talvez esse fosse o meu fim, morrer nas
mãos de Salvatore, chefe da Máfia Dalla Costa, Deus me mostrou
que este seria o meu recomeço."

Após termos dado um breve cochilo, pois a madrugada inteira


estivemos acordados, Salvatore me comunicou que a noite teríamos
um jantar de noivado, eu surtei é lógico.

Como assim ele vinha até Palermo, me convencia a voltar para ele,
me pedia em casamento e já tinha um jantar de noivado marcado
para a noite? Ele fez tudo isso em menos de vinte e quatro horas.

Eu não deveria me surpreender pois se tratava de Salvatore Dalla


Costa, o homem mais intenso e insano que eu conheci em toda a
minha vida, mas ainda assim, eu estava enlouquecendo.

Passamos na casa do meu pai para levá-lo conosco, ele estaria


presente no noivado, quando eu fosse apresentada aos capos como
sua futura esposa. Eu ainda tinha muitas coisas a resolver, afinal eu
tinha estabelecido uma nova vida, mas, no momento, só conseguia
pensar que dentro de poucas horas eu seria oficialmente a noiva de
Salvatore Dalla Costa.

Quando chegamos em Roma, fomos direto para a mansão, papà


preferiu ir até a nossa casa antiga, afirmando que precisava
descansar um pouco, durante a viagem, ele me disse que iria preferir
voltar para Palermo, morar lá estava fazendo bem para ele.

Eu sabia que, principalmente, por causa de uma certa vizinha viúva,


eles ainda estavam se conhecendo, mas tinha certeza que depois de
tudo o que passaram ao perder os amores de suas vidas, seria bom
para ambos essa nova relação.

Partiria meu coração estar distante dele, mas por outro lado seria
egoísta da minha parte se pedisse que ele viesse comigo, assim
como eu, ele precisava viver e ser feliz.

De certa forma, eu até gostei pois teríamos um pretexto para estar


com mais frequência em Palermo. A cidade que não apenas me
acolheu e curou as minhas feridas, mas também foi o palco dos meus
melhores momentos.

A mansão estava uma loucura, o jantar iria acontecer aqui, nós


receberíamos todos os capos e suas famílias para o comunicado. Eu
estava surtando, queria agir como uma perfeita esposa da máfia,
queria que todos enxergassem que eu era a mulher ideal para
Salvatore, e por isso, corri de um lado para o outro, verificando se
tudo estava como deveria.

Por volta de três horas da tarde, eu sequer havia bebido água,


mesmo com Ângela atrás de mim a todo instante, avisando que as
pessoas contratadas para fazer a minha maquiagem e cabelo já
haviam chegado há mais de duas horas.

Quando eu estava na cozinha com um avental preso a cintura, vi o


homem que eu amava irromper o ambiente com uma cara enfezada
seguido por uma Ângela igualmente irritada.

— Me ponha no chão, Salvatore, eu tenho coisas a resolver — eu


grito e estapeio as suas costas enquanto ele sube as escadas de dois
em dois degraus, como o belo ogro que é.
— Chega Amapola. — Ele me coloca no chão assim que chegamos
no quarto onde os profissionais contratados estão. — Saiam todos. —
Em segundos estamos apenas nós dois no ambiente, o medo que as
pessoas nutriam por ele, as faziam evaporar em questão de
segundos.

— Mas Salvatore, se tudo não estiver perfeito... — começo e ele me


interrompe.

— Não me importo, amore mio, eu só quero que você esteja perfeita,


tenho certeza que está tudo sob controle, e que qualquer pendência
que venha a surgir Ângela poderá contornar.

— Mas eu quero...

— Eu exijo que você pare e descanse um pouco, nós não dormimos a


noite e desde que chegamos você está correndo de um lado para
outro nessa casa, tome um banho, faça uma massagem, relaxe o
corpo e esteja ainda mais bella para mim a noite. — Ele beija os
meus lábio. — Eu te amo Amapola, não importa o jantar ou as outras
pessoas, isso é apenas nosso, eu só vou comunicar por causa da
minha posição na máfia, então, se preocupe apenas com você.

— Eu também te amo, Salvatore, vou fazer o que disse.

— Boa garota. — Ele deixa um beijo em meu nariz antes de virar as


costas.

— Eu posso só resolver mais uma pequena coisinha? Juro que


depois disso eu volto e me tranco aqui nesse quarto. — Junto as
mãos, fingindo inocência, mas sabendo que eu quero descer e ver
tudo com os meus próprios olhos.

— Se passar por essa porta eu juro que a tranco aqui, mio amore, —
fala — se precisar de qualquer coisa ligue para Ângela, mas fique
nesse quarto, per l'amor di Dio.

— Va bene, Salvatore, va bene — respondo irritada, mas logo passa


quando ele corta a distância, me abraçando e me beijando
apaixonadamente, nós ainda precisávamos de muito tempo juntos
para matar toda a saudade que acumulamos nesses meses.

***

Já eram dez e meia da noite, todos os convidados já haviam chegado


Rico e Fabrizio haviam vindo me ver ainda no início da noite, a
satisfação por me terem de volta estava estampada em suas faces,
éramos uma família afinal.

— Você está linda — Ângela fala admirada ao entrar no quarto.

— Eu estou tão feliz — confesso.

— Desde a primeira vez que a vi nesta casa, eu sabia que seria você
a escolhida pelo coração do meu menino, Amapola. Eu não estava
enganada assim como tenho certeza que serão felizes para sempre.

— Você vai me fazer borrar a maquiagem. — Tento segurar o choro


quando ela me abraça.

— Não faça isso, menina, senão terá que retocar e o seu noivo lá em
baixo já está impaciente para a sua chegada, eu vim trazer o seu pai
para te acompanhar.

— Ai Naná, tenho medo de estar vivendo um sonho e acordar em um


pesadelo longe dele novamente.

— Não tenha medo, minha filha, conheço o Salvatore desde as


fraldas e sei que ele fará de tudo para que você seja feliz, mesmo que
ele seja um grosso na frente dos outros, dentro do lar de vocês nada
os atingirá.

— Obrigada por tudo.

— Eu que agradeço a você, Amapola por tê-lo salvo de si mesmo. —


Nós nos abraçamos e saímos do quarto para encontrar o meu pai que
ao me ver vestida de branco, ainda que não fosse o casamento
propriamente dito, ficou tão emocionado quanto eu estava.

Nós sabíamos que minha mamma onde quer que estivesse, também
olhava por nós, e eu estava grata por tudo que nos aconteceu,
mesmo com todas as dores e dificuldades. Após a sua partida nós
sobrevivemos e finalmente estávamos bem.

— Senhores sua atenção, por favor. — Ouço a voz grave de


Salvatore quando me aproximo da escada. — Todos sabem que há
algum tempo eu tenho procurado uma noiva, as minhas obrigações
com a máfia, não mais me deixavam postergar o momento e sabendo
disso, convoquei esse jantar para lhes apresentar oficialmente a
minha escolhida. — Escuto suspiros femininos e engulo em seco, sei
que todas as filhas da família estão em expectativa por serem a
escolhida por ele.

— Eu não farei juras de amor ou um discurso sentimental isso sequer


condiz com a minha posição, respeitem a minha escolha e não a
questionem em hipótese alguma. — Era o mafioso que falava e não o
meu Salvatore, de certa forma, eu precisava estar ciente de que ele
seria duas pessoas distintas, quando estivéssemos a sós e na frente
das pessoas. O respeito muitas vezes era pautado na indiferença, eu
não entendia isso mas precisava acatar.

— Eu lhes apresento a senhorita Amapola Beviláqua, futura senhora


Dalla Costa.

Os olhos chocados e de desprezo me atingiram em cheio quando eu


me fiz presente no topo da escada, admiração e respeito estavam
refletidos apenas nos olhos de Salvatore, Fabrizio, Rico, Amadeu e
Ângela, todos os demais se pudessem, teriam protestado assim que o
meu nome foi dito.

A cada degrau descido o silencio sepulcral me tomava, mantive a


fachada de segurança a quando por dentro o meu corpo tremia
inteiro, se Salvatore havia decidido não cabia a ninguém o questionar,
mas estar na minha posição não estava sendo fácil.
— Eu te amo, minha filha. — Papà beijou a minha testa. — Cuide
dela Salvatore. — O pedido do meu pai foi respondido apenas com
um leve acenar de cabeça.

Eu, finalmente, seria sua, e ele estava deixando isso claro para todos
os presentes.

— Isso é um absurdo — Um dos capos fala, chamando a atenção de


todos, a tensão sequer havia se dissipado no ambiente após a minha
chegada.

— O que disse? — Salvatore pergunta a voz cortante e fria, me


causando arrepios, apertei a mão que envolvia o seu braço, ficando
tensa instantaneamente.

— Não vou me calar como todos os frouxos que estão presentes, não
admito que as nossas filhas sejam preteridas por uma qualquer. —
Todos na sala ficaram tensos e eu não estava diferente.

Salvatore caminhou lentamente até se aproximar do homem, me


tendo ainda agarrada ao seu braço, eu tentava manter o rosto
impassível, mesmo com toda a tensão do ambiente.

Quando nos aproximamos, sem dizer uma palavra sequer, Salvatore


sacou uma arma pequena de algum lugar que eu sequer consegui ver
e deu um tiro na testa do homem que caiu aos nossos pés.

Eu estava perplexa e nem respirava com a cena que acabou de


acontecer diante dos meus olhos.

— Respire, Amapola — Salvatore fala baixo para que apenas eu


ouvisse.

— Sim — sussurrei de volta.

— Mais alguém tem algo a dizer? — pergunta alto, voltando-se para


os presentes, as pessoas não tinham coragem de abrir a boca mais,
suas cabeças baixas respondiam por si só. Apenas os seus irmãos e
o meu pai nos encaravam, Amadeu já estava providenciando a
retirada do morto e Ângela eu não consegui encontrar.

— Ótimo, aproveitem a festa e tenham um ótimo jantar — Salvatore


completa como se nada tivesse acontecido e eu o segui, sentando na
poltrona ao lado da sua para aguardar que todos os presentes nos
cumprimentassem.

— Por que você fez aquilo? — Pergunto baixo e entredentes,


mantendo o sorriso no rosto quando a última pessoa com o sorriso
forçado se afastou de nós.

— Porque era preciso, mia bella, eu havia lhe dito que mataria
qualquer um que ousasse se aproximar de você, tenho certeza que a
partir de hoje ninguém mais vai sequer olhar torto em sua direção. Eu
vi quando você entrou no ambiente e não gostei nenhum pouco, por
isso, só estabeleci limites e deixei claras as consequências. — Ele
havia se levantado e me puxado para ficar de pé diante de si, desta
forma ninguém nos ouviria.

— Mas não precisava tanto — justifico.

— Acostume-se meu amor, eu não disse que seria fácil estar ao meu
lado, mas farei o possível para que o mínimo de merda te atinja.

Concordo com a cabeça, aceitando tudo o que ele me oferecia, estar


dentro da máfia jamais seria como em um conto de fadas, eu sabia,
mas se esse era o preço a pagar para estar ao lado de Salvatore, eu
estava disposta e o faria da melhor forma possível.

O restante da noite transcorreu como esperado, apenas a tensão de


estar ao lado chefe da Dalla Costa não se dissipava.

Mesmo contra a vontade de Salvatore, dancei com meu pai, seus


irmãos e até com Amadeu, era a tradicional valsa dos noivos e era
compartilhada com a família, e esses eram os quatro homens mais
importantes para mim além dele.
No final, eu não poderia estar mais satisfeita com o que o destino me
reservou, quando pensei que talvez esse fosse o meu fim, morrer nas
mãos de Salvatore, chefe da Máfia Dalla Costa, Deus me mostrou
que este seria o meu recomeço.
E eu não podia ser mais grata a Ele por isso.
Epílogo
"Eu percebi que eu não vivi de verdade até me encontrar refletido
nos olhos de alguém e esse alguém foi Amapola, ela salvou a
minha essência, algo que nem eu mesmo sabia existir, mas que
estava ali, guardado dentro de mim e eu a amava ainda mais por
isso."
*Dois anos depois.
— Vamos amor, por favor. — A voz de Amapola me tira dos
devaneios.

— Não tenho certeza se devemos, mi amore.

— Você não vai me machucar, Salvatore, por favor, vamos aproveitar


que Filipo está dormindo, vamos entrar na água.

— Então não é apenas um banho de mar que você quer, Senhora


Dalla Costa? — Puxo-a para o meu colo, afastando o notebook para o
lado.

— Você sabe que não, e em breve ficará quarenta dias sem me tocar,
então trate de aproveitar enquanto pode — fala, sorrindo e eu a
acompanho.

Cubro o corpo do nosso pequeno com um cobertor antes de seguir a


mulher linda com uma imensa barriga que corre na minha frente em
direção a água.

Palermo se tornou nosso santuário particular, estávamos aqui todos


os fins de semana desde que nos casamos.

Após o noivado, um mês depois, Amapola descobriu estar grávida,


acreditamos que o nosso filho Filipo foi concebido na mesma noite em
que nos reconciliamos, eu quase surtei, achava que não era bom o
suficiente para cuidar de uma criança, mas tudo isso mudou quando
ele nasceu.

Nos casamos dois meses após o noivado, eu já tinha planos de não


demorar muito tempo, mas a sua gravidez acelerou o processo eu
fiquei grato pois Amapola já começava a dar indícios de que me
enrolaria com o casamento por querer a perfeição em todos os
detalhes, e para mim foi perfeito.

Apenas o fato de ser ela ao meu lado bastaria, mas ela fez tudo como
sempre sonhou e a festa esteve estampada nos jornais por semanas
consecutivas.

O pai dela decidiu continuar morando aqui em Palermo e isso foi o


suficiente para que ela deixasse claro que estaria aqui todos os finais
de semana, quanto a mim, eu só pude adaptar a minha rotina para
estar sempre com ela.

O nascimento de Filipo foi mágico e se eu acreditava que Amapola


havia me transformado, eu definitivamente não estava preparado para
o pequeno.

Mesmo ainda tão novo, eu já enxergava muito de mim nele e muito de


sua mãe também.

Ele conseguia me moldar com suas pequenas mãos e eu era capaz


de fazer qualquer coisa para ter sempre o seu sorriso estampado na
face, eu havia me tornado um giullare diante deles, mas não me
importava nenhum pouco com isso, desde que apenas eles tivessem
acesso a esse meu lado, eu não me importava.

Ser pai havia sido tão maravilhoso que quando Filipo completou sete
meses de nascido convenci Amapola a engravidar novamente, saber
que ela carregava outro pedacinho de mim dentro dela me deixava
em êxtase.

Era uma menina, eu teria uma pequena versão de Amapola correndo


pela casa. Em aproximadamente dois meses, nossa pequena Paola
estaria entre nós para completar a nossa felicidade.

Beijo a cabeça do pequeno que dorme tranquilamente após se cansar


de tanto correr pela areia, assim como a mãe, ele ama esse lugar e
nós já o temos como o nosso reduto de felicidade.

Toda vez que passamos dos portões do castelo, como diz Amapola,
eu me dispo do mafioso e visto apenas a versão que guardo para
eles, um Salvatore que qualquer um jamais supôs existir.

— Vai demorar ainda pra vir? — Amapola grita já imersa na água.

— Eu já estava vindo, amore mio — falo quando a alcanço, colando o


seu corpo no meu e lhe tirando um gritinho.

— Eu estava ansiosa — geme manhosa.

— Você sempre está, mia bella.

— São os hormônios da gravidez.

— Não os culpe, mio amore, sabemos que você sempre fica uma
gatinha no cio quando eu estou perto. — Levo minha mão a sua
boceta quente, eu sei exatamente o que ela está precisando

— Humrum — geme, quando o meu dedo invade o seu interior.

Não demorou para que o dedo fosse substituído por meu pau, numa
sintonia perfeita de movimentos e gemidos os nossos corpos se
embalavam e conectavam tornando-se um só, até sermos envolvidos
pela névoa do prazer explodiu ao gozarmos mais uma vez. Os nossos
corpos se amavam assim como as nossas mentes, corações e almas.

Amapola era assim, ela se entregava a mim sem qualquer medo ou


reserva, e era por isso que eu fazia o mesmo por ela, eu estava tão
entregue e rendido a ela quanto ela dizia estar.

Por isso bastava que ela pedisse e eu traria o mundo aos seus pés,
eu ficava satisfeito porque ela sempre deixava claro que o seu mundo
era apenas eu e os nossos filhos, apenas nós importávamos para ela.

Ela não julgava nenhuma das minha ações, sabia quem eu precisava
ser fora do nosso lar, mas sabia também que eu sempre estaria de
volta por ela atento às suas necessidades e focado em fazê-los
felizes, porque o simples fato deles existirem já me tornava o homem
mais feliz do mundo ainda que não merecesse tanto.

Eu percebi que eu não vivi de verdade até me encontrar refletido nos


olhos de alguém e esse alguém foi Amapola, ela salvou a minha
essência, algo que nem eu mesmo sabia existir, mas que estava ali,
guardado dentro de mim e eu a amava ainda mais por isso.

Para todas as pessoas eu ainda era A fera Dalla Costa, mas para
Amapola e meus filhos eu seria para sempre apenas Salvatore, um
homem apaixonado e que fazia qualquer coisa para vê-los felizes.
Sobre a autora

Fernanda Piazon, é uma baiana “arretada”. Advogada, casada, mãe


de um príncipe lindo, e apaixonada por literatura.

Leitora voraz, desde sua adolescência ela queria escrever: Um filme?


Uma novela? Um livro?
À época ela ainda não sabia, mas tinha certeza de uma coisa, não
deixaria de traduzir, de colocar no papel as histórias que sempre
moraram em sua imaginação.

Ler sempre foi um vício e escrever tornou-se uma paixão.

Pouco a pouco, ela conseguiu encontrar-se na escrita, com dedicação


e cada vez mais inspiração, tem conquistado a cada dia mais leitores.

Decidida e determinada, assim como os seus personagens, ela tem


nos encantado a cada página.
Conheça outras obras da autora:

ERA PRA SER VOCÊ


SÉRIE ENCONTROS – LIVRO 01
Sabe quando tudo parece estar dando errado? Essa era a impressão
que Liz tinha daquele dia terrível, mas o que ela não podia imaginar é
que esse dia na verdade lhe traria uma grata surpresa.

Lucas só queria correr para se distrair um pouco, o fardo que ele


carregava na empresa de sua família era pesado, mas ainda assim, o
fazia com prazer, afinal ele havia se preparado para isso durante toda
a sua vida.

Eles não sabiam, mas a vida é feita de encontros, e naquele dia os


seus destinos iriam se cruzar.

Após um dia estressante, um encontro inesperado fará suas vidas dar


um giro de 180º.
Permita-se encantar por essa história leve e divertida e descubra que
a vida nos reserva uma nova surpresa a cada dia, esteja atento para
receber a sua.
MEU PRESENTE PERFEITO
Aos 27 anos, Nathalia conseguiu construir o negócio dos seus
sonhos: uma empresa capaz de auxiliar as pessoas na escolha do
Presente Perfeito.

A busca elevada pelos seus serviços durante a época mais celebrada


do ano, o Natal, serve apenas para comprovar o seu sucesso.

Henrique estava acostumado a dar os mesmos presentes “sem


graça” aos seus familiares, mas isso muda quando ouve sua
secretária falando com uma empresa especializada na compra de
presentes especiais para pessoas especiais.

Ele resolve arriscar, porém, Nathalia avisa que, infelizmente, não tem
mais vagas.

Acontece que Henrique é persistente, e vai tentar a todo custo


convencê-la a ajuda-lo na escolha dos seus presentes de Natal.

O que será que o destino reserva para esses dois na época mais
bonita do ano na qual não apenas as luzes se acendem nas ruas,
mas em todos os corações junto à esperança de dias melhores?

Uma comédia romântica leve e surpreendente que vai te envolver a


cada página.
REDESCOBRINDO O AMOR DA QUARENTENA
Gabriela e Bento se conheceram e se apaixonaram ainda na
juventude, após uma gravidez precoce eles se casaram, o amor que
nutriam um pelo outro os ajudou nessa trajetória.

Com o tempo, seu relacionamento, assim como sua vida financeira e


sua família se estabilizaram, com dois filhos, e suas carreiras
progredindo, pouco a pouco eles se deixaram cair na rotina.

Presos em suas vidas pessoais, eles se afastaram.

O que o amor é capaz de suportar?

Rotina, armações, descuidos, traições, convivência. Tudo isso pode


ser encontrado em qualquer relacionamento comum, a diferença é
como cada pessoa lida com um turbilhão de emoções.
Em um cenário de pandemia e isolamento social, tudo é colocado à
prova, e a convivência diária pode ser capaz de proporcionar um
reencontro ao casal, cheio de descobertas e novas oportunidades.

Se permita encantar também por essa história de amor e superação.


EROS
LIVRO 01 – SÉRIE LEI DA ATRAÇÃO
Ficar na mira de uma arma, nas mãos de um bandido, pode não ser
tão ruim quanto você pensa!

Pelo menos não quando se tem um delegado lindo, protetor, intenso e


apaixonante para te salvar!

Kananda havia saído de casa após mais uma discussão com sua
irmã; após a morte dos seus pais ela não imaginava que a relação
delas poderia ficar pior do que já era, mas a vida sempre nos
surpreende e nem sempre é para o bem.

Eros é delegado, conhecido por ser linha dura, buscava não se


envolver emocionalmente, "ter prazer" era tudo o que importava, até
conhecer Kananda e se render aos encantos dessa mulher que
despertou o seu instinto mais profundo: o de protetor.

Ela não sabia, mas iria precisar da sua proteção.


Ele jurou protegê-la, ainda que essa proteção custasse sua própria
vida.

Será que Eros conseguirá cumprir sua promessa?

"Este é o primeiro livro da série: Lei da atração. Todos os livros da


série podem ser lidos de forma individual, por se tratarem de casais
diferentes."
ENRICO
LIVRO 02 – SÉRIE LEI DA ATRAÇÃO
Eu jamais poderia imaginar que minha vida seria perseguir a mulher
que amo, mas os erros que cometi no passado a afastaram de mim.

Agora eu percebo que a vida é feita de escolhas e, infelizmente, as


minhas não foram as melhores: eu a tive entregue e não soube
valorizar, usei e abusei do seu corpo, destruí sua mente e coração,
em troca de aventuras que em nada me acrescentaram.

Hoje, eu vivo para reconquistá-la, vivo perseguindo-a para todos os


lados e, sinceramente, não sei até quando resistirei.

Lara me amou, ou ainda me ama, não sei ao certo, mas hoje ela está
decidida a me fazer pagar pelos meus pecados, me fazer sofrer em
suas pequenas mãos e eu aceito a punição. Acontece que os anos de
persistência acabam por nos desestimular; eu mudei minha vida,
mudei minha rotina, mas nada disso a fez mudar de ideia. Ela não
confia em mim, e eu não a julgo, mas sinto que cada dia que passo
longe da minha pequena, me mata um pouco por dentro.

Essa é a nossa história.

O nosso amor parece com os descritos nos romances, mas você vai
ver que nem tudo é alegria, que os mocinhos erram e conseguem
consertar os seus erros, já eu, não sei se os meus terão conserto; eu
a quebrei demais, sem perceber, e não sei se serei capaz de juntar os
seus pedaços.

Não me julguem, por favor, para um jovem que acaba de entrar na


faculdade e tem a disposição quantas e quais mulheres quiser, é
difícil entender e perceber o quanto isso é banal. O que realmente
importa é apenas uma, aquela que faz o coração bater mais forte,
aquela que mexe com você de uma forma indescritível... E quando
você toma o corpo dela para si, é uma conexão completa, plena.

Era assim com Lara, sempre foi, mas eu não quis enxergar, até quase
perdê-la para sempre.

De tudo isso eu só tenho uma certeza, onde ela estiver, é lá que eu


também estarei!

Enrico Chiarelli

"Este é o segundo livro da série: Lei da atração. Todos os livros da


série podem ser lidos de forma individual, por se tratarem de casais
diferentes, mas recomenda-se a leitura de EROS para um maior
entendimento do contexto da história.”
PIETRO
LIVRO 03 – SÉRIE LEI DA ATRAÇÃO
Eu construí o meu próprio caminho e por ele apenas eu poderia
andar.
Família, amigos, uma carreira sólida e de sucesso eram o pano de
fundo perfeito. Não havia espaços vazios, tudo fora preenchido de
acordo com os meus planos.
Tudo estava exatamente como eu sempre quis, até que Júlia surgiu
em minha vida.
Diferente das outras mulheres, ela não se rendeu aos meus encantos,
não sucumbiu à minha beleza, e quando descobri o porquê, decidi
que o melhor era me afastar.
Manter o relacionamento profissional já era o bastante.
Júlia é uma mulher forte, e eu sempre a admirei por isso.
Sozinha desde a morte do seu pai, teve que lidar com uma gravidez
tendo sido abandonada pelo pai da criança, e desde então Analú, era
tudo o que mais importava em sua vida.
O problema é que mesmo que eu tenha tentado me manter afastado,
a princesa Analú parece como um imã para mim, e de repente,
percebi que o meu caminho havia enlarguecido, que havia espaço
para elas duas.
Meu maior problema agora é convencer Júlia de que eu posso não
ser o que ela quer no momento, mas sou tudo que elas precisam.
Pietro Bianchi
"Este é o terceiro livro da série: Lei da atração. Todos os livros da
série podem ser lidos de forma individual, por se tratarem de casais
diferentes, mas recomenda-se a leitura de EROS e ENRICO para um
maior entendimento do contexto da história.”
TODAS AS OBRAS DA AUTORA ESTÃO DISPONÍVEIS NA
AMAZON PELO KINDLE UNLIMITED!

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